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Full text of "Instituto : Jornal Scientifico e Litterario"

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<D  ao^iia^iir©^ 


JORNAL  SGIENTIFICO  E  LITTERARIO. 


TERCEIRO  VOLUME. 


o'A J??  ^ 


COIMBRA 

IMPRENSA  DA   UNI VERSID ADE. 

1833. 


BMPB^i  ^LPi^llTB©® 


BO 


TERCEIRO    VOLUME    DO   INSTITLTO. 


323 


ing 


103 
181) 
3il 


isa 

«48 


Addiliirnpnto  ^  geoni''lria  tie  Lepjendre 234 

Adilil  imcnios  ao  cilculu  dilTercnrial  di-  Francoeur 

—  11  »  769,  1."  eligao 

Agiias  ilo  mar  da  China  (colurac;ao  das) 

A|")iaainenlo3   biui;ra|ihicoii  subre  o  nosso  iiisigne 

Po.-la   Lnij  de  Caniofs 137     151     ,,,3 

A|i.,nturacntos  d'i5|i|ica '  26-1 

Aslro""n>ia 3,  139,'  '«80,   S9I 

Bacia    carboiiifera  du  cabo   Mondego    (nulicia). 

118,   158 

Bihliosraphia H2,  172,   295,   30U 

Breves  rellexues  historiras  sobre   anavegi^.lu   do 
Hondcvo  e  cidlura  dus  ram|ios  de  Coiadira... 
Breves  roflexoes  —  que  filiidam-nlani   o  program- 
ma,  que  olTereceuios  para  as  e.vpiisi(;oe8  d'aniuiaei 

donieslicos  no  dislricio  de  C.iulbra 

Calor  solar  (ork'em  do) 

CI.1SS0  de  liU'.-ralura gi-j 

Cla-se  de  sciencias  moraes  e  sociaes 243 

Classe  de  sciencias  physico-nialheraalicas 296 

Coi rubra —  Recorda^ues  (poesia) 219 

Collegio  Ursiiliiio  dasChugas  era  Coioibra  . .      145     158 

Comniemorarao c  , 

Concorrencia '.'.'.'"'55,'  70,  83 

Conselho  superior  de  inslrncclo  publica     2    25    37    53 

77,  93,  109,  121,  14G,' 149,  Ifil,  183,  201, '227 
„        .     .  ^  253,  269,  281,     09 

Consli(ui(;Ho  physica  do  Sol IgU 

Coula  da  receita  e  d.speza  dos  hospilaes  da  uni'- 

versidade  de  Coimbra 24,    160,  236,  308 

Costumes  A  mericanos 3 , 

Coslumcs  Arabes '.  .'.V  ' "  '[Vy  '  2^9     303 

Credito  lerrilorial j^    ^g    ^1 

DocarneiUos  inedilos 9^'g3_  34^  ,    '   ^j 

De.  Welw relit  e  o  Jardrm  Botanico  da  miiiersi- 

dade  dr  Coimbra ^24.13 

Duque  de  Coimbra Vni      31, • 

ilconomia  polilica   (e.tuilos   de) -jj 

Edilca(;il<.  ilos  aiiimaes  lla  anligciidade ..[]         ]  16 

Espirilos  percussures ]    "  '         .^, 

E.lalistica  pathologica  dog  hospilaej  li.-i  u'lmerji'- 

dade.^.. 5^^  gg_  ,,,       ^^^ 

Jixposirops  de  animaes  domesliros     231     2fj2    299    319 

Exposi(;So  universal  de  Pariz '  25,3'  ^95 

Exposii;ao    (primeira)    da  sociedade    de  Flora   e    ' 
Pomona 

Faculd.ide  de  matheraalica '..'.'.. ...... 

Geologia 

Gerai;oHs  esponlaneas !.'!!!!!!! 

Gravidez  exlra-ulerina  de  16  anno's! .'.'.'.'.' .' 

Hymno  do  menino  ao  dcsperlar  (puesia)    ..""        sju 

Imprensa   da  universidade , 

Influencia  d.a  lua  nos  lerremolos  "  ! !  1 10, 

liislilulo  de  Coimbra  Cdirec,;ao) ■.■."■  V40    » - 

In»tilnlo  de  Coimbra 23 j     jg"' 

Inst.lu^to  de   Coimbra   (sessoes   das  classes   e'da 
oirPC),au  (jo)  .... 

Inslru,;,no  „a  liigla'lerra  (esl'ado  da)  !  ! .' ! ! !  !  !  ! ! ' "        259 
Ins  ruc^So  publica  na  Suecia  e  Noruega  . . . . .       14 

Inslruc^ao  publica  .  °    ,i 

Inslmc^iio  primaria  no  disVriVlo'  do  FulrchaV, . . . 


45 
II 

128 

19 

223 


242 
242 


37 


68 

297 
273 


Iiislriic(;-rio  prim.tria 

Iiltrodnc^So 

I>ra''litas    em   Koma jtc 

Jardins  d'arclrraJta(;ao  na    Madeira  e  Angola  na 

Africa  atistro-occldenlal igrj 

J^^rusilem  e  u  mar  raurlo gi     in' 

Liberdade  em  i)oesia 

Litteralnra  dramalica  h.  spaiihola  e  seus  hisloria- 

,  ,'^"''«' 217,  257, 

Uivros  elemeiilares  (colle^'iio  de) 


1 


lU 
I5t 

«8ti 


313 
183 


Livros  sagrados  dos  indios jrJS    181     196 

M.ircas  typographicas '_  _       '     51  j 

Mar-vermelho,    raar-amarcllo  ,    mar-branco,    ilc, 

(origern  dos  nomes)  . , 7^ 

Matliemalicai,  discnssao  de  dolls  nielhodos  arabes  76 

Malhematicas  (necQao  de) 59,  105,  130,  1H5 

M.-le..rolou'ia jgg,  221 

Mezas  giranles  de  Mr     Babinel  (reflexoes) 29 

Mezas  giranles 17    27 

Jloleslia  das  \inlias ]2g    155, '263 

Mosleiro  da    Vaccari^a ]93,  20j,'  244^  278 

Miilhcres  (as)  lii>toricaraeiile  considerailas     157 

Mnlh(  res  (as)  do  isl.ipj  e  in  miillicres  chrislas 246 

Jliisulraanos  (uomes  e  lilulos) jj 

Necrologio '.""225,   289 

Observa^oes   raeteorologic.is  fellas  no  gabiiiele  de 

phy=ica   da   universidade   de    Coimbra....        1?,    35 

9^    l«0,   148,  224,   252,  268 

Obras   olTerecidas  i    Bibliollieca  do  Inslitulu.       35,    52 

r..        ,     r      .  *8U,  32« 

(jli-o  de  figidos  de  baealliau 222 

<_)■.  iilio   Nazao g    3g    ^3 

Philosophia  alleina  (criso  da) '       '99 

Pliysica  do  globo .■.'■■■  'us    J  ,g 

'"'O'lCa jg^ 

Pliysiobigia  applieada ig^ 

Poesia  Slava  no  secolo  deciino-nono.        57    66,  98,   141 

I6t,  177,  208,  290 

Preceilos  hygienicos  (siinimola  de) 23 

Programmas.       3,  13,  26,  39,   65,  81,   113,  "l23,  173 

„   ,     ,      ,.  -'3,  227,  283 

llelaeoes  lilloranas  com  as  imiversidades  de  Hes- 

„',""•,''» H4,  271 

i{elai;ao  nominal  dos  socios  do  Insliluto 2i0 

^■"'■''"^i" 175,  'I'aO,  237 

Selenosrrapliia jjo 

Srlvio  Pellico  e  o  sen  tempo 204 

Socieflade    Asiatica j,^t 

Sociedade   Asialica  fie   I.ondres j  jg 

Sociedade  geologica  de  Londres go 

Taboas  da  paralaxe  da  liia 1^3 

Tradu^ao  do 4."  livro  da Eneiila  (fragmenio  da)..  274 

303,  314 

Um  banho  no  Tcjo  (poesia) 53 

Uina  illusao  (poesia) jgj 

Uma  lagrima 2^3 

(Jma  perda  para  as  lelras 42 

Uma  tragedia  Arabe 204 

Uuiversidade  de  Coimbra 134  137 

Variedades '  5J 

Victoria  linda  (poesia) S8'J 


Ei\I\OS  1TJNC[PAE8  DESTE  \^OLUME. 


•t'liil.     ('■<l.     Link. 


Kiros. 


50 

.1 


4r,  ('uiistniili'S  enlre 

no  nltn  da  piirj.    Hunieiis  —  tiimcslre  ,  etc. 


No  movimento  ile  toilas  as  cuferinnrias 
—  ri'larSo  dos  falecidob  para  toilos  us 
tralmlu's  — l:lH,:i 
l:U,.i 
Ali-^tracijao 
1,  2.  3,  4,  5 
c\e  141U 
rna 

uctjao  ilu  bai;o  ■■ 
Embara^o  f^aslrico 
H  Bronchite 
•i  Bronchite  chror.ico 
\  Anasarca 
I  Anasarca 


HII 

,>        ordtiii  das  notus 

119 

lOell 

)  Sarni 
j  obstr 


28,'i'J  f30 


47  f  41i 


132 

/  inlos  prcd 

dit  mcz  de 

ilietos  de  Ju 

3y 

22 

iniiiit, 
Mtiia  ' 
iho 

N.  O.  E.  e  S.  O. 

N.  O.  N.  e  S.  O. 
so'inenle  f  =90° 
com  lado 

23 

com  angulo 

187 

13 

—  -  <  sen  3  6 

•i4,'i 

1." 

12 

primeira 

11 

M 

14 

vjveilo 

" 

18 

22 

IHO 
198 

2411 

,. 

22 

1  28 

•i\u        HO  fun  ha-sr. 


oviUtr 


sejas 


InU-j;raes  eiitrf 

lluiiicns  —  eiifrrmaiias  ile  molcslias  in* 
U'riias  —  Iriiiu'slre  de  .  t'lc.'- 


1:14.4 

i:i:j.4 

Obslruccuo 

1,  i,  5,  3,  4 

de  154G 

obsti"uc(;au  do  baro . 

Sania 

8  Bronchite 

2  UruncUite  chroiiico 

'i  Embara^o  gastrico 

Anasarca 

Anasarca  AscUe 

NO.,  E.  e  SO. 
NO.,  N.  eSO. 
somente  c'=90° 
cum  angulo 
com  lado 

i^  sen  2  i 

2 

ultima. 
Ov  iedo. 

Este  argumento  perde  a  forra,  saben- 
do-se  que  os  Abbades,  ou  C'hefes  de 
IMosteiro,  ussignarara  este  concilio 
com  a  denominacao  de  Archymandn- 
•  his,  como  iH>(!e  ver-se  na  collect;ao  de 
concilios,  dtr  Labbei. 

lea-se  —  (Continuado  de  pag.  219.) 

Conti/nia.  r.  r.  de  sousa  pinto. 

vi-silar. 

da  palavra  —  extinccao  —  per  diante, 
(leve  ler-se  —  extinccao,  por  tereni 
decoirido  apenas  oito  aunos  de  108G 
a  1094,  e  nao  apparecer  neiihum  do- 
cumento  em  cuntrario.  Everdadeqiio 
OS  mosteiros  duplices  ja  tinham  sido 
prohibidos  por  Gregorio  II  em  .S46  *, 
e  depois  no  Concilio  de  Nicea  em 
7{.n  '  ;  mas,  e  certo  que,  apezar  disso, 
continuaram  subsistindo  em  Portugal 
e  por  toda  a  parte,  como  nos  dizem 
Vilerbo  ^  e  Boehmero  -K 

este. 

seja. 


Deer.   tJrac.   cans.  18. 
'-i   Cone.  2  de  Nicea  can 


quest,   -i.    c.  22.    (a  not.  'i 
^0  do  Deer.   Civuc.   cans 


I  da  monia  pag.  280), 

.    18  iniest.  '2.  c.  21.  — Diffininnis  minime  duplex  monas- 

^  lone,  a  ue  iMct;*!  l;i^M-■^.  .^\j  "»  ^ -- —    ^'^'    i  ....  ,       .  ,■ 

lerh.m  fieri-   .|"ia  scandalum  id,  et  ofTendicrilum  miillis  elVicilnr.  ^l  vcro  al.qui  cum  cognatis  mundo  abrciuinlia- 
,c,  et  nionaslicam  vilam   scctari  voluerint,   debcnt   (piidem  ^h■\   xironim  adire   coeuobium.   foeminas  vcro 
lierum  ingrcdi  monasterinm.  .  .  . 

•i    Elucidario  por  Vilerbo  —  I'alav.  Mosleiro. 

•   Boelimero  not.  99  aoDecr.  Orac.  cans.  18.  nue^t.  2.   c.  22. 


mu- 


®  Jitj^titnta^ 


JORINAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


IKTilODUCCAO. 


\j  que  deve  ser  o  Institiilo  assnz  o  com- 
preli'-ndfltiios :  o  que  tcm  sido  jd  o  sabc  o 
piililioo:  o  que  sera,  nn  lerceirn  anno  de  sua 
exi^tcncia,  proval-o-liao  os  esfor(;o3  que  se 
reuovam  para  coiilinuar  cste  jornal,  o  mais 
durador  dequanlos,  d'esLe  genero ,  se  Leein 
eslrcado  em  Coiinhra. 

Ilnje  que  as  mais  liabeis  pennas  do  paiz 
pstao  Miagnelisadas  pcli  mesmerica  ititluencia 
da  politica,  lioje  que  os  e^lOl^a^'os  de  miillos 
dos  que  leem  follias  ie[)eilem  a  sciencia  que 
ni"  teiii  urn  sabor  de  curiosidade  pueril,  e 
nial  digererii  a  littsratura  que  nao  for  roman- 
ce ou  foUu'liiii  ;  ju  e  arrojo  ,  ja  e  dedica^'ao 
perlinaz  conlar  com  fui;ilivos  momcntos  rou- 
bados  as  porfuiias  lides  academicas,  para 
suitentar  umacmpreza,  a  qua!  nem  o  inleres- 
se ,  nem  a  gloria,  nom  eslimuln  alf^um,  que 
iifio  scja  urn  sincero  di'SfjO  de  preslar  al^'um 
servigo  a  sciencia  e  a  liUeralura,  servem  de 
incenlivo. 

E  nao  fallamos  dnservijo  tpie  faz,  ou  poJe 
fazer  a  redac(,Lio,  com  seas  escriptos  ;  que 
esse  pouco  (■  ou  nonlium. 

O  In-litulo,  alo.a  oslraballios  da  sociedade 
de  qi;e  eor^fio,  (.-m  virlude  da  porlaria  do 
niini^lerio  do  rcino  de  5  de  si-lemliro  de 
1833,  lia  de  puldicar  os  arlii^;os  que  Hie  ea- 
viarem  o  ioiis(  |ho  superior  de  iiistruccfio  pii- 
blica,  c  as  faeiildados  acijdeiiii<;as ,  que  no- 
mcarain  commis-oes  expres-ainenle  encarre- 
gadas  d'orir;iiii-ar  Lraballios  ^cnuilificos  digiios 
de  ver  a  iuz  publica  ne^te  joriial.  C)  liiiliLulo 
deve  [X'is,  d'oia  avanle,  eiicamiiiliar-se  a  re- 
prestiilar  as  Ires  corpor.i^nes  lillerarias  mais 
respcilaveis  (l'i-?la  cidade  —  a  lliiiverjiidade  , 
o  Conrcllio  supeiioj  (l(t  ln>lruc(,'ao  publica,  e 
oJnslilr.lo  du  Coiinbia,  liyadas  pela  fraler- 
nal  ami^ade  ile  sous  ineuibros,  e,  mais  que 
tudo.  pelo  sagrado  si'nliniciilo  que  anima  a 
lodos  —  0  amor  das  letras  palrias. 

i'-'  se  e^las  tros  |)olencia5  nao  deixarcm  soi 
na  li^-a  os  poucos  nieiiii)ros  do  Instilulo  cpie 
consliiueiu  a  redac^ao ,  os  quaes  mal  po- 
dem  sali-fazcr  ao  scu  especial  misler  de 
censores;  e  se  os  socios  correspondeiiles  do 
InsliUiIo  se   iir,o  dedignareiu  de  uuxiliar,  de 


Vui.  in. 


Abbil  l."  — 1834, 


vez  em  quando,  esla  ardua  larefa,  enclipnd.) 
algurnas  columnas  com  sabios  produclos  de 
suas  lucubragoes ;  e  se  todos  os  que  amam 
as  sciencias  e  a  litteratura,  socios  ou  nao 
socio?,  quizerem  vir  aqui  depositar  al;Tiimas 
das  (lores  e  fructos  mimosos  de  sens  estudo? , 
neste  cainpo  que  llies  abriraos  de  boa  vonlade  ; 
entfio  siui ,  enliio  poderemos  afian(;ar  que  o 
lerceiro  volume  do  Inslitulo  sera  o  que  deve 
scr,  em  Coiinbra,  ou  em  qual(pier  parte  do 
muiido  civilisado,  urn  jornal  scientifico  e  lil- 
lerai io. 

E  porqiie  nao  lia  desel-o? 

Nao  lia  lioje  ninguem  verdadeiramenle  pen- 
sador  que  nao  sinla  a  neccssidade  de  consi- 
gnar  ao  papel  sens  pensamentos  apenas  con- 
cel)ido3,  e  de  fazel-os  voar  jielo  mundo  com  a 
rapidez  do  relainpago;  porque  a  Immanidade 
caminlia  com  urn  movimento  accelerado,  e  o 
liomem  ,  Icvado  do  impuLo  que  Hie  vem  de 
cima  ,  trabaHia ,  esfor(;a-se  por  tornar  a  car- 
reiia  mais  veloz. 

As  ideas  succedem-se  uinas  as  oulras :  as 
alias  que-toes  sociaes  e  politicas  agitam-se 
por  toda  aparle:  as  sciencias  naluraes,  dondci 
depende  o  progresso  das  artes,  e  o  progresso 
das  artes  que  se  reilecte  immediatamcnle  so- 
bre  a  pro^peridade  material,  occupam  todos 
03  aiiimos.  Ora  neste  mierocosmo,  pequeno 
sim  em  extensfio,  mas  graude  em  inlelligen- 
cia,  onde  vein  u;nas  apos  oulras  novas  gera- 
<;oe3  de  mancebos  estiidiosos  excrcilar  e  de- 
senvolvcr  suas  mais  nobres  faculdados,  far- 
?e-lia  uuia  excepgao   pouco  decorosa  ? 

Os  prolessores  da  universidade ,  muitos  dos 
quaes,  e  verdade ,  teem  publicado  em  maior 
tomo  importantes  e  aprimorados  escriptos, 
coiitiniiarao  a  cntliesourar  os  preciosos  re- 
sullados  de  sens  Cstudos  qiiotidiancs,  que, 
pottos  em  mais  vasla  circulayao,  muito  con- 
tribuiriam  para  o  progresso  do  nosso  tao 
atrazddo  p<;iz ,  fazendo  d'esla  arte  soar,  alem 
do  acanliado  recinto  das  aulas,  seu  bSm  me- 
lecido  renome  \ 

demos  que  a  uns  e  outros  demasiado  tem 
sido  demo^trada  eisa  necessidade  palpavcl  , 
e  que  demasiado  a  sentem  ;  por  isso,  nestas 
diias  paiavras  de  introducgao,  diziamos  e 
coiiliamos  que  o  Instiluto  sera  o  que  deve 
ser,  unica  recompensa  que  arabioionamos 
dos  nosios  trabalLos.  /^tf^.,,^.?;^ 


Ncu.  1," 


CONSELIIO  SUPERIOR  DE  I.XSTRUCCAO 
PL'liJ.iCA. 


Diiposi^oes  regt'lamtnlares  porn  o  e.rntnc  de  geomelriii 
tio  Ijcett  tie  Coimitra  y  cuino  preparaltino  para  a  nni- 
versidiule. 


Art.  1."  Os  cxamiiKMnlos  de  ppomotria  dt^ptn  lirnr 
iim  porito  na  vfjJi'eru  do  exame  ,  com  aiiUcipa^iio  |n'lo 
luiiii.s  (le  \ inte  luriis. 

^.  I."  Au  ado  (le  (Inr  os  ptiiilos  Ji'sislir.i  o  presiilenlp 
(Icst.\»i  exanies  coin  u  lu'del  ,  que  ftira  a  clKiiiiad*  ilus 
cxaiiiinariiiitS  peltis  si-ris  rei|iiff  inienlns ,  c  luui;uri*i  nu 
livro  leypei-livo  us  [loiitus  liradus  u  sorle. 

^.  S."  Em  lofrar  do  presidenie  puderii  assist ir  e  dnr 
OS  piinlos  qiialqiHT  dus  cxamiiiadures  ,  a  que  illu  coin- 
luelliT  este  sr-rvit^o. 

Arl.  S."  Os  punlos  de  que  Irota  o  art.  1.",  doveni 
romprpliendcr  Ires  i)ropnsii;Ot'S  da  ffeonicli  ia  de  Encli- 
des ,  scndo  senijire  iima  dellas  do  Uvro  sc\(o  desla  obra  : 
110)  ponto  dt?  ali,'ebra  ,  e  onlro  de  aritliinelica. 

^S.  un.  ()  nifsmii  poiilo  podera  ser\ir  para  uma  liirma 
de  examinmnios  tiao  superior  a  (res. 

Arl.  3."  O  exaine  de  jr''om»?lria  podera  ser  feilo  rm 
tnnuas  de  dois  on  tres  cxaminandos  de  cada  vez ,  qnamlo 
«o  punlo  tenlia  sidu  dado  oa  conforroidade  du  ^.  ?i/iico 
do  nrl.  2.* 

Art,  4.°  O  examinador  inais  antis:o  conieijara  o  e\a- 
me ,  escuHicndu  para  isso  uma  parte  (jiialqtier  do  fionto  ; 
c  se  nr^junu-nUir  em  {leonielria ,  o  fara  de  sorte  que  a 
cada  um  dos  examinaudos  d'linia  liirma  ari;umente  em 
jiropo?ii<;ao  dilTerenle  ;  e  o  onlro  examinador  dcpois 
argnmeiitara  rm  alijelira,  on  rni  arilhmelica  ,  mas  qnan- 
do  ar^Mimentar  a  nm  examinanilo  da  mpsma  lurma  em 
aljehra  ,   ao  ontro  ur^nnient.tr.'i  em  arilhinelica. 

^.  tin.  A  dnrai;ao  do  ar^umentu  tie  cada  nm  dos 
examinadores  sera  de  quince  niinutos  marcadui  por  ani- 
pnlliela. 

Art.  5."  Os  examinadores  serao  obri^ados  a  interro* 
gar  OS  examinundos  na  parte  vit^a  niarcada  no  r>>speclivo 
jirogramma  ;  na  outra  parte  porcm  devem  reshinsir-se 
ao  pun  to ,  e  apenas  poderao  explorar  os  examinandus 
nos  principins  g'eraes  qne  (lies  sej^im  concernenles  ,  on 
nas  applicai;6ps  geraes,  e  menus  difGceis  ,  a  que  os  pon- 
tos  dercni  lo^rar. 

^,  un.  Q'lando  o  exame  se  fizer  em  Inrraas  ,  o  presi- 
dente  podera  mandar  responder  lambpm  as  pergnntas  , 
feltas  p>ir  qnalpier  dos  examinadores  a  nm  examinaiiiJo  , 
ontro  da  turma ,  eiiibora  tivessc  ja  coiiclnido  u  exame 
oral. 

Art.  6."  Di'pois  do  exame  oral ,  cada  nm  dos  exa- 
minanilos  tirara  asorle  nm  problema  de  aiithmelica  ,  qne 
possa  resolver-se  por  uioio  das  propott^ops  e  da  applica- 
^ao  dos  principios  preraes  de  aritiuni'tica ;  o  qnal  proble- 
ina  resohera  pur  esoriplo  em  arto  snccessivo. 

^.  1.°  O  lf?injio  coML-edido  para  resolver  o  problema 
por  escriptn  si-ra  de  nsna  liura  e  mei.-t, 

^.  2.**  Ftndo  este  prazo ,  o  presidente  adiprlira  o 
examinandii  para  qne  entrei,'ne  o  proldenia  resuhido;  mas 
se  elle  pfdir  Hlj;um  tempo  mais,  podi-ra  proro^rar-se-Ihe 
o  prazo  do  ^.  l.**  por  meia  liora  ;  porem  paxsado  e>le 
flegnndo  prazo  de  tempo ,  apresenlani  uo  estado  em  que 
estiver  o  prot)Iema. 

^.  3."  O  examinnndo  deve  assif;nf>r-9e  por  lialxo  da 
resoliK^ifo  do  problema,  e  depois  da  data  tio  dja  do  exa- 
me ;  e  islu  o  frtra  mesmo  quando  nito  teidia  sat)ido  resol- 
■ver  o  proldema  ,  a  pezar  do  angmcnlo  de  temjio  de  qne 
Irala  o  ^.  2.** 

Art.  7  **  O-  ponlos  para  o  exame  oral,  qne  liverem 
saliido  Ires  vpzfs,  serao  aeparados  da  nrna  ;  e  os  proble- 
mas  de  qne  Irata  u  art.  G.°,  loiro  que  teniiam  saltldo  uma 
vcz ,  devem  ser  alterad'js,  uindando-lhes  us  nnnieroa, 
qne  entrani   rm  sen  ennnriado. 

Art.  8.**  A  rd'-nlidade  do  exaniinando  ,  e  do  ponto 
tirado  para  o  t-xame  ,  deve  ser  veriQcada  com  ludo  o 
escrnpulo  u  circnmspei'(;ao. 

Ksta  cunforoie,  —  O  secrelario  geral  ,  Josi-  Jnlonlo 
Q^  Aihorim, 


UAU'EltSlDADE  DE  COIMBA-PBOCBAMHAS. 

FACULDADE     DE     SI  A  T  a  E  31  A  T  I  C  A. 

l8o3— 185i. 

},^    A^^O. I.''    CADETRA. 

ARITHMHTICA  — <;  ROM F.TK  lA     SVNTHnTICA     DE     LBGBNDRR 

ALfJCBUA     ATE   H«L'ArOES    DO   ShfiL'.VDO    GRAO    IMLL- 

SlVAMliATK^TRIGO.NOMETniA    PLANA. 

Lenle  —  Dr.  Rufmo  Guerra  Ozorio. 

ARITIIMIiTICA. 

Syslcmas  de  nnmera<;rin.  Qnntro  operatjOes  sobre  of 
nnuiertis  iuleiros.  Decomposi^ao  doa  inleiros  em  faclo- 
rrs  primos  ,  e  prupriediulps  dus  di\isures  commnns  a 
ninilos  nnmeros.  Coiuli(,oes,  qne  deiem  verifioar-^e , 
para  que  nni  iinmero  seja  (livisjvel  por  ontro.  Tlienrc- 
nia  de  Fermal.  ProMis  das  q'latro  opera(;r)rs  soltre  intei- 
rt>s.  Definii^rm  ^  n;tlnreza  ,  e  lransfurnm<;oes  dos  quebrn- 
ilos.  Qnalro  iq)erai;ofs  subre  as  qntMirados  oidinarius  . 
decimaes ,  e  coniplexos-  Appro\iniai;oes  ;  e  limites  da 
diziina  |)eriodiea.  Forraaeao  das  poleiicias  e  exlrarijao 
das  raizes  qnadradas  e  cubical.  Pri>por^oes  .'iritlmn'ticas  e 
t^eometricas.  Rei:ra  de  ties,  simples,  u  cttiiipnsta  ;  e  re- 
j,'ras  de  companliia  ,  e  conjmiirta.  Jnros.  Deseontos,  Pro- 
g^ressoes  arillmietieas  e  geomelricas.   LogariltiUios. 

ALGEBRA    ELE1IB^TA^.. 

No^ries  geraes,  lleduc^Jio.  Qnatro  opera(;oPs.  Divisor 
commnm.  Resoin^'-'to  das  eqna^iies  do  primeiro  grao  a 
lima  on  mais  incognitas,  D'-su'iiablades.  Probleinas  inde- 
lerminados  Puteiicias  e  raizes  dos  monomius.  Expoentes 
ne2;ali\'o8  e  fraecionarios.  Uiizes  quadradas  e  cnbicas 
dus  polvnouiios,  Reaobn^au  das  eqnai^oes  du  sejnndo  o;rao. 
Propurcjues  e  pro;;res3oea  arillmietieas  c  geanu'lrieas.  Lo- 
earitlimos,  Jnrus  composlos.  Annnidiides.  DescoiUos,  Fal- 
sa  posi^ao. 

GEOMCTRIA    ELEMENTAR. 

Explicnm-se  os  oilo  primeiros  livros  da  geomelria  ele- 
mentar  de  LcgenJre  pela  i^.^  edi(;ao  de  Paris. 

A(*rLICA(;AO    Di   ALGEBRA    A  GEO.MLTUI.V  ELEMENTAB. 

Problcmaa  subre  as  Itrdias.  runstrnei.oes  geometricRfi. 
Si^riaes  i\i\s  qnaiili'ladHs  na  algebra  applicada  a  geome- 
Iria.  Abscissas  e  ordenadas. 

TltlGONOMGTRlA    RECTILINEA. 

Const rnrijao  e  definiroes  das  linlias  trigononiPtrira-:. 
Expressao  dos  arcos  em  paries  do  raio;  e  reci|)rocamenle. 
Furnuiias  geraes.  Con.*tritccjo ,  e  nso  das  taboas.  Reso- 
UxcJiQ  dos  triany^ulos  rectangnlus  ,  e  obliiiuangnlos.  Pro- 
blemas. 


2.**    AN.NO,  —  2.^    CADEIRA. 

C0STI>L'A(JAO    d'aLGKBRV ALCRBRA  SUPEIiTOR  —  SERTE* 

E     PRINCri'lUS     ELIi.MENTARES     DE    CALCl'LO     DIFTBRKN* 
CIAL    E    J.NTEGRAL. 

Leiile — Dr.  Rnyniundo  J'enaJicio  llodrigttes. 

GEOIIETRIA    A^ALVTICA    A  DL'AS   DniEA'SOES. 

Eqiiarao  da  linha  recta  —  logar  ^eomelricA  da  eqna- 
rao  do  1."  gr/io — equaeao  da  recta,  sttjeita  a  passar 
por  dons  pernios — do  angnio  furmado  por  dnas  reclas  — 
coniii^oes  do  sen  paralbdiwrno  ,  e  da  sua  per]tendicnla/i- 
ilaile  —  considerat;oe9  geraes  sobre  os  [Mublemas  relaiivos 
a  litdia  recta  —  cxercicios  ,  e  exem))Ios 

Eqna<;ao  do  cifcnlo  —  limites ,  symclria ,  c  proprie- 
dddes. 

Problemas  sobre  as  inlersecijoes  e  contacto  da  linha 
reria  com  ocircnlo  —  iulersec<;oe3  e  conlacto  doscirculus 
entre  si. 

Transforma^Ho  de  coordenadai. 


Ellipse  :  hyperbole  :  e  pirabola  :  c  a  respeito  de  cada 
Uma  d'estas  curvas — sua  eqiia^uj  ,  ualureza  ,  limites  ,  e 
proprieUadf'S. 

E(iiia(;oes  pobres  de  cada  tima  das  dilas  cnrvas. 
Eqiiat^ilo  da  curva  prodiizida  pela  inlerseci;'!©  d'um 
plauo  (iiialniitT  rum  mna  pyrami'le  cunica  — casos  fin 
i|ue  esia  equai^rio  se  rcdiiz  a  d'mn  ponio  ;  a  d'lnna 
linlia  reela  ;  a  de  diias  reelas  fLirmaiido  um  anc;iilo  entre 
si  ;  &  do  circulo  ;  li  da  ellipse  ;  a  da  Iiyperbule  ;  e  a  da 
parabola. 

MethoJo  das  tan^enles  ;  snbiarigentes  ;  norraaes;  e  siib- 
norm.if-s  —  sua  applicarHo  iSs  ciirvas  ja  Iratadas, 

Coiisidtrai^ucs  subre  cordas  suppleuieiUares  —  suas  ap- 
plira(;3fs  .'is  luesinas  curvus 

Cenlros,  diainetrus ,  e  diamelros  conjujaJos  —  deler- 
mina^au  irulles  nas  ihUs  ciirvns. 

Discitssrio  da  ef]iia<;rio  ^t-ral  do  sefriindo  gT;io  a  duas 
indelenninadasi-  x  ey  —  lo^ares  d'esla  eqiia(;ao  em  cada 
uma  das  liypollieses  de  ser  zero,  posiliva,  on  nes:aliva 
a  diffcrenra  m,  on  B^  —  4i  AC ^  entre  o  quadrado  du 
coefliciunle  de  xij  e  o  qiifldrii|ilo  do  prodiiclu  dus  coefQ- 
rieiiles  de  x^  e  y',  Recapilula^iu  das  considera^ues 
feitas  sobre  estas  Ires  byputhest-s 

Eivos  pritjt'i])a'S  —  sua  t:raiideza  e  direc^ao  —  appli- 
caQjlo  dVsta  duulrina  as  curvas  dc  que  se  lem  Iratadu. 

Outro  processo  da  discussiio  da  eqna^au  gtral  do  se- 
gundo  grao  ,  evilando  o  inconvenienie  de  mtroiluzir  irra- 
cionaes  nos  sens  coefflcienles.  Cutupara^ao  d'este  melho* 
do  cum  0  oidro. 

Gera^ao  das  curvas  pelo  inovimento  e  jnlersec^ao  de 
linlias  dadHs  —  ap|dicai;ao  ao  circulo ;  ellipse;  hyper- 
bole ;  0  par;i!iola. 

Problemas  que  passam  do  sefrmido  jrao  ;  e  especial- 
njf'titti  da  dnplicfii^i'fi  do  cubo  ,  e  da  trisec^ao  do  anyvlo. 

Etpia^ao  jjiuaholica  —  determina^iio  dos  valores  dus 
leiis  coefficifiitcs  —  tnlf rpola^rto. 

Curvas  (III. IS — cunthuiile  —  cissoide  de  Diodes  —  lo* 
^arilhoiica  —  ilus  seiios  — quadralriz  —  cycloide  j  e  suas 
diversas  es[ifL'ies. 

EpicycluiJt's  — spiral  de  Archimedes  — spiral  byper- 
bolica  —  sjdral  logarilhmica  —  spiral  paraboUca. 

ALGEBltA.  SUPERIOR. 

Theoria  das  permula^ues  ,  e  combjna^oes  —  sua  appli- 
Cfl^ao  ao  d^s^Mi^oh  imeiito  da  pulencia  d'liiii  binomio  ,  e 
d'um  polyaumio  ,  laiilo  no  casu  de  st-r  o  e.xpueule  jnleiro 
e  po5itivo  :  cumo  fracciuuariu  ;  oegalivo;  irracional  j  e 
imagiiiario. 

Nnineros  fignrados. 

Pernitita(;o'-3  e  coaibina^oes  no  caso  de  niio  screm  as 
lelras  lodas  iljir.'renti-s. 

Breves  rnscu' s  subre  probabilidades. 

Conipasi(;ao  das  tquai;5es  —  rela^ao  das  raizes  da 
eqiia(;ao  cjm  os  sens  coefficii.-ntes. 

Transfdrin.iQri.)    das    ''qiia(;(5eji  —  l!iei>rla    das  drrivndas. 

Limitcs  lias  (  lizi'S  pclo  nielhuiio  de  Brt-l  ,  e  de  Ne^vton. 

Raizes  cumm^-nsiiraveis  —  raizes  eguaes, 

Theoria  da  eliuiina^ao. 

Kxistenciu  das  raizps. 

Raizes  iiicunnuensuraveis  pelo  inclhodo  de  Newton  ,  e 
de   Lagran;:p. 

Re^ra  ile  Df^carlcs  —  melhodo  de  Fourier  —  applica- 
<;6es  d'esle  oie'hDilo ,  e  sua  compara<;ao  cum  us  de 
Newton  ,  e  ile  La^riin^e. 

Raizes  inia::iiiarias  —  sua  forma  e  modulo. 

Abai\auienlo   do  ffrao  das  equa^oes. 

Equacufs  a  dous  (ermus  —  ruizes  da  nnidade — Iheo* 
rcmas  de  iMdire  ,  e  de  Cute;'. 

Euua^ucs  a  Iri  s  lermos. 

Raizes  das  expres^oes  cumplicadag  com  radicaes. 

ResoIii(;."io  das  HquacjOes  do  3."  e  4.°  grao.  Inulilidade 
Jas  lenliitjias  ptrji  a  ri'SidiK^Ho  das  equa^'Scs  do  grao 
superior  ao  4."  pur  nu-io  de  formulas  aiialytiL-as. 

Funci^oes  sym'  tricas.  Sua  applica^ilo  a  resoln^rto  das 
equaqoes — a  eliuwna(;ao  ,  e  ao  grao  da  equa^ao  final 
que  resnlla  da  rlimin.iijao. 

Geranrto  ,  e  pr.prii'dade?  das  frac^oes  conlinnas. 

Eqiiai^oes  delcruiinadas ,  e  indeltrminadas  do  1."  e  do 
S.*  grao. 

Equaf^oes  indetcrniinadas  de  grao  superior. 


Resnlui^ao  das  eqna(;3es  numericag, 

Cueflii-ieiiles  indelerminadus  —  deconiposi^ao  das  frae- 
^oes  racionaes. 

Series  —  cundi^oes  para  a  sua  convergencia. 

Series  recurrentes  — exponenciaes  —  logafilhmicas  — 
cij  (-III, ires. 

Melhodo  inverso  das  series. 

Efpiacues  de  conJicao  —  methodo  dos  menorcs  qua- 
dradu^. 

r.EOMKTRTV    A.NALYTICA    A   TRES    DIMKSSUES. 

Tii^'ononietria  psferica. 
Suptrfii'ies  e  curvas  de  ilnpla  curvalur.n. 
Eqiia(;oes   dn   phmo  ,   ^u   cylindro,    do   cone,   clc. — > 
prohlenuis  stiLre  u  ptaiio,  e  a  liidia  recla. 
Transfonnafjrio  de  coorJenadas. 
lulerseci;ues  planas  —  supeificies    de  segunda  ordem. 

PRI.NCIPIOS    ELEMENTARES    DB  CALCILO  DIFFERENCIAL. 

DeBnit^oes  — Iheorema  de  Taylor — re^rras  para  as  dif- 
ferencia^ops,  ou  deriva<;oes  das  func^oes  aljjehricas; 
e\ponenciaes  ;  logarilhmicas  ;  e  circulares.  —  Derivadas 
das  eqrihcuos, 

IMiidanea  da  variavel  imlependente. 

Cdsos  em  que  o  Iheorema  de  Taylor  e  insufficienle. 
Metliodo  para  leme'li.ir  esla  icsufficicncia. 

Limites  da  serie  de  Tayl-T. 

Uesenvolvimento  em  series  das  func^oes  d' uma  so  va- 
riavel. Theorema  de  Maclauriu, 

Expressoes  05-,oX°=,  —  ,    "  —  *=  etc. 

Diis  vwxinia  ,  c  m/«/mn  —  exemplos  e  applica^ues. 

M'-lhu-io  das  tanuenles  — recliGcai.oes  —  e  q'ladialnras, 

Principios  c  re^Tas  do  calriilo  diflerencial  Iraludo  pelo 
melhodo  infinilesinial.  Comparacao  deste  nu-Uiudo  com 
OS  de  exhanslau  ;  dos  limiles  ;  das  fluxoes  ;  e  das  deri- 
\ad>.s. 

Sua  vaulagem  pratica  sobre  csoulros. 

PRINCIPIOS    ELEMENTARES  DE   CALCULO  INTEGRAL. 

Regras  fiindamenlaes  da  intesrac^ao  das  fnnrcoes  d'u- 
ina  S(5  variavel  — iiilegra<;au  pur  partes  —  cun3idera(;oe3 
sobre  as  conslantes  que  se  jmilani  aus  inlegraes. 

Inl('L'ra(;iio  das  frae^o-'s  r.iciunaes. 
InIi'L'ra(;rio  ile  al^iunas  fuiici;ri-s  irmcionaes. 

Oifferenciaes  binomias  ;  e  regras  fundamenlaes  para  a 
sua  inlegrji<;ao. 

Inlegra^ao  das  func^oes  exponenciaes  ,  logarilhmicas  e 
cireiilares. 

Con.tantes  arbitrarias — Conslanles  entre  Jimiles  j  ou 
inte^raes  defiuidos. 

Jnlregratjao  por  series. 

Quailraturas  e  reclifica^oes  —  areas  e  volumes  do3 
corpus. 


A-STROXOMIA.^ 

Nos  dias  3,  4-  e  5  d'abill  de  1854  loma- 
rani-se  com  o  circular  rcpelidor  no  observa- 
torio  de  Coimbru  azimullis  e  distancias  zpni- 
ihaes  d'um  Coinela,  que  se  coinc^ara  alii  a 
ver  nos  dois  dias  precedcnU'S. 

O  astro  ia  perdendo  successivamenle  o  bri- 
llio;  o  que,  junlo  a  circumslancia  de  crescer 
a  phase  him'inosa  da  lua,  foi_  causa  de  se 
lazerem    as    observagoes  com  difficuldade ,   e 


1  O  primeiro  desles  arU^os.  foi  reci^bido  na  redar(;ao 
em  14  d'abril  ,  e  pela  sua  unporlancia  vai  no  presenle 
n.*  do  jornal  ,  coja  publicat;ao  tinha-se  alrazado  por  em- 
bara^os  ioevitaveis. 


sein  inteira  confian^a  ,  em  niinieio  do  8  no 
piiiiieiro  dia ,  de  6  no  segundo  ,  e  de  4  no 
lerreiro. 

A  pczar  d'csia  desvantag;eni ,  e  da  prove- 
nioiite  da  nalureza  do  iiiitruinento,  do  pe- 
ijiieno  raio  do  sou  circiilo  azirniitlial,  c  da 
dilTiculdade  que  ofTorecia  a  leiliira  do  nonius 
cl'esle  circulo,  a  disciisjfio  das  oLservajoes 
foz  adoplar  as  sci;iiintes  cooideiiadai,  jd  cor- 
rt'clas  da  refrac<;rio: 

3'enipomcd.oslr.       Dili.  Zenithal  Azimuth 

Z.^lSb.'bb"      77.°45.'-10''      78.°  0.'  0" 
4   7.  33.  18         77.  57.30        78.59.30 
5.  7.  3d.   2        77.  18.    0        CO.  40.  15 

E  determinando  com  eslas  coordenadas  os 
cinco  elejiioMtos  qtieassignatn  a  posi^fio  e  figu- 
ra  da  parabola,  corn  a  qua]  a  orbila  se  con- 
funde  perlo  do  perilielio,  e  a  posiCj-fio  do 
astro  eiu  lun  tempo  dado,   acliarani-se  os  se- 


guintes,  que  sao  os  medics  enlre  os  oblidnj 
por  dois  calculadorci  dilfercnlei,  c  nos  quaes 
Mipprimiinos  os  segundos  d'angiilo  e  a  qiiarta 
letra  decimal. 

Tvonp;.  lu;l.  do  node  asc.    (q)  317*    0' 

Incliiiac.'io  da  oiljita 78.°  f)2' 

l.oll{,^  licl.  doperiliclio J7!).°30' 

Disl.  |K!rili.,  sciido  1  a  media 

da  terra  ao  sol 0,  277 

'J'onipo     da     passagcni     pelo  ^ 

pcriliolio inar^o  23,   932. 

A  di-laticia  do  Comela  a  terra  no  le!npi> 
da  obsiMvay'io  do  dia  '1  era  0;05  ,  e  a  minima 
fui  0,83  no  dia  1. 

A  Inn  de  I'.icililar  a  vciifica^fio  d'e-les  ole- 
menlos,  dainos  para  os  tcinpo-s  <la:.  oUserva- 
50C3  OS  se^'iiinlPs  resnltados  ,  lambi-rn  medio* 
entre  os  dos  <lois  calculadores ,  f.izondo  a 
niesma  suppressuo  das  docimas  miUesimas  • 
dos  seL'iindos  : 


-■^S.                        Dccl.  J.oiifj.  geoc.  Liit.geoc.  J^O'ig.licl. 

35.°  8'  +1G.°59'  38.''27'  +2." 43'  138.°    8' 

38.27              16.     G  41,11  +0.57  137.18 

41.  34              15.     7  43.  45  —0.  54  130.  40 


Lttt.  hcl.  Dist.  antol. 

+  5.°  3 1'         0,42fi 
-f  1 .  43  0,  4  19 

—  1.  39  0,471 


r'ora  mais  cxacto  repelir  o  calciilo  desde 
as  longitudes  c  latitudes  geocenlricas ,  corri- 
gindo  estas  coordenadas  do  cli'oilo  da  aberra- 
^•.'lo,  qi\e  para  as  longitudes  anda  por  1'; 
mas  nfio  juigarnos  necessario  fazer  esta  cor- 
recjao,  e  menos  ainda  a  da  parallaxe,  que 
])ouco  cxcede  a  parallaxe  do  sol. 

Ve-se  pois  ()ue  o  astro  atravesson  a  ecli- 
plica,  de  norte  para  siil,  no  dia  5  quasi  as 
spte  lioras  da  manli.'i,  e  que  oseu  movimcnto 
e  retrograde. 

Pode  Lalvez  suspeilar-se  que  cste  Comela 
feja  o  de  1677,  alteiidendo  a  concordancia 
das  snas  distaneias  perilielias  e  das  inrlina- 
joes  das  suas  orbitas  ;  no  enlretaulo  n.'io  ar- 
riscareinos  conjoctura  a  esse  re-pcito. 

Eui|)regon-se  o  circulo  repeliJor,  porque 
nao  appareceram  no  campo  do  equatorial 
cslrcllas  de  couipara^'fio.  Apenas  se  pode 
obscrvar  com  elle  no  dia  3  uma  pequena 
eslrella,  que  a  ser  a  771  do  cataiogo  de 
Jiril/is  associiilion ,  dnria  pura  eoordonadas 
do  Cometa  as  se"uintes : 


Tempo 


5.'7.''33.'38" 


AR. 

35°  7' 


Oecl. 

+  16.°  54.' 

Cumpre  porem  advertir  que  a  construcyHo 
c  dimcnsoes  d'este  instruuiento  nfio  perrnit- 
lem  mnior  confian^a  que  5',  segundo  obscr- 
vafoes  que  em  outro  Icmpo  se  I'lzcram  com 
o  fnn  de  experimeiital-o ,  quando  se  mudou 
jiaia  40.°  12', 5  a  primitiva  iiiclma^fto  de  42° 
do  sen  cixo. 

Mais  mn  exemplo  ahi  tcmos  da  falla  que 
fazem  no  observatorio  do  Coimbra  inslru- 
luenlos  bons,  e  aprojiriados  as  observajoes 
que   n'elle  se   devcm    iii:taurar.    T'elizmenlc 


conlamos  que  em  breve  terminnra  urn  lal 
estado  de  cousas  ,  pori|UC  nos  consia  que, 
em  virlude  das  ordens  dogoverno  porluguez  , 
estao  comprados  cm  Inglaterra  e  encaixota- 
dos ,  ha  algum  tempo,  o  circular  meridiaao 
e  o  equatorial  para  este  observalorio. 

S.  P. 


Depois  de  termos  escriplo  o  arligo  rol.itivn 
ao  Cometa  ,  lemos  na  I'resse  de  12  d'abrit 
quo  elle  fura  vislo  em  Franca  no  dia  23 
de  mar^o  pelas  4  lioras  da  miiiih.'i  ;  rpie  era 
muito  brilliante;  e  que  os  a>tr<uiomos  dc 
I'aris  o  n.'io  poderam  depois  ver  senfio  ni> 
dia  29. 

Gomo  o  desnpparecimenlo  podia  resullar 
da  pequencz  da  clonga^'io,  on  de  .ser  o 
nnseimeiito  ou  occa^o  do  astro  muito  proxi- 
mo do  do  sol,  apressiimos-nos  n  fazer  os  cal- 
ciilos  necos.-arios  para  cxaminar  te  os  nossos 
el  ■menlos  cram  conl'ormes  com  os  faclos  re- 
feridos. 

Acliamos  : 

Tempo  I.o„g.geoc.     L''l-!J"',i,com.ao,cl 

Mar5o3],"'928  357.°52' +15.°43'  IG.°  8'occ. 

23,  9.'8       3   50  16.    3  16     8  or. 

2i,  928     10.  36  15    31  16.  23 

27,  928     17.  40  13.  36  16    57 

29,  928     24.53  10.  53  13    60 

31,  '.Ua     31.  20  7.  17  21.  10 

Abril      2,  928     37.  22  3.  32  24.  15 

E  para  differeiicas  d'a?cenf,'io  rccla  era 
lcm])o,  poui'o  niaii  oa  incnos  : 


23*  lis  10  tlamonli/i  ."53'.  Cornota  occM. 

21.  '•             G'i  ' 

26  )•               7 

28  II               I-")  5  CoiiR'Ui  orient. 

30  .)             39 

Assim  no  dia  23  devia  o  Conieta  appare- 
cer  dp  maiilia  precedendo  em  asceiisfio  recla 
o  sol  35',  e  no  dia  29  de  tarde  seguindo-o 
32';  donde  resulla,  que  seria  o  son  nasci- 
menlo  anterior  liora  e  meia  ao  do  sol  no  dia 
23,  e  o  sen  occaso  posterior  no  dia  29. 

Estes  resultados,  e  a  passagem  pelo  peri- 
helio  na  manlia  do  dia  24,  explicam  o  appa- 
recimento  no  dia  23  de  manlia,  o  desappare- 
cimento  seguinte,  o  reapparecimento  na  tarde 
do  dia  29,  e  o  brillio  do  astro  na  primeira 
observajao.  S.   P. 


BREVBS  IIEFI.BXOKS  IIISTORICAS  SOIIRB  A 
WAVIiGA(;\0  DOJiO.NDliGO  ,  faCLLlUllA  DOS 
CAaH>OS    DE   COIMBUA. 

CoulinuaJo  de  pag.  291, 

Reforma  do  encanamento  exislente. 

O  piano  de  reforma  que  propomos  para  o 
actual  encanamento,  a  fim  de  beneficiar  a 
cultiira  dos  campos  de  Coimbra  ,  consisle  em 
construcjoes  simplI^;i^simas ,  que  sendoconve- 
nientemente  execuladas  devem  indispensavel- 
mente  produzir  cousideraveis  mdhoramentos. 
Nfio  e  preciso  grande  esfor(;o  de  razao  para 
compreliender  o  systema  das  obras  que  vamos 
indicar;  reconliecemos  que  este  systema  posto 
que  nfioseja  niuiloscientifico,  naocarece  toda- 
via  deensaios  para  confirmar  os  sous  resulla- 
dos ,  por  serem  de  primeira  intui(;ao;  taes 
meio^s  teem  sido,  e  verdade,  empregados  em 
ponto  [jeqneno,  inas  d'elles  tem-fe  ju  coltiiilo 
optimos  elTeitos ,  e  em  ponto  grande  confia- 
nios  que  tambem  se  obterao  na  devida  pro- 
por^ao.  A  experiencia  e  sem  duvida  a  me- 
llior  mestra,  porem  a  necessidade  fertillssi- 
ma  inventora. 

O  bairro  baixo  de  Coimbra  (que  e'  con- 
stantemente  a  porg'io  mais  povoada  d'esta 
cidade)  eslaria  desde  n)uitos  annos,  ou  se- 
pultado  em  areas  do  Mondego  ,  on  convcrtido 
em  pantanos  insaiubres,  se  a  earnara  muni- 
cipal nfio  tivesse  sabido  obslar  a  semelhante 
calamidade ;  o  remedio  lem  sido  de  faoil 
pxecu^fio;  o  effeito  proficuo  ,  c  sein  grandes 
despesas  feitas  com  enipregados  especiaes. 
Ignoramos  porem  se  o  primeiro  pensamenlo 
da  obra  se  deva  attribuir  a  conliecimentos 
scientificos,  se  antes  a  inslincto  dos  cama- 
ristas  antigos ;  mas  e  certo  que  o  resullado 
lem  sido  feliz,  e  que  as  camaras  niodernas 
nao  tern  feito  mais  do  que  tnlliar  o  caminlio 
encetado  por  sens  antepas.-ados.  Tern  pois  a 
camara  municipal  tido  a  caulela  de  fazer 
elevar  o  piano  da  cidade  baixa  a  proporrao 


que  o  alvon  do  Mon-j.'go  vai  subludi)  ,  a  fim 
de  se  conservar  sempre  alguns  palmos  snpe- 
i  rior  a  eorrenle  do  rio ,  e  evitar  (jiie  as  enclien- 
te>  nrdinarias  al.igueni  o.-,  edilicios.  E  uui 
costume  secular  eui  Coimbra,  de  cuja  pra- 
tica,  e  bons  resultados  seria  ocioso  faliar 
mais  largamente.  Citaremos  todavia  uui 
exempio  recentc. 

A  insua  de  J.  G.  Vianna,  entre  o  Monde- 
go  e  a  estrada  no  sitio  denominado  da  Ale- 
gria ,  sol'fVeu  uUimamente  reforma,  e  foi 
melliorada  pelo  systema  das  camaras  de 
Coimbra.  Ha  poucos  annos  eslava  aquelle 
predio  quasi  tolalmente  esterelizado ,  n'umas 
partes  por  causa  das  areas  que  o  Mondi'go 
para  alii  linha  arrojado  ,  e  n'outras  por  causa 
dosbaixos,  que  lieando ,  mesmo  no  verao, 
nivelados  com  aagua  do  rio,  nao  podiam  ser 
cnllivados.  E  como  reraoveu  o  proprietario 
estes  males?  fez  al)rir  uma  valla,  e  lanrar 
iiella  a  area,  servindo  a  terra  da  valla  para 
enclier  os  sitios  baixos ;  guarneceu  a  margeni 
do  rio  com  uma  bem  serrada  tapagem  de 
salgueiros  vivos  ;  mandoii  construir  um  muro 
ao  fundo  do  predio,  onde  as  aguas  das  eu- 
clientes,  n'uma  repreza  inomentanea ,  dei- 
xam  precipilar  alguin  lodo ,  que,  alem  de 
iertilizar  o  solo,  concorre  em  parte,  para  a 
eleva(,-rio  da  insua  acima  do  alveo  do  Monde- 
go.  Por  estes  meio^  conseguiu  pois  libertar 
o  sen  predio  d'uma  ruina  que  parecia  sem 
remedio,  e  o  converteu  n'um  dos  melliorcs 
das  suas  visiulian(,'as.  Muito  conviria  que  os 
donos  das  insnas  d'uma  e  outra  margem  do 
rio,  acima  da  ponle  de  Coimbra,  seguissem 
o  exeuiplo  d'este  proprietario. 

Nfio  queremos  dizer  que  nos  campos  <]>: 
Coimbra  se  empreguein  todos  os  meios  de 
que  ^e  aproveiton  aquelle  proprietario  para 
mellioramenlo  da  sua  insua  ,  porque  nao  per- 
lendenios  inculcar  impossiveis;  mas  entende- 
mos  que  e  util  e  exequivel  o  pensamento 
principal  =elevar  a  snperficie  do  canqra  coin 
a^  areas  do  Mondego  =.  E  a  nao  ser  o  novo 
encanamento,  cujo  piano  jd  expendemos, 
nao  encontramos  outro  meio  rasoavel  de 
ob-tar  aos  estragos  dos  campos,  e  ate  da 
melliorar  a  sua  condigao,  senao  pelo  fvsle- 
ma  das  camaras  de  Coimbra,  nao  obstante 
ser  um  systema  d'obras  provisorias. 

(.)  ]>lano  proposto  deve  principiar  pela 
abertura  de  vallas  profundas,  nos  sitios  mais 
baixos  do  campo  ,  transporlando-se  depois 
para  ellas  area  dos  logares  do  alveo  ,  em  que 
iiouver  maior  accumula^riodella.  E  mister  que 
a-  vallas  se  deixe  um  vazio  de  palmo  e  meio 
pelo  menos  ,  ou  o  que  mellior  parecer,  que 
depois  sera  clieio  com  parte  da  terra  exlra- 
biija  das  vallas;  e  a  outra  parte  deve  ser 
espalliada  pelos  sitios  baiNos  conligiios  as 
inesmas  vallas,  para  d'e^te  mod.)  ficareni 
mais  subidos  do  que  antes  eslavam.  E  eviden- 
te  que  por  estes  meios  se  consegnem  simul- 
taneamcnle  os  fins  desejados  :  elevar  o  cam- 
po,  e  rebaixar  o  alveo.  A  pezar  de  ser  esla 
* 


a  idea  principal  do  nosso  pl.inn ,  jiilgamoi 
ipie  o  bom  resultado  depende  aiiida  de  algii- 
inas  obras  addlcionaes,  que  seriam  imilei« 
>em  o  desempenbo  do  pensameiilo  principal 
do  piano.  E  necessario  : 

1.*  fazer  restituir  o  alveo  ao  sen  limito 
antigo,  ao  raenos  nas  partes  em  que  elle 
U'lii  adqiiirido  major  aiiiplitiide: 

2.°  defender ,  pelo  mellior  mode  que  a  arte 
indicar,  as  paredes  internas  do  leito  do  rio, 
para  evitar  que  a  corrente  da  agiia  conlinuL- 
a  escavar  o  terrene  marginal.  LL-nihranioi  a 
eravaCjfio  de  eslacas  de  pinlio  ,  e  a  planta(;rio 
de  arbuttos  adequados  ao  local,  e  ao  fun  que 
se  lein  em  vista.  A  folia  d'esta  providencia 
tambem  tern  concorrido  para  arniiiado  cam- 
po  em  algumas  partes  em  que  elle  confina 
com  o  rio,  porque  a  corrente  niina  o  lerreno 
lateral,  faz  com  que  elle  desabe  no  alveo, 
e  por  esle  mode  accrescenta  uin  mal  a  outro 
mal.  £  mister  por  lanto  acudir  com  cste 
remedio  aos  silios  onde  e  reclamado  com 
mais  iirgencia  e  brevidade. 

Nao  foi  nossa  inten^ao,  quando  princi- 
piamos  a  escrever  esta  memoria,  emiltir  opi- 
niao  alguma  sobre  a  obra  d'um  novo  ou  re- 
forma  do  actual  encanamento  do  Monde- 
go;  o  nosso  fim  era  tao  somente  fazer  uma 
synopse  da  legislasao  que  Ihe  diz  respeito, 
desde  os  tempos  mais  reconditos  ale  noisos 
dias,  por  nos  parecer  que  todos  os  auclores 
que  tern  escripto  u  cerca  d'obras  hydraulicas 
do  rio  de  Coimbra,  nao  tiveram  inleiro  co- 
nhecimento  nem  estudo  especial  d'essa  le- 
gislagao,  ou  porque  o  juigasseni  superlluo  , 
ou  porque  nao  livessem  opportunidade  para 
consultar  esses  monumentosescriptos.  Porem  , 
depois  de  havermos  analysado  attentamenle 
todas  as  pegas  legislatlvas,  depois  de  nos 
havermos  convencido  da  inutilidade  das  obras 
que  consla  terem-se  praticado  no  Mondego , 
e  finalmenle  tendo  vislo  os  diversos  pianos 
de  canallsajiio  que  tem  vindo  a  lume,  pare- 
ceu-nos  em  resultado  que  nenbum  pode  satis- 
fazer  os  dous  pontes  capitaes=:  melliorar  a 
cultura  docampo,  efacllitar  a  navega^ao^; 
foi  por  isso  que  aventuran)os  a  nossa  opiiiiao 
em  assumpto  tao  importante  como  diflicil. 

M.   DA   CKLZ    PERKllU    COUTINHO. 


P.  OVIDIO  NAZAO: 

Dos  Tristes — Livro  4.°:  Elegia  10.* 

o 

ARGCMENTO. 

Nesla  elegia  declara  Ovidio,  qual  fora  a 
sua  palria ,  e  quaes  os  consules  romanos  do 
anno  do  sen  nascimento.  Relata  depois  resu- 
niidamenle  toda  a  historia  da  sua  vida,  e 
fimmera   a   final   os  males    do  seu  desterro  ^ 


a  f,'randeza  dos  quaes  o  lr;ioI<)  dits  Muj-ms 
llie  toriiou  niLMioa  iusuppoiiavfl  ,  n'sultando- 
Ilie  dat[ui  iiotavfl  (iuieUn;ao  ao  sen  cspirito. 

Kn  ,  que  fiJra  o  cantor  dof  amorosos 
HriiaUus   vt-rsui ,  d  imslerui  ,  (jue  os  lerilpB  , 
UiieiD  fiii  ,  jaln-nilo  fic;irri.s  jii;nr;i. 

—  Si»lmon;t  ,  palrid  miiitci  fui  ,  ili;  fi>nlei 
Frias  ttliuiiij;iiili?9iinn  ,  c  drz  Mjtr-s 
Milliiia  iii.ie  de  Uunia  seiKir;nlH. 

—  Do  niiM'inifiito  men  luUcz  u  Iimii|>o 
SrtUer  lamliem  queJraes.   l'\»i  (pMiido  ^oljie 
Sinnillaiieu  a  iluiis  coiisulcs  futtara 

Cum  snrte    i-iial  ila  vitlu    o  iVAnX    fio. 

—  So  qiial  a  |)osi(;*ii)  minim,  dus  v<lluis 
Mtiis  a\oencus    Iierdada  ?    Fui    ii    et|ii«'stre 
Ordcm  a  que  occupei  ,  nau  da  forluna 
Peliis  dadnas  ft-ilu  ca\alleiru: 

NVm  o  primeiru  fui  ii<i  eslirpe  minlia  , 
N'ella  nijjs  \eihu  um  irmao  me  prfccdcVa 
iMt-ZL's  duzi- ;  mas  d'amljos  iijual  dia 
I'ui  u  natal  J  e  aimultanea  olTerla 
Ous  doiig  o  nascJiuento  celebrava  : 
Nus  de  Minerva  armi;;era  festrjos 
Era  o  primeiro  dos  que  ansipnalados 
Cum  pelfjas  soiam  ser  cruentas. 

—  Nas  arU's  da  puerJcia  eis  nos  adeitram , 
E  o  paternal  desvelu  a  ambos  envia 
Logo  depuis  a  Ruoia  ,  ondo  de  msiirna 
Mestrei  colbcmos  as  lic^Oes  pre&tantes. 

—  Desde  annos  rerdes  ineu  irmuo  tcndja 
Para  a  arte  de  fallar  ,  como  nascido 
Para  o8  combates  do  verboso  foro. 
Desde  menino  a  mini  sonieiite  ui  sacros 
Da  popsia  luyiterius  me  a?radaTam  , 

E  a  furto  a  si  as  musas  me  altrahiam  : 
<t   Esse  inuLiI  eatudo  (vezes  muitas 
"  Me  dizia  meu  pae)  para  que  o  tentas  ? 
u  Pobre  seinpre  viveu  ,  murreii  Horaero  »j  : 

Im|)res6as  laes  palavras  dentro  d'alma 

De  cerlu  me  ficaram ,  e  baixando 

Lo;:o  do  Helicon,  em  simples  prosa 

lnteijta\a  escrever  ;  mas  espuntnneos 

Versos  a  penna  so  hia  escrevcndo, 

Eram  so  \ersos  as  palavrns  minima. 

—  Surrrtleiros  correndo  em  lantu  os  nDDOS  , 
A  niim  e  a  meu  irmao  \iiil  a  loj,'a 

De  Inrga  banda   de  purpureo  c-lufo  , 

Ja  dos  liumbros  peodenles  nos  uniava  ; 

Mas  d'ell'*  o  esludo  e  o  men  sao  senipre  os  mosmos. 

—  Annos  ju  meu  irmao  vinte  conlava  , 
Qnando,  a  morle  roubamlo-m'o  ,  perdida 
Uma   parte   senli    da   csacnria   miuha : 
As  houras  umbos  juntos  recebenius 
Projinas   da  juventirde  ,   elle  Cuniigo 
Exerceu  dos  triiim\iros  o  empre::o  : 
Apenas  o  meu  pusto  no  senado 

Me  restava  occiipar  ;  foi-me  esta  lionra 
Cuarclada  someiile  ,  as  for(;as  minlias 
Onus  superior  ;   que  a  um  tal  trabalho 
Era  o  meu   corpo  e  esfiirito   inipdlenles, 
Nem  da  ambirao  solicdo  eu  cura\a, 
Acenando-me  as  musas  que  os  dui^can^os 
Seus  paciUcos  aides  procurasse  , 
Ao  meu  senltr  tmpregu  o  mais  mimoso. 

—  D'aquelle  tempo  os  inclitos  poetns 
Frequentci  ,  acolhi  ;  onde  encuntrava 
Vates  ,   morar   alii  deoses  julgara. 

Macer  muito  mais  velho  que  eu  ,  das  aves  , 
Das  nocivas  serpentea  c  das  planlas 
Vczes    muitas    me   lia  o   seu   poenm : 
Muitas   vfzes  tamliem    Propercio  vinha 
Seus  \er8os  amorosus  recitar-me  : 
Puntico  nos   hexanietros ,    e   Basso 
Taoibem  pelos  seus  jambicos  ,  illustres  , 
Da  minha  foram  convivcncia  membros 
Na  mais  doce  uniao  :   oi  meus  ouvidos 
O  numeroso  Horacio  deleitava 
C*os  versos  cultos  do  alaijde  ausonio : 
Vi  apenas  Virgilio :  o  fado  eicuro 


\ao  a  Tibiillo    ileii  trnipu  Laslaiil** 
l*ara  a  iniiiliii  ^'uxar  tenia  amiaaWe: 
<ialIo   sell   successor    fui ,    e   Prupercio 
Veio  logo  (iepois  :  em  siiccffler-lhcB 
Na  onlem  dus  Ieni|nja  fur  dVIIt-s  u  qiiurto. 

—  Bern  como  aos  jii  pus^ftdus  »Iava   ciiiluS  , 
Dus  pufiierus  cu  ciilloa  reccl'iu  : 

Minba  Timlia  em  Kuinn  conlit-iida 
Se  fei  em  bre\e  ;  (iiiaiulo  us  ineiiii  prirueiros 
.\o  povo  t!f;j  a  I<*r  jinfDJg  lers"?, 
Apeiias    lima   vcz,    diias    au    tuiiito, 
Cortudo  tinlia   u  biiru    barhiloiro. 

—  Por  mini,  cntilada  com  snpposto  nome 
Por  lodd  Ruiiia  ,  a  relebre  Carina 

Foi  quem  me  despertuii  en;:eiiliu  e  eslro. 
Miiilo  eeerevi  ;   mas  ^endu-Ihe  us  defrilos  , 
A's  chanimas   o  entregiiei    que  o  cotriiiiiscm. 
CuatleoiDado  ao  ileslerru  ,  cunra  o  eAliidu 
Men  valido ,  e  mens  versos  iiub^nado  , 
Algnns  queimei  ,  beni  que  uiiida  me  iiL'radassein. 

—  Poslo  que  iiin  cor.i(;au  si-iisivel  tenha 
£  de  Cupido  :'t«  sfttas  accessiiel  , 

A  quern  piitiba  em  arrHo  causa  a  mais  Ifve  , 

Com  minimo  valor  pnimpto  a  ncceuder-se  ; 

Vefsos  nunca  saliricus  da  pt-nua 

Miuha  contra  nrngtit;in  ji'iaiais  sairam. 

^  Pur   niinha   esposa   quasi    iia  puericia 

Mnlher   ijcm  di^na   on    nlil  nie    fui   dada  ; 

Mas   d'nin  con8orcio  tal    foi  curio   o  praso : 

Oulro  the  succedeu  ,  bem  que  sem  crimes , 

Que  no  meu  thoro  uupcial  mui  pouco 

Tempo  durou  tambeui  :   tcrceira  esposa, 

£  ullimn  a  mim  se  tiiiiu  tambem   jior  annos  longos, 

E  d'um  quiz  desterrado  ser  con^iorte. 

Uma  fillia  so  live,  mui  juveri 

Tezes  duas  ,  mas  niio  d'um  so  marido  , 

Concebendo ,    d'avo   me  impoz  o   nomp. 

—  E  08  aeus  destinon  ja  meu    pai  encltcra  , 
Nove  lu«tro8  juntando  a  luslros  aove  , 
Cijja  morte  chorei  ,  qual  elle  a  miulia 
Cboraria  lalvez.  Em  curto  praso 

De  mioha  mai  solTri  tambem  a  perda 

Ditusos  ambos,  ambus  sepultadoi 

Com  opportuna  morte  ,   autes  que  a  pena 

Do  exlerminio  do  lillio  o»  maguasse ; 

K  eu  ditoso  tambem  ,  puis  ja  nao  vivos, 

Sou  da  desgra^a  victima  ,  e  ainar^'usa 

Do  fiJho  tiles  nao  e  a  sorte  dura! 

Mas  all !  se  de  quem  murre  ,  aleoi  da  moile 

Alguma  couea  mais  Uie  res-ta  ainda . 

Se  a  tenue  sombra  da  fugueira  escapa  ; 

O  ainias  de  meus  paes  ,  ie  a  voz  da  fama 

Os  mens  crimes  fizer  soar  na  Styge, 

Sabei ,  acrt-dilai  (pura  verdade) 

Que  nialdade  nao  fui  ,  fui  erro  apenas 

Do  meu  deslerro  a  causa  verdadeira : 

Basle-Ihe   islo  saber,    quem  ja  nao  vive  ; 

E  a  vus  nje  torno  i)oi8  que  desejosos 

E«tae6  de  ouvjr  da  miuha  vida  os  cusof. 

—  Da  edade  os  annos  juvenis   vulvidos, 
Ja  na  fronle  a  nssomar  me  come^avaiu 
D'aUo  negro  uiei^rlados  us  cabellus  ; 
Depuis  do  nascimenio  meu  ,  a  lesl.i 

Da  |)alla'lia  oliveira  coruada, 

O  cavHileiro  veneedor  em  Piaa 

Por  \tzet  dez  (jaubara  o  premio  honroso, 

Quando  do  priucipe  ofTcndido  a  ira 

A  ir  niorar  me  ordrnuu  eulre  os  Tomitas , 

Do  Ponlo  eiixino  a  esquerda  cullucados: 

Do  meu  exilio  a  causa  e  bcm  saliida  , 

Nem   a  mim   me  compete  o  declaral-a, 

—  Dos  mens  guardus  e  famulus  perversos 
Para  que  hei  de  cuntar  nefandui  (ractos?.... 
yiieram-me  soffrer  nSo  menus  diiros 

Dos  que  us  do  proprio  exilio  acerlws    males; 

Mas  a  elles  succumbir  nao  quiz  niinba  alma, 

Com  as  for^as  suas  resistiii-lhe  invicla  ; 

E ,  dos  ucios  anticfos  esquecido 

D'armaa  fiz  uso  ,  per  mim  nunca  usadas; 

Ko  mor^  na  terra  desvenluras  lantas 

Cahiram  lobre  mim  ,  qnaei  ouuca  virum 


Os  que  o  vjiiiel  Pulo  e  o  occullo  habilam ; 

Te  que  a  final ,  depois  de  errores  loiigos 

Do  Jela  sai^iltifero  ii«  moradas 

Na  Sarmacia  arribei  ,  e  bem  que  em  rolla 

De  mim  uii^a  soar  da  cuerra  os  lirados  , 

Como  posso  ,  a  tristt-za  alliviando 

Vou  com  meus  versus,  nmilu  embura  surdos 

Aqui  da  l^ra  dos  6uU)(  su  ache  ouwdus  ; 

O  tempo  a.^sim  coiisuuimo^  assim  o  eii^ano. 

—  Se  puis  vivo»  e  aus  Irabalhus  meus  resisto  , 
Scm  que  udiui-a  nie  sij.i  a  \iila  inqtiieta  ^ 

A  li   o  devu  ,    u  musa  ;   puis   nie   unlori^'ag 

Duces  cousula<^o'-s  ,  e  a  nieiis  ciiiitarlos 

Dfscanco ,  e  a  mens  desnptres  medicina  : 

Minlia  ;;uia  tu  es ,  lu  mu  acompanhas  , 

Do  Islru  me  shKus,  e  no  sacru  Piudo 

Kntrc  as  tuns  irmas  \a»  ilar-me  assento: 

Tu  (o  q'le  e  raro),   a  mim  vivo  ainda,  d^*le 

Sublime  um  nome ,  que  depois  da  campa 

So  ;:oznr  aus  murines  e  concedido: 

Nem  dos  prcsenles  a  iniqua  invtja 

Sens  deutes  impriiuiu  nas  obras  minhas. 

D'esic  hcculo  ,   em    vales  ^ramies    ferlil  , 

Jamais  a  fama  esciircceti  meu  nome  ; 

E,  bem  que  a  mim  eu  muilos  anteponha  , 

Nilo   inferior  a  elles  me  aprecoa 

A    vuz  universal,   e  cm  vabto  espa<;o 

Sei  ja  que  lido  sou  do  orl)e  inteiro. 

—  Se  e  dado  pois  aos  vales  do  futuro 
Versos  arcanos  presagiar ,  6  terra  , 
Todo  leu  nao   serei ,    e  apus  a  morte 
Esta  poetica  fama ,  on  m'a  conceda 
O  publico  favor  ,  cu  de  justiqa 

Ao  esiro  e  entrenho  meu  devida  seja  , 
O  candido  leilor  eu  t'o  agradei^o. 

Continua  p.  de  CARVALHO. 


IMPRENSA  DA  UMVERSIDADE. 

Uma  complela  reforma  eia  de  lia  mnito 
reclamada  n'este  estal>eiecimento ,  que,  po- 
dendo  ser  utn  dos  mclliores  do  reiiio  rresle 
geiiero,  tlietj-aia  com  tiido  ao  mais  deplo ra- 
vel esl£jdo. 

O  (ilvyru  de  9  de  Janeiro  de  1700,  que 
ordenara  o  rej^ulamcnlo  por  onde  se  devia  n;ger 
a  impren^a  da  uiiiversidade  ,  e  que  continli;i 
uleis  e  salulares  providencias  para  o  adiaiita- 
meiito  d'esle  eslabeiecimedio  J  que  d*^via  ser 
uma  verdadcira  escliola  d'arte  lypographica , 
nuiica  teve  plena  execu^ao,  e  d'aquella  nies- 
ma  parl(* ,  tpiu  aprincipio  eslivera  em  vigor, 
muilas  dibposi^oes  jam  ficandoem  esquecimen- 
lo  ,  ou  cram  de  todo  contrariadas  por  viciosas  e 
abusivas  pialicas,  conv^Mlidas  a  final  ent  re- 
solu^oes  da  confcrencia ,  que  prebidia  ao  go- 
vtrno  d'esta  impiensa, 

Em  1834  uma  reduc^ao  nos  ordenados  dos 
empregados  foi  a  unica  providencia ,  que  ao 
tomou  n'esta  reparli(^ao,  que  continuou  no 
mesrno  senao  cm  peor  estado,  porque  cessando 
a  fiicalisa^ao  das  suas  contas,  pela  extinc^ao 
da  junta  da  fazenda  da  universidade,  naO  se 
cuidou  mais  nem  dos  inventarios  das  obra» 
impressas  ,  e  dos  typos,  moveis  e  ulensilios 
da  officina,  nem  de  eslabelecer  uma  conta- 
bilidade  regular,  e  legallsada  com  os  precisos 
doctimentos. 

Por  mais  de  dezoilo  annos  a  adminislra^ao 
da  imprensa  da  universidade  vendeu  as  obras 


8 


que  quiz ,  tirando-as  dos  depositos ,  onde 
existiani  sem  invenlario,  e  nao  apreseutando 
outru  documento  para  coinprovar  as  vendas 
feitas,  senfio  a  declaraffio  do  proprio  admi- 
nibtrador,  que  as  Tendia  ! 

Muitas  edigoes  do  classicos  portuguezcs  e 
latinos  forao  vendidas  a  pezo  ,  e  outras  dei- 
xararu-n'as  apodrecer  no  liindo  de  armazens 
quasi  subterraneos. 

A  falla  detypo,  a  pezar  de  se  ter  compra- 
do  para  ciina  de  dczasete  mil  cruzados  de 
letra  desde  1834.,  e  de  bons  prclos,  difficui- 
lava  as  irapressoes,  e  toriiava-as  lao  imper- 
feitas  e  demoradas,  que  muitos  auctores 
liuscavam  por  isso  oulras  typograpliias  com 
piejuizo  consideravel  d'esla. 

A  litulo  de  aposentadoria  dos  empregados 
da  imprcnsa,  as  melliores  casas,  e  as  inais 
proprias  para  os  traballios  typographicos, 
estavam  por  elles  occupudas;  e  as  caixus 
de  coiiiposij'io ,  e  os  prelos  achavain-se 
ainontoados  n'uin  corredor,  queapeiias  recehe 
porum  lado  a  luz  de  janellas  que  ficani  deu- 
tro  do  ciaustro  da  antiga  cathedral :  com- 
prara-se  uma  macliina  iitliograpliica  que  ha 
mais  de  seis  annos  estava  fechada  por  falta 
deumacasa,  onde  se  monlasse,  em  quanto  os 
empregados  desfrutavain  com  graves  inconve- 
nienles  do  servi5o  e  sem  razao  plausivel  as 
melliores  salas,  mais  alumiadas,  e  liem  areja- 
das,  condigoes  essenciaes  para  estabelecimeatos 
d'este  gonero. 

N'estas  circumstancias  e'  que  o  cxm.°  bispo 
de  Braganga ,  vice.reilor  da  universidade ,  pro- 
poz  ao  governo  de  S.  M.  a  nomeagao  de  uma 
commissaode  cincomembros,  paraproceder  a 
um  inqueritosobreoestadodaimprensa  ,e  pro- 
p6r  as  medidas  conducenles  ao  melhoram  jnto  , 
e  reorganisagaod'aquelleestabelccimento,  tan- 
to  na  parte  admin  istraliva,como  na  mechanica. 
Por  porlaria  do  niinisteriodo  reino  de  7  de  no- 
vembro  do  anno  proximo  passado  foram  no- 
meados  para  compor  esta  commissao  ,  05  snrs 
Josii  Ernesto  deCarvalho  e  Rego  ,  Prancisco 
Jose  Duarte  Nazareth,  Henrique  do  Couto 
de  Almeida  Valle,  Jose  Maria  de  Abreu  , 
e  Florencio  Mago  B  irreto  Feio. 

A  comniisbao  coniegou  desde  logo  os  sens 
trabalhos,  procedendo  aoinventario  gi>ral  de 
todas  as  obras,  que  estavam  nns  anuazens , 
a'sim  como  dos  prelns ,  typos,  e  moveis  das 
ofl'icinas;  e  examiiiando  ao  mesmo  tempo  to- 
dos  OS  regulamentos,  e  estylos  que  se  obser- 
vavam  na  imprensa  ,  e  ponderando  as  mais 
urgentes  reformas,  que  era  mister  adoptar 
desde  logo,  em  quanto  se  nao  ordenava  o 
projecio  do  novo  regimento  para  a  mesma 
imprensa,  no  qual  a  commissao  e^la  traba- 
Ihando,  dirigiu  ao  governo  uma  consnlla  com 
a  data  de  24  de  dezembro,  em  resultado  da 
qual  Sua  Magestade  foi  servido  mandar  expe- 
dir  a  portaria  abaixo  transcripla. 

Esperamos  que  as  providencias,  que  nella 
se  ordenam,  os  definitives  regulamentos  e 
todas  as  mais  reformas ,  ie  que  a  imprensa 


eate'a propria  conferencia  por  venluracarega  , 
e  que  a  commissao  nao  deixara  de  propor 
brevemente  a  rogia  approvagfio ,  terao  os 
mais  profieuos  resullados  para  o  aperleigoa- 
ni'Mito  da  arte  typographica  n'aquelle  esta- 
bek'cimento ,  e  para  a  sua  mais  regular  e 
zelosa  administragao ,  tornando-o  digno  da 
academia  a  que  pertence,  o  que  sera  incon- 
testavelmenle  um  grande  servigo  feito  ao  paiz, 
e  li  universidade. 


Ministerio  do  reino — l.'direccao — l.'rcpar- 
ticao  — L."  ll.°n.°  48  ,  e  12.°  n.°  121.  =  Tenda 
sido  presente  a  Sua  Magestade  El-Uci  ,  Uegento 
em  Dome  do  Rci,  com  a  data  de  2i  de  dizcmbro 
ultimo  ,  o  relatorio  da  commissao  creada  para 
examinar  0  eslado  da  imprensa  da  universidade 
de  Coimbra  ,  c  propor  as  mi'didas  de  rcforma  de 
i|ue  por  Ventura  carcr.i  ;  e  verilicando-se ,  pelo 
contexto  do  dilo  relatorio,  a  neuessidade  de  se 
inlroduzirem  nella  diversos  melhoramcnlus,  assim 
na  parte  relativa  a  su  1  admiiiistracao  ,  como  na 
parte  technica  ,  para  que  scmelhanle  reparticiio 
venha  a  prestar  os  uteis  servioos,  que  pode  cf. 
fectivamenle  prestar  em  beneficio  das  scicncias  e 
das  letras :  Ua  por  bem  0  mesmo  Auguslo  Senhor 
ordcnar  e  declarar  o  seguinle  : 

1.°  Pela  demissao,  que  por  decrcto  de  8  do 
corrente  mcz  de  marco  foi  dada  a  Joao  Fran- 
cisco da  Cruz ,  do  logar  de  administrador  da 
imprensa  da  universidade  ,  —  e  nomcado  iulerina- 
mcnte  para  estc  emprego  0  conipnsilor  da  im- 
prensa nacional  Olympio  Nicolau  Itny  Fernandes  , 
com  0  vencimcnlo  de  1:200  reis  diaries,  abonando- 
se-lhe  igualmenle  as  despozas  de  Jornada  ,  de  ida 
e  de  volta  .  tudo  pago  pelo  cofre  da  imprensa  da 
universidade. 

2.°  Este  novo  empregado  .  tumando  Ingo 
conheciiiicnto  do  eslaboleciinento  ila  officina 
typographica  da  iniivorsldade  ,  csi  larecera  a  com- 
missao sobre  as  modidns  de  reforina  e  melhora- 
menlo  ,  que  coiivenlia  adoptar  ,  Innio  cm  rclaciio 
a  parte  admini>lrali\a  ,  como  a  nspcito  da  parte 
technica  d'aqiiella  repartioan. 

■J.°  Em  quaido  a  commisslio  niio  conclue  o 
novo  regul.imenlo  ,  que  est.i  formaiido  ,  e  pnrque 
a  imprensa  da  universidade  se  deva  dirigir  no 
andamento  deseuj  trabalhos  ,  excvcera  0  adminis- 
trador interim)  as  allribuicoes  ,  que  nessa  quali- 
dade  Ihe  competem  pelo  regimento  de  9  de 
Janeiro  de  1790:  e  hem  assim  is  que  pelo 
projecio  de  reguhimonto  da  imprensa  nacional  , 
que  cm  3t  de  dezemhro  ultimo  foi  renicltido  a 
commissao  ,  pertcnccm  ,  nao  so  ao  mcblre  dos 
compositores,  mas  tamhem  ao  dos  imprcssores  , 
na  parte  em  que  ellas  forem  applicaveis. 

i.°  0  director  da  imprensa  passara  im- 
raediatamente  a  residir  nas  casas  da  rua  do.Norlc 
contigiias  ao  palacio  da  universidade; — e  serao 
transferidas  para  as  que  clle  actualmentc  occupa  , 
assim  as  caixas  dc  composicTio ,  como  as  mais 
officinas  .  que  a  commissao  csclarccida  pelo  no>o 
administrador,  julgar  conveniente. 

5.°  Cessa  a  aposentadoria  de  lodos  os  empre- 
gados dontro  do  cdificio  da  imprensa  .  e  bem 
assim  qualquer  gralificacao  ,  que  se  costume  dar 
a  tilulo  dc  aposentadoria. 

6."     Eslabelecer-se-ha,  sem  perda  de  tempo,  a 


9 


machina  Hlhngraphica  no  local  que  pnrcccr  mais 
•propriado ,  scm  prcjuizo  d'oiitra  melliur  cullo- 
carao,  que  dc  fiiluro  possa  lor  liigar. 

7.°  Fica  pmliiliida  ,  como  iiicunvcnicnle  e  il- 
legal,  a  dislribiiirao  das  pnipinas  de  cxcmplarcs 
dc  obras  imprcssas  na  lypngrapliia  da  iiiiivcrsi- 
dade  a  lodos  os  cmprcgados  c  coinpusilorcs  a 
quotn  ailiialmi'iile  sc  dao  laos  propinas. 

Dc  loilas  asiibras,  que  alii  se  imprimircm , 
scrao  unicanu'nlc  roservailos  qnalro  cxemplarcs 
para,  cm  Cdiiluimidadc  das  Icis  ,  screm  di'lri- 
buidos  a  liililidllieca  da  soljrcdita  lypograiihia  , 
—  a  da  univcrbidadc  ,  —  a  de  Lisboa  ,  —  e  a  do 
Porlo. 

8.«  De  nenhiima  obra  imprcssa  ,  qiicr  por 
tonta  da  casa  ,  qticr  diis  parliciilares  ,  se  txtraira 
maior  niiiiu'ni  de  cxemplarcs  do  que  aquelle  que 
a  confcrciuia  ,  c  us  auilurcs  declararcm  por 
cscripio  assignado  por  elles  ,  que  sera  aflixado 
na  porta  da  uflicina  ,  sob  pciia  de  mulcla  uo  Iri- 
plo  da  i:iipiirloncia  dos  cxcmiilares  de  niais,  que 
o  imprcs-sor  cxlrair  do  prclu  ,  sendonictade  d'csta 
mulcla  para  a  p.irte  Iczada  ,  c  a  oulra  melade 
para  quem  dcclarar  o  abuso. 

0.°  I'rocediT-sc-ba  ii  >cnda  dasobras,  que 
e\islirem  cm  dcposllo  ,  nao  sendo  compendios 
aclualmciilc  adnplailos  nas  aulas  publicas,  com 
nm  abalimcnlo  rasoavcl ,  que  coniidc  a  concor- 
rencia  dc  couipradorcs. 

10.°  JVos  lermos  da  aiiclorisacao  ja  coiiccdida  , 
far-se-lia  ac(|uisii;ao  do  nccessario  sortimculo  de 
l«lra  para  uso  da   imprciisa 

11."  A  ciUrcga  de  lelra  aos  coinposilores 
realiz-ar-sc-ha  sempre  por  pczo ,  veriricaudo-se 
em  ludos  os  Irimcslres  as  diflerenras  que  houier. 

12.°  llaicra  Ires  cbaves  em  cada  urn  ilos 
arraazens  <la  iiuprcnsa ,  das  quaes  lera  uma  o 
director, —  oulra  o  adrninislrador  ,  e  oulra  o  (ici. 

13."  Tddos  esles  tres  cmprcgados  assislirao 
lanlo  a  cnlrada  ,  como  a  SiihiUa  das  obras  ,  lan- 
i;ando-sc  no  lucsuio  ado  as  compclcnlcs  nolas  cm 
dois  livros  scparados  ,  um  da  cnlrada  e  oulro  da 
cabida  ,  os  quaes  scrao  rubricados  por  lodos  os 
Ires  dilos  cniprcgados  cm  cada  verba  d'cntrada 
c  dc  saliida.  assim  como  o  seriio  lambcm  lodas 
as  faclur.is  dc  li\rcirus,  ou  de  quacsquer  oulros 
eompradoics. 

14.°  Abrir-sc-hao  lancos  para  o  fornecimenlo 
dc  lodo  0  papel  que  a  imprensa  hoover  de  cora- 
prar  para  scu  nso  ,  c  d'islo  sc  fata  o  coiupelenle 
iiimuncio  no  diarin  do  govcnio,  e  no  jornal  que 
»e  publicar  cui  Coimbra  ,  raireando-se  o  prazo 
para  se  recebercm  as  proposl.is  ,  e  dccidindo  a 
oonferiMiiia  a  final  subrc  a  que  for  mais  \anlajosa 
aos  inlcri'sses  d'aqoclla  rcjiarlirao. 

A  esla  decisao  ila  coufi'ri'ucia  eslariio  prcscn- 
tes  0  prolado  da  niii\crsidadc  ,  c  o  official  de 
conlabllidade  da  secrclaria  da  incsma  univcrsi- 
dadc. 

15.°  Todas  as  obras  do  rcparo  no  cdificio  da 
imprensa  ,  c  quaesquer  oulras  obras  que  for  ne- 
ccssario  alii  fazcr  scrao  sempre  dadas  d'emprei- 
lada  ,  cm  prara  ,  coui  assistencia  de  loda  a  con- 
fercncia.  c  do  official  da  conlabilidadc  da  secrclaria 
da  univcrsidade. 

16.°  O  Icsourciro  da  imprensa  dara  scmanal- 
mcnle  conla  documciiUida  a  confcrcncia  ,  assim 
de  lodo  0  dinbciro  por  die  recebido  ,  como  de 
loda  a  desjcza  cffccluada  com  a  Ucvida  auclorisac.ao. 


17."  No  fim  de  cada  Irimcslre  dar-sc-ha  um 
balance  ao  cofre  c  cabcdal  da  officina  ,  nos  ler- 
mos do  arligo  14.°  do  rcgimcnlo  de  9  de  Janeiro 
de  1790  ,  assislindo  sempre  a  csle  ado  o  (irclado 
da  univcrsidade,  com  a  confcrcncia,  o  official  en- 
carrcgado  da  conlabilidadc  da  secrclaria  da  uni- 
vcrsidade ,  e  0  fid  da  imprensa  ;  —  e  de  ludo  se 
lavrara  o  conipetenle  Icrmo  ,  que  sera  assignado 
por  lodos. 

IS."  A  commissiio  aclualmenle  cncarrcgada 
de  propor  as  rcformas  de  que  a  imprensa  da  uni- 
vcrsidade carecc,  tralarii  de  acli^ar  a  conclusan 
do  rcgulamenlo  definilivo  ,  porquc  a  dila  rcpar- 
licao  lypogra|ibica  se  devcr.i  dirigir,  eniiando-o 
em  lempo  opportuno  ao  Governo  ,  pdo  miuislcrio 
do  reiuo  ,  para  scr  previamenle  approiado;  — 
c  cm  quanlo  istu  nao  lem  lugar  ,  e  auclorisada 
a  nicsma  conimissao  a  lomar  ,  d'acordo  com  o 
prdado  ,  as  providencias  ccouomicas  ,  que  o  beni 
da  mesma  reparlirao  cxigir,  c  nao  dcpcndam 
dc  resolucao  rcgia. 

O  que  Sua  Mageslade  manda  parlicipar  a  mcn- 
cionada  commissiio  para  sua  inldligcneia  e  Cic- 
cucao  na  parte  que  Ihe  loca.  F'aco  das  Necessi- 
dades  em  16  de  marco  de  ISSi. —  Itodrigo  da 
Fmscca  Magalhaes. 


DOCUMEMOS  I.NEDITOS. 

Carta  qrie  o  riso^rei  D.  Joiio  de  Castro  esrreveo  a 
elrti  nosso  senhor  o  anno  de  4G  (15411). 

Continuado  de  pa^'.  295. 

EntracJos  dom  Alvaro  e  dotii  Francisco  na 
f'orlaleza,  rclirarfio  os  mouros  a  sua  artelliu- 
ria  ,  e  lizerao  luoslra  de  querer  alevantar  o 
campo;  polo  que  se  amotinar.^o  lodos  os 
La^carins,  requerciido  a  dom  Joao ,  que  sais- 
fC  fora  a  dar  nas  eslancias:  e  uao  o  que- 
rendo  elle  fazcr,  por  conselho  de  dom  Fran- 
cisco, e  d'oulras  pessoas,  que  etitendiau 
bciii  a  guerra,  Ibe  fizerao  tamanbas  afronlas  , 
que  Ibe  coiiiprio,  lual  que  Ibe  pez ,  sair  fo- 
ra, e  dando  nos  seus  baluarles,  e  muralbas, 
dom  Alvaro  5  e  dom  Francisco  passarao  aleiu 
com  obra  de  quiiize  homes  ,  entre  os  quaes 
ilia  Liiiz  de  Mcllo,  e  Jorge  de  Alendoiiya  , 
lilbos  de  Antonio  de  Mcndonja,  dom  Diiar- 
le  Pereira,  Pero  Lopes  de  Sousa  ,  dom  Jorge 
de  Menezes,  o  qual  dizem  que  eiilrou  pri- 
ineiro  que  lodos,  Francisco  Guillicrn,  Jam 
Pires  de  Chaul :  sendo  passados  alem  ,  ar- 
laiicando  os  mouros  de  suas  eslancias,  e  le- 
vando-03  todo^  de  vencida  :  quiz  o  pecado, 
que  OS  nossos  Lascarins  sein  nenhua  causa 
lojrissem,  deixando  seus  capitaes  no  campo. 
Pello  que,  tornando  os  mouros  a  voltar,  ma- 
laram  dom  Francisco,  que  foi  liuu  grao 
perda ;  porque  era  hQ  dos  genlls  cavaloiros, 
que  se  podifio  acliar  em  nosso  lempo,  e  as 
suas  paries  e  virludes  erao  tamanbas ,  que 
raranienle  se  poderao  acliar  lanlas  nua  soo 
pe^soa.  Dom  Alvaro  ficoii  no  campo  aleiii 
de  suas  inuralhas  com  ciiico  ou  seis  pessoas, 
oiide  OS  ajudou   iiuiito  Jorge  dc  Mendonja , 


10 


e  Liiiz  dc  lyfollo,  e  Pero   Lopes  de  Soiisa  , 
OS  quaes  se  defendeifio  miiilo  espnyo  de  tem- 
po de  toda   a  genie  de  inouros.  Nestc  coinc- 
nos  disserfio  a  dom  Jofio  como  dom  Alvaro 
ficava   perdido.   Polio  que  Inrnou   logo  com 
algua  gente  ao  favorecer.  Com  osta  toinada 
atVoxarao  algu  taiilo  os  moiiros;  com  o  que 
aprouve  a  iiosso   Serdior   do  ossajvar,    foia 
de   toda   a  opcnifio  e   rezfio ;  cieiido  os   que 
isto  virao   da    fortaleza ,   que    lora   millagie 
mui  evidenle.    Do?n  Alvaro  trouxe   a  calie(;a 
niui  mal  aviada  de  giaiidcs  cantos,  que  Ihe 
derao  sobre  o  capacele   ao  sobir  das   uiura- 
Ihas,   e  as  armas   mui  passadas  de  selas ,   e 
esplnguardadas.  Affirmfio  todos,  que,  se  esse 
dia   iifio   fogirfio  os    Lascariis,   que  avifio  os 
nossos    coniprida   victoiia ,    e    o    cerco    fora 
alevanlado,   com  grande  lionrra   e  fama  dos 
Pcrtuguezes.    Isto  assim   fcito,   cobiaifio   os 
inouros   ariimo,  e  lornarao  a  assentar  a  sua 
arlelliaria,    e  cerquar   de   novo  a  fortaleza. 
Pelo    que  dom    Joao    e    dom    Alvaro    logo 
me  inandiirfio  fazer  a  saber  os  acontecimen- 
tos  passados,  e  os  traballios,  que  liiiliao  pre- 
zenles ,    pedindo-me  socorro  de  gente  ,  e  mo- 
iii^oes.     Pello   que,    em   spa^o   de    dez    dias 
lancei  sete  caravellas  ao  mar,   e  as  arniei,   e 
aparolliei    de   cousas   necessarias  ;    nas   quaes 
embarquei   Irezentos  e  cincoenta  Lascaris,   e 
dozentos  pcdreiros,  e  cavouqueiros  com  gran- 
de canlydade   de  moni^oes,   e  as  mandei  ca- 
minbo  de  Dyo,   dentro  nestes   dez   dias.    Os 
capilfies  destas  caravellas  forfio  :  Antonio  Cor- 
rea,  Cosmo  de  Paiva,  Jorge  de  Sousa,  Puyo 
Kodrigucs  dAraujo,   'J'rislfio   de  Paiva,  Go- 
mes Vidal,    e  Afonso   Madeira,    meslre    das 
obras ,    que    levou    os   predeiros.     De    lodas 
estas   caravellas    o    prime] ro    que    chegou    a 
Dio   foi  Jorge  de  Sousa ,   e  o  seguiido  Paio 
Rodrigues,   o  qual   no  caminlio  tomou  uina 
lido   de   Coje   Cofar,    que   vinha   do  estreito 
com  urn  capitfio  sen  parente,  que  fora  fazer 
gente  ao  Cairo.  E  como  chegou   a  Dio  com 
clla  ,   mandou  dom   Alvaro  corlar   a  cabe(;a 
ao  capitao,  e  a  todolos    Turcos,   que   nella 
vinbfio  :   as  mercadorias  que   na  nao  vinhao, 
mandou  a  Goa ;  pera  que  se  enlreguasteni  ao 
veador  da  fazenda.    A  cheguada  destas  cara- 
vellas   poz  grande  esfor^'o  aos  nossos,   e  C|ue- 
brantou   niuito   aos    mouros;    por  que  os  ca- 
pitaes  dellas   crfio   homens   muito  onrrados , 
e   valenles   cavaleiros,    e   levavao    mnita ,  e 
boa  gente.  Dom  Alvaro,  como  llie  pareceo, 
que  a   fortaleza    tmlia   gente   em   abaslanga 
pera  sua  defensao ,   mandou  cerlas  fustas   e 
catures   d'arinada  ao  longo   dacosla,   aonde 
tomar.'io   muitas  naos  de  preza ,  que  virdiao, 
do  estn.'ito  ,  das  quaes,  posto  (jue  se  furlasse 
muito,  se  tirou  muito  proveito  dellas  pera  v.  a. 
Com  todo  este  socorro,   e  gente  que  inandei 
a  fortaleza  de  Dio,   niio  deixi'irao  os  mouros 
de    levar    sua    petiia    adiante,    e   combater 
muitas    vezes   a    fortaleza,    fazendo     muitas 
niinas,  com  que  acabarao  de  dcrribar  os  pe- 
dajos  dos  uiuros,  e  baluarles,  que  ficavfio. 


Dizer  a  v.  a  partlcularmcntc  o  como  se 
ouve  dom  Joiio  Mascharenlias  com  todos  estes 
traballios  scria  nunca  acabar  ;  porque  nas 
pelejas  se  inostrava  muito  valonte  soldado, 
e  na  maneira  do  guerrear  grande  capitfio, 
e  no  cuidado,  e  aguazalliado  de  sua  gente 
muito  virtuozo;  de  maneira  que  sens  servi- 
50s  e  merecimentos  co  iienliiia  soficieiicia 
se  acabarao  de  louvar,  que  mais  nfio  sejao. 
Deiilro  ncsle  tempo  fiii  avi^ado,  que  por 
loda  a  enseuda  andavao  inuitos  capilfies  de 
fustas,  e  calures,  dos  que  mandei  de  Goa 
coin  dom  Alvaro,  roubando,  e  fazendo  cou- 
zas  muito  mal  feitas,  e  contra  scrvigo  de 
V.  a.,  sem  quererem  entrar  na  fortaleza  de 
Dio.  E  porque  erao  muitos,  e  Iraziao  muita 
gente,  pareceo-[ne  couza  mui  importanie 
niandar  la  biia  pessoa  soficiente  ;  e  do  muito 
sizo ,  espericncia ,  e  saber  com  grandes  po- 
deres  pera  os  ajuntar,  e  ou  por  for(;a  ,  ou 
per  sua  vonlade  os  levar  todos  a  fortaleza. 
E  por  era  Vasco  da  Cunlia  aver  lodas  eslas 
ealydades  ,  o  eicolhi  pera  isso,  e  o  mandei 
do  Goa  a  sete  de  selembro,  e  com  elle  Sy- 
Mifio  Alvures  boticario  mor  com  muitas  mci- 
zinlias,  e  couzas  de  bolica ,  pera  curar  os 
doeiites ,  e  frey  Paulo  guardiao  de  Siio 
Francisco;  por  ser  liomem  muito  virtuoso,  e 
de  grande  autlioridade ,  e  gerallmente  bem 
quisto  dos  bomens;  a  fim  de  emvergo- 
nliar  todolos  reveis,  que  nao  queriao  en- 
trar na  fortaleza  de  Dio.  Cliegando  Vasco 
da  Canlia  a  Cliaul  ,  eBa(;airn,  ea  oulros 
logares  da  enscada ,  obrou  lanto  com  seu 
bom  sizo,  e  diUigencia ,  e  muitos  poderos , 
que  de  iia  levava,  que  ouve  de  levar  diante 
si  todos  estes  descuidados  de  suas  lionras  e 
servigo  de  v.  a.  ;  posto  que  com  grande  tra- 
ballio  seu,  e  eotrou  com  elles  em  Dio  a 
vinia  sete  de  selembro,  que  foi  mui  grande 
ajuda  aos  cercados:  comessando  logo  a  Iraba- 
lliar,  e  servir  v.  a.,  como  delle  se  esperava, 
e  como  queni  levava  poderos  sopremos  sobre 
todos  OS  da  fortaleza,  pnr  cauza  do  desarrau- 
jo ,  que  (izerao  na  saida,  sendo  contra  o 
ineu   regiaiento. 

Tanlo  que  live  despedido  Vasco  da  Cunha 
coinecei  a  entender  em  me  fazer  prestes  com 
toda  a  gente,  e  armada,  que  fosse  possivel. 
E  posto  que  sobre  minha  partida  ouvesse 
muitas  opinioes,  dizendo  ,  que  me  nao  de- 
via  alialar  sem  lodalas  naos,  galeoes,  e  gua- 
les,  que  avia  na  India,  e  sem  esperar  toda 
a  Rente  do  reino,  e  a  de  Clioromsndel ,  eu 
entendi  o  contrario,  e  me  pareceo,  que  com 
a  maior  dilligencia  do  rnundo  me  devia  em- 
barcar  em  fustas,  e  catures,  e  irme  por  na 
fortaleza  de  Bagaim  ,  pera  ali  ajuntar  toda  a 
gente,  e  armada,  que  pudesse,  e  hir  dar 
batalha  aos  capilaes  delrei  de  Cambaia.  As 
rezoes ,  que  live  para  isto  sam  estas.  Eoi 
lodolos  reis  e  senliores  da  India  erao  langa- 
dos  embaxadores  delrei  de  Cambaia,  fazendo 
saber  a  todos,  como  tinlia  tomada  a  forta- 
leza de  Dio,  persuadindo-os   a  se  alevanta- 


11 


rem  ,  e  me  fazerera  guerra.:  dizendolhe  quam 
facil  Ilies  sei  ia  tomarem  as  nossas  fortalezas, 
que  estivessem   eni  siias   tunas;   pois  iios-elle 
tiiilia  tumado  a  mais  forte  de  todas,    e  morta 
tanta  ,  e  tflo  boa  genie:    prometeiidolhes  ajii- 
da ,     e  dinheiro   pera    isso.    E  jii   em    todas 
coiles,   e   cidades  dos  mouros ,  e  gentios    so 
faziao   grandes    festas ,    e   alegrias,    e  davao 
muitas  alvloaras    pola  boa  nova.   E  com  iito 
andava  tao  graiide  alvoio(;o  nos  mouro?,  que 
faltava  pouco  pera  se  fazer  urn  alevantaiiien- 
to    universal  :    o    que    senao    podia    amansar 
com    oulia   cousa,  senfio  com  lomar  conclii- 
sao    com    grande    presteza    no    dejcerquar    a 
fortaleza  de  Dio.    Polo  que  me  nao  coiiipria 
esperar,  e  guaslar  tempo;   posto  que   a  dila- 
Jao  meaciescentasse  gente  ,  e  armada  ;  maior- 
mente  sendo  ja  avisado,    que  de  Cliornman- 
del  nie    nao   acodia   ninguem,   e  de  Cocliiin 
se  me  fora  toda  pera  Alalaqua  ,  Paleacate,  e 
outras  terras  ,  porremissao,   e  mao  cuidado 
do  capilao;  e  as  naos  do  reino  tardavao  tan- 
to,  que  se  tinlia  por  averiguado  averem  den- 
Ternar    cm   Mocambique.    De    maueira    que 
me  nao  ficava  outra  genie,   em  que  escorar, 
salvo  a  que  se  achasse  nas  fortalezas,  que  se 
contem   de  Cananor  ate  Ba^aim  ,  a  qual  nun- 
<)ua  se  acabaria  de  ajuntar  em  Goa  ,  e  ajim- 
tada  fora  mui  maa  darrancar:   (lantas  sao  as 
delicias   e  passatempos  desta  cidade  !)    E  sa- 
'bendo   os  homens ,    que   eu   estava    em   Ba- 
ijaim,    era    cauza   de    se    envergonliarem,    e 
acabarem   de   arranquar    mais   cedo  de  suas 
casas ;   e  o  tempo,   que   em  Ba^alm   ouvesse 
de   esperar   pc^r   ella,    e  acabar  de   fazer,    e 
ordenar,    minlia   armada   atromentava     toda 
Cambaia,   e  guerreava  a  eiiseada ,   e  tolliia 
OS  maiitimentos  ao  campo  dos  mouros.    Polo 
que   me  detreminei,   e  parti   de  Goa    a  vinta 
cinco  de  selembro  com  liua  armada  de  trinta 
e  cinco   fuslas  e  caturcs,   e  Ires  galeoes,  nas 
quaes   fustas  vinliao   muilos   cazados,   e  iijo- 
radores   de  Goa  por  capilaes,    e  as  suas  pro- 
prias  castas,    e   despezas  ;   a  saber,  Aiitoiiiu 
Ferrao,  Juiz  d'Alfandegua,   Simao  da   Cu- 
nlia  ,    Diogo    Gentil,    Jam    Juzarte,    Jorge 
Cardim  ,  Antonio  iVIarlins;  e  em  poucos  dias 
clieguei    ao    logar   de    Ba^aim.     E^.trondeou 
lanto  minlia  vinda  ,  que  por  toda  a  costa  de 
Camliaia  se  come^arao  logo  arrecear.   Tanlo 
que    cheguei    a    Bai;'aim    despedi    logo   doui 
Manoel  de  Lima  pera  a  enseada  com  algiTas 
fustas,   e  catures  ,  para  tollier  os  manlimen- 
•tos,   que  por   mar  se  levavao  ao  campo  dos 
tnouros :   o  que  elle  fez  com   tamanlia  dilli- 
■gencia  ,  e  bom  cuidado,  que  em  breve  espa- 
50  tomou  passante  de  trinla  navios  carregua- 
dos  de  muila  sorle  de  mantimento,   passando 
loda  a  genie  delles  pola  espada,   como  leva- 
va  por  ineu  regimento.  E  acabado  o  tempo, 
que  Uie  eu  tinba  ordenado,  se  veio  ter  comi- 
go  a  Bagaim ,   e  entrou   polo   porto   com   as 
vergas  das  suas  fustas  todas  clieias  denforca- 
dos;  o  que  poz  grande  espanto,  e  temor  nos 
raouros.  Isto  assi  feito ,  comcssei  a  eiileuder 


no  preparamcnto  de  rninha  gente,  e  armada. 
E  ja  cada  dia  entravao  muitas  naos,  fustas, 
catures  ,  Lascariis  de  Goa  ;  e  de  lodalas 
foilalezas  d.i  India  me  acodiilo  de  maneira , 
que  a  vinta  quatro  d'outubro  linlia  ja  comigo 
sessenta  fustas,  e  catures,  e  doze  naos,  e 
galeoes,  e  obra  de  mil  e  qualrocenlos  lio- 
uiens  ,  e  trezentos  pioens  Canaris.  Polo  que, 
pareccndo-me,  que  ja  me  nao  podia  acodir 
mais  gente,  e  armada,  antes  fazeiido  demo- 
ra  ,  me  fogiria  muita  da  que  linlia,  me  fiz 
preates,  e  parti  de  Bajaim  lia  vinta  seis 
doulubro  ,  e  fui  surgir  iia  illia  das  vaquas. 
Deste  logar  de  Ba^aim  se  embarcdrao  miji- 
los  liomt'S  fidalgos  ,  e  creados  de  v,  a. ,  a 
saber,  Alvaro  da -Gama  ,  o  qual  veio  a  sua 
cusla  nu  galeao,  e  com  liua  fusta  em  que 
trouxe  rauita  gente,  e  mui  beni  alaviada,  e 
dom  Diiigo  de  Noronba  com  bua  fusta  sua, 
e  hum  Anrriquede  Souza,  que  qua  lia  muilos 
annos ,  que  anda  servindo  v.  a.  ;  e  assi  JS'uno 
Fernandes  Peguado  cim  outra  fusta,  e  Si- 
mao Galego  em  outra  ,  Antonio  de  Saa 
Pereira  em  outra.  K  porque  era  necessario 
liir  toniar  a  ilha  dos  mortos ;  as^i  pera  fazer 
auguada,  como  pera  ajuntar  toda  a  armada  , 
que  no  atravessar  do  golfao  de  necessidade 
se  avia  de  perder  de  rnf,  por  caso  das  gran- 
des correnles :  mandei  diante  dnm  Manoel 
de  Lima  com  vinte  fustas  pera  correr  toda 
a  enseada  ,  e  queimar,  e  lallar  loda  a  costa 
do  mar,  no  que  moslrou  bein  sua  cavalaria, 
e  ddligencia;  porque  fez  a  mor  destruigfio 
na  costa,  que  nunqua  jamais  foi  vislo  ,  neni 
esperado;  destroindo  todolns  lugarcs,  que 
estao  de  Damao  ale  Baroclie  sein  ficar  delles 
memoria :  e  toda  a  gente,  que  tomou  foi 
feila  em  postas,  sem  perdoar  a  nenliua  couza 
viva.  Queimou  obra  de  vinlc  naos,  e  cento 
e  cincoenta  colijas  ;  de  maneira  que  toda  a 
costa  de  Cambaia  era  hiia  lavareda  e  viva 
cliama,  e  as  praias  se  virio  clieias  de  morlos. 
U  que  melpo  grande  medo  ,  e  temor  em  lodo 
o  reino  de  Cambaia, 

Contini'ia.  N. 


FACULDADE  DE  MATHEMATICA. 

O  consellio  da  faculdade  de  matliemalica 
nomeou  uma  comraiss'io  composta  dos  snrs. 
doutores  Rufino  Guerra  Ozorio ,  e  Jacorae 
Luiz  Sarmento,  para  colligir  dos  livros  das 
actas  tudo  que  merega  pubiicar-se  no  Insli- 
tuto. 

O  mesmo  conseUio  desejando  que  tambem 
se  piiblicassem  as  demonstra(,"6es ,  addilamcn- 
tos  e  rnemorias,  corn  que  os  respectivos  pro- 
fessores  substituissem  011  ampliasscm  algura.i 
parte  dos  compendios  por  onde  explicam  , 
resolveu  que  se  remeltesse  para  a  redac(;ao  do 
sobredilo  jornal ,  qualquer  d'esses  Iraballios 
litterarios,  que  seus  auclores  oflerccessem 
para  aquelle  fim. 


12 


OBSERVACOES  METEOKOLOGICAS .  FEITAS  i\0  GABINETE   DE  PIIYSICA              | 

DA  UMVEKSIDADE    DE  COIMBRA. 

Anno  lie 

lii.n4 

_1   o 
a 

—    o 

r-    5    S 

Press3o  otmospherica  oo  raeio  dia 

Rstadu  Iiyjrroniclrico  da 
almosphera  ao  meiu  dia 

-D 

0 

^  s 

Eslndo  do  ceo  e  do 
tempo. 

Mez  lie 

Mar^o 

Altura  ba- 
ronii-trican 
0.°  cenlii. 

Tcn»iio      do 
.apor  aqiioso 
coBtido  no  ar 

Pressao  do 
ar  see CO 

3   n 

*     4) 

=  1 
OS 

Qiianlid.     dc 
vapor  conliito 
cm  iitu  DiCtro 
cuLico  dc  ar 

Dias 

Gr.iiia 
celltiu'. 

Millimelros 

Milliuielros 

.Millinietros 

Grammas. 

1 

12 

76;,848 

5,750 

757,092 

0,537G 

5,857 

\. 

Clar.  elimp.  T.  sereno. 

o 

11 

701,9117 

7,202 

754,705 

0,7149 

7,354 

l\. 

O  mesmo.     O  mesmo. 

3 

11 

701,015 

6,8110 

754,243 

0,0730 

6,943 

N. 

O  mesmo.     O  mesmo. 

4 

11,5 

702,921 

8,480 

750,441 

0,0235 

6,605 

N. 

0  mesmo.     O  mesmo. 

5 

11 

704,443 

7,140 

757,297 

0,7094 

7,2a7 

N. 

0  mesmo.     O  mesmo. 

6 

11 

7"5,4:>7 

0,713 

758,744 

0,6  no 4 

6,855 

N. 

0  mcsrao.     O  nicsmo. 

7 

12 

704,073 

6,793 

7  57,  f!  80 

0,0344 

6.912 

N. 

Cl.elig.  nubl.B.  lemp. 

8 

ll,5 

763,253 

6  927 

758,326 

0,6876 

7,073 

S. 

CI.  e  limpo.  Bora  lemp. 

9 

11 

762,922 

7,010 

755,912 

0,6959 

7,158 

N. 

O  mesmo.     O  mesmo. 

10 

11,5 

761,907 

7,492 

754,415 

0,7211 

7,036 

N. 

0  mesmo.     O  mesmo. 

11 

12 

757,220 

7,370 

749,850 

0,6884 

7,499 

N. 

0  mesmo.     O  mesmo. 

12 

12,5 

754,432 

7,811 

746,021 

0,7074 

7,934 

N. 

Nnblado.  Bom  lenipo. 

13 

14 

7o4,li:o 

8,439 

745,747 

0,6982 

8,527 

S. 

Encobert.  Temp.  vent. 

14 

13,6 

736,528 

8,!:o5 

747,723 

0,7505 

8,912 

N. 

Nnblado.  Bum  Icmpo. 

15 

13 

762,023 

8,0118 

754,015 

0,7566 

8,728 

N. 

Clar.  e  limp.  T.  sereno. 

16 

12 

758.538 

8,157 

750,381 

0,7619 

8,300 

N. 

Cl.elig.  nnbl.T.  lent. 

17 

12,5 

757,311 

8,540 

748,771 

0,7735 

8,675 

E. 

Clar.  e  limp.  B.  tempo. 

18 

13 

755,723 

6,6.17 

749,091 

0,5833 

6,729 

E. 

CI.  e  limp.  Temp.  vent. 

19 

12,5 
12 

753,103 

7,710 

7J5.393 

0.6983 

7,831 

N.E. 

0  mesmo.     O  mesmo. 

•iO 

749,971 

7,643 

742,323 

0,7143 

7,782 

N. 

Nublado.  Rom  tempo. 

21 

12 

747,530 

7,753 

739,733 

0,7241 

7,889 

S. 

O  mesmo.     O  mesmo. 

22 

11,5 

744,902 

8,395 

736,507 

0,8080 

8,557 

s.o. 

Encubert.  Temp.  chuv. 

S3 

11 

750,801 

7,148 

743,653 

0.7090 

7,299 

S  E. 

.Vnblado.   Bom  tempo. 

ii 

11,5 

753,329 

7,043 

746,286 

0,6775 

7,179 

E. 

CI.  e  limp.  Temp.  vent. 

25 

11 

753,895 

6.8!)6 

747,009 

0,6836 

7,031 

E. 

CI.  elirap-  Bom  lemp. 

S6 

11,5            7iG,775 

7,043 

749,732 

0.6773 

7,179 

E. 

CI.  eeniiev.  nohor.  B  t. 

27 

12                750,713 

7,900 

748,813 

0,7378 

8,033 

N.O. 

Clar.  elimp.  B.  tempo. 

ia 

13                757, 3U0 

7,074 

745,226 

0,0217 

7,173 

E. 

O  mesmo.     O  mesmo. 

S9 

12,5            7G0,nUl 

5,694 

735,267 

0.5157 

5,783 

E. 

0  niesmo.     O  mesmo. 

311 

13 

758,018 

7,135 

751,163 

0,6532 

7,559 

E. 

O  mesmo.     O  mesmo. 

31 

14,5 

738,940 

0,240 

752,700 

0,5007 

6,294 

E. 

0  mesmo.     O  mesmo. 

nieiiia  ) 
ilo  niez  i 

12,4 

737,831 

0,6809 

Tempcratnra 

PressSo  m 

inosphcrica 

Grdii  dehu 

midade  doar 

feiilos  predomrtantes 

-^ 

Maxima  absol.   14", 5 

Ma.vimaab. 

ol.  705,457 

Maxima   al 

sol.  0,808 

N.  e  E. 

E 
a/ 

Minima 11° 

Minima   .. 

..   744,902 

Minima  .  , 

...    0,5007 

iS 

Maxima  variaij.    3", 5 

Max.  exciil 

sao    20,555 

Variar.lo  m 

axi.   0,3073 

Coiui 

bra  1."  Je  Abril  de  18 

54. 

O 

Dcmonslrailc 

)r  da  Faciilil 

ade  de  Philo 

o]ihia ,   Joar 

uim  Aiiijtist 

1  Siinue 

*  de  Carvnlho. 

€)  Jn0titttt0^ 


JORNAL    SCIENTinCO     E    LITTERARIO. 


IIIVERSIDADE  DE  CODISRA— PROCRAMMAS, 

FACL'LDADE     DE     SIATHEMATICA. 

1853—1854. 

3."    AN.VO, 3.*    CADHIRA. 

CALCl'LO  SUPERIOR — DIFFEREN);as   FIMTAS — GEOMETRIA 
DKSCHIPTIVA, 

Lenle  —  Dr.  Abilio  Jffonso  da  Silva  Monteiro. 

CALCULO   DIFFERENCIAL, 

Desenvolvimento  das  fimc^oes  tie  duas  e  mais  variaveis 
indepcndenles. 

Desenvolu^ao  de  F  (x,  a-  ,  r^ ,  . , . .  t^)  em  serie 
nrdenada  em  rela^uo  as  potencies  e  productos  de  a , 
a^ ,    a^ ,  . , . .  a„ ,    sendo  x  =  (p(<-i-tts),    x^  =  (^  ^ 

C'i^«i    *i) 'n=^?«  ('«+««   2^„)'    e  sendo 

=  ,  =,,....  :„  funcgoesdex,  x^  ,  ^^v-'n* 

Theuria  dos  contaclos  e  evolutas  das  curvas  planas. 

Asymptutas  das  curvas, 

Puiitos  sinjulares. 

RecliGca^ao  das  cnrvas  de  diipla  curvalura. 

Cubalura  dos  solidos  de  revolu^ao  e  medida  das  suas 
superficies. 

Ciibatiira  dos  solidos  e  medida  das  superficies  curvas 
que  niio  silo  de  revoI\]t;ao. 

ftliiiores  e  nienores  ordenadas  das  superficies  curvas. 

Tlu'oria  dos  contactus  das  curvas  de  dupla  curvatura 
e  das  superficies  curvas, 

Anijulo  de  torsiio. 

('iirvaliira  das  superficies. 

Theoria  das  superficies  envolventes,  curvas  caracte- 
rifiticas  e  arestas  de  reversito. 

CALCULO    INTEGRAL. 

Inlc^raes  definidos. 

Applicaijao  a  rectificaqao  das  curvas  de  dnpla  curva- 
tura ,  a  determinaqao  dus  ^ulumes ,  e  quadratura  das 
SUjierficies   cu^^as. 

Intetrrai;rio  das  eqiia^Oes  differeociaes  da  1,^  ordem  e 
do  1,"  grao  entre  duas  variaveis. 

Separa^So  dos  variaveis, 

E(iua<;<5es  humo;,^enea'S. 

Eqiia^ues  Jineares. 

Delerniiiia^iio  do  factor  que  torna  integravel  uma  ex- 
pressao  difiVrenrial, 

Tbeorema  das  fnncijoes  buraogeneas, 

Solu(;oes  sin;;ulares. 

Inlegra^So  das  eqiia(;oes  dinVrenriaeH  da  1.*  ordem  e 
d'uin  pri'io  qualquer  t-nlre  duas  variaveis. 

I\Ipllu)dos  para  inte^r.ir  por  approximarjio  as  equa^oes 
difffrenciaes  entre  duas  variaveis. 

Cutislrucrao  geometrica  destas  equa^iles. 

Inle;;ra^ao  dus  equarues  dilTerenciaes  da  2.^  ordem  e 
das  ordena  snperinres  eidre  duas  variaveis  nos  casos  par- 
ticulares,  em  que  ella  se  pode  efi'ccluar. 


Equa^ries  IJneares  da  '2.*  ordem  e  d'uma  ordem  qual- 
quer. 

EIiniina(;ao  entre  as  equa^oes  diflerenciaes. 

Proldfina  das  Imjectorias, 

E'pinroes  dilTerenciaes  lotaes  entre  tres  variaveis. 

Cuiidiruo  neressaria,  para  rjue  uma  erjua^ao  enlre  tres 
variu\ei9^  onde  as  diflerenciaes  nao  passam  do  1."  grao , 
possa  trr  por  inlegral  uma  so  equacat*  primili\'a. 

Outra  condi^ao,  quando  as  ijifferenciaes   sao  elevadas. 

Processn  para  inlegrar  uma  equa^ao  differencial  ,  quan- 
do isso  e  possivel  ;  e  meios  de  older  no  caso  contrario  , 
0  systema  dVq'iai;oe9,  que  satisfazem  a  propoala. 

EfjUA^UES    DIFFERENCIAES    PARCIAES. 

Efjuaroi's  lineares  da  1.*  ordem  entre  nm  nuraero 
qualquer  de  variaveis  independenles. 

Kqua^oes  nao  lineares  da  1.*  ordem  entre  Ires  varia- 
veis. 

Equa^oes  lineares  e  nao  lineares  da  2.'*'  ordem  entre 
tres  \ariaveis, 

Integra(;ao  por  melo  das  series, 

Delermina^ao  das  funci^ues  arbitrarias. 

CALCULO    DAS   TARIA^OES. 
DIFFEREN^AS    FINITAS  ,    E   SERIES. 

Melhodo  direclo  das  diflereD9as, 

Interjiola^ao. 

Integraijao  das  differen^as.  ; 

Somma  das  series. 


1.*  parte. 
2.*  difa 
3.*     dita 


GEOMETRIA   DESCRIPTIVA. 

Linlia  recta  e  piano. 

Snperficies  curvas  e  pianos  tangenlea. 

Linhas  curvas  e  suas  tangeotes. 


3.°    ANNO. 


PTICA. 


Vol.  1II> 


Abril  15  —  1854. 


MECHAMCA   RACIONAL  ; 

henle  — Francisco  de  Castro  Freire. 


No^oes  preliminares. 

Composii^ao  e  equilibrJo  das  for^as  appHcadas  a  um 
poiito  material  livre,  ou  sujeito  a  mover-se  sobre  super- 
ficies ou  curvas  dadas. 

Composic;ao  e  eqnilibrio  das  forc^as  parallelas. 

Composi^ao  e  equilibrio  das  for^as  ,  que  obram  n'um 
piano, 

Composi^ao  e  equilibrio  das  forijas  diriiridas  no  espnqo 
sobre  um  syslema  ,  livre  ou  sujc-ilo  ,  de  pontes  maleriaes 
ligados  invarlavelmerdc. 

Theoria  dos  niomentos.  For^as  conjueadas. 
Appiicarjao  da  llieuria   das  fur(;as   parujlelas  a  ind-iijai^ao 
dos   centros   de  cravidade    dos  corpos  que    se  acham    a 
superficie  da  terra,  — Theorcma  de  Guldin. 


.^^y 


Num.  2. 


14 


Applica^ao  da  llieoria  da  composi^ao  das  fur(;ns  ao 
calctilu  da  altrnc^iio  ilos  corpos  — Theorema  de  Ivory. 

Applicui;rio  das  ecpiaroes  d'equililirio  aos  syslemas  fle- 
iiveis  —  polyu'uno  funicular  —  calenaria  —  pontes  suspen- 
sas — lamina  elastica, 

Applica(;ilo  ilas  ccpiarBcs  do  equilibrio  as  maquinas  — 
ala\anca  ;  ljalani;a  urdinaria  ;  balan<;a  romann  —  sari- 
Iho  ;  ruldana  IJxa  ;  ruldana  muvel  —  su|ierficies  fixas  ; 
jiarafwFci  ;   |)lanu  inclinailu  —  ninquinas  oi)ni|iusta». 

FricrOcs  e  littena  das  curdas.  Frici.'.lo  ncis  eixos  de 
rola^ao  ;  no  sarilho  ;  no  parnfuso  ;  no  i)lano  inclmado. 

Principio  das  velocidades  \irluaes. 

PRIMEIRA    TiRTG    DA    DYNAMICA. 

No^oes  preliminares. 

Movinifnlo  rectilineo  de  noi  ponto  material.  Movi- 
nienlo  uniforrae.  Slovimenlo  uuifonnemente  lariado.  Mo- 
vimenlo  \ariado  em  {xeral. 

Movimciilo  cunilineo  de  nin  ponto  material.  Formulas 
peraes  d'este  niovinicnto  —  conserva^ao  das  fori;as  ^ivas 
•^principio  da  minima  aci;ao  —  princijiio  das  areas. 

Calculu  das  (tressoes  nas  superGcics   e  nas  curvas. 

Fnrc;a  ccnlrilu^-a. 

E\em|doa  do   niovimento  de  nm  ponio  livre movi- 

menlo  clos  projecteis  —  for^as  centraes  —  movimento  dos 
corpos  do  syslema  solar. 

Exemplos  do  movimento  de  nm  ponto  snjeito  a  mo- 
■»er-se  sul)re  nma  superricie — penilulo-conico. 

E\emplua  do  uitxiitnento  de  uni  corpo  snjeito  a  mover- 
se  sobre  uma  curva  —  pendulo  simides. 

SEGU.\DA    PARTE   DA    DTNAMICA. 

No^oes  preliminares. 

Principio  geral  de  dynamica  —  e.vcmpIos  de  sua  appli- 
ca^ao  ao  movimenlo  de  dois  corpos  li-ados  por  nm  fio  j 
—  ao  movimento  de  dois  corjios  snjeitos  a  for^as  attra- 
ctivas  ou  repulsivas;— i  percussao  de  duas  espheras  lio- 
nioiencas,  doras  on  elasticas ;  —  ao  movimento  de  um 
fio  flexiiel  e  inc.xtensivel. 

Propriedades  ireraes  do  movimento  de  lim  sy.slema  de 
corpos  —  conseria^iio   do  movimento   do  ceniro  de  grai 


dade  - —  conscrva<;rio    das  ureas  ■ 


principio    das   for<;as 
princi]]io  da    minima 


Tivas;    applica^ao  as   raaqninas 
ac9rio. 

Determina^ao  dos  mementos  d'inercia  e  dos  cixos  prin- 
cipaes. 

Movimento  de  nm  corpo  solido  livre. 

Movimento  de  um  corjio  solnlo  em  roda  de  um  ponto 

Movimento  de  ura  corpo  solido  era  roda  de  um  ei.\o 
fixo.  Caso  era  que  este  movinienio  e  devido  a  percussoes 
iniciaes.  Caso  em  que  e  devido  a  adj.lo  de  for^as  acce- 
leralrizes.  Pendulo  composto  — pendulo  de  Robins. 

HYDROSTATICA. 

Equa(;ocj  jeraes  do  equilibrio  dos  fluidoa. 

Eqiiilibrio  dos  fliddus  pejados. 

Equilil,rio  dos  corpos  Huctiiantes  —  slabilidade  d'eqni- 
librio  dos  corpos  fliicluanlcs  — oscillacoes  de  nm  corpo 
lluctuanle. 

Equilibrio  de  um  inixto  de  gazes  pcjados  —  barometro. 

lIVDRODYSfAMICA. 

Equagocs  do  movimento  dos  fluidos. 

Movimento  d'uni  liquido  n'unia  liypotliese  particular. 

Movimento  permanente  do  um  liipiido. 

Movimento  ilos  sazps  no  interior  de  tubos. 

Movimento  de  um  ^'az  indeflnido  em  todos  o»  sentidos. 


Optica  propriaraenlc  dita. 

Noi;oes  seraes  sobre  a  catoptrica  e  dioptrlca. 

Caloptrica. 

Dioplrica. 

Tlieoria  da  visao. 

Teleacopios  —  microscopios. 


INSTRLCCAO  PUBIJCA  NA  SUECU 

E  NOllUEGA. 


Contiouado  de  pac.  118  do  vol.  II. 

III. 

ESCIIOLAS    DO    DOMINGO. 

Na  Suecia  e  Nonicga  lia  grande  iiumero 
d'escholas  do  domingo.  Eslabclecidas  para 
servirem  de  cotiiplemeiUo  as  escliolas  prima- 
rias,  aprcseiitam  cstc  raino  da  iiislrucyao  em 
gn'io  iiiais  suliido.  A  sua  organisa^ao  nfio 
oflerece  aiiida  um  systema  uiiilbrme,  e  a  ex- 
cep(;ao  das  escliolas  de  Golheiiiburgo  e  de 
Slocklioltno  ,  as  oiilras  teem  coiiservado  esse 
caracter  accidental  que  as  faz  considerar  antes 
ensaio  provisorio  cjue  inbtiliii^fio  permanente. 
As  escliolas  porein  de  Golliembiirgo  e  de  Sto- 
ckliolmo,  de  que  especialmente  Irataremos, 
apresentam  ja,  uma  forma  mais  normal ;  e  se 
iiao  dfio  a  conliecer  piecisamente  o  estado 
de  todas  as  escliolas  do  domingo  nos  dous 
reinosj  f'azem  todavia  senlir  a  sua  tendencia 
para  o  piano  geral,  a  que  por  fim  nfio  dei- 
xarao  de  ser  submetlidas. 

Ila  em  Stockbolnio  qiiatro  especies  d'est^io- 
las  do  domingo:  escliolas  de  catecliisnio  (hxf-- 
IckclskolorJ;  escliolas  dos  ofiicios  (kandcerk'i- 
kolorj-  escliolas  da  classe  media  (borgaresko- 
lor);  e  escliolas  da  socicdade  d'artes  e  ofiicios 
de  Suecia  (slojdfureningcnskolor). 

Escliolas  dc  catcckismo. 

Desde  1771  uma  sociedade  fundada  em 
StocUliolino  com  o  tiuilo  de  Sociedade  daf& 
e  do  clirisiianismo  (Sainfundet  pro  fide  et 
christianismo)  propoz-se  animar  com  premios 
05  escriplores  religiosos  que  publlcassem  bons 
livros,  e  fazcr  perseverar  com  zclo  no  exer- 
ticio  de  suas  func^oes  os  professores  e  pro- 
lessoras  mal  retribuidos;  e  procurou  princi- 
palmente  eslabelecer  escliolas  de  caLecbismo 
para  dilAindir  pela  nova  geiajfio  do  paiz  o 
ensino  da  doutrina  clni^ta.  Crearam-se  sue 
cessivamenle  de^de  177G  ale  1842  em  varids 
parocliias  da  capital,  doze  escliolas  de  cate- 
cliisnio frcquentadas  ao  niesuio  tempo  per 
mogos  eadullos.  ?\ 'cslas  escholas  eram  adinit- 
tidos  sem  distinc^'ao  todos  os  indlviduos  que 
tinliam  cliegado  ao  uso  da  razao,  e  liavendo 
enlre  elles  alguns  que  neiii  Itr  sabiam  ,  fo- 
ram  por  isso  coUocados  n'unia  calhegoria 
diversa  —  classe  de  soletragao  (slofoanklas- 
scn). 

'i'ao  louvavel  dedica^fio  d'uma  socicdade 
particular  attraliiu  a  sollicitiide  do  governo. 
E  porque  a  sociedade  sendo  bastante  rica 
nao  carecia  de  ^ubsidio,  o  governo  estaliiiu 
em  favor  dos  niestres  que  por  cada  anno 
de  exercicio  nas  escbolas  de  catecbismo  Ibes 
seria  contado  anno  e  rasioj  e  ate  em  cerlos 


15 


casos,  dous  ahnos  de  servigo  ecclesiastico, 
vantagem  preciosa  e  niiiito  atnbicionada  ,  sen- 
do  que  todos  os  meslrcs  d'estas  escliolas  per- 
tencem  a  vida  ecclesiaslica ,  onde  os  annos 
de  servifo  sfio  tornados  em  considcra^rio  no 
provimento  das  egiejas  e  das  dignidades  on 
exclusivanicnle  por  anliguidade,  on  decidin- 
do  esta,  quando  se  requerein  oulras  liabilila- 
Joes,  em  egualdade  de  ciifumslancias.  Os 
annos  de  servi(;o  dividem-se  em  simples  e 
duplos  ,  e  contani-se  sempre  do  1.°  de  njaio: 
OS  annos  duplos  conslituiam  urn  privilegio 
apenas  concedido  por  niereoimenlo  fora  do 
commum  aos  professores  dos  gynmasios  e  das 
universidades.  Taes  sfio  as  orerogativas  con- 
cedidas  pelo  governo  aos  mesLres  empregados 
nas  pscholas  de  calechismo,  aos  quaes  a  so- 
ciedade  da  de  gratifica^ao  annualmente  200 
francos  ,  exceplo  aos  das  escliolas  de  solelra- 
gao  que  pouco  mais  e  de  67  fr.  Os  fundos 
da  sociedade  sao  de  42000  fr. ,  proveuientes 
de  legados  que  liie  teem  sido  deixados ,  da 
contribuigao  annual  de  4  fr.  paga  adiantada 
por  cada  um  de  sens  membros  da  capital ,  e 
donatives  de  sens  amigos  e  protectores  que 
vivem  no  campo. 

Nas  escholas  de  catechismo  duram  as  11- 
goes  tres  lioras ,  da  uma  liora  da  tarde  as 
quatro,  e  srio  todos  os  domingos  e  dias  San- 
tos; niio  ha  porem  aula  sexta  feira  santa, 
domingo  de  Paschoa  e  de  Pentecosles,  no  dra 
de  S.  Jofio  e  de  Natal.  Na  conform idade  do 
estatuto  real  de  1836  devem  ser  frequenladas 
por  todos  OS  individuos  de  15  annos  a  quera 
falta  instrucgfio  religiosa  sufficiente,  bem  co- 
Dio  pelos  meninos  que  nao  podem  seguir  um 
curso  regular.  Aprendem  a  ler,  catecliismo 
e  historia  da  Biblia,  O  termo  medio  dos 
alumnos  que  por  anno  as  frcqiientam,  e  de 
460  a  500,  c  nas  escholas  de  soletragao  de 
100  a  120. 

Escholas  dos  officios. 

Em  Stockliolmo  lia  iima  ou  mais  d'estas 
escholas ,  em  cada  parochia  ;  nao  dependem 
como  as  precedenles  d'uma  sociedade  parti- 
cular ,  e  nao  teem  por  isso  direcgao  commum. 
Creadas  por  meio  d'esforgos  puramente  indi- 
viduaes ,  e  independenles  umas  das  outras, 
sao  dirigidas  parte  pela  administragao  dos 
pobres,  parte  pela  administragao  das  escho- 
las das  parochias  em  que  estfio  cslaljelecidas. 
As  que  na  sua  origem  foram  solidamenle 
fundadas,  progridem  e  prosperam  :  as  outras 
tendo  apenas  tenues  ajcursos  definham,  mas 
raro  deixam  d'existir  porque  a  administragao 
dos  pobres  veni  em  seu  auxilio,  e  appella 
para  a  generosidade  publica,  donde  sempre 
obtem  avultadas  quantias,  sem  que  interve- 
nha  n'esses  mementos  d'angustia  o  estado, 
a  quem  pertence  fazer  os  regulamentos,  e 
que  concede  aos  mestres  o  privilegio  do  anno 
duplo  por  cada  anno  d'exercicio. 


Os  salaries  dos  mestres  chegam  a  200 
francos  como  nas  escholas  de  catechismo. 
Cada  eschola  e  frequentada  termo  medio  por 
60  alumnos  que  aprendem  a  ler,  escrever, 
ealligrapliia,  arithmelica,  escripturag.'io, 
goograpliia  geral  e  liistoria  da  Suecia,  e 
tambem  liisloria  bibiica  e  explicagfio  dos 
textos  sagrados. 

Escholas  da  cla'sse  media. 

Sao  assim  chamadas  estas  escholas,  porque 
teem  por  fim  especial  inslruir  os  alumnos  nos 
conhecimentos  que  requerem  as  profissoes 
exercidas  pela  grande  classe  d'individuos  que 
na  Suecia  tem  o  noine  de  borgerskapet : 
obreiros ,  artistas,  mercadores,  elc. :  pouco 
dilTerem  das  escholas  dos  officios,  de  que  sao 
propriamente  o  desenvolvimenlo  Km  conse- 
quencia  do  pouco  tempo  que  u'aquellas  du- 
rava  o  estudo  e  nao  podendo  por  i^so  obter- 
se  resukados  satisfacloiios ,  fotam  estas  1831 
fundadas  em  Stocliholmo  por  uma  sociedade 
chamada  Leal  allianga  ( Det  rcdliga  fur- 
bundet)-  e  no  1.°  de  niargo  de  1836  abnu-st* 
uma  eschola,  era  que  o  ensino  devia  durar 
quatro  horas  por  semana ,  nos  domingos 
deide  as  sete  as  nove  lioras  da  manha,  e  us 
quartas  feiras  desde  as  sete  as  nove  horas  da 
taide,  tornando-se  por  estc  modo  eschola 
tambem  da  tarde  (of  ton  skola).  No  cstabe- 
lecimento  analogo  em  Gothemburgo  tem 
alem  d'isso  o  curso  lig.'io  aos  sabbados  desde 
as  sete  as  nove  horas  da  tarde.  Em  Stockliol- 
mo a  eschola  da  classe  media  reunlu-se  com 
as  dos  officios  das  parochias  de  S.  Jacques  o 
S.  Joao,  formando  um  so  estabelecimenlo  de- 
baixo  da  direcgiio  do  mesmo  mestre,  e  resul- 
tando  d'aqui  mais  tres  horas  para  o  ensino, 
e  ao  todo  sete  horas  por  semana. 

