Google
This is a digital copy of a book that was prcscrvod for gcncrations on library shclvcs bcforc it was carcfully scannod by Google as part of a projcct
to make the world's books discoverablc online.
It has survived long enough for the copyright to expire and the book to enter the public domain. A public domain book is one that was never subject
to copyright or whose legal copyright term has expired. Whether a book is in the public domain may vary country to country. Public domain books
are our gateways to the past, representing a wealth of history, cultuie and knowledge that's often difficult to discover.
Marks, notations and other maiginalia present in the original volume will appear in this file - a reminder of this book's long journcy from the
publisher to a library and finally to you.
Usage guidelines
Google is proud to partner with libraries to digitize public domain materiais and make them widely accessible. Public domain books belong to the
public and we are merely their custodians. Nevertheless, this work is expensive, so in order to keep providing this resource, we have taken steps to
prcvcnt abuse by commercial parties, including placing lechnical restrictions on automated querying.
We also ask that you:
+ Make non-commercial use of the files We designed Google Book Search for use by individuais, and we request that you use these files for
personal, non-commercial purposes.
+ Refrainfivm automated querying Do nol send automated queries of any sort to Google's system: If you are conducting research on machinc
translation, optical character recognition or other áreas where access to a laige amount of text is helpful, please contact us. We encouragc the
use of public domain materiais for these purposes and may be able to help.
+ Maintain attributionTht GoogXt "watermark" you see on each file is essential for informingpcoplcabout this projcct and hclping them find
additional materiais through Google Book Search. Please do not remove it.
+ Keep it legal Whatever your use, remember that you are lesponsible for ensuring that what you are doing is legal. Do not assume that just
because we believe a book is in the public domain for users in the United States, that the work is also in the public domain for users in other
countiies. Whether a book is still in copyright varies from country to country, and we can'l offer guidance on whether any specific use of
any specific book is allowed. Please do not assume that a book's appearance in Google Book Search mcans it can bc used in any manner
anywhere in the world. Copyright infringement liabili^ can be quite severe.
About Google Book Search
Googlc's mission is to organize the world's information and to make it univcrsally accessible and uscful. Google Book Search hclps rcadcrs
discover the world's books while hclping authors and publishers rcach ncw audicnccs. You can search through the full icxi of this book on the web
at|http: //books. google .com/l
Google
Esta é uma cópia digital de um livro que foi preservado por gerações em prateleiras de bibliotecas até ser cuidadosamente digitalizado
pelo Google, como parte de um projeto que visa disponibilizar livros do mundo todo na Internet.
O livro sobreviveu tempo suficiente para que os direitos autorais expirassem e ele se tornasse então parte do domínio público. Um livro
de domínio público é aquele que nunca esteve sujeito a direitos autorais ou cujos direitos autorais expiraram. A condição de domínio
público de um livro pode variar de país para país. Os livros de domínio público são as nossas portas de acesso ao passado e representam
uma grande riqueza histórica, cultural e de conhecimentos, normalmente difíceis de serem descobertos.
As marcas, observações e outras notas nas margens do volume original aparecerão neste arquivo um reflexo da longa jornada pela qual
o livro passou: do editor à biblioteca, e finalmente até você.
Diretrizes de uso
O Google se orgulha de realizar parcerias com bibliotecas para digitalizar materiais de domínio púbUco e torná-los amplamente acessíveis.
Os livros de domínio público pertencem ao público, e nós meramente os preservamos. No entanto, esse trabalho é dispendioso; sendo
assim, para continuar a oferecer este recurso, formulamos algumas etapas visando evitar o abuso por partes comerciais, incluindo o
estabelecimento de restrições técnicas nas consultas automatizadas.
Pedimos que você:
• Faça somente uso não comercial dos arquivos.
A Pesquisa de Livros do Google foi projetada p;ira o uso individuíil, e nós solicitamos que você use estes arquivos para fins
pessoais e não comerciais.
• Evite consultas automatizadas.
Não envie consultas automatizadas de qualquer espécie ao sistema do Google. Se você estiver realizando pesquisas sobre tradução
automática, reconhecimento ótico de caracteres ou outras áreas para as quEus o acesso a uma grande quantidade de texto for útil,
entre em contato conosco. Incentivamos o uso de materiais de domínio público para esses fins e talvez possamos ajudar.
• Mantenha a atribuição.
A "marca dágua" que você vê em cada um dos arquivos 6 essencial para informar aa pessoas sobre este projoto c ajudá-las a
encontrar outros materiais através da Pesquisa de Livros do Google. Não a remova.
• Mantenha os padrões legais.
Independentemente do que você usar, tenha em mente que é responsável por garantir que o que está fazendo esteja dentro da lei.
Não presuma que, só porque acreditamos que um livro é de domínio público para os usuários dos Estados Unidos, a obra será de
domínio público para usuários de outros países. A condição dos direitos autorais de um livro varia de país para pais, e nós não
podemos oferecer orientação sobre a permissão ou não de determinado uso de um livro em específico. Lembramos que o fato de
o livro aparecer na Pesquisa de Livros do Google não significa que ele pode ser usado de qualquer maneira em qualquer lugar do
mundo. As consequências pela violação de direitos autorais podem ser graves.
Sobre a Pesquisa de Livros do Google
A missão do Google é organizar as informações de todo o mundo c torná-las úteis e acessíveis. A Pesquisa de Livros do Google ajuda
os leitores a descobrir livros do mundo todo ao mesmo tempo em que ajuda os autores e editores a alcançar novos públicos. Você pode
pesquisar o texto integral deste livro na web, em |http : //books . google . com/|
t3Ò2)
í
t'
HO SEITIMO LIVRO
D A
fflSTORIA DO DESCOBRIMENTO
conqvistI da índia
PELOS PORTVGVESES.
Feyto par Femô Lopez de Castanheda.
Com priuilegio Real. Iôõ4.
HISTORIA
DO
DESCOBRIMENTO
£
CONQVISTA DA ÍNDIA
PELOS
PORTVG VESES
F O B
FERNÃO LOPEZ DE CASTANHEDA.
NOVA EDIÇIO.
< *
LIVRO VIL
LISBOA. M.DCCC.XXXm.
NA TTPOORAPHIA R O L I. A N D I A N
POR ORDEM SUPERIOR,
PROLOGO
NO SEYTIMO LIVRO DA HISTORIA
do descobrimento & conquista da índia pelos Portu*
fiieses dirigido ao muyto alio & novyto poderoso Rey
dom loão ho Terceiro deste nome nosso Senhor, Rey
de Portugal & dos Atgfarues, daq»em & daiem mar em
Africa, senhor de Guiné & da conquista ^ naueeação
& comercio de Blhiopia , Arábia, Pérsia & da India«
Por Fernão iopez de Castanheda.
i^entença be de Túlio nas suas tusculanas, muyio alto
& muyto poderoso Rey nosso senhor 2| a hõrra cria as
artes & desejosos da gloria d^virtude, nos acendemoe
pêra a ganhar. SentSqa verdadeiramSte muyto digna de
8er notada pr\ncípa\mente dos príncipes & dos senho*
res : porque se e/es nilo fauorecerem com hôrras & mer-
cês as boas cousas que seus vassafos fazem, as8\ nas ar-
mas, como nas letras: como era qualquer outro género
de cilícios virtuosos com que a repubrica he ilustrada,
não auerá nhQa pessoa que se de a eles, nem os siga«
E por^ nos tempos antigos, as fac^anhas nas armas, á
sciencia das letras, os singulares eng^enhos nas artes
macanicas: se estimarão tanto dos príncipes & das re«
pubricas em que se fazíSo, & se galardoauão muyto b6 1
Ouue antre os Gregos, &.antre os Româos, & Atre os
Bárbaros tantos & tão singulares capitães: tão esforça^
dos caualeyros, tão excelentes sábios & letrados de tan-
ta erudição, & officiaes tão perfeylos em todas as artes
macanicas, como largamSte contão as historias antigas
& modernas, com que deixo dalegar por breuidade. E
despois.que este fauor de hÕrras & mercês cessou de se
fazer antrestas nações, aos que forão excelentes nas ar-
tes que digo se forão elas perdendo, que nem cuue mais
€a|>ti3e6 , nem cantil^jres , & fafecefSo o9 «•bm & Je-
trados: nem ouue mais officiaes que nas artes roacani-
cas se prezassem de ierem a6 perfeições que os ajriligos
teuerão. E conhecendo V. A. isto Príncipe prudentissi*
mo, desejando dennobrecer seus rejnos & senhorios,
Irabalba tanto coAi sua suprema liberatidade de fater'
mercês aos bornes que em todas as artes que digo sam
singulares, pelo qiie mtjytos trabalhão por ho serem se-
ias: & por isso t«m V. A. tanta copia deles, não so-
mente seus naturais mas estrangeir<is , que de muylo
longe correm à fa4i>a de suas mercês grandíssimas, O
que também me deu animo pêra sair cõ a mostra de meu
engenho, & trazer coele a luz : cousa de tanto seruiço de
V. A. & honrra de setjs reynos cofno he estA historia do
descobrimSto & conquista da índia pelos Portugueses.
Cousa de tanta admiração & tão digna de se pubricar ,
que quSdo a Rayaha nossa senhora vio bo primeyro li«
uro, disse a dona JMaria de noronha que Ibo deu. Que
cousa tamanha como aquela , mais cedo se ouuera de
pubricar , & nao ouuera destar escondida tanto tempo,
& de ser auida por muyto miraculosa nos reynos estran*
geirosr be impressa parte dela em Frâ^ja & se im[>ríme
em Itália : poio qu6 mereço mercê pois fuy ho primeyra
Português que tomey tão bonrrada empresa^ & Ibe dey
fim tanto a mioba custa como nosso senbor Deos he tes»
temunha : que por sua infinita misericórdia tenha por
bem de alongar por imiytos anos a vida de Y. A* coui
aerecentan»enlo de seu real estado pera^ue fauoreça com
mercês a seus vassalos^ com que os prouoque a fasereni
eousas porq<ue merec^ão sempre de serem tão nomeados
pek) mundo eomo sam»
c:c:c
a99999(PW0QlW390ttM^9»3
o SEPTIMO LIVRO
D A
HISTORIA IX) DESCOBRIMENTO
CONQVISTA DA ÍNDIA
PELOS PORTVGVESES
Em que se coniS o cfae eles fizerSo gouernandoa Lopovaz
de saro payo, por tnâdado do muy ailo & muyio podero-
• ao rey. dÔ loão nosso seohor , bo terceyro deste nome,
Feylo por Fernão lopez de Castanheda^
CAPITOLO L
De como foy aberta a terceyra socessam em que hia
Lopo Vaz de sam Payo.
E
linterrado dom Anri?) de meneses, ajflCarSse lodos o9
capiláes, fidalci^os, & pessoas principais na igreja de Ca*
fianor, com Afonso mexia vedor da fazenda, qne hi a-
certou destar: & ho licenciado loflo de soíro cuuidor gé*
ral da índia, pêra abrirS a seenftda sobcessão da gouer*
lian<^a da índia, que Jogo Afonso mexia abrio perante
todos* Fim que se achou l\ socedia Pêro mazcarenhas
que esfaua por capilâo de Malaca donde não |K)dia vir
se não dali a onze meses por amor da monção. Com o
<)ue todos ficarão còfusos por a índia ter necessidade de
l^ernador, assi por ei rey de Calicut estar de guerra^
A tambe el rey de Cãbaya : como por esperar6 por ru^
mes «o Mayo seguinte, ou em Setfibro. Ê coroo Af5so
nexía praticasse cõ algfis qu8 enlegeciâo por gouecnar
LIVBO VII. A
2 DA HISTORIA DA ÍNDIA
dor em ausência de Pêro mazcarenhas: disse loSo de
sojro {} eslaua na pratica , que se poderã saber quê era
ho da terceira subcessam : (} esse pois el rey coníiaua
dele a gouernâça da índia, a gouernaria melhor 1\ outrS,
& a esse deuiâo denleger ^ a gouernasse em ausência
de Pêro mazcarenbas* O j| logo contrariou dÕ Vadco de-
ça reprouando muj^to tal parecer: por(} ho da terceira
subcessam na ora ^ fosse recebido por gouernador, pos-
to que ale a vi^nda de Pêro mazcarenhas íicaua igoal
coele è todos os seus poderes, assi na justiça, coroo na
fazêda, do Q se na índia seguiria grade diuisam : por o
que não se deuia dabrir a terceira nem el rey ho auia
dauer por bS. E tambS o que fosse nela despois Q ie-
uesse posse da gouernâça, a não quereria alargar a Pê-
ro mazcarenhas & seria muyto grade reuolta. E deste
parecer forâo aJgus fidalgos. E porS Afonso mexia ho
nao quis tomar: dizendo que pêra se escusarê todos a-
queles inconueniStes juraria o Q fosse na terceira sub-
cessam nos sanctos euãgelhos , & assi assinaria hu auto
<) disso faria: que tanto que Pêro mazcarenhas chegas-
se á índia lhe alargaria a gouernança. E ele mesmo A-
fõso mexia, & todos os capiíâes & fidalgos da índia ju-
rarião tambê que ho fariâo fazer, & coisso ficaria a cou'*
sa segura. O que a todos pareceo bem, & assi ho jura-
rão & assinarão em hu auto () disso fez Vicêle pegado
4 era secretairo, & assinado ho aulo, Afonso mexia a«>
brio a terceira suboesâo em que se achou que sucedia
Lopo vaz de sam Pajo capitão de Cochim. E sabido
que ele auia de gouernar ate a vinda de Pêro mazcare^-
fthas de Malaca, toroov Afonso mexia a jurar que via^
do Pêro mazcarenhas de Malaca faria que logo lhe Lopo
vaz de sfto Payo entregasse a gouernâça da índia, & fae
mesnK) ior&arâo a jurar os outros todos: & assi ho adsí*-
Darão em outro aulo que Vicèie pegado tornou a £aaer
4e8tes juramentos, aos três dias de fetiereiro de mil fc
<)uiob3t08 & vinte seis. Isto fej to partirão ae todos pêra
Cochim onde Afonso mexia entregou a gouernâça 4â
LITRO VII. CAPITVLO 11. 3
índia a Lx>po vaz de são Payo pêra Q a goueriiase ale a
vinda de Pêro mazcareohas de Malaca, juVãdo primej-
ro ele Lopo vaz de são Payo de ho fazer assi , & assi-
nado em bQ auto {| disso fez Vicente pegado, Q tambfi
foy assinado per Afonso mexia, & per todos os capitães
& fidalgos Q se aií acharão & pelo ouuidor geral.
C A P I T V L O lí.
De coffio Lopo vaz de são Payo deAaraUm Mia armada
de mauros de Calicut no rio de Bacanor.
Jtlintregue Lopo vaz de sSo Payo da goaeraança da In^
dia despachou pêra BSgala Ruy vaz pereira & deu a ca-
f litania do seu galeão a Manuel de brito, & assi mãdoa
orge cabral por capitão niór de certos paraós as ilhas
de Maldiua pêra fazer presas, que também se partio lo*
go. E^ estes despachados, fezse Lopo vaz prestes pêra ir
correr a costa do Malabar, porque soubesse eirey de Ca-
licut que posfo que dò Anrrique era falecido !) auia qufi
lhe auia de dar que fazer, & partio se deCochíni a seis
dias de feuereiro & foy na galé bastarda de Q era capi-
tXo d6 Vasco de lima & (brão capitães das velas grossas
a fora os dos catures & bargantis Diogo dasilueira,dom
Afonso de meneses, Manuel de brito, Manuel de ma-
cedo, António da silua, Anrri^ de macedo, Diogo de
mezquita & Lopo de mezquita. È deCocbim foy ho go-
uernador corrMo a costa ate Cananor s8 achar nenbu
paraó de Calicut , porl} os mais como disse estauão den-
tro AX> rio de Bacanor , & algfls outros por esses rios Q
nAo oMauão de sair. E estando Lopo vaz em Cananor
tomando mantimStoe , lhe foy dada h&a carta de dom
lorge telo que acodísse , porQ os paraós ({ ali estauão se
^rião partir, & ele com a giBte 1} tinha não era fioderoso
pêra Ih^s impidir a partida, por os mouros í\ estauão
neles 6erS doze mil, & v8do Lopo vaz a grossa gSte que
os mouros erão , mâdoo logo chamar Christouáo de soik
A 2
4 1>A HISTORIA DA INIMA
fia & António da silueira Q eslauao em Goa pêra que 8è
ajunlassein coele com a mais genle q podesbê ieuar: por
ele ter pouea pêra bu feyto láo importâte como aquele^
& porque auia ainda de fazer algua deleita por amor dos
mâiinietilos' que (omaua, mandou a Manuel de brito que
se fosse êlretanto ajQtar com dom lorge telo> E tomar
dos os manlimeníos, Lopo vaz de sam Payo se partio
pêra ho rio de Bacanor : onde chegado soube como os
mouros estauã grâdemcnte fortalecidos, não somSte de
muyta arlelharia em eslancias ao longo do rio,, mas cS
estacadas dum cabo & do outro cõ que estreitarão tan»
to ho rio que ci nossa frota nào podia ir se nã a íío: &
d'e biias estacadas ãs o^jtras estauâ dados cabos |K>r de-
baixo dagoa pêra que os nossos nauios Scalhassem neles
& niio podessem passar. E cõ tudo Lopo vaz determir-
nou de pelejar com os mouros & queimarlbe os paraós
& não es{>erar por Christouào de sousa nem por Antó-
nio da silueira se tardassem : Sc pêra pelejar com as es-
tancias dos mouros mãdou armar quatro baleis de malas
que lirauão senhos tiros grossos pêra irem diàte, & a-
pos eles as outras velas. £ vendo que não cbegauâo
Cbristouão de sousa nem António da silueira não quis
mais esperar, porque não parecesse aos mouros que lhes
auia medo: & determinado d>e os cometer fez alardo de
sua gente, que achou serem setecentos &. tantos ho-
mens. E chamado a conselho pêra consuJtar cõ os capi«-
tiHes & outras pessoas ho modo de que cometeria os !mi-
gos foy mujto contrariado dos mais que não pelejasse
com os mouros, alegando que pêra a grande for<;a de
geuíe & dartelharia que eles tinhâo tinha ele muyto
pouca: & que não se auia dauenturar bo gouernador da
índia em cousa ta perigosa. E os mais dos que isto di-
ftião era por quererem mal a Lopo vaz & terem onueja
de gouernar a Indi^, q cuj<)ou cada bu djeles de bo e&-
Jegerem pêra a gouernar em ausêoia de Pêro mazcace-
nbas, & por isso lhe estoruauâo que não fizesse h& fey-
to tão famoso como aquele seria por^ perdesse aquela
lAVBO VII. CAFITVLO II. ^
hòrra. E eBtfiiiSdo ele suas tenções por saber quanto
Jhes pesaua de ele gouernar a índia , disse que ficasse
a cousa assi indelerminada ale ir ver ho rio , & ho de-
jsenibarcadoiro, ^ viu na madrugada seguinte cõ a clari-
dade da iua iodo em bQ catur^ & ein ouiros deus JVIa-
•Buel de brilo, & Payo fodriguez dáraujo que escoibeo
pêra isso por serem niuyto esforijados» E es mouros que
viráo os calores tirauâlhes com a artelbaria dasebláciaa:
-& erâo os pelouros tantos ^ se os catures n2o forào bê
-cosidos com. terra não poderão escapar de serem arroonr-
badiís & tuoriua quàtos yâo dentro, E com tudo passa-
tSo muytu grande perigo: mas nê por isso Lopo vaz de
.sam Payo nã deixou de ver toda a força que os mouros
lifiháo: & ile voita lhes mâdou cortar os cabos que li»-
inhào de h&as eiitacadas ás outras pêra desempidir ho ca-
minho, & forào cortados per homSs que ho fizeráo de
-mergulho. E feyto isto tornouse á frota, onde deu con-
ta disso aos capitães & fidalgos fasendolbe a vitoria muy
£ici) se cometessem os immigos: & os mais forão do
parecer que iiobSo dates ^ nào se pelejasse. E como ea
deste parecer erao mais que os que dizião que pelejas-
se não ousaua Lopo vaz de dar remate a estes conse-
Jbos , & diialauaho ale a vida de Christouâo de sousa &
Dãtonio da siiueua , cujos pareceres cria que seriào Q
pelejasse j & assi bo disserâo despois que chegarão : do
.que Lopo vaz ficou muy to contêle porque linha por muy
certo auer viloria dos imroigos. E ordenada a maneirai
.de i) os auia de cometer, ao ou^ro dia que forâo vinte
einco de Feuereiro em rompendo ho dia abalou pelo rio
acima com sua gète que seriâo mil homSs, & forão ú«8-
ta ordem os quatro bateis de manias na diâtoira, & no
primeyro ya IVianuel de brito, no segundo Payo rodri-
guez daraujo: & despois os bateis com bargantis & ca-
lores a fio, & no derradeiro Lopo vaz com a bãdeira real,
lodos toldados & embandeirados, & senhas peças darle*
Iharia nas proas & berços poios tíordos , rompendo a bo-
ga arrancada pelo rio acima cõ grande arroido de gritas
6 !>£ niBTORIA m IKDIA
& til§per de trombetas : & começando de descobrir as e#-
lancjas dos inimigos começarão eles de tirar com seus
tiros, & chouiâo os pelouros de serS muyto bastos, pe- .
)o que os Portugueses forâo cõ mujto grande perigo W
trabalho ate chegarem defronte da tranqueira principal^
dde Manuel de brito, Payo rodriguez & os outros dm
dianteira desembarcarão com espStosa briga , por os im^
migos trabalharem quanto podiSo por lhes tolher a de-
sembarcarão cõ bombardadas, espigardadas & frec bal-
das. E rompendo os Portugueses por antrelas com e^
forço sobre natural abairroarão com a tranqueira, dé
que com ajuda de nosso senhor fízerão fugir os ImigoB
posto que se defendiSo marauilhosamente. Desbaratada
a tranqueira, desembarcou Lopo vaz cô a bandeira real
pêra recolher os Portugueses por não saquearem ho lu-
gar que era dei rey de Narsinga amigo dei Rey de Por-
tugal, & por isso nâo queria que lhe fizessem nhíi agra-
uo, & tambS porI| bo ele não fizesse aos Portugueses
que estauão em Bisnegar. E recolhidos os Portugueses,
mandou Lopo vaz queimar os paraòs dos Imigfos que to-
dos arderão, & assi hQa casa dalmazem que estaua chea
despeciaria & droga pêra carrega dos pnraós : & em
quanto se queimaua forão embarcadas oytSia peças dar-
telharia que se tomarão na trãqueira , & as mais delas
de metal. E esta muyto grande vitoria alcãçou Lopo vaz
sem lhe matarS mais que quatro Portugueses & forão fe-
ridos cento, & dos imigos forão mortos muytos segundo
se soube pelo grande prato que por eles foy feyto è Ca*
lícut: cujo rey sintio muito a queima daqueles paraós
pola grande perda que recebeo em suas rendas & com
quebra de seu estado.
9
C A P I T o L o III.
0
De como Francisco de $á $e partia pêra ir a çUda , ^
. de como dom Jorge de metnseu Joy por capitão de
Maluco,.
jtl/ecolh ido Lopo vm de samPayo, partio se pêra Goa:
& entrado pelo no de Pao^im ^ Francisco de sá jquB «&<•
laua por capitão de Goa íi^ poandou per mugias vczm
requerer qiH» náo passasae dali que bo nâ auia de reco^
Iher na cidade, por quáio nào era goueraador da ladia
ae ndo Peru mazqarenhas ^ era por el Key que podia dar
a gouernan<^ da lodia, ^ ele era feyío poios hom^ís que
a não podiào dar , & p^r isso Ibe na auia dobedecer. E
acaiuarii deGoa fJMdiaoa lambem Francisco de sá a fa^
zer esles reqiferinieiilos ^ mas Lopo vaz nã deu por elee^
ifL peaaou.auàie ale surgir diante do cais da cidade õde
se passou bii giSld^ pedalo «m tequerimeAios Q Lopo 'vaa
fUAodou fazer a Fràcitíeo de sá sobre Ibe abrir as porias
da cidade que estauáo fechadas* £! Frãcisco de sá conr
Ibe parecer .q^e tioba por si a c^iSAra da. cidade insistia
fi nâo abrir : & por dt^rradejro «àdou abrir as parlas por
amor de Cbrislouio de sousa que iflUrue<> nisso. £ en*
trado Lopo vaz na cidade tirou a eapilaaia da fortaleza
a Frflcisco de sá & deu a António da silueira de injene^
ses que linba casado per palauras de futuro com hQa
sua Iliba 9 & a Francisco de sá mandou bo pêra Malaca
I>era dabi ir fazer hQa fortaleza a çíida que he antre a
liba de ^ma4ra , &. a da iaoa , cujo tey por se recear
doutro seu vezií^bo Ibe tomar bo reyno mandara pedir
ao gouernador dom Duarte que mandasse lá fazer hiia
fortaleza: & () Ibe daria oiiijla ^pimenta & mais barata
qoe em Coclii. £ (X>rque -el Rey de Portugal se reaea*
lis que os Gasielhanos fossem tomar a^la ierru sahenéò
a muyta pimenta q^ie auia nela n^a^daua ali fazer /orta«
leaa : a cuja capkanin & eai^ de a (az^r deu a FcAcki»
t 1>A HTSTOItlA DA ÍNDIA
CO de saá por ser hu fidalgo de niuyto seruiço. E saben-
do Lopo vaz que ele tinha e»Ce cargo ho despachou , &
deulhe trezSlos homSs Q pêra este fejlo erão necessa^
rios, ^ fbrão embarcados em hCI gaieXo & duas galeolass
& assi despachou pêra capitão de Maluco a dd lorge de
meneses filho de dõ Rodrigo de meneses a quem dom
Anrrique de meqeses sendo gouernador dera esta capi-
tania, & deulhe cè homSs que fossem coele em deus na-
uios: & a capitania mór do mar de Maluco deu a Simfio
de sousa gaiu&o filho de Duarte s;aluSo , & dA lorge a»
uia dir debaixo da capitania de Frãcísco de«á ale Ma«
laca pêra onde partirão em Março. E no mesmo mes
despachou lambem Lopo vaz a Mnrtífn afonso de mehy
jusarte por capitão mór de seys velas pêra* ir fazer pre-
6a8 ás ilhas de Maldiua, onde andando Martim afonso
topou com híía nao de rumes ÍJ yão de Tenaçarim perai
ludá & leuauão inuyla riqueza, & os rumes seriâo Cre-
Kentos homõs. E Marti afonso posto qiie não leuana mais
que ate cincoenta, com quanto vio ^ os rumes erão niuy-
tos aferrou cneles com ho s^u nauio somente, & como 08
rumes lhe tinhão muyta auantagem no numero esteue
dous dias aferrado coeles éem os poder entrar pelejado
muy brauamente. E neste tempo forão mortos muytos
dos rumes & dos nossos algSs que entrarão a nao no ca-
bo destes dons dias , & acabarão de malar todos os ru»
mea^ & tomarão a nao ^ leuou a goa onde foy inuernar.
C A P I T V L O IIIL
De como Lopo vaz de sam payo côcertou Raix ocarafo
CO Diogo de melo capitã dormuz.
xjLtras fica dito como d8 Anri!} de meneses por {{ixu-
mes delrey dormuz & de Raix xarafo escreuera a Diogo
de melo ^ se temperasse em não dar causa a !\ ihe fi^
zessem mais queixume dele. E parece i\ não dando Dio*
go de melo por estas carias ou por rezâo pêra isso (00-
LÍVRO VII. CAPITVLO im. 9
mo he mais de crer ) prSdeo Raix xarafo & Irataiiao tão
asperamente, ^ deu matéria {| em hús Porquês <} aig^Qs
praguentos fízerão na índia íizesê hQ que dezia. Por^
diogo de melo, xarafo dame dinheiro, Por!) ele diz velo
▼elo , não sejas meu carniceiro. E sabSdo Lopo vaz e^
ta cousa como ya: & tatnbS por lhe Diogo de melo man*
dar pedir 1\ ho fosse fazer amigo <^5 Raix xarafo antes
de vir Pêro mazcarenhas : determinou lopo faz de ir lá,
p^>rQ como conhecia pêro mazcarenhas por isento sabia 1|
sSdo gouernador ([ auia de castigar rigurosamente a
Diogo de melo se ho achasse cu{|>ado, & por ser seti pa-
rente determinou de lhe ir acodir. E poendo em conse*
)bo sua ida a Ormuz, fojihe muyto cõirariada: dizCdo
todos, Q ainda l\ sua ida lá fora necessária a ouuera de
deixar por el rey de Calicui estar de guerra , & por a-
iier nouas de rumes : quanto mais nSo anendo nhua ne-
cessidade de ir a Ormuz, & atiSdo talas pêra ficar na
Ilidia. £ cÕ todas estas rezões não quis se não ir, & pê-
ra resistir a armada de Calicul deixou por capilâo mor
da costa do Ma/abar António de miranda dazeuedocS
toda a armada de remo. E na fim de Março se partío
pêra Ormuz indo na galé bastarda c5 dom Vasco de li-
ma, 8c não leuou em sua companhia mais de quatro na«
uio8 grossos de Q erão capitães do Afonso de meneses,
Diogo da sílueira, Manuel de brito & Manuel de mace-
do. E na trauessa do golfão teue grandes calmarias com
1) se deteue muyto & lhe morreo rouyta g6te, & despois
de muyto trabalho & fadiga f<»y aferrar a outra costa no
porto de Galayate, cujo Xeque estaua ieuantado confra
ca Portugueses por mandado dei rey Dormuz & de Raix
xarafo polas auexaçôes que recebião de Diogo de melo.
£ bo XeQ tornou a ser amigo dos Portugueses por lhe
Lopo vaz de sã Payo affirmar ^ não ya a Ormuz ae não
a deaagrauar el rey Dormuz & a Raix xarafo ae estauã
agrauados, & pêra castigar Diogo de melo se ho mere-
cesse. E assi como tornou este Xe{} a amizade dos Por-
togueses, assi tornou bo de Mazcate: & Ido caminho
UVRO VII. B
iO BA HISTORIA DA ÍNDIA
Dormuz achou na acuada de teiue KraQcisco de mendo*
ça hu dos capitães da cõserua Deilor da sílueira, ^ com
têjx» se aparlara dele & fov ali ler, & hi achou bíia naa
de mouros ^ lomuu ^ despois foy veodida por niil par*
daos. E dali prosseguio pêra Ormuz , onde chegado
maadou logo sollar Raix xarafo, & lhe disse Q ufl ya a
outra cOi>sa se não pêra ho fazer amigo coui Diogo de
melo: Q se linha dele algSs agrauos ^ requeresse sua
jusliça & 4 lha faria ainda ^ era seu parente. £ Raix
:|arafo como soube este parentesco descuntiou de lhe Ijo*
po vaz fazer justiija, & disse ^ náo queria nada Q lhe
perdoaua , & ho mesmo fez el rey Dormuz auisado por
Raix xarafo, & assi fícarà amigos cõtra sua võtade* E
Lopo vaz reprSdeo Diogo de melo porC[ hò achou culpa*
do, & assi licou inuemaudo em Ormuz.
CAPITVLOV.
De como Eytor da silueira do porto de Maçua mandou cha^
mar dom Rodrigo de lima , ^ sejoy a Ormtiz.
Xliítor da sHueira 1\ per mâdado de do Anrrique de me*
neses ho fora esperar ao cabo de Goardafum vendo qu^
se passaua ho l6[io de sua chegada foyse a IVlaçua , &
chegado aa ilha deDalaca ho primejroDabril, eacreueo
logo a dÕ Rodrigo de lima fazendolhe saber coum) esla^
ua em Maçua pedindolhe que ii)68e logo coele , & mã^
dou esla carta ao çohSo Darquico ^ lha mandasse. £
ele Iba mftdoa ao lugar de Barua õde ja estaua cõ ho
Barnegais, & b& triste e5 todos os de sua companhia
por terd por noua {| a índia era perdida & os Portugue-
ses (oítos nM)r(o6. B esta carta Deytor da siluf^ira lhe foj
dada na se^çunda oytaua de Paseoa a noy te : & logo dom
Rodrigo esereueo ao embaixada do preste q^ie era ida
a bQs lugares seus {| se partisse pêra Maçuá ondi^slaua
a armada dos Portugueses : & a seg&da feyra despois
da paseoela se par tio dd Rodrigo & fvy coele bo Baroe*»
LIVRO Vir. CAPITVLO V. 11
gaÍ8 pêra bo enlregar a Eytor da silueira, & leuaua dous
mil homSa de malas & algua em caualos & aeyscêtoa de
pé, & por amor da muyta gente gaalou a^ia somaaa to-
da ê quinze legoaa Q auia de Barua a Blaçua , Õde che-
gados entregou ho Baraegaia dõ Rodrigo de lima & o«
de sua companhia a Eytor da siiueira com grande pra*
eer, & midoulhes dar cincoêta vacas, & muylos carneí*-
ros y & galinhas , & muyto pescado : & despois chegou
ho embaixador ^ ho preste mandaua a Portugal. E em<-
bareado Eytor da siiueira se par lio aos vinloyto Dabril,
& foy fazer agoada á ilha de Camarão ho primeyro de
Mayo , & eatftdo hi ho padre Francisco aluarez Q tinha
assinada a coua em Q fora enterrado bo corpo de Duar-
te galuão quâdo. ali faleceo vindo Lopo soarez de ludá
desenterrou sua ossada pêra a leuar á índia, & isto se-
cretarafite sem ho saber mais ^ Gaspar de sá feytor da
armada , & ambos leuarSo a ossada ao galeão sam Lião
em \ yão, & tfidoa metida acodio vento a popa cõ (| se
£jtor«da siiueira pariío, & di6se Gaspar de sá a Fran-
ciscu aluarez , ^ assi coroo Duarte galuão fora b5 ho-
mem & acabara seus dias em seruiço de Deosj bssí Jhes
daua Deos bÕ tfipo |)or ele. E aos dez de Mayo Q a ar-
mada era auãie DadS & entrada no golfão Q lhe fazia
roeto bo inuerno da Índia , se começou biia muyto gra-
de íortDèla de vento cÕ que a segfida noyte c5 ho gran«^
de escuro ^ fazia se espalhou a frota & se perderão hãs
dos outros cõ grandissinio trabalho doe corpos S darS á
bomba pêra esgotarS a muyta agoa Q lhes entraua , &
perigo das vidas do mar ^ os comia. E ooeste têporal
foy forçado a Eytor da sikieirá arribar á cosia da Jndíá
õde se achou só na enseada de Cábaya : & por ser ja in»
oerno & nã ter Õde se acolher tornou a arribar ao goU
ÍSlo cõ a mesma tormèta, andando sempre ás voltas Q nã
podia nauegar doutro modo , & nelas se lhe gasiou todo
ho Majro & sete dias de Junho , & por^ os mantimSlos
4 leoaua nã erao pêra tanto lõpo foranselbe acabando,
prifltetpalmete a agoa dç 2) se lhe foy a mayor parle cõ
B 2
12 JDA HISTORIA DA INBIA
ho Iraballiar do oauio na lorniSta , & chegou a ser (ão
pouca ^ andou a gète três dias quasi sem comer nada
por não terem i\ beber. E neste têpo Eytor da silueira
por dar exêplo aos outros foy ho prirneyro Q deixou de
beber ^ & algua pouca dagoa que leuaua na sua camará
a daua por sua mão aos doêles Q auía aigús ^. adoecião
cõ fome & sede , ^ ele esforçaua cõ niuy to boa» pala*
uras: & por<!| nâ sospeí(assem ^ bibia na sua camará
nunca quis entrar nela neste tempo, & agasalhauasse
na tolda : o í[ daua muyto esforço a todos pêra sofrer ta-
manha fadiga, a ^ aprouue a nosso senhor de dar remé-
dio cõ auerem visla de Mazcate a sete de lunbo hu dia
a tarde, em Q ateli nê sãos nS doentes não tinhão bibi-
do por de todo não auer agoa no nauio. £ andando ás
voltas pêra tomar porto i\ não podião tomar por lhes ho
vSlo ser cõírairo acodtrãibe duas fustas dos nossos Q ali
andauâo darmada que lhes derâo agoa , & leuarâo ho
galeão á toa ao porto de Mazcate: & tomados ali man-
limStos se partio Eytor da silueira pêra Ormuz õde es-
tauão 08 capitães de sua armada Q chegarão xxviii. de
Mayo. E. chegado Eytor da silueira a Ormuz, dom Ro-
drigo deu a Lopo vaz hQa carta ^ leuaua do Preste pê-
ra Diogo lopez de siqueira, & bua roupa de seda cõ do-
ze grades chapas douro de martelo, & ele lhe fez merca
em nome dei Rey de Portugal de duzStos pardaos, &
lambS ao embaixador do Preste doutros duzSlos, & man-
dou logo tirar a mõte os nauios da armada Oeytor da
silueira por terê necessidade de corregiujèto pola tor*
naSta passada, & mãdou pagar soldo a sua gSte por^ nâo
tinha ^ gastar por as presas ^ não fizera no estreito. E
concertados os nauios, mandou na entrada Dagosto £y
tor da silueira ^ fosse á põta de Diu esperar as nãos ^
foss6 do mar roxo pêra Cãbaya , & mandou coele Ma-
nuel de brito* & Manuel de macedo nos seus galeões, &
co quatro galeões & duas carauelas se partio |)era a põ-
ta de Diu quasi na fim Dagosio, & ele & os eapitâes da
sua armada tomarão hi por força três nãos de mouros de
LIVEO VH. CAPITVLO VI. 1*
Meca ^ yão f>era Diu em ^ se fízerâo tâk> boas presas
que despois de vSdida a fazêda (| se tomou nelas mõ^
touse no quinto dei Rey sessSta mil pardaoa pagas as
partes a fora os catiuos que forão muytos. £ por^ des-
pois da tomada destas nãos nâo passarSo mais outras,
partiose £y tor da silueira pêra Chaul , õde achou Lopo
iraz de sam Payo Q auia pouco Q chegara Dormuz Q fez
niuyta hõrra a Eitor da silueira poias presas & muyios
catiuos í\ trazia de f\ as galés & nauios da armada se po*
diâo bê fornecer. £ íby acerto j} hQ soldado natura! de
Viseu vio ãtrestes catiuos !\ estauSo presos hO judeu i^e-
Ibo (| moraua no rey no de Fartaque por õde passado ele
cõ outros portugueses pêra Ormuz , j} se perderão na
costa do mesmo reyno & yio muyto pobres : a^le judeu
Telho j) estaua preso os agasalhou 6 sua casa , & lhes
deu cõ (| se vestisse & despesa pêra bo caminho. E lem-
brado este soldado deste bem !\ lhe fizera , pedio a Lo*
Kvaz ^ lhe fizesse mercê dele, cõtandolhe a causa porí^
3 pedia: 8c ele \ha fez louuandolhe mu^lo a lêbrai^a ^
tinba do bè que recebera. E despois ho soldado ãdou
coele pedindo aos outros- soldados dízêdo a todos ho
bem Q lhe fizera ^ & a|fitoulfae cicoêla pardaos : & quã-
do os mouros & outros judeus soubera isto dizião pubri-
camète 1) outro bê n&o era agardecido senS o Q se fbzia
aos Portugueses ^ & por isso lhes auiSo de fazer bê quS*
do oa achassem ê suaa terras..
C A P I T V L O Vf.
De como UmSdase Mdiq saca capitio de Diu dei rey de
Câbaya deUrminoú de dar fortaleza aos Portugueses.
±Xo quarto rey de Câbaya Q ouue nome çoltSo mado^
far teue hfi filho i] foy ho primeyro a ^ chamou Badur,
que sendo moço nuindaua matar por lhe dizerê os seus
feiticeiros ^ despois de home auia de dar miiyta oppres-
sft ao reyno & ho auia de destruir por ser muyto mao.
14 BA HISTORIA DA ÍNDIA
£ sendo Badur auísado disto fugio & foyse pelo mudo
em trajos de jogue com Q andou por diuersos re;fno8 &
quasi {} soube as lingoas de todos por ser muyio curioso
de saber as oousas eslrãgeiras & muy êgenhoso, & indo
ter á cidade de Chiíor no reyoo de Saga (Q como dia-
se cootina cõ ho de Cãbaya) soube como seu pay era
falecido^ & assi bú seu filho ^ por seu faleci m6lo lhe att*
cedera no reyno, & 4 o^ senhores de Câbaya leuâtarão
por rey outro seu irmão. E determinado dauer por esta
^ía ho reyno ^ era seu de dereyto, descobriose á raynha
Cremei! ( ^ estaua viuua & gouernaua o reyno por ho
príncipe ser ainda menino ) pedidolhe ajuda & fauor pê-
ra cobrar seu estado: o f\ lhe ela deu de boa vôlade ,.&
fez cõ el rey do Mâdou seu vezinho senhor muy podero^
so 4 tambS lha desse: & cõ esta grande ajuda cobrou
ele ho reyno em {| matou seu irmáo ê hua batalha des*-
pois dalgQas f\ ouuerão ambos. E sSdo çoltâo Badur pa-
cifico rey de Cãbaya começou de se querer vigar dalgds
senhores do reyno j) seguirSo cõtrele a {>ar(e de seu ir^
mão , & ãtrestes foy MeliQ saca fiJho de JMeiiquiaz , l|
era cãpilão de Dio, 8c receado ele Q el rey lho tomasse^
determinou de se fauorecer cÕ os Portugueses , & portj
lhe parecia i} não auia gouernador na índia por ser ain-
da ê Ormuz escreueo a Chrístouão de sousa i} lhe mã-
dasse hil homS muy to hÕrrado , que lhe queria dar cÕta
du caso de muy ta importâcia, pêra o que lhe eraneces^
eario fauor do gouernador & não quis escreuer o i) era
por não ser descuberto: & por Lopo vaz estar S Chaul
fo;lhe dada esla caria , & pola imizade i) sabia í\ auia
anlreMelij) & el rey deCambaya lhe pareceo t\ por ne?
cessidade se lhe queria encomSdar ^ & ele quisera ser o
q fora a verse cõ Meli^ , mas foy por todos cõtrariado
em conselho, dizendo j) não era bê que ho gouernador
da índia fosse a cousa incerta : & acordarão ^ fosse £y*
tor da silueira cõ a armada cõ (\ partira Oormuz, & ele
foy cõlête & se partio logo.
LIVIIO V|X. CAFITVLO WIU 1»
C A P I T V L O VII.
Do connlho ^ Hagamaàmut deu a Meliq sobre despir
Diu : ^ como lho iouwu^
X^begado Eylor da síiueira ao {>or(o de Diu JMeliQ se
9Ío logo coele & lhe cvoiuu ioda a imizade ^ auia aiiire-
ie & eiRey deCa4iiba]ra de qu8 se nàu auía de frarpos*
(o que reoòcdias«eui , porQ oào goardaua a ninguG sua
paiaurii : & |>or isto queria pur se vingar dar a fortaleza
de Diu a el Rey de Porlugal pêra ler seu fauor & aju-
da quSdo ibe Ibase necessária^ porem que auia de t<*uar
Ioda a arleJbaria & mQnújòe» que liiiba em Diu perala-^
^te bOa ilba nos KezlHiios Ôde queria fazer sua morada
par se segurar dei rey de Cabaya, & ^ Ibe aaiâo de dar
ametade do c) rendesse a ailaadega de Diu. £ algãas
vezea ^ JMeii^ se vio eom iialor da silueira teue coele
esta pratica »& aoer mais e&yio^ f^^^ mouros nuca »»
cabfiu de se determinar porQ de seu natural sã descdfia'»
ém : te eale tioba aigQ receyo í] deêpois ^ leuessè Dia
Qâ Ibe daria nada, & fazia^bo ler Hagaanabmui a^le
mouro seu parente de í\^ fatey alras que estaua coele , a
quS pesaua tanto de dar Uiu aos nossos ^ desejaua de
bo matar, & €omo nâo podia dissimulaua coele & dtzia^
lhe i| fazia inuyto hè de dar Diu aos Portugaeses por se
segurar dei rey de Càbaya y porè i^ segura n<^a teria ele
de Ibe darê ameiade do Q rendesse a alfandega de Dio
deapuis Q bo tenessem, & ^ lhe parecia Q estando eles
BO porto de Diu nâo se deuia de ir pêra laqnele : por(^
coroo os Portugueses nA ecào seu» amigos por natureza
ae oào por interesse quS Ibes loiberia ^ ao embarcar de
tua pessoa, nielheres h tbesouro ^ era grande bo não Uh \
masaem cõ indo y pêra ^ estado em sen |ioder Ibe alar*
gase be Ibesouro & a que Uma pedia da rftda de Din.
£ cemo Meii^ era desconfiado & andasse Ião cbeo de
bimIo fesibo asu^yte grande esta dnnida de HagamabmiU
IS DA HISTottlA Dá ÍNDIA
q era seu parSle & amigo, & de quê confiaua t\ se doe«
ria de sua vida & hõrra , & por isso o que lhe disse fez
nele tamanha impressa Q sospeitou que aquilo poderia
assi ser, & começou de se ãtreter em sua ida, & preg{|«
tou a Hagamahmul o {| faria: & ele por lhe nS sair de
todo da vontade Q sabia i) era dar Diu, disselhe l\ assí
bo deuia de fazer pêra se segurar dei rey de Cambaya.
£ pêra segurá<ja dos Portugueses Q nSo fizessem o quó
receaua nÁo se deuia dembarcar coeles no porto: & de<»
uia de dizer a Eytor da silueira que se (ornasse a Chaul
fingindo algflas causas pêra isso, & despois de partido
se embarcaria muyto a seu saluo & se iria, & ele fica*'
fia em Diu pêra ho Clregar a Eytor da situeira í\ ioçd
mandaria chamar despois de sua partida* E não sendo
MeiiQ tão recatado como lhe era necessário teue pot
muyto bõ ho conselho de Hagamahmut Q lho nSo daua a
outro fim se não pêra que os Portugueses nâo ouuessem
Diu , que determinaua de partido Melíque ho entregar
a.el rey de Cambaya pêra se congraçar coele: & come-
çando a embai'cação de Metique de se dilatar, ya Ha«
gamahmut cõ recados a Eytor da silueira ao seu galeão
dizendolhe da parte de Melique que sentia aluoroço nos
moradores de Diu por verem a nossa frota no porto &
começarem de sentir ^ lhe queria dar Diu , & que re-
ceaua de se leuantarem cònlrele, por isso ^ deuia tor-
narse a Chaul |>era com sua ida se assessegar a cidade,
& assessegada tornaria. E parecendo a Eytor da siluei-
ra que aquilo era arrependerse Melique mandoulhe dt"
zer ^ do aluoroço da cidade lhe nfi desse nada , porque
eoino a fortaleza estaua da banda do mar podia embar-
car se hfla noyte secretamê4.e, & em se embarcando se
meteria ele dentro na fortaleza , & como fosse nela lhe
daria pouco poios aliioroços da cidade. Ao que Melique
respondeo por conselho de Hagamahmut que ele nfio se
auia dir de Diu sem leuar toda sua fazenda & artelhai'
ria o que não se {x>dia embarcar so nSo por espaço do
dias, & em quanto se embarcasse seria sua ida desça-'
Liviio ' vt«, CAPítvíx> yrut. ' vr
herta o que ele não queria , pof isso lhe parecia que se
tleuta de tornar a Chaui & ele embarcariíi sua fazenda
maia disãimaladainCie & sem aospeila da gftte 1} asse»*
segaria c5 sua ida : & 48do tudo prestes ho niSdaria chac-
inar, & assi se faria melhor & nr>aÍ8 a saluo de todos. E
deaooníiâdo Eytor da silueira da verdade de MeKQ por
estes recados, por. saber a verdade da sr^peita Q tinha
de fhe não dar Diu, banqueteaua Hagamahmut & outros
mouros que ySo ooele, & niandaualhes dar mayto vinho
dnoas pêra qoe os embebedasse, por lhe parecer que be^
bados lhe diriSo a determinação de Meiiq. E Hagama^-
famut como era prndSte StSdiao & fasiase muyto bêba-
do: & porque se Eylor da silueira fosse dizialhe que
Mefi^ nã lhe auía de dar fortaleza em Diu , & {) ho ti-
nha ali pêra assentar b8 suas cousas cÕ el rey de Cá-
bãya cO quS ãdaua tratado amizade*
C A P I T V L O VIIL
De como Eytor da silueira se tornou a Chaul^ ^ do mah
^ fez Lopo vaz de sã Payo.
Jli isto creo Eytor da silueira () seria aasi por() seerfiide
ho feruor q vira 6 Melique pêra despejar liiu pareceo-
Ihe que ao oufro dia ho despejaria, & vendo a ditar^ãé
que punha, leue por certo que se arrependia da primey-
va determinais : & assi ho escreueo a Lopo vaz pedin'*-
dolhe que determinasse o que faria , porque lhe parecia
-que sua estada era sem prbueito. Vista por Lopo vai
esla earta, mostrouha em cSselho em que lhe foy dite
por algus que ninpuertf podia melhor determinar o que
£y(or úh silueira' faria nac|tiele negocio que ele mesme
pois lá estaua & via o que passaua, de-q podia det^r^
minar o que seria melhor': )K>rque determinarse coeles
que não trnhão experiência do que la ya era fazer cou^»
sa ás escuras : & que podtXo com sua determinação dei»
tar de tmio a j)erdef aqtiele negocio de que a el rey d4
LIVAO vil. * c
18 Z>A HISTORIA BA INBIA
Portugal: resultaua tanta honrra & tanto proueito-, po>
i$Bo que Eytor da silueira ho deternúnasse & aâ8i ho fi*
^esse. Out-^os disserão ^ poi« devera tão froxo que es^
tando Ia & vendo o que passaua não sabia determinar o
que faria ^ & bo màdaua pregQlar a quem bo nâo via^
<)ue não era bem deixar cousa de tanta importância em
sua determinação, & que se màdasse homem que bo
«oubesse fazer. E camo os pareceres erâo diiferêies , &
(quasi tantos dtLa parle como da outra^ láçou6^ Lopo vaz
da que diziâo que Eytor da silueira determinasse o qjue
Jbe parecesse, pori) Ibe pareceo que naquilo lhe fazia fa-
uor poF^ desejaua de ho ter de sua máo , sem mais a-
tentar qu^uito melhor fora mâdar outro porque não fize-
ra o que fez Eytor da silueira, a q.uem escreueo o que
delermiiiara na consellio. E como a cousa ficou em seii
parecer, & ele esleuesse enfadado deslar aii^ vendo co*
ino Melique insistia que fosse a Cbaul, & crendo que
bo fazia por nâo comprir o. que tinha prometido se foy
sem mais cÕsiderar, que assi como podia ser que Meli-
que mentia assi lambem falaria verdade- £ que bo loe-
do que tinha dei rey de Cambaya lhe representaria mil
inconuenienles pêra fazer bua cousa tamanha como deir
xar Diu & dalo aos Portugueses. E partido foy ter a
Cbaul Õde deu conta a Lopo vaz do que passaua è Diu.:
& não ateBlando mais Lopo vaz naquele negocio não
tornou a mandar logo Eytor da silueira a Diu ou outro
com bua insiruçâo do que auia de fezer, ates ordenou
de ho mandar ao estreito a fazer presas & que partiria
dali ,. porque em quanto se apercebesse pêra a pariida
se Melique mandasse recado pêra dar a fortaleza aco*
disse logo. E isto- se assentou em conselho , & por^. as
liouas da vinda dos rumes aa índia se começauâo daui-
uar por certaa, pareceo bem. a Lopo vaz escreuelas a eJ
Rey de Portugal , & í[ as leuasse Francisco de mendo-
ça nii seu nauio,. por quem Ibe também escreueo a a>-
bertura da sua sobcessam pola ausência de Pêro mazca-
f enfaas , & como gouernaua a Índia : & porque podesse
LJVRO VH. CAPITVLO Vltr. 19
tír gente na armada do auno seguinie despachou logo
Francisco de mendoça () parlío na entrada Doulubro
porque chegasse a Portugal antes que a armada parCís-
se: & tambê despachou pêra Moc^ambiJ} a Nuno vaz de
castelo branco capitflo & feytor do nauio do trato de Cã-
baya pêra çofala , a () mandou ^ desse auiso em MoçS-^
bi^ da vinda dos rumes por^ se hi fossem ler J} esteues*
8§ apercebidos. E estas nouas dos rumes escreueo lopo
vas a Goa & a todas as outras fortalezas , rogantio aos
casados § quisessem seruir a el rey de Portugal em cer-
tas cousas que lhes nomeou Q erft necessárias por amor
da ?inda dos rumes pêra o Q não auia dinheiro ao pre-^
sente. O que eles fizerão de tnuyto boa vontade, & em
Gochíni começarão logo h(l galeão & faua carauela , &
hua gale : & de renouar a fortaleza que estatia dãnefi*
eada : & em Gananor se abrio hfia caua muyto alta que
cingisse a fortaleza , & em Goa hQ lanço de chapa no
muro & fa3 galeão , & hda carauela, & hòa gale, & em^
Chaul outra gale, & mandou tambS Lopo vaz Fernão de
Hioraís a Ormuz com poluora & outras cousas necessa-^
rias pêra defensam da /br<aleza« £ fejfo tudo íffto par-
tíose pêra Dabul pêra ho destruir por «star aleuanlado,
& posto que estaua assentado em cõselho {} Eítor da sil*
ueira ficasse è Chaul , & dati se partisse pêra ho estrei-
to, porque se Meiíque mandasse recado Hie acodisse:
lopo vaz ho leuou cõsigo com toda a armada pêra ho mH^
dar de Goa, sendolhe requerido por todos os fidalgos que
ho não leuasse porque se não perdesse Diu fior ele ali
não estar se Melique mãdasse recado pêra ho entregar,
& nâ quis se não leualo, & isto a requerimCt^ Dçitor
da silueira^ porque ouue por afroDta ficar em Chaul
com Chrístouão de sousa que daua mesa a todos os fi^
dalgos que ali inuernarão que erão rouytos, & assi a ou-
tra muyta gente que todos folgauão destar em Chaul
por Christouâo de sousa ser muyto largo de cõdição &
apraziud. E porque Eítor da sHaeira não auia dandat
tâo acõpanbado como ele, por não poder fazer o i^ue*
c 2
SO DA HISTORIA PA IN0IA
ele faaia nâo quis ficar em Cbaul, & fez com Lopo vaa que
ho leuasse a Goa : o Q foy a final causa de se desla vez não
auer Diu*
C A P I T V L O IX.
De como ho Tanadar de Dábul padio paz o Lopo wm
de sam Payo.
XJ^e Chau] se foy Lopo vaz de sam Payo a Dabul com
delermÍDaçã de o destruic porque bo (aoadar recolhia, ali
mouros de Meca , & conseolia que carregassem suas
sãos, & trazia alguas fustas darmada auèdo paz âUe el
Rey de Portugal & ho Hidalcâo*. £ entrando pela barra
dentro cÕ a gente prestes pêra desembarcar, sayo ha
Tanadar a recebelo em hua almadia , por^ nao era a*
quele contra quem ya Lopo vaz, se nSo ootro ^ lhe su--^
cedera no oflScio que desejaua de conseruar a paz Q es*
taua assentada ,. & por isto sayo a receber a Lopo vas
& descuipousellíe da culpa que leuera seu anlecesso»
pedindolbe ^ lhe confirmasse a paz que estaua assenta^
da com os nossos, & que faria quanto quisesse, K ele
lha cõtirmou com cõdiçâo que lhe entregasse as fusta»
com sua artelharía ,. que logo entregou , & hQa nao de
IMíeca que estaua carregada de pimenta, & que não a«
colheria mais outras no seu porto. £ isto feyto partiose
Lopo vaz pêra Goa.,
G A PI. TV L O X.
jDo ^ ac6tec€o a António galuâo capitão de húa das nao»
da carga ate chegar á índia.
JN este ãoo de mil & cooecxxvi. partirão de Portugal
pêra a índia quatro nãos sem capitão raór de que forao
capitães Frãciscodanhaia, Tristão vaz da veiga, António
dabreu que leuaua a capitania mór do mar de Malaca^
& António galuão filho de Duarte galuão, que pariio
LivKO yir. câFiTVLo X. ei
rferfadeiró de ioàç>B a dezas^ye de JMayo : que sQca
ateli partira nao lã larde. E chegaado á cosia de Gui-
se andou oela cereuta dias boca na volla do naar hora
na da lerra seai poderem sair dali fora: porque como
«qui correm as agoas em demasia pêra terra cõ a en-
chente da maré por muyto que de noyle se alargaufio
pêra ho mar não podia ser tanto que quádo amanhecia
Bão se achassem pegados cõ terra , porque nSo |)odião
romper a grande for<;a dagoa. £ como António galuâo
enlefidesse algQa cousa da pilotagem , dizia muylas ye^
ses ao piloto ^ ibssem na volta do mar pois Unha venlo,
que poeto ^ fosse escasso que quanto mais se empegas**
sem lhes alargaria» £ ho piloto niio queria dando suas
retÕes ^ Autunio gaiuâo recebia cõtra sua võtade por Jhe
não parecera boas, mas nao lhe queria tomar seu officio
de mandar a via. E andado neste trabalho foy ter coeU
iiã nauio que ya da ilha de sam Thome pêra Portugal ,
& aabendo que a nao ya pêra a Jndia lhe disserâo deú
que ae tornassem pêra Portugal porque ja n&o ttnhão
teiopo pêra irem á Judia aquele ãoo por ser na fim de
luDhc 9 & Q estauâo ainda na paragem do cabo do mon*
Ce : com o que a gSte da nao ficou confusa & aluoroça«*
da pêra requerer ao capitão que se tornassem , assi por
ser tarde, como por a nao pender muylo & ser lemero*
aa de veia: porem António galuão oe assessegou esfor*
^jando oa que esperaua em n€>sso senhor de i^assar aque*
íe anno a Índia. £ veiMlo ho piJoto ta mestre do nauio
como queriãe prosseguir sua viagem , disserâo ao piloto
da nao que porque nSo se alargaoa da terra & fazia ho
caminho pêra ho cabo de santo Agostinho, porque a^la
era a verdadeira nauegaçSo , pelo que ele pedio perdão
a António galuão de não qverer tomar seu cõselho que
efitâo aprouou por hò : & daK por diftte se fez na volta
do mar, & quis nosso senhor que lhes alargou sempre
bo vento & fizerão coele seu dereito caminho, & porem
dando éa velas quando as ootras amainão <| assi era ne*
eesaario por aer mu;to tarde. £ porque a gftte se agaa^
22 1>A HfSTORfA DA ÍNDIA
taua com andarem tanto, António galuSo poloa animar
& tirar ho -medo que tinbSo mandaua sempre ter pfto &
vinho 8obre cuberta pêra que coineaaem & bebessem, &
alambor & pandeiros pêra tangerfi & cantarem: porque
doutra maneira morrerão todos de pasmo. E como Anto*
nio galuXo vio ho erro (\ ho piloto fizera em nSo se em-
pegar da costa de Guiné nât descansou mais sobreie &
tomou anlre si cuidado da via & de cartear: 8c era tâo
certo nisso que fazendose ho piloto & outros eft as ilhas
de Tristão da cunha passadas, sempre perííou que nft fie
no próprio põto !\ disse Q as auiã de ver as virão, do ^
fao piloto & os outros se espantarão muyto. E nauegan*
do com muyto (rabalho se poserão 6 altura de trinta &
noue grãos, & dali começara a deminuir & por se faze*
rS com ho cabo dobrado no mes de setêbro em () ouue-
râo desiar na índia, pareceo ao piloto que ja aquele âno
não poderião ir a ela, ainda () António galuão j^ria ir
por fora , do que se o piloto agastaua tanto , ![ disse á
gente que os (|ria leuar a perder, porque os vStos auião
ja de ser leuanles, & as agoas corriSo muyto naquele
tempo pêra ho estreito de Meca , onde os auião de )an*
çar como ja lançarão outras nãos, Sc este auia de ser ho
derradeiro remédio qnãdo os deos quisesse saluar mila«
grpsamCte : mas que ho mais certo era ^ antre monção
& moução que era ho mes doutuhro & de setSbro auião
dachar tala calmaria naquele golfão Q auiã de morrer de
fome & de sede, & isto quãdo escapassõ dos muytos bai-
xos & iihas & rastinguas ^ auia nele« E coestas rezòes
& com outras prouocou quasi todos a que fizessem por
força ir António galuão por dfilro quãdo não qijisesse
por sua vòtade. & primeyro ho piloto è nome de todos
lhe fez hiia fala em que lhe daua todas as rezões que
digo & outras muytas pêra não ir por fora se não por
dentro, & inuernar em MoçãbiQ. Ao j| António galuão
respondeo que não auia dír se não por fora, & Q espe-^
raua em nosso sftor de passar aquele ãno á índia, roga*
do muylo a todos que lhes parecese bem lio Q dizia, &
LIVRO vu, CAPiry^o x* M
imítfHnc)o*RÍato ebamou bo piioio ao mastre, Q. aoia no-
na fisteoão diaa pêra Q bo ajju^asse coolra o capitão
foyu iodosecàe da aoa pafle, ao que ele respSdeo que
Ottca deos quisesse ^ fosse cõtra iat pésgoa , qufito Biais
aeodo seu capíláo, a qu^ era obrigado dobedecer^ &
/Bõislo ficou a cousa asst. £ cõ ludo lendo o pilo lo os
mais da sua parle detet niíooti de leuar a nao a iVloçãbi*-
§ue mandando gouernar pêra lá, bo {| sabSdo Ântonio
galttâo oiandbu Jogo gouernar pêra onde queria, p<>lo
<i)ue bo piioio Ibe emcâpou a nao,. & fez fazer bu aulo
de Goinu ibe o eapilSo lomaua bo seu oificio & Qria n>e-
ier a nao no fundo reíJrSdolbe da parte delrey 2|, ibe deir
xasse Jfizer seu ^eaminbo & coino António galuao visse
^ bo oiélbor cffa ir pot fora nâo quis se não íazer bo que
ibe parecia bem : jk disse {| eJe mâdaria a via : & por^
Ibe nâu- mudasse a derrota tiaba de noile & de dia bOa
agoiba na sua camará em {| via pêra onde gouernauão ^ -
& encomCdauase a nosso sftor mandando dizer missa lo-
dos oa dias, & á noíVe a Salue Sc as ladji^ynbas & rogaua
a nosso sfior ^ lhe valesse» £ era tam deuoto , Q que*
brâdolbe bo garoupez cÕ búa loruoada nS quis § se co&*
cerlasse ao oatpo dia por ser dia saneio, nè ao outro ^
era domlgo , cd qjuãto o mestre se queixaua ^ perdião
viagC sem a eeuadeira, & todauia não quis António gal-
uao <} se corregesse bo garoupez poi sei S os dras 1^ erâo,
lio qUe parece que d^y permissão diuina por%. se andarão
iiai|ie8 doua dias lalo quãto o mestre qn^isera ouuerão
dir varar por cima dos baixos dos abrolhos que eslão em
dezasele grãos da bàda do aorta, & sSdo perlo da Jinba
comequulbe dadoecer algOa gente ^ ele fez curar cÕ lan^
ia diligencia ^ Ibe nã raorrea nSguS , bo Q foy mujlo
despanlar, por4 ali morrfi sSpre muylos. E despois ^ bo
piloto vio quã bõ conselbo fora* bo Danlonio galuão em
ir por fora ,. & ^ esperaua de ser muy cedo eò a costa
da Índia |>ediolhe perdão doa re^risuêtes ^ lhe fizera,
louuãdobo do melboc piloto do mundo :. & kido ja perto
da cosia da Índia acbaràose anise as ilbaa de Maldiuai,
84 DA HISTORIA 3>A ÍNDIA
& como 9H (odas rasas com a agoa & nê bè piloto n6 dck
nhu dos que yão na oao forâo aK nãca fiearfio muytoi»-
gastados : & mais porque viâu. hfiB 4>aixo8 por firoa ^ a«-
rebdtauão em frot , ho ^ visio por António gaiuao se ao-
foio a gauea com ho mestre , ( porc) ho piloto desacoroí^
coou ) pêra descobrir de lá a terra & por onde aoiâo diR^
& assi chegon aos baixos i\ conkeceo que erâo de pedra
viua, peto ^ lhe pareceo que ao iògo deles auia de ser
alcantilado, & mandou fazer caminho ao derredor dele«|
& em se poendo ho sol mâdou tirar aigQs tiros pêra l[
acodisse gSie de terra se a ouuesse, de ^ soubesse dde
era. R logo sayo de hiía ilha hua almadia bS esquipada
•em () ya bd velho com quinze ou vinte homSs quacb^
gado abordo da nao entrou dentro, & dele sodbe Anto^
nio galuâo !\ era sftor da^la ilha ^ auia nome Gafar bfia
das de Maldiua & que ya bem nauegado: & foy coelé
ate bo outro dia em amanhecSdo que sayo dantée as
ilhas, & poslo ^ ho mestre & piloto cÕselhaufi a Anto^
Oto gaiuao ^ nSo deixase ir os das ilhas ale ho poerete
na costa da índia nSo quis di^êdo ^ aA^a não fazer ho
^ deuia ficaria a gSte tam escandalizada que ainda ^
irissem outra nao nã lhe acoderiã & a deixarilo dar á
costa , & galardoSdolhes a boa obra l\ lhe fízerão os dei»-
xou ir, & partidos daqui hti domtgo na fím doutubro 6
amanhecido ouuerSo vista de doze velas & arribado a
elas virSo terra & ao longo dela hõa grade armada 2} com
fao terrenho se faaia na toMa do mar^ & das doze velas
i| parecerão primeiro, & neste tempo foy conhecida a
terra ^ erSo as serras de Calicnt ? & a armada era de
Malabares , & as doze velas cuidauâo serem de rumes
que era a própria moução pêra virem , & os nossos es^
tauâo ja prestes pêra pelejar que em amanhecendo se
a|)erceh#>o António galuâo, & nisto hfia das doze velas
chegou á nao, & conhecSdo que era dos nossos saluoiiw
os com hua grande g^^^^ ^ & entrarão aleus na nao que
disserto a António galuâo como estaua defronte de Ga^
licut que estaua de guerra & de lá era a armada «que
LIVRO VII. CAPITVLO XU 2b
Yião, & que ho tempo o8 lançara ali vi-ndo pêra Cuchim
das ilhas de Maldiua com fazenda pêra a feíloría, pe*
dindolhe que os leuasse em sua conserua porque não li-
ahâo arieiharía , & ele ho fez assi & a armada de Calí-
cul não ousou de os cometer , cu jdando que todos erãd
darmada & forãose meter no porto , & António galuâo
surgio defronte por lhe ser ho vento contrairo pera Co«
ebím 9 pera onde queria ir , nSo temendo ho perigo que
era estar tâo perto dos immigos, & ali pedirão mujto to-
dos os da nao a António galuão que pois ho vento era
a popa pera Cananor & pera Goa que fossem lá & que
farião muyto proueilo em ?Sder hi suas mercadorias^
porQ vSdendoas em Cochim como era ho derradeiro por-
to auíão de fazer barato delas. £ escusandose António
galuão desta ida por recear que não tornasse a Porto*
gal no ãno seguinte por quão tarde era, lhe disserão que
isso queriSo eles, porque como a nao era grande & nãe
linha na índia Õde innernar irião a Ormuz em que fa-
rião muyto proueilo éobrãdo sua fazSda , & quando tor-*
nassem seria mais cedo & poderião empregar de vagar t
& como isto era perda deJ rey não quis ÂDtonio galuão
Ç se ãzesse , & acodindoJhe tempo foyse a Cochim onde
achou as outras nãos que aquele anno partirão de Porta--
gah
€ A P J T V L O XI.
De como d rey de Portugal mandou que Lopo vaz de
sam Payo fosse gouernador^
Jii chegados a Cochim Francisco danhaya & Tristão
vaz da veiga ^ erão capitães de duas nãos derão a A'
/80o mexia vedor da fazSda doas vias de cartas <) lhe
leuauão dei Rey de Portugal , & neslas achou ele dons
ina<^ de subcessões da gouernança da Tndia por faleci*
B»%io de dom Anrrique de meneses. E pera saber co«
mo aquilo era leo hila de duas cartas que lhe el Rey es*-
creoia que dizia«
LIVRO VII. j>
26 VfA HISTORIA DA ÍNDIA
« Afont^o mexia, eu el Rey vos enuio muylo saudar»
Per duas vias vos enuio nesla armada que nosso senhor
leue a saluamêlo dous sacos de cartas & despachos daa
eousas dessas partes que ouue por meu seruiço C| agora
fossem, &' leua hu dos sacos Tristão vaz daueiga & ou-
Iro Francisco danhaya: (omay as cartas que váo pêra
vos & as do capitão mór lhe day & assi todas as outras
ás pessoas a que vâo, & não tique nhOa que náo seja
dada, & aquelas que esteuerô fora donde vos esteuer*
des mandayíhas dar & vão a todo bõ recado. E nesta ar^
mada me enuiay hú rol de como forão dadas aquelas
que destes ás pessoas onde vos estais, & ho modo que
ieuestes em enuiar as outras q vào pêra as pessoas que
csleuerê fora, & tomay disto bõ cuydado, porí| ho ey
por muylo meu seruiço serè dadas todas as ditas cartas:
as prouisões ^ vão das subcessões da capitania mór, tê**
de na£[la boa goarda & segredo q cumpre a meu seruiço
como de vos confio. Scripta em Almeirim a vinte dias
de Março Pêro dalcaçoua carneyro a fez de mil &c quí**
iihStos & vinte seys: & das outras prouisões ^ ja la t&«
des nâo se ha dusar, & as lereis ê boa goarda & mas
trarei:) quando S bora vierdes, el rey. A outra carta era
do teor d^sla , se náo q nâo ttnba esta partícula derra-%
deira. E vistas pelo vedor da fazenda, pegouse a esta
particuJa derradeira que das prouisões das subcesões !\
estauã na índia nâ se auia dusar: & por isso determi*
liou dabrir estas q yão de nono, & dizSdo ^ era hita cou«*
sa que cumpria muyto ao seruiço dei Rey, fez ajutar na
sé de Cochiai dom Vasco deça capitão da fortaleza, ho
bcericeado loâo do soiro otiuidor geral da Índia, loa ra-
belo feytor de Cochim , Duarte teixeira tesoureyro das
mercadorias , com outros officiaes da fazSda & da Justi*
^a, & assi os capitães da armada de Portugal & outros
âdaigos & caualeyros da Índia. E juntos todos lhes ieo
aquelas duas cartas que lhe el Rey escriuia : & despois
lhes disse que è hCia delas parecia bem claramSte nâo
querer el Rey que se vsasse das subcessões que eslau2a
itivRo vif . CAPirvLO xr» 27
•jia índia se não daquelas que ali inandaua , & que de-
rogaua as que eráo abertas^ pelo que queria abrir as ou-
tras , & ver quem el Rey inandaua que fosse gouerna-
dor pêra ho auerS por esse. Ao que dom Vasco de^^
disse que por dizer na aua carta que das prouisftes que
esiauSo oa índia não se vsara, não se entendia que se
srsasse das () ySo posto que as da índia fossem abertas:
porque se ei Rey aqoiio quisera que assi bo declarara^
« que escreuera pareeendolbe que as sobcessfies que es-
tauâo na índia não erão abertas, mas sendo ho como $^
Dia de mandar qne se não vsasse delas & ficar em ta»
-manha obrigação como ficaua aoa I| daua a gouernãça
da Índia & )ha tiraua sem nhQa causa pelo que mãdaua
ter em miiyto grande segredo as subcessões , & pois el
Rey não mandaua , que posto que fossem abertas as ^
^esiauio na índia , que se abrissem as (} mãdaua de no-
vo que lhe requeria da parle dei Rey que as não abritf-
me, & não desse causa a auer diuisSes na índia, que e»-
taua claro auer ^inlfe Pêro mazcarenhas cuja era a g^
-oeroança de dereyicy: & aquele que se achasse na nona
-tubcessam cuja a goueraan^ não era , pois ei Rey não
mãdaua que lha dessem : & se ele queria ^erair sua bU
tesa , que lhe lornasse a mandar a noua subcessam c6
declaração do porque a nã abrira. E deste parecer de
^ Vasco forão muytos, & outros com bo vedor da fa«
senda que se abrisse a noua subcessam. E> ele disse a
éom Vasco & aos outros qne de ser mal oo bem abrirse
a noua subcessam, que ele daria conta de como bo A-
xera , & ^ a auia dabrir : & assi ho fez contra v>on(adb
da mayor parte dos Q ali estatião.
B 1
28 DA HISTORIA J>A iNDIA
■
C A P I T V LO XII.
fit como Lopo vaz de sann payo Joy declarado por 90-
uemador.
jOLherlaí a noua subcessão Fernão nunez eficriuâo da
fazenda a leo em alta voz , dizendo
« Eu el Rey faço saber a todos os meus capitães & at*
caydes mores das minhas fortalezas da índia, capitães
das nãos, nauios das armadas que nas ditas partes âdão^
fey tores & escriuâes de minhas feytorias , capitães d«
Aaos, nauios i\ vão pêra vir cõ ã carrega pêra estes rey-
Bos , fidalgos , caualeyros , & gele darmas Q nas drtas
partes andarS & a todas quaes quer outras pessoas & of*-
ficiaes da justiça & fazêda a 4 este meu aluara for mos-
trado, Q pela muyta confian(;a que tenho de Lopo vaz
de sam payo fidalgo de minha casa, que nas cousas d«
Q ho encarregar me saberá b6 seruir : me apraz que
sendo caso que faleça dõ Anrrique de meaeses, Q ora
•fae mea capitã mór & gouernador das ditas partes da ín-
dia ^ nosso Senhor não mãde, subceda & entre na dita
capitania mor & gouérnança, ho dito Lopo vaz pêra ne-
la me seruir, cô aquele poder, jurdiçâo & alçada que ti-
nha dada ao dito dom Anrrique de meneses, & me a-
praz que aja em cada h(i ãno em quanto me seruir na
dita capitania mór & gouernança , dez mil cruzados, s.
cinco mil em dinheiro, & os outros cinco mil em pimS-
ta comprada do seu dinheiro ao partido do meyo, toma-
do & nomeando seu risco nas nãos & nauios Q nomear
que vierS pêra estes reynos, segundo crdenãça dos par-
tidos do meyo, E entrado assi ho dito Lopo vaz na dita
capitania mór & gouernança da índia, enirará na capi*-
tania mór do mar que ele lem, António de miranda da-
zeuedo, com ho ordenado que coela tinha ho dilo Lopo
vaz de sam payo, & no cargo que ele ao tal tempo te-
uer, prouerá ho dito capitão mór ate eu prouer: & não
LIVRO VII. CAPITVLO XJI. M
estado fia índia ho dilo Lopo vaz ao tempo do faleci-
mento do dito dom Anrrique, por ser vindo pêra estes
rey nos ou sendo falecido, ou falecSdo despois dêtrar & su-
ceder na dita capitania mor & gouernanija, S quafquer
destes casos entrara por capilão mor & gouernador Pe*-
ro mazcarenhas que está por capilão de Malaca: & aue-
ra bo dilo Pêro mazcarenhas, os ditos dez mil cruzados,
de seu ordenado de capitão mór & gouernador , daquela
maneyra que os ordeno ao dilo Lopo vaz, & Strará Pê-
ro de faria na capitania de Malaca, õde o dito Pêro maz-
carenhas está & auerá ho ordenado da capitania de Ma-
laca. £ estado ele por capilão S Goa prouera ho dito
meu capitão mór na dita capitania, a pessoa que lhe
parecer que pertence mais a meu serui^o ate eu prouer,
& auerá ho ordenado da dita capitania. E porem volo
nolefico assi, & vos mando a todos em geral & a cada
hu em espicial, que vindo ho dito caso se cumpra, &
goatde inteyramente este meu aluara como nele he con-
teudoy & a quall^r dos sobTedilos que entrar na dita go-
uernâça obedeçaeis , & cumpraes seus requerimentos
'& mandados, assi como bo fazies ao dito dom Anrri(]|,
•& como sois obrigados de fazer ao dito meu capitão mór
& gouernador, & em todo ho deixai vsar, do poder, jur-
de^ao , & alçada, que ao dito dom Ânrrique tinha dada
por minha carta , sem duuida nem embargo algQ que a
elo ponhaeis, & mando ao meu vedor da fazenda que
em cada hu anno em quanto me seruir na dita capita-
nia mór & gouernança, lhe mande pagar os ditos dez
mil cruzados na maneyra sobre dita* Feyto em Almei-
rim , á quatro dias Dabril , lorge Rodriguez ho fez , de
•mil & quinhentos & vinte se]^s. E estes dez mil cruza-
dos que ordeno que ajão os sobreditos por anno, será
naquele próprio modo, forma & maneyra q os tenho da-
dos ao dito do Ânrrique, & ho ordenado de António de
miranda dazèuedo entrando na capiiania mór do mar se-
rão doos mil cruzados por anno.. s. mil em dinheiro &
mil em pimenta bo modo sobredito de como a ha dauer
30 l»â HISTORIA DA ÍNDIA
ho dito dom Anrrique, posto que diga Q ha dauer be
ordenado de Lopo vaz. El rej. Lido este aluara, foy fey-
10 bu auto por Fernão nunez escriuão da fasSda da a-
bertura daquela subcessam , ^ foy assinado pelos mais
dos que ali estauâo, porem a mais da gSte assi altos co-
mo baixos estranhauão muyto abrirse a{|la subcessam ^
& dizião ^ bo vedor da fazfida fizera hOa cousa muyto
errada & roubaua sua hõrra a Pêro mnzcarenhas que por
dereyto era verdadeyro gouernador, & que Lo{x> vaz de
«am Payo nâo faria bem daceitar a gouernança que nio
era sua : & que vindo Pêro mazcarenhas esperauão que
ouuesse na índia grande reuolta por ter nela muyto mais
valia Q Lopo vaz de sam Pajo. E bS parece que adiui-
nhando el Rey de Portugal estas reuoltas Q se poderiâo
seguir, como soube per Frãcisco de mendoça que d5
Anrrique de meneses era falecido & lhe subcedera Pêro
tnazcarenhas por cuja ausência Lopo vaz de sam Payo
gouernaua a índia , por atalhar ás dinisòee que poderia
auer mâdou logo Pedreanes frSces em hQ nauio c5 reca~
do ^ auia Pêro mazcarenhas por verdadeyro gouernador:
& este se perdeo na ilha de sam Lourenço & nSo ouue
effeyto o que el rey qutsera. E declarado Lopo vaz de
sam Payo por gouernador , & auêdo ho vedor da fazCda
por esse, despachou logo dom Anrrique deça qoe lhe Io*
uasse a Goa (onde lhe pareceo Q ho achasse) a subces-
sam, & por ele escreueo hOa carta á camará de Goa em
t)ue Ihescreueo o que fizera pêra (} soubesse ^ Lopo vac
de sam Payo era gouernador & o teaesse por esse : &
sabendo híi Thome pirez capitão áH catur esta noua,
partio logo de Goa 6 busca de Lopo vaz pêra lhe dar es-
ta noua & ganhar as aluisaras & achou ho em Dabul de
caminho pêra Goa. E sabida a noua pola armada , os
mais dela eslranharSo muyto o que fizera ho vedor da
fazSda, porque todos queriilo antes que Pêro mazcare-
nhas fosse gouernador () Lopo vaz de sam Payo que
continuando dali sua viagem chegou a Goa, onde sendo
recebido como gouernador deu a capitania mór do mar
LIVRO VII. CAPITVLO Xfff. SI
a António de miranda dazeuedu & a de Goa a Pêro de
faria. E deixado em Goa a Eylor da silueira pêra que
fosse ao esireilo, se parlio pêra Cochim.
CAPITVLO XIII.
De como Hagatnahmvt se leuanUm com Diu j 4^ ho deu^
a el rey de Camhaya.
Jl arlido £y tor da silueira de Diu desesperado de se fa«
ser fortaleza, Meiique saca l\ faiaua verdade & espera*
ua de comprir o que pronielera , começou logo de ho
despejar, & mandou sua arlelharia a laqueie pêra onde
determinaua de se ir. EHagamabmut a quê pesaua lan*
(o como disse de Meli() dar Diu aos Portugueses, & (ra^
aia grade diiigêcia polo estornar, leuãiouse bum dia cõ
m cidade por el rey deCàbaya, sendo Meli^ em húa sua
qnmiâ duas legoas de Diu : do q a geie foy colete por
Ibe pesar mujilo de se ele ir dali c5 Meliq: & leuàiada
a cidade /ogotí/ig^amabmut ho fez saber a el rey deCam*
baya, mádaodoihe dizer o ^ Me/i^ úelennmaua ^ & pe-
dindolfae a capitania dela, & Cj ihe mSdasse gête. £ el
rey sabendo este recado partio logo pêra Diu. H, sabfido
IMelil) o ^ Hagamahmul linha feylo, conheceo então a
falsidade do conselho {| lhe dera em fazer ir Eytor da
•ilueira pêra Chaul, õde cuydádo ^ ainda estaua Lopo
wa% de sam Payo lhe mádou dizer o (] passaua, pedindo^
lhe {) Ibe acodisse, jiorque esperaria ate sua vinda. £
Christouão de sousa por nâo ter ac mada ^ lhe mâdasse ,
niftdou este recado a Goa Q foy dado a Eytor da siluei-
ra 9 por ho gfueroador ser partido pêra Cocbim: & Gy«
lor da síJuHra como ho soube partiose logo pêra Chaul
iodo coele muytos fidalgos & outra gente , mas sua ida
iby fora de tSpo & sem proueito por nâo estar em Chaul
qnàdo MeliQ màdou ho recado ^ s^ hi esteuera ainda se
poderá auer Diu, a Q primeiro ^ chegasse a Chaul che«
g^oo el nj de Caaibaya eÕ grade poder de gSie, & Me-
32 DA HISTORIA DA ÍNDIA
li^ escassamête pode auer híia fusta em !\ fugio pêra Ta-<
£[te. C ludo isto se sabia em Ghaul quando chegou Ey*
tor da silueira, Q do mar mãdou dizer a Cbristouão da
sousa ^ se tinha algu recado de Diu !\ lho mâdasse. E
ele respõdeo !\ a(}la fortaleza era dei Rey de Portugal ,
& se a ele tinha por essa <) fosse lá & saberia ho reca-
do ^ & se assentaria o í\ deuiSo de fazer , & se não ^ se
fosse em bora. E pareofido a Eytor da silueira (| por ca-
pitão mor da^la armada lhe deuia Christouão de sousa
de roâdar ho recado, insistia Q lho mâdasse & não {|rta
lá ir, & tambS por recear (| como lá fosse lhe tomasse a
armada & mandar outrS a Diu. E dãdolhe Francisco de
sousa tauares palaura de não se fazer tal se foy á forta*
leza, & ê cõselho lhe disse Cbristouão de sousa o ^ pas-
sana em Diu (} era escusado ir lá: pelo ^ se assStou (}
não fosse & tornasse a dar cola disso ao gouernador, &
não fosse ao estreito, por ser certo !\ çoleimâo raix per
mãdado do turco passaua á índia cÕ hua grade armada
de turcos & ^ estaua na ilha de Camarão fazSdo bua for--
taleza, & ho mesmo escreueo ChristouSo de sousa ao
gouernador por Eytor da silueira, ^ ass6(ado isto sa
partio logo pêra Goa onde não achado ainda ho gouer*
nador se partio pêra Cochim.
C A P I T V L O XIIIK
Do grade aluoroço q auia na geie da India^ dizédo § Ia>-
po vaz nâ era gouernador.
Jl ar ti do ho gouernador Lopo vaz de sam Payo da ci-
dade de Goa, chegou a Cochim, õde ho vedor da fazen-
da era também capitão, Q na armada do anno presenta
the mâdara el Rey de Portugal prouisam pêra ho serjun-
tamente com vedor da fazSda. E sabSdo que Lopo vaz
de sam Payo era chegado ho recebeo com muyta festa
& ho tornou com todos a jurar & obedecer por gouerna-
dor da índia : & como em Cochini estaua jClla a mayoc
LIVRO VH. CAPITVLO Xfttt* 11
parte da gente dela , & bs mais erão afeyi^ados a Pêra
mazcarenhas & desejauão que ele gouernasse vendo ^
se fazia ho contrairo pobrícamSte , estranbauSo muyta
o que ho vedor da fazenda fizera em abrir a noua sob*
cessam de Lopo vaz de sam Payo despois de Pêro maz«
earenbas ser jurado & obedecido por gouernador, & cba-
mado pêra gcuernar, & que lhe roubaua sua honrra &
justiça. -E era a onião que fazião sobristo muylo grandoí
& auia bandos aotre os da parte de Pêro mazcarenhas ^
& os do gouernador, & perfiauSo com muyto perigo sobro
qual era gouernador por dereyto auendo palauras bte
com os outros & desafios & pelejas^ & era a reuolta ta-^
tnanha sobristo em Cochim que nS se ouuia nunca ou-
tra cottsa, & pêra mais ajuda chegou na seganda oyta«
ua do Natal hu jungo a Cochim que deu noua que Pere
mazcarenhas ficaua embarcado & partira pêra a índia ^
<| agrauou mais nos de sua valia o que lhe ho vedor da
faz&da fizera. E ho gouernador como soube a noua da
▼inda de Pêro mazcaTen\\as, porque ele soubesse prímey-
To que chegasse a Cochim ^ não era gouernador, & não
6zes8e aluoroço mãdou ho terlado de sua subcessam , &
ho do auto que se fez quãdo foy jurado & obedecido por
gouernador a Anrril\ figueira feytor & alcayde mòr de
CoulSo com hQ regimento que tanto qtte Pêro mazcare-
fibas chegasse ao porto lhe fosse mostrar ao mar ho ter-
lado da subcessam & do auto , & se ho outiesse por b5
lhe fizesse muyto gasalhado, & doutra maneyra que ho
não acolhesse na fortaleza. Partido este recado pêra Cou-
lSo, porque ho gouernador sabia que se dizia pubrica-
mente que ele tomaua por fori^a a gouernani^a a Pêro
mazcarenhas pêra dar a enlêder a todos que não era as-
si por conselho do vedor da fazenda mandou ao derra-
deyro dia de Dezembro chamar a sua casa Bastião de
sousa , Felipe de craato, António galuâo, Francisco da-
Bhaya & Tristão vaz da veiga capitães das nãos da ar-
mada l\ auia de tornar pêra Portugal, que parecia Q por
essa causa podião dizer sfi affeic^ão o que lhes na!)[le ca*
LIVBO VIU B
34 ' BA HISTORIA DA fNDIA
•O parece^Be, & perante António rico que aquele atino
Ibra de Portugal por secretario disse o que se dizia por
parte de Pêro mazcarenbas contra a. sua subcessam. £
por ele não fazer justitja dos que tão ousadaniète diziSo
mal dele ^ & queria ver se por bem se queriâo enmen^
dar, que lhes pedia como a fidalgos que tinháo tanta re»
zSo de falar verdade que liuremête lhe dissessem com
íuramSto dos santos euágelbos o Q lhes parecia da sua
subcessam , & se Stêdiâo (} por virtude dela era gouer*
nador: & logo bo secretario lha leo. E lida, como quer
Q ho gouernador lhes pregQtou simprezmète o Q lhes pa^
recia de sua subcessam , & se o fazia gouernador: assi
simprezraenle disserão todos & cada bú por si, que ti*
nbâo por cousa muyto clara ele ser gouernador por sua
siubcessam , & que assi o queria el Rey , & assi bo jura*
jfLo que lhes parecia. E Tristão vaz acrecentou mais^
dizendo que por se eui tarem cousas que seriâo deserui*
qo de Deos & dei Rey, ele gouernador bo deuia de ser,
& também por estar em posse da gouernança : & quan*
to a se ele ou Pêro mazcareolias ho deuião de ser por
justiça, era necessário ver todas as prouisões passadas
& por as não ler vistas bo deixaua de dizer. E a isto se
calou bo gouernador, & disse qiye assinasse o Q dissera,
por^ de tudo António rico fez hu auto Q ele & os ou^
tros assinara. E a mesma pregOta , & polas mesmas pa^
lauras fez bo gouernador a bd Frey loâoDaro da ordem
de sam Domingos homem letrado, que por mandado dei
Rey de Portugal fora pregar á índia, que jurou ao ga^
nernador ^ ho era por dereyto por virtude da sua pro«-
iiisam: & pêra ser mais notório a todos ho diria na pre^
g«içâo Q auia de fazer no dia seguinte ^ era da Circun-
eisam de nosso senhor, & no cabo da pregação- disse as
murmurações que auia contra ho gouernador por parte
de Pêro mazcarenhas estranhandobo muyto, porque Lo-
po vaz de sam Payo era verdadeyro gouernador , dando
pêra isso as melhores rezões que pode, & aifirmando que
^ssi ho sustStaria em Paris & em Salamanca & em Por*
LIVRO Vlf. CAFITVLO XIÍMU 16
tugal pêra ondestaua embarcado , pelo que ee deuía de
crer ique falaua verdade pois dI tinha necessidade do
gooernador , de quS não era tamanho amigo como de
Pêro mazcareahas : porem qne auía de diter verdade^
& requereo ao gouernader da parte de Deos que lhe lè^
brasse bS que tinha nas mãos hOa cousa de tanta impoiv
tancia & de tSto peso como era a gouemança da índia:
& que pois el Rey de Portugal a conãaua dele^ que H14
requeria da sua parte que castigasse graoissifDaaienta
quft fizesse aluoroqos ou mouesse duuidas na sua proui^
aam , & que os degradasse de Cochi se fosse neoessa^
rio. B o gouernador bo fez assi, & degradou logo a hum
Simão toscano que fora criado de Pêro mazcarenhas^
por^ era ho priocípaJ que affirmaua que Pêro mazcare*
nhãs era gouernador , & ^ ho gouernador ihe roubaoa
sua justiça : & assi degradou pêra Chaul a Vicente p#»
gado polo mesmo caso & aqniria mnjtos () tiuessê sua
iroz. E durando estas reuollas que de cada vez etSe
majores forão aeabmdas de despachar aa nãos da carre»
ga que aufâo djr i^erã Portugal de que forão capitães
lUstião de sousa^ Frácisco daobaja, Trislâo ras da vei-
ga & António galuão, ^ partidos de Cananor seguirão
sua viagem pêra Portugal, ieuando António galuão a
ossada de seu pay Duarte galuão: i\ ho derigo Frãcis»
CO aluares trouoera á Índia de Camarão vido do Preste t
& António galolo a ieuou mujlo secretamCte na nao
por a gSte do mar ter Q se perderá a nao em Q for wst^
po morto. £ estas nãos chegarão todas a Portugal a sali-
uamento.
s 2
36 DA HlSTOmiA OA INOIA
C A P 1 T V L O XV.
De como ChrisUmâo de sousa aiqniâo de Chaul deUrmi-
nau q Lopo voz de sam payo não era gouernador.
V icente pegado que foy degradado pêra Chaul pelo
gcuernador, despois que foy lá por se vingar dele, di»-
86 aChristouão de sousa que era verdade que bo gouer-
Dador & ho vedor da fazêda estauão coocerlados de nãa
darem a gouernança a Pêro mazcarenhas , aífirmãdo que
Lopo yaz de sam Payo era verdadeyro gouernador & não
ele : & que assi bo roandaua el Rey de Portugal em bua
prouisam que dizia, que em caso que Pêro mazcarenhas
csteuesse por gouernador ho deixasse de ser , & ho fos-
se Lopo* vaz de sam Payo , & mostroulhe ho lerlado da
carta do vedor da fazenda : em que el Rey dizia que das
subcessões ^ estauão na índia não se vsasse: & assiho
terlado da subcessam de Lopo vaz de sam Payo que yie*
ra de nouo. E parecêdo a Christouão de sousa que ho
líédor da fazenda fizera o que não diuia em abrir a no*
«a subcessam : pois Pêro mazcarenhas estaua declarado,
obedecido & jurado por gouernador, & Q el Rey na par^
ticula da carta a Q se ho vedor da fazSda pegaua não
mâdaua , que posto que Pêro mazcarenhas fosse gouer-
aador se abrisse a noua subcessam : pareceolhe muyto
mal ser Lopo vaz de sam Payo gouernador , & muyto
peer a determínai^ão com que Vicente pegado Ibe dizia
que estauão ele & ho vedor da fazenda, & que seria for-
çado auer na índia diuisam que seria cousa muylo per-
judicial , por ser certo estar Çoleymão raix em Camarão
com a armada do Turco pêra passar á índia, & que a-
uia de ser na moução de Àlayo ou de Setembro. E pêra
saber que meyo nisto tomaria, ajuntou a conselho ho ai-
cayde mór, íeytor & outros officiaes da fortaleza com
muyios fidalgos que estauão coele: & VicSte pegado
disse a todos o Q dissera a ele só. £ lidos os terlados da
LIVRO VII. CAPITVLO XVI. 37
^arta do vedor da fazenda , & da prcuisam do gouerna-
dor : propoa Cbrislcuão de sonsa ho caso, & todos dísse-
rSo que thes parecia o que disse que parecia a ele, & j|
Jjopo vaz de sam Payo não tinha nbum dereyto na go-
uernança polas rezões declaradas: mas porque se escu-
sasse diuisam antre duas tais pessoas , & os males <| se
deJa seguiriâo, era necessário que se posessem em jus~
liça pêra se julgar por dereyto & nft por armas de qual
deles era a gouernança : & que isto deuia descreuer lo*
^o a Lopo vaz de sam Payo , desenganando ho que nSo
aoia dobedecer por gouernador a quem isto refusasse
antes auia de ser conireie t & que mandasse esta carta
a Francisco de sousa tauares que a desse a Lopo vaz de
«am Payo. E como este era ho mesmo parecer de Ghris-
touão de sousa , escreueo a carta & mandou a a Fran-
cisco de sousa que a deu ao gouernador em Goa como
direy a diante»
CAPITVLO XVL
Do juramento § ho gouernador fez em Cockim.
. X endo ho gouernador por muyto cepto estarB os rvt-
mes em Camará fazèdo b&a fortaleza pêra despois de
feyih passarem á índia , determinou de os ir buscar &
pelejar coeies : & porque sabia que ãdauão muylos Por-
tugueses em Choramfldel^ escreueo a Ambrósio do re-
go que lá era feytor & alcayde mór que lhes dissesse da
sua parle !\. logo sopena de tredores se fossem a Cocbim
porque compria assi a seruiço dei Rey, & que perdoaua
aos Q fossem obrigados á justiça quaesquer culpas que
teuessem : porem como ho eles não tinbão por verdadey-
ro gouernador não lhe obedecerão, Sc tambÍE^ em Cocbim
muytos não se querião embarcar pêra ir coele, dizendo
p\ibricaméte que fingia ir ao estreyto por nâo estar em
Cocbim na chegada de Pêro mazcarenhas por n& se poer
coele Peio mazcarenhas em dereyto sobre a gouernanr
88 DA HISTORIA DA ÍNDIA
ça, & por 1880 não auião dir coele nem obedecer a aeas
mandados. E diziase isto iSo soltamSte , & pnnhase tS«
to por obra que se embarcauãa mujrto |K)Uoo8. E que^
rendo ho gouernador atalhar ao castigo 4 í^to merecia ,
& fazer notório a todos Q partia com tenção de ir pele»
jar com os rumea: hfi domingo estado á missa em ho
sacerdote leuantâdo a hóstia disse em voz que podesse
ser ouuido. Eu juro naquela hóstia consagrada em que
está ho verdadeyro corpo de nosso senhor lesu Christo
que me parto com tenção de ir buscar os rumes & pele^
jar coeles, & pêra lhes toruar que não passem á índia*
£ por esta ser minha determinação, mando a todo ho«
tnem Português tirando aos fronteiros da fortaleza qua
se embarquem comigo, & quem ho não fizer sayba cer*
to que será grauemète castigado. E coeste juramCto &
amoestaçSo que ele fez se embarcou a gente toda cren-
do ^ auia dir pelejar com os rumes : & antes de se era*
barcar deu há regimento a Afonso mexia em que lhe
mandaua que não recebesse a Pêro mazcarenhas como
a gouernador, antes se quisesse desembarcar em Co«
chim coroo gouernador lho defendesse por armas. E coes-
te regimêlo lhe deu hQa carta pêra ele de grandes con^
solações sobre a mudança (\ el Rey fizera de ho fazer se-
gQdo sendo primeyro. E feyta esta diligêcia se partio
deCochim, ê laneyro de mil & quinhentos & vinte sete:
& chegando a Cananor deu a dd Simão de roeneses ho
mesnK» regimento ^ deixara a Afonso mexia, & hi dei-
xou por capitão mor de certos.bargantins a hii fidalgo
chamado lorge de sousa pêra que goardasse a costa do
Calicut: & ho primeyro de Peuereyro se partio pêra Goa,
& em balicalá achou Eytor da silueira que lhe disse o
que fizera em Diu. E a certeza que Christouâo de sou-
sa tinha da estada dos rumes em Gamarão, & como por
seu conselho & requerimentos não partira pêra ho es-
treyto : & dali escreueo o gouernador a Christouâo do
sousa ho fundamento que leuaua dir pelejar cõ os ru-
mes, pedíndolhe que lhe mandasse a armada que ta^
LIVRO TU. OAFlTVhO XYti. 89
Wtse & a gête que Ibe aobejanse da ordenada á fortal^
sa« £ partindo daqui pêra Goa achou no caminho Fer^
nào de morais que vinha Dormua, de cujo rey the deu
carlae, & do capitão da forlalesa, & do fey tor : ern que
lhe faziào queixume de Raix xarafo de counas que ti»*
oba cometidaa contra ho seruiço dei rey Dormuz que
por Í8go bo prfidera, pediodoihe todos trea que log^o man»
ilasse por ele, porque em quanto esteuesse em Ormua
aempre auia de fazer maldades.
C A P I T V L O XVII.
JDe como $e assentou qu€ ho gauemador n6ofo$u a Ckt^
marâo.
\^hegado bo gouernador a Goa, jutos lodos os capitães
4t fidalgos prlcipais da armada oo mosteiro de sam Fran*
«isco com os mestres & pilotos dela Ibe propôs a estada
dos rumes è Camario, £L.como queria ir pelejar coeles*
O que íodoa ouuerào /X)r mujto escusado por quã pou*
ca gente tinha , & qoe seria wuyíQ graade doudice ir
cometer hila tão poderosa armada como os rumes tinfaâo
estando eies em ierra , & acordouse que ho gouernador
inuernasse em Goa y & que \indo no verão seguinte ar-
mada de Portugal leria mais gCie Sl poderia ir esperar
os rumes aa fx>nla de Diu onde os tomaria trabalhados
da viagem & com a artelbaría abatida pela passsgem do
golfão: & desta maneyra com ajuda de nosso senhor os
desbarataria de todo. £ de tudo isto fes bo secretario
^íi aulo ^ todos assinarão. £ sabendo a genie comum
€omo ho gouernador não auia dir buscar os rumes, logo
começou de dizer que essa fora sempre sua determina*
^<o posto que jurara bo contrairo, que bem sabião que
Bio deitara aquela fama se não por /ugir de Pêro maz^
carenbas pêra não se poer coele em dereyto, & dizião
outras muytas cousas em despreao do gouernador , por*
que Terdadeyram^nte criào que ho nào era se não Pêro
J
40 BA HISTORIA DA ÍNDIA
Diaeoarenhas. E desenganado bo goueroador que d2o a*
uia dir a Gamarão, mandou Manuel de macedo a Orreus
pêra que trouuesse Raíx xarafo preso a Goa pêra ser
eastigado se iio merecesse , & mSdoulhe que tornasse a
inueroar a Goa, & mandou logo ao capitão moor do mar
que so fosse ate Cochím leuãdo grade vigia sobre não
errar Pêro mazcarenbae , & Q achando ho Ibe dissesse
da sua parte que se fosse inuernar a Cananor ou a G>#
cbim, por^ assi cumpria a seruiço dei rey seu senbor:
& quando não quisesse se não ir a Goa que tornasse
coele ate a barra, donde ho não deixaria passar ate lha
n$o fazer saber como ali estaua, & deulhe bua carta pe«
ra Pêro mazcarenhas que se quisesse tornar a Malaca
que Ibe daria mayor ordenado do Q tinha a capitania*
£ a causa porQ ho gouernador receaua que Pêro mazca*
renhas fosse a Goa, era porque vendo ho a gente comum
& muytos fidalgos q erão da sua banda aueria aluoroço &
se faria diuisam , & bo farião poer em dereyto com Pe*
ro mazcarenhas , & não queria estar nessa auentura.
C A P I T V L O XVÍII.
De como foy morto Gaspar machado , ^ outros Portu-*
gueses.
Xassãdose estas cousas na índia , Pêro mascarefihas (}
estaua por capitão de Malaca , mandou S laneiro deste
anno de vinte seys bO nauio pêra a índia , a cujo capi-
tão não soube ho nome, E foy em sua companhia hil
Gaspar machado, t\ ya em hti seu jungo c5 sua fazenda
Q era muyta, & nauegando por sua viagem forão ter ao
cabo de Comorim , onde tomara Patemarcar hO valete
mouro , ^ ãdaua por capitão mór de hQa armada dei rey
de Gaiicut de cincoenta & dous paraós! & ya caminho
de Ceilão a fazer guerra a el Rey , por ser amigo dos
Portugueses : & quis nosso Senbor Q ho mar andasse pt«
cado, & fizesse grade marulho, pêra os Portugueses 4
Limo VH» CÁPirvLO xtx. 41
yio no nauio & no jugo escaparê a Patemarcar , Q se ca
aferrara os tomara, & eJe bem os quisera aferrar mas
não ousou , por^ cõ a marulhada não se lhe desfizessem
08 paraós cÕ ho nauio, & cS bo jungo (} erão majores,
& mais fortes que os paraós , & por isso nSo ousou da«
Cerrar coeies, & cÒ tudo posse de bairrauento deles, &
tirouiiies muytas bombardadas, com í\ lhes ferio, & ma-
tou muytos bomSs , & antreles foj Gaspar machado , &
asaz teuerâo que fazer os outros em se acolher: & forão-
se a Cocbim, onde aebarão falecido dõ Anrrique de me*
oeses.
C A P I T V L O XiX.
De como Pêro tnascarenhas soube que era gouernador
da índia , ^ do quefez^
Xorge Cabral que foy por capitão mor de certas fustas
ás ilhas de Maldiua, vendo como Pêro mazcarenhas era
^ouernador , determinou de \he \r dar esla noua a Ma-
luca, CÒ fundamento^ )he daria a sua vagante, da ca-
pitania de Malaca por a/uíssaras da úoua ^ lhe /euaua.
£ assentado isto cÕsigo, partiose pêra Malaca na fusta
em i) andaua : & deu a noua a Pêro mascarenhas l\ era
gouernador da índia, per falecimento de dom Anrrií} de
meneses: E Pêro mascarenhas lhe promeleo a capitania
de Malaca quãdo se fosse pêra a Jndia : & da hí a at6;us
dias, foy certeíicado de todo (} era gouernador da Jndia,
Eir António da silua de meneses, que lhe deu a carta
afonso mexia , em l\ Ibe dizia que era gouernador , &
]io mandaua chamar : & ho auio Ij foy feyfo d^ sua sob-
cessão: o íj tudo visto pelo alcaide mór, feytor, & offi-
ciseis da fortaleza, & assi por outras pessoas honrradas
q estauáo nela, foy Pêro mascarenhas obedecido por go-
vernador da índia. K isto feyto fezse prestes pêra se par-
tir pêra a índia d Agosto, c5 lençflo desperar ho ieuã«
te na ttha de Pulopnar , Q be 8 Setêbro , ^ se chama a
mouçâo pe{|Da, cÕ que se iria pêra, a índia. E antes {^
LIVRO Vfl. F
42 J>A filSTOEIA PA índia
parlisse deu a capitania a lorge cabral. Ho ^ Aires da*
cunha quisera impedir: dizêdo Q a capitania períScia a
ele, por ser capilão mor do mar, porq quando ÂfooâQ
dalbuquer^ ganhara Malaca que se fora pêra a índia,
deixara: que falecendo Ruy de brito {| ticaua por capi-
tão da forlaleza, sucedesse na capitania Fernão perez
dandrade, !\ era capitão mór do mar, & despois passara
el rey do Manuel hQ aluara, ^ estaua na feytoria: que
nas cousas de Malaca se goardassem os regimSlos ^ A-*
tbnso dalbuquer^ hi deixara, & assi se guardara na de-»
ferença q Nuno vaz pereyra teuera cÕ António pache^
CO, sobre a capitania, por Oíiorte de. lorge de brito, co-
mo disse no liuro Quarto : & por isso ^ a ele Aires da
eunha pertencia a capitania da fortaleza, & não a lorge
cabral , fazendo .sobrislo re^rimentos 4 Pêro mascare-
nhãs Q lha desse. Ao que respondeo, ^ tudo quãlo Ai*
res da cunha dizia era assi , se a capitania vagara por
sua morte , mas ^ vagaua |>or entrar na gouernâqa da
índia, & por ser gouernador, era sua a dada da^la va-
gante, & a podia dar a quem quisesse, & {K>r isso a da-
i)a a lorge cabral, assi por aiuissara das nouas Q lhe le-
uara, como por ser hú fidalgo de muyto merecimSto por
aua linhajem, & por muylos serui<^os (| tinha feylos a el
rey. E com tudo Aires da cunha protestou de Pêro mas-
çarenhas lhe pagar a sua custa ho ordenado da capita-
oia. E querSdo Pêro mascarenhas partir cÒ a determi-^
nação (} digo: os pilotos lho re^reráo ^ não partisse ^
porque não auia da poder ir a índia na^ia mouçâo, mas
liião quis deixar dir: & parliose ê hu nauio caminho da
ilha de Pulopuluar , õçle estado surto, lhe deu tão brauo
tdporal de vSto , ^ ho masto do nauio quebrou por três
liugares , & esteue muyto perto de se perder, & escapa-
do Pêro mascarenhas desta borriscada, tornouse a Ma-
laca pêra se aparelhar ^ nã podia assi proseguír sua via-v
gem , & è Malaea aeiíou Frãcisco de sá oè a armada 4
leiíaua pêra ir fazer a fortaleza ê çunda: & coele ya dd
lorge de n^eneses por capitã de Malnco , per prouisâa.
LIVXO Vííé CáPiTVLO TXm il
de dom Anrrique de ineneses, ^ lhe Pêro mascarenhM
confiriDOU , & lhe deu outro oauio que fosse em sua cd-*
panbia , a fora ho em ^ ya : a cujo capitão nâ soube ho
ooine: Sc assi lhe deu mais gSte da j| ieuaua, & muoH
ções Sc maadoalhe que fosse pola via de Boroeo , pêra
ee descobrir aQla nauegaçSo pêra Maluco, i\ era mais
curfa que pela via de Banda, & dãdolhe regínièto do <|
auia de fazer, parliose dom lorge caminho de Borneo-:
& porQ Simão de sousa gaiuSo, que ya por capitã móc
do mar de Maluco, soube () Pêro mascarenhas determi**
naua, de ir sobre Bintã pêra ho tomar: & soube qui
pouca cousa era a capitania mor do mar de Maluco: &
quão poDco podia neia serutr a el Rey de Portugal, que
era pêra o ^ a ele pedira : nã quis ir a Maluco: & íicoa
e Malaca pêra se achar na emfiresa de Bintão: que ti^
oha j{ auia de ser hCka cousa de muyta honrra & fama^
a 4 ora iDuyto inclinado.
CAPlTVLO XX,
£m q se escreae ho sitio ^ a fortaleza da ilha de Bintão.
V endo Pêro mazcarenhas que lhe era forçado esperar
a mouçao grande pêra a índia: & achandose com a gen*
te que Francieco de sá femra, determinou de ver se po«
dia coeia tomar Bintão j) tãta guerra fazia a Malaca. B
assentado em conselho que bo fizesse, pHtiiose com hãa
armada de dezanoue velas, s* hO galeão pequeno, hua
galé, quatro nauios redondos, dous bargãtins, dous ba«>
teis de matas, quatro lâcharas & cinco calaluzes : & a
fora Aluaro de brito que era capitão da galé em que yà
Pêro mazeárenhas, forão capitães Frãcisco de sá, Aires
da cunha, António de brito, Duarte coelho, Fernão ser*-
tio Deuora, Simão de sousa ealuão, loão parheco: &
aos outros não soube os nomes. Irião nesta armada tret-
sfilOB Portugueses & sey^cCtos Malayos, de que yão por
capitXes dctts mouros hearrailoB, hft chamado tàanaya
F 2
44 BA HISTORIA DA INIMA
raja, o outro Tuã mafamede. £ coesta armada ae pai<-
tio pêra a ilha de Bintão que na Imgoa Malaya quer di-
zer estrela : & por isso el rey de Bintão tinba por titulo
fuuyto borrado cbamarse rey da estrela. laz esta ilha
sessenta legoas de Malaca auante do estreito de Ginca«>
pura pegada com a terra firme, que hCi estreito rio que
se vay meter no mar aparta dela ^ ao ioogo deste rio ha
pedaço da foz dele está situada hQa boa pouoaçSo cba-
luada Bintão f)ouoada de mouros Aflalayos, onde fao rey
que foy de Malaca se recolbeo despois que per António
eorrea foy lançado do pagode, como disse no liuro quin--*
to & a tomou ao senhor dela A era seu vassalo : & des-
pois que el rey que foy de Malaca se apossou dela , a
fortificou grandemente pêra se defender dos Portugue*
ses eom receo que tinba de irem sobrele. £ a maneyrã
da sua fortaleza foy esta, 8 bua baya pequena onde se
ho rio mete que be bo porto da cidade: fez ao longo d&
canal que se ali faz em voltas hQa estacada pêra ficar
tão estreito Q hila gale não podesse virar nele. £ esta
estacada era de paos muyto grossos metidos em cibos
de grades mós: & despois d« metidos deitauão as moé
no mar, & que se yâo ao fOdo, & eles ficauão pêra ci-
ma fora dagoa em boa altura, & doutros paos tão gros-
sos como mastos de nauios ^ naquela terra se cbamão
paoa ferros mandou fazer hQa tranqueira entulhada qu6
cercaua a pouoação cm redddo eom seus baluartes dos
mesmos paos tambè entullàados, & com suas portas que
se fecbauão & abrião, & em bua pote que atrauessaua
)k) rio pêra seruentia da ilha & da terra firnie estauão
dous baluartes na entrada & saída deU : & nelas & na
tranqueira amn trezStos tiros dartelbaria. £statranquey*
ra que cercaua a pouoação tinba em lugar de caua três
ordês de estrepea com as põtas beruadas & postos 6 re-
ues bils pêra quS qiiisesse entrar y & outros pêra quS
^luisesse sair. £sta pouoação era fundada em terra úe*
iiassa & apaulada , & por isso todas as casas estauão sb^
bre esteos de pao aleuantadas da terra & secuiaose por
LiyRO vir. Ci^PlTVLO XXts 45
^ontM ou niinhoteiras, salão a» dei rey, que eslãuSo so-
bre ha oiteyro da banda do aeftão.
CAPITVLO XXL
' De como Pêro nvaxcarenhm foy sobre a Uha
-Há oauegaudo Pêro tnazcarenhas pêra esta Uba, passou
muito grade trabalho no caminho por ser muyto roii»,
& iodo per canaeis ^ se fazíâo antre hu grande arcepe-
lago dilbas , & chegado eõ toda a frota , surgío de fora
da barra, & dahi mãdou sondar ho canal da baia per on*
de auia dStrar, & foiho sondar Duarte coelho, Q lhe dis-
se, que era Ipossiuel poder eolrar a nossa frota sem ar«
ráncarS primeyro a estacada: & mais desembarcando
xlianle da transira, nã escaparia nbu dos Portugueses
^íuo, segudo a muyta soma darlelharia ^ tinha, & a fo^
9a ÍMo II& se poderia Strar por ser muito alta. E sabido
por Pêro mazcarenhas este perigo , determinou dStrar
:pela ponte por onde se seruião pêra a terra firme , od»>
•de nâo auia tâta arleJ/iaría, & pêra segurar esta poste,
& poder melhor êtrar por eia : determinou de a mandar
abairroar por hú dos nauios redondos , & coele mãdaria
arraacar a estacada , pêra entrar toda a frota : & por^
jsto era cousa de muyto perigo , escolheo peta ho £eizer
ho Fernão serrão Deuora Q tinha por esforcjado , & era
capilão du dos nauios como disse, a 4 ^^^ cincoêta Por«
tugueses pêra ho ajudarê a este feylo: & fortalecido bo
Bauio de largas & fortes arrombadas , Q podessfi resistir
aos tiros dos imigos , & assi de boa artelharia : Strou na
^aia indo atoado a doua calaluzes porque fosse bem pe-
jo meo do canal, & ali começarão os {| yão no nauio dar-
rancar as estacadas, no ^. passarão tamanho trabalho ca^-
manho nS se pode imaginar , trabalhando continuamête
•ao cabrestante , c& que arrãcauão as estacas a for<;a de
Í eitos, & de braços, cuspindo muytas vezes sangue cò
o trabaUu), & eomo as estacas eri muylas, & a deténs
46 HA HlfTOafA DA ÍNDIA
ça muyto grande ero as arrancar, surdíSo IS pouco , {|
ao mais que adaufto cada dia, era ho cõ|)rinièto de hBa
corda desparto, & coesle vagar gastarão oyto dias em
chegarõ defrõle da trâqueira, donde as bõhardadas lo-
go forão (anlas que era medo ouuilas, quanto mais ve-»
laa : & danefícarâo ho nauio de modo , ^ se eão forSo as
arrombadas fora lodo arrombado & metido no fundo» E
andando os Portugueses nesta fadiga , apareceo hSía ar*
joiada ao mar j} ya demandar a barra de Bini&o.
C A P I T V L O XXII.
■
De como foy desbaratada a armada que el rey de P6m
mandaua em socorro dei Rey de Bintâo.
I rey de Bintão eooio vío a frota de Pêro mazcard*
nhãs, & tinha dele noticia qne era muy to caualeiro & de^
terminado, tenoSdo de se ver coele em afronta, mandou
muy depressa pedir socorro a el rey de Pâo seu genrro
& vezinho, que lho mandou logo de trinta & Ires ian*>
charas em que irião bem dous mil bomês & mujrtos man*>
timentos. E esta era a armada que pareceo ao mar : &
porque Pêro mazcarenhas se receou que chegada está
aaisse a dei rey de Bintão fc tomassem a sua no meyò
& lhe dessem fadiga, não quis esperar que chegasse: &
determinando de ir pelejar coela no mar leuando parta
da sua meteose em h& baianeo, & corrSdo toda a frota
disse sua determinação aos capitães , que lhe pedirão
muy to que não tomasse aquele trabalho de que ho eles
escusariâo, & que ficasse eiin goarda do porto porque
assi seria melhor. E fazCdo seu rogo mandou quatro lan«-
charas & cico cafaluzes (a cujos capitães nã fioube os
nomes) que fossem pelejar com a frota dei rey de Pão,
& mandou por seu capitão mór Duarte coelho: & tendo
andada hua legoa donde fícaua Pêro mazcarenhas che^
garâo a tiro de berço da armada dos immifSfos a que co^
naeçarâo de tirar com sua arlelbaria , & ele^ com meda
LIVHO VII. CAPITTLO XX 11. 47
dela os meter no fundo fugirão logo leuãdo a proa em
hQa ilha que eslaua dali legoa & niea ale onde lhe os
Portugueses derâo ca<;a, inalandolhe inuytos com a ar-
telharia , & de vinte três lancharas que chegarão pri«
meyro toda a gSle saltou era terra & fugio poia ilha &
aa lancharas foráo tomadas pelos Portugoeses ^ as outras
dez DÍo podendo aferrar a ílba passarão auante & aco«
Ibiáse: o £| vJèdo Duarte coelho porque não escapassem^
saitou com algiis dos que yâo coele em bfi balanço da
sua lãcbara , & a forqa de remo deu após eles, tirando^
lhes com bfl meyo berço que bo balanço leuaua por proa,
& nhum dos outros capitães ho seguio por estarS lodos
ocupados em tomar as lancharas que digo. E vSdo os
mouros ir ho balanço só virarão a ele indo obra de hfia
legoa auante da ilha: & ele com quãto vio quãtos erão
06 que voltauão sobrele, não deixou de ir por diante, &
vendo os mouros sua ousadia teueranse , & ele lambem
ae leue porque lhe pareceo doudiee cometer tantos c5
tão poucos como leuaua se não quãdo não podesse fazer
mais. E tornado os mouros a ir parele , ya pareles : &
detendose detinbase: & isto tízeráo por (anfas vezes Q
sobreueo a noyte, de que a estas horas era muyto per^^
to, & os mouros fnerãse na volta do mar, &* Duarte
eoelho se tornou pêra os outros capitães & forãse todos
pêra Pêro mazcarenbas com as lãcharas que tomarão
aos mouros carregadas de roantimdtos: com que ele foN
gou inuyto &; teueo por pronostico da vitoria que auia
dauer dei rey de Bintão, & assi ho disse a todos esfor-
^do os pêra a peleja.
43 DA HISTORIA DA ÍNDIA '
G A P I T V L O XXIÍI.
De como Fernão serrão pelejou com Laquesnmenã.
D,
desbaratada esta armada, tornarfto os do nauio de
Fernão serrão a seu trabalho, darrancarê as muytas &'
muyto grandes estacas que estauâo metidas peio canal
por onde auião dir á põle : em que se virão em tama«
nho perigo & leuarão trabalho immenso quanto não se
pode cotar, porque híís tinhão os peitos abertos das bac^
ras do cabrestãte, outros tinbSo os braços moidos de (a«
par os muytos rombos que a artelharia dos immígos fa-
zia no nauio, que não cessaua de tirar de dia nem de
Doyte com que ho esburaeaua todo, & era nele a agoa
tanta com toda a diligencia Q os Portugueses fazião po«
la esgotar , que quasi se yâo ao fundo. E coesta tama-^
aba fadiga que lhes durou quinze dias, quis nosso se-
nhor Q vencesse seu trabalho a força dos immigos, &
chegarão á (»Õte dado hSa grade grita & aferrarão coela.
O que sabido por el rey agastouse tanto que deshotírra-
ua os seus de muy asf)era8 palauras, pelo que algus in*"
tentarão de fazer dar ho nauio á costa, & como foy noy-
te na vazãte da maré lhe cortarão as amarras de mer-
gulho: & sintido 08 Portugueses que caçaua acodirâa
logo & surgirv^o outras ancoras que tinhão a pique, &
forrarão as amarras de cadeas de ferro |X)r lhas não cor-
tarem. E vendo os mouros que não podiâo fazer nada se
tornarão muyto enuergonhados : & el rey mãdou então,
a Laqueximena que com quinhentos bomSs em Õze lan-
charas que tinha varadas fosse pelejar com Fernão ser-
rão & ho tomasse, çuydando que a muyta artelharia dá
tranqueyra impediria aos outros nauios que lhe não aco-
dissem, & mandou que tirassem roda viua, & entre tan-
to La{}xímena foy aferrar ho nauio de Fernão serrão que
bem trabalhou por não ser aferrado desparando assaz de
bombardadas : jiorem como as lâcharas erão rouytas nã
LV(í)BLO Vil. CAniTLO XXflI. 4»
se pode (olber a alguas que ho não abairroassem por proa
& logo sallarâo muylos mouroe dentro , & àpos estes a-
ferrarão outros & Scherão bo nauio, & outros que não
podiâo entrar tirauão de fora lâuytás frechadas: & os
que estauão no nauio como erão muytos apertarão tâ9'
rijoooBi os Portugueses que por niais esforçadaoiête
que peJejauão oS' leuario ate ho eonues : & aqui foy a
peleja muy braua & Fernão serrão foy derribado com
»uy(as feridas , porS era tão esforçado que se leuãtou
logo & tornou a pelejar com muyto esfor<^. E com tudo
08 sens estaufio tão feridos que não podiSo escapar se a
este tempo não sobreoierão Pêro mazcarenbas & Duar-
te coelho cd algQs Portugueses, que onuindo as prímey*
rã8 bombardadas do nauio acodirâo logo em hQ balanço
por escaparem da arleiharia que tirana da (ranqueyrav
£ chegado ás lancharas, porque the elas impediâo 4 não
entrassem no nauio deitarãlhes dêtro panelas de poluora
com <4ue começarão darder, & os f migos por não«e quey-»
marem hOs se deiUuâo ao mar, outros faziSc afastar aa
lancfaaras & desabafarão ho nauio & fugirão : o que os
mouros que estanão dètro n&o sinlirão cÔ ho arroído da
peleja. £ desabafado ho. nauio, entrarão Pêro mascare-
nhãs & Duarte coelho com os que yão coeles , & ajuda-
rão Fernão serrão também que nhd dos mouros escapou
de niorie , sS dos Portugueses morrer tihum posto que
todos eslauão muyto feridos, pelo qtie Pêro mazcarenbas
quisera õ se forão pêra os curarem , & Q iriâo outros
em seu lugar: & eles não quiserSo, dizendo que em
quanto teaessem Yida não se auião de tirar daíi : o que
lhes agardeceo muyto & louuou seu esforço , & curados
todos se tornou aa frota.
LIVBO VII.
60 TUA BISTOUIA PA IKBIA
C A P I T O L O XXIIII.
De como Pêro mazcarenhas tomou a cidade de BiitíâQ*
V endo Pêro mazcarenhas a gfâde ousadia dos lacMjroa
em lhe quererS ioinar bo nauio a sua. viata, ouue medo
que Ibe queywassem a frota eÕ balsaa de fogo, & por
isso não quis noais dilatar de qomeier a cidade , & aa»
sentou de ser pota ponle cooào linha determinado, oma.
porque os mouros ieriâo disso receo por amor do nauíoi
i| estaua pegado eoeki , & poerifto nela toda a força de»
aua defensam : determinou de Ibea fazer crer que auia»
den(rar pela (râqueira, 6de mandou bSa noyle fazer bOai
eslâcia de pipas & cestos de campo cheos de terra en»
que mandou assestar Ires berços, & assi mâdou fazes
com enxadas bua iarga estrada. £ Laqzimeoa que estat-
ua por capitão oa tranque}' ra bo mandou logo dizer a el
rey, & ^ Ibe mandasse mais gente. £ ele bo fez assi, &
niuytos mouros ^ estauâo em outras partes se passarão
pêra ali cuydando que por aquele lugar auião os Portu**
gueses de cometer a entrada , & era bo aluoroço rouj;
grade anlreles crãdo que ao outro dia auiàu de ser mor-
tos todos os Porluguesesa £ oomo toy noyte l?ero maz«*
carenhas mâdou a Sunaya raja ^ desembarcasse^eõ os
piães Malayos & se pusesse detnia da estâcia das pipas,
& HS8i corSta Portugueses : & mâjdoulbes Q Ipeuesaem t&*
io ^ 8 vSdo íiigo em qualquer doe baluarlea d» piíte, p^
aessS ÍDgo aos berqos. & tangesse as in&betas, & díessd
grades gritas comoQ deaembarcauão pera^ cometer a trà*
queira. £ deixado a frota ondeslaua por não aer* sentido
se embarcou nos baiacus & mãcbuas ,& desembarcou
bê pcra baixo na terra fírme que ticaria bQa legoa da
pote, pêra ode tomou ho caminbo ^ fez cò trabalho gran*
dissiaio & perigo, & por milagre de nosso aeniior não se
perderão todos, por^ yâo por vasa em ^ atolauão ate a
cinta & ate debaixo dos brat^os , & por antre buas aruo-
LIVAO TIU CAPVmj^ xxniK Ô I
rra 4 chanâo mãgues (| dei (ao as raízes pêra cama & ÍU
câo jcomo 08 pés das meamas aruore«i , & como era es^
curo marrauâo coeles, & se não fora bo eslbrçD que ihea
nosso seflor daua este trabalho abastaua pêra os debili*
iar tanto que não ficarão per* faserem cousa I) prestas-»
«e, por({ ySo todos Siameados, molhados & {(brâtadus*
iS com tudo cbegarilo á ponte hda hora autemaobaã &
tio esforc^doe & inteiros eomose enlão se jeuaníaxao da
eama, & achario Feroáo serrão prestes com sua genle
com fBuylas panelaa de fioluora , com j) logo poserão ho
4ògo a hfl baluarte que «staaa na entrada da ponte em
^indo da iJha , & nele estaua por capitão hfl mouro cha«
mado TuSo raja, & ho baluarte era de madeira & entu»
'Ihado & fef^ndo bo fogo na madeyra começou logo dar*
der» E a isto acordarflo os mouros Q estauSo neíe , que
cuydando que Pefo maacarenhas auia de cometer pola
trSqueyra estauilo muy descuydados de cometer por ali^
*& por isto & por estarem deeoetados de tigiarS toda a
noyte adormecerflo : & aeor4ados com ho arroido do fo»
•go sayranse do baluarte por não arderem nele, & acodí*
rfto a hfl postigo com j} se a pSie fechaua , cujas portas
t>6 portugueses tinhfio acerca arr&badas & Abradas de
lodo, remetera ao postigo Ayres da cunha ec loSo pa-
ctK^co & êlrarfto em ^ pes aos mouros que lhes resisliâo
brauamente, mas eles matando algus dos dianteiros en-
trarão dSiro, & a pos eles quantcs estauâo fora: & co-
mo os mouros virão entrar os primeyros desmayarão lo-
go, & /ugirSo hSs pêra as casas ^dei rey ou<ros pêra a
tranqueira ondestaua Laqueximena, a quem Sanaya ra»>
]ja em ^vSdo ho fogo no baluarte da ponte deu log4) reba-
te pela ordem q<«e ibePero maecarenhas mAdon. Laqtie-
ximena estaua Ião confiado em lhe parecer que era im'**
fioasiael entrarem os Portugueses por ati que não se ai^
^uorai^u nada com o 1\ Sanaya ies, &. estaua muy segu^
to, ae não quando algCls que fugíáo do baluarte da pon^**
te forão dar coele, fugindo dos Portugueses que yão a
pos eles, então tbes acodlo Laqucximeoa com sua gèt^:
o 2
A2 VÁ HISTORIA Oá TNDrA <
porem os Portugueses yão tão desnudados & com tXo
brauo ímpeto. E os mouros ficarão tão espantados de os
verem dêtro na cidade^ que não.dando por Laquexime^
na fugirão pêra as casas dei rey & os Portugueses após
eles matando & ferindo muylos. E el rey estando muy*
to fora de lhe parecer que a cidade se podia entrar es?
taua desbonrraado algQs que lhe affirmauâo que era eo^
trada ^ & mandauaos que fossem goardar a tranqueira :
& nisto começou denxergar os seus que yão fugindo, &
então creo que entrarão a cidade , & tendo escassamea»
te tempo pêra caualgar em bQ alifante fugio íkando sua
easa assi como a tioba , & os Portugueses yão tão dese*
jesos de bo too^arem que derflo a pos ele : o que ele sin^
lindo se deceo & embranhouse no mato que era muy es«*
peso, & por isso os Portugueses ho não quiserão buscar^
& foranse em busca de Pêro mascarenhas que acharãQ
pelejando com híi capitão chamado Laxa rajja que se de«
íendia com passante de mil mouros ao derredor dú bar
Juarte ondestaua de que os mais morrerão & ele fugio
ferido de duas espingardadas r & assi forão outros muy*
tos mortos & feridos ate as dez horas do dia que se ar
cabou este feyio,. ^ foy hu dos marauilhosos que os Por*
tugueses fizerão naquelas partes de ^ aprouue a nosse
senhor que não morreo nhil somente forão feridos algils^
C A P I T V L O XXV.
Do qfiz Pêro mazcarenhas despois de tomada a cidade,
X ornada a cidade logo três mercadores estrangeiros &
ricos quebi morauâo se focão a Pêro mazcarenhas a pe-
diflhe ^ lhes fizesse mercê das fazSdas pois erão estrã*
geiros. O 4 P6r<> ma2carenba& fez de boa võtade coqi
cõdição qiue lhe auiâo de dar mantimenXos os dias quê
ali et^teuesse j pelo Q derâo arrefens : & despois mandou
Fero mazcarenhas saquear a. cidade em. que se ouu0
m<uy rico despoja principalmente nas casae dei rey : &
LiVfto VII. eArmvo kiv« >M
tmnx iori aeindas Ireaeoiaa peçdi cUrteibariay & 'iDoytas
deiae que forio tomadas aos Portugueaes. E rtiubada a
eidade foypoato bofojo áv^trâqueyfas & kraiitarles '^ d^
rou três dia8>& litdo ardeo dé iiaoeyra.qué aie oa.paos
<)tte .eatauio metíciba dt^baUo do ciliáo acdçrák) : & Pena
onaacairenhaa ealaua iào iDa^geadò do^ fncryU).iiral que cm
mouroa desta terra tiobSo feyto. aoa Porlugueaea^ qua
não ae aueado por vingado do que Ibes fez^&.tanibeas
pêra ver se podia tomar e| rej qve sajbia.queestaua na
liba mâdou fazer nela muyias entradas a seus capitães ,
principalmente pot e\ t^y de Dnga |;rãde aiuigo dos
Portugueses que vinba pêra bo ajudar com bua armada
4fi desQyto lancbÀras & «aialuzes : & este pi>rque nSb
pode ser na tomada da. cidade ajudaua aos Portugueses
a correr a ilha^ em que ainda foráo mortos muytos mou-
r4>a& qatiuos dou4.mU:«& isto.foy feytoem quinze dias
í^ Pêro mazeareiiba# i^ajteue. na cidade despoia que a to^
'mou^ £ vendo el rey h» dane que se iazia em sua gen»-
te, & Be. ali maia esteuesse que licariâ^ semnhQa foyse
Íera bii lugar cbamiido Vgõtana onde despois morreoi
] espalhada a noua como Pêro mazcarenhaa tomara Bin*
tão & era el rey ^Aigido iby ter ao ^ era dantes senbof
de Bintão qge moraua n^ terra firme y pêra. onde se for
ra despoia que Ibe el rey de IVlalaca to,mou aquela ilba*,
& sabendo como Pêro mazcarenbas a ganhara por for<;a,
pareceolbe que dele a tornaria a. cobrar cõ se fazer vas*'
aalo dei Rey de Portugal , logo Ibe foy falar com sua li-
ceu^y & tizerâo pazes com coodii^ào que ho:senbor da
Biniáo nio fizesse nela nbiia fortaleza , nem auia de ter
armada, & quando aiguô Ibe fizesse guerra que bo de<-
fendessem os Portugueses : & dali por diante foy muy-
•to grande seu amigo. E isto fejto despaebou 9 Francis-
co de sá que fosse a <2unda a fazer &>rta)eza & deulba
•trezentos Portugueses que se embarcarão em sete oa-
uios, de cujoa capiíâes náo soube çoais non^es que bo
de Francisco da saa & de Duarte coelho <^e ieuaua a
alcaydaria mór da. fortaleza s^ sefizesse« E partido Fran*-
Ò4» DA «trrORIA 0À IHB1A
cisco de sá, pnrtiose Pêro oiazcarenbaB pêra MaJaca*^
onde lhe foy feyto inu3r solene rec^biiDenio , aasi polca
Porluguesea coiiro peioa da terra porque U)dos ganrbaoSo
a)U3rto na destruição diei rey de Btotâo com que se li-
uraráo daa grandes guerras que tifibâo assi coele come
com outros rejs que ho ajudauao que vddo ho destruin-
do os mais fizerSo pa« com Pêro raazcarenhns , & dnK
por diante foy Malaca muylo ennobrecida & abmlada
de mercadorias & mantimentos.
C A P I T V L O XXVI.
De como Francisco de sá foy a çunáa , ^ do quB^e a^
coMeceo. *
J nrtido Frâcisco de sá p6ra-<;u<la deufhe bCI tamanho
tèporal de vSto Q os nauioa da armada se espalbârXo ,
& FrScísoo d^ sá & cu troe três capilies forft cada bft
X^ seu cab<» , & Duarte codbo ^ ya em bila nao arri-
bou ido 3 «ua côpanhia bua gate & bfi bargSLlim, & fo»
rão ter á burra de iqâda Q iie hâa cidade {| está no cabo
da tiha de -çamaira ao Idgo de bti braço demai"^ aparta
a ilha de çamatra da iihft da I^aoa a mayori E ao derra^
dor desta cidade ha muyto grSde soma de pimSta tSo
boa como a do Malabar : be t<erra fresca & bastada de
mátimSlos, he pouoada de mourc»s, & lê rey sobre si ^
i?lb5 he nK)uro : & a esie t6po «^ ali ohtjgou Duarte coe-
lho não era ja sefior da cidade ho rey ^ queria dar for-
taleza se não a-Qle cõ qnS tinha guerra ^ lha tomou por
força, & pêra se acabar de todo dapr>ssar dela estaua ne-
la, & linha muyta gête de guerra : & era Imigo dos Por-
tugueses, f)or^ sabia ^ ho rey a quS tomara a cidade
os mâdara chamar, 6 sua ajuda & lhes ^ria dar fortale-
za. E quando Duarte coelho ali chegou cõ o têporat l|
digo , deu aa costa ho bargâtim (} ya C sua côpanhia, &
saluaranse em terra trinta Portugueses f) yão nele, Q
forft logo tomados poios mouros & degolados porQ ot íh
LIVRO VII* CAFtTVLO XXVI. 65
nhão por !mig08, & a nao de Duarte coelho & a galé IS-
bfi se ouuerão de perder , ee os nosso senhor não salua-
ra. E v6do Duarte coelho o Q fora feyto aos do bargã*
tira tío ^ a terra estaua de guerra, &achftdosesein Fra»
cisco, de sa tio Q era lêpo perdido eslar ali mais & foy*
se como ho tempo abonan<2ou : & desta ida de Duarte
eoelho, & do Q ja el rey sabia do outro seu antecessor
^ tinha dada palaura de dar forlaleza aos Portugueses ^
euue ele medo ^ tornaasB cÕ grade armada , & por í^o
tjfitou maia gSte da que tinha & fortaieeeose ho mais I)
foúes £ estando assi tornou Frãcisco de sá cõ toda a
sua armada ^ andou ajQtaiida por esses portos da ilha
da laoa õde foj ter, & partio da cidade de Panaruca:
& chegado a ^unda mâdou cometer a d rey Q )be den
xasse fazer fortaleza como deiícaua seu antecessor: &
sobre ele nã querer desembarcou Frucisco de sa cõ sua
gdle pêra ho fazer por força.: & como os mouros erílo
ntiytos & eslaufio b6 fortalecidos deffiderfio a desembar*
cação aos Portugueses, matando algíts deles. E Francis*
CO de saa vendo que não podia desembarcar se recolhoo
a sua armada. E conbecSdo Q cÕ a pouca g6te ^ tinha
nâ podia fazer nada tornouse pêra Malaca , Cde ja não
achou Pêro mazcareohas Q era partido pêra a índia, &
por isso não pode auer mais gSte pêra tornar a çunda ,
nê Jorge cabral lha pode dar, assi por ter pouca como
por màdar na^le tSpo Gdçalo gomez dazeoedo cõ socor-
ro a Aflaluco como direy a diãte: & por isto não pode
Francisco de aá tornar mais a çunda, & se foy despoia
pêra «• ]ii4ia.
66 OA HISTORfA'BA nVBfA
CA P I T V L O XXVII.
De carno Pêro mazccírenhas chegou a Cochim , ^ querS-
. do desembarcar lhe resiuio ho vedor da fazenda.
V. ■ • ■ ". '•
inda a motjçSo em ^ se podia ir pêra a índia-, parw
tiose Pêro mazcarenhas cõ três galeões carregadog kla
fazSda dei Rey & da sua, & de camfnho passou porCou-^
Ifio, õde foy recebido do feylor & aieayde mór Anrri^.
figueira como gouernador (posto (| tinha regiicêlo em
cdtrairo de Lopo vaz.de sam. Payo) & cõLoulhe tudo o ^
passara na índia despois de ser chamado [)era a gouer«*
nar: do ^ ele ficou assaz dagasiado, & conselbouse do
\ f^ria cõ bú SiniSo caeiro \ como gouernador fizera sea
ouuidor geral & cÕ iifl Lançarote de seixas a ^ pelo
mesmo modo dera officio de secretarro* E estes lhe con-*
selbarão {| se fosse a Q)chi & iKsasse de muyto rigor cõ
Afonso .mexia, porí| abrira a noua subcessam, porQ ele
tinha toda a cui|ia S a abrir : porê que descansasse ^
posto ^ fosse aberta lhe não.perjudicaua ao dereyto 4
linha na gouernâça por a sua subcessam ser prímeyro
aberta. E parecèdolbe bS este cõselho, partiose pêra
Cochi õde chegou ho derradeyro de Feuereyro. Afonso
mexia ^ linha sobrele suas espias sabSdo como era che^
gado , lhe mãdou logo notificar poios juyzes de Cochi ^
& por Duarte teixetra tesoureyra das mercadorias, &
por Manuel lobato escriuâo dii feytoria ho terlado da nor
ua subcessam de Lopo vaz de sam Payo, &..boxegimfi|
to {] tinha dele pêra ho não receber como a gouernador,
& lhe requeresse da parte dei Rey \ obedecesse ao go*
uernador pois ho era por aqla prouisam. Ao ^ Pêro maz-
carenhas respõdeo cÕ muyta cólera ^ aQla prouisam nao
era assinada por el Rey, & por isso não era obrigado a
conhecela por sua : & ^ Afonso mexia como seu Tmigo
a poderia fazer , & por essa causa lhe nã auia dobede-
cer principalmêle por estar 8 posse da gouernãça \ ho
LIVRO VII. CAPITVLO XXVII. 57
iBesmo AfoDso mexia lhe dera & f) elea' merecia mui
grade castigado pois sabSdo i\ era gouernadur ousauâo
de \be fazer tais requerimêlos. E Simão caeiro como ou-
uidor geral lho estranhou mtiylo dizendo que aquilo era
caso de treição , & por seu cõselho ouue Pêro mazcare-
nhas os juyzes por priuados dos officios & que sopena
de perdimentos das fazendas não sayssem de casa des^
pois que fossem em Gochim , & mandou! hes tomar abi*
to & tonsura , & fizer auto de sua prisam pêra despois
proceder controles : & coesta reposta os mandou , Duar«
te teixeira & Manuel lobato ficarão presos cÕ ferros no
nauio porque insistirão mais no requerimento chamando
gouernadur a Lopo vaz de sam Payo. O que sabido por
Afonso mexia, lhe mandou requerer da parte dei Rey
que lhe soltasse os presos que erâo officiaes de sua fa-
zenda que se podia perder por sua prisam tornandolhe
a requerer í\ obedecesse á prouisam do gouernador de
que tinha regimento f\ ho não recebesse em terra por
nenhua via & lhe resistisse com armas o que auia de
fazer^ & que se quisesse algQa cousa que se fosse a Goa
& hi acharia ho gouernador , o que se ele fizera fora li-
ure da muyta deshonrra (| lhe foy feyta, & suas cousas
se.fizerão melhor , roas não teue quem ho acÕselhasse,
por^ Simão caeiro & Lâijarote de seixas cÕ quâlo vião
ho rigor em ^ se Afonso mexia punha, & ho grande po-
der {) tinha por seus officios, & quão pouco Pêro maz-
carenhas, acõselhauâllie ^ leuasse tudo a for<;a de brar
ço, & que desembarcasse, porque como fosse em terra
seria gouernador: & como ele era muyto bo caualeyro
& tinha animo pêra tudo parecialhe que tudo podia le«
uar auanie, & por isso respondeo ao vedor da fazenda ^
ao outro dia lhe respôderia S terra porQ era quasi noyte.
E temendose ele !\ Pêro mazcarenbas desembarcasse de
noyte & entrasse na cidade por ser rasa , chamou todo
ho pouo de Cochim a repiQ de sino : & cõ quãto a mui-
tos parecia mal tomarse a gouernâça a Pêro mazcare*
nbas, pelo í^ deuião á obediêcia portuguesa 4 oã dispu-
LIVAO VIU H
ftS OA HISTORIA DÁ INMA
ta 86 M roSâados de aeu rey ou dos Q estSo em seu lu«*
gar sam justos ou injustos , acodirão logo todos postos ê
armas pêra fazerS o () lhes Afonso mexia mSdasse: &
ête lhes notificou o ^ passaua cõ Pêro inazcarenhas , ^
jíSio Qría se não desembarcar cõlra ho regimêlo do go^
nernador: pelo l\ lhes requeria da sua parte Q tãto mo-»
taua como da dei Rey pois tinha suas vezes ^ lhe aju-
dasse a cõprir bo seu regimêlo t\ era defender cõ armas
a desembarcarão a Pêro mazcarenkns & lhe ajudasse a
guardar a praya aijla noyte. E eies ho tizerão de lK)a vd^
tade, & a praya se goardou cÕ tala diligêcia como ^ se
goardara de imigos, & toda a noyle Afonso mexia gas«
tou em mãdar re^rimStos a Pêro mazcarenhas t\ não
desembarcasse , & Q se fosse a Goa & lá regresse sua
justiça : & ele respõdeo a todos que em terra lhe respô*
deria , & ao derradeyro acrecêtou mais ^ não aueria 5
Afonso mexia tão pouca humanidade, {| como a Chris*
tãos Q erâo ele & os de sua cõpanhia os não deixasse
desembarcar pêra ouuirS missa. E sendo ele desenganan-
do 1} nê pêra isso, nã quis se nã desembarcar porQ ti*
nha inleligScia cÕ aigQs da cidade ^ desembarcasse coa-
21a cor , & como fosse em terra se leuâtaríão coele obe-
ecSdoo por gouernador, & prêderiâo Afonso mexia: o
Q não podião fazer s6 ele desembarcar, & isío fez a Pê-
ro mazcarenhas insistir em sair em terra & não se ir a
Goa, & tãbem auer por grande afronta ter Afonso me«
xia ousadia pêra lhe dizer Q por armas lhe defenderia a
áesembarcação, s6do ele bOa pessoa tão principal na ín-
dia, & tido )K)r rouyto esforçado pelos muytos feytos
em armas ^ fizera. É como ele não queria começar bri-
gas com Afonso mexia, & parecendolhe ^ desembarca-
do desarmado as não queria coele, & tãbem de confiado
que não ousaria de as cometer, & que os requerimen-
tos passados forão mais pêra ho espâtar, que pêra ho exe-
cutar, cometeo a desembarcação, indo cõ toda sua gen-
te em dous baleis, & ieufldo ouuidor & meirinho com
varas , & assi ele como todos os outros, tão desarmados,
LITRO Vn# CAPITVI.0 XXVII. 6»
que ate espadas nSo leiíauSo, E vendo A fonso mexia, (|
não {|ria se nâo desembarcar, defendeolho como a !rni«
go, fazendo me(er pola agoa os queslauão coele, & mã-
dâdolhes () ferissem a Pêro mazcarenhas , & aos de sua
cdpanhia, como a Imigos, & assi ho fizerâo: bradado
Ptrq mazcarenhas & os seus que ho não íizessS, por(}
eião Cbristãos, & nSo queriâo guerra se não paz, & co*
mo pacíficos yão sem armas: & requerendolhes da par-
te de Deos & dei rey ^ esteuessem quedos ho que eles
nâo faztão nem podião fazer, porque Afonso mexia os nS
deixaua, & andaua atreles sobre hâ caualo acubertado
armado, bradado que os matassem como a immigos,
f)oÍ8 desobedeciào aos mâdados de seu rey, & eles ho
fazíão assi que os de Fero mazcarenhas não tínhão cÔ ^
ae defender. A genfe da terra que saio toda a ver isto
eetaua muyto espantada , & assi era pêra espantar ver
Portugueses fazer cousa tão fea, & mais em terra de
seus luiigos : por^ não poderão eles fazer mais mal sos
cio mar do (\ lhes fazião os da terra , ic conhecSdo Pêro
mazcarenhas quã mao cõselho fora ir desarmado pois
tlesembarcaua: & vendo que não podia desembarcar re-
colheose, indo bem espancado, & ferido em hu braço,
& assi ha seu parSte chamado lorge mazcarenhas fcy
ferido de htin chuçada , & outros muylos , & todos espã»
cados & pisados, & despois {( Pêro mazcarenhas foy no
eeu galeão mandou fazer hCI auto do i\ lhe A (nnso me«-
xia (izera s8do gouernador da índia: & a ele, & a todos
os moradores de Cochím mandou apreg^oar por tredóres,
ameaçãdoos ^ lho auiã de pagar se gouernasse a índia.
H 8
60 DA HI8T0KIA DA ÍNDIA
C A P I T V L O XXVIIL
De como não podendo Pêro mazcarenhas desembarcar
' em Cananor se pariio pêra Goa.
JtVecolhido Pêro mazcarenhas aos galeões não disistio
Afonso mexia de goardar a praia, 8 quãlo Pêro mazca-
renhas esieue no porto, receado í\ se melesse õ Cocbi
& logo escreueo ao gouernador o ^ tinha feyto a Pêro
mazcarenhas , mãdandolhe todos os re^rimõtos Q lhe fi-
zera sobre (} nâ desSbarcasse & isto lhe mandou por Ai-
res da cunha , Q tãbem Jeuou carta de Pêro mazcare-
nhas pêra ho gouernador S c} lhe escreuia o Q lhe fora
feyto per Afonso mexia, & por isso se ^ria ir ver coele,
& o mesmo escreueo a muytos fidalgos Qstauã õ Goa,
pedidolhes ^ determinassem se auia de ser Lopo vaz de
sam payo gouernador ou ele, por^ nã ^ria se não justi-
ça. E partido Aires da cunha coestes papeis mandou A-
fonso mexia requerer a Pêro mazcarenhas ^ lhe man-
dasse entregar os galeões que trazia pêra os mãdar cor-
reger & lhe entregasse a fazenda dei Rey, & pêra ir a
Goa se la quisesse ir lhe daria hua carauela.Do que Pê-
ro mazcarenhas foy contente, pori| despois que arrefe-
ceo da fúria que lhe causou a injuria que recebera, lem-
brouse das que forâo feytas a Afonso dalbuquerque (a
quem desejaua de seguir) 6 outro tal caso como a^le,
& por isso determinou de não fazer nada por for<^a se
não por justiça : & coesta determinação não quis reter
08 galeões porque não parecesse que se queria fazer for-
te neles, & entregouos com a ifazenda que tinhâo, &
mudouse pêra a carauela com sua fazêda & criados. E
coesta mudança os mais dos que vinbão nos galeões se
forâo a terra por não caberem na carauela , & poio ve-
rem coa-la determinação: & algus destes forão presos
por mandado do vedor da fazSda, & antreles foy lorge
mazcarenhas estando ferido da chuçada que disse, & as-
LIVKO YIl^-GAFITVLO XXYIII. 61
si' ferida cbroo esUua ho mandou ieuar preso a fortaleza
de Coulâo , como a quem fizera grade crime : sendo ele
fiessoa que linha bem aeruido el Rey , & fidalgo de sua
casa. £ Pêro mazcareohas despois que se mudou a ca*
rauela, pariiose pêra Gananor a esperar hi ho recado de
Goa, por^ dom Simão de meneses capitão da fortaleza
era seu amigo, mas achou a cousa muy desuiada do que
cuydaua, porque sabendo dom Simão ^ estaua no porto
lhe mandou logo dizer, Q lh« pesaua muyto de sua vin-
da ser em tal tempo : que lhe não podia fazer nenhu ser**
uiço sendo muyto grande seu seruidor, porque tinha
mi^ndado do gouernador Lopo vaz de sam rayo a quem
toda a genle da Índia tinha por gouernador, que ehe^
gando ele aquela fortaleza se quisesse ir a ela como hu
.fidalgo tão borrado & de tanto merecimento como ho
seu que ho recebesse com toda a honrra & cortesia Q
ibsse possiuel : mas que se fosse com nome de gouerna-
dor que lho não consentisse, & ele polo que deuia a sua
lealdade não podia fazer outra cousa se não obedecer-
Ihe como a pessoa dei Rey de Portugal c) representaua.
Ao que Pêro mazcarenhas respÕdeo que não queria se
não que comprisse com sua lealdade , & que não queria
dele maiB que hQ catur em Q fosse a íjçsí pêra ir ainda
mais raso que na earauela & com menos sospeita de
querer por força auer a gouernani^a que não queria se
Bão por justi<2a. O que lhe dõ Simão louuou muyto, &
lhe mandou dar ho catur em que não quis leuar mais
gente a fora os remeyros <) Simão caeiro & Langarote
de. seixas & dous moços que ho seruissem, & ,com quan-
to lhe veo á memoria ir se a Chaul pêra Christouão de
gousa que tinha por amigo , & dahi fazer suas cousas ,
Dão foy por recear que fizesse como dom Simão, & mais
pola fama que a-uia que era grade amigo de Lopo vaz T
de sam Payo, £( por isto não quis lá ir & partiose pêra
Goa parecSdolhe Q ho gouernador se queria poer coele
em justiça,, & quando nào ^ os fidalgos que estauão coe-
le lho farijão fazer. £ poêdose ho caso em dereyio a go*
6> IML RffBTOMA UA ITfDIA
uerfi2i^ seria sua por lhe dizer Simão caeiro que ho
iQuyto que iinlia nela iba daua.
C A P I T V L O XXIX.
De coma ho youemador smAe o ijue Afonso mexia foz ã
Pêro masscarenhas.
J^yten da cunha {| leuana os recados de pêro niazca-
renhas & do vedor da faz3da pêra ho gmiernador chegou
a Goa a quatro dias de inarço^ & detilhe os papeis que
leuaua , & vistos por ele , & sabendo por Ayres da ca<-
flba o ^ se fízera a Pêro inazcarenhaa ouupsse por segu*
ro na gouernança. B dando conta disso a Eytor da sil-
ueira & a Pêro de faria & a aigús fídalgos de que se fia-
ua^ lhe consetharão que p<»r nhu noodo consentisse que
Pêro mazcarenhas fosse a Goa ^ por^ segildo a gSie es-
taua descAíSte da abertura da noua prouisam, & tinha
que lhe fora tomada a gouernança que vendo ho em Goa
se ieuáilarião coele , por isso que ho nfio côsentisse en-
trar nela : o qup pareceo bem ao gouernador , & escre-
ueo logo ao capitão mór do mar que por ser grande in-
GooueniSte ao seruiço dei Rey seu senhor ir Pêro mas*
carenhas a Goa como lhe diziao os fidalgos que estauáo
nela, lhe mandaua que fizesse de maneyra que topasse
Pêro mazcarenhas & lhe requeresse da sua parte que se
fosse an fortaleza de Cananor dÕde não sayria sem seu
mandado, & não lhe querendo obedecer lho faria fazer
por força , & preso ho entregaria a dom Simão de roe-
neses de que cobraria conhecimento de como ho rece-
bia, & quando se Pêro mazcarenhas defendesse ho me^
tesse no fundo se fosse necessário, fazendolhe primeyro
todos os requerimentos & protestações i\ cumprissem, &
escreueo húa carta a Pêro mazcarenhas dandolhe toda a
culpa do que lhe fora feyto pois não quisera obedecer a
seu regimento que lhe ho vedor da fazSda mãdara note-
ficar , & por isso não tinha rezão de castigar ninguém
LIVBO VIU GAFITTLO Xam. 63
do que lhe pesaua muyto^ & quanto a yerae coele &coiii
os fidalgos ^ estauão em Goa erâo todoa dacordo que
ho nfto tia^sáe polo auerém por verdadeyco goueroador,
& maiB qoe daria sua ida grande iorua<^ot a se fazer o
que era necessário pêra ho recebimento dos rumes ^ es^
perauSo: & por isso ihe pedia mujto de sua parte fc re^
Qria da dei Rey seu senhor qué se fosse a fortaleea de
Cananor como ho capitão mór do mar lhe diria, & dabt
mandasse requerer o que quisesse. Coestas cartas des^
pedio logo Ayres da cunha a quem pola noua que lhe
dera, & por lho ho vedor da fazenda pedir deu a feyla'
ria & alcay daria mór de Coulâo & a tirou a Anrri^ fi-
gueira que a tinha por el Rey , dizendo que fizera trei-
no 5 receber Pêro mazcarenbas por gouernador. Parti-'
do Ayres da cunha coestas cartas deu as ao capitão mór
do mar , que nunca pode topar com Pêro mazcaronhas ^
& por isso não ouueefieyto o que ho gouernador mandaua#
C A P I T V L O XXX.
De como ho gouernador mandou q fosse preso Pêro ntaz-
carenhas.
V/omo quer que a mayor parte da gente ^ estaua em
Goa assi altos como baixos fossem de parecer que a go-
nernança era de Pêro maacarenhas sabendo que era na
índia, & que auia de ir a Goa aluoraçaranse muyto per
a sua vinda, & dizião pubricamente que ele era goutT-
nador & nâo Lopo vaz de sam Payo, & f\ vindo ele ho
ajodariâo a seio, & logo se começarão bandos antreies,
& 08 que tinhão i\ ho gouernador ho era, & a cada can«
to auia ajuntamentos & perfías dfls com outros sobre cu--
)a era a gouernan^a , & auia grande aluoroço & vniâo
pola cidade. E sabendo ho ho gouernador , disse ho a
seus amigos pedidolhes conseliio : & eles lho derão Q de-
uia de a^andar goardar ambas as barras de Goa , por-
que hi era ttais certo lomarse Pêro mazcarenhas Q no
/
64 1>A HISTORIA DA HfOIA
mar dde bo capitão mor do mar bo poderia errar^ & mX-
dasse \ ali fosae tomada a meiiagè a Pêra mazcareDhaa,
que ee fosae á fortaleza de Ganaaor donde oão fiayria
sem seu Biandado, & Dão querendo dar a menagem que
foase preso em ferros, & asai bo leuassem a Cananor.
£ ho principal deste conseibo foy Eytor da silueira a
quem ho gouernador daua mil pardaos dordenado des-
pois que António de roiranda seruio de capitão mór do
mar, & isto [K3r ho. ter de sua parte por ser pessoa de
credito & ter muylos parentes 4 ho gouernador cuyda-
ua que serião de sua valia por sua parte : & porque Pê-
ro mazcárenhas &. os de sua parte cuydassem que era
assi, cometeo a Eytor da siJueira que ho fosse prender :
do que se ele escusou porque lhe parecia bê prenderse
pêra ho aconselhar mas nã pêra ser ho executor, por*
que sabia quãto todos os fidalgos da índia lho estranha-
rião« E vendo bo gouernador que se escusaua mandou
a Simão de melo seu sobrinho & a António da silueira
de roeneses seu genrro que fossem com grande armada
goardar ambas as barras de Goa & prendessem Pêro
mazcarenhas não querendo dar a menagem , & que Si-
mão de melo ho leuasse a Cananor & ho entregaria a
dom Simão preso em ferros de qu6 cobraria conbecimS»
to de como ho recebia , & que assi ho êtregaria quãdo
lho lio gouernador mandasse , & eles se partirão pêra as
barras a houe de IVIarço com (amanha armada & chea
de tanta gente como se forão esperar os rumes, o que
aiuuroçou mais os da parte de Pêro mazcarenhas & di-
zíâo que bS mostrAua ho gouernador ^ queria gouernar
por força pois não queria Q Pêro mazcarenhas fosse á
Goa por não se poer coele em derey to , & se teuera. por
certo telo na gouernança Q lhe oão dera nada de ir a
Goa, & \ posto que ho mandasse prender 2) a gouer-
nança auia de ser sua, & diziáno de noyte em lugar que
ho ouuia , & eie dissimulaua por não auer moor aluoro-
ço : & porem era tamanho 4 ^^^ podia ser mayor , &
algus se yão aqueixar do que ho gouernador fazia iu>
LIVRO. VUk CAUTVLO XXX. 6&
goardic^) de sam Francisco de Goa que era homem le-
trado, dizendolhe que polo que deuia a €eu habito lhe
deuia destranbar o que fazia a Pêro mazcarenhas, & eie
respÕdia que não auia que lhe estranhar porque fazia
justiça: & que responderia mais largamSte no cabo da
pregação que auia de pregar ho domingo seguite, & dis-
se isto ao gouernador pedindoihe a sua prouisit pêra a
ler no púlpito , & prouar por ela que ele era verdadeyro
gouernador, & ele lhe rogou muyto que ho fizesse. E es-
tãdo ho gouernador presente com muytos capitães & fi-
dalgos, leo no cabo da pregação em alta voz a prouisam
per (\ Lopo vaz de sam Payo era gouernador. £ despois.
Q prouou por muytas rezões que ele era verdadeyro go<-
uernador {o t\ ningué negaua se a subcessam de Fero
mazcarenhas não fora aberta primeyro) disse ho por^
fazia aquela declaração , & que dizia a todas as pessoas
que dizião que ho gouernador lomaua por força a gouer-
nança a Fero mazcarenhas !\ vissem bem o que fazião ,
porque a fora lhe assacarem hQ grande falso testemu-
nho cometião treição contra el Rey cousa mtiyto auor-
recida Slre os Portugueses póla muyto grande lealdade
de que sempre vsarão sobre as outras nações: & posto
Q ele era Castelhano não auia vergonha de ho confes*
sar, mas. que a auiclo dauer os que lhe fazião dizer a-
quilo, & que duuidauão em cousa tão clara como era
ser Lopo vaz de sam Payo gouernador por dereyto &
não por força : & que b5 sabião todos quão pouco par6-
tesco tinha coele nè com Fero mazcarenhas, & quão
pouca necessidade tinha deles nem doutra nenhõa pes*
soa deste mundo, & que ainda que lhe algos assacatião
que ele não falaua verdade, o {} se ele fazia prouuesse*
a Deos eterno que no inferno fosse confundido, & lhe
tirasse logo a fala se ele dizia se não o que entendia,'
& assi ho juraua polo deos Q aquela manhaã teuera nas
mãos , & |)or tãto requeria da parte do Sancto padre ao
vigairo geral que hi estaua que passasse hUa carta des-
comunhão em que ouuesse por escomungados a todos os
LIVRO VII. I
M BA HnroHiA DÁ índia
ò diMeaoem que ho goaemador bo não era por derejto,
ic pagasses dez marcos de prata pêra a sé & nSo po«
dessem ser absolutos se nSo polo bispo do Funcbal , &
K^ria ao ouuídor geral & a todos os fidalgos Q oulbas-
tem |jor (amanha cousa cosmo aquela era, & que soo*
beesein (odos que as goardas que ho gouernador punha
Das barras não era por se lemer da vinda de Pêro niaz-
earenhas se nao por não auer aluoroços: & cuydando
que ficauão todos erétes eoesta fala ^ Lopo vaz de sam
Payo era gouernador por derejto ealouse , & logo Fero
de faria capitio de Goa Uie pedio a subcessani & a bet<-
jou & pos na cabe^ , dizendo que a obedecia, & pregil-
lado a todos se faaíão outro tanto disserâo que si , & do
que ho goardiSo disse, & disto mandou fazer hu anto
pêra sua 8egnran<;a, & se aprouettar dele quando fosse
tempo, Sl por seu mandado fo; ho o»uidor gerai pokaa
casas desses fidalgos ^ se acharão* aa pregai^o, & ho as-*
ainarâo por amor que disserâo l^ obedeciâo á prooisio
que bo goardiSo lera, & os que assinarão, forão Pêro de
£»ria, ho fejior Miguel db vale, Eylor da silueira, Fran«
oiseo de soasa tauares , Gõi^alo de sonsa , Ruy gomez
dag rã, dom lorge de oraste, Manuel de brito, dÔ An-
tónio d^ silueira , Vaseo da cunha , Diogo da sMueira ^
dd Afonso de meneses, Geronimo de sousa, Anrri^ de
macedo, lohane mSdez de macedo, Dic^e de macedo,
Manuel de carualhal , António mddez de brito, Frâcis*
CO da silua. Pêro descocoar, & dõ Vasco de lima, & lor-
ge de irmA| porQ não- quisserSo assinar foran» presos so^
bre suas menagfts , Sl asai por^ mpslrarão ser da parte
de Pêro mazcarenba», & ao oulro dia foi este auto aa«
sioado pelos que estauã nas barras, que forSo António
dai silueira ,. Simão de melo, dom lorge de noronha, lor-»
ge de melo, dÕ lohão lobo, dom Anrrique déqa, lohão
pereyca, Francieco oorrea^ António ealdeira, Gomez de
souto mayor, Lopo correa, Franoiseo de brito, Pajo roíz
daraujo, Gracia de nrdo, António mender de vascon**
celos^ Nuno pereyra^ Frãcisco fenreira^ Gaspar da sil-
LIVRO yff« CAIPtTVLO XXXI. GT
mi , Fernfto de inoraeis , Fernão roiz barba» E atsi foy
assinado polo capilA oiór do mar, que chegou a este
tempo 9 & peloH eapiiáea Q yjlo coeie.
C A P I T V L O XXXC.
De e&ma Pêro moMCãrenhas fey preso em ferroe •
JL^ auegando Pêro maacarenhaa pêra Goa^ topou cd GA-
'i;aio g^omez dazeuedo, hfl fidalgo de ^ soube a armada
3bo esCaua esperando pêra ho prenderem por mandado
o gooernador. E como ele ;a posto em sofrer tudo fao
^oe lhe fizessem , & nâo fazer mais que requerer sua
justiça , não lhe deu nada & passou auanle , & tãb6 por
uSo ter onde se ir : & despois de sapartar de G&^ goh
mm chegou á barra de Pangim aos dezaseis de Março.
E tanto que foy visto fbe saio hfl bargantim tirSdolhe
bombiirdadas por alto pêra 2) amainasee como amainou ^
i& depois de ser leU('>do a António da sihieira & lhe nSo
qnerer dar mensgem t)e se ir meter na fortaleza de Cu*
nanor & não sair sem mandado do gouernador , lhe foy
deitado hO griHiSo. B entregue a Simão de melo ho ie-
uoti a Cananor, & forão presos Simfio^aeiro, & Uk;a-
9ote de seixas, & leuados ao (ronco de Goa, onde forSo
bem carregados éê ferro. E entregue Pêro mazcaiienbaB
a dò Simflo de metieses , por Simão de melo cobrou da-
)e hH eonheeímfito de como ho recebera, & que assi ho
entregaria quando lho pedissem , & coeie se (ornou ao
goueroadfH*, Q se ouee por seguro com a prisão de Pa-
ro mazcnrenhas , & assr ho fteou : fkottf coela se asseM-
gnrã todos os aluoroi^os 4[)ue auia, & ni acuem falou mais
ê Pêro mi)zcarenbas , temendo que ^he não fizessem ce^
mo a ele, & mais perderão a «sperani^a de se realaarar,
E neste tempo Francisco de sousa lauarea t\ (inba a
carta de Chrislouão de sousa , ifue com os de Cbaul se
acordou q eeereuesse ao gooernaNJor, Hm deu , cuja sue^
Hincia era eepiiarae mtryte dele, eêpennéetfe por Rtêt-
I 2
CS .BA HISTORIA DA ÍNDIA
'mes cada diá, que Iraziâo tamanho poder como ele sa-
bia : & sendo ho dos nossos tã pouco querelo ainda de-
minuir, cõ bo diuídir em duas parles & fazer diuisão,
que è todas as parles era a mais abominauel cousa que
podia ser, quãto mais na índia ^ & naquele iSpo, que
se lhe parecia que a gouernâça era sua , que se posesse
em justiça cÕ Pêro mazcarenhas quando viesse de Ma-
laca, & nã quisesse que se determinasse por armas co»
mo parecia que queria, & quê teuesse dereito esse fus--
Be gouernador , porque ele não queria que bo fosse hii
•roais que ho outro, nè lhe queria que se posesse eni de-
leito, se nãii por não auer diuisâo na índia: & Q assí
Jho pedia rouyto & requeria da parte dei rey : certefícan-
duihe que não auia dobedecer, se não a quem se poses-
se em dereito. Vista esta carta pelo gouernador, achou-
se muyto salteado, por ser Christouào de sousa bo prin-
cipal capitão de toda a índia, & que tinha a mayor par-
le da gente dela de sua parte, por dar rouyto mayor
mesa que todos os daquele tempo, & muyto mais abas-
tada & melhores igoarias, & daua dinheiro a muylos
que ho não tinha, & ser de muyto folgar, & muy fami-
Jiar com todos, polo que continuaiBgteinuernauàêCbaul
roais tidalgos & gSte que & outra parte ^ & por isso bo
gouernador ticou asaz agastado, em lhe parecer ^ Ibe
não obedeceria pois nâ se deterroiíl^ra cõ Pêro masca-
renbas se não .por força , & isto Ibe fez crer que nã era
ainda pacifico na gouernaoça, & não mostrou esta car-
ta se não aos que tinha por amigos, que ficarão coela
abalados , por ser Cristouâo de sousa a pessoa í\ era ,
& conseiharão ao gouernador i) Jhe mãdasse notiticar a
prisão de Pêro mazcarenhas, & como se fizera sem nbQa
diuisão, que fora aprouada polo capitão mor do mar, &
polo capitão de Cananor, & por lodos os capitães & fi-
dalgos da índia, & bo obedeciâo todos f>or gouernador,
pediodolhe que pois nâ auia diuisão, que obedecesse,
& escreuesse bua carta a Pêro mazcarenhas, como auia
a sua prisão por boa , & Ibe conselhasse que desistisse
LIVRO VII. CAFITVIiO XStXí. 69
de pretender a gouernãça. £ sabido isto por Crislouão
de sousa como quer Q não pretendia neste caso mais
que na auer diuibão, folgou nauj^to de a cousa se fazer
•tão pacificaniSle : & deu por isso niuytas graças a nosso
aeobor, mas não que lhe deixasse de parecer muyto mal
^a prisão de Pêro mazcarenbas , & muyto peor nSo lhe
darem a gouernauça, que lhe parecia ser sua por derei-
to, & que pelo que deuia ao seruic^o dei rey, & a obri-
gac^âo que tinha de sua menagem & fidalguia, ^ deuia
dobedecer por gouernador a Pêro mazcarenbas , & nào
a Lopo vaz de sam payo, mas poendo diante que fazen-
doo assi se renouaria a diuisão que eslaua apagada^ &
.que se desfaria ho corpo da gente da índia, que se po-
dia conseruar, cõ auer por boa a prisão de Pêro maz-
carenbas, & atalhaua aos que erâo da sua parte, vendo
Q ele era da do gouernador, bo seria tambê, & eslãdo
4odo0 juntos & côfurmes os ajudaria nosso senhor, & lhes
•daria vitoria doa Rumes, t\ náo vindo na mouçáodeMayo
.estaua certo virem na de Setebro, & achando diuidida
a gente da índia, seria muy leue cousa ganbar@na, com
não escapar nhil dos nossos, & por isso lhe pareceo bê
com cÕselbo dos principaeis que eslauâo coele, que não
somente screuesse ao gouernador, que ho obedecia por
esse, & auia a prisão de Pêro mazcarenbas por boa, mas
tâbõ a toda a Índia: & screuesse a Pêro mazcarenbas
còforme ao que lhe bo gouernador rogaua , & a quem
screueo esta carta.
m Senhor por este parsio ouue bua caria de V. S. S ^
me largamfite da conta do negocio dãtrele, & Pêro maz-
carenbas, muyto folgara de o saber primeyro, porque
dera antes meu parecer s3 afei<jã, como V. S. de mim
cré & espera. E quanto senhor ao que diz que todos o-
bedecerâo a sua prouisâo, eu tâbê digo ^ lhe obedeço,
no alto, & no baixo, como a gouernador que be por pro-
uisâo dei rey nosso senhor, & sei certo selo V. S. por
morte de dõ Anrrij) de meneses Q Deos perdoe» £ quã-
to ao que be pasmado sobreste caso, me pareceo escusii-*
70 nk «sroRiA dia fNUA
do meu parecer , por ho negocio ter ja fim Deot seja
louuado, lAo 0em aíuoro<^ & sem diuísão, ho <} sempre
pedi a nosso senhor, & estaua asas confiado Q se faria
b6 polo V, S. ler ãlre as mãos & pois está feyto Canto ê
cc^ncordia & pae, não falo nisso. A carta pêra Pêro a^is-
carenhas vai aberta, pêra se lhe parecer bem mldarlha^
se não faija ho que quiser. Beijo as mftos de V. S. -de
Chaul a vTte cinco de Março. Cristouão de sousa.
E a de Pêro mazcarenbas dizia.
*t Senhor fuy emforniado do senhor Lopo vas, de todo
ho caso dàire vos & ele , & assi vi suas prouisôes & os
pareceres desses senhores que se acharão em Cochim,
& certo tudo foy feyto por seu estilo, & como estas cou-
sas estem 6 pontos de dereito, ^ muyto bS sabem algfis
dos questauão presentes, não vos pareça senhor ho con-
Irairo, se não Q por todos, assi leigos coroo por esses
dous frades ^ ho deuS detender, & ser sem sospeita por
seus hábitos, & mais afirmandoe cÒ juramSto, forão suas
prouisôes auid«^ |x)r boas: & certo a meu ver, a vonta-
de de Saalteza era selo de per falecimento de dÕ Anr-
rique : & de todas as outras cousas , eu não fuy enfor-
mado se não a tSpo í\ tudo estaua feyto, por isso foy
escusado meu parecer, & pois tudo esta pacifico, a-
uei vossa prisão em paciência, porque certo ít)y neces-
sária, assi polo Iji vos eâpre, como por euitar aF^ílas ses-
peitas domSs que desejão diuisões, ho ^ pêra ho tempo
em ^ estamos fora tão danoso, () muyle melhor fera sei^
des ambos mortos : Quisuos senhor screuer esta , posto
^ de Vios não tenha recebida nhua despois de vossa vrnh
da, pêra nela vos pedir por mercê como acima d^ge a*
jais paciScia eo«i vossas cousas , & queirais fazer este
seruiço a sualteza, de vos nâo lembrardes agora de vo9<-
sa honrra , por não vingardes vossa prisão , cousa tãto
cõtra seu seruiço, & certo recebereis assí^nada mercê de
tão notaiiel seruiço, & não demouâo vosso bS conselho-,
algflas cartas de fidalgos da Índia, porque certo qu6
vos ho oontrairo aconselhar será vosso immigo y, & fíSb
LIVRO VII. CAUTVLO ILXXI. 7 1
deteja de vomas cousas serem feyla^ a vossa hõrra co-
mo eu. Veja senhor bo {} de ml mSda nes(a terra & fa-
loei , não tocando nestes negócios ( por ja terS fim ) co-
ifio seu seruiclor & amigo que sou de muylos dias. Beija
silor vossas mãos, de Ghaul. Cristouâo de sousa.
E assi esòreueo a dom Sim&r de meneses & a ou-
tros muytos fidalgos do que ho gouernador ficou muyto
contente parecendoihe que ho tinha da sua parte, & Pe«
ro mazcarenhas também ficou satisfeito quando ?io a
sua carta , porque entendeo nela que nâo auia sua pri«
sam por boa se nSo pela pacificação da Índia & por se
escusarem diuisÕes, & teue esperança de lhe parecer
ainda bem poerse ho gouernador coele eu) dere^^lo sobre
a gouernâça se bo dom Stmào soltasse, em que ja co**-
roeçaua denteirder què Iro fatia ^ por lhe ter prometido
que coroo fosse inuerno lhe tiraria os ferros, pedindo-
Hie perdão de lhos nio tirar mais cedo por recear que
fao gouernador ho soubesse* E isto deu ousadia a Pêro
mazcarenhas a mãdar hQ requeri m&lo ao gouernador per
hu Dinis camelo tabalhSo pubrico de Cananor, euja 8us«*
taiieía foj que ho gouernador se posesse coele 6 justiça
& não leuasee ao eabo a ibrça ^ lhe fazia tomandolhe a
gcuemança ^ fbe el Rey dera jivot estando por todas as
perdar & dãooa que disso recebesse, & requerendoUre
lambem ^ eoltasse a Simão caeiro & a Lançarote de sei-
xas pêra requererem su^a justiça pois os tinha presos sem
serem eu>pad«É. £ dado este* requerimento ao gouerna-
dor, ele he> roavpeo acabaB>db de ho ler : pelo ^ Dinis ca*
meie iiSer oveou* dfesperae a reposta Sc fugio pêra Cana-'
iior. E logo Besta «onjunçáo indo ho gouernador á for-^
taleza pasBaifdo por diãle da porta do troco Simão caei^-
ro & Lánfarete de seixas Hke requererão a grandes bra-
dos que es mandasse soltar pêra requererem a justiça
do gouernador Pêro mazcarenhas, ft por isso os mandou
carregar de ferro mais do que estauão , & defendeo sob
graues penaa que nidguem sobreste caso de Pêro maz-
eaienhas Hie desM mais requerimentos se não ao secre*
72 BA HISTO&f A Dá INPIA
tario porque ele responderia , & mandou apregoar Q so^
pena de morte ninguém fosse ousado de nomear por go->
uernador a Pêro mazcarenhas: que sabendo coroo fao gú-
uernador roropera ho seu requerimento a Dinis camelo
& lhe não dera outra reposta, lhe pedio disso bfl estor-
mento que lhe ele deu. E não responder ho gouernador
a este requerimSto, fez parecer a dom SimSo que toma*
ua a gouernança por força, & parecendolbe mal come-
çouse dabalar pêra lhe desobedecer, & nâo Q ho dises-
ge a Pêro mazcarenhas.
C A P I T V L O XXXII.
• ê
Da causa ^ Eytor da sUueira , ^ Diogo da silueira , íe^
uerâo pêra serem côtra ho gouernador.
X ubricado por cristouão de sousa que auia por boa a
prisão de Pêro mazcarenhas , como ele era (lessoa tão
principal na índia, & de Q se fazia muy ta conta, o»
mais dos que erâo da parte de Pêro mazcarenhas, ven-*
do que era daquele parecer, ho teuerão tambS por bom,
& crendo ^ assi cumpria ao seruiço de Deos & dei re^ ,*
ássessegarão de seus aJuoroços, principalmente em Goa,*
era que cessarão supitamSte os ajuntamentos & perfíaa
que auia dantes , com ho que ho gouernador ficou des-*
canssado, tendo que estaua em paz: pelo que começou,
de sapercebcr do necessário, pêra a vinda dos Rumes,
assi como mandar varar nauios, & fazer outroe de nouo,
& fundir artelharia, & fazer poluora & pelouros. E nes*
te tempo na Strada Dabril, lhe pedio Eytor da silueira,
que mandasse Pêro de faria seruir a capitania de Ma-
laca de ^ estaua prouido, & que lhe daria a. de Goa,
do que se ho gouernador escusou, porque Pêro de faria
tinha lambem a capitania de Goa por el Rey, & estaua
em sua escolha tela , ou deixala , & por isso ho não po*
dia fazer ir a Malaca sem soa võtade, & com tudo ele.
lhe falaria nisso, & se quisesse ir a Malac| lhe daria a
f
LIVRO VII. CAPITVLO XXXIT. 73
de Goa, & falandolhe, respondeo Pêro de faria que nâo
queria ir a Malaca, ho que Eyíor da sHueira nâo creo,
quando liio bo goueraador disse, & pareceolhe que como
estaua necessitado domes pêra se susi&tar na g;ouernaii**
ça, que faria com Pêro de faria ^ nâo deixasse Goa,
por bt) ter consigo que era grande seu amigo , & pare-
oendolhe islo nâ quis receber palauras de comprimen-
tos, que ho gouernador ieue coele, dizSdo que lhe pesa*
ua de lhe não poder dar aquela capitania mas ^ outra
cousa aueria que \he desse: & ele respondeo que não
auia que lhe dar, & que bem sabia dele a verdade, &
que lhe- não auia dSlrar mais em casa, ho que ho go«
uernador sofreo polo tempo em que estaua, & dali se
foy logo Kyior da silueira muyto agastado & indinado
cftlra ho gouernador, & cotou o {} passara coele a Dio-
go da silueira seu parente & amigo, conselbandolhe que
lhe pedisse a capitania de Malaca, pois a Pêro de faria
Dão queria seruir, & éle ho fez assi : & ho gouernador
respondeo que lha dera de boa vontade, mas que Hia
são podia dar, pola seruir lorge cabral, a quem Pêro
mazcarenhas a dera sendo jurado por gouernador, pelo
que lorge cabral a não alargaria sem ver prouisSo de Pê-
ro mazearenhas, & indo ele sem ela a Malaca, seria fa-
zer la outro aluoroço como auia na índia , & por isso ho
não podia prouer do Q lhe pedia, do que se ele mostrou
muyto agrauado, & não quis receber nhus comprimen-
tos do gouernador, porque todos então pela necessida-
de que sabião que tinha deles se lhe querião vender
muyto caros , & ajudarse dele com fazerem seu prouei-
lo: & crendo que não tinhão nhf) de sua amizade nem
de serem de sua valia pois lhes nSo daua o que lhe pe-
dião, pareceolhes muylo mal ser ele gouernador, & que
tinha por força a gouernança a Pêro mazearenhas que
era ho verdadeyro fifouernador & por tal ho ouuerão, &
logo lhes pareceo bem que ho gouernador se posesse
coele em dereyto sobre quem ho deuia de ser. E assen-
tado isto ambos,, começarão de prouocar outros fidalgo»
LIVRO VII. K
74 DA HISTORIA DA ÍNDIA
qu0 fossem de sua openiáo & íizerão coeles que a te»
uessein & forâo estes, dom António da silueira, dom
Tristão de noronha, dõ lorge de crasto, Vasco da cu***
nba, dom Anrrique deça, dõ Francisco de crasto, Nu*
po fernSdez freyre,* lorge da silueira, Frãcisco daiaide,
Jorge de melo, Diogo de miranda, Ayres cabral, Simfto
sodré, Marti vaz pacbeco & Simão delgado quadrilbei*»
ro mor. £ acquiridos estes & outros muylos homSs pot
sua parle, logo bo escreuerão por terra a Pêro mascare*
nbas, & sua determinação: por isso que trabalbasse com
dom Simão que bo soltasse, & na entrada do verão se
fosse a Goa , & fariâo cõ bo gouernador que se posesse
Goele em justiça sobro cuja era a gouernança. E esta
carta foy assinada por todos estes fidalgos que digo, ^
vista por Pêro roazcarenhas a mostrou a dom Simão, di-»
sendo que pois aqueles fidalgos ho querião ajudar que
porque bo não soltaria ele sendo tamanbo seu amigo,
fe pois nisso seruia a Deos & a el Rey, & aflSrmasse que
Ibe prometeo de lhe dar a capitania mór do mar se ho
fizesse, & tirala a António de mirada porque não era
sua se ele fosse gouernador que ficaua sem poder auer
efleyto a segQda subcessã de Lopo vaz de sam Payo que
bo fazia capitão mór do mar, & dom Simão Ibe prome-
teo de bo soltar se aqueles fidalgos permanecessem em
ser da sua pnrte: & que escreuesse a seus amigos que
tinha em G^cbim pêra saber se tinhão ainda sua voz, &
que requeresse a António de miraoda & ao vedor da
fezemia que pois erão na índia pessoas tão principais fi-»
aessem com bo gouernador que se posesse coele ê jusli-'
ça : & ele ho fez assi , & lhes mandou sobrisso grandes
Fcqueriínentos cô cartas a seus amigos que lhos apre-
aenlassem, & como bo vedor da fazenda era rtiuylo re^
catado tenviase de Pêro mazcarenhas ter algOas inteli-»
gencias em Cochim , & por isso tinha suas espias pêra
lhe tomarem quais cartas ou papeis que lá mandasse, &
acertarão de tomar bíia carta que ouui, & tinha bo so-
brescrito tão riscado que se não pcKlia ler, & por isso fião
soube pêra quem ena & dizia.
LIVKO VII. OAFITVLO XZXII. 7»
« Senhor agora nouamente torno a fazer certos reque*
riinentoa sobre a gouernança da índia por me ser reque-
rido que o6 faça, lá senhor vos ha de ser mostrado hH
deles , sey certo que vos ha de parecer bem fazelo pois
a todos estes senhores digo poios mais deles parece mal
Dão ho fazer dias ha, desejâo todos virlhe á mSo pode-
rem aleuaniar ho seruic^o dei Rey nosso sefior, & nSo
oonsentirem cousas que passam contra seu real estado
de que leoi que se lhes pode dar muyta culpa por as
eonsen tirem passar como passam : & porem como em
Goa não fuy atequi visto nem ouuido, não passou ho
4empo de fazer o 1) agora faço , beijaruosey as mãos por'-
<|ue todo vejais, & ponhais ante vos que a António de
niranda nem a Afonso mexia lhes não ha nunca de pa-
recer bem gouernar eu a índia, porque gouernãdoa não
Jbe pertence a h0 a capitania mór do mar, nem a ou*-
iro a capitania de Gocbim o que lhes pertence gooer-
Dando Lopo vaz , & por isso ho querem soster. E com
tudo vejo !\ quer Deos tornar sobristo como cumpre a
•eu seruíço, & ao estado real dei Rev nosso senhor. Bei-
jo as mãos de vossa roerce deste Ginanor a vinte três
Dabril de mil & quinhentos & vinte sete. Pêro ma»-
carenhas.
E vista esta carta pelo vedor da fazenda, respondeò
ao requerimento de Pêro mazcarenhas que ho fizesse aé
gouernador & não a ele , por^ lhe não podia requerer ^
ee posesse fi justiça sobre a gouernança Q era sua por
prouisam dei Rey, & bo mesmo resfiondeo António de
miranda , & ho vedor da fazenda mandou logo esta car^
ta de Pêro mazcarenhas ao gouernador pêra que soubes^
se sua determinação, que ainda a nflo sabia^ >& cnydaua
que estana fora de tal pensamento.
K 3
76 BA HISTORIA DA INDfA
C A P I T V L o XXXIH.
<
Do requerimento que os oMciaes da camará de Goajize^
râo ao gouemador.
jL^aqui por díâle amiudou Pêro mazcarenhas os reque*
rimêlos sobre se bo gouernador poer coele em jusiiça,
assi ao vedor da fazenda como a António de miranda &
ao mesmo gouernador que a nhu respondeo, antes pren^
deo algõas pessoas que Ibos apresenlauão. E Ejlor da
i»ilueira^ Diogo da silueira & dom António da silueira
com os de sua vaiia deixarão neste tempo de ir a casa
do gouernador & acompanhalo como costumauâo dantes,
Q que ele cuydaua que era fielos agrauos que teriáo das
capitanias que lhes não dera, & dissimulaua coeies fa-
asendolhes sempre gasalhado onde os topaua, nem tirou
por isso a Eytor da silueira os mil pardaos que lhe man^
daua dar á custa dei Rey parecendolhe que coisto ho a-
mansaría, & ho teria da sua parte com os mais amigos
4 tinha: mas ele estaua ja tão determinado em fazer ^
se posesse em justiça com Pêro mazcarenhas que nb&a
cousa aproueilaua ao gouernador pêra ho fazer mudaré
£ vendo bo gouernador que os requerimêtos de Pêro
mazcarenhas na cessauão desenganou bo por húa carta
cjue lhe nâo fizesse requerimêtos, porque não se auia de
puer coeie em justiça, que era fazer duuidoso o que ti*
juba certo por prouisão dei Rey : do Q logo Pêro mazca-
renhas auisou a Eytor da silueira, escreuendolhe que
pois Lopo vaz nâo queria poerse em dereyto por seu re-
querimento, que lh« ti^^esse ele com os outros de sua va-
lia y & não querendo satisfazer que lhe desobedecessem
& obedecessem a ele, porque se assi ho nâo fizessem
que ae chegaua bo verão : & se naquele negocio se não
tomaua primeyro algãa concrusam, que receaua que ho
gouernador bo mandaria preso pêra Portugal, & assi não
aproueitaria bo bem que lhe queriâo fazer. E vista por
hífMò trti cAMVtLb^Aíiii. TV
£j(or da silueira esta carta, mostrou a aos de staa Irga.
'£ foy aeordado por todos que não era necessário faaer-
8e enlão nhu requerimento ao gouernador ae não sendo
Pêro mazcarenhas presSte: por tãto como fosse tempo
ele fosse a Goa, & coele requereriâo ao gouernador que
8e posesse em juslic^a , & quando não quisesse que lhe
'desobedeceríâo & obedecertâo a ele. £ neste acordo fo^
Tão os officíaes da camará de Goa que tambS Eytor da
«iiueira tinba prouocado a terfi a vos de Pêro mazcare-
nhas, & assi muytos cidadãos de Goa, que todos assi-
narão em bua carta Q Eytor da silueira escreueo a Pe*
xo mazcarenhas deste acordo, dizendo mais que todos a-
-queles que ali yão assinados perderião por ele as vidas
& fazendas* E os assinados forâo duzètos & sessenta bo-
rnes, de c) Pêro mazcarenhas ficou espâtado quando vio
-a carta , por cuydar que ninguém quisesse ser da sua
parte, & mostrou esta carta a dom Simão pêra que le<-
uesse mais võtade de ho soltar & se animasse a fazelo
vendo que tinha tanta gente de sua valia , & tornou a
escreuer a Eytòr da silueira & aos outros , ^ toda via
era necessário em quanto nSo fiodia ir a Goa requere-
rem ao gouernador que se posesse coeie em justiça, &
quãdo ho não quisesse fazer t\ ho prendessem , & assi
ficaria a cousa segura por sua parte , porque sem duui-
da se este feylo não fosse auerigoado antes da chegada
das nãos do reyno, & bo gouernador bo fosse quãdo elas
chegassem estaua certo ter mayor poder do que tinha,
porque os capitães nâo auiâo dobedecer se náo a quem
achassem em posse da gouernança , & coisso ho poderia
prender em prisam mais apertada ate bo mandar pêra
Portugal , & por isso era muy necessário fazerêlhe ho
requerimento que dizia, & prenderSno quando nâo qui-
sesse satisfazer a ele, & pêra que parecesse ^ trinhâo
causa pêra Ibo fazer, fez pêra os fidalgos bum & outro
pêra a camará de Goa em que lhes requeria que reque-
ressem ao goiíernadur ^ se posesse coele em justiça so^
bre cuja era a goueraança^ E Pêra mazcarenhas insistia
78 9k KntOtlA DA flIMA
tanto neato ponto que se posesse ho gouernador coele
era justiça 9 porque tinha por niuy certo que a auia ele
de ter, & que iiie auiào de julgar a goueroança. Bstaa
cartas, & requerimentos mandou por hum Mem vazcon
sua procuração pêra requerer ^ lazer tudo quanto Ihei
cumprisse, & ele partio por terra em lulho, & chegos
a Goa na entrada Dagosto , onde rouy to secretamente
deu a Eytor da silueira as cartas & requerimentos que
leuaua que logo as deu aos pêra que yão. G a todoe pa^-
recerâo bem os requerimfitos de Pêro mazcarenhas , A;
M6 vaz apresentou na camará o que ya pêra os offi-
ciaes: que logo fizerão outro ao gouernador que se po»
sesse em dereyto com Pêro roazcarenhas sohre a ^uer^-
nança & derSno ao secretario & coele o que lhes Pere
mazcarenhas fizera. E ele os mostroa ao çouernador^
■que nâo respõdeo roais se nâo ameaçandoos se lhe fízes^
sem outros requerímStos: & ho mesmo faria se dessem
reposta a nhii que lhes fizessem sobre aquele caso, oii
Pêro mazcarenhas, ou a qualquer outra pessoa. E os oR-
ficiaes disserâo isto a Eytor da silueira, dizendo que as^
si ho auião de fazer, por isso que buscasse seu remédio:
porem que se a cousa viesse m ser necessária sua ajuda
que lha darifio« E vendo Eytor da silueira a determína*
çâo do gouernador^ acordou com os de sua valia, & com
todos 08 2) tinbão a voz de Pêro mazcarenhas , que ele
com os fidalgos fizessem bum requerimento ao eouerna^
dor que se posesse em justiça cd Pêro mazcarenhas «» &
que ho dessem a ele mesmo, & que lho desse Manuel
de macedo com hum escrioâo, & ele lho deu em saindo
de sua casa. Ho gouernador ho tomon , & logo ho leo,
& não deu outra reposta se não mandar Manuel de ma-
cedo aa cadea & carrecralo de ferro, porque confra sua
defesa fora ousado de lhe dar ho requerimento. E Ma-
nuel de macedo tomou testemunhas de como ho gouer^
oador sendo ele fidalgo ho mãdaua meter na cadea com
as pessoas baixas, & isto mais polo injuriar que por fa«
cer justiça^ porque pêra isso aoia fortaleza Sde ho pren*'
deweiD merecendo ele prisam tão graue, quanto maia
que lhe fazia aeoi justiça pois ho prendia por lhe reque-
rer que a fizesse de si. £ passando aquela prímeyra fu-
fia ao gouernador mandou que fosse tirado do tronco,
& andasse pela fortaleza com a menagem lomada: mas
•le não quis se não estar na cadea pois da primeyra lhe
nâo deráo a fortaleza por prisam, & bo escriuão que ya
eoeie pêra dar ho estormento foy espancado & arrepela-'
éo poio gouernador , & os seus criados ho ouuerão de
■datar se não fugira»
C A P I T O L O XXXIIII.
De como ho gauemtuiõr prendeo Eytar da Btlueira ^ 09
oftítrw fàalgos de sua valití.
V endo Eytor da silueira & os outros fidalgos de sua
▼alia o que ho gouernador fez a Manuel de macedo, pa-
receolhes que era por de mais fazerlbe requerimentos
sobre se poer em justiça sobre a gouernança porque ho
não auia de fazer, & que estaua leuantado com a índia.
E consultarão entre Si que era muylo grande desbõrra
sua sofrerenno y & que el Rey lho estranharia : & (j a-
quilo era causa muy abastante pêra prenderem ho go*
aernador tomo Pêro mazcarenhas requeria. E assentan-
do de ho fazer assí^ disserãno aos officJaes da camará de
Goa , & a todos oe que erão da sua parte pêra lhe aco-
direm com armas quando ouuesBe de é^r a primam , &
começouse h(l grande rumor pola cidade , de que ho go-»
uernador não sabia nada, & Pêro de faria lho descobrio. E
logo que bo soube ^ determinou de prender a Eytor da
silueira flc os outros fidalgos que serião dezasete , & co*-
ihunioãdo ho com Pêro de faria. Ele lhe disse que asst
be deuia de Oizer , porque se não auia de sofrer tama-
i^ho desaoatametíto. E assentado íelo deuse parte a An-
tonio db íftilueira 9l A 8imão de melo & a outros, pêra t\
ao outro diá m ftasem tortos armados secretamente a to-
KO nk HISTaSIA DA ÍNDIA
mar as ruas que yão ter a casa Deytor da silueira por^
deleuessetn os que lhe quisessem acodir: ÃqueFerode
fana por ser capi(âo os fosse |ireoder, & bo gouernador
estaria na rua noua pêra maudar genle em sua ajuda
ou acodir se fosse necessário. E ao outro dia pola me«
nhaã Q forâo noue dias Dagosto estando tudo ordenado
ficou ho gouernador a cauaio na rua noua, & Pêro de
faria se foy a casa Deytor da silueira que estaua hi mujr«*
to perto em outra rua , & achou ja moyta gente ao der-
redor da casa que ya acodir a Eytor da silueira, enten*
dendo que ho gouernador ho niandaua prender: & por
a cousa ser tâo supita não leuauão mais que lanças , &
assi acodirão os fidalgos da conjuração sem mais armas
4 as costumadas. E sabendo Eytor da silueira () Pêro.
de faria estaua hi sayo a hQa genela & preguntoulhe que
queria: & ele iho disse, requerendolhe que lhe desse a
menagem. E ele respondeo que sobisse ele acima a to-
marlba, & que lhe faria o que ele merecia^ pois, era tão
roim fidalgo que aoeilaua ilo prender. O que vendo Pê-
ro de fana mandou chamar ho gouernador, que foy lo-
go leuando algua g;ente. E neste tempo era a reuolta
muyto grande da genie que acodia ao gouernador & a
Eytor da silueira, & todos com lanças & ordenauase hfla
muy perigosa briga , porque os do gouernador leuauão.
espingardas, & os fidalgos da liga estauão ja todos com
Eytor da silueira^ & determinauâo damutinar a gente
de sua parte contra ho gouernador pêra que começas-
sem a peleja, & eles prosseguissem: porque por se lhe
não dar toda a culpa do mal que se seguisse nã querião
começar. E coesta determinação em ho gouernador che-
gando, disse Diogo da silueira da genela aos da sua par-
te que estauão na rua. Senhores não vedes isto que to-
ma por força a gouernança da índia , não he bem que
se lhe consinta. Ao que ho gouernador respondeo com
ira , 2| por força a tomaua & a auia de tomar. E com
quanlo os da parte dos fidalgos ouuirão estas palauras,
nunca eles ousarão da bolir consigo porque vião que os.
LI^O Vlf. CàMtfLO xmtiiii, '«i
'fidatgoB estaufio quedos^-^ -ho gouetnador lhes bradou
da rua que se dessem á prísam. B eies disserSo que se
-não auião de dar, porque ete os não pqdia prender que
«ra seu immtgo por lhe requererem que nã tomasse è
gouernança' a Pêro macoarenhas , & sobristo lhe fizerUo
algSiâ requerimentos. E Vèndo ele que se nSo queríSò
tlar á prisam, deceose do caualo com muyto grande me-
*ften^oría, & tomando hOa lança 8& adarga quis sobir acr-
*t»a ondc^taua Eytor da silueirakiA^os outros, que po^ a
-«ua gen(e estar mal armada & a do gouernador bem, 8t
^principalmente |K)r lhes parecer seruiço dei Rey não sè
'fazer o que estaua ordenado que auia de ser com (ama-
*nbo perigfo , náo se quiserâo defender se nSo darse aa
^prisam. O que foy grande bem, porque se se defenderão
*Ouuera de sf^r hâa cousa mby fea pêra Portugueses 8c
•poucos ouuerSo de ficar viuos. E 8 ho gouernador que-
-rendo sobir poia escada, sayo ao peitoril dela Eytor da
•ilueira, & disselhe que ele & os outros fidalgos se da-
li&o por presos, eniSo pedio Pêro de faria ao gouernador
-que se fosse, & que ele os teuaria aa fortaleta , & que
-lhe deoia de dar aquela honrra de os leuar pois era ca«
•pitão da cidade. E ho gouernador ho fez assi, & foy es-
•fieralo á fortaleza onde foy logo com os presos que fbrão
estes, Eytor da silueira , Diogo da siltoeira , Dòni An-
tónio da silueira , dom Tristão de noronha , áò forge d«
crasto, Vasco da cunha, Marti vaz pacheco, loriare da
-«ilueira, dom Anrrique de<;a, Diogo de miranda, Fran-
cisco dataide, Simão delgado quadrilheiro mór,* Nuno
fernãdez freyre, dom Francisco de crasto,- Si itião sodré;
lorge de melo & Ayres cabral. E enttados na fortaleza,
bo gouernador lhes tomou as menag^s que em seus pés
iiS alheos não sayssem dela, & disso foy feyto hQ auto:
£ presos estes fidalgos , pareceo ao gouernador qae fi*
caua em paz , porque muytos daquelrâ que erão da sua
parte vendo os presos forão reconciliar logo coele, & an^
t reles forão os officiaes da camará, a que mandou que
respôdessem ao requerimento de Pêro mazcarenbas ^
LIVRO VII. L
lhe» Ibuarà Bl6 vaz que. ainda. eslaua em Goa: & f>Qr
Gonofirazef ao gouerâHdor. responderão que ih^ aXo po-
•díSo requerer que ae poseaae em iusU^a sobre a gouet»
iDan^a pc^r aaberem que era sua por prouisam dei Heyi,
;& erii obedecido por gouiernador por lodos os da lodia»:
«& se fiobrisso Jhe requeressem que se posesse em juaiicja
pareceria que despbedeqião aoe mandados dei Rey 9 a
quS perlencia julgar cuja eca a gcueroao^a & nâo a 01»»
.4rem, por lanio que w^ vioda a Goa era escusada, poa-
^ue dSo seruíria de biaii^ que de fazer aluoro^o na gei^
\iò^ que era uecessarío que esteuesse quieta pêra |)eie-
jar com os Rumes que esperauâo, requereudolbe da pafi-
te dei Rej que não ibsse a Goa» £ bo goueraador ian»*
bem respondeo largamen4e por parte da camará a }íi^to
ttiazcarenhas 9 apdtaadolbe i> dereylo que iinba oa gi>-
uernança^ & como era sua. £ de tudo foy fejfto quê ae
deu a Men vâe com que se parlio pêra Fero maacare-
Abas leuandolbe tanibem carias dos fidalgos presos e»
i]Ue Ibe pedião que em todo caso foaae a Goa, porque
4udo se feria b8. E partido MS vaa , porque \xç> goiiefw
nador sabia que daqiH^lea fidalgos ^ eatauâo pr^os aJr
gOs f>So linbâo culpa Sc por amor da amizade Deytor da
ailueira forao na conjura<^ão mandou os pêra as pouaa^
4la8 , <& lambem' poios ler da sua parle , & eslt^s íorão
Vasco da cunha, dom Trislào de oorooha, Marli m vaa
|)»eb€«o, liírge da ailueira , dom Anrrique deça, CMog^
de mirada , Frõcisco dataide, SimSo delgado, Wuao /efw
ft»ndez freyre^ dom Francisco de crajilo, Simôô «odré^
& a Eylor da silueira, Diogo da «ilueira, d4>m António
da silueira & dom Wr^e de crasU» , por serem cabeças
4a{|la cottjuraçào deixou <)S estar na forlaleza , & a Ayí-
rea cabraU & a lor^e 4e melo por serê «M^ylo malaia
Mnles & ahioraçador^es 4e pouo mandou os leuar á ferta»-
leza 4e 6e>rMiatarim , *. íj os f>rendesfWHn em ferros- G
no cabo Dago84o -temSdose aiíwla Deylor. da silueina ^
dos outros ^res que Ibe tperjudicassem & 4 wcreuiâo a
Fero mai&careah^fi 4 fcMc a Gi4)í» os qaiaera mãdar a (V
hWUO VII. CâFITVLO XXZV. 9%
ebiin mm fafl bergantim : o que não careaeo de togpeiui
•^ue pêra oiorrereni no mar oe nandaua por ter ainda h#
tempo nmylo verde, Sc por mo ihe eiea requererflo niii|r
eatretUmenie que os nÇo mandaaae por(| oa mandana «
morrer, pelo que deixou de oa mandar & tinha aobrelea
grande recado, & eiea também ho iinhfto sobre si por«-
que se reeeauâo de peçonha , & andava a cousa tio da*-
"•ada de parte a parte que tudo se podia recear, & de
iado ae podia ter sospeita.
C A P I T o LO XXXV.
De €úmo Pêro maxcarenhae foy iAedecido por gouema-
dor por dom Simão de meneses.
J\. prísam destes fidalgos com ^ ho §fouernadbr cny*
dou que (icaua mais seguro na gouernança ho ouueria
de poer em risco de a perder: por^ sabida por Pêro ma«^
carenbas sua prisaro ^ & recebendo cartas deles da cau^
ia porque fora, & como se temi2o de os matar com pe»
^nba , porque ja cometera de us matar no mar com oa
mandar em tem{M) tão verde como os mandaua: teue
ousadia de a|)ertar muyto com dom Simão -() ho soltas^
ae & obedecesse por gouernador, & desobedecesse hopo
Vaz de sam Pfi^^o: pois ele como tirano quetia forc^a*
mente tomar a ifouernança, prendendo aqeetes I) lhe re^
queriSo que se posesse coele em jostiça, & buscando ar*
tes pêra os matar. E parecendo mu^toiiial a dom Simãe
a prisam daquelas fidalgos & ho mais que bo ^onetoadoe
fatia, disse a Pêro mascarenhas, que pois ho gouerna<>
ddr se não queria poer em dereylo sobre a gouernãça aa
não tela por for<^ , o I) lhe a ele parecia mityio mal Q
tinha por deshõrra obedecelo por gouernador, & por ia^
so obedeceria a ele Pêro maaearenhas pois queria justi^
ça, o que fazia por pacifica^ da índia* E porque pa*
recesae asai a todos ieuou Pêro mazearenbas aa igre)a
da fortales». E jQtos ho feytw , & alcayde qiór, & fisai
L 2
DUlfoa offibiaes da justiça, & da fazeda : & algfls .fidal-
gos & Lodoa o8 ou iros Q iDorauao na fortaleza & arrabal-
de:. h& tabalião. leo em voz alta a subceasam de Pere
jnazcarenhaa > que fora aberta por faleci mea to de doa
Anrrique dé. meaesea, & ho auto Q foy feyto da eolret'
ga da gouernança a Lopo vat de saro P.ayo que gouerr
^fise a Índia em quaoto. Fero maxcareohaa não fosae
ále Malaca, & a carta do vedor da fazenda per ^ bo maar
dou chamar, & a subceasaro do gouernador com todos oi
autos & requerimentos que forâo feytos da resistência
que lhe ho vedor da fazSda fez ete Cochim ate aquele
dia. E despois de tudo lido, disse Fero mazcarenbas.
Tudo o que senhores ouuistes, vos foy iido pêra que
saibais quSo sem rezSo & sem nhua justiça fuy injuria-
do, preso & mal tratado: & que se nâo poderá mais fa-
aer a bQ pubrico mal feytor que quisera entregar a la-
dia aos mouros, do que me fizera, Afonso mexia em me
espancar , & Lopo vaz ê me prender sobre a mercê (|
me S. A. fez da gouernança da Índia por muytos &; muy-y
to grades seruiços que nela & em outras partes tenbp
feytos a S. A. & a ei Rey seu pay : & agora por.derra^
deyro Ibe segurey Malaca com destruir el rey de Bin-:
tão, & parecendome que vinha receber a roerce que me
fez por galardão de meus seruiçbs recebi tanta deshõrra
& tamanha injuria como está notório, prineipaloiente
Daioso nieiia que polo offiQÍo que tS me ouuera d^ fa^
iiorecer & ajudar querendo me Lopo vaz fazer força, &
apacifícar a índia como pessoa tão principal nela por
seu officio: & ele como meu iipigo foy o ^ a reooluea
eom querer entender por me fazer mal o que a carta de
sua alteza não diz^ & tem posta a índia em bãdos & dii
uisões & è perigo de se perder, & Lopo vaz ho ajuda
por sua parte em não se querer poer comigo em justiça
que por lho não pedir quando ya a Goa me prendeo em
ferros como a tredor , & por força tne quer tomar a go-
uernança , & diz que por armas ú ha de defender, & bõ
se parece pois prende & mal trata a todos aqueles que
hVmO^VlU CàVlTVSX^ XXKV. 85
lhe pedem jusli^a por minha parte. E pêra se isto ver
mais claramente prendeo agora os principais fidalgos da
índia com tanto rigor & aspereza como que forão com«^
fveAdidos em Ireiçáo, .& dizem me que ealá determinai
do de vir cercar esta fortaleza & prfiderme cd ho senhor
capitão sendo tâo certa a vinda dos rumes, & tudo isto
^oíú bo mais que tem feyto sam mostras verdadeyras
idestar leuãtado com a índia & desobedecer aos mãda-^
dos de sua alteza , & cõtrariar as vontades de seus vas^
4Milos que andão na índia, que aos. mais parece mal esta
tirania de. que vsa. E pois bo ele assi faz, requeiro a veé
se&or capitão, & ao feytor, & alcayde mór & a todos os
outros officiais desta fortaleza da parte. dei Rey nosso
senhor hQa vez, & duas & três: que vista a cõtumacia
^ Lopo vaz de sam Payo de se nâo querer poer comi<»
go em justiça sobre a gouernança, que coestes officiaes
ma fitregueis pôr vossa parte, & me obedec^ais por go«
uernador, pêra que coeste fauor & com outros que es-
pero ho possa constranger a poerse comigo em dereyto
.pêra que a gouernança fii} a cuja for & se pacifiquem
estes bandos com ^ a índia está em perigo de se perder
jpindo 08 rumes como esperamos. E coisto fez suas pro*
testações de não ho querendo assi fazer lho estranhar et
Hey , & auer por eles a perda que recebesse de ho nSo
fazerem , pedindo de tudo esiormêtos com suas repostas
ou sem elas. Mas não foy necessário, porque todos res*
penderão ^ lhe obedecerião polaa causas que dizia : &
Jogo foy jurado por todos & obedecido por gouernador
da índia com grande festa. O que logo foy sabido em
Cochim 9 & como foy tempo muytos fidalgos & outras
pesseas honrradas que erâo de sua valia & inuernauão
em Cochim se foxioi parele, & assi chegarão a Cananor
algiís. capitães de nauios que erão fora da índia. £ a-
cbando. que Fero mazcarenhas era obedecido por gouer-
nador porque Lopo vaz de sam Payo não se queria poer
coele em iustiça ficarão coele : & coisto estaua muy to
fauorecide.^
6t IML meroftfâ ha niiirâ
C A P I T V L O XXXVI.
Doi requêrímentôi qme ft% Pen mazcaremkm a L&f$
voz ae iam Payo^
vybedecido jiero maseareshM por goiíernâdor, Sc vêdo^
se tão fiiuoreeido t delerminou daiier de sua parle a
CbriíitcMiáo de aouaa, port) lhe lembrou que a carta || Wnm
eaereuera de auer aua príaam por boa que fora maíi po*
lo ver preso & por apaci ficar a índia que por lhe pare*-
eer resãu prenderSaot 8c pois esiaua solto & obedecido
por gouernador^ & se queria poer em Ju8ii<pi sobre cuja
era a gouernàija (} seria da sua parte. G peraisiolbe mft»
dou 1)3 requerimento em que relalaua todo ho passado^
requerèduihe juntamente e5 dom Simão & c5 outros o&
iiciaes da fortaleza que requeresse a Lopo vaz de sam
Payo que se posesse coele em justiça , & não querendo
que lhe desobedecesse, & obedecesse a elp que querÍ4|
justiça & pacificação da índia. B ooeste requeri mentQ
fliandou Francisco mendez de vascuncelos que pêra esta
caso fez seu procurador. R partido Pranoiscu mSdez,
mandou outro requerimêlo ao gouernador & dÕ Simão
outro pêra ^ soltasse aqueles fidalgos {[ estauão presos ^
& a eles todos cartas de nuiylo esíbrço que perderia a
vida sobre os soltar, dizendi»ihe o que era feyto & o que
esperaua de íiizer: & a primeyra coesa que fez quem
lhas leuaua lhas deu em chegando a Goa , & despois oa
requerimentos ao secretario que os deu logo ao gouep*
aador, & então soube ele a soltura de Pêro mazcara*
obas & como era obedecido por gouernador , &; lha pe«
sou de ho fiar de ninguém, & vio i\ bo ouuera da ter em
Goa ou fi Cocbim, & temeose que entrasse de supito eai
Goa, por^ soube ^ os presos, & os Tanadares, & capi-
tães doe pasos da ilha, & muytos cidadãos, IbQ tinha
soritu Q fosse a Goa, por^ todos estauão prestes pêra ha
ajudar a restituir em sua bonrra. E por isso mandou a
LlUkO Til. CAPITtrLO XMXVU 91
SíidSo de melo seu sobriobo Q fosse guardar a barra de
Goa a velbi5 cem bua galeoia, & com hã bargantim,
porque por ali Ibe pareceu que entrasse Pêro niazcare*
Jlbatv^^^ mandou que fosse* preso^ & leuado a Goa : &
estando hi SicHão de melo aos descameis dias Dagosto,
chegarão a Goa dous capitães de duas nãos ^ ho ãno
Mssaido partirão de Portugal , & ioueroarão em Moçan-
wQ« £ 09 capitães erão António dabreu, de que faiei
Jio liuro Terceiro, ^ Vieente gil filho de Duarte trisiio
Atmador de. unos, 8f,, indo eai^^s faj^r «o gourm^dur, ele
)bes contou bo que passuua aptrele y U Pêro niazcarer
nbas sobre a goueroancjft) & pêra lhe darem seu parecer
«e era geuernador por dereitOf Ibeg mostrou as prouitiões
fNissadiis, & a carta dei rey pêra Afonso mexiti, fi que
dilua : ^ das outras prouisões se n&o vsasse , & Ibas leip
liasse çeri^adaS) & deuibes juramento que verdadeirantS**
le Ibe disesseo» #eus peref eres : & eles lhe jurarão qua
^ntendiâo, que ele era gouerqador, & os que tinhão be
eontrairo deseruijtomuyto e| rey. £ despois disto ao«
iseie dias de Setejnbro^ ebegarft a Goa outros dous ca«r
pitges da armada que aquele anno partira de Portugal,
de que foy capitfto níi6r lÚanuei de lacerda, ^ forão seus
l^apitAes Cristuuào de mfidoi;a capitão Dorgiux, n^ va^
gante de Diogo de melo, AteinQs dabreu, Gaspar de
paiua, fki Baltfcfsar da silun, U Manuel de lacerda, ic A*
Jeixos dabreu , se perd^erS m ilha de sasa Lourenço por
i>ult»fi dos sá^os pilotps, & Baítesar d^ situa, U Gaspar
áe p3Íua, chegjHrào a Goa a^s seis de Setembro: & tamr
|>e«i <4irao |>r%fgMtadu9 p^Ju goyeriiador, copoo António da-
breu íl Vi^çenie gii , ^ responderfte C1O9D0 eles, & 4e tu^
do mâdi>u fa^r iiQ H^t9$ que (vj por eles assinado, &
por dom lolto deiga cMnba.4o dp {ouernador, U por Fiã*
(sisco peM^yf a de berf edu , qiie nas meamas nãos forão
de Pâ>r(ug^l, bO priMMido da^iayitMnÍA de Cananor, ou?
Iffa da de CbauJ, nas ^agites de dom Siinao, & de Cria-'
toufto deipusa» M^ mU9 se ie? aoa dea dias de .Setembro»
8S 1U HHTOBIA DA INBIJl
C A P I T V L O XXXVII.