A  sociedade  Leal  allianga  cahiu  em  de- 
cadencia,  mas  nao  a  eschola  que  havia  fun- 
dado,  por  quanto  para  sustental-a  formou-se 
logo  oulra  sociedade  com  o  nome  de  Socie- 
dade para  o  descnvoluimento  da  eschola  da 
classe  media  de  Stockholmo  (Siillskapci  till 
befrdmjande  of  Stokholms  stads  borgaresko- 
la).  E  cousa  pasmosa  a  facilidade  com  que 
na  Suecia  as  sociedades  succedeni  umas  as 
outras.  Em  22  de  Janeiro  de  1842  comegou 
a  sociedade  a  funccionar,  e  denlro  de  pou- 
co tempo  compunha-se  dos  cidad.'ios  princi- 
paes,  com  o  que  nielhorou  a  sua  situagao 
fmanceira,  e  a  eschola  prosperou ,  pois  que 
alem  de  varios  donatives  e  d'um  capital  de 
perto  de  6000  francos  tjue  a  sociedade  possue, 
cada  um  de  sens  membros  contribue  com 
4  fr.  por  anno. 

Uma  so  d'estas  escholas  ja  nao  bastava , 
pelo  que  fundaram-se  duas  novas,  as  quaes 
reuniram,  como  havia  feito  a  primeira,  as 
escholas  dos  officios  que  estavam  na  sua  pro- 
ximidade,  e  ate  per  serera  as  malerias  do 
ensino  quasi  as  niesmas,  a  saber:  ler  e 
escrever    correctamenle ,    grammatica,    ari- 


16 


tliniclica,  oscripUiragao ,  eslylo  epislolar, 
lormiilas  coniiiierciaes,  geograpliia,  liistoria, 
liistoria  natural  elemontar  e  os  primeiros 
principios  de  geonictria.  Tern  lambein  uma 
vez  em  cada  doniingo  a  explicacuo  do  texlo 
da  Biblia. 

O  anno  escliolar  divjde-se  cm  dons  ciirsos , 
uni  da  primavera  dosde  o  meio  de  Janeiro  ale 
o  meio  de  jnnlio,  e  oulro  do  onlono  desde  o 
ineio  d'agoblo  ale  o  meio  de  dezembro,  Ila 
])or  scmana  sele  lioras  d'esUido,  niosmo  n'a- 
quellas  a  que  nfio  t'oram  rennidas  escholas 
dos  officios;  cinco  lioras  ao  dornin^'o,  e  diias 
de  tardt;  n'um  dia  da  semana.  Cada  escliola  e 
irequenlada,  lermo  medio,  ]jor  1<20  alumnos, 
cujo  maior  niimcro  sfio  impressorcs,  rnarce- 
iieiros,  alCaiates  e  sapaleiros.  Os  piofessores 
em  1842  reccbiam  o  salario  de  poiico  mais 
de  267  francos  ,  boje  cliegam  a  ter  400  fr. , 
e  ijnando  siio  iniiilos  os  alumnos  podem  to- 
mar  ajudanles  que  teem  salario  proporcional. 

Escholas  da  socicdade  das  arles  e  officios 
dc  Succia. 

Uma  socicdade  mais  importante  e  nacio- 
lial  que  todas  as  preccdenles  foi  fundada  em 
1845  com  o  tilulo  de  Suciedadc  siieca  das 
artes  e  officios  {svcnska  sldjdforeningen^ 
Teiido  por  tiui  melliorar  a  induslria  indige- 
iia,  um  dos  meios  sem  duvida  mais  efficazes 
era  inslituir  e  suslenlar  escholas  especiaes , 
em  que  a  classe  operatia  adquirisse  morali- 
dade  5  sciencia  e  a  pratica  necessaria  aos 
diversos  ramos  de  cada  profissao.  Desde  o  l.° 
de  Janeiro  de  13 IG  abriu-se  em  Slockliolmo 
uma  escliola  da  socicdade  sueca  das  artes  e 
officios  [svcnska  slojd  furcningens  skola). 
Poi-Uie  dado  nm  programnia  puramenle 
teclinico,  contendo  as  seguintcs  malerias  de 
ensino:  calligi'apiiia ,  arcliiteclura ,  perspe- 
ctiva,  meclianica,  deseulio  d'omato,  pintura, 
nioldar  ein  barro  e  em  cera,  escriptura- 
5ao,  contabilidade  ,  aritbmetica  ,  geoinelria 
e  liistoria  naliiral. 

O  tempo  d'e.-ludo  divide-se  em  dous  cur- 
ses;  o  do  outono  desde  o  meio  d'oulubro  ate 
o  fim  de  dezembro,  e  o  da  primavera  desde 
o  principio  de  Janeiro  ale  o  lim  de  maio.  Em 
cada  um  d'elles,  nao  ha  inlerrup(;ao  no  ensino 
que  e  ao  douiingo  desde  as  oito  horas  da  ma- 
riha  ate  uma  liora  da  tarde,  e  em  cada  dia 
da  semana  das  sele  lis  nove  hor-is  da  tardo, 
O  publico  R  OS  alumnos  sfio  admitlidos  as 
lergas  e  sextas  feiras  desde  a  uma  hora  ale 
:is  sete  hotas  da  tarde  a  visitar  as  collec(;6es 
da  escliola  que  sc  compoem  de  modelos  para 
cada  officio,  livros  e  joruaes  teclinologicos  , 
e  de  figuras  de  ge-s»  segundo  os  modelos  da 
eschola  das  bellas  artes  de  Pariz  O  numero 
de  aluuMins  que  asslslem  a  cada  lijfio  sao 
ternio  medio  cem ,  pela  maior  parte  pedrei- 
ros,  inarceneiros  e  pinlores.  Havia  ao  prin- 
cipio Ires  iiieslres  so,  e  depois  cinco.  Alem 
d'lito  ha  no  eitabcleciincnlo  u:ii  sacerdoto  para 


cclebrar  o  officio  divine  ao  doniiiigo ;  um  bi- 
bJiolliecario,  e  inestros  extraordinarios ,  cujo 
numero  varia  conforme  o  augmeiilo  do  nu- 
mero dos  alumnos. 

O  or^amenlo  annual  das  despczas  da  es- 
chola aiida  por  6800  francos,  a  saber:  ao 
director  1600  francos,  a  cinco  me-lres  ordi- 
narios ,  com  egual  salario  cada  um  ,  233G  fi. : 
ao  sacerdote,  ao  bibliolhecario,  e  ao  guarda 
da  eschola  200  francos  a  cada  um  ;  o  resto 
para  mcslres  extraordinarios  e  di'spezas  e- 
ventuaes.  Paia  salisfazer  a  cstes  encargos  os 
alumnos  a  principio  pagavaui  4  francos  por 
cada  curso,  e  depois  fixou-se  a  reiribuiyao 
em  pouco  mais  d'um  franco  por  mez :  aos 
niembros  da  sooiedade  pertence  a  cota 
annual  que  pouco  excede  de  .3  francos.  O 
cstabelecimento  que  esta  sociedade  dirige, 
lem  afora  donativos  que  Hie  s.'io  feitos  ,  um 
subsidio  annual  de  IGOO  francos  pagos  pelo 
cofre  dacidade,  e  deSOO  francos  pelo  cofreda 
classe  media;  e  desde  1843  a  indemnisa- 
5ao  de  4000  francos,  dada  pelo  estado. 
CoHliniia. 


CREDITO  TERR1T0RI.\L.' 

C€st   h/i  qui  aidern  Vhomttie 

u    maitriser    la    matiire ,    a 

CTploitrr  le  globe  et  it  Vem- 

bcUir (lonr  sonpropre  usage, 

M.  Chevalier. 

1. 

Se  ha  paiz  que  ,  pela  amenidade  do  clima  , 
fertilidade  do  solo  e  posijuo  geographica  ,  pa- 
rega  destinado  pela  Providencia  a  marchar 
na  vanguarda  da  civilisacao,  e  de  certo  o  nosso 
abengoado  Portugal.  E  todavia  ,  a  quern  esta 
bella  terra  for  descripla  por  suas  circums- 
lancias  naturaes,  nao  se  alcani^ara  fazer-Ihe 
acredilar  o  estado  lastimoao  em  que  a  tern 
delxado  a  incuria  dos  liomens. 

Percorra  quein  quizer  e  piider  algumas 
leguas  de  nossas  proviucias,  e  desde  logo  se  Ihe 
antolhara  esse  de-gragado  conslrasle:  atravez 
d'um  lerreno  difficilmente  transilavel  ,  vastos 
campos  se  enconlram  solitaries    e  sem  cultu- 

*  Ja  por  vezes  o  Tristiliilo  se  tern  occnpado  ilesle  im- 
porlanle  olijecto  ,  coiuo  se  pu'le  \er  nas  paijiiias  U3 , 
'i09 ,  365  Jo  vol.  1  ,  e  225  ,  227  ,  240  ,  2-l9  do  vol.  11. 
Apezar  do  asaiimpio  ser  alii  lral;ulo  por  pessoa  lao 
compelenle,  como  e  o  di;,'Qo  lejile  de  ec.Miomia  pulitifft  d;i 
universidade  ,  itisislimos  na  lualeria,  e  pur  diias  razocs. 
A  primeira  ,  e  nos  foruc-ida  por  aqiielle  illuslr.ado  ccoiio- 
misla  r  I.  "Ill  dos  meios  de  encnrlar  a  di»lancia  que  nos 
separa  da  feliz  cpodia  em  que  haja,  enlrenos,  algiiin  ver- 
dadeiio  lianco  terrilorial ..,  dizelle,  ciconsisle  indiiliiiavel- 
inente  em  fazer  coiiheeer  com  a  possivel  claieza  ,  ao  meiios  , 
OS  principios  fiindaincntaes,  a  essencia  e  as  vantai;ens  deslcs 
estabeiecimenlos  ,  quaes  exislem  ,  e  desde  miiilos  annos 
fiinccionam  pelo  norte  da  Euiopa.  ..  A  seirunda,  se  bem 
DOS  lembra ,  e  de  um  poela ,  Francisco  Manoel  do  N;is- 
cimeiito : 

u  T.into  bale  no  prejo  o  carpintciro  , 
Ale  <iue  0  melle  u'Jma  do  madeiro.  » 


17 


ra,  extensad  serranias  de  todo  despidas  e 
ermas  d'arvoredos,  miseraveis  povoa(,oes  de 
longe  em  longe.  Entre  no  defumado  alber- 
giie  do  lavrador ;  observe-n  em  sea  Iraba- 
Iho;  inquira  que  resultado  lira,  em  fim  ,  de 
tanto  traballiar  e  amesquinhar-se.  Alii  sim  , 
nao  ju  era  dourados  saloes  de  I'olguedos 
cortezfios,  pode  qualqiier  descobrir  objectos 
dignoj  da  maior  solicitude. 

Debalde  collocaria  Dens  um  povo  em  solo 
favorecido  ,  se  Ihe  nao  coticedesse  a  faciildade 
de  crear  as  circuiiistancias  que  coiilribuem 
para  o  augmento  da  forga  productiva  da 
sociedade.  A  falta  de  comruunicagoes  — 
estradas,  canaes,  e  vias  ferreas,  torna  en- 
tre nos  difficil,  se  nao  algumas  vezes  impos- 
sivel ,  o  transporte  dos  objdctos ,  donde 
se  produzem,  para  onde  se  consumam  ,  para 
onde  se  vendani  por  bom  prego ;  e  per  i^so 
muitas  industrias  nao  nascera ,  muitas  dei- 
xani  de  prosperar  e  morrem  —  ninguem  pro- 
duz  so  por  produzir,  senfio  para  que  t.eus 
productos  sejam  consumidos. 

A  ignorancia  dos  principios  e  practicas  mais 
proficuasda  agrononiiae  lechnologia,  ignoran- 
cia generalisada  em  nosso  paiz,  onde  se  nao 
encontrani  estabelecimentos  proprios  ,  e  em 
uumero  sufficiente,  para  diffundjr  a  educag-io 
professional,  escliolas  e  quintas  exeraplares 
verdadeiras,  e  nao  fingidas,  como  isso  que 
cliamaram  Institulo  agricola,  6  ontra  causa 
nao  menos  ponderosa  do  atraso  em  que  ve- 
mos  a  agricuUura  era  Portugal;  porqiie  o 
primeiro  e  mais  efficaz  meio  de  augmentar  a 
potencia  da  producgaoe,  sem  duvida,  formar 
productores ,  preparar  a  tempo  para  este 
desliiio  as  novas  gerajoes. 

Um  proprietario  agricola,  separado  dos 
tnercados  por  obstaculos  invenciveis,  nao 
possuindo  oulra  soiencia,  senfio  a  que  rece- 
beu,  por  Iradigao,  deseus  avos,  como  que  se 
esposoucom  a  terra,  e  nao  compreliendeoutro 
viver,  senao  junto  daquella  consorte  que  llie 
pede  extreiiiosos  sacrificjos.  Necesslta  de  di- 
rlieirojpara  comprar  uraa  lierdade  que,  unida 
s'l  sua,  llie  proporciona  cultura  mais  lucrati- 
va;  necessita  de  dinheiro  para  o  amanlio  das 
fazendas  que  possue;  necessila  de  dinheiro 
para  comprar  instrumentos  aperfei^oados , 
para  tudo;  porque  nao  lem  mais  do  que  a 
sua  intelligencia,  os  sens  bragos  ,  e  um  solo 
que,  por  mais  fertil  que  seja ,  nao  da  ao  ho- 
mem  o  alimento  que  o  nutre,  senao  depois 
de  regado  por  elle  com  o  suor  de  sen  rosto. 

O  proprietario  dirige-se  ao  capitaljsta,  pe- 
de-llie  emprestado  o  capital  de  que  necessita, 
offerece-Ihe  em  liypotheca  as  terras  que  pos- 
sue,  promette  pagar-lhe  com  o  rendimento 
que  dellas  liouver.  Mas  o  capitalista  mette 
em  calculo  a  pouca  seguranga  do  penhor 
offerecido,  a  longa  distancia  da  epocha  em 
que  a  divida  ha  de  solver-se  —  recusa  o  em- 
prestimo,  ou  exige  premio  superior  ao  que 
pode  pagar  a  industria  agricola. 
E  o  capitaliita  lem  razao.  A  nossa  legisla- 


5ao  hypothecaria ,  a  mais  defeiliiosa,  a  mais 
embaragada  de  quantas  legislagoes  existem  , 
d'envolta  com  a  confusao  de  direitos  que  se 
cruzam  sobre  a  propriedade,  da  em  resultado 
o  que  Mr  Dupin  attnbue  a  me^ma  le"-isia- 
5ao  em  Franga:— quem  compra  nao  lem 
certeza  de  ser  proprietario,  quem  empresta 
sobre  liypotliecas ,  nao  sabe  se  tornaia  a  ha- 
ver oseu  capital.  Por  outrolado,  os  capitaes 
emprestados  A  industria  agricola  empregam-se 
em  terras,  instrumentos  uratorios,  construc- 
goes  ruraes,  plantagoes,  etc.,  e  esabido  que 
OS  capitaes  assim  despendidos,  quando  nao 
fleam  para  sempre  cnlerrados  no  solo  que 
mellioraram,  so  volvem  mui  tarde  a  mao 
do  proprietario:  a  consequencia ,  e  que  o 
capitalista  nao  pode  ser  reembolgado  se  nao 
passados  muilos  annos,  e  no  entanlo  podem- 
se-liie  olTerecer  negocios  mais  lucrativos  ,  pode 
a  hypotheca  deteriorar-se  ,  ja  por  causas  natu- 
raes,  como  aluvioes  ,  incendios,  molestias 
de  plantas,  ja  pela  acgfio  das  leis  civis,  jd 
por  negligencia  do  mesmo  proprietario. 

Alii  teinos  pois  o  proprietario  collocado 
neste  terrivel  dilemma:  aceitar  as  condigoes 
impostas  pelo  capitalista  —  sujeitar-se  a  um 
jiiro  que  transcende  o  rendimento  do  capital 
mutuado,  e  que  ,  por  isso,  tem  de  ser  pago, 
a  final ,  com  a  venda  da  hypotheca  ;  ou  enlao 
abandonar  a  industria  agricola  —  vender  as 
terras  por  esse  pouco  que  Ihe  possam  dar  por 
ellas,  emigrar  para  os  infectos  pantanos  de 
Demerara,  ou  para  a  California.  E  tomando 
um  ou  outro  parlido  vae  caminho  damiseria. 

Como  sahir  d'este  estado  de  tristissima 
desesperanga  em  que  vemos  a  primeira  das 
nossas  industrias?  Cremos,  e  asciencia  ocon- 
firma,  que  se  chegar  a  organisar-se  entre  nos 
o  credito  territorial ,  raiarao  para  a  agricultura 
dias  mais  felizes.  O  credito  territorial  de- 
pende,  t  verdade,  de  todas  as  circumstan- 
cias  que  elevara  o  valor  das  terras  e  de  seus 
productos,  mas  lambem  e  cerlo  quo  o  me- 
Ihoramento  da  cultura  e  a  exislencia  de 
todas  estas  circumstancias  dependem  do  cre- 
dito territorial.  Desenvolvendo  este  pensa- 
menlo,  uniremos  o  quadro  dos  males  que 
sotfremos  ao  dos  bens  a  que  podemos  e  devemos 
aspirar. 

Continia.  jacintho  a.  de  SOUZA. 


AS  MEZAS  GYRA.VTES . 

CONSIDERADAS    NAS  SDAS  BELAQUES  COII   A   UECAKICA 
E   COM   A  PUYSIOLOGIA. 

Conliauado  de  pa^.  289. 

Uma  questao  importante  que  conviria  exa- 
minar  experimentalmenle,  seria  indagar  ate 
que  ponto  o  contacto  dos  dedos  dos  diversos 
operadores  se  torna  necessario  para  estabe- 
lecer  aconcordancia  das  acgoes,  que  determi- 
na  o  resultado  final.  A  vontade  ,  expressa  ou 


18 


tacila  de  tim  oii  de  muitos  operadores,  sera 
ba&tante  para  inverter  o  sentido  do  movi- 
menlo,  on  para  decidir  dos  movimenlos  con- 
cordanles  nosorgaos  dos  que  cooperam  para  a 
experiencia?  Uiii  ligeiro  impiiho  em  sentido 
contrario  do  movimento  eilabelecido  bastara 
para  alcan^ar  que  todosos  orgfios  ,  que  assen- 
taiii  naiiieza,  niudeni  o  sentido  da  sua  acfao  ? 
Quando  se  opcram  movimenlos  de  balan^o 
para  cima  e  para  baixo,  como  e  que  a  von- 
lade  de  um  pequeno  numero  de  operadores, 
ou  mcsiiio  a  de  um  so,  arrasla  a  de  lodes  os 
oiilros?  limvirUide  dasindica^oes  dadas  pelo 
movimento  das  mezas,  tern  sido  reproduzi- 
das  lodas  as  hypotheses  que  se  lem  feito  para 
explicar  as  adiviuhajoes  ou  pretendidas  advi- 
nliacoes  magnelicas.  E  com  edeilo  por  este 
modo  parece  que  os  phenomenos  das  influen- 
cias  nervosas  devem  prestar-se  melhor,  por 
mais  destacados,  a  verificajfio  dos  factos  pos- 
siveis.  O  proprio  facto  fundamental,  isto  e, 
a  grande  energia  dos  movinientos  nascenles, 
quer  voluntaries  ,  quer  inseiisiveis ,  e  muito 
curioso;  e  ao  passo  que  parece  explicar  quan- 
lo  pode  ler  explica^ao  no  pheiiomeno  geral, 
serve  tambem  para  confirinar  tudo  o  que  jii 
erasabido  pela  mechaiiica  epela  physiologia. 
Aiguns  espiritos  muito  sensatos  cnlendiam 
que,  em  logar  de  causar  admira^ao  que  a 
imposiij'ao  das  mfios  produzisse  movimento, 
o  que  muito  deveria  admirar,  seriam  os 
casos,  se  por  ventura  existissem ,  em  que 
orgaos  essencialmente  nioveis  communicas- 
sem ,  por  assim  dizer,  o  repouso.  A  esses 
responderemos ,  que  a  questfio  nfio  esta  em 
saber  poique  razao  se  prodiiz  o  movimento, 
mas  sim  eui  saber  como  esse  movimento  se 
transmilte  dos  orgaos  aos  corpos  moveis. 

Dissemos  acinia  ,  que  iiaviamos  de  exami- 
nar  a  ctlebre  queslao  do  movimento  conside- 
rado  na  sua  producjao  e  na  suaduragao,  e 
tambem  a  que  Ihe  esta  ligada,  do  movimen- 
to perpetuo.  £  assim  como  nos  nao  e  possi- 
vel  admiltir  nada  que  conlrarie  a  logica  no 
niundo  das  ideas,  laml)em  nada  admiltire- 
mos  que  conlrarie  a  experiencia  no  mundo 
material.  Vejamos  pois  o  que  nos  diz  a  scien- 
cia  experimental. 

'lOdosoi  corpos  ,  toda  a  substancia  material 
nao  pode  por  si  so  dar  nem  tirar  a  si  mesma 
o  movimento,  Os  corpos  so  podem  ganhar 
ou  perder  velocidade,  rccebendo  movimento 
dos  corpos  estranhos  ,  ou  communicando-llies 
lima  parte  do  sen.  A  somma  total  do  movi- 
mento que  existe  no  mundo  e  invariavel,  por 
isso  que  um  ser  material  qualquer  nao  pode 
augmcnlar  o  sen  movimento  senao  a  custa 
dos  corpos  que  o  rodeam ,  nem  l.'io  pouco 
perdel-o  sem  o  reslituir  aos  corpos  sobre  que 
icage.  Se  vemos  na  terra ,  que  todos  os  mo- 
vimentos  abandonados  a  si  mesmos  param 
promptamenle;  e  porque  a  communica^ao 
do  movimento  ao  ar  ainbiente,  aosapoios,  e 
piincipalmcnle  aos  objectos  que  se  elaboram 
ou    afeijoam  ,    roubara  continuamente    uma 


parte  do  movimento  que  exislia  nocorpo, 
e  estas  perdas  fazem  com  que  elle  pare  bem 
dopressa.  Nos  espa^os  celestes,  em  que  os 
astros  nao  encoiitram  obstaculo  algum  e  on- 
de  por  isso  n'lo  lem  logar  estas  perdas ,  os 
movimenlos  perpetuam-se  indefmidamente. 
Eslii  lao  fora  do  poder  do  homcm  o  crear 
movimento  sem  for^a  ,  como  o  tirar  corpos 
materiaes  do  nada.  Uma  velocidade  de  um 
metro  por  segundo  e  t.'io  impossivel  de  dar  a 
uma  bigorna  de  quinhentos  kilogrammas, 
sem  que  se  Ihe  cliegue ,  como  o  de  fazer 
nascer  a  mesma  bigorna  sem  ler  excavado  a 
terra  e  reduzido  o  mineral  a  ferro. 

D'aqui  podemos  conciuir  que  e  impossivel 
o  movimento  perpetuo,  visto  que  ha  sempre 
perda  de  movimento  para  os  corpos  terrestres 
que  se  movern  alravez  de  mil  obstaculos,  e 
que  nada  lem  em  si  que  Ihes  restitua  as  per- 
das que  vao  soffrendo. 

Apprendarnos  pois  da  experiencia  a  distin- 
guir  o  possivel  do  impossivel  ,  e  so  depois 
desla  apreiidizagem  indispensavel  poderemos 
raclocinar  com  segurani,a  sobre  os  factos 
physicos  que  se  nos  apresentnm.  A  these 
contraria  serj'a,  que,  para  raciocinar  sobre 
certa  ordem  d'ideas,  cumpriria  ser-lhes  com- 
plelamenle  estranho.  E  em  conforniidade  com 
isso  tornar-se-hiam  os  cegos  os  juizes  natu- 
raes  da  pinlura,  os  surdos  da  musica,  e  as 
liibus  antropophagas  da  humanidade! 

O  que  vemos  nos  no  desenvolvjmenlo  das 
for(;as  meclianicas?  Da-se  acaso  um  unico 
exemplo  de  movimento  produzido,  sem  uma 
forya  que  obre  exteriormente?  O  liomein  , 
reduzido  ao  principio  unicamente  ao  seu  tra- 
bailio  proprio,  so  ii  forga  de  bra^os  oblern 
algutna  cousa  da  terra.  Nao  e  pelo  pensa- 
rnento  que  elle  domina  os  seres  materiaes. 
Majs  tarde  toma  por  auxiliares  os  animaes 
domesticos,  e  lavra  com  o  l)oi  ,  com  o  caval- 
lo  ou  com  o  burro.  Sempre  molores  physicos 
para  os  trabalhos  physicos!  Mais  tarde  ainda 
a  sua  induslria  Ihe  submette  as  for^as  da  na- 
tureza,  a  agua ,  o  ar  e  o  fogo.  As  palhelas 
das  lodas  hydaulicas  ,  e  o  emprego  multi- 
plicado  da  queda  das  aguas  Uie  permille  fa- 
zer Irabalnar  o  regalo ,  o  ribeiro  e  o  rin.  Ar- 
mazena  e  uliliza  a  ac^ao  dos  venlos  nas  azas 
maravilhosas  do  moinlio  de  vento,  e  nas  velas 
mais  inimeusas  dos  navios.  Com  o  fogo,  for- 
ja  ,  fiinde,  desenlerra  os  melaes  escondidos, 
e  cozinhando  os  alimentos  os  torna  sadios. 
Finalmente,  quasi  nns  nossos  dias,  pede  o 
seu  concurso  n)eclianico  aos  agenles  artifi- 
ciaes  que  a  sciencia  lem  descolierto  ,  e  dos 
quaes  ella  lem  estudado  as  propriedades ,  e 
quasi  que  diriamos  os  costumes. 

Vira  um  dia  em  que  ha  de  ser  jiilgado 
como  uma  vergonha  para  a  humanidade, 
que  a  polvora,  a  primeira  desroberla  d'esles 
agentes  maravilliosos,  tivesse  a  principal  ap- 
plica^ao  nos  campos  das  balallias,  e  que  o 
homem  cuidasse  primeiro  que  tudo  em  pedir 
aos  poderes  arlificiaes  os  meios  de  deslruir  o 


19 


homem.  Para  fixarmos  as  ideas  do  leitor, 
como  ale  aqui  temos  feito,  e  a  fini  de  preci- 
sar  OS  faclos,  diretnos  que,  para  realisar  o 
csforjo  mechanico  que  a  explosao  exerce 
sobre  uma  bala  de  12  kilogrammas  n'uma 
pe^a  de  calibre  21,  carregada  com  8  kilo- 
grammas  de  polvora  e  pesando  2:700  kilo- 
grammas,  lal  como  03  que  se  trazem  para  a 
borda  dos  fossos  n'uma  pra^a  siliada,  seri'a 
mister  o  Irabalho  alurado  de  um  cavallo  por 
duas  horas ,  ou  o  de  um  homem  por  oito 
horas.  Ora  este  elTeito  prodigioso  produz-se 
quasi  momenlaneamente.  E  para  fazer  com- 
prehender  as  despesas  que  traz  comsigo  a 
guerra,  bastara  dizer,  que  uma  pe(;a  de  24, 
com  OS  seus  2:700  kilogrammas  de  bronze, 
nao  pode  dar  mais  de  cem  liros,  sem  que 
fique  incapaz  de  servir,  e  que  no  momeiito 
em  quo  da  o  primeiro  tiro,  tem  cuslado  ao 
estado  10  a  11:000  francos. 

Que  fazeis  vos  de  novo ,  snr.  Watt?  per- 
gunlava  Jorge  ill  ao  inventor  da  maquina 
de  vapor  iiSenhor,  fa^o  uma  cousa  muilo 
agradavel  aos  reis,  um  poder.  u  A  palavra 
ingleza  power,  que  significa  lanlo  um  poder 
politico  como  uma  forga  mechanica,  presta- 
va-se  mellior  a  este  jogo  de  palavra?.  Watt 
poderia  ler  dito  que  o  novo  poder  que  dava 
a  sociedade,  era  ainda  mais  agradavel  aos 
povos  do  que  o  dominio  aos  reis.  Estamos 
ouvindo  ja  as  reclamagoes  dos  que  nos  gri- 
tam  ,  que  a  maquina  de  vapor  nao  fora  in- 
ventada  por  VVatt.  Convimos;  e  para  satis- 
fac5;1o  de  todos,  diremos  que  depois  de  Watt 
a  sociedade  ficou  de  posse  de  uma  operaria 
universal,  que  faz  com  que  os  navios  atra- 
vessem  o  Oceano,  que  lece  rendas,  e  que, 
na  Inglaterra  e  na  Belgica ,  exige  apenas 
um  franco  de  carvao  para  o  traballio  de  vin- 
te  dias  de  um  operario ;  mas  que  antes  de 
Watt  nada  disto  existia  para  auxilio  da  in- 
dustria,  E  ja  que  se  nos  appresenta  a  occasi.'io  , 
eonviremos  lainbem  que  antes  de  Chrislovam 
Colombo  se  tinlia  ,  no  papel  ou  por  lingua 
de  pliilnsophos,  indicado  o  Novo-Mundo. 
Mas  so  di'pois  de  Cliristovao  Colombo  e  que 
esse  niundo  foi  devassado.  Muitas  vezes  pro- 
feriu  Ar.Tgo  na  iribuna  franceza  o  nocne  de 
Mr.  Seguin  ,  que  fez  correr  as  locotnolivas, 
cujo  bello  meclianismo  ,  entao  inefficaz,  ja 
era  devido  a  Stephenson.  Ao  sair  d'uma  das 
sessocs,  reclamava-se  na  minha  presen^-a 
contra  a  asserjao  do  sabio  depulado.  «  Accei- 
to  a  condemnagao  ,  respondeu  elle;  mas  con- 
vinde  commigo,  que  antes  de  Mr.  Seguin  se 
gaslavam  nilo  a  dez  horas  para  andar  o  ca- 
niinho  de  Versailles,  ida  e  volta,  quando  se 
nao  gastava  mais,  e  que  depois  delle  se  anda 
indtfiniddmente  um  kilomeiro  por  minuto. « 
IS'ao  e  por  ventura  devido  a  Ampere  o  tele- 
grapho  electrico,  a  pezar  de  todos  os  traba- 
Jhos  anteriores  de  Volta,  d'Qilrsled,  emesmo 
dos  ensajos  de  Lesage  com  a  electricidade 
ordinaria?  Aquelles  que  querem  depreciar 
o  merecimento  dos  trabalhos  modernos  com 


injuslas  recIamaQoes ,  lembraremos  o  dilo 
tao  espirituoso  como  profundo  do  nosso  sabio 
academico  Mr.  Biot:  »  Nas  sciencias,  nada 
ha  tao  simples  como  o  que  se  achou  hontem  , 
nem  tfio  diificil  com  o  que  ha  de  achar-se  a 
manh.i.  « 

Continua, 


GERACOES  ESPONTANEAS. 

Cootinuado  lie  pa;.  292, 

O  ar  que  respiramos,  e  as  substancias  ali- 
mentares  que  inlroduzimos  no  estoroago  ja- 
mais se  podem  considerar  como  vehiculos 
que  transporlem  os  enlozoarios  para  o  inte- 
rior dos  individuos. 

No  caso  contrario  fora  mister  admitlir  a 
exislencia  dos  enlozoarios  ou  dos  sens  ger- 
mes  na  almosphera  ;  porem  e  o  que  se  nao 
pode  eonceder,  porque  os  enlozoarios  mor- 
reriain  logo  que  se  achassem  no  lluido  gazoso 
que  respiramos.  Alem  deque,  devendo  esles 
atiimalculos,  por  sua  propria  naUireza  come^ar 
a  exislir  no  interior  d'um  iiidividuo ,  nfio 
podiam  transmitlir-se  para  outro  que  viv(! 
vida  extra-ulerina  ,  por  inlerinedio  do  ar,  se 
nao  fossem  para  este  arrojados  por  secre^oes 
e  expiragfio.  Mas  basla  retleclir  no  modo 
porque  se  opera  a  nulri^ao,  na  distribui^ao 
dos  vasos  sanguineos  nos  orgaos  secrelores  e 
vesiculas  pulmonares,  para  ver  a  impossibi- 
lidade  de  invocar  os  actos  secrelores  e  expi- 
radores  como  causa  da  supposta  exislencia 
de  germes  na  almosphera. 

Vencida  esla  diPficuldade  era  necessario 
que  OS  germes  se  misturassem  com  o  san- 
gue  durante  o  processo  da  hemalose :  mas 
como  fazer  lal  mislura,  n.'io  se  dando  conla- 
clo  innnedialo  enlre  o  liquido  que  leva  a 
nutrig.'io  e  a  vida  a  todos  os  orgaos,  e  o  llui- 
do que  llie  da  esla  propriedade  vivificanle? 
Como  se  dara  este  plienomeno  se  as  ultimas 
ramificajoes  bronchicas  que  formam  as  vesi- 
culas pulmonares,  e  em  cujas  paredes  ser- 
peam  os  capillares  sanguineos  nao  sao  per- 
meaveis  senao  por  corpos  gazosos  ,  e  mui  dif- 
ficilmenle  por  corpos   no  estado   de  liquidezf 

O  leile  de  que  o  infante  a  printipio  se 
nulre  ,  nao  pode  egualmenle  ser  conductor  de 
germes  ou  de  animalcules,  porque  e  o  resul- 
lado  d'uma  secrejao,  e  n.'io  de  cliylo  que 
veulia  directamenle  do  canal  ihoracico  aos 
peitos,  por  via  dos  vasos  lymphaticos,  como 
queriam  alguns,  contra  ludo  o  que  a  ana- 
lomia  nioslra.  Nos  orgfios  deslinados  as  se- 
crejoes,  os  vasos  sanguineos  nao  se  abreni 
nos  ductos  secrelores,  e  apenas  se  distribueiii 
nas  suas  paredes:  d'aqui  nasce  pois  a  difli- 
culdade  de  os  enlozoarios  ou  os  seus  germes 
se  juularem   ao  leite,   e  percorrerem  os  con- 


20 


(luctos  excretores  conhecidos  pplo  nome  de 
lacliferos    on   galaclophoros. 

Dejjois  que  o  novo  individuo  cessa  de  se 
alimentar  com  leite,  a  considera^fio  de  que 
o«  animaes  lierbivoroa  conteem  entozoari- 
os ,  e  cada  animal  os  sous  proprios,  seria 
siifficiente  para  destriiir  a  hypolliese  da  in- 
trodiiCQao  dos  cnlozoarios,  on  dos  sens  f;er- 
rnes  pelas  vias  dij^oalivas ;  porque  no  primeiro 
caso  era  necessario  que  as  plantas  os  conti- 
vessem ,  no  segundo  era  preciso  que  rada 
iinimal  sg  nntrisse  da  came  do  sen  semellian- 
te.  Os  vasos  cliyliteros  casiialmente  descober- 
tos  em  ]G22  por  tiaspar  de  Azelli  liaviam  de 
ser  necessarinmenle  os  condnctores  por  onde 
OS  germes  dos  erilozoarios  seriam  levados  u 
corienle  circulatoria ,  depots  de  ingeridos  no 
estomago  e  lerem  passado  ao  intestino  del- 
j^ado ;  mas  as  extremidades  d'estes  vasos  sfio 
fechadas  ,  como  o  provani  as  observagoes  de 
Schwan,  Foliman  e  Midler  contra  a  opini.'io 
d'Azelli,  Lieberkuhn,  Hewson,  Cruiksliank, 
Meckel  e  Hedwig.  Ja  se  ve  pois  a  grande 
difficnidade  que  os  ovos  dos  entozoarios  te- 
I'iam  em  penetrar  para  dentro  d'estes  vasos, 
quando  alguns  pliysiologistas  poem  ate  em 
(liivida  que  os  globulos  cliylosos  entrem  ja 
i'ormados ,  e  sendo  estes  qiiatro  vezes  me- 
nores  que  os  do  sangue,  sfio  incompara- 
velniente  inferiores  era  grandeza  aos  germes 
dos  entozoarios.  O  peqneno  calibre  dos  vasos 
lacteos  e  tanibem  um  obstaculo  a  sua  intro- 
ducgao  pelas  via"  drgestivas. 

lixcliiidos  assim  todos  os  meios  d'origem  e 
conducgfio  dos  entozoarios,  ou  dos  sens  ger- 
mes para  os  diversos  animaes,  nao  nos  resta 
senao  consideral-os  como  producto  d'uma 
geragfio  espontanea  ,  e  altribuir  o  sen  appa- 
reciinento  d  plasticidade  organica  dos  liqui- 
dos  segregados  e  elaborados  nos  tecidos ,  e  lis 
inu  langas  na  nalureza  cliimica  d'estes  liqui- 
dos  resultantus,  ou  d'atrecgoes  moraes  segundo 
Brera,  ou  do  seu  estado  morbido  ,  como  foi 
observado  por  Leuwenboek,  que  diz  nao  ter 
visto  entozoarios  no  muco  intestinal ,  senfio 
no  caso  d'utna  phlegmasia  no  tiibo  digestivo. 

Os  infiisorios  sao  os  outros  animalcules 
ciija  existencia  vem  apoiar  as  geragoes  rspon- 
laneas,  ou  na  phrase  de  Raspail  as  forma- 
roes  organicas  resultantes  da  combinajao 
d'influencias  orgunisadoias. 

Para  admiltir  as  geragoes  espontaneas  dos 
infusorios  nao  invocaremos ,  como  alguns 
teem  feito  ,  os  phenomenos  observados  na  sua 
j)rodui(,'flo ,  durante  a  qual  se  descobrem  em 
primeiro  logar  corpusculos  globulosos ,  hya- 
iinos,  niovendo-se  lentamente  em  spiral,  to- 
mando  depois ,  ja  a  direcyfio  circular  ,  ja  a  re- 
eta,  reunmdo-se  imalmente  para  forrnar  ani- 
inalculos  dotados  de  movimento  total,  listas 
metamorphoses,  que  teem  sido  consideradas 
como  prova  inconcussa  das  gera^oes  esponta- 
neas dos  infusorios,  nao  o  sa.o  na  realidade , 
porque  ha  animaes  que  evidentemente  pro- 
vcm  d'ovos,  e  que  experimenlam  metamor- 


phoses mui  notaveis  antes  do  seu  complete 
desenvolvimenlo.  Oulras  considera(;oes  porem 
nos  levaram  aconcluir,  que  o  apparecimento 
dos  infusorios  esta  debai.xo  do  dominio  da 
heterogenia. 

Agua,  materia  organica,  p  i:m  fluido  ela- 
slico,  sao  as  condigoos  essenoiaes  para  o  de- 
senvolvimenlo dos  infusorios. 

A  presenga  d'um  fluido  elastico  e  uma 
das  condi(;oes  rnais  necessarias  para  o  seu  ap- 
parecimento.  Spallanzani  fazia  experiencias 
no  vacuo  e  nada  ol)tinha.  Wisberg  cobria  o 
liquido  com  uma  camada  oleo.'a,  e  o  resul. 
tado  era  o  mesmo. 

A  variag.io  de  qualquer  d'estas  circums- 
tancias  importa  variedade  no  resultado,  como 
o  provani  as  experiencias  de  Spallanzani  e 
Terechovsby ;  a  propria  luz  e  o  calor  nao 
deixani  lambem  de  ter  algunia  influencia, 
sendo  a  teinperatura  mais  favoravel ,  a  de  31 
a  3d  grans  do  ihermometro  centigrado. 

A  mulliplicidade  de  produclos  que  resul- 
lam  da  [iiudan<,'a  de  coudigoes,  e  um  argu- 
menio  a  favor  das  gera<;oes  espontaneas  dos 
infusorios;  porque  se  elles  devessem  a  sua 
origem  a  ovos,  a  qualquer  teraperatura  e 
com  qualquer  infusao  se  deveriam  desenvol- 
ver  03  mesmos  animalculos,  porque  os  ovos 
eram  os  mesmos. 

Nem  so  diga  que  as  diversas  circumstan« 
cias  favoreceni  o  desenvolvimento  d'alguns 
germes,  e  retardam  ou  impedem  a  evolu5rio 
d'outros;  porque  entao  era  necessario  admil- 
tir em  toda  a  parte  a  existencia  d'ovos  de  to- 
dos  OS  infusorios,  ja  que  a  variedade  de  pro- 
ducto  e  so  dependente  dos  tres  elementos  ha 
pouco  mencionados,  e  nunca  do  local  onde 
se  opera. 

limpregando  agua  distiUada,  sujeitando 
a  infusao  a  uma  temperalura  a  que  os  ovos 
dos  animaes  nao  podem  resistir  ou  perdem  a 
faculdade  de  se  desenvol  verem  ,  subslituin- 
do ,  como  fizeram  liurdacb  ,  Ba'T,  etc.,  o  ar 
atmospherico  por  gazes  extemporaneamente 
preparados,  teinos  tirado  a  possibilidade  da 
existencia  de  germes  dos  infusorios  ,  e  mostra- 
do  que  o  seu  desenvolvimento  e  devido  as 
geragoes  espontaneas. 

JIa  animaes,  diz  Cabanis,  que  parecem 
fdlios  da  arte  ;  os  vermes  proprios  do  vinagre, 
a  traja  doslivros,  datam  da  existencia  d'estes 
productos  da  indu^tria  humana.  Ora  a  sup- 
por-se  a  preexistencia  d'ovos  devia  tambem: 
admittir-se  a  de  entes  que  fossem  os  seus 
geradores,  e  que  se  asscmelhassem  aos  novos 
individuos,  e  enl.HO  deveriam  estes  animaes 
ser  necessariamente  conhecidos  antes  d'aquel- 
les  productos. 

A  resurreigao  dos  infusorios  a  que  alguns 
recorrem ,  e  deslituida  de  todo  o  fundamen- 
to.  Que  OS  infusorios  ja  existiam  seccos  na 
atmosphera ,  que  eram  transportados  pelos 
ventos  a  diversos  logares,  e  que  reviviam 
pela  sua  immersao  naagua,  tal  era  a  opiniao 
d'alguns  que  combatiam  as  geragoes  espon- 


21 


taneas  dos  infusoiios :  opiniao  inadmissivel 
se  altendermos  a  que  a  experiencia  e  feita 
orditiarianiente  em  vasos  tapados,  que  era 
preciso  que  em  lodos  os  logares  existisiem 
todos  OS  generos  d'infusorios  n'esto  e.-lado 
d'exsicarao ,  e  que  a  agua  reaniuiaudo  quasi 
immedialanieiUe  os  animaes  a  que  a  cxsica- 
•jfio  de  seus  tluidos  suspendeu  a  vida,  nfio 
iaria  outro  tauto  ao5  infusorioi,  que  pela 
maior  parte  apparecem  so  vinle  e  qualro 
lioras ,  e  as  vezes  depois  de  alguns  dias  d'iu- 
fiisilo. 

As  expcriencias  de  Gruitliuisen  que  do 
granito  posto  em  agua  vio  desenvolver  enles 
organisados  que  toinavara  a  forma  aiiimid 
ou  vegetal,  segundo  a  proporffio  de  liquido  e 
solido  emprcgados;  as  observagops  de  Cross 
sobre  a  forma^ao  do  acarus  horridiis ,  e  as  de 
Macliay  sobre  a  metamorphose  d'uma  plaiila 
n'um  inseclo,  e  d'este  oulra  vez  na  mesma 
plania  ;  vieram  levantar  o  veo  mysterioso  que 
cncubria  as  gera^oes  espontaneas,  e  coulir- 
mar  mais  a  opiuiao,  que  no  estado  actual 
nao  podemos  dcixar  de  as  admillir,  poslo 
que  limitadas  a  infima  especie  de  seres. 

A  lieterogenia  estende  o  seu  doniinio  ao 
reino  vegetal.  Ahi  vemos  o  dactilium  desen- 
volver-se  n'uma  gemma  d  ovo  ,  cuja  casca  se 
ooiiservava  intacta;  ascoufervas  formarem-se 
n'uma  solujao  de  clilorureto  de  baryo  em 
agua  distillada,  e  conservada  por  espago  de 
seis  mezes  em  frascosesmerilados;  os  I'llamen- 
tos  confervoides  tomarem  origem  em  pouco 
tempo  na  agua  de  Sedlitz  artificial  ;  vemos 
fmaimenle  as  materias  organicas  amorplias  — 
glerina,  e  bardgina,  etc.,  contidas  nas  aguas 
lliermaes,  organisarem-se  pouco  tempo  depois 
do  arrefecimento  das  raesmas  aguas. 

F.  a.'alves. 


MAUCAS  TVPOGRAPHICAS. 


As  marcas  typographicas  sao  para  a  biblio- 
grapliia  o  mesmo  que  o  brasfio  para  a  histo- 
rla;  servem  para  discriminar  e  conhecer  o 
verdadeiio  editor  de  certos  livros,  que  mujtas 
vezes  iiao  offerecem  outro  iudiclo  a.  cerca  de 
sua  origem,  e  tambem  para  evitar  a  falsifi- 
oac'io  estrangeira.  Tacs  symbolos  teem  alem 
d'isto  um  iiiteresse  proprio  para  merecer  a 
atteny'io  dos  arclieologos  e  artistas. 

O  anno  passado  comeijou  L.  — C.  Silvestre 
a  publicar  em  Pariz  uma  coUecjao  de  moiio- 
grammas,  lypos,  caracteres,  signaes,  embie- 
inas  ,  vinlietas  e  tloroes  dos  livreiros  e  impres- 
sores  fraucezes,  ou  dos  impressores  de  livros 
Jiancezes  em  paizes  e^trangeiros ,  desde  1470 
ate  o  fun  do  seculo  XVI.  Esta  collec^ao  cujas 
gravuras  sao  abertas  em  pau  ,  deve  conslar 
do  seis  ou  sctc  niimeros,  de  que  ju  estuo  im- 


presses Ires,  contendo  272  marcas  differen- 
tes,  e  terminar  com  diversas  taboas  que  deem 
u  obra  nexo  e  unidade. 

A  natureza  e  condi^oes  d'uma  obra  em  que 
ja  nao  e  pouco  serem  as  figuras  re|)roduzida3 
com  exaclidfio,  faz  todavia  com  que  seja 
inevilavel,  sequer  provisoriamente,  tal  ou 
qual  desordem.  O  editor  limita-se  por  isso  a 
empregar  uina  serie  contiuua  de  numeros 
d  ordem  ,  que  servira  depois  para  dirigir  na 
classificagfio ,  e  apresenta  n'estes  fac-similes 
numerados  os  nomes  dos  impressores  a  quem 
cada  uma  das  marcas  reproduzidas  pertence, 
repetiiido  o  numero  d'ordem  e  ajuntando-Ihe 
as  datas  extremas,  assim  como  o  Ingar  onde 
exerciam  o  officio  de  livreiro  ou  iiiipressor. 

Vallot  de  Viiiville  faz  a  semclliante  pro- 
posito  as  seguintps  observajoes  que  nos  pare- 
cem  opporlunas  e  uteis. 

"  A  collecjao  em  vez  de  comegar  em  lt70 
que  corresponde  a  inlroducgfio  da  imprensa 
em  Franga,  seria  meUior  que  remontasse  a 
Gutemberg  e  lis  primeiras  marcas  typogra- 
pliicas  conliecidas.  E  isto  so  nao  bastaria, 
por  quanto  segundo  as  no^oes  coUigidas  pelos 
bibliograplios,  o  verdadeiro  progresso  d'este 
ramo  da  liisloria  lilteraria  depende  principal- 
mente  do  estudo  minucioso  e  coinparativo 
dos  caracteres,  letras  e  outros  signaes  typo- 
graphicos  usados  desde  Gutemberg  e  talvez 
antes  por  seus  emulos,  discipulos  e  successo- 
res  mais  proximos. 

«  Uma  coileccao  de  fac-similes  pouco  ex- 
teiisa  para  cada  um  ,  mas  escolliida  e  o  mais 
numerosa  possivel  ,  lirados  das  reliquias  do 
comedo  da  imprensa  dispersas  em  varios  poii- 
tos  da  iiuropa,  seria  certamente  a  base'd'e- 
sludoi  muito  instructivos,  e  um  bom  servi^o 
prestado  aerudiyfio.  Mas  a  arte  xyiograpliica 
nao  faz  reproduzir  os  caracteres  com  a  jjer- 
leigfio  necessaria  ,  e  somente  a  pliotograpliia 
poderia  reptesentar  exaclaiiiente  todas  as  de- 
licadezas  e  circumslancias  de  tal  geuero  dim- 
pressoes. 

A  coileccao  de  marcas  typographicas  que 
esta  publicando  L. —  C.  Sdve'^tre,  e  obras 
analogas  que  forem  apparecendo,  muito  con- 
viria  que  se  mandassem  vir  para  os  nossos 
ebtabelecimeritos  piiucipaes,  a  imprensa  da 
uiiiversidade  deCoimbra  e  a  nacional  de  Lis- 
bon, nao  so  para  o  fan  indicado  por  Vallet 
de  Viriville',  senao  tambem  para  forinar  o 
bom  gosto  ecomplelar  ainslrucgao  dos  respe- 
ctivos  artistas  pelo  conhecimenlo  e  aprecia- 
fao  d'obras  technicas  por  assiin  dizer  clas- 
sicas. 


NOMES  E  TITLLOS  MUSULMANOS. 

D'uma  memoria  lida  recentemente  por 
Garcin  de  Tassy  li  academia  de  J''ran<,'a  ex- 
tialiirnos    as    seguintcs    particularidades    que 


22 


Cite  sabio  orientalista  rcfere  a  cerca  dos  nomes 
proprios ,  on  alamj  sobrenomes ,  ou  knni/nlj 
appellidoi  c  tiluloj  honoriticcs,  lacab  c  khi- 
tdb;  nomes  de  rela^fio,  nisbal  •  nomes  il<' 
fuiic(;oe3,  mansnb  •  e  linalmentc  sobrenomes 
poelicos  takliaUiis. 

Os  primeiros  ^^lo  prenomcs  e  nomes  do 
Santos;  n'eslo  senlido  empre^ara-se  os  nomes 
de  jMaliomet  e  dos  principaos  mcmbros  de 
sua  familia,  bem  couio  os  dos  proplietas  do 
aiitigo  o  novo  Toslamento.  Os  segundos  sao 
sobrenotnes  sjeralmerUe  compostos  da  palavra 
Abu  pai  ,  de  Ibn  fillios,  c  d'lim  nome  pio- 
prio  como  ,/lbii,-Yac>ib  pai  de  Jacob,  on 
Ibn-Yacuh  fdlios  de  Jacob. 

Os  lacab  ou  appellidos  sao  quasi  sempre 
tilulos  de  bonra,  e  compostos  de  diias  paia- 
vras  sendo  a  ultima  din  rellgiao,  diinlat 
imperio,  mulk  reino,  islam  maliometismo : 
eomo  rnw-uddin  luz  da  religifio,  scliujd- 
uddanlat  for^a  do  imperio ,  j/«/((<-u/-/;iu/;!- 
esplendor  do  reino,  iaif-id-islam  espada  do 
islam. 

Os  cognomes  de  rela§ao  indicqm  origem  , 
qualidade,  paiz,  tribii  ,  escliola,  clientela, 
etc.:  taes  sao  Ffj^iHi^' descendentes  de  Fatlii- 
mit  ou  Fatliema  fillia  de  Mahomet,  Misri 
egypcios,  jMdliki  escliola  de  Malik,  Saadi 
do  Saad.  Os  nomes  de  funcgoes  offereeem 
uma  nomenclatura  assaz  curiosa  e  digna 
d'estudar-se  para  formar  idea  dos  costumes  e 
crengas  musulmanas. 

Finalmente  a  adopjao  de  sobrenomes  poe- 
ticos  provem  de  costumarem  os  musulmanos 
nomear-se  em  suas  poesias ,  em  que  por  cau- 
sa do  riiyllimo  precisam  tomar  sobrenomes 
de  pliantasia  ,  os  quaes  depois  os  lornam  co- 
nliecidos  no  mundo  lilterario. 


COLORACAO  DAS  AGUAS    DO  MAR 
DA  CHINA. 


As  observagoes  de  Ehrenljerg  e  as  mais  re- 
centes  de  Evenor  Dupont  c  Montagne  moslra- 
ram  que  as  aguas  do  mar  Verineliio  teem  em 
certas  epoclias  a  cor  rubra  pelo  copioso  de- 
senvolvimenlo  d'algas  microscopicas  d'uma 
especie  que  o  primeiro  d'estes  sabios  descre- 
veu  dando-ihe  o  nome  de  trychodesmiinn 
crythrixuui. 

Assim  que,  seriam  explicadas  como  logo 
se  julgou  numerosas  coloragoes  accidenlaes 
das  aguas  do  mar,  parecendo  que  a  obser- 
vagfio  e  descripe'io  dc  semelliantes  phenome- 
nos  tornar-se-hia  mais  frequente  desde  que 
OS  natural iatas  demoslraram  sua  importancia 
scientifica. 

Observdra  Molllen  que  o  mar  da  China 
estava  em  grande  extensao  Colorado  d'ama- 


rello  e  rubro,  e  que  a  coloragrio  nao  era 
continua,  mas  em  porgocs  separadas  uinas 
das  outras  por  intervallos  transparcntes.  A 
cor  rubra  predomina  na  parte  do  mar  mais 
ospecil'icamente  chamado  da  China  (^JS[an- 
Wai)  ,  e  que  banlia  as  rostas  da  parte  meri- 
dional da  China  ao  sul  da  iiha  Formosa  ;  e  a 
cur  amarella  ao  norte  da  iIha  na  parte  do 
njar  designado  pelo  nome  de  mar  Amarello 
{llong-Hai.') 

Como  a  causa  do  phenomeno  eia  incognita 
para  MoUien  ,  trouxe  para  Franga  alguma 
d'esla  agua  tirada,  donde  o  mar  estava  rubro 
no  mez  de  sotemliro  ultimo  ,  a  qual  foi  analy- 
sada  por  CamJIle  Darestc.  A  agua  tluha  de- 
positado  um  limo  pardo,  que  submctlido  a 
ob^ervajiio  microscopica  reconheceu-se  nfio 
conler  particnlas  terrosas,  e  ser  unicamcnte 
formado  pela  agglomeraguo  de  pequenas  algas 
quasi  microscopicas  e  jd  alteradas ,  mas  per- 
tencendo  a  mestna  especie  descoberta  por 
Ehreiiberg  no  mar  Vermelho  ,  cuja  identidade 
foi  tambem  confirmada  novamcnte  por  Mon- 
tague, que  poucos  annos  antes  tiuha  rcccbido 
de  Ceyldo  a  mesma  alga  enviada  por  Thwai, 
tes. 

O  tri/chodesmium  cri/lhrojum  encontra-se 
pois  em  quasi  todo  o  mar  do  sul  desde 
Africa  ale  li,  China,  e  e  uma  das  plantas  mi- 
croscopicas que  occupam  a  mais  larga  super- 
ficie  do  globo. 

Tal  e  evidentcmente  a  causa  da  colora- 
gao  rubra;  mas  por  venlura  serd  tambera  da 
amarella  que  se  ve,  principalraente  ao  norte 
da  iIha  Formosa?  Para  quem  conhece  a  va- 
riabilidade  da  cor  das  algas,  o  facto  deve 
parecer  possivel. 

Outro  phenomeno  mui  nolavel  fora  obscr- 
vado  em  Sliangai  a  15  de  margo  de  1846 
pelo  doutor  Bellott  cirurgiao  da  marinha  real 
ingleza. 

Pelo  espago  de  dezasete  horas  liouve  cUuva 
de  p6  ,  dando-se  a  coincidencia  d'estar  sobrc 
o  horisonte  uma  nuvem  que  pelos  calculos  de 
Piddington  director  do  niuseu  de  geologia 
economica  de  Bengala  ,  devia  occupar  a  ex- 
tetisao  de  3825  milhas  quadradas.  Segiuido  as 
suas  observagoes  chymicas  e  microscopicas  o 
p6  era  formado  d'area  quartzosa  mui  fina, 
misturada  com  filamentos  de  natureza  orga- 
nica,  apresentando  os  caracteres  de  confer- 
vas,  c  impregnados  de  sal  de  soda.  Em 
quanto  durou  o  phenomeno  o  vento  soprava 
de  nordeste,  isto  e'  do  mar-alto,  donde  vi- 
iiham  de  certo  pequenas  algas  envolvidas 
n'cste  p6,  como  indicam  o  sal  de  soda,  pro- 
vavelfnente  chlorureto  de  sodium  ,  e  a  area 
quartzosa  que  abunda  tanto  no  fundo  do 
mar  Amarello. 

Para  decidir  ainda  assim  se  as  confervas 
de  Piddington  pertencern  a  mesmaa  especie 
de  algas  acima  referida,  serao  necessarias 
observagoes  mais  complctas  feitas  por  na- 
turalislas  que  tenliam  occasiao  d'explorar  os 
mares  da  China. 


23 


DOCUMENTOS  INEDITOS. 


Carta  que  o  viso-rei  D.  Joi'o  de  Castro  escreveo  a 
el-rei  vos90  senhor  o  anno  de  46  (15-1(>). 


Contiouado  de  pa;.  II. 

E  ao  tempo  que  levava  em  men  regimento  , 
se  foi  com  sua  armada  ajuntar  comigo  a  illia 
dos  mortos ,  onde  eu  ja  tmlia  recolliido  toda 
a  riiinlia  armada;  e  ao  proprio  dia,  que  clie- 
gou  ,  me  fiz  li  vella,  e  t'ui  surgir   u  visla   da 
fortaleza  de  Dio,  o  que  deu   grande  alegria 
aos  nossos,  e  poz  grande  tristcza  iios  mouros. 
E  logo  a  noule  seg.iinte  veio  tor  comigo  Lou- 
ren^'o  Pires  de  Tavora  ,  capitfio  mor  das  luios 
da  carreira,  o  qual,    tanto  que  cliegou  a  Co- 
cliim,   e  soubc  do  grande  traballio,  em   que 
Dio  estava,  e  como  cu  caminliava  para  laa , 
se  meteo  em  liu  catur,  e  com    a  inaior  diii- 
gencia,   que  se  nunqua  vio,  veio   em  minlia 
busca;  pera  participar  de  tamanlio  perigo,  e 
servir  V.  a.   em   Jornada  lao  importante.   Em 
grande  cstrenio   me   lez   ledo   sua  cheguada , 
polo  muilo  que  cspcrava  de  me  aproveltar  de 
seu  consellio,  eesforjo  ,  como  se  vjo  ao  diante. 
E  logo  ao  outro  dia  me  fiz  a  vclla  ,  e  fui  sor- 
gir  de  fora  da  barra  de  Dio  em   lugar  acos- 
tuinado,  c  comecei  a  mandar  desembarquar 
a  gente,  e  pratiquei  com  o  capitfio  dom  Joao 
JMascliarenlias ,  e  com  todolos  outros  capitaes 
de  miniia  armada   sol^re   o  luguar,   e   modo 
de  minlia  desembarca^ao  :  no  que  ouve  tan- 
tas   duvidas,   e  tao  diversos  pareceres,  como 
nos   semelliantes  casos  soe  acontecer ;  porque 
a  lius  parecia  dever  eu  desembarcar  em  liiia 
praya  ,   que   eslaa   no   baluarte    cliamado  de 
Diogo  Lopes   de    Sequeira;    e  a  outros   pa- 
recia,  que  em   hija   ponte  de  entulho  ,   que 
OS  mouros   fizerao,  com    que   alravessavao   o 
rio;    e   a    outros,    que  denlro    na    fortaleza. 
Todavia  veiicco  a   parte    dos   que    tinliao   o 
parecerde  desembarquar  na  fortaleza,  no  quai 
ensistia  muilo  dom  Jo;io  JMascliarenlias. 

Como  isto  foi  ordenado,  ordenei  de  dar  a 
entender  aos  mouros,  que  queria  deseinbar- 
car  polios  lugares,  per  onde  jii  linha  assen- 
tado  de  o  nao  fozer ;  a  fim  de  fazer  acordir 
a  elles  muita  gente,  e  artelharia  ;  pera  que 
desla  maneira  me  ficasse  menos  forja  de 
gente,  e  artelharia  sobre  a  fortaleza,  por 
onde  tinlia  ja  assentado  de  os  cometer.  Pello 
que  me  fui  com  algiis  capitaes  a  espiar,  e 
ver  a  desombarcafao  do  baluarte  de  Diogo 
Lopes,  sem  embargo  de  Iraballiarem  miiito 
OS  mouros  de  defendercm  com  sua  artelliaria 
a  lal  ouserva^-ao :  e  tanto  que  delaa  fiz  pres- 
tes  tres  caravellas,  pera  ao  outro  dia  pela 
menli.'i  irein  baler  as  paredes ,  e  baluartes 
que  OS  mouros  tinh.'io  feitos  em  defensfio  da 
praya;  para  llies  mais  fazer  crer,  que  por 
essa  parte  fazia  fundauienlo  de  pousar  em 
terra;  e  nellas  mandei  por  capitaes  Luiz  de  Pag.  Col.  Link. 
Almeida,  Antonio  Leme,  Francisco  Fernan- j    3      g,»    45 


des  por  sobrenome  Moricaie;  por  serem  boos 
cavaleiros,  e  liomens  de  muita  esperiencia 
no  mar:  os  quaes  se  forfio  apeguar  com  os 
muros,  e  baluartes  dos  mouros,  e  os  baterao 
desque  amanlieceo  ate  noile ,  com  grande 
perigo  seu;  porque  de  terra  llies  liiavao  mui- 
ta artelharia,  que  Ihes  passavaos  navios  de  par- 
tea  parte  per  muitos  lugares;  mas  aprouve  a 
iiosso  Senhor,  que  nao  morresse  ninguem. 

Acabada  esta    bataria,    apartei    cincoenla 
fustas  desemmasteadas,  e  as  fiz  caminliar  liu 
pouco  para  laa,  e   surgir  de   largo,  que  llies 
acabou    de    fazer    crer,    que    liia    eu    nellas 
para  desembarcar  por  aquelle  lugar,   que  as 
caravellas    baterao.    Nestas    fustas    nao    hia 
mais  gente,   que   os  marinlieiros ,   que  as  re- 
maviio  ,  e  bombardeiras  ,  que  avifio  de  tirnr, 
e   niuitos   estromenlos    de   guerra ,    a    sab'T, 
trombetas,  ataballes,  charainellas.  Fiz  capltao 
desla  armada  a   NicoU'io    Gon^alves ,  mestre 
das  naos  da  carreira,   home  de  grande  siso  , 
e  experiencia   do  mar,   e   valente  home,    ao 
qual  dei  por  regimento,  que  qiiando  eu  saisse 
da  fortaleza  a  combater  as  muralhas  dos  mou- 
ros,   arremetesse  elle   a  praia  do  baluarte  de 
Dyogo  Lopes,  fazendo  que  queria  desembar- 
car,   com    grande    estrondo    de    langeres,    e 
grilas  ,   e    dartilharia,    para   que   os    mouros 
acodissem   a  essa  parte.   E  para  que  nao  pu- 
desse  aver  algum  enleo  a  deixarmos  de  come- 
ter no  mesmo  tempo  aos  mouros,  [he  dei  por 
sinal,    que  quando   visse  langar  tres  foguetes 
da    fortaleza,   acodisse,    e   fosse  fazer   a  sua 
obra;  porque  entao  sairia  eu  da  fortaleza. 


SUMMULA  DE  PRECEITOS  HYGIE.VICOS  . 


Ordenada  para  uso  dos  professores  ,  e  nlmnnot  de  ambo» 

05  sexos  das  escholas   de   instrucri'to  priiiiaria  ,   e  ap~ 

provada  para  csle  mesmo  fun  pelo  consrlho  de  saude 

publica  do  reinv — por  Francisco  Anionio  Rodrigues 

de  (jvsmuo. 

O?    bons  escriptos  em  hyuiena  sao  miiito  raros  entre 

ndi.    Os  de  liygiena   da  jiifaricia    niio    correm  abtinJaoLes 

aiiida  por  paizes,   on'le    aiais  ciiltivada  ha   sido  a  scien- 

cia.    E  a  hy;;iena  c  indispeiisavcl   a  todos  para  conservar 

a  saude  ,   e  aaUer  melliurar  a  condi(;ao  fisica  e  moral  d(» 

iodnidiio  ,  e  da  especie. 

Nenliiinia  das  epoclias  da  vida  carece  tanlo  dos  pre- 
ceitus  hy^'ienicos  cumo  a  infancia.  Da  direc^-jio  fisica  e 
moral  dada  nessa  epocha  ao  exercicio  das  func^oes  de- 
pende  todo  o  future  das  gcra(;ues ,  e  a  sorle  das  socie- 
dadel. 

O  srir.  Rodri^ues  de  Gusmao  ,  dando  ao  publico  uiu 
catliecisaio  de  bysiena ,  e  fnrmiilaiido  08  preceitos  da 
arte  um  termos  claros  ,  currcclus ,  e  concisos ,  fez  iini 
servi<;o  ini[)or(atite  ao  seu  paiz  ,  e  enriqueceu  a  colle(;ito 
dus  livros  destinados  a  instruc<;rio  priniaria  comuui  lios 
mais  preciosos  ,  di^no  de  um  lugar  distincto  nas  biblio- 
tbecas  familiarcs.  Al. 


ERUATA  DO  N.°  1. 


Erro. 
Conslantes  entre 


Emend. 
Inteffraea  entre 


24 


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JORNAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


CO.VSELHO  SUPERIOR  DE  INSTRUCCAO 
PUBMCA. 

Conferencia  gerat  de  S8  d'abrit  de  1854. 

Abriu  a  ses?3o  o  snr  vice-reilor  interino  e  vice-presiden- 
te  Josi!  Drneslo  de  Carvalho  e  ttego  ,  com  o  seguinte 
(liscursu; 

Senliores!  No  arligo  21  do  decreto  regula. 
menlar  de  10  de  novembro  de  18i5  ordena- 
se ,  que  o  coiisellio  geral  superior  d'iiislnic- 
^fio  piiblica  lenlia  diias  conferencias  ordina- 
rias  por  auno,  uma  em  oiilubro,  oiitra  ein 
abril.  Para  ciimprjr  esla  determina>;ao  e  que 
hoje  nos  acliamos  aqui  reuuidos.  Vac  ler-se 
oa  difierentes  relatorios  das  secgoes;  por  elles 
conhecereis  o  estado  em  que  se  acha  a  ins- 
trucQao  publica  entre  nos;  as  diligencias  que 
este  conselho  lem  erapregado  para  inellio- 
ral-a  ;  os  obstaculosque  aiiida  a  entorpecera  e 
que  e  necessario  remover;  e  o  que  ju  se  lem 
podido  conseguir. 

Nfio  se  pode  porem  levar  ainda  a  inslruc- 
^ao  publica,  com  a  bruvidade  que  se  de»eja, 
ao  estado  de  perfeijao,  a  que  pode  e  deve 
cliegar,  e  que  exige  o  adiaiitameuto  das  sci- 
encias  e  a  civilisagfio  actual  ;  e  ainda  que 
eile  consellio  nao  lem  cessado  de  Ihedar  pelo 
rnodo,  que  julga  niellior,  impuiso  coiivenien- 
le,  deseja  soccorrer-se  de  lodas  as  illuslra- 
<;oes,  coiiio  quer  o  citado  regularnento  no  ar- 
ligo 22  n.°  3  recebendo  ijuaesqucr  meniorias, 
ou  requeriinentos  lendenles  a  proniover  os 
tntllioramcntos  dos  Cstudos,  on  a  declarar 
OS  verdadeiros  obstacuios  contra  o  sen  pio- 
gresso ,  e  a  propOr  as  prnvidencias,  ma  is  pro- 
prias  para  se  obtereni  os  beneficios  de  uina 
educaCj'iio  iiacioual  e  moral  ronfoiine  as  ne- 
cessidades  do  seculo.  Sem  reunirrnos  as  iios- 
sas  forgas,  sem  o  auxilio  de  todos  os  sabios 
do  paiz,  o  inovimento  geral  e  o  progre^so  da 
instruc^fio  publica  necesaariamenle  ha  de  ser 
niais  vagaroso  e  menos  perfeilo. 

O  snr.  Secretario  dal."  secyfio  lem  apaia- 
vra. 


RELATORIOS. 


l.NSTlllCfAO   PBIMARIA. 

Senhores:    Obedecendo  u  lei,    vem  a  1.' 

secjao    do    consellio   superior    de   instrucjao 

publica  concluir  hoje  o  relalorio,  bosquejado 

Vol.  III.  Maio  1.' 


iia  ultima  conferencia,    sobre    o  movimenlo 
da    instruc^fio    primaria     no    anno    escholar 
findo.    Evitando  porem   repetigoes  escusadas 
e,   por  Ventura,  faslidiosas,  absleino-nos  de 
dar    agora    tao    miuda    conta,    cotno   a    que 
poriodicamente    liavemos    dado    de  lodas   as 
partes    e  circuinslancias   d'este  objecto  alias 
imporlaiitissimo.    JE  ja  ninguem   pode  negar 
nem   desconhecer    o    notavel    mellioramento, 
que  ,  pelo  nienos  de  ha  dez  annos,   vai  entre 
nos  afornioseando  o  primeiro  degrau  do  edi- 
ficio  litterario.    Bern   manifesto  e   quanto  se 
lem  alargado  a  esphera  do  ensino  primario , 
e  quanto    mcsmo  se    ha  roelhorado  seu   me- 
thodo.     Publicada   esta,    e    cada    dia    mais 
copiosa ,   a   collecjao  de  livros  elementares, 
approvadoi    polo    conselho    superior.     Ji,    se 
Portugal    nao  pode  possuir  ainda  tanlas  es- 
cholas,  quantas  denianda  a  sua    populajao, 
o  numero  d'ellas  vai  todavia  crescendo.  Que 
meios    para    taes    effeitos    liaja   este   tribunal 
excogilado   e  proposto ,  bem  como  que  pro- 
videncias    tenham     sido     dadas    pelo    sabio 
governo    de   S.   Magestade ,  lambem   nao    e' 
mister  repelir-se  agora. 

Necessidades  ha  todavia ,  que  relardain 
ainda  o  niaior  aperfei^oamento  desta  parte 
da  iustruc^ao  publica  :  as  que  mais  urgem  , 
e  que  remedies  pareya  deverem  applicar-se- 
llies ,  nao  omittireiiios  nos;  offerecendo  pri- 
meiro o  complemeiito  da  eslalistica  do  an- 
no hiido,  ericelada  no  relalorio  de  outubro 
ultimo;  bCiitindo  ])orem  que  pelas  causas, 
lantas  vezes  aijui  pondeiadas,  e  t.'io  difficeis 
de  remover,  nao  possa  ainda  agora  ser  per- 
feilo  o  quadro. 

Temos  lioje  no  continente  e  ilhas  adja- 
cenles — 1:18!)  e-cliolas  publicas;  e — 57G  par- 
ticulares,  legidas  por  professores  habilitados: 
e  por  conseguinle  o  total — 1:765.  —  Assim 
que,  depois  da  lonforeiicia  do  31  de  outubro, 
lem  ja  sido  creadas ,  pelos  decrelos  de  18 
e  25  de  Janeiro,  15  de  fevereiro,  e  15  de 
niar<,'o,  do  correnle  anno,  mais  13  escholas 
do  1.°  grau  de  instrucgfio  primaria;  sendo 
do  sexo  masculiiio  3  no  dislriclo  de  Aveiro, 
4  no  de  Beja ,  2  no  de  Evora,  1  no  de 
Faro,  1  no  da  fiuarda;  e,  |)ara  o  sexu 
feminino,   1  em  Lisboa ,  i  ein  Villa-lleal. 

EjScgundo  OS  iiiappas  ate  hoje  recolhidos, 
frequenturam  noanrio  leclivo  findo  as  rscli'ija? 
publicas  —  50:182  nlumnos;  as  particulares 
<■— lS5i.  NiM.  3. 


^Vi^H  4^-*^-^ 


26 


forani  freqnentadns  por  13:811.  A  somnia 
lolal  pois  e  de  —  63:993  —  ;  numero  que, 
a  pezar  da  falta  de  alijuns  iiiappas,  foi  su- 
perior ao  do  anno  precodunte  de  18.31  para 
1852,  em  que  as  cscliolas  puliUcas  liaviam 
tido  -il:255,  e  as  particulares  12:8&4,-  por 
onde  se  ve  que  no  anno  fmdo  liouvc  o  exces- 
so  de  9;88J.  alumnos. 

Alern  das  73  escliolas  sobredicla'i,  que  este 
anno  forani  creadas  pola  auctorisa^ao  do 
credito  supplementar ,  o  conscllio  cuida  em 
crear  oulras  ,  e  attonder  as  varias  requisi- 
?oes  que  llie  teem  sido  feilas  ,  se  aquelle 
credito  coiilinuar.  N'lo  collieu  ainda,  e  ver- 
dade,  todas  as  inforinayoes  pedidas  as  juntas 
geraes  de  districlo,  para  devidainente  egu- 
alar,  segundo  as  nccessidadcs  locaes,  a  dis- 
tribuiy-io  de  novas  cadeiras.  Assim  niesmo, 
passa  ,  em  vista  das  informa(,-oes  que  ja  tern, 
a  proper  ao  governo  de  S.  Magestade  a  crea- 
Sfio  das  que  for  julgando  rnais  necessarias. 

Desde  a  ultima  conferoncia  expediraui-se, 
sobre  concursos  de  escliolas,  21  annuncios 
para  o  diario  do  governo ;  62  diplomas  de 
provimento  temporario;  6  certidoes  de  capa- 
cidade  para  o  ensino  particular;  273  por- 
tarias  e  officios  com  editaes;  e  215  para  in- 
formajoes,  intimagoes  e  participa96es ;  total 
537,  Consultas  57  sobre  varios  objectos , 
como  —  crea^nes  do  cadeiras  ,  propostas  para 
provimentos  vitalicios,  transferencias  ,  jubila- 
goes,  aposentagoes ,  demissoes,  exoneragoes  e 
vencimentos  de  professores,  preinios  de  obras 
elementares;  e  fiiialmente  3  a  cerca  do  nie- 
tliodo  de  leitura  repcntina. 

Sobre  a  vantagem  de  similhaiite  niethodo 
ainda  a  secjfio  nao  pode  assentar  juizo  segu- 
ro.  Na  circular  de  24  de  margo  ultiuio,  em 
addilamento  a  de  30  de  juliio  do  anno  pas- 
sado ,  mandou  o  conscllio  intimar  todos  os 
professores,  para,  no  prazo  de  lOdias  a  con- 
tar  da  intiniacao,  declararcm  por  escripio 
se  nas  suas  escliolas  tcr.i  practicado  este  me- 
thodo;  devendo,  no  caso  affirmativo,  espe- 
cificar  :  1.°  desde  quando  comegou  o  seu 
uso:  2.°  se  o  empregam  em  toda  a  escliola 
ou  em  classe  separada:  3."  que  progresses  lia- 
jam  n'elle  feilo  os  alumnos.  —  E  ,  por  que 
para  muitos  nao  torn  por  certo  fmdado  ainda 
o  sobredito  prazo,  apcnas  responderam  ale' 
hoje  102  professores;  dos  quaes  so  19  decla- 
ram  haver  tenlado  o  melliodo:  mas  d'estes 
raesmos  so  o  professor  do  Peso  da  Regoa  diz 
que  ha  colliido  fructo;  alguns  ainda  suspen- 
dem  o  juizo  ;  muilos  tern  voltado  ao  antigo. 
Todos  OS  outros  confessam  que  o  nao  pode- 
ram  ensaiar  ainda  ,  uns  por  nao  poderem  ale 
aqui  adquirir  perfeito  conliecimento  d'elle, 
outros  por  falta  de  casa  e  utensilios,  outros 
por  estorvo  e  repugnancia  que  enconlram  nos 
paes  ou  chefes  de  familia.  E  e  por  isso  que 
o  consf'ho  conliuua  a  inclinar-se  a  crer  que 
as  vanlagens,  quealguem  tem  apregoado,  sao 
por  Ventura  exaggeradas:  espera  porem  es- 
tlarecer-se  mais  com  o  tempo,  e  quando  tc- 


nha    colhido  todas   as  declaragoes,  que  exi- 
gira. 

Alem  d'islo  ,  necessidades  ha,  a  que  releva 
acudir  com  a  promplidao  pnssivel.  Carece- 
inos  de  prnfessoics  roMveni('ntemente  habili- 
lados;  por  onde  e  de  reconheclda  urgencia  que 
eiitre  em  exercicio  a  eschola  normal  creada 
em  Lisboa  ;  e  que  por  e^t'arte  se  prepare  o 
pessoal  para  outras  eschnlas  norrnaes.  Mui 
necessario  e  tambern  organisar  um  corpo  de 
inspecgao,  que  com  regularidade  vigie  o  en- 
sino, e  exaclamente  inl'onne  esle  tribunal. 
Outra  falla  em  fun  ,  e  na  verdade  bera  sen- 
sivel,  e  a  de  edilicios  publicos  para  o  extr- 
cicio  da  maior  parte  das  escliolas.  Todas  es- 
tas  necessidades  com  os  remedlos  applicaveis 
tcm  o  conselho  superior  por  varias  vezes  le- 
vado  ao  alio  conhecimenlo  de  S.  Mageslade; 
e  confia  que  por  sabias  providencias,  o  sen 
governo  contiuuara  a  proteger  desveladamen- 
te  o  mais  iraportante  ramo  da  inslrucgfio  pu- 
blica. 


UXIVERSIDADE  D£  COIJIBRA— PROGRAllMAS, 

FACULD  ADE    D  E    MATUEHATICA* 

1833—1854. 

4.**    ANXO.  — 5.*    CADEfRA. 

Lenle  —  Vr.  Rodrigo  Ribciro  de  Souta  Pinio, 

ASTRO.VOMIA  PRACTIC.l. 
I. 

Aspeclo  do  ceo.  Redondeza  da  terra,  e  determlna^So 
approvimada  das  suas  dimensut:s,  Systeinas  de  coorde- 
nadaa  dos  astros.  Allimos[)lifra ,  refrncc^ijL'S  aslronooii- 
cas  ,  e  crepusculos.  Dcsorip^uo  dns  priiicipaes  in?.Irnnien- 
tt)S  aslruiiumicos  ,  e  siias  verific;i^oes.  E:,'iialdade  das 
revtilurrn-.s  diiirnas  do  ceo— leuipo  i^ideral.  DelLTUiiiia^ao 
do  mcriilianu.  Diree^ao  do  ei.\o  de  rola^ao  do  ceo.  Leis 
do  movimenio  diurno.  Aituias  corrpspondentes.  Pofos  e 
circulo9  terrestres.  Provas  du  niovimeiito  do  rota^ao  da 
terra.   Parallaxes. 

I!. 

Coordenadas  anirnlareg  do  sol  —  dislanring  a  terra. 
Eqiiinnccios  e  ubtiqiii'lade  daecliplira.  Calendario.  Trans- 
fnrnmrao  das  courdenadas  poiar-^s  dosa^trus.  Varia^ao  da 
obliqiiiiiade  da  erliplica  ,  precfssao  d.is  rquinoccios ,  e 
niila<;iio.  iMo^irnentu  elliptico  —  leis  do  K-plur.  Del'-'roii- 
na^ao  dos  eJenientos  do  movinifnlo  elliplico.  Variaro'ss 
seculart-s  d'esles  elenieiitos  ,  e  perUirhai^ui's  do  movimenio 
elliptico.  Dese^iialdade  dos  dias  solafs ,  Icnipo  verdadej- 
ro  ,  tempo  meilio,  e  eqim9rio  do  tempo.  NascimeiUos  c 
occasos  do  sol  ,  e  ^Tandeza  dos  dias  nus  dilTt-rentes  loirare* 
da  terra,  E\plica(;ao  do  niovimciito  proprio  ap  pa  rente 
do  S(d  ,  e  da  precessai)  dos  eqoinoccios  ,  na  Iiypotlieae  do 
movimenio  de  transla(;ao  da  terra.  Applica^iio  das  doulrl- 
nas  precedentes  a  algumas  quesloes  de  chronologia. 

III. 

Coordmadas  ancrulares  da  Ina  ,  e  su.ta  distanciaa  n 
terra.  Phases  da  Iiia.  })etermma(;ao  dus  plumentos  da 
ellipse  lunar.  Eqiia«;ocs  seculares  ,  e  dese^'imlilades  perio- 
dicas.  Eclipses  do  sol  e  da  lua  ,  e  occiillfl(;oes  dos  pla- 
netas  e  estrellas  pcla  Ina.  Determinarao  das  longitudes 
terrestres  pclas  obeerva^oes  dos  eclipses  e  das  distaociai 
da]  lua  us  estrellas  e  plauetas  e  ao  sol. 


5k^ 


Vv^^ 


27 


IV. 

CoorJenadaj  angiilares  geocenlricas  dos  planetas  — 
distancias  u  terra.  Traiisformarrio  das  coordeiiailaa  treo- 
centricas  em  lieliocentricas.  Dtlermina^ao  dos  elenienlos 
das  orbilas  planetarias.  Lois  do  movimeiito  dus  satollitoa 
dos  plant-las — niodo  de  determinar  pelas  observnijues  os 
eleuienlos  das  siias  orbilas.  Aberraruo  —  provas  do  moii- 
menlo  de  Iransla^ao  da  terra.  Eslaroe.s  e  retrograda^Ses. 
Passagens  de  veniia  e  mercurio  i)elo  disco  do  6ol. 

V. 

Forma^ao  e  iiso  das  taboas  astrnnoniicaa  do  sol ,  da 
iDa,  dos  j)tanetas ,  e  dos  eclipses  dus  satellites  de  jupi- 
ler.  Calculo  das  ephemerides  ostronoraicas. 


4.°   iNNO. 6.'    CADEIRA. 

MECII1MC\    APPLICADl  —  GEODESIl. 

jLente  —  Dr.  Joajuim  Gon^alves  Mamede. 

TOPOGRAPHIA. 

Construcrao  das  escalas.  Diversos  modos  de  levantar 
uma  plaula.  Inslriimentos  erapreijados  nas  opera^oes  to- 
liojraphicas.  Nivellamenlos.  Cartas  tojiograpbicas  e  sua 
reduc^ao.  Tra(;ado  de  estradas. 


Opera5oes  geodesicas  ;  calculo  dos  triangulos  geodesi- 
cos ;  excesso  espherico  ;   medida  da  meridiana  terrestre 
e  das  perpeniiictilares  sobre  a  meridiana. 

Determina(;iio  da  base  do  systeina  uietrico. 

Exercicios   numericos    deduzidos    dus  trabalhos  publi- 
cados  por  Delambre. 

Avaliagao  dos  trabalhos  execiilados  em  Portugal. 

Figiira  da  terra  ;  suas  dimensoes. 

Calculo  das  longitude.*,  laliluiles  e  azimuths  dos  pontes 
terrestres  enipregados  na  triangula^ao. 

Nivellamentos  ,  getxiesico  e  barometrico. 

Deduc(;,~io   de  elementos  geodesicos    pelas  observacoes 
do  pendujo. 

MCCHAMCi    APPIICAOA. 


Eqnilibrio  e  resistencia  dos  inassi(;o9  forraados  de  ma- 
Jerias  adherentes ,  qnando  a  supcrGcie  superior  e  carre- 
gada  por  uni  pezo  qualquer ,  ou  quando  a  resistencia  se 
exerce  contra  unia  das  faces  laleraes. 

Muros  de  revesliraento  ,  que  sustentam  o  impulso  das 
terras. 

Estabelecimento  dos  alicerces,  quando  os  muros  siio 
construidos  sobre  terrenes  conipressiveis. 

Condii;3es  que  devem  verificarse  no  eqnilibrio  das 
abobadas. 

Cunsidera5oes  praticaa  quanto  a  sua  confitruci;5o. 

Conslruc^ao  das  estradas. 

II. 

Equa^oes  fnndamentaes  do  movimento  dos  fluidos,  na 
hypolhese  do  paralleliamo  das  camadas. 

Flu.\rn)  dos  liquidos  por  crilicios  de  quaesquer  vasoa, 
que  se  conser\ara  conslantcmente  clieios,  ou  se  es^o- 
tam.  ° 

Resultados  que  se  obtem  em|iregando  os  tubes  condu- 
ctores. 

Flu.vrio  por  desaguadouros. 

Circurasiancias  do  movimento  das  aguas  conduzidas 
por  quaesqvier  canaes.  Canaes  de  nave™(;ao. 

Correntes  naluraes ,  tendo  altencai  ;',s  malerias  que 
arrastam. 

Estndos  sobre  as  barras ;  meios  que  se  devem  empre- 
gar  para  obtcr  o  seu  melhoramento. 

Rodas  hjdraulicas. 


HI. 

Quanlidade  de  ac^ao  produzida  pela  ferca  elasticn  d.u 
vapores  a  diversas  temperaturas. 
iVIaquinas  a  vapor. 


5-°    AXNO. 7,»    CACEIR.1. 

Lento  — O  Par  do  Reino  Tliomaz  d' Jjuino  de  Carvatlio. 

MECHA.MCA    CELESTE. 

Corabina(;3o  das  leis  de  Kepler  com  oa  principles  de 
mechanica  ,  jiara  deduzir  a  lei  ila  altracc;au,  segundo  a 
qual  as  parliculas  da  materia  se  altrahem  mutuaraente 
na  razao  direcia  das  massas  e  ua  inversa  dos  quadrados 
das  distancias. 
^  Equa9oes  dilTerenciaes  que  determinani  o  iBovimento 
d'um  svstema  de  cerpns  sujeilos  a  sua  attrac(;ao  mutua. 

Movimento  de  translacjao  d'um  svstema  de  corpos , 
que  se  movem  em  volla  d'um  d'elles'  cemo  centre.  Me- 
thodo  d'lntcgra^ao  das  equa^Oes  ,  que  determinam  estes 
niovimentus  ,  por  ajiproximaqoes  succcssivas  ,  aproveitan- 
do  para  isse  as  facilidades  que  olTerece  a  consliluiijao  do 
fiyslema  do  niundo. 

Primeira  upprozhttar/w.  Theorla  do  movimento  elli- 
plico.  Delerminai;.io  das  censlantes  introiluzidas  pelas 
infegrat;3es  j  e  relajoes  d'ellas  cum  oa  elementus  d'este 
movimento. 

Segnmin  approTima^no.  Theorla  das  perturbarSes. 
E.vpressoes  das  deiigualdades  periedicas  do  raio  vector, 
da  longitude  e  da  latitude.  ExpressOes  das  TarlaeOes 
secularcs  doa  eixos  malcres,  dos  medios  movlment'os , 
das  excenlricidades,  dos  pcrihellos ,  dos  nddos  ,  daa  in- 
clina^Ocs  das  orbilas,  da  longitude  da  epocha ,  etc.  Con- 
sldera(;oes  sobre  a  estabilidade  do  syslenia  planetario. 

Movimento  de  reta(;»e  dos  corpos  celestes.  Applica9ao 
ao  movimento  de  rotac;ao  da  terra.  Delermina^ae  dos 
raovimentos  do  seu  ei.io  de  rola9ao ,  quer  relativamente 
a  sua  superOcie  ,  quer  no  espa5o.  Formulas  da  nulai;5o 
e  da  precessiio  dosequineccios. 


AS  MEZAS  GYRANTES  , 

CONSIDERADAS    NAS  SUAS   REIACOES  COM    L    MECiNICA 
E    COM    A   PHVSIOLOGIA. 

Conlinuado  de  pag.  19. 

Para  compleinento  do  que  deixumos  dito 
sobre  OS  agenles  artificiaes  de  que  o  liomem 
teiii  langado  mfio ,  accrcsccnlaremos  que  elle 
tem  feilo  traballiar  lainliem  a  electricidade 
e  o  ma^netibrno  no  transporte  por  barcos , 
na  illuiuina^fio  ,  na  inedicina  ,  etc.  E  seinpre 
se  tem  chegado  <1  conclus.^o  de  que  nSo  e' 
possivel  obter  um  effeito  meclianico  sem  uma 
causa  physica  Mil  annos  antes  da  nossa  era  , 
ja  Hc'siodo  dizia  dos  Cyclopes:  uTinhara  a 
for^a,  a  actividade  o  as  inaquinas  para  os 
sens  tiaballios.  j) 

lo'/ji^  T  r.tJe  €ty]  yoX  (j.y,y_avai  ruav  etc  ip'yTCiff. 

Ila  Ires  mil  anno*,  cnmo  ainda  hoje,  a 
unica  magia  do  trabalho,  era  a  forga  physi- 
ca, a  energia  no  ernprcgo  d'esla  Ibrfa  e  os 
mecanisrnos  para  tiansmiltirem  a  sua  acjao. 
Em  tempo  algum  se  tem  observado   utn  Ira- 


28 


ballu)  material  ,  que  resulle  da  acg'io  imma- 
tciial  da  vonlado.  Ha  niuilo  ,  que  a  fo  ,  so 
por  si,  nao  Iransporla  as  moiilanlias ,  a  nao 
ser  no  ejlylo  ("iLfiirado;  e  que  a  iiiaiilaiilia 
nao  se  resolvendo  a  cainiiiliar  para  JMaiio- 
niet,  obriga  Malionict  a  caininiiar  para  a 
moiitanlia. 

D'este  qiiadro  das  for^as  iiioloras  da  ma- 
teria, resulla  que  na  explica^'ao  dos  plieiio- 
menos  curiosos,  niecliaiiicos  e  pli_v>i()ii)j;icos , 
das  mezas  gyranles,  o  nccessario  por  iulerdi- 
oto  a  toda  a  inlorvenCj-fio  da  siuiplos  voiUade 
para  produzir  os  moviineiilos ;  c  podera  ac- 
creditar-se  que  no  meiado  do  seculo  XIX 
estas  verdadt's  pljvsicas ,  tfio  vulgares  niio  so 
nas  escliolas,  mas  no  mcsmo  povo,  teem  sido 
desconliecidas  por  giaudo  nuuieio  d'eapirilos, 
alias  esclaiecidos,  arrastados  porem  pela  ima- 
gina9ao  para  iima  esperan(;a  cliimeriea  ?  Em 
quanto  porem  a  certns  liabilidosos  que  pcr- 
tendem  passar  por  illudidos,  mas  que  o  nao 
sao  para  os  sens  interesses,  com  esses  nada 
tern  que  liaver  a  sciencia  posiliva,  neni  tao 
poucc  a  boa  fe. 

Aluitas  vezes  se  tern  langado  as  academias 
a  arguijiio  de  que  impedem  a  marclia  das 
ideas  e  estorvara  os  progressos  scientilicos  e 
industriaes  do  espirito  humano.  Tal  argui^ao 
e'  mal  fundada.  E  se  nao,  conlem-se  lodos 
os  flagellos  de  invengoes  arriscadas  que  a  sua 
circumspecjao  tern  atalliado.  Vede  o  cpie  vai 
na  America,  e  porque  prejo  saliem  os  pro- 
cesses de  merecimento  real,  tendo  primeiro 
de  se  experimentar  todos  os  outros  que  nao 
foram  contrastados!  Ja  vemos,  que  nos  liao 
de  citar  o  barco  a  vapor  do  marquez  de  Joui- 
froy.  J\Iuito  bem  !  mas  tenios  a  declarar  que 
nessa  epoclia  ,  antes  dos  aperteijoamenlos  dos 
traballios  nietallurgicos  sobre  a  fundiyao  do 
ferro  e  alizamento  do  corpo  das  bombas,  a 
I'abricaj'io  util  de  urn  barco  a  vapor  era  tao 
impossive!  como  o  jogo  do  wbist  antes  do 
invento  das  cartas.  Nomeados  coramissarios 
para  receber  os  productos  de  todas  as  no;>sas 
exposifoes,  e  ultimamente  para  a  de  Londres  , 
temos  de  abundancia  com  que  edilicar  o  pu- 
blico sobre  o  alcance  de  numerosas  inven- 
9oes,  que  provarao  ate  a  evidencia  a  utilidade 
dos  corpos  scientificos  e  a  necessidade  indis- 
pensavcl  de  espalhar,  quanto  for  possivel , 
as  nogoes  mecaiiicas  e  pliysicas,  cuja  igiio- 
rancia  move  tantos  espiritos  activos  e  zelosos 
em  procurad'impossiveis.  Ainda  nos  liavenjos 
de  oceupar  n'outra  occasifn)  de  deseiivolver 
esta  tliese,  a  prnposito  da  navegajao  aerea. 

Ha  certos  espiritos  ambiciosos,  que  a  ma- 
neira  de  Alexandre,  parece  que  abafam  neste 
mimdo,  e  que  desejariam  por-se  em  rela^ao 
com  outra  ordem  de  seres  menos  materiaes. 
Tem  sido  esta  a  tendencia  da  imagina^fio  dos 
homens  em  lodos  os  seculos,  mas  nada  de 
real  tem  sortido  de  taes  tenlatlvas.  A  cada 
seculo  cabe  constantemente  o  condoer-se  das 
superstijoes  metapiiysicas  dos  seculos  prece- 
dentes ;  e  dizemol-o  francamenle ,  nao  temos 


esperanja  alguma  de  que  a  magi'a  das  mezas 
gyrantes  consiga  da  posteridade  mais  credito 
do  que  a  da  pytlionisa  d'Endor,  alius  muito 
mais  poetica  no  motnenlo  em  que  era  consul- 
tada  por  um  rci  j;i  vcllio,  enfraquecido  rno- 
rahnente  pela  odade  e  pela  desgriic^a ,  e  que 
n'outro  tempo  tinlia  proscripto  a  magia  nos 
sous  estados!  Para  muilos  espiritos  fogosos  , 
mas  iireflectidos ,  nada  lia  impossivcl.  Estfio 
sempie  a  ponto  de  accusar  de  cega  incredu- 
lidade  acjuelles  que  nao  admittem,  que  a 
natureza  possa  a  cada  inslanle  desmentir  as 
suas  leis.  Mas  que  nos  digam  qual  e  o  po- 
der ,  superior  a  forja  creadora,  a  que  clles 
prctendem  recorrer  para  dominar  as  leis  esta- 
l)el<!cidas  por  essa  i'or^a  collocada  tao  alta  a 
lespeito  dos  homens  !  Admitti  o  inaravdiioso  , 
e  para  isso  vos  dauios  venia,  mas  lia  de  ser 
com  a  condi^ao  de  que  o  inaravdiioso  nao 
seja  absurdo.  Na  verdade ,  custa  conter  o 
serio  ii  vista  da  ingcnuidade  dos  improvisa- 
doies  do  muudo  dos  espiritos.  Quando  a  po- 
licia  tianceza  obstou  ao  desenvolvimenio  dos 
convulsionistas  de  Sainl-Medard  ,  appareceu 
nas  paredes  do  cemiterio  o  seguinte  pasquim  : 

De  par  le  roi ,  defense  a  Dieu 
D'uperer  miracle  ea  ce  lieu. 

Por  ordem  do  bom  senso,  fiea  prohibido 
fazer  com  que  as  mezas  fallem  ,  e  eompo- 
nliani  versos  ou  mnsica,  exceplo  sobre  os 
tlieatros  dos  prestigiadores ! 

—  Um  pagem  meio  adormecido  lia  a  vida 
de  santa  iVlaria  Alacoque  ao  velho  rei  Sta- 
nislao  atormentado  por  uma  insomnia  cruel; 
o  rci,  esse  tinlia  os  ollios  abcrtos  como  una 
basilisco, — » Deus  appareceu  cm  viono  ;i 
sancta  ,  disse  o  leitor  dorminlioco. — Imbecil, 
grilou  Stanislao  ,  dize  que  Deus  llie  appa- 
receu em  sonho  !  —  Real  senlior  ,  se  elle  qui- 
zesse  podia-o  fazer  !  «  Siio  estas  as  convenien- 
cias  que  giiardam  os  nossos  ihaumaturgos 
modernos  :  nao  se  embara^ani  com  o  ridiciiio. 

As  conclusoes  d'esta  exposigao  das  leis  da 
natureza  relalivas  ao  nosso  objecto  sao: 

1.°  Que  tudo  quanto  e  rasoavelmente 
adinissivel  nas  curiosas  experiencias  que  teem 
sido  feitas  sobre  o  movimento  das  mezas,  em 
que  se  iinpoe  as  maos,  se  expliia  perfeita- 
menle  pelaenergia  bem  conliecida  dos  niovi- 
inentos  nascentes  dos  nossos  orgaos ,  executa- 
dos  na  sua  origem  ,  principaluienle  seaccresce 
uma  iutlueiicia  nervosa,  e  no  momeuto  em 
que  conspirando  todas  as  impulsoes ,  o  effejto 
produzido  represenla  o  elTeito  total  das  atjoes 
individuaes ; 

2.°  Que  no  estudo  consciencioso  d'estes 
plienomenos  mecanico-pliysiologicos ,  cumpre 
desviar  toda  e  qualquer  iiitervengao  de  for^a 
mysteriosa  em  contradic^ao  com  as  leis  phy- 
sicas  bem  estabelocidas  pela  observa^ao  e  pela 
experiencia  ; 

3.°  Que  se  torna  necessario  tractar  de  po- 
pularisar,   nfio   pelo   povo,    mas  pela  classe 


29 


esclarecida  da  sociedade,  os  ])rincIpios  das 
sciencias.  Esla  classe  tfio  iiiiportante,  cuja 
aiictoridade  devia  dar  a  lei  a  toda  a  na^io , 
tem-se  apresentado  tmiitas  vezes  abaixo  d'esta 
nohre  missao,  A  nota  nao  e  nossa ,  mas  se 
lanto  for  necessario,  nfio  duvidamos  adoptal-a 
e  defendel-a : 

Si  los  raisons  manquaient ,  je  suis  s)lr  qu'eQ  tout  caa 
Lea  excmptes  fatueux  ne  mc  maiiqiieraicat  pas ! 

como  disse  Moliere.  Devemos  tambem  con- 
siifiiar  aqiii  que  a  iniciativa  das  reclamagoes  a 
favor  do  bom  senso ,  contra  os  presligios  das 
mezas  c  dos  chapeos,  foi  tomada  pelos  mem- 
bros  esclarecidos  do  clero  francez. 

<t.°  Finalniente  roga-se  com  instancia  a 
todos  OS  uiilagreiros,  que  tenliam  a  bonda- 
de,  se  de  lodo  nao  poderem  deixar  de  fazer 
railagres,  ao  menos  de  os  nao  fazer  absur- 
dos.  Irapor  crencjas  a  um  niilagre  ,  ja  e  muito 
para  este  seculo;  mas  qnerer  ainda  em  cima 
convencer-nos  de  uin  milagre  ridiculo,  pare- 
ce-nos  demasiada  exigencia ! 

BABINET,  do  Instiluto  Francez. 


RELLEXOES  SOBRE  0  ARTIGO — MEZAS  GYRAN- 
TES  DE  MK.  BABLNBT. 

A  explicajao  do  facto  das  mezas  gyrantes 
offerecida  por  mr.  Babinet,  senfio  satisfaz 
cabalinante  ao  espirito  despreoccupado ,  col- 
loca  pelo  menos  a  questfio  no  seu  verdadeiro 
ponto,  despida  do  raaravillioso,  que  fasci- 
nando  o  entendiinento  embarga  o  poder  da 
reflexao. 

As  maravilhas,  os  proclamados  mysterios 
da  magi'a,  os  encantanienlos,  feiticerias ,  ma- 
gnetismos,  e  outras  crenyas  pueris,  e  ridi- 
culas  nfio  sao  d'este  seculo ;  passou-lbes  a 
epocba. 

O  movimento  communicado  as  mezas  pelo 
imperio  tnediato  da  vontade  nao  passa  de  um 
phenomeno  natural  resullante  da  acgao  mys- 
teriosa  do  poder  nervoso  posto  em  acgao  pela 
vontade. 

Aos  factos  que  refere  mr.  Babinet,  pode- 
riamos  juntar  outros,  que  passani  desaperce- 
bidos ,  seni  que  sejam  menos  maravilliosos. 
Quando  a  vontade  de  um  individuo  delibera 
mover  uma  perna  neste  ou  naquelie  sentido, 
para  se  verificar  o  niuvimento,  ha  um  jogo 
de  ac<;oes  mui  complicadas  em  que  cada 
musculo  representa  o  seu  papel  differente.  O 
individuo  nao  faz  o  movimento  parcial  de 
cada  musculo;  porque  ate  de  ordinario  nao 
conbece  a  existencia  delles;  e  o  movimento 
cxecuta-se;  obedcce  cada  um  a  intemjao  do 
actor.  A  ac5ao  nervosa  e'  aqui  o  vinculo  que 
liga  o  acto  mecanico  ao  acto  intellectual.  O 
cantor,  que  para  cxecutar  uma  pe;a  musical 
precisa  de  por  em  movimentos   mui  compli- 


cados  OS  musculos  intrinsecos  da  laringe, 
conbece  por  Ventura  esses  musculos?  nao 
sabe  delles;  e  elles  executam  ficlmente  a 
deterrninaQao  da  sua  vontade,  sem  que  o 
actor  tenba  a  minima  consciencia  desses  mo- 
vimentos. 

Que  admira  pois  que  o  mesmo  poder  ner- 
voso sempre  obediente  as  ordens  da  vontade, 
desempenhe  a  determinagao  d'esta  pondo  em 
movimentos  mais  energicos  do  que  apparen- 
tes  OS  pequenos  musculos  dos  dedos  ,  e  que 
a  acgao  d'estes  communique  a  forga  que  taz 
mover  a  meza ,  sem  que  o  individuo  perceba 
a  acgao  desses  musculos? 

Todo  o  mysterio ,  que  ba  no  facto,  porde- 
se  no  grande  mysterio  do  niodo  de  operar 
dos  nerves ;  das  ligagoes  do  pbysico  com  o  mo- 
ral do  homem.  O  mysterio  nao  esta  na  me- 
canica  nein  no  magnetismo,  esti'ina  Physiolo- 
gia,   O  que  obedece  a  vontade  nfio  e  a  meza. 

Outros  factos,  que  no  mesmo  proccsso  a 
ma  fe,  a  superstigao  ,  ou  a  especulagao  teni 
creado  para  armar  a  credulidade  ja  estao 
sentenciados  por  Humboldt  e  Arago. 

M. 


CREDITO  TERRITORIAL. 

CoDtinuaJo  de  pag.  17. 
II. 

A  orlgem  das  associagoes  territoriaos  re- 
tnonta  a  1770.  Durante  a  guerra  dos  sete 
annos  a  nobreza  da  Silesia  contrabira  em- 
preslimos  consideraveis,  de  feigao,  que  a 
volta  da  paz ,  estava  a  propriedade  onerada 
com  uma  divida  enorme.  A  nobreza  ia  ser 
expropriada,  a  crise  fmanceira  estava  a  pon- 
to de  terminar  n'uma  revolugao  politica, 
quando  Frederico  o  Grande,  com  o  seu  edi- 
cio  de  indulgencia,  concedeu  aos  devedores 
a  espera  de  tres  annos  para  solugao  das  di- 
vidas  bypotbecarias.  Esta  provideucia  preser- 
vou ,  e  verdade,  da  expropnagao  os  antigos 
senhores  das  terras;  mas  acabou  de  arruinar 
a  agricultura,  privando-a  de  todo  o  credito. 
Os  capitalistas  conscienciosos  afastaram  dalli 
seus  capitaes,  receiando  novos  arbitrios  ,  e 
so  dos  usurarios  podiam  os  agricolas  obter 
algumas  sommas  com  juros  exorbitantes. 

Para  por  um  dique  a.  torrente  de  males 
que  dimanavam  d'este  estado  desgrajado , 
um  negociante  de  Berlim ,  Wolfgang  Bii- 
ring,  propoz  que  se  estabelecesse  o  credito 
collectivo,  mediante  uma  agenda  interme- 
diaria,  idea  que  foi  logo  abragada  por  Fre- 
derico II,  o  qual  dotou  a  sociedade  com 
300:000  escudos,  para  o  pagamento  das 
primeiras  annuidades.  Por  beneficio  da  in- 
stituigao,  e  pela  feliz  coincidencia  de  tres 
abundantes  colbeilas  que  se  suceederam  na 
Silesia,  baixou  consideravelmcnte  a  taxa  do 


30 


juro,  tnrnaram-se  possiveis  os  mcliioramen- 
tos  a<;ricola*,  e  o  leito  do  credito,  ale  ent.'io 
de  lodo  cxliausto,  recuperou  suas  aguas  fe- 
ci] ndantes. 

A  causa  do  credito  lerrilorial  vencera  aos 
ollios  do  publico,  e  devia  enconlrar  imilado- 
res  no3  diversos  estados  da  Allemaiilia.  Com 
elTeilo,  aiiida  nao  I'lndura  o  seculo  passado ,  c 
jd  se  tinliam  I'undado  iiistituicjiies  de  credilo 
terrilorial  em  Jlaiiovre,  em  Diiiainarca,  e 
nas  cidades  anseaticas.  Termiiiadas  as  f,'uorras 
da  revolugfio  IVanceza,  a  Austria,  a  Russia, 
a  Polonia,  Baviera,  e  Wurtcinbergsegiiiram 
aquelle  exeinplo.  Dopols ,  os  pequenos  duca- 
dos  allemaes  e  a  Siiissa  estabeleceram  oai- 
xas  territoriues.  A  Belgica,  finalmenle  ,  aca- 
ba  de  decretar  a  fuiida^ao  de  unia  inslitui- 
gfio  analoga.  Existein  hoje  na  Europa  perto 
de  qiinrenta  bancos  tcrritoriaes ,  que  resul- 
tam,  na  maior  parte,  da  uniao  voluntaria  de 
proprietaries  terriloriaes. 

III. 

Ha  diias  circumstancias,  diziamos,  que 
nbstam  ao  conlacto  dos  capitaes  com  as  ter- 
ras, fim  principal  do  credito  agricola  ,  e  vem 
a  ser :  I ."  a  pouca  soguranga  da  hypotlieca 
offerecida  pelo  proprietario ;  2.°  a  iinpossibi- 
lidade  em  que  fica  o  capitalisla,  dador  do 
emprotiino,  .de  dispor  promptamenle  dos 
fundos  eniprestados.  Ora  esles  dons  atravan- 
cos  sfio  completamente  reniovidos  pelo  syste- 
ma  de  credito  territorial  mais  geralmenle  se- 
guido,  e  cujas  bises  vamos  apresentar  na 
sna  maior  simplicidade. 

Essas  bases  sao  :  1,°  destruir  o  grande  risco 
a  que  se  rxpne   o  capitalista  em  presenga  do 
cliaoi  da  legiilagfio  bypolhecaria  que  vigora 
enlre  nos ,    substilnindo-ihe    o   systema  alle- 
nifio,  ou  qualqner  outro  (jtie  assegure,  a  quern 
ernprestar  capitaes  sobre  bens  de  raiz,  oeslado 
mati'riai  e  jiiridico  do  predio  off'erocido  em 
liypollieca  :   2."  atlenuar  on  aniquilar  o  risco 
rcsullaiite   de  poder  ser  depreciado   o  predio 
por  qnaesquer  cansas,   subslituindo  o  credito 
ppssoal  e  acanliado  que  tern  tim  determiuado 
proprietario  para  com  \im  determiuado  capi- 
tali^ta,    pelo  credito   real    e  vasto  que  enlre 
as  diias  classes  deve  estabclecer  uin  interme- 
dio,  que  centralise  as  t'orgas  da  amorlisag'io, 
que    preste   garaiUias   irrecnsaveis ,    toinando 
as  livpolhccas  por  dons  tergos  ou  metade  do 
sen  \alor:    3.°  ler   p<ir    fim   esle  intermedio, 
Associagao   de  proprielarios  ciijas  terras  con- 
sliluem   o   fundo    da    socii-'dade,   emprestar, 
a  longo  ternio,  sol)re  j-iypotliecas,  nfio  ja  di- 
nlieiro,    mas   titulos   dc   pcnJior ,    papeis   de 
credito  que  dao  ao  capitalista  que  os  coni- 
prar,   o  direilo   de   haver  da  Associaguo  \im 
cerlo  juro    do   valor   que   representam    esses 
titulos,   e  ao  proprietario   impoem    a  obriga- 
cao  de  pagar  annualmente  a  mesma  Associa- 
gao  tanlos  por  cento  de  juro,  e  tanlos  para 
aoiorti^ajiio  da  divida. 


Siipponhamos  que  se  estabelece  com  eslas 
bases  uma  Associajao  territorial.  Alguns  pro- 
priethrios  abastados  ,  enlre  os  qnaes  podenios 
contar  o  Goveino,  constituem-se  em  Asso- 
ciagfio  terrilorial,  liypolliecando  as  snas  pro- 
priedades  para  fundo  da  Associagao,  rece- 
bendo  acgoes  representanles  do  valor  desse 
fundo,  fazendo  approvar  sens  estalutos  pelo 
Ooverno,  etc.  Observemos  a  simplicidade  de 
suas  operagoes. 

Um  proprietario  qnalqiier,  que  pode  ser 
um  dos  accionistas,  precisando  contraliir  uni 
cmprestinio ,  recorre  a  Associagao:  se  e  ac- 
cioniila,  sacca  sol)re  iima  parte  do  valor  de 
snasacgoes,  se  o  n.'io  e,  olferece  em  hypo- 
tlieca da  quantia  que  pretende  obler  nraa  de 
suas  propriedades,  Como  uoregistro  das  hy- 
polhecasi),  diz  uma  lei  anslriaca,  « serve 
para  determinar  os  direitos  dos  proprielarios 
sobre  os  bens  de  raiz,  assim  como  as  dividas 
e  encargos  sobre  elles  impostos  ",  por  via  do 
regislro  conhece  a  Associagao  qual  o  credito 
a  que  o  proprietario  lein  direilo. 

A  Associagfto  recelie  a  hypotlieca  e  entre- 
ga  ao  proprietario  um  titulo  oo  porlador., 
representante  de  metade  ou  dons  lergos  desse 
credito,  titulo  que  dd  a  quem  o  possuir  o 
direilo  de  haver  da  Assotiagao  tanlos  por 
cento  de  juro  do  seu  valor.  O  proprietario 
obrigou-se  para  com  a  Associag'io  a  pagar- 
llie  esses  tanlos  por  cento  de  juro,  e  inais 
tanlos  por  cento  para  amortisaj ,'io  do  capital  , 
custeamento  daadminislragao,  elucro  dosas- 
sociados,  se,  por  ventura,  deve  tnetler-se  em 
conta  esle  elemento.'  O  proprietario  vae  coin 
o  titulo  a  um  capitalista  ou  caixa  economi- 
ca ,  e  vendeiido-lho  por  mais  ou  inenos  do 
seu  valor  nominal,  segnndo  o  estado  da  of- 
ferta  de  capitaes  ou  pedido  de  titulos,  recebe 
o  nurnerario  de  que  necessila  para  melliorar 
a  sua  industria. 

Chegamos  pois  a  esle  resnltado  :  o  capita- 
lista poz  OS  sens  capitaes  a  juro  de  tantos  por 
cento  nas  infios  do  proprietario;  mas  a  Asso- 
ciagao  territorial  e  qiiem  assegura  ao  primei- 
ro  o  embolso  do  capital  ejuros,  otTerecen- 
do-lhe  a  dnplicada  garanlia  dos  fundos  da 
Associagfio  e  da  hypolheca  do  proprietario: 
o  proprietario  recebeu  do  capitalista  um 
capital  a  juro,  mas  a  Associag.'io  e  que  elle 
teni  de  pagar  um  e  outro  ,  do  modo  mais  con- 
forme  a  natureza  do  rendimento  das  terras  — 
todos  osannos,  e  sempre  pouco  de  cada  vez. 
Como  ha  de  agora  o  capitalista  conciliaro 
emprestimo  a  longo  prazo  (lei  da  Associagfio) 
e  a  immobilidade  da  hypotlieca  (natureza  dos 
fundos  e  pcnhores),   com  a  prompla  e  facil 

1  Em  Pospn,  por  exemplo ,  o  jtiro  do  capital  muluado 
(•4"  ecom  I  ^para  amorlisarrio  %em  aextin^juir-seactiTiii.a 
era  41  aiiiios  ;  nu  Polunia  ,  nlem  dos  4  ^  dp  juro,  paya- 
se  2  ^  d'amuiti?;K;ao  ,  e  a  di\ida  e.\tin;;ue-8t;  cm  28  an- 
aos.  Obtem-se  esle  residlado  ptio  calciilo  das  annuidades, 


ou  resol\endo  o  systfina  de   formulas  (I-t-r^^ 


«  =  (r — ijjx,  sendo  a  o  rapilal  ,  r  o  jurg  ao  diuheiro, 
(  0  tempo  ,  X  a  auouidade. 


31 


disposi^ao  dos  capitaes  emprestacios?  Como 
ha  de  o  propi  ietario ,  liavendo-se  obrigado  a 
pagar  a  divida  em  28  annos  ,  por  exoiniilo, 
solvel-a  i)as5ados  4  on  5  aniios  de  collieilas 
aliundantes?  O  credilo  publico,  diz  Wolows- 
ki ,  lia  rauito  que  rc-solveu  cstes  irnportantes 
probleinai  de  credilo  territorial:  os  einpresli- 
mos  contiaiiidos  pelo  E^lado  sao  a  ioiigo  ter- 
mo  ,  e  ale  ajuros  perpeluos,  e  lodavia  a  rca- 
lisagao  dns  effeitos  piiblicos ,  onde  o  Eatado 
leiii  credilo,  e  niais  facii,  que  a  de  qiiaes- 
quer  oiilros  valores. 

Assim  e.  Querendo  o  capitalisla  obter  de 
promplo  o  sea  capilal,  nao  tein  mais  que 
vender  a  outrem  o  seu  titulo,  coino  Ih'o  veu- 
dera  o  proprietario  ;  o  proprielario  ,  podendo 
solver  a  divida  anles  do  lenno  fixado,  coin- 
pra  titulos  na  pra(;a ,  e  com  elles  paga  ao 
banco,  que  os  recebe  pelo  seu  valor  nominal. 
Ainda  niais:  nao  coiivindo  a  Associa^fio  acu- 
ruular  dinheiro  em  caixa ,  porque  delle  ha- 
vera  de  pagar  jtiro  aos  capitalislas ,  o  mesmo 
inleresse  da  Associagao  a  Induzira.  a  empre- 
gar  as  annuidades  recebidas  em  lilulos  com- 
prados  na  praga,  ou  sorteados  annualmente 
e  pagos  aopar,  como  se  pratica  na  Polonia. 
E  esle  ultimo  meio  e  de  cerlo  preferivel, 
porque  assegurando  aos  credores  a  venda  dos 
titulos  pelo  seu  valor  nominal,  previne  uma 
causa  de  depreciajao  resullante  da  variajao 
do  curso. 

Eis  alii  o  systema  de  credilo  territorial 
cujos  beneficios  iiicalculaveis  lem  gosado  os 
povos  onde  se  elle  fundou  ,  sysleiua  que  lia 
quasi  umseculo  se  conserva  incolume  no  meio 
de  guerras  e  revollas  que  derrocarara  e  Irans- 
forrnaram  instiluiyoes  solidamenle  eslabcleci- 
das.  Se  a  lua  Introducgao  em  Portugal  se  op- 
poem  instilui^oes  injuslas  e  anteconomicas  , 
como  a  dos  morgados;  leis  confusas  e  inco- 
lierenles,  como  a  das  liypothecas ;  que  se  oc- 
cupe  o  poder  polilico  ,  a  quern  isso  compete, 
deabolir  essas  institui^oes ,  de  reformar  essa 
legi^la(,'ao,  subtituindo-a  por  outra  mais  con- 
forme  com  a  philosopbia  do  direilo  e  com 
as  nossas  urgenles  necessidades ,  porque  em 
removerom-se  taes  obstaculos  estd  o  poder 
t'uudar-se  eiilre  nos  o  credilo  territorial,  an- 
(jora  de  salva^ao  da  nossa   imlustria  agricola. 

Contiin'ia.  jacintho  a.  de  SOUZA. 


COSTUMES  AMERICANOS. 

Cuatinuado  de  pag.  288. 

Alem  do  casamento  for<;ado,  existe  t>utra 
especie  que  conjiste  em  aeliar-se  um  indivi- 
duo  casado  sem  o  saber.  A  ariiiadiliia  matri- 
monial ten)  uma  verdisella  tao  subtil,  que 
basta  ro^ar-se  alguem  por  ella,  para  near 
logo  apanliado.  Uma  aiiedocla  mui  recenle 
deinonstrara  ao  leitor  o  perigo  que  lia  em 
fol;>ar  curii  taes  brinquedos. 


Um  bomem  de  quarenla  e  cinco  aiino^  dc 
idade,  nieslre  pedreiro  e  liorrivelmcntf  feio, 
lembrou-se  um  dia  de  ir  a  casa  do  um  seu 
amigo  inculcador  de  creadas,  para  hi  esco- 
llier  uma  cosiuheira. 

E<tando  a  conversar  no  negocio,  pergunta- 
llie  d'alli  o  caixeiro  da  casa.  —  Porque  se  nao 
casa  o  sfir.  ?  — -  Vallia-me  Deus!  Para  rao 
casar  e  mister  acliar  com  qiiem  ;  mas  eu  sou 
lao  feio  que  ninguem  me  quer.  Tndas  as 
raparigas  mofam  de  mim  quando  Ihes  fallo 
em  tal.  —  E  porque  o  s-nr.  nao  procura  bem. 
Oihe,  entre  solteiras  e  viuvas  lenlio  abi  duas 
duzias  :  aposlo  que  o  caso  em  um  (]uarlo  de 
hora ;  lenlio  aqui  visinlio  o  juiz  que  se  encar- 
rega  de  fazer  a  operagfio.  Ande  dulii  !  escoUia 
a  que  llic  convier,  e  o  demo  me  leve  se  ella 
recusar!  O  pedreiro  foi  facil  de  persuadir,  e 
escollieu  uma  irlaiideza  recboncliuda  e  fol- 
gaza,  viuva  do  seu  prinieiro  marido.  A  mu- 
Iher  levando  a  cousa  de  galliofa  aoeita  a 
proposla :  o  juiz  puxa  do  len^o,  assoa-se, 
escarra,  e  pergunla  com  torn  solemne:  asenlio- 
ra  recebe  esle  cavalheiro  por  esposo?  —  Sim 

senlior bi  o  senhor   recebe  csta  dama  por 

sua  mulher  ?  —  Sim  senbor.  —  Deem  as  maos, 
eslSo  unidos:  sejam  felizes. 

O  pedreiro  conlenle  por  se  ver  em  fim  ca- 
sado, conduz  sua  mulher  a  um  Oi/slcr  room 
da  visinlianga,  para  ambos  sosinbos  fesK'jareni 
as  bodas :  era  o  que  a  iriandeza  qiieria,  co- 
meu  ben)  e  nao  bebeu  mal.  Mas  a  sobreme^a, 
o  marido  um  pouco  eleclrisado  com  as  re- 
petldas  libagoes,  tomou  algumas  liberdades 
que  Ihe  pareceram  a  ella  mais  que  puro  gra. 
cejo.  O  marido  reclama  os  seus  direilos,  a 
rnulber  p6e-se  a  zombar;  elle  cnfada-se,  ella 
manda-o  bugiar,  dizendo  que  tal  casamculo 
nao  era  mais  que  uma  f3ri,-a.  A  questao  foi 
levada  perante  o  juiz  que  declarou  o  casameii- 
lo  valioso  e  legitjmo,  visto  que  ella  ja  viuva 
e  mai  de  filhns  devia  saber  o  que  era  casar, 
e  por  ijso  nao  fora  surpreliendida  como  ru- 
pariguinba  ignorante. 

Ebta  facilidade  de  casar,  na  America,  seiu 
inforraajcies,  sem  delongas,  sem  con^etllimell- 
lo  de  ambos  os  conjuges  lem  na  veidade  sen 
altractivo  para  os  amantes,  mas  tarnbcMn  I'a- 
vorece  em  demasia  as  Irapayas  dos  cavalleiros 
de  iiidustria. 

Como  correclivo  existe  o  divorcio  legal  , 
que  raro  acouLece  porque  custa  caro.  Exige 
longos  proce^sos  e  o  consentimenlo  de  uma 
mullitiao  de  pessoas,  que  poiico  se  condoem 
do  que  sotlreu)  os  esposos  infelizes.  As  mais 
das  vezes  quando  um  casal  nao  e  bem  unido, 
o  que  solfre  divorcia-se  sem  pedir  li('er(;a.  O 
marido  repula-se  einigrar  para  a  CalU'ornia, 
e  deixa,  segundo  a  expressao  usada ,  uma 
viuva  californiana,  que  la  se  consola  o  me- 
Ihor  que  pode;  outras  vezes,  mas  isto  e  menos 
vulgar,  a  mulher  e  que  seecli|)sa  executando 
um  pequeno  elopement.  Se  tern  queda  para 
a  tragedia,  faz  como  a  snr.*  Miller,  depoe 
d  borda  da  catarata  do  Niagara  o  seu  veu 


32 


azul,  as  suas  luvas,  e  escreve  iima  carta 
niiminciando  ao  imindo  que  seu  marido, 
inoiiilio  de  ingialidao,  e  caiisador  de  sua 
desj;ta^'a;  que  ella  vae  cm  fim  luriiiinar  uma 
vida  in<ii|)poitavcl. 

E  di-'poiilado  o  hillietc  ao  lado  do  veu  , 
lan^a-se,  precipita-se  . . . .  nos  l)ra(,'os  do  sur. 
Arthur,  e  logo  em  sej^uida,  no  (undo  de  uiu 
caleclie  de  viagem.  liis  alii  o  sublime  do 
geiiero;  mas  d'ordinario  a  mullier  desap- 
parece  sem  esle  apparato,  e  eutfio  o  marido 
ot'l'endido  quer  ao  meuos  salvar  o  coffre. 
Publica  iminediatamenle  nos  joriiaes  um  an- 
iiuncio  coiicebido  nestes  termos : 

a  Eu  abaixo  assignado,  teiilio  a  lionra  de 
annuiiciar  ao  publico  que  miiilia  criminosa 
rsposa  dcsappareceu  compk'tamonte  do  do- 
iiilcilio  conjugal,  abandonando,  sem  pes  nem 
cabpra,  a  minlia  meza  e  o  meu  leito,  m?/ 
hoard  and  bed.  Em  consequencia  do  que 
declaro  que  nfio  pagarei  qualquer  divida 
contraliida  por  essa  descarada  etc. » 

Assim  como  os  maridos  prudentes  se  servem 
da  imprcnsa  para  publicar  a  fuga  de  suas 
inullieres,  tanibein  muitas  vezes  celibatarios 
limidos,  on  tao  pouco  de  cobijar,  que  nfio 
valem  a  pena  d'uma  armadillia,  empregam 
o  mesmo  meio  paraofferecerem  ao  bello  sexo 
seus  encorreados  corayoes.  Em  um  jornal  do 
domino-o  le-se  um  annuncio  assim  concebido: 

«  Um  honrado  single  gentleman,  bem  con- 
servado,  deseja  unir-se  a  uma  joven  lady 
com  OS  lagos  do  hymineu  ;  porem  muito 
limido  e  pouco  experimentado  em  requestar 
uma  donzela ,  deseja  evitar  estes  preliminares, 
]jor  via  dos  annuncios.  Tem  tiinla  annos  de 
idade,  e  um  mocetao  com  todo  os  seus  denies 
<■  cabellos;  assegura  que  ha  de  fazer  feliz 
uma  menina  virluosa  etc.,  e  vende  bacalhau. 
A  carta  deve  lanjar-se  no  correio,  com 
direc^ao  a  L.  X.  " 

Alguns  desfrutadores  do  mau  cora9ao 
tiveram  acrueldade  de  assignar  a  este  caval- 
loiro  infeliz  oito  casas,  nos  qualro  cantos  da 
cidade,  onde  devia  achar-seao  niesmo  tempo, 
de  mancira  que  o  pobre  do  homem  dava-se 
a  perros,  nfio  attinando  no  modo  de  preferir 
cut  re  tantos  corajoes  intlammados. 

Uina  das  cliagas  mais  crueis  da  economia 
domcslica  na  America,  chaga  incuravel  e 
senlida  todos  os  dias  ,  sfio  os  criados,  e  prin- 
cipahnenle  os  criados  luancos,  nao  ja  que  os 
negros  valliam  mais  e  fagam  mais  irabalho. 
Pelo  conlrario,  uma  vcz  elevados  ii  nobre 
con(ii(;ao  de  criados  livres,  manitestam  o 
dcsejo  de  desforrar-se  amplainente  do  traba- 
Iho  tbri^ado  do  escravo.  Ningucni  se  atreve  a 
veprchender  uma  miscravel  irlandeza  que  em 
sen  paiz  nao  recusava  fazer  qualquer  servi^o, 
sujeitar-se  a  qualquer  liuniilia(,':'to.  Apenas 
respira  o  ar  de  bberdade  e  egualdade  ame- 
Ticana,  torna-se  tao  pretenciofa  quanto  antes 
era  liumilde.  Por  pouco  que  n.'io  chega  a  per- 
luadir-se  que  sua  ama  e  quern  deve  servil-a, 
iifto    obstante   reccber    um   salario    que    nao 


nierece  ;  mas  em  todo  o  raso,  nao  se  ensaia 
em  estabelecer  uma  espccie  de  communismo 
de  falo;    serve-se  dos   vestidos  c  cbapeus  da 
senliora  como  dos  seus  proprios. 
Continua. 


V.  OVIDIO  NAZAO: 

JDos  Tristes — Livro  5.°:  Elegia  6.* 
ARGUMENTO. 

Exorta-se  Ovidio  a  si  mesmo  para  celebrar 
o  dia  natalicio  da  sua  esposa,  a  favor  da 
qiial  faz  rcligiosas  preccs,  e  louva  o  dia,  em 
que  ella  veio  a.  luz,  dotada  de  purissimos 
costumes;  e  hem  que  digua  scja  de  mais 
prospera  fortuna ,  exorta-a  com  tudo  a  que 
soffra  a  adversidade  com  espirito  sereno,  por 
isso  que  na  virtude  so  pode  fazer-se  brilhante 
no  meio  da  adversidade.  Pede  fmalmente  aos 
Deoses,  que,  com  quanto  n.'io  queiram  per- 
doar-lhe  a  elle,  perdoem  ao  menos  a  sua 
innocente  consorte. 

Da  chara   esposa  o  dia  natalicio 
Exii:e  as  honras  costumatlas  ;  vamos  , 
O  miiihas  raaos  ,  dispor-Ilie  o  sacrlficio  : 
Tahx'z  o  tieroe  Lacrcio  assim,  no  exlremo 
Orbc  ,  (la  esposa  celebrasse  outr'ora 
Do  festivo  iialal  o  sacro  dia. 

—  Dos  mens  lonfros  trabalhus  deslembrada  , 
Deme  a  Iin;;ua  expressoes  condi;;nas  hoje, 
Ella  ,  que  eu  jul^o  ha\er  desaprendido 

Ha  muito  ja  a  fallar  liu;rua;;em  fausta; 
E  a  ui^ea  veste  ,  aos  fados  nieus  adversa  , 
^ue  uma  vez  so  vestir  no  anno  eu  uso  , 
Ueste  dia  em  memoria  hoje  se  tome : 
E  nni  ^  erde  altar  ile  leivas  se  levanle , 
Tapetado  de  relva  ;  e  uma  i^rinatda 
Os  trepidantes  foi^os  cubra  ,  adornc, 

—  Da-me ,  6  rapaz ,  incensos  productores 
De  oleaijinosas  chammas ,  e  o  de  Baccho 
Precioso  licor,  que,  derramado 

Sobre  o  fogo  sagrado  ,  arda  estalando. 

—  Optimo  natalicio  ,  bem  que  a  ausencia 
Ao  Ionise  nos  separe ,  e  meu  desejo 
Venhas  caudido  aqui  dissimiltiante 

Ao  natalicio  meu  :  E  se  a  consorte 
Minha  ali;uma    dor   nova   araea^a^a  , 
Ja  mais  dos  males  mens  a  dor  anceie ; 
E  aquella ,   que  inda  lia  pouco  sacudiria 
Iu»i  por  borrjisca  mais  que  todas  ,  grave  ; 
Nos  dias,  que  Itie  reetam  ,  sem  perif^o , 
Qual  nao  por  mar  tranquillo  as  vai,'as  curie: 
Ambas,  ella  e  a  GIha  sua,  o  i^Ctso 
Lo^'rem  do  lar  domestico  e  da  palria. 
Da  patria   \\va.  embora  eu  so  privado  : 
E ,  bem  que  do  consorte  charo  ao  lonije 
Ser  nao  possa  feliz ,  da  vida  o  resto 
Nuiens  tristes  jamais  Ih'o  enteuebrei^am. 
Vi\a,  e  ao  esposo  auscute  amor  conserve, 
Vislo  que  a  isso  obri.i^am  ,  e  em  diuturna 
Serie  va  os  seus  dias  consumindo  : 
Outro  tanto  dos  mens  dizer  quizera , 
Se  nao  fora  o  receio ,  que  o  contairio 
Do  meu  destino  corrompesse  os  d'ella. 

—  Para  o  homem  na  vida  nada  e  certo  !..,,» 
Queni  juliiara  que  os  sacros  natalicios 

Ealre  os  Gelas  da  esposa  eu  cantaria ! 

Notai ,  como  o  fumoso  incenso  os  ventos 

Para  a  Italia  ,  a  direita  posta  ,  levam  ! 

Teem  sentimenlo  pois  do  furao  as  nuvens  , 


33 


Que  0  foffo  exala  ;  quasi  vjlo  fiiirindo 

A*  dire(;ao  que  eu  dar-Ihes  inlcnlaval 

Quaiulo  a  comniiins  exeqviias  solire  a  pyra 

Fazcr  maiulava  fralernal  pieiiaiie 

Aos  duua  irmaos  ,  que  a  rnorle  arrebatara 

Em  alternado  duello  ;  a  ardf.'tite  flamma  , 

A  si  mesma  cniitraria  ,   e  coiuu  au  mando 

Dos  inimij,'os  dous  oliedietiU* , 

Dividida  se  erijueu  em  partes  duas ; 

Que  assira  podesse  aconlecer ,  oulr'ora 

(Bern  me  lembro)  cu  neg:ava,  e  em  meu  juizo 

O  fiatliades  vale  era  um  falsario  : 

Tudo  hoje  creio  ao  ^■er  o  lino  ,  o  instincto , 

Com  que  In  ,  6  vapor  ,  as  cuslas  A«illas 

Ao  Arctiirio  ,  e  d'Ausonia  ao  riimo  apontas. 

—  K  este  o  dia  pois  que  se  das  tre^as 
Rompido  nao  tivesse,  oulro  al;^um  dia 
Feslivo  para  mira  jamais  hou\era; 
Deu  este  dia  /i  luz  moraos  vjfludes, 
Quaes  nas  Heroinas  se  ustentaram  puraa , 
De  qnem  fui  pal  Eel  ion  ,  foi  pai  Icario : 
De  costumes  pureza ,  houra  e  lealdade 
N'elle  I'iram  a  luz  ;  nao  ja  prazeres 
Nasceram  neste  dia  ,  antes   trabalhos 

E  ancias  ,  de  taes  costumes  sorte  impropria , 
Do  quasi  viu^o  thoro  justas  queixas  : 
A  bondade  porem  provada  em  lancea 
Adversos  da  forluna ,  cntiio  cncerra 
Maior  para  o  louvor  tempo  e  materia: 
Se  ao  duro  Ulysses  cousa  ali^uma  infausta 
Nao  tivesfle  occurrido ,  venlurosa 
Penelope  vivera  ,  mas  sem  jrloria  : 
Se  victorioso  os  Echionios  muros 
De  Evadne  o  esposo  penelrado  houvesse , 
D'eila  talvez  soasse  o  nonie  apenas 
Deotro  da  palria  sua  :    tilhas  tantas 
Tendo  Pelias  gerado ,  como  illuslre 
Fama  obteve  uraa  86  ?  Ganhou-Ihe  a  gloria 
Do  marido  infellz  ser  a  consorte : 
Faze ,  que  ouiro  as  illiacas  areas 
Primeiro  com  seus  pes  toque ,  e  Laudamia 
Nada  tera  ,  que  honrada  a  iuimortalize. 

—  Tambem  desconhecida  ao  mundo   fdra 
(Mais  o  quizera  assim)  lua  bondade 

Se  prospera  a  forluna  me  ventasse. 

^Deoses  ,  com  tudo,  e,  6  Cesar,  que  alrum  dia 

Has  de  entre  elles  morar  ,  mas  s<5  volvidos  , 

Iguaes  aos  de  Nestor  compridos  annos : 

Nao  a  mira  ,  que  o  castij,'o  Iiei  merecido 

For  propria  cunGssao ,  a  rainha  esposa 

Perdoai  ,  que  nenliuma  dor  merece  , 

E  na  dor  se  deGntia  e  se  amargura. 

Cmlinua  F.  DE  CARVALHO. 


ESTUDOS  DE  ECONOMIA  POLITICA 

ou 
Breve   explicagao   dos  elementos    dcda    sci- 
encia  —  por  A.  P.  Forjaz  —  /omo  2.°  — 
1.°  cadcrno  —  (heoria  da  distribuigdo  e 
do  consuiiio. 

A  sciencia  e  longa  e  a  vida  e  breve,  dizia 
um  pliilosoplio :  e  a  espliera  dos  conbeci- 
mentos  liumanos  dilala-se  cada  vez  inais,  e 
a  vida  e  cada  vez  inais  curia.  Na  ordem 
pliysica,  e  mister  achar  o  modo  de  produzir 
mais  e  melhor  em  menos  tempo;  porque 
as  necessidades  crescem  incessanlemente  :  na 
ordem  moral,  a  civijisagao  siijeita  o  espirito 
a  uma  condijao  analoga  de  seu  desenvolvi- 
inento  —  e  forsoso  deseobrir  como  abranger 


no  tempo,  que  fiea  sempre  o  mesmo,  se  nfio 
dirniniie,  a  sciencia,  que  augmenla  sempie 
cm   piofiuideza  e  exlensac. 

Des^anios  as  coiisas  que  nos  tocam  mais 
de  perto.  E^iidat  em  um  anno  uma  sciencia 
nos  livros  que  a  cerea  dell.i  teem  escripto 
antigos  e  inodcrnos,  e'  cotisa  impoasjvel.  Quem 
tivesse  animo  de  einpreiiender  essa  larefa  , 
acliar-se-liia ,  por  fim  ,  com  o  entendimento 
povoado  de  mil  opinioes  contradjctorias  ,  de 
no^oes  imperfeitas,  que  inuito  prejiidicariani 
qualquer  esludo  ulterior.  Havendo,  porem ,  um 
bom  compendio  que  o  |)rofessor  ex[)lique,  e 
nao  teniia  de  refutar  a  cada  passo,  aplana- 
se  muilo  o  caminho,  porque  lia  um  guia 
seguro,  lia  um  iiucieo  em  torno  do  qual  se 
podem  engrupar  as  ideas  adquiridas  com  a 
leitura  dos  que  melbor  escreverani  sobre  a 
materia.  Todavia  o  que  estuda  lem  ainda 
de  lutar  coin  grandes  difficuldadas  ,  mormente 
liavendo  de  applicar-se,  com  egual  afan  e 
no  mesmo  periodo ,  a  oulras  sciencias.  Por 
isso  as  ligues  lithogrnphadas ,  contra  que 
tanto  se  fallou,  e  de  que  tanto  se  tern 
abusado,  satisfaziam  ,  ainda  que  mal  ,  a  uma 
necessidade  realmenle  existente  em  algumas 
aulas  da  universidade. 

Resumir  em  um  livro  bem  elaborado  o 
que  iia  melljor  e  essencial  em  qualquer 
das  sciencias  ensinadas  nas  faculdades  aca- 
demicas ,  conciliando  a  inevitavel  concisfio 
com  a  clareza  e  bom  metliodo  ,  e  evidente- 
rnente  fazcr  um  relevante  servi^o  aos  que 
estudam  essa  sciencia,  niiiiistraiido-lhes  uma 
base  sobre  que  poderao  edificar  com  se- 
guranja  t.^o  vaslo  edificio,  quanto  llies  per- 
mittir  o  talento  e  applioa(;rio;  e  e  de  certo 
este  o  unico  meio  justo  e  convenienle  de 
acabar  com  as  iiijoes  litliograpliadas,  e  com 
as  consequencias  de  seus  abusos. 

O  snr.  A.  P.  Porjaz  nfio  so  fez  um  excel- 
lente  compendio  de  ecoiiomia  polllica,  mas 
esta  pubiicando  a  explicagfio  desse  compen- 
dio intitiilada  —  Esludos  de  Economia  Po- 
litica.  Ve-se  nesta  obra  reunida  e  posta  por 
ordem  a  doutrina  mais  importante  que  a  cerca 
da  producgfio,  distribuigfio  e  consumo,  so 
encontra  em  tnuitos  volumes  de  abalisados 
economistas.  Se  alguma  vez  este  traballio 
parece  nao  satisfazer  ao  precioso  dote  da 
clareza,  nascera  porventiira  esse  defeilo  da 
difficuldade  que  sente  uui  escriptor  didactico, 
quando  procura  collocar-se  bem  nas  circum- 
slaucias  do  maior  numero  dos  leitores,  d'or- 
dinario  dcsemparados  dos  recursos  que  o  au- 
ctnr  lem  de  sobejo.  Alem  de  que,  raro  suc- 
cede  sair  obra  lao  diflfjcil,  logo  do  primeiro 
jaclo,  com  o  cunho  da  mais  complela  uni- 
dade  e  perfeijao. 

Podemos  porem  asseverar  que  estas  quali- 
dadas  lifio  de  vir  a  avullar  enlre  as  muitas 
excellencias  daquclle  escripto,  porque  o  A- 
lem  a  peito  aperfeigoar  os  seus  Estudos  dc 
Economia  Politica,  e  p61-os  sempre  ao  par 
do  progresso  desta  sciencia,  condigao  sem  a 


34 


t]ual  nao  orfereceriain  todas  as  vanta^ensqiie 
podera  preslar.  O  que  varaos  dizer  auotorisa- 
nos  a  fazer  este  jiiizo. 

O  A.  tratando  da  renda  no  compendio, 
considera-a  com  a  maior  parle  dos  ecoiio- 
luistas  anligos  e  modernos,  conio  unia  especie 
de  rendimento  disliiicto  dos  outros,  coino  iitiia 
liljeralidade  da  natiireza,  que  o  proprielario 
apropria  ;  porem  Carrey  e  Bastial  apresonla- 
ram,  sobre  este  objei'to,  oiilras  ideas  que  fo- 
ram  de^ellVolvidas  por  JMartinelli  e  Foiitenay. 
11  Scfjuiiulo  eiles  escri|)lores,  h  diz  o  A.  iios 
seus  £s<i/f/o.«, "  refortnaiiios  o  pensameiUo  in- 
dicado  no  §.  79.  do  compendio,  nao  considc- 
rando  a  reiida  da  terra,  senfio  como  uma  re- 
mutiera^ao  anaio^a  aos  outros  rendiinentos, 
lima  paga  de  servic^os  por  servieos,  unia  re- 
lriljui(;;'io  do  traliallio  consiimido  ou  peio  pro- 
prielario iinmediatamenle,  ou  por  aqiieiles 
que  foram  antes  d'elle,  o  a  quern  representa; 
isto  e,  o  iiiteresse  dos  capitaes  fixados  no 
solo  em  ro^as,  plantios,  tapumes,  Irabaliios 
de  enxMgamenlo,  etc,  e  em  regra  cont'undidos 
com  elle  ;  interesses  que  podein  ser  maiores 
ou  rnenores,  conforme  as  circumslancias  que 
deterniinam  tixo  variadaraente  o  prego  dos 
servigos,  mas  que  nfio  alteram,  em  caso  al- 
gum,  a  natureza  que  ilies  e  propria.  « 

Temos  pois  a  satisfagao  de  annunciar  este 
trabalho,  que  o  publico  illustrado  ja  conhe- 
ce,  em  parte,  e  tera  devidamente  apreciado  : 
assim  desempenhamos  uma  das  importantes 
obrigagoes  do  Instituto,  lanto  mais  rigornsa 
quanto  e  urn  dislinclo  socio  e  antigo  colla- 
borador  que  a  sollicita. 


DOCUMEiNTOS  INEDITOS. 


Carta  que  o  viso^rei  I).  Joilo  de  Castro  escreveo  a 
el-rei  uosso  senhor  v  anno  de  -16  (1546). 


Cootinuado  de  paj.  23. 
Capitolo  do  estado,  em  que  achou  afortale%a. 

lalo  assi  ordenado,  me  dosembarquei  de 
nolle  com  toda  a  genie;  e  a  maneira  de  que 
acliei  a  fortaleza  nao  e  cousa  para  se  poder 
crer,  nem  sinto  termos  por  que  se  possa 
escrever  a  v.  a.  Porque  os  uiouros  tinliao 
enlulliadas  as  casas  de  maneira,  que  nao  avia 
sinal  dellas,  nem  poderse  saber  onde  forfio ; 
e  OS  mures  derribados  ate  o  fundamento;  os 
baluartes  tornados,  e  os  mouros  poslos  em 
sima  com  muitas  eslancias  dartilharia,  com 
que  atiravao  as  casas  da  fortaleza :  e  por  der- 
redor  donde  forao  os  niuros,  tinli.io  alevan- 
tado  grandes ,  e  poderosos  baluartes ,  e  cava- 
leiroi  ,  e  poslas  grandes  monlanhas  de  terra , 
e  pedra,  donde  tinbao  assenlados  rauitos  tre- 


buquos,  com  que  tiravio  muitas  jarras  de 
polvora,  o  muitas  pedras  aas  cazas.  Arredado 
iiu  pouco  da  fortaleza  tinliao  feito  liua  mu- 
rallia  de  treze  palmos  de  largo  ,  e  vinte  d'al- 
to ,  toda  de  muito  fermosa  cantaria,  com 
muitos  baluartes ,  e  travezes,  com  a  qual  cin- 
gi/ioii  fortaleza  de  mar  a  mar.  E  desla  mu- 
rallia ,  para  os  nossos  baluartes,  que  elles  ja 
tinliao  ganliados ,  emuros,  liiao  tantas  ruas 
cobertas,  trinclieiras,  laberinlos  do  paredes , 
(]ue  era  couza  estranlia,  e  muito  pera  notar. 
Aulrelles,  e  os  nossos  nfto  avia  mais  que  liQa 
estroila  paredinlia  de  pedra  emso(;'a.  Desta 
maneira  adefendeo  dom  Joao  Mascliarenhas  , 
muito  tempo  per  sen  grande  esforgo,  e  cava- 
laria.  Estas  obras,  que  os  mouros  tinliao  fel- 
las, fizerfio  ciuco  engenbeiros,  queCojeCjIofar 
mandou  bnscar  a  Costantinopla  a  soldo  de 
cada  liu  a  trezenlos  cruzados  por  mez. 

Acabado  de  de^embarquar  pratiquei  codom 
Jofio ,  e  com  todolos  capitfics  da  armada  a 
maneira,  que  teria  em  minlia  saida.  E  posto 
(pie  na  pralica  ouvesse  muilas  e  diversas  ope- 
nioes,  pareceo-me  bem  ,  que  por  sima  de 
todolos  incouvenientes  devia  de  sahir  am3- 
nliecendo  ;  porque  me  pareceo  ,  que  se  perdia 
muila  repntajao  saberem  ,  que  o  Governador 
da  India  estivera  cercado  um  soo  dia.  Polo 
que  manhii  clara  ordenei  duas  balallias  de 
toda  a  gente.  A  da  vangiiarda  com  toda  a 
geiite  da  fortaleza  del  ao  capitao  dom  Joao 
Mascliarenhas ,  o  qual  avia  de  levar  doze  esca- 
das  pera  sobirmos  as  muralhas  dos  mures; 
e  en  fiquei  na  retaguarda  com  a  gente  dar- 
mada.  Na  fortaleza  deixei  por  capil'io  Anto- 
nio Correa,  liome  niuilo  honrado  ,  e  que  tem 
muito  bem  servido  v.  a. ,  e  valente  cavaleiro; 
o  qual  fiquou  inuilo  contra  sua  vontade;  mas 
forceyo  a  isso,  assi  porque  pera  0  cazo  com- 
pria  pessoa  de  suas  calidades  ,  como  por  ser 
aleijado  dua  perna  por  servijo  de  v.  a. ,  e 
por  esle  empediinento  nao  ter  soficiencia  pera 
saltar  paredes:  e  por  me  recear  muito,  que 
tanto  que  saisse  tora  a  combaler  as  mura- 
llias,  me  entrassem  os  mouros  a  fortaleza; 
por  cazo  de  nos  terem  ganliados  todolos  ba- 
luartes, e  muros;  e  entre  nos  e  elles  nao 
aver  outro  empediinento,  salvo  as  paredi- 
nlias  de  pedra  emsosa,  que  ja  disse  a  v.  a. 

Saindo  dom  Joao  com  sua  batallia  pola 
ponte,  desparou  a  arteUiaria,  e  arquabuzaria 
nelle,  e  Uie  matou  muila  gente;  mas  nem 
por  isso  dcixoii  de  passar  avanlo,  e  cliegiiar 
ao  pe  das  murallias,  onde  Iraballiaiido  polas 
sobir,  e  os  mouros  pelas  defender,  se  come- 
50U  liua  grande,  e  cruel  peleja.  A  este 
tempo  era  eu  ja  saido  com  miiilia  bataiha, 
em  a  ponte  tornou  outra  vez  desparar  toda 
a  artelharia  em  mi,  e  me  matou  inuita  gen- 
te. Os  Lascarins,  que  comigo  lii'io,  vendo  a 
grande  grila  da  batallia  de  dom  Joao,  que 
estava  ao  pe  das  murallias,  e  a  gente,  que 
na  minlia  batallia  cabia  niorta  da  artelharia, 
teraeo,  e  comessou  de  recuar:  oade  uie  tive- 
ram  de  todo  ponlo  derribado  da  ponte  abaxOj 


35 


e  quasi  desesperado  da  victoria.  Polo  que  me 
foi  necessario  as  cotyladas  abiir  caiiiiiilio  pera 
passar  adianle  com  Loureu^o  Pires  de  'I'avo- 
Ta ,  que  minqua  se  de  mi  apartou ,  e  assi  o 
secrelario  Antonio  Cardoso,  e  frey  Antonio 
doCazal,  Custodio  de  Sao  Fiancisco  com 
hu  crucifixo  nas  niaos.  E  commessando  de 
caminhar  para  as  muraliias,  fiz  bradar,  di- 
jendo  a  grandes  vozes,  victoria,  victoria!  os 
mouros  fogem  ,  os  nossos  vao  em  seu  alcanse, 
e  o  Governador  e  passadoda  outra  bandados 
mouros.  Com  esta  nova  falsa  abalou  a  bata- 
llia ,  e  ciiegou  ao  pe  do  muro,  e  sobirrio,  e 
passarfio  a  outra  banda,  a  pezar  dos  iraigos. 
A  este  tempo  tinlia  eu  jd  comessado  a  peleja 
com  obra  de  vintaciuco  pessoas.  Antes  de  ini- 
-nha  gente  sobir  as  muraliias  carregou  grfio 
pezo  de  mouros  sobre  mi,  e  nie  tiverfio  de 
todo  desbaratado.  Lourengo  Pires  de  Tavora 
foi  o  primeiro  que  deu  nelles,  e  eu  o  segun- 
do :  digo  isto,  per  nao  tirar  a  gloria  a  cada 
hu.  E  logo  todos  comessarao  mui  valenle- 
mente  a  batalha,  a  qual  durariu  espa^o  de 
duas  lioras. 

Em  quanto  se  estas  cousas  faziao,  come- 
ler.^o  OS  mouros  a  emtrar  a  fortaleza  per 
muitos  logares;  mas  Antonio  Correa  Ihes 
rezistio  tao  esforgadamente ,  que  os  fez  tor- 
nar  atraz,  e  botados  dos  muros,  se  veio  a 
porta,  e  despedio  muita  gente;  pera  que  me 
fosse  buscar  ,  e  acompanhar.  Em  todo  o  tem- 
po do  perigo,  e  que  a  couza  esteve  em  duvi- 
da,  sempre  me  acompanhou  Louren^o  Pires 
de  Tavora  ,  fazendo  obras  de  muito  esfor^a- 
do  cavaleiro.  E  assi  me  acompanhou  o  se- 
cretario ,  e  Custodio  de  Sfio  Francisco,  e 
Simao  Botellio  veador  da  fazenda ,  sem  em- 
bargo de  andar  ferido  dua  freeliada.  Os  fidal- 
gos  ,  e  capitaes  andavao  denivolta  co  os  mou- 
ros, e  como  o  campo  era  grande ,  e  as  suas 
vontades  muilo  uiaiores,  pera  se  vingareiii 
delles,  fiao  tinhfio  tento  em  mais,  que  em  os 
roatar,  e  veneer;  polo  que  a  este  tempo  nfio 
estava  rodeado  delles;  por  llies  parecer,  que 
assi  faziao  mais  servlgo  a  v.  a.  Ora  levando 
eu  cada  vez  a  mellior  dos  mouros,  os  ouve- 
nios  de  arrimcar  do  cauipo  ;  e  se  foifio  reco- 
lliendo  pera  a  cidade,  sempre  pelejando.  E 
seguindo  apoz  elles ,  entramos  demvolla  com 
elles  na  cidade,  onde  se  couiessou  outra  bra- 
va ,  e  forte  pileja  ,  da  qual  tfiobom  nos  deo 
nosso  Senlior  inleira  victoria,  tomandollie 
per  for^a  darnias  a  cidade.  E  seguindo  o 
alcance  a  pos  elles ,  entramos  polo  campo 
espa^o  de  mea  legoa.  Jsesla  batallia  nao  en- 
trou  dom  Alvaro  ,  meu  fillio,  por  estardoen- 
te  de  grandes  febres;  mas  assi  como  estava 
se  mandou  levar  em  hu  leito  ao  pe  dos  mu- 
los  da  fortaleza ,  aonde  esteve  em  quanto  a 
peleja  durou. 

Morrerfio  na  batalha  passante  de  Ires  mil 
mouros ,  a  milhor ,  e  mais  luzida  gente  do 
campo  ,  a  saber;  'I'urcos,  Ai)exins,  Arabios, 
e  Reybutros;  afora  outra  muita  gente,  que 
se  matou    no  alcance  dos  mouros,   quando 


fogiao ,  e  no  saco  da  cidade ,  e  em  loda  a 
illia,  que  foi  numero  infinito.  Serifio  cativos 
mais  de  seibcentos,  por  mais  que  eu  o  defen- 
desse ,  e  tivesse  mandado ,  que  a  nenhu  se 
desse  vida.  Morreo  tambem  nesta  batalha 
Ilumequao,  capitao  geral  delrei  de  Cambaia: 
e  a  bandeira  real  delrei  foi  tomada,  e  prezo 
Juzarquao,  hu  dos  tres  maiores  senhores,  e 
capil.'iees  do  reino,  e  tomadas  trinla  e  cinco 
peras  darlilliaria ,  a  saber,  basaliscos,  lioes, 
esperas;  salvages,  e  outra  de  muitas  sortes, 
entre  as  quaes  entiarao  certas  pegas,  que  os 
Guzarates  tinhao  tornado  no  tempo  passado 
a  V.  a.  em  hua  galee,  que  peleijou  mal  com 
elles.  Que  nao  foi  para  mi  pequena  gloria 
tirar  de  seu  poder  as  armas  reaes  de  v.  a. 
Continua.  N. 


Reccberam-se  na  Bibliotkeca  do  Instituto  de 
Coimbra  as  seguintes  obras  offerecidas  por 
sens  rcspectivos  aiiclores. 


RESCMO     CHRONOLOOrCO     DA     HISTORTA     DE     PORTUGAL 

clesde  OS  primeiros  povoaJores  ate  nussos  dia3  ,  para  uso 
das  escliolas  de  instriic^ao  primaria  ,  pur  Joaquim  Loppes 
Carreira  de  I^Iello. 

COMPENDIO     DE   CIVILIDADE    RELIGtOSA    E    MORAL   para 

USO  dos  aUimiios  das  aulas  de  iostruc^ao  primaria,  pelo 
niesrao  auctor. 

COMPE\DIO  DE  DOUTRIXA  CHRIST*  DOfi:\IATICA  E  MORAL 

jiara  uso  dos  aiumnos  das  escholas  de  instnic<;ao  priniaria, 
jielo  mesrao  auclor. 

C0MPE.\DIO  DE  CHOROORAPHIA  DE  PORTDGAL  E  SEUS 

DOMiNros  para  uso  das  escholas  de  instruci^ito  primaria, 
pelo  raesHio  auctor. 

BREVE  TUATADO  DE  CHOROGRAPHrA  PORTUGUEZA   Ilislo- 

rica  politica  ,  offerecido  amocidadeporlnguezapeiomesmo 
auclur. 

descrip(;ao  da  sessao  solemse  que  teve  lo^ar  no  cul- 
le^ifj  de  uossa  Senliora  da  Conceif^ao  em  Lisboa,  em  8  de 
dezembro  de  1853.  Offerecido  as  famil'^s  dos  aiumnos  do 
mesmo  colleijio  ,  pelo  mesmo  auctor,''^  ' 

oil-' 
IS0f;O£S     GERAES    SOBRE    O    DIREITO    DAS    GENTES  ,       pOC 

Antonio  da  Roza  Gama  Lobo. 

oRA(;5cs  FUNEBREs,  recitadas  nas  exef]nias  solemnps, 
que,  pelo  elerno  descanso  da  excelsa  Itainha  de  Porlu- 
tiii^al  a  senhora  D.  M.iriall  ,  celebruram  ,  na  real  c.ipellii 
da  Universidade  ,  os  lentes,  doutores  e  professores. 

CURSO    CO.IIPLETO      DK    MATHEMATICAS    rCRAS    traduzidn 

correclo  e  aui^mentado  pelos  lenles  calhedralicos  da  uni- 
versidade  e  sucios  dolustiliito  de  Coimbra —  Francisco  <le 
Castro  Freire  e  Rodriiro  Uibeiro  de  Souza  Pinlo. 

ELEIMENTOS   DE  MECIIANICA  RACIONAL  DOS  SOLIDOS,    pof 

Francisco  de  Castro  Freire  ,  lente  calhedralico  da  tacul- 
dade  de  mathemalica  ,  vo^al  do  cunsellio  superior  lie  ins- 
(rucrao  publica. 

TAEoAs  AUxrLTARES  para  0  calculo  dag  epliemerides 
astrnnomic.13  do  obser\aturio  dauni^ersidadc  de  Coimbra, 
por  Jacome  Luiz  Sarmento,  lente  substituto  ordiuario  da 
faculdade  de  mathematica. 

ELEMENTOS    DO  PROCESSO  CRIMINAL,  por  FranCisCO  JoSe 

Duarle  Nazareth,  lente  cathedratico  da  faculdade  de 
direilo  e  socio  do  Instituto  de  Coimbra. 

EST0DOS  DE  EcoNOMiA  POLITICA  ou  breve  explica^ao 
dos  elementos  desta  sciencia,  por  A.  P.  Forjaz  ,  lente 
cathedratico  da  faculdade  de  direito  ,  socio  da  A.  R.  das 
scicuciaa  de  Lisboa,  e  do  Instituto  de  Coimbra. 


36 


OBSERVACOES  METEOROLOGICAS  .  FEITAS  NO  GABINETE   DE  PIIYSICA              | 

DA  UNIVEUSIDADE   DE  COIMBRA. 

Anno  lie 
1854 

J.  o 
a   « 
a 
=    ? 

If! 

f-  s  s 

PressSo  otraosplierica  no  melo  dia 

Estado  hygromelrico  da 
olmosphera  «o  meio  dia 

S 

o 

Ealado  do  ceo   ao 
meio  dia. 

Mez  J.- 
Abril 

AUnra  ba- 
romelricft  a 
0.°  cenli?. 

TcojSo     do 
vapor  aquo.o 
coiuido  no  or 

Pressuo  do 
ar  secco 

Quantid.    de 
vapor  coo tido 
era  upi  metro 
cubico  de  ar 

=  5 
OS 

11 

1 

Dias 

Glaus 
ivntii. 

Millimelros 

Millimelros 

Millimelros 

Grammas 

1 

13 

734,812 

6,480 

728,332 

0,5048 

6,52      . 

s. 

Liinpo. 

2 

15 

758,882 

7,555 

731, .^27 

0,5886 

7,00 

s. 

Limpo. 

3 

15 

758,882 

6,807 

752,075 

0,5303 

6,83 

N.E. 

Limpo. 

4 

16,5 

758,698 

7,691 

751,007 

0,5475 

7,70 

E. 

Lirapo. 

5 

16,5 

757,224 

8.037 

749,187 

0.5721 

8,05 

E. 

Limpo. 

6 

16 

757,489 

8,434 

748,055 

0,6188 

8,46 

E, 

Limpo. 

7 

18 

756,887 

7,836 

749,051 

0,5039 

7.80 

S.E. 

Limpo. 

8 

19 

755,157 

9  712 

745,445 

0,5963 

9,64 

O. 

Nublado. 

9 

19 

752,719 

10,688 

742,031 

0,6562 

10,61 

0. 

Nublado. 

10 

18 

754,467 

9,882 

744,585 

0,6437 

9,84 

S. 

Nublado. 

11 

10 

754,721 

10,610 

744,111 

0,6911 

10,57 

s. 

Nublado. 

12 

19 

754,599 

10,929 

743,670 

0,6710 

10,85 

o. 

Limpo. 

13 

19 

750,027 

10,606 

739,421 

0,6512 

10,53 

o. 

Nublado. 

14 

18 

748,371 

10,039 

738,332 

0,6539 

10,00 

o. 

Cbuva. 

15 

18 

752,993 

9,782 

743,211 

0,6372 

9,74 

o. 

Chuva. 

16 

17 

753.573 

10,293 

743,280 

0,7115 

10,29 

o. 

Cbuva. 

17 

17,5 

749,719 

10,957 

738,762 

0,7349 

10,93 

0. 

Cbuva. 

18 

18 

745,849 

10,880 

734,969 

0,7087 

10,84 

s. 

Nublado. 

19 

16 

743,303 

9,591 

733,712 

0,7037 

9,62 

s. 

Cbuva. 

20 

15,5 

739,817 

10,058 

729,759 

0,7601 

10,01 

s. 

Chuva. 

21 

15 

738,607 

9,851 

728,756 

0,7674 

9,91 

s.o. 

Chuva. 

22 

J6 

742,805 

10,177 

732,628 

0,7467 

10,21 

N.E. 

Chuva. 

23 

•  15'."'"- 

746,770 

10,498 

736,272 

0,0178 

10,57 

N.E. 

Limpo. 

24 

15,5          '752,286 

10,184 

742,102 

0,7696° 

10,23 

N.E. 

Limpo. 

25  . 

.   15           '  753,156 

8,860 

744,296 

0,6902 

8,92 

E. 

Nublado. 

26 

12 

753,624 

6,041 

747,583 

0,5643 

6,14 

E. 

Limpo. 

27 

14 

734,548 

7,454 

747,094 

0,0167 

7,53 

E. 

Limpo. 

28 

14 

732,191 

7,635 

744,556 

0,6317 

7,71 

E. 

Limpo. 

29 

13 

751,207 

8,191 

743,076 

0,7199 

8,30 

S. 

Nublado. 

30 

15 

747,730 

8,698 

739,o:;b 

0,0776 

8,75 

S. 

Cbuva. 

nieilia  } 
do  mez  ^ 

13,9 

731,039 

0,6562 

Coiiu 

bra  1.°  Je  Maio  i!e  1834. 

O  Demons 

rador  da  Fa 

:nldade  de  P 

hilosoiiliia ,  J 

\Tanocl  ilos  i 

antos  P 

creira  Jfirdim. 

JnstitittrJ) 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


SESSOES  DAS  CLASSES  E  DA  DIRECC.AO 
DO  lA'STlTLTO  DECOIMBRA. 

Nodia  9defevereiro  desleaiino,  reiiniii-:-e  a 
classe  de  sciencias  pliyjico-matlieinalicas  para 
discutir  o  parecer  dado  peia  lespecliva  coin- 
inissfio  ii  cerca  da  niemnria  offerecida  pelo 
sfir.  Francisco  Antonio  Alves,  que  nusla  scs- 
sfio  fuj  eleilo  socio  effecUvo  da  rnesQia  classe. 

A  27  d'abril,  por  propoala  do  sfir  Flo- 
rencio  M.  B.  Feio,  decidiu  a  direc^iio,  que 
a  comniiis'io  redactora  do  Inslitiito  olTicinSse 
as  faculdades  academicas,  por  inlervcni,'ao  do 
ex."'°  prelado  da  iiniversidade,  pedindo-llies 
a  sua  el'fecliva  collaboragao,  conforme  o  dis- 
posto  na  porlaria  do  Ministerio  do  Reino  de 
d  de  seternbro  de  1853:  resolveu  egualmente 
que,  d'accordo  com  os  aiiclores  dos  artigos 
que  se  publicassera  nojornaljpodesse  a  redac- 
cfio,  quando  o  jul^^'asse  conveniente,  mandar 
lambem  iinprirnir,  em  separado  por  conta  dos 
aiictores  on  acusla  do  liistituto,  esses  mesmos 
artigos.  Nesta  sessao  recebeu-se  parLo  do  fal- 
lecimento  do  socio  osfir.  conselheiro  Francis- 
co Freire  de  Carvallio,  e  foi  encarrogado  do 
sen  elogio  funebre  o  sfir.  Francisco  de  Caslro 
Freire.  O  Secrelario  do  Inslitnto, 

Jacintho  A.  de  Sousa. 


CO.SSELHO  SUPERIOR  DE  INSTRUCC-lO 
PUBUCA.  —  RELATORIOS. 

INSTBUC^So   SECUNDARIA. 

Conferencia  de  28  d'abril  de  1854. 

Senhores. — Na  conferencia  ordinaria  do 
conselho  geral  que  teve  logar  no  dia  31  de 
outubro  do  anno  de  1853,  relatei-vos  nao  so 
OS  trabalhos  que  correram  mals  particular- 
menle  pela  S.^secjao,  eocrescido  e.xpediente 
da  secretaria  do  conselho;  mas  tambem  o 
estado  bastante  lisonjeiro  da  inslrucgao  se- 
cundaria, e  as  providencias  adoptadaspor  este 
conselho  para  o  seu  adiantamenlo  e  perfei- 
9ao :  porem  na  que  hoje  celebramos ,  como 
complemento  d'aquelia,  dir-vos-liei  que  o  nu- 
mero  total  das  cadeiras  publicas,  perlencentes 
a  inslrucgao  secundaria,  e  estabelecidas  no 
continenle  e  ilhas  adjacentes ,  e  de  248, 
sendo  nos  lyceus — 12i  —  e  annexas  outras 
tantas :  que  o  numero  total  dos  alumnos  que 
as  frequentaram  no  anno  lectivo  de  1852  a 
Vol.  III.  Maio  15 


1853  e  de  —  -1:209  —  em  175  cadeiras  :  que 
o  numero  lolal  das  cadeiras  parliculares  ate 
hoje  e  de  48,  e  que  o  numero  total  do, 
alumnos  que  as  frequenlarain  no  referido  an- 
no e  de  1:089:  que  sendo  o  numero  total 
dos  alumnos  que  frequentaram  as  cadeiras 
publicas  e  parliculares  de  5:298  ,  abatendo 
o  numero  total,  que  foi  no  relalorio  de  29 
de  novembro  de  1853,  —  2:8G3  —  ,  vem  a  ser 
o  accrcbcimo  de  2:435. 

Cumpre  notar  que  nfio  entra  naquelle  nu- 
mero a  frequencia  das  cadeiras  do  dislriclo 
de  Porlalegre,  por  nao  ter  o  commissario  dos 
estudos  cnviado  a  este  conselho  o  seu  relatorio, 
iiem  a  das  do  dislriclo  de  Ponta-Delgada , 
por  nao  virem  os  mappas  d'eslas  com  os  da 
inslrucgao  primaria,  que  o  commissario  dos 
estudos  inlerino,  por  officio  delSdodezembro 
de  1853,  tinha  remeltido  a  este  conselho. 

Sendo  pois  o  total  das  cadeiras  nos  lyceus 
e  annexas  243,  vao  incluidas  neste  numero  as 
93  propostas  no  piano  remetlido  ao  governo 
em  consulta  do  1.°  de  fevereiro  de  1050,  das 
quaes  ainda  todas  n.'io  est.'io  approvadas,  e  por 
isso  nfio  providas.  Ha  porem  algumas  annexas 
ainda  existenles,  por  estarcm  providas  em 
professores  anlisos,  e  que  dcvem  ser  supri- 
midas  quando  vagarem  ,  ou  transferidas  se. 
gundo  aquelle  piano. 

O  commissario  dos  estudos  do  dislriclo 
d'Aveiro  parliciiia,  no  seu  relalorio  de  13  de 
Janeiro  do  corrente  anno,  que  no  lyceu  d'a- 
quelia cidade  houveram  melhoramentos  no 
anno  leclivo  findo,  nao  so  quanto  ao  material, 
com  o  melhor  arranjo  interno  das  aulas,  mas 
tambem  quanto  ao  pessoal  e  economico,  com 
o  regular  desempenho  das  obrigagoes  de  cada 
urn  dos  seus  empregados,  maior  concurrencia 
e  aproveitamento  dos  alumnos  em  todas  as 
aulas,  e  a  creagao  da  cadeira  de  linguas 
franceza  e  ingleza ;  lastima  porem  o  impedi- 
mento,  lalvcz  perpeluo,  do  professor  de  4.°' 
cadeira  ,  na  qual  por  isso  mesmo  nao  p6de 
deixar  de  haver  irregularidade  no  anno  leclivo 
findo,  nao  obstante  lomarem-se  conveniente- 
mente  as  providencias  para  occorrer  a  in- 
terrupgao  do  magisterio.  F'requenlaram  as 
aulas  214  alumnos. 

O  commissario  dos  estudos  do  dislriclo  de 
Caslello-Branco,  no  seu  relalorio  de  14  de 
Janeiro,  d.i  parte  que  o  lyceu  estd  vantajosa- 
mente  collocado  na  antiga  casa  da  miseri- 
.1854.  "  NoM.  4- 


^A^V^^>&^^ 


38 


'cordia;  qui-  fioquenlaraiii  as  aula:>  79  esui- 
doiiles:  que  respeitaveis  sao  por  todos  ostitiilo> 
05  actuaes  profeisores  do  Ivceu,  que  a  ijrandes 
hizes  nas  disclplmai  respectivas  junlam  lar^a 
experiencia  do  magUterio  que  exercem  ha 
muitos  annos;  mas  que  o  de  fjrainniatica 
latina  e  o  delogica,  por  siiaavan(;ada  edade  e 
molestias,  estao  nas  ciicumstancias  de  merecer 
do  goveruo  de  Sua  Magostade  a  jubila^ao  a 
que  tem  direito,  no  que  muito  iuLeressaria  o 
servi^o  publico:  que  6  escliolas  parliculares 
de  graininalica  latina  e  latiuidadt:  foram  fre- 
quentadas  por  66  discipulos  com  aproveita- 
niento,  segundo  a  informa(;a.o  dos  respeclivos 
professores  que  "Idas  referidas  escliolas  foram 
sustenladas  pelos  pacs  de  faniilias,  e  uma  por 
esmolasou  donativos:  que  foram  liabilitados  3 
professores  para  regerera  cadeiras  de  gram- 
matica  latina,  e  que  03  que  nSo  quizeram 
habililar-se ,  fecliaram  as  suas  aulas. 

O  comrni?sario  dos  estudos  do  districlo  do 
Porto,  em  seu  relatorio  de  17  defevereiro,  faz 
ver  que  as  cadeiras,  que  consliluem  o  curso 
do  lyceu,  acliam-sc  todas  providas,  e  bem  as- 
sim  as  respectivas  substituijoes,  e  foram  todas 
regidas  pelos  respectivos  professores  proprie- 
tarios ,  menos  a  de  latinidade  ,  que  pelo  im- 
pedimento  do  professor  proprietario  foi  regida 
pelo  respectivo  substituto  :  que  o  numero  dos 
akimnos,  que  frequeiuarara  as  aula?  do  lyceu, 
foi  de  252,  e  o  das  cadeiras  annexas  de  133. 

Do  relatorio  do  governador  civil  d'Angra, 
com  a  data  de  30  de  setembro  do  anno  pas- 
sado ,  consta  que  as  aulas  do  lyceu  foram 
frequentadas  por  192  alumnos;  que  fora  do 
mesmo  lyceu  existem  3  aulas  de  latinidade, 
que  todos  funccioiiaram  regularmente;  e  que 
conlinua  a  ser  mui  sensivel  a  falta  de  uma 
cadeira  de  latim  na  villa  do  Topo  da  illia 
de  S.  Jorge. 

A  mesma  aucloridade  faz  lionrosa  mengao 
do  reilor  do  lyceu  e  comniissario  dos  estudos, 
pelo  muito  zelo  que  desenvolve  no  exercicio 
de  suas  func^oes,  e  nao  menos  dos  profes- 
sores do  mesmo  lyceu,  que  tem  louvavelniente 
empregado  os  maiores  disvelos  no  progresso 
e  adiantamento  dos  seus  discipulos. 

O  conimissario  dos  estudos  do  distrirto  da 
Horta,  no  seu  bem  acabado  relatorio,  per- 
lenccnte  ao  anno  lectivo  de  1851  a  1852, 
depois  d'algiiinas  judiclosas  retlexoes  a  cerca 
dalgumas  cadeiras  internas  e  externas  ao  lyceu, 
e  da  necessidade  de  um  curso  de  moral  theo- 
logica,  e  disciplina  ecclesiaslica  para  ins. 
trucjfio  do  clero,  pela  qual  este  se  habilite 
devidamente  para  o  cabal  desenipenho  das 
sagradas  func(;6es  do  seu  santo  ministerio, 
faz  ver  que,  no  refendo  anno  lectivo,  tanto 
as  aulas  do  lyceu  ,  como  as  das  escliolas  an- 
nexas,  foram  frequentadas  por  133  alumnos. 

O  governador  civil  do  Funclial,  no  seu 
relatorio  de  19  de  noverabro  do  anno  findo, 
diz  que  nenhuraa  circurnstancia  notavel  tem 
occorrido ,  de  que  deva  fazer  menjao,  nem 
na  parte  que  respeita  ao  pessoal  do  ensino, 


dois  que  05  profesaores  de  todas  as  classes 
continuam,  em  geral,  a  desempenhar  salij- 
factoriamente  as  obriga^oes  do  magisterio, 
nem  na  parte  litterarla,  porque  os  methodos 
d'ensino  nao  torn  snffrido  altera^ao  alguma  ; 
e  que  forao  12T  os  alumnos  que  frequentaratn  | 

as  aulas  do  lyceu.  1 

O  bibliotliecario  de  Ponla  Delgada,  em 
seu  relatorio  de  30  de  setembro  do  anno  pas- 
sado,  da  conta  de  que  no  prinieiro  anno  da 
sua  gerencia  tinha  conseguido  jd  o  arrola- 
mentode  tres  mil  volumes,  e  que  continuando 
o  iiie?mo  Iraballio  no  seguinte  anno,  sempre 
que  o  tempo  Ih'o  perniiltia,  conseguira  o  ar- 
rolamento    de  7:250  volumes,    faliando-Uie  , 

ainda  3  estantes  para  inventariar;  e  do  map-  I 

pa  estatislico ,    que   remetteu    ao    conselho,  ' 

ve-se  que  desde  outubro  de  1852  ate  setembro 
de  1853  foi  o  numero  dos  leitores  de  1571 
o  que,  segundo  o  referido  bibliothecario  , 
e  devido  a  regularidade  com  que  funccionou 
o  lyceu  no  anno  lectivo  de  1852  a  1853,  e  as 
recommenda<;oes  que  03  professores  fazem  aos 
seus  discipulos  de  irem  alii  consultar  algumas 
obras  precisas  a  sua  maior  instruc^fio. 

Agora,  senhores  fallarei  dos  trabalhos  da 
2.*  secgfio  ,  que  tiveram  logar  desde  17  de  ou- 
tubro de  1J553  ate  21  d'abril  do  corrente  anno. 
Foram  elaboradas,  e  expedidas  ao  governo 
de  Sua  Magestade  52  consullas,  sendo  uma 
para  a  propriedade  de  cadeiras  de  latim  ;  qua- 
tro  para  o  provimento  temporario  de  cadeiras 
da  mesma  disciplina;  seis  para  a  propriedade 
de  cadeiras  dos  lyceus,  uma  para  substituigoes, 
e  uma  para  o  provimento  temporario  dos  ditos; 
uma  para  secretaries  de  lyceus,  e  quatro  pa- 
ra porteiros  dos  ditos;  diias  para  commissarios 
d'estudos ;  uma  para  gratificagoes;  nove  para 
jubilaQoes;  duas  para  exoneraijoes  ;  duas  pela 
necessidade  de  provimentos  de  logares ;  doze 
para  inforines  e  varios  objectos  ;  uma  para 
creagao  de  cadeiras;  duas  para  a  juncfao  daj 
aulas  do  Ivceu  de  Santarem  com  o  seminario, 
ferias  etc. ;  uma  com  os  orQamentos  da  receita 
e  despesa  dos  lyceus;  uma  com  a  rela^ao  dos 
lyceus,  piofesso'-es,  e  estado  das  cadeiras 
desde  a  inslalag.io  ;  uma  com  o  projecto  de 
regulamenlo  para  os  exames  de  habilitag'io  a 
priineira  iiiatriciila  da  universidade. 

llesta-me  someiite ,  para  conclusao  deste 
relatorio,  dar-vos  conta  do  expediente  da 
secretaria  do  conselho. 

Concursos 

Portarias  e  officios  com  editaes 96 

Annuncios l* 

Tnformagoes  e  Inlimagoes 

Portarias  e  officios 123 

Diplomas  Ccriidocs  e  Titnlos 
Diplomas  de  provimento  temporario  de 

cadeiras 2 

Certidoes  decapacidade  para  ensino  par- 
ticular         4 

Titulos  d'auctorisagao  para  coUegios . . . 1 

Total..  «40 


39 


CSIVEBSIDADE  DE  COIPRA-PROGRAMMAS. 

FACULDADE  DE  MEDICINA, 

1853— 1S54. 

1.**    ANNO. 

ClDRIBA  d'a:<;ATOMIA  HUMANA   E  COMTAnADA. 

compbindio jamain  — nouvkau  traitb  elrmektilbs 

d'anatomie  descriptive. 

Lente — Dr.  Setastido  d* Almeida  e  Siha. 

Comei;aremos  por  definir  o  que  seja  Analomia  ,  e  o« 
diffetenles  lilulns  d'esla  vasUssiina  sciencia. — Deinnii- 
•IraremuS  as  alfaias  e  iiistiumentus  anatoiuicos.  —  Indica- 
rcmos  OS  reaueiites  cliimicns  maid  iisailos  era  Analuinia  ; 
e  OS  Bens  principaes  prticessus  :  a  tlisseci;ao  ,  macera(;r»o  , 
injeccSo  ,  e  inspeccao  niirruscnpira  ,  a  Qui  tie  separ;ir  e 
di3tin::uir  os  lecidus  do  orj^anisnio;  as  sciencias  auxilia- 
fes  1  e  auctares  mais  abalisiadus  que  devemus  cungultar ; 
e  as  vanta^^ens  que  tao  bclla  sciencia  ^confcre  aos  que  a 
possuem.  Finalmeute  ,  faremus  conhecer  os  varius  tecidos 
do  ureanismo  .  dcmonstrandu-os  ,  e  «lefinindu-os  sobre  o 
cadaver:  e  depois  d'esles  preliminares ,  pasaareuiua  ao 
cstudu  da  primeira  parte  d'Anatomia. 

1.=^  PARTE. 

OSTEOLOGIA. 

Dos  ossos  €m  geral :  Esqiieleto  nalnral  e  arliOcini  : 
ejqueleto  interuo  e  externo— nervo-os(]ueloto  ,  splanchiio- 
ceqiieleto  ,  e  dermato-epquelelo  —  melhodu  de  estudar  o 
esqueb'to :  linha  e  piano?  verticaes  e  hurizontaes —  re- 
gioes  do  esqueleto,  e  ussos  que  as  formam  —  divisao  dos 
osios  quaiito  a  sua  forma  cm  lonirns,  lariros  ,  curtcs  ,  e 
mixtos  —  eslructnra  dos  ossos  :  siibslancia  cumpat-la  , 
esponjosa  e  reticular  — caviilades  intersticiaes  dos  ossos  — 
lextura  e  forma  das  moleculas  osseas  nas  sobredictas  siib- 
stancias ;  caualiculos  osscos ,  suas  camadas  concentricas , 
e  corpuscuios  inlerpostos  ;  direc^ao  o  anastomose  dos  ca- 
caliculos  dos  ossos  das  differentes  dimensoes — demonstra- 
^iio  microscopica  de  todos  esles  olijectos — tecidos  que 
concorrem  para  a  or^aniza^ao  dos  ossos  :  cellular  ,  vasus 
e  ner\os — propriedades  physicas  e  vltnes  d't-stes  6t^uus 
—  sua  analyse  cliimica  —  da  medulla  dos  ossos. 

Oateologia  dtsrriptica  r  estudo  analylico  e  synlhetico 
do  esqneleto  —  di\  isao  em  trunco  e  extremidades  ;  ossus 
que  constituem  o  Irunco-^columna  rachidiana  ,  formada 
por  24  lertebras  verdadeiras,  pelo  sacro  e  coccyx,  e 
dividida  em  cinco  culuinnas  ,  cauda!  ,  sa^rada  ,  lombar  , 
dorsal,  e  cervical,  sobre  a  qual  assenta  a  cabera  — 
descripoao  das  vertebras  que  compOem  eslas  rcL'iOes  — 
ossos  que  concorrem  para  a  forma(;ao  da  cabei^a ;  sua 
divislio  em  craneo  e  face^descriprao  dos  ossos  do  cra- 
neo  ;  item  dos  da  face  —  ossos  wormios  —  poder-se-ha  re- 
conhecer  nos  ossos  da  cabc^a  vestiirios  rla  forniai^ao  vertebral? 
•— Doutrina  dos  Ijomolo^os:  prelt^ndidas  Aertebrasocci|iilaI, 
Cenlricipital,  syncipital;  nasal,  maxillar  e  intermaxillar  — 
ans'Ulo  facial  de  Camper  ;  dicto  occipital  de  Daubentun: 
inspec^ao  \ertical  dus  crsneos  ,  sei!undo  Blumenbak ,   etc. 

Odontologin :  I.^  denti^ao  ;  S.'^  denti^ao  — •  confron- 
ta^ao  dos  denies  com  os  ossos  —  dilTerenles  tecidos  dos 
dentes  :  o  esmalle,  a  substancia  cortical,  o  niarfim  e  o 
cimento  — ca^  idade  e  polpa  dentaria  —  differentes  fdrmas 
de  denies :  incisi^os,  laniares  ,  e  molares  (nohomem).  Na 
serie  animal  encontram-sc  denies  siniplices  e  composlos ; 
verdadeiros  e  falsos  molares;  conicos  dubb'S  e  enva^-ina- 
dos  ;  era  forma  (]e  cscova  ,  etc.  — E  interessante  o  syste- 
nia  dentario,  porquerevelaoshabitos,  ombral,  eaalimen- 
la^So  dos  animaes. 

Do  thorax  i  formado  posteriormentc  por  13  pares  de 
Costellas.  presas  aos  lados  das  12  \ertebras  dorsaes  .  e 
ftdiante  pelus  cartila^ens  coslaes  ,  articuladas  com  os  lados 
do  slerno  —  descripc;"io  das  costellas  e  seus  arcos  cartila- 
gineos  ;  item  do  sterno. 

Da  pelve  :  formada  posteriormentc  pelo  sacro  e  coccyx  , 
e  dos  lados ,  adiante  e  por  baixu  pelos  ossos  innominados. 
Descripcao  dos  ossos  innominados  on  coxaes, 

Exlrtrnidades  t/iaracicas :  ossos  da  espadoa  ou  cintura 
scapular  — descripcao  da  clavicula  e   da  omoplata  —  do 


humero  nu  otsn  do  braco  —  dus  oesos  do  antebraco  :  cu- 
bilo  e  radio  —  dos  tin  iniio  di\idida  em  carpo  ,  melacarpo 
e  dedos.  Dt.'scrip(;ao  de  todus  estes  ossos. 

Extremidades  inftriorrs  on  ahduminaes  :  <lo  fem«r  ou 
08S0  da  coxa,  arliculado  snperioriiientq  com  a  cintura 
pel  via  na  na  cnvidade  cttlyloidea  ,  iiireriorineiite  com  r 
rotula  e  libia  —  dt'scri]i(;rio  d'esles  ossos  e  do  perooeo 
que  com  a  liljiji  corifurmam  a  pcrna  —  descripi;ao  do  po 
dividido  em  tarso  ,  metatarsu  e  deilos  — ossus  secamoiileos. 

Confrc)nta(,-ao  dos  esqne!etus  do  liomcm  e  da  niulher  adul- 
tos  — item  do  fcto,  considerado  nos  tres  '"-tados  ,  mucoso  , 
cariilairineo  ,  e  osseo  — nuidificarao  dos  esquelelos  scjun- 
do  as  principaes  raras  do  honiem. 

S.^  PARTE. 

ARTJinOLOGIA. 

No  psqnelcto  nalnral  acham-se  us  ossos  presold  enlre  si 
[lor  li^amerdos  e  varias  ouiras  disposicoes  —  Ires  iieneroa 
d'arlicula^oes  :  1."  a  synarlhrose:  n'cBte  2:enero  os  ossoa 
s;1u  articulados  firmenienre  enlre  si  por  jnsta  posicSu  de 
partes  (sutura  e  liamionia) ,  sem  dependencin  de  li^'a- 
mentus  —  2.^  irenero,  a  diarlhrose  consia  de  ailiculacoes 
uiais  ou  menus  moveis  —  3.°  genero  ou  amphiarlhio&o 
consia  {]o  arUcnlacocs,  nas  quaes  os  muvimentos  sao  ))ou- 
co  nppareulcs  — de  todos  esles  Ires  irencros  ,  e  suas  respo- 
ctivas  especies  ,  faremos  dumonstra^ao  sobre  o  esquelelo 
fresco. 

Os  apparellios  dos  dons  ultimos  g:eneros  coiistam  de 
drgaos  deslinados  uns  a  farililar  os  movimenlos,  outros  a 
liniital-os,  prendendo  os  ossus.  Taes  apparellios  sao  mais 
ou  menos  cumplicados,  conformeo  niaior  oumenor  nnniero 
d'orgaus  n'elles  empregadus:  Eignmeutos  (rt)  de  tecido 
fiiini-tendinoso  ;  (6)  de  tecido  Obro-elaslico —  breves  con- 
sideracocs  sobre  esles  dous  lecidus  ,  e  em  ^'eral  do  tecido 
Gbroso-^do  periostfo  e  dura  ninler— liiramentos  fasci- 
culados,  longos  e  curtos  ;  dos  capsulares  —  das  carlilatrena 
oijducentes,  (pierevestem  assuperQciesarticuI;ires  dos  ossos 

—  das  carlilajens  inlenirliculares,  racnisras  e  discoides 
(fibro-carlilai^ens) — das  syno^iaes,  membranas  saccifor- 
mes  ,  qne  revcstem  as  cajisulas  e  as  superlicies  articula- 
res  dos  ossos— suas  franjas ,  corpnsculos  e  pretendidas 
plandulas  de  Cloptun  Havers — cryptas  ou  clandulas  sy- 
no\'iferas  de  Gusseiin  —  obser\arues  mlcroscupicas  sobre 
totlus  esles  tecidng. 

Na  Jrthrolofiia  desniptiva  segniremos  a  ordem  do 
cumpendio  ,  fazendu  ver  em  cada  uma  das  arliculacues 
sous  moA  iinenlos  ;  stias  luxacoes  ;  e  Dnalmente  terminare- 
mos  este  traclado,  considerando  synthelicameule  as  ditTe- 
rentes  regioes  do  esquelelo  natural. 

3.^  PARTE. 

MTOJ-OGIA. 

Dos  musciilns  em  rjernt :  defiai^'iio  e  elymoloria  da  ps- 
lavra  myologia  —  diMsao  dos  mustndos  cm  dnas  grandes 
sec^oes  :  1.^  mnsc.  da  \\i\n  animal  ;  2.*  dii-tus  da  vida 
or^anica  :  os  primeij"os  (no  liumt'in)  sau  massas  fibrosas  , 
de  grande  volume,  adiicrenles  ao  esquelelo,  molles  ,  mas 
muilo  coulracteis  durante  a  \ida,  e  de  ciir  ^ermelha  — 
c.ula  um  d'esles  driraos  ,  mais  ou  menos  voUiniosos  ,  se 
diviiiem  era  fachus  ,  esles  em  fasciculos,  e  estes  em 
fibras  primilivas  —  us  muscnios  da  vida  animal  chamam- 
se  ^oluntarios,  porqne  a  ^ontride  impera  em  seus  movi- 
menlos; e  nao  assini  nos  da  ^ida  o^L^^rlica  —  musculos 
niixlos — musculus  solidus,  e  ocos  —  niarcha  parallela  e 
rcctilinea  das  Gbras  dos  musculos  da  vida  animal — seu 
comprimenlo  nao  interromjtiilo  no  esparo  de  suas  in- 
serrocs  —  fasciculos  prirailivos  estriados  transversal  e 
lun;.'itudinalnienle  —  qual  leiii  a  causa  d'estas  estrias?  — 
tccidus   que   concorrem   jiara   a  organiza^ao  d-is  mnsculoa 

—  do  tecido  cellular  em  i^eral  ,  e  em  particular  do  que 
in\oI\e  epenetra  os  musculos  ate  as  fibras  p^imili^■nB  (snr- 
culemraa) — do  lecido  adipuso  —  pannicnia  adr|)osa  snbcu- 
latiea  —  e  d'aquelle  que  penelra  os  interslicios  muscularcs 

—  das  arterias,  veias,  vasos  lymphaticos  e  ner^os  muscu- 
lares —  propriediides  physicas  e  vllaes  dos  musculos  —  sua 
analyse  chimica. 

Paries  iuiegrontet  d'esles  orsraoB :  dos  tendoes ,  apo- 
ncvruses  de  iniolucro  ;  de  inser^ao  —  adherencia  tendi- 
neo-muscular  —  item  tendineo-ossea — synoviaes  dos  tfn- 
dues  e  Ixilsas  serosas  — difl'erentes  bases  da  nomenclatura 


40 


<los  miisculos  tla  \  ilia  animal  —  divisSa  (l'e»l«  niusculuB 
em  lonsus  ,  larirus  ,  e  curtos  ;  os  priiueirui  diviiliiios  em 
cahe^a  .  \enlre  e  cauila. 

Quarttu  aus  nitisculus  da  ^i(la  or::Rnica,  suns  ditTeroni^na 
sao  a58;is  tiuUvcis  :  8uii  doUiio  t*  fi^'iirar  na  furma*;rii)  dos 
urEiaos  inlenios ,  de  cnjus  movmienlos  s5o  us  |)riiici|>aes 
aireiiles  - — fi-rma  antuillur ,  on  arcifuriuc  de  swas  fibrns  — 
c'Stus  sJifp  chamadas  lisas  por  nao  serem  Cfetriudas  trans- 
versalmenle,  e  su  niui  jMiucas  no  conipndo — tambein 
nao  ufrereccm  ncxuosidadt's  item  zigzags  cunio  as  da  vida 
aiiiuial — O  diam-tro  niedi<J  dus  fjisciculus  c  de — 0™,013  » 
em  cjiiHiilo  n  mt-dio  dus  da  vida  animal  e  do  —  0'",0i. 
FinuiiiK-Tile  us  iiHJSculus  da  vida  urL;aQica  nao  sao  sujeitos 
ao  iinperiit  da  \i'iitade. 

Na  myolui:ia  dcsciiptiva  set^uireraoi  a  ordeni  do  com- 
pcndiu. 

A^  PARTE. 

s^LA^c^^^oLOG^\. 

1"  Appnrelho  (ligestivo  :  desgripcao  da  bocca — plia- 
Tynge —  esuphagu  —  cstomacru  e  valviila  do  pyloro  ■ — 
inlcstinos  delgados  :  <!nudeno  — j'-jnnu —  ileon  —  iiUesti- 
nos  gros9u3  :  cetro  e  valvula  ileucei-al — colun  e  rt-cto  — 
teciflos  <pie  cotistilucni  cste  longo  canal  —  menibranai 
nnicusas  <•  serosaa  eni  L;eral ,  e  eiu  particular  das  que  per- 
lenceisi  ai>  lubo  dii:estiiu  —  tunica  celhilosa  —  dicta  mus- 
cular—vasos  e  iier^os  —  r/taridnlas  :  divididas  em  in- 
trinsecas  e  exlrinsrcr.s — das  i^landulaa  em  peral  — ;:laii* 
i\uli\s  ititrintecas  do  canal  lUii^i'.si'wo ;  t^Iandiilas  de  Liei- 
berkuhuu,  gl.  solilarias,  de  Bruiiner,  de  Pe}er  —  glamlulas 
exlrlnsecas  :  ^I.  salivares  — descrip^ao  das  parotidas, 
submaxillares  e  sublinguaes  —  do  pencreas,  fi^ado  e  baco 
— .  demonslra^Ho  de  lodus  estes  orgaos  no  cadaver  humano, 
nos  rumioantes  e  nas  aves. 

^,°  Apparelho  resptratorio  e  vocal :  descrip^ao  da 
larvriLTe:  suas  carliln^^ens,  liganientus  e  muscuios — cordaa 
Tocaes  falsas  e  verdadeiras  —  glolte,  seus  \entricuIos,  e 
seios  de  fllorsagnl  —  niembrana  iaryngea,  vasos,  e  nervos 

—  demoDstra«;ao  da  laryuge  do  huraem  e  das  aves  —  da 
trachea,  bronchius  e  pulmoes — as  plcuras  custal,  dia- 
phragmalica,  piiliiioiiar,  emediastiuica — systeiua  rcspjra- 
torio  das  aves  e  cellulas  aoreaa  —  glaodida  thymus  e 
thyrordea  (nos  luanmiiferus). 

3.°  Jpparelho  uritiurio :  dosrins,  sua  fc'rraa,  siluat^ito 
e  eslructura  ;  calices — bacineto  —  urcteres  e  bexiga  — 
Iccidus  que  coiistilueiii  estes  orgaos — das  capsulas  supra- 
renacii — dos  corpus  de  WolfT  uo  feto, 

4.°  Apparclho  genital  do  sexo  vinsculino :  do  penis  e 
seus  cui  pus  cavernosos —  da  urethra  (contiiiua^iio  t\o  collo 
da  bexiga)  e  da  glande  c  seu  lueato  —  dns  testiculus  e 
sews  iii\obicros  ,  ductus  deferenles  ,  veaiculas  seminaes  e 
ductus   cjaculaturtus  —da    pruftata  e  vesicula   wberiana 

—  das  ^laiiilulas  duCuwper  —  musculos  e  aponevroses  da 
regiiiu  perineal. 

S."  Appartlho  genital  da  jwdher :  partes  externas  : 
monte  de  Venuu — \tilvn,  graiides  e  pequenos  laliins, 
clitoris,  vcstibulu,  meato  urinario  e  urethra  —  fussa  na- 
vicular e  fruiu  —  (la  alierlura  da  vagina  — da  niembrana 
liyinen  e  carunrnlas  iiiyrtirurmcs  —  partes  internas  da 
geracjiio— do  iitero  ~  trumpas  de  Fallopio^oxarius  e 
vesiculas  tie  GraufT — liganientos  larirop  e  urgai'S  do  Uo- 
senniuMer  — hgamenlos  ledondos — musculos  da  reiriuo 
|)eriiieal. 

5.^  PARTE. 

oaoAos  DOS  sBNTrnos. 

1.*  Apparclho  do  tacto :  da  pelle,  dcrme  on  cutis,  da 
epiderme  e  piirraenlo  —  papillas  lai-leis  —  rede  lympha- 
lica  —  funiculus  scbaceos  ,  piluscs;  clanduias  sudorift-ras 
de  Stenon  —  das  unha«  e  cabellos.  A  Uile  do  tarto  reside 
no  curpo  pnpillar  da  dermc ;  porem  tudos  os  urgSus  sao 
mais  ou  menus  sensiieis  us  inipressuea  extranhas  —  divi- 
lau  do  tactu  em  acti^o  e  paesivo,  etc. 

2."  Jppnrelhu  dovlfacio:  partes  csqueletiras  das  fossas 
nasaes  ,  em  que  se  expande  n  niembrana  pituitaria  —  par- 
ies d'esta  membraiia  que  sao  a  especial  scdo  d'este 
senlidu. 

3."  Apparelho  do  gosto :  asede  d'estesentido  reside  nas 
papillas  da  membrana  mucosa  que  revesle  a  iingua  e  era 
alguos  outros  pontos  da  bucca — dos  orgaos,  cnjas  func- 
^5es  sao  necesgarias  pora  o  cumprinienlo  do  ^osty. 


■*■**  Apparelho  da  visdo :  orgSoa  auxilinres  d'este  «enti- 
do  :  fossas  nrbitarias  ,  sobroih.is  ,  palpebras  ,  eel  has  ,  con- 
junctiva e  t;landulas  de  Meibumiu  —  earuncula  ,  glandula 
pHiiUis  e  vias  iacrymaes  — musculos  :  levautador  da  pal- 
pebra  superior  —  orbicular  das  palpebral  —  musculos  du 
jlobo  ocular  :  dos  quatro  muscnlos  rectos  ,  e  dus  .lu^^  obii- 
qiios  —  tJescrip(;uo  do  giubo  do  ollio  —  suae  mcmbrauas  e 
hiimures. 

3."  Apparelho  da  audiqiio  :  orelha  externa  —  seu  pavi- 
Ihau  e  cunducto  extenut  —  tecidos  que  os  formam ,  ft 
musculos  inlrinsecns  e  exlrinsecoe  —  orelha  media;  mem- 
brana e  caixa  dotympano  —  sens  qualr.'  ossiculos  —  aber- 
tura*  da  caixa  do  tympano  :  trompa  d'Eustachio,  orifici'> 
das  celluias  mastoiileas  ,  janellus  oval  e  redunda  ,  etc. — 
ouviifo  intcrno:  lubyriulliofisseo :  vestibulo  ,  canaes  serai- 
circulares ,  e  caracol  —  labyrintho  membranojto  ,  iniitamlo 
em  lurmas  as  cavidailes  osseas  —  lympha  e  perilvmpha 
(Cutuimi.  e  Breschel). —  Na  nevrolugia  Iraclaremo*  do 
niTvu  auditivo  e  sua*  ramiflca^ocs  no  labyriulho^  e  luni 
assim  dos  mais  nervos  dus  senliib's. 

6.»    PARTE. 

a.\<:eioujgia. 

Do  cora^tio  como  orgSo  central  da  circula^ao  — vasos 
circuiatorius  divididos  em  sanguineus  e  tymphalirot  j  e  os 
primeiros  divididos  em  arterias  e  veias  —  systenia  capillar 

—  descrip^Cto  do  cora^do —  forma  exterior  ;  suas  aurjculas 
e  vculriculos  ,  vaUulas  e  lacertus  —  separa(;ao  rias  dilTe^ 
rentes  camadas  e  acerlos  musculares  que  cunformara  esle 
orii^am — suas  fibras  transversalmente  estriadas  —  das  tuni- 
cas que  formam  o  seu  pericardjo,  etc. 

Dat  arteria$  em  gerali  defini^ao  dVstes  vases,  cha- 
mados  tambem  vasos  dcftrtnles  per  levarem  o  sangue  do 
eora^ao  para  todo  o  orgauismo,  d'onde  volla  pelas  veias 
(vasfis  afferentes)  paraomesnio  orrani — confronta^io  das 
arterias  c  veias:  quanto  A  forma  e  aspecto  exterior  — 
divisao  dendritrica,  trajerto  o  ramiScat^ilo  ale  se  tornarem 
capillaies  nos  enlerslicios  dos  or?aos  —  da  injec^io  das 
arterias,  veias  e  vasos  lymphaticos — coii\eniencia  d*esta 
operarao  —  cautelas  que  exii;e  para  obviar  suas  illusoes. 

Do  systema  capillar :  o  que  se  entende  |)or  e^ta  expres- 
s3o — as  jiaredes  dVstes  vasos,  por  transparentes,  nao 
deixam  \cr  n'elles  doble  contorno  — seu  lumen  s<imenle 
admitte  um  globulo  de  sangue,  e  por  tanto  so  com  o 
auxilio  das  injec(;oes  e  do  microscopic  se  ])odeiu   divisor 

—  fimc^oes  d'esta  porcao  ilo  systrma  gan2:nin'-o. 
E-tudo  practico  das  tunicas  das  arterias  e  dos  veias  , 

passiiiemos  dep^tis  a  artcriologia  descripUva  ^  come^nndo 
pelo  sr/stcma  iwrticu :  da  aorta ,  sua  origem  no  ventriculo 
esquerdo  docoraeao — vah  ulas  sigmoideas — divisSo  d'este 
graiide  laso  eta  aorta  ascendente  e  descendente  — seus 
troncos,  di\isijes  e  ramifica(^ocs  :  seus  trajectos  e  reiaeoes 
serao  feguidas  iia  ordeni  i!o  Conipendio  —  sysUma  pvlmo- 
nar :  da  arteria  pnlmonar :  sua  origem  no  \Tntriculo 
dircilo  do  cora^'ito— valvulas  sigmoideos  — divisao  do  seu 
tronco  nas  duas  arletias  direita  e  esqiierda  pulnionares  — 
sua  ramlDcarao  ate  se  tornarem  caj'iNaies  —  systema  ve- 
nosu  pnlmonar.  o  sangue  ievado  aus  pulnioes  pelHS  arte- 
rias pulnionares  Tulta  pelas  *eias  isonynias,  e  embocca 
na  airricula  rstpierda — des<Tip(^ao  d'eslas  ^eius  —  do 
systema  venos/j  gcmi  da  rconomin  :  descrtp^aoda  \eiQ  cava 
superior — sua  eml>ucradura  n'auricula  dircila  do  cora^ao 

—  suas  I'ivisoes,   subdi\iso(>s,   e  ramilifaro.is   dos  oru'Sus 

—  descriprao  da  \eia  ca\a  inferior  ,  sua  uri:,'em  na  mesma 
auricula,  que  a  daveiacava  superior —  suns  divisoes  era- 
mifiracoes,  etc.  Da  vcia  das  porlas — e  sua  ramificai;do 
aileriusa  —  tla  ^Tande  e  pe(|uena  azygos. 

Do  systema  dvs  vusos  lymphaticos :  dii  ididos  em  vasos 
serosns  e  cliylileros  ^sua  prepara<;ao  e  inject;ao  —  seu 
aspedo  —  suas  orisens  ,  trajerto  ,  gangUos  e  plexos  — 
snay  duas  termiiia^-oes  nas  veias  subclavios :  ducto  Ihora- 
cico  ,  e  graude  vaso  lympbatico  direilo  —  tecidos  de  que 
sao  compostos. 

7.*  PARTE. 

NEVaOLOniA. 

parte  centml  do  systema  nervom :  ou  ei\o  cphalo- 
rachidiano,    cuustituido  pelo   cerebro    e  spinal    medulla 

—  descrip»;iio  dos  tnvolucros  ou  nieninires  da  nia-^ia  ence- 
phalica,  cuntida  na  cavidade  crar.iiiua  — da  dura  mater, 
arachnoidea ,  e  pia  raaler  —  debcr»p(;ao  da  uiaisa  encepha- 


41 


lica  :  dos  hemtsj>herio8  —  pontc  de  Varolio  —  cerebello  — 
medulla  oblongada  —  e  das  partes  que  liirani  e  relacionara 
estes  (irtraos  mis  com  os  onlros  —  das  cavidades  que  entre 
si  furmam — aniphracIuosidadtT-s,  \*fntricii!()S,  f'tr. — ohjcclos 
que  se  olferecem  deiitru  d'ellas  —  das  dilTerPiites  siiltslan- 
ci«s  do  cereliru  :  meilidlar  uu  braiica ,  cinzeiita,  e  ama- 
rellada  —  a  fttibstancia  branca  em  miiitas  jjartes  c  Gbrusa, 
e  suns  fibrns  suscejitiveis  de  se2;uir-se  i)or  eiilre  oulnus  — 
defr<mte  du  uTaiul'.'  biiraco  do  uncijiital  a  moiiida  oblon- 
gada  ,  furmando  iim  sitlco  horizontal,  ('slreita-se ,  e  tonta 
u  nome  de  spinal  medulla — esla  prussa  curda  prutei;ida 
peiou  iiiMilucrus  cuntinuos  cum  us  que  encerram  a  masi^u 
enceplialica,  exlemle-sepelu  canal  racliidiano  ate  a  se^itMi- 
da  lertelira  l.mjbar  ,  aonde  teroiinn  di\  idiiido-se  em  iiiui- 
tns  oorvou  ,  que,  descetido  \erticalinente ,  constiluem  a 
fUamada  cuuda  equina.  —  Deuiunstra(;5o  de  ludus  esles 
ufiraim. 

Parle  per  if  erica  do  sijatema  nervoso :  desiTJp^ao  dos 
doze  pares  de  nerv.iscraniiuius  :  ildsulfacturios  — 'i|iticos  — 
molor  commnm  — ■  palhetico  —  l^i^cmi(>  — abducente  — 
facial  — aiidiino  —  ^luiso  pharyiigeu  — puenmo^astricn- 
spinal  de  Willis  e  lijpudusso  —  de  alLfims  ^aiitilins  dV-eles 
nervus.  l)fScri/>^fio  doa  trintn  pares  d-  nervos  eapinaes : 
priiicipaes  plexus  :  u  cer^ ical,  o  bracliial,  lumbar  e  sai^rado. 

Sijstema  dos  yraudet  tympnthicos  :  descrips;ao  dn  gran- 
de  sjmpalhico  dentro  do  cranco  ,  ni>  collo,  iio  thorax  e 
nu  abuumeii — 8iia;>  runiiexoes  cum  os  nervos  craiiianos  e 
»j)maes  —  cumo  condrrem  para  a  formarai)  dos  plexoa 
jjidraonares  ,  cardiacos  ,  eso|.hai,'ianos  —  dos  nervus  sjilan 
chnicoii  ^  do  plexo  solar  e  gan^lios  seuiiliinares  —  dos 
plexus  diiiplira^^malicus  inferiores  —  plexos  supra-renaes  , 
celiaco,  coruiiario  slumachico  ^  hepatico,  sptenieo ,  me- 
seiiterico,  e  reoal  —  aas  porcOt-s  lumbar  e  »a;:rada :  o 
plexo  Inmbo  aortico  —  aorlieo  propriamente  dielu — ple- 
Jtof,  misenlerico  inferior,  e  hypo^aslrjco  oude  Walter, 
d'oDde  dimauam  o  plexo  hemorrliuidal  medio,  o  inferior, 
lio  testicnio  e  du  diiclo  deferenle  (no  humem).  —  na  mil- 
lUer  08  plexus  va^'inacs,  uleiinus  e  nervos  do  iilero. 

Nenos  das  extremidades  superiures:  oriimdos  do  plexo 
brachial,  seis  ner\us  principaes  se  di^^trilmem  n'esles 
membros  ,  e  sao  :  u  bracliial  culaneu  externa  ,  o  mediano  , 
o  cubital,   o  cutaneu  iiiterno ,  o  circunillexo  ,  e  o  radial. 

Nervos  das  cxtremidades  inferiures:  oiiundos  dos  ple« 
xos  lombar  e  sa;.'rado  ,  uns  sJlu  anteriores  e  outrus  posle- 
riores ;  de^icriprlio  do  nervo  obturador ,  do  crural,  do 
grande  e  pe<pienu  scialicos. 

iA.  li  Fareiuus  cunlu-cer  aos  nossos  aliimnos  as  cousas 
limit)  nutaveis  de  analumia  cumparada  ,  em  referencia  aus 
objectus  de  analoinia  humana  j  uu  passo  que  dustes  ae  for 
tructaiido. 


CREDITO  TERUITOaiAL. 

Conlinuado  de  pa?.  31. 

IV. 

Km  que  psparn  de  tempo  deva  elTeitiiar- 
fe  a  ariiorti~a(,';\i) ;  se  hade  c-ome^ar  de-de 
Icigi'',  ae  pas^a■ios  annos  depoi-.  de  coiiLraliido 
oemprestidin,  toinn  Lpier  \\  olciwski;  que  pane 
do  valor  das  priiDriedadcs  liypntliecadai  (los- 
sain  represf  alar  os  iJtulos  de  peuiior  ;  qiiantos 
por  cento  haja  de  pag;lr  o  pioprielario  a 
Associajao;  que  iiiodil'ira^nes  deiaai  operar- 
se  eii)  a  iiotsa  legislafao  snhre  prazos,  viuL-ulos 
e  pnncipalmeule  iiypnlli.Ta-;  ^uuoulros  tautn, 
[jniitos  cuja  soluyfio  depende,  ja,  de  circums- 
laiicias  de  tempo  e  logar,  jii  do  sy^lellla  de 
direilo  civil  adoptado  eulre  nos ;  e  por  isso 
iios  liinitamos  a  euuiicial-os. 

E  poreiii  uma  grave  qiiestfio,  diz  Rossi, 
se  a  organisagao  do  credito  asrricola  deve  ser 
abandonada  ao  inleresse  particular,  se  col- 
locada  debaixo  do  poder,  ou  pelo  mcnos  da 
alta  direijf'io  do  (joveriio. 


llelativameiile  ao  nosso  paiz,  paiece-nos 
estara  ((uestao  resolvida.  Ila  lal  preven^ao 
contra  os  abusos  do  Governo  ein  materia  de 
credito,  que  fora  diCficil  sciiao  impossivcl  ins- 
titulr,  entre  nos,  iim  banco  territorial  deiiai\o 
desua  immediatadirecg'io.  Toruar-se-liia  geral 
o  bern  f'undado  receio  de  que  seriam  os  juros 
mal  pan'os,  asamorlisa^oes  illiisoriase,  conse- 
quencia  inevitavei,  os  titulos  de  peahor  de- 
piefiados. 

Dado  porem  que  liouvesse  bastantc  con- 
fianga  no  Governo,  alem  de  ser  estraniio  ao 
sen  fun  intervir  directamente  no  eslabeleci- 
iiieuto  do  credilo,  de  que  servlria  essa  in- 
tcivengao?  Os  capitalislas  n.'io  neoessitam  da 
poderosa  garantia  queoiistado,  em  geral,  Hies 
pode  olieiecer,  uma  vez  que  o  penlior  de  sens 
capilaes  seja  a  propriedade  territorial  regida 
por  boa-  leis,  penlior  tfio  solido  c  segiiro  que 
u.'io  poJe  traiisporlar-se  de  um  para  outro 
logar  como  a  nioeda.  Fora  ale  inconveniente 
a  iiiterven9ao  directa  do  Estado.  Se  pile  se 
cn[istituis>e  interinedio  entre  os  capilali^tas  c 
OS  proprictarios,  liaveria  uma  cenlralisagiio 
absoluia,  uma  espeoie  de  monopolio,  e  entao 
deixara  desubsistira  importante  vantagem  das 
associa96e5  livres  —  a  circulagao  dos  titulos 
entre  essas  mesmas  associa9oes,  elemento  de 
uma  boa  organisa^ao  de  credito  territorial. 

iNa  Allemanlia  e  na  Suissa  existem  liancos 
territoriaes  fundados  por  associa^oes  de  ca- 
pitalislas; mas  estes  estabelecimentos  parecem 
de;dizerda  indole  propria  dos  bancosagricolas, 
e  por  isso  Hies  enxergamos  desvantagens  que 
talvez  a  pratica  nao  confirme. 

Comparando  os  fundos  das  associa^oes  nos 
dons  syslemas,  resulta  que  a  garantia  of- 
ferecida  pela  as^ocia^ao  de  proprielarios  con- 
si^te  nas  propriedades  dos  accioni^tas,  e  nas 
propriedades  dos  tomadores  de  emprestimos, 
no  entanto  que  a  offerecida  pela  associarao 
derapilalistas  reduz-se  unicamenle  as  proprie- 
dades que  OS  tomadoies  liypolliecarem;  exrp- 
plo  se  as  ac^oes  dos  assoeiados  liouverem  de 
ticar  emcaixa,  mas  em  lal  caso  recaliira  sobre 
OS  tomadores  o  juro  desses  capilaes  estagnados. 

fi  certo(]ue,  jia  liypolliesedese  converterem 
em  tomadores  de  emprestimo  todos  os  accio- 
nisla>  proprietarios ,  o  que  difticilmenle  se 
reiilisara,  porque  os  suppomos  proprielarios 
abaslados,  a  garantia  seria  egual  em  qual- 
quer  dos  syslemas.  Mas  ainda  assini,  a  as. 
socia(,-rio  de  capitalislas,  pondo-se  em  im- 
mediala  rela^ao  coui  os  proprielarios  ler- 
riloriae-,  nao  pode  tornar  ifiosensivel  abene- 
fiea  intiueucia  de  um  inlermedio,  que  modera 
as  exigencias  daquelles  eiatisl'az  asnecessida- 
des  destes,  que  <■  o  niais  iiaere^sado,  em  tim, 
na  exislencia  e  prospcridade  do  banco,  em- 
bora  delle  lire  pouco  ou  neiilium  inlcresse 
pecuniario. 

Eiu  presen^a  deltas  consideragoes,  julgamns 
prel'erivel  o  syslema  d'associae'io  livrc  de  pro- 
prietarios territoriaes,  posloque,  em  quanio 
o   noiso    paiz   se   nao   alTizesse  as  instituigues 


42 


de  credito  agricola  ,  futa  convenieiilc  (]uc  na 
empresa  pntrasse  alf^mii  capilalisla,  para  que 
a  assnciarao  tivesse  iiina  por(;'in  de  luimerario 
com  que  occorresse  as  despesa-i  piiinarias  do 
eslal>i'h'cijnenlo,  a  oompia  d'alguiis  lihdos 
recusados  pcloa  capitali-las ,  e  a  pcqiieiins 
pertiiihu(jnes  que  pnssain  provir  de  t'.dla  de 
cumprimeiilo  da  parte  d'alsuns  tomadores  de 
einprestimo  Fmidado  iolidaiiientJ  o  crediLo, 
lodo  ejse  capital  poder;i  ser  eiiiprefjado  na 
compra  do  titulos,  doude  lia-do  resultar  o 
l)en«ticio  <le  diiiiiiiuir  a  taxa  do  jure. 


As  vanla^ens  que  da  in6titui?ao  do  credito 
territorial  tiraria  o  nosso  paiz  ,  sao  tantas  e 
tao  trauscenderite-.,  que  iifio  roniporta  este 
liiuitadn  traballio  enunieral-as  por  menor. 

Ao  principio  nao  conviria  ao  proprietario 
recorrer  ao  banco,  senfio  para  ol)ter  capitaes 
com  que  inelliorasse  o  mal:erial  d'explora- 
<;ao;  porque  e  jiecessario  dibtinguir  duas 
cousas  —  o  rendinienlo  do  fundo,  e  o  lucro 
da  industria  do  cultivador.  Quem  pedir  etn- 
prestado  a  8  i,  por  exenipio,  para  comprar  ter- 
ras que  so  rendeni  2  ou  3^  I'aru,  com  etTeito, 
muito  mau  negocio;  mas  quem  tomar  de  em- 
prestimo,  para  melliorar  acullura  de  suas  pro- 
priedades,  devera  poder  pagar  nm  juro  tao 
tievadn  como  qualquer  outra  industria.  Pros- 
perando  as  associa^oes  lerritoriaes ,  acon- 
teceria  o  que  seinpre  succede,  benetrcio  ines- 
tiuiavel  do  credito,  descer  courideravelmente 
a  taxa  do  juro.  Na  Silesia,  por  exeinplo,  era 
a  taxa  12  ou  13  °  ;  fundada  a  as!Ocia5rio  ter- 
ritorial ,  liaixou  a  2  r  j. 

Uaia  uiassa  enornie  de  numerario  que  existe 
rcparlido  |)or  niilliares  de  rraos,  encerrado 
em  coffres,  e  ate  no  seio  doscampos,  correria 
a  empregar-se  em  titulos  de  penlior,  ou  a 
depositar-se  nas  caixns  eeonomicas.  E  e^te 
capital  [jerdido  para  a  producgao,  porque  nao 
circula,  posto  em  nioviuiento,  levaria  at'ecun- 
didade  ate  os  logares  inais  remolos,  onde  suas 
parcellas  dissemiuadas  sao  de  todo  estereis. 

As  caixai  eeonomicas  estabeleceriam  rela- 
goes,  conta  correiite  com  as  associajoes  ter- 
TJtoriaes,  eutregando-lhes  sens  f'undos.  Oiide 
acliariaiii  ellas  maisgarautias,  inais  sPguranca! 
As  grandes  sommas  que  se  deposilain  na? 
caixas  eeonomicas  constitueui  um  graude 
porigo  para  estes  eslabeleeimeulos :  sao  como 
iiuia  letia  de  cambio  de  muilos  millioes  sacada 
sobre  el  la?,  e  vencida  todos  os  dias.  Porque 
as  caixas  eeonomicas  ,  ,desemparada>  das  as- 
sociagoes  lerritoriaes,  n.io  podem  satisfazer  a 
osta  dupla  condigao  de  sua  existencia — em- 
pregar  os  depoiilos  de  um  modo  lucrative,  e 
enlregal-os  aos  depositanles  quaudo  estes  lli'os 
pedirem.  Jiui  vez  de  abaixar  o  lirnite  dos  de- 
positos,  como  se  tern  feito,  o  que  cunipre  e 
regular  o  emprego  dos  fundos  das  caixas 
eeonomicas  que,  com  rasfio,  tern  sido  cliama- 
das   escliolas  pritnarias   dos  capitaes ;   c  para 


i>so    e  condicao  indispeiisavei    a  organisajao 
do  credito  territorial. 

As  eeoiioudas  que  o  trabalhador  deposita 
nas  caixas  eeonomicas  nao  sao  unicamenle 
uma  reserva  para  os  maus  dias  de  sua  vida  , 
um  dote  que  seaccumula  para  sens  fillios;  sao 
tambeai  um  meio  de  poder  estabelecer-se  por 
sua  conta,  de  subir  o  grau  niaisdifl'ieil  e  inveja- 
do  da  escala  social;  saoum  meio  dceinancipar 
o  traballio,  de  ligar  pelo  vinculo  da  depen- 
dencia  as  classes  superiores  coin  as  inferiores; 
sao  uma  propriedade  que  se  funda,  que  se  ad- 
quire  de  dia  para  dia ,  com  todos  os  seus 
resullados,  todas  as  suas  garantias,  todos  os 
seus  beneficios. 

iintre  um  paiz,  cujo  solo  estivessi*  onerado 
com  dividas  hypotbetarias  consideraveis,  que 
absorvessem  toda  a  parte  do  rendimento  de- 
stl[iado  a  mellioramentos  lerritoriaes,  e  oulro 
paiz  que,  livre  de  suas  dividas,  gozasse  de 
um  credito  territorial  tloresccnte,  empregado 
todos  OS  annos  eui  lazer  novos  niellioramentos, 
nfio  baveria  concurrencia  possivel  na  produc- 
(,':io  agricola.  A  renda  perpetua  desses  me- 
Ihoramentos,  augmenlando  o  bem  estar  de 
lodas  as  classes  sociaes ,  animaria  prodigiosa- 
mente  as  artes,  facilitaria  a  cobranga  dos 
im[)oslos,  e  t'avoreceria  empresas  gigantes. 


Dizia  Colbert,  lani^ando  uma  vista  d'olhos 
para  os  arredores  de  Versailles:  —  it  quizera 
que  estes  cauipos  fossem  felizes,  que  nelles 
reinasse  a  abuudancia,  embora ,  sem  em- 
prego, sem  lionras,  banido  dosla  terra,  eu 
soubesse  que  mas  ervas  crcsciain  no  paleo  do 
meu  palacio.  V  E  quem  n:1o  sentiia  brotar-lhe 
n  alma  esse  lao  grande  e  liuniano  sentimeiito 
que  expressam  estas  meuioraveis  palavras? 

Os  grande-,  os  ricos  proprietarios  e  capita- 
listas  que  abandonaram  os  campos  pelas  po- 
pulo^as  cidadci,  ondevivem  naopuleneia,  que 
se  nfio  esquegaiu  do  que  devem  a  terra,  no6sa 
mina  mats  fecunda. 

Os  governanles,  niandatariosda  na^ao,  e  os 
que  sem  uiaudato  a  querem  goveruar,  (]uando 
repousarem  de=se  fatal  afau  da  poiiticii ,  que 
volva[ii  OS  ollios  para  o  povo  dos  campo-  , 
sempre  tao  lai)orioso  e  seujpre  deslembrado  , 
seinpre  Siio  util    e  sempre  oppriniido. 

JACl.NTUO    A.     Dli    SOUZA. 


UMA  PERDA  PAR.\    AS   LETRAS. 

Quando  desapparece  da  superficie  da  terra, 
para  se  escondc^r  nas  sondjias  da  sepultura, 
uni^cultor  ifio  assiduo  daslelias,  como  osnr. 
Jose  Maria  cLi  Costa  eSilva,  e  dever  dos  que 
amam  a  gloria  do  seu  paiz,  vir  ao  tribunal 
da  impreusa  regislar  as  virtudes  e  inereci- 
I  mentos   d'e^se  boraein ;   ou    isso  seja   uni  in- 


43 


cenlivo  para  os  que  viercm  depois ,  ou  seja 
um  tribiito  devido  ao  que  se  finou. 

Mais  oil  inenos  assijii  o  leiu  practicado  iima 
parte  dojoiiialismoporUi^uez,  eeii  veiiliotam- 
bcm  hoje  pedir  uiiia  pii^iiia  ao  Jnslitulo, 
para,  exoiieraiido-nie  da  divida,  alii  deixar 
consif^nada  uina  peqiieiia  nolicia  de  lao  il- 
liistre  escriptor.  Nao  a  toniem  como  biogra- 
pliia  acabada,  que  o  nTio  e,  neni  o  podia  ser. 
Por  uin  lado  nfio  ha,  que  eu  saiba ,  bas- 
taiites  siilibidios  escriplos  que  consullar,  por 
outro  lado  inal  coiilieci  osnr.  Costa  eSilva  ,  e 
so  live  a  lionra  de  llie  i'allar  iiiua  voz.  A  esta 
cnlrevibla  e  que  en  devo  o  pouco  que  vou  dizer, 
mas  como  ainda  assim  esle  pouco  e  mais  que 
o  que  se  tern  publieado,  e  geralmenle  se  sa- 
be,  entPiido  que  o  nao  devo  occultar. 

O  men  eslimavel  amigo  .1.  F.  Ayres  de 
Gouvea  liavia-me  escriplo  de  Pariz,  em  abril 
de  1852  pedindo-ino  entre  ouLras  coisas, 
algiins  aponlainentos  biograpliicos,  afim  de 
OS  oft'erecer  a  Mr.  Ferdinand  Duiiz,  que  pro- 
seguindo  na  gencrosa  tarefa  de  se  occupar 
das  nossas  cousas,  queria  laiilo  d'esle ,  como 
d'oulros  escriptores  portuguezes,  dar  uma 
nolicia  na  grande  l)iograpl)ia  universal,  que 
se  cstava  puljlicando.  Para  salisfazer  a  este 
empenlio  prociirei  o  snr.  Costa  e  Silva, 
expuz-ilie  a  minlia  inissfio,  e  com  (|uantoa  sua 
reconliecida  modeslia  preleiidesse  esquivar-se 
a  tfio  jnsto  pedido ,  consegui,  quo  o  sen  de- 
dicado  amigo,  o  ex."'°  siir.  Jose'  Caetano  de 
Campos  me  desse  no  dia  immedlalo  alguns 
apontamenlos  para  a  sua  biograpliia. 

Osnr.  Jose  Maria  da  Costa  e  Silva  nasceo  em 
Lisboa  a  1&  d'agoslo  de  1788,  Foi  o  primeiro 
fillio  de  Francisco  Antonio  da  Silva  ,  llie- 
soureiro,  que  foi,  do  terreiro  publico  d'aquel- 
la  cidade ,  e  de  sua  miilber  D.  Marianna 
Roza  dos  Prazeres.  Veio  ao  mundo  em  lal 
estado  de  debilidade,  que  se  julgou  que  a 
sua  vida  seria  de  muitos  poucos  dias;  feliz- 
menle  este  prognostico  nao  se  verilieou,  mas 
u  sua  infancia  foi  sempre  valetudinaria. 

Estudoii  latim  com  o  celebre  professor 
Jose'  da  Costa  e  Silva,  o  grego  com  Manoel 
Moreira  de  Carvallio,  rhelorica  com  o  Dr. 
Maximiano  Pedro  d'Araiijo  Ril)eiro,  plii- 
losopliia  racional  e  moral,  com  o  padre  Fr. 
Joao  de  Souza ,  Religioso  triiio  ,  Pliysica 
no  convenlo  de  S.  Vicente,  e  theologia  na 
congregagao  da  oraloria  de  Lisboa.  Sens  paes  o 
destinavani  para  a  medicina,  sciencia  da  sua 
predilecgao,  mas  circumslancias  de  familia  e 
a  morte  de  sen  pae  obstaram  a  verifica<;rio 
d'esle  projecto.  O  sfir.  J.  M.  da  C.  e  Silva  co- 
me^ou  muilo  cedo  a  cuUivar  a  poesia.  N'um 
dos  seus  poemas  invocando  a  miiza  diz^lhe: 

«  Companheira  fiel  lu  me  tens  sido 
Defitie  a  mimosa  infancia,  e  me  Influisles 
Esta  ancia  de  saber,  que  me  devora 
E  lao  pouco  uiedroii  entre  as  procullas 
D'uma  vida  agitada  I  >. 

Companheira  fiel  Ihe  foi  desde  bem  cedo, 
li  cerlo;  linha  apenas  17  annos  quando  com- 


pos o  poema  descriptivo  intitnlado  o  Passcio, 
que  taiitos  elogios  Hie  merereu  ;  e  se  nfio  fos- 
sem  as  procellas  d'uma  vida  agitada  muifas 
mais  riquezas  litterarias  teriain  ciinobrecido  a 
sua  juventude.  (jiie  cabedal  <rintelligencia  e 
saber  nao  esperdigou  elle  vendo-sc  obrigado  a 
escrever  perto  de  vinle  annos  para  o  Iheatro  '. 
Que  traballios  iiiglorios  nao  leve  para  laiigar 
ao  minotauro  da  scena,  por  um  lao  longo 
espago  de  tempo,  alem  de  muilos  elogios 
drainaticos,  mais  de  duzeutos  driimas,  tanlo 
Iraduzidos,  como  iinilados  de  diversas  linguas 
e  alguns  originacs!  Que  paginas  brilliantes 
nao  contaria  boje  a  litteratura  portugueza  se 
o  esperan^oso  auctor  do  I'asseio  podesse  con- 
tinuar  deaassombrado  a  cultivar  os  doles  da 
sua  vigorosa  imaginajao?  Assim  mesino  de 
lodos  esses  traballios,  que  a  scena  diaria- 
menle  Ihe  pedia  ,  e  que  elle  a  correr  llie  de- 
dicava ,  alguns  exislem ,  que  lia  lodo  o  in- 
teresse  em  colligir,  e  farii  um  bom  service 
quem  OS  publicar. 

Entre  oulras  pegas  traduzio  o  siir.  Costa  e 
Silva  do  inglez —  The  fair;/ penitent,  tragerJia 
de  Rowe,  e  o  Catdo  d'Addison.  Do  italiano 
a  JVIi/rrlia  e  o  Saul,  tragedias  d'Alfieri,  e 
o  Sal  to  de  Leucatc  —  de  Pinelemonti.  Do 
francez  Zclinire  e  o  Cerco  de  Calais  —  ambas 
de  De-Belloy; — .  a  ylhiraea  Zaira  de  Voltaire; 
—  o  Macbeth  e  Roi  Lear  de  Ducis. 

Qualqiier  liomem  sufficientemente  lido  co- 
nhece  o  valor  d'estas  pegas.  Saul,  pega  model- 
lada  pelas  de  Sliakspeare,  e  d'entre  as  d'AI-" 
fieri  a  que  elle  tinlia  em  maior  conta ,  e  a 
que  sobre  a  scena  eneonlrou  sempre  os  mais 
constanles  applansos.  jl  Bella  Penitente  de 
Rowe  e  um  dos  dramas  do  seculo  XVIII 
que  se  conservam  com  merecida  celebridade 
no  reportorio  do  tliealro  inglez.  O  Cerco  de 
Calais  de  De-Bel!oy  e  a  peja  coniiecida 
de  toda  a  Fran(;a ,  a  que  valeu  uma  meda- 
llia  d'ouro  e  o  titulo  de  cidadao  de  Calais 
ao  seu  auctor,  a  que  Hie  troiixe  os  elogios  de 
Voltaire  e  de  todos  os  liomens  esclarecidos  do 
sen  tempo.  Ji'lacbeth  e  Le  Roi  Lear,  imita- 
tados  de  Sliakspeare  sao  duas  pecas  ,  que 
fizeram  a  reputagfio  de  Ducis,  e  que  por  con- 
fissao  do  proprio  La-Harpe,  que  Hie  nao  era 
alfeigoado,  liveram  nos  llieatros  de  Franga 
applausos  eguaes  aos  da  Zaira  e  da  Mtrope, 

Das  Iragedias  de  Voltaire  nao  fallaremos, 
sfio  bem  conliecidas.  Estas  obras  primas  per- 
deriam  muilo  na  Iraducfjao  ?  Nao  o  acredila- 
mos.  O  snr.  Costa  e  Silva  era  baslanle  poeta 
para  as  comprehender,  e  era  bastante  versado 
nas  linguas  para  as  traduzir.  Do  poeta  depoem 
OS  numerosos  versos  que  nosdeixou.  Dotradu- 
ctor  depoem  a  Imaginagdo  e  os  Argonaulas, 
que  alii  correm  impre=sos. 

Entre  os  seus  escriplos  para  o  thealro  en- 
contram-se  lambem  Irez  tragedias  originaes , 
e  d'as<umpto  portuguez  —  D.  Sebastido, 
D  Jffomo  Henrique$,  e  D.  Jodo  de  Castro. 

Em  22  de  fevereiro  de  1836  foi  o  snr. 
CosU  e  Silva  nomeado  director  da  secrelaria 


44 


tl;i  caniaia  iiiMiiicip;il  de  Lishna,  sem  o  liaver 
reqiieriilo,  coino  coiista  citis  livros  da  iiiesma 
cainura;  e  em  17  d'ii;,'osto  de  18 U  foi  no- 
ineado,  taiiibein  sein  o  requerer,  secrelario 
da  mesina  mmiicipalidadf,  e  confiirnado  por 
carta  rejjia  de  17  di-  dezeinbro  de  I8U. 

As  obiiijai.oes  d'eile  cari;o,  que  elle  de- 
seinpenliava  eoiiio  lioiiiem  exaclo  e  escriipidoso 
que  era,  iifio  o  iiiipedirain  de  eontiimar  a 
litteratura  e  a  poezia.  De  Il!3(!  para  cii  data 
lima  jjraiide  parte  dos  sens  escripLos,  e  enlre 
elles  sohresalie  pelo  f^eiiero  o  —  Ensaio 
biograpkico-critico  sobre  o^  mcUtores  poefus 
porlugursts,  dcsdc  o  principio  da  inonarckut 
ate  ao  nosso  tempo.  Eita  ol)ia  se  nao  veio 
preenclier  veio  dimiiuiir  iim  <,'rarule  vacuo,  que 
liaviu  em  a  nossa  historia  lilteraria,  se  acaso 
tonics  o  que  pode  edevecliainar-se  iinia  historia 
lilteraria.  O  Ensaio,  como  o  sen  mesiiio  noun.' 
estii  dizeiido ,  iiao  e  iiiii  traballio  complecto; 
para  o  ser  era  iDister  que  existissem  niais 
elementos  de  quo  laiicjar  iiiao,  que  o  passado 
iios  lefrasae  mais  inemorias,  niaior  copia  de 
subsidies,  que  consiiltar.  Era  necessario  que 
o  seu  auclor  livesse  uma  vida  de  mais 
repouso  e  o  liouvesse  eiiipreliendido  em  edade 
ineiins  adiaiitada.  Assim  niesnio ,  obra  de  8 
bolida  erudi^fio,  e  de  consciencia  a  ponto  de 
se  n.'io  cilar  urn  uiiico  poota ,  que  se  nfio 
livesse  lido,  o  Ensaio  veio  ocoupar  um  logar 
distinclo  enlre  as  nossus  pouquissimas  obras 
<le  crilica  lilteraria,  e  enlre  estas  e  de  certo 
a  mais  cmnploita  que  tenios. 

Em  IB.Jl  diSMO-me  o  siir  Costa  e  Silva  que 
calcidava  que  rata  obra  llie  deitaria  uns  dox 
volumes,  e  que  se  acliava  quasi  lerminada 
A  morle  veio  surpreliendel-o  quandoa  publica- 
(,'10  Ilia  no  7.°  loino,  mas  e  de  crer  que  o  seu 
auclor  lionvesse  concluido  eslo  traballio,  e 
que  aiiida  o  venlianios  a  possuir  lodo.  Alem 
d'esta  parte  do  linsaio ,  que  ficoii  por  pu- 
Micar,  e  das  pec^as  de  tliealrn,  que  lia  pouco 
niencionoi  ,  deixou  o  snr.  Costa  e  Silva  em 
maniiscripto  : 

Um  poema  em  13  tanlos,  em  lercolos,  in- 
titulado  a  Sepidtura  dc  Maria.  —  Os  qua- 
tro  primeiros  cantos  da  traduct^ao  da  liiada 
d'llomero.  —  Um  grande  numero  d'Odes, 
Epistolas  e  outras  poesias  liijeiras,  tanto  ori- 
i^inaes,  como  traduzidas  de  differeiiles  linguas 
anlif,'as  e  niodernas. 

Impreisas   licaram-nos   as  segiiintes  obras  : 

A  Iriia'nnagdo — poesiade  Delille  traduzida 
verso  por  verso,  3  volumes. —  O  Passeio  — 
poema  descriprivo  em  4  cantos,  1  volume. — 
Os  ^mantes  Suevos — poema  romanlico  ,  1 
volume. — Izabel  on  a  Heroina  d'Aragao, 
poema  romantico,  L  volume.  —  O  E spectra 
■ — -poema  romantico  em  4  cantos,  1  volume. 
—  A  traducgao  em  verso  dos  ^rgonautas  — 
poema  d'Apollonio  de  lUiodes,  1  volume  — . 
Odes,  1  volume — fabulas,  1  volume  —  Epi- 
stolas  e  Sonelos ,  1  volume.  —  Ensaio  biogra- 
phico-criiico ,  7  volumes. 

Eis  o  iiiveniario  das  riquezas  litterarias  do 


infali^'avel  oscriptor  .quo  n.1o  Juvidou  aferir 
OS  sens  voos  pela  verd.ide  da  riioderiia  escliola, 
sem  com  liulo  rone^ar  as  tra<lic(;oes  da  clas- 
sica,  em  que  I'oi  enil)allado —  17  volumes  im- 
pre^sos,  e  talvez  mais  de  10  por  pulilicar. 

E  necessario  ace te^ceiitar  que  morn-u  pobre? 
Os  sens  escriptos,  uma  rep\itac,'ao  sem  manclia 
e  uma  escolliida  livraria,  ajuiitada  por  espa(;o 
de  bO  annos,  e  adquirida  com  o  que  sobrava 
da  sua  deceiite  sustentaci'Tio  —  ois  tudo  o  que 
ficoii  a  sua  viuva,  a  snr.'  D.  Rita  de  Cassia  e 
Silva,  e  a  dois  lillios  menores.  Eui  186-1.  ainda 
elle  podia  com  verdade  repetir  o  (jue  escrevoo 
em   1832: 

**  Til  so,   Miisa  ,  so  In  visttnr  oiisks 

Du  jtolire  viite  o  solit;»riu  all>er;:in? .' 

Niiu  te  tni.«|)e(lii  upiilenria  apparrtlusa 

VictosoH  caniHrins,  Iremus  tlourHdns  ; 

PoncdS  livros  e  ami^Mis  itiila  ineims 

E  e.xacta  pruljidade  — eis  mens  ibesouros.  •• 

Diz-se  que  a  actual  verea^.'io  prelende  dar 
um  testiinunlio  do  apre90  em  que  liiilia  o  seu 
secretano,  preslando-se  a  proleger  a  t'amilia 
do  fallecido.  Se  o  t'lzer  tera  os  elogios  de 
todos  OS  liomens  que  ainda  teem  n'algiima 
conia  a  illustra^ao  da  patria.  Nao  o  ouso 
agora  aflirmar,  mas  parece-me  que  o  poetii 
desceu  a  sepultura  sem  que  uma  unica  fila 
llie  enfeitasse  o  peilo.  Nao  e  desdouro  o 
trazel'  as,  mas  a  liomens  como  esle,  eque  ellas 
de  preterencia  deviam  ser  dadas.  Era  socio 
correspondente  daacademia  real  das  sciencias 
de  Lislioa,  socio  lionorario  da  academia 
Lislionen^e  das  sciencias  e  das  letras,  e  socio 
correspontente  do  gabinete  de  leilura  do  Rio 
de  Janeiro. 

Eis  OS  litulos  lionorificos  do  homem  que  a 
morle  siibilamente  nos  roiibou  ,  e  que  meia 
dir^ia  d'amigos  fieis  acompanliaram  a  ultima 
morada  faz  lioje  li)  dias.  Cou^a  nolavel!  Em 
qiianto,  tfio  modestamente,  se  faziam  entre  noi 
pstas  lioiiras  luiiebres  traziam-iios  os  jornaes 
da  America  a  noticia  de  haver  fallecido  a 
celebre  bailarina  Rosalia  Bu^tamanle,  cujo 
enlerro  se  havia  feilo  em  Havana  com  uma 
pompa  raras  vezes  visla. 

a  O  set!  saliimento,  diziani ,  foi  acompa- 
nliado  por  arlislas ,  commeiciantes,  ofliciaes 
do  exercito  e  da  armada  ,  escriplores  pu- 
blicos,  poolas  ,  medicos  dislinclos ,  e  nma 
grande  multidfio  de  pessoas  iiotaveis  de  todas 
as  classes  da  povoaCj-ao  em  rigoroso  lucto. 
O  coche  fuiierario  era  seguido  de  mais  de 
duzentas  carruagens.  « 

Nao  trago  islo  para  censurar  os  habitantes 
de  Havana.  O  parallelo  vem  so  para  dizer  , 
sem  receio  de  ser  desrnentido ,  que  entre  os 
povos  do  Novo  Mundo  e  mais  uma  boa 
dangarina,  do  que  entre  nus  urn  liomem  de 
letras,  niesmo  um  hoinem  de  lolras  como  os 
queria  Andrietix  ,  e  como  era  decididamente 
o  sfir.  Costa  e  Silva. 

L'accord  d'un  beau  talent  et  d'un  bemi- 
caractere. 

Leiria  18Sk  *.  x,  r.  CORDEIRO, 


45 


PRIMEIRA  EXPOSICAO 


SOCICDIDE    DE  FL0R4   E  POMONA. 

O  Jury  noineado  porSua  Ma^estade  El-rei 
<)  Si'iilior  D.  I'V-niyiido,  iia  ijiialidade  de  Pre- 
•  ideiile  da  Sociedade  de  Flora  e  Pomona, 
para  coiil'erir  os  preinios  da  exposi^fio,  a  que 
a  mesriia  sociedade  procedeu  iios  dias  12,  13 
e  14  do  mei!  de  maio,  no  Passeio  publico, 
depois  de  examinar  coiiveiiieiiLouieiite  lodos  os 
objectos,  que  concorrerain  a  exposi5rio,  una- 
idiiiemente  concordou  no  juizo  se^'ulnte. 

Que  so  devem  agradecinienloa  as  pessoas, 
que  iinmediatamente  concorreram  para  o 
mndo  artislico  e  gracioso  por(|ue  as  plantas 
alii  reunidas  foram  disposlas,  e  se  otTereciain 
a  observa^'ao  dos  especLadores.  Conliil)uiu 
para  isso  o  conhecido  boin  goslo  do  sfir. 
Cinnati,  e  o  do  sur.  Bonnard,  jardineiro  d' El- 
rei,  OS  quaes  forani  encarregados  de  lodo  o 
arranjo  do  local  e  colloca^'ao  das  plantas, 
pt'la  coniinissfio  nonieada  para  levar  a  effeilo 
a  prinieira  exposi^:^  da  sociedade. 

Ouiro  reconlieciineiUo  lia  a  tributar;  e  o 
que  se  deve  ao  publico  da  capital.  Apesar 
de  ter  concorrido  ;jrande  nuinero  de  pessoas 
em  todos  os  tres  dias  da  exposijfio,  e  do  llies 
nao  Laver  sido  vedado  o  aproxitnareni-te  de 
cada  nni  dos  objectos,  as  planlas  nfio  sof- 
frerarn  o  nienor  prejuizo,  e  foratn  etjtregues 
todas  a  sens  respectivos  donos  ein  tao  bom 
e-lado,  como  aquelle  em  que  liaviaai  sido 
iecebida«,  p;rai;as  ao  extreme  bom  senso  e 
docilidade  dos  liabitautes  desta  cidade. 

Neste  ajunlamento  de  plantas,  o  que  mais 
imtncdiatamenle  feria  a  altenyao  era  o  nia- 
<,aiifR-o  t';rupo  de  vegetaes  dos  tropicos,  que 
guarnecia  a  parte  mais  eminente  das  lianta- 
das  centraes,  tonipo^lo  (pjasi  lodo  das  nunie- 
rosas  e  niui  viatosas  Palineiras,  Musaceas  e 
Pandanaceas,  pertencenles  as  colli'c^nes  do 
jardini  das  iNecesiidades.  Doniinava  o  centro 
tieste  extenso  grupo  de  plantas  a  niagcsto^a 
Latania  borbonica  corn  a  sua  magriilka  e 
brilliante  i'olliagem.  A  imaginayao  poderia 
fazer-nos  crer  transportados  a  essas  regioes 
intertropicaes,  aonde  so  e  possivel  ver  e 
admirar  a  vigorosa  vegelajao,  que  cliega  a 
crear  as  brilhantes  formas  e  ao  niesmo  tempo 
as  enormes  propor^oas,  que  as  diversas  partes 
dos  vegelaes  alii  adquirem. 

De  palmeiras  os  nossos  jardins  n'lo  pos- 
stiiam  mais  do  que  a  palmeira  das  igrejas 
(Pba;nix  dactylifera)  e  a  muito  nacional 
palmeira  das  vassouras  (Chamaerops  hutnilis). 
A  collec^ao  d'El-rei  o  senlior  D.  Fernando 
veio  alargar  este  estreito  campo  da  observa- 
5a^,  e  nos  fez  conhecer  perto  de  mais  quarenta 
especies  nos  generos  Pha;nix,  Cocos,  Jub;ea, 
Latania,  Sabal,  Bactris,  Cbamaidorea,  Co- 
ryplia ,  Diplothemium ,  Saribus,  Rhapis , 
Borassus,  Drymopalseus,  Acrocomia ,  Pi- 
nanga,  Ceroxylon,  Qualieirna,  Daemonorops, 
Copernicia,  Astrocaryon,  Caryota,  Attalea  e 


Geonoma.  Entre  as  especies  desles  generos 
(igurava  o  coco  da  praia  dos  brazileiros 
(diplothemium  maritimum);  o  Ceroxylon  an- 
dicola,  notavel  pi4a  quantidade  de  materia 
gorda  que  accnmula  na  base  das  folhas  ;  o 
tJorassus  tlabelliCormis,  e  a  Corypha  gebanga, 
palmeiras  do  maior  prestimo  na  Asia,  pelo 
sueco  sacliarino  e  licor  fermentado  que  ibr- 
nccem,  jjela  materia  feculenla  que  Ilies  apro- 
veitam  do  tronco,  as  cordagens,  tecidos  e 
variados  utensilios,  que  se  fabricarn  com  as 
suas  follias.  Podia  Igualmenle  ver-se  entre  as 
palmeiras  d'El-rei  urn  coqueiro  (Cocos  nu- 
cil'era)  bem  desinvolvido  e  ppgado  ao  coco 
de  qu^e  nascera;era  da  quinta  das  Larangeiras 
do  snr.  Conde  de  Farrobo,  idonde  lambein 
veio  un)a  ouira  palmeira,  que  se  pensa  ser 
do  genero  Acrocomia. 

E  certo  porem  que  esles  soberbos  vegetaes 
adorno  e  riqueza  das  regioes  que  habitam, 
pelos  seus  limites  geograpliicos  de  40"  no 
liomisplierio  boreal  e  36°  no  bemisferioaustral 
limite,  que  diflicilmente  transpoem,  nunca 
poderao,  mesmo  no  nosso  clima,  esperar  em 
geral  outro  asylo  mais  do  que  o  das  estulas. 
O  nosso  Cliamserops  humilis  ja  paga  com 
sua  liumildade  a  latitude,  a  que  estende  a 
sua  babitagao:  o  Pluenix  dactylifera,  trans- 
portado  de^de  muito  tempo  do  norte  d'Africa 
para  a  nossa  cultura,  desenvolve-se,  e  verda- 
de,  bem  neste  clima,  mas  nao  fructificando 
niostra  nao  acliar  nelle  todas  as  condigoes  do 
clima  que  Hie  e  proprio. 

Nao  sera  comtudo  impossivel,  que  no 
menos  desle  mesmo  modo  se  possa  ohter  a 
acclimata^ao  no  nosso  solo,  e  especialmente 
no  Algarvc,  de  outras  palmeiras,  que  poslo 
perten^am  a  latitudes  tanto  oil  mais  austraes 
do  que  a  do  Plitenix  dactylifera,  tcnham  alii 
peia  maior  aliura  que  liabitam,  um  clima 
que  nao  defira  muito  do  nosso.  O  traballio 
e  diligencias  dos  liorticultores  intelligentes  e 
per^eveiantea  e  que  poderao  resolver  o  pio- 
bleuia  de-sa  accliuiatajao  ;  nao  podendo  com- 
tudo deixar  de  recoiiliecer-se  que  na  Europa 
a  cultura  das  palmeiras,  ou  dos  muito  bem 
chamados  princi|)os  da  vegetagao,  lia-de  ser 
sempre  cultura  so  para  principes,  ou  para 
e-,tabelecimentos  publicos  muito  bem  dotados; 
e  (|ue  nunca  se  devera  esperar  dessa  cultura 
outro  interesse  mais,  que  o  do  esludo,  e  o  do 
orriato  dos  grandes  jardins. 

Sabemos  que  sua  mage^ade  El-rei  o  senhor 
D  Fernando  conseguira  ter  da  Abyssinia  se- 
mentes  de  palmeiras  de  regiao  elevada  da- 
quella  parte  d'Africa,  e  que  estas  sementes 
nojardim  das  iNecessidades  poderam  germinar 
bem.  Prosegue-se  em  diligencias  para  saber 
ate  que  ponto  se  podera  consegnir  o  sen  de- 
senvolvimento,  e  ao  ar  livre.  E  um  bello 
ensaio,  muito  bem  comegado,  e  rujos  resulta- 
dos  liao  de  por  certo  interessar  bastante  nfio 
so  a  curiosidade,  rnas  a  sciencia. 

As  Musaceas  tinham  os  quasi  unicos  tres 
generos  que  as  conslituem,  representados  na 


46 


pxposi^rio.  O  ,i;eneio  Miisa,  de  que  so  co- 
iilieciainos  nos  jai'dins  as  quatro  especies. 
Miisa  paradisiiica.  M.  sapicntiiiii,  M.  coc- 
ciiiea,  e  ]M.  Caveiidiiliii  ou  sinonei?,  nos 
inostra  hoje  mais  seis,  (pie  sfio  a  M.  macio- 
carpa,  M.  arj,'eiUea,  M.  violacca,  jM  bra- 
silicnsis,  M.  piimiUn,  e  a  rniiilo  engrarada 
M.  zelirina;  lodas  das  collec(;oi's  do  jardim 
das  Necessidades. 

IgualdtMUe  se  via  a  Ilavanala  madagas- 
c;ariensi6  do  jardim  do  Liiiiiiar  :  e  a  Ilclicniiia 
liirturacea,  II.  vaneijala,  e  JI  l)iiiai ;  todas 
Ires  do  jardira  das  Necossidades. 

Todas  eslas  Alusaceas,  novas  nos  nossos 
jardins,  sao  lanibcin,  exceplo  a  ultima,  de 
if'cenlc  inhodiic^ao  iias  oiiiluras  da  Iviropa. 

As  Cycadcas,  alem  da  Cynas  revoliita,  e 
da  C.  circinalis,  ju  conliecidas  nos  jardins, 
cram  alii  rcpresonladas  por  Ires  bons  cxeni- 
plares  de  Zaiiiia,  a  Zamia  picla,a  Z.  mexicana, 
<■  a  Z.  lanuginosa ^  lodos  das  collec^oes  de 
Jil-rei  o  senlior  D.  Fernando,  os  primeiros 
que  apparecem  nos  nossos  jardins,  e  tainbem 
de  recenle  inlroducgao  nos  da  Europa.  Enlre 
OS  exemplares  de  Cyeas  fez-se  notar  o  per- 
tencente  ao  sTir.  Santos,  pelo  seu  bom  estado 
e  niaior  desenvolvimenlo;  era  do  Cycas 
revoluta,  especie  alias  que  a  observagao  tein 
mostrado  receber  muito  bem  as  condi^oes  do 
iiosso  clima.  Deste  mesmo  expositor  era  unia 
outra  planta,  o  Laurus  cassia,  uma  das  arvores 
da  canella,  e  que  mais  especialniente  fornece 
a  da  China;  fazia-se  notar  pela  excellente 
vegelagao  e  perfeito  dcsenvolvimento  em  que 
se  achava. 

As  Pandanaceas  eram  represontadas  pelo 
Pandanus  utilis.  P  javaniciis,  e  iini  exemplar 
daCarloduvicasobgea;  exceptuundoa  primera, 
todas  tambeii)  de  recenle  inlroducjfio  nas 
nossas  culluras,  e  pertencenles  a  primeira  e 
terceira  especies  ao  jardim  das  Necessidades, 
•  ■  a  segunda  ao  do  Lumiar. 

Cliamava  a  altengao,  por  suas  grandcs 
proporjoes,  uin  Crinum  iiisigne  do  jardim 
das  ^>ecessidades ;  dois  bons  exemplares  da 
Bonapartia  gracilis,  e  B.  jiincea,  e  duas 
outras  Bromeliaceas  floridas,  que  nfio  vinliam 
nomeadas,  mas  que  devem  ser  do  genero 
Pourrhelia  ou  Tillandsia,  das  que  vegelam 
simplesmento  suspcnsas  no  ar. 

Contribuiam  tambem  para  constituir  o 
grupo  central  de  plantas  a  Dracitna  nobilis, 
a  D.  reflexa,  a  D.  umbiaculifera,  o  Cal- 
ladium  bicolor,  o  Dracontnim  pert.isum,  e 
uma  nova  JMaranta,  a  M.  alro  purpurea  do 
jardim  do  Lumiar. 

Depois  das  Palmeiras  e  demais  plantas, 
que  temos  indicado,  e  que  assim  sobresaiam 
no  centro  daexposigao,  a  alten^iio  nao  podia 
deixar  de  se  fixar  em  duas  grandes  collecgoes 
de  Coniferas,  que  se  viam  do  lado  esquerdo. 

Uma  destas  collecgoes  e  do  jardim  das 
Necessidades,  e  contava  para  mais  de  cento 
e  vinte  exemplares,  a  outra  do  sfir.  Bento 
Antonio  Alves  linlia  uns  oilenta. 


Alem  das  Araucarias  maisconliecidasexislia 
a  Araucaria  Bidwillii,  c  um  exemplar  com 
a  indica(;fio  de  A.  columnaris,  cuja  exactid.'io 
porem  ficoii  para  nos  em  duvida  li  vista 
da  descrip<;rio  e  estampa  que  vimos  da  A- 
columnaris  no  jornal  Flore  des  Serves.  O 
exemplar  pareceu-nos  ser  da  Araucariaexcelsa. 
R  cerlo  que  as  duas  Araucarias  aiidaram  con- 
fundidas,  o  que  prova  a  sua  siinillian^a.  Se 
iusistimos  nesles  pormenores  e  porque  scndo 
o  exemplar,  a  que  nos  ret'erimos  ,  a  verda- 
deira  Araucaria  columnaris,  tornava-se  uma 
novidade  importante,  mais  uma  especie  que 
veriamos  representada  nos  nossos  jardins,  per- 
lencente  a  um  genero,  que  nos  merece  o 
inaior  interesse  pelo  bem  que  o  nosso  clima  tern 
liospedado  outras  especies  congeneres,  e  pelo 
i'litiiro  que  promelte  ii  sylviciiltura  do  paiz. 

Quasi  todos  os  Juniperus  conliecidos,  grande 
nuniero  de  Cuprcssiis,  de  Pinus,  de  Tliiiya, 
de  Taxiis,  de  Cedrus  tinliam  individuos  neslas 
collecgoes;  alem  disso,  erain  reprcsentados  os 
generos  Libo-cedrus,  'J'axodium,  Ciyptomeria, 
Pliyllocladus  Callilris,  Biota,  Dacrydium, 
r'renella,  Chamiecyparis,  Ceplialotaxus,  Wi- 
dringlonia,  Jletinispora,  e  Podocarpus.  A  co- 
lossal Sequoia  gigantea,  que  no  seu  paiz,  a 
California,  cliega  a  ter  tresentos  pes  dealtura 
e  trinta  pes  de  circumferencia  no  [ronco,  lii 
tinha  tambem  um  peqiieno  representanle. 
Tambem  os  tinliam  a  Saxe-gotlncaconspioua, 
e  a  Fitz-roya  patagonica,  novissiinas  especies 
introdiizidas  na  liorlicultura,  e  Irazidas  dos 
Andes  da  Patagonia  por  um  collector  da  casa 
Veilcli  de  Exeter,  o  siir.  Lobb.  Sao  tambem 
arvores,  que  lomam  grandes  dimensoes,  liabi- 
tam  regioes  frias,  proximas  mesmo  aos  gelos 
perpetuos,  e  que  soffrem  alem  dos  effeitos  da 
baixa  lemperatura  o  embate  de  forlissimas 
ventanias;  dovendo  por  tudo  csperar-se  destas 
arvores  excellentes  povoadores  para  as  cu- 
miadas  de  nuiitas  das  monlanlias  da  Europa. 
A  Saxe-golliaea  rccebeu  o  nome  do  Principe 
Alberto,  de  Inglalerra,  a  quern  fora  dc- 
dicada. 

A  proposilo  das  Coniferas  devem  mencionar- 
se  dois  exemplares  de  Araiicaria-excelsa , 
obtidos  no  jardim  das  Larangeiras  por  estacas 
feitas  com  os  ramos  lateraes  e  enxerto  nelles 
da  cabeij'a  da  arvore ;  um  dos  modes  porque 
se  tern  conseguido  mulliplicar  a  especie.  Os 
dois  exenqilares  assim  obtidos  eram  perfeitos 
nas  suas  lormas,  e  bem  desenvolvidos.  Mas  <> 
problema  da  verdadeira  niultiplica<;ao  da 
Araucaria-excelsa  por  semente  lia-de  resolver- 
se  em  poucos  annos  no  nosso  paiz  :  attesta-o 
a  Araucaria  do  Lumiar,  que  todos  allipodem 
ver,  actualmente  guarnccida  de  immensas 
flores  masculinas,  e  de  bem  formadas  pinhas 
na  sua  parte  si;perior,  apesar  da  especie  ser 
dioica;  e  promette-o  principalmente  o  pequeno 
e  interessante  pinlial  de  Araucarias,  manda- 
das  plantar  em  Cintra  por  Sua  Magestade 
El-rei  o  Senlior  D.   Fernando. 

O  goslo   pela   cultura   das   Coniferas   teni 


47 


augmentado  muilo  entre  oi  horticullores  mais 
intelligenles.  Procuram-se  individuos  desta 
ordem  de  plantas  em  lodas  as  regioes  do 
globo,  e  fazem-se  constaiites  diligeiicias  para 
as  trazer  as  cuUiiras  da  liuropa.  O  motivo  J 
obvio ;  sfio  arvores  pela  maior  parte  de  maxiiiia 
utilidade  por  siias  madeiras,  resinas,  etc.  ;  e 
muitas  dellas  giiarnecern  ao  tnesriio  tempo 
agradavelmente  os  nossos  jardins,  pasaeios  e 
bosqiies  de  recieio.  Pode  anlever-se  quanlo 
ha  a  esperar  da  cultura  das  Coniferas  em 
Portugal,  refleclmdo-se  que  nas  matas  con- 
taaios  apetias  o  Piuus  maritima,  o  P.  pinea, 
e  o  Cupressiis  glauca  ou  cedro  de  Goa,  que 
tao  bem  se  accliniatou  na  serra  do  Bussaco  ; 
e  pondorando-se  ao  mesmo  tempo,  que  a 
maior  parte  dos  nossos  terreuos  moutauhosos 
e  do  littoral  estiio  sem  arvoredo,  alias  tao 
indispensavel.  Qiianto  nao  e  por  isso  digno 
de  appluso  e  de  iriiitajao  o  exempio  de  El- 
rei  o  senhor  D.  Fernando,  fazendo  povoar, 
como  o  tern  em  parte  conscguido,  a  serra  de 
Cintra,  deste  tao  valioso  arvoredo  ! 

A  menos  altenta  observa(,'ao  deixaria  co- 
nhecer  a  todos  os  visilantes  a  variada  collec- 
^ao  de  craveiros  tloridos  do  mais  agradavel  et- 
feito,  a  de  muito  boas  variedades  de  Geranium 
e  de  Fuchsia;  pertenciam  ao  jardiin  das 
Necessidades.  Outra  coUecjao  rica  e  visloaa 
era  a  dos  llhododendros  e  Azaleas  do  Lumiar, 
alguns  ainda  em  magnifico  estado  de  tlores- 
cencia.  Era  igualniente  para  notar-se  a 
variada  collecj'io  de  Iris-germanica,  de  Gla- 
diolus, e  de  Antirrhinum  majus,  pertcncentes 
ao  snr.  Bonnard.  Guarneciani  tambem  as 
bancadas,  em  grande  extensao,  numerosas 
petunias,  parte  do  jardim  de  S.  Pedro  de 
Alcantara,  parte  perteacentes  ao  snr.  Bon- 
nard.  Appareceram  tambem  as  petunias  de 
S.  Pedro  de  Alcantara,  devidas  aos  cuidados 
do  snr.  Conselheiro  Agostinho  da  Silva,  que 
apreseiitou  iguahnente  uma  numerosa  e  varia- 
da collecgao  de  amores  peileitos,  agradaveis 
Verbenas  e  Fuchsias,  e  alem  disso  um  exem- 
plar da  Swainsoiiia  coccinea. 

Nao  faltou  dexposijao  a  bem  conhecida  e 
variada  coUecgfio  de  Cactos  do  snr.  Macha- 
do,  unica  desta  ordem  que  existe  em  Lisboa. 

Os  Fetos  e  Lycopodiaceas  nfio  foram 
esquecidos  pelos  expositores.  Appareceram 
bons  exeniplares  de  fetos  indigena=  e  da 
Madeira,  perti^ncentes  ao  snr.  Alves. 

O  snr.  Alonrc'i  apresentou  um  exemplar 
vistoso  de  Pteris  elegans,  e  outros  da  Daval- 
lia  pyxidala,  de  alguns  asplenios,  do  Lyco- 
podium  scandens,  e  o  Plalicerium  grande, 
feto  curio^o  pelas  formas  e  niodo  de  vegela- 
53.0,  que  pode  obter,  adherindo  unicamente 
a  uma  taboa.  Outro  Plalicerium  muito  bem 
desenvolvido  e  curioso  foi  exposto  pelo  snr. 
Schmiltaus,  a  queni  a  cxpoaigao  deveu  tam- 
bem alguns  bons  geranios. 

Recommendavam-se  por  fim  a  altengfio 
por  sen  perfeito  desenvolvimento,  e  boa  cul- 
tura, por  sua  belleza  ou  novidade  ass^guintes 


plantas,   que   os  observadores  achariam   dis- 
persas  por  toda  a  exposijao. 

Pertcncentes  ao  jardim  das  JVecessidadcs : 

Rhopala  corcovadensis :  proteacea  de  muito 
recente  inlroduc^-fio  na    Europa. 

Stiptia  chrysanlha;  composta  arborea,  e  por 
isso  menos  commum  entre  as  da  sua  ordem. 

Simplocos  limoniedia ;  simplocacea  tam- 
bem de  moderna  introducgao  nos  jardins. 

Spathodea  speciosa  ;  bignoneacea. 

Eugenia  villosa  ;  myrtacea  novamente  in- 
troduzida. 

Stadmannia  australis ;  sapindacea  da  N. 
Hollanda. 

F^anciscea speciosa,  e  F.  longifolia;«species 
tambem  muito  novas  nos  jardins. 

Theophrasta  longifolia;  myrcineade  Carac- 
cas. 

Allanianda  verticillata,  e  A.  spec.  ;  apo- 
cyneas. 

Hexacentris  mysorensis  ;  acanthacea. 

Coleus  Blumei  ;  vistosa  labiada. 

Clivia  nobilis;  muito  mimosa  Amaryllidea 
do  Gabo  de  Boa  Esperanga. 

iJ  m  Metrosideros  em  flor,  que  fora  de  pro- 
posito  arrancado  da  terra  para  vir  a  exposi- 
Sao. 

Pertcncentes  ao  jardim  do  Lumiar  do 
siir.  Duquc  de  Palmella  : 

Tres  formosas  Catleyas  em  flor,  das  quaes 
excitou  a  adniira^ao  de  todos  por  sua  belleza 
a  Catleya  mossiai. 

Erica  Cavendishii  ;  mui  vistoso  exemplar 
cheio  de  llores  nmarella;,  que  todos  igual- 
mente  notariani. 

Diosnia  crenata,  ^  D.  ciliata  ;  ambos  tlori- 
dos. 

Jpomiea.Horsfeldii;especie  muito  brilhanle. 

Aralia  quinquet'olia ;  araliacea. 

Sehaidophylluni  pulchrum. 

Ramos  tloridos  da  Grevillea  robusta,  m'li 
da  maior  parte  das  arvores  da  mesma  especie 
que  se  tern  espalhado  pelos  outros  jardins. 

Outros  rainos  tloridos  do  Philadelphus 
mexiianus,  eda  graciosaF'umariacea  Diclytra 
spectabilis. 

E  alem  destas  baslantes  outras  plantas  de 
recente   introduc^ao   nos   jardins  da  Europa. 

O  snr.  Marquez  de  Vianna,  que  do  sen 
rico  jardim  de  Cintra  nao  podia  mandar 
vir,  sem  as  sacnficar,  maior  numero  de  plantas 
das  suas  ju.  muito  extensas  e  bem  escolliidas 
collec(;6es,  remetteu  para  a  exposigfio,  conio 
docunientos  daquella  riqueza,  rainos  tloridos 
de  muitas  plantas  de  estima(;ao,  e  alguns 
vasoscom  plantas  inteiras.  Entre  esles  obje- 
clos  distiiiguiam-se  boas  Rosas,  algumas 
Calceolarias,  muitas  Acacias,  boas  varieda- 
des de  Azaleas,  de  Crataegus,  a  Brunia  la- 
nuginosa, a  vi^tosa  Erica  linoides,  al,i;un5 
Ribes,  a  Magnolite  tripetala,  variadas  Ver- 
benas, alguns  Phlomis,  e  cutras  plantas  que 
attestavam  o  vaiiado  e  subido  erao  de  cullurit. 


48 


em  que  se  aclia  o.jardim  de  Cintra  do  mesmo 
sfir.  Marquez  de  Vianna. 

O  sfir.  Ayros  de  S;i  oxpoz  inn  exemplar 
bem  creado  do  jaboticareiro,  e  oulro  do  cam- 
bocareiro ;  e  nao  aprescMtou  iiiais  plaiitas, 
porque  o  passeio  publico,  reoiganisado  por 
siias  incessantes  dilij;enciai ,  e  todo  elle  uina 
exposijao  conslante ,  e  vivo  documetito  da 
sua  aclividade  e  zelo  que  lem  desiuvolvido 
pela  liorlicultura. 

Do  sfir.  Bonnard,  alem  do  que  ja  se  re- 
feriu,  appareceram  outras  plantas,  das  quaes 
podem  indicar-se  mais  especialuienle  as  se- 
guintes : 

Xvlopliylla  Innajifolia;  cupliorbiacea. 

\\  eslringia  a;raiidillnra;  labiada  vi^t03a. 

Hoteia  ou  Spiraea  japonica;  saxifragea. 

]i,ueliia  maculata;    l)^'lla  acaiiUiacea. 

Concluirenins  e~ta  rapida  eiiumera^ao  men- 
cionando  aiuda  uma  pl.inta  das  expostas  , 
Hiuito  liumiide  na  appureiicia,  e  para  a  qual 
o  maior  numero  de  pessoas  de  certo  nao 
preslou  atten(;ao  por  falla  de  prevent  o,  mas 
que  a  merecia  debaixo  do  porito  de  vista 
scientifico,  e  ainda  aoutros  respeitos.  O  seu 
nome  era  o  de  Tavaresia  angolensis,  e  per- 
tencia  ao  sfir.  Mom 6,  a  queiii  a  mandou  de 
Angola  o  snr.  Dr.  Frederic  WelwiclUz.  O  co- 
hhecimenlo  da  planla  e  fruclo  das  excursoes 
deste  naluralista  no  solo  africano,  aonde  esla. 
E'  uma  Stapeliacea,  reputada  forniar  nao  so 
especie,  mas  genero  novo.  Pelo  direilo  que 
assiste  aos  naturali^tas  nas  suas  descubertas , 
o  sfir.  Welwiclilz  escoUieu  um  dosseus  amigos 
para  llie  dedicar  o  novo  genero,  e  eate  ami- 
go  foi  o  sfir.  'I'avaies  de  jjacedo;  ficaia  por 
isso  sendn  a  planla  uma  'I'iivaresia,  e  o  bom 
nome  do  snr.  Tavares  de  Macedo,  pnr  erle  mo- 
livo  mais,  vogislado  nos  livros  da  ^cie^cia  A 
planla  liabita  nos  campos  de  Loanda  ,  perlo 
do  silio  do  Penedo  e  do  Cacuaco  ;  o  seu  lia- 
hiloexlerno  e  o  das  Slapelias,  mas  os  orgaos 
floraes,  segundo  a  observa^fio  do  snr.  Welwi- 
chtz  ,  affeclam  a  apparencia  das  Orohideas. 
A  exi-tencia  desla  Slapeiiacea  no  silio  aonde 
foi  acliada,  e  por  elle  considerada  tanlo  niais 
imporlante,  quanlo  e  sal)ido  que  na  Afiica 
tropjcal  se  nao  linliam  ainda  eneontrado  es- 
pecies  desta  ordem  de  vegetaes.  Coinpraz-nos 
ler  esl.i  otcasiao  de  recordar  o  nome  d'nin 
naturalisla,  a  quern  o  e^Uldo  da  Flora  por- 
tugueza  muito  deve ,  e  que  laml)eui  prc^tou 
bom  servi^o  a  liortieultura  em  Lisboa.  Quei- 
ra  a  Providencia,  que  a  saude  e  as  forgas  llie 
nao  faltem  ,  para  preslar  a  sciencia  os  muilos 
servijos,  que  na  actual  situajao  ,  elle  |6Je 
fazer. 

Foram  lainl)em  expositores  o  snr.  Pastor, 
e  algumas  outras  pessoas,  cujas  planlas  se 
nao  mencionam  ,  por  serem  de  cultiira  mais 
ronliecida;  nao  deixando  por  isso  de  haver 
motivo  para  agradecer  a  estes ,  como  a  todus 
OS  outros  expositores,  a  boa  vontade  com  que 
concorreram  ao  cbamamento  que  se  fez,  e 
conlribuiram  para  guarnecer  a  exposigao   do 


modo  agradavel    e    satisfaclorio   por   que  se 
apresentou  a  todos. 

'I'emos  ainda  de  fallar  de  alguns  instru- 
[iieulos  agrarios,  que  appareceram  como  que 
consliluiudo  o  fundo  do  gracioso  quadro  d'esla 
exposigao,  a  saber  :  um  ventilador  para  lim- 
peza  de  cereaes  c  legumes,  perteiiccnle  at) 
snr  Conde  do  Farrol)o,  e  exposlo  pelo  sen 
jardiueiro;  e  oulros  objectos  pertencenlcs  to- 
dos  ao  Institulo  agricola.  Eulreellesse  notava 
um  carro  feilo  por  um  modelo,  que  o  snr. 
Conde  do  Farrobo  nianddra  vir  de  llalia; 
consta-nos  ler  todos  os  seus  movimenlos  tao 
faceis,  que  pode  conduzir,  com  inenos  inconi- 
raodo  dos  animaes,  o  dobro  do  peso  que  os 
nossos  carros  ordinarios  costumam  carregar  : 
a  charrua  de  Domlia^le,  a  de  roteagao,  a  de 
sub-solo,  o  arado  inglez,  o  sacliador  de  Dom- 
basle,  o  belga  de  llo-.t',  o  extirpador  de 
Griguon,  e  o  rolo  Kro^kul;  inslrumentos 
todos  de  reconliecida  ulilidade  na  agricultiira 
das  na<;6es  mais  cullas,  e  quasi  deseonlieci- 
dos  ciitre  nos  E  seria  uma  grave  falta  desle 
relatorio,  se  por  ventura  nelle  nao  agradeces- 
semos  ao  Insliliilo  agricola  do  Lisboa  a  boa 
voulade  e  preate^a  com  que  concorreu  por 
estc  modo  a  nossa  primeira  exposicao;  es- 
perando  para  o  fuluro  da  illustrada  direcgao 
do  mesmo  Insliluto,  que  elle  concorrera  com 
osvariados  produclos  liorlicolas  da  suaquinta 
exemplar,  para  tornar  mais  variadas  e  mais 
complelas  as  expoji^oes  da  sociedade  de 
Flora  e  Pomona;  tornando-se  ignalmentc  por 
esle  modo  aquella  utillissima  instituic.'io  mais 
prnveilosa  ao  paiz,  que  tanto  deve  esperar 
della. 

Quanlo  ao  ventilador,  e'o  que  os  francezes 
oliamam  'i'arare:  oVi^ervamol-o  Iralialhando, 
e  podemos  assegurar,  que  pieencbe  muito 
bem  o  seu  lim;  extremando  com  a  maior 
faoilidade  o  Irigo  ou  cevada  liinpos,  a  pallia 
miuda,  e  a  terra,  que  lem  mislurada;  o 
expediente  deste  appaiellio  e  tal,  que  no 
traballio  regular  de  um  dia  e  possivcl  limpar 
ciucocnla  moios  de  trigo.  Suppomos  scr  um 
apparellio  muito  para  r  eommeudar  aoj  nossos 
laviadores,  e  cnja  pralica  devera  subsliUiir 
com  inuita  vaiilagem  o  proccsso  de  arneirar 
o  trigo  antes  de  o  recollier. 

O  jury  lendo  a  dispor,  conforme  o  pro. 
gramma  da  sociedade,  de  Ires  medallias  de 
ouro,  Ires  de  prata,  e  Ires  de  bronze,  poz 
primeiramente  lora  da  competeucia  as  col- 
lecgoes  dos  jardius  reaes,  como  Ibe  foi  orde- 
nado  por  sua  majeslade  F!l-rei  o  senhor  D. 
Fernando,  presidenle  da  sociedade;  e  consi- 
derando  todas  as  outras,  inlendcu  conferir  os 
premios  da  maneira  seguinle: 

Ao  snr.  Bonnard,  director  e  jardineiro  dos 
jardins  rears,  uma  das  medallias  de  ouro  pelas 
planlas  que  expoz,  e  alem  diiso  pela  pericia 
de  que  deu  sempre  provas  no  desempeulio  do 
seu  cargo  como  cnltivador. 

Ao  sfir.  Alves  outra  inedalha  de  ouro  pelo 
zelo    e   saciiticioi    que    Ibe  tern   merecido   a 


49 


liorticultura,  e  pela  importanle  collecjao  que 
apresentou  de  Coniferas  e  de  Fetos. 

Ao  snr.  Weis  a  outra  mcdallia  de  oiro ,  na 
qualidade  dejardineiro  dosfir.  Diiquo  de  Pal- 
mella,  como  bom  e  inlelligente  cullivador, 
e  pelas  plantas  que  concorreu  a  fazerexpor, 
vindas  do  Lumiar,  principaliiieiite  acollec- 
Sao  de  Rliododendros ,  de  Azaleas,  [e  Orclii- 
deas. 

Ao  snr.  Bonnard  ,  filho,  uma  medallia  de 
prata ,  conio  jardineiro  do  snr.  Marquez  de 
Vianna,  e  pelai  numerosas  e  bem  cultivadas 
plantas  vindas  do  jardim  de  Cinlra;  especial- 
mente  algumas  Eneas,  Azaleas,  Coniferas, 
Acacias,  e  um  dcs  vislosos  exeniplares  da  In- 
digot'era  decora,  que  appareceram  na  expo- 
sijao. 

Ao  snr.  consellieiro  Agoslinlio  da  Silva 
iinia  medallia  de  prata,  pelas  cnllec^oes  que 
apresentou  do  jardim  de  S.  Pedro  d'Alcan- 
tara,  cuja  cullura  e  sabido  Uie  merece  espe- 
ciaes  cuidado?,  e  como  amador  que  e  entliu- 
siasmado  da  borticultura. 

Ao  snr.  Pedro  Maurieu  uma  medallia  de 
prata,  como  jardineiro  do  snr.  conde  doFar- 
robo,  e  pelas  Araucarias  obtidas  de  enxerto 
que  apresentou,  bem  como  a  maquina  delim- 
par  cereaes ,  cuja  intioduc9rii)  no  paiz  Ihe  e 
devida. 

Foram  considerados  dignos  de  men^ao  hon- 
rosa : 

O  snr.  Machado  ,  como  uni  dos  zelosos  e 
intelligentes  amadores  da  horticullura,  e  pela 
sua  conhecida  e  estimada  cnllecjao  de  Ca- 
cteas. 

O  biir.  Monnj,  pelos  curiosos  exemplarcs 
de  Fetos,  e  pela  interessante  Tavaresia  an- 
golensis  queexpoz;  certo,  alem  disso,  que 
o  snr.  Monro  e  um  dos  zelosos  promotores 
da  borticultura  entre  nns. 

O  snr.  Santos  ,  pela  sua  bem  desinvolvida 
Cycadea  ,  e  bem  creado  exemplar  do  Laurus 
cassia. 

Concluindo  este  relatorio ,  entende  ojury 
que  n(is  podemos  felicitar  pnr  esle  primeiro 
ensaio  de  exposi^ao  dasociedade,  que  corres- 
pondeu  a  quanlo  podia  esperar-se,  tendo  para 
isso  concorrido  principalmenle  a  muito  deci- 
dida  protec^ao  que  a  cste  ol.ijecln  se  dignou 
prestar  Sua  Mageslade  EIrei  o  Senhrr  D.  Fer- 
nando ,  cujos  desejos  e  diligencias  e  de  espe- 
rar  sejani  correspondidas  pela  sociedade  e 
pelo  publico,  a  fim  de  conseguirmos  a  intro- 
ducjfio  do  niaior  numero  de  plantas  uleis ,  a 
sua  acclimalayao  ,  o  maximo  aperteigoamen- 
lo  em  lodo  o  genero  de  culturas,  e  a  pros- 
peridade  e  bem-estar  geral,  que  tudo  isso 
necessariamente  traz  ao   paiz. 

Por  toda  a  parte  as  sociedades  horljculas 
tern  sido  um  poderoso  meio  d'alcan^ar  esles 
beneficios;  devemos,  por  conseguinte,  enipe- 
nhar  estorgos ,  para  que  a  nossa.  nao  salisfaja 
menos  o  seu  lim. 

Sua  Magestade  Elrei  o  Senhor  D.  Fernan- 
do visitou  repetidas  vezes  a  exposi^.ao,  e 
acompanliado  de  Sua  Mageslade  Elrei  o  Se- 


nhor D.  Pedro,  e  de  Sua  Alleza  Ileal  o  Se- 
nhor Infante  D.  Lujz  ,  dignou-se  presidir  o 
jury  encarregado  da  distribui^ao  dos  premios. 

Aos  mernbros  do  jury  foi  particularmente 
agradavel  a  impressao  que  Ihes  fez  o  muilo 
conhecimento  de  causa  que  os  jovens  Monar- 
cha  e  Principe  mostraram,  percorrendo  os 
objectos  da  exposi^ao;  e  o  modo  por  que  a 
atten^iio  dos  Augustos  Visitadores  se  fixava 
justamente  nas  plantas,  que  por  sua  novida- 
de  on  oiilro  motivo  de  interease  a  deviaui 
excilar. 

Sua  Alleza  Real  o  Senhor  Infante  D.  Luiz, 
como  quern  Ihe  era  tudo  muito  familiar,  es- 
colheu  na  collec^'ao  dos  pinheiros  do  sfir. 
Alves,  e  para  niais  completar  a  do  jardim 
das  ISi ecessidades,  todos  os  exemplares,  que  se 
recommendavam  pela  maior  novidade  ou  im- 
portancia  das  especies,  e  que  mais  inleresse 
proniettem  por  sua  introduc^ao  na  nossa  cul- 
turn. 

Uma  tao  esmerada  educagao,  como  a  que 
deinonstram  similhanles  factos,  e'  da  mais 
liiongeira  esperanja  para  um  paiz,  como  o 
nosso,  que  tanlo  precisa  e  tern  a  obler  do 
espirito  illustrado  dos  Soberanos,  que  o  hao- 
de  continuar  a  governar. 

As  sciencias  naturaes,  que  entre  nos  tern 
quasi  sempre  sido  tractadas  como  filhas  bas- 
tardas,  nao  obstante  a  dependencia  em  que 
dellas  esta,  immediatamente  a  resolujao  de 
quasi  todos  os  problemas  do  desenvolvimento 
social,  teram  por  lim  nos  chefes  do  Governo 
zelosos  protectores,  porque  teem  ja,  e  terao 
quern  as  comprehenda  e  estime. 