De como Fero mazcarenhas foy obedecido por gauemeh
dor , por CrisUmâo de sauia^ >
l\ este (p5 4eue Crisloulo de soosa nonas niiiyl0
eerlas que Raix i^imão cafiilâo mór da armada doe Ru*
mes era «orto, & (} morrera em hua batalha, {) ca mea^
mos Rumea ouuerâ hQs c5 os euiroa aobre desauen^
<|ue recreceo antre elea, & que era Canta gente morta ^
& a armada ficara (So daneíicada {| se tornara pêra çuez^
& que ja aquele anno nem tão asinha podiSo passar aa
índia. E após estas nouas chegou Francisco roendes-d#
vaseScelos que mostrou a ChristouSo de sousa per autoa
pubricos como dÕ Simão tinha obedecido por gouerna«
dor a Pêro mazcarenhas por lhe parecer que assi cum*
pria a sua leaidade & á menagem que tinha dada de
não obedecer se não a el Rey., ou a seu certo recado
que linha que era Pêro mazcarenhas de cnja parte &
de dÕ Simão lhe deu os req um mentos que lhe leuauat
& assi os que fizerão ao gouernador pêra () se posessta
em justiça, & o que ele fizera aos que lhos ieuarão: &
assi lhe mostrou per papeis todo bo mais que tinha fey*
lo, & como determinaua de ir cercar Oananor, reque*
rendolhe por derradeyro como seu procurador que lhe o*
bedecesse como lhe tinha obedecido com todos os capi-
tães & fidalgos da índia quando se abrira a sua subces*
sam. Ouuido tudo isto & visto por Christouão de sousa^
vio que era necessário entender em cousas de tanta im*
portancia. E! juntos a conselho^ ho feytor ta alcayde mór
& os outros ofiiciaes da fortaleza: & assi os fidalgos qu#
inuernauão coele que era a mór parte dos que andauâo
na índia propôs lhe a prisam Deytor da silueira&doa
outros fidalgos, & ho escândalo que isso fizera, em tã*
to que da hi tomou dd Simão eausa pêra soltar Pêro
mazcarenhas & ho obedecer por gouernador , & lhes
LIVEO VII. CAPlTVLO XXXVII* 8S
mandou ler os requerioiêlos que tlanles disso, & des-
•pois forão feylos ao gouernador, & o que the fasião Pe«
ro mazcarenbas & dom Situão. E ouuido tudo por eles
ficarão muyto escandalizados da prisam dos fidalgos , &
do gouernador mostrar que por força queria ter a gouer-
fiança, assi em palauras como em obras, peio que de ce*
mfl acordo rej}reráo todos a CbristouSo de sousa que
pois Pêro mazcarenbas era solto & obedecido por gouer^
fiador j & Lopo vaz de sam Favo nã queria poerse em
justiça , j} pêra pacificação da Índia deuia dobedecer a
Fero mazcarenbas , com declaração que em todo ho 16*
po (} Lopo vaz se quisesse poer em justiça coele que se
pusesse. E isto se deuia de fazer logo ates que Lopo vaz
aquerisse méres forças das qiie tinha, & se posesse em
querer determinar aquele caso por armas como se aíBr*
oiaua. E por esta rezão & outras muytas que se derão,
& mais porí) a índia nã se podia pacificar doutra ma*
neyra, pareceo bS a Christouão de sousa obedecer a Fe-
ro mazcarenbas cÕ a. declaração que digo, & com deter*
noinaçâo de fazer todas as võtades que podesse a Lopo
Taz de sam payo, como despois pareceo quando esteua
com Fero mazcarenbas a juizo, como direi a diante, no
que se vio (\ sómSte por pacificação da índia, & por ser-
uir nisso a Deos nosso senhor & a el rey , fez esta obe-
diência a Fero mazcarenbas, & nã por outro nbn inte-
resse nem proueito que pretendesse. E acordado per to-
dos que Fero mazcarenbas se obedecesse por gouerna-^
dor, & obedecido por esse cô autos pubrícos que disse
forão feytos, & assinados por todos, mâdarão logo hu re-
querimêto ao gouernador que soltasse os fidalgos que es*
tauã presos, & se posesse em justiça com Fero mazca^
renhas* E Cristouão de sousa lhe screueo bQa carta, em
que lhe daua as rezões porque obedecera a Fero mazca-^
renhas, & a declaração com que se fizera, do J\ bo go^
uernador não foy contente , nem quis responder ao re-
queriínSto que lhe foy dado, antes ajQtou bila armada;
de que fez ca|ritã mór a António da silueira de roeneses
LIVRO VII. M
to »A HISTORIA DA ÍNDIA
seu genrro, & lhe mandou que fosse coela a Chaul, flt
requeresse a Cristouão de sousa que Ibe eutregasse a af^
anada que lá eslaua^ & que entregasse a captlania da
fortaleza, a Francisco pereyra de berredo, por quanto
seu (empo era acabado, & ele vinha prouido dela por el
rey. £ chegado António da silueira a Chaul, Cristouáe
de sousa não cõsenlio que se desembarcasse, porque sa**
bia que ho gouernador não quissera re8|)onder ao ses
requerimento , & viose coeie nu mar , estando cada hl
em seu bargantim: & ouuindoCristouâo de sousa ho re-
cado do gouernador, respondeo que nhQa cousa daque-
las auia de fazer, porque tinha mandado em conlrairo
de Pêro mazcarenbas seu gouernador : sobre ho que An-
tónio da silueira lhe fez muytos requerimentos. £ asai
Francisco pereyra sobre lhe entregar a capitania da for*
taleza , protestando por seus ordenados , proes , & per-
calços , & disso tomarão ambos estromenios»
C A P I T V L O XXXVIII.
De como dam Garcia Anrriqutzfez pazes c6 el tey df
Tidore.
jTlLtras fica dito come per António de brito ^ fora capi«
tã da fortaleza de Maluco leuar dela mu^ia gSte, & ou**
trás muitas cousas necessárias pêra defensão da forla^
leza, de que auia grande necessidade, mandara dom
Gareía ai>rriquea a Martira correa 2) lhas fosse buscar á
ilha de Banda, a quaesquer nauios de Portugueses que
bi osteuessè. £Mariim correa chegou aBâda quasi per*
dido, cora bú brauo temporal 4 lhe deu, & valeolhe An^-
tonio de brito que ainda ali estaua* £ logo despois de
ele chegar , chegou de JMalaca em hD nauio hú fidalgo
chamado Manuel falcão, ^ Pêro mazcarenbas mandaua
por capitão mór, de certos jungos de mercadores^ em
que ya híi Fernão baldaja por scriuâo da fpyloria de Ma'*
íuco com fazenda parelu, que logo ftlartim correa reco-
LIVRO VII» €Ai»lTVLO XXXIX. BI
Iheo DO teu nauío. E por ele saber da genle da terra y
que viram passar duas velas da feição das naoa Porlu*
guesas por ãire aquelas iihas, pareceolhe que aerião naoa
de CaatelhanoS) ^por não aentir lugar pêra onde naquele
tempo fossS nãos Portuguesas, & receando l\ se fossd
Castelhanos iriâo pêra Maluco, & poerião em perigo a
nossa fortalesa, por a pouca gente que lá íicaua, & me-
noa mujiiçÕea cò que se defendesse, requereo a Antó-
nio de brito, & a Manuel falcão que fossem socorrer a
fortaleza de Maluco por^ n& se perdesse: & António
de brito nSo quis ir , & Manuel falcão si , & leuando a
mais genle que pode partira ele & Marlim correa pêra
Maluco, & forão surgir na ilfaa de Ternate, & desem^
barcados se forão pêra a fortaleza, onde acharão que
dom Garcia andaua è concerto de paxes com el rey de
Tidore. Do que Gacbil daroes não era contente, porque
afora ver que perdia muyta parte do mando que tinha
auendo pazes, & que os Portugueses não teriSo dele
tanta necessidade como tinhão, receauase que com a
paz, el rey de Tidore ho mandasse matar com pecjonba^
pelo mal qae lhe tinha feyto na guerra. E com quãto
^ dõ Garcia isto sabia, fez toda via a paz com ei rey de
Tidore, com condição, que dentro em seis meses ter'*
nasse el rey a artelharia que fora tomada na fusta {} dia-*
se, & todos os scrauos dos Portugueses que andauão
fugidos è auas terras , & assi ho mais que ae achasse
qu0 Uies ibra tomado..
C A P I T V L O XXXIX.
De como dó Garcia anrriquez tomou a quebrar a paZé
Mj eyta esta paz, sabendo ed rey de Tidore qufl desc5«
tente Cachil daroes estaua dela, polo contentar lhe man*
dou dizer que casaria com ele hOa filha se quisesse , &
isto fazia porque como cabia que iioba muyto credito
com os Portugueses, receou que por amor dele. quebras^
M 2
%t BA HISTORIA BA ÍNDIA
fiem a paz^ do que ele receberia muyla perda, & por
1880 queria ler seguro Cacbil daroes com amizade & pa-
Fenlesco. E sabeodo dom Garcia bo.que el rey deTido-
re cometia a Cacbil daroes, & que ele folgaua de bo a-
cettar, trabalhou muylo polo estoruar, porque via cla-
ramente que desta lianqa dei rey de Tidore coro Cacbil
daroes, auia de resultar fazerSihe algua Ireição, & que
com a paz se auia el rey de Tidore de querer vingar
dos Portuguezes , do mal que lhe fizerão na guerra , &
vendo que náo podia estornar bo casamêlo , determinou
de bo estornar com quebrar a paz, & pêra que mostras-
se ter rezão de a quebrar, mandou logo pedir a artelba«
ria a el rey de Tidore, posto § nao era comprido bo pra-
zo em que lha auia dentregar, & quando lhe foy este re*
cado, estaua ele muyto doente, & com tudo respondeo
como bomS que queria amizade , que não podia logo
mandar a artelharia, por ter dada algua a eí rey de Ba*
cbSo, & a outros reys 4 bo ajudarão , que como a ajun*
tasse a mandaria , & os scrauos mâdaria logo pedindo a
dom Garcia que lhe mâdasse algfi medico pêra bo.cu*
rar^ & ele mandou bu. boticairo, que lhe deu pe<^onba
oom que bo matou 6 poucos dias. Ê sabendo dom Gar-
cia que era morto, determinou de tomar a cidade, em
quanto os moradores dela estauão tristes pola morte dei
rey, & descuydados da guerra. E tendo sua gente prés»
tes pêra isso, mandou hQ recado diante ao regedor do
reyno que lhe mãdasse logo a artelharia se não que auia
a paz por quebrada : & por ainda a este tempo bo corpo
dei rey esteuesse por enterrar^ respondeo que como (os*
se enterrado logo daria a artelharia & ho mais. Dom
Garcia que não queria outra cousa mandou embarcar
sua gente, & embarcada tornou a mandar pedir a arte-
lharia, & se lha nSodessem logo que auia a paz por* que-
brada. E Fernão baldaya que leuou este recado, não
quis sair em terra & mandou ho do mar: & sendolhe
cespondído polo regedor & mandarins que tanto quea-
eabassem bd conselho em que estauão pêra fazerem rey^
UVRO Vir* CAPITVLO XU 9S
logo aatbfariáo a dom Garcia. Ao que FernSo baldaya
B&> respondeo : mas eom bu pregão lhe notificou ^ dom
Garcia aula a paz por quebrada^ & lhe pregoaua a guer-
ra. £ coifito feylo se tornou a dom Garcia que ya por
eaminbo, & Stenianhaã chegou ao porto da cidade de
Tidore cujos moradores assi pola tristeza da morte dei
tej como polo descuydo que ibe causou a confiança que
tinhão na paz estauão de todo desapercebidos pêra se
defenderem , & por isso como sintirão que os Portugue-
ses desembarcauão fugirão da cidade , em que entrados
os Portugueses não acharão Q fazer saluo poerlhe ho fo*
go com que queimarão a mayor parte dela & tomarão
sete peças darteibaria. £ destruída a cidade, tornarão-
se á fortaleza : & deste fey to- ficarão os Portugueses em
nuyto descrédito com toda a gente daquelas partes &
os tinhão por tredores , & que não goardauão sua fé , &
assi no reyno de Bacbão comoem outros, a que dantes
yfio, lhes foy defeso que não fossem lá mais,. & não forão.
CAPITVLO XL.
De como dom lorge de meneses indo pêra a ilha de Ter-
natefoy ter á$ ilhas dosPaptuis onde inuemou.
Uom lorge de meneses ^ ya por capitão da fortaleza
de Maluco partio como disse pêra Malaca com regime'^
to de Pêro mazcarenbas que fosse pela via de Borneo
pêra se acabar de saber a^le caminho por Õde se escu-
saua a detença que se fazia eni Banda esperando por
monção. £ porque não pude saber o que aconteceo a dÒ
lorge nesta viagem , não direy mais se não que foy ter
atraues das ilhas do Morro setenta legoas da nossa for-
taleza : & chegando ali hii dia sobre a tarde foy deman*
dar a terra , & sendo muyto perlo dela mandou sondar
eera surgir afastado da terra segundo bo costume dos
ortugueses , mas como derrador daquelas ilh«is não se
Hoha fundo se não lendo as nãos as proas em terra. Dom
\
tf4 9A HlSTOAÍá HA INOIA
loTge que isto não sabia, nem cooliecia a terra : nSo ou-*
90U de surgir & afaslouse pêra ho mar. JB^ vendo os da
terra que ae afaslaua, meterâose algOs ê duas almadiaa
fc forâose pêra as nãos , porS não sabendo se erão de
Portugueses se de Castelhanos» não ousará de chegar a
elas , & falarãlhe hu pouoo de lonje , & por das nãos os
chamarS & acenarem cÔ panos, chegou bOa almadia a
bordo dSa das nãos, de {) pergíitarão á gente dela pola
nossa fortaleza & poios Portugueses 9 de Q lhes nã sou-*
berão dar nhua noua : & por nisto anoitecer se afastará
os da almadia das nãos, & se forão leaando três beira^
mes vermelhos que lhes os Portugueses dera. E idas as
almadias , despois l\ foy bS noj^te acalmou bo vento , &
dõ lorge ficou s3 remédio, por^ como não podia surgic
por não auer fundo, nè se podia chegar a terra por lhe
faltar ho vento, escorreo por antre aquelas ilhas cò as
agoajSs ^ ali correm fortemente, & indo assi foy cair
no golfão que se faz antre estas ilhas & ho estreito de
Magalhães , onde lhe sobreueo hu brauo temporal , com
^ a sua nao, & outra dp sua cSserua forao a Deos mi*
sericordia ale as ilhas que chamão dos Papuas, donde
or amor dos ponentes que ventauao não pode tornar a
alqco se não no Mayo seguinte, de mil & quinhentos
& vinte sete: cõ os leuates, & ãdou por aquelas ilhas
seis meses cõ asaz de fadiga , & adoeceolhe & roorreo-
Ihe algua gente.
C A P I T O L O XLI.
Da segunda armada que fio Etnperador mandou ás ilhas
de McUuco.
lyi o liuro Sexto 6ca dito, como hiia das nãos da arma*
da de Fernal de magalhaSs cÕ que ya descobrir Maluco
tornou a Seuilha com Crauo, & sua tornada & a mostra
do Crauo ^ leuou, deu causa ao Emperador Carlos, má*
dar outra aroiada doutras cioco nãos ^ fosse a Maluco
^
LIVKOr Vin CAIPITVLO JILI. 96
a fazer fortaleza na ilha deTidore^ pola amizade que os
Castelhanos acharX ê ei rèy deisa ilha, & desla armada
foi por capitão mor hfl frey Garcia de loaeis frade du-
toa daa ordês da catialdriá de Castela , & desta armada
BÓmSte a capitaina passou a Maluco com outro nauio
mais pequeno, porem sem ho capitão mór, de que não
soube ho t^ fez. E desta naò que digo era capitão bum
fidalgo Biscainho , qUe auia nome JMarti inheguez de
Carquicios, que era justiça mor da armada, & chegado
a hila ilha soube como os Portugueses tinbáo fortaleza)
& armada na ilha de Ternate, & por isso recolheo a
gente do nauio na nao, & ho queimou, & ticou com tre-»
zStos humês todos escolhidos, com que seguio sua viajfi,
& foj ter a traues das ilhas do Morro, no mesmo insta*
te que dÕ lorge ali foy ter, & ouue vista dos nauios em
Q ya, & por lhe auer medo que conheceo serem dos Por*
lugueses se escòdeo, & foise ilieter no golfão <} chamão
de Camafo, cuja terra era dei rey de Tidore, & por oS
moradores conhecerem Q erão Castelhanos, polo que sa*
biâo da amizade que ei rey tinha coeles os receberão
muyto bem. E us Castelhanos sabendo a guerra que os
Portugueses tinhão feyto a el Rey de Tidore, promete-
rSolbe de os vingar deles cora lhes tomar a fortaleza &
matarênos a todos & comerênos assados, & outros muy*
tos feros com que os da terra eslaufto muy salisfeytos,
& dauãlhes tudo sem dinheiro, & assombrauão coeste
fauor os moradores doutros lugares dei Rey de Ternat^
oossoa ami^oa.
M nk HISTORIA DA INIXA
C A P I T V L O XLII.
De como chegou hua nao de Castelhanos ás ilhas de
Maluco.
xjl noua deates dous nauios <le dom Tor^e de meneeeg
9 forão vislos antre aquelas ilhas do Morro foy ter á ilha
de Temale , donde se deu a dom Garcia anrriquez sem
declaração se erão os nauios de Portugueses ou de Cas*
telhanos. E como isto 6caua duuidoso togo dom Garcia
determinou de saber a verdade porque receaua serem
Castelhanos, & mandouho saber per Martim correa que
foy em hQa cura cura com hfl soo Português chamado
Diogo da guerra por saber bem a ling^oa da terra, & a
outra gente forão Mandarins. E nesta cora cora foy ter
aCamafo a hum lugar dei rey de Temale, onde foy cer«
iiíicado ser a nao de Castelhanos, & de quão fauorecf-
dos 08 vassalos dei rey de Tidore estauão roeles, & que
tinhão grande armada ^ & conselharãlbe t{ não fosse lá
porque Martim correa ho quisera fazer. E vendo que bo
aconselhauão bem tornouse pêra a fortaleza com aquela
noua : que sabida per dom Garcia mandou com conse*
lho hQa armada a esperar esta nao quando fosse de Ca«
mafo pêra Tidore que assi cuydarão que fosse : & a ca*
pitania moor desta armada deu a Manuel falcão, & fo«
câo nela setenta Portugueses em dous nauios , & Cachíl
daroes leuauã doze carascoras. E chegando Manuel faU
cão ao meyo do caminho mãdou polo ouuidor da forta-
leza hQa carta que leuaua de dom Garcia pêra Martim
inheguez que lhe ele foy dar em saindo do golfam de
Camafo : & isto pêra ter achaque de ver a nao como ya
apercebida, & ho numero dos Castelhanos. O que tudo
ho ouuidor vio muyto bem, & Q a nao ya miiyto bem
artilhada & c5 muytas armas, & os Castelhanos serião
trezentos. E Martim inheguez lhe deu azo pêra que ho
visse muyto bem & ho dissesse a dom Garcia, que ele
LlVnO ! vir. CA^PITVLO XLft. 97
mbia béitt quão pouco poder trnha assi de géDte como
dottiras cousas que tudo lhe disserSo os da terra : & poc
isso estaua muyto sobre os Portugueses & ifão os tinha
em conta, mas nem por isso deixou de responder á car*?
ta de dom Garcia cô muytos offereciroentos & cortesia.
E despedido hoouuidor coesta carta seguio sua viagem
pêra Tidore, onde chegado & metida a nao dentro no
arrecife, mandou fazer na entrada dele dous baluartes
de pedra ensosa (} artilhou muyto b6 com algda arteUia-
ria da nao: & estes -goardauSo a Strada do porto, & a
nao estaua defronte cÕ a artelharia Q lhe ficou, Q pare*»
cia hOa fortaleza. E ho ouuidor de dõ Garcia despois ^
^e despedio deMartim hinheguez tornouse alManuel fal*
cão Q sabSdo ho modo de {{ a nao estaua ouue por escu«
sado cometeia !do \Ho singelo, & tornouse pêra a forta^
leza & deu cota a dõ Garcia do l\ achou. E Martim hi-
nheguez de8|X)is ^ se fortaleceo como digo , mãdou di*
zer a dÕ Garcia por hfl homS desses principais ^ yão
coele, Q ele era ali vindo por mSdado do Cmperador seu
senhor cujas a!)las ilhas erão, assi por estarê na sua de*
marcaçSo, como por Fernão de magalhães seu vassala
lhas descobrir polo ^ tinha tomado |)os8e delas, & mais
as tinha per hfia senteça !) ouuera contra el Rey de Por<-
tugal : & por estas causas todas despois de estas ilhas
serê descobertas, ficarão ali trita de seus vassalos f\ fo-^
rão na sua armada cÕ feytoria em fi ficara muyta fazen-
da, & bS xl. peças dartelharia , & ^ não acbaua nhQa
cousa destas, & ^ os da terra lhe diziâo Q os Portugue*
ses tomarão tudo & matarão os Castelhanos {) ficarão na
feytnria, & mais os achauão cÕ fortaleza feyta nas ter->
ras do Emperador sem sua licfiça ^ folgaria de saber a
rezão í\ os Portugueses teuerão pêra fazerS estas cou-
sas : por^ de tudo auia de tirar estorroStos pêra se Qi<»
xar ao Emperador. E chegado este messageiro a dòGar*»
cia lhe disse tudo isto: ao {} ele respondeo, !\ aquelas
ilhas & outras muytas não erâo nê forâo nãca do Empe-
rador, nè lhe podião caber ê sua àewsLf ca^Oy porQ n&
LIVRO VII. N
99 BA JbItTORKA BA I149U
m auia & Q a ouuesse, ele sabia certo nã ih# eabérft ne^
U, & £[ se ouuera sêlfiça cdlra el rey seu seAor a veria^
por os Q a derao serem seus vassalos : & Q tambfi os juyT
xes Portugueses a derâo por el Rey seu senhor ^ pelo (|
não era aquela a rezâo por õde as ilhas de Maluco erâo
suaa^ nS menos por as ntãdar descobrir por Fernão de
Biagalhâes Q as não descobrio de oouo ^ por auer aiaif
de dez annos ^ as descobrira António dabreu por má*
dado Dafonso dalbuquerQ gouernador Q na^le tSpo era
das índias por el Rej de Portugal : do Q ho mesmo Fer*
não de magalhães fora testemunha , & têdo certeza õde
a^las ilhas jaíiSo , por fazer trei^fio a el Rey de Portu*
gal 6zera crer ao Emperador serg de seu descobrimêto ^
éi fizera q as ya descobrir indo por outro caminho & na*
negação^ onde ouuera ho fiai ^ merecia por ser tredoro
a seu senhor natural ^ era el Rey de Portugal & não ha
Emperador: & ^ do iSpo ^ António dabreu descobrira
estas ilha»! logo algus reys delas ficarão amigos dei Rey
de Portugal y & fovâo cõteles de os Portugueses Iralarft
em suas terras , & dali por diâte sSpre lá tratarão , &
por rogo dei rey de Teroata ho passado mãdara el Rey
de Portugal fazer na^la ilha bila fortaleza. E indo a fa-
zer António de brito achara certos Castelhanos na ilha
deTidore, ^ por nã terè lieêija dei Rey de Portugal pe^
ia andarê por suas terras os mandara ao gouernador da»
índias pêra saber a rezão por^ o faziSbS , assi Q aQla»
ilhas erão por dereyto dei Rey de jportugal , por cujp
mãdado ele estaua por capitão na^ja íorlaleaa ^ defSde*
fia ate a morte a quS lha quisesse tornar^ & defõder a
qualquer gente do mundo que não andassem por a(}las
>lbas sem licença dei Rey de Portugal^ & que assi faria
aos Castelhanos pois ãdauão sem ela , pelo q lhe reque**^
ria da sua parte, & da do Emperador ^ logo se foase pe^
ra a fortaleza, & não querêdo estar de mistura com os
Portugueses lhes daria bfl lugar a[)arlado em c) eateues*
sem á sua vontade : & mais lhe requeria ^ não compras^
se nhu crauo ^ ho não podia fazer por ser todo pêra ci
LIVVO VII. CAVITVLO XLITI. 98
Rey de Portugnl , & iião querêdo por sua vdlade facer
JiQa causa d6 outra^ ele proteataua de lho fazer por íar-
^ aem por iaao eneorrer fi Ahfta peoa pof« ho fazia por
seruír a el Rey de Portugal seu senhon E ooesta repos-
ta se foy o tnessageiro, & porê Marti faihbeguez não se
<|uis ir pêra a fortaleea, & mSdou requerer a 4ò Garcia
^ ho deixasse estar Òde estaua, & sobristo ouue muytoe
recados de parte sem tofnarft nhua cottcrasam , & cada
àO tirou seus estormGtoa do Q requeria*
C A P I T V L O XLIU.
IXi quiô acontéceo a dom Oaróa nntriauez c6 os {Jastê^
lhanos , ^ do mais ^ suceaeo.
V endo dom Garcia que Martitn binhegun nft se que^
ria tirar de Tidore & fazia aleuantar bo pre^ do crauo
dando por ele quatro tanto do {) estaua assentado na
feytoria , determinou de Ibo fazer por força , & isto c5
«onsetho de Manuel falcSo feytor & outras pessoas prin-
cipais, & que ele em pessoa fosse a este feyto. E isto
-assentado, partiô hQa noyte leuâdo ate cè Portugueses,
'& muytos dos da terra embarcados em corascoras & ou-
tros nauios, & pêra baterem a nao & os baluartes leuott
(res camelos, htl em hQ batel com b&a manta & os dous
em hfia fusta & hfl calaluz, & nestes nSo ya outra gente
de peleja se não os capitftes, bombardeiros & remeirost
& a fusta {} ya diante em chegado defrõte dQ dos ba*-
kiartes que a sintirSo os Castelhanos cÕ quanto fazia es-
curo, tiraranlhe tantas bftbardadas que lhe matarão hfl
remeiro, & quebrarão a cana do leme, quebrado hua
mAo ao que ya a ele. E ho capitSo da fusta sem mais
esperar por dom Garcia começou logo desbombardear
ho baluarte, & por os tiros serS muyto ameude arreba-
tou bo camelo , pelo {) se retirou pêra onde estauSo a
ftista & ho calaluz ; & ddm Garcia mâdou logro por ou-
tro camelo á fortaleza que yeo antes Q amanhecesse &
N 2
1^0 DA MI8TOSIA DA INmA '
Aiy^ asscsíado oâ fusta , & manbaã clara mSddú dÒ Gaí«
cia dar baleria aos Castelhanos com ho batel , fusta &
ealaluz : & eles 4 virão como se a cousa ordenaua cc^
meção de desparar soa artelharia dos baluartes & dã
•nao, & era lata qve os pelouros ^ tirauão pareci2o que
0uíáo dcntulhar ho mar: & receando os <\ yâo no balel^
fusta ^ & calahiz Q os fizessem S pedaijos , não ousarão
ide chegar mojrto & poserãse tão Idge ^ quãdo os seua
pelouros desparauão yão dar no mar & de chapeletaft
chegauã jQto da nao Q aida não cbegauão a ela: & os
Castelhanos como ^ zombauão deles lhes dauão muytas
apupadas. E dom Garcia tambS nã ousaua de chegar
eom as^ corascoraa por serê muylo fracas que erão cosi-
das cõ cordas & qualquer tiro as faria em pedaços. £
neste joguete Q mais ho parecia^ peleja esteuerâo ate
ho meyo dia Q sobreueo a viração. E vendo dom Garcia
que não fazia nada, afastouse com toda sua aromda : &
também porque lhe ialtaua a poluora^ & auia de man»-
dar por ela á fortaleza , & em quanto mãdou ficou eni
hQa enseada : & estando ali sayo Martim correa, ho fey^
tor & outros ate quinze em terra. E es.lando oulhãdo
hú lugar de mouros !\ eslaua em hQ alto pêra ho irem
quejmaf ^ algus Castelhanos que estauão no lugar & CB
6int4rã, forâo muyto secretamente por antre ho mato^
& começarão de lhes tirar cS espingardas & bestas , &
hQ quadrelo deu a. Martim correa abaixo de hQa orelha
4, deu coeie no chão quasi morto. E por este desastre,
& também por dom Garcia ver que não podia fazer nhfi
dano aos Castelhanos , nã quis ali estar mais & tornou-
se pêra a fortaleza com sua armada, do que os Caste-
lhanos ficara muyto soberbos credo que os Portugueses
fugião com medo , & assi^ ho dizião aos da terra , porem
a nao ficou- tão aberta do muyto jugar da arlelbaría, &
por ter a quilha no chão , & por ser velha abrio de todo
& 8e echeo dagoa & perdeose sem mais aproueitar pêra
nada: do que os Castelhanos ficarão muyto tristes, &
Bã fizerão mais nhQ reboliço de guerra ^ & deixarâse es-
LNnio vif %: CáPi VtuOt XUBt. U>í
tar como homêa que descansauão 9 & clÕ Garcia fez bo
mesmo: & porque ^era cifegitcra a: nfU)ul(Sd>pera Malaca
em i| auião de partir pêra lá aigús jQgos, determinou de
«uer algft crauo pêra él Rej, porque eate^ erar ha ptd-
ueito que preilendia daqueia fort/ileza^ & ainda ate en-
tão não linha auido nbú com (} forrasse parle do muyto
^asto que fazia na^là fortaleaa. E a causa deí nSo se pó-
^er auer nhu crauo pêra el Rey era aerfi os. Popt4>gu6r
ises Ião cobiçosos <) bo atrauessauâo todo 9. dando por eie
ÍK> dobro que se daoa.na feyloria, &;fa2çndo mpytos
mimos aos negros que lho veodião , pelo q bo não que-
•rião leuar á feyloria^ & ho mesmo feytor & esçriuães bo
comprauão antes pêra si que pêra el Rey , & por isso
não podia auer nhfl. £ sabõdo dÕ Garcia isto» mãdoH
^ue toda pessoa do crauo ^ teuesse desse a decima paf*
«te a el Rey pelo preço d[a feytoria, & quando, bo não
jq^iisesse dar por sua vontade lho tomassem por força, &
aasi bo mandou apregoar^ com o ^ todos receberão, muy*
to pesar & poserãse em ho não consentir ^ & chamarão
•em sua ajuda Cachii.daroes & assi m-uytos Mandarir»
£ vSdo dÕ Garcia este aluoroço ^ & acbãdose só & sem
«poder pedir socorro ao gouernador , & receando que se
.apertasse muyto^ {| lhe fugissem os Portugueses, & íi«-
.cando só lhe tomasse os mouros aa fortaleza deizou sua
.deter minaçâ & êtêdeo ê fazer sua fazSda como 09 outros
£izião , & no laaeyro segu!te mãdou ê h& j&go i) par tio
pêra Malaca Marti correa & Manuel lobo cd cartas ao
capitão de Malaca em ^ lhe pedia socorro de gente de
.^ linha muyta necessidade por amor dos Castelhanos ^
licau$o em Tidore & em Geiiolc
lOt nk HliTOElA Uk IMBIA
C A P I T V L O XLIIIÍ.
De c&mo António de miranda daznusdo prometeo a Pêro
maxcarenhas de lhe obedecer.
Jjinlrado ho verfio, p?irtio8e António de mirAdn dazeue-
do câpilão m6r do mar da índia de Cochíni meado Se*
46bro cÔ toda a armada pêra Goa, & por ele escrenee
Afonso mexia vedor da fazenda ao gouernador o {| pas»
sara aí|le inuerao com os requerimentos de Pêro mazca*
renhas, a que deuia de mandar pêra Portugal por ser
na Índia muyto perjudicial ao seraiço de Deos & de(
Rey, bSo sabendo ainda ^ era solto. Partido Antónia
de miranda fojf ter a Cananor pêra ver se tinha dõ Si*
inão necessidade desfia cousa , & estando no mar lhe
mâdou Pêro mazcarenhas hõ requerimento por dom Si*
toAo em que lhe requeria, {| pois dom Sim^o & Christo*
ufio de Sousa com a mayor parte dos fidalgos da Índia
& gente darmas que andaua nela vendo como Lofio vat
de sam Payo não se ^ria poer coele em justiça pêra se
saber cuja era a gouernãça & a queria ter por força ho
tinbâo obedecido por gouernador. E ele com tudo que*
ria justiça por pacificnçSo da índia, lhe requeria da par«
te dei Rey que tambê bo obedecesse porque vendoseLo^
po vaz sem armada consentiria que se julgasse por de-
reyto a qual deles pertencia a gouernS<ja, protestado de
nâo querendo satisfazer a seu requerimento correr em
pena de lhe pagar seus ordenados proes & percalços que
auia dâuer como gouernndor & mais a í\ parecesse bem
a el Rey. B visto este requerimento per António de mi-
randa, vendo f\ Pêro mazcarenhas estaua obedecido por
gouernador, & que de ele & Lopo vaz serS ambos go-
uernadores se auia de seguir muyto deseruiço de Deos
& dei Rey, respondeo que ele não podia obedecer por
gouernador a Pêro mazcarenhas ate nã saber do gouer-
nador que não se queria poer em justiça : & quando ho
Liyito yii. qAMmiO .yuíiiu lOf
goubesse que enlâo lhe desobedeceria ; o que nflo salis-
fazendo a Pêro loazcarenhaa, lhe ini^ndou requerer Q do
que dizia lhe desse bú assinado. O nue ele fez poias
causas ^ digo ^ [Màreceodolbe qu^ aquele lera ho nielbolr
talho que podia dar, & deu bo assinado que eu vi ^ &
dizia.
a Digo eu António de mirada dazeuedo capiíSo móf
do mar da índia polo mu;^to poderoso Rey de Portugal
nosso senhor Q me obrigo ao senhor Pêro mazcarenbas ,
de fazer com ho senhor Lopo vaz de sam Payo Q ora he
gouernador da Índia , que se ponha coele em dereylo:
^ tambS pretSde ser gouernador dela sobre qual delea
ho será. h não querendo ele poerse neste juyzo, por es^
te dou minha fé, preito & menagS ao dito senhor Pêro
mazcarenbas de me ir parele & lhe obedecer como a ver«»
Madeiro gouernador; fay to per mim & assinado aos de^
aasete de Setembro de mil & quinhentos & vinte sele.
Dado este assinado partiose António de roiranda pe*
Ta Goa Õde logo ho gouernadoí soube como bo dera , &
estranhoulbo muj asperamente , affiimandolhe ^ se nâo
auia de poer em justiça sobre a mercê ^ lhe el Rey fi«
aera^ que bS ae poderia ir pêra Pêro mazcarenbas^ por^
oulrê acharia Q fosse capitSu mór do mar. E ele se á\s*
eulpou, dizendo Q njlo dera bo assinado com tenção de
bo comprir se nâo por se espedir de Pêro mazcarenhaa
que conhecera que estaua tão danado ^ receou de fazer
eoele algCk desmâcbo. £ ho geuernader íoj acõselhado Q
tirasse a capitania mór 4o mar a António de miranda
pelo ^ fizera, mas ele nfto quis por{| mio fizesse mais ai*
iioro<;o na gente, & por ver se podia fazer as cousas por
bi, & mandou logo António de mirada a Cbaul (donde
ainda António da silueira não era vindo) pêra que se
entregasse da armada i) lá estaua, Sl fizesse entregar a
capitania da fortaleza a Francisco pereyra de berredo.
104 Dà ftiètORiA Da* tnoía *
C A P í T V L O XLV.
f)o que António de miranda ^ Chríêtouão de sousajizerâo.
Jji chegando aa barra de Chaul achou António da siU
toeira Q se partira |)era Goa^ & disselhe que esperasse
ate ver se Chri^touâo de sou^a queria satisfazer ao re«
cado do gouernador^ & mandoulhe díter como estaua
ali ^ com|>ria rouyto ao seruiço dei Rey vprSse ambos ^
a que ele respSdeo que se era pêra \h^ entregar a arma-
da & a capitania da fortaleza que ja dissera que ho não
auía de fa^ef por ter mandado emcontrairo de Pêro maz«<
caronhas seu gouer^nador , & mâdoulbe requerer oom 00
eflSciaes da fortaleza & cõ os fidalgos tS[ inuernauão co&i
le , que visse a força ^ Lopo vaz de sam Payo & Afon<«
80 mexia fazião a Pêro mazcarenhas em lhe tomarem a
goqernança, não querSdo ele se não o i| fosse dereyto:
& pois estaua em sua mão fazer determinar este caso
por justi(;a, que fizesse cÒ Lopo vaz que ho quisesse. B
fazendo sobristo grandes protestaçSes contra António da
miranda : que despois de responder a estes requerímen*»^
tos se vío cÕChristouSo de sousana fortaleza, onde con^
cerlarão ambos ho modo que se teria pêra ^ Lopo vai
de sam Payo se posesse em justii^a com Pêro mazcare*
nhãs pêra pacificação da índia, & Q us juyzes i\ deter^
minassS este caso fossS no mais de sete, s. António de
miranda, d5 loão deça, Francisco pereyra de berredo,
Baltesar da silua, Gaspar de paiua capitães de duaq nãos
da carrega, frey loão daluim da'ordS>de sam Francisco
que era leygo se chamara loâo iope« daluim , frey Luys
da vitoria da ordem de sam domingos, & Christouão de
sousa quis i\ fossem estes juyzes, posto i\ sabia !\ tirado
os dous frades os outros tinha assinado^ Lopo vaz era
gouernador verdadeyro , mas por^ ele nã teuesse !) di*
zer os cÕsStio & por isso nâ quis ele ser hu dos juyzes,
nem quis que ho fosse nhil fidalgo seu parente nem ho-
LIVRO Vlí. CAPITVLO XLV. lOft
Biem dej| se preramísse ser daopeniâo de Pêro mazca-
renhas que pois António de miranda foy nomeado por
juyz bem ho poderá ele ser roas não quis por esta cau-
sa, & porque não era seu fím se não apacifioar a índia,
& que não se determinasse esta deferen<;a por armas ^
porque nisto cria l\ seruia Deos & el Rey que era o que
lhe lembraua, & não outra cousa, E sendo nomeados es-
tes jujzes antrele & António de miranda com juramen*
lo de terem nisso segredo ate ho temfx) de se declara*
rS, por{| nem Pêro mazcarenhas, nS Lopo vaz ho «ou*
bessem, ao outro dia se ajuntarão na igreja com ho fey-
tor & alcayde mór da fortaleza, & outros oíBciaes, & ii-
daJgos, & pessoas principais que inuernauão nela, rela-
tado ambos as cousas passadas, & dizendo quão neces-
sário era pêra pacificação da índia que ho gouernador
se posesse em justiça cÕ Pêro mazcarenhas Unhão am-
bos cõcertado hQa pauta Q lhes mostrauão pêra dizer ca*
da hQ se se acrecStaria mais âela ou diminuiria , & os
capi tolos dela forão estes.
« Que António de mirada daria hd assinado a Chris*
touão de sousa tal como o t\ dera a Pêro mazcarenhas.
« B outro em que se obrigasse a leualo a Goa, & se«
guramente podesse falar ao gouernador sem perjuyzo de
sua fazenda, parentes amigos & criados, pêra lhe re^-
rer o t\ lhe parecesse seruiço dei Rey, sem interuirfi ou-
tras f alauras fora da matéria , assi de sua parte como
da do gouernador*
« E í) chegado á barra de Goa deixaria a armada de
fora & ficaria nela António da silueira em arrefens en-
tregue a ho fidalgo sem sospeita naquele negocio, com
lhe -ele tomar a menagem , que sendo caso ^ ho gouer*
nador prendesse a Christouão de sousa , qtie aquele fi-
dalgo se fosse pêra Pêro mazcarenhas cÕ a armada & ho
obedecesse por gouernador.
« E (} Christouão de sousa daria a António de mirada
hfl estormSto assinado por ele & poios otficiaes da for-
taleza & fidalgos 4 inuernauão^ nela em ^ prometessem
LIVBO Yii. o
lOa DA HISTORIA DA ÍNDIA
de llie obedecer com ioda a armada ^ eslaua em GhanI
ate chegarõ a Goa & ae comprir ho atras capitulado: &
iembS prometerião oo ealormèlo, que não querendo Pe->
ro mazcarenhas o que fosfie seruiço de Deoa & dei Key
Q ae fossem pêra bo gouernador , & que se nâo falasse
mais em Pêro mazcarenhas ser gouernador: & ho mes*
mo prometeria ho alcayde mór ^ ficasse por capitão na
fortaleza de Chaul ^ a entregaria ao gouernador & n&o
a Fero mazcarenhas.
0 E Q quãdo ho gouernador & Fero mazcarenhas sa
posessem em justiça sobre a gouernãça antes de os ju^**
aes da causa pronQciarê cousa aigúa prometeriâo cõ ju«
ramento q aQle ^ ficasse por gouernador nào êiSderia
na pessoa, n6 na fazSda do oulro, n3 nas de seus cria^
dos 9 parStes & amigos, nê desfaria o ^ o outro teuessa
feyto, & a qualquer deles q nisto nâo quisesse consentir
que lhe desobedecessem.
« E que os juizes que ouuessem de julgar aquela de«
ferença, seriâo pessoas sem sospeita, que eles ambos
Cristouâo de sousa j & António de miranda, dedarariâo
quâdo fosse tempo.
« E ^ lato {| ambos de dous chegassem a Goa serião
soltos , Ej^tor da silueira, do lorge de crasto, dõ Anto»
nio da silueira, & quaesquer outros que esíeuessera pre*
SOS por aquele caso de Fero mazcarenhas, que tãbem
prometeria de goandar bo que ali determinauã, & que
esta deferença se determinaria em Cochim , Õde se a«>
junlarião, Lopo vaz. de sã Fayo, & Fero mazcarenhas
& em partindo Lopo vaz de Goa desistiria logo da go*
ueroança , & iria como pessoa priuada, em poder Di>(o-
i>io de miranda, >& eai Cananor se lhe êlregaria Fero
mazcarenhas pelo mesmo modo, & querendoo ele leuar
è seu poder, se «ntregar(a Lopo v^z, a CrístouSo de
sousa , ou a dom Simão de meneses, pêra que ho leuas^
sem no nauio em q fossenu E que alõ do seguro que
António de miranda auia dauer a Cristouã de sousa, lhe
Aueria outro do capitão de Goa, & dos oíficiaeis da cs^
LI¥RO VIU CAP1TVLO XLTI. 107
#arà da eidiíde, com juramento Q faríáo, que bSo goar«
dando ho gouern<tdor ho aeguro que lhe desse, lhe deso*
bedeceriSo , & obedeceríâo a Pêro mazoarenbas. n
E despoia de lida etla paala , ^ todos a ouuirão ,
disse Cristouâo de sousa a causa porque se fazia, reque-*
rêdolbes a todoa cÕ ho oaptlâ mor do mar, que lha aju*
daasem a poer em efeyto , & que asai ho prometesse to*
doa por juramento, ho que eies fiaerfio, lendo muyto em
mercê a Crtstouão*ée sousa, & a António de miranda
fazerSna. E de tudo foy feyto hft auto por Gaspar afonso
iabaliào pubrico d<i fortaleza, que foy asínado por todos,
aos quatro Doutubro de mil & quinhentos & viote sete*
* «
C A P I T V L O XLVL
De como ho gouemador^ ^ Pêro de faria ^ ^ outros ju^
raráo de comprir b pauta qu€^fizerão Cristouâo de sou*
sa , ^ António de mérundom
F,
eyta esta pauta foy leuada a António da siloeira^
por António de miranda, pêra que consenliase nela, &
ele consentio muyto contra sua vontade , & por não po«
dvr maia fazer, & estranhando muyto a Anionio de mi*
tanda fatela. E feytos dela doos teriados, hu pêra Cris*
Couío deaousa, outro pêra Anionio de miranda, que sa
partio «o mesmo dia, & ao outro Cristouâo de sousa ^
íleisando entregue a fortaleza a Aloaro piírto alcaide
»ór dela , & despois de chegarS todos jâtos á barra do
Goa, António de miranda se foy ao gouernador, & pe*
ranle ho licenciado loáo do soiro oouidor gerai da Índia,
& ho secretario, lhe mostrou a pauta que (izera coai
CrislouSo de sousa, dizendo que a fizera por euitar os
grandes roalea que vira que estauHo ordenados, porOris^
toufto de sousa, & por os Ijstaufl coele que mny estreí*
tamente lhe requererão f\ consentisse nela : & |)or issa
consentira muyto conira sua vôtade, porque bem sabia
que ele era verdadeyro gooeraador , & pêra ho aer tra^
o a
108 I>A HISTORIA DA ÍNDIA
balhara ^ os juyzes fossem sem sospeila & no mais de
sete pêra terem menos que apurar. Do que bo gouer-
nador ouue muyto grSde menencoria , & porque ho fey-
to não se podia desfazer , nã lhe disse mais se não que
ele mesmo tinha a culpa do que ele fizera , pois se fiara
mais dele despois de dar ho assinado Q dera a Pêro maz*
carenhas , & que fizera mal de fazer aQla pauta, porque
se fora por escusar males que.enlâo estauão mais arma*
dos que nOca. E querendose António de mirada discul-
par j disse ho gouernador que não erão necessárias dis*
culpas pois fizera sua vontade, mas que cresse ^ os juy*
zes não auiâo de ser mais de sete auendose de poer em
justiça, & ele lhe disse que não serião, & disso lhe da*
ria hii assinado se ho quisesse. E tendo ele jurado com
Ghristouão de sousa de terem em segredo os juyzes que
ojuuessem de julgar aquela deferença ate ho tempo em
4 se ouuessem de declarar por comprazer ao gouernador
lhos descobrio, & forão os que disse. E contente ho go-
uernador deles, lhe pedio hQ assinado que não fossem
putros^ nem fossem mais : & ele lho deu , & ho ouuidor
geral , & ho secretario assinarão como testemunhas. E
ficando a pauta ao gouernador vio a coeies & com Pere
de faria, que lhe conselharão que consentisse nela,
por^ não ho fazendo se ieuâtarião todos contrele, & pri*
meyro a mandaria mostrar aos oQiciaes da camará da
cidade, & contentandolhes consentiria nela com condi-
do () fosse como gouernador ale Cananor, & que a honr-
jraDafonso mexia fosse goardada & não consentirião que
ficando Pêro mazcarenhas por gouernador ho tirasse de
nhum dos officios que linha, por qualquer maneyra que
fosse ^ & ho entregaria seguro ao gouernador que fosse
do reyno. E contente Cbrislouão de sousa disto , man^
dou ho gouernador soltar os presos , & deu ho seguro a
Ghristouão de sousa pêra ir a Goa , & ele não quis ir
por lhe escreuerem que não fosse, porque ho gouerna-
dor tinha determinado de ho prender com António d«
miranda ^ & por isso se determinou que se
LITRO *VII. CAFITVLO XLVI. 10»
nima na agoada de Goa ^ & leuanlando ho sacerdote a
hóstia 9 jurassem nela Anlonio de oiiranda & Cbrislouão
de sousa perante dom loao deça & Anlonio rico secre-
tario da índia Q ho gouernador iria como gouernador
ateCauanor: &.^ verdadej^ramenle segCtdo suas cõcien-
cias escoJberião pêra juyzes daquela deferêça aqueles
liomSs que lhes parecesse Q melhor & cõ mais conciêcia
determinassem a^la causa sem descobrirem per si nem
por outrem os que tinhão escolhidos. E lambem jurariâo
o que tocaua ao vedor da fazenda, £ leuados estes ca**
pi tolos por dom loão deça & por António de miranda a
Cbristouâo de sousa , ele lhes disse que se acrecenta^s*-
sem na pauta: porem que por quanto ho galeão sam di^
ais em que ho gouernador andaua, era a mayor força
^ue andaua na índia 9 por andar marauilhosamente arli*
ihado, & nele somente, podia pelejar com toda a outra
larmada da índia auia de jurar que como chegasse a Ga^
nanor se passaria como preso á galé em que andaua An-
tónio de miranda. £ sendo ho gouernador disto contenr-
te, aos vinte Doutubro foy dita h&a missa na agoada de
Goa na terra firme : & sendo presentes GhristouSo de
^Bousa, António de miranda , dom loão deça & outros
muytos fidalgos em.ho sacerdote leuan^tando a hóstia dis^
ae António rico qae hi estaua aos circunstantes se jura-
rão por aquele verdadeyro Deos em ^ firmemête crião
como fieis Christâoa de comprir & goardar o que foy as^
sentado na pauta de Cbaul : & que ho gouernador fossa
em posse da gouernâça & com toda sua borra ate Cana*
Aor, & que goardassem em tudo o que cumprisse á bonr-
Ta do vedor da fazenda, & não consentissem que ficado
Fero mazearenbas por gouernador lhe tirasse nhu dos
effidos ^e teuesse se não que ho deixasse estar ate ir
gouernador dePortugai, & dizendo eada hH em alta voa
que si, disse a Cbristouâo de sousa & a António de mi-
randa se jurauão na mesma hóstia que bem & verda-
deyramenle escolhessem pêra juyzes daquela deferen<;;a
aqueles que segundo seu parecer melhor & com maia
1 10 mi mrroRf A da f nois
êãà conciScia a determinassem , & que nem por 6Í fiém
por outrê auiâo de descobrir qu6 erâo ate dXo ser iem^
po de se declararem, & eles disseráo que si. £ destes
juramStos fez fao secretario bQ auto Q todos assinarão t
& logo ao outro dia vinte hfl Doutubro, no mosteiro da
«am Frâcisco de Goa estando hi Pêro de faria capitão
dela & officiaes da camará , & quâtos fidalgos auia nela
& ho vigairo geral com toda a clerriia, tendo frey Gon^
«calo guardião do mosteiro ho sanctissimo sacramento nag
mãos estado ho gouernador em giolhos , disse em voz ^
(udos bo ouuissem. Bem sabeis os (\ aqui est^iis confto
por vos & por outros muytos que estão ausentes nft hQA
vez mas três fuy jurado por gouernador da índia por as
prouisôes dei Rey meu senhor ^ disso teniio, & por es^»
se fuy obedecido, pelo qual me nQca quis pioer em fus^
tiça sobre a gouernança com.Pero mazcarenhas, nè a«
gora me posera se nã vira claramète quãlo Deos & el
l^ey serão deseruidos, & por isso mais por força que por
vontade 9 & como quem mais não pode m(3 ponho ^nl
4ereylo, & juro naquela hóstia consagrada tie assi h^
fazer, & chegando a Cananor desistir do mando de ^o*
uernador, & não do dereyto que tenho na posse da go^
uernant^a, que deste não ey de disistir antes protesto úm
me ajudar dele em todo ho tempo que me for necessa^
fio, & assi jurou de se Stregar como preso na galé Dan^
toflio de míranda, & de comprir os maia ca pi tolos da
pauta que eie íizera com Christouão de sousa em Cbaul
4sum condição que fosse goardada inteiramente a honrra
do vedor da fazenda como eetaua assentado: & fao mes*
mo juramento fizerão Pêro de. farta, loão do soiro, os o&
iiciaes da camará, & todos os mais ^ ho auiã de fazer ^
-& ainda ho não tinhão feyto: & de tudo ho secretario
iez hum auto que todos assinarão.
LIYftO nu CAWmLO XliVÍU XII
« i
CAPITVLO XLVII.
De como Pêra mazcarenhas ^ Lopm vaz de sápuyo de-*
sisiirão em Cananor do mando de gmmmadar.es*
XJLcaba isto Q todos ouuerSo por muyto grande cousa
por quSo difficullosa lhes parecia poerse ho gouernador
çm justiça^ pajrtiose ele pêra Ganaoor bu dia despois de
partidos António dazeuedo & Gbrislouâo dé socisa. E
foy esta partida lao presles Q os do bãdo de Pêro niaz«
carenbas se espantarão rouyto, porque cuydauio que bo
gouernador bo não seria mais que ate Canànor, & que
ele astfi bo cria por ter tantos cdtra si. E cbegftdo todos
a Caaaoor aos sejs de Nouembro forftsç logo á fprtalesa
Cbri&touão de sousa & António dazeuedo y & naoslrarâq
a pauta aPero.inazcarenbas pêra a jurar de que ele foy
contente, dizendo que tudo côsentiria por paciticação
da índia: mas que estaua inuyto. descontente do que
vira em bua carta que ho gouernador mandaua ao vedor
iia fazenda , que ele ouoera por sua diligencia , & nela
Doipeaua os juyzes que tinb^o tecolhidos pêra determi-f
narem aquela.deferen^a, & que ali vira claramente quão
soa{>eito lhe era frey loào.dalutni pola muyta coníiança
^ Lopo vaz mostraua ter que auia de julgar por ele pa-
las rezões que daua peta isso. E oiostraodo a carta vi-^
^ão António de mirunda & Gbrislouâo .de sousa que en
assi , & por isso Ibea requereo que tilassem frey IoSq
daluà & metessõ outros: & Pêro maicaranhas quisera
que ChristuuSo de sousa fofa b& deles, dizendo que bo
podia ser puis bo era Antónia de mira»da, & ele não
quis por saber Q Lopo vaz bo tiaha por soapeiio, & em
lugar de. frey loão daluim «>etejr|io eim^o pêra serem juy«T
ees, que fvràu Lopo UazeJtiedo, António de brito que for
ra cspitãb d^ Maluco,!^ uno Vaz àe eastelo branco capi«
lào^ fQyii^F do nauio do UAtode^.ÇDÍaia, Tristão de esi^
Baatiào piiui; .vii^airo gesf 1 4aiiMba* Do.% AAtonio de
lis DA HI8T0RU DA INDlA
luiranda (oj con(6te com quanto líoha dado seu assina*
do ao gouernador que os juyses não auião de ser outros
se nSo os sele que lhe dissera em Goa , & estes que fo*
rJío acrecStados fícarão assi nomeados antrele & Ghris-
touâo de Sousa coiq juramento de não se descobrirem a
ninguém, nem António de miranda ho disse aLopo vaz*
Isto assentado, ao outro dia se ajutarâo na igreja da for-
taleza Pêro mazcarenhas, dom Simão de roeneses, iio
feytor & alcayde roór cõ os mais officiaes da forlaleza ,
António de mirada, Christouão de sousa com outros
niuylos fidalgos , & perante todos & do secretario -des-
pois de ouuida missa, tendo Bastião diaz vigairo da for*
taleza nas mãos ho sanctissimo sacramento , jurou Pêro
mazoarenhas por ele de cõprir em tudo o Q estaua na
pauta que disse, dechrando que quãdo disistissp de ser
gouernador, & se entregasse como pessoa priuada,.di«
sistiria somente do mãdo de gouernador, & não do de*
reito que tinha na gouernança, dizendo que não insisti-
ra tanto em o ser, se não por crer que era sua, & 1)
era contente que ficando Lopo vaz por gouernador , ho
mãdasse preso pêra Portugal: & acabando ele de jurar,
jurou dom Simão, & de8|X)is os officiaeis, fidalgos, &
pessoas principaeis, & todos assinarão em hú auto que
ho secretario fez disso, & tâbè ho assinou ho gouerna*
dor* E despois disto a requerimento de Pêro mazcare*
nhãs fez ho mesmo secretario btl auto, em que se decla-
rou que os juizes que auião de julgar aquela contenda,
não auião de julgar mais se nã quem era bem (| gouer-
nasse pêra pacificação da índia, porque cuja era a go*
uernança por dereito, e) rey ou seus desêbargadores ho
auião de determinar. Feytas todas estas cousas, embar*
couse Pêro mazcarenbas no galeão de Cristouão de sou-
sa, como estaua assenfado na pauta, & por() ali se mu-
dou António de miranda da ga\é em i\ andaua ao galeão
sam Dinis, & Lopo vaz de sã payo lhe auia de ser en-
tregue pêra ho ieuar a Cochim, ficou no mesmo galeão^
do que se Pêro mazcarenhas queijicou a Cristouão de aou^
Livmo vif . CA wTviô xhni. 1 1 1
, & a António de miranda^ diz6do que Lopo ?az não
compria ho capitolo da pauta, no modo que auia de ser
entregue, & disistír de gouernador, pois ya no galeão
sam Dinis, que era a roayor força da índia, & podia
nele pelejar com toda a armada, & mais leuaua bandei-
ra na gauea, () aquilo não era desistir de ser gouerna-
dor, se não seio como dantes, requerendo í\ fosse, como
estaua assen(ado, ho que Lopo vaz não quis fazer. Ho
^ne vendo os fidalgos, se posserão moyto contra isso,
dizendo que se quebraua a pauta, & ho juramento que
Lopo vaz fizera , & vgdo Crístouão de sousa como isto
era azo pêra se estrouar ho hS questaua começado, fez
c6 Pêro mazcarenbas & com os outros, () deixassem ir
Lopo vaz como queria & ho consentirão, & embarcado
Pêro mazcarenhas desparou hâ tiro grosso , & a este si-
nal dous bomês !\ estauão nas gaueas dos galeSes, sam
Dinis, -& sam Rafael, tirarão as bandeiras que ambos
tinha como cápitainas, pêra que sentSdesse qoe^ro am-
bos estauão os gouerriadores , & que ho tirar das ban^
deiras, era sinal que disistiâo do mãdo da gouernança,
& ficauão como pessoas priuadas, de que «e auia de fa-
zer justiça, & eles ambos em se tirado as hand-eiras^
protestarão que mão disistiâo mais que do mãdo da go-
uernàça, ate se julgar qual auia de gouernar, & da poft-
se que tínhão não disislião. E fejto isto António de mi-
randa entregou Pêro mazcarenhas a Cristouão de sousa,
pêra ho leuar ate Cochim , & lá lho entregar, & ele se
entregou de Lopo vaz de sam payo, & se partira todos
pêra Cochi. E quando foy esta perfia de LofK) vaz não
querer sair de sam Dinis , mandoii dizer a Pêro mazca-
renhas que por se escusarem aquHes debat<>s, & outros
muytos que sabia Q auiSo de recrecer, l\ lhe requeria da
parte dei rey , que pois sem eles ambos se podia è Co-
chim dar a sentSça sobre aquela demanda , que ficas-
sem na costa com a armada repartida por ambos, goar-
dando que não leuassem os mouros pimenta, & que os
juizes siàmSie fossem a 0)cfaim , & despoia de dada a
LIVRO vil. p
114 9A HMnOKtA DA iNWA
tenlftça como lèes parecesse lho mandarião díaer^ fc Pe*
ro mazcareobas não ^uis.
C A P I T V L O XLVIIL
JDa desauença que euue ákre Lopo vaz de sâ payo ^ Pt*
ro mazcarenhas^
Jji partidos como digo pêra Oochi, chegarão lá. a quin*>
ae de Dezembro» & surlos foy. Antofi^io de miranda mo»*»
trar ao vedor da fazenda , a pàuia, que fiaera com Cri»»
iouão de flousa ^ pêra que a jurasse como todos fiterio y
ho q ele não quis fazer ^ dizendo a António de miranda
4 como fazião lai paula sem sua autoridade , que era »
segunda pessoa da índia despois do gouernador, sem cu*
jo consentimento não se podia fazer nada que tocaae»
á gojuiern&ça, estranhSdoo muyto, & dizendo que eles
dtrião conta a el rey de cousa tão mal ieyta como aque**
la fora 9 & nâo querendo de todo em todo ho vedor da
/azenda jurar a pauta, Pêro mazcarenhas & todos oe fi*
dalgos de sua parte ^ requererão a Cristouão de sousa^
& a António de miranda^ ^ poisJ^fonso mexia não que»
via jurar a pauta^ como Pêro mazcarenhas, & Lopo vaz,
com todos os fidalgos da índia tizerão, no que se mos*
iraua claramête ser muyto sospeito^ que aquela defereor
ç» não se determinasse em Cocbim , se nao fi Coulão^
que era dali hfi dia de viagem* E conhecendo Cristouâa
de sousa que Lopo vaz nâo auia dis cõseatir nisso , por
ter sabido que toda a esperança de ser gouernador ti»
nfaa em Afonso mexia poios cargos que tinini, & como
de todo em todo eslaua posto em lhe fazer a vdiade^
ainda que fosse sem rezão , por nã dar causa a se aque»
le tiet;ocio deierminar por armas , fez eom Pêro mazoa«>
renhBs, & eom os de »ua v;dia, que poslo que Afonso
mexia não quisesse jurar a pauta f. que cõseniissem que
aquela deferença so determinasse em GochÍ4M : & con*
sefilimlo nisso, forfto a terra António de miranda, (fc
x^iTRO Til. «ijrriHrLo xitViii. 116
CristouXé' d^ 0ou8af & «eteraMe em santo Abtooio pe«>
ra noifiearem os jutae^ que julgassem aquela defereuiça,
& querendo CrisUntio de sousa , que se nao nomeasse
£ir juis frey toio daluim , & S seu lugar se metessem ^
opo dazeuedo ^ fora «aquele anuo de Portugal , Antot-
nio de brito que fora capiláo de Maluco^ Nuoo vaz de
cas4elo braiiGo, que fora capitã do oauio do trato de qo-^
faJâi Tristão de gi, bastião pires vigairo gerai da Ia«-
dia: eomo ele & Aotoeio de mirafida assentarão cÕ Pe*
ro Qiasearenhas em Cauauor, AotoDÍo de mirada pete
eerito que tíoba dado a Lopo vaz de sam pajo, que os
jUJaes oÍM fossem mais de sete^ nem se mudassem os que
•stajii nomeados^ não queria coaseatír nos que se acre-
eentauão, nS em se tirar frt^ loâo daluim, nem ho quis
fazer s6 dar ctinta disso a Lopo vêSL^ Q quãdo ho soube^
oui«e disso m4jy to grade meneaeoria , porque tinha por
muyto sospeilos os juizes que se acreoentauão, & náe
quis consentir nisso ^ dizendo que não auia mais de so*
^er do que sofrera, & que bè escusado fora a António
ée miranda enganalu;, & traaelo ali de Goa, & que ele
tinha a culpa daquilo & não outrem , em tecer a meada
que tinha tecida, porem que lhe não daua nada, por^
a ele, & aos outros todos espetaria em hil pao, & que
ae fosse logo pareles, & que os ajudasse a engaoalo^
roas que se nã quisessem c5prir ho que estaua assentar
do , nâ cdseotia em nhOs juizes , i)S se queria poer em
éereito, & que pelejaria cõ todos com sam Dinis somenr
te, & a vStura diria' quS era goueraador, & que ele ser
r{a obrigado a dar cèta de todo pois fora a causa : & Anr
tonio de miranda lhe respondeo que não enganaua nh
guê, antes &zia o que deuia, & no que 6zera naqnele
edso tinha feytò muyto seruiço a Deos & a el rey , m
qufi se queixaria d<'is injurias que lhe dissera , & outras
muytas palauras descandalo se passarão antreles, qnè
não se ounirão por amor do grande arroido que faziãf
os ^ se metera no meyo: & António de tmiranda se foy
4o galeão muyto agastado, pêra ho eq^ qee estaua PeM
p 2
J16 BA HISTORIA BA fNDIA
mazcarenhas , que sabendo bo que passaoa, lhe reque^
reo por virtude da pauta, Q pois Lopo vaz de aã payo nft
cõsentia nos juizes, que ele & Cristouâo de sousa nó*
lueauâo, & ele era deles contente, que conoprisse a paur
ta que dizia, ^ em tal caso hp ouuesse por gouernado?
sem mais contradição, & lhe requereo que por esse he
obedecesse, & ho mesmo requerimento Ibe fízerâo quã«
tos fidalgos estaua coele, & por virtude da pauta : & por
estar escãdaiizado das palauras que lhe dissera Lopo vaz,
cõsentio no ^ Pêro mazcarenhas & outros Ibe requeriâo^
tomando testemunhas que bo fazia por^ Lopo vaz não
queria cõprir a pauta, & fazendo sobrisso grandes pro-
testações, tomou logo os nauios que pode & os entregou
a Pêro mazcarenhas y & forão estes a galé bastarda em
que estaua por capiJtã Eyior da silueira , bo nauio de
Nuno vaz de castelo branco, duas carauelas, de queeiâe
eapitSes Vicente pegado, & loão de sá, hú galeão de
que era capitão Simão de melo^ que naquele lempo nX
estaua nele, & assi biki galeoia^ & aigús bargantis, &
posto que Aatonio de miranda tomasse estes nautos a
Lopo vaz fiearâ sam Dinis , & sam Luys , & ho çamo»
rim, de ^ evão capitães Martim afonso de melo jusarte,
6l dom loíio déça, & as galés de Ruy pereira^ & Dan-
lonio da silueira de meneses, & a carauela de Fernão
de moraeia, afora muyta fustalba !| estaua no porto de
Cochim, & por issoho poder de Lopo vaz era dauãtagft
do de Pêro mazcarenhas, & assi os de hH bãdo como do
outro fazião prestes suas armaa, & arteiharia, espera-
do por bata4ba, pula períia ^ tinha Lopo vaz em não cflt-
sentir nos juizes q^ue Cristouâo de sousa & António de
mirada^ noraeauão,. & algQs dos de Pêro mazcarenhas,
dessa gente baixa, bradauâo por guerra^ dizendo ]) P^
TO mazcarenhas não deuia de sofrer tatás soberbas, quã-
las^lhe Lopo vaz fazia, & ^ entào tinha tSpo de se v4»«
gar de quàtas injurias tinha recebido. E era pêra auer
meda, de como a cousa estaua aparelhada pêra se per^
der a índia , por^ segundo ho poder dâbos os bãdos ea-
Llf RO Vir. €APtTVtO XLVIlI. 1 1 í
taoá igea) estaoa eerlo se dessem batalha ^ nãt) se apar*
tai^m sem bO ficar vècedor, & este auia de ficar de ma-
neyra, que facilmente ho desbarataria el rey de Calicut,
^ pêra este fira tinha prestes grande armada, pêra dar
sobre os nossos Q escapassem da batalha, & lodos os ou-
tros reys & senhores estauão dateuanto, pêra a este tã**
po darê nas nossas fortalezas & as tomarS , & desta vez
tinhão por certo ficar a índia liure dos nossos , & assi
ouuera de ser: fior^ nfi Pêro mazcarenhàs se queria de-
€er do acrecSlamento dos juizes, nê Lopo vaz de não
«erem tãtos, & três dias durou esta porfia, em Q ouue
muytos requerimentos de hú ao outro, & muytas protes-
tações de nhu deles ter culpa do mal Q se seguisse da
batalha que se aparei haua, no Q António de miranda se
achaua muyto culpado por descobrir a Lopo vaz os jui-
zes ^ tinha concertado com Cristouâo de sousa ^ julgas-
se a^la contenda, & polo assinado ^ lhe dera de nâo se-
lem mais, que se estas duas cousas nSo forSo, Lopo vaz
consentira nos onze juizes , & porQ ele consentisse ne^
]es, se afirmou que lhe prometeo de votar por ele, &
por isto cooseotio Lopo vaz que fossS aqueles onze jui>-
•Kes, & por lhe Afôso mexia aconselhar que consentisse
neles, & despois descolhidos lhe posesse sospeic^ões, Sc
ho mesmo lhe côselhou he ouuidor geral, & tãbè dõ Vas*-
co déça seu procurador lhe mostrou a pauta ^ tinha as^
alnada , & ho juramento ^ tinha feyto de a c5prir , pelo
^ nâo podia fazer outra cousa se não cfisentir ]) se nò-
ineassS os juizes , & por todas eslas causas ho cõsentio,
& mfidãdo chamar António de mirada lho disse, & pe^
dindolhe perda das palauras j) lhe dissera reconciliou
eoele, E depois de Lopo vaz consentir, requereo Pêro
mazcarenhàs que bo tirasse de sam Dinis, por quãto es^
taua nele muyto poderoso r & António de mirada ho pos
jia nao sam Roque ^ tinha pouca gente, & entregouo a
António da silueira de uieneses seu genrro, & Pêro
mazcarenhàs foy posto na nao Froideluraar, & entregue
a Diogo da silueira ^ & auibos juroirâo d»o»eDiregar
i
quSdo IhM pedissecii. E com isio ívcaraM «e^ôros de 0»
bedecer á seatS^^a que se desse contra cada bu delei»
C A P I T V L O XLIX.
Comoforâo acrecíladú9 num dou$ juizes por parte 4e i^
po vaz de sam payo , ^ <Í0 faiais que pasmu.
XJLssentado isto, logo ao dia seguiole qu^ fora desaoor
ue de Dezèbro, se forS a terra Crísioqâ de sousa^ Anr
tonio de onrâda, lio ouuidor gerai, & ho sf^çreiiiiro , an
jnosteiro de santo António, onde s^ ajútará os mais dM
capitães & fidalgos que estauàg çm Cocbiai, & perante
eles nouieprflo António de mirando, & Cristoull de sour
aa, as pessoas que auiã de ser juizes siuidros, da deíe^
rença que auia antre Pêro ro^^carenhas, & Lopo vaz de
aain pajd, & por ficarê nomeados os nSo torno a nomear,
íif declarados fostes juiaes , foi dita bâa missa que ludcf
ouuirâo: & no santíssimo sajcramento ii>es deu Jio secrer
tario juramento, ^ bem & verdadeiram9(e julgassem ae
pertficia a gouernftça a Pêro maacarenbas «e a Lopo vaf
de sam payo, & eles bo jurarão, & bo secretario fez ho
mesmo juramento, de goardar bo assinado que cada bft
lhe daria de seu parecer, & he não mostraria nS daria •
ninguS, se nã a el rey se lhos pedisse, & de tudo fe«
bu auto ^ todos assinarão, E feyto este juramCto^ Anr
tonio de mirlda tomou Cristouáo de sousa a parte, k
disselhe ^ pêra í| Lopo vaz de sam payo n& teuease que
dizer , quando se a senteaça desse contrele, que deuiáto
dacrecenlar ainda por juizes, a frey lofi daluím, & a
Brás da silua da^euedo, & logo pola primeira, Crisiouáe
de sousa nâe queria, port) sabia certo que aquelce doua
erão muyto suspeitos a Pêro maacarenbas, & receaua
.<|ue julgassem contrele, & não querendo ele câsentír,
Ibe disse António de miranda j| consentisse, & nã se
receasse díi^les juizes, porJj eie auia de votar por Pêro
mnaeiíreiíbas ^ & tàbê dõ ioâo dçça por^ aabiã muy te
LUfWÊr riu CAMTTIit)* %UX. 1 1 1
mtfto qoa a justiça era sua, & nã fazia a^la^cirlmooia
de juizes, por maia ^ pêra a|)acificar Lopo va^, & por{)
Ibe não parecesse 4 Uie lomauâo a goueroanqa, & a da*
uâo a Pêro majSGarenhafi : & eslãdo nisto acodio dom
loão dé<;a, & disse ho mesmo (} dizia António de mirft*
da ^ & Crislouãa de sousa consentio nisso, sem dar con^
ta a Pêro mazcareohas , nem a nhii de seus parentes &
amigos , porQ tbe pareceo Q por mais saiuas que lhes fi<»
aesse nâ auiao de consentir naqueles dous juizes, por^
os tiahão por muylo sospeitos, & f>or essa rezâo fora tH
nido £rey loâo daluim a requerimêto de Pêro mazcarc'^
nhãs , & tãbem pori[ ele queria que aquela cousa se a*
cabasse em paz , & nâo por guerra como se comecjaua
de faser que este era ho seu Hm , & posto que entSdeo
que ya contra seu juramento descolher juizes sem sos*
peita, consentio nestes dous por euitar a guerra Q teua
pêra si que aueria se ho nft consentisse , por^ cometec
António de miranda aquilo não era sem vontade de Lo*
po vaz , 4 estaua claro trabalhar pola fazer, & por cima
de tudo isto Cristoufio de sousa estaua só & nâo tinha
qu6 ko ajudasse y por^ como ele visse as nouidades qu«
de cada vez sobreuinbfio, conbeceo Q ainda a co^sa auia
de vir a estado {) se se não fizesse a líõlade a Lopo vaz
fc a Afonso mexia auiã de quebrar, & como tinha as^fi*
tado de lha fazer em tudo por^ não ouuesse guerra, não
quis que ficasse coele nhii fidalgo seu parente nem amí»
go, B& pessoa da valia de Pêro mazcarenbas, porque a*
eontecendo be Q; lhe paraeia, não contrariassem sua de*-
iermina<;ão & fizessem reuolla : & consentido ele nestes-
dous juizes , foilbes dado ho mesmo jurismèto % aos ou-»
troSy & assi ficara treze» &. logo eles disserâo a esses fi*
dalgos & capitães que estaulo prestes ^ mãdassS cha*
mar bo vedor da fazenda, por<} sS ele fazer certos jura*
mentos nào auiã de dar sentença naq.uele coso Q lhes
era cometido, & vindo bo vedor da fazenda,. a requeri*
mento daqueles fidalgos & capitães, António de miran^
da 8 Dome dos ouUos juizes , Uie le^reo da parte dei
no DA HISTÓRIA BA INNÁ
Rey de Portugal que jurasse de entregar a fortaleza 4e
Cochim a Lopo vaz de sam payo, ou a Pêro mazcare^
nhãs 9 a qual julgassem por gouernador, & isto sem ma-
nha n8 cautela , & ele ho jurou com condição (| assi 00
juizes, como todos os capitães & fidalgos que ali esta**
uão, & na frota jurassem solenemente Q tomauáo sobre-
di a ele, & a Aires da cunha capitão de Coulão, Pêro
vaz trauaços, Diogo chainho, & os moradores de Co«
chim, & oíiciaeis dá camará, que não recebessem nhã,
dano nem oífença , assi em suas pessoas , como fazSdasy
& lhe (izessê dar embarcação, assi pêra Portuf^al ,> como
pêra outros lugares, & a ele lhe não fosse negada, posx
to () se despois alegasse que era seruiço dei rey 2) ele fi-
casse na índia, & í\ Pêro mazcarenhas se obríiçasse por
hCl assinado seu a cÕprir tudo isto cÕ juram@to, & assi
Iby feyto: & ho secretario fez disso hâ auto l\ todos as-
sinara, &^ despois disto querendo os juizes entender em
seu oflicio , disserão a CristouSo de sousa l\ se fosse , &
ele polo que tinha assentado cõ António de miranda &
jj esteuesse ao despacho da{)la deferença, nã se quis
sair, & vendo que António de mirada era hQ dcis que
int^istia (| se saísse, ouue coele sobrísso palauras, & assi
c<>m os outros , & foy a cousa de maneyra, que acodi-
rSo 08 juizes de Cochim por mãdadoOafonso mexia, pê-
ra deitarem fora a Cristouã de sousa, que já se saía
quando eles chegarão, vendo que sua estada nã apro-»
ueitaua ali, & então conheceo quã mal íízera & não fa-
zer huxapilolo na pauta , jurado, & assinado, por An-
tónio de miranda, que ele esteuesse ao despacho daque-
la deferença , porque assi não lhe fora defeso que não
esteuesse, & então vio tambS ho grande erro (} fizera ^
cm deixar acrecStar os dons derradeiros juizes, porque
polo rigor que vsarão coele, lhe pareceo que auiãdedara
sentença cõtra Pêro mazcarenhas, & em entrando onde
ele estaua, disse de muyto agastado, sus alforges & par-
tamos !\ tudo he por demais, & calouse que nã quis mais
dizer, por amor do juramento ^ tinha , & isto tudo sa
fez ate véspera.
UVKO VII. CAPirvi-o I« 321
CAPITVLO L.
Das rezôes ^ ho vedor da f azeda ^ outros offrecerâ aos jui-
zes pêra q Pêro mazcarenhas não fosse gouemador.
JL/espaís de Chrisiouâo cie sousa ser ido í\ os jiiyzes ii-
-carâo recolhidos com ho secretario que ali fíaou , que a-
tiia de ser ho escriuão daquele processo, dom Vasco de-
«ça procurador de Lopo vaz de sam Payo, & Simão caej-
xo procurador de Pêro mazcarenhas, mostrarão aos juy-
268 as procurações que tinhão dábos: & lhes derão io-
dos os papeis de que âbos se esperauão dajudar & coe-
les JiQas largas rezões per escripto sobre a justiça que
tinhâo, & apus íslo lhes foy dado hCI requerimSto dos of-
ficiaes da camará de Cochim em nome de toda a cida<*
de, em q lhe requerião da parte de Deos & dei rey que
por nhu modo lhe na julgassem a gouernãça a Pêro maz-
carenhas, porque se lha dessem auiâo de despouoar a
cidade, & irse pcra os mouros, por não se atreuerem a
saluar cõ os Chrislãos ficando ele por gouernador que
«ra seu imigo capital, alegado as rezÕes !\ auia pêra is*
so: pelo qual não se fiarião de nhu juramento que fizes-
se. E visto este requerimento pelos juizes lhes forSo da»
das huas rezões do vedor da fazenda que dizião.
€t Senhores se vossas mercês <)uiserê verdadeiramen-
te espicular a justiça <)ue ho senhor gouernador Lopo
vaz de sam payo tem pêra lhe ficar a gouernança, a-
charâo que lhe sobeja , & da mesma maneyra hão dou--
]har a que Pêro mazcarenhas pôde ter pêra ser gouerna-
dor, achara que he nhCla por muytas reaões, de que a*
qAíi darei alguas.
19 A pricipal he ser ele muito odioso aos moradores
desta cidade, pela injuria que diz que recebeo deles q na-
do desembarcou contra meus re^jrimentos , pelo {) está
claro que seria muyto grade deseruiço de deos & dei
rey , ficar ele na índia como pessoa particular ^ quanto
UVRO VII. a
122 DA HISTORIA DA INDlA
luaís cd mSdo^ & a fora ser muylo odioso por esta caii*
sa que tS de vingança, ho he tãbem por deseruir a el
rey cõ ho mando que lhe dá, como vereis nessa ínqui-
riçáo que se tirou aqu» contrele a requerimento do fej«
tor de Malaca , em que se achou que fez muy graues
erros, assi nas cousas da justiça, como nas da fazenda^
& tambS offreço os autos que mandou fazer contra os of-
iiciaeis da camará desta cidade, contra quem ha de pro^
ceder despois que fur gouernador, E Lopo vaz de sam
jHiyo os que linha presos em Goa (& não fi ferros como
lhe mereciilo) soltou os leuemSte, por lhe dizerem ^ era
assesego da índia , & pola ver pacífica se pus em ven-
tura de perder ho que tinha certo, digouos que tem
bem seruido ei rey nosso senhor na justiça, & na fazen-
da olbay ho que fazeis.
n Tem tãbem Pêro mazcarenhas determinado como
ibr gouernador de tirar António de miranda de capitão
inór do mar, & a mim da capitania deCochim : cumu se
proua por essa caria assinada por ele.
9 Também ha outra rezão rauy eu i dente pêra nSó
•er gouernador Pêro mazcarenhas, porque polo ser co»
meteo mui graues crimes perdoado cõlra forma das or^
denações dei Rey nosso senhor a algQs que Unhão mor*
tas alguas pessoas & os recolheo a Cananor & deles traz
cdsigo hu Lucas leytão que matou aqui três homês, &
por seu mâdado está em posse de hil nauio. Pêro lana-
res 1} matou sua sogra sobre dous seguros de dom Anr*
rique & ha bombardeiro Q matou hft home, & os ^ es^
pancarão & ferirão em Cananor ho tabaliSo que lhe ie*
uou ho requerimento dos officiaes da camará desta ci*
dade. E por ser guuernador prometeo a muytos ^ ti*
Dbão roubado & tomado muyto dinheiro a el Rey nosso
senhor de lho quitar, nssi como foy a ChristouSo de sou-
sa que tfi tomados a sua alteza perto de qutze mil cru«
sados, deles do tempo do doutor Pêro nunez & deles do
meu , & por saber que ho queria constranger a pagar
este dinheiro se contrariou logo daa cartas em que ti^
hJTBLO vn* CÀVtrvto h. its
nha obedecido por gouernador a Lopo fas de sam Payo
& ibe desobedeceo por nã pagar este dinheiro, coroo nSo
pagará aendo Pêro maecarenbaa gcuernador. & Lançai*
rute de seixas da feyloria J\ teue em Pegú deue muyto
dmbeíro a sua alteza & ibo nã quer pagar por ser secre-r
(ario de Pêro mazcarenhas, nem menos pagará ho fre^
te do nauio que leuou a Malaca carregado de sua faz&*
da & deixou a dei Rey i & Francisco mendez de vas^
conoelos Q deixou por capitfio em Gananor tomou hO na««
uio de mercadores nossos amigos que ya carregado d^
muvta fazenda & dinheiro , & tudo t6 sonegado segiido
ienno polo liuro & assSto do escriuSo do mesmo nauio,
& Manuel da gama que eu tenho preso por dous mil
cruzados que deue a el Rey , que me começaua de pa-
gar deixou de bo fazer, dizendo que coroo Pêro mazca^
renbas gouernasse que tudo se bS faria. Pois quê toma
tais prlcipíos de gouernar a justii^, & daproueitar lam-
bem a fazenda de sua alteza antes de ser gouernador,
que fará despois <) ho forf Pelo que está notório ser cou«*
sa muy perjudicial selo, & julgado vossas mercês que ba
seja, eu lhes encampo a fazenda dei Rey nosso senhor
qtie eu tenho nela lambem seruido, que recebeo past
[^ sante de trezentos mil cruzados de prooeito como darey
por conta , & concertadas suas fortalezas & pagos maia
de duzentos mil cruzados de soldo sem Ibe boMr nos co-
fres das nãos da carga como algús fazem. E porque nSL
se pode fiizer táto seruiço sem se tomar conta aos 1\ rou^
bio soa íazenda & sem poer verbas a outros Q bo deser-r
oS per outros modos (que he dobrado seruii^) desejãa
os culpados nestes erros como leais vassalos que me va
da índia & buscarão pêra isso este caminho de fazer go^
tiernador a Pêro roazcarenhas : ({ se bo senhores julgar*
des por esse vos eneampo a fazfida de sua alteza, & pro*
testo que seja aatisfeyto pelas vossas, & quâdo nfio per.
vossas ppssoas, & protesto por m^ue ordenados, & po*
Ias perdas que receber, poslo que me não lembra se nã4>
el Rey nosso senhor, porque a ele se faz a guerra* «r
a 2
IS4 DA HISTORIA DA ÍNDIA
Coestas rezÕes estauão outras de Pêro de faria ca-
piiito de Goa fQdadas sobre a mesma maíeria, & assi bft
requerimento do licenciado loâo de soiro ouuidor geral
da Índia, em ^ requeria o que por estas rezões vay re-
latado. E Ioda a noyte óo dia em que os jujizes começa-
rão deslar em despacho quãlos moradores auia em Co-
chim andarão descalço» em procissam cõ suaa molheres
& filhos, pedindo a nosso senhor que spiritasse nos juy*
zes que não julgassem a gouernançaa Peromazcarenhas
polo medo Q nuiá de se vingar deles & cõ grandes brados
pediâo misericórdia: o que foy muyto piedosa cousa de
ver^ »
CAPITVLO U-
como foy dada a stniença ^ Lopo voz de sam Payo
gouernasse a Indui^
Jji visto pelos juyzes tudo o que se alegaua por ambas
as parles , fez cada fafl hQ escripto de seu parecer que
assinou & bo deu ao secretario que os leo peranteies,^
& despois de se achar que Lopo vaz de sam Payo tinha
mais votos , & que a ele perteneia a gouernancja julga*
râo que fusse gouernador, & bo secretario escreueo a sê^
tença que dizia.
« Vistos por os juyzes est^a autes, & o que por elea
se mostra , & vistos nossos assinados em !\ eada bil de*
elarou sua tenção: julgamos por nossa difinitiua senten-
ça que Lopo vaz de sam P«'(yo goueroe ^ & seja gouer*'
nador nestas partes da Índia, & Pêro mazcarenhas se
va em hora pêra ho reyno de Portugal , & lhe será dada-
embarcação segíido a qualidade de sua pessoa: & quan*
to aos ordenados dos sobreditos fi^ pêra el Rey nosso
senhor ho julgar como lhe bem parecer ^ & asst todo bo-
rnais que cada hu deles quiser requerer no reyno. »
E assinada pelos juyzes , logo no mesmo dia l\ fo-
rão vinte hQ de Dezembro ao sol posto António de mi-
randa^ Dom loâo deça, Uras da silua diazeuedo, &Trí8'
LIVRO VII. CAPITVLO tnr. ISft
tâo de gá 86 forâo em hO bargaDiim á nao'%m qoe eò^
taua Pêro mazcarenhas : & dos de sua valia fora inuy^
tos a[)08 eles cuydaodo que a senlença se dera por ele^
£ entrados deniro ho secretario lha pubricou perante
todos: & ete a ouuio com rosto muy seguro, mostrando
grande coração, o que seus amigos não fizerâo ^ <) todos
licarâo mu^to tristes. E ele licou na^la nao ate lhe ser
dada embarca<;ão. E os juyzes íbrSo pubricar a senten-
ça a Lopo vaz de aam payoy ^ a recebeo com muyt^
prazer ) & deu muy tos agardecrmentos aos juyzes: &
pedio muyto perdão a António de miranda do !} passa-
ra coele. E com quanto a sentença foy dada por Lopo
vaz, des|x>is se deu em Portugal cSlreie: & Q pagasse
a Pêro mazcarenhas ho ordeoadu ^ leuara de gouerna-*
dor cõ todos os proes & percalços. £ por ser quasi noi-
te nSo se foy ho gouernador a (erra & fícou no mar : õ-
de & na terra ouue muytas folias & prazeres & grade
Étrõdo darlefheria !} desparaua : o Q daua grade tormã*-
to aos da outra parte: por^ lhes parecia ^ se fícassS na
índia 4 o gouernador lhes auia de fazer mal. E [K)rque
a ele lhe paraceo ^ terião esta aospeita os quis seg^irar,
& ao outro dia antes que desembarcasse correo tcida a
frota em b& eatur, & a todos em geral fez esta fala.
Pois nosso senhor Deos foy seruido de me restituyr na
gouernança da Índia, peçouos senhores- que todos vos a-
legreis comigo , fc creai» que iieando eu por goirerna*
dor , vos úea a todos bQ amigo pêra vos fauorecer na
índia, & com el Key meu senhor representandolhe vo&-
aos serui<^s & pedirlhe que vos faça mercê: porque vos
dou minha fé que vos tenho em mu^to boa cÔta aos
que foste» da parte de Pêro mazcarenhas em prosseguir*
des cd tanto esíbrçe o que vos parecia que era rezáo, por*»
^ ho mesmo tVzereis por mim se ferei» da minha parte ,
& por isso vos nSo ey de ter má vontade, & vos prome-
to que me nâo lembre mais ho passado : & vos pe^o l\
façais outro tftto, & ^ sejamos muyto amits^os, & sirua^
jnos todos eí rey muy tt> bem , & vamo» descansar ^ he
(empo* O que lhe todos teuerio inuylo em nerce & fot
rjtee coele pêra (erra ^ õde foy recebido eun» sol^oe pro*
citsatn, & debaixo de hu palio foy leuado a See, & de9^
pois douuir missa á fortalesa em ^ auia de pousar, &
ali tornou a fazer muytos ofireoimenios aos fidalgos que
lhe forflo coDlraíros com que se segurarão pêra ficar na
lodia.
C A P I T O L O LII,
Do que ho gcuernadar fe» despeis de ser restituído em
stia posse»
Re.ti.,.ido Lop. «, d. «™ P.,0 .. ..«TO,,., ,.í:
sera logo aperceberão pêra ir buscar os rumes, ^ bem
sabia ho seu desbarato & a morte de calei mão raix &
foylhe conselhado que nSo fosse porque por nhQ modo
lhe coQuioha ir fora da índia, assi porque os da valia de
Pêro maxcareahas nSo estauão de todo assessegados, &
ficando ele na índia despois da partida do gouernador
auer ia outra reuoita como dfltes , porque nhfl auia de
querer ir ao estreite: & tarobè el rey de Caiicut tinha
feyta grande armada , & vendo ho gouernador fora da
índia faria nela muyto dfino, & abastaua 2} ho oapitio
mór do mar fosse ao estreito ás presas & lá saberia a
certeza do {} era feyto dos rumes, & náo vindo gouer-^
nador no anno seguinte então os iria ho gouernador bufrt
car lâhê apercebido que podesse pelejar coeies. E isto
determinado, despachou ho gooernador ho capitão mór
do mar cd bua armada de noue velas. s. seys galeSea
de que a fora ele que ya em sam Dinis forão por capi^
tSes Fernilo rodriguez barba de s3 Rsfael, António da
silua dos Reys magos, Ruy vaz pereyra de sã Lujrs,
Anrrique de macedo do çamorim grade, &Lopode mes-
quita do pe^no, & FrScisoo de vascõcelos de bila galeo*
ta ^ '& Ruy pereyra de hOa galé bastarda, & bua e^leo»
ta & cico bargãtis : & coesta frota em Í\ irião mil bo^
mSs se partio em laneiro, & xii. dias. despois de sua
UVSO Vfl« CKVtTVlÁ) UII. 127
Mtrtida nãdoa o gouernador a Simão de melo sea ao-
Hbrioho a faaer presaB ás ilbaa de Alaldiua , & leuou b&
•nauio de gauea & h&a carauela. £ neste tempo forao
-acabadas de carregar aa quatro naoa que aaiâo dir pêra
l^ortugal & se partirão , & foy eoa faQa delas Pêro niaa*-
iUireDbaa êlregue preso a António* de brito , & por amor
dele se forão rouytos fidalgos pêra Portugal & assi ou*^
Iras pessoas* £ primeyro que esta frota partisse màdou
ele citar ho guuernador perSte el rey ou perante os de^
aembargadores da sua relação pola gouernâça da Índia ,
& por bo cidel & crime que bobre a^le caso esperaua
dalcançar contrele : & mais Ibe escreueu como os Caste-
jbaoos tícauào em Maluco oa ilba de Tidore como disse
atras pêra que socorresse a dom lorge de meneses (\um
lá estaua |K)r capitão. £ partida esta Trota cbegou aPor*-
tugal a saluamento : & Fero maacarenbas foy bem rece^
bido dei rey : que nfio ouue por seu seruiço o que ibe
fora feyto* £ despois de ÍA>po vaz de sam Payo ser em
Portugal ouue sentença contrele que Ibe pagasse todo ba
ordenado que ouuera dauer com a gouernança.
C A P I T V L O LIII.
De como dom Garcia anrriquez entregou a fortaleza ãe
Maluco a dom lorge de meneye$.
JL/om lorge de meneses Q inuernou nas ilhaa dos Pa^
puas como disse atras despois que tentarão os leuantea
Krtiose pêra Maluco & cbegou á ilha de Ternaie em
ayo de mil & quinbêtos & vinte sete, onde soube em
cbegando a guerra () os Portugueses tinbão com os Cas*
telbaoos, Tidores & Geilolos: do que lhe pesou f)or a
pouca gSte Q leuaua & essa quasí toda doente que a ou*»
ira Ibe morreo Das ilbas onde inuernou. £ tendo ja esta
eerteta despois de ebegado^ deixando os dous nauios a
recado se foy nos bateysaa fortaleza, donde sabendo dom
Garcia sua ida bo sayo a receber muyto ledo^ porque se
128 BA HISTORIA SA^ llfDIA
poderia tirar da grande obrigação eis que eataua com a
guerra por amor do pouco apercebi mes lo que tinha par
reU^ & logo lhe entregou a fortaleza ^ssi .como lha An-
tónio de brito entregara, que foy da maneyra que di»-
«e no liuro sexto. E dom lorg e lhe deu disso hQ conhe^
cimento feylo per hQ tabalião pubrico: & logo {| dd lor*
ge chegou Martim hinhegues o capitão dos Castelhanos
que eslaua em Tidore bo mandou visitar dandolhe a
boa hora de sua vinda, & oflTrecendolhe paz & amizade :
jcÕ queUiime da dÕ Garcia que nunca a quisera coete,
antes lhe;metera a sua nao no fundo, & lhe matara hft
4]omiS & ferira três : o l\ dom lorge lhe agardeceo oflfre-
cSdoselhe lambem por amigo, & disculpando dom Gar-*
cia que ho quisera ser seu , mas que ele fora o que nâo
quisera nem irse pareie como lhe mandara pedir, & qui-
sera antes estar antre os mouros seus immigos, pedin«
dolhe que pois queria sua amizade ^ ho mostrasse ê se
ir pêra a fortaleza, onde lhe daria apousenlamento de
que fosse contente. E por Marlím hínheguez nâo res-
ponder a isto lhe mandou dom lorge hQ requerimêto
aos quatro dias de lunho em l\ lhe requeria cõ bo ai-
cayde mór da fortaleza, feyior & outros officiaes que se
fosse logo daquela terra & de todas as ilhas de Maluco,
& não comprasse nhCI crauo. E ho mesmo requerimento
lhe fez MarUm hinheguez : Sc despois de muytos reque-
rimentos de parte a parte (izerão tregoas, ale verem re-
cado da lodia ou Despanha do que mandaua ho gouer-
nador ^ fizesse dÕ lorge. E como as tregoas forâo a8sen^
tadas ouue muyta amizade, prestãça & conuersação an«-
tre os Portugueses. & Castelhanos, & dauãse dadiuas
hfis aos outros principalmSteos capitães. E sempre JVIar*-
tim hinheguez se fora pêra a nossa fortaleza se ho nSê
estoruarão el rey de Geilolo & Cachil daroes: el rey d«
Geilolo porque osTidores teuessfi necessidade desua.a«-
juda , & Cachil daroes porque os Portugueses a teuesr
sem da sua.
VII. 0APITVX.0 UIII. 129
C A P I T V L O LIIII.
Do que dâ lorge quisera fazer acerca do cravo 4" não pode.
X^espois dÍ8to tirou dom lorge a akaydaria mór da for«
laleza a Manaei falcão que a linha por lho mandar assi
Pêro mazcarenhas, porQ lhe leuara dous homiziados da
Malaca. .E tirada esta alcaydaria deu a a bfl Sim^ de
vera , & porque Manuel falcão não se escandalizasse de
lhe tirar a alcaydaria , & ele & outros nSo cuydassem ^
ho fazia sem causa mostroulhe ho mandado de Peromaz^
carenhas. E com tudo Manuel falcSo nSo se ouue por
salisfeyto & ficou imigo de dõ lorge posto que ho dissi-
mdaua. TambB dom lorge quis vsar de hfl regimSto qua
Afonso mexia vedor da fazSda da índia mãdara a ma*
luco, em que mandaua que ho feytor de Maluco com*
prasse quanto crauo ouuesse nas ilhas , & carregasse ho
mais !| podesse pêra el Rey & ho mãdasse á índia, & o
que solfejasse ho vendesse aos moradores da fortaleza
cõ ganhar ho mais que podesse, & da^Ie dinheiro se pa-
gasse ho ordenado do capitão & dos outros officiaes, &
se pagasse ho soldo & inantimento da gente darmas pê-
ra el Rey poder sofrer os grandes gastos daquela forta-
leza : & cõ tudo que se tomasse ho crauo sem escânda-
lo dos mouros & Portugueses ^ estauão na terra. E dom
lorge mandou apregoar este regimento, & que se goar-
dasse. E vedo os Portugueses quanto proueito lbes.ii«*
rauão , & que desta maneyra poderia el Rey saber ho "
muyto Q ganhaua 3 auer ho crauo á sua mão & ho muy-
to que perdia em ho não auer, & que nunca ho mais ar
largaria , no que ficauão perdidos, porc) nã ficauão maÍ3
{| c5 ho soldo & mãtimento que nunca lhes pagauSo: de-
terminarão de não consentir que aquilo fosse auante,.&
confederarãse com Cachil daroes que ho estornasse. £
ele {} muyto folgaua de os Portugueses sempre terem
necessidade de sua ajuda assi ho fez , dizSdo que pois
LIVRO VIU R
IS* - HA HwnoKiA BA índia
os mouros não podião vender seu crauo a quS quises*
sem 9 que asai não vêderião seus mâlimentos na foria*
leza, & mandou () os não vendessem dali por diante: &
começou ho escândalo d>e crecer cm tanta maneyra qu«
a dd lorge lhe foy necessário dissimular, porque ho na
pode defender. E assi perdeo el rej tamanho proiieito
como este fora de sua faz£da , & que foy a causa de fa-^
ser ali aquela fortaleaa, & que sem ter ho crauo lhe não
seruia de mais que de gastar dinheiro debalde, & com-
prar ho crauo ho três dobro mais caro do que ho oora«
praua na índia antes -que a fizesse, porque os mercado*
ses lho leuauão a Malaca ou á índia, sem mandar por
•le a Maluco cõ tamanho gasto como fazia a fortaleza
qu<e lá eBlaoa, & as armadas que yâo por ele, em que a
fora ho dinheiro que se gaslaua se auenturauão Portu-
gueses l[ cada dia se perdiao no mar^ & morriâo na terra«
C A P I T V L O LV.
Xfo qnt passou dom lerge de meneses có dô Garcia anr^
riquez mbré mandar a Malaca pela via de JBomeo, »
vjfuando d5 lorge partio de Malaca pêra Maluco, miUi
douJhe Pêro mazearenhas que lhe mãdasse recado peJa
via de Borneo como achara Maluco Jc como ficaua, & ()
requeresse a dom Garcia ^ fosse por este caminho de
Sòrneo, porQ eoino^ era moyto mais breue ^ ho de Bani-
da, & podia a fortaleza ser por ali socorrida em meno»
tempo qiie pela via de Banda, desejaua Pêro mazcare-
nbas q^ie fosse bem sabido dos Portugueses pêra \ na*
negassem por ali ^ assi pêra serõ- conhecidos dos r«ys &
senhores daquelas ilhas, & tratarem coekes por ter en«
formação que auia nelas oaro , como por os CaatelJianos
Aizerfi por ali seu> caminho , & os podifto hi esperar íL
lhes tolherifto que ftòo fossem a Maluco : & também por
se eiiitarê brigas que sempre reoreciâo antre es capi*
tâetii que inuernaM&o em BSda.Este regimealo mostrou
i^íTÊDO vn. cjivmub lv. 131
dom lorgtt a ò3 Garcia , & requereolhe da parte de Pê-
ro masearenbas , l\ se partisse pêra iMabca do nauio 8
que ele doa» lerge fora, & que foaae pola via de Bomeo.
E coeste requerimento ficou dom Garcia muyto saltea-
do j porque recebia çrSde perda nio indo por Banda ,
ondeeperaaa dir ter bO jugo qve ho anno parâado mâda-
ra a Malaca carregado de cravo seu & de partes, & a-
oia 4e tornar a BSda eom roupa pêra bo leuar carrega^
do de noz & maça , & dizendo a dom lorge que ele lhe
responderia, ouue conselbo c5 aifffls seus amigos que
erão aqueles que tinbâo mandado bo crauo com ho seu^
& esperauão de fazerS suas faz&das em Banda como ele
eaperaua de fazer a s«a , & por isso Ibe cÔselharSo que
per nbft modo deixasse dir por Banda. B acordarão to*
dos o j| dissesse a dd lorge pêra não ir por Borneo : fo
isto acordado , respõdeo dd Garcia ao requerimento de
dS lorge. Que eie fera de mnyto boa vontade pola via
de Borneo por seruir ei Rey, mas que sabia ^ não auia
de poder ir, porque cometera por hi bo caminho em
tem^po Diantonio de brito^ leuando muyto bôs pilotos: 8b
despois de andar perdido por aquelas ilhas i^ muyto gra-
de trabalho arribara a Maluco : & anendo dõ lorge a dO
Garcia por escusado de ir, delerminaua de mfldarou-*
trS por aquele caminho: ec| visto por dom Garcia, &
que se fosse outrem ficaua ele em muyta culpa por não
ir, determinou destorunr a ida, fc disse a àò lorge que
lhe parecia muyto escusado mandar aljle nauio, porque
a fora descobrir a^ia nauegação pela via de Borneo , a
principal causa de ho mãdar era mãdar pedir*socorro ^
ele ja linha mãdado pedir por Manuel lobo: &, quando
aquele nauio chegasse a Malaca ja lá auia de ser sabi^*
do ho seo recado, & quando vissem que sobre Ião aper^
lado da guerra dos Castelhanos eomo ele mandava dizer
!\ estaua, & tão necrasitado de geníe & muni<^s pêra
a guerra, & que sobrtsso ya an^uele nauio pareceria ()
ho pritneyro recado fera zombarta , & que não auia ne-
cessidade de gente nS de muoÍ4{5es', porque se a ouuera
R 2
133 BA HISTORIA DA ÍNDIA
não 8é poderá mandar aquele nauio : & a fora isaò os ^
fossem nele auião de dizer como a nao dos Castelhanos
se fora ao fundo , & que os Gaslelbanos erSo menos , &
as iregoas que linhâo assenladas , o que tudo seria cau«
sa de ibe jiSo mâdarS ho socorro que esperaua , ou se
ibo mandassem não seria tão bõ como fora na indo ho
nauio y pelo que ho não deuia de mandar , mas deixalo
estar & mandar concertar outro que estaua varado , &
despois de aparelhado lho desse ^ porque ele iria nele
esperar os Castelhanos ao caminho ,& impidirlhes que
não mandassem pedir socorro á noua espaoba como se
dizia que querião mãdar pedir : & por fazer seruiço a el
Rej queria leuar cem babares de crauo que tinha d%
partes , & os venderia ao feytor pêra el Rey. E porque
logo do lorge não quis conceder isto, lhe fez bum re-
querimento em que &2Ía grades protestai^oes que sobre-
uiudo algua perda a el Rey por eie d& lurge não querer
iazer o que ibe requeria carregasse tudo sobrele. £ es*
te requerimento foy pubricado a dom lorge aos quinze
dias de lunho, que parecendolbe boas as rezões de dom
Garcia , respõdeo que queria fazer o Q Ibe requeira : &
porem J} se disso a fortaleza , ou os Portugueses rece*
bessem algu dãoo ou perda que carregasse sobrele dom
Garcia y & assi cessou de mandar ho nauio. £ poi S d5
Garcia ficou mnjrlo desconlète de dõ lorge por assi a-
pertar coele q fosse peta via de Borneo , & arrepedeoee
de Hie dar cem bares de crauo de Q lhe tinha dada pa-
laura de llios mâdar dar 8 Malaca: & a causa foy que
pedindolhos d5 lorge emprestados respondeo ele que a*
ueria seu conselho* £ dando cota disso a seus amigos Q
esperauão de se ir coele , conseiharanlhe Q. lhe desse de
graça os cS^ babares de crauo , & que não quisesse dele
outra paga se não hum^ nauio em q.ue se fosse, & licen-
ça pêra se irS coele ate vinte homês de sua obrigação*
£ dõ Garcia ho fez assi fazendo bua doação a dom lor*
ge dos cS bares de crauo , & bilÉa procuração pêra os
mandar arrecadar em Malaca , & dom lorge lhe prome*
LIVRO VII. CAPITVLO LVT. 13S
teo bo naoio & roais a licença pêra osboroSe , & quãdo
dd Garcia vio que apertara tâto coele ^ fosse pela via de
Boroeo, sentiobe talo ^ desconíiou de dom lorge comprir
ho que lhe prometera, & começou de ter má soapeila dele.
CAPITVLO LVL
De como dom lorge de meneses mâdou recado ao capite
de Malaca pola via de Bomeo.
JL osto que dõ lorge por amor do reJJrímento dedo Gar-
cia, desistio de mãdar ho nauio que disse, tinha lã as-
sentado de mandar a Malaca pela via de Borneo p&ra
se saber bê aquela nauegaçâo , que determinou de mã-
dar bua coracora, por ser nauio de que auia na terra
grande abastãça, & não auia de fazer mingoa na forta*
)eza. E por!} a viajS Ibe importaua muyto, não a contiou
douirè se não du Vasco lourenço, <) afora ser muyto es-
forçado & sesudo era seu tio, peio que tinha nele muy-
ta confiança : & deulbe pêra sua cõpanhia hu Diogo cão,
& outro chamado Gõçalo veloso, & outros dous & por
piloto bQ Castelhano, & hu Malayo que forão coele de
Malaca^ & Unhão alga conhecimento daquele caminho*
£ pedido a Cachil daroes a melhor coracora das que ti-
nha os mâ^ou nela, & deu a Vasco leurenço cartas pê-
ra bo capitã de Malaca, screuendolhe a guerra em que
ficaua & a necessidade i| tinha , pedindolhe muyto !) ho
socorresse, & que lhe mandasse b& mace d^e cartas ao
gouernador da Índia, & lãbê lhe deu roupa & outras pe^
ças boas pêra dar a el rey de Borneo, & assi outros
reys , & dÕ Garcia, & Cachil daroes tambS derão secre-
lamSte cartas a Diogo cão, <) screuiâo ao gouernador da
índia contra dom lorge, & ele as tomou por dõ lorge
bo mãdar contra sua vontade, & mandaua tãbS dõ Gar-
cia bQa renuneiação da doação, & procuração, que ti-
aba dadas & dõ lorge dos cê bares de crauo, l\ dõ Jor-
ge mãdaua arrecadar em Malaca por Vasco lourenço :
que partido deTernate foj twgir na cidade deBorneo,
leuido DO caminho niQyto tralniUiD ^ & U achou hu c»*
oaleíro chamado Afonso pires que ya pna Malaco por
capiiáo dum jongo ^ a Q den eenta de como ficaua dom
lorge, & este Afonso pirez era moyto conhecido dei rey
de Borneo , & por isso foy com Vasco loarenço quando
lhe foy falar que lhe deu bo recado de dom íorge , co-
mo mádaua por aquele caminho a Malaca, pêra a aroi^
zade 2} tinha coele fosse em crecimento, & os Portu-
gueses conuersassero , & teuessê (rato em sua terra, &
coes(e recado lhe deu de presente h& pano darroar de-
ras muyto rico, em que eslaua afigurado ho casamento
dei rey Dingraterra cd a tia do Elmperarlor, & el rey ti*
rado pelo natural cÕ suas vestiduras reays. E quando el
rey de Borneo vio aquelas figuras , preguntou que que-
rião dizer, & Vasco Jourenc^ lho disse. E sabSdo el rey
que aquele que tinha a coroa era rey coroado, sospeitou
que os Portugueses com engano lhe querião meter ar-
queie pano em casa , pêra ^ de noyte por feytiçaria a-
quela figura de rey se tornasse homS , & assi as outras
figuras ^ estauSo coele, & ho auia com ajuda deles de
matar ou [>render & tomarlhe ho reyno, pelo qee ficou
muy tornado, & disse a Vasco lourSço que lhe tirasse
logo ho pano de diante, que não queria que em seu rey^
no ouuesse outro rey se nao ele, & que se fosse logo
com os outros Portugueses se não que os castigaria co-
mo a homSs 2) lhe querião fazer treiçi. E ele & os ou-
tros se viráo em perigo, se nâo fora por Afonso pirez &
algQs mouros mercadores que os disculparâo dizendo A
verdade a el rey & ho abrandxirão muyto da fúria que
tinha, & porem não quis ho pano nem que ficasse na
terra. E detSdose aqui Vasco louren«^, determinou A-
fonso pirez de não ir a Maluco & tornarse a Malaca ,
ou por se deter aqui mais tempo do que ouuera de ser,
ou por amor da guerra Q auia em Maluco com que não
podia fazer fozCda , & sabendo Vasco lourSço como se
tornaua foyse coele por ir em melhor embarca^ que na
LÍV«> VII. CAPITTLO LTfl. IS»
€Óracora Q dali se tornou pêra Maluco fide chegou cd
nuyto perigo, & ho capitão cotou a dõ Jorge o que pat-*
C A P I T V L O LVII.
De como dô lorge de rneneses mandou prfder dó Garcia
anrriquez.
xN o tempo que esta cora cora chegou cemeçaua el rey
de Geiloio de fazer guerra a dõ lorge porque não eira*
ua nas tregoas dantre ei rey de Tidore, & fazia aiguaa
corridas por mar a Ternate , & Cachil daroes as fazia
també a Geiloio , & faziâse aigu dSno de parte a parte»
E estado assi a cousa, faleceo Marti hinbeguez capitão
dos Castelhanos, & eles fizerão outro (^ se chamaua Fer*
não dela torre. E sabido por dd lorge mandou ho visi«
tar^ & pregiitarlhe se queria goardar as tregoas que es^
tauão assentadas antrele & Martim hinheguez : & Fer<^
não dela torre não quis , & tornouse a guerra a reno*
uar. E porque Fernão dela torre nâo tinha nfa&a vela de
remo se não as da terra mádou fazer hua galeota pêra
que pelejasse nela cõ os Portugueses: & como dÕ lorge
ho soube mandou fazer outra com muy ta pressa , pêra o
que mandou apenar quantos carpinteires & calafates a«*
uia na terra, posto que andassem fi outras obras: pêra
o que mandou tomar muytos que fazião hii jflgo de dom
Garcia, porque importaua muyto acabarse a galeota ce-
do, por ele não ter outro nauio de remo em que pele*
jasse com a galeota A fazião os Castelhanos. £ vendo
bik clérigo chamado l^ernâo vaz tomar os carpinteiros
que trabalhauio no jungo, assi por ter parle nele como
por ser amigo de dd Garcia se ifoy logo a sua casa , di-
ftêdo q«e pesar de tal como lhe auia dom lorge de tirar
os officiaeis da sua obra , & que ho náe fazia se não po*
lo não ter em cottla , & coisto outras palauras de padre
0iais cauaieiro , Q religioso, cd Q ho prouocou a ter me*
Bencoria de lhe dom lorge tMuac os carpiateiros , seas
I3C OA JflSTORIA BA ÍNDIA
lhe lembrar ^ era pêra seruiqo dei rey , & còesla fúria
se foy á ribeira, onde dom lorge aodaua fazendo traba-«
Ihar na galeola, & se lhe queixou do l\ tinha feyto, &
dõ lorge respondeo Q não se podia fazer menos , por cÕ«
prir atsi a seruiço dei rey. E por dõ Garcia insistir que
lhos nSo ouuera de tomar, & dõ lorge querer soster ^
fizera b3, vierSo a taeis palauras, que dÕ lor^e chamou
sandeu a dõ Garcia, & ^ ho castigaria muy bem, & dô
Garcia Lhe disse que disistisse da capitania, & Q lhe fa*
ria conhecer ^ era melhor fidalgo .& caualeiro que ele,
Sc nisto apunhou da espada, & passarão outras palauras
mais feas, & acodindo gente de hQa parte & doutra, se
foy dõ Garcia pêra sua pousada acõpanhado desses H
erão de sua valia, que lhe louuauão muyto ho/^ disser^
a dom lorge , & os (} ficarão cõ dom lorge, lhe disserãp
Q não deuia de passar por tamanha desobediência 9 & ^
deuia Jogo de prSder dõ Garcia, & ho que roais atiija*
ua isto era Manuel falcã, por ^rer grande mal a ambos,
& desejar de os ver em discórdia: & agarrochado dõ
lorge destes conselhos, mãdou a Thomas nunez dafon?
seca seu ouuidor , que fosse tomar a menajõ a dõ Gar?
cia & ho trouuesse preso a fortaleza , ao {| os que esta?
uão coele que erão muytos acodirão, dizêdo a dom Gar?
cia Q não era bê deixarse prender, & que eles ho aju?
darião, & dõ Garcia não quis dar a menajem ao ouui*
dor , & disselhe que nã tinha alçada sobrele nè el rey
lha daua, que tirasse deuassa dele, & a mãdasse ao gor
uernador da índia: & sabendo isto dom lorge, mandou
repicar ho sino da fortaleza , a que se jQtou a gente, &
dõ lorge lhe disse como dõ Garcia lhe desobedecia , pe-
lo Q deterrainaua de ho prender, & todos disserão que
fizesse ho que lhe bê pare4:esse, & que eles ho ajudarião
como a capitã dei rey de Portugal : & logo dÕ lorge
mandou a Simão de vera alcaide mór, que cõ hfi scri-
uão da feytoria fosse tomar a menajem a dõ Garcia da
sua parte , que se fosse pêra a fortaleza preso & dises-
se aos Q estauão com dõ Garcia que se fossem parele
Liwi© mi. cÃ^rrvLt tmx. is 7
ates (} fosse lá, & quando chegou a sua casa, achou que
«e ajQtauão nujytos coele, -hus |X)r terem seu crauo fey-
to & se j}rerem ir coele, outros por^ também se queríão
ir, por amor da guerra ^ «staua trauada de que se ea-
jfadauâ, & quãdo estes ouuirão ho que lhes dom lorge
mandaua dizer de sua ida lá, disserSo que fosse embo*
ra, Q eles ho iria receber ao caminho cõ lançadas, & es*
te atreuimSto tinha por saberS que passarfi «em castigo
aqueles que fauorecerS & ajudara An^tonío de brito fião
sendo eapitão, contra dõ Garcia que ho-era, & dõ Gár-
eia respondeo ao alcaide mór ho que respondera dantes
ao ouuidor, ho que os de sua valia lhe louuarSo muylo,
& era ho aluoroço muyto grande neles, o {} sabido por
dom lorge mandou apolar aigflas peças dartelharia nas
casas de dom Garcia pêra as derribar, mas primeyre
tprfiou a maiKlar Já ho alcayde mór com ho inesmo re-
cado que dantes , &, coeJe hQ Tristão vieira : a ^ rogòii
por ser amigo de dom Garcia que lhe conselhasse que
se fosse pêra a fortaleza. E ele ho fez assi, pregQtando-
Ifae primeyro se determina-ua de se defender de dÕ lor-
ge« Ao que dam Garcia respondeo, que como se auia de
defender sendo ele <:apitão dei Rey de Portugal : & en*
tão lhe disserão Tristão vieira & ho alcayde mór, que
pois assi era Q lhe pediâo que fizesse o que dõ lorge
mandaua : o que os !\ ali estauâo lhe conlrariaríto, & ele
disse Q não era tempo, porque se ho fizesse daria causa
a auer muytos mortos & feridos, pek> que os Castelha-
nos ficarião senhores da terra. £ dizSdo isto foyse só á
fortaleza pêra ver se podia apacificar dom lorge, a (|
disse. £x aie aqui que me quereis, ^ me quereis: & ele
lhe pedio a menagem que dom Garcia lhe deu despoie
de muytos debates por!| lha nã queria dar. E tomada pe-
lo ouuidor & feyto disso hú auto, ho mandou pêra hòas
casas em ^ António de brito pousara, & mâdou logo ti-
rar deuassa dele*
LIVRO vir. 8
138 BA UI0TORIA DA INMA
C A P I T V L O LVIII.
De coma dom lorge soUou dom Garcia ^ tomarão a
ser amigos*
X anto que dom Garcia foy preso , como Gacbil daroe»
era grade aeo amigo, trabalhou muj^lo com dom lorge
^ ho soltasse daodolbe pêra isso mujtas rezÕes, mas
dom lorge. DuRca quis, diseendo que bo auia de ler pre«
•o, & que assí ho auia de roãdar ao gotternador da In-*
dia pelo que Cachil daroes ficou muy desgo8tx)8o de dom
lorge , & se lhe acreeenlou ho odio que lhe começaua
de ler polo não ter tanlo de soa mSo como euydaua que
lio leuesse. E lambem Bal lesar rodríguez feytor & ou-
tros bomSs borrados irabalbauão com dom lorge Q sol^
lasse dom Garcia, & que se lembrasse que era hu b&
fidalgo, & ^ fora capilâo daquela forlal<*za, & ho rece*
bera c5 muy ta festa & prazer , & lhe fizera muylos of-
freoimeutos: mas lodauia dom lorge bo n&o quis soltar^
dizendo que cie escreueria a el Rey porque botinha pre*»
s^ E eom toda esla briga mandou neste tempo Cachil
datoes com algQe Portugueses correr per mar a Geilolo,
& queimarão híl lugar & sem receberê dano se tomarão
}iera Ternate: & auSdo dezoylo dias que dom Garcia
estaua preso, & sabendo que dÕ lorge bo não queria
soltar, & dizia que bo auia de mandar preso <io gouer-
Aador agastouse muy to ^ & teue eouselbo cem os. de sua
Talia sobre o ^ Aiiia: & eles Ibe coaselbarão que deuia
4e requerer a dom lorge i) bo soltasse que ja> deuia des-
lar salisfeylo dalgila paixão que dele teuera , & quanda
bo não quisesse soltar lhe mandasse dizer que ho pren»
desse e» ferros , porque ou auia de ser bem preso ovt
bem solto : & se lio nâo quisesse prender em ferros que
auia a menagem por aleuantada, & se auia dir pêra sua
casa & fazer o que lhe bS viesse. E dom lorge por ho
seu caso não ser pêra ho prender em ferros não 1») auia
LIVRO VIU CAPITtLD LTttl. 139
éa prender ^ & por se nJk> soiíâr per êi sèlti êUft Iroeh^
ko «Mii» de BoUar: porem liooDleoeo douirà tú^néyxA^
pori) buUMido do lorge bo recado de dolii Garcia que Ibe
Iduoi» bo altkayde mór, lhe ttaiidòa di^er polo feytor qu^
bo ni aula de soltar^ & que lhe pedia que quisesM âti«*
ies aslar èobre eea menagem què em ferros. E nSo que^
reodo dd Garcia^ aconselfaarAo ft dom lorge que pois hè^
ai qaeria que ho prfidesse em fefrM, & ele se foy ás câ-<
mê oiide éS Garcia estaua ^ & dahi ho léuou aa rorlale^
aa & ooán hfit grilhAes ho mandou meter na torre da itoe-^
oagft ondeateue oytò dia». O que Yéndo os de suâ vatítf
que serião de cofSta ale eincoStH homSs , déle^lBirlàl^8e
de ho tirar da fortaleza, dando disso conta a Cachil da-
roes pêra que os fauofe^esSe 6oáio faUorécia : mas eles
nâo poderão por na fortaleza auer grande goarda & vi-
gia de noyte k de ditti E v6d^ que nflo podiSo faeer é
\ desejauão , determinarão dê se ir pêra hu lugar forte
donde mandassem requerer a dom lorge que soltasse
dum Garcia, & qitando n^o quisesse Q se fiíssetn perA
oe Castelhaoce, & que ês protvocánSo a faaerem guefM
a dom lorgé) dl^Sdolhes quSò pòUcó poder tiffba pefá ser
defender, fie prtmeyro Q ho posessem por obra uearâe^
de manbá , descobrido ho a FernSo baldava escriuSo dá
fey teria y porqtte como era amigo de ddfòrge Uió dlriM
logo t Sc dom Iiírge por se eles nSo irem pel^ os Cást^^
lhanos soltaria dd Garcia. E is(o foy discuberto a Fer'«
Bfio baidaya por hH Castelhano desta liga () auiá nomd
Frãciseo dío soo to que era seu amigo, fie porque Sabiá ê
bo' era de dom lorge lhe deseobtia aquele iiégotfro. B
sabido isto pot dom lorge ouisera logo prSder òs prin^òf*
paia daquela conjUra^^Ao, L assí hO' dtssê á FehiSo htíU
daya & a SimSo de vera alcayde mér ^ a que pesou dí^
M por serrem seus ainigos & «aturaifi^ do porto dôde eléè
erfto & por isso disserto a dom lorge que lhe aula dd
ser muyto trabalhoso goardar tairtos homSs qualfo otf
cinco mesea {| aula dtfli a«i nQK>uç4ê de Matará , ft qtfé
temia que lhe fiigisisem ^ & ^u^ éates auiãe de eêltáft éé
8 2
>40 OA HISTORIA l>Èí INOIA
Garcia despois que esteuesfiein preaos, & soiCos pode»
rião fazer b{k mao recado : que lio melhor aeria aoltat
dõ Garcia & tirafse de perigos, & maia não seado a cau^.
sa de sua prisam iSo obrigaíopia: &. sebristoibe derâo
ou Iras mu^iaa rezôes pêra ho soltar que a á& loige pa^
tecerão bero« E cõ outros pareceres eomo estes , mao-
dou soltar dom Garcia coro eondiíjâa que não fosse cõ«
trele &. ho ajudasse c&tM osCasielba-nos & que ele rom-
peria a deuassa que tinha tirada dele: & tudo isto lho
prometeo dom Garcia, & lhe deu sua fé de ho fazer as-^
si, & despois forâo grades amigos & se conuersauâo col-
ido que nQca ouuera antreles obfia discordía«^
C A P I T V L O LIX.
JPs j0omo os da parle de dô Garcia trabaikauão por auer-
imizade antrele ^ d6 lorge.
X^esta amieade & con«iersa<jâo de dÕ lorge & d6 Gar^
eia pesaua muylo aos de sua valia , porque como erXa
os mais que estauão na fortaleza & oa mais luzidos de-»
la, & vi&o a- grande necessidade que dd lopge tinha de
gente por- amor da guerra temiãse de dom lorge não
querer § se fossem, & dauão por muyto certo dom Gar-»
cia não lhos pedir se continuasse coeie a amizade ^ co-*
xoeçauão ,, que bê vião que não era reaão que dom Gar-
cia os pedisse em tal tenopo, mas bo desejo de ird lograi
a fazenda que tinhâo, & ho i&teresse do que ganhauão
em se ir não lhes deixaua vsar do que enlSdiAo. E co^
mo viâo que pêra se irem n&o auia melhop remédio que
discórdia anlre dom lorge & dom Garcia tfabalhauào
c}nãto podião pola senoear^ & dizião aos amigos de dft
lorge que não se deuia de fiar tanto de dÕ Garcia que
não. era tamanho seu amigo como lhe daua a entender ,
& tudo erão dissimuJaqões ate auer licença pêra leuav
os que queria , & quâdo lha não- dedse que os auia de
leuar por for^ , & a do»' Garcia dízião lyie viase bem
1AVBO VrU CAFITT&O LIS. 141
éoiiio 90 con6aiia em dom lorge que nào era seu amíge
como* mostraua, n& aitia de comfrir coele de tbe dar ho
tiauio pêra áe ^ir, oem^a.Ucença jierar es boinfip como Ibe
f>rometeray & que se auía descuaar cÒa guerra que li-
nhar pDrem Q a verdade era pêra- «e vingar deiefi por^
ibrAo da aua parte j por iaao que tomatge coele conoru^
aam miqueie negecie, & oâo esperasse pola partida quaik»
do nio teeesse tempo pêra faser- nada : & tantas vezes
disserão isto a dõ Garcia qoe -qeasi he creo^ & por isse
estando hfi dia com dÕ lotge á porta da fortaleaa tlie pe^
•dio que lhe acabasse de dar^be oaiiio que lhe promete*
jra pêra se ir , & liceâçar pêra os. qtie forão em ajuda de
sua soltura: ax> que á& lorge respondeo que ainda era
Kuyto cedo pêra falar vaíjie negocio , que quando fosse
tempo ele seria seruido como mfldasse. Do ^ dom Gar^
cia foy cõtente, & falou em outra eousa^ do 4 <>* ^l® ^^^
•valia íicairâo mu; desconientes^ porque lhes pareceo que
dom lorge dizia aquilo por iSporizar^ & assi ho* disserãe
a dom Gareia, & que nào se mostrasse Ião fi^oxo oaque^
le caso, nem quisesse estar aa dispesiçãe de dom lorge,
jiem se lhe acanhasse come mostrara quando lhe iaiara,
<Q se quisesse andar aeempanhado que eles ho acompa-^
i>hariâo : porque veado ho dom lorge andar acompanha^'
do ho temeria & faria quanto quisesse» O que a dom
Garcia pareceo bem , & dali por diãte aadoo' aeompa^
nhado & lodos cõ suas espadas: & como dô lorge era
seu amigo nào alfitaaa naquilo, nfi. em^ mujtas sobran^
carias que lhe fiísião os de dem Garcia , a i| aquilo pa«>
ffeceo muyto mal^ & pareeiaJhee que dom lorge dissimu^
kua^ pêra quando Ibsse ao lem^io da partida os não deí<*
3íar ir & vii^arise deles despoie de ido dom Garcia, &
foT isso assenlarãe de os não deixarem estar em paz, &
semearem aotreles lai discórdia que nunea esteuessS
bem 4 porque doutra maneyra nfto se poderiflo ir da^la
terjra, & dizião a dom lorge que dom Gareia daua muy-
fos auisos aoa Castelhauue- & aos mouros . de. quàlo se or-
denaua nàforlaleaa eontielus^ & irabalhaua quanto po»
142 IBIA HirrOBfA 9A IKDIll
dia 9 porque os de Ternate lhe tetieMem odfo ^ & Um fi«-
zestS guerra: & pêra oa prouccar a»Í6sa ihea mandaam
deitar peçonha nos poços de que i>ibião^ & mSdaua óm
fioyie aos de sua valia que lhes enlrasaem oaa casas &
Ihea dorniissem com aa caolberes & eoni as filhas, & co»
mo sabião a lingoa da terra diziâlhe por ela que dom
iorge Jho inandaua fazer« E porque isto assi passaua^
& os da dom Garcia, ho faziâo, vianse os oiouroa tão
perseguidos que inuytos se yâo da cidade a morar a ou«>
<ra parte: & diziâo mais a dom Iorge que nhOa coaaa
dÕ Garcia desejaua taato como malalo , & destruyto
quando ho não podesse matar: & pêra mais auerigoa«-
rem suas m^tiras & falsos testemunhos ^ & meterem o«-
dio antre oa da terra & dom Iorge, & ho bomiziarS cooi
eil rey de fiachao grande amigo dos Portugueses que
ASle tempo eslaua em. Ternate com obra de duzentos
itomês saltarão hQa noy te no seu arrayal hQ Tristão viei-
ra, Afonso gêtil^ Luys diaz^ & outros da parte de dom
Garcia & matarão quatro ou cico Bacbões & ferirão
muytos , porque como estauão em terra d«'unigos não s#
temião de nada, & os Portugoeaes fízerão a seu saluo o
que querião & feyto recolheranse. E ao outro dia indo
el rey de Bachao fazer queixume daquilo a dom lorge^
Tristão vieira & os outros l\ ho (izeráo ho estaoão eBpe«>
rado sobre acordo r & sabendo- dele ao íf ya disserãlhe
que não fosse porque dom iorge iho mandara fazer, por
isso Q não tinha remédio pêra se Ibe faser justiça. B
pêra 4 ^1 ^^y cresse que era assi-, disserãlbe que a eau«*
aa porque dom Iorge lhe mandara fozer aquela offeosa
(bra por vingança doa Portugoeses que matarão em sua
terra a dom Tristão seu irmão quando lá fora, & doa
juQgos & craua que Lhe tomara como atras 6ca díto^. E
el rey o cteo, & daK pbr diante não quis ir á fortaleza,
& eateue pêra se leuantar & faaer leuãtar a terra ; mas
quis Deos que fioy dS lojge sabedor disso & da cansa
porque ho queria faser, & de«i4be muytas^ dtseulpas, &
maadoa tirar, deuasaa aobrâao* «a <|ae se acbariíe' out
pados Triflrtáo vieira & m outroa que bò fizerSo, qua
senda anisadas fagírSo pêra bo oiale onde os não poda*
râo tomar, pelo que dõ lorge aa nSò castigou & deu cont
la do que pasaaoa a el rey de BaofaSo pele Q perdeo a
sospeita que tioba de dom lorge* & tornou a sua amU
zade como dantes.
C A P 1 T V L O LX.
De como dô GatrciB prêndeo dom lorge em ftrrM ^ ^ ^
caum porque.
v/a ou troa da parte de dd Garcia come rírfto que ele
achata culpados Tristão vieiía, Afonso gêtil & Loys
diaz , pêra indinaresn dos lorge oontr a doa Garcia &
aoa discórdia auer eifeybo: disaerãlbe que beaa via.bo
perigo em que aqueles bonafia bo quiserSo poer , & que
bSo bo fiaevfto se nie por mandado de dom Garcia : &
pêra ver se era assi Q visse quão pouco caso dom Gar-»
cia fizera disso sendo tamanho sea amigo, & que ele os
fizera fugir & os fauofecia». E pareeenda a dom lorge (|
aquilo aet ia assi , peta escusar paíitôes & desgostos , &
tambesi por ser perttr do tempo da partida de dom Gar^
eia que era em Nouembto^ determinou de bo mandar
pêra Taligame donde auia de partir , & que hi^ estaria
ate que partisse , do 4- deu conta a Bahf^sar rodrtgoea
feytor ^ & ao alcayde mór SimSo de vera & a Fernflo
baidaya ^ tinha por amigos y que por bo serem mais de
é& Gkacoia, ea por lhes pareeer assi' tirario dom lorge
daquele propoeiks dizendo que seria dair caeaa a outras-
Imiaades & odies, pelo que dõ lorge se mudeu úbI^ de*
termina^Sow E veado seus leaigos 4. nbfila cousa daque*
las be aluoroi^ua nem mouia peta quebrar oè dA Garcia^
eemeçarão de deitar fama que dÕ lorge mandaua nsaHir
dò Garcia : &. mgindose itte assi, bfl aegro í\ne se cha^
»aua Miguel' nunez que dõ* lorge teoara da Índia, 8ã
em ^ eoDÍNMia por ser bomem esforçado desoobrio em
144 HÁ mSTòMk BA linffA
fnuylo «egredc so feylor que dom lorge lhe tfnha niaft-*
dado que malMse a dom Garcia, &* por lhe parecer que
não era bem que bo fiaesse, «ae queria lançar c5 oa Caa*
ielhanos. B parecendo islo bua couaa muj graue ao fey-
lor quimera que Miguel nuoez ho dissera a dõ Garcia^
tnaa ele não quis dizSdo i\ auia medo de dom lorge : Sc
|K>rem que JÕ Garcia podia estar seguro que eie ho não
•matasse, mas que doutrem ho não seguraua : & ho fej-
tor fez com Miguel nunez Q não se fosse pêra os Cas«
leihanos nS pêra outra parte, & que dom Garcia ho le-
uaria pêra a índia , & assí (içou. E cuydando ho feylor
bem naquele negocio não lhe daua inuyto credito, asai
par lhe parecer que dõ lorge não .cdmeieria hQa cousa
tão fea, .como por saber os mexericos .& emboriihadaa
^ue auia naquela terra antre os capitães, & por outra
parte parecialhe que podia ser verdade, porque nos ho-
mSs tudo ha , & que se matassem dom Garcia que ele
leria que dar conta a Deos pois bo não auisara, & por
este respeilo determinou de Jhe descobrir o que lhe IVli*
guel nunez dissera, tomandolhe primeyro juramê.lo de
não som&te dizer em nhO tempo ^ ^le lho dissera , mas
nem dar disiso oõta a pessoa aígua & ho ter em muyte
segredo. Ouuido isto por dom Garcia, assentou que era
verdade, & que dÔ lorge o queria mandar matar: & des«
pois de agardecer muyto ao feytor tão bõ auiso^ disçe^
lhe que não podia deixar de dar conta daquele .caso a
algOs seus amigos, pêra que teuessem cuydado de ho
goardar, porem que lho diria com juramêto: o que pa-
receo bem ao feytor, & pediolbe muyto que lhe não lem*
brasse aquilo roais , nem teuesse nhu escândalo de dpm
lorge, que bem «poderia ser que estaria mujto innoeen*
te , mas dom Garcia não ho fez assi , & logo deu conta
disso a Manuel falcão, Manuel boldho, Diogo da rocha,
Francisco pirez, & a outros (\ tinha por amigos & em
que coníiaua, que lhe conselharão que matasse logo a
dom lorge. E oflferecerãse pêra ho fazerem Manuel bo«
lelho & Franciaco pirez. £ Manuel falcão não foy deste
pTítecer^ dizendo qtie era forte cousa malar- bum capi-
tão de hua forlaleza, que melhor aeria prêdelo & tirar
deuassa de suaa culpas, porque alem das que tinha lhe
poeriSo tantas que nunca se desembarai^asse delas, &
mais sendo eles testemunhas, & com a deuassa ho mã*
dasse dom Garcia preso aa índia, Sc que ficasse por ca«
pitão daquela fortaleza, como ho ele era dantes. O qual
conselho pareceo bem a dÕ Garcia , somente tornar ele
a ser capitão, porque sabia quão trabalhosa & perigosa
cousa era selo daqueia fortaleza , em que assentou con*
sigo de deixar por capitão a Manuel falcão, & isto não
Q ibo dissesse ate auer eSeito. E assentado nis^o disse
ho dom Garcia a el rey de Bachão & a Cacbil daroes,
pedindolhes que ho faViorecessem. E eJes lho prometerão
& mujto alegres por auer tamanha discórdia antre ca
Portugueses, porque por derradeyro erão seus immi^^^
& não lhes mostrauão amizade se não e5 necessidade ,
o que eles sempre desejatião que teuessem deles. E nes-
te tempo mandou dom lorge a Cachii daroes que fosse
darmada aa ilha de Maquiem , com quem forão mnytos
dos que erão da parte de dom lorge: & dom Garcia fez
que ticassem os da sua pêra fazer o que determinaua*
£ vendo que era tempo ho pos em obra, & logo Fran«
cisco.de crasto grande amigo de dom Garcia conuidou
Simão de vera alcayde mór & outros pêra lhes dar hil
banquete no Toloco hum lugar hDa legoa da fortaleza ,
porque se temia donri Garcia que estando estes na for->
taleza não lhe deixariâo prender dõ lorge sem baralha.
E aceitado ho banquete pelo alcajde mór & pelos ou-
tros que auião de ir coele, ao outro dia que era domin-
go leuou os Francisco ^e crasto ao lugar onde.auia de
ser: & como dom Garcia soube que dom hrge acabara
de jantar, mandou a Manuel falcão, & a Diogo da ro-
cha, une se fussem parele & fizessem que jugasse coe-
les as tauolas, porque ocupado no jogo não entendesse
o que lhe querião fazer. E assentados a jugar forãse lo-^
go aa fortaleza Manuel botelho, Tristão vieyra & Afon^
LIVRO VII. T
146 4U BWnaiA BA INOIA
80 gentil que ja erão perdoados do que ãzerfto a el rey
de Bachão, & aasi bum Francisco pirez, loâo de figuei-
redo, Ândres de palácios, Frâcisco do aouio, & outroa
todos da quadrilha de dooi Garcia : & esiea yâo ja re^
partidos hQs pêra fecharem as portas da fortaleza & as
f;oardareni, & outros pêra leuarem alg&s criados de dom
orge a folgar fora da fortaleza, & os que náò pudessem
leuar fora, que com cada hum se posassem três dos ooiH
jurados pêra os lerem & tolherem que não acodissem a
dom lorge : & após esles fuy do Garcia , seria ás duas
horas despois de meo dia: & coroo não se temi&o de im-
migos & era de dia nâo estaua ali ho porteiro , pelo ^
os ^ tinháo cargo de fecharem a porta tanto que dom
Garcia sobio pêra a torre da menagem onde dom lorge
estaua, tomarão as chaues da porta da fortaleza que es*
tauão bi dependuradas & a fecharão & &ràose após dom
Garcia , que despois de recebido de dd lorge se asseu^
lou , & vSdo como dom lorge estaua com ho sentido no
jogo que jugaua se abraijou coele, dizendo» Estay pr««
80 : & logo JJUanuel falcão & outros três ou quatro ho o-
judarâo^ ÍH, os outros se UarSo com dous criados de dom
Jorge que néia estauão eoele mais, & teuerâiuis & tapa*
xãlhe as bocais que não bradassem. £ dom lorge que vi^
a cousa como ya, comeijou de bradar. Trei^So, trei^
fâo : & nisto bã seu pajé teue acordo de ir repicar ho
sino da vigia« JDom Garcia & os outros que se abraqa*
rão com dom lorge, teuerão coele muyto trabalho em
ho derribarem pêra lhe lançarem ferros: por^ como el^
de seu naturai .era muy to formoso & esforçado , & a me*
neneoria de se ver assi tratar lhe acrecentaua ag forças
& esforço, brace^iua & perneaua & mordia tão fortemè*
te que quasi ho uão podião ter* £ se ele esteuera solto
& cem armas, vvhQ daqueles ousara de ho esperar: Sç
ele bradaua , diaendo. Tredores mataime, & naa me ía-»
jurieis. £ com tudo como erão muytos derão foele m
chão & deitarãibe hiia adoba de quatro elos q»e dom
Garcia pêra isso mandara leuar seeretameiíte f & consta
LIVIU) Vil. tÁWrttJÒ IAT. 147
«stené dS Garcia preso quando d5 lorf^ bo prendèo. £
deitada a adoba apanharfino em corpo ft em alm^ 8c de-*
rfto coele em hii sotáo da fortaleta debaixo do cbâo, 6de
ainda ho prfiderâo a hilaa oaraaraa de bombardas.
C A P I T O L O LXI.
Do que pMSou dô Garcia despois de ter preso dom lorge.
Jjalteaar rodríguez raposo feytor & oulros Portugueses
que pousauâo fora da fortaleza, onuindo repicar ho sino
como ho tinhão por cousa noua por ser atais horas aco-
dirão iodes com suas armaa, & quando acharão as por-
tas fechadas cuydando Q era ireiçSo, hus brada uão por
escadas pêra sobirem ao muro, ootroa diziâo que que-
brassem as portas? & era' a reuolta & arroido tamanho
que a gente da terra saya a ver o que era. E desrpois
que dom Oareia sayo do sotSo em que deixou dom lor^
ge, & ouuio repicar bo sino, & ho arroido que fáziâo os
que estaoSo de fora, acodio ao muro a lhes falar pêra os
assessegar, & disseihes. Senhores não vos aluoraceis &
assessegay i\ a fortaleza be dei Rey dõ loão de Portu-»
gal nosso senhor & por sua está & estará, que todos so*
mos seus vassalos , &c desejamos seu serviço : & porque
ho eu muyto desejo, & ho bem & repouso de todos, flz
o que vos agora direy. Bem sabeis como eu era capitSo
desta fortaleza, & a entreguey a dom lorge <]e meneseé
por virtude de hua prouisam do gooernador da índia pê-
ra que lha entregasse, o que eu nSo podia fazer por domf
lorge mandar enforcar hu homem Português nas flhas
dos Papuas , pêra o qne vAo tinha alçada nem podef
pois ainda nte era capitAo, por nSo ser entregue da ca-
pitania, pelo Q era obrigado á justiçai, & ate nSo ee It^
urar não podia ter cargo de capitania nS doulfa cousa;
& se ho eu soubera nSo lhe Ctregara a desrta fortaleza &
ho mandara preso á índia, f!, nâo abastou e«te crime
que linha pomelido sedo p€S9oa priuada, se nfio despois
T 2
148 -BA HI0TOftIA DA ÍNDIA
Q íoj eapítSo' V60U sempre de liraDia»^ & 16 deatrayda
esta lerra, & andaua pêra me matar : & sabendo eu suas
culpas pelo quedeuo ao seruiqo de Deos & delRey nos*-
so senhor bo prendi pêra ho mãdar. á índia cofõ a de«;
uassa de suas culpas : & não dei cota disto a todos 8
geral por^ nãg toruasse tamanho seruiço dei Rey , & a-
gora que be fejto volo digo* £ peço senhores wujto por
inerce Q mo ajuders a ioster, auenUo por b8 o que te«
nho fe^^tOy & ajudandome a goardar esta fortaleza de ^
me ey por ealiegue pêra dar conta dela a el Key nosso
senhor ou ao seu gouernador da índia. E nisto chegou
ho fey lor Baltesar rodriguez Q ya muyio agastado por
lhe parecer que fora causa da^la reuolla , pelo {| desco-
brira a dõ Garcia, & eatáo vio quão mao conselho teue-
ra em lho dizer, & achauasse muyio culpado: & quâdo
yio dom Garcia n& quis esperar Q acabasse de falar, &
queixandoselhe do ^ tinha feylo a dõ lorge, dÍ2Íalhe ^
outros meos mais- honestos poderá ter a^le negocio que
bo de Q vsara , de que lhe auia de ser tomada muy es-
treita cota. E. dissimulando cÕ o que Baltesar rodriguea
^izia por se não poer coele em disputa y pediolhe por
mercê <} se fosse |)era sua casa & oulhasse pok) seruiço
dei Rey como oulhaua a quê ele daria conta dupor^prS-
dera dõ iorge, pelo que esperaua mercê & honrra. E
vendo Baltesar rodriguez Q naquilo nâ auia remédio ca-
louse : & 08 outros responderão a dom Garcia Q se fize-
ra bê ou mal ^ ele daria conta disso & forãse, & tambê
iSaitesar rodriguez. E em quãto dom Garcia & os outros
andauão nisto ficou a torre da menagem só, & sintindo
bo hu criado de dom lorge chamado Aluaro do cais !\
estaua doente , & assi o que era fey to a dõ lorge como
bomê esforçado leuantouse, & metêdose na torre da me-
nagem fechou as portas de dentro, & posto a hQa jane*
lii começou de dizer a grSdes brados. Esta fortaleza he
dei iley nosso senhor , & dõ lorge de roeneses ho capi-
tão dela em !\ pes a dom Garcia anrriquez. ao Q logo a-
codio dom Garcia, & os Q estauão coele & por escadas
UVRO VII. OAPITVLO Utl. 149
sobirâ ás janelas da torre & enlrando d6(ro (ornarão AU
uaro do cais com Q derSodua janela abaixo bê espanca-
do & arrepelado 9 & a oulro que quisera repicar ho sino
foeráo saltar dó muro abaixo. E ainda isto não era qua-
si fe^to quando chegou Simão de vera alcayde mór, &
08 outros amigos de dom Jorge que forão ao banquete,
& sabendo {[ estaua preso determinarão de ho soltar &
todos juntos se forào á porta da fortaleza pêra a que-
brar: & outros da parte de dom Garcia acodirflo pêra
lho defender, & loão eacriuão patrão da ribeira, &Tbo-
me fernàdez piloto subirão ao muro polas lanqas, & as-
ai outros algus , & disserão a dom Garcia que acodisso
ao ({ queria fazer Simão de vera & os outros , & come-
çouse bQa grade reuolta porque acodio el rey de Baohãe
com muyta gente: & posto que mostraua que era pêra
apaciíicar, a verdade era pêra fauorecer dõ Garcia, que
com hfla lác^a nas mãos , & bfia adarga no braijo re^reo
a Simão de vera & aos que estauâo coele que se fos-
sem , por!) aquele feyto não se auia de liurar por força
darmas como eles querião, pois todos erão híts & vas-
saloe dei Rey de Portugal , cujo seru4^ não era auen^
turarêse tanios homSs por bQ só, & que sem tanto dS^
no como eles querião fazer se apacificaria aquilo. E tam-
b& outros que estauão de fura que não erão por dom lor-
^e nfi por dÔ Garcia ajudarão a pacificar de 'modo que
iimão de vera & os que estauão coele se forão pêra suas
casas & dom Garcia ficou por capitãa da forlaleza ^ &
assi esteu« bus dias.
IftO xu nvrosrA lu inixa'
• C A P I T V L O LXIL
Do ^Jizerâo o$ amigos de dÓ lorge dapois desuaprisam^
JL/eata prisani de d5 lorge correo logo a Doaa pola ter*
ra, de que a gente se espantou muyto. E sabida porCa*
chii daroea em Maquifi, esses amigos de dom lorge (}
estauão coele bo fiserão logo partir pêra Ternate pêra
ho socorrerS & ajudarem« E chegados a Ternate Caobil
daroes foy logo ver dom Garcia, de que estana muyto
cdtBle por prender dõ lorge a quê tinha ódio & deseja-^
ua de ho ver fora de capitão. E SimSo de vera tâ(o que
esta armada chegou , ajuntou logo os amigos de dò loT^
ge que ySo nela, & erâo por todos corenta homSs, & d*
aerão todos cabeça de Simão de vera , a que derão sua
fé de faserem todo ho possiuel por soltarem dom loree,
& quando não podessem irse pêra os Castelhanos: & fa*
ttoreciaos híi irmão dei rey ^ a«iia nome Cachif viaoo
grande amigo de dõ lorge & immigo de Cachil daroea
por entender suas tiranias. E praticando sobre o que a*
uiao de fazer, determinarão de impedir hõa deuassa ^
dom Garcia mandaua tirar de dd lorge: porque a fora
lhe assacarem grades males tirauão por testemunhas
seus Tmigos, & 1} forâo em sua prisam. E Simão de ve-»
ra fez sobrísso htl requerimento a dom Garcia , protes-
tando não ser valiosa tal deuassa: porém dom Garcia
não deixou de a tirar. E porque Simão de vera insistia
que não se tirasse, aluoraçarãose os da parte de dom
Garcia pêra ho matar, & assi ho dizião pubricamente'
& andauão em magotes armados darmas defensiuas &
offSsiuas, & como erão muylo mais que os de dom lor-
ge & tinhâo por sua parte el rey de Bachão & Cachil
daroes ãdauâo afouto como senhores do campo. O Q ven-
do Simão de vera & seus companheiros não se teuerão
por seguros em Ternate, & disserão a Cachil viaco que
se querião ir pêra a terra alia onde estarião seguros, &
LIVRO VII« pAFITVLO LXH. 151
dali requereriSo sua justiça, & quàdo lha nSo quisessem
fazer se irião pêra os Casíeibanos : o que pareceo bem
a Cacbil viaoo, & foyse coeles pêra os fazer apousentar,
porque se teaieo que ho gouernaclor daquela terra os
nlU> quisesse receber, & partirão bua noyle secretaroeo<>
te» E chegados a terra alta náo os quisera ho gooerna*
dor receber por uSo ieuarfi licêça de Cacbil durões: &
Cacbil viaco lhe diísse , ^ oode ele estaua nã era neces-
sária licSça de Cacbil darpes, 1) sintio muyto agasalhara
Cacbil viaco & os Portugueses sê sua licftça, & a dd
Garcia tambeiu lhe pesou uiuyto de se ir6 pêra lá, por^
logo lhe começarão de fazer seus requerimentos , & assi
fizerSo bQ a Fero botelbo capitSo do nauio em (| fora
dom lorge de Malaca pêra Alaluco, em que lhe bimSo
de vera requeria que se ajuntasse coele pêra soltarem
ao seu capitão que estaua preso : ao que Pêro botelbo
res|M)ndeo Q oâo conhecia outro capitão se n£o d^m Gar*
cia, & que lhe não tornassem mais com tais requeri*
mentos porque era tempo perdido, que ele náo conhecia
por capitão a dõ lorge. É vendo Simão de vera quão
pouco lhe aproueitauáo seus requerimentos, assentou
Com os outros que chamassem em sua ajuda el rey de
Tidore & Fernão dela torre, & 1) se fossem parelesquasK
do não acabassem com dom Garcia ^ soltasse dom loi^
ge, & mandarfllhes dizer tudo o ^ passaua acerca da
prisam de dÕ lorge, pedindolhes que os ajudassem &
em parassem como pessoas virtuosas & fioderosas (\ erAo,
^ que mandassem requerer a dom Garcia que soltasse
dom lorge, &^ quâdo aãe quisesse Q eatãç se irião pa*
reles, pori) por aba modo auiáo de tiear com dom Gar*
cia nem com outro capitão. £ el rej de Tidore k Ferr
não dela torre posto 4 tinbão guerra com os Portugue*
ses vendo que aqueles não tinbão culpa, & que erão de-
semparados, determinarão de os fauorecer & ajudar, &
assi lho mandarão dizer, & logo fizerão bQ requerimen-
to a dõ Garcia que soltasse dom lorge protestado que
carcegassem sobrele todas as perdas & danos que daque-
]5Í BA tftSTORfA^DÀ índia'
Ia prisam recreeeesS, asai a el Rey de Portugal eomo à
quaesquer outras pessoas. E quando do Garcia vio a{}le
requerimenlo ficou tnuyto embaraçado, porque vio que
se dÕ lorge íeuesse de sua paKe et rey de Tidore & os
Castelhanos que lhe daria trabalho, & que lhe fariâo
guerra & receou muyto aquela carga. E com tudo res-
pondeo ao requeri meoto, dando as melhores rezAes !{ po-
de por onde prendeo dom lorge : & despois disto rogou
a Cachil daroes ({ fosso a terra alta, & com algQa dissi-
mulação soubesse de Simão de vera & dos que estauâo
eode se determinauSo de se ír6 pêra os Castelhanos por-
que isto receaua muyto, & os segurasse quSto podesse.
O que Cachil daroes fez logo, & chegado a eles disse-^
lhes que nâo sabia por(| se forSo da fortaleza, porque
doin Garcia não lhes tiraua officios , ííè ordenados , nem
soldos: antes desejaua de lhos dar dobrados, & lhe pesa-
ua muyto de se irê. Ao que Simão de vera respondeo
que nflo querião nada de dÕ Garcia sem soltar dom lor-
ge: &c que soubesse certo ^ se auíão dir pêra os Caste-
lhanos, & ele daria conta dos males que sucedessem. E
estando nestas praticas chegou hua armada dos Caste«
Hianos que mandaua Fernão dela torre S fauor de Simão
de vera, & dos outros: que por Cachil daroes ali estar
fizerão que ya pêra os leuar & fizerão mostra de se que-
rerem embarcar. E quãdo ele vio tanta conrrusam , pe-
dio a Simão de vera que não fizesse fiada de si ate não
ir falar com dom Garcia, de i\ sabia certo ^ auia de sol-
tar dõ lorge antes de se partir pêra Malaca, & {} ele lho
faria fazer logo! & Simão de vera disse (\ por amor de-
le esperaria, porem que se dom Garcia nào soliaua dom
lorge que logo se auia dir.
LIVRO VII. CA1PITVL0 LXIII. Iô3'
C A P I T V L O LXIIL
De como dó Garcia soltou dó lorge de meneses,
Cabendo dom Garcia per Cachil daroes a delermina-
ção de Simão de vera & de seus companheiros (emeo
muito sua ida pêra os Castelhanos, porQ lhe auiílo logo
de fazer guerra eles & el rey de Tidore , & el rey de
Geilolo. E estando a fortaleza de guerra não se podia
partir como queria, & deixaia a Manuel falcão, [X)rQ su-
cedendo algu desastre seHa sua a culpa, & por isso se
mudou do propósito que tinha de leuar dÕ lorge preso &
deixar por capitão a Manuel falcão, & quis antes soltar
dÕ lorge & tornarlhe sua capitania, & assi ho mandou
dizer a Simão de vera por Cachil daroes , & Q se fosse
]ogo pêra a fortaleza com os outros. E ele não quis, di-
zendo que não se auiá dir se nSo despois de dõ lorge
solto. E dali por diante se enlendeo em ho cõcertarft
com dõ Garcia no {} se passarão algQs dias : & por der-
radeiro se assentou que dÕ Garcia soltasse dÕ lorge Sc
lhe deixasse sua capitania, & l\ dom lorge lhe auia de
dar ho nauio de Pêro botelho pêra sua embarcação, &
auia de deixar ir Pêro botelho com quantos estauão no
nauio, & auia de dar licSça pêra se irS com dõ Garcia
todos os í\ erão da sua parte sem lhes embargar suas fa-
zendas nS fazer nhfl impidimSlo pêra !\ não se fossem^
& assi se auião de romper todos os requerimentos <} erão
feytos de parte a parte &, deuassas Q erã tiradas, & Q
isto auião de jurar dõ lorge & dõ Garcia em solene ju*
ranVento. E despois de dõ Garcia ido peraTaiãgame cá
todos os !\ auião dir coele, viria Simão de vera & os ou-
tros & sdtarião dõ lorge : & assi foy feyto, & dom Gar-
cia mandou diante seu fato, & dos que yão coele, :& pri*
meyro que se partisse da.fortaleza mSdou Soraparia ar-
telharia da fortaleza porS lhe nã tirassS coela: fip ele i4o
ètrarão Simão de vera* & seus coropanheíroa & soilo/ãa
LIVRO VIU u
dõ lorje com muyto prazer, mas do lorge que bo nSo
tinha anles eslaua muylo seolido de dÕ Garcia pela of-
fensa que lhe fízera, mandou logo ao ouuidor que fizes-
se aulofi de ludo o que fhe doro Garcia fizera & assi ti-
rou eslormSlos de como no tempo que esteuera preso 9e
apoderarão os Caslelhaúos da ilha de Maquiem por aâo
auer quem lha defendesse , no que el Rey de Portugal
recebera mujla perda por auer nela muyto crauo, &
mandou logo fazer hQ requerimento a Peru bolelho que
se fosse pêra a fortaleza por^ tinba muyla necessidade
do seu Diauio por amor da gtkerra dosCaslelhanos, & ao»
brislo toroou a auer outra reqotta ^ue dom Garcia dizia
que dd lorge Ibe tinha dado' aquele oauio pêra sua em*
harcaçao : & ouue muytos reqMerimStos de parte a par-
te, & por fim de tudo se fuy do Garcia no nauio & Pe-
PO bvtelho coele contra vontade de dom lorge, qtte;mâ-
dou fazer auto de sua desobediência auendo bo por ale*
uâtado, & isst quãtos yao com dom Garcia, & tirou es-
toroientos de como lht*s dera a licença por força , & a
necesipidade em que ficaua de gente : & coestes síuísob-
& es-ioru) entoa, & com eartas ))era bo capilâu de IVIaJa'^
oa, mandou iogo a .hQ Vicente dafonseca que partio pe^
i^ IVlalaoa apoa dd Garcia, & ass^i mandaua lambfi pe*
diff socorro de geate»
C A P I T V JL O XXIIIK
Í)e c^mo çns nmuros de Lôgú nruUarâo Muares dê brito. ^
jlN este ano de mil & cccecxxvii. estaado lofge cabral
por ca[>i(âo de Malaca , malarât os mouros da cidade da
L3gú certos; poríUígueses aem nhSa cai^a , Sc lorge ca«
brai jdaatkdoo iá-a vingar estas mortes a bft Akiaro d^
brito. oapiAau 'de hGUt galé em que leuaria setenta Portu^
gúéséa qUe iodos coele! (orão tniacto^ pelos mouros de L5-
gúj&L lomaiâo a gale. £ aufid^ quicrze dias que a Boua
LlVnO vil, CATITTLO LXV. 1 66
deste dano era em MaIbca chegou hi de Banâa Mariim
cotrea , a q\ie lor^e cabrai por bò ter por bÒ caualeyro
deu a capitania mór de hfia armada que mSdou a Lõgú
a vingar aquelas oflTensaSy & por não sabqr parlicular-
mfite como Marltm correa as vingou digo em soma que
queymou Longú matando primeyro muytos mouros, &
tornado a tomar a gale que tomarão a Aluaro cie brito
se tornou a Malaca, & por ele soube lorge cabral como
a sua partida de Maluco ainda lá não era dom lorge de
meneses, & a necessidade grandíssima de gente & de
mantimentos em que fícaua dÕ Garcia ârriquez por amor
da guerra t\ tinha cò os mouros & cÕ os Castelhanos l[
ficauSo em Tidore. O que sabido por lorge cabral fez
logo prestes ho socorro cò que partio na Strada do la^
neyro seguTte bQ fidalgo chamado Gõçalo goroez dazeue^
do () foy por capitão mór de bda armada de dous nauios
de gauea, & há bargStí, & hõ jQgo em (\ forão cê Por-
tugueses & muytas munições , & dous mil cruzados de
roupa.
C A P I T V L O LXV,
Do qfez Lopo vaz de sam Papo despois que foy julgado
por ffouemador.
J~lo gouernàdor Lopo vaz de samPayo que ficou fiCo-
chi despois de partidas as nãos da carregfa para Portu^
gal, despachou dom loão deça que fosse tomar posse dà
sua capitania da fortaleza de Cananor, & porque tinha
por certeza que auia muytos paraós de Malabares de
Calicut por toda aquela costa ÍJ fazião muytò mal aos a|-
migos dos Portugueses, rogou a dom loão deça que a*r
qucle pedaço de verão ÍJ auia atè ho inuernò goardassfe
aquela costa com bua armada que lhe daria: do que ele
foy contente por seruir el Rey, & ho governador Ihfe
deu hQa galé em que andasse & dezaseys catures & hai^
gantis que ho acompanhassem, a cujos capitães não soií-
be os nomes. E partido dom Iodo deça a goardar a eoi^
u 2
166 1>A HISTORIA DA ÍNDIA-
(a do Malabar 9 enleodeo ho gouernador em mandar fa-
zer a fortaleza a çunda Q sabia (} não era feytapor Fran-
cisco de sá nuo poder mais: & por esta fortaleza impor-
tar rouyto ao serui<;o dei Rey de Portugal, porque de-
fenderia aos Castelhanos que não fossem lá se quises-
sem ir buscar pimenta desejaua ele de se fazer, & pêra
isso escoiheo a Marlim Afonso de melo jusarle que era
seu parente & bo conhecia por esforijado: & quãdo o
cometeo coeste cargo ele ho nS quis aceitar, dizendo
que Francisco de sá aueria por injuria querer outrem
fazer o que ele não fizera, & por isso não auia daceitar
tal cargo. £ bo gouernador lhe disse que as cousas do
seruiçp dei Rey, nã auia ninguém dauer por injuria fa-
zelas outrem se ele as não pode fazer, & () el Key não
era obrigado a goardar essas preheminencias a ninguém,
se não seruirse de quem fosse sua vontade pois todos
erão seus vassalos, &. que ja se seruira de Francisco de
gá & então se serueria dele. E com tudo Martim afon-
so não quis aceitar aquela capitânia, n6 a aceitara se
ho gouernador lhe não fizera sobrisso grandes requeri-
mentos , & ainda então a aceitou com dizer que faria o
,que Ibe Francisco de sá mandasse se ho achasse em Ma-
laca. Aceitada esta ida por Martim afonso, por ho go-
uernador & ele se temerem que sabendo a gente onde
ya não auia de querer ir pelo Q la acontecera a Frãcis-
CO de sá, deitarão fama que JVlartim afonso auia dir fa-
zer presas aa costa de Tanaqarim , & de caminho auia
dinuernar em Paleacate, pelo que se ajuntarão quatro-
-cenlos homSs que ho gouernador queria mãdar nesta ar-
mada que foy de noue velas grossas & de remo, de cu-
jos capitães não soube os nomes salua de três , de Tho-
roe pirez capitão do nauio em que ya Martim afonso,
.de Duarte mendez de Vasconcelos capitão de hQa galeo-
ta, deloão coeUio capitão dQ bargantim, & ho gouerna-
dor mandou a Martim afonso que fosse |:x)r Ceilão & so-
corresse a el rey a quem fazia guerra Patimarcar capi-
tão mór dOa armada dei rey de Calicul: & Martim a-
LIVRO Vil, CAPITVLO LXVI. 157
foDSo ho fez assi. £ chegado a GeilSo nSo achou Pale-
inarcar, que sabSdo que ele ya lhe ouue lainanbo me-
do que fugio, & ficado èl rey de Ceilão liure desta guer-
ra , foyse Marti afoMO a Calecare híi grande lugar na
costa cujo senhor tinha a pescaria do aljôfar como con-
tey atras, & porque se temia dos mouros de Calicut fez
paz com Martim afonso com condição que pagasse ho
tributo que seu antecessor pagaua, & que ho gouerna-
dor da índia lhe mandaáse dar goarda quando fosse a
pescaria, & daqui se foy a Paleacateondeauiadinuernar.
CAPITVLO LXVI.
De como dam loâo deça desbaratou ^ prendeo China'
culiále.
»
JL/om loão deça capitão de Cananor que andaua goar-
dado a costa com a armada que disse, andou por ela to-
do aquele pedaço de verão, em que fez muyto dano aos
mouros de Calicut que yão pêra Cambaya com pimen-
ta, & em diuersos dias tomou corenla & oyto velas an-
tre zambucos & paraós & os mais deles pelejando em
que matou muytos mouros: & não contSle coeste dano
que lhes fazia sayo hu dia em Mangalor onde sabia Q
eslauão certos paraós de Calicut que lhe fugirão & quei-
mou ho lugar : & porque ho nã pude saber particular-
mente ho digo assi ensoma, & também hua batalha que
ouue no cabo do verão comChinacutiale hu valete mou-
ro & muy sabedor da guerra que era capitão mór de
sessSla paraós dei rey de Calicut, & cuydando de tomar
dom loão sayo a pelejar coele, & com quanto leuaua ta-
manha armada & gente muy grossa a respeito dos Por-
tugueses foy desbaratado & morta & ferida muyta de
sua gente , & ele foy ferido de duas cutiladas pelo ros-
to, & de duas espingardadas per biia perna , & assi se
deitou ao mar cuydando descapar por ho seu paraó ser
entrado pelos Portugueses) & assi foy tomado. £ auida
168 BA HfSTOBIA DA INOIA
esta vitoria qoe foj rouyto grade por ser ja bo cabo do
Terão se recoíheo dom loão a Gananor, & mandou paro-
le da armada pêra Gocbim , & ho gouernador lhe fez
mercê de Chínacutiale que eu vi em seu poder, & por
quem ouue grande resgate.
C A P I T V L O LXVII.
De como Pêro de faria par tio pêra Malaca ^ ^ Simão
de sousa galuão pêra Maluco.
Xlistando ainda ho gouernador em Cochim por lhe pa-
recer assi seruiço dei Rey rogou a Pêro de faria que fos-
se seruir a capitania de Malaca pois era sua : do que
se ele quisera escusar por Malaca ser muylo doStia, &
assi ho disse ao gouernador, dizSdo que antes queria íi-
oar em Goa pois também era sua, que era muyto sadia,
& por derradeyro cõsentio em ir a Malaca por compra<-
2er ao gouernador que desejaua de tirar de lá lorge cai-
brai l\ eslaua da mão de Pêro mazcarenhas. E querSdo
lambem ho gouernador prouer a capitania de Maluco &
tirala a dõ lorge de meneses deuha a hu fidalgo chama-
do Simão de sousa galuão de f\ faley atras , & isto por
ser pessoa de grade confiança & em que tinha fi)uytô
credito, & a capitania mór do mar & alcay daria mór da
fortaleza deu a outro fidalgo chamado dom António dè
craslo, & a feytoria a outro fidalgo chamado António
caldeira, & a capitania de bQa galé em {| Simão de sou*
sa auia dir a lorge dabreu que fora ao preste c5 d5 Ro-
drigo de lima, & deulhe setenta homSs, & em Malaca
lhe auia Pêro de faria de dar trinta pêra fazerem cento,
& des|X)is partirão ele & Pêro de faria pêra Malaca enfl
Abril de mil & quinhentos & vintoyto, & primeyro se
partio bo gouernador pêra Goa Õde auia dinuernar, &
da hi mãdou por capitão da fortaleza Dormuz hu fidalgo
chamado Cbristouão de mendo<;a que a tinha por el Rey
dom loâo de Portugal, & mandou coele Raix xarafo que
LIVRO YII. CAPITVLO hXVlIU 1*69
era líure por seotêqa do licenceado loão de soiro ouui*
dor geral ^ & que fosse seruir bo seu goaziUdo Dormuz.
E chegado Cristouào de Diendoça a Ormuz foy entre-
gue da capitania por Diogo de luelo que era capitão*
CAPITVLO LXVIII.
Das presas que António de miranda capitão tnór do mar
fez no estreito j ^ do mais que sucedeo.
Jl artido de Goa António de miranda dazeuedo capitSo
mór do mar seguio sua rota pêra ho cabo deGoardàfum
Õde chegou despois de passada hua grande tormenta, &
ali repartio sua armada em três escoadrões apartados btta
dos outros, porQ as nãos dos mouros que passassem não
lhe podessem escapar, & andando esperandoas apartou>-
se Anrrique de macedo com têpo da conserua Dantonio
de miraordà: & andando apartado alamar, bii dia pola
manhaã topou com h& galeão grande de rumes feyto co>*
mo os nossos, & como os rumes erão rouytos &yàobeD»
apercebidos de guerra sayrào ao encontro dos Portugue-^
ses tirandoliie muytas bom b€ifdadas,& aperceberão muy-
tos armados de sayas de malbá & corceletes, & era fer-
mosa gente & muyta. E co tudo Anrrique de macedo
08 ndo duuidou & abairroou coeies, & começarão hÚB
te culros de pelejar brauamète sobre entrarB hús os ou--
tros , & sendo ho v6to calma que ftcou de lufadas arre*
Inessarão os inimigos hfia lá^ de fogo ao galeão Portu*^
guês, & pegoulhe no artiinão que ardeo donde .com hika
lufada de \Clo se aacodio, & lornou a cair no dos Imi-
gos ainda acesa & pegoulhe bo fogo, & por amor do fo^
go que se pegou nos galeões cessou a peleja , & acodi-
fão hQs & outros ao apagar, & os Portugueses cortarfto
logo a abairroa: & desapegados dos Imigos apagarão ho
fogo & liuraranse dele, o que os inimigos não poderão
fazer ao seu & ardeo todo com muytos deles, & algus
poucos se lâqarão ao mar q^ue íbrão mortos & catiuos c&
ICO 0A HISTOflIA 30A ÍNDIA
ajuda doutros Portug^ueses de dous galeões da frola ^
ah forflo ter. E por ser acabada a mouçSo das presas
forãse lodos estes (res capitães aCaxê hda vila de mou-
ros na costa Darabia , Õde per mSdado Danlonío de mi-
rada se auiSo dajQlar despois de fejtas as presas, & hi
ho acharão c5 vite velas de mouros que tomarão ele &
os outros , & erSo oyto nãos grossas & doze terrádas, &
marruazes () sam mais pequenos que nãos : & por ele
ser certificado que ainda auião de passar certas nãos de
mouros pêra ho estreito tornouse a esperalas deixando
em Caxem Ruy pereyra que era quadrilheiro mor pêra
vender parte da fazêda que se tomnra aos mouros, &
porem as nãos não passarão & vendo Q nãopassauSofoy-
se a Adem que estaua de paz cõ Portugal , onde achou
Ruy pereyra ^ tinha recado dos regedores da cidade
que el rey não estaua nela , & (} os rumes (ízerão hi ai-
gQ dano. C despois da morte de colei mão raix se forão
a Camarão esses que escaparão. E sobresta noua leue
António de mirada conselho se iria a Camarão pelejar'
com os rumes: & foy acordado que não por^ era passa*
da a mouf^ão, mas que mãdasse lá hQ calur a saber no-
nas deles {) por ser pequeno poderia passar, & foy nele
ho piloto mór, & por lhe ho vSto ser contrairo não pode
surdir auante & tornouse, & no caminho tomou dous
marruazes, & dos mouros soube que es rumes que esta-*
uâo em Camapão serião três mil & quinhStos homSs. B
esta noua deu a António de miranda: que Dad6 se foy
a Zeila pêra dar nela, & achouha despejada & queimou
ha,,&:di4:i^e foy a Mazcate: & deixando hi a frota, &
pôr capi^Q ibór dela António da situa foy inuernar a
Ormuz.
LlVJtO VU* CAPITVLO hXÍX. 161
CAPITVLO LXIX.
«
De como farão aUitios de mouros Diogo de mezquita ^
outros^
Xnuernando Anlonio de miranda dazeuedo em Ormus
vêdeose a fazSda das nao8 que tomou cm que se fizerâo
sessenta mil cruzados: & a Vinte dons Dagosto se par*
tio pêra a ponta de Diu onde atiia de fazer outras pre-
sas. £ chegado la achou ainda ho mar ISo grosso qua
fao comia, & por isto arribou a Chaul fazendo sinal aa
frota que arribasse, & todos arribarSo saluo António da
sílua & A firriQ.de macedo que poderão sofrer ho pairo:
& arribiiiido António de miranda sobreueolhe bfl tempo-
ral de vento por dauante com que Lopo de mezq-uí ta ca-
pitão do çamorim peQ4io arribou pêra Diu« E andando
ainda os mares feytos desta toruoada topouse com bUa
nao de mouros de Diu que serião duz&tos , todos bem
armados, & os Portugueses serião ate trinta, & arriba-
rão sobre a fiao com quanto fao tempo era forte & ho
mar andaua grosso , & abahroarãna , & em a ferrado sal-
tou Lopo de mezquita nela com boa parle dos seua Sc
começarão de pelejar c3 os immigos com muyto -esfor-
ço, & neste conflito desfaziãse a oao & ho galeão polaa
grandes pancadas () se dauão com a grandíssima maru-
lhada que fazia & ambos estauão abertos & fazião muy-
ta agoa, & ouuerãse de perder se não quebrara a abalr-
roa, & cada ht) foy pêra seu oabo -ficando Lopo de mee-
quira com 08 que digo na nao: & não podendo os do .
galeão tornar a tomar a nao com a forlidão do tSpo ar-
ribarão por esse mar por se não perderem. E Lopo de
mezquita & os outros que ficauão na nao vendo que sua
saluação despois de nosso senhor era ho bÔ pelejar, pe-
lejarão tão esforçadamente que matarão a major parte
dos mouros, & os outros se derão de muyto feridos, &
postos em recado acodirão os Portugueses á nao que se ;
LIVRO VII. X !
162 OA HISTORIA DA INBIA
ya ao fQdo com a muyta agoa que fazia: o que vSdo
X^opo de mezquila apanhou todo ho dinheiro que achou
jiela, & mandou a Diogo de mezquita seu irmão que se
inelesse no batel , & assi dezaseys outros , porque n£o
podendo a nao escapar ae saluasse com ho dinheiro, &
porem não deixou de trabalhar por esgotar a nao. E ven-
do os que eslauão no batel com Diogo de mesquita que
não se podia vencer a agoa ^ a nao fazia , neai com as
bombas, nem com baldes, desesperarão de se poder sal-
uar , & porque se os que estauão nela se quisessem a-
colher ao batel se alagaria por ser pequeno, acolherâse
antes que isto acontecesse sê Diogo de mezquita lhes
fK>der resistir antes ho leuarâo por força. C indo cami-
nho de Chaul toparão com a armada de Diu & forão ca*
tiuos, & leuados a Diu : donde os leuarâo a el rey de
Cãbaya !\ folgou muyto coeles por os ter por muyto es*
forçados & sabedores na guerra, principalmente a Dio-
go de mezquita^ a que comeleo que se tornasse mouro^
oATrecendolbe por isso grades honrras & mercês : 8& nâo
-qucrèdo ser mouro ho atentou cõ grades lormentos ate
lio meter na boca de húa bombarda ceuada pêra despa-
rarem coele. £ ete como fiel Chrislão & verdadèyro a*
migo àe nosso senhor, sofreo tudo com costancia gran*
<iis8ima, dizendo sempre Q lhe fizessem quanto quises-
sem , que não auia de deixar a ley de Deos verdadeyra
pola seyla de Mafamede que era mentira. E vendo oa
-outros catiuos seu esforço também nâo quiserão ser mou-
ros. E el rey deCambaya esi^antado da costãcta de Dio-
go de mizquila ho mâdou prSder, & a ele & aos outros
mãdou dar cruel catiueiro, E Lopo de mezquita i\ ficou
na nao, pos tanta diligencia com ajuda de i>osso senhor
que vepceo a agoa, & escapado a nao foy ter a Chaui
^de achou António de miranda, & do dinheiro que se
fe2 da fazenda desta nao forão pagas as parte» que se
deutão aos da armada , & os sessenta mil cruzados fica«
rão forros pêra el Rey.
/
LITUO Tlf. CÁMTVLO LXX, 161
C A P I T V L O LXX.
De como Haiixá capitão da armada de Diu pelejou c6
Antrifiue de macedo^ ^ de comofoy morto Antónia
da '^
xjLnrriqoe de macedo que fii^ou á p8(a de Diu passada
a tormenta com j) os outros arribarão acalmou bo ven-
to: & estando em catmaria derJío coele as fustas de Dia
que erão trinta & três, & Sdaua por seu capitão mór hfl:
valente mouro chamado Haiixá, que vSdo ho galeão da-
quela maneyra cercou ho em redondo , & mãdoulfae dar
bateria, & os Portugueses começarão também de jugar
eoro sua artelharia , & começouse hfl brauo jogo prlci*^
palmente da parte dos mouros que tirauão todos ao lume
dagoa por as fustas serem rasteiras , 86 fizerãlhes tantos
rombos que não aproueitauão bombas n8 baldes pêra ve-
dar a multidão dagoa Q entraua, & foy necessário atu-
pirfise os buracos cÒ colchões & colchas , & andauão od
nossos tão cansados que quasi não auía quem podesse
trabalhar, & se os nosso senhor não socorrera não po(]e«>
TÍk> escapar, porque ainda que neste tempo sobreueor
vento ho galeão não podia b8 nauegar por ter quebrados-
os mastos & as vergas espedaçadas, & as velas rntas. E
nisto chegou António da siiua capitão do galeão reya
magos () vinha ao tS do estrSdo das bõbardadas, & che«
gando a tiro de berço do «çamorim mandou dar fogo «
sua artelheria , & mais auante começarão as trombetas
de tanger, dizendo. Alegraíuos, alegraíuos que aquf
sam os três reys magos. E ouuindo òs mouros as tr&be-»
tas , cuydarão () era o capitão mór ^ safoião {| chegara
k ponta de Diu , mas não que se fora, & cuydando que
▼inha com toda sua armada , fugirão todos com medo &
deixarão Haiixá só, que também fugío por derradeiro.
E sospeitando António da silua a causa da fugida dos
immigos, seguios ás boro bardadas, & Haiixá lhe teue
X 2
164 m HISTORIA DA ÍNDIA
hQ pouco ho rosto também ás bombardadas, & nisto deu
nele hQ pelouro de bombarda perdido & maloubo, cd
que o8 seus ficarSo tão desacoroçoados Q nã quíserâo
mais seguir os Imigos , & tornarãse pêra onde 6caiia
Anrrique de roacedo: & Halixá vendo os assi tornar
Guydou que era maniia pêra ho colherê, & por isso não
quis ir após eles, mas foyse fugindo, que se os seguira,
nem eles nem os do çamorim escaparão. £ chegados a
AnrriQ de macedo forâse todos a Chaul,. & dahi pêra
Goa com ho capitão mór que chegou la na fim de Sele-
bxo,. & deu coola da passado ao gouernador^
C A P I T V L O LXXL
Dt como Chriêiouão de mêdoça capitão Dormuz mâdou
por terra António tenreyro a Portugal c6 recado a d
Rey.
JL Teste (empa desejado ChrislouSo de mendoça eapitao-
Dormuz de mSdar a el Rcy de Portugal certeza de co*
mo os rumes não passaufio aa índia ^ & auisos de muy*'
ias cousas que comprião a seu serui^o , asai em Ormue
con»o na índia escolheo- pêra leuar por terra este reca^
ào a hu Aníonio tenrrejTo natural de Coimbra Q eslaua
em. Ormuz, & fora com Baltesar pessoa ao Xeque is*
mael ,. donde indo caminho de lerusaiem Cby preso poo
turcos cuydando qAie fosse espia. E leuado ao Cayro foy
soko, & querendose dali tornar a Portugal se foy a Chi-
pre, donde por hú acontecimento mudou seu caminha
& iornouse aa Indin , & de Chipre atrauessou ho d^^sor-
1o & foy ter a Baçora & dahi a Ormuz : & por(|. tinha
ejKperiencia deste caminho, & sabia^ a Hngoa Persiana,
& por ser homem desprito & esforçado ho escolheo pêra
fazer este caminho, & mais por n&o achar outrem, por-
que por ho perigo do caminho ho receauAo todos, & di»-
zendolhe ChristouSo de roendoça quanto esta ida impor^-
taua ao seri^so dei Rey de Portugal. Ele polo seruix a
Vllr CAFITVLO LX«. >6a
aceitou debóa vòtade, & dádolbe ChrisloúSo deiuêiio-
ça muyto pouc» ajuda pêra aua; despesa, & aigQas car^
taa de credito pêra onde \k» foasein neceasairias ue par-
iio Dormuz pêra a cidade de Baçora a vinte de SeleiU'*
bro do aoDo de mU & qi>ÍBhêlos & vintoyto , & foy por
mai: ate esta cklade, q4ie he em Arábia no eabo do siúo
pefsico tríiita &. tanta» legeas pelo rio eoirates acima,
& po8 neste caminho, corenta dias pof os vSlos ^ achoQ
contvairos : & nesta cidade se deteue vinte dias em so
despachar porque a cafiJa que ya pêra Damasco onde
ete esperaua dir era partida, & ho Xeque dacidade não
lhe queria dar guia pêra atrauessar ho deserto que ya
de Ba<;orá ate Alepo, dizendo que não acbaua quem se
arriscasse a tamanha perigo como era irê duas pessoas
no mais j porQ as alimárias os comeriâo : & mais que
Bunca euue pessoa ^ passasse ho deserto sem ir em ca*
fila y & parecia que ho Xeque de ho dar por morto se
fosse no mais que com a guia , auia dó dele & não lhe
queria dar auiamfito pêra se ir^ £ com tudo nunca Ao*
tonio tenrreyro desistio^ de ir. E vendo ho Xeque sua
perfia^ muyto espfltado de seu esfor^^^ & louuandoiho
muyto : lhe deu h& piloto 4 ho guiasse , porque naque*
le caminho regSse poios veutos como no mar por nfio a«
uer bi estradas nê pouoados saiuo dous castelos dalar;-
«es; E António tenrreyro & b^ pílpto se partirão ua eiv>
trada de Nouembro ás duaa boraii djes|)ois de mea noy«
te» porque não fossem vistos^ & ya.cada hú em seu dor*
medario que andão de viuie ci«uo legoas ate t^riuta a»-
Ire dia & noy te, & n2o comfi mais de h&a quarta de fa*
rmba b&a v«z no dia & bebd de quinze em quinze dias^
& nestea k^uauão seu mãtimeto de lamacasy biscouto,
farinhas^ manteiga. Vaca cozida & agua. £ partidos de
Bafora ti«arSo por seu camiuho a dia^e por aq^uele es<*
pantoso deserto por õde ná auiào mais ^ alittiarias bra«>
uas. s» vsso», tigr<^, lides & kibos: & aiasiaiiâse quãto
podião donde podia auer alarui^s (<{). andào p^r aíjle de*
serVo em a4uai^es) porqiie os náo toubassepi q sam graor
16S BA fftnomiA DA inuta
des ladrSea, 8c assi caminharâa viMè dous dias sem hqih
ea receberA afronta dai|laa alimárias aalao doag veze»
que 08 quiaerão cometer doua liõe» a que eseaparSo po-*
k> g^raade andar doa dormedarioa: & outra vez de ma-^
drugada correndo a rédea soKa. B tão amedrontadoa fo^
rSo oa dormedarios que eorreráo duaa legoas , & deata
corrida ae eatrepou ho dormedario Danionio tenrreyro
em bQa mâo , & ficou tão manco 2|^ Ihea foy forçado do-»
terSie aeys diaa, no que pasaarSa muyto grande traba-#
lho, & tambt em não acharem em todo este tempo a-'
goa maia l\ qoatro ott cinco vezea em que padecerão
grade sede, & ainda eala ^ achaoâo era amargos. E tor-^
nando ao caminho despois do dormedario ser são, no
cabo destes vinte dous dias chegarão a hfla pequena vi-^
la casteiada^Ss cercada de muro de taipas grossas pouoa*
da dalarues mouros, por nacer air h&a grande fonte quo
lhe regaua suas sementeiras , & auia palmeyras de ta^^
maras^ & aqui se meteo António tenrreyro em bfia ca*
ília que estaua de caminho pêra a cidade Dalepo no ca-^
bo deste deserto: & ho seu piloto se tornou pera^Baço^^
ra : & neste mesmo dia foy dormir a cáfila a outra for«*
ialeza, & dali a corenta legoas sairão do deserto & .en«
Irarão na comarca da cidade Dalepo cerôada de muro te
pouoada de mouros do senhorio do turco, & aqui se ti*
rou António têrreyro da cáfila ^ auia de passar ate ii
cidade de Damasco: & tirado se fey a casa du Venezia-*
no mercador de muyto grosso 8& rico trato que ali fazid
aua abi tacão ^ & em que a geníte da terra tinha grande
credito^ & ohameuasse Mrcer andre, a quê leuaua car*^
tas de Christooão de mSdoça pêra lhe dar auiamentò
pêra aeu caminho &- não ho achou que era em Costãtí'^
nopia a ct|amado do- turco, & por ser inuerno & auer
muyto* grandes neuea qae ninguém eaminbaua esperou
aqui A ntofiio tenrreyrcf cincoehta dias & no cabo se me**
íéo em hOa ca^la que ya pêra a cidade de Tripoli de
soria tudo senhorio do Tál-co, & daqui se embarcou &
foy ler aa ilha de Chipre , & deapois de passar assaz éé
LIVMk mu CAPITYLO hXXlU 167
irabalho em muyto grandes tonnenUs em que se vio,
(oj ter a Itatia, dSde tonou seu caminho por terra pêra
Portugal õde chegou a aaluaroenlo, & deu a el Rey as
cartas Q leuaua , & foy muy graode espftto sua ida por
ser ho primeyro Português que fez aquele caminho por
terra ^ & ho primeyro homem que bo fez só oõ b& pilo-
to^ & que mostrou a el Rey que por berra lhe podia ir
recado da índia ê Iree jneses ou menoa, porque oâo gas-
tou eie mais no tBpo em que caminhou, bem que fez
Diais detença poios impedimentos que lhe socederão»
C A P I T V L O LXXII.
Do que piusou Oonçalo gomez daxeuedo com dom Gor-
da anrriqz na tlha de Báda^
;XjLtras fica dito gook) kwrge eabral mãdou socorrer Ma-
luco por GÕçalo gomez daseuedo i\ partio de Malaca na
entrada de* laneyro «lo an&o de mi) & quinhentos & vin-
•toylo, & chegou a Banda onde achou d6 Garcia aorrt-
qoez ^ auia poucoque chegara de Maluco, & tiaba fey-
la Jiija tranqueyra onde pousaua^ &Goa9alo gomez tam^
1j6 mandou fazer outra, & nisto chegou Vicente dafon*-
seca com as cartas de dom lorge de meiieses & lautos
^ue mandara fazer de dõ Garcia , & ootttou a Gonqalo
gomez tudo o que dom Garcia fizera a dom lorge , re-
queremlolhe secretatndte que ho prendesse & a quantos
yão code & que lhe tomawe ho nouio, & quanto aa
prisam de dom Garcia '& dos outros respondeo Oõçato
g;omez que ho não podia faízer, mas (} Ibe tomaria bo na-
uio .quando fosse tempo. •£ vendo Vicente dafonseca is-
to quistra mâdar a Malaca as cartas fc papeis que leua-
ua de dom lorge p^r algfts Portugueses que auiãodir pê-
ra laa , & como sabiio* Q era contra dom Garcia , que
tambS auia dir dÍo ouue ninguém q ue os quisesse ieii ar,
pelo que os não midou & tornou a dO lorge como direy
a diante* B.vendo^idoai Garcia ViceiUe dafonseca, que
168 9A HIBrORIA DA 1NWA
sabia {| era grande aeruldor & amigo de dom forge lògò
•ospeitou a que auia de «er aua vinda, & por isao ae eo-
fneçou de recear que Gonçalo gomez ho prendesse , íc
tnais porque tanto que Vicente dafonseca chegou, Ma«
nuel falcão que pousaua cóm dom Garcia tendo a mes-*
«na 808peíta<ie Vicente da-fonseca que ele linha, se pas*
sou logo pêra .a tranqueira de Gonçalo gomez, pareçS-
<lolhe que fazia a vontade a dom lorge, porque espera-
ua de tornar pêra Maluco <x)m Gonçalo gomez a (} con-
tou-o que dom Garcia fizera a dd lorge, conselhandolhe
que bo prendesse por isso, & que lhe tomasse ho nauio
em Q ya, & Gonçalo gomez dissimulauá, & Manuel fal*
cSo começou de deitar fama que Gonçalo gomez auia
de prender ilÕ Garcia pelo que fizera a dom Jorge , &
algus seus amigos o começarão dauisar disso, & (\ lhe
auia de tomar ho nauio em que ya por isso que posease
cobro nele : o que não quis fa^oer porque ihe parecia ím-
{)08siuel tomarêlho por Jeuar crauo pêra el Rey fjc da
j>rÍ8am nã se temia porque sabia a verdade por espias
que trazia cõ Gonçalo gomez, que linha assentado con^
sigo de lhe tomar ho nauio quAdo se ouuesse de partir
& não ho disse a ninguém ppr não ser de^uberto: &
quãdo SC ouue de partir pcra Maluco se foy pôr terra
«spedir de dom Garcia que sayo coele ate a praya Õde
se embarcou nos bateis , & alargado de terra se foy de-
rey to ao nauio em que dom Garcia ya ^ auia nome caya*
do, & entfto ho deu dom Garcia por tomado & creo o ^
lhe iinhão dito. E entrado GÕçalo gomez no nauio to-
mou ho pêra leuar a Maluco, & sabendo que dõ Garcia
tinha as velas na trãqueira mãdoulhas pedir, desculpã-
jdose de tomar ho nauio, porque ho fazia a requeriraen-
io de dÔ lorge de meneses capitão de Maluco de cuja
jurdição era aquela terra, & por dõ Garcia as nã querer
4lar lhe tomou bo seu junge em que leuaua mais de qua-
torze mil cruzados, pelo que dÕ Garcia mandou logo as
veias & hjl recado a Gonçalo gomez per Manuel lobo,
estranhandolbe o Q lhe fazia. St por ele mandou hSia car-
LIWO iril^ CAPITITLO tXíStf. . 1^9
ta de crenqa ao mestre & condestabre do nauio, & a ou«
tros em que coníiaua que fizessem o que lhe Manuel lo-
bo dissesse, que foy que quando se partissem fizessem
ée afodò què dessem avela derradeyrp de todps pêra
ficarem na traseira , & ainda entSo ãzessem qu,^ se. em-
baraçauâo, porque entre tanto iria dõ Garcia com gen-
te & tomaria fao nauio , porque Gonçalo gomez por ibe
bo vSto ventar a popa nâo lhe auia de poder acodir*^ &
assi ho tomaria. E eles disserâoque ho fariSo: & ida
Manuel lobo deu Gonçab gomez a capitania do nauio a
Ruy fígueira capitão doutro nauio, cuja capitania deii
a Manuel falcSo. Isto feyto foise ao seu nauio & fezse
á vela, & 08 outros capiíSes coele saluo Ruy figueira,
cujo mestre por comprir o Q prometera a dom Garcia
fez. que se embaraçaua ao dar da vela, pelo c) todos os
outros ja nauegauão quãdo ele deu á sua, & ainda fez
tomar ho nauio por dauante , que era ho sinal a que dd
Garcia auia dacodir, que acodio logo em paraós cõ muy*
ta gente, E Ruy figueira que entêdeo a ruindade ca*
peou a Gonçalo gomez que eslaua vendo ho embaraço
do nauio i & vendo Gonçalo gomez 9 gente que ya do
terra pêra ho nauio & ho capear de Ruy figueira, en«
tendeo logo o que era, & mandou tirar ás bombardâda«
a dom Garcia, o. que fez também Manuel falcão : &\co«
mo Manuel lobo ya na diãteira matoulhe h8a bombarr
dada dous remeiros , & a ele quebroulhe hiia perna ; .0
que. vendo dõ Garcia desesperou dauer o nauio &{tor«
nouse, &.Ruy figueira seguio sua via a (Xms ,Gonça)oi g(H
n^z que partio na fim DabriJ. , . .. ? 1
't
UVRO VII.
170 DJL HliTOftIA DÁ IKmA
C A P I T V L o LXXIII.
y
De como Aharo de saya vedra tomou húa gákotm cm
Portugueses ^ catíuou muytos dos que yáo nelom
Jjim quanto isto passaua eataua dom lorge em grSde
aperto, porque sabendo Fernão de la lorre & oa reja de
Tidore & de Geiloio quSo escorcbado dom Garcia ho
áeixara asei de gSte como de munições de guerra , de»
terminarão de Iba fazer maia apertada qoe dantes, prin-
cipalmfite el rey de GeiJolo que trabalhaua quanto podia
por ganhar todo bo Morro , que deaejaua muyta de aer
aenbor dele, & por lhe oa Castelbaooa prometerem de
lho fazerem aqer foy ele da soa parte & os ajudaua : &
como trazia ali sempre grossa armada pêra esta conquis^
tá tolhia leuarêse mantimentos a Ternate , tomado oi
nauios que oa leuauâo, o que era causa de auer grâdé
fome na fortafeza. E estando a cousa neste estado, che-^
Sou a Ti<k>re hft nauio de Castelhanos, & por capitSo
fi Aluaro de saja redra que partira da noua espanhá
por mandado do gooernador dela por capi(áo mór de trei
nauios S socorro dos Castelhanos que estauão em Tido*
re & deus desaparecerão bo caminho, que segundo se
despoís soube se perderão: & Aluaro de saya vedra nãd
pos mais na viagem de três meses por amor das grades
corrfites que ho mar faz da noua espanha pêra ae ilhaa
de Maluco , & poios vStos que sam sempre a popa. B
estes nauios mandou ho gouernador da noua espanha por
grandes conjeituras que auia que dali se podia nauegar
pêra as ilhas de Maluco. E quando os Castelhanos virão
Aluaro de saya vedra , & souberão donde ya , & a bre-
ue viagem que fizera ficarão rauyto ledos & esforçados
contra os Portugueses, esperado que da noua espanha
lhe iria sempre socorro, a que os Portugueses nã po-
dessem resistir & lhes tomarião a fortaleza , & os mou-
ros seus amigos também tinhão grande contStamento
LIVRO Til. cAPrrvLO Lxxiir. 171
coesta noaa: & determinarão logo el rey de Tidore &
el rey de Geilolo de ir6 tomar a ilha de Moutel cujos
Sangajea erão da obediScia dei rey de Ternate, & muy-
to amigos dos Portugueses* B sabendo os Sangajes este
apercebimSto ho mandarão logo dizer aCachii daroes &
a dom lorge pedindo a ambos que os socorressem : &
Gachil daroes apercebeo sua armada em Q se embarcou :
& dom lorge mandou Fernão baldaya na galeota noua ((
fizera , & deulhe trinta & tãtos Portugueses que fossem
Coele, & mandoalbe que andasse da ilha de Moutel pê-
ra a de MaquíS, & que âsesse a mais crua guerra que
podesse aos immigos. E sabendo Fernão dela torre este
socorro que ya aos Sangajes de Moutel, mâdou logo Al*
uaro de saya ?edra por capitão doutra galeola que fixe*
ra noua , & deuibe corSta Castelhanos. E partido pêra
Moutel topouse cõ Fernão baldaya a quatro de Mayo*
E como erão ambos vaiStes caualeyros em se vedo fize-
rão remar btt cÔtra o outro desparãdo essa artelharia ^
leúauã & desaparelhando as galeotas com as bõbardadas
se aferrarão 9 & pelejarão bH bõ pedaço mui brauamõto
sem se poderS entrar: & neste tSpò foy morto Fernão
baldaya c5 outros oyto. E como os Portugueses ficarão
sem capitão, & por estarê muytos feridos não se pode-
rão inais defender coroho esfor^ primeyro, pelo ^ os
Castelhanos os entrarão & os fizerão rSder, & os.catiua*
rão, & lhes tomarão a galeota, morrfido porS cinco dô*
fes & feridos os mais. U tomada a galeota, Aluaro de
saya vedra a leaou a Fernã dela torre ^ estaua na ci-
dade de Tidore , 8c entrou c5 grade festa , Sc foy recer
bido cft outra mayor & os Castelhanos & mouros ficarão
tão soberbos eoesta vitoria 2} se derão por senhores da
fortaleza , flde foy grade tristeza pola tomada da galeo-
ta & catiueíro dos Portugueses, porí} não ficauão nela
mais decincoêta & Cacbil daroes não quis mais andar
en^ Moutel aufidos^ por muyto injuriado de ácõtecer a|}le
desastre aos Portugueses* andando ele em sua cdpanhia':
tf» deiíãdasua armada S/Moulel t(M'npU8e pêra If ernateu
Y 2
17S ' Sà' SBBTOftlA DA IMDIA '
C À P I T V L o LXXIIII.
como OóçaJo gamex dazeuedo chegou a ilha de Tematêé
E'
estando^ dõ lorge muylo agastado pola tomada àe^
ta gaieota, & p>r Ibe nâo ficare mat» de cincoenla Por^
tugueses pêra defeader a forialeaa^ & por não ter oiâti*
mentos chegou Vicête dafonseca a oyto de Majo^Sc
deuliie noua do grande socorro Q trazia Gõçalo gomes {|
não tardaria. E cÒ fao prazer desta noua náo sintio dõ
iorge náo querer ninguê leuar a Malaca os papeis í) Vi-
cote dafonseca leuaua, & logo se espalhou a noua do so-
corro Q vinha aos Portugueses. E oa Castelhanos cuy*
dado <) sSpre auiâo de vêcer fizerão prestes Aluaro de
aaya vedra pêra ir esperar GÕ^Io gomez ao caminho âç
toroalo com quantos yâo coele^ & leuou duas galeotas ât
ku bargantim, & a armada dei rey de Tidove. £ ele par-
tido chegou Gõçalo gomez á ilha de tíacbão^ õde se via
cõ el rey & soube dele ho estado em Q eutaua a forlale-
za , & deixou coele Manuel ialcSo ^ por^ como sabia a
imizade ^ auia atrele & dõ lorga quãdo ae partira de
Ternate nã ho quíb lá leuar ate aft saber xsomo .d& lorr
ge estaua coele k soldalos se fosse necessário. E parti»
do dali seguio sua rota pêra Ternate cÕ Ioda sua arma»
da, & topou no caminha a dos Caatelbanos de ^ aufide
irista mãdou embanderrar a sua em sinal dalegria por(|
•nfl cuydassem !^ oa temião: porem Akiaro de aaya ve-
dra não ousou de cometer GrSçalo gomez Q passou por
ele mudando tanger suas trõbetas como ^ os saluana, &
dali foy «urgir no porte de Talaogame, & dabi á forta^
kza onde foy recebido cõ muyla festa : & dõ iorge lhe
entregou logo a alcaydaria mór da fortaleza, & a capí^
tania mór db mar por bua prouisam (| leuaua ào gones*
nador da índia. E sabSdo Gõçalo gomez ho dano ^ dõ
Iorge tinha recebido da guerra , conselht ulhe ^ traba^
ihasae por fazer paz cõ Fernão dela torce : &' dè lorge
lhe disse ^ a oâ auia de fazer se nâ cÕ sua hÕrra , &
ainda por^ Ibe a ele parecia b3 fazela ^ &e fora por ele
Dão a ouuera de cometer. £ auido seguro pêra mãdar
hti Aiessageiro a Fernão de la torre ihe mandou dizer por
iorge go térrea hu caualeiro^ Q ele sempre desejara de
ter paz cÕ os castelbauos, assi por serê christãos, como
por vassalos do Sperador ^ estaua tão liado cÕ el rey de
Portugal por parèteseo & amizade : & Q se ateli não fa-
kira na paz fora por^ não cuydasse Q ho fazia por ne-
cessidade mas agora Q «abia Q não era por isso pois lhe
era vido tamanho socorro como era notório, lhe pedia ^
fizesfi paz, & não fosse causa dauer guerra anlre Chri^
êtãos:.£ deu a Iorge goterrez esles apontaoiêlos com que
auia de fazer a paz.
u Que d& Iorge era cõlSte de fazer paz coele & cò
08 reys deTidore & de Geilolo por amor dele : & lhe da*
ria Paulo hii caaielhano ^ fora caiiuo do tempo de dõ
Garcia: & Q Fernão dela torre Ibe auia de dar todos oa
portugueses {| forão catiuos na galeota & lhe auia de lor-*
Bar ametade da ilha de Maquifi H^ tinhao tomada & era
da obediência dei rey de Ternate: & ihe auia de jurar
^ não auia dajudar os rejs de Tidore & de Geilolo ^ se
quisessem guerra coele. E i) 00 portugueses & casteiha'-
nos {| se paasassC dOa parte pêra a outra não sendo por
casos crimes^ ^« os dessem a seus caf itães, & assi os es-
erauos ^qaie Aigisaem t & que Cacbil daroes & el rey de
Bachâo não fariáo maia guerra aos reys de Tidore & de
Geilolo: & quando Fernão de la lerre não quisesse a
paz eoestaa cõdições que lhe fizesse sobrisso hfl reque^
rimenio cÕ protestac^ão ^ ele fosse obrigado a todas as
perdas & danos Q recrecessem dai-la gueira, assi a el Rey
de Portugal como ao £mperador. Lei»ado este recado de
éÒ Iorge & apõtamCtos daa pazes a Fernão de la torre
em todíos cõeedeo ae não na restiluiçã dametade da ilha
de Ma^ui& dizèdo Qi era do Emperador. £ respÕdSdo ao
requerimêto ^ lhe fez Iorge goterrez; fioou a guerra ca-^
mo daotea. .
174 HA HISTORIA Oá. ÍNDIA
C A P I T V L 'O LXXV.
« *
De €omo dom Icrge de meneia àr Fernão de la torre
mandarão pedir socorro kú á ttuíia ^ outro á noua
espanha.
eodo dfl lorge ^ Fernio de la torra n2o quBría a pax
c5 a« cÕdições \ ele apSlaua nSo a quis : posto (} foy c5*
(ra ho parecer de GSçalo gomex & doutros Q forSo coe*
le, Q dizião que deuía daceilar a paz sS se .dar .ameta*
de da ilha de Maquift, -mas dom lorge não quis porQ lhe
parecia aquilo cou^rdia : & v&do ^ nSo fazia a paz^ &
que a guerra auia dir em erecimSto; & enteadédo em
Gõçalo gomez ^uao pouco ho auia dajudar a ela quis mã-
dar pedir socorro a Malaca & á índia assi de gente co«
mo de fazenda pêra a feyloria Q ja nã auia nhfla por.se
gastar toda como chegou , & mais pêra mâdar por Si*
mão de vera que queria mandar em hít nauio os autos
& eslormõtos ^ tirara de dÕ Garcia pêra ho fazer pren*
der antes ^ se fosse pêra Portugal , & determinou que
fosse no nauio cayado ^ éstaua carregado de crauo. E
dadas as cartas em <} escreuia ao capitão de Malaca &
ao gouernador da índia quanto acontecera despçis de
ser capitão da fortaleza, partiose Simão de vera no nar
uio que digo. E chegado á ilha de Mindanaoipy morto
com quantos leuaua poios da terra.que lhe tomarão ho
nauioy ou se perdeo por^ nOca mais pareceo, & assi não
ouue efieyto o ^ dd> lorge queria. E sahSdo .Fernão de
la torre como dõ lorge mahd^ra Simão de vera a pedir
\socorro a Malaca &.á índia sobre lho Gòçalo gomez Je-
uar tão bÕ oreo q queria destruir de todo os Ca^telha?-
nos, &• pêra tãbõ ter gSte com 2} se de/endesse^ acordou
«cõ conselho de mãdar pedir socorro aa noua espanha, e^
creuendo ao gouernador dela o ^ passaua , & t\ alem da
gSte dar mas lhe mãdasse^officiaes pêra ffizer hQa foctu-
leza de ^ tinha necessidade grãdissima por jnãoter eoi
-.••»«r
LITBO nu CA PITTtO LXXV. 175
^ se recolhesse. E coesle recado nadou Aluaro de saya
fedrâ no nauio em (| fora, & pêra credito da tomada da
galeota dos Portugueses leuou alg&s dos ^ forSo oeia ca*
tiuos & forSo Fernão romeiro patrXo da ribeira, lacome
ribeiro comitre, & h& escríufio pubrico dlt fortaleza: &
assi outros Jous Portugueses Q se passarão pêra os Cas*
telbauos, & pedílrão Q os mandasse cÕ Aluaro de saya
tedra , hQ auia nome Simão de brito patalim , & outro
Bernaldim cordeiro* E partido Aluaro de saya vedra a
qualorze de lunho pêra a noua espanha, estando surto
no porto de hQa ilha Q se chama Hamey c6to & selen-^
ta iegoas de Tidore, determinou Simã de brito cÕ Fer*
não romeiro de queimarem ho nauio , por{) Aluaro de
saya Vedra não fosse pedir ho socorro , & não achando
fnaneyra pêra isso furtarão ho batel & aualro escrauos
A ho remassem , & tornarãse todos pêra Ternate , & cõ
rartarS este batel pdserão Aluaro de saya vedra em con^
di^ão úe não ir por diãte pornã' ter batel com Q se ser-
wsse : & todauia foy , mas achou logo ho vento por da-
naste, & por tãtos dias que lhe pareceu ^ era ali geral
h por isso se tomou pêra Tidore onde foy ter em No*
uembro* E Simão de brito & os outros Portugueses ^
fugirão no batel forão dilha em llhá sofrendo muyto má
vida de fome & de trabalho ate que forão ter antre hQas
iilias onde se deixarão ficar três de cansados fc os tree
seguirão auante ate a ilha de Garmelim do senhorio dei
rey de Tidore , onde sendo conhecidos por Portugueses
forão presos por amor da guerra que sabião que el rey
linha coeles a qu6 logo forão mandados : tu conhecSde
os Fernão dela torre Q yão com' Aluaro de saya vedrá
tene deles má sospeita ^ pelo Q oe mãdou neter a tor*
mSto èu confessarão a verdade. È por esta tretçã madoo
Fernão dela torre degolar Simão de brito & enforcar
Fernão romeiro Ic ho outro ficou eátiuo.-Edespois dts^
to se tornou a falar na paz, mas não se tomou nbfla
concrusaai por Fernão dela torce não querer alargar a
metade da ílha^ de Maquiem : do ^ dom lorge andaua
176 DÁ HfSTOHIA DA mDIA
Hiuylo agastado, & mais por^ quisera ir destruir a ch-
dade de Tidore, & Gõçalo gomez nunca ho quis ajudar
nem quis mandar os Portugueses que forSo coele^ & dK
sia {) não fora a Maluco se não pêra fazer crauo , pelo
Q (odos lhe querião b6 & nSo faziSo caso de úò lorge se
não dele, nê dõ lorge n£o ousaua de mandar os Q forte
coele de modo qiie ficaua súbdito de Gonçalo gomez com
quem não ousaua de bolir por não amotinar a gfile &
Irabalhaua fiola leuar por bem. E Gonçalo gomez cÕ ver-
gonha foy sobre a ilha de MaquiS pêra tomar os lugares
^ forão dei rej de Ternate, & foy coele Cacbil daroes
mas cnfadouse logo & tornouse sem fazer nada, nS quis
mais sair de Ternate se não quando se foy, & por não
ter rezão de ir darmada alargou a alcaydnria mór & a
capitania mór a dom lorge & todo seu feyto era fazw
crauo; & dom lorge deu estes ofiicios a Lionel de lima
que cuydou que ho fizesse melÍK)r !\ Gonçalo gom^z , &
mandoulhe pagar date mão hQ anno dordenado, mas ele
ho fez tão mal, Sc valedhe a dõ lorge que os Caslelhanos
CÕ medo da gente que sabiSo que estaua na fortaleza fa«
zião a guerra mais branda, & tinbãomuytas vezes tre goas;
CA P I T V L O LXXVI. !
m
De como Marltní afonso de melo jtisarte se perdeo na
cosia de Bengala.
'Xcuernando Martim afonso de melo jusarle em Palea*
cate rompeose na índia ho segredo de sua ida a çundal^
& algus amigos dos (| leuaua na armada lhes escreuerão
•verdade donde auião dir: Sc estes derâo a noua a outros^
de modo que foy sabido pelos da armada do %)ue se rouyr
tos escãdatizarão poios enganarem , & bus fugirão pot
não irem a çunda, & outros se conjurarão pêra queimar
rem os nauios da frota tão danados estauão, & hua.noyv
te lhes poserão ho fogo, & se nã fora acodiribe Mart! «^
íoQso muy asinha & apagar ho fogo cÕ muyta diligencM
LTVIO Til. CAPITVLô LXXVt. 177
éles forSo queimados, & por mais deuassas que tirou pe«
ra saber quem ho fizera nunca ho pode saber, mas sou--
be de muytos que estauão pêra fugir por n<^o irê coele
& estes mandou prender, & aos que erao fugidos tomou
as fazendas. C passado bo inuerno com notuyto trabalho
destas amotinações partiose, & porque soube que antre
Bõgala & Pegu andauão certas fustas de rumes fazendo
presas, surgio em bua ilha- chamada Ncgamele defronte
da cidade Darracão a esperar as fustas i\ auião ali dir
ter: & estando surto sobreueolhe tamanho temporal de
veto que não podendo bo nauio sofrer a amarra seleuott
& arribou, & os outros capitães também arribarão, &
flão podendo ler coele se apartarão de sua conserua, &
despois de cessar a tormenta se achou só, & determi*
nou de tornar á ilha donde se aleuantara pêra ver se a*
4)haua hi os outros capitães : & nauegãdo per antre hOas
ilhas deu ho nauio em hQ baixo onde ficou, & porque a
gente não pelejasse sobre tomar a barquinha do nauio
pêra se saluarS hQs & outros não, mandou a hu fidalgo
chamado André de sousa que se metesse nela, & não
consentisse que ningu^^m entrasse dentro, & pêra se sal-*
uar a gente toda mandou muyio depressa fazer jangadas
«dalgds paos das obras mortas do nauio & darcas , esfor-
çando a gente que «todos se «aluarião. E estando nesta
•ocupação seria a mea noyie quando ho nauio adernou ,
.& tÕbouse todo pêra hQa parte, que lhe não ficauão de&^
cubertos mais queos «castelos. E como isto foy supito &
de noyte ouuerãse de perder quantos estauão dentro
' mas acolherâse aos castelos & ali ficarão, & as janga-
das que eslaufto começadas se perderão, & eles ficarão
molhados & quasi despidos pêra se deitarem ao mar cuy*
' âãdo que não tinbão outra saluação: o c| vedo Martim
afonso os deieue & chamado André dje sousa que che-
gasse á popa do nauio se roeteo na barquinha leuando
diante a Tbome pirez que era ho senhorio dele , & des-
. pois se meterão outros que Alartim af5so chamou por
seuA nomes, & não ficarão mais que seys Portugueses &
LIVRO VII» z
178 Dá historia BA ÍNDIA
08 egcrauos , que pediSo chorando que os lomasseni ^ 8c
era piedade ouuilos : mas por ser de noyte & Mariim a-
fonso temer que se ço^obrasse a barquinha com ho peso
da gente não os quis tomar ^ promelendolbes com jura-
mento de tornar por eles tanlo que posesse os outros
em terra , que por nSo caberem & temer que çoçobras-
sem os não tomaua, & eles disserão que assi ho espera-
uão nele. E Martim afonso, se foy caminho da terra
que seria donde eslaua bo nauio como de Lisboa a Al*
mada, onde chegou sendo ainda de nojte, & bo rolo do
inar era tamanho & tão bruuo que fazia muy grande es*
carceo, & por isso não ousou Martim afonso de se che-
gar a terra, & mandou fora dous marinheiros pêra ve-
rem se era praya ou penedia, & estes não tornarão mais,
& parecõdo a Martim afonso ^ se afogariâo não quis
que saysãe mais ninguém, 8c tornou ao nauio pelos Pois
tugueses que lá ficauão por ver que caberião na barqui-
nha, & não quis tomar nbS escrauo porque não çoc^o-
brasse. E tomados os Portugueses tornouse a terra onde
deitara os marinheiros, & não os achando nem sinal de-
les teueos por perdidos. E com quanto este desastre era
tamanho, & estauão em muyto grande perigo assi no
mar como na terra ^ não sabiâo, naò faleceo a Mariim
afonso esforço : & mostrando grande coração lhes disse.
£m tamanha desauentura como he perder a faaenda, &
a vida 6car em tamanho risco como parece que está a
nossa a principal cousa. que nos ha de consolar, ha de
ser termos por certo Q ho merecemos por nossos pecca-
dos , porque rouyto menos se sento ho mal que vem a
homem por sua culpa que aquele ^ padece sem ela, &
que este que nos sobreueo não he tanto como merece-
mos a nosso senhor : que como pay piadoso vsando de
Buíi misericórdia inliniia nos deu este leue castigo, por-
que se ho dera conforme a nossas culpas oade se perdeo
ho nauio acabarão nossas vidas, & por nao perdermos as
almas que lhe tanto custarão deuemos de crer que aos
deixou coelas , & mais que assi como nos harou de ia-
LIVRO Vir. CAPITVLO LXXTÍf. Í79'
nlanbo perigo nos ba dacabar de liurar de iodo ate ooS'
poer em aaiuo, por isso meus companheiros vos peço
■Quyio que creais isto como ho eu creo, & que espereis
em D0880 senbor como eu espero que nos ha de leuar a
saluamento , & que esta esperança vos esforce pêra não
sintirdes trabalho, fome, sede & outras fadigas que a-
uemos de passar ale termos remédio com que tornemos'
aa índia, & que vamos agora ao longo da costa pêra
ver se achamos os nossos nauios on algus deies em que
nos embarquemos^ & quando não iremos ate Arracão,
oujo senbor he amigo dos Portugueses & dali nos iremos
aa índia. O que pareceo bem a todos, & se mostrarão
muy to esforçados pêra ho seguirem.
C A P I T O L O LXXVII.
Do$ grandes perigos ip trabalhos que passarão Marfim
Afonso ^ os outros ate chegarem a Arrojc&o.
XIj sem leuarem nhHa cousa que comer mais que hum
pouco de bizcoito, & sem agoa nauegarao dous dias ao
logo de terra sem comer nbua cousa , porque por amor
da agoa que não tinhão nâio ousauão de prouar ho bíz*
coito, nem ousaua Martim afonso de mandar a terra
buscar agoa porque n^o via sinal de a auer nem ya na
companhia quem soubesse a terra pêra a buscar, & mais
não vião nhua poúoação. E indo assi nesta afronta ta-'
manha virão hua aidea , com que todos forão muy to le^
dos parecendolheg q«e ati terião remédio dngoa, & Mar«
ttm afonso mãdoo deitar em terra hum fidalgo- ehamader
Francisco dacunha que agora mora no Algarue , & a
\mm Fialho dalcunha ^ pêra que soubessem dos morado-»
res daqaela aldeã se lhe dariao agoa , & quão longe es^
taua do mar. E como Francisco da cunha & ho fialho
chegarão aa aldeã ajuntarãse bem corenta bomSs & to^
majido 06 antre si os leuarSo por força noais pêra Jio aer^
tòo &.oa prendeião, & os que ficauão na barquinha bens
z 2
180 PA HISTORIA DA ÍNDIA
08 virSo leuar mas dSo conhecerão como os leuauSo, &
ouyJarão que lhes yão moslrar algQa agoa. £ estando
esperando por eles sobreueo hfl venlo por dauante com
que ho mar se começou dencarapelar; & receando os
Portugueses algOa tormõla, & também enfadados da má
vida tomarão dali achaque pêra dizerem aMarlim afon*
80 que desembarcassem ali^ o que lhe não pareceo bem
ao menos ale não tornarem Francisco da cunlia & ho
Fialho ) nem lhe parecia bem desembarcarem, porque
como os da terra os vissem desarmados lerião coração
pêra os matarem por amor de os roubarem , & que fa-
fião isto sem receo, porque como não nauegauão não li*
nhão que perder, & que auendo de desembarcar melhor
seria em Arracão como tinha dito, porque ho senhor de-
la como nauegaua & tinha que perder não lhes auia de
fazer nhii mnl com temor das nossas armadas, & por is-
to seria melhor irS lá. E Marli m afonso não dizia isto
se não pêra ver se topaua algus dos seus nauios que tão
inal lhe parecia desembarcar em hum cabo como no ou-
%ro. Mas como isto não parecia assi a todos, disserão
muylos que deuião de desembarcar ali porque não (e-
tiauão mantimSlos, & auia dous dias que não comião,
& yão sessenta & quatro pessoas cõ que a barquinha ya
metida no fundo, & que se alagaria com qualquer ma-
rulho, por isso que ho mais seguro era desembarcar ali.
£ nisto apertarão tanto que Martim afonso disse que
desembarcassem, & porem que ho fazia muyto contra
sua vontade^ & que não era capitão, nem era nada, que
se ho fora não desembarcara, & que não podia ser que
de cinco nauios q^ue se dele apartarão não achassem al-
gum em qae se saluassem por escusarem destar á eop*
iesia dos mouros, & que entre tãto bem se poderião sos*
ter na barquinha, & quando a tormenta fosse tamanha
então desembarcarião. £ ouufndo isto André de sonsa ^
Gonçalo vaz de meio, Nuno fernãdez freyre & outros
dous todos grandes amigos de Martim afonso disserão ,
que ele era seu capitão & ho auia de ser, & que se po*
LIVRO VII. CAPITYLO LXXVII. 181
êesBe aquilo em conselho, & saberião se era pêra fazer
ou não. E posto fezse o que Marlim afonso dizia: &
passando grande espaço que Francisco da cunha & ho
Dalbo não tornauâo disse que ali verião todos que gen«
te era aquela, & quão bom seria desembarcarem. E
sem roais esperar se parlio, porque como não tinha ar-
mas não ousou de sair a saber o que lhes acontecera,
& estes fugirão despois & forâsé aa índia. E indo Mar-
fim afonso ao longo de terra com ho mar bonança virão
hum ribeiro que se metia no mar, com que derão muy-
tas graças a nosso senhor , & por Q ali não parecia po-
uoação segurouse Martim afonso & mandou a Diogo pi^
rez deça, & Nuno fernandez freyre, & a outros dous que
fossem encher dagoa bCla jarra martabana que leuaria
dous almudes. E estado tomando agoa acertarão doua
homens da terra de chegar ao ribeiro com hQa panela
darroz cozido que ainda leuauão quente, & Nuno fer-
nandez lho comprou & leuou a com a agoa a Marlim a-
fonso : & querendo ele partir ho arroz por todos lhe pe-
dirão que ho comesse soo, porque pêra todos não era na*
da & pêra ete soo seria algQa cousa , & não quis se não
partilo & a cada hum coube hum bocado. E porque na
agoa era necessária grande prouisam se fartarão ali de-
la, & leuarão a jarra chea, & por lhes durar molhaua
Martim afonso a ponta dum lenço nagoa & dauao a chu-
par a cada pessoa certas vezea no dia , & bo outro tem*
po tinhâo na boca hum pelouro despingarda pêra não a-
uerem sede » & comião algds bocados de bizcoito pêra
ae sosterem. E coesia adieta tão trabalhosa nauegarSo
cinco dias sostendo os nosso senhor milagrosamente, &
no cabo deles chegarão aa barra Darracão*
IBi 1>A HISTORIA BA IlfDfÁ
C A P I T O L O LXXVIII.
De como Martim afonso foy leuado com os outros per
kãs pescadores aa cidade de çuquiriá.
E
como a Marti iD afonto lhe pesasse mu; to deseStre*
gar aos mouros, porque sabia quão desleais & falsos
sam , Irabalbaua por buscar todos os modos que podia
pêra não se enlregar* E porque sentia nos mais dos Por-
tugueses enfadamSlo de tanta má vida nS ousou de lhe
dizer o {} temia dos mouros porI| nSo cuydassem Q ele
não queria desembarcar se não trazelos na barquinha^
& J\ desesperados fizessem algum desatino, & por issa
dissimulou coeles, dízendolhes que antes que se fosseoi'
pêra Ar ração fossem ver a híis ilheos que ali estauão
perto se por ventura estarifto hi algOs dos seus nauiosy
& quãdo não algii fato se fossem perdidos, que ho mar
ali lançasse, & despois se iriâo pêra Arracão« E con-
sentindo que fossem mandou remar pêra lá, & começa-
do datrauessar acalmou ho vento & ho mar ficou caua-t
do, & era tão vanzeiro que metia a barquinha no fundo
com a agoa que lhe entraua que vazauão com hum ca-*
pacete & com hQa bacinica que leuauão, & aqui se vi-»
rão de todo perdidos pelo que chamarão niuyto deuota^
mete por sam Lourenço a quem prometerão suas esmo«
las, & nosso senhor por rogos do bem auSturado mártir
os liurou deste perigo, a cuja honrra despois mandou
IMartím afonso fazer hQa irmida era bua sua quinta no
t^rmo Dobidos: & líures do mar chegarão ao ilheo, em
cuja praya logo. em desembarcado acharão dous sacos da
bizcoilo todo molhado & hQa arca de pao, & dentro ai*
gQs guingÕes de que despois fizerão arrombadas á bar*
quinha. E nisto conhecerão que algum nauio dos que
buscauão era perdido , & virão que ho ilheo era quasi
tudo praya pequeno & redondo & no meyo dele debai-
xo de hiias aruores altas estaua hum charco dagoa na-
LIVRO Vil. CAPITVLO LXXYIII. 183
diael em Q andauão peixes, mas a.agoa cheirana mal &
amargaua, & por ali auia hQas faueiras como as nossas
com fauas^ húas verdes & outras secas. Os Portugueses
em as vendo arremessarãse a elas com a fome que le-
uauão comendo muy tas : & parece que por terem esta
propriedade os roais dos que as comiâo começarão logo
darreuessar, & sair tudo juntamente como so comerão
algQa peçonha & cayão no chão muyto fracos & desa*
cordados, pelo que os outros cessarão de as comer, Sc
Martim afonso acodio muy triste cuydando que aquilo
fosse peçonha & fez agasalhar os doentes ainda 1} não
auia outras camas se não a área , & assi andou ate que
anoyteceo, & quis lhe nosso senhor bem que fazia líiar
pêra os alomear. E andado passeando Nuno fernandez
freyre & Frãcísco mendez ao longo do mar por não po-
derem dormir com ho cuydado do perigo em que se vião
virão sair dagoa hiia tartaruga, & indo após ela ate on-
de tinha perto de duzentos ouos tomarãna coeles & I&-
uarãna a Marlim afonso que a mandou logo fazer em pe-
daços pêra comerem & fizerão muytos por ser mayor que
hua grande rodela, & as gemas dos ouos deitou em bQa
bacinica & coalhados ao fogo os deu ()or sua mão aos
doentes com que os esft>rçou , & assi comerão todos da
tartaruga assada & do bizcotlo & almeirões cozidos Q
auia ali muytos & coziãnos em agoa em hum capacete
que ainda que era ferrugSto & os almeirões sabiâo a
ferrugem sabião b6 com a fome. E ao outro dia tomarão
outra tartaruga a que acharão mais de duzentos ouos ,
'& coeste refresco sararão os doentes. & esforçarão os sãoe
algum tanto em três d^as que ali esleuerão. E vendo
Martim afonso a gente contftle , rogoulbes que não fos-
sem a Arracão, porque tinha grande duuida no senhor
daquela cidade |K)r royndudes que sabia que fizera a Por-
tugueses que ali forão mais prósperos do ^ eles ySo, mas
que fossem a Chetigão outra cidade dei rey de Bengala
que btl Português dos da companhia que ja fora nela lhe
dizia 4 era petto, fc que ali oa agasalharião bem por a*
184 DA HISTORIA DA INDlÁ
mor que nauegauão, & íinbão necessidade da amizade
dos Portugueses, & todos disserSo Q fossem. E atraues**
sando a costa, chegarão a hua praj^a Õde virão muytos
palmitos, & vendo Martim afonso a terra despouoada
desembarcou ali com todos , & mandou tirar a barqui*
nha em terra, & com pedaços das tartarugas {| ainda le-
uaua & algQs ouos, & cõ ho bizcoito ajutarão os palmi-
tos & refrescarão, & com boa agoa que acharão deixara*
se estar três dias , & de noyte dormia dous marinheiros
na barquinha, & de quando em quãdoseleuanlauaMar-
iim afonso & a vigiaua: & isto fez porque algQs Portu-
gueses lha não podessem furtar como determinarão pêra
fugirem nela & deixarS os outros. E na derradeyra noy*-
íe indo a Marli aCònso visitar achou duas almadias pe*
gadas cõ terra , & cuydando que a querião tomar bra*
dou aos Portugueses ^ acodissem. E sentindo hiis pes-
cadores da terra que estauão nas almadias ^ acodião, a*-
fastarãse de terra & falarão , & Marlim afonso lhes mã«
dou preguntar por hQ Português quejaesteuera em Ben-
gala & sabia a lingoa quanto era dali a Chetígão, & di-
-zêdo que perlo concertou coeles que os ieuassem Já por
dez pardaos que Jhes derão, & os pescadores mentião,
& a cidade que dizião não era Chetigão se não outra
chamada Cuqueriá de l\ era senhor hã mãcebo mouro
chamado Codauaz & por dinidade cão, & ficaua ho no-
me todo Godauazcão, & era vassalo dei rey de Bengala.
E tomado os pescadores a barquinha de toa tirarão a
força de remo quanto mais poderão & em amanhecen-
do aebouse Martím afonso dentro em hil rio, Q ho Por-
tuguês q.ue esteuera em Bengala disse que não era a*
quele ho rio de Chetigão, porem que bem podião sair
por ali ao mar, porque sabia que aquele rio cercaua a-
quela terra como ilha, & forão por aquele rio ate que
anoyteceo: & «isto saltarão os pescadores supitamente
em terra, dizSdo que yão leuar recado ao lascar de Che*
tigão como estauã ali: & dizSdolhe ho Português que
porque mStiáo se aquele não era ho rio ^e Chetigão ,
LITRO !TfK tlA^P^TVIX^ LXVtlT. I8t
diisefSo 4 8Í era, & forise. E Marttm afosso dUse que
e^erassem ate veretti (|iv6 recado leiiauXb os |>e8cãdo-
res, mas eles não lornarfto marâ,' porem forfto dizer a
CodauazcSo que estauSo ali lãioa Portugueses Q anda*
uão perdidos^ & ^ nã ieuauão armas. E ele folgou rouy-
to cÔ a{|la8 nouas porque os tinha por valentes homfta
& sabedores na guerra, & folgou coeles pêra bo ajuda*
reni em hOa que tinha com hH seú vezinho, porque es-*
peraua de ho vgcer cd sua ajuda , & porque era nòyte
nao quis que desembarcassem , & mâdoulhes dizer per
hO homem que sabia a lingoa Portuguesa que nXo se a«
gastassem porque ele era grade amigo dei Rej de Por-
tugal , & assi lho disse bo homem em voz alta sem ho
verê flor amor do grande escuro que fazia. E ouuindo
Afartím afonso estas paiauras em Português & em lugar
onde tSo pouco espierauâo ouuir falar sua lingoa nem
paiauras tão fauoraueis a eles íi<iarão muyto consolados ^
& esperarão bõ remédio pêra a 8alua<;ão das vidas , pelo
que derão muytos louuores a nosso senhor»
C A P I T V L O LXXIX.
D^ como MarÚ afonso ^ os outros ficarão é poder de
CodaiÂOzcão. '
C' . .
odauazcão que estaua rou^o aIuora<;ado pêra auer
os Portugueses, leuantouse como foj manhaã & cauaU
gou acompanhado de rouyta gente de guerra que tinha
junta, & Ido coeie todos a pé se foy á ribeira leuando
diante, seus ínstormClos de guerra que yão tocando por
festa, mas aos Portugueses não lhes pareoeo assi: &
quando virão tanta gSte daquela maoeyra coydarâo qué
os yão pré>inder, & disser âo que não erá siso esperar mais^
que se fossem, porque ho recado que Iheá derão de noy«-
•te da parte do goazil foy pêra os deterem que não fugi8«-
sem , & a Martim afonso lhe pareceo bem & foyse pelo
rio abaixo pêra ir sair ao mar : a gSle de Godauazcão
LIVRO VII. AA
18C nâ HMTOftlA DA fNMA
quSdo ot virio fugir lancearão a pos elea ao longo da ri6
apelidando a terra, & Uradolhea miiy tas frechadas & pe*
dradas, & da ouira baadar d^-rio acodi&o teabaibadorea^
& suas molfaerea & filhos: )& todos eÒ lamafiha fúria quo
parecia qua os querião meler no fQdo^ & valeolbea que
indo assi deu a barca em seco , o que vendo Marlioi a^
fonso ieuaotou h(í lenço em sinal de paz porque oe não
ma lassem & bradou á geot^ que esleuesse queda : & eia
bo fez assi, & pQrque a bf^rca estaua hd pouco afastada
fby necessário desembarcar Marli afooso & os outros m
nado: &eie foj bgo falar aCodauazeao que quando bo
vio lhe fezmuylo gasalbado, & disselhe que não se a-
gástasae polo desastre que Ibe acontecera, & que fizes^
se cota que estaua em Portugal , por^ ele & os outros
Portugueses assi auiao de ser tratados como lá ^ & que
ele os deijcaria ir pêra a índia dentro na moução^ oú os
mandaria quando náo teuesse embarcação por isso que
descalçasse : o que lha Martim afonso agardeceo muy-
to, & ele ho mandou aponsentar com todos os outros em
hâas grandes casas, & lhes mddou dar todo bo necessa^
rio, & panos pêra vestidos dalg&s que disso linhão ne*
cessidade. E k>go ao outro dia chegarão aa barra desta
cidade Duaite wçndez de vasseõcelcd capilSo do btia g^
leota & loâ coelho capitão dk barganti ambos da con-
serua de Alarlim Afonso ^ andauão em sua busca, &
ca barra souberfio dos wesoioa pescadores ^ ali leuarSo
€S Portuguetes como lestauSo na cidade» E os capitães
mâdarão dizer a Martim afdso como eslauâo ali, q de-
terminasse o ^ qiMsrra: & ele pbdio licS^a aCodauatcâo
pêra se if iêbrandolhe o que lhe tinba prometido. £ ete
ibe disse § era irerdade, mas ^ não Ibe podia logo dar
jicdça, & eètoulbe & causa porQ, j) era a guerra ^ linba,
i| eaperatia dacaber co sua ajuda dSIro na mouçSe, &
ení£o khe daria licença, & Q m&dasse dizer aos capitães
<fue estauSo na barra ^ ho* esperassem ^ & enire tanto
lhes dariSo os mantiniêtos de ^ leuessem necessidad»,
Sl Martim afonso bo íe^ m%u
LlVUÔVlKCAMTVXOrUCXX. 187
C A P I TV L O LXXX.
De como Martim itfonso foy liure do catiuciro em qiu
estatuí»
Hd como CodauâzcSo tiniiâi sua gente preetes pêra ir
sobre seu fmigo, parlio^e logo íbu2cIo Marti afori^o e&«
^^S*^) 4 ya a caualo & os outros Portugueses a pé, & io«
dosíleuaoSo arm^as {| lhes Cod^ua^cflo dera, & forão c3
muyto trabalho por ho caminho ser moyto roym & fra*
goso. E a gente de Coda^azcão se espantaua de como
lio podiSo aturar n^o sendo costumados a andar por a-*
quela terra, & tinbâo os pêra moyto, & assi forão por
Mas jornadas ate checarem aa cidade do immigo deCo^
dauazcão que tinha deitado fama que leuaua cem Por*
tugueses com espingardas: a fora bo grande poder de
gente da terra, & assi. alifaoteis», pelo que seu immigo
não ousou de ho esperar & fugio deixando- a cidade des*
}>ejada, & por isso a tomou Codauaício sem nhfla tesi9*
tecia : & dali foy segufdo seu imigo ate ho deitar (ora
da terra que nfloa ousou de lhe dar batalha com medo
dos Portugueses que d^^g^nte da terra não fazia conta
atnda que fora mais da q«e era : assi que ho medo doa
Portugueses fpz fugir bo immigo de GodauaicSo que íi«
cando senhor de lodo a terra de aeu imfnígo se tornou
pêra a cidade de Soré ondestaua sua roãy & doua seua
irmãos , & ho galardão qUe deu a Martim afonso & aos
outros pola ajuda que lhe derão, foy negarUes a licen*
ca que íhès tinha cSc^^ida & pe d i ri hes resgate polof
ff^ixnr ir^ o que- lhes não derSò polo não terS. E quãdo
MaMini afonso vio a pouca verdade de Codauaacão, de-
terminou de fugir dando par(e disso a algtls dos ^ esta*
não coele. E cdcert^do com os capitães que eslauão na
barra ) que. pêra bu' dia certo Ibe mandassem as alma^
dias pos em obra sua fugida hfia noyte despois qi>e sin-r
tM que os da cidade erSo r^olbidõs, & isandou diante
ÁA 2
168 JK4 HISTORIA DA INMA
08 mais dos que estauâo coele com quem foy hQ porta-
guês ^ cõ bâ Manuel de cacereslepaúa os recados de
larti afôso aos capilães & sabia a lerra & Õdestauâo as
almadias l( era dali a quaUo leg;oas: & partidos estcfis
foise Marli m afonso após eles, indo coele Manuel de ca-
ceres : & íslo seria as onze boras da noite : & coma bo
caminho era muyto roym & cdprido^ começarão de can-
sar & aigús ficará & estes querSdo despois ir a pos.os
outros não sabSdo a terra se perderão : & vCdof e perdi-
dos tomarft por remédio tornarSse á cidade , 6de chegat
rao antes damanbecer, & deitarSse em suas camas a
dormir, & antrestes foy Diogo pirez de^. Martilo aíon^
so & os outros seguiráo audnte, & com ho roim camir
nbo & cõ irem de vagar, & partirem tarde da cidade a*
manheceòUies antes Q chegassem aas almadias , & pet
nã serS descubertos embrenba;rãse. .£ tanto Q amanhe*
ceo- soube logoCodauazcIo ^Martim afonso & os outros
Portugueses erâo fugidos, 4o .que Ibe pwou muyto ^ &
mãdou chamar Diogo pires deça & os que eslauÂo coe-
le, & pregunloulbes que como fugira Martim afonso &
08 outros & eles ficarfto, disse que nSo sabia }x)rque
Marlim afonso lhe não dera conta.de nada, & c| acorda*»
do de noyte ho achara uienos^ aoa outros. Codauazcão
bo creo, & mãdou logo hu capitão cõ quatro cèios bor
mSs darmas õbusca de Martim. afonso & dos outros &^
trabalhasse muyto poios achar: & ele os acbou , & 6 a
gSte os vSdo comerão darremessar sobreles pedradas, &
frechadas. sem conto: fc os Portugueses se quiserão der
fender, & Martim afonso nSo «juis^ «tizõdo ^ não era 18*»
po , por^ se bo fora ele cemô^ra primeyro, & ^ quanto
se mais defendessem tãto nuais. alttora^ariãa a terra, &
se ajuntaria mais gente & os matariãa mais asinha, fc
por isso era melhor eiilregarSse. sem escãdalo. £ brada-
do aa gole % não tirasse foysè pareja y & dksse ao capi*
tão ^ os Portugueses erêo tão obedÍ€;i>tei| a quem tii^ão
por capitão Q fazião quãto lhes mandaua, & por^ ele mSr
dará a^les ^ ali vinhão ^ fugííssem que por isso fugitão:
LIVBO Vil. CAPITVLO LfXX. 189
& 86 86 auia de dar algika pena por aQIa culpa que fos:
86 a ele somente porQ ele a tinha. Ho capitão lhe disse
Q não era culpado è fugir, & ^ pesara disso a Codauaz-
câo, por{| folgaua coele & oõ o» outros Porlugueses, )
se fosso pêra a cidade & Q ihe faria mercê, & assi fora.
£ primeiro Q dali abalasse hQs Bramenes dos gêlios pe*-
dirã ao capitão Q lhes mandasse dar bu daQles Portu-
gueses pêra sacriiicarê aos seus pagodes a qu6 rogarão
^ lhe deparasse a^les portugueses, & pois lhos deparará
Q lhes desse bu pêra lhes fazerfi festa : & ele lhes deu á
ha Gõçalo va^ de melo, a que queria mal por^ quando
forSo aa guerra lhe chamara cão perro, & ele não se vin-
gou cÕ medo, & vingouse ali porque vio a sua. E ali foy
logo degolado, sem Marlim afonso n6 nbíi dos outros
ousarê de falar por não poderõ mais. E leuado Marli a*
foBso a Codauazpão, ele se lhe queixou por{| lhe fugia
dSdolhe. tft boa vida, & tornouho a sua graça como dan^
tes , & fàzialbe mercê & hõrra & poro não bo quis dei-
xar ir Dê a nh& dos outros, pelo ^ Martim afonso escre-
ueo tudo o que passaua aos capitães que ho estauão es^
perando na barra, escreuendolhes que se fossem, & es-
cjreueo bua carta pêra ho gouernador em que lhe daua
relação de sua desauSlura, pedindolbe que bo mandasse
resgatar, & os capitães se partirão & derão esta carta a
JLopo vas de sam Payo Q ainda gouernaua a índia , ^
rogou a fafl mouro Dormuz chamado Cojeçabadím que ya
a Bengala , que resgatasse Martim afonso , & os q^a
achasse viuos , & ele os resgatou por três mii cruzados
que deu a Codauazcão, & os mandou á Índia em bua
A»ta sua gouernando Nuno da cunha^ logo tto priueyro
anoo de sua gouernança.
V
190 BA HfSTllAIA BA INMA
C A P I T V L O LXXXI.
De como Simão de s&usa gáluÃo com tormenta foy Ur a
Dcu^hem.
Jl articlos Pêro de faria & Si mio de sousa de Cocbim
pêra Malaca como SlrarSo no golfáo da ilha de Ceilão
pêra a de <;aiTiatra) por ser sempre perigoso ainda que
seja na monção & porque a gale era rasteira mSdou Si-
inSo de sousa abater quanta artislharia leuaua assi gros*
sa como miúda : & quasi no cabo do golfão lhe sobreueo
hua braua tormenta com que se apártarSo, & Pêro dd
faria foy ter a Malaca dde foy entregue da capitania da
fortaleza por lorge cabra! que a seruia, .& Simão dê sou-
sa com bo mesmo temporal foy ter á ilha de çamatra á
barra de Dachem quasi perdido, & cd a artelharia toda
abatida & a gente enjoada & cansada. E sabendo elé
poios da terra õdestaua , quiserase logo ir se ho deixará
ho têpo por saber camanho !migo dos Portugueses era el
rey DachS , mas ho têpo não lhe daua lugar. El rey sa«
bSdo da gale {} estaua na barra mãdou pregdtar f\ gen^
te era & pêra ôde ya , & sabendo (} erãb Portugueses (}
yíio pêra Malaca, determinou de os tomar, & pêra sa-
ber quantos erão, & como yão apercebidos mãdou-visi-
tíir Simão de sousa cõ moyto refresco, dizSdo ÍJ Arigáua
muyto de ir ali ter pêra fazer amizade c8. os Portugue-
ses cd qu6 a desejaua de ter auia dias^ rogãdolhe (} en*
trasse pêra dètro Q lá estaria mais seguro & seria me^
Uior protiido, & -t^ quisesse-^ ho mãdaria febdcar per al«*
guas tacharas. O ^ Simão de sousa lhe ngârdeceo^, di^S»
do ^ não ya pêra dentro por se deter menos, por^ na
hora ^ ho tempo desse lugar se auia de partir. E recea-
do el rey ^ ho fizesse assi , mãdou fazer aquela noyte
prestes mil homes darmas I) se embarcarão em vin(e lã-
charas pêra irS tomar Simão de sousa !} polo seu Q lhe
leuou o refresco soube a gSle ^ tinha, & ^ não leuaua
LIVSO VII. <IAPCT¥1iO LXXXI. 191
Milharia pêra ie defender : & como foy manlfòã os des*
gedio) mãdftdo ao capilSo delas ^ por força lhe ieuasse
imão' de sousa quâdo não quisesse por sua vÕtade , &
por dissíinular mâdouibe diãte hH recado eoi hum cala*
luz : que pois ali estaua que eolrasse pêra dentro porque
lá estaria mais seguro, & que mandaua algOas lancharas
{>era que bo rebocassem. E este recado lhe deu do ca*
aluz hfi mouro que não quis entrar na galé. £ dando-
lhe Simão de sousa a reposta yãose as lancharas che-
gando: & quando Simão de sousa vtoamuytagenteque
ya nelas conheceo ho engano^ & disse ao mouro que lhes
dissesse Q se fossem que lhes não queria dar trabalho,
& ele não se queria ir, pelo que Simão de sousa pedio
suas armas, & os outros lambem se armarão: & bQ fi-
dalgo (} se cbamaua Manuel de sousa pos bo fogo a b&
falcão & tirou ao calaluz pêra que se fosse. Ho capitão
das lancharas vendo que era descuberta sua treição mã-
dou que aferrassem a galé: & tangSdo es fl)ouros seus
inslormStos de guerra, & dando grandes gritas remete-
rão á galé tirandolhe muylas bombardadas & espingar-
dadas de que ferirão algOs Portugueses, & doas ou três
lancharas aferrarão a galé por popa, & saltarão muytoa
mouros dentro sem lhe os Portugueses poderB defender r
& a peleja se começou muyto braua, que com quante
es Portugeeses erão poucos, & os mouros muylos pele-
jara tam esforçadamête que matarão & ferirão muytos
dos que entrarão & os outros fizerão tornar a suas lan-
charas, pelo que os das outras não ousarão mais dStrart
& porem combatião os Portugueses brauissimamente
com espingardadas, frechadas, zagucbadas & pedradas r
& com tudo fazião mortal dano porque como as lancha-
ras erão alterosas & a gale rasteira ficauão muyto senho»
res dos Pc;rlugueaes & tratauão es muy mal, poro não^
ianie que não recebessem dobrado mal , mas como erão
as noue partes mais que os Portugueses não se lhes en*"
acergaua tanto como neles ^ erito poucos. E desta ma-
neyra diiro« a peleja ate as dea horas , em <|ue Simãe
19t 0A uiaroftrA da índia
de sousa & os outros se defanderSo com esforço (So to-
bre natural j} auendo os mouros por impossíuel veocerS-
noa & espantados de tal valentia domes , & dos muytos
(| da sua parle erâo mortos & feridos se retirarão fican-
do corenla Portugueses mortos & feridos , & toraaráse
pêra a cidade.
C A P I T V L O LXXXir.
De como Simão de soum galuâojby morto na barra de
Dachem 06 quãios yão coeU.
l^abSdo el rey como a sua geote nSo leuaua a gale,
ouue disso muyto grade nienencoria, & màdou logo ir
diante de si os capitães & pregunfoulhes como não le*
uauSo a gale, & eles lho contarão fazendolhe grande es*
pSto da valentia dos Portugueses: do !\ el rey se agas**
tou muyto mais do .2} estaua, & cauaigâdo em bii alifan*
te mandou chamar bo seu capitSo geral com a gSte de
guerra que (inba a cargo, & mandoulhes que lhe fossem
por a gale de SimSo de sousa, jurãdolbes por Mafame-
de que os que tornassem sem ela {) os auia de mandar
matar com a mão daquele alífante , & logo os mandou
embarcar em cincoenta lancharas, o que fizerão com bS
má vdtade por auerS grSdc medo aos Portugueses pola
valSlia 1\ neles virSo na peleja pnssada. Ho capitlo roór
dos mouros despois 2| chegou á gale fez j| nS ya pêra pe*
lejar, & leuãlãdo hda bãdeira de paz disse Q queria fa-
lar a Simã de sousa Q chegou a bordo a saber o Q qoe*
ria. K ele lhe disse da parte dei rey Q estaua muyto a-
gastado, pori| sendo tamanho amigo dos Portuafueses &
desejado de lhe fazer hõrra & gasalhado recebera de seus
x^assalos tamanha oífôsa como lhes fora feyta , & í\ logo
mãdara prSder lodos a^les 2| lha fizerâo, & pêra ver bo
castigo i\ lhes daua , lhe rogaua muyto (| entrasse pêra
dêtro, & {} 6caria louuado. O ^ouuido poios ^ estauão
cõ Sinião de sousa, muytos começarão de dizer Q se ê*
LIVRO VII. dAPITVLO LXXSriI. WS-
(regassem porQ ja nfio podiâo pelejar: o () ouuindo Si*
nâo de acusa ouue medo que se acnotioasse a genle, &
por isso lhes quis folar, & disse ao capitão dos mouros
Q aueria conselho com sua getile , & se eles quisessem
k pêra dSlro. E como ho capUâo receaua muyto a pele-
ja com os Portugueses foj contente de SiinSo de sousa
auer ho conselho que dizia pêra ver se podia escusar a
peleja & afastouse. E Simão de sousa pregutou á g6te-
da galé que dizia, & muytoa lhe dísserão que farta bem
de fazer o c]ue ei rey deDachS queria pois por força fao
auião de fazer por não ser6 poderosos pêra se defSder
posto Q todos os l| ali chegarão forão viuos & sãos quan-
to mais sendo a mayor parte mortos & feridos : &; pode-
ria ser que v6do el rey i\ se punhão em seu poder 4 '^^^
goardaria sua pataura & faria o que dizia, & Q -se tira«
ria dalgQ mao pensaroSto se ho tinha, o ^ mais asinha
poeria em obra vSdo í\ não se íiaua dele. Ao que Simão*
de Sousa respõdeo, f\ claro estaua Q quS era tãô mortal
Imigo dos Portugueses como el rey Dachê que se os a-^
colhesse (} os auia de matar de mny cruas mortes: &
pois auião de morrer sem as vingar, Q melhor morrerião
vingado as, & farião o ^ deuiã a Christãos & a caua-*
leyros, & entre tãto {| fazião o i) deuião lhes daria nos-
so senhor maneyra pêra se saluarS : & quando não po^
dessem saluar as vidas l\ lhes saluaria as almas por sua
misericórdia pois morrião por seu seruiço. E animados
todos coestas paiauras, disserão^ fizesse o () lhe bem
parecesse , & Q eles ho seguerião : o (} lhes agardeceo*
muyto, & disse ao capitão dos mouros que não auia áè^
trar pêra- dStro (| se podia ir ^hóra : & ele por estar a«»
noeaçado dei rey nã ou$ou de se ir , & mãdou aos seua
Q cometessem a galé & trabalhassem muyto pori| tomns-*
sg os Portugueses viuos, ^ assi lho eneomSdara el rey,
& ^ lhes iSbrasse como os ameaçara se fosse sem a ga-«
le , por isso ^ fizessem por salu»r as vidajs. Os mouros
remeterão á gale c8 tamanhos alaridos () eles somSte a-^^
bastarão pêra desatinar os Portugueses, quanto mais tft*^
LIVRO VII* BB
194 1>A HISTORIA DA IHIMA
tM nuuSs de frechas Q tolhíão a claridade do «oi: tSta
floma despigardadas Q escureciSo ho ár^ pedradas, za*
gdcbadasy azagayadas & oulros arremessos tãp espesos
(| pareciSo bua grossa chuua. £ aesla reuoUa se chega-^
rã talo cerlas lacharas á gale A saltarão algfis mouros
dfilro , {| logo forão somidos pelos Portugueses Q cada
bu pelejaua por vinte, & não descansauão momSto & íi-
aerão afastar as lancbaras dos mouros, que como erão
muytos se fibaraçauão bus com os outros porque todos
querião ser os dianteiros que pelejassem, & cõ a fadiga
Q nisto tinhâo podião os Portugueses aproueitarso deles,
assi cõ os tiros miúdos como cÕ as espingardas & outrae
armas ofieosiuas com que derribauSo bOs sem pernas,
outros partidos em pedai^os. B era cousa espãtosa de
Yer como os Portugueses se podião defender de tanta
multidão de mouros, quanto mais oEDBdelos com tama*
nha destruirão. £ porem eles não estauão sem ela que *
erSo algQs mortos & os oulros quasi todos feridos, & os
mouros ^ bo não sabião mas cujdãdo Q estauão em to-
das suas forças por passar de Ires boras que duraua a pe-
leja I & 4 nem somSte os poderão nuca abalroar , como-
^arão de se alargar da peleja ainda que os capitães Ibes
kmbrauão bo ameaço Q Ibes el rey fizera, pelo que Ihea
não daua espantados de lã braua defensão domSs. £ vfr-
do bft mouro ^ andaua na galé de por força, como os
mouros se afastauã lãçouse a nado por ninguè atfttar ne*
)e, & íoj dizer aos mouros que nã se íbssem, porí^ os
portugueses erão mortos os mais deles, & os outros tão
feridos & cansados ^ nã fie podião defender, & se os eo*
batesse mais bQ pouco ^ Ibes tomaria a galé, & bo ca^
pitão mãdou este mouro a el rey pêra que Ibe disesse a^
quilo, & assi os feridos ^ tinha, pêra (| lhe mãdasse g&^
(e de refresco, &• munições ^ logo mandou. E chegada
esta gSte tornara os mouros a cometer a galé ^ entra*
rã muytos, por ja os Portugueses que auia viuos lhes
jiã poderem resistir : porí) nã pelejauão mats ^ Simão
de sottsa, Manuel de sousa, dõ António de crasto, An-
LHTRO TTI. CAPITULO hXTXU» 196
loniò caldeira^ lorge dabreu, & outros três ou quatro:
& cô quanto faziSo façanhas , os mouros os fizeráo reti-
rar ate ho pé do maato ^ & pregarão duas frechas a d6
Anloaiode craato na aate dãa choça com que pelejaua,
& ficaráolhe as mfios pregadas, & aasi pelejou ainda hd
pouco, & foyselhe tSto sangue das muytas feridas que
Unha que cayo morto, & Simão de sousa, & Manue} de
aousa com os outros fizerSo ali cousas tSo milagrosas que
nio se pod6 contar, & b6 vingarão suaa mortes assi os
que ali morrerão, como os Q despoís acabarão suas vidas
ê poder dos mouros. B na fúria desta. peleja deu h& za-
euncho darremeso a Simão de sousa sobre ho coração ,
ac com a força que leuaua lhe rôpeo as coiraças & ho co-
raçS & caio morto, & os que ficarão viuos que seria vin-
te cinco, em que entrauão António caldeira, .& lorge
dabreu, se entregarão, prometendolhes os mouros as vi*
das, & eles se derão por nã terem forças nem fôlego pê-
ra se defenderem , & com este Simão de sousa acaba-
rão de morrer quatro filhos de Duarte galuão. s. lorge
^alaão, Manuel galuão, & Ruy galuã que todos falece-
rão nestas partes seruindo os R^ys de Portugal como
eeu pay & ante passados seruirão. Tomada a galé pelos
mouros não ^rião goardar ho seguro () derão aos Por*
tugueses , & queríinos matar se os capitães não acodi-
rão que lhos tolherão: & eles vfido que nã podião vio-
garse deles dos muytos parentes & amigos Q lhes mata-
rão , vingarãse ean Simão de sousa ^ fey to em pedaços
ho deitarão ao mar. Tomada assi a galé foy leuada a el
rey com os Portugueses que escaparão viuos, a ijel rey
fez muyto gasalhado por dissimular sua maldade , & fez
Q lhe pesaua muyto da morte de Simão de sousa & dos
outros ^ ele mãdaua chamar pêra lhes fazer gasalhado
& hõrra como desejaua de fa^er a todos os Portugueses
de que era grande amigo : & como eles fossem sãos Q
escdhessem antre si algQ que fosse dizer da sua parte ao
capitão de Malaca , <} mãdasse por eles , & pola galé &;
artelharia, & polo mais que lá leuesse que fora dos Pot-
BB 2
196 DA HISTORIA DA INOFA *
lugueses, porque tudo*daria de boa vontade. £ isto
2ia com tenção que ho capitão de Alalaca mandasse al-
gu nauio, & Q ho tomaria com a gente que fosse oelet
& pêra mais enganar os Portugueses mandoulhes dar
muyto boas pousadas & curatos cõ grade diligencia , &
darlhe todo ho necessário tão largamSte como se este*
^uerão antre Gbrislâos.
C A P I T V L O LXXXIIL
Dt como d6 Garcia anrriqz chegou a Malaca.
JL/om Garcia anrriquez () ficou na ilha de Banda áenh
pois que foy tempo partiose pêra Malaca , & no cami-
nho.tomou bu jugo de mouros laos. E auido seguro de
Fero de faria que ho oão prendesse nê a nhQ dos Q fo-
rão na prisam de dom lurge, se foy a Malaca , onde lhe
j^ero de faria mandou embargar toda sua fazenda , dizè*
do ^ lhe não dera seguro mais Q pêra ho nã pr&der. E
despois estando em Malaca hCIs embaixadores dei rey de
Panaruca, que he na ilha da laoa que yão assStar pas
& amizade c5 Pêro de faria , se leuSlou bu arroido an^
tre os criados destes fibaixadores & os Malayos, que foy
causa de se desembargar a fazêda de dõ Garcia , & foy
desta manevra. Pousauã estes embaixadores S bua cer-
ca de taipa junto da pouoaijão dos Qudis, & passando
hu dia há home da terra per junto desta cerca com hil
pouco de dinheiro virãiho hils criados do êbaixador: &
-tomapc^lho por força, ao que aeodirão aigtls da cidade:
& estando em rezões com os ^ tomarão ho dinheiro Q ho
tornassS passou bo meirinho da fortaleza , a Q requere-
rão que ho fizesse tornar, & querêdo ho fazer foy so-
brisso morto pelos laos. E os da cidade vendo isto se a-
colherão cõ medo , & começasse hQ rumor que os laos
de Panaruca & quãtos morauão em Malaca erão feytos
amoucos, & \yofÍ\ atras disse ^ cousa sam amoucos ho
não digo: & este rumor chegou á fortaleza, & acodio Io-
LIVRO VIKCA-PITVLOIAXXniI* 197
go Pero de faria com gente armada xuycficlo (} era tret-
^ ^ & quando foy acbou ja dõ Garcia aorri{|z Q cõ aete
ou oylo Portugueses da sua companhia acodio ao arrol-
ado cõ suas armas & fez deter os laos que nã passassem
auante & matou doze deles , pelo que quando chegou
Pero de faria ouue pouco que fazer em os fazerS reco-
lher, & tudo se logo apacificou. £ porque dom Garcia
acodio a tão bõ tempo lhe mâdou Pero de faria desem-
«bargar sua faz&da dando fiança dOs tantos mil cruzados,
-pêra se dom lorge de meneses quisesse dele algfla cou-
.Mà , & assi escapou dom Garcia em Malaca»
C A P I T V L O LXXXIIIL
De como el rey de Dachem mandou c6 engano dizer a Pe-
ro de faria que lhe daria os Portugueses ^ a gaW.
iJ^ este tempo auia guerra antre el rey de Dacbero , &
el rey dauru seu vezinho. £ sabendo el rey Dauru a
•muyta rezão Q os Portugueses tinbão pêra serem fmigoB
dei rey Dachem, mãdoii pedir ajuda a Pero de faria ca-
pitão de Malaca, mandâdolhe dizer por seu embaixador
•como tinha guerra cÕ el rey Dachõ, & ^ confiado na a«
mizade Q tinha c5 os Portugueses do tempo Q lorge dal-
boquerQ fora capitão de Malaca lhe mandaua pedir a-
jttda contra el rey de DacfaS que sabia que era !migo
•dos Portugueses, & t\ lha auia de dar por mar pêra coe-
la pelejar a sua armada com a dei rey de Dachem em
quito eles pelejassem por terra, & () esperaua de se vin-
gar dele fc vingar aos Portugueses das oflensas (| lhes
tinha feytas. £ partido este embaixador dei rey Dauru,
foy logo sabido dei rey de Dachem : do (} ele ficou muy-
to agastado, porque a fora recear muyto el rey Dauru
por ser poderoso de gente, & g6te esforçaíla & guerrey-
•ra, auia grande medo de lhe ho capiláò de Malaca dar
ajuda, porQ dandolba era sem nhQa redenr^ão destruído:
•& estaua certo darlha assi por os males ^ os Portugue^
198 mà nitn^AiA m rnmA
•n (iobSo dele recebidos como porque naljla oonpiDçSo
auia fDuytos Portogueaes fi Malaca , asai oa i) eatauflo
daxitea , como oa que forSo cft Franciaco de aá a çuda ;
& 08 Q leuara Pêro de faria da índia, & oa que auia de
leuar Marli afonae de melp joaarte Q ainda nSo aabia
que era perdido, porem aoubera doa Porloguesea ^ (i-
nka caliuoa ^ auia dir a ter a Malaca. E ISdo por cer-
to darse a ajuda a el rev Daoru , determinou de Ibe.a-
t ai bar com manha qua lha nSo deaaem : fazendo como
díaS da necessidade ftrlude, & requerer amizade ao ca-
pitão de Malaca cfi oATrecimento de dar oa catiuoa & a
galé, & todo ho mais Q tinha tomado aos Portugueses.
E porfi não auCturasse nhfl dos seus nesta embaixada ,
& tambS pori) parecesse ao capitão de Malaca j) tinha
vdlade de cõprir o Q dizia, mandou coela António cal*
deira, & em sua cõpanfaia outro Portuguea, & primey-
ro (\ bo mandasse lhe fez muytas mostras damizade a
fora aa fi tinha feytas a todos em os agasalhar & curarei
& dísselbe a causa por^ ho mãdaua & não a nhã seu^
& Q se o capitão de Malaca quisesse ^ mãdasse logo pe-
los outros Portugueses, & pola galé & artelharía, asai
dela como de hQa nao Q se perdera na aua barra , & a
que tomara na fortaleza de Pacem : & que não queria
outra couaa se não sua amizade & a dos Portugueses*
E ao tempo que António caldeira chegou a Malaca ti-
nha Pêro de faria prometida sua ajuda ao fibaixador dei
rey Dauru, & quando vio António caldeira & soube ho
recado <) leuaua ficou muyto ledo parecfidolhe que co-
braria os Portugueses que estauão catiuoa , & a gale &
artelharía , & que nisto ganhaua maia {| em dar ajuda a
el rey Dauru : & não ele sómête estaua ooiato muyto le-
do mas os maia dos principais da fortaleza , & dõde Pê-
ro de faria tinha prestes Diogo de macòdo oapitão mór
do mar de Malaca pêra ir por mar coro outros capitães
ajudar el rey Dauru começou de ho ter. O () não pare-
cendo bem a Marti m correa por ser seu amigo & ter
coele credito lhe disse que visse bem o {| fazia, por(J[ to-
LIVRO Tilt CâPlTTLO LXXnilI. 19r
da aj)lâ amizade dd rey Dacbd Ibe parecia fingida , &
^ não era pêra outro fim se náo pêra aaber àe daua aju-
da a el cey Dauru , ou se fazia armada prettea pêra ir
vingar a tomada da gale asai oomo auia pouco 4 ae fi-
zera em iongú , por^ bem deuia ele de saber que auia
muyta genle 8 Alaiaca. E a reaào por onde Ibe parecia
4 ú rey Dacbfi mandaua maia A ntonio caJdeira pêra sa*
ber aQiaà duas cousas que cd determiiia<;ão de fazer a-
mizade, ^a coobecer ele por experiência que os mouros
oão comeliào amizade se nSo quando yíío ^ lhes era
muyio necessária, & que el rey Dachõ ainda nã se vi-
ra apressado dos Portugueses pêra cò necessidade dese«
jar sua amizade , antes ele lhes tinha feytas muytas &
muy graoes offensas, na morte de lorge de brito, na
tomada da fortaleza de Pacem, na da galé de Simão de
Sousa & outras, porQ nunca ouuera castigo: pelo ^ auia
destar muy to soberbo, & oSo pedir amizade com ofire*
cer tãtas cousas a qu8 lhe não pedia nhfla» o que lhe fa-
zia sospeitar o que sospeitaua. E parecfido isto bfi a Pe*
10 de faria, mandou chamar António caldeira, & lhe rc*»
sumio perãte Martim correa quanto lhe ele tinha dito,
rogandolhe muyto que atentasse b6 se se poderia ter a*
quela sospeita dei rey Dachem. Ao que ele respõdeo
que não abonado ho muyto, & dado ho por amigo muy
fiel dos Portugueses , &. acreditando ho tanto que disse
§ por nbft pre<^o deixaria dè lhe tornar com qualquer
reposta que lhe dessem pula confiança 1} nele tinha. O
& visto por Pêro de faria, teue por sem duuida ^ el rey
Dacbè falatta verdade pois António caldeira fiaua talo
dele, 4 estado líure se queria tornar lá sem reeeo áe ho
catiuare : & mais pori) dilatado ele a reposta a el rey
de Oachê, lhe disse António caldeira ^ se a mais dila-
tasse & ho aáo quisesse mandar a Dacbfi % ele se iria ,
por4| auia de cAprir u ^ prometera a cl rey de DachS &
aos Pof tuguesea que ficauão coele de tornar com a re-
posta. E quldo Pere de fiiria vio sua deterão iaaçSo^ a-
cabott de todo erer 4. ele tinha por verésK^yro o que el
20a DA HISTORIA DA ÍNDIA
rej de DachS lhe mandaua dizer, & despacbouho logo
escreuendo a el rey de DachC que foignua muylo coro
8ua amizade^ & ^ a aceitaua em nome dei Rey de Por-
tiJgal, & dali por diante teria nele hu bÕ amigo, & re-
ceberia dele fauor & ajuda quando lhe fosse necessário,.
& que logo mãdaria pelos Portugueses & polo mais Q di-
zia , & com a confiança que linha de sua amizade, nâo
queria dar ajuda a el rey Dauru que lha mandaua pedir
conlrele, & que disso poderia estar seguro, & mandaua.
hQ Português casado em Malaca que sabia bem a ferra.
& a lingoa dela que ieuasse António caldeira em hii ba-
lanço & ho posesse no reyno de Pacem onde estaua el
cey de Dachem & lho entregasse. E partidos de Malaca
forão ter a hua ilha , onde faz6do agoada forâo mortos-
poios moradores dela que erão mouros , pelo que el rey
de Dachem não ouue reposta.
C A P I T V L O LXXXV.
Do ^ passou antre Pêro de faria ^ el rey Dauru , ^ el
r^y de Dachem^ -
JL/espedido António caldeira ' pêra DachS, como Pê-
ro de faria tinha assètado de nã dar ajuda a el rey Dau-
ru despedio ho seu embaixador respSdendo que não po-
dia ajudar a el rey Dauru contra el rey- de Dachem por
amor dauer aqueles Portugueses que tinha catiuos, &
por cobrar a muyta ar telharia ;| tinha dei Rey de Por*
tugal que se isso não fora que ho ajudara de-jnuyto boa^
v^ade, & ajudaria côlra qualquer outro- rey. E ouuin*
do ho embaixador esta reposta .tão. fora do que espera-*
na, & despois de ho deterem tãto tempo como ho dete-
uerâo ouue ipiuyto grande menencoria posto t\ ho dissi*
mulou. E sem mais se despedir ^e Pêro de faria se par-^
tio hija noyte muyto secretamente ,' do que pesou muy*-^
io a Pêro de faria, parecendolhe que ya agrauado, &
que el sej Daurui ho ficaria del^^t o ^ ^^nãcqaeria
LITRO Vir. CAWTVLO LXXXV. tOl
porque eabía que el rey Dauro era leal amigo dos Por*
iugueaes , & grande fieruidor dei Rey de Portugal , &
por Í88o deaejaua de ho poupar : & pêra ho temperar de
seu agrauo, mandou lá a liQ Fernão de morais capitSo
dQ galeão como que ho mandaua em seu fauor , & od
grandes disculpas de ibe não dar logo ajuda. E chega*
do ho embaixador dei rev Dauro a ele antes que Fernão
de morais lá chegasse, lhe deu a reposta de Pêro de fa*
ria, de que el rey ficou muyto agastado, & porque se
temeo que desse ajuda a el rey deDachS, despachou lo*
go sua armada que tinha prestes que fosse pelejar com
a dei rey de DachS que estaua no porto de Pacem : &
indo pêra lá topou no caminho hQ paraó em que ya hii
Português da({les !\ el rey de DachS tinha catiuos por
quê ho mesmo rey mandaua dizer a Pêro de faria t\ mS*
dasse logo poios outros Portugueses , & pola galé & ar*
telharia: & isto porI| António caldeira tardaua c5 a re*
posta , & pareciaihe !\ Pêro de faria nã queria sua ami-
zade, por amor dos danos ^ tinha feytos aos Portugue-
ses, & {]ria antes a amizade dei rey Dauru & darlhe a*
juda pêra ho destruirS ambos. E coesla sospeita feruia^
& pêra se tirar dela tornou a mandar aquele Português,
(} topando ho os A urus, como sabião que ho seu rey não
estaua bfi com os Portugueses tomarão este & mandarã-
no a el rey Dauru , que sabSdo dele ao que ya não ho
quis deixar ir, por^ Pêro de faria coeste recado não se
apressasse a socorrer el rey DachS. E nisto chegou Fer-
não de morais ao porto dondestaua el rey Dauru: que
como não era amigo dos Portugueses não <)uts mandar
recado a Fernão de morais, ales defendeo que ninguém
fosse ao galeão. E passando quatro dias qtie Fernão de
morais estaua no porto sem pessoa nhQa da terra ir a
bordo, determinou com quãio lhe aquilo pareceo mal de
se auSturar & ir falar a el rey, o que lhe foy contraria^
do, dizendo que poderia ser que el rey estaria agraua-
do de Pêro de faria pola ajuda qne lhe não quis dar , &
por isso não quereria que os Portugueses fossem a pua
LIVRO VII. cc
SOt Há HléTOmiA DA INX>IA
terra nê eonuersalos^ & que iodo a terra sem eev reea^*
do laçaria mSo dele , & fao prenderia por isso que não
fosse. £ coeso Fernão de morais era muylo esforçado k
aueotureyro n2o quis deixar dir: & cliegado diante dei
rey ^ foj dele muylo bfi recebido & agasalhado , & mw*
trou receber bem as disculpas de Pêro de faria, & que
não lhe pesaua de sua amieade com el rey Dachem por
amor das causas ^ dizia, anlea folgaua muyto de cobrar
por aquela via os Portugueses, galé & arlelharia, & que
nem por isso deixaua de «er seu amigo & ho seria sem<-
pre. E isto (udo era 6ngido, que como vio Fernão de
morais logo determinou de ho prdder & lomarlbe ho ga*
ieáo se a sua armada desbaratasse a dei rey de Dachem,
& isto por se vihgar da ajuda que lhe Pêro de faria n&^
deu. E com tudo quis esperar se vScia a sua armada oa
não , porque não vencendo queria ficar amigo com os
Portugueses , por^ ficando mal coeles receaua q se ajili-
tassem cÕ os Dachõs & ho destruíssem , & deteue Fef«-
bSo de morais oyto dias dando lhe a entender fi ho ti^
nha pêra se fauorecer coele contra seus Imigos, & a ca^
bo dos oyto draa lhe foj noua que a sua armada peleja«-
ra com a dei rey Dachem^ & Q nhQa vencera & se a*
partarSo sem mais pelejarem & a sua se tornaua , & Í0>
go deixou ir Fernão de morais & lhe deu bo Portuguea
que leuaua ho recado dei rey de Dachem, que tinha rev
teudo ate também ver em ^ parauSo a^les negocies, &
por não serem a sua vdtade ho soltou , & mâdou dizer a
Pêro de faria o que ja tinha dito a Feraao de morais que
t^uãdo chegou ao galeão achou Q ho mestre & a outra
gête se ^erião ir deaesperados de ele tornar , pareceir-
dolhe que era oatiuo , & receando que fossem os mou^
ros tomar ho galeão. £ vendo el rey Oauru que sua ar-
mada nâo yencera a dei rey de Dachem não quis pele»-
)ar coele por terra , nem nreies el rey de Dachem quis
eoele guerra, parecendolhe que ho auião d ajudar os Por-
tugueses por não ter afnda repoata de Pêro de foria , &
]ogo se eofitíertarão ambos & ae fixarão amigoa* £ cooio
LIVRO \tll. CEAVtrfXàQI tiXXXVU 109
a anisaáo dei rey rfe Dacheao od Pêra de fiiria era fin-i
gida por amor da guerra de) rey Dauru eomo ae vio de-»
h desapreasado, nSo quia maia amizade com Pêro de fa<<
via nfi dárlbe nada , & pesoulke dos Portugueses q^e U-«
nhã mandados; o que Pêro de faria não soube {>or4|ua
por uBL poder não mandou a Dacbem^ & por lhe fMirecer
que tudo eslaua eerto para de cada vez que lá mandas*^
se, & ae oulão. soubera a verdade. & mãdara ià bila ar^
mada el rey de Daehem ^^Hapcira-o que liaha prometam
do ou fora deatruidou
C A P I T V L O LXXXVI.
De como Nuno da cunha paríioi pêra a índia por youer^
nador dela.
xN este anne de mil & qnfolM^ntos & vintoyto mandou
el Rey dom loão de Portugal por gotiertiador da índia
kft fidalgo chamado Nuno da cunha vedor da sua fazenn
da^ Q p<^*t amor da grande inuertiada que foj aquele an-«
AO não pode partir se nSo a dezoyto Dabril^ & leuou
èua armada de noue nãos grossas & bum galeão^ & hft
nauio redondo. Das nãos furão capitães a fora ele^ Si-*
mâo da cunha seu irmão que ya por capitão mór do mar
4a índia. Pêro vax da ou«»ba tambS seu irmão ![ teua-*
«a a capitania de Goa, Garcia de sá 2} leuaua a de Ma-«
}aca 9 dõ Femãdo de lima de Satarem ^ ya por capitã
mór daa três oaos do trato de Batioalá pêra Ormuz ^ dé
Frãcisco deqa , Frãcísco de mSdoça , Ic^âo de freytas &
Antónia de salda ah ai do galeão Bemaldl da silmeira^
do naoio afonso vaa azãbujow E oesta amnada fora tree
mii bomSs darmas ea» que entrauão moytea fidalgoa &
oriadoa dei Rey a mais luzida gfite que aio a^le iempo
fora á índia. Partida eêta armada antes de chegar áa
Ubás daaCanariaa ãtre aa noue iioraa &. as dez do dia se
foy a nao de loão de freiías ao fudo posQ abrio da popa
ale apvoa de duas pancadas q^ieHie de«i a a^o dç Si-»
cc 2
204 ]>A HIBTORIA PA ÍNDIA
mão da cunha, & isto por culpa do piloto da nao de loSo
de frei tas y & em obra de hOá hora se Scheo dagoa que
não se pode JaD<jar ho batel fora & ho esquife escassa-
mente, em que se meteo loão de freitas cõ algus, & so-
bristo & sobre se tomarem arcas & tauoas pêra cada hu
se saluar ouue muylas cutiladas, de Q muytos morrerão :
& foy piedosa cousa de ver híi home casado que leuaua
sua molher & três (ilhas moças , que vendose sem espe-
rança de saluaçâo se abraçarão todos cinco : & dado gri-
tos que cliegauão ao ceo se forão cõ a nao ao fundo : o
Q os das outras nãos entenderão quãdo a virão meter de-
baixo dagoa que aleli não sabíão nada do que passaua
por irem bua legoa dela ou pouco menus. E entendendo
o que era acodirão os capitães em os esquifes com (} sal*
uarão bem cincoenta pessoas Q andauão pegadas õ ar-
cas & 8 tauoas, & afogarãse na nao cento & cincoenta,
& Nuno da CDnba nã castigou ho piloto da nao de loão
de freitas ^ escapou porque nâ soube a verdade de co-
mo aquilo fora que lhe foy encuberta. £ prosseguindo
em sua víagS foy fazer agoada na ilha de Sâtiago , õde
achou menos ho galeão de Bernaldim da siiueira que
euydou que achasse ali porque desapareceo logo ao sair
da barra de Lisboa, & indo por sua rota foy ter ao par-
cel de çofaja onde deu em seco, & foy morta a genle
pelos cafres. E fazendo Nuno da cunha agoada na ilha
de Santiago, & tomados os mantim&tos que lhe leuauão
duas carauelas que ateli forão coele loraou a sua via-
gem , & na costa de guiné deiiu>u a nao Dantonio de
Saldanha por singrar menos que todas as outras & per-
derem viagem por esperarê por ela: & disselhe pelo seu
piloto que se ficasse eom a bSção de Deos» porque ben»
Yia quão tarde era, & que perdião viagens por sua cau-
sa, & que melhor seria perderse hfia nao que todas : &
coislo deu 08 traquetes que ieuaua amainados &homes«
mo fízerão as outras , o que vendo os que yão com An-
tónio de Saldanha ficarão muyto tristes de se verem fi-
car , o que eu vi por ir na nao. £ dado ho goueroador
LIVRO Vtt. CAPITVLO hXTXVU 805
08 traqaetes com as outras desaparecerão em pouco es-
paço, & António de saidanha mandou tantas vezes mu^
dar a carrega da nao da popa a proa , & assi pelo con-
trairo que lhe acertou ho cõpasso : & singrou dali por
diante muyto bS. £ nislo & em vigiar a nao sem dor-
mir de noyte nè se despir, & em a fazer andar mais do
que ho piloto & mestre fazião & em a segurar, & em
ter muyto grade cuydado de curar os doStes foy ião sin>-
gular capitão que mais não podia ser. E despois da aju-
da de nosso senhor por sua diligencia foy esta nao aque^
le anno á índia segQdo os estoruos que teue pêra não
ir. E seguindo Nuno da cunha sua rola nã leuàdo ê sua
conserua mais £[ Pêro vaz da cunha & dõ Fernãdo de
lima & Afõso vaz !do na volta do cabo de boa Espera-
da lhe deu hQ temporal de sul q durou húa noyte & hfl
dia ate véspera, & em acabando forão ter coele Antó-
nio de Saldanha & dÕ Francisco deça, que auia dias que
yãa em companhia , & forão recebidos com grande fes-
ta. E indo assi em conserua lhe deu aos seys dias de Ju-
lho na paragem do cabo outro temperai de sul que du-
rou vinte quatro horas, & poderão as nãos sofrer ho pai-
ro ate ho quarto dalua, em Q ho veto foy em tanto cre-
cimento Q a Nuno da cunha lhe foy forçado arribar porfi
era ho mar tão grosso que ho comia, & assi arribarão as
outras nãos saluo a Dãtonio de saidanha , que como era
Boua quis nosso senhor Q pode sofrer ho pairo , & isso
iby tambfr eausa de passar á Índia. E arribando Nuno
da cunha íby correndo com aquele temporal* ale que a-
calmou & achouse com Pêro vaz da cunha & com dom
Fern&do de lima. £ os outros capitães forão por esse mar
ate que tornarão a fazer viagem. E achãdose Nuno da
cunha eõ seu irmão. & c#m d& Fernãdo, acordou coeles
que por quaato era tarde & yão em risco de não passar
i lodia, ^ pof pouparS caminho fossem por fora da ilha
de sam Lourenço, & assi ho fizerão : & dõ Francisco de-
ça fePrãcisco de mendo^ & Afonso vaz que fizerão seu
caminho por dentro íbr&o ler a Moçãbiq , saluo Afonso
30« 9^ BISTOBU OA iinai4
vM <) ae perdeo ai)» iibeM de^ Moçaaibiqve & taltiaoaa
ioda a geala ^ & éom Franoiaca da^ & Ff aooiaQo d^
meadoça acharão em Mo^oibiqae a Síoiio da ouflba ^
fc por ser paaaada a i]M>uqSo qSq poderAo pasaar aa li^
dia , & inuernarSo hi» E Garcia de sa que anlea do pri»
nieyro temporal ae apartou da edaeraa, despois de «ft
yer quaaí perdido cft a aegiaada tormenta aegaío aua ro^
ta, & paaaando mujrto (Jabalho de fome fcde aede e€
que Ibe morreo muyU genie fibegou aa 4^oata da Indiík
bfi aabado deaaaele Doulubro eom laata oeceaeidade da<»
goa que nâo leuaua maia que bQa pipa dela. E deapoia
dele oylo diaa chegou Aatonio de aaldanba que lambft^
pasaou assaz de trabalha oom fome &.8ede, de (| Ibe ar
doeoeo quasi quaala gSte leuaua & lhe luotrerâo peria
de aesseota peaaoaa, & Sòy por fora, & por fazer prouK
aaro na agoa que leuaua pouca, bem bil mea ae nâo dea
a cada pesaoa mais ^ bQ quartilho dagoa cada dia, &
por passar aa índia oâo tomou nhQa agoada por ae aão
deteir: & chegou aBatieala hCl sábado vinte quatro Oou-^
iubro, & dali foj ter a Codúm«
p.
C A P I T O L O LXXXVIL
De. como se perdeo a mto de Nuno da eunha.
assada a tormenta que disse oom que ae aa nãos ca«
palbarâ, Nuno da cunha ed. pêro vaz da cunha & dota
Fernãdo de lima seguirão por sua rota, & oom muyta
roym viagem de ventos cdlrairos & ealmariaa foy ter a»
ilha de sam Louaèço quasi na fim Deutubro, & surgia
Qa barra: do rio de Santiago pêra fazer agoada, •& a|i foja
ter coeje hum Português {) lhe eontou como escapar»
da nao de Manuel de laeerda que se perdera ali em hft
bai^co por culpa do aeu piloto, & a gente ae aaluara n»
terra por aer perto, & Manuel de Jacerda se deteuera»
HA anuo esperando que foseew aAi ter algQaa naoe qu9
os. tomaaaem : & ^ i^ueria^doue mesesique-andiira bi hú»
BAO òyto dias, de dia a terra Sc de ooyle ao mar, & que
eada noyle Ibe faztfto fog^oa en crut pêra que soubesse
que estauáo aii Ciiriaiãoa , & bubo» ctegera a terra ^ &
desfois desaparecera. E esla era a oao Dfltonio de sat^
danba^ & não qofts cbegar flosto que «io M fogos ^ por^
que sabia que iambS <m ntooros os faaião pêra engâDa^-
rem os Cbrislãos & os fecerera «begar a terra, &ee per^
dereiD em nuylos baixos & restiogas que ba ao tongé
dela. E disse mais a(|le Português que desaparecida es*
ta nao ficarão Manuel de laeerda & todos muyto tristes,
por nfio esperarem tão cedo por outra tiao. E porque a
terra era muy pobre de mantimentos, & não se podifiõ
manter: & também por^ ho roais certo caminho dasnaoi
Portuguesas era pela outra bSda da liba acordarão de se
passarê lá , Sc feytos em duas qaadrilbas foy cada hfia
por seu cabo : & ele por estar doente se deixara ali fi«
ear . & que a gente dà terra ibe fazia rouyto bta com^
pannia, & dela soubera como cbegarão aquelas três nãos.
£ fasendo Nuno da cunha & os outros capitães agoada,
em bSa terça fe^ra que auia quatro dias que ali estaua,
estando os bateis dStro no rio, leuantouse hú trauessam
com que a nao de Nuno da cunha comet^ou de caçar pe>>
.ra terra, & por estar sobre h5a só ancora lãçarSo outra,
& despoís outras ate seys que não aura mais & todos oá
anates delas trincarão , & era por Be roçarem por pene-
dos que estauão debaixo , & com a grande força que le^
uaivão pelo peso das ãcoras trÍBéaaão iogo^ E não auCdo
BwceraB que teucssem a nao, eaçou tanto pêra terra ^
q<ue deu sobre hfta área Õde fez assento & ébrio, en*
cheose dagoa^ & ho mesmo ouuera dacontecer á nao dé
dom Fernãdo de Hma se não teuera bA auste de eairò
f|Ue teue mão, porque -taimbS outros de linho trincarão,
li oi esquifes qve erão per agea ddíro ao rio nunca po*
derio asãodir por he v|(o ser trauessam Sc na boca do rio
fnér hm iate tamanho escareeo -que não poderão sair ,
fiê sairião ate nie açaimar ho vento , & a nao por a res-'
iinga ses baixa aia fiaoa cuberto dagoa anais qsFe at» a
tos DA HISTORIA AA IlfDIA
ponte, & dali pera baixo iudo se ferdeo, & a gente se
saluou (oda, & Nuno da cunba se passou com parte de-
la pera a nao de Pêro vaz da cunba, & a outra se apoQ-
aentou na de dom Fernando, & tirados os mastos & irer*
gas a esta nao, & queymado quanto patecia sobelagoa,
Nuno da cunha se partio caminho daJndia a dez deNo^
uembro & foy ter antre as ilhas de Zanzibar, & hua noy«
te entrou em h&a enseada grande que se faz^ía antre a
ilha de Zanzibar & outra. B quando veo pola roanhaS
nem os fiíolos poderão entender por onde entrarão, n6
por õde auião de sair: porque os canais por Ade entra*
rSo & por õde auião de sair erfto tão estreitos que não
se enxergauão com ho mar que arrebentaua em froL E
despois de desesperarem de não poderem dali sair & es*
tarem em muyio risco de se perder, mãdou Nuno da cu-
nha a Manuel machado capitão dos seus alabardeiros
que fosse a terra cora algQs deles a tomar lingoa pera
saber ondestaua, & ele foy no esquife da nao & quise*
ra sair em hOa pouoação de í\ logo os negros acodirão
bem armados de frechas & paos tostados , & pelejando
coele ho fizerâo recolher por força, ficisobrisso lhe mata-
rão hQ gormete & ferirão outros homSs : o que sabSdo
Nuno da cunha, fez conselho sobre o que faria, & seu
irmão Pêro vaz se conuídou pera ir a terra , Õde foy nó
batel com certos fidalgos & outros homSs todos armados.
£ vSdo 08 a gente da terra daquela maneira fugirão &
despouoarão ho lugar : do i\ Pêro vaz se agastou muyto^
& disse a todos que bem vião ho perigo em Q as nãos
estauão^ & quãta necessidade tinhão de tomar qu8 as
tirasse dali , & pois os negros não queriâo esperar era
necessário tomarSnos por manha : & esta seria ficarem
em terra embranhados aigOs dos nossos, & os outros fi^
zessem que se tornauão no batel á nao, porque como
fosse noyte os negros auião de tornar á pouoação, & os
Q ficassem embranhados poderião tomar algii que Ihea
dissesse ondestauão , ou lhes desse maneyra pera se ti-
rarem dali« E a isto não respondeo ninguê, saluo hil mi^
LIVRO Vlf. CAPITVLO LXXXVII. 70^
cebo 6dlilgo chamado Diogo de melo 61bo de loSo de roe*
Ia abade de pobeiro ^ disse eie ficaria eom hil seu irmão
chamado Trislão de melo, & com hfl seti criado que a-
uia nome loâo rodriguez.O que lhe Pêro vaz leue muy-
to em mercê, louuando ho por isso grandt^menle, & pro-
metendolhe de ho dizer a Nuno da cunha pêra lhe fa-
2fiv mercê: & Diogo de melo lhe disse que visse como
fícaua» & Unto que foss^ noyte que acodisse á praya
diante daquela pouoaçfto ondeslauâo pêra ele ler Ôde se
aaluasse, que bem sabia que se auia de ver em perigo^
porQ não auia de vir de terra sem tomar lingoa: & cois*
to se foy embranhar com seu irmão & cõ ho outro ^ &
Fero vaz mandou remar ho batel pêra as nãos. E ven-
do ho os da terra ir cujdarâo que se tornauão, & por
isso em anoytecSdo se forão pêra a pouoaçao: & sintin-
do Diogo de melo que tornauão sayo do mato cõ Tris-
tão de melo & loâo rodriguez, & apanhou bil mouro Q
ya só, que vendo os nossos ouue tamanho medo que sa
calou , porque eles também ho ameaçarão com as espa-
das nos peitos Q ho matarião se bradasse ou não quises-
se andar. E coisto derão muy asinha coele na praya on-
de a borda dagoa acharão Pêro vaz no batel, E vendo
iodos ho mouro que era hQ velho forão muyto ledos, por-
que disse a Pêro vaz pelo lingoa despoís que perdeo ho
medo, que se ho não tomarão ^ nunca as nãos ouuerão
de sair dali ainda que tomarão outro, porque ele era pi*
loto daquela costa, & !| as auia de tirar, & ho mesma
disse a Nuno da cunha despois ^ foy coele que deu a
Di(»go de melo muytos agardeciméntos pelo que fizera ,
& lhe prometeo que como gouernasse a Índia lhe daria
a primeyra cousa que vagasse que coubesse nele, por{|
fizera bu muyto grande seruiço a Deos & a el Rey em
lhe trazer a(|le piloto: do que os !\ forão cÕPero vaz ou-
uerão grande enueja, & lhes pesou muyto de não se of-
ferecerem a embranbarse como se ele oííreceo, E certo
q despois de nosso senhor ele foy causa de se as nãos
saluarem em tomar aquele piloto, & ao outro dia ho pi-
LIVRO VII. BD
210* ' »Á RístoKíA DA mm A
loto mouro lírou as nãos daquela emeada por Iitl canal
tào estreito que todos se espantauao de como podiâo por
ali sair, & dali forão ter âo porto de Zanzibar, ondeste-^
uerão algQs dias refrescando por ser a terra niuyto pêra*
isso como disse atras. E desesperando Nuno da cunha
de poder passar á Índia por ser vinda a mouçfio dos le-
uanles que era contrairá pêra sua nauegaçSo, & lhe era
forçado inuernar em algft lugar da^la costa, determinou
de ser em Mombaça por ter muyto bõ rio pêra estarem
as nãos o que não podia ser em Melinde por ser costa
braua, & as nãos correrS muyto perigo, & por isso não
podia bi ter ha inuerno. E assentado nisto, deixou em
Zanzibar bem duzentos doStes que leuaua por ir mais
despejado , & por ser a terra muyto sadia & abastada
pêra eles air ficarem. E pedio a bft fidalgo chamado A-*
leixo de soosa chichorro f\ ficasse por seu capitão, o que
€f]e fez de muyto boa võtade por seruir el rey. £ Nuno
da cunha se pàrlio pêra Melinde, onde foy muyto bê ve^.
eebido dei rey, & bi achou Diogo botelho pereyra ca*'
pitão de htia naueta em que fora buscar dõLuis de me^
neses se parecia por a^la costa, porque auia sospeita Ç
não era perdido & estaua ali com a gente da sua Itòo,
& daqui mandou Nuno da cufiha pedir licença a el rey
de Mombaça pêra inuernar no seu porto dâdolb^ a re-*
tão porque não podia ser em Melinde, & fazendolhe
muytos oflTrecimentos. Mas el rey de Mõbaça parecen-*
dolbe que aquilo era manha pêra lhe tomarfi a cidade
Hã a quis dar, pelo que ele determinou de lha tomar &
ter hi bo iúuerao.
LIVBO Vn. «APtTVTe LXXSCVIII. S91
C A P I T V L o LXXXVni.
É
De como Nuno da cunha tomou a cidade de Môbaça.
Jbi dado parte desta determinação a seu irmAo & a dS
«Fernâdo a que pareceo bem, assentou em conselho qua
lio deuia de fazer. E feylo alardo da gente que tinha a«>
chou (lytocentos Portugueses & bem duzétos mouros da
Jndia nossos amigos que iouernauSo em Meliode que fo-
xâo coeie , Sc seys centos com que ho ajudou el rey d«
Melinde: & partio hõ dia atarde com quatro velas: a
•capitaina, a de dom FernSdo de lima, a de Diogo bo^
telho pereyra & a dos mouros. E chegado ao outro dia
pola manhaã á barra de Mombaça surgio, & surto man-
dou sondar a barra por Pêro vaz da cunha Q foy no ba*
tel da nao bem artilhado & ibrSa coele corenta homês
de que nlgQs erâo fidalgos, s. Anrrique de sousa chi»
ohorro , Diogo botelho pereyra & outros : & na entrada
.da barra que era bo mais estreito dela «charão que es*-
taua Jiu baluarte de pedra, & Q tinha oyto bombardas
ique os mouros que estauão nele des pararão logo em v&-
•do ho nosso batel que por ser rasteiro, & passar muyto
rijo ho não poderão pescar : & passando auãte foy sur-
gir no lugar onde as nãos auião de surgir que era perto
'da cidade, & este sinal auia de ter Nuno da cunha pê-
ra entrar sem Pêro vaz tornar a daribe rf>cado, por<| das
nãos podião ver onde surgia, pelo que Nuno da cunha
começando de ventar a viração disfirio as velas leuadas
as ancoras, & ho mesmo íi>zerão os outros & en trarão po-
* ra dentro , & tirarãlhe do baluarte mas não lhe fízerâo
nhõ dano, & Nuno da cunha não mãdou tomar -ho ba-
luarte por mostrar aos mouros ^ ho não tinha em con-
ta, & lhe fazer crer ^ lhe não queria fazer guerra k
consentisse el rey por bem que inuernasse ali, & por is-
so esperou a^t^ dia ate noyte sem mandar tirar á^ida-
dp pêra ver se lhe inandaua aigO Teca4o , mae ele esta-
DD 2
211 OA HISTORIA 9A I17DIA
ua bem fora disso, & assi lho aconselhauâo os seus^ &
diziãlhe ^ quãdo se não pudesse defender que iDelhor
era deixar a cidade que dariba por sua vontade, & que
l)i Hie fícaua passado bo inuerno {| os Portugueses se a-
uiao dir. E coesíe propósito despejarão a cidade da fa*
2êda & da gente. que não ficou mais ^ a de peleja. E v8-
do Nuno da cunba que el rey estaua em seu ser & não
]be mandaua recado desenganouse que queria guerra,
& pêra saber Õde teria melhor desembarcarão, como foy
ooyle mandou a Pêro vaz que bo fosse ver. E chegao-
úo ele diante da cidade {| os mouros bo ffintirão sairão
muytos á praya & tirauão muytas frechadas cõ frechas
beruadas q ferirão algus Portugueses, &Pero vaz se tor-
nou a Nuno da cunha , a que disse que auia hOa praya
em Q podia bõ desembarcar posto Q auia de sair a gète
por agoa que daria pola cinta, & dali a duas horas che-
gou á capilaina hQ mouro xie Melinde que vinba da ci-
•ãade & disse a Nuno da cunha que se goardasse de de-
sembarcar na praya que auia de ser cousa perigosa po-
la delõça que a gente auia de fazer era chegar a terra.,
& que entre tanto a frechariâo os mouros porque assi bo
tinhâo determinado : por teso 4 deuião de desembarcar
janto de bOa mezquita Qslaua abaixo da praya em^de-
-aembarcaria sõ nbií perigo por ser ali alcantilado, &quo
ele mostraria este lugar. E disse mais que os mouros se-
rião Ires mil de peleja, & que não linbão mais que bua
estancia de fora de búa das port-as da cidade com qua*
tro ou oineo bomburdas de ferrt^, & que bo bombardei-
ro era bd Português , & £^ auia aatreles aigús espiogar-
-deiros, & ^ estauão com grande medo 4 "^^ parecia qua
auiâo logo de fugir. Sabido isto por Nuno da cun-ha, cd-
certou cô seus capitães de dar ao outro dra na cidade &
deu a diãteira a Pêro vaz da eunba com seyscêlos Por-
tugueses &.trezèlos moiíros, & muytos destes Portugue-
ses era espingardeiros, & era seu capitão hQ lidalgo cha-
mado. Fernão coutinbo que despois foy por terra da ín-
dia a Porltigal , & Nuno da cunha com os outros capi-
LIVRO VIL CAPITVLO ULXUVIIK 2H
i&es & resto da gSte Ibe auiâo dir na retro goarda. Eao
outro dia em amaobecõdo desembarcarão na mezquUa
onde o8 guiou ho mouFO de Melinde, que seria da eida-
de hu tiro de bésla ou pouco mais , & sem acharem ali
resistência (porque os mouros os esperauâo na praya)
seguirão pêra a cidade que era cercada de muro baixo,
& forao contra a porta onde de fora eslaua a estancia
que ho mouro dissera^ em que estauâo duas bõbardaa
xle. ferro que tirarão algus tiros. E vendo ho bombardeia
ro Q os nossos se chegauâo^ fugio com medo & assí os
mouros que estaoão na eslãcia se recolherão á cidade.
£ vedo el rey que contra os Portugueses nã auia defen-
sa fugio da cidade cõ toda a gente ^ & como a pressa
foy grande que não podião leuar o que linhão deixarão
Biuyta parte dele soterrado, & outra leuarão & lhes ficou
}X)r hi« E ei rey se pos na mesma ilha mea legoa da ci-
dade cõ seu arrayal bê fortalecido. E não achado Nuno
da cunha nbua resistência nos mouros, não os quis se*
guir & mandou roubar a cidade em que ho mais que se
achou forão mantiroStos, porê algQs acharão dinheiro
com Q se tornarão dali pêra Portugal no nauio de Dio-
go botelho. E tomada assi a cidade sfi morrer ninguém
dOa parte & da outra, fez Nuno da cunha algQs caua-
leiros, & despois mandou fortalecer algQa parte dela a-
trauessando as ruas cõ tranqueiras : por^ pêra quão pou-
cos os nossos erâo ficaua ela mujto grande, & não a po*
diao defender toda : & temiase Nuno da cunha que os
mouros lhe corressem por quão perlo estauão. E forta-
lecida aquela parte da banda do mar com suas estancias
-& gente que as goardasse, apousentouse nos paços dei
fey, & dahi a algus dias mandou lomar ho baluarte da
barra em que ainda estauão mouros , & mandou a isso
dom Rodrigo de lima irmão de dÕ Fernando de lima ,
que cora os que leuaua tomou ho baluarte matado & ca-
. tiuando a mór parte dos mouros {| ho goardauão, & to-
mandolhe sua artelharía, & foy ferido do Rodrigo de híLa
iirechada & assi algus outros: & ele morreu despois da
SI4 BA HISTORIA 1>A ÍNDIA
ferida por ser a frecha heruada. E dali por diante como
os mouros estaufio tão perto da cidade, & a major paro-
le dela esleuesse despejada, vinbâo correrlhe de dia &
de Boyte, & como não achauSo resislScia da parle do
sertão desauergonhauise tftto que entrauâo dentro, ft
hSs leuaoão o que lhes ficara escondido, outros chega-
uão ate as tranqueiras t( os nossos tinlvSofeytasnasruas^
& querião passar por elas, & assi ho fízerio se pelos nos-
sos lhe não fora defendido (} lhes resísíião fortemdte : &
se os nossos não teuerSo necessidade de pelejar na to-
mada da cidade aqui teuerSo (anta 2) os mais dos dias
& das noytes ho faziâo , por^ os mouros erXo tâo sobe-
jos que coniinuamSte vinhSo, & muytas Teses tomauSo
os Portugueses comendo & erão feridos niuytos de bua
parte & doutra. E hQa vez sayo dõ Fernando de lima
com tamanha pressa que foy sem capacete cd hõ chapeo
de frisa, & passãdolho com hua frecha ho ferirão na tes*-*
ta: ao que ele disse muyto alto. Amores de minha mo-
]her por mostrar que não sentia a ferida, & pelejou lam-
bem com os (} ho ajudauâo que fez fugir os mouros de
que ficarão algQs mortos. E sendo os Portugueses tão
perseguidos coestes continos rebates, afrontauasse Nu-
no da cunha disso, & tinhao por grande injuria, & por-
que não sabia quantos os mouros erão & os nossos serfi
poucos não ousaua de mãdar dar no arrayal pêra os fa-
zer afastar dali: & desejado de tomar lingoa pêra qiYe
soubesse o 2) digo, encomendou a Diogo de melo de que
disse atras que lha tomasse, porque tinha nele confian*
ça que ho faria, & ele lho prometeo, & forão coele Tris-
tão de melo & outros dous homês & hQa noyte se dei-
tarão em cilada perto do arrayal. E estando assi forão
ter coeles dous mouros de que tomarão hQ, & em no to-
mando deu tamanhos brados antes que lhe podessè ta-
par a boca (| foy ouuido no arrayal, õde bo aluoroço f<fy
muyto grande, & começarão todos de se reboluer pena
acodir: o que sentindo Diogo de melo q^uisera tomar bo
mourç ás cofitaFS- & kuaio': mos era tão gordo que nu«-
LIVRO Til. CAPITVLO LXSXIX. 2t{|'
oa ele d8 hhií doi outros bo poderão leuantar. E vedo
ele isto , & que dali á eidade era mea legoa ^ & qiie ho
uâo auia de poder leuar contra soa vontade por^ oa
mouros vinhão raatou ho & oorteulire bu braço que le**
uou pêra testemunho do que fizera^ & perlo da mea ncy-'
te chegou aa cidade coeie & por Nuno da cunha dormir
deu bo braço ao seu camareyro, & ao outro dia lhe con<*
tou o que fizera : & querèdo laa tornar pêra ver se po-^
dia tomar língoa não ouue disso necessidade , porque os
ttooros não tornarão mais , que vendo que os Portugue-
ses cbegauâo de noyte ao seu arrayal pareceolhes que
Hies punhSo cilada, & ouuerâo tamanho medo que dali
por diante não yâo á cidade se náo com muylo tento, &
Ée dauák) rebates era poucas vezes, de modo que os Por-
tugueses ficarão liures da afronta em que dStes estauão
polo b6 esforço de Diogo de mele. E auendo ja dias que
Nono da cunha ali estaua começarão os nossos dadoe*
cer & morrer por ser a terra doentia , & em todo bo in-
uerno que durou ate fim de março morrerão trezentos &
setenta Portugueses antre os quaes morreo Pêro vaz da
cunha & outros muytos fidalgos & caualeyros.
CAPITVLO LXXXIX.
Do § ho gcuemadór fest este inuerno em Goa , ^ de co*
mo se perdeo kãa armada no ria de Chatua.
Xnuernãdo ho gooernador Lopo vaz de saro Payo este
luerno do ãno de vintoylo na eidade de Goa não quis
prouer a fortaleza de capitão, Sc ele mesmo ho foy pêra
tirar algOas tiranias que sabia Q fazião os capitães , assi
tomo dar sentSças por dinheiro, por^ os juyzes não po«
dião despachar os feytos se não eoeles, leuar hda tãga
de todos os eaualos que yão Dormuz: & irião sempre
bus anos pelos outros passante de dous mil eaualos, de
tudos os seguros Q dauão ás nãos Dormuz quãdo se tor-
nauão hH pardae por eada vinte eandis , & auia nao ^
2 ia DA HISTORIA DA ÍNDIA
pagaua cincoSla pardaos, & mais hâa iang-a de cada pes-
soa, & nã auia anno que nâo foaseni a Goa seasénla ae-
tSia nãos & leuaua cada hOa muyta gente, E estes iri-»
butos que os mouros sentiâo muyto roais Q os que pa-
gauão a el rey na alfandega tirou ho gouernador, de Q
os mouros folgarão tanto que no anno seguinte forâo a
Goa muyto mais nãos que atelí & a renda dalfandega
teue muyto grande crecimento, & assi concertou outras:
miudezas que erão muy necessárias pêra bõ reginien-to
da cidade & nobreza dela. E porque auia algQa falta,
dos mantimentos ^ yáo do Balagate por os Tanadares
do Hidalcâo os antreterfi, mSdoulhe sobrisso hOa embai-
xada per Tristão de gá, cõ hO presfite du ames inteiro
laurado de romano cÕ medalhas & folhajê^ duas maçaa
de torneo de prata douradas & bua soma de coral gros-
so, mSdadoíhe oíTrecer sua ajuda se lhe fosse necesaria.
Do i) o Hidalcã se mostrou muyto cõ(6te, & despachou
ho com muytos agardecimfitos : & prouísÕes pêra os ta-
nadares {| deixassem passar pêra Goa quantos mâtimS->
tos lhe leuassfi & cortar na terra firme toda a madeira^
Q quisesse : cõ o ^ foi a cidade bõ prouida. E por^ não
saysse de Calicut nS de seu seilorio nhua pimêta, mã-
dou o gouernador Simão de melo cõ hu galeâ & cinco
bargãtís a goardar a costa, &eleticou esperando por An*
tcnio de mirãJa Q chegou na íim de setSbro. E fuylhe
recado, de dõ loã deça capitão de Caoanor ^ a vinte de
setèbro se perdera hua armada Q sayra de CochI de tre-
ze bargãtis & catures & bOa galeota : & cÕ hu supito
trauessâ dera toda á costa na boca do riu de Chatuá na
costa de calicut & se espedaçara , & a gõte fora toda
morta & catiua pelos mouros: pelo ^ ei rey ficara muito
soberbo & fazia hua grossa armada : cõ cujo íauor oa
mouros de Cananor andauã muito aluoraçados: por isso
Q saisse de Goa ho mais cedo ^ podesse.
LIVRO VTf. CAÍirVtO IMU 217
C A P I T V L o XC.
■ •
Como o youemadar desbaratou Culiak de Tanor.
r-^abido isto pelo gouernador 8 seis dias se aoaboa de
fazer prestes: & pariio de gop ko j. -dputubro deixado
jK)r capttS António de ttiírSda ^ descâçase do trabalho
^ leuara no estreito. Iforâ coete' estes capitães nos seua
galeões PernS rodrigoez barba, lopode mezqaita^ Anr^
ri{) de macedo, António ^e lemos a {) deu ho galeão Dan*
tonio da silua : leuou mais S sua conserua ate sele bar-
I^Stins ^ oáo auia mais & Goa , & ele foy no gfaieáo saiu
Dinis. E chegado antre rodte Deli achou Simão de me«
lo seu sobrinho l\ lhe disse Q tinha auiso de dõ loão de-»
ça capitão de Cananor , {) estaua em Termapatâo hQÀ
frota deCalicut de exxx. velas. s. sessenta paraós bê ar^
roados & artilhados & as outras pagueres & nãos de car-
ga {) leuauã especiaria a meça: & os paraós yão fi sua
goarda ate serS fora da costa da índia : de <} çra capitão
mor Cutiale de Tanór vaiSte caualeyro () tinha por sctÀ
por chegar entã da casa de Meca. E sabSdo bo gouei>
nador esta noua disse-^ se fossem laçar ao mar da baya
de cananor 2) ali 2|ria pelejar: por() dãdolhe nosso senhor
vitoria como esperaua^ queria Q a vissem os mouros. B
fezse alamar cõ os galeões : & os bargantios mftdou que
fossem ao longo da cdsta : & assi foy surgir onde dieo á
boca da noyte: & logo mâdouSi^ira ho malabar capitão
dâ catur a saber noua da .armada dos jnouros se ya, ou
^ fazia pêra a ir buscar se não viesse logo. E ele a a«
ehou no caminho: porque sabendo Cutiale que Simãe
.de melo andaua a monte Deli com* tão fHHicas velas, de-
terminou de ho ir toçoar parecendolhe f\ ho podia fazer
cõ tamanha armada, & despois de ho tomar esperaua de
ir cõbater a fortaleza de Cananor: & ooeeta determina*
ção se fez á veia de madrugada, & passado a vista do
jgouernador cuydoQ i\ era Simão de fM\a & \)ot isto vi^*
LIVRO VII. EB
rou sobrele. E era fermosa cousa de ver Ifila multidão
de nauios todos cò as telas ínfuoudas & muylo pêra es-
pSlar a qu6 auia de pelejar coeles, a soma darlelharía
de Q y&o armados^ a gftíe «em cÕlo de ^ >ae ibrne^idos,
abastada despingardas^ darcos & frechas, de zagQchos^^
despadas & doutras aroias oflfensiuas & defettsiuas : &
dftdo gritos ^ parecia ^ feodião bo ceo com prazer de
lhes parecer Q lomaríáe^ oa nossoa^ & coisao tantas diuer<«
•idades de tágeres Q retenião () quebrauio os ouuidoa
de. quS os -outtia» E/e( tinlo o goueriiador eomo os vio
armouse logo Sc fea sÍDal de conselho a ^ forào o» capi^
láes & fidalgos & aobarâiio ainda araiSdose , & sem so
assentar assi em pé como esiaua lhes disse {| determi*
aaua áe pelejar c& os mouros* LopQ daaeuedo, do Túb*
tão de noronba & Eytor da silueir» dísserâo lugo 4 P^
fecería doudice Qrer pelejar cd armada tào grossa ^ ho
não deuiáo de cometer^ masQ se a{)túhoassem & íraes»
ae» fortes pêra ae defenderft dos Itiiigos se os cometes^
sS» E coestes se forão a major parte doa do conselho 9
fc algos 4 foráo bA poucos disíão como a medo 4 seria
meibor pelejar ^ apiahoarèse^ porQ es mouros nos seus
RAuios ^ erâo rasteiros os rodeariâo & matarião ás espi*
gardadas & frechadaB sem Uia eles poderè fa2er nhft ikh
jex doa galeò<>S) por isso iie meibor seria pelejar eoeles &
comeleloa logo nos b^iRgãlins, por^ por serS ligeiros po»
derião êtrar & sair quaado quisessem, & os gakdes iriâo
i vela em sua cõpanhia pêra seruir^ cõ a artelh«'>ria co«
mo fi>rta)exa. E deb^afido bi^s & outros sobre faicerS boaa
suas rezôes, ehegou. Siqrueira^ & como era muyto esfor««
çado & sabia bei» a ^iM^rra do mAr por aiuer dias Q a v^
aaua, dkse ao gcueraador ^ íazia por^ estaua Ião deiia«
gar, ^ se os mouras ebegaufto a elea ^ Ibea auiâo d« fa^
ser muyto mal esíãdo da^^a matteyra, Q não tinbão ou^
tro remédio se não cometeles nos bargaiina somêíe &
não no meyo em Q auia grada força ae na per qualquer
dos cabos ^ auião dcatar fracos & aà se auiao de podc^t
ajudar tão aainba ^ eles oã leuassS nat aido cada bfii seu
paniD ! êt (| esperaua è nosso Mnhor ^ ot aoia dajudar
€oiiio fifeera ouíras vezes ^ k ^ eiHri» tãto 2) oometeaaeiti
aofl bargSlIs os galeões fâriflo seu offioio c6 aarielharia.
Ao gouernador lhe pareeeo bfi este conselho roas nfl ou-
sou de ho tomar por tâtos capitSes & fidalgos Ibe seifi
cõtmiros & ealauasse, & loio de soíre ouuidor geral que
era do parecer do gooernador, & porí) ho via calar iiA
ousaif a de faiar ^ poslhe rijo htl pé sobre ho seu outbido
parele como l| lhe conselhaoa ^ tomasse ho parecer de
Siqueira, fi ele parece ^ inspirado de nosso senhor pe-
ta auer a vitoria (| ouue, disse SAuyto ledo & esforçado.
Ora sus que ey de [letejar , A eles com ho notne de le-
su : quS quiser acompanhar bo seu gouernador & a ban-
deira reei de sua Aitesa sigame. B coisio tosnou lUta es*
pigarda ás costas & saltou em hQa fusta de que era ca-
pitão loSne ho tafui, & nS ho seguirão outros iidaigcB
se nSo os que jSo no seu galeão , que forSo estes , Buy
díae pereyra , dom Sancho Manuel , loSo rodriguez pe«
Teyra ho pássaro, dA Francisco de oraste, loSo pereyra,
Brás da silua da2euedo, Garcia de melo, Duarte coelho,
l<*eroão da siiua, Nuno pereyra, Lienel de soosa, An-
dré casco, Manuel de brito cabral, Francisco de barros
de paiua. Porque os mais dos que forSo de voto que não
se pelejasse se deixarão ficar, & não com medo mas com
pesiir da bonrra ^ o gouernador ali poderia ganhar , que
ainda nSo podião apagar bo ódio que lhe tinhão por par-
te de Pêro mazcarennas. Embarcado ele , achouse com
trese ou quatorze bergantins & catures que também a-
codirão algOs de Oananor, de í\ forão capitães Francís-
co mfidez de Braga, Marttm da situa & lorge vaz, & de
•todos fez deus escoadrões*: & ho dtãleiro deu a Simão de
• melo com quC foy Lopo de mezquitaeiD bd l>arganlim,
& ho outro lhe ficou , & foy hii dos capitães Ferolb rè-
driguez barba. Isto ordenado remeterão aos Imigos l\ es«
tauão a tiro de berço bradado porSãtiago, & dão por hQ
cabo tirando muytas bombardadas & espingardadas cÔ
que os romperão deixando arrobados algiis paraós sem
BB 2
220 OA HfStOEIA DA INOfA
receberS' deles dano, & ho mesmo foy doutra rez que os
tornarão a rorofier: & desta vez sete bargantiAs nossos
.aferracio.sete paraóa dos IíbidÍ(^os^ de que dos prioiey-
ros três que abalroarão efâo capiiães SiQira, Frâcísco
mãdes de Brat^a, Martíin da silua de-Cananor» E em a-
: ferrando lhes lançarão dentro inuylas panelas de poluo-
ra com que os queymarào & aos mais dos que y&o ne-
les : & ho goueroador com os outros lambe pelejarão tã^
ésforçadameiile que poserão os inimigos em tal aperto
•c^e se desbaratarão' em menos de duas horas Q durou a
lorf^a da pefeja, & fugitão a remo hQs pêra Cananor, ou-
tros por esse mar que andaua bem cuberto deles que se
iançauã a ele por escapar dos nossos, Q matarão muy-
tos & outros catiuarão» £ durou isto ate ho meyo dia
que começou a viração de (} os Iraigos se ajudarão & de-
^•fdo á vela pêra fugirS atodo tira: o ^ vfido ÍM> gouerna-
dor Qs não quis mais seguir por os seus esiarè muy can-
•sftdos & rècelbeo 09 paraós ^ estauã rSdidos^ foràojuxv.
eõ os meiidds no f&do em ^ forâo tomadas quasi cincoS-
ta peças darlelbaria 9 & fora mortos & catiuos bê dons
mil mouros 9 sem dos nossos nã morrer nhft o ij foy mi-
lagre por quã poucos erã & os ímigos tantos decujo san-
gue o mar em ^ foy a batalha se tornou de cor de san-
gue () foy a vista de C('^naHor : & por isso os mouros de-
le a virão muy bem ^ todos esleuerâo na praya cuydã-
do Q os nossos auiã de ser tomados & (rcarâo muy to tri-
stes quando vvrão ho cõlrairo« & 5zerão grandes pratos,
porQ muy tos dos mortos erão naturais de Gananor. E
receâtlo eí rey de Calkul f\ por amor d^sla vitoria Ihea-
'tregasse ho goueniador a ierra porCrãganor mandou la»
ho principe com muy ta gê(e :& sabido isto ê Cpchim
mandou ho védoc da fazenda bua armada ao passo de-
Cranga nor»
UVRO VU. CAPITVLO XCI. 22}
CAPITVLO XCI.
De como ho goueniador correo a cosia de Calicul ^ des-
íruyo a vila de Porquá.
xjLuida esla tamanha vitoria ho gouernador se tornou
aos galeões & achou do Tristão de noronba, Lopo da-
zeuedo & Blylor da silueira: que despois do gouernador
partido pêra dar a batalha se correrão de bo não ajudar
& yão pêra isso em híi batel, noas chegarão a tempo ^
tudo era acabado: & ele & os outros que contrariarão
ao gouernador {| não pelejasse ficarão muyto corridos:
& muyto mais de ho não acompanharem na peleja & (í->
careni nos galeõeSé E parecendo a algQs que o gouerna-
dor ho escreueria a el rey fízerão ea|>ituÍos dele por se
vingar que prouarão por seus parSles & 09 mandarão a
el Rey no anno seguinte: mas ho gouernador Q não ti-
nha tal pensamêlo posto ^ ho nã acõpanharã na batalha,
lhes fez tàta hÕrra & gasalhado como se a eles vêcerão.
.E porQ poderia ser i} a armada dos mouros se tornariAr
a reformar nã quis ho gouernador desêbaroar õ Gananer
.& dous dias esteue esperado no mar» E vfido Q nã tor*
nauã pareçêdolhe ^ auiã deslar metidos por esses rios,
partio a buscalos cd conselho dos capitães & fidalgos, &
.mãdou diàle a Simão de melo por capitão mór dos bar-
.gãtls, & ele ya ao mar c5 os galeões. £ indo assi êirou
Simão de melo cõ noue bargantia, Ôde soube que esta*
não varado» doze- paraós & queimou es cõ parte do lugar
.sem em seus moradores auer resisiencia, porque fugirão
como virão os nossos, Q despois de queimados es paraós
cortarão quantaa palmeiras auia aè derredor do lugar
que era a mayor destruição que se lhes podia fazer: &
despois disto sayo em Ghatuá^õde queimou deaasete p»-
raós, & ho lugar com morte de muytos dos seus roora'-
dores em vingãça dos nossos que ali forão mortos quãdo
ae a frota perdeo. E asst sayo em ouin>» lugares que to>
SSS 0A HTSTOWA DA IKIITA
do8 forSo destruídos estando ho gouerimdor no mar a
vista de tudo, 9c assi foj ate Cranganor onde achou a
nossa armada que hi estaua como disse. E sendo certo
que bo príncipe deCalicut n8o estaua ali se nft pêra de-
fensam leuouha em sua oompanhta , porque leuaua de-
terminado de ir dar em Porquá pera destruir ho Arei
pola ímízade que tomara com os Portugueses por amor
dei rej de Caiieut. Este nome Darei he titulo de senho-
rio, & assí era bo Arei senhor da()l6 lugar, Sc grande
cossairo de toda roupa pera o (\ trasia muytos catures
b6 artilhados, & coisto tinha aquirido grade tesouro, 4c
tinha muyta artelharia & b6 quinhão de g6te de peíejfi.
£ por{| bo gouernador isto sabia determinou de o de^
truir & dar ho lugar a saco pera Q os Portugueses enrrf-
^cessem, & isto disse secretamente a aigdscapttfiesporQ
•e não rompesse & desse supitamente no lugar. E par-
tido de Cranganor tarde , fez que ya pera Cochim , 8c
em anoy tecendo fez volta sobre Porquá onde surgio em
amanhecfido, & em surgindo saltou em terra eò sua g6-
te, a que fez saber que lhe daua ho lugar a escala fran-
ca, com j) todos 6carão tSo ledos que posto (| a sua 8-
trada era muyto perigosa por ser por esteiros de maré,
& por muyta vasa que chegaua ao gtolho, passarão to-
do prestesmente leuando Simão de melo a dianteira,
.inas não acharão com quem pelejar por ho Arei ser fom
com sua gente de peleja. E os moradores que erão fra*
cos & sem armas em vSdo os nossos fugirão & deixarã-
Ihe ho lagar, em que ele entrando se forão dereyfos aos
paços do Arei & meterãnos a saco, & tomouse muy gros-
so dinheiro, porque eu vi hâ caldeirão de cobre que te-
uaria faB cântaro dagoa c{ tomou Francisco mfidex <¥&
Braga cheo de pardaos douro, & outros tomarão dez mil,
«)yto mil , cinco mil, .& ho geral de c6to & duzStos pem
cima & erão mil homSs. E a fera ho dinheiro amoedado
douro «c tomou outro muyto de prata & peças rioas de
pedraria, & muytos panos rícos da Pérsia, Choraman-
del k das iliiasda Ala(d4ua , & camarabãdos da Pérsia:
LITS» WtU eiPlTVLO XCH. 323
& forSo tomadas sua molfaer da Arei & irQa sua irmaâ,
que nâo poderão fugir , fermosamêle arrayadas douro ^
atjofar & pedraria , assi nas orelhas como no pescoço ^
mãos » braços & pernas & tudo Ibes foy tomado & elas
ficara caliuas. E roubado ho lugar foy destrui do com seu
Mtio em redondo a fo|;o & a ferro i| nâo escapou nhOa
cottsa^ & forão tomadas oy tenta peças darteiharía de fer«
ro & de metal & oylo paraós & dous catures. E coesla
vitoria se foy bo gouernador a Cochim : & ho Arei ficou
tão quebrado desta destruição que nunca mais ousou cJe
ser cdtra os nossos, & daqui naceo fas&er despois paz c5
Muno da cunha, & não ousou de a fazer com ho gouer-*
nador por saber que aquele anno se esperaua na Índia
que fosse outro de Portugal, & auia medo que desfizes*
se o que esteuesse assentado, & resgatou sua molher &•
irmàa |X>r muyto dinheiro»
C A P I T V L O XCII,
De como soube ho gouernador que as fustas de Diu cor-
rião a Chaul: ^* do qfez*
Jtlislãdo bo gouernador em Cochi chegou Garcia de saa,
fc dbspois António de saldanba, que como disse se a-r
partarã de Nuno da cunha com a tormenta que Ibes deu:
fc contarão ao gouernador o que passarão na viagem. E
António de saldanba lhe disse ^ segundo ho tempo que
auia i) se apartara de Nuno da cunha, 1} peis não era
na índia Q nâo passaria aquele ãno, & assi pareceo a lo*
dos* E assêtado Q não passaria a2|le anno, tornou bo go»
nernadcr a fazer guerra aCalicut, pêra o ^ se foy aÒa-
vanor cõ toda a armada, & surgido ao mar mSdou a Si*
nuão de melo 4| fosse queimar %uatorse paraés de Cali^*
cot ^ estauão no lugar de Marauia ao pé do mote Deli :
fc Simão de melo foy lá cÕ cinco bargãila em {) leuou
sessSta boaiCs & pelejou cd os mourus que eráo trt?2en-
tos , & despois de pelejarem iiA peda^ us desbaratou &
234 BA HISTORIA DA ífTOfíA
06 fez fugir & queimou os paraoe. E feyto isto toi^noa-
86 Simão de melo a Gananor & desembarcou cÕ ho go-
vernador, que determinado de mandar António de mi«
randa á cosia do Malabar, deu a capitania de Goa a M
loSo de<;a capitão de Cananor : & a de Gananor a Si-
nSo de melo, a que deixou noae bnrgantins darmada
ate a vinda de António de miranda, Q despachou des«
pois de ckegfar a Goa pêra onde se.paflio de Cananor:
& despois dele partido paríiose dom loSo deça pêra Goa,
& em chegando se partio António de mirada pêra a co»-
ta do Malabar com hQa armada de duzStos homSs. E es-
tando ho gouernador em Gt)a lhe foy dado hfi recado
muyto apressado de Francisco pereyra de berredo capi«
tão de Chaul em que lhe dizia* {} as fustas de Diu que
erão cincoenta & tantas chegauSo á boca da barra de
Chaul & lhe corrião cada dia, {} 8e tem^a segQdo tra-
zião muyta gente que entrassem no rio & tomassem a
fortaleza que tinha pouca gente: 'p4>r isso que socorres-
se logo se não que lha õcaropaua. Pelo que ho gouer-
nador assentou de ir a Chaul como (razia determinado
de ir por outro recado como aquele que lhe Frãcisco
pereyra mãdara a Cananor. E partiose de Goa a cinco
de laneyro de mil & quinhStos & *vinte noue bem con*
tta vontade Dantonio de saldanha & de Garcia de sá
que forão coele , que c5 outros muytos fidalgos lhe con«
trariarâo sua ida, dizfido que a pessoa do gouernador dá
índia não auiade ir a cousa tão f)ouca a seu respeito
como as fustas de Diu , que abastaria mandar hQ fidal-
go. E ho gouernador* que sabia que era hHa armada
muyto poderosa , & que se a desbaratasse faria grande
seruii^o a el Rey seu senhor não quis se não ir & leuou
hiia armada de cincoenta & duas velas, galeões, g^lés,
galeotas, bargantins & catures, & nela dous mil homens
Portugueses & dos da terra. E chegando a Chaul achou
que as. fustas fugirão com medo de sua ida, do que os
que Iba contrariarão zombarão muyto & diziâlhe que as
fosse . buscar f, & logo o. gouernador despedio ha capitão
~\
LIVRO vn. cAFirvLO xciii. 225
dfl c^tor ^ lhas fosse bnsoar ate certas legoas pola cos*
ta: & ele as achou no rip de Máiin, & vío que erão ses-
senta & três cheas de gStç &.muy bS armadas dartelha-
ria, & que andaua por capitão inór delas bQ valfite mou-
ro chamado Halixa , & assi ho disse ao gouernador que
achou na barra de Chaul. E sabendo ele esta noua en-i
trou no rio & foy desembarcar na . fortaleza , & despois
de desembarcado chegarão no mesmo dia á barra treze
fustas de Haiixa que eie mandaua a saber nouàs do quQ
ho gouernadcr déterminaua, &deulhe por sinal {| se lhe
saíssem de Chaul !) era sinal que ho gouernador ya pe-*
]ejar coele Sc se não não. B os mouros chegarão á boca
da barra posto que os nossos galeões eslauão bi surtoSi
& não lhes ouuerão medo porque ventaua a viração que
era contraíra pêra saírem de dentro, & começarão des«-
bombardear : o que sabido pelo gouernador. mãdou logo
a Eytor da silueira que lhe saísse cÕ doze bargantis !\
foy a renftos ate a boca da barra cõ a decente da maré
mas não pode sair por amor da montante que começa*
ua. E com tudo os mouros fugirão & fora dar esta noua a
Halixa.
C A P I T V L O XCIII.
De como ho gouernador disse aos capitães da armada que.
queria ir tomar Diu ^ de como foy contrariado.
s
abSdo ho gouernador Ôde as fustas estauão, & {) nã
corrião a Chaul como dantes determinou de as ir buscar
pêra pelejar coelas : & prímeyro ^ partisse descobrio aos
capitães & fidalgos hfla cousa Q ja de Goa trazia na v5*
tade, E jQtos todos em conselho lhes disse. Bê sabeis se*
Aores ^ Diu he a mais forte cousa de toda a costa de
Cambaya , & chaue de toda a índia por^ dali a pode el
rey de Cambaya conquistar, & ali he a certa cdheita
dos rumes se vier6 á índia : & por isto a fora ser tão
mao vezinho como he pola guerra Q nosfazimf)orlamuí'*'
to ao seruiço dei Rey meu senhor toníarse ^ o (}• agora.
LIVRO VII. FF
SS6 0A HI8TOSIA DA IlfMA
prasAdo a notso senhor se podara fazer cò moyto pouco
perigo de seus vassalos & muy pouoo gasto de sua fasfr»
da, porque eu sey certo ^ a principal genle de Diu an-
da nestas fustas , & a major par(e de sua arlelbana , h
^ MelíQ toefto <} agora he capitão he ainda noao oaguer^
ra & sabe pouco dela {| sam cousas euidStes pêra se po«
der tomar facilmfite : & esta foy a causa pricipal de mi^»
nha vinda & nâ buscar as fustas 5 |>era isso abastara bi
capitão. E porJ| eu sey certo J) Õiu esta desta maney-»
ra , & sey Q cô ajuda de nosso seAor bo poderemos to^
mar , me parece Q deuemos de deixar as fustas & en«
golfarmonos no mar, como que imos a Ormuz, & engole
fados fazer volta sobre Diu onde vêdonos de supito bSo
de cuydar que deixamos sua armada desbaratada de que
bio dauer tamanho medo Q ou se nos hão de dar ou uão
hão de poder resistir pêra os tomarmos : & islo me cre«
de como a homem que de idade de dezaseys a anos anp*
dey sempre na guerra ategora« E pregutado a António
de Saldanha & a Garcia de sá que lhes parecia, diaserSo
que lhes nSo parecia bem ir primeyro a Diu que peie^
jar com as fustas, porque segundo a genle delas andaua
soberba vSdo que oie se partia de Chaui & as niio ya bus*
car creriâo ^ lhes fugia & leriãoatreuiroêtode iraChaul
& deslruir a cidade & a fortaleza : & quanto a ir a Diu
também lhes fiarecia mal porque nào crião que estaua
despejado nê se deuia de crer se se nâo visse peb olho^
porque como auiSo os mouros de sertãodesouidadosqua
estando ele (So perto auiSo de ter Diu desapercebido pen
ra se defender importa ndolbe tiito: & aparecendo ele
no seu porto & nâo ho tomando seria híia grande des«
honrra : por isso nfto era bè que fosse, nem menos és fus-*
tas porque era muyto pequena empresa pêra bo gouer^
nador da índia. E c& ho parecer destes dous ae forâo os
mais dos que ali estauão, somente Eyior da silaeira foy
do parecer do gouernadòr, assi em ir a Diu como em ir
pelejar cÕ as fustas , & por ser h6 só não aproueitou ^
mas ho gouernadòr disse que ainda que parecesse mal a
LlVaO TU* CAPlTru> Xdlll. 8S7
4cMfe8, que aiiia dir^ajar o& as faiiaB, flcquefosaBcoe**
le qlift quiaesse. fi k>go se partia oaoi toda a armada^
& deu a eapitania oiór doa aaidoa da reiao a Eytor da
ailoeira pêra qae foste ao longo da eosta, & ele com cm
nauíot grossos ya hom pou^o amarado pêra qoe as fua*
tas ibe nfto escapassem. E quádo bo gooeraador parlio
apareceo no ceo bO siaal branco (ey lo coaio barra Sc »
trauessaua de noroeste a sueste & linha hfla ponta so**
bne DíQ 9 de ^ despois se soube qae os mouros tomarSo
naylo mao pronosiico, & esle sinal durou ate ho dia &
hora em q as fustas forâo desbaratadas.
C A P I T V L O XCII».
De como ho gouemaéhr pelejou com u armada de Diu
^ ade9baruUm.
Xli indo bo governador nesta ordem dia dfitrudo atar»
de aparecera ao longo de terra bOas treze ftistas que
ySo pêra Cbaui , & em auendo vista da nossa armada
voilarSo fugindo : bo gouernador como vio estas cuydoa
l\ vinha toda a armada: meteose logo em hd barganlim
eÕ determinação de pelejar coela. E vendo que não erão
«lais foyse ao barganlim Deltor da silueira , & disselha
que ao outro dia prazendo a nosso senhor eaperaua que
jpelejaesem com as fustas , & deuihe ho regimento do
que aaia de fazer : porque ele auia destar nos galeões
faiiorecêdo a batalha : & pêra mais animar os capitães
na peleja n>ftdon apregoar por toda a frota ^ que daria
c8 cruzados ao capitáo q primeyro aierraase fusta* £
aabido pela frota qae auiXo de pelejar confessarãae to^
dos aquela noyte: & ao outro dia q era <|uarta feyra de
eioca seys de Peuereyro em rSpendo a alua chegarão a
Bombaim dde as fustas estauSo pegadas cõ hOa ponta ^
fc erSo per todas sessenta & quatro. Eytor da silueira
como foy lho dia claro que as vio correo lodce os bargan-
t!a & cataees de soa capitania & nUkloo a todos os car
FF 2
S28 ' BA HISTORIA lU tNDM *
pilães que nSó tirassS obit tiro aes Imigos senSo des*
pois de desesperarem de os aferrar- que assi ho tkiba
mandado ho gouernador , porque wAo fugissem com me^
do da nossa artelbaria. £ receando Evlor da silueira ^
os mouros se se vissem em apertada sè acolhessem á hu
rio que lhes íicaua da bãda do oorle , niãdou a bus oyio
capilães de hargantíns que em ele rompêdo com os mou*
ros tomassem a boca do rio & lha defendessem , & aba*
lou pêra os mouros com os outros cujos capitão erao á
fora ele, Diogo coelho, Gaspar paez, Francisco aluares,
loão rodriguez ho chatim, Pedraluarez de mezquila,
António correa de Goa, Lourêço bolelho, Ghristouâo
Lourenço carracão, bo calafate de Gbaul, Diogo cores-
mas maiu, Pêro barriga, António colaço, Ghristouâo
correa, lorge diaz, & Antonjoferoandez : com qu6 ySo
estes 6dalgos , Ghristouâo de melo & Diogo de sã Payo
sobrinhos do gouernador, dõ Frãcisco de crasto, loão
perejrá, Manuel rodriguez c^uiinbo, André casco, Frã-
cisco de barros de payua, Luys Coutinho, Duarte coe*
lho, loão de melo, Garcia de melo, António barbudo,
loão da silueira, Manuel docarualhal, Nuno pereyra,
Lãçarote dnlpõeni & outros a que nâo soube os nomes.
Halixa estaua coro suas sessenta & qbalro fustas feytas
è três batalhas & ele na da retrogoarda: & como vío que
os nossos ababuão deu sinal abs. seius que tirassem coro
a artelbaria , & começou de tirar tãtos pelouros que era
cousa despanto, & tudo foy cuberto de fua>o, & por mais
bastos que os pelouros eriui os nossos tirauáo auante
quanto podião sem nbà tirar. O que^ visto por Haliza^
& H chegauâo a aferrar nâo ousou dagoardar mais com
medo & fezse á vela pêra dobrar a põia que digo & a*
eolberse pelo rio acima, & por ho venío ser escasso pê-
ra isso mandou meter os remos. de Q tão pouco se pode
ajudar por ser contra agoa, § vazaua a maré, & por iá-
6o se mudou a outra fusta peQna & deixou a sua Q era
grade, o que foy causa descapar da peleja que a este
tempo se começaua datear brauamente , porque o& nos-
LIVRO VII. CAPITVLO XCIIII. 22$
fi08 chegarão aos iromigos, & ho primeyro bargántiio ^
aferrou cÕ hQa das fustas Q era como bQa boa |;aleola
Soy ho Dantonio fernfldez em i) yão os fidalgos <} disse ^
& com a grande pancada Q ho bargantim deu em afer-
rando tornou a desaferrar & afastouse hQ pouco ficando
dentro na fusta Francisco de barros de payua ^ foj ho
primeyro que saltou neia & ficou na postiça onde ho es*
jpaço que ho bargantim esteue sem tornar a abalrroar
correo muyto grande perigo & sofreo trabalho ímmenso
em se defender dos imigos que trabalhauãoquãtopodiãò
pof lhe tirar a vida. E tornando ho bargantim a aferrar
foy socorrido dos outros a 2) os mouros defendião que
não ètrassem na fusta. £ estado nesta perfia cayo da
gauia da fusta hua panela de poluora que quebrou na
mesma fusta do mas to pêra a popa , & tomando fogo a
poluora que ali estaua arrebentou com hu medonho es-
touro, & toda a cuberta daquela parle lançou ao mar
com quantos estauão neta y & Francisco de barros que
hi estaua cayo no bargantim ferido em hum hombro di&
zagunoho, & forflo feridos loão pereyra de bda frechada
Bo rosto, & dom Francisco de crasto na cabeça com hua
pedra, & conu) a fusta arrebentou ficou rSdida , & en-
tre tanto chegou Eylor da silueira com os outros capi-
tães y & aferrado os !migos apertarãnos tã rijo que fize-
râo saltar muytos ao oiar & outros matarão, & os des-
baratarão de maneyra que todos fugirão & os Por^ugue*
ses os seguirá & por se não poderem acolher ao rio que
cuydauãoy forâo tomadas coreia & seys fustas com toda
sua artelharia & queimadas três de Q não escapou nin-
guém que todos fofão morto» nelas & no mar : sem dos
Portugueses morrer nhfl , somente forão algfts feridos ,
& das onze fustas que escaparão reeolheo Halixa sete
g5 a sua & fugio pêra bd lugar grande chamado Taná
donde se foy a Baçaim, & as quatro fugirão p^lo rio de
Nagotane onde forão tomadas pelos gentios de Chaul,
& assi não escaparão mais que as sete ^ leuou Halixa.
£ desbaratados os mouros, reoolbeose ho gouernador cd
tS* lU HflTOUA BA TNDIA
M numioÊ grossos aa enseada de Bombaim no próprio
dia j no qaal fc na noyte segulte os dos nauios de remo
que pelejarSo cõ os mouros os acabarão de matar na a-
goa* E isto fejto ajuntou Eytor da siiueira soa armada^
& as fustas que toraoit aos fmtgos & foyse pêra bo go*
uemador que ho recebeo cS moyto prazer^ & iaa armon
eaualeiros a mujtos fidalgos & a outros que bo quiserSo
eer por se acbarC em bCi feyto tio hOrrado como aquele
foy, & de que os mouros iicarSo muy debelitados: por^
toda sua esperança eslaua na<j[U armada. B juntos todoa
os nossos , tornou ho gouemador a piopoer em oõseibo
sua ida a Dia^ dando por rezSo muy principal ho desba-
rato das fustas com ^ Dio ficaua desbaratado & ae tei-
maria facilmente ou se daria ^ mas nSo lhe aproueiton
por(} António de Saldanha & Garcia de sa lhe lorão muy
cdtraíros, & por sua causa outros muy tos como da pri*
meyra. E foo a cousa a tâto (| lhe désae Garcia de sa
que aXo roubasse a honrra a N«no da cunha que el rey
não maodaua aa índia a outra cousa se não a tomar
Diu : por isso ^ lho deixasse, «e não S pedia dele bO es-
(onnêto, & ho mesmo dizia António de saldanba. E por
ho gouernador não ter da sua parte mais que Eytor da
siiueira, & andar muy acanhado c5 a vinda de Nuno da
cunha ^ quasi ninguém bo queria ver, não ousou dir cõ-
tra os requerimêtos que lhe fa^ião. E segundo se dcspois
aoube^foy cousa muy errada não ir a Diu porQ se Ibe en-
tregara se la fora & não custara tãto como ^pois cusv
tou assi de aangue como de dinheiro , & pêra sua d«s-
culpa com el rey pedio bo gouernador ao secretario hii
estormento de certidão do que proposera naquele con-
selho & no outro ates de pelejar com as fustas , pêra ^
el rey soubesse q«e ee não deixara de tomar Diu por sua
culpou E este estormCto foy tirado de hQ auto que ho se-
cretario fez dambos os conselhos que foy assinado pelos
que forão neles.
LIYAO VIU CAP1T¥U> XG¥. S3 1
C A P I T V L O XCY.
De eomo ho gouemador quUeru ir $obr€ a cid^ de Ta*
ná^ ^ a CQiu9a porque nâofoy^
V eodo ho gouernador Q não podia ir a Diu , determí*
BOtt de dar em Taoá bfla cidade da mourot qualro le^^
goas por dentro do rio de IMiaim, cidade grande & ríca^
& em ^ ae fas muyta roupa de Cambaya, & era senhor
dela bQ Xeque : & porQ ho goutjrnadur aabia que esiaua
rioa a queria tomar pêra a dar a aaco aos soldados ^ le^
uaasem de comer pêra ho inuerno ; & pêra 1| ho fizesse
tributário a el rey de Portugal. C proposto isto em con^
selbo , & acordado que bo tisesse embarcouse na fusia*
Iba & nos baleia dos galeões com toda a gente da arma**
da , & António de saldanba fo^ õ bOa galé muyto con*»
tra võtade do gouernador & de todus, porque ya em ris^
00 de ficar em seco : & aquele dia á tarde que foy bo
primeyro de Março entrou pelo rio de ASaim com deter^
minaçâo de chegar a Taná em amanhecido porque to*
masse os immigos mais desapercebidos. £ indo todos a
remo com a maré que enchia ja perto da cidade , soube
ho coniilre da gaiéDantonio de saldanba tSo mal atinar
bo canal do rio que se meteo por hfi esteiro, em que fi-
cou em seco qoãdo vasou a maré que foy quasi em ama<^
nbecendo , & assi ficou toda a armada em seco , & foy
cousa espitosa quando foy manhaã clara ver como fica^
rào os bargantios & catares , porque bils ficauSo com os
esporões fincados no ehSo & as popas pêra cima, outros
com os esporões pêra cima & as popas pêra baixo , que
parecia que os esteueráo ordenando daquela maneyra :
do que ho gouernador ficou bem agastado porque nSo
auia outro remédio se uSo esperar pola maré : & os ca-
pi tiles asu como bo nauio de cada bum pedia nadar, as**
9i tiraua^ pêra a cidade por mais mandados que bo go-
ueraador Jasia que bo nã fixessem , & deixauãno só , &
232 BA HISTORIA DA fNOlA
ate António de Saldanha deixou a sua galé em seco &
foyse em hOa fusta, & a gale ficou ê risco de nSo poder
sair , porque as agoas yão quebrando como que as ma-
res da noyte sam mores que as do dia , & por isso ficou
a gale S muyto pouca agoa, & não podia nadar, nè po-
derá sair sem ajuda : & esta deu ho gouernador que por
se não perder nã se quis dali ir ate a nSo tirar, & ele
por sua pessoa se meteo na vasa ate a cinta & ajudaua
a tirar pelos cabos & aportar ancoras porJ| os fidalgos
que yão coele tirassem tãbem , o 1} eles fizerão & forão
Christouão de melo , Diogo de sam Payo, dom Francis-
co de ^rasto , Frãcisco de barros de payua , loão perey-
rs, Manuel rodriguez contenho, Ândre casco, Luys Cou-
tinho , Duarte coelho , loâo de melo , Garcia de melo ,
Idão da silueira , Manuel do carualhal, António barbu-
do, & Lançarote dalpõem. E ajudarão também Louren-
ip botelho com a gSle da sua fusta & ho colaqo coro a
do seu catur: & leuando todos tanta fadiga & trabalho
que lhe saya ho sangue das mãos de puxarS poios caboa
tirarão a gale pêra ho alto das oyto horas daraanhaãate
a hOa despois de meyo dia, sem nhQ dos outros capi-
tães querer ajudar se não tirar pêra a cidade posto que
vião ho trabalho em ^ ho gouernador fícaua. E vendo ele
tão pouca obediScia aos seus mandados não quis dar em
Taná porque receou ^ tão pouco lhe obedecessem lá &
que recrecesse disso algu desastre, & tornouse pêra a
frota que deixaua no mar. £ vendo os que estauão diã-
te da cidade partir a bandeira forão a pos ela : & ho go-
uernador não quis castigar tamanho desacatamSto co-
mo aquele foy por os culpados serem muytos mas re-
prendeos brãdamenle: & perdeose h& bÕ saco naquela
cidade porque estaua muy rica. E por ser ja perto do
inuerno & ho gouernador auer dinuernar em Goa, &
não ter mais j| fazer na(|la costa que não fizesse hu ca-
pitão mòr & deixou hQa armada de vinte bargantins &
duas galeotas com trezentos homSs a Eytor da silueira
pêra que fizesse a guerra na^Ia costa ate ho cabo do
LIVRO Vil, CÁPJTVLO XCVI. «31'
Terão em que se recolheria a Ghaul^ & ele partiose pê-
ra Goa onde chegou em Março.
€ A P I T V L o XCVI.
Do que fez António de miranda na costa do Malabar
côtra os mouros de Calicut cô ajuda de Chrisiouâo de
melo.
v^egado bo gouernador a Goa despois do desbarato
das fustas mâdou a Ormuz três galeões carregados de
mercadoria dei rey, cuja capitania mór deu a dom Fer->
liando deça seu .cunhado, & forão seus capitães Antó-
nio de lemos & Lopo <ie mezquíta , & mandoulhe que
da voUa fosse fazer presas á ponta de Diu, & despachou
pêra Rlalaca a Garcia de sá qoe tinha a capitania , &
encomSdoulhe muyto ho resgate de Martim afonso de
melo jusarte que estaua catiuo em ^Bõgala, & mandou
ao Malabar Christouâo de melo seu sobrinho em hfla ga-
le & seys bargâtins de baixo de sua bandeira pêra que
se ajuntasse com António de miranda & lhe obedecesse^
E chegado laa foy coele ao rio de Chalé õde sabia que
estaua hQa grande nao dei rey de Calicut carregada de
pimgla pêra Meca & doze paraós pêra irem em sua com-
panhia em que aueria ojk> centos mouros frecheiros &
espingardeiros a fora outros despadas & laças ^ erão
rouytos, & António de miranda entrou no rio com os
bargãtis & catures leuâdo os a fio por ambas as partes
do rio que lhe não fizesse nojo a artelharia dos mouros^
que tinbSo os paraós diante da nao na metade do rio en-*
cadeados de quatro em quatro com bombardas nas proas
& per ambos ^s bordos. E por mais bombardadas !\ ti-
rarão , os Portugueses remado a todo tira , & desparan-
do sua artelharia lhe chegarão , & aferrando cõ os qua-
tro diSteiros pelejarão tão rijo c5 os mouros que estauão
neles Q os fizerão fugir saltado hQs ao mar & outros re-
colhendose pêra os paraós traseiros que logo forão cer-
Livao VIK GO
834 BA MiSTOEU DA ÍNDIA
oados do9 Portugueses , & pêra se despacharS mais asi-
nha lhe lançarão dêtro panelas de poluora com que os
queimarão^ & coisso se deitarão todos os mouros ao mar,
& deles forâo mortos i>agoa outros fugirão pêra terra a
Dado cõ (amanho medo que nem na pouoação se atreue-
rão a saluarse, & os Portugueses a Rimarão & destrui*
rflo tudo ao derredor. E destruída a terra tornouse An-
tónio de miranda sem perder nhQ dos seus de ^ forão fe-
ridos algiis, & leuou consigo a nao carregada como es*
taua Sc ojrlo paraós § os quatro forão queimados, Sc ma*
douha coeles a Cochim onde ho vedor da fazenda man^
dou fazer deles bargãtins , & a pimenta foy descarrega-
da na feytoria. Despois disto and&do António de miran-
da & Cbristouão de melo a monte fermoso h& da bãda
do sul & outro da do norte, teueChristouão de melo vis-
ta da armada deCalicut hu dia a tarde, & sabendo que
era de cincoeata paraós ajuDtouse com António de mi-*
Vanda (que ainda não sabia parte dela) & diaiselho, &
por ser tarde não pelejarão coela aquele dia & deixara*
RO pêra ho outro dia. E cõeerlado da maneyra i\ auiade
ser, em amanhecendo foy seChrístouâode melo em bus-
ea dos immigos iiulo abolinãdo ao longo de terra com ho
lerrenho, & António de miranda se empegou. E ido £ts-
si ouue Ghrislouão de melo vista dos imigoa que tam-
bém ho buscaoão, & sendo perto deles tiroulhe algas ti-
vos, & como ^ auia medo díeies poios ver muytos virou-
lhe a popa com os oulros & fezse na volta do marJ E em
os mouros vendo que fugia forão após ele obra de trin-
ta paraós que ho seguirão ate auer vista Dantonio de
miranda, que indo de auiso do ^ auia de fazer em ven-
do Cbristouão de meio fez volta , & passando a sota ve-
to dele meteose por âtre os imigos, que vSdose assi co-
meter de sobre salto amainarão pêra fugir a remos por-
que não podíão pola bulína. E nesta detença oyto dos
nossos bargantins aferrarão oyto paraós, & começarão
de pelejar : & querêdo os outros fugir sayolbes ao en-
contro ChrislouSo de melo, & seys dos seus bargantins
LIVRO VII. CAPITVLO XCVII. 236
nbaIrroarSo cÕ outros seys paraós , & os dezaseys I| fica-
rão por aferrar fugirão ate se ajuntar t^om ho seu capi-
tão mor seguindo os António de onranda ás bon>barda«
das & espingardadas: & nisto esteuerâo hd pouco coe-
les, {| posto que os quiserão aferrar eles se goardarSo
bem disso: tanto que apertando os nossos pêra ho fazet
lhes fugirão ao longo de terra metendose por rios & es-
teiros cõ muyta gente ferida & algos paraos arromba^
dos, & António de míranda & Chrislouão de melo oa
não quiserão seguir, & forâo ajudar os seus t\ ficarão b^
ferrados com os fmigos que ja os tinhão desbaratados,
& os matarão todos, sem ficar nhQ, & os quatorze paraoa
lhes ficarão em poder que António de miranda mandou
a Cananor pêra os fazerS bargantis: & correrão a costa
despois, & deixado a limpa meado Abril se recolheo
Cbristouão de melo pêra Goa & António de miranda pe-»
xa Gocbim por amor do inuerno.
CAPITVLO XCVIÍ.
Da guerra que Eytor da silueira fez em Cambaya.
jO içando Eytor da silueira por capitão moor na costa
de Cambaya, determinou de tomar h3a fortaleza duas
legoas do mar pelo rio de Nagotane, em que soube que
estaua h& eapitão dei rey de Gambaya com seys centos
de caualo & dous mil de pé : & deixou dir porque obra
de bCia legoa da fortaleza era bo rio tão baixo que não
podião nadar os catores, & queimou sey^pouoaçSesgran^
des de lauradores que estauão quasi na entrada do rio
de hiia parte & doutra , & fez espantosa destruição : 6
que sabSdo bo capitão da fortaleza foy ho buscar conv
sua gSte pêra pelejar coele , & topouho na derradeira
pouoaçSo que andaua destruindo. E sabendo Eytor da
silueira quão groesa gSte trazia n&o quje pelejar coel«
no capo por ter tão pouca gSte como erã trez&tos 1h>«
mõsy parque muyto ya de pelejar coeies no cflpo a pele^^
OG 2
SS6 DA HISTOUIA DA INDrA
jar na fortaleza onde delerminaua dir pelejar 9 que 00
campo auião destar espalhados & tirar aos nossos como
a barreira, &c na fortaleza não auião de pelejar mais que
aqueles ^ coubessem no muro, & no primeyro Ímpeto Q
era ho mais forte ficauão com os nossos quasi tantos por
tãtos y & por isso não quis Ey tor da silueira pelejar , &
assi ho disse aos seus que fez recolher aos bargãtis fi-
cando ele na traseira, porque os mouros Q chegauão ja
sobrele assoberbauãno muyto dando grandes apupadas ,
& chamando nomes aos nossos & os de caualo remeiião
escaramuçâdo : & Kjtor da silueira lhes fez rosto com
a gente que estaua por embarcar (irado muytas espin-
gardadaSy & hu dos nossos que tinha hQa laça com bQa
rodela se afastou do corpo dos outros , & hã dos de ca-
ualo que ho vio só remeteo a ele pêra ho ferir a mão ten-
te com ha zaguncho, & ho soldado ho esperou^ & em
querSdo chegar a ele f\ al<^aua ho braço pêra ho ferir me-
teolhe a lanqa polo sobaco do braço & deu coele no chão
ferido mortalmente, & ainda não foy no chão quâdo lhe
ho soldado tomou ho zaguncho , & caualgãdo no caualo^
leuou outro mouro dêcontro que ya pêra ho ferir, & pas-
sou ho poios peitos posto Q ho laudel era forrado de ma-
Uia: ao que os nossos derão grade grita & desfecharão
hua grade çurriada despi ngardadas, & coislo se teuerâo
08 mouros &. se retirarão. £ ha soldado tomando ho ea-
ualo do segudo mouro pela rédea se foy cõ muyto asses-
sego pêra Eytor da silueira pedindolbe que ho fizesse
caualeyro quando fosse tempo, & ele ho fez. E não po«
nho ho nome deste soldado por não ser conhecido: porS
ganhou ali esta honrra, & Ejtor da silueira lha fez dali
por diante, & assi ho gouernador ^ lhe chamaua ho seu
caualeyro, & na igreja estaua juto coele, & eu ho vi
muj^tas vezes. E embarcado Eytor da silueira foys&ao
leigo da costa caminho de Baçaim dali a clco legoas : mea
legoa por hu rio acima, mandando diante saber sua dis-
posição per hu Christouão correa capitão dQ bargãíim:
& este lhe disse que quasi pegado cõ ho lugar estaua
LITRO VII. CAMTVLO XCVII. 437
htla IrSquèira de madeira de duag faces entalhada que
tinha ires baluartes do mesmo com sessenta peidas dar-
teiharia grossa, & eslaua em sua goarda & do lugar Ha-
lixá (^ fora capilâo das fustas) cô três mil homSs de pé
& quinhStos de caualo acubertados. E com quanto isto
88 soube era ho desejo dos nossos tamanho de pelejar cõ
06 mouros , que em quanto Ejtor da silueira fazia eõse-
Iho como auiâ de cometer ho lugar bradauâo todos que
acabassem. E assêtado por todos que se cometesse , &
repõtãdo a maré entrarão pelo rio acima cõ grades ale-
grias : & ao outro dia ás noue horas chegarão defronte
da tranqueira que estaua na borda do rio que não auia
outro desembarcadolro se não nas bocaa das bõbardias ^
logo despararão nos nossos, que sendo (ão pouco» era
cousa medonha velos antre tãtos pelouros como vinhão
da tranqueira ^ pêra cada hú dos nossos auia muytos Q
os matassem, mas nosso senhor os goardou que todos es-
caparão & tomarão terra , & os primeyros forão duzen-
tos piães Canarins que yão cõ Malu mocadão dos remei-
ros Q Eytor da silueira deitou diante pêra quebrar neles
a primeyra ^urriada da tranqueira, & tambS estes forão
saluos. E desembarcado Eytor da silueira , remeteo á
tranqueira que muytos dos nossos tinhão aferrada, &
pelejauão muyto valètemente com os immigosquesede-
fendião muy bem, & dauão {} fazer aos nossos por serem
muytos : & se os nossos não teuerãa tãtas espingardas
?irãse 6 assaz de trabalho, porque as frechadas dos im-
migos não tinhão conto, nem os arremessos & pedradas
que lançauão , & laçadas que dauão a mão tente , mas
as espingardadas dos nossos podião mais & derribarão
tantos que fizerâo caminho pêra 6trar sem lhe os mou-
ros poderem resistir, posto que trabalharão nisso quan-
to poderão. E v6do que os nossos os entrauão fugirão,
& eles os seguirão ate ho lugar onde se meterão lodos :
& aqui iizerão os immigos rosto aos nossos defendendo*
•e. È isto porque sabãdo Halixá (| Eytor da silueira ya
sobre a tranqueira, receado que a entrasse deixou nela
238 0A HT0TOKfA DA ÍNDIA
a gente <) lhe pareceo que abastaria pêra a defender &
com a outra de pé & de caualo se pos em Cilada cam
têção de dar nos nossos despois de andarem no lugar,
& Gom 08 immigos lerê esta certeza íizerâo rosto aos
nossos & se defendido. E estando nisto sayo Haiixá da
cilada coro os de caualo diante & os de pé detrás, o que
siniido Ey(or da sílueira recolbeo os nossos & sayose ao
campo, & feytos em hQa pinha esperou os immigos que
ho forâo cometer cuydando í| lhe fugia. E chegado os
dianteiros ^ erão os de caualo, desfechao os nossos as
espingardas tirando em roda viua por!| os mouros os nào
entrassem & derribarão muytos deles, & os caualos c5
medo do eslrÕdo das espingardadas oomeção de fugir ,
& metSse por anlre os de pé derribando os com os pei-*
tos, & trilhando os com os pes os desbaratarão & tizerâo
fugir & coeles Halíxa: & os nossos por estarem muy
cansados os não seguirão^ & íbrâo roubar ho lugar a que
derâo fogo despois de roubado & ardeo a parte daquele
dia & quasi todo ho seguinte sem ficar cousa Q não fos*
se queimada, & cortadas as hortas & palmares derredor^
K foy cousa espãlosa a destruição que foy feyta por tão
pouca gente. E isto acabado í\ foy bQa cousa muy gran*
de sayose Eytor da silueira pêra ho mar com sua arma*
da carregada de muy(a fazSda, artelbaria & catiuos que
se (ornarão em Baçaim, & com três taforeas carregadas
de madeira, & foyse por essa costa a destruir muytas
pouoações : do que a gete fugia cõ medo , & os nossos
queimauão os lugares & destruyão (udo. E era ho medo
lamanho nos da terra Q a seys legoas por dentro do ser-
tão nao ousaua ninguém de parecer. E coes te medo ma n*
dou ho Xeque da vila deTaná pedir paz a Eytor da sil-
ueira com lhe oflrecer que pagaria cadãno quatro mrl
pardaos de páreas, & da^le deti logo dous mil & por não
poder pagar os outros dous mil deu arrefens. E de tudo
isto foy feyto hQ contrato assinado por ambos, & por sei
DO cabo do verão se foy Eytor da silueira a ChaoL onde
auia dinuernar, & dabi mãdou aa taforeas da madeira ao
gouernador.
LIVRO yil« CAPITVLO XOYIII. t39
C A P I T V L O XCVIII.
Do que passou dô lorge de meneses c6 Fernão de la torre*
j\,ttM fica dito quSo pouca ajuda deu Gdt^alo gomea
daseuedo a doni lorge de meneses oÔ a gente Q leuou
de Malaca ^ & como nS queria mais que estar na forta-
leza fazêdo sua fazenda : porejo bfl só bem lhe fez que
Cou) sua estada eofreaua os castelhanos & os mouros pê-
ra que não fizessem a guerra tão apertada como dates ,
& tinha muytas vezes tregoas & yâo folgar hQs cÕ o»
outros sem terem necessidade de pedirõ seguro se não
quando cbegauão ou leuantauão hila bandeira branca ,
ao que parecia que aueria pazântreles. E com tudo nun-
ca a ouue, n3 Fernão de ia torre quis dar a dõ lorge os
Portugueses que tinha catiuos por mais vezes que lhos
pedio do que dom lorge estaua muylo agastado. E cor-
rêdo assi ho tempo hQa noyte quasi no fim do quarto da
prima forSo ter na fortaleza deus caslelhanoã, que to-
mados pelas vigias forão leuados a dom lorge ^ os man-^
dou prender cuydando que yão pêra dano da forlaieza
por não pedirem seguro, neip leuarem recado do seu ca-
pitão. E sabendo Fernão de la torre a prisam destes Cas-
telhanos com seguro de àÕ lorge lhe mãdou hQ embaixa-
dor que foy com tamanho aparato como que fora de htl
grande príncipe ^ porque alè de leuar muyto ricos vesti-
dos, lenaua diãte trombetas, & frautas & deus reyg dar*
mas : & ya acompanhado de gente muy luzida. E a cõ^
crusam de sua embaixada foy espfitarse Fernão de la
torre muyto de dom* lorge prender os dous Castelha-
nos, sendo tão costumado antreles, & os Portugueses irS
folgar hQs com os outros , pedindolhe ^ lhos desse : &
dom iorge disse ^ ele responderia , & mandou apousen-
tar ho embaixador que deteue algfls dias, & neles lhe
fez muyta hArra comendo ás vezes ambos, & oulras lhe
mandaua de comer a sua pousada. £ hQ dia eslãdo ho
240 SA HISTORIA DA IN DIA
embaixador no cabo do comer lhe mandou dom lorge
como por zõbaria bu pastel «em queySo bQ cSo & hu ga-
to pequenos viuos com h(l recado, que pois aqueles dous
que erão tão cõtrairos de sua natureza, & estauáo lâo
pacíficos, que porque ho não eslauão assi os Castelha-
nos cÕ 08 Portugueses , pois que auia tanta rezão pêra
isso , assi por serem todos Christãos & espanhoes, como
lambem por serem vassalos de dous principes tão liados
per parentesco & amizade. E visto pelo embaixador bo.
recado & ho presente, mãdou preguntar a domiorgeper
qual daquelas alimárias entendia os castelhanos. £ ele
respondeo ^ polo gato, por ho terem ate então muylo
arranhado, & ele auia de ser ho cão que os auia dapa-
nhar dum bocado, & Q dissesse a Fernão dela torre que
lhe pedia nuijto ^ lhe desse os Portugueses que lhe la
tinha , se não ^ lhe não auia de dar os castelhanos, que
pêra isso os iomara. E isto respondeo ao embaixador
por derradeyro quando se tornou : porem Fernão dela
torre não quis dar os portugueses. E daqui a dias a qua-
tro de Dczêbro chegou a Ternate hum fidalgo chamado
dom lorge de crasto em hum jungo de que ya por capi-
tão & de caminho foy porBorneo, leuando em sua con-.
serua hum lorge de brito por capitão de hfia fusta que
se perdeo de sua companhia & tornouse pêra Banda, &
dõ lorge leuou muyta roupa fieraa feytoria & muni<;de8
pêra a fortaleza que então era tudo mujto necessário.
E com a vinda de dom lorge de crasto se fauoreceodom
lorge algQa cousa, & mandou ho darraada ao morro, on-
de chegado pelejou com a armada dos imroigos&oadesn
baratou & se tornou a Teroate : & sendo ja em laneyro
de mil & quinhentos & vinte noue, Gonçalo gomez da«
zeuedo começou de querer entender em sua partida pê-
ra Malaca : o ^ vendo dom lorge de meneses , lhe reQ-
reo muyto estreitamSte que ho não fizesse, & assi ho
requereo a Lionel de lima, a quem tinha dada a alcay*
daria mór da fortaleza, & capitania mor do mar, poen-
doihe diante a necessidade que linha deles por amor da
IIVRO VII. CàPrtVhOXOTX. ^4t
guerra que lhe faziSo ôs mouros & os Castelbânoè , &
em quanto apreto ficaria por Ibe leuarem a gente. E' com:
tudo nunca quiserão se nSo irse, prometendolhe de lhe
nSo leuar a gente, que dom lorge deteue com muytos
rogos & dadiuas de sua fazenda, & proroetendolhes que
no anno seguinte lhes ajudaria a fazer crauo. E coisto
que íhes prometeo íicarâo : & pola ida de Lionel de li-
ma deu 08 seus officios a hfi Gomez aires criado do mes^
tre de Santiago , & mandou na conserua de Gõçalo go^
mez dazeuedo a dom lorge de crasto que fosse pedir so-
corro a quaisquer capitães ou mercadores que achasse
em Banda , assi de gente como de mercadorias pêra a
feytoria. E parlio Gonçalo gomez & os outros a dez dias
de Fenereyro , & Gonçalo gomez foj por Backão pêra
tomar hi Manuel falcão que deixou em Bacfaão ale sa**
ber se dom lorge queria que ele fosse pêra a fortaleza 9
o que ele não quis consentir por estar mal coele, como
ja disse.
C A P I T V L O XCIX.
E
De como Garcia de sá se partio pêra Malaciu
Jintrado bo mes de laneyro deste anno de mil & qui*^
nhentos & vinte noue que era a moução pêra ir de Ma-
laca pêra a índia , partiose lorge cabral que fora capi-
tão da fortaleza de Malaca, & dom Garcia anrriquez ca-
da hu em seu jungo, & assi outros fidalgos que laa es-
tauão & chegarão aa barra de Cochim , & com quanto
yão com determinação de passarem a Goa não ousou lor-
ge cabral por ser ja na fim de Março & ventarem os no-
roestes que correm ao longo da costa & Lhe erão por da-
uante, & por isso se acolheo lorge cabral a Cochim. E
dom Garcia não quis acolherse coele, & disse que auia
de passar a Goa em que pes ao vento & ao mar : & po-
lo vBQto ser por dauanie, & bo jungo em que ele ya ser
mao de bolina & ir muyto carregado ^ chegou a Bateca-
lá com muytp grande trabalho. & perfia: & estado hi vio
LIVRO VII. HH
S4S 9A HWTOUbk JU INMA
qtie lio tempo aiiia de ser de cada Tez mait forte por eer
■leedo Abril que entraua ho inuerno, & por itao ouiie
por seu acordo que era aielhor loroaree a Codiiai : co-
no tornou, & com grade lormenLa chegou aa sua barra
oode durando a lorfueaia surgia 9 porque por ho juDgo
ser graode & ir muylo carregado aio pode eolrar iio rie
de Cocbim. £ deijtaiido do» Garcia ho jungo surto m^^
bre hua ancora foyse a terra , & despois de ido creceo
bo ▼esto taoto que durou ires dias & Ires noyíes & aa«*
daua ho mar táo gresao que ho juago se íoy au fundo c5
a Biuyta a^a que lhe entrou denlro, em que se perde-
rão cíneoenta mil cruzados que tanto valia a carrega 4
Unba : & doA Garcia não ficou cÕ mais que com ho ves«
tido com que íóy a terra, & despois bo prendeo Nuno
dn cunha pelo qtie ãzera em Maluco & ho mâduu preso
a Portugal 00 anno seguinte. E despois de passada esta
tormenta, Garcia de saa que estaua então em Co6bí se
parlio pêra Malaca, & ya em hua nao, & leuaua et» sua
companhia hum jungo que oomprara pêra leuar sua fa-
zenda: & ho jungo se perdeo ao sair da barra. E che-
gado Garcia de saa a Malaca^ lhe entregou Pêro de fa-
ria a capitania da fortaleza, & ficou em Malaca ate ho
Setembro seguinte que se partio peca a In.die oode che-
gou em Nouembro.
CAPITOLO C.
De eoma d rey Dachem tommè fH)r enfmw hH galtSa o
Mantícl pu€he€o.
£il rey de Dachem po4o8 recados que tínha mamlado a
Pêro de faria que maadasse pola igató como atras fica di«
to esteue esperando q.ue fossem por ela» £ quando vio
2ue não yáo , nem Pêro de f<if ia Ibe mamlaua reposta
cou espan4ado, fc4k4rerBi.inou.de saber porque lhe não
mãdaua recado: & mandando pregujilar a causa disso
ao Bedara de Malaca 4 ^^^ eome Sanaya de raja o5
Livno tn. cAPTTvxo c. S4S
qntm tínlíB grande nmhtíéeí^ & lhe peilaua groMEiíiDen*
te por ih6 dar auiso do (\\jm s^ibia Q os Porlogneses de«
terminauão & quantos erão, porque todo seu pensamcn^
to era diininuilos tanto com ardij8.& manhas que podas-
se tomar a fortaleza sem perigo. E como pêra isto tinh»
este trato* eom Sanaja, foy por ele auísado de como Pe*-
ro de faria recebera bem a embaixada qae lhe leuars
António caldeira, & como ho mandara ctmi reposta: fc
por amor da saa amizade que tinha por muyto certa n&o
dera socorro a el rey Daupu^ & que se Garcia de saa nãd
entrara na capitania naquele tempo, que sempre Pêro
de faria mandara pola galé. E el rey deDachem que is-»
to soube, determinou logo.de cometer paz a Garcia cte
sá pêra ver se lhe podia acolher algfis Portugueses pêra
os m^tar, & mandoulbe hum embaixador, que au^dose»
guro de Garcia de sá entrou em Malaca, & primeyro
que desse a embaixada correo toda a cidade sobre huoi
alifante leuando nas mãos hum bacfo douvo em que ya
hfta carta dei rey de Daefaem pêra Garcia de ea & ro^
deado de muyta gente úé pé', leuaua bum homem dian^
te taégvndo em bQa batia , &; de quando em quSdo dh»
?ia em )vqz alta como fwegâo tfU0 e( te^áe Dachem qoe«
ria £raer nnÀtt^ cckú é fej de Portugal: & isto £ez
por ser assi ho costume daquelas partes* E corrida a ci^
úade deu a embai!iad^a a Garcia de sa, cuja concrusani
foy desculparae d» que ftira feyto a SímSo de sousa gal*
ufio^ & como estaua prestes pêra dar a galé, arteiharía
&* Portugueses , sobi'^ que '«3dara trea a Malaca per
duaa retea pedir aa^eaprtilo^qae mandasse por todo biiiR
homem bonrraiki^ peva assentar coele amizade , porque
deslB)a«a que os Portiigaesea teuessem trato em sua ter«
rB\, & que tioii«a virarreposla: pedindo a Garcia de saa
<)ue .Use '^sèsae responder com fazer o que pedia« E
pareieendo Garcia de saa que era aquilo terdaée , fei
Kiuyta Mrra aer efaibaizador, & despedioho logc mandan*
<}o eòdOiiOQtrD com reposta como el rey <(iierfa, qu« fea
gnoide raaeiíi mento aa embaixador Porlugives, & po9
HU 2
244 .OA HISTORIA DA ÍNDIA
lhe fazer honrra que antreles he rnuyto grS.de lhe deu
duas manilhas douro pêra que trouuesse no bra^o derey-
to como caualeyro, & aos que ySo coele deu a cada hum
sua. E partido ho embaixador pêra Malaca foy morto
com quantos yão coele aa barra de Dachem por man*
dado dei rey , & isto tão secreUmente que ho não sou-
berão mais que aqueles que ho íizerão, & por isso ho
Dão soube Garcia de saa, «mas soube a honrra que lhe
el rey de Dachem fez pelo que não teue nenhOa sospei-»
ta daquela maldade, mas vendo que ho embaixador não
tornaua cuidou que se perdera no mar. E sabendo isto
el rey por Sanaya de rdja , tornou a mandar outro em<*
baixador a Garcia de saa, espantandose muyto como não
mâdaua confirmar a paz como lhe mandara dizer , ^ a
nandasse logo confirmar per algum homem honrrada. R
cuidando Garcia de sá que era assi, sem ho praticar em
conselho esoolbeo pêra' mandar a Dachem hQ Manuel pa*
checo ^ sabia bem a lingoaMalaya, & porque se ganhai
na muyto na mercadoria q se lá leuaj»se deulhe hCí ^a-^
leão nouo carregado dela & a mais sua, & a outra doy-t
tenla Portugues.es. que.auiSQ dirioom, Manual paçjhecoj
que por a ida ser de proi^eito outierao liceiiça pêra irem^
com grade aderemja. E disto deu logo Sanaya auisó a*ei
rey de Dachem conselhãdolhe.que tonmsse aquele ga*
leão f affirmando que se ho tonwMia que ele. Uie tomaria
logo a fortaleza de Malaci^,.. porque a genie que ya nò
galeão era a principal da fortaleza.^ & a Q ficaua era
doente & pobre. E tendo eJ rey» este recado, quando Ma?
Duel pacheco chegou á barra de: DachiS de terminando él
rey de ho tomar mandou mu;tas lanchaila^.darinada pet
ra isso, que andando ho galeão. balrraueateando de fora
da barra sayrão pouca» & poucaa, & quando os PorXu*
gueses virão tanta gente como traziâo as ianchasaa, dis*
serão a Manuel Pacheco que Lhe parecia equiló>treição^
que seria bÕ armarèse pêra se defenderam : doi qua>a0
ele agastou muyto dizendo que è el rey não auia irei*
ção que não fizessem atuoroijo. £ como ja esteoesaem
LIVRO VII. OAPITVLO Cl. 2éft
iDúytáB lancharas ao derrador do galeão , ^Ira por ele
lifla frecha que sayo danire os mouros, ao j| Manuel pa«
checo pedio muyto apressado hQa saya de malha , & em
a metèdo pela cabeça veni outra frecha & atrauessalhe
ho! pescoço, & após isto êirão os mouros ho galeão por
Iodas as partes dando grades gritas, & sem se os Portu-
gueses poderem armar nem defender forão tomados ás
mãos sem escapar nbu, & leuados a el rey os mãdou ma*
iar com os outros ^ tinha da galé de Simão de sousa,&
ficoulhe ho galeão que era nouo & muyto bem artilhado,
& coesta artelharia 6cou muyto mais abastado, dela do
que estaua a fortaleza de Malaca : cÕtra quem mandou
logo húa armada, mandando dizer a Garcia de sá que
lhe agardecia muyto hò galeão que lhe não falecia mais
que hQ bargâtim , que lhe rogaua que lho mandasse se-
não que ele ho tomaria cedo. £ el rey ficou Ião soberbo
que não tinha em cont£( os Portugueses , & determinou
de lhes tomar a fortaleza de Malaca.
. C A P I T V L o CL
JDc' comofoy discuberla a treiçâo de Sanaya de raja , ^
foy morto por mo.
D.
^espoia da tomada deste galeão mãdou Sanaya de ra-
ja dizer a el rey de Dach6 que pois ho tomara que ele
compriria com lhe dar a fortaleza pêra que dali por dian-
te buscaua têpo. £ quasi i) ho ouuera de fazer se ho nos-
so senhor não descolorira, & assi foy que andando muy-
tos. mouros Dachem darmada ao longo da costa de Ma-
laca , ajuntarãse com algiis dela onde chamão ho tãque
deJ rey & hi fizerão bíi bãquete em que os Dãchl^s des-
pois de bêbados cotarão aos Malayos como por instru-
ção de Sanaya el rey de Dachem tomara ho galeão , &
como mandara matar ho embaixador de Garcia de sa
pêra mais dissimulação, & como tinha ordenado de to-
mar a fortaleza em hiii tal dia que Garcia de sa esteues*
146 9A BuronuL ha hcha
•e na igreja com toda a gente qoe auia da tirar dentro
com hum camelo qoe estaua ceuado defronte aa porta
da fortaleza , & matar a mais da gente que etteuesse
dentro tomar a fortaleça cÒ gente que auia de ter pêra
isso : do 4 logo Garcia de sa foy auisado por algtls doa
Malayos qoe erSo seus amigos : & ouue logo conselho
sobre matar Sanaya, & qae fosse com ho menos aluofo^
ço que podesse ser. E estando neste consdho ebegoa
Sanaya ^ era fora com ootro mouro seu enteado que a«
uia nome Tuam mafamede, & Garcia de sá bo mandoo
chamar : & ele foy logo lá bC descuydado do pêra (} hò
chamaoâo que. nâo cuydaua que se sabia, & ya coela
Tuã mafamede^ a que Garcia de sá disse <) queria preiH
der Sanaya por treiçSo que fazia : o 1) Si^naya n2o en^
tendeu por não entSder a lingoa Portuguesa. A que
Tuam respondeo, que se Sanaya fizera treii^So que. a pa^
gasse. E logo Sanaya foy preso, & atadas as mãos-atras
foy deitado do terrado da torre ^ era de cinca sobradoe,
& assi foy morto. E Tuam mafamede que assi ho vio
matar ficou fora de si com medo , Sc Garcia de sá lhe
disse que não ouuesse medo , porque Sanaya pagara ho
iQal que fizefa : & a ele Q era leal farta sempve muy ta
honrra & mercê, & mandou bo leuai* pêra sua casa muy-
to acompanhado: & assi liurou nosso senhor a fortaleza
o8 a morte de Sanaya de raja que hz mttyto grande es*
panto nos Malayos , & fez iSbrar a morte de Tuft tirnn*
teraja em tempo Dafonso dalbuquerque, & dízlSo que
os Portugueses sabião muy to qoe nao ae Ihw escondia
nada. E el rey de Dachem ficou muyto triste pota morte
de Sanaya, porque perdeo nele grande perda ^ & a mo**
Iber de Sanaya fugio logo , & foyse ce^a. Tufl nia(a«no^
de pêra el rey Dugentana^ h& rey comnrcfto do Maiacat
«• >••• • «.#
C A P I T V L O CII.
Htc como Ntmo da .cunha chegou a Ormuz ^ ^ de como
fmf preíQ Rais jwrafo.
limkvnido Nuno da cunha em Mombaça forSo ter coe-
h» AD cabo do inuefno Simão da cuuba, dom Francisco
ãeq%^ & FraBcíneu de mèdoi^ que inuefnarão em Mor
çanibi(| oode ibe niorreiio qnairocêloa horoês, & assi bo
diaserau a Nuno da cunba^ &.a perdição Dafoaso vaz a-
aambujo , & de Beraaldiro da silueira : do qjie ele ficou
nuyío triíile & receou que também Garcia de aá & An^
tooio de Saldanha fossem perdidos, & porque era no ca«-
bo do verSo da Índia , & a nauegaçSo pêra laa auia de
aer muy perigosa por amor das uaos que erão grandes ^
acordou cõ aqueiee capitftes que pêra seguraiK^a delas
fi)aae ter ho inuerno da Índia a Ormuz. E estado pêra
partir foy bi ter em hfi nauio hft Bastião ferreyra ctda»
dáo de Goa que por mandado do gouernador foy buscar
Nuno da cunha a Adoçambique cuydádo que inuernaua
lá & nâo bo adiando foy a Meliade , & porque auia de
ir inuernar aa índia eacreueo Nuno da cunha por ele ao
gouernador como tomara Mombaça , & a causa porque
ya a Ormuz , pedindoibe muyto que teuesse a armada
da índia concertada [lorque auia de ter necessidade de<-
)a em chegando. E partido Bastião ferreyra , partiose
ele pêra Ormuz ^ & es4ando na agoada de teiue foy ter
eoele dom Feraàdo deça cft os oulroe dous capitães de
eua cõserua que ySo da índia como disae atras , & dahi
se foy a Alazcale Õde deixou es doentes da armada que
enio muy tos, & as oaos de díl Frãctseo deça & de Fran^
etsco de meodoça, & por capitão a dom Fernâdo de li«-
ma 9 & foyse na aua nao a Ormuz indo coele Simàu da
cunha & doai Fernando deça cam seus capitães , &. el
f ey lhe fez grande recebím^oCo : & com sua chegada fi-
«i;u Aaix macafo muy assooabtado jque caaiigasse auaa*
248 'r}A HISTORIA DA INmA
tiranias, porque como vinha nouamente auia medo de
entender nele. E auSdo poucos dias que ho gouernador
estaua em Ormuz, chegou de Portugal Manuel de roa-
cedo por capitão de hfi galeão com prouisam dei Rejr
de Porlugal pêra prfider Raix xarafo por muytas culpas
que tinha dele, & que lhe fosse entregue, & no mesmo
galeão ho ieuasse preso a Portugal. E el Rey deu este
cargo a Manuel de macedo por confiar dele Q ho faria
melhor que outrem' & não se peruertéria c8 peitas. E
chegando ele á agoada dé Teiue que he sessenta legoas
Dormuz soube como Nuno da cunha estaua em Ormuz:
& porque se receou que se soubesse ao que ya lhe tira-
ria a honrra quesperaua de ganhar em prender Raix xa-
rafo (por ser cousa muy desejada) quis ficobrir sua ida
a Ormuz, & foyse ê hQa terrada c5 algfis de que se con-
fiou mandando ao ^ deixou no galeão por capitão que
dali a tantos dias fosse ter a Ormuz que era ho tempo
que lhe pareceo que teria feyfo seu negocio. E chegado
a Ormuz na terrada que era hfl dia pola manhaâ desem-
barcou muyfo secretamête & foyse a casa de Raix xara-
fo que pousaua nos paços dei rey , roãdando primeyro a
hfi criado seu que como ho visse falar com Raix xarafo
lhe Ieuasse hila carta a Nuno da cunha em !\ dizia !\ lhe
requeria da parte dei Rey de Portugal que tanto que
aquela visse mandasse gente a casa de Raix xarafo por-
que cÕpria muyto a seu seruiço. E chegado a casa de
Raix xarafo foy dele muyto bem recebido porque ho co»
nhecia & tinha coele amizade de quãdo ho leuara da In*
dia pêra Ormuz despois de se liurar das culpas que lhe
punhão como disse atras. E ho homem que tinha a car«
ta pêra Nuno da cunha como os vio faiar foylha leuar. B
lendo Nuno da cunha a carta chegou Simão da cunha
muyto depressa & disseihe que fazia, que Manuel de
macedo tinha preso Raix xarafo: 8& assi era que ja ano-
lia andaua pola cidade. E ficando Nuno da cunha muy^
to salteado coesta noua mandou logo a Simão da cunha
*^ue fosse prSderRaix xarafo^ & ele foycon^xOHiytage»
LIVRO VJI. CàTirVísO .CIT. 248^
le: & cheirando Ia achou que ja Maouel de jmacedo ii«
pha preso Raix xarafo, & Simão da cunha lho tomou &
lhe mandou logo escreuer sua fazenda , & ho leuou coi>
sigo a casa de Nuno da cunha sem na cidade auer por
kso nbil aluoroço cÕ quanto Xarafo tinha nela muyto
pod^r & muyta valia, & era muyto aparentado, & isto
por -medo dos nossos. E Nuno da cunha 6cou tão agas-
tado de Manuel de macedo prSder Raix xarafo sem Ihç
dar conia disso, que bo mandou prender com quanto lhe
ele mostrou a prouisam que trazia dei Rey pêra ho prS«
der: & lambem ho porque Nuno da cunha fpz isto foy
por abrandar el rey Dormuz {) mostrou sentir muyto a
priaam de Raix xarafo por ser ê sua casa, & dauasse
por muyto injuriado disso. E despois da prisâ de Raix
xarafo eoi Agosto, ordenado Nuno da cunha sua parti-
da pêra a índia veyo noua certa a el rey Dormuz que
Raix bardadim gouernador de BaharS por el rey Dorr
inuz se lhe rebelara & lhe não i]ria pagar corenta mil
xaratins que lhe pagaua de rSda, & isto por amor da pri-
fã de Raix xarafo de {) era cunhado dizSdo 2) el rey ho
fizera prender pois cõsentira Q fosse em sua casa, pelo
^ lhe auia de fazer todo ho mal Q pudesse. O Q sabido
por el rey deu cola a Nuno da cunha, dizSdo () pois ele
era vassalo dei Rey de Portugal & lhe paçaua páreas ^
ele como seu gouernador lhe auia de restituir Baharena
& tornar a sua obediência a Raix Bardadim, & mais
pois a prisam de Xarafo fora causa de seu aleuantamen-
to, & se isto não fazia que nâo podia deixar de descon*
tar nas páreas dei Rey de Portugfal a^les corenia mil
xarafíns ^ lhe rSdia BaharS: a Q Nuno da cunha respo-*
deo {) não tinha naquilo rezão, porque se X^rafi) for^
preso, fora por suas culpas & el Rey de Portugal ho po-
dia castigar como seu superior, & por isso não era a?
quilo escusa pêra não pagar as páreas. E daqui prati-
carão lanto sobresta cousa i\ Nuno da cunha fez cÕ ei
rey í\ pagasse mais de páreas a el Rey de Portugal os
icorenta mil xarafins ^ lhe rCdia Babarem & que lho so-
LIVBO VII. II
ISO nà «imftii 0A mik
meteria a 6aa obediência. E isto pos Nono da ennbá enii
cAsetho coro os capicáes & fidalgos de sua amada: &
aigQs disserSo ^ ele ya dirigido de Portugal pêra tomar
Diu : & Diu importaua mais tomarse que se aerecSta*
reio mais corSta mil xarafins ás páreas Dormuz, porqne
auia de rSder mais , & auia de ser mais Mnra dei Key
de Portugal tomarse , & que se agt>ra fosse sobrele o5
ào destroço que Lopo raa de sam Payo tinha feyto nas
fustas , & com ir de nouo de Portugal ^ fao tomaria , &
mdo sobre Bahatem ou mabdâdo iá () auia dauer rouyta
detença por ser fora de monção, & perderia tempo de
éhegar aa índia tSo eedo como era necessário pêra ir
Èohte Diu , por isso que deixasse BabarC. E outros dis^
serSo que não porque bõ se podia sugigar Babarem ft
tomarse Diu , & coestes foy Nuno da cunha. E isto se
Assentou , & 4 fosse Simão da cbnba a Babarem : a qne
Nuno da ennha deu por regimento Q por quanto em fo*
ra da mouçâo, & os ventos lhe auião de ser por dana»*
te q aodasse ás voltas ate trinta dias & quando neslé
tempo fao não podesse aferrar que se tornasse. E coest«
regimento se partio Simão da cunha na entrada de-Se«
tembro, & ele foy em bã naoio redondo du lorge gomes
mercador da ladia Português, que eu conheci, fc forão
por seus capitães dom Francieco deça no nauio em ^
Manuel de macedo fera de Portugal, que não chegou a
Babarem |>or ser roim de vela, & Manuel dalfouquerque
em outro, & dom Pernãdo deça no seu galeão, & Alei«
xo de sousa em outro, & Lofio de mesquita nn çamo*
fim peqoeno, & Tristão dataide em híja fusta, & a gen«
te j| ya nestes nâuios forák) treeentos dos nossos todos Ih
dalgos & eauaieyros criados dei Rey, gête Ioda limpa âi
bem armada de coiraças de seda, & armas t^rancas. Efa«>
zendo sua viagê acharão os v6to8contrairos& teuerãoas'*
sa2 de trabalho, & andando assi déulhes nosso senhor bfl
vento que os pos em BaharS, saluo a dom Franeiscodeça
^oe (icoii atras & Aleixo de sonsa que no caminho toiiion
ttlgOas terradas de mouros, & despots foy ter aBahareitt
estando os outros surtos.
u^movUé €àwwfíJ$ cm. Ml
*
C A P I T V L o CIIJ.
Do § mmnU€€9 a Simão da cwnkoi em Bãharem ^é" ^
coma ftierrM ^ outroê mtJhfim.
l^begAdok SiinSo d& cunha «o porto deBAbarem acboit
bi Belchior de aoitsa èauares capitSo mór do mar Dfkc^
0IUZ com obra de aeya bargaaila & caiurcs t|i ealaoa
geardando ho porto, junto da qual eaiaua biia boa foiH
tateza c9 eobeloa & torrea cercada de muro & caua orw
da Raix Bardadim eaiaua com atiaa moiheres , (ílhoa &
mujla gente daimria. E veado ete surta a nosaa ÍVo(a^
& parecendoibe ao Q ja^ pos hOa bandeira branca aruo»
4*ada na forlaleia; & víata por Simão da cunha mãdoti
a terra saber o que q/uería por fa& lingoa: por quS^Raiic
bardadim Uie mandou dizer que eie nio se leulLtara se
iiSa por amor da priaam da Raix xarafb seu cunhado:
& peia os nossos ioteruinbâo nisaa que eki nS queria
ooeies nada por ser WAiyto grade seruidor dei Rey de
Portugal, & pois ele queria aquela fortaleza fba queria
dar em paz , & se iria cõ auaa molheree, filhes , gentta
& quan-to estaua nela, & coeata eondtqflo lha daria. Oo^
uído isto por Siaiâo da cunha ^ quisera aceitar a (brfa^
leza com a^ia coodiçSo, mas foy c5trariado dos capítffes
& fidalgos, djzeodoUie i\ com medo a tomaua d»{)la ma«-
nejrra , & ^ não era bS que a{|te mouro ficasse sfi casti*
go polo i| fizera, & quãdo a ouuesse de tomar sem pe^
kja fosse c5 ibes ficar a faafida : & que Raix bardadins
ee fosse com suas molberes, filhos & gente, porque sem
fazenda ficaria bê castigado. & aâo daria mais loruaçâe
Aã desassego. a el rey Dormuz. R com quanio isto pa«-
feceo muylo mal a Simão da cunha por parecer assi a
•todos ho ouue por bê, mas muyto contra sua vontade,
& iaso respondeo a Raix bardadim : que como homS es-
forçado náo replicou mais se não mandou amora r ao
-asiico dttaa haãdeiBaa., liiia brAsa outra verm^Uia eomo
11 2
158 DA HISTORIA DA INDTA
quS dizia aos nossos^ vissem se queriãp paz ou guerra*
O Q vendo os capitães disserão a Sirnâo dá cunha i| qui-
sesse guerra, &'por isso ele mandou desembarcar a gen-
te, & algua arlelhariá {} leuaua pêra bater a forialeza*
£ feylas/ suas estãcias, & ordenados seus capitães &
Í rente ^ aula deslar nelas, começouse de dar bateria á
òrtaleza, & em começando mandou Raix bardadim ti-
rar a bandeira branca & ticou a vermelha cumo quem
fiâo estimaua a guerra dos nossos: & bem parecia ^ era
assi, por(| como os nossos íazift algu buraco no muro cd
a artetharia logo era tapado & táo depressa !\ quasi ([
liâo se enxergaua, do Q Simão da cunha andaua niuyto
«gastado vendo ^ não fazia nada , principalmêle por^
lhe faleceo a poluora tambê apercebido ya dela: & en*
ião vio ele canianho erro fizera em não tomar a fortale-
za ^ lhe dauão em paz. E como não tinha outro renfte-
dio de poluora se não mâdar por ela a Ormuz , mandou
logo lá hum bargãtim Q foy S poucos dias , por bo ven-
to ser a popa , roas á tornada foy ho vagar muyto. B
vendo os mouros a dilação que auia na bateria da forta-
leza zombauãd dos nossos de cima do muro como era
Aoyte, & dizialhe i) pois os nã quiserão deixar ir ^ ali
«uiâo todos de ficar. K parece ^ adiuinhauão ou fizerâo
por onde fosse assi segundo se presumio q deitarão pe-
^nha nas agoas de que os nossos auião de beber, ou
|K>r elas serS peçonhentas naquele tSpo , & nele mesmo
ser a terra muyto doentia, & os nossos eslarê despostos
f>era doenças com ho muyto grande trabalho Q tinhão
começarão dadoecer & tanto que não sè podião leuán*^
tar. E Raix bardadi mandou dizer a Simão da cunha ^
fx>la amizade ^ tinha cõ os nossos lhe aconselhaua ^ se
fosse, |)orque se ali esleuesse mais lhe au4a dadoecer a
gente de maneyra que quand<» se quisesse it não auia
de poder r & os nossos zombauâo daquilo & dizião a Si*
pão da cunha ^ lio mouro dizia aquilo com medo, & por
isso Simão da cunha nãt> lomoa seu couselb^ qiie iora
muy bÕ, por^ despois nã^ sucedera a desauStura 4
€édeor*& foy a doê^a dot noesos em ísnto créciroenH)
que quando a poluora chegou Donnuz esiauão quasi lo»*
ãus doêiea & aigâs aioríos^, & fÈorl^- ele ¥Ía têmsi iKloecer
a gente mudou as estSoiat pêra perto do mar, por^ ho
-teuease níais a» mão 8e ie. visse apertado doa mouros que
ibssein sobrele^ o que temia muy to que fosse se Raix
-bardadini sottbeSBe como línba a gente: o (} efe sabia
luujr bè |H>laejiperiSoia {{• tirlba da terra, mas como nfio
queria se não auiisade cõ os nossos porque se fizesse aW
gít:dâno sabia que Raix aarafo bo auia de pagar nunea
quis bolir consigo neái sair aos nossos, que se sairá c5
pouco trabalbo us matara a todos. E despois de Simão
«da. cunha reoolbtff. os seus pêra mais perto do mar, fea
hQa estâcia em que os ^aos lodos » & tornou outra vea a
bater a fortaleza dle que derribou hâ laço do muro por
cisâar abalado daniesf U. quisera por 'ali entrar a for tale-*
"Sa se teiiera quem.ho acompanhara, mas não achou sàoa
4Bais de. trinta & cinco ihomês, & todos os outros tâo
4loentes & fracos que nfto se^podiâo bulir: & de muyto
agastado Ipuantuu as mãos ao ceo, dizêdo. Senhor quã
.pouco ie custara -daresme cem liomSs 8â«>s,. Que cõ lã--
'to8.se alire«era a enlear .a. fortaleza se. os teu era :& ven-
do que os não linha 4eixou de ho iaZer com muy to gran-
de magoa assi por iiise como por ver quão bem acerlaua
em tomar a fortaleza que lhe dauâo em paz, & quã mal
aconselhado .fora ém a nàú- tomar & em se não ir quan*
do tinha têpo. E ilea que ho nao teuesse de todo deter-
minou de fazer embarcar a artelhar ia & os doentes poiQ
os saluasse , o que ítz cõ iu^menso trabalho assi seu so-
mo dos trinta & cimo qu^ estauào sãos , que saindolhe
muyto sangue das mãos embarcarão a artelharia, & des-
.pois os doentias coro (} ja não podião de casados & por
isso lhes atauão cordas nos pée & os leuau& a rasto ate
ho mar. E fey hQa muy piedosa cousa de ver esta em-
barcac^ão, assi do mau traio que se dauaaoa doentes por
se mais nâu jHider fazer, soeío dos gimidos & grifos que
dauâo & Sftiigõas que diaiào* £. neste trabalbo ajudou
454 lu KumEiii jn. wmtk:'
mujío bê aos nosao» hum mouro Dormuz <) fo^eom Sè^
mâo da cunha que era Xeqjae da ilha DãgSo & ja em
hOa letrada cem corSU moaros taiabS Darmue-ooia (|
fez muyia ajuda aoa nosroa asa» no oerco paasaéO' coma
oesta embarcação. E eaibaicadoa iodoa oe dofilea fe ar-
telharia, se* embarcou Simão da ouph» iporlo de paiião^
& de l|ai0aDka desaiieiilura a que ete quisera aiaibar
era tomar a ^rtaieaa se ho deixarfto, do que ele trnha
tnayor magoa, & cçela disse ao mestre do seu nauio e«i
se embarcando. Mesire quando ouuerdes de fazer aJgtua
cousa de vossa bonrra não tomeis ho conselho de nii^guS
se não bo «^sso* El cdsto fez dar ás veias & se partio &
assi os ouuos nauiea: & logo nos prim^ros tres^dias <!e
sua nattega<^ começarão de morrer muytos doe deein-
tes Q leuaua {) lhe renouauão de cada ves mais sua (ri»-
iesa de que ele adoeceo, & tão auorreòído j» da^vída
& de tudo l\ se meteo na pamara do oauío seso querer
ver niagoem ti/^ falar^ te dÀdosmuyto^ grande ajs&eost-
piros durou nouo dias despeiS' !)> a^èceo Ic ôiorreo de
tristeza , & no seit líaoio morrerAo bd setervtd doentes a
fora os dos outros 'na4wo#r>&'6eoii''ho naaio tã<e' desens!-
parado de quS ho mareasse* que s^ ouaera de perder se
lhe nosso aenhor não socorrera com ir ter coele Fernaii»
daluarez ^arnache em hUn, ierr^a què com sua rSte ho
ajudou a louar aOrmupz^ õd«- Simão da òunba j) ya moi»>
'to nele foy- enterrado , & assi Francisco gomez fi4ho do
bispo do FQchal , He todos os oauios da armada cbegatS
muy destroçados, bOs diante outros despois: & os maia
dos (\ forão a BabarS morrerão que muy poucos escapa-
rão & t«to foy o^ ganhou de. ir tá: & maia coeeía ida
nib po<fce Nuno da cunh» partir pêra a Ind^ia em Agos-
to pêra choe^ar em Setembro Sp fazer prestes a armada
pêra ir a Diu aqu<')e anno Ic não foy, B vedo -Nuno da
cunha como nã tinha mais que fazer em Ormuz , deter-
mitfoo de se partir pêra a f adia, & atrecaídou as páreas
dei rey DoiHnuz, fe soNòa Manuel de macedo & pos em
«aeu poder a Raix xarafo porque ho aui^ de lesiaf pesa
LIVSO VIU CAPIVTIJO Gini. fe6t
Portugal fvor 'mandado dei Rey. £ têdo todo pwstes ,
parlíose oaminho d» Índia , <& iforâa toele dÔ Fernfido
de lima, dom Francisco deqa, FrScisco dê mendoiça^
Blacinei de B»aoedo & outro todoè oapiiãeft de aaofi) &
lorge gomeE m» seu naiMo*.
C A P i T V L O CIIII.
Di eoim 1u) ^cM/tnwixfr se parth dê Goa pêra Cocfd.
T'
endb tio gouernaidor Lopo va?. de aani Payo ho inuer*
no 6 Goa, chegou >kt Ikistiâo ferreyra na entrada dele
ef)m eartas de Nuno da cunha , qne tomara aos mourofc
Mombaça ôde (eoera ko inn^rno , & iicaua em Melinde
dõde aura dir a Orma^ pêra no verão seguinte pasaar á
I-iidia, pedindelbe (r^tte lhe 4eueMe a armada prestes por^
que auitt de ter neceasidade deia ft cJiegido , & por ea^
ta noua mandou ho gouernador hfta sotfine procisâam ^
em que com todos foy dar gra^ae a noaso aenhor por a
noua da armada de Ptirtugai , (} oa mouros queriSo adi**
dinfaar que não auía de vir, & andauâo por isso rouyio
ledos dizSdo & ja não avia Portugal. E dadaâ graças ao
eterno Deoa, M gouernador ae pos com moyta dilig^cfa
a mandar coneertar a armada , & a fazer de nono algue
nauios a fura muytoa que mandara fazer em diuersoft
tenifK)!* a. b^jb galeões & a taforea de Gocbim que era
«lao de q«ínhSlos t<ineÍ9, beys ga(éa reaia,eincogaleotas,
quatro ^araaelaa, & cintoenta bargantins, & muytesou**
trus q Hftaiidou fâí^zer de paraÓs Malabares^ de que no
(empo 1| gi^uernou a indifa se achou per certeza que se
(omarto a Iinj^ bâ cento i& cincoenta com fustas &
iDUtroe na aios, & toAos bO artíthadoB & de boa ar (ei bai-
lia t & des4ea foriio teuadoa muyioa pêra diuersas partes-
tio sentori^ que elfiey de Portugal tem na Índias & ou«-
IfOli se gapstarâo de ^bos : & com tudoiioouia mais gros«-
tsa & niHfcor armada que tinha iih6 príncipe €hfii$tão de
céto Sl itmla Ik ueys velas, 0« i|uatorxe galeões ^ aeya-
S5fl lu - fíísromk DA : índia
galéa reM9y oyto galeotns, seys carauela8^.&.c8(ò & duas
fustas & barganiins. E a^si como aèrecètou a armada,
^sai tambS teue cuidado de repaírar as fortalezas da ter-
ra do necessário: na Dormuz mandou fazer hâ baluarte
defronte da porta , & mandou acabar b8s cobelos ^ es-i
tauâo come<2ados, & enmadeirar os terrados da fortaleza,
& argamassar ho muro^ & concertar a igreja l\ estaua
dãneíicada, & na de Cbaul mSdou leuâlar mais hQ so-
brado na torre da menagS , & acabar ho cobelo do ai-
cayde mór, &, fazer hú cais de pedra, & duas casas pe^
ra almazSa dartelharia .& de mãlim^tos. Na cidade de
Goa hu pedaço de chapa no muro da^ banda do mar Sq
hQ cobelo^ & acabar a sé ^ es(aua começada & telhar
de nouo ho mosteiro de sam FrScisco. Na fortaleza dq
jQananòr mandou fazer húa caua ao derredor do arrabal-
de pêra 2} 6casse dSlro ho poço dagoa, {| estaua fora da
fortaleza ^ era parela muy grade perjuy7.o por nS ter a«r
goa: Sl na mesma, caua híi baluarte ^ varejasse, ho mar.
dQa bâda & da outra cÕ a artelharia & mâdou refazer
fao muro da cerca da fortaleza Q estaua desfeyto em
muylas partes & derribar o í) cercaua a torre da mena^v
gS por ser fraco & fazelo mais forte, & fazer hOa casa
pêra feytoria, & hOa sala do apousentiimSto do capitão.
Em Cochim mãdou fazer. a parede grande Q vay da for**
taleza ao logo da praya ate o caluele, & acabar todos
os cobelos Q estaua da bSda do mar : & assi outras obras
miúdas de {| a fortaleza tinha necessidade. E a fora tur
do isto mãdou pagar trezêtos mil cruzados de soldo , ^
foy cousa em !\ fez grande seruiço a et Rey seu senhor*
£ assi como foy esforçado na guerra 9 foy cSstâle na
justiça !\ sempre folgou muy to de fazer, posto Q algííf
<]UÍ8erâ dizer ho cõtrairo por ódio 2) lhe tinhão:.porê ele
castigou sempre os crimes asperamête como se víq no
mulato i\ foy enforcado em Goa por tirar de noyte em
Cochi CÕ hQa espingarda a FrScisco pereyra pestana ^
•& os oyto aleuâtados da cõpanhia dos ^ se aleuâtaraQ
põ hQa fiista & çõ hum barganlim, ^ ^^ pessoa foy prjSr
LIVRO VII. CAPITVLO CIIII. 267
der h&a noyte a terra firme , & eu bo vi parlir Q estaua
em Goa a esse ISpo. Foy sSpre mujlo deuolo & teme*
roso de nosso senhor, & tSo casto (} nOca lhe sentirão
molher em c]uSto andou na índia: & foy fora de vaida-
des nS presunções', & cÕ todos era companheiro assi na
paz como na guerra , & pêra todos muyto bS ensinado.
Foy bomS grande de corpo, mSbrudo & bS apessoado &
de rosto alegre. B no cabo deste inuerno que teue ê
Goa, em dia de sam Bertolameu de madrugada surgio
na sua barra a armada !\ aquele anno foy de Portugal de
quatro nãos em {} ya por capHão mór Diogo da silueira
& por seus capilSes Ruy gomez da grã , Ruy mendez
de mesquita, & Anrri^ moniz que morreo no mar, pay
Daires moniz &Dan(onio moniz ^ forâo coele meninos:
& esta armada leuou tão boa viagS que quãdo chegou
a Goa yâo os homSs dela ^ erão quinbStos tão sãos &
tao gordos 2) parecia {| auia qulze dias fi partirão de Lis-
boa, & nQca despois eu vi outros tais. E detendose Dio-
go da silueira poucos dias em Goa, se partio pêra Co*
chi : & despois dele o gouernador a fazerse prestes pêra
a partida de Portugal , pêra ode esperaua de parlir po-
la vida de Nuno da cunha, como direy a diante.
F I N I S.
LIVRO VII. KK
<
TAVOADA
DO SEPTIMO LIVRO.
v^APiTOLO I. De eamofoy aberta a terceyra $oces$am
em que hia Lopo Vaz de sam Payo. Pag. I
Cap. II. De como Lopo vaz de são Payo desbaratou hãa
armada de mouros de Calicui no rio de Bacanor. 9
Gap. III. De como Francisco de sá separttopera iraçúda^ §*
de como dom lorge de menesesfoy por capitão de Maluco. 7
Gap. iiii. De como Lopo vaz de sam payo cÓcertouRaix
xarqfo c6 Diogo de melo capitã dormuz. 8
Ca p. V. De como Eytor da silueira do porto de Maçua man-
dou chamar dom Rodrigo de lima^ ^ sefoy a Ormuz. 16
Gap. VI. De como tem^dose Meliq saca capitão de Diu
dei rey de Cãbaya determinou de dar fortaleza aos Por*
tugueses. 1 S
Cap. VII. Do conselho ^ Hagamahmut deu a Méliq so*
bre despejar Diu : ér como lho tomou. 1 5
Gap. VIII. De como Èytor da silueira se tornou a CSmutj
^ do mais ^ fez Lopo vaz de sá Payo. 17
Gap. IX. De como ho Tanadar de uabul pedio paz a
Lopo vaz de sam Payo* 20
Gap. X. Do ^ acõleceo a jír^onio galuão capitão de húa
das nãos da carga ate chegar á índia. ibicf»
Gap. XI. De como él rey de Portuaal mandou que Lopo
vaz de sam Payo fosse gouernaaor. 25
Gap. XII. De como Lopo vaz de sam poyofoy declarado
por gouemador. 28
Cap. XIII. De como HagamahmvJt se leuaníou com Diu^
^ ho deu a el rey de Cambaya. 3 1
Gap. xiiii. Do grade aluoroço ^ auia na géte da índia ^
dizêdo 6 Lopo vaz nâ era gouemador. 32
Gap. XV. De como Christouâo de sousa capitão de Chaul de-
terminou ^ Lopo vaz de sam payo não era gouernador. 3 6
Gap. XVI. Dojuramentoqho gouemador fez em Cochim. 37
KK 2
260 TAVOADA.
Cap. XVII. De como $e assentou que ho gouemador não
fosse a Camarão. 39
CÂp. XVIII. De comofoy morto Gaspar machado^ ^ ou-
tros Portugueses. 40
Gap. XIX. Úe como Pêro mascarenhas soube que era
gouemador da índia, ^ do que fez. 41
Gap. XX. Em q se escreue ho sitio ^ a fortaleza da ilha
de Bmtão. . 43
Gap. XXI. De como Pêro mazcarenhas foy sobre a ilha
de Bintâ. 45
Gap. XXII. De como foy desbaratada a armada que el
rey de Pão mandaua em socorro dei Rey de Bintão. 46
Gap. XXI II. De como Fernão serrão pelejou com Laque-
ximena. 48
Gap. XXI III. De como Pêro mazcarenhas tomou a cidade
de Bintão. bO
Gap. XXV. Do §fez Pêro mazcarenhas despois de toma-
da a cidade. 52
Gap. xxvf. De como Francisco de sáfoy a pxnda , ^
do que lhe aconieceo. 54
Gap. xxvfi. De como Pêro mazcarenhas chegou a Cochim^
^ querêdo desembarcar lhe resistia ho vedor da fazen-
da. 56
Gap. xxviii. De como não podendo Pêro mazcarenhas
desembarcar em Cananor se partia pêra Goa. tiO
Gap. XXIX. De como ho gouemador soube o que Afonso
mexia fez a Pêro mazcarenhas. 62
Çap. XXX. De coma ho gouemador mandou q fosse preso
Pêro mazcarenhas. 63
Gap. XXXI.. De como Pêro mazcarenhas foy preso em
ferros. 67
Gap. XXXII. Da causa § Eytor da silueira , ^ Diogo da
sUueira , teuerão pêra serem côtra ho gouemador. 7 2
Gap. XXXIII. Do requerimento que os ojiciaes da cama-
rá de Goafizerão ao gouemador. 76
Gap. XXX 11 II. De como ho gouemador prendeo Eytor da
silueira ^ os outros fidalgos de sua valia. 79
TA VOADA* 261
Cap. XXXV. De como Pêro mazcarenhas foy obedecida
por gouernador por dom Simão de meneses. 83
Cap. xxxvi. Dos requerimentos que fez Pêro mazcare^
nhãs a Lopo vaz de som Payo. tí<>
Cap. xxxvii. De como Pêro mazcarenhas foy obedecido
por gouernador^ por Cristouão de sousa. 68
Cap. xxxviii. De como dom Garcia Anrriquezfez pa-
zes cô el rey de Tidore. i)0
Cap. xxxix. De como dô Garcia anrriquez tomou a que-
brar a paz. 91
Cap. xl. De como dom lorge de meneses indo pêra a ilha de
Temaiefoy ter ás ilhas dos Pàpuas onde inuemou. 93
Cap. xli. Da segunda armada que ho Emperador man-
dou ás ilhas de Maluco. 94
Cap. xlii. De como chegou húa nao de Castelhanos ás
ilhas de Maluco. 9t>
Cap. xliii* Do que aconteceo a dom Garcia anrriquez
c6 os Ccistelhanos^ ^ do mats § sucedeo. 99
Cap. xliiii. De como António de miranda dazeuedo pro-
meteo a Pêro mazcarenhas de lhe obedecer. io2
Cap. xlv. Do que António de miranda ^ Christouâo de
sousa Jizerão. 1 o4
Cap. xlvi. De como ko gouernador^ ^ Pêro de faria ^
i§r outros jurarão de comprir a pauta que Jizerão Cris-
- touão de sousa j ^ António de miranda. io7
Cap. xlvii. De como Pêro mazcarenhas ^ Lopo vaz de
sã payo desistirão em Cananor do mando de gouerna-
dores. Ill
Cap. XLviii. Da desauença que ouue ótre Lopo vaz de
sã payo ^ Pêro mazcarenhas. 114
Cap. xlix. Como forão acrecéíados mais dous juizes por
parte de Lopo vaz de sampayo^ ^domais que passou. 1 1 8
Cap. l. Das rezôes q ho vedor dafazida ^ outros offre-
cera aos juizes pêra ^ Pêro mazcarenhas não fosse go-
uernador. 121
Cap. li. De como foy dada a sentença ^ Lopo vaz de
sani Payo gouemassé a índia. ' 1 24
96t TATOABA«
Cap. Lif. Do tftt€ ho gouernadar fe» degpóis de ser re$tí^
tuido em sua posse. 1 26
Cap. liiu De como dom Garcia anrriqtuz entregou a
fortaleza de Maluco a dom lorge de meneses. 127
Cap. Liiii. Do que dó lorge quisera fazer acerca do cra^
uo ^* nâo pode. 129
Cap. lv. Do que passou dom lorge de menesescôdó Garcia
anrriquez sobre mandar a Malaca pela tna deBomeo. 130
Cap. lyi. De como dom lorge de m^neses mâdou reca^
do ao capitã de Malaca poía via de Borneo. 1 33
Cap. lviu De como dÓ lorge de meneses mandou prfder
dó Garcia anrriquez. 135
Cap. LVfif. De como dom lorge soltou dom Garcia ^
tornarão a ser amigos. 138
Gap. líx. De como os da parte de dÓ Garcia trabcdhauão
por auer imizade antrele ^ dó lorge. 140
Gap. lx. De como dó Garcia prendeô dom lorge emfer^
ros^ ^ a causa porque. 143
Gap. Lxr. Do que passou dó Garcia despois de ter preso
dom lorge. 147
Gap. LXir. Do qjizerão os amigos de dÓ lorge despois de
Èuaprisam. 150
Gap. Lxiii. De como dó Garcia soltou dó lorge demeno^
ses. 153
Cap. lxitii. De como os moums de Lôgú matarão Jlua^
ro de brito ^ tomarão húa ga\€. 1 54
Gap. lxv. Do ^ fez Lopo vaz de sam Payo despois que
foy julgado por gouernador. 155
Gap. lxti. De como dom loão deça desbaratou ^ pren*
deo Chinacutinle. 157
Gap. lxvii. De como Pêro de faria partio pêra Malaca^
i§r Simão de sousa galtUio pêra Maluco. 1 58/
CaP. LxviiK Das presas que António de miranda capitão'
mór do mar fez no estreito^ ^ do mais que sucedeo. 159
Gap. lxix. De como forão catiuos de mouros Diogo de
mezquita éf outrús. 161
Gap. lxx. De como Halixd capitão da armada de Diu
TATOADA* t63
pelejou c6 Jtnrriqut de macedoy ^ de eomofoy tnor*
to António da siltui. J63
Cap. lxxi. De como Christouóo de médoça cavitáo Dor-
muz mãdou por terra António tenreyro a Portugal c6
recado a el Key. 1 64
Cap. Lxxii* Do que panou Gonçalo gomez dazeuedo com
dom Garcia anrriqz na ilha de Báda. 167
Cap. Lxxin.De comoAluaro de saya vedra tomou húa gaito--
ta aos Portugueses ^ catiuou muytos dos que yâonela. 170
Cap. ljlxiiii. De como GÔçalo gomez dazeuedo chegou a
ilha de TemaU. 172
Cap« lxxv. De como dam lorge de meneses ^ Fernão
de la torre mandarão pedir socorro ká á índia ^ ou-
iro á nona espanha. \ 74
Cap. lxxvi. De como Martim afonso de melo jusarte
se perdeo na costa de Bengala. 17a
Cap. Lxxvii. Dos grandes perigos ^ trabalhos quepassarãa
Marfim Afonso ^ os outros ate chegarem a Atracão. 179
Cap. Lxxviii. De como Martim afonso fog leuado comos
outros per kús pescadores aa cidade de çuquiriá. 182
Cap. Lxxix. De como Marti afonso ^ os outros ficarão
€ poder de Codauazcão. 185
Cap. i^xx. De como Martim afonsofoy liure do cati-
ueiro em que estaua. 1 87
Cap. lxxxi. De como Simão de sousa galuão com ior^
menta foy ter a Dachem. 1 90
Cap. lxxxi I. De como Simão de sousa galuão foy morto
na barra de Dachem c6 guãtos yão coete. 192
Cap. lxxxiii. De como dô òarcia anrriqz chegou a Ma-
laca. 196
Cap. Lxxxiiii. De como el rey de Dachem mandou cã
engano dizer a Pêro de faria que lhe daria' oe Portu-
gueses ^ a gaU. 197
Cap. lxxxv. Do ^passou antre Fero de faria ^ el rey
Dauru , ^ el rey de Dachem. 200
Cap. lxxxvi. De como Nuno da cunha partia pêra a ín-
dia por gouemador dela. 203
SR4 TA VOA DA «
Cap. lxxxvii. De como se perdeo a nao de Nuno da cu-
nha. 206
Cap. lxxxviii. De como Nuno da cunha tomou a cidade
de Môbaça. 211
Cap. lxxxix. Do q hogouérnadorfezesteinuernoem Goa^
^ de corhp se perdeo hâa armada no rio de Chatua. 2 1 ô
Cap. xc. C^mo o gouemador desharaUm Culiale de Ta-
nor. / 217
Cap. xci. De como ho gouernador correo a costa de Ca-
licul 4r destruyo a vila de Porquá. 221
Cap. xcii. De como soube ho gouernador que as fustas
de Diu corrido a Chaul: ^ ao qfez. 223
Cap. xciii. De como ho gouemador disse aos capitães da
armada que queria ir tomar Diu ^ de comofoy con-
trariado. 226
Cap. xciiii. De como ho gouemador pelejou com a ar*
mada de Diu ^ a desbaratou. 227
Cap. xcv. De como ho gouemador quisera ir sobre a ct-
* dade de Taná^ ^ a causa porque nãofoy. 231
Cap. xcvi. Do que fez António de miranda na costa do
Malabar côtra os mouros de Calicut c6 ajuda de Chris-
touâo de melo. 233
Cap. xcvii. Da guerra que Eytor da silueirafez em Cam'-
baya. 235
Cap. xGVffi. Do que petssou dâ lorge de meneses c6 Fer*
não de la torre. 239
Cap. xcix. Decomo Garda de sá se partio pêra Malaca. 241
Cap. c. De como el rey Dachem tomou por engano hú
galeão a Manuel pacheco. 242
Cap. Cl. De comofoy discuberta a ireiçâo de Sanaya de
raja ^ ^ foy morto por isso. 245
Cap. cii. De como Nuno da cunha chegou a Ormuz ^ ^
de comofoy preso Raix xarafo. 24ÍJ
Cap. chi. Do § aconteceo a Simão da cunha em Baha*
rem^ ^ de como morreo ^ outros muytos. 251
Cap. ciiii. De como ho gouernador se partio de Goa pê-
ra Cocht 2ô5
HO OCTAVO LIVRO
D A
HISTORIA DO DESCOBRIMENTO
CONQVISTA DA ÍNDIA
PELOS PORTVGVESES.
Feyto por Fernão Lopez de Castanheda y que Deos tem» ^
Impresso em Coimbra.
Cbm Real Priuilegio. M. D. LXL
• *•■
HISTORIA
DO
DESCOBRIMENTO
CONQ VISTA DA ÍNDIA
PELOS
PORTVGVESES
POR
FERNiO LOPEZ DE CASTANHEDA.
NOVA KDIÇXO.
LIVRO VIII.
LISBOA. M.DCCC.XXXin.
Na ttpooraphia rollandiana..
POR ORDEM SUPERIOR,
PROLOGO
NO OCTAVO LIVRO DA HISTORIA
do descobrimento & conquista da índia petos Portu*
gueses. Dirigido ao muyto alto & muylo poderoso
Rey dõ Sebastião nosso senhor deste nome o primey-
ro. Rey de Portugal, & dos Aigarues, Daquem, &
Dal6 mar, em Africa, senhor de Guiné, da cõquis*
ta, nauegaçâo, & comercio de Etyopia, Arábia^
Pérsia, & da índia»
Pelos jilhos de Fernão Lopez de Castanheda.
.xVinda que nam fora manifesto mu}^to alto & muy pcK
deroso senhor, o animo cõ que V. A. & seus antepas-
sados todos, receberão as semelhantes oflTertas de obras
prouey tosas á Republica, & que ensinauâo por exem-
plos a bem obrar na paz & na guerra, bastaua pêra nós
oflTereceremos esta a V. A. a vontade com que el Rey
dom loão lio terceyro vosso auó (que está em gloria)
aceitou o Primeyro liuro desta historia & quanta mercê
por isto fez a Fernão Lopez de Castanheda nosso pay
(Q Deos tS. ) Por^ alem de V. A. ter as mesmas obri-
gações pêra a fauorecer que ele tinha , que erâo ser de
excellentes feytos de Portugueses, & animarem com elas
a seus descendentes pêra as y mi tarem, & terem por fá-
cil poer as fazendas & vidas por acrecentan^ento de nos-
sa sancta fee, & seruiço de seu Rey (como estes seus
antepass^os fizerão) parecia bastâte causa peraV. A.
fauoreceí^^^este Liuro, ser parte daquele Primeyro (por
continuação da historia) q a el Rey vosso auó pareceo
bem. Principalmente que trabalhou nela tanto nosso
pay, & fez tantas diligScias por escreuer a verdade ^^
que com o fim da historia se lhe acabou a vida, que ti^-
nha may trabalbada de muyUa indíspMJçSes causadas
de cõtino cuydado, & de continuas vigílias, & leytura
de muytos papeis ^ da índia trouxera. Polas quaes re-
zoes, em seu nome pedimos a V. A. queira tomar sob
seu amparo este Liuro Octauo, (& com este o Nono &
Decimo seguintes, que muy cedo se imprimirão) pêra
que responda o fruyto ao muyto trabalho que ho Aulor
nele teue , & alcance ho fim que prelendeo.
^:
• •»
€CCCCCi>EXDCCCCCC^
HO LIVRO OYTAVO
D A
HISTORU DO DESCOBRIMENTO
»
E
€ONQVISTA DA ÍNDIA
PELOS PORTVGVESES,
Por mandado dei R^y dom loSo de gloriosa memoria
desle nome o III. Em que se cStem o^ osPorlugue*
ses fizerSo na índia, & em outras partes do orifite ^
gouernandoa Nuno da cunha.
Feyto per Fernão hpez de Castanheda^
€ A P I T V L O I.
De como Nuno da cunha chegou d índia , «^ foy ^ntre*
gue da gouemança^
JL^artido Nuno da cunha Dormuz. E seguindo por sua
viagem, foy surgir na barra de Goa a vinte quatro Dou*
tubro. E no n>esmo dia a tarde desembarcou , esperan-
do o no cais os vereadores da cidade, & capitão, &ou-
uidor dda com muytos fidalgos, & gSte outra. E mos-
trada sua prouisam de gouernador, & jurando de goar*
dar os priuilegios da cidade: forSo abertas as portas,
que estauão cerradas em quanto durou esta cerimonia.
£ metido debaixo dfl paieo, entrou na cidade: onde es-
taua a clerizia com hfia solene procissam de Cruzes le-
uantadas^ foy leuado á Sé da cidade a fazer oração, &
da fai pêra sua casa. E como tinha determinado de aíjle
anno não ir a Diu, cometeo a Eytor da silueira que
LIVRO VIII. A
ft . BA HISTORIA BA INBIA
fosse com a armada da índia esperar SimSo da cunha á
bosta de Cambaya : pêra hi Ihentregar a armada quan*-
do tornasse de Babarem , pêra fazer guerra a Cãbaya.
Que ainda ^ diz no cabo doliuroseptimó^ ({Simão da cu-
nha tornou de Bailarem anlee de Nuno da cunha partir
Dormuz ; não foy assi , ^ iby erro ás^ impressa vi» £ por
Eytor da silueira auer por afronta de leuar a^la armada
pêra outrem , escusouse disso : pelo que ho gouernador
pedio. a seu cunhada Antónia da silueira de aienjeses
que a leuasse. E estando pêra partir, chegou recado
do desbarato de SimSo da cuniia^ & da sua morte. E
porque António da silueira estaua pêra leuar esta arma-
da, deu lhe bo gouernador a capitania mór dela, pêra
que fizesse a Cambaya a guerra Q lhe ouuera de fazer
Simão da cunha , & deulhe nouecentos Portugueses, de
que os quatrocêtos erão espingardeiros: que forâo em-
barcados em cincoenta & três velas de remo, galés, ga-
leotas & barganiiofi* £ partido António da silueira, deu
o gouernador a capitania mór doutra armada que auia
de mãdar ao estreito a Eytor da silueira de quatro ga-
leões,, duas carauelas & quatro bargalins. Dos galeões
a fora ele, forâo capitães Aliartim de erasto, António
de lemos & Fernão vodxiguez barba : das carauelas Frâ-
çisco de Vasconcelos ^ & loanemendez de macedo. Dtm
bargãtiine António bi^lelho,, Francisco de freytas, & ou-
l-ros dooa,^ & deulhe por regimSto ^ partisse em laneis
Fo. E diei^xâdo por capitão de Goa a dom Fernando de
lima, se partio pera.Cochitn>. Ede caminho. deixou dom
loâo dèça na capitania, de Caaanor que era sua. E fea
ea>pitâo mór da costa* do IVlaíabar a Diogo da silueira
seu cunhado da primeyra molher, & detilhe hua armada
de duas. galeotas,.de que forâo capitães Manuel de vas-
eõceios, & Nuno fernande? freyre^ & a carauela de
Francisco- da cuniia ,. & seya barganlins , & foy capitão
d& loãp da^ siJueirar seui irmfto de Diogo da siJueira , &
deiflcouliie nesta armada duzentos Portugiueses. E che-
gado a Coohimi, foy recebido com a mesma solBoidade
i/rvso vin. CA^Firyto di. t
3) em âoQ-: & ali acabou de ser eatregoe dn ;gotter«-
nanoa.
C A P I T V L O 11.
J>e Mmo foráo presos Lopo vaz de sam Payo ^ ho Ip-
oenceado loâoide soyr^
J.Íintregtie ho gouernador da gouernan^ , mandou prê*
ièer a Lopo vaz de sam Payo, & escreti«rlhe quanta far
«zenda lhe foy achada, dizendo () assi bo mandaua el Rejr
<ie Portugal , por amor de hfis capilulos ^ derão dele
•eeae fmigos. E por eeles capítulos se processou despoíf
-em Portugal contra I.opo vaz de satn Payo : & se deu
«eu tença cdtreie, que perdesse ho manti mento -Q ouuera
«eruíndo de gouernador. B por esta causa ae deu a aenr
teça cõtrele , & nã por Ibe darê a gouernS^ os juyaeg
^ julgarfio por ele na índia, como disse no iiuro septi*-
mo {| foi. por erro. E sabida a prisam ^de Lopo vaz , to-
dos os ^ erão amigos do serui<^ de Deos & dei Rey, foi-
•fão muyto espantados: por ser notório com quanta dili-
-gencia, verdade & limpeza Lopo vaz de sam Payo seg-
uira ho cargo da gouernança da índia , assi na guerra*,
-como na paz, & l\ tinha feyta a. melhor & mayor armar
da do {| nuca gouernador fíz)era ateli. E todos os dalo-
dva ho dizião assi pubricamète, o que eu ouui a muy-
tos, brasfemando de quam mao* galardão Ibe dauão da
seus muytos & grandes seruiços» E assi dizião {| ho go-
uernador estaua muyto indinado cõtra Lopo vaz de sam
Payo, & lhe queria mal por lhe Garcia de saa. & Anto-
iiio de Saldanha fazerS crer, que Lope.vaz lhe qu-isera
roubar sua honrra em querer tomar Diti, o l\ 6zera sem
duuida se lho eles não estornarão, & assi por outros me-
xericos doutras pessoas í\ nuca falece. E de ho gouee-
nador não estar bS cõ I^opo vaz, se pareceo no excedelr
ho modo {} teue em Jhe mandar (omar sua fazSda tão
meudamfite, que lhe mSdou Lopo vaz dizer ^ xiâ se A-
.gastaua do 4 lhe fozia, ;por<} esperaua em .nosso Senhor
A 2
4 DA HISTOaiA HA INOrA
que outro ho auia de vingar : o () se se comprío bê. B
lo§[0 j) Lopo vaz foy preso ^ mandou dizer ho gouernaf*
dor ao licenciado luâo de soiro, ouuidor geral da Índia,
que entregasse a vara a ha Pêro barreio , & se fizesse
preste» pêra Portugal. E vSdo loão de soiro esle recado
do gouernador, eomo era prudete, pareceolhe Q nâoera
sem mistério, & ^ não faria boa fazêda em ficar naliH
dia cõtra votada do gouernador. £ sem mais 2[rer saber
se el Key ho mâdaua tr ou na , respondeo ao gouerna-
dor: ^. lhe beyjaua as mãos por tamanha mercê, Q ele
era ja vel'ho & cansado, & nào linha na Índia outro pre*
mio de seus trabalhos , se não pobreza & mny tos des-
gostos, pelo que Denhua cousa deseja mais j) irse pe^
ra sua moiher, & seus filhos. JMas por{[ ele desse boa
eÕla de si a el Rey de qu6 tinha a^la vara, que lhe
desse hfia certidão de como lha lomaua» CÕ cuja repos-
ta ficou ho gouernador atulhado , ^ desejaua de màdar
loão de soiro pêra Portugal, & l\ não fosse seu ouuidor :
porque lhe não tinha boa võtade , por ser certo Q ele
fora ho primeyro que em particular, & em pubrico coi>-
selhara cõ muyta instancia a Lopo vaz de sam Payo des-
pois do desbarato das fustas de Diu, Q ho fosse tomar,
& assi por outros mexericos, de Q sempre os gouern»-
dores quando nouamente chegão á Índia ouuê que far-
te , ppincipalmSte de pessoas Q 16 nela mãdo. Assi ^
vedo ho gouernador ^ por ali não podia leuar loâo de
soiro, mãdouíhe lomar pesidScia sem ho el Rey màdar
ir pêra Portugal , nS auer por acabado ho t&po de sua
ouuidoPía. E talo J\ a residêcsia foy pregoada, como loft
de soiro lincha muytos imigos, assi dos fidalgos da ín-
dia, por ser grade amigo de Lopo vaz, cujos imigos
erão, como dos outros por fazer deles justiça que todos
aiUOrrecS, todos teuerào ^ dizer cõlrele. E mais purQ
ho eoqueredoF & escriuão da residêcia erão seus imigos,
& assi ho íopâo tãbS muyta» testemunhas, que cõ medo
1} ele fizesse justiça deles , se lançarão cÕ os mouros. E
eõ seguro do gouernador se (ornarão pêra os Christàos.
LlVftO Vril. CAPITVLO IK À
£ cô 08 ditos destas & outras taes testemunhas ^ foy
loão de soiro preso, & mandado a Portugal. £ partido,
como seus Imigos desejauâo de bo destruir , oá cõten-
tes cõ as testemunhas da residécia ajudarãse de hú Pê-
ro daguiar, ^ seruindo loão de soiro douuidor geral ser-
uia de seu escriuão, Q depois de sua partida íoy preso
por falsario, a Q aigús Imigos de loSo de soiro comete-
rão {} testemunhasse còtrele, & l| ii>e aueriáo perdão do
gouernador do crime, porque estaua preso. £ prome-
tendo que si , ouueràlhe ho perdão^ que dizia « Eu Mu-
no da cunha vedor da fazenda dei Key nosso senhor, &
gouernador da Jndia, &c. Certifico, ^ sendo preso Pê-
ro daguiar por falsario, ihe perdoey suas culpas, cõ tal
cõdiijào ^ confessasse tudo o que sabia do licSciado loão
de soiro, i) foy ouuidor geral nestas partes da Índia. £
isto por parecer Q cõpria assi a seruiqo dei Rey nosso
senhor. £ assi pareceo ao gouernador , & nã eõ outra
má t&<ião. £ coeste perda , disse esie Pêro daguiar mil
testemunhos íalsos- cõlra loão de soiro, segQdo.se des»
pois soube |K>r inquirições mui autSticas que sobrisso se
tirarão, que eu vi : & mais Pêro daguiar como foy solu-
to fugio pêra os mouros , & antreles morreu , & se me
não engano mouro. Fínalméte ^ por mais maldades ^
68 Imigos de loão de soiro fulminarão cõtrele ate ho fa-
serõ condenar , sabida despois a verdade , foy restitui*
do em sua honrpa., & em graça dei Rey, & em seu ser-
uiço , & nele morreo. £ Lopo vaz de sara Payo , & ele,
como digo fora- mãdados presos pêra Portugal oa arma-
da ^ ho gouernador mãdoo-a^lle anno, de ^ foy capitão
mór Lopo dalmeida de Santarê, filho 4 foy de dÕ Diogo
dalmeida prior do Crato, que chegou a Portugal a sair
«amfito cõ rica earrega»
< 'DÁ BIBTMtrA DA IffmA
C A P I T V L O III.
Do que dó lorge de crcMoftz na ilha dcBâda.
j[]N D líuro septimo fica dito como dò lorge de crasto,
por mandado de dom lorge de meneses capitão da for-
taleza de Maluco, foy a Banda a buscar socorro. Eche»
çado, achou hi lorge de brito capitão da fusta Q se per-
dera de sua conserua quádo hia pêra Maluco, & nâo
-podendo eeguir sua rola arribou a Banda , pêra {| vinda
a mouijâo de Mayo se fosse a Maluco. E assi acbou d6
lorge dous jugos de Malaca , de que erão senhores ht
Lopaluarez, & hQ Bastião vieyra mercadores ricos, al|
dÕ lorge contou a necessidade de gête, & de dinheiro
em que ficaua a fortaleza de Maluco, requerSdolhes da
parte dei Rey j que emprestassem dinheiro pêra se re-
«medear, & alargassem corSta Portugueses (} leuauão
em sua cÕpanhia pêra a defender. O () eles não quise-
râo fazer, do que dô lorge fez autos que mandou ao ca-
pitão de Malaca pêra os castigar. E esperando ele por
mouc^o pêra tornar a Maluco , forão ter ás outras dua«
ilhas de Banda certos mouros vassaJos dei rey de Tido-
re por seu mandado aleuantar a terra ofitraos Portugiie.
ees , & pêra os fauorecerê hião coeles algQs Casteíba-
iios: (| aluoroçarão a gSte, dizendo mil males dos Por-
tugueses, & muytos bgs dos caslelhanos, & i\ auiâo ce-
do de senhorear toda a(}la terra. Epor mais que do lor-
ge trabalhou por atalhar a isto, & por tomar estes mou-
ros & castelhanos nunca pode. E vinda a mou<^o de
Mayo, partiose pêra Maluco, & chegou á fortaleza cõ
no mais ^ vinte cinco Portugueses que Mão na fusta
com lorge de brito, & sem nenhúa fazenda pêra a fey-
toria, do !\ dÕ lorge de meneses ficou niuyto agastado
por não ter com {} p^gar á gente seu mantimêto, í\ mor-
rião com fome. E a gSte da terra ^ ho sabia, se espan-
taua muyto de como os Portugueses podião sofrer tama-
LLVftO VU£. CAPITVM) lUU t
nhos trabalhos como erão os da guorra & os da fome^
& da grade cooslãcia Q tinhão em seruir a seu Rey ^
& CUIDO nâ se hião & deixauâo a forlaleaia |X)Í8 erâo lá
mal fiagos^ assi do soldo como do manlimêto» E assi
erâo espâiados do pouco cuydado que os gouernadores
da Índia tinhâo dos Portugueses Q eslauão na^la forla*
)eza. E quando Cacbil daroes soube ^ não auja nenhúa
fazQda com Q se pagasse o que se deuía aos Porlugue*
ses, dizia Q n fiodia ser se nâo ^ não auia na Jndia
nenbiis Portugueses , nS gouemador pois náo niàdaua
cÕ que se pagasse a gSle que eaiaua oaQla fortaleza. £
vedo ele a desordè que auia antre os Portugueses , &
quão pouco obedecião os que se achauâo em Banda aos
mádados do capitão de Maluco, cuja sabiâo Q era a jur-
di^jâo de Banda ^ teue bo em niuy pouca conla^ & assi
aos Portugueses: & dizia que galinhas brancas antr^
pretas parecião mujto mal. E outras cousas 9 em que
mostraua criar algua malícia cõtreles y como despois se
affirmou.
C A P I T V L O IIII.
De como doín Jorge de meneies foy sobre a cidade dê
Tidore..
±\ este tempo se acabarão hfias tregoas que auia antre
dom Jorge , & Fernão de la torre , & assi antre os reys
que seguiào estes dous capiUíes. £ acabadas as. tregoas^
nâ quis Fernão dela torre assentar outras por conselho
dei: rey de TkJore , & db gouernador de leilolo , que úr
nha. tudo preates pêra renouar a guerra com que espe*
raua de se fazer de todo senhor do Morro , que he a
melhor cousa daquelas partes , & por isso fazia eata
guerra. £ mãdou logo lá sua armada, pêra que tomas**
ae os lugares que lá tinha el vey de Ternate : &. el rej
de Tidore mandou outra. £ aimla queCaohil daroes tir
nba hè preuidos os lugares dei rey de Ternate, mandou
tambè aua armada, em q^ &»rfto algus Portugueses. £
8 DA HISTORIA DA INDTA
andâodo lá, encontrouse Cachil rade gouernador deTí^
dore, capitão de hfla grosaa araiada com seys corasco-
ras da armada deTernate. Cdespois de os lernates pe-
lejarem muy esforçadamenle, forflo desbaratados porCa*
chil rade: que matou & ferio muy tos deles, & mais
prendeo hil mouro principal de Ternate capitão de hfta
cora cora, que tomou com quantos hião nela, que mã*
dou despois matar muy cruamente. E âcando os Terna»
tes , & os Portugueses que os ajudauão assi desbarata*
dos , acoiherãse a terra : & mandarão recado por mar a
dõ forge de seu desbarato. E que os imigos estauão
muito poderosos, porque a fora estar lá a principal gen-
te de Tídore, andauão coela corSta Castelhanos, ^ a
fauorecia muy to, & se nã fosse hQ grosso socorro , (|
seriâo cedo senhores do JMorro. O que sabido por dom
lorge , ficou muyto Jedo, porque vio que tinha muy to
bd tempo pêra destruyr el rey de Tidore, & desbaratar
Fernão dela torre, (| não teria consigo mais que ate co-
renta Castelhanos , & el rey de Tidore muy pouca gen-
te, & essa não bem vsada na guerra, pelo que deter-
minou de ir a Tidore. E calando isto consigo, disse a
Cacbil daroes que era necessário destruyrê aquelas ar-
madas de seus iniigos que andauão no Morro, & ajflta-
rem todo seu poder , & ho de seus amigos. O que pa-
recendo bem a Cachil daroes , mandou logo recado aos
Sangajes & capitães da ilha de Teriíate, & a el rey de
Bachâo , que acodissem com sua gente : o que logo fi-
zerão, porque tinhão pouco que fazer era a ajuntar. E
chegados a Ternate, sem dom lorge dizer nada do que
determinaria, mandou armar os Portugueses, que erão
cento & vinte todos escolhidos. E leuando suas trombe-
tas & alabales , deu mostra a el rey de Bachão , & a
Cachil daroes , & aos outros, que folgarão muyto de os
ver. E eles tambS derão mostra da sua gente a dom
lorge, que por não saber certo quanta era ho não digo,
mas era muy ta & bera armada. E logo ali se apartou
dom lorge cõ ho alçayde mór , & com ho fey tor , & ouf
LfVRO VIII. CAPITVLO IIII. 9
tro8 Portugueses principais, & com el rey de Bachão,
& Cachil daroes , & disselhes. Que bem sabião que a
guerra que (inhâo auia tãto (empo, & de () recebiâo
lanías opressões, toda nacia da cidade, & ilha de Ti-
dore. Cujo rey a fora ter grande poder de gente de seu
reyno tinha ho fauor & ajuda dos Castelhanos que se ti*
nhâo fortalecidos em sua terra com fortaleza prouida de
muyta & boa artelharia, com que iicaua ainda mais po-
deroso. Eque ele nunca vira ho tempo tão desposto |je-
ra ho destruyr como aquele, por a sua principal gente
da guerra ser fora^ & assi a mayor parte dos Castelha-
nos, pelo que não auia quS defendesse a terra, que
destruída ticarião em paz, & não aueria quem lhe fízes-
6e mais guerra: porque el rey de Geilolo não a podia
fazer sem ajuda dei rey de Tidore , & dos castelhanos.