Este  solo  fertil,  e  este  bom  clima  do  nosso 
Portugal  convidam-nos  incessantemente,  e 
quasi  ()ue  nos  arguem  sem  eessar  do  nosso 
inqualificavel  atiazo  nas  differentes  culturas; 
nos  que  somos  dos  povcs  que  as  poderiamos 
apresentar  no  estado  mais  tlorescente  da 
Europa.  Mas  se  ao  abrigo  de  uma  paz  im- 
perturbavel,  e  sob  a  direcfao  de  um  Rei  es- 
rlarccido,  a  Belgica  pode  reorganisar  em 
1326  a  aniiga  confraria  de  Santa  Dorothea, 
debaixo  do  nome  de  Sociedade  de  Horti- 
cultura  de  BruxcUas,  que  e  hoje  talvez  o  typo 
classico  das  sociedades  d'esta  ordeui,  qtie  n.ao 
devemos  nos  tambem  esperar  da  nossa  Socie- 
dade de  Flora  e  Pomona  abrigada  sob  o 
manto  de  um  Principe  lao  esclarecido,  r> 
votado  cordealmente  a  todos  os  progressos 
agricolas  d'esta  nos^a  abengoada  terra  I  N6> 
esperamos  sinceramente  que  ajudados  pela 
Providencia,  e  dirigidos  pelo  conselho  tao 
competeiite  e  illustrado  palrioti^mo  de  nosso 
Presidenle  .Sua  Mageslade  Elrei  o  Senlior 
D.  Fernando,  desenipenharemos  fielmente  o 
nosso  programma,  e  concorreremos  de  uui 
modo  mui  assignalado  para  a  ptosperidadc 
de  tndas  as  culturas  em  Portugal,  que  ^ao 
a   prime! ra  de  suas  industrias. 

.Mair/ue~  de  Ficalho:^^.  Harao  do  Castello 
de  Paiva — Cactano  Fcrrrira  da  Silva  Eciruo 
—  Duarle.  Cnirm — Dr.  Bernardino  Antonio 
Gomrs.  (^Diario  do  Governo.) 


50 


ESTATISTICA   PATIIOLOGIC.V   DOS  HOSPITAES   DA  UNIVERSIDADE. 

BOUENS TRIMESTBE    DE   JANEIBO    A  MABQO   DE    18oi. 


SIOI.ESTIAS. 


Febre  F»slrica 
Febre  inleriiJitlenle 


I 
I 

8 

!^ 

I 
1 
1 

a 
1 

14 
21 


I 
1 
I 
3 
I 
I 
1 
7 
17 


Bronchite 

Ascile 

„  M  Anasarcd 

„  ,.  Diarrhea         

,,  „  Oislriic^ao  do  fia^o  .... 

«  Vermes 

,  JJlceras  no  vcH  palatino  pendulo 

Febre  intermitlcnie  gastrica 

Angina 

Pnciiiuunia 

Pleuresia  Iraumalica        

Gaslrile  chronica 

Splenilc  —  Anazarm 

Cystile        

L'retrile       

Olibtalraia 

Rheumatlsrao  articular    ....••••• 

Riieumatisiuo  articular  clirunico 

Bronchite 

M         Febre  inlermiltenU 

Rhcumalismo  articular  chronica    .     ■     ■ 

„         Hemorrlioidas ■ 

Pvstvtas  nas  pertias 

Mania 

Asma 

Cephalalgia 

Gastralgia         

Apoplcvia        

Paraplegia        

Amaurose 

Tisica  piilmonar ■ 

Ascite 

1,       Febre  inlcrmiltenle 

Fehre  inlermiltenle  —  annsnrca    .     .     ■     ■ 
Febre  inUrmiltenle  —  obslrucQuo  do  Ijoqo    . 

^       Anasarca 

>^       Aniavrose 

u       Epistaxia        

„       ObalrucQao  do  ba^o 

Hydrothorax ■.■''' 

»  Ascite  —  ObstrucQUO  do  bago    .     .     • 

„  Tumpanite  —  Ictericia 

Hy<Irocelle 

Anasarca 

V,       Bronclute        

„       Sarna    

Edema  na  glolle 

EJema  nas  pernas 

„  ti       Broncliite    .     .      .    •     -     •     • 

Hemoptysis 

n  Siirna 

Hemerrhoidas        

Diarrhea * 

Ileus 

Escorbuto   

Ictericia      

Cachexa 

Congestao  pulmonar        

Obstruci;ao  do  ba^o 

Cancro  do  estomago 

Vermes 

Miliare 

Herpes        

Elephanliaee   .     .    ■    • 


215 


EDADES 


.'"5, 


1 

2 

16 

13 

1 

„ 

)i 

2 

i> 

2 

» 

>, 

19 

9 

1 

„ 

11 

1 

19 


81 


84 


31 


14 


lai 


49 


3 
35 
1 
4 
2 
I 
34 
1 
1 
1 
1 
8 


1 

215 


51 


Movime7tto 


Exifltiam 

Entraram 

Sairam • 

Falleceram • 

Reiacao  dos  fallecidos  para  os  entrados 

para  os  s;iido3 

para  todos  os  tralados  (existeotese  entrados) 


Janeiro 


Movimento  de  to.ias  as  enfermarias  dos  hospitaes 
(la  itniversidade 


Existiara 

Eotraram 

Sairam 

Falleceram 

Rela^rio  du3  fallecidos  para  03  entrados 

para  os  saidos 

— —     para  lojos  os  tratados  (exislentes  e  en 
trados) 


Homens 


126 

85 

375 

251 

343 

194 

31 

23 

1;12,1 

1:10 

1:11 

1:7,7 

1:19,3 


67 

62 

56 

6 

1:10,3 

1:9,3 

1:21,5 

Mttlheres 


Fevereiro 


65 

59 

67 
4 
1:14,7 
1:16,7 
1:31 


MllTQO 


54 

08 

77 

5 

1:17,6 

1:15,4 

1:28,4 


1:14,4 


Hotnens 


18 


Observarjes  meteorologicas  ' 


(  Teiuperatura  ataiospberica  ao  meio  dia 
Media  \ 

C  Altura  barometrica  a  0.°  C 

Venlos  predominantes 


Janeiro 


C"?  C. 

mil 

75:!, 759 
S.  e  SE. 


Mutheres 


10 
3 
1 
0 


Fevereiro 


9.°  8 
757,357 
E.  e  N. 


Trimestre 


209 
200 
15 
1:13,9 
1:13,3 
1:18,4 

Todot 


239 

632 

538 

5B 

1:11,2 

1:9,6 

1:15,5 


Marco 


12.°4 
757,831 
N-  e  E. 


•      Inslittjto  (!e  Coimbra  n.°"  21  e  23  do  2.*'  anno  e  n."  1  do  3.**   O  gabincte  de  physics,   onde  se  fazem 
cstas  observa^oes  ,  apenas  dista  13^°  do  hospital  do  colle^io  das  arleg. 


Tenlio  comprehendido  todas  as  enfermarias 
de  homens  nas  estaListicas  patliologicas  de 
1352  e  1853;  mas  n't-ste  primeiro  trimestre 
de  13o-l  coinego  a  publicar  so  a  estatistica 
das  enfermarias  de  molestias  internas,  que 
se  acham  a  men  cargo.  Nao  ha  grande  in- 
conveniente  n'esta  restricgao,  em  qnanto  nao 
se  publicar  uma  estatistica  geral  de  todos  os 
hospitaes  da  universidade. 

O  doenle  de  febre  intermitente  ,  que  appa- 
rece  na  casa  dos  fallecidos,  morreu  da  ascite 
que  veio  coinplicar  aquella  febre ;  e  os  14, 
que  se  acham  na  casa  dos  nao  curados,  sai- 
ram antes  da  cura  da  abstracgao  do  bago , 
mas  depois  de  curada  a  febre  intermittente. 
A  cura  da  obstrucjao  do  bajo  em  20  doentes 


de  febre  intermittente,  e  em  2  que  entraram 
so  com  a  primeira  molestia,  deve-se  em  gran- 
de parte  ao  emplasto  de  iodureto  de  potassio 
da  Ph.  de  Lond. ,  juntamente  com  os  de- 
sobstruentes  internos. 

A  um  dos  doentes  de  bydrocelle  nao  se  fez 
a  operagao,  por  ser  ainda  pequeno  ocuraulo 
do  Iiquido.  O  outro  foi  curado  radicalmente 
por  meio  de  injecgoes  de  partes  iguaes  de 
tintura  de  iodo  e  agna  dislilada.  Anterior- 
raente  havia-se  tentado ,  sem  proveito ,  a 
mesma  cura  radical  corn  uma  parte  de  tintu- 
ra de  iodo  ,  e  tres  partes  de  gua  distillada. 

A  morlalidade  de  1:13,9  em  relagaos  aos 
entrados  em  todo  o  trimestre  nas  minhas 
enfermarias,  e  ainda  a  morlalidade  de  ]:11,3 


52 


lie  loilo  o  liospiuil ,  coiuinun  ollorecendn  ex- 
iraordinaria  vaiilagem  sobre  a  morlalidade 
ilo  liospilnl  de  S.  Jose  de  Li>l)oa,  i|ue  foi 
lie  1:4,9  no  mi'smo  trinicstre.  ' 

Com  a  media  de  1000  doentps  frasla  o 
iiospital  de  S.  Jo>e  130:000,3000  lois  ininual- 
tiR'tite  ^  ;  e  lodos  sabeiii  ijue  ,  loiifje  de  haver 
tlfbperdicios  iia  boa  admiiiislra^'io  d'esta 
casa ,  ainda  als'ims  niplliorainoiitos  se  v;"io 
addiando  por  falla  de  meios  Na  inesrna  prn- 
fjor^i'io  OS  liospilaes  da  universidade,  com 
a  media  de  210  doenles,  deveriam  pastar 
."•1:200^000  reis.  Cusla  acicr!  O  Lendiiiieri- 
lo  dos  bens  dos  liospitaes  eslii  teduzido, 
.•i:!)63jSloO  rcis,  qiiejunto  a  b  031t5'9IO  reisa 
<|ue  dii  o  lliesoiiro,  conslilue  iiiiia  dotac^ao 
certa  de  8:89O0'OCO  ici;-.  De  leceita  incerta 
apeiias  tern  a  imporlancia  dos  pugamenlos 
militaio«  das  pra(;as  une  alii  s;'io  Iratadas  , 
i]iie  podciu  dar  876jS)()00  leis  ^  ,  e  dns  doen- 
les nito  pobres  que  andai;i  ))or  80^000  reis  *. 
J-;sl;i  pois  reduzida  a  9:8olgS0(>0  reis '  a  re- 
ceita  cerla  e  inceiia  doshospitaes  da  universi- 
dade,  qiiando  estesdevenam  frastar,  em  pro- 
porsfio  com  o  de  S.  Jose,  31:200^000  reis  !  ! 

Tirem  os  liospitaos  da  universidade  da  mi- 
seria  em  que  se  acham  ;  menislrem-llie  uma 
•lota^ao  regular  e  rasoavel  ,  que  a  boa  casa 
do  novo  hospital,  no  bom  clima  de  Coim- 
bra,  de  pressa  se  converterii  n'um  dos  liospi- 
laes niais  concorridos  eacreditadosdaEuropa. 

*  Jornal  de  Pharmacia  e  Sciencias  Accessorias  de 
l.isbua  n.*"^  de  ftiveieiro  .  niar^o  e  abril  de  1854. 

^  O  Hospilal  de  S.  Jose  e  annexes  em  1053.  Opus- 
cnlo  por  Alanoel  Cesario  de  Arauja  e  Silva  .  pa^'.  I'jJ. 

■*  A  media  da  rece'tta  dos  nitimos  3  annos  foi 
12:745^540 ,  mas  figuram  nqui  Aerbas  exlraordiiiarias 
com  que  nao  poderaosaclnalmentecontar,  como  Sao — l.° 
lima  graode  parle  dos  11:589^440  reisde;vencimentos  niili- 
tares  ,  que  se  achava  em  divida  ao  hospital  antes  d'estes 
3  annos  :  2."  914^040  reis  com  que  a  dotai;ao  dos  esta- 
belecimentos  da  universidade  acudiu  aos  aptiros  do  hospi- 
tal:  3.°  l;0005000;reis  que  deu  a  misericordia  de  Coim- 
bra  ,  em  virtude  d'uma  portaria  du  poverno. 

^      Calculando  10  pra^as  diarias  no  bosjiilal. 

^  Vm  pouco  niais  do  termo  meilio  dosiiltimos  3  annos. 
A.  A.   DA  COSTA  SIMUES. 


Hcccbo  am-sc  na  Bibliotlieca  do  Institulo  de 
Coimbra,  alcm  das  mtncionadas  em  o  n.° 
3  deste  Jornal,  as  seguintes  obras  offereci- 
das  por  seus  respcctivos  auctorcs. 

poEsiAs  por  Antonio  deSerpa,  socio  da  A.  R.  das 
sciencias  de  Lisboa  e  do  Inslituto  de  Coimbra. 

BOSgUEJOS  BlOGRAPHicos,  0  abbade  Correa  daSerra  e 
Felix'Aveiar  Brotero,  por  Francisco  Antuuio  Rodrii;;ues 
de  Gusmao,  bacharel  formado  em  medicina  e  cirurpia, 
sbcio  do  Instituto  de  Coimbra  e  membro  correspondenle 
da  sociedade  das  sciencias  medicaa  de  Lisboa. 

A    ORQAMSAl^AO   DOS    ESTUDOS   MEIllCOS    EM    PORTUGAL, 

discurso  proferido  na  sociedade  de  sciencias  medicas  de 
Lisboa  pelo  socio  da  niesma,  Antonio  Joaquim  Ribeiro 
(ioraes  d'Abreu,  socio  do  Instituto  de  Coimbra. 

OS  viNCULOs  Eiu  PORTUGAL,  por  D.  Aiitonio  d* Almeida 
1."  e  2."  folhelo. 

coNsELHos  TESDENTES  A  mETENiR,  abrandar  e  curar 
a  doen<;a  dag  \inlias,  para  o  anno  de  3  854,  escriptos  por 
.Antonio  Jose  da  Silva  Leitao. 


co^]PE^UIO  da  iiistokia  de  poutlgal  desde  os  pri- 
meiros  povoadorcs  ate  nossos  dias,  por  Joaquim  Lopes 
Carreira  de  Mello. 

ELEMEVTos  nc  -METniPHvsicA,  por  M.  da  Conceie'io 
R.irros.  professor  de  phibsopliia  racional  e  moral  e  priii. 
cipios  dedireito  natural,  noseminano  diocesano  doBra-ra- 

a'  SAtDosissiMA  3IEMUKIA  da  serenis.sima  Princeza  im- 
perial a  scnhora  U.  Maria  Amelia  —  folheto,  jielo  mestre 
da  Finada. 


VAUIEDADES. 

RKPi.ANTAc.to  DOTRiGO.  —  No  jardiui  bo- 
tanico  de  Cambridge  fez-se  uma  cunosa  ex- 
perieucia  soliie  a  replanlagao  do  trigo. 

Havendo-se  semeado  em  junlio  algunsgr.HOs 
de  trigo,  um  dos  pes  q\ie  nasceram  pareceii 
querer  ramilicai-:-e.  Arrancaram-no  em  agos- 
to  ,  e  dividiram-no  em  18  partes,  cada  uiuu 
das  quaes  foi  separadameiite  plantada.  As 
novas  plantas  que  nasceram  dos.  rel'.enlOi  la- 
leraes  arrancaram-se  no  litii  de  seternbro ,  s(-- 
pararam-se  e  pjantararn-se  novamenle.  Ob- 
tiveram-se  assim  (i/  pes  de  trigo  que  licarain 
na  terra  todo  o  inverno.  Em  abril  seguinte, 
e-~tes  67  pes  foram  outra  vez  divididos  e  pre. 
duziram  500  pes,  donde  se  colheram  21:000 
esjjigas,  que  deram  21  Uilogrammos  degr;i05. 

Segundo  a  qiiantidade  media  de  graos  con- 
lidos  em  um  kilogrammo,  pode-se  dizer  que 
um  so  pe  de  trigo  dividido  e  plantado  repe- 
tidas  vezes,  produziu  um  niimero  total  dc 
676:840  graos.  {Cosmos  ) 

RF.pvBLicA  DK  LIBERIA.  —  Este  pequeno 
estado  nascente  fundado  na  costa  occidental 
do  continente  d'Afiica,  cujos  cidad:'ios  sao 
negros  arrancados  a  escravidao  e  reexportados 
da  America  pela  intluencia  das  sociedadcs 
abolicionistas,  marclia  co.m  passos  rapidos  no 
caminho  do  progiesso.  Esla  sociedade  negra 
procura  imijar,  omellior  que  pode,  a  oivilisa- 
jao  do  antigo  e  novo  mundo.  Ha  pouco 
comejou  alii  a  publicar-se  um  jornal  que 
deve  salisfazer  u^  nccessidades  inlellectuaes 
politicas  e  commerciaes  da  colonia.  Este  jor- 
nal denomina-se  Liberia  Herald-  e  escripto 
em  iugiez,  e  sens  redactores,  edictores,  im- 
pressores,  etc.  ,  todo  o  pessoal  e  exclusiva- 
mente  composto  de  negros.  (^L\4thenwum). 

RECTii'icAcAO.  —  ?so  artigo  —  Enxofra- 
gem  a  sccco  publicado  em  o  n.°  24  do  3.°  vol. 
deste  jornal,  conforme  com  o  que  vein  no 
Journal  d' /Agriculture  practique,  vem  men- 
cionada  a  despesa  que  demanda  a  enxofra- 
gem  completa  de  um  hectare  de  vinhas.  Se- 
gundo mr.  Dubreuildevem  recti ficar-seaquel- 
les  dados  do  modo  seguinte. 

Para  um  hectare  de  vinhas 

60  kiiogr.  de  llor  d'en.xofVe   ....    21  I'r. 

6  dias  de  traballiode  uin  homem   12  fr. 

total 33   Ir. 

A  enxofragem  a  secco  foi  aconselhada  em 
Franija  por  uma  commissao  official  composta 
de  mrs.  Rendu,  Bonbardat,  Chatin,  Du- 
bieuil  e  Ducharlre. 


i)  Jiietitiit0) 


JOlllNAL    SClEI^iTlFlCO     E    LITTERAUIO. 


CONSEI.HO  SL'PEKIOH  DK  INSTRUCCAO 
I'lBI.ICA.  —  UEI.ATORIOS. 


INhTKLCl.AO  SllEilOJt. 


Coiifereiicia  de  28  d'ahril  tie  li;34. 

Senliorcs  :  —  Para  ciinipriineiilo  Jas  olirigri- 
5oes  impnstas  pel'  regulaiiicnto  de  10  de 
nnvembro  de  1845  tern  d'apiesenlar-si'  pi'la 
3.'  sec5ao  (a  d'inslnicgao  superior)  d'osle 
consellio  iim  relalorio  soljre  o  cstado,  e  necos- 
sidades  da  instrncf'no  superior  no  semestrc, 
que  decorreu  desdu  ouUibro  idlinio  alpgora, 
acornpaniiado  dos  iiiappas  correspondenles. 
Miiito  imperfeito  foi  jii  o  que  cm  outubro 
proximo  passado  se  apreseiUou,  porqiie  a 
maior  parte  dosdelep;ado=dnrnii5uliio  superior 
tiao  tinliam  reriieltido  05  que  deviam  pelo  arli;;o 
37.  ^.  4.°  do  sobredito  regulamento;  porem 
mais  imperfeito  lem  de  ser  esf.e  porque  deade 
outubro  alcgora  iieniiuiii  dos  deieirados  reinel- 
teu  relalorio  respectivo  a  esle  semeslre:  e 
tendo  o  consellio  superior  rcprescntado  ja  a 
S.  M.  em  cnnsullas  de  16  de  jnneiro  iillimo, 
e  4  do  corrente,  agnardain-se  ainda  a?  provj- 
dencias,  queS.  M.  iimiver  porbem,  para  fazer 
cessar  tacs  faltas,  que  tornani  inipossivel  ao 
consellio  superior  o  cumprimenio  dos  seus 
deveres.  Adianle  vai  a  rela^ao  dos  relatorios, 
que  ainda  faltam  pertenceiUes  ao  anno  findo 
cm  outubro  de  185?i.  ' 

Dos  relatorios,  que  fallaram  em  outubro, 
so  veio  posteriormente  em  21  de  dezemliro, 
o  da  universidade  pertencente  ao  anno  lectivo 
de  1852  a  18&3.  Nelle  se  reiereni  os  melliora- 
mentos,  que  no  decurso  de  todo  o  anno  tiveram 
logar  em  cada  uma  das  facwldades  e  estabe- 
lecimentos  annexos  para  aperi'ei(;oamcnlo  do 
ensino ;  e  se  pedem  providencias,  e  algiins 
meios  para  outros  mellioramenlos,  que  nem 
o  prelado,  nem  os  conselhos  das  faculdacies 
podem  adoptar  scm  serem  auxjliados  pelo 
governo  de  S.  M.  —  Alguns  dos  niellioramen- 
tos  nesse  tempo  ainda  pendentes  acliam-se 
ja  concluidos,  como  a  mudanga  dos  liospilaes 
para  dillerentes  edificios. —  Algtimas  das  pro- 
videncias ja  foram  pedidas  em  relatorios  ante- 
riores,  como  a  annexagfio  da  cadeira  de  lingua 
hebraica  para  <i  faculdade  de  theologia;  — 
Vol.  111.  JiNHO  1 


a  uniformidade  de  compendios  para  o  ensino 
nos  lyccus  ;  —  reforma  dos  estudos  na  facul- 
dade de  philosopliia,  Icndcnte  a  tornal-os  mais 
practicos,  para  na  universidade  sc  crearern 
nao  so  liomens  sabios,  rnas  cidadfios  uteis  ao ' 
eslado  pela  applicagao  das  scicncias,  e  evitar 
divorcio  entre  a  tlieoria  e  a  praclica ;  — 
meios  pecuniarios  para  grandes  concertos 
indispensaveis  na  real  capella  da  universida- 
de..—  Sobre  outras  ja  pelns  respectivos  con- 
selhos das  faculdades,  e  reparlijoos  compe- 
tentes,se  tern  representado  directaniente,  como 
a  conveniencia  de  se  transferir  de  Viseu  para 
Coimbra  o  Institute  agricola  ;  —  augrnrnlo 
d'amanuenses  para  a  secrctaria  ;  e  mrlliora- 
nientn  d'ordenados  a  alguns  empregados. — 
S<ibre  algnmas  j;'i  n  consellio  superior  teiii 
representado,  e  ate  feito  propostas  em  annos 
auteriores,  romo  —  a  cerca  d'ensino  particu- 
lar de  disciplinas  preparalorias  para  matricula 
na  unversidade,  feito  fora  das  aulas  publicas; 

—  exame  de  gtego  para  matricula  de  ].°nnno 
nas  faculdades,  em  que  seexige;  —  ensino  ce 
geometria  n'uma  cadeira  especial  no  lyceu 
d'esta  cidade,  e  ser  essa  disciplma  prepara- 
torio  obrigado  para  lodas  as  faculdades.  —  As 
outras  providencias  suo  de  lal  modo  pedidas, 
e  exposta  a  necessidade  e  conveuieiieia  dellas 
no  relatorio  da  universidade,  que  bastarii  of- 
ferecel-o,  e  eleval-o  a  soberana  ronsicieragfio 
de  S.  M.  com  os  especiaes,  em  que  foi  fun^ 
dado,  para  se  poder  esperar,  que  serao  al- 
lenJidas,  como  a  S.  M.  mellmr  parecer  cm 
sua  alta  sabedoria  :  e  com  ellas  ficara  mc- 
lliorado  o  en-ino  em  cada  unia^das  faenl- 
dades,  e.  no  lyceu,  que  forma  uma  secrao 
da  universidade,  como  os  respectivos  con- 
selhos desejam,  e  e  reclamado  pelo.  bem 
puldico. 

A  universidade  no  ;inno  lectivo  de  1852  a 
1853  foi  freqiientada  pnr  970  alumnos,  con- 
tados  individuahnente,  incluidos  os  do  lyreu  ; 
e  as  matriculas  na  universidade,  incluindo 
as  repetidas  nas  faculdades,  e  sciencias  na- 
turaes,  e  algumas  em  posilivas,  foram  951. 
D'estes  perderam  o  anno  96;  nao  fizeram 
acto,  para  que  ficaram  liabilitados,  104  ;  foram 
approvados  nemine  discrepante  687,  e  sim- 
pliciter  60;  e  foram  reprovados  15;  forain 
premiados  28,  e  tiveram  honras  d'accessit  41. 
Tudo  se  ve  circumstanciadamente  pelos  map- 
pas    da    secretaria,     que    acompaniiaraui    o 

—  18S4.  >"rM.  5. 


'tUlS^*-^ 


54 


relalorio.  O  l)'ccii  loi  frequentado  por  316 
alumnos;  e  fizeram-sc  1:247  exarnes  prepara 
lorins  paia  maLriciilas  na  iiniversidade,  iios 
quaes  t'oram  approvados  neniine  discrcpante 
7CG,  simpliciler  ^2b!i,  c  ri-provados  226. 

A  receila  de  propiiias  de  niatriculns,  e  cartas 
de  formatura  iiiiportou  em  I9;243j^l76  rcis, 
0  a  despesa  toda  da  iiniversidade  em  pcs- 
soal,  material,  c  expediente  importoii  em 
J3;670;^880  reisvindoa  ficar  solire  o  tliesouro 
^OInenle  a  despesa  de  '6i^A^Q7:70b.  Custou 
cada  aliimiio  incliiiiido  os  do  lyceii,  ao  thesou- 
ro  35,^492  A'.,  reis. 

No  relatorio  d'esta  scc9rio  d'inslrucgao  su- 
perior, apresentado  em  owlubro  ultimo  se  dis- 
se,  que  o  conseilio  superior  estava  cuidando 
dos  projcctos  de  regulaniento  para  desen- 
volvimciUo  e  execucgfio  das  leis  de  17  e  19 
d'agosto  ultimo;  mas  agora  declara-se  que 
Ja  ambos  forarn  devados  a  soberana  presenja 
do  S.  M.,  scndo  uiu  —  sabre  jubila^oes, 
aposenla^oes,  vencimentos  dos  professores  em 
casos  de  liceuga,  moiestia,  commissao  do  go- 
verno,  e  dos  substitutes  pela  regencia  de  ca- 
deiras,  —  e  oulro  a  cerca  dos  coiicursos  para 
provimento  de  substitutes  extraordiiuirios  na 
Iiniversidade  e  proraogoes  dos  logares  do 
inagisterio  superior.  Alem  d'estes  regulamen- 
tos  expediram-se  desde  17  de  oulubro  ultimo 
ate'  2-1  do  corrente  por  csta  sccgao  d'instruc- 
5ao  superior  mais  as  103  consultas,  portarias  e 
otTicios  constaiites  do  mappa  da  secretaria, 
que  vai  junto  ^  :  no  semcslre  d'abril  a  outubro 
de  1853  tinliam  side  26  as  consultas,  e  as 
ordens  para  concinsos  64. 

'Academia  real  das  sciencias 
Conservatorio  real 

Eschola  Medico  Cirurgica  do  Funchai 
Dita de  Liiboa 


'  Consultas : 

Sobre  propostas  para  cadeiras 

n     Iransferencias  de  professores  .... 
"     aposenta(,'nes     e   jubilafocs     com 

augmento  d'ordenado 

>i            V        e  continuajiio  no  magi- 
sterio 


n     vencimentos 

51  admissao  a  exarnes  de  Pliarmacia. 
)!     varies  objectos  e  informes 

Contra  a  rcpresentagio  da  Eschola 
Medico  Cirurgica  de  Lisboa  propnn- 
do  a  adop^ao  dos  e.tames  vagos  oraes. 

Propendo  varias  providencias  para  ob- 
star  as  cartas  falsas  no  exercicio  da 
inedicina 

Propendo  a  suspen^ao  por  3  mazes  do 
Lente  —  Lima  Leitao . 

Com  o  regulamenlo  para  habilitajao 
aos  logares  do  magisterio  na  univer- 
sidade   e  escholas  d'ensino  superior. 


Com  o  projecto  de  lei  para  o  restalie- 
lecimento  da  cadeira  de  clinica  cirur- 
gica na  taciildade  de  medicina(/{<;so/- 
vida  contra) 

Com  o  projecto  de  lei   para  augmento 

do  pessoal  na  faculdade  de  medicina 

"    —  »  — para  compra  de  maquinas, 

inodelos    etc,    para  a   faculdade    de 

pliilosopliia 

Propendo  a  separagao  dos  empiegos 
de  Cirurgiao  ajudanle  e  Fiscal  dos 
liospitacs  da  iiniversidade 

Portarias  e  officios  para  coiicursos,  in- 
formnyues  e  intima'goes 


1 


6b 
T03 


COMMEMORACAO. 


Uma  tri^te  nova,  atiavessando,  lia  pouco, 
as  vagas  do  oceano,  veio  envolver-nos  o  cora- 
^iio  no  crepe  da  augustia. 

Esconden-se  mais  uma  existencia  querida 
no  p6  do  tumulo  ! 

O  astro,  que  scintilava  com  uma  ku  tao  , 
vivaz,  tocou  o  occaso. 

Foi  mais  uma  alma,  que  rasgando  o  seu 
fragil  involucro  voou  para  o  Creador.  A 
patria  conta  hoje  de  menos  um  fillio,  o  Ins- 
titiilo,  um  socio. 

O  sr.  Antonio  Alves  da  Silva  soltou  o 
derradeiro  suspiro  no  fatal  dia  19  de  Janeiro 
do  corrente  anno,  sorrindo  para  a  esposa  que 
o  estremecia,  e  para  a  mae  que  o  idolatrava. 
Havia  completado  31  aiinos.  A  sua  morte 
foi  pungentemente  sentida  por  lodos.  A  im- 
prensa,  tanlo  do  contincnte  como  d'liltra- 
inar,  esqueceu  os  odios  politicos  para  tribu- 
tar  unisona  a  mernoria  do  distincto  finado  a 
homenagem  devida  li  virtude  e  a  intelli- 
gencia. 

Is'os  faltariamos  a  um  dever  sagrado,  se 
por  Ventura  n.'io  viessemos  tambem  derramar 
uma  lagrima  de  sincera  saudade. 

Que  de  rccordai^oes  nfio  aviva  aqui  o  nome 
do  sr.  Alves  da  Silya,  aqui,  em  Coimbra, 
oiide  die  passou  a  quadra  dourada  da  sua 
curta  pcregrinagfio,  oiidea  universidaile  Ui'ex- 
oruou  a  fronte  com  os  laurels  immarcessiveis 
da  sciencia,  onde  a  anliga  Revista  academica 
recebeu  as  primicias  litterarjas  do  seu,  entao, 
esperan^oso  lalento,  onde  o  Institute,  desejoso 
d'esplendor,  vendo-o  ceroado  pela  aureola  da 
gloria,  o  cliamou  para  o  seu  gretnio,  e  o 
considerou  sempre,  como  um  dos  Ijibos  mais 
predilectos  I  ? 

Jii  que  nao  podemos  ir  ajoelliar  sobie  a 
camjja,  que  occulta  as  suas  cinzas,  mur- 
muramos  uma  prece  fervorosa  pelo  eterno 
repouso  da  sua  Candida  alma. 

T0BBE8  B  ALMEIDA. 


-*  v>^>:^'<w<.; ->,— 


r*^ 


55 


A  CONCORRENCIA. 

O  elemento  economico,  urn  dos  ftindamen- 
taes  da  ordem  social,  tern  lido  scrnpro  uina 
grande  missfio  a  cumprir  —  a  fusfio  das  indi- 
vidiialidades,  e  das  na^oes :  aquella  inani- 
fesla-se  mais  particularrnente  na  iiidiislria  e 
no  commercio  inlerno;  esta,  no  conimercio 
exlerno.  Desde  que  a  indiistria  sn  relegoii 
para  uma  classe  despresada  e  oppriniida,  ate 
que  foi  emancipada  pelas  conqiiistas  da  egiial- 
dade,  que  vasto  e  vaiiado  quadro  se  nos 
nao  apresenta  ?  O  escravo  no  eigastulo,  o 
servo  adstriclo  a  terra ,  o  operario  vergado 
debaixo  da  prepotencia  do  privilegio,  sfio 
phases  de  opressao  que,  tristes  sim,  mas  pro- 
gressivas  em  seus  effeitos ,  forarn  preparando 
para  o  future  a  absoluta  emancipajfio  social, 
o  nivelarnento  peranle  a  lei. 

Hoje  que  o  credilo  e  a  industria  sao  uma 
potencia  donde  se  pode  esperar  que  nasija 
um  dos  maiores  elemeutos  de  inelhoramenio , 
a  delertnina^ao  da  sua  marelia  e  uma  quesliin 
vital  para  a  snciedade.  j  Que  alrazo  nao  pode 
resultar  d'uma  errada  dirccgao?  Ifespaulia  e 
Portugal  alii  estao  a  dar-nos  djsto  irrecusavel 
e  triste   testimunlio. 

Eslabelecida  e  garanlida  a  propriedade  in- 
dividual, reconhecida,  jjor  isso,  a  legitimida- 
de  do  capital,  mil  questoes  ,  tndas  iuiportan- 
les,  se  aprcbontam  no  campo  da  economia 
applicada  ;  mas  entre  ellas  levanla-se  uma, 
que  as  dornina  todas,  e  a  da  concorrcncia, 
laulo  interna  como  externa-]  queslao  que  so 
pode  ser  apreciada  em  face  dos  principios 
que  expendemos  de  direito  social  ,  ns  quaes 
doterminam  a  acjao  do  Rstado,  influiiido  e 
deleruiinando  loda  a  vida  da  economia  social. 

A  queslao  da  concorrenoia  pode  ser  enca- 
rada  debaixo  de  Ires  aspectos  :  em  relaoao  a 
sua  nalureza,  indagacao  loda  subjectiva  ,  ou 
transoendente  ;  ao  estado  actual  da  socieda- 
de ;  e  a  sua  sorte  fiilura. 

j  A  questao  da  concorrencia  sera  a  queslao 
da  hberdade,  a  mellior  con']uisla  da  epocha 
actual,  a  ullima  palavra  do  prngresso,  o  statu 
qxin  para  todas  as  gera^oes  fiituras  ?  Ou  pelo 
conlrario,  filha  do  individualismo,  e  niae  da 
pobreza,  sera  a  concorrencia  nm  syslema  de 
exterminio,  uma  tyrannia  infaligavel  para  o 
povo,  e  para  o  rico  um  ameago  permauenle  ? 
Sera  a  morle  da  familia,  pela  miseria  que 
vai  derramar  em  seu  seio  ?  Iia  buscar  ofillio 
do  pobre  ao  bergo  para  bem  deoressa  Hie 
soffocar  a  intelligencia  ,  e  depravar  o  cora^ao  , 
ao  passo  que  Hie  roe  ocorpo?  Sera  finalmente 
a  concorrencia  uma  causa  niinosa  para  a 
burguezia,  logo  na  sua  infancia;  a  senten^a 
exterminadora  do  principio  da  egualdade? 

Em  nosso  entender,  encarar  assim  a  que- 
stao  e  collocal-a  n'um  falso  campo,  donde 
resultarao  sempre  consequencias  exageradas , 
se  nao  lalsas  para  ambos  os  partjdos.  A  con- 
correncia nao  e  nem  a  melhor  conquisla  da 
intelligencia,   absolutamente  fallando  :   nem, 


t'lo  pouco,  o  penr  elemento  das  sociodades 
modernas,  que  haja  de  as  conduzir  ao  precl- 
picio  —  in  medio  consistit  virtus. 

As  epoclias  provocani  os  elemenlos  sociaes  , 
e  estes  trazem  a  mudan^a  das  epoclias.  Re- 
provarabsolulamenle  quaesquer  daquelles  ele- 
meutos cm  si ,  sem  indagar  as  causas  que  os 
provocaram  ,  as  circumslancias,  em  que  pre- 
dominaram,  as  consequencias  a  que  condu- 
ziram,  e  sem  apreciar,  em  sum  ma,  todo  o 
nieio  social  ,  em  cujo  centro  se  dcsenvolve- 
ram,  e  querer  recusar  a  obra  da  humauida- 
de,  langar  sobre  ella  o  stygma  d'uma  ropro- 
va^ao  absoluta,  e,  aproveilando-nos  dos  seus 
traballios  ,  nao  querer  bemdizer  a  niao  bene- 
fica  que  os  prodigalisou  ;  e  legar  um  Iriste 
exemplo  as  gera^oes  I'uturas,  que  egualmente 
nos  poderao  pedir  contas  dos  nossos  traballios, 
e  despresando-os,  lanijar  sobre  sobre  nos  o 
analliema  que  fulminamos  contra  as  gerajoes 
passadas. 

ln^lilui5^lo  alguma  social,  embora  defei- 
liiosa  em  si  mesma,  deixou  de  convergir  para 
o  futuro  desenvolvimento  da  liumauidade. 
Esta  nao  progride  senfio  pela  lei  da  serie,  e 
pnr  isso  qualquer  elemento  social  exige  que 
o  analysemos  em  liarmonia  com  o  meio  em 
que  se  desenvolveu  ,  e  que  o  provocou.  E  o 
que  succedecom  a  concorrencia:  germend'uni 
grande  desenvolvimento  social ,  apresenta-se 
nns  como  um  elemenlo  de  transijfio  que  aca- 
bara,  logo  que  tenlia  realisado  o  fim  a  que 
se  dirige. 

■^  Porque  ordem  de  successoes  desde  os  pri- 
nieiros  tempos  liistoricos,  nao  tern  passado  o 
elemenlo  que  linje  cliamamos  burguezia'!' 
Sujeilo  ao  duro  dominio  do  senlior  na  anli- 
guidade,  realisava,  como  escravo  ,  os  mesmos 
misteres  cpie  hoje  cumpre  como  livre  ;  ffuarn 
por  uma  parte  necessaries  seciilo^,  e  todos  os 
Irafialhos  tlieoricos  d'uma  religifio  de  egual- 
dade e  amor,  todas  as  lucubragoes  da  pliilo. 
sopliia  ;  e  por  oulra  parte  ,  toda  a  importancia 
resullanle  do  seu  aiigruento  parallelo  com  o 
enfraquecimento  dos  sens  doruinadore* ,  para 
que  elle  alcangasse  saeudir  o  p6  da  abjccjao, 
e  respirar  n'uma  almospliera  mais  livre.  Mas 
esles  passes  ainda  o  nao  emanciparam  de  lo- 
de :  se  o escravo  da  antiguidade  nao  permaue- 
ceu  lao  ligado  ao  sonhor,  foi  para  ficar  prozo 
a  terra  pela  servidao  da  gleba.  Elemenlo 
vicioso,  como  as  prelerilas  formas  sociaes,  n 
feudalismo  nSo  podia  aspirar  a  perpetuidadc 
sem  dar  um  desmentido  anaUireza  liumana  ; 
linlia  de  caliir  aos  golpes  da  philosophia  dos 
seculosXVII  eXVIlI  :  foi  o  que  suc-cedeu  ; 
e  a  burguezia  sentiu  aproximar-sc  a  liora  da 
sua  emancipa(jao,  com  e  cahir  do  privilegio. 
Pore'm  e  desmoronar  do  principio  feudal,  e 
do  privilegio  levou,  coino  ja  niostramos,  an 
principio  da  grande  centralisa^an,  que,  como 
meio  forte  para  fazer  face  as  tendencias  reac- 
cionarias  do  individualismo  poderoso  queaca- 
bava  de  ser  derrecado,  foi  antes  uma  ncces- 
sidade  do  que  um  abiiso.  Com  quanto  porem 


jO 


dcilii  vicisem  bens  relatives,  porque  em  gran- 
de  parte  t'oram  ossas  as  toriiias  provdcaclas 
pi'las  lu'CPssiiladus  das  epoclias,  isso  iifio  im- 
pediu  tpio  sirndliaiUes  foruias  iiivolvessein  em 
.-i  vicios  radicaes,  q\ie  apressarain  cada  vez 
iDais  a  sua  riiliia.  A  liiimaiiidade  iiao  para. 

Apeiias  euiaiiripada  do  domiiiio  do  privi- 
le^'io  excliisivisia  ,  a  biirf;iiezia  ii'io  nos  pare- 
ee  haver-se  acliado  desde  logo  preparada  para 
I)  systeiiia  nidiislrial  a  que  a  iiossa  epoclia  se 
encaiiiiiilia,  o  qual  symbolisa  o  fiiliirodasocie- 
dade,  o  triuiiipho  seifuro  da  iiidividualidade. 
l)e  fiijlo,  iiiio  teiido  cessado  rapidameiile  os 
elomeiuos  quo,  decaliindo,  davaiii  loijar  aos 
iiovos ,  porqcie  lal  ea  iiaturoza  dascoiisas, 
t'jia  iiiflueacia  secimdaria  que  os  velbos  ele- 
nientos  de  t'or^'a  ficam  exerceiido  em  os  no- 
vos  ,  coiiatitue  a  parte  que  priiueiro  scvai, 
em  cerlo  modo,  gastando,  e  cedeiido  li  ac<;ao 
do  novo  principio,  e  assim  progressivamenle : 
e  per  isso  que;  a  queda  do  privde^io  nao 
arrastou  comsigo  todos  os  tnonopolios,  que  no 
systema  actual  constituem  a  sua  auonialia. 

Aproximando  estas  con=idera^oes  geraes  da 
organisa^ao  inoderna  da  socicdade,  e  espe- 
(.•lalmeute  d'uin  dns  seus  elementos  vjlaes,  a 
concorrcHcia,  vemos  nesta,  nao  obstante  os 
alaques  que  so  Hie  teni  tVilo,  o  elomento  que 
ha  de  provocar  no  futuro  o  systeuia  da  graa- 
de  associaijao  livre. 

'J'odos  OS  elementos  que  conlradizem  a 
constltuiy.'o  moral  do  homera,  sao,  por  isso 
io,  anom.'ilos  na  ordeui  social,  e  quando  lega- 
lisados,  tpem  sido  elles  que,  pela  major  parte, 
derail!  origem  aos  successlvos  cataclysmos 
por  que  a  ordom  social  lem  passado  na  suc- 
cessao  dos  tempos.  A  liberdade  e'  um  desses 
elementos  tonslitutivos  do  homem,  que  e  mis- 
ter respeitar  sempre;  d'outra  sorte  desceria 
a  personalidade  da  altura  em  que  deve  deseu- 
volver-se:  assim  e  one  a  liberdade  de  impreii- 
sa,  a  liberdade  de  suI'lVagio,  e  de  reprosenta- 
^'ao,  a  liberdade  de  cojisciencia,  a  liberdade 
de  escollia  em  todos  os  fms  liumanos,  quando 
nao  Iranscendem  os  lindtes  do  direilo,  sao 
conqui^tas  theoricas,  que  a  liumanidade  nun- 
ca  mais  abandonara,  mas  antes  procurara 
alcangar-llies  garaiitias  reaes.  liste  principio, 
em  nosso  entender,  niio  pode  solfrer  excep^'fio 
abioluta  e  radical  em  qualquor  dos  meios, 
que  o  homem  empregue  para  realisar  o  sen 
destino  sobre  a  terra;  elle  e  que  deve  servir 
de  guia  no  exterminio  das  anomalias,  que 
impedindo  a  sua  acjfio  desafrontada,  causam 
perturbagoes,  que  nao  contemplaremos  agora. 

Se  as  conquistas  progressivas  da  liberdade 
se  devem  os  passes  que  a  liumanidade  tern 
dado  desde  o  sea  comejo,  cada  um  dos  quaes 
e  um  tesljmunlio  indelevel  do  predorninio  da- 
quelle  |)rincipio  sol>re  um  ou  outro  ramo  da 
activid>ide  bumana  na  sua  realisajfio  exterior  ; 
pretender  agora  destruir  esse  elemenlo  natu- 
ral do  homera,  e  do  progresso,  desde  as  pri- 
meiras  idades,  e  pretender  iiuo  so  buscar  um 
meio  de  aperfeigoainciito  liumano  n'uma  mu- 


tilajao,  mas  ate  despresar  os  Osiorjos  foitos 
pela  liumanidade,  de-de  o  sou  berjo,  para 
obter  a  sua  eniancipae^ao;  d  utn  delirio  simi- 
lliaiite  ao  da  preteudida  I'olicidade  d'um  esla- 
do  de  natureza  i'cira  da  sociabilidade.  Ao 
nossO  parecer,  pois,  todus  os  eusaios  repressi- 
vos  da  justa  liberdade  para  nielliorarom  a 
soeiedade,  levariain  ao  resultado  oppoato.  O 
reinado  da  cecraviiJao  ja  vai  tao  longe  que 
nao  iia  retrogiadar  para  o  seu  principio  fun- 
damental; no  I'uturo,  nao  ja  uo  passado,  e 
que  esta  o  destino  da  soeiedade;  o  passado 
eiitra  na  graiide  evolu^ao  social  coma  meid 
organioo,  e  iiuuca  eomo  tim. 

Em  nosbo  tempo  uns  exaltam  a  liumanida- 
de ate  o  extremo,  esqiiecendo-se  das  suas  im- 
perfeiyoes,  desconliecondo  ate  a  pujsibilidade 
de  novos  progressos;  outroa,  laii(,undo  mac 
dessas  iiiiperf'r'ier,e>,  deprimem  a  liumanidade. 
ati'  o  aviliauieiito.  O  ipie  notamos  na  aclua- 
lidade  acliainol-o  cgualiiieiile  realisado  nas 
apreeia^oes  do  passado:  Jlerder  e  Dunoyer 
attacaiu  l{nma  de  IVeiite,  e  ella  parece  suc- 
cumbir  ao5  srusgolpes;  Montesquieu  c  Lau- 
rent engrandocem  as  suas  vittudes,  e  ella  se 
nos  niostra  oomo  unia  republica  de  heroes, 
j  Haverii  tal  coiitradij.io  no  campo  da  reali- 
dade  ?  Por  certo  que  nao  :  e  porque  uns  apro- 
veitam  os  claros,  outros,  as  sotubras  do  qua- 
dro. 

Similliantemento,  na  ordetn  industrial  nao 
tem  I'allado  escriplores,  desde  remotos  tem- 
pos, que  teidiani  atacado  a  iiiduairia  conio 
iiieoiiciliavel  com  oespirito  de  liberdade.  Nas 
primeiras  epochas  da  soeiedade,  a  indiistria 
era  alacada  por  servir  de  obstaculo  us  pai- 
xoes  guerreiras  sobre  que  se  bascava  a  soeiedade 
de  entao.  Alais  tarde  notaram-se-llie  os  def'ei- 
tos  opposlos,  e  a  industria  t'oi  considerada 
couio  um  incenlivo  para  a  guerra :  o  raal 
d'um  estado  commerciante  e  o  ser  condemna- 
do  a  fazer  a  guerra,  diz  Bonald  ;  o  que  cousti- 
tue  o  |)roveilo  d'um,  causa  o  dainno  do  ou- 
tro, argue  Montaigne;  se  uma  fortuna  se 
augmeiila,  e  mister  quo  as  outras  se  dimi- 
nuam,  condue  (.ialiani  ;  Kousseau  nao  acre- 
dila  que  na  soeiedade  possa  haver  inleresse 
eommuni.  Por  outros  a  industria  e  accusada 
de  ser  um  principio  de  duprava(,ao ,  materia- 
lisaudo  o  homem;  de  malar  a  )magina(,'ao  e 
o  gosto  ;  de  substituir  o  ideal  por  uma  reali- 
dado  grosseira,  depravando  as  artes  da  mesma 
maneira  que  corrompe  os  costumes.  Outros, 
pelo  contiario,  veem  na  industria  o  mais  po- 
deroso  elemenlo  civilisaclor ;  ocentroem  roda 
do  qua!  se  tem  desonvolvido  a  hiimaiiidade, 
0  ate,  sem  se  elevareni  ao  ideal  da  industria, 
veem  nolla  a  imagein  da  realidado,  a  que 
julgam  unicameute  dever  attender-se.  Mas 
nos  ainda  diremos  que  do  anibas  as  maneiras 
nao  se  I'az  uma  exaeta  idea  do  eleincnto  in- 
dustrial. Os  primeiros  alliibiiem  I'l  industria 
o  que  nfio  podo  ser  coiisidorado  como  sua 
cousequencia  necessaria  ,  mas  sim  o  resiillado 
de  mil  circumstancias  viciosas,  ipje  mancliam 


57 


a  sociedaJe:  os  ses^iindos  dao  nnia  errada 
idea  de  industria,  n.'io  se  elevatido  aos  priiici- 
pios  siiperiores  que  a  doniinadi,  e  nfio  apre- 
ciando  as  conseqiiencias  civilisadoras  a  cpie 
conddz  otrabalho  intellipente. 

Conlirtiia.  i.  B.  da  s.  f.  de  c.  MARTENS. 


A  POESIA  SLAVA  iNO  SECULO  DECIMO-NONO 

SEli    CARACTEB    E    SUA    OllIGEM. 

O  facto  mais  notavel  da  historia  das  litlcra- 
turas  slavas  no  seculo  XIX,  e  o  de  voIuuxmii 
outra  vez  a  poesia  de  ra^a  e  us  origeas  po- 
pu lares.  O  respeito  pelas  tradi^oes  aacic- 
naes,  e  que  distingue  essenciahneiitu  o  inovi- 
meiUo  actual  destas  litteraturas  dos  periodos 
d'iinitafao  e  de  teiilativas  iricolieieiUes  que  o 
precedeiain.  Dcade  o  seculo  XV  ate  ao  seculo 
XVllI  pode  com  et'felto  alfiimar-se,  que  a 
poesia  Slava,  nos  seus  rrionuuientos  escriptos, 
nfio  passou  de  unia  reproduc^ao,  mais  ou 
menos  fiel,  das  litteraturas  da  Europa  ger- 
manica  ou  latina.  Pelo  cniitrario  no  secido 
XIX,  uina  vida  nova  se  infiltrou  nesta  poesia 
e  o  gouslo  ',  restituido  ao  aprejo  antigo  por 
grandes  poetat,  foi  substituido,  coino  f'onte 
d'inspirayfio,  as  influenciasestraiigeiras.  De=de 
entao.  com  o  elemento  uacioiial,  a  origiuali- 
dade  e  a  vida  se  mostraui  tauto  na  litteratura 
escripta  dos  Slavos  como  na  sua  poesia  po- 
pular. 

Eate  novo  despertar,  que  ainda  se  esta  coin- 
pletando  debaixo  dos  no^sos  olhos,  todo  eate 
moviniento  contemporaneo  de  renascencn,  e 
para  onde  desejamos  parlicularniente  dirigir 
OS  nossos  estudos. 

Como  e  que  se  operou  este  moviniento; 
como  e  que  alcanrou  triumpliar  esta  intliitu- 
cia  do  goudo'^  que  rela^oes  se  podiam  esla- 
Lflecer  entre  os  novos  poetas  e  os  cantores 
pcpulare=  ?  E  esta  a  primeira  questfio  que 
cumpre  e.Naminar,  e  que  nosobriga  a  aio^trar  o 
latjOque  liga  a  poczia  doa  rapsodas  ou  gouslars, 
que  e  lioje  a  base  da  poesia  coutemporanea 
dos  Slavos,  a  vida  desles  povos,  e  as  suas 
crenjas  mais  vivas.  Se  conseguinnos  csclare- 
cer  este  ponto,  o  estudo  do  movimento  poe- 
tico  actual  dos  Slavos  deixara  de  ot'ferecer- 
nos  obscuridade.  Coinpreliender-se-ha  entao 
como  a  poesia  dos  sabios  soube  aperfeigoar 
OS  elementos  foriiecidos  pela  poesia  cantada, 
e  sera  facil  recouliecer  asobras  que  resullaram 
desta  alianga  da  inspirajfio  natural  com  o 
geuio  disciplinado  pelo  estudn,  enriqueoido 
pela  sciencia  e  pelas  experiencias  modernas. 

I. 

O  segredo  deste  imperio  que  o  gouslo  esta 
lioje  exercendc,  acha-se   no  proprio  caracler 

*  Llt\a\xo  deste  nonie  coraprehende.se  a  poesia  nTio 
esc-'iptii,  cle  que  os  rapsodas  tla\u>.  tocadores  du  gouslo 
ou  goiis'a,  sau  os  depo.*Uarios. 


de  ra^a,  cujns  inetinctos  elle  re(lect<'  pro- 
fiindamente.  E  por  issoquco  genero  do  maravi- 
llioso  ou  do  ideal  que  llie  e  proprio  se  resume 
n'uui  culto  geral  da  naluicza  viva,  e  este 
culto  e'  a  feicj-ao  dislincliva  das  popula^oes 
slavas.  Podem  parecer  extravagantca  as 
superstigoes  que  perpotua,  mas  li  cerlo  que 
conservam  a  nacionalidade  ;  pelo  eiicauto  das 
alias  recordacoes,  ellas  relevani  aos  cllios  dos 
opprimidos  as  tristes  vulgaridades  da  sua  vida 
actual.  Lavradores,  mais  que  ludo,  os  Slavos 
acliam-se  por  mil  modos  ligados  com  os 
plienornenoa  do  muiido  pliysico,  sobre  os  quaes 
o  sen  genero  de  vida  os  obriga  a  ler  os  ollios 
constantemente  abertos.  A  sua  poesia  aclia-se 
assiin  compenetrada  com  o  caracter  das  esla- 
5oes,  com  a  cor  dos  lag-os,  das  nuvens,  das 
florestas,  e  do  proprio  solo  em  que  se  radicou. 
Os  Slavos  como  que  tern  conservado  uma  re- 
corcla5rio  vaga  daa  antigas  cren^as  da  metem- 
psvcoae,  e  nas  suas  legendas  dao  sempre 
aiiimagfio  a  toda  a  natureza. 

O  papel  que  diatribiiem  as  feiticeiras  ou 
vilas  corresponde  a  esta  lendcncia  do  genio 
slavo.  N.ao  lia  fonle,  nem  collina,  que  nfio 
teiilia  por  guarda  uma  feiticeira  ou  vHa. 
Eatas  nymplias  erase  represenlam  propicias, 
ora  inimigas;  cavalgam  atravcz  das  florestas 
em  animaes  incantados  .  a  noite  dansam  todas 
em  roda  a  borda  dos  ribeiros;  tomam-se  as 
vezes  de  amores  pelos  mancebos,  mas  niinca 
se  deixam  apanhar.  Como  as  vilas,  tambem 
as  aves  sfto  objeclo  d'lima  especie  de  culto. 
Contam  as  mullieres  servias  como  uma  me- 
niiia,  que  perdera  sen  irmfio,  iiuncase  piidera 
oouaolar;  e  a  for^a  de  gemer  e  cliorar,  acabou 
por  ser  transformada  na  ave  lastimosa  a  que 
lioje  se  da  o  iiome  de  cuco.  Eata  ave  e  o 
syiiibolo  dos  funeraes,  e  muitas  vezes  se  en- 
contra  represeiilada  na  cniz  dos  cemiterios. 
Na  Piussia,  na'  Polonia,  por  toda  a  parte, 
o  grito  do  cuco  faz  nascer  presentimentos 
bigubres  e  aniiunoia  as  desgra^as  das  familias. 
Em  quanto  ao  rouxinol,  syniboliza  para  lodos 
OS  Slavos  a  tristeza;  e  quando  de  noite  se  ouve 
a  sua  voz,  e  p-ira  os  amantes  urn  presagio 
d'iufidelidade.  E  por  isso  que  se  le  n'uma 
krucovkika  '  ;  n  Fallou  verdade  a  avezinha 
melodioaa  que,  esta  noite,  no  bosque,  me 
annunciou  trail i(;'io !  — Nfio,  nao  sera  a  mi- 
nlia  noiva,  aquella  que  lan^ou  a  oulros  um 
olliar  de  meiguice.  As  aves  apparecem  muilas 
vezoa  feilas  mcnsageiras  de  Deus.  Os  Bui- 
garos  conhecem  nos  seus  Balkans  uma  especie 
d'aguia,  que  dizem  parte  para  o  Jordao, 
qiiandosellieapproxima  a  velliice.  Banliando- 
se  no  rio  sagrado,  recupera  uma  plumagem 
branca,  e  vojia  para  as  suas  monlaulias  pura 
e  remogada.  D'alii  a  origem  da  aguia  branca. 

Em  todas  as  can^oes  guerreiras  dos  Slavos, 
o  cavallo  faz  sempre  para  com  sen  amo  o 
papel  de  conseilieiro,  de  sen  companlieiro  in- 
telligente.    E  assim   que  Marko,  o  fillio  dos 

^      Canliga  para  dan<;a. 


58 


reii  on  krals,  consuUa  a  5iui  cavali;adnr.T,  o 
I'amosn  Charats,  iias  circumstanciaj  dilUccis. 
E  c  C/iarals  que  clioroso  aniiuncia  a  Maiko 
que  lucve  vae  morrer.  Quein  iifio  coiiliece  as 
apostrophes  conlinuadas  do  giierieiro  polaco 
ao  seu  cavallo?  Qiieiii  igiiora  que  os  Cosacos 
do  Don  amain  os  seus  cavallos  quasi  coino  o 
Arabe  ama  o  seu.  A  niesma  iiispirayfio  que 
por  esla  foruia  idealisa  os  animacs,  iiiulliplica 
as  person ificajoes  da  naluieza  iiiaiiiinada.  As 
ujonlaiilias,  os  rios,  tomam  parte  tauto  nas 
alegrias  torno  nas  penas  do  liomem  ;  auxiliani 
OS  heroes  com  os  seus  consellios  e  combateni 
a  par  delles  como  os  deiises  d'Homero  coni- 
baliajn  a  par  dos  Gregos.  Assiui,  no  canto 
bolieniio  de  Zabin,  os  rios  que  o  exercito  vi- 
ctorioso  vae  enconUando  successivamenle  na 
sua  passagem,  sepullarn  nas  suas  ondas  os 
Aleinfies,  e  lanjam  os  Tcbeki)S  saos  e  salvos 
sobre  a  outra  margcm. 

O  Danubio  interrogado  rcpelidas  vezes 
pelos  Servios,  responde  quasi  sempre  inoroso 
e  aspero,  em  barn)onia  com  a  lurbulencia 
das  suas  aguas.  n  O'Danubio,  rio  proCinido, 
por  que  assim  corres  tain  fogoso  ?  l''oi  o  veado 
com  as  suas  pontas  ou  o  voievoda  Mirtclieta 
com  a  sua  langa,  queni  te  ha  turvado  a 
limpidez  da  tua  corvente  ?  NTio  e  o  veado 
com  as  suas  ponta«,  nem  o  voievoda  Miit- 
ohela  com  a  sua  lan^a,  quem  lurva  o  cristal 
das  minlias  aguas;  sao  essas  raparigas  mal- 
ditas,  que,  todas  as  manhas,  veni  ;is  niinhas 
margens  arrancar  flores,  e  lavar  as  suas 
brancas  faces,  ti  Represenlam-nos  o  Danubio 
como  muilo  amigo  das  dangas ;  tem-no  em 
conla  do  piimeiro  niestre  de  niiisica  dus  Inca- 
dores  do  gousle  j  e  e  elle  quedirige  os  choros 
Iriuinpbantcs  dos  guerreiios.  Esta  considera- 
jao  dada  aoseu  rio  pelos  Illyro-Servios  eslen- 
deu-se  ate  ii  Russia.  Um  arclieologo  de  Mos- 
cou,  jNIalsrul',  no  seu  livro  das  tradigucs  rus- 
sas,  cila  uma  cangfio  de  mvujik,  que  diz  : 
^.  Danubio,  Danubio  nosso,  os  mogos  te  con- 
vidani  a  que  venhas  presidir-ilie  as  dangas,  e 
assentar-te  nns  nossos  Cestins.  O  Danubio,  o 
joven  Danubio  veio  assistir  as  nossas  festas 
religiosas,  assentou-se  com  nosco  nos  ban- 
quetes,  e  tocou-nos  lindas  cantigas  para  a 
danja  n  Cumpre  porem  nolar  que  para  os  Rus- 
sos  e'  nas  margens  do  Danubio  que  de  ordinario 
se  pafsain  as  scenas  mais  lugubrcs  das  suas 
legendas,  o  assasinato  dos  seus  heroes,  a  der- 
rota  dos  exercitos,  ou  a  desesperagfio  das 
raparigas  abandonadas  pelos  seus  arnantes. 
Para  os  Russos,  o  Dan\ibio  e  um  rio  inimigo; 
ao  contrario  do  Volga  que  e  uma  ribeira  toda 
amiga  e  benefica.  Chamani-llio  em  todas  as 
cangoes  a  mde  volga,  do  niesino  modo  que 
OS  Alernaes  chamain  pae  ao  Rlicno.  O 
Don  e  tambein  para  os  Russos  o  objecto  de 
um  culto  snperslicioso.  Um  poderoso  genio 
preside  li  sua  origem,  nas  profundezas  do  lago 
de  S.  Joao,  perto  de  Poula,  na  Jloscovia. 
O  Don,  como  um  fdlio  docil,  obcdece  ao 
inqjulso  palerno;  corre  tranquillamenle  pelos 


steppes,  e  entra  no  mar  com  o  norac  de  rio 
manso  (  Tskhy-Don.) 

FiMaimcnte  na  poezia  do  gouslo,  as  estrel- 
las,  OS  ventos,  as  doengas  eo  raio  fidlain,  teai 
paixocs  como  o  liomem,  eentram  como  actores 
na  sua  vida  quotidiana.  Uma  cangao  servia 
da  Bosnia  mostra-nos  uma  menina,  que, 
erguendo-se,  sauda  a  eslrella  d'alva  e  a  in- 
terroga  sobre  o  seu  noivo. 

II  Salve  !  estrella  Danitsa,  minha  irman  ! 
Tu  que  passas  d'oriente  aooccidente  por  cima 
do  Ilerlsegovine,  ves  lu  la  o  men  voievoda 
Stevfio  ?  As  porlas  do  sea  bronco  Iconak. 
(palacio)  estilo  abertas?  Manda  clle  sellar  o 
seu  arabe  fogoso  ?  Estii  a  armar-se  para  vir 
ter  com  a  sua  noiva?  —  A  estrella  Danilsa 
Ihe  responde  com  suavidade:  —  Minha  linda 
irmaiizinha,  eu  vou  de  oriente  a  occidente, 
passo  lodas  as  manhas  por  cima  de  Her- 
tsegovine,  e  agora  estou  vendo  o  hello  voievoda 
Stevfio  defronle  do  seu  konak.  As  portas 
brancas  do  seu  palacio  eslao  abertas;  o 
seu  cavallo  de  telizes  doirados  o  espera  todo 
enfreado;  o  heroc  arma-se  para  ir  ter  com  a 
sua  noiva  escoUiida.  Mas  essa 'noiva,  nao  es 

tu.  )) 

Contim'ia. 


VM  BANHO  NO  TKJO. 


e  logo  jiresa 

A  vontfide  senti  de  ttil  iitnncirn 
Que  inda  nao  ainio  coitsn  fpie  mats  f/ueira. 
Camues, 

Tt'jo  ,  Tl'jo  ,  oncle  levas  tnas  onHas , 
Que   as   quero  seiriiir,    qiiero   puiiil-as 
IJt;  inisart'in  .  loiicas  ,  imprimir  mil  l)eiJ09, 
Nas  puras  lares  ,  nas  donraiias  tran(;aa  , 
No  niveo  cullo,  nos  airosos  brai;o3  , 
No  peito  virf;:iiial  <lo  Iiem  que  adnro. 
Mais  oiisarani  as  Iciiras  ;    mas  nao  posso  , 
Nilo  me  qiiero  lenihrar  do  mais  qne  ousaram. 
Malilitas  onrlas  ,   caslijrar-voa  quero, 
Quero  luclar  comvosi'o,  ou\ir  o  pranto. 
Que,  domadas  por  mim,  em  \ao  sultanles, 
E  se  tal  nao  purler  ,  ondas  ,  matae-me  ! 
Matae-me  ,  por  piedade,  qne  nan  quero, 
Nao  posso  raais  Tiver.   Ouvi   mens  rogos ! 
No  peito  me  opaiiae  o  fo^o  vivo 
Que  mil  raorles   me  da  ,  sem  niinca  a  vida 
De  todo  me  lirar.  Oudas  ,  matae-rae  ! 
Arrojae-me  depois  a  praia  i;;nola , 
Qne  dos  homens,  jamais,  solTresse  o  trilho  ; 
Alii  deixae-me,  qnal  gelada  roctia, 
Expoato  ao  temporal  ,  endiora  leuha 
O  ceo  por  campa  ,  por  nuTtaUia  o  lOdo, 
Por  preces  ,  o  carpir  do  mar  profundo. 
E  tu  ,  mar  que  me  escutas ,  se  al;::um  dia 
Tn  gosares  tambem  Ventura  tanta  , 
Nao  permillas  ,  o  mar  ,  por  este  pranto 
Mais   amariro  ipie  o  sal  das  ajruas  tuas, 
Nao  permillas  que  as  onrlas,  que  me  mrdam, 
Depois  de  Iteijrrs  mil ,  vao  sobre  a  praia 
Cnspir  a  injuria  vil  na  face  fria, 
E  o  morto  cr)rai;fSo  pisar  fol^ando  ; 
Nar)  permillas,  prris  lemo  que  ao  senliNas, 
Mornas  ainrla  do  rol:,'ar  conlinuo, 
Deixe  ,   mau  erado   men,  a  paz  da  campa, 
P'ra  de  novo  soiTrer ,  viver  de  novo. 
Lisboa  ]84. . . . 


59 
SECglo    DE    MATHEMATICA. 

Principiamos  a  publicar  na  cnnfoimidade  do  que  se  dissc  a  paginas  1.*  e?.*,  um  traba- 
llio  iililissimo  que  obtivemos  do  snr.  Rufino  Guerra  Ozorio  lente  catliedratico  da  faculdade 
de  matbemalica ,  per  quein  foi  feilo  quando  na  qualidade  de  lenle  substitute  da  cadeira  de 
hydraiilica  explicou  as  respectivas  doutrinas  pelo  tfalado  de  raeclianica  de  S.  D.  Poisson  , 
onde  no  liydrod3'iiainica  e  acustica  ,  julffou  necessario  para  niellior  intelligencia  do  livro, 
introduzir  esta  importante  amplia<;rio  soljre  intcfjraes  definidos  com  formulas,  que  servetn 
para  determinar  as  circunistancias  do  tnovimento  de  uma  corda  ou  vara  elastica;  e  tainbem 
as  do  calorico  nos  corpos  liquidos  ou  solidos,  em  casos  parliculares ;  e  as  do  ar  nos  tubes 
cylindricos.  Os  RR. 

INTEGRAES  DEFINIDOS. 

1.  Siipponhanios  que  ^(x)  nao  e  iiifinita  quando  x  e  igual  a  x^,'oii  a  a:„,  ou  quando 
,r  esta  coinpreliendjdo  entre  estes  limites. 

Dividamos  x„ — a?^  em  n  paries,  em  geral  5  desiguaes,  e  sempre  mui  pequenas  em 
coinparajao  de  x„ — x„.  Designemos  por  S,,  ^.,  1?,,  $^, . .  . .  ,  S„  a  estas  partes;  de  sorte  que 
seja  x„ — .r,,^  J,-|-*,4-,y, +  5'„. 

Ilepresenloino3  por  4i(^)  uma  funcjao  deseonhecida  de  x,  porem  ligada  a  (f{x)  pela 
seguinle  igiialdade  : 

(1) d.  ^(a;)  =  ip  (x)dx. 

Trataremos  de  deduzir  algumas  formulas,  por  meio  das  quaes  se  possa  calcular 
•i  {x„)  —  i^C-^o)  com  uma  approxima(;ao  indeflnida;  quando  for  conhecida  a  expressao  analy- 
lira  de  <f{x),  ou  quando  rf{x)  e  as  suas  derivadas  forem  quantidades  dadas. 

Fa^amos  por  brevidade  ,r„+ *,^=a:,;  a;,+ <?,  + J^^^a;,; ^■^o  +  ^.+  '^i +^„=^,. 

Pelo  tliporenja  de  Taylor  achareinos  : 


H^,)  =  H^.)  +  ^,tM  +  l^v'M  +  Y7rj'f"i^')+-- 


H^,)  =  i{^,)  +  ».9(^,)+^9'i^.)  +  j§j9"i^.)- 


n^.)  =  ^  (^0  +  ^.  t  C^J  +  {f,'e'(^,)  +  T^l!  *"  (-^'^  • 


Sommando  e  reduzindo,  obteremos: 


+  etc. 


60 

For  quanlo   (a-„_,)=:a-„ — ,J„  ,  e  ,j,(.r,_,)  =  ^(.t„— ^„) ;    poderlaiiins    ti-r   procediilo 
seguinte  modo  : 


Das  quaes  equayoes  lirariamos,  como  acima: 

—  j^[J;o'Gr,)  +  .j:<?'(^.)  +  ^>K) +  K,'{x„)] 

—  etc. 

Se  fizermos  j^  =^j:=  .S",  =  . .  . .  =^n  5  e  designarmos  por  cj  sua  commum   grandeza  ; 
lauto  a  equagfio  (2)  como  a  equa^ao(3),  poderao  escrcver-se : 

(4) <-  (-r.)  —  *  (■^o)  =  ^ 2 vI-J-.)  +  ,  „  2 ¥ '  (^O  +  7-^  2 9 "Uo  +  etc. 

(5) -K-^O  — '!'('^J  =  *2'9C^.O  — /:j29'(^.)+T^2?"(''-0-'=Lc. 

Cada  soinma  indicada  per  2  t^ni  "  lermos  que  se  formam ,  na  primeira  equajfio  ,  dando 
a  i  todos  OS  valores  desde  r=0  ale  i=n — 1  ;  e  e  isto  o  que  pertendemos  indicar,  pscrevendu 

2         anles  de  9;  do  mesino  modo  discorroreraos  a  respeilo  da  segunda  equa(jrio. 
Sotnmando  (4j  e  (6),  e  reparlindo  por  2,  tacilmenl.e  acliarfmo^  : 
(G) K-^-")  — 'K'^.)='^2¥(.n)      —  —  [a(.r„)+,p(a:Jl 

+  t5i S" ^'"^    ~ lit' "^''" ^ + ' "^''"^ '' 

Farainos  )n  =  a{x„')  —  oG^o)-  »«';==  o '  (j^™ ) — o'{x^):  m'' :=  o'' {.t„)  —  o"(a:J:  elc. : 
e  tanahem   >^,=  29'(x.):      -</,=  29"Gri)  ^      y^3=  2 ? '"  (^J-O  ^   etc.      A  eqiia^ao   (-1)   dara  as 

(=afO  i=»0  J=0 

segiiintes  ; 


61 


I'or  liieio  destai   equajoes,   obleremos ; 

^  ^-  f.1  M  ?.l 

iJ,  =  m  -  -m'  +  —  m'-  ,73;jy^  [m"-  -  ^,  -  cLc.  +  j^  ^„  +  elc] 
For  ciinseqiieiicia  ,  aprovciundo  as  sexlas  potencias  de  i,  viid: 


Da   eijtia^'no  (7)  deduzem-se  as  seguintes  : 


l.'i.S     -  1.2.3  1.2.2.0  1.2.3.2.2.3  1.2.3.2.3.1.0.G 

■  ^    r^  7n" 7n"' +  771" 


1.2.3.4     =  1.2.3.-1.  1.2.3.4..3    '  1.2.3.1.2.2.3 


1.2.3.1.0     '  1.3.3.4..D  1.2.3.4.0.2   '         1.2.3.4..i.2.2.3 

1.2.3.4..X6     '"'"'"  1.2.3.4.5.G~"''  1.2.3.  l..£).(i.2 

v4.  =::  771' 


1.2.3.4..D.6.7      '-  1.2.3.4..3.i;.7 


62 

Sommaiido  todas  estas  eqiiajoes,   e  representando  por  .S' esta  soonina,  acliaiemos 
S=:m  —  —  m'  +  m'"  ,      —  ni*  - 


2.2.3  2.3.10.6  2.3.2..J. 4.5.6.7 

Pondo  em    6'  os  valores  dc  m,    m',  iii,'" ,  etc.,   e  escrevendo  o  rosultado   cm  (1),   coii- 
cliiiremos : 

(«) n^")-H^.)  =  *'ir(W;  +  ^[<p(^.)-?(^„)]-|^[9'Cx„)-?'K)J 

H U"'(ar„)  — <p"'(a;  )]  —  ■ ^^ [9*  (.r,.)  — <f' (a:„)| 

2.3.4.5.6'-*     V     ;      f     ^   ,.;j       2.3.2.3.4.5.6.7 1-*   ^     '      ^  ^   "'^' 

Despresando  iiesta  eqiiagao  os  termos  multiplicados  por  y',  y,  etc. ,  fjcara : 

vl'^'.j— vl^o;  — ^  H ;3 1 5 "^  ;^ i 


i(^„)  =  ^  I 


Se  OS  ^  sfto  Ifio  pequenos  que  podenios  considerar,  como  linlias  rectas,  as  por^oes  itc 
curva,  comprehendidas  entre  duas  ordenadas,  separadas  pelo  intervallo*,   leremos 

y(jr,)+pG-»^.+.)  _     pr,+.-r,+.      p       „,Q5       _o    acharemoi : 

Se  (p  (a;)  niio  tor  dada   por  uma  expressao  analytica  de  forma  conliecida  ,  e   somente 

tivcrmos  em  numeros  os  valores  della,  naopoderemos  acliar  em  (8)  o  valor,  ^j,  (jz-„) — i!/(a:J, 

aproveitando  os  termos,  em  que  cntra  S',  islo  e',  aproveitando  -^-r  [?' (-^n)  —  f'i'^o)]'  porque 

3.4 

nao  podemos  formar  as  derivadas  o'(,r;;),   ^'(a;^).    Trataremos  pois  de  remediar  esla  dilTi- 
culdade. 

Sendo  OS  i  pequenos  podemos  suppor  que  a  curva  representada  por  if[x)  se  confunde 
sensivelmenle  com   a  curva  parabolica  a-\-bx-irCX-  em  cada  exlensao  '2^  da  abscissa. 

Seja  i  um  numero  inteiro  posilivo,  a  hypolbese  precedenle  reduz-se  a  dizer  que 
<p[x)  ^=  a  -{-  bx  -\-  cx^  para  o  valor  de  a:,  desde  x-\-i^  ate'  a;  +  ;>  +  2<!'  incliisivamente.  Os 
paramelros  a,  6,  c,  variarao  com  o  numero i;  e  com  elles  podemos,  para  cada  numero  i 
fazcr  passar  <f  (x)  =  a -}- b x -\- c x'^  por  os  tres  pontns,  correspondentes  as  abscissas 
.T  -{-is   :  x-\-iS-  -{-S  :  jc  -\-iS-\-Q,S  :  isto  nos  permit  le  alcangar  a,  b ,  c  para  o  indice  getal  i. 

Para  termos  um  numero  exacto  de  arcos  parabolicos,  que  correspondam  a  hypotliese 
do  que  cada  um  deiles  passa  pelos  ponlos  respectivos  a  .r -)- z>  :  a?  +  z^  +  ^  :  jr  +  !> +  2J  : 
admittiremos  que  o  numero  dado  de  ordenadas  e  impar  ,  nu  que  ar„ — Xo  se  compoe  de  uni 
numero  par  2m  de  paries  iguaes.  Ora  ou  o  numero  dado  de  ordenadas  e  impar,  ou  se 
pode  reduzir  a  isso  pela  interpolagao. 

Posto  isto,  sejam  a,  6,  c,  os  parametros,  que  pertencem  ao  arco  parabolico,  que 
passa  pelas  extremidades  das  ordenadas ,  cujas  abscissas  sao  x  +  iS  :  x  -\-iS--\-  S  :  x-\-i^  +2^  : 
teremos  : 

?  (or.)  =0  +  6  (.r„  +  / S)  +c (i.  +  tS)': 

^{x,^,)  =  a  +  b{x^  +  iS  +  S)-\-c(x,+  i&-lrrj': 

logo  «,  (T.+,)  -  9  (.r,.+.)  =:  6  ^  +  c  [2 x„  +  J  (2.-  +  3)]  *  : 

'9  C^i)  -  (2'.)  =  6  *  +  <^  [2 ^.  +  ■^  (2/ +  1 )] -J  •■ 
ou  9  (^'0  —  2(p  (cr,.).,) -[-o(.r,.).3)  zsSciJ' :  que  eo  mesmo  que: 


63 

(10) 2[y(x,)  — 29(^.+,)  +  t(^.+^)]=4«*'- 

As  derivadas  de  a  (jr)  dfio  : 

/(a',)  =  6  +  2c(a„+i/) 
(p'(a.-,-j_,)=:6  4-2c(a;„+J> +2^).  Destas  duas  equagoes  resulta  : 

(11) S[cf'(xi+,)  —  f'{xi)]  =  4,cS- 

Das  equagoes  (10)  e  (11)  conclue-se  : 

(12J ,'  (a:i+0-9'  (A)  =  ?t?(xO-2o(.T.+.)  +  <p(.,V|..  )J. 

Da  equa(;ao  (12)  deduzem-se  as' /a  seguintes  : 

y'(,r,)-v'(i-,.)=j[9K)-29(^-,)+»(^:)] 
^/(i-J-9'(,rJr=|[9(a;J_2<p(Tj  +  v(^.)1 


»  '  (■s;-;™)  —  ¥  '  ('7::„_j)  =  y  [  <P  (^=».-;)  —  2  9  («:,„_,)  ±  ^  (a:^„)]. 

Sommando  todas  estas  equagoes  ,  e  reduzindo,  acharenios: 
2  f 

<?'(--^=.")— 9'(^o)=7|v(^o)  — <p(>2^:i:..)  — 2[v(a.-,)  +  9(^.0  +  'f(^Vs)---+¥('^="-')] 

+  2[9(^J  +  9G'--,,)  +  9K)..-  +  9(^.-)]( 
Mulliplicando  toda  a  equagao  por -,  podetnos-Ihe  dar  a  forma  : 

(13) -il[9'(a:^)-9'(^J]=23[9(.:r.^)-9(^.)] 

— -3  [9 (a:,) +  9(3'.)  + 9 (^ J +9(a^::<»)] 

A  equac'io  (8)  pode  pois  lomar  uma  nova  forma  pela  substituigao  do  valor  (13);  para 
o  que  em  (8)  faremos  n  =  2m,  e  deapresando  03  termos  ,  em  que  S  entra  iia  quarla 
potencia,  virii : 

+  (-■^2^.)— +('^.)   =*[?('^o)  +  <?('^.)  +  ¥(''^J  +  9C'^j) +9C'y=».-.)] 

+    3-[¥('S,)+9('2^;)  +  9(«3)  +  9('^7) +9('2^:^.)] 

—  ^[?('^J  +  ?('^J  +  9C'^\)  +  9('Z^0 ■V'ik.Xz..) 

,  .  +  Y[?(-^2".)— 9(^«)]- 


G4 

Juiilando  ao  segiindo   nicinbrn  a  quantidado   nulla -f- -^t^(,r,„)  — '— ,p(.i-j,„) ;  junlandi; 

—  -.,  «(■?»)  a  leiTciia  liiilia  ,  e  +      t?(^„)  a  quarta;  acliaromos : 
•«>   *  It  ' 

—  .:,[¥  K)  +  9  (.2--.)  +  9  (■^■.)  +  9  (•^•,) +9  (.r,,)  I 


—  tJ[9(^^)+9(^.,)]• 
Iletlectindo  n'csla  somma,  ve-sc  facilmontc  que: 

A  somma  dos  tennos  coin  iiidk-o  irnpar,    e: 

+  J  {2  [,  Gr,)  +  a  (.vj  +  9  (^'J  ....  +;9(''-.™-.)l  I  : 
A  somma  dos  lerraos  com  indice  par,  e: 

Finalmentc,  a  quarta  linha  podc  esciever-se : 

2i  (I  -I 


Logo: 

2^ 


-K-r.™)  — 4'(^o)  =  y|[9(^,)+9K)+9('^-.)  +  9(-^:) +  9(^-=".-.)] 

+  [  9  (■^o)  +  9  ('^,)  +  9  C-^:)  +  9  (^-J  +  9  (-Cj +0  (x,™)  j 

Ou  tambem : 

Qi  c 
(J'l)  .  . .  .  ^,  (a-,„)  _^,  (^J  =  -|[^  (a;„)+9  (:i'.+^)+9  (^.+2'^)+9  {■^o+3S). .  +  9  (a'.+  S;;)*)] 

+  [  9  (arc>+^)+  9  (x.+Si)  +  9  fx.+  &^J. . . .  +  ,  (.r„+  (2m-i;*)] 

O  primeiio  multiplicador  de  — ,   na  primeira  linlia,   e  a  somma  de  todas  as  ordcna- 

o 

dat  :  a  segunda  linha,  contem  a  somma  da  scgimda,  qiiorta,  sexla,. ... ,  ordenadas  ate  d 

pemdtima  :  em_  fim  a  ultima  linha ,  e  3.  scmi-somma  das  ordenadas  cxlremas ,  tomada  com 

o  signal  menos. 

Continua  rcpino  giebba  OZORIO. 


i)  3n0titiitir^ 


JOUNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


r 

C.IIVERSIDADE  DE  COIlI!{RA-ftOGR\l!5I.lS. 

FACULDAUE  DE  ME^CISA. 

l8o3— 185'f. 
2.°  ANNO.  _ 

CiDEIRA    PB   FHYSIoLOGlA    C    UVGIK.\H. 

COaiPHNDIO  J.    J.    DC   M(-:LL0, PRI.IieiRAS     I,IMTA3     DE 

PHVSIOLO(»[\. J.    r.   V.    gALa'aO  —  CUUSO    ELCMUMAlt 

Dij  HV(;ir,.\r. 

Lenle  —  Or.  Jeronymo  Josft  de  Mello. 

PHYSIOLOGIA    GEIIAL. 

Defitii^^lo.  Divisiio.  Ente.o  oriranicos,  e  aiiorcanJcos. 
Caraclered  cominuiis — tlilTerenci.ies—  viila  —  inoprieiladns 
vilnea  —  iirupri'-dadcs  pli^sicaiS,  e  rhimirjts  —  relai^rio 
(IV'stad  e  (Jas  vilaes.  ImiMinderaveis — ucruo  d'esles  iins 
corpus  vivos — Leis  conslaiites  do  priiicijiio  vital — vida 
or;;.itiic.-i,  e  animal  — Curao  ciieiranios  ao  conhecimenlo 
diis  for<;a3  em  i!;erdl— coiiio  nos  elciamos  art  daa  vilaes. 
Phi'iiouifiius  coiumiins  a  ciilea  or^anicos  e  aiiurganicus. 

PIIYSIOLOCIA     ESPECIAL. 

San:;ue  —  qiinnlidade  no  homfni  —  qiieslSo  dc  homo- 
geneidade  —  vid.i  no  s.Tni^rie  —  IransfiL^riu — furm.ir^to  t\o 
uanicne^compusirao  physira  —  ronipusierio  rliiuncii. 

Circulanrio   do  sanpiif; — ireral  — rt-.-pirator  ia — ["-rt.d. 

—  CircnUi;iio  nus  \ejleln\idus — nos  inverlehnulos  —  Cur  i- 
^iio  ronsiderado  como  ceiilro  de  circnia(;rio  —  Acnstica 
do  corarao — Arierias  ;  sna  ac^-iio  na  cirenla^rio  —  Syslc- 
ma  capillar  rnliro  —  vcla-i  ;  aci^iio  d't'stas  na  circuIn<;;"io  — 
Aci^to  dus  va^os  no  pruccsso  da  alisurpi^uo  —  caucus  de 
ubsorjn;.*io  —  dillcrenra  de  al;surp(;oes. 

Lympha,  vusos  Ivuipliiiliros,  curaro<^s  lyniphalicos  — 
oritrem  da  lymjdia  —  caiisas  do  uiuviuienlo  no  systema 
iympUaliro 

Itespira^-fio  —  nos  vertelirados  —  noa  invertehrados.  Pro- 
priedadea  do  ar  —  Aijparolho  regpiratorio  —  Prucesso  e 
lOCcliiMiismo  —  Hfiiialgse  Theoria  da  rr-spirara.t  —  in- 
finenL-ia  i\va  nervos  na  re?pirii(;riuj  plienuuitu^s  physici.s, 
chimicos,  c  vil:ies  ilcllx 

Nulrii;rio — crescimrnlo  —  rt'L'pnera(;rio -:-Th(*ori,»  da  ntt- 
lrii;ao  —  Processo  nnlrilivu — Prurcssos  re2:cneradoies. 

*^'aIor  animal — Analyse  das  diiersas  theurias  da  caluri- 
ficac^ao  —  DifTcrenras  du  ciilor  nu3  entea  org.inicos — Dif- 
ferciK^as  na  especie  hiiniaua,  segundo  idades,  temperaiuen- 
tos,  t'stados,  climas. 

J^iiieslao  considera'la  cm  (odus  os  animaes  —  No  lioiuem 

—  Func(;oes  preparalorias  da  di^'eslao  —  seiitimenlo  de 
fome,  e  scde  —  cunsas  d'estas  it-nsa^'oes — Cunsideraroes 
geraes  sobre   alimentus  —  Digeslau  eslomacal — duodenal 

—  inleatinal. 

tsecre^ao — Divisao  ile  setTf<;ocs^  Apparelhns,  ceystc- 
roas  vasculares  secrtlores  —  Theoria  dasecrfrao  —  secre- 
^ao  renal-culanea  — cellular  —  mucosa —orgSos  de  secre- 
^iu  duviduSa. 

YUSCr^OIZS     AMJIAES. 

Defini^So— Divisao— Nervos  — Pbysiologia  comparada 
da  ac^ao  nervosa  —  Nervus  or^'anicos  —  aaimaeB  —  rcsjii- 


VOL.    ill. 


ralorios  —  Tliooria  d'ac<;rio  nervosa  —  Leis  de  ac^au  dui 
nervo8  —  Aci^or's  nc-r\osaiJ  renexas— Aprccia^So  da  d.-u- 
Iriiia  de  M.  Hall — Dontrina  de  symiialhias  —  Vinao  — 
Riidii;ao —  olfarlo  —  f^o^lo^lacto  e  loque  —  Senlidoi  in- 
tfrnos  —  Duutriiia  plirenoloy^ica  —  exanie,  ft  apreciat^ilo 
d'esta  doulrin.'i  —  DilT(.'ren(;a  de  opinioes  entre  os  raeta- 
physrcos  e  plirenoltj:.'islas  —  Dunlrinas  philosophicits  de 
Kant,  IIp;reI,SihellJng;,  Condillac — Tlieuria  ]ihi8iulo^'ica  dt' 
sent iilus  internos.  — 

Moviinf'nio — orgSos  de  niovimrnto  nos  flifferentes  ani- 
mal's—  Mecljanira  animal —  thenria  da  voz  e  loquella. 

Gera(;ilo  —  cunsidcrada  em  luda  a  classe  animal  —  re- 
lai^.lo  d'estas  com  as  (uilras  fnncroes  —  Gerai^ao  esponta- 
nea  — Processus  tie  gcrarrio  sexual  — Funrt^Oes  de  gera^So 
sexual  —  Thooria  da  {rerarao  —  Influencia  dus  pais  n.i 
prole  —  Parlo  —  propnrt;ao  de  nascimenlos  com  relaijao  a 
sexus  —  cria(;jo  dos    recem-nascidoi. 

Somno,  soiihos,    sonarabniismo,  ma^nctismo  animal.  — 

Alorle  —  sii^naes  da  mortc  —  g:eral  —  parcial. 

Cnrso  pralico  de  physiologia  experimental  (na  prima- 
vera). 

HYGIENE    INDIVIDUAL. 

Defini^iio — DivisSes — Rela^ao  d'esia  comoutras  scien- 

rias  —  DifTerem^a  de  pianos  nos  Iratados  de  hys:iene  — 
DiiTerem^as  orjanicas  individnries — Modtficadorea  inlernos 
—  Applicarao  dog  principios  irtraes  as  func<;i5es  do  orga- 
nisino  —  Educai;ao  physica — Kdnca«;ao  inlellectnal,  e  m(»- 
ra!  —  Melhoraniento  Je  raras— rela^oes  da  sciencla  com 
a  civilisacao  —  Influencia  d*ella  sobre  a  arte  dc  curar. 


CADRIllA    DE     OPmiAroES    CIRIIRGICAS, 

COMPIS^DIO  —  IlEfilN -MiUVEAUX  ELE.UENS  DE  CHIBUROI 11 

<JV   DE    .MEDICINE   UfERATOIRE. 

Lenle — Dr.   Francisco  Fernandes  da  Costa. 


CADEIRA    DE   PATHOLOn  lA  GER  AL  ,    THERAPRUTICA    GERAL, 
PATHULOGIA    E    THEK APEt/Tf CA    CIRLRGICA, 

^o:.IP(:^DIo  —  chomel  —  fvc-mens  de  pathulogib  c;e- 

.■\EiiAl..  —  BE;IN NOUVliAUX   EtE•.lE^S    DE   ClitRURGJE 

ET    DE    ."IIEDICI.NE     urEUATOIRE. 

Lt-nte — Dr.   Cciurio  Auijvsto  Percira  d'Azevcclo 


CADEIRA    DE    MATERIA    WEDICA    E    PHARMACIA. 

CO.MPEtSDIO BOL'CHARDAT MA^UEL     DE    MATIBUK 

aiEDIC. 

■■       ■  ■    '  '■  ALCANO    COUTGO     PHARMACEt TICO 

LLSITASO. 
I 

Lenle  —  Dr.  Florencio  Peres  Furtado  Gahao* 

PHARMACO_\OMlA    THEORtCA   E   PRACTICA. 

Definirao  de  Pliarmaconomia  —  partes  em  que  se  divide 
-dffinir'fto    i\-.    medicament  .s    e  sua    divisao    pharoiu- 


JtMfo   15  — I85i. 


.Ni,M    G. 


66 


ceutica  — titensilios  —  fornallias  —  vasos  —  inslninieiitoa 
—  pesos,  e  m«iliiJns  nHcioiiaes  —  franceaes  —  iiiijlezes  — 
rela^So  (I'lins  c>.n\\  oiilros  —  Ijaroniclro  —  Iberiuumelro  — 
rediic^rio  dus  princi|)i;es  (I'mis  eiii  oiilrt;:s  —  ureuiui-lius  — 
reiliic^iio  iriiiis  em  oiilros  —  alcoulometro  —  opera^oes 
chimicu-pliariiiiiCeulicttS  —  (Uvi^^n),  exlriic^rio,  processu 
*le  tleslui'in;Hu,  niisliiii,  Hi*(;fia  cliimica  —  esculh^j  e  co- 
llieilii  (l;is  iliu'isas  paries  tlus  vi-^eUies,  *:  animues — sua 
exsica^ao,  const'r\»(;rii),  rc[uisii;riu  e  (liirar'u  —  classiflca- 
^at)  pIiarmacunumicH  dos  inudicaiiioiilus  —  excipieiites,  e 
siias  piiri(icu(;ot'S  —  hydrulicos,  mi  prepara(;Oes,  cujo  I'X- 
cipieiile  e  a  a:;iia  •^Iiydrul.it>is,  ou  ai;nas  dislilaJas  pur 
iliversus  prurtssus  —  livdri'iiifusus,  uu  infiisijL'a  aqiiosas  ^ 
Ijydrusoiutgs  oil  slIui^Oi-s  —  deatclus  —  succus  expri-ssos  — 
sua  prepara^it'i,  chissilira^ai),  ilepuraeau,  c  ronserva^aa 
por  diversos   pruressufi  —  caldus    inediciiiaes  —  hydroleos 

—  exlractus  a'piosus  ubtidos  purdecocla,  iiiriisiiu,  digcstao, 
uiacera^jo,  snccus  depiiradus,  e  nau  depiirados,  e  ptlo 
processo  da  dt-slocn^riu,  ffitus  em  divcraos  ulensilius  e\a- 
puralurius  —  stiii  classiric.i<;."io  e  consi-rva^ilu — viiiuieioii, 
oil  vinhits  mediciiiaes  —  exlraclos  vinosos — akuulicos,  uii 
preparatjues,  cnjo  cvcipiento  e  o  alcoul  — pur  desluca^ilo 

—  alcuulatos  purdisersLis  processus  ^evlraclos  alcoulicus; 
ou  prepara(;oes,  cujo  cvctpi'.'ule  c  o  viiia:.'re — aceloleos, 
ou  viiiagrea  medii'iiiaes — cxtraclus  acelosus  — brjtolicos, 
on  prep:ira(;urs,  cuju  eMMpiciite  ca  i'er\eja  —  oleus  Qxus— 
oleos  volati-is,  on  esseuciafS  — saccoroUcos  (iuipiu|iriameri- 
te)oii  prfparai;5es,  cujo  exL-ipienlesaosuslancias  saci'arjnas 
— 'Xaropes  por  sului^'ao,  por  ebulli^ao,  e  mislos  —  ap- 
plic'i^ao  d,i  llieoria  dos  dt-cuclos,  iiiludos,  maceralus,  e 
Biiccos  exprcssos  aos  xaropes  —sua  cuuserva^ao  —  rael- 
liles  —  oxymclliles  —  Iherolicos,  ou  prepara(;oes5  cujo 
excipiente  o  o  olherlheoria  dos  elliers  —  tllieroleus,  ou 
linluras  ethereas  —  ammuiiialcuulicus,  on  prepararooa, 
enjo  excipiente  e  a  ammoniaca  —  amnionialcoolius,  on 
tiuluras  \olaleis.  Pos  medicmaes  por  di^ersjs  processos  — 
feculas — pulpas  — conservas  — elecluarius  — paslas  solid  as 
—  piliilaa  ciu  piii:ladur  —  ti  sem  c!le — t-alajdasm-is — es- 
pecies — olcoleos,  ou  oleus  composlos  —  Lalsauius.  ou  niyro- 
Jicos^liniuienlos —  ceratos  —  pommadas  — •  uni,rueidos,  ou 
relinoleos  molii-s — einplaslos  ou  retiuoleus  durus  por  di- 
versos processos — sparadrapos  feilos  em  macliiiia — prepara- 
(;3es  chimicas  —  Iheoria  dos  saes  — reat;enles  cliiiuidis  — 
aguas  luineraes,  e  seu  eusaio — principaes  nacii>iiaes  — 
arteficiaes  —  m>>do  de  preparar,  rlui;ar,  e  adniinistrar  v-i 
medicamfnlos  homa?opalIiicaiuenle. 

PIIARMACOLOniA. 

Defini^ao  de  PharmacoIi.):;ia,  e  de  Materia  Medica  — 
dita  de  medicaiiRnto  —  dilfereiUj'a  entre  allmetilo,  me- 
dicamenlu,  veneno,  e  remedio  — ori^eai  dus  medicameulos, 
e  alirueulos  —  diveisos  modus  de  delerrainar  e  cuiiliecer 
as  \irlu(Ie3  dos  uiedicament<-'S  —  j>eliis  caracteres  pliysicus, 
chimicos  —  por  unaIo;,'ias  bulanicits  —  pur  experieociits  t-m 
animaes  mars  simillianles  ao  Homem  —  dllas  no  Homein 
enfermo  —  dilas  no  Huniem  no  e^itado  physiulo^'ico  — 
ac<;ao  dos  mcdicauieulus,  chluiico.  dynauiico,  chimico- 
Jynauiico  —  cffciloa  dus  medicameiilos,  primarl'is,  ou 
physiolo;iicos,  sfcnndarius,  curativos  —  locaes,  distauley, 
ou  remotus  —  csles  pur  que  vjas  se  Iransmiltem,  coiuo  se 
explicaai  —  afliuidade  tdectiva  dos  medicamenlus  pira 
delerminados  orj;aos,  system.is  ou  apparelluid  —  llu-oria 
homoeopalhica  a  este  respeito  —  iuflumcia  do  Ii;tbil.i 
subre  OS  effeilos  dos  me<licamenlos,  e  a  explica^-iio 
Jiomuenpalhica — adminislracao  dos  medicamenios,  e  por 
(|ue  vias  se  faz  — doses  d'elles,    e  effeilos   fe^undu   ellas 

—  sua  nalureza  —  medicamenios  simples,  e  composlos  — 
luonopliarmacia  —  polypliarm-'icia  — aprecia^iio    d'auibag 

—  a  lo  de  foruudar,  e  leis  porUuMiczas,  (pie  a  reg^ulani  em 
especial — clasaificaqao  dos  medicamenios^ a  que  poiilo 
pdde  ser  con\eniLnte  n'esle  ramo  de  scieucias,  c  no 
eslado  actual  —  nui^oes  do  doulrina  Iiomoeopalhica  em 
jjeral.  Re^uiremos  o  tijxto  iia  pliarmacologia  especial,  por 
isso  estudarenios  ja  os  medic;iiuenlos  narcoticos  —  conside- 
ra<;oes  geraes  li  curra  do  seu  moilo  de  obrar  em  geral,  e 
de  cada  uma  sribstancia  em    particular — sua  descrip(;ao 

—  suas  ajjplica^oes  therapeitticas  geraes  e  especiaes  — 
doses  —  preparat^oes  —  siibstancias  incompaliveis  —  o 
mesmo  das  solnneas  virosas  — o  mesmo  das  ombelliferas 
lirosas  —  o  mesmo  dus  elleboreas  — o  mesmo  das  cyanicaa 


—  o  niL'imo  das  lelonicis— ij  mesmj  dus  medicament. i» 
emuit*ua^o;:o8,  excitiiules  do  ulero,  dus  propriamenle 
diclos,  dus  aborljvos  —  o  mesmo  dus  mt-'licanientos  anti- 
spwsmudicus — o  m<'smo  dus  mediraiuc^ntos  eslimulantes, 
ou  excilauli's  —  o  mesmo  dos  medicamenlus  nplirodisiacon 

—  o  mesmo  dos  medicamenios  sudorilicus,  e  diaphoreticui 

—  Hydr(»llier.ipia -^  o  mesmo  dus  medicamentos  dlurellco* 

—  o  niL'smo  dos  cliamailus  cxpeclufanles  —  o  mosuio  dus 
nu'dicamenlos  fmelicus  —  o  mesmn  dus  niedicameulos 
pnr^'antfs  —  o  mesmo  dos  mediramoiitog  emollienles,  e 
analeplicos  —  o  mesmo  dos  uifdicaan-nlos  contra  eslimii- 
lanles,  e  teinperantes  —  o  mesmo  dus  medicamcnlo* 
adsli  iimculfs  —  o  mesmo  dos  medicaiiienlus  lonicos,  e 
corrobur;uiU's  —  o  mesmo  doa  m*"dicamen[us  allerantes  e 
snlistituiljvos  —  o  luesmo  dos  medicamentua  rpvnlsivo*. 
rnbcQcienles,  e  cpispacticos — o  mesinr)  dus  medicamentu- 
anIhelmiidici'S.  —  Analysf"  pharuiacenlica,  e  pharmncolo- 
yica  das  furmulas  da  Plianuacoputi  porlngueza  Ie;ra!.  e 
subsliluirao  d'ellas  por  outras. 


(POESiA  SLAVA  MODERNA). 


Conlinuado  de  jiai;.  Jili. 

Por   este    papcl   dislrilniido    us    diCfereiilo? 

for^as    da  naLuieza,  beiii    se   ve  que   a  poesia 

dos  gouslars  corresponde  a  luna  das  mais  pro- 

mmciadas  inclina^oes  do  caracler  slavo,  que 

ella  liioiiijoa   lanibcrn  cclebrando  essa  anliga 

crenga    iios   prcsagios   e   nos   presonliinenlo?, 

que  exerce  ainda  ao  preserUe  tarnardio  impc- 

lio  sobie  estes  paizes.    Uma  menina  cantada 

nas  piesnas  (balladas)  servia-;,   vae  colhendo 

cravos  ao  looLC"  de  uin  ribeiro;  faz  com  elles 

Lies  coioa?;  poe  uiija  sobre  a  sua  cabe^a  para 

Ihe   realgar   a  tormosura,   guarda   a  se^unda 

paia  sua  irma,   e  alira  com  a  terceira  ao  ri- 

beiio,   dizeiido  :    voga,    minlia  coroa,  ale  de- 

(roiUe   da  porta   do  nicu  amante.   Se  la  clie- 

gares,   sem    to  afimdar,    nao  sera    uma  prova 

de  que  sua  infie  consente  que  elle  me  despo- 

se  ?  aO    excellenle  drama    intitulado  Gorski 

rienats,   obra    prima  do  derradeiro  vladika 

dos    Monleiiej^rinos  ',    apprcseiUa-nos,    iTum 

grande   banquete   comuium    de  todo  o  povo, 

OS    veliios,    a    maneira    dos    antigos    augures 

etruscos,    k'udo  os  destiiios    de  cada   uma  das 

tribus,   inscriptos   pela  mao   da  nalureza,  em 

s!gnos   ou   liiihas  inisleriosas,   sobre    as  e?pa- 

doas  doa  bois  e  dos  caMiciros  servidos  no  bau- 

quLHe  ou  sacrificio  nncional.  "  O  serdar  (juiz) 

Jaiiko  ppga  iriiiiia  espadoa  decarneiro;  Lira- 

Ihe   a  carne  coin   o  seu  culello,   e  olhando-a 

com  admira^ao,  exclama  :  De  quetn  era  est** 

caineiro?*;  —  Respondem-lhe  :   De  Martinlio 

Baitsa.  —  Bemaveuturado  pae  Baitsa,  replica 

o  serdar,  o  teu  carneiio  traz  uma  inscripcao 

maravilhosa    sol>re   o  glorioso   futuro   da  lua 

familial  Evi  ,  que  tenlio  descarnado   inilliares 

de  espadoas,  riunca  eui  nenliuma  dellas  li  urn 

lao    bello  deslino  !  —  E    esta   coxa,   em  que 

agora   pegueij    de  quern   era  ella!   Vejo  que 

'      Pedro  II.  que  por  suas  obras  numcrosas  se  collocoii 
na  primlira  urdcui  dos  poelaa  iliyrico-scrvios. 


67 


a  rara  do  seu  doiio  vnc  e.\liiigiiir-se.  O  galo 
deixa  de  carilar  as  lioias  iia  i-iia  casa  ,  que  se 
transforma  n'limataveijia  t'miebre,  ii'iirn  vasto 
sepulohro,  ondc  upiodrccem  mais  de  vinte 
cadaveres,  sahidos  lodos  d'uiii  mesino  troii- 
co.  »  Uni  MoritenegTino  incrediilo  zoiiiba  en- 
tao  dos  sens  coinpaidieiros.  a  Eblaes-rtie  pa- 
recPiido ,  diz  elle,  as  nosjas  vellias  avos ,  que 
leein  a  sigria  as  creanras  na  palriia  dasmfios, 
on  Hie  fazeiii  lirar  favas  a  soile.  tlomo  e  que 
OS  ossos  cozidos  e  mortos  podcm  saber  o  que 
tem  de  acoiitecer  aos  vivos?!!  PoJe  a  logica 
can^ar-se  a  fallar,  mas  nao  alcangaia  punca 
destriiir  os  instinctoa. 

Na  Polonia,  o  povo  aclia  pelo  niesino 
llicor  presagioa  iioj  accideiites  mais  fortuitos 
da  natiiicza,  na  direccfiodo  venlo,  |)or  exein- 
plo,  romo  prova  esla  can^'ao  litiiuariia  u  Sobrc 
o  ramo  florido  de  iima  lillia,  eslava  enipo- 
leirada  iiiiia  avczinlia.  Do  alio  de  iima  co|- 
liiia,  lima  meiiiiia  examinava  iuquieta  de  que 
lado  sopiava  o  venlo.  Era  por  es^e  lado,  pen- 
sava  ella,  que  devia  cliegar  o  seu  aniado!  — 
Ah!  o  venlo  sopra  dos  valles  de  Kovno.  O 
men  joven  despcisado  cliega  da  Sainogitia: 
corre  apressado,  o  seu  cavallo  prelo  bran- 
qiiea  do  escuma  o  froio  dourado.  ?) 

A  me^ma  lendencla  que  impelle  os  Slavos 
a  interpielar  oj  plienoinenos  da  natureza,  e  a 
dar  uma  vida  my^^erio^a  tanto  aos  auimaes 
como  aos  seros  inanimados,  marrou  lambem 
com  o  seu  cuiiho  cerlos  apologos,  dos  quaes 
oft'erecem  mais  que  urn  exempio  as  canligas 
das  muUiuier,  e  que  tem  loda  a  apparencia 
de  t'abulas,  sem  ler  o  sen  senlido  moral.  Sao 
visilas  muito  polidas  entre  os  atiimaes  dos 
monies  on  as  aves  das  capoeiras,  conversas 
enlrc  as  arvores  de  frucla,  on  e  um  noivado 
de  aveziniias  carilado  mm  todai  as  miudozas, 
ou  n  casamenlo  de  uma  mosca  viuva  com  um 
joven  mosiardo.  Alguiiias  vezes  tambem  de- 
para-se  no  meio  deales  capriclios  com  cerla 
agudeza  e  oiigiiialidade,  conio  por  exempio, 
na  picsna  moiiteuegriua  iutJtulada:  A  mais 
linda  Jlor  dcste.  iiMiido. 

«L'ma  larangeiia,  ciiberta  de  boloes  de 
suave  perfume,  galjava-se  a  borda  do  mar, 
que  nao  liavia  n'aquelia  hora  por  lodo  o 
mundo  nada  mais  lindo  que  ella. — Sou  mais 
llnda  que  lii,  exclamou  o  prado  esmaltado 
de  boninas.  —  Nenlium  de  vos  pode  compa- 
rar-se  comigo,  dissc  a  ambos  nm  vaslo  cam- 
po  cuberto  de  branca  seara.  —  Uma  videira, 
carregada  de  caclios  nascentes,  escutou-os  e 
disse:  —  Nao  vos  giorifiqueis  por  esse  rnodo, 
que  a  lodos  vos  levo  vanlagem. —  lintao  uma 
menina  solleira,  que  ouvira  esta  dispula,  disse 
lambem: —  Vossa  belleza  c  passageira,  nao 
val  a  miiiLa  belleza. 

Um  joven  que  ia  passando,  respondeu  sur- 
rindo:  —  As  laranjas,  cor  d'oiro,  qiiando  esti- 
verem  niadura?,  Iiei-de  comel-as.  O  prado, 
quaiido  acabar  de  tlorir,  liei-de  deilar-llie  a 
tnice.  A  branca  seara,  iiel-de  ccifal-a.  Do 
cacho    veriuellio,   Lei-de   cxtraliir   um    succo 


generoso  para  beber  em  companliia  dos  bra- 
vos.  Em  quanto  a  ti,  menina,  quando  tc  clie- 
gar  a  edade,  eu  te  desposarei,  e  tu  seras  mi- 
nlia.  —  Nao  ha  por  lanto  em  lodo  o  universo 
tlor  mais  linda  que  um  rapaz  inda  solleiro. 

Um  camponez  siavo  conheeeu  todas  as  fa- 
milias   das  planlas   e  das  aves  da  sua   terra; 
tem  nomes  para  um  numero  pasmoso  dee^re- 
las;  forma    um    relojo   particular   para  cada 
estajao,  para  cada  mez  do  anno.  Em  qualqner 
momeiilo  da   nolle  que   Hie   pergnntardes   as 
lioras  que  sao,  olliara   para    o  ceo  e  vos  re- 
spondera  sem  se  enganar.  O  Cos-aco  tem  nos 
seus  olhos  lima   bussola   natural  :   se  o  man- 
darem  a  uma  provincia  djslante  onde  niinca 
teiiha  ido,   parliia  direilo  como  uma  freclia, 
e  chegara  ao  seu  destino  no  dia  marcado.  O 
izvostchik  moscovila ',  perdido  na  steppe   no 
meio  d'um    redemoinho   de  neve   ou  de  area 
fina,  espera  que  passe  a  lenipestade;  depois, 
ainda    mesmo   que    o  a^oile    da    lempestade 
lenha  apagado  lodo  o  vesligio  dos  caminlios, 
conseguc   orientar-se,   e  coalinua  a   sua   der- 
rola   atravez   do  deserto.    E-la   uniao    intima 
dos  Slavos  com  a  natureza   leva-os  a  acredi- 
tarem    facilmente,   se   nao    nos   sanctos,   pelo 
menos  nos  prodigios.  Em  ncnhum  oulro  paiz, 
como  entre  OS  Slavos,  se  fazem  em  lao  subida 
eschala  as  roniarias  as  irnagens  milagrosas  de 
Nossa  Sen  bora.  Os  antigos  Polacos  julgavam 
que  a  sancla    Virgem  (a  Bogarod-Jca)  mar- 
cliava  a  sua  frente  nos  combales  ;  pcla  mesma 
forma  que  os    Russos    mndemos   lem    vislo, 
por  mai,de  uma  vez,  apparecer-llie,  no  meio 
do  fuino  da  artilheria,   a  imagem   veneranda 
de  S.  Sergio,    Nao  devemos    porem    concluir 
daqui  que  o  mundo  sobrenalural    tenha   um 
(lajjel    distiiicio    na    poe^ia    do    o-ouslo.    Por 
mais  que  se  remonlc,  a  for^a  de  esludo,  ate' 
as  primeiras  origens  desta  poesia  de  ra^-a,  nao 
se  conseguira  descubrir  nella,  como  na  poesia 
dos  llindous,  dos  Scaudinavos  e  dos  Gregos, 
ocaracler  sacerdolal.  E-tranlia  a  loda  a  especle 
de  myslici.-mo,  conservase  coiislanlemente  ou 
p<ililica  ou  domeslica.  Todas  as  na(;f"ies  slavas 
cantam  os  seus  heroes,   as  suas  glorias  e  des- 
grajas   terrestres ;   mas  preoccupam-se  pouco 
do  mundo  invislvel.  A  religiao  dos  primitivos 
Slavos  limitava-se  aos  sacrificios  nos  cespedes 
ou  Koiirgans  funeraes  dos  sens  chefes  mortos 
pela    palria  ;   o   sen    paraizo   nao  se    elevava 
acima  das  nuvens  dos  monies  Karpalhos;  era 
lii  que  pairavam  os  manes  dos  seus  anlepas- 
sados,  em  conslanle  rdajao  com  a  sua  poste- 
ridade.  E  hi,  que  ainda  hoje  vagiieam  erran- 
Ips    as    sonibras    do    AVu^6t;/(;  ^  Marko,    de 
Skanderbeg,  do  erimila  Sava,  dobealo  Lazaro 
de  Kossovo.    Na   Russia,    Vladimiro  e  Olga 
sao   tidos   pelos    genios     da    sleppe;    Sancto 
Alexandre  Nevski  vive  deilado  no  seu  caixSo 
de  Pelersbourg,  e  Pedro  Grande  ve'la  semprc, 
no  meio  dos  nevoeiros,  pela  sua  crea^ao  do 
Neva. 

'     livostcbik,  especle  de  poBlJlbSo. 
■^     Filho  (le  Krats. 


68 


Nao  insislireiiios  ir.ais  sobu'  cstas  provas 
do  inslincto  ntilural  dos  Slavos,  taos  conio 
nol-as  odorece  o  nouslo.  O  que  pertcndiamos 
nioslrar  per  ineio  il'algiini  cxcinplos,  eo  la(;o 
ejireito  q\n\  liua  a  poesia  popular  dos  Slavoj 
com  as  snap  iL'ndcucias  iiaclouaes.  Parece- 
11(15  que  e  esle  o  uicio  mais  facil  do  explicar 
como  a  iiidueru'ia  dcsta  poesia  passou  do 
doriiinio  da  vida  douieslica  para  o  da  liUera- 
tura  doi  sabios  Rcsta-uos  a^'ora  iiidicar  a 
ulliina  causa  do  |)rostigin  qui;  excrec  o  gouslo  : 
a  saber,  a  sua  iuliiua  uinao  com  a  iiuisica. 

Continua. 


l.vstruccao  pubuc\  na  suecia  e 
norue(;a. 

■    C»>tiliiiuaiIo  (Je  pag.   If). 

III. 

ESCHOLAS  DO  DOMINGO. 

A'^iu-so  ja  coino  eslavain  orsanisadas  em 
Slockliolmo  as  escliolas  do  dnuiiiigo.  S;lo  20 
•1  numcro  d'ellas,  lia  Q-t  mcstres  ordiiuirios, 
e  o  termo  tned[o  dos  alumnos  e  750.  As  ca- 
I'liolas  da  classe  media,  e  as  da  SncUdadc  das 
nrtes  e  ojjicios  devem  coiisiderar-sc  lambeiri 
como  escliolas  da  larde  ;  porque  ale'm  do  do- 
iningo,  esl.'io  aberlas  de  tardi'  cerlos  dias  d,.i 
semaiia,  pcio  que  devezoui  leiiipo  careceui  df 
iiie'tres  supplemenlares. 

As  lualLM'ias  do  ensino  nas  escliolas  decate- 
cliismo  Icem  por  lim  priucipal  n  estudo  da 
religiao;  nas  do  soletracdo,  a  leilura;  nas  da 
classe  mediae  dos  officios,  a  estripla  e  o  cal- 
culo;  fiiialiiipnto  iiiis  e=clinla>  da  Socicdadc 
d(ts  arlcs  e  officios,  os  esludos  tecliiiologicos. 

TaiUo  iia  Suecia  como  na  Noriiega  as  es- 
tbolas  do  domiugo  teem  tido  impugnailores. 
Pcilendeu-se  que  a  major  parle  d'ellas,  iiao 
differindo  das  efcliclas  priuiarias  propria- 
inente  dila?,  podlam  seiii  iticoiiveiiieiite  sup- 
priniir-se.  Algiuis  espiritos  scrios  e  pracllcos 
encariegaram-se  lodavia  da  di'fcza  da  iiisti- 
tuij.'io  conibalida,  c  pelos  sens  argumciilo-, 
que  referireiiios,  iiiellior  podeiii  apreeiar-se  o 
complexo  do  sysleiiia. 

()  ejlaluto  real  de  18  de  iiinlio  dt-  13(-3 
sobie  a  iiistruc^ao  primaria,  lomaiido  ciii 
1  ouiiderajao  a  Impoasihilidade  que  uiuilos 
laeniiios  linliam  deseguir  um  curso  complelo 
de  esUidos  escliolares,  obrigou-os  someute  ao 
^nini-.rto  d'inslrucj.'io,  que  "se  reduz  aos  se- 
guinles  pouios : 

1  "  Leilura  corrente  da  lingua  materna  ; 

■2  °  Conlieeiineiito  da  doulriiia  clirisLfi  c 
da  liisloria  biblica,  no  grao  necessario  para 
>cg(iir  as  lieoes  do  catecliisino  da  priiiieiru 
comiiiiiidiao ; 

.'!.°  Cuiilo  da  cgreja  ; 

4."  E-cripta  ; 


0.°  Arilliiiieliea  ale  as  fiac^oes  exelusiva- 
menle. 

Com  elYeilo,  sc  das  r.-eliolas  priii  arias 
OS  meninos  saliiirern  com  estc  iitinimo  d'iii- 
struci.'ao,  de  que  serviiiam  as  escliolas  di- 
caleehi!mo  bem  como  as  da  classe  niedia  (; 
dos  officios!  Mas  a  e.xperieucia  moslra  que, 
uem  sequer  um  teredo  dos  meiiiuos  que  Ire- 
qiienlam  as  escliolas  primaria?,  olilem  o 
Iitinimo  official, 

AUiibuir  seuiellianle  resullado  a  vicio  na 
organisat^.'io  d'eslas  e^cllo!as,  >eria  injustiea. 
E  a  prova  esta  em  que  os  meninos  cpie  ae- 
giiiram  regnlarmenle  os  cursos,  salisfazem  a 
lodos  osartigos  do  seu  programuia.  Se  alguns 
sao  iuferiores,  e  porque  tendo-se  matiicula- 
do,  com  ludo  laras  vezes  compareciam  nas 
aulas.  Uns  foram  so.uenle  ciiico  seinaiias,  e 
oiilros  duraiile  um  periodo  escliolar  apenas 
alguns  dias.  A  vcrdadcira  causa  eslii  im  pobreza 
0  uiiseria  das  familiasque  careceui  dolraballio 
dos  meninos,  aiiida  em  tenia  edade.  Em  Slo- 
ckliolmo lia  so  duas  escliolas  que  obviam  Csle 
iuconveiiieule  :  a  de  S.  Jacques  e  S.  Joao,  e 
a  de  S.  riiilippe;  poripie  indepcndentcmenle 
da  inslrucean,  dao  lambem  a  sens  alumnos 
sustenlo  e  veslido;  mas  esla  bem  de  ver  que 
taes  o^labelecimentos  nuo  podem  niultiplicar- 
se  em  grande  escala. 

Assim  que,  bem  longe  de  ser  inutil  ain-ti- 
luiij'no  das  escliolas  do  doiningo,  pelo  con- 
trario  s.'io  para  as  escliolas  primarias  como 
auxiliar  iiidispensavel,  ou-  supplemoiito  na- 
tural. Ainda  mesmo  aos  que  nienos  aprovei- 
taram  nos  cursos  elemerlares,  sao  de  grande 
vanlagem.  E  ifio  facil  dcixar  esquecer  na 
casa  dos  paes,  ou  nas  officinas,  o  que  os 
meninos  teem  aprendido,  que  as  escliolas  do 
domiugo  lornam-se  nccessarias  ate  para  con- 
servar  e  fortalecer  n'elles  os  ronlieciinontns 
adquiridos.  Alnn  d'isso,  qual  seria  o  meio  do 
roparar  a  falta  d'instruc9ao  nos  adullos  e 
nas  peji-oas  d'edade  inadura,  que  ou  por  ne- 
gligeiicia,  ou  pela  falalidade  de  sua  posi(,'ao, 
a  nfio  receberain  na  infancia  1  E  observe-se 
que  ate'  aqiii  consideramos  a?  escliolas  do  do- 
niingo  quanto  no  ininimo  official  ;  porque  se 
atleiidermos  ao  fim  mais  complelo  e  serio,  a 
(pie  se  propOHUi  elevar  estc  ramo  da  iirsiruc- 
(j'fio,  mais  evideiite  sera  a  sua  ulilidad''. 
Oulra  ()ue^t^lo  contra    as  escliobis    do  do- 


miugo, (?  a  cerca  da  sua  organisa 


Di 


(pie  do  modo  pnr  (pie  e-lfio  orgauisadas  em 
SlocUliolmo,  nao  differem  umas  das  outras, 
e  por  isso  podem  considerar-sc  sem  fini  es- 
pecial, e  al(;  serem  jndifi'erenleinenle  freqiien- 
ladas  por  qualquer  e.-.pecie  d'alumnos. 

Uma  tal  appreliensao  deixa  d'cxistir  t\ 
respeilo  das  escliolas  de  (atecliisnio  e  de  so- 
letrajfio.  Poslo  que  a  doulriiia  elirislfi  e  a 
leilura,  cnlrcm  no  piogramnia  de  todas  as 
outras  escliolas,  nao  formam  lodavia  espp- 
cialidade  exdusiva;  s.'ioapuias  accessorio  on 
iiislriimenlo.  O  estudante  admillido  aosc^tu- 
dos  siiperiores  deve  necessariamenle  saber  l(?r 


69 


econliecer  cs  primeiros  elemenlos  da  rcligiao. 

A  queslao  lorna-se  mais  delicada  enlre  as 
escliolas  dos  officios  e  as  da  classe  media.  E 
na  verdade  parece  que  umas  e  outras  lendem 
para  o  inesiiio  fim  ;  e  de  tal  sorte  o  publico  de 
Stocliliolmo  lem-se  ]jreocciipado  quc,cadadia 
esla  lirando  os  meniiios  das  priineiras  para 
OS  mandar  as  segiindas.  L  uiii  erro.  Ainda 
que  as  cscholas  dos  officios  se  propoeii)  coino 
as  da  classe  media  a  formar  bons  artislas, 
OS  meios  que  empregara  para  o  conseguir 
nao  sao  identicos.  As  escliolas  dos  officios 
sao  para  as  da  classe  media  o  roesnio  que  os 
rudimenlos  a  respeito  da  sciencia,  e  a  inicia- 
5ao  para  o  aperfei^oamento.  A  consideral-as 
no  todo,  pode  dizer-se  que  e  um  estabeleci- 
raento  unico  em  dous  graos.  Assim  conio  e' 
necessario  passar  pelo  grao  inferior  antes  de 
subir  ao  grao  superior,  assim  tambem  nos 
ados  dos  fundadores  das  escliolas  sobresahe 
bem  claramente  esla  necessidade,  por  quanlo 
assignaram  sete  lioras  d'estudo  por  semana  as 
escholas  da  classe  media,  e  Ires  somento  as 
dos  officios, 

O  aniagonismo  das  escholas  da  Sociedade 
das  artcs  e  officios  com  as  da  classe  media 
ainda  e  mais  especioso.  Todavia  os  ha- 
bitantes  de  Stockholmo  nao  teem  cedido 
u  apparencia,  de  sorle  que  o  contingenle 
respective  nas  duas  escholas  tern  sido,  como 
devia  ser,  superior  nas  da  classe  media.  Entre 
a  eschola  da  Sociedade  das  artcs  e  officios, 
e  a  eschola  da  classe  media,  as  rela^oes  sao 
as  mesnias  que  entre  a  ultima  e  a  eschola 
dos  officios:  uma  e  o  desinvolvimento,  o 
aperfeigoamento  daoutra.  lintra-se  naescliola 
da  classe  media  para  adquirir  conliecimentos 
de  redacgao  e  de  conlabilidade  que  exigem 
as  profissoes  indiistriaes,  depois  passa-^e  a 
eschola  da  Sociedade  das  artes  e  officios  para 
fazer  applicagao  lochnica  d'estes  conliecimen- 
tos. O  menino  ou  adulto  que  salie  da  eschola 
da  classe  media  e^ta  habililado  para  vir  a 
ser  um  bom  artisla,  ou  habil  industrial;  mas 
ja  o  devp  ser  quando  sabe  da  eschola  da  So- 
ciedade das  artes  e  officios. 

Cada  escliola  do  doiniiigo  tem  por  lanlo 
seu  fun  especial,  e  funcgao  independente ; 
nenhuma  rivalidade  existe  enlre  ellas,  nein 
e  de  recear  que  a  prosperidade  d'uma  pro- 
mova  a  decadencia  ou  exiincg.iod'outra  ;  mas 
por  mais  isolada  que  seja  a  sua  esphera  d"ac(;ao 
respectiva,  ha  um  lagoque  as  line  uistiucliva- 
njente,  e  que  de  certo  niodo  as  submetle  a 
lei  d'uma  solariedade  commum.  Donde  resulla 
para  os  fundadores  a  obrigagfio  de  as  nfio 
separar  em  seu  zelo,  mas  antes  apertal-as 
cada  vez  mais  n'uma  estreita  jerarcliia,  e  sem 
diminuir  a  forga  particular  de  cada  uma, 
fazel-as  convergir  todas  systemalicamente  para 
o  fim  principal. 

Para  melhor  fazer  sentir  esta  necessidade, 
diz  Walander '  ,  e  para  esclarecer  ao  mesmo 

'     Om  Stockholmi  stalls  SondagBskolor,  1851. 


tempo  aqnestao,  conve'm  estudar,  como  termo 
de  compararao,  as  escholas  do  domingo 
em  todos  os  paizes  da  Europa,  ondc  sua  or- 
ganisa<;rio  offercce  as  melliores  condigoes. 
Por  este  motivo  escoihe  as  de  Munich :  e 
com  effeito  as  escholas  do  domingo  em  loda 
a  Allemanha  sfio  as  que  mais  se  distinguem 
pela  excellencia  de  seus  resiiltados. 

Wallander  apresenta  um  bosquejo  geral 
do  syslema  d'escholas  practicas  ou  teclino- 
logrcas  estabelecidas  na  Baviera,  coniprehen- 
dendo  tanto  as  escholas  quotidianas  como  as 
do  domingo. 

Desde  OS  ultimos  annos  que  em  toda  a  Al- 
lemanha este  genero  d'escholas  leve  immenso 
desinvolvimento.  Tal  devia  ser  o  effeito  das 
tendencias  progressivas  d'este  paiz  para  a 
vida  practica.  ISa  Baviera,  o  estabelecimento 
das  escholas  technologicas  data  propriamente 
de  1033,  epocha  em  que  o  rei  reorganisou 
n'este  sentido  quasi  todo  o  syslema  d'inslruc- 
5ao  publica  de  seus  estados. 

O  systema  d'instrucgao  publica  da  Baviera, 
considerado  no  todo,  parteseem  duas  grandes 
divisoes,  a  saber:  1.°  divisao  scienlifica,  sub- 
divldida  em  duas  secgoes,  classica,  e  techno- 
Ingica  superior;  2.°  divisfio  popular,  ousecgao 
technologica  inferior.  O  esludo  da  lingua 
ialina  e  obrigatorio  para  todos  os  que  seguem 
OS  cursos  da  divisao  scienlifica. 

A  secgao  technologica  inferior  e  a  que  tern 
relagao  com  o  nosso  objeclo,  pelo  que  nos  oc- 
cuparcmos  especialmenle  d'clla. 

A  ordenanga  real  de  16  de  fevereiro  de 
1833,  une  a  esla  secgao  tres  generos  de  esta- 
belecimentos:  lyceu  ,  gymnasio,  eschola.^ 

O  lyceu,  verdadeiro  institulo  polylechnico, 
e  o  ponto  culminante  de  loda  a  instrucjao 
technologica  popular. 

Segue-se  o  gymnasio,  que  forma  industriaes 
e  agricultores;  n'elle  ha  tres  escliolas  do  do- 
mingo, sendo  uma  dellas  d'lnslrucgao  pri- 
maria. 

A  eschola  finalmenle,  prepara  para  o  gy- 
mnasio, e  occupa-se  tanto  dos  elemenlos  de 
technologia,  como  dos  principios  d'instrucg.'io 
popular. 

Alein  da  universidade  technologica,  islo 
e',  da  eschola  superior  para  a  instrucg'io  te- 
chnico-scientifica  ,  cuja  se'de  e  em  Munich, 
lem  a  Baviera  tres  escholas  polytechnicas 
estabelecidas  em  Munich,  Augsburgo,  e  Nu- 
remberg, vinte  eseisgynina>ios  technologicos, 
e  grandenumero  deescholas  do  mesmogenero 
diffundidas  por   todas  as   localldades  do  paiz. 

O  alumno  e'admillido  na  eschola  desde  a 
edade  de  seis  annos,  e  conlinvia  ate  a  edade 
de  doze  ou  treze  annos.  Passa  depois,  se 
quer  proseguir  em  sens  estudos,  ou  para  o 
gymnasio  industrial,  ou  para  o  agricola.  Se 
escollie  o  ultimo,  a  sua  educagao  lermina 
desde  que  seguiu  todos  os  cursos;  se  preferiu 
o  primeiro,  pode  ainda  depois  frequentar  a 
eschola  polytechnica.  No  caso  de  sahir  da 
eschola  para  loraar   um  estado  que  Ihe  faja 


70 


inteiTomper   seus  esludos ,   ser;i  obrigado   a 
frequentar  al^uma  cscliola  do  domingo. 

iisle  rapido  nshogo  inostra  de  que  niodo  a 
inslriiccao  lechnolofjica  da  Baviera  esUi  or- 
"anisada;  mns  para  forinar  ideia  inleirainenle 
coniplela,  ciinipre  examiiiar  qiial  e  o  pro- 
"rainina  d'e^lndos  eni  viguf  nas  escliolas  do 
domingo  perlencenios  aos  gymnasios,  isto  e, 
nas  escUolas  que  correspondem  as  dos  oflicios, 
da  classe  media,  on  da  Socicdade  das  artti  c 
officios  de  Slocliliolino. 

Desde  1793  que  na  Baviera  existem  esclio- 
las do  domingo;  mas  em  lii33  foram,  como 
se  observou,  reot-ganisadas  e  ligadas  ao  syste- 
ma  {^eral  da  inslruc^ao  publica  do  reino.  A^ 
tnaterias  que  fazem  ohjecto  do  ensino,  se- 
gundo  o  prograrama  publicado  em  1837,  e 
em  pleno  vigor,  sao  as  seguintes  * : 

1."  Rdigido  — Doiilriiia  christa.  Historia 
resumida  dareligiSoda  egreja.  Moral  eciirso 
abbreviado  de  jurisprudencia,  comprebenden- 
do  as  qucsloes  de  direitoque  mais  frequenles 
vezes  se  apresenlam  na  vida  civil. 

2."  Mathcmaticas. — Algebra  ate  as  equa- 
goes  do  segundo  grilo  incliisivamenle.  Geo- 
melrra.   Geometria  descripliva. 

3."  Historia  natural.  — Botanica.  Zoolo- 
gia.  Pliysica.  Techuologia  cliimica.  Techno- 
logia  mechanica.  Estudo  de  mercadorias,  isto 
e,  das  materias  mineraes,  vegelaes  e  ani- 
maes,  como  arligos  de  commercio. 

O  ensino  d'estes  diversos  ramos  deve  set 
puramente  popular;  nao  e  permittido^  aos 
mestres  Iratar  as  questoes  theoricas  senuo  as 
que  fnrem  absolulameiile  indispensaveis  para 
intelligencia  das  questoes  practicas  ;  pois  que 
o  fim  das  escbolas  teclinologicasdo  domingo 
nao  efazer  sabios,  pori'jn  bomeiis  deapplica- 
gao  iliustrada,  e  de  tralwillio  ulil. 

4.°  Sciencia  dtis  vwcliinas.  —  Rodas.  Pa- 
rafuso.  Emprego  das  cadeias,  cabres,  t'erro- 
llios,  etc.  Hydrodynamica  e  macliinas  de 
vapor. 

5."  Mechanica  practica.  —  Emprego  das 
diversas  ferramentas  ou  instrumeritos  mecha- 
nicos.  Fabricai^ao  de  modelos  dos  instruinen- 
tos   de  pliysica,  d'oplica  e  de  inatliemalicas. 

6.°  ^rlcs  ceramicas.  —  Moldar  em  cera  ou 
n'oiUras  materias  ornamentos,  baixos-relevos, 
bustos,  capileis,candelabros,  vasos,  etc.,  ludo 
segiindo  OS  trabalbos  dos  inelhores  moatres. 

7.*  Desenho.  —  Desenlio  d'ornato.  Archi- 
lectura.  Macbinas. 

8.°  Estudos  praciicos.  —  Calligrapliia.  Or- 
ihograpbia.  Formulas  de  commercio.  Conlabi- 
lidade.  Syslemas  monetarios.  Historia  e  geo- 
grapliia,  consideradas  com  relajfioii  industria 
e  aos  productos  naturaes. 

Taes  sao  as  materias  da  instruc<;ao  nas 
escbolas  do  domingo  da  Baviera.  E  de  adver- 
lir  que  cada  escbola  particular  nao  compre- 


*  Pro^ramm.  iilier  die  verschio  de  neo  Unlerriclils- 
Gejens  stand  der  Ilnndlw.  uad  Feierlagsichulc  in 
Munchcii,  1037, 


lionde  lodas  cslas  materias  ao  me=mo  tem- 
po;  sfio  distribuidas  por  muitas  escliolas,  de 
sorte  que  o  seu  ensino  tern  logar  simiiltanea- 
monle  em  sallas  spparadas,  ou  nas  mesmas 
sallas  em  lioras  diflerentes.  Todos  esles  esla» 
belecimenlos  porem ,  sejam  quaes  forem  a* 
suas  condi^oes  d'exercicio  ,  esl.'io  ligadoS 
eslreitamente,  formaiido  um  syslema  d'escho- 
las  donde  dimana  a  mais  perfeita  unidade 
d'ensino. 

Comparando  as  escbolas  bavaras  corti  as 
de  Slockliolmo,  resiilla  nova  prova  da  ulili- 
dade,  ou  antes  iieccssidade  de  cada  lima  das 
ultimas,  e  sobresalic!  egualmenle  um  modelo 
magnilico  pelo  qual  a  Sociedade  das  arUk  i 
officios,  bem  como  as  escbolas  da  classe  me* 
dia  e  as  dos  officios ,  nao  teriarh  mais  do  que 
regular-se  para  estabelecer  com  toda  a  per*, 
feij.'io  essa  unidade  systematica  que  somente 
pode  a  sua  ac^.io  assegurar  cfficaz  efleito. 

Por  fim  Wallander  faz  longas  ronsiderai 
<^oes  a  cerca  das  reformas  que  ainda  sao  ne» 
cessarias  nas  escbolas  do  seu  paiz  para  cbfei 
garem  a  maior  grao  de  perfei^.'io,  e  pfopoe 
OS  meios  para  o  conseguir,  e  que  em  geral 
consistem  em  centralisar  a  adminrstrat;.no  de 
todas  as  escbolas  do  domingo,  e  feorganisar 
o  programina  das  doutrinas  debaixo  de  novo 
piano,  intervlndo  para  se  realizarem  as  refor* 
mas  propostas  o  governo,  por  cujo  concurso, 
que  effectivamente  teve  logar,  as  escbolas  do 
domingo  na  Suecia  dentro  em  pouco  eguala- 
rao  as  da  Baviera. 


CONCOURENCIA. 

^.Continuado  de  pag.  57. 

Mas,  voltando  ao  ohjecto  de  que  nos  oc- 
cupamos,  vemos  que  na  ordeai  economica  o 
facto  da  especie  bumana  nao  ter  a,  sua  dis- 
posig.TO  um  fundo  de  riquczas  inesgotavel, 
creou,  em  comedo,  a  concorrcncia,  edepois  a 
accumulag.'io  das  for^as,  a  fim  de  fuzerem 
convergir  sompre  para  o  interesse  commum 
todos  OS  resullados  da  actividade,  pela  vanta- 
ge™ reconbecida  dessa  reciprocidade.  A  con- 
corrcncia pois  lem  a  sua  origem  na  insuf- 
ficiencia  dos  bens,  a  que  se  aspira,  e  no  desejo, 
bem  natural,  que  cada  um  tern  de  obter  a 
mclhor  parSe.  ..  Nascida  com  os  homens,  ella 
vivera  em  quanto  estes  n.'io  tiverein  .^cliado 
o  meio  de  multiplicar  infinitamente  todos  os 
objeclos  dos  seus  desejos.  n  diz  Cb.  Coque- 
lin. 

Que  a  base  ou  origem  da  concorrencia  scja 
a  que  assigna  este  estimavel  economisla,  nfio 
o  duvidamos;  que  ella  porem,  tal  qual  boje 
se  apresenla,  haja  de  ser  a  sorte  permanente 
da  socicdade,  n.io  o  acredilamos.  Em  jliosso 
entender,  a  concorrencia  e  um  elemento  de 
transigao  entre   o  systema  de  privilegio,   e  o 


n 


da  livre  e  geral  associagao  a  que  a  coticor- 
rencia  lia  de  conduzir.  Com  esla  idea  nSo 
queremos  proclamar  a  anniquilajfio  da  con- 
correneia  ;  e  ella  a  lei  superior  da  ordem 
economica,  lei  que  sempre  a  lia  de  acompa- 
nljar  ;  queremos  sim  dizer,  que  a  concorfen- 
cia  teude  a  manifeslar-se  debaixo  d'uma  oulra 
face:  a  sua  esseucia  porem  e  a  mesma. 

Se  a  lei  das  necessidades  e  uuia  lei  neces- 
sarian a  lei  dos  meios  de  as  salisfazer  deve 
sel-o  ej^ualmente.  Tal  e  a  lei  suprema  que 
subordina  loda  a  espbera  economica:  desen- 
volvainol-a.  O  principio  das  necessidades  e 
dos  meios  de  as  salisfazer,  e  o  principio  su- 
premo de  todas  as  scieiicias  practicas,  e  ainda 
Iheoricas;  aquellas  satisfazeudo  as  necessida- 
des da  vida  praclica  ;  estas  as  da  vida  iiilel- 
lectual,  se  assira  pode  dizer-se.  Analysal-a- 
hemos  unieamenle  na  espliera  economica,  no- 
tando  todavia  a  liga^ao  queaqui  inesmo  lem 
a  sciencia  economica  com  lodas  as  sciencias 
fillias  da  razao  practioa,  ate  mesmo  pela 
idenlidade  da  lei  que  e  chatnada  a  realisar. 
As  necessidades,  ou  reaes  on  ficlicias,  quando 
sac  apreciadas  nas  suas  manifestagoes,  reves- 
tem  ambas  um  mesmo  caracler ;  isto  e,  sao 
todas  determinadas  pela  natureza  liumanana 
qual  se  contera  real  ou  etnlnenlemente.  Se 
no8  elevamos  a  toda  altura  dos  principios, 
ahi  leconhecemos  que  toda  a  sciencia  eco- 
nomica se  refere  a  esphera  das  necessidades 
humanas,  pela  parte  ein  que  dizein  respeito 
as  exigencias  economicas,  e  aos  meios  egual- 
mentc  economicos  de  as  satisfazer. 