Ouuido isto poios circunstantes, ho prímeyro que deu
iieu voto foy el rey de Bachão, por ser ho principal. E
disse, que lhe parecia muyto bem irem sobre Tidore,
& destruyla, & ho mesmo disse Cachil daroes, & os
Sangajes & capitães J) hi estauão. Mas os Portugueses,
que como tinhão fazenda que lograr, não quererião ar-
riscar as vidas em pelejas, forão os mais contra estes
pareceres, dizendo: i\ ainda que parecesse que em Ti-
dore auia pouca gente, ^ não auia de ser tão pouca,
que com a artelharia que tinha não defendesse ho prí-
meyro combate dos Portugueses, que não erão tantos,
nem leuauâo tanta gente, que do prímeyro lanço leuas-
sem nas mãos híja cidade tão forte como era Tidore,
nem menos a fortaleza dos Castelhanos que estauã den-
tro. E que ficando a combates, aueriSo tempo pêra a
gente que andaua darmada no Morro, & a de Geilolo
lhe ir socorrer: & ajuntandose toda, os poderião desba-
ratar, ou sabendo como a fortaleza de Ternate íícaua
soo a iriâo tomar, & vsarião do seu ardil: por isso lhes
parecia que não deuia de ir a Tidore. O que ouuido por
dom lorge, ficou tão agastado de os Portugueses serem
de voto que não fossem a Tidore , dizendo os mouros
LIVRO yiii. B
10 DA HÍSTORIA DA INDfA
quo 8Í : que 0e leuantou , dizendo que não auia de per-
der a nierce que lhe nosso Senhor fazia, em lhe dar vi-
toria de seus imaiigos com iâo |k>uco trabalho &perigOy
como sabia que auiâo de ter. b^logo entregou a fortale-
za a Gomez aires alcaj^de mór, com que deixou algíis
Portugueses fora dos cento & vinte que disse. E pedio
a el rey de Bacbão & a Cachil daroes, que logo sem-
barcassem com sua gente, que ele as^i ho auia de ía^
zer : & auiâo de partir aquela noyte antes que se rom-
pesse ode hiao , porque queria tomar os immigos de sa-
pito. O que lhes pareceo muy bem , & logo se embar-
carão, & assi dõ Jorge: com que os Porlugueses hião
de muyto má vdtade, o que ele entendia mas dissimu-
laua. £ embarcouse em hu batel grande bem artilhado^
& com lorge deCrasto em hft parao malabar. E os Por*
tugueses í\ nào couberao coeles, se embarcarão cõelrej
de Bachào , & com Cachil daroes , & partiose véspera
de sam Simão & judas passado bQ pedalo da noyle. E
ao outro dia, que era dia destes dous Apóstolos, em
amanhecendo chegou ao porto de Tidore : que he hQa
cidade grande hft pouco afastada do mar, cercada de
bua tranqueira de duas faces em lugar de muro.
C A P I T V L O V^
De como dom lorge de meneses tomou a cidade de Tidore.
v^hegado dom lorge ao porto de Tidore , assentou lo-
go coesses capitães & pessoas princi|>aes de dar na ci-
dade. E que entretanto que fosse parela , ficasse dom
lorge de crasto no paráo em que bia : & com ho came-
lo que leaaua, & com ho oulro q hia no seu batel des-
se bateria a htl Ixiluarle que ali estaua , & deixou coele
q^uimLe Portugueses, & algus mouros deTernale. E ele
eom a outra gente desembarcasse & fosse dar na cida-
de, que era dali a híi pedaijo. E por^ auiáo dir por an-
tre aruoredo , acordouse que fosse diante descobrindo a
•^wr
LIVRO VflI. CAPITVLO V. 11
terra bfl Vasco LoureiK^o, muyto falenle caualeyro,
com que iríão doze Portugueses: & logo i sua vista bit
Dinis botelho cÕ outros tantos. B desembarcado do Ior«
ge com toda a gente leuando esta ordê , abalou pêra a
cidade, onde assi nos mouros como nos castelhanos auia
grande sobre salto, & muyto grSde medo: porque Ca*
chil rade ho gouernador de Tidore , que era muyto es-
forçado, & sabido na guerra não estaua na cidade, que
andaua no JMorro com a principal gSte dela, & el rey
era ainda moço que não sabia pelejar. E Fernão deia
torre ho capitão mór dos castelhanos tambS estaua de-
satinado, porque alem de saber pouco da guerra, &
nSo^se ver nunca em outra tal como aquela, achaua-
se com no mais de corSta & dous castelhanos , que os
outros erão todos fora. E ele não se entendia com os
mouros, nS eles coele: pelo que auia em todos muyto
grande espanto. E com tudo Fernão dela torre mandou
assestar algfls berços sobre ho muro, principalmente da*
quela parte dõde hia dom lorge, & mandou tirar coe-
)es , & tirauão muyto amiúde. E chegSdose os Portu-
gueses mais, começarão os castelhanos de mesturar es-
pingardadas, & com hila passarão a rodela a hQ Portu-
guês, & ho ferirão na mão esquerda. E como eles hião
todos, ou os mais de má vontade a esta guerra, abas-
tou esta ferida pêra os espantar, & impedir que não pas-
sassem auante, & deteuerãse. O que ouuera de ser
causa de morrerS muytos se lhes nosso Senhor não aco-
dira, porque cumo estauão juntos, poderãlhe as espin-
gardadas dos Imigos fazer muyto dano. Mas nisto che-
gou dom lorge & começou de bradar, que se chegas-
sem ao muro, & eles não derão por isso, & deixarãse
estar quedos. E como ele era muyto esforçado, passou
a diante com hua espada dambas as mãos, dizendo.
Que pois não querião pelejar, que ele queria ser ho pri-
meyro que recebesse a morte, antes que padecer tama-
nha vergonha. E dizendo isto, & chamado por Santia-
go, remeteo^ a bQ portal que estaua na tranqueyra por
B 2
12 BA HISTORIA DA ÍNDIA
onde os de dentro se seruíâo. £ em abalando que hía
perlo da trãqueyra hfi Castelhano chamado Pêro de ra-
mos, que eslaua em cima com Fernão dela torre, & c3
outros: lhe disse. Senhor dom lorge, agora veremos.
£ dizendo isto, desfechou híia espingarda nele. £ quis
Deos que lhe deu na espada^ & rcsualando dahi ho pe-
louro, lhe deu na cabeia: & por ter capacete, & ho
pelouro ir fraco lhe não íez nada. Elogo dom lorge çar-
rou com a tranqueyra , & por ser aleijado do braço de-
reylo não se pode guindar acima, o que prouou de fa*
zer por ser muylo ligeiro. £ em ele chegando ao muro,
chegarão Vasco Lourenço, Dinis bolelho, Vicente da-
fonseca, Francisco pirez, & «julros que abalarão coele*
£ neste tempo os Castelhanos nà faziào se nào lírar,
hCLs com espingardas oulros com bestas & outros com
pedras & lanças. PorS os Portugueses nào dando por is-
so , esforçados por dom lorge se chegarão sem medo á
tranqueyra, & mais vedo dom lorge em ciuja, porque
como Vasco Lourenço» Vicente dafonseca , & os oulros
forSo coele, ele os ajudou a sobir, & assi eles (ambem
ajudarão à ele, dandolhe decima as mãos. E em quan-
to se isto fazia era a peleja muy braua, porque vendo
os Castelhanos que os entrauão, irabalhauào quanto po-
diâo por não perder a tranqueyra, & os Tidores lhes
ajudauão muy bem , de que foráo morlos bem cincoen-
ta: ^ como os Portugueses & os mouros que os ajuda-
uão erão muy tos, enlrariío a tranqueyra. E entrada,
jião poderão os Castelhanos, nem os mouros resistir aos
portugueses, & os Tidores se recolherão pêra a cidade,
& Fernão dela torre com os Castelhanos pêra a sua {c)r-
taleza, leuãdo os mais feridos, & ficando dóus mortos
& quatro presos. Edom lorge foy com sua gSle seguin-
do os Tidores, ferindo & matando muytos, ate os dei^
tar da cidade , & de volía coeles se foy ho seu rey.
LlVaO VIII. CAPITVLO VI. IS
C A P I T V L O VI.
Do concerto que Jizerâo dom lorge de meneses , ^ Fer^-
não dela torre.
A. uida por do lorge esta tão ilustre vitoria com só-
iDenle lhe ferirem Ires Portugueses» mandou recado a
dom lorge de Oasto, que se fosse logo á cidade cõ os
Porlu^uenes (j ficarão coele. E ele chegado, foy a cida-
de tàaqueada & despois queymada, no que se gastaria
ate véspera, porí} como as casas erão de madeyra ardeo
n)uy asinha, il denpois disto assentou dom lorge de com-
bater a torre dos Castelhanos, a que chamauão fortale-
za, que como disse era cercada de caua. £ primeiro
que bo fizesse, escreueo hiía carta a Fernão dela torre :
em que dizia, que lhe pedia muyto, & requeria da par-
te do Euiperadur, que se entregasse: & que não fosse
causa de mais mortes dos Cliristâos, porque bem via ho
estado em que estaua, & quam pouco remédio tinha
pêra se defender. & ^ se se quisesse entregar a ele, &
aos que estauão coele seguraua as vidas, & as fazen-
das. E esta caria lhe màdou por htí seu escrauo que
forrou pêra isso: & da torre sajo ho alcajde mór ^ se
chamaua monte major a tomar esta carta. E lida por
Fernão dela torre, mandou dizer a dom lorge pelo mes-
mo Monte mayor, que não se auia dentregar por mais
seguros que lhe desse: mas que lhe daria a galeota que
fora tomada a Fernão Balda)^a com toda sua artelharia^
& a ilha de Maquiem , & que não ajudaria mais cõtra
os Portugueses a el rey de Tidore , nem a el rej de
Geilolo, nè lhes faria guerra. E que ficando em paz,
& amizade, ele dom lorge se tornasse pêra Ternate.
Ao que dom Jorge respõdeo, que não fora sua ida por
tão pouca cousa: & pois assi queria, que sua fosse a
culpa do dano que recebesse. E partido mote mayor
coesta reposta ,. abalou do lorge após ele com sua geo**
14 DA MT8n>RU DA INDÍA
te , toda fey ta em dous fios como procissam , porque a
artelharia da torre dos castelos a não podesse pescar. E
diante biSo algDas peças dartelbaria emcarretadas, que
forâo tomadas em hQ baluarte, & assi escadas & muy-
tas panelas de poluora, E v6do Fernão dela torre este
aparato, & a muyta gente que dom lorge leuaua, de-
terminoa de se entregar. E auido seguro de dom lorge
pêra lhe ir falar, sayo da torre com a melhor gente que
tinha. E afastado bCl pouco dela , & dd lorge da sua ,
ae falarão : & assentarão que Fernão dela torre desse a
dom lorge a galeota , que fora tomada a Fernão Bal-
daya, com toda a artelharia, & os catiuos. E que logo
ao outro dia Fernão dela torre se fosse pêra a cidade de
Camafo com os Castelhanos que ho quisessem seguir,
& ali estaria sem fazer guerra aos Portugueses, nfi a
el rey de Ternate, nS a el rey de Bachão, nem a ne*
nhiis amigos dos Portugueses. Nem fariâo crauo, nem
iríão a nenhiia das ilhas em que o auia : & () tornarião
a ilha de Maquie a el rey de Ternate. E contra ele,
nem contra el rey de Bachão ajudarião el rey. de Tido-
re, nem el rey de Geilolo : & pêra sua embarcação dom
lorge lhes daria ho bargantim que fora dei rey de Gei-
lolo, & mais três corascoras pêra ho acompanharem ate
Camafo : & que dom lorge lhes não faria mais guerra ,
nem a el rey de Tidore, nem a el rey de Geilolo. E is-
to se goardaria ate el Rey de Portugal, & ho Empera*
dor mandarS ho contrayro. E de(x>is de ambos de dous
darem conta disto a sua gente, do que todos forão con^
tStes: fizerão ambos por escrito hQa capitulação desta
paz, que jurarão de comprír, & goardar , & a assinarão
c5 algClas pessoas principais.
LIVRO VIII. CAPITVU) Vil. 16
C A P I T V L O vil.
Do que fez dom lorge de meneses despoU deste concerto^
JO ey to esle concerto , logo desoylo ^ ou dezanoue Cas-
telhanos disserâo que queriâo tícar coiu doui Jorge. £
Fernão dela torre lhos entregou , & cõ os outros Q se-
riào vinte, se tornou a sua torre a fazer prestes f>era
sua partida, ^ foy ao outro dia, leuando toda sua i'az&-
da, & a do Êtnperador, & do Jorge màdou coele três
corascoras da armada de Cacbil daroes. £ indo seu ca-
minho pêra Caiuafo, Q he no IMorro, toparão quatro co-
rubcoras, em Q bia ho gouernador de Geilolo: & quado
vio o tiargâti, cuidou ^ era de Portugueses, e por isso
nâ ousou de os cometer: & dissimulado, passou auante
sem mais querer saber quem bia ali. E chegado a Gei-
lolo, soube o que dom Jorge de meneses fizera em Ti-
dore, & que no bargantim que topara hia Fernão dela
torre com os castelhanos, & as corascoras erão de Ter»
nates , que lhe dauào goarda. £ auendo ho gouernador
aquilo por injuria, armou logo dez corascoras , & foyse
nelas, pêra por Jbr^a tomar os castelhanos aosTeroates^
& os leuar a Geiloio, onde lhe parecia Q estariào me-
lhor que em Camafo: & partido, nunca os pode achar,
& tornouse. E chegado Fernão dela torre a Camafo,
torna rase pêra Tidore os Terna tes Q forão coele. E ai<-
gús castelhanos Q estauAò em Geilolo, como souberão (|
estaua em Camalb, lhe escreueráo que fosse pêra Gei-
lolo, porque lá estaria melhor, por ser Camafo dei rey
de Tidore, que era ja amigo dos Portugueses. £ tanto
íizerào coele , que depois se foy pêra Geilolo , & que-
brou o que tinha prometido, & jurado. £ dom iorge de
nieneses, que ikou em Tidore , despoia de partido Fer-
não dela torre, assentou paz com el rey deTidoré, com
€Õdi<{áo que auia de pagar certos babares de crauo ca-
dàno de páreas a el Rey de Portugal , & ^ auião destar
- I
16 DA HISTORfA BA INDÍA
certos Portagueses em Tidore, pêra lhe ensinarem os
nossos costumes, & não auia roais dajudar os Castelha*
nos contrele 9 nem aos mouros. E estando aqui dom lor-
^« , apareceo ao mar hn jungo de B3da , & Damboino,
em que vinhão cento & cincoSta mouros, que ho leua-
uão carregado de roupas, & de mantimentos pêra da-
Tem por crauo em Tidore, cuydando que estaua em sua
prosperidade. E sabendo dom lorge donde era, mandou
a dom lorge de Crasto que ho fosse tomar, & ele foy
em bua galeota. E sabendo os mouros a destruy<;âo de
Tidore , & a ida dos castelhanos , não ousarão de pele-
jar, & entregarâse a dom lorge de Crasto, que os le-
uou no jungo á cidade. Edoro lorge de meneses Ihefez
mercê do jugo, em nome dei Rey de Portugal, assi
porque ho tomara , como porque auia de ficar em Tido-
re, pêra arrecadar ho crauo que el rey auia de dar. E
-deixando coele cor^ta Portugueses, &Cachil daroescom
-sua armada, se partio pêra Ternate , leuando duas ga-
Jeotas dos Castelhanos , & algUa artelharia , & assi a
-galeota que elles tomarão a Fernão Baldaya com sua ar-
teiharia, & muyta poluora, & muytas munições, & ho
maçame, & aticoras que forão da nao de frey Garcia
de loais. E bem vingado dos danos que recebera dos
castelhanos, & comprido o que dissera, que auia de
<ser ho cão que os auia dapanhar dii bocado, chagou a
Ternate, onde foy recebido com grande festa. E ficou
/em muyto credito com a gente da terra, & dali a algus
dias chegou dom lorge de Crasto de Tidore, onde dei-
xou tudo acabado. E noianeyro seguinte se partio ppra
Bãda cÕ determinação de se tornar á índia, como tor-
nou , & leuou algíis Castelhanos per mãdado de do lor-
ge de meneses ij sabSdo como Fernão dela torre se foy
de Camafo pêra Geilolo cõtra a capitulação que tinhão
feita, lho mandou estranhar. E Fernão dela torre deu
por desculpa, que ho fizera por força: & porem que no
mais goardaria a capitulação, & assi ho fez.
LIVKO VIII. CAPITVLO VIU. 17
C A P I T V L O VIII.
Dt como António da silueyra de meneses destruyo çur*
rate ^ ReyneL
Jl artido António da silueíra c8 sua armada, foy ter a
Chaul, donde se parlio p^era a costa de Camhaya, ^ he
da banda do sul, onde auia de fazer a guerra. Ecome-
<^u logo em bíl lugar chamado Reynel, ho principal da-
.quela banda: que está quatro legoas do már, por hD pe«
queno rio acima, que vay em voltas per h& campo as-
sentado na borda do rio. He abastado de trigo , & dar-
roz, que se coíbe naquele campo, em í\ ha muyta ca-
^a daitenaria. Ho lugar he grande, & raso, & bê ar-
Tuado : tem boas casas de pedra & cal, de muylos so-
4)rado8, & muyto polidas. Seus moradores sam todos
mouros Neiteás, & os melhores cauaieyros deCambaya.
.£ daqui hia a principal gente pêra as fustas de Diu, &
assi pêra os exércitos dei rey de Camhaya , que tinha
por fronteyro ho capitão deste lugar contra Nizároaluco,
& estaua hi outro. E chegando António da silueira á
foz deste rio de Reynel, quãdo a vio tão estreyta, nâo
quis entrar sem sondar primeyro ho rio per si mesmo:
& achou que ficaua seco dele muyta |>arte com baixa
mar, pelo que não podião entrar os nauios grandes que
deixou de fora com gente que os guardasse , & por ca-
pitão mór Manuel de Vasconcelos: & nos catures, em
que leuaua sete centos soldados, entrou pelo rio acima.
E de caminho quisera dar em outro lugar, grade &. no-
bre, chamado çurrate, que estaua pelo mesmo rio híia
legoa antes de Reynel, & achouho despejado. Edesem*
harcando com sua gente, em hu dia & hua noyte ho
queymou todo, que nenhQa casa ficou em pê: & as or-
tas & palmares darredor forão todas cortadas & destruí-
das, & queymadas muitas cotias carregadas de manti-
mStos, que estauâo pêra ir a Diu. Feyta esta deslruy-
LIVRO VIII. c
18 OA HISTORIA DA IlfDIA
çâo, partiose Aotonio da silueira pêra Reynel, que pa-
recia da outra banda do rio , que por /azer grandes vol-
ias esÍHua hQa legoa de çurrate ; de cuja destruição
sendo seus moradores certificados , se fortificarão com
hua (ranqueyra á borda dagoa em que assestarão muy ta
& bua arielharia que tinháo, a mais deila de metal, fi
Bds bocas das ruas fiserâo outras, em Q também atsen-
larâo artelbaria : & quatrocentos de caualo , se sayrSo
ao campo a esperar António da silueira. £ muy los de»-
les eráu acubertados , & todos armados de laudeis j d&-
lea enlaminados de laminas de ferro, & outros forrados
de malha pelos peytos, & mangas, & terçados nas cin-
tas , & nas mãos dous & três zaguncbos , & nos arções
seus arcos & coldres de frechas , que bé parecia gète
de feyto. E assi esperarão os Portugueses, que biáo
pelo rio acima tangSdo suas trombetas, & dando gran»
des gritas , porque os inimigos soubessem que os náo
teroião. E eles em se os nossos descobrindo, que a ar-
telbaria podia jugar descarregâo hua grande çurriada
de bombardadas, que parecia bila toruoada muy espan-
tosa. E continuando, parecia que tirauão em roda viua
tantos & tão bastos erão os pelouros. E foy milagre de
nosso Senhor por sua bÕdade , que nenhu náo acertou
em homS, & todos bião por alto. E sendo bQ tiro de
besta abaixo do lugar , defrõte dõde estauã os de caiiar
k) desembarcou Anlonio da silueira cÕ toda a gõte, por
não descMiibarcar nas boeas das bõbardas da trà^yra &
pêra dali ir dereyto ao lugar. £ por^ creo Q os de ca-
iialo ho cometeriao, ordenou sua gente, & deu a diá*
teyra a Manuel de sousa, cõ que hiâo os mais dos es-
píngardeyros, Q em desembarcado fizerâo rosto aos de
eaualo, des|>arando suas espingardas, de ^ eles parece
Q ouiierão medo, & recoítierâse ao lugar sem peleja,
por^ lá e8f)erauão de se defender com a artelbaria {| ti-
nhào nas bocas das ruas. E assi bo fizerão, j| em os
Portugueses aparecendo começarão de tirar coela : mas
nê por isso eles deixarão de chegar , saltando d& cabo
LIVRO Vni. CAPITVLO VIII. 19
pefa bo oúlrO) & abaixãdose l\ lhe não acerlagsem os
pelouros^ como não acertarão. E chegando ás Iranquey.
ras, acharão grande resístScia nos mouros, Q erão iDuy-*
4.08 & esforc^ados, & pelejarão hú peda<jo ale S os eor
irarão pela rua principal, & forão os prioieyros loão ju-
sarte tição Dázinbaga, Ruy boto de lima, dõ Diogo vi«
lançuela, Grcnijalo vas Coutinho, Frâcisco da silua, Bal*
4esar lobo de sousa , & outros fidalgos ate dez : & estes
mostrarão aqui bfi sua valètia, |)or na^la rua estar ho
«ayor peso da gente. E assi como se estes desbarata*
Ho , logo a gente das oatras se desbaratou , & fugirão
todos, ficando corfita mortos, & dos Portugueses tres^
& algfls feridos. António da silueyra os não quis seguir^
& pofido goarda da bãda do sertão, mãdou saquear ho
lugar , em Q as mais das casas erão lauradas de mace*
naria, & douradas, & cateles dourados & laurados de
pedraria baixa, Íl outras alfayas tão polidas & ricas:
que ate muytos falcões que se acharão em alcandaras
tinhâo os caparões dourados. Ebê parecião de gente ri-
ca, ^ assi o era a i} ali moraua , por ser dos principaes
lugares de ^ tralauâo pêra a China. Eassi acharão mtjy«-
ta mercadoria, de que auía casas cbeas: principalmen-
te de cobre, & de marfim , & de porcelanas, & doutras
cousas de muita valia, de que os nossos carregarão os ca*
tures ho mais {) poderão : porfi carregauão pouco por a*
mor do peso da g6te que auia dir neles, que se forão
Jiauios grades , quantos ali hião ficarão ricos pêra sem*
pre , porque não tinha cÕto a riqueza que ali auia de
iDuytas cousas () não digo. E temendo António da sil»
ueira {) lhe carregassem os catut^es, Q não podessem
nadar, mãdou poer fogo ao lugar, & esperou a noyte
seguinte, Q ardeo todo sem ficar cousa que se podesse
enxergar. £ forão queymadas vinte nãos, & muytas co«>
tias todas carregadas de mercadoria, & de madeyra, &
a terra ao derredor foy toda destruída como em çurra*
le. E deixando tudo destruido a fogo , & a ferro , em*
barcouse : mandando primeyro deitar na mayor altura
c 2
tD DA HISTORIA BA INIMA
du rio a artelharia que oao pode leuar, () foy mojfa,
b«.'rços & falcões , & lodos de luelaL £ chegado á t>ar-
ra, achou ^ lomarãu os j| fícauão na aroiada seys cotias
que hiáo pêra Diu carregadas de màlioiêtos^ & quej«
roaráo outras rouylas carregadas de madeyra, Q em Dia
fizeráo grande luingoa, |K>la necessidade ^ linha de lu«
do. £ as nouas dd desIruyçSo destes dous lugares 6se«
rSo grade espanto^ assi lá como em toda Caiubaya, por*
que por estarem tâo longe do mar, & os caualeyrus de
Keynel terem tanta fama, se e8|)eraua que nuca 08 nos*
SOS lá fossem. £ a genle da lerra andaua Ioda pasma*
da, por(| víáo que se nâo podiào segurar se nào bfi me*
lidos nu sertão. £ deixando António da silueira muyto
grade terror nesta comarca , por começar de se chegar
ho inuerno se partio pêra Chaul.
C A P I T V L O IX.
De como Anionio da silueira destruyo Damão , ^ ^o-*
ctVn , ^ outros muyios lugares de Cábaya.
Xlà indo sempre ao logo da costa peta a destruir , foy
ter a Damão hii lugar muy grade na põla da enseada
da banda do sul cõ hua fortaleza de muro de largura
doyto pês quadrada, & em cada quadra híi cobelo, & a
porta chapada de metal , cm que el rey de Càbaya ti*
nha gête de guarni<;3o, que sabendo a destrui<^ão Q os
Portugueses fiaerâo em çurrate & Keynel, & como tor-
nauâo não ousarão desperar, & fugirão. £ os do lugar
lhes teuerão companhia, tirando primejrro suasfazêdas:
& por isso os nossos nâo acharão aqui com qufi pelejar,
& queimarão, & destruirão tudo na terra, & no mar
muitas nãos, & cotias carregadas de mantimentos, &
mercadorias. £ indo daqui pelo rio acima, queymarâo
muytas aldeãs: em que acharão hua nao grande J\ se
fazia pêra Meca , ^ tamhê foy queymada , & forão ca-
tiuas muytas almas. £ tamanho era o medo na gSte^
LIVRO VIII. CAPITVLO IX, ti
principalro6te na mezquinha, i\ desemparauão 08 luga-
res em Q morauão, posto que fossem lÔge do mar, &
tiiàse pêra mais longe. Destruída esta comarca de Da*
mâo, partiose António da silueira pêra Agacim , outro
lugar grande, por hú pequeno rio acima na volia que a
costa faz pêra Chaui , em ^ auia cinco mii & quatrocS*
tos homês de peleja: os cinco mil de pé, & os quatro*
cêtos de cauato, gfite esfori^ada, & (} esperaua de se
defender. E por isso António da silueira determinou de
08 cometer, pêra o j| desembarcou na costa hu quarto
de legoa do lugar, por hu rio ser pequeno & baixo: &
mandou diante iManuel de sousa cõ cèto & cinccSta ea*
Eingardeyros , acõpanhado de muitos fidalgos, & ele
ia nas costas. £ chegado perlo do lugar, acharão os
de caualo no capo , & os de pé no lugar. £ os de caua*
lo posto que viào chegar os Portugueses não os sairão a
receber, & deixarSse estar apinhoados. O ^ vendo Ma-
nuel de sousa, deu Santiago neles, & então começarão
de bolir, remetêdo aos Portugueses : 1} os tratauão mu;*
lo mal cõ as espingardas, com que derribarão treze: de
Q eles ouuerão tamanho medo, que a cabo de pouco que
pelejauão fugirão, deixando cinco Portugueses mortos*
Os de pé tanto Q os virão fugir fizerflo o mesmo , sem
receberS tãto mal como receberão se ho lugar não ieue-
ra naQla parte mais Q bua só Strada muyto estreita, pe-
lo j) os Portugueses se deteuerão em entrar: & por isso
Dão poderão alcâçar dos imfgos mais que ate duzStasal*
mas, que matarão & catiuarão. £ ho lugar foy todo
destruido a fogo & a ferro , assi casas como aruores , &
cotias, !) auia mujtas carregadas de mantimCios, &
madeyra , i\ se leua darias partes pêra outras de Cam*
baya , & pêra ho estrey to. £ estando António da siluei*
ra pêra se embarcar, três Portugueses que ficarão em
terra desmâdados, furão cometidos de certos mouros de
caualo, Q os poserão em tanto af)erto {) os fizerão apar-
tar, & douB fugirão por acerto pêra ondestaua António
da silueira ^ a ^ ele acodio , & os recolbeo. £ ho uutroy
CS IML HISTORIA DA ÍIOnA
(| fle chamaQa Pedraluarez do geiio , ioiBOO mais d
uiado seguindoo Iret oioaros de caualo. E vendo ele j|
não podia escapar ▼irou a eles , & derribou hQ morto ((
¥Íolia diante: o j| vendo oa outros fugirão^ & ficando
liore, ae foy embarcar em paz. E dali se foj António
da silueira a h&a ilha chamada Bombaim pegada e5 a
costa, pêra dali arrecadar as páreas deTaná, Bandorá,
& Caranjá , que Ejtor da silueira íixera tributários , co»
mo disse no liuro sexto : Q eles logo pagara cd medo de
serê destruidos como os outros , em 2[ se fez a espátosa
destrui<^ ^ disse , não somente neles , mas em muytaa
aldeãs ^ ha por a^la costa, Q he muy pouoada. E nes^
ta guerra queymarSo os nossos trezStas velas anlre nãos
grossas , zambucos , & cotias carregadas de fazSda , da
madeyra & de mantimStos. Em que fizerâo mujtogran*
de perda, assi a Cambaya como ao estreito, & forSo
caltuas mujrtas almas , de que a el Rey de Portugal vie^
tio cftto & cincoSta, b5s pêra remejros. E esta foj a
mais áspera guerra j} ateli foy feyta a Cambaya , & de
4 recebeo mais perda , & os nossos receberão mais pro*
ueito: porque todos os da^la armada forâo ricos, & el
rey de. Câbaya a s^ntio muyto. E nesta ilha ficou An«
tonio da silueira algils dias pêra arrecadar as páreas ca»
mo disse«
CAPITVLO X.
De como ho capitão de Reynel desbaraUm a Frãcisco pe*
reyra de berredo , capUâo da fortaleza de ChauL
JD azendo António da silueira esta guerra na^la costa,
-a fazia el rey de Cambaya a Niaamaiueo se&or de Cbaul
vassalo dei Key de Portugal. E isto por seus capitães,
a lhe tomarão & {Jymarã muytos lugares de seu seflorio
& ele andaua fugindo dQ cabo pêra ho outro, & por is«
so os imigos se espalhara por sua terra* E hu destes ca«
pilães, Q era ho de Reynel sabêdo a destruição ^ os
nossos fizerão em Reynel , por vingãça determinou da
LITRO rni. CáWTVLO X. 2S
queymar Cbaul dos mouros , pafeoeodolbe que por se^
rein amigos dos Portugueses se vingaua, & partio pêra
lá 06 cinco mii de eauato, 8c dose mil de pé. £ mandou
diauie algUs Q fossem ver a dispoei^ào da terra , & es-
tes chegarão júto do lugar. Onde togo Iby grande aluo-
roço, & derfto recado na fortaleça ^ lhe acodisfié. £ »-
cerlouse ^ estaua hi Fernão de moraes, que hia em fafl
Galeão pêra Ormuz, & acodio logo c6 sua geie, & assi
algils da fortaleza. £ acharão ja os imigos anlre as or-
las de Ghaul , & pelejara coelea , & os fizerão fugir , ti«-
cãdo mortos ires de caualo. £ ficado bo lugar seguro
por a^la vez , se tornou Fernão de inonies pêra a nossa
pouoaçãor £ao outro dia forão esses principaes deChaul
dos mouros requerer a Frãcisco pereyra de berredo c»-
pitão da nossa fortaleza , Q íosse buscar os Imigos Q e»-
tauão perto , & os lançasse de todo fora da terra , porQ
lhes ná queimassem o lugar: & (| era obrigado a àefeoh
deios pois Nisamaluco era tributário a el Re; de Poi^
tugal. O que os ^ estauão com Frãcisco pereyra, lhe cò^
selbarâo Q fizesse. £ele ho fez, & sahio da fortaleza c&
cincoenta de eauaio, & cento & cincoêta espingardeiros
de pé : & fby em busca dos Imigos ate chegar a bH pas^-
BO mea legoa alem de Chaui , ^ se chama Argao: que
be tão forte ^ cincoenta homSs bo pode defender a todo
miido. £ chegando ali não parecião ainda os mouros ^
pelo Q teue que erão fugidos de todo, & se quisera tor*^
nar pêra a fortaleza. £ assi lhe disserâo algas Q ho fi»
zesse, por^ ele não era obrigado a ir buscar os imigoa
tào iõge da fortaleza : & pêra defender Ghaul abastaua
acodirlhe se os Imigos tornaseem , & quanto mais perto
pelejas&e da fortaleza , tanto mais pelejaria a seu saluo.
Outros disserâo, que deuia de passar auãte & ir buscar
os imigos, & pelejar coeles r porQ se tornasse sem ho
fazer, Q pareeeria fraqueza, & (} ficaria em descrédito
com a gfiie da terra. £ tâto bo apressarão estes ^ ho fi-
lerào passar auãte a outro passo, dõde mãdou quatro
de caualu a descobrir a terra. £ esles lhe mandarão dy-
24 BA HISTORIA BA IlfBIA
zer 1) nio parecião os lanigos, {| fosse auâte, & n2o
perdesse a^la hoorra , ^ lhe queriSo roubar os que lhe
eonselhauão que não fesse , & coisto foy. E saiodo a hS
campo acharão os imigos , Q estauâo no cabo dele dei-
tados ao pé de hua serra : j} logo ge leuaotarão em os
nossos parecfido. E quando Francisco pereyra vio tio
grossa genle, achouse embaraçado: & mais por^ os I-
migos de caualo pegario logo cõ os nossos de caualo j}
hiSo diãte. E por os mouros serS tao grossa gente, os
n2o poderSo sofrer, & recolbiãse quãto mais podião muy-
to apressados dos f migos , que os apertauâo rijo: & por
isso Frãcísco pereyra se quisera recolher com os de pé
ao passo donde partira , & fazerse ali forte. Mas nâo
pode , por^ vSdo os de pé a pressa com ^ se os Portu-
gueses de caualo recolhiâo, & a grossa gCte dos imtgos
i| vinha sobreles , é estado cisados do caminho , por a
calma ser muyto gride : cometerão de desmayar, & de-
aordenarse. E em vez de se fazerem em corpo , & tira-
r6 aos imigos cõ as espingardas , espalhise & começâo
de fugir polas serras fora do caminho. O que v6do os
imigos 9 começao de dar grides gritas: & apertarão tão
rijo coeles, ^ os desbaratarão a todos & fizerão fugir,
assi os de caualo , como os de pé por essas serras por
fora da estrada , com ho que receberão mais dano: Q se
forão por ela como Francisco pereyra , & algus outros
que teuerão coele em chegando ao primeyro passo seli-
zerão fortes, & resistirão aos imigos cd as espingardas,
mas não ouue esse acordo. E assi forão os Portugueses
fugindo ate a fortaleza, indo os mouros em seu alcãço,
í\ matarão deles oytenta de pé, & ferirão muytos, & quey-
marão Ghaul dos mouros, de í\ matarão rouylos. E che-
garão tão perto da nossa fortaleza , que lhe queymarão
ho arrabalde se não fora a artelharta que começou deti«
rar. E cÕ tudo cercarão a fortaleza , o que Frãcísco pe-
reyra escreueo logo a António da silueira, & j} ho fosse
socorrer. O (| ele fez como vio a carta , & checou no
mesmo dia ^ partio , por. não ser Cbaul mais de. cinoo
LIVRO Viri. CAPIJ^LO XI^ 26
]f>goas de Bombaim. E chegando a Chaul, achou a ter-
ra (oda cuberla de mouros, que cõ sua vinda se forão:
& receando que tornassem , deixouse ficar em Ghaul.
C A P I T V L O XI.
De como ho gouemador prendep Francisco pereyra de
berredo.
JL artidas as nãos da carga pêra Portugal , de ^ foy por
capitão mor d5 Lopo dalmt^ida, despachou ho gouerna-
dor pêra IMalaca a António da silua de meneses capitão
da nao do trato da índia pêra Malaca. E assi pêra Ma-
luco hii fídalgo chamado Gõçalo pereyra, {} tinha por el
Rey de Portugal a capitania da fortaleza da ilha de Ter-
Date, & coele outro fidalgo seu cunhado que auia nome
Hanibal cernige {) hia na sua subcessam. E por capitão
tnór do mar de Maluco hii Brás pereyra sobrinho de
Gonçalo pereyra. E ho gouernador deu a feytoria da
fortaleza a hii Luys dandrade: & estes todos partirão
de Cochim em Abril pêra Malaca, indo em sua eõserua
António da silueira, & hu Lionel de lima em hOa ga-
leota que hia tãbê pêra Maluco. E despachados estes,
partiose ho gouernador pêra Goa a seys de Feuereyro,
& SBaticalá lhe foy dada hQa carta Dantonio da siluei-
ra: em l\ Ihescreuia ho desastre que acontecera a Fran-»
cisco pereyra , & coiyk> (ícaua em Chaul. E ho gouer-
nador quisera logo ir a Chaul , & não foy por adoecer
em Goa, & por isso escreueo a António da silueira, que
tirasse a capitania a Frãcisco pereyra de berredo, & a
seruisse, & lho mandasse preso a Goa, & ^ tirasse a
inquirição sobre a desordS 4o Argao^ & assi ho fez An-
tónio da silueira, & ficou por capitão de Chaul, & in-
uernarã coele seys cêtos & cincoenta soldados, a 2} deu
sempre de comer á sua custa, em Q gastou tâto. E fi«
cou tão indiuidado, que de pão cozido ficou deuendo
ires mil pardaos a Ana fernandez, moUier.do bacharel
LIVRO VIII. B
26 DA HlflTOIIIA DA INDfA
FeraSo LourSço, a quê ho ouui. h^ coesla geote segu^
rou a fortaleza de ser cercada de Djuuros.
C A P I T V L O XIL
De como Diogo da silueira queymou Calicut , ^ foy «o-
bre ho bigar de Mangakrj ^ ho dcstruyo de iam.
ÃJíogo da silueira 9 Q ho gouernador deixou por capa»
iáo inór na costa do Malabar : foy (lor seu oiàdado ao
porto de Calicut pêra acabar as paxes í| el rt-^ de iSs^
íicut começara de fazer cõLopo vaz de sam Fayol E el
rey náo q.uÍ8 por hfia liga Q Cioba feita cõ o ( batioi de
Mangalor, coino direy a diante. O <} vedo i>iogo da
silueira , por se vingar mãdou poer fogo ao laço da ci*>
dade Q eslaua ao l^o do mar ^ o ^ aigús Porlugjueset
fizeráo cõ panelas de poluora. A ^ os da terra logo aco^
diráo, mas toiherãlho do mar cõ a artelbaria: & cõ lu*
do não arderão mais de duzfitas casas, por nao auer v&»
to: 9 se ho ouuera^ ioda a cidade fora queimada. B
Yêdo Diogo da silueira 2) não auia ali mais ij fazer, foy*
se pola costa queimando muytos lugares, & cortado os
palmares, & outros aruoredo»^de q a gente se maniê, íl
be a mayor guerra {} se Ibe pode fazer. £ sabêdo quan«*
to importau» ao seruiço dei Rey de Portugal ,'{| a es^
peciaria não fijsse leuada a JVJeca: irabalhaua cõ grande
diligScia en> guardar os rios daj)ia cosia iirincipalmète
ho de Cbaie, em* Q sabia f\ estauão carregando algib
galeões de rumes despeciaria & droga pêra ho eslreylo^
li assi n)iiyto8 zàbucos & paráos grades. E |Kjr^ nào po^
dessem sair, logo d^ibi a poucos dias § foy na costa mS*
dou a- Nuno iiernâdez freyre ^ fosse surgir na boca do
rio de €hale cõ a sua gaJeota, & cõ bu bargantim, J[
tsuauâo ambos sessenta homSs, & ^ goardas^e Q nào
saísse neniiúa das velas Q estauão dStro. E pêra estarê
todos de melhor võlade, os manleue quatro meses ásua
custa , tendo conlinuamête tanta abastâça de mantimi^
LIVRO VflI. CAPITVLO Xlí. 87
ioê l\ mandaua buscar a Cananor (} nuca ihe fallauâo. E
ele cõ a outra armada vigíaua os outros rios de tnaney^
ra l\ nuca pode sair nenhâa nao, & passouse a Monção:
f)elo í| os mouros, & rumes descarregarão as nãos &ga-
edes & os vararão: & não quiserão cõprar tanta pim^
ta como lhes vSdiSo os gStios, & eles por isso a forâo
vSder na nossa feytoria de Cochim , & por esla causa
foy muyta a^le anno. E sabendo Diogo da silueira J\ os
monros não podião aijie anno ir ao estreylo, determinou
de ir sobt^JMangalor como lhe ho gouernador escreuera
de Goa ^ fosse: & pêra isso lhe mandou mais bargãtins
& gSte. E praticado Diogo da silueira este feyto cÕdom
loão déça capitão de Cananor, por ser bS esperemètado
na guerra assentarão l\ deuia. dir. £ partiose logo , le-
vado hGa armada de duas galeotas , hila carauela & tre^
ze Bargãtins, cujos capitães forSo Nuno fernâdez frey-
Te, Manuel de vascõcelos , Francisco da cunha, loSo
da silueira, António desousa, Gomez de souto mayor,
Nicuiao jusarte, Aires cabral, Lourenço botelho, Afon*
«o ahiarez, o calafate de Goa, loão penaluo, António
fernandez, Frãcisco de sequeira malabares, Diogo co-
Tesma & António mêdez de vascÕcelos feitor da armada.
E coesta armada foy ter sobre a barra de Mangaior, ^
be hii lugar grande do reyno de Narsinga metido obra
de meya legoa por hfi rio. E sobrele juto cõ ho lugar
estaua feita hiia casa forte de pedra, & cal como forta-
leza cóm seus bailéus ao derredor, de que se podia de-
fender, & tinha muyta artelharia assestada da banda do
rio pêra Õde tinha hõa seruêlia & outra pêra o lugar. E
hij pouco abaixo desta fortaleza da banda da terra esta-
ua fafla tranqueyra de duas faces entulhada de terra,
em t\ estaua hfla estãcia dartelharia. Eesle lugar linha
arrendado a el rey de Narsinga hfl grade mercador gê-
iio, a ^ ria sua lingoa chamâo Cbatim : & por seu grã*
de trato & riqueza se cbamaua ho Chatí de Mangaloi".
£ assi era ele ho mais rico Chatim de toda a^la costa
de Goa ate ho cabo de Comorim , & que tinha mayor
D 2
28 Í>A HISTORIA DA ÍNDIA
Iralo: & por ser amigo dos nossos podiâo suas nãos na*
uegar seguras. E vendo el rey de Caiicul que não po-
dia carregar 3 seus portos pêra o estreito, fez amizade
coeste Chatim , & màdaua ali sua especiaria , & hi a
carregauao os mouros de Meca cÕ dissimulada q carre*
gauão no porto de nosso amigo: & pagauão a elrey de
Calicut os mesmos dereytos ^ ihe soyâo de pagar no
porto de Calicut, & por Uso cÕtentaua bo Chatim. E
hia este trato em tâto crecimento, ^ assi era Mangalor
l^scala de Meca , como Cochim de Portugal , pelo ^ era
muy perjudiciaU E por industria dei rey de Calicut, se
fortaleceo ho Chatim da maneyra ^ digo, & lhe man*
dou a arlelbaria, & á sua cusla tinha ali gete de goar-
niçâo pêra defensam do lugar , & da fortaleza : & isto
esteue encuberto algús annos ate £| foy sabido pelo go-
uernador , q por essa cauisa ho mandou destruir. E cbe*
gado Diogo da silueira á barra de Mangalor, mâdou to-
mar lingoa , de Q soube ^ ho Chatim fora auisado de
sua ida per mouros de Cananor, & q esperaua por ele
CO determinac^ão de se defSder, pêra o ^ tinha muyta
gSte de peleja, & assi soube ho sitio do lugar. £ cõ
quanlo vio ^ era muy to forte, & a gSte muyta em de«
Diasia pêra a sua, ^ nâo erao mais de quatrocetos Por-
tugueses, determinou de dar nele. E dando cota aos
outros capitães de sua determinação, ^ forâo coela con-
formes i assentou coeles de dar no lugar ao outro dia,
£ por!) 08 paráos de Calicut cursauâo ali muyto, ^ fí-
carião na boca do rio a carauela & as duas galeutas pê-
ra lhes defenderS a Strada se viessem, & cõ os bargâ-
lins enlrarião. E por se liurar do nojo ^ a artelharia
lhe podia fazer, desembarcaria hú pedaço abaixo do lu-
gar cõ duz3tos & corSta Portugueses, de c| os cento &
vinte seriâo espingardei ros , & os outros ^ erâo comi-
três, bombardeiros, & gSte do mar iriilo nos barganlins
pêra esbõbardear a fortaleza : por^ cuydâdo os imigos q
os comelião polo rio nSo acodissê tâtos a defenderlbe a
entrada da terra. E destes iria por capitão h(l Francis-
LIVAO VIII. CilPftTVtiO XII. 29
€0 dajora , porf) os capílaea auiâo dir cõ Dirogo da sil-
ueira. E ii^to assentado, confesaarãse todos a^la noyle^
& encoiD&darâse a nosso Senhor , porQ o feylo. era perb
goso. E ao. outro dia ^ forào viie sete de JVlar ço , de
mil & quinhêlos & irinU , em começando *a maré aba*
larâo pelo rio acima, & Diogo da silueira desembarcou
ondestaua assentado. E seguindo pêra bo iugar , perto
dele acharão obra de dous mil dos imigos, que os espe»
rauâo em bu palmar. -£ em vendo os nossos derâo húa
grade grila, desparâdo muytas frechadas & aigQas es*
pingardadas. loâo da ailoeira que leuaua a dianteira cÕ
os espingardeyros , mãdou desfechar neles : & apertará*
nos tão rijo 9 derribado algiis mortos , ^ os fizerâo reco^
Iher ao. lugar. E eles recolhidos, quisera hQ seu bom-
bardeiro dar fogo a artelipria da tranqueira : & quis Deos
^ hfl dos nossos lhe acertou cÕ h&a espingardada & o
matou, & os nossos chegarão tain asinha a tráqueira
que a firtelharia não .pode tirar, & em chegado entra*
râo logo a. tranqueira, que os imigos não ousarão de re*
sistir, & deles se acolherão á fortaleza, & outros ao lu-
gar. £ loão da sjlueira com ate sessenta dos nossos, to^
mou ao .lõgo dp rio pêra a fortaleza: & no caminho 9r
chou hila mezquita Õdestauâo recolhidos muytos Imigos,
Q se defSderão cÕ muyto esforço. E logo no começo foy
a peleja muylo a&pera^ & muytos dos nossos furão feri*
dos , por^ como a porta da mezquita era estreita , &
eles querião entrar todos juntos descobriãse & feriãnos.
E estando neste cõflito, bíl fidalgo chamado Francisco
de sousa remeteo só á porta da mezquita, & leuou hu
mouro nos braços, & matoubo ás punhaladas. E coisto
os Q defendião a porta se retirarão bil pouco pêra dStro,
q algus dos nossos teuerão lugar dentrar , & como hfls
eiitrarão, entrarão todos. £ a causa dêtrarS despois de
nosso Senhor , foy Frãcisco de sousa , ^ doutra manei-
ra a Strada da mezquita ouuera de cuslar muyto. E en-
trados os nossos 9 todos os Imigos forão mortos,.^ ne*
nha escapou : & entretanto os Q ficauão cô Diogo da
30 BA HISTORIA tIA ÍNDIA
silueira enxorarâo ho lugar de todo , l\ nSo ficou nele
ningufi. E todos cò grande ímpeto, reroelS a oõbater a
fortaleza: em.^ logo acharão grSde resislficia , porque
os iraigos estauão muytos sobre os bailéus, de ^ arre-
iDessauSo panelas de poiuora , & tírauao niuytas pedra*
das , & algíias espingardadas , cÕ que ferirão aigfts dod
DO8808 (| chegarão desmãdados. Mas estes não durarão
muyto, porQ a nossa espingardaria lhes oome^u de ti-
rar, & matado algus fez recolher os outros: & não ou«
sarão de tornar ali mais por amor das espingardadas (|
lhes tiraufto em aparecSdo. C vSdose os nossos desa*
pressados de cima, buscarão maneyra pêra entrar a for-
taleza : & loâo fie Sousa lobo , & Diegaluares teiez , S&
Francisco de l)arros de payua, acertarão dacbar h(I bef'*
ço de ferro, Q tomando todos t^ôs fizerão dele vay St
vê, com ^ arrobarão hfl postig'ò da fortaleza por ondid
entrarão co outros a pesar dos mouros, (} lho defende-^
râo pouca cousa, por^ os entrauâo ja por cima das pa^
redes. B era a reuolta antreles muylo grande por fugi«
r6, pòrQ como forão êtrados não ousarão desperar mais^
& fugirão pela porta do rio, a {| se dançarão pêra se a^
colherS da outra bãda, como acolherão muylos. E algQs
fora mortos, assi ao fugir pelos nossos, í\ ãdauã na for-
taleza , como no rio pelos (} estauã nos bargãtis , l\ já
erã chegados. E ãtrestes foy moflo o Chat! de hila es-
pigardada, & dos nossos Deos síeja lounado não morreo
nhil, sendo este hxí feito muyto perigoso, & em que os
fmigos pelejarão animosamente^ Despejada a fortaleza,
por^ os !migos não tornassS em quanto se roubasse, &
os tomasse desapercebidos, mandou Diogo da silueira
goardar as portas a seu hirmão loão da silueira, & a
raanuel de vascõeelos: & deu ho cargo de fazeré em-
barcar a artelharia dos imigos a loão de sousa lobo,
Diegaluarez, Martim vaz pacheco, & a Francisco de
barros de payua : Q a íizèfão embarcar, & forão sesfén-
la bõbardas , de que muytas erão gfossas , & (res quar*
taos. E entretanto f^y a fortaleza Mubada , em )| se a^
LIVRC Vllh QAPITVIiO }íill. 81
ehott uiuj^la soma de cobre, de corai & jjajsoug^ue, &
muytas graãs, & veludos j fa* outras lutiyias mercadorias
muy ricas de Meca: &;,niuyia [M4w>ra, .&.aiaalii)3ilu>s
sem colo. E dislo foy a iiiayar parle quib^iinada , porQ
ifSdo Diogo da siluetra £[ a geie se desinaodaua em tax^
regar mttjto os bargaolios, despoitt dembarcada a jir«
telharia maodQU dar íògo á iorlaleza » ^ fuy toda que]«-
mada se nâo as paredes da baoda do rio por serê muy to
feries 9 & os nossos as derribarão á mão ate os aliceçeai
£ assi fby queimado lodo ho lugar & Ire^e nãos -^ bi
eslauào varadas, & queimadas^ & cortadas as l^rtasi
de mameyra {| parecia ^ ouoca ali ouuera poupac^âo, £
foy este hQ muy aotauei feyto por ser€ es nossos tà9
potfCo9y & de {| el rey de Portugal foy itiuyto.seruido^
assi por se lhe tolher Q oâ se leuasse mais daii pimenta
a AAeca, como por ser a^ie lugar muyio furte & sober*
bO) Q se nào falaua em outra cousa. E ali linha el rey
de Calicui sua esperáça^ & os seus muy grande esfoi:«>
^ & colheita ; & por sua de^truit^ào licarao todos muy
Qbradjpsy & a terra 6c<mi ioda assombrada de medu dos
G A P I T V L o XJII.
Do que aeonieceo a Diogo da silueiru com Patemarcar
capitão da armada de CalicuL
JL/esíraido ho lugar, por^ era cabo do verão, & Dio^
go da silueira nà auia de fazer mais i\ correr a costa ,
em ^ Dào ae esperaua cousa perigosa, pelo i} nâo linlia
necessidade de latas velas, mandou pêra Goa noue, &
cô as outras ^ erào sete se foy aCananor. E no me«u)0
dia ^ chegou passou a vista Patimarcar cafiiiáo de hfla
armada de Calicut de sessenta paráos, í^ bia por arros
â IMangalor, nâo sabSdo ^ era destruído. E auendo os
1K8S08 vista dele, determinou Diogo da silueira dir pe-^
lejar ooele, posto ^ tinha tão pequena frola: & esta
auKla carregada da preaa de Maogalor , & aayo cõ hiia
38 DA HISTôArA DA ÍNDIA
galeota em ^ aodaua , & cõ cinco foargSlins por 8e ho
ouiro eslar descarregado, & três ou quatro catures de
Cananor. E mandou a todos -^-afferrassem cÔ os mou*
ros , por^ trazião arlelharia , & se andassem ás bombar*
dadás j} os meteriâo no fundo. B indo coesla determi-
nação achou ho veto trauessam & ficauSolhe os !migo«
de bairra v6to, pelo Q os não pode afferrar, sómSte ha
dos catures por ser ligeiro passou auftte a remo. E quS*
do, os Imigos ho virão só o quisera abairroar. £ S que*
r^do voltar pêra fugir, os (} hião nele se cÕcertarfto tâô
mal (} çoçobrou , & afogarãose sete dos nossos () hiâo
dentro. Ao ^ os mouros deráo bua grande grita, & co-
meçarão de desparar muytas bombardadas, & de hiia
quebrarão híi braço a luâo da silueira, que andaua dian*
ie no seu bargantim. E vendo Diogo da silueira que
por cauâa do vento não podia afierrar os fmigos, & que
ás bombardadas lhe tinhâo muyta auantagS por serfl
muytos, & tra^erS os nauios desempacbados : não quis
perder tempo, nem gSte, porque vio que era por dd
mais andar ali cõ tão poucos nauios & tão carregados*
E tornouse a Cananor, & Pateniarcar foy sua guia, ft
quando achou Mangalor destruído carregou em outra
parte. E tornado Diogo da silueira a Cananor muyto
sentido pelo que lhe acontecera, mftdou descarregar os
bargantins, & a galeota. E cifados, & enscuados pêra
que ficassem mais ligeiros , leuando algfls catures de
Cananor: que por todos erão onze veias, foyse a mote
Deli a esperar Patemarcar pêra pelejar coele, & tornS-^
do ho foy togo cometer. E como ele então vinha carre*
gado, & sentio a determinação dos nossos, pois ho hião
ali esperar. E cõ ho espãlo ^ trazia do {} achara feyto
em Mâgalor , não quis tomarse coeles , & trabalhou por
se acolher cõ ho vento que lhe fazia pêra isso. E os
nossos os seguirão cÕ grandes apuparias, & meterão no
fundo seys paraos cõ a 'artelbaria , & os outros fugirãa
& se fora a Calicut : cujo rey ficou muyto triste peJa
destruição de JVIangaior. E vêdose desesperado de* te»
LIVRO VIII« GÂPITVLO XllU. ^S
outra colheita como a^lla , quisera despois fazer paz cd
ho goueroador, !( não quis por conhecer quã mentiroso
era , & quã incõstanle. E Diogo <Ia «ilueira despois ^
Ifae fugio Patemarcar, andou pela costa ale quasi a fim
Dabril sem mais achar cõ quem pelejasse: & por entrar
bo inuerno se foy a €!ochim, onde inuernou.
C A P I T V L O XIIII.
De como Eytor da sibieira foy par capitão már òo caba
de Goardajum , ^ das presas que fez.
^/V-tras fica dito como Eytor da siiueíra partío de CSoa
ft vinte hd de laneiro, do anno de trinta pêra ho cabo
de Goardaffl cd a armada Q disse , em Q forão seys c8-
tos Portugueses. E chegado á paragem onde auia des-
perar as nãos , repartio os nauios atrauessando ho mais
que podião alcançar, porí) não podessem passar nenhQas
nãos sem ser& vistas. E andando as esperando , foj ter
coele faHa nao muito grade de mouros malabares , c6
quem pelejou. Eetes se defenderão muyto bè por faub&
pedaço, & despois forâo entrados &. mortos todos, se
não hus poucos de í) Eytor da silueira soube {) a^la nao
era doChatim deMangalor, & hia carregada de pirnStà
& droga. E foy muyto grande dita tcroarse esta nao,
{)or{{ cõ a goarda t\ Diogo da silueira fez na cosia do
Malabar não hia a Meca outra pimenta se não aquela^
& assi não foy lá aquele anno nenhua. Tomada esta nao
que foy muyto rica, topou Martim de castro outra ^
hia de Diu carregada de roupa de Cambaya , & hiãd
nella bem duzentos homSs de peleja, em {| entrauãò
muitos Turcos :.& os nossos serÚo ate corenta;, E pele*»
jarão coeles hu bõ espaço primeiro Q os aferrassem at0
(} os abalrroarão: & em afierrâdo, IMartim de crasto que
^ra muy arriscado caualeyro, foy o primeyro que saltou
dentro, & coele aigús dos seus: cÕ quanto as pedradab
& frechadas \ os Imigos tirauâo er&o sem conto.. E.des^
LIVRO VIII. E
$4ê " DA HIlSTORtÁ SA ÍNDIA
pois de seré dSlro, foy a peleja muyto mais rija que d&*
les, porQ os mouros erâo horaSts de feyto, & pelejauâ
com rauyto esforço : & defeadSdose morrerá quasi to*
dos, deixando muyto ferido aMarlim de crasto, & dea
ou doze dos nossos , \ todos jQtos sosteueráo ho mayor
impelo da peleja. E tomada a nao , acbouse q hia rica
arrezoadamente. E a fora estas duas nãos se tomarão
algilas outras pelos outros capitães, mas sem peleja: &
estas duas forão as de mór preço. Édos catiuos \ forâo
tdma(k>6 soube eytor da silueira, que a mayor parie dae
nãos de Diu & do reyoo de Cambaya erfto passadas : por^
como esperauão Q bo gouernador fosse a^lie ano a Diu
partirão cedo polas não tomarê. £ sabido isdo por Eitor
da siiueira, vSdo \ era iêpo perdido andar ali mais, par^
tiose pêra ho lu^ar de Mete : õde tinha mâdado aos ou^
(ros capitães \ se ajQtassem no fim das presas ^ & his^
lyiitarão todos.
*
C A P I T V L o XV.
IXe como os Rumes kuantarâe ho cerco a Adem oont
mida da tmssa arm,ada^
jyXorto fao capitão mór do Turco ([ matou Soiermâa
raez, como disse no liuro sexto. Mustafa, & Gojeçofar
seu iesoureyro , nâo ousando de tornar a Ludá , nd a
çuez, pola Ireição que fiaserão ao Turco ^ determinarão
de tomar AdS & íazerseMustafa senhor dela pêra fazer
hi seu assento. E ajútãdò dez nauios de remo , aotre
grades & pequenos éa armada \ leuaua Soleituão raez,
& corAta zâbucos : & Geluaa foy sobre Adfi , onde cha^
^u de supito com seys cfttos Rumes, & muyta outra
'i;6te da terra, \ ppr ganhar soldo ho ajudaua* £ cercou
Adê^ pop mar, & da banda da (erra mandou fazer bua
estãoia, em que forão assestados quatro Basiliscos, com
'4 lhe derribarão todo o muro da^lla parte por muytas v^
«es ; & os mjouroi lio tornarão a refazer. £ erão tão eá-
LIVRO viir. ciiprrvLo xvi. M
feridos, & defendiãse lambe, ^ nuca MuBlafa os po--
de tomap em cinco meses j) durou ho cerco : em que
lhe morreo muyta gêíe ^ssa |)obre , de fome, & de se-^
de. E sabendo Muslafa como a nossa armada andaua
Bo estreito ouue medo il\ íbsse a Adè como cuslumauâo,!
& () ho tomasse segfido a sua gftle estaua desmaiada
do trabalho da guerra. E por ísaa leuâtou bo cerca, Sc
ae íoy pêra Gamarão Sc Adem ficou liure«
C A P I T V L O XVL
De eovno Eytor da 9ilueira fez que el Rey Dadem sefir
zesee tributaria dei Rey de Portugal.
s
enda junta toda. a nossa armada em Mete, mandou
Eytor da sila4>íra as nãos & zflbucoa das presas a Maz^
cate pêra se vèderi. E ele partiose pêra Ad6, pcrQ le*
uaua por regimAto do gouernador, que acabado as pre**
aaa desse hfia vista a Adem» E acbãdo no porto quaes»*
quer nauios de muylo preqo os tomasse, & doutra mai»
neyra não curasse deles. E mandasse recado a el Rey^
A por amor dele ho fazia : & se quisesse ser vassalo dei
Rey de Portugal, & pagarlhe alguas páreas () ho ajuda-»
ria era quito podesse : & por a guerra i\ sabiá l\ tinha
cora os rumes mandaua aljfia armada em sua ajuda. B
chegado Eytor da silueyra ao porto Dadê, ^ foy aos
quatro Dabríl, despois de surto, foy logo visitado pot
dous mouros principais, da parte dei rey cÕ muyto re*
fresco, de vacas, galinhas & carneiros, & cÕ palauras
de muyta amizade: & isto c5 medo da nossa armada.
Por^ segiido ele sabia que os nossos erâo de ccncrusam,
& tinha a sua gente trabalhada da guerra dos rumes,
deuse por tomado, & porisso dissimulou com estas mo»»
trás damizade. £ na enuolta delas mâdou perguntar a
Eytor da silueira a determinação de sua vinda. £ ele
lhe respondeo pola instrução- do gouernador : & pos de
ena easa que: achado neuaa em qacotora que os ronies
E 2
36 DA HISTORIA DA ÍNDIA '
erão idos & nSo linha neceâsidade dajuda , espalhara á
armada âa presas. E coisto lhe comeieo a vassaiagS Ss
paga das páreas, oflTrecêdolhe sua ajuda cõíra os rumesj
se lornassem , & niandoulbe aigúa cousa com qae lhe
pareceo que folgasse, pêra o prouocar a fazer seu re-
querimenlo* Â que el rey respondeo, que cujdaua que
bo gouernador lhe agardecese soster ele a guerra contra
os rumes, gente maluada, & tamanha imiga dos nos«
SOS : ^ todo seu desejo era entrar em Adê pêra passar
á índia : & porisso folgasse com sua amizade sem mais
páreas nS cousa aigua. E entendendo Eytor da silueyra
^ el rej se escusaua , mâdoulhe dizer que ho milhor h^
gar em ^ os o gouernador podia acolher era Adè, por^
os teria ali mays certos : & se ate li não erão desbara^
lados, fora por andarê sempre por lugares eslreytos &
não sabidos , por isso visse o ^ lhe cõpria. E passados
sobristo roais outros recados vio el rey <} lhe cõpria fa»
zerlhe a võtade & fezse vassalo dei rey de Portugal ^
com lhe pagar de páreas cadãno dali por diante dez mil
xerafins da valia Dormuz: & disto se fez hQ contrato,
cõ condição c| o gouernador ho ajudasse contra seusimi-
gos , & as nãos Dadê poclessem nauegar seguras pêra
onde quisessem, tirado IVIeca« E este cõtrato foy assi-
nado por el rey & por Eytor da silueira. E el rey deu
logo a Eytor da silueira mil & quinhêtos xerafins mor«
tos, de ^ mãdaria fazer em Ormuz bQa coroa pêra el
rey de Portugal, que lhe leuariâ da sua parte em sinal
de vassalagS. E detendose aqui Eytor da silueira a fa-
zer este contrato lhe escreueo el rey de Xael ^ queria
ser vassalo dei rey de Portugal , & entregarlhe a arte*
Iharia que tinha em Xael & emDofar, pedindolhe muy-
to que fosse por bi pêra se fazer disso assento. E eytor
da silueira respondeo que aceitaua sua vassalagS, porS
que não podia ir lá por lhe bo tSpo não dar lugar, que
mandaria lá hii home de confiança com quê assentase o
Q dizia. E quereiídose Eytor da siiueira partir deixou
em AdS a requerimento díel rey h& bargantim com ínn*
Lfvao viir. CÀPiTvLo xvu it
ta Portugueses, & por capilâo hu Aulonio botelho cria-
do dei rey de Portugal, de Q cótiaúa ; & deuihe por re-
gimS(o ^ passado ho inuerno se fosse à índia: & de ca*
minho passase por Xael, & visitasse ehrey dasúa par-
te, & lhe dissesse que coele podia assentar o c} lhe esh
oi^euera a Adê, pêra o ^ lhe deu iQstruçã. E feyto isto
66 fiartio pêra Ormuz , & passando por Mazcate achou
^Sdidas as presas, de Q vietã a el rey pagas as partes
trinta & dous mil pardaos« E hi soube queFr&cisco de
freyta» capitão de hQ bargantim que deixara em Mete
CÕ hQa nao de presia pêra a ieuar a Mazcate^ des))oys
de ele ser partido, chegou híla fusta de' rumes, queerâ
trinta, & dez Arábios todos espingardeyros : & quando
Francisco de freytas a vio, cuy dando i| fosse algil bar-»
gantim nosso sayo a ela, & conhecêdoa aferrouha, pos-
to ^ nâ tinha mays de dez Portugueses: & aferrados
pelejarão por tâto espaço isem se poderS vencer, que de
cansados lhes foy necessário descan^r pêra tomarè fcH
}ego: & tornado a pelejar quis nosso senhor ^ posto que
os nossos erão tam poucos, que pelejarão tam esforça*
daroente ^ os rumes & Arábios fora todos mortos; sai^
uo hú arrenegado Português, que andaua coeles, Q sal-
tando nagoa bradou j] era Christâo, & isto lhe valeor
& este se chamaua António bocarro, & estando cõ seu
pay em Ormuz que era alcayde mor, de sua própria ma«
licia sem auer outra causa, fugio pêra a terra firme, &
se fuy tomar mouro: poio Q os mouros ho não teuerâ
em conta , & ho desprezauâo. E TÍose despoys em tãta
necessidade de pobreza, que lhe foy, necessário fazerse
alfayate, & cõ isso ganhaua de comer, ate ^ se ajun^
tou cÒ os rumes : que na peleja ajudou muy bS cõ hiia
espingarda, porj) despoys de tomado dissera algfls que
ho virão tirar. £ nesta peleja morrerão dous Portugue*^
ses, & os outros forão feridos. E de Mascate se foy Ey-^
tor da sylueira inuernaraOrmus: dõde na fim de Agos-
to se pariio pêra a ponta de Oiu, & sem fazer nada es«
teoe hi todo Setembro, & despoya se foy pêra Goa eoi
Outubro.
38 JU HI8TMUA SWI INDU
C A P I T V L O XVII.
F
De como Chmçaio Pertyra, cbegcu a Mahea.
artídos Gonçalo pereyra, & António da ailita de Co»
cbinti^ seguirão aua rota pêra Malaca^ fc oom tftpo apar*
toiíae AntoDÍo da ailua deGrÕçalo peretra^ que cemLio^
Bel de lima foy em conserua ate as ilhas ^ chamâo de
Nicobar , & Lioael de lima ^ hia di&te como a aua ga»
leota era pequena 9 podeas dobrar ^ poeto que achou he
vento poitteyro: o que GonçaJo peoeyra não pode faier
por ser ha seu galeão grande: )k)Ío Q lhe íoj^ Corçade
surgiir na primeira ilha que era despotioada , & awgre
hu pedaço afastado de terra. E por ho tSpe ser roím
pêra sua viagS se deteue ali aJgfis dias , em Q poc ret
cear que lhe faltassem os maatimêtos começou dapertar
a regra: do ^ se a gente começou* dagasUir, & descoii»
fiados algils de se poderS ir dali tfio cedo, concertarão
muyto secretamSte que se fossem no. paraó do galeão à
costa de Pegu que era dali perto , onde fariSo em pre^
sas mays proueyto do que faziao auetiturados amorrerS
de fome & de sede y & (}. tinha bõ aparelho pêra furtar
ho paraó 9 por neste tempo se fazer coele ajgfoada , &
por isso trazia h0, par de berços & pelouros. E têdo ist
to assentado, negocearão estes como fossem. &zer agoa*
da: pêra o í\ leuarã suas armas, & estando ho piloto em
terra enchendo as pipas cõ algCIs marinheiros os conju*
rados se forão cõ ho paraó : & não ho achando ho piloto
logo sospeitou o que era: & ãcando' muyto triale porho
galeão estar dali b5 pedaço & não ter em () fosse por
ser a ilha despouoada. & muyto trt94.e se foy com os ou*
tros por ella a diante pedindo misericórdia a nosso se^
nhor , que auendoa delles lhes aparou hQa almadia, que
parece que ali foy ter à costa, cõ que elles ficara muy^
to ledos, ainda () era tão pequena^que não cabia nella
mais q. hà homfi. porá ir ao. galeiU).^ &. este acordarão i)
Lrvfto vin^ 0APirvx.e xvu. B9
fosse ho pilolo, assi por ser lá muyto necessário, como
por lhes prometer de acrecõtar á almadia com algOas
tauoas & madar por eles : & metendose so na almadia
foy remando vò hu pao, & assi chegoiA ao galefio: '&
dito a Gonçalo pereyra ceao^ivo paraó era furtado, fez
logo acrecentar a almadia, & mandou poios marinhei-
tos Q fícaufio em terra. £indo perto da ilha deulheil por
eima dela h&a toruoada que ouuera 4e ^oçobrs»* a aimaf
4ÍKa^ & mais esgarroa coela por esse mar & pecdenisei
ee ihe nosso oenhor não «acodira , f)ue passada a ioruoa*
da bo pibto ^ iinfaa olho na almadia a vio ir esgartadá
o q«i6 sabido por Gonçalo pereyra porque ficaua perdido
•em ela mandou cõ grande pressa leuar ancora , &. dar
á vela & forâo sebre a almadia Ç l;oaiarâo : & cobrado*
CS mariíiheyros Q fiearSo nà ilba^ alargou bo veto algOa
á^ousa, com que acordarão úe prosseguir sna viagê, ain»
Q fosse cd trabalho, por^ menos o sintirião que morrera
ali à fome: & por esta causa se partirão, & se fora da
|)ba ê ilha, surgindo muy tas vezes, por ho voto ser
contrayro. £ qaaai ^ náo se naatinbão se nflo cO bo
peixe qae pescauâo. E parece Q onfadadp bo piloto Sn
algfis bomefis darmas, .& marinheiros.. desta màvida,
deiermiDaráo de se tornar a Bengala, matando primey*
ro a Gjkjalo [wreyra pêra bo fioderfi miJhor fater, & ^
em Bengala se £ftri2 ríeos de presas» £ cõcertandose e»^
ta ooi^uraçi^ foy descuberta a Gonçalo pereyra r què
prfideo logo bo piloto , &. todee oe outros odjurados. fi
ebefpade aiMIalaca^ foy Urad* devassa sobre aquela coti^
)or*çio, em ^ não se aclioa líiaisprotta contra os cõjU'<^
rados, que p«ra serem açoutados com baraço & pregão
& degradados.. £ porl| Gonçaio pereyra leuaua por re«
gimSto 4o gouefdador que ibsse de Malaca pêra Malu-
co pela via de Bof mo , deleues» en Malaca ate quasi
a fim DagostOé
40 OA BI8T0BIA SA ÍNDIA
C A P I T V L O XVIII.
Dt como morreo el rey de Ternate ^ ^ s€ tnatou CachU
vayaco. ^
jCjLlras ftca dila como Fernão dela torre despois de ido
pêra Caaiafo, onde auia destar pola capiíulaçam dai
pazes (fu€^ fez coro dÕ lorg^e de menesea, se íby pêra
GeiJolo ?por ibo requererê o« castelhanos que hi estauãé
£ depois de lá estar tornou ho gouernador de Geiiolo a
lazer (guerra a el rey de Ternate : polo {| foy necessário
fazerliia tábS dom lorge , mas n6 bus nè outros a /asite
Iam apertada como dates. Ecomeçãdose assi esta guer^
ra, fateceo eJ rey de Ternate: & sospeitouse muyto ^
foy de peçonha ^ & ^ lha mandara diar Gachil daroes ^
por saber que eirey lhe Qria mal por elle.ser causa dé
aer metido naquela fortaleza, & auer tanto tèpo Q ali
estaua coroo preso. £ assi tãbè por aroor das tiranias. Q
fazia em sua gouernançay com ^> tinha posto ho reyno
em grande opressam^ PorS a vei-dade da morte dei rey
não se soube: & foy rouyio sinlida^iassi dos.purtuguer
ses como dos mouros por lhe todos. quererS bem por sua
boa condição* E por sua m<u*te fojr leuantado por rey
outro seu irmão mais rooçoc) auia. nome Gachil ayalo»
£ v&do a raynha sua mây qu« lhe não íioaua.outro^ tef
mendo 2) lhe morresse este, pedio muito á dÕ lorge. que
lho desse pêra estar na cidade^ &.fealbe.sobriseo mxxj*
tos requerimefiU>6. M as. dom. lorire* nunca, quis, temeo^
do c| lhe fizessem Ireiçâo se ei rey esfeuesse ibra de seu
poder« B assi lho cõselhaua Cachil danoea por amor d<i
que ganhaua -em el tey estar. na fortaleza, 2) tinha au-^
sotutamente todo o^maiido doireviM, & estado íbranão
auia de ser assi por lhe a raynha '^rer grado mal. Epor^
ela sabia Q por ele poderia seu íilfao sair fora da fortale*»
za, dissimulaua ho mal ^ lhe queria, & trabalhaua muy*
to por lhe fazer a vontade. Em tanto que teuè coele
•4
LIVRO VIII. CAPITVLO XVIII. 41
ajuntamento , sendo sua madrasta & com tudo nunca
pode alcançar o f\ desejaua, por Cachil daroes estoruar
quan(o podia que não tirassem el Rey da fortaleza: pe*
lo mando que perdia: tirãdose que receaua tanto do
perder, que tinha mortal ódio a toda pessoa que sospei*
taua que podia ser causa de lho tirar6. Pelo que queria
grande mal a Cachil vayaco que a trás nomeey , por^
dõ lorge era grande seu amigo, & ho fauorecia muyto:
o ^ temia ser causa de ho fazer gouernador, & tirar a
ele daquele cargo: porQ sempre entSdeo em dò lofge
despoys que forâo as deferenças l\ teue com dõ Garcia
anriquez i\ não era seu amigo: & <)ue a comunicarão
que tinha coele era mays por necessidade ^ por vonta^
de. E por isto que digo se temia de Cachil vayaco , &
encubertamSte bo tinha por imigo : & Cachil vayaco a
ele da mesma maneira por amor das suas tiranias. E vi*-
liSdo desta maneyra acertouse I) hua armada dei rey de
G^ilolo foy dar vista á fortaleza : & dõ lorge mandou
contrela a Cachilvaiaco com algQs Portugueses : & ela
ae embarcou em hiia coracora em Q Cachil daroes cos*
(umaua dandar, do que ele não soube nada. E cachiU
vaiaco depois de fazer recolher os geilolos & lhes tomar
hua coracora, tornouse coela muyto ledo pêra a fortale*
za : o que tambS dom lorge festejou por ser seu amigo,
do (\ Cachil daroes ouue grade enueja. E onue tamanha
menencoria de cachil vaiaco ir na sua coracora quedes-
cobrio ho ódio c) lhe tinha & dali por diante lhe daua
todos os desgostos que podia, & ho auexaua em tudo:
& trataua de lhe dar peçonha. E tão apertado se vioCa*
chil vaiaco dele, que desesperado de saluar sua vida
antre os mouros se acolheo á fortaleza , contado a dom
lorge a causa por!) ho fazia« EsabSdo Cachil daroes co^
mo estoua na fortaleza ficou muy agastado por lhe pa«
recer ^ tomaua por valédor a dÒ lorge. E isto inflamou
ainda mais a Cachil daroes cÕtrele, & determinado de
bo auer pedio ho a dom lorge por sua pessoa : dizendo^
que aquele homS tinha offendido muy grauemente a el
LIVRO VIII. F
42 PA HISTORIA DA INBIA
Kej de Ternale^ & ho linha iiiujto deseruido. E pêra
Sroueito do reyno era necessário ser castigado, pelo^
10 deuia de dar: por!} el Rey de Portugal nâo auia da-
uer por seu seruiço emparar eie, nem fauurecer os que
deseruiSu a el Rey de Ternale , antes folgaria de lhos
ajudar a caí^tigar, O que ouuido por do lorge, cotuo era
amigo de Cachil vayaco, & desejaua de ho saluar, pos
em conselho se ho entregaria a Cachil daroes. £ quan-
do ele vio que d& lorge punha aquilo em cõselbo, te-»
meose que ho acon«elTiassem ^ que bo entregasse. £
porque sabia certo^ que se Cachil daroes bo acolhesse Q
bo auia de matar, & que ho nam pedia a outro iim:
quis antes matarse que morrer por seu mandado. E su-^
pitamente se deitou da torre abaixo, & logo morreo. E
com sua morte se desfez ho conselho^ &c Cachil daroes
ficou vingado, & dô lorge muyto triste por lhe não po-
der valer. £ ficou muyto mais descontente de Cachil
daroes do que era, & Cachil daroes muyto mais dele,
E)f Qrer emparar seu imigo, & lho nam dar logo com^
o pedio sem auer conselho sobrisso. Eassi se foy maÍ0
acrecentando bo ódio que se tinhâo híi ao outro.^
C A P I T V L O XIX.
JDa ijyuria que foy feyta a Cachil vaydua.. E do mm»
que tucedea.
J^este edio que Cachil daroes tinha a dõ lorge, lhe
naceo t^r outro a todos os Portugueses , & desejar de
M deitar da terra, & auorreciãolbe tanto, que os mou-'
ree bo entendiiu). E a fora qoererem mal aos Portugue^
SM de seu natural , quetiSolho também por saberem 1}
lho queria Cachil daroes. E no ^ podiâo lhe fasião ma),
mas tslo muy di«simuladamêt«, por^ náoviãoasua:
fc auiSo grande medo a dô lorge, por{| ho conhecião por
cauaieyro. E por se vrngarem dele lhe matarão bfia jkmt-
íca da Chiiia, que ele estimaua muyto. £ posto que íoj
LrVRO VIIf« CAPITTLO XtX. 43
feyto secretamente, dÕ lorge fez sobrisso (anta diligeo^
cia, (\ne achou culpado na morle da porcaaCachii vaj-^
dua tio dei rey , & caciz mór que antreies he como an«
tre noa ho Papa 2 & nem por ser de tSo alto estado &
dignidade, dÕ lorge deixou de ho mãdar prender na for-
taleza. Do I| se recreceo grade aluoro<^ na cidade^ &
se nâo fora ho medo que tinhâo a dd lorge leuSiarãse*
E logo cachil daroes se foy oõ os principaes da cidade
á porta da fortaleza Sdestaua dõ lorge, & pedíolhe oS
todos eles, (\ mandasse logo soltar Cachil vaydua: es*
Iranhãdolbe pr&der htla pessoa de tal qualidade por tão
baixa cousa como hQa porca. E dÕ lorge não curande
de muytas palauras disse, que ho não auia de st^Uar^
ee nSo pagSdolhe a sua porca anoueada. E Cachil da«-
roes, que conhecia dõ lorge por determinado, Aao cus-
tou de mais pratica, & foy cõ os outros pêra mandar
penhores que se poses8f»m em caução ate a porca ser
aualiada. E quando tornou ja não achou dÕ lorge que
andaua na ribeira , onde lhe foy falar Cachil daroes. £
ÚÒ lorge foy cÕtSte de dar Cachil vaydua sobre os pe*
nhores, & mandou a hfj Pêro femã<ies que os tomasse
& ho fosse soltar, & ele ho fez assi. £ como bomê de
pouco saber cuydando que fazia graça , lhe vntou a bo-»
ca & ho rosto com hua posta de toucinho: que foy a
mayor injuria & oflensa que se podia fazer a hQ mouro^
por lhe ser iSo defeso em seu alcorão comerem porco,
quSto mais a Cachil vaidua de tal qualidade & di^nida*-
de anire os mouros. Eassi senfio ele tanto aíjla iniuria,
que lhe saltarão as lagrimas fora dos olhos. E corrend»-
Ihe polo rosto, que ainda leuaua vntado do toucinho;,
se foy pêra Cachil daroes^ que cÕ muytos mandarins
ho esperaua á porta da fortaleza , a quem contou sua
injuria : cô que todos chorarão assi da magoa dele co*
mo por não se poderS vingar. E cuydando que aquib
fora feyto por mandado de dom lorge, se inclinarão ain*
da muyto mais, porem cahirãose. E algfls Portugueses
que ali estaulo , em vez de 00 i^onsolarS riaose muyto ,
F 2
44 I>A HISTORIA DA ÍNDIA
louuando a graça de Pêro fernandez. E Cacbil vaidua
de se auer por mujto injuriado , não quis mais morar
em Ternate , & foyse por aquelas ilhas : nolifícando aos
mouros a grandíssima injuria que lhe fora feyta, do Q
Alafamede eslaua muy offendido, pediridolhe da sua par-
le que a vingassem. Pêra o que lodos se começarão da*
perceber, & depois ho fizerâo: & Cachii vaidua se re*
colheo na ilha de Bachão, & não tornou a Ternate se
hão no tempo Dantonio galuâo como direy a diante. E
se a do lorge lhe pesou quando soube a offensa que fora
fejta a Cachii vaidua, ou o Q fez nisso não ho pude sa-
ber: porS Cachii daroes não fez nada, & esteue como
eslaua sem bolir consigo, se não que dali a algus dias
mâdou que nam leuassem os mouros a vèder nenhils
mantirnSlos â cidade. £ isto por lhos os Portugueses
tomarem por força sem lhos quererS pagar, porq náo ti-
nbão com que , que não auia dinheiro na fortaleza cÕ
que lhe pagassem soldo nem mantimento^ do que dÕ
lorge andaua muito agastado, & não podia dar remédio
aos muylos queixumes ^ lhe os mouros faziáo dos Por-
tugueses que lhes lomauão ho seu. A quem se reprêdia
disso, res|)odiâo que lhes desse de comer, & que ho
fiâo tomarião aos mouros: Q vendo ho pouco remédio de
seus agrauos que achauão em dom lorge se queixauão
a Cachii daroes, que por euitar brigas lhes mandou 4
Dão vendesse nenhQs mantimõtos , n6 os leuessem em
casa por lhos os Portugueses não tomarem. Cõ que eles
ficarão em estrema necessidade , & se viâo cercados da
morie: a que dõ lorge querendo acodir, mandou Go-
mez aires alcaide môr da fortaleza cÕ algus Portugue-
ses, que fosse pola ilha buscar mantimentos. E algiis
destes que bião diante , chegarão a htt lugar chamado
Tabona, & como bomês mortos, de fome, & lambem
soberbos: pc^recendolhes que erào senhores da terra, se
meterão logo polas casas, tomando por força os manti-
mêtos !\ achauão: Do que escandalizados os moradores,
começarão de lhes resistir com suas armas* E como erão
LfIVRO VIII.- CAPITVLO XX. >tó
muylos ^ & 08 Portugueses poucos tralauãnos mal , &
Jiislo chegou Gomez aires cõ os que fícauâo coele, que
erào poucos mais Q os !| andauão no lugar. E cuydando
jbo regedor dele que hiâo em socorro dos com que os
mouros pelejauâo, acodio lambem pêra lhes socorrer:
& tomando os Portugueses anlre si, deràihes mu}'ia8
{)aocada8 & fendas , & a algíis lomarào as armas que
euauâo 9 & assí os fizerâo tornar pêra a fortaleza.
CAPITVLO XX.
De como ho gouemador de Tabona foy deitado aos cáesj
^* Cachil daroes Joy degolado.
V endo dõ lorge os Portugueses tão mal tratados, fi«
cou muylo indinado contra os mouros de Tabona. E
mandou a Gomez aires , que fosse logo contar aquilo a
Cachil daroes 9 & Q lhe dissesse da sua parte que man-
dasse ir á fortaleza o regedor de Tabona, & os princi-
pães que bo ajudarão a fazer tamanha oSensa aos Por-
.tugueses: porque doutra maneyra não ho teria por ami-
go dei Rey de Portugal , nS ho seria seu. £ como dd
lorge tinha el rey na fortaleza, fez logo Cachil daroes
o Q lhe mãdou dizer : & forão com bo regedor de Ta-
Jbona dous faomSs principaes do lugar, a que dom lorge
mandou cortar as mãos , & cortadas os mandou leuar a
Tabona pêra darem nouas aos outros, & ao regedor mâ«
dou ho deitar com as mãos atadaa a dous cães grandes
que tinha de filhar. E isto era »a praya , Q estaua cu-
berta de gente, que sahia a ver Ião noua & crua justi-
ça. E foy cousa piadosa de ver como os cães remeterão
ao regedor , & começarão de Ihesfarrapar a carne , mor-
dendo ho muy cruelmente, & dos gritos que ele daua
cõ a dor das dentadas. £ nisto deu consigo no mar, pa-
jecendolhe que ali se saluaria : & metendose ho mais
que podia, os cães ho seguirão dandarem encarniçados.
£ vèdoae ele em tamanho perigo, andando ja a nado
4í6 I>A HISTORIA DA INDfA
com oê pé8 qu6 cõ as mãos nSo podia, fes vdla aoscSeii
que ho seguiâo & comeijou cõ muyto esforço & acordo
de ae defender cÕ oa dètes : do que todos (içarão muy
espantados, porque se os cães hu mordiâo ele tambeia
a eles. E andando muyto ferido , afierrou bu dos eáes
por hQa orelha , & aSerrado se meteo coeie debaixo da^
goa, onde foy afogado* G assi acabou 6ua vida deixado
muyto grande espanto de seu esforço em quantos fao vi«
râo, & tamanha fama antre os mouros, que ainda ago-
ra falâo nele ^ & nâo ouue ali qu6 não chorasse cÕ pie-
dade do verem morrer tào cruel morte a hu homS tão
esforçado, que posto que tinha culpa, fora pêra lha per-
doar auõdo respeito á causa dela , & mais despciis que
mostrou seu esforço. Epola p#»rda deste homem ficaram
os mouros muyto magoados, principalmente Cachil da^
roes, que dali por diàte teue mortal odío a dA lorge^
ic aos Portugueses : & desejaua de os matar a todos y
ou deitalos fora da terra, & praticou isto com os docon»
selho dei rey de Ternate. E a principal causa pêra que
o queria fazer era pêra ser rey, & dahi a algils dias foy
dito a dom lorge, que ele tinha assentada paz cfi Ca-
chil catabruno gouernador de Geiiolo , & tiobâo ambos
concertado de matarem os Portugueses & os Castelha-
nos, & tomarlhes quanto tinhfto , & depois matarem oS
reys , que eram ainda moços , & fazerSse reys , & iia-
rSse por casamSto. £ Cachil daroes auia primeyro dè
matar os Portugueses, & despois Cachil catabruno os
Castelhanos, E culpauão também nesta treyçSo ho ca-
marão, que era ho almirante do mar, 8t ho Boyo ^ era
justiça mór do reyno- Sabido isto por dom lorge, por-
que ho caso era de tanto peso não quis fazer nada nele,
ate nâo ter a mayor certeza que pode. E despois que
a teue, mandou hu dia chamar a Cachil daroes, & hò
Boyo, & ho camarão: & apartando os, lhes fez pregQ-
tas do que lhe era dito: & eles ho confessarão com te-
mor que os nam metessem a tormento. E por Cachil
daroes ser ho principívl da trey^jão, íby preso ua fortale*
LlVaO VIU. CAPITVLO XXU 47
sa : 8obre o (} foy grande aJuoroço nos mâdarins, & mais
quando souberão a causa de sua prisai». E dom lorge
teue logo conselho ctim ho fej^tor, & alcayde mór, &
outros oíficiaes, & pessoas priu.cipaes da forlaiesa sobre
o que faria de Cachil darot^s. É foy acQrdado Q fosse
degolado pubricamenie, porque estando preso podcrse-
iiia leuàlar a terra' cõtra a fortaleza com esperan<^a d^
lio liurarem ; &flabêd(> que erií morto assessegariâo pois
Jio não podiâo cobrar^ £ isto assentado ^ foy Cacbil da-
foes degolado da. maneyra que em Portugal sam degor
Jados os grandes senhores: o que pos grande espanlo
nos mouros, especialmente nos mandarins^ que naquela
terra não morrem por justiça: & quando cometem cri^
me per (| mereção morte degradânos, £ vendo eles ma»
tar assi a Cachil daroes y não se ouuerâo por seguros ,
& diziâo Q fora morto sem. causa somente por mexeri*
cos: & temendo esses princifiaes que lhes fizessem outro
tanto^ determinarão de se ir da cidade morar a outra par-
te, por não estarem na conuersa<;ão dos Portugueses, Sç^
cõselharão á raynha Q fizesse ho mesmo. £ assi ho kz^
& foyse coeles a hú lugar forte chamado Turutó: porem
a gente comufl não bolio consigo, & deixouse estar. £ a
raynha despois ^ foy em Turutó, mandou pedir a dom
Jorge, que lhe desse el rey seu filho pori} não morresse.
£ elle nunca quis, pelo Q a raynha mandou, {| nào le^
uassem a vender mâti mentos á cidade : & assi durou es<-
te aluoro^ ate que Gon^lo pereyra chegou a Ternate»
C A P I T V L O XXI.
De conto Gonçalo pereyra chegou d ilha de Temate.
yXoDçalo pereyra que fieoo em Malaca , esteue hi ate
vinte Dagosto i) se partio pêra Maluco eom Lionel de
lima , & foy de Malaca ate ho estreito de Cincapura ao
Jongo da Msta, & dali fez sen caminho pêra a ilha de
Borsfeo, que assi ho ieumoa por regimeato de JNuno de
48 DA HISTORIA DA INDÍA
cunha pêra tomar hi caixas, que aam hA género demoe*
da que serue em Maluco , & asai algQa mercadoria ne«
cessaria pêra lá. £ fazendo seu caminho por ãtre muy*
tas ilhas por Òde ele he, foy ter á ilha de Borneo Q he
iiíía ilha, de ^ os Portugueses a este tempo tinhão cies-*
cubert as 'oy tenta legoas. He terra muy to abastada de
carnes, arroz, & doutros muytos & diuersos mantim6<*
tos: & assi de cousas ricas, & de muyto preço, como
a cânfora que nace por toda esta ilha em aruores, assí
como nace a rezina nestas partes. E esta daqui he a
própria cânfora, & que vai na índia a peso douro: por*
que a oulra da Pérsia he contrafeyta. Ha também día^
mães que nacem nas prayas do mar, junto da cidade
de Tanjapura , que sam muyto mais finos ^ os da In*
dia , & sam de mayor valia. Nesta costa que he descu-
berta ha cinco grandes pouoaçfies, todas portos de mar*
8. Moduro, Cerauá , Laue, Tanjapura, & Borneo: de
que a ilha toma bo nome. Cidade grade, cercada de
muro de ladrilho de nobres edifícios & a principal de to-
das , & em ^ os reys da^la ilha residem , & tS ali muy
sumptuosos paços. Destes portos, os principaes sam La-
ue, & Tanjapura , & onde se faz mayor carregação: &
em todos morflo muytos & muy ricos mercadores que
tratão na China, na Laquea, em Sião, Malaca, cama*
tra, & è outras ilhas derredor, a que leuSo cânfora,
diamâes, aguila, & mantimentos, em que entra hii vi-
nho ^ chamão tampoi , ho melhor que ha antre os vi*
nhos contrafeytos , & em retorno leuão roupa de cam^
baya de toda sorte, cobre, azougue, vermelhão, & ca«
cho & pucho. Os moradores desta ilha sam mouros : ge-
ralmSte sam baços , & bem despostos , tratãse bem , &
vestõse ao vso malayo, & falão a lingoa malaya. Ho
rey desta ilha he mouro, & muyto rico & poderoso de
gSle, & seruese com grande esUdo: tem hfl regedor
que pola mayor parte gouerna ho reyno , a que cha*
mão em sua iingoa xabanHar. Chegado Gonçalo pereyra
ao porto desta cidade, mandou hii presente a el rey per
HVRO VIII. CAPlTVLO XXI. 49
LuÍ8 dandrade^ & ao xabandar outro: & mandou dizer
a el rey , que el rey de Portugal , & ho seu gouernador
da Indiá ho mSdauSo ali pêra ho seruir no que mandas*
se, porque desejauão muyto sua amizade: & ({seus vas-
salos fossem tratar a Malaca como hião dantes , onde
serião bem tratados, & tãbem os Portugueses fossem a
seus portos & teufssem neles trato. E dado per Luis
daodrade este recado a el rey , & ao xabandar com os
presentes, com -<) mostrarão folgarem muyf o, responde^
rão. Que recebião grande contentamento em el rey de
Portugal & seu gouernador quererem sua amizade, ^
go^rdariSo coeles muy inteiramête, & erão muyto con«
tentes de fazerem o que lhes pediâo. £ que se atirão
por ditosos de GÔçalo pereyra ir ao seu porto, & de ho
terem por vezinho em IMaluco, onde se prestarião coele.
£ mandou el rey ao xabandar , que aquele dia agasa*
Ihase em sua casa a Luis dandrade : & assi ho fez , fa-
zendolhe grande festa. E ao outro dia ho despachou el
rey, & mandou coele dous mandarís a visitar Gõçalo pe-
reyra, & mãdoulhe hu presente. E em vinte dias que
ali esteue, lhe leuarSo a vSder todos os mantimentos &
cousas de que tinha necessidade. E ficando em grade
amizade com el rey, se partio pêra Ternate: & leuan«
do muyto boa viagem, foy surgir no seu porto a hfi sá-
bado na entrada Doutubro, do anno de mil & quinhêtos
& trinta & híi. E logo algOs se forão á fortaleza, de
quem dÔ forge soube como Gonçalo pereyra hia prouido
da capitania por el rey, & como hia coele Lionel de li-
ma que era seu imigo. E teue pêra si , que por essa
causa ho auia de mexericar com ho gouernador da ín-
dia: & sospeitou {} auia de ser preso. E ao domingo
quando sayo a receber Oon(;alo pereyra mãdou leuar a
hQ seu criado hHs grittiÔes debaixo da capa. E depois
de recebido Gonçalo pereyra cô grade festa, que desem-
barcou ao domingo pola manhaS. Chegados á porta da
fortaleza, mostrando Gonçalo pereyra a prouisam que
leuaua da capitania , lha entregou âom lorge , dandolhe
LIVRO VIU. o
ÕO VA HISTORIA DA ÍNDIA
as chaues da fortaleza , & asai lhe entregou el rey Ca-
chii (layalo. EdespoU tomando os grilhões ^ ho seu cria-
do leuaua, disse a Gon<jalo pereyra: que se tinha ne-
cessidade deleis pêra lhos deitar, que ali estauào, & ele
muyío obediente pêra os receber. Besta justifíca<^o fez
dom lorge pola sos|)eita que disse que tinha de ser pre-
so. E Gonçalo pereyra lhe disse , que náo hia pêra ho
prender nem anojar, se nam pêra ho seruir no que po«
desse, cõprindo cÕ a obrigação de seu carrego. Ê cois-
to entraram na fortaleza, onde dõ lorge ho banqueteou
aquele dia, & ho enformou da terra: & deixando ho nela,
se foy á noyte pêra a sua pousada, que era fura da for-
taleza.
C A P I T V L O XXII.
De como Gonçalo pereyra prometeo à raynJia de Terna^
te de lhe entregar seu Jilho.
Cabendo a raynha & os mandarins Q estauâo coela, que
Gõçalo pereyra estaua de posse da capitania, & quedon^
lorge nam era capitão, determinarão de se queixar dele
dos rauytos grades agrauos q lhes tinha feytog, assi na
prisam de Cachil vaiUua, como na morte do regedor de
Tabona , & de Cachil daroes : & sobre tudo de lhe não
querer dar ho seu filho & terlho preso, morrêdolhe ja ou-
tro na prisam. Eauida licença de Gonçalo pereyra, man-»
darão hQ principal Mãdarim a este negocio, que sabia a
lingoa Portuguesa, & homem muy prudente, & discre-
to: que despois de ser bem recebido de Gonçalo perey-
ra lhe disse. A pouca experiecia de nossa lealdade , &
a má fama que os mouros tê de desleais aos Cliristãos^
& ho muyto credito que os Portugueses tem de justiço-
sos, te fará crer que a ida da raynha & dos mandarins,
& deixarem sua cidade : não foy |K)r culpa de dom lor^
ge de meneses. £ que fazSdoilve ele muyto boas obras,
fauorecSdo suas pessoas, & emparãdo sua terra, eles
oomo imigos dosChnstâos por lhes fazerem mal, &<lhes
LIVRO VIU. CAPITVLO XXII. 61
tirarem os iBanlimeníos , deixarão suas antigas mora*
das, & forão tomar outras nonas. E porê, não sam os
JDouros tão desleais como os Christãos os fazem princi-
palmente os destas ilhas de Maluco que se prezão de fi*
dalgos, & de caualeiros. ,Poy8 quero se preza destas duas
couí^as, tambS se prezará de lealdade, sem que a fídat**'
guia & caualarta não |xxlem ser. Ese nossa lealdade ha
verdadeyra ou nâo, digam no os moradores datibadeTi*
dore, que vindo os castelhanos a sua terra sem os co-
nhecerem os agasalharão, fauorecerâo, & empararão ha
tantos annos: &podendoos matar & tomarlhes lanfa fa-
zenda como tem , sem terem quem lhes disso tomasse
conta, nunca neles entrou tamanha baixeza, & sempre
os tratarão como a seus naturaes: E se osTidores fize-
râk> isto aoe Ca6t«»lhanos que não conhecião, porque ho
Jião farião os Ternates aos Portugueses, de que tinhão
tanto conhecimento por fama, & por experiência: & a
quem por estas duas cousas que el Rey Boleyfe tinha
de suas virtudes oflreceo fortaleza em sua terra , eõ de-
sejo de sua amizade, & sem a isso ho obrigar outro in*
teresse. Mas temo de passar a diante que a grauidado
do caso me faz couardo pêra ho contar: & com tudoes*
forçome c5.a confiançi de tua bondade, que nos dizS
que he tanta, que de ti mesmo farás justiça. Não foj
a ida da Raynba nem dos mandarins por sua culpa, nem
deixarão suas caaas por maldades que fizessem : mas fo-
rão tantas as ^uexaqões, opressoSs & n>a]es que rerebe»>
rão dos Portugueses que de os não poderem sofrer se
desterrarão de sua natureza, & forão buscar oouos as*
sentos* Certo que outra pessoa a que estes males que
dig^. não doerão tanto os ouuera de contar: Sc não eu ,
que somente em cuydar neles sinlo partir meu coração
em mil partes, coni dor & magoa de tamanha desauen-
tnra como foy a nossa, quanto mays tendo padecido tã«
ta parte deles. E pf)ys aquilo a que me a ty mandarão
não se pode fazer sem os contar diJoe hey. Ho primeyro
agrauQ Q os deaauenturados moradores desta terra cece»
o 2
62 DA HISTORIA ]>A ÍNDIA
berao, foj de Anlonio de briío, que ihes prendeo seu
Rey , & de liure Ihu fez caliuo. E dom Garcia ho con*-
tinuou ^ nunca iho quis soltar, nem menos dom lorge,
ate que morreo. E nam abastou morrer a^Ue mas logo
meteo em seu lugar o que lhe sucedeo , & este foy ho
galardão que ouuemos de consentir que os Portugueses
lizessem fortaleza em nossa terra, & cuydando Q metia*
mos amigos com nosco, nos achamos com imigos, por-
que sempre nos assi tratarão. E despoys ^ os agasalha-
inos qual de nos pode saluar o que tinlia pêra comer,
que tudo nos tomauâ? Qual de nos pode goardar suas
molheres & filhas que as não forçassem ? Qual de nos
pode viuer quieto, que eles nos desenquietauâo ? E tu>
do isto sofrêramos , mas dÕ lorge não quis , que ele nos
auexou & perseguio , de maneyra que ho não podemos
sofrer. Ele nos prendeo Cachil vaidua nosso caciz mór,
que não podia ser pêra nos mayor injuria , nem parele
mayor oífensa que vntaremlhe a boca com porco , cuja
carne he tão abominauel em nossa ley. IMandou deytar
aos ca6s hum homem de tanto preço como era ho rege-
dor de Tabona. Mandou degolar Cachil daroes gouerna*
dor deste reyno, & a principal pessoa dele. E temêde
a raynha, & os Mandarins ^ que tambê os mandasse
Hiatar se forão da terra. E ela , & eles se mandão a-
queixar de dõ lorge por eslas cousas ^ fez, & te pede
que lhe faças justiça dele tão inteiramente como eles
esperão : & que lhe des seu rey , pêra ^ os gouerne ,
empare & fauoreça, & [^era Q case & aja filhos que lhe
Bucedão. E a raynha te pede especialmente,^ ajas pie-
dade de sua viuuidade, & desemparo: & que te iSbre
que não tS outro filho pêra sua consolação se não este,
^ lho deixes lograr algiis dias antes de sua morte. E
que fazendo isto farás o- que deues , & como se espera
da bÕdade Portuguesa r & ela , & todos os do reyno se-
lâo obrigados pêra sempre íazerS o que lhe mandares.
Ouuida esta fala por Gõçalo pereyra disse ao embaixa-
dor ,. que ele responderia.. £ mandoa ho agasalhar , &
LIVRO VIU. CAPITVLO ZXII. 59
dar todo ho necessário á custa dei Key. E fazendo cõ-
selho 9 propôs nele o J| lhe a raynba & Mandarins inan<-
dauão dizer acerca de lhes soiíar seu rey: em (} hus
disserão, ^' não era bS que se soltasse. Por(). se a ray-
nha & 08 Mãdarins não se tinhão leuSlado poios escã-
dalos & agrauos que diziâo ter recebidos^ fora por amor
do seu rey que estaua na fortaleza. £ segQdo se mos-
trauâo' agrauados, como ho teuessem por se vingarè dos
agrauos passados , & por não receberS outros , se leuâr
tariâo. Outros disserão , ^ antes pêra os desagrauar &
apazigoar, se deuia de soltar el rey : por^ seGõçalo pe-
reyra cõiinuasse cõ a prisam dei rey cuydariâo Q todoí^
os capitães lhes auião de ter presos os seus reys , & ob
auiâo sempre dagrauar. E como desesperados trabalha-
rjão por deitar os Portugueses fora da terra, Q erãomuy
poucos pêra resistirê ao poder dos mouros , se tizessem
todos corpo: o ]| estaua certo fazerS, por!| hOs auião
dajudar os outros. E v6do ]| Gõçalo pereyra lhes soltaua*
seu rey , & fazia o Q seus antecessores dSo tizerão , lhe
tomaria amor, & crerião Q tamb& auia capitães ^ lhes
fizessem bê : & tornarião a amizade cõ os Portugueses,
& ficaria a terra assentada. E deste parecer foy Gõçalo
pereyra , & este se goardou. E porS assentouse , ^ an^*
tes que el rey fosse solto se acabasse a fortaleza , pêra
jnayor segurâça dos Portugueses , & dos mouros esta^
rem em paz« E ^ entretanto fingisse Gonçalo pereyra Q
andaua muyto ocupado no despacho dos nauios Q auião
dir pêra a Índia, & () despois de sua partida lhes daria
el rey : por^ ate então se poderia çarrar de todo o muro
da fortaleza , & acabar hfl baluarte , ou faleceria muy
pouco , & q então não faltaria algfla escusa. £ isto as-
sentado, respõdeo Gõçalo pereyra ao embaixador da ray-
nha : ^ era contdte de lhe dar el rey seu filho , & ser-
uila6 tudo, porq assi lho mãdaua el Rey de Portugal,
& ho seu g4)uernador« E !\ lhe pedia muito Q logo se
fosse pêra a cidade de Tèrnate , & assi os mãdarins 4
estaufto coela , pêra assemarG a terra : & Q teuessem
/• •
64 DA HISTORIA DA INDfA
«oiiaade c8 os Portugueses como dates, porQ iodos erlo
seus seruidores, E tornado bo embaixador coesta repoa*
ía, ainda a raynha repricou que lhe dessem primeyro
seu fíiho, & Stop se iria pêra a cidade : & sobristo ouue
muytos recados de parle a parle. Eassentouse por det-
radeyrO) {| el Rey fosse entregue despois da partida dos
oauios: & que Gonçalo pereyra jurasse solenemente de
ho fazer assi. £ de ho jurou em híia Cruz ^ bo vigayro
da fortaleza tinha nas mãos, vestido em bua sobrepeliz:
& ele em giolhus cd as mãos sobre a Cruz em quanto
disse as palauras do juramento^ estado presentes os
principaes iVlâdarins de Ternate, & os officiaes da for-
taleza.
C A P I T Y L O XXIII.
Do que Gonçalo pereyra fez despois de chegar a Ternate.
.1? eylo este juramfilo, fizerSo os mouros grande festa
com a esperança da liberdade do seu rey. E.a raynha
cõ os Mandarins, se foy logo pêra Ternate. E Gonçalo
pereyra a mandou visitar por Luys dandrade, mandS-
dolhe hii bÕ presente , & assi a algiis. dos Mâdarins que
sabia que erào seus priuados. Eassi os mâdou aos San-
gajes & gouernadores da terra, noteficandolhe ho cõce^
to que tinha feyto com a raynha, & como estaua em
Ternate, pedtndolhe i) bo viessem ver porque folgaria
muyto de os conhecer & seruir. E eles bo fízerâo assi,
saluo Gachil butiiar sangaje da cidade de Maquiem por
estar agrauado das páreas do crauo que lhe dom lorge
mandara que pagasse a el Rey de Portugal : que ele di-
2ia ^ não podia pagar, por Ibe nâo ficar {) comer. E
por nào fazer aluoroço , dissimulou Gõçalo pereyra co^
le: & aos que furSo á furlaleza fez muyta honrra, mer-
cês, & gasalhado. E pêra mais cõtentar a todos, vestio
el rey á Portuguesa de veludo de cores: & ordenou cer-
tos Portugueses pêra sua goarda , & que ho leuassem a
desenfadar , & íbigax pola cidade^ De maneyra (} pare-
LIVRO Vltl. CAPíTVLO XX|II. 56
cia a todos ![ el rey eslaua em sua liberdade : do que a
raynha & todos andauào muytp contentes, & tinhâo^
BQuyta confíança ^ GÕ^^alo per^eyra cumpriria o que ti*
nba jurado ) & uiostrauãlhe eintudo grande amizade. &
pêra a el6 arrematar mais & segurar , fee hú gouerna«^
dor do rey nó com apraEimSío dos Alàdarius & da rayn
nba , pêra que ho teuesse de sua mão , & o ajudasse ^ &
fauorecesse como Cachil daroes fizera a Antofuo de bri^
to. £ este foy híí màdarim da gerai^âo dos reys de Ter-»
nate, {) auia nome Cacbilaío: de q todos os Português
ses tinhâo rouyto conbecimêto. Tàbê neste têpo Fernão
deia torre capitão mor dos castelhanos, mãdou visitar
Gõçalo pereyra, & ratificar aç pazes que tinha feytas
com dõ lorge de meneses , & fez paz cõ el rey de Gei-*
lolo. E por se lhe el rey deTidore mâdar queixar, que
não podia pagar as páreas do crauo que lhe posera dom
lorge de meneses , porque se as pagasse lhe oâo ticaua
nada, pareceo bê a Gonçalo pereyra de lhas leuâtar até
auer recado do gouernador da Índia, a quem escreue-
ria sobrisso. Do que el rey foy muylo contente, & fi-
cou grande seu amigo. E tendo Gonijalo pereyra assen-
tada a terra em tanta paz, & assessego, & vendo que
não auia cousa que estoruasse ho seruiço dei Rey seu
senhor, que ele posposta toda cobiça, desejaua de fa-
zer muy inteyramente: começou de se poer em ordem
pêra ho fazer , & deu búa carta do gouernador Nuno da
eunba a do lorge de mentes , que lha nào quisera dar
ate não assentar a terra* Em que ho gooemador dizia a
dom lorge , que ele era enformado que a principal cau*
sa doa desconcertos que ouuera antre os capitães que
estauão naquela fortaleza, & os que hiâo de nouo pêra
estarem nela, fora quererêse ir cõ os capitães que se
hiSo, 08 Portugueses que la estauão, por terem feyto
seu crauo. £ algíis que hiâo com ho capitão nouo se
podião empregar suas fazendas faziâoho mesmo. Esein
íhes lembrar a obrigação que tinhSo do seruiço de Deos
& dei Rey se hiâo, deixando de guerra ho capitão que
5S DA HtSTORtA DA ÍNDIA
ficaua, Sc sem gSte. E pêra euitar isto lhe inandaua ,
que quando se fosse da forialeza não leuasse mais que
ate seys homSs sem licença de Gonçalo pereyra, & por
cada ha que leuasse de mais sem ela pagaria mil par-
daos. £ a fora esta carta , lhe mostrou Gonçalo pereyra
hií aluará do mesmo gouernador, em que lhe mãdaua o
que Ihescreuia na carta: & assi outro, em que manda-
ua a Gonçalo pereyra , que tomasse a menagem a dom
lorge ate se ir apresentar diante dele na índia, & ti^
rasse deuassa dele de todo ho tempo que fora .capitão
daquela fortaleza. E Gonçalo pereyra lha tomou peran-
te ho alcayde mór & feytor, & perante bQ escriuSo,
que fez de tudo ha auto. E Gõçalo pereyra pedio muy«
to perdão a dõ lorge do que fazia, dizendo que não fKH
dia ai fazer, por lho mandar assi ho gouernador da ín-
dia: & porem que lhe prometia de ho despachar muyto
b6, goardando em tudo sua honrra. E que alem dos
homSs que lhe ho gouernador daua , lhe daria vinte ho-
túès que fossem coele: & daria licença a dom Vicente
de meneses seu jrmao peja ir em sua c5panhia , & assi
lhe daria hfl jungo que fazia pêra sua embarcação. £
dom lorge lho teue em mercê , & lhe disse que ho não
culpaua em fa^cer o que lhe mandaua ho gouernador,
nem deixaria por isso de ser seu amigo, &serutdor &
^ coníiaua muyto nele , que faria o f\ dizia. E pediolhe
^ fosse escriuão de sua deuassa Grauiel da costa, -que
ali fora feitor : & ele lho prometeo. E dom lorge se foy
pêra sua pousada preso sobre sua menagem sem nenhll
escândalo de Gõçalo perejra: & assi ho dizia a seus a-
migos , que ho forão logo visitar. E gonçalo pereira ^O'
^eçou logo de tirar d^uassa dele.
LIVRO VIII* CAPITVLO XXniI. Ô7
C A P I T V L O XXIIII.
De como Gonçalo pereyra quis fazer crauo pêra el Rey
de Portugal.
Vyoro esta prisam de dom lorge de meneses, & por ser
fejta com tanto ass^ssego, ficarão os Portugueses muy
toruados, principalmente os que forão oíSciaes na forta-
leza: & temerão muyto aGõçalo pereira, vendo cõ quã-
ta prudência fazia suas cousas. E logo virão em si o Q
receauão , t\ Gonçalo pereira mandou recencear a cota
ao feytor, &c almoxarife, & outros officiaes passados pe-
lo feytor Luys dandrade. £ isto porque os mandaua íi-
ear na fortaleza por ter falia de gente. E não se achou
a estes lienhOa cousa da fazenda de! Rey em receita,
& tudo era despesa : pelo que tendo eles roubado el
Rey, & deuendolhe quanto tínhão, achouse que el Rey
lhes deuia. Tão desordenado andaua tudo naquela for-
taleza, & tão pouco se olhaua pola fazenda dei Rey,
nem auia a quem lembrasse os gastos que fazia naque-
la fortaleza, pêra lhe pouparem pareles sua fazenda, se
Dão quem mais podia apanhar mais leuaua. E desenga-
Bados estes, que não auiâo aquele anno de ir pêra a
índia : determinou Gonçalo pereyra de fazer crauo pe^
ra el Rey, & mandou apregoar bu regimSto que leuaua
do gouernador Nuno da cunha, que era bo mesmo que
fizera Afonso mexia: & polo auer por bom, mandaua
que se goardasse. E Gonçalo pereyra ho mandou apre-
goar com grande solenidade: & a sustancia dele era,
que se comprasse pêra el Rey quanto crauo ouuesse na-
quelas ilhas pelo preço que estaua assentado na feytoria,
& se metesse nela, & que nenhua pessoa de qualquer
qualidade ^ fosse ho podesse comprar. Eeste crauo que
se comprasse pêra el Rey ho compraria ho feytor Luis
dâdrade, ou quem ele ordenasse, com conselho & pare-
cer de Gonçalo pereyra: & cõprado se carregasse ho
L1VB0 VIII. H
58 DA HISTORIA DA INDlA
mais que ser podesse , assi pêra se ieuar á índia como
a Malaca, & o que sobejasse se desse ao capitão, fey-
tor , & oíficiaes da fortaleza , & a gfite darmas sobre
seus ordenados , & soldos , por tal preço qae el Rey po-
desse ganhar , pêra poder cõ ho ganho soster ho gasto
que fazia naquela fortaleza. Eauendo hi tanto crauoque
sobejasse de tudo ktO| se vendesse aos mercadores com
bo mesmo ganho. £ porem que tudo isto se fizesse com
resgoardo de não auer escândalo na terra. Apregoado
este regimento, ficarão os mouros rouj descontentes por
ihes tirarem de venderem ho crauo por mais do preço
^ue estaua assentado na feytoria, porque ho vendiâo
por mais. E os Portugueses também teuerão muytode»*
eontentamenlo, porque perdiâo muyto em não comprar
yfi bo crauo aos mouros : & com tudo consolarãse , pare»
cendolhes ^ aquilo não ouuesse efleito: porque assi se
apregoaua na chegada de cada capitão, mas não se fap
sia nada polas emburulhadas que recrecião ao partir ,
antro o que ficaua & o que se partia. O que eles espe-
rauão que seria assi antre aqueles dous , & por mais
conformes {} elles esleueasem , que eles os reboluerião
com seus mexericos de que erão muylo bds officiaes : &
por isto se desagaslarâo logo, & nâo deixarão de fazer
crauo ho mays encuber lamente Q podião. Mas tambfi
Gonçalo pereyra atalhou a isto, com mãdar apregoar
sob certa pena que toda pessoa que teuesse dachem em
sua casa, que assi chama ao peso cÕ que pesam bo cra-
uo, ho leuasse ao fey tor Luys dandrade pêra ho que-
brar & queimar, por^ dali a diante não auia dauermais
Q dous pesos , ãbos de bQa marca , hd na feitoria , &
outro ê casa da raynha, pêra que todos os que vendea-
sem crauo bo fossem lá pesar, pêra se saber qoanto cra-
uo vinha á feytoria, & quãto rendia: & que ho feitor
auia dir buscar as casas, & se achasse algfi Dachem ,
quem quer que ho teuesse auia de pagar a pena. E es-
te pregão se comprio muy inteyramente , & lodos os
dacbfis forão leuados a Luis daadrade que os quetmoo
LlVeO VIII. CAPITTLO SXIHI. 69
& quebrou : & mandou fazer dous nouos, hu pêra a fey«
toria, & oulro pêra a raynba. E pori) os Portugueses ti»
nhâo comprado muy to crauo , pelo que ja ai)le anno se
podia auer pouco pêra el Rey , mandou a todos os que
ho tíohão que vfidessem ho terço dele a el Rey pelo pre«
ço da feytoria , o que eles (izerâo muy to cÕtra sua voa-»
Aade. EsabSdo fi se estaua carregando hfl jungo dumer-r
cador chamado Nacoda catimo pêra ho leuar á ilha da
laoa carregado de crauo, mandou bo tomar pêra el Rey^
por ser despots do pregão da defesa do crauo , & pagar
10 polo preço da feitoria : & acharão ]| tinha setenta &
tantos bares de crauo. E nesta carregação tinha parle
a raynha de Ternate, & algiis Sangajes que se calarão,
por{) Gonçalo pereyra não soubesse (} eles quebrauão he
regimento dei Rey de Portugal , & tâbem porQ ho era»
no era tanto J\ os mouros rogauão coele. Neste tSpo foy
Gõçalo pereyra anisado, 2) na ilha de Maquiem estauão
▼arados aeys jnngoe de mouros pêra íâzerê crauo, & nâ
ilha de Bachão cinco sobre ancora pêra o mesmo, que
erão da laoa, Bãda, & Amboino. E dando conta distp
a Brás pereyra capitão mór do mar, mãdoulhe ^ os fos«
ee deitar fora, porque não carregassem* E bras pereyra
não quis ir , dizendo que não hia a Maluco se não pêra
£izer proueito : & não auia dandar darmada corrSdo as
ilhas y gastando o () tinha: que se a ida fora proueitosa
^ logo a fizera* E por mais requerimentos que Ibe G&-
calo pereyra fes pêra ir , niica quis ate lhe dizer í) lhe
aiargaua a capitania mór do mar, & Q se iria pêra a I»-
dia na moução seguinte pois ho apertaua tanto. E per
^iolhe logo licença pêra se ir, dizendo 2) se lha não des-
se {) a tomaria. E Gonçalo pereyra dissimulou coele ^
porque não abrisse caminho a outros : que vendo () a{)]e
^ era seu parSte ho deitaua em tal tempo, que farião
eles 2) não lhe erão nada: fc disselhe que não se fosse ^
4 não ho queria mandar pois não era sua vdtade de ir«
E cõ tudo Bras pereyra ficou muyto escandalizado , &
quasi seu Imigo. EÇrdçajo pereyra não ho pode castigar
H 2
60 DA HISTORIA DA ÍNDIA
por nSo se amotinar, & amotinar outros que lhe fariãò
grande ming^oa , pola grade necessidade que tinha de
gête. E porque Brás pereyra isto sabia fazia aqueles
feros. E vendo Gonçalo pereyra que eie não queria ir,
cometeo a ida a Lionel de lima, que com quanto era
capitão dei Rey, & aquela ida era muyto de seu serui-
ço, a não quis aceitar , nS aceitou ate que lhe Gonçalo
pereyra prometeo a capitania do primeyro nauio ou jun-
ge , que mandasse á índia cd crauo , em que podesse
leuar o que teuesse , & lhe pagaria ho ordenado da ga«-
leota. E por derradeyro quando foy não achou nenhíl
}ugo , porque foy tãto ho vagar que primeyro os toma-
tes mãdarâo auiso aos capitães dos jungos , & eles S9
•ibrSo com medo de lhos meterem no fundo.
c A p I T V L O xxy.
Da desauença que ouue antre dom lor^e de meneses ^
Gonçalo pereyra./
'V^omo quer que ho diabo trabalha sempre por toruar
ho seruiço de Deos: & onde vé mayor feruor, hi põe
inayores forças pêra ho impedir. Assi fez aqui, que não
trazendo Gõçalo pereyra ho pensamento, se não com^
seruiria nosso Senhor & a el Rey : & a maneyra ^ teria
pêra ter a^la terra em paz em quanto jnela eateuesse ,
& fizesse ter aos homês boa ordem em sua vida, pêra
que ficasse exemplo a seus sucessores: ouue Portugue*-
Bes tão pouco Chrislãos , & tão bestíaes , que por ele
fazer isto lhe tinha mortal odio^ & assi a Luis dandra-
de. PorQ por ter ho mesmo desejo , que ele tinha de
seruir elRey ho ajudaua quanto podia por sua parte, &
tomauão estes imigos por causa de suas abominaueis võ»
tades , dizerC que Gõçalo pereyra queria vsar o que ne-
nhu capitão vsara de goardar tão inteiramête ho regi-
mente acerca do crauo. E o que os mais atormentaua
verS a grade amizade que Gõçalo pereyra tinha com os
LIVRO VIII. CAPITVLO JTXv. "61
mouros , & quanto trabalhaua pola so&ter c6 boas obra».
£ Q isto nã era outro fim se nâo por não ter necessida*
de dos Portugueses , & poder fazer o Q quisesse. E ve-
xS a grade conformidade ^ auia anlrele & dõ lorge de
roeneses , {} o que hQ queria , queria ho outro : & ven-
do ^ indo aquilo assi era em seu^erjuyzo, começarão
de vsar de suas diabólicas manhas , & ordir ódio & imt>^
zade anlreGÕfjaio pereyra & os mouros, & antreie & dê
lorge, dizêdo aos mouros ^ Gõçalo pereyra os queria
ter sugeitos, & ^ não vSdessem ho crauo, não mandan^
do el Rey de Portugal tal cousa, nè menos ho gouerna*'
dor da Índia: & ele por se mostrar bõ seruidor Qria fa^
zev mais do ^ lhe mãdauão : que não sabia como a ray-
nha & 08 mãdaris cõsentião aquilo. E a Gõçalo pereyra
hião dizer ^ dõ lorge dizia á janela de sua pousada ao6
Q passauão poia rua , que ele Gõçalo pereyra auia de
prSder a raynha , & algils seus priuados. E isto dizia
por se a raypba ir da cidade , & fazer aleuãtar os mãti-
mStos : & !| se lhe não quisera muy to grade mal & de-
sejara muyto de ho danar que ho não dissera , mas Q
lho queria & desejaua de ho ver em necessidade : por^
assi tãbS dizia, Q quãdo se partisse () auia de leuar da
fortaleza quanta gSte podesse, pori^ nâo teuesse cõ que
a defêder aos mouros. E Q em Banda auia de tomar ho
nauio a Hanibal cernije, porQ era seu cunhado, & mã*-
dar pedir seguro ao gouernador antes de chegar á In-
•dia: & quãdo lho não desse ^ se auia daleuãtar, & se-
«gtldo dõ lorge era determinado ^ ho faria assi, por isso
\ ho deuia de prêder em ferros. E a dõ lorge de men<>
ses diziãlhe i) não se fiasse da amizade que lhe mostra-
na Gonçalo pereyra , porque na deuassa não lhe goar^
daua nenhila, antes se moslraua seu immigo mortal,
porque prouocaua as testemunhas a que dissessem mal
dele. E quãdo ho não quertão dizer, que dizia ^ nãò
sabia , pori) aqueles vilãos dauão sua alma ao diabo por
amor de dõ lorge, & sobrisso lhe dizia outras pajauras
injuriosas , & faaia escreuer o que dizião ao contrayro.
6S 9A HirroltIA DA IUDIA
E dísiXOf que por aer parenle de dom Garcia anrríqoer
ihe queria tamanho mal : que ho auia de desíruir , pois
lhe nSo podia tirar cÕ fada espingarda. E po8lo que pola
primeyra Gonçalo pereyra, & dd lorge não cresse isto,
tantas vezes lho disserâo ^ & tantos modos buscarão es-
tes mexeriqueiros pêra iho meterd na cabeça, & mais
ho diabo que os ajudaua que bo crerSo : & começaiâo de
criar ódio bd ao outro, & como ele foj crecendo assi^
não se fiaua hfi do outro, fi veo a desconfiança a erecer
tanto, principalmetite em dÕ lorge: que mandou pedir
á Gonçalo pereyra q«ie Ifae desse hfia certidão de como
Jhe entregara a^la fortaleza de paz eÒ latas peças dan»
telharia com as ^ tomara aos castelhanos, & assi seyn
&auios & outras cousas , porque lhe ^ra necessária pêra
el rey saber ho seruiço 2) lhe tinha feyto. Ao que Goi^
^lo pereyra respondeo, 2) nSo lhe auía de dar tal certi-
dão , porque a terra não estaua de paz c5 a fortaleza
quando lha entregou, antes muy abalada pola morte da
Cachil daroes, & do regedor de Tabona, & da injuria
4 fora feyta a Cachil vaidua, & a raynha fugida deTeiv
nate, & os seus mandarins, & ho Sangaje Cachil huwar
rebelado por amor das páreas que lhe posera , & el rey
úe Tidore queixoso por lhe íazer outro tftto. E por de
todo em todo Gõçalo pereyra nSo querer dar esta certi»-
dão , tirou dÕ lorge hll estormSto dele : pelo J\ de cada
vez crecia mais ho ódio antreles. G sobristo fugirão da
fortaleza seys Portugueses, de que hii era piloto: dea-
tes seys se forão dous pêra os castelhanos^ & os quatro
caminho de Bâda em hfi paráo da terra, E tãto {} estes
honiês desaparecerão, foy dito a Gonçalo pereyra, ^
dom lorge & seu jrmão dõ Vicente os mandarão dianr
te: & assi auia de mandar os mais que podesse. O que
sabido por Gonçalo pereyra, condenou estes fugidos em
perdi mento das fazSdas pêra el rey Q logo forão vêdidas
em leyiâo, & ho dinheiro entregue na feitoria. E de
dous destes Q logo forão tomados em bua ilha se souba
era juyzo Q era verdade que ae hião por mãdado de dff
LIVRO VIU. CAPITTLO ZZV. €8
lorge, & de seu jrmão dom Vicèle, & lhes derio vinte
mil caixas pêra o caminho, & sete patoias, & lanças ,
espingardas , & outras armas : & Ibes disserão qne cedo
iria outra barcada após eles. Ecom ho testemanho des»
tes homâi ) acabou Gonçalo pereyra de dar credito ao
que lhe diziâo de dom lorge : & prSdeo logo dom V i*
cente sobre sua menagõ , & dous criados de dõ lorge
em ferros por amor dos díous bomês dos quatro Q fugi-
rão. No {} dõ lorge não teue paciência, & soltou muy-»
tas palauras cõtra Gonçalo pereyra , a que logo foy dis«
cuberto : que ho jugo que dÕ lorge tinha começado pe*
ra si , se fazia cõ a pregadura , breu & estopa dei Rey
de Portugal , & á sua custa pagaua tambê os officiaes.
£ pêra mayor certeza disto, que fossem a casa Dafonso
pirea bfl amigo de dom lorge , & hi acharião muylo fer«»
n>, & outras cousas que dõ lorge de meneses tomara
dos almazens, quando soube õ Gonçalo pereyra vinha á
vela pêra tomar ho porto de Taligame. £ logo Gõcalo
pereyra foy buscar a casa Dafonso pirez, em que acnou
quioze quiiitaes de ferro que tomou pêra el Rey , por
lhe Afonso pirez dizer que dom lorge os mandara ali
meter : & assi tomou ho jugo pêra el Rey. £ receando
Q dom lorge se leuantasse, tirou hii capitão doutro jun-
ge que hi tinha dõ lorge , Q chegara 4 era seu , & deu
a capitania a Lionel de lima imigo de dom lorge. E is-
to porque ho jungo auia de tornar pêra a índia , & Gò-
calo pereyra lhe tinha prometida a capitania doprimey^r
ro nauio § fosse pêra a Jndia. E sobristo tirou dõ lorge
muytos estormentos de Gõçalo pereyra, & ele deuassou
de dom lorge sobre a morte deCachii daroes, & do re-
Sedor deTabona, & da injuria ^ íby feyta a Cachil vai*
ua, & sobre mandar enforcar hu Português nas ilhas
dos papuas, & assi sobre outras culpas ^ lhe punhíio. £
por derradeiro quâdo foy tCpo de partir , que foy em
Feuereyro de mil & quinhentos & trinta & dous, ho en-
tregou preso em ferros a Lionel de lima seu Imigo. £
não lhe valeo requerer a Gonçalo pei eyra , que lho não
64 DA HISTORIA DA ÍNDIA
entregasse por ser seu imigo, que ho desse a Hanibal
cernije que hia lambem pêra Banda. E por{| Gonçalo
pereyra receaua que dom lorge tomasse em Banda ona**
uio a Hanibal cernije como dizião, não quis dar licença
a nenhii seu amigo pêra ir naquela armada, n6 a seu jr-
mão dõ Vicente. E deu a Lionel de lima as deuassas
que lirara de dom lorge, &escreueo hCla carta muy lar*
ga ao gouernadorNuno da cunha, acerca das cousas de
dom lorge , dizendo que perguntasse por elas a Lionel
de lima, & ao vigai ro que fora da fortaleza & ao meiri-
nho. E assi Ihescreuia também como (icaua a fortaleza^
& quão trabalhosa era por amor das desordSs dos Portu*
gueses, & assi outras cousas necessárias. E mandou
pêra el Rey cincofita bares de crauo, que foj ho pri«
meyro capitão Q ho mandou. E na conserua de Lionel
de lima hia Hanibal cernije ate Banda, pêra trazer dabi
fazenda pêra a feytoria. E a raynha de Ternate escre^
ueo tambê a el Rey de Portugal , & ao gouernador da
In^ia , fazendolhe queixume de dom lorge , & mandou
cõ as cartas ate a índia dous criados seus , a que enco*
mSdou muyto que vissem bS que poder tinha eIRey de
Portugal na índia. E leuado dõ lorge tãto a recado co-
roo digo, foy ter á índia, donde ho gouernador homan*
dou preso pêra Portugal, porQ por ser da qualidade que
era não quis julgar as culpas que lhe punhào, & assiJio
escreueo á raynha de Ternate. Cujos criados quãdo vi-
rão mandar dõ lorge pêra Portugal, & l\ não fazião dele
juátiça na índia dizião, Q antre os Portugueses não auia
justiça pois alargauão tanto ho castigo das culpas : que
pêra b8 se auião de castigar Õde se cometião, & que
dali por diante não esperariâo j) lhes fizessem justiça.
Livao VIII. CAVITVI.0 XXTII. C5
CAPITVLO XXVI.
De como se perderão no mar dom Fernando de lima de
Sanctarem ^ Lopo dazeuedo»
i^ este inuerno que ho goueroador Nuno da cunha le-.
ue em Goa , não quis prouer a capitania da fortaleza
que estaua vaga, & ele seruio de capitão por poupar o
ordenado a el Rey, & deu a ouuidoria geral da índia ao.
licenciado Lopo fernandez de Castanheda Rieu pay ouui-<
dor de Goa, & por sua industria crecerSo as rendas de
Goa vinte mil pardaos. E no cabo deste inuerno chegou
a Goa António botelhp capitSo do barganlim que ficou
em Adem cÕ cartas damízade dei rey DadS pêra ho go^
uernador, em Q Ihescreuia como Mus tafa & Co}eçofar
despois de leuSladoe de sobre Adem se partirão com
vinte seys velas pêra a índia. Edespois deste na Strada
Doutubro, chegou Eytor da silueira com sua armada,
& deu conta ao gouernador do que fizera em Adem. E
lhe contou como dÕ Fernando de lima, nem Lopo daze-
uedo não forão a Ormuz , nem sabião nouas deles , pelo
que se cria serem perdidos : & assi foy que nunca mais
parecerão^
CAPITVLO XXVII.
De diuerMB armadas que partirão pêra a índia.
JAI este aiíno partirão de Portugal cinco nãos pêra a In-»
dia sem capitão mór, de l\ forão capitães Manuel de bri«
to, Fernão camelo, Frãcisco de sousa tauares, () faia
por capitão de Cananor, Pêro lopez de sam Payo pêra
capitão de Goa, & Luis aluarez de payua. Edespois da
partida destas nãos, partio pêra a ilha de sam Louren*
ço Duarte dafooseca por capitão mór de seu jrmãoDio<*
go dafonseca a buscar a gête da nao do Manuel de la*
LIVAO VIII. 1
§e 9A HISIDBKA Hil IHIUA
cerda ^ & ambos ae perderão. £ oa capitiéa daa cinco
naoa da carrega leoarão muylo roim fiagC, & os trea
prímeyros chegarão a Goa no mea Douiubro em diuer-
aot dias. E despoia diaao ae parlio bo gonemador pêra
Cocbím, & sendo lá cbegou em Nonêbro a oao de Fero
lopez de sam Payo ^ a qoe morrerão na viagè duzentos
Porlagoeses a fora escrauos , & os mais morrerão dou*
dos» E mílagrosamenle chegou defronte deCananor por
não aoer quS mareasse as velas, & auja dias qse as nao
guiodauão, nem amaynauão, & acodiolhe Diogo da sii^
neira que andaua na costa , & a leuou á loa a Cananor.
£ chegado bo gouernadvr a Cocbim , despachou pêra
Portugal as nãos : & primejro que partissem , mandou
Nícuiao jusarte em hii nauio cem nooas ael Rej do que
passaua na Índia. £ deixado em Cocbim António de Sal-
danha pêra leuar a armada que hi estaua se tornou a
Goa.
C A P I T V L O XXVIIL
De como /oy morto Hagamahumud por dÔ Manuel teh
de nuiiescs.
V^onso quer que ho gouernador determinasse de ir e»*
te anno sobre Diu , vsou de bú ardil a fim de coele al-
cançar fortaleza em Diu , sem morte de gente. E foj
mãdar a Diu primeiro que ele fosse Coje percoli bu mou«
ro Persiano ) em que linha grande confiança por ser b5
homem, & auer muitos aonos que era morador em Goa.
E este mouro auia destar em Diu , pêra Q quando bo
gouernador fosse cd sua armada, conselbasse a Meliqoe
tocS capitão de Diu, 4} desse fortaleza ao gouernador,
por^ lhe náo tomasse a cidade, fazendolhe bo poder que
bo gouernador leuaua mujto majpor do que era. E que
a^le conselho lhe daua como amigo, & quâdo Meliqua
ho nao tomasse, que visse bem o que determinaua , S^
se saÍBse da cidade pêra )bo dizer. E cõ lhe (axer grâ«*
de8 mercês, se par tio Coje percolim como mereadw, §
LIVB0 Vlfl. CAFITTM XXTIfl, 61
hia Dormnz com niercadoria. E deepois da partida de»*
te mouro ^ começou de se ajuiar em Goa a armada que
ho gouernador auia de leuar : & por serê os nauios rouy^
los, & não caberem no rio de Goa , aasi como cbegauão
assi se parliâo pêra Cbaul , donde auiâo de partir todos
jQlos pêra Diu. E despois de serfi partidos, partiose bo
gouernador com a armada 2) tinha em Goa pêra Cfaaul
em dia dos Reys , do anno de mil & quinhentos & lrín<»
(a & hfl. E chegando a Cbaul pêra saber o que bia na
costa de Cambaya , mãdou ha descobrir per dom JMa*
Ottel de meneses tdo, Luis falcão & outro fidalgo, j) me
não lembra seu nome , que forão em três catures arma*
dos. E chegando todos três juntos perlo da ilha das Ya«
cas, toparão de supilo cÕ Hagámabumud , aquele mou*»
ro de que conley no iiuro quinto, que tanta guerra fea
aos Portugu^es: que andaua por capitão de vinte fu8«
tas em goarda daquela costa , em que trazia muyta &
oiuyCo boa gente de guerra. Eauendo ele vista dos três
catures, & conhecendo que erão de Portugueses, foy
eonlreles com sua armada. DdlManuel & os outros dous
capitães, que virão búa armada tamanha, parecfidolhe
que seria mais doudice que valStía pelejar coela, come*
çarãse de recolher seus passos contados, porq ue não cuy*
dassem os mouros que fugia, que c5 tudo não deixarão
de os seguir, apertando ho remo quanto podião, prin«
cipalmente Hagámabumud , cuja fusta era mais remey*
ra que todas ^ & assi ieuaua a dianteyra a t^^das : & hia
alcançado ho catur do a que não soube bo nome, por ser
zorr<»yro, & não se remar tambS como os de dom Ma«»
nuel , & de Luis falcão , & quasi que ho hia abairroan*
do. O que vddo do Manuel , posto que ho perigo de ho
socorrer era muyto grade não deixou de ho faser. E fa*
zendo volta atras a boga arrancada, remeteo á fusta de
Hagamahuraud, & em chegado bordo cÕ bordo, ({ os
Poriufrueses quiserão saltar dentro na fusia , quis nosso
Senhor |)oer tamanho medo nos mouros f\ vinhão nela, 2)
se acolherão todos ao outro bordo. E em se recolhendo
I 2
68 ]>A HISTORIA BA ÍNDIA
& a fusta çoçobrãdo, tudo foy bQ : que nâo teuerSo os
Portugueses tempo pêra saltar dentro. E o que ouuerão
de fazer na fusta fizeráo fora , que foy matarem nagoa
os mais dos mouros , & atreles foy Hagamahumud. E
por^ a mayor parte de sua armada se vinha chegado,
cõtentouse dom Manuel com saluar ho catur. £ man-
dando cessar da morte dos mouros , fezlhe dar hd cabo
pêra bo ajudar a surdir, & foy se coele & com Luis fal*
cão pêra Chaul, Õde se soube logo a morte de Hagama*
humud. Do que ho gouernador foy muyto ledo, & deu
por isso muytos agardecimStos a dom Manuel: & não
tão somente por a vaiStia que fez em se auenturar com
tamanho perigo a saluar ho catur &salualo, mas em ser
causa da morte de Hagamahumud , bo mais valente &
esforçado capitão que tiiiha el rey de Cambaya, & que
mais ardijs de guerra sabia : & Q ho gouernador temia
tanto, que não receaua de ter oulro estoruo pêra não
tomar Diu » se não este mouro y que sabia Q auia destar
dStro , & que Melique tocão se regia por ele era tudo;
£ quando soube {} era morto, deu ho feito de Diu por
acabado como ele desejaua, & assi ho derão os capitães
& fidalgos da armada, dizendo: que nenhtla cousa po-
derá suceder tão importante pêra se tomar Diu como a
morte de Hagamahumud. £ assi fora se ho gouernador
não se deteucra tanto como se deteue emCbaul Q forão
dez dias mais do necessário, & despois na ilha do be-
tcle. £ nesta detSça veyo a Diu ho socorro que direy
a diante : & fora os mouros ^ estauão nele auisados pe-
los de Chaul de tudo o (| o gouernador determinaua, &
do poder c^ teuaua. £ òs mesmos mouros se espantauão
de indo bo gouernador a hfta empresa tamanha fazer
tanta detença: & também se espan-tauão muyto, que
sendo são, quãdo caualgaua hia encostado a hu moço
desporas. E zombando daquilo dizião , que não era a-
quele ho homem que auia de tomar Dia.
LITAO VIII. CAPITVLO XXtX. €9
CAPITVLO XXIX.
De como ho gouemador Nuno da cunha pariio de Chatd
pêra a cidade de Diu.
j^cabadas estas detenças, partiose ho goueraador com
a mais poderosa armada do que ate aquele tempo se a-
juntara na índia , que era de quatorze galeões todos
grandes , fortes & bem artilhados , & seys nãos Portu^
guesas, & dezasete galés & galeotas, & hâa galeaça,
& duas carauelas, & céto & doze fustas, bargâlins, ca-
tares, jflgos : & outros nauíos de diuersas feyc^ões, que
com os de guerra fazião perto de trezentas velas* E nos
de guerra hiSo quatro ceotas peças dartelbaria grossa ,
liasiliscos , espalha fatos , camelos j esperas , Kões , sep-
pes , saluagCs , a fora a miúda , que era grande soma.
A gSte que hia nesta armada erSo (res mil Portugue-
ses^ & três mil Malabares, & dous mil Canarins fre-
cheiros, & esptngardeyros. Os principais capitães forâfo
Ejtor da silueira, Diogo da srlueira, António da sil*
ueira de meneses, António de saldanha, Manuel de
brito , Ruy goroez da graã, Marti afonso de melo jusar-
te, Marti de crasto, Ruy ?az pereyra, Vasco da cu«
nha, Francisco da cunha, Manuel de seusa, António
de lemos, Fernão rodriguez barba, Anrrií| de macedo,
L.opo de roezquita , Fernão de morais , dom Fernando
deça, Frãcisco de vascõcelos, Manuel de Vasconcelos,
Ambrósio do rego, Nuno barreto, Gonçalo gomez da-
zeuedo, Francisco de saa, Fernão de lima , loão da sil-
veira, Anrrique de sousa, Manuel daibuquerquè, Tris-
tão dalaide, Luis falcão, António de saa, lurdão de
freytas, Tristão gomez da graà, Nuno fernãdez freire,
loam mêdez de macedo, Diogo botelho pereyra. E pê-
ra que a frota fesse em boa ordem & geardada, fez três
capitanias cada hua de vinte bargâtins&catures : &fez
delas capitães a Masuel dalbut^rque , Tristão dataide ,
7t !>▲ HMVOIU JMk mmM
Sc Layf falcão. £ diàte da armada obra de bfia legoa
auía de ir Aotoaio correa de Goa^ descobrindo ho mar
com certos catures. E iodo nesta ordem bê de vagar,
foy ler a Damão, donde auía dalrauessar a enseada pê-
ra Diu: & por() detpuis Báo podia tomar outro porto,
tomou bo deste iugar, que com bo medo da nossa ar*
mada estaua despouoado , & assí a furtaiesa Q era forte
CÒ suas portas forradas de melai. E aqui foy dita bua
missa cd grande solenidade , em bua tenda Q se armov
pêra isso, & pregou frej António padrão coonissairo ns
índia do menislro da ordfi da obseruancia de sam Pran*
cisco« E encomendou muy to da parte de nosso Senhor ,
^ pelejassem todos eõ muyto esforço pêra tomarem Diu,
onde posso Senhor era muylo oflendido c5 as abomina^
ções da falsa seyta de Mafamede, & géralmSte assolueo
lodos de seus pecados* E dita a missa, mandou ho go<-
nernador dar bii pregão Real, ^ dizia. Ouui, onoi, ouui
ho mâdado do muyto alto, & muito fioderoso Principe
el Rey dõ loão de Portugal nosso senhor, que por ga*
lardoar bo esforço Sc valentia dos ^ se atreuerero a so*
bir primeyro dos muros de Diu, & leuanlarS neles esta
bandeyra por sua Alteza^ em seu nome lhe hz o senhor
gouernador mercê ao primeyro de quinhentos cruzados,
& ao segundo de qualrocStos , & ao tereeyro de trezení*
tos. E dçspoís disto, porque bo gouernador sabia por
António correa que oyto leerons de Dia estaua bfia pe^
quena ilha quasi pegada com a terra firme, onde por
ser muylo forte el rey de Camhaya mãdaua fazer hila
fortaleza, pêra o que tinha hi bu capitão turco cÕ dous
mil homSs de peleja Guzarates , & Abexins, & algfis
Turcos: & mil de trabalho que trabalhauão na fortale*
za. de que estaua feyta algila parte dos muros, & dos
cobelos, mas pouca cousa. Teue conselho com os capi-
tães principais da armada, se daria nesta ilha primeyro
^ eiu Diu. E moueo a poer isto em conselho, saber que
a voz de lodos era que se desse primeyro naquela ilha
Q em. Diu : [josto l| wa determinação era de não se en^
LlVtO VIU* CAPfTVLO XXX. 71
tremeter em fienbú feylo ale nào tonar DiUé E aáal ho
disse no eõseiho, em que ouue diuersoa f>areceres : por^
hikn diziào que era bd cometer primeyro a ilha {} decn
sem em Diu ^ por<} se pasaaasem sem a tomar , como 00
imnirca erfio mais de mostras ^ de obras 9 tomariào ta-*
manha soberba cuidado Q era de medo, que aquilo abas^
taria pêra Ibes dar esfon^o com que se defeAdessem. £
por isso era necessário nâo passar sem tomar a ilba ^
porqoe isso seria causa de os mouros desconfiard de se
defenderem. Outros dizião que nâo era bê cometerse ai
ilha, por^ como ela era mujto forte por ser a mayt>r
parte cercada de rochedo , & menos gente da () eataua
Bela a poderia defender. Podia ser Q acontecesse alg&
perigo no cometimento, & qualquer Q fosse daria muj-«
(a quebra a tamanha armada como aQla era & tdo pode«
rosa. E os nossoa vendo (} tâo pouca cousa como a ilha
Ía seu respeyto) lhes daua que fazer, esperado queeuEi
)iu por sua grandeza, & fortaleza achassS mais resis-
tência perderiào ho esforço l| leuaufio pêra o tonuir. &
os mouros pelo cÕtrajro: o Q se deuia muyto de recear,
& por isso náo se deuia de cometer a ilba. £ eomo do
outro |iarecer eráo mais Q deste , assenlouse ^ se to^
masse a ilha primeiro qoe Diu, & assi ho assinarão to-"
dos em bu auto que foy feyto pelo secretario Simão fer-
re vra«
C A P I T V L O XXX.
JDe como ho geuemador pàUjou na ilha do betelecom ho
captíQo dd rey de Cambaya , ^ lha tomou.
JLjLssentado ^ a itba do betele se deuia de tomar , par-
tiose ho goueraador, leuandoa ordft que trouuera atelk
£ atrauessando ho golfão da enseada, chegou bfla ma-^
nbaâ a esta ilha, que se cbamaua então do betele, &
agora se chama dos morto», que eomo disse está o}to
legoas de Diu , quasi pegada «õ a tetra lirroe lerá hfla^
legoa de roda pouco maia ou i»enos : da banda da norte-
72 OA BfSTOBIA DA ÍNDIA
tô hú canal dallura de ires braças, & da bSda do sul
bus ilheos com Q fíca estreita a passagem pêra a terra
firme. Oa de leste 13 bo rio Q a aparta da terra firme,
da doeste bo mar. E de todas be cercada de alto rocbe?
do, & fica muyio alta sobre bo mar. Êpera ser bda da^
mais fortes cousas do mundo , não lhe faltaua mais qua
ser. cercada de muro, que Ibe el rey mandaua fazer,
pêra fazer outro Diu, receando Q lha tomassem:. ppr<;
que de nenbQa parte se podia lambe fazer guerraaDiíi
como dali, do que os goueroadores tinhâo pouco cuydar
do. A esta ilha chegou bo gouernador b& dia pola.ma-i
nhá$: & v6do os mouros tamanha armada , temerãfie.(|
08 tomassem. E querendo fazer concerto coro bo gouern
nador, auido seguro dele, foylhe falar bo capitão da i^
Iba : & pediolbe i\ os deixasse ir com suas molberes , fi-
lhos & fazêdas, & que lhe deixaria a ilha. £ bo gouer<<
nador não quis , se não ^ ele sómSte se fosse com suasí
molheres, filhos & fazêda; & que os outros se lhe auião
dStregar, & bo capílâo não quis. E isto ^ ho gouerna-f
dor fez, foy contra ho parecer de todos. E aquele dia
assentou ho gouernador, Q ao outro dia desse na ilha
manhaã ciara: & a primeyra entrada fosse Dei tor da
silueira, que cometeria da banda do ponente onde ea-
taua a porta da fortaleza, & da banda do leuante Diogo
da silueira, & da do sul Martim Afonso de melo jusar-
te , & Francisco de saa , & os outros capitães irião re-
partidos coeles. Isto assentado, foy IVIarlim afonso de
melo JMsarte em anoytecêdo por mãdado do gouernador
ver ho desembarcadoyro da ilha. E achando que era bõ,
tornou cõ recado ao gouernador, & despois ao seu na-
uio. E confessouse, & encomSdouse a nosso Senhor, co«-
010 fazião todos os da armada. Os mouros como estauão
determinados de /norrerê antes que se entregarem , fí-
zerão setecentos deles os cercilhos como clérigos, 2} assi
bo custumauão quãdo determinão de morrer: & estes sa
chamão bolucbes, gente de feyto. E boseu capitão quey*^
mou suas molheres, filbos & fazenda: & assi bo fizerão
LIVRO VIU. CAPITVI.O XXX. 73
todos OS. casados , por não terem embarcado pêra pas-
sarS a terra íirnie , & a gSte pobre passou a nado. E ho
tesoureyro dei rey de cambaya, se passou em hfla pe-
quena jangada de madeyra com ho dinheiro que tinha.
Assi que nSo ficou na ilha mais que a gente de peleja •
que acabando de queymar as moíheres , &, os filhos , <}
foy três ou quatro horas ante manhaã, derão fogo a essa
arlelharia Q tinhão por mandado do capitão, & coela,
& com espingardas começarão de tirar a aigus nauiod
nossos que estauão a sombra da ilha , & tão perto que
ouuião os nossos aos mouros chamarlhes perros , & que
ali auião de morrer. E os nossos lhe começarão tambS
de tirar,. & era ho luar tão claro que os enxergauao
muyto b6, & começouse hfi áspero jogo de bombarda-
das, & espingardadas de hQa parte & doutra. £ vSdo
ho gouernador que se gastaua naquilo a poluora dos nos-
sos debalde, não quis estar polo que se determinara no
conselho de dar na ilha manhaã clara , & mãdou dar lo-
go , que foy muyto ante manhaã , pêra o. que mandou
fazer sinal cõ as trõbetas & charamelas : o que foy gran-
de erro , pelo ^ se disso seguio. Ouuido este sinal pela
armada, embarcarãse logo todos com grande pressa hua
quinta feyra a dous dias deFeuereyro, dia da purifica-
ção de nossa Senhora. E cometerão cõ seus capitães á
ilha pelas partes que lhes forão assinadas, não cessando
os mouros de desparar sua artelharia & espingardaria,
mas não fazião nojo coela. Eytor da silueira por ter a
primeira entrada, foy o que cometeo primeyro a porta
da fortaleza, Q os mouros (inhâo entulhada de pedra &
terra. O !| os nossos não entenderão cÕ ho açodamSto ^
tinhão de a quebrar , & tambê não o Sxergarão cõ a
sombra do muro, & trabalhauâo pela derribar cõ hil vay
& vê. E tãto ãdarão neste trabalho ^ amanheceo, &6tão
enxergarão como a porta estaua , & disserãno a Eytor
da silueira que estaua ao pé da escada , í\ ficou muy a-
gastado por lhe terS feridos algfls despingarrladas, &ter
necessidade descada pêra sobir ao muro, & mãdou logo
LIVRO viir. K
74 DA HISTOaiA pA INDrA
por ela. E entretanto íicou ás eiipingardadascomosmoti^
rosy ^ nâo reeebião tAto nojo por estarem cubertos c5
ho muro, como faziâo aos nossos que estauâo descuber*-
tos. E nisto derâo hQa espingardada aEytor da silueira
na cosa da perna dereyla que lha vazou, passandollie
as escarcelas : & achouse logo tão mal ^ bo leuarào ao
batel. E chegando a escada, sobio a sua gente ao mu-
ro: & ho cõtrameslre do seu gaieâo , a Q nào soube ho
nome , nâo podendo sobir pela escada por a genie ser
niuyta , sobio pola taça ^ leuaua ate que lacou a mào
ezquerda ao muro, & se pegou. E arrancando cõ a di«
reyta a espada, deu bua estocada a bú mouro Q ho der*
ribou : & os outros nâo ousarão de chegar a ele polaa
espingardadas t\ os nossos tírauào muy bastas. E neste
tSpo começarão os mouros de despejar daqle lugar, por-
que ouuiáo grande grita, & reuolia na iiha: & íoy ^
nesta delen<^a ^ os Deitor da silueira tízerà em sobir^
eometeo Diogo da silueira peia parte que lhe foy as8Í«
nada: & foy ho primeiro capitão i) subio, & subirão
coeie deZ liomSs do gaieâo, S que hia Marlim de eras-
to capitão dele, Fernão de crasto, Gil de craslo, Luys
Coutinho, Francisco de souda^ Payo rodrigues daraujo,
António de sá, Lionel de sousa , loáa aiuarez dazeue^
do: & Anrrique de sousa ho galego. E a pos estes so»
birâo logo Diogo de melo , Fernão de lima , Liunel de
lima, lorge de lima, dom Vasco de lima, Vasco pirez
de sãopayo, dom Adanuei de meneses, dom Francisco
de crasto, & outros a qlie na soube ho nome, {) erã
dez : & acharão Diogo da silueyra cõ os outros i\ os ti-
nhào os mouros em grande aperto por serS roij}tos, &
eles poucos. E se estes n«^o sobreuieram firase em grã*
de fadiga: & cÕ sua vinda & de IMartim afonso de me-
lo: que chegou c5 sua gSte os iizeráo afastar: & carre-
gando sobre eles os leuarào ate jâto de hu cobelo, onde
se apinboarão bem qtiatro cenios , & aly fizerão rosto
aos ik)Ssos, pelejando brauamSte cÔ espingardadas &(re-'
ebadas: & algils que eslauão no Cobelo os ajudauatn de
LIVRO Vííl. CAPITVLO XXX. 75
cima c6 pedras & cantos I) deytauâo aos nossos. E acer-
tou híí canto na cabeça a Diogo da silueyra , (] foy ho
primeiro ^ chegou a elles <} ho derribou: & assi forão
derribados outros que quiserão chegar coele. Por6 Dia*
go da silueira & eles se aleuantarão., & era a peleja ta*
roanha !\ era espâto. E cõ quanto a este tempo se ti-
nhão ajuntados muytos dos outros capitaSs cÕ Diogo da
silueyra , não podiSo entrar os mouros , tambS se defen-
dião : principalmSte despois ^ foy ter coeles ho seu ca-
pitsío cõ outros três mouros de caualo. E decSdose se
ajuntou coeltes esforçãdoos c5 grandes alaridos. E tam-
bém da nossa parte se ajuntarão todos os capitães 2|
eram ja entrados cÕ sua gSte , & de cada vez a peleja
era mais áspera. E estado em peso remèleo lorge de li-
ma ao capitão dos mouros & ferioho de maneyra ^ ho
matou : & cõ sua morte enfraquecerão os mouros , de
que muytos erão mortos : & se forão recolhendo pêra
hiia mezquita, onde se meterão muytos, & outros (\ não
poderão por os nossos os apertarê, fugiram cÕtra as bar-
rocas da banda do mar, & parle dos nossos ficarão cõ
Diogo da silueyra pelejando *cõ os que se acolherão à
mezquita, parle forão seguindo os () fugião caminho das
barrocas, por onde se lançauam abayxo: & muytos des-
tes forão mortos. E matado h(l Português hQ mouro, ou-
tro mouro que hia em sua companhia, vendo que nã po-
dia escapar, virou ao Português pêra ho ferir, & ele
lhe deu cõ a lança poios peytos & ho passou da outra
parte , & ho mouro se deixou correr pola lança assi a-
trauessado, ate se ajuntar cõ ho Português &deulheh(ia
cutilada cÕ hQ terçado que lhe cortou hfla coxa cercea,
& cairão ambos cadahO pêra seu cabo. (^ deste esforço,
& força auia muitos antre os mouros, de l\ quãtos se a-
colherão á mezquita forão mortos. E acabado de os ma-
lar chegou ho gouernador, & achou os nossos á caçacõ
os mouros que fugião pêra as barrocas, por onde se dey-
lauSo a correr: & muitos cayão com pressa, & faziãose
6 pedaços por aQles penedos , & os outros lançauSo«e
K 2
76 BA HISTORIA BA ÍNDIA
delles ao niár ^ delles se metiSo debaixo de lapas. E os
nossos ^ acudião todos a esta parle por ser a peleja a-
cabada estauão em atalaya : & em se os do mar ou os
das lapas descobrindo, lirauâolhe cõ as espingardas, &
assi matauão muyloç. E porque se perdido ntuytos tiros,
mandou ho gouernadur ^ nSo tirassem mais, & foy cor-
rer a ilha, onde não achou nenhíí mouro, Q quasi todos
forão mortos & calinos. Eporisso chamarão dali pordiS-
te a esta ilha a dos morlos. E dos nossos morrerão dÕ
Francisco dabrãnches, loão aluarez dazeuedo, & outros
fidalgos & homSs conhecidos, Q erão por todos dezasete.
E forão feridos cento & vinte , de que despoys morre-
rão alg&s. E posto que a vitoria foy grande cuslou muy-
to caro, & deu mays perda que prouej^lo, porque não
auia nhQa necessidade de matar então aquelles mouros,
& muyto grande de poupar os nossos pêra tamaaho fei*
to como ho de Diu.
C A P I T V L O XXXI.
De como ho gouernador chegou a Diu^ ^ cofno soube
que Rumecáo esíaua dentro^ com rumes ^ ar telharia.
iVXortos & catiuos todos os mouros que auia na ilha &
destruida & queymada a fortaleza que se começaua, &
recolhida sua arlelbaria, recolheo se ho gouernador á
frota com todos os nossos, em que se logo começou den-
xergar algo desmayo pelo dano que receberão na des*
truyqão da jlha : assi dos mortos que eram pessoas prin-
cipaes, como dos feridos, de que muytos ho eram, &
auiam de fazer grade mingoa no fejto de Diu , assi co-
mo Eytor da silueyra que de cada vez se acbaua peor :
& era hQ dos esforçados capitães da armada & de bÕ
conselho, & ele foy hum dos que ho deu que não se to-
masse a jlha antes de Diu. E recolhido ho gouernador
deyxouse ali estar oyto dias esperando polo judeu , ou
polo mouro que tinha em Diu por espias, que leuassem
LIVRO VIIK CAPITVLO XXXI. 77
auiso de como estaua, o que nâo pode ser, por^ seys
dias antes que chegasse á ilha dos mortos, polas de(en-
i^as que fez, chegou S/lustafa, Q depoys se chamou Ru*
mtcao, que inuernando no estreito (couio disse atras)
se partio pêra a índia com determinação de jr morar a
Cambaya, & viuer cõ elrey que se seruiria dele polas
guerras i) tinha. £ roeste fundamento se foy diante Co-
je çofar com ho dinheiro Q tinha do Turco , Q erào tre-
zentos mil cruzados: & foy desembarcar a Diu. £ des*
poys chegou Rumecão em hd galeão , & com a outra
frota em que leuaua suas molheres, & seyscentos ru-
mes , & três basaliscos de metal , cada hú de trinta &
dous palmos, que erâo a)uy formosas peças: & assi ou-
tras miúdas, & mil & trezSlos Arábios. £ cõ toda esta
gente foy ter a Diu, onde foy muy b6 recebido de Me-
lique tocSo, que estaua muy to medroso da grande ar-
mada que sabia que ho gouernador leuaua. £ polo que
ho judeu» & ho mouro lhe tinham dito estaua determi-
nado de dar fortaleza ao gouernador. £ Rumecão Q ho
entendeo ho prouocou a Q ho não lizesse, poSdolhe dian-
te quam forte estaua Diu , assi de gente ( porque auia
nele treze mil homSs de peleja) como dartelharia: pori}
08 baluartes , assi da fortaleza como da vila dos Rumes
estauão muy bem bastecidos dela. £ a cadea que atra-
nessaua ho porto que fazia muy grande impedimêto na
entrada & dentro dela setSta & três fustas, queerahúa
grossa armada : & estaua tam forte que podia pelejar
com todo ho mCLdo & defenderse : quanto mais dos Por-
tugueses que não auião de ser tantos : pelo que lhe se»
ria cousa vergonhosa & de grade vitupério & desonrra,
fazer nenhu partido com ho gouernador quàto mays.dar-
Ihe fortaleza , que pois lhe parecia que os nossos leua-
uSo tamanho poder ^ despejasse a cidade da fazenda &
da gente Q não era pêra pelejar , & ficasse a de peleja
& a defendesse coela. £ se os Portugueses podessem
mais & 08 entrassem, Q estariào despejados pêra se sal-
var. £ se 06 não entrassem que tornarião a recolher o
73 DA HISTORIA DA ÍNDIA
t\ teuessetn fora, & íicarião descansados. Eisto pareceo
bS a Melique locâo , & assi se fez. E mais mandou que
sopena de morte não se saísse nenhu dos mercadores
estrãgeyros que neia eslauão, por^ estes pelo (\ lhe com*
pria ajudariâo a defender a cidade, & mais não daríão
nenhii auiso ao gouerAador do que determinauâo de fa«
2er. E por islo nem ho judeu nem ho mouro nâo pode*
ram sayr da cidade & dar auiso ao gouernador, que se
andara mais de pressa & chegara antes deRumecâo, ú^
zera muyto seruiço a Deos & a el Rey, & ganhara
grande honra em se lhes dar fortaleza em Diu, que era
a mais forte cousa que auia na índia, & de que mou*
ros & Rumes faziâo todo seu fundamento, pêra dali dei-^
larem os nossos fora dela. E vendo ho gouernador ^ lhe
tardaua ho recado 2| esperaua não quis mais esperar, &
parliose pêra Diu, onde chegou hu domingo á tarde
onze de Feuereiro, & surgio ao mar quasi hOa iegoa
da cidade: sabendo já a vinda de Rumecclo por lingoa
^ tomou António correa. E certo que fez espanto na ci-
dade húa armada tamanha & tam poderosa como a nos^
sâ pcirecia. E se Rumecão não esteuera dentro, Meli-
que rogara com fortaleza «lo gouernador , & Q ho não
destruísse. E ainda Rumecâo teue que fazer em lho es-'
toruar: ate dizerlhe (\ se saisse da cidade, & que ele a
defenderia cõ a gente que trouuera , & co os merca-
dores. E ele tinha mandado minar todas ns ruas da cí^
dade, & encher as minas de poluora pêra lhes dar fogo^
se os nossos entrassem. E mandoulhes tirar cÕ os seus
tiros , principalmente á capitaina , i\ ate noite não (íze-
râo outra cousa. E caíra três pelouros tS perto dela !\ o
gouerna4or mandou alargar as amarras pêra íicar mais
lõ^e que lhe não íizesem os pelouros nojo. E nííca quis
mandar tirar á cidade , esperando ainda por recado das
suas espias , pêra determinar o que auia de fazer.
LIVRO VIII. OAPITVLO XXXII. 79
C A P I T V L O XXXIL
De como ho gouemador deu bateria a Dm^ ^ do que
lhe acoHteceo.
JlLO outro dia em saindo ho sol apareceo muyla gête
poios muros & baluartes da cidade, vestidos de cabayas
de graâ que se viàó muylo bê, & logo os baseliscus cios
rumes comedirão de disparar &l tirauào pelouros de me-
tal: & de ferro coado de peso d<»y(Sta arralCs , segudo
se vio por algíis Q cairá em nauios nossos, Q nam tize-
rão nojo. E vendo ho gouernador isto & que não vinha
oenh&a das suas espias desesperou de virê, & determi*
nado de dar bateria á cidade |K>r luar mandou a António
correa que chegasse até a cadea £[ çarraua ho porto pe<-
ra descobrir a artelhana ^ auia nos baluartes, & se es«-
taua algua armada no porto, & António correa foy co8«-
teàdo a ilha cosido cÕ terra , polo nao pescar a artelha-
ria, assi dos baluartes da cidade como do da vila dos
rumes, que chouia sobre eles pelouros, & assi ho ga**
]eáo dos rumes Q estaua de fora da cadea , & as fustas
Q estauão de dentro, ho i\ tudo muy bem visio por ele
s^ tornou ao guuernador Q estaua no galeão sào Dinid
cÕ Eylor da silueyra, i\ se iinou a{|le dia da espingar-
dada t) lhe derào na ilha dos mortos. E sua morle fez
grande espanto na gente comú por ele ser dos princi^
pães capitaSs da armada & bem quisto, & sabt*ndo ho
gfueraador por António correa como a cidade estaua
forte p<>la banda do mar, mãdoulhe que fosse saber sua
df^sposii^^o da banda da terra, & sabida lhe- tornou a di-
7er que da^la parle não tinha artelharia & que estaua
irara por!) a mayor fortaleza ^ tinha era híia caua bai-
Jta () logo se piidia atupir, & {) do desembarcadouro à
cidade seria perto de hàa legoa , & (j| daquela parte lhe
parecia (j[ aueria pouco em a t(»mar , o que não podia
ser |)or bo gouernador nâ hir aparelhado pêra dar bate*
80 SA HISTORIA DA ÍNDIA
ria por terra. E então vío ho erro t[ fizera 3 se deter tâ-
to no caminho, & em fazer tamanho gasto como fez em
fazer a^la armada pêra ir a Diu sem saber muito bem
sua disposição, & que gente lhe era necessária pêra ho
tomar. E neste dia senão fez roais , & ao outro pola
nienhaã se ajuntarão no seu galeão os capitaSs da arma-
da aque disse ho auiso que esperaua da cidade , & a
fortaleza que tinha da bãda do mar & da terra, propon»
do per qual seria melhor daremlhe bateria, & foy deter-
minado que posto que a bateria não se podia dar benat
por mâr por amor do arfar dos nauios , 4 P^í^ ^'^ esta-
•uâo que se desse do roàr, por!^ da terra uão podia sêr,
por a distancia que auia do desembarcadoico á cidade
ser grade pêra se leuar a artelharia por terra» E poslo
Q se podéra leuar não auia tanta gente que podesse Rr
car na frota pêra pelejar co a armada dos imigos se lh<^
saise , & podesse jr á bateria pêra goardar a artelharia
com {| se desse: & os imigos erã tanta gente que se
podião repartir pêra pelejar no mar & defender a terra,
& por isso era ho mais seguro dar a bateria por már, .&
trabalhar por Qbrar a cadea Q çarraua ho porto, & en-
trar dentro & tomar a armada dos mouros ou ganhar ho
baluarte do már ou ho da barra : porque cõ qual^r des-
tas cousas se abalarião os mouros pêra darem fortaleza*
E logo ali se assentou que dom Vasco de lima, lorge
de lima, & Tristão homS cada hum em seu batel de
mantas que leuaua cada hum seu tiro chamado liâo sur-
giscm da lagea pêra dentro: & dessem bateria ao ba-
luarte do mar. E que os ajudassem lurdão de freytas
hum fidalgo da ilha da madeyra, & António de sá (Xe
Santarém , capitães de duas albetoças que leuaua cada
hua hu espalhafato: & ao baluarte de Diogo lopez ba-
teria Manuel dalbuquerque com a. sua galeaça que tira-
ua ha baselísco por proa , & auiâno dajudar quatro ca-
pitães de quatro galeotas, que tirauâo quatro tiros gros-
sos. E os capitães forão Nuno fernandez freire, Fernão
de lima, Manuel de Vasconcelos, & Vasco da cunha:
LIV&O TUI. CAPITVLO XX^II. 81
fao baluarte da terra auia de bater Francisco de sâ ca-
filão da galé bastarda com hum baselisco que tiraua
ferro coado de peso do setenta arraleSs: &auiâonodacõ^
panhar quatro galés que tirauão tiros grossos: & Anto^
nio da silueyra com ho resto das galés: & fustaiba do
quo era capitão niór, auia de estar de sobre salente pê-
ra acodír se fosse necessário, & entrar por qualquer por-
tal que os da bateria fizessem no baluarte do mar. E n
outra armada doe galeoSs & nauios grossos auia destac
afastado obra de bua legoa de terra, [lorque lhe não che-
gasse a artelharia dos mouros. Isto assentado forão de-
semmasteados os nauios da bateria, & fortalecidos de
fortes & largas arrobadas: & aquela tarde os começarão
de rebocar algds catures com quem andauão ho gouer-
nador & António de saldanha: & nisto forão as bobar-
dadas da cidade tantas, principalmente dos baluartes
que auião de ser batidos, que os que rebocauão Fran*-
cisco de sa ho deyxarão longe donde auia destar, po-
rem IManuel dalbuqueirque foy leuado ao posto donde
auia de bater. E por Francisco de sá ficar longe donde
auia destar não se deu ao outro dia a bateria como es-
taua assentado, mas ouue hum brauo jogo de bombar-
dadas dâbas as partes. E na madrugada seguinte quis
bo gouernador mandar rebocar Francisco de sa, & deu-
se nisso tam má ordem : & assi por a corrente dagoa
ser muy tesa, que amaoheceo primeiro que hoposessem
no posto, então forão as bombardadas tam bastas que
os mouros tirauão que não as podendo os capitães dos
catures sofrer deyxarão Francisco de sá mea leg^oa don-
de auia destar , que foy grande desmancho : & ho go-
uernador dagasludo de ver quanto esloruo auia pêra Frâ-
cisco de sá chegar onde avia destar, mandou que toda-
via se desse bateria , que se começou ás noue horas do
dia , & foy cousa espantosa as bombardadas que despa-
rauã dhiia parte & doutra, & a grossa fumaça que se
leuantaua dambas as partes que escurecia ho ceo & a
terra. E em a bateria começado ex que abalSo qb tref
LIVRO VIII. L
•S HA HISTORIA DA INBIA
bateis de manias atoados a três catures, de qae érie
capitães, Gonçalo vaz Coutinho fidalgo, Frãcisco de bar*
ros & outro. £ parecia cousa desçam io ver ires batejs
que parecião ires cascas de nozes , irem cometer Ires
baluartes que estauâo das mais medonhas cousas do mun*
do, com os muytos pelouros que deytauáo, com que pa«>
recia que ardiâo em fogo : & assi ibes tirauâo as fustas
que estauâo de dentro da cadea, & outras dantre boba»
luarte da terra & a vila dos Rumes. £ a dozentos |)afr»
SOS do baluarte do màr como os pelouros chouião mata*»
rão dez remeiros iio catur de Gonçalo vaz Coutinho, qaé
rebocaua ho batel de dom Vasco de lima : & ho arrum*
barão de modo que não pode passar auante : & al^rgao»
do ho cabo com que leuaua atoado ho batel ho deyxou«
Mas logo acodio outro catur que ho rebocou: & vendo
lorge de lima como Gonçalo vaz alargara ho batel a dd
Vasco, temeose Q Fernão de barros lhe alargasse ho
seu , pelo Q lhe bradou que ho não fizesse se não ^ o
meteria no fundo. £ como ele era esforçado não bo fea
por mais ^ as bombardadas forão, cõ que lhe matarão
deus Portugueses & sete remeiros: & foy ho poer a
quarenta passos do baluarte, !\ deste espaço se auia de
dar a bateria. £ ainda ali não alargou o cabo ate lhe
lorge de lima não bradar duas vezes que ho alargasse:
& neste espaço forão postos os outros bateis: & ficou ho
de dom Vasco da banda do mesmo baluarte. £ ho de
Tristão home da vila dos Rumes: & ho de lorge de li-
ma no meo. £ todos três começara de ho bater coni seus
tiros que deytauâo pelouro de ferro de peso de quaren-
ta arralSs : & tendoho aberio lorge de lima com três ti-
ros que lhe tirou, arrebentou a bombarda no repairo ao
derradeyro, & não pode mays tirar, que se isso não
fora ele & os outros fizerâo portal por onde se poderá
entrar. £ com tudo lorge de lima ho mandaua cõcer-
tar : pêra ver se poderia fazer obra : & nisto lhe derão
três tiros ao lume dagoa com que lhe arrombarão ho ba-
tel , & lhe matarão cinco Portugueses : & |)era não se
LIVKO VIII. CAPITVLO XXXII. .83
alagar mandou lançar bo tiro a hiia bftda. E neste ins-
tale estando dom Vasco em pê no seu balei lhe leuou
hum pelouro dos imigos a cabeça com parte dos hõbros,
respondêdo ele ao seu condestabre (que lhe dizia que se
abaixasse) que nâo auia medo a pelouros. E assi como
aconteceo a estes bateis assi aconteceo aos outros na-
uios da bateria que lhes não valerfio arrombadas nem
• fortaleza jiera resistirem às brauas çurríadas de pelouros
-que lhes dauão os imigos em roda viua: & a todos ar-
-rÕbarão, & meterão muytos dentro, com que lhes ma-
tarão assaz de gente, principalmente a Manuel dalbu-
querque que estaua mais perto do baluarte que tinha a
cargo. Eos mouros também receberão algum dano, por-
que polas ameas dhum pano do muro entrou bii pelouro
nosso que acertou de dar em hum cayxão de poluoraque
ettaua junto de hum tiro : & acendeose bo fogo na pol-
uora. Equeymou muytos dos imigos, & eu vi ho fumo:
& aesi outros tiros perdidos lhes fizerão também muyto
dano & muyto mais lho ouuerâ de fazer se os nossos ti-
ros grossos não arrebentarão todos sem ficar nenhum. E
dissese que por lhe deitarem carrega dobrada da Q le-
-uauâo: & Q ho mãdou assi ho gouernador, por lhe pa^
recer que farião mayor passada , & por isso se esquen-
tarão muyto roays do que se esquStárão cÕ a carrega
própria. E arrebentarão sem lhes valer a muyta diligen-
cia que os nossos poserão em os resfriar com vinagre.
E estando assi a cousa que passaria de dez oras, que
tãto durou a bateria sem os tiros arrebentarem , soube
ho gouernador como os tiros erâo arrebentados, & que
não fazião nada , & por isso mandou afastar esses na-
uios pequenos: & os grandes por ho não poderem fazex
logo, ficarão ate a tarde.
I. S
84 ]>A HISTORIA DA INBIA
C A P I T V L O XXXIIL
De como ho gouemador se partio do porto de Diu.
Jljí em se os nauios afastando derão os mouros grandes
gritas , assi de prazer , como por fazerem escárnio dos
Portugueses , & mostraranse muytos poios muros & ba-
luartes, disparando sua espingarderia : & nisto & em ti-
ldar a artelharia despenderão ate a tarde , que se os na-
liios grossos acabarão dafastar. Ho gouernador dagasta-
do & descontSte não se quis tornar ao seu galeão , &
foíse á taforea de António saldanba» & bi teue conselbo
se daria outra bateria, & foylhe cõselhado que não, por-
que ainda que não teuera arrebatados os tiros grossos
como os tinba não podia fazer nojo á cidade, pola muy-
ta & muy grossa artelharia que tinba , cÕ que lhe faria
de cada vez mays dano. E ^ a cidade tam forte como
aquela estaua não se podia dar bateria por már pêra lhe
fazerem dano, se não por terra detrás de mantas &re-
pairos. E que se deuia de tornar, & deixar aquele feito
pêra outro tempo em que se podesse milbor fazer. £ es-
tado nisto supitamSte despararâo as fustas dos immigos
a sua artelharia , & assi os baluartes & muros , & isto
por festejarem ho prazer que tinhâo da vitoria. £ ou-
uindo 08 Portugueses aquele supito, cuy darão que as
fustas sahião a pelejar coeles. E como os nauios da ba-
teria estauão desaparelhados, & eles assombrados da re-
sistência passada , aluoroçarãose muyto com medo : &
foy muyto grande- rebate por toda a nossa armada. £
se as fustas sayrâo os nauios desaparelhados correrão
risco de serem tomados, mas não sayrâo porque não li-
nha os imigos essa ousadia: & cuydauão que ti n hão fei-
to assaz em se defender: & assi foy, pprque se os nos-
sos tiros não arrebentarão tam asinha eles fízerâo portal
por onde os Portugueses entrarão: ou quebrarão a ca-
dea, & aferrarão cõ as fustas: & com qualquer destas
LIVRO VIII. CAPITVLO XXXIIII. 85
a cidade se tomara. £ porque o6 nauios da baleria es-
tauâo desaparelhados, & era necessário aparelharense
foy forçado ao gouernador dçlerse ali a ses la feyra se-
guinle, & sábado 9 & domingo: & seguda feyra se par-
tio pêra a ilha dos mórlos. Eos mouros Q ho virão ir fi-
carão liures do grande medo que linhâo de os entra-
rem: & Mustafa muyto soberbo por fazer que não se
desse Diu ao gouernador. £ assi ho fez cerlo a ei Rey
de Cambaya , pêra quem se logo foy , a que contou ho
que passaua, & lhe fez seruiço da arteiharia que trou-
uera. E por tudo isto lhe fez el rey grandes honrras &
mercês, assi de renda como de nome de cão, que an-
treies he muylo estimado. £dali adiãle se chamou Ru*
mecão: & era dos mays bonrrados capitães dei Rey de
Cambaya, & mais seu priuado, & de que ele fazia
mayor conta, do £[ Melique toca ficou muylo magoado:
& secretamente imigo de rumecâo» & receoso que ei
rey lhe desse a capitania de Diu.
CAPITVLO XXXIIII.
Do que ho gouernador fez despoys de se yr de Diu-
x^hegado ho gouernador á ilha dos mortos, teue ali cÕ-
selho com todos os capitães & fidalgos da armada , que
por quanto os mouros de Diu auião de ficar muyto so-
berbos por bo gouernador os não poder tomar , ia auião
de cuydar que não podia nada , era necessário pêra ^
de todo não perdesse bo credito ficar na costa de Cam-
baya hfta grossa armada que destruísse os mays dos lu-
gares que podesse , principalmente Baçaim em que el
Rey de Cambaya começaua de fazer outro Diu. £ co-
meçasse na cidade de Goga que he dentro na enseada
dezasele legoas da ilha dos mortos : & coisto se restau-
raria em parte ho reués que os Portugueses receberão
em Diu. É assentado de se fazer assi, conuiduuse An-
tónio de Saldanha pêra ficar por capitão mor desta ar^
\
86 DA mSTORIA DA ÍNDIA
mada : & bo gouernador lho concedeo por ser pessoa de
merecimento, & por ler feyto muyto seroiço na Índia a
el rey de Portugal: & deulhe a galé bastarda em que
ficasse & oyto galés outras com quarenta fustas : &bar-
gantins em que ficarão passante de mil Portugueses to-
dos gente escolhida , & com a outra armada se foy ho
gouernador a Chaul, cuja capitania por estar vaga deu
a Diogo da silueyra seu cunhado. £ de Chaul se foy bo
gouernador a Goa, dõde mandou ao estreylo a dom An-
tónio da silueyra por capitão mór de hQa armada & deu-
lhe a galeaça em que foy : & os outros capitães a fora
ele forãoMartim de crasto, lorge de lima, Anrrique de
macedo, António de lemes ,^Ioão rodriguez paez, todos
em galeões. E deulhe por regimento que fosse ver Adem
a saber dei rey se tinha necessidade de sua ajuda: &ten-
doa lha desse. E arrecadasse as páreas que deuia. Ebo
gouernador ficou em Goa onde auia de ter hoinuerno. E
porque pola ida de Afonso mexia, que se fora pêra PoN
tugal aquele anno ele ficaua por vedor da fazenda até el
Rey prouer, ho que lhe era pejo por a grande ocupação
que tinha na gouernãça da índia. Por se descarregar dos
negócios da fazenda fez ouuidor dos feytos dela ao licen-
ciado Lopo fernandez de Castanheda que atelí seruira
douuidor geral da índia na vagante do licenciado João do
soyro: & auiao de ser dali por diante ho doutor Anfonie
de macedo, que vinha prouido por el Rey deste officio.
C A P I T V L O XXXV.
De como António de Saldanha destruyo a cidade de Go-
ga^^do mays que fez na costa de Cambaya.
xxntonio de saldanha que ficaua na costa deCambaya
com a armada que disse, partido ho gouernador pêra
Chaul , partiose pêra a cidade de Gt)ga l\ he na ensea-
da como disse, situada na boca de hum steyro rasa sem
nenhfla fortaleza, pouoado de mouros mercadores^ ^ou-
LIVAO VIII. GAPITVLO XXXV. 87
«indo como a nossa armada bia dt^spejarão bo mays que
poderão. £ neste tempo acertou deslar ali bua armada
de Malabares deCalicul de vinte cinco paraos carrega-»
dos de pimenta que leuauâo a vender. IC estes sabendo
a vinda de António de saldanba, & nSo lendo outro re*
médio vararão os paraos polo esteyro acima obra de biía
lagoa da cidade : se poserâo em renque julos hiis dos
outros, com seus tiros darlelharia nas proas: & os le-
mes atrauessados nelas pêra mays fortaleza : & a gente
detrás com mostra de se defender , posto^ algua se foy
pêra á cidade a ajudar algQs mouros que nela íicarào
porque os mays erão acolhidos com medo dos Portugue-
ses que chegarão á cidade^bum dia pola menbaâ, &Jo*
go desembarcarão: & diante de todos Fernão rodriguez
barba, que ieuaua a primeyra entrada. £ por derradey<*
ro António de Saldanha. £como a gente que esíaua na
cidade era pouca defendeose pouco, Q logo. fugirão ficaa<*
do alg&s mortos assi guzarates como malabares : & en«
Irada a cidade foy saqueada. £ porque António de saN
danha sabia que a armada dos malabares estaua peio es-
teiro acima, determinou de a hir destruyr. E partio pê-
ra lá despoys de comer , & foy por terra fey tos ires es-
Goadroês de sua gête. A capitania do dianteyro que se-
ria de dozentos bomês deu a Fernão rodriguez barba. £
a do segundo ^ seria de trezentos deu a Francisco de
Vasconcelos. E ho terceyro deyxou pêra si que seria de
quinhentos homSs. £ indo nesta ordem chegou a húa
grade varzia , [)or onde na borda do esteyro estaua va-
rada a armada dos malabares, que como os Portugueses
forão deles a tiro de bombarda, lhes começarão de tirar
com a artelharia que jugaua muyto a miude: mas nem
por isso deyxarão eles de passar auàte. E rompendo por
antre aquela multidão de pelouros inuestirão cõ os pa-
raos, & 08 mouros como virão a cõcrusão, & que os
Portugueses queriâo pelejar coeles sem nenhfl medo,
ouueràolbu tamanho que fugirão: & deyxarão os paraos^
sem morrer nenhum Português, que acabando os jmmir^
88 SÁ HISTOBU DA ÍNDIA
go8 de fogtr coroe^rão logo dapanhar essa pimi^nla que
eles tinhão. E (emendo Anlonio de Saldanha Q se carre-
gassem muyto: & que tornassem os imigos sobreles &
nâo se podessem defender como muylas vezes se faz^'
mandou dar fogo aos paraos. E arderão iodos com quan-
ta pimenta tinhão, do que os soldados ficarão muito ma-i
goados, porque perderão ati muyto: & ficarão assaz de
desconíêtes de António de saldanha, que despoys que
os paraos arderão se tornou a cidade, onde mandou quey-i
mar cinco nãos que eslauão varadas, & sem a sua geni*
te fazer ali nenbQa presa se tornou a embarcar. E dali
se passou á outra banda da enseada, & entrou em çur-
rate & Reynel que achou despejados. E hi tomou oyto
paraos Mitiabares que achou varados. E feyto isto se
partio peraChaul sem querer hir dar em Baçaim , ci*roo
íbe ho gouernador mandara , & a causa foy |K)rque ho
escorreo de noyte, & por não tornar a fras, & mays
porque soube que estaua muyto forte. E ehegfando a
Chaul deyxou quasi toda a armada a Diogo da silueyra,
que assi ho mandara ho gouernador , pêra fazer guerra
á costa de Cambaya , & tolher que não fossS dela man*
timenlos a Diu nem madeyra, porque desta maneyra
lhe daria tanta guerra que com aperto se desse. Edey*
xando a armada em Chaul se foy na galé bastarda a Goa,
& deu conta ao gouernador do que fizera.
C A P I T V L O XXXVI.
De como Jorge de lima socedeo na capiiania a dom JÍn^
tonto da silueyra,
jLfoxn António da silueyra que foy ao cabo de goarda-
fum por capitão mór da armada chegado á parajem em.
que aula desperar as nãos de presa , repartio sua arma-
da no modo que auia destar: & andarão assi ate quasi
a fim Dabril sem passarem nenhilas nãos de presa, &•
por se chegar ho inuerno parliose pêra Adem. £ no .ca*
LivmaviiL ciFfTVLo otxrvn. 69
ninho soube que el rey se leuantara con(ra os Portu-
gueses y & malara quantos la deyxarii Eytor da silvey^
ra 9 & outros que despoys forâo coiii mercadorias , em
que tomou bem oytfita mil pardaos. E affirmouse () a
causa desta treji^àu dei Rey Dadem foy cobiça de hila
nao carregada de pimenla que hus Portugueses lá leua*
rào que eie mandou tomar , & despoys tomou fao maye
que digo, & com tudo dÕ António chegou a Adê. G
chegando fugirÂo do porto certas nãos que hi eslauâo ,
& a ele (iraràolbe ás bombardadas: & vendo dom Antó-
nio que não podia fazer nada por quam pequena arma^-
da leuaua , partiuse pêra Ormuz onde auia de inuernar
& hl faieceo: & por seu falecimento foy emiegido por
capiuo mór:daqueJa armada, lorge de lima. E ele deu
a capi(ania do seu nauio a dom li>áo lobo, & em Agos-
to se partio lorge deJima pêra a índia. E no caminho
tomou deus nauios de mouros : & no dinbeyro que se
fez na carrega q leuauâo vierSo a el Rey cincoenta mil
pardaos pagas as partes»
C A P I T V L O XXXVII.
De como Gonçalo pereyra fez amizade com el Rey de
Tiaore.
Jr artido dom lorge de meneses de Temate , enlendeo
Gonçalo pereyra eiíí acabar a fortaleza que ainda e&ta-*
ua da maneyra {| António de brito a deyxara : que ne-
nhu destes capitães se lêbrou de acabar a^ la "obra. E
comoGõçalo pereyra pêra isso tinha necessidade de ma-
deyra, & outras cousas que auia na ilha deTidore mâ-
dou pedir tudo ao rey dela por ser amigo dosPorlugue*
ses, & mandou a isso Luys dandrade, por quem lhe
mAdou hum presente de sedas, & outras cousas de pre-
ço. E Luys dandrade hia com nome dembaixador, &
assi leuaua ho aparato, com que desembarcou em Ti-
dore. £ sabendo el Rey quem ele era : & os carregos
LIVHO VIII* M
90 BA HISTOmiA 30A ÍNDIA
que linha lhe mandou fazer soISne recebimento: & ot
8eu8 principaeis mandarins com muyia gente bo forâo
esperar ao mar : & em desembarcando bo tomarfto antre
si, & bo leuarão aos paços dei Rey per debayxo de hOa
ramada de ramos verdes l\ duraua do mar ate os paços :
& bo chão cuberto de flores : & eruas cbeyrosas , & en^
trados nos paços acharão ei Rey è hua varanda térrea
aparamentada de finos panos deras, de figuras, & de
verdura: que lhe derão os Castelhanos. £ el rey seria
de xvij. annos, & era aluo & gSlil bomfi: estaua vesti-
do muy ricamSte, & tinha grade magestade & estado,
estaua acopanhado de seus jrmâos , & de muylos mau*
darins. £ como se criara cõ os Castelhanos sabia bem
a sua língoa: & Bizcainha, & Portuguesa: & prezaua-
se muy to de as falar, £ quâdo Luys dãdrade chegoa
diante dele fezihe muyta bonrra: & faloulbe Português.
£ LfUys dandrade lhe apresentou ho presente que lhe
leuaua com que mostrou, que folgaua muyto, princí*
palmente com hiia espingarda: & despoys lhe pregun*
tou miudamente por ei Rey de Portugal : & polo £mpe-
rador, & por suas cortes^ & desjx)ys polo gouernador
da índia. £ por Gonçalo pereyra , a que respondeo que
madeyra: & quanto lhe fosse necessário de sua terra tu«
do lhe daria, & lho mandaria: & assi ho fez. £ ficando
tnuyto amigo de Gonçalo pereyra , a que também man*-
dou hum. presente, tornouse Luys dandrade |>era Ter-
nate. £ no caminho se ouuera de perder com bua tor-
uoada que lhe deu : & despoys disto por Cacbil humar
Sangaje da cidade de Maquiem estar leuantado por amor
das páreas que lhe posera dom lorge, & não querer dar
obediência a Gonçalo pereyra mandou controle Vicente
dafonseca com hfta armada, &Cachilato com outra, ho
que sabido per Gachtl humar fugio pêra el Rey de Gey-
lolo^ & foy lhe tomada sua terra* £ despoys por rogo dei
Rey deGeylolo: & de Fernão dela torre lhe restituyo Gon»
çab pereyra seu estado, do que el Rey de Geylolo&Fer«
nâo dela torre ficarão seus amigos, & se visitarão dali por
diante por seus mesejeyros.
tivfto VIII* cArrrvLo xxnviii. 91
O A P I T V L O XXXVHÍ.
■
De como a Raynha de TemaU deurminou de mat/at
Gonçalo pereyra.
IS este tempo execulaua Gonçalo pereyra a preniatíca
do crauo quanto podia, apertando muito que ae goar«
daaae do que ca Portugueaea aodauáo muy escandaliza*»
«loa poio muy to que nisso perdiSot Scdizifto antre ai qua
•e deuiâo de jr pêra os mouros ou pêra os Castelhanos^
& deyxar sòs Gon<;alo pereyra: &Luys dandrade, pêra
irer se defendiâo a fortaleza. Eoa que isto sintião mays,
& dauão causa a se os outros aluorofjarem erão ho vi«
^airo da fortaleza que auia nome Fernão lopez : & Afon^
ao pirez , Vicente dafonseca , Baltesar veloso : & Ma-
fiuel pinto, que como sabíflo a lingoa da terra, & ti*
nhão amizade com a Raynha & com muy tos mouros que
também recebião perda nesta prematica do crauo, pro*
tiocauamnos a parecerlhes mal: & a escandalizarense de
Gonçalo pereyra , a que determinarão de tirar a capita*»
Yiia & fazerem outro capHSa que lhes alargasse ho cra*^
lio, & cometerão pêra issoBms pereyra que sabiSo que
estaua mal com Gonçalo pereyra : & por bo não querer
aceytar assentarão de fazerem capitão Vicente dafonse^
ca, que naquele tempo injuriou de palaura ao sobreròl-
da da fortaleza por dizer da parte deGÒ<;alo pereyra aoa
que eslauão em sua casa que fossem vigiar a fortaleza
{K)rque não querião jr á vigia. E reprendendo Gon<jalo
pereyra disto a Vicente dafonseca, ele se agastou tan-^
to qae lhe disse algfias descortesias. E coÀo Gon<,-alo
pereyrar desejaua de ho castigar por saber que era tra-
vesso: &reuoltoso prendeo ho na fortaleza em ferros cd
aquele achaque: ho ^ sabido poios outros c^jurados pe-
dirão logo a Gõçalo pereyra Com grande instancia que
ho soltasse & ele não qtiis , dizendo Q ho auia de ter
preso pêra na moui^o ho mandar a india com outroe
M 3
01 DA HI8T0BIA BA ÍNDIA
reuoltosos ^ auia na fortaleza: do que eles ficarSo niiiy-
to cortados por ]hes parecei que entráuão naquele con-
to: & não quiserão mays falaribe na soltura de Vicente
dafonseca; & determinarão de ho matar antes da mon-
ção & antes que Hanibai cernige seu cunhado cheg:as8e
de banda. E trabalharão de aquerir de sua parte a Ray-
nha, &Cachtlato: & os mays dos mandarins, & tantas
cousas & males lhes disserâo de Gonçalo pereira : & que
Dão auia de dar el rey. E tanto lhe meterão em cabeça
que não desejaua se não destruilos, & que assi ho auia
de fazer se lhe não atalhassem com a morte, que eles
ho crerão: & menos abastara pêra ho crerem por serem
desconfiados*: & imigos dos christâos. E a fora este ódio
natural teuerão outro a Gonçalo pereira polo que dele
ouuirão. £ pêra saberem se era assi como eles dÍ2Íâo
mandoulhe a Raynha pedir seu filho muy apertadamen*
te, dizendo que lhe lembrasse quantos dias auia que
)be juraua de lho dar & que ho nam côpria, que se es»
pantaua muyto de não comprir bo que jurara em sua
ley. E como ele desejaua dacabar hum baluarte da for-
taleza em que andaua com grade pressa , & a entrega
dei Rey ho auia destoruar : & também não ho querer
entregar até a fortaleza não ser de todo çarrada , por-
que os da terra ho ajudassejn.como ajudauão, resp&deo
á Raynha que ele desejaua tanto de a seruir: & fazer-
Ihe a vontade que sem juramento lhe entregara seu filho
quanto mays jurandolho. Epol a. ocupação em que anda-
ua de qu« nâo se queria estoruar não compria coela,
pedindolhe muyto que lhe desse licença pêra iaso: &
que ho ajudasse com mays gente peta acabar asinha
a^la obra: porque quanto mays asinha acabasse^ tãto
mays asinha li>e daria seu filho & faria todo bo mays
que lhe mandasse fK>rque pêra isso desejaua de ter des-
canso. Porem a Raynha nao foy contente daquela res-
posta: porque Ibe {)areceo escusa pêra lhe não dar s^^u
filho: & teue por verdade, bo que lhe os Portugueses
diziao de Gonçato pereyra, pelo que determinou de ho
LIVRO VIII. CAPITVLO XXXIX. 93
inàtar & tomar a fortaleza , & despois matar lodos òé
Portugueses. E o que lhe deu atreuimêto pêra isto foy
conhecer ho ódio que os principaeis&mays antigos Por*
tugueses tinhão ao capitão , & que foigariâo de bo ver
iDorto : & por essa causa linha pêra fazer aquilo ho me«
Ihor tempo que podia ser. £ .mays por el Rey eslar na
fortaleza: &coele seus hirmâos, & algiis tilbos dosniati-
darins: & hia ho gouernador visitalo rouytas vezes. E
quasi Q nuca de lá sayâo mandarins mancebos que hiâo
folgar coele, a quem poios lerem muyto em costume
não buscauão se leuauâo armas , pelo que as podiâo le^
uar secretas : & quando não leuarlbashiâo os que leua-
uâo de comer a el Rey , nas canas em que leuauâo ho
vinho: &a agoa. Enislo se acabou de deleiminar, coro
conselho dos seus mandarins com que ho logo praiicou.
CAPITVLO XXXIX.
De como foy morto Gonçalo pereira. E o& mouros que
ho matarão.
JLsto determinado a raynha por dissrmular com Gonçalo
pereira se mostrou muyto satisfeita com a sua reposta,
& mandoulha muyto agardecer. E pêra mais dissimula*
çào niàdoulhe niuyta gSte que ho ajudasse a fítzer a for-
taleza, porque quanto acabasse mais cedo mais asinha
lhe daria seu filho: do qu^^íõçalo pereyra ficou muyio
ledo, & andaua muy conlUKe, fazendo continuamente
Irabalhar na fortaleza. E neste tempo Cachii Calabrura
gouernador de Geylolo, que era metido na treyção que
a Raynha de Ternate auia de fazer a Gonçalo pereira,
vendo que lardaua de se executar, receouse queserom*
pesse, & que Gonçalo pereira lhe ficasse por imigo. E
determinando de lho descobrir, temia tamhS que ho
náo Si)ubesse ainda: & descobrindose !\ Gõçalo pereira
bo soubera por ele õ a Raynha & os de seu eõselho fi-
caria seus imigos. E pêra não perder ni^ío nada quis
94 DA BfSTOKfA DA ÍNDIA
apalpar o que Guik^Io pereira sabia daquela treiçXo.
Mandando a hum Mandarioi em (| oootiaua muyto que
liie fiisse dizer em aegredo come de si mesmo , que o^
Ihasse cotno estaua, porque os Mandarins de Ternate
fcziáo majrtoe conselhos y & segundo ihe parecia erã cd-
ira sua vida, & contra aquela fortaleza. E isto pêra
que assi como GoQ<jaio pereira tomasse aquilo^ assi sa«>
beria se lhe descobriria a ireyçâo, ou se calaria. GGon*
caio pereyra como estaua muyto crente na amizade da
Kaynha & dos do seu conselho , & pouco acautelado da
maldade dos Portugueses seus imigos : pareceothequan«
do lho ho Mãdarini disse o que theCachil catabrO man«
dou que lhe dissesse, que era mexirico, & que proce«
dia denueja de os Ternates ho ajudarem também a fa*
zer a fortaleza. Respondeoihe que ja era velho, & nSo
tinha necessidade de conselho. Ho Mandarim quando
vio quão descuydado Gonqalo pereyra estaua da Ireyção,
temeose que ho descobrisse aos Ternates , que ho ma«
tariao por isso , & acolheose pêra Geilolo , onde contou
a Caohil catabrum o que achara, do que ele ficou asse-
segado da suspeita que tinha. E a fora este auiso em
que Goncjalo pereira não atentou, disseranihe algús Por-
tugueses que os mouros que ajudauâo na fortaleza an«
dauão mays ledos que dantes, & que dauâo muy tos sal-
tos, & faziào geitos como faziâo quando andauSo na
guerra, £ que os tomauão polas mãos, & pegauão ne-
les dizendo carachel mandi^ue em sua lingoa quer di«
zer homS valente & esforçam!: & que lhe parecia aqui*
lo sinal de terem ordenada algQa treiqSo. Enem por is-
to atentou Gonçalo pereira. E sendo ja chegado ho dia
em que os mouros tinhíio entre si determinado de ho
matar, que foy aos dez & sete de Mayo, véspera de
Penlhicoste, ordenarão como auia de ser. E deitando
sortes sobre quem seria o que matasse Gonçalo pereira,
cahio a sorte sobre hum primo de Cachil daroes, que a-
uia nome Cachil cabalou ainda mancebo, & sobre ou^
tros dez da sua idade que ho auiâo dajudar. Epera que
LIVRO VIII. CAPITVLO XJLXlX. 95
oa Portuguedes nSo sospei lassem dele nada, auiSo de jr
oom Gacbilato que era feitura de Gonçalo pereira : &
l}ue lhe hia falar a qualquer hora, por ler coele estreita
amizade. E [)08erSo logo aquele dia pola menhaã muyta
fen(e em Ires ciladas, hfia aol derredor da pouoaçâo dos
Wlugueses em matos Iam cerrados que a cercão , que
nunca ali ninguS vay , & porisso níio podião ser vistos.
£ a segunda estaua por essas casas da cidade, & a ter^
ceira na mizquila, que estaua pegada com a fortaleza,
E o8 mouros desta em vendo hfl certo sinal que fize»«
sem na fortaleza os que matassem Gonçalo pereira auião
de sayr , & entrar nela pela bâda do mar , por onde bo
muro ainda estaua baixo: & auião de repicar ho sino da
vigia pêra que acodissem os Portugueses que esteues-
sem fora: & em sayndo auião de sayr os mouros das
duas ciladas a darlhes nas costas, & malaios a todos. E
este dia andarão os mouros tatfr~co|i tentes pelo que es-
perauão de fazer, que vindo ho meyo dia em que hião
eomer & tomar folga, dizião a Gonçalo pereira que fos-
se comer & repousar, & que eles trabalbariâo ate noi(e.
E assi lhe disserão algas Portugueses que lhe parcci3o
muyto mal aqueles offrecimentos dos mouros, mas nem
aquilo ho pode espertar. E mandou aos mouros t\ fos-
sem comer & repousar ale as Ires horas que passaua a
calma, fe enl^ tornaríão como costumauão. E idos ele
se recolbeo na fortaleza com os Portugueses Q comião
eoele , & despois de comerem se forão refiousar a suas
pousadas, que estauâo fora da fortaleza. E ho capitão
Gonçalo pereira ficou com seus criados, & algtls outros
que pousauão dentro, & cada hum se recolbeo á sua
eamara a dormir. E sabendo Cacbilalo isto foise á for-
taleza com Cachil cabalou , & os outros deputados , pe*
ra matarem Gonçalo pereira , & batendo á porta da for-
taleza que e6t<7ua fechada, como estaua sempre a al)las
horas, abrio ho porteiro conhecendo ser Cachilato , que
por jr outras muytas vezes a este tempo falar a Gonçalo
pereira , ho deixocr entrar : & ate ho page que lhe leua-
96 BA HISTORIA BA ÍNDIA '
ua a espada , sem buscar se leuaua armas , nem a ne-
iihll dos outros, taro em coslume os tinha. E Cachilata
hia tani seguro, que nem mudou cor, nem fez nenhu
geito, em que se enlendese ao !\ hia. E sobindo atehQ
derradeiro sobrado da torre da menajem , onde pousaua
el rey & seus hirmâos, achou Vicente dafonseca, qu9
como disse auia dias que estaua preso, & anda.ua coia
bfis grilhões: & porque Cachilato, & Cachil cabalou e*
ráo seus amigos, & sabia a lingoa, assentaraiise sobr^
bii catle a faiar coele, dando a entender que esperauâQ
por Goncjalo pereira pêra ihe falarem» E se ele então
sajra sem duuida que a fortaleza fora tomada, & forâo
mór(o2i todos os Portugueses^ Mas nosso senhor os quis
guardar, pêra em aquelas partes se conuerterem talas
almas á sua saneia (é^ como se d^^spois conuerterâo. Eí
nesta conjunção hia pêra a cidade bu Portu2:ues chaman-
do Manuel aluarez dalcunha ho saboeiro. E passando
por jfito da mizqnita, vio a gente darmas que hi esta*
ua: & como lhe pareceo cousa noua , fez volta. pêra a
fortaleza. E receando os mouros () fossem desoubertos
por ele sairão algús ao malar, & mataráno, & audàdp
coele éa cutiladas vioos bQa escraua branca de Gonçalo
pereira, que acertou de chegar a hfla janela da camará
em que ele dormia a sesta, í\ eslaua daquela banda: &
começou de bradar dizSdo ^ matauâo os mouros hii Por-
tuguês. Ao t\ Gonçalo pereira acordou , & acodio \oso á
janela bradado ^ acodissem ao Português, & tomado
bua «idarga, & a espada abrio a porta da camará pêra
sair fora, & vio estar á porta Cachilato & Cachil caba-
lou, Sl os outros cÕ seus crises arrancados pêra ho feri-
rem. E na casa mais afastados el rey: & seus birmâos
4amb3 cõ armas , & logo arrancou da espada, & se pos
á porta a defenderlhe a entrada muy esforça dam3l e , f|
bo nào podiâo entrar: & mays nâo tendo cõ que ho pi-
car de longe como ele fazia. E desfKijs cõtaua el Rey
^ VicSte dafonseca que hi estaua aliçaua muyloos mou-
ros que matassem Gonçalo pereira , & que nâo se cba-
LIVRO VIII. CAMTVLO XXXIX. 97
nasiétn hotnSs se sendo tantos não matassem hum s6^
& os mouros vendo que ho não podião entrar pola por*
ta j entrarão hOs por cima do repartimento da camars
que era baixo: & outros quehrauão ho repartimento 4{|
era de canas coro barro por cima. E como erão tantos
& Gonçalo pereira só não pode acodir a tantos lugares,
íoy entrado & ferido na mão da espada, & de duas mor-
taes feridas nos peytos com que cahio. E nisto a sua
escrauH não fazia se não bradar : & a estes brados & á
reuoita que os mouros fazião acodirão os criados de GÕ-
i^alo pereira com suas armas , & hO deles que auia no-
me Dinis daraujo que hia diSte deu com hiia chuça a
Cachil cabalou que achou primeyro & passou ho dà ou-
tra banda, & assi ferido ho ferio a ele, de manejra que
cairão ambos mortos á porta da camará, & logo Bastião
fernandez: & outros criados deGonçalo pereira que vi-
nhâo a pos Dinis daraujo se meterão com os mouros as
cutiladas: & isto tudo foy tão hreuemente feito que os
mouros não teuerão tempo de fazerem ho sinal que auião
de fazer aos da mezquita: pelo que eles não sairão, que
foy causa dos mais qu« estauão na fortaleza serem mor-
tos, & a reuoita era muy g:rande dStro, porque osmou-,
ròs se defendião como homSs desesperados, & posto que
nã tinhão se não crises dauão que fazer aos Portugue-
ses. E então acodio Vicente dafonseca a hua janela que
cahia pêra fora da forlaleza^acennndo com a mão, & bra-
dando treição, & repicarão ho sino da vigia, a que lo-
go acodio Luys dandrade que pousaua fora da fortaleza
& coele forão dez homSs , todos com as armas que po-
derão tomar, & batendo à porta da fortaleza, que ain-
da estaua fechada lha foy abrir hfi leronimo Fernandez
criado de Gonçalo pereira. E chegfarlo Luys dandrade
onde era a peleja vio Cachilato cA hua espada nua na
mão, assentado no catle com Vicente dafonseca, & os
Portugueses pelejando com os mouros: a que Luys dan-
drade remeteo com os que hião coele , & como eles vi-
rão tantos sobre si desesperados de se poder6 defender
LIVRO VIII. N
98 0A HISTOBrIA DA ÍNDIA *
liQs derio consigo polas janelas fora que cayãè sobre h#
pátio da íbrlaleza, & fugirSo polo muro que ealauainuy^i-
to baixo da banda do tnâr. Outroe {} nSo poderfto maia
acolberãse á camará onde el rey já eslaua com seus jr-
mâos 9 a Q logo se acolheo era os Portugueses começan*
do dacodir, porque não cuydassem 1} sabia parte daque«>
Ia treição. £ os que digo ^ entrarão na camará em que
el rey eslaua fecharão a porta sobre si , que logo Luys
dâdrade ^brou, Sc matou bo primeiro mouro que lhe sa^
bio ao encontro» E c5 ajuda de Gomes ayres, & outros
muytos Q já erão chegados entrou coro os mouros & ca
acabou de matar , salúo a el rey & três jrmSos seus , &
Gachilalo pêra saber por eles como fora amortedeGon^
^lo pereyra , & os ter por arrefeSs , que por amor de*
les não fizessem os mouros guerra á fortaleza : de que
logo tomou as chaues Sl se onue por apossado dela, -por
)be dizerem que quando Gonçalo pereira espirou pre«-
f untou por ele: & disse 4 ^^ dissessem j| olhasse por
ai^ttela fortaleza.
C A P I T V L O XL-
De como Ficente dafomeca foy Ituantado por capitão da
fortaUza de Ternate.
Segura a fortaleza dos mouros, Q andauão no derradei^
10) sobrada da torre da menajd, deceo Luys dandrade
abaixo per& acodír á pouoa4;ao dos Portuguesea, a que
oa mouros das ciladas punhão bo fogo, vendo que não
poderão tom«r a fortaleza. Eno primeiro sobrado da tor-
re achou Brás pereira, que hia acodir acima muyto de
pressa, cuydftdo que hia a tempo. E luys dandrade Ibe
diese que fossem: acodir abaixo, que tudo encima fica-
na seguro. R Brás pereira respondeo ^ fosse ele , por^
que queria ficar na fortaleza como capitão que era. &
Juuys dandrade lâçou mão dele^ dizSdo que esteuease
preso. Mas logo se concertara que se louuassem & a
LIVRO Vni. CAPtTVLO XL. 99
iqual deles julgfiissem a capilanta , que a esse íicassè, &
ilecerâto iogo abaixo. E como ja oe portugueses estauão
á porta d» forlateaa , mandoa Luys dandrade acodir á
pouuação, onde os mouros linhâo feita inuyta perda.
Porem fbrSo todos deitados fora petos Portugueses, 8i
algus íicaráo mortos. £ dei lados os mouros fora vígiat^i
fansê toda a noite. E como Fernão lopez ho vigairo da
fortaleza, & AfÕso pirez, Baltesar veloso, & Manuel
|>into, & outros Imigos de Gõçalo pereira & de Lnyt
•dandrade, & amigos de Vicente daionseca soubessem
que ao outro dia se auia de determinar a deferSça qtim
auia anire Brás pereira & Luys dãdrade qual seria ca»
fMtáo: determinarão esles que nenbfl deles ho fosse, se
nflo Vicente dafonseca, como tinhâo ordenado auia dias^
porque a estoutros dous queriSo lhe grade mal a hum
por ser parente de Gonçalo pereira, a que ainda finbi
mortal ódio pelos ter<^)8 do crauo que tomou pêra el Rey^
& polo regimento que mandaua goardar, &ao outro por
ser seu amigo & quebrar os achens, & por se doer moy«>
to do seruiço dei Rey. Etinbão por certo que qualquet
deles auia de leuar ho estilo de Gonçalo pereira. Emais
auiSo de tirar deuassa de sua morte , o que lhes seria
muyto perjudicial por eles darem motiuo aos mourot
pêra ho matarem. & principalmente VicSte dafonseca.,
de que el rey Cachil dayalo dezia , que se ele não fora
que atiçaua os mouros i\ matassem Gonçalo pereira, que
nunca ho matarão. E por isto , & porfi sabrâo Q auifio
de ter Vicente Dafonseca de sua roâo, & não os outros^
ffiào qoerião que nenhll deles fosse capitAo se nflo ele.
£ toda a noite negociarS como ho fosse, principalmSte
ho vigairo Fernã lopez , que por sacerdote & religioso
ho podia fazer mais sem vergonha. Porque como era pa«
dre spiritual de todos , cuydauflo que o !\ ele dizia era
verdade & àquilo se deuia fazer. Elogo ao outro dia, j}
forão dezoito deMayo, dia do Spirito sancto, de M-D. xxxj.
se ajtitarâo todos i porta da fortaleza da bida de forat
& Brás pereira capitão mór do mAr, & Luys dfldrade
N 2
100 DA HISTORIA DA ÍNDIA
feytor & alcaide mor, estando prese&tea Ayres bolelbo
&Grauiel da costa escriuSes da feiloria, derâo as carias
de seus oíBcíos a Pêro de moura ouuidor da fortaleza,
pêra ^ determinasse com os que ali estaufl de qual de-
les era a capitania. £ despois de debatido por ambos,
acordouse ^ eles jurassem solenemente de cada hú de-
les estar polo que se achasse por direyto & por regimfi-
to dei Rey de Portugal , & o que ticasse sem a capita-
nia obedecesse ao outro, tam integramente como se fo-
ra prouido por el Rey , ou pulo seu gouernador da liir
dia. £e8te juramêto lhes foy dado sobre hua pedra dará
á -porta da igreja polo vigairo do que Còy feito htl auto
por Ayres botelho escriuão da feitoria, que per ser a^
migo de Vicente dafonseca, & saber a ma<;ada que os
de sua parte tixihã feyta, pêra que teuesse credito, ar
crecentou mais nas palauras do juramento que escreueo^
que cadahii deles obedeceria por capitão a outra qvalQr
pessoa que ibsse eolegida por capitão: o que Brás pe^
reira assinou sem ho lér. Mas Luys dandrade nâo quis
assinar sem ho lér primeiro* £ quando vio o que Ayres
botellio.acrecentou não- quis assinar, porque cõ ninguS
linha duuida, senão com Brás pereira : &com os outros
claro estaua que a nioguè pertencia a capitania senão a
ele ^ era alcaide mor da fortaleza. B pedindo a pena
escreueo por sua mão, que nSo consintia em ser outro
Benhíí elegido por capitão, senão ele ou Brás pereira
que contendia coele: & isto assifiou* Feyto este auto
meleose ho ouuidor na fortaleza com os outros todos, &
fechando as portas sobre si, pêra lá determinarem se era
a capitania de Luys dãdrade, ou de Brás pereira Q ficar
rã de fora. C metidos dentro começa ho vigairo dSbu^
rulhar tudo, dizendo a todos !} vissem bem o que fa-
zião, & não dessem suas vozes a Luys dandrade pêra
ser capitão, porque era de condição muyí^o forte, &imi-
go dos homSs, & que nâo queria ho proueito de ninguS
se não ho seu, E (} Vicête dafonseea era muito bõ ho-
me, & amigo de todos, & ^ todos ho eoaheciâo de mui-
LIVRO VIII. CAPlTVf.0 XL. 101
'to tempo: & que lhes deixaria fazer seu próueito & os
teria em paz. Ê fez de maneira que aueadose de votaf
ou por Luys dandrade, ou Braa pereira, melerão em
lugar de Brás pereira Vicente dàfonseca. Ehíis votarão
por ele, & outros por Lujs dandrade: sem aproueilar
ao ouuidor dizer que não auia aquilo de ser as8Í feito.