O  lioinem  carece  de  meios  de  desenvolvi- 
mento:  eis  o  typo  por  onde  se  liao  de  aferir 
todas  as  sciencias,  filhas  da  razao  praclica  ; 
a  nalureza  porem  desscs  meios  deterniina  a 
natureza  da  sciencia,  a  qual  incumbe  realisal- 
os.  Nesta  esphera  a  soinma  efl'ecliva  das  ne- 
cessidades deve,  em  regta,  determinar  a  som- 
ma  dos  meios,  que  teem  de  ser  empregados  ; 
e  enlendemos  por  somina  effectiva  de  neces- 
sidades, aquella  que  resta  depois  de  apre- 
ciadas as  condijoes  que  as  embara^'am  ou 
modificain,  porque  so  depois  de  um  tal  pro- 
cesso  de  subtrac^-;'io  e  que  ellas  se  apresenlam 
no  faro  exlerno  exigindo  salisfagao. 

jQual  e  porem  o  principio  que  deterniina 
o  iiumero  e  grau  das  necessidades?  ISenhum 
outro,  por  certo,  seuao  a  natureza  liumana 
em  todos  os  seus  modos  de  exigir  realisayao: 
a  natureza  huniana  pois  e  o  principio  supre- 
mo, e  a  lei  pela  qual  devern,  e  so  podem  ser 
marcadas  as  necessidades  liumanas  em  seu 
numero  e  intensidade.  IJclativamente  aos  mei- 
os, e  por  consequencia  a  acyao  economica,  a 
lei  deve  ser  a  mesma  ;  se  so  a  natureza  pro- 
voca  as  necessidades,  so  ella  prxle  deterininar 
a  quantidade  e  qualidade  dos  meios;  so  pois 
a  natureza  huraana  ea  lei  suprema  na  esphe- 
ra economica.  Nao  basia  que  todos  os  em- 
pregos  da  industria  eslejam  occupados  sem 
solujao  de  contiuuidade,  e  sem  lacunas;  e 
mister  alem  disso  que  elles  sejani  empregados 


na  medida  conveniente,  isto  e,  que  o  nut7iero 
dos  homens,  que  os  preenchem,  e  a  somma 
das  foryas  ou  dus  capitaes  que  Ihes  sao  con- 
sagrados,  sejam  sempre  proporcionados  a  ex- 
tensao  real  dos  trabalhos  que  devem  fazer-se. 
J  Quern  sera  porem  capaz  de  fornecer  esla 
justa  medida!  Se  a  natureza,  isto  e,  se  a 
evolugao  livre  do  liomem  e  da  sociedade,  na 
escala  social,  determinam  o  nurtiero  e  inten- 
sidade das  riecessidades ',  o  numero  e  inten- 
sidade dos  meios  aclia-se  por  ahi,  e  so  por 
ahi  deleriliinado.  Mas  se  as  necessidades  sfio 
um  resultado  da  evolu^ao  da  aclividade  livre 
do  liomem,  na  determina^ao  das  condi^oes 
elle  nao  pode  apartar-se  desse  carninho,  sob 
pena  de  faltar-Ihe  a  propotcionalidade :  o 
elemento  da  liberdade  e  pois  utna  condicjao 
indispensavel  nesse  processo,  em  que  sao  de- 
termjnados  os  meios,  o  seu  numero  e  inten- 
sidade. Se  esta  deduc^ao  porem  e  logica, 
tainbem  oca  sua  consequencia,  e  por  isso  a 
livre  concorrencia  apparece  desde  logo  como 
expressao  ptactica  ou  realisada  desse  princi- 
pio siibjectivo. 

Effectivamente  supponhamos  a  hypothese 
opposta,  em  que  a  um  poder  social  incumba 
determinar  essa  ordem  de  meios  em  quanti- 
dade e  qualidade.  Se  os  meios  sao  provoca- 
dos  pelas  necessidades,  e  devem  ser-lhes  pro- 
porcionaes,  para  sustcntar  a  harmonia  econo- 
mica seria  mister,  ou  que  esse  poder  social 
podesse  determinar,  ou  crear  as  necessidades; 
ou  que  ao  menos  podesse  prompta  e  rapida- 
mente  aprecial-as,  e  apreciar  egualmente  e 
pela  mesma  forma  os  meios  de  as  satisfazer, 
para  que  deterininando-as  assim,  mantivesse 
o  equilibrio  e  harmonia,  em  que  deve  basear 
a  sociedade.  Cicero  dizia  que  os  estados  das 
causas  eram  infmitos,  —  iiifinitam  silvam  ; 
nos  poderemos  dizer  o  mesmo  relativamente 
as  necessidades.  Com  effeilo,  pertender  que 
o  poder  social  determine  as  necessidades,  e 
uma  aberra(;ao  tan  saliente  do  senso  corn- 
mum,  que  nao  nos  cansaremos  em  refutar 
um  tal  syslenia. 

Mas  nem  sequer  concedemos  a  esse  poder 
a  prompta  e  cxacta  apreciajao  das  necessi- 
dades individuaes,  e  por  isso  dos  meios  pro- 
ximos  de  Ihes  occorrer.  Esse  invenlario,  por 
assim  nos  explicarmos,  das  necessidades  hu- 
manas cm  todas  as  suas  escalas  e  variadas 
combinacoes,  seria  o  invenlario  das  forgas 
todas  da  huinanidade.  j  Que  forcja  artificial 
ha  ahi  que  as  possa  apreciar  a  todas  com  exa- 
ctidiio  ?  Haveria  pois  uma  impossibilidade 
absoluta,  insuperavel,  para  que  um  tal  poder 
social  podesse  funccionar. 


*  Ainda  as  mesmas  necessidades  naliirat's,  [tara  lerein 
representa^ao  na  esphera  eeonooiica,  carecem  da  mani- 
festa^ao  e  ac<;?lo  livre  dos  horoens  ;  e  por  consequencia. 
quando  podem  ser  chamadas  verdadeiramenle  economi- 
cas, sao  sempre  essencialmenle  dependenles  da  liljerdadp, 
porfiue  e  quando  se  refcrem  a  ar<:ao  ile  Ihes  procurar 
realiaarao. 


72 


So  a  naliircza  pois,  que  delermina  ns  ne- 
cpssidade>,  pode  deterniinar  o  numero  c  qua- 
lidade  dos  meios  de  as  salisfazer.  O  facto  da 
offeria  e  do  pedido ,  manifesta  os  resukados 
practices  dessa  niysteriosa  ac^ao  social.  A 
iiiesina  ac(,'ao  que  deterininar  as  necessidades 
provoca  os  nicios  :  esta  ac^ao  e  a  ac^'ao  da 
natureza  toda,  e  a  ac^.'io  da  lilieidade,  e  por 
isso,  ein  phrase  economica,  a  concorrencia. 
Ori^inariamenle  e  o  pedido  o  que  detenniiia 
aofferta;  esta  depois  inline  no  pedido,  mas 
a  ordem  natural  e  a  que  indicauios.  O  lio- 
inern,  sentindo  necessidades,  provoca  a  sua 
satisfaij'ao, — pedido:  os  outros  liornens,  reco- 
nliecendo  este  chamamenlo,  concorrem  olTe- 
recendo  os  meios  que  possuem  capazes  de 
satisfazerem  essa  ordem  de  necessidades, — 
offeria.  lilevemos  esle  processo  a  loda  a  altu- 
va  da  llieoria  ,  e  teremos  a  concorrencia.  Eis- 
aqui  a  base  da  concorrencia,  tanto  individual 
coino  social,  aquella,  em  que  se  du  uma 
especie  de  conibate  entre  individuo  e  indivi- 
duo,  ha  de  provocar  esta,  como  meio  niais 
proficuo  de  salisfazer  as  exigencias  indivi- 
duaes,  fazendo-lhes  peider  esse  caracler  todo 
accidcnlal  de  guerra,  que  inostraremos  nao 
ser  essencial  a  concorrencia. 

Noseio  de  uina  vasta  associaQao  economica 
para  os  socios  internamente  nfio  lia  guerra  ; 
todavia  essa  associagfio,  pelo  facto  de  nao  ser 
forgada,  conserva  era  si  o  eleniento  da  liber- 
dade  :  e'  elle  o  seu  motor.  E  entao  mesmo 
que  a  liberdade  encontra  o  seu  triumpiio  ver- 
dadeiro,  desprendendo-se  de  toda  a  foija  ex- 
tranha  que  a  liinitasse.  Generalize-so  esta  idea 
a  toda  a  esplipi'a  social,  consliluam  todos  os 
ramos  sociaes  vaslas  assoclagoes,  diversifican- 
do  so  pelas  localidades,  mas  intimainente  li- 
gadas  pelos  iuteresses,  e  eisa  gcneralisajfio 
^era  a  solugao  do  grande  problema  social. 
Mas  a  concorrencia  e  a  liberdade ;  consequen- 
temcnte  a  concorrencia,  como  lioje  a  conce- 
liemos,  perde  tanto  do  caracter  de  verdadeira 
concorrencia,  e  por  ls;0  de  liberdade,  quanta 
o  a  acgao  coercitiva  dessa  liberdade,  islo  e, 
em  proporgfio  C(im  a  intensidade  da  acgao, 
que  liinita  du  reslringe  a  liberdade;  o  reiua- 
do  pois  da  concorrencia  ainda  nao  estii  che- 
gado :   o  que  existe  e  urn  i(nperfeito  preparo. 

Nesta  ac(,'ao  da  liberdade,  que  produz,  on 
tem  como  elfeito  a  concorrencia,  manifesta-se 
esta  como  o  maior  eslimulo  da  arlividade 
geral.  ^^ao  podeinos  todavia  negar  que  pela 
concorrei'cia  individual,  isto  e,  fora  d'um 
eslado  co.npacto  de  associag.^o  livre,  ao  pas- 
so  que  muitas  vczes  e  exaltada  a  aclividade, 
outraSj  pela  nalureza  da  acgao  da  concorren- 
cia, essa  actividade,  e  extincta  ou  neutra- 
lisada.  j  Como  podera  o  pequeno  industrial, 
por  inais  habil  que  seja,  concorrer  com  um 
grande  capitalisia,  que  na  mesma  localidade, 
e  na  mesma  induslria,  pela  forga  dos  capitaes 
de  que  dispoe,  centralisa  esse  ramo  de  in- 
dustria,  reduz  o  cmpresario  inferior  a  dura 
condisao   de   ou    ir  engrossar   a  empresa   do 


capitalista,  na  qualidade  de  operario,  ou  ler 
de  mudar  de  empresa?  Aqui  evidenlcmente 
a  concorrencia  produz  um  effeito  coutrario 
ao  que  naturaln)ente  se  llie  nota.  Esse  facto 
reproduzido  conduz  a  uma  diminuigao  do 
emprego  da  actividade,  porquo  onde  cessa  a 
liberdade,  ou  e  reprimida,  os  seus  effeitos  o 
siio  tambem. 

Ja  as^im  nao  succede  no  regimento  da  as- 
sociajfio  livre;  ahi,  sem  predominio  de  for^'as 
sobre  fcrjas,  a  actividade  do  houiein  ha  de 
juanifestar-se  em  toda  a  sua  extensao,  por 
isso  que  obra  com  loda  a  sua  liberdade: 
consequentemente  o  reinado  da  concorrencia 
nao  e  o  regimen  economico  actual,  pois 
que  nelle  a  actividade  nao  se  desenvolve 
sempre  livremente,  e  por  isso  com  toda  a 
sua  inergia.  O  eslado  actual  pois  e  uma 
tiauH^ao  para  o  eslabelecimento  da  ver- 
dadeira c  livre  concorrencia  das  forgas  hu- 
manas,  desembarajadas  de  qualquer  coacjao 
ou  embarago  exterior  provenienle  da  vontade 
do  homem.  So  a  associajfio  livre  satisfaz  esta 
exigencia. 

J  Se  a  concorrencia  de  hoje  tende  a  destruir 
por  toda  a  parte  o  moiiopolio;  se  esse  facto 
e  Cbsencial  a  concorrencia,  qual  sera  o  motivo 
por  que  delle  nao  havemos  de  tirar  as  ulti- 
mas consequencias  ?  Se  a  concorrencia  faz 
guerra  aos  monopolios  legali^ados  com  o  ca- 
pital, com  este  mesmo  ella  a  deverd  fazer 
aos  monopolios  do  capital,  porque  os  capitaes 
mais  diminutos,  nao  podendo  a  sos  concorrer, 
procurarfio  na  associagio  a  poderosa  alavanca 
com  quepossam  destruir  essas  de^egualdades, 
que  OS  opprimem.  Se  o  traballio,  cotnprehen- 
dendo  o  seu  [toder,  se  apresenlar  ein  frenle 
do  rapilal  (irabalho  accunuilailo),  de  qual 
sera  a  victoria!  Nao  duvidamos  aflirmar  que 
o  capital,  sob  pena  de  ficar  improductivo, 
lera  de  abrir  suas  portas  ao  operario,  e  re- 
conhecendo  nelle  um  capitalista,  associar-se 
para  procurarem  conjuntameiite  o  seu  engran- 
decimenlo,  em  vez  da  sua  destruijao,  a  paz 
em  vez  da  guerra. 

ContinUa,    i.  b.  da  s.  f.  de  C.  MARTENS. 


0BIGI!)1    DOS   NOMES     DE     MAR    YERnELBO,     MAS 
iMARELLO,    MAU    BRiXCO,    ETC. 

A  existencia  de  cerlos  plienomenos  locaes, 
como  algas  microscopicas  rubras  ou  amarel- 
las,  de  que  por  vezes  se  tem  occupado  a 
academia  de  Franca,  nao  esegundo  Paravey 
a  causa  porque  os  mares  diversos  teem  sido 
denominados  por  essas  cores  ou  por  oulras. 

Ignora-se  que  no  Mediterraneo,  chamado 
mar  Branco  no  Oriente,  tenliam  apparecido 
algas  brancas ;  niio  se  tem  encontrado  algas 
negras  no  Ponto-Euxino,  donde  recebesse  o 
nome  antigo  de  mar  JVegro.  O  golpho  Persico 
chama-se  mar  f^crde  entre  os  Oricntaes,  e  o 


/  3 


Oceand,  a  cslo  da  Cliiiia,  tciii  e?;iialineiUi'  o 
nome  de  mar  p'crde  (  Tsini^-Hay)  ■  n'elle 
nfio  tcpin  sido  achadas  algas  iiiicioicopicas 
colnradas  de  veide. 

O  calendario  Yue-ling  com\irii\.o  no  tempo 
d'AIPxandre,  e  conservado  na  Cliiiia,  calen- 
dario romliinado  cm  Assyria,  paiz  cenlral,  e 
n.'io  na  Cliina,  dcsi^na :  o  norte^  dc  negro;  o 
eslc,  pcla  cor  vcrdc  •  o  S7(/,  pcla  rubrdj  o 
(icste,  do  branco  •  e  o  centra  pela  cur  amarel- 
la  oil  iiliiranjada. 

\'.  aiiida  liojc  as  cldades  orienlndas  do  reiao 
de  Tong-lcing  teem  as  portas  do  iiorle 
|)iiit.adas  de  negro;  a  esle,  de  verde;  do  sul, 
de  verniellio;  a  oesle,  de  l>ranco  ;  em  qiiaiilo 
o  palacin  cenlral  do  sobcrano  e',  coriio  tam- 
liein  na  Cliina,  coberto  de  lellias  esinalladas 
e  amarcllai.  'J'al  sviteiiia  riinemonico  e\isle 
desde  a  iiiais  reniota  aiili^iiidade  na  A^ia,  e 
cnire  o?  anligos  Arabes  c  Clialdeos. 

Siipponlia-5c  estar  junto  dn  Palmyra,  como 
cenlro,  e  na  Syria,  paiz  central  e  mnarello, 
senlido  cssenci.il  do  tiniiie  de  Si/ria,  e  que 
fez  chamar  o  Jaxaiie,  Sir-Dariaou  rio  Aiiia- 
rello,  cntre  noj  cor  de  cera;  ao  norle  fica  o 
Ponln-Hiixino,  d'alii  iionieado  mar  Negro  j 
ao  sul  o  goI|)lin  Arabico,  doiide  vem  diicr-se 
f^eriiitllioj  a  c's/eogolplioda  Persia,  cliamado 
mar  Fcrde  enlre  03  Orienlaes;  a  ocdc  o  Me- 
iliterraneo,  denoiiiinado  av.v:  Branco  (acTlia- 
lissn)  pelos  Oiientaes. 

0  syslema  antigo  da  civilisacio  liierogly- 
pliica  da  Assyria  e  da  Syria,  e  segiiido  aqiii 
do  niesmo  inodo  que  o  Coi  depois  na  Cliina, 
quaiido  OS  livrns  da  liabylonia  e  do  Egyplo 
])ara  alii  foram  levados  para  scrern  feliziiiente 
conservados,  mas  ainda  nfio  coriipreliendidoj. 

Todavia  os  Scijthas  qne  miiito  antes  de  nos 
sabiani  que  os  monies  Paiiier  eram  o  ponlo 
enlmiriaiit.e  do  ginbo,  applicaram  os  mencio- 
iiados  nonies  dos  qualro  pequcnos  mares  aos 
qiialro  Oceanoi  limiles  da  Asia,  onde  liabita- 
vam. 

O  Oceano  Glacial  foi  cliamalo  mar 
Tcnebroso  ou  Negro  ;  o  Oceano  ao  sid  dos 
monies  Pamer  c  dos  Indos,  foi  nomeado 
mar  Erijlhreo  ou  yermclho,  jjorcjue  recebeu 
tainbem  o  norne  d'um  rei  que  alii  dominou, 
e  que  citam  os  livros  conservados  na  Cliina: 
o  J\hditcrranco,  a  oe'ste,  conservou  o  nome 
de  mar  Branco  j  e  o  nome  de  mar  Kcrdc, 
do  golplio  Persieo,  dou-se  como  fica  dilo  ao 
Oceano  que  banliaa  Cliina  a  e=le,  niar  Tiins- 
Hay. 

O  mar  Caspio  e  ccntralj  onde  de-agiia  o 
rio  Atnarello,  Sir-Darin  on  Jcjc.nte^  era 
poia  o  veidadeiro  mar  ^^hnardlo^  por  i:;so  que 
oanlia  a  JMcdia^  ou  o  paiz  do  JMcio  ^  c  bc  o 
^^olpho  de  Peking  tern  sido  cliamado  mar 
.^marelloi  foi  pelas  me^mas  causas  deor;juiho 
(pie  depois  d'AIexandre  fizcram  com  que  a 
Ciiiiia  por  muilo  tempo  barbara,  se  chamas- 
se  J/npcrio  do  JMcio. 

^Final.'iieiite  como  prova  d'antigas  migra- 
qoei  d*Asia  para  America,  Paravev  mortra  a 


5emelhan(;a   de  dtias  palavras  que  significam 
plnnta,  uma  em  Guarani,  e  a  otilra  em  Co- 

chinchinez. 


P.  OVIDIO  NAZAO: 

Dos   Tristcs — Livro  5,°:   Elcgia  14. 

AUGUMEMO. 

E  esta  elegia,  a  ultima  dos  cinco  livros 
dos  Irisles,  dirigida  por  Ovjdio  a  sua  esposa, 
na  qnal  Ilie  promette  uma  gloria  immortal, 
e  accrescenta  que  muilas  liaveri'i,  que  embora 
a  tenham  por  miseravel,  liao-de  assim  mcsmo 
mvejar-lhe  a  sorte,  e  julgal-a  feliz.  Diz-Ihe 
mais,  que  nao  poderia  dar-Ilie  um  bem  niaior 
do  que  immorta!isaI-a  nos  seus  escriptos ;  e 
sendo  assim,  exliorta-a  a  que  Hie  permane^a 
sempre  fi^I,  a  fun  de  que  por  ninguem  po5- 
sa  jamais  ser  accusada :  e  prova-ilie  coui 
graude  numero  dc  exemplos  de  igual  fidelida- 
de  de  diffiirentes  e?posa3  para  com  seus  ma- 
ridos,  que  a  memoria  destas  nunca  em  tempo 
algum  deixou  de  ser  celebrada. 

Quanta  os  mens  versos  nomeaJa   posaaui 
D  ir-te,  o  ctinsurte,  para  mhu  mais  chara, 
Du  que  a  mim  mesiuo  o  suii,  bem  ves,  beru  sabes, 
Embura  ao  sen  aiiclor  roube  a  fnrtuna 
Quanlj  bom   Ihe  aprouver  ;   lu   sempre  iilustre, 
Do  men  eni,'enho  viveras  una  obras  ; 
E,  em  qiiaiito  en  liilo  filr,  a   fama  lua 
l;,MiahnejUe  sera  liila  comi'^o, 
\em  tutla  poderas  iH   Irisle  pyra 
Nos  ares  tiesl'azer-te  e  e\'aporar-(e. 
Do  inarido  infeiiz  possas  embora, 
ParcctT  com  o  infuiluniu  niiserantia, 
Algiiinas  acliaras,  que  ser  qiiizpssem 
O  mc^mo  que  tii  <J3  ;   e  que  ditosa, 
Te  jnk'ueni  e  le  invejeni  doa   meus  male^, 
O  ser,  bem  como  tn,  parlicipaules  : 
Nem,  se  riquezas  miiitas  cii  te  desse, 
^Iiiilo  mais  te  daria  :   (ii  muila  sly;::e 
Nada  It-va  ij'inn  rico  a  vacua  sombra). 

—  Dei-le  do  um  nome  perennal  o  friictu  ; 
A  dadna  tens  pois  maJor,   que  cu  puile 
OiFejUr-te:  accrcscenla-lhe  o  quilale, 

Da  honra  nao  exi:;iia,  que  te  eiifeila, 
Da  iinica  seres  defensura  miiilia. 
De  emudccida   nunca  em   leu9  louvores. 
Andar  a  ininha  voz  ;  e  um  nobre  orgulbu 
Deves  seiidr,  ao  ver  que  o   leu  consorlc 
Sabe  ao  jiisto  estimar  tuas  \irlndes: 
Trabaltio  j>or  fazer,  que  tfmerarios 
De  li  ninguem  furiuar  juizos  possa. 
E  conjugal  lambcm  Odelidade, 
ConsL-rva  ao  t-sposo  Ifu  misero  ausentc  : 
Puis  sem  torpeza  conjugal  viveste, 
Irreprelienshel   na  bondade  e  fama, 
Em  qiianto  nog  unio   a  sorte  eai  Roma. 
E  a  tama  propria  minlia  a  tna  a;;ora 
Desbarale  causou  ;  com  mais  conspicuas 
Obras  tiia  virlude  se  asslgnale. 

—  Facil  cousa  e  ser  boa,  quando  ao   loii;:e 
A  causa  existe,  que  o  cuntrario  veda  ; 

Nem  a  casada  lem  nada  que  Ihe  obsle, 
A  que  aos  deveres  seus  de  cumprimenlo ; 
Mas,  quando  sobre  o  esposo  o  cto  fiihijna, 
Aquella,  que  a  borraeca  nao  se  evade 
Da  do  amor  conju;;al  cximias  provas  : 
Sim  e  rara  a  virlude,  que  a  lorluna 
Com  sobcrano  imperio  nao  T'overna  ; 


74 


Poreui,  quando  esla  foge,  a  que  eui  sen  poslu 
Estavel  se  niantom,  {sc  al^uma  e.xisle) 
Do  «eu  porle  em  si  mesma  a  j)a;:a  t-ncunlra, 
E  DOS  trances  exlrenua  se  apreienta. 

—  Qiialquer  o  tempo  seja.  qire  ennumeres, 
Nenhum  calara  seculo   o  ten  iiorae, 
Todus  U-  admirariio,  lo^'ares  qiiantos 
Do  orlie  os  caminhus  alirem,  palenleam  ; 
Nao  VL'S  com  apu9  inda  exteiisa  idade 
De  Penelope  a  i'c  louvada  exisle  ? 
Como  d'ella  perenne  o  nome  dura  ? 
D'Heitor,  d'Adiuelo  como  sao  conladas 
Hoje  ainda  as  cspnzas,  e  a  memoria 
Da  filha  de  Iphis  vi\p,  porque  ousara 
Sobre  a  accessa  fu^iicira  arremessar-fe? 
Como  na  fama  exisle  a  Philagea 
Cooaorte,  cnjo  esposo  o  chiio  Iroiano 
Com  sens  lijrciros  pes  calcou   primeiro  ? 

— ■  N.'io  precisHS  por   mim  uiorrer,  so  basia 
O  moslrar-te  fiel  e  lerna  amante, 
Sem  buscar  lama  por  difficeis  artes : 
Nem  jiilfijar  deve?,  purque  assim  iiao  obras. 
Que  estas  admneslaruL's  eii  te  dirijo  ; 
Desfraldo  as  vt-llas,   poslo  que  o  naviu, 
So  dus  remos  levado,  as  ondas  curia  : 
Quern  le  admocsia  e  exliorla  a  que  pratiques 
O  niesmo  que  ju  J'.izes,  quando  admoesta 
Tambem  ao  mesmo  tempo  as  ubras  tuas 
Com  a  sua  c\burlai;rio  luu\a,  e  approva. 

F.  DE  CARVALHO. 


DOCUMEMOS  IXEDITOS. 

Carta  que  o  viso^rci   D,  Joao  de  Cnstro  esrrcvco  a 
el-rei  nosso  senhor  o  anno  dc  4G  (1546) 

Cunliiinado    Je  |)0g.   35 

Taoliein  llic  toniamos  inais  lodalas  monijoes 
de  seu  canipo,  c  aos  Laacarins  coucedi  o  saco 
da  cidade.  Da  ruinlia  gente  iiiorrerao  obra 
de  sessonta  liom(~»,  e  ficariao  I'eridos  trezen- 
tos.  Os  mais  dosles  niortos  e  feridos  forao  ao 
sair  da  fortalcza,  e  Irepar  das  imirallias .  que 
sobiinos  sem  escadas,  iiem  ouLro  eslonneuLo 
de  gucira ,  salvo  ajiidando  liuns  a  outros. 
Para  o  que  nos  den  giande  alivio  ISicolao 
Gon^alves,  o  qual  com  a  armada  das  fustas, 
que  lliedeixei,  arremeteo  a  praya  do  haluar- 
le  de  Diogo  Loprs  cm  amunliecendo  com 
grande  eslrom  de  Uombeta?,  e  alabales ,  que 
era  o  tempo  ,  que  eu  sai'a  da  forlaleza  ,  despa- 
raiido  toda  a  arlelliaria  dos  iiavios.  E  no  de 
luais  se  deo  a  tfio  boa  maidia,  inoslrando 
que  dczembarquava ,  e  fazeudo  clieguar  as 
t'ustas  si  prava,  que  teve  sospenso  muito  leiii- 
po  liil  capilao,  que  com  muita  genLe  estava 
eiii  deircusfio  della,  para  registir  a  sayda  por 
aquella  parte.  Oqual  capilao  nutiqua  acabou 
do  coiihecer  a  cylada,  senao  depois  q\ie 
linliamos  avido  grfio  parte  da  victoria:  de 
maiieira  que  foi  grande  ajuda,  e  mui  impor- 
tante  a  desle  ardil ;  como  qucr  que  constran- 
gco  aos  mouros  a  tirar  de  sobre  a  fortaleza 
ruuila  parte  de  sua  arlelliaria,  e  gente,  pera 
a  por  em  del'cnsao  desta  praya.  O  numero 
da  gente,  que  estava  sobre  a  fortaleza  era 
sessenta  mil  liomcs;  a  saber,  Rumes,  Ara- 
bics,  Abe.xiiis ,   Reisbutros   vinte   mil:  e  de 


Ciuzaratcs  coienta  mil.  Esta  victoria  assim 
como  t'oi  a  maior,  que  se  vio  em  todo  o 
Orienle,  assi  he  bem ,  que  v.  a.  a  festejc;  e 
saiba,  que  se  iifio  podia  alcansar  sem  muitos, 
e  evidcntes  millagres,  como  todos  tem  por 
couza  mui  avcrlguada  ,  e  os  mouros  o  afir- 
mao,  verem  sobre  a  igreja  lu'ia  mollier  muito 
resplandeconle ,  que  oscoguava,  e  nao  dei- 
xava  tcr  o  ro.-lo  direito  aos  clirisl.'ios.  Polo 
que  lie  necessarin  ,  que  v.  a.  mande  fazer  miii- 
tas  porci^ops,  e  dar  muitas  gramas  a  nosso 
Senhor;  pois  llie  fez  tamanlia  merce  :  que  a 
dez  de  novetnbro,  vespora  do  Sfio  Marlinlio 
Hie  deo  de  novo  toda  a  India  ,  e  liua  tama- 
nlia victoria  com  obra  de  dous  mil  bomes  , 
que  pcra  todo  seinpre  ficaraa  della  memoria 
ncstas  partes.  V.  taobem  fazerrne  merce  da 
minlia  joia,  como  sempre  foi  costume  dos 
reis  e  principes,  quando  alguu  seu  capitao 
vonce  batallia,  ou  torna  cidade,  o  que  eu 
tudo  fiz  em  liii  soo  dia  com  ajuda  de  nosso 
Senlior.  Mas  |)orque  pode  ser ,  que  v.  a.  ma 
fa(,'a  dalgiia  cousa  im[)rc)pria  a  niiulia  condi- 
^fio  ,  e  maneira  de  vida,  Ilia  queronomear, 
e  pedir,  e  lie,  que  me  fa(;a  merce  de  lui  casta- 
nlial  ,  que  tem  na  serra  de  Ciiitra,  onde  clia- 
mao  a  fonte  delrei,  que  estaa  a  par  da  mi- 
nlia quinta;  p.lra  que,  lendo  os  mens  mogos 
que  comer  no  mcu  ,  nao  vao  dcslruir,  e  fa- 
zer damno  no  allieio.  O  castanbal  poderaa 
valer  do  compra  dez  on  doze  mil  reis;  mas 
para  ml  scrfio  muitos  mil  cnizados. 

llos  homes  nobres ,  e  lidalgos ,  que  nesia 
balalha  morrerao  sao  os  seguintes:  dom  Joan 
Manoel  ,  hlho  de  dom  Beriialdo  Manoel ,  o 
qual  foi  hu  dos  primeiros  homes,  que  ciie- 
guarao  as  murallias:  ferido  de  liua  espingiiar- 
dada,  e  leiido  hua  mao  em  siuia  pera  snbir, 
Iha  cortiir.MO,  e  com  a  outra  tornou  a  ferrar 
do  muro:  e  comessou  de  sobir,  sem  embargo 
de  1  he  da  rem  muilas  feridas,  e  sobitido  em  j 
^iola  desparou  nelle  hila  peca  dartelharia,  I 
que  o  malou  logo.  Moneo  mais  Jorge  de 
Kousa  ,  fillio  dAurrique  de  Sousa  ,  que  taobeiu 
foi  dos  primeiros  ao  sobir  dos  miiros,  e  o 
matarao  nessa  demauda  como  valeute  cava- 
leiro.  Falfceo  tambem  Francisco  dAzevedo 
na  dianleira,  de  liua  espiiiguardada  que  Uie 
deu,  e  Gosruo  dePaiva,  alein  das  murallias, 
e  Jam  H'alc.'io  como  valeute  home  que  era. 
Morreo  mais  Va.-co  Fernaudes,  capitflo  dos  J 
pyoes  de  Goa  ,  e  Julifio  F'ernandes,  Duarle  \ 
Uodrigues  Mousinlio,  Lucas  dAbreii,  Bal- 
tliezar  Jorge,  Ayres  Gomes  de  Quadros  Os 
feridos  forao:  Manoel  de  Souza  de  Sepiilve- 
da,  o  qual,  ao  passar  das  murallias,  Ihe 
derao  com  bu  canto  ua  cabcja ,  e  oulro  no 
rosto,  de  quo  o  desatiiuirao;  mas  tornando 
cm  si  ;  tornou  a  emlrar  na  batallia.  'I'aobeni 
foi  ferido  Jorge  de  Meudonga ,  Miguel  da 
Cunlia,  Pero  Lopes  de  Souza,  Jam  Figuei- 
ra ,  dom  Jofio  dAbranches,  (ilho  de  dom 
Anlao  ,  Garcia  Rodrigues  de  Tavora  ,  filho 
de  Christovao  de  Tavora  ,  Manoel  Telles  , 
Alvaro  da  Gaina,  filho  de  Antonio  de  Sequel- 


75 


ra  ,  Lopo  Botelho,  fillio  de  Jam  Guago, 
Luis  dAliiieida ,  que  sieve  em  liua  caravella 
na  balaria,  Siuiao  Bolellio,  vcador  da  Fa- 
zenda,   e  Tiislfio  de   Paiva- 

IIo  service,  que  este  dia  fiserao  03  fidalgos 
a  V.  a.,  e  quao  bem  pelejarfio  lodos,  e  quao 
bein  me  aeom|)aiil)arao  sempie  em  loda  a 
Jornada  com  grandes  gaslos  de  suas  fazendas  lie 
couza  para  nunqua  se  acabar  de  <llser:  asaber, 
Gracia  de  Saa,  dom  Manocl  de  Lima,  doni 
Manoel   da  Silveira,   Maiioel    de    Souza    de 


Sepulveda,      Franciaco     da    Cuiili 


Pai 

llodrigues  d'Araujo,  caplL'io,  que  foi,  de 
Cocliiui,  Jorge  Cabrul,  o  quo!,  lendo  sua 
mollierem  Goa,  nun(|uase  quis  ir  leseacaba- 
remasohras,  e  Irabalhosde  Dio:  Dyegalvares 
'I'elles,  Jam  Juzarle,  Anlouio  de  Saa,  doui 
Jnfio  Lobo,  dom  Alvaro  de  Craslo,  doui 
Roque  Tcllo,  com  oj  quaes  me  acouselliava 
sempre  eiu  lodabis  cnuza<i,que  avia  defuzer; 
por  nelles  aver  muilo  sizo,  e  cavalaria ,  e 
grandes  dezejos  de  em  ludo  servirem  v.  a. 
E  assi  fui  tauibem  mui  ajudado,  e  giiardado 
de  Francisco  de  Abneida,  Muuoel  Sodree, 
dom  Jorge  de  Saa ,  lleronimo  de  Souza, 
Fernao  Peres  d'Andrade,  Jam  de  Magalliaes. 
Polo  que  lodos  rnerecem  a  v.  a.  fazer-llies 
muila  lionrra;  e  merce.  Pois  os  ielerados  nfio 
comerao.seus  ordenados  niuito  ociojos;  |)or 
que  o  sccretario  veio  em  liua  t'usla,  oouvidor 
geral  em  oulra  com  mullos  liomes,  e  arraas, 
OS  quaes  na  batallia  se  oiiver.'io  mais  coujo 
valentes  cavaleiros  que  como  Ielerados  mui 
sesudos  que  piles  sfio.  As  fuiezas,  (jue  lizerao 
OS  cazados  de  Goa  e  Chaul  nunca  se  ler.'io 
de  Romauoi ;  porque  us  suas  custas,  e  com 
muilos  liomes  vierao  servir  v.  a.  e  nao  con- 
teiites  com  islo,  me  ol'ereciao  dinlieiro  pera 
as  couzas  de  seu  servj^o.  Km  todo  o  lempo, 
que  durou  o  lerco  derao  de  comer  a  muila 
genie,  e  vigiarao  a  fbrlaleza,  pelejando  em 
todoios  combales  mui  calremadamenle,  Tris- 
tao  de  Payva,  Jaui  Guarces,  IJomiugos  Fer- 
nandes,  Antonio  Fernar.des,  Jacome  do  Coulo, 
Domingos  Pires,  Paio  Uodrigues  d'Araujo, 
Jorge  de  Souza,  Pero  Prelo,  'Irislfio  d'Orla, 
o  qual  veio  couiigo  em  iu"i  gaieiio  com  muila 
gente,  e  sempre  deu  mcza  a  muilos  homes,  e 
assi  na  batallia,  como  no  fazer  das  obras 
^ervio  V.  a.  muilo  bem.  Anlonlo  Marlins 
laobem  Irouxe  muila  gcnte,  e  llie  deu  bemjjre 
de  comer,  e  servio  grandemenle  nas  obras,  e 
em  todalas  outras  couzas,  que  se  qua  fizerio. 
Miguel  Rodrigues ,  cazado  de  Goa,  me 
ofereceo  por  muitas  vezes  dinlieiro  pera  as 
necessidades,  que  eu  linlia,  e  veio  com  doui 
Alvaro  em  liua  fnsta  com  muilos  homes,  aos 
quaes  deu  de  comer  lodo  o  lempo,  que  durou 
o  cerco;  pelejou  sempre  muilo  bem.  O  dia 
da  balalha  foi  ferido  ao  passar  das  murallias; 
rnas  nem  por  isso  deixou  demtrar  na  balalha, 
e  peleijar  como  valenle  home.  Polos  quaes 
servigos  v.  a.  me  fara  a  merce  descrever  hua 
carta  a  cidade  de  Goa,  e  oulra  li  de  Chaul 
de  muilos  aguardecimcnlos  e  contentamentos 


do  quo  fizerao;  porque  sera  a  grande  parte 
para  doulras  vezes  folgarem  de  guastar  suas 
fazendas,  e  pur  em  risco  suas  pessoas  por 
servi^o  de  v.  a.  li  assi  escrever  particular- 
niente,  a  todalas  pessoas,  que  nesta  carta  Ihe 
nomeey  ;  porque  nenhiia  couza  da  qua  espirito 
aos  homes,  e  os  avivenla  lanlo  como  as  cartas, 
e  f'avores  de  v,   a. 

Acabado  de  ine  nosso  Senhor  dar  esta  vi- 
ctoria, a  primeira  couza  que  fiz,  foy  cortar  as 
pontes,  comque  o  rio  eslava  atravessado,  e 
lazello  navegavel  de  mancira,  que  ficasse  em 
ilha  como  danles.  E  logo  mandei  recolher 
loda  a  artelliaria,  e  moniyoes  para  denlro  da 
lorlaleza,  e  juntamenle  mandei  derribar  os 
muros  da  cidade,  que  correm  ao  longo  do  rio; 
para  que  hcaase  aberta  da  banda  do  mar. 
Eaas  ponies  erfi  hua  obra  tfio  espanlosa,  que 
parecia  esc.irecer  as  que  Xerxes  fez  sobre  o 
Elesponto  pera  passar  a  Europa;  porque  com 
ellas  ajunlarao  a  ilha  de  Dio  da  oulra  banda 
da  lerra  firnie,  e  por  esta  mancira  ficava  a 
ilha  em  terra  ("irme.  A  primeira  ponle,  que 
fizerao,  a  dalfaiidegna  da  cidade  ate  a  villa 
dos  Rumes,  tern  de  comprido  cento  e  Irinta 
bra^as,  de  largo  seis,  e  dalto  oulras  seis,  toda 
de  mui  grandes,  e  poderosas  pedras  lavradas. 
A  poiite  de  sima  he  muilo  mais  comprida,  e 
larga.  As  obras  que  fizerao  sobre  a  fortaleza 
parecem  mais  que  de  luiiiianas ;  porque  o 
proprio  capitfio,  e  moradores  d'eila  me  nao 
sabiao  dizer  onde  e^lavrio  os  baluartes,  e  por 
onde  corriao  os  muros,  e  o  liiguar,  onde 
jazia  a  cava  :  lamanlias  monlanhas  de  pedra 
liulifio  lansado  cm  todas  eslas  partes,  de  ma- 
ncira que  parecia  impossivel,  e  hum  traballio 
incouiportavel  poder  tirar  esta  pedra  e  lerra, 
e  tornar  a  erguer  a  fortaleza  polo  luguar, 
por  onde  primeiro  eslava.  Polo  que  me  foi 
Tornado  fazella  de  novo  perfora  da  cava;  assi 
porque  se  piidesse  fazer  neste  verao,  como 
por  ser  por  eMi  parte  mais  forte;  por  caso 
de  hiis  oiteiros  altos,  oiide  os  baluartes  caem. 
O  que  me  dera  irniito  trabalho,  senao  acerta- 
ra  de  vir  do  reino  Francisco  Pires;  porque 
nfio^  ha  qua  official,  quesaiba  nada.  E  por  esta 
rezao  me  cunipre  lello  qua  esle  verao,  e  nao 
no  iiiandar  a  Mogambiqne.  A  maneira  de 
que  iajoa  fortaleza  lie  polio  debuxo  de  Ceytn. 
Parece-ine,  que  espantaraa  muito  a  gente  desta 
terra,  mayormente  depois  que  se  fizer  hiia 
cava  per  fora  do  muro  novo;  porque  entao 
ficaraa  Dyo  com  duas  cavas,  e  duas  raura- 
Ihas,  remedeando-se  os  muros  velhos  dema- 
neira,  que  fiquem  em  terraplenos  sobre  a 
cava  anligua. 

li  posto  que  os  modemos  nao  aprovem  a- 
ver  muilos  recnrsos  nas  fortaleza';  lodavia 
para  e.-les  moiiros  servij  assi  muilo,  e  vem 
mais  a  preposito;  maiormente,  que  nao  era 
possivcl  poderse  fazer  doulra  maneira  denlro 
dejte  verao,  por  em  todo  elle  senao  poder 
fazer  liig-uar  polos  muros  velhos  pera  comes- 
sar  a  obra,  como  jd  tenho  dito  a  v.  a.  iiu 
eslive  muilo  pcrto  de  acabar  de  desfazer  de 


76 


lodo  csla  foitaleza,  e  lulla  fj^er  iia  illia  dos 
inortos:     porqiie   rreia    v.    a.   que    Dio  daa 
iniiito  maioi  oprc5:lo  ;i  India,  que  05  llutnci; 
e  cada  vcz  que  qciizcr  clrey  di'  Cambaia  poraa 
lodo  o  e.-ladn  da  Ijidia  a  lul  tombo  do  dado; 
iiem   nos  serve  esla  forlaleza  qua  peia  oulra 
couza,  salvo  pera  1104  pur  de  conluio  as  tri- 
pos  iia  boca :   o  que   eseuzaia  de  todo,  se  a 
fizera   iia  ilha    dos   niorlos;    por  caso   de  ser 
liua  illia   niui  forte  do  sytio,  e  estar  tiiais  a- 
pajlada  da  terra   firtiie,  e  ter  grande,  e  sin- 
{;ular  porto,  no  qual  coui  todolos  ventos  podeui 
eiilrar  e  saliir.  Polas  quaes  reznes  a  iiao  ])o- 
dia  nunqua   vir   cerear  elrei   de  Cambaia,  e 
M.'io  iia  cercando,  liie  puderanios  fazer  laiila 
jjucrru  por  mar,  que  fora  nosso  Iribulario:  o 
que  ate  {;ora  ;   por  nao   podereui  os  governa- 
dores  levar  o  uiillior  de  Cauibaia   llie  sotVe- 
ram   tanlas   injurias  e  ofensas-,   para    l!ie  ufio 
vir  tcrcar  Dio  :  per  onde  linlifio  jaa  os  porlu- 
ijuezes    pcrdido   todo   o   credito   e   reputa^ao 
erilre  to,  Guzarales.    Mas  leiiibrando-ine  que 
}oi    prc','oaclo   em    I'ortugual   nos    puljjilos  a 
totnada  de  Dio;   e  que  em   lloma  se  tizerao 
iDuitas   perci^oes,    e  de   toda   a  clirislaiidade 
iDandarfio  dar  os  profa^as  a  v.  a. :  nHo  ouzei 
•de  fazer  lanianlia  novldade.  E  tfiobcm  estava 
j;i  em  toda  a  India  tao  assenlado  nos  niouros, 
o  genlyos,  que  elrei  de  Cambaia  linlia  lomado 
esta  forlale/a,  que,  se  a  deixara,  setn  euiliar- 
go  da  grande  victoria,  que  ouvo,  e  a  descer- 
car  com    lamanha    iionrra   de  v.    a.,  nunqua 
acabarao  de    cier   a  couza   como    passoii,    e 
icara  per   lodo  o  mundo,  que  elrei  de  Cam- 
baia iios  tomdra  a  lorlaleza  de  Dio.  E  como 
quer   que    n'estas   partes,    mais   que   nontras 
algclas  se  viva  de  credito;  podera  nos  esta  in- 
tamia  vir  a  fazer  muito  nial. 

Tendo  per  esla  maneira  que  digo  a  v.  a  , 
discercudo  a  forlaleza  de  Dio,  provi  logo  a 
tosla  do  Malavar,  e  mandei  a  ella  Francisco 
de  Sequeira  para  a  guardar;  por  =er  iionn~ 
<]ue  a  millior  salje  de  todo^,  e  llie  loreni  em 
lodo  I\]alavar  grande  medo.  O  (piai  Francisco 
de  Sequeira  veio  servir  v.  a.  a  Dio  com  qiia- 
iro  fuslas  suas  mui  bem  aparelliada?,  e  ar- 
madas, c  no  dia  da  balaliia  fez  Iju  grande 
oiquadrao  de  frecLeiros  malavares,  que  pelei- 
jarao  iiiaito  bem;  pello  que  v.  a.  llie  deve 
i^screver  muitos  agardecimenlos,  e  fazer  muilas 
inercoo.  E  assi  mandei  doin  Manoel  de  Lima 
a  fazer  a  guerra  na  emscada  com  vinte  fuslas ; 
c  Antonio  Moniz  a  cosla  de  Mangalor.  Dom 
JManoci  queiiiiou  duas  cidades,  a  "saber  Gof^a 
o  Gandar;  e  destruio-aj  de  demaiieira,  que 
quasi  nao  dei.xou  maneira  dellas :  destroindo 
tfiobem  oulros  inuitos  iugares  da  co.la  e 
<|Meimando  niailas  nuos,  e  navios.  Antonio 
Moniz  <leslroliio  laobem  liQ  grande  liiguar, 
que  so  cliaina  Poor,  e  fez  oulros  damnos^roia 
coila.  '  ' 

Continua.  -^ 

'  Parece-me  qne  li.i  aqni  huma  lacuna  ;  porqne  oqie 
se  segue  nao  tem  li{;a9rio  immdiala  com  o  que  fica  dilo 
iintes.  (Nolo  do  conn.ilador  d'esles  documentos. 


MATIIEMATICAS.  — DISCUSSAO   DE  DOUS 
AIETHODOS.  AUABES. 


O  conliccimcnlo  de  dous  melliodos  arabes 
para  determinar  urn  valor  approximado  de 
sen.  l.°  e,  segundo  \VoepcI;e,  devido  a  Se- 
dillot  {Prolcgomcnos  das  Ttiboas  aslronomi- 
cas  dc  Olnug-Iieg  ,  traduc^'io  e  commenla. 
rio  pag.  ()!) — 83),  (pie  osdi^tinguiu  na  obra 
mui  extensa  de  Mcriem-Ai-'J'clielel>i  ,  com- 
ineiitad(;r  deOloug-lieg,  e  que  n'elles  eiicon- 
trou  uina  prova  do  consideravel  desinvol- 
vinienlo  da  Algebra  cnlre  os  Arabes. 

O  priinciro  e  nin  melliodo  de  inlerprda^'ao 
semelliante  ao  que  empregara  Ploleineo  para 
deteriiiinar  acorda  de  I.°,  pnrem  mellior  eiu 
teiidido  e  dando  resuliado  mais  exaclo.  Woe- 
pcke  conqjara  esle  melliodo  com  o  de  Plole- 
ineo, deinoii5lra  a  sua  siiperioridade,  e  exa- 
miiiaseus  ponlos  de  seinelliaiii,-a  com  as  for- 
mulas inodernas  d'inlerpola^fio. 

O  segundo  melliodo  trala  directamenlc  o 
problema  do  teix-eiro  grao,  de  que  depende 
a^determina(;ao  de  stn.  1  °,  estahelece  a  equa- 
q'j.0  ])or  que  seexprime,  e  a  resolve  numerica- 
inente  por  uni  processo  que  se  reduz  no  essen- 
cial  a  desinvolvimenlo  em  serie,  ou  a  fazer 
applieajao  do  melliodo  dos  coeflicientes  inde- 
terminados.  O  segundo  melliodo  ale'm  de 
levar  a  um  resultado  ainda  mais  exaclo  do 
que  o  pnmeiro,  c- eurioso  nao  so  por  diffe- 
rentes  particularidades  que  apresenla,  senfio 
lambem  pcia  engeidiosa  ideia  em  que  e  fun- 
dado. 

Do  que  fica  e.xposto  lesulta  nova  prova  do 
iulereise  que  apre=entam  as  indaga(,-oes  sobre 
IrabalLos  dos  geomelras  arabes,  para  escla- 
recer  uma  das  partes  menos  averiguada  da 
liistoria  das  sciencia?  iiialliemalicas. 


KfJHATA    DO  i\.°   '). 


P'lg,   Col.   Link. 


1 


Ilu  tl.ijuig,  50     Honu-ns  —  Irime- 
stre  (le,  etc. 


51 


/Nomovinietilo 

lie  tudas  as  en-  j 
I  fermari:is-re- 
'  la^uo  ilus  fal-  ] 
I  teciJus      para  I 
'  lodos    OS  tra- 


I:iy.3 
1:14,4 


Emciul. 

Moniens  —  ciirer- 
Miarjas  ile  mole- 
-slias  interna^  — 
irimcstre  de,  eto. 


1:14.4 
1:13,4 


51      I*       14  abstrac^ao 

5i      »-*onic.mdas)j^^    3    ^    ^^ 


I,  2,  5,3,  4 


©  JujgitittttiJ, 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


INSTRUCCAO  PLBLICA. 

Minislerio  do  reino — 1*  direcg.'io  —  1.* 
reparli9rio — livro  12.  —  n  °  40  =  Sua  Ma- 
geslade  E!-Uei,  Regente  em  noine  do  Rei, 
sendo-llie  presente  a  ropresentaijao  do  con- 
selho  superior  de  instrutgno  publica,  de  24 
^e  jineiro  findo,  na  qiial  o  mesmo  consellio 
pede  licen(;a  para  piiblicar  no  periodico  de 
Coimbra  inlilulado  —  Insliluto  —  os  seus 
relatorins  annuaes,  enviados  a  este  Minis- 
lerio: Ha  por  bem  conceder  a  pedida  perniis- 
sao,  para  que  os  diclos  relalorios  sej;iin  ef- 
feclivamente  publicados,  conforme  o  que  o 
conselho  superior  propoe,  a  coinegar  do  pri- 
ineiro  por  elle  elaborado,  e  assirn  successiva- 
mente  os  oiitros,  segundo  a  sua  ordeni  chro- 
nologica,  ate  o  ultimo,  que  naosera,  todavia, 
em  regra,  publicado  sein  que  liaja  decor- 
rido  urn  anno  depois  da  sua  remessa  a  eite 
Ministerlo.  O  que  se  participa,  peia  secre- 
taria  de  Kstado  dos  Negocios  do  reino  ao 
mesmo  conselho,  para  seuconhecimento.  Pago 
das  Necessidades,  em  1^  de  jullio  de  1854. 
Rodrigo  da  Fonsecn  JMagnlhdcs. 
Esta  conforme. 
O  Secrelario  Geral , 
Jose  Antonio  d'  Amornn. 


CONSELHO  SUPERIOR. 

RELATORIO   ANNUAL     DA  I.XSTBICCAO   PLBLICA- 

18i4— 1845.         ^ 

O conselho  superior  de  instrucjo  publica, 
lendo  de  levar  a  presenga  de  ■pVl.  o  rela- 
torio  do  estado  d'aquelie  ramo  iWadiiiini>tia- 
gao  no  passado  atjno  Icctivo,  n.no  pode  dei- 
xar  de  ponderar  a  inipossibilidade,  em  que 
se  acha  de  o  fazer  com  reguiaridade  eexacli- 
dao,  por  falla  dos  subsidies  e  esclarecimentos 
necessarios.  Na  porlaria  circular  de  6  do 
agosto  proximo  passado,  Foi  V.  M.  servida 
de  ordenar  a  lodos  os  directores  de  estabele- 
cimentos  lilterarios ,  que  remettcssem  a  este 
conselho  os  respectivos  relatorios  ale  o  fini 
de  sepleinbro  :  porem  muilos  d'elles  deixaram 
de  cumprir  este  dever ;  e  a  maior  parte  dos 
que  o  cumpriram,  em  logar  de  fazer  uma 
exposigao  melhodica,  e  muito  circumstaiicia- 
da  do  estado  material,  lillerario,  e  moral  dos 
Vol.  IU. 


eslal)elecimentos,  como  Ihes  foi  ordenado  na 
citada  porlaria,  encheram  os  relalorios  com 
projectos  v'los  e  chimericos,  e  alguns  com  a 
renovag'io  de  pretensoes  caprichosas,  ja  des- 
attendidas  e  rejoitadas. 

Nao  prelende  o  conselho,  allegando  esia 
falla,  eximir-se  do  cumprimento  do  seu  de- 
ver: porem,  tendo  a  sua  obra  de  sair  imper- 
feila,  espera  que  V.  M.  se  digne  desculpar  os 
defeilos,  atteudendo  a  ser  invencivel  a  causa 
d'elles. 

A  instrucgao  publica  acha-se  ctassificada 
em  tres  graus  no  decreto  de  20  de  sepleinbro 
de  1844;  e  por  isso  a  exposigao  do  seu  estado 
deve  seguir  naturalrnente  a  mesma  ordem. 
Mas  convirii  dar  primeiro  alguma  noticia  do 
estado  da  sua  organizagao  em  geral ;  e  por 
isso  o  relalorio  sera  distribuido  nos  capilulos 
seguintps  :  —  1.°  Organizagao  geral  de  instruc- 
giio  publica.  —  2.°  Instrucgiio  primaria.  — 
3.°  Instrucgao  secundaria.  —  4.°  Instrucgfio 
superior.  —  Coaclusao. 

CAPITULO   I. 

Organkagdo  geral  da  inslrucgdo  ■publica. 


</■" 


A  inslrucgao  publica  forma  desde  muito 
tempo  entre  noi  urn  ramo  especial  de  admi- 
nistragfio;  porque,  na  verdade,  o.^  seus  obje- 
ctos  teem  uma  natureza  tao  particular,  c 
demandam  conhecimentos  tao  especiaes,  que 
nial  se  podiam  confundir  na  administragao 
geral.  Assim,  ja  em  1759,  por  alvard  de  28 
de  junho,  foi  creado  um  director  geral  dos 
estudos,  cuja  direcloria  passou  para  a  mesa 
censoria  por  alvara  de  4  de  junho  de  1771  : 
d'esta  paia  a  comniissfio  geral  de  censura, 
por  carta  de  lei  de  21  de  junho  de  1787: 
d'esta  para  a  juncta  da  direcloria  geral  dos 
e-tudos  por  carta  regia  de  7  de  dezembro  de 
1794:  e  d'ahi  para  o  conselho  geral  director 
pelo  decreto  de   15  de  dezembro  de  1836. 

Esla  direcloria,  porem,  coinprehendia  s6- 
mente  os  estudos  chamados  menores,  e  de 
humanidades;  e  nao  os  superiores :  e  no  en- 
tretanto  e  certo,  que  todos  os  ramos  de  in- 
striicgao  teem  entre  si  lal  ligagfio,  e  sao  tSo 
dependentes  uns  dos  outros,  que  mal  se  po- 
dem  organizar  separadamenle.  No  desinvol- 
vimento  da  inslrucsao  deve  haver  variedade, 
porque  o  genio  e  livre  ;  mas  na  sua  direcgao 
JoLHOj."  — 1854.  Nhm.  7. 


78 


deve  haviT  uiiidade,  para  cvilar  a  anarcliia 
moral,  que  c  origem  de  todas  as  oiitras.  Foi 
com  estas  vistas,  que  o  deorelo  de  20  de 
se|)tembro  de  181-t  creoii  um  coiisidlio  siipi'- 
rior  do  iiistrucc'io  piiblica,  que,  deliaixo  da 
presidencia  do  iiiinistro  dos  nej^ocios  do  rciiio, 
servisse  de  centre  a  loda  a  instriicijrio  pii- 
blica. 

Este  cnn-^cllio,  lendo  sido  instnllado  cm  9 
de  oiitubro  de  1344,  tractou  loffn  de  foniiar 
as  Ires  seccjnes,  ein  quo  aqiielle  decreto  o 
maiida  dislril)iiir,  reparlindo  por  lodas  ellas, 
ns  vo^aes  ordinarioi  e  extraordinarios  iia  or- 
dcm,em  que  vao  deaigiuidos  no  mappa  n.°4. 
Assiiii  or^aiiizado,  e  teiido  a  ^ecrela^ia,  (|Ue 
tora  do  cousellio  geral  director,  na  loiciia 
indicada  no  mesiiio  mappa,  come^ou  os  seus 
traballios,  que  teem  coritiuuado  ale  lioje,  pro- 
rurando  correspoiider  ii  alia  confianc;.!  que 
V.  M.  n'elle  tern  depo^itada.  Aleiii  dos  ne- 
gocios  do  expedienle  ordmario,  liuha  o  cou- 
sellio a  formar  os  regulameulos,  i[i3lruc(,oes, 
e  mais  provideiicias  necessarias,  para  dar  au- 
damento  a  uma  Iii=lilui(,-ao  nova,  ou  refor- 
mada ;  e  por  isso,  einpregando  as  suas  con- 
t'erenciasallernadamenle  u'eslesobjeclos,  con- 
scguindo  sali>t'azer  o  primeiro  com  regulari- 
dade,  e  levar  li  approva<,rio  de  V.M.  os  proje- 
ctos  do  regulamcnlo  doconsellio,  dasescliolas 
jiormaes,  de  provimenlo  dos  professores  de  iu- 
struc^'io  primariae secundaria, das jubilacjoes, 
apo3enla(,'oes,  exoneragoes  dos  professores ,  do 
processo  das  follias,  veriticayfio  de  lallas,  e 
pagamentos :  inslrucyoes  para  os  professores  de 
fhelorica,  bisloria  ,  geograpliia,  e  clironolo- 
gia,  e  de  grego  dos  lycens;  para  os  comuiis- 
sarios  dos  Cftudos,  e  para  regular  os  cursos 
de  habililagao  para  a  universidade :  program- 
mas  para  osexames  dos  professores  de  inslruc- 
<;ao  secundaria,  ediversas  consullas  com  pro- 
videncias  geraes  e  permaneules. 

Bern  cimliece  o  consellio  que,  a  pezar  d'estes 
seus  irabailios,  ainda  llie  resla  iiuiilo  que  fa- 
zer,  para  lornar  complela  a  execug.'to  do 
decrelo  de  30  deseplembro  de  1844:  edesern- 
penhar  cabalmente  a  alia  missao,  que  llie 
foi  encarregada  ;  mas  lauibem  conhece  que, 
se  todas  ns  insliluigoes  precisam  de  tempo  e 
experieiicia  para  o  sen  complete  desinvolvi- 
raento,  lias  de  inslrucgfio  publira  sfio  essas 
duas  condigoes  indispensaveis,  para  veneer 
habilos  e  prejuizos,  sobre  que  nada  podem  os 
meios  maleriaes,  mas  somenle  os  moraes  ;  que 
sao  senipre  lentos,  e  morosos  ;  e  cu  ja  falla  lorna 
muilas  vezes  inelTicuzes,  e  ale  prejudiciaes, 
providencias  o  mais  bem  calculadas. 

Depois  do  Consellio,  nao  lia  empregados 
que  lenbam  iuspecj.'io  sobre  loda  a  luslruc- 
^•ao;  mas  acbam-se  os  diversos  rau.os,  em 
•que  esta  dividida,  coiifiados  a  diversas  aucto- 
ridades.  Os  eslabelecimentos  de  instrucg'io 
superior  estae  confiados  aos  respeclivosclietes, 
como  e  a  universidade  ao  sen  reilor ;  a  aca- 
demia  polyleclinica  e  escliojas  cirurgicas 
aes  seus  direcleres,  debaixo  da  iiispeccao  do 


cotiselho;  c  loilos  elles  leem  desempenliado 
com  ponclualidade  osseus  devcres.  A  inslruc- 
gao  primaria  e  secundaria  esui  debaixo  da 
inspecjao  dos  commissarios  dos  esludos  na 
[larle  jilteraria;  e  no  que  nfio  e  litlerario, 
aelia-se  confiada  aos  governadores  civj's,  e 
adminislradores  dos  concellios. 

Os  governadores  civis  teem  procurado 
cumprir  as  ordens  do  conseUio  :  pori'm  entre 
elles  alguns,  como  o  de  Beja,  Caslello-Bran- 
co  e  Porto  leem  moslrado  urn  zelo  mais  fer- 
voroso  em  promover  a  inslrucijNo  publica, 
cumprindo  nao  so  com  ponclualidade,  mas 
com  deverjao  este  dever ;  que  e  um  dos  mais 
imporlanles,  que  eslii  a  seu  cargo.  Em  qiian- 
to  aos  commissarios,  apeuas  se  aclia  nomeado 
o  do  districlo  de  Braga,  que  ainda  ba  poli- 
ce lomou  posse.  O  consellio  lem  lovado  u 
presenga  de  V.  M.  as  proposlas  da  maior 
parte  dos  outros;  e  lu'io  se  descuida  de  loniar 
as  informagoes  necessarias  para  as  comple- 
tar;  porque  reconhece,  que  sein  commissa- 
rios, nao  pode  haver  inspec(,:'io,  e  que  sem 
inspec<,'ao  ser.'io  baldados  todos  os  esforgos, 
para  promover  a  instruc<;ao  publica. 

E  verdade,  que  no  decrelo  de  20  de  se- 
plembio  ainda  se  aclia  outre  meio  de  iiispec- 
crio,  pelas  visitas  exlraordinarias :  mas  e 
destinado  somenle  para  os  cases  iirgentcs,  e 
extraordinarios;  e  por  isse  nfio  pode  supprir 
a  inspec<;ao  ordinaria,  seguida  e  permanente, 
que  somenle  pode  ser  feila  pelos  commissa- 
rios e  seus  subdelegados,  e  por  alguma  cem- 
missae,  de  que  tiles  se  aiixiliem  no  desein- 
peiilio  de  seus  deveres.  E  por  isso  que  o 
consellio  ainda  n.'io  deu  providencia  alguma 
para  dissolver  e  consellio  d'inslrucgfio  publi- 
ca da  provincia  oriental  dos  Azores ;  porque, 
em  quanlo  nao  estiverem  as  aiicloridades 
deslinadas  pelo  decrelo  de  20  de  seplembro, 
para  a  iiispeccao  lilleraria,  julga  que  nao  serii 
pniderite  acabar  com  as  que  exislcm,  post" 
que  sejam  extranhas  aquelle  decreto. 

CAPITULO    II. 

Instrucrdo  primaria. 

A  inslnioijao  primaria,  a  pezar  de  ser  a  que 
inline  mais  directamenle  na  felicldade  dos 
povos,  e  que  por  isso  e  denomiiiada,  por 
excellencia,  nacional,  porque  dispoe  o  lioniem 


para    os    uses   mais 


ordinaries   da    vida ;    foi 


com  tude  a  ultima  ,  que  enlrnii  no  quadro 
da  administrav'io  do  e»tadn,  Quando  jii  a 
secundaria  e  superior  se  acliavaiii  conlem- 
pladas  na  universidade,  fuiidada  pelo  sr.  D. 
Diniz,  ainda  a  inslruc^rio  primaria  andava 
abandonada  aesfuidados  dos  parliculares,  e 
pelos  clauslros  dos  cabidos  e  conventos,  a 
quern  o  eslado  pagava,  quando  inuilo,  algu- 
ma pensao  parao  suslenlo  de  alguma  cadeira. 
Uecebeii  poreui  lal  impulso  no  decrelo  de  (J 
de  novembro   de  1772   e  seguiiites,  que  nao 


79 


teve     que   invejar  a    das  iia^oes   civilizadas 
d'aquelle  tempo. 

A  pezar  d'isso,  o  syslema,  com  quefoi  pro- 
niovida,  resoiitia-sc,  principalmenle,  de  dons 
defeilos,  que  a  experiencia  tornoii  scn^iveis. 
A  eicollia  de  boiis  prot'essores  e  coiidi^fio 
jndispensavel  para  o  plog■re^so  da  iiislriic(;ao 
primaria;  porem  nial  se  podera.  fazer  os^a 
cscollia  do  professores,  seiii  provideiicias  para 
OS  formar,  e  eram  esta^,  que  fallavarn  n'a- 
quelle  systerna.  Alem  disso  era  deficieiile 
nos  objcctos  de  ensino,  porc]iie,  limitando--'e 
aos  conlieciinentos  iiiai'S  elernctUares  e  coiii- 
muns,  deixava  incomplela  a  educagfio  do 
povo ,  e  iinperfeilns  os  coiiliecimcntos  neces- 
sarios  para  os  eiiipregos  uiais  ordinanos  da 
vida.  Era  per  laiilo  Corfoso  aos  que  os  que- 
riain  cotiiplelar,  recorrer  aos  estudos  s-upe- 
riores,  era  que  adquiriam  habitos  e  tcndon- 
cias,  que  os  desviavam  da  carreira,  que  as 
suas  circumslancias  llies  linliam  tuarcado; 
Iaii<,'ando-os  ii'ouLra,  ern  que,  a  iiiaior  parte, 
nao  linliain  saida  ;  e  por  isso  sobrecarrega- 
vani  o  publico  de  prolelarios  e  parasitas. 

Para  refortnar  esles  inconvenienles  e  que, 
no  decrelo  de20  de  seplembro  de]844,  se  or- 
denaram  as  esclioias  iiacionaes,  e  se  augnieu- 
taram  os  objectos  do  ensjno,  accrescentarido 
o  2.°  grau  ;  porem  a  sua  execujao  ainda  n-io 
pode  ter  pleno  effeito,  seudo  precise  veneer 
obstaeulos  maleriaes  e  moraes,  que  somenle 
o  tempo  pcdera  aplanar.  O  estabelecimcn- 
lo  das  escholas  normaes  Iraz  comsigo  despe- 
sas,  que  o  eslado  da  fazenda  publica  obriga 
a  economizar;  e  demanda  directores  e  pro- 
fessores, que,  no  estado  actual,  nao  e  facii 
encontrar.  O  consellio,  tendo  levado  a  sauc- 
9ao  de  V.  M.  o  projecio  de  regulainento  para 
aquellas  escholas ,  jiilga  necessario  eiisaial-o 
primeiro  n'urna  ein  Lisboa,  sobr'estando  no 
tstaljeleciinenlo  de  oulras  ate  verificar  o  sen 
resiiltado. 

No  entretanto  talvez  seria  conveuiente, 
ensaiar  lainbem  oulro  syslema  para  a  forma- 
Vao  de  professores,  que,  a  pezar  de  niais  iui- 
perfeilo,  serd  por  Ventura  mais  acconimodado 
as  nossas  circumslancias  acluaes.  A  cre;i9rio 
de  ajudantes  para  as  escholas  do  2.°  grau.  que 
pela  frequericia  e  aproveilaniento  dos  disci- 
pulos  dessem  provas  de  niaior  desinvolvi- 
niento,  seria  talvez  uni  meio  de  formar  pro- 
fessores com  pouca  de.-.|)esa;  porque  a  grati- 
licajao,  que  o  eslado  Ihes  desse,  era  paga 
com  o  servi^o  que  faziani :  e  csle  syslema  da- 
ria  occasiao  para  aproveilar  algum  aluiniro 
4a  eschola,  que  desse  provas  de  voca^rio  para 
o  magisterio. 

Em  quanto  as  escholas  de  2.°  grau,  a  falta 
de  professores  tern  retardado  o  sen  estabele- 
oimento,  por  quanto  os  oppositores  as  cadei- 
ras  acluaes,  que  sao  consideradas  de  l.°grau, 
apenas,  com  raras  excep^oes ,  teem  mostrado 
aptidao  sufficienle  para  escholas  parochiaes 
do  campo;  vendo-se  o  conselho  na  necessi- 
dade  de  os   prover   teraporariamente,    para 


nao  privar  os  povo?  de  loda  a  instnicc.'io  ele- 
menlar;  e  por  isso  mal  pode  ler  a  esperanga 
de  OS  encontrar  habilllados  para  o  2.°  grau. 
Allendendo  a  esta  falta,  ja  o  conselho  propoz 
a  V.  M.  a  conversao  das  cadeiras  de  ensino- 
inuluo  nas  de  2.°  grau  ;  porque,  a  pezar  das 
duvidas,  quese  teem  levantadosobreasiia  utili- 
dade,  sfio  enlte  nos  as  niais  frequentadas , 
talvez  pela  maior  aptid.'io  dos  prolesfores :  e 
no  entretanto  nao  se  descuida  o  conselho 
de  preparar  o  |)rovimento  de  outras,  tendo 
fi'ilo  o  regulamenlo  para  esse  provitnento,  e 
remetlido  aos  examinadores  os  respectivos 
programmas  para  se  prevenirem  com  os  co- 
iihecimentos  necessaries  para  os  desempcahar, 
logo  que,  pelo  exercicio  das  escholas  nacio- 
naes,  ou  por  outro  qualquer  motivo,  possa 
havT  esperan(;a  de  ter  professores  mais  qua- 
lilicados. 

O  numero  das  escholas  publicas  no  conti- 
nenle,  sustenladas  pelo  estado,  nao  exced'i 
ainda  a  1:116:  aigumas  teem  sido  Iransferi- 
das  para  locaes  mais  convenienles  ;  e  tem-se 
provido  outras,  que  de  ha  muito  estavam 
vagas.  Silo  1:075  do  sexo  masculino;  e  41 
do  feminino:  1058  do  methodo  siinulianec; 
e  17  de  ensino  muluo;  havendo  16  d'estas 
em  exercicio  e  frequentadas  por  2:766  disci- 
pulos.  i\as  Ilhas  ha  73  escholas  primarias, 
com  a  que  ha  pouco  se  creou  na  Ilha  do 
Corvo:  5  de  ensino  mutuo;  68  de  ensino  si- 
multaneo:  3  d'estas ,  1  de  ensino  mutuo,  sao 
escholas  de  nieninas. 

Acham-se  as  cadeiras  distribnidas  pelos 
ditTerentes  districtos  adminislralivos  na  forma 
que  se  segue : 

Aveiro  68  —  Beja  43  —  Braga  76  —  Bia- 
gan^a  .56 — Caslello-Branco  49 — Coimbra 
70  — Evnra  28  — Faro  29  — Guarda  92  — 
Leiria  41  —  Lislwa  144 — Portalegre  41  — 
Porto  84  —  Santarem  52 — Viana  45 — Vil- 
la-Ueal  69  —  Viseu  129  ;  =  1:116  no  conti- 
nente  :  c=  Angra  30  —  Funclial  14  —  Horta  9 
—  Ponta-Delgada  20;=:73  nas  ilhas. 

D'estas  cadeiras  insulares  18  sao  pagas 
pelos  rendiinenlos  das  cnnfrarias;  e  2  con- 
junctamenle  pelas  confrarias  e  thesouro  pu- 
blico. 

Ha  no  continente  1:084  escholas  particu- 
lares,  sustenladas,  em  geral,  pelos  alunino^, 
com  poucas  excepjoes  de  algumas  in-tiluidas 
por  legados,  e  outras  creadas  e  sustenladas  pela 
beneficencia  particular  Nas  ilhas,  onde  se 
teni  seguido  a  practica  (digna  de  ser  imilada  ] 
de  applicar  a  instruc(;ao  primaria  os  sobejos 
dos  rendimentos  das  confrarias  e  junctas  de 
parochia,  ha  proporcionalinenle  maior  nu- 
mero de  escholas  particulares  ;  nao  podendo 
ainda  designar-se  o  numero  total,  por  falta- 
rem  alguns  eiementos  estadislicos. 

O  numero  dos  alumnos  frequentando  as 
escholas  publicas  no  continente,  pode  hoje 
calcular-se  approximadarnente  em  45:500, 
pelo  augmento  de  concurrencia  experimen- 
tado,  principalmenle,  nos  districtos  de  Beja  e 


80 


CasU'llo-BrancOjdevidoaosefleitos  da  persua- 
sao  dos  governadores  civi'j  respectivos.  N'cste 
numero  entrain  1:G41  do  sexo  feiiiiniiio.  As 
fiscliolns  particular's  sfio  freqvieiiladas  por 
10:776  aliimnos  de  ambos  os  sexos. 

jSas  illias  podererno,  dizer  (|ue  iiao  e  pro- 
porcioiialiiieiite  inferior  o  niiincro,  sef;i"ido 
as  noticias  va;;as,  (pie  leinos  reccbido:  I'altain 
porem  oinda  os  iiiappas  esladislicos,  que  de- 
veriam  ler  cliegado. 

Avaliada  em  3.41'-2:600  liabitantes  a  popu- 
ia^ao  total,  e  approxjinadaiiiente  1  para  53. 
D'onde  se  pode  iiiforir  que  vai  progressiva- 
ineiile  crescendo  a  intclUctuolidade  nacio- 
Jialj  porqiie  lia  poiicos  aniios  a  propor(,;io 
pelos  calciilos  estadisticos  extrangeiros  era  a 
de  1  para  83  ;  e  no  anno  findo  era  o  nosso 
oalciilo  de  1  para  65.  Feilo  o  calcuio  em 
reiagfio  a  popula^uo  das  provincias  da  em 
resultadn ; 

Km  Triis-os-Monles,  conio  1  para  43  — 
Beira  1  para  60  —  Minlio  1  para 43  —  Alem- 
tejo  1  para  76 —  Algarve  1  para  92  —  Estre- 
uiadura  1  para  83. 

Mas  comparando  o  numero  de  aiuninos 
com  o  de  iiidividiios  de  7  a  15  annos,  em 
edade  ecircunistancia;  de  freqiieiitar  as  esclio- 
las,  desapparece  a  grande  desproporgao,  para 
licar  rediizida  a  n)ais  justo  valor,  formaiido- 
se  um  calcuio  approxiujado,  pelos  poucos 
esclarecimentoi,  que  ategora  leenn  cliegado  a 
secrelaria  do  consellio. 

K  cerlo  que  o  sexo  feminino  se  aelia  ainda 
iniiito  desfavorecido ;  e  pode  offerecer-se  em 
prova  o  concellio  de  Povoa  do  Varzim  com 
.'JOO  meninas  de  5  a  12  anrios,  e  deatas  ape- 
nas  1 10  apt>iicadas  a  inslruc(,aoelementar. 

Traz-osMontes,  Beira  e  Minlio  sao  pois 
as  provincias  aonde  a  iiistrucCjfio  primaria  e 
mais  frecjuentada.  Egiialmente  sfio  as  que 
tein  mais  liabeis  professnres,  e  as  que  oflere- 
cern  maior  concurrencia  as  cadeiras  vagas 
As  provincias  da  E^lstremadura,  Alemti'jo  e 
Algarve  teem-se  feilo  nolaveis  n'esle  poiilo 
pela  difficuldade  de  acliar  mestres ,  pela  in- 
bufficiencia  dV^les  em  geral ,  e  pelo  pequeno 
numero  de  discipulos. 

N'esle  rarno  de  instrnccrio  somos  actual- 
menle  inferiores  aos  Lstados-Unidos  Aiiieri- 
canos,  a  Prussia,  Baviera,  Reino  Lombar- 
do-Veneziano,  llollanda,  Ingialerra,  Austria, 
Franca  e  Suissa :  e  superiores  por  veiitura 
iinicarnente  a  Russia  e  I'olonia,  se  accredi- 
larmos  os  jornaes  de  estadislica. 

O  numero  de  professorcs  de  instrucfao  pri- 
maria e  egual  ao  das  escliolas,  se  exceptuar- 
mos  as  de  eiisiiio  mutuo,  cm  que  lia  de  mais 
um  €ijudaiile  paia  cada  cschola ,  e  alguns 
substilulos  creados  por  iiiipedimento  dos  pro- 
prietaries. Nem  o  nosso  systema  de  iiistruc- 
ijiio  admille  a  congrega^fio  de  avultado  nu- 
mero de  alumnos,  que  exija  em  geral  mais 
de  um  professor  por  cschola;  nein  a  frequen- 
cia  actual  o  conscnlc  nas  escliolas  de  ensino 
tiinultaneo. 


A  despesa  total  da  instrncjao  primaria  no 
conlinenle,  paga  pelos  cofres  do  cslado,  anda 
por  103  !)13g8321  rcis.  Nus  illias  a  despesa 
liubrua  nfio  cxcede  a  5:951^990  reis;  sendo 
uma  parte  da  despesa  paga  pelas  confrarias 
cm  numcrario,  ou  generos  cereaes. 

Comparada  a  despesa  da  instruc^.'io  pri- 
maiia  entre  nos  coin  a  frequencia  das  csclio- 
las,  fica  a  despe-a  de  cada  alunino  por 
2^285  reis  annuaes,  muilo  superior  a  d'oii- 
tros  paizesj  mormente  da  llollanda,  Austria 
e  Franca,  nfio  obstante  serem  niaiores  os 
lucros  dos  professores  n'aqiielles  estados  A 
difl'ereiK^a  recoiiliece  por  causa  a  inenor  fre- 
quencia das  escliolas ;  ee  por  eate  inotivo  que 
o  consellio  se  nan  tern  deliberado  a  propor, 
por  ora,  a  ciea^ao  de  roais  escliolas,  a  pesar 
das  rppetidas  inslancias  dos  povos. 

Nao  pode  porem  o  consellio  deixar  de  re- 
conliecer,  que  o  numero  das  cadeiras  existen- 
tes  nao  satijfaz  as  necessidades  dos  povos,  e 
que  em  quanto  as  nao  mulliplicar  de  modo, 
que  torne  facil  a  sua  frequencia,  nao  pode 
exigir  d'aquelles  a  rigorosa  observancia  do 
arligo  32.°  do  decrelo  de  20  de  seplembro  de 
1844 

Fara  satisfazer  a  esta  necessidade,  e  alten- 
der,  ao  mesmo  tempo,  as  do  lliesouro  publi- 
co, tomou  o  consellio  o  expediente  de  pro- 
mover  a  crea^;^lO  das  cadeiras  somente  pelo 
mode  indicado  nos  artigos  9.°  e  45."  daquelle 
decrelo,  ja  practicado  nas  illias  ;  porqiie  as- 
sim,  alein  da  vanlagem  da  I'azenda  publira, 
livra-se  de  preleiisoos  inlcressadas,  que  as 
caniaras  nao  li.'io  de  querer  pagar,  c  obriga 
eslas  a  tomar  na  inspecj.io  das  escliolas  uma 
parte  activa,  e  a  nao  a  olliar  com  indifleren- 
<,a,  como  succede  qiiando  sao  inteirainente 
pagas  pelo  estado.  Assiin  tomara  a  instruc^ao 
primaria  o  verdadeiro  caracler  de  nacional, 
ou  antes  municipal,  que  mais  llie  convem. 

N'este  senlido  jii  o  consellio  encarregou  a 
lodos  OS  governadores  civis  o  importante  ser- 
viro  do  proiiiovereni  por  rneio  dasjiinctasde 
dlstriclos,  e  por  lodos  Oi  que  eslivcrem  ao 
sell  alcance,  aquelle  expediente :  e  em  breve 
espera  poder  levar  a  pre5en<;a  de  V.  M.,  al- 
guiiias  propostas  d'aquella  iiatureza.  Jiilga 
porem  o  coiijellio,  que  se  aquelle  systema  for 
do  agrado  de  V.  M.,  iiiuito  conviri.i  desper- 
tar  o  zeli)  dos  governadoies  civis,  em  o  pro- 
mover,  com  especial  reci)mmenda<,ao  de  V. 
M.  . 

Ainda  esle  sy^teIna  se  poderia  levar  a  ef- 
feito  com  mais  facilidade,  se  para  a  Instruc- 
(j'lo  primaria  se  estabclece^se  um  giau  infe- 
rior ao  l.°,  que  seria  sulTicienle  para  algumas 
aldeas  de  pequena  con»idera<,rio,  e  facililaria 
a  concurrencia  dos  professores  com  um  orde- 
nado  mais  modico,  e  os  recursos  para  o  pa- 
gamento  d'este.  Alem  disso,  e^tabtlecida  uma 
escala  de  Ires  graus,  por  onde  os  professores 
podossein  ir  suliindo,  dar-se-liia  considera^'ao 
a  lodos,  accreiceiilando  a  esppran(;a  aos  pro- 
ventos  reaes,  e  uin  estimulo   para  estudarem 


81 


e  fazerem  esforgns  por  inclhorar  eserem  pro- 
movidos.  Esld  geralnienle  reconliecido,  que 
o  progresso  sorncnte  se  pode  esperar,  da  car- 
reira  aberta  ao  talento  :  em  quanto  os  ordc- 
iiados,  e  recotnpensas,  por  maiores  que  sejam, 
nao  o  despertam,  se  se  llie  lira  a  seductora 
perspectiva  de  um  fiituro  mais  feliz. 

O  conselho  tem  feilo  todos  os  esfor^os  por 
fazer  collocar  todas  as  cscliolas  etn  edificios 
publicos,  pore'm  a  falla  de  edificios  do  estado 
em  muilos  concelhos,  e  a  de  recursos  dos 
municipios  etn  oulros,  ainda  llie  nfio  perinil- 
tiu  Icvar  a  pleno  effeilo  esle  empenlin  ;  de 
que,  com  tudo,  nfio  desisle,  convenrido  de 
quanto  a  disciplina  das  escliolas  n'elle  iiile- 
ressa. 

Todas  as  de  ensino-niuluo  se  acliam  col- 
locadas  em  edificios  publicos,  e  algumas  das 
oulras  ,  ainda  que  pouoas  :  porein  o  consellio 
espera  do  zelo  dos  governadores  civis,  que 
veiicerii  os  obslaculds  ,  que  ale'gora  se  leein 
opposto  a  coUoca^fio  de  lodas. 

Outre  enipenlio  do  consellio  tern  sido  o 
arranjo  de  livros  elemeiitares;  porque  sem 
dies  n.'io  lia  que  esperar  progresso  na  instruc- 
^fio  priinaria.  Tem  encanegado  aalgunsdos 
vogaes  extraordiiiarios  a  forma^fio  ou  traduc- 
^ao  dos  que  jiilgareiii  mcllioros:  e  com  esses, 
alguns,  que  llie  teem  sido  offerecidos,  e  ou- 
lros,  que  se  acliavam  publicados,  espera  po- 
der  formar  uma  coUec^fio  de  todos  os  ramos 
de  inslrucj'io  popular  para  uso  das  escliolas. 
Por  esla  resuinida  exposi^ao  do  estado 
actual  da  inslruc^iio  priinaria,  se  ve,  que 
nao  e'  plenamente  satisfaclorio,  se  o  compa- 
ramos  com  o  incremento  progressivo,  expe- 
limentado  em  povos ,  que  reconlieceni  a 
instruc9rio,  como  a  base  da  organizaqao  das 
socledades  modernas,  e  principio  elementar 
da  forca  dos  governos ;  mas  confrontado  com 
a  decadencia  anterior  a  1834  e  innegavel- 
menle  um  estado  de  mellioramento  sensivel, 
e  abonada  fianga  a  um  fuluro  elevado. 

CotUinna* 


MIVERSIDADE  DE  COIMBRA-PROGRAMMAS. 

FACULDADE  DE  MEDICISA. 
1853—1854. 

4.*   ANNO. 

C40BIRA  DB  PATHOLOOIA     E    THERiPBL'TICl    UBDICA 
B   APHORISMOS, 

00MPB:>DI0  —  HUFFELAND,  MANCBL    DB  MBOBGINB 
PRATIQDG HYPP0CI1RAT18    APUORISMI. 

Lente  —  Dr.  Joao  Lopes  de  Moracs, 

Come^a  pela  Pathologia  e  Therapeutica,  definindo 
o  qtie  e  uma  e  oulra,  consideradas  em  geral  ou  em 
wpecial  ;  e  dcpois  enlra-sc  Da  exposirilo  e  explica^Sodaa 
generali'ludes  do  livro  que  serve  de  texlo  ;  as  quaes  fazem 
para  nssini  dizer  tjoia  lransi^3o  da  Palhologia  geral,  e  da 
Therapeutica  para  a  Palhologia  e  Therapeutica  medicas, 
a  que  servem  de  prologo. 


Enlra-se  depois  na  Pulhologia  eiipe^inl,  secnindo  a  clai- 
iiiicarjio  e  mclliodo  iidoplhdo  do  compendio ;  porque 
leria  confiioito  adoplal-o,  e  re^eitar-Ihe  o  methudo:  enlre- 
tanto  iiHs  t'eneralidades  se  Icni  addtizido  coiifitleraijaea 
subre  OS  differentes  metliodog  e  cla-^iGcu^-Oee,  apuiiUiinIo 
o8  uiais  Be^'uidfts  no  fslodo  oclual  ij.i  sriencia ;  e  con- 
cliiindo  pela  oecpssidade  d'adoplar  algiim ;  preferindo  o 
do  conipL-ridio  pelo  faclo  de  o  ser,  e  tomaiido-o  corao 
ponlo  de  conipara^rio  com  os  mats  segnidos,  mluplando 
d'csles  o  que  melhur  parece  a  inedida  que  Be  vai  Iralando 
da  materia. 

TcHlando  de  rada  riasse,  Bcc"e-se  por  lanto  a  ordeoi 
adoplada  no  lexlo  ;  expondo  os  caracleres  da  classe, 
tirailtjs  dog  syinptouias  commuiig,  cujo  grnpo  e  couibina- 
(;ao  ci.nstitne  o  tlijcnusliro  ph}sioj;rapUiro  da  nu^suia  ;  sem 
com  tudo  deixar  ilc  curriijir  de  qiialqner  uiaiicira  <»  quo 
se  jul^a  a  proposilu  se^undo  <>  Cilado  actual  da  seiencia ; 
supjtrindo  principalownle  a  falla  dos  caraeleres  ariulo- 
niuiicos  nas  classes  de  uiolestiaa,  em  ip:e  elles  se  d3o. 

l)(i  mrnma  mnneira  se  prucedc  a  reapfito  da  Palho^renia  ; 
sem  dcsprcsara  doulrina  das  (rt!usti.i projcinias),  nduptada 
pelo  aiiclor  ;  c  pondo-a  em  harmuni.i  com  o  estado  da 
medrcin.!  em  Franca,  aonde  parece  dar-se-Ihe  menus  at- 
ten(;rio,  mas  qui?  nem  pur  isgo  se  <lt.*.spre8a  ;  puis  se  acha 
conBii^nada  no  Dm  i!e  cada  capidilo  J-Ob  classes,  i^t-neros, 
ou  especiea  de  molestias  df^baixu  do  litulo  —  naturcza 
—  do  mcsmo  modo  se  procede  a  respeilo  dos  geiieros 
e  espL'cies  de  molestias. 

Eni  quanto  a  Therapeutica  das  molestias,  consideradas 
coiuo  classes,  generos,  especies  ou  indivjduos,  expoe-se 
a  do  compendio  com  as  modiDi.-atjSes,  addi(;oea,  ou  sub- 
stituicues  qnc  reclamani  o  esljdo  da  scienciaj  subre  tudo 
em  Franca;  o  clima  e  as  observarOes  e  nieomo  os  usos 
merliros  do  paiz,  em  que  se  etiaiiia  ;  j)rocurando  em  tudo 
conciliar  a  ob8erva(;ao  e  a  experiencia  cum  o  quo  dicta 
a  razflo  e  a  pliilusuphia.  Nao  se  re^eila  systema  ou 
metbodo  algum,  cscolhc-se  de  todos  o  que  melhur  parece^ 
e  a  experiencia  coiifirma. 

Finalmente,  segundo  o  nosso  methodo  d'ensino,  todo 
didaclico  e  sem  apparalo,  era  li^Ces  diarias,  ("or^oso  6 
que  h.ija  um  compendio  que  firva  de  texto;  porque  sem 
elle  nao  pode  haver  expIica9ao  nem  commentario  ;  mus 
nem  por  i&so  se  jura  nas  palavras  d'esse  texlo;  deixa-se 
a  cada  nm  o  direito  d'exaroe,  d'analyse,  e  de  critica, 
que  o  Professor  lambem  gosa,  substituindo,  ainpliando, 
corrigindo  e  mudificando  eumo  llie  parece  mclhor,  fietrundo 
o  eslado  da  seiencia,  e  as  suas  (troprias  obser\ arises. 

Em  quanto  aos  Aphori>mos  consiirnadus,  n'etla  cadeira, 
por  uma  especie  de  humenagem  ao  creador  da  seiencia, 
dii-se  primeiro  uma  breve  noi^iio  liistorica  do  eslado  da 
medicina  na  Grecia  antes  de  Ilypocrates ;  qu'il  e  o 
espirito  da  sua  doulrina  luda  fundada  na  observarilo,  na 
experiencia  e  na  razao  ;  e  qua!  e  o  estado  em  que  elle 
deixou  a  medicina. 

Depots  entra-se  na  explicarao  e  interpreta^ao  de  alguua 
dos  seus  Aphonsnioa,  se^undo  o  espinto  da  dontrina  de 
HypocrateSj  e  comparando  as  suas  sentenf^as  com  o  que 
offerece  o  estado  actual  da  seiencia,  em  conQrmarao  oh 
reprova(;.lo  das  mesman. 

Eis-aqui  em  sunima  o  programma,  seguido  oas  li<;oeg 
consignadas  a  cadeira  de  Pathologia  e  Therapeutica 
medica  e  Aphorismos,  Escusado  eentrarem  minudencias, 
porque  seria  indispensavel  copiar  o  indice  do  livro  que 
eer^e  de  texto,  aqiiillo  em  que  e  substituido,  modificado 
ou  alterado  pelas  doutrinas  de  Grisolle  e  outros  Palho- 
lusistas  modernos  ;  e  o  que  pode  lirar-se  de  proveiluso 
du8  varios  dicciunarios  de  medicina,  e  que  o  tempo 
permitte  expender  nas  li^oes  d'esta  cadeira. 


JERUSALEM  E  0  MaR-MORTO. 

ARCHEOLOGIA      HEBRAICi. 

A  roligiao,  a  seiencia  e  a  poesia,  consagram 
o  iTierecido  tributo  das  suas  lioinenagens  a 
csta  terra  assignalada  pelas  *rloriosas  tradif;oc^> 
dos    livros    sagrados.   A   religiao    comtempla 


82 


/illi  com  verdacleira  eniofao  o  Uimiilo  do 
Hoiiictii»Dciis  ;  a  scieiicia  encontra  nesta  rc- 
gino,  outi6ra  tain  llorefcente,  os  mais  ricos 
mnnancifies  da  liistoria  ;  iim  ceo  lirillianle,  e 
,»  icmiieiisidade  do  deserlo,  rcpresentando  a 
iinagein  do  iiiGnilo,  excitam  no  poeta  as  mais 
sublimes  inspiracoes.  Nao  liu  paiz  algiim,  se 
i-xccpUiarmos  Meca,  t]iie  em  seu  seio  lenha 
conlado  laiilos  peregrines  como  a  Terra  san- 
cla.  D'esles  os  priineiros  pertencein  aquelle 
seculo  exlraordiiiario,  apaixonado  do  proje- 
lyiismo,  cm  que  a  religiao,  depois  de  cnieis 
persf'gui5oe3  e  longo  capliveiro,  Irinmfihanle 
oe  sens  iiiiinigos,  lograra  em  fim  a  auclon- 
dade,  que  por  lanto  tempo  llie  fora  dispnlada. 
Assegnnda?  peregriiia^nes  appareccm  no  meio 
d'essa  era  cavalleirosa,  cm  que  oclirislianismo, 
modificado  pelo  primitivo  tliaraclcr  das  nardes 
occidenlacs,  servia  de  prctexto  ao  e^pirito 
guerreiro,  e  ao  genio  avcniuro-o,  que  fora  a 
cliaracteri^tica  da  socicdade  curopeia  nesta 
epoctia.  Em  fun,  quandn  os  nllimos  peregri- 
nes penelraram  na  Judea,  a  Kuropa  lomiira 
ja  uma  nova  face  pelo  contacto  com  a  anli- 
guidade  profana,  e  entnira  nesle  periodo,  as- 
signalado  pelonasciinento  da  modcrna  civilisa- 
gao,  e  que  vira  desapparecer  os  uUimos  ger- 
mens  da  barberia.  Hojc  o  viajante  percorre 
aquella  terra,  clicia  de  tantas  recorda<,'6es, 
nao  ja  braiidindo  a  espada,  porem  lomando 
na  niao  a  Bibiia,  e  a  penna.  Nesta  criizada 
de  nova  espccie,  animada  pilas  sublimes 
aspiraCj'oes  a  que  tende  a  sociedade  moderna, 
o  vinjanle  nao  se  limita  so  a  contemplar 
n'aquelles  venerandos  monuuieiilos  as  glo- 
riosas  Iradigoes  consagradas  pela  fe,  e  pela 
religjifio  ;  os  costumes,  a  geograpliia,  e  o  clima 
d'aquelles  sanctos  Ingares  fazetn  tambem  um 
dos  principaes  objectos  das  suaa  invesliga(;oes. 
Assim  a  fe  e  o  amor  da  sciencia  se  ligam 
admiravelmente,  e  sfio  o  verdadeiro  incenlivo, 
que  transporta  ao  meio  d'estas  regioes  essas 
pacifitas  cruzadus,  que  no  volver  dos  annos 
5u  vao  suceedendo  umas  lis  outras  sobre  aquel- 
la terra  inhospita. 

ISo  comedo  d'este  seculo  o  illustre  A.  do 
Itinerario  de  Paris  a  Jerusalem  abriu  esle 
novo  e  ale  entao  quasi  desconhecido  caminlio, 
dirigindo  as  suas  observagoes  com  a  exacli- 
dflo,  e  soberana  liberdadc  de  \im  verdadeiro 
sabio,  e  de  iiin  pliilosnpho  tonsummado.  O 
exemplo  do  illusire  viajante  teve  numerosos 
immitadores.  Desde  logo  os  dois  grandes 
cenlros  da  religiao  reformada,  a  Allemanlia, 
ea  lnglalerra,assim  como  a  America  do  Norte, 
que  parece  cuiiliecer  so  um  nnico  livro,  en- 
viaram  successivamente  sobre  as  costas  da 
Syria  novos  observadores  para  explorar  este 
paiz.  Aquelle  unico  livro  desla  ra<;a  empre- 
hendedora,  criada  sobre  nm  soloainda  virgem, 
aquelle  livro,  que,  desde  a  queda  do  paga- 
nismo,  tern,  como  oulr'ora  Jioma,  governado 
o  Occidente,  e  a  liistoria  da  Judea.  A  bibiia, 
abstraindo  de  sua  divina  origem,  e  coiiside- 
rada  so  humanamentc,  e  um  poema  sublime. 


A  verdadeira  liistoria  dos  triumphos  e  dos 
grandes  infurtunios  d'aquelle  povo  singular, 
que  parece  fi)ra  talliado  para  viver  inteirar 
mente  separado  dos  oulros  povps,  e  desctipla 
n'aquellas  eloquenles  paginas  com  l.'io  vivo 
colorido,  com  tanla  forja  de  expressuo,  em 
estilo  tf(0  conciso,  e  ao  iiiesino  passo  lao 
energico,  quenenhum  oulro  livro  pode  ainda, 
nem  se  quer  egualar.  Na  imineiisa  variedade 
das  suas  descripqoes  a  bibiia  abrangc  Judo 
quanio  conslitue  a  lli^toria  pliysica,  moral, 
e  politica  de  um  povo,  que  tao  dislincto  logar 
occupa  nos  annaes  do  inundo  ;  os  scus  uzos 
civis,  e  religiosos,  suas  leis,  e  sens  costumes, 
seu  clima,  confii;ura<;ao,  e  geograpliia  ;  o  eis 
a(pii  porque  a  hiblia  e  o  primeiro,  e  mellior 
giiia  do  viajante,  n'aqiielle  vasto  tliealro  de 
lao  memoraveis  acontecimentos. 

N.^o  vem  ao  iiosso  inteiito  referir  aqiii  os 
profuiidos  e  imporlantes  Iraballios  scieulificos, 
do  que  a  bibiia  lein  sido  objeclo  sobre  liido 
cm  Allemanlia,  ondc  a  crilica  moderna,  e  o 
espirilo  de  livre  exame  lanlos  progressos  tern 
feito  ;  o  que  imporla  notar,  e  o  facto  singular, 
e  caracteristico  da  arclieologia  lidbraica  —  a 
completa  ausencia  de  todos  os  elementos,  que 
constituem,  o  que  ordinariamenle  se  cliama 
untiguidade  figurada.  Kste  facto  mui  notavel, 
e  attestado  por  todos  os  viajantes,  e  confir- 
mado  pelo  lestemunho  dos  liomens  mais  emi- 
neiites  na  sciencia  desde  Rosenmuller  ale 
Gesenius,  e  desde  Micliiielis  ale  Ewald. 

Dii-se  o  nome  de  antiguidade  figurada  as 
obras  d'arte,  que  tem  escajiado  a.  destrui(,-ao. 
Quando  a  antiguidade  lilleraria  parece  fugir- 
nos,  ou  perder-se  na  obscuridade  dos  seculos, 
a  antiguidade  figurada  vem,  por  assim  dizer, 
servir-nos  de  marco  niilliario  nesta  longa  via, 
onde  o  viajante  se  perderia  em  mil  encoi>-  , 
Iradas  conjecturas.  As  recorda^ues,  a  tradi- 
(|-ao  e  OS  soiilios  do  passado  lornam-se  palpa- 
veis,  e  apresenlam-se-nos  aos  oHios  com  loda 
a  for^'a  da  realidade. 

Em  llerculano  ,  e  Pompeia  a  antiguidade 
figurada  revela  ale  os  faclos  mais  particulares 
da  vida  e  cost.iines  dos  seus  antigos  mora- 
dores.  Na  India,  na  Italia,  e  na  Grecia  os 
templos,  e  as  eslaliins  sao  documentos  elo 
qiientes  das  magnlficencias  do  paganismo. 
A  Judea  pelo  conlrario  nao  nos  offerece  um 
unico  monurnenlo  da  sua  primitiva  civilisa. 
y.'io,  ou  de  sua  antiga  religiao.  A  raga,  que 
primeiro  pisou  este  solo,  como  todas  as  rajas 
semiticas,  linlia  pouco  goslo  pelas  imagens, 
e  ja  mais  so  dedicou  a.  culliira  das  bellas 
arles.  Na  Judea  ii.'io  se  observam,  como  sobre 
OS  promontorios  da  Sicilia,  ou  junto  das 
margeiis  do  Nilo  essas  bellas  rtiiiias,  que 
Inriiam  a  pai-;agem  tfio  rica  e  lao  variada ; 
nfiose  veem  alii  nem  cdificios  coroandoa  crista 
das  montanlias,  nem  pedeslaes  sem  estaluas : 
falla  esla  bclla  iiarinonia  da  naturcza  e  dos 
inoniimentos.  N 'aquelle  paiz  nao  se  conliece 
a  ligajao  do  Acropole  com  o  Partlienon, 
liga(;rio    tarn   intima,    que   o    rochedo  allie- 


83 


niensc  seria  o  mais  espantoso  rocliedo  do 
mundo,  se  tiao  tivera  aquella  fortnosa  coroa 
de  alabastro.  Eslas  sublimes  hainionias,  la- 
Iliadas  para  a  pliantasia  do  pintor,  e  para  a 
imaginajao  do  poela,  nao  e.xistoin  na  Judea, 
porque  tao  dilTicil  e  lioj  ■  reconheoer  os  ves- 
tigios  dos  primeiros  domiiiadores  deste  paiz, 
como  achar  as  pe^adas  dos  arabes  na  area 
do  deserlo,  que  esui  as  siias  porlas. 

E  de  feito  a  iiagfio  judaica  leve  um  iinico 
moiiuniento,  destruido  lia  dois  mil  annos. 
Deste  grandioso  moniimento  resla  apenas 
a  confusa  dcscripgao,  que  se  Ic  nas  pa- 
ginas  sagradas.  E  por  isso  que  os  auclores, 
que  se  tern  occupado  da  archileclura  das  na- 
96es  aiitigas  sao  conformes  cm  dizer,  que 
inui  pouco  se  sabe  da  dos  liebreus.  K  Mi- 
chaelis,  um  dos  mais  diilinclos  e  abalisados 
conhecedores  das  antiguidades  biblicas,  iiao 
duvida  susteiilar,  que  no  tempo  de  Salomao 
«  ainda  muilos  annos  dcpois  os  arcliitectos 
judeus  erao  mui  ignorantes.  Copear  os 
plienicios  parece  tor  sido  o  objecto  de  todos 
OS  seus  esforjos. 

Ora  como  os  phenicios  nao  deixaram  um 
unico  monumento,  digno  deste  nome,  f'acil  e 
de  ver,  quam  difficil  sera  conhecer,  e  avaliar 
exacta  e  rigorosameute  a  architectura  dos 
hebreus. 

Nem  era  para  estranliar  aquella  ignorancia 
n'uraa  ra<;a  tao  proxima  do  deserto,  e  no- 
made  por  consequencia  na  sua  origem  ;  que 
cerlo  nao  poderia  medir-se  na  arte  de  cons- 
Iruir  com  as  na^oes  agricoias  e  sedentarias. 
Outias  circunstancias,  porem,  nao  menos  im- 
porlantes,  vcm  confiimar  o  testemunlio  dos 
iiistoriadores  no  que  respeita  a  completa  aii- 
■sencia  dos  momimentos  biblicos.  AJudta  f'oi 
por  largos  annos  tlieatro  de  sanguinoleiitas 
lutas,  e  conlinuas  devajlagnes.  A  terra  clas- 
»ica  dosmilagres,  nao  tern  sido  tnenos  —  a  ter- 
ra das  revolugoes.  A  Judea  era  o  vasto  cami- 
nlio  para  os  conqui^tadores  do  Egypto  on 
da  Asia.  Odiosos  aos  outros  povoa,  os  judeus 
viviam  cercados  de  poderosos  inimigos.  A 
una  liistoria  e  uma  constante  alternaliva  de 
sangrentas  victorias,  de  crueis  revezes,  e  de 
longos  capliveiros.  Batalhando  incessante- 
mente  por  libertar-se  do  jugo  estrangeiro, 
livernm  por  fun  que  ceder,  e  sua  capital  ate 
o  nome  perdeu.  Jerusalem  desassete  vezes  foi 
saqueada,  c  um  milliao  de  seus  beroicos  de- 
fensores  deram  a  vida  peja  iiberdade  junto 
de  scusmuros.  E  no  meio  de  tao espantosas  ca- 
tastrophes impossivel  foradescobrir  asreliquias 
da  architectura  iiebraica,  ainda  que  os  Judeus 
possuissem  esta  arte  em  tao  subido  grdo, 
como  OS  Romanes.  A  todas  estas  causas,  que 
seriam  de  persi  bastantes  para  fazerdesaparecer 
de  sobre  a  face  desie  paiz  ate  os  uitimos 
vestigios  da  primiliva  civilisagao  Iiebraica, 
aoaso  se  juntara  uma  outra,  niio  menos 
poderosa,  se  nao,  talvez,  mais  effic.az,  e  dura- 
dOra.  O  genio  hellenico  com  todas  as  suas 
galas,  cercado  de  todos  os  primores  d'artc, 


cslendera  sua  doininajao  sobre  as  aridas 
montanhas  da  Judea.  A  sua  magnificencia 
ainda  hojeseadmira  tias  magestosascolumnas 
de  Palmyra,  e  ate  sobre  os  rochedos  de 
Petra.  A  nova  Jerusalem,  levanlada  sobre  as 
ultimas  ruinas  da  cidade  de  David,  e  um 
glorioso  Iropheo  da  grandcza  e  excellencin 
d'aquelle  genio  portentoso,  que  cm  todos  os 
seus  monumenlos  dcixara  eslampado  o  cunho 
das  artes  e  das  sciencias.  A  lerceira  ree(li(;ca- 
<;ao  do  tempio  de  Salomao  fora,  segundo 
Herodoto,  obra  prima  da  riquosa,  e  ele- 
gancia  de  Athenai  on  do  Corinlho.  Assim 
do  lantas  grandezas  restam-nos  hoje  ruinaa 
de  ruinas  ;  os  vestigios  de  uma  nova  civilisa- 
^'iio,  que  fizera  desapparecer  a  da  gera^ao,  que 
a  preccdeu,  e  que  para  sempre  liciira  con- 
fundida  no  p6  dessas  mcsmas  ruinas. 

A  irnpossibilidade,  porlanto,  de  encontrar 
05  nrienores  vestigios  da  antiguidade  hebraica, 
e  um  ponto  assenlado,  e  sobre  o  qual  as 
tradi^oes,  o  teslemunho  dos  mais  eruditos 
antiquaries,  dos  peregrines,  e  viajantes  estam 
ein  pleno  accordo. 

Um  illustre  viajante,  porem,  n'uma  recente 
publica^ao  '  pertende  reconhecer  ii'alguns 
nionunientos  da  Judea  a  obra  primiliva 
d'antiga  civilisa^ao  hebraica,  das  suas  artes, 
e  da  sua  industria.  Em  apoio  desla  theoria, 
contradicta  por  tanlos  e  tao  numerosos  docu- 
mentos,  Saulcy  invoca  o  descobrimento  do 
tumnlo  de  David,  e  das  ruinas  de  Sodoma. 
A  aiUenthicidade,  porem,  destesfactose  ainda 
mui  problematica,  e  nao  sera  porventura  dif- 
ficil reconhecer  n'esla  theoria  as  erradas  conse- 
queneias  d'alguma  preoccupa^ao,  ou  de  um 
false  sysleuia.  A  questao  e  evidentemente  uma 
das  mais  imporlantes,  que  pode  offerecer-se 
no  estudo  da  archeologia  hebraica,  e  que  nao 
deixara  por  isso  de  merecer  a  atlenjao  dos 
erudites. 

Continua. 


CONCORRENCIA. 


Continuado  de  pa^.  72. 

Accusa-se  geralmente  a  concorrencia  de 
arrastar  comsigo  a  miseria  d'uma  classe,  ao 
passo  que  oenlralisa  no  dominie  do  capilu- 
iista  todas  as  fortunas  ;  que  o  capitalista  se 
torna  e  rci  da  seciedade,  a  btirguezia  a  sua 
escrava ;  que  a  miseria  cresce  a  medida  que 
a  civilisagao  augmenta.  E  uma  queixa  simi- 
lliante  a.  que  se  fa?  relativamente  a  mo- 
ralidade;  em  nosso  entender  esta  accusa^ao 
basea-se  n'um  duple  erro. 

A  conconencia  absoUita  nao  dotnina  ainda 
hoje  a  seciedade,  porque  os  monopolies  lega- 

'  Saulcy.  Voyage  anionr  de  la  Mer-Morte  et  iaus 
let  Urrei  bibliqiies.  i  vol.  Paris  1853. 


84 


lUado5,  e  o  monopolio  do  capital  ainda  of- 
ferecem  uma  barreira  ao  livre  desinvolvimen- 
to  da  liberdade,  como  lenios  foilo  ver.  Mas 
se  a  Iciidencia  geral  o  para  a  generalisa^ao 
da  livre  associayfio  ;  se  esta  tend<Micia  cada 
vez  niais  se  realiza  pelo  conlieciineiilo  das 
vantagens  que  dclla  roiiillaiii ;  e  se  esse  pro- 
gresso  se  apreseiila  como  resukado  da  liber- 
dade, como  o  cnriiplerncnlo,  a  que  tendo  o 
svsleina  actual,  pois  que  e  o  cninploiuenlo 
da  liberdaile  de  que  a  actualidade  apresenla 
iini  grande  ensaio  ;  e  incxacto  suslentar-se  que 
as  tendencias  acluaes  se  dirigein  a  exlreiiiar 
duas  classes ;  uma  que  so  procura  cenlralisar, 
e  estabelecer  o  dominio  exclusive  para  si  do 
capital;  oulra  que  augtneiita  proporcional- 
menle  na  miseria.  A  logica  poretn  leva-nos  a 
uma  coiiclnsao  inteirauienle  differente;  por 
uma  parte  inoslra-iios  a  conoorreiicia  muilo 
longo  ainda  de  ser  a  lei  da  sociedade,  mas 
dirigindo-se  todavia  para  esse  fim;  por  outra 
t'az-nos  ver  que  u  riqueza  esld  hoje  melhor 
repartida,  que  uao  o  estava  em  epochas  ma  is 
remotas.  Tudo  quanto  levamos  dilo  prova, 
nos  pareco,  a  primeira  conclusao  ;  os  Irabu- 
llios  esladisticos  corit'irmani    a  segunda. 

Iloje  u.'io  e  possivel  sustcnlar-se  que  o  facto 
do  accrescoritaineuto  da:,  liquezas  seja  supe- 
rior ao  da  sun  diffusao.  Se  Mr.  Blanqui  diz 
que  a  miseria  publica  e  um  grawde  I'acto  so- 
cial, particular  aos  tempos  modernos,  inani- 
festando-se  cada  vez  niais  a  medida  que  a 
civilisa^fio  se  diffutidc;  nos  respotidenios  ao 
estimavel  e  elocpierite  economista,  quo  o  que 
e  particular  ao  tempo  actual  e  a  agitii9ao  de 
todas  as  classes  ;  e  a  sua  inquieta9:lo,  a  sua 
impaciencia  e  a  impossil^ilidade  de  conteutar- 
se  ;  porque,  vendo  raiar  a  aurora  da  sua  total 
emancipa^fio,  conscia  do  seu  poder,  jti  nao 
pode,  como  outr'ora,  sol'frer  o  jugo,  ainda  que 
niuito  mais  suave. 

A  e|)oclia  actual  mal  podera  confronlar-se 
com  exactidfio  coui  as  da  antiguidade  em.  re- 
la^fio  ao  problema  da  miseria.  A  dilTeretic^a 
cssencial  que  reiiia  na  vida  inlima  da  socie- 
dade d'lioje  para  a  da  autiga  sociedade,  e  a 
causa  dessa  difficuldade.  Que  miseria  nao  de- 
veria  haver  n'uma  sociedade  seni  commercio 
e  sem  industria,  cujos  unices  elementos  de 
producg.'io  cram  a  guerra  e  a  pilliageni !  Onde 
as  classes  niedins  olliavam  o  trabalho  conio 
uma  obra  servil,  e  a  ociosidade  como  o  attri- 
bulo  do  cidadao?  Mr.  Moreau-Cliristoplie  faz 
ver  que  nos  antigos  povos,  especialrnente  os 
romanos,  entri-  a  lierilidade  e  a  servidao  liavia 
uma  classe  proletaria,  composta  de  cidadfios 
pobres  on  d'uma  fortuiia  mediocre,  que  nao 
tintiam  escravos,  que  os  nao  podiam  ter,  e 
para  os  quaes  a  sua  liberdade  original  era 
precisarnente  uma  origem  de  indigencia,  de 
oppressao  e  de  miseria;  liberdade  que  consti- 
tuia  para  elles  uma  especie  de  titulo  de  no- 
bresa,  que  nao  Ihcs  permittia  entregarem-se 
a  occupa(,'oes  manuaes  exclusivamente  reser- 
vadas  para  os  escravoj.   Km  Roma  apresen- 


lam-se  frequenles  cxemplos,  que  bem  pro- 
vam  a  existencia  dessa  classe  proletaria  vota- 
da  ;i  pobresa :  quantas  revollas,  fructo  dessa 
miseria,  nfio  presenciou  a  Cidade  por  excel- 
lencia?  Mas,  quando  inesmo  antes  da  epoclia 
em  que  comc^aram  a  linver  libertos,  nao  se 
(|uizes5e  udmittir  mais  que  as  duas  classes  de 
senhiires  e  escravos,  estariam  os  escravos  sem- 
pre  ao  abrigo  da  miseria,  prodigalisar-lhes- 
hiarn  sempre  sens  senliores  com  que  sallsfi- 
zessein  a  todas  as  suas  necessidades?  As  me- 
drdas  severas  contra  os  escravos  fugitives;  as 
rebel  iocs  dos  Ilotes  em  Sparta,  dos  escravos 
em  Roma,  sao  uma  triste  recorda^ao  da  mise- 
ria d'esses  inft-lizes !  Ila  hoje  acaso  pinlura 
dos  males  que  allligem  a  humanidade,  por 
mais  liabil  que  seja  a  mao  que  a  desenhe,  que 
poisa  eguaiar  a  impressao  de  horror,  que  nos 
causa  a  so  idea  d'um  ergastido  ? ! 

Que  idea  poderemos  nos  fazer  da  sexta 
classe  romana,  cuja  denominagao  de  proleta- 
ria 6  o  mais  manifesto  testemunlio  da  miseria 
que  a  devorava  !  N'uma  republica  onde  a 
riqtieza  consistia  principalmente  em  terras, 
que  idea  se  pode  fazer  do  proletario  ci>amado 
tambem  inops,  porque  nao  possuia  um  so  pal- 
mo  de  terra  ;  e  capite  ccnsi,  porque  so  eram 
recenciados  por  cabe^a  !  E  desta  classe  conta- 
vam-se  em  Roma  no  Iem|)o  de  Cesar  trezen- 
tos  e  vinte  mil,  quando  a  massa  total  da  po- 
pula^ao  n.'io  excedia  a  quatroceiitas  e  cin- 
coenta  mil  almas.  Quern  desconhece  o  — 
pcincin  el  circenscs?  Um  peda^o  de  pao,  po- 
ne;/?, acompanliado  de  festejos  e  de  jogos 
circcnscs,  e  distribuido  cada  dia  gratuitamen- 
te  a  cada  um  dos  trezentos  e  vinte  mil  ociosos 
de  que  lemos  fallado,  oonstituia  para  esta 
massa  degradada  a  maior  somma  de  felici- 
darle  que  ella  podia  ambicionar. 

Garnier  de  Cassagnac  diz,  que  a  mendici- 
dade  era  um  facto  quasi  desconhecido  dos 
antigos  nos  tempos  da  servidao  primitiva, 
por  causa  do  pequeno  numero  de  libertos, 
que  havia  antes  da  eta  christa :  esta  opiniao 
hoje  n.'io  suslenla  o  rigor  da  analyse.  Depois 
da  batallia  de  Cannas,  Roma  armou  oito  mil 
dos  sens  escravos,  a  que  deu  a  liberdade;  ' 
desde  «  anno  340  a  210  antes  de  J.  Christo, 
mais  de  cem  mil  libertos  haviam  entrado  na 
sociedade  romana;  e  acabaram  por  tornar-se 
tao  numerosos,  que  Scipiam  Emiliano  dizia, 
que  o  povo  romano  nao  era  outra  cousa. 
Quando  Mario  ipiiz  destruir  em  Roma  a 
aiistocracia  da  nobreza,  encarregou  deste  ciii- 
dado  milhares  de  democratas  infelizes,  que 
elle  foi  buscar  d'entre  os  escravos;  Sylla 
distribuiu  a  cada  uma  das  Irinta  ecincot-ibus 
dez  mil  novos  cidadaos  libertos,  que  haviam 
sido  escravos  dos  patricios  proscriptos.  Isto 
fez  com  que  Cicero  dissesse  de  sen  tempo, 
que  OS  libertos  piedominavam  nao  somente 
nas  quatro  tribus  urbanas,  mas  ate  nas  Irinta 
e  uma  tribus  ruraes.  Jii  se  ve  pois  que  antes 
da  era  christa  liavia  grande  numero  de  liberies; 
mas  se  attenderraos  a  massa   da  mendicida- 


I 


85 


(Ic,  nao  so  acliava  laiita  nclles,  porque  traba- 
lliavaiTi,  codio  nos  cidadiios  ociosos  de  que 
f'allarnos,  os  <]iiaes  nao  tiahalhando,  e  nao 
lendo  patriinonic,  deviain  foffrer  as  Iristes 
consequencias  d'lini  tal  eslado.  Alem  diaso, 
OS  escravos  eiiferiiios  e  inqiiissibilitados  de 
trabaihar  aiii^mentavaiii  graiidomenle  o  nii- 
rnero  das  vicllnias  da  fonic. 

Na  epoclia  da  barbaridade  o  quadro  ainda 
e  mais  canegado  :  quasi  loda  a  parti;  penal 
da  lei  Salica,  prova  Mr.  Pardessus,  (^ra  con- 
tra as  rapinas  e  assassinates  ;  de  trezenlos  e 
quarcnla  e  tres  artigos  dc  direilo  penal,  Cjue 
esta  lei  conlinha,  diz  Mr.  Guizot,  liaviaiii 
cento  e  cincoeiila  que  se  referiam  a  casns  de 
roiibos,  e  cento  e  treze  que  se  referiam  a 
alaqnes  contra  as  pessoas.  Nestos  tempos 
calainitosos  nao  era  possivel  andar  pelos 
canipoj  scm  o  perigo  eniinentc  de  taliir,  on 
nas  mfios  dos  bandos  de  ladrofs,  on  nas  dos 
ininiigos.  Os  nome?  antigos  das  rnas  de  Paris 
testemnnliam  ocspirilo anti-social  desle  tempo, 
e  a  iniseria,  que  era  a  sua  consequencia.  O 
ter(,o  ou  talvez  a  inetade  da  populajfio  da 
Enropa,  e  d'nma  parte  da  Africa  e  da  Asia, 
succumbiu  pela  guerra,  pela  peste  e  pela 
feme!  Quando  Julianno  passou  para  a  Gal- 
lia, qnarenta  e  cinco  cidades  acabavam  de 
ser  destruidas  pelos  Allemaes.  Depois  da  in- 
vasao  d'Atlila  so  duas  cidades  foram  salvas 
ao  norte  do  Loire  —  Troyes  e  Pan's.  Em 
Metz  OS  Hunos  degolaram  toda  a  gentc,  ale 
as  criari(,'as.  Salvianno  conia  ter  visto  cida- 
des, cujos  vivenles  eram  unicamente  as  feras 
e  as  aves,  que  devoravam  os  cadaveres  em 
putrefacgao.  Em  Hespanlia  as  feras  em- 
liarayavam  olransito  pelocampo,  ecliegavam 
a  atacar  as  povoa^'oes.  Uma  muUier  linlia 
quatro  fillios,  malou-os  e  devoroii-os  a  lodos  I 
Na  Africa  os  Vandalos  arrancaram  as  vinlias, 
as  oliveiras  e  mais  arvores  frucliferas,  para 
que  os  povos  encerrados  nas  cidades  live^sem 
de  perecer  a  necessidade. 

Ka  Asia,  diz  Cliateaubriand,  as  invasiies 
dos  Godos  produziraui  unia  fome  e  iima 
peste  que  diirou  qninzc  anr)Os;  cinco  mil  pes- 
soas morreram  n'nm  so  dia.  a  Roma,  qnatro 
vezes  sitiada  e.  toniada  dnas  vezes,  soffreu  os 
males  que  liavia  feito  soffrer  a  terra.  As  mu- 
Iheres,  seguiido  S.  Jeronymo,  nao  perdoaram 
mesmo  aos  I'lllios  que  peudiarn  de  seus  peitos, 
e  fizerain  entrarde  novo  em  sen  seio  o  fructo 
que  dalii  acabava  de  saliir.  Roma  lornou-se 
o  lumulo  dos  povos  de  que  liavia  sido  a  mie. 
A  luz  das  najoes  e\tinguin-se,  decepando  a 
cabeCj'a  do  imperio  rnmano,  abateu-se  a  do 
mundo  !  u  A  peste  e  a  foine  cspantosa  forarn 
as  consequencias  necessarias  dcslas  devasta- 
^oes. 

Mais  adianle  a  liistoria  nos  faz  ver,  desde 
o  fim  do  seculn  decimo  ate  ao  principio  do 
duodecimo,  a  fome,  que  nos  seculos  prece- 
dentes  havia  jil  feito  terriveis  estragos,  lornar 
a  apparecer  treze  ou  qnalorze  vezes,  quasi 
seinpre  acompanliada  da  peste,  durando  cin- 


coenta  annos  n'lini  periodo  de  cento  e  doze 
annos;  a  liistoria  nos  iiioatra  uma  fome  tal 
em  Inglaterra,  que  tliegoii  a  comer-se  carne 
huniana. 

O  seculo  dezesseis  n.'io  apresenta  sigiiacs  de 
graiide  inellioramento  para  o  proletariato. 
Fortescue,  que  liavia  pereorrido  a  Franca 
no  tempo  da  Reforma,  dizia,  fnllando  dos 
colonos:  u  files  bebeni  agna,  eomein  pomos, 
fazeni  com  centeio  uni  p'lo  negro,  e  naci 
fabem  mesmo  o  (pie  e  carne.  »  No  tempo 
de  Liiiz  XIV  contavam-se  em  Paris  40:000 
vagabundos  e  mendigos,  e  200:000  em  toda 
a  Fran<;a  :  eja  desde  o  seculo  XII  a  mendici- 
dade  de  profissfio  era  tHo  nnmcrosa,  que  se 
havia  tornado  objecto  de  serias  inquicta9r")es. 
Vauban  (an.  1698)  este  liomem  tao  conlie- 
cedor  do  estado  da  Fraii(;a  no  sen  tempo,  ex- 
piessa->e  as!ini :  «  E  certo  que  o  mal  da 
iiidigencia  tern  siibido  em  excseso,  e  se  nao 
se  tratar  de  llie  dar  reniedio,  o  povo  baixo 
caliira  n'unia  exlreniidade  de  polireza,  de 
que  nfio  se  tornara  a  levantar.  As  estradas 
principaes  do  campo,  e  as  rnas  das  cidades  e 
das  villas  est:lo  clieias  de  mendigos,  que  a 
forne,  e  a  nndez  d'alli  fazem  saliir.  Quasi  uma 
decima  parte  do  povo  e,t<i  rediizida  d  mendi- 
cidade,  e  elTectivamenle  mendiga;  das  outras 
nove  partes,  cinco  nao  estfio  en>  estado  de 
darcni  esniolla  a  esta,  porque  muito  perlo  se 
acliarn  da  mesma  condicgao;  e  das  quatro 
que  re^tam,  tres  sao  muito  pouco  abastadas.  ;> 
Hoje  a  Franga,  paiz  que  tanto  tern  augmen- 
tado  em  induatria,  nao  apresenta  um  qiiadro 
de  pobreza  comparavel  com  este,  e  a  Frani^a 
lioje  e  povoada  por  34  millioes  de  liabitantes, 
e  enlfio  apenas  por  Mi. 

Entre  nos  mesmo,  n'lo  obstante  Portugal 
ser  uma  nagao  agricola,  e  a  ferlilidade  dos 
nossos  cainpos  offerecer  ahundantes  recursos 
contra  a  miseria,  todos  sabem  de  quantas  leis 
nao  I'oi  objecto  a  mendicidade  de-,de  os  anti- 
gos tempos.  As  leis  de  D.  Fernando  contra  os 
mendigos  sao  disso  um  testemunlio;  e  em 
tempos  mais  proximos  os  alvaras  de  9  de 
Janeiro  de  1604,  de  25  de  dezembro  de  1C03, 
de  2&  dejunho  de  1760,  edital  de  17  de  maio 
de  1780,  etc. 

Jii  se  ve  pois  que  a  razao  e  a  liistoria 
contradizem  formalmenle  esse  augmento  sem- 
pre  progressive  da  miseria,  que  snstenta  a 
opiniao  que  impugnamos. 

j.B.  DA  s.  P.  DE  c.  MARTENS. 


PHYSIC  A  DO  GLOBO. 


KXPOSKjIo  DO  SVSTEM*   DOS  VE>TOS. 

O  vento  e  uma  parte  denossa  atmosplipfa 
posta  em  movimenlo  por  alguma  altera^ao 
em  sen  equilibrio  :  esta  alterafao  e  prodnzid.i 
por  dilferen^as  de  lemperatnra. 


86 


Scndo  o  ar  inais  qucnle,  c  por  ecinscguinlc 
mais  rarefeilo  junlo  do  eqiiaiior  (\ne  dos  po- 
los, eflabelecciii-sc,  cm  cada  heiiiiaplierio, 
correiilcb  dar  cpit  se  dirigeiii  dos  polos  para 
o  equador.  Kstas  conenles  cliamadas  vcntos 
polarcs,  ordiiiariaiiionte  nas  zcnas  lempera- 
das  soprani  cnlre  o  noroeste  e  o  norle  no 
licmisplierio  boreal,  c  cnlre  o  sndoeste  eo  sul 
ro  austral;  a  direc^fio  d'ellas  approxiniase 
de  leste,  ao  passo  que  avan^ain  para  a  zona 
torrida,  onde  forniani  os  venlos  alizados.  As 
iiuvens  i'reqiienles  vexes  indioarn,  qne  as  cor- 
/eiites  variarn  niaia  depressa  nas  cainadas  in- 
feriores  que  nas  superiores,  c  que  conservam 
sua  priinitiva  direcyao  nas  regioes  elevadas. 

Al'^umas  vczes  os  venlos  polaies  totnani 
proximo  dos  polos  a  direc^iio  enlre  o  norle  o 
iiordnste  ou  enlre  o  sul  e  sue^te,  conforrne  o 
liemisplierioj  c  a  conservam  ale'  na  zona  lor- 
lida,  e  nas  inais  elevadas  regioes  da  alinos- 
pliera. 

Os  venlos  polarcs  occupani  uma  cxlonsao 
limilada;  mas  reinain  ao  mesmo  tempo  em 
muilos  logarcs,  e  nos  intervallos  que  os  se- 
param,  encont^am-^e  os  vcntos  liopicaes,  i]iie 
soprani  enlre  o  sul  e  oesle  no  liemisplierio 
boreal,  e  enlre  o  norte  e  oeste  no  austral. 
Estes  ventos  sao  ordinariamenle  as  contra- 
correntes  dos  ventos  alizados  do  liemisplierio 
em  que  sopram. 

Oj  venlos  alizados  forraam  diias  corre:ites 
distinclas,  que  eslao  ern  contaclo  nos  mares 
livres  e  sobre  as  coslas  orienlaes,  a  uma 
distancia  do  equador,  que  depende  de  sua 
jntensidade  relaliva.  Eslao  as  vezes  afastados 
uns  dos  ouUos  a  oeste  dos  conlinenles,  nos 
mares  eslreilos  ou  semeados  de  numerosas 
llhas;  no  iiilervallo  que  os  separa,  cxislem 
calmarias,  ou  antes  ventos  que  sopram  entre 
o  sul  e  oeste  no  liemisplierio  boreal  e  enlre 
o  norte  e  oeste  no  austral  :  clianiam-se  venlos 
variaveis  da  zona  torrida  ^  mas  nos  mares 
da  India  da-se-llies  o  nome  de  mongao  do 
sudocsle  ou  mongao  do  noroeste. 

Os  ventos  sao  pola  maior  parte  as  contra- 
correnles  dos  ventos  ali/ados  do  hemisplierio 
opposto  aquelle,  em  que  sopram. 

Quando  os  venlos  polares  e  os  vcntos  ali- 
zados teem  nnia  cerla  intensidade,  podem 
cbcar  lis  niais  elevadas  regioes  da  almos- 
pbera;  mas  quando  s.'io  fracos,  os  ventos  do 
liemisplierio  austral  passam  por  cima  dos 
venlos  polares  e  alizados  do  bemispherio 
boreal,  ou  vice-versa. 

Em  qnalquer  logar  que  os  ventos  polares 
e  alizados  deixam  de  reinar  a  supcrficie  da 
terra,  sao  subslituidos  pelos  ventos  superiores. 
Quando  os  venlos  alizados  dos  dous  hemi- 
spberiosesl.'io  em  contaclo,  os  venlos  superiores 
tocam  a  supcrficie  fora  dos  limilcs  cxtcriores 
dos  ventos  alizados  ;  mas  desde  que  as  zonas 
d'esles  ventos  se  scparam,  o  intervallo  e  pre- 
encbido  pelos  ventos  superiores. 

Estes  ventos  reunem-se  ora  aos  ventos  Iro- 
picaes,  ora  aos  ventos  variaveis  da  zona  tor- 


rida, e  ate  algumas  vezcs  a  ambos.  .^uglncn- 
lain  de  intensidade  que  todavia  e'  pouco  con- 
sideravcl,  exccplo  se  'os  venlos  polares  ou 
alizados  do  liemisplierio  a  que  cliegam,  Ibes 
oppoem  obslaculo;  e  apenas  variarn  a  oeste 
do  sudocsle  ou  do  noroe'stc  por  effeilo  dos 
mesnios  ventos. 

Os  vcntos  tropicacs  formam  inuitas  vezcs 
nina  zona  ou  parte  d'uma  zona  comprebcn- 
dida  enlre  o  parallelo  de  .S5  graos  c  o  de  45 
ou  ()0  graos.  Grande  numoio  de  correntes 
d'ar  polares  eslabelcceni-^e  ao  mesmo  tempo 
enlre  esta  zona  e  a  dos  vcntos  alizados;  cstas 
conenles  teem  origem  junlo  doa  polos,  inaj 
lendo  menos  intensidade  que  os  ventos  tro- 
picacs, passani  acima  d'cstes,  e  retoinam  sen 
curso  a  supcrficie  da  terra  perto  do  limile 
equatorial   dos  venlos  tropicacs. 

Quando  os  vcntos  polares  sopram  enlre  o 
norte  e  nordcsle  ou  cnlre  o  sul  e  sueste,  segiindo  • 
o  bcmispberio,  tivcram  origem  junlo  dos 
polos,  e  doniinain  a  superficie  do  mar.  Se 
sao  mais  fortes  que  os  venlos  tropicacs,  con- 
linuam  sen  curso  u  superficie,  e  obrigam 
estes  a  rcmonlar  :is  regioes  elevadas;  mas  se 
sao  mais  fracos,  dcsviam-se  de  sua  primiiiva 
direcgao,  e  loniam  a  do  le'ste  ou  de  les- 
suesle  no  hemispbcrio  boreal,  e  a  direc(;ao 
do  le'ste  e  de  lesnordeste  no  cutro  liemis- 
pberio. 

Depois  de  calmarias,  o  venio  eleva-se  or- 
dinariamenle nas  zonas  temporadas  do  sus- 
sueste,  no  bemespberio  boreal  ;  'varia  depois 
ao  sul  c  ao  sudoeste,  e  ate  ao  oessudoesle, 
donde  passa  inslanlancamenle  ao  noroeste.  No 
hemiipberio  austral,  gj'ra  cm  sciilido  inverso; 
coinega  ao  nornordesle,  varia  depois  ao  norte, 
ao  noroeste  e  a  oesnoroesle,  donde  vira  ao 
sudoeste. 

Os  ventos  polares  adquirem  logo  que  co- 
mcij'am  a  soprar,  grande  I'or^a  que  conservam 
por  um  periodo  que  dura  Irca  dias  junlo  dos 
tropicos ;  cxlcndem-se  depois  para  oeste,  c 
ate  as  vezcs  Iraiisporlam-se  n'esta  nicsma 
direcc^fio;  poreni  esta  niudan^a  nfio  scei'feilua 
com  regularidadc  a  nao  ser  a  grande  distan- 
cia  das  coitas  e  abaixo  do  parallelo  de  35 
graos.  Os  ventos  tropicacs  sabem  ao  mesmo 
tempo  dos  logares  em  que  estavam,  e  que 
passam  a  ser  occupados  pelos  venlos  polares. 
Nos  dous  bemisplierios,  os  ventos  polares 
n'uina  esta^ao  diiram  a  respeilo  dos  vcntos 
tropicacs  muilo  mais  tempo  nas  costas  orienlaes 
dos  conlinenles  que  nas  occidcniaes;  e  vice- 
versa  na  eslai;ao  npposta,  em  que  os  ventos 
tropicacs  sao  mais  frequenlcs  nas  costas  ori- 
enlaes que  OS  polarcs,  e  o  conlrario  a  respeilo 
das  coslas  occidcniaes. 

Os  ventos  ali;,ados  approximani-sc  ou  a- 
fastarn-sc  do  equador  confornie  a  intensidade 
dos  venlos  polares  de  que  s.io  a  conlinua- 
<;rio,  e  conforme  a  intensidade  dos  vcntos  do 
bemispherio  opposto;  pelo  que  os  sens  limilCs 
variam  consideravelmentc  ainda  na  distancia 
de  alguns  dias. 


87 


Os  vcntoj  variaveis  da  zona  toirida  oc- 
fiipain  graiidc  exlonsao,  que  nugmenla  ou 
(liniiniie  com  a  inlcnsidade  do5  veiilos  alizados 
dos  dous  lieiiiUplicrios ;  os  sens  limiles  oc- 
cideiitaes  a|jproximam-se  dos  coDlinenlcs  an 
pasio  que  os  sens  liniites  jjolares  se  approxi- 
cnam  do  cqiiador. 

A  causa  principal  das  dififerenlcs  rarefac- 
loes  do  ar  que  produzem  os  ventos  polares, 
e  o  sol  '  ;  mas  etn  virtude  da  configura^-no  do 
tcireno,  o  como  por  outra  paile  este  astro 
aquece  e  rarefaz  inais  ou  menos  a  alinospliera 
truiii  hcinlsplicrio  que  no  outro  scgundo  as 
f^la(,■ocs,  OS  venlos  polares  adquireiii  lanibcni 
dilTerenlcs  inlensidadcs  nos  dous  liemrsplierios. 
Pelas  dirferen<;as  d'inlensidade  e  que  os  ven- 
tos n'lo  se  dirif^em  em  todas  as  paries  das 
^onas  leniperadas  constantemente  dos  polos 
j)ara  o  ecjuador. 

(iV.  Larligtie,  da  Acad,  das  Sc.  deVranca.) 


DOCUMENTOS  I.NEDITOS. 


Carta  que  o  riso^rei  D.  Juao  tte  Castro  escrcvro  a 
el-rei  nosso  senhor  o  anno  de. ,-iti  ^(la-iti) 


Conliniiado  de  pag.  76. 

Priuieiramenle  fa^o  lembranja  a  v.  a.  que 
iiao  devia  de  ter  qua  nenhu  governador,  iiij 
official  assf  de  justi^a,  como  de  fa/euda  mais 
tempo,  que  de  tres  annos  ;  posto  que  llie  af- 
flrmassein,  que  saravfio  cufermos,  e  resucila- 
vao  mortos ;  porque  a  terra  e  de  tal  calvda- 
de,  que  nao  sinlo  qnal  seja  a  naturcza  tao 
forte,  que  possa  resistir  muilo  tempo  as  co- 
bijas,  e  vicios,  que  se  nella  uzao,  e  pratiquao: 
OS  quaes  tein  cobrado  lanianlia  posse,  e  au- 
'tlioridade,  que  nenliiia  couza  se  pode  jii  qua 
lazer,  por  feia  que  seja,  que  dos  liomens  jcja 
estrardiada  ;  iieJii  pello  eonlrairo  algu  genero 
de  virtude,  que  se  aprove,  e  aja  por  beni 
feita,  e  delles  seja  bein  touiada,  c  recebida. 
Ora  pois,  senlior,  se  em  Portugal  acaso  po- 
deinos  com  pessoa,  que  as  priineiras  palavras 
nos  nao  Iragam  a  tnenioria  coino  lia  paraiso, 
e  inferno,  e  a  pouca  conia,  que  devemos 
fazer  desla  vida,  salvo  para  obrar,  e  fazer 
bem ;  e  hi  lia  lantos  pregoeiros  das  virtudes, 
e  acuzadores  dos  vicios,  e  pccados  ;  e  com 
ludo  isso  nao  deixa  daver  quem  sirva  mal  v. 
a.,  e  Ihe  roube  a  sua  fazenda,  a  que  laa,  e 
qua  chamfio  saber,  e  aproveitar:  que  fara 
n  estas  partes  da  India,  onde  tudo  sc  faz  polo 


'  Na  socieilailc  nieleorologica  de  Londres,  iruma  das 
•rssuea  do  principio  do  correiile  anno,  fui  lidu  uma  me- 
inoria  de  C.  Bulard  sobre  cerla  lei  esislenle  na  direci;ao 
dos  ventos,  Duas  mil  oliservat^oes  le^'aranl  o  anctor  a 
concluir  que  e  direc<;3o  dos  ventos  depende  principalmen- 
le  da  diffcreni;a  de  declina95o  do  sol.  e  da  luo.  ("Aola 
rfa  rsffac^ao.) 


contraiio,  e  nao  ere  nenliua  pessoa,  que  liaja 
hymais  de  nacer;  e  morrer,  sem  terem,  nao 
digo   por  pecado,   mas   por  cousa   mal  feita; 
fazerem  furtos,  azarem  mortes,  vivere  cm  lu^ 
xurias,  e,  em  conclusao,  em  nenliua  nuldade 
o,   podcm    coniprelicnder,   de  que   ajam  hua 
piquena   de  vergoiilia.    Eu    confesso  a  v.  a., 
que  nao  sou  jii  o  que  party  de  Porlugual,  e 
que  cada  vez  me  vou  encliendo  de  ferruoem, 
e  apodreceiido  como  as    armas  dos  sou"  al' 
mazeis.  Mas  com  tudo  tenlio  muita  esperanca 
em  Deus,  que  aid  tics  annos  me  nfio  arrombe 
de  todo.  Polo  que  pe^.>  inujto  por  meree  a 
V.  a,  (jue  nao  queira  clieguar   ao   cabo  de 
espirimentar  n'crla  terra  minlia  conslancia    e 
(ortaleza,  e  aja  por  sen  servi(,'o  mandar  outro 
governador:    poique    llie  juro   em    vcrdade, 
que  os   iraballios  da   India  me  tern  gua-tado 
as  carnes,   e    os  cuidados  de  lanlas,    e  tarn 
desvairadas  couzas  moidos  os  ossos,  e  o  mac 
vivcr  dos  liomPs  danada  a  alma.   Demaneira, 
senlior,  que   cnmpre   niuito  a   v.   a.  nao   me 
ter  qua   uiais  tempo  que  tres  annos;  e  ;i  mi- 
nlia  coMciencia    rccolher-me    outra    vez    aos 
iiiatos    da   seria   de    Siiitra,    pera    dar   algus 
dias  a  Deus  de  quantos  annos  me  tern  levado 
o  mundo.  H  nao  me  empute  v.  a.  a  fraqueza 
desejar  eu   em  estremo  de  me  sair  dua  ter- 
ra;  pois  sao  Ihome  recusava  (anto  de  o  nos- ' 
so  ben  lor   mandar  a  ella.  E  taobem  nao  he 
possuel  poder-se    mais    tempo   soster   hij   ".q. 
yernador  sem  mostrar  o  fio ;  como  quer  que 
he  sobejamente  perseguidodos  homGs,  dos  qua- 
es bus  Ibe  pedem  dinheiro,  outros  o  peitao  com 
die,  e  outros  pedem  officios,  e  viagens,  e  elle 
ainda  nao  tern  cinco  paCs,  e  dous  peixes  pera 
cinco  mil  homes,  nem  merccimento  pera  nos- 
so benhor  fazer  millagres  por  elle. 