£ vendo ho vigairo ^ por Vicente dafunseca nào vuia-
uâo se não os de sua parcialidade, temeose que acaban-
do todos de votar Luys dandrade teuesse mays vot^s ^
Vicente dafonseca,' não quis esperar ate bo cabo: &
coesses ^ tinha, abrirão a porta da fortaleza cõ grande
arro^^do de trõbetas: & de vozes com que diziào viua
?iya ho capitão Vicente dafonseca: & os que ainda não
tiohao votado , sairão devolta coetes, dando também as
mesmas vozes, sem aproueytar ao ouuidor dizer ^ aqui-
Jo não valia nada : & iio mesmo dizia a Luys dandrade,
& brada ua que Ibe não roubassem sua ju8ti(;a: E que
não podião enleger por capitão se não a ele que era al-
caide mór, & el Rey Ibe daua a capitania per morte do
capitão, em quàto não prouesse doutro. £ sabendo isto
Gonçalo pereyra ibe entregara a fortaleza quando mor-
rera: & que ele logo não consentia ^ enlegessem por
capitão se não a ele ou a Brás pereira, & auia por ne-
nbua a eleicjào Q era feita, pedindo ao ouuidor ^ de tu-
do lhe desse hum estormenlo pêra ho gouernador da Ili-
dia, requerendolhe que prendesse Vicente dafonseca i|
não podia ser capitão porque matara Gonçalo pereyra:
mas tudo isto não aproueytaua, porque Vicente dafon-
seca tinha latos por si {} ho ouuidor não se atreuia coe^
le. E assi ficou Luys dandrade sem remédio, & Brás
pereyra tàbem que de ver tão mal encaminhado ho fey-
to de Luys dandrade nào falaua no seu. E Vicente da-
fonseca se foy a comer leuando condigo quasi ^da a
gente a ij deu de comer, & ainda quSdo jantauâo, des-
poys de bem quentes do vinho muytos derão seus votos
a Vicête dafonseca pêra ser capitão. £ com tudo ainda
Luys dandrade tinha quasi tantos votos eomo ele. £ a-
lOS BA BTTSTORIA ML IMffA
cabando ele de comer {ledio aLuys dandrade aa chaiíea
da fortaleza pêra íicar de iodo capitão, & não Ihaa Qrenh
do dar n6 obedecelo por ça|>itâo^ mãdou Vicente dafon-
aeca ao ouuidor (| lhe tomaase aa cbauea , & ele respon»
deo que ho não auia de faier por^ Lujs dandrade era
capitão por dereyto^ & ele bo amoalraria por regimento
delUey^ re^rendo que lhe deaae bum estormento do ([
dizia pêra ^ el Rey de Portugal soubesse que náo tinha
culpa Qo que aly patsaua^ & que não podia fazer inays
do que fazia. E Vicente dafonseca fazendo ^ não aten*
taua no que bo ouuidor dizia, mãdou a Grauiei da co»-
la que tomasse as chaues a Luys dandrade, ^ tão pou^-
CO ho quis fazer, Bem menos bulião consigo nhQ da par-
cialidade de Vicente dafonseca , porque, rnuytos se co-
meçauão darrepender do que tinhão feyto. O 2| enleiíu
dendo Fernão lopez ho vigairo, porj} não se trast4>rnas^
ae ho que tinha feyto^ remeteoa tomar aschaues a Luys
dâdrade. E logo acodirão ao ajudar Ayres botelbo escri^
•uã da feyloria & hu Pêro lorge» & por força Ibe («^mi^
rão as chaues bradando ele, que lhe roubauão sua justi»
4^ , mas como ela ali não era se não de quê mais podia
ficou sem ela, |K>r2) podia pouco, que ate ho ouuidor nl
ousaua de boltr consigo cõ medo de ho matarem Ião da*
nados via andar os da liga de Vicente dafonseca : ^ co**
BIO desejaua a morte de GÕqab pereira : & a precurou ,
j& foy causa dela nQca fez sobrela nhQa diligencia. E
dissimulou coela como bomS i} folgaua. B b6 pareceo
aer assi, por^ tendo preso Cachilato que fora ho prin*
cipal menistro da^la morte, ho 1\ ele vio por seus olhos,
nunca lhe deu nbil castigo: nS pêra mostrar que !}ria
castigar tão brauo crime como at\\e bo quis meter a tor^
mSto pêra lhe fuier cdfessar como aquela morte fora
ordenada.
LITRO Vlir. CJtFlTVLD ICLI. 103
C A P I T V L O XLI.
Do §fez Vkêu dafmseca despoge de ser capitão.
J^abido pola Rajnba Q sua treyção nfio ouuera efejto,
ainda ^ lhe disso pesou iBujto, cõsolouse sabêdo ^ WU
c£le dafonseca ficaua fx>r capilio , por^ este lhe daria
logo el Rey eeu íilho^ como Jhe tinha prometido Afonso
pires. £ peni estar niaso roays segura mâdou logoreca-*
do ás ilhas de Moutel & Maqui6, \ lhe predessC os Por<*
tugueses ^ lá esteuessem. E quando chegou seu recado
se sabia ja a aK>rte de Gonijalo pereyra : pelo ^ os inou*
ros se ieuantarão oontra os Portugueses ^ iá andauâo fa^
28do crano , & roatarfto logo Pêro fernftdeas , aquele Q
Tntou cÕ toucinho ho rosto a Cacbil vaidua, & outros
algas : & despoys de chegar ho recado da Raynha não
Diatarflo roays, & prenderão os outros, & presos lhos
leoarão : & despoya de os ler , mandou dizer faâ deles a
VícSte dafonseca que folgaua muyto de ele ser capitfi
da^Ia fortaleza , por saber ^ era seu amigo & dos mou-
ros, & ela & eles ho conhecerfi de muyto tempo: que-
lhe Ifibrasse o Q lhe Afonso pirez prometera fi seu no-
me, que se ele fosse capitão (} logo lhe entregaria el
Rey seu iilho: pedindolhe muyto que poys ho era ^ lho
entregasse: &que ele lhe seria por isso em muita ubri-
gaçSo & lhe faria todas as amizades Q podesse. Vicêie
dafSseca se cõselhou cÕ Afõso pirez sobre ho que res^
ponderia a este recado : & como ele perdera setSta ba-
res de crauo ^ lhe arderão , & mais hfi dos Portugueses-
Q estauão em poder da Raynha era seu filho, cõselhou-
Ihe j) respondesse á raynha que lhe desse ela primeyro
os Portugueses que lá linha, & que pagasse aos outros
a perda 4 receberão dos mourea quando foy a morte de
Gonçalo pereyra, & ^ ele lhe daria el Rey. E como a
Raynha tinha por muyto certo darlhe^^VicSte dafonseca
seu filho tanto que fosse eapitfio j & aa^ta reposta ho a-
104 BA HISTORIA DA ffNJMA
chasse (áo dcsuiado disso^ pareceolhe {) se queria escu*
sar de lho não dar« Epera o mouer a ^ lho desse soltou
a Francisco pírez íilho de Afonso pirez, & mandoulhe (|
se fosse pêra a fortaleza^ & rogouihe l\ disesse a Vicêle
dafonsecci, que doutra maneyra esperaua ela l\ eleconi'-
prjsse sua palaura. £ l\ mais conla fizera de eua amiza-
de do q acbauà que diuera de fazer, & l\ roais cõiiara
nele do í| ele coníiaua dela: por^ ainda que lhe dera seu
filho sem abua condiga, que eia fizera despoys quaoio
ele mandara, & que bem ho sabia ele^: por isso ^ erâo
escusadas cõdi^Ses pêra lhe dar seu filho, quSlo mais
Q ainda {| lho dera liuremente, lá lhe ficauão em arre-^
fôs ires birmãos seus , & Cachilato guuernador do Rey-*
no, & pessoa muy principal nele, que valiào mays que
quanlas perdas os Portugueses podiâo ter recebido: &
porem ([ lhe parecia ^ todo o que dizia era por escusar
de lhe dar seu filho, que se lho na quisesse dar., que
nSo lhe mandasse mays nhíi recado. E porque sabia que
el Rey de Bachâo esiaua na fortaleza mandoulhe pedir
^ rogass^a Vicète dafõseca que lhe desse seu filho. E
eslé rey de Bacbáo como era muyto leal amiij^o dei Rey
de Portugal , na ora que soube a morte de Gonçalo pe-
reyra, acodío cÕ sua gente á fortaleza pêra valer aos
Portugueses se teuessem disso necessidade, que fica-
rão muyto ledos coeie. E VicSte dafonseca por mays
azedume que bo recado da Raynha trazia no cabo não
lhe quis mandar seu filho, f)or^ não falaua em cõprir as
cddiçÕes com que lho ele queria dar, nê lhe quis man-
dar recado, porQ a Raynha dizia ^ lho não mandasse
sem seu filho. E vendo a raynha ^ lho não mandaua,
por fazer mal a Vicente daf(»nseca & aos Portugueses
foyse da cidade cõ os Mandaris: & mandou i) não se
vendessem nhQs mâtimentos: & mandouse queyxar de
VicSle dafonseca a el rey de Tidore seu sobrinho, de
lhe não querer dar seu filho coroo lhe tinha prometido,
& como sabia ^ lho prometera Gonçalo pereyra: rogan-
dolhe que lhe empecesse em tudo ho i) podesse. E nisto
LiTmovin. CATmisO xli. ^ 106
chegou aTernate bo nauío ê que foraBanibal «erDÍje a
Banda: & hia por capitão dele hii DídIs de payua, por
Hanibal cernije não querer tornar a Maluco & se yr pe-
fa Malaca. G como Vicfite dafòseca estaua necessitado
de gfite, munições de guerra, & de manlimêtos, de*
terminou de mãdar logo este nauio pda via de Borneo
A pedir ao capitão de Malaca estas cousas & deu a ca«
Í^ilania dele a hH Manuel das naues criado dei rey dft
oão de Portugai por ler bii aluara seu pêra lhe darê a
capitania de hfl nauio: &despoj8 de lha ter dada a deu
a Brás pereyra que lha pedio por ser capitão mór domar,
& tambê lha urou , & a deu a Luys dãdrade, ^ agastan-
do da sem justiça () lhe fora feyta se /iria jr pêra a ín-
dia, & por. isso pedio a^la yda, & VicSte da fonseca
lha deu cd cÕsetho de seus amigos, por recearêque taiH
to l\ os outros nauius 2} esperauão de Banda chegassem^
aueria amotinação na gele & fariSo capítAo Luys dan*
dradf* , segíkdo tinhão entendido, E partido Luys daa*
drade hia tam triste pelo {} lhe fez Vicente dafonseca,
^ htl dia esteue pêra se deytar no mar se bo não teue«
rão, & desfioys bo ouuerão de matar è hQa ilba, & tam*
t6 em Borneo sobre buas deferençaa ^ teue c5 a gSte
do nauio, & dali foy ter a Malaca, & deu cota aOar^
cia de sa do !) era feyto: pelo^ ele não quis mandar
socorro a Vicgte dafonseca Q ociue por tredoro. E dali
ae foy Luys dandrade á Ifidia , & -contou a Nuno da
cunha a morte de Gõçalo pereyra, & bo i) lb<» fizera Vi-
cSte dafonseca , aqueixãdose dele , mas não se fez so-
brisso nada , nfi Vicente dafonseca foy castigado^
UTRO vin.
lOC Há HfiTOMA JOA inmà
C A P I T V L O XLIL
• De como Vidte da forneça solum el rey de Temate^
K^om a yda da raynha da cidade , & não ae veoderS
M maotiinSloa, ficarão os Portugueses ê graode ueces^
aidade, do Q Vicête daíSseca lieou inuyio agastado te
•em esperança de remédio^ por(| algft qu^e eap^^raua^
era em hft juogo ^ aabta ^ auia tle vir de Banda cdrou*
pa & mantimetoa, em que vinha por capitão tiu Fràcis*'
CO de sá: que sabendo como Gõçalo pereyra era morto
& da maneira ^ Ibra, pareceolhe que Vicente dafooseca
eataua leuantaclo^ &não quis jr á ibrtaleza temendo que
Une tomasse ho jugo & quanto leuaua, & por isso se íoj
a Tidore peca vfider a fasêda ^ leuana, & fazer seu
emprego. £ surto no porto de Tidore^ el Rey por rogo
da Rayoba deTernate ho prSdeo, & aquãtos Portugue-»
808 yão coeie, & lhe toonou- quailti faaend» leuaua: &
mandado desenxaroear ho jQgo ho mâdou meter no fun-
do, & isto cõ fudamôlo ^ poc esta ppesa, & poios Por-
tugueses ^ a Rayaha dre Teroate tiaha^ llie daria Vic6*
te dafionaeca el Rey aeu fiibo, & assi lho mandou diaei
a raynha. K paiecCdolhe a ele ^ aquilo era fero , fea«
Bke outro mayor & mandou logo perante ho n^essageiro
prender el rey de Teraate & metek). A hii sotao, & asat
seusjnttãoa^ fc prendao em ferros es filltes fke Mand»*
fine <| estauào cóclea & as molheres Q ho seruiao , di-
zendoíbe que diasesfie a Raynha que ae eJ cey de Tido*
re lhe não mandasse logo ho jugo, que seu filho & os
outros ho pagaria. E ho jungo não foy resliluydo, nao
soube porque causa: & a-Raynba mãdou pedir a ei Rey
de Geylolo, íj não desse mantimentos a Vicente dafon-
seca ate lhe não dar seu filho poys lho (inha prometido,
& que trabalhasse pok) cõcertar coele, que ela faria o ^
Jhe bem |>()recesse, porque não queria guerra com os
Portugueses , se não auer seu filho & casalo pêra ter
Lnuo vin. OAVftvu) xlii. 107
ketétffo^ c que nSo podia ser estando preto. E estan-
do eete einbayxador da Rajrnha em Ge3riolo , chegou
Brás pereyra em hAa galeota^ J) apertado Vicête dafon*
aeca da necessidade doa mflttmfitos midaua por ele po-
dir a el Rej ^ '^^^ midaese vêder ofirecfidoihe por isso
amizade & ajuda cõtra seus iminígos, Sc escreuia a Fe&>
aâo deJa torre a necessidade A que estaua: pedíndoiha
•polo amor de Deos <| bo ajudasse cA el Rey , pêra que
»e mandasse vender os mantimentos. E oauidas por el
rey abas as embayxadas c5 conselho de Cacbii calabra«-
no, & de Fernão deia Corre & doutros Castelhanos, re^
pondeo á Raynha q faria cõ Vicfite dafonseca Q lhe des-
se seu filho ^ cÔ tanto 2) iizesse ho Q lhe fiedia, & man-
dou mantimenfosa Víc6te dafonseca, &pedindoibe muy*
to <f desse el Rey de Ternate a sua máy , & que ela se
obricraua a pagarlhe todas as perdas 1) os Portugueses
receberSo quando matarão Gonçale pereyra, & lhe da-
Tia os Portugueses que tinha caftnos te ho jungo ^ es*
taua em Tidore, d<a^ el Rey deGeylolo í8l Fernão dela
torre ficau^ por fiadores , & querendo fazer aquilo po>r
amor deles, lhe seriSo sempre esfi grande obrigai^. B
iristo por Vicfite dafonseca a necessidade grandissima ^
tinha de mantimentos, & que os não podia auer foj c5»
tente com conselho dos Portugneses de fazer o que lhe
el Rey de Geylolo & Fernão dela torre rogaiião, cd tan^»
(o <{ lhe auifto de dar arrefSs ate a Raynha cãprir hoque
dizia , & assi lho mãdou dizer per Brás pereyra , que
fcy em hila Galeota Q el rey de Gey loto lhe mandou car«
regar de mantimentos, & lhe deu fi arrefiBs quatro Man*
darins dos principais de Ternate, 1\ lhe a Raynha man^
dou pêra isso, & assi lhe mandou muytos barcos carre^
gados de mantimentos. £ el Rey^ de Tidore como isto
soube soltou logo Francisco de sá & os outros pêra os
mfldar , Sc eles não esperarão por isso & fugirão , & et
rey lhes mandou bo seu faio. E despoys disto se aju»»
lario na vila de Limatao fiide a raynha estaua, Fernão
dela ton*e, & bo goucrnador de Geylolo t & bi foy ler
o 2
108 '• • m HIBfOUA BA . INDU *
•coeles Ticente dafonseea , leu&do el rey Cachii .átífõXo\
^ entregou a sua mfty despoís de jurarê que cempriríá
e Q estaua assentado. £ logo os Portugueses forão. ea«
tregues a Vicente dafonseca^ & polas perda» recebidaa
•ficarfto os arrefôs que disse ate serem pagas. Eassi fojr
aoitO' el rey de Ternate cò- grade festa, ficSdo muylo
«migo de VicSie dafonseca, & dos outros Portuguesesi,
a ^ pagarão logo a» perdas Q receberão quâdo ma(arSo
Gonçalo pereyra. E desta maneyra ticou Vicente dafuni-
aeca em paz cÕ os roouf os, & a terra ficou outra vez as^
sètada como a tinha Gonçalo pereyra».
C A P I T V L O XLHL
De como ho gouemador começou a fortaleza de Chalé,.
V endo ho gouemador Q nSo poderá tomar Diu, deterá
minou de emendar este auesso cõ fazer hiia furialt- za S
Chalé duas legoas deCalicut, ^ t9(iia rio tào alcâtilado^
eomo disse no liuro Sexto, (} podiào entrar nele carauef
las & galés , & auêdo ali fortaleza podia inuernar a nos^
sa armada, & andar pola costa ale IMayo: & sairia lo*
go na enirada de Selfibro, no Q se daria muyto estorno
ás nãos dos mouros yrem cõ pimêla a IMeca, & nã se
ordenaria eousa algfia contra os Portuguesea Q se logo
não soubesse em CbaJe, & ceesta fortaleza ficauâo os
mouros de Calicut muylo enfreados, & não podiSo na^
uegar como dantes. £ vendo ho gouernadòc quãto isto
iinportaua ao* serniço dei rey seu senhor , negoceou em
todo aquele inuerno que leue em Goa , que se ouuesse
cõsentiiiiêío dei Rey de Chalé pêra se fazer esta forta*
leza , & por^ d^.todo não se pode acabar este negocio,
eomo foy na enirada do. ?«rão que ho tempo deu jazigo,
despedio Manuel de sousa com bQa armada peva a costa
do Malabar , ca bua iiislruçâo do Q auia de fazc^r no ne-
gocio da. fortaleza , & {)• comprasse ho chão a dinht*yro,
i|uàdo não pudesse ser doutra maneyra. Evgdose eíecd
Linto viir. CAPiTVLO xtiii. -lõô
9el réy deGhaie, promeleòihe ipil párdaus douro porcon^
•eniir i| se fiaesse a fertaiezsf ê sua terra , & mais {| bo
gouernador ho faoorecería cooira «1 rey de Calicul' se
}he quisesse faxer guerra» £ ei rey aee^íou os mil par-
daos^ dizendo que os tomaua pêra pagar os pahiiaFes 1[
estauâo no lugar em j} se auia de íazer a fortaleza. O ^
logo Manuel de sousa escreueo ao gouernador, que se
fez prestes pêra partir, & andando nisso chegarão a
<}r.oa duas nãos de Portugal^ ciijos capitftes eràohúMá-
Duel de brito , & hu IManuel botélbo , (} hiào dirigidos
Eira yrS á China: & estes disserào que partira tàbê ho
outurPero vaz corregedor da corte por capitão' de buA
nao (| ieuaua ho officio de vedor da fazêda dtí Índia, pe«-
r6 ele não passou & tornou a Portugal. E >&do'b<; go*-
uernador ^.nâo yão ways nãos, nào quis ^ fosse a^lasá
China ^ & mandou as carregadas pêra pòrtugal , & per-
derãose no caminho. E prestes- bo gouernador de 'sua
partida, partiose pêra Chalé leuàdo consigo parte da ap-
mada de remo, fuisaaCochim^ a dar auianiento ás naus
^ auião de partir perá Portugal : & da volta l\ tornou se
ajQtou cÕ Manuel de sousa S ianeiro de M. I>. & xxxij.
£ viose CÕ el rey de Chalé , a qu6 deu òs Hiii pardaoã
por cdsentif Q se ãaesse a fortaleza como estaua cõòèr-
tado. E furão kigo cortadas hfias mil palmeiras () ocu-
pauào.bo cliSo onde a fertaleaa auia de ser edificada : &
feylas alguas estàcias dartelharia <} defendesse os Por-
tuguesas se el rey de Caliout viesse c& sua gele (por se
} presumir q^acodiria} ferSu- abertos* os aiicesses da forta-
eza CÕ grande festa de todos & tãger das trdbètas &
charamelas, & desparar de Ioda a artelbarià. E abertos
os aiicesses ha geuernador assentou a primeira pedra
vesúdo nii fieiute de velud<>& muito louçào. & António
de Saldanha a segQdai & dabi piT diàte os outros fidal-
gas í|. erào muitos repartidas por quartos que todos tra*
balhaiiA com a outra gente como quaes quer polà' anima-
ram ao trabalho^ & erâo sempre os primeiros (\ traba-
Ihauào. E eirey deCbate ajudaua tab^ cÔ aua genie# Ê
tio fl^ mtÊWomk Bâ ffiMâ
ho goiíeniAídor maadou primeírânète fasBr 8 redddo m
miifo9 dã fortaleza era ^ se poa tanta dilsgècia 4 em Kvj.
4íaa fiirâo em altura 4 ^^ aaaStoa a primeira andayna
ilartelharía noa baluartes. B cft quâio foy fama ^ el rej
de Calicut aula de yr eatoruar esta obra aftca ouaoii.
C A P I T V L O XUIIÍ.
■
De oame ho eepitSo mâr Diogo 4a tihuyra dettruyo ké
iugar de Tmuu
^abftdo ho XeQ de Tana (que Eytor da silueyra fiaera
tributário a el rey de Portuf^al ) que ho gouernador nãa
poderá toiaar Diu & <| Melí^ toeã fazia forte Ba<^im,
dSo quíi pagar as páreas a Diogo da silueyra quitdolhas
jnãdou pedir ; & cd quàto despois disso Ko mSdnu nitiea-
4^r i| Ibe faria guerra, toda via não quis, parecSdolhe
4 tinha cosias no sooorro l\ lhe podia yr de Baçaim da
muyla gSle Q hi tinha MeliQ toeáo. E; tendo Diogo da
ailueyra regimSto do gouernador (| na entrada do verão
fosse fazer guerra a Câbaya, quis logo começar STana^
pêra õde partio no começo Doutubro de trinta & bil c6
hQa armada de nauios de remo, em que leuaua trezen*
tos bomês de peleja, os mays deles espinsfardeyros, &
ficou por capitão da fortaleza o sen alcaide mór. B dt
caminho fez muyto grande desiruyçSo pola costa, qtiey*
«lãdo lugares , catiuãdo & matando gente , & cortando
palmares & ortas. B chegado a barra de Tanii, mandou
sondar ho rio & espiala, & soube t\ estaua muyto forte
por ter diãte bâa tranqueyra entulhada & bS artilhada
& ter muyto mao desèbaffcadoyro , por ser ho rio baixo
& durar a maré poiico , & aiitáo de jr hQ pedaço poia
vasa priífteyro ^ desembarcassS , & cd tudo isto deter«>
minou de desembarcar, te aasi ho assStou c5 seus capi*
tâes (} ho mesmo esforço ^ eie tinha, tinbSo pêra come^
ter 06 mouros {| cometerá ao outro dia cA a maré de po«
la Oi^iibaâ, indo soa catures peca ^ pod^^sS melhor mh
uvmo wii* CAPiTTLO xuniu lil
dar. O Xeque que sentio (} biâ, os foy esperar na trã-
queira cõ Ioda sua gSte de peleja j {[ eráo quatro mil
de pé, em que auia muylos frecheiros, &quinbSto8de
GBiiak>: & como os Portugueses forào a tiro de berço dá
tranqueira começou de jugar a sua artelharia, lançado
grade soma de pelouros, & os Portugueses passauão por
aotreles muy sem medo, &querêdo nosso sellor que liies
Bfto empecessem chegará ate onde os calures não pode-
rão passar, & ali saltarão na vasa, por onde forâo cA
uuy to |)erigo & trabalho a/errar cõ a trâqueira & acba^
râo algfia defensa nos imigos, de Q os traseyros sem Te-«
té por^ , começarão de se retirar pêra a cidade , & tãa
rijo como que fossem os nofisos a pos eles, & sentindo
isto os diàteyros ^ pelejauãó cõ muyto esforço, cuyda"*
rão c} era aquilo algõa cilada Q os Portugueses deytárfto,
& ^ os tomauâo no meo, de ^ ouuerão tamanbo medo,
d se poserâo em desbarato & fugirão por mays Q Ibebo
XeQ bradaua que bo não fizessem. E afroxada a defen^
ta da traoqueyra, sobiráo logo os Portugueses poias lã-^
%àty outros por Õde podião, &dào a pos os imigos ^ nê
Da cidade se alreuer&o a saluar , & fugirão ficado muy-
ioa mortos & calinos ^ & dos nossos não morreo nhfl : &
despejado ho lugav fuy roubado fc Qymado. E dado Dio-
f o da silueyra muy^taa graças á nosso sAor pola mercê ^
Hie fizera tornouse a embaccar , & embarcado acabou a
agoa de vazar & os catuies- ficara e» seco, o ^ deu as-
saz de fadiga, porque a gSte da cidade que eslaua re-
colhida by perto forâo sobreles, sabSdo coaio estau&o &
leiíarào algia ber^s c& Q Ibea ticaoSo & cÕ muytas fre^
ciladas : & nesle trabalho esieuerio ate 4 tornou a ma^
ré, & sem receberè nbíi dano,, anle» os imigos muito
da nossa artelharia , se Uaào poio rie abeiao aie ^ sair-
lãot ae mar.
tât t>A HIflTOfttA DA CNMA
C A P I T V L O XLV*
De como o capUâo mór Diogo da silueyra dest$tafo
ladt Bondava.
J^aquí partío Diogo da «ilueyra pêra outra vila tnaii
auãte cliaiBada Bandora, que soube -^ Meii^Tocá sfior
dela linha muyto fortalecida gÕ hua traii{|yra da Bãda
do rio 9 & outra (J nacta de bOa põta da^Ia & se eaten*
dia pêra o «ertão, ambas de duas faces, & entulbadaS|
& assentada nelas muita artelharía, & auia cinco milho*
in6s de pè, de J} muitos erã Rumes & oyto oStos deca^»
uaio. B.estaua este lugar metido, por hQ rio acima. E
chegado Diogo da silueyra á barra pos em pratica aseua
capitães & aos prlncipaes da frota se daria naquele 'lu*
gar, dizendoliie sua fortaleza & a gente que tinhai &
todos acordarão que se cometesse, porQ quasi tão forte
estaua Taná & ajudaraos nosso senhor, & assi auerta
por seu serui(jo de o fazer entã. Ecoisto entrarão todos
polo rio dentro bSa 4iienhaã, & sabendo os mouros co-
mo entrauão quiserão Iho^effMider cÔ a arteJbaria, que
de hiia das tranqueiras varejaua bem pelo rio abayxo,
& erão os pelouros tão bastos, que fizerão fazer tanta
detença aos nossos que quando chegarão perto do lugar
era noy te , & por isso não quis Diogo da silueira 1\ de-
sembarcasse, & chegouse da banda dalém do rio pêra
passar ali a noy4e, que toda se gastou em bombardadas
^ se tirarão hi&s aos outros a montão sem se fazer ne-
nh& nojo: & como foy menhaã os mouros acodirã logo
á praya a esperar os Por-tug ueses como ^ auiâo por inju-
ria esperalos detrás. das tra^iqueiras. Diogo da sílueyra
porque a gente não auia de poder desembarcar se nam
nos catures & bateis mandouha passar a eles, & parlem
pêra terra a boga arrãcada passandolhes por cima muy-
tos pelouros dos imigos: & quando abordarão com terra
acharâna cuberta de mouros ^ & diante os Rumes por
LwiBLO vnr. cAPrrvLô xlv. 113
najs eaforçados , de Q os mais erSo espfíngardekos , Q
defi^pararão hOa grade tjurriada despi ngardadas, & os
nossos a eles, & ê quãto ela desparoQ saltarão algflsna-
goa, & assi Diogo da silueyra cÕ a foandeyra, pelejando
todos CÕ muyto esforço, por{{ os itnigos apertauão quã-
to podião por lhes estoruar !\ não tomassem terra , bo ^
nâ poderão fazer, principalmente os Rumes Q mais tra-
balharão nisso, ale perderS muitos as vidas ho {[ vedo
os outros se retirarão, cõ l\ osGuzarates Q tinhão neles
seu esfi>rço ouuerão tamanho medo () se desbaratarão &
fugirão, hiis ao lÕgo das tranijyras , outros poias portas
delas caminho do lugar, & sem se deter nele se acolhe-
ra: & os nosi^os os fura matado ate despejarS o lugar:
& durou a peleja hõa grade ora, 6 Q muytos dos imigos
forão caliuos, mortos, & feridos , & dos nossos feridos
aigâs. E sacado ho lugar foy todo queymado & destrni-
do á vista dos mouros que estauão recolhidos by perto :
& parecia () nosso sefior lhes punha medo dos nossos Q
não ousauão de os cometer vgdose vencidos en tão pouco
tSpo. Epor 08 nossos estarS muyto casados & fracos nã
quis Diogo da silueyra mandar Sbarcar a artelbaría Q
estaua nas tranqueyras , & cÕtStouse cõ destruyr ho lu-
gar , j| foy assaz de perda perá os mouros |K)r ser de
grande trato: & dali se foy pola costa de Cambaya |>or
Òde âdou toda a parte Q ficaua do verão cÕ sua armada
repartida S esquoadrões de três & quatro velas , oõ ^
lhe não escapou nh& dos nauios !{ hiâ de hias lugares da
costa pêra outros cÕ suas mercaderias, de ^ tomou muy-
tos , & outros !}ymou & meteo no fúdo. R tamanha era
a destruyção ^ fazia í\ não ousauã nenhus de sayr dos
portos, o !\ foy causa deste anno auer muyta quebra na
rSda dalfàdega de Diu db {} rSdia os outros annos, &
ouue muyto grade falta de mantimStos, & de todas as
cousas (| hião da outra costa da Sseada. E não sòmSte
fez Diogo da silueíra esta destruição no mar, mas tam-
b6 na terra, em íj queymou muytns pouoações, & na-
uios ^ estauão varados, ê^ caliuou obra de quatro mil
LIVRO VIII. p
114 PA HiaTOAIA DA fNDIA |
aimas & lomou muyta mercadoria, maatiinètoil , &
áejra. E de tudo isto ouue el Rey de Portugal aua par-
te , por(| Diogo da silueyra foy fao primeyro (| cÕ apra^
zimSto dos soldados í\ ieuaua, tirou o custume ^ aiiim
dates Q el rey nã ouuesse parle nas presas ^ se fasião
eõ os nauios de remo , & eiilã as ouue , em Ç sua fasfi*
da recebeo muy to proueyto » porj| do dinbeyro Q Ibm
coube á sua parle pagou quasi todo ho soldo Q ae deuia
aos seus soldados & dos caliuos {[ tomou se esquipou a
mayor parle dos oauioB de remo da armada dalndía, &
ouue muyta roupa pêra ho trato de Chaul pêra çofala ,
& muyta madeyra, & mantiroeDlos. £ quasi na fim <k>
verão se tornou a Chaul onde auia de ter ho inuerno,
ficado os mouros tâo daneficados, Q muy to mays hosen*
tirS do que poderão sentir darse fortaleza em Diu : &de
Chaul mãdou Diogo da silueyra ao goueraador Q fasia a
£>rtaleaa em Chalé cêto & vinte caiiuos pêra trabalharem
irela»
C A P I T V L O XLVL
De <mn9 se kuantau Damião bernaidez ^ do ^fez»
Q
uando ho gouernador tornou de Diu pêra Goa , deu
per intercessa de Simão ferreira seu secretario, licSça a
bumChalim Português que auia nome Damião bernaldee
pêra yr tratar a Bengala em hum seu nauio. E indo d«
TÍag^ tomou na costa deBaleacate muylasChãpanaa de
mouros & de gentios amigos dei Rey do loão dePortu*
gal^ que nauegauáo com seu seguro, & matando coro
muyta crueza quantos hião nelas as roubou, & feyta
muyto mal por esta costa ^ & deyxãdo a gente muy e»*
eandaliaada,. se foy á de Bengala. £ estando na ilha
de Negamale foy ter coele hiia galeola de Rumes , em
qtie yriãabem quarenta homens de peleja , de que pe-
lejando coeles matou dezoyto & catiuou vinte dons , &
raays tomou a galeota, em que achou muyta riqueza*
B nela & em outra que despoys tomou, fez bem feylos
LIVRO Vlir. GAPlTfLO XLVI. 116
vinte mil cruzados qoe goardou fiera ai , sem dar parte
aos soldados que lhos ajudarfio atoroar: &agaleotacoHi
aua arlelharia deyxou pêra dar ao gouernador, & bo a-
paaigoar se leuesse dele menencoria por se assi aleuan-
tar. E parece que bem ho adiuinhaua , porque estande
xlespoys em Bfifala na barra do rio de Cbeligáo onde
estaofto dezasete oauíos de Portugueses , foy dada bfla
carta dó gouernador da índia ao Goazil da cidade de
Cbetigão, & a Cojeçabadim (bo Mouro em que faley
no liuroSeptinM) em (| Ibes rogaua muyto que prendes-
sem Damião bernaldea & quantos hySo coele, & quSde
ho nJlo podessem fazer, os matassem , & lhes queymas^
eem ho nauio com a fazenda, poroue andauâo aleuanta*^
^os & tinbão feycos grandes males, c5 que el rey de
Portugal era moy deseruido, & que sobristo gastassem
ate três mii pardaos () se obrigaua a pagarlhes. E esta
carta escreaeo bo gouernador, porque soube os roubos
que Damião bernaldez fizera na costa de Baleacate , fc
esta carta mostrarão bo Goazil &Co)e çabadim , a bum
Nuno fernandez freyre: & a Nuno lobo criado do gouer*
nador : & sabendo deles que ho sinal da carta era seu ,
disserfio Ibes que polo seruirem queriSo prender Damião
bernaldez pois ali estaua , & eles lhes disserão que be
não fizesse porque sabíão que Damião bernaldez se que*
ria yr apresentar ao gouernador, & por sinal lhes tinha
emprestada a galeota que tomara aos Rumes pêra com
outros se yrS em siia conaeraa pêra a índia , & não lha
quisera vender comprandolha eles, & escusara se disso,
c9 dizer 1} a goardana pêra amansar coela o gouernador^
& Q se não determinara de se lhe yr apresfitar t\ lhes
vSdera a galeota, por isso 1} bo não prfidesse, & mays
por não aner morte dos Cristãos <) não se escusaua se o
quisesse prSder : & disto (| disserão derão eada bQ sen
assinado ao Goazil & a Coje çabadi , 1\ Ibes pedirão pe*
ra sua disculpa cÔ o gouernador , de não lazerS seu ro*.
go, & disto não soube Damião bernaldez tiada. E esta-*
do ali na barra deChetigão ya de noite a terra & furta*
p 2
lis DA HISTORIA DA ÍNDIA
ua muyta gSle & mataua os homês , & prSdia os oiòçmi
debaixo de cuberla» E hu dia andando na ribeyra hu
juouro honrrado que era capitão da cidade , que ua lin*
goa da terra se chama Gormale, saltou Damião bernal*
dez em terra supitamente & preudeo ho, & auia tan
pouca gente na ribeyra que bo pode prender a seu sal*-
uo 9 & deu coele no nauio deyxando feridos os que ihe
^uiseráo acodir. E logo como isto se soube na cidade
iorSo presos . dezaseys Portugueses que eslauão nela &
tomarâlhes suas fazendas , & assi derâo rebate em húa
ieyra que se fazia dahy a duas legoas pêra prenderem
outros que ia andauào: & estes sintindo ho que lhes
querião fazer fugirão pêra ho mar & saluaranse nos na*
uios. Os mouros porque Gormala era pessoa muy prin*
cipal desejauâo de ho cobrar , & por isso mádarào dizer
a Damião bernaldez que Ibo desse & que lhe dariào os
Portugueses: & ele não quis polo grande resgate que
esperaua por ele. £ os mouros leuarâ entáu os Portu*
gueses á praya^ de ^Damiá berohldes estaua tão perto
^. os podia ver & ouuir & despindo os nuus começarft
de os açoutar muy cruelroête, pêra ^. auSdoDanuâ berr-
naldez piedade deles desse Gormale. JMas ele era tS
cruel & amigo do dinheiro^Q esperaua por Gormale, que
Dunca o quis dar. O que vendo os mouros tornarão a
recolher os Portugueses.,
N
GAPITVLO XLVIL
Do mays quefezDmmiâo Bemaldezi Eeomo morreo.
\ estps tempo estauâo na* galeota que Damião beraal*
dez tomara aos- Rume», Nuno fernandez freyre (que a-
gora mora em Lisboa) Diogo de camÕes: & outros Pob-
tugoeses a que Damião bernaldez emprestara a galeota
pêra se yrê caminho da índia com suas fazendas em-sua
conserua. E vendo Nuno fernãdez as cousas que fazia
bernaldez taalo cÕbra ho seruiço de Deos & dei
LIVRO VIU. CAFIT7U>' XCrif . # ^^T
rej^ & niaispor se yr gastando a moiiçáò &' seven pBPf
tidos 08 mais dos nauios dos portugueses que ali esta^
uào, pareceolhe Q Damião. hernaides não. queria tornar
á índia , & por isso determinou de se yr com a galeota
sem sua licenc^, se acfaasse quem ho ajudasse: perahó
que falou logo com ho piloto de Damião beroaldez qu«
estaua na galeota & com ho mestre & com outros quf
couuerteo a yrense, por não encorrerem na pena em que
Damião bernaldes tinha encorrido por ser leuantado. E
concertado isto na noyte seguinte três ou quatro oras
ante menbaã que a maré começaua de det^er, cortou a
amarra da ancora de- montante ^ & começou de mandar
leuar a outra da jusante bo mays quietamente que po*
derft, & como coroe<;ou de se leuar assi a galeota come-»
çou de yr poio rio abaixo, ho que sintindo algfts de Da^
jniâo bernaldes que estauáo hy perto em hú seu bargã*
tim começarão de bradar que se ya a galeota. Nunofer*
nandez & ho piloto fizerào ^ caçaua , & ^ entào o sin*
tifto j & fazSdo ^ se apareihauào , acabarão de leuar a
ancora , & íuràose , indo M uno £^rnádez ao leme : &
polo escuro § fazia deu algilas vezes 3 seco, & cõ tudo
quis nosso se&or Q cfi aquela vazàte chegarão a barra ,
& daby tomarão seu caminho pêra Ceylào dõde se auião
de jr a índia. E em amanhecendo soube Damião ber-
sal dez j) a galeota era partida, & determinado de jr a
pos ela pêra enforcar quàtos hião nela soltou Gormale a
troco dos Portugueses, ja !^ não tinha tem[)o pêra auer
por ele ho resgate i} esperaUa. £ indo caminho da bar*
ra deu ho nauio tamanha picada em seco {) lhe saltou
ho leme fora por nâo ter leua & perdeose, & vedo ^ náo
podia nauegar sem leme mudouse ao bargàtiiu & bolou
a pos a galeota, que lhe leuaua tanta auaiagem Q. nuca
a pode alcã<jar, & Nuno fertiàdez cõcertuu secretamête
f 5 bo piloto ^, não louiassen> ho porto de Colubo ê Cey-^
Ião ondestaua a nossa feyioria^ por{) poderia chegar en^
Ire tãto Damião bernaldez, & dizer ao feylor <) lhes le*
uauà furtada a^la galeota & re^rer Q os prendesse ^ &
llt Há HimnnA da, indm
OB SlmnH^ift) & por ifso lirarSo pêra ho cabo deComorl
guiando ho piloto toda hila noyte pêra ho mar por oâo
yrê ter a Coiflbo : do qoe a gfite ae agaatoa muy to qu2^
do no dia aegtiUe oâo virão terra : & ho piloto dissímiH
lou dãdose a oulpa de gouernar mal. E dobrado ho cabo
de ComorI , acharão hu catur de Portugueses a cujo ca*
Eitâo rogou Nuno fernãdez que lhe poiesse em terra doui
omSs que erâo da cdpanbia de Damião bernaldez que
quJserão yr coele coessa condição, & maia por lhes pro*-
neter de lhes auer perdão do Gouernador , & dpulhe
9Ínte pardaos pêra gastarem entre tanto. E daly se foy
a Ck)chl & depois aCbale onde ainda estaua o Gouerna-
dor, a que deu conta do qne fizera a Damião bernuldea
& lhe entregou a galeota : & o Oouernador lhe agrade^
ceo muyto aquele seruiço que 6zera a eirey de Portu-*
gal. B Damião bernaldec que ya a pos a galeota, ehe*
gou á enseada de Bilgão onde achou Diogo de camSes
que Nuno fernãdez by deixara^ & quiserao enforcar por*
que lhe a)udara a leuar a galeota^ 8& deixou de ho fazer
por rogo de Nuno lobo & doutros que yflo coele no bar^
gantim : & temendo que ho achasse algils capitães Por*
tugueses & ho prendessfi sabfido como andaua, deixou o
bargãtim a Nuno lobo l\ ho leuasse ao gouernador &ele
desembarcou 6 Negapatão pêra se jr a BiRnetrsr & auer
dahí perdão. E estando em Negnpatão faz6do se prestes
para ho caminho, soubeo hH Mignel ferreyra {) estaua
em Baleale por capitão, a (} ho gouernador Nuno da
45unha escreueo sobre Damião bernaldez ho Q tinha es«
crito a Goje qabadi & ao Goazil de Chetigão, & foy ho
pr6der« E carregado de ferro ho mãdou a Gomes de
souto mayor capitão da pescaria do Aljôfar, q ho man-
dou a Coulão, donde foy leuado a Goa, & estado hy
preso no troco & sentSciado em dez anos de des^redo
pêra a ilha de sctã Helena faleceo, auSdo primeiro o
gouernador oito mil cruzados que tinha escondidos.
Livmo mr. cAPrmLo ^ltiii. , 119
C A P I T V L O XLVIII.
De como Jlntonio de Saldanha fúy pwr eaptíâo mór aú
cabo de Gúaraajúm.
JlXo gouernador Q fazia a fortaleza de Chalé cÕ ajuda
dos fidalgos Q ho ajudauão, & assi doutra gente Portu**
guesa {} estaua coele ^ lhe deu cabo em tão breue tem-
po Q a gele da terra ficou esp&iada : & muyto maia ei
rey de Calicut, ^ nftca ê todo este tempo ousou de mã-
dar gSte a defender a^la obra , posto Q deitou fama \
ho auia da fazer. £ muylo sentia o atreuimCto do go-
ueraador <) assi lhe fazia hfla fortaleza nas soas barbas^
h ho muito (} perdia nisso de seu credito. Ea fortaleza
aeabada ficou em hâ capo raso dõde descobria ho mar
& mruyto perto, era quadrada & è cada quadra tinha hCL
baluarte muito forte, & os panos dos muros Q cornãode
baluarte a baluarte erio de ciocoenta pês de largura, &
da faáda de détro ao Idgo do n^iiro estauflo as casas dos
•fficsaeis da fortaleza & as dos frontey ros, & no meo cs^
taaia a torre da meadjem, tambS muyto forte & toda hè
artilhada. A capitania desta fortaleza deu ho gouerna*
dor a Diogo pereyra por ser seu priuado posto que era
muito velttt), & lha pedião outros homSs de roays serui-*
ço, & Q erã mais pêra a defêder do Q ele erar & dey-
xando qq mar por capitão mor a ht fidalgo chamado Ma«
Quel de sousa natural Deuora com h4a armada de tre-
zêtes honiSs ^e partio pêra goa , onde aebou af)ercel)3*
dose António de saldanba pêra yr ao cabo de Goarda^^
íum, ao que ho mandaua por capitfto mór de hQa arma*
da, de que forão capitãea a fora ele i^ ya no galeSosâm
Iflateos, Vasco pirez de saro payo em Lambia morim,
dam Fernàdo deça na galeaça , Amónio de lemos nos
Reys magos , Diogo boteiho pereira em hft galefio, que
iby feyto em Chaul., & em duas galeotas dS Pedro de
meneaea & Alanuel-áe tascCcelos, ^ leiíaaa debaixo de
ItO DA HISTORIA BA ÍNDIA
8ua capitania certos bargãlína. E coesta armada partio
António de saldanha na êtrada de. Peuereyro de mil &
quinhêtos, & trinta dous, & no caminho lhe deu hfla
grande tormenta cõ {| Diogo botelho esteue <\\xíís\ perdi-
do , & milagrosamSte o saluou nosso sfior & arribou a
Chaul : & nSo pode yr cõ António de saldanba.
G A P I T V L O XLIX.
De como Rayx cde quisera matar elRey Dormuz seu
frmâo.
Q
uasi a pos A-ntonio de sa{danha partio António da
silueyra de meneses pêra Ormuz por màdado do gouer*
nador pêra jr seruir a capitania da fortaleza Dormuz, ^
vagara por morte de 'Crístouâp de mêdoça , & seruia de
capitão Belchior de sousa tauares que dantes era capi-
tão mor do már. E foy cõ António da siliieyraLuys fal-
cão «eu sobrinho, pêra ser goarda mor dei Rey Dormuz*.
E chegado lá António da silueyra, & êtregue da capi^
tania da fortaleza, el rey Dormuz se lhe queisou de nu
seu jrmão homS de dezoyto anjios, que ho queria matar
por fauor & induzimento de sua mây , Q por Ibe Qrer
mayor bem {{ a ele^ ^ria {| fosse rey antes 2) ele, & que
hQa noyte fora achado debayxo do seu catele cÕ hOa a-«
daga , & por isso ho mãdara pnSder : & por ser ho caso
de tâta importficia & não auer dissensões no Reyno, não
quisera fazer justiça dele como lhe merecia, pedindolhe
q ho mandasse á índia, por^ sabia certo Q não fazia a-
quilo se não por induzim6to de sua mãy , ho ^ António
da silueyra fez por pacificar a cidade, em !\ começaua
dauer bandos por a(}la causa. R no mesmo nauio em ^
António da silueyra foy , mandou ho jrmâo dei rey que
se chamauaRayx ale com toda sua casa, escreuendo ao
gouernador a rezão porque ho mâdaua. E ho gonerna-^
dor ,bo recebeo muyto bS , & lhe tiomou sua fé segado
siiia ley, de nã se tornar a Ormuz sem sua licença, por->
LIVRO VIII. CAPITVLO t. I$j[
•^ue 86 soubesse 2} fazia^ ou queria fazer ho contraíro
que bo mandaria pêra Porlugal. JS ele .propaeleo de bo
fazer, .& ho comprio.
CAPITVLO L.
De como Manuel de vetsconcelos ^ outros tomarão a nao
çafeturca.
\^'hegado António de Saldanha ao cabo de Goardafum,
sem lhe acontecer cousa que seja de contar, vendo que
não fazia ali nenhâas presas, m»ndou Manuel de Vas-
cdcelos que fosse com os bargãtins ao porlo de Xael^
pêra ver se achaua hi aigQas naos^ -que por ser tarde
aueriã dinuernar. £ mandou estas velas porque .por se-
rem de remo não serião sintidas , & auião de hir mais
asinha que os galeões, & por isso ficeu coeles a trás pe*
ra jr de vagar. E chegando Manuel de Vasconcelos de
supilo, achou hi hõa nao deCambaya chamada çafetur-
cá, que seria de oytocentas toneladas, & por sua gran-
deza, ^ era a mayor de quantas andauã naquela carrei-
ra era n^uyto nomeada. E ho capitão esl-aua cõ deter-
minação de Tnuernar em Xael, & na sayda do inuerno
antes ^ fosse verão de todo jrse a Diu , & auSturarse
antes ao perigo do már, ^ ao de ser tomado dos Portu-
gueses. E a mesma conta fazião outros muytos mouros :
& por isso os Portugueses não achauão presas auia deus
annos. E vSdo os mouros desta nao descobrir a nossa
armada, foy ho seu medo tamanho que não ousarão desr
perar, & fugirão pêra terra, leuâdo todo ho dinheiro
que tinhão, & algflas cousas leues, &. íicoulhes a car-
rega 'grossa. E por sua fugtda não teuerão os Portugue-
ses quem lhes resistisse tomala« E Manuel de vascõcelos
nieteo nela hii quadrilheiro & hQ feytor pêra {) se entre-
gassem da fazenda I) tinha & ele cõ os bargantins se
pos em goarda dela, ate chegar António de saidanha, J\
chegou, dahi a dous dias# £ vendo ele quo no porto não
LIVRO VIII. a
ISS 0A HliTOUA 9á nf0IA
Buia mais dem^ & Q se chegaua ho iouerno p«rlme pe»
ra inazcate , onde determinaua dinuernar » & hi foy vfi-
dída a fazSda da nao & o casco. £ passado o ÍDoerno
parliose c5 a armada pêra a ponla de Diu, & mãdou
Manuel de vascõcelos ao lõgo da costa cÕ algCls bargã-
tis, & tomou outra nao de mouros de diu, ^ bia de Me-
ca muytQ rica j <} despors kiy vSdida 8 Chaui cò toda
sua carrega. El no dinheiro que se £ez nela & na çafe*
lurca se mõlarâo perto de dozStos mil paidaos. E assi
deu Manuel de Vasconcelos caça a hii gaieft de Calicut,
que por Uie fugir ínúa da ponta pêra se meter em Dia
deu em hua lagea & perdeose, & afogaranse os oaaisdos^
mouros. E S quasi dous meses ^ António de saldanba.
aqui andou nâ fez raai» presas: & partiose pêra Goa on»-
de entregou bo dinheiro que leuaua..
G A P I T V L O LL
JDe coma ha gcuernador dettrminou de tomar afortalesa.
de Baçojfm.
JAI este arnna de mil & quinhentos & trinta & dous foj
a armada \ bia de Portugal pêra a índia repartida è
duae capitania» mores , hOa leuou dõ Esteuão da gama^
íilbo de d5 Vasco da gama cõde da Vidigueira & almi^^
rante do mar indico, que bia prouido da capitania de
Malaca na vagante de Garcia, de sá^ & bia debaixo de
sua capitania Vicente gil armador^ cuja era a nao em
^ hiaw A outra leuaua dom Paulo da gama, birmão de
dom Esteuão, prouido tambS da capitania de Malaca na
sua vagSte. E debaixo de sua bandeyra hia hft António
earualbo. E destes capitftes dÕ Esteuão inuernou em
Moçãbique , & os outros cõ mu jto grade trabalho pas*
sarão á índia Õde chegarão a^ie anno S diuersos t^pos
cd mujlos doètes. £ nesta armada foy bu Bispo chama*
do dõ Fernando que fora frade de s^im Francisco, pêra
reformar na índia ho estado edesíastioo, & dar ordès &
LIVRO ¥111. CAWnWíéO Lff. ISS
«csriMMff : Ic eu bo outti pregar ê Goa louylo bê^ donds
ho gouernadar deapaciíoii^ Anlociío de saJdaoha por ca*-
{silão már das nãos da carga , que forfio três & hfi jun*-
go H partirão na fim de dezembro do mesmo aono. B
4ambS estando bo gouernador em Diu soube de certa
certeza Q Melique toeâo tioha feita em Baçaim hua for*
laleza muTto forte & que ae criaua ali outro Diu ^ & 4
iMperaua oe trazer ali as fustas de Diu pêra que tolhes-
sem aos nossos que não passassem a diante. Ecomo ho
gouernador se temesse de yrê rumes á índia porque se
fossem tomauão aquela fortaleza aehandoa em terra tS
fértil coroo aquela be, & situada ao longo de hfl tam bS
fio como ho de Baçaim : pelo que a índia ficaua em
muyto grande perigo se os teuesse tão vezinhos, & por
isso determinou de jr sobreia & destruyla, & sem dar
conta a ninçuem se começou de aperceber pêra hirqua^
si no cabo do verão , em que Diogo da sihieyra auia de
ler feyto muyta guerra a Cambaya.
C A P I T V L O LIL
JDe como Diogo da sãutyra tomou as cidades de Patane^
Patê ^ Mangalor^
JL/iogo da silueira que inuernaua em Chauri pelo regi**
mento que tinha de fazer guerra a Cambaya partiose
pêra lá com sua armada logo na entrada do verão , &
foy correndo a costa ate Diu , fazSdo os catares muytos
saltos por toda a costa , era que fizerâo muyto grande
dano, & coisso estaua a gente tão espantada que não
se atreuia a saluarse menos de seys legoas peb sertão
onde se acolhia, & pola ourela do mar não auia nin**
guem , & nenbus nauios ousauão de yr a Diu , nB as
fustas ousauão de sayr , com quanto Diog^o da silueyra
andou a vista de Diu algfis dias» E vendo lele que não
fazia ali nada passou auãte caminho de hâa cidede cha«-
mada Pataiie doze legoas de Diu na mesuia costa de
a 2
1S4 "^ DA HISTORIA BA ÍNDIA '
Cambaya, situada á borda de hft arrecife cercada de
muro , & na praya bA baluarte que varejaua ho desem*
barcadoiro , & diante dele hfla forte tranqueira bê ar-
tilhada que goardaua maytas nãos que dentro dela es-
tauão varadas, por ser cidade de grande trato, & po*
uoada de muytos mouros mercadores. £ a fora isso ti-
nha ei Rey de Gãbaya ali gente de goarnição, de que
muytos erão Rumes dos i} Rumecão leuara a Diu, &
com a gente da cidade seriam bem três mil homeês de
peleja: ho que tudo soube Diogo da silueira por ho ca-
pitão de hum Calur, por quS mandou espiar esta cida-
de: que também lhe disse ^ a sua desembarcada não
podia ser se não diante da tranqueira. £ cd tudo ele
assentou cÕ os outros capitães Q dessem na cidade & a
tomassem cÕ ajuda de nosso senhor , em i} esperaua ^
os ajudaria. £ cõ esta determinação partirão pareJa da
pata de Diu , estando a gête Q estaua nela bê descui^^
dada de tal ida, assi. por a cidade estar muyto afastada
das nossas fortalezas como por até aquele tempo nhiia
armada nossa chegar àquela costa. £ quãdo ho capitão
de Patane vio a nossa frota ficou muito salteado, por^
sabia* ho grade dano 4 tinha feyto na outra costa de
Cambaya, & mais i} pêra passar ali auia de ser visto
das fustas de Diu , que lhe auião de contrariar a passa-
gem, & por isso ho salteou muito vela no seu porío: &
BiSdou logo muyfca parte de sua gête acodir á trâquey-
ra pêra defêder a deserabarcaçS dos Portugueses ^ des-
poys de serê assoitos por hii clérigo Q lhes fez a confis-
são geral rendarão pêra terra em seus bargantins & ca*
tures & sem temor dos muytos & muy grossos pelouros
^ desparauão da tranqueyra & do baluarte rêperão por
eles ate pojar em terra cadaha por onde podia , & assi
desêbarcou Diogo dasilueyra cõ a bandeyra real, & nisto
Bão auia ordê nê esperar por capitães , se não quê pri-
meyro podia (por^ na índia este he ho próprio cometer
dos nossos) Sc pêra quam perigosos os lugares são pare-
ce 4 he ássi melhor qae doutra maneyra , porque quê
LnrftO • Vill. ^CAPITV1X) 'lAI. -125
desembarca nas boeas das boi^barddB sem tér »bj!l em*-
paro se não ho de nosso silor (| he ho ▼erdadeyw parece
^ se não desembarcasse coesta presleaa , & esperasseBi
eôcerto Q os mataria a artelharia a todo». Assi^ desem-
barcados os nossos como digo, remetS a tranqueyra ca-
da hfi por seu cabo & aferrarão coela goardãdo os nosso
sflor da artelharia que lhe não (itesse nojo, & vSdose os
imigos assi cometer depojs de se defenderS hum pouco,
«em que morrerão alg1Í8da8> nossas espingardadas alar-
garão a tranqueyra , recolhêdose pêra a cidade , de ^
lo capitão acodio cõ gSte de refresco, & mandado abrir
a porta pêra sayr chegarão a ele os seus i\ fugião da
tranqueyra, ^ vinhão com grade pressa poios yrS os
nossos ferindo nas costas» £ quando acharão ho seu ca^
pitão esforçarão & voltarão aos nossos esfor<^ndoos ele ^
pelejou como muyto valente caualeyro, ho que foy cau-
sa de o matarem cõ outros algus dos seus em hii pedaije
fl aqui pelejarão muy bê , & estes que morrerá forão
Rumes. Evendose os imigos sem capitão desacoroi;oarã
de maneyira ^ fugirão, & os nossos entrarão na cidade
a pos eles ferindo & matado, & fizerão maiãça espanto^
sa assi nes soldados coroo em outra gente l\ não era de
peleja de que catiuarão muyta. E Diogo da siiueira não
consintia que os seus saíssem fora da cidade a^ pos os
imigos , por^ estauão cansados. £ despois que os lança*
rão todos fora repartio os nossos em quadrilhas , & mS-
dou saquear a cidade & leuar todo ho despojo que foy
muyto á praya pêra se repartir despois, & acharão man-
timStos sem cÕto, de Q a frota ficou b& bnsteeida. B
sacada a cidade foy queimada oõ muylos mouros Q es»
tauão escõdidos nas casas, que cõ os ^ morrerão na ba-
talha foy htia boa soma» Edos nossos quis nosso senhor
que não morreo nenhu. E assi fovão queimadas quorSta
nãos & zãbucos Q estauã varados , & b& galeão Q che^
gara de çuez auia dias carregado de rumes. £ feyta es-
ta destruyção & recolhida a artelharia dos imigos á nos-^
sa frota, embarcouse Diogo da siiueira cõ toda sua gea-
te^ Q iaU ficou rica, & tornâdose soube da%Ai MMifdf
que tomou em hils xâbucoa, que auSle de Patase pêra
£0 norte ealaua na neaoia eoata outra cidade cbamads
Pale muyto jnaya forte que Patane^ eò inuytaa ealaii^
cias darlelharia pelos muros da banda do mar , & oooi
foaró eiíea lhe batia bo mar do muro , & estaua dfitm
mu; ta gele de peleja todos Guzarales: & parLiase Jogis
pêra li €Ò determiaaçio de a tenar^ & ás ooee horas
do dÍA pouco mays ou menos chegou diãte da cidade cj(
• víraçio^ eujas esticias os imigos tinhào rauylo emhdt-
deiradas. E ehegãdo os nossos a tiro de bõbarda da cif-
dede despararáo sua artelharia respõdSdo a dos imigos,
que nâo ousaufto de aayr da cidade , & assi desembar«-
'CarSo sem receberS nenbQ dano, & remetSdo ás portas
da cidade as arrobarão, o j} vendo fao capilão dos imí^
gos Ibe acodio logo com muyla gente : & defendeoas €$
tanto esforqo {} nunca as desemparou, ate perder sobrisr
SO a vida, & bssí cftto Q estanio coele na dianleyra, dt
Q os mays morrerão despingardadas , & dos nossos quis
nosso senhor ^ nenbã : & eft a morte do capitão & des^
tes se retirarão os outros a trás, & ficou lugar aosPor«>
tugateses pêra iQ entrassS na cidade em que se os imi«
gos defenderão muy to bem em aigflas ruas , & por isso
forâo muytos deles mortos, & por derradeiro fugirão &
deyxarâo a cidade que despoys de ser queymada, &defr
truyda como a dePatane, par tio logo Diogo da silueíra
para oulra qu€>siaua mais auâle quarenta legoasdeDiu^
chamada Mágalor, situada na boca de hum rjo 6 costa
braua & tinha ha bd arrecife^ cidade principal dai-la
cosia toda rasa, & sfi nenhfia fortaleza pouoada de mout
ros mercadores ^ {| sabfido a destruição de Patê & Pata^
ne ainda questauão tflo fortes , nSo se alreuerão a de-^
fenderse posto ^ tinbão muyta gente de peleja, quecha<»
marâo pêra os defender despoys que souberâo l\ os Por<>
tugueses andau&o por aquela costa, & despejarão a ci-
dade & se forâo , & por isso os nossos ná teuerão mays
Q fazer que queymala cÕ muytas nãos que estauSo vá»
Lwmoi vm. câFiTTt.0 luin 1S7
mdas* E dcapcys de queym^Ktas estas: cidades em que
Diogo da silueyra foy em pessoa , queymarão oe seus
capitães muitas pouoaçdes sem ele sayr em terra^ & &-
«erão tamanha destruição que se despouoou toda a cos^^
4a & não ousaua nenhua gente de ehegar ao aiar eô me«-
úo àe não catiuarS mays, que focão muytoe: & tomada
mujta arteJbaria pêra el Rey , & muyta fazenda a fora
a tias partes Q todos foii muyto rieos, & quey marte
muyta ri^za por não terõ nauios em Q a carregar» £
JMeiique capitão de Diu não podia acodir por a ocupai
^ão ^ tinha em fazer Baqaim , & punha ali tâta força
por lhe parecer que coela defenderia Diu , nem mencs
acodia el Rey de Cãbaya por muyta guerra i} lhe fazião
eeos imiffos pelo sertão ( como dírey a diâte. ) E não su-
chando Diogo da silueyra que» lhe resistisse continuai-
na a guerra tornando outra vez a ponta die Diu a espc*-
sar as nãos que fossem de Gambaja pêra Meca , que
com seu medo nã ousou nhQa de sayr aquele anno , no
^ el rey de Cambaya recebeo muyta perda fi suas alian^
degas.
C A P I T V L O LIIL
De como Jfodncâ fez wm com ho gauernnãar , ^ lhe
deu ast ktnadãrias de Sahete pêra el Rey de PorHtgaL
jl\ oTevceyro & Quarto Liuro se fez m^ção de faâmoif*
90 chamado çufelarim escrauo fc capitão do Hídakfto a
que Afonso dalbuquei^ torooa a ilha fe cidade de Goa ^.
a que ho mecmoHidalcão por fazer honrra llie eoncedeo
que se podesse rkamat Cão, & isto por ser este nome
antreles de muyla honrra, & se chamou A(jadaeâo, que
despoys por ser bÕ caualeyro & de muyto seruiço o ça-
bayo & seu filho Hidalcão que lhe suscedeo no senhorio
o lizerâo dos principaeis de seus capitães, & lhe derão
terras na comarca de Salsete, & anlrelas foy Pondá &
Biigâo que he ao pè da serra do Gate que ele despoys
fez hOa cidade muyto forte cercada de muros, cobelos,
It8 DA HTSTOafA JDA IimiA
& 4:aua , ao modo das nóaaas , & deuse tam ^boa maaha
^ tinha maya de quarenta contos de rêda, & muita gen»
te de peleja assi de caualo coroo de pé & alyfantes ^ &
despoys doHidalcâo era a segQda pessoa em seu sen ho^
rio assi de terras , gente , & renda , & cõ tudo era es*-
crauo .do Hidalcâo, & cada vez (} ihe viesse á vontade
despoelo de seu estado o podia fazer, & por isso andaua
ele sempre receoso de isto aer assi, & nesle tempo veo
a saber que boHidaicâo ho queria fazer, porque homjit-
<lou chamar, !\ era a mayor certeza de ser assi, porQ
estes senhores de marauilba mandão chamar estes capi-
tães se .não pêra lhes tirar as terras que lê & nmtarS*
noa. >£ como Açadacão lenesse esta sospeyta ou certe^*
za quis se logo faunreeer com fazer amizade cò ho f^o*
ueroador ^ estaua em Goa a (| secretamCte mandou so^
brisso seu embayxador , & 1} lhe daria por isso pêra ei
rey de Portugal as terras de Salsete & Pondá ^ lêdião
bS cinquoêta mil pardaos douro : & por3 Q ho gouerna»
dor auía de mandar recolher estas rSdas dissimulada-
mfile pori} o Hidalcão o não soubesse, o que o gouer*
nador lhe agardeceo muy to , & em nome de] Rey de
Portugal lhe confirmou amizade, & prometeo de o aju-
dar contra, o Hidalcão, & fez logo Tanadar mór a hft
Gristouão de figueiredo casado em Goa & grande seu
priuado, que mandou á terra firme cft outros Tanada»
res pequenos & lescríuXes & algfia i^fite , & ele se apo-
sentou è bu pagode de freyras , & dali arrecadaua at
rendas ^ & Aijadacão teue maneyea como se escusou do
yr por aQla vez a chamado do Hidalcão, j} tãb8 não inç-
ais lio è ele por amor de grandes negócios Q lhe sobret
aiierâo.
LIVRO Tiif. OAPiwxo uni. IS*
CA PI T V L o LIIIL
* »
Das dtferenças jf ouue <mtre Vicente dfrfomtca ^ Bros
pereyra^
Jr icâdo Vic6te dafonseca por <;apiíSo da fortaleza de
Ternate (como a Iras be dito) determinou de mandar hd
jungo a Malaca 9 cuja capitania deu a Afonso pirez que
fora hum dos í\ o fieerâo capitSo, & sabeado Brás pe«
reyra que este jungo auia de yr pêra Malaca^ pedio a
VicSle dafooseca a capitania dele, & por^ lha não quis
dar vierâo a tanta desau^a , que Brás pereyra fez hfll
requerimento ao feytor & otficiaeis da fortaleza & a ou-*
tros criados dei Rey que prendessem VicSte dafonseca^
4 cometera trey<;ão em dar ajuda & fauor aos mouros
pêra matarS Gonçalo pereyra, & que tinha aquela for-*
ialeza por força, & dali por diante náo falou mays a Vi-
«6te dafonseca , & andaua armado cõ outros muytos (|
erâo de sua valia, & estes amotinauâo outros & tinbâo
.Vicète dafonseca entfto pouca conta, que dizião pubri»
camente {| ele ajudara a matar Gõçalo pereyra, & man-
dara matar outros Portugueses despoys. que fora capi«
lAo. E por ^le atalhar a outras mayores cousas () daque-
Jas podiâo soceder prendeo Francisco de sá , Cosmo
moniz, & outros culpados nesta defamação, 2| com a
prisão destes creceo muyto mays: & foy posto per ve*
ses fogo a hu bargãtim poios amigos destes, porque aos-
peytauão que presos os queria mandar nele á índia , &
dali por diãte miindou Vicente dafonseca vigiar a ribey-
ra por homês armados. E ainda despoys disto creceo
mays a desauença & ódio antrele & Brás pereira , sobre
hO berço Q mandou tomar da Galeota em i| estaua Brás
pereyra, pêra hQ bargantim que queria mandar a Mala?
ca em companhia do jungo ^ disse, & assi sobre certos
homSs que mandou leuar da galeota pêra a fortaleza ^
por lhe dizere que queria fugir pêra BSda , & sobre bft
LIVRO VIII. R
que Brás pereyra loiheo ao Ouuidor quQ ho nâo leuas-
se, sobre ho quedlssd palauraa muj^to defamatorías con-
tra Vicèle dafonseca , pelo que ele indinado disso ibe
mâdou tomar hó edqmfé & tis escrauos da galèola q(i'e
erão em terra, & defendeo com grandes penas que nhua
pessoa lhe keuasse mãltmenlos. E vendose Brás pereyrfi
aèsi atalhado 9 foy a sua meneocoria (amatiba ^ parecia
doudo,. & cõ grádisaimos brados disia aos § estauSo em
feerra, ^ Vicente dafonseca nãoeja eapitâo, antes era
trédor a el Rey de Portugal por matar a Gonc^aki perey^-
va seu capitão, & tinha ai|ia fortaleza pêra a vender
aos mouros , & por essa causa lhe não obedecia , & re-
queria a todos 4 nio Uie obedecessem : & acabando de
dieer isto^ mandou tirar três tiros á forlalesa* Vicête
dafonseca Q estaua na ramada se reeolheo logo, &
mandaua tirar a artelharia pêra meter a galeota no fil^
do se não fora peio alcaide mór Q lhe pedio ^ o deixas^
se primeyro fiJar c& Brás pereyra do que foy contente^
& despoys do alcaide mór falar eoele, &. acabar j} obe»
decoria a VkSte dafiSseca & jria a terra & os faria ami«-
f(OB foi peor, por!|. em Brás pereyra chegado a terra ^
Vicêledafonseca muyto ledo com lhe parecer i\ ya pêra
ser seu ainigo, como lhe o alcaixle mòr tinha dito, ítíy^
86. á praya pêra o receber, & ele lhe disse muyto braue
^ se fosse dali porj} o não ^ia. ver nem falar coele ; Su
Vicente dafonseca Uie respondeo ^ nlo Ibe ametinasse
a gSte & ^ visse quão mm> exõpro daua aos mouros &
a todos 9 com aquêlaa desobediências ^ & Brás pereyra
tornou a dizer as mesmras palauras ^dantes, & reque*-
reo a quãtos bi esfeauão Q prSdessem Vicõte dafonseca
pola morte de G&çalo pereyra: & YicSte dafonseca 1^
prendessem a* ete porque lhe desobedecia, & foy sóbria»
to moyto (grande ãltioro^ nos Portugueses , ^ aigiis di*-
«ião Q VicAte dafonseca ikão era capitão,. & os mays di*-
aião que era, & ^ Brás pereyra merecia preso por ser
causa daQllas reuoltas : & chegou a cousa a (anto, ^ ho
alcaide mór & feytor sS apartara c& (odá « gente , ^
UVR9 Vlfl. CáínTTLO 1«V. 131
Iket pregiintarão se tinhSo Vicente dafonnea por seu
icapitio, & por os mais dizerem (} si^ o ouuerã por ca-
piíáo^ & Brás pereyra íaj preso, & assi esteue^na ibr-
iaiesa sen mais VioSte dafikeca ^rer ser seu amig^ pos-
to que lhe foj cometido. E DÍk> se auèdo por seguro de-
le nê doutros de sua valia ^ os entregou presos a Balte-
sar veioso capilflo do Bargantim 4 mandou em oompi^
«hia do jungo que hia pêra Malaca dahi os ieuassê á ii»-
<lia , & partirão na entrada de Março do anno de mil Sc
quinhentos & trinta & dous, & coydando Vicente dft-
fonseca que por mSdar Brás |)ere^a & os outros ficaua
-seguro na capitania o íicou menos, por^ algds desses
mais hJirrados que iicarAo coele parecendolhes l\ mere-
ciSo melhor a capitania í\ ele , come<^râo de praticar ê
fao prenderê, & preso ho mandarft pêra a índia, ho ^
Uie foy logo discuberto : & pêra os amansar & tirar da^
^le pensamento gastaua coeles muy largamente, & lhes
/Oeyxaua fazer crauo, & lhe fazia quXtas boas obras po^
^a cõ que algik tXto os amâson, & porB ele nAo se con*-
£aua de ningufi, & trazia sempre hOa saya de malha se^
«reta, & sua espada, flc andaua tSo acautelado i\ «yoâdd
4he falaua alguê estaua sempre cft os olhos nele flt a mãe
sia espada , nS tomaua nbfia cousa a pessoa t( nfto fosse
Sua se nlo com a mSo esquerda & a dereyta na espada^
•& Tiuia com muyto grande fadiga, tt muytas vezes se
«partana s6 a chorar dagastado de ler tomado a^le oa-
trego.
C A P I T V L O LV,
■ • «
Do § PaUforágue ^ Trauanceh determinarão tontra ti
rejf Caekil Dayalo^
V endo os monros as grades dissensAes & desordSs (|
auia anire os Portugueses : & <} s§ nhfl temor de casti^
go nfi Terepnha do mundo matauSo capitães, & fazia
outros cAttaoregimêto de seu rey, fc quil mal compríio
os mâdados de bOs & dos outros, & (| sempre ficauio li*
a 2
Íl32 DA BfSTDKIA lU IKDIA
;ure8 de pena ^ determinarão de fazer bo iDestno contra
teu rey Cachil dayalo , & os (} derão principio a e»ta
maldade & Ireyção forào bft Pateçarangue !\ Vicente da<-
fonseca fizera gouernador do reyno pêra bo ler de sua
mao, & outro ^^auia nome Trauâcelo ambos velhos dis-
cretos & prudentes, & de muyta autoridade cd os man^
darins & gele popular pelo ^ tinbão credito pêra fazerê
quãto quisessem. £ a causa de Pateçarâgue fazer esta
trei^o^ foy medo de^be el rey tirar a gouernãça dorey-
BO, porQ por ser ja didade pêra isso \t\sl entCder nela
pêra saber como seus vassalos erão gouernados , !^ auia
wuytos annos ^ os gouernauão gouernadores ^ faziâo
mais o 4 os capitães Qriâo l\ o que deuiâo: & por(} go-
/uern&do el Rey Pateçarangue nSo era necessário Q go-
iiernasse & perdia sua valia determinou ele de priuar el
xey de reyno, & fazer rey a bCl seu jrmâo bastardo oba^
jnaado Tafoarija , & era tam moço ^ não era pêra gouer^
jaar , cÒ fuodamftto Q gouernaria ele ao menos ate Ta-
barija ser didade, & de tudo isto deu coata a Vicente
ilafõseca, cerlificãdolbe Q se Cachil dayalo nã fosse de»-
jiosto de rey , Q bo auia desiomar a nào fazer seu pn>-
lUeytu eomo faria não sendo ele rey, nem ficaria tâoaii»
#ulu(o capitão como forSo os passados, pelo i} deuia de
consentir em< Cacbil dayalo ser desposto de rey y no %
Vicente dafkinseca consentio por não pefder bo ^ espek
xaua de ganhar, em quâtò esteuesse na capitania. £ Ift-
do Pateçarangue este consentimento pêra sua treyçara
começou logo de *a poer em obra, tomãdu por cõpanbey*
ro a Trauancelo , & como não podiam fazer nada , sê
te fidalgos terfi ódio a et rey , prouocauãonos a Hio tei€
por quantas maneiras podia prrncipalmStefazêdolbes crer
^ lhes ãdaua cõ as molheres : & diziam i} era mal incli^
nado: & de forte cõdição^ & assi Ifae punham outras
muitae tachas cõ que o fazia inábil pêra ser rey, &dés*
poys QPateçarâgue &Trauattcelo virfio ^ os fidalgos ti-
nbão ódio a el rey, começarão de lhes persuadir Q o
desposessem de Rey, & fizesse rey a seu jrmâo Taba-
LIVB0 VIII. CÂPITV&D Wr. 138
^ija. Neste têpo auia na fortaleza grade falia de mâlir
Biêtos ^ & muytos Portugueses mandauã seus escrauos ^
CS fossem furtar aos mouros, & assi os caba<;os ^ tinbâo
fias pafmeyras cÕ o vinho Q saya deles, & como os mou-
ros queria mal aos Portugueses & ás suas cousas, dei-
lauão peçonha nos cabaços cõ Q matauâo os Q- lhes yão
beber bo vinho, & lambo ás cutiladas quãdo os achauão
•de bÕ lãço^ & como èrâo mortos Iam encubertamente
Dâo se sabia mais de suas mortes Q acbar&nos menos.
£ não podCdo YicSte dafõseca determinar no ^ seria
feito deles disseo a Pateçaranguc, rogandolhe !\ lho sou-
besse, & ele por meter coele em ódio a el rey , cõtou^
lhe a maneyra da morte dos Portugueses & dos escrauos
atribuindo a culpa disso a el rey , afirmando Q se fazia
:por seu mandado, do i} se Vicête dafonseca escandali-
zou muyto, & mandouse Qyxar a el rey pelo mesmo Pa^
teçarangue , cò o i) se el rey espantou muyto , por quS
«inocête sabia i) estaua daquela culpa, & se nâ se teme-
ra de o Vicète dafonseca tornar a prSder foraselhe dis-
*culpar por sua pessoa, mas este temor lhe fez l| não foi»-
jSe , & mãdouse diseuípar por Paleçarãgue cuidado Q lhe
era leal , & como ho ele não era no cabo da disculpa l|
«deu a VicSte dafõseca lhe disse <) sS duuida cresse ^ tu^
tdo aquilo erão palauras. K crendo VicSle dafonseea i}
;era verdade determinou de prõder el rey & t^lo preso
-como dates, & que Pateçarangue gouernaria ho reyno,
porC el rey era tam recatado Q nunca mais foy á forta-
leza, ou parece ^ foy anisado desta determinação & a»-
faslauase ho mays i) |)odia da eonuersação dos Portugue-
ses, nã por mal Q lhes quisesse, mas por recear de os
escãdatizar , & fazialhes quanto bê podia ^ & era tã obe-
diSte a Vicète dafonseca & desejaua talo deslar bê coe^
le, Q não queria valer a nhti Português Q se a ele aco-
lhesse por algO dilito, & togo lho mandaua, & cõ tudo
nã lhe valia ^ de cada vez lhe linha mayor ódio & de-
sejaua mais de o prêder, & quãdo vio ^ ho não podia
iazer determinou de o mandar matar : & tudo isto por
13t 0à HfrronA di tmnk
induzimeiíto de Paleçarangue (} linha o messio desejo,
& Iam danados andauâo (| bo aáo podiào encobrir^ &
foy discuberto a ei rey () como era de grande ooraçâo
dissimulaua cÒ Pate^jarangue , & não ho quis castigar
jTor não dar causa a Vicfiie dafonseca rõper coele guer^
ra, Q b6 sabia l\ auia de ^rer acudir piT ele. E andan-
do assi encuberios torão quatro escrauoa de Portugu^
ses ao mato, & não tornado mais oiãdou VicSte daíbu^
eeca dizer a Pateçarangue ( despoys de ihe mandar pre^
gQtar por eies) {} ei rey os deuia de ter se os nà luanda-
ra malar, ho ^ ^1 r^y soube do l\ fícou tâo triste &aga8«-
lado, que se passou logo pêra hum lugar chamado Tur
ruló mea legoa de Ternate, & leuou pêra lá sua mãy
& 08 do seu conselho, mandando dizer a Vicente dafon-
seca que se ya, pêra ver se se podia liurar da culpa
3ue não linha, & que de lá faria ho que lhe mandasse,
o que VicSte dafonseca fícou muy escandalizado, 8t
creo que se queria leoãlar cAtra a fortaleza ^ & por isso
trabalhaua quãto (lodía polo mandar matar, & mandaoa
fazer aos mouros quãtos males podia. E vendo el rey
ssto, ouue conselho com os seus sobre se mudar pêra
nays longe, & assentarão de fazer outra cidade onde se
chama a terra alia hua legoa daly, que com quanto lha
auia de ser trabalho, as^i em dt^yxar seu assento, come
em fazer noua pouoaçãu, a tudo se offreciã por seCirarB
de mexericos , desgostos , & brigas que disso podiam re^
erecer. E auido este conselho el rey & a raynha se fí>-
rão a Tidore & derão disio cdta a ei tej que era jrmãe
da raynha , & tio dei rey , a que pareceo bem a mudar-
ia pêra a terra alta pelas rezões que. lhe derão pêra is*
so, & coeste parecer midou el rey Dayalo edeficar eu*
tra cidade na terra alta.
hh¥U0 ritl. CAPirvi^O JkWt. Id^
» f »
C A P I T V L o LVL
Oe como el rey Cachil Dayalo se passou pêra a terra
alicu
X ateçaraogue como queria mal a el rey & desejaua \
Vicenie dafonseca esteuesse firme em lho querer, como
:vio o (} se ordenaua dis^eiho iogo, atribuindo aquela mu<-
dao<;a dei rey a quererse fortalecer pêra seleuantar coa.*-
tra a forlales&a, & fazeribe guerra , bo Q Vicente dafon»
seca creo, aasy polo ódio que tinha a Eirey, como pola
mudSça que Ibe via fazer tam de supito , & mays por-
que neate tempo tendo já el rey onde se agaasalbasse na
terra alta ae mudou pêra lá cõ toda sua familia , saluo a
Raynba sua mãy que iicou pêra fazer yr Pateçarangu#
& os de sua familia, que em nbiia maneyra se ^riào yr
de Ternate polo ódio ^ tinbão a el rey , & estauam de»
terminados de lhe desobedecer , por lhes Vicente dafoBr
seca ter prometido de os ajudar a defender, & por isso
não se queriio yr. E quanto el rey mays via que Pale^
^arâgue insistia em nSo yr pêra a terra alta, tanto mays
insistia ^ fosse, |)orque reeeaua muyto que não queria
ficar è Ternate em tal tempo se nâo pêra o deseruir, &
que o fazia cd ousadia Q ibe daua Vicfiie dafonseca , &
eom ter isto por certo , ibe mandou dizer ^ pêra bCL tal
dia se fosse pêra a terra alta cõ todos os de sua valia,,
^pena de ois castigar como a reueis , & desobediStes a
seu rey : £ não satisfszido Pate^arâgue a este mandado
a3 nbft dos outros determinou el Rey de proceder cfi*
trete : pêra o que se foy a Ternate , Õde acbou Pateija^
rangue posto em armas cÕ todos 00 seus pêra se de/iB^
der, & tinha cdsigo quarenta Portugueses espingardey*
ffps Q lhe dera Vicftle dafonseca pêra o ajudarS contra el
rey , & estes estattfto na dianteyra. £ como os el Rey
vio , disse ^ bSo queria coeles guerra , roas que se e»*
panlana, & estaua junyto esoandaliaado , \ sendo ele
ISS DA BISTOHfA DA IN0IA
vasallo dei Rey de Portugal j nào lhe Qrer VicSle dafoii«»
seca, que era capitSo da sua rurlaleza>) deixar castigar
Paleçarangue seu vassailo ^ ho oflTendia graueiuête, an*
tes lhe daua fauor , & ajuda cÕlrele , sendo obrigada
poys era capitão dei Rey de Portugal a lho ajudar a cas-
tigar quàdo ele só nã pudesse : & rogou muyto aos Por-
tugueses ^ assi fao dissessem a VicSte dafonseca, & ^
ele era vassailo dei Rey de Portugal , & por esse se ti-
Dha , nS deyxaua de o ser pota mudàça {| fazia de Ter-
Date pêra a terra alta , ^ se a fizera , fora por escusar
payxdes , & desgostos {| se começauSo antre os Portu*
gueses & os Mouros , & da terra alta , mandaria mayg
mantimentos á fortaleza do í\ yâo dates, ^ não cuydas-
86 Vicète dafonseca ^ se mudaua pêra outro fim , &as«
si se veria a diante, pedindolhe por derradeyro ^ fi3
quisesse fauorecer cõtrele Pateçarangue n6 os outros (|
lhe erão desobediêles, & (} esperaua |K)r sua reposta pê-
ra saber o () auia de fazer , & coisto se foy. E ele ydo
recolberâse os Portugueses, & défão a Vicente dafon*
seca ho seu recado, 4 ^^^ ouuio com grade menScoria
porQ ho 'não matarão, & assi ho disse, affirmando c5
juramento Q ho auia de destruir, & soltando côtrele muy
feas palauras , 6 (| mostraua claramSte ho grade ódio \
lhe tinha, do ^ el rey foy auisado : & na vendo sua re-
posta , determinou cõ os de seu cõselho de proceder
eontra Pateçarangue , a ^ mandou primeiro rogar l\ se
fosse parele , & não querido , mandoulhe fazer guerra
por seus capitães 1} cada dia lhe fazião muitas corridas,
& lhe dauâo rebates por már & por terra , assi de dia
como de noyle^ ê 2) Vicente dafonseca ho raandaua sem-
pre ajudar poios Portugueses , & assi se ya ateado a
guerra de pouco em pouco : ho que vSdo el rey a quis
mays apertar, & foy sobre Pateçaràgue por már, &Ca«
cbil bualaua gouernador de Toloco por terra cõ a mays
gSle q pode. E VicSte dafonseca acodio lo(ro por terra,
& mãdou por már sessenta Portugueses espingardeyros
em hii batel, & em hu paraó artilhados, & na pelejara;
LUTEO ^niC CAIPITVLO XVI. 137
|X)rQ v6do «1 rey os Portugueses Q yão diSte , nã quis
pelejar coelea & retirouse , «& eles o aperUirâo tãto cõ a
artelharia& espingardaria, {| lhe foy necessário fugir.
E outra vez tornou el rey 8 hií calaluz cÕ álgfis mãda-
rins pêra falar a VicSte dafonseca & lhe rogar i} teues*
«S paz, & ele lhe nã quis falar, antes mãdou a certos
Poctugueses Q lhe saíssem, & por ele^não Qrer pelejar,
& se yr , fora a pos ele ate o ensacara na praya da ter-
jra alta õde se saluou, leuãdo quatro nqandarins feridos,
& foylhe tomado o calaluz. E despois disto foy Vioête
dafõseca darmada á terra alta, 6de chegou de supItoSte
manhaã , & tomou a el rey toda a armada Q tinha asai
-no már como na terra, & se tornou pêra a fortaleza c5
-grade cdtõtamSto de Pateçarãgue, & dos outros imigos
'dei rey, ij vSdo-como^he Vicente dafonseca fazia guer-
ra da^la maneyra^ ainda jj o nã merecia , era tã amigo
dos Portugueses, & desejaua tSto sua amizade polacria*
f^o i\ teuera coeles , que nQca quis guerra , nê defen*
-derse pola não fazer, i\ se quisera queyxarse aos outros
Reys segudo estauão mal cõ os Portugueses, b6 ajQtara
gente com Q fizera guerra , mas nã quis polo amor J|
-lhes tinha, & desejo de siia cÕtiersação: & ates quis
auêturarse a perder ho Reyno , como perdeo , Q fazer
guerra aos Portugueses, tSdo que era muyto mor perda
i)ã lhe goardar lealdade c) perder o Reyno , & pêra ver
i9e cõ se yr dele podería ijhrar a fúria i\ VicSte dafon-
seca tinha cõtrele, se foy pêra Tidore cõ toda sua ca«»
lUi , & cõ sua roãy , cõ determinação de -estar lá ate J|
el rey fizesse cõ VicSte dáfofiseca que fosse seu ami^o^
^ assi lho disse , & ele lhe disse {} acabaria isso cÕ Vi^
cente. dafonseca por amor da amizade 5 tinhSo amboa^
& que tambê ho ajudarião el rey de Bachâo & el rey
de'Geylolo, & Fernã dela torre, a (| escreueria que ho
^zessem, & assi ficou el rey Dayaloem Tidore, cuy*
dado que ali se remediaria* «
LIVRO TUI.
I
13S PA HItTOfttA OA .IlfOrA
C A P I T V L a LVIL
De como Vicenie dqfonsece tomou a cidade dt Tidare^
V icenle dafonseca ^ dS sabia nada da yda dei rey
Daj^alo, ajCUou hila grade armada de mouros & de Por-
tugueses eÕ determinação de o destruyr , pêra o que se
Soy á terra aJta Q achou deapouoada, do Q se muyto e»-
pantou^ &Guydou Q ei rey se meteria pelo sertã da jiba
pêra se fazer forle. £ queymado este lugar , foy sobre
as cidades de Maiayo & de ToloGo^ {| tâbS forâo despe-
jadas , por ei rey ter niãdado aos moradores Q nã pele>-
jassem cõ os Portugueses , & estas tâbem forão quey-
madas» E sabfido Vicente dafonseca Q el Rey DayaJo se
fora pêra Tidore, folgou muyto , pêra ter achai^ de Ibe
tirar o rey no, porQ não podia estar sem Rey, & as6i
lho conselharão Pateçarangue & os de sua valia, & Q fí^
zesse hu jrmâo bastardo dei rey Dayalo^ chamado Car
chil Tabarija moço de quatorze ate quinze annos , da
própria ydade pêra eles niandarfi a terra A sua võtade,
& pêra Vicente dafonseca ho fazer melhor, fez gouer-
nador do reyno Pateçarangue. £ leuãtado Tabarija por
rey, foy Vicente dafonseca coele em bua grade armada
por esses lugares da fralda do már, a que mandaua dí-
£er que ele desposera de rey de Ternate a Caehil daya^
lo, & o deitara do reyno c5 sua mêij Sc outros , por se^
tS culpados na morte do capitão Gonçalo pereyra & se
^ferfr leuatar cõtra a £L>rtaÍeza , & fizera rey a Caehil
tabarija,. 4 t^'^nibft^ era filho dei rey Boleife , eujo e rey<r
ix> eva por dereyto , pois Dayalo ho perdera : ^ rogaua^
ittuyto a todos ^ obedecessem por Rey a Tabarija, por^
nlo querendo lhes aeuia de lazer giierra« £ vendo os
•mouros c^ue el rey DayaJo se fora, oõ seeeo da guerra,
obedecerfk) todos a Tabarija,^ somfite o regedor de To^
loco ^ queria mal a Pateçarangue ,. cõ quanto era sen
par&te, & desejaua de o matar por a Ireyçâo que fizera
LIV80 TUI. Ck¥tTVU> LTir. 139
é èl rejDáyBlo, & por \uâo o mandou prfider Vicente
-dafonseca^ & esleue preao até ^ niorreo. E como Pa«
t^çarangue aabia ^ el rey Daja^o estaua d Tidore , re«-
ceauase ^ dali cobrasse sen reyno : & pêra mayor sua
«egurança, fez c5 Vicète dafõseca l[ fosse c5 grande
armada sobre Ttdore ^ & fizesse oS el rey ^ lhe mâdas*
ee entregar todo ho tesouro () Dayalo lenara , gõ todo a
maia quãdo se fora de Terilate^ ae nS que o destruísse,
êc ficando Dayalo sem tesouro nS teria poder pêra m
restaurar no reyno, E coroo Vic6te dafonseca cria muy«
to em Pateçarangue tomou seu conselho. E chegado a
Tidore bfia manhaã c6 grade armada, mãdou dizer a el
rey as rezões porQ despodera de rey a Cachil dayalo &
fizera rey a Tabarija , a quS pertencia todo fao tesouro
douro, prata, & armas defensiuas, & offensiuas, &e8^
crauiis que Dayalo & sua mSy leuarâo de Ternate , qae
Uie rogaua <]ue lhe mandasse logo dar tudo se Qria ter
paz eoele , se nã j} lhe faria guerra : & tâbem lhe auia
«êtregar Dayalo & sua mfly , oú os laçasse de sua iet*
va , porQ qufi ttnha amizade cft os Portugueses nã auia
daoolher hCt tamanho seu imigò como Dayalo. El rey úm
Tidore como era mn^jo, espanl(»us8 dCi recado tã aspe*
ro, & respddeo a VicSlcê dafonseca que fafia tudo o 4
fi)88e rezfto, que lhe pedia ^ desembarcasse pêra falará
sobre aquele negocio & se fazer o Q fosse seruiço dei
Rey de Portugal : & por cOselho de Pateçarangue nM
quis Vicfite dafonseca verse cO el rey, & repricou {} ti4.
lesse logo o {) lhe pedia se queria ter paz coele : & vfi'^
dose el rey tã apertado, disse Q aueria cdseiho cd os
seus, & despoys yria falar a Vicente dafonseca pois ele
Aà t\vÍB, desembarcar : & Vic6(e dafonseca nfi respddeoi
porque vio í\ el rey não fazia o que lhe pedia. E «uy^-
dando el rey t\ consentia em ^ ouuesse cõselbo eniroa
liele, mas Vicéle dafonseca tomou outro, i) lhe deu Ps*
teçarãgue , que foy dár tíB cidade pois el Rey nã sati»»
fazia a seu requerimento , & cc»m lhe fazer guerra o fa^
ria j & asai bo fez ^ desembarcado sopitamente cÕ sua
8 2
*S4X) DA HISTORIA DA INDfA '
gente ármâda, & entra pola cidade ferindo '&inatSdo
aeus moradores , Q confiados na paz & amizade que ti«-
nhão cõ os Portugueses estauSo bem descuydados de tal
eousa, & sabendo ho el Rej, fugio logo com a sua mãy^
& Cachil dayalo cõ a sua pêra hua serra i\ estaua sobre
a- cidade, pcra onde tãbem fugirão os mais dos mora^
doreS) posto Q. algus quisetão resistir por defenderfi suae
molberes & fíUios , & estes forSo mortos quasi todos i &
não tendo os Portugueses com quê pelejar, roubarão Sb
qucymarão a cidade. £ ávida esta. tamanha vitoria^ em
.q Vicente dafon^eca cõ os Portugueses perderão maie
de credito 9 do que ganharão de honrra, se tornou pêra
Ternate sem aicâçar nada do que ya buscar, se não
guerra cÕ- Tidore sem nbua causa , de Ç noeso sfior lhe
deu logo algu castigo: E tornado á fortaleza, vSdo ore^
gedor de Toloco (Q disse ^ foy preso) ^ Cachil dayalo
nã pod4a. cobrar o reyno, por nã auer rey dai^Ja gera^
ção, determinou de malar el reyTabarija, & dous seus
jrmãos, que VicSte dafonseea tinha na fortaleza pêra
sua segurãça , ho <). cuidou de fazer por estar eoeles no
dérradeyro. sobcado da torre da menagem , ainda qiie
preso com hCLa adoba, & pêra cõprip sua determinação',
ouue hfi cutelo (} trazia escondido, & logo t\ VieSte da-
íõseca chegou de Tidore , estado hd dia á porta da fon-
taleza ho regedor ^ estaua só cÕ el rey & seus jrmâos^
& outro» algils no dérradeyro sobrado da torre da me-
nagem, remeteo ar el rey pêra ho malar, í\ quis Deoe ^
lhe escapou & fugio cõ os outros pêra duas camarás a 4
fecharão as portas de dStro, & outro» fugirão pola escar
da abaixo bradado ^ lhes acodissem, & ele nã pode al^
eançar nhfl por amor da adoba que ho loruaua , mas ai^
cangou hii filho de Vicente dafonseea^ mo^o de sete Snos
& degoiouo, vendo l\ não^se podia vingar de qufi quir>
eera^ B feyto isto, porí^ sentio ^:aoodio gente, posse
sobre a porta da escada^ tirando cõ pedras •& páos &al>-
gilas espingardas , cõ ^< defòndia muy brauamSte que a
f;&te não sobisse: a cima , & cõ= tudo ,, M^caualeico
N :•:
inádo lorge golerez passou a diaote bem cuberto ctehila
vodela Q lhe o mouro ^brou sobre a eábeqa cõ- hua eât
|»tngarda <} lhe arremessou , & o ferio & atordoou algCl
taaloy porè ele era tâ esforçada que a^ssi se chegou a0
mouro, & lhe deu bfla eslocada- pela barriga Q o passou
da oulra parle, & ele ^. não era de menos esforço (| lorr
ge goterez^, nfi por isso perdeo o lugar & Q estaua em
4)uâlo teue oõ ^ se defender, & despois de lhe falecer,
garrou cõ lorge gotere2 & ferio o cÕ o cutelo por debai-
xo da barba , & ele o leuou nos braços , & fora ambos
pola escada a bayxo, & chegado ao sobrado lorge gole*
rez se desemborilhou dele, & deu Jhe hfla cutilada na
cabeça com que quebrou a espada, & VicSle dafonseca
Jk outros ho acabaram de matav.
CAPÍTVI.0 LVIII.
JDe como el rty Cachil dayalo per^guidò de Vicente da^
fonseca se foy morar a Geylolo^.
'VXrâde espSto foy por todas aquelas jlhas quSdb se sou*.
te^Vicete dafõsejfia desposera de rey deTernate aCa-^
jshii q. era legitimo, & tã ameigo dos Portugueses & cria-
-lo atreles, & ho perseguira tãto até o fazer fugir do
íeyno, & farcr rey a Cachil Tabar>ja lã mo<;o fc bastara
^o, & a qu6 nSo pertScia o leyno por nhfta via, & ti-
«hfi todos disto grfide escãdalo: & muitos Sangages &
•gouernadore» dos- lugares do reyno deTernate, não que^
líiâo obedecer a el rey Tabarijfa , & ehamãuâlhe rey d«
'Vicête dafonseaa & de Pate^rague ,- pelo q Vicête da-
i£58eca fez a mayor araiad» Q; pode & mãdou nela por
capitã mórPatei^arãgae pêra fazer a estes q digo q obe*
decessS a TabariJA ^ obedeeerft vôdo se apressados da
guerra ,. posto ^ el rey Gachil dayalo lhes socorreo cô
^Igua armada maa- n& aprooeytou , fe assi tãbê fez por
força q obedecesse a eJ. rey Tabapga hú mouro chama-
do Ouro baeh^ia tesbureird dei rey Cachil dayalo pessoa
I4ft HA BrSTDHIA DTA fNOIA
mui nofáuel no reyno, ^ obedecSda a el rey Tabafíjai
lhe entregou iodo o tesouro Q tinha dei reyCacbildaya«
Io, o 4 foy eausa dalgiU Sâgagea & afiores (| ainda ea»-
Cauã por dar obediAcia a el rey Tabartja lha dessA. £S
vSdo el Rf^y deTfdore como as cousas dei rey Tabarija
erft de cada vez mais prosperas, & el rey Cachii dayato
ya 6 mais perdição, & ele nã lhe podia valer pi»r estar
muy {|brado das guerras passadas, fes paz cô Vicêie da<-
jfòseca cft receo 4 ^ destruiasé fie Vicête dafôseca a fez
por assStar a terra: vendo el rey feita esta paz nã se
atreueo a viuer 8 Tidore por amor dos Portugueses (|
iabia () auiSo lá dir ^ dos quaes se nío ííaua, & por isso
determinou de morar em Geyiulo^ & foy lá primeyro^
{)era pedir licença a el rey (] lha deu de boa v5tade^ &
he prometeo de lhe dar algQs lugares, de cujas rBdaa
se mâteuesse, & mais ^ ele & Fernão de la torre roS-
dariS rogar a Vicête dafonseca {^ o ajudasse cÔ algQa
cousa, poys o deytara de ée^ Reyno^ & assi ha iizerãò^
mas ele não quis, antes com PatP<}arftgue mandou co»
meter a el Rey de Tidore i\ lhe vendesse el rey Cachii
dnyaio & lho entregasse, por^ ilílo se passasse perâ 6ey-
lolo, temêdo {| de lá lhe lizesse guerra, bo í\ el rey nSo
quis fazer. E vendo Vicente dafõs^ca I| nSo (|ria , fez (|
lhe desse a mãy dei rey Tabarija , {| andaua em côpa^
nhia da molher dei rey Cachii dáyalo, cò quê Pateçarã^
gue desejaua de casar pêra ser mays hftrrado, & assi o
fez, depoys il foy entregue a Vicente dafonseca, ai) nSo
abastando as perseguições que linha feytas ael Rey Ca**
chil dayalo, tratou secretainête cÕ a raynba sua molher
() lhe fugisse pêra Ternate, & que a casaria cõ el rey
Tabarija & seria raynha ^ o l\ nuncn auia de ser sendo
molher de Dayalo , porQ nflca auia de ser rey : & affir'-
niouse j) neste concerto cdsentio el rey de Tidore, cuja
jrmaâ era a raynha, te isto por peita, & por desespe*-
rar dei rey Dayalo cobrar roais o reyno. E despoys dele
íornar de Geylolo, hOa noyte o embebedou «Raynha è
h&a cea j| Lhe deu : & estando ele bem entregue no so*^
LivKO Ttifa. cAPirriO' urm. 14S
DO, »e foy ela Becreiamfite com atgilas das suas mSce-
bas, leuãdolhe & mayor parle do tesouro Q tinha. Eche-
gaodo a Térnate, a casou VicSte dafonseca cõ el Rey
Tabarija , o ^ sabido por el réyCacbil dnyaió ho seotío
mais 4 perder o reypo, por lhe ^rer muyio grade bem,
& ser ela refrigério de seus trabalhos, & Lãbem siotio
Jauarthe o tesoukro^ porí} fícau» de todo sem ter com Q
sosteuesse aqueles que ho acâpaohauSo : & como er»
magnânimo dSo desmaTou c& todos esles infortúnios nC
SB mudoti da determinarão de jr morar a Geylolo, £
porQ sua m&y auia de tícar em Tidore, deyxou coela
aqlea que o acdpaabaujío, Scomfidadoliios rouyio, & pe-
dindolbe a eles.mujto perdão de os nS leuar cõsigo, &
de Ibes nâ poder íkzer.. mercê, fazSdo ele & eles grSd*
prato AO despedir,. se partio pêra fíeyloto sò, & lã po-
bre, ^ Bâk) tinha mitys do q^e lhe el rey de Geylolo da-
ua, dde esleue atá-í) tornou outro lèpo, como direj a
di&le. £ partido el Rey'Dayalo pêra Ge;lolo, el rey d«
Tidore pedio ajuda a Vic£te dafonaeca, & a e] reyTa-
biirija, pêra eoln'ar algQs lugares de seu senhorio Q lhe
estauSo reueladoB, & cÒ sua ajuda os tornou a cobrar;
em ^ bú Jorge goterresc , & hQ SímSo val&le pelejarão
muy esfor^adanfile. £ despoís disto, moueo et rey de
Gevioto ffuerra a VtcSte dafõseca por certos lugares de
linba tomados i & oÍo lhos lornaua
le lhos tornar, & asai esteuerfto nlé
ristâo datayde ^ foy por Cfipitão da
10 a diaote direy.
i
chia dagoft do esteyro Q disse, de fiftodo ^ nS im podia
£tr«r se oâo pdo cabo dn irao^yra ^ <| os aiouros fiserá,
porQ se âlgda ora os oossos os quisessS cooieler, nft po-
deria tãto Sdnr a pé pêra cjiegarfi ao cabo da traoQyra,
& se chegasfiè , chegarião Iam cansados que Aáo pode-
riâo pelejar , & coesla forlaleea & cd MeiiquQ ter deza-
aele mú hoinSs de peleja assi de pé como de oaualo, &
todos escolhidos, lhe parecia que «staua seguro da ser
tomado*
C A P í T V L O LX.
»
Como Jiíãique quiaera deter cê enjfono ko GSoucmackr if
não cam€l£$$e a farlaUzeu
V^hegadi
io bo gouernador á barra de Baçaim entrou deo-
tro no rio pêra surgir com sua armada, i\ sabendo Me^
Ai que Mmaolia era temeu de ser tomado , & pêra au«c
Sftays geate & se fortaieoer mais, mâdou logo dizer ao
{^otterAador por hum mercador Dormuz^ hi tidba bihi
Aao, ^. b& sabia tomo seu paj, & ele forão sempre gra»-
4les seruidores dei Re; de Porlugal : & a amizade que
teuerS cô es seus gower»adores da lodia, & nSea lhe
quisera fazer guerra, sobre Q el rey de Cãbaya es vexa-
va & tratara mal., & por isio assi sec ele ^ria goardar
iioele o que até ali goardara com outros gouernadores ,
& ter coele paz & amisadc eomo teuera cd os outros se
ele disso fosse conteate, & se posasse uo Q fosse razJL
Ho gouernador desporys de ouuir este re<^ado, pregilioa
ao mouro (xila faftaleâta ^ & «e estaua ta forte como ef a
a fama, èt ho mouro lhe prometeo de lhe dizer a vei^
dade, pedindolhe '() lho nâ mfidasse queymar h&a náo^
hl tinha , & tnays pois era vassallo dei Rej de Portu«-
^al : ho ^ ogoueroador lhe prometeo, & ele lhe contou
&r^a'rogte a gente qu« MeltQ. tinha & ho assento da for-
taleza, & quam' foitulecida estaua. £ ho Gotternador
■que com tudo tinha determinado de dâr nela, não ihc
4eu nada do que ouuio ao mouro ^ & sespendeo taMelí^
LivROi 1 VIU. xjÀauBntiO ' nx. 147
<|«ei qpUe fiM Saber <|ire enu verdajde tikdò qiiã(o ifieiifaa«
Mua Aízsff ^ €rQ cont&ie. détfaeec ceeie pa£ & o ter por
aifttgo^ & que lhe mandasBe-arrefens^ &; qsoe despoí» d^
es ter mandacia la cõ quem naaentasse a paz & a amn
aade^ E comoMelique nâo tínba teii<;âo de fazer a paz^
iiSi» qaia ipandar resposta aQle dia, & ao cairo mãdoa
tces Mouroa iioorradM*x)«ie. ho oterçadorDormuz oonho^
ei^ y. qtns bo gauernader mandoiu a^pasailhar em hfia ga-»
IfeoLa ^ de que era capitão loãò de payua feytor da ar-*
mada : & piâdou aMartim afiMso c^e melo qae fosse as*-
seotar paz comMeinq^ie : & seria; com oosdiçâo que lha
abrgasae aquela fortaleza* E safaSdo Meivque ^omo ya
Martim *afoii80 , .sayo boa reeeber btl pe^a<jo fora da
fuictalt£Ba : & alk assentados «a herua sobre búa alcatifa
praticarão napaz , & Melique n9o<^a dar a foKaIeza,
& .pc»r Martim afonso aprefíar mtvytio coele^^a jdesse^
Ibe disse Al dique fi lhe rogana fisr sua fidalguia qwetbe
dissesse, se eáe fora Mdíq.ue se a dera, & Martim afon-^
so reBpftdeo. que se, soubera ho' poder que ya CDutrele^
como sabia, que a entregara por^escapar: & cc>in tud»
]Meli{) poia tençSo que tinba insistia miiyti> em não àãp
a fortaleza^ E por derradeyro, n^ays pêra detòr picouGl»
que pêra querer conerusam^, disse que. dirribaria a fcuv
taleza , com condigam que lhe pagasse ho gouernadoR
os gastos que 6zera , & que auia de leuar a «rtettiaria y
madeyra , & pedra , & era refazimento dos gastos Ih^
auia de dar ciacoentacaiialos dos q^tefeoaua, &coest<»
reposta se Cmuou Martim afonso, & deua ao Gooeriia^'
dor, que maadou logo os arreffis, &«ha4nou a cfiseiha
na sua galé onde propôs aosicapitSes 6daUt>s, &'pes««
soas principaeis da armada, a reposta de Melií)^ & co-
mo muitos sabiam bo assflto da fortaleza pelo mouro fe
ho modo de (\ estaua fortalecida , & tenoíessè a peleja y
Qo lhes parecesse melhor auer a fortaleza séiAi ela l\ coe**
Ia, em () muitos corriA risco* de morr^rS, & a ludia {i«^
c»ir desfalecida de gCte, de ^ ao presSte auia necessida*'
de grádisstma^ ioiâo de parecer Q se.edcedessç jiMeliÇ
T 2
1*6 -lU HICTOIIEA lU.fffDU'!
O que pedia j dando as mesmas rezões Q digo^ &) por^
não 8ô fizesse Baçai oatro Diu. E Diogo da. silueyra) &
Manuel datbaquer^foráoiniiy desuiados deste parecer *,
<!izêdo quea^ia armada qae fao gouerfiador irazia^ Ih
nha miiyto custado a el íiey. , & o que se poderia dai*
por 86 derribar a fortaleza seria outro tanto ^ o que era
grande vergonha & parecia ffaq4jeza) que era muyto dé
notar pois se cometia por (aata & tam boa gente & tain**
bõ armada como ali estaua ^ & por nã ficar 6 custume
aos mouros c^como íjuísessem ajuntar quaeis quer quatro
pedras pêra lhas vendetS: iambê como Meii^ ^ria vSder
aquelas 9 & mays leualas^ que o não deuião de fazer:
& seMelique nã quisesse dar a íbrlaieea li^iremente qu^
pelejassem 9 & que esperauâo em nosso silor Q os auia
de ajudar por mays fortes que os imigos estiuessem , &
deste parecer £>râo outros ', & bo gouernador por derra-
deyro>^ & por serem mays vozes se assentou que fosse
assi y & bo gouernador be Hiandou dizer a Melique por
be' mouro Doimuz, & por .ele respondeo que ao outro
dia ma«ularia a resposta: & vendo os soldados esta dila-
ção sem saber&a causa j & porque sabião o que Mar(im>
ifonao passara cõ Melique sobre o que o gouernador te-
v^ra conselho, & lhe respõdera, assentarão^ poys ho*
gouernador não dera logo em terra que não Q^ria íazer
nadat & se (ornaua^ & leuãlouse sobrislo grande mur-'
muraqão por toda a ífrota, & o secretario Simão ferreyra*
bo disse ao gouernador, 4 vendo ho vir de fora cõ rosto
descontête Ide- pregulou que ya lá, & de que vinha des-
cõteate,.ele lhe respõdeo ^ por dizerS todos (\ se lorna*
uão pêra Gk)a sem fazerS nada , & entSdeiido ho gouep*
Dador, q?ue poys ete soltaua aquilo (| auia grade muroml*
ração na armada, & vendo tambS 4 Melique não mao-
daija reposta, tornoa a chamar a conselho & determinou
de dar em terra ao outro dia ^ era dia de são Sebastião^
& que de Ioda a gente se fizesse Ires escoadrÕes, no-
prifaeiro q seria de seis cSlOs Portugueses^ &quinhSt08
Ganaris^ yrião Diogo da silueyra, Martim a&mso de me-
LlVftOVIIl. CÀPlTVLO LXt. 14>
lo juftarte, & Manuel dalbuquer^. No segfldo que séria
doutros talos yriâo dom Fernando deça, Vasco pirez de
Bio payo, dom Paulo da gama, António de lemos, Anrri^
de macedo, António cardoso, & os ouiros capitães dos
galeões. No terceyro que seria de oylo cStos, yria o
gouernador cÒ a bádejra real acÕpaobada dos outros ca-
pitães, & nesta ordem desembarcarião todos de madru-
gada & cometerião ho cabo da tranqueyra , cujo cami-
nho ho mouro Dormuz lhes insinaria, indo na dlanleyra
com Diogo da sHueyra , & á boca da noyte a albeloça
de Pêro de faria com as mays velas que teuessem liros
grossos , & assi algQs bateis de matas se chegariâo o
mays que podessem â fortaleza & á tranqueyra, pêra ^
ouuindo de madrugada hil tiro de berço Q tiraria o seu ca*
tur indo pêra terra começassem de bater a fortaleza & Irí-
queyra»
C A P I T V L O LXI.
De como Diogo da silueyra^ Mariim afonso de melo ju--
sarie: ^ Manuel dalbuquerque desbaratarão a trâquej/'
ra dos imigos.
Xsto assentado tornarSose ca capi files aseug nauios, &
chegados á tranqueyra & fortaleza os t\ auião de dar a
bateria êcomSdouse a gSte a nosso sflor , porj) ho feyto
era muyto perigoso per a fortaleza estar tam forte como
disse, & em grandes alegrias pori^ soubessem os imigo»
% os não temião. £ vinda a madrugada Ç o gouernador
deu o sinal cõ ho berço, coma estaua* assentado, trome-
çou* a nossa artelharia de despavar & eomo era ainda de
Boyte & fazia neuoa , & os tiros desparassem quasi a
Ma foy hfla cousa esp&tosa, & rn^ays per^ a artelharia
dios imigos começou tambe de jugar cuydãdo Q os Por-
tugueses desembarcauão diante da íbrtaleza. Ú desen)*
harcados eles & postos na ordfi em § auião de yr , co*
meçarão de caminhar ao longo da tranqueyra jiera ho
Gabe'U«la, porque querèdo Diogo da silueyra entrar pela
eaua aia» qtifa quâdo achou, a altura <|U6 linba: & poit
iwèo paasou auãle por bOL campo raso onde a nusaa g)9iih
to nâ tiohâo outro emparo se não o de nosso sftor {| o«
goardaase das noujtaa bÕbardadas^ lhes os imigos tira**
uani & espiogardadas em roda viua, & oauytas bõbaa
de fogo^ & tudo tã basto Q era milagre euÂdente esea-
pare de tantos tiros y & nosso sftor seja louuado em nhtii
acertarão y pelo ^ despoys muyios dos Canaris que yãa
eò os nossos se tornarão cristãos , dizendo que o nossa
Deos era melhor que todoa os. outros deoses Q nos goar^»
daua dos perigos. E os mesmos mou«os espantados de
verá ^. os seus tiros nâo em^pecião aos Portugueses, maa*«
darão dizer a Meii^Ji í^ visse o ^ fazia por£| a artelharia
nâo fazia mal á^les homds^ & que se chegauâa ao cabo
da. trãqueyra^ onde se todos ajuntarão,. & seriãto doz0
mil hoinSs de pé & de caualo , em Q auia muytoa Rn-*
mes & outra gente branca. E^sabido por Melique a^le
recado, acodio á tranqueyra deyxãdo encomSdada a for-
taleza a hil capitão de {} confiaoa, E quando os Portu*
gueses chegarão ao cabo da trãq4sieyra despoys de tan-
tos perigos acharão como digo a^le corpo dos imigos^ {|
era cousa de tiros de fogo que tirauão pêra defender a
«entrada , mas os Portugueses não duuidando nh&a cou*
sa remeterão aos imigos na ordem em {) yão, tirado hfi»
muitas espingardadas, & outros cõ lanijadas* E venda
os tmigos a ousadia cÕ ^ os comeCião os menos : teiie^
râo coração pêra se defender o que âzer2o por hQ quar-
to dora, pelejando muy esforçadam£te & logo se desbar-
ratarão, não podêdo sofrer o. Ímpeto dos Portugueses,
& fugirão deles pêra a pouosiqão, & outros pêra a forta-»
leza, & assi os seguirSo os nossos, parte deles com Dio-i
go da silueyra {| seguio os qyâe contra a |K>uoa<;io, Sc
parte cÕ Marlim afonso, & Manuel dalbuquerque os ^
yão pêra a fortaleza: & nisto chegou Melij) ^ & come-i
<jou de recolher os seus, & assi como os recolhia fazi»
volta aos que yão coro Diogo da silueyra, mas aprouey-^
t^ua Ibe pouco, porque como os Portugueses yâo faiia^>
LfVRo y»H. «ârtTTii» tau. 191
ffeciclQS. cotna viloria a cada volta lhe matauãomuyio»:
•& Msi os leuarâo ate « pouoaçâo ^ onde Melique nâ se
atreuêdo a saluar , fugjo passaodo hOa poDte que atia^
^uessaua ho esleyro Q disse, & recoJhe€>se cõ a gente ao
pé de bua serra õde se fez forte, & na entrada da traa-
queyra & no alcâqo dos imigos fora mortos bô quinhêtos
.faamês , & niuytos deles Rumes , & atreles foy fau Abe-
21 de cauaio, ^ atreles era tido por esforçado caualeyrc»,
& matou ho loão jusarte tição, & assi foy morto buca-
'pilão dei rey de Cambaya cÕ dous filhos & hu genrro,
& não foy a esta bataiba a mays que a ver os Portugue-
ses, porque nunca os vira peiejar, & tinha deles fama
que erâo muyto valentes homõs, & este capitão se a-
cbou armado de hu bõ corsolete : & assi morrerão ou-
tros muitos capitães & homSs conhecidos, & dos Portu-
guesas morriâo ate seys , & hii deles era fidalgo , &
cbamanasse Diogo de melo, & outro Bertoiameu drago,
& doa outros não soube os nomes. Eesta vitoria se oa>-
Jie 6 três oras , & foy das prlcipaeis (^ ate aly se ouue
na índia, por ser hft feyto de muyto grande perigo, &
^er a peleja cõ a melhor gête da índia , assi de pé coh
mo de cauaio, & em i) auia moytos Rumes, & a mays
da outra gente toda brãca, afora terem Jantas mwaições
À tiros de fogo como disse»
C A P I T V L O LXII.
De awio os imigos despejarão a fortaleza de Baçtík
JL/esbaratadoa os ioiigos & posto fogo á pouoaçam, ti«*
raram os* Portugueses ^'iminho da fofftalesa , & chf^gan»-
do á metquita que disse y esperarão polo gouernadoí' ^
chegou á trâqueyra quasi em tfido os Portugueses aca^
Jbado de desbaratar os imigos, que polo pouco espaço {|
l^astarão em os desbaratar, não pode chegar mays cedo:
& foy a pressa tamanha 4 correrão os Portugueses muy*
to risco de aerè mocloa cd a noasa^ arlelkatia {[ tifauás
15S DA ffffTOMA »A INOfA
05 do mar, ^ cuydando ^ nã tomassem a trSqueyra táo
asinha , dSu faziXo se oão tirar a ela poios ajudar, fe tS
impresso tinhSo isto na fantezia, que os vião ãdar sobre
os valos da iranqueyra , & cuydauto Q erSo os jmigos ,
6 1} os Portugueses erão todos mortos, se nflo quãdo vi-
rão luzir os capacetes, então deixarão de tirar. E che-
gando ho gouernadof á mezquita deu «luytos louuores
a nosso senhor por a^la vitoria , & fez muyta honrra &
gasalhado a Diogo da silueyra & aos outros capitães lo«
uãdo seu esfor<^) & valentia, & disselhes Qesperaua em
-nosso sefior dalmocjar ali &cear dentro na fortaleza, por^
o mais era feyto: & pêra 2|brar as portas da fortaleza
mandou logo á frota -por algfls tiros grossos, l\ )X)r der-
radeyro aprouue a nosso senhor ^ não forão necessários,
& acabousc lio feyto sem perigo, por^ indo poios tiros,
mandou ho gouernador ao secretario {} fosse espiar a por-
ta da fortaleza pêra ver se lhe poderião tirar c5 as b3-
-bardas por{| mãdara , & mandou yr coele sete ou oyto
homês, & como os outros o virão abalar, f |K)r ser prí*-
uado do gouernador) leuãtarãose bem quinhétos & forão
a [x>8 ele. E vendo os mouros ^ estauão na fortaleza a-
X{ueie .corpo de gente emcaraua -nela & a bateria Q lhe
dauão por mar, & vendo desbaratada a tranqueyra, &
que Meli^ fora desbaratado, & não se poderá recolher
á fortaleza , cuydarão que lhe yão tomar a porta pêra
não poderS sayr em quãto os outros entrauão pelos mu-
ros, & cd o medo ^ disto côceberão abrirão as portas &
fugirão pêra ho esteyro c6 determinação de passar da
outra parte: & os Portugueses Q os virão derão após
eles, mandando ho secretario dizer o que passaua ao go-
uernador, que logo seguio pêra o lugar por onde os jmi-
gos i}rião fugir, & ainda neste alcanço forão deles mor-
tos perto de cinquoSta Rumes & homSs brancos, & por
não poderS passar do esteyro se tornarão pêra a fortale-
za, a cuja porta ho gouernador armou algfls caualeiros,
& antre eies forão Gil de crasto filho de Diogo borges
contador de Viseu, Baitesar lobo desousa, Tomé dé
LIVRO VII!. CÀ?lTVLO I-XII. 16Í
brilO) Líonel de lima & outros, a fora muytoe {{ fizera
aa niezquita: & despoys entrou na fortaleza dando muy-
las graças a nosso sflor pola muyto grande mercê j) lhe
fizera , & achouse muyta poluora despmgardada & de
bSbardada & muytos pelouros & outras muylas muni- '
çRes , a fora a artelharia que com a que foy tomaiia na
traoqiteyra forâo quatrocStas peças, & antrelas sete
grossas arrebatadas, & a terra foy cortada & deslruyda^
em táto t\ os Portugueses rogauão hils aos outros ^dey«
xassem algQas aruores pêra sombra, & a rogo de fafi Gu-
zarate gentio homfi velho & que tinha presença de bonr*
rado, mãdou o gouérnador que não cortassem mais ar-
uoredo. EporQ ele não linha gente pêra soster aQlafor-^
taleza contra vdtade dei Rey de Cambaya & pola não
deyxar aos mouros a mãdou derribar toda ^ assí o ba*.
luarte, & desfazer a tranqueyra, no ^ se deteue oyto
dias tendo em terra seu arrayal. E desfeyto tudo isto
ate os aliceces recolheo se a frota, &dahí mãdou a Dio-
go da silueyra aoestreylo por capitão mór debita arma-
da de três galeões de que forão capitães ele, António
de lemos, António cardoso, & bâa galé real a cujo ca*
pitão não soube ho nome, & duas galeotas, capitães
Frãcisco de sousa, & Fernão de crasto, & quinze bar*
Ífantins & catures: & porQ lhe foy dito l\ a fortaleza de
>amão estaua despejada, determinou de a mandar der-
ribar, & deu ho cargo disso a Manuel dalbuquerQ I) fez
capitão mór de hua armada de três galés de A forão ca-
pitães ele, dÕ Pedro de meneses, & Manuel de vascon*
celòs, & doze bargantins & catures, pêra que lhe deu
trezentos hom&s , & deyxandolhe esta armada se partio
per» Chaul & dahi pêra Goa õde auia de inuernar, &
daqui despachou Martim Afonso de melo jnsarte pêra yr
a BSgala fauorecer Cojeiabadim, aquele mouro Q ho
resgatou , como disse no Liuro Septimo. E por el rey
de Bengala ho não querer deyxar tornar pêra sua terra
escreueo a eirey de Portufral ho agrauo q lhe el rey fa*
zia pt dindoUie <} ho mandasise tirar dela , & ij auendo
LIVRO VIU. u
|94 iU HISTORIA DA ÍNDIA
de yr «Igu5 a itso fosse Mariim afooso, aqoeni «Bcreileo
2| Ibe mandasse aquela caria, & que escretiesaç a el Rej
os seruí<{os ^ Ibe tinha feytos, & ^ lhe pedisse a^la yda
a Bengala 9 porque ele lamb& pedia a ^l rey Q ho oilt«
dasse : & Martim afonso bo fez assí 9 £^ el rey Ibe fes
fuerce da yda, & assi lho escreueo, & escreueo aoGo-»
uernador que lha desse , &> por isso lha deu , & a lirou
a Ruy ?az pereira , a quem a tinha dada. £ auenda
^lartiro albnso dyr, deulbe bo goueraador bo galeão
sam Rafael em qtie íbsse, d^ que era capitão CriaiouàQ
de meio, & deulbe cento & eiocoejita Portugueses, &
partio de Cochim em Abril , leuando em sua consevua
^um nauio seu , & bua nao de Bastião luys escriuào da
inatricula de Gocbim , & António gramaxo em bu jun^
go seu , & outro nauio , <;om que vio cinco velas*
CAPITVLO LXHL
De ç^mo Manuel daUmquér^pu /ay dtírribo^ a fiurtmleaê
de Damão,
A. gemte que ficou com Manuel dalbuquerque^ se es»*
barooM de muyio má vootade por ser entrada dinuetno^
& serem os ventos eonlrayros, como por esiarem enfa«
dados de pelejar , & desejarem de yr descasar a Goa ;
& Manuel dalbuquerque os confortou & esforçou, & par*
tiose pêra Damão, que be hum lugar grande, & iem
hua boa fortaleza, situada na ponta da enseada de Càm
baya da banda do sul, por btt rio a cima pouoado de Gu-
zarates gentios, & na fortaleza estaua bu mouro capilâo
dei rey de Cambaya, cd quatrocentos Abeiins & Fat*^
taquls , & os mais deles espingardeyros, & estana a for-
taleza bem artilhada , & não despejada como íizerit crer
ao gouernador.. Chegado Manuel Dalbuquerque bua aAr
temenhaâ á barra de Dama , asai como chegou mandou
logo a hum fidalgo chamado loâo de mendoc^a que foese
Sondar bo rio pêra ver se poder iâo entrar nele as galèa
& ver 8 desposição da fonaleta ^ & ele fcíy êt» bbtíi ea-
(ur, & tornou cõ recado ainda ante» daMuan^ecer , que
86 galés podiSo ii$dar no rio,- & segundo as oongé^tu*»
ras que vira, que lhe parecia que oe íniiges èstftuão to*
^s recolhidos na fortaleza eaperando por eie. E com
quanto Manuel dalbuquerque isto soube, &'VÍo que tra^
zia pouca gente pêra cometer a fortaleza, era tam ami-
go de sua honrra que hâUi quis qúe dissesáe alguS que
poderá tomar a fortaleza se a cometera, & assi ho disse
a todos os capitSes, & pésso&s priâcipaeis da frota^ pe^
dindolhe que a cometessem ^ & que despoys ho tempp
lhe mostraria ho que podião laaer, & isto porque todos
erSo dacofdo que pojs a fortaleza estaua fbrte que n
nSo cometessenk, porque boGouernador os nâo iDandârd
a tomala , se nSo a derribala, erendo que estaua despe^
jada , & pois o nã estaua , nem eles nãò traziio pètre^
chos pêra a tomar , que era escusado cometela , & poto
que Ibes Manuel dalbuquerque pcídio, lhes pareeeo bem
v«remna^ & passarão tanto anante com tdda a frota,'
ainda ante menhaS, que se pegarfio eom ho muro dât
fortaleza, de que as bombardas eboutão: & vendo Ma«
fiuei dalbuquerque () nft fazta ali msíys que poderem Ihe^
matar gente, tornouse a sayr antes que viesse ho dia ,^
& que lhe podessem os imigos fazer nojo com a s^tetha-^
ria, & atrauessamio pêra Die a esperar algt^as nãos qne^
fossem aMma, d^ulbe bum tempo com queesteue qna*^
si perdido, & arribou a hfl lugar ohamado Âgacim que^
acbon despido, & achou hy rouyta madeira qe^ man-'
dou leqar a Goa, pêra onde se foyqueymado ho lugar^
fc hi achou ho governador , que por nâ ser chegado dÓ;
EsleuSo da gama ^ tiirtia a eapilania de Malaca na va»
gftte de Oaròía de fá , despachou pêra lá dò Paulo da'
gama seu jrmão, i\ entraua na mestna capitania, nasua^
vagante, que de Goa se foy a Coehim, & dahi partio^
pêra Malaea na 6f0 Dabril de mil & quinhentos & trin«:
ta & três , & foy por capitão mór dé dons naviios , &»
duas fustas , & hf coele ho» fidalgo seu tio chaipada
u 2
156 fiA HIWOMA DA ÍNDIA
TristAo datayde, que ya por capitão da (otlãlnht d«Ma«
luco. E chegi^o dom Paulo a Maiaea foy enlregue da
capitania por Garcia de sá^ & despoyt despachou Tria->
tão datayde Q partio pêra JMaluco em Agosto pêra yr
por Uorneo , & por nSo poder saber (^ue armada teuou^
o nào digo.
C A P I T V L O LXIIIL
De como cbegarã(t aa índia cartas armadas de PorlugáL
JAI este auno de mil & quinlientos & trinta & três, mao-
dou el Rey dom loão de Portugal sele nãos á Jndia re»
partidas em duas capitanias , de três foy capiláo mór
hum fidalgo chamado dom lobão pereyra, que leuaua a
capitania de Goa , & fora seus capitães hum dom Fran-
cisco de noronha que se perdeo com tempo, & Louren^
de payoa que passou cõ dom loão. Da outra armada foy
capitão mór outro fidalgo chamado dom Gon<^lo couti^
nho prouido também da capitania de Goa na vagante de
dom lobão pereyra , forâo seus capitães Simão da veiga,
Diogo brandão do porto, & Nuno luriado de mendoça
eomêdador da Gardiga,. a que não soube ho q^ie acon-
teceo na viagem, se não a dom loão pereyra, que sayn-
do do parcel de ^faJa , & inde por anire hãas jlha« ,
quis esperar as nãos de sua conserua, & preguntando
ao piloto & ao mestre eomo farião, disserão que amay-
nassem, & Aotonjo galuão , hfi fidalgo de que fiz men«
çã no liuro Septimo, que ya na nao por passageyro, &
sabia bem da nauegação, disse, que Ibe nào parecia
bom conselho, & que poya não queriâo fazer caminho,
que deuião de payrar com ho traquete pêra a nao fazer
cabeça ao már , & não yr dar em terra pêra onde cor*
rião as agoas , & lambem como estauâo perto do Tro«
pico, podia sobreuir algQa toruoada que es leuasse maya
asinha a terra , & parecendo isto bera a todos asst se
íezy porem oam durou mais que até o quarto da modor*
/
LIVRO TI1Í. CAP1TTLO LXIIII« 167
rendido, que se dom loão, & Antooio galuSo aco-
lherão a suas camará» a dormir , & ainda bem o piloto
& ho mestre não sentirá que dormiáo, derào com as ve«
las embayxo, porque iomarào ho conselho de António
galuão de má vontade. E feyta esta boa pilotagê , dáo
consigo nos camarotes, & deytàose a dormir muy des*
cansados , & duas oras por passar do quarto dalua , co*
aieçasse douuir o leme da nao , j) y'a roteado polo chão
por^ amaynadas as velas leuarã as agoas a nao pêra
terra como António galuâ dizia, que por yr na camará
òò leme acordou logo ao arroydo j) ele fazia , & nisto
deu a nao duas pâcadas tamanhas eõ a quilha \ parecia
\ se abria , & a elas acordarão os (} jaziào de baixo da
cuberta, & comei^arâ de gritar cuidando que a nao era
perdida, & mays porque viáo o mestre & o piloto desa-»
cordados, que como virão o mao recado que tinháo fey-
to pasm^ião , & nã sabia mais f) chorar , & era a reuol«-
ta muito grade na gSte, hâs brada uã ^ matassem o
mestre & o piloto , pois forão causa de se perder a nao,
outros arremetião a arcas, & a tauoas & paos, pêra se
dey tarem ao már, com quanto fazia grande escuro, &
dom loão queria tomar o batel, &, trazia hiia espada
pêra ho delender a quem o quisesse tomar. E era o de-
sacordo tamanho em todos , j| se ouuera a nao de per»
der se não fora António galuão, que màdou logo dar os
tranquetes, &'yr marioheyros ao leme, que nã acharão
por saltar fora quando a nao deu a» pancadas: & Antó-
nio galuão, ainda que vio tamanho perigo como a^leera,
disse aos marinheyros & ao piloto & mestre ^ se calasse
por a gête nã esmorecer: que nosso Senhor lhes daria
remédio que teuessem nele confiança, & disse a dom
loão que tirasse a espada que tinha, nem lhe sentissem
que queria tomar o balei, porque cuydaría a gente que
era a nao de todo |)erdida^ & remeterião todos ao batel
pêra o tomarfi & maiarseyão hfls oom os outros, qii#
dissimulasse & se mostrasse alegre, porque coiaso os a^
uia nosso Senhor de aaluar & não eõ desordens, ho que
IftS Há SUTORIA PA INDIJl
pareceo bem a dom loão , & assf bo fez , & consolou a
geúie que estaua despida pem se lançar ao már, & An«
ionia galuão chegou entfto debajxo da boba , & disse a
todos que esforçassem que a bcmíba linha pouca agoa^
que era sinal que a aao nSo abrira, & mandou logo dar
a bomba perm que vissem (| era verdade, com o que to«-
dos esforçarão. E por A ntooio galuão achar com ho pruf*
mo que eslauão em dez braças, & logo em o^^to, qum
era sinal que não tornaua a terra, mandou logo alargaf
falia ancora, & amaynar os tranquetes que linbã dados:
& isto feyto amanheceo, com que a gète acabou defifor^-
^ar de todo , & mays porque as outras duas nãos che*
garSo & lhes falarão, & ali ouaecooseJbo,.queporqQan*
to não estauSo de Moçambique mays i\ qualorze legoas^
& a nao começaua de fazer agoa l\ fossem sem leme,
]>orQ na detença que fizessem em o fazer se |K}dería a
nao yr ao fundo , & por ser tam perla poderia a nap yr
á loa do seu batel & as outras nãos yrião em goarda dei-
ta, & assi o fizerão & chegarão a Moçambique a salua^
mento, onde por não se poder tomar a agoa da nao por
ser na quilha, acõselhauâo a dom loâo que a descarre*
gasse nas outras nãos & se fosse nelas, & aquela ficaria
ali pêra a desfazerem, mas António galuão não foy desr
te parecer, se nã Q a nso se tirasse a mdte ou ás ma»
rês & se cÕcertasae ho melhor que podesse ser , & que
se fosse dom iohão nela á índia: & que ele yrta ceeie
9c ho ajudaria de dia & de noyte com quãtosleuauaque
erão muytos. £como dd Iohão tinha bem esprementado
quam bom conselho era o Oãlonro galuã tomou este : &
concertada a nao loyse nela á índia, & quãtos yão na
nao wêdo ^ António gaiuã se Sbarcaua, se Sbapcarã
lambS, posto Q eslaoã fora dela, & bem se pode crer,
que despoys de nosso Sftor ele saluou a^la nao duas ve>
ees. B assi partio dom Bsteuão da gama, que inuernou
em Moçan^ique, & dom lobão foy ter a Goa, onde int
u«rnaua o gonenuidor , que por esperar de fazer paz cO
d rey de Galícut, se partio. log^i- para lá como as nãos
LIVRO VUf» aiflTVM JUXV. I6t
àb^gaWto : E chegado a CaJicut com ioda a armada, le«
Uanlouae lamaobo temporal ^ valo, que não pode ao»
frer a amarra maia de hu dia & caçaua muylo, peio
qoe o gouernador arribou a CcM^bi, & hy «e deleue oyr
lo ou dez dias , em eacreuer pêra Forlugal , & despoyf
ie lornou a Calioui: Ecome<jàdo dau^er recadoa anlrelo
&. el rey sobre as paaes, niica em dou«i dias se pode lo*
mar nelaa nenbtta concrusào y porque cada bum queria
biia cousa, & nisto sobreueo Iam braua tormenta, que
todos os nossos se deráo por perdidos, & alargando lam<*
alauea o vento , que Maiiuet dalbuquerque pode dar o
traquele da sua galé , acoibeose por se não perder , &
cuydando bo gouernador que ya desamarrado, & que ea*
garraua fes sinal á frola que leuasse, &diffirindo bo tra-
quele .dauanle seguio a pos ele pêra Ibe acodir , & des*
pois de ver como ya, por o vento Ibe nfio seruir pêra
tornar a Caiicut, fezae na volta de Goa seguindo bo toi*
da a frota , & foy aferrar bo seu porto, & por esta cau^-
sa não ouuerSo efeyto aspaMs com el rey de Caiicut.
C A P l T V L O LXV.
Dé cmno Foft» 4a €umha foy eqnar Diu.
Jtio Goueraador ficou tam magoado de qoam mal Ibe
•ocedeo a em pressa de Diu , que por muyias boas ven^
turas que lhe deapoya soc^deráo na^ podia perder a ma-
goa que tinha , nem evydaua o mays d]0 It^mpo se nâo
%ue i^ianeyra leria pêra fa«.er fortaJesa em Diu, & coes-
te fundamento mandaua fazer laala gueini a Cambaya,
porque ei Rey enfadado dela lhe desse esla fortaleza ,
porque teuesaem paz. £ pairecendolbe que el rey este*
neaae ja mais brando pêra isso, lhe mamtou bua embai**
xada per Tristà degá sqbte que lhe desse fortaleza em
Diu, & que faaia paz coele, & seria seu amigo, & por
o mesmo Tristão degá escreueo a algas capitães dei rey,
& seftbof ea de «na corte ^ua bo fattotecesae». , & aju-
100 DÁ HISTORIA DA iNDfA
dasiem pêra aue^ eaia foríaleea, & lhes imindou fyreMtt^
tes pêra q4ie o fizessem de meíhor vontade , & nisto se
trabalhaua. Despoys que el rey ouuio a embaixada, que
mostrou ouuír de boa vontade, porem nam tinha nenhfla
pêra dar a fortaleza. E andando assi esíe enibajxador
coro ei rey , soubeo Melíque tocSo capitão de Diu , (|
eslaua muyto receoso de lhe el Rey tirar aquele estado
pêra o dar a Rumecão, &• estando coeste receo, nSo ae
sabe com que tenção escreueo ao Gouernador que lhe
mandasse bã fidalgo com que podesse falar miudamente
cousas que compriS muyto a serui^ dei rey de Portu*-
gal, & quando o gouernador vio esta carta, sospeytou
queMelique quereria dar fortaleza, & fazendo logocon*
selho sobrisso, pareceo a todos ho que o gouernador 808«
peytaua, ic por isso assentou que se mandasse o fidalgo
^ Meliq pedia , pêra (| o gouernador escolbeo a Vasco
da cunha, assi por cavaleiro muito esforçado & sesudo,
como por antigo na índia, & saber bem os costumes
dos mouros : & deulhe hQa instrução do que auia de fa^
zer com Melíque, que auia de ser, que ele desse aquela
cidade a el rey de Portugal : & que ho gouernador em
seu nome lhe fazia por isso doação de juro dametade da
renda da alfandega dela, & mais ihe faria hSa fortaleza
em qualquer dos rios deCambaya que ele quisesse, pê-
ra que esleuesse seguro dei rey deCambaya, contra
quS ho fauorecería, & ajudaria de cada vez que lhe fòs**
se necessário, & que trabalhasse ]}OTjr^ cidade &ver^
se auia nela algfla entrada por onde se podesse tomar,
porque não se tomando concrusão com IMelique, yria»
3obrela outra vez &, a tomaria, & pêra isto mandou que
fosse coele ho artílheyro mór, que sabia muyto daguer*'*
ra. Eassí lhe deu mais hum lao Cristão casado em Goa,
jrmão dum bombardeyro que estaua em Diu no baluar*
te do már , que se lhe offreceo , pêra falar coeste bom«
bardeyro seu jrmão, & intentar se se poderia por algfla
maneira tomar a cidade. E despachado Vasco da cunhar
de tudo ho que compria a sua viaj^em, partiose em hQa
MVftO VflI. CAFITVLO LXV« 161
fusta na entrada Dagosto, & chegando á barra de Diu,
aruorou hua bandeira branca, ho que sabido por IVleIi->
que sospeylando ho que era, peio que tinha escrito ao
gouernador, mandou hum bomS deconfiãça a saber quem
vinha na fusta, & Vasco da cunha iho disse, & que tra-<
xia hua carta do gouernador a Melique tocâo, porS que
não auia de yr a terra sem lhe mandar por arrefens o
capitã do baluarte do már que lhe logo mandou, &dey"i
xando ho Vasco da cunha em poder Dãtonio borges (hum
fidalgo que ya coeie) se foy desembarcar na cidade , &
se vio cd Melif| nas suas casas onde falarão de praça
hum pedai^o, & despoys se recolheo Vasco da cunha a
bum aposento das mesmas casas onde auia de pousar^
& hi foy falar coele Alelique secretamente, que como
sabia falar bem ho Português, não ouue necessidade de
iingoa. E despoys de lhe Vasco da cunha dar hua carta
do gouernador em Persiano, em que lhe escreuia o qua
queria dele, & ho partido que lhe faria, l\ Melique leo:
\he disse mais, que mio deuia nada a el rey de Cam-*
baya pêra por amor dele deyxar de fazer híia cousa d^
tanlo seu proueylo como lhe o gouernador cometia : an-
tes ainda que nao fora de nenhQ interesse a ouuera de
fazer por se vingar dos danos, & agrauos que Iheel Rey
de Cambaya tinha feytos, como fora malar lhe seu jr-
mào mays velho Melique saca, por outra nenhua causa
se não por lhe tomar sua fazenda, cuidando que fosse
rico, & tírarlhe a honrra do gouernador nao tomar Diu,
& dala alVIustafa hum estrãgeyro, que fora sem porque
tredoro ao Turco seu senhor, & que causas erfio estas
pêra que. vindo conjunc^ao pêra isso, como agora vinha,|
vingar se dei rey de Câhaya, & tirarlhe Diu , & dab
ao goueriíador com partido Iam proueytoso como ihefa-«
zia, & mais com (içar em sua natureza tam seguro dei
rey de Cambaya : & Melique lhe respõdeo que lhe pa-
recia b8 tudo ho que dizia , & com tudo queria cuydav
nisso, & despoys 11^ responderia: & Vasco da cunha
lhe disse que cuydasse, & entre tanlo yria dar hita car^-
LIVRO viir. X
162 SA HISTORIA I>A INBtA «.
la do Goueroador a Diogo da silueyrà que chegara en-
tão á põta de Diu de Masca le onde inuernara, sem fa-
zer no estreito nhfias presas. E a carta do Gouernador
pêra Diogo da silueyra dizia , Q na fizesse nbOa guerra
a Diu, porque trazia hiL embayxador com el rey de
Cambaya. £ despedido dele Vasco da cunha se tornou
m Diu , que lhe Meli<}ue locSo mostrou ^ & b8 elle nê o
artilheiro mór virão entrada pêra se poder cometer se
não com grande força de gente, pêra se repartirem ter-
ça & no mar, & hua atupisse a caua & batesse os mu*
90S, & outra pelejasse com a armada doa mouros que
estaua no már. Tambõ neste tempo ho lao dè Goa es-
teue com o bombardeyro seu jrmâo no baluarte do már,
pêra ho que disse ,. maa nfio ouue maneyra pêra nad&^
nem Melique se acabou de determinar, se aceytaua ou
Bão o que lhe o gouernador cometia: &respõdeo»Vaa-
eo da cunha ^ na^le vera yria o gouernador darmada
até Diu, qqe até êíão se determinaria, & lhe daria ar
uiso de sua deterraioaçâ , & deuihe hila carta de crea-
ça pêra ho gouernador, & coela se foy Vasco da cunha
pêra Goa , onde contou ao gouernador ho que fizera^ &
Diogo da silueira. se foy pêra Chaul.
e A P I T V L O LXVI.
Do que fez dom Pauh da qama despoys de ser €apitAh
de Malaca.
J-^espoys que dom Paulo da gama foy entregue da ea-
Êitania de JMaiaca^ determinou de fazer guerra a el rey
(ugeniana, fiiho do Rey a que Afonso dalbuquerqúe
tomou Malaca , que despois de perder Bmtâo , fez seu
assento em hâa cidade,, chamada Vgentana ,. cinGoenta
legioas de MaJaca por h{l rio acima^ & era muyto pode-
roso* de gente, assi por már comq por terra: &estedes^
poys que foy Rey , assentou pazes com Pêro mazcare*
nhãs sendo capitão de Malaca,^ porS nunca despoys conir
Lrr«o VIU. qapítvuo lxvi. l€S
prio as condições tias pazes. E porque dom Paulo iste
«abia, determinou de lhe fazer guerra , & yr sobre ele
& tomarlbe a cidade y & isto eom conselho de todos os
fidalgos <)tie estauão cÕ ele : & estando quasi prestes a
armada que dom Paulo auia de ieuar, chegou á jlha das
Nãos hila armada de vinte sete iScharas bem fornida de
gente & dartelharia, & era dei Rej Dugentana, & ya
por seu capitão mór htl valente mouro chamado Tuíio^
barcaiar, ^ mãdou dizer a <lõ Paulo^ que el rey Dugen-
tana seu senhor bomandaua^m socorro «dei rey de Pêra
seu jfmâo, & lhe mandara que de caminho mandasse
saber dele se mandana que ho seruisse em alglla cousa
& que ho fizesse^ ao que dom Paulo respondeo com muy-
tos agardeciment<>s, dizendo nSo ter necessidade de sua
ajuda , & o capitão se foy. E examinada bem -esta sua
vinda, & offrecimentes desnecessários, assentouse que
aua vinda não fora por outra cousa, se não que sabendo
el Rey Dugentana a armada que se fazia prestes , pêra
yrem sobrele, mãdara esta armada cõ a{}la dissimulaçã,
pêra ^ ficasse nas costas da nossa , <} como auia de 1&»
uar toda a pricipal gête da fortaleza, & auia de ficar
pouca pêra defSder poderia os inngos desêbarcar a seu
saluo, & ao menos queymar a pouoaçã dos Quelins, &
por isto se assêtar fior todos ser assi , se acordou por
eles ^ a yda sobre Vgentana era escusada, & que ficas-,
se pêra outro tempo. E porque dom Paulo segurasse el
rey DugStana, & lhe fizesse perder algOa sospeyta se a
teuesse, mandoulhe per êbaixador a Ml Fernã vieyra,
que confirmasse as pazes que estauão assêtadas: &des*.
poys que foy em Vgentana d rey ho prendeo & a quan-.
tos yao coele , & mandou os matar cõ diuersos géneros
de morins, dizendo que ho fazia, porque sabia que os
nossos erão seus imigos, & mays por vingar a morte de
Sanaya que Garcia de sá mãdara matar^ como disse,
& dali por diante se começou guerra antre os nossos &
ei rey Dugentana, 2) roandaua suas armadas correra
Malaca, & pelejauão com a nossa armada, & assi du^-
X 2
164 ]>A HISTORIA PA INJDIA
rou a guerra ate que foy dom Esleuão da gama (como
direy a diante). E com quanto dom Paulo aào tioba
mays de duzentos bom6s, era tão esforçado & de tâo b5
fiaber na guerra, que ordenou sempre tam beio suas
icousâs, que sempre leuou ho melhor dos imigos: &60^
bristo era tam Jiberal , que gaslaua bo seu muy larga*-
mente, dando muylo grande mesa aos soldados. E du^
rando assi isto, por auer quinze anoos ^ eJ rey de Pâo^
& el rey de Patane, estauâo de guerra com a forialeaa
de Malaca, Q era grande deseruiço dei rey de Portugal,
determinou dom Paulo de fazer pazes coeies , que lez ,
indo por embayxador hum Manuel godinho» que as as*-
sentou muyto á vontade de dom Paulo , & como com*
pria a seruíço dei Rey de Portugal, que foy grande pro-
ueyto de sua fazenda, & da de seus vassallos: E estas
pazes forSo causa de tornarê a tratar na China, de que
se despoys descobrirão pelos nossos, mais de ciocoenla
portos melhores que os de Canlâ, como a diàle direyw
C A P I T V L O LXVIÍ.
Da treyçâo que el rey de Bengala ordenou contra Mar-
úm ci/bníío de melo jusarte.
dTjLartim afonso de melo jusarte que partio de Gocbíia
pêra Bengala com cinco velas , foy surgir na barra da
cidade de Chetigâo , & cõ iicêga do Goazil da cidade
(que he como gouernador) soyo em ierta oom os Poft.
lugueses de sua companhia : Sc porque aly se paga na
alfandega de ires bfum , que he muy grande dereyio,
receará os Portugueses de o pagar & por isso esconderá
muy ta da fazenda Q leuauã , sem a ieuarS â alfandega ,
o {) foy peor por^ o Goazil o soube, & deu na casa em
que estaua, & a tomou por perdida pêra el rey de Ben-
gala. E neste tempo mandou Martim afonso hum Duar-
te dazeuedo, que agora mora em Euora, com hiia eo>-
baixada a el rey de Bengala sobre paz , & amizade com
LIVRO TIIU QàTfm0' UXVIU 165
€l Rey de Porlugal, & deyxar yr pêra sua terra a Coje-
«xabadim , & niaodouthe de presente doas caualos ara^
fbios, & bua faca de Caaibaya & algus caixões dagoas
rosadas, que António de saldaoba tomou na nao çafe^
Xurca j & uiuy tas peças de veJudi)s \elulados & densas»-
€08 , & islo da parle do gouernadar da iodia, & da sua
muyta fazenda outra & das partes, porque costuroa el
rey de Bengala de mandar avaliar ho que Ibe dâo ose»-
trangeyros & pagaribp) & ialo por auer todas as boas
fieças ^ leuâo, & por isso lod<>8 os lAercadores & outras
•pessoas esLrangeyras i\ vao a ele^ Ibe faseai muyto gr jl^
4es presentes, em que teiin o ganho 0iuyío certo, &
Aiais forrão os dereilos ^ ounerÀo de pagar , porê ng tó-
rios Jbe pode mandar presentes, por a cidade doGouro,
em que reside, estar çS legoas dos portos de mar pelo
Gàges a cima , & ser a yda lá muy custosa. K despa^
chado Duarte daseuedo, partío se pêra bo Gouro, & fo-
rno coeie bú luto de vilbalobos Destremoz, Nuno fei^
Jiandez freire, lurdão de moraeis, Diogo cabaço, Dio
^o ferras^, Lopo cardoso, & outros que faziâo numero
de dez. Enauegado |x»lo rio acima, cbegou á cidade do
Gouro, (cujo sitio & m^breza disse no Liuro Quarto). E
chegado lá, aébou {| era morto Nançarotexá rey deBen^
^ala 9^0 matarão os seus capados , de que ficara hú fi-
iko que por ser menino gouernaua o reyno bfi seu tio
jrmâo dei rey, ^ auia nome JMabmudxá» & este mora^
Jia nas casas dei rey , ^ erâo do temanbo Deuora, bil
BUntuoso & nobre ed^cto., taurodas todas as casas de
Jauores douro, & o ebno & as paredes eubertas dazule-
jos , & no meo destes paços esta bQ pateo , (| ocupa târ
to espaço como o resio de Lisboa , a Q enérào por doze
portas, & todas em voltas, & em cada biia estào quar
tro porteiros , & no cabo deste patee está bum alpen-
dere, aque eles cbamao Bailéu, em ^ ei ftey deBenuola
iuiue os emhíiíxaderes , &.eiitào esta bo pateo theo de
:gête^armHs. Tè (áihê estes paços muitos jardins & ca-
sas de prasòr, Q ale die rioo8 eaiu muylo deJeitosos. tíâr
166 9A fffSTOMA BA rNDIA
-bendo Duarte dazeuedo, €oino Mahmudxá governatta n
Teyno ^ deuihe a èbayxada {| ieuaua a el rey , & asâi ho
presente da parte de Marlim afonso^ &ele lhe disse i\ o
despacharia, & três dias despois disto matou Mahmudxá
el rey seu sobrinho, & fezse rey de Bêgala, estado as^
•sentado Ires dias & três noytes tia cadeira real, porque
doutra maneira não podia ser rey. E como ele tinha
muitos de sua parte pode fazer isto: & ficado por reydé
Bêgala, tornoulhe a falar Duarte dazeuedo, relatSdolhe
outra vez sua embayxada, & assi lhe deu o presente
que Jeuaua a el rey da parte do gouernador. Com que
«I rey folgou muyto, & prometeolhedeo despachar muy-
-to cedo : E por nâo yr de cada vez tâta gente ao paço,
disselhe que nS fosse daly por diSte mais que Nuno fer-
nSdee freire, ^ sabia a lingoa, & a que conhecia da
outra vez que esteuera em Bègala, & assi se fez: &
neste tempo que esperauâo ho despacho, tomarão Nuno
/ernandez & os outros Portugueses grade cSuersação &
amizade com hum mouro VaISciano que moraua na cir
dade que tainha a tomou coeles por serS Espanhoes, &
folgaua de falar coeles nas cousas Despanha , princípal-
mête de Valença donde era naturapi, & este era homS
principal na cidade, & tinha grade credito cõ el rey:
& a mesma amizade tomarão com hum logue, chamado
Xei} pír, Q dezia ser de trezStos anos, !) fazia grada
austinScia âc santa vida se nã fora Mouro, & por isso
el rey & todos crião muito nele, & lhe fazião esmolas.
E quando Duarte dazeuedo deu a d rey o presente da
parte do gouemador, em que (como disse) entranão
algas caixdes dagoas «rosadas f\ forão tomados na naaça-
feturca , ^ ainda ieuauão a marca dos mouros de cujos
-forão, que logo forão conhecidos por hix Rume, cuja
fora a fusta que tomara Damião bernaldez, que moraua
no Gouro, & como ele eslaua muyto magoado da fusta
-i) lhe tomarão., & dos cÔpanbeiros que forão mortos &
catiuos na peleja, acrecêtouselhe a magoa coro veros
•caixões que sabia eomo fora tomados : & desejando de
LlVaO VIII. CAFITTLO UCVtl. 167
86 vingar, trabalhou por fazer malar Marlim afonso com
quStos Portugueses estauS em Chetígão , & quãtos es-
tauâo no Gouro , & pêra fazer com el rey Q o fizesse j
peytou a hu capado que auia nome Agebabedeia grade
priuado dei rey ^ a ^ disse que não deuia de consentir
que os Portugueses fossem a Bengala^ por<| tinha sabi-
do que eram ladrões , que roubauã os romeyros ^ yão a
Meca y de cujas forâo as mais das peças j) ihe derão de
presente 9. ^^ Q J^^ espiar as terras cÕ mostra de trato
& amizade, & despois as cõquistauâo , como fizerSo em
muytos lugares da Índia: O que sabendo el Rey de Ga*
licut j & despois el rey da China , os nâ quiserâo con-
sentir em suas terras , & oa matarão & tomarão quáto
leuauSo, pelo que nunca lá mays tornarão 9 & assi de»
uia ele de fazer , & aueria cem mil cruzados Q leuauão
de mercadoria. £ como el rey de seu natural era tira-
no , pareceolhe isto bS , & mãdou logo recado ao Goazii
de Chetigâo que prêdesseMartim afonso & osPortugue*
ses Q estauão eoele , & lhe tomasse as fazendas & lhos
mftdasse : E porque se isto não descobrisse per alguém,
S& fosse auiso a Chetigâo^ mandou poer goardas assi no
rio como em terra , Q não deyxassem passar ninguém
pêra Chetigâo se nâo quem leuasse sua licença , porem
isto não se pode fazer com tãto segredo , <| bu Gentio
chamado Darinda ho nâo soubesse, & este ho descobrio
a Nuno fernãdez ,. por bQ certo preço ^ lhe pedio por
isso prometendolbe de trabalhar fK)r saber quãto passas-
se neste negocio.. £ como Nuno fernandez foy sabedor
desta treyção, escreueo logo a IMarlim afonso, a que
não pode yr ho recado por amor das goardas que não
deixarão passar ho portador,. & quando Nuno fernandez
isto soube, disse ho a Duarte dazeuedo & aos outros,
que tambfi esperarão que lhes fizesse el rey o mesmo ^
noandaua fazer a ASarlim aibnso, & encomedarâose a
Deos, por{^ nâ Unhão nhft remédio pêra escaparê, &
Nuno fernãdez ya falar muylas vezes com o logue , &
dizialbe o que passaua,. & encomendaualbe que Classe a
el rey por eles.
lei * TU MBrOaUA DA INBU '
C A P I T V L O LXVIII.
De como Martim of&mso de melo jusarU foy preso em
Btngala.
I^heg^ado ho recado dei rey de Bengala ao GoazH de
Cheligâo, determinou de prender Marfim afonso, ^ an-
daua coele em re^rimento que tornasse a fazSda Q Ih
nha tomada ao6 Portugueses: & determinando de ho
prender , lhe mandou dizer t\ lhe fosse falar , & concer*
tariâ ambos como lhe auia de tornar a fazenda* E Mar-r
tim afonso leUou consigo cSlo & cincoenla homSs os
mais deles com espingardas, & vendo ho GoaziJ quâ bS
acõpanhado ya, não ousou de cometer o que tinha de*
terminado, & fingindo grandes ocupaqoes dissimulou
com Martim afonso, pedindclhe que ficasse pêra ho ou«>
tro dia, & mais que por lhe fazer grande honrra auia
dir gõtar coele com todos os Portugueses nrincipaeis^
pêra que ele se podesse gabar de tamanha honrra como
aquela. E Martim afonso como era bom homS, & sem
nha dobrez, pareceolhe q ho Goazil lhe falaua verdade^
& por lhe comprazer por «irnor do requerimento Q (razia
coele aceitou ho gentar, sem lhe Jêbrar que não conui*
nha a seu cargo aceytalo, &que lhe poderiito fazer trey*
çâo, & pois ya, yr apercebido como o^dia dates. Efian-
dose no Goazil, foy com quarenta homBs sem leuarS to*
dos mays armas que suas espadas , & outros ficará na
pousada com hum Francisco pacheco, & loSo jusarte
tíçâDazinhaga que ya também na armada não quis yr,
por ter cõcer lado de yr a monte a matar hum porco. B
Marti afonso foy coesta companhia que digo a casa do
Goazil que tinha prestes grande baqueie, que foy dado
era hum pateo de baixo de hum alpendere, & estando
no meyo do comer, ho Goazil se leuantou supitamenlé
da mesa, fingindo íj lhe vinha hum accidête ao estama-
go, & disse a Martim afonso , & a Gonçalo gomez da^
LIVRO VIII, CAPITVLO LXVIII« 169
zeuedo que estauão junto coele, que não se bolissem
que logo tornaua, & eles muylo inocentes ho crerão,
& deyxarãse estar , ^ se logo se leuantarão nio fora o
que foy : & esperando eles polo Goazil , acodfi b3 qua-
tro mil frecheiros por cima das paredes do pateo, &
com grandes gritas cometo de desparar suas frechas
em Martim afonso & nos outros , que conhecerão em-
tam ho mao recado que tinhão feyío em se liarem dos
mouros, & não tendo outro remédio, acodírãologoá por-
ta do paleo pêra 43e sayrem & acharâona fechada, &por
mais for^ que poserâo nunca poderá leuar as portas fo-
ra do couce, & entre tanto os mouros não fazião senão
frechar neles , & forão iogo cubertos de frechas Cristo-
uão de melo, Gonçalo gomez dazeuedo, António de mez-
quita, António graroaxo & outros seys que cayrão mor-
tos, & Martim afonso também ouue sete frechadas mas
não forão em lugares perigosos , & era grande magoa
ver a ele, & aos outros que não se podião defender dos
mouros nem oflendelos, & salcauão dum cabo pêra ho
outro por se goardarem das frechadas, & arremetião á
porta perfíando pola leuar fora do couce : & nisto apar
receo o Goazil sobre a parede , & fazendo estar quedos
os Mouros , disse a Martim afonso que bê via como es*
taua, que não quisesse morrer & que se entregasse,
porque não era pêra mays que pêra os leuarS a el rey
de Bengala que desejaua de os ver & que lhe daua es-
paço pêra auer conselho com os seus, com que Martim
afonso se apartando lhes disse, que nâo se enganassem
cõ o que lhes dizia ho Goazil , por^ se assi fora ja que
os Unha em seu poder & estaua seguro de não se -po-
derS defender antes de lhes mandar fazer mal, lhes ou<*
uera de cometer ^ se dessS, mas como determinaua da
08 matar ou prender, nâo fez coeles nhií comprimSto,
que lhe parecia que nâo se deuião de dar^ porque ca
outros Portugueses lhes «codiriã & os liurarião, & todos
forão contra este parecer, dizSdo <} se os mouros esqui-
Serão matar, Q lhes na cometera o Goazil ^ se dessem,'
LIVRO VIII. y
170 9A H18T0aiA DA INDfA
porj| não lhe inòtaua may» malaios ás frectadai que
aiaodarlhea cortar as cabeças, & se os prendesse que
Msaz de roerce Hied fazia , fx^r^ ou por resgate ou poc
euira maneira teria esperancja de ser8 soltos por isso que
se dessem 2 & nâo esperassem pov socorro , porque ae
os outros Portugueses lho ouueráo de dar J4i aií forão:
& eJes dizia verdade, porQFrácisco pacheco Q ficauaoa
pousada por mayoral , como ouuio ^ Martim afõso esta«
na cercado dos mouros , em vez da lhe acodir fugio pe*
ra os nauios , & assi fízerão os outros, dejfxàdo quanto
iinhão em terra ^ & tudo lhes tomarão os meuros, & se
teuerâo acordo também os matarão: & loão jusarte ti^
(ambem se saluou milagrosamente, que no monte sou«
be bo que passaua na cidade. £ vedo Martim afÕso ^
es que estauã coeie erão de parecer que se dessem ,
eonsentio nisso muyto contra sua vontade, & entrega*
vfiose, jurãdolhes o Goasil em hum Moi^fu, que os náo
prendião se nâo pêra os leuarem a el rey de Bengala
por^ desejaua de os ver : & como fora presos bo Goazil
es mandou leuar por terra ao rio Ganges , & por ele ar
eima ao Gouro.
G A P I T V L O LXIX.
Do perigo em que os Portugueses esteuerâde serem marUm
JJjíú quanto se isto £izia, Nuno fernÂdez frejre, que
eom Duarte dazeuedk» ^^ & os^ outros Portugueses estaea
no Gouro, trabalba-ua por saber de Darinda, ho gentio
que disse, que nonas tinha de Martim* afoneo & dos ou*
tros, & mâdaua lho preguntar pelo língoa. £ bum dia
pola menbaã lhe respondeo,. que Martim aibnso & oe
outros erão presos & que os leuauão ao Gouro, & Mune
fernandez ho disse iogo a Duarte dazeuedo, & que lhe
parecia que os auião logo de prender por isso , que de-
terminassem ho qne seria bem que fizessem , & Duarte
dazeuedo, & loSo de vilbalobos, Diogo caba^, Dioge
LIVRO VIU. CAPITVl-0 «JllX. 171
:ferrâK & ontfos quatro^ forSo de parecer quese^tregaa-
«em lof O9 & Ntino fernawl^ez, lurdão da morais, & I^o-
po Cardoso , diaserão que nào aa aiiiâo denlregar, por-
que poys os auião de matar queriâo primeyro vender
bem auas vidas. £ estando nesta pratica ex que dá de
supito sobre as casas huai capitão dei rey de Bengala
con quaíTooenlos aoldados pêra os prender, & começan-
do de quererem entrar a casa, eotregarXose logo Duar-
te daaetiedo & os outros que erfio do sen parecer, icem
estes sayndo arremeta Nuno fernandez freyre, Lopo
Cardoso & Inrdfio de moraeis á porta, & defendiãona tam
-esfor^adamête , que os imigos a n2o podiâo entrar: &
como daqui recrecese grande ainoroço , acodio ho Las-
car, que he como bo regedor da justiça etn Portugal:
& vendo a Nuno f^ernandea com que tinha oonhecimen-
to disselfae que pêra que era cometerem bo que não a-
uiSo de poder leuar auãte, que se desse, porque el rey
os nfto mãdaua prender se nflo por algfia máenformaç&o
<\ue tinha deles^ que sabida a verdade os soltaria logo^
& ajudou o a isso Duarte daxeuedo, & os outros: &veii>-
do eles que nSo se podiSo defender derãose, &; forfto
presos com outros de dous em dous a hfia braga ^ & ho
Lascar lhes mandou escreuer as fazfidas & socrestalas^,
ic reboluendo hOa arca que não auia mays que escre»
uer, foy achado no fundo dela hâ Cruciãxo de vuito^
que bfl mouro amostrou dizendo que aquele era hoDeos
dos Cristãos como por escarneo, o que magoou tanto os
Portugiieses que chorara: &Nuno fernandez lhes disse^
que poys aquele Crucifixo se aobara a tal tempo, que o
deuiâo de tomar por sinal de seu liuramSto que espe-
rassem em nosso senhor que auiã descapar. E presos as^-.
si^de dous em dous forão leuados á cadea da cidade era
que aueria bem quinhetos presos, & logo Agefaabedalá
disse a el Rey, que pêra que erão presos aqueles la^
d? Aes {) os mandasse ntatar, & mandando el rey que os
matassem quis nosso senhor {} parecesse aquilo mal a
bum mouro chamado Aifacão que era ayo dos moços &
T 2
172 BA HT8TORIA BA INBIA
dalgos dei rey, & disselhe ^ nã deuia de mandar matar
a(}les bomCs, por^ estaria antreies algtls mercadores que
não terião culpa, & Agehabedelá a que pesou muyto
douuir afjla pajaura, disse que não era bem que se des-
se a vida a ladrões , & pêra os matarem a todos lhes
dissessem que os que soubessem tirar com espigarda ^
os auiSo de goardar pêra a guerra, & aos que fossem
mercadores que os auíâo de matar, & todos diriâo que
sabia tirar com espingardas, & logo este recado foy da-
do ao Lascar , que logo se foy á cadea , & ho primeyro
a que preguntou se era Lascar! foy a Nuno fernandez
.freyre, dtzendolhe a causa porque lho pregQtaua, & pa-
rece que nosso senhor inspirou nele quesospeytasse ho
£m pêra que lhe fazião aquela pregunta, disse que era
mercador, fc que bem ho deuiâo de conhecer por tal,
pois com aquela erão duas vezes Q ali fora , & ho Las-
car parecendolhe Q negaua a verdade, por comprazer a
Agehabedelá que assi lho encomendara, quis fazer me-
do a Nuno feraaodez pêra dizer que eraLascarim, man*
douho tirar da cadea & íizerão que lhe querião eortar a
cabeça poSdolhe hiia espada no pescoço, & dizialhe ho
Lascar, que se queria viuer i) dissesse a verdade, mas
nem por isso se disdisse, & ho mesmo aconleceo a lur-
dã de mordíeis & a Diogo cabaço, & os outro» com me-
do da morte dizião que erã Lascarins, & que sabiâo
fundir artelharia, & eomo ho Lascar vio que bils diziâo
hua cousa & outros outra, não quis fazer nada ate não
dar couta a el rey, & escreuendo os nomes de Nuno
fernandez j Diogo cabaço , & Furdâ de moraeis pêra os
mostrar a el Rey, foy lhe dar rezSo do que passaua, &
acertou de uão estar coele mais !\ Alfacâ, Q disse a el
rey despoys de lhe ho Lascar fazer relação do que pas«
sana , que poys não ganbaua nada em mandar matar a-
Qles homSs que lhes desse a vida, porque poderia vir
tempo em que folgasse de os ter viuos : & quando des-
.poys os quisesse matar que hy os teria, & el rey foy
cõlente, & assi escaparão os Portugueses, a que Alfa-
LIVKO VUI. OAPITV&O LWX. 173
cão mandou dizer bo que disaera a el rey , & poys es-
caparão daQla ora ^ espérassei!» eni Deód que os salua-
ria & ^ lhe rogassem por eles & por ele , & ^ soubes-
.sem que auião de ler uele hum hotn padrinho. £ des-
poys disto chegou Marlim afooso de melo & os que fo-
rão presos coele, & foráo melidos em hua cadea que es-
taua melida dentro nos paços dei Rey que era comoca-
.dea da corte, & estes andauâo presos cada bum sobre
sy, & as mãos soltas, & JNuno fernandez & os outros
a fora estarê presos de dous em dous, andauâcõasmãos
dereylas presas ao pescoço, & hQs, & outros na tinbfi
pêra comer cada dia maj^s que bum Pone, que polamoe*
da Portuguesa sam três reys, que cÕprauSo darroz que
coziâo em agoa, & isto lhes sostinha a vida pêra não
morrerS com fome. E com tudo Nuno fernandez & seus
companheyros passauâo melhor acerca do comer , por-
que lhes fazião muitas esmolas algús fidalgos que esta*
uã presos,, & assi bo logue, & bo mouro Valenciano
que disse, & Âlfacã, & de tudo partiáo com IVlarlim
afonso & com os outros^ & do mays passauâo todos muy
trabalhosa, & triste vida, esperando cada dia que os ti-
rassem a degolar, como faziào a outros muy tos, que
não auia dia que bo não fizessem. E até as onze horas
estauâo sempre sem comer, que não podião com os so-
bre saltos que tinbão até aquelas oras se os roatarião:
& com bo roi comer & fedor da eadéa, & com não ves-
tirem quorenla dias camisas adoeciâo deles. Eouue nos-
so Sflor por seu seruiço, 4 passados estes quarenta dias,
el rey por conselho de Âlfacâo quis ver o fato que fora
tomado a Nuno fernandez, & aos outros & mâdoulbes
dar muytas camisas, ceroulas, & gibões, que estauão
antrele : &assi mandou dali por diante dar a cada bum
cada dia bua tanga pêra sua mantença, & coeste fauor
)hes respousarS os corações, & perderão ho medo que
dantes tinbão: & assi viuerão até a mouçâo seguinte,
em Q o gouernador mandou recado a el Rey de Bengala
sobre resgatar ASarlim afonso (como direy a diante).
174 •▲ HIMlOHffA DÁ f NmA
C A P I T V L O LXX.
De cBmo as Cú$tMano$ que €9tau6o eni GeUoh $e forêo
peta Tnstâo dáUayde.
Cw.d,
lo Tristão datayde n Malaca com dom Paulo da
gama seu sobrinho , parliose pêra Maluco (|«asi na fim
Dagoslo, porque auia dyr porBorneo. E porque ná pu-
de saber certo o ^ lhe acdteceo no caminho , nem Q ar-
mada leuoU;, o nâo digo, se nSo que chegoo á jltia de
Teraale em Outobro de mil Sc «{uinhentos, & trinta Sc
três : & desembarcado foy bem recebido dei rey Taba-
rija , & de Vicente dafonseca , que folgou muito cd sua
TÍnda, pelo aperto em que estaua cõ a guerra dosGey-
lolos , & entregoulhe a fortaleza , mostrandolhe Tristão
dalayde primeyro as prouis&es que tiuha pêra entrar
naquela capitania. E como neste anno não era çafra de
crauo nem ho auia 9 & todos os Portugueses teuessem
suas fazendas pêra empregarem no anno seicfuinte, pelo
que desejaufto de íicar na fortaleza, todos se tizerSomuy-
to amigos de Tristdo datayde pêra os deyxar ficar, Sc
aigús lhe descobrirão que Vicente dafonseca em ele vin-
do á vela, apanhara quanto auia na feytoria pêra se pa-
gar, & a seus amigos, do que lhes era diuido de seus
ordenados Sc soldos , pelo que Tristão datayde ho man^
dou prender , Sc buscarlhe a casa , Sc lhe mandou tomar
quanta fazenda se achou que leuaua da feytoria: Scmâ-
dou logo tirar deuassa dele sobre a morte de Gonçalo pe-
reyra, Sc sobre tomar ho reyno, a et Rey Cachil daya-
lo, Sc dalo a Cachil tabarija. E sobre outros males que
tinha feytos. E como quasi nenhus Portugueses se qui->
sessem al|le anno yr da fortaleza por amor do crauo que
não tinha, ninguém acodia por Vicente dafonseca, Sc
por isso Tristão datayde não teue os trabalhos que te-
uerão os capitães passados , nem ouue as desordens &
aluoroçoB que auia dantes : £ passados algds dias , el
LIVRO VIU. GAPFFVLO I^XX. I7è
Rey de Tidore & el rey de Bacbâo & outros senhores
mandarão visitar Tristão datayde, & ele ihes n)andou a
todos f>re8enie8: & veado que eJ Key deGeyloJo bo nâo
mandaua visitar, teue por certo que eslaua de guerra ^
*& por isso ottue seguro dele pêra mandar Anlonio de
leiue que mandou eom Pêro de monte mayor , que fora
por embaixador de Fernão dela torre ao gouernador da
índia, sobre lhe dar li€en^ pêra se yr â Índia, & da-
bi embarcada. pêra Portugal, & bo gouernador lha man^
daua , & carta pêra Tristão datayde & pêra dum Paulo,
que de Maluco íl deAdalaca lhe dsssem embarcarão pe*
ra a índia, && a yda Danlonio deteiue com Pêro de mõ*
te mayor foy pêra assentar comFernã dela torre, ama*
neyra de como se aeia de yr de Geyloio pêra a fortale*
za, porQ por amor da guerra temia que el rey deGey*
lolo 08 náo deyxasse yr, antes sabddo que se queriáo yr
os prenderia , & isto receaua também Fernão dela tor«^
re , & por isto nã quis qne el rey de Geyiolo bo soubes*
se , & tâbem pêra se yrem sem sua licença nAo podia
leuar sua artelharia, nem as Sírmae que tinhâo, de que^
a mayor parte tinbao empenhadas a el rey de Geilolo
por lhes dar qve comessem , & pêra auerem tudo , assS^
tou que lhe mandasse Tristão datayde di2er pubrica^*
mente ^ qee bo Emperador & el rey de Portugal esta-
uSo concertados na deferen^i que tinhão sobre acõquis*
ta das jlhas de Maluco ^ & por isso bo Emperador lhe
mandaua que com todos ws Castelbainos que estauãoooe»
}e se fossem pêra Portugal pêra debi se yrem a Castela^
pelo que el rey d^ Portugal por vogo do Emperador lhes
m«ndaiia dar embarca^ em que se fossem , & ho go-
uernador da índia assi lho toandaua dizer , & que esta^
na preste» pêra lha dar que se fusse logo ptfra a índia,
& quando não quisessem yr per suo vontade, que Tris-
tão datayde lhos mandasse pur força, &que ele se mos*-
*raria muy to q.oeyKoso a el f ey de Geyloio deste recado,
dizendo que nà se auia dyr pêra os PorCogueses, & qne
aniee se deyxaria »ef ter y. Sa q^e ale no defenderia que
17é . DA HISTORIA DA tNDIA ^
ho o3o tomaBsem por fonja , & se ei rey coestes biocog
lhe não desse JicSça pêra se yr com quanto linha, &lhe
dissesse que o ajudaria a defender, que então fosse Tris-
tão datayde com a maior armada que podesse ao porto
da cidade de Geylolo, & desse a entender que queria
desembarcar de dia, pêra os Mouros acodirem ali to-
dos : com cujo medo faria que não desembarcaua , &
como fosse bS noyte , deyxasse ali algas bateis com ar-
teiharia & gSte que tirassem, pêra que os mouros cuy-
dassem que queria desembarcar ante menhaã, & yrse
ya com bo rosto da armada desembarcar dali mealegoa
fau lugar que se chama Balobalo , dôde yria por terra a
Geylolo, onde os mouros lhes sayriã & eles yriâo na
diâteira, & se lhes Stregaríâ logo, ho que v^do os mou-
ros auiam de fugir, & eles ficarião na cidade, & pode-
riâo leuar sua artelharia, & outras armas & ho mais que
tínhSo, & parecSdo este ardil bem a Tristão datai de m&-
dou o recado que digo a Fernão dela torre {) mostrado-
se dele muyto agrauado , ho relatou a ei rey de Geylo*
lo , dizSdo o ^ disse Q auía de dizer , & el rey & os dó
seu cõselho lhe respõderão J\ não se agastasse que eles
ho ajudaria a defender, que mãdasse drzer a Tristão
datayde que na se auia dyr parele & sabendo ele hoque
auia de fazer, pedio ajuda a el reyTabarija pêra yr to-
mai: 08 castelhanos a Geylolo dizSdolhe a causa porque,
& ho mesmo mandou dizer a el rey dêTidore, & a el
rey de Bachã, & a muylos Samgages, a que tambfi
mãdou pedir ajuda, que todos fora em pessoa com a
mays gente que poderão ajuntar, & de Ternate partio
Tristão datayde acompanhado destes reys k senhores,
& CO h£la grade frota & poderosa de gente & fortaleci**
da dart^lharia chegou ao porto da cidade de Geylolo,
que pòs nos mouros grande espãto mas os Castelhanos
lho tirarão, & esforçando os acodirã todos ao porto pêra
resistirem a Tristão datayde, que deu conta aos reys &
capitães do ardil que leuaua pêra vencer osimigos, não
falando nada nos Ciastelhanos, &v8aiido logo dele iazen*
Limn WH. CAPÍTVLO LM:i. 177
éò que queria desétmbarcar , & tendose como que ho
fftzíâ com medo , ésforçarSose os mouros iBuyto , pare-
cendoihes que era assi , & dando grandes gritas tirauS
muy tas frechadas , & nisto esteuerâ até a noyíe ^ que
continuando Tristão dalayde seu ardil deyxando no por-
to algda gente em baleis se foy ao porto do lugar de
Baiobalo, & quasi á mea noyte desembarcou nuiyto pa^
ciíicamente por nSo ser sentido dos mouros que estauSo
descuydados , se não quando sentirão que os entrauão ,
& querendo resistir a isso pelejara hum pouco ^ mas fo*
rã logo desbaratados: & entrado o lugar per Tristão da-
tayde mandou o queymar , & queyroado abalou pêra a
cidade deGeylolo, & ei rey Q soube sua yda pelos mou-
ros que fugirão de Baiobalo, mandou a Cachil Gatabru-
no, que ho saysse a receber, que sayo com muy ta gen-
te, & diante Fernão dela torre com os outros Castelha-
nos, & menhaã clara ofaegariLo a hum escampado onde
então chegaua Tristão datayde , pêra qu6 ae forão logo
dando grandes gritas de prazer por se verem em liber-
dade que ate ly íinhãose por catiuos^ pois não podiãa
ai fazer se não estar em poder dos mouros.
C A P I T V L O LXXI.
ê •
De como Tristão daiapde quewnou a cidade de Geyloh ,
^ como Cacnil eâtabruno se fez Rey*
MJe tão supita mudança como esta, não somente ficou:
Cachil catabru no muyto espantado, mas com tamanho
medo que logo se recolbeo pêra a cidade , donde nã se
atreuendo a defender botou leuando el rey & tudo ho
mais que pode & ho mesmo iizerâo os moradores, & fu-
girão todos pêra o mato, de modo que quando Tristão
datayde chegou achou tudo despejado, & despois de ser
a cidade saqueada disso Q lhe acharão , a mandou Ioda
queymar saluo a mesquita, por lhe os reys rogarS i\ não
fosse queimada, mas de noyte, mãdou Tristão dataide
LIVRO VIII. z
178 lU QKHtt^RU Hà :t^JMJl
h alg&s Portugueses que decaem rebates fahoi; ji& fenlé
dos reys , diuido a enteadec ^ue erâGeyloios » & ^ siesn
(u leuolta pqsessè secraUD)ête foge á. ine%i|iiila^.&.afisi
foy tãbê qtiieymada, & asabeu do: arder menliaâ. clara s
&i eomo não auia mak qwejai&es loA(M>uBeTriiiafadatay<*
4e coe» os reys pena a. fòrial^a , dejpsâiido no porta do
GeyloJo Diogo sacdioba eapilfio mór do mar deJMaJuoo,
fc AaloQio de leyue c5 hâa acmada em que fiearà ses«*
%eatia Portugueses & ni«ytosTesoaies^ pêra que tolhes«»
sem aos Geyioios que. oàp tor Sbassecu á cidade nem h^*
sen pescar, por ho pesoaido ser tyo pcincipudr aBantmie»^
W qiue letD. E ele ydo , CapUlcstabruno com acordo
de todo bo conselho dei ley de Geylolo , comeieo pazes
a Diogo sardinha, & m Antónia de teyue, que nand»«
tíky sobrísso recado a TrisUo ikitayde, Sc por seu cço^
sentimeato foy CdMsbii catebiunie <)oeles á foptaieaca,; Sa
assenUMi pasees com TristS 4atayde. £. como auia 4iaa
^lue ele determioaua de. se fazer sey de Gey k>lo , Sc 'ba
tinha assi oonoertado qom Caçbil darees, n&o ho^ fez pov
■âo ver mais. ho tempoi desposta. pêra isso , & vendo ho
então, deteriaiaon. da. eaecutac- seu desejo: Eq^Ada
foy de Ternate, deu peçonha determinada a el Rey,
que morreo dabi a algi^ dias, St pof ele ser moço, nem
ser casado , nè ter fílbos , se fez rey de Geylolo. E por-
Sinè^ Is2. isto quaadi^ foy de Ternate , crerilo todos que
ora aquilo por consenltmento^ de Tf islão datayde, &
também por ele bo dizer pubricamente, & que dera por
isso muylo grandes p^tas a Tristão data]^, em que
entrario hOs. payoSs áonMto & eraua & outras consas*
Também despoys disto, Tristâa datayde centra vonia^a
deJ rey de Ternate & de Pale<^rangue , & dos de se»
eonselíio, leuantou ho degreda* aa camarão , que fora
criado de Cachil daroes, & que goueraaado ele a reyna
de Ternate fora ahutrãte do már ^ & dom iorgeho de^i*
gradou quando. mandou degolar Caebil daroes^polo acbar
culpado, & pesaua a el Rey Tabarij» & aos de seu^ con-
selho, deTrislâo datayde leuantar bo degreda ao çamaM
rao por ele ser mao home, & lenierem ^ lhes fizesse al-
gfl mal , como íet ^ & Tri^âd cTaial^dè ttemdu logo coele
grade credito , & ele trabalbaua muylo por lhe fazer a
vontade , >8& dauatiM lauytoa àrdiè fetB atrecentar afaa
fazenda, que era ho t^lie el# deiejaua, & pêra a fazer
melhor & ajuntar muyto crauo, determinou de fazer yr
de AlafueD qufltoe mercaiioFe6 «staaão toaqttelas jlhâs^
«iti Portuguesea como eairânf^eyroB^ a que m&doii aob
oerta pena per hum Pregâa que mandou daylar que fie*
ra tal» dia ae emkiaroaaseiíi, bo q«fa faaia ^^raadseapa»
(o, porqae ate entto nunca te aoònlécer& deytareàn por
for^a oa Portugueses fora da<}las jlbaa antes ele» fugifto^
Sc entflo erft iâo UNma de yr (} Triaíio datàyde (fez «u«*
barear muytoa por força, À; bo fn^imeyro capilAo que
partio , foy bum fidafgo chaiHEado lardil die fraytaa, qaé
primeyro que se ambarcaaaa fez grandes requerimentos
ii Tristão datayde que Ibe dease carrega dm Orauo pêra
1k> nauio , porque yk vasio «mv leuar algitay no que el
f ey <ie Portugal reicebía múyto grande perda^ nrnê Tmi-
Moiddtayde nSo nnis, ptA^que iha 6taase tòdoiío bra«oi
•Eentt^gou preso Vioen te d«fonieea :a lúrdã» de freyta^
que fao entregasse ao ' gouemador 4}aIndHa tom a deuas*-
aa; db imM culpas, E taMbei» neste nauio, foy Fwnl
idda tçrre oom <f^ outros Cast^hanos, .& lunààc^ de ftey*-
las foy ièr á ladtá ^nde enijpegou Vicenterda^ònaeca. fi
ed qoãto na deiiassa Q Trisllto dataide tireii se proaa»^
mSo claramente auas oulpaa por Òde iiieredaimiy to graia-
de pena, nunca Ibe foy dada,: bo que deu causai á ae
íaMreai em Maluco muyto màyoree malea', àssicontr*
Deos como contra bo praximo, nem onue» cfuam ae tem**
brasse do seruiço dei rey, ae tifto de eáriiqueeer por
i^ualqaer maneyra que podesse^
Z 2
180 Dia HIMOKU HA ÍNDIA
C A P I T V L O LXXIÍ.
De como ha gouenwdor foy a Diu pêra severcôel ny
de Cambaya.
JTjLtras fica dito, como Vasco da cunha foy a Diu por
mandado do gouecnador a fatar com Melique tocào 00*
tire lhe dar Diu, de cuja yda el rey de Cábaya ívy aui*
aado per Ruiqecão, que trazia «uaa eepiae oomMelicjue
Kr Ibe querer mal , & desejar que el rey de Cambaya
3 desse a capitania de Diu , & por isso disse a el rey
§ aquela viata de Vasco da cunha com Melique deuiade
eer pedirlhe o goueraador fortaleza em Diu, o qwe el rey
logt) soupeytou, & dali tomou ódio a Melique, & deter*
minou, de lhe tirar a capitania de Diu, & dala a Rume*
jcSo^ ho ^ auia dias que desejiaua, crendo que cõ isso
aeguraua Dfu de lho tomarem oa Portugueses , & Q ele
&ría vyr muy tos Turcos do eatreyto pêra andarfi aa sua
armada, & defenderem aos Portugueses que nâo tornas^
sem aa naoa de Cambaya quâdo vinhão do eatreyto, ho
que ele siotia muyto* £ sospey lande el rey que hoGo*
uemador trazia iralo com Meliquè, pêra lhe dar florta^
Jeaa, deapedio Tristão útgéí^ com lhe responder que era
cÕtente de dar ao gouernador a fortaleza que lhe pedia^
que se Ibsse ver coeie em Diu , & isto com tenção de
ko nã £azer se nSo a fim deatoruar que lhe nâo fizesse
iko Goueraador guerra aquele verão j & que indo a Diu,
iio poderia acol£sc & ttatalo,.& mais estoruaria quelMe^
lique lhe Dão desse ibrlaieza. £ sabido polo gouernador
este recado dei rey creo que era assi, porque ainda nae
conhecia quam malicioso er», & logo se fez prestes pe»
ra yr a Diu, & dizendo ao que ya, com que toda agen-
te ficou muy (o alegre» £ pêra esta vista do gouernador
c5 el rey de Cambaya se fizerão os fidalgos & capitães
da índia, & outras pessoas bonrradas prestes de muy*
tas louçainhas , & galantarias de seda & ouro , assi naa
LIVRO VIII. CAPITTLO L^XII. 181
àrmatf eomo om vestidos , & lodos gastarão nujto , do
que se arrependerão assas, vedo de]x>is ^ não ouueefey-
to esta vista: & daqui ficou despois chamarse na índia
este anno ho das paruoices, porque virão inu)^tus Q as
fizerão em gastar tãto dinheyro de balde. E feylos to-
dos estes gastos , partiose o gouernador pêra Cbaul , &
dahí pêra fiaçaim õde acbou Diogo da silueyra, & da-
qui se parlio pêra Diu cÕ h&a poderosa frota doytenta
velas , em que entrauão oylo galeões , de que a fora a
capitayna erão capitães, Diogo da silueyra, António
dô lemos , Manuel de macedo , dom Esteuão da gama,
António de sá ho rume, Diegaluarez lelez, dom Gas-
tão Coutinho, & de Galés & Galeotas, Sflanuel dalbu-
querque , Vasco pirez de são payo , dom Pedro de me^
Beses , Manuel de Vasconcelos , Fernão de lima , & ou-
tros fidalgos, yriào nesta armada deus mil Portugueses,
a mays luzida gente que nunca se ajuntou na Índia. £
ebegado ho gouernador defronte de hum lugar chamado
Danu, soqbe que ho dia dantes passara elRey deCaro«>
baya em noue galés pêra Diu , ei logo dali lhe mandou
dizer p^r Simão ferreyra que onde seria bõ verêse se em
madrefaba ou no már, & foy coele pêra lingoa loão de
Sátiago (lingoa do gouernador) que fora mouro & fize-
rase Cristão. E proseguindo ho Gouernador por sua via^
gem foy ler á jlha dos Mortos^ & ali esperou por Simão
ferreyra, que não tardou muyto que não chegou, & ya
coele Coje<;ofar, que lhe disse da parte dei rey deCain-
baya que lhe pedia que fosse a Diu & que se veria, &
loão de Santiago disse ao gouernador que soubera em
Diu que el Rey deCambaya queria dar a sua capitania
a Rumecão, que se lhe ofiVecera de lho defender. Ede»*
ta jlha doa Mortos se foy ho gouernador a Diu, & da
barra mandou Simão ferreyra com Coge^far a el rey^
pêra que lhe mandasse recado em que lugar da jlhaque^^
lia que se vissem , & indo ele coeste recado foyse ho
gouernador a terra com oa capitães & algús fidalgos, &
desembarcou onde chamão ho Palmarinho^ & ya ver se
I8t Dt HirrOftIA DA IKMâ
poderiíio ali proar aa gaM» , pêra Q quemdo et Rey da
Càbaya que se visaeiíi ali fazer diegar aa galés, perafi^
car aeguro com a sua arielharía se el rey de Cambaya
quisesse fazer aig^a treyçSo.
C A P I T V L O LXXIII.
De como Manud de maeedo u desafiou cô RumeeSoj ^
não lhe sayo ao desenfio.
Jtiistando nisto , veo Symlto ferreyra , & disse ao Gto-
ueraador que el rey não acabaua dassentar onde se a-
iiíSo de. ver, & que lhe maadaua pedir que lhe mandas*
se lá os capitães da galé bastarda & dos galeões, que
os queria ver pêra lhes fazer honrra. E estando bo go*
uernador suspenso sobre ho que faria , porque receaua
que el Rey reteuesse os capitães despoys que os lá te^
nesse, disselbe Tristão de gá que ja fora por embayxa-
dor a el Rey de Cambaya que os mandasse , por{} nSo
08 mfldando el rey era tam sospeytòso (( cuydaría que
não se íiaua dele : & como isto cuydasse nSo se auia de
querer ver cd ele, & por isto os mandou boGouernador
yr, & el Rey os recebeo com muyta honrra. E saben^
do Manuel de maeedo como el rey queria dar a capita^
nia de Diu a RumecSo , & tirala a Melique tocSo que
era muyto seu amigo, estando com el rey lhe disse (deâ^
pois de lhe pedir licSça pêra falar hft pouco) (| se esp^
taua muyto dfl rey tá sabedor , & caualeiro como ele
era , querer tirar a capitania de Diu a bum vassalio co-
mo era Aleli{} tocSo & ^ o tambS tinha seruido, & fliho
de t3 singular capitSo como íbra Bieliijaz o velho , (|
tanto seruiço fizera ao reyno de Cãbaya , & tã(o acre-
cBlara na hõrra dos Guzarates , & a !|ria dar a Rume-
cSo hfli homS eslrãgeyro, de l\ não tinha outra ezperiei^
cia se nã fazer treyçSo ao Turco c5 qu6 viuia , & por
essa causa fugira de seu seruiço , & se acolhera a GS-
baya, pelo Q nSo se deuia de fiar dele, se não esperar^
LIVRO TflI. CâFiTVU> UXIII. Í8I
lhe fiteme outra treyçSo^ & se Rumecão ali estaun &
segasse ho que ele dkia, que ele Jbo faria confeaiar em
baialiia, que folgaria muylo dauer coele« £ Ruoiecão
que ali eslaua o ouuio diaer ao liogoa^ & por náo resi*
pomler oulbou el Rey parele cow bd roaio nenõcorio :
k «alandoae toda via Rumeeio, dkae Manuel de mace-
do que entendeo Q era aq^uele^ Q outra vez o ioraaua a
desafiar pola mesma rezao^ & maye que podia meter
consigo outro , por^ ele se Kitataria tò ambos. £ veado
el rejr í) oãa respondia , Ibe disse com yra , J| como náo
respõdia ao desafio, & Rumecão d^sse q poio aflo terem
cota, porê que poys asai ^ria, ^ aceytaea o desafio,
sem meter outrê cõsigo , & assi foj logo deputado bo
mar pêra ser bo campo do desafio, &que pelejaria cada
bfi de sua fusta em que estarião sós* Aceytado ho de^-
safioh, mandou el rey dizer ao Gouernador, que lhe auia
de faiar de hila geneb ,. no baluarte de Diogo lopez , &
ele esteuesse no már em hiia galé , do que se o goucr^*
Bador rio quando bo aoube , & mandouibe dizer Q lhe
Bâo queria falar da^la maneyra : & sabddo o desafio de
IManuel de macedo cA Rumecao folgou muyto, & deo*
lhe licêça pêra ho fazer, & mandouibe esquipar hfl bar^
gantim em que se meteo , .& foy surgir jfjto da iagta ,
& por Rumecâo tardar, & ao gouernador ibe parecer que
nã ousaria de sayr com medo da nossa frota , mandou
leuar & fezse híí pouco ao mar, & despois disso sayrâo
do porto da cidade sete ou oyto fustas loldadas íc em^
bandejradas, & bila diante da^ outra fcrão demandar bo
bargantim ondeslaua Manuel de maoedo, & dando to-
das bua volla ao derredor deiè se reeolfaerão ao potlo
donde sayrâo, & nSo tornou mais nhtla, que parece que
não quis eL Rey {^ Rumecâo snysse ao desafio. £ ven^
do ho gouernador que tardaua aiuyto,. fez sinal a Mn*
Buei de macedo eom hum tiro que so recolhesse : & re-*
colhido deyxouse eelar, fo vfido que o desafio oâo nuia
efeyto, & que ficaua de guerra c0 Cambaya, mandou
b&a armada ao ealreyto de tseaGaleotas & treze fustas^
184 BA HItTOmiA BA flIDIA
& por capitão mór Vasco pirez de 8io payo que ya em
hQa daa galeolas , & naa duas dom Pedro de meaeses ^
& dom Manuel de lima , & yriSo na armada trezentos
hom6s. E de Dia se tornou bo gooemador a Chaul ,
donde despachou pêra ho estreyto a Diogo da silueyra
por capitSo mór de hua armada de cinco galeões , cujos
«capitães a fora ele forão, António de sá, dom Gastão
Coutinho, Diegaluarez telez, & António de lemos, cona
regimSto que tá se entregasse da armada ^ leuara Vas*
CO pirez de sSopayo , & ^ na entrada do verSo se lbs«
se á põta de Diu donde faria guerra a Cãbaya: tfibS
despachou António da silua de meneses pêra Bfigala a
resgatar Marti afonso de melo jusarte, & foy por capitã
mór de noue veias, cÕ l\ parlio deCochi, & despois se
partio o gouernador pêra Goa onde auia dinuernar: &
dali despachou a dÕ Esteuão da gama pêra Malaca aser«
uir a capitania da fortaleza, porfi era sua priraeyro f^
de dõ Paulo da gama seu jrmSo , & ele se foy a Gochi
dõde o acabou de despachar o vedor da fazêda , & par-r
tiose pêra malaca ê Abril de M; D. xxxiiij. E depoia
dele, partio o vedor da fazèda pêra Ormuz a visitar a
fey teria & saber como se gastaua a fazêda dei rey de
Portugal , & foy ê hQa nao.
CAPITVLO LXXIIII.
De como indo dom lorge de crasio sobre d rey de Rey*
xel , se tomou sem fazer nada.
i.^ este tempo estaua leuantado cõtra el Rey Dorrauz
ha seu vassallo {} era rey de hua cidade chamada Rey*
xel , na costa do estreyto da Pérsia, cfito & setSta ie^
goas Dormuz, & este trazia hOa armada de doze fustas
por a^le estreito, cò Q roubaua as nãos que nauegauã
por ele, principalmente pêra Ormuz, & por isto ousa^
u3o muy poucas de nauegar, no () el rey l)ormuz rece-»
bia grade perda dos derey tos da alfandega , pelo ^ sa
LIVRO tiii. cAiPrrvLO Lxxnii. i«6
aqueyxoo a António da silueyra capitão da ft)rtaleza, dí-
têdo t\ era necessário destruírse a^la armada, por^ dou-
tra maneyra não podia pagar as páreas ^ pagaua a el
rey de Portugal. È sabido isto por António da silueira
assentou com dÕ lorge de craslo 4 ^^^ capitão ixiór do
oiár Dormuz que fosse com sua armada aReyxeJ, &re«
querese a el rey Q se tornasse á obediência dei Rey
Dormuz , & recolhesse a armada ^ se não i\ seria neces*
sario acodír a isso pois el Rey Dormuz era vassalio dei
Rey de Portugal , & coislo se partio dõ lorge indo em
bua galeota, & leuou dous bargands, de i) erâ capitães
Ruy gomez casto, & loão ribeyro, & bua fusta, capi-
tão Nuno vaz, & cinco catures, & nestas velas forão
duzentos homês. E chegado ao cabo de Vadestâo, c6to
& sessenta legoas Dormuz,- achou o tempo tã cÕtrayro,
Q lhe foy forçado surgir em hiia jlha despouoada pegada
cõ ho mesmo cabo, onde esteue passante de vinte diast
& plissado este tempo que teue lugar de fazer viagfi^
achouse cõ necessidade dagoa & de mãtimStos, & por
nâ auer na jlha nhOa destas cousas, as foy tomar á ter-
ra firme, & estado fazSdo agoada hfl terço de mea le-
goa donde surgio , sayrSo muy tos mouros ^ estauão em
ciladas, & derão em sua gSte tã supilamente Q não se
poderão valer que nã fossS tomados pelos mouros oyto
Portugueses & Irita & cinco escrauos Cristãos, & outros
tãtos remeyros da capitayna, ^ não leuaua maís^ & sa-
bido isto por dô lorge Q estaua no már ficou muy agas-
tado, por^ pola perda dos romeiros ([ Ibe catiuarâ nS
podia proseguir sua viagS, & poH) não auia ondeosfoa*.
se tomar , propôs 2 còselho se tornaria a tomalos a Or-n
muz pois sem eles nã podia fazer cousa <} aproueytasse,
& auêdo algiis !\ lhe cõselhauã Q tornasse a Ormuz aefli
passar auãle , disse híL Frãcisco de gouuea Q. pois se a-»
uia de tornar ^ pêra poder dar nouas em Ormuz do que
ya em Reyxel, & das fustas lho queria yr saber em fail
catur, & dom lorge não quis, dizêdo Q se lá fosse ani-
sar se yão os imigos de sua yda, o 4 ele não i)ria b^jA
LIVRO VIII. AA
186 DA HfSTOBU DA ÍNDIA
iomalos de sapito , & assi se lurnou a Ormus , & quãdo
António da sílueyra soube Q a fora nH fazer nada lhe
acõtecera a^le desastre & por sua cuJpa, ficou muyto
agastado poJa má cota em ^ os Portugueses serião lidos^
& polo seruiço dei rey de Portugal Q perecia & delermi*
nou de tornar a mandar a mesma armada cõ outro ca-
pitão mór, pêra í\ esçolheo Frãcisco de gouuea, de {[
eonbecia esforço & saber pêra acabar aijle feyto, & assi
Ibo disse 9 pedindolhe muyto que o fizesse verdadeyro,
& eie lho prometeo.
C A P I T V L O LXXV.
Dê conto Francisco de gouuea foy por ccantão mor da
armada côíra cl rey de jReyxet.
jLÀ ps^tiose Dormuz com a mesma armada Q leuara d5
Jorge ) 8t foy na fusta de que era capitã Nuno vaz, &
sem lhe aeõtecer cousa Q o toruasse de sua viagg foy
ter ao porto de Reyxel ^ cidade grade cõ húa boa forta»
leaa na costa Darabía situada S bõ sitio de casas de pe*
Ara & cal^ & abastada de mâtimSlos, & pouoada de
mouroiSii Et rey sabSdo ^ a nossa armada estaua no por*
to^ delefmirH)u de a tomar cÒ quãlos yâo nela, & isto
por ègAnoy pêra o § mâdi)u dizer aFrlcisco de gouuea
po? ha nrnnro borrado Q sua vinda fosse boa ^ por^ foi*
gaua muyto !| os Portugueses fossem a seu porto , pofo
fltesejo ^ tinha de ter cceles pazes ^ & se as eie quises-
se aeeylnr, era cfitenie de lhe dar as fustas ^ tinha &
es eatiuos que tomarão a domiorge, & fazenda dos nos*
SOS que os seus tiobao tomada, & coeste recado lhe man«
dkoo bd presente de muyto refresco. E por^ Francisco
de gotiuea leuaua em regimento Q fisesse paz com ei
rey dandoihe ele o que lhe prometia , respondeo I) era
eõtente de fazer coele paz. se fizesse ho que dizia , &
que ate então lhe não auia de tomar nada. E oouida
esta reposta por el rey ike cometeo que se vissem ábor*
LiTtO TIfK Cà^imiO UtZV. 187
da dagot) Ac em ordenar como aaia de ser esta vista se
pnsarilo irem dias , porque el rey se arrependia de yr
falar a Francisco de gouuea ^ porque como determinaua
de o prender pareceolhe que corria perigo, & quando
ouuesse algum , Aelhor ca^rki ao beuOoadI , & por is-
so ho mandou , escusandose a Francisco de gouuea de
náo yr oomo lhe mâdara dizer. £ paaeadoft estes diab^
mandou el rey armar hfta tenda muyto rica na praya
pegada cÕ ho mar , pêra se ver nela ho seu Goazil q6
Frãciseo de gouuea, queaa^o em terra cdquárenUiPor*
tugueses : todoe despingardas , & de <om bâa espada
dãbas as mãos nua , & deyxou os nauios cò os esporões
em terra, & a arteiharía ceuada^ porque tinha oospeita
que lhe auiâo os mouros de ^rer faeer algiia trey^já, &
assi era , {} el rey tinha posto hõa cilada de trás dum
oyteiro que estaua ki perto, em ^ entrauâo quatrocêtoa
de caoaío & grade multidão de gSle de pé, pera^ê hó
Goazil lan<;Sdo mão de Francisco de gouuea acodissem
eles sobre os que fossem coele, & os matassfi a todos &»
Uies tomassem a armada : & pêra isso sayo Gofe frajulá
(4 assi se cbamaua o Goazil) cò trezétos homSs, &veo4
do o Prioisco de goouea lhe mSdou dizer ^ pêra ^ em
tanta g6te poys ya de pas, ^ ele aâo tiahaAaifidequa««
rèta homCs () trouuesse ele c8to , & assi o fez o Goazil,
& mádou apartar os outros : & entrado na têda assBtou**
se , & disse a Frãcisco de gouuea (J se assfitasse ■& ele
nto quis pola so^peita i\ tif)ba, & è quAto falou cÕ a
Goazil sempre passeou od a espada na mâo & por itooo
Goazil aS ousou de cometer ha que leitaoa d^termina*^
do, antes estaua temeroso de ver ho desassego de
Francisco de gouuea , & cuydaua 4 o auia de ma(ar t
& ho concerto da paz fby o q^ie el rey mandou dizer a
Francisco de gouuea ^ que todo foy escrito per dous ee^-
crioftes, hum Poriiigueí^, & outro mouro, & assinada
por Francisco de gouuea & polo Goazil -què se tornoa
pêra a cidade desp^is disto acfaibado, ft disse qtie ao <m^
tro ctía se compriria ho concerto. B quamk> el Bey vio
AA 2
188 DA H^ISTORIA DA fNDiA
boGoazil sem Francisco de gouuea, ouue tamanha me«
nencoria que ho quisera mandar malar^ & não o iez por
conselho dos seua^ mas tiroulhe ho officio.
C A P I T V L O LXXVI.
Do que fez Francisco de gouuea despoys q vio qm el rey
de Reyxel não queria pass^
y endo el rej que não poderá auer Frãcisco de gouuea
eomo quisera, determinou de se declarar coele por iiui-
go, & mandou muytos espingardeyros & frecbeyros a
goardar bus poços em que Frâcisco de gouuea quisera
fazer agoada , ho que nâo pode por lho os mouros de*
fenderem. £ como erâo muytos em demasia , & os nos-
sos poucos, íizerâo nos recolher pêra os nauios com muy«-
to trabalho , & ajudoulhes muyto a sua artelharia que
fez algii dano nos imigos de mortos & de feridos, &eje»
matarão hum marinheyro Português. E como a nossa
artelharia pode jugar aíastarâose os imigos, & os nossos
teuerâo lugar de se embarcar, & pola necessidade que
tinfaão dagoa foy forçado a Fraficisco de gouuea (ante»
doutra cousa) de a yr tomar a bua jiha chamada Carre-
ga sete legoas de Keyxet , & indo pêra lá ouue vista
das fustas de Reyxel, & posto que erâo o dobro da sua
armada, determinou de pelejar coelas, & a^si ho disse
aos outros capitães, & arribou logo pêra os imigos, que
vendo a nossa armada, pareòe que ouuerão tamanho-
Biedo que arribarão pêra terra, & forãose meter em hii
rio duas legoas de Reyxel , & duas ficara de fora por
não poderem^ mays. £ vendo Frâcisco de gouuea que
se acolhia, por a» akã^ar maia asinha se mudou a htb
dos eatures & por remar rijo alcâiçou hfla das duas fustas
que ficarão de ibra , & aferrou logo bua delas , & msto
lhe matou três bomSs de vinte que andauâo nela todoa
espiffgardeyros , & os outros se lanhara ao mar que oa
Portugueses :totiuarão todos & tomarão a fusta, & a ou*
LIVRO TUI. CAPITVLO LZXVI. 169
tra varou em terra & saluouse a gente , & a fusta , que
ficou em poder de Francisco de gouuea aehouse carre*
gada de crauo , gingibre , & canela , & assi andauãe as
outras nãos que tomarão que yão Dormuz pêra Báco-
ra, Tomada esta fusta , & vendo Francisco de gouuea
que não podia pelejar cõ as outras por estarem metidas
no rio foyse fazer agoada a Carrega, ondestaua hiia po*
uoaijão com bua mezquita, & aqui eslauão obra de ses-
senta mouros da armada dos imigos , que ficauão espe-
rado em quãlo os outros leuauão a Reyxel as presas que
fizerão, & estes como virão a nossa armada no porto em
quanto se fazia agoada acolherãose a hum cabeço ai te
Õdesleuera hOa fortaleza, determinando de. se defender,
& mandarão recado aRejxel de como ficauão, & os mo-
radores do lugar se .acolherão por outra parte a bfias la-
pas ^ estauão ao longo do mar , de que os Portugueses
matarão amayor parte» Despoys defeyta agoada &quey-
mado bo lugar, em que foy queymado bíía mezquita
que os mouros tinhâo por cousa santa, & a que yao em
romaria de muytas partes, mandou Francisco de gou-
uea , dizer aos mouros que estauão no cabeço que os a-
uia de matar se em três oras não se Ibes fossem entre-
gar pêra fazer deles bo Q quiaesse, Sc eles o fizerão com
medo, mandandolhe primeyro as armas, & por eles ou*
ue despoys Frãcisco de gouuea os Portugueses que ca-
tiuarão a dÕ lorge de crasto, com condição quesegoar-
dasse a paz Q assentara com Goje frujala, do J| el Rey
foy contente, vendo quam pouco ganbaua em ter guer-
ra com os Portugueses» £ isto feyto, Franoiseo de gou-
uea foy correndo aquele e&treyto até a jiba de Babarem
donde escreueo a eí rey de Baçora o que íizera, & man-
doulbe a especiaria ^ tomara aos mouros, & isto por
ser amigo dos Portugueses. £ sabendo el rey que aque-
le estreito estaua seguro, mandou bua nao carregada
de mantimentos a Francisco de gouuea com muytos a-
gardecimentos da especiaria que Ibe mandara. £ dey-
xando Francisco de gouuea seguro este estreyto se foy
190 PA HliTCmiA DA INOIA
inuernftr a Ormuz, cujo rey faleeeo »esté (fif>o: 9l Arn^
toDio da silueyra & Diogo* da tilueyfa leuaDlarão povray
hum seu filho dydade doyto annoa, que despois foy waot*
to com peçonha, que lhe mSdou dar Rayxateque iQ ed-»
Uua degradado na Iftdiã , & por ser 6eu tio aueedeo jki
reyno, & foy muylo amigo doa Portogueses, & fes muy*^
tos serui^^ a ei Rey de Portugal.
C A P I T V L O LXXVH.
Do que fez Anionio dã sUua de Meneses eun Bengala^
JL artido António da silua pêra Bengala chegou cd to^
da sua armada ao porto de Cbatigão , & porque leuauâ
por regimento que não fizesse guerra nem paz em fien-»
gala sem hd parecer deMartim afonso de melo jusarte^
ieue maneyra como lhe mandou hQa carta em que lho
eioreuia o regimento do gouernador, por isso que lhe
respondesse ho que faria, & auido conselho com os Por-»
tugueses que todos estauão ja na cadea dei rey assenta^
rã que deuia fazer paz , porque por guerra não se po*
diáo liurar, & só Nuno fernandez freyre foy de pareoetf
contrayro, dizõdo, que se deuia de fazer guerra a el
rey de Bengala pêra que soubesse ho que podião os Pom
tugueses, por(| com quatro nauios Q se possessem nas
barras de Cbatigão & de Satigão defenderia que Beas
saysse destes portos nem entrasíe neles nenhum nauio,
no que el Rey de Bengala receberia perda grandíssima,
por não ter em seu reyno outros , & aqueles renderem
tnuyto , & nem por amor da guerra os auia el Rey de
BengaFa de matar por amor dos Patanes que lhe come-i
4pauâo de fazer guerra , pêra qne auia de ter deles tie->
cessidade. B como Nono fernandez era só deste pare«
eer, áétéAtou Martim afonso no outro, & assi ho escre-*
ueo a Aiitonio da bilua, f\ mandou por Sbaikador a el
rey de Bêgala hfi lorge alcoforado, & a sustancia de
sua êbaixada foy , \ com quãto o gonernador tinha reza
LIVBO TUI. C1PI7TLO LSXTIl. 19i
destar agrauado dele , & de lhe fazer guerra , por lhe
)M:8der ho capitão ÀPortugueses^ Diãdaaa a sua terra,
iiã se 2}ria Ifibrar dagrauos, se nfi ser seu amigo, &ser-
uilo no que podesse , porque asai lho mandaua el Rey
seu senhor, de cuja parle & da sua lhe rogaua que sol-
tasse 06 Portugueses , po^rs não tinhão fejto por onde
merecessem ser presos. £ dada esta embaixada a ei rey
ouue conselho sobre ho que faria» £ Agehabedelá lhe
disse j) não fizesse paz com ho gouernador aeiD lhe des»
se 08 Portugueses por menos de quorenta & cinco mil
pardaoe , porque dandolhos de graça pareceria que ho
fazia oÕ medo, & Alfacão lhe disse que lhe compria
muyto fazer paz com ho gouernador, porque ho seu rey-
no, era como hum homS Q tiuha deus olhos, & estes
erã Cbatigão & Satigão» dous portos de mar que lhe ho
gouernador podia cegar com suas armadas , & por isso
deuia de fazer paz & darlhe os catiuos sem dinheyro,
poys forão presos sem rezão , porque leuando por eles
dinheyro claro estaua que os Portugueses se auião den^
tregar em sua fazenda , ou na de seus vasallos. £ com
quanto isto pareceo bem a el rej & outros forSo dele ,
era tam afeyçoado a Agehabedalá que tomou o seu , ãc
respondeo a lorge alcoforado que era contente de fazer
paz com o gouernador, mas que lhe auia de dar quoren*
ta & oinco mil pardaos por BAartim afonso & poios ou*
tros , porque os não auia de dar por menos , & despoja
tornou a dizer que os nã queria resgatar , & isto por
conselho de Agehabedalá. £ lorge alcoforado se foy
cuesta reposta dei rey, que drsse a JM ar ti m afonso &aos
outros, que ficarão m4»jto tristes, parecendoihes que
poys os el rey não queria resgatar que nunca sayrião
dali, & fizexão grãik pranto com lorge aicoforade quan-
do se despedío deles, & ele leoeu esta reposta a Antó-
nio da silua, ^. indinado cÕtra eirey determinou de se
vingar em seus vassallos, & hum dia ante menhaã deu
com sua gente emChatigão & pos lhe ho foço^ com que
queymou mujta parte dela, & matou & catiuou miiyta
192 BA HISTORIA DA ÍNDIA
gente : & dali se (ój a buas jlbas onde morauâo itiuylos
Bengalas degradados, & destruyolhe as pouoaqSes, &
matou os mais deles: & feyta muyto grande deslruyção
se foj pêra a índia, & com menencoria disto mandou
ei Rey prender os Portugueses de dous em dous, que
andauam ja soltos, & os que lhe aconselhauam que fi-
zesse paz com ho gouernador & que lhe desse os catiuos
sem resgate, lhe disserSo entáo que bem via quanto
melhor conselho era ho seu que ho de Agehabedalá, &
poys aquele capitão dos Portugueses sem mandado do
gouernador lhe Gzera tanto dano , que faria outro que
K>8se dirigido pêra lho fazer. E el Rey conhecendo a
verdade mandou cortar a cabeça a Agehabedalá, por-
que ho não conselhara bem fiandose dele, & não lhe va-
leo sua priuança, & por nâo parecer que sollaua os Por-
tugueses com medo os não soltou logo: E dali a algus
dias por parecer que os soltaua por amizade mandou le-
uar ante sy a Martim afonso solto, & mostrou lhe hiia
■carta de marear sobre ^ praticou coele hum pedaço, &
despoys ho roâdou tornar á cadea , & de dias em dias
ho mandaua leuar antesy^ buscando sempre cousas pê-
ra praticar coele : & neate tempo mâdou 4 "^^ tirassS os
ferros, & aos outros, de que mandou tirar da cadea
Nuno fernandez freyre por saber tanger viola, & a hum
loão adão que tangia hds órgãos ^ lhe Martim afonso
mandara de Ghatigã, & a ha André gonçaluez pêra lhe
cantar, porque era muyto inclinado a musica, & tinha
muytos músicos ao seu modo, & hum mestre da musica
que tinha treze mil pardaos de rSda com aquele of&cio,
& a este entregou Nuno fernandez, lohão adão, & An-
dré gonçaluez, & dali por diante teuerão todos melhor
vida, & fazialhes el rey mercê, & não tinhão outra má
vida se não estarem ali sem poderem sayr quãdo que-
rião.
LIVRO TUI. CAPITVLO LXXVIII. 193
CAPITVLO LXXVHI.
De como húa armada dd rey Dugentana foy correr a
Malaca , ^ de como foy morto dom Paulo da gama
^ outros.
D,
om fisteuão da gama que ya pêra Malaca chegou lá
em Mayo^ '& iogo lhe dom Paulo seu jrmfto entregou a
capitania, & ficando ele por capitão, daly a oyto dias
teue noua ^ue estaua no rio de Muar fa&a armada dei
Rey Dugentana, & pêra saber a verdade disso & quan-
tas velas erão , mSdou lá Simão sodré , & Frãeisco de
barros de payua que leuarâo cinco mafichuas. £ chega-
dos acharão a armada fora do rio posta ao longo de ter-
ra, & erão doze calaluzes de laos , de que era capitão
mór hum mouro chamado Habrabem^ & cinco lancharas
dei rey DugStana , & todas com muyta gente & arte«^
Uiaria, ho ^ Simão sodrè, & Francisco d^ barros pode->
rão bem ver por se cbegarê muyto, em tãto queosjmi-
gos cuydando que querião pelejar se leuarão, & forão
pareles, & eles como não yão pêra pelejar fizerão volta
pêra Malaca a dar rezão do que virão , & os mouros os*
yão seguindo quanto podião, & em anoytecendo lheco«.
meçarão de tirar com a artelharia. E sendo duas iegoas.
de Malaca, passadas duas oras da noyte, virão com ho
luar que fazia muy claro muitas manchuas, & em cada
hiia dous três Portugueses , & deles souberão que sobre»
a tarde despoie de sua partida , se vira em Malaca con-*
traMuar, hiias nuuens delgadas como fumo, & pormuy«
tos afirmarem que era fumo, & dartelharia, o disseráo*
a dom Esteuão, & que seria bom mandar socorrer aos'
Portugueses que laa erão, & assi lho conselhou hii Al-
uaro botelho bom caualeyro & muyto antigo em Mala-
ca : & com quanto dd Esteuão não quisera mandar ho
soccorro disselbe dõ Paulo que o mandasse & <} ele yria,.