Garcia  de  Saa  he  hu  fidalgo  muilo  honr- 
rado,  e  todo  o  tempo,  que  esteve  em  Portu- 
gual  servio  v.  a.  na  corte,  eoque  esleve  fora 
o  servio  na  guerra.  Quando  vim  a  descercar 
esta  tortaleza  de  Dio  estava  sua  mollier  muilo 
doente;  e  sem  embargo  disso  adeixou,  e  veio 
comigo  servir  v.  a.:  e  depois  de  me  Deus  dar 
victoria  dos  mouros  Ihe  trouxer'io  novas,  que 
sua  molher  era  falecida,  da  qual  Ihe  ficarao 
duas  filhas  inuito  fermosas,  e  muito  virtuosas: 
beijarei  as  mfios  a  v.  a.  favorecello  no  con- 
tracto,  que  com  elle  fez  do  gingivre;  pera 
que  coniisso  que  puder  guanliar  possa  cazar 
suas  filhas.  Elle  estaa  pobre,  e  anda  rauito 
desfayorecido  de  v.  a.,  por  nunqua  Ihe  escre- 
ver.  Se  i^to  e,  por  ter  aigua  maa  enfoima^ao 
d  elle,  eu  Ihe  juro  em  minlia  conciencia,  que 
Iha  derao  fahainente;  porque  o  lem  tSobem 
servido  em  Malaqua,  que  ii.mo  sei  quem  che- 
gasse  a  elle  :  e  assivelho  como  he,  em  todalas 
couzaS  do  servijo  de  v.  a.  lie  o  primeiro,  que 
se  oferece,  e  que  o  serve  per  obra;  e  toda  a 
merce,  que  Ihe  fizer,  elle  a  nierece  por  sen 
servijo:  e  em  satisfajao  de  quanto  tern  gas- 
tado ;  e  taobem  com  ella  einpararaa  v.  a. 
suas  filhas.  Vasco  Fernandes,  capitfio  dos 
pifics   de  Goa,  que  morrco   na    balallia,   era 


88 


iiiuilo  vuleiilG  cavaleiro,  e  tinha  i-ervido  v.  a. 
om  Africa,  e  qua  na  India  se  tinlia  acliado 
em  lodalai  coiizas  de  giierra.  Era  imiito  po- 
bre  :  cuido  que  a  caiiza  dislo  era  ser  inuilo 
bom  lioiiii;.  ricao-liie  dons  lillios,  e  muilas 
filhas:  beijarei  as  nifios  a  v.  a.  tomar-llie  os 
fillios  por  seus  1110903  da  cainara ;  porque 
soaraa  qua  inuilo  l)eiii  nas  oieihas  do  povo 
verem,  que  eslaa  v.  a.  eiiipaiando  de  cinco 
mil  le;i,'oas  os  filiios  dos  lionies,  que  morreni 
em  sou  servigo. 

Ho  doulor  SimHo  Martins  ouvidor  geral 
da  India  lie  lu'i  dos  boos  homes,  ou  o  millior 
que  nunqua  veio  a  esla  terra  de  sen  officio; 
porque  he  niuito  livre,  e  izento  no  fazer  da 
jusli^a,  e  tao  inteiro,  que  nao  loma  hu  pucaro 
dagoa  de  nins;ucm  ;  e  com  islo  e  inuito  bein 
quisto  de  lodos;  por  verem  sua  bondade,  e 
direila  justi^a.  E5taa  lao  pobre,  que  se 
pode  aver  delle  muila  piedade.  Anda  sempre 
comigo,  na  gucrra  o  acho  a  par  de  mi,  como 
cavaleiro,  na  pax  nie  aproveito  de  seu  conse- 
Iho :  porque  lenlio  por  cerlo,  que  nio  daa 
bem,  e  verdadeiramente.  Na  balallia,  que 
com  ajuda  de  nosso  Scnhor  vency,  ganhou 
muita  lionrra  :  polas  quaes  couzas,  receberei 
em  inui  grao  merce  de  v.  a.  mandar-Uie  o 
liabito  com  vinle  mil  reis  de  tenja.  Bem  sei 
'  que  toda  a  outra  pessoa  Ihe  mandtira  pedir 
mais  peraelle;  mas  eu  eslimo  tao  pouco  ren- 
das,  e  riquezas,  que  venho  a  ser  mao  juiz, 
e  mao  requerenle  dos  inerccimenlos  alheios  ; 
e  por  isso  venho  a  pedir  tain  pouco  a  hu  rei 
como  V.  a.j  sobre  todolos  outros  liberal,  c 
virtuozo,  o  que  me  faz  inda  mais  culpado, 

O  anno  passado  escrevi  a  v.  a  ,  pedindn- 
Ihe  por  merce,  que  tomassc  Duarte  Pereira 
por  cavaleiro  de  sua  caza  ;  bem  creio,  que 
me  faria  essa  merce;  mas  porque  pode  ser, 
que  com  outras  occupajoes  llie  esquecesse, 
Iho  torno  agora  a  pedir  outra  vez ;  porque 
te  muito  bem  servido  v.  a.  n'estas  parte?, 
0  n'esta  Jornada  de  Dio  trabalhou  grande- 
mente.  Elle  foi  o  que  meteo  mens  filhos  em 
Dio  no  tempo  do  iiiverno;  por  ser  o  mais 
soficiente  home  de  navios  de  remo,  que  ate 
o  dia  doie  tenho  vislo.  ' 

SELENOGRAPHIA.^ 

Com  o  lilulo  de — Relevo  do  hemispherio 
visivel  da  lua,  executado  por  Th.  Dickert, 
guarda  do  museu  de  lii^toria  natural  da  uni- 
versidade  de  Bonn,  na  cscala  de  1:()00,00() 
para  as  dislancias,  e  de  1:200,000  para  as 
alluras,  foj  presente  a  academia  de  Franca 
em  sessao  de  5  de  juiiho  um  opuscuto,  im- 
presso  em  allemao,  redigido  por  J.  — F.  Ju- 
lius Schmidt    astronomo  do  observatorio  de 

*  Esla  longa,  e  tarn  nolarel  carta  no  naniiscripto  nSo 
lem  data  ;  ma«  bem  se  ve,  que  foi  escripta  Jojo  depois 
ila  ^rande  Victoria  de  Dio  nos  fins  do  anno  de  1416. 
(Nota  do  compilador  d'eeles  documentos.) 

-^     Eila  palavra  derita-eo  da  rai2  grega  eclefU  lua. 


Olmulz,  na  Moravia,  opusciilo  do  qual  o 
secretario  perpetuo  fez  as  seguintes  cilajoes; 
Oi  diametros  das  a'nteras  propriamente 
ditas  variam  de  seis  milhas  apenas  alguns 
centos  de  pes.  Sao  numerosas  e  eiicontram-se 
em  todas  as  regioes  da  superficie  da  lua.  As' 
paredes  cjrculares  teem  quasi  sempre  conside- 
raveis  jirofundidades.  A  silua^ao  de  muilos 
milharesdc  peqi.enas  crateras  fez  presiimir  aos 
observadores,  que  algumas  sfio  d'origein  re- 
ceiite,  por  isso  que  veem-se  clarameiile  os  ef- 
feitos  produzidos  por  ellas  nas  montanlias  an- 
ligas  em  que  eslao  abertas. 

\i  fend  as  que  teem  a  forma  de  regos  ou 
fossos  estreitos  e  piofundos,  sfio  de  grande 
nuiiiero  de  miUias  de  comprimento  em  quasi 
todas  as  regioes  da  superficie  da  lua,  coiisti- 
tuem  lima  formacao  particular,  e  u,  excepijao 
de  tres,  todas  as  outras  teem  sido  descobertas 
nos  ullimos  trinta  annos.  A  direcgrio  das 
mesinas  parece  ser  inleiramente  independente 
dos  accidentes  do  solo  nas  suas  proximidades, 
ou  sejarn  montaiihas  ou  |)lanicies;  atravessam 
em  sen  ciirso  montanhas  inleiras  bem  como  os 
elevados  contornos  circiilares  de  crateras  pro- 
fundas.  O  delirado  estudo  telescopieo  deixa 
vir  n'ellas  um  phenomeno  eslreitamenle 
ligado  a  formaj.'io  de  crateras  alinliadas.  Nas 
fendas  descobre-se  a  forniagfio  a  mais  moder- 
na  d'accidentes  na  superficie  da  lua,  e  talvez 
actualinenle  ainda  outros  tenliam  logar. 

£sta  iioticia  e  aconipanhada  d'um  pro- 
gramma  das  diversas  regioes  mais  imporlan- 
tes  publicadas  por  Th.  Dickert;  a  saber: 

1.°  A  regiao  de  Mosenberg  e  o  lago  de 
Meerfeld,  junto  de  Mandersrhicd  no  Eifel; 

2.°  Os  banlios  de  Berlrich  e  suas  circum- 
visinhan^aj  ao  jie  da  Moselle; 

3.°  O  lago  de  Uelmen  e  sous  arredores 
no  Eifel ; 

4.°  A  ilha  de  Palma,  no  archipelago  das 
Canarias  ; 

5.°  A  ilhadeTeneriffe,  com  opico  de  Tcyde. 
Os  rclevos  sao  executados  em  folhasdelga- 
das  de  coljre,  o  que  os  lorna  de  facil  Iransfe- 
rimenlo,  resuitando  assiin  a  grande  vanlagem 
de  nos  cuisos  ser  a  vista  patente  a  demostra- 
5ao  dos  phenomenos  geologicos. 


SOCIEDADE  GEOLOGICA  DE  LO.NDUES. 

Na  sessao  de  22  de  mar^o  mereceu  especial 
men^io  um  traballio  extenso  e  consciencioso 
de  Charles  LyelL  sobre  a  geologia  de  algumas 
partes  da  Madeira  e  das  illias  visiulias,  oiidc 
o  aiictor  esleve  muitos  mezes  na  companliia 
de  C.  Bunbiirv,  que  dirigiu  lambeni  iima 
commiinicajfio  sobre  as  plantas  fosseis,  urze^ 
e  dicotvledones,  descobertas  por  Cli,  Lyell, 
debaixo  da  camada  de  basalto  na  barroca  de 
Gorge,  ao  norte  da  ilha  da  Madeira.  O  natu- 
raliita  allemao  Harlung,  que  estava  no  E'un- 
clial,  ciilrou  n'esta  ex plora<;ao  com  Ch.  Lyell. 


89 


ESTATISTICA    P\THOLOGIC\    DOS  HOSPITAES    DA   UNIVERSIDADE. 

HOMEKS. ENFEBHARIAS     DB    MOLESTIAS     INTERNAS TRniESTRB    DB    ADBIL    A  JUNHO    DB    185i. 


UOr.ESTIi.3. 


EDADES 


4  Febre  nervosa       .     .     . 

5  Febre  gastrica 

»•  "  j4popUxia 

t>  *i  Anasarca 

49  Febre  inlertuittCDLe    . 


6  m           pneumonia 

w  m           Bro/tchite 

m  >*            Ascile        , 

»  ■           Ana$arca 

m  .1            Anasarca-Obttruc^do  do  bti^o 

n  n            Sarna 

n  n            Obatriic^ao  do  baQO  .     ,     . 

1   Febre  intermitlenle  gattrica 

1   An::ina 


1    ParutiJtte 

19  pDeiiiuunia 

H  kheumatiimo  articular  ehronico  .... 

»         Snrna  

S  Pletiresia 

t  Cjslile        

1  OphUlmia — Blennorrhagia 

I    Er;si|iela 

3  Rheumalj^mo  articular 

13  Rheumatisiuo  articular  chrunico 

»»  JJerpts  na  face 

1  Pleuroilyaia 

1    Li)tnba<^o 

S  Embarago  gaatricu 

8  Br<«nchile 

5  Rronrhite  cbronira 

1   £|tjlep8ia 

1   CephutaL'ia 

6  Guslral^ia         

1    Apoplrnia         

]    Hemiplci^ia 

1    Paraplegia  incompleta 

1    Amaurosc 

7  Tisica  |)tiImonar 

13  Ascile 

t*       Febre  intermitlenle 

M        HydroloittX  —  pneumonia 

w        ()b$trur^do  do  bn^u .      ,      . 

H        f'rrmes  intestinuit        

»        He  rpee 

8  Hy<lrolli..ra.x 

1    Anasarca 

1    Aiias^irra  —  Asiite 

S   Henu'pl}»i8 

n  Anasarca  —  edema  pvlmonar     .... 

I    Hemorrhoi'Ias         

I    DialtelKd 

1   Ciilarrho  vesical 

1    Diarrliea 

3  Icleriria — Obalnic^do  do  fgado 

"  ()b$lrur^do  do  Jiyado  e  do  ta^o     .... 

1  EscrMpImlas  —  Herpis 

i  Syphilis  g^eral         

2  Aiieiiriama  do  curai^rio  —  Ascilti-Ut^drolhorar     , 

"  •»        Hydroperiairdio —  Hydrotorax 

1   Aneiiriiirna  <l»  crossa  da  aorta         

1    ObslniC(;ao  du  bji^o  —  Ascite 

1   Oiislrur^ilu   do  ba^o   e  figado  —  Ascile 

I   Coocro  do  esltpraago 

1   Cancro    do   fi^'ado 

1    Vermes  iiileslmaea 


Tlerpe 

Elephanliase 

Prolapso  do  rprlo       ...  

Ahcess.i    do  Q;^udo 

_MoIesliM   iiao  clastiQcadag  (um  enlruu  moribniidu) 


i:« 


14 


tt8 


4 
3 
1 
1 

19 
J 
3 
i 
1 
1 
1 

21 
1 
1 
I 

IR 
« 
1 
o 

2 
I 
1 

3 


I 


90 


Sfovimeuio 


E\isliani , 

Eiitraram ••^•^■-.'^  •..•■•...■. < 

Falleceram « '. . . 

Relarao  tIo8  fallecidos  para  og  entrados 

|)ara  OS  saidos 

para  lodos  os  (ralados  (exislenteso  entrados) 


Mofimento  de  toiftta  as  enfertitarias  dos  hoipitaes 
da  iinicersidttde  em  lodo  o  trhMstre. 


Existiam , 

EDtraram ,^.'^...j. 

Sairam , ' 

Falleceram 

Rela^So  dos  fallecidos  para  os  entrados 

— —     para  oa  saidos 

para  lodos  os  tratados  (etislentel  e  en 

trados) 


Homens 


128 

312 

332 

35 

1:9,7 

1:9,4 

1:13,4 


Observa^flet  meteorchgicas* 


Abril 


59 

69 

53 

5 

1:13,8 

1:10,6 

1:25,6 

Mulheret 


117 

210 

S34 

23 

1.9,1 

1:10,1 

1:14,3 


(  Teniperatilra  altiiospherica  ao  meio  dia  . 
Media  < 

XAICura  barometrica  a  0.°  C L,„.,i 

,  r,.  i 

Ventos  produniinantes '...... 


Insliliilo  de  Coimlira  N.°  3. 


Maio 


70 

41 

57 

10 
1:4,1 
1:5,7 
1:11,1 


Junho 


43 
46 
41 
11 
1:4,1 
1  3,7 


Trimcstre 


Homens 


20 


Abr'il 


15,°9C. 

mil 

751,039 
S.E.  eE. 


Miilheres 


12 
1 
3 
1 


Muio 


16, "8  C. 

mil 
751,774 

N.O.  E.  e 
S.O. 


156 

151 
26 
1:6 

1:5,8 

1:8,2 


Tiidos 


277 

553 

574 

60 

1:9,2 

1:9,5 

1:13,8 


Junlio 


18,°7  C. 

oil 

75i,962 

N.O.  N.  e 
S.O. 


Dos  IrcsdoeiiLcs  de  febre  intertiiillenle,  nao 
curados,  um  foi  despedido  por  conveniencias 
de  disciplina,  e  dois  nfio  esperarain  pelo 
tralainento,  saiiido  2i  lioras  depois  da  enrra- 
da. 

Dos  5  que  morreram  de  pneumonia,  en- 
traiam  2  com  seis  dias  de  inoleslia,  e  1  com 
oito  dias;  e  o  que  apparece  na  casa  dos  nao 
curados  entrou  com  seis  dias  de  moleslia. 

O  doente  de  cancrodo  estomago,  Francisco 
Antonio,  de  57annos  deidade,  casado,  traba- 
lliador  de  enxada,  naUiral  de  Ramalliaes, 
freguezia  de  Aviul,  esteve  quatro  roezes  no 
hospital  e  morreu,  sem  que  a  raoiestia  se 
revelasse  pelos  syrnplomas  locaes,  que  a 
costumam  caracterisar.  Sobresaia  grande  pa- 
lidez  por  toda  a  pelle  e  na  lingoa,  emma- 
greciniento  geral,  can^asso,  alguraa  tosse  e 
faslio.  O  murmurio  respiralorio  estava  quasi 


sumido,  o  pulso  tardo  e  linciir,  e  todas  as 
mais  t'uncgoes  se  cxecutavam  a  custo.  Via-se 
o  apparato  d'uma  anemia,  e,  se  quizerem, 
d'unia  diatiieze  caiicrosa  adiantada,  sem  que 
a  percussfio,  auscullar.'io,  apalpagfio  etc,  po- 
detscm  descobrir  lezao  organica  no  estomago, 
e  em  ncnlnim  oulro  orgao,  que  desse  a  razao 
d'esla  deleriora5:'o  geral  da  economia.  A 
aiitopsia  resoiveu  o  probleina,  mostrando  a 
parede  posterior  do  estomago  toda  cancrosa, 
e  esta  degeneragfio  propagada  ao  figado  e 
bajo,  iios  pontos  de  conlaclo  destas  visceras 
com  o  cancro  do  estomago. 

O  que  morreu  de  abcesso  do  figado  tam- 
bem  oCferece  nma  parlioularidade,  que  deve 
registar-se  enlre  aquelles  factos  patliologi- 
co3,  que  as  vezes  eludom  as  deducjoes  dia- 
gnosticas.  Ciiamava-se  Joiio  Carvaiho,  de 
39    annos   de    idade,    casado,    trabaliiador. 


91 


natural  de  Trouxemil.  O  correr  dos  sym- 
ptomas  iiioslroii  com  facilidade  iima  he- 
patite aguda,  e  revelou  ig'ualinente  a  sua 
terniina^ao  por  um  abcesso  do  figado.  Neste 
estado  sobreveiii  iirna  diairliea  sanguineo- 
purnlenla,  e  depois  mucoso-piiriileiita,  coin- 
cidindo  com  ella  o  abaixamenio  do  tumor 
hepalico,  e  unia  consideravel  melliora  no 
estado  geral  do  individiio.  Passados  6  dias, 
suspendeu-se  a  diarrhea,  peoroii  o  e^tado  geral, 
e  comegou  a  upparecer  um  tumor  coin  flu- 
ctua^ao  sobre  as  falsas  costeilas  do  lado 
direito.  Com  uma  punc(;rio  iioste  ponto 
dei  barda  a  8  libias  de  puz  pouco  mais 
ou  meiios ;  e,  passados  4  dias,  reappareceu  a 
diarrhea  purulenla,  que  foi  acompanhaudo  por 
tres  semauas  n  saida  do  puz  pela  abertura 
exterior.  O  honiein,  depois  d  umadeniora  de 
doij  mezes  no  liospital,  morreu  no  estado  de 
marasmo  e  consumpsao  propria  destas  sup- 
pura^oes  internas. 
g  Tudo  levava  a  suppor  que  o  abcesso  do 
'figado,  primeiro,  seabrira  no  canal  inteitmal  ; 
que,  depois,  obstruida  esta  coinmunica(,'ao,  o 
puz  atravessiira  os  pianos  muscuiarcs,  para  se 
apresentar  em  tumor  sobre  ascoslcllas  falsas; 
e  que,  em  seguida  a  puncrfio  exleiior,  a  pri- 
meira  abertura  interna  se  renovara,  despejan- 
do-se  ultimamente  o  abceiso  do  t'lgado  pelo 
canal  intestinal,  e  ,pela  abertura  externa.  A 
autopsia  verificou  tudo,  a  excepyao  da  abertura 
do  abcesso  pelo  tubo  degestivo,  de  que  nao 
appareeeu  o  menor  vestigio.  A  espessura 
anornial  das  patedes  intestinaes  em  parte  do 
colon  e  mesnio  nas  ultimas  porgoes  dos  in- 
testines delgados,  e  muilas  iilceras  que  se 
viam  na  sua  mucosa,  lizerain  coahecer  a  ori- 
gem  das  materias  purulenlas  e  sanguineas, 
que  durante  a  vida  pareciam  ter  vindo  do 
figado. 

A  morlnlldade  de  1:9,2,  em  rela^.'io  aos 
enlrados  nos  hospilaes  da  universidade  em 
todo  o  trimestre,  se  hem  <jue  inais  favoravel 
que  a  do  hospital  de  S.  Jose  e  annexes  de 
Lisbon,  que  foi  de  1  :H,3  no  uiesnio  ti  iniestre  '  e 
com  tudo  inenos  lisoiijeira  que  a  do  trirnestre 
patsado ;  e  esta  dilferenca  uinda  se  luriia 
niais  sensivel,  coiifrontando-se  o  movimunlo 
das  enferiiiarias  de  iioinens  de  niolesLJas  in- 
ternas nos  dois  triinestres.  iN/io  posso  deixar 
de  allribuir  esle  augincnto  de  mortalidade  a 
resolu^ao,  toniada  pela  direcloria  dos  hospitaes, 
de  dilficullar  exlraordiiiariamenle  a  aceila. 
9ao  dos  (loeiites,  movida  polos  apiiros,  nfio 
dtrei  exlraordinarios,  por  que  desgraj.ida- 
mente  sao  permanentes,  mas  apuros  lameiita- 
veis  do  iniseravel  cofre  d'um  eslabclecimcnto, 
que  tantos  beneficios  poderia  prestar  u  huina- 
nidade  enferma  ;  e  que,  se  o  nao  tirarem  da 
penuria  em  que  se  acha,  ir-se-ha  converlendo 
o  seu  futuro  lao  esperari<;oso  n'uina  perfeila 
irius'iopublira,  n'umadesgra5a  de  mais,  sobre 

'  Jornnl  .)e  pharmacin  e  sciencias  accesnorios  Je 
l.iskun  —  fullielui  dc  maio  junlio  c  juliio  ik  1854. 


tantas  que  ja  soffrem  os  deigra^ados  que  alii 
concorrem. 

Nao  se  diga  que  effect! vamente  nao  au- 
gmentoii  a  mortalidade,  e  que  o  desfavoravel 
da  proporgao  provem  unicamente  dadlminui- 
5ao  no  numero  das  entradas.  O  numero  ab- 
soluto  dos  fallecidos  em  todo  o  hospital,  no 
trimestre  de  Janeiro  a  marjo,  foi  66  ;  e,  haven- 
do  menoj  doentes  no  trimestre  de  abril  a 
junho,  o  numero  dos  fallecidos  neste  trimestre 
subiu  a  60.  E  noie-se  que  a  diireren<,a  ainda 
e  inais  salienle  nas  enfermarias  de  molestias 
internas  no  hospital  dos  lioinens,  que,  tendo 
dado  no  primeiro  trimestre  15  fallecidos,  deu 
2(>  no  trimestre  seguinte.  Nem  podia  deixar 
de  ser :  com  a  rigorosa  dilftculdade  na  a- 
ceita^ao,  os  doentes  gastavam  os  melhores 
dias  de  tratamento  em  applicagoes  caseiras, 
as  mais  das  tezes  nocivas ;  e,  so  em  ultimo 
recurso,  batiam  as  portas  do  hospital,  ja  com 
a  moleslia  adiantada,  como  aconleceu  aos 
doentes  de  pneumonia,  que  entrarara  com  6c 
8  dias  de  niolestia  !  !  Aceite  quern  quizer  a 
pesada  responsabilidade  destes  factos,  que, 
u'um  paiz  civilisado,  n'lo  podera  qualificar- 
se.  Pela  minha  parte  acompanharei  os  des- 
validos  enfermos  no  seu  protesto,  pouco  ou- 
vido,  mas  solemne,  contra  a  Wg-oroso  diificul- 
dade  na  aceitagjo  dos  doentes,  e  ainda  mais 
contra  a  miseria,  e  inesquinhez,  da  actual 
dotayao  dos  hospitaes  da  universidade. 
1.  A.  BA  COSTA  SIMOES. 


Na  sociedede  metereotogica  de  Londres 
leu-se  em  sessao  de  28  de  margo  ulliuio  uma 
memoria  do  Dr.  Moffat,  sobre  a  inetereolo- 
gia  inedieal  e  a  o~~one  atmospherica.  Entre 
outras  concliisoes  d'este  traballio,  o  Dr. 
Moffat  estabelece  que:  o  maxima  das 
doeugas  tern  logar  com  os  ventos  do  sul,  e  o 
miniino  de  mortalidade  com  os  ventos  do 
nnrte  ;  algumas  doengas  sao  proprias  de 
certas  direcgoes  do  vento,  a  apnplexia,  a 
epilepsia,  a  paralysia  e  as  mortes  subltas  s'lO 
uiui  cotnmuns  no  tempo  de  saraiva  e  de 
neve,  e  com  os  ventos  em  que  estes  phe- 
nomenos  geralincnte  se  produzem,  isto  e, 
noroeste  e  sueste. 


Ainda  subsistia  era  1337  no  concelho  ,te 
Balazuc  (Ardeche)  um  antigo  uso,  a  que 
Comarmond  da  o  nome  de  taurobnlia,  e 
que  consiitia  em  immolar  um  touro  todos 
OS  annos  em  dia  fixo.  Uns  fazem  reinontar  ao 
paganismo  a  origem  d'este  costume,  dutros 
o  reportam  somente  a  epocha  d'nma  epi- 
zootia. 


92 


OBSERVACOES  METEOUOLOGICAS  ,  FEITAS  NO  GABINETE    DE  PHYSICA 
DA   UMVERSIDADE    DE  COIMDRA. 


Annode 


Me 2  lie 
Mail) 


Dins 


PressSo  otmospherica  ao  meio  dia 


ceiUi;:. 


media  , 

(la  niei ' 


5 


Altiira    baro- 
metrica  a  0." 

cenli^'. 


TensSo  do  va- 
por aquoso  cun- 
tido  no  ar. 


Millimelros 


1 

16 

743,354 

i 

16 

744,821 

3 

15 

745,398 

4 

13 

749,757 

5 

13 

756,094 

6 

13,5 

755.517 

7 

15 

754,572 

8 

16 

753,689 

9 

15 

753,557 

10 

U 

753,934 

11 

18 

754,710 

12 

15 

753,811 

13 

16.5 

753,830 

U 

17 

749,766 

15 

18 

749,138 

16 

18 

748,632 

17 

18 

748.886 

18 

18.5 

751,356 

19 

19 

752,561 

SO 

18,5 

753,384 

21 

17 

754,427 

83 

IS 

752,SI!1 

23 

16 

751,762 

21 

17 

753,566 

23 

16,5 

754,083 

26 

17 

751,539 

27 

18 

751,164 

28 

17 

753,566 

29 

17 

753,06* 

30 

)8 

751,671 

31 

17 

751,033 

16,8 


751,774 


Millimelros 


Tciitiieratvra 

Mavimu  absul.   .   .  19." 

Minima     13." 

Maxima variar.  .  .  6/ 


9,299 
10,449 
9,752 
8,159 
8,247 
8,656 
9,624 
10,317 
8,161 
7,998 
10,384 
9,745 
8,992 
9,381 
10,883 
11,029 
10,931 
10,239 
10,121 
10,766 
10,153 
11,534 
8,697 
9,202 
9,220 
9,684 
9,655 
10,154 
9,575 
9,298 
9,575 


Pressoo  do  ar 

St'CCU 


Miltiniflrus 


734,055 

734,372 

735,645 

741.598 

747,847 

740,861 

744,948 

743,372 

745,396 

745,936 

744,302 

744,066 

744,838 

740,445 

738,255 

737,603 

737,955 

741,117 

742,440 

742,616 

754,274 

741,047 

743,065 

744,36* 

744,863 

741,855 

741,509 

743,418 

743,487 

742.373 

741,458 


Estadu   hygrumelricu    ila 
utmosphera  ao  meiu  dia 


Prcsiao  atmospherica 

Maxima  aUsollila    .   .     756,094 

Minima 743,354 

Maxima  exciirsao  .  .       12,740 


U  = 


0,6879 

0,7724 

0,7684 

0,7314 

0,7309 

0,7508 

0,7579 

0,7622 

0,6*^7 

0,6717 

0,6762 

0,7674 

0,6436 

0,6464 

0,7087 

0,7182 

0,7118 

0,6J62 

0,619« 

0,6795 

0,7041 

0,7511 

0,6425 

0,6381 

0,6590 

0,6715 

0,6131 

0,7041 

0,6640 

0,6055 

0,0082 

0.6891 


Qiiantidade  tie 
vapor  C'jutido 
em  urn  melro 
cnbico  de  ar. 


Gramnus. 


9,332 

S. 

10,485 

S. 

9,819 

S. 

8,273 

0. 

8,362 

N. 

8,761 

N. 

9,690 

0. 

10,355 

N. 

8,217 

N. 

8,081 

N. 

10,348 

S. 

9,812 

N. 

9,007 

E. 

9,321 

0. 

10,820 

0. 

10,991 

N. 

10,893 

E. 

10,198 

E. 

10,051 

E. 

10.710 

N. 

10,153 

0. 

11,466 

0. 

8,727 

N. 

9,S02 

N. 

9,235 

N. 

9,684 

N. 

9,6»1 

N. 

10,154 

N. 

9,575 

N. 

9,265 

N. 

9,575 

N. 

Gran  de  humidade  do  ar 

Maxima  abaoliila  .   .   ,     0,77S4 

Minima 0,6055 

Varia^iio  maxima     .   .      0,1669 


Coimbra  1."  de  Junho  de  1854. 

O  Demonstrador  da  Facnldade  de  PhiloBophia,  Miguel  Leite  Ferreira  Ltao. 


®  Jnetitwta^ 


JORINAL    SCIENTIUCO     E    LITTERAUIO. 


CO.NSliLllO  SL'PERIOR  Dli  I.NSTRUCfjAO 
I'UBI.ICA. 

IIEI.ATOHI0    AXNUAl..' 

1811— 18iS. 
Cuitliutiado  de  pa;;,  ni. 

CAPITULO  in. 

Inslntcrao  sec  undaria . 

A  iiisUuc^'ao  secundaria  foi  urn  dos  pvinci- 
paes  objecloi  da  irl'orina  do  inarqiicz  de 
Pombal  ;  porque,  ncliando-se  alii  ciilio  coii- 
fiada  aos  padieida  cumpanliia  de  Jesus,  i'oi 
pieciso  reparar  os  estragos,  lalvcz  oxai;gera- 
dos,  que  llics  iiiipula  o  auctor  da  Deduc^'fio 
ChroDologica.  Comecou  aquella  rel'ojina  no 
nlvaiii  de  20  de  junlio  de  1759,  c  iristruc- 
roes,  queoacouipanliarain:  poreiii  reseiitiu-se 
do  inesrno  defeito,  que  iiotauios  iia  da  iiisUuc- 
<;ao  piimaria,  cm  quanto  a  eslieiteza  das  iiia- 
lerias  dc  ensiiio. 

A  instrucr.'io   secuiidana  e  a  que    I'onua  o 
homein,   e  pnr  isso  ineieceu   o  iiouie  de  liu- 
manidadcs,    porque    coiHpleta    o  dejcnvolvi- 
ineiito   da  sua  iulelligencia,  com  reluffio  aos 
empregos   ordinarios   da    vida,   agricultura , 
comtnercio  e  arfes.   Deve  por  laiilo  abranger 
lodos  05  coniieciincnlos  iieceasarios ,   para  sa- 
lisfazer  cste  fim  :  pore'm  a  meiicionada  refor- 
ina  reduziii.'a7;iiisl.ruc<;ao  secundaria  a  pouco 
mais,  do  que  os  esliidos  classicos  e  lillcrariob  ; 
locando    apenas    nos   scienliiicos.    No   enlre- 
taolo  e  certo,  que  somente  pela  allian(;a  d'es- 
las  dy^  qualidades  de  esludos,   se  desenvolve 
a  intelligencia  humana,  polindo-nos  o  nosso 
cspirito,    e  elevaiido   o  nosso  pensamcnto;    e 
allargando  os  oulros  a  espliera  dos  nossos  eo- 
nhecimcnlos,    com  rela^fio  aos  usos  niais  or- 
dinarios c  indispensaveis  da  vida.  Com  esle  fim 
foi  aquella  reforma  adeanlada  no  detrelo  de 
17   de  novembro   de  1836,   e  mais  aiuda  no 
de  20    de  seplembro    de  1844,   entrando    na 
instruc^ao  secundaria  os  esludos  scienlificos, 
prineipalmenle  os  ramos  industriaes. 

Anles  pore'm  de  planlar  e  preriso  dispor  o 
lerreno  ;  e  por  isso  no  arligo  49.°  d'este  de- 
creto,  se  deixa  a  prudencia  do  governo  o 
crear  algumas   cadeiras    d'aquelles  estudos, 

'  0«  mappas  a  que  se  refere  esle  rclatorio  c  tc!;uin- 
tes,  serio  publirados  no  Gm  da  collec^lo. 


Vol.  hi. 


qunndd  o  julgar  eoiiveiiicnle.  ()  eonscllio, 
convcncido  da  iiecessidade  d'esla  inosma  cau- 
lela,  em  quanlo  an  proviinenlo  de  alguina'- 
ja  creadas,  procura  dispor  os  elemenlos  in- 
dispensaveis para  o  sou  exercinio  ;  lendodislri- 
buido  pelos  vogaes  exlraoidiuarios' a  forma, 
jao  de  conipendios,  insli  ue^'ocs  fl'prograni- 
tnas  :  e  ijuando  liver  fijilo  Csles  preparos,  nfMi 
se  desciiidarii  de  fazer  a  proposta  d'aquellas, 
que  liouver  espcran(;a  de  lerem  professorcs  e 
nlumnos;  porque  a  experiencia  lem  mostra- 
do,  que  mesmo  algumas  das  oulras,  ja  pro- 
vidas,  sfio  pouco  iVetiuenladas  :  e  nao  sera 
juslo  dispcnder  a  fazenda  publica  seiii  provoi- 
lo  ,  como  o  consellio  ja  ponderoii  na  consul- 
la,  que  levou  a  prcsenca  de  V.  M.  sobre  esle 
objeclo. 

li  esle  urn  dos  uiolivos  ])or  que  os  lyceus 
se  acham  ainda  iucoinpletos ,  e  ale'  mesmo 
algiins  por  inslallar.  Apenas  esliio  constilui- 
dos  deiinilivameuLe  os  cinco  priiicipacs,  de 
Lisboa,  Porto,  Coimbra,  Evoia  e  Braga  :  e 
nas  oulras  cajjilaes  de  dlslriclo,  vfio-se  dispon- 
do  OS  elemenlos  para  elles.  Assim  me^mo  o 
de  Evora  e  tfio  pouco  frequenlado,  que  o 
consellio,  em  logar  de  proper  o  provimcnlo 
de  m^is  cadeiras  para  elle,  proporia  a  sup- 
pressao  de  alguma*,  que  apenas  sac  fre- 
queutadas  por  urn  on  dous  disci pulos,  se  nao 
livessc  a  esperan^a  de  ver  removidos,  com 
o  Icmpo,  alguns  dos  embara^os,  que  inipedem 
a  frcquencia  d'ellas.  Pelo  contrario  o  lyceu 
de  Braga  leiii  grande  concurrencia ;  e  por 
isso  o  consellio  vai  fazer  a  proposta  de  algu- 
mas cadeiras,  que  nelle  faltam. 

Outra  causa  para  os  lyceus  estarem  ainda 
incomplelos,  e  a  falla  de  comrnissarios,  por- 
que apenas  se  aclia  nomeado  e  em  exercicio 
o  de  Braga:  e  no  enlretanlo,  tendo  elles  de 
ser  OS  reilores  dos  lyceus,  e  d'elles,  que  o 
consellio  espera  informti^fio ,  para  saber  as 
cadeiras,  que  serfio  frequenladas,  e  mesmo 
para  formar  o  seu  regulamento  econoniico  e 
lilterario,  sem  o  qual  mal  se  podem  consli- 
luir,  e  inuilo  menos  ler  andamenlo  regular. 
Os  csludos  dos  lyceus  ainda  se  nao  acliam 
dassificados;  e  por  isso  e  livre  a  qualquer 
alumno,  depois  dos  de  latim,  applicar-se  nos 
que  bem  llie  parecer  ;  mas  entre  elles  lia  uiis 
que  dao  luz  para  os  oulros:  alguns  prccisam 
de  uma  intelligencia  mais  desenvolvida  do 
que  outros;   e  per  isso  e  indispensavel  dislri- 


Ji'Luo  15  — 1854. 


Num.  8. 


^ 


9i 


liiii|.(.3  Pin  cl.ii.-i's,  para  que  it  tiuo  possa  p;is- 
>ar  iliis  infi'iioios  jiara  as  siippriorej,  seiii  dnr 
prova>,  p.ir  cxaiuf,  ctn  pll^5^llr  os  coiilicci- 
meiiloj  (l'ai|iii'llas.  Aj'Siiii  liaveiii  occasi'ii)  clu 
leiiiovcr  da  iii>lriK'(;;'o  i^i'iiMularia,  lnj;o  iia 
I'liliada  d'flln,  os  aliimno?,  que  sc  inosliaioin 
iiu'ptos  c  deiciiidadiis,  e  ii.'io  llic  periuiUir 
iim;  ontitHeiiliarii  ii'dla,  ictu  piuvcilo,  o  leui- 
po,  que  podom  ciiipix'gar  com  vaiilagem  em 
Diilio  mister,  para  i|iio  leiiliam  a|)lidfio. 

I'ora  dos  Ivceiis  at'liam-se  cm  exercii'io 
aly;iiiis  cursor  hietinars  e  cadoira:.  de  laliui: 
porem  no  CaUil)el<Ti(iioiil(i  d'aijuelles  ortlTO- 
ce-s('jjrai]dedifiiriildadc  iios  logare.*,  aoiido  as 
I'adeirai  teem  prol'essori'iaiilijjua;  pori|iio  niui- 
Itis  d'ellc?,  iiao  leem  os  coidiccimejilos  picri- 
-os  :  0  no  eiilrolajilo,  iiao  llie>  londo  sido  oxi- 
jjidos  para  o  scu  proviri:eiito,  :-ena  dure,  se- 
iiao  iiijuslo,  jirival-cs  d'cllu  por  uma  i'alla, 
(■II)  rjiie  n'lo  sao  cidpados;  e  ijiie  mukos  iiao 
I'slaiao  om  circiimslaiiciaj  de  podor  reine- 
diar.  Liinitoii-bc  por  isso  o  coiisellio  a  retom- 
ineiidar  o  desempenlio  do  curso,  mas  iiao 
1)1112  iinpor  rigorosa  olirifiajfio,  como  jii  le- 
vou  ao  coidieciiiieiilo  de  V.  M. 

l:ni  qiiaiilo  as  cadeirasdc  latim  :  o  coiise- 
llio rccebe  coMtiiiiiadameiite  lepreseiilacoej 
das  camaras,  pedindo  o  seu  angmento;  po- 
rem  teiii-se  liniitado  ao  numero  cstabelecido 
no  decreto  deSO  de  sopleriibro  de  11541^  saii,- 
t'azendo  alguinas  d'acpiellas  rcjjreseiitayoes 
coin  a  Iransferencia  das  cadeiras,  que  ^ao 
pouco  freijueiiladas  em  alyiins  lo;;ares.  E 
liein  longc  de  proper  o  augmeiUo  d'aquelle 
nuinojo,  allies  jiilga  que  o  eiisino  do  latim 
se  deve  ir  reconceiilraiido  nos  l^'ceus.  fi  ver- 
dade  que  a  miilliplica(,'fio  d'aquellas  cadeiras 
evita  aos  paes  de  t'ainilias,  que  as  leem  :i  porta; 
o  sacrificio  da  sopaiayao  dos  lijiios,  e  da 
despesa,  que  com  elles  lazem  em  logar  di- 
slaiite:  porem  a  in>triiC(j-rio  secundaria  e 
deslinada  para  as  classes  uiedias  da  socieda- 
de,  que  devem  Cazcr  aquelles  sacrilicios,  para 
a  lerem   (lerfeita. 

Quando  a  iuatrur^no  primaria  era  incom- 
jilela  c  liinilada  a  leilura  e  escripta,  serviam 
us  cadeiras  de  latim  de  a  completar  ,  por- 
quo  someuto  n'ellas  se  podiam  apprender  os 
jiriucipios  graniuialicaes ;  e  por  isso  juslo  era 
que  se  rnulliplicassem  ;  mas  logo  que  na 
inslruc(,'ao  primaria  lia  o  2.°  grao,  que  com- 
jjreliendo  iiao  so  Grammalica  Porlugucza, 
mas  todos  os  conliecimentos  necessarioi,  para 
as  classes  iiifenores  da  socicdade,  o  (!aludo 
de  uiu  pouco  de  laliiii  servo  somenle  para  ar- 
redar  Cssas  classes,  das  prolissoes  propriasdas 
juas  circiimslancias,  e  ohrigal-as  a  despesas  o 
sacrificio?,  com  que  nao  podem,  para  susten- 
tar  a  vaidade  ,  que  aquelles  esludos  Ihes  des- 
pertam. 

No  decrelo  de  20  de  septembro  de  1844 
lambern  se  acliam  compreliendidas  na  inslruc- 
<;ao  secundaria  as  duas  acadeiiiias  de  bellas 
arles  de  Porto  e  Lijboa,  e  o  coiiservalorio 
real :   porem  a  academia  de  Lieboa   iifio  en- 


u.iii  .lo  coiK-clho  o  ri'lalorio  ;  e  por  isso  uao 
pode  elle  dar  nnlicia  a!E;iima  do  seu  estado. 
Ivm  quaiilo  a  do  Porlo  :  coiisla  do  seu  rela- 
loiio  lerem  eslado  em  exerclcio  as  suas  c.i- 
deiras ,  com  IVequencia  e  aproveitameiito ; 
c  ai-iiar-se  em  bom  estado  aqiielle  eslabdeci- 
mcnlo,  meiios  no  que  respcila  ao  cdiiicio, 
em  que  se  aclia  collocado  ;  jjorqiie  e  o  d.i 
academia  polvleclmica,  aoiide  iiao  lia  accoin- 
modaCjfio  paia  lodas  as  aulas:  e  por  isso 
<'5irio  iilgumas  em  cdificio  separado,  rom  ;^ra- 
ve  poijiiizo  do  eiisino.  Seria  conveiiioiiU! 
ccunpU'lar  uquelle  edil'icio,  porque  n'elle,  se 
[loderiam   accommod:.r    os    dous   eslabeloci- 

lUL'llIOS. 

()  eniiscrviaoiio  real  do  Li-'lioa  levc  107 
abimims  :  porem  l.'iO  d'esles  iVeipienlaram  a 
eseliola  de  miisica,  que  se  aclia  em  grande 
pingres^o,  devido  aos  cuidados  do  professor 
Laurel i;  em  quaulo  as  oulras  tie  declama- 
5'io  e  diiLij-a,  se  aeliam  cm  grande  decadeii- 
cia.  As  provideiicias  que  no  reluloiio  d'aquel- 
le e?labelecimeiilo  se  iiidieam,  para  reinc- 
diar  este  mal,  deuiandam,  pcla  maior  parte, 
siicrificios  pecuiiianos ,  que  o  coiiicllio  julga 
inrompaliveis  com  os  apuros  da  t'azendu 
publica  :  e  parecendo-llic  que  a  frequencia 
d'aipiellas  escliolas,  depciide  principalmeutf 
do  cuidado  e  zelo  dos  prol'essores,  e  mesmo 
dos  capiiclios  do  gosto  e  da  moda,  espn'ra 
ijiie  com  o  tempo  esle  se  forme. 

Aiiida  o  consellio  nao  pode  conseguir  dos 
governadores  civis  uma  informacrio  exncla 
dos  coUegios  e  escliolas  parlieulares,  a  pesar 
das  rccommendaroe>,  que  para  isso  lem  fei- 
lo  :  apciias  o  do  Porlo  no  seu  rclalorio  dil 
alguma  noticia  dos  do  seu  dislrirlo.  Procede 
rsle  delVilo  de  se  iiHo  ler  cumprido  o  arligo 
04.°  do  decrelo  dc  20  deseplembro  de  1844; 
poique  deixando  os  direclores  d'aquelles  eslu- 
belecimeiitos  de  apresenlar  aos  adminislrn- 
dores  de  concellio  e  commissarios  ou  reito- 
res  dos  lyceus  as  suas  !)abililai;oes,  mal  po- 
dem aquellas  anctoridadcs  ter  noticia  d'elles, 
para  mformarem  os  governadorcs  civis  e 
ojIcs  o  consi'lho.  Julgou  por  tanlo  o  conse- 
llio que  devia  mandar  observar  aquelja  dis- 
posifao,  expedindo  circularrs  com  as  instruc- 
(j'oes  necessarias  para  isso,  e  espera  que  os 
governadores  civis  ,  con~eguindo,  ])or  esle 
uiodo,  iiiformaij-oei  exactas  d'atpielles  esta- 
belecimeiitos,  nao  dL-ixar.'io  de  dar  ao  conse- 
llio nos  seguintes  lelatorios  inrormacoes  e 
efclarecimenlos  a  esle  re-peilo. 

Aquellas  providencias  erarn  tanlo  mais 
necessarias,  quanlo  a  falta  de  frequencia  dos 
lyceus,  e  devida,  em  grande  parte  ;i  facili- 
dude,  com  que  nas  escliolas  parlieulares,  se 
ensinam  os  preparatorios  para  a  instruc5.'io 
superior.  E  verdade  que  esle  abuso  tem  o 
principal  corrective  no  rigor  dos  exames: 
porem  seria  nao  conliecer  a  fraqucza  do  co- 
ra^fio  iiumano,  para  confiar  tudo  d'aquelle 
remedio  ;  e  por  isso  niellior  e  mais  seguro 
sera  accompanbal-o  do  da  frequencia,  c  estii- 


9; 


do  rcj^'iilar,  que  sao  as  itiais  scgiiias  garanliiis 
do  sabur. 

C)  inappa  n  "  2  ^,  rnosira  que  n  niimero 
(lo!>  aluiiiiios  da  iiislrncf'fio  secundaria  no  <:on- 
liiicnle  do  reino  o  de  3:932,  e  por  i^>o  esia 
para  o  lolal  da  pripulai,'ao  3:,')91:772  na  ra- 
7.no  do  1  para  1:1&G.  I''>ta  proporrfio  poretu 
van'a  em  c-ida  utn  dos  di:.lrictos,  como  so  vc  do 
niesmo  inappa ,  simuIo  os  de  Bt'ja  e  Guarda 
OS  menus  favorecidos,  c  os  do  Lifboa  c  Cuiin- 
I)ra  aqnelles  ern  que  a  proporrfio  e  niaii  vaii- 
lajosa;  mas  a  qnalidade  do  ser  unia  capital 
do  rcino  e  a  onlra  o  assento  da  nriiversitlade 
explica   a  raziio  d'esia  grando  difforen<,a. 

O  inosmo  inappa  nioslra  ser  de  reis 
48:o03i3^333  toda  a  dospesa  da  iii>trnc<;.1o 
seciindaiia:  e  por  isso  sendo  o  nuinero  dos 
ahiniiios  2:!}32,  cusla  cada  uin  no  e.ilado  reis 
16f3^6t5:  proporCj'fio  esia,  que  tainbein  vari'a 
rm  cada  uni  dos  dislriclos,  spi.;uiido  a  nalu- 
reza  dos  e3lahelociment.os,  quo  conleeui. 

Por  esles  calcidos  esladislicos  so  doprebon- 
ds,  que  a  inslrucrao  secundaria  onUe  nos 
nfio  e  lao  restricta  ,  neiii  luo  cava,  tonio 
alguns  perleiiderti  inculcar;  porque  see  in- 
terior a  da  Prussia,  aonde  a  piopor^fi"  dos 
aliimnos  corn  a  popuiajao  c  de  1  para  189; 
«  superior  a  da  Ilollanda,  aonde  esla  do  1 
para  3.015. 

Accrcsce,  que  pela  falta  dos  relatorios  par- 
eiaes,  nfio  vuo  incluidos  n'aquelle  calculo  os 
alurnnos,  que  frequentain  as  e,-cliolas  parli- 
culares,  com  os  quaes  se  podeiia  lalvez  du- 
plicar  o  nninero  calculudo:  e  enlao  desu|)pa- 
ceria  quasi  de  todo  a  desvanlajjern  para  corn 
a  Prussia,  e  duplicaria  a  vantagom,  quo  le- 
vanios  a  Ilollanda. 

'lambem  a  Hospe-a  da  instrucjao  secunda- 
ria nao  e,  eiiUo  nos  inuito  mais  croscida  do 
que  n'aquellas  duas  Na<;oes;  por  quanto  ain- 
da  que  a  quantia  de  reis  16  JIG  15,  ([ue  enlre 
n(Ss  cusla  cada  aluniiui,  seja  superior  ;i  de 
(J4  fr.  c  51  c,  que  cusla  na  Pru?sia,  e  a  de 
(>3  fr.  e  G3  c,  que  custa  na  Ilollanda,  como 
entre  nos  a  inslruc^fio  secundaria  e  toda  na- 
tional, e  paga  polo  oslado,  nao  sobrecarrcga 
OS  tnunicipios,  como  n'aquellas  nagoes,  em 
que  em  parle  e  mimicipal  ;  e  por  isso  seria 
preciso  levarem  conta  a  despesa  dos  munici- 
pios,  para  a  compara^ao  ser  exacia;  e  talvez 
desapparecesse  avantagem,  quenos  levam  por 
»c  comparar  somente  a  despesa  do  estado 

O  seguinto  e  o  resullado  do  calculo  dos 
alurnnos,  que  frequentarain  a  instruc(;ao 
secundaria  nos  Ivceus  e  cadeiras  dispersas  , 
em  rela^ao  ;i  populagao  dos  17  districtos  do 
continente  do  remo  ;  a  saber : 

No  districlo  d'Aveiro,  de  1  para  1:774-  — 
Beja,  de  1  para  4:978-:- Braga,  de  1  para 
900  — Bragancja,  de  1  para  1:083  — Caslello- 
Branco,  de  1  para  748  — Cninibra,  de  1  para 
G93  — Evora,  de  1  para  1:580 — Faro,  de 
1  para  1:863 — Guarda,  de  1  para  2:203  — 
Leiria,  de  1  para  2:066  —  Lisboa,  de  1  para 
ti85 — Poilalegre,  de  1  para  I:7C0  —  Porto, 


de  1  para  2:007  —  Sanlaro'm,  do  1  para 
2:100— Vianna,  do  1  pnr.i  1:029  — Villa- 
Real,  do  1  para  961  —  \'i-ou,  <io  I  para 
1:374. 

CAPITl  l.O    IV. 

Jnstrucrdd   superior. 

A  iiiatrucijao  superior  «i  do.-liiiada  para  as 
dasjoi  elevadas  da  sociedado,  d'ondo  sacm  , 
pola  uiaior  parlo,  os  funccionaiios  publicos  : 
o  e  por  isso  Lalvcz,  quo  tanlo  enlre  nos,  como 
nas  outras  na(;ocs  merecou  (js  prir;ioiros  cui- 
dadiis  aos  governos.  Ainda  a  instrucf;ao  pri- 
uiarla  e  secundaria  andavam  abandonadas  aos 
cuidados  dos  parlicularos  o  de  alguuias  cor- 
pora(;oos  religiosas,  e  jd  a  univor^idade,  aon- 
do  a  in>trucr,'io  superior  so  acluiva  recoucen- 
Irada,  linlia  sido  generosanionle  dotada  ,  e  os 
sous  piot'osjores  gozava;;!  da  niaior  con-^itlo- 
ragao,  e  nniitos  linliani  asseiilo  nos  maiores 
Iribunaes  do  reino. 

Dosla  dobigualdade  pore;n,  com  que  cram 
conleuiplados  os  diversos  ranios  de  instruc- 
(;ao  |jubliea,  proveiu  o  nial,  cpio  ainda  lioje 
so  some,  da  doina^iada  affluoncia  do  abiinnos 
para  a  superior,  sem  os  coniieciinenlos  necc-.. 
sarios,  em  que  esta  podesse  asbcntar,  para 
ser  bolida ;  e  sein  quo  todos  os  que  a  seguom 
poisaui  ler  emprego  ;  porque  o  sen  numero  c 
u.\cessivo,  principalmcnto  nas  scioncias  po- 
silivas.  Esle  mal  teui  Jd  o  principal  reuicdio 
na  exteiisfio,  que  so  deu  aos  estudos  da  ins- 
Iruccdo  primaria  e  secundaria  ;  porque  com- 
preliendeudo  lodos  os  conhccimentos  neccs- 
=arios,  para  os  usos  ordiuarios  da  vida,  dispensa 
niuitos  de  os  procuraroni  lui  in5lruC9;'io  su- 
pe''ior,  que  os  desviava  da  carreira,  que  as 
iuascircumslancias  llios  inarcavani,  lentando- 
03  a  eulrar  n'outra,  em  que  nao  achavaui 
saida;  e  por  isso  oiam  muilas  vezes  levados 
pelas  necessidades,  e  desesporacao  a  excessos, 
a  que  so  teriain  poupado,  se  livessera  seguido 
outro  desliiio. 

Mas  ainda  a  experiencia  reclama  outro 
ren)edio,  que  sord  por  veritura,  o  mais  elTicaz 
para  evitar  aquello  mal.  Os  exames  de  ba- 
bililacjao  para  a  instruc^.'io  superior,  segundu 
o  arligo  95.°  do  deereto  do  5  de  dezembro 
de  1836,  mandado  observar  pelo  arligo  130 
do  do  20  de  seplembro  de  18  J4,  sao  feilos 
por  sec^oes  em  cada  unia  das  di=ciplinas  das 
divorsas  cadeiras  :  de  uiodo  quo  sendo  estas  es- 
ludadas  em  difloreiiles  lempos,  e  descuidando- 
se  OS  alumnos  de  as  rccordar,  depois  de 
feito  o  respeclivo  exame  enlram  na  inslruc- 
^ao  superior,  lendo  esquecido  o  pouco,  que 
dellas  tinbam  aprendido,  para  satist'azerem^u 
um  exame  iinmediato,  ao  sen  estudo.  Nao 
succederia  a^sim,  sendo  o  exame  uin  so  sobro 
todas  asdisciplinas;  porque  para  asconservar 
na  memoria,  seria  preciso  estudar  com  in- 
telligencia,  e  recordal-as  conlinuadainente. 
O  exame  de  liabilita^ao,  deve  ser  o  reiunw 


96 


da  in5triic(,'ao  i'-'ciiiidiui.i,  ijiie  50  julgar  noces- 
saria  para  o  raino  d<!  instiiic(,';io  siipeijor,  a 
<)ii'!  o  oxaiiiiiiaiido  sc  destiiiar.  li  qiieui  i!0 
iiiomeiUo  de  eiilrar  para  I'sta,  nfio  podcr  dar 
provas  dc  que  pos-iii;  loda>  as  partes  eispiiciac^ 
daquella,  nao  dovo  <c[  adiiiiUido;  porqiip 
IjretiMHierla  formar  lUii  edificio  scni  alicercc. 

As  lial)ililai,Ties  para  as  iiiatricidas  sao 
objeclo  de  disposic^ijes  rc^ulaiiienlarcs,  se. 
giiiido  o  arligo  l(io.°  do  decri'to  do  20  de 
seplcmhro  de  ISM;  e  por  isso,  se  aqiiulia 
allera^ao  no  sysleiiia  d'ella  for  do  a;;»rad<> 
de  V.  M.,  poder;i  o  consellio  deseiucdvel-a 
rnais  circiniislaiiciadainenle,  no  coinpelcnle 
re;;iilaineiiln,  para  quo  a  sano^fio  de  V.  jVl. 
possa  ser  dada  corn  mais  ronliecimento  do 
causa.  Assirii  podora  a  inslruc^'fio  superior 
as^enlar  ecu  nllcercos  mais  solidos:  e  serao 
rcmovidos  della,  logo  a  pnria,  aquclles  que 
nao  livorem  dado  esperanea  do  lirar  proveito 
tlos  seirs  esLudos, 

A  maior  allluencla  na  inslnic^'fio  siipcriiir 
e  para  os  esludos  jiiridicos  da  universidade; 
porque  sendo  liabilit.a(,'rio  essencial  para  a 
magistratuia,  dao  e^peran(;a  de  emprego.  Ei- 
sa  esperan^a,  porein  fica  illudida  em  niuitos, 
por  nao  cliegar  para  lodos  os  logares  da  ad- 
niinistra(;ao  judicial  :  e  dessa  illusfio  segiiocn- 
se  as  pretcnsoes,  com  que  assallain  o  governo, 
e  a  guerra  que  nuiitas  vezes  passa  das  se- 
crelarias  para  a  pra^a.  li^la  concurreiicia, 
poderia  talvez  dividir-je,  forniando  urn  curso 
deestudos  economico-polilico  adiniiiislralivos, 
como  lialiilil.KjHo  indispousavel  paia  oseinpre- 
gos  do  fazeiida  e  adininistiaeao  civil.  Em  vor. 
dade  :  se  e  precisa  uina  liubditajfio  para  a 
administra^'io  judicial,  que  tern  uma  uiarclia 
legal  e  invariavel ;  rnal  se  jiode  conceber,  coiiio 
na  civil,  dcpendente,  pela  maior  parle,  do 
arbilrio  e  talento  do  adininistrador,  se  deixe 
a  escollia  desle  ao  azar,  sem  d.ir  provas  de 
esludos,  econliecimentos,  quo  deem  esperanjT, 
dp  quo  aquelle  arbilrio  sera  bom  regulado,  e 
o  lalctito  illustrado  e  intelligente. 

E  esta  talvez  a  unica  rcforma  de  que 
precisem  os  estudos  da  universidade,  porque 
a  ultima  feita  no  decrelo  do  20  de  scptembro 
de  1814,  accresccntando  alguns  que  o  pro- 
gresso  das  sciencias  loruava  necessaries  ilevou- 
os  ii  perfei(;rio  dos  das  mais  bem  constituidas 
da  Europa.  Aquella  reforma,  lendo  sido  pela 
maior  parte,  o  resultado  dos  volos  do  cada 
uma  das  t'aculdades,  foi  por  lodas  abra(;ada 
com  a  maior  voutade,  c  por  isso,  se  aclia  em 
plena  execujao  ;  inostrando-se  todas  empe- 
nliadas  em  promoverem  o  acerlo  d'ella,  pelo 
sen  bom  resultado. 

Ha  porem  uma  falta,  que,  principalmente 
nas  sciencias  naturaes,  nao  deixara.  collier 
aquelle  resultado,  em  quanlo  nao  for  reme- 
diada.  A  reducjao  feita  na  dotagao  dos 
estabelecimentos  indispensaveis  para  o  des- 
envolvimento  practice  das  sciencias,  nao 
permitle  a  conservaciio  delles,  e  rauilo  menos 
o-  seu    inelhoramentOj    porque   a  quantia  de 


seis  coutns  de  reis,  sendo  absorvida,  na  maior 
[)arte,  pelas  necessidades  do  hospital,  a  que  se 
nfio  pode  fallar,  af)enns  cliega  para  os  reparos 
dos  edilicios.  Assim  a  bibliollitx-a,  cstabcleci- 
menlo  indispcnsavel  n'uma  universidade, 
aclia-se  reduzida  a  nfio  poder  prover-se  do 
livroi  modernos,  nem  mesmo  dos  jornaes  lil- 
terarios,  e  •■cientificos  ;  interrompendo  as  col- 
I(>c(,'oosd"clle5,  queassim  incompletas,  perdem 
o  seu  valor:  e  nem  mesmo  pode  coinplelar 
o  arranjo  das  livrarias  dos  convenlos,  com 
(pie  foi  flolada.  O  observalorio  astronomico, 
e  <is  diversos  gabineles  tlo  museu  ,  estabolec;- 
menlo  grandioso,  e  forinado  com  niao  lao 
lirga,  nao  potlem  adqiiirir  novos  productos, 
o  niacliinas,  nem  melhorar  as  antigas.  O 
laboralono  cliimico,  jardim  bolanico,  e  final- 
menle  lodos  os  eslabelecimenlos  d'esia  na- 
lurezii,  ()uc  para  serem  uteis,  dr.mandam 
coutiiiuados  uiolliorauientos,  estao  ealaciona- 
rios,  e  mesmo  em  decadencia,  em  quanto  V. 
lAl.  sen.-io  digiiar  deaugmentar  aquella  dola- 
(,■.'10;  corno  foi  iudicado  no  or(;amento  da  uni- 
versidade, para  OS  mellioramentos  ordinaries; 
porque  os  eslraordiuarios  precisam  d'ella  mais 
avultada. 

O  iinico  eslabolecimento  que  se  acha  em 
lermos  de  prosperar  e  o  da  imprensa  da  uni- 
vorsidatle,  porque  tondo  satisfeilo,  pelos  ciii- 
dados  e  boa  economia  da  actual  adminislra- 
cfio,  as  dividas,  com  que  a  anterior  a  deixara, 
sobrecarrogada,  tem  um  saldo  importante,  que 
poJe  ser  convertido  no  seu  mellioramenlo  ;  c 
lira  de  ^i  mesma  coulinuados  recursos,  que 
po.Jem  lornar  progressivo  atpielle  melliora- 
menlo, ale  a  levar  a  perfei(,fio,  em  quo  se 
aclia  a  imprensa  regia  de  Lisboa,  que,  sc- 
guudo  o  relalorio  respective,  se  aclia  no  es- 
lado  de  maior  prosperidadc  taiito  no  pes- 
soal  conio  no  material  Porem  esta  pieciseu 
para  is50,  de  ser  auxiliada  com  recursos  do 
governo;  e  a  da  universidade  contenta-se com 
OS  proprios  ;  sendo  a  sua  adininistra^ao  au- 
ctorisada  para  os  empregar  em  melhora- 
menles,  de  que  darii  conlas. 

As  escholas  medico-cbirurgicas  de  Lisboa 
e  Porto  occiipam  uma  boa  parte  dos  seus 
relatorios,  com  a  repioduc(;rio  da  antiga 
rivalidade  com  a  faculdade  de  mcdicina  da 
universidade.  A  do  Porto  ja  se  conlenta  com 
a  concessfio  dos  graos  em  chirurgia,  para  os 
sens  alumnos  :  porem  a  de  Lisboa  lacha  de 
itijustiga  manifesta,  tudo  o  que  nfio  for  dar 
a  todos  igual  considera^ao  a  dos  da  universi- 
dade, com  pleno  exercicio  de  mcdicina,  seni 
a  restricjao  do  decreto  de  25  do  junlio  de 
1825. 

Colierente  com  esle  systema  de  cngrandc- 
cimento,  argue  de  instifficiente  a  quanlia  de 
um  conto  de  reis  para  a  sustenta<;rie,  des  es- 
labelecimenlos de  que  a  escliola  dove  cercar- 
se :  e  insia  pelo  auginento  da  sua  dola^ao, 
n.lo  so  para  sustentar  os  designados  no  de- 
creto de  20  de  septembro  de  1844,  senao 
tambein  para  crear  muilos  oulres,   que  julga 


97 


nrceisarios  tlepois  que  Ihe  i'oi  concodklaaquel- 
In  corisidera^uo.  De  modo  que,  scrido  eslas 
cschnlas,  na  sua  orijjem  dealiiwulas  para  o 
finsino  da  cliirurgia,  instaraiii  pelos  estiidos 
de  mediciiia  coiiio  auxiliares  daquelle;  agora 
dnpois  de  llie  seiem  concedidos,  substiluem 
(IS  meios  ao  fun,  trocaiii  o  acci'ssorio  pelo 
principal,  e  qinindo  o  publico  espcrava  dims 
pscliolas  do  chinirgia,  aclia-so  com  tre5  facul- 
dades  de  inedicina  ! 

A  experiencia  tcin  ni05trado,  <)iie  as  sci- 
rntias  para  prosperar,  precisaiii  do  estar 
re.inidas  em  grander centrosscicnlifico-,  cercu- 
dos  de  bibliotlieca5,  innseus,  observatories,  e 
oulros  eslabi'leciinentos  indispeiisaveis  para  o 
sen  deserivolviuicnlo,  hem  I'oriiecidos  e  dola- 
dos,  OS  quaes  por  isso  n;lo  podem  ser  miilli- 
piicados,  ainda  nas  nayoes  iiiais  ricas,  do 
<)iie  a  no^^a  ;  mas  qiiajido  todas  prociiraiii 
reconcentral-os,  soijierite  erilre  noi  se  forteja, 
|)t-la  dispersao  d'elies,  desmeiiibraiido  a  uiii- 
versidade,  e  creando  Ires  I'aciildades  de  riie- 
dicin.i,  com  lal  apparato,  que  apet:ns  ii'urna 
bC  podi!  sublentar. 

Algiinias  oiitras  providencias  reclaniam 
aqiiellas  csclioias,  que  nierece.'n  maii  atleii- 
rao :  porem  depende  de  urn  regiilaiiietilo  de 
que  o  eonseilio  se  occupa,  procurando  obler 
OS  esdareciiueiUos  uecessarios  para  o  formar. 
JiiUre  elias  e  as  commi^soes  adminislralivas 
dos  lio^pitaes  teem-je  levaiuado  cimllitos,  que 
lornaui  complicadas  as  sua,  prcleii=oes,  e  o 
coiiselho,  antes  de  as  resolver,  prerisa  de 
averiguar  a  verdade,  o  que  iifio  e  inuilo  facil 
i\o  niiio  de  laes  torillirtos. 

'J'amliem  nas  proviucias  Jnsulares  as  es- 
(•lirila>,  dietas  medico-cliiiurgicas  teem  cor- 
rido,  ale  agora,  sem  direc^So  regular.  A  fdlta 
de  regulaiueiilo,  que  dcienvolva  a  lei  da 
sua  crea^ao  lem-na^  consuiniclo  exrenlricas 
a  admiiiistra^'ao  liUeraria.  O  consellio,  reco- 
nbccendo  a  urgente  tiecessidade  de  revestir 
He  caracler  lillerario  aquejlas  esclinlas,  coni- 
Hadas,  ale'  agora,  aaduiinistra<;ao  e quasi  ex- 
rlusiva  fi-calisajao  das  coniuiissoes  adminis- 
lralivas das  ini'crieordias,  vai  propor  em 
breve  nil]  projecto  de  regidamento  geral,  que 
as  lia-(le  colliicar  no  logar,  que  dedireilo  liies 
pertcnce  no  quadro  da  in7.truc^rio  publica. 

A  ac.idemia  pnlyteeliniea  do  Porto  merece 
ao  consi'llio  especial  cuidado;  pnrque  e^la-, 
belecida  no  raeio  de  uma  populaf^ao  nu- 
iiierosa,  rica  e  laboiiosa,  nao  pole  deixar  de 
prosperar;  quando  a  ulilidade  do  sen  fnsino 
»e  for  loniando  sensivol.  Por  vezes  tern  ella 
rpclamadoum  regulumenlo  para  o  sen  governo 
lillerario,  e  cconouiieo,  de  que  o  coiisellio  se 
nao  deseuida  :  porem  n'lo  e  obra  mwi  facil, 
oxtrair  dos  pmjectos,  que  Ibe  foram  enviados 
um  que  salisra(;a  pleiiamenle  a  todas  as  ne- 
fossidades  daquelle  fstabelecimerito. 

No  enlretanlo  aclia  o  conselho  mui  digna 
de  alteiijao  a  rec^ui5i(,r;o,  que  a  dirla  aca- 
deiiiia  faz  de  um  local  para  jardim  biUanico, 
e  laboraloriocliimico,  e  de auguienlo de dota- 


^ao  para  a  firmac-rio  d'elles  e  de  gabincles 
de  liialoriu  natural,  pliyt-ica,  niineralogia,  e 
o\itros  accessories  indi>pensaveis  a  um  e^la- 
beleciuiento  daquella  ordem.  Para  jardim  e 
laboraloiio  lembra  clla  a  cerca  do  convento 
das  exlinctas  religio-,as  Carmelitas,  <|ue  a 
nao  iiaver  algum  inconveuicnle  seria  bcm 
aproveitada   paia  aquelle  fun. 

O  numero  dos  alumnos  da  inctrucgfio 
superior,  segundo  o  rnappa  n."  3  e  de  ]:7l()  ; 
e  a  sua  despesa  imporlaem  reis  95.0.31^833  ; 
e  por  isso  esla  parao  da  populagao  na  razao 
de  1  para  1:976:  e  cusla  ao  eslado  cada 
alunino  reii  hb^'679. 

Fallam  porem  naquelle  numero,  osaluranos 
da  e.-cliola  polylechuica  de  Lisboa,  que  nao 
estd  debaixo  da  inspec^.w  do  conselho;  e  na 
despe-.a  da  nniversidade  nao  vae  descontado 
o  produclo  das  matriculas,  cartas  e  sello,  que 
importa  em  viute  e  lantos  conlos,  e  reverie 
em  favor  do  tlie^ouro:  e  cada  uma  d'estas 
uddi^'oes  lornaria  luais  vantajosas  as  propor- 
cocs. 

Assiin  mcsmo  nao  sao  inferinres  as  tU'i 
Prussia,  e  Hollarida  ;  porque  n'aquella  es- 
tao  OS  alumnos  para  a  popula^'ao  na  razao 
de  1  para  2:5-15,  e  custa  cada  uin  ao  eslado 
348  fr.  e  47  c  ;  e  n'esta  estao  na  razao  de  1 
para  li'iOS,  e  cusia  cada  um  390  fr.  e  28  c, 
como  se  ve  dos  mappas,  que  acompanliam 
a  niemoria  de  Mr.  Ciuisin  sobre  a  instruc- 
(jio  publica  na  Hollanda. 

CAPITULO  V. 

Conclutdo. 

A  falta  de  muitos  relatorios  parciaes,  nao 
permute  fazer  esle  g';ral  inaiscircum?lanciado, 
e  regular;  uem  dedu^ir  d'elle  comhinagoes  e 
resullados  (iratlicos,  em  que  consisle  a  maior 
ulilidade  de  laes  obras.  Com  a  praclica  e 
natural  ()ue  se  vd  emendando  aquelle  defeito, 
sendo  e--sa  a  sorte  de  todas  as  in5titui56es 
naseenles,  comecarem  imperfeitas;  e  quando 
o  conselho  tiver  elementos  estatisticos,  em 
que  se  possa  firmar  com  seguran^a,  podera 
eutao  expor  com  maior  regularidade  o  estado 
da  inslruci;ao  publica,  e  propor  as  providen- 
cias, que  elle  reilamar. 

Por  agora  parece  ao  conselho  que  a  re- 
forma  eniprehendida  no  decreto  de  20  de 
sepleinbro  de  18t4conlem  lodos  os  elementos 
necessarios,  para  a  prosperidade  da  instruc- 
jao  publica,  e  que  aiguus  embaragos,  que 
a  sua  execujao  enrontra  na  praclica,  sao 
fdlios  da  natureza  do  objecto,  e  taes  que  o 
tem()o  e  a  mesma  in6lruc9fio  os  hao  de  ir 
appl.inando.  J(dga  por  lanto  o  conselho  que 
aipielle  decreto  nao  preci^a  de  altera9ao 
alguma  essencial:  e  parecendo-lhe  que  4 
lustruc^ao  publica  se  promove  mullior  com 
providencias  lentas  e  parciaes,  que  o  tempo 
e  a  experiencia  vao  auxdiaiulo,  do  que  com 
projecto*   ijiganlescos    e    alterai'oes    radicaesj 


98 


que  tendo,  dp  oi.liu/irio,  m.-ii*  di-  .iriparatn, 
do  que  de  solidcz,  procura  liriiilar-se  a  pio- 
por  medidns,  que  cjlejam  ao  aliaiice  do 
)(overno,  e  iiao  vfio  di-sal'iar  na  tribiina  par- 
lameiilar,  discuisos  c>lrepitns(is,  que,  miiilns 
vezes,  servein  inais  de  abalar  a  ii]slriic(;'io 
publica,  do  que  de  a  proniover.  liL-diizem-sc 
pois  aqiiellas  prnvidencias  as  se^^uiriles  : 

1."  Recoiiimcndarao  aoitfoveinadores  civi, 
para  proniovL-rein  o  ejlabflociineuto  de  ca- 
deiras  pelo  oxpedieiite  aponlado  no5  artiffos 
9.°  e  45.°  do  decreto  de  20  de  seplembro  de 
1341. 

2°  Estabelecer  ties  sfr:ios  na  inslriicgfio 
priraaria  seiido  o  primciro  destinado  para 
terras  de  poijca  coiisiderae^ao ;  cxigindo-se 
dos  |)rofeisores  mcnos  conliecimoiito>,  e  dan- 
do-se-llics  nienores  ordoiiados,  para  facilUar 
a  concurrencia  d'aqiielles,  e  os  recursos  para 
o  pagamenio  destes. 

3  °  Conversfio  da-:  e^cliolas  de  en.ino  imi- 
tuo  nas  do  2.°  grao,  conservando  u'elbis  aqiiel- 
le,  em  quaiilo  a  experieiieia  nao  de=inenlir  o 
bo2n  resultado,  que  entre  hos  o  aboria. 

4."  Creacao  de  ajudanles  para  as  esclinla^i 
do  2.''f,'rdo,  oiais  deseiivolvidas  e  frequenladas; 
nao  so  para  auxilio  dos  jjrol'essores,  se  nfio 
tambem  coino  meio  de  os  tonnar,  economisaii- 
do  a  deapesa  da  niulliplica(,'ao  de  cscliolas 
iiorrnaes. 

&.°  Classifica^'io  dos  esludos  de  jnstrdcf'io 
secundaria:  e  necessidaile  de  provas,  por 
exanie,  para  passar  das  inferiore*,  para  as 
superiores. 

(>.'  Kxames  de  liabilila(;-io  jjara  a  instriic- 
<;ao  superior,  reduzidos  a  urn  eo  em  lodas  as 
disciplinas,  que  I'orem  preparatorio  para  o 
ramo  d'aquella,  que  se  perleuder  se^;;uir. 

7.°  borniaeao  de  uiii  curso  de  scicncias 
eeonomico — poMUeo — admmistrativas,  como 
liabiliiayao  iiidespensavel  |)ara  ser  provido 
nos  loyares  de  fazeiida  e  aduiiiiislrariio. 

8.°  Nomearfio  dos  coiiimis^arios  dos  eslu- 
dos. 

9.°  Ainda  o  consellio  lembraria  a  reuniao 
periodica  dos  professores  de  instruc^ao  pri- 
maria  e  secundaria,  perante  os  commissarios 
dos  respecLivos  dislriclos,  para  fazerem  o 
rclatorio  do  estado  das  suas  cadeiras,  nictlio- 
dos  de  ensino,  escollia  de  compendios,e  apon- 
tarem  e  discutircm  as  provideneias  com  que 
julgam  poder  mclliorar-se:  mas  no  estado  de 
falta  de  couliecinieulos  em  que  a  maior  parte 
delles  se  aclia,  julga  que  essa  provideucia  se 
deve  diiYerir  para  nielliores  circumstancias, 
ficaudo  por  agoia  ao  arbilrio  dos  commis- 
saries, consullar  somente  aquclJos,  de  queni 
possara  e>perar  algum   bom  consellio. 

Eslas  provideiicias  sfio  lodas  de  natureza 
reo-iilamcntar,  e  por  isso  se  lodas,  ou  alsumas 
■  d'ellas,  nierecereni  a  cousidera^ao  de  V.  M  , 
o  consclho  as  desenvolvera  nos  compelenles 
regulamentos,  para  as  submelter  a  approvajfio 
de  V.M.  —  Coimbra,  era  sessfio  ordinaria  do 
consellio  de  2  de  dezcmbro  de  18 15. =Conde 


de  Tcrcna,  vi(c-prt^H>4enlP  —  Bnulio  Jlhcrto 
dc  Stmsa  Pitilo  —  Mtmocl  yjntimio  CorJho 
d(i  Roc/ia  —  Joao  Thomoz  de  Souao  Lobo  — 
JcroHijino  Jose  dc  JMclto  —  ^Jtiloniu  Cardoso 
Dorgcs  de  Figucircdo — Luii   Ignacio  Fei- 


POESIA  SLAV.i  MODERN  A. 

CoDliouado  lie  pag.  68. 

Tanlo  entre  os  Gregos  anti;,'os  como  eulre 
OS  llebreus,  os  sons  da  lyra  e  da  liarpa 
eram  o  acoompanliamenlo  obriijado  da  poesia 
popular.  Entre  os  Slavos,  o  goudar  nao  pode 
recitar  os  seus  versos  sern  se  accompanhar 
de  urn  instrumenlo.  As  rapsodias  lieroicas 
sfio  lodas  caiiladas  n'uni  recitativo  musico, 
de  notas  faceis,  e  que  teiii  -nlguma  analogia 
com  o  cantocliao  dos  p>abiios.  K  eerto  que 
a  inusica  do  goiislo  lem  muilo  de  eleinenlar 
e  de  liinilada,  reduziudo-se  o  sen  material  a 
Ires  ou  qualro  inslrumenlos.  'J'em  a  gousle, 
a  taiiibura,  a  duda  e  as  differenles  especies 
de  suira,  ilaula  ou  pifano.  A  svira  rnais 
comuniMi  (•  um  simples  cannudn  co(nprido, 
com  selLe  buracos,  que  se  loca  com  ainbasas 
macs,  e  cujo  som  agudo  e  mavioso,  produz 
uma  especie  de  nieluncolia.  Nao  se  enconira 
pastor  que  n.lo  Iraga  esla  svira  pendente  do 
ciuto,  pois  que  se  Ihe  lorna  quasi  tfio  neces- 
saria  como  o  cajado  para  guiar  os  sens  reba- 
nlins,  que  n'lo  caminliam  bem  sem  serein 
accouipanliados  dos  sous  da  Ilaula.  A  duda 
e  uma  especie  de  gaila  de  t'olle  niuito  seme- 
lliante  I'l  dos  serranos  de  Auvergne  e  do 
Poilou.  A  duda  e  que  preside  as  niais  das 
vezes  ai  ferlas  aldeas,  dii  o  primeiro  signal 
para  a  dansa,  e  de  ordinarlo  condui  os  ran- 
clios  dos  cauiponezes  a  nioha,  islo  e,  aos 
Iraballios  ruslicos  i'eilos  em  commum.  Em 
quaulo  a  tanibura,  instrumenlo  mais  aper- 
lei^oudo,  e  poslo  que  inferior  ao  viol.'io, 
mais  nielodioso  que  as  nossas  guitarras,  esse 
so  e  locado  por  nj.aos  de  mullier. 

Ejn  qualquer  parte  que  se  oii(;a,  ou  entre 
arvoredos  ou  nas  cidades,  encontra-se  urn 
encanto  singular  nesia  musica  primitiva,  que 
parece  transportar-nos  pelas  suas  melodias  a 
uni  mundo  anterior,  todo  de  paz  e  d'inno- 
ccncia.  Enlre  os  Slavos  oricnlaes,  ordinaria- 
menle  c  um  homem  so  que  canla  em  quanlo 
OS  outros  o  esculam  ;  entre  os  Slavos  oc- 
cidenlaes,  a  picsna  e  cantada  por  dous.  Uni 
que  imita  a  voz  de  mullier,  comcja  n'uni 
torn  muilo  agudo  e  elevado  ;  em  quanlo  o 
outro  o  segue  fazendo-llie  o  baixo,  e  demora 
o  final  dc  cada  verso  a  espera  que  o  primeiro 
comeca  o  verso  seguinle.  Dous  Illyrios  dos 
Alpes  sao  capazes  de  se  dcixarem  liear  assim 
immoveis,  assentados  ambos  por  mais  de 
doze  lioras,  bebendo  e  canlando  a.  borda  do 
Adrialico.  Depois,  ao  calilr  da  noite,  vecm- 


99 


sp  saUar  ambos  dentro  de  um  carro  e  voltar 
a  lodo  o  galope  para  a  sua  a  Idea,  pondo-se 
iiuiilns  vezes  em  pe,  para  melhor  cxcilar  os 
KCiis  covallos. 

Jii  oin  1829  um  Serviode  Smyrna,  Manuel 
Kolarovitj,  havia  publicado  um  centcuar  de 
caiitiiijas  nationaes  das  picsnas  sei  vias  as  mais 
populares  iios  paizos  Slavos  c  em  volla  do 
Daiiuhio.  Oulros  arlistas  completarain  depois 
esia  colloceao,  ao  passo  que  us  I5olieii)ios,  os 
Polacos  e  os  Rns^os  rcuniani  da  jua  bantia 
todos  osjiagnicntos  das  suas  anligas  melodias 
locaes.  E  aos  Tclieks  a  quern  priiicipabneiite 
cal)e  o  merilo  de  haverein  revelado  a  Europa 
o  geuio  inusieo  slavo.  Os  retto?  dos  anLigos 
ranlos  pagaos  ,  as  cantigas  para  dari'a  dos 
Karpallios,  os  canlicos  da  epoclia  liiissita, 
lodos  esses  lliesouros  d'liartnotiia  desenter 
rados  das  ruinasdeum  mundo  desapparecido, 
represenlaui-nos,  como  por  encanlo,  uuia 
parlo  (la  inagi'a  da  edade  media.  E  fora  de 
duvida  que  as  melodias  Iclieques  ja  leiii 
jjerdido  do  seu  perfume  original  ;  as  dos 
Russos  do  Sul  e  as  proprias  hrakovinh, 
a  pezar  da  sua  rara  simplicidade,  ressenlem-se 
lodavia  de  um  cerlo  arlificio,  inuilo  mais 
sensivel  nellas  do  que  nos  cantos  espontaiieos 
dos  Servios;  mas  todas  as  melodias  slavas 
disli(ij;uem-se  mais  ou  menos  por  um  colorido 
anligo,  que  lijes  da  uma  nolavel  semellian(;a 
com  OS  prifTieiros  fragmeiilos  conliecidos  da 
niusica  dos  Ilellenos.  Ate  mcsmo  desde  tem- 
pos iniinemoriaes,  canlain-se  enlre  os  Servios 
um  cerlo  nuuiero  de  melodias  idetilicas,  nota 
jjor  nnia,  as  melodias  dos  Grfgos  do  Piudo 
p  da  Altiea.  Os  Ilussos  receberam  tambem 
evidenlemenle  dos  Hyzanlinos  muitas  das 
suas  (-auligas,  a  pezar  de  que  uma  grande 
parle  deilas  na  sua  oxpressao  moslram  uma 
origiiialidade  coniplela,  por  que  na  Slavia 
*sta  originalidade  e  lao  inlioreuLe  a  inusica 
|)opular  couio  a  propria  poesia.  A  maior 
parle  das  suas  arias  sao  cautadas  n'um  torn 
menor.  significativo  da  melancolia  e  do  sol- 
IVimeiilo;  somenle  as  caiitigas  para  dansa  e 
as  inarclias  guerreiras  sao  em  tom  maior, 
expressao  da  alegria  e  dos  transportcs  bel- 
licosos  Logo  desde  o  seu  princi|)io  cada 
uma  das  arias  vos  arreme^sa,  por  assirii 
dizcr,  com  perfeila  clareza,  o  seu  pensa- 
Biculo  ()ue  parcce  vjr  directamenle  das  pro- 
fundidades  da  nalureza  ;  cada  um  d'estes  pen- 
samenlos,  tao  simples  na  appareiicia.  dcjeri- 
rolam  dianle  da  vossa  imagiuagao  um  poema 
todo  inleiro  e  como  um  rio  de  harmotiias.  O 
|)restigio  deslas  arias  nacionaes  eslendc-se 
Miiiito  para  ale'ra  dos  paizes  em  que  sao  can- 
ladas,  e  poderia  tahez  affirniar-se  sein  teme- 
ridadc,  que  siio  os  Slavos,  pelo  inlerrnedio 
dos  conipositores  Iclieks,  quern  aviva  jnces- 
saiitemenle  a  musica  allemfi.  As  collecjoes 
dos  conLos  populares  slavos  tern  pela  maior 
parte,  ao  iado  do  lexto.  as  notas  por  meio 
das  quaes  esles  textos  se  LransmiUem  de  paes 
a  Gllioi :  e  sao  em   numero  tao   subido  e»tas 


coUeci^oes,   que    baslariam    ellas    sos    por   si 
para  I'ormar  uma  pcqueua  bibliotlieca. 

A  combinaefio  do  caulo  cot;i  a  poesia, 
entre  os  proplietas  Lebrcus  e  os  poetas  gregos 
aniigos,  soube  guardar  um  repouso  liarmo- 
nico  e  uma  jusla  niedida,  jii  tio  meio  dos 
Irausporles  mais  sublimes  da  alma  para  Dens, 
ja  no  meio  das  mais  ardenles  paixoes.  Ksle 
elemento  deequilibrio  pcrdeu-se  no  Occiden- 
le,  quando  os  poetas  arremessando  com  a 
lyra  para  longe,  se  puzeram  a  compor,  sol)re 
t'rias  al)alrac(;oL-s,  versos  matlicmalicamenle 
cadenciados.  A  poesia  slava  ninda  n'lo  cliegou 
a  esta  ultima  pliase.  Nas  regioes  em  que  j;i 
abandonou  o  gouslo,  tern  pelo  menos  conser- 
vado  ou  recobrado  a  sua  prosodia  nativa,  o 
seu  cslilo  do  proseguir  por  longas  e  por  breves, 
o  que  conslilue  uma  verdadeira  musica.  A 
verdadeira  poesia  nao  sera  uma  intuiijao  das 
liarmonias  secrelas  que  prendem  todos  os  seres 
uns  aosoutros?  A  poesia  nfio  sera  acaso  a 
linguagem  liumana  elevada  ao  estado  de 
musica  interior? 
Continua. 


CRISE  DA  PIIILOSOPFIIA  ALLEMA. 

Aquillo  que  menos  conhecemos  e  o  que 
temos  mais  perto  de  no-,  disse  um  grande 
pliilosoplio  do  seculo  passado.  Poderiatnos 
acresccntar,  e  o  que  esta  em  nos  mcsmos. 

A  luz,  que  illumina,  e  faz  visiveis  todos 
OS  objectos,  que  nos  cercam  a  mais  ou  menos 
dislancia  ;  a  visfio  que  de  continuo  cxercemos ; 
a  audi(;'ao;  os  muitos  e  variados  plienoinenos 
electricos,  mormente  os  dos  proces^os  por  in- 
duc^ao,  econtacto;  os  plienomenos  admiraveis 
do  Daguerreotypo;  as  maravilliasdo  Stereos- 
copo  apresentadas  por  ^V  lieatstone  encerram 
ainda  myslerios  tao  sublimes,  tao  acima  da 
nossa  limitada  comprehensfio,  que  apenas 
permiltem  por  ora  oexlasiar-se  o  pliilosoplio 
diante  delles,  e  inclinar  a  cabe(,'a  com 
reverenoia. 

Acima  de  todos  os  plienomenos  do  niundo 
exterior  se  elevam  os  da  inlelleetualidade  no 
liomem.  A  sua  natureza,  importaricia,  e  su- 
blirnidade  parcce  que  deveram  ler  prendido 
a  atten(;ao  do  espirilo  liumano  em  todas  as 
idades  para  se  conliecer  a  si  proprio  ;  o  loda- 
via por  uma  fatalidade  quasi  inexpiicavel  a 
iutelligencia  tem-se  dirigido  mais  ao  conheci- 
menlo  do  que  existe  fora  do  liomem.  O 
nosce  te  ipsum  foi  preceilo,  a  que  geral- 
menle  se  tem  faltado. 

iMas  lia  alii  um  molivo  poderoso,  que 
desculpa  a  transgressiio,  Sfio  t.'io  elevados, 
de  lao  superior  calhegoiia  os  plienomenos  in- 
lellectuaes,  que  exigcm  uma  intelligencia  de 
esphera  mui  superior  a  nossa  para  se  ILe 
revelarem.  A  elevagfio  da  empreza  exige  tao 
profundo  e  aturado  estudo,  tao  fadigosa  con- 
tenaao  de  espirilo,  que  cliega  a  descoroyoar 
o  espirilo  mais  vigoroso,  esclarecido,  e  perse- 


100 


»eranle,  a  pczar  clos  capilar?,  qiip  no  volver 
ilos  seciilos  vao  li'p;aiid()  as  passiidas  as  geta- 
<;i">es  fiiliiras,  e  das  cnnqiiislas  proprias  da 
perfet-liliilidade  Ininiana. 

Ha  uma  difl'iiMildade  irresislivel,  que  em- 
barjja  o  pas^o  enlraniio-se  iia  analyse  do  iii- 
lendimenlo  Inuiiaiio.  Decotnpoe  sc  o  r.icio- 
citiio  ;  res'ilvp-sc  nos  sons  elfinorUos  r>  j  lizo; 
percebe-se  a  idea;  clio;;a-5e  ;i  seri>il>ilidadi! 
percepliva,  coiiin  ultiiiio  do^  pheiiomonos  intel- 
loctiiaes.  Mas  iirnorando-se  a  parli;  que  toca 
ao  organisiiio  lualeiial;  a  cada  iiina  das 
reparli^nes,  em  que  se  divide  anatoiiiica,  e 
pliisiologicaniciili';  as  iiniluas  rclai^oes  eiUre  a 
materia  extensiva  e  o  principio  sensieiUe  im- 
material ;  as  li^M(;oL>s  e  liariimnias  cntre  senli- 
do3  externos  e  iiiternos  ;  o  que  e  do  dominio 
do  instinclo,  e  o  (|iin  loca  a  razHo,  nfio  e 
facil  descobrir  o  ponto  de  pnrtida  seguro 
para  proceder  na  coDslitnigfio  do  uiiia  scieiicia 
iiilellectiia! ;  e  o  fio  de  Ariadne  que  sirva  de 
giiia  no  labyrinto,  que  se  ol'ferooe  a  nossa 
oonteinplagfio. 

Difl'icuIJades  de  lal  ordeni  expiicam  facil- 
mente,  jusliticain  ale,  os  variados  svslemas 
pliilosopliicos,  asopiiiirics  contrariai  ecoiUra- 
dictcrias,  a  marclia  do  espirito  vagaroso, 
contrastada,  e  iiiti^riniUeiile;  a  deficiencia,  e 
atrazo  de  iitna  sciencia  de  luque  inui  suI)ido, 
a  Psycliologia. 

Plat'io  dotado  de  uin  espirito  transci-n- 
dente  que  Ihe  deia  o  noine  de  divino,  marcoii 
wma  epoclia  tiio  notavcl  na  pliilosophia,  que 
alravez  do  largos  seculos  tern  cliegado  aos 
nossos  dias,  e  prestado  os  iilicerces  a  syste- 
rnas  pliilosopliicos  elevados  ;i  eelebridaJe.  Ad- 
inittindo  a  eleruidade  da  materia,  expjicou 
a  formaijao  do  iiiiiverso  por  uma  intelligcncia 
infinita;  mas  levou  a  ideologia  espiritualista 
a  ponto  que  parece  esqtiecer-se  da  rcalidade 
da  materia.  As  ideas  eram  cm  sua  opiniao  o 
que  ha  no  mundo  real,  necossario,  e  absnhilo: 
eram  typo,  e  causa  de  tudo  o  que  existe  no 
universe.  A  csta  elevada  alstracjao  juntava 
a  escl)ola  academica  formas  tao  mysteriosa*, 
pljrase  lao  obscura,  e  ncbulosa,  que  nao  so 
taz  difficil  a  intelligencia  da  doutrina,  senao 
que  frequentes  vezes  a  figura  contradictora. 

Noseculo  XVII  Spinoza segiiiooespiritua- 
Itsmo,  admiltindo  uma  so  substancia  no  uni- 
verse, com  dois  atlributos,  ponsamento,  e 
exlensfto.  Segundoeslepliilosoplio  tudo  oque 
vemos  no  exterior,  quanto  sentirnos  no  interior 
sfio  meros  fenomcnos  dessa  unica  substancia. 
Nao  ba  contingcncia,  nao  lia  Iiberdade, 
tudo  e  necessario,  tudo  se  move  ao  aceno 
dessa  unica  substancia.  Por  esta  doutrina 
mereceu  o  nome  de  tanto  do  panteismo. 

Ja  por  fins  do  seculo  XVI  Descartes  se 
havia  levanlado  contra  o  methodo  systemalioo 
daj  esclinlas.  No  seu  inmortdl  dlscurso  sobre^ 
o  methodo  ensinou  a  duvidar  das  opinioes 
recebidas  como  dogmas:  e  da  duvida  nasceu 
o  principio  fundamental  do  sea  syjtema  — 
eu  penio,    lojo  existo — eis   o  facto  funda- 


mental que  rcsisle  a  l<ida  a  duvida.  Tomando 
este  facto  por  ponto  de  partida  a  piiilosopliin 
n.'io  pndia  deixar  de  tender  ao  espirilualis- 
luo,  c  Doscaites  foi  em  verdado  espirilualibta. 
Mas  o  es[)iritua!isiiio  n.To  absorveu  o  mundo 
material.  Se  o  pensameiilo  era,  segundo  ellc, 
()  attril)uto  do  espirito,  a  exlensao  era  o  da 
materia.  Gombalendo  o  sensualis.aio  de  Aris- 
tnteles  nao  quiz  Descartes  negar  o  dominio 
aos  senlidos.  Sentiu  que  nem  lodos  os  conheci- 
menlos  nos  provem  dos  senlidos  externos; 
mas  li.'io  admilliu  ideas  innatas,  como  typos 
preexiitentes  em  nosso  espirito:  quiz  unica- 
menle  assentar  o  principio  inconlestavel  de 
haver  pensamenios  que  nao  prncediam  de 
ol  j  "ctos  exiuruos,  nem  determina^ao  de 
vonlade.  O  syslema  de  Descartes  purificado 
de  algunias  dliisoes,  e  defeitos  comnnms  a 
lodos  OS  systenias  poderia  ainda  lioje  ser  a. 
basf:  da  vcrdadeira  phdosopliia  racional. 

Partindo  do  mesnio  principio  fundamental, 
mas  Inquirindo  a  fonle  e  origem  do  pensa- 
mento  chegou  Locke  a  um  resiiltado  mui 
diverse  collocando  a  origem  dos  nossos  co- 
nliecimenlos  na  sensajiio;  reproduzindo  assirn 
a  antiga  maxima  estliolastica —  iiiliil  est  in 
intelUctu  quod  prips  non  fucril  in  sensu. 
Eu  penso,  dizia  o  illustre  philosoplio,  mas  o 
espirito  n:lo  tern  oulro  ol)ji;cto  de  pensa- 
mentos,  e  de  raciocinios  que  as  ideas  ;  e  estas 
outra  fonte,  que  nfio  soja  os  sentidos.  Mas 
Locke  nao  rouba  o  imperio  a  retlex.lo  para 
entregar  exclusivamente  aos  senlidos  o  sceptro 
da  intelligencia.  Ao  principio  da  experiencia 
sabe  associar  odaraz.'io,  posto  que  o  pheno- 
meno  inicial  do  pensamento  esteja  nasen-aj.'io. 

Couddlac  quiz  biniplilicar  o  syslema  de 
Locke  jjilgando  a  retlex.'io  uma  complicajao 
desnecessaria.  Redusiu  as  func^oes  inlel- 
lectuaes  a  pura  simsa^iio;  e  esta  primiliva, 
ou  traiisformada.  E  foi-Ihe  facil  a  dtmnslra- 
5,'io  do  sen  systema  imaginando  uma  eslatua 
organi^ada,  anirnada  de  um  espirito,  mas 
destiluida  de  idea.  Vai-lhe  abrindo  os  senti- 
dos por  mein  de  impressoes  feilas  seguida- 
mente  em  cada  um  delles :  e  como  nos  effeitos 
das  impressoes  o  ideologista  fallava  pela 
eslatua  era  de  esperar  que  em  seguida  a. 
sensacao  encontrasse  o  juizo,  o  raciocinio,  o 
entendimenlo,  o  desejo,  a  vontade,  e  quanto 
mais  constitue  o  complcxo  dephenomenos  iii- 
lellccluaes. 

A  um  sensualismo  tfio  puro,  e  descarnado 
era  infallivel  seguir-se  a  reacgao.  Os  anta- 
gonismos  nao  dominam  menos  o  mundo 
moral  que  o  mundo  piiisico. 

As  ideas  espiritualistas  de  Platao  e  dc 
Spinoza  ressnscitam  em  um  povo  de  pensado- 
res  profundos,  que  faciimeiite  se  elevam  at 
regioes  da  abstracg.^o  R'ant  encaslellado  no 
mesmo  principio  de  Descartes,  masdando  ao 
—  cu  uma  direcgao  bem  dilferente  da  do 
philosoplio  francez,  tonia  assensagocs  em  abs- 
Iracto  como  puras  represenlagoes  indepen- 
dentes  dos  objectos,    modificagoes   da  facul- 


101 


dade  representativa,  do  —  eu — differenles  da 
iiiUiigao  empirica  com  refiMcncia  ao  innndo 
«jiterior.  As'im  clipga  ocliefe  do  racionaliinio 
a  assentnr  a  razfio  como  a  priineiia  fonle 
dos  nossos  conliectmeMlos,  o  iiiiindo  exterior 
como  lima  appareiicia  em  rela^fio  a  iios. 

CoUocando  iia  razao  o  poiilo  dc  partida 
das  fiinccjiVi  iiilellectiiaes  adinillo  ideas  a 
priori,  as  do  lempo,  e  do  esparo:  e  qualro 
calliegorias,  on  fmic^ocs  logicas  da  razao,  a 
quanlidado,  a  quiilidade,  a  reia^fio,  e  tnoda- 
lidade,  a  que  devom  ser  conformes  as  repre- 
8enta56es  dos  ohjoctos  externos  para  luiver 
reaiidade.  Donde  se  dediiz  logicanieiile  que 
a  reaiidade  exisle  so  no  siilj'Clivo,  a  que  o 
obj-'ctivo  fica  subordinado.  E  na  verdade 
abslrahindo  de  liido  o  que  iia  alem  de  116' 
cm  tudo  o  que  senlimos  Iia  reaiidade;  mas 
Karil  coiicentrado  lodo  110  sen  espirilo  as- 
sira  como  o  eslava  no  sen  gabincte,  nfio  vin 
a  quesUio  seiiao  por  um  iado;  e  a  for';a  do? 
factos  o  obiigoii  algiiina  vez  a  conlradizer- 
»e,  concedendo  aos  seiitidos  em  segiiiida  in- 
slancia,  o  que  Hies  negara  na  priineira. 

Um  syslema  siistenlado  por  geiiio  lao 
Iransceiideiite  comoo  de  Kanl  nao  podia  dei- 
xar  de  ter  grande  inflnencia  na  pliiiosopliia. 
Com  as  doiilrinas  de  Kant  come^a  eexlruvio 
philosopliico  da  Alleinanliu,  dividida  em  do- 
gmatismo,  escepticisiuo.  A  pliiiosopliia  do  — 
cu — ,  a  crilica  da  razj^o  pura  teve  sectaries, 
e  antagonistas  il lustres. 

Ficlito  levou  ao  extremo  a  donlriiia  de 
Kant.  Nao  lia  nada  real  senao  o — cu  —  na 
opiniao  do  pliilosopho:  ludo  o  mais  eiUusao. 
Ainda  o  ndo  eu  e  o  mesmo  cu  opposto  a  si 
proprio.  O — eu  —  e  aljsoluto,  iulniilo,  il- 
lirailado  ;  nelle  se  eneerra  toda  a  reaiidade. 
O  —  eu — •  tica  o  rei  solitario  no  iiniverso.  A 
condijao  social  do  homeiii  desappai  fce  diante 
desla  doiilrina,  qiiccondemna  a  reaiidade  de 
quanlo  existe;  e  so  pode  levar-nosao  egoismo. 
e  ao  allieismo. 

Para  combater  esta  extravagancia  levantoii 
Scliclling  a  sua  voz  rerpeitada:  c  luio  era 
necessaria  tanla  aiictoridade.  Os  nossos  iii- 
stinctos  sfio  inais  iudejtrucliveis  que  as  siibti- 
lezas  de  um  pensador  abslracto ;  e  Ficlite  of- 
fendia  violento  os  instinctos  e  a  razfio,  dando 
ao  idealismo  iima  grandeza  heroica  ;  despre- 
zando  os  sentidos,  e  reduzindo  a  uma  illiisao 
a  majestade  da  iiatiireza.  Schelling  vein  jusli- 
ficar  as  iiossas  criMiens;  e  por  nma  ironia 
refutoii  Fi<:hte  adoplando  o  sen  principio,  e 
elcvando-o  a  nin  valor  obioluto. 

Ha  um — eu — obsoliito,  diz  Sclielling,  que 
doniina  o  universo,  quo  apparece  em  todas 
as  siias.  obras  O  —  eu  —  subjectivo  de  Fichle 
nao  podia  existir  senao  como  dependencia 
do  absoluto.  Manifestando-su  este  em  lodos 
plienomenos  desde  o  cristal  ale'  a  organisa^ao 
das  plantas,  e  a  do  animal,  nao  ha  oppo-.i5rio 
entre  materia  eespirito,  entre  natnieza  e  —  eu 
—  subjectivo;  porqiie  siio  dois  modos  de  ser 
do  —  eu — infinilo,  que   anima   todo  o   uni- 


Terso.  Nas  snas  inanifestajoes  esse  ahsoluio 
vue-se  elevando  de  reino  em  reino;  vae-se 
espiritiialisando  inais  e  mais  ate  se  desenvol- 
vcr  no  liomem,  e  cliegar  a  consciencia  de 
si  propiio.  O  — tu  —  de  Fiilite  e  um  retlexo, 
o  majs  perfeilo  do  —  eu  —  absoluto —diujna; 
particnla  aura:. 

Foi  geral  o  entluisia?mo,  a  embrlagupz  com 
que  »e  abra5(,u  uiiia  pliiiosopliia,  que  satisfa- 
zia  ao  bom  sen^o  com  que  se  ere  no  mundo 
exleiior,  iisympatbia  qucMiosliga  analnreza. 

Hegel  teuton  dar  ainda  major  desrn- 
volviiuento  a  llieoria  de  seu  mestre,  voltou 
de  novo  a  analyse  da  razao,  e  entroii  nelln 
com  tal  vigor  de  raciocinio,  que  a  iiilelligen- 
ciii  tica  exla-iada  em  prescindindo  de  ludo 
o  que  vem  do  mundo  exterior,  de  ludo  o  que 
nfio  lor  abstracto,  e  universal.  A  logica  de  J 
Hegel  e  o  seu   verdadeiro  titulo  de  gloria. 

£levou-se  Hegel  a  al)5tra5rio  snprema,  a 
idi'a  inais  geral,  ao  conceito  irresislivel,  a 
idea  do  acr.  O  .ser  ufio  se  pode  negar;  mas 
ao  str  opp6e-se  o  nao  ser  \  e=le  poJe  signifi- 
car  o  nada.  e  algna  coiia  intermedia  entre 
o  nada  e  o  ser.  lluscou  um  meio  lermo  que 
conciliasse  os  dois  extrcmos,  acliou  o  ser  po- 
tciicial  que  nfio  e  ser,  nem  e  nada.  Mas  o 
espirito  nao  socega,  nfio  para  nas  conside- 
rajoes  do  nada,  do  ser  poltncial,  do  ser  sem 
que  cliegue  li  idea  do  ser  absoluto,  em  que 
ri'ponsa.  Parlindo  da  certeza  mais  iiiabalavel 
Hegel  com  dialectica  invejavel  vae  filiando 
lodus  as  opera^oes  inlellectiiaes  por  forma 
que  se  pode  asseverar  luiver  feiloa  phisiologia 
da  razao,  de  que  lizera  Kant  a  anatoiiiia.  A 
logica  de  Hegel  e  a  pliiiosopliia  do  infiiiito,  O 
intinilo,  segundo  elle,  nunca  se  pode  inanifeslar 
no  linito  ;  e  assim  o  absoluto  nao  se  inani- 
fosta  no  liomeni,  mas  na  liuinanidade.  Fal- 
lundo  dos  attributos  do  ser  absoluto  Hegel 
affe  ta  um  tal  mVsticisnio,  que  nfio  e  facil 
prcocrutar  o  seu  verdadeiro  niodo  de  pensar, 
parecc    ate  por  vezes  caliir   em  coiitradicgao. 

Os  dj>ci[)nlos  do  Hegel  foram  mais  francos. 
Nos  annaes  de  Halle  desenvolverain  os  ex- 
Iremos  da  pliilosopbia  do  nieslre.  jNegaram 
sem  rebnijo  Dcos,  o  Ceo,  e  a  immorlalidade ; 
e  estes  principios  snbversivos  pns?arani  infe- 
lizmente  dos  baiicos  da  esclmla  para  a  praga. 

Scntiram  algnns  pliilosofos  meuos  preoc- 
cnpados  que  a  lodos  os  systemas,  de  que  lia- 
vemos  fallado,  fidtava  o  verdadeiro  caracter 
de  sciencia.  Kranse  quiz  remediar  essa  falla. 

Tonion  por  idea  fundamental  a  do  ser,  o 
ser  compretiende  lodos  03  seres  com  lodos  os 
sens  altribntos  ;  e  assiiu  representa  a  unidade; 
e  esta  e  a  priineira  catliegoria  do  ser.  As 
calliegorias  iminedialas  a  esta  iiio a  subslancia- 
Lidade,  e  a  toUilidade.  A  primeira  refere-se 
ao  scr  siibsislente  por  si,  e  |)ara  si;  a  segnnda 
ao  mulliplo  na  unidade.  Adinilte  em  todas 
as  coisas  um  fundo,  que  cliama  Cssencia  :  a 
.-eaIisa(;ao  desta  dii  a  existeiicia;  de  sorle  que 
ba  um  germen  que  se  vae  desenvolvcndo,  i- 
inanifeslandodediversas  formas,  sem  que  baja 


102 


'mudanja  na  essencia  dai  cousas,  As  essencias 
individuaes  eniaiiain  da  essencia  fiindatiiciilal 
do  e^piriLo  universal:  e  eslaosscncia  oflcrccc- 
se  em  dnas  maiiilesta^oc:-,  espirilo  e  natu- 
rcaa.  lim  ainbas  as  expiessocs  lia  commiinida- 
de  de  essencia  coino  o  ser  ahsoluto,  apezar 
da  ditTerenijM  da  materia  e  do  espirito. 

Para  conibiitcr  todos  os  syslemas  do  idea- 
lismo  transcendoiUal  l)aslava  exigir  as  provas 
do  que  se  as-evcra  ;  pnr  que  lodos  se  rcduzcm 
a  mera>  iiypotlieses  onloioi^icas.  S'lo  sy.-tcmas 
subjectivos,  a  que  nfio  corresponde  realidade 
ohjecUva.  Serfio  cvidencias  para  sens  auclores, 
que  vivem  de  sua  ima;^itia(;fio  ;  mas  evidencias 
que  n"io  convencein ;  porque  evidencia  in- 
dividual p6:le  ser  urn  crro  de  boa  le.  O  pan- 
iheismo  idealista  seni,  quando  muito,  a  poesia 
da  intelligericia. 

A  razao  e  inquestionavclrnenle  uin  principio  , 
do3  nossos  coidicciuientos.  Mas  lia  oulro,  que 
e  a  experiencia.  Setn  que  ainl)as  se  assnciein 
nao  ha  sciencia  possivel.  A  esla  vordade  clie- 
goii  ultimauieute  Sciielling  cmpenliaJn  ern 
combater  os  Hegrlianos,  e  fazcr  a  npo|n:;ia 
do  clirislianismo.  A  plidosopliia,  que  clle  lioje 
ensina  em  Berlim,  contradiz  a  que  de  pii- 
ineiro  ensiruira  em  Municli;  e  de  balde  se: 
esforga  o  illustre  pliilosoplio  por  110=  persua- 
dir  que  nao  ha  coulradiogfio,  repulando  esla 
doutrina  de  lioje  a  segiitida  parte  do  seu  syste- 
jna;  dizeiido  que  na  primeira  se  elevi'ira  pela 
razao  ao  absoluio,  e  pela  experiencia  agora 
dcscera  a  realidade  dos  faclos.  Uina  doutrina 
repelle  a  outra.  O  Dens  pessoal,  a  que  o 
philosopiio  chega  i)elo  principin  da  expeiien- 
cia,  nao  e  o  absoluio  cahotico,  que  se  vae  trans- 
formando  nns  tres  reinos  da  nnlureza.  Aduiit- 
tido  o  sesundo  principio,  abjurnu  o  primeiro 
O  que  Scheiling  dcmonslra  nesta  segumla 
parte,  antes  phi^e,  da  sua  philnsophia  e  que 
<ima  pliiloiopiiia  puramenle  logica  nao  poJe 
sercliristii.  Se  houver  um  Pierre  Ic  Rnux  que 
Ihe  neguc  o  clirislianismo,  desaba  todo  o  edifi- 
cio  que  estd  levnntando. 

A  criseda  philosophia  Iranscendenlal  cnme- 
<;ou  com  a  plirenologia  de  Gall,  e  a  cranion-o- 
))ia  de  Carus.  A  psvchologia  organica  abriu 
brecha  no  pantlKtiiiuo  idealista,  que  reprcsen- 
tam  todds  esses  syslemas  pliilosnphicos  vdzados 
no  niesmo  molde  ;  porque,  couijjarados  clloi, 
ve-se  que  n'lo  sao  mais  que  evoUK;oes  do 
primeiro  systema  do  pae  do  racionalisrno. 
Kant  descnliou  aestalua  queosoulros  abriram 
a  seu  bebprazer,  dando-lhe  os  ronlornos, 
rasgando-llie  as  feicoes,  que  mais  convinliam 
ao  seu   fiui. 

A  retlexao  cliegou,  O  absoluio  ou  e  uui 
pure  ente  de  razao;  ou  a  diviiulade  creadnra, 
tora  dns  douiiuios  da  philosophia  natural  ;  ou 
esse  principio  auimador  universal,  que  Hart- 
ley cliamou  ether. 

Abaladas  as  crengas,  vai  em  decadencia 
ff3«a  philosophia  transcendental.  A  transi(;ao 
I'sla  sendo  preparada  por  um  dos  seus  mais 
robnstob  campeoes.  M. 


A   IMITACAO   DE   JESUS    CII/ilSTO' . 

Foutenellc  insigne  cscrilnr  do  ultimo  seculo. 
fallando  da  Imitnj.'io  de  Cliri>lo,  diz:  «  Ksta 
obracauiais  bella  que  tern  sahidodamao  do; 
homens,  porque  o  Evangclho  tern  oulr.i 
origem.  « 

I'oderii  por  veulura  haver  rnaior  elogio  do 
que  este,  no  qu.il  a  data  e  o  noine  do  auclor 
dd  tao  verdadeiro,  tao  juslo  valor  ?  Couio 
f.izer  melhor  sobresahir  o  subido  mcrilo  d"um 
livro,  que  ao  inesmo  tempo  1;  a  (!ousola(;ri<i 
dos  aujmos  mais  puros,  e  faz  as  delicias  dos 
cspiritos  mais  cultivados,  c  que  teve  a  feliz 
e  singular  sortc  de  ser  adoplado  seiri  cojitro- 
versia  pelos  catholicos,  0  pt'los  protestantcs  ! 
'I'raduzido  em  todos  os  tempos,  em  lodas  as 
tiiiguas,  em  verso  e  em  pro>a,  as  diversa^  edi- 
goesd'esle  precioso  livro  sfio  s-cmpre  csgotadas 
lapidamenle,  e  i'orraaui  sospor  si  iima  biblio- 
thcca   iinmensa. 

Ila  duas  d'cntre  todas  ellas,  mais  dignns 
de  sercm  assigiudadas.  A  primeira  velu  do 
tcindo  da  Allemaaha,  e  deve-se  aos  exlremados 
doivelos  do  sabio  director  do  gymnasio  catho- 
lioo  de  Dresda,  Joao  llrabiela  que  den  um 
texto  latino  ^(ie  Imilalioiie  C/irisii,  lexto 
revisto  com  graiide  cuidado  sobre  os  mais 
antigos  manuscri|)loi  (cod<.i  dc  ndnocatisj 
e  sobre  as  edi^oes  de  Desiiillon,  de  VVeigl  e 
de  Geuce.  O  volume  impresso  em  caracteres 
claros  e  faceis  de  ler,  termina  pejo  ordinario 
»da  missa  e  por  alguns  de  nossns  hymnos 
sagradns  mais  bcllos. 

Na  Franca  um  novo  e  mode, to  editor  acaba 
de  dar  a  luz  uma  cspecie  de  fac-simile 
delicioso  d'es-es  edificalivos  e  bons  livros 
d'outr'ora,  onde  o  texto  revisto  com  escru- 
pulosa  alleugfin  c  pnr  assim  dizer  com  verda- 
deiro zelo,  onde  os  caracteres  finamente  dese- 
nhados,  n  papel  bem  escolhido,  lorinam  um 
complexo  lao  raro  de  qualidades,  que  poucas 
vezes  OS  bihiiophilos  as  encontrar.'io  reiinidas. 

I'allamos  da  reimpressfio  d'uma  Iraducgao 
feila  ha  mais  d'-  dons  scculos,  e  a  qual  o 
nome  do  auclor  o  ehanceller  i\1iguel  de  Ma- 
rillac  augmenta  o  valor.  A  Iraductj-ao  foi 
com|)osla  antes  da  desgraja  d'esle  magistra- 
do,  e  revisla  por  elle  em  s^'U  duro  captiveiro. 
As  palavras  de  Lauiennais,  juiz  compelenle 
cm  semelhaute  mateija,  sao  o  seu  melhor 
elogio  :  a  A  mais  anliga  das  traducfoes  que 
merocern  ser  citadas,  tern  por  auctor  o  chan- 
celler  (le  Marillae  e  foi  publicada  em  1631. 
Approxima-se    mais   do    que  neuiiuma  outra 

'  Uina  nova  e(Ii(;lo,  revisU  e  ciii'lailosamenle  correcU 
por  IT.  S.  lie  Sacy,  ila  Iniita^iw  tie  Jraus  C/ir/5/0,  Grl- 
menti!  trailuzida  do  l:ilimpur  Mi;,'UpI  li'*  Marillar,  cliancel- 
Ut  (le  Franra,  foi  no  correnle  anno  |iu!iltcaJa  cru  Paril  ; 
a  cerra  d'elta  pnrcccunos  di^'no  de  fspecial  mriK-ilo  o 
resumido  niait  assaz  jinpurtanle  .irti^'o  de  Os.  de  W.dlevil- 
le  tjiie,  eu»  assiiniplo  de  Imnaidiu  inleresse  relis'iuso  e  li[- 
lerario,  .•ipre.-eata  coin  pi-rfi-Uo  cutiliecimenlo  Iiido  o  que 
eilHva  vm  mais  iniineili-ilt   rolarao  com  este  objeclo, 

'■  ])e  jmilalione  Cliri»li.  Iil>ri  quaUiur  atl  oplima 
cxcmptaria,  collala  cum  rctu8tii..>iiinu  codice  qtlem  nan- 
cnpant  de  adyocaljg,  accurule  edilt,  enra\it  Jo'muiua 
Urttbiclu.    I.    \ol.  in  — 12.    l^eij'Zi:;. 


103 


rlo    texlo    nri(,'inal,   e    tern    nns   labios   d  esle 
ancifio  lanla  j,'rai;a  oomo  caiuhua,  sendo  que 
oj   traductor»s  subsequeiitci    iiada    mais   Icm 
leito   do  que   a  ciisto  iiiiital-a.  »    Sacy  reviu 
e^la  cdi^ao  e  ajuiilou-llio  um  prefacio.  'I'er- 
»e-hia  j  ilgado  que   liidu  c»lava  dilo  a  ceica 
da  Iinila^'ao,  tiias  kudo  o  prefacio  recoidiece- 
se    o   conlrario.    Ja   que   os   estreitos   liuiilos 
d'uui   arligo  iifio  /los  peimiUeiii  apre»eiital  o 
por  cxleuso;    s-iivira  de    prova  o   I'ragiiieiito 
em  que  Sacy  examina  qual  foi    o  auctor    da 
linita^rio.    Nunca    probleuia    lilterario  exci- 
lou  conlrovcraia    niais    vehemeiUe.    Sera  por 
Ventura    a   S.    Bernardo,    a    fr.    Tliouiaz    A 
Kenipis,  ao  clianceller  de  Franga  Jofio  Ger- 
son,    ou   a    Ger.en    abl.ade  de    Verceil,    que 
deve  attritiuir-se   e;ta  olna  prima?    Centena- 
res   de  criticos,   os   inais  illustres,   leeui    pro 
econlra  eicrilo  iiiilliarcsde  voliiincs.  Ducangc, 
Mabilloii,    Naude,   Quatremaire,    Hosweide, 
CajeUii,    o  cavalbeiro   de   Gregory,    Geuce, 
O.    Leroy,  Faugercs,  e  muitos  oulrcs  leeiii 
defeiidido   calorosameule    seui   campcoes,     e 
a  peiar  de  tao  sabiab  diiCiis.-oe»,  e  ineiino  ale 
da  resolu^ao  do  parlamento  de  Paris  com  a 
uala  de  13  de  fevereiro  de  1652,  declarando 
que   o  livro  da  Imitagfio   nao  seria  inais  im- 
prcsio   com   o   noine   de  Joao    Gerjou,    mas 
com   o    de    Tlioinaz   A    Kempis,    a   questao 
Ticou    ainda  indccisa,  e  a  Sacy  coube  apre- 
jenlal'a  sob  forma  inteiramenle  nova,  como 
vanios  ver. 

-  Quaiilo  li  queslfio  de  saber  qiiem  e  o  ver- 
dadeiro  auctor  da  1  mitajao  de  J  Esus  Cituisro, 
nao  entrarei  n'cila  por  iiao  ter  feilo  o  pro- 
fuiido  eohido  que  seria  mister;  persuado-nie 
lodavia  que  jamais  sera  rcsolvida  sem  cou- 
Irariedade. 

.'   Uraa  das  bellezas  moraes  do   livro  e  no 
meu  entender  a  duvida  que  lia  sobre  o  nome 
de  scu  auctor;  c  uma  graga  especial  coin  que 
a  Deus  aprouve  glorificar   a   liumildade    do 
piedosoauctorqualquerqueseja.  Naconsidera- 
<;iio  pnramente  lilteraria,   e  admiravel  que  a 
Imilajfio  de  Jesus  Cuiiisxo  naoteiiha  auctor 
'       certo.   Nao  lia   auctor  para    uni   livro  como 
K     eale,  senao  a  liumanidade  clirista  lodainteira. 
Assim  rorao  os  poenias  de  Homero  eram  o 
livro  de  toda  a  Grecia,  ou  antes  ogenio  grego 
em  si  mesmo,   assim  tambem  a  Imilagfio  de 
Jesus  Christo  e  o  rcsumo  de  todos  os  senli- 
inentos    cbrisl|aos,    a    propria    alma    clirista. 
Livros  de  la|  xi^ilnreza  U.i  poucos  ,  ab^orvem 
o     auctor   e    fazem-no   esquecer ;     o    auctor 
perde-se,    a  bcni    dizer,    no    meio    de  lanla 
;;loria,  e  a  sua  obra  adoplada  pcia  liumani- 
dade, nao  e  ja  d'um  so,  mas  de  lodos.  E  de 
adveitir  lambem  que  ou  pcrlenca  a  compooi- 
(j-ao  da  Imilagfio  de  Jesus  Chkisto  aoseculo 
XV,  como  qucrem  os  que  segnem  a  opiniao 
de  'J'liomaz  A.  Kempis  e  de  Gcrson,   ou  ao 
seculo  XIII,  Como  qucrem  os  seguidores  de 
Gersen,  os  contoniporancos  parcce  nao  tercni 
conliecido  senao  a  obra,  sem  preocciiparcm- 
bC  a  terca  do  auctor.   A  coiilroveriia  duraru 


por  lanto  eternamcnte;  ningucm  se  data  por 
vencido.    Gersen     leru  senipre   defensores,    c 
n'este    seculo    ainda    leve    urn    muito    sabio, 
Gregory.  lia  alguns  annos,  parecia  que  Ger- 
son  ficava  vencedor  em  virtude   dos  esforgos 
de  Onesyme  Leroy,   e    mais  recenlemenle  a 
causa  de'  'I'ljomaz   A  Kempis    foi  sustentada 
com    summa   liabilidade    por  Malou   conego 
lionorario    da   calliedral    de    Bruges.    Como 
esta  obra  e   a  ultima,  diz  Sacy,   que  eu    li 
sobre   a    Imilagao,    inclino-me   em    favor  de 
Tbomaz    A   Kempis,   mas  nao  se   me  accuse 
de    abandonar    o   interease    da   Franga,    que 
revindica  a  Imitagao  de  Jesus  Christo  para 
Gerson,    pois   que,   ainda  outra  vez   o  digo, 
creio  que   a  lionra    de   ser  esquecido   e  uma 
graga    concedida    por    Deus    ao    sanclo    au- 
ctor.   '    51 


NOTICIA  SOBRE  A  BACIA  CARBONIFEBA  DO  C\BO 
llONDEGO. 

Descripgdo  do  jazigo. 

A  bacia  carbonifera  do  Cabo  Mondego 
existe  no  terrcno  jurassico  em  um  grupo  de 
roclias  arenaceas  e  caleareas ,  que  e  pouco 
descnvolvido  para  S  S.K.,  lerminando  proxi- 
mo do  casal  da  Serra,  e  apresentando-se  por 
eale  lado  com  condigoes  favoraveis  para  a 
lavra  na  exlensfio  de  £',d^a  3',0  da  cosla. 
As  camadas  cnntinenles  e  o  carvao  teem 
inaior  de»envolviuiento  para  O.N.O.,  corre- 
spondendo  a  maior  espessura  d'esle  a  linha 
da  costa  na  praia.  Continuam  alem  d'esta 
linlia  no  solo  (jue  forma  o  fundo  do  mar,  nao 
so  por.pie  a  camada  de  carvao  leni  alii  niaior 
pos^auga  e  pureza,  mas  porque  se  acliou  ef- 
I'eclivaaienle  no  avaiiro  dos  traballios  antigos, 
que  peuetram  200'"  por  baixo  do  Oceano. 

N.'io  se  conhece  o  lunile  d'esta  bacia,  no 
scnlido  da  prufundidade ;  lem-se  reconliecido 
que  tontiiiiia  iW  abaixo  da  galeria  geral 
d'esgolo,  e  e  provavel  que  se  estcnda  ale 
250'"  de  profuEididade  sobre  o  piano  da  ca- 
mada a  coular  d'esla  galeria. 

A  camada  ein  lavra  apresenla  dois  acci- 
dentes  nuii  iiii|)orlaulPS  no  senlido  da  sua 
direcgao:  —  1.°  o  adelgagamenlo  ate  -i  eoiii- 
plela  desapparicao  do  carvao;  esle  accidenle 
produz  nolaveis  lacunas  no  deposito; — 2.* 
a  exijteiicia  de  setlas  de  calcareo  carbonoso 
scliisloide,  (pie  dividcm  a  espessura  da  cama- 
da em   Ires  gros^as   laminas. 

As  camadas  d'esle  grupc,  e  o  carvao  que 
conlem,  seguem  a  direcgao  geral  O.N.O.  a 
E  S.F>.  inclinando  40°  para  S.S.O.  O  leclo 
c  muro  sao  de  calcareo  algilo-carhonoao  con- 
sistente  c  eslavcl,  condicao  impoitante  para 
a  economia  da  lavra. 

'  Eslas  palavras  fazem  Ieml)r.ir  uraa  passagfm  siil.li- 
me  da  Imilor-So  ;  ■■  Scnhor  concedei-me  a  prai;a  de  miir- 
rer  par.i  lod'as  as  rousas  miindiin-u,  e  de  por  amor  d» 
vus  Jfsi-j.ir  ser  rot-Qusprezado  e  d.^sc.jcbccidu  dj  munds.  .. 


104 


O  corvao  e  negro,  brilhanlc  ,  em  laminas 
grossas  parallelas  a  stralil'ica(;'io  ,  gordo,  e  da 
coke  muito  pnioso;  o  sulpliiirelo  de  forto, 
4ue  abunda  ni'llc,  toriia-o  iiiappticavel  a  mui- 
loi  usos.  Os  scliii'.o,  cail)onosos  pyrilileros, 
expoilos  ao  ar,  entrain  espoiitaiieaMienle  ein 
comlMistfio  lenta,  que  dura  por  muilo  tempo 
Bte  se  coiisiimir  loda  a  porjao  caibonosa  que 
conlein. 

O  prison  appareceu  uina  iinica  vez  no  anno 
de  ISo'i,  em  urn  dos  tallioes  da  mina  Farro- 
bo;  a  sua  pre^en^a  foi  anniinciada  por  uina 
violenla  delona^ao,  que  apagou  as  Iuze5,e 
feriu  Ires  hotnens;  con^eguiu-sc  por  o  niassi(;o 
incominunicavel,  e  desde  essa  epoclia  nao  toi- 
nou  niaii  a  manifestar-se  esle  lerrivel  acci- 
denle. 

Continua- 


UMA  TRAGEDIA  ARABE  '  . 

Vivia  ein  Bagdad  utn  mancebo,  Abder- 
Rahinati-ben-I;niail,  que  por  sua  exlreina 
bellesa,  e  suprriores  dotes  iiilellectuaes  nie- 
recera  oappi'Uido  de  Brilhanlc.  Enamorou-se 
d'elle  tio  perdidamente  Oumui-el-Beiiirie, 
muUier  do  kalifa  ]^1  OullJ  l)en  abd-ol-Melik, 
que  veiu  a  adoecer.  'I'odos  os  dias  queria 
vel-o  no  seu  quarto,  e  se  acaso  vinliarn  ler 
com  Vila,  quando  e^lava  com  o  scu  amanle, 
escondia-o   n'um  dos  seus  cofres. 

Certo  dia  fizeram  ao  kalila  presenle  d'um 
rico  collar  d'ouro  e  brillianlos;  tao  liiido  o 
acliou  elle,  que  disse  "  guardae-o  para  minha 
inullioriie  cliamando    uin  escravo  o   mandou 


por  ello  a  si 


liana. 


Quando  o  escravo  chegou  a  porta  do  quarto 
d'ella,  para  cumprir  as  ordens  de  seu  amo, 
I'icou  surpreliendido,  vendo-a  aberta,  e  depnjs 
de  scisniar  no  que  isto  significaria,  e.ilrou 
pe  ante  pe,  ouviu  gargalliadas  de  rizn,  e, 
dirigiudo-se  para  o  logar  d'onde  vinliaui  a- 
quelias  rizadas,  toparam  seus  ollios  com  os 
rio  mancebo,  cujo  rosto  se  cobriu  com  a  pa. 
jidez  da  moite.  Mai  Oumm-el-Beuine  deu 
por  isto,  logo  escondeu  no  cofre  do  costume 
o  seu  amante  ;  mas  era  tarde:  o  eicravo  tinlia 
percebido  tudn,  e,  apresenlando  o  collar  a 
sultana,  disse-llie  »  Senliora,  pi-^o-vos  urna 
d'eslas  joias.  ii  Indiguada  com  lamanlia  ousa- 
dia,  Oumm-el-Benine,  t'el-o  sair  immediata- 
mente  do  seu  quarto,  dizendo-llie  u  afasta-te 
da  minlia  presenga,  crcatura  immunda.  n 

O  e,-cravo,  ardendo  em  laiva,  delern)inou 
vin;ar-se  ;  foi  procurar  o  sullao,  e  disse-llie  u 
Seidior,  vi  Imjc!  urn  liomem  em  familiaridade 
com  vossa  csposa  ;  eucoiilrei-os  auibos  s6>  em 
tal  aposento;  elle  ficou  sobiesalteado  com  a 
tniuln  preseuga,  mas  a  sultana  escondeti-o 
precipitadauieute  em  tal  cofre.  u 

'  E\tiaiilii  I'a  —  Reiiie  de  i'l}rie»l,  alifil  il-  ri5*, 
«  inili'zidi  de  iirabc  jiara  o  Snincri  pnr  M  Ch'-rliun- 
Ml  art. 


Ouvindo  cstas  palavra^,  o  kalifa,  em  vez  de 
enfurecer-se  contra  sua  mullier,  vollou  a  sua 
coiera  conira  o  escravo;  e  ii'un)  accesso  de 
desesperacao  cxclatnou  litu  nientes  crioinrjelu 
e  dirigindo-se  aos  guardas  do  palacio,  gritou- 
llies  «  cortai-liie  a  cabeoa  ,i  e  alguns  iuslan- 
tes  depois  a  cabe(;a  do  pobre  escravo  rolava 

por  terra ! 

Terminada  a  fatal  execuj.^o,  o  kalifa  le- 
vantou-se,  cal(,'ou  as  cliinelas,  e  dirigiu-se  aos 
aposeiilos  de  sua  esposa,  que  se  eslava  ton- 
cando;  e  seutando-se  defronte  d'ella.,  no  cofre, 
que  llie  deslguara  o  escravo,  perguntou-jlie  u 
porque  tens  lanla  predilecj.'io  por  esle  quarlo  ?» 
por  que  tenlio  acpii  os  mens  vestldos,  e  as 
minlias  joias  «  respondeu  Oumm-el-Beuine.  >i 
Queres  tu,  conlinuou  o  sult.ao,  dar-me  um 
dos  cofres,  que  ornani  este  quarto  ?ii  Rsco- 
lliei,  senlior,  o  que  niais  vos  agradar,  ;i 
excepjao  d'aquelle,  em  que  estai-s  sentadon 
«  pois  e  este  exactamente  o  que  eu  tpiero,  di^se 
o  kalifa,  [Hirtpie  me  e  necessario.  u  linluo 
e  vosio,  disse  el-Benine  depois  de  uns  mo- 
mento  de  iudisivel  perturbajfio.  C)  kalifa 
fez  nin  signal  aos  negros,  que  fora  da  poria 
aguardavam  as  suas  ordens.  a  Levai  eate 
cofre,  llies  diz  elle,  para  a  sala  do  men 
consellio,  e  esperai-me  la.  n  lim  qnanio  os 
escravos  cumpriam  e>ta  dflerminarao  do  seu 
senlior,  lodas  as  feicoes  da  aullana  se  desfi- 
guravain  de  um  modo  espantoso.  u  Que  lens 
tu  Uie  perguntou  El-Oulid,  por  que  (-stiis 
lao  desfigurada  ?  Acaso  sera  caro  ao  leu  cora- 
^■fio  acpielle  cofre  f  Nao,  senlior,  perdoai-me; 
nao  tcnho  nada,  que  me  prenJa  a  esse  coire; 
se  a  rainlia  pliysionomia  ^e  altera,  e  porcpie 
me  smlo  indi^po^ta  a  Deos  te  curara  »  di^se 
o  k'difa,  saiiido  do  quaito  da  sultana. 

Quando  El-Oulid  enlrou  na  sala  da  au- 
diencla  ja  o  cofre  e^tava  pousado  no  pavimen- 
lo.  II  Levanlai  a  aicatifa,  disse  elle  aos  negros, 
e  abri  uina  cova  da  altura  de  um  lioiiiem,  " 
depois,  mandando  clicgar  o  cofre  a  borda  da 
cova,  e  poiido-llie  um  pe  em  cima,  prouun- 
cion  as  seguiiites  palavras.  n  Dera.ii-nie  uma 
uolicia;  se  ella  e  verdadeira,  seja  a  lua  inor- 
talba  o  teu  veslido,  e  esle  cofre  o  ten  caixao 
morluario;  e  Deos  e  que  le  immola;  se  a  no- 
licia  e  falsa,  nao  se  perdem  si^nfio  iiinas 
poucas  de  laboas  ;  ii  e  fazendo  com  o  pii  um 
pequeno  moviuienlo,  o  cofre  lomboii  no  fundo 
da  cova  ......  "  Que  Deos  me  perdoe  n  dis- 
se elle  entao,  lan5andi>-llieein'iima  um  punlia- 
do  de  terra.  Os  negros  arrasaram  logo  a 
cova,  e  tornaraiu  a  estender  por  ciaia  a 
aicatifa. 

Concluido  este  acto,  o  Kalifa  senloii-se  na 
cadeira,  em  que  costumava  dar  atidiencia,  e 
a  liora  do  alinoco  enlrou  no  sen  quarto, 
aonde  os  dois  esposos  (.onfundiram  suas  almas 
n'uuia  coinnium  alegria,  comose  cousa  alguma 
^enialra  nfio  liouvera  occorrido  entre  ellej  ;  e 
a  mail)  dilosa  paz  nniu  estas  duus  cxi>lencia> 
ate  a  bora  du  uiorte. 


105 
SECC^AO   DE   MATHEMATICA. 

INTEGRAES  DEFINIDOS. 

Continiiado  ile  pag.  64. 

2.  A  loniuila  (4)  on  (o)  do  n.°  1  e  a  de  Francoeur  Calc.  int.  n.°  843,  edig.  de 
Cijinilira  dc  1839.  A  formula  (C)  e  a  de  L.Tcioix  Calc.  int.  3,°  vol.  pag.  118,  edit,  de  Paris 
(l<;  I  98.  A  torjiiiila  (8)  conipreliende  a  de  Poissoii  Mecli.  1.°  vol.  n.°  15,  edit,  de  Paris  de 
1833.  De  (9)  sahea  foniiula  de  Fontaine  Mem,  da  Acad,  das  So.  de  Lisboa.  A  formula  (14)  c  a 
de'SimpsOii  ,  em  ciija  deducCj'fio  sognimos  a  nota  ao  calcido  de  Francoeur,  que  vem  no  f2.' 
vol.  nag.  273,  cdic;.  de  Coimbra,  e  q\ie  foi  feila  pelos  Traductores. 

3.  Se  na  formula  (6)  do  n.°  1  tirarmos  (p(^„)  para  fora  do  signal  2)  e  despresarmos 
depois  OS  lermos,  em  quo  enlra  y-,  ^',  etc,  e  na  I'orniuja  (8)  do  mesmo  n.°  rejeitarmos 
OS  lermos  da  mesma  ordeni  cm  S°,  ^%  etc.,  lanto  a  formula  (G)  como  (8)  ficarao  reduzidas 
:i  seguinte  expressfio: 

(1) /     ?  Gr)  ./.r  =  nTla^i)  +  TTa  r?  (••^" )  -?  K)  I- 

Se  aoaso  e  pequcna   a  differen<;a  numerica  eiitrc  if(:c„)  e  ip(a?„),  e  se  alein  disto  if(x„) 

1  .119  ('^n ) 9  ( ^n )  .  1 

e  o(a;„)  tern  o  mesmo  signal,  a  quantidade  : -—^ sera  tambem    muito   pequena,   e 

'  I' Ail' 

por  isso  quando  for  n  extremamente  grande,   o  que  siippoe  J  extremamente  peqiieno,  pode- 

mos  desprezar  o  segundo  termo  do  scgunclo  membro  de  (1),  e  escrever  siniplesmente  : 


(2) /     ^(x)dx  =  S2f{Xi). 


Poderii  iimdar-se  em  integral   uin  somnialono ,  quando   as  fimcgijes   extremas  foran 
pouco  differcntcs,  quanta  ao  seu  valor  numerico,  e  tivcrem  alem  disso  o  mesmo  signal. 

4.     Pela  equa<jao   (2)  do  n.°  3  conhecemos    que   nos  e  permittido  parlir  urn   integral 
definido  em  tal  iiumero  de  partes,  que  nos  cnnvier :  por  exempio,  seja  Xr=^  a  ;  ■2"i=:6  ;  x^^^c, 

i=n — I 

aonde  r,  k,  s,  sao  nuineros   inteiros,   cada  urn  mcnor  do  que  n:   a  somma  $  'S,<f{'''0   ptjci"^ 
decompor-se  nas  seguintes: 

i^ar—l  iaaA^l  leaf— 1  133^.— 1 

Slf{xi)  +^2¥(,.-r;)  +*2<p(.r,)  +&2<f{x!); 


cuja  somma  e  o  mesmo  que 

,-a  /.6  ^c  nx„ 

j  a  (x)  dx  -^  j  if  (x)  dx  ■]-  I  If  (a:)  dx  -\-  I  if  (.t)  dx. 
"  X,  "^  a  "^  b  ^  c 

Entendemos  no  que  fica  dito  :  que  r<,k;  i<s;  s  <  (« — 1),  Em  conseqiiencia  disto, 
se  (p  (x)  mudar  de  signal  ,  em  certos  valores  dea;,  podemos  decompor  (2)  do  n.°  3  em  par- 
tes,  cada   uma  das  quaes  de  a  somma  de  termos  positives  debaixo  do  signal/:  seja  por 


106 

«\emplo  o  (i)  posiliva  desdci-=.r,  aloa-  =  j-,:=  (7 ;  c,p(a)  ne^ativa  dcsdca;=:  oate  a-=:  j-„: 
podeinos  escrevcr 

j   ^(^x)dx=j  (f{x}dx —  /   If  (a-)  da;  ;  aonde  /   ,f(x)dx,  p  j   ^  [r)  dv      sio    i|iiantidadri 
•    .T,  '   X,  •■  a  ''  X,  'a 

positivai. 

5.  Scja  (J,  (,r)  posiliva  desde  x  =  x^  aid  x=^x,,  e  inclusivainenle  neile?  limiles;  e  .M (> 
maior,  assim  conio  m  o  raenor  valor,  que  ip(j;)  lem  desde  x=ix„  ate  x  =  ,r„  ,  cnmprelien. 
dendo  tambeni  csles  limiles  :  digo  que 


(1).... 
Porque : 


'M(x,~  xj>  I  ^  (x)  dx 

,  (X)  dx 


f  [M—  ,  (.r)]  dx=:  Mx—f^  (a?)  dx  , 
f  [9  (x)  —  ?n]  dx  =y  9  (x)  dx  —  mx. 
Passando  aos  limiles ,  acharemos : 

(2) /   fW  — 9  [X)]  dx  =  M  (x,—  xj  —  f<f'(x)  dx , 


C3) 


Porem  considerando  esles  integraes,  como  ioinma  de  elementos  difl'erenciaes.  os  pri- 
ineiros  membros  de  (2)  e  (3)  sac  esseucialmenle  positives:  logo  as  designaldades  (1)  3S0 
verdadeiras. 

Se  (j)(a;)  fosse  negativa,  em  logar  de  posiliva,  lomariamos  por  M  o  menor  valor  ihega- 
livo  do  f  {x)  ,  e  por  m  o  maior,  e  concluiriamos  : 


9 {x)  dx  , 
(4) ] 

(.r„— xj  >  /   ^{x)dx 


Seja  9(T)daf6rma/(a-)  <p|  (x),  posiliva  nos  limiles  da  integra^ao  ,  e  dentio  d'clles,  e 
3eja  alem  disso  /  (.r)  rfx  inlegravel,  de  modo  que //(a  )  (fj:  =  F  (j:):  supponliamos  tam- 
bem  ,  como  acima,  que  Me  m  sac  o  maior  e  menor  valor  que  <p,  {x)  pode  ter  :   digo  que 


(5) 


■M[F(x.)-Fix,)]>f/(x),,(x)dx, 
[F  (x.)-F (X.)]  <  f}\x) 9,  (X)  d^. 


Porque  f[Mf{^x)  —  f{x)^^{x-)]dx  —  MF{x)-ff{x),X'>')^^ 

/{f{x)  ,,  ix)  —  mf  {«)]  dx—ff{x)  ,.  («)  rfflT  —  Tn  F(,«). 


107 

DomJo,  pnssando  aos  limites,  se  conclue  a  exactidfio  das  desigiialdades  (51. 
().     Seja  a  funcj.'io  pioposla  if(x,  a),  c  adraiuanios  em  primeiro  logar  que  a;„  e  .r    n-io 
TJiri,-Mn  com  as  varia^Oes  de  a:  digo  que  tercmos ; 

(1) • ^ =   LA::±(^±^..j^. 

da  /  da. 

^. 

Por  quatito   /   <f  [x ,  a)  dx  =  ^{jr„,  a)  —  i(x^,  a),  segue-se  que,   se  tivermos  de  achar 

«  dcrivada  oni  ordmn  a  a,   do  primeiro  membro  da  equa(,-So,  devemos  neile   fazer  somenle 
variar  o  que  no  segundo  nieuibro  varia  toui  a,:  mas  tcmos  lambem  pela  equagao  (2)  do  n."  3 

-Ka-n,  «)  —  .}  (.r„ ,  «)  =  *  [,p  (a:, ,  «)  +  <p  (j-, ,  a)  +  ?  G«. ,  a)  + ]  :   logo 

d.[^  (j-„,  a)  —  ^  (x^ ,  a.)]  _  ^  ^f!-f(x„^a)   ,   d.^(.v,,  ,)       d.,p(x,,  a) 


SI  ^7 'H -^ 1 -r^ \- J. 

Lua  O,  a,  da  j 


:*2 


c-.omci  tinbamoi  asseverado  (1). 

Seja  em  segundo  logar:  Xn.^^  F  [a]  : a;„  =  i^,  (a):  acbaremos 


d  .  j      ^  (_x,  a)dx 

J  T 


E  na  vcrdade 


e  lemoi 


,„,  d.if{3i:„,  ^)^(d  .;!f(xn,  a)\      (d.}f(a-„,  a)\  idx„\ 

^'^ da       ~\       d^       ;  +  l      dx,      )\-dz)^ 

, , ,  '^  •  'I'  (^.  ■.  «)  _  (d.ii{x^,  g)  -        A<    j,^r„,g)\  /c?a;A 

^^ da  \  da  )^'\        dx^         )\da)' 

Pore-m   a  equa^'So   (1)   do    u.'  1   dd  (^ "  ^j^^  '^^)^  ,  (x„,  g);  e  (^ '  ^j^°  ^  '^)=ry  (.-.,  .): 

.  demons.rado    ser    (^  •  ^  ^'"n,  a)\        /d.  ^  (^„ ,  .)\         T'^d  ■  ,  (.x  .  .)  _  ^^^  , 

\         da        )        \         da        )        J  da  ^    ' 


mando  a  difierenca  do3  primeiros  membros  das  equajues  (3)  e  (4)  obleremos 
«Mj(2;.,  a)  —  K'^o )  «)1  _   /      d.^ix.a) 


d 

equafiio  (2). 


=/-%^- '^^  +  ^(--)  (^)-'^^. -)  (S)"'- '=  » 


7.  Se  na  equacao  (2)  do  n.°  3  se  lornar  i  infmitamenle  pequeno ,  ou  se  fizer- 
Taoi  Sz=dx,  sera  lambem  n — 1,  ou  n  =  co,  o  que  suppoe  que  naquclla  equa9ao  e  debaixo 
do  signal  2  entra  lambem  <({x,). 


108 

Cliamuremos  functjao  par  afjuella  funcrfio  ,  que  coiucrva  o  mesmo  valor  ,  quando  s« 
Vlao  a  variavel  dous  valores  iguaes,  mas  dc  signal  contra]  io;  assiiii  y,  em  y=zx',  e  uma 
tiincf'io  par.  Polo  contrario  y=:pa:  dara  para  1/ uma  fiinc(;ao  impar,  pnr  que  para  os 
valores  dea;=  +  o,!/  lem  o  mesmo  valor  mimerioo,  mas  de  signal  contrario. 

Seja  I  uma  quantidade  easencialmente  posiliva,  e  (lue  possamos  fazer  dt'crescer  tanto  , 
quanto  quizermos,  do  niodo  que  ella  possa  cliegar  a  ser  monor  do  que  qiialquer  (intra 
quantidade  dada ,  por  mui  pequena  que  csta  seja.  Posto  isto,  acliaremos : 

(1) /     <f{x)dx-{-      ^{x)dji:=dx\[,((—a)  +  ^((i)]  +  [^{—a^)  +  ^i<J.)] 

'  -a  J  , 

+  [9(-.)+?(0]  +  [¥(-O  +  ¥(O] \ 

Seja'^  uma  func^ao  par,  ou  9  ( — a:):=:<p(a;)  :  resultaia 

(2) /     <f(.r:)dx-\-j  <i{x)dx=zQ      <((x)dx. 

Seja  (J)  uma  funcgfio  imj)ar,ou  o  ( — a:)  ;=i  —  ?  ('^)     roaiillara 

(3) /     If  (^)  dx-\- 1  (p  {x)dx=^0. 

•J  ~a  ' , 

Ora  eorao  nos  podemos  fazer  decrescer  t  ate  abaixo  de  qualquer  grandeza,  por  mais 
pequena,  que  esta  grandeza  seja,  segue-se  que  as  relajoes  (2)  e  (3)  serao  aiiida  realisaveis, 
quando  nellas  fizermos  t  =  0.  Mas  neste  limitc  do  decrescimento  de  t  temos,  polo  n.°  4.  , 

Por  consequencia : 

<({x)  dx  =  Q  i   a(x)dx ,  quando  ^  (j;)  :=a  ( — x) , 
■a  J  „ 

(.}) j  9  (x)  J>j;=:0,  quando  (p  (>r)  =  —  o( — x). 

J  -a 

8.  Em  hypotheses  particulares  c'  convenienle  c  pennitlido  extender  os  limites  doj 
integral  definido.  Seja,  por  exemplo,  dado 

(1) F  =  l  ^{x)dj£. 

*' -a 

Supponhamos  que  e  i,,  k.,k^, ,  t;  umaserie  de  valores  positives,  ecrescentes;  el 

que  sabemos,  de  qualquer  modo,  que  tp  (a-|-  i,):=0;  ip  (a  + A,)=:0; ;  (p(a+  <•,)  =  0  : 

e  tambem  que   ,p  ( — a — i-J  =  0;   (p( — a — k^)  =  0; ;?( — a  —  A-,)  =  0. 

Seja  tambem  a  differenga  successiva  entre  dous  valores  de  k  tao  pequena,  quantol 
quizermos.  Se  F  pode  considerar-se ,  como  somma  de  elementos  differenciaes,  equa5ao  (2)1 
do  n.°  2  J  sera. 

/>a  ^a -{- k  ^a-\-k^-\-k^ 

f2) F—     <((x)dx=l    ,{x)dx=.  ,f{x-)dx 

J. a  --(a+A)         ^' '{a+k,+k,) 

Continua,  itiFi>'o  aiEiiai  OZORIO. 


®  Jnjsititiit0) 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


CONSELHO  SUPERIOR  DE  INSTRUCCAO 
PUBLICA. 

BELATOaiO    AMNL'At. 

1816—1847. 


Quando  no  decrclo  de  SOdeseptembro  de 
1841',  confinnado  por  lei  de  29  de  novenibrn 
do  mesiiio  anno,  Vossa  Mageslade  lioiive 
por  bein  ordeiiar  a  reforiiia  da  iiistnicjio 
publica,  e  criar  o  conselho  superior  para  a 
superinleiider  e  duiifir,  os  vogaes  ordinaries 
que  enlao  tiverum  a  lionra  de  ser  por  Vossa 
Magestade  chamadosa  coinpor  este  conseilio, 
possuidos  do  seu  dever  nao  se  poupavani  a 
trabalbos,  para  levar  a  effeito  o  profundo 
pensamenlo  desenvolvido  n'aqiiclle  deeroto. 
Coiifiados  no  seu  zelo,  aliiriPntavain  a  espe- 
ranij'a  do  poderern  em  breve,  fazendo-o  execu- 
tar,  preparar  entre  nos^  inellioros  dias  para  a 
instruc9:'io,  e  para  as  sciencias,  e  offerecer  a 
Vossa  Mageslade  iim  novo  molivo  de  satisfa- 
<;:io  ;  e  assim  ousaram  indieal-o  nos  rela- 
torios  de  184i  e  184j. 

Porem  a  desgrartida  rrise  porque  iiltima- 
ruente  passou  a  nafao,  nao  so  inutilisou  todas 
as  tnedidas,  e  deslruiu  lodos  os  inelliora- 
meiitos  principiados ;  mas  vein  por  em  tao 
complela  desordem  este  ramo  de  adniinislra- 
<;ao,  que  nao  teni  sido  possivel,  ate  agora, 
reslUuil-Q  cuiiiplclQinonIp  nn  spii  nnrlanicnto 
regular.  A  pezar  da  dispn^ic^'fio  da  lei,  e  de 
repetidas  instancias,  ainda  nfio  cliegarani  os 
relalnrios  d'alguns  eslabelecimentos ;  e  a 
niaior  parte  dos  que  se  teni  recebido,  em 
logar  de  e.\porem  o  quadro  da  instrtic^ao, 
li[nilanri-=e  a  nanajfio  dos  estragos,  que  ;of- 
freram,  e  a  simples  decjaiagao  de  que,  nesle 
periodo  de  dous  annos  liveram  de  todo,  ou 
quasi,  interrompidos  os  seus  traballios. 

Nesles  lermoj,  o  relatorlo  que  o  conseilio 
em  observancia  do  sen  regulamcuto,  tern  iioje 
d.e  levar  a  Augusta  preseu9a  de  Vossa  Ma- 
gestade, nao  pode  ser  scnao  muito  imper- 
feito.  Como  o  ensiiio  esleve  sem  exereicio, 
e  impossivel  por  falls  de  elemenlos,  salis- 
fazer  o  ponto  mais  inlercssanle  em  docu- 
mentos  desta  natureza;  e  inais  imporlante 
para  se  fazer  nolar  peranle  as  camaras  legis- 
lalivas;   e  por  isso  especialmenle  tecommen- 

Voi.  III.  Afiosjp  1.°- 


dado  na  lei,  que  vein  a  sffr  o  juizo  compara- 
livo  do  adiantanienlo  on  decadencia  da  ins- 
truc^fio  e  das  lelras  com  o  dos  annos  anle- 
riores  a  visla  do  numero  e  aprovcitamenlo 
dos  alumnos,  do  zelo  e  desenvoivimenlo  dos 
professores,  e  da  observancia  e  execugao  dos 
regularjientos.  O  conselho  nfio  pode  fazer 
uiais  do  que  expor  o  eslado  do  ensino  nos 
principios  do  armo  de  1846,  e  dar  a  nolicia 
dos  acontecimenlos  mais  imporlantcs,  que 
depois  sobrevicram  era  aiguns  eslabeleci- 
menlos.  E  para  proceder  com  clareza  nesta 
exposi^fio,  entende  o  conselho  dever  prin- 
cipiar  pela  organisagao  ou  direcgfio  geral  de 
toda  a  inslrucjaoj  seguindo  depois  pelo  ensino 
primario,  secundario,  e  superior. 


Direcgdo  geral  da  Instrucgdo. 

A  superintendencia  e  direcgHo  da  inslruc- 
gfio  esld.  encarregada  a  este  conselho  superior 
que  consla  de  8  vogaes  ordinarios  presididos 
pelo  prclado  da  nniversidade,  e  dos  vogaes 
exlraordinarios  que  sao  os  aspirantes  as  ca- 
deiras  das  faculdades,  todos  repartidos  nas 
3  secgoes  da  instruc^fio.  Pelo  decurso  desle 
periodo  niio  houve  outra  alleraf;ao  no  pes- 
soal  dos  vogaes  ordinarios,  senfio  a  ausencia, 
em  commis>ao,  do  vogal  o  doulor  Jose'  de 
Sa  Fcrreira  dos  Sanclos  Valle,  o  qual  havia 
sido  substiluido  pelo  doutor  Antonio  Kibeiro 
de  Liz  Teixeira,  ha  pouco  fallecido,  cuja 
fali^  "  '^'^n^pljio  denloia. 

.\'o  decurso  do  anno  de  1346,  OTTOnselUO, 
alem  do  expcdienle  ordinario,  occupou-se  em 
preparar  os  regulamentos,  que  ainda  fallavam 
para  execular  o  decrelo  de  20  de  septembro  ; 
aiguns  dos  quaes  estao  ja  depeudenles  da 
approvaj.io  de  Vossa  Mageslade,  como  o  das 
escholaschirurgicas  do  uitramar,  o  da  criagfio 
das  escholas  do  2  °  grau  :  em  outros  traba- 
Ihava-se  com  assiduidade  e  zelo,  como  o 
regulamenlo  para  a  academia  polyleclinica, 
o  regulamenlo  dos  lyeeus,  o  regulamenlo 
para  os  exarnes  preparalorios  da  nniversi- 
dade. As  desordens  da  guerra  vieram  enlao 
irilerromper  esles  traballios.  O  conselho  en- 
lendeu  que  n.'io  devia  abandonar  o  seu  poslo, 
mas  cnllipcado  no  centro  da  lucla,  liinilou- 
se  a  algumas  providencias  de  expediente 
esperando  as  ordens  do  governo.  Nem  podia 
nbrar  d'outra  maneira  porque,  alem  da  in- 
—  1854.  Nkm.  9- 


110 


terrupfSo  das  correspoiidencias,  o  pessoal  da 
8iia  secrelana  nao  pode  cscapar  a.  voragein 
dos  partidos,  e  em  iiiii  corpo  di'libeiaiiU? 
a  falla  do  secretario,  que  deve  estar  seiilior 
dc  lodos  (13  ncgocios,  nuo  pode  deixar  dc 
prejiidicar  p;ravoii]onte  o  sen  andamcnto. 

Anticipadamenle  liiiliam  pelas  seccoes  do 
consellio  sido  eiicarro^jados  aos  voj;aei  ex- 
traordinai  io?,  Ual)allios  de  grande  valor  para 
a  instrucofio,  c  proprios  a  exercital-Oj  para 
o  seu  adiai\lamei>lo,  que  eram  em  jjrande  parte 
OS  coinpendioi  para  as  dilTerentes  discipliiias. 
Ac  consellio  parcce  que  lodos  se  applieavaui 
a  esla  tarefa  coir)  zelo,  e  alguns  elTi'Ctiva- 
menleja  linhain  apreseiUado  Iraballio  d'algutii 
merecimento.  I'oreiii  com  a  desordem  a 
iiiaior  parle  viram-se  obrigados  a  ahandonar 
esta  cidade,  de  maneira  que  iia  confereucia 
geral  que  nitiinaiiieulc  celebrou  esle  consellio 
em  25  de  noveiiibro  do  corrcnle  anno,  grande 
parte  nao  apparcceram,  e  os  que  foram  pre- 
sentes,  soniente  offereceran)  esrusat:  allen- 
diveis,  e  promessas  de  tontinuar  os  Iraballios 
interrompidos. 

Um  doi  olijectos  que  nos  principios  do 
anno  de  1316  levou  ao  conselho  os  sens  prin- 
cipaes  cuidados,  foi  a  noinea^ao  dos  com- 
missaries nas  capitaes  dos  districtos  adminis- 
trativos,  em  crntormidade  do  artigo  161  do 
decrelo  de  20  de  septembro;  por  meio  dos 
quaes,  alem  do  servi(;o  de  reilores  dos  lyceus 
que  Ihe  incumbe,  o  confelho  espera  obter 
execugao  mais  prompta,  e  inspecjao  inais 
csclarecida  no  ramo  da  instruc^ao,  do  que 
dos  governadores  civis,  que  alem  do  pezo 
d'outros  negocios,  dtrigcm  este  scrvi^o  por 
via  dos  admlnistradorcs  dos  contellios,  or- 
dinariamenle  pouco  habeis  para  interpor 
juizo  seguro  sobre  objcclos  litterarios. 

ElTectivamente  cslfio  nomeados  por  Vossa 
Magestade,  sobre  proposta  do  consellio,  os 
commi-sarios  dos  districtos  d'Aveiro,  Beja 
Braga,  Bragan^a,  CastelloBranco,  Evora, 
Faro,  Guarda,  Lisbna,  Portalegre,  Porto, 
Sanlarem,  Villa-Roal,  Vizeu,  Angra,  Ilortn, 
e  Fiinclial. 

<;oes  do  seu  cargo,  dirigiu-lhes  as  instriicgoes, 
qm;  conslam  do  documento  n.°  1.  Como  o 
seu  exeroicio  activo  somente  agora  vai  prin- 
cipiar,  o  consellio  espera  a  continua^.-io  dos 
seus  Iraballios,  e  pro^as  do  zelo,  para  ajuizar 
do  merecimento  de  cada  iim.  O  cnnselho 
espera  egualmente  ter  em  breve  oblido  as  in- 
f'orma(;oes  necessarias  sobre  os  sub-delegados 
que  na  forma  do  art."  161  §.  3.°  do  mesmo 
decrelo  devem  coadjuvar  os  commissaries. 

Jnstrucgdo  prmaria. 

No  anno  de  13t5,  o  numero  das  cscliolas 
de  ensino  prima rio  pagas  pelo  governo  no 
coiitinenle,  entraiido  41  de  meninas,  era  de 
1116  e  liavia  noticia  olTcial  de  1081  parli- 
culares    frequentadas    urnas    e    oulras,    por 


61:276  aliimnos,  os  quaes  esiavam  para  a 
popnlagiio  na  razio  approximadanionte  de  1 
para  5.3;  razao  que  nuo  e  inf-.Tior  a  d'alguns 
dos  paizes  da  curopa  que  p:i?.sam  por  cultos. 
E  ainda  que  o  consellio  nfio  possa  attestar, 
que  na  enumera^ao  dos  alumnos  n.~io  haja 
excesso,  ou  ao  menos,  que  tnuitos  d'elles, 
que  fignram  na  cifra  da  malricula,  nada 
aproveiteiii  na  instruc^fio,  conludo  insiste  em 
que  iieste  grau  da  instruccfio  se  notava  uin 
progresso  sensivcl,  assini  na  frequeiicia  das 
etcliolas,  como  no  zelo  e  assiduidade  dos 
profe.-sores 

O  consellio  se  occupava  entfio  principal- 
mente  de  dar  nina  organisar^fio  regular  ii 
superintendencia  e  vigilancia  dos  commis- 
sarios  sobre  esle  ensino,  obrigando-oj  a  ad- 
quirir  conlieciuiento  especial  decada  eschola, 
por  meio  de  corre?pondencias  reg'ulares,  e 
visitas  periodicas,  exigindo-llies  eontas  fre. 
quentes  do  seu  movimenlo  niensal  com  a 
nota  do  merecimento  assim  litterario  e  moral 
como  pedagogico  dos  professores:  recom- 
meiulando-llies  a  escellia  e  indicarao  dos 
melliores  metliodos,  e  o  estimulo  dc  socie- 
dades  que  promovessern  nas  aldeas  o  gosto,  c 
zelo  pela  instrucg.'io. 

A  guerra  civil  vein  cortar  estes  melliora- 
meiitos:  alguns  professores,  estpiecidos  dos 
deveres  do  seu  ministerio,  compronietteram-se 
e  soffreram  a  necessaria  consequencia  das 
vicissitudes  dos  parlidos  Nao  foram  inuilos, 
mas  todas  as  escliolas  se  rcsjenliram,  mais  ou 
menos,  das  desordens  da  juota,  <io  abandeno 
das  autlioridades,  e  da  irregularidade  do  pa- 
g;imento  dos  ordenados. 

A  crea^-.'io  das  escliolas  normaes,  aonde  os 
professores  fossem  apprender  a  praclica  do 
ensino,  e  adquirir  o  senlimento,  o  o  habile 
d'uma  moral  severa,  para  a  transmitlir  aos 
meninos,  era  um  dos  objectos  que  o  governo 
de  Vossa  Magestade  tinlia,  n'esse  tempo, 
mais  a  peilo,  em  execu^ao  do  art."  10  do 
decreto  de  20  de  septembro.  Ja  por  decrelo 
de  21  de  dezembro  de  1815  se  linha  manda- 
di)  crear  uma  escliola  dcsla',  junto  a  Casa 
Pin  r.,r.  Drlo,.,  i  X.  p.jjllcado  o  regiilnmento 
para  ella,  e  ainda  ultimamciite  por  decrelo 
de  17  de  mar(,'o  de  1816  foi  para  alii  no- 
meado  iim  professor. 

A  educa5.ao  moral  dos  povos,  que  antiga- 
menle  cstava  encarregada  a  ordem  eccle- 
siastica  principnlmcnte  aos  parodies,  esta 
lioje  em  tal  estade  de  desorganisatjao,  que 
deve  caiizar  mui  serias  appreliensoes  sobre  a 
sorte  fuUira  do  paiz.  O  clero  depois  da 
rcvoluj.'io  porque  passou,  n.lo  p6de  deseni- 
penliar  aquelle  encargo  ;  perdcu  a  inlluencia; 
e  a  niaior  parte  dos  paroclio~,  ale  estae  es- 
quecidos,  de  que  era  aquelle  o  sen  principal 
dever.  Longo  espaco  hade  decorrer  ate'  se 
formar  iim,novo  clero,  capaz  de  moralizar 
OS  povos.  E  necessario  por  isso  encarregar 
esta  missao  aos  professores,  os  quaes  nunca 
a  podcrae  desenipcnliar  dignameiitc,  se  elles 


-*:  v.y^. 


Ill 


mesinoj  por  meio  d  mnci  eclticatj'fio  rc^^ulai, 
nao  estiverein  posiuidos  do  senlimcnto  da 
virliide,  e  do  habito  de  a  praclicar  ;  por  quo  a 
moral  ensinasa  mais  com  o  cxemplo,  do 
quo  com  a  p:ilavra.  As  cscliolas  normaes  que 
tern  esle  fim,  sfio  per  isso  iiidispensaveis  no 
estado  actual  :  e  o  conseliio  eiitendo  que 
qnalquer  sacrificio  do  tbesouro  que  se  faga 
para  as  eslabelecer,  dari'i  em  resuiiado,  mui 
transcendcntes  vanlagens  que  o  indeinnizem 

No  niesmo  decreto  de  20  do  septembro 
maudavnni-se  crear  citliolas  de  en>)no  pri- 
niario  do  2.°  grau,  nao  differen)  das  do  l.° 
sen.'io  em  ensinar-se  nellas  o  ensino  priniario 
em  loda  a  sua  laliuide,  e  com  inais  perfei- 
5ao.  A  grauimalica  porlugueza,  o  desenlio, 
a  geograpliia,  a  escriplurar-fio,  a  aiitlimetica 
sao  as  disciplinas  cspeciaes  desto  griiu.  Estas 
escliolas  pertencem  as  povoagoes  dadas  a, 
induslria,  ao  comiiiercio,  cujos  liahilantes 
querem  seus  fil'hos  liabililados,  para  nia- 
nejarem  com  inlcliigencia  as  suas  profissoes, 
&em  OS  passar  ao  ensiiio  socundario.  Mas 
para  o  seu  eslabclecirnenlo,  ali'iu  do  local 
com  grande  capacidadc,  e'  indispensavel  o 
concurso  de  muilos  professorcs ,  cotno  se 
pracllca  em  Frauja,  e  nas  nayoes  do  norte. 
O  consi'llio  julga  possivel  converter  neslcs 
estabeiecimentos  as  escliolas  d'ensino-niul.io 
onde  se  acliam  jd  aiguns  elementos,  sobrc  o 
que  ja  love  a  honra  de  fazer  subir  um  pro- 
jeclo  a  Augusta  presea^a  do  Vossa  Mriges- 
lade.  Mas  coruo  este  piano  exige  augmenlo 
de  despesa,  o  coiiselho  nao  se  attieve  pro- 
por  Movos  encargos  sobrc  o  lliesouro;  e  julga 
prudenle  esperar  occasiao  opporluna,  ein 
<|Ue  se  pos:a  obter  das  camaras  municipaes 
respeclivas  os  principaes  subsidies  para  esles 
C5labeloci;nentos  ;  que  nao  sfio  de  immediate 
inloresse  sen'io    do  cada  urn   dos  municipios. 

Km  exccujaodo  art"  5.°  do  decreto  de  I.") 
de  novembro  tie  1836  tinliani-se  creado  nas 
capilaes  dos  di^lrictos  aduiinistrativos  do  con- 
tinente  escliolas  primarias  pclo  metliodo  d'en- 
sino  mutuo  ou  de  Lancaater,  que  ainda  entfio 
era  gcralinento  applaudido:  eque  sendo  mais 
vantajoso  para  as  escliolas  mui  numcrosas,  e' 
sem  inconvenienlPS  no  ensino  das  disciplinas, 
em  que  da  parte  dos  ineninos  senfio  exige  tanlo 
a  rellexfio,  como  a  proaiptidao  eumaespecie 
de  facilidade  macliiiial,  como  na  escripta,  na 
leitura  simples,  na  aritliaielica :  ainda  que  na 
verdade  nao  pode  prodiizir  resultados  senfio 
mui  lenlos,  em  quanlo  as  disciplinas  em  que 
se  exige  pensamento  e  retlex.'io;  como  dou- 
ctrina,  historia,  graminatica.  Como  em  poucas 
das  nossas  escbolas  primarias  se  ensinam  estas 
ultimas  disciplinas,  o  metliodo  d'eiisino  mutuo 
|)arece  ate  agora  ter  produzido  entre  nos 
bons  cITeitos.  No  anno  de  18t4 — 15  escbolas 
por  este  metbodo  cram  frequentadas  por 
^-.'23')  aluiiinos.  Porem  depois  quo  se  vul- 
garizou  a  viagem  de  Mr.  Cousin  a  Hollanda 
para  observar  a  instruegfto,  e  que  apparecerao 
em   publico   as  rcflexoes   dos  grandes  profes- 


sorcs J'.iquilla  nai^fio.  pouco  favoraveis  ao 
metliodo  d'ensino  mutuo,  elle  ja  n.'io  aclia 
apologiUas.  No  decreto  de  20  de  septembro 
nada  se  diz  em  seu  abono.  li  ou  seja  por 
essa,  ou  por  causa  das  nossas  dissen^oes,  as 
escliolas  por  esle  metbodo  vao  em  decaden- 
cia,  a  de  Braga  es!;i  fecliada ,  e  mandada 
por  isso  converter  em  ensino  simullaneo  ;  a 
de  Evora  esta  quasi  sem  discipulos;  .a  de 
Bragan^a,  c  a  de  Coimbra  lifio  de  decair 
pela  saida,  para  outros  empregos,  dos  bons 
prot'essores  que  ate  agora  as  regiam.  Em 
taes  circumstancias  estas  escbolas  v.'io-se  en- 
caminliando  para  a  conversao  em  escbolas  do 
segundo  griiu  ,  que  fica  indicada,  logo  que, 
se  proporcionem  os  subsidies   indispensaveis. 

Ao  conseliio  continuadamento  cbegam  re- 
presentayoes  dos  povos  a  podirem  a  creagfio 
de  novas  cadeiras  d'este  ensino :  o  conselho 
conliece  que  o  numero  actual  d'ellas  e  infe- 
rior as  necessidades  da  popiilagfio,  mas  no 
estado  do  lliesouro  nao  se  attreve  a  propor  a 
Oste ,  novos  encargos:  limita-se  a  insinuar 
estes  estabeiecimentos  pelos  rendimenlos  das 
juntas  de  parochia,  ou  das  camaras,  em 
quanto  por  lei  se  Ihes  nao  impoem  djfiniti- 
vamente  este  encargo. 

A  instrucgao  das  meninas  esta  entre  nos 
apenas  em  principio;  em  Lisboa  exislem  18 
escbolas,  no  Porto  G,  e  iima  em  cada  uina 
das  capitaes  dos  outros  districtos  do  conti- 
nente,  e  mais  uma  em  Lagos,  e  oiitra  em 
Lamego  tola!  41  :  que  em  181-4  foram  fre- 
quentadas por  1:335  meninas. 

Se  do  conlinonte  se  nao  tern  podido  obter 
lodos  03  esclareciinentos  sobre  o  ensino,  mui- 
to  menos  se  tern  conseguido  das  ilhas.  Ape- 
nas se  recebeu  o  relatorio  do  comtnlssario  de 
Angra  donde  consta  que  o  numero  dos  me- 
ninos  que  frequenlaram  este  ult'mo  anno  a 
inslruc^fio  primaria  fora  de  1:2G5.  Do  map- 
pa  n."  1  vera  V.  M.  o  numero  das  escbo- 
las de  ensino  primario  eni  cada  um  dos 
districtof,  assim  do  contlnente,  como  das 
ilhas  e  o  seu  estado,  assim  como  o  numero 
de  alurnnos,  que  as  frequentaram,  ainda  no 
rrieio  cins  dosordene  Ho  nllirno  anriO  leclivo; 
a  excep^ao  d'aquellas  de  que  nao  cbegaram 
ainda  os  relatorios. 

No  meio  dos  barullios  da  guerra,  impossi- 
vel  seria,  csperar  trabalhos  litterarios,  ou 
livros  elemenlares  para  a  instrucyfio.  Entre 
aiguns  que  apparcceiam,  o  conselho  somente 
julga  dignos  de  ser  meiicionados,  os  que  elle 
auclorisou  para  iizo  das  escliolas,  cuja  rela- 
5ao  V.  M.  podera  ver  do  mappa  n.°2. 

A  despesa  d'esta  parte  da  instruc(,'ao  feila 
pclo  lliesouro  era  no  anno  de  1345  no  con- 
tinenle  de  106:023:324:  e  nas  ilhas  de 
5:951:906. 

InstritK-cdo  secundaria. 

A  inslruc^.'io  secundaria,  denominada  em 
outro    tempo,    estudos    das    humanidades   ou 


112 


aulas  inaiores,  tinha  entfio  por  unico  fun  lia- 
bilitar  aliimiios  para  a  onlem  ecclesiaslica, 
e  para  oi  estudos  da  ^lniver^idaJe  ;  aos  quaes 
servia  como  de  degrau.  Ilediizia-se  por  i>so 
entao,  aos  esliidos  tliainados  classicos,  laliiii 
c  grego,  rlietorica  e  logicu  ;  a  que  nos  iil- 
timos  tempo?,  se  acoresccnlou  a  liisloria. 
Hoje  porein  aleiii  d'aquolle,  a  inslruf<;ao 
secundaria,  seguindo  a  teiideiicia  do  nosso 
seciilo,  e  a  praclica  das  oulras  najoes,  pro- 
poe-se  um  oiilro  fun  ;  que  vein  a  ser,  o  desen- 
volvinienlo  da  indiislria,  assiin  agricola,  co- 
como  fabril  ou  commercial  :  e  e  para  o  obler 
que  tanlo  no  decreto  de  17  de  novcnibro  de 
1837,  como  no  oulro  de  20  de  septembro  de 
1811-,  se  incorporaram  aos  lycous  os  estudos 
das  lingiias  vivas,  e  os  de  geometria  applica- 
da  as  arles,  e  economia  industrial  e  agricola. 

Kste  ramo  da  instrucgao  consta  d'um  ly- 
ceu  em  eada  uma  das  capilaes  dos  districtos 
administtativos,  com  o  nuincro  de  cadeiras 
proporcionado  a  sua  popula^fio  e  circumstan- 
cias,  que  aqui  nso  vao  indicadas  por  conslar 
da  lei.  Assim  o  de  l.isboa  compoe-se  de  3 
secjoes  collocadas  em  tres  differentes  poulos 
da  cidade,  a  saber:  central,  oriental  e  occi- 
dental, e  a  elle  esla  tambem  annexa  a  sec- 
^ao  commercial.  Este  o  do  Porto,  e  os  de 
Coimbra,  Braga,  e  l'>ora,  que  podemns  clia- 
inar  principaes,  est'io  jii  ordenados  em  esla- 
belecimento  regular  com  reitor  e  secretario, 
e  apenas  estfio  ainda  vagas  algumas  cadei- 
ras, parte,  por  se  presumir,  que  niio  terao 
ouvintes,  e  parte,  por  nao  terem  tido  oppo- 
sitores.  O  consetho  jd  publicou  os  program- 
mas  para  differenles  cadeiras,  como  V.  M. 
podera  ver  do  inappa  n.°  3.  Os  restantes 
estao  encarregados  aos  vogaes  extraordina- 
rios.  Os  lycens  das  outras  capilaes  ainda  nao 
estao  iiistalados  em  forma  regular:  nem  o 
poderao  ser  tao  breve;  porque,  ale'm  das  dif- 
ficuldadrs  do  tliesouro  para  supprir  o  exees^o 
da  despesa,  em  niuitas  nem  casas  publioas 
ha  accommodadas  para  aquolle  fiiii ;  e  alem 
disso  porque,  devendo  supprunir-se  alguns  dos 
districtos  adminislrativos,  ainda  se  nao  sabe 
quaes  serao.  Accresce,  que  na  forma  da  lei, 
csica  lyucus  consiain  de  tres  professores  a 
saber:  um  que  ensina  latim,  outro  logica  e 
geometria  em  curso  bieniial,  e  outro  liistoria 
e  oratoria,  tambem  alternadamente.  Aiguns 
dos  professores  provides  antigamenle  estfio-sc 
ainda  preparando  para  poder  ensiuar  aquella 
disciplina,  que  de  novo  llies  eencarregada,  e 
em  quanlo  o  pessoal  nao  estiver  ainda  com- 
pleto,  e  habilitado,  mal  se  podem  dizer  or- 
ganisadas. 

Nos  quatro  districtos  insulares  existe  tam- 
bem um  lyceu  em  cada  uina  das  capitaes, 
Oconsellio  nao  recKbeudalii  os  rclatorios,  se- 
nao  o  d'Angra,  redigido  pelo  liabil  e  zeloso 
commissario  Jeronymo  Emiliano  d'Andrade, 
professor  da  5.*  e  6."  cadeii-a,  que  da  do  seu 
eslado  uma  idea  vantajosa,  pedindo  a  crea- 
\'fio  d'uma  cadeira  de  theologia  moral. 


Do  mappa  n."  3  consta  o  numero  de  ca- 
deiras de  cada  uni  dos  lyceus,  e  a  disciplina 
respcctiva  com  a  indicagfio  do  seu  estado,  e  o 
numero  dos  discipulos,  que  o  frequenlaram 
no  ultimo  anno. 

Alem  das  cadeiras  cncorporadas  nos  lyceus; 
existe.ui  em  todos  os  districtos  um  maior,  ou 
menor  numero  das  de  latim,  collocadas  nas 
povod^oes  centraes,  e  mais  iinpnrlanles,  que 
e  necessario  cons°rvar  ,  e  lalvez  ainda  crear 
mais  algumas  como  permitle  o  decrelo  do 
20  de  septembro:  ou  'seja  por  contemplagao 
ao  antigo  prejuizo  dos  nossos  paes  de  fami- 
lias  ,  que  jilgam  que  nada  se  poJe  saber,  se 
se  nao  comejar  pela  lin^'ua  latina  ,  ou  seja 
por  attender  a  necessidade  das  familias  me- 
nos  necessitadas  das  aldeas  que  commununente 
destinam  sens  fillios  para  o  minislerio  eccle- 
siastico.  Cadeiras  fora  das  capilaes  dos  distri- 
ctos que  nao  sejam  de  latim  so  existem  duas, 
em  Lamego  uma  de  logiea  e  outra  de  orato- 
ria. Do  mappa  n.°  2.  consia  oiuunero  d'eslas 
cadeiras,  o  seu  estado  e  alumnos  que  no 
ulliino  anno  as  frequenlaram. 

O  consellio  nao  pode  deixar  de  observar 
que,  nao  obstante  todas  cstas  providencias , 
csle  ramo  de  instrucijao  nao  progride  :  o  que 
facilmcnte  se  collige  assim  do  |)cqiieno  nu- 
mero comparativo  d'alumnos  que  frequen- 
tam  OS  lyceus  como  do  seu  pouco  aproveita- 
mento.  O  povo  ainda  n'lo  conliece  a.  vanta- 
gem  das  disciplinas  tendenles  ao  desonvolvi- 
mento  industrial  e  economico  :  nao  sabe  ava- 
liar  esta  parte  da  instrucgao.  Nos  estudos 
classicos  encontra-se  uma  falta  inui  sensivej, 
entre  o  grande  numero  d'alunuios,  que  todos 
OS  annos  vein  examinar-se  para  seguir  a  car- 
reira  da  universidade ,  inuito  poucos  sabem 
com  perfeijao  a  lingua  lalina  :  com  o  desap- 
parecimento  da  eloquencia  sagrada  entre  nos, 
acabou  a  applica<;rto  a  oratoria.  IIojc  encon- 
Ira-se  nos  alumnos  dos  lyceus,  uma  tinlura 
do  francez  ,  e  de  mais  algumas  disciplinas 
do  que  antigamenle,  mas  em  geral,  menos 
solidez  de  coulieciinentos,  e  menos  perfeicfio. 

Ainda  prcscindiudo  dns  occcurencias  poli- 
ticas ,  a  causa  d'este  dcsniento  provem  do 
elleito  das  rcformas  e  das  circumslancias,  da 
nossa  epoclia  de  traiisijao.  Kntre  nos,  e.m  to- 
dos  OS  tem|)05,  poucos  paes  mandavam  sens 
tillios  u  instrucj'io  secundaria  com  o  simples 
fmi  de  saber;  a  maior  parte  soinente  a  consi- 
deravam  como  liahililayao  para  o  seu  adian- 
tamento  fuluro.  Em  quanlo  a  ordem  eccle- 
siaslica  offereceu  a  um  grande  numero,  uma 
carreira  rica  e  brilliante,  as  classes  das  aulas 
maiorcs  estavam  chejas  de  alumnos ,  lioje 
aquella  carreira  esla  de  todo  ol)slruida.  Os 
bispos  depois  de  1835,  por  necessidade,  na 
lalta  de  outros  mais  inslruidos,  tem  admilti- 
do  as  ordens  alumnos  que  apenas  sabem  la- 
tim ,  e  mal.  Nao  restam  por  isso  lioje  a  fre- 
quentar  as  csclialas  dos  lyceus,  senao  os  man- 
cebos  que  se  destinam  para  a  instrucgao  supe- 
rior, numero   pcqueno  ainda  quando   se  nao 


113 


(lescontassom  .iqiielles  que  fazem  os  sens  eslu- 
dos  em  casas  particulares.  Os  professorej 
vendo-se  sorn  oijviiUes,  e  inal  pagos  desf^os- 
tara-ie,  e  este  desgosto  Iraz  comsigo  a  falla 
do  apeifeiroarncTilo,  e  dalii  a  decadencia, 

O  nieio  mais  proficuo,  i|ue  o  consellio  jiilga 
proprio  para  aniriiar  eslc;  ratno  da  iiislrucjao, 
seri'aexigir  pnrlci  os  diplomas  dos  ciirsns  dos 
lyceiis,  coino  liahilita<;ao  indispensavel,  on 
ao  menos  como  iiiolivo  de  prefereru'ia  no 
provirnento  de  qiiacsqiier  einpregos  publico:., 
cm  que  se  necessiie  d'algiiina  instrucjao,  ;i 
excep^ao  d'a<|Uclles  em  que  ja  se  exige  a 
superior;  providL-ucia  que  se  aclia  ja  em  al- 
gumas  das  leis  novissimas,  mas  que  ate  agora 
se  nao  tern  execnlado.  Este  meio,  alem  de 
cliamar  ahimnos  aos  Ivceus  ,  leria  a  vanta- 
gem  do  fecliar  a  porta  dos  empregos  ao  grau- 
de  numero  de  perteudenles  indignos,  que  im- 
por^tunam  o  governo. 

E  verdade  que  osla  idea  nfio  pode  ser  exa- 
ctamente  levada  a  effeito,  em  quanlo  as  disci- 
plinas  dos  lyceus  nfio  forem  organisadas  em 
cursos  differeules,  accojiimodadas  aos  conlie- 
cimentos,  queespecialuieute  se  requerem  para 
odesetDpenljode  cada  urn  dos  empregos;  por 
que  seria  duropara  osaiumnos,  e  laivez  sem 
vantagem,  para  a  iiislruc^'fio,  exigir-llies  o 
estudo  de  todas  as  disciplinas.  O  conselljo 
occupa-se  actualmente  d'um  regulamento  ge- 
Tal,  d'este  ramo  de  inslruo^ao,  cm  que  se 
execute  este  peiisainento,  assim  como  se  pro- 
videnoeie  sobre  a  [iiaiieira,  porque  lifio-de  ser 
examiiiados,  e  passados  os  diplomas  aos  estu- 
danles,  que  tiverem  frequenlado  as  escliolas 
que  ainda  nao  e^t^lo  conslituidas  em  lyceu  : 
e  tern  esperancjas  de  que  por  e^ta  forma  me- 
Ihorara  o  ensino  secimdario 

Os  rejatorios  das  duas  academias  de  bellas 
arles  de  Lisboa  e  Porto,  on  pretengani  a  esle 
grau  da  inslruc^fio,  oii  pertenc^am  a  superior, 
nenlinm  esciarecimento  dao  sobre  o  estado 
d'estes  estabelecimenloi,  sen'io  a  noticia  de 
que  durante  a  gnerra  civil,  cstiverain  occu- 
pados  mditarmente,  e  por  tanlo  interrompi- 
das,  nao  so  as  li(,'6e5,  mas  tambem  todo  o 
outro  service. 
Continua. 


mmmm  de  couiiiRA-PRociiAiniAs, 

FACILDADE   DE  MEUICLSA, 

1853—1854. 

4.°    ANNO. 

Cuntinuadu  de  pa^'.  81. 

C4DEIHA    DE    PARTOS,    DAS    MOLliSTlAS    DE    PLBKPEKAS 
E    DOS    REC£M->  ASCIDOS. 

COMPENDIO  —  CHAri.LV  ,      TRAITE    PRATIQUE    DE    l'ART 
DES    ACCOLCHEMENS. 

Lente  —  Dr.  Joiio  Mario  Baptista  CalUsto* 

O  objeclo  dii  cad(?ira  de  parlos ,  das  moleslias  de 
puerperas,  e  dus  recem-nascidos,  creada  pela  lei  ile  5 
de    dezembro    de    183(),   e  coiirirraada    pela    de    iO   de 


selembro  Je  1844,  e  mais  vaslo  e  comprehenda  maior 
nuraero  de  coiisiderarues,  e  cle  factua,  du  <|iie  os  que  o 
sen  enniincindo  exprirae,  (pie  coiisidero  jiicoraplecto,  e 
por  jsso   iiie.\acto. 

O  olijfclo  da  sobredila  cadeira,  considerado  d'lim 
modo  mais  geral  e  philosophico,  deve  coinprelieiider  todi 
a  sciencia  dos  p^rtos,  ou  e  urn  rompk-xo  de  todos  oi 
conheciiiieiitus  reiativos  a  reprodiic*;au  da  especie  consi- 
deraila  no  sexo  feminino,  e  no  jirodiiclo  d^i  conceirjlo. 

P>ste  iiilercssanlu  ramo  da  sciencia  medica,  que  \)6de 
denominnr-se  —  Toculoi^ia  ;  divide  se  em  parte  theorica, 
e  prarlici.  —  A  primeira  furuia-^e  de  lodas  as  no(;oes 
acienliricas,  que  pop  sua  nalureza  perl'Micem  a  ramo» 
particuhires  dn  im^dicina,  ilus  qiiaus  se  leem  Sfparado.  & 
fim  de  se  reunirem  em  nm  corjiu  de  doutriiia,  para  escia- 
reciiiienlo  ilus  prliicipios  cspeciaes.  que  se  tliri;,'em  mai» 
parlicularmeule  ao  liui  praciico  d\irle  i\oB  pantos  :  taes 
s.lu  a  Atialomia,  a  Physiolugia,  a  Hy^'iene,  a  l*.iUioloi:ia, 
etc.  A  sc'j,ninda  so  deve  ser  coiisiderada  na  sua  applica- 
<;au  aos  casus  oecorrenlcs  na  pracMca. 

Todus  OS  cunbecimeiitus  pois,  ile  cujo  complexo  t  for- 
mada  e.sia  sciencia  sao  cuus!dera(;3es,  e  faclos  analomicos, 
e  pliysioluij'icos  solire  a  eslriiclura,  e  ac^ao  dus  orgaoa 
da  mulher,  que  servem  direclamenle  a  rcproduc(;ao,  e  ao 
parto  —  subr<;  a  forma^'ao  e  desenvolvimenlo  do  feto,  ou 
a  Embnjolofjia  —  sobre  todas  as  mudan^as  iius  orfjaos  da 
mullier  diiiaiile  a  prenliez,  no  lempo  do  parlo,  e  depois 
d'ellc  —  e  sobre  as  parljeularidrtdes  d'estrucUira  ,  lie 
funrrot's,  e  modo  d'existencia  dos  recem-nascidos,  Siio 
alem  d'isso  as  considera^oes,  e  os  farlus  pli)'siolo2;ico3, 
e  palUulu^irus,  relalivos  us  condict^oes,  lanlo  exlernas 
como  inlernas,  que  podem  allerar  a  fuiic<;5o  da  reproduc- 
^'au  na  mullier,  e  auiea^ar  a  inIeL;ridade,  e  a  vilalidade 
do  felo  — Siio  todaa  as  niolestias,  que  tiram  a  sua  origera 
da  dispusi^ao  especialissima,  eiu  que  se  acham  enlito  as 
muUieres,  ou  que  leem  rela^'io  mais  ou  menos  directa 
com  esla  disposi<;ao.  — Sao  finalmente  todas  as  coDdic(;oe» 
favoraveis  a  sande  dos  recem-nascidos  ;  e  todas  ns  causas 
morlti Picas,  e  moleslias  diversas  de  que  podeiu  ser  af- 
fecladas  as  crianras,  duranle  as  primeiras  rela^oes  com 
sua  mai,  ua  \ida  extra-uleriaa. 

De  ludos  estcs  couhecimentos,  e  dos  do  mechantsmo 
do  parto  em  particular,  se  deduz'-m,  pela  maior  parte, 
OS  preceilos,  e  reyras  liy^^ieiiicas,  Iherapeuticas,  e  opera- 
lorias  que  constiluem  propriameiile  a  arte  obstetricia. 

Tal  e  0  quadro  jjeral  e  resumido  de  todas  as  noyoea 
que  furniam  a  sciencia  dns  partus  ;  e  tal  e  pur  conse^uinte 
o  oliji'cto  da  cadeira,  de  qtie  me  acho  ericarrcgado,  e 
ciiju  eijsinu  publico  a  lei  me  tern  commelliilo. 

Para  salisfazer  puis  ao  que  se  me  exige,  e  apre§enlar 
o  pru;,'ramma  do  ensino  publico  da  refer ida  cadeira, 
passu  a  indicar  mais  mituJainente  cada  uma  das  partes 
(I'aquelle  quadro  ger^l  de  todus  as  no^Oes,  que  conslitueiu 
a  sciencia  dus  partus,  as  quaes  fazem  o  object o  das 
minhas  prelec<;ues  ;  e  a  cxpur  ao  mesmo  lempo  a  ordera, 
pela  <pial  trato  das  diversas  paries  de  lao  inleressante 
materia.  O  que  farei  pelo  modo  e  maiieira  se;,Miinte. 

Para  proceder  cum  a  ordem,  e  melhudo,  que  mc  parece 
ser  mais  natural,  divido  ludo  este  cuisu  em  cinco  partes. 

PRIMEIRA    PAUTE. 

Principio  n'esla  primeira  parte  pela  descripijuo  —  dos 
orgaos  da  mullier,  que  mais  direclamenle  concorrem  para 
0  parto  —  da  Imcia  considerada  em  geral.  e  em  panicu- 
lar,  e  as  modificai^oes,  que  as  partes  mulles  delerminam 
na  sua  estructura  —  dos  or^iius  ^enitaes  femininos,  tanlo 
inlernos,  como  exlernos  —  em  Qm,  dus  or^^aos  anoexoi 
do  apparelho  da  gera^So. 

SEGUNDA    PARTE. 

N'esta  8C?imda  parte  Iralo :  da  prenhez  considerada 
debaixo  dos  dilferenles  pontoa  de  visla  pliysioiogico, 
hyijienico,  e  palholo^ico,  desde  o  momento  da  concei^3o 
ale  a  epocha  em  que  principia  o  parlo. 

Depois  d'al;j:umas  breves  cunsiderat^fles  sobre  a  concei- 
(;ao,  trato  — da  prenhez  simples  considerada  no  cstndo 
normal — dns  modificai;5es  do  ntero  e  do  proiiuclo  da 
concei<;^o,  nos  diversos  mezes  d'ella— do  sen  diai^nostico 
em  geral,    e  em  cada  mez   cm  particular  —  do  toque,  da 


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patparrio  al'd»n:innl,  e  Oa  nnsctiilac^Tio,  conio  meloa  <lf 
(!iu;;n(.slifo  —  i\<t  ovo  liuin.ino  tin  gt-rul  e  ilu  ft-lu  a- 
Itrmu  em  |)nTlu-iilur  ;  d-i  sim  attittiilc  ifesla  i>|)(M-hii  ;  da 
tuiA  jiliuiul.'L'iu  nil  I'limrOo  ;  e  da  sua  ca)i«cida'le  jMn» 
viver  \ida  exlrn-iitLTiim.  —  Kin>t;::iiidji,  tratu — dii  pruiilifi 
coaipuula,  dn  preiiliez  unuiniMl,  cxltn-itkriiiH  ;  da  pretihei 
Oilra.  u  das  circiuublaiiciu^  aiiuniiaea  que  Ihc  pudem  dar 
(jri^eni. 

Pa.s!)u  (lepoii  a  (r.itnr  dos  iiirouimudus,  e  mulcsti<i>  (pie 
pudem  solireMr  ilnriinle  u  ciirsu  ilu  prenlicj  —  das  h-so»-« 
das  diviTsas  fiinf(;ufs  ;  dos  vicius  da  ruiifuraifi^au  da 
liacJH^du  iisu  du  peltjnielru —  du  pnttu  prfiiiatnro 
iiflifloial  —  dus  i  icius  da  (•oiifuriiiarriu  das  pjirlcn  niul- 
les —  da  d<'.slitca);ao  du  iilefu  — ilu  tiinu-fdrau  e  durei 
dus  peitus — -da  Iriisau  das  patcdes  abduiiuiiues,  e  coin 
esjifcirtlidadc   da   pcllf. 

Pur  esla  uccasiao  Iralo  do  alurlo,  e  ila  heniorrliatria 
durante  a  preidiez  —  dos  lufius  tin  roiueiliar  os  acriileuk-y 
(pie  a  puiteiii  ci>D)plirar,  e  da  sahida  das  pureai  ii'e.^te 
acciitenlL'  —  liu  parto  prfinaliiro  natural  —  ila  ruptura 
tlo  uleru  —  dos  siiriiafa  da  iiiuitu  do  fclo  —  e  da  preiibej 
cumi)licada  d'ascil'-s. 

Final  nteiile,  leniiiiio  csta  par  to  cum  os  prcccitos  e 
re;;ras  hy^'iuiiicaj,  relaljvas  a  prr-idieK  ;  e  cota  a  iiiOuL-iicia 
d'este  estado  sohrc  as  niuU*st:js. 


TEIICGIU  \     1'  xiiTi:. 


E  iresla  lercoira  parle  (pie  eu  tralo  —  do  parlo  em 
?;eral  —  dus  nasrimenlus  anteuij>ados,  e  lurdius  ;  du  p:irlu 
fspuntancQ  alernio  —  das  sujis  cansas  —  do^  plinnunienus 
plivsioloiiicos  do  parto,  con.iideradoi  nas  siias  dillerentfs 
I'puchas;  e  de  ali^nms  dVsles  em  separailo  —  da  sua  dura- 
t;ao. 

Depoi3  d'isto  Iralo  das  ajiresent.u'oes  ,  .c  posirufs 
\ariadas  du  felo  —  da  apresenla<;i(u  i\o  verlico  ci:i  par- 
ticular,—  das  suas  raiisas,  e  dia^iiiuslifo  —  du  m<?cliani3- 
itio  do  parlo  esponlaiieo  —  e  dus  suas  aiiunial  ias  —  tlo 
partu  pelo  vcrtiee  ria  preiilit'Z  duS  ^emco»  — cuui  Aeu 
dia;:nuslici»,  e  pronoslicu. 

Os  cuidados  que  se  deve  ler  com  a  muiher,  durante 
o  parto  —  OS  inslrumerilo*'  e  mais  otij»'flus,  de  que  o  par- 
Ifiro  deve  mnriir-se  —  oscuidados,  que  se  deve  ler  para 
cm  a  mae,  e  para  com  o  Gllio  lu;;o  dfpuis  do  |>artu  ;  e 
a  sahida  natural  das  sei'iindiiia!!,  lut-rccem  a  minha  par- 
liciilar  a|icn(;no. 

F^rocuro   indicar,   e  d'-arrever  com  o  maior  empenlio  : 

—  us  accidentcs,  que  p-idcm  apparecer  duranlo  o  parlo, 
na  aprt'senta(;riu  do  \frlice^  os  accid^'Ules  propnos  a 
relardar,  ou  a  impedir  o  parto,  e  os  meios  dc  os  remediar 

—  as  moleslias  ej-lranlms  no  partu,  que  necessilam  os  cui- 
dados,  ou  a  inler>fn(;au  do  partt'iro  —  us  accnicutf/^,  que 
potlem  compromcller  a  \ida  da  mfie,  e  du  (iliio — e  as 
difflculdades  resullaidfs  das  anumalias,  no  n'.ecliaitismu 
du  partu,  sei^unilu  os  dilTerenles  lempos  d'elle. 

JuIlio  nniito  a  proposdo  o  tratar  em  sejjiiida^dus 
diverges  oljstuculos   niechanicos  ao  parlo  —  das  operaijoes 

..I.Bl*.lrioifto     |*ri>i.ri.io     yartx     iifmslar      UlUltos     d'elles  —   do 

furcepji,  e  da  sua  applica(;rio  Daa  di\ersas  circnmslaiicras 
da  apresfr'nla^ao  do\crlii"e,  e  najj  variadas  posi(;oes  d'esta 
a|)reseiitaqao  —  das  cirrunibtaiicias,  que  excluem  o  uso 
d'este  iiislrtimento  quandu  a  cabet;a  seacha  encravada  no 
estreilo  superior  — e  dos  accidentes  que  podem  resuJUr 
da   sua  applica^So. 

Cuidiiiuu  amda  com  al3;nnia9  coiisidera^ues  relalivaa  ao 
U90  da  ala\anca — c  luuito  priiiciiialuiente  com  a  des- 
crip^ao  da  versau,  e  das  suas  especifs,  e  em  particular 
cum  a  da  versao  pelviana  —  com  a  deacriji(;aoda  ceplialoto- 
mia,  corapreliendendo  h  perfora(;aodocranoo,  e  aapplica- 
^ao  do  ceplialolribo,  ou  forci-ps  compressor  da  calie(;a  — 
e  Com  a  dus  oj>era^'oes  que  se  pralicnm  na  muHier,  laes 
corao  —  a  synipliyseotuiiiia,  c  a  opeia^ao  cezareana. 

Tcrmino  era  tJiii  esta  tcrceira  parte,  fazeu'lo  aapplica- 
cT\o  das  mommas  corHidera(;oes,  e  dus  niesmos  prnnipios 
que  acabo  de  fazer  n'esta  apresenta(;5o  do  vertice,  re^pe- 
ftivaraenle  a  ajiresentarao  da  face  —  a  apresenlat;ao 
pehiana  —  c  as  di\ersas  opresenlai;oes  do  tronco  :  nau 
cs<piecendo  por  cbla  occrrsiilo  de  tratar  —  do  parlo  ar-  , 
lifiiial   das  secundinas  — das  suas  causas  —  e  accidentes. 


(ji'AKT^   I'ARri:. 

Fm  o  (tlijecto  d'esia  parh',  somente  —  a  ei£[)oii^ao  doi 
nccid'-ntes,  e  nioli-slias  (ariailas,  ron!<cciilii'a*  ao  parto,  e 
ipte  poilem  a'Tectar  a  mullicr  pui;rpera  :  assiui  como  a 
hi>luria  das  diversus  molcstias,  a  ipie  estam  sujeitos  u* 
rccom-naicidus. 

QL'INTA      p.    ILTrMX    PAftTR. 

Coucluo  Oualmeiile  o  mi^ii  curso,  n'esta  ullima  parte, 
tralandu  da  educacao  pliysica  das  creaii(;as,  desde  o 
m«pmenlo  do  seu  iia^cimeido  ale  ao  rim  da  amamentai;a.». 

—  Ktilao  tratu  tambem  —  da  amauienlacjao  malerna  ■^ 
da  amamoula^ao  feila  pur  mullier  eslr.inha,  ou  por    ama 

—  e  da  amaiiu'nl;u;ri.i  arlilicial.  —  fcl  por  nllimo  leiilio 
muilu  em  coii-iideratj-ao  o  Hulicar  us  preceilos,  e  re;:rraa 
liy;,'i<MucaSj  judijipeiisaveis  a  saude  dos  recem-nascidus, 
ou  a  sua  hij/jicne. 

Eis  arpii  mais  cirrnmsl:inciadamfrdf'  os  numeroaos,  e 
\jiriado*  otiji-clos  do  riuidru  jj:eral  de  tuda.-  as  n<it;ues,  que 
Cuusliluriu  .1  sci'-iicia  dos  pafl<)3,  e  <pie  fazem  u  ubjecto 
das  minlias  lirues:  e  eis  aipii  tantbeni  a  urdem,  pela  qual 
ui  cxjionlio  ,  analyso,  e  eusjno,  cm  lodo  este  curso. 


Todas  H8  considera^oes,  e  factus,  que  arabo  de  apre- 
senlar,  e  todos  os  prim-ipios,  que  d'elles  se  deduzem,  for- 
mam  a  parte  Iheurica  da  scieiicia  dos  partos,  cnja  utilidade 
real,  e  immediata  scria  apenns  recoidieci(ia,  como  a  de 
oidra  qualqucr  scimcia,  «e  o  seu  estiido  fosse  somenle 
Coiisiderado  d'um  ui^nlo  abstraclo,  i;  especulatlvo,  e  sem 
a  necessaria  applii-arao  dos  seus  verdudeirod  principios 
aos  casos  orcorrent-cs  na  practica. 

A  [heoria  C"'m  effeito  nito  deve  ter  por  fim  sefiao  me- 
Ihurar,  enperfei<^oar  a  praclica  ;  porque  seni  esta  a  Iheoria 
ch'^^M  a  Utopia,  ou  especularao.  E  nao  pdde  certamente 
haver  boa  pracHca,  sexn  que  ^fja  esciareciiJa  pela  Iheuria, 
ptprque  tauibem  sem  e?ta  a  pracliea  vem  a  deffcnerar  em 
rotiua.  Por  coiisequencia  e>las  duas  partes  da  scieiicia 
devem  prestar  ambas  um  muluo  npuiu,  c  devem  aml-as 
caiuiubar  a  par,  a  fim  de  »ervirem  ao  seu  verdadeiro 
proeri'sso,  e  aperfei^oamenlo. 

PruiMiro  por  Iniilo  combinar  quanto  me  e  possi^'el,  em 
alteri^-ao  aus  meios  de  que  pusso  ilispor,  a  exprisi9ao,  u 
a  analyse  de  todus  us  fautos,  e  prinripios,  no  ensino  da 
parte  Iheorica  d'arpiidln  scit-ncia,  com  tudos  os  exercicius 
pradifos,  proprios  para  o  seu  e3cl;trecimenlo,  e  \erdadL'ira 
iiilellijencia,  iisandu  para  este  Gm  das  di\ersas  machina?,  e 
apparellios,  e  aiixiliaiido-me  frc(|iient'-menle  cum  eslampas 
npropriailas  ;  e  com  a  su>i  applicaijau  a  todos  us  casos 
occiu  reiib'S  na  practica  do  hospital,  aundeexistem  effect iva- 
meide  os  e.\em|d;tres  necpssarios  iiu  enfi-rumria  de  partus, 
()U  cum  a  clinu-a  de  ptrtus  ;  para  que  do  eiiaiuo  publico 
d'esta  siicticia,  lao  humana,  como  iideressant'',  pelo  aeu 
fim,  a  luda  a  sociedaile,  se  possa  tiriir  atpiella  utilidade, 
qu<!  sempre  nus  resulta,  quaiulu  depots  tie  dicturmos  a 
rc^ra,  e  o  preceilu,  apuntamns  o  exem|do. 

Tal  e  o  pro;jramma  que  siiju  eni  lodo  o  cnrso  da 
cadeira  da  ?ciencia  dos  partus,  cujo  •:nsino  publico  me 
e  commtllido. 


UEL\t;oCS   LITTEnAIUAS  COM    AS    UMVERSIDA- 
DES   bE   IIESPAMIA. 

A  neoiissidade  de  ealahelocc^i-  relarocs  lit- 
terurias  entre  a  iiossa  iiniveisiJade  e  as  do 
reiiio  visitilio  era  de  ha  mtiito  rcconliecida, 
quaiido,  poroccasiao  da  viiilfi,  c^ue  em  1052 
lez  a  algiimas  ciHades  de  llesijanlia,  o  silr. 
douclor  Viceule  Ferrer,  aproveilaiido  as  boas 
dispoai^iji^s  dos  mais  diaU'tictos  profcssores 
d'atjucllas  academias  e  espocialniente  do  niiii 
digno  reiLorda  universidatje  de  Aladridj  o  snr. 


IIT) 


marqnez  de  Morante,  propnz  ao  goveino  de 
S.  M.  que  se  adoptassi'iii  alirvimaj  provideii- 
cias  para  reulisar  aquulle  luipoilaute  pensa- 
iiiento. 

O  que  se  la/.Ia  mais  que  tudn  necessaiio, 
era  a  reciproca  Iroca  dus  coiiipeiidioa  ado- 
pladoi  iiai  aulas,  e  dos  jornaes  e  obras  lil- 
lerarias  ou  acienlificas,  dadas  a  luz  pelas 
iiniversidade*,  ou  pelos  sens  iiieiiibroa  em 
ambos  os  pai/es,  que,  a  pesar  de  lao  estroila- 
inenle  uriidoj  pela  sua  posi(,rco  fjeograpliica, 
e  ate  pela  corijuHiiiidade  de  iutere5>es,  viviaiu 
mais  separador,  e  ii^norados  no  que  respeila 
ao  si'u  Irato  lilterario,  e  ao  sen  desiiivclvj- 
iiiento  iiilelletlual,  que  as  najoes  iiiais  afasta- 
das  de  v.Oi,  e  coin  queia  iiao  leinos  quasi 
rela(^6cs  alguiiias. 

O  governo  auclorlsou  logo  o  preiado  da 
uiiiversidade  para  eiivlar  ao  reilor  da  univer- 
iidade  de  Madrid  uiija  collecgao  coinplela 
das  obras  ecDiiipendios,  que  serviaai  de  lexlo 
<ui  de  couiriieiilario  as  li^oes  iios  mrsos  de 
ladas  as  faculdades  acadeuiicas. 

O  snr.  vice-reilor,  que  eutfio  era  da  iiniver- 
sidade,  o  ex  °'°  blapu  de  liragai!(;a,  salisf'ez  a- 
quella  deteriiiiua^'fio  renielleiido  a  indicada 
collecfiio  de  obras  portuguezas,  e  da  legisla- 
jj'fio  sobre  iustruc(;fio  publlea  em  data  de  23 
d'agoslo  de  I8o'i,  de  que  demos  eonla  ncole 
jorual  ' . 

O  governo  liespanliol  pel  i  sua  parte,  at- 
tendendo  ao  que  llie  represeuliira  o  iiiarquez 
de  Morante,  cxpediu  em  Oil  de  Janeiro  uuia 
real  ordein  para  que  a  uiiiversidade  de  Madrid 
letr^eltesse  a  de  Coimbra  as  rollt'c(,'6cs  de 
obras  licspanbolas  que  aquella  academia 
julgasse  digiias  d'esie  destiao.  IZ  et"i\'ctiva- 
iiieiitelui  recebida  na  bibliollieea  de  Coimbra 
unia  iiiui  riea,  e  imuorlaiUe  collec(;ao  das 
priiieipaes  obras  dos  mais  acieditados  aucto- 
res  hespanlioes,  de  que  ja  fizemos  meiu;rio 
iiCsle  luesmo  joriKii  ■" 

iSa    remes^a,   porem,    que   a    universidade 

fez  para   Madiid  nao  se  comprelieudeiam  se- 

iifio  as  obras  portuguezas,  quetiiiliaui  u;o  nas 

aulas,  e  aiuda  d'eslas  alguuias  fbiain  omittidas. 

m.:       lira    poilanlo    mdis|jensav(;l    nfio   so    re|)arar 

Bk    esta  mvoluiilaria   t'alta,   mas  couliruiar    regu- 

^^fc  larmente  a  remessa  das  obras  publicadas  desde 

^^■aquella    data    pelos    diversos    piot'essorcs   da 

^^■universidade  e  das  outras   escliolas    do   reino, 

^^Baddlcionaiido-llie  tamlK;m  as  obras   iiiais  im- 

^^HpottaiUes,  (|ue  iiltiiuameiite  se  teem  publicado 

^^Bem  porluguez  por  diversos  au^tores  estraulios 

^^K  ao  iiiagisterio,  para  d'esie  niodo  correspoiider 

^™  aos  votos  das   universidades  do  reiuo  visinlio 

e  realisar  cababiienle  o  I'un  que  estas  corpo- 

rajoes  se  propozerain. 

Para  salisl'azi'f  a  esle  iiiiportante  traballio 
o  ex.""  snr.  vice-reilor  da  universidade  Jos(' 
Ernesto  de  Carvallio  e  Rego,  noineou  uma 
tommissuo,  de  que  elle  e  presideule,  e  com- 

'     Vol.  I!,  pag.   82 
^     Idem- 


pn>ta  dos  sfirs.  diiuctores  Vicente  Ferrer  Nelo 
Paiva,  lerite  de  direito,  Joae  Ferreira  de 
Macedo  I'into,  lenle  de  niedicina,  Florencio 
Mago  liarreto  Feio,  lenle  de  malliematica,  e 
Jose  Maria  de  Abreii,  lenle  de  [iliilosopliia, 
e  do  decano  do  lyceii  de  Coindjia  Antonio 
Cardoso  [jorges  de  Figueiredo,  professor  de 
e|.  quencia. 

A  toinmiss'io  iiistallou-sc  no  dia  29  do 
mez  findo,  di^lrilmiiido  pelos  seus  meinbros 
o  traballio  de  colligir  as  mais  importantes 
obras  relalivas  aos  diversos  rarnos  desciencias, 
e  litteralura  para  coin  a  possivel  brevidade 
serein  enviadas  a  universidade  de  Madrid,  e 
se  cslabelecer  regularmente  para  o  future  esta 
correspondencia  litleraria,  que  ifio  proveitosa 
lia  de  ser  para  o  progresso  dos  e-tiidos  nos 
dois  paizes,  e  para  o  credito  das  respectivas 
universidades  e  acadeinias. ' 


OS  ISRAELITAS   EM  ROMA. 

Ila  em  Roma  um  bairro  separado  para 
OS  Israelilas;  eo  G/iello,  banliado  pelo  Tibre, 
e  siluado  eiitre  a  poiite  dos  qualro  Capi,  e 
a  I'cntc-roltn;  e  uin  dos  mais  iristes,  e 
immundos  bairros  da  cidade  ;  na  occasi.'io  das 
encliPiites  ascasas  ficam  alagadas,  eosdesgra- 
^■ados  habilantes  veem-se  obrigados  arefugiar- 
se  nos  andares  superiores,  aonde  se  ton- 
servam  ate  que  o  rio  tome  a  entrar  no  sen 
leiln,  e  ha  bein  poucos  annos  ainda  esle 
bairro  tinlia  nmas  portas,  que  se  fetliavam 
todas  as  nnules;  porem  a  revolng.'io  de  IS-tS 
abuliu  fisle  costume;  mesqiiiuho  progresso, 
em  coiiiparayfio  dos  que  ainda  carcce,  para 
(jue  OS  judeus  em  Roma  gozem  a  liberdade, 
que  dislVuctam  os  de  Franca;  devemos  com 
tiuln  recoiiliecer,  que  a  sua  posi<,'ao  tende 
sempre  a  nielborar-se,  e  (|ue  estamos  betn 
loiige  dos  tempos  em  ipie  o  papa,  depols  de 
lan(,ar  a  bencao  ao  povo  catlioiico  no  domin- 
go  de  pasclioa,  lanc^ava  o  analbema  s^ibre  os 
fillidS  de  Abraliao.  Alas,  vollaiido  ao  Giietlo, 
o  observador,  <]ue  para  alii  for  passear,  vera 
as  mullieres  senladas  em  seus  balcoes,  I'lando 
linlin,  ou  remeiidando  o  facto  de  sens  maridos, 
e  fillioH,  em  (piaiilo  estes  se  enlreteem  brin- 
cando  pelas  mas  com  bandos  de  galinlias, 
que  abuiidam  na  judiaria.  l-.ste  quadro  pin- 
tado de  uuia  maneiia  tfio  risonha  pela  ima- 
gina(,'an,  e,  vistoa  luz  da  verdade,  bem  desa- 
gradavel.  Nas  faces  palida-;,  e  niaceradas 
das  miiUieres  traduz-se  o  soffi  imento ;  o  typo 
oriental,  que  destingue  a  ra(,'a  licbraica  t(j 
alli  se  faz  iioiavcl  |)ela  fealdade  ;  nao  se  en- 
contra  no  Glielto  uma  so  destas  bellas  pidias, 
t.'u)  communs  nos'nossos  paizes;  a  persegui- 
^•fio  e  o  soflrimenlo  leui  degenerado  o  type 
priinitivodos  israelilas  romanos.  Dcscrevemos 
as  orcupiicoes  dunieslii-'a:  da-,  mulli'^r's:  cum- 


116 


pre-nos  fallar  tambem  dos  homens.  A  excep- 
<,'ao  dealgims  cordociros  ou  clia|)i'lciros,  todos 
OS  niais  >e  dfto  ao  iiegocio,  e  nmn  elles  podiam 
occiipar-se  de  oiiira  cousa,  poi»,  que  mesino 
adiniltiiido,  que  as  leis  urn  dia  llies  penniUam 
o  accesso  a  lodas  as  carrpitas,  e  indiistrias, 
OS  numerosos  piejuiznb  que  lia  a  sen  respeiLo 
pntre  os  romaiio!;,  Ilies  lian  dc  servir  lorigo 
tempo  de  obstaciilo. 

(Archives  isracllics.J 


EDUCAgXO  DOS  ANIMAES  NA  ANTIGUIDADE.  < 

Os  rnmanos  excederam  a  todos  os  povos 
da  antiguidade  na  arte  de  amesLrar  e  do- 
inesticar  diversas  especies  de  aiiimaes;  mas 
OS  sens  cuidados  nos  ultimos  tempos  da  re- 
publica,  e  durante  o  iinperio  versarain  mais 
sobre  as  especies,  que  concurriain  para  os 
prazeres  dos  seus  espectaculoi,  on  para  o  liixo 
dos  sens  banqiietes,  do  ipie  sobre  aqiiellas, 
ciija  miiltiplica^uo  e  aperfei^oameuto  podia 
contribuir  para  o  progresso  d'agricuUura,  on 
da  industria. 

N'aquelle  ponto  os  romanos  nada  tern, 
que  invejar  aos  modernos.  Nos  iilliinoa  se- 
culos  da  republica  os  cousules  e  ediles  deram 
nas  pragas  de  Roma  o  triste  especlaculo  de 
immolarera  muilos  animaes  de  graude  prejo 
pelasua  raridade.  Nos  jogos,  quesecelebraram 
no  anno  dc  65  por  occasifio  da  inaugnra^uo 
do  tlieatro  do  Poinpeo,  forani  mortos  sobre 
o  circo  quatrocentas  e  seis  pantlieras,  sci.- 
centosleoes  e  vinte  ojefjnte?.  Cansado,  porem, 
jd  o  povo  deste  l)arbaro  divertimento,  come- 
garam  a  industriar  os  aniinaes  nos  diversos 
exercicios,  em  que  os  i'aziani  andar  nos  dois 
pes,  para  assim  excilar  a  attenjio  pnblica. 

Marco  Aureiio  foi  o  primeiro,  que  eni 
Roma  fe2  conduzir  o  sen  coclie  por  iima 
parelha  de  leoes.  Heliogabalo  fez  outro  tanto, 
»)uerendo  comjiarar-se  a  mae  dos  Deuses,  e, 
immitando  Bacclio,  jungiu  tambem  ao  sen 
caiio  ligres,  e  ulgumas  vezes  veados,  e  ate 
caes.  Avestruzes  de  extraordinana  grande^a 
puxaram  o  carro  do  imperador  Firmo  com 
tal  destreza,  que  mais  partciam  voar  do  que 
correr.  Estes  factos  nfio  sao  seni  exemplo  na 
epoclia  actual.  No  tlieatro  de  Paris  uin  do- 
mador  de  feras  se  aprcsenton,  nao  lia  muito, 
dentro  dc  nm  carro  tirade  por  dois  leoes;  mas 
de  elelantes  danyando  na  corda,  como  muitas 
vezej  se  viu  em  Uoma,  niio  ba  niemoria  na 
epocha  actual. 

Germanico,  diz  Pouciiet,  n'lim  traballio 
mui  importante  sobre  estes  animaes,  apre- 
zentou  elelantes  (juedansavam  grosseiramente. 
^os  jogos  instituidos  por  Nero  em  bonra  de 

'  Extraliido  Je  uma  obra  de  I.  G.  de  S.  Hilaire, 
ainila  nu  prclo,  Bobre  a  ediica^Ho  e  aoturalisa^So  do» 
aniDiaei  utcii. 


Agrippina  foram  vialos  com  geral  admira- 
fio  alguns  destes  animaes  dansando  sobre 
uma  corda  teza;  facto  est?  atlestado  por  Cas- 
sius,  Plinin,  Siietonio,  e  Alarco  Aurelin. 

A  aite  de  domar  os  animaes,  diz  Cuvier, 
eslava  tao  aperfejgoada,  como  a  de  os  cagar. 
No  triumplio  de  Germanico  os  elelantes 
dansavam  em  pe  sobre  a  corda.  No  tempo 
de  Galba  um  destes  animaes  subiu  n'lima 
corda  com  um  cavalleiro  romano  em  cima 
ate  ao  tecto  do  tlieatro.  Cuvier  assevera, 
fundando-se  n'uma  passagom  d'J'llien,  que 
05  eleiantes  assim  adestrados  linliaui  nascido 
em  Koma  de  individuos  desta  es;)ecie,  que 
viviam  em  pris.'io  ;  a  auctoridade,  porem, 
d'iilien  nao  parece  sullicieiile  para  firmar 
um  facto,  inteiramente  contrario  a  todas  as 
observa(;6es  feitas  na  Europa,  e  ate  na  India. 

A  par  d'aquella  arte  niaravilliosa  de  ensi- 
nar  os  animaes  a  tao  variados  exi^rcicios,  os 
romanos  cuidavam  com  muito  esmero  em 
niidliplicar,  eengordar  ai|uelles,  que  sorviain 
para  os  seus  banquetes,  e  parlicularniente  as 
aves,  de  muitas  das  quaes  ainda  lioj  •  usamos. 

«  Clausiie  pascuntur  aenata:.,  (juerqaedu- 
lae,  boschides,  phalcrides,  similesquevolucret 
quae  stagna  et  paludes  rimatitur.  r> 

Engordavam  as  lebres,  arganazes,  pavoes, 
grous,  e  sustentavam  em  grandes  lapadas 
jrivalis,  veados,  e  cabritos  moiUezes,  que  acu- 
diani  ao  son  de  uma  trombeta.  Tambem, 
segundo  Bureau  de  Majle,  sujtenlavam  cara- 
coes,  que  llie  serviam  coijo  eguaria  tiiui  es- 
liu'.ada. 

A  plscicultiira  estava  levada  a  um  grau 
de  perfeigao,  a  que  ainda  boje  eslanios  mui 
longe  de  cliegar.  O  sargo  fora  trasido  do 
mar  da  Grecia  para  o  da  Toscaiia,  onde  se 
naturalisara.  'I'inliam  grandes  viveiros  d'agoa 
doce,  e  salgada.  I'ara  eslabelecer  um  destes 
viveiros,  Lucullo  mandou  cortar  uma  monla- 
nlia,  pein  (pie  Pompeo  o  chair.ou—  Xerxes 
logatus.  Neates  viveiros  cnava-se  uma  pro- 
digiosa  miiltidao  das  mais  eslimadas,  e  varia- 
das  especies   de  peixes. 

Ell  lun  a  m  lilt  i  pi  icarao  artificial  dos  peixes 
estava  em  practica,  e  ja  entao  se  obtinliani 
especies  iclitli^'ologicas  liybridas  ;  e  esles  pro- 
cesses artifi;iaes  applicavam-se  ateaalguma* 
especies  de  moliiscos. 

Os  romanos  neste  ponio  faziam  lia  vinte 
seculos,  mais,  do  que  nos  ainda  lioje  pia- 
cticamos. 


PHYSICA  DO  GLOBO. 

I.NFUE.NCr.V    DA   LIA  NOSTEUnEMOTOS. 

Desde  a*  mais  remnlas  eras  aciia-sc  ar- 
reigada  na  maioria  da  populayfio  de  todos  os 
paizes  a  cren^a  de  que  a  lua  intlui^  poderosa- 


117 


meiile   em   imiitos  dos  phenoinenos  pliysicos 
e  vilaes,  que  se  passain  na  terra. 

Uninens  dados  ao  eUudo  da  natureza  re- 
geilaram  por  lonj,'o  tempo  esta  crenga,  na 
inaii)r  parte  dos  sens  poiitos,  como  precon- 
ceito  popular;  talvez  porque  o  amor  da 
sciencia,  por  niais  pure  que  seja,  tern  sempru 
alguma  liga  d'amor  proprio,  que  procuia 
lisonjear-iios  daiido  por  impos^ivel  oqiie  nao 
podcmos  cnmpreheiider.  Mas  na  presen^a  de 
factos  constantemenle  repelidus  parece  for- 
(;050  reconlieccr,  que  a  attracgfio  daUiasobre 
a  terra  e  atmospliera,  e  por  ventiira  a  sua 
acgao  cliiiuica  sobre  a  luz  solar  que  nella 
se  rcdecte,  toriiam  sensive!  a  inthioncia  d'este 
satellite  em  muitos  plienoiiienos  que  so  pas- 
sam  acima,  na  superficie,  e  no  interior  do 
nosso  globo. 

Entre  estes  plienomenos  avulta  o  dos 
terremotos,  qiiC  rnuito  importa  saber  se 
devem  considerar-se  como  resultado  de  per- 
cussoes  causadas  na  crusta  solida  da  terra 
por  mare's  internas.  Na  verdade,  se  em  virtude 
de  sua  elevada  lemperatura,  a  parte  interior 
do  globo  lerrcitro  se  conserva  fluida,  devem 
a  lua  e  o  sol  causar  nella  movimentos,  se- 
nielhantesas  mares  doOccano,  qnedependam 
em  diree^ao  e  intensidade  das  posiroes  d'estes 
astros;  e  a  rosistencia  opposta  pela  crusta 
sniida  a  accnmulagao  de  tluido,  que  esses 
movimentos  tendein  a  produzir  na  direcgao 
dos  raios  veclores  dos  mesmos  astros,  pride 
causar  rnpluras  e  abalos  nos  pontos  cor- 
respondentcs  da  superficie  terrestre. 

Ve-se  pois,  que  esta  explica9rio,  estabe- 
lecendo  nma  mutua  dependeneia  entie  a 
lluidez  da  parte  interior  da  terra  e  as  mares 
internas,  manifestadas  pelos  terremotos,  e  de 
summa  imporlancia  na  primeira  e  mats  dif- 
ficil  qucslao  da  geologia. 

■  Nas  sessoes  da  academia  das  sciencias  de 
Paris  de  i2l  de  marijo  de  1353  e  2  de  Janeiro 
de  1864)  apresenlou  M.  Alexis  Perrey  uma 
inernoria,  e  uu)a  nota,  ciijo  objecto  e  mostrar 
a  influencia  das  posijoes  da  lua  em  relagao 
ao  sol  e  ao  perigeu  sobre  os  terremotos  em 
geral,  e  das  suas  posigdes  relativamente  ao 
meridiano  d"um  logar  terrestre  sobre  os  ter- 
lemr.tos  nesse  logar. 

Na  memoria  o  auctor  da  conta  de  todos 
OS  terremotos,  de  que  pOde  obtcr  noticia, 
desde  o  anno  de  1801  ate  o  de  1850;  e 
computa-os  de  tres  tnodos  differentes,  enu- 
nierando :  no  primeiro  os  dias  em  que  tevc 
logar  algnni  terremoto;  no  segundo  todos  os 
terremotos  que  liouve,  quer  no  mesmo  dia, 
quer  em  divcrsos  dias;  no  terceiro    todos  os 


abal 


OS  que  se  sentiram,  quer  pertencessem  ao 


nies[no  terremoto,  quer  a  terremotos  differen- 
tes. Procedendo  assim,  a  collecgfio  apresenla 
um  quadro  de  5:338  plienomenos  pelo  pri- 
meiro modo,  e  de  6:596  pelo  segundo.  Pirn 
quanio  porem  ao  terceiro  inodo,  nao  pode 
M.  A.  Perrey  obter  noticias  que  referissem 
OS  abalos  de  cada  terremoto  senao  a  respeilo 


d'alguns  d'elles ;  e  por  isso  apenas  conscguiu 
fa/er  um  quadro  de  931  abalos  scntidos  na 
America  Meridional,  que  acliou  consigna- 
dos  no  5.°  volume  das  viagcns  as  partet 
ccntraes  da  America  do  Sal  de  M.  de 
Caslelnau. 

Formou  tambem  pelo  primeiro  modo  uni 
quadro  de  423  dias  de  terremotos  desde  1841 
ate  181-5.  E  finalmente  organisou  quadro5 
parciaes,  repartindo  cada  quadro  total  em 
grupos  correspondentes  as  subdivi^oes  do  pe- 
riodo  da  lunagiio  media  29'', 531  em  doze, 
dezeseis,  e  oito  partes. 

Em  todas  estas  combinajoes,  pondo  de 
parte  algumas  anomalias,  aclioii  o  auctor 
uma  preponderancia  dos  numeros  relatives 
lis  syzygiai  sobre  os  relativos  as  quadratnras, 
a  qual  o  levou  a  concluir  que:  ha  meio  se- 
cido  OS  terremotos  sdo  mais  frequentes  nas 
si/zt/g'ias  do  que  nas  quadratnras. 

Examinando  a  mesma  collecg.'io  d'obser- 
vajoes,  e  usando  dos  rnesmos  tnodos  de  con- 
tagem,  de  que  se  servira  para  formar  os 
quadros  rcferidos,  M.  A.  Perrey  contou  os 
terremotos  correspondentes  aos  dias  das  pas- 
sagens  perigea  e  apogea  da  lua,  e  aos  dois 
dias  auteriores  e  aos  dois  posteriores  a  cada 
uma  d'ellas ;  c  subtraindo  o  numero  respe- 
ctivo  a  cada  positj'io  proxima  do  apogeu  do 
respectivo  a  posijao  correspondente  proxima 
do  porigeu,  acliou  differengas  positivas,  que 
divididas  pelas  sommas  davam  quocientes 
compreliendidos  entre  j^  e  -~.  Eslas  differen- 
gas  indicavam  pois  uma  preponderancia  sen- 
sivel  dos  numeros  relativos  ao  perigeu  sobre 
OS  relativos  ao  apogeu ;  d'onde  conclulu  o 
auctor,  que  os  terremotos  sao  niais  frequentes 
na  passagem  da  lua  pelo  perigeu  do  que  na 
passagem  pelo  apogeu. 

Reconliecendo  a  importancia  do  trabalho 
do  sabio  professor  de  Dijon,  poderiamos 
talvezdesejar  que,  seguindo  um  metliodo  seme- 
liiante  ao  que  Ibe  serviu  na  repartigao  dos 
quadros  em  partes  correspondentes  as  sub-di- 
visoes  da  lunajfio  media,  e  applicando-o  nao 
to  ao  mez  synodico,  mas  tambem  ao  ano- 
malistico,  comparasse  separadamenle  :  os  nu- 
meros proximos  da  mesma  distancia  da  lua, 
mas  correspondentes  a  diversas  phases  lunares, 
para  estabelecer  com  mais  clareza  a  proposi- 
<,'ao  relaliva  a  influencia  d'eslas  phases;  e  os 
numeros  proximos  da  mesma  phase,  mas  cor- 
respondentes a  diversas  distancias  da  lua, 
para  estabelecer  a  proposi(;;1o  rclativa  a 
influencia  da  distancia. 

Finalmente  o  auctor  da  nota  discutindo 
OS  824  abalos  sentidos  em  Arequipa,  que 
re.''ere  a  citada  obra  de  M.  de  Castelnau,  c 
calculando  as  boras  decorridas  desde  a  pas- 
sagem da  lua  pelo  meridiano  ate  o  instante 
de  cada  iim  d'elles,  achou,  quer  por  este 
modo  de  comparar,  quer  pela  rcpartij.'io  do 
dia  medio  lunar,  24''  50'  30",  em  dezeseis 
ou  em  oito  partes,  e  dos  abalos  em  grupos 
correspondentes :  que  o  maximo  numero d'aba- 


118 


los  teve  logar  na  vijinlinn^a  das  passagens 
da  Ilia  pelos  ineriJianos  superior  e  inferior; 
e  o  niinimo,  qiiando  a  lua  estava  proxiiiia 
do  !)0°  de  dislancia  ao  meridiano. 

De  todo  este  traballio  resiilla  a  conclusao 
sepuinte.  O  nunieio  dos  tcrremotos  c  maoclino 
nas  sijtygias,  c  minimo  nas  quadraluras  • 
maxiuio  na  dislancia  perigni  da  lua,  e 
ntininio  na  apogi'a-   maxuno  para  um  logar 


na  pussagein  da  lua  pclo  $cu  meridiano,  c 
minimo  a  90°  d'cslc. 

O  que  concorda  com  o  que  deve  aconle- 
cer,  se  os  terreuiotos  siio  devidos  as  mares 
inlerioros  do  globo  terreslre  que  produz  a 
altracjfio  da  lua. 

Para  lornar  iiiais  seiisiveis estes  resuitados  M. 
A.  Perrey  procura  repreacnlar  os  iiuineros  de 
cada  um  dos  quadrospor  expressoes  da  forma 


■  ^  sen    {I  +  a)  +  iJ  sen  (2  /  -f  p)  +  C  sen  (3  /  J-  ^  )-p  , 


scndo  HI,  .'/,  B,  C,....,  constaiUes  da  na- 
lureza  de  ^  ;  m  p  >  f-  •  .  ■  j  aiigidos  constantes ; 
e  ;  adislancia  angular  da  lua  aosol,  coutada 
desde  0°  ate  360°.  E  deleruilnadas  as  constan- 
tes de  modo  que  satlsfajam  ansnuineros,  acha 
que  na  furva  rehuiva  a  catla  uin  dos  qiia- 
dros  a  maxima  ordenada  principal  correspon- 
de  as  syzygias,  ea  minima  lis  quadraluras. 

A  commiss.'io  da  academia,  que  examiiiou 
I'sle  trabalho,  daudo-llic  grande  inporlancia, 
propoz  que  fos-ie  approvado,  e  que  a  acade- 
inia  empregasse  uma  parte  dos  seus  fundos 
eui  auxiliar  a  continuagfio  d'elle. 

(Vej.  o  ConipUs  Rcndus  de  12  de  junlin 
de  18.34).  S.    P. 


NOTICIA  SOBRE  A  DACIV  CARBONIFERA  DO  CABO 
MONDEGO. 


CoDtiniiado  (te  pog.  104. 


Hiiliirta  da  miiia. 


Os  Irabalhos  comegaram  n'esta  mina  clia- 
mada  de  Buarcos,  em  1775,  por  conta  do 
Governo,  scndo  dirigidos  por  um  capitTio  da 
toinpanliia  de  mineiros  da  praja  d'EIvas, 
eliamado  Jose  Nunes,  com  dois  soldados  da 
mesma  companhia ;  estes  Irabalhoi  duraram 
•  loze  nnnos. 

\'.m  1787  foi  c^le  eapitao  substitiiido  pelos 
irmfios  (Ricardo  e  Fraucisco)  Raposos,  ma- 
jores  engenlieiros,  sobrinlios  do  Inspector  que 
•■iit.'io  era  do  Arsenal  do  Kxercilo,  o  tenente- 
general  Bartliolomeu  da  Cosla.  Abriram  tres 
galerias  descendeutes  na  poula  inais  occiden- 
tal do  Cabo  e  mcstno  ao  nivel  da  camada 
(le  carv.'io,  sendo  a  dislancia  da  1.*  a3.°  bo- 
ca  do  ll-,0,  e  a  da  2."  a  3."  de  2f."',0 :  e=tas 
galerias  eram  abobadadas,  revcstidas  com  en- 
xilliares  de  canlaria  ate  grande  dislancia  das 
Ijocas,  e  teem  na  secg'io  d'eslas  4  metros  de 
altura  I,°'3  e  3,"'0  nas  bases,  lloje  esl.'in  en- 
lulliadas  e  coinpletamenle  inutili?adas.  Fo- 
ram  levadas  a  100'°  poiico  mais  ou  nienos 
sobre  o  piano  da  camada;  abriram-se  nellas 
avan^os,  que  enlraram  pclo  fundo  do  Ocea- 


no,  e  corlaram-se  estes  por  oulras  galerias 
para  relalliar  o  nias3i(;o  em  pilarcs  prisma- 
licos ;  um  sarillio  movido  por  bois  fazia  a 
extrac^fio  pelas  bocas  de  servigo.  O  carvao 
de  primeira  qualidade  era  Iransporlado 
para  Lisboa  e  empregado  na  refmagao  do 
sal i Ire. 

A  lavra  era  pouco  activa,  pclo  limilado 
consumo  que  linlia  o  combuslivel,  e  por  i-.so 
durou  annos  este  campo  de  minerat^ixo,  e 
coutinuaria  por  inuilo  mais  se  nfio  occorres- 
se  um  sinislro  cm  1798  ou  1800,  que  a  in- 
terrompeu  completamente.  Uma  galeria  as- 
condenle  cliegou  muilo  porlo  do  afllorameiilo 
da  camada  no  fundo  do  Oceano,  a  dislancia 
de  23"'  da  Pedra  da  Nau  ;  as  nguas  do  Ocea- 
no romoerain  a  inossa  que  as  separava  dos 
trabalhos,  e  precipilaram-se  nelles  abrin- 
do  uma  ampla  brcclia. 

Em  1801  foram  os  Raposos  subslituidos 
pelo  doutor  Jo^e  Bonifacio  de  Andrade,  iio- 
ineado  eiilao  iiitendenle  geral  das  minas  e 
melaes  doreino:  inandou  abrir  a  mina  Mon- 
dego  a  iS.li.  das  primeiras  bocas,  e  a  d"',0  a 
8",0  acima  do  sen  respectivo  nivel ;  por  nieio 
d'csla  mina  communicou  com  a  parte  dos 
velhos  Iraballios  nao  alagadn. 

F]sta  mina  deu,  com  varias  inlerriipjoes, 
o  carv.'io  necessario  ate'  1819,'  e  o  doulor 
Andrade  fez  consLruir  um  forno  de  cal,  a 
traballio  conlinuo,  e  oulro  de  cozer  tijolo 
junto  a  miiia,  nos  quaes  consumia  o  carv.'io 
miudo,  conliiuiando  a  ser  conduzido  para 
Li.dioa  o  carv.'io  grado,  de  primeira  quali- 
dade. 

A  ausencia  do  doulor  Jo;e  Bonifacio  de 
Andrade,  que  se  relirou  para  o  Brasil,  a 
abundancia  de  pyrite  que  o  carvao  encerra, 
a  ignorancia  dos  encarregados  dos  trabalhos, 
foram  as  caiisas  pelas  quaes  o  Governo,  sof- 
frendo  perda  na  lavra  da  mina,  ordenou  a 
sua   sus|jens,'io  em  181!',   on  antes  em  1822, 


1  Em  1803,  coin  a  sai'da  de  D.  Rodrigo  de  Soiisa 
Coutintio  (to  Ministerio,  furam  si!5pi*iisos  todos  os  traba- 
thus,  e  por  lanto  os  d'osia  mina  jmr  ordem  do  Presidente 
do  Real  Erario,  I.uiz  di;  Vascuiicejl.is  ;  o  que  causou  a 
mina  dVsta  mina,  porqiie  se  encheii  de  a^na,  mas  re- 
come(;aram  oiitra  ^■ez  em  J804;  a  invasao  dos  francezi'i 
era  1807  vein  de  novo  snsjiendct-os  ale  ao  priiicipio  de 
1012.  Em  1816  lizeraiu-se  (ral)ulliar  por  conia  da  Admi- 
nislrai;ao  das  minas  os  forno:*  de  cat  em  Alcantara  para 
dar  coniumo  ao  mtiilu  carv3o,  mindo  eiifitente  nas  ciras 
da  miua. 


119 


por  ordem  do  ministeriro  do  leino,  sobre 
proposta  da  dircc^fio  da  real  fabrica  das  sodas, 
que  liavia  sido  em  1801  eiicarregada  da  I'lsca- 
Ijsar^'io  das  iniiias. 

Por  Alvara  de  5  de  Jidlio  do  18'25,  con- 
Iratoii  o  goveriio  a  lavra  das  miiias  decarvao 
com  uiiia  Coinpanliia,  qiiedeixou  a  de  Buar- 
ctis  em  Inlal  abandnno. 

Em  1B3!J  para  1839  lentou  ocessionario  da 
coinpanliia,  Jacinllio  Dias  Damazio,  esgolar 
OS  traballios  da  mina,  e  proseguir  na  sua  la- 
vra: pozerain-se  em  actividade  os  trabailios 
da  rnina  Mondego  ,  tirou-so  algiiin  carvao, 
e  inandoii-se  dcspilar.  Logo  depois,  abrindo- 
so  nma  sanja  depesqiiiza  da  linlia  dc  maxima 
inciina(;'ao  do  inonte,  deparou-se  com  a  con- 
linua^So  da  camada  de  carvao  poucns  nie- 
tros  a  N.N.E.  da  mina  anlecedcrilo,  e  em 
po>i5?io  mais  eievada  sobre  o  monle  ;  abriu- 
se  um  novo  caaipo  de  lavra,  denominado 
JMina  Esperanga,  que  mais  larde  se  fez  com- 
municar  com  a  mina  ^l/oJic/eg-o.  Este  campo 
de^ceu  poncos  rnelros  abaixo  da  actual  gale- 
ria  de  avanco,  polas  difficnldades  de  extia- 
^ao  e  esgoto,  ciija  despcsa  nao  era  compon- 
sada  |)clo  prejo  do  carvao  oblvdo,  e  ainda 
mais  pelo  mao  syslema  de  ataqiie,  fazondo- 
fo  ii  exlrarrno,  serviijo,  esgoto,  e  ventilaoao 
por  duas  bocas  conliguas,  aliertas  ao  mesmo 
nivel,  sobre  o  affloramento  da  camada. 

Osavan(;os  pralicados  nosta  mina  tocaram 
a  lacuna,  que  llie  fica  a  E.S.E.,  e  como  re- 
cearam  dcscer  alem  dos  liinitos  que  tocavam, 
resolveram  procoder  ao  despilanieiito  da  mina 
lisppranja. 

Passnu-se  a  aborlnra  da  mina  Farroho,  a 
uns  300'°  dc  dislancia  paia  N.K.  da  preco- 
denle,  e  em  posigfio  mais  elovada  por  se  ter 
dcscoberto  a  camada  nesse  ponto.  Execula- 
ram-se  os  traljallios  an  modo  ordinarin,  mas 
nao  desceram  muito  com  elles  (aposar  de  se 
apresentar  alii  a  camada  com  melhores  anspi- 
cios),  porque  as  aguas  eram  abcmdantes;  a 
lacuna  aS.E.  era  jii  conliecida  ;  nma  jjcsqui- 
za  i'eila  mais  para  N  E.  no  Valle  das  Fon- 
lainlias,  provavelmente  sobre  algiima  das  ca- 
iiiadas  dolgadas,  dou  apcnas  0"',2  de  possan- 
^a  ;  e  sobre  tudo,  por  se  ignorarem  as  con- 
dirjoes  em  que  a  camada  se  aclia,  e  os  acci- 
denles  que  frequeniemenle  interrompem  a 
coiitinnidade  das  camadas  de  combuslivel. 
Acri'dilou-se  por  estas  razoes,  que  o  carvao 
acabava  todo  nosla  mina,  e  suspenderam-se 
OS  trabalhos  della  em  1345  a  1846. 

Appareceram  nesteanno  de  1846  em  Lisboa 
Miclion  e  Casimir  Pierre,  mineiros  francezes, 
que  visilaram  as  miiias  de  comlnistivel,  e 
dirigiram  a  companhia  propostas  para  a  sua 
lavra;  a  companhia  cnnlratou  com  Jliclion 
a  lavra  da  de  Biiarcos. 

Para  renovar  a  lavra  da  mina  Farrnbo,  as- 
senlaram-se  na  buca  dagaleria  nma  macliina 
de  vapor  da  for^a  de  doze  cavallos,  e  as 
bombas  necessarias  para  o  esgoto:  em  pouco 
tempo  se  esgotaram  as  aguas  dos  traballios, 


e  recome^ou  a  lavra.  Em  1847  cresceram  as 
aguas  siibterraneas;  as  bombas  nao  podiaui 
esgolal-as,  a  accumula^rio  era  rapida  e  a 
mina  foi  iniindada. 

Ma  presen^a  destesinislro  Michon  e  Casimir 
investigaram  os  meios  de  salvar  a  mina  pro- 
cedendo aos  esludos  para  esse  fim  necessarios. 
Detorfiiinaram  a  direc(;ao  e  inclina^fio  da 
camada,  fizeram  o  nivolamenlo  do  lerreno 
cntre  a  boca  da  mina  Farrobo  e  o  solo  onde 
estuo  as  bocas  da  tnina  vollia  ;  reconhecoram 
que  a  linlia  di;  direcgao  da  camada  que  pas- 
sa  no  lerreno  conliguo  as  minas  vellias  (a 
passar  proximo  da  mina  Farroho  a  130'" 
de  profundidade,  a  contar  da  boca  da  refcrida 
mina,  e  a  600"'  na  liorisonlal,  tiradas  polas 
bocas  das  primciras  minas.  Projeclaram  a 
abertura  de  uma  galeria  de  esgoto  geral,  se- 
gnindo  csia  linlia,  e  comejaram  a  executal-a 
em  1847.  Esta  galeria,  avanjando  sempre 
sobre  o  muro  da  camada,  atravessou  o  fundn 
dos  traballios  das  minas  Mondego  e  Esps- 
ranra,  e  neste  segiindo  ponlo  eslabeleceram-se 
alguns  traballios  descendentes,  que  fodavia 
foram  pouco  profiindos.  Em  18ol  cbegou  o 
avan<;o  proximo  do  campo  inundado;  os 
Iraballios  coiilinuaiam  por  meio  de  tres  furos 
de  exploraijUO  de  sonda,  ate'  que  chegando 
ao  dito  campo,  se  operoii  o  esgoto,  derivan- 
do-se  assim  as  aguas  para  os  traballios  ve- 
Ihos. 

Esla  galeria  e'  uma  obra  importantissima, 
porque  toriia  aproveitavel  a  mina  de  Bnarcos, 
apesar  de  ter  sido  so  destinada,  no  principio 
ao  esgoto  das  aguas  accumuladas  na  mina 
Farrobo  :  cortando  a  camada  a  mais  de  ISO" 
dos  affloramenlos,  permitte  a  explora^ao  da 
camada,  e  a  sua  lavra  por  galerias  descen- 
denles  mais  prompta  e  economica,  do  que 
pelas  galerias  abertas  li  superfioie  :  moslran- 
do  a  continuidade  da  camada  no  senlido  da 
sua  dircc(;ao,  faz  ver  tanibem  que  o  sen  eixo 
esla  longe  do  piano  da  galeria  ;  facilita  con- 
sideravelmente  os  esgotos;  torna  rapido  e 
economico  o  servijo  de  extrac<,ao,  o  permit- 
te fmahnenle  uma   mcllior  ventdajfio. 

Em  oonsequencia  d'eslas  reconliecidas  van- 
tagens  lem-se  progredido  com  esta  galeria, 
que  contava  em  Junlio  d'esle  anno  950"  a 
1000'"  de  coiiiprimenlo  ;  com  o  sen  respeclivo 
cnminho  def'erro;  aclia-se  pois  debaixo  do 
Valle  das  Fontainlias  onde  se  devera  abrir 
uma  galeria  ascendenle  de  80'",  pouco  mais 
ou  menos,  ate  a  siiperficie,  para  servir  a. 
ventilagfio  e  a  lavra  da  parte  da  camnda 
superior  a  galeria  geral. 
Continiia. 


Pag. 


ERRATA    DO    N. 


Col.     Link.  Erro. 

1."         60  tie  Hie 


Emend. 
de  1546. 


120 


OBSERVACOES  METEOROLOGICAS  .  FEITAS  NO  GABINETE   DE  PHYSICA 
DA   UMVEIISIDADE    DE  COIMBllA. 


Annode 


Mez  de 

Juiiho 


3 

4 
5 
6 
7 
8 
9 

la 
11 

13 
13 
H 
15 
16 
17 
IS 
19 
20 

ai 

22 
23 
21 
25 
26 
27 
28 
29 
30 


media  } 
do  mez  $ 


E  -.2 

;,      C      0^ 

H   5  S 


(Jruus 


17 
16 
17 
17 
IG 
17 
18 
18 
IS 
18 
16 
20 
19 
18 
20 
20 
19 
18 
19 
19 
20 
20 
21 
41 
21 
20 
20 
19 
19 
19 

18,7 


PressSo  atmosiiherica  ao  meio  dia 


Alturft  ba- 
rometrica  o 
0."  cenli;:. 


JMilliQletrus 


748,752 
747,370 
749,006 
749,008 
746,095 
748,500 
749,137 
731, 7iO 
751,670 
753,898 
753,688 
756,590 
756,713 
755,650 
754,473 
749,399 
748.040 
752,683 
755,346 
755,649 
756,792 
758,058 
755,636 
755,100 
754,341 
754,970 
752,793 
755,093 
755,952 
754,586 

752,962 


Millinietro^ 


Tentjicratura 

Max.  absol.  .  21.° 
Minima  .  .  .  16.° 
Max.  variai;.  .       5.° 


7,588 
9,523 
10,155 
10,143 
9,911 
10,154 
11,0^9 
11,175 
10,374 
9,655 
8,794 
11,281 
12,802 
11,250 
13,094 
13,754 
12,517 
10,883 
11,655 
12,018 
12,857 
12,261 
14,117 
13,904 
13,904 
12,801 
11,368 
11,517 
12,020 
12,331 


Pressao  do 
ar  sec CO 


Millimetrus 


741,164 
737,847 
738,851 
738,860 
736,784 
738,346 
738,108 
740,545 
741,290 
744,343 
744,894 
745,309 
743,911 
744,400 
741,379 
735,045 
736,023 
741,800 
743,691 
743,631 
743,935 
745,797 
741,489 
741,196 
740,437 
742,169 
741,424 
743,575 
743,932 
742,255 


I^slado  hygromt'lrico  da 
atiuosphera  ao  iiieiodia 


^5  "^ 


0,5262 
0,7035 
0,7012 
0,7037 
0,7322 
0,7041 
0,7182 
0,7277 
0,6755 
0,6287 
0,6497 
0,6487 
0,7832 
0,7326 
0,7529 
0,7909 
0,7719 
0,7087 
0,7130 
0,7352 
0,7393 
0,7050 
0,7633 
0,7518 
0,7518 
0,7361 
0,6537 
0,7046 
0,7354 
0,7544 

0,7135 


Quantid.  fie 
vapor  coDtido 
cm  tim  metro 
cubico  de  ar 


Grammas. 


7,588 
9,556 
10,155 
10,148 
9,946 
10,154 
10,991 
11,136 
10,338 
9,6n 
8,824 
11,165 
12,714 
11,211 
12,958 
13,613 
12,530 
10,845 
11,575 
11,935 
12,725 
12,135 
13,913 
13,715 
13,715 
12,670 
11,253 
11,428 
11,950 
12,246 


N. 

S. 
S. 

s. 
s. 
o. 

N.O 

N. 

N. 

N. 

N. 

N. 

N. 

N. 

N.O. 

S.O. 

O.N.O. 

N.O. 
N.O. 
N.O. 

N.O. 

N. 

N. 

N. 

NO. 

N.O. 

N.O 

N. 

N. 

N. 


Prfssuo  atmospltcrica 

Ma.\-.  absol.  7  58,058 
Minima  .  .  746,695 
Max.    excurs.   11,363 


Gran  lie  huinidade  do  ar 

Max.  absol.  .  0,7909 
Minima  .  .  .  0,5262 
V.ir.  max.  .   .  0,S647 


Eatado  do  ceo  e  do 
lempo. 


Claro  c  limpo.  B.  temp. 
Nublad.  temp,  chuvos. 
O  aiesoio.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Enrobcrlo.   B.  tempo. 
\iililado.  O  mesmo. 
Clar.  e  limp.  O  mesmo. 
O  ivesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmu.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  u.esmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Nnldado.  B.  tempo. 
Encobert.  T.  clim'iscos 
Encoberto.  T.  ventoso. 
Niiblado.  B.  tempo. 
Encoberto.  B.  tempo. 
Nublado.  B.  tempo. 
Encobert.  T.  chuvisc. 
CI.  c  limpo.  T.  sereno. 
O  mesmo.  O  mestno. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Nublado.  B.  tempo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
CI.  e  limjio.   K.  tem]»o. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 


f'cntot  predominanUt 
N.  e  NO. 


Coimbra  1.°  de  Julho  de  1854. 

O  Demonslrador  da  Faculdade  de  Philosophia,  Joaqtiim  Augusta  Simacs  de  Carvatho. 


€)  JniSititttt0^ 


JORNAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


CONSELHO  SUPERIOR  DE  INSTRUCCAO 
PUliMCA. 

BEL.ITORIO    ANNUAL 

1846—1847. 
CuiUinuado  dc  p»^.  113. 

Insiiucgdo  superior. 

A  iiislruc^fio  superior  commollida  u  diroc- 
rfio  rlo  consplho,  compoe-se  da  uiiivcrsidadc , 
da  aeadeniia  polvleclinica,  e  das  diias  csclio- 
las  iiiedico-cliinirgicas  de  Lisboa  e  do  Porto. 

A  iiniversidade  de  Coinibra,  notavel  pela 
sua  antigiiidade,  e  pelo  credito  lilteraiio,  dL' 
que  tem  gozado  em  todos  os  lempo?,  princi- 
palmenle  no  reinado  de  elrci  D.  Joao  III  no 
seculo  XVI,  e  no  de  eirei  D.  Jose'  I  no  se- 
ciilo  passado,  forma  enlre  nos  nm  centro 
d'inslnicgfio  ifiosolido,  que  nao  tem  podido, 
ate  lioje,  ser  abalado,  ncm  pelas  vicissitudes 
do  lempo,  nem  peios  ataque;  de  outros  esta- 
hjlecimenlos  livaes.  liila  contem  os  elemen- 
tos  snfficientes  para  alii  se  ensinarem  todas 
as  sciencias,  com  a  ultima  perluijao ;  nfio  so 
em  razao  do  grande  luimero  de  cadeiras, 
como  por  nieio  dos  graiides,  e  ricos  estal:>ele- 
cimenlos  qne  Hie  estao  reunidos. 

O  ensinn  continiiava  nelia  com  a  rogiila- 
ridade  ordinaria  no  anno  leclivo  de  1815  a 
184C,  qnando  os  aconleciinontos  daquclie 
lempo  vieram  interrompcl-o :  foram  despedi- 
dos  OS  estndanles  sem  poderem  fazer  os  sens 
ftCios.  Em  outiibro  seguinte,  por  ordem  do 
governo,  foi  mandada  abrir,  mas  apenas  osla- 
vain  principiados  os  aclos,  que  as  novas  dc^or- 
dens  vieram,  outra  vez  interrompel  os.  D'esde 
entao  ate  agora,  o  en^ino  esteve  fecliado  ;  o 
o  edificio  foi  pcla  maior  parte  occnpado  nii- 
litarmente.  D'esta  desgra^ada  epoclia  por 
lanto,  nao  tern  o  consellio  nada  qne  deva  re- 
latar  a  respejto  d'esle  estabclecimcnto,  liiiii- 
tar-se-ha  a  fazer  algnmas  refle.Noes  sobre  sen 
estado  actual. 

O  ensino  na  universidadc,  consta  de  cinco 
facnidades,  cnjos  professores  de  cada  nma, 
se  podem  reunir  em  consellio,  para  promove- 
rem  o  sen  andiantamento  respectivo;  e  sfio : 
Iheologia,  direilo,  medicina,  matliemalica,  e 
pliilosophia.  Do  mappa  n."  4  verti  V.  M.  o 
quadro  das  cadeiras,  e  o  seu  estado. 

Vol.  UI.  Agosto  15 


Ainda  que  a  lendencia  das  reformas  mo- 
dcrnas,  por  toda  a  pntte,  se  dirija  manifes- 
lamcnte  a  dcsinvolver  os  intcresses  materiaes 
da  Immanidadc,  e  que  csteja  lioje  mui  esfria- 
do  o  zelo  cspiritual,  e  jior  isso  acoUiidos,  com 
nienos  favor,  os  estudos  tlicologicos,  com  tu- 
do  a  facnidade  de  theologia,  colieVente  com 
05  nossos  coslnmes,  serve  de  cxprimir  a  nni- 
dade  da  religiao  clirista,  proclamada  na 
Carta,  como  a  religiao  pul)IWa  do  estado; 
e  de  protesto  contra  o  indil'ferentismo  rcli- 
gioso,  que  com  o  nome  mais  lionesto  de  to- 
lerancia,  tem  penetrado  na  maior  parte  das 
nacoes,  que  v.'io  a  testa  da  civilisa^fio  da 
Einopa.  Alem  disto  esta  facnidade,  depois 
que  admittiu  as  suas  lii^oes,  com  o  nome  de 
onvintes,  uma  classc  d'alumnos  tnodestos,  que 
nfio  aspiram  j;i  aos  grandes  empregos  eccle- 
siaslicos  d'outro  tempo,  mas  somente  prelen- 
dem  liabilitar-se  para  o  exercicio  parochial, 
liojc  mal  rctribuido,  salisfaz  ale  certo  ponto, 
uma  das  maioies  necessidades  da  epoclia. 
Em  quasi  todas  as  dioceses  do  reino  acaba- 
ram,  por  falta  de  meios,  as  cscliolas  ecclo- 
siasticas  para  a  instruc^fio  dos  ordinandos: 
a  facnidade  de  theologia  encarregando-se  da 
instrnccao  d'esta  classe,  nao  so  snppre  esta 
falta  na  diocese  de  Coimbra,  mas  hoje  que 
esta.  ordenado,  por  decrelo,  o  proviinento 
canonico  dus  egrejas  por  meio  de  concurso, 
habilita  alumnns  iiistrnidos  que  por  este  meio 
em  breve,  se  irao  dispcrsar  pt-las  oi:tras  dio- 
ceses;  e  talvez  a  esta  circumslancia  se  deve 
o  angmento  de  disripnios,  que  nella  se  nota. 
A  facnldide  de  direito,  e  a  unica  que  tern 
constaiilemente  oblido  nma  notavel  aflluen- 
cia-  de  alnmnos.  O  seu  numero  annual  sem- 
pre  lem  exeedido  a  500.  Alguns  consideram 
esta  aflluencia,  como  uma  calaniidade  nas 
actuaes  circumstancias  polilicas.  Ao  conselho 
niio  compete  decidir  sobre  este  modo  de  pen- 
sar;  o  que  Ihe  parece  provavel,  e,  que  esta 
facnidade,  ha  de  ser  senipre  mnito  frcqiien- 
tada.  Mao  lem  outra  eschola,  que  Hie  dispu- 
te a  concnrrencia  ;  e  ofl'erece  o  ensino  a  um 
grande  numero,  como  habilila(;fiO  legal,  para 
a  maior  parte  dos  empregos  do  eslado,  a 
oulros  como  meio  de  induslria;  para  o  exer- 
cicio do  foro,  e  a  todos  como  instrucgfio,  para 
reger  as  suas  casas,  e  se  dirigirem  nos  nego- 
cios  quotidianos  da  vida  civil,  e  domestica. 
lisla  mesma  circumslancia,  e  a  outra  da 
—  1854.  Num.  10. 


^^ 


122 


conl'us'io  da  legisla^ao  palria,  tern  servido 
de  psliinulo  a  algmis  dos  pinfessores,  para 
piiblicar  oliras,  que  accredilaiido-os ,  con- 
Iribiiem  pcidL-iosamenle  para  o  mellioramen- 
lo  da  srieiicia. 

A  faciildade  de  medicina  tem  sempre  go- 
zado,  e  goza  aiiida  lioje,  d'lirn  credilo  deci- 
dido,  que  os  seus  rivaes  se  nao  altrovein  a 
negar:  proveiiieute  nfio  so  dos  prot'iindos  c 
vaiiados  coiihccirnentosj  prrparatorios  coiun 
projiriamenle  medicos,  que  exigo  nos  sens 
aliiirinos,  coino  do  distincto  nierecimenlo  de 
muilos  profpssores  que  a  tem  illiislrado,  econti- 
nuatn  n  illustrar.  A  regulaiidade  do  ensiiio, 
assim  tlioorico,  coino  piaclico,  que  ii'ella  se 
niinislra,  e  igual  ao  rigor  e  severldade  das 
provns,  porque  faz  passar  os  alumiios,  antes 
de  llie  confcrir  o  diploma  da  liabilitajao. 
K'esla  parte,  e  tao  superior  as  academias 
da  maior  paile  das  outras  na^oes,  que  a  pe- 
zar  da  nossa,  fiinl  eiilcndida  predilecgao  por 
tudo  que  e  estrangeiro,  os  medicos,  que  nao 
sao  da  esclioia  porlugueza,  nao  Icm  entre 
nos  acliado  favoravel  acolliimenlo.  E^la  fa- 
culdade  e  frequenlada  por  poucos  aiuinnos, 
o  que  e  devido  as  circuinslancias  peculiarcs 
da  profissao  medica,  a  penuria  do  paiz,  e 
sobre  tudo  a  concurrencia  das  duas  escljolas, 
de  Lisboa  e  Porto  ;  onde  se  habililain  alguns 
alumncs,  senao  perfeilamenle  instruidos,  ao 
menos  inunidos  d'nm  diploma,  que  Ihes  ia- 
culta  o  uso  da  medicina. 

As  duasfaculdades  de  matliemalica  e  plii- 
losppl)ia,  alias  iiotaveis  pcla  importancia  das 
disciplinas,  que  as  compoem,  e  pelo  dislin- 
clo  mereciineiilo  domuitos  dos  seus  membros, 
a  pezar  de  ter  poi;  I'lui  princi|)al,  a  applica- 
5ao  ao  desinvolvimento  da  iiidustria,  e  nie- 
llioramento  material  dos  povos,  que  faz  alen- 
dencia  da  epoclia  actual;  com  tudo,  como 
sempre  aconteceu,  poucos  niais  alumuoscoii- 
lam,  alem  dos  que  se  destinam  a  medicina. 

E'  faril  acliar  a  causa  d'e.te  plionoraeno 
no  pouco  valor,  que  no  estado  do  atraza- 
mento  da  nossa  industria,  se  d;i  a  laes  co- 
nliecimentos,  e  na  concurrencia  das  duas  po- 
lyteclmitas  de  Lisboa  e  do  I'orlo;  onde  os 
alutnnos  acliam  imia  iuslruccao  menos  seve- 
ra,  e  menos  solida.  Em  quanlo  se  nao  exe- 
cular  o  artigo  116,  do  decreto  de  20  de  se- 
plembroj  e  se  nao  deslinareni  empregos,  ex- 
clusivatnenle  para  lacs  alumiios,  dobalde  se 
preleudera  tornal-as  mais   frequcntadas. 

Dos  oulros  estabelecirncnlos  dependentes 
do  conselho,  soinento  se  receberam  os  rcla- 
lorios  das  bibliolhecas  de  Lisboa  e  de  Braga, 
c  da  imprensa  nacional.  A  bibliotlieca  de 
Lisboa  corresponde  a.  grandeza  e  impor- 
tancia, da  capital:  e  se  se  ajuizar  pelo  mo- 
vimenlo  dos  que  alii  vuo  consullar  livros,  a 
litteratura  entie  nos  nao  decae.  A  de  Braga 
esleve  fecliada  e  occupada,  mililarmente, 
durante  a  guerra:  felizmenle  nao  soffreu 
estragos  notaveis.  A  imprensa  nacional  de 
Lisboa  lem  chegado  a  lal  pcrfei<,'rio,  princi« 


palmcnle  depois  que  contem  alguns  prelos 
movidos  a  vapor,  que  egunli  as  melliores  da 
Europa.  Os  cstalielecimentos  annexos  a  uni- 
versidade,  resscntcm-?e  da  falla  dos  subsidies 
do  thesouro  :  quasi  todos  desfalleccm  pouco  e 
pouco.  A  pezar  dislo  no  observatorio  astrono- 
mico  traballia-se  com  assiduidade  naeplieme- 
ride;  e  os  sous  trabalhos  soljre  este  objccto,  ja 
cliegam  ao  anno  de  1850.  A  imprensa  da 
universidade  a  pezar  das  perdas  que  soffreu, 
por  occasifio  da  guerra  civil,  ainda  se  suslen- 
ta  com  lustre. 

A  academia  polylecbnica  do  Porto  creada 
por  decreto  de  13  de  Janeiro  de  1837,  lem 
por  objecto  privative  o  eiisino  das  sciencias 
industriaes  ;  e  liabilitar  pessoas  que  promo- 
vam  o  desinvolvimento  da  industria  em  lodas 
as  suas  direcgnes;  engeiilieiros  de  minas,  de 
pontes,  eestradas;  engenlieiros  conbtructores; 
officiacs  do  marinlia,  pilolos;  commerciantes, 
agricultores,  e  arlistas  de  todas  as  classes. 
Para  eslo  fim  aproveilou-se  a  academia  real 
do  comraercio  e  marinba  que  jii  alii  existia, 
augmcnlou-se  com  grande  numero  de  ca- 
deiras,  e  estabeleceram-se  os  cursos  neces- 
sarios  para  o  fim  especial,  a  que  cada  um 
dos  alumiios  se  propoem. 

Esta  academia  esta  em  principle ;  lucta 
com  vigor  contra  as  difficuldades  do  comedo, 
e  sobre  tudo  contra  as  desgra(;adas  occur- 
rencias,  que  desde  a  sua  creajao,  ale  agora, 
nao  lem  cessado  de  al'lligir  a  naijao.  A  sua 
principal  necessidade,  e  a  de  eslalulos  on 
regulainenlo  ;  o  qual  este  conselho  lia  pouco 
tempo  acaba  de  submctler  a  approvagao  de 
V.  M.  Esleve  fecliada  como  todos  os  outros 
estabelecimentos  no  ultimo  anno.  O  conse- 
lho nao  pode  remetler  o  mappa  do  quadro, 
e  estado  das  cadeiras,  por  que  o  nfio  recebeu. 
As  aiiligas  escholas  chirurgicas  creadas  em 
Lisboa  e  Porto,  com  o  fim  unicamente  de 
liabilitar  cliirurgioes,  foram  pelo  decreto  de 
2!)  de  dezembro  de  1836  elevadas  a  calhe- 
goria  de  escholas  medico-chirurgicas,  aug- 
mentadas  corn  o  ensino  das  disciplinas  me- 
dicas,  e  com  um  pessoal  mui  dispendioso. 
O  conselho  nao  recebeu  o  relatorio  da  de 
Lisboa,  i;  o  da  do  Porto  contem  a  nolicia,. 
de  que  tambem  esteve  fecliada,  e  a  expres- 
s.'io  do  receio  de  grande  decadencia  por  falla 
d'aluiTinos.  No  mappa  n.°  5  sera  pre'enle  a 
.  V.  M.  o  quadro  dos  professores.  A  unica 
redexao  que  o  conscHio  julga  poder  fazec 
aqui  sobre  estes  estabelerimentos  e,  que  nem- 
as  necessidades  do  paize.xigem,  nem  as  forgas. 
do  thesouro  permilLcm,  Ires  escholas  de-; 
medicina  cm  Portugal.  Seria  necessario  re-i 
duzir  e^tas  duas,  ao  que  foram  na  sua  origem  ; 
porera  esta  idea  nao  pode  desde  ja  execu- 
tar-se,  talvez  o  tempo  aplanara  o  caminho' 
para  isso. 

Em  resullado  do  exposlo  o  conselho  nao 
se  lisonjea  de  apresenlar  um  quadro  brillianle 
do  estado  das  letras,  ou  da  inslruc^fio  entre 
nos.  Permitta  V.  M.  que  o  conselho  accres- 


-X^^ 


.^Vvk 


123 


ceiile  a  esle  respeito  uma  obaervagao  que 
naliiralraente  se  oft'erece.  As  scioncias,  e  as 
bellai  arles,  s'lo  tmii  tnelinJrosas  :  sao  fidal- 
gas,  perinitta-se  a  expressao  ;  nfio  eslabelecem 
o  sen  domicilio  nas  nac^oes,  senao  na  epoclia 
da  sua  grandeza  e  prosperidade ;  npcnas 
estas  vfiocm  decadencia,  asscieiicias  cnmecjam 
a  relirai'-se;sealgumas  conliniiam,  vivem  uma 
vida  valetudiiiaria,  e  enfezada.  O  liomeui 
sabio  iifio  pode  yiver  no  meio  da  anarcliia  : 
preciea  de  recursos  para  subsistir  com  decen- 
cia,  e  procurar  os  livros,  e  meios  d'instrucgao. 
Os  estabelecimenlos  publicos  em  penuna, 
iiao  podem  minislrar  lis  sciencias  os  nieios 
progrcssivos  do  dcsinvolvimentn.  Eis  aqui  o 
eslado  em  que  nos  acliamos.  Nfio  e  sem  um 
senlimeiUo  delrisleza,  e  magoa,  queocoiisellio 
faz  esta  observa5ao;  mas  julgou  devel-a 
consignar  aqui,  para  servir  de  resposta  as  pes- 
soas  menos  reflectidas,  que  se  lembram  de 
atlribuir  a  falla  de  zeln  do  governo  de  V.  M. 
on  dos  seus  agentes  suballernos  a  decadencia 
das  letras  enlre  nos.  Provc-m  de  causas  mais 
graves,  que  a  ninguem  e  possivcl  direclamente 
remover.  Coimbra  em  conscliio  de  21  de  de- 
zembro  de  18-i7.  Bnsilio  Alberto  de  Souza 
Pinto  servindo  de  presidtnte — jigoslinlio 
Jose  Pinto  d\/llmeida — Mayioel  Antonio 
Coclho  da  Rocha  —  Joao  Tlioma%  de  Sousa 
Lobo — Jeronymo  Jose  de  Mello — Antonio 
Cardoso  Borgcs  de  Figueiredo  —  £,;«;; 
Ignacio  Ferreira. 

(Segve  0  documenlo  n.°  1  cHado  rCeste  relatorio.) 


raiVERSlDADE  DE  COITOA— PROCRAMMAS. 

FACULDADE  DE  MEDICmA. 

1853—1854. 

Coiiliiiuado  tie  pag.    1I-4 

5."  AS>0. 

1.*    CADZIKA    DE   CLINICA   (cLINIC*    DR  MULHEREs). 

Lfule — Dr.  Joao  Alberto  Pcreira  d" Azevti'.o 

(A   esta  aula  concorreni   lambem    oa   csliidantes  do   3.' 
e  4."  anno), 

2  ■    CADEIEA.    DE   CLIMCA   (CLIMCA    DE    UOMEKS). 

Lente  —  Dr.  Manoel  Paes  de  Ftg'tei'redo. 

(A  eala   aula  concorrem  lambem   as  csludanles  do  4." 
atinu). 


CADEIRA    DE  MEDICINA    LCUAL. 

C()MPR%DIO I!RIA^D,     MANUEL    COMPLET     DE    MEDECINE 

LEGALE.  —  .\0VISSI.M1  REFORMS  JUDICIlRI\.  — CODIGO 
ADMISISTRATIVO    PORTLGDEZ. 

Lente  — Dr.  Antonio  Joaqnim  Barjona, 

Por  determina^^io  do  consellio  da  faculdade  niedica, 
lem  de  aer  eosiaadas  n'esla  cadeira  iiao  so  a  Mediciiia 
Inreiise,  e  a  Hysiene  pubiica,  mas  lambem  a  Historia 
<l:i  Mcdicina. 


Come^arei  pela  deCnfi^ao  de  Juri-'pruduocia  modica,  e 
pela  divisiio  d'eeta  sciencia  nos  duiis  rjinos  penai  t-  ii'vil. 

Fiillarei  lugo  depois  da  nalurcza  i\ii  liomeui,  expondo 
0%  plicnomenos  desims  fijnc(;6e3,  comespecialidade  osipic 
perteiicem  aa  fnnc^ofs  aiiimaes,  e  fazcii-lo  ver  a  applica- 
^ilo  dVsta  doiilriiia  a  phylusophia  da  Jiirispriidrncia. 

Do  ramo  penal  da  Jurisprudencia  niedica,  farei  nmn 
divisuo  secnadaria  em  diias  sec(;ues  ;  a  priineira  d'eslas 
comprehtMide  as  leis  criniinaes  relalivas  ils  func^oM  neces- 
sarian para  a  conserva^'ao  do  iniliviiluo  ;  asegunda  conlera 
as  que  dizem  respeilo  ;is  runc^'uea  da  conserva(;ao  da 
esjiecic, 

Fallarci  parlicniarmente,  na  primeira  sec^ao,  du3  feri- 
mecdus  e  do  veneficio  :  na  segunda  do  esliipro  viulenlo, 
do  aborto  promuvido  on  procurado,  do  parto  prematuro, 
serolinu,  simulado,  e  do  infanticidio. 

O  ramo  civil  da  Jurisprudencia  niedicn,  seri'i  tiuiibem 
di\idido  em  dnas  sec^oes,  e  a  diviailo  sera  fundinJa  em 
jirincipius  similliunles  aos  que  serviram  de  base  a  divisSo 
do  ramo  pen;il. 

Na  primeira  sec^-ao  tralarei  darela^ao  entre  ntidireitos 
civis  e  as  condi^ot.-s  physicas  e  menlaes  do  Iiomem,  fal- 
laiido  com  a  possivel  individiia^ao  do  que  e  cuncernenle 
a  faciildade  de  teslar  :  e  na  segunda  e.vpljcarei  as  con- 
di<;oes  cssenciaes  ao  eslado  do  mafrimonio. 

Antes  poreni  de  enlrar  na  disiMissao  especial  de  cada 
urn  dus  r.'imos  da  Jurisprudencia  meuica,  occiiparme-hei 
do  exame  das  di\ersas  i<iades  di)  homcni  ;  muslrarei  o 
ueo  dVsle  e.vanie  em  varias  qnesloes  importantes  dodirei* 
lo  ;  e  provarci  a  iililidade  das  sciencias  physicas  n'alijiimag 
cans.is  niais  delicadas  de  identidade  de  pessoa. 

Acabada  a  Medicina  forense,  explicate!  a  iLeoria  da 
flciencia  admiiiistraliva  ,  com  referenda  .a  administra<;3o 
medica,  propriamenle  dita,  edarei  uma  breve  nolicia  du 
pessoal  d'esta  admiuislrai^ao. 

Dislribuirei  por  rinco  sec^oes  lodaa  as  dilTerenle* 
malarias  da  Hygiene  publica. 

Tralarei  na  primeira  dascondi(;oes  sanilarias  daspovoa- 
rues  em  tempos  ordinaries.  Fallarei  especialmenle  das 
cumidas,  das  bebidas,  do  ar,  dos  edificios,  etc.  Pur  oc- 
casijio  da  salnbridade  do  ar,  exporei  as  caulelaa  com  que 
devem  ser  conslruidos  e  conservados  oa  mat.idouros,  as 
a^oiignes,  e  os  eemilerios, 

A  segiinda  sec^ao  perlencem  ascondi^oes  eanitarias  das 
povoa^oes  nns  circnmstancias  em  que  e  preciso  prevenir 
uu  combaler  uma  doen^-a  conlagio.sa  on  epiilemica. 

A  terceira  tem  por  objecto  a  salubridade  dos  iogarei, 
em  que  vive  um  grande  numero  d'iiidi^iduos  pur  um 
tempo  mais  ou  menos  longo  dentro  d'uni  espat;©  limitado. 
Esta  sccf^JoccmprelicnJe  ascasaa  d'expostos,  osliospilaes, 
as  cadoas,  etc. 

A  quarla  nao  e  mais  que  a  iovestis'at^ao  das  condi^oes 
physicas  e  muraes,  que  devem  reunir  os  liumens  quo  at* 
deslinam  a  certas  prolissoes  especiaes,  como  a  militar  e  a 
marilima. 

A  quin*a  finalmcnte  limita-se  aos  signaes  de  morle  em' 
geral,  e  de  morte  violenla  em  particular. 

Terminada  a  Hygiene  publica,  passarei  a  Historia  da 
Medicina.  Di\  idil-a-hei  em  antiga  e  moderna  :  aa  des- 
cobertas  de  Harveo,  relatiYas  a  circula^ilo  do  sangue, 
formam  a  epocha  diviaoria. 

A  Hi$toria  anliga  divide-se  em  sets  pcriodos  : 

O  primeiro  abra9a  toda  a  Historia  medica  deade  o 
principio^da  sciencia  ate  o  tempo  d'Hyppocrates  ; 

O  segundo  conlem  oque  decorre  dcsdeHyppocrales  ale 
Galcno ; 

O  lerceiro  o  que  vai  de  Galeuo  ate  a  destrui^uo  dai 
letras  pelug  Barbaros  ; 

O  quarto  come^a  com  a  Medicina  dos  Arabes,  e  finda 
no  priiii*ipio  du  decimo  quinto  seculo,  ou  n'applicaqito  da 
Chimica  a  Medicina  ; 

O  quinto  acaba  na  eschola  de  Paracelso  ; 

O  sexto  principia  n'csta  cschula,  e  tcrmina  coin  a 
Historia  anliga. 


A  Historia  moderna  t  dividida  em  ctnco  perioiloi 
O  prirueiro  e  marcado  pelas  obras  de  SyJenham  ; 


124 


O  scjMiiJo  pclns  cscliolas  ile  Stahl,  Bocrhaave  e  Of- 
finnnn  ; 

O  iLTCf  iro  pelii  llieoria  tie  Drus^n  ; 

O  qiiiirlo  pt-los  priiiieirus  escriptoa  ile  Brotissnis  : 

O  qiiinlo  rliou''T  it  t-pcrha  presoile. 

\*to  (U'ixarei  de  nii'ltcioDnr.^  em  c.iJa  iim  ilos  rcferitlos 
pcrioUos,  o  (pic  e  privalivo  »i.i  Medirina  porluu'iipza. 

A  pr^rlica  tiaTo\icLtlo;;ia  sera  cnsiiiaiia  depois  decon- 
cliiiJo  0  tiirso  theorico. 


JERUSALEM  E  0  MAR-MORTO. 


ARCEIEOLOGIA    HEDRAICA. 

Conliuuado  de  pug.  83. 

O  liiniulo  dos  leis  '  e  o  mais  Lello  e  mais 
iiolavel  moiiuineiito,  que  se  encontra  nas  vi- 
sinliangas  da  cidade  sancta.  Todos  os  pe- 
regrinos ,  que  viiilam  Jerusalem,  vfio  admi- 
ral- sempie  a<|iK"llas  veiierandas  reliqiiias  do 
nnligo  jazign  real;  olj'cto  de  parlicularos 
estiidos  doi  differenles  archeologos,  que  teem 
liiado  a  plania  d'aqiielle  moiiiimeiito ,  so- 
lire  ciijo  funereo  deitiiio  reiiia  a  maior  incer- 
leza.  A  pompoia,  designa^'io  de  tumido^ 
reacs ,  e  t'lO  vaga ,  que  deixa  a.  imagina- 
<^ao  vasto  campn  para  se  espraiar  em  mil  en- 
conlradas  conjecluras.  Jsem  e'  empreza  ta- 
cil  atinar  quaes  Fossem  os  reis,  ciijo,  reitos 
morlacs  allijazein;  alguns  perlendeni  que 
ft)ra  alii  o  jazigo  de  Herodes  o  Telrarco,  e 
outios  de  Helena,  rairdia  deAdiabena;  Sau- 
Icy  pela  sua  parte  sustenta,  seiem  atpielle 
OS  verdadoiros  lumulos  dos  rels  de  Judii; 
mas  esla  opiniao  singular  tern  contra  si  o 
teslemuulio  das  paginas  sagiadas,  e  o  con- 
senso  unaniine  de  todos  os  lii>toi  iadores ,  que 
assignam  o  jazigo  dos  reis  de  Judii,  sohre  o 
monle  Siao;  arclieologicamenlc  considerado 
aquelle  niorniuicnlo ,  a  sua  arcliitectura  se 
apiesenia  muito  mais  caractorizada  peioestilo 
gTego ,  do  que  polo  gosto  oriental. 

Saiilcy,  pore'ui  J  para  susleiitar  a  sua  opi- 
'niuo,  soccorre-se  iinicarrienle  a  iiUerpreta^fio 
das  palavras — cidade  dc  David,  com  que 
nas  cscripturas  liebraicas  se  designava  o  balrro 
mais  anligo,  e  mellior  fortiricado  de  Jeru- 
salem. Aquelle  arclieologo  pencnde,  que  a 
cidade  de  David,  nfio  cornpreliendia  exclu- 
sivamente  o  bairro ,  levantado  sobre  o  ro- 
cliedo  de  Siao,  mas  loda  a  area  sobre  que 
estava  assentada  Jerusalem,  e  por  consequen- 
cia,  que  assepuUuras  dos  reis  de  Juda,  tan- 
to  |>odiam  exislir  deutro  do  recinlo  da  cidade 
dc  David  proprjamente  dicta,  como  em  qual- 

'  A  nici.a  niilha  de  Jernsalenl  ,  saiiido  pela  |>or(a  de 
Dair.asco ,  soltre  iinia  plmura ,  imde  cregcein  algiimag 
oliteiras,  enct'iilra-sc  uma  e\cava(;rto,  cuaio  de  iiina  j)e- 
dreira  abatidonada  ;  tini  caaiiiilio  larj^o  e  unl  poiico  em 
declive  da  ser\eiUia  ale  ao  fiindo  d'esla  eitra\a<;iio,  onde 
se  enconlra  iiuia  arcaria  ,  pela  (jiial  se  enlra  para  iniia 
sala  talliada  iia  rocha  ;  esla  sala  le,m  trinla  pes  de  cniii- 
priilo  ,  e'doae  a  fjninze  de  atlura,  Os  arabes  ,  d.'m  a  esla 
excata^ao  o  nome  de  Qhonr-et-Mohuk,  que  signiflea  , 
gritlas  react  o'j   inmutos  dos  reis,  e.  vixet. 


qiior  outro  poiito  d'aquclla  vasta  povoag.-io. 
Para  apreciar  dcvidainente  esla  liypolliese,  e 
mister  examiiiar  a  topograpliia  de  Jerusalem. 