& d3 Esteuão se escusaua dizêdo, Q a armada estau*
JLIVRO.VIII. BB
194 BA HISTORIA X>A flVDIA
aioda varada & qiíe nSo auia em que yr ho socorro: &
com tudo dom Paulo nft quis se não yr muyto contra
võlade de dom Esteuão, & embarcouse em hfl paraò de
carrega de hua nao de Cambaya, & Manuel da gama
em outro & com cada hum vinte bomSs fidalgos & ca-
uaieyros : & outros quarenta bornes se enibarcarAo em
roanchuas tam pequenas que não cabião em cada bila
mays ^ dous três , & coro tam róis embarcações Iby so-
correr quem não tinha necessidade de socorro, & che-
gou a eles ás oras que digo» £ sabendo eles quam mal
aparelhado vinha dom Paulo pêra pelejar com osimigos,
por hum nauio dos seus abastar só pêra peJejar coui to*
da a sua armada foy Simão sodré dÍ2er a dd Paulo Q fK>r
esta rezão se deoia de tornar, & não pelejar com oe i-
mígos de cuja armada lhe deu relação , pdo que a dom
Paulo lhe pareceo bem seu conselho, & fez volta, & os
imtgos não deyxarão de lhe dar caça quádo virão que
armada trazião, tirandolhe muitas bombardadas, o que
os Portugueses não podiào fazer por não terem arlelfai^
ria. E vendo eles que os tmigos os aicançauão, &quani
mal auiados yão pêra pelejar coeles, conseifaarão a dom
Pauto que ou se passasse a hâa manchua & recolhesse
as outras & se fosse que o poderia fazer por serem le*
geyras , ou varasse em terra , porque onde ele ensecas*
se nã auiâo os nauios dos jmigos de nadar, & deste mo*
éo se saiu a ri a ate ser socorrido de Malaca. Edom Pau-*
fa> parecêdolhe isto fraqueza não quis se nl pelejar , Sc
cA animo muy esforçado virou a abalrroar cô h&a Íaut
ebara () achou roais perto, & Manuel da gama fez ho
meamo, & em aferrando forão todos os seus encrauados
dazao^ayas, freebas^ & páos tostados, & com tudo ele
entrou na lanchara que aferrou a pos hum seu ayo cha-
mado lorge fernãdez borges y que foy o primeyro que
entrou, & com quanto a dom Paulo lhe atreuessuu bia
azagaya a mão dereyta, ele & lorge fernandez peleja-*
rão tam vatentemfiíe que logo em entrando leuarào oe
mouros ate a popa da lanchara, & nisto entrarão Anto^
LIVRO TUI. CAPITVLO LXXVITI. 196
nio pereira que foy alejado do braço dereylo, Vasco da
cunha, dom Francisco de iima, que forSo feridos nas
cabeças , & Gonçalo bayflo , & assi outros , & peiejauão
com grSde braueza porque os jmigos er9o muytos, &
ouiro tanto faziaManuel da gama com os seps. E tendo
dom Paulo rendida a lanchara ondeslaua quisera passar
auante mas não pode , porj) em aferrando a lanchara se
lançará os seus remeyros ao mar, & fugira & estado as-
si cõ a lâchara rCdida, acodio outra i) trazia muytomays
g6te , & entrou de roldão ondestaua dom Paulo & foráo
tantos os que carregarão sobre ho Bayleu que quebrou
coelesy & como erão muytos, & os Portugueses estauão
ja feridos, & doutras lancharas lhe tirauão muytos ar*
remessos, por mays esforçadamente que pelejarão não
se poderão defender, & foy morto lorge fernandez bor-
ges & dom Paulo cayo desmayado do muyto sangue ^
se lhe ya das mortaeys feridas que tinha, & Gonçalo
bayã estando muyto ferido posto no bordo da lanchar*
foy derribado no mar, & assi cayrfio outros muytos com
a grande multidão darremessos que os imigos arremes-
sauão, &achar8ose seys paos tostados jdtos com que ti-
rauão. E tambè foy desbaratado Manuel da gama, pos*
to que a{}le dia fez marauilhas cÒ os seus & assi os ou-«
tros Portugueses , porem aproueytou pouco porque os i-
niigos por serem em demasia muytos os afogauão&com
tudo também receberão perda , que morreria bem -quo*
renta a fora muytos feridos , & por isso ee contentarão^
com escaparem, & se forão leuando dom Paulo quasi
morto na lãcbara sem saber Q o leuauã, nem a lorge»
fernandea seu ayo, & soubesse Q ainda dom PauJo»
viuera ate ao outro dia a véspera , & se ele não cayra*
Bunca ho mal doa Portugueses fpra tanto. E acolhidor
oe imigos ajunfarãose todos os nossos capitães, &«chan-
do menos dom Paulo ficarão muyto tristes por ser muy-*
to amado de todos, por soas muitas virtodf^s, & por ser
muyto esforçado. É a fora ele acharão que morrera loSo
Fodiigues de sousa, sobriabo de gareia de sá, lorge fer-^
BB 2
19C DA HISTORIA BA ÍNDIA
pandez borges, António defarão, Pêro q4jeyniado, Goa«
çalo bayâo, & dou» bom barde jros ^ & forão feridos Ma-
nuel da gama^ dõ Francisco de lima, Vasco da cunha,
António pereyra, Francisco bocarro, Fernão gomez,
& outros que fazião numero de trinta , & coesta perda
se tornarão a Malaca, & contarão a domEsteuSo ho que
Ihea acontecera^
C A P I T V L O LXXIX.
JDe como Francisco de barros de payua foy buscar man-'
timentos a Patane y ^ do que lhe aconteceo^
i^entindo muyto dom Esteu^ão a morte de seu jrmâo,
determinou de yr sobre el Rey Dogentana & destruylo,.
por vingan^^a daquela morte , pêra bo que se começou
daperceber. £ por^ ê Malaca auia grade falta de mãt4«
mSios, mâdou }K)r eles no lulbo segulte a Pão, cujo rey
estaua de paz , & foy Simã sodré ê hOa nao de duzen-
tos toneis , & ao mesmo mâdou Francisco de barros da
payua a Patane cõ qiie também tinha paz, & estando
íá foy ter com Simão sodré bíia armada dei rey Dugen^
tana de trinía & cinco lancharas y de que ya por capi-^
tão mor Tuão mafamede , que fugira de Malaca poia
morte de Sanaya de raja. E por Tuão mafamede não se
atreuer a pelejar com Simão sodré foy em busca deFr^m^
cisco de barros que sabia que tinha hum nauio peque*
âo, & não teria r^le mays q^ie ate vinte Portugueses,.
& nS por isso se deyxou ele de defender dos imigoscom
muito esforço, Sl eles o cometerão com grandes grita»
pêra ho aferrarem, mas nunca poderão, por(} os Portu-^
gueses os nào deyxivrâa cÕ muytas panelas de poluora#
cfue lhe arremessauão & cõ muyla soma despingardada^»
4 lhe tirauão. E despois de lha matarem três bomSs^ &
ferirS os outros todos , vendo ^ o nã podia aferrar se
afastara bum pouco, ho que vendo os Portugueses co--
mo estauão muylo cansad#s Sc feridos^. ^ ja nào podião;
LIVRO VIU» CIPITVLO hXXX. 197
^H>Dsigo, requererão a Francisco de barros- que poys uâo
podião mais fazer que se acolhessem a terra ^ & saluar
se yão y & despoys viriíi lempo em que se vingaria , &
ele nâo quis parecendolhe que era quebra de sua honr*
ra : dizSdo que melhor era a morte com bonrra , que a
vida deshonrrada, & mays que temia que vendo os Pa*
lanes como yão desbaratados que se ieuautassem con<^
Ireles & os matassem^ posto que estauão de paz. £ veia-
do a gente que nã se queria yr, não qniserâo mays es*
perar y & lan<^rãose ao batel do nauio & forãose a ter*
ra, somente dous, bum. chamado loão freire, & outro
Bastião nunez & estes dous persuadirão a Francisco de
barros que se fosse, & primeyro deylou a mais da ar-
telharia que pode no mar porque nâo licasse aos imigos,
& por essa causa pos fogo ao nauio , & á poluora que
estaua nele, & despoys se foy pêra terra sS ser vislo
dos imigos , & em terra recolheo os Portugueses & foy
se pêra a cidade onde foy bem recebido, & hi ficou hum
anno por aão ter embareação pêra se jr, & despoys
mandou dom Esleuão por ele. £ sintindo os imigos que
bo nauio estaua despejado entrarão nele , & apagarão o
fogo 8& tomarãno meo queymado : & vendo que nâo po-<
diâo auer ^ gente dele forào se, & Simão sodré que foy
a Pão fez carregar certos jungos de mantimêtos, & foy
lie coeles a Malaca*.
C A P I T V LO LXXX,
JDe como Diogo da silueyra chegou a ponta de Dm ^
. à^ que kijez»
JL assado ho inuerno {) Diogo da sifoeira teoe em Or«-
nuz, partiose pêra Alazcate onde tinha os galeões y Sc
dali na fim Dagosto com tuda a armada pêra a ponta de
Diu, onde esperou a» nãos que fosbè daeatreito, de que
fez dar á costa algtkas <| lhe fugirão, &» as nâo pode U>*
mac. £. vendo que na.í^zia aU narda fd> surgir na barra
19t lU HlfTORIA DÁ INOIA
de Diu onde as fustaa se lhe mostrarão , mas nâo ousa»
rão de pelejar coele : & aquy seube que ainda estaua
em Diu por capit&o Melique iocSo^ & não deyxára el
rey de Cábaya Rumeclo como estaiia delermiDado^ por
naquela conjunção Ibe ser noti6cado que el rey dos Mo*
gores (hum rey muylo poderoso) lhe fazia guerra pêra
que el rey de Cambaya tinha necessidade de Rumeeáo.
£ despoys que Diogo da silueyra isto soube, tomou hâa
nao de presa que foy ter coele ^ & tomada se fez à ve^
Ia , & foyae pêra Goa com recado do gouernador que
lhe mandou dizer que se fosse.
C A P I T V L O LXXXI.
De coma chegou á índia Marfim, afamo de smaa.
J\ este tempo chegou a armada de Portugal , de que
foy por capitão mor Marti afonso de sousa, a quê pot
seus seruii^QS el rey fex mercê da capitania mór do mas
da índia : & a armada ^ leuou de Portugal foy de cin*
00 nãos grossas cõ a sua, de {{ fora capitães ele, Diogo
lopez de sousa, Tristão gomez da graã, Simão guedea
de sousa, ^ leuaua a capitania de Chaul , Anionio de
brito 9 que leuaua a de Goch!. E chegado a Goa a sal*
uamêto , mostrou Mart! afonso sua prouisl ao goueroa**
dor ^ hi estaua , pelo que o roeteo de posse da capita-
nia mór do mar, & lhe mandou que se fosse a Câbaya
pêra tomar a vila de Damão , S& lhe fazer a mays guer-
ra qoe ppdesse , & que em Cambaya se entregaria da
armada que trazia Diogo da silueyra. E despachado Mar*
tim afonso, partiose peraChaul, & forão coele estes ea»
pttães de galès & Galeolas^ Fernão de sousa de taeora^
Manuel de souaa de sepulueda,>Martim correa, dom
Diogo dalmeyda, lofto de sousa lobo, & Francisco de
sá, & outros^ &assi kfi loão de sonsa dalcunha Rates
em hua carauda: & chegado a Chaul achou hy Diogtf
da silueyva que (be eatregou a armada de Vasco Pire»
LIVRO VIII* CA7ITVLO X.XXXII. 199
dic tâo payo ^ f| era de Ires galeotas , & dezaseys fus-
tas, & assí quatro galedes , & Diogo da eiloeyra seguio
sua rota pêra Goa pêra «e yr pêra Purtugal.^
C A P I T V L O LXXXn.
De como Marúm ufanso de sousa tfmwu a v^de DaméOí
Jlintregue Marlim afoDSo de sousa da armada , partio^
se pêra a vila de Damão ^ & leuaua triota & cinco ve*
1m y em que yrião seyscentos soldados , & coesta frota
chegou a Damão, bum lugar do reyno de Cambaya, si-
tuado na ponta da sua enseada da banda do sul por hA
rio acima ode ei rey de Câbaya tinha biia fortaleza for-**
te & bem artilhada , quadrada , & em cada quadra hil
baluarte, & tinha bfla sô porta. E sabCdo ho capitão
dela, que era Turco, a yda de Martim afonso queyrooo
ho lugar , & deslruyo tudo ao derredor , & recolheo a
gente na fortaleza , em que tinha quinhentos soldados ,
es mays deles Rezbutos, que sam os gentios que erão
senhores de Cambaya, antes () a os mouros ganhassem,
te por serB homfis esfor9ados os tinha ali el rey de Gam«
baya , os outros erão Turcos , em que entrauão cem es-
pingardey ros , & estauã todos muito contiados de pode«
rem defender aquela fortaleza ao goueraador da Índia ,
quãto mays a Martim afonso, que sabiáo Q leuaua pou-
ca gente. £ parecendo ao capitão ^ ele cometesse a for^
talesa pob rio, mãdou fazer ao longo dele algflas estan*^
cias dartelharia. Chegado Martim afonso, como digo,
surgio na costa pêra dali yt ver a dispoi^K^áo da fortale^
ia, a que foy em hum catur pequeno quando era baixa
mar, & fuy neste tempo, porque com a maré crecia a
a|oa, & ficaria sobre a terra desctiberto áartelharia, &
CO bayxa már fieaua ho aleanlM alio, &eiicobrileya dos
tiros, () forSo sem oonto, assi de bõbardas, como des-
pingardas eiUràdo polo rio, & valeolhe ho ardil que te-
ue pêra lhe nào empeaerem y & por isso passou auante
200 DA HisroArik da índia
da forUleea & a vío muylo bê, &vedo quã perigosa erà
a filrada por a^la parte por amor da arlelharia^ deter-*
minou de a cometer por outra se podesae aer : & sabS-^
do que polo serlfi polaa costas da fortaleza auia bum ca-
minho largo & chão, por onde a gente podia yr a pra-
zer, pareceolhe bem cometer por aly^ & assi o disse aos
capitães em conselho, & que auia de desembarcar na
costa braua de frõte da fortaleza ás duas oras despoja
de raea aoyte , pêra em amanhecendo dar na fortaleza^
& assi ho fez , & ao desembarcar teuerâo os Porlugue-.
ses muylo trabalho , Q desembarcarão tã afastados da
terra que lhes daua a agoa polo pe6co<^ , porque não
ousauão de chegar os catures a terra que auiâo meda
de se eapedaçarem com ho grande escarceo que o mar
fazia. E em quanto a gente desembarcaua foy Martim
afonso ver com cinco fídalgos o lugar por onde auiadyr:
& achando que era assi como lhe tinhSo dito, tornouse
pêra sua gente que achou desembarcada, & coela feyta
em hum corpo abalou pêra a fortaleza, & chegou ás cos**
tas dela em amanhecendo, leuando diante duzentos es««
pingardeyros pêra fazerem despejar os mouros que aco-
dissem daquela parle, como acodirão logo, mas quam
asinha forão acodir, Iam asinha se tornarão com jnedo
das espingardadas^ que erã íanlas, que quasi desfazia
as ameas« E vendo os Portugueses o muro despejada
poserão as escadas que leuauâo pêra sobyrS, &o pri-*
meyro ^ pos a sua foy hfl Frãcisco da cunha , & o pri-
meiro que subio por ela , & a pos ele outros , & por a
escada ser podre, com a gente ser muyta quebrou, sen«
ão Francisco da cunha quasi no cabo dela & cayo , le-^
liando diante de sy quantos yão de trás dele , & todoa
ficarão mal tratados das quedas, principalmSte ele que
cayo de mays alto, & com quebrar esta escada receou
a geqle de subir polas outras, & não quis ninguS mais
sobir , dizSdo 4 ^^^^ {)odres , o ^ ouuindo Marli afonso
mãdou logo trazer háa escada noua Q mãdara fazer de
duas aalenas da carauela , & era tão larga Q podia yc
LIVRO VIII. GAPITVLO LXXXII. 201
por ela cinco bornes em fieira^ & 6 quãto se foy por es-
ta escada fora algus Portugueses ao derredor da fortale-
za pêra onde eslaua a porta |X)ia qual virS sayr obra de
trinta dos ímigos t\ yão fugindo, & esles erão da gente
bayxa^ em Q o medo era tamanho (} determinarão de fu-
gir, & estes começarft logo, por os soldados eslarfi em
cima nos baluartes, & não auer quê os teuesse: &v6do
os fugir estes Portugueses ^ digo, começarão de bradar
^ fugião os imigos, & dera logo a pos eles, & outros
acudirá á porta que estaua aberta & remeterão a ela ri*
jo que os jmigos a não poderã fechar , porem fízerãose
em corpo diante dela, & começara a defender a Strada^
& na própria conjunção em que aqueles Portugueses re«
metia á porta da fortaleza, chegou a escada noua que
digo, & posta ao muro ho primeiro que sobio & chegou
ao muro, foy Torres hu Italiano comitre da galé de Mar*
tim afonso , & ho segQdo Diegaluares telez , híi fidalgo
muy esforçado, & a pos estes outros poucos, & isto &
ho chegar dos outros Portugueses á porta da fortaleza
foy todo hum , & vendose os imigos assi cometer , de-
sesperados de se defenderem, determinarão de fugir, &
por isso se. decerã os mais ao pateo da fortaleza , & se-
tenta (parece Q^dos mats bonrrados) se poserSo a ca^
4ialo pêra se acolherem iogo, & os outros cometera^
porta a pé como que queríão sayr, mas não poderão por
•estarem nela tantos Portugueses, que estauão atocha^
dos sem poderem yr pêra diãte nem pêra trás, & tu
nbão feyta hiia medonha pinha de fais & despadas nuas^
.& espingardas^ & era fatia braua reuolta deles pêra en^
trarô & dos imigos pêra sayrè, & tudo era cheo de hrar
dos & gritos. E três dos imigos como determinados de
n)orrerê pêra fazerõ lugar aos outros, espetaranse nas
lanças , & forão correndo, por elas ate chegarem aos ^
as íinhão, &ferirâonos muy rijo cÕ os terçados, &muy**
to mais dano íizerâo se não fora por hâ Aluarò de mey^
reles que os acabou de matar çõ hQa espada dâbas as
mãos, & assi foy morto outro de caualo com bíla espia*
LIVRO VIII. cc
SOS ^Á HOnrOAIA -DA ItlDIA
i^ardada que lambem q«iís ooneter aporta. E tanto qii«
Alar ti iD afoDso vío que Diegaluares telez ^ & 08 outrotfi
0obiâo pola escada, acodio a eafein^r oa qu0 «staii&o á
porta ^ & a força dodlbros 4 pos coot outros deu còelea
dentro 9 & como agôa que-fctope de f>reea, idá Saotia*-
go DOS imígos^ & nisto chega Diegaluarez ieiez^ & os
outn>s que entrarão pelo muro^ & (^ifaêdoJios jio meo^
apertaráonos de tal oaodo, qm nenhum escapou viuo^
pelejando primeyro cooi muylo esfor^ , porque tendo
que oão podifto escapar tingar&ose noa Portugueses^ de
que matarão dez, & ferirão muytoe de niuylas feridas.
£ roubada a fortaàeza , deleue«e ASarlim afooso tflres
dias em a derribar & arrasar , què parecia que «â-este-
uera aiy, Sl daquy foy correndo a cosia ate Diu, &
ooesia vitoria ibe ouueráo os mouros grande medo , &
el rey de CâiMtya a sânlio muyto.
C A P I T V L o LXXXIII.
De como el Rey dos Mogores aitrou -na Jndmi
jLjLntes disto entrou na índia hum rey de* hâs peuos h
que vuigarm8te'cbamãcr Mogoces^ cujo aevhorio icoitfínà
cò ho do ^060, & dixem que he a terra a -que antiga»-
mente ebamarfto Farchia , be «eta geala akia & bfi 4v0-
sombrada de barbas cÕpridas, & traaS as cabeças irnfys^
das, & nelas hiis carapuicjõea quasi da maneyra dos do
cofio , vestem cabayas, & roupões de seda, ou de pano,
segudo cada hum pode: oe nobres se:8era6.oom'nmy4a
pdicia de baixelas de prata, &de noyte alomeaose com
Teias de cera em castiçaeis, & db eaininho lecfto ho Am-
lo em arcas encoy radas, almofreixes, & maias, of}i»eii-
tos eõ reposteyros , & alcatifas sobre camelos , & Jeuão
inuyto boas tendas pêra pousarem no campo. Ho pro^
pfio pelejar dos Mogores be a eaualo, os cai>abs sfio co-
mo quartaos, correm pouco, & andâo «luvto, & pele^
jfio coeles aaubertados, suas armas aâo pelotas de seda
LivBo vNié cAmrut Lncxirr. tos
M de coyro de quartos ^ que lhe cbegão hum palmo a«
bayzo do giolho forrados «de laminas, cõ crauaçfto doura*
da^ nas cabeças celadaa^ & capacetes cÕ grades pena-
chos dourados. As armas ofi%siuas sio arcos, frechas^
terçadoB^ ma^a de ferro, & macbadinhas, & todas es^
ias armas leuã pSdúradas nos arç5es das solas, leuão
tâbê mujta artelbaria encarretada, & cada peça de oò^
primeiíto de couado^ as grossas tirão pelouros do tama-
nho de. faicdes, a miúda como noaes. Cõ esta gente an-«
da outra niuyta de diuersas nações, assi como Tártaros^
Turquimães, Coraçones, &oalros, & todos se chamâo
jMogores, mas os próprios Mogores são os que digo: cu-
jo rey era grão senhor de Cerra, & de gente, &seruiase
com grande estada, & vènuo muyto poucas vezes, &
quando quer que lhe fale salguem. manda ho chamar, Sc
€6 senhores de sua corte fázS cada dia d uns vezes a ca-
lema á casa ou á tenda em que está; be mouro, & assI
ho são todos seus vassallos , ho mais do tempo lejfla , fc
reaa^.pelo que os seus ho tem por santo, dizião que
Aunca lhe sonberão conhecer molher, & assi estranhaua
muyiio ho pecado -da iú)£uria» Tem grade goarda è sua
iMssoaassi na paecomo ni^ guerra, Scgoaréâno aos quar«
tos dous mil de cauato , acada quarto em Q entrSo eenv
senhores principaeis, & todos come da sua cozinha, quan-
do cauaiga acompanha ho' gente sem conto, assi de pé
como de caualo, & vão diante dele porleyros cõ varas
Kermdhas , te oortros oíBcineia que Tazèm apstrtar ageii«
te. A causa da vinda deste rey á índia foy segQdo sou-
be dalgfls Portugueses que esteuerão no seu arrayal, ser
desbaratado do Xeque jàmael, de que escapou com sete
mil de caualo, & vendo se desbaraiado, de corride nft
quis tornar a seu Reyno , sem fazer algíla cousa com
que emendasse aQla quebra, &determiaãdò de.conquis^
tar ho Reyno de Deli comarcão do seu, lhe começou, de
í>^scr guerra cõ ajuda .ditm jrmftò dei rey de Deli, a qu9
perleníeia ho reyno de dereyto, & a i| prometeo sé b^e
oonquistasse, pctfêm não ho fez assi despoys de ocaqu^s»!
cc 2
Í0% ! • DA HISTORIA DA «ITOfA '
Ude^ & tomouo peraey. Eeste a que pertencia bo'r0}r^
DO quando íbIo vio fugio pêra el Key de Cambaya^ á
pedtrlhe ajuda contra lio rey dosMogores, que por as
Dobresas de que vaou nesta coDquisla cõ os soldados ,
cobrou tamanha fama , ^ em pouco tempo ajuntou cin*
coenta mil de cauaio. £coído tambè tinha fama decon*
quistador, estado no.reyno de Oely^ foy ter cd ele hCl
sobrinho dei Rey de Mandou y aqueixandoseihe dei rey
de Gambaja , Q lha matara seu .'tio por treyção , & lhe
çaliuara sete filhos & lhe tomara ho reyno. Pedindolbe
que fizese por b6 ou por mal que el rey de Cãbaya sol-
tasse os filhos, & lhes tornasse o reyno. Sobre o ^ elrey
dos Mogores mandou hú embaixador a el rey de Cam-
baya , que por não querer fazer seu rogo onue desafio
antreles pêra fazerè guerra hil ao outro 9 que logo co-
meçarão per seus capitães. £ por^ os dei rey de Cara-
baya leuauão ho pior, determinou ele de jr a ela emi
pessoa , pêra o {| determinou de fazer paz com ho go-
uernador Nuno da cunha, por^ lemeo que lhe toipasse
Diu cõ toda a fralda do mar em quanlo fosse contra et
rey dos Mogores. £ pêra o contSlar & prouecar qoe fi-
zese a paz 9 Ibe deu Baçaym ^ sobre o q lhe mandou tík
embaixador j que se chamaua Coge sacoez^
C A P I T V L O LXXXUil.
JDe como dRty de Cambaya deu Baçaym a elRey dom
loam de Portugal.
Jl arlido este embaixador que digo, chegou a Goa, on-
de deu sua embaitada ao gouernador, cuja còcrusaro
foy que el rey de Câbaya lhe daua Baçaym com todas
suas ilhas, & bfla legoa polo sertão, que rendia tudo
eincoCta mil pardaos douro, & que fizese paz coele. B
como ho gouernador sabia certo ho fim pêra que el rey
de Cãbaya queria a paz^ & quSta necessidade tinha de-
la, dí a quis cõceder , sem el rey de Gambaya a fora a
LIVRO Vlll/CAtlTVLO LS^klIII. 20o
Ç daua consinlir que as nãos dos mouros fl hiâo a Diu
fossem a Bâçaym , & hi jyagariáo pêra el Rey de Por-
tugal os derejtos que pagauâo em Diu, que serião bS
oúlros cincoenta mil pardaos dé ouro, & mais que lhe
auia de dar lodos os Portugueses catiuos que tinha, o
que el rey de Cambaya concedeo , porque era sua len-
^o vencer el rey dos IMogores, & despoys os Portugue-
ses, & tomarlhes a índia. £ outorgado por ele eslecon*
trato, foyse ho gouernador a Baçaym com hua grade ar-
mada : & lá se ajiilou coele Alartim afonso de sousa, &
lhe leuou ho embaixador delrey de Cambaya assinado
por ele ho contrato que antreles foy feyto. E ho embai-
xador lhe entregou Bac^aim com suas jlhas, & hiia legoa
pelo sertão, & entregue mandou o gouernador fazer hua
casa forte por não poder fazer logo forlaleza, & esta ser«
ueria de feitoria , & fez feytor a hum Gaspar paez , &
deyxandolhe algOa gente se. tornou a Goa onde inuer*
DOU, & primeyro despachou ho embayxador dei rey, cõ
quem foy loao de Santiago lingoa do gouernador Q fora
mouro & era Cristão, pêra que trouuesse os catiuos que
el rey auia de dar, que erâo Diogo de mezquíta, Lopo
fernandez pinto , & outros. £ el rey porQ lhe pareceo Q
Sãtiago lhe descobriria muytas cousas do gouernador que
lhe erfto necessárias que soubesse , cometeo que ficasse
coele , fazfidolhe mercê de vinte mil pardaos douro &
de quorenta mil de renda & Q serva seu lingoa , do que
Santiago foy contente, & descobrio a el rey quanto lhe
pareceo que sabia do gouernador & dos Portugueses fa-
zendolhe seu poder muyto pouco, & (} facilmente os
deytaría fora da Índia, se quisesse, & por isso et rey
nâo quis mandar os catiuos ao gouernador , nem Iam
pouco mandar que as nãos que auiflo dír a Diu fossem
a Baçaim.
206 IMl historia BA IKDU
d A P I T V L O LXXXV.
Dê como indo dom Esteuâo sobre et rey Dugentana lhe
desbaratou hda Iranqueyra»
J^espois da morle de dd Paulo íicou el rey Dugentana
tão soberbo^ que mandou logo suas armadas ao estreito
de Gincapura pêra que tomassem os jungos que per bi
fossem a Malaca^ & fizessem aos nossos quanto mal po-
dessem , & eles ho fazião assi , correndoos por muytaa
vezes. O que demoueo mais a dom Esieuão pêra a des«
truy(^ dei rey de Vgenlana, que tinha seu assento em
hQa grande cidade sele legoas por bum rio a cima, cu«
jo nome he Vgenlana, & dele se chama assi a cidade:
& este rio se mete no mar alem do es t rey to de Cinea-»
pura. E determinado dom Esieuão de destruyr ésterey^
ajuntou sua gente ^ fora quatrocStos Portugueses : &
deyxando a fortaleza entregue ao alcaide mdr , se par-*
lio pêra Vgen lana em lunbo do anno de mil&quinbeiH
tos & triola & cinco cõ hQa armada de duas fustas ele
em biia, Manuel da gama em outra, & sete lancharas,
de 4 erão capitães, Simão sodré, dom Frãcisco de li*
ma, António dabreu , dÕ Cristouã da gama, Anrique
mendez de vasconc^os, Pêro barriga, António grãdio^
& bua carauebi redõda^ de Q foy capitão, bii Pernft
gomez natural Dajcoucfaete, 4 ^^^^ scriuão da feytori«
de Malaca, & hfia nao capitão bum Diogo botelbo, &
asâi alg&as niancbuas» & baldes pêra seruiço desta fro«
ta^ & partido coela checou á foz do rio Dugentana,
por onde entrou, & despoys de nauegar por ele Ires le«
goas por ser bayxoi não pode a mo passar mds auaote ,
& por isso a deyxou ali , &; pêra Q goardasse o rio que
nâo socorresse a armada dei Rey que andaua de fora*
E prirtido dali , a obra de mea legoa achou bua pouoa-
çã Q se despouoou com medo dele , que cõ tudo lomarã
ali lingoa^ por quem soube q^ue dali pêra riba não era o
7»-
LIWO TUt. GAFnriJO LXXXV. !207
rio de nata largura 4>ue «dum Iko de pedra & de mujio
grande oorrente, & todo cnhetto deepeaso aruoredo que
encobria ho sol, fc que dali a duas Iqgoas oiâdara el rej
fazer hfia traníjyray porque oa Portugueses ieuessem
«seya Q fazer em chegar a Vgeniana, & pêra lhe tolhe-
Tem dali bo caminho, porque ficaua muyto estreylo. £
i»a4>ido isto por dd Efiteuão, mandou Pêro barriga, lor-
ge daluarSga, & Bernaldira cordeyro em seulK)8 baKíes
a descobrir ho rio, & saber se era assi ho que ho tingoa
dizia, & que lhe tornassem cÕ recado por{| ali os espe-
Taua. £ eles forão & achara a tranQyra feyta ao pé dii
outeyro Q fazia hu cotouek) no rio, & cÕ a transira fi-
caua tão estreilo Q não podia passar ninguém (} osími-
gos !\ nela estau&o os nam matassem ás frechadas , &
tinhâo cortadas muytas aruores sobre o rio & aladas com
rota de Bengala , pêra Q se dd EsteuAo passasse as dei*
xassê cayr & lhe «garrassem bo caminho, ^ não se po-
tdesse tornar. E ver isio lhes custou muyto perigo de os
matarS cõ frechadas & visto iornarâo a dÕ Esteuão &
Jho cÕtarfto, & ^ (segundo seu p\pecer ele não podia
passar «em desbarratar aj||ia Iratt^ira , •& Q ho faria por
ier pouca gente. E drto isto per dd Ésieufto aos outros
capitães & pessoas principais da frota , assentouse por
-todos Q tomasse a tranqueira, & hu pedaço primeiro 1|
chegassem a eJa sairia Pêro barriga & António grandio
com a s«a "gente em terra pêra darC por eb na trãquei-
ta , & ele com os da arnxiHla daria por mar. E por^ ho
mato eva muyto basto & dõfisleuio se temeo 2) pola es-
treiteza do rio 08 imigos se escondessem antre bo aruo-
redo & lhe frechassem a gente, mãdon fazer baileasnas
fastas & nas lancharas pêra irè>debaÍ7Co espingardefros,
fSc' tirara dali se acõteeesse oi} reeeaua. E passados deus
dias que se nisto d^teue , tornou a sua viagS caminho
dn tranqueira , & hfi pedaço Ma deseníbarcarSo Pêro
barriga & António grandio coma gente de suas lâcha-
ras, que seriáo ate sessenta 4iom6s , ou pouco menos,
& iinar^o pêra a trãqueira indo a vista da armada, &
108 DA HI0TORIA DÁ ÍNDIA
ohegarSo primeiro que o8 do inár. E por Ihea parecer ^
geria perigo não cometer ca Imigos ^ oa cometerão aaai
como hião auiadoa, deafechãdo oa eapingardeiroa ^ hião
diâte. £ os imigoa ae defenderão bd pouco, maa v^ndo
chegar a armada pareceolhea Q oa queria tojnar no roeyo^
ía sem se deter muylo na defensa fugirão^ ficando mor<*
tos Ires doa principays, & oa outros se acolhera â forta-
leza onde el rey esíaua , a quê cCtarã seu desbarato ,
engrandecSdo muyto ho poder de dõ Esteuão & aeu es*
forço , por encobrirem ho medo (} leuauS : Pelo que da
Q eslauão com ei rey teuerão tambS aigú de serem desr
baraUdos, $c risceauã^ a chegada dos nossos.
C A P I T V L O LXXXVI.
De como dom Esteuâo chegou á fortaleza dos immigoB^ .
X^esbaralada a Irãqueira aem oa Portugueses receberS
nenha dano, como chegou dom EIsteuâo tornarSse aem*
barcar Pêro barriga & António grandio eom sua gfite^
por^ posto que dõ Esteuão quisera que forão sempre por
terra ale a fortaleza pêra tolher aos Imigos se os ouues-
se que lhe nao tirassem danlre ho aruoredo, não podião
por a terra ser apaulada pola mayor parte dâbas as parr
tes do rio, & ser sapal por onde ae não podia andar:
& por isso os imigos não podião chegar ás bordas do rio,
que se isso não fora eles chegarão, & somõte delas à#
pedradas & frechadas segundo ho rio era estreito &ele9
muytos poderão defender a passagê a dom Esteuão: &
tambfi por ho rio fazer muitas voltas & cotouelos lhes
estoruou lãçarS balsas de fogo pêra queimar a nossa fro^
ta, por^ se auiã de deter nestes cotouelos. E posto que
a terra era assí apaulada onde auia lugar pêra isso aiur
da ^ estreito desembarcarão António grandio & Pêro
barriga cÕ sua gente & hião a vista da frota , despois ^
partio desta primeira trâqueira caminho da fortaleza:
onde estaua Laqueximena capitão mór dei rey ^ tieri»
c&igã bê seys mil hornês o6 mais deks. frecheiros , &
dos outros algus espigardeiros & em ^ el rey linha todo
wu esforcjo, & a fora isso estaua inuy to: forte cõ Lua
tranqueira l\ atrauessaua ho rio^ & era de duas faces
entulhada de grades madeiros & pedras : & 3 cada ca^
bo hQ cobelo do mesmo, & no meio hua porta ^ se fe-»
chaua é abria pêra sairS suas armadas. E nesta Iràquei*
ra auia mujta artelharia, 8c dela pêra hua chapa da ter-
ra de hfta das bâdas do rio se.estSdia hfia fortaleza de
madeira muito forte em «Q estaua recolhido Laquexime-^^
na GÕ sua gSte. E el rey estaua em hCia pouoaçâ dali a
hGa iegoa, & por ele eslar tao fortalecido lhe pareceoQ
estaua seguro de ser entrado. Chegado dõEsteuéio a es-*
ta fortaleza surgio cõ.a Creta detrás du cotouelo que a
emparaua da fortaleza^ de Q ficou a tiro despingarda, ^
era a largura do cotouelo. E Ic^o S chegando Pêro bar-^
riga & António grandio Q chegara por terra lhe manda-
rão dizer !) deuia seguir a vitoria ^ trazia da tranquei*
ra^ & c5 ho fauor dela desbarataria logo c^imigos* E
dõ Esteuã não quis por nS jr apercebido pêra isso^ &
por ser tarde & a gele jr casada de leuar á toa os na-
uios. E assi ficou ho cõbate pêra outro dia. £ por^ de
noite 08 Imigos não lançassem fogo de terra na frota, ih*
carSo António grandio & Pêro barriga cô.sua gSte dú
parte ondestauão, & da outra desembarcou Anriqucmè-'
dez de vascõcelos cõ os seus, pêra i\ a frota lhes ficas^
se no meyo & hiis & outros a goardassê. E la^ximena
^ sintio 4 os nossos erâo chegados fortaleceose ainda
mais do Q estaua, & mandou meter muytos estre'pes dd
pao ferro muyto grossos por derredor da fortaleza. E es-
ta noite cõcertou dÕ EsteuSo como se auiâo de cometer
08 imigos: & foy q dõ ChristouS da gama seu jrmãd
fosse na carauela de Fernãgomez abalroar a trâqueira^
&. jrião coele Simão sodre, Manuel da gama & outros
ate cinccSta homõs fijla-lgos. E^ a carauela fosae cerpa*»
da darrõbadas por lííe na fazer nojo a artelharia. Elogo
ao outro dia lhas fizerão muyto fortes daruores inteiras
LIVRO VIII. DD
210 DA «STORU OA' índia '
9 cortara pêra issa. Isto feito hfi dia pela naeohaã aba*
lou a carauela ^ leuaua muy grande peso por amor daa
arrobadas 9 & por isso nào podia jr se não ás loas^ &
estas auia dir atar em aruores bH Luys de brag« {| fora
escriuãu da feitoria , & despois datadas nas aruores se
auiâo datar por elas os da carauela ao cabrestante, por^
nS, auia força de remos ^ a dtese surdir segundo seu
peso, & a grande corrfiie dagoa: & mais indo a remoa
não se podia leuar por amor d^ artelharia dos imigos (|
estaua certo pescar as manchuas-ou balões a ^ fosse a<»
toada como descobrisse fao cotcfueto (\ ficasse a vista da
trãqueira. E indo bQa só mancbua atoada desta manei*
va hia ao Jongo de terra, & despois enipararsebia cd a
mesma carauela em quanto se aiaase polocabrestáte. £
porl| nisto auia de aaer vagar 6cou dõEsteuâocÕ cres-
to da armada detrás do cotoueio ate a carauela afTerra?
eò a trãqueira, de Q tanto t( se lhe a carauela descobrio
eomeçâo de chouer pelouros cft tanta fúria Q parecia ^
fundift ho mundo, quanto mais a carauela, a i| as arrÕ*»
badas aproueitarão muyto peru os que hiã dêtro nâo se»
f6 todos feitos S pedaços. Porem FernSo gomez foy fe*
rido dík pelouro em hfl braço ^ de Q despois morreo* B
da earauela lambS jugauão coessa artelharia ^ ksuauão^
It tudo era euberlo de fumo, & como o rio era sõbrío
por amor da e8|)essura do aruoredo , quasi ^ ficou todo
escura, & nisto passou Luis de braga muj grade perr*
go em ;r atoar os cabos âs aruores por onde se auia da*
lar a caraueb. fi auSdo os negros Q remauão medo das
bÔbardadas & frechadas (^ tiráuSo da tranj^yra nSo que*
rião remar , pelo {) conueo a Luys de braga arrSear da
espada^ & ameaçaíos coeia ^ os mataria se nã remasse,
fc cd is^lo remara sem eles nê ele serem feridos : o^pa--^
receo milagre r & assi fby ate Q anoiteceo Q a carauela
ftcou a meo tiro de pedra da tran^yra & ali surgio c5
determinaçS de a^U Bo;ie jr aferrar a trãqseira»
«^
LfVllO VIII« €APITVLO LXXXVfl. 211
C A P I T V L o LXXXVII.
(
Dé como âfi EãUuão de^arntnu el rey Dugeniana.
^urta a carauela , vio Luis de braga na boca do caDal
jtito da (rao^yra onde a carauela pDdta chagar hfi jilge
«lagado Q 00 imigoa ajagarão receando de aer o {| viâo^
& ficaua a agoa tS baixa Q nS podia passar húa man'-
chua por cima do jQgo^ & sabido isto por dõ Christonie
<leyxouse estar ate ver o () dd EsteuSo determinaua , a
-qufi logo mandou dizer o ^ passaua , ele lhe mSdou di*^
zer (} se tornasse , & assi o fez. E v8do dõ Esteuão \
ná podia cdbatér a fortaleza por már determiaon de o
fazer por terra & nft se yr sem a tomar: & pêra saber
eua disposição, & onde poderia assentar a artelhariamJU
dou a Francisco bocarro de Lisboa {) tinha a feytoria de
Malaca Q se passasse 4a bSda dalém do rio , & viáse a
diapoai^o da terra dizendolhe pêra 2} ! & foy coele hd
espTgardeiro, & indo em pés^ & S mãoa por nSo ser vie:.
to se pôs em cima dfi outeirinho ^ senhòfeaua a fort»:*
íessa^ fi. vio assentada de maneira ^ estSdo hõ oamel0
dõde efe estaua c5 hum par de falc^^es, nS pareceria n!^
guê na fortaleza {) não fosse pescado , & asai o disse a
•dõ Estenâo, & í) sd a()la estâcia abastaria pera^fazer
jd^p^jíkr a fortaleza aos !n)igos. E onuindo Ibo Manual
^a gama lhe disse , Q não fizesse aquilo tfi chSc, ^ maia
auia T[ fa2er do que dizid^ & ele disse -^ pois ele ^ o fo*
Ta ver o dizia {) ainda era muyto menos ^ fepera isse
íbssem lá éò Esteuão ^ & ele , & veriâo se era assi , &
eniUo forS todos três & coeles d5 Cri stouflo , A ntonio
dabren & A nriQ medez , & por o mato ser muyto basto
os nâo f irão da fortaleza. E i^8do l\ Wdi assi como Frft»
cisco bocarro dizia , na noyte s^gulte mandou dd^ Eate^
^ão fe^er ali hOa estancia c5 bQ camelo, & dotis falcfies^
& deu a goarda dela a Anril) mSdez de vascdcelos, cô a
gente da sua lanchará : & António grãdio eataiia S ou*
DD 2
212 DA HISTORIA DA ÍNDIA
tra da mesma parle em Q eslaua a fortaleza. £ g ame-
jihecêdo começou jugar a arlelharia Q fatia muyto nojo
aos imigos, & elee aos nossos nenhQ, posto (\ a sua nu«
ca deixaua de iirar. E durou este cõbate quasioytodias,
8 q os nossos matara dos imigos muitos & eles aigjls
dos nossos, & nisto faltou a poiuora, porque do £sle«
4ião não determinaua de dar tâíos diascõbaie^ quecny-
dou Q em hu se acabasse aQle feyto, & lãbê Jfae coine*
^u dadoecer a gente por a terra ser muyto doentia, &
por faitarS os mãtimStos, pelo (} dõ Esteuao dagastado
pos ê cõselho se se tornaria pois não fazia nada & po-
dia perder muito, & muitos fura de parecer ^ se tornas-
06 , & Pêro barriga cõ alg&s disse ^ eJe não auia medo
aos imigos pêra se tornar, mas q auia medo á nossa fro-
ta 4 tinha pêra andar sete legoas per hú rio muyto es-
treyto & de grande corrente , i\ seria causa de darem
h\l9 nauios pelos outros & desbaratarSse per si, que não
se deuião yr dali sem cometer a fortaleza, & cometen-
doa |K)deria ser que Deos os ajudaria, & quando não^
Bo os imigos os vissem tornar terião reza de dizer, vão-
se deixalos yr. £ como dÕ Esteuao & todos tinbão a
Pêro barriga por muyto bõ caualeyro, & que fizera dis-
so muy boa experiScia em Africa, & ![ sabia bê da guer-
ra, abalouos muyto esle seu parecer, & ouueráno por
bd, porè não se determinarão no 1) fariâo & ficou assi,
& cada bíí se tornou a seu lugar, ^ se fora a jentar Q
era pela menhaã. O Q parece ^ quis nosso sflor pêra
anais seu iouuor & gloria : por^ despoys deste conselho,
chegou à fortaleza Tuâo inafamede capitão mór do már
dei rey DugStaoa , da costa de Pão onde ãdaua darma-
da, & el rey o mãdara chamar pêra ajudar cÕ sua gêt^
aLaquexímeaa côira os nossos & deixou a frota no már,
& foyse por terra cõ sua gSte à fortaleza , & chegou o
dia em q foy esle cõselho , & como ya de refresco quis
Jogo sayr aos nossos, & deu a^la larde rebate nas es-
tancias Dâtonio grãdio, & de Pêro barriga cõ bS mil ho-
mõs, & eles ^ não desejauâo mays ^ pelejar coeles re^
hlVBO VIII. CAPiTVLO hXXXVllU 213
ceberflMiob cd muilo esforço, & pelejara cd grade oosa-
ú\a. £ tanto () a grita foy ouuida na frota, luâdou dom
Esleuão 08 mais que pode i| fossem acodir, & a arte-
Iharia começou logo de jugar, & foy bo arroido lama-
4ibo Q parecia destruirse o m&do. Ecomo os imigosvis-
sem quã b6 se os da estaacia defendião, & i| soccorrião
4)8 da armada, & ouuirSo as bombardadas, cuydarão Q
^râo tomados no meo, & desmayarSo de modo Q se ou*
uerão de perder se nao teuerão iâ perto a colheyla, on-
de se acolherão sem fazer dano aos Portugueses , rece-
bendo deles muyto, & forâo os mcilSdo alé a forlaieaa.
£ vfidoLa^ximena quã facilmSteTuâo mafamede, {} ya
de refresco fora desbaratado & a bateria ^ se daua de
cõtino á fortaleza , & sobre ludo parecerlhe Q delermi*
nauSo de a tomar, ouue tamanho medo, & assi os^es-
tauâo coele, Sc tambê Tua mafamede pelo 2} tinha es<^
premõtado, ^ a^la noyte despejarão a fortaleza de todo,
& se forão caminho da pouoàção em ^ el rey estaua ,
que tãbê despejou a pouoação cõ quantos eslauão nela
& fugio cõ medo.
C A P I T V L O LXXXVIII.
J>o § fez dó EsteuSo despois § desbaratou el Rey Dth
gentana.
JLrespejada a fortaleza, quando veo ao quarto dalaa, ^
era de rero barriga na ouuido na fortaleza o ^ dates ou*
uia per bradarS & falarè os imigos i) se vigiauã , & tãr
ger 08 seus sinos, & cantar galos. Eparecendolhemuy*
to sossego, sayose fora da estâcia cõ algfts homSs do
quarto, & cbegouse á fortaleza, & não ouuindo nada
chegouse tão perto () claramête vio 2) estaua despejada,
o ^ logo mâdou dizer a dõ Esteuao ^ como amanheeeo
desembarcou com sua gente, & entrou dentro na forta-
leza em que não ouue que roubar. Eela desfeyla de to-
do , & recolhida a arttifaaria ^ bi ficou , foyse cõ toda a
S14 OA BIftTOfttÁ BA IKBrÁ
frota pelo tio aeima á pouoaçâo delrej I) também ac&OH
deapejada^ & qoeyiDouba toda, & muitas Itcharaa ^
eatauSo começadas, & tomou outras i\ estauão acaba-
das , & assi algas calaluzes* Isto feylo seguio pelo rio
acrma bO hiia lagoa al8 da pouoaçiío pêra ver Q auta no--
le : & achou moitas lâcharas & calatuzes {{ esíauâ vara^
dos no mato no l{ gastou três dias. E feyto isto se tor^-
nou, & qufldo se sayo do rio, por^ a corrSle íi2 atrauea^
sasse os nauios , hiãose atofido as aruores , pelo modo
que se aloaua a carauela quãdo foy pêra aferrar atraii^
^yra: & saydo fora do rio tornouBe a Malaca õde foy
recebido cõ muito grSde festa da gSle da terra, por^
ouue tamanha vitoria duRey Q estaua tSo poderoso, te
fazia táto dano a Malaca, & de cada vez lho ouuera de
fazer mais, & das lancharas, & calaluzes & artelbaria
que dõ EsteuSo oaue dos imigos fez hua grade armada
de ^ tinha muita necessidade.
C A P I T V L O LXXXIX.
De como Francisco de barros de payua 4* Anri^ mêdez
de vascôcêlos pelejarão c6 hua armada de laos.
Vyhegado d& Esteuâo Dtfgetana mSdoa Anri^ mSdes
de Vasconcelos a Patane asSi pêra trazer Frâcisco de bar*
ros de payua i} la estaua , como pêra dar ordS que fos-
se dahi hfi jugo á China quê lá mfidaua a prouar se Cre-
ria ter tr^to, como teuerão em tSpo passado, &- foy Ân«-
rifi mSdez em hQ nauio dos nossos : & chegado a Patane
achou Frâcisoo de barros viuo & os !) ficarão coele ^ &;
despaohddo o jijgo pêra a China deu ordS como Francis-*
CO de barros se Sbarcassô era outro da terra ofi os da
sua còpanhia pêra se tornarS a Malaca. E despachãdose
Frâcisco de barros teuerão noua de hfta armada dé cos«*
sayros laos, de ^ era capitSo môr hd mouro lao chama^
do Eriacai!, & trazia vinlô quatro calaluzes, dQs Q tâ
duas ordSs de remos bus dè pãgayo outros de galé, &
LIVRO ▼III. CAPITVU) I.XXXIZ. 216
sS tamanhos ^ traz cada bfil cê homSa de peleja ^ & assi
o traziào ealea, & muyla artelharU, & muitos arleôcios
de fogo. £ sabSdo Anri^ mfidez & Francisco de barros
Q esta armada vinha pêra Patane ^ fiaerâose á veta c5
tra(|le8, & meaenas pêra yrè receber a armada aó mar,
& em sayndo da enseada aurgio Francisco de barros na
costa por ler ainda gSte em terra & mais a vela grãde«
£ Anrique mendez foy na volta do mâr a descobrir os
Imigos , & descobertos virou pêra onde ficaua FrScisco
de barros, & surgio por ho vento ser calma, & os Imi-*
go8 se forâo chegado a remo pêra ele : & seria as trei
oras despois de meo dia , £riacatl repartío os calaiuzea
desta maneyra : Mâdou a sete que se fossem cometer
Francisco de barros , & ele cd os outros a Anri2| mSdez
& por]) o não pode aferrar á sua vontade, por Ânri{^
snendez trazer o seu batel atracado da banda dabaira**
uento, mãdoulhe cortar ho cabo por h& calaiuz, & os (|
bo yão fazer como sabiâo Q auiã dacbar contradi<^ aper«
ceberão se parela, fazjido faQ teito daa suas rodelas po?
cima do calaluz cõ ^ por mais pedradas Q lhe dera &
outros arremessos cõ í^ lhe tirarft, n& deysarã dStrar no
batel, & cortarlbe o cabo & leuarfino. £ ieuado abat*-
roou Ériacati ho nauio com outros capitães, Sl Anrique
mSdez acodio logo cÕ os seus, cÔ muylas panelas de pol*^
nora & muytas espingardadasr & durou a peleja h& pe*
(bijo em i) muytos dos imigos íbrâo mortes. E nesta pe-»
)eja foy Anrique mèdez ferido na barba de h^a frechada
de zarauatana , & por ser peçonhenta ficou ele desaeor*»
dado, & os seus ho meferá por morto em bii» camará*
£ com tudo se deienderâo tambS que nunca os iroigoS'
08 poderão entrar por aquela parle, antes os fizera aTas*
lar. £ querSdo outros abalroar por outra, ccmo- j.a fazia
vento, derão ás veias , & ÍDrãse na volta do már. E não
os podendo os Imigos seguir, forise lodos a* Frâcisco do
barros , que pelo Q lhe fieana em terra se deixi»ti estar
surto, não tendo consigo mays que dezaseys Portugue*
ws , & por isso 08 imigos hlo aíerrarfto logo , S^ ele s^
216 DA HISTOaiA DÁ IirDIA
defeadeo que ho nlo entrassetn cõ muytos artifícios de
Cogo que Ihet deitou. E n^ste còbaie lhe matarão trea
homfia y & Ibe tomarão três paraós de seruiço que tinha
a bordo, Sc fugirftlhe doze mariuheyros da terra. £ ven^
do Erlacatim que achaua mayor defensa do que cuydou,
JA sobre perfía fez quatro fíeyras dos seus calaluzes, &
cada hila hia abalroar ho jungo, & pelejaua tanto ate
que cançaua, & todos ho abalroarão muytas vezes. E
tambfi se defendeu que nunca fao entrarão, posto qutà
lhe matarão & ferirão quasi todos, & ele foy ferido em
bua perna de hua frechada pec^onhSta, & a hil Bastião
nunez da Vidigueira y4erão quatro bõbardadas em hfla
rodela ^ tinha embratfada, sem lhe fazer nenhQ mal. E
durou a peleja ate ais onze horas da noite ^ Q era muy
clara polo grande iQar {| fazia. £ não ficando viuos nS
pêra pelejar mays queFrãcisco de barros &Ioã martiaz
mestre do nauio, & Bastião nunez, aferrou por derra-
deiro ho jungo Eriacatim , que nflca ate então ho abal-
roara , & coeie foy outro capitão. Ecomo os nossos não
erão mais que os Q digo, começarão de subir ao nauio
ate doze dos Imigos , a que acodirão Francisco de bar«
ros & os outros dous cÕ muy to esforço , & lançarão so-
breles tâtas panelas de poloora Q os fizerão saltar aomár
todos queimados, de que morrerão os mais. E assi hua
molber & dous filhos de Eriacatim, que trazia cõsigo, ^
desesperado denlrar ho jungo se afastou, & não quis
mais perfiar, & de fora se pos as frechadas & bõbarda*
das cõ sua armada, de 2} tinha perdida a mayor parte
da gSte (\ foy morta nos cometimêtos passados, que foy
muyto grade milagre de nosso senhor, sendo tantos
quantos erão não entrarS niica ho jugo , ou nã ho queu
maré, segundo a multidão darteficios que lhe deitarão
dentro: de que algds derão em hQa jarra de poluora/,
em j| se acSdeo ho fogo que queimou três Portugueses,
& hò foy Francisco de barros em. hfla mão , & em huâ
parte do rosto. E a fora isto forão tantas as bõbardadas
que lhe derão, que se nosso senhor ho não Jiurata^ a?
LIVRO VITI, CAPITVLO XC. 217
basfarSo pera ho meter no fundo, & ho fazerê em pe*
da<^os, porque ao lume dagoa lhe derSo quatro com que
ho arrobarão, & acodirão os Portugueses a (aparlhe os
rõbos, & no masto grãde lhe dera cinco, & no do tra-
fite três & na camará de popa lhe metera xiv. pelouros.
Ê estando assi ÂnriQ mfidez ^ ficara desacordado da
frechada tornou em seu acordo, pregQtando se era Fran«
eisco de barros tomado: & sabêdo Q ainda se defendia,
queixouse muito cfi os seus porque ho desempararâo, Sc
ho nã ajudarão & mandou que ho fossem ajudar, &quâ-
do forão acharão os Imigos afastados tirâdolhe bombar*
dadas, & romperão por anlreles tirando com a artelha-
ria, & metera hum calaluz no fundo, & forãose ajuntar
com Francisco de barros, ho que vendo Eriacatim se
foy na volta da terra muyto destroçado, & com grande
perda.
C A P I T V L O XC.
De como Francisco de barros ^ Anrrique mendez de vas^
cancelos se tornarão a Malaca.
X arlidos os imigos, disse Francisco de barros a Anrrií|
m€dez como ficara , & ^ forçado auia dir a terra pola
gente ^ lá (tnha, & amarinbarse, por^ sem isso na po«
deria yr a Malaca, & assi o fez , & Anrique mSdez
prosseguio pera Malaca, & tornado Francisco de barros
aPatane & tomado o de Q tinha necessidade & sua gen-
te, & curados os feridos, partiose pera Malaca, & no
caminho topou Patibarrá lao capitão mor de hua arma-
da de cossairos de sessenta, & tantas velas grossas, &
por yr muyto ao mar lhe escapou , posto que ho segui-
rão oyto velas, & não ho podendo alcançar ho deyxa-
rão. Edespois ditsto foy ter coele Anrique mendez, que
"vinha dePatane onde arribou cõ tempo despois de Fran-
cisco de barros partido, & assi forão em companhia ate
que se apartarão com tSpo. E ficando Francisco de bar^
ros só, porque leuaua tão pouca gCte como digo, &sa*
LIVRO VIII. BE
218 DA HISTORIA DA INOIA
bia que a^las armadas o auiâo dir esperar ao edtreytô
de Ciacapura pêra ho tomarem , por^ não tinka outro
caminho pêra Malaca, foyse a bua jlha que estaua oyto
legoas da costa , & hi se deyxou estar ate Q lhe pare-
ceo ^ os imigos serião idos, & ele marcaua ho tempo
de sua estada poios manlimentos que poderifio ter. JBS
parecfido a Francisco de barros que era tempo, partiose
& passou o eslrejto sem achar nbu dos jmigos, & foj
ter a Malaca onde achou Anrique mêdez que por achar
os tempos coulrayros gastou tanto tempo que ja os Imi-
gos erão ydos , que se isso nâo fora , fora grande mila-
gre escaparlhes*
C A P I T V L O XCI.
De como muytos gentios â morauão no Morro se tamor
ráo Òhristãcs^
JL/espoys 4 Tristão datayde capitão da fortaleza de jlf^^
]uco ncou de posse dela, entendeo em a restaurar por
estar muyto daneíicada, & a torre da menagem^ ^ do
derradeiro sobrado pêra cima era de paredes de canas,
& mâdou ba fazer de tauoado & rebocar por dStro c5
cal, &assi mãdott fazer a ygreja de pedra & cai. Ene»-
te tempo lhe chegou hil messageyro de hfl gentio gouer«-
nador de bua cidade do Morro chamada Momoya , pop
qu8 lhe mãdou dizer que se tornaria Cfaristâo se lhe pro-
metesse de o liurar dois mouros ^ de cada vez ^ hiãoait
darmada vexauão a ele , & aos outros gentios, tomando**
Hies o ^ linhão, & tralandoos como catiuos. E ooest«
messegeyro hia hum Português chamado Goix^aloveloBiQ.
per cujo cõselho se (}rra este regedor tornar Cbristâo. fi
folgando Tristão datayde muyto coesia noua , por set
tamanho serui^ de Deos como era , porj) esta obra tãi^
sancta ouiresse effeyto, teue este messegeiro com 4Beu:s
côpanheyros escõdidos ate ^ se baaíizarao, & vestidos
muyto bem de trajos Portugueses os despedío cõ reposta
LIVRO VffI. CAPíTVLO XCI. 21*
ao regedor, ^ se ele se fizesse Christâo, aIS de o fauo-
4-ecer, ajudar, & emparar, contra quS qaer que o qui-
sesse anojar, lhe faria muytas mercês. Pelo que o rege-
dor sabida esta reposta se foy logo pêra a fortaleza a fa-
zer Christâo , ôde recebeo agoa de bautismo com grade
festa & solenidade , & foy lhe posto nome do lobão de
momoya , & assi forão bautizados todos os de sua casa*
E quando se foy mandou Tristão dataide coele hum clé-
rigo chamado oymâo vaz pêra ^ bautizasse aQle pouo^
-de Q ho mais se tornou em pouco tempo á santa fé ca-
tbolica 9 & em tanto crecimento hia esta obra de nosso
afior, que foy necessário mãdar Tristão datayde outro
clérigo ^ auia nome Francisco aluarez, pêra ajudar a Si-
mão vaz, v& tâto fruto íizerão ambos que os mays dos
pagodes éa^les gentios mudarão em ygrejas , em ^ ce-
lei^auão ho officio diuino. E vendo Tristão datayde co-
mo estaChristindade multiplicaua, mandou lá algfls Por-
tugueses que em hfia trflqueyra que fizerão esCauã era
goarda & fauor dat^les Christãos, pêra ^ os mouros os
nSo vexassem. E fazSdose isto no Morro, chegou ae
porto deTemate h& calalaz em ^ vinhão hfis homSs de
huas jibas que se <;bamão dos Ceíebes^ onde dizem que
lia muyto ouro, cera, cascas de tartarugas, & outras
mercadorias ricas ^ & estes <H)síumauão de yr cada an-
fK> a Ternate a buscar roupa da índia & outras cousas
^ leuauSo em retorno de suas mercadorias , & como ti-
nhão este costume despoys que forão no porto de Ter-
nate fizerão mostra do qu« leuaiião: em que mostrarão
algiias manilhas douro , & logo na noyte seguinte salta-
rão coeles 4certos Portugueses em hum batel , & come-
terãonos eomo Imigos, ferindo & matando algfls & os
outros se saluarão no mar deyxãdo hocalaluz que os Por-
tugueses tomarão, & leuarão aTristâo datayde cÒ lodo
bo despejo que tinha , que ele tomou , pelo J) pareceo
que aquilo fora feyto por seu mãdado, de que ei Rey
Tabaríja & os mouros ficarão muy descõtentes, Scescan^
dalizados , mas calarãsè por^ nã podia mays. -^
EE 2
220 DA HI8T0EU PA INOIA
C A P I T V L O XCII.
De como Tristão datayde prendeo el rey Tabarija de
Ternaíe , ^ ma tn&y ^ ^ Fateçaranyuek .
i]N este l6po foy mexeHcado el Rey Tabarija deTerna-
te cÕ Tristão datayde que trataua de ho matar & tomar
lhe a fortaleza, &. ^ enlrauáo nesta consulta sua tuây,
& seu marido Fatei^arangue regedor do reyno : & Ra-
gabaho justi<^a mòr. O que sabido por Tristão dalaide
ho creo por serS mouros. E determinado de os prender
deu disso couta a algQs Portugueses seus amigos ^ com
Q assentou q pêra prèder ei rey & os outros sem aluo-
*roço, tizessem dous dos mesmos Portugueses que pele-
jaucío, pelo que Tristão dataide os mandana prender,
& presos, rogariao a el rey que falasse por eles Q os sol-
tasse, ao que ele jria á fortaleza, &in(lo lá seria preso
CÕ os outros , que tambê os fariSo la jr com algOa ma-
nha. Istp assentado logo se pos em obra. E rogado el
rey por parte dos dous Portugueses presos Q os fizese
soltar, foyse à fortaleza pêra ho rogar a Tristão datai-
de, que esperado por isso eslaua na torre da menagem
com a mayor parte dos Portugueses da fortaleza, a que
tinha dado cola do caso, & a (^ tinha mandado que tâ-
to que ele & el rey se assentassem , agasalhassem an-
tre dous hum mouro dos que entrassem co eIRey em
que aferrarião como cl rey fosse preso , porque nào fi-
zessem aluoroço , ou se deytassem da torre abayxo não
se podendo defender. E estando todos praticando che-
gou a raynha mãy dei rey, & Pate<;aranguo seu mari-
do, & Ragabaho ^Tristão datayde tinha mandado cha-
mar por hum lorge de brito, &.Lionei de Uma fidalgos:
& eles como inocentes da culpa f) lhe dauão, forâo logo
a seu chamado. E tendo os Tristão dataide todus jíitos,
lhes disse, que tinha sabido, que se querião leuantar
Contra aquela fortaleza, & matar a ele & aos outros Poc^
LWBO VIII. CAP1T¥L0 XCIT. 221
tugttesófl) & pêra lhes dizer islo os mandaifa otiamar pe»
ta os prender polo caao ser pêra isso, &iiiandalo8 aogo*
Uernador da índia pêra os casligar como merecessem ^
do que eles se mostrarão muylo espantados, como quS
oão tinbâ cul[>a, iicando mujio seguros, & sem mudan*
ça de cor, dizendo logo, ^ aquilo erão mexericos de
pessoas que lhes queriâo mal| que se posessem coeles S
justiça porque mostrariâo sua jnocècia, & assi tízerao
muytas exclamatjões, dizendo que os prendião sem cau-
sa, & lhes roubauão sua justiça : & com tudo Tristão
datayde os mandou preuder em ferros, & meter em bfls
sótãos debaixo na torre da menagS, & isto sem nenhQ
aluoroço, porque os mouros que biâo com el Rey por
estarem afierrados não bo poderão fazer & pori| o não
ouuesse na cidade, quando se soubesse a prisam dei rey,
fez Tristão datayde logo rey por conselho do camarás
que estaua coele, a bQ moço que auia nomeCachil aey-
ro, filho bastardo dei Rey Boleyfe & de bQa laca Q ai»-
da era viua, & ho tinha cõsigo, a cuja casa Lionel de
lima foy por ele com outros, & sobre o leuarem dey(a«>
rão a mãy por hiia lanela fora, sobre o Q foy grande ai*
uoroço na cidade. Ei porque Iggo se rompeo como el rey
& os outros erão presos, muy tos fugirão da cidade, pria-
cipalmente os do c^^selbo dei rey, cuydando que tam-
bém os prêdessem ^ & era pêra auer piedade ho desati*
no cõ que fugiâo, & como os seguião as molheres, os
filhos, & os criados chorado, & deixando as casas aber*
tas, & como a gête baixa os saya auer grilando de me*
do , & era a reuojta niuy grade. E hil mouro honrrado
Q auia nome Ouro bachela, de que faley a trás, por ser
do conselho se quisera yr disculpar a Tristão datayde,
& foy morto á porta da fortaleza ^ ho i) foy causa de
ainda os mouros fugirem mais & quasi se despouoar a
cidade, porem logo se tornou apoucar tornãdost* os mou-
ros poucos & poucos y por grandes arooestações que lhe
64 brisso fez ho camarão, dandolhes muyto fircDes segu-
ros da parto de Tristão datayde, de nào receberem niai
Sit 'DÁ BUrVOftM BA llfDf A
noa oorpoè fM nas fazCdas, & por esta macieira forioM*
sessegadoa lodos o» outros lugares da jlba, cujas pessoas
prÍQcipaeis forflo á fortaleza por rogo de Tristão datay*-
de que lhes deu as causas porQ prèdera Tabarija & os
outros. E o mesmo escreueo aos reys comarcãos, &Sã^
gajes porQ honã teuessem por tiraoo&sealuoro^^assem*
£ ainda i^ lhes pareceo mal o Q tinha fe;to, não lhes
deu disso ) dizendo Q era bS empregado nos Tcrnates
todo ho mál que lhes fieessem os Portugueses , poys os
leuarão a sua terra & Lha entregará, &os ajudarão con-
treles seus parentes^ & naturaeis: & mandarão dizer a
Tristão datayde que lhes parecia bS ho que tinha fey^
tO| offrecSdolhds sua ajuda se lhe fosse necessária, com
ho que Tristão datayde ficou cõtSte & descãçado, & le-
go leuãtou por rey Gachii aeyro, & fez gouernador do
reyno bo camarão , posto (J era de baixo sangue , Q erâ
eõlra ho costume da terra: & por se segurar meteo el
rey na fortaleza donde nunca saya : mas hi era seruido
& venerado como rey, & ho seruiâ os seus. Nôs officios
•^ tinha dordenãça^ todos Tristão datayde proueo de no*-
uo, que cuydando f\ estaua seguro pêra fazer tudo o
l]ue quisesse, determinou logo dauer pêra sy lodo ho
crauo {} ouuesse na terra, pelo preqo que estaua assen-*-
tado na feytoria, Q era aiiiil reaes ho Bahar. E pêra isso
mandou bo 9amarao pregoar sob granes penas , que ne-
nha mouro nem gentio vddesse crauo se náo a Tristão
datayde & aos Portugueses ^ ele ordenasse pêra o c5*
prarem. E o mesmo mandarão pregoar a seu requeri-
mento os reys de Tidore & de Geylolo, & ho de Ba-
chão, que tambS foy requerido pêra isso^ mas nã quis^
E pêra se auer todo este crauò , & não escapar nenhu ,
pos Tristão datayde nos lugares em que ho auia criados
seus , & outros homSs de que ciõfiaua , & estes a fora
arrecadarS ho crauo, tiranizauão a terra com crueza de-
masiada, tomando^ a seus donos quãto lhes vinha á von«
tade, & hê molberes & 6lhas, & seruindose deles em
4udo como descrauos, sem.Tristãe' datayde querer aeo*
dir a Unso, & cõoelbandolbe algfts.que ho fizesse por não
96 leuaDtar a terra, zombaua disso^ £ toda e^ta diligen*
cia dauer o crauo, era causada ho seu preço aJauan*
tar de cada ?ez màiBy & chegou a valer boBahar a cin*
eoenla & a sewenta cruzados , por^ como os Portugue»
868 tinhâo muita fazSda Q ^bq pregar, & viAo hocanuoho
Q a terra leuaaa pêra se ieuÂtar , i^rião todo« emprega-*
b, & todos comprauâo crauo^ & os mouros como se a^
uenturauão a grandes penas se Tristão datayde ho sou*
besse, náo o ijuerião dar menos do preço ^ digo, &ou«-
tros ho dauão por armas , & pela necessidade \ os Per^
tugueses tinhâo não deyxauào de ho comprar»
C A P I T V L O XCIH.
lÁe €&mo Tristá dutaide fez guerra u el rey deBebchÍ(K -
J[N este ISpo fez Tristão datayde guerra a ei rey de Ba*
chão , por se vingar dele de ihe nã querer deyxar fazer
crauo em sua terra : & por não yr á fortaleza despois da
prisão dei rey Tabarija , como Q se Qria leuâtar cdtra
ela. E como ele sabia bS da guerra , a primeyra cousa
Q fez , foy mâdar tomar lingoa a Bachão pêra saber ho
que el rey deierminaua , & a, isto Ibrâo há António pe*
reyra , lorge goterrez ^ & outro. £ oooio os Bachões nS
se temião por estarem de paa com os Portugueses, fa*
cilmente estes capitães tomarão algUs, do Q. se ei rey
espantou muito, por ser ho mays antigo amigo, & mais
leal que os capitães de Ternate lenerão sempre naque^
la terra , fc cõ mais deiigencia aeodio sempre á fortale*-
za em suas necessidades : & posto Q Tristão datayde
soube dos Bachèes que el^ Rey estana muyto assessega-
do na paz & amizade que tinha ccele, todauia proseguo
a guerra coatrele^ mandando b{la arinada que lha fizes*
se a fogo & a sangue. A cujos capitães el rey fez grft-
des requerimentos da parts dei Rey de Portugal quelha
não izessem foS» ena amigo dei Rey de Portogal & ti^
984 DA HISTORíA DA ÍNDIA
nh<i paz coele , & nS queria guerra nem fizera por que
lha fizessem , & cÕ tudo nAo quiserão se nílo fazertha j
no que não fieerSo mays que perderB aigQa gente que
Ibe os fiachões matarfto & ferirão^ & sem fazerem mays
se (ornarfio a Tristão datayde, que tomando aquilo por
injuria determinou de se vingar, & yr em pessoa, &
leuar em sua ajuda os reys de Ternate, & de Tfdore,
& parliose cÕ hua grossa armada, de i\ forão oapitâes a
fora ele, Diogo sardinha capitã mór do már, Baltesar
vogado, António pereyra, Francisco pirez, Baitesar ve^
loso, Lisuarte caeyro, Fernão anriquez, António de
teyue, lorge goterrez, & outros, & assi os reys que di*
go , & seus gouernadores & Sangajes, E chegado á bo-
ca do rio deBachão, soube {} os mouros ho tinhão atu-
pido , com ho muito & muy basto aruoredo que tem de
cada parte que serrarfto, & deytarão nele. E sabendo
Tristão datayde que não podia yr por terra por ser ala-
f adiça,. determinou de yr polo rio & desatupilo, & assi
o fez, leuãdo nos bateis & ehãpanas, molinetes carre-
teis com que tirauão os troncos grossos do aruoredo, &
os mays delgados cortauâo cõ machados, o que fazião
cÕ muytQ grade trabalho. EsabSdo el rey de Bacha co-
mo Tristão datayde desatupia ho rio & se hia chegado
á cidade, mãdou gente que per antre o ma(o (irasse
frechadas, & arremessos aos Portugueses , & os eslor*
uasse de desatupirem bo rio, ao q Tristão datayde ata-
Jhou, mâdando Diogo sardinha capitão mór do mar cõ
outros capiíXes íj fossem ao longo de terra cÕ os espin-
gardetros & varejassem a gente í\ impedia o desatupir
do rio, •& assi foy feyto. O que vendo el rey, mandou
deytar ho rio por outra parte por onde ya antigamente,
& como tinha muyía gente logo foy feilo, & começan^
do a agoa de vingar, ficou a frota de Tristão datayde
em seco, & sospeytando ele o que podia ser, mandou
gCle a ver se era assi , & achando i\ sy , derâo nos Q
trabalhauâo no rio, & fizerãonos fugir, & despois ato-
pirâo a madre ^linhâo feyta ao rio, & fizerãono tornar
LIVRO VITI. CAPITVLO XCniI. 2*4
pm* onde eon^ia. B desesperado el rey de poder escapar
a Tristão dataide , despejou a eídade & acolheoâe cora
a gente pob serlâo da jlha , de modo Q quando Tristão
dataide chegou a eia , nem achou gCle cõ que pelejar ,
nem fazftda t\ roubar, o ^ vendo os Portugueses lhe po-
serão o fogo, & a ^ymarfio & destruyrão de todo, c5
grande parte da terra ao derredor , & quebrarão as se-
pulturas dos reys (| ali estauã sepultados , & leuarâo as
ossadas , parecendolhes que despoys lhas resgataria ei
rey: B despois disto, quisera Tristão datayde entrar
pola jlha & destruyla, mas não pode, por ser terra ala-
gadiça : & vendo que não podia fazer nada se tornou
pêra a fortaleza c5 os reys, deyxãdo Diogo sardinha cS
a mayor parte da armada pêra ^ fizesse guerra guerrea-
da a el rey de Bachão, & ficou coele Pateçarangue c5
a armada deTernate. E ydo Tristão datayde el rey co-
meteo paz a Diogo sardinha & ^ daria duzõtos Bahares
de crauo, do ^ Tristão dataide foy contente, & despois
disso mâdou hQ nauio a banda a fazer fazSda, de ^ (oy
por capitão hu loâo de canha pinta.
CAPITVLO xcini.
De como el rey de Cambaya foy buscar d rey das Mo^
yores,
JLIespoys que çoltão badur Rey de Cambaya fez paz
eõ ho gouernador, determinou de yr pelejar com el rey
dos Mogores, Q lhe entraua a terra, como disse, &
frendo partir soube i) se lhe rebelara airaynhadumrey-
no por hum seu fíiho que era seu vassallo, que determi-
nando de sugigar eela raynha primeiro que fosse contra
ei rey dos Mogores , partio logo da cidade do Mandou
onde estaua & Ipuoq hum exercito em que entrauão
cento , & eincoenta mil homSs de caualo , em que aue«
ria trinta mil acobertados & de bõs caualos, & os ou-
tros erão bõs & máos, & quinhStos mil homês de p^, eni
LIVRO VIU. FF
/
SSC DA HISTORIA SA IN DIA
que entrauSo quioze mil estrftgeyros Fartaqvifl'^ Abe«
xint, & trezStog Rumes, que leuaua Rumecâo^ & oin^
coenta Portugueses , quinze Christâos caliuos , que el
rey soltou pêra ho ajudarem nesla guerra ^ & lhes mau-
doa dar armas & pagar soldo , & os outros arrenegados^
& trinta Franceses que forão ter a Diu na nao Dohri^
gas : leuaua mil peças dartelbaria Scarretadas ^ em que
•ntrauã quatro basaliscos, jrmãos do i!| Nuno da cunba
asâdou a Portugal, & tudo de metal^ ê carretas de qua-
tro rodas, &cada carreia era leuada por duzentos boys^
es bois das carretas das outras pe<^ erao segudo elas
demandaua, & muytos bombardeyros & fundidores. C
pêra esta artetharia hião quinbfttas carretas carregadas
de poluora & de pelouros: Jeuaua oyto centos Aiifantes
CÕ castelos de madeyra, & de muytos deles jugauáo
doos berços , & nos outros hrâo quatro espingardeyros«.
Fera as despesas deste campo ieuou quinhentos cofres
grSdes de cobre cbeos de dinneyro douro & de prata, &
oada hil hia em hfia carreta. A Ibra outro muy lo dinhey-«
ro que ieuauâo todos os senhores \ hiào com elrey, as^
si mouros como gentios, de <| algus tinhâo sete colos
mil cruzados de renda, & outros quinhStos, quatrocea-
tos, trezentos, duzentos, & cento, & cada hum leua-*
ua seu tesouro : & hião neste campo ires mil mercado-
res , ^ bo mais pobre não decia de vinte mil cruzados y
& muytos de trezentos, & duzentos mil. Partido el rey,
seguio seu caminho pêra o rey no deSangà, & fi>y sobre
a principal cidade dele^ Q se chama Chitor,. \ na lin^
goa da terra quer dizer sombreiro do mtido , & assi ho
he f»Ia, & al8 de ser a mais nobre & rica \ pode ser no
míído , não lhe falta grandeza & fortaleza : será de três
lagoas de roda, situada sobre hCla moyto alta serra, cer-
cada de fortes muros & baluartes da nossa maneira, en»
\ autâ muy suntuosos edi£otos , asst dos seus pagode»
eomo dos homSs que tinbâ os mais as paredes iforrada»
do tauoádo dourado , & as qtie não erão douradas eráo
branqueadas od hiL betume aluo, & rijo \ parecia vídfo.
LIVRO VIU. CAFITVLO XCIIII. St7
Nesta cidade estaua a raynha deste reyno, t^ auia no-
me Gremêli, moiher viuua & ainda de boa jdade, &
muyto fermosa, & Ião esforçada Q peiejaua como hom6,
Sc lioba cOsigo doua mil de caualo & trinta mii de pò«
Chegado eirey deCãbaya a esta cidade cercou da serra
quâlo ocupaua dela a cidade, & do pé da serra come-
4}ou logo de ffiidar fnzer dons mayaeis de pedra & bar-
ro pêra chegarem acima ao muro da cidade, & cada hft
por dSlro de largura de cincoêla pés cubertos dé vigas
muyto jiltas, porQ aa pedras {| oe immigos lançaufio dú
cima não fizessem nojo aos que andauflo dentro faaêdo
bus degraos pêra a g8te sobir por ali a cidade, & man*
dou pregoar que a todo boraS ^ Ibe leuasse hiía pedra
dos muros da cidade daria bum madrafaxao, que pola
nossa moeda vai três cruzados , pêra o 4 tiabá diante
de si cofres cheos deles ^ & coesta diligencia, & cÒ a
5iue se pos nos mayneis forão acabadas em htt mes &
eyto sobre cada hiia b& baluarte que ficailão tão perto
dos muros da cidade que deytauão dStro panelas de poU
uora, foy a cidade entrada principalmente pula valêlia
dos Portugueses , que el rey sempre mandaua poer noá
lugares de mayor perigo, por os ter por mays ouaadoa
Q nbfls das outras nações^ & assi forão eles os primey*'
ros que entrarão a cidade. Cujos moradores fizera hfla
notauel façanha, que foy queymarense todos (em se en-*
irando a cidade) assi molberes oomo bomSs que não po^
derão morrer na batalha , & assi suas fazendas que ti*
nhão prest<>s pêra isso, &.80iibeae despois ^ forão seten-
ta mil pessoas & bo fogo durou Ires dias sem se poder
apagar. £ a raynha fugio logo com setis filbos &■ cont
hum senhor' sc^ vasralk> que tinha por anúgo. £ tornai
da a eidade el rey de Carobaya fi«ou t|k) lèab como se
fora tfenbor do mftdo, fe-dézia que daii por diante nira
rey da índia auia áe trazer #om br ejro/se não ele, écten
^^^y^, gratadea mercês* aos <lo úeu oampo d<^rando aii
rendas aos senhores , & fco soldo aos soldados*
♦ ♦
FF 2
**• »A HI6TO1RIA. nu mniA
C A P I T V L O XCV.
tos mil de caualo, os cincoenta «il. acubertadoT & !í
tes eràoMogores, os outros de ca-alos Sr/w
»08, Tarquimâes, Coracones, & Delia & nJ^Vt T
guncho, & alforge g5 mantunSlo , & a eeniB d^ Ha
ít? ;«•'«>♦ «« q a«ia dez mil ^spiogírdeL^ ^a«t
ílíí r**^ '^"í*** ^•"y^* n.oJheres'iojt^r«s Iodas aT
«ao & com arcos & frechas com «^ue tiriuào, Tleoa^;
«íl peças dartelharia , & coesle campo se [o\ cam!nhí
da c.dade de Mandou oode íuydou que acháwe S "ev
«a hl não a quis combater. E sabendo que estaua sobra
«er que auia dous meses que andaua por suas íenZ
.em achar com^ qu6 nelejass2: & el rey íe Gambava^
ZoláT:^ r^" ^'"'"«^ quandolhe dera es?e r^
cado, & Jogo partio com seu campo cõtraMaadou ft era
o cami-nho que traziâo seus cíkrajíos. E checara bôí
sua cidade chamada Docer, asseada em hfi^càno ras^
ao longo de hfl rio, acbou nouas q Ik> Mogor estaua d«,S
sele Jegoas, & que nâo andaua cada dil mais de h SÍ
fegoa, Jegoa & mea, & os seus corred^rererào vitíe
Sr«;«? r VJ^^ "^'"^ despedio ha seu «apiíio
«bamado Coraçàcâo com ires mU de caoalo a sabir se
era àssi o ^ Hie dwiSo. E sabêdo o jrmâo do Moger sua
yda deu neie & matouHie quantos J^uau», saiuo quore».»
ta q ficarão muyio feridos, k ho capitâo foy catiuo.
Aqui espefou el Rey deCàbaya ho Mogor, assi por de»-
LlVftO VIIÍ. CAÍlTVLO *CV. SÍÔ
cansar sua gente j como por auer disposição mutlo boa
pêra assentar o arrayal, que assentou pegado com o rio
de hQa parte ^ & da outra cercado de tranqueiras & ca-
uas cõ muyta artelbaria que íicaua furlissimo , & aqui
cõtra seu costume, ^ era não se cõselhar nunca cÕ nin*
guem no que auta de fazer, tomou conselho com Rume«
cSo ( que era seu condestabre } se daria batalha ao Mo-
gor, por^ au6turaua nela todo seu estado, o que lhe
eonselhou {| nAo fizesse, mas Q por outros meyos oafaff-
tasse de si , porc} dali ao jnuerno aueria hu mes , 8( cõ
as chuuas & cheas & ríbeyras era im))0S8Íuel o Mogor
esperar no campo , & se auia dir por força , o que pa«
receo bê a el rej de Cambaya, mas sayoíbe mal, por*
que nS choueo goteira dagoa , que foy cÕtra natureza
do tem])o : o que foy causa de se perder > o Q quiçá nS
fora se pelejara* E tudo isto parece que foy permissão
diuina, porQ se ele dali ficara cô a vitoria, todo seu po-
der ouuera de virar contra os Portugueses , & não ces-
sar atee que os não desarreygara da índia. E chegado
fao Mogor a tiro dartelharia do campo áe\ rey de Cam-
baya , assentou o seu I) tomaua três legoas pêra trás, &
na frontaria do arrayal estauão deus senhores principais,
fali se chamaua Indobeque que era Mogor, outro Esta-
€oHm , Grego de naçã & condestabre , & da« carretas
em que leuaua a artelbaria cercou o campo, & cada
quorenta se cerrauâ com b^a cadea de ferro com que
se fechauão em outra carreta, & deste modo se fecha-
uBo todas em reda que fícauã eomo fortaleza, & nhfl ho-
me de canais podia entrar dentro. Tendo ho Mogor as*
sentado seu arrayal , começou a artelbaria de jugar , St
como a dei rey era maya fvriosa fusirgaua mays ao lon-
ge, & fazra maj/or dano, pelo ^ o Mogor se ttrou pêra
onde lho nft fizesse, & mãdour conuidar el Rey deCam^
baya pêra batalha campal, ehamandofhe couardo. E cô
tudo et rey de Camrbaya pefai determinação que tinha
não quis pelejar, porque ja começaua dauer medo sem
yn de que. £ iieete tempo fugirão do eaakpo de Cam^
I
t30 DA HISTORIA I>A ÍNDIA
baja cinco Portugueses, quatro ChrialSoâ^ & h& arre-
negado, & forãose pêra ho campo doMogor a quero fo-
râo leuadoS| & leuantouse a velos da porta de sua tSda^
& mostrou que folgaua mujto de os ver, & pregunlou
a cada hu por seu nome, & o arrenegado que era o lia-
goa lhos disse , & que ho seu era Hamet , porQ se tor-
nara mouro, do q se el rey espantou muyto, & estra-
nhoulhe muyto tornarse mouro« £ sabendo como em
Ghrislão se chamaua António gonçaluez, mandoulbe Q
assi se chamasse, & a todos fez mercê de dinheiro, ves«
tidos, & armas, & lhes prometeo muito grandes mercês
se quisessS jr coele a suas terras, & encomSdouos ao
seu cõdestabre por^ era christâo : & agasalhauâose.coni
a sua gente, & fazialhes roujla hõrra, & estes ouuirâ
no mesmo campo que ho JMogor era de casta deChrís-
tâos , & por isso folgaua coeles. £ vedo ele que el rey
de Cambaya não queria pelejar, começa de lhe tomar
os mantimentos & nSo lhe deyxaua jr âo cSpo ae nSo os
^ não podia tomar , & estes erão (ã poucos ^ não erão
nada pêra a multidão domSs & daliniarias ^ auia nocS-*
po dei rey de Cãbaya , em que Içgo ouue muyto grade
fome , & era o trigo & ho arroz tão pouco ^ se vendia
aos arratens , & valia cada hú seys vinténs, & bu mo«
lho de feno outro tanto, & começarão de morrer os ca*
uaios & os homês , Sc em duus me^es ^ assi esleuerão
ouue algus recontros em ^ sempre os Mogores forâo ven-
cedores. E por derradeyro mandou el rey de Cãbaya
hum capitão cõ todos os Abexins a tomar híia grande
recoúa de mantimentos que lhe trazião, & os Mogores
a tomarão & matarão os mais dos Abexins, & era ja ta«^
nianho ho medo ^ auião aos Mogores no capo de Cam«
baya ^ do rugido das ar/nas se espantauão. £ vendo is«*
to el rey de Cambaya, & a muyta gente que lhe mor-
ria foy ko seu medo tamanho de ser tomado que deler^
minou de fugir. £ húa noyte ja no cabo do quarto dn
modorra se acolheo ho mays secretamente que pode^
deyxando recado a Rumefâo que arrebentasse a arte«
LIVAO TUI. OAPITVLa XOVI. t3t
Iharia, por(} us Smígo8 não se aproueytassem dela, &
que com a inays da gfite de caualo que podesse se fos*
se á cidade de Mandou pêra onde ya , Q esta gituada
na ponta de hua serra de sete iegoas de roda 8c de niea
legoa daltura, & fica oomo hfi penhâo: por^ a inayor
parte he de rocha viua, a cidade será do tamanho de
Lisboa & sobe a eia per hQas escadas feytas ao pica na
rocha. Nesta cidade tinha el rey , hãs paços lodos la«>
nrados douro & dazul^ & as paredes cubertasdazulejos,
& tem h&a orta do tamanho de Viia noua dandrade, &
dentro Ires grandes tanques dagoa cõ dous barganils
cada hu , em Q el rey se desenfadaua com seus priua^
dos 9 & no cabo dela hua estrebaria com dez mil caua-
los 9 cõ suas selas i& freos pêra fazer mercês aos silores
seus vassallos. £ primeyro () chegassem a estes pa<jos
auiflo de passar por três fortalezas muyto fertes cÕ seus
muros & cauas^ & cada hua não tinha mays de duas
portas f\ goardauâo capitães cõ gente. £ se esta serra
b8o fora tamanha nunca esta cidade se poderá tomar ,
pori| tinha dentro agoa & mantimSlos pêra quãto du-
rasse o cerco ^ mas por a grâdeza da serra nâo se podia
defender. £ cÕ tudí) el rey de Câbaya se acolheo a ela
cd sete mil de caualo ^ se forflo ajuntado coeie, cõ quã-
to deixou a estrada 8 sayndo do capo , & se foy por lu-
gares desuiados por não ser tomado.
CAPITVLO XCVI.
i>e conta €l rey dê CXAoga sê acolheo u Dm , ^ ão mãiè^
que /est.
J? ugido ti rey de Gambaya , mandoo Rumecão sobre-
carregar a artelharta, fit muiia arrebSíou & outra ficou
por arrebentar cÕ pressa de fugir, por2) a fugida dei rey
por Biais secreta ^ foy ee soube logo peio IMogor, \ muy-
to de pressa foy a pos ebs c6 quinhfttoe de caualo, & os
seus der fie logo ao cájpo dei rey de Càbaya & roubarãono,
139 BA HISTORIA DA lt4DIA
& a8 tendas dei rey que erâo de boreado & de veludo
de deotro & de fora forfto todas espeda^iadas ^ (| ooupa*
uão hum ressio dStro no arraial em Q caberia dez mil
homSs de caualo , & foy cousa afi conto ho dinheyro 4
ae achou) & assi ouro & prata em barras, & muitas pe*
ças ricas ^ nSo tinhâo preço ^ assi dei rey como dos se-
phores 2| yão coele, Q nhfl c5 pressa de fugir leuou cou-
sa nhua: & como eles, & a outra gele do c3po.for2o
pelo derejto caminho de IMSdou, quasi todos forâo mor*
tos poios Imigos 4 lhe seguiSo o alcanço, &'o Mogor se
deu tâta pressa que em três dias chegou a Mandou , &
chegada sua gfite cercou a cidade , & mandou dizer a
el rey de Gambaya 4 restituísse al}ie reyno a cujo era ,
íl os outros !| tinha tomados, & !| desse Diu ao gouer-
oador da índia , & ^ ho deyxaria yr pêra Cãbaya do ^
se el rey rio , parecSdolhe j| estaua seguro pola fortale^
za da cidade & poios mãtimenlos Q tinha! & durando
este cerco se cõcertou o Mogor cÕ Rumecão ^ se fosse
parele &ç, que lhe daria a rêda Q tinha dei rey de CS-
baya & se assentaria cÕ seus jrmâos, &nc^o lhe deu Diu
i) tábõ Runiecâo pedia por dizer {| o tinha prometido a
Nuno da cunha. E coeste concerto fugio Rumecão fin«
gindo ^ daua hn rebate no capo dos imiffos, &8ayo aup
Lcmenhaâ cõ quantos Rumes tinha & foise pêra o Mo<>
gor. B soubese {) quâdo el rey de Cãbaya o soube Q dis-
sera a Manuel de macedo. Como foste verdadeyro, &
isto polo q lho profetizara de RumecSo quando se desa-
fiou coele. E despois disto peytou o Mogor tSto a h&
capitão ^ goardaua hQa das portas da cidade {| lhe dea
por eia Strada hua noite & tomou a cidade, & el rey de
Cãbaya se acolheo cõ quatro de caualo por yr mais en-
cuberlo, & foise caminho do reyno de Cãbaya ft cidade
de Chãpaner í\ he da costa trinta legoas , & fi hiis gra-
des cãpos se leuanta hfla serra pei)na a modo de penha
toda de rocha talhada & será em ptirtes de hua legoa
dallqra, & em outras de quatrocStas braças, he toda
cercada de muro muyto forte de cantaria çÕ.cincoèta.&'
LIVílO VIII. CAI>ITVL0 XCVI. 233
€^to baluartes do foesino, & mtiílo bem artilhados dar-
telharia grossa ^ «ilo t8 c&lo! toda esta cerca oSo 16
tnais I) bfla só entrada per bda porta feyta ao picão fnniH
to alta , & vay de baixo do chão mais de quorenta bra-
ças, & antes de chegar a esta poria t'ein hjia*caua de
cem passos muyto /uda , & no andar de baixo híia poa-
te Ieuadí<^: em goapda desta porta -e&ícauão quatro tra-
bucos de mastos tão grossos como os das nãos de car-
reira. Dentro desta primeira cerca ba outras seys^ &
alem da 4erradeyra está a pouoação que he de c6lo &
trinta mil vezinhos l\ se estende por toda a serra , &
nela estão hCIs paijos dei rey do tamanho da cidade De-
uora cercados de muro cÕ três portas de ferro , & ile
dentro pousa el rey quando ali «vay com as suas molhe-
res {| sam seyscêtas , & os irecebedores de suas rendas
que andão na corte, & os officiaes de sua casa, & eslã
os almazSs dartelharia & das armas , & as casas d^ ffl-
diçSo dartelharia: todo o mais sam jardis, & casas de
prazer, a mais rica & deleytosa cousa do miido, & no
Çico desta serra ha outra fortaleza sobre rocha talhada*
'anlo ^ el rey de Câbaya chegou a esta cidade, fez lo-
go partir pêra Diu suas molheres & «ua mãy & bo sea
tesouro douro amoedado & joyas ricas, ^ dizS !\ chega-
ua tudo a dez cotos douro : & ho de prata ^ era muy-
to, mandou recolher na fortaleza do cume da serra, &
mandou a hft capitão ^ auia dtr cõ suas «íiolheres ^ se
teuesse noua 2| o Mogor bo seguia <} se fosse a Câbaie-
te, hfla cidade porto de mar, onde tinha feyta bua fro-
ta muy grande de ga^leões , galés , & galeotas. E assi
deixou em Ghampaner bum capitão com cinco mil bo-
rnes de peleja, & mantimentos pêra quatro annos. E is-
to tudo feyto partio pêra Diu cõ seus quatro compa-
nheyros vestido como pobre, & rapado por não ser co«
nbecido, nê doe seus ^ tamanho era ho seu medo ^ de
tudo bo auia. £ quS auia tão pouco !} com seu grande
poder auia de cdquistar bo mQdo, tornou tão destroçado
por sua grande soberba, que segundo ele cõfessou, ateli
LIVRO VIII. GG
234 BA HISTORIA BA ÍNDIA •
não tinha em conta Deos^ nê Mafamede^ nem entraua
nas mezquitas a fazer a ora<23o da sua seyta^ & cuidaua
Q ele mesmo era deos , & assi punha em seu titulo. Ho
QoitSo Badur cuja cadeyra está nos ceos, & ho sol he
seu seio^ 8c a lua ferradura do seu caualo, & as estre-
las crauos dela. E chegado ele a Diu, mâdou logo fazer
dous baluartes em dous passes da terra firme pêra a jiha
que se [lodião passar cõ maré vazia , & isto porf} se o
Mogor viesse que o não podesse ' entrar : & estado em
Diu chegara as suas roolheres & sua mãy & seu tesou«
ro. E porf| se os imigos na aproueytassem da armada ^
tinha em Cribaiele mandou a queymar, & assi mãdou hii
seu sobrinho chamado Mirãomubmald pêra Damào, &
pêra a^la comarca que cõfina cÕ Chaul a fazer gente &
defendelas do Nizamaluco se lhe quisesse fazer guerra^
& mandoulhe ^ quãdo se visse em necessidade Q se foS'^
se a Chaul & se entregasse a Martim afonso de sousa Q
sabia que inuernaua a hi.
C A P I T V L O xcvir.
De como Martim afonso de sousa soube ho desbarato dei
rey de Câbaya.
Jjistando el Rey deCãbaya acolhido na cidade doMao^
dou despois ^ fugio : h& Português Q andaua coele ca*
tiuo Q auia nome Francisco ]ourea<^ fugio, & cd n»uito
grSde trabalho foy ter a Chaul véspera de sam loão, &
eõtou a Martim «tfonso o desbarato dei rey de Cãbaya,
& ^ despois de ser fugido ouuira como fugira de Mâdou
Bo mais que com quatro de cauab , & como toda a ter*
ra por onde passara estaua muy temerosa dos Mogores
& desesperada de se el rey de CSbaya poder deíSder. £
a pòs isto foy dado hu recado a Martim afonso de Mi<>
râomuhmakl l\ estaua em Damão, 4 "^^ mandou pedir
seguro pêra estar ali, & pêra se jr a Cbaut c& sea pes«^
floa, dinheyro, & molberea se se visse apressado dos Mi>^
LIVAO TÍII. CA7ITVL0 XCVif. 235
{;ores: Ôde Nizamaiuco, & Marlim afonao &Symão gue*
dez de sousa capitão de Chaul lhe noandarão os seguros
mnyle largos. E esoreueolbeMarlim afonso j| el rey de
Gambaya deuia dobrigar ao gouernador pêra o ajudar ê
tamanha necessidade como estaua cÔ ihe dar hQa forta-
leza em Diu, em Q ná perdia nada, antes ganbaua muy«
to em cobrar lau» boa amizade como a sua, & creria ho
gooeroador que de era seu amigo por(} doutra maneyra
não se auia d^ fiar na paz que fizerão, pois tão mal
«comprira hil dos sustanciaeis pontos do cõlrato das pa*
zes, que era mandarlhe logo os catiuos que nunca mais
mandou, antes induzira a Santiago que ya por eles a fi«
car coele , x> que não erão começos de boa amizade , &
fiera desfazer todas as sospeylas ^ o gouernador tinha
de lhe não goardar a paz , era rouyto necessário darlhe
fortaleza & Diu & mais por quã seguro ficaua de seus
Imigos cõ lha dar. E o mesmo escreuco Martím afonso
a el rey de Cãbaya, roandandoo visitar como amigo, Sc
offrec#>rlhe com sua armada o que lhe dele cõprisse, por*-
que lhe pareceo Q polo tempo em ^ el rey estaua semo«
«aeria coisto a dar fortaleza em Diu , & o mesmo lhe ee«
creueo Mirãmuhmaid , escreuendolhe a boa palavra ^
achara em JMartim afonso, & como lhe mandara ho se«
guro Q lhe pedira. E como Martim afonso escreueo a
el rey de Cãbaya, escreueo ao gouernador do mudo ^
el rey estaua, m&dandolhe pedir licSça pêra na entrada
Dagosto yr sobve Diu cÔ a armada ^ tinha, por^ eria
verdadeiramCte l\ indo na(}la cõjunção el rey auia de
dar fortaleza em Diu pêra ganhar nossa amizade^ que
lhe ímportaua tãto q sem ela nã se |K>dia restaurar, por
estar desbaratado, & seu Imigo nniyto apoderado no rey*
no, cõ quem auia de recear de se ele gouernador aju*
tar, & pof Diu estar muito desgoarnecido dartelharia &
mingoado de gente , porque tudo el rey tinha leuado á
guerra & ho perdera no desbarato; & porq estando no
roàr lhe podia tolher os mãtimentos que yão por ele, !\
erão 08 mays dos< que se gi^^tauãç em Diu ,.& por lhe
GO 2
236 DA HI8T0BIA DA ÍNDIA
tolher os socorros Q esperaua da genie do mar roxo que
tinha mandado buscar^ & majs faria arribar a Baçaym
ás nãos que fossem do estreyto , o que podia faaer por
virtude do contrato das pazes Q estauão assentadas. B
vista por ho gouernador esta carta, moslroufaa aalgús fi*
dalgos seus parentes & amigos dizêdo, que bS escusa*
do era cuydar ninguém j| auia el rey deCábaya de dar
a aJ^e tS|io fortaleza em Diu poys nunca teuera deie
tanta necessidade como entâ , por ser o pricipal lugar
de sua saluação, & por ter nele suas mulheres & lhe*
souro, & por isso lhe parecia escusado fazer fundamen-
to da fortaleza nem bo fazia: & posto que l-ha el Rey
de Cambaya quisesse dar que primeiro auia de fazer a
de Baçaim com {) se cõtentaua , & a seguraa^ja dela era
e principal proneito Q queria do desbarato dei rey de
Cambayay & de8[K)is que leue muitos fidalgos deste pa«-
vecer , por serem seus parentes & amigos , pos em con-
selho a yda que Martim afonso lhe screuia que queria
fez«r a Diu, & todos os ^ tinha prouocados a serem de
seu parecer votarão que nflo era bem que fosse , dando
pêra- isso ae rezões que he gouernador daua , & Frâcis»
CO de soosa tauares, & Aleyxo de sousa chichorro, &
outros aigiis foríio de parecer que Martim afonso era
muylo bem q^ie fosse, f>orque por el rey de Cambaya
não ter outro lugar mais principal pêra sua saluac^ão que
Diu & ter bi' suas molheres & tesouro auia de queres
coQseruaJo & teio segura, he ^ ele mesmo sabia que
não podia ser sem amizade dos Portugueses & darlhe
fortaleza nele , por^ ceela ho seguraua de todo , pois be
auião de defender aos Mogores como seu y & não tende
nele fortaleza se auia de temer que lho tomassem por
quã fraco estaua sem a artelbarie 4 dates tinha, & mays
sabendo qaâ^ pouco firmes estauão aa pases {| tinha ed
ho goiuernador, per quã mal comprira as principaeis e&-
diçAes €|.u6 mais importauão a sua firmeza: & sabendo^
eles erâo sâores do már dde lhe podia tolher os maeti^
menlos^ 4* P^^ ^ principalmente mais que por terra
LlVftD WH*. CAfJTYI.O.XCeVIIl« 237
biSo a Dia', & por isso linhâo por muj certo ^ indo
MartíiD afooso a Diu sem pedir fortalesa bo auia el rey
de conuidar coela quanto «maia pediAdoIba^ peJò Q^auião
por muito grande seruiço de Deos & dei Rey de Portu-
gal sua yda lá , & não yr seriK do cõtrarip; £ como es^
ie parecer íoj de poucos & bo outro de mais, aaaentou-
se que Marli m afooso não fosse a Diu , & que bo go-
tiernador lho defendesse como defendeo, por btla carta
<}tte lhe logo escceueo* Edespoys vindo Agosto § bo in-
•uerno começou de dar lugar á nauegaçfio daquela costa^
despedio (sem fazer sobrisso conselho) Syroão ferreyra
•Q fora seu secretario em btta fusta pêra Diu , com em»
bayxada a el rej de Cãbaya^ mandandobo visitar como
amigo & offrecerlbe sua ajuda cõtra seus Imigos, cÕde»
terminação que el rey lhe daria fortaleza fi Diu pola ne^
cessidade em que eslaua, & pola ajuda Q lhe offrecia,
& pêra se isto asai fosse deu procuração a Symão fer-
reyra que a aceytasse, & iiaesse sobrisso concerto como
ele fizera sendo presente j & roandoulbe ^ nã fosse por
Gbaul por^Martim aíofiss aã soubesse sua yda, & man-
dou eoele Cogexacoez ( bo embaixador dei rey de Gft-
baya) & três ci^Mes que bo acompanhassem & partio
quasi na fim Dagoslo^
C A P I T V L O XCVIlí.
De mmú d rey de CÓbaya finâáou pedir socorro ao Turco.
J-^espois qae ti rey de Gãbaya se vk> em Diu eõ suas
molheres & tesouro , & vio ^ seus* comarcães estauão
^dos, & lhe Dão faziSo guerra, & sabendo bo Q Mart!
afôso escreuera a Mirãomubmald a cerca de lhe goardar
á amizade, teuese por mais segurado ^ partira de Cham-
panel, & coisso & cd lhe parecer A era impossiuel to-
marfiibe oe Mogores CbSpanel nfi Diu, & outros algus
hl gares fortes Q tinha na costa de Gãbaya, pareeeolheQ
bem se poderia sosler eÕtra os JMogores sem Aiadamen^
tZB DA HfSTOmtA DA TKDIA
4o da amizade cõ o» Portiig^ueses pêra Ibes dar fortaleza
em Diu, crAdo que se conten lassem com a deBaçaym :
Íl determinou de mâdar pedir socorro ao Torço , tendo
por certo que lho daria , & coele tornaria a cobrar seu
siiorio, & deytaria os Portugueses fora da índia & se
faria sAur dela. £ pêra prouocar ao Turcx) Q com boa
•vonlade & breuidade lhe mandasse o socorro, mãdoulhe
hum presente de joyas, armas, & roupas ricas, Q foj
auaiiado em seyscenlos mil crutados, &em dinheiro pe*-
ra paga do soldo de dez ou doze m.íl homSs i\ lhe man^
4Íaua pedir, lhe rnãdou hil conto douro, &l oytoceios mil
cruzados: & isto tudo & cartas I) scriuia ao Turco, en^
Iregou a hQ seu principal capitão Q auia nome çafer^
cãoy em ^ tinha grande cÕfiança, &por isso ho maodoa
450 esta embayxada, dandolhe por regimento {| fosse até
luda por már & dahi por terra ao Cayro deyxando a bS
recado o ^ leuaua , & dahi se yria onde ho Turco e8t&-
uesse, & lhe daria suas cartas. E |)era hir 6 sua com^
panhia lhe deu hfi Português arrenegado , chamado lor»-
^e i| era seu patrSo mór. £ posto (} era ainda ho iBpo
verde quis !\ partise. çafarcão na entrada de Setembro,
por^ oujua medo Q partido ai ais tarde as topasse Marlim
afõso de sousa Q auia de correr a costa com isua arma^
da , & porQ as cousas ^ leuaua çafarcSo erão de tama-
nho preço |)or hirem b& seguras deuttie Ires galeões em
fossS ele capitão de hu, & doutro lorge o arrenega*
o , ít em sua companhia duas cáraweias^, & doas fas-
tas, & todas estas velas ho melhor artilhadas í| pode ser.
£ posto q algQs ^yrão dizer j) coeste çafarcão rnãdou el
rey de Cãbaya a sua principal molher, & qae mandaua
este tesouro cò Aindamento de se hir morar a Meca, o
^ digo he verdade, segudo se soube por Garcia de no
ronha, hn Turco :!) so* tornou despoysCbristão em ten»*
po do Visorey dõ Garcia de Noronha, & doutros Tur-
cos 2ji forão tomados no estreito {como dírey a diãte)«
NS he de crer ^ determinado el rey de Cãbaya de se yr
pêra JMeoa imuadasse diante & sem ele sua prieipal m»
I
LlVmO Vtll< GAPITVLO XOIX. 289
HilEir, & parte do. seu tesouro, sendo os mouros (2 cio*
808 de qual()r das suas molheres , quaato mais da prlci-
paK NS be de crer ^ fosse e^BS^i sua deleriDÍQaçSo, pois
mandara !|yroar s«a armada, Q , pêra .esta viagem lhe
era tã necessária.
C A P I T V L o XCÍX.
Dt wmo él rey de Câbaya fay acÔ9elhado ^ desêe foría*
< leza em Diu ao gauèrnador.
jL ornada a cidade de MSdou pelo Mogor, seguio a pos
el rey de Câbaya ^ soube \ hia pêra Cbãpaner , & sa^
bendo Q era^ partido, mildou hQ seu capilfio cÕ vinte mil
de.caualo 4 ^i^^^ ^^ podia alcançar ho tesouro dei rey
de Gàbaya , & Q fosse a Cábayete a tomar a frota f[ ibe
phreceo que ainda acharia, mas acboua ja toda Qyma«
da : & daii foy roubado a terra. £ ho Mogor ^ ficaua cõ
seu cSpo sobre Champaner. peitou iâto ao eâpitjo i^ a
ffoardaua ^ lha Stregou , por^ queria mal a el rey de
Cftbaya por muitos males ^ lhe fizera : & ho Mogor ou««
lie esta cidade na Strada Dagosto, iSc apousentouse nela
pêra dali cõquistar o rey no, & como ele tinha prometi-^
do Diu ao gouernador,. que sabendo seu poder & a guer-
ra ^ fazia a el rey. de Cambaya, ibe mandou pedir Diu
secretamente per hQa carta 4 Ibe screueo, lêbrouse de
bua promnsò , & Qrendoa cõprir lhe s^reveo hda carta
a ^les cbamSo Formão^ & mãUonha a JMarti afonso pêra
{) lha niãdasse^ & antes de lhe ser dada esta carta sou-
be el rey de Câbaya ÍJ ho Mogor eslaua em Cbãpaner
& ouuese de todo por perdido & desesperado de ter Õde
se saluasse determinou de fugir pêra Meca , cô seii te-
souro, molheres, & parCtes & deyxar ho reyno ao Mogor
^ o tomasse. E^rSdo por 8 efeito sua partida ajuntóuse
sua mSy , & Cogeqofar & Ninarão hu gentio seu parenr>
te, a que tinha dada a capitania de Diu, & assi oulros
seus parentes : & tantas rezões lhe derão \ na era boa
240 DA HistottiA r%Á iffmk
Bua delermínaçSo, que se íítou dela, & Cogeçofar Ifae
acdselkou ^ desse /orialeza em Diu ao goueraador ^ &
Q o ajudaria 9 por4} lhe parecia ^ sem sua ajuda se nflo
podia restaurar , & q não ihe desse nada de dar a(|ia
fortaleza pêra seu remédio, por^ despois de restiluydo
no reyno a podia tomar de cada vez que quisesse & dei-
tar os nossos fora dela. Ecoesle propósito pareceo bê a
el rey de Câbaya dar esta fortaleza , & cessou de sua
yda pêra Meca , & escreueo logo a Martim afooso que
na ora partisse pêra Diu porque eõpria muyto a seruiço
dei rey de Portugal fazelo assi, & mãdoulhe outra carta
pêra o gouernador , em 5 lhe dizia Q fosse a Diu por^
lhe ^ia dar a fortaleza. É per hii êbaixador i\ leuou es^
tas cartas mSdou Diogo de mezquita, Lopo Fernãdex
pinto, & os outros caUuos i) era obrigado a ipandar, &
antes Q este embaixador chegasse a Gbaul foy dada a
Martim afonso a carta dei rey dos Mogores, & após ela
ehegou o erobayxador & lhe deu as dei rey de Cãbaya
assi parele como pêra o gouernador. £ vendo Martim
afonso quãto importaua yr ele a Diu , posto i) lhe o goi»
uernador tinha defeso que não fosse, partiose loeo com
três catures em ^ leuaria sessenta horoês , ele nía era
hii, & Symão guedez de sousa capitão dé Çhaul em ou*
tro, deyxãdo recado a Vasco pirez de^^sam payo i\ se
fosse a pos ele cÕ a outra armada, &tâbem antes de sua
partida mandou a loâo de mSdoça Q leuasse o embai*
xador dei rey de cãbaya ao gouernador & a carta dei
rey dos Mogores , & lhe escreueo como bia a Diu.
lilVRO VHI. eAPim.0 C. S41
r •
c A P I T V L o c.
De como Martim qfonso de €ou$a ^ Syínâo ferrara che*
garâ a Diu^ 4^ oo ^ 4xssentarâ cô €l rey ae Cabaya.
Jl arlick) Marli afdro de Ghaul seguio por sua víageoi
f^era Diu, & perlo dele aciíou Sfml^ ferreyra de ^ ficou
espantado hir a Dm pelo Q ^be o gouemador escreuera,
de qúã pouco fuodamSto fazia de se lhe dar fortaleza ,
&.inais de como Simão ferreyra passara sem toma rChaui,
& tambS se ele espalou de -quãdo Ae Marti afonso disse
Q el rejr de Cãrbaya o mãdara chamar muyto de pressa
& mandara cartas ao gouemador, & porS que nâo auia
de fazer cousa nbfiia cõ el Rey de Gãbaja sem lhe dar
forialeza em Diu: & isto também por^ soube a procu*^
ra4jão que ele leuaua do gouernador pêra aceitar forta-
leza em Diu se lha desse : dizêdo mays iQ o tSpo nSo
era pêra el rey nâo dar forialeza & 2} lha auia de dar,
& pêra isso o maodaua chamar , & ele coesse preposito
hía y & assi foy , que chegados a Diu , disse el rey «
Marti afonso o estado em que estaua, & i}ria que o go-
uernador o ajudasse cõtra scuslmigos, na somente n
defenderse deles mas pêra lhe fazer guerra, & (} ele
Marti albnso auia dãdar coele pola t^Õíiança Q tinha ne-
le : & em galardão desta ajuda ^ queria do gouernador
lhe daria hOa fortaleza em Diu no lugar ^ 11^ bê pare-
cesse. £ porQ o gouernador não poderá logo hir, por
Goa õdestaua ser mais longe que Chaul , mãdara cha-
mar a ele Martim afonso, <issi pêra o ajudar a defendei;
de seus immigos se fossem sobrele, como pêra t^oele as-
sentar ho dar da fortaleza, & capitiilaçílíes das pazes ,
aíe ho gouernador as auer por boas, & pêra que man-
dasse dizer ao gouernador quãta vontade tinha de as
fazer: & fioys Simão ferreyra linha procura^jão pêra as
fazer em nome do gouernador <|iie logo assentassS como
auião de ser, & que ho gouemador se lhe bem pareces-
LIVRO VIII. HH
MS DA HlfTOmiA lU INDU
fie faria a fortaleza da bãda dos baluartes do mar & da
terra, camariba lhe bem parecesse, pori| ambos lhos da-
ua, & assi aquele lugar por melhor, porque era ho roais
forte da cidade^ & podia iia{|ie lugar ser a fortaleza so-
corrida por mar se teuesse necessidade* B cÔcertado el
rey cõ Mart! afonso de que maneira auiâ de ser as ca-
pitula<25e8 das pazes^ ho mandou meter de posse do ba-
luarte da terra , & ali se apousentou com todos os Por*
tugueses. E os capítulos das pazes forSo estes,
.9f Ho çoltáo Badur be cdiente de dar a et Rey de Por«
lugal hOa foriakza è Diu em qualquer lugar que ho go»
uwaador Nuno da cunha quiser , da banda dos baiuar*
tes do mar & da terra, da grandura Q lhe bem parecer,
& nssi ho baluarte do mar.
» E assi ha por bè de dar & confirmar Baçaym com
tod^is suas ierras, taoadarias, r£das, & dereitos, assi
como tem dado no cõtrato que fez coele sobre as paus
no dito Ba^iym*
p Com condiçS, que todas as nãos de Meca que po?
virtude do dito contrato das pazes er2o obrigadas a hir
ft Ba<^ajm que ho não sejão , & venjbão a Diu , assi eo*
mo dantes viobâo: nem lhes seja feita forqa atgfia. B
quãdo alg&a quiser lá hir por sua vontade que ho possa
fazer? &a6si bo farão outras doutras partes que yrâo&
virão pêra onde quiserem. £ porem hfias & outras iia«*
«egarão com cartazes.
ir E com condi^flio, l| e) Rey de Portugal não terá em
Diu derejloa n6 rfidas nfi mays ^ só a dita forUileza &
baluartes , & todos os dereytos , rendas , & jurdi^jãe da
gSte lia terra , será do dito qo\í3o Badur.
ir E cora condição , que todoe os caualos Dormuz fc
Darabta que polo dito contrato das pazes erSo obrigados
a hir a Baçal vão a Diu & pagarão os dereytos a el rey
de Portugal segundo o costume de Goa. E não os com-
prando el rey, seue donos ealeuarão onde quiserem.
» E com condição^ que lodbs os cauabs qu^ forem
do estreyto peta dentro^ nSo jpaguem BenhOa dereitôsj
& serão forros.
LIVRO VIII. QÂ^mU) Cl. 249
» fi eoiB eoto<iição> que el Rey de Poríu^at & hô çotr
Ifio Badúr serão amigos damígos , & imniigps de immi-
go8. £ bo gouernador em Dome dt^i Rey de Portugal
ajudará bo çpllão Badur c5 todo o Q poder por mar &
por terrft^ & aasi el rey a ele quãdo cõprir com auaa g9<
tea & armadas.
nlE eoôi condiíjão^ que quereijidose fazer GbrisISoâ
algos Mouros da terra do çpíiâo Badur que bo gouerna^^
dor bo não consinta. £ assi bo qoltâo Badur não coBsin-
tiraa fazerse nenbumCbristfio mouro. £ que possandose
de sua terra algua pessoa ou pessoas que deuào dinhey*
ro ou tenhão fazenda dei Rey de Portugal ^ t( ele os
inahde entregar, & outro tâto fará bo gouernador se se
passar pêra os Portugueses algum bomS que tenba fa*
afida do çoltão Badur , ou lhe deua dinbeyro.
Feytas estas capitulações, & assinadas por el Rey,
nadou as BAart! afonso ( por Diogo de mezquita que foy
coele ) ao gouernador pêra í] as assinasse ^ & el rey de
Cambaya mandou coele Xacoez com hfla carta ao go*
uemador , rogandolhe !\ nã tardasse , & partirâse am^
bos na fim de SetSbrô.
C A P I T V L O Cl.
«
De como ho ^auemador se pariionera Diu ^ a €hanuuh
dei rey de Cambaya.
V^begado IcSo^de mèdoqa a Goa c5 bo embaixador dei
rey. de Cambaya, derão ao fi^ouema<k>r as cartas que Ibe
leuauão^ & a dei rey dos JMogofes (1} eu vi) di2ia em
aossa lingoagem.
9 Muyto honrrado^ ^ muHo wtnhor ãtre todos ^aca^
beçet de todos ^ ^ ke muyto sofrido ^ muyto virtuoso , 4*
uã fama tí de muyta honrra , gouernador ^ ^ capilm
mòr Franyue ^ a que^xrio o cortesia como se fosse a pes^
soa dei rey , ele me escrsueo Mia- carta c6 seu destoo , ^
por seu òe 9 ^ boa amizade , q me foy dada indo Ja de
HH 2
244 DA HISTORIA DA INDÍA
caminho pêra offender meus côirairos sobre suas terras :
^ o ^ mescreuesies vi logo ^folguey muyío de hover. E
a^le tempo veo muita geie ae meu cótratro sobre minhas
terras , eniâo sairá algús capitães meus a pelgar coeles ^
^ derâo sobre ho seu arrayal ^ 4" os desbaratará todos ^
^ foráo a pos eles ate júto de Mâdou , matando ^ catU'
uádo muyta gente ^ os quaes como virão a minha espada
fugiráo todos como gente roym ^ ciueL
» Eu mandey hú pião aos capitães do Daquê^ a que
tinha mandado que fossem sobre as terras de meu côtrai^
ro: ^ lhes dissese q se viessem pêra mi : sam muyto hon^
rados , ^ muyto grades senores , ^ te todo ho reyfio do
Daqui, Como chegaré a mi , conselharmey coeles ^ ^ cê
pouco trabalho auerey meu contrairá c6 todas suas terras^
n Os portos de már ^me escreuestes q querieys que vos
Jkassem com toda a renda : os quaes eu tenho em meu
poder , disso vos mando este Formão^ & ^ 9. ^^ pedis vos
outorgo , porê c6 condição que quê quiser nauegar q ho
possa fazer , ^ que viua quê quiser nesses portos sem re^
ceber escândalo. E de tal rey como eu aueys desperar
ainda mais mercês , ^ queria § fizeseys boa justiça em
qualquer lugar ^ tiuerdes em poder , porque minha gente
q ha destar pertú vos ajudará a fazela quando for neces^
sario : ^ assifará a vossa quando me côprir. E as ter--
ras § esteuerem perto de vos podereis tomar , ^ não cu-
reys das de longe, que tempo virá g as tomarey^ E quê
espera minha mercê ^ deseja minha at^iizade , não digo
eu darlhe os portos demàr, se não as terras jrmes, ^
quanto eu poaer , que os portos de már não he nada 9
A carta dei rey de CSbaya não dizia q lhe queria
dar fortaleza em Diu , se não Q eui vedo aj}la partisse
logo pêra Diu, porque eompria muito ao seruiço dei rey
de Portugal irerê se^ ambos* £ ha mesuo disia a carta
de Marti a/onso l\ lhe screuera ei rey de Cfibaya^ & ^
hia porQ cria 2| ibe auia de dar fortaleza em Diu. E pa-
recendo ao gouernador (} assi auia de ser pola cÕjunçâo
•m i\ era , posto 4^ 9Í rey dos Mogores fazia promessii
ttflosIárgB, ftaréceolhe melhor lomaf fortaleza dei rey de
Caaibaya ^ UnhaDiu^que ioipaiá.da mão^ dei Re j, dos
^ogores que ho auia ainda «fascõqirístar, & conquista-
do ou bo daria ou* oâo» £llât)e(n.vinbãlbe melhor a ami-
zade dei rey dç^Càbay^ por. quã (peuco- podia Q a dei
fey dos Mo(^ores.^ era muilo. podetoso', & segundo a
-presunção ^ traaia queria conquistar ^ toda a India^ &
•daria mais Q fazer ^ nhix rey dela,* & quanto menos poi.
•desse, tãto o esiado dej rey de Portugal ficaua mais se-
-guro^ £c por. isso delerminua.de se liarcõ el rey deCâ*
baya & animalo ^ resistisse a^ei rey .dos Blogores & a^
judalo a isso quãto podesse. £ sem se deter mays Q ho
dia em Q loãg de uiSdu^a chagou , sé partio ao outro 5
hfla fusta: & fora coele em outras, Garcia de sá, Frã-
iiisco de sousa tauáres, Diogo lopez de sousáy & Antò-
nio galuâo, por^ pêra esperar por. toda a armada seria
muito vagar, porê ficou recado a Manuel de sousa ^se
-partisse coela ho mays asinha Q podesse ser. £ partido
de Goa foy ter a Cbaul , & dahi a Baçai onde achou
Vasco pirez de sam paj^o c& a armada ^ leuaua alMarlI
afonso , & o gouernador ho deteue Q nào fosse & dey*
xouse ali estar ate J| chegou Diogo de mesquita {| hia
em sua busca com as capitulações das pazes pêra as as-
sinar^ & ali lhe deu Xacoez a carta ^ lhe leuaua dei
rey de Cambaya.
« Nomeado do grade rejF li & do mar , das agoas »-
zuysy Nuno da eunha, capitã mór com a mercê dei
rey, eu vos acrecSley por afiiizade. Sabereys ^ osecre**
lario Symâoferreyra fiel & amado em abas as partes &
Xacoez atear filho do hôrado viera a ml: a vossa caria
q me inádasles veo a meu estado , & vi tudo o ^ nela
Tinha escrito, quâto á vontade & desejo {| lêdés eu e
soube claro, & ates dislu Xacoez me fez saber a vossa
bondade & amizade, & o soube agora por Simão ferrey-
ra per via dami;sade , aquilo t^. vos era necessário, & ^
em tãloa aMu» nã se pode cõprir, nS ouuereis dalcãçar
tâ asinha hu lugar pêra eatarfi oa Portugueses aqui ê Dii»
SM »▲ mTMtIA VL ínOiA)
da banda (^ Tos^fejs , ¥oê nâo ho maadastes pedir iit
ho pedíslea^ eu vos faço aneice dele ed^as ooadiçSes ^
Sjraiflo ferreyra outer^oa por i^irtude da voasa procurar
cio.^ as. quaes sabereis por sua carta fc per palaura de
Xaooez. Agora be necessário (^ tanto <|[^ esta voa for d»-
da, 1) ni eaíeys ^do* em nhft lugpar ^ & venhais aqui cd
Xacoea; eu iioha escrito ao capitão oiór do luár, & iãr
to (| lhe derfto Riea mfldado logo veo a minha casa,. fol*>
guey coisso, & por isso o mftdey estar aqui pêra me ser^
uír. Peiu è Diu a vfotoyto de SetSbro de mii & qui-
nliStos , & tdta & clco. m
C A P I T V L O CII.
De como ho gouemadar chegou a Di»^ ^ ee vio cá d
rey de Cabaya.
Jjj aabSdo ho gouernador o Q era feyto logo partio per
ca Diu ftde chegou em Outubro, & leoaria nouecètos
bomSs , & á boca da barra o fdy receber por mftdadò
dei Rey de Cftbaya Ninarão capilá de Diu em híía galé
acõpanhado dos principays da corte, & esles desembaiv
carSo cft ho gouernador que foy logo falar a el rey que
esperaua por ele em sess paijos-que erio terieos, & fsf
ziSse as casas ao derredor de bQ grande pateo , & el
Rey estaua em hâa casa pegada coele, qve mais pare-
cia alpendere que casa , dey tado em hil oatle que não
tinha outra ri^za se n& ser« os pés douro, n6 a casa não
estaua paramStada se nSo tudo muito pobre, & el rey
vestido em hila Cabaya de pano dalgodâo branco , es-
tau2o coele obra de dea oi> dote aenberes, hum fora hin-
mSo dei Rey de Deli homS de setenta annos, & outro
jrmSo doutro rey , & estes assentados no chSo j&to do
catle, & os outros em pé, porQ diante dei rey não se
pode assentar se nã rey ou filho de rey. Cd o gouerna*
dor entrarão neste pateo ate qoorBta fidalgos , & tanto
que vio et rey lhe fez hfta mesavsi ao nosso tnoda;, &
^
LIVRO TUI, CAnnrLO dl. S47
entrado na casa lhe fez outra, & assi fizerSo os que yS
coele. El rey não Jlie i^z outra cortesia se não agasalha-
lo bem com os olhos , & por assi se custumar, antes
que^fahissem) ícy vestida ao governador bfia eabaya de
borcado de peso i} lhe el rey mandou dar , & aos que o
acdpanhauão outras de borcado, & borcadílho, & assi
as teuerâo em quanto esteuerfto nos pa<208, por^ he isto
sinai de grftde amizade. £1 Rey não teue outra pratica
cò ho gouernador se dXo pregfltarlhe como bia do cami-
nho: & aisto lhe respõdeo em pé, que ho não mandou
assentar , somente cotirir a cabeça que teue discuberta
ate lha el rey mandar cobrir , & despoys se tornou á
frota , & ao outro dia «iesêbarcou , & foy se apousêtar
no baluarte da terra Q estaua embandeyrado com bã'^
deyras das armas de Portugal. £ despoys disto se virSo
alg&as vezes o gouernador & el rey & concertarão que
por quanto elRej^ae temsa ^ osMogores Ibe tomassem
* cidade de Baroche que está trinta legoas da enseada
de Câbava, mandasse lá ho gouernador hú capitão nos*^
flo com duaentos & cineoenta Portugueses pêra a defen*
der, & estado pêra hir por capitão deles dom €k)nçaio
Coutinho chegou Manuel de macedo, a quem ho gouer*
nador deu esta yda. Também el rey de Cambaya pedío
ao gouernador ^ lhe mfldasse tomar hfla fortaleza que
lhe os Mogores tiohâo tomada no rio Indo,' & a esta
em pressa mandou ho governador por capitão mór Vasco
pires de sam payo com hfla armada de doze fustas &
iKirgantins a cujos capitães não soube os nomes, saluo a
Miguei dayala, Rodrígaluarez vogado, & Afonso figuey^
ra , & leuoo dosenios & cineoenta bomfts , & em sua
companhia Cpy bum mouro chamado Cogeçofar capitão
dei wj de Cambaya com trezentos Turcos debayxo da
liandeyra de Vasco pirez, 4 partio de Diu na entrada
de N4MieittbM*
248 DA HISTORIA DJL INDU
• f
c A p I T V L o cm. .
« « .
Do façanhoso ftyto que fez Diogo botelbo em se pr em
húa fusta pêra Portugal.
JL^ e»te tempo aodaua na Ináía hil caaaleiro chaoiado
Diogo botelho í) dites andara na índia muitos annoa^
& fizera nela muito seruiço, assi a.el rey dom JManuel,
como a el rey dÕ loão seu filho, & a fora isso era muito
sabido na arte marinliatica & sabia b6 fazer cartas de
marear & indo da índia deu a elrey dÕ loão bua caria
de -doze peleã em que estauá quanto do mundo era dis*
cuberto. E Qrendoihe el rey ' fazer mercê , não faleceo
quõ lhe dissesse Q se queria hir pêra el rey de França
pêra lio deseruir , & outros mexericos cõ Q el rey o de*
gradou pêra a índia, & (oj na armada de Martim afon*
so de. sousa, no ãno de mil & quinhentos & trinta &
quatro. £ como Diogo botelho fosse muyto leal a sea
rey, & sabia que não tinha culpa no jQ Jhe assacará, ^ co*
mo foy na índia pedio ao gouernador Nuno da cunha Q
lhe deyxasse fazer híia fusta pêra ãdar nela seruldo a d
rey , & isto cõ tença de feyta se yr nela peca Portugal^
porí| tornâdose, visse el rey 8ua-4eal^ade^ & eamâha
falsidade fora o l\ lhe .dele diseerã, & ^ assi ícomo yada
índia naj)la fusta, assi se foca pêra Frãça se o quisera
/azer: & coesta determjnaçá fez a fvstp fi Cochi í| foy
de vinte dous palmos <le odpvido, & doze de largo, &
aeys de põtal, (| he da quilha. ate. a primoyra.cuberta;
Feita esta fusta, começarão .maldizentes Ãe dizer {| a
fizera pêra se hir nela ao estreyto.& da. h^ pêra o Turcos
& sabSdo o Doutor Pêro vaz o ]) aediaia ,> lhe tomou a
fusta, como vedor da faz^a i). era ^^ &> Diogo botelho
lhe disse (} visse bê o (} fazia em lhe tomar a(^uela;fu0r
ta sem ter proua abastante pêra o fazer, no que hodes^
truya de todo , porQ sabendo el rey que lhe tomara a
fusta , & a causa porque lhe mandaria cortar a cabeça.
LIVRO Vlfl. tÁPífriA tm. Í49
E Pêro vaz lho íornou a fusta, jurando lhe ele primej-
ro em hQa ostía consag^rada de i>So sé ir pêra parte ai-
gQa em que desseruisse el Rey de Portugal, se na de.
ho seruir como ho roays leal : & honrado vassallo que
ele tinha. E auida a fusta se foy Diogo botelho a Da-
bul pêra dali se partir, & como ele sabia bem da pilo-
tagem não quis leuar nenhua pessoa que soubesse dela,
por não auer antreles contradição, o que seria causa de
se perder, nS quis leuar pêra marearS a fusta mays {|
seus escrauos, & de Portugueses leuou cinco a fora ele^
trea criados seus, bo ComiCre da fusta & hum Manuei
moreno, & muyto b6 prouido de mãtimStos cõ a veia
doste se partio de Dabui ho primeiro de NouSbro de mil
& quinhètos & trila & cinco, dizendo Q se hya ajQtar
cõ a nossa armada que andaua na costa de Câbaya« E
pêra atrauessar ho golfão, comeqou logo de se afastar
muito de terra. E conselhandolhe ho Gomitre que ho
nSo fizesse, lhe descobrio sua determinaçS & aos outros:
& porque se temeo ^ se rebelassem quãdoo soubessem,
trazia hi!ia snya de malha secreta, & hda espada na cin-
ta, & esforçou a todos muito pêra esta viagS, dizSde
lhe quSto lhe compria fazela, prometSdoIbe galardão de
seu trabalho , & logo deu ao Gomitre vite mil reas , &
lhe pagou tudo quâto jurou {] lhe ficaua na índia, &
coisto fora todos cõtentes dir coele, & mais por^ tomou
terra na costa Darabia ao tempo que disse que auia de
tomar ho que parece {| foy ordenado por nosso Senhor,
por serS ali as correntes tamanhas, Q quStos pilotos por
ali nauegSo desatinão no tomar da terra. E feyta agoa-
da & carnagS em ha porto chamado lubo se partio, &
foy surgir no cabo das agulhas duas legoas de terra , &
ali lhe deu hfl brauo temporal de sul cÕ ^ arribou duas
vezes, & coele se vio perdido de todo, por «erem os ma-
res muy grossos em demasia : & como a fusta era pe-
quena entrauao por hfla parte, & sayâo pela outra, &
milagrosamente ho saiuou nosso senhor : & coeste tSpo-
ral dobrou o cabo de boa esperãça a vinte de lancyro,
LIVRO VIII. II
MO DA HISVaftU DA índia •
& ainda despois pasaou trabalhos immeDaois , de $9 ver
morto c5 tormêtas , & cò fome & sede , & esoorreo a
jlha de santa Elena, que a^ não vio e5 a neuoa que fa«
xiã os grades vSlos. £ ooesta má vida determinarão os
marinheyros de ho malar , & aos outros Pofíugueses &
hirõse a terra , & não andarê mais no mar. £ sendo ja
debaixo da linha na costa deGuiné, leuantanse h&anoy*
te , hQs cõ espetos , outros cÕ machados 9 & fisgas , &
dão em Diogo botelho & nos outros, de que logo mata-
rão hu y & ferirão o Comitre & Diogo botelho <)ue aco*-
dirão a esta reuolta , & isto feyto deytarâose ao már, &
afogarãose, & esle foy outro trabalho muylo grande per*
deremse assi os que mareauão a fusta, & ficar ferido ho
Comitre, & Diogo botelho que era o que mãdaua avia,
sem ^ nã se podia nauegar, & terô tã mau aparelho pê-
ra se curare^ pelo ^ Diogo botelho esteue quatorse dias
s& poder falar, & mãdaua gouernar por escrito o Q ou*
uera de ser causa de se perderem , & sobristo lhes co-
meçou de faltar a agoa, & como não auia onde se to-
mar foy necessário estreitar a regra, no Q passarão muy-
to grande sede , & de tudo os iiurou nosso Senhor , &
chegarão á paragem das jlhas que Diogo botelho não
quis tomar por byr daquela maneyra, que temeo que
ho prêdessem , & por lhe dar veto por dauâte lhe foy
forçado arribar á jlha do Fayai, onde soube Q estaua ho
corregedor daquelas jlhas; & como não se podia enco-
brir, desembarcou, fingindo que ieuaua hã recado do
gouernador da índia a el rey que lhe importaua rauyto,
& fex hík maço de cartas feyliço & selado, pêra dissH
mular o recado. £ ao desembarcar ho fora receber ho
corregedor c& toda a gente da terra, como a cousa muy
Boua , sabendo como viera da índia em hCla fusta tão
pequena , ho que tinhâo por grade milagre , & fiserãe
lhe aa mais festas que poderão, ate lhe correrem - tou-
ros : & estando os vendo de hfta janela íby conbeeido
do corregedor ^ estaua coele , & como sabia que fora
degradado pêra a índia pareceolhe que vinha fugido : &
per isso se auenturara a vir naquela fu8(a: & determi^
nando de ho pren^der,' preguntottlhe se el^a parente dfl
botelho Q fora degradado pêra a índia, fingindo que não
lhe sabiá bo nome , por^ se negasse i\ era aquele ^ au»*
ria sua presunção por verdadeyra , & prendeloya logo.
£ sospeytãdo Diogo botelho sua determinação, disselha
que ele era ho mesmo que fora degradado, & Nuno da
cunha por não achar outí!S que se quisesse au^turar a
tamanho perigo como a^ te fora, ho mâdara por lhe que*
rer mal : & que flsera a^la vtagS por o recado Q leuaua
-ser de grade importância & de tanto segredo, que de
ninguém fiaua as carias se não de sy mesmo , & mos-
troulhe bo macjo, o ^ bo corregedor creo , & por isso ho
fião prendeo , & pediolhe i\ lhe dissesse ^ recado era ,
«o () ele respondeo ^ pòr tienbQ modo lho podia dizer ,
mas ^ por amor 'dete, posto ^ Ibsse contra joramSto,
lhe dexaria bCla cart(A em ^ tho contasse, (| lhe auia da
liar sua fé (\ não aíbrtsse sé nSocyto dias despoys de sua
partida , & asst se fez. "Ena <cBKa ^ lhe deixou difi&ia do
modo ^ bya , do ^'*o corregedor flcou muito magoado
porQ o nã prêdera, & mais por() acabando de lér a can»
ta chegou aii'8imãk>'ferreyra -^^lo gouernador mandau»
da^ índia cÕ noua «a ei rey como el rey de Cambaya Iheí
dera fortaleza em Dru,*^ mãdou logo* quasi a pos Dio«
go botelho quando soube ^^ era partido, por^ nâ soubes^
se el rey por Diogo 'botelho a noua da fort^alesa 4\ por
ele, mas não pode ser^ porque partido Diogo botelha
chegou a Portugal onde se foy apresCtar a el rey & lha
disse a cansa porQ ^e fora tia índia da^la maneyra , fe
lhe deu as oouas da 4ndfa ^ > c5 'l^ el rey ficou muyto le-^
do, & lhe agarde^eo' etia iqnda iouuãdo 'muilo seu atire->
iiÍ9i8to^ & lomou o em .t9ua gra^a^ & fezlhe *merce,
temjoo por tft leal como «ra* E c^uido se eoube do modé
4) viera, & foy ?isia a^fasta^ foy 8 todos espãto gram
diaaimo, & dizfão ^ "M fora ik tempo dos Rohiãos gfitios^
Q lhe íkerão ihila «vtatua por memotia de faganha tão
g^raaida, cono 080 se^aaba^am nenhâa-eaoritura/Q alguni
homS fizesse. 11 2
S52 - DA HISTORIA SA-INI^A ■
CAPITVLO CHIÍ.
*
De como çdeymâo Haga entrou nas terras da Tanadar
ria de Salsete.
xjLtra0 íica dito como Açadacão «enhor de BilgSo, por
se lemer do Hidalcâo fizera paz com ho gouernador pê-
ra bo ter de sua parte se lhe comprisse, & lhe dera se*
cretamenle as Tanadarias de Salsete & de Bardes , &
despoys disto tornado o Hidalcâo a estar b3 cõ A<^ada^
cão, & a recebelo em seu seruiço, arrependeose Aqa-
dacão de ter dado as Taoadarias : & vendo que ho Go<*
uernador era em Diu, onde se auia de deter, pareceo?
lhe ^ era tèpo de as cobrar, por quam poucos Fortuguer
ses sabia cj as goardauao, & mandou a bum Turco ca*
pitão de Pondâ, chamado Çoiej^mâo Haga, que com
cinco mil homês de pé & decaualo fosse recolher m
rendas darias Tanadarias, ^ ele ho fez assi: & man-
dou algQa da sua gente cercar. Cristouão de figueiredo
Tanadar mór, f} estaua apousentado em hujn pagode d#
freyras chamado Bardor, qucioipaua ho n^xjne do diabo
a ^ era didicado , & estas freyras erâo molheres , (} dea?
poys d& vittuas não se quisetão queymar. £ vendose
Cristouão de figueyredo cercado, ho mâdou logo dizei
a dom lohâo pereyra capitão de Goa, & comoele era
muyla esforçado & amigo de, nosso Seikbor , & do seruH
^ dei TQy , em lhe sendo dado ho i^ecado , ajualou cen»
homSs de caualo Portugueses., & duzStos de pé, &a
dezoyto de Setembro se passou a Benestarim , & dali
foy caminho do Pagode de Bardor-, & çpleymSo se re?
tirou pêra hfla aldeã mea legoa dele, eo»o4ioube q«ie
ya. E chegado dom lehâe ao- pagode que soube que os
imigos se yão , não os quis seguir porque leuaua a sua
gente casada, & quis que repouaase em quálo comida ,
& entre tãto mandou dizer a çoleymâo ^ se .fosse mais
de presa do que ya, & detSdo çoteymão o messageifo,
LIVRO VIU. CAPlTVLa ClIIf. tòS
mandou dizer por outro seu a dom lohâo que assi ho fa-
ria ^ & que ho não seguisse muylo, & antes ^ se este
messegeyro partise^ mandou dom lohão aos seus que
dessem mostra ^ & os primeyros forâo os espingardeiros
que erâo oytenta, & ho mouro tremia com medo do
grande estrondo : & dada a mostra deyxouho dom lohão
yr, mandando dizer a çoleymão que tSto que acabasse
de comer yria de pos ele , por isso que bo não achasse,
& assi lho disse, & lhe contou a espigarderia que dom
lohão teuaua. £ conhecendo çoieymão ho dano Q podia
receber deia, receou de o esperar , & fazêdo sinal a sua
ÍSte, retirouse niais pêra dêtro da terra, & quãdo dõ
ohão chegou ao lugar onde esperaua de o achar , não
vio se na a fardagem & vendo dom loão Q fugiâo , não
os quis apertar, & deyxouse yr a pos eles, & ao outro
dia foy ler a hu Pagode chamado Gbâdor trea legoas do
de Bardor , onde cuydou Q i^oteymão se fizesse forte &
ali ho esperasse , mas não ho fez com medo , ante sayo
de todo da comarca de Salsete, & assi ho soube aly on-
de se deyxou ficar por ser perto da noy te : £ como foy
menhaã por segurar a terra , andou por ela espaço de
três oras, & deyiando fauorectda a gente dela, com ho
medo que lhe ouuerão os immigos^ tornouse ao pagode
de Bardor , onde animou os Gãcares que não ouuessem
medo dos mouros , porque bem vião camanho ho elea
auiâo das armas dos Portugueses, que sendo tãtos &
eles tão poucos lhe fugira. Ê deyxando algQa gente da
que leuaua a Gristouão de figueiredo,, principalmente
espingardeyros ae tornou, a Goa.
tbê BA 8I9T0fRIÁ DA INNA
C A P I T V L O CV.
De como Manuel de vascôctlos desharatoti os mouros que
estauão na ^anqueyra de Bari.
JL/espoys que çoleyraSo hagá «e recoUieo cõ medo de
dom lobão, & soube que ele era tornado a Goa, temeiH
do que se tornasse a entrar em Salsete cd grande corpo
de gente \ tornaria dotfi lobSo , & assi andaria sem fa*
ser nada, por isso que seria melhor mãdar sua gente em
quadrilhas por essas aldeãs a recolher as rSdas, & as re*
colheria melhor^ & assi o fez. E sabido isto por dõ lohão^
/es logo hfla armada de fustas & bargantins que andas^
se por aquele rio de Salsete , & Manuel de Vasconcelos
casado fiGoa era capitão mór & fazia muytos saltos sayi»^
do de dia, & de noyte em terra^ & daua nas aldeãs oní^
de estauão os mouros^ descuydados de sua yda , & poc
isso roataua & catiuaua mnytos, E sabSdo <;oleymft oo^
mo os seus erSo assi perseguidos dos Poçtugueses.bus^
cou remédio pêra os defender: & como sabia que borio
de Salsete era muyto estreyto, onde estaua hum passo
que se chama Bóri , cinco legoas da jlha de Goa , por
onde os Portugueses passauão, mandou aK fazer hfla e»«
tãcia de três bombardas em hfla tranqueyra, que ama^
nheceo hum dia fey ta , & quando os Portugueses forão
pêra passar pola estreyteza do passo varejaua os a arte«
Iharia muy rijo: & fazialhes muito dano, & por atalhar
a ele, & que aquela for<;a não crecesse mays, mandou
dom loão a Manuel de Vasconcelos que a fosse desfazer
& foy là cõ quarenta espingardeiros : Sc chegando, achou
grande resislScia nos Imigos, que serião bem duzentos
honiSs , & quasi todos frecheyros , & cõ tudo passando
a primeira qurriada das bõbardadas aferrou cõ a tran-
queyra & despois Manuel de Vasconcelos, de pelejar hii
pedaço cõ os mouros muy esforçadamSte os fez fugir,
matando muy tos deles, & Qymou a tran^yra, & reco-
LlVftO VIII. OAFITVLO CVI. 265
Ibida a artelharia se tornou pêra Goa , & desembarcou
cõ 08 que forão coele , leuando cada hQ sua cabei^a de
mouro oa w3io , pêra mostra da vitoria Q lhes nosso Se*
nhor deu , & por isso (orSio muy bem recebidos.
C A P 1 T V L O CVI.
De como dom lohâo fez no rio de SakeU a fortaleza de
São Johâo de RachoL ^^
V eodo dom lohão 2^ a guerra se ateaua j & que os
questauSo no pagode de Bardor não estauão seguros, &
pêra el rey de Portugal colher as rendas daQlas Tana-
darias Q tinha , era necessário ter lá gSte , & esta em
lugar seguro dos Imigos, & pêra isto determinou de fa*
^ler h&a fortaleza em hum lugar que a seu parecer &
doutros fidalgos & pesseas principaeis achou muy to b&
pêra isso no rio deSalsete em hum morro de rocha, que
estaua por ele a cima sejs legoas da jlba de Goa & húa
do passo de Bóri , & este morro era gride , & estaua
quasi pegado c& a terra firme , & ficaua antrele & ela
algQ.a agoa como esteyro, & da^la banda se fazia hfi cã-*
po raso Q era quasi terra alagadiça com agoa&morraça
& ficaua hum sapaL K achado este morro por dò loão
logo c5 a gSte da armada Q lá andaua começou de fazer
a fortaleza , & acabou a 8 espaço de três meses ou pou«
CO menos, & S todo este t&po teuerão os nossos muita
guerra eò os mouros a què pesaua 8 estremo da^la for-
taleza , & por isso defejudião brauam8le l\ não se fizes*-
se : & açadacã a qu8 pesaua mays {| ningu8 , & era ho
H sostinba esta guerra nftca acabaua de mftdar g8te, &
arteficios de fogo ^ & muy tas muniçftes: & nesta guerra
fieerão os nossos muito boas cousas em armas , t\ não
escreuo particularmente, porQ as não pude saber se não
etn soma. E com quanto dom lòão fcy bem contrariado
éos imigos (| não fizesse esta fortaleza ^ ele a acabou cft-
mu; la honrra^ & acabada ioilhe posto oome sam loão ^
250 DA flISTORIA DA ÍNDIA
á hoDrra do sanlo deste nome, & polo rochedo em Qsta-
ua sSo loão de Ráchol, & tinha três baluartes è trift*
guio, & no meyo hOa torre de Menagfi, & todos cÒ
muita nrtelharia & cubertos de telha: era entulhada até
o andar das ameas do muro, & tinha sua coyraça, &
aeruiase por hua escada denlulho, tam larga & chaã,
que podião sobir por ela homSs a caualo, & desta esca*
da êlrauâo na fortaleza por hfla põte leuadiça : podíSosè
b8 agasalhar nela seys cêtos homês cõ mâtimêtos ^ lhe
abastassS. Acabada esta fortaleza deu dõ loão a capita-
nia a Miguel froez, & deixoulhe sessenta dos nossos^
& a goarda daQle rio deu a Goni^alo vaz coutinho , que
andaua em hQa albetoça bS artilhada, &c a lorge de me^
lo soarez 4 andaua ê hQa galé, & isto por^ os mouros
acodiâo sempre á borda do rio no passo de Bóri a fre-
char os nossos que passauS nas fustas pêra a fortaleza,
Q todas leuauão arrombadas pêra emparo dos !) hiâo ne-
las, & sempre auia pelejas antre os nossos & os mouros.
E tornado do loSo a Goa soube !) era chegada a armada
das nãos da carga, de Q fora de Portugal por capitão
mór Fernão perez dãdrade, & forão seus capitães Fer*
não de morays, Martim de freitas , Thome de sousa,
Luis aluarez de payua, Fernão camelo & lorge mazca-
xenhas, Q chegara a índia a saluamSlo*
C A P I T V L O CVIL
De conw Pasço pirez de sa6 payo tomou a fortaleza dt
f^ariuene no rio Indo.
V asco pirez de sam payo ^ partio de Diu pêra yr to-
mar a fortaleza de Variuene , como a trás disse, anda-
das oytenta legoas ao longo da costa chegou á foz do
rio Indo , Q tanto está de Diu pêra ho norte , & ateli
chega ho reyno de Gâbaya , & começa outro chamado
Vlcinde, cm que entra no már este rio Indo, hQ dos
famosos de Ásia. £ surto aqui Vasco pirez vazou a maré
LIVUO Vllf. CAPITVLO CVII. 257
hua granáe mea legoa & ficarão o8 nauios em seco , -&
foy auisado pela gente dá terra que despejasse os na-
uios t[ ficassem leues quando tornasse a mõlante dagoa,
por^ se perderiSo se esteuessem carregados por trazer
grande força, que enchia com macareo, fao que logo
fez, & mandando aboyar a artelharia forão postos sobrela
os maslos & vergas dos nauios, & quãdo a maré tornou
vinha ho macareo tam alto & cò tamanho ímpeto & ru-
gido, que os nossos ouuerão medo cuydãdo que os auia
de çoçobrar, & assi dera os nauios grandes pancadas na
praya , que parecia que se espedaçauS , & passada esta
fúria foy recolhida a artelharia cÕ o mais. E aparelhados
os nauios entrou a frota no rio, & hi achou Vasco pires
ho capitã dei rey de Câbaya a I] os Mogores tomarão a
fortaleza , ^ sabSdo como Vasco pirez hia ho foy ali es<*
perar cÔ a gSte Q tinha embarcada em galuetas, & con-
toulhe (} tanto ^ os Mogores souberão sua vinda, quei-
mara logo a pouoação da fortaleza a () se acoiberao , &
serião cSto & cincoenta homSs todos frecheiros , se não
oyto que erão espingardeiros, & que não tinha mays ar-
telharia {| quatro ou cinco berços , & Q a foKaleza esta-
ua na borda dagoa & era pe^na & quadrada feyta de
barro enuasado, & de rama cõ seus baluartes & cercada
de caua. E leuãdò Vasco pirez este capitão côsigo foy
polo rio acima até ôde estaua a fortaleza a I) chegou de
noite, & sem !|rer saber mais da disposição da fortale-
za n8 da terra , ordenou de dar nela ao outro dia fi a-
manhecSdo, & repartio o cõbat« por três estancias, hua
auia de ter ele cõ os seus capitães , & Portugueses da
■bãda do rio , outra Cogeçofar cÔ os Turcos , & a outra
o capitão dei rey de Câbaya cõ sua gSte , I) era a mais
espingardeiros, & não auião de ter outro cuydado se não
de tirar aos IMogores que parecessem sobre ho muro, &
oada dous capitães Portugueses auião de leuar hua es-
cada pêra sobirS ao muro. Isto cScertado, & encomõ-
dãdose todos a nosso sefior, desembarcarão ao outro dia
em amanbecfido feytos em três escoadrÕes, & cada hCL
LIVRO VIII. KK
268 »A HMTORIA OA INMA
Be foy ao lugar Q lhe era assioado, £ cõ quanto oa Mo-
gores erSo poucos, resislião muy brauamenle coessa ar-
telbaria Q linhSo & espingardas, desparãdo frechas sem
coto, & arremessando muylas panelas de poluora, &
muylo fogo outro c5 que logo ferirão b8 oy tenta Portu-
gueses , que foy causa de não poderem chegar as esca-
das ao muro, saluo Miguel dayala Ij^ foy ho primeyro
que Bobío, & bfi cõtrariado & ferido sobio ao muro, don-
de os imigos o deytarâo abaixo, no que correo muyto
perigo, & cõ tudo escapou cÕ a vida, & a htl fidalgo
chamado Martim afôso de melo punho» Q sobia após ele,
d chegando ao quarto degrao foy ferido de hCka frecha
na roda do giolho cõ que cayo abayxo, & não sobio mais
ainguS por neste tempo arder a escada. £ vendo Vasco
pirez bo dano ^ recebia sua gente, mandou a afastar
oom determinaijSo de descoroar as ameas do muro pêra
Jà gente poder melhor sobir, & assi o fez cõ a artelba-
ría ^ logo mandou tirar em terra : & por se esta obra
acabar tarde, não quis cometer a entrada, & ficou pêra
o outro dia, em Q não ouue ^ fazer por os Mogores fu-
gira a^la ooy te , do que sendo Vasco pirez anisado de-
sembarcou cõ os seus & foy a pos eles, & ainda matou
algfls, & tomada a fortaleza entregou ao capitão delrey
4e Cambaya , & por não ler mantimêtM & ^uar algQ
4le8concerto antreie & Cogec^ofar, não fez mais guerra
aos Mogores & toroouse pêra Diu.
C A P I T V L O CVIIL
De como foy comegada a fortaleza de Diu , fths Pon-
tuguesee.
JjLo gouernador 4 ^l^ua em Diu , cÕ negócios que (d-
ue & em ajuntar pedra cal & m^deyra, não pode co-
meçar de fazer a fortaleza se não em NouSbro, & des-
pois douuir missa cÕ todos os c^pitães& fidalgos cõ gran-
de estrondo darlelharia , & arroido de trÕbelafi ^ À aJ«-
LiTJie viiT. ciFrrvLO cvirr. 25»
gre rom de charamelas : assentou a primeira pedra des*
la fortaleza, coro muytas moedas douro debaixo dela. B
a pos ele os outros capitães & fidalgos , que todos cd
muyto prazer trabalbauão^ por auer tanto tSpo que esta
fortaleza era necessária pêra conseruaçã do estado da
Índia: por ser a principal porfa por onde os Turcos po»
diã entrar. E coela ficou de todo fechada , como direy
oo liuro nono quando foy cercada de Turcos. Eassi foy
começada a obra, pêra que el rey deCambaya mandou
ao gouernador doze mil cruzados com nome dalmorço
pêra a gSte de seruiço, que dei| em grande abastança
pêra seruirem nesta obra , em Q os Portugueses leuauSo
assaz de trabalho , porque tanto trabalhauão os fidalgos
eorao os outros, & lodos eráfo repartidos por quartoa: &
pa eapitSes deles andauâo ás enuejas de quê daria me^
Ihor de comer aos de seu quarto, & quem ho daua nie^t
Ihor tinha mais gente, & fazia mais obra. E por isso
oreoia sempre, o que Garcia de saa tinha a cargo, que
era hil baluarte, a que despois chamara de Santiago, &
aigQs lhe chamauSo ^e Garcia de saa , pori} o fez todo^
Bo ^ gaitou muyto, que d^ua melhor de comer Q todoa
os outros capitães. E fazendose a fortaleza, soube el
rey de Câbaya como el rey dos Mogores despois de to-,
mar Ch^mpanel quisera ir sobre Diu , & não fora por
saber que estaua hi ho gouernador, & se foy alMadaufí^
& a tomou ))0F peytfi ^ deu ao capitão que a tinha. È
parecendo a el rey que seria bõ dar hfia sayda polo rey-
no pêra que soubessem seus vassalos í\ era viuo, &i3om
esperança de os socorrer o5 ho fauor doa portugueses,
não se entregassem a el rey dos Mogores. E tomando
nisto ho parecer do iifouerni^dor , que foy l| sy, lhe pe^^
dio que lhe desse Alartini afõso de souaa pêra compa-
nheiro, por lhe ser aíFeyqoado por seu esíbrço & valen-
tia, & hõa oonuersação , do que ho gouernador foy con-
tente. E assi lhe ^ea mais sete ou oyío fidalgos. E quau^
do se el rey partio lhe encomendou muyto suas molhe'*
ffes & seu (hesouro: & mais. lhe pedio Q mãdasse rogar
KK 2
260 JDA HI8T0HU BA ÍNDIA '
a Niza maluco que Uie oâo fizesse guerra, por(} estando
seguro de lha não fazer tirana de sua frontaria IMiram
tnuhmalà cooj a gSle que tinha Q lhe era necessária pe*
ra outra parte. £ ho gouernador mandou com esta em*
baixada a hum caualeiro chamado Gaspar preto , hom5
de muyta confiança.
C A P I T V L O CIX.
De como Xercansur tomou ho reyno dos Patanes a el
rey de Bengala.
JYeynando em Bengala Nançarote xá antecessor de Ma-
bumedxá (como disse a trás) determinou el rey dos Mo-
gores peia fama que tinha de seu grandíssimo tesouro,
ae ho conquistar antes dêtrar na índia: & por^ não po-
dia entrar se não polo reyno dos Patanes que confina
com i>o rio Ganges (como disse no liuro quarto falando
do reyno de Bengala) cometeo dentrar por ele. E ten«
do el rey dos Patanes pouca força pêra lhe resistir , pe*
dio ajuda a et rey deBSgaia, que logo lha deu pelo que
lhe importaua: & ambos resistirão a el dos Mogores &
ho fizera tornar. E ele ido el rey de Bengala prendeo
el rey dos Patanes & tomoulhe ho reyno: em Q deixou
por gouernador Cotufoxa , hum grande senhor seu vas-
salo, com muyta gente repartida por capitanias, & ele
andaua no campo com grade exercito, em que andaua
hum soldado Patane bomê muyto esforçado, que auia
nome Xercâsur, que auendo hum arroido eom ho the-*
soureiro do campo, acodio Colufuxá aos apartar, & foy
morto por desastre: pelo que Xercansur se foy do ar«
rayal. E e) rey de Bengala lhe perdoou despois, & ho
fez tornar, & pos por gouernador no reyno a hum seu
primo chamado çoltão babmo. £ despois disto morreo
Nançarote xá, de que ikou hú filho pequenino, em cu-
jo nome gouernaua ho reyno Mahmudxà seu tio hirmâo
de seu pay , que se leuantou cÕ ho reyno (como disse
LIVRO VIU. CÀPITVLO CX. 261
a Iras). O que sabido por qoltâo Halamo Ibe escreueo
logo que restituísse ho reyno a seu sobrinho, se não que
lhe faria guerra, como fez, & nela foy morto. E Xer*
cansur ho soldado que tenho dito, vSdoho morto, pos
logo em saluo ho tesouro do campo, & recolhendo a mais
gente que pode do campo de çoltâo Jialamo, desbaratou
a gente dei rey de Bengala. O que sabido por ele , &
receando que Xercansur se lhe leuant asse com ho rey*
no , lhe mandou cometer que se fosse parele , com pro-
messas de muylas mercês , que ele não quis som que
ele restituísse primeiro ho reyno dos Patanes em sua li-
berdade , o que el rey nâ quis , & começou de lhe fazer
guerra, de que Xercansur leuaua ho milhor.
C A P I T V L O CX.
De como el rey de Bengala mandou ao gouemador vinte
Portugueses dos que catiuou.
p
rosseguindose esta guerra antre el rey de Bengala &
Xercansur, ]) foy causa de Martim afonso de melo, &
os outros catiuos terem melhoramento em seu caliuei--
ro. Neste âno de mil & quinhêtos & trinta & cinco che-
gou a Chetigão hum Diogo rabelo que hia da Índia, aÇ
ho gouernador encomendou muyto <} visse se por meyo
deCoge çabadim podia resgatar Martim afonso & os ou-
tros , & qué lhe pagaria ho resgate , no que ele pos sua
diligencia. £ como el rey de Bengala estaua muy as-
sombrado da guerra ^ lhe fazia Xercansur : & auia me-
do de lhe ho gouernador mandar çarrar Chatigão & Sa-
tigão, folgou de fazer paz coele, & mâdouibe vinte dos
catiuos de graça, por hum embaixador que lhe mandou
com Diogo rabelo, per quem lhe mandou dizer, que lhe
não mandaua logo Martim afonso & os outros, por se
temer de ter necessidade deles pêra a guerra que tinha,
pedindolhe muyto que lhe mandasse socorro, &despoys
de vindo lhe mandaria Martim afonso & os outros: a
ses SA HtrroMA da nma
qoen rogon que escreuesse xo goueroador Ç Ibe nan*
daste ho socorro que pedia , dãdoliie a entender que se
Hio mandasse, que lhe daria fortaleaa em Cbaiigáo, &
assi lho escreueo Marti ro afonso. Porem ho gonernador
teae tanto que fazer na fortaleza que lhe el rey de Cã*
baya deo em Diu, & despois com a morte do mesmo
rey, como dírey a diante, que nunca pode mãdar ho
socorro , n6 quis despachar ho embaixador sem ho man«
dar. E ei rey de Bfigala ainda que mandou estes catí«>
uos, não quis soltar Marlim afonso, temendo que fu»
gisse pêra Xercansur, mas mandauaho chamar muytss
vezes, & praticaua coeie em muytas cousas. EMartim
afonso porque ho entendia, nllca lhe quis pedir que ho
soltasse, antes se mostraua muyto descuydado da soltu-
ra, por onde el rey folgaua muyto mays coele.
C A P r T V L O CXI.
De como Tristão datayde mandou el rey Taharija ao g^
uemador da índia.
Jjintrado ho anno de mil & quinhentos & trinta & cin^
CO, despachou Tristão dataide capitão da fortaleza de
Teroale os nauios que auiSo de ir pêra Malaca & pêra
a índia, cuja capitania mor deu a Lionel da lima: a
que tambe entregou preso el rey Tabarija, com os au^
tos ^ mãdou fazer de suas culpas: & coeie mandou sua
mãy & Pateçaranfi;ue , que forão piadosa cousa de ves
quâdo os tirarão da prisam os prantos que fazião, & as
magoas que dizíão, vendose leuar de sua terra pcrn ou*
tra estranha, donde não esperauão mays de tornar. B
então conheceo Patec^arangtie que pagaua ho mal qua
fizera sem causa a el rey Caehjl dayaio seu rey em lhe
£azer tifiir ho reyno. E partido Lionel de lima com sua
frota foy ter a fianda & dahi a Malaca, & despoys á
índia , onde entregfou el rey Tabarija 8ç os outros pret
soa ao gouflCAador Nuno da cunha , ^ por oa aohar sem
LIVBO VUI. eAPITVLO cxu. 2^9
oalpa 08 deu por liures, & julgou que 9e desse ho reyno
de Teroale a el rey Tabarija ; & ele se tornou Chrislâo,
& bo gouerpador ho lomou despoys a mandar pêra Mã*
lucp) ia mvrreo em Alalaça) como direy a diania*
C A P I T V L O CXII.
Z)e como 09 Rty$ da$ ilhus de Maluco jurorão d$ fazer
yucrra a Tristão datayde^
.^tras fioa dilo a guerra que Tristão dalayde fez a el
rey de Bacbfio , dg () ele ficou tam escandalizado 9 que
ainda ^ fez paz não perdia bo escândalo, porque Ibe ifi-
braua quanianbo seruidor fora sempre dei rey de Porlu**
gal, & quam leal, & coro quanta diligencia acodira sem^
pre á fortaleza em todas suas necessidades, & verse por
derradeiro tam mal galardoado de Tristã dalaide , to**
moulhe mortal ódio & desejou sua deslruy<^o, & quei«-
)(ouse aos outros reys das ilbas deMaluco, que portam**
b8 estarem muyto escãdalisados ainda que bo dissimu*-
lauSo ; bo escândalo daquele ibe fez renouar bo seu. B
despoys que per recados teuerfio algfia inteligSciaacer*
ca de se vingarem de Tristão dalayde, ajunlaranse to»
dos em Tidore. s. £)l rey Cacbil dayalo, \ fora de Ter-
nate, £1 rey Cacbil Catabruno de Oeylolo, £1 rey Ga*
cbil mir de Tidore , & el rey de Bacbão , onde todos
juntos, olegou cada bQ largamente as causas que tinbao
pêra serA uiiigos nfto somente de Tristão dataide , mas
de lodos os Portugueses, & procurar^ sua total deslruy*
ção , & asai ho jurarão todos quatro sobre bum ]Mo<;afu,
que be bo iiuro de sua seyta , & por sua cabeia , & po^
los ossos de seus passados, de se leuãtarem cõtra a for-
taleza , & fazerêlhe tanla guerra ate que a tomassem ,
& matassem Tristão dataide, & quantos Portugueses
('Sleuessem nela, ou os deitassem fora da terra. £ sen-
do caso que ho não podessem fazer por a forlaleza ser
socorrida, que então cortarião & queimarião as aruores
264 DA HISTORIA DA ÍNDIA
do crauo daquekts ilbas , & as da doz & da maça & tO'>-
do outro aruoredo de fraylo, & despouoarião as ilhas,
& se iriâo morar a outras, porque os Portugueses per-
dessem a esperança de tornar roais a elas , & sobristo
perderiSo todos as vidas & os estados. E ho mesmo ju-
ramento fizer^o vinte dous birmãos destes reys, & assi
de terê isto em muyto segredo. Blogo ali foy ordenado
que os da ilha de Ternate auião de ser os primeyros
que auiâ de começar esta guerra ; & que ate eles não
ir6 bem cõ ela por diante, não auião os reys das outras
ilhas de boijr consigo. E ho camarão também íoy nesta
liga, & ainda que não foy presente, deu pêra isso seu
consenti nien to. Que posto ^ deuia muyto a Tristão da-
iaide, que de nada ho fizera tamanho senhor, era mou-^
rOf que naturalmente sam desleays. Eali foy tambê or»
denado, que fizessem crer a Tristão dataide Q nas ilhas
dos Celebes & Macaçares , & na de Mindanao auia ou-
ro, que as mandasse descobrir, & ele <;om cobiça bo
faria : &. como a isso auia de mãdar gente lhe ficaria
pouca pêra se defender, pelo que aueria pouco que fa-
zer em ho tomar. Eque os da cidade de Ternate serião
os primeyros que se íeuãtassem, & a despouoarião, por^
que os Portugueses não podessem ter mantimStos: &
lhes fizessem coisso mais guerra* E ho camarão fingiria
qué lhe pesaua da^le leuantamento , & que não era sa-
bedor dele : & se faria grande amigo de Tristão dataj-
de , & ficaria coele pêra espia , porque mayor guerra
faria em descobrir aos Imigos seus segredos do ^ otde*
nasse cdtreles que em pelejar coqlrele#
C A P IT V L o CXIII.
De como os mouros de Temate despouoarâo a cidade*
Jlsto asai ordenado, (izerão saber a Tristão dataíde, que
erâo chegadas a Gejiolo certas corascoras, que vinhão
da iiha de Mindanao em que acharão muyto ouro, com
b que ele se prouocou a mandar descobrir esta ilha , &
mandou a isso hum loâo de canha pinto em hu nauio,
que a foy descobrir, & tendo descuberta parte dela^
foy com tempo ter a outra ilha que estaa ao mar desta,
Tiue se chama Siriago: & tendo necessidade de. fazer
nela agoada, fez paz com a gente da terra, sangrando-
se ele & el rey , & bebêdo hum ho sangue do outro , &
desta maneira fica feita a paz. Eauêdoa os da terra por
muyto firme conuersauão com os Portugueses, & hiâò
ao nauio sem medo. E determinado loão da canha de
se ir, deitou hQ dia mâo de quãtos da terra estauão no
nauio pêra os catiuar, & algiis fugirão deitandose ao
fnár, & estes forão dizer a el rey a treyçâo que lhe os
Portugueses fizerão, que logo mandou deitar sua arma-
da ao mar, em i\ mandou meter sua gente pêra ir to-
mar o nosso nauio, cõtra quem foy a velas, & a remos,
tirado tantas frechadas & arremessos , & com tamanhas
gritas , que loão de canha com medo mandou cortar as
amarras, & dar ás velas & fugio. Eho que pior foy que
ihe ficou a artelharia do nauio, () com hum temporal
deitou ao már. E vedo os mouros q^ue ho não podião a)^
caçar tornarãse. E por isto que lhe os Portugueses fize-
rão crerão todos os males que os das ilhas de Maluco
contauão deles. E escapando ioão de canha daqui, aca-
bou de descobrir a iiha de IMtndanao, em ^ não achou
curo,'& tornouse pêra Temate. E por aquele anno ser
*a moução do crauo, não quis Tristão dalayde mandar
mays descobrir os Celebes nem Maçacares, porque Sda-
iia muy. ocupado em fazer nauios pêra carregar de. era*
LIVRO VIH. LL
S6« Btà HISTORIA OA INDlÀ
uo^ cft outras pessoas que linhão nele parle» O que vis-
to poios reys^ & desesperado de diuidirem os Portugue-
ses por aquela maneira, ordenarão de os diuidir por ou-*
Ira : & foy fazer el rey de Geiioio gò bus pouos chama-
dos Tauaros , que erã liures y que fizessem guerra ao
se&or da grã Bocanora & ao Murro : em cujos seahorios
se tornauão muitos Christâos, dos que disse a trás, por^
sabiâo que lhes auia Tristão dataide de mandar logo a^
codir^ & assi o fez^ mãdâdo hOa armada de Ternates
& de portugueses á grão Bocanora y & por capitão mór
hu seu sobrinho chamado iorge dataide, & ouUa aa
Morro , cuja capitania mór deu a Diogo sardinha capi*
tão mór do mar. E andando estes capitaSs fazêdo aguer^
ra nestas duas partes ; como os Ternates virão Q fica^
uão poucos Portugueses na fortaleza, |K)8erão em efiWito
sua determinação, & forãose muytos deles secretamente
em certas corascoraa á Batachina do íuortç junto de Gey-
loioy onde estaua hum Vicente correa mestre de hua
nao , com outros cortado madeira pêra estes nauiosque
se fazia , & duas ou três legoas da costa toparão hit bas-
tei dos nossos, que Vicente eorrea mádaua carregado d#
madeira pêra a fortaleza: & hiâo nele alguus Portugue-
ses & Arábios que ho remauão» E os mour«)s matarão
a trei<2ão quantos hiao no balei, saiuo hfl dos Arábios
que escapou a nado^ & fuy dizer a Vicente correa o %
passaua do que elle ficou muyto espãtado, por os mou-
ros ser& tanNiBhos amigos dos Portugueses. £ parecfi--
doibe isto algu misteriu,. acolheose logo cõ os outros em
hú batel per» Ternale ; & no caminho achou os mouros
que maiarão os outros Portugueses: & quando os vi^
fezse forte pêra se defèder r cl conhecendo por isso os
mouros 2| Vicente correa sabia o que fizerão, disstmu*-
larSo, & como nao lhes fazia tempo pêra Ternate , ar-
ribarão a Geyiok), & Vicente correa tambfi poia mesma
causa. E indo ao longo da costa topou hum capitão dei
rey de Geylolo cõ oylo corasceras , que lhe disse que
hia por seu mandado pêra o ieuar seguco, por^ soubera
\
LIVHO VIII. 0AVITV1X> €011111. 267
a tri>içt que os mouros de Ternate fiserjb sos outros
Portugueses^ & porque bo nSo fixesem a ele. E isto fets
el rey de Geylolo pêra mays dissíniulaçã com Tristão
datayde , que lho mandou muy to agardecer quando lio
sout)e : & ficou muy suspSso nSo sabendo determinar a
eausa porque os mouros faríão aquela trei^So : & agas-»
(ouse muy to ooisso, & mays porque nâo estaua ali ho
^marao que lho dissese, que era rfarmada. R estandb
assi , como já os moradores de Ternate a teuessem se-
cretamente despejada de suas fazendas^ hfl dia anteme*
nbaS se forão todos : o que sabido por Tristão dataide
aeodio muy (o do pressa : & achando ainda algus que
hião na traseyra rogaualhes que nSo se fossem, & se
estauSo agrauados dele, ou doutra pessoa que os desa*
granaria: mas eles nem somente bo quiserão olhar, &
forfiose. E ele nSo quis que Ibe fizessem ma) poios nSe
escandalizar mays, parecendolbe que os amansaria por
bem: mas eles nSo estanco nisso, & forãose pêra outros
lugares donde esperaufto de fazer a guerra^
C A P I T V L O CXIIII.
De como Tristão datayde quisera fazer paz "CÔ os mcu^
ros , ^ eks não quiserão.
D,
Wpejada a cidade , acertou de chegar bo camarão ,
Q como disse era fora com bfia armada , & tanto {| de«
«embarcou com os seus seruidores & pessoas de sua (a*
tnilia : osoutros mouros í\ ficau^o na armada fizerâo voU
ta nas mesmas corascoras em qtie biSo & se forfto. O Q
logo pareceo ma) a OHiytos Portugueses porque sabiSo
que ele era muyto mat quis4o dos mouros , por ser go«
uernador em ?) Ibes pez: & desejauâo de 1^ matar, &()
nSo teaerSo nunca Iam b5 tempo pêra isso como entSo,
poys estauSo teuantados contra a fortaleza, o que mos*
trauSo em se ir6 logo, & poys bo deizauão yíuo, n2o
era se não por ser tambS na consulta do leoãtamêto, &
268 DA* Hf STOitIA • DA INDlA
por díssimQlaçSo ficaua nra fortaleza pêra poder deMOk
brir aos outros o {| Tristão dalaide determinasse : a Q
despois algas disserSo eista sospeita : mas ele cria tafito
no camarão que lhe não deu credito. E ho ijamarao dor
sembarcado se foy logo a Tristão dataide: & disselhd
rou)^lo espfitado que lhe parecia que a gente de terra
era leuantada: porque os da armada em que fora ho
qliiserão malar, porque não queria ir coeles: &que seu
filho ho desemparara pêra ser com os aleuantados, &
por amor dele ho não matarão, & ho teuarão á fortaleza^
onde queria morrer & viuer coele que lhe tanto b6 tinha
feyto, & que a seu res[ieito lhe não lembraua natureza
nê filhos, nS outra cousa algfla» ETrialâo dataide muy<*
to crente í\ era assi, lhe fez muyto gasaibado, dãdolhe
grandes agardecimêtos» £ determinando de ver se por
be podia pacifícar a terra, fez hOa armada dalg&s bar*
gantins & paraós qtre tinha, & assi das corascoras da
armada dei rey de Geilolo , cujo capitão ainda hi efrta*
ua pêra ver o fim ^ auia esta guerra, & leuar a noua a
et rey. E nesta armada mandou el reyGachil aeyro, pa«
recSdclhe {[ lhe obedecerião os mouros, & assessegarião
daquele mouimento, & hia ho (gamarão. E esta armada
correo- todos os lugares maritiibos da ilha, a cujos mt>-
radores dezi^io da parle dei rey & de Tristão dataide,
eõ muytos rogos, que tornassem a Aizer amizade coele^
& que ele os desagr^iuaria se eslauã agrauados, & faria
quanto quisessem : lêbrandolhes a amizade {[ sempro
leuerã c& os Portugueses, & como lhes chaipauâo hir-:
mãos, & buíras muytas cousas pêra os preuocarêa poa
ÍL amizade. E os mouros como que estauão falados res*
ponderâo todos per hua maneira, dizendo ^ não obede-*
cião a Cachil aeyro, por<). ho não tinha por rey : & pos*
to que comoa rey ibe obedecessem aigú tempo forapov
força, ^ seu rey nalural era Cachil dayalo Q ja tinhãOf
E qu& quanto a amizade eÕ os Portugueses,, eles a ti^
nhão cotuo dantes, & a queria de muylo boa vontade,
se eles matassem a TrislâU) datayde , w ^ quecião tamap*
nha mal por.rnuytoa () ihes fizesa^^ ^^^^ ^^^ veriSo ho
roslo n& seriâo amigo» dos Pprtugye^çs ean quãlo bo. te*
uesseiD por capitão. £ sabendoo Tristão dalayde deter-
minou cÕ cõselho^de ihes ftzf^r guerr^., .pêra ver se fa-
rião coela paz. E jfita sua armada correo a costa da jlha
da^la. banda dá fortaiefiiay & Q^eyfi)o4 eiisaa lugai^s que
hi eslauão: o ^ v6do os mouros leuantarâose logo dall^
& passarãse pêra os altos das serras y & fizerâp bi suarft
pouoações ^ ^ fortaleoerâ grandemSte : & porQ se teme-
rão Q os Portugueses fossem lá. denoyte, & atinasseio
onde eslauão os lugares, polo ladrar dw cães ou calar
dos galos, não deixarão nenhQs i| não matasse, &de8^
pois dislo dera bua noyte na cidade de Ternate em l^
ainda morauão algus PortaguQses & Qymarâna toda, pê-
ra declararõ a Tristão dalaide ^ nQca auião de ter paz
coele, & dali por diante corriâo á fortaleza de dia &de
noite: & deytauãolhe muitas ciladas, com Q matauão
íc catiuauão dos {| estauã na fortaleza, principalmêleos
escrauos () sayão por agoa & lenba': £ assi saltauãp cd
os ^ ãdauâ a pescar no arrecife & às vezes íbes toma*-
uão os paraòs & erão tam sobejos ^ de noyte nãocessa-
iião de fazer seus saltos cõ ^ dauão grade opressão aos
Portugueses , Q cõlinuamen4e estauã armados , &. tiran*
do tiros perdidos oom suas espingardas por^ como bo
não fazião logo os immigos eram coeles gritado & fazfi*
do grades malinadas. £ Tristão dalaide por^ sua gSte
não leuasse tã má vida, mãdou fazer certas goaritas ao
derredor da pouoaçâo dos Portugueses, em ^ mandaua
vigiar algfls espigardeyros repartidos per quartos & bo
mesmo mãdou £azer na ribeyra pêra goarda da armada^
& ele tinba a outra gfile jilla debaixo da ramada á por*
la da fortaleza pêra se Ibe fosse necessário ncodir a aU
gQ rebate, & ali comiáo & dormiáo. £ Francisco de son-
sa alcoforado capitão de bila nao grossa, Q estauã CTa-
Jãgame^ cd outros capitães doutros nauios , Q auião de
partir cõ carrega pêra a Índia no laneyro seguke, co-
ma Bouberão ^. a terra era leuãtada, cercarão logo de
170 DA SfBTMITA BA INlIfi^
trãqtieiras h «auás 00 nauiot ft tinháo ft inftl<! pM*â w
oorregefê & bâBtecerâaas darteíbàrín pêra soa «MMk
C A P I T V L O CXV.
De como té leumUãráo oê lugarw do Morro.
Vyomo eslA guerra íby começada, Trisd^) dataide mf»
dou loeo auÍ80 A hfl parao ao vigairoíSymão vas !} eaia*
ua no niorro bautiiBdo os (} ae tornauS CristSoa, pêra ^
ealeaeaac a reeado c5 oaPoriugueaes Q eslauSo coele &
08 nã tomassem de sobresalto: mandandolbe íãbS dizer
f\ comprasse os mais mStimenlos () podessS antes 1} 01
Terna tes fossem aluoroqar a terra , & a pos este parao
mandou Diogo sardinha capitão mór ào mar è hQ bar^
Santim ) assi pêra fatiorecer os ChristSos da ÍH*ra do
lorro como pêra ho trazer carregado de mantimetos,
mas quando eie chegou, ja* achou Ternates, 2) tinhão
dito como erâo ieuStados cStra a fortaleza, & lhe faetSo
I guerra-, de Q não auião de cessar ate a não tomarS &
matarS Tristão dataide , & todos os outros Portugueses,
Q deuião de ter por tmigos, pois ho erão dei rey Cachil
dayalo seu rey & senhor natural, a () tinhão feyto tanto
mal como eles sabiSo & por rasa causa & outras muylas
se leuantarão contra os Portugueses, porque ele assi ilie
tinha «oandado: & mandau^ a eles como a seus vsssa^-
los que lhes não vSdessem nenbQs mantimentos, '&cois«-
to tinhão amotinada a gôte que os não queria vendei^
E algfls lugares que erão dos Cbristãos nouos como ot/-
uirão que os Ternates erão leuantados contra a fortale*-
xa, & que el rey Cachtl dayalo era restituydo 8 seu rey*-
no, renunciarão logo aChrístandade que tinhão, &; tor-
narãose gètios como dantes , & poserãose da parte d^
rey Cachil dayalo & assi algus gentios. E estes erão os
que não queria vender os mantimentos, & faziãnos ale-
uantar: em tanto que valêdo ho alqueire darroz a doua
«intAs ^ tinha sobido a cruzado, & assi ho pre<^ do mais
LÍVBO VUU CAPITVM €XV. B7i
bia cada vez em mayor crecioiento. E achando Diogo
sardinha isto aasi trat^tornado , (e% queixume ao gouer^
uador de çugalá Christâo oouo que auia nome Luys cor*
rea , que parece que por nft «alisfazer a seu queixume^
vierâo a roins palauras, em que lhe Diogo aardiuha cha^
iDou eao perro arrenegado : &l que eslaua em ponlo de
lhe cortar a cabeça, mostrado que bo queria fazer c9
bua espada dâbas as mãos , & que cooio fosse na forlá--
leza auia de dizer a Tristão dataide que ho mandasse
enforcar. E ou por esia injuria, ou porLuys correa es-
tar abalado pêra deixar a iey de Christo , com ho exê-
pro dos outros deixouba Jogo, & tofnouse gSlío & Imigo
dos Portugueses, a que detêdeo que não se dessem nf*m
>êdessem em sua terra, aenbús mantirnSios. E cõ tudo
em outra parte carregou Diogo sardinha bo bargantin»
deles , & se tornou pêra a fortaleza , & forâo cpele ol^
gQs Cbristâos da terra, eõ voz de ajudarê Tristão datay^
de na guerra que tinha cõ osTeroates. Porem a verda-
de era que biâ ver ae os Ternates se tiahâo leuanlado,
que bo não podiÀ erçr : pêra que achado que era assi
se tornassem gentios , •& serè contra 09 Portugueses. E
phegadp Diogo sardinha á forts^lez^, qui^ TrJistSo datai-
de soube bo aluoroço Q hia no Morro n^o cuydando qui^
ibsse mais, mãdou logo bua champana armada em que
biáo certos portugueses pêra trazerem mantimentos: ^
estando estes lá em bum lugar chamado Biepy a for^o to*
dos mortos pola gente da terra , que tomou a ch^pana
eom toda a artelbaria, & as mais armas que leuaua. £
bo mesmo foj feyto a outros Portugueses que bião dp
Morro pêra Ter nate em outro nauio. E nesta cõjuncjão
íoy n»orto ho vigairo Simfto vaz com quantos Poriugue*-
ses estauão eoeie, pela gente da terra que ele bautiza-
n , que lhes tomou quanto tinbâo. £ isto tudo se fejt
sem no Tristão dataide saber se nAo dahi adins. Even^
do ele a necessidade que linhade mantimentos: &quam
4lifícuitosamente 09 podia auer do Morro , socorreose ^
el rey deGeylolo, que por mays dissimular sua tmiaad^
Í7Í ©A HfStÔliTA »A tNDIA *
)be mandou qualro corascorias' carregadas de çagu :' &
mãdoQ aos que híSo nelas que se deixassem fícar com'
ho seu capilSo Cachil limor, que ajudaua TrisiSo dalai-^
de , a que mãdou fazer grandes oflTereci mentos dajada
de gSle pêra aquela guerra , & de sua pessoa se fosse,
tiecessaria, & de mantimentos: eom o que TrrstAo da^
laide ficou muy conlSte de ter por atnigo hõ rey Iam
prinoipai como aquele.
■
C A P I T V L o CXVl.
Do espantoso fey to que fez dom loatn de Mamoya.
XIjI rey Gachíl dayalo ja antes- disto á petiçffo dos Ter-
nales estaua apoderado de toda n ilha de Ternate, &
outra vez obedecido por rey: *& tinha mSdado fazer gen*»
te de guerra a Mindanao & a Banda, mandando dizer
ho pêra que: & como determinaua de tomar os PorliH
gueses, & a causa porque. E sendo lâ este recado, a<^
certou de jr a Banda hum jungo d^ hu Português cha^
mado Lopaluarez , 'Q os BandanesestomarSo, matando
quãtos Portugueses hião dentro. E tomada a artelbariA
& outras armas , mandariío tudo a et rèy Cachil dayalo;
que muyto ledo ho mandou ^dizei^ a el rey de Geylolò
-com quem naquele tempo acerimrdestar bíS Castdhané
que fora lingoa na fortdeza, q nuia nomeManhoz^ quê
^á fora ter, nSo soube a que: &tíômo este hia da noss*
«fortaleza, de que el rey desejaua saber nouas, deulhè
hfla escraua & quatro aneys doúrò: & preguntandolhè
^spois por nouas de Tristão dataide, disselhe dele mit
tnalf»s : & t\ por essa- causa e&tauSo os Póttugueses mu;f
desci^lentes dele, & lhe íjriSo maly & que se ho ajudai
4jSo na guerra era polo que Ihesliia nisso. E que Tris^
tâo dataide estaua muyto apertada coela, por nXotet
«mantimentos, nem esperança de osr auer se nSo delet
4fe íj a guerra estaua já tS trauada, i\ lhe parecia qub
miO€a«-os Ternates faríã^paí.' ftorft .que TristSo dattiiáê
LIVRO TIll. CAPITVLO CXtI. Í73
i âesejaoa muyto pêra prender todos os reys de Mata*
CO, & os mandar presos á índia, conio fizera aTabarija*
£ assi lhe disse outras tnuylas cousas que parecido roS-
liras porque as não podia saber tam particularmente co-
mo as dezia, &. parecia que era mays por lhe parecer
que ei rey foigaria coisso, que por ser assi. Do ^ elrey
deitou mão & ho creo: & tendo por certfi a guerra dos
Ternates & Portugueses , roãdou dizer a el rey Cachvt
doyalo Q estaua prestes pêra ho ir ajudar na guerra con-
tra Tristão dataide , & coprir o que tinha jurado com
os outros reys, que lhe mâdasse entregar os lugares ^
lhe forâo tomados no morro, a () logo el rey Cachil daya*
lo satisfez, mandando a isso hu seu capitão que foy em
cÕpanhia dei rey de geylolo, que leuou a mays poderosa
armada i| pode. E determinando de ir ao Morro mandou
recado a Cachil timor que estaua cõ Tristão dataide que
se fosse logo , & leuasse os Chrislãos do morro 9 a ^
tambS mandou que se fossem, & assi ho fizerão, sem
falarS a Tristão dataide, do que se ele espâtou muyto,
& logo ho teue a mao sinal. É chegados estes a Geylolo
íogo se el rey partio pêra ho Morro : & tomado ho pri-
meyro lugar despois ^ foy lá, mandarãno chamar os de
^ugalá, pêra lhe entregarS hii clérigo Português chama-
do Francisco aluarez, que ali bautizara muytos dos ^ se
conuerterã: & algíls Portugueses (|stauao coele fazõdo
hu jijgo pêra carregarS de crauo, o () Iheô sendo discu-
berto fugirão em hua coracora : em () leuarã a pedra
dará , & ho caliz , & algfis ornamentos de hfla igreja
em 4 se dizia missa. £ não pode ser tão secretamête^
^ parte da armada delrey de Geylolo, íj ja hi estaua,
não fosse aix)8 eles. E pelejado cÕ algdas corascoras
que os alcançarão foy Francisco aluares ferido de deza*
sete feridas, & cõ tudo ele & os outros pelejarão tão
brauamSte i\ se escapulirão dos imigos, <} por derradey*^
ro 08 ouuerão de tomar se nã lançara ao mar os ornamS-
tos ÍJ leuaiião, & como erão de seda, & os imigos co-
biçosos , Sbaraçarãso c os tomar , & por isto , & por so-
LIVRO VIU. MM
274 9A H18TOEIA DA INOIA
bre vir a noyte escaparão & se acolherão, & sem faserS
áelèifl, forâo ter á fortaleza , onde contarão a Tristão
dataide o ^ passaua, do Q ele íicou muito agastado, por
perder a^ie rey em Q tinha grade cõfiança , & por lhe
parecer que tambS os outros reys se auião de Icuãtar*
£ como andaua tão ocupado oomo digo na guerra dos
Ternates , nã pode mãdar socorro ao Morro & deixou o
íeyto á fortuna. Tomado Çugalá por el rey de Geylolo
tomou despois outros lugares & ho derradeyro auia no*
ane Marooya, de !} era gouernador do leão de mamoya,
a^le gètio Q primeiro se tornou Cristão, <| como ho era
verdadeyro, não temeo elrey de Geylolo cõ quã podero-
so ya , & posse em defensão cÕ algQs Portugueses ^ ti-
nha , Q estauâo ali os mais dos ^ andauão no Morro, &
tinhâo feyta hfla tranjjyra eõ algua arlelharia, onde se
dÕ loão meteo coeles , & cõ algiis de sua valia , pêra se
defender ou morrer, poríj foy desenganado dos da cida-
de q se auiã dêlregar a elrey de Geylolo ^ como entre-
garão ô chegado. E quãdo el rey soube a determinação
de dõ loão foy sobre a tran^yra, & os Portugueses sem
pelejar.e se lhe entregara logo , não aproueitando a dõ
loão dízerlbe quam mal o fazião, !^ toda via cõ os ^ ti-
nha ainda 4 erã poucos se defêdeo dei rey, cõ tanto
esforço 2) 8 todo a^le dia ho nam pode entrar: & vinda
a noyte q cessou o oõbate, vôdo dõ loão q não se podia
defBder,. não quis que sua molher por ser fraca lhe fi-
zesse el rey negar a fé de Christo, & a^si a seus filhos
^ erão peqninos, & por isso matou a ela & a eles, &
despois de destruyr seus tesouros , por elrey os não ar
uer, se quisera matar se seus parêtes & amigos ho nao
teuerão por força, do que ele ficou muito magoado, &
lhes pedio muito 4 o deyxassem matar, por(| melhor se-
ria matarse, que ficar em poder dum tirano tão cruel
como el rey, que por ser rey fizera tamanha treyção co-
mo fora matar el rey seu jrmâo, q de.dereyto era rey;
pelo q lhe íjria grade mal- E cõ tudo não cõsentirào q
se matíwse, & entregarão se a el rey, q entrado na
Livmo vrii. CM9TTV1JÒ crcmi. 37*
tran^yra, & sabendo o í\, dõ loidto fizeia ^ ho mandou
trazer anleay, & pregulandoOie como leuera coração pe*
ra fazer cousa (âo abomínauel , respondeo cõ muito es*-
forço , Q b6 sabia Q ele & soa molher & Alhos er2 Cri*
slãos, & como eia por ser molher era fraca, & cÕ pou-
ca prema a poderia fazer negar a fé , & a eles por mou-
cos Q por Uso o8 matara, t\ melhor estariSo na gloriado
parayso, oade cria ^ auiâo dir ^ então má terra coidoí
9tí\h^ do Q se ei Rey espantou muito, & quisera o fa-
zer tornar mouro , mas nQca pode , posto ^ ho ameaçou
cõ a morte Q ele não temeo, n6 el rey lha deu por rogo
de seus parentes. E^ tomada por el rey esta cidade , em
que acabou de tomar ^>s lugares que erão seus , tomou
se a seu Reyno muyto ledo & vitorioso com .muytos
rPortugneaes catiuoa.
c A p I T V L O cxvri.
I>e como 0$ outros rey$ das Uhas de Maluco se IcuantarÔB.
V endo el rey deTidore & el rey deBachão q a guer-
ra dosTernates hia auaute com os Portugueses, não qui-
sera maya esperar pêra lha fazerem , como antre todoe
eslaua jurado, pêra o que togo ajuntarão sua gente.,
que foy muyta, & ^tãbS forão ê sua ajuda quatro reys
daa ilhas dos Papuas, que }>er cartas entrarão nesta li-
ga : & forão el rey de Vaigama , el rey de Vaigue , el
rey de Quibibi, & el rey de IMincimbo» Edeterminadoa
estes reys de romperfi a guerra com Tristão dataide,
porque lhe não parecesse que lha fazião por cobiça, não
quiserão catiuar nenhum dos Portugueses que estauã fa-
zSdo crauo em seus senhorios, nem tomarlhe cousa al-
giia do que tinhão. £el reyCachil mir deTidore, man-
dou chamar lorge goterres, loão figueira & outros por-
tugueses ]) lá estauão, & preguntoulhes se querião ficar
coele ou irse pêra a fortaleza, a quedeterminaua de fa-
zer guerra , dizêdo as causas porque« E sabendo deles
MM 2
276 BA HISTORIA DA ÍNDIA
que 86 queriS ir, os mandou y dãdolhes embarcação em
que leuarão tudo o que tiohão : & por eles mandou pu-
bricar a guerra aTrislâo dalayde, que ficou coisso bem
agastado, nA-por medo dos mouros, mas pola falta que
tinha de mantimentos. E a pos estes portugueses que
forão de Tidore, chegarão outros da ilha de IMaquiê &
da de Moutel. El rey Landim de Bachão tambê mâdou
bum Francisco mendez dorta com outros , & todos fora
mortos no caminho por osTernates que os encontrarão,
ou |)or outros seus amigos* Por cuja vingãça quando
Tristão dataide ho soube , foy sobre hum lugar chama*
do Mongue perto da fortaleza, que estaua bê fortaleci^
do de tranqueiras & prouido de mouros, com que Tris-
tão dataide & os Portugueses Q hião coele ouuerâo hiia
braua peleja assi de feridos como dje mortos: &com* tu-
do ho lugar foy entrado. E ho primeiro que entrou foy
hum lorge de brito, de que faley a trás, & carregarão
sobrele tãtos mouros , que ho ouuerão de ma(ar se não
íbra socorrido por hu Baltasar vogado Deuora,. que eii
conheci, muyto valente caualeiro, & por lorge dataide^
& Anlonio de teyue, & por Tristão dataide,. & por ou-
tros, que pelejarão com tanto esforço,^ com quanto os
mouros erão muylos-^ & eles. poucos os fizerão fugir: &.
ficarão feridos lorge de brito, Andce pinto, A nriQ Jor-
ge, Afonso teíiceira^ & outros algiis. E. saqueado ho lu-
gar & queimado, tornouse Tristão dataide pêra a for-
taleza, íicãdo os mouros muyto magoados por a perda
da^le lugar , <J estaua muyto íbcte.
LIVEO YIII. CAPITYLO CXYIII. 277
C A P I T V L O CXVIIT.
Do que fez Tristão datayde prosseguindo a guerra. E de
como Frãcisco de sousa tomou Turutoo.
j\ esle tSpo ehegou a Ternate bii fidalgo cbaroado Si-
mão sodré, em bOa carauela cõ socorro a Tristão datais
de que ho mandaua dõfisteuão da gama capitão de Ala-
laca : & foy por fioroeo , & logo a pos ele chegou loão
de canha pinto de descobrir a ilha deMindanao. Ecom
a vinda destes dous capitães ficou Tristão datayde muy-
to ledo, por trazerS gête, de que tinha grade necessida-
de pêra se defender da^les reys ^ esperaua que fossem
cercar a fortaleza : do ^ eles estauão bS fora , que não
se atreuiSo a isso, por não terem tiros pêra darem bate-
ria^ nem saber pêra ho mais, & por isso determinarão
de lhe fazerem guerra guerreada por mar , & tomar os
Portugueses com íbme. E em quãto se apercebião pêra
isso Dão quis Tristão dataide estar eoioso , porque esta-
va tam apertado, que não tinha outra salua<;ao se nã fa-
zer guerra aos mouros da ilha, &destruyrihes as pouoa-
ções, porque nisso auia algils mantimêtos que se toma-
uão nelas. E porque não pude saber por ordem , nem
particularmête o que fez Tristão dataide na guerra que
teue com os Ternates, & cÕ os outros mouros de fora,
que lhe corriâo por már ate a roouçâo de partirem as
nãos pêra a índia, não posso tambS contar as cousas
por ordem ,. nem particularmente j se não em soma : &
despois da vinda de Simão sodré foy por mandado de
Tristão dataide a hfli| pouoa^ão de mouros, (} estaua
perto da fortaleza sobre h&a serra, a ^ chegou ê ama-
nhecSdo cõ certos Portugueses que hiâ cÕ ele : & deu
nela tâ de supito, {) os mouros ficarão tam salteados,
que não teuerão acordo pêra se defender , & fugirão lo-
go quasi todos, se não algQs que pelejarão quasi nada,
&. ferira hil Português clmmado Fernão da silua.^ E sa^
S78 fU HISTORIA DA I9D1A
queado ho lugar foy queimado, & Simã sodré se tornou
á fortaleza. E fendo TristSo dalaide tau bõ começo em
tempo de tanta desauentura, como era mujto esforçado
&• sabedor na guerra, não quis deixar esfriar esta vito-
ria, & prosseguindo auaate, mandou destruyr per Si-
mão sodré as vilas de Turutó» Palatia, & Calamata, &
nesta fixerâo os mouros muy djura resistência pelejando
brauamante ^ & os Portugueses também , de qoe forão
feridos algutts, & hum deles se cbamaoa Joio freire ,
que ouue cinco feridas, de que despoys esteue em pe<*
rigo de morte. £ na tomada doutra vila chamada Gico,
ho iizerão os Portugueses Iam esforçadamente , qaa &
tomarão & queimarão, & foy ferido hft Baltasar veloso
dbCka espingardada que lhe quebrou hum braço. E con»
todas .estas vitorias estauãoos mouros tam duros no o-
dio que tinbâo a Tristão datayde, que não querião coele
paz , posto que depois lha 4nandott oífrecer per alg&as
vezes , & ho camarão lhes mandaua dizer Q a não des-
sem, porque os Portugueses nã podião durar muyto^
por a grande. falta que ti n hão de mantimStos, que não
auía mays que os que tomauã nas pouoações : com o que
se os mouros esforçauão pêra prosseguirfi a guerra. B
todos os que fugião destes lugares que Simão sodrèdes^
truyo se ajuntara, & assi outros doutras partes^ &fize^
rão hua pouoação sobre hiia rocha no mais alto da ser--
ra, que fenece perto da fortaleza da parte do ponente,
& dali pêra baixo era dambas as bandaa de pena ta«
Jbada , & cercada de dous profundíssimos vales , !) era
medo ouibar pêra bayxo. E a seruentia desta pouoação
era na bicada desta serra, per h&a vereda tam estreita,
que não se podia yr por ela, se não bOa pessoa diante
doutra: & ainda quasi em pés & em mãos, por ser de*
masiadamente ingrime , & com passos muy ásperos. E
a fora isso ho pé da serra por onde era ho caminho, es-*
taua cercado de hãa caua em que auia muy tos esterpes
ao derredor: & perto da pouoação hCa tranqueira bè ar«
tiibada, que goardauão muytos espingardeiros. Nesta
LlVftO TUI. CAPITVLO CXVIII. 279
pouoaçâ que auia oomeTurutó se Unhão o» mouros \yot
seguros por sua fortaleza , & corriãlhe daqui a míude ,
& punhâlhe ciladas, com que faziâo muylo mal aos Por*
tugueses & os puubâ em grande trabalho. O que Tris*
tSo dalaiée sintia em estremo, & mais porque fora duas
vezes pêra destruyr esle lugar & não pode fazer nada*
E vendo que era escusado , por ho caminho que estaua
fortalecido, não quis lá mais tornar, ate não ter quem
soubesse outro caminho menos perigoso: & trabalhando
por auer alguS , mâdou a isso fialtesar vogado , & Este*^
não de cbaues, que deitados em cilada em hQ vale, to*
marão certos mouros, que prometerão a Tristão dataide
de ho leuar a Turutó por caminho sem perigo. E por*
que ho feyto era grande, mandou pedir a Francisco de
sousa que estaua em Talâgame, que ho ajudasse com a
gente ^ tinha , deyxando nos nauios a goarda necessá-
ria. E como Fráoisco de sousa desejaua muyto de seruif
el Rey, foy de muyto boa vontade pêra ho seruir nis-
so. O que visto por Tristão dataide lhe deu a capitania
mòr deste feyto , & não quis ir lá. E deulhe por seus
capitães António de teyue, & António pereira, osquaes
foy assentado (} fossem com a mayor parte da gefite que
bia com Frãciseo de sousa pelo caminho sem perigo, &
Frãcisco de sousa fosse peio perigoso & cometesse ho
lugar, pêra Ç cuydassera os mouros que era toda agen^
te & acodissem ali. £ entre tanto António pereyra &
Anlonío de teyue ho estrarião, & tomariâo. Isto assen-*
tado partiose Frãcisco de sousa bem de noite , • & onde
se fazia ho caminho sem perigo pêra Turutó mandou An-
tónio pereira & António de Teiue que fossem por ele
com as guias Q leuauão , & ele em amanhecSdo se foy
oÕ sua gente dereito á trãqueira dos imigos que como
ho virão derâo btki grande grita, desparando suas bom-
bardadas, que ná empecerão aos Portugueses por esta-
rem mais altas que eles. E vendo que lhes não fazia
nojo çarrarão com a tranqueira , tirãdose de hila parte
& doutra muylas espingardadas» £ nisto chegarão An^
S80 BA HISTORIA DA ÍNDIA
ionio pereira & António de teyue com sua genle &dãQ
por as costas do lugar , entrado cÕ grande estrondo de
gritas & espingardadas , com que os mouros cuydando
Q era todo ho mQdo sobreles, foy ho seu medo tamanho
que fugira a quem mais podia. E francisco de sousa &
os outros capitães os seguirão , matando & ferindo ate
despejarê ho lugar, que logo foy todo queymado Sedes-
truydo com morte de muytos mouros , sem dos Portu-
gueses morrer nenhum. Isto feyto tornouse Francisco
de sousa pêra a fortaleza , onde foy bem recebido por
feyto tam façanhoso.
C A P I T V L O CXIX.
Do que acanteceo a Tristão datayde com a armada dei
rey de Tidore.
V-y^om quanto a perda deste lugar foy rouyto grande
pêra os mouros, não desmayarão pêra deixarem de pros-
seguir a guerra. E pêra a fazerem dali por diante mays
áspera & com mnys sua segurança leuantarão todas aa
pouoaçÕes que ainda lhes íicauão daquela parte do po*
nente, onde estaua a fortaleza, & passarãse pêra a ban-
da do leuante, com o que Tristão dataide ficou roaya
desaliuado, porque como os imigos estauão maya afas-
tados da fortaleza não lhe corrião tanto a miude: mas
dessas vezes que lhe corrião, fazia muy to dano aos Por-
tugueses, tomandulbe ho gado que sahia a pacer, &ca-
tiuãdo os escrauos £| hião ao mato, & quãdo hiã sobre
algQas pouoaçÕes perdião o caminho à mingoa de guias:
& primeiro que chegassem a elas os sentia os mouros,
que como ho mato he muy to çarrado , & a terra muy to
fragosa & sem caminhos , punhãose em passos onde se
podião ajudar deles , & os ferião & matauão sem rece«
berem dano, & recebendo os Portugueses muyto se tor-
nauão sem fazere:m nada. E outras ve^es leuauão íambS
os mouros ho raiihor em algiias pouoaçÕes que os Portu^
LlVfcO VIU. CAPITVLO CXIX. 281
guéses queríão tomar , donde se tornauãp feridos & mal
tratados, defetidêdolhe os mouros que as não tomassem.
£ ho mesmo trabalho que tinhão os da fortaleza, linbSo
os que estauSo em Talãgame com Francisco de sousa
nos nauios da carga, salteandoos os imigos por terra
quando hi3o buscar mantimento, & por mar, principal-
mente despdis que os reys de Tidore, de Geilolo & de
Bachão soltara suas armadas que traziâo por mar , com*
1} dauSo assaz de fadiga a estes Portugueses ^ estauSo
em Talangame , que ás vezes lhes sabiSo em seus pa-
raos & cham panas, mas como erão poucos sempre leua-'
uâo a peor. £ vindo hQa vez certas corascoras de Tido-'
re, sayranlhe os Portugueses, cujos capitães forão hum
Luys do casal valente caualeiro , & hum Fernão anri-
quez , & outros. E receado f>s mouros a artelharia dos
Portugueses , íizerâo volta retirandose , & eles forão de-*
pos eles ás bombardadas: & vendoos fugir seguirãnos
ate 08 meter no porto de Tidore. Do que os mouros se'
ouuerão por muyto injuriados , & determinando de se
vingar, poserão híla cilada de muytas corascoras detras^
de hua põta perto de Talangame, donde mandarão três
que corressem aos nauios dos Portugueses , & se che-
gassem a eles ho mais que podessem, pêra os mais ati-
çarê a sayrihes, & entS se retirassem de vagar, ate os
meterS na cilada , & assi ho fizerão. E leuarão Luys do
casal , & Fernão anriquez, ^ lhe sayrão em dous paraos
ate dobrarem a ponta onde estaua a cilada, & ali volta-
rão sobreles : & nisto sayrão os da cilada, & pegara com'
Luys do casal que acharão diante, & assi como Fernão'
anriquez os vio pegados coele, acolheose pêra Talanga-
me, & deixou Luys do casal, & os outros que ho aju-
dauão, que despoys de pelejarS valentemente forão to-
dos mortos. E os mouros se tornarão pêra Tidore muy-
to ledos , por serem os primeiros que malarã Portugue-
ses em batalha de már, o que lhes parecia impossiuel,
por amor da artelharia a que auião medo, & dali por
diante lho perderão. O que Trislãq dataide sintio tanto
LIVRO VIII. NN
282 BA HISTORIA DA IN0IA
coiiio a perda daqueles Portugueses : & por isso deter-
minou de não deixar passar aquilo sem vingança, &em-
barcouse em sua armada, cujos capitães forão Diogo
sardinha, António de teyue, António pereyra, Baltasar
vogado , Francisco de sousa , Simão sodré , Esteuâo de
chaues, & outros 6dalgos & caualeyros, & partiose pêra
Tidore, cÕ propósito de destruir a cidade mas os mou*
lOS não lhe derão esse vagar, antes ho forão receber ao
mar em sua armada, que era muy grossa a respeito da
de Tristão datayde , que quando os vio ticou espantado
de sua ousadia: & mandando dar fogo a seus tiros, co«
meçoulhes de tirar. E os mouros que lhe não auiã me«
do , fízerâo ho mesmo com os seus , & começase híi bra*
uo jogo de bombardadas & espingardadas, Bse os mou«
ros teuerã os nauios tam íbries como os dos Portugue-
ses sempre aferrarão com eles : & se ho íizerâo não 6*
oara nenhfl viuo dos nossos, porque os mouros erão muy-
tos & bê armados r & porem ho medo de lhe meterS os
nauios no fundo os estornou de aferrarem , nem os Por*
tugueses ousauâo de os aferrar, porque os vião tantos.
£ assi andarão hum bõ pedaço neste jogo. E vendo Tris-
tão datayde quo lhe falecia a poluora & que não fazia
nada , começou de se retirar & os seus coele , ate que
voltarão de todo pêra a fortaleza, seguindoo sempre o&
mouros, & dãdolhe muytas apupadas, ate que se enfa-
darão, & tornarãose peraTidore muy to soberbos coesta^
vitoria, & perderão de todo ho medo que tinhão de Tris-
tão datayde, que elea auiã por mujto esforçado. E en«
tendendo ele os mouros não quis mays sayr da Cot taleza
a pelejar , nem por terra nem por már : & também por
amor do despacho dos nauios da carga, que auião de
partir pêra a índia.
LITRO VIII. CAPITVLO GXX. 88S
CAPITVLO CXX.
De como indo hum tapUôú dei rey dos Mogores sobre Ba*
çaym deyxou de hir com medo dos PortugxAeses.
JCil rey deCambaya (como íica dito a trás) fazendo bo
gouernador a fortaleza em Diu deu hiia sayda por seu
reyno pêra que soubessem que era viuo. £ forão coele
IVIarlim afonso de sousa, & outros sete ou oyto fidalgos:
& andando la soube como el rey dos Mogores tomara a
cidade de Madauá, principal de Cambaya quando seus
reys erSo gentios. E estando el rey de Cambaya em hila
sua cidade, hum dia antemenbaS lhe derSo rebate ^ vi-*
nhão 08 Mogores ^ & foy ho medo tamanho que se os
Mogores forSo tomarSna. E el rey de Cambaya se sahio
Jogo & tornouse a Diu. E cabendo ho gouernador estas
nouas, & receando que os Mogores fossem sobre Baçayra
& ho tomassem, mandou a Garcia de saa que fosse pe«-
ra lá , por ter acabado ho baluarte que tomou a cargo
de fazer na fortaleza , que auia nome Santiago , & deu*
lhe quatrocentos Portugueses que fossem coele : & mât*
doulhe que ajuntasse antre tanto os materiaes pêra hOa
fortaleza que auia dir fazer como acabasse a de Diu : &
assi ho fez. E estado ele em Baça!, chegou hi Gaspar
preto, que fora com embaixada do gouernador a Niza-
uiuluco senhor de Chaul , sobre que nfto fizese guerra a
elrey de Cambaya, que ho concedeo por amor do gouer-
nador: & lhe offreceo sua ajuda: & Gaspar preto disse
a Garcia de sá Q vido de lá pêra Diu teuera por noua \
hia hú capitão do rey dos Mogores sobre Baqaim cooi
vinte mil de caualo, & gSte de pé sem coto, pêra ho
tomar cÕ toda sua comarca, & dalo a Melique tocão ^
fora seflor dele, & se lançara com el rey dos Mogores
no desbarato dei rey de Cambaya. E que os corredores
desta gente chegarão dele tão perto que catiuarã algQs
de sua cÕpanhia, pelo que lhe fora forçado leixar hoca-
NN 2
284 PA HISTORIA DA INDfA
minfao que leuaua & se acolher a Damão, & dali se fora
por már a Baçaim. £ garcía de saa ficou muyto triste
coesta Doua , porque já a tinha , & a gente da terra : &
assi os Portugueses estauão com grade medo por sabe-
rem quantos erSo os Mogores^ & ^es tam poucos. E
por isso Garcia de saa nã se estreueo a esperalos : &
mais quãdo soube quam perto estauâo , porQ a fora não
ter mais de quatrocentos homSs, & os imigos não terem
couto, não tinha onde esperasse seu primeiro Ímpeto se
não no campo, o que era perigo grandíssimo, por^ com
os imigos tirarè nomais {| cada híi sua frecha lhos ma-
tarião todos. E por isso Garcia de saa com ho parecer
de Gaspar preto & doutros, determinou de se embarcar
& irse, o que sinlindo a gente da terra, & algiis mer*
cadores eslrágeiros, que se auíâo por seguros com a es-
tada de Garcia de saa , deranse por perdidos , enten-
dendo que se queria ir, & chorauão sua desauentura.
£ era píadosa cousa de ver ho gritar das molheres, ho
chorar dos meninos, & ho lamenlar dos bomês, & a es-
te som entrouxara os Portugueses seu fato. Ecomo isto
era tamanha quebra do credilo que tinhão, principal-
mente naquele tSpo, em que toda a cõiiança dei rey de
Cãbaya estaua neles, pareceo muyto mal a António gal-
uão, que não sabia o ^ Garcia de saa tinha assentado:
& quando ho soube lhe pareceo muyto mal , & disseJhe.
Vos senhor não me negareys que quãdo aqui viestes por
mãdado do gouemador que não sabieís que os homês
que trazieis não erão mays dos que agora sam , a res-
peyto dos Imigos que nesse tempo imaginastes muy bem
quantos auião de ser , poys querião tomar esla terra , a
^ ho gouernador vos maodaua pêra lhe resistir , & b6
sabieis então que não Unheis onde vos defender se não
no capo pelejando, & poys vos então não escusastes,
podendo ho fazer sem deshonrra, ^ o não sabia ninguS ,
não vos escuseis agora, com ficar deshonrado, & os Por-
tugueses cÕ descrédito poys he em pubrico. £ por sos-
ter este ^ eles ha tantos annos que tem ganhado na In*
LIVBO YIII. CAP1TV1.0 tXXU 2dl
dia , será muylo serui<;o de Deos & dei rej perder as
yidas que durão Ião pouco , & isto vos requeiro da sua
parte que ho faijais, quanto roais que sein as perder ,
nos podemos defender com a artelharia & espingardaria
que temos y Q nos defenderão a dianleyra , & a trasey-
ra ho mar, & mays faremos muy asinha húa tranquey-
ra de quanta raadeyra aqui teinos, que cÕ hfia caua ti-
cará forlissima. £ muytos que estauâo com Garcia de
saa estauão tam assentados em se hir : que não somente
lhes nfto pareceo bê o que dizia António galuâo, mas
nem deixarão Garcia de saa que lhe respondesse, antes
começarão de dizer todos Q era escusado a^le conselho.
£ vendo António galuão Q ho não ^rião poer em prati-
ca, foyse muy to agastado. £ parecendo muy to bS a
Garcia de sá o {| dissera , assentou de ho fazer , & di*
zendo ho a todos foy a pos ele, & louuando lhe muito
seu conselho ho tomou, & pediolhe que fizese a metade
da trãqueira , & assi a fez , cõ o Q gSte assi da terra ,
como estrãgeiros se ajutarão todos cÕ Garcia de sá pêra
ho ajudarê. £ sabendo ho capitão dosMogores quã for-
talecido ele estaua , deixou de yr a Baçaym , & tornou-
se^ CÕ o que os portugueses ganharão muy ta hora &
credito & assi António galuão Q deu ho cõselho.
C A P I T V L O CXXI.
De como el rey de Câbaya quisera fazer hú muro aníre
a nossa fortaleza ^ a cidade.
X^esapressado Baçaim dos Mogores partiose Gaspar
preto pêra Diu, & deu a reposta de Nizamaluco ao go-
vernador {} a disse a ei rey deCambaya, que ficou muy
desaliuado, sabendo que lhe não auia Nizamaluco de
fazer guerra: & então ficou muyto mays descontSte do
(} andaua dates por ter dada a fortaleza em Diu ao go-
vernador , porQ lha dera cõ tencjão que cõ a ajuda (} lhe
desse , deitaria fora de seus rey nos os Mogores , & ele
S86 9A BI8TORIA BA IRDIA
Tia I) ho gooemador nâ podia, pelo ^ se aehoo muito
alcaçado, & ja que oSo tioba remédio pêra ao preaenle
estoruar que oSo ae fizese a fortaleza, determinou de
▼er se a poderia cegar , c5 lãqar h&a parede anlrela &
a cidade , pêra despois j} se ho eonernador fosse fazer
nacjla parede baluartes com i| podesse bater a fortaleza
& lomala. Isto determinado <, mandou dizer ao gouema*
dor por Ninarão capita de Diu , & por ioi de Santiago
seu lingoa !\ lhe deixasse fazer a parede que digo: &
ho gouernador lhes disse Q ele respõderia a el rey por
seu messageiro , & sobre esta reposta fez cÕselho em
que propôs o ^ lhe elrey mâdara dizer, & Marti afonso
de suusa foy de voto que se cÕcedesse a el rey que fi«
zesse a parede, por^ como era apetitoso passarselhebia
anie apetite & nã a faria. E Ferná rodriguez de caste-
Joorãco ouuídor geral & outros disserâo Q por nlifi mo-
do se lhe cõcedese, pori} logo a faria, & feita seria
peor desfazerSlba , & deste voto foy ho gooemador : &
jslo determinado, assentouse ![ Fernaô rodriguez lho
fosse dizer que se a fortaleza era sua, & os portugueses
seus, Q pêra que era aquela parede, & por isso era es-
cusada. £ quSdo lhe Fernaõ rodriguez deu este recado,
el rey se agastou & respSdeo muito aluoroçado, que
queria aquela parede, pêra que hu Português não te-
uesse lugar de yr matar bua vaca a hii seu gStio, ou
fazer outra cousa de ^ se seguisse escândalo antre os
mouros, & os portugueses, o que ele nâo queria por
amor daroizade dStrele & ei Rey de Portugal. E toda-
uia insistia Q auia de fazer a parede, sobre o i| se pas-
sarão algQs recados antrele & ho gouernador, !\ leuaua
fernã rodriguez, & apertado mais el rey em fazer aQla
parede, mãdou dizer ao gouernador que quSdo fizera
coele ho cõtrato das pazes , naõ se obrigara mais (| a
deizaribe fazer bua fortaleza, & nâo a serlhe sogeito, &
segado via ele ho queria sogigar, pois lhe queria jmpe-
dir que naõ fizesse bua parede ê sua terra, que lhe nSo
goardaua ho c5lrato, & sl reposta deste recado foy acor^
LIVAO YUI. GAFITYLO 0S%U £87
4ada em conselho , Q Fernâ rodrigues respondesse a et
rey bo mais brãdaiuête ^ podesse ser , & quando de to^
do em todo insislisse na parede, Q o desenganase (} lha
não auia o gouernador de deixar fazer. E Fernão rodri-
gaea íoj a ei rey, que lhe falaaa pelo Ungoaloâ de San-
tiago, & quando el rej vio que lhe não concedia hogo^
uernadpr a parede, começou de falar alio que lhe não
goardauâo ho contrato em nbfla cousa, & que pedida m'ú
bomês ao goueinador pêra lhe yrS goardar Baroche, &
que lhe nau dera mais de cSto , & pois lhe quebraua a
paz Q auia de fazer a parede^ £ fernão.rodriguez lhe
disse que em nhúa maneira Ibo auia ho gouernador de
conaenlir, porq nS os Portugueses auiãode querer que
lho consentise, do que el rey ficou muyto menScorio, &
chamou perro a loào desantiago, porque lhe dizia tal
cousa, & despois disse que os portugueses ibe chama-
uão doudo , & que ele ho era poâs tizetra o que fez , Sc
porem que iàbem os doudos aientattáo pelo ^ lhe cõpria».
£ coisto se foy Fernão rodriguez , & el rey íicou muito
agastado do des^ano que lhe ele deu , |ior auer aquilo»
por grade quebra , & se ele pcdera logo se vingara do
gouernador, mas como linha pouco poder, & os MDgo*
res eslauâo em Cambaya , não ousou de bolir consigo ,
&dali por diante teue mortal ódio aos portugueses, &
determinou de lhes tomar a fortaleza como teuesse tem-
po , & com tudo dissimulou este ódio , Sc esteue algfla
dias arrufado sem se ver com bo gouernador, a que
mandou dizer por Ninarão,, que pois não queria que fr«
zesse a parede^ que a n& queria fazer, mas que lhe dea-
se gente pêra fazer guerra aos Alogores como Ibe tinha
prometido, sobre ho que bo gouernador teue conselho,
em que foy acordado que lhe náadesse gente , porque
não seria muito pedila elrey pêra a matará treição, que
ae lhe respondesse que Uia não podia dar por ter pouca^
que pêra bo verão que juntaria mais lha daria, &coes«*
ta reposta se agrauou elrey. muy to^ & disse ^ não podia
ho gottiernador negar que Uks nãa compria iio citrato ^
f 88 DA HISTORIA DA INDTA
& poyg asai era 1} ho não podia ajudar ^ buscaria seu
remédio^ & mandou a Ninarão que di^seese ao gouer-
nador como. que bo auisaua que ele se queria yr pera^
Meca. £ sabido iato pelo gouernador logo poa em con-
selbo o que faria, em que foy acordado {| bo deteuessS,
por^ não era tSpo de ho deixarê yr, pela diuisam^auiar
em Câbaya. E cõcertado anlre bo gouernador que se'
vissem, por quãto el rey estaua fora da cidade na quin-'
ta de Melique, virãse na ponta de Diu, onde bo goueis'
nador foy em hfta fusta , & forâo coele Marlim afonso*
de sousa, Manuel de sousa, dom gonçalo coutinho, &
fernão rodriguez de castelo branco ouuidor geral, &Ioam^
da costa secretario do gouernador, a que el rey estaua'
esperado em bfia fusta, acompanhado dalgfis seflores do
seu reyao ate quatro ou cinco , & o gouernador entrou'
na fusta dei rey , & ãbos de dous se meterão no toldo ,*
& os fidalgos & senhores ficarão de fora, & ali fez eirey
h&a comprida pratica ao gouernador, em que lhe resu-
mia as condiçoSs do contrato Q era feito antreles, &que
não sómête lho quebraua em lhe impidir a parede , mas
nem lhe daua a gente que pedia aqueizãdose muytode*
le. E ho gouernador lhe disse que por estar doente lhe
nã respondia, que lhe responderia Fernão rodriguez que
sabia bem aquele negocio, do que sendo el rey coníen-'
te , Fernão rodriguez lhe disse , ^ no cStraio que eie fi-
zera com ho gouernador , não estaua ^ fizese a parede
que dezia antre a fortaleza & a cidade: & por isso não
se deuia de aqueisar dele que lho não goardaua : quan-
to mays que fazendose aquela parede a fortaleza ficaua'
cd a arteibaria cega & não valia nada, o qqe ele não
auia de querer poys a dera liuremente, & poys era pa-
rele tam proueitosa como pêra os Portugueses, ^ erão
todos seus : & estauão ali pêra bo seruir quãdo fosse
tempo, & pori} então bo não era, por ser entrada dia-
uerno, Jhe não daua ho gouernador a gente que lhe pen-
dia ^ com {} por derradeiro nã auia de fazer nada, por-
que a inuernada bo não auia de deixar andar pelo caro»
i
LlVâO Vtll. CA^ITVLO CX%IU 239
po, que pêra bo verSo 1) poderia andar por e)e )be daria*
a gente i\ quisesse , & q^e amda ^ aquilo uã esteuera*
BO isontra to abastara pêra bo fa^er^ a võtade que tinha'
de bo seruir , & que não cuydasse outra cousa : nem ^'
lhe não goar daua o contrato , porque seria sem pezâo ,
& cõtra o que deuia ao desejo que bo gouernador tinba.
de o seruir. £ assi lhe disse outras cousas com que et*
rey abrandou, & íicou satisfeito, & prometeo de se tor-
nar pêra a cidade : & disse que não hia logo com bo go-'
nernatior , por^ não parecese aos mouros que bia por
força: & o gouernador se tornou. Ecomo-el rey era in^p^
constante, ainda despoys disto teue alguas refegas dar-*
repêdimento do que fizera, com t{ mandou aJjfa noyte
engeitar a paz ao gouernador: & polo seu secretario lhe
mandou bo contrato, dizendo {} lho não goardaua : & na
mesma hora foy a ele Fernão rodriguez, per mandado
do gouernador S htía fusta, & acompanhado da sua guar-
da. £ falado a «1 rey bo assessegou de maneira, que ao
outro dia se foy pêra a cidade oomo tinha prometido,
& tornou a ser amigo do gouernador, ainda que fingido,
por(} deterxnioaua de tomar a fortaleza 43omo teuesse
tempo.
€ A P I T V L O CXXII.
Mi
De como os Mogor^ forão desbaratados.
irãomuhmalá sobrinho dei rey deCambaya, que es*
taua na frõtaria de Damão cõtra bo Nizamaluco : des*
poys que vio que os Mogores não ousara dir sobre Ba-
çaim cÕ medo dos Portiigueses, não quis ati estar mays,'
porq Nizamaluco não auia ^e fazer guerra a elrey seu
tio que lhe mandou gente pêra q com a que trnba fosse
fazer guerra aos Mogores q andauSo no reyno de Mã-
dou , a que ele foy leuando ainda mays gente íj lhe Ni-
zamaluco deu pêra bo ajudar naquela guerra : & lá se
ajuntou CÕ alguiis capitães dei rey de Cambava, que ti-
nbão por ele algíias fortalezas , & deles soube como el
LIVRO VIII. o o
390 <OA HISTORIA DA INIUA
rey doiMo|;cre8 era partido pêra bo rey no deBfigalaao
conquislar pela grande fama do tesouro que tinha el rey
de Bengala, & que deiaara em Mandou algfls capitães
c6 gSle de goarnição: a que Mirãaiuhmalá kz logo a
guerra, com ^ oe apertou em eslremo, & assi com fo-
me, por^ como eetauiSo nas fortalezas & nfto erâo senho-
res do capo, não podiâo auer mantimfitos^ & morrerão
muytos á fome , & de trabalho, &'dos outros hus se fo-
ra buscar bo seu rey, outros se ajuntarão cõ Mirzãoba*
met sobrinho do seu rey, que se Iby despoys pêra el rey
deCâbaya, que oõ a diminuy^jão dos Mogores ficou muy-
to fauorecido: & dali por diante lhe acodio muytagête^
oõ que despois cobrou seus seltorios sem ter necessidade
da ajuda dos Portugueses.
C A P I T V L O CXXIIL
De como dom- loâo pereyra Cíq^itâo de Goa desbaraiau
çoltymâo haga.
J^urando a guerra dantre AçadacSo & dd loâo pereira
capitão de Goa , sobre querer tomar as lanadariss de
Salsete & de Bardes, tornou Açadacâo a mãdar sobre-
les çoleymão haga seu capitão com noue mil homês, de
Q erão sete mil Balagatioos , em Q entrauao duzentos
de caualos ligeyros & cincoCta ácubertados & os dous
mil estrangeiros brancos, & destes dous mil os mais fre*
cheiros &espingardeiros. Entrado çoiey mão baga nas ta-
nadarias com esta gente , nSo qulserão os da terra por
seu medo pagar mais as rSdas que dantes pagauâo aos
tanadares Portugueses , que logo escreuerão a dÕ loâo
pereyra capitão de Goa y requerèdolbe ^ lhes acodísse^
a que eh paitio logo cõ quatrocfttoe Portugueses , tre-
zentos de pé, de (^ toy capitã Payo rodrigues daraujo^
& cSto de caualo, em Q entrauào lurdâo de freitas da
ilha da madeira capitão do campo , GaTuão viegas adail
de goa, Maouei de Vasconcelos casado, Galaz viegas^
Livno VIII. CAYITVLO CXXTTK >9I
Dio^o botefbo dandrade^ & outros a í\ nSo Boobé ca no«
neg, & mi) piâes da terra ^ de qoe forSo capitães Crís-
ná & Ralú dous gStios. Coesta gftie partio dom loâo na
entrada de Feuereiro : & cbegadD a Rachol soube ^ es*
taua çoleimS baga dali a hfla legoa, & logo por hua lio*
goa {} tomou soube () era aleoftlado pêra mais Icmge^ cd
medo 4 auia de pelejar coele polo ter por muylo esfoiv
ijado. O ^ sabido por dõ loâ determinou de bo ir bus*
car: & indo polo caminho soube deGaloSo viegas 2} bia
diãte descobrindo ho capo , que çoleimSo estaua cõ sua
gftle na bicada de btia serra dali a duas legoas a cuja
vista chegou aos noue de feuereiro: & seria a espaço de
mea legoa. E quando os Portugueses virão tantos mou*»
ros esjiàtarâse muylo, por nSo saberS dantes quantos
erflo , nè os faziSo a àb loão tantos : a {) algfis disserSo
que se tornasse , porQ seria doudice cometera a tantos
mouros. Do t\ dom loflo ficou muyto agastado por lhe
parecer l\ ho diziflo c0 medo, & ajuntado esses princí*
pays lhes disse* Pareceme sefiores Q vos vè de pouca fé
em nosso senhor, dizerdes que nos tornemos sem come-»
ter estes mouros , como f\ não fossem eles os ^ nos fu*
girSo muytas vezes: & os ^ nos nflca poderão impedir
^ não fizéssemos a fortaleza de Rachol , pois eles náo
sam agora mais esforçados {| então, n8 vos tSdes agora
menos esforço l\ quando vos eles fugirão : 8c o l\ vos pa-
rece (} vos ha de saluar, isso vos deitará a perder de
todo, por{} se vos os Imigos virS tornar cuidarão {) lhe
fugis & cuydfl4o vos siguirão, & pola grande distancia
^ iia daqui á nossa fortaleza , nos matara a todos pri-
meiro H la cheguemos. Por isto c6 a esperãça em nosso
senhor t\ nos dará vitoria, & cd vos fôbrar quantas ve-
zes DOS fugirão demos nestes cães , por(| vedo (\ os cn-»
metemos, eu vos fico (\ logo lhes sobreuenha ho medo Q
nos te, & nos deixe ho campo. £ parecendo isto bS aos
mays , disserflo í\ dessem nos fmigos , 2} neste lepo co«
meçarto de chegar pêra dom loão feytos em três escoa-
drões^ & de tâos feytò bQ arco, em cujas p5tas hião
oo 2
SA> BA HISTOmiA BA INBIA
•0 cada hua cento do8 de caualo ligeyros, & no meoog
acobertados: & sendo a Uro despingarda dos nossos ({[
estauâo feitos em hCl corpo) começão de desparar muy*
tos foguetes ferrados & bombas de fogo, & muylas es*
jMDgardadas , & frechadas sem conto , & dando grades
gritas hifio çarrãdo 1m> arco pêra tomar os nossos no meo,
\ coessa tfiçâo ordenou çoleimão a sua gSte desta ma-
iieyra.. £ certo ^ bia tâo medonba ^ era muyto pêra te»
mer* DÕ lobSo {| vio j} não podia deyxar de ficar no meo,
pori) o arco vioba muyto largo, determinou de dar nos
Imigos ates Q se «garrassem de todo, & mãdou a lurdio
de freitas Q cÕ trita de caualo escolbidos fosse cometer
os acubertados , & nsâdou coele o seu guião & ij ele da»
fia entrelãto em bua das põtas. £ nisto erfto as esfun-
gardadas tãtas da parte dos imigos, & foguetes fura-
dos, & bobas de fogo, ^ algus dos ^ hião cÕlurdão de
fpeytas virarão as costas, mas tornarão logo, parece i|
com vergonha de se saber: & em lurdão de freytas fe-
rindo, deu' ele Santiago em hua das pontas dos imígos,
porem bo medo parece que sallou cÕ os nossos^ que não
abalarão com dom loão mays dos de caualo 4 noue &
deates forão Bento gomez das donas ^ António ferrão,
Bastião rolz , & aos outros seys nã soube os nomes &
os outros de caualo se deyxarão estar quedos , & parte
dos de pé,. & os outros começauão de fugir comospiães
da terra, mas d& loSo cõ quSto o vio, não deyxou de
cometer os mouros cõ os noue (} digo chamando por San^
tiago : & vSdo ^ BasUão rolz hia sem capacete, bradou<^
lhe ^ ho fosse tomar , & ele respõdeo qiie não era tem-
po, & assi sem capacete o fez tão esforçadamête cÕ to-
dos os outros Q os mouros da{}la ponta se começarão lo-
go de desbaratar , vSdo em quã poueo dd loào & os no-
ue tinbão suas esplgardadas , frechadas , bSbas de fogo^
& foguetes, & Q assi se arremessauão aos matar come
homfis ^ não estimauão as vidas, & matando rouyto^
dos mouros os fizerâo fugir, desta ponta, & nisto aços
dio çoleymão baga c5 os da outra & desfezse o arco. B
himO fJU. CAPITVLI) CXXIII. 2'9^
Infido 08 nossos Q ofio abalarão cõ dõ loão eome se des*
baratauft os Imigos eiu j) ele dea cobrarão coração , &
feyios em bfl corpo bo forão ajudar, 8& isso causou não
ho sumir çoleymão & aos ^ estanão coele quâdo acodio
cõ os da sua ponta , & meslurandose bfis cõ os outros
renououse a peleja ^ foy muy braua , por^ âtre os Imi-
gos auia muytOB Parcos & outra gète brâca Q pelejauão
com grade esforço , mas como os nossos ja estauão jun-
tos , & se esquêtauão de cada vez mays , cõ ho feruor
da batalha âzerflo marauilhas por emendar ho passado ,
& matando muytos dos imigos apertarão Ião rijo cÕ os
outros () os fiserâo fugir, & dõ loão cÕ os nossos de ca-
ualo ibe seguio ho encalço bê duas oras , em Ç matou
muytos de caualo, & piães, & muyto mays matara, se
não Q muytos meterão ramos verdes nas toucas como
leuauSo os nossos piâes , & coisso escaparão , & os nos-
sos os seguirão ate htl ria onde os imigos se lançarão &
passara a nado, & algus se afogarão com pressa, assi
Lião cortados de medo, & daly se tornou dõ loão ^o ar^
rayal dos imigos onde foy achada muy rica presa , assi
de fazfida , como darmas & mãtimêtõs , & muytos boys
de carrega & caualos. £ muy tas cabayas ^çoleymão ti-
nha pêra dar aos seus , § primeiro rõpessfi os portugue-
ses. £dõ loão mandou fazer alardo, & achou Q Ibe não
fora morto ningufi : somCte íhe firirão algfls de frecha-
das & zagunchadas, & algfls caualos : No Q nosso seflor
mostrou quâ milagrosa fora aijla vitoria. E dos mouros
se achou Q forão mortos mil & sete centos^ & muytos
eatiuos. Eantre oe mortos foy hQ sobrinho de colei mão,
Q era capitã do capo: & Abedacâo capitão de Gintaco^
ra, caualeyro» de muyio esforço, & de grade estima
antre os mouros. E assi outros muyto pricipaes. £ por
memoria desta tã famosa vitoria, & Q as mouros muyto
sentirão, armou dÕ loão muytos caualeyros, Q se ieue-
rão por muyto ditosos de ho ser em feito tam hõrado»
E isto feyto o Q ficaua daquele dia & parte do outso,
andou dõ loft corrfido a terra ,. pêra ^ soubessem os mo^-
S94 114 HirroiuA. lu nfõiA
radorn Q era tenhor do cSpo, & todos lhe leoaulo muy^
tos preseitles de mantimentos , tÒ prazer de se ▼erem
Hures dos mouros que lhes auorectio grandemente poio
roao (ralo que lhes dana. E dejxando dÕ loão a terra
em paz se tornou a Goa, onde foy recebido com procis*
s2o suJSne, & acbou hi hfi embaixador de çoleimflo ha*
ga , i) da sua parte lhe leuoo bum presente de cousas
ricas 9 & Ibe pregfltou oomo bia da batalha : & se esta*
ua em disposição pêra dar outra: E isto fez çoleymflo
por ficar muyto cõtente do esforço de dõ loão, (( bS vio
como os seus ho desempararSo, & c5 quS poucos come»
terá os mouros. Edõ loáo recebeo bem bo embaiiador^
& lhe fez rauyta hõra & gasalbado, & bo ban!|leou, &
lhe deu hã bo presente pêra çoleymão , & Q the disseso
Q ficara muyto bem desposto da batalha pêra o t\ Iheoô*
prisse: & ainda estaua pêra dar oo Ira. Do l\ çoleimã
ficou muyto ledo, & Açadacã muyto triste vCdo <) nio
podia cobrar al|la8 tanadarias: pdo {| se pode ver Q se
|iodiã tomar todas & sosterse, & () por culpa dos gouer-
nadores se perderSo tanto tèpo tantos mil cruzados que
elas rendem.
C A P I T V L O CXXIIII.
De como foy acabada a fortaleza de Diu j ^ foy come*
cada a de Baçaym.
Jtlo Gouernador ^ fazia a fortaleza em Diu se deu tã(a
pressa em a fazer que a acabou quasi , em quorenta &
noue dias de trabalho, Q foy na fim de Feuereiro de
mil & quinhStos & trinta & seys anos, & acabada pos
lhe nome Sâ Thome , & ficou de trezentas & cincofita
braças ê roda, & de figura triSgular, & tinha os muros
de grossura de deaoyto pés , & daltura de trila palmos
cd as ameas, tinha quatro baluartes, os Ires em trífl«
guio, & o outro no meo, entulhados ale ho primeyro
sobrado , abertos pola. banda de dentro & descubertos fo
LIYRQ ynu CAFITVLO cxxiiir. t9&
cereada de caua , muyto forte & bê artilhada , & fieoa
feito bo cauouco pêra bâa cisterna inuyto grXde. £ ela
acabada deu bo gouernador a capitania a Manuel de
Bousa Deuora, & deulbe noue cStos boJnSs. £ estado ho
gouernador em Diu , vio cõ todoa os fidalgos j| ho ac5«
panbauio^ bfl homS ^ dizia ser de treze tos & quorSta
annos, & assi ho afiirn>aua el rey de Câbaya, & todos
os principaes de Diu & lêbrauase ser toda Câbaya de
gentios, & não auer nenhQa {)ouoa(^o em Diu. Dizia
que quairo vezes se llie pelarão os cabelos brãcos, & ou-
tras lantas lhe tornarão a nacer pretos, & por tãtas ve-
xes lhe cayrâo os dentes , & Ibe tornarão a nacer. £ Q
teuera setecentas molheres. £ho gouernador lhe mfldou
ver ho pulso por hum medico, que lho achou muylo es-
forçado, & no rosto & na faJa bomõ de setenta annos,
& tinha pouca barba & essa preta , era de nação Boga-
Ia, do casta de gètios, fc aiiia muyto que se tornara
mouro. Ho gouernador esteue ainda em Diu quasi ate
fim de Março, & antes de se partir Ninarão capitão de
Diu lhe disse secretamête, que não se íiaua dei rey de
Cãbaya por ser muyto inconstante & cruel , & que re-
ceaua que lhe quisese fazer mal, como fazia a outros (^
lho não mereciâOy |)edindolbe que mãdase a Manuel de
sousa que ho acolhese na fortaleza se teuesse disso ne-
cessidade , & Q ele ho seruiria : cõ o ^ ho gouernador
íblgou muyto, por ter por amigo hil bomC tam princi-
pal como aquele. £ cõ conselho mãdou a Manuel de sou-
sa que ho fauorecese & recolhese na fortaleza se neces-
sário fosse* £ despois se partio pêra Baçaim , a que
ebegou com toda sua armada : & quando vio a trãqueira
que se fez per conselho de António galuâo, gabouha
muyto, & foy logo ver ho sitio onde auia de fazer a for-
taleza pêra a comeijar. £por fazer honra a Autoniogal-
iião que sabia que a merecia por oiuytas vias, quand(>
ouue de abrir os aliceses da fortaleza, mãdoulbe que
desse as primeiras enxadadas, & posesse a primeira pe^
dra, estado iu Garcia de saa, & outros muytos fida%os»
296 JU HISTORIA DA ÍNDIA
£ deixado ho gcuetoudor Garcia de saa pêra a acabar,
partiose pêra Goa, & despoys dalgils dias que chegou
íoy ver a fortaleza de Racboi, sobre o que logo A<;ada-*
cio lhe maodou bua embaixada, que a derribasse &te-
uesseni pazes coino dantes, & que recolhessem ambos
as rendas das tanadarias daquela comarca : & Q as po-
sessero em deposito ate ele maldar dizer a d rey de Por*
tugal da maneirai) lhe dera aquelas tanadarias: &quaR*
do el Rey ouuesse por bê de as tomar , que lhas deixa-
ria ê paz & seria seu amigo como era. E bo gouerna-
dor não quis cÕ cõselbo, dizendo que tinha as tanada*
rias por bõ titulo, poys ho Hidalcâo por amor dele lhe
não fizera guerra.
CAPITVLO CXXV.
De como António Gabiâo partio pêra MoUucom
xlim Goa achou ho gouernador Lionel de lima, que de
parte de Tristão dataide capitão da fortaleza de Terna-*
te, lhe entregou ei rey Tabarija , Pate^arangué, & suas
molheres , & os outros presos , que todos se queixarão
muy to da sem rezão & agrauo j| lhes Tristão dataide fi-*
zera , re^rèdolhe Q visse logo suas culpas , & os cõde»
nasse ou assoluesse : & se as não teuessem ^ os -tornas-
se a mãdar a Maluco nas nãos i] fossem pêra lá. O j|
ho gouernador não quis fazer, ainda ^ sabia ^ não ti-
nha culpa , & nã os quis mãdar ai}le ãno : por não ter
causa de mandar prender Tristão dataide , de que era
muyto grade amigo : & por isso dilatou o despacho dos
presos: do {[ eles se queixauão muyto, & dízião que
tam pouca justiça achauão na índia como em Maluco:
Pêra onde bo gouernador determinou de mandar aquele
anno António galuâo, que tinha a capitania da fortale-
za: por^ per Lionel de lima, & por cartas domSs de
Maluco , soube as anexações que Tristão dataide fazia
sios Portugueses & aos mouros:, pelo Q estaua certo le-
LIVAO TIIT. CAPITVLO CXKV. ?97
uantarse a terra contrele: & a fora isso ficaua étn gnin«
de aperto de fome, & sem auer na feyloria apercebi-
mento pêra a paga do soldo & mantimento da gête &
pêra restauraçâ da^la terra era tnuyto necessário jr hil
capitão esforçado, mãso & de bõa cõsciencia. E como
ho gonernador por experiScia sabia que em António gaU
uâo auia estas qualidades: & sobre tudo sermuytoami-
go do seruiço dei rey , & que outra cousa não desejaua
mais neste mundo, folgou muyto de ele ser ho capilãò
que auia dSlrar na fortaleza, & assi lho disse. E com
quãto ele douuida sabia algâa cousa das desord-Ss & ma«
les ^ auia em Maluco, posto i\ lhe ho corarão dizia que
nS fosse, todavia ^por seruir a Deos & a el rey disse ^
yria. E ho gouernador lhe deu hOa nao pêra jr , sem
lhe lêbrar que a tinha dada a hQ fidalgo chamado Duar*
te de miranda: O que sabendo António galuão, por lhe
não fazer má obra , a tornou a engeftar ao gouernador,
dizSdo ho por!| ho fazia: & tambS por a nao ser muyto
pequena pêra leuar a gente !\ tinha necessidade de Je^
uar, pelo ^ lhe deu outra mayor. Ecomo pêra ir alVIa-
lúco se acha a gSte cõ muyto trabalho, não quis Antó-
nio ealuão terse á ^ lhe ho gouernador poderia dar: &
cõ rogos, dadiuas & promessas doutras mayores^m Ma*
luco, acquirio a niays gête í\ pode, & se partio pêra
Cochim onde se auia dacabar -de despachar : mas nao
achou lá nenhã aparelho pêra isso por Pêro váz vedor
de fazenda não ter dinheiro ^ lhe dar, pelo Q lhe foy
necessário emprestalo a el rey, & deixou de ho leuar
empregado em cousas f\ ho iresdobrara: & hè poderá
sem sua quebra deixar de ir aíjle anno, poys lhe não
dauão auiamêto, como se dera aos capitães passados,
& não quis pelo muyto íj sua ida imporíaua ao seruiço
dei r^Y^ & como i«to sabia nã lhe lêbruu mais seu inte-
resse: & sem lhe ser paga nhua cousa de seu ordenado,
como aos outros capitães, nem a gente !\ ya coeie do
soldo jj Ifae era diuido, se partio de Cochim a oyto de
Mayo .na nao ^ lhe ho gouernador deu, & co outra Q
LIVRO VIII. PP
t98 IML HISTORIA DA ÍNDIA
fretoa á sua custa ^ de ^ fez capitão hil Francisco nu^*
nez , em ^ leuou a mays & niays luzida gSte (| nunca
Iby a Maluco 9 Q por ser muyia, & não caber na sua
aao fretou a^la : & tãbS leuou molheres ^ a ^ fez gran^
des partidos : cõ fundamento de as casar lá cõ Portu-
gueses , assi pêra fazeré gerac^ão , como pêra saberS os
mouros ^ determinauã eles de morar em Maluco, & não
de deixar a terra, £ leuou muyta fazSda de Cambaja
trigo & finho & azeites de Portugal, açúcar & grande
soma de conseruas, pedras datafonas, & serras gran<-
des & pequenas, machados, enxadas, & outras alfayas
necessárias pêra quem lá morasse, que não auia na ler*
ra: & assi leuou ferro & chubo: £com estas duas nãos:
& com outros nauios que hiâo pêra Malaca, todos de»
baixo de sua capiíania se partio de CocJiim*
C A P I T V L O CXXVK
De cOitio el rey de Calicui y se quisera cot^oar em Rq)^
lim , ^ tèâo pode.
v^omo quer Q el rey deCalicut tinha grande ódio a el
rey de Cocfat, por amor dos Portugueses, buscaua sem<-
pre modos {lera ho desiruyr : & o que achou neste teiii<>
po , foy querer coroarse em hu pagode , que está era
lerra de Repelim , <) antre os gentios he casa de grana-
do saotidade : & nela costuroão os reys de Galicut ée
se coroar : & como erâo coroados, era costume irèUie os
outros reys do Malab^ar fazer reuerenciá , t»ao seus so«-
feitos que erão dali por diante. £ por^^ lha el rey de
íochim fosse fazer: & ho prSdesse queria ele coroarse:
& tambê pêra (} se teuesse tempo passar dali a Cochim
te destruik. £ aperoebendose pêra este feyto^ soubehe
el My de Cochim, que ho disse a Pêro vaz vedor da ía^
senda : dízendt^lhe o ^ imporlaua sua ooroaijão : peb (|
Pêro vaz mandou logo goardar ho passo de CVãganor por
onde ei rey de Calicut podia passar a repelnn : & 4leu a
Lívio VIU. CAPITVLO CXKVIT. 19»
cspilania mór desta goafda a hil Pero froez seu paren-
te , que foy em hfia fusta , & três capitães em três ba*
teys^ & os que bião codes erSo todos espigardeiros. E.
por esta goarda: ou por outra cousa, não passou el ref
de Calicui como se esperaiuu
CAPITVLO CXXVII.
De como Xercansurfez guerra a el rey de Bengala^
X^rosseguindoXercansur a guerra cAtra él rey de ben«
gala (como a trás tica dito) desbaratoulhe tfftas vezes
ho seu capitã mór , que hò fez recolher a htia fortaleza
chamada Gort, situada na p5ta de bua serra, que en-
testa no Gãges , & be por ele acima vinte legoas alem
do Gouro, & sòbrela foy Xercansor, & a cercou : & isto
despoys da partida de Diogo rabelo. E sabendo el rey
-de BSgala este desbarato, & qup Xercansur estaua tão
perto cÕ sessenta mil de cauato, & de pé gente sem co-
to, mandou soltar Martim afonso & os outros, pêra a-
judarS a sua gSte na guerra , & assi lho disse. E man-
dou os (| fossem pousar a casa do seu armador mór , ^
por lhes não querer dar pousada , a fora tomar em casa
do mouro valenciano que disse: donde por el rey nãa
se fiar delies, & lhe parecer (\ fugirião, os mandou a-
pousenlar nos seus pa<^s: & el rey rogou a Marti afon-
so, que mãdasse algus Portugnes<*s com gente sua que
(fiierÍA mandar em socorro da fortaleza. E ele se lhe of-
fereceo pêra ir lá em pessoa: o que el rey não quis pc-t
lo receo que tinha de lhe fugir, ou de se ir peraXercJ^
aur, & parecialhe que não indo ele que tornariãoosPor*
togueses 1^ tà fi>ssem. E quando Mar(! albnso vk> a des-
còiíança dei rey, não quis pertiar em jr : & mandou do»
ze Portugueses ^m duas fustas, armadas cõ algfls ber-*
^os; & febrão capitães delas loão de vilbalobos, & loãa
correa, bós eaualeifos, o que fez mnys |)or satisfazer a
el rey, que pot lhe paMeef Q aoíã de fazer algfla cousa
PP 2
soo BA HISTOEIA BA ÍNDIA
o5tra tftta gente: posto Q dos BSgalas forão muytos^ Sc
todoa por már em aimadias, & quando chegarão á forta*^
léza, ja Xercansur a tinha toibada, cÕ morte de muy-
tos dos ^ estauSo dètro. E como os Portugueses erão
tani poucos não poderã fazer nada : nC menos os BSga-
las, & tornarãse. E mais por^ Xercansur, deixado a
fortaleza bS fornecida de gSte se íóy com ho resto pola
ribeira dó Ganges abaixo ate defronte doGouro: cÕ de-
terminação de ho passar dali , & a cercar. E por(} nis-
to auia dauer detêça : mãdou fazer bila tranqueira de-
frõte de hil bayleu das casas, dei rey Q caya sobre o rio*
£ fazSdose esta tranqueira hCis rumes {| morauã em
Bengala cõ enueja do muito cabedal Q el rej fazia dos
Portugueses: se lhe oíTerecerão pêra ir5 impedir <] se
nâ fizese: o !\ auiâ por grade injuria estado eles alj. E
pêra se fazer ho feyto milhor dissera a el rey Q fossem
lamba os Portugueses. O í\ Marti afonso nâ quisera,
pêra í| vira el rey o Q os rumes fazião indo sós : È por
lho el rey rogar, mãdou oyto todos despigardas em nua
f4i8ta bê artilhada , & os rumes forão em duas châpanas
em Q leuauâ aigús tiros a !\ querSdo dar fogo, se acS-
deo na poluora dãbas : & por isso se tornara sem che-
garê á. tranqueira, a {} chegarão os Portugueses, tiran-
do muytas bõbardadas & espingardadas. E como os bê-
galas tinha grade descõfiança dos Portugueses , vêdoos
ião poucos & chegarse tãto á trãqueira, não faltou quê
dissese a el rey ^ estaua no bayleu olhado o Q farião,
que não se chegauã tanto, se não pêra se deitarê. cõ os
Patanes que os fízese tornar , & assi ho fe^. E por sè
tirar da sospeita q tinha determinou de tomar a todos
as armas : dizêdo a Marti afõso Q o não fazia : se não
poios escusar de pelejarê, porQ não queria ^ morresse
nenhíi pêra os mâdar todos viuos ao gouernador. E c6
toda esta desculpa Marti afonso lhe disse, que não dei^
xaua de cuydar ^ ele tinha sospeita dos Portugueses lhe
fugirem & por isso lhes mandaua tomar as armas pedia*
dolhe muy to Q ho não sospeitasse : porque os Fortttgu&-
LIVRO Vllf. CAPITVLQ CXXVIII. 30Í
868 érSò tam leays Q não auião de fugir: posto que ete
iiâo ficara em ierra^ quanto mays ficando : & que quan-^
to fazião era com desejo de ho seruirem , por amor daa
mercês que lhes fazia. & assi ]be disse outras cousas.^
abonãdoos* £ el rey lhe deu por desculpa o que tinha
dito.
C A P I T V L O CXXVIII.
De como el rey de Bengala fez paz c6 Xercansur.
jLjLcabada a tranqueira queXercSsur mãdou fazer, de-
terminou dapertar mays ho cerco , & mandou passar
muyta parte da sua gente da bãda da cidade , que pas-
sou em almadias, por não ter outra embarcaçã: & por
ho rio ser estreyto passauã os caualos & os alifanles a
nado, & cada ha leuaua atados nas ilhargas dous odres
de peies de vacas, porque os não leuasse a corrente da-
goa que he grandíssima. E vCdo el rey que passauâo,
ifiâdose ja de Marlim afonso, rogoulhe que se podesse
estoruasse a passagS bos imigos : £ ele foy em hfi pa-
rao : & mandou a Duarte dazeuedo que fosse em outro,
& leuarão os Portugueses que erâo quinze ou pouco mais.
& assi forão muytos BSgalas, que como virão os pala*
nes fugirá logo , tamanho medo lhe auião , & os Portu-
gueses ficara sós & por serem tam poucos não poderã
pelejar coro os Patanes : & mays porque algus que co-
meterão pêra isso se afastara , tirandolhes muylas fre-
chadas : & deixarãlhes dous alifãtes , que qs Portugue-
ses lhes tomara. £ vedo Marli afònso Q nã podia mayò
fazer , tornouse a terra , & leuou os alifantes a el rey Q
tudo vio donde estaua : & como os Bêgalas fugiirão , &
deu muytos agardecimõtos a Martim afonso, Q acodio
logo cÕ os Portugueses , & Bêgalas à parte por onde os
Patanes poderiâo cometer a cidade, Q estaua cercada
de tran^yras cõ algíia artelharia : Porem os Patanes nã
curarão disso , nS fizerão mays despoys de desembarca-
ra y ^ assentar seu arrayal ^ assi estes como os Q des^
SOS DA HISTORIA BA ÍNDIA
poyt patearlo ^ no (} se deteueráo aigOt dias , & el rey
ficou i& cdtente do esforço {) Marti afunso mostrou atjto
dia em licar cd os Portugueses antre os Palanes^ de»*
Eoys de os Bengalas fugirS, 4 lhe mandou dar hfla ca^
ajra & mil tangas de Bftgala, ^ sam doas mil & qui**
nhenlas das da Índia, {{ pola moeda Portuguesa , erto
cêto & quorenia & cico mil rs^ St dali por diante lhe
mandou dar pêra comer seys tâgas cada dia, {{ erSo no-
ue eêíos rs^ {{ por a terra ser tá barata como disse no
liuro quarto, fundiSo mays do que ca fundo dez cruza*
éo9. E a cada hi dos Portugueses midou dar bua tàga^
l| eles poupauao, por iVlartl afSso lhes dar de comer, a
^ el rey cíali por diâte ficou tá afeiçoado & tinha nela
tamanho credito, ^ lhe prometeo de dar lugar ao go^
uernador pêra i} fizesse hfia fortaleza 8 ChatieJIo & oum
tra em Satígão, & mais por^ preguntando a Martim a*
fonso, se lhe mandaria o gouernador mil Portugueses
pêra bo ajiKiarem, & artelharia, lhe disse <^ syv R po«
rem porí) isto auia de ser cft irftprímeyro á Índia &tor-«
narS, o {| ele nXo podia esperar^ per XercSsur apertav
muylo bo cerco, começou de tratar coele paz, do que
deu cota a Mart! a(bnso, & 2^ XercSsur Ibe pedia por
lhe dar paz treze leques douro: & cada \eJ^ té qu^irenfa
& cinco mil pardaos, que fiaziS soaaa de quinhentos A
vinte doo mil pardaos. E Martim afonso lhe disse q não
deuia de dar aíjle dinheiro, porqjiio co«»Ie Ihn» auia Xer*
cãsur de fazer guerra: & com tudo el rey nato deyxou
de o dar, cõ condi^^fl {) Xercansur ficasse seu vassalo,
& primeiro 1\ se ftjsse lhe fizesse reuerêcia , & ele lha
fez da borda do rio estando antre sua gente, & el rey
defronte no seu baylt*u, & diziasse I^ ele dera a Xer*
cansur outros treze leques secretamfite por fazer pas
coele, assi polo aperto em que estaua, como tamhS
polo muylo f\ perdia na guerra. B não se espante nin«
gts& deste rey^ dar tanto dinbeyro: pv^que el rey dd
Câbaya disse em Diu ae gnuernador Nuno da cunha,
qtie bo tesouro dd rey de Bengala sra tosiaobo coma
LIVRO VIII* CÀPITVI-O CXX^VIIK 803
ho seu , & como ho dei Rey de Narsinga , que erão do»
nayores que se sabiâo naquelas partes. £ posto que el
rey ficou desapressado da guerra de Xercansur nõ por
isso deyxòu de fazer a JVIartI afoAaa h honrra ^ ifae dan-
tes fazia , eõ que estaua tSo acreditado na corte , que
inuytos senhores & outras pessoas principaes ho toma-
São por tercéyro cõ el rey 9 pelo 4 era muyto hoarrado
e lodos, & lhe mandauáo muytos presentes , & por a^
mor dele erâo niuy estimadoa os outros Portugueses^ &;
andauio nuyto lussidos & tam seguros como em Lisboa»
£ eJ rey despoya de se ver iíure da guerra ^ ou por ou*-
tra causa , mudou a võtade j} tinha de dar fortalezas a
el Rey de PortugjJ 6 Chatjgã & Satigão^ se nio as at-
íandegas c5 casas de feytoria , & ani ho disse a Max^
lim afonso, que lhe Ifihrou ^ não prometera se nâo for^
ialezas : & por^ vio Q el rey nâo estaaa nisso não quis
perfiar, & disselhe que desse o qoe quisesse. £ por dpea
rogo fez el rey juyz da alfandega de Chatigão a Nuno
fernãdez freyre, dãdolhe htl grade circuito de casas ^
em ^ morauS mouros & gêtios , pêra ^ r^desse patele^
& o Q rendesse a chapa de chatigã , & ibe deu outros
mujtos poderes de 4 todoa os da terra estaufio espanta*-
dos , ser el rey t2 amigo dos Portugueaes , i} os (}ria aiv-
reygar na terra* E ho juyz dalíSdega de Sategfio Q era
menosy deu a loâ correa, & logo ele & Nuno fernandez
se forão pêra estas duas cidades a seruir seus officios ,
do Q os Goazís delas estauft muy tristes , porQ lhes ti--
rauâo ho poder ^ tinha, prkípalmente ho de Chatigdp
^ era mayor. .
80é BA HISTORIA DA INDU
C A P I T V L O CXXIX.
De como el rey Dugentana ftz paz c6 dom Esteuão da
yama.
.xjLtras fica dito, como despoys Q el rey DugCUna fof
desbaratado por dom E^teuft da gama, & destriiyda sua
fortaleza, (| fez outra mais pelo rio acima, dõde fazia
guerra a Malaca como dantes. E determinado do Este-
uão de ho destruyr , tornou a fazer hQa armada como a
.^ ieuara da outra vez & partiose pêra iá, & sendo jun-
to do rio de Muar lhe deu hua toruoada cõ que se ala*
gou hua fusta em ^ ele hia , indo dõ Esteuâo em hã
bailéu , Q hia sobre bo tSdal da fusta , Q se despregou
quâdo se a fusta foy ao fundo, em JJ morrerito quatro
dos nossos, & os outros escaparão, & assi escapou d5
Esteuão no bayleu, & perdeose bua arca com a sua pra-
ta. E vendo isto todos os da frota, lhe disserão () se tor-
nasse & não fosse auante, & !( se reformaria doutra fus*
ta & de gente : como que tomauão aquele desastre por
mao pronostico, o l\ ele não quis fazer, mostrado muy*
to esforço, dizfido t\ não cria em agoiros, & Q esperaua
em nosso silor de ser tão ditoso na(|la empressa como
fora na outra. Eassi fciy ^ destruyo a fortaleza õ el rey
Dugêtana ttnha muyto forte, & bS artilhada & com
niuyla gête, & lha queymou & tomou a artelharia. E
pori) o não pude saber particularmente ho digo è soma,
& assi lhe tomou algOas tacharas, & se tornou pêra Ma*
laca. E vendo el rey DugStana que não se podia defen-
der de dõ Esteuão, lhe mãdou cometer pazes por seu
embayxador, & ele lhas outorgou coestas cÕdiçÕes Q
daly por díâte não fizesse mays nauíos de guerra & os
Q teuesse fossem pêra seruir cõ mercadorias, & que pa-
gasse de páreas cadano a el rey de Portugal duas lan-
charas aparelhadas, (\ lhe auia de mandar a Malaca, &
Q em nhu nauio ^ fosse a Malaca , não fizesse nenbua
força item roubo. E quSdo os capitães deMakca leues-
êè necessidade de renoeyros ou doutra qualQr cousa lhos
desse, & quãdo seus imigos lhe íizessS guerra, ou se
rebelasse algua terra o fizesse saber ao capitã de IMaia-
ca pêra o ajudar: &auia de ser vassallo dei rey dePor«
tugal. E disto tudo se fizera escrituras assinadas por el
rey & por dõEsteuão, & ficarão dali por diante em paz.
E despoys disto mandou dÕ Esteuã hu fidalgo chamada
António de sousa por capitão mór de cinco fustas, a bua
cidade chamada Pêra quorenta legoas de Malaca pêra
o norte: cujo rey tinha paz cÕ el rey de Portugal, E.
sSdo António de sousa na costa deste reyno achou hCi
capitã dei rey de Pêra chamado Tuãomarra pelejado
em hua lanchara cd dous jnngos (\ bo tratauão mal. E
conhecêdo António de sousa quS era lhe acodio & com'
sua chegada fugirão os jungos. E Tuão marra lhe disse
que a{}les jtigos erã da cõpanhia de Tuão mafnmede ca-
pitão mor do m«ór dei reyDngStana, com quS tinha de-
ferença porí) acolhera em hã }un£ro (daíjFes com {) ho
achara pelejado) certos vassalos dei rey de Pêra, ^ se
lhe leuantarão cõ muyta fazenda, & hião fugidos pêra
AchS, cujo rey era imigo dei rey de Pêra amigo dei
rey de Portugal. E poys el rey dugSlana ho era tambS,
& Tuão mafamede «ra seu vassalo, Hie pedia i\ fízesse
coele que lhe entregasse os aleuantados. E António de
sousa lhe disse que si : & forãse ambos em busca de
Tuão mafamede, ^ andaua hi perto : & auendo ele vis*'
la deles cuydou que hião pêra pelejar coele, pos se em'
defensam, começando logo de lhe tirar ás bõbardadas.
E posto q António de sousa nem Tuãomarra lhe nã ti-
rauào, & leuantarão bandeira de paz, ele não deixaua
de tirar, parecendolhe q bo querião tomar cõ engano.
Pelo q foy forçado a António de sousa & a Tuão marra,
tirarSIhe lambS com sua artelharia : o !\ ele \'Sdo ouue
logo medo pelo pensamento ^ trazia & fugio : & porque
ho seguião, parecCdolhe que não podia escapar, làçouse
ao mar ferido em bua perna de hua. espingardada&assi
LIVRO VIII. aa
ZOê 1>A HliTOBIA DA INBIA
M acolheo a terra ^ era perto , & lá morreo da
que leuaua , & o mesmo fizerão oe aeui» , & a lanebara
em que andaua ficou em poder de António de sou8a«
Tomada esta iáchara Anlonio de sousa foy logo pelejar
cÕ bo jungo do8 aieuãtados, que lhe Tuâo marra moa-
trou , & foráo coele três fustas de sua oooserua : os do
jjungo erão muylos & homSs de feilo, & leuauSo muyía
artelharia) & poristo se defendião valenlemenie , posto
Q os nossos pelejauão eom muyto esfonjo? ^ '^^^ faziâo
muyto dãoo. E indo António de sousa pêra aferrar ho
jQgo, desparou dele hila bõbardada que lhe deu por hu
giolbo ÍÍ0 leuoulbe a perna em pedais , & ele cayo ao
már j por eslár em lugar pêra isso, & como bia armado
foise logo ao fúdo. E morto Anlonio de sousa , os nos^
SOS deixara bo jungo & t<imbê por ser noite ^ & os j|
bião nele se forilo na volta do már , & os no98os se lor*
narâo a Malaca com a lanchara de Tuão mafamede.
C A P I T V L O CXXX.
De como Tristão datayde mâdou pedir socorro.
Jljntrado ho mes de laneiro do 8no deM.D.xxxvj. em
Q as nãos auiâo de partir de Maluco pêra a Índia, des-
pachou Tristão dataide todos os junges de mercadores
que eslauâo pêra partir, porQ lhe leuauSo bo seu crauo
de graça. E nuca quis que a nao Sanclisprito que era
dei rey tomasse carrega, dizendo Q eirey não tinha cra-
uo coque se carregasse, sobre o ^ Rodrigo rabelo fey-
tor desta nao ihe fez bà requerimento, dizendo ^ de-
fendesse que ninguè c5prasse crauo ate ai|la nao ser car-
regada, como o gouernador Nuno da cunha mandaua
por hil seu aluará, ^ logo lhe apresentou , em i} tambS
defêdia c| na fosse de vazio pola perda Q el rey recebe-
ria nisso: & Q auia muilo crauo ^ ele daua aos jungos
dos mercadores por lhe leuarê bo seu de graça. E tris*
tão dataide nfto quis, & deixou ficar a nao : sobre o qiim
LIVRO VIU. CAPITVLO CXXXI. 807
Rodrigo rabelo lhe fez outro requerimento, dizendo ^
se perderia a nao de todo se ficasse , por auer dous an*
nos {[ não fora tirada a mole , & apodreceria & se co<«
meria do gusano. £ cõ tudo Tristão dalaide não quis ,
antes ho tratou muyto ma] de palaura, & lhe quis dali
por diante mal. Tamb6 Tristão dataide mandou nesta
mduçfio Diogo sardinha capitão mõr do mâr da fortale*
Ka, com cartas & requerimentos pêra ho capitão que es-»
teuesse em Banda , & pêra ho de Malaca, & pêra ho
gouernador da índia, em !\ lhes auia a fortaleza por em-*
campada se lhe não mandassem logo socorro de gente,
armas & mantimentos pêra a guerra que lhe os mouroé
faaiék), contado quâ apertada era, & a necessidade em
que èstaua: & mâdoubo em hQa barcaça em que auia
de tornar de Banda loã de canha pinto que hia coele.
£ a pos ele mandou hA Dinis de payua cõ os mesmos
requerimentos. £ chegados a Banda achara por capitão
Anrique roendez de vascõcelos, de ^ fíz menção a traz,
que vistos os requerimentos & cartas de Tristão datai-*
de , lhe mãdou logo bt> mais socorro que pode , assi de
mantimentos, de gente darmas & munições, & mandou-
lho em hfl jungo, de que foy por capitão hil fidalgo Cas-»
telhano chamado dõ Fernãdo deMÕroy. EtambS hil pi->
loto l\ auia nome Luys froez cõprou hQ jungo, £c carrega-
do de mantimentos com algus portugueses () acquirio, se
foy em companhia de dõ Fernando, & loão de canha pinto^
C A P I T V L o CXXXI.
De canto o$ mouros quiserâo queytnar k&a nao dos' PoT'*
tugueses ^ não poderão.
V endo estes reys das ilhas de Maluco a defensam ^
acbauão nos Portugueses, determinarão de queimar á
nao Santisprito Q estaua em Talangame, de í\ era ca*
pitão Francisco de sousa: & ho jQgo de Fernão anriques
Q se estauá acabando, & eslaua fortalecido com bfiatran'^
cia 2
SOS DA HISTORIA DA INIHA
queira* E esta queima auia de ser de^angadas de ma*
deira sobre joangas, melida por antreia iDuyla rama se-
ca, & assi breu & alcalrSo: & em quanlo se islo fazia
cessarão suas armadas de audar no mar^ de que hll dia
desaparecera 9 & tardarão bè dous meses em tornar , o
que foy grade hè pêra Tristão dataide & os ^ coele es«
tauâo , que nesLe tSpo descansarão dos grandes traba*
lhos da guerra : porc) nem por terra lhes dauào os !mi-
gos rebates, & podiao seguramõte yr buscar mantimen-
tos hQa legoa da fortaleza, em que nãoáchauàonentms,
por serS todos os çagueiros cortados, & assi palmeiras^
& as eruas, que não auia aruore nè erua de que se po-
dessem aproueitar, !\ eles por hQ cabo & os da terra
polo outro tudo tinhão leuado: &da terra não Iheiicaua
já outro mantimêto que podessem auer mays facilmente
q«ue bo pescado & marisco: aiada i| er a muytocaro,
por não auer quõ bo vendesse se não ho camarão i) o
mâdaua pescar, & vendiao mQyto á sua võtade que.da-
ua bua sardinha por cincoêta rs, & hila cauala por seys
vintSs. E bem mostraua ser immigo dos Portugueses ,
qxie nenhila piedade auia deles ainda que os visse doen<-
tes , nem os socorria como fazia Cachil daroes no tem-
fo de António de brito, que os remediaua &acodiacom
o que tinha, como que fora pay de todos. £ inda que
08 portugueses andauão muy escãdalizados do camarão,
por ealenderS sua roindade, dissimulauão por amor de
Tristão dataide que sabia que era seu amigo: & fuy a
fome tamanha antre os Portugueses , que não ficou cão
nem gato, nê bogio, nê ratos, que nao fossem comi-
dos, & era a carestia tamanha dalgfls mâtmiêto» que
auia, que era cousa espãtosa , porQ hQ alqueire darroz
valia cinco cruzados, & híia jarra de <jagu vinte cinco
cruzados & trinta, & não abaataua a hum só home mais
q bú mes, & ainda a não comer muito, hum fiorco vin-
te mil rs, & baa cabra oyto mil, & bua galinha quatre
cruzados & hij ouo trinta rs , bCia jarra de vinho da ter-
ra dezaseys cruzados, & htla pipa de vinho de Portugal
z
LIVRO VIU. CAPITVLO CnXU 809
cem mil reys, & a irezStos cruzados a escolher. HQa
panela pêra fazer de curaer hú tostão &mays. Húasaya
de malha, ainda que fosse roym cento & cento & cin*^
coenta cruzados, hua espingarda trinta, hiia lança vin*
te & cinco, & húa espada ho mesmo, & bQa adarga
outro tanto: & hCl punhal doze cruzados, bo veslido &
calejado não tinhão preço. E com quanto esta careslia
era tamanha, & a gente fosse grandemente atonnenla-
da da fgme , sentião algCL descanso em se verem desa-
pressados da guerra estes duus meses. Se não quando
bum dia subitamête em amanhecendo aparecem ao mar
deTalâgame bê trezentas veias dos Imigos que cobriáo
bo már, & foy muy medonha cousa de ver pêra os Por-
tugueses. E por terra apareceo tambS muy(a gête de
guerra : & era a causa , porQ em quãto as jâgadas de
madeira que vinhão coesta frota queimassem a uno &
outros nauios, acederia a gente ix>r terra a dar na trã*
queira, & queimaiahia cõ o jugo t) estaua em (erra: &
isto auia de ser em decendo a maré* Vendo Frâcisco de
sousa este aparato deulhe na vontade ho pêra i) podia
ser: & como era muito esforçado não se toruou , antes
teue muy bÕ cÕseiho pêra atalhar aos mouros Q lhe não
queimassem a nao, cercandoa cÕ muytas vigas derlada«
nagoa, & bê amarradas ^ esteuessem Qdas, pêra que
as jangadas de fogo não podessê chegar á nao : & nisto
gaslou a!)le dia : Q tãbê os mouros gastarão em chega-
rê a Talangame, onde Frâcisco de sousa os recebeo cd
muitas bõbardadas que a nao & o jQgo tirauão muy a
miude, & assi os outros nauios, com ^ lhe não poderão
chegar: nê a gente da terra bulia consigo: esperado ^
os do már fizesse obra, & cuioo foy noyte mandou Fran-
cisco de sousa hu home por terra dizer a Tristão datai-
de como ficaua , {[ lhe acodisse : & por ele respondeo (^
logo hia. E auido conselho , mandou da melhor gente
da fortaleza nesses nauios que tinha > de Q foy por ca*
pitão mor hii fidalgo homê^ didade Q auia nome EsteuS
de chaues, & fora os capitães Autonio pereira, lorge
810 DA msrOKÍÁ DA iumA
dalaide, António de teiue, Lujê de braga, lorge de
brito, loã figueira, Baltesar veloso, Balíesar vogado,
lorge golerrez, & outros {) partirá cõ o nauio bê arli*
Ihado : & em chegado a tiro de ber^ da frota dos mou*
ros pofi a proa neles desparãdo seus tiros , a Q eles res*
põderã cõ os seus, que como nfto erão tam furiosos: nã
lhe faziâo tanto dano como recebião, & por isso lhes de*
râo lugar que entrassem^ E! vSdoos FrScisco de sousa
vir saltou cõ outros nesses paraos i| tinhSo, & jOtos cõ
os que vinhaõ em socorro remete as jangadas que esta*»
uâo em seco cõ ho peso da madeira , & poserâlhes ho
fogo cõ panelas de poluora , & a pesar dos mouros do
mar & da terra que as querião defender arderam todas,
& sobristo forâo feridos algus de hfla parte & da outra*
£ como os mouros virão arder as jangadas, & que não
tinbSo remédio, afastarâse assi os da terra como os do
mar , & forãse dãdolhe os Portugueses grandes apupa*»
das, & Esteuão de chaues se tornou pêra a fortaleza,
onde derão muitas gra<^as a nosso senhor por tamanha vi«^
toria.
C A P I T V L O CXXXII.
De como Tristão datayde tomou cometer paz aos mou^
ros ^ naô quiserão.
JL arecendo a Tristão dataide, {| coesta vitoria ficariam
os imigos mays brados, quis verse querião paz, o ^
uiãdou cometer polo camarão, & eles respõderão como
dates, & diziase que por conselho do mesmo camarão,
que lhe descobria ho aperto de fome em !\ os Portugue-
ses estauâo. E por dar a entender que falaua nas pa-
zes, falaua alto na lingoa Malaya, por^ auia algijs que
a entendtão : & ho seu filho mais velho {| andaua cõ os
mouros como ho via fazia que pelejaua coele, &dizialhd
na lingoa Malaya porque não se passaua pêra os mou*
ros, & estaua com os perros dos Portugueses , & ele
lhe respondia cÕ gtãde fúria que melhor estaria eJe &
LIVBO VIU. CáPiTVl.0 CXXXII. 011
6eu8 amigdB com os Portugueses, de Q tinhão mais ne*
cessidade que dos mouros , & aolrislo lhe dizia por hua
lingoagem ^ ba na terra, que he como ho latim anlre
DOS (que nenhCl português eotSdia) as necessidades em
que eJes estauão, & que não cessassem da guerra, 4
muy asinha os tomariâo cõ fome , & por dessimuiaçãò
yinhão nesta pratica a pelejar, & ho lilho moslraua ao
pay os cotouelos & as solas dos pés, que he como antre
DOS ho mostrar das figas, que he ho mayor desprezo &
injuria que hQa pessoa pode fazer a outra. E sabendo
Tristão datayde como os mouros não ^riflo paz , tornou
a prosseguir a guerra ho mais brauamente que pode,
assi por mar correndo a ilha ao derredor, como por ter-
ra indo sobre algus lugares que tomaua : & aos mouros
que catiuaua deles mandaua assar: & fazia os portu-
gueses Q os comiâo, pêra se manterem cueles, & ou-
tros mandaua aos mouros cõ as maÕs cortadas, & ore-
lhas , & narizes , pêra que os espãtasse quàdo soubes--
sem que os assauão, mãdãdolhes dizer Q assi auia de fa-r
^er a lodos. E mandado hil dia assi hu destes , por naõ
yr daquela maneira onde os seus naturays ho vissçm ,
determinou de se matar, & por não ter com ^ , se dei-»
tou nagoa de que bebeo tania que se afogou, do que os
Eortugueses ficarão espantados. £ chegando neste tSpo
o socorro que hia de Bãda , como disse atras , pêra
Tristão datayde fazer mais guerra aos mouros, tomou*
lhe os dous melhores portos que tinhão, que erâo ho de
Toloco, & ho deTabãga, & no deTolo«o mandou poer
bOa barcaga, de que era capitão loã de canha pinto,
com trinta homSs, & hiia carauela com outros tantos no
de Tabãga. £ estes nauios estauão ali como fortalezas:
& em aparecendo os mouros por màr, ou por terra, ti-
rauanlhe com a artelharia , & a fora isso estauão os na«
pios de nemo repartidos nestes dous portos , & dali cor-
riâo k costa da ilfaa, & fasíão quaoto dano podião. E
por^ os ca|Htães nau podião dar de comer muy to tSpo
aos soldados ^ andauão ooeles , revezaua Tristão d^taU
S12 0A HISTORIA DA INDfA
de as capitanias a qu6 podia dar de comer, & desta ma-
neira «oslinha a guerra: de f\ tambè os mouros da ilha
estauâo muyto apressados por estarS encerrados. E ain-
da (| as armadas de seus Imigos que andauão pelo miv
erã muytas não podiâo defender aos Portugueses que
lhes na fizessem guerra nem podiSo aferrar coelas, por
amor das cangalhas das suas joangas & corascoras que
deitauão mnylo pêra fora como postiçis de galé, &may9
erão taai fracas^ que auia medo {[ qualquer tiro que
lhe« desse as íizese em pedaços, que se isso não fora^
não deixarão daferrar cõ os Portugueses como despoysfi*
zerão
C A P I T V L O cxxxiir.
De como Tristão dataide destruhio a cidade do Toloco. '
Jl rosseguindo assi Tristão dataide a guerra còtra od
mouros, determinou de tomar a cidade deToloco, cuja
}>ouoação mudará pêra cima da serra onde estauào rouy-^
to fortes : & auida por Tristão dataide hfia guia que o
leuasse a esta cidade, ordenou de a tomar, &que Fran-
cisco de sousa fosse com cincoenta homês escolhidos pe^
la bãda da terra, por onde ho leuaua ho guia, & ele co^
meteria da parte do már^ por() os mouros acodissemalí,
& deixassem despejada a parte da terra, & assi se fez,
que em rompendo bo dia, se mostrou Tristão dataide
da banda do már cõ sua gente, tocando suas trombe-
tas, & desparando sua espingardaria, a que os mouros
acodirão logo, deixado cair da rocha muytas & grande^
gatgas & vigas, & tirando espingardadas, & muytos ar*
remessos com que ferirão algus dos Portugueses : &nis^
to chegou Francisco de sousa pela banda da terra &
deulhe nas costas: o ;| lhe fez tamanho medo que fugi*
rão pêra ho mato: & os Portugueses entrarão a cidade^
& saqueada dos mantimentos foy queimada & destruy-
da, do {} os mouros da ilha ficarão muyto quebrados,
{K)rque vendo Iam asinha destroida a<|la força Q era tam
LIVRO ^ni. -CAPtTVLô CmCIlI. »13
forte, pareceolhes Q era por demays defenderSse aos
Portugueses ^ a ^ viSo que dauSo de comer nos manti-
mentos !\ lhes eles tomauão, pelo {) mandara dizer a el
reyCachíl dayalo que estaua em Tidore, que lhes des-
se licença pêra despouoarem de todo a ilha deTernate^
dãdolhe as causas que auia pêra isso. £ como ele nS
desejaua outra cousa , parecSdoIhe {| com isso danefica-
ua muyto os Portugueses , respondeo que si : com ho
parecer dei rey de Tidore & dos outros reys. E porque
a ilha não se podia assi despejar, por amor da nossa ar-
mada, consultarão ho modo ^ terião pêra a despejarem
a seu saluo: & em quanto tomauâo este conselho, não
andauão suas armadas no mar, tam continuas como cos-
tumauão: o que vendo Tristão datayde determinou de
mãdar saltear ho reyno de Geylolo, de que lhe pareceo
^ el rey estaria muy descuidado, por lhe parecer que
em tal tempo não ousaria Tristão dataide de mandar lá
sua armada que logo mãdou, & por capitão mór Antó-
nio pereira capitão mór do már, & coele os outros capi-
tães nomeados a trás, & assi o camarão. E chegado an-
temenhaã a Geilolo, sayrão em terra & queymarão hOa
mezquita que estaua junto da praya: &aoodido osGey«
lolos , os Portugueses se embarcarão logo sem afronta :
nas «m outro lugar pequeno que quiserão cometer mays
a diante, a receberão assaz, i\ oonK> a terra estaua a-
pelidada sayrã logo os mouros a recebelos á praya, &
fezerãnos Sbarcar em !) lhes pez, & matarãlhe hií ho-
Júè: & coisto feito se tornarão pêra casa, ficando os
mouros muyto soberbos, por resistirS daquela maneira
aos Portugueses : a que de todo perderão ho medo.
LIVRO YIII. KR
S14 OA HI8T0RIA DA ÍNDIA
C A P I T V L O CXXXIIII.
JDe como foy morto poios mouros Baltesar vogado.
JlXo conselho que estes reys ouuerão pera se despejar
a ilha a saluo da sua gente, foy Q cometessem fjaz a
Trislâo dataide, pera ^ mandasse despejar os portos que
tioha pejados j & ir& ali suas armadas de noy te tomar a
gente, & passala aGeyloIo pera onde auia dir, pornâa
caber em Tidore. E sabido pelos Ternales este ardil ^
auida fala do camarão, mâdarâ dizer por elle a Tristão
dataide , que erâo contentes de fazerS paz coele : & d<r
tornarfi a pouoar a cidade de Ternale : porS que pera
se isto fazer, era necessário ajQtarSse todos os Q anda-
uão espalhados pola ilha principalmente molheres&me*-
ninos, Q todos auião de dar seu parecer. E que nâo ser
podiâo ajutar cõ medo dos nauios que estauâo na^les^
dous portos, í\ os mandasse dali (irar, & recolher sua
armada, & <) se ajuntariâo» Do que Tristão dataide foy
Gontête , porQ ale de desejar a paz , sabia q auia muyta
crauo que desejaua de cõprar. E despejados os porlos,
vinha de noite a armada de Geylolo, & leuaua os mou-
ros poucos & poucos. E ja ^ erâo quasi todos idos ^
nâo íicaua senão Poyo 6iho do camarão cõ algús de sua
valia, que determinaua de ficar com os Portugueses pe-
ra dÍ88Ímula<;âo, mandou dizer a Tristão dataide que ja
tinha assentado com os mouros de fazerê a paz, que
auiâo por feyta, ^ mãdasse algus capitães ^. lhe desseuit
goarda pera se irõ pera a cidade de Ternate. & Tristão
dataide mandou a isso Francisco de sousa, & Baltesar
vogado em dous bargãtins, que indo peraisso, em do-
brando hOa ponta , virão a armada dei rey de Geylolo
que os eslaua esperado por auiso de Poyo que estaua
emTabãga. Eos mouros vendo os dous bargãtins forãse
dereitos a eles desparando sua artelharia & espingarda-
ria, & ffluytos arremessos, & ho mesmo fez Baltesar
Livma vnu CÁPrrv^o czxxv. 316
Togado 9 que era muylo valSte caualeiro, que hia dian-
te de' Frãcisco de sousa. E logo neste primeiro encon*
tro oaue algfia feridos de bita parle & doutra. Poro co-
mo os mouros hiã determinados dabolroar cõ os Portu-
gaeses, sem medo da sua artelharia , em acabando a
primeyra çurriada, aferrou com Baltesar vogado hua po-
derosa joanga, em ^ íriSo hè duzStos mouros todos gen-
te luzida & de feito que saltando logo no bargantím ,
matara a Baltesar vogado & quantos hião coele pelejan-
do ele & eles primeyro c5 mujto esforço, & vingSdo
muy bS suas mortes com muytos mouros que matarão.
E vSdo Francisco de sousa tantos mouros, & que seu
socorro a Baltesar vogado, não aproueitaria de mais que
de ho tomarem, tornouse com a mayor pressa íj pode a
Talangame, onde fícaua Tristão dataide, íj sabêdo co-
mo Baltesar vogado fícaua, & a grossa armada dosmou^
ros, vio ^ nSo aproueitaua socorrerlhe, por^ ja auia de
ser morto: & entre tanlo ^ lá fosse segundo os mouros
auiâ de ficar soberbos jriSo dar na fortaleza, & queima-
rião a pouoação dos Portu^fueses, pelo l\ se partio log^o pê-
ra a fortaleza, & deixou Francisco de sousa emTalanga-*
me.
C A P I T V L O CXXXV.
Do mays que os mouros fizerâo despoys de tomari ho
bargantím.
JL/a morte de Baltesar vogado & dos outros Portugue-
ses, & da tomada do bargantim, ficarão os mouros de-
Geiíolo sobcrbissimos, & cõ presunção dos mais esforça-
dos daquela terra, & doutras muytas, poys ousarão de
ser os primeiros que aboiroassem nauios de Portugueses,
& ho tomassem cõ morte do capitão, & leuarão ho bar-
gantim a el rey de Geilolo com as cabeças dos mortos,
que fez aos capitães grades mercês, do !) os mouros de
Tidore ouuerão tamanha enueja quando ho souberão,
que jurarão de tomar a primeira vela que saysse dafor-^
RR 2 '
316 DA HISTORIA DA ÍNDIA
taleza , donde Tristão dataide não ousaua de sair, por
lhe não acõtecer outro desastre : pelo Q Poyo filho doca*
marao (} eslaua em Tabãga , & os da sua yalia não fo-
rão pêra a fortaleza. E sabêdo os mouros que Tristão
dataide não ousaua de sayr dela , sayão nela esses que
andauão por már^ principalmente os de GeiloJo, & pu«
nhâse em ciladas pêra os que saissem da fortaleza , oa
dos nauios ^ estauão em Talangame, de ^ acertou de
sayr hii dia Fernão anriquez , a buscar hil pao pêra hO.
leme ^ com sua gente, & com a de Francisco de sousa :.
& sayranlhe de bua cilada os mouros, que como erâ nvuy-
tos matarão logo obra de dez Portugueses , & mays de
quorenta escrauos, & não escapara nenbú se atràqueira^
não fora tã perto, onde se os Portugueses acolb4>ráo. BL
quando Tristão dataide ho soube, determinou de se a-
uenturar a jr lá a ver como aquilo fora, & tamb3 pêra
Jeuar çagu pêra a fortaleza de hQs junges que hí chega*-
râo Damboyno , & foy em hiia fusta muyto bS artilha-^
da, & acompanhado de cincoèta Portugueses todos es-
colhidos. £ indo perlo deTalangame sayolhe hiía arma-^
da dei rey de Tidore, que os seguio de maneyra que
chegaua a ele a tiro de berço. E ele lhe mandou tirar*
com sua arlelharia, ^ logo Francisco de sousa ouuio, &
sospeitando o que era sahio logo em terra, com a mays
da gSle dos nauios, & foyse ao lÕgo do mar pêra ajudas
a Tristão dataide, que neste tempo acertou de meter
hú pelouro na capitayna dos mouros, em que fez hum
buraco que se hia ao fundo, pelo que lhe foy necessá-
rio socorr-erenlhe os outros nauios , & com isto se dete-
uerão que Tristão dataide se meleo debaxo da sombra
da artelharia daa naos« O que vislo pelos mouros, &
que lhe não podião fazer nenhii nojo , por estarS onde
estauão, tornarãse pêra Tidore com algfls feridos &
mortos. E dando Tristão dataide ordS ao que era necea*
sario em Talãgame, tornouse carregado de çagu pêra a.
fortaleza, dõde não ousou mais de sayr por não ter gen<**
te & easa ^ tinha doente & fraca da grande fome & tra^^
LIVRO VIII. CAPITVXO CXXXVI. 817
balho 4 passauão , como disse a trás. O que vendo os
Reys ajunlarâse lodos cõ sua gSle pêra jr6 cercar a for*
taleza & tomarê os Portugueses viuos cÕ Tristão datai**
de, & lhes darê luuy cruas mortes. E porQ os capitães
& soldados lhos tomassem víuos , dauãlhe de beber por
os copos por onde bebiâo, que sam douro, que he a
mayor honra Q lhe podia fazer : & entre tanto que se
ajuntauâo os de fora, os Q estauão em casa corrião cada
dia a fortaleza , sem lhe os Portugueses ousarS de sair
& faziáo os mouros tamanho arroido de gritas, & estron-
do despingardadas , Q cõ medo quantos bufaros auia na
ilha se deitarão ao már, 8c nunca mays parecerSo. E
Tristão dataide esteue em tamanho aperto cõ todos os
Q estauão coele , que se nosso senhor não leuara lá tSo
cedo, como leuou António gaiuão, nenhil^ nã. escapara^
C A P I T V L O CXXXVI.
De como dom loão pereira pelgou em Bardes c6 lane*'
beque capitão Daçadacâo^ âr ho desbaratou^
dar lugar, tornou Ai^dacâo a continuar a guerra con*^
tra os Portugueses , & mandou ás terras das tsmadarias
de fiardes hu seu capitão chamado lanebeque cõ quatro
mil homSs, de ^ os quatrocStos erâ de caualo, & dos
9utro» mujto» deles erão espingardeiros , pêra {[fosse
arrecadar as rendas, & prouasse a fortuna se lhe seria
mays fauorauel f\ a ^joleimão haga. £ como ele entrou
na terra eõ este poder , espãlouse ho nosso tanadar, de
maneira que se foy pêra Goa, & contou ao gouernador
e (} passaua, que logo mãdou dom loão pereira capitão
de Goa , Q partio na entrada Dagoslo com cSto & trin*^
ta de caualo, deles A rabies, deles da terra & forào coele
estes fidalgos, dõ Pedro de meneses. loão de mendoça»
Cristouào de sousa. Lisuarte dandrade. Martim correa
da eilua^ loão j usar te tição. Manuel de sousa de sepuJk
SI 8 BA H1IT0RIA DA INBIA
ueda. Franciseo de gouuea. Perot da cunha. Manuel de
vascõcelos bo casado. Bdos casados de Goa Gaiuâo vie*
gas, Galaz viegas. Anlonio da roberada, & hfi seu íilbo
do mesino nome , & outros í\ fazião bo numero Q digo ,
& quatrocentos Portugueses de pé, os mays espingar-
deiros^ de que fby |K)r capitã Payo rodriguez daraujo,
& quinhentos piftes da. terra, & seus capitães Crrsná &
Ralu. Et passando dÕ loão em Pangt, começou a cami*
nhar pêra ondestauã os imigos , {} era dali a bOa legoa,
& as noue boras do dia ouue vista deles, decima dhuas
serras, {[ cayâo sobre hiias várzeas semeadas darroz, &
no meyo delas se fazia bQ palmar, al& de bQ arroyo da-
goa. E nesle paJmar que era muyto grande tinha lane-
beQ a sua gente de pé, em que auia oytenta espingar»
deiros , & os mais dos outros erão frecheiros. £ dãbas
as bandas do palmar estauão os de caualo repartidos em
dous esquadrões, & a ordê era muy boa, & como quem
sabia bS da guerra , por?) podião todos pelejar sem se
embaraçarè hus cõ os outros : E quando os Portugueses
vira ho bÕ concerto em {) os imigos estauão & quantos
erâo, algus (\ yão na diãíeyra se deteuerã, & deyxarã
passar algíis dos traseiros : {| fora loão jusarle tição. Ma*
Jiuel de vascõcelos, Lisuarte dãdrade, Frãcisco de gou-
uea, Pêro da cunha, Galuã víegas, & decendo da ser-
ra começara os nossos piães de rõper cõ os imigos , Q
como eslauã encubertos no palmar, nã queria sayr de-
le, & tirauã dali mny rijo: & nisto saê do palmar três
mouros bu espingardeiro, outro frecheiro, & outro des-
cudo & laça , 2) nesta ordS pelejauã , & remetera a bQ
loao roiz (dalcunha ho tafui) l\ se desmâdou cÕfíado na
iigeyreza do caualo, & roatarãno: o l\ vendo Lisuarte
dandrade, Frclcisco de gouuea, & Pêro da cunha, ^
começauã de chegar, quisera lhe acodir, mas ja bo a-
charã morto : E Lisuarte dãdrade f\ ya diante, cõ quã-
to nã passaua de dezoyto annos, remeteo aos (res mou-
ros & ferio im á mão tente cõ a laça pola cabeça cõ tã-
4a força, ^ ibe sayo o ferro por debaixo da barba, & <i^
LIYBO VIU. CAPITYLO eXXXVII. 819
mouro com o aperto da morte laçou as mâo0 na laça tS
foriemSte ^ a leuou cosido ao cbâo , & Lisuarle dãdra-»
de por^ lhe nâ ficasse se deceo, & tomãdoa tornou a ca*
uaigar cÕ muyto perigo, porQ aoodiâ sobrele os Imigoss
& se nâ fora Francisco de gouuea, Pêro da cunha, &
hu Fernâ roiz ^ se poserão diante, tratarâqo mal: &
neste tempo deu dõ loã nos imigos pola outra banda do
palmar, cõ tamanho ímpeto ^ Q logo se desbaratará &
ibgirâo, principalmente porQ sintirão fugir lanabeque ^
estaua da outra banda, que dizem Q se vio tam apres^
sado de Francisco de gouuea. Pêro da cQha, &Lisuar-
te dãdrade , 2} o seguia sem o conhecer ^ se deceo , &.
meteose ê hiia casa donde se saluou, cÕ a reuolta ^era
grade dos Imigos Q fugia & dos Portugueses Q os se-^
guia, & foram aposeles hiia legoa, em Q matara & ca«
tiuarã deles bS duz&tos, & dos Portugueses nã morreo
mais Q loã roiz , & fora feridos Pêro da cunha , & ou-
tros algus : & por ser ja noyte dÕ loS se recolheo a hft
pagode ê Q se fez forte. £ao outro dia mSdou descobrir
a terra , pêra Q se ouuesse Imigos, fosse pelejar cõ eies^
mas ja nâ pareciam nhus Q todos se acolherão, & lana^^
be^ se tornou peraAçadacâo muyto triste. EvCdo dom
loam Q ficaua a terra segura tornouse pêra Goa.
C A P I T V L O CXXXVII.
De como jínianio da silueira pelejou c6 Çamabe^ copi*
iâo Daçadacão em Bardes , ^ o desbaratou.
jTjLuêdose AçadacSo por muy injuriado de seus capitSea
ser8 vScidos latas vezes, nã disistio da guerra: & jun-
tos quatro mil & duzStos bomès de pé espingardeiros ^
frecheiros, & adargados^ & oyto cStos de caualo : fez
eapítã deles a bii vaISte Turco chamado Çarnab^i) Q a*
uia pouco 4 chegara , a Q cõtoti quantas vezes os seus
capitães fora vScidos, rogãdolhe muyto que trabalhasse
por auer vitoria dus Portugueses , & cÕ isto o mâdou 4
SSO DA HISTORIA DA ÍNDIA
terra de Bardes : & começado ide recolher as rSdas, fojr
o gouernador disso auisado, & mãdou a Anlon^io da sií-
ueira .{| se fizesse prestes pêra yr pelejar cõ os imigos.,
h lançaios fora da terra. E por!) determinou de mãdar
c5 ele a niais gSte de caualo {} podesse: mãdou pregoar
q todo homS que quisesse yt a caualo , se o nã teues-
se , fosse por essas estrebarias de mouros & de Chris-
tãos, & tomasse caualo, & andaua o meyrinbo a faz^
los dar , & cõ tudo por nã auer selas , nã ouue mais de
cfito & oytSta de caualos Arábios, em que eulrarã es-*
tes fidalgos, afora outros {} nã soube: loS de mfidoça,
Frãcisco de mSdoça, loâ jusarte í\(^o , António de le^
mos, Manuel de macedo, Frãcisco degouuea^ Lísuar-
te dãdrade. Pêro da cunha, lanemSdez de maoedo^
IVIanuel de vascõcelos casado, Frãcisco da silua Dalco-
baça , àò loã lobo , Ruy 4liaz pereyra , Diogo botelho
dãdradCi, Christouão de sousa de Lamego, Pêro roíz
porras, Manuel Dazãbuja, António cabral de SãtarS^
lorge de melo punho, Aluaro de mSdoça, Luys Couti-
nho, Pêro barriga, Frãcisco pacheco, Diogo pereira ,
os outros ^rã casados & cidadãos de Goa, & deles mes*
mos yão mais cento & trinta de roeis da terra , l\ fazia
numero de duzêtos & oytêta de caualo, & quinhfilos de
pé todos Portugueses , & os mais espingardeiros : & foy
por seu capitã Ruy diaz pereira, i& outros tâtos da ter-
ra, de {) foy capitã Crisná , & passará em Pãgi em hH
doB dias de Setêbro, estado hi bo goueriiador, {| fazia
muita hõrra a todos os Q passauS, & por isso passou tã-
ta gSte , & tã boa. E passados da bãda dal3 , começara
de caminhar pêra onde estaua çarnabeque Q era dali a
duas legoas , õ hil vale ãtre duas serras de grade aruo-
redo , Q chegaua ate as rayzes das serras , & a entrada
fortalecida de muylas couas cubertas de torrões cÕ ber-
ua , por^ nã se parecesse , & ficaua hH caminho dobra
de doze palmos cuberto da^le aruoredo , antre as raizes
das serras , & hQa varzia 4 se fazia ao longo delas , ^
«ra terra alagadiça por ser semeada darroz^ & oáo m
LIVRO Vril. CAPITVLO CXXXVit, . S^l:
podia andar por ela , & cõ isto eslaua a^le lagar muito
forte, & çarnabe^ muito cofiado i\ auia de desbaratar
os Portugueses se ho comeiessS : & pêra os cõuidar a
isso , tanto l\ os vio , Q seria ás duas horas despois de
mco dia, mãdou a hil seu capitã ^ cÕ obra de duzentos
de pé saysse fora da boca do vale , & se mostrasse aos
Portugueses, & tãto 2) os cometesse, se retirassS pêra
dSlro , onde ele ficaua S cilada cÕ os de caualo, & ai*
gâs dos de pé polas fraldas das serras Q os víssS os Por-
tugueses, & 2| nã cuydassS que erã mais pêra os co-
meterS. António da silueyra como vio os ^ sayrão abo-
ca do vale 9 & vio os outros ^ parecia polas fraldas das
serras , logo lhe pareceo Q era cilada , por saber ^ antre
os imigos auia muytos de caualo, & como lhe isto pa-
receo, mandou a Ruy diaz. pereyra Q cõ os Portugueses
de pé, por{| erã todos espingardeiros, fosse dar nos imi-
gos, & assi mSdou a GaluSo viegas 2) fosse cÕ cincoSta
de caualo em fauor dos de pé & estes forS nomeados por
ele, !\ não quis Q fossS se nã homSs de feito, & Lisuar-
te dâdrade lhe pedio 2} o metesse na^le coto, & ele nâ
quis por ser mScebo, & temer de se desmãdar, & to-
dauia Lísuarte dãdrade se furtou & foy cõ os cincoSta:
& quildo António da silueira ho vio yr nS ho quis man-
dar tornar, & disse l\ al^les nâ se podia estornar & ()
Deos os guardaua. Os imigos como os Portugueses fo-
ra deles a tiro despingarda, Q lhes começara de tirar c5
elas, começara de se retirar pêra onde e8tauaÇarnabe{|
na cilada,. & a este retirar começou de correr Galuã vie-
gas cõ 08 ^ yã CÕ ele, & indo assi corrSdo, cayrã b5
quinze nas couas JJ estauã cubertas , & o primeiro foy
António de lemos, & os outros passara auSte, & quãto
mais se chegauâ ao boqueirã dafi serras , tãto mais cho^
uiã sobreles espTgardadas & frechadas , & valeolhes yrS
por debaixo dil aruoredo de tamarindos muyto basto,
em cuja rama ()braua a fúria da mayor parte delas, &
assi vire poia bSda es^rda dõde leuauão as adargas com
Q se emparauSo , ^ doutra maneyra os mais ouuerã de-
LIVRO viif. ss
,r
3t8 DA HliTOAIA BA 1N0IA
morrer I po^(^ ouue adarga em {| se acbarS deajioía pra«
gadas sessêla frechas , & nS por isso os nossos Dã det«-
xará de passar auãle , ale dar cÕ a cilada Q estaiia de*
trás do lugar , & por ser a terra apertada tinha çarna-
be^ os de caualo em fieyras, & a gSle de pé polaa fral-»
das das serras , & ele diãte dos de cauato , encima diL
poderoso caualo, & ele bomS grande & mèbrudo, ar-
cado de hft laudel de laminas , & na cabe^^a hQa futa ^
& hú terçado vazado ate a pÕta , & cheo dazougue , &
cd esta ajuda, & cq a grãdissima furça {) tinha, diziiio
i) fendia dil golpe h&a bufara polo meo. Eem os nossos
oomec^do denlrar por antre as casas, começa os imigoa
de desparar muytas bobas de íbgo, com i[ matara algQ
& Q primeiro fuy Frãcisco da siiua Dalcobaça, mas cÕ
tiudo isto os nossos entrara por antre as casas, & che-^
garã aos Imigos de caualo cõ muyto esforço, & cõ elea
Qomeçarâ de pelejar , maa nâ teuerã os de pé í\ os aju-
dassem cõ as espingardas, por2) ficaram muyto atras ^
Rã poderão ter coeles* E como os Imigos virão quão pou-
cos os nossos erã, remeterá a eles cÕ grade Ímpeto ^
principalmSte çarnabe!} , & o primeiro j} ferio foy Gas-
pat prelo, & alcãçouho por hu hõbro & descoseolho ta-^
to, sem lhe aproueitarê as armas, {| lhe viâ latejar os
bofes, & a IVligel froes deu outro por cima do capacete,
4 logo deu coele no chão, & juraua depois ^ dali aqua-
Uo dias lhe nã ficara a vista perfeita, ik outro deu a hu
íj fora porteiro de Lopo vaz de saopayo, q lhe corloa
de haa orelha ate o olho da outra parle ^ lhe ficou a ca-
beça õbicada & cayo logo morto , & tirou outro a Diogo
botelho dandrade, & errâdoho, tomoulhe o caualo por
cima das ancas nas cobertas da sela , & fendeho quasi
ale baixo, & em caindo foy Diogo botelho saluo por
Cristouão de sousa, & por Lisuarte dâdrade, ^ lhe de-
ra hú caualo dos ^ andauã soltos, o ^fizera cÕ grade
perigo, por carregarS sobreles muytos mouros, (] esia-
uam muyto fauorecidos côo esforço do seu capita: Eco-
es nossos serfi lã poucos os tralauão muyto mal cõosfe*^
tirfi^ & asfii aos caiialos ({ todos forâo feridos, & algQs
mortos, & (fibè os (J yâo neles o ouuuerS de ser sem (í«^
car nhú se nS fura Pêro barriga , (J como sabia hè da
guerra, & vio o perigo dos Portugueses, |>era os fazer
recolher disse alto: Nã he tempo, ao cilpo, ao cSpo,
& dizèdo isto se começou de recolher, & outros í\ o ou-
uyrão começará de fugii* a quS mais podia , sem aten*
tare por algus Q estauam cercados de mouros em aper^*
to grandissimo, & h(i destes foy loão jusarte tiçSo, ([
despois de chamar outros ^ lhe acodissS, & nam quise-
ram, ou ho nSo ouniram, chamou duas vezes por Lisuar-
te dandrade !\ ya na d^rradeyra, &det8dose ele ))orver
qu6 ho chamaua, arrSca dãtre os imigos çnrnabe(} c5
outros quatro do caualo, & após ele outros muytos, pe-
lo ^ a Lisuarte dSdrade lhe côueo acolherse indo ferido
dil dos fmigos, a que matou o caualo, & quis nosso
Sefior í\ começando estes de se desbaratar, chegou An-
tónio da silueira cõ o resto dos nossos, indo diSte de
todos, aníre Ruy varela & Pêro da cunha, & nas cos-
tas FrScisco de gouuea & Frãcisco pacheco <\ ya dizSdo
a brados: Sftores, olhai polo vosso capitã? E eles yS
tão apertados dos mouros l\ nfi podia fazer menos, &
se António da silueira nS chegara, nS escapara nhfl se-
gudo os mouros feria neles, principalmCte çarnnber{ , 1}
vSdo ho socorro l\ sobreuinha aos (| fugia, por^ nã cuy-
dassS os nossos ^ lhes auia medo, se meteo por antre-
les tã rijo como ha corisco, & topido cõ António da
silueira , lhe deu hã golpe sobre hil hõbro , {) se as ar-
mas nã fora tã boas lho cortata, mas atormentoulho de
tal maneyra, fj depois lhe foy necessário trazer ali hfl
emprasto muytos dias, & em ele dando este golpe, Ruy
varela & Pêro da cunha l\ ficara hfl pouco atras Dãlo-
nio da silueyra, lhe puserS as lanças nos peitos pêra o
derribarS mas não poderã, 8& por isso deixado as laças
pegarão nele, & ajudãdoos Frãctsco de gouuea & Lisuar-
te dãdrade, deram coi^le' do caualo abnyxo sem se po-
der valer , & ele derribado foy lo^o tão pisado dos pés
ss 2
St4 lU HISTORIA OA IMUA
dM caualof qoe nâ se pode mais leuaDtar & ali fcj moi^
to: £ em cayado acodirâo dos seus hils desoy to Turcos
todos capitães Daçadacão, & forfio sobre Antooio da sil-
ueira & sobre os outros que estauão coele, & comei^rS
de pelejar muy brauamfite, porem como çarnabeque era
ja derribado, & os seus ho nã vião, & os bossos espior
gardeiros começassem de varejar com as espingardas ^
começara os Imigos de se desbaratar & fugir , assi os
do vale como os das fraldas das serras , & acabarão da
se desbaratar de todo cõ a morte dos dezoylo capilàes
Turcos, que pelejarão com tanto esforço & valentia ,
que depois de hd ser derribado do caualo, remeteo ahA
Diogo pereira que estaua a caualo pêra lho tomar , &
com tanla força lhe puxou por tida perna, que lhe ras-
gou hila bota. £ desbaratados de todo os imigos, que
começarão de fugir, seguirão os nossos após eles até bft
escapado que foy muy to pouco espaço, & António da
silueira não quis que passassem dali, receando que ou*
uesse oulra cilada, por ver yr os immigos de caualo
muyto de vagar pola serra acima por caminhos que ti^
iibão feitos , & este vagar segiido se depois soube , era
por amor de recolherê os de pé.. £ mandando Anlonio
da silueira deler os nossos, chegou Crisná, & reque*
reolhe da parte de Deos & dei rey que o seguisse &
fosse após os imigos ^ yão muyto desbaratados & que
08 matarião todos , & se não ^ lhe desse lícSça pêra os
seguir cõ os seus piaSs,^ por^ eles abastaria pêra matar
todos os Imigos , como fizera quando passara com dom
loã pereyra a Saisete , que fizera afogar três mil almas,
& António da silueyra não quis polo receyo da cilada,
Gontentandose cÕ desbaratar os Imigos^ de ^ forão mor-
tos çarnabei) & os dezoyto capitães ^ & quatrocfilos ou^
tros , & muy tos feridos , & só a morte de çarnabe^ bas«
tara pêra esta ser híia muyto grande vitoria como foy^
de Q Açadacâo ficou tão quebrado, que nííca.mais ou-
sou de mandar nhQa gente que pelejasse em campo com
os Portugueses , de ^ morrerão nesta batalha , Francis?
LIVKO YIII» €APITyi.O CXXXVIII. 326
to da silua Dalcobaça, JManuel dazambuja, o que foy
porteiro de Lopo vaz de sãopayo, Pêro rodríguez perras,
& outros três, & fora feridos, loS de mSdoça, Aluare
de mêdoça, loã jusarle Uç2, Lisuarte dâdrade ,. Gaspar
preto, António da raboreda, o moço, & outros algíis:
^ durou esta batalha das onze oras até as tres«
C A P I T V L O CXXXVIIL
De como António da silueira fez k&a iranqueyra em
Bardes.
JtVecolhidoâ os Portugueses, mãdou A ntonio da sílueira
yer bu esteyro Q ya ter ali perto, a ver se estauâo hi
hus bateis, ^ lhe o gouernador dissera ^ auia ali de mã*
dar cõ gête ^ esteuesse na^e esteyro, por^ auiã os I-
nngos de passar por ele & os atalhasse, & António da
ailueyra mãdaua buscar estes bateis, pêra leuar neles
os feridos & mortos , mas nâ se achara , pelo ^ os sãos
os ouuerã^ de leuar ás costas nos Mcudos dosCanansate
onde desembarcarão ,. Q era legoa & mea , no Q leuarSo
trabalho imenso, por fazer mujto grâJe calma & na te^
iS ainda comido. Eindo assi todos muyto casados, che«-
gou loã de payua feitor da armada do gouernador, Q
da sua parte ya visitar António da silueira & saber co*
mo lhe ya, por^ quando os Portugueses com^^irã dç
/ugir da batalha ^ António da silueira socorreo, três ca^>
sados de Goa (a Q nâ soube os nomes) fugira tão bC-,
& hU foy dizer ao gouernador Q António da silueyra fo-
ra desbaratado, & mortos mnytos dcs q }ã coele, no-
meãdobos por seus nomes. £ eslãdo o gouernador muy-
to triste, soube a verdade por hu pião de Grisná ^ lhe
mâdou €Õ a noua , & por isso o gouernador o mádou vi^
sitar, & mais mãdaualhe fazer hua transira ondestaua o
nosso Tanadar da^la comarca, em t\ deií^aria quorêta
espingardeiros pêra Q ficasse seguro, & mãdaua rogar
aos iidalggs Q estauã cÕ António da silueira \ o ajudas-
Z2t DA HIfTOHIA 1>A ÍNDIA
0ê a fner a trij|ira. £ por a gente yr muylo cSsada 9c
morta cd fome, ae foy Anlonio da silueira onde ya pe>
ra hi de8câ<^r, & a^la noite foy bQa braua & espftlosa
tormSta de veto, toruõea, & chaua: & como os nossos
estauã no capo, Õde ná auia nhu abrigo de tSdas nfi ca-
sas , desgrudarase as adargas cÒ a agoa , & os caualos
se ouueram dafugar, & niuylos por ser ho tem|K> iam
forle se passarão secretamente aPangi c5 quanto bi es-
íaua o gouernador, que todavia mandou a António da
silueira que fosse fazer a tranqueyra, & ele foy nam le-
vando mais de duzentos Portugueses, em que entrauam
trinta & seys de caualo, & fez a transira rouyto forte
de duas faces & entulhada , cÕ seus baluartes forrados
de tauoado pela t>Sda de dStro, & foy feita ê oyto dias,
c5 mnyto trabalho dos fidalgos. B sabêdo ho Gouerna*
dor q a tranijira era acabada, mãdou a António da sil-
ueira () corresse a terra ate onde fora a batalha , por(|
auia noua () tornaram ali os immigos & ij estauX hi, o2|
deu grande opressão aos Portugueses, por serS tS pou«
cos como erS: E logo se partio António da silueira c5
sua gfite , indo diãte GaluS viegas descobrindo a terra,
& c5 ele Galaz viegas , Baltesar de vilhegas , & Lisuar-
te dádrade, ^ yã sempre diSte do corpo da gCte hQ ter-
ço de legoa , & por isso chegarS sós onde fora a bala-
Iha, em (| não achara imigos nS rasto deles, & sabêdo
ho António da silueira se tornou, deysãdo a terra paci-
fica , & se passou a Pãg! onde ho goueroador ho espe-
ra ua , & dali se foram pêra Goa.
LIVRO VIU* «APITTLO CXL«. 827
C A P I T V L O CXXXIX.
Ih como fay preso Garcia deSá^^ António da silutira
foy acabar de Jazer a fortaleza de Bajfoim.
i^ este aano de mil & quinhentos & trinta & seyn j
partiu pêra a Índia por capitão mor da armada da carga
hu fidalgo chamado lorge cabral , ( de que se fez men*
çâo no liuro Septimo) & os outros capitães foram Fran*
cisco barrete, Ambrósio do rego, Gaspar dazeuedo, &
Vicente gii, a que nâ soube o que aconteceo, nem em
que tempo chegaram á Índia. E porque ei Rey de Por^
togai mandaua prender a Garcia de !Sá (que estaua por
capitã em Baçaim fazendo a fortaleza ) & socrestarihe
sua fazenda, por capitulos que seus imigos deram dele,
mandou ho gouernador a António da siJueira , Q fosse
acabar de fazer a fortaleza de Bac^al , & assi a loão de
mendoça, & ^ Garcia de Sá se fosse pêra Goa, & eles
fora com gente que lhes o gouernador deu pêra isso. E
chegado António da silueira a Baçal, mandou Garcia de
Sá pêra Goa , & ele ficou acabando a fortaleza cõ loam
de mendoça 9 no ^ gastara três meses»
C A P I T V L O CXL.
De como Marti afonso de sousa/oy socorrer a el rey de
Cochi j ^ do que Jkz no caminho»
X^urando a perfia dei rey de Calicut se querer coroar
em Repeli , & defendedoibo os nossos , por nâ ficar su->
perior doa reys do Malabar amigos dei rey de Portugal,
soubeho ho gouernador , & por isso mádou logo Marti
afonso a Cochi' cõ asua armada, em que leuaria qua»
trocenloa homês, & os capitães ^ leuou, afora ele {) ya
em h&a oarauelaforã, Vasco pirez de sampayo, Fernft
de seusa de tauora, Manuel de sousa de Sepulueda^
SS8 9A niSTORfA I>A INMA
dd Diogo dalraeyda, Marti correa, FrScis.co de barros
de payua, lorge barroso dalii>eyda, Francisco pereira,
Gaspar de lemos, lorge de figueiredo, Diogo de rey-
noso, António de souto mayor, Francisco de Sá, loãe
de sousa de matos, dõ Pedro de meneses, & esties em
galeotas & fustas, afora outros Q yão em catures. Esa-
bfido Marti afonso Q em Colemute se fazia sempre gra-
de armada edtra os nossos, determinou de ho deslruyr:
& dando c5ta disso a seus capitães, desembarcou cõeles
cõ a gSte Q ieuauã, & ao desembarcar, achara obra de
dous mil Naires, 2} lhes quisera defender a desembar-
caça, &ouue sobrisso hua braua peleja, de l\ os nossos.
ficarS vÇcedores, cÕ morte de muytos dos Imígos, & os
Q ticauão fugirá & desempararS ho lugar, l\ foy lodo
queymado, & foram tomadas sete fustas que hi esta-
uam varadas.
C A P I T V L O CXLI.
De como Martim afonso de sousa chegou a Cochi.
v/nde despois ^ chegou, soube como el rey de Calicut
caminhaua cÕ sua gente, cÕ determinação de passar a
Repeli pelo passo de Crãganor, pêra se coroar como
disse atras, & gSte sua (} ya diâte, era chegada ao pas*
80 onde tinha queymada hua hermida ^ ali deixara sam
Thome , & fizera hua tràqueira forte , em q assêtara
algClas peças dartelharia. EH sabido isto por Marti afõso,
determinou de yr tomar esta tràqueira, & defender a^lle
passo a eirey de Calicut, & pêra este feyto mãdaua eU
rey de Cochi hCla soma dos seus Naires, & assi ho Mã«
gate caimal seu vassalo, & grade senhor: & oscapitSes
desta gSle, erã os regedores de Cochi, Q por na acodirS
a hu dia Q Marti afonso tinha assinado, pêra dar na
trãqueira bQa menhaft, nao deu, & ficou a cousa pêra
ho outro dia. E sabêdoho el rey de Calicut na!}le ( por
suas espias.) Q Marti afonso deixara de yr dar na trS^
LIVHO VIII. CAPltVIX) CXLII. 329
Queira por faita de maré, & <) auia dir ao oatro dia 06
gfãde poder de gSte , foy bo «eu medo tamanho , 1\ nK
ousou de bo esperar : & na noyte seguinte recolhida a
artelbaria^da tranqueyra, se passou cd sua gSte áCha-
tuá , & dahi pêra ho pé da serra , & não ousou de tor-
nar a cometer o ^ cometia , sem grade poder de gQote
(<2oaK> direy adiante. )
C A P I T V L O CXLII.
De como ti rey de Calicut , com medo de Martim afonso
de sousa se retirou pêra suas terras : ^ de como Martim
afonso começou de fazer guerra a el rey de Repelim*
Oabido em Gochim como el rey de Calicut fugira, mu*
dou Marti afonso a yda 8 auia de fazer a esperalo, em'
yr cõtra el rey de Repeli , assi por ser nosso Imigo , &
ajudar a el rey de Calicut , como por ter hQa pedra dei
rey de Coch!, (J lhe el rey de Calicut irmão de Nãbea-
dari tomara, quãdo (he tomou CochI, 2} se ele acolheo
ao pagode de Vaipi (como disse no liuro primeyro.) E
el rey de Cochi sabSdo (} el rey de Repeli tinha esta
pedra, l\ era cousa de sua religiS, sentiase disso por
muyto injuriado, & reQria a Marti afõso í\ lha fosse to«
mar, que foy com cÕselbo do vedor da fazenda & de to-
dos 08 outros, & leuou mil dos nossos, & muytos Nai-
res debaixo da capitania do prlcepe de Cochi & do MS-
gate caimal , & doutros senhores dei rey de Coch!. B
cd Marti afonso forS todos os capitfies da sua armada,
& assi António de brito capitão de Cochi, lorge mas-
carenhas de montas, & Pêro froes, t\ yã cd elle por
terra, & por mar ya lorge cabral capitS noór da armada
da carga ^ & Manuel rodriguez Coutinho^ em fustas &
baleis* Partio como digo por terra, a vinte hQ de No^
uSbro, & aQle dia foy dormir á terra do Anche caimal,
& ao outro foy cometer a terra dei rey de Repelim, í|
he quasi ilha , & dõde a não cerca a agoa , Q era pola
LIVRO VIII. TT
a(SO BA HISTOBEA PA IHBIA
parte Q oi nossos auiào dêtrar , cercada de caaaueaes
de canas da índia, que saon mujto grossas, & estaxi&a
tecidas de maneara, Q íicauSo noais furtes ^ muro, &
tinha aii certas entradas, em {| estauã Iranqueyras muy*»
lo ^rtea, & bè artilhadas & guardadas de gente. Os
nossos y£o nesta ordê: António de brito ieuaua a dia-
teyra cõ trezêtos homõs os mais espingardeyros , & yã
cÕ ele dõ Diogo dalmeida, lorge mascarenhas de mõtáS|
Pêro froes, & outros t^apítães & fidalgos: Eaposele^
Marti afonso cÒ a bâdeyra real cÕ ho resto da gele. An-
tónio de brito foj cometer hila destas Cram^ueyras 4 úi^
go , <} tinha três peças dartelharia : & vèdobo os imi-
gof , apartarSse cem Naires todos escolhidos pof muyto
esforçados, & sayrã a receber os nossos fora da trâquey-
ra^ cuydao^o Q por sua valCtia os nâ deixassem chegar
a eia 9 mas os nossos matarão & ferirft muy toa cõ as es<«
pitigardas , & os fis^erâ fugir : & indo assi ilesbaralados,
hum que ya muyto ferido nam se atreuSdo a viuer, cha*
mott outro, & dieuJhe a sua agomia & aeu escudo (} lho
]euasse , & isto ^ porQ t6 eles ^ ainda Q morram na ba-^
taJha^ se saJuã as armas, fica inteyramète cÕ suahõrra».
IS seguindo os nossos os imigos, entrarJL eõ elea na trS«
9ueyra, & dentro a.charâ resistêcia nos imigos jaguar-
dauâk), & durou a peteja ate chegar Marti afonso, Q se
os imigos desbarataram^ de todo & fugirão , & dali fes
Marti afõao volta sobre a mãe esquerda , ende estau&
duas estâcias pêra ho rio ^ o guardauA, & estas cõba*
tia lorge cebraíl cd os capirtHes ^ lauaua por mar ^ Q a«
parlara tão rijo cd os mouras Q os fizera fugir. £ sabèn
do eJ rey de Repelim 2| aj^las Irâqueiras era tomadas ,
mãdott alargar ae outras , & recojher sua gfite pêra a
cidade, onde esperaua de se defender eÕ ciaee mil Nai-
res ^ linha seus , & do Mâgate achfi vassalo dei rey de
Calicut, & entrauSa neete» quinhentos espingardeyrosw.
ura.0 Tiii. CAvnTLO oxliii. 931
C A P I T V L O CXUIÍ.
De Qom0 Marti trfanão de wum duharatou d rey âeRô^
petím 9 ^ /A€ queffmou a cidade^
D,
desbaratadas as Iráqueiras Q à\go^ deixoDse Martt
«fonso íicar ali pêra desclsar sua g:ètet & ao oa Iro dia
«m amanhecendo, abalou pêra a cidade de Repelim , ^
«ra dali hila legoa , & mandou a Frácisco de barros de
payua, ^ tÔ cèto & ci neófita espingardeyros fosse dían*
te descobrindo a terra : & nas costas lhe ya António de
brito cõ quatro 'OStoç homSs , & cÒ oe mesmos capitães
& fidalgos ^ ho aoõpanharão ho dia dates, & na retro*
guarda Marti aífiso 06 ho resto da gSte : & camínhfide
Tiesta ordem , posto 2) no caminho auia muytos frechey^
TOS , por antre muytos palmares Q auia duma parte &
doutra : Francisco de barrop cõ os seus espigardeyros os
despejaua de maneira , {) os nossos nâ r«>ceberã deles
nhã dSno, fc asai fora ate* a entrada da cidade, ^ era
per antre hOs valos &,h(las cauas, IJ o de mais era cer*
cado de cnnaueaes. E nesta ^trada estaua hil capitA c8
muytos espf gardeyros & frecheiros , & como ela era es*
treita podiâna os Imigos defender muyto bS, & por isso
durou a peleja aqui hO pedaço , & |K>r derradeiro os T-
tnigos ficarão desbaratados, & os nossos entrarão leoan*
does diante de si fugindo ate dar nas casas dei rey ,
donde ho resto dos Imigos f{ hi estaua fugira , v6do fu*
gir CS outros : & nflca el rey os pede deter por mais (|
os esforçou , & então fugio coeles , sendo dos derradei^
ros. & Francisco de barros ho seguio cõ algfls outros ,
tirandulhe tantas espíngardadas (} lhe matarão o que lhe
leuaua ho sombreiro, que com a pressa não ouue qufi
ho leufitasse , & ficou o {} el rey sentio muyto , por ser
antreles grande desonra» E despois de perdido ho som*
breiro, el rey foy tam apertado dos nossos !\ hoseguião,
que cõ muyto grande perigo escapou , saluandose em
TT 2
SS2 DA HISTORfADA fNDIA.
hika almadia em t[ se embarcou cõ ho mangate Acb8, &
oulroa qualro & fugio* E entre tanto Mart! afonso que
tomou por outra parte, foy dar em hua mezquita, de^
«ayrâ obra de vite mouros determinados de ho malar",
segundo hu remeteo. a ele com grande ousadia , tiran-
dolhe hua cutilada , que ele tomou na rodela , & logo ho
Utrauessou com bH zagficho que leuaua : & a pos isso
foy morto dos nossos: & os outros (ambê morrera ^ pe-
fejádo como muyto valetes homSs« £ mortos estes JMar*
tim afonso fez ali corpo recolhêdo os nossos de que muy-
tos andauão desmãdados poia cidade a roubar, & destes
Ibrão mortos dez ou doze , que na batalha não morreo
nenhíl: somente forão feridos muytos, & anlrestes fo-
rão htl Duarte de miranda , & hu Esteuão gago. £ dos
Imigos se achar& mortos cento, & os feridos forâo sem
conto, & em muyto pouco espacjo. E desbaratados os
imigos & fugidos, foy roubada a cidade, & as casas
delrey , em !\ foy achada a pedra dei rey de Gochim, ^
era hQa pedra branca como qual^r outra , da feyçSo &
do tamanho de hfla mea moo datafona, & tinha abertas
huas letras malabares. E cõ esta pedra tizerão os nayres
de Cochim grande festa : & assi íbrão achadas hõas tai-
jioas de metal , c& hilas serpes escolpidas nelas , & hQas
letras Chins, q^ie el rey de repelím tinha era grande
veneração, por ser cousa de .sua religião. £ saqueada a
cidade, despoys de ser toda queimada se (ornou JMar*
tim aÍGíso a Cochim, onde foy recebido cõ muyta festa,
& deu a el rey de Cochim ho sombreiro dei rey de Re»
pelim., & as tauoas, & a pedra, que ele estimou, muyr
tp , & lhe deu por isso grandes agardecimeotos..
LIVRO TIIIv CAFITTLO CXLIIII. ar33
• ♦
C A P I T V L O CXLIIIL
De cúmo Martim afonso defendea a elrey de Calicut que
não passasse polo passo do voo.
• V endo ho vedor da faseoda i) el rey deCalieut conli*
nuaua a guerra, & 2} cometia dentrar polo passo de CrS-
ganor, pareeeolhe bS c5 conselho de Marl! afonso, &
de António de brito > fazer hua fortaleza na^ie passo,
que se logo eoine<iou. £ nisto tendo JMarli afonso noua
que partia a armada de Calicut carregar darroz a Bra-
celor , fez se prestes pêra jr pelejar coela , & toniarlhe a
carga quãdo tornasse , ^ era b& doa grades danos ^ po-
dia fazer a elrey de Calicut , com que a sua gente lhe
fiiorrería de fome.. £ fazendose prestes pêra jr, ex que
chega recado dei rey de Cochim muyto de pressa, que
>inba el rey de Calicut cõ grande poder de gente em (|
entrauão dous mil espingardeiros, & determinada dStrar
polo passo do vao,^ que era na terra do IMãgate Vftyinal,
duas legoas acima do passo deCranganor, & Q não que-
fia entrar por este passo de Crftganoc, por estar impe-
dido cõ a fortaleza 4 os nossos faziSo , & polo passo do
vao podia passar cõ a maré vazia, como em outro tSpo
inlêtara de passar seu antecessor, quâdo lho Duarte pa-
checo defendeo tão milagrosamête coroo disse no iiuro
primeiro. £ por bo recado ser tam de pressa, seembar-
eou lo£o Martim afonso em* bus tones, por jr mays asi-
nha , oL eoibarcarâse coele obra de nouenta dos nossos ,
os mays deles capitães & fidalgos, & fora coele ho re^
gedor de Cochim cõ algOs naires , & deyxou encomen-
dado a Âiitonío de brito j| fosse a pos ele eom a mais
gente i| pudesse. £ màduu a Francisco de barros de
payua Q em húa galé com outros dous capitães de dous
bar^gantis se fosse meter no rio de Crãganor pêra goar-
dar bo passo, que nào passasse por ele gente dei rey de
Calicut) & defendesse que não entrassem no mesmo rio.
334 BA BI8T0KIA DA llfmA
hDas vínterinco fustas da armada dei rey deCalicut, (|
f^ra certo que ele mãdaua jr a este rio pêra ho ajudarê,
Sc defenderS os nossos catures Q Dãleuassem socorro on-
de fosse necessário: o que se podia faker porá terra
ser toda regadia de muytos rios (coo^ disse no primei-
ro ijuro). E seMartim afonso não mandara atalhar a es-
tas fustas desta maneira, por nenhfl modo se podara to-
lher a passagè a el rey deCaliout, como despoys loiheo.
Isto ordenado partiose Marlim afonso pêra ho passo do
vao: & ao outro dia em amanhecSdo chegou ás terras
doMangate caimai, {) pola breuidade do tSpo nSo tinha
juntos mays de três mil nayres. B dele soube 2| estaua
el rey de Calicut dali a duas legfoas, & que tinha quo^
rSta mil homSs, & ^ dahi a três dias daria a batalha^
por{| era seu cosi ume dala aeste praeo, despois Q che«
gaua a terra de seus imigos. E no dia em l\ auia de ser
roandaua tanger hQa bozina & h& atambor de tamanha
grandura, que não auia quatro homSs que ho abalae^
sem, & este se ouuia a duas legoas: & sem estes sinays
se não dana a batalha, & 1) isto teuesse por certo* B
como Marti afonso teuesse aquilo por abusam , nft ho
creo , & foyse ao passo onde desembarcou , & por lhe
os tones não ficarS em seco os mandou afastar pêra ho
rio, & ele fK>s se no capo cõ sua genCe, & estauSo coele
ho mSgnle & o regedor de Cochim c5 seus nayres, que
lhe dizião que estaua ali de balde, por^ el rey de Cali*
cut não auia de dar a batalha isenão passados os três
dias: & primeiro se auia de tanger ho atãbor que digo.
E estado nisto começa daparecer hd corpo de gSte dos
Imigos, que serião cinco mil homSs, que com grandes
grilas remeterão ao passo^ &começSo de passar» Ecuy-
dando Marti afonso que era algãa gente da dei rey ^
vinha desmandada, mandou a Gaspar de lemos que cS
yinte espingardeiros se posesse detrás dil valo i} estaua
perto do vao , & dali fizese roste aos Imigos, (} em con*
tinCte começarão de crecer, se nSo quando aparece a
bfideira delrey , ^ era «inai 4 vinha ali : E^issi era qii#
LiVBO VIII. CAPITVIXI CXLIIII. 83C
bSo curando de superstições, por tomar os nossos de su-*
pito, & os desbaratar a seu shIuo, não quis vsar dos si-
iiays que mãdaua fazer quando auia de dar batalha. £
parece que nosso senhor inspirou em AAartl afonso, que
não cresse o Q lhe boMangate dizia do costume delrey
de Caiicut , por^ se lho crera passara elrey sem ser con^
trariado, & tizera o ^ determinaua, que fora grande maL
£ como as insinias dei rey aparecerão oe nayres do wk^
gale & os deCochim conhecendo Q ele vinha foy boseu
medo tamanho, que se afastarS dos nossos bu bõ peda<»
ço pêra fugirB, se Martim afonso fosse desbaratado. £
algús dos nossos ate trinta c5 o mesmo medo fugirão
pêra os tones em Q se esconderão pêra se acoiherS s»
IVlarti afonso leuasse bo pior. Martim afõso que vio es-
ta couardia, sabendo do IMangate ho porQ, tomouho pe«
la mão & teueo que não fugise y dizendo ^ não oouessft
medo y porQ esperaua em nosso senhor de desbaratar el
rey cò aqueles poucos que tinha, que não serião mays
de sessenta» E algOs dos nossos desconfiados disto po«
der ser, lhe acõselhauão Ç se recolhesse aos tones, fe
se saluasse, por^ não era siso esperar tam grossa gfite.
Por& Vasco pirez de sam payo , & Frãcisco pereira ths
conselhavão que pelejase & bo mesmo lhe pareceo a ele
que deuia de fazer j por ja terè passado ho vao muy toa
doa imigos : k segundo erão ligeiroa antes de chegail
aos tones matariào quan^tos bião coele: & a fora islo
Bão poderia recolher Gaspar de lemos por estar cercado
dimígos. £ encomendSdose a nosso sftor de todo coraçS,
& cã ha eafosço ne^e , fez ha cf^rpo dos seus , & dá San^
tiago nos Imigos ,, íerinido & matando neles , Q erão bl^
cinco mil alS^ do pasao ; & ajudauao loão luys ho eõdefik
tabre da fortaleza de €ochl tiraiMÍo ée traués aos Ymi^
goê cè bfl ber^e ^ estaua em h& tone , em Q se cbegou
á boca do vao. £ dali a pouco cbegou c6 a maré híi ba*
tel nosso c5 ku falcào & doua ber<jos ^ tambB varejarão
ibf temfile aes Imigos : He éÒ tiMlo eles erão tantos , ^ b^
fs flosao slkei' nàeeAfMl^era> afogará* os nossos , a Q ou^
836 Oll HfSTOail BA INDfl
iierã (amanho medo^ que se começarl de retirar pêra
ais do passo oodestaua el rey de Calicut. O (| v-6do a
gSte do MSgate, ouue vergonha de ler fugido, & pêra
imendarS ho passado remeierXo cÒ grandes grilas onde
era a batalha, & ja aã acharSo 1} fazer, por serfi todos
08 imigos passados da outra bSda: &Martini afonsonão
quis deixar passar os nossos , de 1} morrerá algus nesta
batalha , & dos Imigos perto de trezentos. E ainda des-
poys dos Imigos ser6 passados da outra bSda se poserS
GÕ os nossos ás espingardadas, & assi esteuerSo per es*
paço de duas horas , ate 1} se recolberSo, & Mart! afon*
80 se afastou bO pedaijo, & ficou no capo a^la nojte.
C A P I T V L O CXLV.
De como António de brito pelgou algAas vezes no passo do
vao com a gente dei rey de Calicut ^ sempre venceo»
vyoesta vitoria tS milagrosa, ^ nosso sefior deu , ficou^
el rey de Calicut tã quebrado que se tornou ao seu ar-
rayal &não quis tornar mais a dar batalha por sua pes-
soa, & ficou seu poder muyto desacreditado, & ho dos
nossos cÕ muyto grSde credito, vSdo a gSte da lerracd
quãta ousadia lhe resistira, sendo tã poucos, &tornoa-
Uies alèbrar as grades vitorias (J ali ouuera Duarte pa*
checo cõtra aãle maluado rey deCalicot, queenfãorey*
naua: & os cia parte dei rey de Cochiro se esforçarão
tanto pêra ajudar os nossos, que logo a{)la noite acodi*
rão ao Mãgate caymal mays quatro mil nayres. E ao
outro dia chegou António de brito com quatrocêtos dos
nossos: & vendo Martim afonso tam boa gente: dado a
dianteira a António de brito deu outra batalha aos Imi-
gos j} prouarão de passar ho vao: & venceos com lhe
matar mays gente que da outra vez & os fez afastar do
passo, do que el rey de Calicut ficou b8 triste, & quise-
ra irse de todo, se os senhores que estauão coele ho não
estoruarão. £ ho dia seguinte desta batalha chegou h»'
LIVAO Vllf. CAPITVLO CXLVÍ. 337
príncipe deCochim cõ vinte mil naíres seus & dos caj-
inais Q ho acõpanbauão: & erão muyloa espingardeiros.
£ vendo Marlim afonso tanta gSte junta, ouue sua es-
tada ali por escusada : & mays sabêdo Q andaua no roár
a armada de Calicut» a que era necessário í\ acodisse.
E por isso deixou a goarda daquele passo a António de
brito, deizãdolhe quatrocentos dos nossos, & os vinte
mil nayres que digo. Edespois de Marlim afõso ser ido
do passo, ficou nele António de brito quinze dias: &
neste espaço pelejou seys vezes com a gente dei rey de
Calicut, sobre querer passar o vao, & de todas foy ven-*
cedor, & fez grade destroiçSo nos immigos: o que ven-
do el rey de Calicut, & () sua perfia era por demais,
leuantou ho arrayal, & recolbeose pêra dêlro de suas
terras. Eel rey deCochim ficou liure do medo que tinha
dele.
C A P I T V L O CXLVI.
De como Marlim afonso de sousa desbaratou Cotiálemor
car capitão mor do mar dei rey de Calicut.
JL artido Martim afonso do passo do vao, & chegado a
Cochi, embarcuuse cõ trezentos dos nossos, pêra ir bus-
car a armada de Calicut, & ele foy em hOa carauela,
& vasco pirez de sam payo, dom Diogo dalmeida, &
Manuel de sousa de sepulueda em galés , & em fustiís.
Fernão de sousa de tauora. Martim correa. Francisca
de barros de payua. lorge barroso dalmeida. Francisco
pereira. Gaspar de lemos. leronimo de figueiredo , Frã-
cisco de saa & outros. E partido de Cochi foy correndo
a costa ate Cbale, onde achou Diogo de reynoso coro
cinco fustas, q se acolhera ali fugindo a Cotiale marcar
capitã mór darmada de Calicut : & despoys de pelejar
cõ ele hum pedaço: esteue muyto perto de se perder,
& foy lhe tomada hQa fusta de seys que trazia, Scosimi*
gos ho seguirão ate Çhale onde escapou. E recolhido
Diogo de reynoso á.conserua de Martim afonso, par-
LIVRO VIII. uu
3àÔ bk tfltsYôWiÀ DJL tsmk
lSd9é 'etil 1yu«te& dti artliadtí âott !rft'íg;os tornáâd pârft Ck
chim & aô òtttfo dia ^ horafl de véspera théo Mârii a*
fotísò al(lit)af €0 ha galèa fe ni6ta« mayerea <ia froU, &
as ligfeyraa ao iògò da tèrrti, •pateteo a frota doa tiuig^os
t2ittí\yê aò (ofrgo de lerra da psarte de Caliciit , €c «ra de
vintecirtco fustas , em ^ acrdauft tiiti & t)uk)hento8 fao«^
íii^s , & muylos d^les ^spitigaréeiros. E como aparece*
^ão os imig^os de supilo, os nossos que aiidaufio desejo^
aos de pelejar Coeles, pfiiicipa1«3%te Diogo de reynoso^,
hia tiOB diaúleitõS) rem^t^ logo aes iimgos, 6c A*aionio
de Nina cupitão dotftra fuala, & A iilonio de Booto t»ay or^
& outros ^ hiâo «"as fii^las ligeiras & dera -coeles anlre
€S ilheos de Pãdarane lírandolhe ui uy las bom bardadas i8c
è^pitigaírdad^ã. GoUiarle marcar que «abia que fitarti a«
ftrtiso aTidaiia no mar, par eceelhe logo <]iie eraaefuéle^
& pola fama que linha da resistêcia que fizera a el Tey
de Calicut IrnliaHie grande med6,*& cê eie nam ousoa
desperar, & delerminando de se acolher a Calicul, çar-
TWí sua arniada, & a vé^a^s '& remos se foy ho mais qne
pode perlongando a letra peranlobrav a ponta deCoule*
te. Marlim afonso que vio os Imigos, & como a peleja
Ée com^Qau-a, 'potque nam pedia cfaeg«r'com a -caraue-^
h, "Sáliou em hõa fu^sta das mai!8 ligeyras, & a biki ^gen^
te mandoua meter na fu^a^de 1'eronymo de figueyredo^
& bota a boga arrancada a lomar a dianteyra aos imi-
gos, porque nam dobrasse a ponta, & fey <5Ô«Ie Fnin*
Cfisco de barros, por ser a sfia fusta das niofs pequenas*.
£ indo assi Diogo de fejTroso & Afilonio de fíma que
seguiam os tmígos alcSijarSo bQa fusta , & aferrandoha
saliaram denlro^com sua gente, que pe^lejoo com tant^
esforço que *nhd dos Imi^^os ficou 'com a vida, & com tu»
do dos nossos forão mortos quatro & muytos feridos : E
Vendo Goliale marcar que Martim afoneo lhe tomaua l^
dianteira, & as ouitras fuslas lhe yão nas cestas, & as
galés lhe faziSo rosto pêra o tomarem de traués vio que
bo cercaríão, & que não poderia escapar antes que h&
Cercassem , poa a proa em Tíracote ^ há lugar questá na
Livao' Tiiu cMvmo cxtivn. 339
eofila, <|iie lem hã Mireeife de penedes diante do pctto
com dttft»6fiUadM, hâa. da bAda do norte, outra do9ul,
& 08 seus 8f gutrfio a poB eie , & enaecando as fualaa
quanto poderão aaltarfto em terra & meterâose antre ae
fustas , ddde tirana muylas bonbardadaa & espingarda^
das a Martin AfocMo, qae entrou no arreeife com Fran**
eisco de barro» ^ & lerenjiBo* de flgueiredo pela entrada
dai banda do sul , & na boca da< do< norte ficou a nossa
(ustalfaa, por não caberem todoe dentro, & era hum e»»
pantoso jogo de borobasdadas & despingardadas dus &
doutros, & Martim afonso por se chegar aos Imigos fir*
eou» em seco no rolo do mar,, o que vendo os immieos^
reroetetam deles á sisa fusta com graedes^ gritas: de pra«»
zer, de Ibe parecer que a» ii abam (ornada, &chegarSosd
tanto* que Ike lançanam mão da apelaçim da fusta q^ua*
cendolha enaeoar d» todo : & os nosaos quando assi vi-
ram tomar a fusta, metenamse áe lanqadaa & espingar^
dadas com os immigoa'^ de que mataram taatos que oa
fiaeram afastar^ & dos nossos- foram mortoa dous & £sh
ridos sete ou oyto*. E eatre tanto Francisco de Barros^
& leronymo de Figueyredo,. nieteramse antre as fustas
dos immtgos^ de que queyntòram alguas com panelan
de poluora & outros artificios de fogo, &. nam deyxa-
iam de pelejar até' a noyte, & começaram ás quatro ho-
ras^ & fiaera» moyto' grande dano» nos immjgos^ &doa
nossos nam ibram mortos mais de tfes , & feridos muy«
tos«
CAPITVLO CXLVIL
De coma MarUnt efmua de sausa qoiura pelejar em ter^^
ra com os imigos ^ n» pode.,
juLcabada a pelejai, pda noyte que aobretteo mandou
Marli afoBse rs tirar todas ^ & fes a frota em duas par*
tes, & dftai deu cuydadaaManud de sousa de Sepul*
ueda, que guardasse com ela* a entrada do arrecife da
banda da nerte,. & a Francisco, de barros, a outra^ & que
uu 2
840 BA HirrORU BA INBIA
guardasse a do sul, porque os Imigos nã fogissem de
noyte, que temendo que os nossos lhe não queymassem
as fustas ao outro dia, toda a noyte gastaram em varar
as fustas, & íizerá estancias darteibaria & fortalecerãose
grandemente, & na mesma noyte acodirâ todos os de
Coulete, Termapatâo, & doutros lugares darredor, &
a(juntarãse quinze mil homês, o que se logo enxergou
em amanhecendo na grossa gente que apareceo & no
grande rurtior que fazia. £ quâdo Marl! afonso vio aa
estancias & a fortaleza l\ tinham feyta,< chamou os ca-
pitães a conselho a que propôs o caso, &que er^ neces-
sário pêra sayr em terra fazer duas partes da gente que
tinha, bQa pêra ficar na frota, outra pêra pelejar em
terra 9 pêra o que a gente que tinha era tam pouca ()>
nam abastaua pêra nenhiia destas cousas, peio que to-
dos acordaram que nam era bem pelejar cõ os Imigos ,
pelo grade risco que se corria , & i| se fossem logo , &
assi ho fizeram , & tornara na volta de Cananor : B tor-
nando Marti afonso ao longo da costa peraCalicut, che->
gou a ele bO catur bem esquipado com cartas dei rey de
Gochi, em ^ lhe certefícaua ^ tornaua eirey deCalicut,
pedindolhe que lhe acodisse logo, & ele o fez assi, &
entrou cõ toda a frota polo rio deCranganor, & foy ter
ao pAsso do Vao, por onde el rey de Calicut entraúá da
outra vez, & hi achou António de brito com os casados
de Ck)cbira , & outra gente esperando por el rey de Ca*
licut, que sabendo Q Marti afonso era chegado, nam^
quis cometer de passar , & tornouse , que nam cuydou
que Marti afonso podesse acodir tam de pressa, & por
isso cometia ho passo : & vendose assi estornado ficoa
tã quebrado , que aquele verão nam cometeo mais de
querer passar a Repeli & espalhou sua gente, o que sa-
bido por Martim afonso se tornou outra vez a correr a
costa, onde tambê não achou a armada deCalicut, que
com medo dele se recolheo & ficou a costa despejada ,
pelo que aquele anno nã foy nenhiia especiaria ao es-
treylo^ & Marl! afonso se recolheo em Mayo a Cocbiai^
onde ínuernou.
LIVRO VIII. CAPITVLO CXLVIIU 341
C A P I T V L O CXLVIII.
De como Açadacão começou de fazer guerra ao gouer*
fiador.
V endo Açadacam, senhor de BilgSo, que por mais
gente que mandaua pêra tomarem as Tanadarias , que
lhe ho gouernador tinha as nam podiâo tomar , & sem-
fre era vencida em todas as batalhas que dauam aos
Portugueses, determinou de as cobrar por guerra guer-
reada, a que principalmente ho demoueram conselhos
dei Rey de Cambaya, que determinaua de tomar alu-
dia aos Portugueses (coroo direy a diante. ) E determi-
nando de fazer esta guerra foy com muy ta gente assen-
tar seu arrayal junto do Rio de Salsete, mea legoa da
fortaleza de Rachol, com fundamento de <^arrar aos Por-
tugueses ho caminho pêra esta fortaleza, com outra que
ati queria fazer , & deix>is de çarrado tomar a fortaleza
de Kachol, com quantos estauam nela : & mandou logo
assentar hfia estãcia com três peças dartelharia em hOa
terra grossa ou morro, quasi como rocha que se fazia on-
de ho rio se estreitaua muyto, & como ho canal do rio
era pegado cõ este morro^, nam podia nenhiia cousa pas-
sar pêra a fortaleza que a nam pescasse aartelharia: O
que vendo Gonçalo vaz Coutinho, & Anrrtque de melo
Coutinho, & lorge de melo soarez, i| guarda uam aquele
rio em duas galeotas & hua a ibe toca, deram hQa ante-
menhaâ com sua gente na estancia que digo, & fazen-
do fogiros mouros que a guardauam , tomaram a arte-
Iharia, do que Âçadacflo ticou muyto injuriado, & es-
tfldo assi , faltou ho mantimento a estes capitSes que
guardauam ho rio, por lho nã mandar Miguel froes fey-
tor de Goa, que tinha. cuydado de lho mandar, & tar*
dando ho mantimêto, tanto Q os eapitães nem a gSte
poderS sofrer a fome , forãose ao passo Dagact na jlha
de Goa , cuydãdo* de ho acharè hi , & tSpouco ho não
t4S BA VISTORIA DA IUMA
acharSO) & ainda ali esperaram por ele Ires ou quatro
dias 9 & neste tCpo vSdo Açadacio qtve ttao» auia guar-
da no rio {^ estoruasse, fortaleceo logo acjuele passo, fa-
aendo em ambas as bandas do rio estacadas dobradas 8b
entulhadas, eslreitanduho de tal maneyra, que nam fi-
caua mais espaço que quanto passasse hii bar^antl diaft»
te doutro , &. na coroa do morio que era chaA da banda
do ria, cMide auia algua Moneyra de desembarcaram ,
ainda que mujto roím , fez logo hum muro de palmeji--
ras de duas faces , entulhado de lerr», rama , & pedras
com hum baluarte, btraueaes, etn que fbrfto assStadas
alguaa pec^s dartelharia, & »a terra qtie cercaua o. mor»
ro, que era apaulada, midou leoanítar muytas valas,
em que foy assentada algfia attelhari»,. & assí foy coo*
tinuádo a cerca, com que ficasse hOa for<^ fortíssima,
& ficasse <;arrado bo caminho pêra Rachais E afora a
gfite de seruiço <| era rouyta, tinba AçadacSo em guv*
da desta obra des mil monroa, em qtte enlrauam muy*
toa frecheiros & espingardeiro»: B quando Gom^o. vas
lof noii com oa outros oapttSes , ^ viram a cousa como
ja , & a determinação doo mouros ^ mandaram disec ao
gouernodur quo mandasse mais gente, pêra verem ao
podiam estornar que aquela obra nam fosse auante , h
ele Oftandou tam pouca que nam aproneytou , & torna»
ramlho a mandar quo naaadasse mais , porque era ho
feyto perigoso^ flt ora. necessaría mujta goote.
C A P I T Y L O CXLIX.
De: como éam Gonpala eeutínhajfo^ ckakimfaiipi y no
(Mtfso Detúrim
vyom esto segundo recado de Gonçalo vaz oonHoho,
despachou logo ho governador a dom GSçala coutinho ,
S fosse por mar cõ oytooBtoa Portugueses ^r a desfavor a
fortaleza ^ Açadacá' faaia no paaso.dciBorí ({|.as8Í auia
nome aquele passo ) & oa capitáoo qnn o acôpanharSo
LirRO -VIU. cAFinrLo cn.ix. S43
forSo, Lionel de Hiaa , Manuei áe va«conceIo8 , loáo
juMtrte tk^ão, GÔçalo vaK couUnbo, lorge de iih^Io soa-
res, Anrríoue áe melo, Trislâo hontC, Simà de lima,
Diogo botelho ^àdrade^ Afonso iialbo, Miguel dayala,
& outros a que nã soube os 'nomes, iodíos fidaigofi 6i gen*
.le de feilo : £ falia terça feira ero anoytecendo foy dom
Gonçalo com seus capitães embarcar ao passo Dagaciai,
fe o Testo da noyte que |>a8sou no rio perto do passo de
Bori , ordenou c5 os outros capitães de cometer a forta-
leza dos mouros em amanheoedo, & que ele cõ quatro-
centos homes daria no rosto da fortaleza , Q era o lugar
mais perigoso, & Lionel de lima com duzentos Portu-
gueses desembarcaria mais a baixo pêra Goa , & rodea^
ria pêra cometer a fortaleza por de trás , & Manuel ée
vasconceios com outros duzStos desembarcaria mais a^
cima pêra Rachel pêra dár por outra parte , êi tomas-
sem os mouros no meo que não se fodessem defender:
£ porque por amor do morro que fazia bQ cotouelo, não
Be podião Ter pêra darè todos a h&a , assentouse que
qoãdo dom Gonçalo ouuesse de desembarcar , mandasse
4ocar as suas Irôbeias, pêra que a este sinal desembar-
csiBsem Lionel 'de lima & Gonçalo vaz : £ qiuerendo a^
manbeeer abalou dA Gonçalo pêra «e chegar á fortaleza,
'&, os «outros coeie, cada capitão e8 sua gente pêra onde
ihestaua assimido (} desembarcassem : & quis sua desa»
iientura de d6Guiiçalo, que bua fusta «m <]ue ya , assi
fx)r s«r grande como por jr muyto carregada y nâea po-
de nad*r pêra chegar onde auia «de desembarcar, no que
«e deteue até meobaã elara^ o que v^ndo dom Gronçalo,
i& -que a fusta não surdia , mudouse dela a btl eatur , &
coeBÍã reuolta •& cô a grande opressão que lhe dana a
artelharia dos imigos que neste t&f)o jugaua muy bra-
uan»ente, esquecee a dom Gonçalo de leuar eonsigo as
irombe<as pêra fazer o sinal questaua ordenado , nem
menos Ibe Icmíbrou teuar a band^^ira : E cbeganduse ele
pêra o morro com a gCte do seu escoadrão , í\ ficou no
meo 4as 'estancias darietbaria, que 4m mouros iiabão naa
344 3k HISTORIA Dá ÍNDIA
estacadas dambas as bandas do rio, em que tSobem ed^-
lauão muytos frecheiros & espingardei ros^ foy cousa me-
donha de ver os pelouros de bombardas &despingarda8
Q desparauâ dOa & doulra parte >, bobas de fogo, & fre-
chadas, que lodo o ár era cuberto: £ logo muyloa dos
Portugueses do escoadrão de dom Gonçalo forão feridas
& mortos, & ele chegou c5 muyto grande trabalho a hfta
calheta () se fazia ao pé do morro á borda do rio onde
auia de desembarcar, & hi achou ò calur Dafonso Galho
que ja tinha desembarcado, & foy o primeiro que com
quatro dos da sua capitania trepou polo morro & subto
ao muro, & hu dos quatro auia nome Bastião da costa,
& outro loão pinheiro mulato & natural de Setuuel, &
aos outros nã soube os nomes: E posto que sobre o mu-
ro acharão grande resistScia nos imigos, de que matarS
nalgils, & outros fizerão saltar a baixo feridos, ganharIL
hft pedaço do muro , recebêdo sobrisso muy grades ferir
das, & se teuerão quê os ajudara, sempre a fortaleza
ficara poios Portugueses , por cujos peccados nosso Se-
nhor permitio que não se^ganhasse: Equerendolhedom
Gonçalo acodir, arremesouse cõ muyta pressa fora do
catur, & passando por cima do outro, começou de tre-
par por hfls páos diante de (odos os que o acompanha-
uâ, & sobindo ao muro cÕ muyto grande ousadia, deu-
lhe dil traués hua arcabuzada no braço esquerdo l\ lhe
esmiunçou grade parte dele, & coesta juntamSte Ibede-
râo com húa panela de poluora na cabeça que o ouuera
de queimar, se não fora a celada que leuaua , & coisto
foy tanta a pedrada com grandes pedras , que o desati»
narão & cayo a baixo, & deste mesmo traués forão tan-
tas as arcabuzadas, panelas de poluora, & pedradas,
que não deixara sobir nhfi da sua companhia, & no
mesmo catur matarão & ferirão a todos, & antreles foy
Tristão home valente caualeiro , que eu conheci na ín-
dia, & a gSte dos outros catures do escoadrão de dò
Gõçalo não poderão desembarcar na calheta, por ser tão
estreita que não cabião nela mais que os dous qae.esr
LlVflfO VIIK CAPITVLO CXLIX. 34&
tnuS dSlro, & quãdo víão Q nSo podião entrar chega-
uãose ao morro & trepauS por ele pegaodose a vergon-
teas & a troços deruas , mas os tnouros não os deixauS,
iirandolhes com o que disse, & coisso muylos tições a-'
cesos, com que feriâo, espedaçauâo & malauâ os Por-
tugueses sem se poderS valer, & entretanto Afonso fia*
lho & os outros qualro que estauão sobre o muro forão
lâo apertados dos mouros cõ feridas que receberão, que
loão pinheiro & outros dous cayrão mortos do muyto
sangue que se lhes foy , & Afonso (ialho & Bastião da
costa forSo deitados do muro abaixo quasi mortos, & fo-
ra cayr no catur antre os outros , a ^ os mouros derão
grade grita: Neste tempo Lionel de lima que desem-
barcou primeiro que dõ Gonçalo, quãdo vio que tarda-
va o sinal das trombetas, & entrando per hQ aruoredo
espeso, foy sayr onde os mouros tinha feytas suas va-
las detrás da fortaleza, & como era mancebo & esforça-
do, em vendo os mouros adiantase do corpo da gente
com cinco homSs, leuando ho seu guia, & foy cometer
hu magote de mouros, !\ o ferirão tão mortalmente des-
pingardadas que logo cayo morto, pelo í) o seu guião
& os cinco lançarão a fugir, & os outros que (ícauão nil
corpo quando aquilo virão desbaratarãose com medo, &
fufifirão tão desatinados que não pararão menos do rio&
embarcarãose com grande afronta, porQ os seguião os
mouros & matarão muytos, & acabarão todos se não fo-
rão os nauios a ^ se acolherão, & Manuel de Vasconce-
los não desembarcou , porque não ouuio o sinal !| espe-
raua, & teuese até ver o que seria, se não quãdo ouuio
a grita dos mouros cÕ prazer do desbarato de dom Gon-
çalo, q se partio logo pêra Agacim, com lhe ficarem
mortos perto de duzStos homSs, em que entrarão Tris-
tão homS, Lionel de lima, Simão de lima & outros, &
leuar quatrocentos feridos, & assi se tornou pêra Goa.
LTVBO VIII. XX
8M BA HISTORIA DA ÍNDIA
C A P I T V L O CL.
De como Pêro de faria derrtbmi aforiaUxa de RachoL
t^ora quanto dom Gonçalo foy desbaratado, neoi por
isso ho Gouernador dey xou de mandar guardar o rio co<^
mo dantes , pêra que esioruasse 4 o^o fizessem os !mi-
fos a fortaleza que faziâo, & deixou Gõçalo vaz couti«-
nbo com os capitães que tinha & ainda oulros, que fo^
rSo loâo j usar te tição ^ loão fernandez de Vasconcelos,
Diogo botelbo dandrade, & IMiguel dayaia, & esles três
em bateis de mantas, pêra esbombardearem os mouros
qoaodo trabalhassem na fortaleza, &andauão certos ca^
pitfles de caiures pêra acodirem a estes bateis se fosse
necessário: £como Açadacâo vio esta armada Q anda-»
ua no. rio, não quis mandar trabalhar na fortaleza de
dia, porque dos bateis lhe matauão a gente cõ bobar*
dadas, &mandaua trabalhar de noyte que lhe nãofarião
tanto nojo: Ecom quanto os Portugueses derribauào de
dia com a artelharia parte da obra que se fazia de noy-
te, náo era (âto, que não fosse em mu^^to crecimenlo,
& nefita perfia estcauâo continuamente , em que hús &
outros leuauão muy grande trabalho: E aigús arrenega-
dos 4 estauã com Açadacâo, diziâo de noyte por seu
mandado a Gonçalo vaz , que se espàtauâo dele , f\ seut-
do tão b5 cauaieiro & antigo na índia, não conselbar ao
gouertiador Q disistisse daquela guerra que fazia a Açar
dação pois era lâo injusta, *que por força lhe queria lo*>
mar suas terras , sendo ele amigo dei Rey de Forlugal
fc tendo ambos paz, & sobre {} linha protestado Q auão
quebraua por se defender & trabalhar de cobrar suas
terras , que lhe o gouernador tinha por força , & como
fosse na índia outro gouernador, auia de mâdar tirar bfi
estromento da pouca culpa que tinha naquela guerra, &
de não ser em cargo dos gastos que o gouernador fazia
nela , pois se defendia , & que com aquele estormento
LKVBO VIU. CÁVITVLO CL. 347
aoia de mandar bum seu criado a Portugal queixarse a
e\ Rej da guerra que Ibe ho gouernador fazia , & tftlaf
veaes foj iato dito a €rÕçalo vaz que deitou nifto ditsoj
& escreueobo ao gouernador, &quedeoia dacodir, porq
a fortaleza doa niouroa ya de cada vez em crecimento,
aem lhe poder eitoniar que nSo foase , & mais que ele
íí outros capitães estauSo de dStro do rio pêra Rachol ,
donde oáo podiáo sayr sem inuy to perigo : E vista esta
carta pelo gouernador, pareceolbe que Açadacão se ju»-
tiiicaua, assi pêra Ibe alargar asTanadarias que Ibe ti-
nha tomadas , que ete estaoa bem fora de Ibas tornar
em quanto as podesse defender : £ por{| pêra esta guer-'
ra lhe fazia grande pejo a fortaleza de Kacbol, pois pe-^
ra a segurar Ibera necessário ter sempre gSte naquele
rio, & por amor dela Ibe era grande perjuyzo fortalecer
Açadacão aquele passo , pos em conselho se serra bem
derribala, & foy acordado que sy, pêra bo qne logo de»«
pachou Pêro de faria, porQ sabia muylosardijs, &aque
08 mouros auiSo grande medo: E cbeg.ado Pêro de fa-
ria, logo de noyte lifae os arrenegados disserSo bo que
diziSo a Gonçalo vaz acerca da guerra com Açadacâo,-
ao que eie respondeo, que lhe dissessem , que cousa de
tanto peso como aquela, se nam auia de dizer assr, que
falasse coele & entenderseySo. E como AçadacS dese-
jaua mnylo de ter paz c& o gouernador , pêra cobrar m-
suas Tanadarias , que bem via Q por guerra auiSo de
ser ra^s dauer, folgou coeste recado de Pêro de faria,
& ao outro dia fez como Pêro de faria lhe fosse falar,
dãdolhe arrefefis seguros , por() ele por ser muy to velho
nã podia decer do Morro : E nesta vista cdcertarão, que
A^dacSo mandasse ao gouernador bii embaixador, com
hâa r»s4ru<;ft do que queria, & que ete lhe escreveria
que o fizesse, & isto por Goa receber dele boa vezínhau-^
ça , & nS por medo de guerra , porque aquela força nS
era nada pêra os Portugueses se eles quisessem : &en(re-
tãto que o embaixador fosse & tornasse Q teuessem tre-
goas^ & tudo isto era ardil pêra poder derribar a forta-
XX 2
348 Dá historia BA IlfDIA
leza de Rachol & passar sem perigo, porque doutra ma-
neira náo podia ser , & assi ho escreueo ao gouernador,
& Q pêra o poder fazer deieuesse o embaixador Daça-
dação alé muylo tarde 9 & Q soubesse que quãtos Por-
tugueses auia na Índia , não erSo poderosos pêra derri*
barê a fortaleza que fazia Açadaca : £ partido ho em-
baixador , Pêro de faria passou fi paz pêra a fortaleza
de Racbol por virtude das tregoas , & oiuito de pressa
recolheo a artelbaria da fortaleza & a gente nos nauios
que tinha, que fez logo sajr pêra fora, que tàobem pas-
sara em paz , & ele ficou cÕ algiis bõbardeiros picado a
fortaleza & minâdoa, o que tudo se fez muylo prestes:
& cõira a tarde mãdou dar fogo ás minas , ^ arrebenta-
do cayo toda a fortaleza sem ficar nada em pé, & derao
tamanho estouro ^ foy ouuydo dos mouros, & Açadacão
mandou logo por terra saber que era aquilo ( que nSo
voou ao que era) por estar descuydado de tal cousa ^
por lhe parecer que o gouernador quereria paz , segun-
do entendera em Pêro de faria , que em dando fogo ás
minas se foy polo rio abaixo : & enlretâlo o embaixador
Da^dacSo foy ao gouernador com a instruçSo de sua
embaixada, Q era pedirlhe as Tanadarias, lembrando-
lhe a condição cõ ^ lhas dera. £ vendo o gouernador a
carta de Pêro de faria , deteue o embaixador até bem
tarde , & respondeo por derradeiro que não queria sol-
tar as Tanadarias, nê queria coele paz se nã guerra. £
partido o embaixador coesta reposta, em chegado ao
passo de Bori achou no rio Pêro de faria que vinha de
derribar a fortaleza de Rachol, & logo se foy pêra Goa
zombando Daçadacão, ^ senlio muyto o engano que lhe
fizera Pêro de faria & mais porque ticaua de guerra com
o gouernador , & esleue assi suspenso hus dias cuydan-
do no que faria.
LlVaa VIII. OAFITVLO CLI. 349
C A P I T V L O CU.
Dú ardil c6 que el rey de Cambaya quisera cegar afor^
taUzã de Diu ^ nSo pode.
Jbil rey de Cambaya ( ooiuo disse a iras ) estaua muyto
arrependido de dar íbrlaleza em Diu ao Gouernador de*
terminou de a lomac, pêra o que quisera fazer o muro
âtre a cidade & a Íbrlaleza j que lhe o gouernador não
cõsentio : £ dissimulado {} lhe não daua disso : como se
o gouernador parlio de Diu , se lhe dobrou a vontade Q
tinha de tomar a fortaleza, pêra que mãdou ao Rao ca*
pitão de Diu, que tanto Q se ele partisse, come^^asse de
fazer bttas estrebarias no lugar em que quisera fazer o
muro & Q fossem compridas, & de vinte pés de largu-
ra, com as paredes muyto fortes que viessem ao oliuel
do itmro da fortaleza & se lhe perguntassem que era al-
quilo , dissesse que erâ estrebarias pêra caualos que ali
determinaua de ter : & como fossem acabadas as entu-
Ihasse secretamfite & entulhadas que ficaria hQ forte mu-
ro assentaria nele a artelharia que lhe parecesse neces*
saria pêra bater a fortaleza, & que lhe mandasse recado
que tornaria logo: E deixãdolhe cinquoenta mil homès
de peleja, se partio a cobrar os lugares que lhe tinhão
tomados, & ele partido, dahi a poucos dias começou, o
Rao de fazer as estrebarias : E sabido por Manuel de
Sousa capitão da fortaleza, logo lhe pareceo o que era,
& roais lembrandolhe o muro Q eirey quisera fazer na-
quele lugar, & tàobê..lbo disserâo os Portugueses, con-
selbandolhe que mãdasse dizer ao Rao que não fizesse
aquelas estrebarias, íl quando nào quisesse, Q lhas der-
ribassem: E parecendo isto bê a Manuel de sousa, lo-
go aos quatro diaa Dabril se foy a casa do Rao , & de-
pois de lalar coeie sobre não fazer as estrebarias, & as-
sentarão que o Rao mandasse dizer a el rey deCàbaya,
como Manutd de souaaJhe ya á mão a fazer as estreba-
SSa DA HISTORIA VA INinA
rias, que lhe mandasse dizer o que faria, & () entre-
tanto nâ se bolisie nelas i & o Rao n& entistia mais era
fazer o que lhe mandaua el rey deCambaya, tendo tan-
ta £6te pêra o poder fater ^ assi per ser amigo de Mar
nuel de sousa y como polo ter de sua parte , pêra se lhe
el rey de CSbaya quisesse fazer algum mal , & se isto
nio fora sempre insistira em íazeraa estrebarias, & rom-
pera a guerra, com o ^ Manuel de sousa teuera grande
trabalho por ser entrada dÍDuerno, & o gouernador nâ
lhe podia socorrer : E sabendo el rey de Uflbaya por re»
cado do Rao, coroo lhe Manuel de sousa impedia as es^
trebarias & imaginando que seria por entSder o fim pe^
ra que erSo, não quis que lhe eatèdessem sua determi-*
nação, & mudou o propósito Q tinha de tomar a forta^
leza cò dissimulações, se nã deseubertamèie por sua
pessoa : & pêra ^ o gouernador não podesse socorrer á
fortaleza, escreueo a Nizamaluco, aHidalcã, & aÂça«»
dação, & a el rey de Calicut, i\ determinaua de tomar
á fortaleza de Diu , & despois deitar os Portugueses fo*
ra da índia pedindolhes muyto J\ o ajudassem cd faserfi
guerra aos Portugueses, pori| ocupados coela, não po^
dessem socorrer híks aos outros , & esta foy a causa Da-»
çadacã & el rey de Calicut fazerem a ^sfuerra {) fazião
aos Portugueses , & Nizamaluco & Hidalcão não a fíz&*
rão, por não estarem em tempo pêra isso, & escreueo
tãobem ao Raa ^ deixasse de fazer as estrebarias , pcH*^
que tinha determinado de tomar a fortatesa por outra
maneira, que como fosse desocupado dos negócios S que
andaua , que ele acodiria a Diu -& toniaria a fortaleza ,
& assi Ihesereueo o Q escreuia aos reys da índia , &
ceeate recado não toj feyta mais obra nas estrebarias,
cova -o <^uè Manuel de sousa ficou ilescãçado, porê ficom-^
lhe outra guerra: por{} sabendo^^e mouros, psiocipaU
mete os soldados, Q el rey deCambaya determinaua de
tomar a fortaleza , êsoberbeoeranse nmyto cfttra os Por^
tugueses, & queriam» tratar como oatíuos, dandolbes
mi<2;tos encõtros se oe aobauina ei^laiàe, & oospiado
LIVRO TH r. CATITVLO CU. SÔl
neles, & dixCdolbes palauras injuriosas. O que sabendo
Manuei de sousa , por eseusar brigas & soster a paz ,
paaadou pregoar 4 sopena de dez pardaos, nbii Portu-
guês nâ fosse fora da fortaleza , roais Q até hft tiro de
pedra: & sabendo os Portugueses a causa do pregão,
ná o podião sofrer, & diziâo que pêra Q era ter paz c6
os mouros pois eles queriâo guerra, & não deixauão dír
á cidade em cõpanhias & rouyto a recado : E acerlouse
aos quatorze de lunho, Q andando híls Portugueses na
cidade , hú tiro de besta da fortaleza , quis hum mouro
dar hiia bofetada a hum Português, & eie bo matou an-
tes ^ Iba desse , sobre o que se armou bu brauo arroido
de cutiladas & pedradas, antre muytos mouros & algfls
Portugueses , ao ^ Manuel de sousa acodio & fez reco-
lher os Portugueses , ^ os mouros ouuerSo por seu ba-
rato de se apartarê por^ leuaua o peor, do Q pesou muy-
io aos Portugueses Q andauâo no arroido pdr^ lhe nam
deixarão matar os mouros, & deitauão as armas no chão
cõ menScoria : £ recolbendose Manuel de sousa, mata-
ffio os mouros cinco Portugueses ^ andauã negoceãdo
na cidade, do ^ Manuel de sousa ficou tão agastado,
que pos em conselho se rõperia a guerra , & foy deter-
minado i\ não , & a principal causa , por nã terê agoa
na fortaleza, sem i\ não poderião sofrer o cerco, & lão-
bem por auec tamanha soma de mouros na cidade , Q
lhe darião assaz de fadiga, & por nã poderem ser so-
corridos em menos ^ dali a ires meses, por isso fi se
deuia de payrar o melhor ^ podessem , & pedir ao Rao
^ entregasse os mouros Q matara os Portugueses, pêra
Manuel de. sousa fazer justiça deles, & quando não qui-
sesse, ^ dissimulasse até a vinda do gouernador, a )|
maodariâo recado como viesse o verão & entã se vinga-
ria. Isto assentado, Manuel de sousa quis ser ho Q fos-
^e pedir os mouros ao Rao, & não leuou mais que quo-
renta alabardeiros & espingordeíros j} erâo da sua guar-
da, & assi seus criados, fazendo fechar as portas da for-
taleza ao alcaide már antes que se apartasse dela, &r6-
862 OA HISTORIA BA fNDfA ^
querendolbe da parle dei rey f\ Dão deixasse sajr dela
nbils Portugueses, & I{ ficasse por capiíão se lhe aoSle-
cesse aigQa .cousa , & cõ islo .se foy ás casas do Rao, l[
eslauS cercadas de bê quorenta mil mouros todos arma*
dos , & tS soberbos , Q punhâo niedo a qu6 os via, &cd
tudo nâ bolirS consigo vedo Manuel de sousa, & derão-
lhe lugar que entrasse : Entrado e|e , cõ tanta segurí*
dade como Q eles fora seus , & faUtdo ao Rae queixan*»
dose dos mouros ^ lhe matara os Portugueses , quisera
Q lhos entregara, & ele se lhe desculpou 1) o não podia
fazer sem licSça dei rey de Cambaya^, a quê escreueria
a cousa como fora, & i} ele lhe mãdassa pedir os mou«*
ros , & assi se íez , mas el rey de Câbaya se rio bã dm
lhe Manuel de sousa pedir os mouros, & escreueolhe Ç
Ihosnã auia de dar, porem Q mãdaría aos seus Cacizes
que os encomendassem a Mafamede« E quâdo Manuel
de sousa vio esta reposta, teue por certo 2) el rey lhe
auia de fai^er guerra ou algfia treyção, & dali por diãte
nH repousaua coeste cuydado, & tinha grade guarda so-
bre o8 Portugueses que nS fossem á cidade , & vigiaua
de noyte a fortaleza cÔ muyta diligencia.
C A P I T V L O CUL
De como el rey de Cambaya tornou a Diu^ ^ do quefezi,
Jl assandose estas cousas em Diu , deu el rey de Cam*
baya fim a suas guerras, & foyse a Diu, onde chegou
a dez dias Doutubro, & logo em chegando, hfia noyte
disse hii mouro a Manuel de sousa á porta da fortaleza
estado ele só da banda de dentro c5 a porta fechada, &
o mouro de fora , {) se ao outro dia ho mandasse cha-
mar el rey de Cambaya f\ nã fosse porQ o queria malar,
& por^ nã cuydasse l\ lhe dizia isto por algfl interesse ^
Jhe nã dizia quê era, & Manuel de sousa não disse isto
então a ninguê, até ver se era assi, se não quãdo ao
outro dia foy chamado da parte dei rey de Cambaya, &
^
LIVRO VIÍU OAPITVLO CIÍTT. iàZ
Ainda !) sabia bo ^ lb«o mouro dissera nSio derxon dir,
porQ ouue medo ^ nSo indo tornasse el rey acha{) p&ra
rõper a guerra , ao que ele desejaua muylo dalalhar, &
tãobS pareceolbe Q não ganbaua el rey nada ê o malar,
pois coífiso nâo tomaua a fortaleza , & roais Q ,o auiso Q
tbe deu o mouro seria falso: E deitadas bè suajs conlasy
assentou em yr, deixado o alcaydo mor por capitão, a
^. encomendou muylo a guarda da{}la fortaleza &defen^
são se necessária fosse : E deixando toda a gente arma-
da & artelharia prestes, foy falar a el rey, não leuãdo
mais ^ os da sua guarda & seus criados, & el rey o re-.
oebeo cõ muylo gasalbado, &Jhe mandou dar hQa Ca-(
baya rica, & Ibe pergiitott como eslaua, & ele Ibe deu
de presente bii Montante com a maçaâ & cabos doura^
dos, & hils estribos & esporas do mesmo teor: £ Ma*^
nuel de sousa por ser esta a primeira, vez ^ o via^ nSL
Ibe quis logo faiar na morte dos Portugueses, & tornou-
se aa furialeza, mostrado el rey !\ fícaua seu amigo :•
mas como era muyto incõslanle logo se mudou » & dali
a algiis dias estando na quinlaã de Meii^ , determinan-^
do Consigo de tomar a fortaleza o pos em côseiho, em.
^ foy cõselbado per toJos Q o nã fizesse, &6ua mây Ibo
rogou muyto, dizêdo f\ os Portugueses n«1o lhe fazião
phQ mal, & que sebolisse coeles lhe ficariâo por imi-
gos, & nâo lhes auia de tomar a fortaleza, & eles des*
truirlheyâo a cidade, por isso ^ fosse seu amigo, &não
lhes fizesse guerra, & ajadoua muylo Sãtiago em Q el
rey confiaua, a ^ disse Q nâo auia de tomar a fortaleza
aos Portugueses tão faciJmSte como lhe parecia, porque
a fora ela ser muylo forle, & artilhada de boa artelha-
ria, eles erâo tam leaeis & tâo esforijados, ^ auiã to-
dos de morrer primeiro f\ a perdessem , que se lha não
tomasse por algíí ardil Q por força era escusado, !\ o ar-
dil auia de ser, fazerse muyto amigo de Manuel de sou-
sa, & dissimular com o yr ver aa fortaleza , pêra que,
tãobem descansasse dalgda sospey ta se a teuesse: &vin-.
do o gouernador a Diu ,. coeata amizade o poderia prS-
UVRO VIII. * YY
tbé m H»TORIA lU INMA
4er ou matar , & sendo ele morto <m preso tomaria a
fortal^sa, porque morto o gouernador, não auiio osPor^
tugueses de ter esforc^o pêra se defvnderS ^ & 4 daque-»
la tnaneyra a tomaria a seu saluo , ^ nisto assentou el
rey: £ oomo era acidentai & apetitoso, quis logo yr á
Cuf talesa , onde foy aos treze ae Nouõbro ás oyto orae
danoyte, nâp indo coele mais que o Rao & dous ou-^
tros senhores mouros, & sem ter mandado recado aMa*
Ruel de sousa que auia dir, bateo de supito a estas oras
4 digo: £ sabendo ManueJ de sousa Q ya mandim tocar
astvÕbetas, &,como os Portugueses andauào cõ atoar*
das de guerra, em hCt momeato foráo (od«s armados &
postos uo terreyro da fortaleza , & erâo perto de noue«
eeatos, a Q Manuel de sousa mildou Q fizessem h&a rua
perãtreies c5 muy tas tochas anlresachadas , c6 cuja cia-
sidadeas armasF peeplâdeciâo (^ era húa b& fertnosa coo*
sa: E nisto abrio Manuel ée sousa o postigo da porta
da fortaleza, & entrou et rey, que mãdou Q nâo entras^
se» coele mais ^ o Rao & os outros dous, & que toda
a outra gente ficasse de fora., & logo mãdou fechar e
postigo k isto por segurar Mamiel de sousa, & ficou es«
pantado de chegar tflo d« supito, & achar os Portuguch
ees armados Ifio asM»ba: E> dando a èntend^ir oue se '»«
gastaua entre tantos armado», disse a Manuel de sousa,
4 se el# era tamanho amigo dei. rey de Portugal & doa
Portugueses que pêra § se armauão, ao que Jhe respon-
deo , Q não estranhasse aos Portugueses armarense pov
suavioda, porque oesiumaufie de o faaser quand4D>osreys
éntrau$Q nas fortalezas dei rey de Portugal, com o ^ e*
rey descansou , & foy ver deatro as casas de Manuel
de sousa : E o Rao sabSdo que lhe tinha descuberta ai-»
gíla parte do mal t| el rey queria aos Portugueses, quan-
do ?ÍQ el rey na fortaleza & enUar nas casas de Manuel
de sousa, reaeandose í| o matasse disselhe, eapkâo pren-
der & nSfy matar, k Manuel de sousa lhe disse , ^ nto
ama de fazer hOa eoasa n« outra , k depois dizia í}^ o
de faaes , pop^ bA sabia se o- ouuera o guueroaii»
LIVM» VIU» CA»ITr»r CHiIII. 3d6
dor por< bft: E vendo d rèy aa cans da Manuel 'de ioa**
fiâ gaoalbaa Inoyio^ & éiiftdolbe de Q as oaaas, forUn
ieca, ele^ & oaPortugueaea, iudo^era aeu^ disae eltep
am Português : Bofe amigo, a follaJezA be dei i^y leu
•eftor ^ & aa ctaaa são luas, £ aueodo obta da mtea ora
^ eataua dêlro Éayose^ koSdo MtiiMi^i ^e aouaa por kOa
mão^ & o Rèo por outra* ata sayr da forialesa^ & foysa
pêra aua caaa coydando^deíKaufi Mandei de&ouaamuy-*
lo fora de soapeyta oõ aquela yda ^ & ele como ooqIm^
cia ei rey , tem iate dela ooAio dantea. '
C A P I T V L O CLIli.
De como Manuel de sousa escreueo ao Gmê€r$9àéor o quê
pasaaua ém Diu^
aaaadoa poucos dias que el rey foy á. forUlMay tfeué
Aòua certa da grade guerra que el rey de Calinut , &>
AçadaoAo^ fatião aoa Portuguesas^ & cDitioera tncõsr*
tante^ Sl tinha moriai ódio aoa PoMuguesea, esqueciíto
do conselho ^ tinha tomado, quis ioniar^por for^ a ím^
ialeza, & iem nhâ propoailo, mãdou iiura. dia de. pre«*
sente a Manuel de Sousa quorêta galiilhsia muytD ma«*
gfáa & sem cabeçaa & perbasv&iet» âasi por aõbárdcAÉy
eonio por sinal de guerra^ &Âdamiel de sotisaas taraouy
o que não pareceo bem aos Portoguesea, <f lia logo símh
bera que aquilo era faaet el rey eâcarti^o deles & maie
sinal de guerra, & entã se arrepSdeo Manuel de sousa
de não prender el rey quãdo foy á fortaleza , pois sabia
sua determinaçã, & escreueo logo ao gouernador por hu
Francisco anrriquez quanto lhe tinha dito o Rao da de-
terniinaçã dei rey de Cambaya & o que tinha feito, &
como o não prendera quando fora á fortaleza por não sa*
ber sua vontade, & ^ acudisse a Diu porque esperaua
por cerco : Vôdo o gouernador esta carta ficou muy a-
gastado de Manuel de sousa não prender el rey quando
o teue na fortaleza pois sabia sua deterroinaçil : £ em
YY 2
36S OA HISTORIA DA ÍNDIA
acabando de a ler , escreueo outra {K)r sua mSo a Ma»
nuel de sousa, estranbandolbe nflo prender el rey, &
que o prendesse se o acolhesse outra vez na fortaleza ,
por^ ele partia logo, & na mesma ora mãdou coesta car-
ia a hu criado seu , chamado Pêro de chaues , de que
confiaua uiuyto, que foy em hil catur bem esquipado,
leuando a caria cosida em hfl gibão, ^ deu a Manuel
de soosa, o qual nSo pode prêder el rey pt^r nà tornar
mais á fortaleza: C por neste tempo o e^nernador an«
dar em concerto de pazes cÕAçadacâo, màdou diante a
Diu Manuel de macedo cÒ algOa gente , niandandolhe
que dissesse a Manuel de sousa (} como ete chegasse a
Diu, desparasse toda a artelharia & fizesse grande Tes-
ta, dizendo que chegará quatorze nãos de Portugat que
leuauão sete mil homSs , & assi foj feito , com o ^ el
rey de Cãbaya ouue medo de declarar a guerra : E rnu»
dando então o conselho de tomar a fortaleza , assentou
eai prender o gouernador & mandalo chamar, fingindo
que queria falar coele cousa que importaua muyto aò
serui^o dei rey de Portugal , porque coisto yria logo &
mandoulhe hil embaixador, que era hii mouro muyto
bonrrado seu capitã, filho doutro ehamado Lucâo, grã->
de senhor em Cambaya , que tinha hd conio douro de
iMa : & este embaixador sabia bem a treyçSo 4 orde-
fiaua el rey de Gâbaya , que lhe mandou que fosse por
Baçain & leuasse consigo G>jexacoez , <). era Taaadar
■lór dei rey de Cambaya naquela terra.
LIVRO TUI. CAPITTLO CLHII. 867
C A P I T V L O CLIIIÍ.
De como foy descuberta ao gouemador a treyção dei rey
de Cambaya.
\^oin quanto Aijadacão estaua tão forte no passo de
Borí, & vio derribada a forlaleza deRachol , & vio des-
baratado dô Gonçalo coutinbo, & mortos duzentos Por-
tugueses ^ nâo descansaua por^ o gouemador não que^
ria paz eoele, que bem sabia que sem ela nâo podia co-
brar asTauadarias de Salsete & de Bardes, (] era o fim
porQ fazia esla guerra, & por isso não deixaua de pedir
paz: £ ainda depois de ydo Pêro de faria, quàdo der*
ribou a fortaleza de Racliul, mandou bu embaixador a
pedir paz ao gouemador, promelendolhe se a fizesse,
cõ ihe dar as Tanadariaa, de lhe descubryr hâa cousa
que ihe importaua muyio sabela , & nittto lhe f(/y dada
a caria de Manuel de sousa, acerca da deierminaçam
dei rey de Cambaya : £ vendo o gouemador que lhe era
necessário acodir a Diu, & que Goa ficaua em perigo se
ficasse de guerra com Açadacão, determinou de fazer
paz coeie & darlbe as Tanadarias , & ntais porque sou*
be do mesmo embaixador o que escreuera a A<2adacâ&
nós outroa senhores, acerca de fazerS a guerra ^ lhe fa-
zia por eaaa causa , & mosiroulbe a própria carta quel*
rey de Cambaya escreuera a Ai^dacão , & qu^ isto era
ho ^ lhe im|)ortaua de saber, por() não se fiasse dei rey
de Cambaya : E bo gouemador porque não parecesse
que coeste medo fazia as pazes dissimulou, dizendo que
Aã lhe daua nada dei rey de Cambaya , por^ tinha em
Diu niuyto boa fortaleza & gfiie com que a defender,
mas |Mir A^adacft ser vezinho de Goa & amigo dei rey
de Portugal , folgaria de ter paz coele & tornarihe as
Tanadarias, com condiçS, qne eJe mandasse bu embai-
xador a ei rey de Portugal sobrisso, como dizia dantes^
& que se el rey ouuesse por bem que lhe ficassem as
S5S BA HI8TOKIA DA IKDIA
Tanadarias que lhe ficariâo, & se nSo que as aoía de
tornar ) & assi se fez a paz: E depois disto chegou o
embaixador dei rey de Cãbaya , & coele Xacoez a que
o gouernador mandou fazer bom recebimento & lhes fei
muyta honrra, & deulhes por oõpanheiro a Coge perco*
lim hu mouro Persiano (de que faley a trás) que eu
conhecj, em que o gouernador coniiaua muylo, por ar
uer aonos ^ andaua na Índia & ser amigo dos Portu*
gueses &esprementado por leal, &maÍ8 era muyto pto*
dente, & por isso lhe encomendou o gouernador quelbd
soubesse do embaixador dei rey de CSbaya a determt^
nai^o dei rey , & tâobS rogou o mesmo a Xacoez quê
linha por amigo, & lhe descobrira que el rey de Cam*
baya lhe mandara que comprasse quanto arroz ouuesse
em Baçaim & )x)r a!|la terra, porl} os Portugueses o liá
achassfi, & que nisto lhe parecia que el rey qaeria fa*^
zer guerra á fortaleza de Diu, & a ele treyçâ, por ai-*
gOas cousas que lhe o embaixador dissera: £ coneerta^
do isto com estes dons mouros, eles tomarSo a oargodô
o saber, pêra que hCl dia derâo hà banquete ao embais
xador, em que entrauão muyto bõs vinhos, com que fi*^
cou quSte & ledo, & ficando todos Ires sós sobre co^
roer, começara Cogepercoiim & Cogexacoez de dise«>
rem mal dos Portugueses, & brasfemando deles, por os
males que fazião aos mouros, & espantandose moyto dei
rey de Cambaya sendo tamanho senhor^ como os não
deitaua fora da índia, dandothe por isso muyta culpa,
& que deuia de tomar o gooernador em bQ baqueie que
lhe desse, ou em outro lugar & prendelo, porque preso
facilmSte lhe tomaria a armada & a fortaleza-, & depois
tomaria as outras fortalezas, & deítaru os Portugueses
fora da índia, o que lhe seria mayor bonrra, que ser
tamanho senhor eomo era , & pêra sua fama sayr p^\o
mundo, deuia de mandar ô gouernador depois de preso
ao Turco em hOa gayola de ferro: Eo embaixador oom
a ledioe que tinha, riose muyto quc^vndo ouuyo ittò, d^
zendo que assr bo linha el rey de Cambaya d^lermina>
LIVRO YIII. CAPltTLO CLIIII. 369
4d : &, que eomo iio gouernador fosse em Diu , lhe auta
de dar bum banquete & a seus capitães, oa quintaã de
Meiique, em hOa orta que tinha cercada de forte mu-
ro ande os auia de prèder a todos , ou nas suas casas
quando os nam podesse acolher na quintaâ. Eperamayor
certeza do gouernador, esiaua em outra casa pegada
com ela hú Português, que sabia a lingoa, que ho ou*»
iiia & escreuia, & deu tudo ao gouernador, que deu muy--
tas graças a nosso Senhor por lhe descobrir aquela trey-
çam , & bem parece que foy aquilo permissam diuina,
jiorj) a Cbristandade que auia na Índia nam se perdes^
se, ho que ouuera de ser, se a treyçam delrey deCam-
baya ouuera effeyto, & logo ho gouernador determinoa
cõsigo de prender el rey deCambaya, se ho Manuel de
Sousa não teuesse preso, & auia de ser, fazer que ya
doente do caminho, pêra que quando chegasse a Diu o
fosse el rey ver a fortaleza onde ho prenderia , & quan-
do nam , prendelo em sua casa , a primeyra vez que ho
fosse ver, leuando cincoenta fidalgos & homSs de feyto
armados secretamente , que ho auiam dacompanhar; B
em ele chegado por terra ás casas dei rey com esta com*
panbia, auíaro de chegar por mar os nauios de remo,
€!om iodo ho resto de sua gente, todos armados secre^
tangeste, tãgSdo trombeias & atabales, como que lhe
yão íazer festa, fc em ho gouernador cbegftdo á prirney*-
ra porta das casas dei rey, auiam de matar hoporteyro,
& despois arrombando as outras portas onde el rey es^
lava & prendelo, & dar com ele bos catures, que auiam
éestar pegados com as euas casas, por ho mar bater ne-
(as, fc dali dar com ele oa fortaleza, porque a nossa ar«
mada deftmdería que nâo chegasse a dei rey , & os que
yão com o gouernador ho defenderiam dos mouros se
acodissem por terra, & nam deu logo parte disto a nrn^
goem, por nam ser descuberto, & logo pos em obra sua
partkla , que foy na entrada de Janeyro do anno de mil
& quinhentos & trinta & sete, & leuou bfta armada de
trinta vAlaa groMas & miudaa ,. com quinhentos Portu-
360 DA HISTORIA BA ÍNDIA
gueses, mandado recado a Mart! afõao de sousa que an*
daua no Malabar, que logo partisse pêra Diu, & fosse
coin niuyta pressa, porque era cousa de onuyta impor-
tância , & Marli ãjbnso ho fez assi , leuando Ioda a ar-
mada que tinha, Sc ho gouernador nam esperou por ele^
& foy com tam pouca gente com pressa de lhe parecer,
que tanto que ehegasse a Diu, por yr doente ho yria
ei rey de Càbaya logo ver á fortaleza , onde ho prende-
ria, & fazia conta que com a gSte que leuaua, &aqua
tinha Manuel de sousa se defenderia dos mouros, &que
€om a ^ Marti afonso leuasse, abastaria pêra segurar
Diu, quanto mais que como os mouros vissem preso el
rey de Cambaya, não auiam de ter coração pêra bolirê
cdsigo.
C A P I T V L O CLV.
■
De como António galuáo chegou a Malaca.
Jl arlido António galuão de Cochi, seguio sua rota pê-
ra Malaca com os nauios de sua conserua, & indo no
mais que com a nao que fretou, de que era capitão Fran-
cisco nunez, & na paragem da jlha deçamatrá, lhes deu
hQa tormSta com que se ouuera de perder, porque es-
tando surto, foy a outra nao. dar por a sua, não a ven-
do com o grande escuro , & abalrroou coela , & desfa-
ziãse húa cõ a outra cõ o mar que era muito grosso. £
eslàdo neste grade perigo, quis nosso Senhor que ces-
sou a tormenta & apartarãose as nãos, & daquy foy ter
a Malaca aos dezoyto de lunho, & estando aquy adoe-
ceo & quasi morto o mãdou dom Esteuão da gama le-
uar pêra a fortaleza , onde nosso Seflor lhe deu saúde ,
& já em Agosto chegou Diogo sardinha, per que Tris«
tão dalayde roandaua pedir socorro a domEsleuão, en-
campãdolhe a fortaleza se lho logo não mandasse pela
via de Borneo, & Diogo sardinha deu tãobem hiia carta
de Tristão datayde a António galuão, em que ho aui-
saua do que ^uia dyr apercebido : & assi lhe derão ou?
LIVJIO VIII. OAPirvi-0 CLV. 361
ira carta que lhe escreuiâ algUs homSs de Maluco, &
aotre outras cousas dizia nela: Eassi esperamos senhor
por vossa vinda, coino os santos Padres que estauâo no
urobo esperauão pola de nosso Senhor , pêra nos tirar-
des de tantos trabalhos como temos, & ale qua chegar*
des nos parece dez mil anos, praza a nosso Senhor que
o traga como desejamos: Dizem que lhe hão lá de cõ«
prar a fortaleza, se a vender será grande deseruiço de
Deos & dei rey , & risco desta fortaleza , & de nossas
vidas & fazendas , & receamos muy to de a venderdes ,
porque se assi for , dará causa a se perder de lodo o
seruiijo de Deos & dei rey, a que importa muylo esta
fortaleza & vindo parela fareis a ambos muylo seruiço,
& a nos lodos muy ta mercê, & muylo bem a toda ater*
ra, que cõ grande desejo de sua vinda o está esperan-
do. E lãobS lhe foy dada outra carta de Rodrigo rabelo
feylor da nao Santispirilo, em que lhe fazia grandes
queixumes de Tristão datayde , por lhe não deixar car-
regar a nao & a deter dous annos. E sabendo António
galuão por estas cartas a grande necessidade que a for-
taleza de Maluco tinha de mantimentos, armas, & gê-
te , requereo ao feylor Belchior botelho que carregasse
a nao dei rey de mãlimentos por quão necessários erão,
& por ele não querer tomar se nã poucos , foy necessá-
rio a António galuão buscar dinheiro emprestado, &
comprou tantos á sua custa que carregou a nao Q leua-
ua fretada, & nisso & em peylar a gSte que fosse coe-
le gastou muyto, porque ouuyndo a gente que ya coele
o trabalho que auia em Maluco: E v6do que os que de
lá vi n hão nao quer ião tornar, nã querião yr c5 António
galuão, que fazêdo o que digo, lhes ganhou as vonta-
des pêra yrem. E por!| sabia que toda a saluação da for-
taleza de Maluco era muylos mantimStos, deixou em
Malaca hii António soarez, que fosse em bil jungo pela
]aoá & o carregasse hi deles, & pêra isso lhe deu a sua
prata laurada Q tinha por não ter já dinheiro: E vendo
quão necessária era sua yda a Maluco, posto f\ eslaua
LIVRO VIII. zz
Í6% VA aiSTORfA DA ÍNDIA
muyto doète, & doni Esteuáo & os outros lhe cdnselb»*
úfio ^ não 8o maiasse, & que espaçame aaa pirtida
pêra o lanetro seguinte, não quis se Dá partirse índa
quasi GoiD a candea na mSo, tamanho era seo desejo
de seruir aDeos fc a el rey : &aos dezoytoDagostodea
á vela, & se partto de Malaca pela via de Bornea: B
sab<>ndo quão perjudicial era ao seruiço dei rey, leuarse
A Maluco faz&da de partes , não quis dar licença a nin-
gu5 que a leuasse, posto que por isso lhe dauio muyto^
d6 menos deu licença a mercadores pêra que fossem
eoela depois Q lá esteuesse , o que nunca ate então fr-
será nenbâ capitão.
C A P I T V L O CLVI.
De como Antonio^^aluâo chegou aajlha de TemcAe.
Jl a rlido António galuão de Malaca foy ler ao porto de
Borneo cõ sua conserua , & por el rey & os seus estarè
jnuyto escãdaiizados dos agrauos \ os mouros de Maiu*
CO recebião de Tristão datayde & dos Portugueses , nS
foy António galuão ali tãobem agassalhado, como o fo-
râo os outros capitães j) yão pêra Maluco, pelo que não
se quis deter & partiose logo, & dali foy ter á jiba de
Ternate, em cujo porto surgio aos vintactnco dias Dou-
tubro , & como foy visto da fortaleza , foy grande o aU
uoroço na gente, & algus desses principaes o forão lo*
go visitar, pêra lhe dizerem mal de Tristão datayde co-
mo dísserão, atrebuyndolbe toda a culpa de lhe os mou-
ros fazerem guerra , & que os Portugueses estauão tão
escãdaiizados dele que se dom Esleuão da gama não es*
teuera por capitão de Malaca, eles o mandarão preso ao
Gouernador da índia , mas porque dõ Esteuão , que era
seu sobrinho, estaua em Malaca onde auia dir ter, o
não mandarão , & tantos males diziâo de Tristão dalay-
de, que António galuão o não creo, parecendolhe que
o dizião por lhe comprazer. £ pori| sabia que sempre os
LIVBD THC CAVtTWLO CLVI. 3«3
eafHlfles daquela ibrtajeza quando entrauáo pceadiSo os
ouiros Kfuestauão neU^ determinou de n2 facer amí a
Tristão dalajrde , ae não laandalo com sua hõrra , aaluo
•e lhe aebasse taee culpas que nâ podesie ai fazer se nS
prendelo, feasti Ibo mandou dizer, mãdandohò ele vi-
sitar, & pediribe Q fosse Jogo lofliar posse daquela for-
taleza, o Q nã quis fazer, & deteuese algfts dias sem
sajrr em terra, por Ibe pareoer que vSdo a gente o fsr
uor que fasta a Tristão datayde, reeõciliassefn com ele,
ou ao menos nã se atreueasem a queizarselbe muito de*
le. E vendo os da fortaleza quanto dilataiia tomar pos^
se dela, dizia que era com medo de nam se alreuer
com a carrega que era ser capitão: E por isao desem^
barcou bii domingo, & fqy recebido eom prociasam can-
tando os clérigos: Te Deum laudamus, & metido de
posse da fortaleza , foy lio prazer muyto grande em to*
dos, dizendo que os fora remir do catiueyro em que es*
tauam, principalmente em ieuar tantos mantimCtos co*
mo leuou : E porque ele sabia a necessidade que auia
deles, & a grande valia que tinham., pos tayxa neles ^
& pêra que teuesse mais vigor, .& todos soubessem que
auia de permanecer, começou iogo nos dei rey que es-
lauam na feitoria, mãdâdo que se dessem trinta gantas
daroz, quesam oyto alqueires, por quatrocentos & oy-
lenta r&B, a rezão de sessenta o alqueire, valêdo dan-
les a cinco cruzados, &.a este preço se pagasse nele o
mantimento & soldo que fosse diuido ás partes., a que
ftinda deuião a algQs do tfipo Dantonio de brito, & nis*
tó a fora el rey ganhar muyto em se desendiuídar, ga-
nhou muyto no emprego deste 'arQz:Ea6si mandou que
a jarra do çagu se desse a duzentos rSs , & hum porco
três mil rSs , & hQa cabra dous cruzados , & hO cabrito
três tostões , hQ ley tão hik cruzado , hCla galinha cin-
coenta rs, & assi todo ho mais muyto barato, peraquam
caro estaua dantes ( como disse atras ) & assi em todas
as outras cousas. E pêra se melhor executarem as pe>
nas desta taixa , fez hCi juyz ordinário , & dous almota-
zz 2
384 DA HISTORIA DA ÍNDIA
ceis, que ate entain oam ouuera, & deulhes os cinco
liuroB das ordenações, que leuou pêra isso da índia,
que forão os primeyros que se virão naquela terra: &
assi leuou pêra ho ecolesiaslioo , as CõsliluyçSes que o
Cardeal dÕ Afonso de gloriosa nremoria fez. E v5do a
gente quam amigo António galuâ era do bem comO, &
quSo zeloso da justiça, de cada vez lhe queriSo major
bè , & dauam mais graças a Deos por lhes dar tal capi*
tão. C depois de ter ordenado o que pertencia a bÕ re*
gimfilo da terra, entendeo em repajrar as cousas ne«
cessarias pêra defensam da fortaleza, especialmente na
artelbaria que achou muyto daneficada, a grossa sem
repayros, & a miúda sem rabos nem piães, & ainda di«
siâo que falecia a melhor, que Tristam datajde dera
aos jungos dos mercadores fiera segurâça do crauo que
lhe leuauam , nem auia ferreyro pêra que a concertas-
se, porque hu que auia, deralbe Tristão datayde licSça
pêra Malaca na moução passada, nem auia poluora, nem
caruão pêra se fazer: & António galuâ fez' tanta dili*
gencia, que achou hu ferreyro que andaua encuberto,
a que deu tanto de sua fazenda, que quis vsar do offi-
cio, que importaua tanto <} sem ele não se podia con-
certar a artelbaria , que logo foy concertada , & repay»
rada de todo o necessário : B feyta poluora , & António
galuâo com os fidalgos & pessoas principaes yão ao ma-
to a cortar madeyra , pêra os repayros das bombardas ,
& lenha pêra se fazer caruão , Sc a traziam ás costaa
com immenso trabalho, o que não se poderá fazer se
António |[aluão não leuara a ferramenta que disse qua
leuou da índia pêra esie mester*
LIVRO VIKI* CAPITVLO CLVII. 366
C A P I T V L O CLVII.
De como António galuâo se apercehto pêra yr pelejar
com os mouros a Tidore.
JL âro soberbos eslauã os reys de Maluco , com as vi-
torias passadas, que ainda (| souberão a vioda Dantonio
galuão, & a bua gente que leuara , não disislirâo da
guerra !| faziam á fortaleza , & màdauã suas armadas !\
lhe fosbê correr ) & assi o fazião , dandolhe os mouros
mil rebates de dia & de no^te, com ^ António galuão
socedeo no grade trabalho Q Tristão datayde tinha dáles,
tendo cõtinuamête as armas vestidas, cõ quantos auia
na fortaleza, acodindo aos saltos dos Imigos, muytas
vezes estado comêdo & dormindo, & sem terem nenhii
repouso. E parecendo a António galuã, t\ por ser nouo
na terra, quereria os reys paz coele, & ()orque sabião
que se auia dir Tristão datayde, mandoulha pedir por
Gonçalo vaz çarnache capitão mór do mar, que foy em
bua carauela a Tidore, onde os reys estauam juntos:
que ouuindo a embayxada Dantonio galuam sobre a paz,
se desculparam da guerra que faziam , com os males &
cffensas que lhes Tristam datayde tinha feyto, & que
aueriaro sobrisso seu conselho , & entre tanto assenta-
ram tregoas por certos dias, pêra que coesta cór teues-
sem tempo de tomarem lingoa da fortaleza , & saberS a
determinação Dãtonio galufto, quando o não podessê sa*
ber pelo camarão: £ cÕ a contiança desta tregoa, de
que António galuão foy cõlente, começarão os da for-
taleza de sayr pola jlha a buscar lenha , mais desmãda-
dos que dates , principalmente os escrauos , de que os
Imigos que estauam em cilada pêra isso , tomarão logo
três, & forãose coeles tam asinha, que quando António
galuáo acodio ja os não achou. £ vendo ele quam mal
lhe os reys guardauam a tregoa, mandoulho estranhar
muy to, dizendo que pois assi era, que não lhe posessein
y
3G6 BA HlfTintfA DA <NMA
culpa 66 lhes fizesse guerra, ^ lhe auia de fazer descu-
berla & nSo c5 Irej^s : ao que responderão , que fi«
zesse bo que quisesse que prestes estauão: O que oq-
uido por António galuSo, determinou de yr sobre Tido-
re & dar batalha aos reys, posto que sabia o demasiado
numero de gente que tinhão, & quão esforçada era , &
que o gouernador da índia, com todo seu poder faria
muyto cm a desbaratar, & que era perigo grandissimo
auenturarse em hQa batalha: & porem lembraualhe, que
pêra esperar por mais gente, que a nam podia auer se
nam da índia, & em dous annos, se no caminho lhe
nam acontecesse algQ desastre, & que pêra a gente que
tinha não auia mantimentos, pêra a terça parte deste
tempo, nem os podia auer de nenhfla parte, & sem ele^
era impossiuel sosterse, por iaso que era melhor auen-
turarse em hOa batalha, com a esperança em nosso Se-
nhor , que morrerem com fome poucos & poucos. E ie«
to determinado, praticouho em conselho, & os mais fo-
ram de parecer, que nam se deuia de pelejar com ta-
manho poder de gente como tinham aqueles Reys, sei>-
do os Portugueses tam poucos^ que se deuia de «meter
na fortaleta & guardala , & mandar pedir gente ao go-
uernador da índia: & António galuSo foy de parecer
que pelejasse, dando as rezÕes que disse, & algQs fo-
ram deste parecer , & neste se assentou. E como tudo
estaua prestes pêra a partida, partiose António galuflo
pêra Talangame, onde estauam quatro velas, em que
auia dir, afora algus paraós de seruiço, & em duas, \
eram duas nãos, yr eíe & Gonçalo ?az çarnache, &em
hum nauio Francisco de sousa alcoforado, & em hum
calaluz el reyCachil aeyro, & bo camarão com cincoen-
ta mouros, & nas outras vélae cento & setenta Portu-
gueses, & na fortaleta deyxou por capitam Trislam da-
tayde, porque nam podia ficar outra pessoa mais per-
tencente pêra isso, assi por ser tam esforçado, como
por ser tio de dom Esteuam da |:ama que estaua em
Malaca, que ho «ocorreria lago se fòese caso que'Anlo^
LIVRO VIIK CAPITVLO CI,V1I* 367
Dia galoSo morresse na batalha, & também folgou de
ho deyxar^ pêra que lirasae estormentos de seus serui*
ços á sua vontade, & cobrasse a perda que tinha rece-
bida cõ a guerra , Sc deyxou coele seus criados & ami«
gos. vE estando António galuâ em Taiãgaroe pêra par-
tir, sayràlhe de híia cilada dous mil mouros, comijouue
hQa escaramu<;a despingardadas , de ^ nS hQs nS outros
jficarâo feridos , & em se os mouros embarcando , foy to-
mado h&, a t\ António galuão pregíítou polo que osreys
deleroiinauão, [>romelendulhe mercês se dissesse a ver-
dade, & tormentos se dissesse mentira, a que o mouro
respondeo muyto seguro. Sabe capitão, que se aos reya
que eu siruo, & á sua gente, se seguisse alg0 dfino polo
que eu dissesse, não aueria tormèto que mo fizesse di-»
2er, <} assi como eu tiue ousadia pêra ficar na traseyra,
pêra defender os outros que se enibarcauâo , assi terey
esforço pêra sofrer a pena com que salue talas vidas :
mas como sey certo 9 ^ os reys & a gSte que eslSo em
Tidore, não perde nada no j} te disser, direy verdadey-
ramente o que me preguntares, então lhe disse, que os
quatro reys de Maluco, & outros quatro dos Papuas,
estauam todos ein Tidore, com tanta gente, que não
se podia contar, & era sua determinação de ho toma-
rem viuo com todos os Portugueses , pêra aos que esta-
uão dantes com Tristão dalayde & a ele matarem^com
granes tormentos, & a António galuão &.ao3 outros os
resgatarem, & que a cidade de Tidore estaua fortíssima
com muros & baluartes, & muytos estrepes, que por
nenhua parte podia ser entrada , com hCLa fortaleza so^
bre h&a rocha talhada , pêra onde sobiam por hum ca-
minho tam íngreme & estreyto, que ás pedradas se de-
fenderia a sobida a todo mundo, & pêra aencaualgarem
por terra auiam de sobir mais de hQa legoa , por cami-
nho muyto fragoso & çarrado daruoredo, & todauia o
mouro lhe prometeo de ho leuar lá, porque quanto mais
cedo ho leuAsse, tanto mais asinha seria liure, & ele
seu caliuo : & António galuão eslaua espantado de ver
368 BA HISTORIA DA INIHA
a ousadia deste mouro, & tudo lhe sofria, porque ho
guardaua pêra guia , se lhe fosse necessário.
C A P I T V L O CLVIII.
De como jántonio galuâo destruyo de todo a cidade de
Tidore.
.A.0 outro dia em que António galuão determinaua de
partir , em rõpendo a alua , apareceo ao mar hiia arma-
da dos mouros, de passante de trezentas velas de remo,
em que ySo mais de trinta mil bomSs de peleja com os
remeiros, que também se contam por homSs darmns, &
he costume da terra, os filhos dos reys, dosSangajes, &
dos Mandaris andarem ao remo em quanto sam mSce*
bos , & prezâose disso , porque dali v3 a serem caualey-
ros. £ os mouros que soubera que António galuão estat-
ua de partida , forSolhe dar mostra de sua armada pêra
o espâtarfi , & cõ tudo cõ medo da sua artelharia , nSo
ousarão de chegar a tiro de bombarda dele : E vedo ele
Q tudo aquilo era rebolaria não deixou de partir, deixã*>
do em guarda de Talãgame Fernã anrriquez , em cer-
tos jungos que hi iicauão, & em ele partindo, partio
também a armada dos mouros indo sempre alamar: &
chegado aTidore que eorae<^ou de costear a jlha, forão
as prayas cubertas de g€te que o sayâo a ver, & dauã
grades gritas. E em começando de descobrir a cidade,
começou a artelharia de jugar dela, mas como passauS
os pelouros por alto nam lhe faziam dSno, & António
galuão mãdou (} não tirassem á <!Ídade, c5 determina-
ção de ver primeiro se podia fazer paz por bS, &quãdo
não t\ então faria a guerra, & foy surgir cÕ sua armada
diante dOa mezquita, & dali mãdou logo hâ recado aos
reys sobre paz, mas o messageyro nã foy ouuydo, n6 o
deixara chegar á cidade, cõ muitas espingardadas que
lhe tirarão de !) o ferirão, & coisto derão muytas apu-
padas, como que zombauão da yda Dãtonio galuão, cW
LIYIIO VIII. OAPITVLO CLVIII. / 369
mando nomes injuriofios aos Portugueses, ^ todo ouuião
f>or estarS perto de terra , & nisto gastarão o Q era por
passar do dia, & quasi toda a noyte, E em aparecendo
algua cãdea na nossa armada, tirauãibe logo cõ a arte-
Iharia, pelo Q se passou dali pêra baixo da cidade, assi
por se tirar daquele perigo, como por ter tSpo pêra pra-
ticar como daria na cidade, & ali lhe deu hóa toruoada
com Q se ouuera de perder, & por isso determinou de
surgir ao pé da rocha onde eslaua a fortaleza da cidade,
por^ ali lhe pareceo l\ a poderia melhor esbõbardeai, Sc
estar mais emparado da sua artelharia. E querendo sa*
ber se era como lhe parecia , mSdou GÕçalo vaz çarna-
che ^ o fosse ver , & sondasse ao pé da rocha , do (| se
ele escusou, dizSdo Q o matariSo os tiros ^ lhe tirassem
de terra Q yria de noyte. E vedo António galuâo Q o
não queria fazer, fojr fazelo, o í\ fez cÕ rouylo grade
perigo, & depois foy ali surgir cõ a armada, em que
logo fez cõselbo sobre sa^r em terra, & hus dizião, (|a
cidade se deuia descalar por qualquer parte Q podesse,
outros í\ polo mais forte, por^ ali auia dauer menos gSte
pêra a defender, oulros () deuiâ de tomar a fortaleza, í\
ainda ^ fosse cousa muy trabalhosa de fazer, era de rouy*
to menos perigo, por^ nã linha artelharia n% gSle !) a
defendesse, porQ auiâo os mouros |K>r impossiuel poder-
se tomar: & tomada, darião dali tanta guerra á cidade,
que ou se os mouros yriâo dela, ou farião paz, quanto
mais (\ auiâo muy to de desmayar com a fortaleza toma-
da , & ainda Q tomasse primeyro a cidade , estaua cer-
to acolheremse os mouros á fortaleza , como fizerâo ou-
tras vezes, & ali seria impossiuel fazerlhe dano, & des-
te parecer foy António galuâo, & ali se assentou que
pêra este feyto leuasse cento 8c vinte Portugueses esco-
lhidos, & os cincoeuta ficassem na armada, assi pêra a
defenderem se a dos imigos a cometesse, coroo pêra
que em amanhecendo aparecessem nos nauios todos ar-
mados , & tangêdo suas trombetas & atãbores , {) cuy-
dassem os !migos que querião desembarcar, & acodis*
LIVRO VllU AAÂ
370 DA HISTORIA BA INBIA
sem a (otherlhes a desembarcarão, & Anlonk) gatuSo
com 08 oulroa podessem mais facilmente tomar a forta*
lezA. E encomendâdose a nosso Senhor, que os iiurasse
de tamanho perigo como aquele a que se punbão, por
exal^^amento de sua sancta fee. Rendido ho quar(o da
modorra, que era o tempo em que os imigos estauSmais
assossegados , desembarcou António gaiuã c5 os ceto&
vinte Portugueses, í\ todos ieuauâ espingardas & laças,
& ieuauãolhas seus escrauos, Q cõ os senhores fatiam
numero de trezStos. E tornados os bateis pêra a frota,
abalou António galuão pêra a fortaleza, per hú cami-
nho () estaua afastado da cidade, pêra cima da rocha i(
disse, pelo que não foy sentido dos imigos, & leuaua a
gSte feyla em corpo, & na dianleyra yãGõçalovaz çar^
nache, Diogo iopez dazeuedo, lorge de brito, António
de teyue , do Fernãdo de mòrroy , lorge datayde , &
outros fidalgos cujos nomes nã soube, & assi hfl Antó-
nio carneiro ^ leuaua o mouro, () disse Q os guiaua, &
no meo ya António galuão cõ a bandeira: & a traseyra
por ser lugar de mais importãcia, foy encomfidada a
Frãcisco de sousa , cõ quem yão loão freyre & outros:
E como o caminho era muy fragoso, & António galuão
ya de vagar, por os seus não cansarS, chegou a mea
íegoa da fortaleza ás oyto oras do dia (Q era do apos-
tolo Sã Thome : ) E como se ya chegado á cidade, foy
sinlido das atalayas dos Imigos, () lhes logo derão ani-
so, dizSdo quã poucos erã os Portugueses: E aluoro-
çados os reys coesta noua , derão logo rebate á sua gê-
te, de íj se aj&tarão cincoêta mil homSs de peleja, &
sayndo cõ os reys , tirarão a grade pressa pêra onde ya
António galuão, 4 ouuindo bo arroydo da gSte ^ era
grade, por nã se embaraçar coele, antes de chegar á
fortaleza, deixou o caminho Q leuaua, & meteose pelo
mato, ÍJ como era muy espesso ho encobrio dos imigos,
íj o perdera de vista: E cuydãdo ÍJ fogiã, começa de
dar grades apupadas cõ prazer, & era medonha cousa
douuir os ecos 4 f^^ziS^o P^^ a^les vales , !| isto só abas*
LIVRO VIII* CAFITVLO CLVIIT. 371
(•aua pêra faxer desmayar Anlooio galuã & os seus, Q
cõ a esperâça em nosso Senhor yã lodos muy esforça-
dos. El reyCacbíl dayalo () leuaua a diãleira dos itnini-
gos, & a quS era encoroêdado Q fosse o primeyroQ des-
se nos Portugueses 9 trabalhou por lhes atalhar antes ^
chegassS á fortaleza, & sayndo cõ sua gSte a hú esca-
pado Q se fazia antreles & a fortaleza , foy ali ter An-
tónio galuâo por acerto, & el rey quisera auer fala dele
pêra o deter, {} <ihegas86 entretanto os outros reys cÒ o
resto da gête & o tomasse ás mSos cõ os outros, Q nã
se cõtê(auâ de os matarS pelejado: porém António gal-
uâo nã curado de pratica, & fazSdo tocar as trõbetas,
remete cõ os seus aos mouros , chamando por Sâtiago ,
& desparâdo sua espigardaria , & outros ás laçadas &
cutiladas, de Q logo foy ferido el rey Dayalo Q andaua
na diãleira , vestido em hQa saya de malha & hu capa-
cete na cabeça , pelejando cõ hOa espada dambas as
mãos, & cahio das feridas Q lhe dera, &como era muy-
to esforçado , leuãtouse logo , dizendo í\ nã era nada ,
posto ^ lhe sahia muyto sangue. E neste têpo deu há
mouro a hQ Pêro pinbeyro, cÕ htia espada hu golpe de
tala força sobre o capacete, í\ o derribou atordoado, &
malaraho, se lhe não acodiralorge de brito, i} o derri-
bou cõ hOa lançada, & logo foy morto, & Pêro pinhey-
ro leuanlado, & nisto era a batalha muy trauada, & fe-
rida muy asperamêle, trabalhado os mouros por cercarè
os Portugueses, & sumirênos a todos, ho ^ sem duuida
ouuera de ser se a batalha mais durara, mas quis nosso
Senhor por sua mia, atalharlhe com cayr el rey Dayalo
desmayado, do muito sangue !\ se lhe foi das feridas ^
erã mortaes, & em caindo, bradou, dizSdo que ho ti-
rassem da batalha , porque os cães de seus imigos , nã
se alegrassem com a sua cabeça. E tanto ^ os seus ho
viram assi leuar, desmayaram de maneyra, ^ não po-
derá mais pelejar, & fogiram a quê mais podia deyxan-
do as armas, por yrem mais despejados, & estes deram
aa outra gente 4 ^^ ^'^y^ leuauam pêra os ajudarS, &
AAA 2
372 VA HTSTO&rA BA imOIA
como deram neles denconlro 6zerSD08 fogir , & hAs ySo
pêra a fortaleza, & outros por esses matos. António gal-
uSo dando muytas graças a Deos por tão milagrosa vi-
toria, foy seguindo os ^ yam pêra a fortaleza, matando
& ferindo neles , & entrou nela com todos os seus dfi-
uoita cÕ algfls mouros, que vazaram logo fura & lha dei*
xaram , & ele lhe mandou dar fogo , & como as casas
eram de madeyra & de canas & cuhertas doía, começa
o fogo dacenderse tam brauamfite, <| era espanto ouuir
ho arroydo que fazia. E vendo os rejs que uam auia ali
remédio , acodiráo á cidade , onde ho medo f<»y muy to
Erãde nos que nela ficarão, quando vira entrar eirey
byalo quasi morto, & começaram logo de fogir dela,
cò molheres , filhos , & fazendas , & mais quàdo viram
os reys Q fogiam , & ouuião ho arroydo do fogo j} quey*
maua a fortaleza. E v&do os reys tamanho destrc.ço, co-
meça de se poer em saluo por esses matos, & el rey de
Tidore acodio a suas molheres & tesouro, cÕ quatro mil
homSs que ho ajudauSo , & deram cÕ tudo em bil pro»
fundo vale, & vSdo os Portugueses & Arábios mari-
nheiros {} estauã na nossa frota ho destroço dos mouros,
em í\ f>es a hií Francisco nunez, & a hii Fernão leytâo,
^ António galuSo deixou nas nãos por capitães, tomado
nos bateis algíis berços & falcões, forãse á cidade, & nã
achado defensa nos mouros, meterSse a roubar sem nhOa
ordem, o (} foy causa de os mouros darê neles & matara
& ferira algus Arábios, & assi ouuerâo de fazer aos Por-
tugueses, se nesta cÕjunçSo nã entrara António galuão
CÕ 08 seus, () vendo (} estauã todos viuos & sãos, talo
Q o fogo foy bS ateado na fortaleza deceo á cidade, &
era enlrãilo cõ grande grita & arroydo de tròbetas , de-
semparã os mouros tudo & acolhèse. £ por se os Portu-
gueses nã embaraçarê cõ ho roubo, mãdou António gal-
uã poer fogo á cidade, Q foy toda queymada, afora os
muros, ê i\ ardeo muyta riqueza , por£| como os mouros
estauã muy cofiados em os não tomarS, tinha todas suas
fazêdas sem lirarõ nhila cousa ^ & fora mortos muy tos
LIVRO VIU. CAPITVLO CLIX. 373
mouros 9 & feridos sem colo, & caliuos infindos hotnSs
& molhereS) & lomada muyta artelharia, & nauios de
remo, & bfl jugo : & dos Portugueses nâ foy niorlo nbti,
saluo hu escrauo. £ parece ^ quis nosso Senhor fazer
este uiilagre, pêra cõfusâ dos mouros & Qbrarlhés sua
soberba.
CAPITVLO CLIX.
De como os Reys de Geilolo ^ de Bachão ^ ^ os outros
se foram pêra suas terras.
J^uida esta lã milagrosa vitoria, tnãdou António gal-
Và derribar os muros & baluartes da cerca da cidade, Q
em algfis dias fora derribados, ^ tudo íicou tã raso co-
mo se nuca ali esteuera cidade, & assi foi atupida a ca*,
ua , & isto com imêso trabalho Dâtonio galaâo & dos
seus, que de dia estauâ em terra, & de noyte dormiam
na armada. £ como os Reys estauam juntos, & tinham
ainda junta a. gente que escapou da batalha, determi-
naram de ho tomarem no mar com sua armada, quando
fosse das nãos pêra a cidade , por ser a distancia hâ
pouco cumprida, do {| António galuâo foy auisado por
suas espias, & aquela noyte mandou poer em cilada ao
longo da terra debayxo do aruoredo algfla gente nos na-
uios de remo que tomou , pêra Q sayndolhe os !m)g08 ,
lhes ficassem os seus detrás & ele diante, & pêra os
prouocar a sayrenlhe, embarcouse pola menhaS com
grãjie arroydo de trõbeias , & como os mouros estauâo
prestes na armada, sayrào logo a ele indo cosidos com
terra, pêra lhe tomarem a diãteira antes {} chegasse, &
indo assi, foram dar de supito com a cilada, que lhe
Antinio galuào tinha posta, de que lhe logo começarão
de tirar com a artelharia & chegarse a eles, &afierrarã
bõa coracora dei rey de Bachâo, ^ ya diante carregada
djcT gête, !) nam ousando de pelejar se deitou ao mar, &
a ccracira foy tomada: £ vedo os outros isto, forase
retirando, & defendSdo de maneyra, Q nam receberá
a74 DA HISTORIA DA IKDIA
mais nojo & forâose, do Q os reys fícarSo rouy enuer-
gonbados, vSdo quã pouco lhes fundira seu ardil ^ &por
Í8so acordarS de darS em Anionio galuâo per terra &
per mar, & estado juntos pêra isso, foy Anionio galuão
auisado , & foy logo sobreies {)or terra , & partio de dia
por lugares encobertos, pêra os tomar de sobreçalto, &
assi ouuera de ser, se os da companhia de Frâcisco de
sousa, que ya na dianieyra, nam tirara certas espin-
gardaras yndo perto dos iniigos, Q os sintirã, & coma
estauã cortados, do medo, & os tomassem de sobresalto
acolheramse logo, & todauia Anionio galuam alcançou
os da traseyra , de que matou & ferio & catiuou algQs,
& antre os mortos foy bum primo dei rey de Geilolo
muy to valente caualeyro, de que os immigos receberam
grande perda, & fizeram por ele grandes prantos, &
despois disto, foy António galuam sobre hum lugar que
estaua hi perto, que achou despouoado cõmedo&quey*
mouhoy & era ja ho medo tamanho nos mouros, que nam
ousauam daparecer, o que visto poios reys de Bachão,
& de Geilolo, & dos Papuas, & ^ era escusado tentar
mais a fortuna conlra António galuam, determinaram
de se tornarem pêra suas terras, & deyxarè a guerra
pêra outro tempo, & assi ho disseram a el rey de Tido*
re, dandolbe pêra isso aigúas rezões, & as principaea
forão, que Deos pelejaua por Anionio galuâo, ou Ma-
famede destar yroso cõtreles , cõsentia que fossem assi
vencidos por tam poucos Portugueses, tendo eles tanta
gSte que nam tinha conto, iníirindo dali, que nam era
bem que pelejassem mais & com isto se partiram, fican-»
do el Rey de Tidore muylo triste de ho deixarem da-
quela maneyra. E vendo os Portugueses desaparecer os
immigos, cuydauam que yâo sobre a nossa fortaleça, &
fizera grandes requerimStos ^ lhe acodisse, & ele nft
quis, dizôdo Q quS nS defendia sua terra, que não auia
dir tomar a alhea.
LIVRO Vllf. CAflTVLO fXX. 876
C A P I T V L O CLX.
De como Aníanio galuão fez paz com cl rey de Tidore.
X-^eterminando António g;alu3o de nam se yr dali, seiii
faxer paz com el rey de Tidore, ou quando nâ quisesse
yr sobrele & malalo, escreueolhe hâa caria, em que di-
zia, como sem bo ele nunca ter anojado, em chegando
àquela terra lhe yâo cada dia correr suas armadas , &
mandandoihe cometer paz , nunca vira sua reposta , &
de se ver injuriado^ acodira por sua bonrra, & mais por
isso , () por desejar a guerra iha fizera , & aos outros
reys, com quem desejaua de ter paz, & pois eram ydos,
& ele tinha experiência de quanto mal fazia a guerra,
lhe [ledia muyto que tizesse com eie paz , & que a|)er-
taua tanto com ele, que a quisesse pola muito boa fa-
ma que tinha dele. Recebida dei rey esta carta, man-
douha ler em conselho, em que foy praticado que An-
tónio galuSo, como bomè que desejaua paz & conserua-
çâo da terra , sempre defendera aos seus que a nam
destruyssem , nem cortassem palmeiras , nem nenhâas
aruores, & atee a sua mezquita (cousa tã auorrecidá
dos Portugueses,) deixara sem tocar nela, 8c quem is-
to fazia, & nam se ensoberbecia com a vitoria, deuia
de ser bÕ home, pelo que deuiã de fazer tregoa com
ele, com condição que ae fosse logo do seu porto, & lhe
não fizesse mais guerra, & despois de vagar fariam paz
com ele, porque não a auiam de fazer em quanto Tris-
tão datayde esteuesse em Maluco, & assi lho mandou
el rey dizer, do que António galuão não foy contente,
por lhe aquilo parecer cousa muyto desapeg<'>da, & assi
ho mâdou dizer a el rey, & que nã auia de fazer nada
sobre a paz , sem se ver com ele , & logo )be os Portu-
gueses disserão que aquíto seria impossiuel, por ser arn
tigo costume dos reys de Maheo, nam verem ho rosto
a qu6 os veoeia, se nam dabi a seye meses, & por esta
376 BA HI8T0RU HA ÍNDIA
causa el rey se escusou de se ver com ele , & mandou
em seu nonie a Cachil. rade seu jrmSo , & a segunda
pessoa do reyno. £ por António galuSo ler dele boa in-
formaram , antes de faiar com ele a bem de feyto , lhe
cometeo que quisesse ser rey daquele rejno & ^lboda«-
ria, por seu jrmão ho ter perdido , por se^ter leuantado
contra a fortaleza, & Ibe ler feyta Iam crua guerra, &
não querer ainda paz ofiereceodolha eJe, & António gal-
uão fazia isto , por lhe parecer que com este beneficio
teria Cachil rade da sua parte , & ho ajudaria cõlra os
outros reys, & ele nam quis, dizendo que nunca Deoa
quisesse que fosse Iredoro a seu jrmâo. £ por ele não
querer aceitar ho reyno, nè querer prometer a António
galuâo , que faria com el rey que se visse com ele , fi-
cou António galuão tão agastado, que nam quis fazer
nada com ele , & Cachil rade se foy , ficapdo de guerra
como dantes: Porem el rey mudou seu costume, &via-
se com António galuão, leuãdo consigo Cachil rade &
seus jrmãos, & muylos Maodaris, & assentarão paz,
com condirão que el rey desse toda a arielharia{} tinha,
& todas as armas Portuguesas, & assi de^se pêra el rey
de Portugal ho crauo que ouuesse em sua terra, pelo
preço da fey toria, & que nã ajudasse nhã rey contra os
Portugueses: £ nesta vista deu António galuão presen-
tes a el rey & a Cachil rade & seus yrmãos, &aos Man-
.daris, & dali por diante em algus dias que se António
galuâo deteue ho forão ver el rey & eles , & comião &
bebião como que auia muyto tempo !\ se conuersauão,
& et rey 8c todos eslauâ muy contentes da condição
Dantonio galuão, & folgauâ muyto com sua amizade,
& Cachil rade o auisou que se nã fosse dali ate esta a-
mizade não ficar bS firme, porque el rey seu yrmão era
muy perseguido dos reys de Bachão & Geyloio, 8& te-
mia que tâto que dali fosse partido lhe tornasse a fazer
guerra, em vingança da morte dei rey Cachil dayalo,
que fora morto a ferro , q\ie todos eslauâ obrigados per
juramento de a víngarõ, &^ assi lho pregaufto seus Ca-
LIVAO VXfl. CAPITVLO CLXT. 377
CÍZ68 : pelo que António galuão se deteue mais algils
dias do ^ se ouuera de deter, & neste tempo lhe pro-
meteo de tornar a fazer a cidade onde estaua, & a co-
meçou antes de sua partida.
CAPITVLO CLXI.
De como se os Portugueses amotinarão pêra fazerem
crauo»
V endo António galuâo que el rey de Tidore estaua
firme em sua amizade, determinou de yr sobre el rey
de Geilolo, pêra se \k)t bem não quisesse fazer paz, lhe
fazer guerra ale que a fizesse. E parlido lhe deu hu tão
brauo temporal que arribou a Talangame , & como os
Portugueses se ali virão, porque era já a mouçâode Ma«
laca & desejauão de se yrem & fazerem crauo, não qui«
serão tornar com António galuão á guerra, & amolina^-
rãoselhe de maneira, que lhe foy forçado desembarcarsa
& yrse á fortaleza , onde logo mandou adubar a nao dô
que era capitão Francisco de sousa & a outra em que
ele fora. E por^ Tristão datayde se auia dyr naquela
mouçã mãdou tirar deuassa dele, como era costume ti«
rarse dos capitães quãdo acabauã: E sabendo Tristão
datayde que os mais o acusauã, pedia a António gal-
uão que ouuesse piedade dele, & ele lhe prometeo de
fazer todo o fauor que podesse, cõ tanto que não fosse
contra sua conciencia, por isso que descansasse: Esa«
bendo que hu loão freyre estaua mal coele fez que fosse
seu amigo, & assi outras amizades, apacificandoho com
os mais que lhe querião mal, ate pacificar hus pescado-
res que se lhe queixauâo du comprador de Tristão da-
tayde, chamado Pratas dalcunha, porque lhes tomara
o pescado & os escalaurara , & mãdou dizer a Tristão
datayde que castigasse o Pratas, & tatás cousas fazia
por ele, q muytos diziâo, que pois o não castigaua po-
]^s culpas que tinha , & mandaua preso á índia , algd
LIVRO VIII. BBB
B7B dA m«TòAIA 0A ÍNDIA
viria l\ o |[>rendeBfie & caslig&sse gem cu1(>r. E com tu-
do mandou 2} se lirasAe deua^ea de Tristão datnyde, do
que se ele logo escandalisou Danlonio galuào, & come-
çou de Ihamolinar a gele em segredo, & António ga^
uao na sabendo disso nada, entendia em auercrauocom
que carregasse pêra el rey a nno de Francisco de sousa
& a outra, & mandou pregoar que sob graues penas
que nhua pessoa vêdesae crauo se náo na feitoria, ou a
quem o feytor deputasse pêra o comprar, & ao taba-
liâo pubrico q sob a mesma pena nâo fízesse conheci-
mento nem escritura de compra nem veda de crauo a
tabQa pessoa , & ao Ouuidor Q nhCiaa partes ouuisse so-
bre crauo. £ sabendo que nas jlhae de Moutel & de
Maquiem estauSo certos junges de mouros tomando cra*^
lio, mãdou logo iáGonçak) vaz qarnache com híía arma-
da pêra os deitar fora, & foram cõ ele Cacbi) rade & o
camarão, & os deitaram fora, & com todas estas dili^
gencias que António galuâo fasia, nam podia auer cra-
iio, nS os Portugueses deixauam de o comprar, o que
faziam de noyte depois que se fechaua a fortaleza, &
l^arregauãno em hCi jungo da Dinis de payua. E sabeR*-
do António galuSo como comprauam de noyte, mSdoa
vigiar a praya de noyte pelo meyrinbo da fortaleza, man-
dandolhe ^ o tomasse, & querendo ele fazeio, foy es-
pancado, & nisto foy António galuâ anisado pelo vigay-
fo da fortaleza , & por outro clérigo, que o queriío m»-
tar por amor da defesa do crauo, & cada htt lhe deu sea
assinado do que lhe dizia. E vendo ele o escSdalo doa
Portugueses, prouou de ver se os podia amansar com
boas palauras, & fazendoos todos ajuntar á ()orta da for-
taleza, lhes disse. ■ Nam me negareis senhores, que to^
dos os bomSs que se tem era conta domSs, tem por cou-
sa muy abominauel a ingratidão, & por grande baixeza,
& se prezão muyto dagardecidos, & t€ por nobreza vsar
dagardecimSto, & de quem recebem algfi beneficio, de-
seja de lhe fazer outros, & he certo que se perguntar a
cada hfi de vos, que dirá 4 ^^^^ ^^^ P^ís ^^ ^^^í ^^ P^>^
LIVEO VIU, CAPITTLO CtXÍ. 379
que fazeis o contrayro com el Rey nosso senhor, que
faz a todos latas mercês de contiso, dandovos terra em
que moreis, dãdovos leys em Q víuaes, defSdendovos
de Y0880S Imigos, dandovos maneira pêra lerdes de que
vos mater, & outras muytas mercês que sam largas de
contar: pois de quem receberíeis tantos benefícios, que
«e lhe fosse necessário ajudardeslhe a sustentar sua fa-
zSda que o nam fizésseis, o que nam fazeis a el Rey,
inas antes lha destruys, porque nam tendo ele nesta ter-
ra outra cousa, com que sustêtar dez ou doze mil cru-
zados que gasta cadanno, nos soldos & mantimentos
desta fortaleza, se nam o crauo, que ha tanto tempo
que assentou com os reys que lhe dessem a mil reis o
bár, vos lho lãdes leuãtado a vinte mil, que nam vai
tanto na índia, com que fazeis que nam se acha pêra
se lhe comprar, & lhe fazeis perder o cabedal de Q tem
necessidade, pêra soster os grandes gastos desta forta-
leza: pelo que vos requeyro da sua parte, que não com-
preis crauo, & lhe deixeis comprar, & o queirais antes
comprar do seu feitor, que volo ha de dar mais barato
^ os mouros, porque assi o ha ele por bem em hfl regi-
ro6(o que aqui estáDafonso mexia, sendo veedor da fa-
zenda da índia, & pêra que saybais que nam he isto
ardil pêra o auer pêra mi eu volojurarey, & logo jurou
solênemõte cm hfl missal de nã cõprar crauo perasy por
nhfia pessoa, se nam todo pêra el Rey, ate as suasnaoa
serem carregadas , & rogou a seus amigos , & mandou
a seus criados que assi o fizessem , & certo crauo que
lhe deram por amizade el rey de Ternate & o camarão,
& el rey de Tidore, & Cachil rade, nam quis que lhe
entrasse em casa , & mandouho leuar á fe^ toria.
BBB 2
-MO DA HISTORIA BA TllDIA
C A P I T V L O CLXII.
Do mau que passou AnUmio gahiâo c6 os Portugueses
sobre o crauo.
JlN enhiia destas diligecias aprooeytauani) pêra se auer
crauo pêra el Rey & de dous mil Bares dele, que An*
tonio galuão sabia que erão feytos , depois de chegar a
JMaluco, não se ouuerá pêra el Rey mais de ceio, & is-
to porQ o comprauão a mil reis , & as partes dauâ por
ele vinte mil , & mais não o queriâo carregar nas nãos
dei rey, se não em hu jungo dQ Dinis de payua, cm
qne Tristão datayde linha parte. E receado António
galuão que se fossem sem sua licSi^a, & lhe leuassem a
gête, kz vir as nãos & o jungo de Talangame, & sur*
gir em hua calheta perto de nossa Senhora da barra , &
ainda deu juramSto aos capitães, que não se fossem
sem soa licença, nem lhe leuassem gSle, & deste ju-
ramSto se fez hQ auto que todos assinaram. £ cõ tudo
António galuão por sua pessoa, vigiaua de ncytea praya,
pêra ver se topaua algus cõ crauo, & tomaua o ^ acha-
na : do que aqueles que o traziâo se agastauam niuyto,
& dizião que fazia grande erro em se sayr de noyle da
fortaleza, que o poder ião matar, porem ele não deixa ua
a vigia. O que vedo os Portugueses que comprauão o
erauo, se ajuntarão ha dia com Tristão datayde ^ os
fauorecia & era sua cabeça por lhe pesar com as diii«
gencias (j fazia António galuão, & forãose dassuadacom
armas diante da porta da ygreja , estado ele dStro na
fortaleza , & diziào com grandes brados , que não auiã
de deixar de fazer crauo, & que o auiâo de defender ás
laçadas a qu3 lho quisesse iomar dali por diante, & foy
isto em tanto crecimêto, que António galuão mandou
repicar o sino da vigia, pêra ver se auia alguS que fos-
se da parle dei Rey, & nisto quis sayr fora, pêra ver
o que a gente determinaua, & em sayndo, achou á por-
LtYRO rUU CAPITVLO CLZII. >8t
ta da fortaleza Francisco de sousa com outros, & disse-
)he que ja Tristão datayde & os da assliada erSo ydos y
que nã lhe lembrasse aquilo, & ele o fez assi. £ vendo
a gente quão remisso era em castigar aquele delito &
outros, cuydauâo que auia medo a Tristão datayde,
pelo que o nào teueram em conta, & pareceo tão mal
esta assuada a muytos, que GÕçalo vaz (jarnache culpa-
na muyto António galgâo de não prender Tristão datay-
de, & lio mandar preso á índia, & diziaho pubricamen*
te, pelo que Tristão datayde saltou coele com gente
pêra o matar ou injuriar, & assi o tizera se Gonçalo vaz
nã se acolhera á ygreja, & AnU)nio galuâo nãoacodira:
& sintindo Gonçalo vaz isto, desafiou Tristão datayde,
que lhe nà sayo ao desafio, pelo !\ Gõçalo vaz lhe es-
creueo hila carta de muy feas paiauras. £ desejado An-
tónio galuão assossegu , prSdeo sobre sua menagê Gon-
çalo vaz por amor do desafio, parecendoihe que coisso
poeria paz antrele & Tristão datayde, de cuja discór-
dia, por serê taes pessoas, se podia seguir muylodesser-
uiço de Deos & dei Rey : porem GÕçalo vaz se ouue
pcjr muy to injuriado de ser preso, acodindo por suahòr-
ra, & ficou imigo Dâlonio galuão, nem Tristão datayde
xiãu ficou seu amigo, nê deixou de lhe leuar quanta gen-
te pode a Índia, que sabia a necessidade que tinha de-
la por amor da guerra em que ficaua» £ pêra mais es-
candalizar a gente da terra, leuou bQ moço Christão
4)bamado Paulo, filho dú homem dos principaes do Mor-
ro, que auia de cuydar que lho leuauâo a vender á ín-
dia. £ nno o querendo Tristão datayde dar, nem a ge-
ie que leuaua , mandãdolfae António galuão pedir tudo
c5 miyta cortesia, depois destar embarcado, mandou-
lhe depois sobrisso muy tos requerimStos, o que namsa-
tijsfazendo Tristão datayde, antes soltado palauras muy
feas, f(»y António galuão ás nãos ao outro dia, assi pê-
ra lhe tomar a gente que lhe leuauão, como pêra tomar
pêra el rey o terço de lodo o crauo que achasse de par-
tes ptlo preço da feitoria , & embarcoose em h& batel
com hil falcão por proa»
S8t DA HISTORIA lU índia
C A P I T V L p CLXIIL
Do que Tristão Datayde fez a AnUmio da Madureyra.
V^omo 08 <]ue estauâo no noar, tinha em torra quem os
Auisasse do fi António galuâo delerminaua, forâo ioga
auisados !) auia dir ás nãos ao outro dia, & o pêra que^
leuarão de noyte as ancoras , & sem lhes lembrar ò \m*
ramento {| tinhao feyto a António galuSo, de nam se
yrõ sem sua licenija, nem Ibe leuarê g&te, derâo algiis
á veia & forãose, & quando António galuâ chegou, ja
nã achou roais que hua nao, & o jQgo de Dinis de pay*
ua que se faziâo á veia, & foyse ao jQgo, requerendo
de fora que amaynasse, & Dinis de payua se pos a bor**
do com toda a gente armada, & espingardas ceuadas^
com murrões acesos, dizendo ^ quê chegasse a ele qua
o mataria. E como ho vento era fresco , & o mar gros*
so foyse, sem Ibe lembrar que por ter rouytas diuidas
& emburilhadas , o embargauam por elas ao lempo da
embarcação , & António galuSo se obrigou por de ao
nam pagasse, & se isso não fora, não se podia yr, &
fícaua perdido, por ter feyto inuylo grade emprego, &
em ele partindo, acabou a nao de dar ás veias &se par*
tio tambê, & estas velas & as oiitras, leuarâ a mayor
pnrte da gente da fortaleza, sem nhõ temor de serem
castigados , que bS aabião que auião de (ícar sem casti«
go , coroo ficaram os passados , que fizerâo os mesmos
dilitos, & por isso forão de cada vez mayores. E vendo
Anlonio galuSo como se forão, leuandolbe a gente de ^
tinha tãta necessidade, por ficar de guerra, oiiueos por
aleuantados, & cõdenouos em perdimento das fazendas
pêra el Rey, & tirou estormStoe, & deuassas do que Jbo
fiserâo, & de como (icaua, & cõ dous requerimentos,
hfí porá o capitão de Malaca, & outro pêra o gouerna»
dor da India^ que lomaasem pêra el Rey as fatédas da*
queles aleuâtados , & lhe desse a mais pena qoa meva*
LlVaO VIU. CAPITTLO CLXIII. 883
ciSo suas culpas, despachando logo pêra Banda hQ An-
tónio da madureyra, que leuou lodos esles papeis em
bQa carauela, & mais cartas pêra el Rey de Portugal,
em que lhe escreuia o estado em que achara a terra, &
o (\ tinha feyto, & que desse tudo ao capitão que este-
uesse em Banda: a que chegado António da madurej-
ra, achou bi por capitão hQ Manuel da gama, parente
de dÕ Esteuão capitão de Malaca. £ )X)r Mantiel da gat>-
ma estar anisado de Dinis de payua, & doutros que ja
lá «rSo, que nâo tomasse nhfls |)epeifi Q lhe António gal-
ticlo mandasse , dizendolhe o sobre que erâo , nâo quis
tomar nhQs, por mais requerimentos que lhe António
da madureyra fez que os tomasse^ nê menos consentio
que tomasse agoa, nem lenha, & como a imigo o fez
layr do porto: & poia necessidade Q ti«ha de fazer a*-
goada, se foy á jlba Damboyno, & surgio em hfi porto
perto doutro donde Tristão datayde esiaua surto, que
jogo soube o que António da madureira leuaua, & te*
mendose que o desse em aigu nauio dos que ali esta-
tifio, & se saberia na índia & em Portugal o que fizera
em Maluco, & porque não se soubesse, mandou contrele
bâ António pereyra que fora eapitôo mor do mar em
Maluco, () fosse cõ gente armada contra António da
madureira & que o fizesse yr dali, & asei o fez, que lhe
«lào deixou fazer agoada , & tornouse pêra Maluco sem
dar os papeis que leuaua, & assi se enterrou o l)TrÍ6(ft
datayde & os outros iizerSo, & el rey foy muyto desep-
tildo, & os Ilidis deles forSo tãobem galardoados como
que o seruirSo muyto bem. Ea cdpa disio be toda dos
'gouernadort^s da Índia, ^ não trabalhão muyto p(»r sa-
berem os dilitos que se fazem em Maluco, & sabidos
os aAo casiigão muyto bem.
384 DA HUTORIA DA INOIA
C A P I T V L O CLXIIII.
De como él, rey de Cambaya foy ver ho goaemador ao
ycUeão.
Jl arti(fo ho Gouernaáor pêra Diu, comeijou de se fazer
doente, pêra Q podesse bem fingir que o era quâdoche*
gasse á fortaleza , por^ el rey o fosse ver a ela & lá o
prendesse , & de cada vez se fazia mais doSte , & por
isso se deteue em Cliaul algus dias, & dali se foy a Bar
çai em bua fusta por dêtro do rio, pêra mostrar quão
doSte ya, porque a fama corresse, & quando chegasse
a Diu soubesse el rey de Cambaya ^ ya doente, &aqui
se deteue algus dias, & quando ya a terra pòr mostrar
que não se podia ter, leuauâono em hii Palanqui, que
sam como Esquifes , & leuauãno homês & ya cercado
de fidalgos. £ partido de Baçai chegou á jlha dos Mor«
tos a fiizer agoada, & pêra lhe yr hi falar Manuel de
Sousa, que foy vespoxa Dentrudo á noyte, & lhe conr
tou tudo o que el rey de Càbaya determinaua em sua
treyção, & ainda de noyte se tornou pêra a fortaleza,
sem ser sentido dos mouros onde fora. E passado o dia
Dentrudo , ao outro dia , que era quarta feyra de Cin?
za, em amanhecSdo se foy o gouernador ó vela pêra
Diu, & indo assi , el rey de Cambaya que andaua á
caça de monte ao logo do mar o vio yr, & mâdoulhe tor
go preguntar por sua disposição por hum porteiro , por
quem lhe mandou algus veados & gaaelas^ deles sem
pernas, & outros sem braços: E dado por ele o recado
dei rey de Cambaya ao gouernador, respondeolhe que
ya muyto doête, & por isso se deleuera tâto no cami-
nho que se isso não fora, logo lhe fora beijar as mãos.
£ partido o porteiro, foy ho Gouernador surgir na baya
de Diu , & ali ho foy logo ver Manuel de sousa, & nis-
to chegou o embayxador per que el rey de Càbaya man-
dara chamar o gouernador, que ho ya visitar da parte
LIVRO VIII. CAPITVLO CLSIIfT. 886
dei rey que o mandou, & depois de ho ter mandado che-
gou a Diu , & em chegando lhe tornaua o embaixador
CO reposta do Gouernador como ya doente, & por isso
]he não ya beijar as mãos. E sabendo el rey que o go-
uernador ya doente, o quis yr^ver, pareceridolhe que o
seguraua coisso: & assi como vinha da caça se embar-
cou em hQa fuslinha, leuãdo consigo Coge çofar, & hil
seu filho, que auia nome Rumecão, & dous gSrros, hd
chamado ho Tigre do mundo, outro Caracem, & ho seu
secretario, & Langarcâo grade senhor, que tinha hu
coto douro, & loão de santiago lingoa & outros cinco
mouros, todos capitães & grandes senhores. E em ou*
trás três fustas yâo os criados destes, & chegou tão de
supito ao galeão, que não teue o gouernador tempo pê-
ra mais , que pêra o sayr a receber ao portaló todo in-
vado. E afora os fidalgos que yão coele no galeão esta-
uão outros & algus capitães (| forão ao galeão em sur-
gindo. E quando o gouernador deceo pêra o conues a
receber el rey disse a Lisuarte dandrade, IVIanuel de
Vasconcelos casado, loão jusarte tição, Cristouã de me-
lo, António de Sá o rume, António mendez de vascÔ-
celos, & a outros que estauão juntos, que se fossem pê-
ra ho chapiteo como ^ o goardassem , Q receaua algQa
treyção, pelo que assi aqueles como todos os outros ,
mandarão polas espadas & as poserão na cinta, & nisto
entrou el rey no conues vestido em húa cabaya de pano
verde, & na cabeça hQa touca preta peQna, & hQa ada-
ga rica na cinta , & dous pagSs lhe leuauão hu terçado
& hu arco com frechas, & deste modo yão os ^ o acora-
panhauão. O gouernador ^ o esperaua lhe tirou hu cha-
peo de guedelha leonado, & fezlhe hua mesura que pos
hu giolho no chão muy pesadamSte como que estaua
muyto doente: El rey lhe tomou as mãos com as suas,
que era ho mayor gassalhado que lhe podia fazer, & o
leuantou, & lançandolhe ho braço |)or cima das costas,
sobirâ ambos á tolda, onde os fidalgos oulharão todos
pêra o gouernador, principalmente IManuel de sousa que.
LIVRO vm. ccc
98ê 9A HISTORIA 0A ÍNDIA
sabia 2| o gouernador determinaua de prender el rey ^
assi peio 1) Ihescreuera antes de soa yda que o prSdes-
se , como pelo que Jbe disse quSdo o foy ver á jlha dos
Mortos : E ainda i^ os outros fidalgos não sabião Ijfbe o
gouernador queria prender el rey , parecialhes que era
bem prenderse , porque tinhSo algua sospeita que que*
ria fazer treyçSo & sabião certo ^ quisera tomar a for*
taleza , roas o gouernador niica oulhou pêra ningufi , &
c5 os olhos no chão entrou com el rey na sua camará ^
entrado coele Coge çofar , o Tigre do mundo , o Secre*
tario dei rey, Santiago , Sc outros dous mouros , & nhd
Português. Eem entrando, mandou el rey fechar a por-
ta por dentro, & ficando os fidalgos muyto espantados
de lhe o gouernador não faser nhO sinal , começarão de
murmurar disso hOs com os outros: E Manuel de sousa
que sabia c^mo o gouernador determinaua de prender
el rey , quando vio entrar o gouernador & el rey na ca-»
mara, ficou muyto agastado de o gouernador lhe não di-
zer nada nem lhe fazer sinal , & não se sabendo deier«-
minar no l\ faria, disse a Manuel de macedo, & Antó-
nio Cardoso, o que lhe o gouernador escreuera acerca
da prisam dei rey, pedindoihes conselho no que faria,
& eles lhe eonselbarao que mandasse preguntar ao go-
uernador que determinaua ou que queria que fizesse, &
ele lho mandou pergiitar por lorge barbosa Q agora he
juyz dos Órfãos em Coimbra, 2) por não lhe quererS a-
brir a porta da camará, nem poder entrar pola escotilha
da camará do leme , se foy á varanda da camará onde
ho gouernador estaua, & entrou, & achou assentados
el rey & ho gouernador em hOa alcatifa falando, (c ho
gouernador encostado ao raasto da mezena, & assenta-
do lorge barbosa em giolhos, lhe deu o recado á orelha,
a a^ o gouernador não rcspondeo , nS lorge barbosa não
sayo fora a dizer isto a Maneei de soasa, porque el rey
como qu6 se temia , se leuãtou k>go muyto de pressa ,
& sayose da camará sem esperar Q ho gouernador fosse
coele , n& ate o prepao, & todos os fidalgos oulharão pe^
Lívio VIIU OAPITTLO CLXV. 887
ra o gouernador como da primeira y & iâi^bem abaixou
ca olbosy & el rey se foy. esobarcar Ião de presaa, que
èeaua Goge ^far no gateâf^ Sn alar|;andose ei rey^ que
lhe dtsaerâo que ficaua o tornou a tomar y {| foy muylo
grande honrra , & ci>aM> bo tomou ^ leaHtíando remar a
todo tira , partio pêra a cidade ^ estaria bOa legoa ou
mais I dõde o goueriiadov éstaua surto.
I
C A P I T V L O CLXV*
De cemo/ey morlo el rey de Cambaya.
ndíJise el rey embarcar , aparlouse o goueraador com
Manuel de so-usa y & disselfae que fosse a poa el rey &
Ibe dissesse que c& a pressa de sua yda não teuera lem^
po de I4èe dar hik recado dei vey de Portugal seu senbor^
que cQfMria muyto darselhe logo, que lhe beijaria aa
mãos por se yr á fortaleza pêra onde k^o ya & hi Ibo
dai^ia : £ com* isto ae embarcou Manuel de sonsa em- bd
eatur que tinha a bordo, indo coele Diogo de mezqaitai
& António correa. Os fidalgos que ficauão no galeão áú
pasmados do gouernador deixar assi yr el rey oulbauSa
parele, & ele lhes disse. Senhores () me oulbaeis, em-*
barcayuos nessas fustas que estão a bordo, &ac5pnnba3r
el rey & faaei o que vos Manuet de sousa disser : E di**
sendo isto, dão todos consigo nas fuatas, cÔ no amist
outras armas que espadas, & em buas muylos, & en»
outras poucos, com pressa grandissima botão a pos ]Ma«
Buei de sousa {^ ya atracado quanto podia por chegar a
el rey, & valeolbe muyto pêra o alean<;ar, a detêça que
el rey fez em tornar a tomar Coge qoíar , q4ie duulra^
maneira nunca bo alcançara-: E emparelhando com at
fusta, disse a Santiago que dissesse a el rey que se pas^
sasse ao aeu catur que queria o gouernador que fosse á<
fi>rialeaa, & Santiago respeadea que: diuidíoes erão aque*
laa, que nS auia de dar tal recado a. el rey que lho fos'^
9%. eia diaer dfilcoí â fuala. E parece- que querendo Mar*
ccc 2
388 DA HISTORIA DA INDlA '
nuel de sousa saltar dentro, ou como quer que foy cayo
no mar , & logo hil seu page se lançou a pos ele & le-
uandobo poios cabelos o teue , & nisto chegou hQa fusta
em ^ yâo Lopo de sousa coutínho, António cardoso, o
doutor Pedraluarez dalmeida ouuidor geral da índia, &
desta fusta saltou Lopo de sousa no catur de Manuel de
sousa, & «ãjudouho a tirar do mar aos outros: E el rey
de Câbaya quando vio aQle desastre, como que lhe pe-
saua dele, chamou Manuel de sousa pêra a sua fusta ^
que em todo tempo teue ieuantado ho remo, & Manuel
de sousa entrou logo dentro, & coele Diogo de mezqui-
ta, & Lopo de sousa, Pedraluarez dalmeida, & Anto^
nio correa, & seria ás quatro oras depois de meo dia ,
& ficará de proa Manuel de sousa, António correa, &
Pedraluarez , Lopo de sousa , & Diogo de mezquita pas-
sarSo á popa: E vendo Santiago entrar estes sem o el
rey mandar, & vendo como as outras fustas dos Portu-
gueses vinha apressadas, disse a el rey que o querião
prender, & como era colérico, logo tirou bàa frecha pe«
ra o ceo, que era sinal de guerra, o que entendèdo
Diogo de mezquita, & mais polo ^ ouuio a Santiago,
arrancou da espada supitamente, & arrebatado el rej
por hil braço o ferio pela parte dereyta de búaeslocada
pequena , por amor dos mouros que logo acodirâo & o
embaraçarão, & como erâo treze & todos de mujto es-
forço carregarão sobre os Portugueses ferindoos braua-
isSte, & quasT dos primeiros golpes forâo mortos Ma*
Buel de sousa, & Pedraluarez dalmeyda, ou tomados
forão deitados ao mar, & Diogo de mezquita, Lopo de
sousa, & António correa , pelejauão com moyto esfor-
ço, & coesta detença teuerâo tempo de chegar duas fus-
tas Portuguesas, de que erâo capitães bfl Afonso fialbo,
& hil Aluaro mendez de Chaul, homSs sem medo, ii
leuauão ambos bem coren ta Portugueses, & em chegan-
do acertou de cayr nagoa António cardoso em, queren-
do saltar na fusta delrey , & eles o tirarão, & em o ti-
rando hn page dei rey Abexim moço de ale dezoytoan-
LIVRO VIII. CAPITVLO OLXV. 389
nos ajudaua os seus muy valentemente, tirado cÕ o ar*
CO dei rey tão ameude, !\ parecia que punha as frechas
duas & duas, & em tirado António cardoso dagoa deu«
lhe hua frechada com que o atrauessou & logo morreo,
os criados daqueles senhores que yão cõ el rey de que
erão os mais Turcos , tambS ajudauâo por sua parte es-
quentado a batalha brauamfite, & Aiuaro mendez fj is*
to vio aferrou logo com h&a das fustas em que saltou
com algQs dos seus , & pelejou Iam sem medo que ma-
tou os mais deles & os outros fez sailar ao mar, muyto
feridos , mas deulhe o page dei rey neste tCpo hQa fre-
chada polo estamago cò que ho derribou morto , & assi
matou Afi/oso fialbo, & outros dez ou doze, & matara
todos se o nã acertarão de matar com hua espingarda^*
da. Lopo de sousa &c Diogo de mezquita que estauam
cercados de mouros, ainda que recebiào muytas feridas
matara cinco ou seys, porem os outros que os sentirão
cansados & fracos do sangue que tinhào perdido garra-
rão coeles, & como tinhao mais forc^a derão coeles no
mar em que ouuerão de morrer se os não tomarão. El
rey como vio despejada a fusta dos Portugueses manda
remar a boga arrancada caminho da cidade, seguindoho
qúasi toda a nossa armada de remo que tiraua cÕ sua
artelharia, & era ja a barafunda muy grade de grilas,
bombardadas , & espingardadas , o que vendo os Tur-
CiiS !) estauâo surtos em hfla gateota & em híía taforea
que chegarão ali onde andauft darmada por mãdado dei
rey de Cambaya , começarão de desparar sua artelharia
cõtra os Portugueses , o que visto por Gom^alo vaz Cou-
tinho & outros capitães que íicauão muyto a trás pêra
alcâçarS drey os forão aferrar & os matarão quasi to-
dos pelejando. El rey que se acolhia quâto podia chegou
antre os baluartes onde se daua por saluo, mas nosso
Senhor que via quão perjudicial era sua saluac^âo pêra
os Portugueses, orden< u Q em ele ali chegando saysse
de dentro do rio hú catur nosso de ^ era capitão bQ Por-
tuguês chamado dalcunbaPantafasul que se Iheairaues-
8 90 DA HI9T0RIA DA ÍNDIA
SOM diante 9 &i qom hQ pelouro de berço lhe matou qua*
tiro ieii9ei(o« : & cafDQ nislo «awua a maré & deitasae a
fiiala piera fora, por mingoa doa cemeitos que faltauã,
^ ei rey visse que a oosaa armada se cbegaua ^ pare*
ceoJbe que. Qiethor se saluaría. a uado, & por isso ae dei"*
toM Qom Q6 outros ao mar, & eadaado chegou bua fue<*
ta de qu^ era qapittão bu Tristão de payua de Saularem
a qu^u) ai rey bradlou em sua lin^oa que o nâo UEiialaa*
6.em que era el reji deCâUbayai, &4 daria muiylo dinbeyw
ro a qu8 o saluasse^ & ses^randoha Tristão de payua
lhe deu hQ remo a (} se pegou , & depois de pegado ao
remo^ lhe devi o<i4ro cõi bfta chuça pelo rosto & Lbo aira*
uessQu: &. vSdobo Tristão de payua ferido, acaboubo
de matar cd htia espada , & depois se foy ao fundo (}
Ddea pareceo, & Sâliago foy ter nadado até junto do
baluarte do mar , doad<» hQ Português Ibe deu c& hâ
cauto, na cabecja de !) logo morrea, S^ assi forão mortoe
todos os outros, saluoCoge ijofar, ij ferido na cabeçada
dqas feridas o saJuou A.nlonio de suuUo ma.yor por^ o co-*
pbecia. E este foy o tim dei rey de C&lviya,, Unvaubo
f eubor de terras , gSies , & tesouros , i) se escapara vi«
UQ cõ saber !\ os Portugueses o queriAo, matar lhes dera
muyto trabalho, por ter passante de eÍACO^la milhomêa
em Diu y & armada & arteíharia : maa nosso SenJhoe ^
ouue piedade dos Portugueses permíiioc| o maiassem.,
v8do o deacuydo {(.onue de o preedei^Q tendoho na.mâo,
& sabendo a treyqSo que quertu. f«aeri, &.o.odio que Ur
Dha> aM Portugueaea.
LIVAÒ Vill. CAfVtVhÚ CtXVU ÍÒÍ
C A P I T V L O CLXVI.
Do que íuctdeo depois dá Morte det rey de Caínbaya.
i^abidó pelo Gòueroador a morte dei réy de Catnbayà^
ficou mujto triste por Í8flo , por{| lhe |>arecia () melhor
negocio fizera ae fora ptetó^ & como jà lhe tinhão le^
nado Goge çofar, prometeolhe a vida^ & tnuytaa mere-
ces, se lhe desse inaneyra pêra auer Diu em paz, &
ele lho promeleo, & dandolhe sua fee^ de não fazer ou-
tra cousa, foyse á cidade, ainda que era quasi noyte,
onde auia grade aluoroço pola morte dei rey, & os mer*
cadores (cõ medo de os roubarem) despejauao ho mais
que podiSo, & bo Rao capitão da cidade estaua pêra úé
yr^ sabendo que Manuel de sousa era morto. É Coge
çofar mandou logo deitar hum pregão em nome do Oo*
uernador, que ele daua seguro real a todo mercador que
ficasse em Diu, de nam lhe ser feyto nenhu damtio,
nem nos corpos nem nas fazendas , & mandaua a todos
os âoldados , que logo despejassem a cidade , sopena de
Miorte, cõ o que os mercadores assossegaram do aluoro>
ço que tinham, & os soldados se acolheram , & o Rao
tambS fogio aquela noyte, & foyse pêra as molheres dei
tey, que estauam oa quintaã de Alelique, & pos em
saluo a elas & ao tesouro dei rey. E sabendo o Gouer-
tiador como a cidade estaua assossegada , desembarcou
ao outro dia , fc dando muytos louuores á tiosso Senhor
foy tomar posse dela, & achou hua boa armada, & qua-^
tro basaliscòs de metal, & cinco esperas, & bom quar*^
tao , a fora outra muy ta artetharia de htto , & mais de
dous mil quintaes de poluof & de bombarda, & despiu-*^
garda, & pelouros, & outras muuiçSes de guerra sem
60AÍ0, em muy bôs almazSs, &assi cobrou a alfandega
de Dia pêra el Rey de Portugal , que rendia ci>nto &
éytenta mil" eruzades ou mais , & ficaoa senhor da me-
)li»or cidaàe ^ aui» fta costa de Gãbeya , & da principal
392 I>A HISTORIA DA .ÍNDIA .
que na índia lhe daua mais guerra que outra nhSa, &
cõ cuja tomada os reys da India^ ficará roais assombra-
dos de medo dos Portugueses que doutra nhua, & mais
quãdo souberâo que el rey de Gambaya fora morto. E
depois disto, chegou Martim afonso de sousa com sua
armada, a que pesou muyto de não se achar ali, por-
que se se achara sempre el rey de Gambaya fora preso,
& nâo morrera nhú Português, de quatorze que forão
mortos í[ nomeey , & vinte cinco ou trinta feridos.
C A P I T V L O CLXVII.
De como Mirzãohamet se fez rey de Camhaya cô fauor
do Gonernador.
X^iuulgada a morte dei rey de Camhaya, foy ter a no-
ua ao seu arrayal ondestaua hQ cunhado que fora do rey
dos Mogores, chamado JMirzâohamet que andaua com
el rey de Gambaya, í\ sabendo como ele era morto, &
nâo deixaua filhos, & era mal quisto, & que por essa
causa poderia auer controuersia sobre quem seria rey de
Gambaya, determinou dintenlar de o ser, & logo se fes
chamar rey de Gambaya com fauor de dous mil Mogo-
res de caualo, gente escolhida que andauâo no arrayal
com que fez corpo, & tomou o dinheiro ^ el rey de
Gambaya trazia no arrayal, que era hu conto & mep
douro, & assi todas as cousas de seu seruicjo. E sabendo
como os grandes de Gambaya queriao fazer seu rey IVIi-
râomuhmala Q andaua no Mandou, & por ser morto, to-
mauão por rey a hO moço que auia nome çoltâomahmu-
de, socorreose ao gouernador Nuno da cunha ^ o fauo-
recesse, mandaodolhe offrecer por isso cincoSta mil par-
daos pêra os gastos de sua armada , ^ lhe logo daria. E
depois de ser de todo rey de Gambaya de Mangalor
ate Diu, que sam dezoyto legoas, com hua pelo sertão,
& de çurrate até Baçai com outra, pedindolhe tãobem
conselho no que faria pêra se conseruar em rey. E sen»
LIVRO VllU CAPITVLO CLXVII. 393
do O gonernador contente de fazer sua petição^ o man-
jdou pubricar por rey de Cãbaya no alcorão de Diu ^ &
lhe mandou dizer, que em quãto os do reyno estauão
sem rey , ele deuia dyr polo reyno , porque como auía
muytos que queriâo mal a çollSobadur, & nã tinhSo
rey, folgarião de o ter por esse, & se ajuntariâo coele,
& quando os <) queriâo fazer rey o fizessem , já lhe nãó.
poderjão dar o reyno, o que seria ao reues se ele se dei-
xasse estar quedo, por isso que logo deuia dabalar: Po*
rem ele não tomou este conselho, & deixouse estar na
vila de Nouaguer leuando boa vida, & mãdou os cin-
cóèta mil pardaos ao gouernador , & híl assinado do ^
lhe prometia. E depois disto no mes de Slarço adoeceo
bo. gouernador, & por se achar rouyto mal & dizerem
08 Médicos que de cada vez se auia dachar peor, por
Diu ser muyto contrayro a sua saúde, lhe requererão os
iidalgos que se fosse inuernar a Goa, TporQ determina*
pa dJnuernar em Diu,) & por rsso ho Gouernador onue»
de yr inuernar a Goa, posto que foy muyto contra sua
vontade, & nam leuou mais que seus criados & IMart!
afonso de sousa com sua. armada, & deixou em Diu to«
dos os fidalgos da índia, & assi a outra gente da arma-
da, & ficou por capitam António da silueyra, & nos
dous baluartes da vila dos Rumes, loâo de mendoça,
& Francisco de mendoça yrmâos, Q dauão de comer
cada h& a centq & vinte homSs, & Ruy diaz pereyra-
ficou por capitam nas casas que foram da mãy dei rey
de Cambaya, que eram como fortaleza, & daua de co-
mer a cem homSs, & António da silueyra a trezentos,
& assi dauão mesa algus fidalgos, s. dõ loã lobo íilho do
barão, Francisco pereyra, Anrrique de melo, filho bas-
tardo ilo cõde de Marialua, & Gaspar de sousa, no que
todos gastarão rouyto, principalmSte António da siluey-'
ra que tinha mais l\ todos, no que fizerão muyto serui-'
ço a el Rey de Portugal , porque sem isso nam se po-
dia sostentar a muyta gente que inuernou em Diu, que -
sem ela fora tomado pelos capitães de Cambaya, que*
LlVfiO VllI. DDD
S94 BI BisToitA ná mniA
Gom medo desta gente nani oQsarã da lhe faznr guer^»
ra y como determinattl , pêra se ?ÍDgarft dos nossos pola
morte do seu rey.
C A P I T V L O CLXVin^
De coma os capitães ^ êãnhares de Camòaya deàmraUí^^
rào Aíirzâohamet , que se chanutua rey de Cumbaya.
Jl artido ha gouernador pêra Goa, conro os capilXee de
Canbaya sinliSo mujto serMiraâobametrej deGftbajar,
& mais com fauor dos Portugueses, deierminarflo de ko
deslrujr, pêra o que leuantarara por rey a Alirãomuh*
mahia que andaua no Mandou , & eai quanto nào fee^
se, foram deytos Ires capitães prii»cipaes, pêra cfue em
aeu nome regessem o rey»o y, com a mày de i(ulldo bi^
dor, & íbrã estes Madre matueo, Driacie, Sc Auc<o,
<|ue ajuntando dez mii de cauaJo^ & quinze mH de pé^
fi>râo cõtraMiralN) hamel que ainda estaoaemNuaguet
muyto de vagar. C sabendo ele qme seus iinnmigos o yãe
boscar , Ibes sábio ao encõtre cook es doos mil Mogoree
qee tinhxi de canaW, & e«u€ram bfia bataika em qfue
Áf irzSo foy desbaraftadoí, & íbgio pêra o reyno de Vlcin^
de y cujo rey era seu parSte , & dos seus (or!Í0 mortos
quínbSlos , & os outcos fogirão pêra a vi^la dos Romes^^
4 estaua dali legoa & mea, & todo este caminho os se-
gnnSx> o» imigos , & matarSo os ^ digo , fc os aieabsrSo
de matai a iodos, se não § chegando a tiro' de bti>arde
da' irila dos Rumes, se ieuerã pof as muytas bftbardadee
(^ lhes loão de mSdoça mãdou tiirar, cuydãdo {) yâo osn^
treie, & dafi ae afastarão os de Câbaya, & flcarrá úê
Mogores, ^ {lassados tred dias, em Q António da situei^
ra soube a vepdade de eomoí vinbão, os mandon reoe»^
Iher na viha dos Rumes, por serS nossos nnrigost, h àé^
pois ^ os feridos forão sãos, lhes deu auiamelo pêra ^
se pactissem. E nestes três dias q os Mogores esteuefÂ
sem os António da sílueyra querer mandar recolher,
LlVfiO TUI. CiPlTTLO CUCIX. 896
fior ee temer de treyção, aooateceo ^ bu Mogor aper***
fiou noyto €5 lofto de niÁdoça,, ^ o deixasse eiitrar na
vila cO tua >aidher, & loã de mfidoça dimporíuiiido 4áê^
se ^ «DlcaMe ela aó, & eõsenUDde o IkAogor , eta nam
qute , dizSdo que coeie queria morrer & viaer.
C A P I T V L O CLXJX.
De como m raáes ék Cambuya^ deywaróo pw Jrotíteiro
cSira Diu Alucão ^ ^do mais q passou.
jD^et capitães de Cambaya, depois que TÍrSo qne nSo
podia fazer mais mal aosSIoçores do Í\ lhes linhâo fey^
to, recolherãose pêra Nouaguer, c6 determinação de fa-
zerS guerra a António da siluejra, & primeiro que a
rõpeeaem , ouae atgfts recados deles a ele sobre pazes :
E por António da silueira lhes pedir que dessem a el
rey de Portugal fao c) llie daua Mirzão bamet se fosse
rey , ná ouue a paz efieílo , & declarouse « guerra, que
foy encomendada a Alueao qee tinha ali suas terr-aS) Sc
08 outros se forSo pêra IMadauó, deixandotbe .doze mil
boMês, & ele tolèeo logo que nâo fossem da (erra fír*
Bie á jlha buscar carnes & frnyias, & mãdaua de noyte^
passar sua gente á jlba por certos passos Q tinha de bay-
xa naar, pêra que atupissem algas poços de que os Por**
tttgueses bebião« O que leão de mfidoça cSlraríana com
os seus com muyto esforço ^ & quasi cada noyte auia
rebates de peleja , & nisso & em vigiar lf<uauã os Por*
tugMeses trabalho iminenso, & leuarSo em dous meses
que durou este cerco , em qne passarão tanta fome de
carne que ebegou hOa galinha a valer seys iostc^^s, &
quasi na fim de lanho ne;g;oceon A)itonio da sílueyra
como t)auesse tregoas aninele & Alucfio até a uinda do
ffouernador, qtie esfieraua que fosse daM a hum antio,
k. mandou coeste recado a hum Francisco pacheco, què
i<>y i^yt dalfandega^ que foy 'arrepelado dà capitão Da-
hicão^ mbre palauras que á cinte quis atier com Fran^
396 DA HItTOmiA DA ÍNDIA
cisco pacbeco, pêra bo injuriar, que por isao se tornoki
aem dar ho recado que leuaua. O que sintiodo muylo
Anlooio da silueyra, pedio a loão de nifidoça que na
menbaã de aam loão, que auia de ser ao outro dia, fos-
se colher as lampas á estancia do capitão que arrepela-
ra Francisco pacheco, & estando pêra partir, chegou
hum recado Dalucão, em que se desculpaua a António
da silueyra do que o seu capitão fizera, & por isso ho
tinha preso pêra ho mandar degolar, & mandou con6r-
mar as tregoas, & Jeuantou bo cerco, de que a cidade
ficando desapressada, foy logo abastada de muylos man-
timentos, & ennobrecida de muytas & muy ricas merca-
dorias.
C A P I T V L O CLXX.
De como lorge mascarenhas pariio pêra Maluco.
Vyontinuando boGouernador sua viagem pêra Goa che-
gou lá, & dahi se foy IMartiro afonso de sousa a Co*
chim, onde auia dinuernar, & dahi despachou Fernã
rodrigue; de castelo branco vedor da fazenda, hu fidal-
go que auia nome lorge Mascarenhas, de que fiz men-
ção nos iiuros atras, que ya por capitão & feylor da
nao do trato da índia pêra Maluco, que pariio em Abril
f>era Malaca, & dahi auia dyr carregar de crauo a Ma-
nco , & da torna viagem de noz & maça em fianda , &
pariio tãobem de Cochim em bua fusta bum Afonso vaz
de brito pêra Bêgala, per mandado de Martim Afonso
de sousa a resgatar Martim Afonso de meto jusarte que
lá estaua catiuo com outros Portugueses (como tenho
dito) & trazelo se lho quisessem dar. £ partidos estes,
em diuersos tempos chegarão aos lugares a que yão : &
quando Afonso vaz chegou a Chetigão, ja el rey deBè^
gala sabia a morte dei rey de Cambaya, que lhe fora
por terra , & os mouros lha contarão mentirosa , dado a
culpa ao gouernador Q o matara , por lhe tomar Diu
tendo coele paz, com o que el rey ficou toruado, & per-
LIVRO VIII. CAPmriiO cjíxxi. If7
deo o credito dos Portugueses, parecendolhe que assi
lhe farião, & os mouros cospião aos que estauã noGou-
ro, & lhes dizião injurias. E estando nesta afronta, che-
gou a Chetigâo logo no principio Dabrii, há. AnloDÍo
niêdez de crasto, que fora criado Dantonio da silue}^ra,
que ya em hQ nauio com fazenda , & leuaua híia carta
do gouernador pêra Marli afonso , em que lhe coniaua
da morte dei rey de Cambaya , & as rezões por^ fora
morto, & logo Nuno fernãdez freire juyz da alffidega de
Chetigâo ierladou esta carta, & a mandou a Marti a*
fonso por duas vias, &ele a mostrou a elrey, que quan-
do soube as rezÕes porJ) el rey de Cambaya fora morto,
as ouue por boas, & pedio perdão do passado a Marlim
afonso , & tornou os Portugueses a sua graça.
C A P I T y L O CLXXI.
Dê como 08 capitães das nãos da carga chegará aa In^'
dia.
V indo. o verão da índia , chegarão a ela em diuersos
tempos, algilas das nãos da carga que aquele anno par*
tirão de Portugal, de que foy capitão mor dõ .Fernando
de lima, filho de Diogo Lopez de lima, ^ ya por capi-*
tão Dormuz, & os capitães de sua oonserua forão, lor-
ge de lima , que ya pêra capitã de Chaul , dom Pedro
da silua, Marli de freytas, que depois que chegou á
Índia foy morto por mouros, não soube como, & Lopo
vaz vogado. E depois da partida destas nãos, partirão
outras Ires carregadas de gente, de que forão capitães,
Diogo lopez de sousa , Fernão de morais , & Fernão de
crasto, & estas mandou el rey de Portugal, por ser cer*
teficado pela via de Veneza, que mandaua o Turco hda
armada á Índia pêra lha tomar.
S98 iu HonroitLk lu imuA
C A P I T V L O CLXXIL
De como ho Gouemador wube iqtu ya kúa armmda d$
Turcos 'Oa Imíia.
Èseytas as tregoat antre António dm BÍioeym capiláo
de Dia ^ & Atueão ^ todos ou mercudores Sl <outra geola
pobre, que se forão de Diu, quando maíaram d rey de
Cambaya , ae tornarão pêra a cidade , & aa entrada de
Setembro, mXdou Antooio da «iioeyra Miguei vas, &
Panialiâo perejra em dou« oatures coalra MaogaJor, pe^
ra que fízeaaeoi arribar a Diu aa naoa q«e fosaeiB do ee^
treyto , segurandoot , que ainda q Dia foaee de Portei
guesea, aeriam lambem tratadoa, como quando era dei
rey de Cambaya, & coíaao arribaram muyfaa naoa, com
que a cidade foy iam ennobrecida , que diziam oa mou-
ros , que depoia da morte de Meiiqoeaz , nonea a cida-
de ho eateuera tanto nem tam rica. E neataa naoa ea-
creueo ho aenhor Dazibele no eatreyto a Coge (jofar^
que ho Turco mandaua bQa armada aa Índia, de oiie
era capitai» mór <^leymâo Baxá , rey <lo Cayro & Da«
lexaodria., & mandoulbe ho tevlado do regimento que
Qoieymão tinha do Turco nesta armada^ o que logoCo<*
ge çofar disse a António da ailiíeyra, & ela o escueoeo
ao gouernador & asai Coge ^far. jB ounidas pdo ffouet^
nador estas nouas , parlioae pêra Diu na Cm de UezS^
bro^ a fazer certas cousas necevsarias pêra a vinda dos
Turcos; & por rego DAtonio da si lueym, mandou Coge
çofar híta fusta 0$ roçado ao senhor Dazibele ^ que lhe
mandasse certeza da determinarão de' çoleymSe inxá^
& que tornusae a inuernar a Dia.
LlVliO Tni. CAPfTTlJ» CLXXIII. 399
C A P I T V L O CÍLXXIIL
dâMf que PaUituuar^ ^ outros cãpitãe$ de Calieta
Jixerâo a^s^ Fortagnese^
JN este tempo se levAiom cfttia ti tey deCeilio bfi seo
yrmia, que auia nome Maduita pSdaie, a que fauore*-
cia el tej de Calicut, por ele ser mtijic gT8de1fn>g'e
doa Porto giieeea^ ft; mandee em eua ajuda Irct val^^tet
mouroa. s. Patê maçar ^ C^tíale maear, Ale bâbrahB^
por capitães de corilla & sele Aiaiias grandes , &- bè ar<^
aoadas^ em que ySo oyto mH motiros^ ^ partirSo de fwf^
to de Paiiane, andada Marti a(bMo de «ousa darmadà
na eoata«. £ partidos eates capilSes^, acbaraa) surtas na
barra de Cocliii» quatMN naés Pertagoesss, ^ tem^iaâ
earga pêra Portagal , a i)i se ebegauSo a remos pêra as
tomarS, bo meterem no fuodo, por^ lhes pareceo j}au)ã
destar sem gête como* eslauie, mas oão poderão, porQ
tanto 4 se ?io esta armada de Coebl^ mâdou logo Fei*^
ii<Sa rodriguea de castelo branco védof da Aarzt nda, iifoy^-
tíí g8te em socorro daa nãos, qe^ cticgao aefas p^riínej'^
re í\ ehegaseem os mouros , a que deram bffa grafiée
çiirríada àe bembardada», & os^ fizerié jr seu caminho,
que tomario pêra Coutáa, em cujo porto acbarâo hum
l^iculao jusarte, capitão de hõa nao que estatta earre^-
{[«'vndo : & cvjdide de o tecnar,, o cometerão és bombar«-
dadae o9 que o matarão, & vende que não podíão to-
mar a nao passarão de largo, & tomarão muytosf tstm^
buços, k nãos q yãe de Cberamãdel pêra CocbT, & hda
nao ^ ya de Ceilão coe» as peMfaa. B a>è da cabo de
ComorI , derão em hum lugai» de €hrisl9oa dà terra ,
chamado Tutueori, da pescaria do afofar, & não er-
laiido> ki Manuel rodriguer ceeii<iybe» 1) era capitão dela
ú tomara , & roebárJIo de qiuifd tinha , até as vèstim&-
tae k a pedra dará, & matara, mu^ta gète, & depois se
deyxarã andar por aduela eeeta, ^ nio topaeão denhil
nauio que não tomassem.
400 n4' HISTORIA. PA HfDIA
C A P I T V L O CLXXIIII.
De como Marli afomo de iousa chegou onde étUiuâo (h
capitàe$ dei rey de CalicuL
JLll o (êpo ^ esta armada Bahío de Panane^ andauaMar*
ti afonso de eouaa c6 a sua oa cosia do Malabar ^ & ya
na volta de Gaoaoor quãdo soube dela ^ pelo () tornou
logo atras , & se foy a Coclil , & reformãdose do neces?
sario , foy eoi busca dos mouros ^ de ^ sabia cada dia
nouas, & no cabo de Comori achou o vSto, í\ chama
coniQmêle na índia i a vara de Cboromãdel, ^ Jbe erii
|)or dauSte ^ & como o mar era muyto grosso , dobrou
a^Ie cabo eÕ assaz de trabalho & de fome, faiiécêdoiha
os mâlimSlos^ fH>r se déler mais dias do <} cuydou. Do-
brado o cabo, !^ os mouros ouuerã vista de Marli afoo^
so, nS quisera pelejar coele, poslo.() lhe linbão grada
auãlagS, & isto fizera duas ou tres> vezes, s6 os jÚíartI
afonso poder alcãçar, do que se ele agastou muyto^
por{| vio /) se os seguisse daquela maneyra, assi como
assi não os podia alcaa<^r , &. desbarataloyão pouco &
pouco, &, afora não podej fazer ao que fora, .receaua
que em sua ausência se leuantassem na costa do IMaia-
bar algQs mouros cossayros, Q tomassem quâlaa nãos
iiauegassem por aquela costa, pdo que ibe pareceo qud
era melhor tornarse a guardar a cosia , Q gastar ali o
tempo sem fazer nada & assi o fez , & cÕ quanto deu
em Cocbi esta causa pêra se tornar , pos Fernão rodri-
guez em conselho coele, & cÕ os outros capitães & fi-
dalgos o seu parecer, & ainda ^ o ouuerã por bd, as*
sentarão í| era muyto necessário nâo yrfi os mouros a
Ceylão, por^ se Maduna pandale desbaratasse el rey
de Ceylão, & ficasse vitorioso, traria ali aquela armada
dei rey de Galicut, & tomaria quantas nãos passassem,
assi pêra dSlro :de Ceylão, como de dStro pêra fora,
pelo 4 Marli afonso deuía de tornar a buscar os mouros
LTVRO Vni. CAPITVLO CLXXIIir. 401
& pelejar coeles , & praseria a noB8o Senhor I) os acha-
ria varados em hua enseada onde os desbarataria, o^
parece que foy pronoslico da viloria Q Marli afonso ou-
ue. E Útbê indo Marli afonso pola cidade, depois Q se
assentou que tornasse a buscar os mouros, sayo á rua
híia molher viuua, a ^ os mouros de Calicut catiuarão
hii ilibo didade de doze anos !\ auia nome Marcos, &
tomãdoho pola fralda dOa loba, lhe pedio cõ muytas la-
grimas ^ lhe trouuesse seu 6lho, ^ sabia {} lho leuauâ
08 mouros naquelas fustas, & Q ouuesse piedade dela,
por^ nã tinha outro, Marti afonso |x>r se desapressar
dela, lhe prometeo o Q pedia, & bS o cQprio: £ refor-
mada sua armada de mais nauios & g&te, se partio cõ
qualrocêtos Portugueses, 8 vinteduas velas de remo,
de Q afora ele fora capitães , Fernão de sousa de lauo*
ra, Manuel de sousa de.Sepulueda, Frãcisco de sá,
loâo de mSdoça, Marli correa da silua, dom Diogo dal*
meida , lorge barroso dalmeida , Frãcisco de barros de
paiua, Gaspar de lemos, Frãcisco pereira, leronjmo
de figueiredo , António de lima, António de sousa, Sy«
mão rãgel de Coimbra, António fernãdez, & Francisco
de sequeira Malabares, & outros dous, a J) não soube
08 nomes : & indo Marli afonso por sua viagS lomòu
certas champanas de mouros, !\ yão da pescariê^do al-
jôfar, em q catiuou obra de corSta mouros dos i) yão c5
Pale maçar, & cÕ os outros capitães, 2) mãdou entre-
gar aos Christãos de Tutocori , pêra se vingarè do mal
^ lhe fizera, do l\ se eles vingarão b8: E proseguindo
daqui 8 busca dos mouros , foy os achar na enseada de
Beadalá , hQa grade pouoação perto dos baixos dç Chi-
la, & aqui esCauã os mouros , pêra por força , arreca*
dar8 os dereytos da pescaria do aljôfar, & como estauã
de vagar, tinha varada a armada 6 hQa língoa darea {|
ficaua em restiga, & tínbã assSlado o arrayal em í) es-
tauã dentro em hO palmar , & os marinheiros , & bom-
bardeyros estauSo nas fustas : Chegado Marlini afonso
a vista dos mouros, em. hila segunda feyra vintoyto de
LIVRO VIII. EBB
402 DA HISTORÍA DA INDfA
laiieyro, & auendo eies vista de sua armada, acodiram
logo 08 que estauain no arrayai ás fustas, que Unhão
todas seus tiros nas proas , com que começarão logo de
jugar pêra a nossa armada , que tambè desparaua sua
artelbaria cbegandose pêra os mouros, & era o estron*
do dos pelouros muyto grande darftbas as partes, & assi
a matinadà de brados, & de grilas, que dauao bõs &
outros , & 08 mouros de lhes parecer i| por serS muytos
tinbão tomados os Portugueses, & os Portuguesea de
os acharft em lugar que nao Ibes podiSo fogir, & coeste
aluoro<{o ^ os Portugueses tinbâo, errará o caaal da res*
tiga por onde ouuerão dStrar com os mouros & aferra*
los, pelo que como as suas fustas erão grandes, pêra
padarem pola restinga encalbarão nela, o que vendo os
marinbeyros dalgOas se deitorâo nagoa pêra tomareui
fundo , & verS se podiAo os soldados desembarcar , por
estarem em grande perigo, cam as muytas bombarda*
das , espjngardadas Sc frechadas , que os mouros tira*
Qâo, & acbâdo os marinheiros que o fundo era darea
solta & a agoa alta pêra desembarcarem homSs arma**
dos, disserftno^ aos capitães, Q • mandarão que ninguS
desembarcasse. E por mandado de Mart! afbnso se a^
fastarão pêra o pego, & nisto desembarcarão ed sua gerr^
te mais abaixo da restinga, dÕ Diogo daimeida, Fernão
de sousa de tauora, & outro capitão, & encaminharão,
ao lÕgo da praya pêra. os mouros , cuydando § d^esem*
bavcasse Mart} aíbnso, & vSdo os mouros ^ ele nã de-
sembarcaua, antes se a£astaa» pêra o pego^ pareceo^hes
^' poderião tomar aa fustas de dõ Diogo, de Fernão^ de
sousa, & do outro ^ íicauA sós, pêra Q logo começarão
de desencalhar aigáas das suas em que se meíião, e
que visto por Marti afonso, eonhecendo seus pensamen*-
tps, lançouse logo- no seu balam, & varando^ por eim;^
da restinga, per antre tamanha multidSe de pelburo»
como digo, salta, em terra & fez recolher dom* Diogo,
& os outros capitães com sua gente ás sua^ fijstas, &
fii2end0 aoabar dafestar as eutrae pe^a hopego^ A3y ve^
Lívio VIII. CAPITVLD CXXrv. 403
a disposiçi da restioça 000 que tchou o canaf : Sc tomo
ãs bombardadat eram mujrlas , arromboiíilie b&b o ba-
lAo , com qoe ae vio «id grande perigo.
C A P I T V L O CLXXV.
De como farão desbaratados porMartim afonso de sousa
08 capuáts dei rty de CalicuL
y isto porMartim afonso o que queria, tornouse á aua
/rola , & como foy noyle , mandou a Prancísco de se-
queyra, que se fosse deylar com o seu calur bua le^oa
abayxo da enseada, &que deytasse em terra cerCos Ma-
labares seus parentes pêra espias dos mouros , & pêra
cima da enseada , mandou deylar sete fustas ao longo
da terra , porQ se os mouros quisessem fogir de noyte ,
como fizeram em Calecare, que òs estoruassem, &que
tirassem tiros, respondendo hiis aos outros, & de quan*
4I0 em quando espingardadas. O que ouuindo os mour
ros, & temendo que fossem aquela noyte cometidos po-
la praya fori alecerflose daquela parte de ?alos, te tu»-
cbas darea , em que assentaram algfis tiros , com que
respondiam aos dos Portugueses, & teueram toda a noy^
te muy grande vigia, & como foy menbaã recolberãose
os catures da vigia, onde estaua Martim afonso, qua
sabendo das espias o ^ os mouros reoeauão & como se
fortalecerão^ quis ainda esperar outra noyte sem os co-
meter ate saber mais deles, & anoy tecendo, mandos
ter a mesma vigia que a passada & pola mesma manei*-
ra , & os mouros responderão aos tiros dos Portugueses
ate o quarto da prima rendido, & são quiserSo mais
respõder, parecendolbes que os Portugueses faziãoaqui#-
lo pêra ibe fazer gaatar a poiuora de balde , & que nSa
ousauâo de pelejar coeles por serem poucos , & espera^-
4iã o socorro de Cocb! ou Cboromandd, & se Ibes fossa
pdi^jariil , & se nSo nâ : £ fey ta esta conta , não res«-
poudurlo aos nossos tiros , nem corarão de muy ta vigia
404 Dl HISTOMA DA INDTA
& deitarâose a dormir, do que Marlim afonso foy logo
auisado por suas espias, pelo que vio que tinha tSpo de
pelejar coeles poid o náo tinhâo em conta , & por nSo
esperarè por isso estarião mais descuidados, & o des-
cuydo lhes faria roayor medo , & assi o disse aos capi-
iSes da frota, & a outras pessoas principaes, cÕ que as-
sentou que pelejaria coeles em terra, em que desembar-
caria em quatro fustas grandes, bii quarto de legoa d5-
de os mouros estauâo pêra o norte , & como fosse perto
deles, faria sinal coro h&a camará de falcão a António
de sousa & a Gaspar de lemos, que cô oy tenta bomês
de iSqas & rodeias , & a gSte do mar ficarifio em sete
catures no canal sobre o remo, & em ouuindo o sinal
cometerião os mouros : £ deixãdohos no canal, fojse ao
posto dde auia de desembarcar, & mandou a todos os
que soubessem tirar com espingardas que as leuassem ,
& dessfi as rodelas & laças aos marinheiros Q lhas le-
vasse , & (} cobrisse os murroSs , porQ os mouros lhos nft
•enxergassem, ^ os {|ria. tomar de supito, & desta ma^
neira começou de caminhar pêra onde estauâo os mou^-
ros c5 a gente em corpo, Qseriâo seyscentos homSs cora
08 escrauos & marinheiros, & as fustas em que desem^
barcou yão ao lõgo de terra emparelhando coele, pêra
que hQa fizesse o sinal cõ o tiro, & caminhando nesta
ordem, António de sousa & Gaspar de lemos que fica^
não no canal com os sete catures sobre o remo, estauâo
esperando o sinal , se não quando hu dos catures se a*-
trauessou no canal per roi vigia , & atrauessado foy lo^
go visto dos mouros , a {| parecendo que o acertassem
lhes tirara com hu falcão, & em António de sousa &
.Gaspar de lemos o ouuindo , cuydarâ que era o sinal
que lhes Martim afonso auia de fazer, pelo ^ remete-
rão aos mouros tangendo as trombetas & gritando cota
tamanho arroido que faziâo mostra de serem todos os da
armada , & assi o cuydarão os mouros , que logo acodi^
rão a defenderlhes a desembarcarão , & meterâose na>
goa aos receber , & sentindo quão poucos os Porlugue--
LIYRÓ VIII. CAPITVLO CLXXV. 406
ses erâo esforc^arãose niuylo , & remelerSo aos calores ^
& tomauãnos poios remos querêdohos varar em terra y
ao que os Portugueses saltarão nagoa, & começarão de
pelejar com os mouros, que como erãt> muylos os trata*
uão mal, & matara António de sousa, Gaspar de le*
mos, & outros sete, & com tudo os outros se defendiSo
brauamente. Martim afonso que tinba ouuido o tiro dos
mouros, & a pos ele ouuio as trombetas & a grita, logo
conheceo o que era, & disseho á sua gête, a que man-
dou sopena de morte que ninguS não fosse se não sea
passo cheo , porque se fossem de pressa cbegarião tão
cansados , por ser ainda longe , que nam poderião pele-
jar & os imigos os matarião, & que encomendassem a
Deos 06 outros que pelejauSo que ele os goardaria , &
coisto chegou aos mouros, & sem o sentirem lhes deu
nas costas, porè eles nS desmayarão coeste supito co-
metimêlo, antes como erão oylo mil homSs, iizerão lo-
go rosto aos Portugueses , lançado diante os espingar-
deiros que erâ duzentos, & hils & outros começarão hua
espantosa peleja, em que Martim afonso pelejaua coma
caualeiro, & mãdaua como capitão, & não estimando
cÕ os outros espingardadas nem lançadas, nem outros
golpes, se metiâo todos cõ muyto esforço antre os Imi-
gos matando & ferindo, ao que os outros ajudauão tàbê,
que não o podèdo os mouros sofrer ^ começarão de des-
pejar as fustas & retirarse pêra o palmar onde tinbão o
arrayal , seguindobos os Portugueses , & como forão no
largo que se os mouros poderão estender & cercar os
Portugueses, {} erâ muy poucos antre tantos, aperta-
rãonos de maneira Q se acolberão ás fustas, ate onde os
mouros os seguirão: £ como os Portugueses forão em
terra apertada , em que tanto montaua aos mouros serê
poucos como muytos, porque nã podia pelejar se não os
da dianteira, tornara' a auer a melhor deles, & torna-
rãnos a leuar de vencida ate o palmar , donde os mou-
ros 08 tornara a leuar ate as fustas. £ vencendo ora hiis
ora outros , gastará nisto ate as oy to oras do dia , em ^
406 9A HISTomU DA IKDfA
forâo feridos bem seteota Portugueses, o que vende
IMarlim afonso, & que os mouros não se auifio de des^
baratar, em quanto teuessem suas fustas inteiras, com
esperança de as cobrarem, determinou de lhas quey<-
mar, por conselho Dantonio fernandez malabar, que
assi lho disse, & ele mâdou logo que lhes posessem fo-
go & assi fuy feyto; & como estauâo ci fadas & enseua-
das começarão darder, lauraodo o fogo com grande fu*-
ria , o que desesperou os mouros de as saluarS , & co^
fifieçou de fugir a gente (| nao tinha- obrigação, & logo
a outra, & a trás ela os capitães, & Atgindo assi us
mouros , algQs seus filhos pequenos quiserâo leuar por
íbrça ho menino Marcos filho da viuua de G>chím, que
ae liurou deles ás punhadas & ficou: E Martim afonso
4 vio fugir os mouros, deixouhos yr por ler sua gente
cansada, & saluar algáas das fustas de que saluou vin-
teduas, & forão queymadas vintecinco, em que forâo
lomadas qualrocStas peças dartelharia, as oêto de me-
lai, & mil & quinhentas espingardas, & dos mouros fo<-
râ mortos oytocõtos, & algils catiuos, & achouse antre>-
Jes hu Português que trazíâo caliuo, () auia nome Aoi-
dre luys, & no menino Marcos, cd que Martim afonso
folgou muyto pêra o dar a sua mãy, & dos Portugueses
fora mortos dez, & feridos setenta, de que bil foy Dio<-
go de reynoso de hfia espingarda-la por hfla perna.
C A P I T V L O CLXXVI.
Do mais que fez Maríhn afamo de soma depids da vi'
ioria de Èeadala.
^nLuida esta vitoria, deu Marti afonso muytos Jouuores
a nosso Seflor por a graade mercê que lhe fez^ & certo
•que fí>y muyto graaxie^ porque afora a perda que el rey
de Calicut recebeo em perder esta armada, se eJa este-
«era inteira, quando os Turcos vierâo a Din, como dí^
rey adiante , ela fisera t&ta guerra aos Porlugueses , 4
LIVRO VIII. CAPITVLO CVXXVÍ. 407
a costa da Malabar nia se poderá tiauegar ^ & as naoc^
Portuguesas da carga ou escaparão ou não de serem tow
madas, & que não fizera oulro mal, se não ajuntarse
com a dos Turcos fora muyto grande: Assi que foy e^
ta Titoria muy importãle pêra segurar a índia. Ú por
ela ser de tanta fama , muytos fidalgos pedirão a B/lar^
tim afonso ^ os fizesse alt caualerros , & ela os fe'Z , &
dali mandou ao gouernador a noua desta vitoria, p^r hH
cauaJeiro chamado Mrguet dayala que mora em Li^boa^
q'ue loy en> bfta fusta , & de caminho a desise en^ G;-*
chim a Fernrâo rolz de castelo brâco vedor da rarzea^da'.
£ indo de viagS, depois de partir de Cochim , topou d
Iflontedeli duas fuslasrde Malabares cõ ^ qtf^sera* pele-
jar, &; fugirãolhe, & togo^ Copou outra muy to grande &í
com muyta gõte, cd que aferrou & pelejocr c&os moCH
ros bu bom peda<;o sem o poderem entrar, & matou
muytos cõ os seas soldados que erâo dezoy to, & assi se
apartara matandolhe os mouros dous. E Marti afonso (|
ficaua em Beadalá, por ser perto Ceilão, foy lá a visi-
tar el rey , & saber dele se tinha necessidade de sua
ajuda , c5 o que el^ rey folgoi^ muy to, & co he desbara^
to dos Malabares. O que sabido l^ãbè por MacJune pan-
dalc , se recolheo pêra bua serra Õde se fez forte , & de*
sapressou- el rey , pelo que el rey, não teue necessidade
de Marti afonso , & deullie vinte mil pardaos pêra o^
gastos da armada, & dali se tornou a Cochim, onde íof
recebido cõ grade festa, & depois se tornou a correr »
costa cõ a mesma armãKla !\ leuaua & indo de CaHcul?
pêra Cananor defrõte de Tíracole , pelejou cÕ dezoy t<y
fustas de Calicut, que yão carregadas darroz, cuidan^
do os mouros que yão aelas , que sertão três mil , quer
ainda Martím afonso não era passado do cabo de Como^
ff pêra o Malabar^ & como o conhecerão fugirflo vèdof
que os ya cometer, & efe & oe seus* capitães os segui-'
râò ate que os alcã^arão, aferrarão, ft entrarão, & forii
mortos b& mil & quinhentos mouros, & algus catiuos,
& os outros se saluarã a^ míd^ puF ser perto de terra ^ &
408 DA HISTORIA PA ÍNDIA
as fustas forão todas tomadas, saluo hfia qoe varou &
das outras tomou Simão rangei duas que aferrou cõ os
seus soldados, & matarão quantos mouros yão dê(ro, &
dos Portugueses morrerão vinte, & forâo feridos cSto &
dez, porê os mouros sintirã muyto a grade perda ^ a«
qui recebera principalmente os de Calicui, cujo rey a*
cabou aqui de perder toda sua armada, pelo !\ lhe foi
forçado fazer depois pazes cÕ o Visorey do Garcia de no-*
ronha (como direy no liuro Nono. ) É auida por Mar-
tim afunso esta vitoria, se foy a Cananor, leuando os
mouros que catiuou enforcados nas vergas dos nauios,
pêra () os vissem os mouros de Cananor, pori^ sabia que
andauâo muytos deles na{|la armada, pelo que (àobem
lhes mandou deitar na praya os que forão m<irlos na ba-
talha pêra Q os vissem. E coesles dous despojos que
IMartím afonso fez nas armadas de Calicut, ficou a cos-
ta do Malabar limpa delas por h&s dias.
C A P I T V L O CLXXVII.
De como Martim afanzo de melo juiarU sayo do catmey*
ro de Bengala.
V-^hegadi
lo Afonso Vaz de Brito a Cbeligão (como dis-
se a trás) falou logo com Nuno Fernandt*z Freyre, dí-
zendolhe ao que ya, & auido seguro dei rey de BSgala,
foyse ao Gouro, onde lhe deu a carta de Martim afonso
de sousa , em que lhe contaua os grades negócios {{ fi-
cara ao gouernador depois da morte dei rey de Cambaya
pêra seguráça de Diu , & por isso lhe nã poderá a^le
anno mandar a gente que lhe pedira por seu embaixa-
dor, que lhe mandaria coela no anno seguinte, pedin-
dolhe muyto pois era amigo dei rey de Portugal , que
deixasse yr Martim afonso de melo, de que auia neces-
sidade na índia pêra capitã de hQa fortaleza que lèe
derael rey de Portugal : Epor esta carta deu ei rey li-
cença a Martim afonso que se fosse com os outros Por-
LIVRO VIII. CAPITVLO CLXXVII, 40»
tugueses , saluó Nuno fernâdea frejve y lò&o hàáo ^ A ih
tooio paez^, Afonso vaz de brito, q auia de ficar etnar-»
reíBs de Martim afonso, q promeleo a el rey de fezer
qiie o gouernador lhe mâdasse logo mujla gente: E co
C8 Portugueses que aui3o de yr coele, se foy embarcar
a Chetigão na fusta Dafonso vaz de brito, & dahi sa
partio pêra a índia, onde chegou a saluamêlo: E já- a
este tempo auia noua no Gouro que Xercansur (aquele
Patáne de que falei a trás) torna ua sobre o Gouro -cô
cein mil de caualo , & trezStos mil de pee : & ao diá
seguinte em que Martim afunso partio do Gouro, che-
garão muytos Bengalas q estauSo.na fronlaria contra 00
Fatanes , de q forào desbaratados , & afirmarão a el rey
q Xercãsur se chegaua de cada vez mais pêra ho Gouro
cÕ a gente 4 digo , & dizia l\ nâ fizera paz cÕ el rey j
Be nâo |X)rq lhe desse cadãno treze leques, &elrey mà-
dou logo saber se estnua Martim afbnso ainda no Gouro
pêra o não deixar yr, por^ o ajudasse naquela guerra
que esperaúa: & vendo que Martim afonso era ydo c5
09 outros Portugueses, mandou Nuno fernSdez freyre c5
grades poderes a Chetigfio, pêra que lhe fizesse mil
manchuas como as de Malaca, pêra estornar coelas a
Xercansur a passagem do Ganges ao Gouro, o que nâo
pode ser, por^ quâdo Nuno fernandez partio: já muyta
gSte de Xercansur tinha passada , & tinha cercado o
Gouro por agoa, ^ não pode Nuno fernandez sayr eni
ha paraó em (| ya se não defendendose ás espingarda-
das c5 doas escrauos que leuaua ^ o ajudauão , & assi
se foy sayndo dãtre os Patanes. E em hua cidade abai-
xo do Gouro , chamada çarnagfto , achou no rio o Las-^
car dela com seyscentas almadias carregadas de manti*
mentos que leuaua ao Gouro, & quSdo soube Q estaua'
cercado, cometeo a Nuno fernandez que fosse coele, 2|
não quis por o aperto em que se vira , & por ele não-
I}rer yr, não ousou o Lascar dyr cõ os mantimentos nem
foy , & por falta deles foy a fome tamanha no Gouro , l^'
06 pays comerão os filhos peqoenos , tendo primeiro co-
LlVaO Vm. FFF
410 BA HISTOmiÁ DA ÍNDIA
midofl os CBuak)8 U 00 alifantes, & por derradeiro os Pa«
tanes entrarão a cidade , & matarlo a mayor parte dos
SestauSo dStro, & el rey de Bfigala fugio muyto feri<»
o , & indo assi , topoa cÒ bfi capilAo dei rey dos Mo^
gores que o ya socorrer por lho ele mXdar pedir , & es-
te capitão leuaua quorenta mil de caualo, c5 que el rej
de Bengala assi ferido como ya, fez logo volla (lera o
Gouro, parecêdolbe que o tornaria a tomar, & el rey
dos Mogores ya a pos ele c5 o resto de seu exercito:
fc sabendo Xercãsur oue ya, como não queria mais que
o tesouro dei rey de Bengala , apanbouho todo & leuoa«
ko deixado a cidade despejada, & assi a acharão osMo*»
gores, cujo rey por não achar o tesouro, & porque mor-
reo el rey de Bdgala das feridas , não quis ali roais esr
tar & toroouse. O que sabendo Xercansur depois de se
fazer jurar por rey de Bengala & dos Patanes , foy a
pos ele com seu exerci U>, & depois de o desbaratar lhe
tomou bo reyno de Deli, de Sanga, & do Mandou , Sti
ficou senhor deles , & do de Bengala , & do dos Patar
nes, & niorreo muy grande senhor, & por sua morte
deyxuu estes Keynps aos, filhos que linha.
C A P I T V L O CLXXVIII.
De cama 0$ Aches, quiurâo tomar aforudeza de Malaca.
.Cim todos os.liuros a trás fica dito, o mortal ódio que
el rey Dachem tinha aos Portug^esce, & quanto traba-
lhou por tomar a fortaleza de Malaca, & estando ainda
neste propósito, mandou hu seu capitão com três mil:
homBs que a fossa tomar, & desembarcaria de noyle,
& logo escalaria a fortaleza. E partido cd hua grande,
armada, sem ser sentido dos Portugueses, n^m. sabe-
rem sua yda, chegou a Malaca veapora de. nossa ^ora.
de Setembro, do anno.de lõ37. ao quarto da modorra,
& desembarcado muy oaladam6le , foyse á pouoaçã dos.
Quelfs ^ era cercada de madeyra, &. entrou por hft bar
Lirmo fiii. CAmvuo clxxviit. 41 i
luarle^ que se ohaaiaua do Bfidara, cujos criados o vi-
giauão, maft doraiíâo a este tempo tãobem, {|os AchCs
os matarão a todos sem acordarem, & entrando por aqui
i)a cidade, repartidos em escoadrões, se forão com suas
guias á ponte pêra dali jvem á fortaleza & escalarSna,
o que ouaera de ser, se }he nosso Senhor nSo atalhara,
& indo seu caminho desmandarãose algfls a roubar cer*
tas casas , cujos moradores sintindo que erâo imigos, &
cuydando que fosse gfite dei rey Dungentana, forão dar
auiso ás vigias da fortaleça , que dado rebate a dõ Es-
teuâo da gama que era capitSo, se pos logo em armas
com os Portugueses, & sab&do ele que erilo AchSs, te-
meo muyto sua vinda, parecendolhe que nâ deuia de
ser sem terem inteligência na cidade, principalmente
com NinapSo & Ninabay jrmãos, mouros honrrados &
ricos, de que dom fisteufto tinha grande receo de lhe
fazerem treyção. E deixado a fortaleza a recado , foyse
á ponte com duzd tos Portugueses, em que entrauão
TristS dalayde, que aaia pouco que chegara de Malu-
co ;pola via de Banda, Manuel da gama, Paulo da ga-
ma, António pereira^, dom Manuel de lima, dom Fran»-
oisco de lima, dom CristouSo da gama, Frãcisco bocar-
ro fey tor , & outros fidalgos & caualeíros , & passando
a ponte , logo na entrada da pouoac^âo dos Quells foy
dar cd bQ escoadrão dos Aches, c5 2) começou de pele^
jar, ao qoe os outros acodirS logo & foy anlreles hiià
braua batalha , em Q os Portugueses pelejarão tãobê, f(
fizera afastar os AchSs hD peda<;o pêra dêtro da cidade,
matando algas : E vendo o seu capitão que não podia
fazer o pêra que viera, soltouhos a roubarem na cidade,
ao que dom Esteuão acodio ainda {) era denoyíe, & a-
pertouhos tão rijo, 2) em amanbecSdo os fez recolher ao
baluarte por onde entrara, o que fizerSo com muyto
tento , & fechando a porta sobre sy , sem * lhe os Portu-
gueses poderem imfjedir {) a não fechassem, & feriãnos
do baluarte com muyta pressa cò frechas beruada»: O
que .vendo dom Esteuáo, mandou a Tristã datayde que
FFF 2
41 > DA HISTORIA BA IHniA
c5 cem homfis quebrasse a porta do baluarte ^ & ele co
duzfitos entraria entre tanto poias costas, & asai se fez,
sobre o que foy h&a espfttosa peleja, & por derradeyro
os AcbSs forfl lâo mal tratados, () tomarão por remédio
.fugirê & yrense pêra sua terra, ficando trezètos mortos,
& dos Portugueses não morrerão nbOs, somente forão
feridos Tristão datayde, dõ Francisco de lima, Antó-
nio pereira, Francisco bocarro & outros. E el rey Da-
cbd depois {[ soube () a sua gente fora desbaratada , a-
crecentoulhe mais o desejo de tomar a fortaleza, & tor-
nou a mandar outro capitã com cinco mii homSs que a
tomasse por fortja a escala vista*
C A P I T V L O CLXXIX.
De como os Achêê tomarão a Malaca.
V endo dom Esteuão quão de rebate chegarão os AcbSs,
& a opressam em ^ poserão a fortaleza, ordenou sessen-
ta Portugueses pêra vigiarêa cerca dos Quelis, & por-
que era de madeyra, ajuntarãose eles todos por rogo de
dd Esteuã & cercarãna de taypa, & dd Esteuâo por a-
cabar asinha a obra andaua sempre nela louuando os que
o faziâo. bem, & dandolhes de comer á custa dei rey,
no que gastou trezStos cruzados , & coisto fez obra em
trinta dias, {) doutra maneira não se fizera cô menos de
trinta mil cruzados, & a menos altura do muro era dd
home, & a mayor de dpus & três : & nisto soube dõ Es-
teuão como yão os AchCs pêra Malaca, & temêdose que
desembarcassem logo de caminho como da outra vez,
pos no tialuarte do Bendara duzStos espingardeiros , &
por seu capitão Paulo da gama , & a Tristão datayde ,
a dom Francisco de lima , a dõ Manuel de lima , & a
Manuel da gama, deu a cada ha vinte cinco sobresa-
lentes pêra ^ corressem o muro, & acodissem onde fos-
se necessário , & ele com outros cento se pos junto da
fortaleza: E esperado coesta ordem os Acbfis, chega-
LIVRO YIIT. GAPITVLO OLXXIX. 413
rSo, & como yão pêra tomarS a cidade per cõbate, as-
sentara seu arrayal hQ quarto de tegoa dela , onde cba-
mão a pÕta de Tãjaqueli, que na noyle seguinte fazen^
.do grande escuro feytos em Ires escoadrões h& pêra es-
calar o baluarte do Bendara, & os outros pêra escala-
rem o muro, & quando não podessem o cortarS cõ es-
copros & macetas , cuydahdo que era ainda de madei-
ra, & os que auião descalar o baluarte, sobiráo muy ca-
ladamente parecCdolhes Q os não sentião, se não quSdo
os Portugueses que estauão nele arremesarão sobreles
tanta panela de poluora, & lhes tirarão tantas espingar-
dadas que os ^ sobiâo se decerão muy de pressa & os
' outros nâo ousarão de sobir, & fao mesmo acõteceo aos
que quiserão sobir pelo muro, & com tudo os AchSs
Dam deixarão o combate, em que perfíaram duas oras
de relógio, & forão muytos feridos & mortos: & como
• sayo a lua se forão por nã receberá mais dano , & tor-
narão na noy te seguinte , & aconteseoibes da mesma
maneira. E vendo dom Esteuão que por virem polo es-
curo não recebião tãto dano como receberião se ouuesse
claridade, recebeos na primeyra noyte que tornarão com
•grandes nouelos de fiado ensopados em azeyte, & estes
acesos de três em três postos em grades espetos de três
pontas, que estauam fincados no chão hum tiro de pe-
dra do muro, & dauão tanta claridade como !) fora de
dia, pelo Q os Acbès forão b8 vistos a hS grande peda-
lo do muro, onde lhes tirarão cõ a artelharia & espin-
gardaria com que os fizerão tornar sem ousarem de che-
gar ao muro, nem ousarão de tornar mais pois os vião:
£ recebendo muyto grade dano de mortos & feridos se
partirão pêra sua terra tão de pressa que Tristão datay-
de que foy a pos eles com hOa armada os não pode al-
cãçar: & com a fama dos AcbSs yrem tão mal tratados
não ousarão outros de bolir consigo.
414 BA HISTORIA DA ÍNDIA *
C A P I T V L O CLXXX.
De como António gàluâo fez pazes com el rey de Oeiloby
^ de Bachâo.
Jl artido Tristão dalayde de Ternate coiiie a trás fíoa
dito, António galuão que ficaua por capitão da fortale-
za , ficou em grande trabalho por se yr (Sta geate que
quasi ficou só, & por estarem ainda osTernates de guer-
ra. E como eie conhecia que a principal causa de seu
descanso era paciioar a gSte da tçrra & tornaia a ser
amiga dos Portugueses, trabalhou polo faser por meo de
Cachil rade jrmão dei rey de Tidore , que niseo lhe a-
proueitou tanto, f\ se ele não fora custaralhe muyto fa*
zelo, porque osSãgages ck> senhorio de Ternate querião
Jdesposessem <le rey de Ternate. a el rey Cachil aeyco
isendo que era bastardo, & auia outros, que lhe peroe-
díão pêra serS reys , & que desposessem de regeder ao
camarão, ^omet ião a António galuão ({screuesse aoGo-
uernador da índia, que lhes mandasse el rey Tabarija
que era seu rey de dereyto, & se fosse morto (} então
farião outro^ & que enlre (ãto fosse António galuão seu
rey. E como ele eiu muyto. bom hom& & desejaua muy-
to de seruir a Deos & a el rey, não quis aceyiar aque-
le partido, receando que o pouo se escandalizasse de ser
regido por ele j| era Cristão, & por isso trabalhou tanto
com os Sangages- & gouernadores dos iugaree y que fo-
rão contStes dobedecerS por rey a^ Cachil aeyxo , & ao
camarão por regedor, & assí o fizera pelo*^ António gal-
uão deu muytos presentes á sua custa & cois lo começa-
rão osTernates l\ estauão espalhados por outras jlhas de
se tornar pêra Ternate & pouoar a terra,, em que. An-
tónio galuão começou daquerir grande fama de > muyto
bom homS, & Q nã auia nele nhQa cobiija, & espanta-
uâse os mouros muyto de ihoBerecerfi a gouernança
do rey no & não a querer aceitar, porque no tempo que
LIVRO YIII. CAFITVLO GLXXXI. 41 &
a teuera se poderá fazer quão rieo quisera, & el rey, &
o camarão lhe ficarão por isso em obriga<;ão grãdissima,
& assi o dizião pubricamente. E tendo asseniada a ter-
ra , pêra a cõseruar , trabalhou por fazer cft el rey de
GeiloJo & com el rej deBacbão, que sabia que se aper-
cebiâo pêra lhe fazerem guerra & trabalhauSo com el
rey de Tidore que os ajudasse , SC isto por vingarS a
morte dei rey CacbU dáyab, que fora morto a ferro,
que erão obrigados, a viagar segundo seu costume. £
por os reys não quererê a paz, os desafiou António gal-
uão a ambos que se mat-assem coele pois ele só era o de
quem desejauSo de se vingar , & os reys aceitará o de-
safio, mas não ouue eflfeito, por el rey de Tidore & âeu
yrmão Cachil rade interuirê nisso , & lhes fizerão fazer
a paz com António galuào: £ ao tempo que a assenta-
ra» lhes mandou António galufio grades presentes da
parte dei Rey de Portugal , & eles lhe mandarão algfia
rortugueses que tinhâo catiuos, & artelbaria, & outras
armas. £ assentadas, as pazes, muyto»Ternates que es-
tauão naqueles dous reynos se tornarão pêra Ter nate, &
ahsi se tornauão cada dia outros, & se ya pouoãdo ater-
ra como dãles , de que a gente estaua tão íbra como
disse a trás, nõ ouuera nuca de tornar a Tomate se não
fora a boa fama Dantonio galuio , & ver6 por obra que
era assi oomo ouuião.
C5 A P 1 T V L O CLXXXL
JDe esmo $e perderão duas nao$ de Castelhanos que yão
pêra Maluco.
IN este tempe mandarão oa reya daquelas jlhas recado
a António galuão Q per antreiaa contra aa dosPapuaa
andauão duaa naoa de Caateébanea' ^ nâ podião tomar
porto, nem eles auião de consentis que o tomassem ate>
não saberem se era disso contente, ho que lhes ele man-
dou agradecer, & pedir que os não deixassem tomar por^
416 ]>A HISTORIA DA ÍNDIA
lo em suas terras , & que lhes dissessem da sua parle
que se fossem á forlaleza & seriâo remedeados de lodo
o Dccessario: E logo mandou fazer algQs bateis de que
líaha necessidade se os Castelhanos quisessem guerra :
Cujo capitão mor auia nome Fernfto de grijaluarez , & o
da outra nao se chamaua AJuarado, i\ indu da noua Es-
panha pêra o Peru do Emperador ondeslaua o marques
dõ Fernando cortes, & ou por võtade de Fernão de gri*
jaluarez , ou por lhe assí ser mâdado^ sendo a duzèlas
iegoas da costa da noua Espanha , disse á sua gCte Q
a u ião de descobrir outra terra sem dizer Q terra era^ do
{| a todos pesou muyto^ & por nauegarê ao lÕgo da li*
nha ora a hAa parte ora á oulra ate cinco ou seys graos:
dallura , parecia a lodos que a terra que auião de des*
cobrir erão as jibas de Maluco , & assi andarão ale se.
poerem em treze graos da parle do sul ^ & tornarão ate
vintaqualro da banda do norte ^ & sem nunca acharem
terra, por falta dagoa, tornarão a demãdar a linha pe-
V ra fazerem agoada dos chuueyros, no Q gastarão muylos.
dias. E falecendolhes o mantimento, quiserão tornar á;
noua Espanha & não poderão, porque chegado a vinte;
sete graos dá linha escaseaualhes o vfito , & fizerão Í8to.
lanlas vezes, que lhes foy forçado yrense dereitoa ás.
jihas de Maluco, & roorreolhes quasi toda a gente, &.
anlrestes foy Fernão de grijaluarez, & furão ter aelaa^
cujos moradores lhes não deixarão tomar porto por amor
Danlonio galuão, & dizíãlhes que se fossem á nossa for-
taleza, o que nã quiserão, & vendose sem remédio de
poderem tomar porto, & com medo de se alagarem por
as nãos andarem muy to abertas derão á costa , onde os
mais fora mortos pula gente da terra , & escaparão Ires
ou quatro que forão calinos, & depois os resgatou An-
tónio galuão & soube deles tudo isto , & Q na noua Es*
panha se fazia bfia armada pêra yr a Maluco Q foy (co-
mo direy no liuro Nono. )
LIVRO Vril. CAPITULO CLXZXII. 41 V
Ç A P I T V L O CLXXXII.
De como loâo freyre foy ao Morro por capitão de hiSa
arnuxdai .
X depois Dantonio galoSo mandar recado aos reys de
Siaiuco que dS deixassem tomar porto aos Castelhanos
fez logo húa armada de que foy por capitão mór ao Mor-
ro híí loâo freyre pêra tornar á obediência da fortaleza
certos lugares que lá estauão leuantados, & foy coele
Cacbil rade, por cuja causa algtls daqueles lugares de-
rão logo obediência a loSo íreyre, & outros nâo quise-
râo & se defenderão, & ouue bi peleja antre os mouros
& os Portugueses , & foy morto bõ Fernão pinto , & an-
dando lá loam freyre , chegou lòrge mascarenhas capi-
tão, & feytor da nao do trato da índia pêra Maluco,
que ya carregar de crauo pêra el Réy dom luão de Por-*
tugal: & tanto que surgio em Talangame, soubese na
fortaleza por algQs da nao que forão a terra , que lorge
mascarenhas leuaua bum aluará dei Rey em que defen-
dia que nenhOa pessoa comprasse cra*uo & todo se ven-
desse na feytoria sopena de perdimento do crauo & de
toda a fazenda : & que mandaua ao gouernador da In*
dia & ao vedor da fazSda que o fizessem comprir: El
assi disseram mais que o vedor da fazenda dera lícSça-
a lorge mascarenhas & aos que yão coele pêra comprar*
rem certos bares de crauo & os carregarem , & a mes-
ma licença mandaua a António galuão, & ao feytor &
a seus escriuães, com bo que toda a gSte da fortaleza*
se aluoroçou grandemente, &ajuntarãose os mais â por-
ta da fortaleza , dizendo a grandes brados , que auião
dir qoeymar a nao de lorge mascarenhas cõ quantos es-
tauam dentro pois vinha nela tal aluará, & que se auião
dir pêra os castelhanos se viessem , ou pêra os mouros,
PȒa lhe tirana mo crauo que eles tamb6 mereciam, pois
vão tinham outra cousa em que tratar: & defendiam
LilVRO VIII. GOO
41 • 1U HI0TOBfA BA ÍNDIA
aquela fortaleza, com tanto derramamento de sangue &
trabalhos tam immensos, & defendSdo el Rey ho crauo»
geralmente ho seu vedor da fazenda ho alargaua a lor-
ge roascareohas & aos seus marinheyros que nunca pe-
lejaram naquela terra: & diziam a António galuão que
acodio a esle aluoroço, que nam sofresse bo aluaraa que
leuaua lorge mascarenhas pois nunca el Rey ho manda-*
ra em tempo doutro nenhD capitão ^ ao que ele respon-
deo que pois que ele era dei rey fc eles também, que
auiam de com|>rir os seus mandados , & que se el rey
aquilo maodaua, ele era contente de lhe obedecer & ho
auia por bem, & que el rey fazia bo que deuia pêra for*
rar ho grande gasto que auta tantos annos que tinha na-
quela fortaleza sem auer dela nenhii firoueylo: & quan*
to a ele nam lhe daua nada de yr pobre |ior goardar oa
mSdados dei rey , em quc' esperaua que lhe faria mercê
pois a fazia a todos oa que ho seruiam, rogando a todos
que nam se aluoroi^assem em quanto nam vissem ho al-
uará que diziam, fiorque ele daria a tudo hum meo com
que ficassem cõlentes : Porem a gente naid foy cunten-
le disto, & roais porque sabia que António galuam era
tam amigo do serQiço dei rey , que auia de goardar ho
aluará ao |)é da letra, & nam |>odiam assossegar: &laa»
danados andauam , que sayodo lorge Mascarenhas em
terra, sem ho saber António galuam , assi como os que
digo bo viram saltaram conã ele pêra ho matarem, & as-
si ouuera de ser se nam se acolhera a bua casa na po-
uoa<^o dos Porlug;ue8es onde se defendia com a porta
íechsíúa , a que acodio A oilonío galuam , & quando che»
gou jaa acendiam fogo pêra queymarem a casa & a ele r
£ como a gente vio António galuam , foramse todos, &
ele leuou Jorge Mascarenhas pêra a fortaleza : & como
nam estaua em tempo pêra castigar aquele crime , por
anM)r dos castelhanos que esperaua , & recear que se
lhe fosse a gente, dissimulou com os culpados, daado-
Ibe esperãça que quãdo visse o aluará faria o que fosso
justiça^ pois naquelas parles era vedor da faz&dadel Re>y
UVaO TUI. CAPITYI.O CliXXXIII. 419
& fez que fossem amigos de iorge inascareDbas & dos
que yão CÕ ele, no que ihe foy bõ padrinho, porque
doutra maneyra foralhe grande trabalho saluar a vida,
Segundo a gente desejana de o matar. ^
• • •
C A P I T V L O CLXXXÍII.
De como fay lido^ ^ pubricado o aluaraa que leuaum
large mascarenhoB , ^ dai muyiãt deêordes que sobris^
90 sucederão.
.x\ ssossegado este aluoroço, mostrou Iorge mascare^-
nbas o aluará que leuaua, que defiois de António gal-
uâo dizer que lhe obedecia, foy lido em voz alta peran-
:te lodos, cuja sustancia era o que disse: & assi foy li*
.da a iicen^ que o vedor da fazenda daoa a António
^aluSo & a foT^e mascarenhas & aos outros pêra faze*
jrem crauo, & António gajufto disistio logo da soa, di*
.aendo que posto que perdia nisso múylo, que antes a
queria (} perderse bo seruicjo dei Rey seu senhor, que
pêra se conseruar naquela terra era muyto necessário
pão fazer ninguém crauo se não ele, pêra se tornar ao
primeyro preço que lhe fora posto per António de brito,
porque os mouros auerião por seu barato de o darem ,
não ho podendo vender a outrem se nS a el Rey, &que
melhor seria aos Portugueses comprarêno na feytoria
que aos mouros pois lho dauâo tão caro que nam valia
mais na índia (\ em Maluco, & mais que na feytoria
lho darião em desconto de seus soldos & mantimentos,
eem terem necessidade de darem por ele roupas & ou«
trás cousas que auiam dauer de fora , & ja. que dauão
tamanho ganho aos mouros, que melhor seria darem al-
gum a el Rey que os mantinha, & gastaua tanto em
soster aquela fortaleza & era causa de eles enfríquece^
rem, que nam era rezS que eles leuasaem tudo 8c el
Rey nada, pedindo a todos () oouessem |ior bem hoqjue
el Rey mandaua & comprisse ao pé da letf a : £ logo
GGG 2
*20 ©A HI8T0RTA DA ÍNDIA
mandou pregoar o atuará com trombetas por a cidade ,
& depois pola jlha. E mandou ao ouuidor & ao feytor
que tirassem deuassa se ele ou seus criados fizeram al-
gum crauoy ou o compraram depois que ali eslaufto, &
acbouse que nam , porque desejaua tanto de seruir el
Rey, & tomarem lodos dele-eaempro pêra ho seruirem,
que antes queria perder sua fazenda , que fazer cousa
:em que parecesse que o deseruia. £ mandou mais que
do crauo que as partes tinbâo feylo, se tomasse ho ter-
ço pêra el rey , & lhes fosse pago polo preço da fey te-
ria, & assi fuy feyto, no que se ouueram quinhentos
bares de crauo pêra el Rey: E pêra que dali por dian-
te se ouuesse (odo bo crauo pêra el Rey, escreueo car-
tas aos reys de Maluco & aos Sangages, pedindoihes
que defendessem em suas terras que nam se vendesse
o crauo se nam ao feytor, mandandolhes bo lerlado do
aluará dei rey, ao que todos responderam que seruiríam
de muy boa vontade a eIRey de Portugal, mas que na-
quilo nau podiam por serê certos que ainda que matas-
sem 08 mouros que nam auiam de deyxar de vender be
crauo a quem lhe roais desse , que defendesse ele aos
Portugueses que lho não comprassem , porque doutra
maneira não podia ser: Epor neste tempo António gal-
uâo ser auisado que lorge mascarenbas mandaua fa^er
crauo , & Q os Portugueses o querião táobeni fazer, pe^
dioibe António galuâo que o nam fizesse por não dar azo
que ho quisessem os outros fazer, que muyto crauo auia
de leuar dei Rey em que se entregaria daquele, pêra
que lhe ho vedor da fazenda daua licença: E nào o que-
rendo ele fazer pos António galuâo pena conforme ao
aluará dei rey que não comprasse crauo , & lorge mas-
carenhas lhe mostrou bum aluará do gouernador , em
que o isentaua de lodo de sua jurdição, assi a ele , co^
IDO a quantos yão coele, & a nao & sua carga,. & so-
bristo ouue atreles discórdia , & lorge mascarenbas se
foy pêra a nao, & não tornou mais a terra. E vendo os
Portugueses esta discórdia, começarão logo da|)ertar
LIVRO VIU* CAPITVLO CLXXXIII. 421
Gòm António galuão que lhes deixasse fazer crauo^ se
não que se yriâa pêra a Índia, fazendolhe sobrisso gran-
des requerinoêtos, & protestando de ele ser em cargo a
el rey da perda que recebesse por sua yda : & com tu-
do António galuão nã quis nunca alargar ho crauo, &
mandou requerer a Jorge mascarenbas pelo Ouuidor,
que lhe não ieuasse nhíia gente sem sua licença , & ele
não quis deyxar chegar ho Ouuidor a bordo, mandan-
dolbe tirar com espingardas , cuydando que o ya pren-
der: & foy ho aluuroi^o tamanho na gente, & o desa-
uergonhamento , por lhe Anlonio galuão nani querer a-
largar o crauo, que o quiserão matar, mas não poderão.
£ por derradeyro se armaram cento & ojtenta homSs,
& assi armados na metade do dia se forào embarcar, a-
meaçâdoho com a morte se lho quisesse tolher , & di-
zendo que pois era tão amigo do seruic^o dei Rey , que
lhe goardasse a sua fortaleza, & assi se forão embarcar
GÕ lorge mascarenhás , & com hum Fernão anrriquez
senhor díi lungo em que se ya .pêra a Índia, & Antó-
nio galuão nam pode resistir a isto, porque lhe nam fi-
cauam mais de cento & vinte hómês , & estes porque
lhes daua de .comer á sua custa, que não auia na fei-
toria com que lhes pagassem mantimento, & Anlonio
galuão porque não ficasse só & se perdesse aquela for-
taleza, gastaua o seu, & não lhe daua nada perdeio por
seruir el Rey , dizendo que pois o perdia nisso que el
Rey ho satisfaria: E era a reuolta tamanha, & ho Ou-
tiidor ouue tamanho medo, que por lhe António galuão
não mandar prêder ninguém deixou a vara , nem ho Vi-
gairo queria seruir a ygreja, & tão bem se foy. £ em-
barcada esta gente com lorge mascarenhas, &com Fer«
não anrriqne^, partirãose pêra Banda : & também foy
em sua conserua hum Gonçalo Vaz çarnache, que an-
daua darmada no Morro, onde tomou por força a leão
Freyre hQ nauio em que andaua que António galuão ti-
nha pêra mandar aquele anno aa índia carregado de
Crauo , & por mays requerimentos que mandou fazer a
4tt DA HISTOSrA 1>A IlfDf A
GÕi^b vaz ( depois que foy em Talâgame ) que tomas*
se o crauo nunca quis, & foyse com o nauio vazio, no
que el rey recebeo muyio grande perda, & Gonçalo vaz
n& ouue por isso nhu casligo, pelo que em Maluco ca-
da h& fazia ho que podia sem temor de Deos , nem dei
Rey, nem vergonha do mudo, & mais por!| sabiâo {| os
não podia castigar o capitão de Maluco. 1^ vedo aigus
castelhanos que estauâ na fortaleza ( & esiauâ pêra se
yr) como António galuão ficaua só, n^o se quisera yr^
lembrados da muyta borra & gasaihado, & outras muy*
tas boas obras que lhes tinha feytas , & por lhe pagarS
tudo isto quiserão ficar : Pois os Portugueses a quem ti-
nha feyto o mesmo, lho pagauã tão mal, & assi lho dis-
seram & ficaram coele, o que lhes ele agardeceo muy-
lo, & logo esculheo hu deles, que auia nome Pêro de
ramos {} conhecia por bõ home , & escreueo por ele a
ei Rey de Portugal & ao gouernador & ao vedor da fa<-
zenda o que lhe fizerão muy miudamente, mandandolhe
os estormêlos que dioso tirara & os autos !\ fizera , &
mandoulhe que desse tudo a qualquer capitão que achas-
se em Banda: & em guarda deste Pêro de ramos foy
Gachil rade com htla armada dei rey deTidore, & che-
gado a BSda deu tudo a Paulo da gama que hi estaua
por capitão, & estando hi morrerão lorge Mascarenhas,
& Gonçalo vaz ç^nache de doença que lhes sobreueo.
C A P I T V L O CLXXXIIIÍ.
Do que o gouernador fez em Diu pêra a mnda doe
Turcos.
Kj Gouernador que ya pêra Diu, como disse a tras^
chegou lá na entrada de Feuereiro , do anno de mil &
quinhentos & trinta & oyto , & sabendo de Coge çofar
como tinha por certa a vinda dos Turcos, & que vinhão
com grande poder, por quanto a cerca da vila dos Rur
mes era grade, & era necessária muyta gente pêra a
LIVRO VIII. CAPITVLO CLXXXIIII. 423
defender, que ele não linha, pelo que os Turcos a po«
deriào tomar, acordou com conaelbo de a derribar, &
que fizesse na borda dagoa bu baluarte & húa casa for-
te pêra apousenlamento do capitão do baluarte, o que
logo foy começado, & tinhâo as paredes de vinte pés
de largo , cuja capitania o gouernador deu a bQ Fran-
cisco pacheco juyz dalfandega de Diu, & dentro na for*
taleza foy comec^ada hfia cisterna de vinte palmos dal*
to^ & tão alta que cada palmo auia de leuar duzentos &
cincoenta toneis dagoa : 1^ neste tempo quisera o go-
ueriiador reformar as Iregoas que Anionio da silueyra
linha assentadas cÕ Alucão que se acabauão énlão^ &
Alucão nâca o pos em obra , por mais recados que lhe
lorão sobrisso : £ o gouernador ainda. que espera ua {^e^
k>s Turcos ^ não quis ínuernar em Diu , & fuyse a Goa^
deixando a António da silueyra seys cStos bomès, de
que os quatrocentos erão mal armados , & os duzentos
não eram pêra pelejar, & antrestes muyto poucos fidal-
gos, & leuou toda a gente consigo, deixando a fortale-
za em tamanho risco & de guerra com Cambaya : & de
Goa despachou a Vasco pirez de sampayo pêra yr a
Bengala com gente em ajuda dei rey, & foy por capitão
Biór de eotie velas, de que foram por capitães afora ele,
António de melo !Í agora mora em Bucelas, Frãcisco de
barros de payua, JManuel mascarenhas, Cristouão dou-
ria, Diogo rabelo, & outros, & mandou neata frota ho
embayxadbr dei rey de Bengala , & Vasco pirea se foy
a CochiiH y donde parlio em Mayo pêra Bengala»
434 DA HISTOmiA DA ÍNDIA
C A P I T V L O CLXXXV.
De como Coge çqfar fugio de Diu»
X depois do Gouernador partir de Diu, reformou An*
tonio da silueyra as lreg;oas que linha com Aiucáo, &
a po8 ísao chegou a Diu h&a carta i\ Cof^^e çofar Unha
mandada aCaxem a saber ainda mais certeza da passa*
gem dos Turcos á índia, {| lhe leuou recado muyto cer-*
to que auiáo de passar com grande armada , de que ele
folgou muylo, pori} lhe parecia que deitariáo os Portu*
gueses fora da índia, que era cousa que muyto deseja*
ua, por lhes ler mortal, odío, posto que mostraua ser
seu amigo: E logo determinou de se yr pêra çurrala
secretamente oom toda sua casa & fazenda, pelo que
encobrio o recado que tinha a António da silueyra, ái^
zendo que lhe parecia vento a vinda dos Turcos, por*
que et rey de CaxS & algus mercadores de A/leca lhes-*
creuerão que náo auia lá tal noua. E pêra mais dissi-*
mulação de sua yda , fez (\ carrec:aua hfla nao noua ^
fizera auia pouco pêra a mandar aTenaçari, Scem quan-
to fazia isto, mafidou suas molheres pêra curral e em
companhia das de hum mouro honrrado , que por lhe o
gouernador tirar a xabandaria de Diu, se ya morar a
çurrate com toda sua casa, 8( por isso forão as molhe-
res de Coge çofar coele, sem ninguém entender que se
ySo, por os mouros terem muytas. E mandadas as mo»
Iheres, carregou hua noyte o fato na nao que dizia que
mandaua a TenaçarT, & fazendo que deitaua a nao fora
da barra pêra partir, se acolheo aos vinte seys Dabril
de mil & quínbSlos & trinta &oyto: De cuja supita
yda foy grande espanto na cidade, esfiecíalmente antre
a gSte da terra, que dizia que não se fora Coge çofar
se não pêra fazer guerra aos Portugueses , & assi pare-
ceo a António da silueyra, que sabendo que estaua em
çurrate Ihescreueo muytas vezes, que se sua yda fora
por agrauos, que lhos declarasse & o desagrauaria, pe-
dindolbe inuyto que se tornasse, pêra Diu , a que ele
nunca respondeo, pelo que António da silueyra se re-
ceou de guerra.^ & pos grande diligencia em se acabar
ho baluarte & a cisterna. E logo iiQ domingo depois da
yda de Ooge <^far aconteceo bQa cousa que pareceo
pronostico das guerras que mouros & Turcos fízerfi a*
quele anuo á fortaleza: E foy que os moços oatiuos as^
si Cbristãos como mouros se lizerSo em dous bandos, &
por modo de folgar pelejarão cd paos hús contra os ou-
tros, & ficando os moços Christâos com a vitoria, o 8in«
tírào tanto os moços mouros que se quiserão vingar, &
pola somana tornarão a pelejar de verdade j leuâdo hua
& outros arteficios de fogo, & os Christâos leuauão híia
bandeyra com a Cruz de Christo, & os mouros outra
çom a ymagem de Mafamede, & sempre os Cbriatik)a
leuauSo a vitoria, & por se fazerem muyto mal hOs aoa
outros, lhes foy defieso que nam pelejassem. E nisto a
dezaseys dias deMayo chegou a Diu Fernão de moraea
que aquele anno partio de Portugal ptir capitão de hua
nad da carga, como disse, & por ele escreuia ei rey ao
gouernador a certeza da passagS dos Turcos. á índia, &
çslá tinha Antooio da silueyra per hfi Tristão gomes
natural de cezimbra, que sendo catiuo deBarbaroxa lhe
fugío & foy ter a Baçorá & depois á Índia, de quS An-
tónio da silueyra soube a certeza da passagem dosTur-
* cos. £ não fiodendo Fernílo de moraes nauegar na sua
nao poia costa da índia por ser inuerno, se foy em hii.
catur caminho de Goa, & de Chaul não |K>de yr no ca-
tur & se foy por terra , & leuou as cartas ao gouerna-
dor, que se começou a faser prestes pêra no ^tembra
seguinte yr a Diu*
c
LIVRO VIII. HHH
4S6 Ba HítfTotfA DÁ mmA
C A P I T V L O CLXXXVL
De tmnú os regedòre$ de Cambaya mundarâo nroar DiUé
Kyoge çofar que desejaua muyto de tomar a forlaleza
de Diu ) por saber quflo mai prouida eataua de g6ole&
dagi>d, foyse a Chãpaner ondesiaua a mSy do ^Itão ba-*
áuF) & seu neto çdIíAo mabmude rey de Cambaya mô*
ço pequéAó, & oÉ ires capitães que gouernauã o reyiio,
& deulhéâ c5ia da dísíposiçSo em que estaua a foriaieM
de Diu, aflrmand» que nunca auíão de ler iâo bom (em*
po pêra a tomarem eottío aquele , & eies o ac4>rdarão
aisy, & logo despacharão a Alucâo pêra faaer guerra a
IMu túm cinco mil de caualo & dea mil de pé^ & por*
^neera ^elho foise Coge çofar seu companheiro, que
por esta honfra que lhe foy feyta leuou á sua custa mil
Turcos de caualo & ires mit Guzarates de pé , que c4
M Dalucão fàzião dezaaotte mil bont^s, com que parti*
fSo pêra Diu, do que logo Akiionio da silueyra tby aui'
Éad&9 que o disse aoÉ fidalgos & pessoas {)rincipaes Ç
^taiiík) coele, & rtiaudou a Francisco pacheco capitã
do baluarte da vila dos Rumes que dormisse lá cada
i^yte , porque estaua acabado & entulhado até o pri^
meiro sobrado, & até li tinha vinte palmos daltura^ &
fbt&^ lá ieuados cilico tiros grossos, bfl lifto, bâa saloa-»
ge d^ ferro , & hiStk espera , & dons camelos de metal ^
à que togo ttimidbii fafcer ad bombardeyras , & mandou
lartliçat ao iv^ar o^ i^uio^ qu^ tínha varados^ pet a dèfón^
derem cée>és ò tky. E andando nesta docupa^m leuan-
feus<é kfki Hoyte fego^ na fortaleza em caina de hfla mio**
Iher solteira Q queymou sessenta morada« da casas , dei
^ Coge çofar quando ho soube tomou bom pronostico,
oi disse á sua gente Q aquele fogo queymara quantas
munições tinhão os Portugueses. E apressando coesta
noua seu caminho, chegou ele & Aiucão á quintaã de
M el)^ aos vinte quatro de lunho onde assentara seu ar-
LIVRO Tifl. CAPJTTLO CLZXXTII. 4S7
rAyal, & (olherSo logo os mantiiBetiloB I) yflo da tem
firme á cidade , em cujos moradores íby tamanho o me«-
^o que logo começarão de fttgir. E sabendo Coge çofar
destes qua as bombardeyoas do baluarte da vila dos Ru«-
mes olo erio acabadas , & os lifos nâo podião }ugar
/oyfao saltear hOa quarta feyra antejnanfaai vinte seys
de lunho, leuando os quatro mil homfis de sua oapita^
«ia , & chegou tam do supito que subio soa gente ad
muro que ainda não era derribado ^ & matarão aigfis
Portugueses dos que vigiauXo^ & aos brados destes a^
eordaráo os officíaes da alfandega & outros Portugueses^
que fx>r todos furão vinte, Sc com pressa se acolherão
em camisa ao baluarte , & dali se defendera com as es*
pingardas tão «esforçadamente que os não poderão enr
trar, princípakneoie porque aeodio logo António da sil'*
ueyra & fez afastar os imigos, & Coge ^far fojr ferido
de hQa espingardada por bOa «Io j Ic por isso se U)r^
aou pêra a quintaá de JMeiique eade se ashou muyto
mal da ferida.
C A P I T V L O CLXXXVII.
De como AnUmio da siluep^a poi gomrd/as tios pasios
da ilha.
JAI este tempo a«ia em Diu muytoa mouros brancos do
estreito todos homfis de guerra^ que el rey deCambaya
antes de morrer mandara chamar a soldo pêra o ajuda«>
rem contra os Portugueses^ te estes chegarão aqueie
Abril passado em habito de mercadores pêra nam se-
rem conhecidos , & leuauã suas armas secretas , & a-
gassalhauãose cft os outros mercadores onde tinhão es-
condidas as armas. E vendo estes a guerra que Coge
<^far fazia aos Portugueses, creceolbes o desejo de o
ajudarem , & descobri ndose por lascaria começarão de
prouocar a gSte da cidade ^ se leuantasse contra os Por-
tugueses, & hus por hú cabo outros pelo outro faziáo
HHU 2
4S8 ' DA HI8T01IIA BA HIBIA
grandes ajunlamentofli nas ruas & nas praças, ao {) logo
acodio António da sihieyra acdpanhado da meibor gele
da fortaleaa toda armada , & dado de suptlo nos mouros
prfideo muytos destes, & boscando as casas dos merca-
dores tomou quantas armas achou cÕ que os iascaris fi-
carão desarmados. Isto feylo , porque a cidade nSo ti-
nha agoa se não a da jlha, pos goardas nos passos que
auia dela pêra a terra íirme , & em dous baluartes que
estauão em dous deles pos por capitães Gonçalo falcãa
filho de loâo falcã, & Luys rodriguez de carualho, &
em outro passo que auia nome Palari , Lopo de sousa
Coutinho deSantarS em hfia galeota com vinte cinco es-
pingardeiros , & outros tantos em hDa barcaija & duas
fustas, & o passo da ponta da jlha goardauão António
da veiga feytor , & Francisco anrriquez tesoureyro dal-
fandega, & Francisco foreyro, & lorge barbosa de Coim-
bra escriuães , & Francisco de gouuea capitão mór do
mar de Diu, & Miguel vaz, Panlaliâo pereyra. andaufio
de sobresalente em três catures correndo os passos de
Boyte & de dia : E em quanto duraua a ferida de Coge
çofar Q os mouros não dauão rebates, £ez António da
silueyra acabar o baluarte da vila dos Rumes, que £•
eou daltura de quorSta palmos, & assi a casa de junto
coele , pêra que mandou logo Francisco pacheco cõ se-
tenta homSs , porem não se pode fazer caua a este b»-
hiarte que foy causa de se tomar depois, & tãbem foy
acabada a cisterna da fortaleza, & assi como a yão aca-
bando, a enchiSo dagoa, & leuou cinco mil toneis,, com
^ue a fortaleza ficou bê abastada dagoa.
LIVRO TUI. CAPITVLO CLXXXVIII. 428
C A P I T V L O CLXXXVIII.
De como António da silueyra deixou a ilha ^ ^ se reco-
Iheo na cidade.
JLrepois que Coge çofar foy sam da sua ferida, logo
ele & ÂlucSo assentarão seu arrayal na terra Srine ao
derredor da jiha , & fizerão suas estancias darteiharia
defronte dos passos da jiha , Coge çufar defronte do de
'Palart, & Alucão dos outros, & de dia & de noyte nun-
ca a arlelharia esiaua queda sem tirar, pêra que defen-
-dessem a passagem a algils catures que leuauâo manii-
mentos & rouniijões aos passos: ECoge çofar que dese-
jaua muyto de tomar o passo de Palari, melhorou hua
Doyte sua estancia em a chegar mais pêra o passo, por-
que bem sabia que não auia de poder de dia , & pêra
se acabar logo em hua noyte mãdoua fazer de cestos de
campo eheos de terra, & andando nesta obra quinh6(o8
Turcos dos da sua capitania, acertou de passar p(^lo rio
IMiguel vaz no seu catur , & enxergando em terra a so-
ma que fazião algQs cestos que estauão assentados, &
sem poder desenferençar o que era, deulhe híía <;urria*-
da despingardadas de ^ se os Turcos empararão com os
cestos, & não bolirão consigo por não serem sentidos ^
receando que os estoruassem da obra (| fazião. Lopo de
Sousa que ouuio as espingardadas acodio logo na sua ga-
leota, & mandou tirar àquela soma que parecia com hft
camelo, cujo pelouro dando nos cestos os esborralbou to-
dos, & matou algQs Turcos: E vendo Lopo de sousa {|
com aquele tiro desapareceo a soma que via mandou ti^
rar mais, & os Turcos lhe tirarão tãobem r porem como
Lopo de sousa era esforçado nâo quis estar naquilo, &
saltou em terra com JMiguel vaz cõ todos os de sua com-
panhia, & dera nos Turcos com tamanho Ímpeto que os
iizerão fugir ficando algQs mortos, o que pareceo ao ou-
tro dia no mujto sangue que ali foy achado &lFÍpasdo-
430 BA HISTORIA BA IKBIA
mSs, que os corpos leuarão.os viuos por nSo saberem os
Portugueses o dano que Ibes fizerão, & MigUf^l vaz fojr
ferido de hQa espingardada em bd pé. E com tudo isto
como os mouros erâo tantos como disse nào ibes pode-
rSo os Portugueses loiber que aáo melht)rasem suas es-
tancias & 9S posessem a menos de cem passos do rto^
com que impedirá aos Portugueses que não nauegasseni
por ele, por(| tudo quâto passaua de dia & de noyt«
pescauam com a artelharia, matando & ferindo os Por^
tugueses, & por isso, & por António da silueira ver
claramente que não podia defender a jlha com quJo
pouca gente tinha , & tâobem por ter a cisterna cheii
dagoa, & DÍo ter necessidade da que auia na jiba, de^«
terminou com consdho, de a alargar aos tnouros, o qvm
fez aos mme Dagosto: E per Payo n»drigiiiez daranjo
mandou dizer de noyte aos capitães que esta4iâ nos pa^
SOS que se recolhessem á cidade , no qu^ foy grande
desmancho & desordem , porque afora £sizer «grande vfi*
lo & marulhada no rio^ com que o oauegar por ele era
muyto perigoso. Em António da veiga feyior ouuindo
o recado» Aantoaio da silueyra nio se quis mais deter ^
& deixado sua capitania se acoiheo por terra od mede
4las bõbardadas l\ Ibe os «ouros anil de tirar se fossa
f)or agoa ^ & os outros ^ forão Frãoisco aarriqiiez , lor^
^e Barbosa, Frâcisco foreyro, Miguel Vai, & Panta»
Jião Pereyra se furão por mar aos ca lures & em duu
-l^aleotas, Sc foy tamanho o medo nos eomitres delas das
bombardadas que tirauft os mouros passando por diante
-de hfia estancia, que derio coelas em seco iodo os ca*-
turtãs diante, que por -isso nâo sentirão o que acÕtet^ra
Ás galeotas, cujos rendeiros & g€íe darmas vendo qua
estauâo «m seco fugirão k)go coro medo de os tomarem
os .mouros^ &. deixarão sós os <sapitães , por cujos rogos
«unca quiserâa tornar : j& vftdo eies que sós nio podiãa
salaar as galeotas, & que se perderiao es|ierafido maist,.
-poserSolhes o fogo <& forãose por terra : & os mouros
<|ua as furão arder aoodiri iogsa a mr <> ^ icta^ Sl acba»>
LIVRO VIII. GAPITVLO CLXXXVIJI. 431
doas ÊÓSj a|)agarâo o fogo & recolherão as bõbardas que
tinbão & outras armas, & o mesmo aconleceo aGonça-»
]o falcão que ya em b&a barcaça com a gente & arte-
Iharia () tinha no baluarte de que era capitão, &aLuy8
rodriguez de carualfao que ya em hfla fusta, que nunca
a sua gente quis esperar & toda fugio, & deixarão a
artelbaría & outras armas aos mouros, que sem peleja-
rem, & ás escuras, ouuerfto em bfla noyte o que não
poderão auer em muytos dias pelejando conlinoamente :
£ fazendosé tãobê a vela Lopo de sousa Coutinho pêra
se yr na sua galeota, o grande vento que fazia & a ma-
ré que vaaaua lha deitarão da banda da terra firme, on^
de ficou em seco hil tiro de pedra da madre do rio , &
sentindo que daua em seco, alargou o batel pelo rio a*
baixo , porque se receou que os seus fugissem nele , &
sem ele bem sabia que não se podião yr por o rio ser
ali de mais largura que em outra parte, £ em amanhe-
cendo que os mouros o virão tão perto de terra & tão
longe dagoa., pareceolbes que o poderião tomar, & re-
meterão á galeota trezentos, deles Turcos, Abexis, &
Arábios, dando grades gritas, & em o||»a|mKlklo reba-
ta Lopo de sousa o seu guião, ficado a lança no meo
da galeota, & disse c6 o rosto ledo: Ainda que por ml
queira passar algfia couardia , sam estes senhores ^ es«
tão em minha comi^aobia tão ? alentes caualeyros que
mo não consentirão , a que logo bus remeterão ás es*
pingardadas, & os que as não tinbfto aos berços & fal-
cões da galeota, & poendolbes o fogo tendohos aos hom-
bros desparfto nos imigos, & juntamente coeles a arle-
Iharia grossa , cujos pelouros hús leuauão em migalhas,
outros em pedaços, & outros deyxauão feytos dous de
cada hã , & coesta esborralfaada se escarmentará os i*
mtgoB de maneira ^ fugirft, & anles que tornassem ou-
tra vez tomarão Lopo de sousa & os seos a galeota nos
braços , & ora neles , ora a empuxões com trabalho !-
menso derão coela no pego^ & escapando de (amanho
perigo com ajuda die nosso Senhor se forão pêra a cí«
432 DA HISTORIA BA INBIA
tUde, eacontrando dous calures que yâo em seu so*
corro.
C A P I T V L O CLXXXIX,
De como António da sUueyra se recolheo aa fortaleza.
JL erdida a arlelharia que eslaua nos passos com que
Aoíunio da silueira eaperaua de defender a cidade, fuj
por iudos acordado que a não podia defender sem tirar
arteiharia da fortaleza, o^ era perigoso, 'porque nSo
aabiào o que sucederia, & por isso & (K>r nào ler genla
pêra defender tamanha cerca como tinha a cidade, a*
eordouse em conselho () a deixasse & se recolhesse na
fortaleza {| era o mais seguro. E porque já os mouros
erã entrados na jlha & andauào á vista da cidade, & os
que eslaua nela lhes faziio sinaes cora bâdeiras, sayo
António da siiueyra com cem Portugui^ses pola cidade
& enforcou & alâceou muytos mouros priaci|ialniSte os
que via eom armas, & prendeo quatro mercadores prio-
eipaes, porque se se visse em algiia oecesiiidade se te*
jnedeasséi 4Miiriw 9 & quasi noyte se recoltieo á funaleza
aos dez Dagoslo, & ao outro dia começarão os mouros
que já eslauSo na cidade de roubar alguas casas junto
da fortaleza em que auia muy(a fazenda &maulimento8
que os Porlugueses cò pressa nâ poderão recolher na
fortaleza, & por rogo dalgus, que vSdo roubar o seu,
quiserão sayr aos mouros mandou António dn siiueyra
coeles bCl tidalgo chamado Gaspar de sousa ^ deu coe-
|ps nos mouros que fízerSo fugir, ficando algCis mortos,
& dos Portugueses foy morto hQ, & outros forâo feri-
dos^ & cotn tudo tornarão pêra a fortaleza carregados
de mantimentos, & dali por diante ordenou António da
siiueyra Q os fossem tomar cada dia , & fossem em sua
goarda cincoêta & quatro homês, & assi lenha & agoa
dQs poços que estauão juntos da fortaleza: & por fazer
hÕrra a Lopo de sousa coutinhoo fez capitão desta goar*
da , cõ que cada dia ya á cidade por mantimentos ^ le-
LIVRO VIIT. CAFITVLO CLXXXIX. 488
Aha, & agoa^ & auia recontro com os mouros , de que
^eaipre morrião algOs. £ nesle tempp fazia Goge ijcifar
bater ho nosso baluarte da vila dos Rumes « com húa
^stScia dartelbaria que mâdou assentar no cays daifan-
dega de que tâbem varejaua o mar por amor dalgiis ca*
tures que da fortaleza leuauâo mantimentos ao baiuar*
te : & porem não fazião nhu nojo, nem a artdbaria que
batia ho baluarte » nem tão pouco ho fazia Alucão que
pousaua nas cayas da mãy do çoltão badur, & sua gente
estaua pola cidade, a que cada dia saya Lopo de sousa
sem medo dos mouros. £ fau dia véspera da assunção
de nossa Senhora, sayndo á cidade matou algQs Turcos
de Coge çofar que achou desmandados , & outros fugi-
rão^& o forão dizer a Coge çofar, que mandou logo qui-
nhStos homSs escolhidos em busca de Lopo de sousa ^
que estaua no mais que cõ quatorze na boca de hiHaruai
& os outros tinha poslos nas bocaa doutras, & dando os
mouros coele determinou de pelejar coeles, & logo qui-
sera começar, & por cõselho dO Simâ furtado bom cat
uaieiro deixou bem encher a rua, por() quanto os !mi<-
gos mais se apinhoassem menos se auiS»éijfedfÉr das ar*
. mas. E os mouros se ajfltarão tantos que nã podião pe^
lejar mais que os dianteiros: £ logo Lopo de sousa deu
neles com os seus, & pelejarão tão esforçadamente \ ma-
tarâo todos os mouros que estauão na dianteira & os (|
estauão logo detrás destes, & os outros fogírâo fícando
mortos trinta, & dos Portugueses nhu, & Lopo de sou-
sa foy ferido em hQa perna, & outro homS em outra, &
a hu seu page foy quebrado hum olho. E em quanto
Lopo de sousa jouue ferido, forão capitães da goarda
Gonçalo falcão, & Gaspar de sousa, que catiuarão hil
mouro honrrado, de que soube António da silueyra que
no arrayal Dalucão se dissera que a Mangalor chegara
hQa nao de mouros, que dizia Q em Adem ficaua b&a
grossa armada de Turcos, & porem, que não se. tinha
por certo , & cõ tudo como ho mar deu jazigo, mandou
António da síkieyra Miguel vaz Q fosse a Mangalor, &
LIVRO VIII, iii
434 HA mSTOStA DA ÍNDIA
fiflsBasse h vante pêra saber noua da armada doa Tiin»
tos. B de|)OÍti ^ Lopo de sousà tornou a dar goarda ab-
obou hft dia rosalgar nos poçoa , & por isso não quis
António da silueyra que saíssem roais fora, &recolheo>*
se de todo na fortaleza , de que sempre do baluarte &
da vHa dos Rumes tirauão muytos líros pefdidos aos
Mouros, em !\ Aizifto rouyto dãoo. E António da silueyra
Mcreueo ao governador per mar como estaua , pedindo-
ihe socorro, & ele ibo mandou logo (comq direi a diante.)
C A P I T V L O CXC.
De cõmò ka embàixaáor dei rey de Cãbaya chegêu m
CoetantiMpla ^ ^ ifeli a embaixada ao Tntxo.
jTjLtras fica díto^ que çafercão eapitlo dei rey deCaiu«»
baja que ele midaua por embaixador ao Turco a pedira
lhe socorro , pariio de Diu na enlrade de Setembro do
anno de Inil & quinhentos & trinta & seys , & proee^
guindo por sua ifiagê foy ter a ludá onde deixou sua
frota h o presente que leuaua aoTuroo^ se loy por ter-
ra ao Cayro^ & dahi polo Nilo abaixo ate Roxale M
lugar na fos do Niloeessenta milhas Dalexadria: £ che-
gado lá deu a e«vil>âixada & cartas ^ leuaua ao Turco ^,
que ihe refepondeo k^o qtte- por aquele anne nao podia
dar a el rey de Cá«i)baya a gente que kie pedia , por
tiUBfito estaua de^amftvbo pêra a cidade defielona, com
eeterMrinaiçSo éentrai* por ali em ifatia, maudandolha
^«e lestM^yesse assi ò ptiesetrte 1| lhe leuaua ale aua tor^
liada , & então ntãdam -a «el rey de Cambaya a geMe
i()ue fiedia. £ «ornado o T^rco de Belona wem fazer na*
da^ feylhe o outro levhbáixador dei rey de Cambaya que
disse <que lhe mandara com determinaiçSo de destruyr
os Portugueses que afydauâo na índia, p<>r se arrepSder
de tér dada a Ibriateza S Diu. £ este aperío« cõ oTdr-
CO que mandasse a el rey de Cambaya o socorro que lhe
«lidara pedir. B depoia 4a chegada deste , chegou o«-
Livfto vrif. CAFim.0 ckc. 4Sft
tro de MírSomuhmahlá que inandaua pedir o 80corro*c5
grande efficacía porá ae vingar dos Poriuguesefi que ti-
iihão morto a el rey de Câbaya , & lhe queriSo tomar o
rejno. B oom a vinda deste derradeiro embaixador^ der
terminando o Turco de dar o ^ocorro qua Jhe pediáo ,
escreueo a çoleymão baxá Rey do Oajrro, AJefandriai
Roxate, Damasco, Meada, ate ludá, que lhe niãdMSi^
leuar aCostãttflopia o dinheiro k, presente que ike man-
dara el rey de Cambaya , & as sele velas eon que fpra
fessero ieuadas a çuez, &6eriSo varadas Gom outf^sqoe
fai estaulo , o que çoletmAo (ez Jogo & madou o dinhei^
ro & presente per hQ capf tfl chamado Hamed rex , &
por mádado do Turco foy eno aua companhia lorge o
arrenegado. iS vendo ho Turco tanta riquexa mandada
assi tfto leuemSte por hii rey que moraua tio bnge^ pa«
refeolhe (} a riqueaadaqueia terra deuia de ser sens
conto, pelo que desejou de poder c6quistar Cambaya&
o resto da índia, & por isso se enfprmou de lorge o ar<«
renegado, assi dá riqueza de Cambaya & dosouiroii
reynos , & do poder de seus reys , & 4o dos Poríogoe*
ses, que o enformou muyto targameotp de tudo íaatSdo^
lhe muy pouca cousa o pòdcfr 4el rey de Portagual na
índia, & ^ com qnatquer armada podaria iam^r os Por*
togueses fora da índia , & tomfirlfae ho j[ tiohAo (oaiarr
do. E nisto chegou a Costfitioopla a principal melker i|
Ibra d#l rey de Cambaya c6 muyt^o diobeyro&i pedraria^
& contou ao Turco a tporte de sen marido, pedindoibe
que mfidasse hfia armada áfndia pêra I jk;ar os PortugtH»*
aee fona. E nesta conjunta chegou a Çõstãtinopla ò eni4
baixador dei rey 4e Xael, ^ lhe «leuaua de preaente de-i
coyte Portogneses que catiuara ao seu porto coni euiree
(como disse a trás. ) E antreles ya hil AiiMdPo madegura
que presumia de piloto , de qne tãobA o Turco se eafer*
mon das cousas da índia, &do poder dei Rey de Porl-ugual
nela^ & achou que cAformaua com e que lerge lhe tinha
dito, 8c<ifiVeceoselhe pêra yr «a armada se a mandasse á
Índia, porque sabia muyto tiem o caminho, fc es pórlM^
& barras dela. m 2
43$ DA HISTOKfA BA ÍNDIA
C A P I T V L o CXCI.
...
De como ho Turco deu a capitania moor da €irmada que
mâdaua aa índia a çokytnâo baxaa rey do Cayro , ^
do regimento que lhe deu»
V^oettas enformaqões & outras muitas que o Turco te-
ue, delerminou de màdar bua armada á lodia, pêra ver
se a podia tomar aos Portugueses, & os naMÍos pêra es«»
ta armada estauâo em çuez, que lhos roâdara fazer Ha*-
brahem baxá muyto grande seu priuado perayreom)uis*>
tar a índia , onde não foy por o Turco o matar quaods
soube ^ queria dar Costantinopia ao £mp«^rador. £ de*
terminando o Turco de mâdar esta armada á índia, deu
a capitania mór dela a çoteimão baxá rey do Cayro, que
sabendo como a armada auia dyr, pedio a capitania
mór dela ao Turco , cujo ])orteiro da camará fora , &
prhneyro de seu pay, a quem sendo Christâo & natural
da Murea, fora dado de tribato em mo^o, & o Turc«
o mandou capar pêra ser seu porteyro da camará & a»*
dar antre as suas molberes : & a causa de aleâçar ta*
manbo senhorio foy, porque reynando ho mesmo Tureo
que então reynaua (a quê como digo seruira de portei-
ro da camará ) se lhe leuâtou Hamedbaxá rey de Cayro,
Alexandria, Roxate, Damasco, Meada, ate ludá^ a
que o Turco deu este senhorio, porque no cerco de.Ro-
ães inuêtou as albarradas com que foy tomado & fez a
fortaleza de madeyra em que o Turco pousou em quan^
(o durou o cerco : E leuantado este Hamed bsxá , foy
Diorto por Camusay mouro Arábio natural de Lepo, &
tesoureiro mór do Cayro , que primeiro que o matasse
escreueo seu leuaQtameoto^ & que determinaua de o
matar, & morto ^ mandou a cabe<;a ao Turco com as
cartas d^ como o matada» £ niSdado es te. recado, ya já
por caminho çoieimão faiaxá j que o Turco mâdaua com
bfia armada de doze velas em fauer de Camusay : £ a-
LITRO YUI. CAPITVLO CXCI. 417
chando ^leimão o seu recado que mandaua ao Turco,
tomou as cartas & rõpeas , & com a cabeça de Hamed
bãxá se tornou a Coslãtinopla , & disse ao Turco Q ele
matara Hamed baxá , pelo qual lhe deu o senhorio que
tinha Hamed baxá , & daqui ficou grade !mizade antre
Camusay & çoleimão, que com quanto era tamanho se-
nhor & de ydade de setenta annos, & tâ gordo que de-
pois que se assentaua nâ se podia leuanlar, & deus ho-
mês o leuantauâo, & tinha tamanha papada Q lhe caya
•sobre os peytus, era tão cobiçoso de gloria & de dinhei-
ro, que por alcãçar tamanha como seria tomar a Índia
aos Portugueses, & ser senhor dos muytos & grandes
-tesouros que Já auia, pedio esta empresa ao Turco, com
condição í\ pagaria á sua cusla a genle da armada. E
sendolbe cõcedido pelo Turco, fugio Aluaro madeyra o
|)iloto de Gostãtinopla & deu consigo em Portugal, &
contou a el rey a passagem desta armada á índia, pelo
<\ue o el rey soube primeiro que ela lá fosse. E tSdo ço*
leimão baxá prestes as cousas de sua armada, se partio
•de çuez na entrada de lul^ho de lãas. annos com hilia
frota de setenta & quatro velas» s. quinze galés bastar-
das de trinta & três bãcos cada hiia, vinte cinco galés
reays de trinta bancos, dez galés sotis, quatro albeto-
ças, a que eles chamâo maonas cõ sua apelaçã, seys
galeões de duas gaueas , & outros quatro nauios mais
J)equenos , que fazião por todos sessenta & quatro ve-
as, fornidas todas de muyta & boa artelharia de me-
tal, & de seys mil & quinhentos homSs de guerra, s.
mil & quinhêtos laniceros, & dous mil Turcos todos es-
colhidos & gente limpa que lhe forão de Costantinopla,
& três mil bomSs outros, ^ por serem vsados no mar
auiâ de seruir dofficiaes dos nauios, & de soldados qoan^
do fosse necessário, & sete mil homSs forçados pêra
remeyros, a que tomou as armas. £ porque algfls se
lhe querião amotinar mandou degolar duzentos, & a fo-
ra isso fez outras muyto grandes cruezas & tiranias pê-
ra auer dinheiro cojn que auia de pagar á genle. E le-
4t8 DA HltTOEfA DA IlfDIA
uaua nesta armada cinco capitSet prtcipaet. t. Ineefha^
met capita roór do mar Dalexandria, a qae çoleimSa
deu a capitania mór daquela armada , deixado pêra bj
a jardÍ4^, 00 outroa forão Mastafaa^ da casta dosMa^
melucos, que çoleimão pos em lugar deCamnsay tesou*-
reyro mór do Cayro, que ya tâobem por capilâo, &<20*
leimfo o matou por se temer dele, que erão imigos, co-
mo ja disse 9 os outros (res capitáM auite nome, Ha*
brahembeque lanicero, & outro HabrahSbeque da casta
dos Mamelucos, & Mabmuhdebeque, & o regimento do
Turco que leuaua foy este : Que fosse tomar a costa da
enseada de Canihaya ou MSgabr, & bi fisesse agoada^
& n<1o pelejasse com ninguém se nSo c5 a própria arma^
da do gooemador da Índia por ei rey de Portugual, porw
que nSo enfraquecesse ou díminuisse sua armada, & se
o gouernador nflô quisesse pelejar coele no mar, se fo^
se á cidade de Goa & Ibe posesse cerco & tomada se
fixesse nela forte, por^ Ic^ lhe mandaria socorro pêra
se defender dos Portugueses : E se em Mangalor mn^
besse que nio podia pelejar com a armada do gouern»»
dor, nS tomar Goa sem auentnrar muyto de sua arma->
da & gSte que então se fosse a Ormuz & o tomasse Sc
se fizesse bi forte , porque logo o socorreria com breui-
dade*
C A P I T V L O CXCIf.
De Cúmà çoUimâo baxaa te partio cananhe da Iniia^ 4r
do €trdil ijfue teue pêra Umtar a cidade Dadem^ ^ de
como €kegôu <mò parto de Diu*
Jr atlido <2oleim<o baxá de quez , deuse a mayior pressa
'qite pode em aua viagem , porque fiio feese sabida na
índia firimeiro que cbegasse^ pêra o que tinha fevta
grande d rK gentia , {MNrqne nliCba vela saysse do eatreyto
antes de ele sayr: & de çuez pos 4res dias de eaviinbo
ao Toro, & do Toro a indá cinco, & feft de demora do-
^e« ^ Quísem ikmt mattba «csNiuer el -rev da ludá% Q«n
LiYfto nu. CAjnrvLQ^ cartii. 489
como sabia bem a pouca verdade dos Tul^cos, principal^
nieote de «joleimflo ^ & quão cruel & Urano era j despe*
jou a cidadã & posse eai saluo : £çoÍeia)âo ajuntou aquy
á sua armada as sete velas que ali estauà que forão ddl
ter de Cambaya • •& ires oaos de Hamezui vedor da fa*
«enda do Cayro, & outras duas dei rey de ludá , com
qoe a fex de aetenia & seys velas. E partido de iudá
jpD8 quatro dias atéCamarfio, & de caiiunbo tomou A «-
belé, hú lugar na costa Darabia, de que era senhor bfi
Turco chamado Nacodahamet, Q depois de fiizer muyto
bò recebimento a çdeiraâo^ foy degolado por seu maiH
dado^ sem mais outra causa se iiâo a de sua crueza, &
deu ho senhorio do lugar a Muslaia seu capitam : £
obegado a Camarão escreueo a ei rey Dadem como ya
á índia & a causa por que, pedindolhe que ouuesse por
bem de lhe dar Hcesça pêra entrar no porto Dadfi a to*
mar agoa , lenha , & canfte , que entreianto o que leua-
«a a ctarta lhe faria presies & asei aiguas casae pêra
deixar bi muytes doeniies que trazia , do que ei rey foy
contente, pareceodolhe quei^leimâo lhe falaua verda-
-de , que depois que fez em Camarão quinze diaa de de*-
ièijsí , se parlio pêra as portas , & gastou no caminho
bom dia & hfla noyle, & outro tanto das purlas ate o
porto Dadem ^ onde surto, el rey Dadem o niaadou vi*
-sitar com muytes refrescos, & çoleimio pêra tomar a
cidade por manha como trazia «del^erwiaade ^ mandou lá
os doentios que mãdara dizer a ei rey que trazia pêra os
deixar nela , & estes forão dos mais evfonjados , & ya
hix home lançado em kQ ieyto, & nele esçõdidas as ar«
mas pêra sy & pêra outros que o leuauão. £ como as
casas fera estes dceotes estauão despejadas & perto do
mar, de quatro que leuauâo !hu doente ficauão dous
pêra o oorareni , no que os da cidade não ateníauão
porque os viS aem armas , & coesta manha se meterio
em quatro ou cinco dias bísro quinhentos homSs, & de-
pois de serem dentro , mandou çoleimâo rogar a el rey
Dadem que íbew á sua .galé| por^ ttaba de falar coelã
440 DA RISTORrA BA IKBfA
cousas que releuauão muylo^ do qoe el rey (ez e8car«»
neo. E como isso era o que çoleimSo queria , mandoa
fazer hil sinal , a {} os doentes sayrão todos cõ suas ar«^
nas 9 & derão nos pa<^s dei rey , onde entrarão de rol*
dão sem auer quem lhes podesse resistir por sua supita
vinda, & el rey foy preso & leuado á galé de çoleimão^
ficando a cidade em poder dos doentes : E el rey Da-
dem depois que foy na galé de çoleimâo lhe perguntou,
porque ho mandara prender íiandose dele, & ele lhe
respofideo, que se lhe parecia bem estar ele em pessoa
do Turco, & auer quatro dias que estaua ali & não o
yr ver , ao ^ el rey respondeo com muyto esforço, Q se
ali esteuera o Turco senhor de çoleimão , {| era rey co*
mo ele , que o fora ver , mas a ele q era seu escrauo &
seu capitão , como queria que o fosse ver, que ele o iir
nha em seu poder porque se íiara deie , porq se não se
fiara nunca a sua gente lhe entrara na cidade , nem se
liurara dali com cabeça, & çoleimão o mãdou logo en-
forcar em hil palanco da galé, & depois põdurar á.|ior«
ta da cidade, que logo mandou saquear por sua genle^
& ele sayo em terra & se pos á porta, mandando apre-
goar I| sopena de morte quanto fosse roubado na cidap
de tudo se leuasse á frota: Eçoleimão buscaua a quan-
tos sayão de dentro carregados do roubo , & lomaualhe
todo ho ouro, prata, & joyas que lhes achaua, & o fa-
to deixaualho, & coisto ouue muyto grande soma douro
& de prata : E vendo os soldados que não partia coeles
tomarãolhe mortal ódio, & o mesmo saco q se deu á ci-
dade se deu a três nãos de Malabares que estauáo no
porto que lhes qoleimão mandou tomar pêra leuar carre-
gadas de mantimentos , & aos Malabares tomouos pêra
remeiros. Tomada a cidade , mandou cortar as cabeçaa
aos principaes moradores dela, porque não fizessem al-
uoroQO depois de sua yda: & prouendoa de gente de
guerra & dartelharia, deixou nela por capitão Hahrahê-
beque lanicero, & partiose pêra a índia, & neste gol-
fão assi por h& grade têporal que lhe deu, como por sua
LIVRO VllU CAPITTLO C3K3II. 441
foTie & áspera condic^ao, se af>arlarão de sua conserua
st^ys velas , & bua delas que era hO galeão foy ter aos
jlheos de santa Maria na cosia da índia, onde António
de souto mayor eslaua com certas fustas darmada, j|
pelejou todo bQ dia cÕ os Turcos que yão neste galeão.
£ depois de muyto grande peleja os desbaratou matan*
do os nossos os' mais deles, & dos l[ íicarâo víuos sou-
be como ya çoleimão, & os mandou ao gouernador Nu-
no da cunha, que sabendo esta noua se começou de fa-
zer logo prestes pêra socorrer a Diu , onde Ibe pareoeo
que esta armada auia dyr dereyta. £ continuando ço«
leimâo sua viagê pêra a costa da Lndia, depois de quin-
ze dias de partir. Dadem , foy ter ao porto de Mãgalor,
onde Goge çofar parece que auisado de sua yda o esla-
ua esperandk), & lhe foy falar ao mar louuando muyto
sua vinda & poderosa armada, & aconselhandolhe que
fosse a Diu, porque quem quisesse senhorear a Jndia
tinha muyta necessidade de ter aquela cidade pêra ho
fazer mais facibuente, por ser muyto forte de sua nalu-
rez, & ter bom porto & varadoyro, & estar a balrra*
uento da Índia, & que a tomaria sem nba trabalho por
quão poucos & mal armados eram os Portugueses que.
estauã na fortaleza, & mingoados de muytas cousas ne-
cessárias pêra sua defensam, & muyto cansados do tra-
balho da guerra que lhes ateii tinba feyta : & coestas
rezÕes se demoueo çoleimão a yr a Diu & quebrar ho
regimSto do Turco. E partiose pêra Diu, indoCoge ço-.
far diante por terra, & a hua quarta feyra quatro dias
de Setêbro de 16^8, ás dez oras do dia chegou á vista
de Diu, & começou de se ver da fortaleza a armada de
colei mão que ya nesta ordem ; Da banda do mar afas-
tadas da terra obra de duas legoas yão quatorze galés
reays feitas em h& escoadrão, & ao lAgo da terra sete,
& a pos estas todas as outras galés & nauios de peleja
da armada, & no meo as nãos de carrega, então se co-
nheceu ser esta armada de Turcos pelo grande numero
de nauios de remo que era. E tâobera chegou nesta coo-
LIVRO VIII. KKK
4é% Mk HinoaiA^IU INMA
jonçflo JMigtiel vaz na sua fusta, que cerlificoQ ser a
armada de Turcos. Q Q sabSdo Auloiiio da silueyra es<«
creueo logo bila earla de crença pêra o gouernador (|
lhe mandou pelo mesmo IMíguel vaa , disendolfae que
contasse largamente ao gouernador como ficaua, & eie
se parlio logo pêra Groa , & como era muyto esfon^do
em sayndo do porto por se afirmar na verdade de cama*
nha a frota era, fez seu caminho muyto perto da arma*
da, & sayrãolhe doze gaiès tirandolhe ás bÕbardadas
que o ouuerâo de tomar se lhe não acalmara o vento :
& vendo que ho nâo podiSo tomar , se forâo su^gti )ud«
io da outra armada, que surgk) ao baluarte de Diogo
lopez de sequeira fazendo grandea* alegrias.
C A P I T V L O CXCIIL
Do (fue fez António dm silueyra com a vinda dos, Turtes^
V endo António da silueyra sobre sy bua armada Ukk
poderosa como a dos Turcos , & que segundo os muy-»
tos annos ^ aui» que sesperaua na Índia deuia d»r muy^
to bcoí prouida de geate, arlelharia, & muniçães, não
perdeo a esperança que tinha em nosso Senhor que o
ajudaria, nean. a eeforqo que sempre teue em semelhaOf^
tes perigos , & nâo lhe tembrou que estaua cem legoas
do goiier nador , nem em hfia fortaleza cÕ tâo pouca ai^«
telharia, & muyto pouea gente, que. ainda que auia se^
tecentos bomâs de rol:, somente os duzentos estau&a
bem armados pêra pele/arem, porS dos outros os trezen^
toe etfto es{)ÍDgardeysos, que assi o achou polo alardo ^
íez. Edefoie ajuntados os fidalgos & pessoas ppinsipae»
^ estauão na fortaleza peia repartir por eles as estaa^
cias que auia de íaaer thes disse. Ex aquy senhores o
tSpo c^ni 4 aoemos de poer diante seremos Portegnesea^
& vindos a esias partes a seruir a Deos fc a el Rey nos*,
so seaihor, pontue o conteolameato de se offerecer seu»
sa em qfse posaasoos alaan^ar o q^e^ pretendemos ^ ao»
• i
LIVRO VIIK CáPITVLO CXCIIK 443
fará facilmente passar todos os trabalhos que sé nos de-
uem representar do muyto aparato de gente & artilha-
ria () tão perto de nós lemos. Eu de mi digo , <} estou
tão confiado em nosso Senhor , & nestes bÕs desejos , &
na companhia com 1\ me acho, que tenho por muy cer-
to ^ que não somente auenms de defender esta fortaleza
a estes infieys , mas ainda os auemos de desbaratar &
alcançar deles jllustre vitoria* E porque tenho bem en-
tendido i\ nesta confiança não faço auentagõ a nbQ dos
que aqui eslão, não lembro as grandes obrigações ^to-
dos temos pêra ter estas esperanças , nem as muytas
vitorias que nos Deos por sua bõdade tem dado nestas
partes contra estes seus & nossos Iraigos. Elogo tratou
de repartir as estãcías da fortale2a da maneyra seguin-
te. A Gonçalo falcão deu a goarda do baluarte samTho-
me, & no pano do muro j| se começa neste baluarte &
vay direyto ao baluarte de Santiago (que fez Garcia de
Sá) ordenou três estancias, de ^ furão capitães, Ma-
nuel de vascScelos juyz dalfandega , natural da jlha da
Madeyra, Francisco anrriquez tesoureiro dalfandega, &
António foreyro escriuâo da fortaleza, & no pano do mu-
ro que corria do baluarte de sam Thome ate o postigo,
pos duas estancias, de que furão capitães, Rodrigo de
proença , & Fernão peleja , escriuães da feitoria , & no
baluarte Santiago, deixou por capitão como estaua Gas-
par de sousa, & no pano do muro que sae deste baltiar*
te & corre ao longo do rio ate as casas dele mesmo An-
tónio da silueyra por ser ali o muro delgado Q ficara do
iè\n de çoltão badur, & era lugar de grande perigo ho
deu a Lopo de sonsa eoutinho que o goardasse, dizèdd-
Ibe logo o porq lho daua, no Q mostrou ter nele grande
confiança como tinha. Em outra estancia que fez nà
feitoria velha, pos por capitão o feitor António da ve>-
ga , a capitania do baluaile da coyraça que entraua no
itiar, pos por capitão a Fernão velho filho do Alcsyde
mór , &c por ser o lanço pel}no lhe não deu mais de vin-
te cjtico homSs pêra sua cdpanhia: a capitania do ba-
KKK 2
'444 njL HISTORIA: BJl fNDfA
ludrte da barra, que ISobein chamfto do almazeOI, deu
a Francisco de gouuea, J| era capitão luór do marr No
baluarte do mar ficou António de sousa de Lamego co-
mo estaua. No pano do muro que vay ao longo delongo
da costa braua, por ser muyto forle, & nam se poder
por atí receber damno , nâo teue mais necessidade que
de vigias, por^ não fugissem por ali os eaorauos, &de8-
cobrissem aos Imigos o que ya na fortaleza , & António
da silueyra ficou por sobresalête com a sua gente pêra
acodir aos lugares necessitados de socorro, & p^^ca tol-
dar as estancias.: & mandou aos casados que vigiasseoi
a casa da poloora , porque lhe nSo posessem os escra-
uos fogo, & assi a cisterna, porque lhe não deytassem
pe(;onJia. isto ordenado, logo os capitães das estancias
começaram de se fortalecer onde era necessário , trab»*
Ibando com os de suas capitanias sem descansar ,. pos-
que os immigos os nam tomassem desapercebidos^
C A P I T V L O CXCIUL
Do que aconUceo aos Portugueses com setecentóê laniM--
ros que desembarcarão em Diu.
vyoge çofar que naturalmente queria mal aos Portugue-
ses por os ter por imigos, & por nuca leuar deles o me-
lhor em quanto Jbe fez guerra, estaua muyto ledo com
à vinda dos Turcos, porq<je a fora lhe ser inclinado po-
la criação q,ue teue coeles , pareciaJhe que bo- auiam de
vingar dos Portugueses tomãdolhe a fortaleza, & des-
truindo de todo, assi os que estauam nela, cemo per
toda a índia, & por isso desejaua mu^to de os ajudar,
& engrandecia muyto sua armada a Aiucão, depois que
se vio com çoleymfo baxá em Mangalor : E sem nenhila
vergonha lhe cometeo que fizessem chamar no alcocão
de Ditr por rey de Camb^ya ao Turco, como lhe çoley-
•mão rogara que fiaesse., o que Aiucão nam. quis fazer,
espantandose muyto da deslealdade de Coge çofari. teu-
LJTEO VIII. CAPITVLO CXCIIII. 445
do recebida tanta bonrra & inerce em Cãbaya, & qu^
rer fazer tamanha ireyção a el rey & ao reyno, & disse
-que nam auia de ler nhfia amizade com çoieymão nem
com 08 Turcos, porque sabia bem quam má gente eram,
& se eie a ouuesse de ter, que nam estaria mais em
sua companhia: & Coge <;ofar dissimulou coele. £ co-
mo çoleymSo surgio o foy visitar, & disselhe o que acha-
ra em Alucão, acerca de sua amizade, porem que eie
o serueria com a gente que tinha, atee morrer em ser-
ui<;o do Turco & seu , & deulhe informação do sitio da
-fortaleza, fazêdoa sempre cousa muyto fácil de tomar,
& depois se tornou pêra terra. £ çoleymao por animar
os Guzarales, ao outro dia que foram cinco de Setem-
bro, mandou desembarcar setecentos laniceros que say-
ram com suas cabayas deles de borcado, outros de ce-
tins carmesins, & doutras cores lustrosas, & nas cabe**
ças bQs ehapeos de feltros feytos como ciadas antigas,
(que os fazem conhecer por laniceros antre a outra gen-
te,) & eram todos guarnecidos & orlados douro & com
ricas plumas , & estes eram todo» frecheyros & espin-
gardeyros : & assi como desembarcaram, fizeram ho ca-
Bnnbo pêra a fortaleza, poendo as mãos nos bigodes que
.eles tem por grande fero & assi outras rebolarias que
costumam por serem de seu natural muyto soberbos. Os
deCâbaya espantados de tamanha ousadia os seguiram,
cuydando que auiam logo de subir ao muro, & eles nam
o fizeram assi , mas meteramse polas casa» que forão
doa Portugueses, que estauão darredor da fortaleza pê-
ra as roubarem, ao que António da silueyra acodio,
mandandolhes tirar ás espingardadas, com que foram
nortos cincoenta ,. & eles mataram sete dos Portugue-
ses & ferirão vinte, mas como recebiSo mayor dano nam
quiseram yr mais por diante, & afas(arãc>se dandolhes
os Portugueses grandes apupadas, Q eles tem por gran-
de injuria: £ Alucão 2} conhecia muyto bem os Turcos
& sua pouca verdade, & mais pelo ^ lhe Coge çcfar co-
, meleo da parte de çpleymâo y, nã quis coeles nhiia ami»
446 DA HISTORIA BA ÍNDIA
zade, & por isso não quis estar ali mais, & parliose a-
queia tarde pêra Nouaguer cfi seys mil boinès, l\ dos
de sua cõpanhia nS quiserfto yr mais coele por induzt-
mento de Coge çofar cd quem licarâo, que com os seus
fazia treze mil: E em Nouaguer esteue Alucão todo o
tempo que durou o cerco da fortaleza, & dahi escreueo
a el rey de Cambaya o i) lhe Coge çofar cometera da
parte de çoieymão, pelo que se fora pêra Nouaguer : E
el rey lhe re8)x>ndeo que íízera muyto bem , mandfldo*
lhe que não desse nçnh&s mantimentos aos Turcos &
defendesse Q lhos não leuassem, & assi o escreueo a to-
dos seus capitães comarcãos de Diu , que o oompriram
muy bem , & nunca el rey de Cambaya quis mandar o
Gontrayro por mais cartas que lhe çoleymão escreueo
sobrísso : o que he de crer que quis nosso Senhor por*
que os Turcos fizessem tã pouco como tízerão contra os
nossos , de que foy grande causa o pouco fauor que a-
charão nos Guzarates*
CAPÍTVLO CXCV.
De como çoleymâo basaa se foy ao rio de Madre fabaa
pêra mandar calhar sua arielharia sobre cubería pêra
bater a fortaleza de Diu.
i
orno foy noyte deram os Turcos mostra de soa es-
pingardaria, & em eles acabando a deram também os
Portugueses per mandado Dantonio da siiueyra, fx)rque
soubessem os Turcos t\ auia quem lhes resislís^e, & ti-
raram todos hD & hum, & como eram trezentos deteue-
ramse hum bom pedaço em tirar, & em acabando d^u-
se mostra da nossa artelharia desparando cada pei^ por
si , & após isto tangeram as trombetas , & depois derão
os da fortaleza grandes gritas, de que se os Turcos a-
gastaram muyto, principalmente çoleymâo, que na moa-,
tra que os Portugueses fizeram conheceo que era gente
4e feyto, pgrfi dfssimttbiá , & depgis disto tud^ OttuirAo
c
LIVRO VIII. CAPITVLO CXCV. 447
M da forUlexa dizer de fora em aitas vozes, portas, pe^*
dras, & isto por aiguas vezes, no Q pareceo i} dizião aos
Portugueses l| tapassS com pedras as portas da fortale^
za, do que António da silueyra tinha muyto bom cuy«
dado, & nani era necessário lembraremlho. Ao outro
dia , que foram seys de Setembro , começou de ventar
Sul, que por ser irauessam ondesiaua a armada dos
Turcos fez algum receo de tormenta a çoleymam , maa
acalmou logo , & quis nosso Senhor deyxar a matança
dos Turcos pêra os Portugueses* £ determinando çoley-*
não de tomar a fortaleza por conselho de Coge çofar ^
se foy ao rio de Madre fabá pêra bí calhar sua artelha*
ria sobre cuberta que trazia abatida, & porque nisto s«
auião de gastar algOs dias, ofio o quis mandar fazer no
porto de Diu , porque o nâo deslruysse a artclbaria da
fuftaleza: E como seu fundamCto era tomar primeiro
bo baluarte da vila dos Rumes que a fortaleza, mandou
a Coge çofar que ficasse preparando as cousas necessa*
riaa pêra se bater , & deyxotilhe quinhentos Turcos que
o ajudassem debaixo da capitania de Mahmudebeqoe,
& ele se partio pêra Madre fabá sábado sete de Setem-
bro, & ao entrar ao rio se lhe perderão quatro nauios
de carrega, carregados de mantimentos & munições,
que Ibe depois deram grande perda : fc a prímeyra cou-
sa que çoleymSafez, foy mfidar desembarcar Ires ba-
saliscos & outros liios que mandou a Coge çofar per
Abrahembeque com quinhentos Turcos, & por ser ho
caminho comprido & em muytas partes darea soha, nSo
pode yr mais que bum dos baaaíiscos cem as outras pe«
ças q4ie foram ieuadas a Diu , onde Coge çofar & Mah-
mudebeque aadaruam oceupadoa em iaaer as trinchas,
basliíSes, vepayros, & mantas de q«e tinham necessi*
daide pêra as baterias que esperauam de dar ao baluarte
& á fortaleza ,. &» comi tudo nam deyxaaam de tirar aa
fortaleza muytos iiròs perdíidiNS oom a arteiharia, desque
aBtanbfcia atà bo qnafite da prima rendido , & assi c5
espingardas wm qa«: U» tiraoã. oada* dia bfi. dez mil iU
448 ]>A HliTORIA BA ÍNDIA
ro8 , & 08 roais deles einpregauâo na ygreja que esiaua
em hú alto & parecia de fora, & assi htla rua pubrtca
^ atrauesaatia |)or diante da poria principal & por aer
passagem de gente, & assi por amor da que enira«a na
ygreja i\ os imigos vião faziâo ali os seus tiros, mas nos*
so Senhor goardaua os Portugueses, posto que as e»-
pingardadas lhe yâo zenindo peias orelhas, & coisto e^-
râo brauamête atromentados, & so/riâo muylo grande
trabalho repayrando todos o que era necessário repay*
rarse na fortaleza, s. dobrando as anieas dos baluartes
na grossura do muro de pedra & barro, & fazendo man^
tas & derribando as pontes da porta da fortaleza & do
postigo, & tapSdo as portas deníulho de pedra & terra,
& na coyraça foy feyto hâ contra muro, & na estancia
de Lopo de sousa coutinho, se fez faiia tranqueyra de
niadeyra , & por dentro bua estacada tecida , & todos
trabalhauam nestas obras sem auer deferença de pes«
soas cada capitão na obra qu^ fazia em sua estancia com
a gente dela, & todos a qual mais es^çado sem mos*»
trar nhii câ8a<^«
C A P I T V L O CXCVL
De hú ardil com que Coqe çofar quisera fazer muyto
mal aos Portugueses , ^ de como lhe aíalhou Francis^
CO de Gouuea capitão moor do mar de
D,
'eterminando Goge^efar, AbrabSbeque, & Mahmu«*
debeQ, de fazer aos Portugueses quâto mal pudessem
fabricarão hõa machina de guerra em hâa albetoça doy-
tenta couados de comprido que fora de çoitflo badur, &
por sua grandeza nam podia nauegar, & esiaua varada,
& acrecentando esta em altura a fízerSo quasi tã alta
como o baluarte do mar ou da vila dos Rumes , & fey*
ta a mandarão encher de lenha , salitre , enxofre , & aU
catrão que fizesse tudo grande fumaça, & poer no meo
do rio amarrada com quatro ancoras^ duas de monlâta
LIVRO VIII. CAPITTLO CXCVI. 449
& duas de jusante, porque esteoesae roais segura até
Berem agoas viuas cõ que podesse nadar, porque por
seu grande peso o não podia fazer com agoas mortas ,
& isto com determinação de a encostarem ao baluarte,
da viia dos Rumes & daremlbe fogo pêra que com o fu«
mo fizesse grande nojo aos Portugueses, ou também pe*
ra que facilroSte os podessem cõbater, o Q se ouuera
efleyto lhes fizera muyto mal: & considerando isto An*
tonio da siiueyra, pêra lhe atalhar, lhe pareceo bem
<|tieymar8e esta fabrica antes que ▼ieséem as agoas vi*
uas, sobre o que fez conselho no baluarte sam Thome
com os capitães das estancias, a quem propôs o caso &;
pedio seus pareceres de como se queymaria aquele ede«
ficio & por quem : & Frãcisco de gouuea capitão mor
do mar que estaua presente, & por seu officio lhe per-
tencia fazer aquela queyma, disse a António da siluei*
ra primeyro que ninguém votasse, que ele podia prati-
car o modo que se auia^de ter em se queymar aquela
nao, por^ qu6 o auia de fazer ja estaua certo ser ele
Francisco de gouuea, & que sua mercê & todos aque-
les senhores vião muyto bem o seruiço que fazia a el
rey de Portugal, & o perigo que corria em o fazer. An-
tónio da silueyra lhe disse que todos serião testemunhas
disso & da mercê que merecia em o fazer : & ordenou-
se que aquela noyte fosse Francisco de gouuea no ca-
tur de Miguel vaz , que era ja vindo de Goa, & fossem
coele Bertolameu fernandez, & Bastião diaz capitães de
dous catures, pêra que todos três juntamente posessem
o fogo com panelas de poluora, & que os que ouuessem
dir nos catures fossem espingardeyros, pêra que se de-
fendessem dos imigos se ihes fosse necessário : Isto as-
sentado, como foy bem noyte partiose Francisco de
gouuea a fazer a obra que lhe era encomendada, & com
quanto fazia escuro, coroo o rio era estreyto foy logo
sentido dos immigos que vigiauão na borda dele, que
em o sentindo despararam sua artelharia que tiobã as-
sentada por aquela parte: & quanto mais tudo estau^
LIVRO VIII. LLL
450 BA HISTORIA BA INBIA
caiado ^ tanto mais espaeloao foy ho aupílo eatrondo da
arteiharia & a grande fumaiça que se leuaxitou , & assi
como a arlelbaria jugaua de pressa, assí os remeyros
dos oatures apertauao o remo eom tanta força que pa*
recia que Foauami , & coesla diJigencía í^udandoos nus*
so Senhor se escapulirão de tamanha soma de pelouros,
& forâo pegar com aquela machioa {) parecia bfla muj*
to alta & grande torre , em que eslauâo obra de vinte
mouros em sua goarda : E ém Francisco de gouuea &
os outros aferrado cõ a oao , arremessaràibe dStro muy^
tas panelas de poiuora & rocas, & outros ar teficios de
fogo que se pegou logo ao alcatrão & aos outros mate*
riaes, & começando a labareda de se leúantar, derãa
os mouros consigo nagoa com medo da morte, de que
nam poderão escapar aos nossos que oe mataram nagoa^
& Francisco de gouuea & os dos.outfos catures esteue*
rSo sobre o remo até que 'O fogo que poserSo se aieoa
de maneira que não se podia apagar , o que foy feyio
com muyto grande perigo dos que estauão nos catures,.
por serem em todo este tempo tão bastas as bomJbarda-
das & espingardadas.que os mourM tirauão, que búI»*
gfosamente escaparão os Portugueses: E quejmada a
não de todo, tornouse Fraeeisco de gouuea com o mes*
mo perigo, & por esle íeyio que fes ficou muylo louuado.
C A P 1 T V L O CX€VIL
De como aauòe lio iGouemador quê esia/uão os Tmrcos no
yoríQ de Diu.
!^abido pelo Gotternmlof eomo çeleymfto baxá estaua
eom sua armada no' porl9 de Diu , receouse que passe-
via a Goa & a ceroavia , & porque eoisso tolheria yrea»
mantimentos a Goa, determittou de se prouer primeyro
da terra firme , & por conselho de Fernão rodriguea de
castelo branco vedor da liaaêda^ maadou iiQ embaixador
a Açadacão com a noua da fiada dos Tjurcos, pediad»-
LiTito viíu CAvrrçiiO excvii. 461
Ibe Biuyto que nfto fizesse gente coro receo deles , & (|
as&i o roandasee dizer aos capitães do DdquS , por{| ele
80 queria tomar o trabalho de lhes resistir , |>era ^ sou-
bessem quão bõ ▼ezinho tinhfto nele: £ coeste embai-
xador foy quS comprasse mãtimentos dissimuladamSle
& os mádasse a Goa, & assi se fez : & AçadacSo folgou
muyto coesta embajxada , & agardeeeo ao Gouernador
o ^ lhe mandou dizefé Ê em quSto se o gouernador a-
percebia pêra yr socorrer António da silueira, lho mâ-
doo dizer por Fernão de moraes, com Q forão obra de
vinte soldados escolhidos, & em Chaul se ajfltou cõ Pê-
ro vaz guedez, Q Symão guedez de sousa capitã da for-
taleza mandaufi iambê c& polu4)ra & muni<^e8, & en-
trarão ambos no porto de Diu por estar despejado dos
Turcos 9 nè forS vistes de Coge çofar por ser de noite,
& Pêro vaz se tornou a Chaul, & Fernão de moraes nS
-fez outro tãto por Ihei Antenio da siluéira requerer 4 o
Bá fizesse: & dali a doM ou^ três dias foy htia noyie á
fortaleza Frãoisco pacbeco capitã do baluarte da vila
dos Rumes, dizCde que queria fa^er iestamSto & des^
carregar sua afma : o que sabSdo o feytor António da
veyga the mãdou requerer que pagasse a el rey ce«la
aoraa de dinheiro !\ lhe deuia, do Q se elé ouue pot
muyto injuriado & se agrauou do feytor a António da
sifuerra, de !\ se agraooâ tãto por Ibe dizerem !\ era
bem l\ pagasse o f[ deuiai, Q lhe engeitou a capitania
do baluarte, & por António da silueyra ficar disso agas-
tado, se Ibe offereceo Lopo de sousa cootinbo pêra a
capitania, quando FrãcÍ8eo> pdcheco a nã quisesse de
todo , S& isto por servir el rey eft quãto o perigo estaua
TOuy certo,, ma» nã foy necessário por Frâcisco pacheco
tornar « tomar a capitafiia, & António da situeyra dis-»
aimulbn este desacatamSCo^ por ser o tempo que era. B
nesta conjum^m apareceo ao mar bfia nao da conserua
dos Turcos que ya carregada de mantimentos, &leua-
wa trezentos homens, os mais de peleja, & per manda-
do Daaionio da^ silueiva a foy reconhecer Miguei Vaz
LLXi 2
4&2 ]>A HISTOEIA DA ÍNDIA '
no seu catur em que leuaua dous berços , & quiase es-
pingardeyros : & chegando á nao que estaua surta pêra
auer fala dela, os mouros lhe tirarão com a artelharia
& muytas frechadas , & assi se começou a peleja que
durou até a tarde que veo a viração, com que os mou-
ros Jeuando ancora forão varar na terra firme da banda
da enseada, & Miguel vaz a seguio até lhe sayrem dous
bargantins de Turcos que vigiauão o mar, & por nam
ter poluora nem pelouros não quis coeles nada , & se
foy leuando dous feridos , deysando mortos & feridos
dos mouros c6to & cincoenta , segundo se soube.
c A p I T V L O cxcyiii.
Do que fez fiasco pireis de Sampayo em Bégala*
JL ornada a cidade do Gouro por Xercansur, como dis-
se atras , escaparão muyto mal feridos três Portugueses
que estauã com el rey de Bengala, Afonso vaz de bri-
to , Diogo ferraz , & loSo adão , & forâose a Gbeligão
pêra Nuno fernãdez freyre: £ sabido là como o Gouro
era tomado, & el rey de Bengala fugido, aleuitouse
grade cõtenda anlre dous senhores mouros vassalos dei
rey de Bengala, Códauazcão & Amazarcâo que estauSe
em Chetigão sobre qual seria senhor dela, & Nuno fer-*
nãdez os concertou, & ficou Amazarcâo: E nisto che-
gou a Chetigão per mandado de Xercansur bil capitão
Palane por Nogazil , ^ he como regedor , & tomou pos*
se dela pacificamente: & dizendolhe Nuno fernãdez o»
officios Q tinha em Chetigão por prouisâo do rey que ío-
ra de Bengala, & ele disse que os teuesse,. porque Xer-
cansur folgaria muyto cotsso, & lhe faria ainda roayo-
res mercês que aquelas por ser muyto amigo dos Portu-
gueses, & estando nisto chegou Vasco pirez de sampaya
com a armada quo disse, com o que Âmarzacã & ou-
tros senhores B^alas folgará muyto, & acordarão todos
que pois leuaua tãta gente que lhe requeressem qu9
LIVRO VIII. CAPITVLO CXCVIII. 458
prSdesse o Nogazil de Xercansur, & tomasse a cidade
Gom voz de ser pêra el rey de JBêgala, porque lodos o
ajudarião : & se el rey tornasse como esperauão que fi-
caria a cidade pêra el rey de Portugal, &8e nã que mâ-
daria recado ao Gouernador ^ o socorresse pêra soster
a cidade, & assi lho mandarão pedir por Nuno fernâdez
freire que lhe conselhou que o tizesse, por^ íicariâo os
Portogueses em grande credito naquela terra, o que
Vasco pirez nã quis fazer, dizendo que pois a terra es-
taua assi , Q queria fazer sua fazêda & yrse , & man-
douse escusar a Âmarzacão pelas mais honestas rezões
que pode, dãdolhe esperança que prenderia ainda oMo-
gazii, rogâdolhe que o não prSdesse sem seu recado, &
ele lho prometeo: E neste tempo chegarão os Mogores
aoGouro, não estando hiXercansur que era ydo a poer
em saluo o tesouro dei Rey de BSgala : & sabendose
em Chetigão a vinda dos IMogores , pareceo aos Benga-
las que o seu rey era tornado ( pelo que foy em todos
gxande aluoroço.) £ Amarzacâo vSdo que Vasco pirez
não quisera prender o Nogazil, não se fiou dele pêra
ihe dizer que o prendesse , & quis que fosse preso por
seu mãdado, assi por ganhar nisso honrra, como por
alegar aquele seruiço a el rey de Bengala , & secreta-
mente mandou hfl capitão cõ quinhentos Bengalas fre*
cbeyros & espingardeyros que prendessem o Nogazil ,
que supilaroente lhe cercarão a casa & o tomarão desa-
percebido pêra não se defender, que quando se vio assi
mandou chamar Nuno fernandez que lhe valesse, &que
antes queria ser preso dos Portugueses que dos Benga-
las: E Nuno fernâdez por auer perigo na tardança não
deu eôta do caso a Vasco pirez que estaua na frota , &
foyse a casa do Nogazil, & quando os Bengalas o virão,
-derão húsk grande grita nomeando el rey de Bengala, &
por lhe terem grande acatamento o deyxarão entrar on-
destaua o Nogazil com bum seu yrmâo em poder de cer-
tos BSgalas que os tinhão presos, que ele fez afastar,
& sabendo do Nogazil que queria ser antes preso dos
464 BA HISTORIA DA ÍNDIA
Portugueses que dos Bengalas , disselhes a parte que
AmazarcSo nS era bem conselhado em prender o Noga-
zil daquela roaneyra, que ouuera de mandar algus offi-
ciaes dalfandega, a que oNogazil tinha tomado dinhey-
ro de Q ouuera de saber quanto era, & mandalo escre-
uer, & depois proceder conlrele: o que |>arec6do bem
ao capitão que tinha preso o Nogazil , mandou dizer a
Amazarcflo o que dizia Nuno fernãdez, que também
mandou logo bu escrito a Vasco pirez, em que lhe «fon-
tana o caso pêra que acodisse logo: & ele màduu Frã-
cisco de barros de paiua cõ cincoenta espingardeyros;,
que em chegando ás casas do Nogazil começarão da ti-
rar, pelo que os Bengalas fugirão & o seu capitã, &
Francisco de barros tomou oNogazil & o leuou a Vasco
pirez , que o teue preso bem seys meses , & depois o
deyxou fugir por peytas que lho deu : E estado asst a
cousa, forão ter a Bengala sessenta Turcos em bda g»-
leota que se apartarão na partida Dadem da armada de
çoleymão baxá, & passando por Pegu deylarão fama que
o Gouernador &.-08 Portugueses erâo mortos poios Tur*
cos , & dando a mesma noua em Bengala , furâose me-
ter em hum rio quatro legoas de Chetigão: O que sa-
bendo Vasco pirez, mandou Francisco de barros de pair
ua na sua fusta, & algQs calaluzes com gSte pêra Q to-
masse a galeota aos Turcos, que se defenderão também
que o fízerã afastar, & logo vararão a galeola, & íiz^
rão hQa tranqueyra em Q assestarão quatorze bombar-
das que ti n hão, & estado ali catiuarão três Portugueses
a que dera muytos tormentos, ameaçando os outros que
os auiâo den forcar. E Vasco pirez com quanto tinha
muyta gente nílca quis vingar esta injuri^^, nem tomar
os Turcos, o que poderá bem fazer, nC meoosquis dar
ajuda a Nuno fernãdez freyre (| lha pedio per» yr de-
fender hua nao noua que tinha carregada de fazenda, Q
soube que os Turcos queríão yr tomar: o que vendo
Diogo rabelo o foy ajudar com quinse Porl^ugueses que
aiKlauão na sua fusta , & António de jUeto Ibuou cinca
LIVRO VIII. CAPITVLO CXCIX. 455
Bo esquife do aeu nauio, & Nuno fernandez em hfl pa-
rao, & chegados aa galeuta não a poderão aferrar por
desastre , & nã por lhes faltar coracjã , & os Turcos lhe
matarão seys Portugueses & ferirão os outros, & hfl foy
Nuno fernãdez, & depois deu Christouâo douria de su*
pito com os Turcos em outro rio que cÕ medo saltara
ao mar & fugirão, & Christouâo douria tomou a galeota
com a artelharia & com muyta riqueza que tinhâo, &
Vasco pirez inuernou em Bengala sem fazer mais que o
que digo, & depois foy se a Pegú onde faleceo de doS-*
ça : & assí perdeo el rey de Portugal esta cidade de
Chetigão, que se poderá soster com pouco trabalho ^
por Xercansur andar ocupado em sua conquista, como
disse a trás»
CAPITVLO CXCIX.
De como jíntonio galuio refez a fortaleza de Temate.
p
artido lorge mascarenhas & os outros da jlha deTer«
sate, que António gaJuão ficou desapressado, entendeo
k)go em refazer a fortaleza que eslaua tam daneficada ,
que a fez quasi de nouo, & mandou fazer dentro casas
pêra pousarem Portugueses, & tulhas pêra ter manti-
mfitos dfls annos pêra outros, |)orque se lhe sobreuiesse
guerra que esteuesse prouido deles, & não auendo guer-
ra os dar á gSte em <lesconto de seu soldo & mantimS*
lo. E assi ^z a casa da feytoria de pedra & cai com
tulhas pêra estar o crauo , & mandoulhe fazer húa cer-
ca de taypa, & junto coela mandou fazer a casa da fer-
raria de taypa que dantes era de sebe, & assi era a ca^
sa da poloora que mandou fazer de taipa defronte da
porta da fortaleza , porque lha fião furtassem os escra»
uos quando a faziãOé^E porque os Portugueses gastauam
muylo em refazerem cadanno as suas casas, que er&
de paredes de canas fendidas, fez coeles q.ue as fizea*
sem de pedra & ísal 5 com suas janelas & chaminés co-
456 DA HISTORIA DA INDfA
mo em Portugal, & que se cercassem de muro de tay«
pa , o que íizerSo á sua custa sem custar a el Rey na*
da: E quando foy ao abrir dos alíceces pera esta cerca,
ei rey deTernate deu as primeiras enfadadas por amor
Dãtonio gaiuão, & após ele o camarão & outros fidal*
gos, & António galuão os banqueteou aquele dia, &
el rey lhe deu gSte que trabalhasse nesta obra, & a fo«
ra este muro fora feytos ainda outros dous , porque fi-
casse ho resio darredor da cerca em campo raso , pur*
que nas outras cercas ficaua a terra mais alta que elas:
De maneyra que tinha a cidade (res cercas, & a derra-
deyra tinha seus baluartes & era cercada de caua que
ficaua muyto forte, & a cidade muy to fermosa com muy-»
tos poços dentro & parreyras que António galuão ali le-
uara, que estauâo todo o ãno verdes & com fruyto, que
assi he a qualidade da terra. E fez com eirey que des-
se aos Portugtieses terras que laurassem & prantassem
aruores, em que fizerão quíntafts, em que traziâo cria-
ções de galinhas, porcos, cabras, & ouelhas, que pa^*
recia o campo de SãtarS: E pera a terra ser melhor re-
gida , fez almotacés & vereadores. E por^ a entrada no
porto da cidade era trabalhosa & perigosa por amor dít
penedo 2| esíaua no meo da barra de nossa Senhora que
era a principal, mandou quebrar este penedo, & fícou
a barra tão boa que dõde dantes nâo podia entrar hõa
coracora sem muyto tento, entraúa & saya hil nauio á
vela sem payxão, & mandou aleuantar tanto o arrecife
que ficaua o porto como fada caldeyra sem o mar fazer
nojo aos nauios que estauâo dentro por mais brauo ^
andasse, & çarrou as outras duas barras. E vendo el
rey de Ternate a fermosura da nossa cidade, creceolhe
cobiça de fazer assi a sua, ao menos nas casas, & por
seu rogo lhe ordenou António galuã como auia de ser,
& ficou a cidade arruada & muyto mayor do que era,
do ;| os mouros estauâo muy contentes : & por() a sua
mezquíta ficaua padrasto da nossa fortaleza a mandou
ei rey meter dentro na sua cidade. E assi como se eiH
LIVAO VIII. CAPITTLO CXCIX. 457
nobreceo esta cidade de Ternale, se ennobreceram ou-
tras Q pareciâo pouoaçÕes Portuguesas. E pêra a nossa
cidade de Ternate ficar de todo nobre, trouue António
^aluâo agoa dali três legoas ahura grande chafariz que
fez junto da fortaleza de que bebia a gente, & em que
bebião gados, & lauauão a roupa, & da agoa que sobe-
jaua regauã ortas & pomares , assi dos Portugueses co-
mo dos mouros, que dali por diante a seu rogo deixa-
rão a vida da guerra que iinhão, & derãose a lauTar&
a semear & a criarê gados , com ^ a jlha ficou grande-
mente abastada. £ António galuâ por pagar a el rey
de Ternate quãtas boas obras lhe fizera, o tirou da for-
taleza onde estaua como preso & o deixou yr pêra a ci-
dade pêra biias casas Q fez muy suntuosas, & Ihentre-
gou a gouernãça de seu reyno pêra que liuremente o
gouernasse, & lhe deu Jicença pêra Q casasse, ho que
os reys daquela jlha não fizera mais depois que ali foy
feyta a nossa fortaleza & estauâo como catiuos, & por
esta liberdade que António galuão deu a este rey, lhe
ficou ele & seus vassalos em tanta obrigação Q ele &
eles lhe tinhão tclto acatamento como que se fora pay
de todos &i assi lho chamauão, nS o nomeauS por outro
nome, nem fazia el rey nè nhií MandarI cousa Q lho n&o
dissessem primeiro & não tomassem em tudo seu cõse-
Ibo, & fazião em seu louuor muy tas cãtigas. Eassi como
os mouros lhe queria bem pplas boas obras queJhe fazia,
assi lho querião tâobê os Portugueses, por^ lhes fez pa-
gar muytas diuidas que lhes os mouros deuião auia an-
nos, & nhQ capitão teue poder pêra lhas fazer pagar, &
os que adoecíão, ele os curaua á sua custa, por el rey
não ter cõ <) os curasse, Sc se ele não fora, todos morre-
rão de fome, ^ emprestou a el rey com Q lhes pagasse o
mantimêto, no !\ perdeo muyto, porQ cõ empregar o seu
dinheiro nisto, não fez nunca sua fazenda, & dous an-
nos teue este trabalho & gasto, por^ em todo este tempo
nunca os gouernadores nem o vedor da fazenda mandarão
roupas á fortaleza pêra se a gente prouer de mantimentos.
UV&O VIU. MBIM
468 DA llIBTOaiA BA ÍNDIA
C A P I T V L O CC.
De como no Morro se leua»aau hA capin&o , ^ àt €tmt#
foy morto ^ ^ ào mais ^ passou.
.andando António galuSo ocupado nestas eousab «ou*-
be que no Morro se leuantara hu capitão que afora le*
uâlar a terra, & trazia por mar bQa grossa armada com
que andaua lâo soberbo Q dizia que auia de correr a
Ternate: o !\ sabido por António galuâo mandou iogò
lá falia armada de corascoras que Ibe emprestou el rey
de Tidore , & mandou por capiiio mór dela hft clérigo
de missa que auia nome Fernão vinagre com eorêCaPor^
tiigueses, que foy lá, & pelejou com aquele capitã^ quil
foy morto na batalha & h& seu yrmão, & outros muy-*^
tos, & a outra gente fugio. E depois desta vitoria as-^
sentou Fernio vinagre a terra, & fe^ rebautizarmujtos.
que forSo CbristSos , & fez muy tos de nouo , & leuou a
armada carregada de mantimentos. E vendo António
galuâo quSo bem aquilo sucedera , & os Cbristáos Q se
lá (izerão, tornou a mandar Fernão vinagre*^ <) ainda
fez mais Chrislâos, cujos iilbos heuou a António galuâo
por seu mandado pêra os mandar doutrinar na nossa
sancta fee , & mandak» insinar a ler & a escreaer , no
que tâobS gastou muyto , & assi em dar peças a seus
pB3fs quãdo o vão ver, porQ <2oisto os tinha seguros na
Cbrisíandade Íl na bmizade, & este foy hfl grande ser-
tivço qae fet a Deos & a el rey , porQ afoita os mnyloB
Chtistãòs qife (^ âaerão & permanecera , ganbonse le*-
uare daK maytos maniitíieatos a Ternale , oõ 4 ^ terra
esteue mais barata do que nilea esteue. E 4epoís disto
sabendo António galuâo ^ae nauegaua peraMalvcdhfra
grossa «rmada 4e junges da laóa, B2da^ Macai^ar ^ £t
Atnboyno, que ya buscar crauo, a cujo ^rato esperairã^
de dar muy ta attelbariat^ & armas qope leuaulto 'ôomo
dantes faziSo, & por estia g6te nã yr ás }lba8 de Malu^
LIVRO VIII. CIFITVLO CC. 459
CO donde depois nrião mãos de deitar, & farilo toroa-
ção em se auer ho erauo pêra el rey, determinou de Ibes
impedir a vinda, pêra o !\ mandou a Âmbbyno Diogo
lopez dazeuedo capitam mór do mar de Maluco, cd hâa
armada de vinte cinco coratcoras & duzentos mouros
que lhe emprestou el rey de Tidore, em I) foy seu yr-
mão Cachii rade, & Diogo lopes leuou corèta Portugue-
ses, & dusêtosTernates. E chegado a Amboyno, achou
a frota que digo com que pelejou & a desbaratou &fez
fugir Sc desfazer com morte de muytos dos que yfto ne-
la, & em algQs jungos que se lhe rõderão , achou muy-
ia arlelharia, muylas armas, Sc muyto dinheiro, &dnU
foy ao lÕgo da costa com sua armada , & assentou ami-
zade em toda ela , & os i) a não l)riâ por bem , fazialha
receber por mal, & em três lugares principaes que se
chamão, Atiua, Mantelo, &Nuciuèl, fez fazer os seus
moradores Christãos, pedindolho eles com grade instS--
eia, E assi se tornou pêra Ternate leuando hQ yrmão
dei rey de Ternate que lá estaua fugido, do tSpo de
Tristão datayde, & Cachii vaidua do tempo de dom
lorge, & assi outros do pouo. E tãobem nesta cõjnnção
mãdou António galuão a seu sobrinho loâo fogaqa cd
b&a armada ás jlhas dos Papuaa a buscar as duas nãos
de Castelhanos 4 disse, por saber que erâo la lanhadas,
mas não as achou por serem perdidas , & descobrio a-
quelas jlhas & assentou amizaide com todos os reys de-
las, que mandarão a armada carregada de mantimentos
a António galuão. E neste tSpo forão ter a Ternate dous
yrmãos Macaçares de nação, que estado em Ternate &
sendo gStios, inspirados de nosso Senhor se fizera Chris-
tãos, & foy seu padrinho António galuão, cujo nome
tomou o mais velho & o mais moço ouue nome IMíguei
galuão, Q bautizados se forão á jlha do Macaçar donde
erão naturaeis, & dahi tornarão a ver António galuão,
eõ hda armada carregada de sândalo & algii ouro & ar-
mas, & outras mercadorias, í\ disserâo a António gal-
uão que auia nas jlhas do Macaçar & dos Celebes , on-
MMM 2
460 DA BI8T0&IA SÁ ÍNDIA
de folgariito moyto de terfi trato com os Portugueses,
& se lá fossem se fariSo muytos Christáos, & pêra e
serem vinhão algQs mancebos fídalgos, a que logo foy
dada agoa de bautismo, £ ouuyndo. Adíodío galuão as
Douas desta terra folgou muylo, assi por se alargar nela
a fee de Chrísto, como pêra os Portugueses fazerê seu
proueito: & logo ordenou de mandar lá hQ caualeiro
chamado Francisco de crasto casado, bomS muyto pêra
isso , a !\ deu bú regimento que assentasse amizade cõ
os reys darias terras , & Irabalbasse por se tcrnar5
Chrisiãos , pêra ho que lhe deu muytas peças que lhes
desse de presentes , & que tudo fosse por bem. E des*
pachadoFrancisco de crasto partiodeTernateem Mayo,
& aos vinteseis de lunho chegou a blla jlha dosCelebes
chamada Chedigão, que está em doze grãos & dobs
terços, cujo rey & pouo erão gentios, & assentou logo
amizade com el rey vendose no mar, & ambos se san-
grarão nos braços , & h& bebeo ho sangue do outro, &
dahi a poucos dias se fez el rey Ghristão, muyto con-
tra vontade dos do seu conselho, & foylhe posto nome
dom Frâcisco, & foy bautizarse dentro ao nauio, Qnão
quis Francisco de crasto yr a terra, & assi se fizerâo
Chrisiãos três yrmãos dei rey & sua molher Sc hHí 61ho,
& cento & trinta fidalgos, & muytos do pouo. E passa-
dos vinte tious dias que Francisco de crasto gastou nis-
so partiose , deixando em todos muyta soydade , & dali
foy ao longo da jlha de Mindanao, & chegou a hum
rio ondestaua hQa cidade chamada Soligão cujo rey se
fez CbristSo, & foylhe posto nome Anlonio galuâo,. &
coele recebeo agoa de bautismo aRaynha & duas filhas,
& bõ cento & ctncoenta pessoas outras. £ depois se íi-
zerão na mesma jlha Chrisiãos el rey de Butuão, a que
chamarão dom loão o rey grande , el rey de Pimilara
que lãobem se chamou assi, el rey de Camiguy a ^ po--
serão nome áò PVancisco. Eassi receberão agoa de bau-
tismo suas molberes, filhos, & yrmãos, & muyta parte
de seus vassalos, assi dos nobres, como do pouo. K
X
LITAO VIII. CAPITTLO CC. 461
querendo Francisco de crasto passar desta jlha á dolMa-
caçar, foylhe o vento tão contrayro, que mil vezes es*
teue perdido 9 pelo que os que yão coele não quiserão
que passasse por diante , & o (izerão tornar a Ternale^
leuando mujtos filhos daqueles que se tornarão Cbri-
slãos, pêra lhe ser insinada a doutrina cbristaã & a nos-
sa lingoa, o que António galuão fazia com grande cuy-
dado , & 08 criaua como filhos. -
L A V S D E O-
Foy impresso este Octauo liuro da historia da índia em a
BQQjto nobre & leal cidade de Coimbra » por loao de Barrevra im-
pressor dei Rey na mesma vniuersidade. Acabouse aos vmtaseys
dias do mes Dagosto de ld61. aonos.
TAVOADA
DO OCTAVO LIVRO.
C.
^APiTVLO I. De como Nuno da cunha chegou dlndia^
^ foy entregue da gouemança. Pag. I
Cap. II. De como forâo presos Lopo vaz de sam Payo
^ ho licenceado íoâo de soyro. â
Cap. iii« Do que dÓ lorge de crasio fez na ilha de Bâ--
da. 6
Cap II II. De como dom lorge de meneses foy sobre a
cidade de Tidore. 7
Cap. V. De como dom lorge de meneses tomou a cidade
de Tidore. 10
Cap. VI. Do concerto que fizer âo dom lorge de meneses y
^ Fernão dela torre. 13
Cap. VII. Do.quejez dom Jorge de meneses despois deste
concerto. 1 5
Cap. viu. De como António da siiutyra de meneses des-
truyo çurrate ^ Rtynel. 17
Gap. IX. De arniO- António da silueira dtstrttyo Damâo^
^ Agacim ^ ^ ^Mirvs muytos lugares de Céòaya. 20
Cap. X. De como ho capitão de Reynel desbaratou a
Frâcisco pereyta de berredó , capitão da fortaleza de
Chaul. 22
Cap. XI. De como ho goutmador prendeo Francisco pe^
reyra de berredo. 25
Gap. XII. De como Diogo da silueira queymou Calicut,
^ foy sobre ho lugar de Mangalor , ^ Ao destruyo de
todo. 26
Cap. xiii. Do que aconteceo a Diogo da silueira com
Patemarcar capi%ào da armada de Galtcut. 3 1
Cap. xiiii. De como Eytor da silueyra foy por capi-
tão \nár ao cabo de Goatdí^m^ 4* Aos presas que
fez. 33
464 TA VOADA •
Gap. XV. De como os Rumes leuantarâo ho cerco a
Adem com medo da nossa armada. 34
Cap. XVI. De como Eytor da silueira fez que el Rey
Dadem sejizesse tributário dei Rey de Portugal. 35
Gap. XVII. Dexomo Gonçalo Pereyra chegou a Malaca. 38
Gap. XVIII. De como rnorreo el rey de Ternate^ ^ se
matou Cachil vayaco» 40
Cap. XIX. Da injuria quefeyfeyta a Cachil vaydua. E
do mais que sucedeo. 42
Gap. XX. ue como ho gouemador de Tahona foy deita-
do aos cães , ^ Cachil daroes foy degolado. 45
Gap. XXI. De como Gonçalo pereyra chegou d ilha de
Ternate. 47
Gap. XXII. De como Gonçalo pereyra prometeo à ray-
nha de Ternate de lhe entregar seu fUho. 50
Gap. XXII I. Do que Gonçalo pereyra fez despois de che--
.gar a Ternate. 54
Gap. xxiiii. De como Gonçalo perjsyra quisfa^r crauo
pêra el R^ de Portugal. 57
Gap. XXV. 6a desauençá que ouue ántrédom lorge de
meneses ^ Gonçalo pereyra. 60
Gap. XXVI. De como se perderão no mar dom Femian*
do de lima de Sanctarem ^ Lopo dazeuedo. . 65
Gap. XXVI i. De diuersas armadas que partirão pêra a
índia. , , ibíd.
Gap. XXVIII. De como foy morto Hagamahumud por dô
Manuel telo de meneses. 66
Gap. XXIX. De como ho gouema/dor Nuno da cunha
partia de Chaul pêra a cidade de Diu. 69
Gap« XXX. De como ho qouernádor pelyou na Uha do
betele com ho capitão dei rey de Cambaya , ^ lha to-
rnou. 71
Gap. XXXI. De como ho gouernador chegou a Diu^ ^
corno soube que Rumecão estaua dentro^ com f%imes 4r
ar telhar ia. 76
Cap. XXXII. De como ho gfmernador deu bateria a Diu^
^ do que lhe aconteceo. 79
TA VOADA* 4fiÒ
Cap. XXXIII. De como ho gouernador se partiu do porio
de Diu. 84
<3ap. xxxiiii. Do que ho gouernador fez despoys de se
yr de Diu. 85
Gap. XXXV. D€ como António de saldanha destruyo a
cidade de Goga , ^ do mays que fez na cosia de Cam-
baya. 86
Cap, XXXVI. De como lorqe de lima socedeo na capita-
nia a dom António da suueyra. 88
Cap. XXXVII. De como Gonçalo pereyra fez amizade
com el Rey de Tidore. 89
Cap. xxxviii. De como a Raynha de Ternate determi-
nou de matar Gonçalo pereyra. 91
Cap. XXXIX. De comofoy morto Gonçalo pereira. E os
mouros que ho matarão. 93
Catp. xl. De como Vicente dcfonsecafoy leuaiHado por
capitão da fortaleza de Ternate. 98
Cap. xli. Do q fez Victte dafonseca despoys de ser cor
pitão. 103
Cap. xlii. De como Vicête da fonseca soltou el rey de
Ternate. 106
Cap. xLiii. De como ho gouernador começou a fortale-
za de Chalé. 108
Cap. xliiii. De como ho capitão már Diogo da silueyra
destruyo ho lugar de Tona. 110
Cap. xlv. De como o capitão mór Diogo da silueyra
destruyo a vila de Bandora. 1 1 2
Cap. xlvi. De como se leuantou Damião bernaldez ^
do qfez. l\é
Cap. xlvii. Do mays que fez Damião Bernaldez. E co-
mo morreo. 116
Cap. xlviii. De como António de saldanha foy por ca--
pitão mór ao cabo de Goardafum. 119
Cap. xlix. D€ como Rayx ale quisera matar elRey
Dormuz seu jrmâo. 120
Cap. l. De como Manuel de Vasconcelos ^ outros to-
marão a nao çafeturca. 121
livro viii. nnn
466 TAVOÁIM.
Cap. li. De como ho gouernador determinou de tomar
a fortaleza de Baçaym. 122
Cap. 1^11. De como Diogo da silueyra tomou as cidades
de Patane^ Paíe ^ Mangalor. 12 a
Cap. Liii. De como já^adacã fez paz com ho gauerna-^
dor , ^ lhe deu as tanadarias de Salsete pêra el Rey
de PoriugaL 127
Cap. li 111. Das diferenças q ouue antre Vicente dafon^
seca ^ Brás pereyra. 129
Cap. lv. Do q Pateçarâque ^ Trauancelo delerminmâo
contra el rey Cachil Úayaío. 131
Cap. lvi. De como el rey Cachil Dayalo se passou pêra
a terra alta. J35
Cap. lvii. De como Vicente dafqnseca tomou a cidade
de Tidore. J38
Cap. ltiii. De como el rey Cachil dayalo perseguido de
Vicente dafonseca se foy morar a Geyhlo. 141
Cap. lix. De como ho gouemador determinou de yr so*^
bre a fortaleza de Baçat^ ^ do sitio da fortaleza. 144
Cap. lx. Como Melique quisera deter cô engano ho Go^
uernador â^ não cometesse a fortaleza. 1 46
Cap. lxi. De como Diogo da silueyra^ Martim afonso
de melo jusarte: ^ Manuel dalbuquerque desbaratarão
a trâqueyra dos imigos. 149
Cap. Lxii. De como os imigos despejarão a fortaleza de
Baçai. i b 1
Cap. lxiii. De como Manuel dalbuquerque foy derribar
a fortaleza de Damão. Iè4
Cap. Lxim. De como chegarão aa índia certas arma--
das de Portugal. Ib6
Cap. lxv. De como Vasco da cunha foy espiar Diu. 109
Cap. irXvi. Do que fez dom Paulo da gama despoys de
ser capitão de Malaca. i(i2
Cap. Lxvii. Da treyçâo que el rey de Bengala ordenou
contra Martim afonso de melo jusarte. \ 64
Cap. iixviii. De como Martim afonso de melo jusarte
foy preso em Bengala. 168
TATOADA. 467
Cap. lxix. Do perigo em que ot Portugueêes têteverâ
de serem mortos. 170
Cap. lxx. De como os Castelhanos que estxmâo em Gei-
lolo se forâo pêra Tristão daiayde. 174
Cap. lxxi. De como Tristão datayde queymou a d*
dade de Geylolo , ^ como Cachil catabrtmo se fez
Rey. 177
Cap, Lxxir. De como ho gouernador foy a Diu pêra se
ver c6 el rey de Cambaya, 1 80
Cap. lxx II k De como Manuel de macedo se desafiou c6
Rumecâo^ ^ não lhe sayo ao desafio. . ih2
Cap. Lxxiiii. De como indo dom lorge de crasto sobre
el rey de Reyxel, se tornou sem fazer nada. 184
Cap. lxxv. De como Francisco de gouuea fov por ca^
pitão mor da armada côtra el rey de ReyxeL 186
Cap. lxxvi. Do que fez Francisco de gouuea dcspoys ^
vio que el rey de Reyxel não queria paz. 1 88
Cap. lxxvi [. Do que fez António da silua de Meneses
em Bengala, 190
Cap. lxxviii. De como húa armada dei rey Dugentana
foy correr a Malaca^ ^ de como foy morto dom Pau^
lo da gama ^ outros. 193
Cap. lxxix. De como Francisco de barros de payuafoy
buscar mantimentos a Patane , ^ do que Ike aconte-
ceo. I 96
Cap. lxxx. De como Diogo da silueyra chegou aponta
de Diu ^ do que hi fez. 197
Cap. lxxxi. De como chegou d índia Martim afonso
de sousa. 198
Cap. Lxxxif. De como Martim afonso de sousa tomou a
vila de Damão. 199
Cap. lxxxiii. De como el Rey dos Mogores entrou na
índia. 202
Cap. lxxxi iit. De como el R^y de Cambaya deu Ba-
çaym a el Rey dom loam de PortugaL 204
Cap. lxxxv. De como indo dom Esteuão sobre el rey
Dugentana lhe desbaratou kâa Iranqueyra. 206
NNN 2
468 TA VOADA.
Cap. Lxxxvi. De como dom Esteuâo chegou d fortaleza
dos tmmiffos. 208
Cap. Lxxxvir. De como dô Esteuâo desbaratou el rey
Dxigentana. 211
Cap. Lxxxviii. Do q fez dô Esteuâo despois q desbara'*
tou el Rey Duyentana. 2i3
Cap. lxxxix. De cmno Francisco de barres de payua
^* Anriq midez de vascôcelos pelejarão cô húa armada
de laos. 214
Cap. xc. De como Francisco de barros ^ Ânrrique «len-
dez de Vasconcelos se tornarão a Malaca» 2 1 7
Cap. xci. De como muytos gentios q morauão no Mor^
ro se tomarão Ckrisíâos. 218
Cap. xcii. De como Tristão datayde prendeo el rey
Tabarija de TermUe^ ^' sua mây ^ ^ Pate^aran^
gue. 220
Cap. xcii f. De como Tristâ dataide fez guerra a el rey
de Bachão. 223
Cap. xciiií. De como el rey de Cambaya foy buscar el
rey dos Mogores. 225»
Cap. xcv. De como el rey de Cambaya sem pelejar foy
desbaratado , por el rey dos Mogores. 228
Cap. xcvi. De amu) el rey de Câbaya se acolheo aDiu^
^ do mais que fez. 231
Cap. xcvii. De como Mnriim afonso de sousa soube ho
desbarato deUrey de Câbaya. 2:J4
Cap. xcvii I. De como el rey de Câbaya mâdou pedir so-
corro ao Turco^ 237
Cap. xcix. De como el rey de Câbaya foy acôselhado ^
desse fortaleza em Diu ao gouernador. 239
Cap. c. De como Martim afonso de sousa ^ Symâofer^
reifra chegará a Diu ^ ^ do ^ assentará cò el rey de
Câbaya. 241
Cap. Cl. De como ho gouernador se partia pêra Diu^ a
chamado dei rey de Cambaya. > 243
Cap. cu. De como ho gouernador chegou a Dkty ^ se
vio c6 el rey de Câbaya^ 246
TáVOADA. 469
Cap. cm. Do façanhoso Jeyto que fez Diogo botelho em
^e J/r em húa fusta pêra Portugal. 248
Cap. ciiii« De como çoleymâo Haga entrou na& terras
da Tanadaria de Salsete. 2õ2
Cap. cv. De como Manuel de vascôcelos desbaratou os
mouros que estauâo na tranqueyra de Bóri. 2ò4t
Cap. cvi. De como dom, lohâo Jez no rio de Salsete a
fortaleza de São lohâo de Rachol. 2òb
Cap. cvii. De cmno Vasco pirez de saô payo tomou a
fortaleza de Variuene no rio Indo. 2ô6
Cap. cviik De como foy começada a fortaleza de Diu^
pelos Portugueses. 258
Cap. cix. De como Xercansur tomou ho reyno dos Pa-
tanes a el rey de Bengala. 260
Cap. cx. De como el rey de Bengala mandou ao gouer-
nador vinte Portugueses dos que catiuou. 261
Cap. CXI. De como Tristão dalayde mandou el rey Ta^
tarifa ao gouernador da índia. 262
Cap. cxii. t)e como os Reys das ilhas de Maluco jura--
râo de fazer guerra a Tristão datayde. 263
Cap. CXI II. De como os mouros de lemate despouoarão
• a cidade. 26õ
Cap. cxiiii. De como Tristão datayde quisera fazer paz
i6 os mouros^ ^ eles não quiserâo. 267
Cap. cxv. De como se leuantarão os lugares do Morro. 270
Cap. cxvi. Do espantoso feyto que fez dom loam de
Mamoya. 272
Cap. cxvii. De como os outros reys das ilhas de Maluco
se leuantarão. 275
Cap. cxviii. Do que fez Tristão datayde prosseguindo
a guerra. E de como Frãcisco de sousa tomou 7u-
rutoo. 277
Cap. cxix. Do que aconteceo a Tristão datayde com a
armada det rey de Tidore. 2òO
Cap7 cxx. De como indo hum capitão dei rey dos Mo-
gores sobre Baçaym deyxou de kir com medo dos Por-
tugueses. 263
470 TATOADA.
Cap. cxxi. De como ti rey de Câbaya quisera fazer hã
muro antre a nossa fortaleza ^ a cidade. 285
Cap. cxxii. De como os Mogores forão desbaratados. 289
Cap. cxxiir. De como dom, loâo pereyra capitão de
Goa desbaraíou çoUymão hcufa. 290
Gap. cxxiiiK De comofoy acabada a fortaleza de Diu^
& f^y com^ada a de tíaçaym. t^^
Cap. cxxv. Úe como António Galuâo par tio pêra Ma^
luco. 296
Cap. cxxvi. De corno el rey de Calicut^ se quisera cO'
roar em Repelim , ^ não pode. tQB
Cap. cxxvii. De como Xercansur fez guerra a el rey
de Bengala. 299
Cap. cxxviii. De como el rey de Bengala fez paz c6
Xercansur. 301
Cap. cxxix. De como el rey Dugentana fez paz c6 dom
Esteuâo da gama. tO^h
Cap. cxxx. De como Tristão datayde mãdou pedir so-
corro. soe
Cap. Gxxxr. De como os mouros quiserão queymar húa
nao dos Portugueses ^ nãf) poderão. 307
Cap. cxxxii. De como Tristão datayde tornou cometer
paz aos mouros ^ naÔ quiserâo. 310
Cap. cxxxii r. De como Tristão dataide destruhio a ct-
dade do Toloco. 3i2
Cap. cxxxiiii. De como foy morto poios mouros Balie^
sar vogado. 314
Cap. cxxxv. Do mays que os mouros fizerâo despoys de
tomarê ho bargantim. 315
Cap. cxxx VI. Lie como dom loâo pereira pelefou em
Bardes c6 íanebeque capitão Daçadacâo ^ ^ ho desba*
ratou. 317
Cap. cxxxvii. De como António da sihieira pelejou cô
Çarnabeq capitão Daçadacâo em Bardes , ^ o desba-
ratou. 319
Cap. cxxkvuí. De como António da sHueira fez húa
tranqueyra em Bardes. 325
TA VOA DA. 471
Cap. cxxxix. De comofoy preso Garcia de Sd^ ^ An-
tónio da silueira foy acabar de fazer a fortaleza de
Boçaim. 327
Cap. cxl. De como Marti afonso de sousa foy socorrer
a el rey de Cocht j ^ do ^ue fez no caminho. ibid.
Cap. cxLi. De como Martim afonso de sousa chegou a
Cochi. 323
Cap. cxlii. De como el rey de Calicut^ com medo de
Martim. afonso de sousa se retirou peia suas terras : ^
de como Martim afonso começou de fazer guerra a el
rey de Repelim. 329
Cap. cxLiii. De como Marti afonso de sousa desbaratou
el rey de Rq[}elim^ ^ lhe ^eymou a cidade» 331
Cap. cxlijii. De como Marttm afonso defendeo a el rey
de Calicui que não passasse polo passo do vao» 333
Cap. cxlv. De como António de brito pelejou algúas
vezes no passo do vao com a gente dei rey de Calicut
^ sempre venceo. 3 36
Cap. cxlvi. De como Martim afonso de sousa desbara^-
tou Cotialemacar capitão mor do mar dei rey de Ca-
licut* \ 337
Cap. cxlvii. De como Martim afonso de sousa quisera
pelejar em terra com os imigos ^ não pode. 339
Cap. cxi.viii. De como jíçadacão começou de fazer
guerra ao gouernador. 341
Cap. cxlix. De como dom Gonçalo couiinho ^ foy des-
baratado^ no passo Debori. 342
Cap. cl. De como Pêro de faria derribou a fortaleza de
RachoL 346
Cap. clk Dú ardil c6 que el rey de Cambaya quisera
cegar a fortaleza de Diu ^ não pode. 349
Cap. cLii. De como el rey de Cambaya tornou a Diu,
^ do que fez. 3õ2
Cap. cLiii. De como Manuel de sousa escreueo ao Go^
uernador o que passaua em Diu, 3õ5
Cat. cLiiii. De como foy de^uberta ao gouemador a
treyção dei rey de Cambaya. 357
47) TAVOADA,
Cap. clv* De como António galuáo chegou a Mala^
ca. 3 GO
Cap. clvi. De como ArUonio galuáo chegou aa jlha de
Temate. 362
Cap. clvii. De como António galuão se apercebeo pêra
yr pelejar com os mouros a Tidore. S6i
Gap. clviii. De como António galuão destruyo de todo
a cidade de Tidore. 368
Cap. CL4X. De como os Reys de Geiloh ^ de Bachão ,
^ os outros se foram pêra suas terras. 373
Cap. clx. De como António galuão fez paz com el rey
de Tidore. 375
Cap. clxi. De como se os Portugueses amotinarão pêra
fazerem crauo. 377
Cap. cLXir« Do mais que passou António galuão c6 os
Portugueses sobre o crauo^ 380
Cap. clxi II. Do que Tristão Dataydefez a António da
Madureyra. 382
Cap. clxi III. De como el rey de Cambaya foy ver ha
gouernador ao galeão. 384
Cap. clxv. De como foy morto el rey de gkimbaya. 387
Cap. clxvi. Do que sucedeo depois da morte dei rey de
Cambaya. 39 1
Cap. clxvii. De como Mirzâoham£t se fez rey deCam"
baya c6 fauor do Gouernador. 392
Cap. clxvui. De como os capitães ^ senhores de Cam^
baya desbaratarão Mirzãohamet^ que se chamaua rey
de Cambaya. 394
Cap. cLXix. De como os regêtes de Cambaya^ deyxarâo
por fronteiro côtra Diu Alucão ^ ^ do mais ^ pas^-
sou. 395
Cap. clxx. De como lorge mascarenhas partia pêra
Maluco. 396
Cap. clxxi. De como os capitães das nãos da carga che^
garã aa índia. 397
Cap. clxxii. De como ho Chuernador soube que ya kHa
armada de Turcos aa índia. 398
TAVOADA. 473
Cap. clxxiik Do dano que Pateniacar^ ^ outros capi-
tães de Calicut fizerào aos Portuífueses. 399
Gap. clxxiiii. De como Marti afonso de sousa chegou
onde esíauâo os capitães dei rey de Calicut. . 400
Cap. clxxv. De como forão desbaratados por Martim
afonso de sousa os capitães dei rey de Caltcut. 403
Cap. clxxvi. Do mais que fez Martim. afonso de sou-
sa depois da vitoria de jBeadala. 406
Cap. clxxvi I. De como Martim afonso de melo jusarte
sayo do catiueyro de Bengala. 403
Cap. clxxviii. De como os Aches quiserâo tomarnfor*
iáleza de Malaca. 4 1 o
Cap. clxxix. De como os Aches tomarão a Mala-
ca. 412
Cap. glxxx. De como António galuâo fez pazes com el
rey de Geilolo , ^ de Bachão. 4 1 4
Cap. clxxxj. De como se perderão duas nãos de Caste-
lhanos que yâo pêra Maluco. .415
Cap. clxxxii. De como loão freyre foy cu) Morro por
capitão de húa armada» 4L7
Cap. cLxxxiff- De como foy lidOy ^ pubricado o ai-
uaraa que leuaijta lorge mascarenhas y ^ das muytas
desordés que sobrisso sucederão. 419
Cap, clxxxiiii. Do que o gouernador fez em Diu pêra
a vinda dos Turcos. 422
Cap. clxxxv. De como Coge çofar fugio de Diu. 424
Cap. clxxxvi. De como os regedores de Cambaya man-
darão cercar Diu. 326
Cap. CLxxxvii. De como António da silueyra pos goar-
das nos passos da ilha. 427
Cap. cLxxxviii. De como António da silueyra deixou a
ilha y ^ se recolheo na cidade, 429
Cap. clxxxix. De como António da silueyra se recolheo
aa fortaleza. 432
Cap. cxc. De como ho embaixador dei rey de Cãbaya
chegou a Costantinopla , ^ deu a embaixada ao Tur-
co. 434
LIVRO VIII. 000
474 TAVOADA.
Gap. cxci. De como ho Turco deu a capitania moor da
armada que mâdaua aa índia a çoleymão baxaa rey
do Cayro^ A* do regimento que lhe deu. 436
Cap. cxcii. 6e como coleimão baxaa te partio caminho
da índia ^ ^ do ardil que teue pêra tomar a cidade
Dadem j ^ de como chegou ao oorto de Diu. 438
Cap. cxciii. Do que fez António aa sihieyra com a vin^
da dos Turcos. 442
Cap. cxcii II. Do que aconteceo aos Portugueses com se-
tecentos laniceros que desembarcarão em Diu. 444
Cap. cxcv. De como çoleymão baxaa sefoy ao rio de
Madre fabaa pêra mandar falhar sua artdharia so^
bre cuberta pêra bater a fortaleza de Diu. 446
Cap. cxcvi. De hú ardil com que Coge çofar quisera fa-^
zer muyto mal aos Portugueses j ^ de como lhe aia-
Ihou Francisco de Gouuea capÁâo moor do mar de
Diu. 448
Cap. cxcvii. De como soube ho Gouemador que esiauão
o$ Turcos no porto de Diu. 460
Cap. cxcviii. Do que fez fiasco pirez de Sampayo em
Bcgcda. 452
Cap. cxcix. De como jínkmio galuâo refez a fortaleza
de Temate. 455
Cap. cc. De como no Morro se leuantou hú ojpiiâo , ^
de Qomo foy morto ^ ^ do mais ^ passou. 458
i