No  tempo  de  Flavio  Jose,  a  cidade  assen- 
tava  sobre  duas  collinas,  fronleiras  uma  a 
outra,  ao  iiorte  e  mcio  dia;  uma  d'ellas  era 
mais  elevada  ,  e  enlre  ambas  corria  utii  valle 
prol'iindo;  a  cidade  com|)unha-sc  por  tanto 
de  dois  bairros,  occiipando  um  a  parte 
mais  baixa,  e  outro  a  mais  elevada.  A  ci- 
dade alta  ,  ou  a  anliga  Jerusalem  ,  occupava 
a  collma  mais  meridional,  que  uma  cstreita 
garganla  torneava  an  K,  S.  e  01'^.  l'!ra  o 
pequeno  valle  dos  fillios  dellinnon.  Pilo  nor- 
te  uma  grossa  nuirallia  circumdada  de  torres, 
defendia  o  bairro  alto.  Esle  ponto  culminan- 
te  constituia  a  coiljna  de  Siao.  A  collina 
do  none  ,  que  so  cliamava  Acra  ,  dnmiiiava 
o  teuipio  levantado  sobre  o  moiite  Moria  ao 
O.,  q.ie  era  um  appendix  dacollina  de.Si'io, 
coin  a  qual  communieava  por  uma  ponte 
laui^ada  sobre  a  eUreita  garganla  ,  cliaiuada 
'I'ljropcoii,  ou  valle  dos  q\ieijeiros.  Jerusalem 
occupava  por  lanlo  um  terreno  coiUido  por 
muitos  valles  eslreitos  ,  e  prol'undos,  que  o  di- 
vidiam  em  luimerosas  planuras,  e  llie  da- 
vam  umaspecto,  que  fazia  lembrar  a  cidade 
das  sete  collinas,  que  na  liistoria,  e  no  res- 
peilo  do  muudo  llie  dispulava  a  jirimasia. 

Siao,  eslando  sobranceira  a  toda  a  cida- 
de ,  devia  naturalmcnte  ser  escolliida  de  pre- 
fereiicia  ao  monle  Acra  por  David  para  sua 
liabilagao ;  accrescera,  porem ,  um  outro 
molivo,  que  determinou  aquelle  rci  a  fun- 
dar  alii  o  sen  jjalacio,  e  dar  a  esle  bairio 
da  cidade  o  seu  nome.  David  conquislara  Je- 
rusalem aos  Jebusenos,  seus  priineiros  nio- 
radoies,  tomando-llies  a  fortaleza  de  Siao  ,  e 
ertabeleceu  por  isso  aqui  a  sua  residencia.  Toi 
eale  o  principio  da  verdadeira  Jerusalem.  ' 

Comoaudar  dos  tempos,  e  sab  a  prolecjao 
dos  reis  da  casa  de  Juda,  a  cidade  de  David 
crescera  em  riqueza  e  popiilagfio,  e  tanspon- 
do  OS  ECUS  antigos  eestreilos  limitcs,  cslende- 
ra  OS  bragos  sobre  o  monle  Moria,  onde  edi- 
(icara  scu  tempio,  e  sobre  a  coUina  d'Arra; 
mais  tarde  eslendera-se  para  o  norle  sobre 
a  cnllJna  Bezclha. 

R  dc  feilo  assim  devia  acontecer  pelo  pro- 
gresso  da  civilisacao ,  e  pelo  descnvolvimen- 
to  das  diversas  industrias,  que  augmentando 
a  riqueza  e  oliixo  dos  moradores  da  cidade, 
creara  nelles  novos  liabitos,  o  novos  gosto?, 
que  nao  podiam  Ingrar,  rediisidos  so  ao  aper- 
lado  reciulo  da  priuiiliva  cidadella  ;  era  por 
isso  natural  seguirem  o  pendor  da  collina  , 
para  buscar  naamenidade  dos  valles  a  frescu- 
ra ,  e  commodidades ,  que  llie  nao  ofl'erew 
recia  o  rocliedo  natal.  Algumas  vezes  os  oro- 


^  Esla  cidade  fura  por  miiito  tempo  iinia  aldeia  ,  co- 
nlieciila  com  o  nome  lic  SalfJtt,  e  su  deptiis  de  conqiiisla- 
da  por  Da\id,  e  que  come(;ou  a  ;;.izar  (^e  maior  couside- 
rai^ao.  Juab,  sobrinho  de  David,  coiiliiuioii  us  Irabalhos 
cumec;adus  pelu  prophcla  rei ,  e  Jerusalem  lumuu  entao 
nova    furma. 


125 


phetas,  e  os  poelas,  fallando  eniphaticnnien- 
te,  e  coin  liberdade  poetica,  tomavam  a  parte 
pelo  todo,  daiido  a  Jerusalem  o  titulo  da  ci- 
dade  de  David;  no  livro,  poreiii,  dos  Mac- 
cliabeos  o  nome  da  cidade  de  David,  e  ap- 
plicado  exclusivamente  ao  nionte  de  Si.'io , 
(jue  o  hisloriador  dos  Jiideos  chaina  sempre 
cidade  alta,  querendo  miii  de  indiislriacallar 
onoine  de  David,  masassignando-llie  os  nies- 
mosllmiles,  que  os  livros  san;rados, 

u  David  ,  dizMr.  Calien,  foi  sepultado  em 
Jerusalem,  cliainada  cidade  de  David,  por- 
que  era  a  sede  da  sua  corte ,  e  o  bergo  da 
sua  dinastla.  55  D'esta  passagem  d  queSaulcy 
pertende  deduzir,  que  o  tumulo  d'aquclle 
rei  podia  eslar  fora  das  porlas  de  Siao.  A 
inexactidao,  porem,  d'eslaasscrgno,  e'  de  lodo 
o  ponto  evidenle.  Quaiido  o  j  ideii  Nrliemias 
foi  auctorizado  por  Artaxerces  Longa-Mao, 
para' reconstruir  Jerusalem,  dislriljuiu  oslra- 
ballios  da  reedifioa^ao  pelas  priucipaes  pes- 
soas  da  cidade,  que  parlicularmente  se  oc- 
cuparam  de  levantar  as  raurallias,  e  diz  a 
Escriplura ,  que  Sellum  ,  filtio  de  Cliolosa 
fora  encarregado  «de  reedificar  aniuralha  da 
piscina  de  Siloe  ao  longo  do  jardim  do  rei, 
ale  aos  degraos  que  descem  da  cidade  de  Da- 
vid. »  Depois  d'elle  ,  Nehemias  filho  de  Az- 
boc ,  conlinuou  a  reslauragao  da  muraiha 
da  cidade  de  David  nate  a  frcnle  dos  tumic- 
los  de  David,  ale'  a  piscina,  e  ale  a  casa 
dos  fortes  de  David,  n  Esla  prova  irrecusa- 
vel  da  hisloria  liebraica,  nao  deixa  a  menor 
duvidasobre  a  exislencia  dos  lumulos  d'aquel- 
le  rei  na  exiremidade  meridional  da  cidade 
de  seu  nonie.  A  anliga  topographia,  e  indi- 
cada  aqui  por  uma  lesteniunha  muda,  mas 
incontestavel ;  e  a  piscina  de  Siloe,  que  ajn- 
da  hoje  exisle  ao  S.  O.  do  rocliedo  de  Siao, 
onde  o  valle  dos  filbos  de  Ilinnon  vem  de- 
sembocar  na  garganla  deTyropeon,  no  iogar 
em  que  oulr'ora  eslava  o  jardim  do  rei. 

K'  verdade ,  que  eutre  os  povos  da  anli- 
guidade,  e  parlicidarmenle  enlre  os  jideos, 
era  costume  coUocar  os  cemlterios  fora  das 
povoa^oes ;  mas  nao  e  menos  cerlo  que  a 
respeilo  dos  rejs ,  e  dos  proplietas  sc  fazia 
uma  excepjao  a  esta  regra  em  loda  a  Pa- 
leslina  por  uma  especie  de  homenagcm  tii- 
butada  a  aucloridade  d'aquellas  persona- 
gens.  Samuel  foi  sepultado  em  liamallia, 
na  sua  propria  casa;  Ba^a,  general  dos  exer- 
cilos  de  Madab,  que  Iraiyoeiraiiiente  occu- 
para  o  llirono,  etn  Thersa  cidade,  que  es- 
colhera  para  capital.  Amari,  fundador  da 
Samaria.,  Joaclias,  rei  de  Israel,  e  seu  fi- 
lho Joas,  foram  sepultados  na  cidade  de 
Samaria.  Nao  ha  por  lanto  razao  alguma 
para  suspeitar,  que  os  habitantes  de  Jerusa- 
lem praclicassem  na  pessoa  do  seu  illustre 
fundador  urn  acto,  que  seria  offensivo  a  sua 
niemona ,  e  a  venerag.ao,  que  Hie  deviam. 

Saulcy  deixara-se  dominarneste  ponto  pelas 
ideas  de  Prisse  d'Avesnes,  que  na  sua  hisloria 
inedita   da  arte  entre  os  Egypcios  perlcnde, 


que  03  Gregos  e  Hebreus  aprenderam  a  arclil- 
lectura  dos  Egipcios,  que,  inais  adianlados 
nacarreira  da  civilisa<;ao  e  das  artes,  deviam 
transmittir  aos  outros  povos  siias  ideas,  c 
estilos.  Mai  pode,  poreai,  susleiitar-se  uma 
till  opiniao,  quando  s.'io  completamente  desco- 
nliccidosos  nionumenlos  plienicios  e  liebraicos, 
que  podiam  servir  de  ponto  de  compara<jiio 
enlre  as  differentes  arcliitecturas.  Alem  ditto 
as  relajoes  entre  o  Egypio  e  a  Grecia  dalam 
apenas  de  seiscenlos  aiiiios  antes  da  era  clirisla, 
e  nao  remonlam  alem  do  reinado  de  Psam- 
miliclius.  A  raja  egypcia  essencialmente  se- 
denlaria,  era  pouco  apaixonada  pelas  expe- 
digoes  longinquas;  leniiain  tanlo  confiar-se  ao 
capriclio  das  ondas,  que  os  Pharaos  n'lo  liriham 
no  Medilerraneo  um  unico  porto,  e  por  largos 
tempos  as  costas  septemlrionaes  estiveram 
fecliadas  aos  eslrangeiros,  como  ainda  hoje 
tuccede  no  Jap.'io  E  n.'io  era  por  cerlo  com 
disposigoes  taes,  que  se  podiam  transmittir  fa- 
cilmente  as  ideas,  os  costumes,  e  ate  o  gosto 
das  artes,  e  das  sciencias  do  Egypto  aos  oulros 
povos,  quo  tao  isolados  viviam  d'esle  paiz. 
Neil)  por  outro  lado  e  verissimil,  que  a  in- 
comparavel  delicadeza  da  arte  grega,  e  sua 
infenita  variedade  fosse  o  simples  desenvolvi- 
menlo  de  um  germen  orionlal  ou  egypcio. 

Nem  tao  pouco  pode  suppor-se,  que  essa 
eneanladora  liberdade,  que  e  uma  das  maiores 
bellezas  da  archil^ctura  liellenica,  nascesse 
sob  o  dispotismo  asiaticn,  ou  debaixo  da 
rigidez  egypcia.  A  delicadeza  e  sublimidade 
da  arlc  grega  cerlo  n.'to  podia  ajustar-se  com 
tao  rudes  elemenlos,  ea  hisloria  da  sua  deca- 
dencia  nao  deixa  a  menor  duvida  sobre  a 
causa  dessa  archileclura  hybrida,  que  se 
observa  em  lantos  monumenlos  da  epochs 
da  dominagao  dos  imperadores  romanos,  e 
que  provavelmente  lem  dado  Iogar  asduvidas 
e  escrupulos  de  alguns  archeologislas,  que, 
n'lO  ponderando  bem  eslas  circumslancias, 
procuram  allribuir  aos  hebreus  os  vestigios 
de  uma  archileclura,  que  llie  e  completamen- 
te eslranha,  e  que  fora  obra  dos  seus  con- 
quisladores. 

Osdocumcntoshisloricos  provam  por  tanlo, 
que  nao  pertencem  a  familia  real  de  Judd  os 
chamadoi  tumu/on-dos  reis,  e  que  por  conse- 
()uencia  carecem  de  fundamento  as  conjeclu. 
ras  dos  que  perlendem  ver  n'clles  um  monu- 
mento  da  pimitiva  archileclura  hebraica  ; 
pelo  conlrario  a  construcg.'io  e  ornatos  d'este 
monumento  revelam  claramente  una  iniato 
do  estilo  grego  e  romano ,  que  caracleri- 
sa  esse  periodo  raemoravel ,  em  que  lodos  os 
cultos,  e  todas  as  civilisa<;oes  se  confun- 
diam,  consliluindo  uma  verdadeira  Babel  na 
hisloria  profana,  e  que  fora  uma  epocha  da 
decadencia  para  a  archileclura  da  Grecia, 
que  dominaddra  no  Orienle  e  no  Egypio  por 
seu  genio,  e  tuas  antigas  conquistas  perdera 
no  conlaclo  com  estes  differentes  povos  a 
pureza  de  sua  elegante  simplicidade  ,  seme- 
Ifaante  ao  caudaloso    rio,    cujis    cristalinas 


126 


agiias  perdem  sua  limpidez,  transboidanrlo 
sdbre  suns  marfieiis.  Kd'acjui  nasccvi  esta  arclil- 
lectuia  si/ncrct/cii,  que  Saulcy  lomoii  eoiiio 
ty|)o  d'archilecliira   liebraica. 

Chateaubriand  dcscreve  com  rara  siiigpli'za 
('  coiicisao  as  priiuipacs  fei^oes  do  luniiilo 
dos  reis,  neslas  pnliivias:  «  No  cr-nlro  da 
niurallia  do  iiieio  dia  ha  utra  grande  porta 
quadrada  de  fvrdetn  dorica,  aberla  iia  roclia 
a  grande  profuudidade ;  mn  friso  fanlazioso, 
inas  de  esqiiesita  delicadoza  esta  esculpido 
por  snbre  a  porta,  priim-irainente  o  uin  tri- 
glypho  seguido  de  uuia  tnelopa  oriinda  com 
urn  siinpli!S  anel,  depors  um  cacho  d'uvas 
entre  diias  conins,  e  diias  la^as.  Deznito 
polgadas  a  einia  d'este  frizo  h.i  uma  foltiagetii 
enterla<;ada  de  piiihas.  » 

Fallando  d'este  niesmo  inoiiumento,  o  A. 
do  tiielhor  livro,  que  sp  conlieco  sobro  a  Jiidon, 
diz  11  esia  roclia  esta  i-loganleinenle  esciil|)lda, 
porem  perlence  a  ultima  epoclia  da  arte  eulre 
OS  roinarfos,  in  the  latter  Roman  sti)l,e,' 
Saulcy  porem  considera  estes  lumulos,  (jue 
Chateaubriand  comparava  nos  banlios  de 
architecl'ira  romana,  e  que  evidentemenle  sfio 
uma  amosira  da  decadencia  da  arte  grega, 
conioum  iiiaiavilhoso  especimeu  da  arcliilec- 
tura  hebraica,  um  edil'iGio  eomlemporaneo 
de  Homero,  que  excede  em  antiguidade  a 
lodes  OS  iiionumentos  gregos,  e  que  data  de 
mil  annos  antes  de  J.  C.  !  Saulcy  viajando 
a  roda  do  Mnr-morlo,  encontrara  nopaiz  de 
Aloarb  o  capi'.el  de  uma  cobimna  derrocada, 
este  capitel,  diz  olle,  fiao  tern  com  o  capilel 
ionicosenfio  mui  remota  analogia,  e  certo  fora 
trabaihado  per  selvagen*,  que  provavelmente 
precederam  os  artistas  gregos,  a  qiiem  devcmos 
as  bellas  proporQoes  da  ordem  ionica.  «  A 
descoberta  deste  capitel  sobre  o  solo  arabe 
no  meio  de  ruiiias,  que  Saulcy  considera  como 
auteriores  a  civdi^a^ao  grcga  e  romana,  e  o 
principal  fundamenlo  da  sua  nova  e  mui 
singular  tlieoria  sobre  a  archilectura  hebraica, 
llifjoria  que  se  re-ume  iiestas  palavras.  u  O  ro- 
chedoemqne  eslaabertc  o  vestibulo  dos  tumu- 
loi  reaes  apresenta  triglyplios  e  ta^as,  as  mol- 
duras  da  cornija  tem  a  elegancia  dasmoldu- 
rasgregas;  mas  quem  podera  aflVraiar  quesfio 
de  invcngao  grega  as  ordens  dorica,  e  ionica?  » 
is  queiu  podera  assegurar  que  aqucllas 
ordens  foram  originariainente  invenladas  na 
Judea,  oil  que  passaram  por  ella  antes  de 
chegar  a  Grecia  ! 


JARDIKS      D  ACCLIMATACAO     ^•A     MADEIRA      E 
ANGOLA   NA   AFillC^    jVy?T|»0-OCClIJBJ;ir^L. 

O  doscnvolvimento  consider.avel  que  tomou, 
mormenle  ne^te  ultimo  dijcwinio,  a  horii- 
culuira  em  Porliigal,  e  uio  fiacio  por  lodos 

\    nopjjisoa  —  Bibtiful  Reft^rfh ,  v»  Pff^ttiiie. 


reconhecido  ,  o  quo  poreui  njo  e  menos  ccrlo, 
e  que,  a  maior  p.irlo  on  quasi  todos  os  vcge- 
laes  que  hoje  estno  ornando  oi  jnrdins  por- 
luguezes,  teem  sido  com[)rados  e  introduzidos 
da  Belgica,  Franca  e  Inglaterra,  levando 
d'esta  arte  cada  anno  sommas  assaz  conside- 
raveis  para  fora  di'ste  paiz.  Ora,  ponderando 
altentamentn  o  bonan^oso,  e  comtudo  lao 
variado  clima  de  Portugal,  e  a  iVliz  posijfio 
goograpliica  das  suns  provincias  ultrama- 
riuui,  que  ol't'erecem  uma  escala  complela  de 
todos  OS  ell  mas,  desde  o  temperado  ate  a 
zona  equatorial,  dovemos  concluir  que  este 
reino,  em  logar  de  romprar  todos  os  adornos 
dos  sens  jartlins  aos  estrangeiros,  podia  e 
devia  ser  elle  mesmo  o  grande  emporlo  das 
riquezas  liorticolas  para  toda  a  Eurojxi  :  sim, 
l^isboa  e  Porto  deviam  ser  o  mercado  abun- 
dante,  aonde  todos  os  paizes  menos  favoreci- 
dos  pelo  clima  viessem  coiiiprar,  tanto  as 
[jlanlas  ornameiitacs,  como  todos  os  mais 
vegetaes  utHs,  exigrdos  cada  anno  em  maior 
niimoro  e  vanedade  pclas  culturas  rural  e 
llorcstal  dos  mencionados  paizes ;  e  conquista- 
dos,  cada  vez  eir>  maior  proporc^ao,  ate  as 
mais  longinquas  regioes,  por  uma  liabil  e  bem 
enlendida  acclimata5rio  em  estabelecimentos 
creadoi  para  este  fun  nas  differentes  Posses- 
soes  ullramarinas  de  Portugal.  Queremos 
couceder  c]i:e  algiimas  d'estas  conquistas  ostao 
feitas ;  pois  ji  se  encontram  nos  jardins  de 
Lisboa,  Coimbra  e  Porto,  etc.,  varias  plantas 
ornamentaes  alii  edi>cadas  de  sementes  vindas 
das  provincias  ultramarinas  do  Portugal  e 
d'oiilros  paizes  remoloi;  mas,  com  tudo  isso, 
e  mister  confeisar  que  estas  isoladas  curiosi- 
dades  nao  passam  das  primeiras  tentativas, 
e  o>t,io  ainda  inuilo  longe  d'aqnella  grande 
pert'eicj'fio  e  d'exten^ao  a  que  estas  culturas- 
pndiam  chegar  n'um  palz  dotado  d'um 
clima  tao  variado  e  fovoravel,  e  que  possuc 
nas  suas  collinas  tropicaes  e  sub-lropicaes 
uma  fonte  inexhaurivel  de  vegetaes  preciosos 
a  liorticnltura,  agricultura  eacultura  Gorestal. 
Era  portanlo  mnito  para  desejar  que  se  tiras- 
se  mellior  pioveito  da  fertilidade  e  do  excel- 
leute  clim-a  do  continenle  do  reino,  exploran- 
do  e  aproveilando  simnltaneamente  as  im- 
mensas  riquezas  vegetaes  das  provincias  ultra, 
marinas.  Entre  os  meios  d'akanjar  tao 
desi'javel  fira  em  maior  escala  e  no  mais 
breve  tempo  possivel,  julgo  dever  apontar 
principalmente  tres,  os  quaes,  sem  cansarein 
grandes  despezas  ao  Estado,  quando  conve- 
nientemente  applicados,  nao  deixarao  de 
conduzir  ao  mais  prospero  resullado.  Sao 
estes  meios:  —  1  °a  fundaraode jardins  d'ac- 
climala^ao  em  varios  pontos  das  Possessoes 
ullramarinas; — 2°  a  coadjnva^ao  energica 
dos  einpregados  mais  habililados  nas  colonias 
e  no  servigo  da  marinba  do  Estado;  e  .3.* 
fmoimente—  persevcran(,a  da  parte  do  governo 
de  Sua  AJageslade.  Eu  digo  miiito  de  pro- 
p.osito  —  persfverari^a  da  parte  do  governo, 
pprqiic,  te.ndo  tornado  parte  acliva,  desde  lia 


127 


ddze  annos,  na  sticcesslva  metamorphose  que 
8e  operou  na  liorticiiltura  d'esta  ctipital  e  sens 
contornos,  chegiiei  a  conhecer  pela  propria 
experiencia  os  nuinerosos  obstaciilos,  que, 
tanto  na  funda^fio  cotno  na  gcrencia  posterior 
d'estabelecimeritos  horticolas,  se  alevantain 
de  toda  a  parte;  ohslaciilos  f|iie,  sciido  jii 
bastante  fortes  no  conliiiente  do  reino,  por- 
ventiira  se  tornarao  ainda  niais  embara^osos 
em  remotas  provincias  ultramarinas,  e  que 
so  poderao  ser  vtncidos  por  um  desvclo 
energico  e  perscverantemente  contiiiiiado.  Os 
jardlns  d'acclimata^fio,  ciija  fundac^ao  desde 
ja  julgo  dever  leinbrar  ao  Govenio  de  Sua 
Magestade,  sao  dois:  lira  na  ciJade  capital 
da  provincia  d'Angola,  em  S.  Paulo  de 
Loanda,  e  outro  no  Funclial,  na  illia  da 
Madeira.  O  jardim  eslabelecido  etn  Loanda 
deve-se  considers r  o  tractar  como  jardint  tro- 
pical, sujeitando  n'elle  os  vegetacs  uleis  d;is 
Konas  tropicaes,  desde  o  Capricornio  ati-  ao 
Cancro,  a  uina  cultura  regular;  Ciludaiido-sf 
ao  inesmo  tempo  o  tnodo  mais  conveniente 
de  propaga^'ao  e  mulliplica(;aod'estes  vegetaes 
hem  como  as  qualidades  climalicas  e  de  ter- 
rene que  cada  urn  especialmente  exige,  etc. 
etc.  O  jardim  creado  no  Funclial  fonnara 
uta  jardim  sub-tropical,  recebendo  os  vege- 
laes  tropicaes  ja  habituados  a  certa  cultura 
regular,  naturali»ando-os  alii,  para  depois  se 
poderem  cuUivar  com  mellior  rcsultado  em 
ciimas  menos  quentes ;  bem  como  d'oulro 
lado  acostiimando  as  plantas,  para  ahi  remet- 
lidas  de  paizes  mais  frios,  a  vegetarem  n'uma 
temperatura  maiselevada,  adaptando-as  d'este 
modo  a  nao  estranliareui  tanto  a  sua  cultura 
em  regioes  da  zona  tropical,  etc.  etc.  Oj 
jardins  scienlificos  eni  Liaboa,  Coiuibra  e 
Porlo  offerecem  convenientemente  o  terceiro 
e  infimo  grau  d'esla  cscala  de  successiva  ac- 
cliinatagao,  recebendo  do  jardim  do  Funclial 
OS  vegetaes  tropicaes  e  sub-lropicaes  alii  ac- 
climatados,  e  reincltiuido-llie  em  retribui^-fio 
9S  plantas  uleis  viiidas  de  paizes  mais  frios, 
para  ahi  se  acclimatarern.  Seri'a  de  grande 
vantagem,  nfio  s6  para  a  clinuitologia  gcral, 
como  particulariiR'ute  para  adiantar  os  conlie- 
ciraentos  ainda  lao  fragriientarios  a  cerca  das 
condi^oes  cliuiatolugicas  da  Africa  tropical, 
te  em  cada  um  d'esles  jardins  d'accliinala- 
^fio  se  fizessem  obscrvagoes  metercologicas  a> 
mesmas  lioras  e  debaixo  de  principios  ideii- 
ticos  previamenle  fixados.  Se  a  naturalisa- 
5ao  de  vegetaes  iiteis  de  todas  as  reguV-s 
phytogeograpliicas  do  globo  lerrestrc,  e  o  fiin 
principal  dos  jardins  d'accliiiiaLajao,  eale, 
comludo,  nfio  e  o  unico  destino  d'elles ;  pelo 
conlrario,  podem  estes  estabelecimenlos,  me- 
diante  uma  organisajao  conveniente,  ao 
mesmo  tempo  vanlajo^amente  servir  de  pas- 
teios  de  rccreio  e  d'instrucgdo  aos  habitantes 
das  cidades  em  cujos  contornos  forem  funda- 
dos.  Ora,  tanto  a  capital  da  ilha  da  Madeira 
como  a  d'Angola  reclamam,  por  causa  da 
sua  posisao  isolada,  e  por  ainda  serein  in- 


teiramenle  desprovidas  de  rccrcios  inilruc- 
tivos,  desde  ha  ninito  tempo,  a  crea^'ao  dt 
jardins  publicos;  e  como  nao  e  difficil  orga- 
nisar  um  jardim  d'accliinataijao  de  modo 
que  possa  servir  igualinente  de  passcio  publico, 
alcan^ar-se  podem  ambos  estes  fins  seni  aiig- 
tnentar  muito  as  despesas,  ornando  as  ditas 
capitaes  com  estabolecinientos,  que  por  todas 
as  naynes  cultas  sfio  considerados  como  um 
dos  ineios  mais  poderosos  d'intliiir  suave  c 
benelicainente  sobre  o  eslado  moral  e  intel- 
lectual da  populagfio  circiimvisinha.  Mas 
para  colonias  agricolas,  cujo  prospero  futuro 
depende  principulmeute  d'unia  bem  arertada 
escollia  e  conveniente  varia^'io  dos  generos 
mais  apreciados  de  sua*  ciilluras,  os  mcncio- 
nados  i-slabeleciineiitos  adquireiri  ainda  maior 
iuiportancia,  e  toruam-se  em  inslitnlos  dc 
maxima  ulilidade  e  d'inealculavol  vantagem 
para  to<la  a  coloiiia.  I'ois  um  jardim  d"ac- 
climatayfio  orgauisado  conforme  os  prin- 
cipios de  climaUdogia  e  phylogeographia 
moderna,  e  modilicado  complelamente  para 
servir  de  passeio,  nfio  so  offerece  aos  ociosos 
ntn  passalempo  saudavel  e  divertido,  mas 
desperla  quasi  involuntariamente  no  auimo 
dos  que  o  visitam  um  sem  luimero  de  refle- 
xoes  proveitosas  a.  cerca  da  patria,  do  modo 
de  cultura  e  da  applicacao  dos  respeclivos 
vegetaes ;  e  conlribue  deste  modo  efficazmente 
a  excitagao  d'mna  nobre  curiosidade,  e 
medianle  esta  a  diffusao  de  muitos  e  variados 
couliecimenlos  que  era  breve  se  tornam  pro- 
licuos  aos  colonos,  e  por  Cfinseguinte  a  mesma 
colonia  intcira.  De  mais  a  mais,  se  o  gover. 
no  de  Sua  Magestade  pnrvenlura  chegar  a 
eslabelecer  cadeiras  d'liistoria  natural  nas 
provincias  ultramarinas,  o  que  de  certo  haviu 
de  coulribuir  muito  para  o  prospero  desen- 
volviinento  d'ellas,  por  serem  as  sciencias  na- 
turaes  a  cbave  de  quasi  todas  as  operagoes 
agricolas,  os  competentes  lenles  destas  cadei- 
ras eiiconlravam  nos  jardins  d'acclimatagao 
jii  OS  priuieiros  e  mais  necessaries  clemeuLos 
para  a  inslrucgao  practica  dos  sens  discipulos. 
Se  O)  arguuiciilos  acinia  apontados,  talvez 
jii  por  si  ^6  paiecem  assaz  valio;os  (jara  con- 
vidar  o  governo  de  Sua  Mage.-tade  a  crea- 
(,i\o  dos  lembrados  estabelecimentos,  accres- 
cem  ainda,  tanto  em  respeito  a  illia  da  Ma- 
deira, como  em  lelagfio  a  provincia  d'Angola 
vaiios  outros  molivos  e.-peciaes,  que,  seudo 
compcteiitemenle  pouderados,  designatn  a 
presente  epoclia  como  a  mais  opporluna  para 
empreliender,  quanto  antes,  as  supra  indica- 
diis   tentativas. 

Conlinua.  dr.  f.  WELWITSCH. 


ESPIRITOS    PERCCSSORES. 

Uma  das  ultimas  sessoes  do  senado  Ame- 
ricano tornou-se  nolavel  por  um  incidsnteas- 
sax  curioso,  eque  deu  logar  a  grandes  rizadas. 


128 


Eis  aqiii  coino  a    cerca  d'elle  se  exprimij 
Sliiekls: 

>t  Tcnlio  a  honra  d'aprescntnr  ao  seiiado 
lima  petirao  corn  15:000  assignatiiras  sobre 
objecto  lao  sinp;iilar  coiiio  novo. 

a  1.  Oi  signatarios  represeiitam  que  algiins 
plieiionienos  physicos  e  iiioraes,  de  iiatun^za 
toda  mysleriosa,  allraliein  a  allenCj-fio  publica 
no  paiz,  e  ale  na  liuropa.  A  analyse  parcial 
d'esles  phenomenon  revcia,  dizeiii  dies,  a 
exislencia  d'linia  for^a  occulta,  que  se  palen- 
tea  por  agitayao,  eicorregadiira,  suspensao,  e 
por  fim  inovimenin,  (pie  cornnmnica  aos 
corpos  ponderaveis  de  niodo  conlrario  as  leis 
natiiraes. 

«  2.  Eta  for<,a  manifesla-se  por  claroes 
oil  luzes  que  apparecwin  subilaineiUe  em  lo- 
garesonde  nenhiiiiia  ac^So  cbimica,  neni  plios- 
pborescencia  poderia  desinvolvcr-se. 

11  3.  Manifejta-se  lanibem  por  sons  myste- 
riosos,  senielliantes  ora  a  paiicadas  batidas 
por  nin  espirjto  iiivisivel,  ora  ao  znnido 
dos  ventos  ou  ao  eslrondo  do  Irovao.  Algumas 
vezes  ouve-se  o  soii»  de  vozes  Imiiianas  ou 
d'algum  instrumenlo  de  miistca. 

It  4  As  func^oes  aniinaes  interroinpem-se 
as  vczes  inslanlaneamenle,  e  por  lal  agenle 
mysterioso  teem  desapparecido  allecjoes  repu- 
ladas  incuraveis. 

11  Os  requerentcs  discordam  entre  si  quanto 
a  origem  d'estes  phenomenos,  que  uns  al- 
tribuem  a  potencia  intelligjnte  d'espiritos 
despojados  da  apparencia  material,  e  que 
oulroi  pretendem  poder  expticar-se  d'u[na 
maiieira  racional  e  sati^factoria.  Mas  eslao 
todos  conformes  a  cerca  da  realidade  dos 
plienoiiienos,  e  pedera  que  soja  nomeada  uina 
coniini-.sao  jiara  proced(!r  a  luadura  e  scien- 
lifica  invesligaCj'ao. 

.1  Tenlio  lielinente  exposto  o  resuiiio  d'e^ta 
peli^ao,  que,  a  pezar  do  seu  objecto,  e'  redigida 
conveuienteuientp,  poij  que  lenlio  adoplado 
o  syslema  de  nao  vos  apresenlar  pelr^oes  of- 
feuiivas.  iMas  tendo  preencbido  este  dever, 
perniilla-se-ine  agora  dizer  que  o  iiiiperio  de 
seineihanles  aberra(,'oei  eui  graiide  nuuiero  de 
nossos  conleinporaneos,  e  n'uin  seculo  lao  11- 
luslrado,  proveni  a  meu  ver,  ou  d'uin  syste- 
ma  defeiluoso  d'educa^-ao,  ou  d'urn  de=arrunjo 
parcial  das  faculdades  inteilecluaes,  produ- 
zido  por  alguma  desorgani^a^fio  pbysica.  Nao 
posio  tainl>eui  crer  que  laes  aberra^oes  ejlejaiii 
tao    gene^ali^adas   couio    indica   csla  peti(;;io. 

11  Ein  ditTereules  epoclias  do  mundo  teem 
bavido  ilbisoes  do  nu-?nio  genero,  A  aleliiuiia 
por  [nui;os  seculos  occupou  a  atlenjao  de 
lioinens  eniinentcs  Co(n  ludo  bavin,  quanto 
ao  esseiicial,  alguma  cousa  de  sublime  e  real 
na  alcliimia  ;  estudava-se  com  aiTiiico  a  natu- 
reza,  e  se  os  alcbimislaj  nao  ol)tiveram  quan- 
to espcravani,  fcjram  lodavia  recotnpensados 
com   descoljrinieutos    inuilo    jiiiporlniites.  » 

Alem  d'iito  meiiciona  Shields  as  iUusoes  e 
decepgoes  dos  Ffosa-Cruzes,  e  di;  varios 
espiritualibtas,     comprelieiiderido    Cagliostro, 


esse  celeljre  profcisor  que  vendia  a  iminorta- 
lidade  aos  vellios,  e  a  belleza  aos  jovons  ;  e 
lermina  com  a  seguinle  senlenga  de  Burke  : 
A  credulidade  dos  parvos  e  tao  inexgotavel 
coino  as  artimanhas  dos  impostores.  >i 

Ueferiremos  tambem,  o  que  u  cerca  do 
mesmo  objecto  se  passou  nlllmamen'-e  n'uina 
sessao  da  academia  de  Franca. 

liayer  commuiiicou  a  seguinle  observajSo 
e  experiencia  do  doulor  ScliiCf,  de  Francfort 
sobre  o  Meno,  relalivas  aos  espirilos  percus- 
iores  : 

11  Teni-se  presenlcmenlc  fallado  murto  de 
cerlos  ruidos  on  eslroiidos  que  se  attribuem 
a  suppostos  espirilos  pcrcussores,  e  o  nosso 
colloga  Clievreul  pul)licou  a  cerca  d'este 
obji'clo  uni  Iraballio  notavel  no  Jornal  dos 
Sabios.  Mas  nenliunia  experiencia  tinha  side 
feila  eni  Franca  nerii  iia  Allenianha,  com 
o  fiin  de  explicar  laes  rnidos,  antes  das  obser- 
vances do  doutor  Scbift'.  A  respoilo  d'uma 
joven,  que  teve  occasiao  d'observar,  e  em 
caaa  da  qnal  nuviani-se  estrondoS  attribui- 
dos  aos  espiritos  percussores,  reconlieceu  elle, 
que  a  percussao  tinba  logar  no  corpo  d'esla 
joven  e  nao  fora  ;  e  demo?trou  experiniental- 
inenle  que  semelliante  estrondo  pode  ser  pro- 
duzido  pela  desioca^ao  reilerada  do  lendao 
do  longo  musculo  peroneu,  da  sua  membrana 
passando  atras  do  malleolo  externo.  C'om 
effeito  Schiffchegou  a  produzir  em  si  niesmo 
o  phenomeno  absolutamente  coino  tinba  logar 
naijiiella  menina  sob  a  inlluencia  do  sup- 
po^to  tspiritu  percuisor. 

u  Quandoa  membiana  fibrosa  em  que  escor- 
rega  o  lendao  do  longo  peroneu,  e  di'licada  ou 
esl;i  rp|a\ada,  o  phenomeno  p  inais  facil  de 
produzir.  A  percussiio  pode  todavia  efl'eituar- 
se,  sem  que  se  observe  no  pe,  iiiovimento  bein 
apreciavel,  e  soinente  quando  se  appoia  o 
dedo  por  delias  do  malleolo  externo  no  nio- 
inenlo  eiii  que  se  prodiiz  o  eslrondo,  e  que 
seule-se  perfeila  e  mui  distinctamente  a  deslo- 
cagao  allernaliva  e  reilerada  do  lendao, 
animado  d'um  nioviineulo  de  elevagao  e 
abaticnenlo  n>iii  arrebalado.  Esta  experiencia 
de  Scbiir  considerada  pbysiologicamenle  of- 
ferece  verdadeiro  iiileresse.   u 

Por  couvile  do  secretario  perpetuo,  a  que 
sc  Junlaram  lambern  as  initancias  de  inujloi 
mernbros  da  acadeuiia,  o  doulor  ScliilT,  que 
liiilia  continuado  a  eslar  presenle  em  quanto 
se  leu  a  sua  nieuioria,  repetiu  perante  a 
acadeniia  a  experiencia.  A  percuss.'io  e  liio 
diitincia  que  paJe  ouvir-se  a  muitos  melros 
de  dislancia,  ainda  que  nao  baja  complete 
sileucio;  e  os  pes  roHocados  bem  li  visla, 
nao  parecem  animados  de  niovimenlo  algum. 
( Atktnacum  Franc.) 


GEOLOGIA. 

Jazigos  do  ouro  e  da  prala. 
M.  Murehison  acaba  de  publicar  uma  obra 


129 


com  o  titiilo  de  Siluria,  em  que  perlende 
provar  por  con>idera5oes  geologicas,  que  nao 
lia  motivo  para  recear  a  baixa  do  ouro  em 
relajao  a  prata,  pcla  descoberta  dos  jazia^os 
auriferoj  da  California,  e  da  Australia.  De 
feilo  o  ouro  e  de  lodos  os  melaes  preciosos  o 
niaii  escasso  na  sua  distribui^ao  naliva.  Pelo 
conlrario  a  prala  e  o  cliumbo  argenlifero 
existem  l.'io  larga  e  profundamenlo  dissemi- 
nados  nas  roclias,  que  a  sua  exploragao  nao 
pode  deixar  de  ser  niui  lucrativa,  inormente 
empregando-se  ncstes  traballios  melliores  .ip- 
parellios  niccanicos,  e  novos  melliodos  que 
facilileni  a  minerayao. 

Um  relatorio  ullimainente  apresenlado  pelo 
encarregado  de  negoeios  de  Inglaterra  na 
Bolivia  demonstra,  ijue  a  prata  pode  actual- 
niente  cxtrair-se  em  enormes  por^oes  das 
minas  de  Copiapo,  e  d'oulras  d'America  do 
Sul.  Em  I'lm  a  sciencia  moderna  confirma  ple- 
uamente   as  palavras  do  prepliela  Job. 

"A  prala  tern  um  principio  das  suas  veias : 
e  o  ouro  tern  um  proprio  logar,  onde  se  for- 
ma.'  !i  L'Institut. 


MOLESTI.\  DAS  VI.MIAS. 

A  sociedade  propagadora  da  iiiduslria  na- 
cional  em  Fraii<^a  ,  destinou  uma  sornma  para 
premiar  os  auclores  das  melhores  memorias, 
fundadas  em  rigorosas  observagnes  ,  e  expe- 
rienciasauthenticas  sobre  a  origem  ,  progres- 
so  e  natureza  iiilima  da  mok'atia  das  vinlias, 
e  sobre  os  resultados  obtidos  pelos  diversns 
meios  preventivos ,  ou  curativos,  applicados 
para  a  di-lu'llar. 

O  concurso  terminou  a  31  de  dezembro 
ultimo.  Cento  e  dezeseis  concurrentes  apre- 
sentaram  as  suas  memorias  sobre  este  inipor- 
lante  assumpio  ;  mais  de  quarenlu  memorias 
foram  dirigidas  a  sociedade  depois  de  feciia- 
do  o  concurso. 

As  cento  e  dezeseis  memoria-,  foram  remet- 
lidas  a  uma  commissao,  composla  de  rnem- 
bros  das  diias  set-^oes  de  agricultura  e  arles 
chimicas.  Em  sessao  de  14  de  jullio  ultimo 
a  commissao  apresenloii  o  conipeteiile  relato- 
rio, de  que  extractamos  os  spguintes  periodos. 

»A  vossa  commissao,  sius  ,  jnlga  que  as 
duas  principaes  questoes,  que  foram  obje- 
clo  do  concurso,  islo  e,  o  tratameiilo  tnais 
efficaz  da  [nolestia  das  vinhas  ,  e  a  naliireza 
d'ell.i ,  n.ao  csl.'io  ainda  completamente  re- 
solvidas  ;  enlretanto  reconlieceu  ,  que  muilas 
das  memorias,  que  liie  foram  enviadas,  Ian- 
gam  uma  nova  luz  sobre  muitos  plienome- 
nos  importantes  ,  e  que  sens  auctores  s.'io  por 
isso  dignos  de  alguni  premio.  N'estas  circuni- 
stancias  a  commissao  propoe,  que  se  al>ra 
novo  concurso,  cujo  prazo  deveru  terminar 
no  ulliuio  de  dezembro  do  corrente  anno. 

•I  O  governo  ,  associando-se  aos  vossos  ge- 
nerosos  es-forjos  acaba  de  eslabelecer  um  pre- 

'     Cap.  XXVIII,  V.  I. 


mio  de  seta  mil  francos,  para  seaddicionar  ao 
primeiro  premio,  proposto  por  esta  sociedade, 
que  era  de  Ires  mil  francos.  E  este  e  mais 
un)  motivo  para  se  abrir  de  novo  o  concurso. 

"Entre  todas  as  substancias  ale  hojeernprc- 
gadas  para  destruir  o  oidium  nas  vinlias,  a 
que  tern  produzido  melliores  cffeitos,  foi  iiicoii- 
teitavelmentea  flor  d'enxofre.  Esta  subslancia 
desde  1848,  deu  os  melliores  resuilados  a 
Keyle,  liorticultor  inglez  deLylon.  Em  1351, 
foi  ella  empregada  com  vantagem  nos  jir- 
dins  de  Veraailles  por  Ducliartre,  ent.lo  pro- 
fessor do  Instilulo  agricola.  Carecia-se  ,  po- 
rem,  de  um  ineio  commodo  para  Ian9ar  a  (lor 
de  enxofre  sobre  as  videiras  atacadas  do  mal. 

Gontier  imaginou  para  este  fun  um  folle, 
que  pelasuaefficacia,  ebarateza  reuiiia  todas 
as  condi^nes,  que  podiam  desejar-se  na  pra- 
ctica.  Por  este  nieio  Gontier  conseguiu  de- 
bellar  complelamenle  o  nial  das  vinlias,  nos 
annos  de  18.31,  13oi2  e  1863,  mas  ti  preciso 
empregar  este  remcdio  desde  o  momento  em 
que  a  molestia  se  manifesla.  Primeiramen- 
te  regam-se  as  cepas  com  uma  boinba  porta- 
lil,  inveiilada  tanibem  por  Gontier.  A  reo-a 
por  meio  da  bomba  deve  ser  feila  debaixo 
para  cima,  para  humedecer  as  folljasdeam- 
bos  OS  lados,  em  scguida  langa-se  por  meio 
do  compelonle  apparellio  a  flor  d'enxofre, 
que  cac  sobre  as  videiras,  como  uma  niivem 
de  p6.  A  rega  e  de^necessaria,  qiiando  a  vi- 
nlia    esta   liumedecida   pelo  orvallio. 

uO  nielliodo  de  Gontier,  foi  empregado 
em  grande  nfio  so  nas  estufas,  mas  laiubem 
nas  vinlias  de  Tliomery ,  perto  de  Fontaine- 
bleau  A  enxofragcm  a  secco  ,  deu  tainbem 
excellenles  resultados.  As  vinlias  nao  tracta- 
das  pelo  enxofre  foram  accomcltidas  da  mo- 
lestia a  par  d'aquellas,  que,  tendo-se-llie  em- 
pregado o  proeesso  de  Gontier,  ficaram  com- 
plclamente  livres  d'llla  ;  de  maneira  (jue  as 
expprieni-ias  comparativas  n.ao  deixaui  a  me- 
nor  duvida  sobre  este  ponto.  A  enxofrageiu 
repete-se  tres  vezes ,  e  calcula-se  a  despesa 
em  cmco  mil  e  duzentos  reis ,  por  cada  he- 
ctare, de:.peza  nao  nuiilo  consideravel  para 
as  vinlias,  que  dao  vinlios  de  superior  qua- 
lidade  ,    ou  boas  iivas   de  comer. 

II  Mas  nao  tera  o  empiego  do  enxofre  al- 
gum  inconveniente  ?  As  experiencias  I'eiias 
nn  inuspu  de  liistoria  natural  em  Paris,  leui 
deixado  algumas  apprehensoea  sobre  os  maus 
effeilos,  que  poderiam  resullar  paia  as  vinluia 
Iractadas  por  este  proeesso.  Esta  circumstaii- 
cia  obriga  a  vossa  cominisaao  a  esperar  no- 
vos ensaios,  nao  vos  [iropondo  por  isso, 
que  se  de  o  piemio,  e,tabelceido  no  pro- 
gramma,  a  M.  Goiilier:  entre  lanlo  a  me- 
moria por  elle  apresentada,  e  digna  dealgu- 
rna  recompeura,  e  vos  fareis  um  ado  de 
justiija,  dando-llie  em  remunerayao  d'eatetra- 
ballio,  que  numerosas  experienuias  teiii  com- 
I'lrmado,  uma  gralificayiio  de  mil  francos.!) 
(■toiirnal  d'Jgicult.  Pratiq.  n.°  15  — de  5  de  Agoslu 
J'=  "*j*0  Conlinua. 


ISO 
SEC^;A0    DE  3IATHEMATICA. 


ADVERTENCU. 

Annuimos  a  publica^'io  d'estes  aponlamenlos  pela  imprensa,  por  nos  ler  nioslrado  a 
f.xperiencia  que  d'elles  pode  resultar  ali,'iima  nlilidade  no  estiido  eleinentar  da  Trigomimelria 
ipheriea.  a  qual  faz  parte  do  curso  de  matheinaticas  piiras  na  faculdadc  de  malhematica. 

S    P. 

APONTAMENTOS    DE   TKIGONOMETRIA    SPHERICA. 


I.     O  thooreina  fundamental 


cos  a'  —  cos  6'  cos  c' 
sen  6'  sen  c' 


(I) 


costuma  demonslrar-sc  construindo  o  quadrilatero ,  de  que  sfio  lados  as  tanfenlcs  e  secantej 
dos  dois  arcos  b'  e  c'  do  triangulo  splierico,  e  de  que  e  um  dos  angulos  o  angtilo  <i  do 
mesmo  triangulo.  Mas  aconstruc^fiodeixa  de  ser  a  mesrna,  quando  nfio  s.io  menorcs  que  90' 
ambos  os  lados  b',  c';  porque,  se  urn  d'estes  lados  e  >90",  a  secante  respeoliva  n'lo  encontra 
B  taiigente  ,  mas  siin  o  sen  prolongamenio;  e  se  um  dos  mesinos  lados  e  ^OO",  a  secante 
respectiva  e  parallula  a  tangenle. 

No  entretanlo,   sein   fazer  nova  construcjao  ,   pode   mostrar-se  que   ainda    nos   casos 
mencionados  tern  logar  o  tlieorenia  (I). 

I.  Se  6'<90°,  c'<90'';  a  construc^ao  da,  coroo 
dissemos,  no  triangulo  A  B  C  a.  formula  (1). 

II.  Se  i'<90°,  c'>90°:  produzam-se  BAcBC 
ate  coraplelar  era  B'  o  fuso  spberico  BB'.  No  triangulo 
jB'^^seran: 

B'A=  180°— c',  B'^C=180°— o,  JB'C=  180°— o', 
e  a  formula  (1),  que  tem  logar  para  o  angulo  B'AC 
d'este  triangulo,  da 


cos  B'AC  = 


cosB'C— cos  //  U'coi^C 


■■"  (1)- 


^en  A  h'  sen  A   C 


III.  Se  i'>90°,  c'  >90'':  o  triangulo  B'AC,  relativamente  ao  angulo  B'AC  esta 
no  caso  precedente  (II);  e  por  isso  ainJd  tem  logar  a  mesma  demonstrac^'io. 

Ou  fambem  :  produzindo  os  lados  BAe  AC  ate  eneontrarem  em  fi'  e  C  o  arco 
BC  produzido,  sera  no  Iriangido  CAB': 

B'ACi  =  a,  A  B'  =  lSO'—c',  AC'=180°—b',  O  B' =  a' ;  e  applicando-lhe  o 
liieorema  vira  a  formula  (1). 

IV.  Se  6' =90%  c'=90°:  a  formula  (1)  da 


i: 


"para  o  angulo  a, 
para  os  angulos  6  ou  c 
o  que  concorda  com  as  propriedades  conhecidas  dos  polos 


cos  arr^cos  a',  aTz=a'  "^ 

,       cos  6  =  o,  6  =:r 90°;  cos  c  =  o,  c  — 90° J 


V.     Se  e  s6mentec=i90°:  produza-se,  ou  corte-se  AC,  ate  que  seja  AD  =  90°. 
\.°     Se  B  D   nao  e  =  90°;   o   tlieorcma  sera  applicavel   ao  angulo   D   no  triangulo 
C  BD  ;e  dara 

cos  a'  —  cos  B  D  cos  C  D 
'''"  seaBDienCD         ' 

que,  per  ser  cos  D=zo,  se  reduz  a 

cos  a'  =  coi  B  D  coi  C  D:=  cos  a  sen  6' ; 


131 

«  coma    a    formula  (1),    applicada    ao    angulo    a   no   iriangiilo   ABC,    da    laoabeiti 

cosa=: oil  cos  a'=cos   a  sen  6',  segue-se  que   aquella  formula  e  ainda   verdadeira 

sen  6 
nesle  caso. 

%.'  Se  e  B  D  —  90° :  como  tambem  e  ^  B  =  90',  sera  B  polo  de  ^  C,  e  conspguin- 
teinente  a'  =  90°;  logo  (IV)  o  theorema  e  ainda  verdadeiro  no  caso  de  que  se  trucla. 
(Veja-se  a  Anal.  appl.  a  Geometria  de  M.  Lcroy  nn.  453 — t5d  ;  e  a  meinoria  do  sr.  J. 
Cordeiro  Feyo  nas  da  acadeniia  das  scienc.  de  Lisboa  de  1839.) 

2.     A  formula  (1)  da 


^      /.,„(.i±^)..„(g3E|EF)j 

Q.  '  Ren  b'  sen  c' 


/        /a'  +  6'  +  c\          ,y  +  c'  —  fl' 
i    /  sen  I 1  sen  ( 

1     \      \     2    ;     V    i^ 

co5-a=;V     n ) / 

2  sen  o   sen  c'  ' 

Seja  t'  o  maior  dos  Ires  lados.  Serao  o'  +  6'>c',  c' +  6' >  a' ;    e  para  que  sen  -  a  seia 

real ,  teremos  a'  +  c'  >  &'•  Logo  :  a  somtna  de  dots  lados  ijuaesqucr  c  maior  que  o  Urceiro. 

Para   que  seja   cos  -^  a  real,  deve  ser  a'+6'  +  c'<;  3G0°.    Por  tanlo  a  somtna  dos  Ires 

lados  esla  comprebendida  enlre  0°  e  360°.  Se  esla  somina  fosse  0,  o  triangulo  seria  recti- 
lineo;  e  se  fosse  360°,  o  triangulo  serin  urn  fuso  splierito. 

3.  A  mcsma  formula  (1)  applicada  aos  tres  angulos  a,  b,  c,  e  eliminados  depois 
6',  c' ,  da 

/  /"  +  l'  +  c\  /b+c  —  a\ 

1     ,       \/-'°'{-^)'''"{-^—) 

sen  -  a'  =  V      ; . 

»  '  sen  6  sen  c 

Seja  a  o  maior  angulo.   A   expressao  de  sen  -  a'  mostra  qne ,   para  que  ella  seja  real 

deve  ser  - — >  90°  c  <  270°,  on  a  +  b  +  c>  180'  e  <  540*.    Por   tanlo   a  somma  dos 

tres  angulos  esta  comprebendida  entre  180°  e  640°.  Se  esta  somma  fosse  180°,  o  triangulo 
seria  rectilineo ;  e  se  fosse  640°,  o  triangulo  tornar-se-liia  em  uma  semi-spbera  ,  de  sorte 
que  OS  sens  tres  vertices  seriam  ponlos   do  circulo  niaxinio. 

No  caso  de  n.'io  ser  a  o  maior  angulo,  a  expressao  de  sen  -  a'   moslra    qne    ainda    deve 

ser:  b  +  c  —  a<  180°;  e  por  isso  esta  propriedade  tem  logar,  qnalqucr  que  seja  o  angulo  o. 
As  propriedades  relativas  aos  angulos,   que  acnbamos  de  referir,   resullam  egualmenle 
como  deve  ser,  das  relativas  aos  lados,   qnando  eslas  se  applicam    ao  triangulo  supplenien- 
tar.  Porque  a'  +  b'  +  c'  >0,  e  <  360°,  e  a' +  b'  >  c',  dao  .540°  —  (a  +  b  +  c)  >0,e<  360° 
e360°  — (a  +  6)>100°  — c,  ou  (2  +  6+c<540°,  e  >  180°,  e  a  +  6  — c<  180°.  ' 

4.  Para  evitar  cnganos  nos  signaes  podem  os  quatro  tlieoremas  fundamcnlaes,  que 
todos  se  encerram  no  ( 1)  ,  enunciar  se  do  seguinle  modo  : 

1.°  Cosetto  d'unj  lado  i  egual  ao  coseiw  do  angulo  opposto  miiltiplicado  pelo  prodtt- 
clo  dos  senos  dos  o\ilros  dots  lados ,  jna/s  o  produclo  dos  cosenos  dos  luesinos  lados, 

2  "     Senos  dos  an^idos  sdo  proporcionaes  aos  senos  dos  lados  opposlos. 

3.°  Produclo  dos  costnos  das  paries  vtedias  e  egual  a  differenga  dos  senos  das  inesniiii 
partes  multiplicados  respeclivamenle  peluf  eolangenles  das  extremas ,  lado  com  lado  e  an- 
gulo com  angulo  •  sendo  lyrgalivo  o  Icrmo  em  qu,e  ha  so  angulos. 

4  °  Coseno  d'tim  angulo  i  eguol  ao  coseno  do  lado  opj>osto  multiplicado  pelo  produ- 
clo dos  senos  dos  outros  dois  angulos-,  intnos  o  produclo  dos  cosenos  dos  mesnios  ani^ulos. 

Kos  tbeoremas  1.*,  3.°,  e  4.°  e  negativo  np  segundo  membro  o  termo  em  que  entrani 
so  angulos.  E  note-se  que  a  inicial  n  de  negativo  entra  na  palavra  angulo,  e  n.vo  enira  na 
palavra  lado  :  observacao  esla  que  lorna  impossivel  o  engano  nos  signaes. 


132 

5.  Adverliremos  que  no  3.°  tliRorema  tanto  imporla  dizer  que  entram  Huis  lados  e 
dois  ani^iilos,  sendo  iini  d'elles  comprelicndido  e  o  oiilro  opposlo ,  coino  dizer  que  ha 
qualro  partes  conjunclas.  Coutinuando  o,  6,  c  a  designar  angulns  ,  e  a',b',  c'  os  lados 
op|)oslos ,  as  partes  medins  serfio  dims  letras  diirerentes ,  iima  applicada  a  lado  e  oiitra  a 
angulo,  e  as  partes  exlremas  ser'io  a  lerci-ira  lelra  applicada  a  angulo  e  a  lado. 

Por  exemplo:   se  iorem  a'  e  b'  os  lados,  ec  o  aiigulo  compreliendido  ,   teremos 

a',  c,  I)'; 

e  a  quarta  qiianlidade  seru  urn  dos  angulos  opposlos  a  a'  e  b' :  de  sorle  que  se  formar;i 
iiin  dos  systemas 

h  ,  a' ,  c,  b' ;         a' ,  c  ,  b' ,  a; 

nos  quaes  s.io  medias  as  ietras  dil'ferenles  a'  e  c,  on  c  e  b' ,  uma  angulo  e  oulra  lado,  e 
extreinas  a  terceira  letra  6  ou  a  ,  applicada  a  angulo  e  a  lado. 

6.  Applicarido  a  uui  d'estes  svslemas,  por  exemplo,  ao  prirneiro  ,  o  etnirniado  do 
llieorema  3.*,  aelia-se 

cos  a'  cos  c  =  sen  a'  cot  b'  —  sen  c  col  b. 

E  dividindo  anibos  os  membros  por  sen  a'  sen  c,  resulla  a  equa5ao 

cot  b'       col  6 
cot  a'  cot  c: 

na  qual  so  entram  cotangentes  e  senos,  e  que  da  para  o  theorcnia  3.*  o  noro  enunciado 
seguinle  : 

Producto  das  cotangentes  das  partes  medias  e  egud  a  differenga  das  cotangentes  das 
exlfemas  divididas  respectivamente  pelos  senos  das  mesnias  medias ,  lado  com  lado  e  an- 
giilo  com  angulo  ;  sendo  ncgativa  afracgdo  cujo  numerador  tern  angulo. 

Esta  transformajao ,  a.  qual,  como  seve,  corresponde  tambem  urn  enunciado  que 
facilmenle  se  pode  decorar,  foi  lembrada  pelo  dislinclo  geometra  portuguez  o  sr.  Manoel 
Pedro  de  Mello,  lente  de  malhematica  na  universidade ,  cujo  nome  por  niais  d'uma  vez 
se  le   na  Astronomia    de  Delainbre.     [Vej.  Astronom.  de  Delainbre,   toiiio  1."  cap.  X  n.* 

194  (#)]. 

Lenibraremos  com  ludo  que  niuilo  convein  acostumar-se  cada  vim  a  enunciar  os  liieo- 
remas  d'uin  so  inodo ,  para  evilar  a  confusao  que  do  lialiilo  conlrario  resulta  seiiipre, 
como  nos  tem  mostrado  a  experiencia, 

7.  Quando  se  quer  usar  dos  logarilhmos  no  caloulo  das  formulas,  deduzidas  dos  qua- 
Iro  theoremas  fundarnentaes,  ou  se  transformam  estas  formulas  nas  de  seno  ou  loseno  d'a- 
inetade  d'arco  ou  d'angulo  (nn.  2  e  3)  ,  ou  se  emprega  a  Iransformarfio  seguinte,  quando 
a  expressao  proposla  e  da  forma: 

jM  cos  a.-T  iVsen  a. 

Como  esta  expressao  cquivale  a 

,.  /  -^  '\  »- /•''W  ,  \ 

Jli  f  cos  a  +  -T7  sen  o  ) ,   ou  A'  ( -nr  cos  a  +  sen  a.) , 

as  hvpotliesfs  — =tangip,ou  — =  col  ^  ,  Iransformam-na  em  um  dos  systemas : 


M     -■■°t""    AJ 


} 


M  cos    (a. a)  JVCOS  (oc o) 

:lang  »;  c —,  ou 

cos  (],  sen  ip         -'       j^'_: 

cot  ^, ;  e LlZJLi  ,  ou i- — IZ 

sen  ^  cos  iji  J 


8.  Eslas  Iransforma^oes  analyticas  sao  as  mesmas  que  se  obtem  ,  quando  se  decompoe 
o  iriangulo  proposto  em  dois  triangulos  rectangulos  por  meio  d'um  arco  perpendicular 
abaixado  d'um  dos  vertices  sobre  o  lado  opposto. 


133 

Mas  n'esia  decomposi5So  convein  abaixar  a  perpendicular  de  modo  que  parta  o  manor 
luimero  d'elementos  que  eiiUam  na  qiiest'io.  Se  cstes  elementos  sfio  dois  lados  e  dois  angulos 
opposlos ,  a  perpendicular  aljaixada  do  lerceiro  angulo  n"io  parte  nenlium  dos  eleinentos;  e 
cada  um  dos  Irianj;ulos  rcclangiiloi  tern  entfio  dois  elementos  ,  com  os  quaes  e  com  a  per- 
pendicular comnium  se  forinani  duas  equagoes,  e  se  elimina  entre  ellas  a  mesiiia  perpen- 
dicular. 

No3  onlros  casos  o  menos  que  se  parte  e  um  clemento,  angulo  ou  lado ,  e  ficam 
entao  dois  elementos  em  um  trianguio,  e  uin  no  outro  trianguio.  Com  os  dois  elementos 
do  primeiro  trianguio  delerniinam-se  os  segmcntos  do  clemento  que  se  partiu  :  depois  for- 
ma-se  no  scgundo  trianguio  uma  equa^ao  entre  o  clemento  d'elle,  o  segmento  acliado  ,  e 
a  perpendicular;  e  no  primeiro  trianguio  out'ra  equagao  semellianle  entre  as  paries  analogas 
d'elle:  e  fnialmente  divide-se  uma  d'estas  equa^nes  pehi  outra,  o  que  elimina  a  perpendi- 
cular. Ficam  assiin  duas  equagoes,  a  primeira  das  quaes  da  o  segmento,  e  a  segunda  dli 
o  elemenlo  que  se  procura. 

O  segmento  e  o  angulo  auxiliar,  de  que  se  fallou  no  n.°  precedente. 

9.  N'cste  calculo  dos  triangulos  pode  haver  duas  especies  d'erros,  que  sfio:  erros  dos 
elementos,  e  erros  das  tabnas  dos  logarillimos  de  que  nos  servimos.  E  necessario  pois  co- 
nlieccr  a  influencia  d'estes  erros  soI)re  as  partes  que  se  procuram ,  ou  para  escollier  as 
tbrmulas,  ou  para  apreciar  o  grao  de  confianga  que  se  deve  ter  nos  resultados. 

Examinemos,   por  exempio,  a  expressao  de  sen-  a  (n.°  2).    Se  para  o  culculo  d'ella 

usarinos  das  taboas  de  logaritlimos  das  linlias  trigonomctricas  com  um  dado  numero  de 
casas  decimaos  ,  por  exempio,  dc  sete  nas  laboas  de  Callet  ,  o  limite  do  erro  d"um  loga- 
ritlimo  c  0,5  d'essa  ultima  casa,  e  por  conseguinte  o  limite  do  erro  do  logaritlimo  do  segundo 

membro   e  — ;^— ^::=1.    Fazendo   pois  sen  _a  =  Jl/,  ^  log  sen  -  a  =  J' log  w1/<  1  ,   e  cha- 

mando  m  o  modulo,  resulta,  em  minutos 

2  tang  1  a.  (/?') 
*  o  = i  log  71/; 


<inde  {W)  e  o  raio  em   minutos,  ou ,   sem  erro  sensivel ,   lB}\z^ .    Ve-se  pois  que  a 

'       sen  1 

iormula  proposta  pode  dar  erros  consideraveis  quando  o  angulo  auxiliar  for  muito  proximo 
de  130°. 

Semelliantemente  fazendo  acxpressao  de  cos  -  a=  N ,  vem 

Scot  -  a.  (Ri) 

Sa= J  log  N ; 

ill 

e  a  tormida  e  muito  sujeita  a  erro  quando  o  angulo  a  e  muito  pequeno. 

Emfim,  dividindo  uma  das  equagoes  pela  outra,  resulta  lang-a=:P,  que  dii 

sen  a.  (R') 

»  a  = ^ — '-  s  log  P  ; 

111  ° 

por  onde  se  ve  que  a  nova  formula  e  muito  vantajosa  quando  o  angulo  a  e  muito  pequeno, 
e  que  nunca  e  sujeita  a  grandes  erros.  [Vej.  calc.  das  Eph.  Astr.  n."  48  (*)]. 

10.  Em  quanto  aos  elementos,  devem  escollier-se  aquelles  cujos  erros  menos  intlui- 
rem  nas  quanlidades  procuradas ;  mas,  feita  a  escollia,  nao  iniluirao  por  parte  d'elles  no 
resullado  as  Iransformagoes,  que  se  fizerem. 

Com  effeito,  qualquer  que  seja  a  forma  da  fimojuo/ (a?,  ?/)  =  0,  sempre  se  lirara 
d  ella  3/  =  (p(a?),   sendo  tp  a  mesma  para  a  mesma   questao ;  e  por   isso   a  relagao  entre   os 

erros  de y  e  x  sera  sempre  -p=f'  (x). 

f^O"''>"'C-  RODniGO   RIBEIRO   DE   SOUSA   PINTO. 


134 


Conla  dcmonslrativa  iV applicagao  ([uc  Icvc  ci  verba  de  9:5JO/ooo,  rolada 
no  orgamenlo  para  o  anno  economico  de  1053  a  1854,  para  despcsas  dos 
divcrsQS  esluhelccinicnlos  da  Unir<  rsidadr  de  Coimbra. 


Destffnii^ao  da  dcspcsa. 


LYCEL   DI-:  COIMBRA. 

Desposus   d'oxpodiento , 

DiUis  de  ii'paros  feilo;   pela  casa  das  obrai 

UNIVERSIDADE  DE  COIMBRA. 

SeCBKTARI.i    E   GERAES. 

A  amanuenses   extraoidinario?,   einpregados    na  sccrctaria, 

c   servi^o  da  Vice-reiloria 

An  armador  da  salla  dos  capellos 

Despesas  d'expcdiente  da  secrctaria,  aulas,  e  conscllios 
das  faculdades  acadernicas 

TUEATGO    ANATOMICO. 

Ao  ajudante  preparador,  gratificagao  concedida  pela  por- 
taria  do  minislerio  do  reino  de  30  de  dezembro  de  1852 

Ao  111050   pelo  sen  vencimenUi  de  SJ'OOO  pnr  me/. 

Aocoveiro,  pela  conducg.io  de  cadaveres  para  o  llieatro 
analomico 

Pela  coinpra  d'uni  mic-roscopio,  um  triloupe ,  e  nma  l^'nte 

Despesas  em  livros   e  encadernagoes l^D'^O 

Dilas  d'expediente  c  reparos (i(!^'750 

LABORATORIO    GRIMICO. 

Ao  gtiarda  ,  gralifica^'io   concedida  pela  portaria   do  mini- 

sterio  do  reino   de  18  de  dezembro   de    18.52 

A  um  aprendiz ,  de  salaries 

A  iini   niogo  effeclivo 

Despesas  em  livros  e  encadernagoes 4^bi-0 

Ditas  de  oxpedienle,  e  manntenj.'io 71^'885 

Ditas  de  reparos  feitos  pela  casa  das  obras  ....      l;!oJ[455 

GABINETES 

DE   UI9T0RI1   NATURAL. 

Ao  guarda,  gralificajao  concedida  pela  portaria  de  30 
d'abril  de  18.J3 

Ao  mesrno  guarda,  gralificagao  pelos  preparados,  qne  apre- 
sentou,    segundo  a  portaria  de  3  de  margo  de  1837.... 

A  iim  aprendiz ,  de  sens  vcncimentos 


f'crlas  parcines 


'If)  ,3:010 

CljS'195 


101,;S'GOO 
lOj^OOO 

201jS600 

82J'770 


109j5'600 
3G,^'000 

17;^'200 


1G2|'700 
85.5'3-IO 

7I,;S'670 


30.5000 
43^840 
43j^6l0 


117/430 


2141880 


301^000 

60/000 
64|080 


134/080 


'J'lildUiladts. 


107/205 


284/370 


319/710 


332/360 


1:043/645 


135 

Designa^no  da  despcsu. 

Trunsporte 

Despesns  d'expediente  e  cosleameiilo 9jl^260 

Dilas  de  reparos  feitos  pela  casa   das  obras  ....        1  jf750 

I)E    MINEKALOOU    E    CEOLOGIA. 

Despesa  em  compra  de  livros  para  a  aula 

OE    PHVSICl. 

Despcsas  d'expedionle 

JARDIM    BOTANICO. 

A  iini  aprendiz,  rao^os  effecLivos  e  jornaleiros 

Despesas  em  livros  e  joriiaes .        5Gj^440 

Dilas   de  expediente,    uLeiisilios   e  reparos....       7djf210 

OBSERVATOniO    ASTIIONOMICO. 

Aoi  dois  collaboradores  temporarios  para  o  calculo  das 
epliemerides  aslroiinmicas,  segiiiido  a  portaria  do  ministe- 
rio   do  reino  de  6  d'oiUuljro  de   IS-iS 

Despesas   d'expedienle,    e  condiicjfio  dos  iiovos 

iiislriimeiilos 31,^795 

Dilas  de  reparos  feilos  pela  casa   diis  obras  .  ..       26Jf485 
:  OCTl 

HOSPITAES. 

Dietas  dos  doenles ,  e  comedorias  dos  empregados 

DISPENSATOBIO  PHABHACEUTICO. 

A  pharmaceiilicos  Ictnporarios 21^^440 

Ac  111090  da  bolica .         4j^800 

26^210 

Alcdinainentos  c  oulras  despesas 170^325 

BIBLIOTUECA. 

A  urn  1111150  elTeclivo  a  200  reis  por  dia 

Despesas  em  compra  de  livros,  joniaes,  e  eiica- 

dernaijGes 141,^120 

Ditas    d'expediente 21,|,330 

Dilas  de  reparos  feitos  pela  casa  das  obras  ....     20831395 

CAPELLA. 

A03  dois  mogos  da  capella,  de  sens  vcncimenlos 


f'erbas  parciaes. 


Tolalidadet. 


134J'080 
11^^010 


146j^090 
80/989 

6/r>d0 


397/640 
131j^650 


290/000 
68/230 


4:488/000 


196^^565 


73/000 


370/845 


91/995 
91/995 


1:043/645 


232/729 


529/290 


348/280 


4:684/665 


443/845 


7:282/354 


136 

Vesigiia^uo  tttt  tlespeaa. 

'J'ruiispoi'le. ....... 

Aos    dois   inogos  da  capella,   para  becns,   que   voiicein  de 

dois  em  dois  aiinos 

Aos  ditos  iiara  Ijarreles 

FESTIVIDADES. 

Saiila  Isalx'l    01j:i20 

Pre5li(o  a  Santa  Clara  cm  1G53   !)),580O 

S.  Miguel,  e  o  jiiramcnto 1'2^-1'J..D 

'I'odos  OS  Santos 2,|'520 

Conceit-no  ....„..,.,: 12^(i70 

Pdrifiea^-ao  . . .  ^^.4 .  j-.- 17a^'235 

Arniiiiicia(,-fio n.J3-10 

Seaiana  Santa 254.j:365 

Excqiiias  do   sfir.  D.  Joio  III , 48 J'loO 

Propinas  aos  lentes  e  mais  empregados 60^800 

717JG15 
Divcrsas  despesas :  . .  .  .       22  J  935 

CiSA    DAS   ODRAS, 

Ao  mestre  das  obras ,  a  300  reis  por  dia 

Ac  fiel  apontador,  de  seu  vencimento 

Jornaes,  materiaes  e  reparos  nos  edificios ,  e  estabeleci- 
mentos  nfio  especificados 

AnCHEIBOS. 

Aos  10  aiclieiros,  pelas  suas  soldadas  a  160  re'is  diarios  a 
cada  u  m    

Aos  ditos,  por  compra  de  pannos  para  o  fardamento  annual 
de   policia 


I'erbus  parciaes. 


I)l^!)!)j 


24/000 
IrfS'llO 


117,^435 


710|'.370 


]09J'500 
100^000 

209/500 
509/7'rO 


584/000 
C6/371 


Reis ... 


Tolaliilades. 


7:282/354 


858/005 


719/270 


J 


C50/371 


9:510/000 


,f:t 


RESUMO. 


Despesas  feitas  com  o  lyceu 

Ditas  com  OS  estabelecimentos  e  reparlijoes  da  universidade 
Ditas  com  os  liospitaes,   e  dispensatorio  pharmaceutico  . .  . . 


107/205 
4:718/230 
4:684/565 


Reis . .  . , 


9:510/000 


Secretaria  da  Universidade  em  13  de  Jullio  de  1854. 


Vicente  Jose  de  Vmconcellos  e  Silva, 


Eugenia  Antonio  Galeae. 


€>  3n0titttto, 


JORINAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


UN1VERS1DA.de  DE  COl.MBRA. 

Ministerio  do  reino — 1.'  direccao — 1.'  re- 
parlifao — livro  12 — n.°  293.=Sua  Magesta- 
de  El-Rei,  Regente  cm  noine  do  Rei,  a  quem 
foi  presente  o  officio  do  vice-reitor  da  uni- 
versidade  dc  7  do  correntc  raez,  dnndo  conta 
do  resultado  dos  examcs  preparatorios  fcitos 
no  lyceu  nacional  de  Coimbra,  e  do  modo 
como  neste  servico  se  liouvcram  os  prcsiden- 
tcs  e  vogaes  dos  divcrsos  jurys  qualificadores : 
Manda  pela  secretaria  d'estado  dos  negocios 
do  reino,  que  o  mosmo  vice-reitor  louve  em 
seu  real  nome  os  ditos  presidentes  e  vogaes 
pelo  zcio,  que  uns  e  outros  mostraram,  tanto 
na  assiduidade  do  trabalho,  corao  no  bem 
cntendido  rigor  e  na  igualdade  da  justica  pa- 
ra com  todos, — e  bem  assim  odoutor  Luiz 
Albano  d'Andrade  Moraes  e  Almeida,  pelo 
aprovcitamento  com  que  tem  cido  por  elle 
regida  graluitamente  a  cadeira  de  geometria, 
em  cujos  exames  teve  grande  parte.  Paco  de 
Cintra  em  18  d'agosto  de  18oi.  =  Rodn'go 
da  Fonseca  Magalhdes. 


r;"    APONTAMENTOS  BIOGRAPHICOS 


SOBRE    0  ^OSSO    INSIGME    POETA    Ll'lZ    DE  CAMOES. 


Quando  abrimos  o  livro  d'ouro,  com  que  o 
principe  dos  poetas  portuguezes  enriqueceu  a 
nossa  lingua,  e  illustrou  a  nossa  historia,  ele- 
vando  a  superiores  regiOes  as  acfoes  estrema- 
das  daquelles  portuguezes,  que  tanto  se  des- 
linguiram  no  Oricnte,  no  seculo  XVI ;  e  lemos 
aquelles  versos  cheios  dc  conceitos,  e  harmo- 
nias  poeticas,  que  aili  sc  encontram,  nao  sa- 
bemos  qual  se  deva  mais  admirar,  se  o  genio 
da  poesia,  em  que  a  alma  se  arrebata  contem- 
plando  tanta  sublimidade,  se  o  amor  da  pa- 
tria,  que  tanto  em  Luiz  de  Camoes  avulta, 
nap  movido  do  premio  vil;  mas  daquelle  fogo 
d'iraaginafao,  daquclla  viveza,  e  forca  d'ex- 
pressao  com  que  faz  esquecer  quanto  ha  de 
sublime  nas  antigas  e  modernas  Epopcas,  para 
levantar  um  padrao  eterno  a  memoria  glorio- 
sa  de  seus  compalriotas.  0  pocma  de  Ca- 
moes ha  dc  ter  tanta  duracao,  c  ha  de  ser  esti- 

VoL.  III.  *  Setembro  1.°-    


mado  pelo  niundo  litteralo  em  quanto  durar 
a  lingua  em  que  foi  escripto,  apezar  dos  de- 
feitos,  que  unia  apurada  critica  Ihe  nota,  bem 
desculpaveis,  certo  na  apoucada  humanidade, 
cujas  obras  jamais  podem  sair  perfeitas! 

Que  um  tao  insigne  poeta,  um  tao  raro  en- 
genlio,  um  competidor  nao  indigno  dos  subli- 
midades  de  Uomero  e  Virgilio,  vivesse  e  raor- 
resse  na  obscuridade,  e  um  tao  extraordinario 
phenoraeno,  que  nao  podemos  encaral-o  sem 
nos  subir  a  cor  ao  rosto,  contemplando  o  pou- 
co  zelo,  com  que  os  seus  contemporaneos  dei- 
xaram  delinhar  na  miseria,  e  no  leito  da  morte 
tao  aprimorado  auclor,  csquecendo  logo  sua 
honrosa  memoria ! 

Fluctuando  em  incertezas  sobre  a-sua  filia- 
cao  e  naturalidade,  e  sobre  os  particulares  de 
sua  vida  toda  cheia  de  mysterios,  e  d'amar- 
guras,  apenas  ousamos  arriscar  conjeeturas,  e 
firmar  hypotheses  para  dellas  tirarmos  con- 
sequencias  sem  podermos  ale'gora  descobrir 
documentos,  que  nos  guiem  a  vcrdade,  e  nos 
dissipem  as  trevas,  que  quanto  mais  queremos 
penetrar  mais  pareee  se  condensam.  A  pouca 
Ventura  d'este  poeta,  e  sua  natural  infelicida- 
de  talvez  se  possa  mais  attribuir  a  este  secreto 
destino  da  Providencia,  a  esta  ncgra  fataMda- 
de  marcada  por  raao  occulta  na  sua  estrada  da 
vida,  do  que  a  outras  causas,  que,  como  con- 
sequencias  d'esta,  prepararam  seu  desgracado 
estado  durante  sua  existencia,  como  a  historia 
nos  mostra  em  rauitos  casos  semelhantes,  ele- 
vando  uns  e  abatendo  outros,  segundo  seus 
desvairados  capriehos!  Alexandre  Pope,  bem 
conhecido  poeta,  depois  de  muito  estudo  e 
meditayao,  alem  de  outras  obras  com  que  cn- 
nobreceu  a  sua  patria,  offereceu  ao  publico 
a  sua  traduccao  de  Uomero,  e  para  a  sua 
publicacao  as  subscripcoes  que  obteve  subiram 
a  duzentos  mil  cruzados,  com  que  fez  a  sua 
fortuna,  e  segurou  sua  subsistcncia,  como 
nos  diz  um  grave  escriptor.  Milton  compoe 
um  poema  elegante,  e  original,  que  tanto 
honra  os  annaes  poeticos  da  Inglaterra,  e 
morre  na  indigencia,  sem  auxilio,  e  desco- 
nhecido  de  seus  compatriotas,  e  ainda  hoje  o 
fora,  e  sua  memoria  estivera  no  esquecimento 
se  nao  fosscm  as  annotacoes  de  Adisson,  que  o 
fez  conhecer  ao  mundo  illustrado!  0  cantor  da 
Jerusalem,  Torquato  Tasso,  depois  de  immor- 
talizar  a  memoria  das  cruzadas,  e  perpctuar 
1854.  Num.  U. 


138 


T 


a  k'liiliranra  do  rojnado  do  scu  hcroe  Godo- 
frodo  em  fraula  xonora  e  helicosu,  atravcssa  a 
Calabria  quasi  descalco,  c  clicgando  as  portas 
de  Turim  os  {;uardas  llie  vcdam  a  cntrada 
fonio  se  fosse  um  ciiiiu'stado,  vciulo-o  coherto 
de  lairapos,  palido,  e  cnliado.  0  cantor  dos 
Lusiadas,  (]ue  laiita  lionra  deu  ao  iiome  por- 
luguez;  0  oslromado  hisloriador  das  navoga- 
coi's  do  iliustre  Gama,  morre  pobrc,  c  iguo- 
rado,  soiii  com  certeza  sabcriiios  se  no  liospital 
de  Lishoa,  se  em  casa  sua  !  Tal  e  o  destino  que 
a  |iro\  ideiuia  tern  marcado  aos  liomcns  iia 
sua  breve  carrcira,  como  clle  proprio  diz  na 
estaiuia  38  do  caul.  10. 

Ocniltfis  o«  j  lizos  (le  Dcoa  sHo 
As  ecritcg  va.is.   qnt-  iiriii  uN  enlen-ierain, 
(.'h.imain-Ihe  fH<!o  ni;io.  forltina  cscura, 
Seiulu  so  jiro\  iilt'iicia  tie  Ueus  puru. 

Grande  e  ainda  a  duvida,  que  ale'qui  tern 
enleado  os  biographos  sobrc  a  naturalidade 
do  nofso  poeta.  Manoel  Correa,  seu  amigo,  e 
couteiiiporanco,  como  elle  proprio  conl'essa 
iios  sous  commeutarios,  podendo  de  tudo  dar- 
nos  cabal  conliecimeulo ;  tao  escasso,  e  avaro 
-se  mostra  era  demasia  a  tal  respeito,  que  nada 
grangeamos  de  sua  leitura,  que  satisfaca 
iiossa  curiosidade,  c  nos  sdte  as  difficuldades 
cm  que  nos  acliamos.  Uesculpa  neiiluima  clle 
merece  per  tao  censuravcl  silencio,  ou  antes 
reprehensivel  reserva!  Pedro  dc  Mariz,  que- 
reudo  remediar  a  folia  do  precedente,  caiu  em 
cngauos,  de  que  com  bastantc  razao  o  accu- 
sam  os  criticos.  Manoel  Sevcrim  de  Faria, 
chantre  d'Evora,  incansavel  era  doscobrir 
com  muila  diligencia,  e  boa  crltica  docunicn- 
los  com  ([ue  tanlo  enriqueceu  a  nossa  littera- 
tura,  nada  iez  para  nos  tirar  das  duvidas,  e 
dos  enleos,  em  (]ue  nos  acbamos  cnredados. 
ilanoel  de  Faria  e  Sousa  em  nada  inferior  ao 
precedente,  e  talvez  antes  superior  cm  conje- 
ctiiras,  que  faz  com  deuodo,  nem  corta  os 
embaracos,  nem  solta  as  duvidas,  que  sobre 
estes  pontos  a  cada  passo  se  Icvaulam.  0 
iliustre,  e  eruditissimo  bispo  de  Viscu  o  snr. 
D.  F.  k.  Lobo  na  memoria  sobre  CamSes,  que 
ofl'ereceu  a  Academia,  e  corrc  imprcssa  entre 
as  da  mesma  como  seu  socio,  tendo  consulta- 
do  todos  OS  que  escreveram  sobre  a  gencalo- 
gia,  e  vida  do  nosso  poela,  ainda  que  dcclara 
seus  paes  e  avos,  nao  produz  documenlo  al- 
gum  em  prova  de  sua  opiniilo,  nao  devendo 
por  isso  ter  mais  credito,  do  quo  aciuelles 
donde  elle  tirou  taes  noticias,  e  que  primei- 
ro  as  publicaram.  Nao  fez  por  tanlo  mais  do 
que  escollier  a(iuella  que  mais  avisada  ilie 
pareceu  cntre  as  difforcntes  opiniOes  dos  que 
antes  delle  escreveram;  extromando  a  que 
achou  mais  conveuicnte,  fundado  cm  conje- 
cturas  c  argumeutos  a  ccrca  da  sua  natura- 
lidade! 

Tao  pOHco  rclevante  ella  se  conhece,  que 
no  programma  da  mesma  Academia  para  o 


anno  de  18o6,  que  *o  annunciou  na  sossao  pu- 
blica  de  5  de  juMio  do  presente  anno,  vfi-se 
publicado  para  concurso  =  L'ma  vida  de  Luiz 
de  Gamoes  mais  completa,  e  mais  exacta,  que 
as  atc'gora  publicadas,  fundando-sc  o  seu  A. 
quanio  for  i)ossivel  em  docuraentos,  ou  testc- 
munhos  ineditos. '  =  Daqui  se  conhece  quanto 
e  incerto  tudo  o  que  ate'gora  se  tem  escripto 
rclativamente  ao  nosso  poela,  e  quanto  c  dif- 
licil  penetrar  certos  myslerios  debaixo  dos 
quaes  se  csconde  a  bisloria  da  sua  vida;  por 
que  aonde  os  dorumenlos  fallecem  nada  esla 
pode  aflirniar,  sem  receio  dc  dcgenerar  em 
tabula. 

Uiversas  sao  as  opiniocs,  que  atc'gora  teera 
corri<lo  sobre  a  sua  naturalidade,  dizendo  uns 
scr  de  Goimbra,  oulros  dc  Lisboa,  e  outros 
dc  Santarcm.  A  segunda  destas  se  inclina  a 
citada  memoria  do  erudito  bispo  de  Viseu,  e 
para  prova  scrve-se  da  Elegia  III  do  poela — 
«  cm  que  dc  ccrlo  modo  se  diz  desterrado  da 
«  patria  ao  mesmo  tempo  que  e  constante, 
«  que  a  escreveu  andando  desterrado  de  Lis- 
«  boa.  Alii  se  compara  com  o  terno  Ouvidio 
«  que — de  sua  patria  os  olhos  apartando — 
«  ia  dizendo  aos  monies  e  rios  as  suas  quei- 
«  xas:  e  fallandoem  maviosos  versos  com  as 
«  aguas  do  Tejo  ihes  diz  que  espera  aquelle 
«  alegre  dia — Que  eu  va  onde  vos  ides  livrc, 
«  c  ledo.  ^ — Mas  mal  pode  concluir-se  d'este 
pcqucno  razoado  que  fosse  Lisboa  a  terra  da 
sua  naturalidade,  quando  graves  fundamen- 
tos  me  induzem  a  pcnsar  de  differente  modo, 
como  adiante  direi ;  e  quando  mesmo  o  pro- 
prio poela,  fallando  das  margens  do  .Mondego 
e  suburbios  de  Goimbra  na  canrao  IV  parece 
inculcar  esta  cidade  como  terra  da  sua  natu- 
ralidade, pois  dirigindo-se  as  aguas  claras  do 
Mondego,  e  sobre  cllas  soltando  suas  queixas 
por  nao  gozar  ja  daquelle  riso  brando,  e  suave 
olliar  sereno,  que  sempre  n'alnia  Ihc  estara 
pintado;  assim  scexprime: 

Nesla  floruia  lerra 

I^eda  fiesta  e  scren.l 

Ledo  0  contente  para  raim  ^ivia 

....  Cunk'iite  tura  a  |iena 

Que  Je  t.lo  bellus  olhus  prosceclia 

UlQ  (lia  no  oiilro  dia,... 

LoDiro  lenipo  passei 

CuQi  a  \ida  fulu'uei.  * 

eic-. 

Mngucra  exprimiu  ate'gora  o  tempo  do  ti^ 
rocinio  academico  por  toufio  tempo  (|ue  pas- 
sasse  nesla  terra,  antes  elle  mesmo  parece 
lastimar-sc  de  sua  raolina  sorte  o  fazerapartar 
della,  e  viver  iongc  daquella,  que  tanto  do 
coracao  amava,  e  a  quem  parece  dedicar  tanla 
ternura,  como  pessoa  conbecida,  c  rclaciona- 
da  ja  desdc  o  primeiro  verdor  dos  annos,  cu- 
jas  impressoes  mais  dilliccis  sao  de  apagar. 

*  Vej.  o  discurao  on  relr.torro  da  Acad,  real  dasscienc. 
danilo  conta  da  fessao  de  5  di-  jiilho  de  1054. 

^     Tom,  1.**  dassuas  obras,  pa^.  89.  ' 

*  Camues.  Uimas  —  Canr-io  4.* 


139 


Sc  della  pois  sc  nuzcnlou,  como  c  certo,  cm 
idade  ja  adulta,  lenho  para  mini  que  nella  foi  o 
seu  berco  e  de  alguns  mais  dc  sua  familia,  ate 
que  de  todo  se  extinguiu,  perdcndo-se  com 
seus  bens  a  memoria  de  todos  cllos  na  escuri- 
dade  dos  tempos. 

Foi  Luiz  dc  Camocs  filho  dc  Simao  Vaz  de 
Camoes,  segundo  diz  o  citado  c  crudito  Bispo 
de  Viseu'  c  ncto  de  Joao  Yaz  de  Camoes, 
c  nao  de  Antonio  Yaz,  como  ellc  diz  scm  pro- 
va  algiima.  Assim  o  cnconlro  cm  urn  docu- 
cumcnto  scm  duvida,  nem  suspcita  alguma. 
E  cste  documcnto  uma  cscriptura  de  renova- 
cao  de  prazo,  que  o  Cabido  da  cathedral  dc 
Coimbra  fez  cm  3  d'agosto  de  1552  ao  dito 
Simao  Vaz''  de  umas  casas  que  ja  tinham  sido 
de  seu  pae  Joao  Yaz  de  Camoes  (que  nos 
diversos  documentos  do  Cartorio  da  dita 
cathedral  c  designado  com  o  alcunho  dc  Yilla 
Franca),  e  que  clle  possuia  na  rua  da  Porta- 
nova,  que  hojc  conbeccmos  com  o  nome  de  rua 
dos  Coutinhos ;  as  quaes  tcndo  sido  mais  tardc 
alheadas,  foram  compradas  por  Manocl  de 
Brito  Barreto  c  Castro,  e  actualmentc  perten- 
ccm  a  snr.'  herdeira  da  casa  da  Portclla  e  Yil- 
la Franca,  em  que  ora  vive  o  sr.  D.  Salvador 
Manocl  de  Yilhena,  e  sua  esposa,  viuva  que 
ficou  do  sr.  Antonio  de  Brito,  hcrdeiro  que 
foi  de  toda  a  casa  de  seus  paes. 

Foi  Joao  Yaz  Camoes  (que  d'alcunho  chama- 
vam  Joao  Yaz  de  Yilla  Franca,  como  Ilea  dito) 
fidalgo  e  cidadao  d'csta  cidadc,  e  ja  em  1302 
nella  vivia;  porque  cm  9  de  Janeiro  d'estc 
mesmo  anno  elle  renunciou  a  terceira  vida  quo 
tiiiha  em  um  prazo  no  sitio  do  Alvor,  pcrto 
d'esta  cidade,  e  do  senhorio  clirecto  d'este  Ca- 
hido,  a  favor  de  sua  mulher  Catalina  Pires,  e 
para  um  filho  oit  fillta  d'entr'amhos' ,  e  n'estc 
documcnto  se  designa  o  dito  Joao  Yaz  por 
cscholar  cm  direito  e  raorador  ncsta  cidade. 
Donde  podemos  concluir,  que  ncsta  data  era  o 
dito  Joiio  Yaz  estudante,  morador  ou  cidadao 
de  Coimbra,  e  casado  com  Catharina  Pires,  sua 
primeira  mulher,  a  qual  ainda  vivia  em  1508, 
e  seu  nome  se  achava  averbado  como  forcira 
a  esta  Se  no  livro  dos  foros  d'azeite  daqucllc 
mesmo  anno*.  Nao  aparece  d'este  anno  cm 
diante  mais  o  nome  d'csta  Catharina  Pires: 
talvez  falecesse  pouco  dcpois;  por  isso  que 
cm  1328  acha-se  mencionado  cste  mesmo 
Joao  Yaz  de  Camoes,  escudeiro,  cidadao,  mo- 
rador em  a  dita  cidade,  casado  com  sua  sc- 
gunda  mulher  Branca  Tavares.'  Mostra  geral- 
mente  a  cxpcriencia  tcrcm  d'ordinario  os  pacs 
maior  inclinacao  e  alTecto  aos  lilhos  do  se- 
gundo que  aos  do  primciro  matrimouio,  neste 


*  Tom.  cit.  pag.  27  e  23,  e  concorila  com  o  que  iliz 
Moreri  Dice.  »rt.  CamScs,  fazenJo-o  nelo  Je  Anloiiio 
Tai,  o  que  as?im  nao  i. 

^  Vfja-se  ilocuraento  n."  1. 

^  L.  4."  dos  empra7.ampnt03  da  catliedral  ful.  175. 

•*  L.  do  aicile  de  1508  foi.  2. 

*  L.  7."  dos  cmprazamentos  foi.  £22. 


caso  SO  achou  Joao  \'az,  porque  tcndo  tido  do 
primciro  Simao  Yaz  de  Camocs,  achamos  o 
mesmo  Joao  Yaz  a  contractar  cm  1530  com 
seu  irmao  Pero  Vaz,  morador  na  Villa  de  La- 
gos, reino  do  .^Igarve,  escudeiro  do  sr.  conde 
de  Monsanto,  a  rcnuncia  das  casas  que  cste 
possuia  na  rua  dos  Coutinhos,  a  seu  favor,  e 
de  sua  mulher  Branca  Tavarcs,  c  para  um 
lilho  ou  liiha,  dcntrc  ambos  qual  o  dcrradciro 
nomeasse  cm  terceira  vida,  c\cluindo  desta 
sorte  seu  lilho  primogenito  Simao  Vaz. '  Desta 
arte  vio  clle  passar  a  casa  patcrna  aos  irmaos 
do  segundo  matrimonio;  cnire  os  quaes  foi 
Isabel  Tavarcs  a  nomeada  por  successora  do 
dito  prazo  das  sobreditas  casas. 

Falcccu  Joao  Yaz  pouco  mais  ou  menos  em 
1550,  pois  que  cm  7  dc  maio  d'este  mesmo 
anno,  se  acha  uma  cscriptura  de  rcnovacao 
de  vidas  a  favor  de  sua  (ilha  Isabel  Tavares', 
moradora  nesta  cida<lc,  em  casa  de  sua  thia 
(irma  de  sua  mae)  Filippa  Tavarcs,  pela  qual 
0  Cabido  a  rcquerimento  seu,  e  por  ja  scr 
falccido  seu  pae  Ihe  cmprazou  as  casas  na  rua 
da  Porta-nova  (rua  dos  Coutinhos)  ja  mcn- 
cionadas  nestcs  apontamcntos,  por  Ihe  (ica- 
rem  em  terceira  vida  pela  nnraeaciio  que  del- 
las  Ihe  fez  0  rcferido  Joao  Vaz,  seu  pae.  — 
Conclue-se  do  cxposto  que  Joao  Yaz  de  Ca- 
mocs fora  duas  vezes  casado,  a  primeira  com 
Catharina  Pires,  de  quem  teve  Simao  Vaz, 
e  a  scgunda  com  Branca  Tavarcs  de  quem 
teve  Isabel  Tavares,  cuja  familia  vivia  nesta 
cidade  com  geracao,  que  mostro  na  arvore 
junta  no  fim  d'estes  apontamcntos,  c  que  pe- 
las  vicissitudes  dos  tempos,  e  ma  fortuna,  ou 
antes  desgraca  dos  Camoes  ficou  confundida 
sua  geracao  com  a  dos  Tavarcs,  e  toda  a  sua 
casa  passou  para  os  parentes  collateraes  (pre- 
terindo  a  linha  de  successao)  cujo  tronco  foi 
Branca  Tavarcs,  e  sua  irma  Filippa,  que  fo- 
ram OS  continuadores  da  successao,  ate  que 
de  todo  se  extinguiu  esta  linha  cm  1643,  e 
passou  algum  resto  ainda  para  outros  paren- 
tes e  collateraes  dos  Tavares \  como  se  ve  na 
arvore  que  liz  a  vista  dos  documentos. 

Coniiniia. 

JIIGIEL  BIBEIRO  DK  VASCONXELLOS. 


ASTRONOMIA. 

C0NJECTtR.\S  SODRE  0  ESTADO  PRESENTS  DOS  PLA-' 
NETAS  JCPITEn  E  SATURNO  EM  RELACAO  A  SUA 
TEMPEBATURA.  '/ 

M.  Nasmyth  aeaba  de  apresentar  a  Socie- 
dade  astronomica  de  Londres  algumas  mui 
importantes  consideracoes  sobre  os  phcnome- 

'     L.  8  °  dito  foi.  58.  Vcj.   o  documcnto  n."  1. 
^     L.  0.°  dilo  foi.  167. 

^  Vfj.  o  documenlo  n.*  2  e  a  arvore  a  final  em  que 
vai  a  descendencia  dos  Tavares. 


140 


DOS  pspeciaes,  que  caracterisam  a  superficie 
Jos  dois  pianolas,  c  Ihe  dao  um  mui  singular 
aspecto. 

Estas  judiciosas  consideracoes,  que  aqui 
cxtractamos,  foram  offerccidas  pelo  auclorpara 
excitar  a  atlencao  dos  sabios  e  chamar  a  dis- 
cussao  sobre  cstc  grave  assumplo,  que  se  liga 
as  mais  elevadas  tlicorias  da  cosmogonia,  e 
que  e  por  isso  digno  do  mui  scrio  exame. 

«  N'unia  memoria  sobre  a  eslructnra  e  es- 
lado  da  superficie  da  Lua,  diz  M.  Nasmyth, 
fiz  aigumas  obscrvafoes  a  cerca  do  principio, 
que  me  parcce,  cxplica  a  marcha  progressiva 
do  arrefecimento  dos  planctas;  isto  e,  sc  a 
propricJade  de  conservar  cm  si  o  caior  fosse 
devida  a  massa  do  planela ;  a  da  sua  dispcr- 
sao  seria  proporcional  a  sua  superficie,  c  come 
a  primeira  crescc  como  o  cubo  do  diametro 
do  planeta,  cm  quanto  a  scgunda  nao  au- 
gmenla,  senao  como  o  quadrado  do  raesmo 
diamelro:  o  espaco  de  tempo  necessario  aos 
planetas  de  tamanho  volume,  como  Jupiter, 
e  Saturno  para  arrefecercm  desde  o  prinii- 
livo  estado  de  fusao  e  incandesccncia  ate  uma 
lemperatura,  que  permittisse  a  sua  materia 
oceanica  condensar-se  permanenteniente,  c  li- 
xar-se  a  sua  superficie,  seria  infinilaincnte 
maior,  que  no  easo  de  um  planeta  tao  pequeno 
comparatlvamente,  como  a  terra. 

i(  Admillindo  os  rcsultados,  que  as  inda- 
gacoes  geologicas  teem  claramente  estabcleci- 
do,  quanto  a  primitiva  fusao  da  terra,  como 
guia  para  reconhecer  o  estado  de  todos  os 
outros  planetas,  parece-me,  que  toniando  esle 
ponio  de  partida,  se  deve  cliegar  a  estabelecer 
alguma  lei  rclativa  ao  estado  actualmente 
provavcl,  dos  planetas  de  tao  extraordinaria 
grandeza,  como  Jupiter  e  Saturno,  e  que 
expliquc  cerlos  phenomenos,  que  se  veem  a 
sua  superficie. 

«  Dando  como  demonstrado  o  estado  origi- 
nario  da  fusao  da  terra,  e  remontando  ate  as 
epochas  primitivas  da  bisloria  geologica  do 
globe,  podem  dcscortinar-se  alguns  vestigios 
da  causa  d'esses  espantosos  diluvios,  de  que 
OS  phenomenos  goologicos  nos  olTerecem  tantas 
provas,  particularmente  pelas  acfOes  chimicas 
e  mcchanicas  cxercidas  sobre  as  formacoes 
igneas,  unicas  enlao  existentes,  e  que  sos  por 
si  deviam  fornecer  os  materiaes  da  crusta  da 
terra.  Se  unicamcnte  nos  rcferirmos  pelo 
pensamenlo  a  esta  antiga  cpocha  da  historia 
geologica  do  nosso  planeta,  em  que  era  tao 
elevada  a  temperatura  da  superficie,  que  a 
agua  so  podia  existir  alii  debaixo  da  forma 
de  vapor,  e  se  observarmos  scu  estado  desde 
esta  condicao  nao  oceanica  ate  ao  periodo,  era 
que,  ])or  elTeito  do  arrefecimento  da  sua  super- 
ficie, comcrara  a  terra  a  ser  inundada  por  tor- 
rentes  parciaes,  e  passageiras  do  occano,  que 
ate  entao  so  existira  sob  a  forma  de  um  gran- 
de  involucre  vaporoso  em  torno  d'ella;  taes 
consideracoes  sao,  nao  so  o  mais  elevado  as- 


sumplo de  importantcs  reflcxoes  a  respeito  da 
primitiva  condicao  do  nosso  globo,  mas  tam- 
bem,  segundo  parece,  uma  base  Icgitima  para 
estabelecer  as  nossas  conjccturas  sobre  o  es- 
tado actual  dos  dois  grandes  planetas,  que 
por  isso  eonsidero  dolados  ainda  de  uma  tao 
alta  temperatura,  que  nao  pcrmitlc,  que  a  sua 
materia  oceanica  abandone  a  forma  vaporosa, 
com  que  os  involve,  para  se  precipilar  era 
abundantcs  chuvas,  deixando-os  por  consc- 
qucncia  expostos  a  repetidas  perturbacoes, 
causadas  pclas  infructuosas  tcntativas,  que 
esse  mesmo  involucre  faz  para  descer  tcmpo- 
raria  e  parcialmenle  sobre  a  superficie  ainda 
incandescente  do  planeta. 

«  Lanccmos  ainda  os  olhos  sobre  esse  pri- 
mitive pcriedo  da  historia  geologica  da  terra, 
em  ([ue  este  plaueta  cstava  cercado  de  um 
dense  involucre  vaporoso,  contendo  toda  a 
agua,  que  constitue  hoje  o  oceane.  A  porcao 
exterior  d'estc  involucre  vaporoso  deve,  cm 
virtude  da  irradia^ao  do  seu  calorico  no  es- 
paco, ter  caide  continuamente  em  torrentes 
de  agua  quentc  sobre  a  superficie  rubra  da 
terra.  Uma  accao  tal  devia  produzir  terrivcis 
e  extraordinarias  cemnievoes  atmosphericas,  e 
nos  ultimos  periedos  d'este  estado  de  cousas, 
quando  mui  grandes  quantidadcs  de  vapor 
aqueso,  que  mais  lardc  devia  constiluir  o 
oceano,  se  precipitaram  em  forma  de  torrentes 
d'agua  sobre  a  crusta  ja  solida,  mas  ainda  mui 
delgada  da  superficie  da  terra,  a  instantanea 
conlraccae,  que  estas  passageiras  inundacoes 
de  occano  deviam  causar  sobre  essa  mesma 
crusta,  traria  em  resultado  espantesas  des- 
locacoes  na  sua  superficie,  e  numeresas  erup- 
coes  do  materias  cm  fusao.  As  extraordinarias 
dcslocacoes,  e  completa  inversao  das  primi- 
tivas camadas  sedementarias,  dos  gneiss,  schi- 
stos,  c  micaschistes  sao  uma  prova  evidentc 
do  estado  das  cousas  n'aquelle  periodo,  em 
que  e  oceane,  ainda  suspense,  queria  tomar  a 
disputada  posse  da  superficie  da  terra. 

«  Sc  um  expectador  collocado  por  cxemplo 
no  planela  Marie,  po4esse  n'csta  cpocha  da 
historia  geologica  da  terra,  lancar  d'aquella 
distancia  uma  vista  sebre  o  nosso  planeta, 
de  certo  se  Ihe  reprcsentaria  com  um  as- 
pecto pouco  differcnte  a  lodes  os  respeitos, 
d'aquelle,  que  actualmente  nos  apresenta 
Jupilcr.  Em  quanto  o  corpo  da  terra  esti- 
vesse  occulto  pelo  vaste  involucre  vaporoso, 
que  0  cercava,  as  terrivcis  eonvuIsOes,  que 
debaixo  d'este  dense  veo  se  passavara,  scgura- 
mcnle  scriam  indicadas  por  fachas  eu  roturas  a 
superficie,  eguaes  as  que  ainda  hoje  se  obser- 
vam  em  Jupiter;  c  cm  censcqueucia  das  erup- 
coes  dos  immcnses  volcOes,  que  u'esta  cpocha 
deviam  ter  a  maxima  actividade,  o  invelucro 
vaporoso  aprescntaria  manchas,  e  cintas  bran- 
cas  eu  negras,  irregularmente  disseminadas, 
como  as  que  em  Jupiter  ternam  tao  oaracte- 
ristica  a  sua  regiao  equatorial,  e  que  pro- 


J11 


vavelmcntc  sao  dcvidas  as  cinzas,  pcdra?,  e 
outras  matcrias,  ([ue  cstcs  volcOes  oquatoriacs 
arrojam  dc  tempos  a  tempos  alii  aos  limites 
cxteriorcs  do  involucro  atmosphcrico  oiide  a|>- 
parecem,  daiido-lhe  um  tao  singular  aspecto. 
Pela  minlia  parte  diivido  que  jamais  tenlia 
podido  vor-se  o  corpo  dc  Jupiter,  (|ue  perma- 
necera  occullo  jjara  iios  por  muitos  seculos, 
ate  que  teiiiia  arrel'ecido  a  ponto  dc  permittir 
ao  seu  oceauo  Ihicluaiite  pousar  pcrmaueiite- 
nicnte  sohre  a  sua  superlicie. 

«  Applitaiulo  estas  consideracoes  a  Saturuo 
parcce-me,  que  pode  eselarecer-se  um  pouco  a 
causa  das  mudan<;as,  <iue  sc  ol)scrvam  iios 
seus  anneis,  mudancas,  que  tciii  exeilado  o 
mais  vivo  inleresse. 

«  Sc  0  calor  originario  cm  Salurno  ainda 
e  tal,  que  o  seu  I'uturo  oceano  esla  suspense 
no  cstado  vaporoso  em  toruo  d'elle,  e  pos- 
sivel,  que  uma  porciio  d'este  vapor  se  alasle 
era  virtude  de  condieocs  clcctricas  especiae.s, 
que  OS  anneis  podem  ter  em  relarao  ao  corpo 
do  planeta,  e  que  n'esta  deslocacao  o  vapor, 
passando  ao  cstado  de  intcnsa  congelacfio,  que 
e  0  resultado  de  uma  tal  situacao,  appareca 
em  diversas  epothas,  como  acontece  com  o 
annel  phantasma,  e  que  alem  disto  incrustc  a 
porcao  interna  do  antigo  anncl  interior  com 
uma  grande  camada  dc  materia  gelada,  que 
da  logar  a  notavel  alvura,  que  distingue  par- 
licularmente  esla  parte  dos  seus  anneis.  » 

(_Edimb    new  p'lii.  Jour.,  I   bi,  i\.°  108) 


POESIA  SLW.V  MODERNA. 


CjnliniKido  fie  pa;;,  99 


11. 


Acahamos  d'imlicar  rapidamcnlc  (odas  as 
causas  que  devem  ter  attrahido  para  o  gouslo 
a  attpncao  dos  poetas  slaves  contcmporaucos. 
Contra  semelliantc  gcnero  de  poesia  podcm 
formar-se  sohcjos  artigos  d'accusacao,  pode 
elle  scr  arguido  das  suas  tendencias  scnsuacs, 
do  sou  cullo  exagerado  do  passado;  mas  hem 
longe  dc  concluir  de  tudo  islo,  como  muitos 
teem  feito,  a  necessidade  da  sua  completa  dcs- 
truicao,  cousideramos  pelo  contrario  csta 
poesia  primitiva  como  um  dos  vi\acissimo.s 
clementos  de  restauracao  e  de  renascenca, 
que  ainda  possue  o  mundo  civilisado.  Tam 
sensual,  como  quizerem,  o  gouslo  e  actual- 
mente  o  unico  adversario  serio  das  doutrinas, 
que  tendem  por  toda  a  parte  a  diminuir  as 
influencias  da  fe  religiosa  e  da  nacionalidade. 

Por  isso,  deixando  por  agora  no  silencio  as 
imperfciroes  do  gouslo,  nos  desejariamos  mos- 


trar  ciaramcnte,  com  citacoes  iittcrarias  e  ta- 
ctos  historicos,  todas  as  vantagens  que  jd  sc 
tem  alcancado,  c  que  se  alcancarao  cada  vcz 
maiores  com  o  cstudo  intelligcute  dos  gouslars. 

Se  se  prctendesse  rcmoular  ale  as  origens 
da  influencia  exercida  pelo  gouslo  .solire  as 
quairo  liltcraluras  slavas,  scria  forcoso  retro- 
ccder  ale  cssa  cpocha  ja  hem  afastada,  cm 
(|ue  a  lingua  lalina  dcixou  de  ser,  entrc  os 
Slaves  occidentacs,  entrc  os  Boheraios,  Po- 
lacos  c  Croatas,  a  lingua  exclusiva  dos  escri- 
ptorcs.  Assini  na  Bohemia,  desde  a  cdade 
media,  o  gouslo  rcsustitou  para  rcpcllir  o 
gcrn)anismo;  mas  a  theologia  nao  tardou  em 
vir  acainial-o,  (|uando,  nos  seculos  XIV  e 
XV,  die  Ibrccjava  por  transformar  a  poesia 
feudal  gcrmanica,  arrcigada  cm  Praga,  na 
poesia  popular  sJava.  A  raesma  cvolucao,  com 
pequcnissima  dilVerenca,  se  eO'ectuou  na  Po- 
lonia;  mas  alii  o  gouslo,  dcpois  de  algumas 
fracas  tentativas  i)ara  dcsjiertar,  se  extinguiu 
ainda  mais  completamcutc  do  que  nas  outras 
partes.  Entrc  todos,  so  os  Slaves  orientaes  e 
que  aao  pudcram  nunca  csquccer  completa- 
mente  o  sen  qucrido  gousle;  mas  nao  Ihes 
era  permittido  servir-sc  delle  nos  paces  reaes, 
nos  castcllos  dos  scniiorcs,  nas  grandcs  re- 
uniucs  officiaes,  a  nao  ser  com  a  condicao  de 
<?antar  em  lingua  esdavonia  ou  ccclesiastica, 
e  csta  lingua,  muito  sancta,  niuito  austera, 
para  exprimir  com  fogo  as  paixOes  da  vida 
terrcna,  punha  muitas  vezes  cm  constrangi- 
mento  os  gouslars,  impondo-lhes  formas  de 
convencao,  I'rias  imitacOcs  hihlicas,  que  ge- 
lavam  nelles  a  espontaneidade  natural. 

Assira  oeselavao  tinha  acahado  por  lornar- 
se  para  os  gouslars  do  Oricnte,  o  (jue  o  latim 
era  para  os  do  Occidente.  Por  fim,  quando  ao 
esclavao  chegou  a  sua  vez  de  ser  tamhem 
exduido,  como  o  latim,  das  litteraturas  pro- 
fanas  e  nacionacs  slavas,  nao  tardou  o  gouslo 
a  recupcrar  o  seu  logar  e  a  fazer  rebcntar  de 
novo  do  seu  tronco  ja  velho  florcs  cada  vez 
mais  vicosas.  0  seu  revdador  fui  uma  na- 
cao  inteira,  a  dos  Servios,  nacao  onde  nao 
na.sce,  por  assim  dizcr,  um  homem  que  nao 
seja  gouslar  c  pocta. 

A  luta  em  que  o  gousle  tcvc  de  cmpcnhar- 
sc,  para  reconquistar  de  todo  o  sceptre  da 
poesia  entrc  os  Slaves  do  Sul,  resume-se  his- 
toricamente  em  (piatro  ou  cinco  nomes  gran- 
dieses.  Tcmes  por  uma  handa  os  prelados 
Slaves  Raitch  e  iMuchitski,  escriptores  cuja 
pureza  toda  classica  advoga  com  uma  elo- 
(|uencia  suhlime  a  causa  do  passado,  isto  c  a 
lingua  esdavonia;  tcmes  por  outro  lado,  a 
favor  da  lingua  vulgar,  Dosilhco  Ohradovitj, 
Vuk  Karadchitj  e  Sima  Milutinovitj. 

0  monge  philosopho  Dosithee  Ohradovitj  foi 
0  primciro  dos  Servios  que  se  attreveu  a  es- 
crever  as  suas  ohras  numeresas  e  ousadas,  ini- 
hebidas  tao  admiravelmente  no  cspirito  slave, 
em  lingua  toda  vulgar,  scm  nunca  se  soccer- 


142 


icr  ao  idioma  ccclesiastico.  SoflVcu  por  isso mil 
tlcsgostos  (la  parte  dos  campcocs  dos  temjws 
passados,  e  a  sua  liita  contra  os  esclavoiiisa- 
dores  duroii  ali'  a  sua  innrti'. 

0  dotinitivo  Iriiimplio  da  pocsia  nacional 
sorvia  nao  podia  CDinliido  razcr-se  ospcrar  por 
iiiais  liMupo.  0  liispo  .Mncliitski,  com  as  suas 
odes  siihlimos,  csrrlplas  todas  ollas  om  liiip;iia 
csclavonia,  so  alcancoii  rclardal-o  pnr  alsum 
lompo.  I'or  lim  iini  pastor  ohscuro,  Miliili- 
no\ilj  apprcsciita-si^  aniiado  com  o  sen  (foush 
liosnjii,  para  arrancar  a  indole  do  sen  povo  as 
i,Mrras  da  aguia  csclavonia.  Por  dcsgraca  cste 
jovcu  va(|ui'iro  dos  IJalkairs  scrvios  havia 
d('i\ado  as  suas  manadas  do  hois  para  ser  cs- 
ludanlo  cm  Leipzig-;  a  Allcmanha  tinha-o 
iniciado  em  todos  os  mysterios  das  suas  sci- 
encias  e  da  sua  civilisacao,  e  em  quanto  ctle 
viveu,  conservoH  bastanle  impcrio  sdhrc  o  seu 
pspirilo  t'ascinado.  Miliilinovitj  nao  deixa  pnr 
isso  de  ser  o  primeiro  poeta  vcrdadeiramente 
convertido  pclo  f/niish;  com  a  dflTerenfa  que  a 
philosopliia  occidenlal  disputava  tLogounlo  esta 
alma  ardeule,  e  liie  iiiHigia  um  martyrio  ter- 
rivcl,  que  acabou  por  dcslruil-o  prematura- 
mente.  A  prova  deploravel  das  lutas  inte- 
riorcs  desle  genio  pasmoso,  acha-se  na  sua 
epopca  a  Serbianka,  obra  d'lima  forea  pro- 
digiosa,  mas  aonde  o  ideal  popular  slavo  e  o 
ideal  classico  greco-latino  visivelmente  so 
combatem,  e  aonde  as  expressoes  esclavonfas 
se  cruzam  d'um  modo  o  mais  extravagante 
rom  as  expressoes  da  lingua  popular.  Tendo 
por  scopo  a  bistoria  das  extrentadas  facanhas 
servias  no  tempo  de  Kara-George,  a  apotheose 
dos  heroes  da  gucrra  da  indopendcncia,  esta 
epopea,  mnidada  nas  lormas  das  rapsodias 
I)opulares,  fez  uma  imin'essSo  profunda  sohrc 
todos  06  espiritos  cultivados  da  Jugo-Shivia. 
Todo  0  mundo  admiron  a  Serhianka,  mas  foi 
pouca  a  gentfi  rpie  a  leu,  e  menos  amda  a  que 
soube  coni.prebendcl-a.  Os  olbos  ]j6dem  adivi- 
nhar  as  pmporcoes  ijigantescas  do  seu  todo; 
mas  nas  suas  dilTerenlcs  paries  encontra-se 
uma  ohcuridade  de  lingnagcm  que  a  tornam 
inconiprehensivel ;  parece,  por  assim  dizer; 
que  csia  escripta  em  caractcres  hieroglylicos. 
L'nia  traduccao  resuuiida  e  apjjroximada  da 
Serl)ianka,  em  lingua  vulgar,  seria  o  mais 
proveitosa  ensino  que  poderia  dar-se  a  esses 
poetas,  que  aiitda  se  b'nibraui  (!e  poder  con- 
ciliar  o  racionaiismo  occidental  e  o  slavismo, 
e  de  se  tornarem  [loetas  nacionaes  sem  deixar 
de  ser  poetas  cosniopolitas.  A  Serbianka  e  a 
prova  irrcfragavel  da  incompatibilidade  que 
existe  entre  a  fij  e  o  scepticismo,  c  entre 
OS  dois  generos  de  pocsia  que  emanam  destas 
duas  origens. 

Milutinovitj  pertencc  a  cssa  fiimilia  de  ta- 
ientos  excepcionaes  que  sabeni  crear  mundos 
e  renovar  as  sociedades.  Se  clle  se  tivesse 
deixado  couservar  na  fe  c  na  vida  Iradicional, 
ter-se-liia  tornado  no  llomero  do  seu  scculo. 


II  Aconteceu  com  clle,  escrcvc  um  poeta  tara- 
bcm  servio,  Suhhotitj,  com  uma  ingenuidade 
perfeita,  o  mesmo  (pie  se  passou  com  um  aldeao 
cuja  inimilavcd  dcstreza  em  curar  as  doenfas 
d'ollios  as  niiiis  reheldes  era  admirada  jjor 
todos  OS  medicos.  Os  doulores,  |)ersuadidos  de 
(|ue  este  honiem  estava  destinado  para  realizar 
trrandcs  progressos  na  sciencia  oculistica, 
levarani-no  comsigo  para  inicial-o  em  todos 
OS  segrcdos  da  mediciiia.  Dcpois,  quando  se 
acliou  aggregado  a  faculdade  scicnlilica,  e 
quattdo  quiz  comecar  onira  vez  com  as  suas 
maravilbosas  operacoes  da  cataracla,  esse 
homem  nao  [)assava  de  um  opcrador  vulgar, 
muito  inferior  aqiudlcs  (pie  dantes  o  tinhani 
admirado  e  prodamado  inimilavel.  >'  Parece- 
nos,  que  niio  (i  possivel  formular,  de  uma 
maneira  mais  frisante,  o  antagonismo  innato 
entre  a  sciencia  empirica  c  a  sciencia  tradi- 
cional,  entre  a  indole  occidental  e  a  indole 
sbiva,  entre  a  poesia  cosiuopolita  e  a  pocsia 
do  f/oualo. 

E  fora  de  duvida  que  foi  as  escholas  dc  Ber- 
lin, de  Paris  e  d'lnglaterra,  que  o  regenera- 
dor  da  Ulteratiira  servia  no  comeco  deste  sc- 
culo, Uosilheo  Ohradovitj,  veia  pedir  a  chave 
da  iniciacao  europC-a,  por(;'in  logo  que  esta  obra 
de  iniciacao  se  completou,  devia  renascer  o 
antagonismo  entre  as  litteraturas  occidenlacs  e 
a  poesia  slava.  Apenas  foi  iniciado  na  vida 
iiilellectual,  o  povo  servio  achou-se,  a  sen 
pesar,  cm  contradiccao  ilagrantc  com  os  sens 
iniciadores  curopcos.  Passa  de  trinia  annos 
(iiie  OS  Servios  tent  academias  modcladas  pclas 
nossas,  e  apesar  disso  ainda  o  gosto  acadc- 
mico  pcla  litteratura  niio  tern  podido  fazer  o 
menor  progresso.  A  poesia  do  guuslo  c  o  unico 
typo  do  hello  ideal  que  ainda  persisle,  o  unico 
ccntro  para  oude  gravita  a  poesia  dos  sabios. 

Coittitnta , 


BIBLIOGRAPIIIA. 

COMPE>!yiO  DE  VliTEniNMUA,  OU  CURSO  COMPLETO 
DE  ZOOIATUICA  UOMESTICA,  PELO  SB.  D.'  JOSE  F. 
UE    MACEDO    PIMO,     I.ENTE    DA    FACULDADE    DE 

MEIMC.1N\    N\   IMVEIISIDADE    DE  COlMBnA i." 

EDKJAO 2  VOL.    EM  8." 18ol. 

I'm  dos  mais  imporlantes  mcllioramentos  (fa 
agricullura  moderna;  a(|uclle,  talvez,  a  (lucni 
clla  deve  o  seu  maior  progresso  e  adiantamen- 
to,  (!■  0  grande  e  extraordinario  desenvolvi- 
mento  que  se  tem  dado  a  multiplicacao  e  aper- 
feicoamento  dos  animaes  domesticos,  e  por 
conse(|uencia  aos  estudos  veterinarios.  IIojc 
aquella  industria  constitue  nao  so  uma  parte; 
essencial  de  todas  as  empresas  agricolas,  mas 
i  tambein  um  dos  priiiieiros  e  principaes  ele- 
nientos  da  riijucza  das  nacoes,  c  por  isso  os 
governos  c  as  sociedades  agronomicas,  teem 


143 


promovido  por  meio  de  prcmios  as  cxposiroes 
piil)licas  dp  gados,  c  prociirado  generalisar  os 
rstiidos  vctcrinarios,  iroando  esrhnlas  para  o 
onsino  d'csta  scknicia,  o  prrmiando  os  aiirto- 
ros  das  nu'lliores  obras  sobre  os  sons  divrrsos 
ramos. 

Ucdiizida  piitro  nos  quasi  a  iini  simples  om- 
pirismo,  a  Vott'iinai-ia,  ou  antos  a  alvoitaria. 
(jiio  a  taiilo  niontavam  os  coulicciiuentos  dos 
nossos  poiKos  vctorinarios,  jazi'ra  por  longos 
aunos  cm  (|iiasi  comjiloto  ahandono,  cstraniia 
ao  grando  impulso  i|iu'  diialara  os  limilcs  da 
.sciciifia,  ('  ([ui'  t'lcvara  a  Yetorinaria  ao  poiito 
0111  inio  linjo  a  vomos  nos  outros  paizos. 

A  iiilima  ligaoao  dos  ostudos  modioos  o 
votoiinaiios;  o  profundo  coultocimoulo  da 
aiiatomia  o  phjsiologia  comparadas;  a  ostreita 
roiaoao  das  scieiioias  jiliysiuas  c  liistorioo-ua- 
tiiiaos  com  a  zooiatiioa;  os  piinoipios  da  hy- 
giono  0  da  iiirispiiidoncia  Votoiinaria,  uram 
de  todo  dosprosados,  soiiao  igiiorados  nos 
raros  osci-iptos  dos  nossos  auctoics  de  Yete- 
rinaria. 

O  ostabolocimcnto  da  oschola  veteriuaria 
mililar,  do  que  ja  n'outra  ocoasiao  nos  ocou- 
pamos'/so  alguin  moliioramoulo  iutroduziu 
nostcs  estudos,  foi  oxclusivamonto  na  alvoi- 
laria.  E  pode  oom  vordade  dizor-so,  quo  o 
(^ompondio  do  Yotorinaria,  de  que  o  sr.  Dr. 
Maredo  Piuto  dou  a  primeira  odioao  em  IHoi, 
foi  tambom  o  primoiro  c  mais  f'oliz  onsaio, 
que  ontro  nos  viu  a  luz  publica,  dossa  nova 
ordoni  do  ostudos  vetoriuarios,  aprosontados 
polo  A.  em  harmonia  com  os  mais  recontos 
progrossos  da  scioncfa,  c  com  tanta  concisao, 
e  olaroza,  que  do  per  si  rocommendavam 
aqiH  lie  ini|iortantissimo  trabalho. 

0  publico  illustrado  acollicu  desdo  logo  oom 
0  morocido  favor  o  compondio  de  Yotorinaria, 
ouja  avultada  odicao  so  oxaurira  conipleta- 
uionlo  no  primoiro  anno  da  sua  publicaoaoi 
0  (|ue  em  Portugal  raro  aconteee  aos  auotores 
do  obras  d^'  scionoias  naluraes. 

0  Ciirso  oouiplolo  do  Zooialrioa,  quo  o  sr. 
Macodo  Pinto  acaba  do  publicar  com  o  mo- 
doslo  titub)  de  «  scgunda  odicao  "  6  uma  o])ra 
inloiramoute  nova,  ondo  todos  os  rauios  da 
Yotorinaria  sao  concisamoute  evpostos  com 
a  maior  clai-ozji,  c  profundo  conbcoinicnto  da 
nuitoria. 

A  obra  consta  do  dojs  volumes;  no  jiriuioi- 
ro  0  A.  tracta  da  Palbologia  goral,  compro- 
bcndondoa  Etiologia,  a  Svmptomatologia,  ea 
I'litluigonia.  ,\  segiiuda  parte  e  consagrada  a 
Patbologia  especial,  e  eoniprobende  as  mo- 
lostias  da  i)olle,  e  dos  difforentes  orgaos  o 
systomas,  indicando  a  par  de  cada  molcslia 
o  sou  Iractamento  conveniente,  oit  a  sua  tbo- 
rapoutica  especial.  X  torcoira  parte  torn  por 
objeclo  as  molostias  privativas  dos  din'crentos 
aniniaos  domesticos. 

'    Vul.   I,   pa-.  320, 


0  scgundo  volume  comeca  pcia  Tliorapou- 
tica  goral,  na  qual  comprobondo  os  agentes 
pbarmacologicos,  ou  a  Pbarniacologia — a  pe- 
qnona  Cbirurgia  — e  a  Hygion('. 

A  Zootoobnia  occupa  a  scgunda  parte  d'oslo 
volume.  Algnns  artigos  oxtrabidos  d'osto  ini- 
portante  trabalho  foram  jii  publicados  polo  A. 
no  segundo  volume  d'osto  Jornal' ,  e  oscusado 
0  por  isso  recommondar  a  loitura  d'osia  parte, 
talvez  a  mais  notavol  c  intoressantc  do  loda 
a  obra. 

Tratando  do  motboramonto  dos  animaes  do- 
mesticos, c  da  sua  multiplicaoao  e  aperfoicoa- 
monto,  0  A.  nao  osquoceu  uma  so  das  co'nsi- 
dcraooes,  que  dovom  ter-so  em  vista  para  con- 
soguir  aquello  desejado  lim.  Expondo  as  dou- 
trinas,  e  os  motbodos  mais  acrcditados,  o  as 
mais  recontos  observacoes,  e  experioncias  fei- 
tas  nospaizes  mais  cultos  da  Europa,  oA. 
procurou  fazer  d'ellas  util  e  conveniente 
applicaoao  ao  nosso  paiz.  E  nao  sao  unica- 
niente  os  proceitos  da  scioncia  quo  lornani 
digna  de  especial  attcncao  esta  ])arle  do  com- 
pondio de  Yotorinaria;  mas  tambom  a  manoira 
pbilosophica,  e  verdadeiramonfo  tanscendon- 
to,  com  que  sao  expostas  cm  resuniido  quadro 
as  mais  olovadas  tbeorias,  e  os  mais  imporlan- 
tos  problemas  das  scionoias  pbysicas  o  bisto- 
rico-naturaos  em  rolacao  ao  ass'umjito. 

A  ultima  parte  da  obra  eoniprobende  a  Ju- 
risprudoncia  veterinaria,  objocto  ontre  nos 
(|uasi  inteiramente  desconbecido.  0  A.  divi- 
diu  esta  parte  do  seu  trabalho  em  .lurisprii- 
dencia  yotorinaria  propriamonle  dita,  <[ue 
tracta  dos  casos  rcdhibitorios;  om  .Modicina 
legal,  qtio  diz  respoito  aos  forinientos  e  cn- 
vononamontos,  c  em  Policia  sanitaria,  que 
tracta  dos  moios  do  prcvonir  o  desenvohi- 
mento  c  progrcsso  de  epizootias,  e  enzootias 
contagiosas. 

Nesta  parte,  uma  das  mais  dilllceis  mas 
tambem  das  mars  utois  do  seu  trabalho,  o  A. 
colligiu  toda  a  legislacao  patria,  que  rospcita 
ao  assiimpto,  aprosentando  ao  mosiiio  tempo 
a  legislacao  estrangeira  nos  casos  omissos  na 
nossa . 

Em  (im  a  obra  terniina  por  urn  Iiidico  alplia- 
betico  goral,  coordonado  do  modo,  ([uo  so  podi? 
considorar  conio  um  diccionarin  do  Veterina- 
ria, que  muito  facilita  o  iiso  d'osto  livro  ate 
aos  monos  ontcudidos  om  taos  matorias. 

Indicamos  aponas  mui  summariamente  os 
principaes  capitulos  da  nova  odicao  do  Com- 
jiendio  de  Yotorinaria  do  sr.  Dr.  .Macodo  Pin- 
to, porque  nao  cabe  em  pequono  espaco  fa- 
zer 0  juizo  critico  d'este  valioso  e  iin|ioi'tanle 
trabalho  scicntilico,  fructo  do  longas  boras 
de  profundos  estudos,  e  assiduo  trabalho  do 
joven  professor,  que,  illustrando  oom  taos  pii- 
blicacOes  0  seu  nome,  fez  ao  son  paiz,  e  espo- 
cialmente  a  agricultura  patria,  um  relevantis- 

'    Vul.   II,  pau'.   199  c  sr;-. 


1 


14 


.>imo  M'lviro,  toriiando  accessivcl  a  lodas  as 
iiitelli^oncias  os  conhecimciitos  volcrinarios, 
rom  tanto  rigor,  c  clareza.  e  foiii  tanta  ame- 
nidade  di'  rslilo,  que  a  loitura  da  sua  ohra  c 
ao  mcsmo  tciiiiio  iitil  c  aprasivol. 

Apesar  dc  vnlumoso,  este  compeudio  pare- 
ce-nos  digno  do  spr  adoplado  em  lodas  as 
escholas  rcgioiiaos  agrionlas,  como  ja  o  I'oi  na 
uuivorsidade,  |ion|ue  uma  lioa  parte  da  ohra 
uao  eareec  de  scr  oxplieada  nas  respeelivas 
eadciras,  mas  o  nnieamento  destinada  para  sc 
consultar;  e  os  ahininos  que  tiverem  seguido 
com  alleiioao  a  leiUira  desta  obra,  liearao  por 
oerlo  mui  liabililados  para  se  darem  a  pratua 
veloriuaria. 

J.  Ji.  DE  ABREU. 


.lAUDlNS     D  ACCLIJIATA^AO     NA     MAOEIRA      E 
ANGOLA   NA  AFllICA   Ai;srH0-OCClDENTAL. 

Cijiitiiuiudo  de  [in^.    1-7. 

Oi  lialjilanles  da  illia  da  Madeira,  aonde 
uma  desastrosa  epipliylia  no  decurso  d'este 
anno  lem  debtriiido  os  preeiosos  viiiliedos  que 
atcf  agora  alii  furtnararn  o  principal  e  quasi 
excliisivo  genero  d'agricullura,  devem  seni 
deniora  e  mui  seriamenle  ejfor^ar-se  de 
remediar  este  mal,  variando  e  viultipticando 
OS  gencros  de  suas  culturas,  e  deste  modo 
tiror  vioior  vanlagem  d'uiii  cliina,  que  e 
coijsiderado  mellior  e  inais  favoravel  a  certas 
cuUurai  do  que  o  de  toJas  as  inais  illias 
do  liemispherio  boreal  ;  mas  para  iniciar  as 
priiiieiras  leiUativas,  e  jjara  experiuientar  e 
csludar  a  cullura  de  novos  gei;eros  an-rico- 
las,  qual  sera  o  iustiluto  luais  convenieute 
a  csle  fim,  a  uao  bor  uui  jardiui  d'aecli- 
rnatarfio?  !  A  fundac^ao  de  tao  ulil  e»Labeleci- 
luento  liavia  desde  ja  occupar  inuitos  bra<,'os, 
que  pelo  desarUe  uas  viulias  ficaraui_  desoc- 
lupados;  o  nuiiiero  cada  vez  major  de  va- 
pores  que  alli  aporlaui,  crusaudo  o  allaiitico 
ern  todas  as  dile('9oe^,  offorecia  frequeiiles  e 
opporturias  occasioes  d'uiiia  rapida  cora- 
MuinieaCjiio  com  as  mals  longinquas  terras, 
facdilaiido  assim  a  prouipta  aequisicao  de 
muilfs  vegetaes  raros  c  apreciados  ;  e  liiial- 
menle,  a  exisleiieia  d'uin  bern  organisado 
Jardim,  povoado  roui  as  mais  vislosas  pro- 
duc(,-6es  da  Flora  de  lodas  as  zonas,  liavia 
tbr^osameute  cliaiiiar  para  abi  urn  avultado 
liumero  de  viajajiles  curiosos,  e  augrneiilar 
cousideravelmerile  a  ja  iiao  pequena  coiiccr- 
reucia  de  doeutes,  e  convidar  uns  e  outros  a 
mais  pridongada  deniora  n'acjuella  ilba  dos 
cncanlos.  Ponderadas  lodas  eslas  circiimstan- 
i  ias  t'avoraveis,  o  avaliadas  as  vanlagens  que 
dellas  devem  rc.-idlaraos  [nadeireiises,  pareee 
a  crearao  d'umjardiiri  d'acclimala^fio,  com 
as  com|)etentei  niodilica(,oes,  para  ao  niesmo 
lemi)o   servir   de    pasn-io    |)ublico,    uma    das 


mais  efficazes  providencias  que  o  Govcrno 
de  Sua  Magestade  acluahnenle  podia  legislar 
n'aquella  ijlia,  para  mitigar  alguiii  tanto  as 
Iristesconsequeiiciasda  deva^ladora  epipliylia; 
Ijem  como  para  eviiar  a  fulura  repeUc;rio 
de  similliantes  desaslres,  que  mais  cedo  ou 
mais  tarde  seinpre  se  deveria  recear,  se  os 
madeircnses  conlinuassoin  a  basear  exciusiva- 
mente,  como  ate'  agora,  todas  as  suas  espe- 
ranyasagriooias  sobre  um  so  genero  de  cullura. 
N'um  igual  estado  de  crise  e  de  transifao, 
aiiida  (]ue  por  rnotivos  bern  differenles,  re- 
presenla-se  a  riquissima  provineia  d'Augola 
na  AlVica  austro-occidental  ;  e  igualmcnte 
sabiJo  que  o  extenso  lerrilorio  d'csla  valiosa 
possessao,  desde  ha  muilo  tempo,  era  o  priii- 
cipal  mercado  d'escravos,  os  quaes,  junta- 
mente  com  alguns  generos  acarrelados  do 
interior  do  corilinente  por  esses  mesmos  es- 
cravos,  formavam  o  limilado  repertorio  do 
commercio  colonial.  O  repentino  acabamen- 
to  d'este  trafico,  pouco  hone-to,  mas  sum- 
mauienle  liicralivo,  destruiu  numerosas  fortu- 
nas,  estagnou  o  giro  d'avidtados  cajiitaes,  e 
paralisou  por  um  inoniento  quasi  loda  a  vida 
commercial  d'aquella  colonia.  Poreiii,  ine- 
dianle  este  estado  de  geral  consternayao,  a 
bemfazeja  providencia  eflectuou  a  successiva 
transi^ao  d'urn  povo  paramente  commer- 
ciante  n'uma  esperan^osa  colonia  agricola ; 
e  dentro  em  breve  tempo  o  cafe,  o  a|i;odao, 
o  anil  e  muilos  outros  generos  coloiiiaes  for- 
necerao  abundantemenle  aquelles  inercados 
que  n'outro  tempo  so  foram  povoados  pela 
illicila  fazenda  d'um  Iralico  deslmmano. 
Mas,  para  facilitar  aos  colonos  a  ijilroduc- 
(;,'io  e  naluralisa^ao  de  novos  generos  agrico- 
las ;  para  experimentar  os  methudos  mais 
convenientes  de  sua  cultura,  beui  como  para 
depositar  e  est\idar  os  muilos  vegelaes  uteis 
que  sem  duvida  neuliuma  hao-de  eticonlrar- 
se  no  immenso  sertao  d'aquella  provjncia,  atu 
agora  apenas  superficialmeiite  explorado  ;  em 
fim,  para  saliafa^er  a  todas  eslas  exigeueias 
urgenles  d'uma  naseeutu  colonia  agricola, 
iiao  ha  de  certo  iiiTililui^rio  nenhuma  que 
seja  mais  adequada  e  de  iiiaior  vantagem  aos 
colonos  do  que  um  hem  organisado  e»lal)ele- 
cimento  d'accliinaia^ao.  Arabando  de  expdr, 
ainda  que  em  tragos  ligeiros,  as  reciprocas 
vanlagens  que  se  podiam  tirar  da  crearao 
de  jardins  d"acclimala(jao,  tanto  para  as  co- 
ionias  aonde  forem  esJabelecidos,  bem  como 
para  o  paiz  materno,  passo  agora  a  apontar 
algumas  providencias  que  considero  como 
mais  acerladas  e  necessarias  relalivajnente  a 
funda^ao  e  boa  gerencia  dos  dilos  cstabele- 
ciinentos.  Km  quanto  ao  local  ou  silio  em 
que  se  deviam  collocar  esles  jardins,  pouco 
se  podc  dizer  sem  coidiecimenlo  perfeilo  da 
localldade  e  mais  eircumstancias  modifica- 
doras  que  influem  no  prospero  desenvolvi- 
menlo  de  similliantes  institiitos;  enlrelanto 
julgo  devor  lenibrar  que  elles  deven)  ser 
estabtlecidos  tao   proximo,    quanto  possivel, 


145 


das  respeclivas  cidadcs  capitacs,  e  em  silios 
algiiin   lanto  abrigados  dii»  ventos   reinantes 
ti'aquellas  rcgioes,  para  assirn  mais  facilinenle 
evilar  as    n)udan9as   ropenliiias   da  lempera- 
lura,  t.'io  nocivas  a  todas  as  planla^oes ;    cm 
fim,  o  sitio  escolhido  |)ara  fmidagfio  dos  dilos 
rstabeleciiiienlos  dove  ofTerecor  lodas  as  con- 
di^ops  favoravc'is   da  pxposi^ao  e  do  lerreiio, 
n   deve  ser    provi'do  d'agiias    convenieiites    a 
lima  ciiltiira  por  sua   naliireza  e  deslino  iiiiii 
vaiiada.     A    direcySi)    d'esles    cslabelecimen- 
los  dcv(!  ser  i-ntrcgiie  a  pessoas  da  plena  coii- 
fian^a    do   Governo,    e    que   leiiham    os   co. 
iihcciincnios    siifficicntcs    para     priiicipiar    e 
conliiiuar  com  a  cidliira  c  mulliplica^ao  dos 
vegelaes   que  para   alii   forein  eiiviados,    bein 
corno  para  I'azor  os  necessarios  apontainenlos 
iiielercologicos   e    d'oulias    observa^oes    pro- 
vcilosas,   que    por   for^a    liaviam    de    rfsullar 
das  varias  lenlativas  de  eullura.    Probidade, 
inclina(;ao   para   occupancies    desle  genero,   e 
coiihecimeiilo',  moniienle  praclicos,  das  dif- 
f'ereiiles     niatiipula^oes    de    jardinageni,    sao 
qiialidades   itidispensaveis  para  quein   dirigir 
fimilliantes    instiliilo-.     Defmis    d'eslabeb'ci- 
dos  OS  jardins,   sera   eoiiveniente    dar  o  Go- 
verno de  Sua  Mageslade  ordens  aos  governa- 
dores  das  pn  vincias  ultiamarinas,  bem  conio 
a  todos   OS  consules  de    Portugal   em    paizcs 
estrangeiros,    para   estes  diligenciarem    a   ac- 
quisi9So    de    seineiiles.,     ccbolas,    luberculos, 
eslncas   ou  pes  de  quaesquer    planlas   inipor- 
tantes,  rcineltendo-as  com  a  pos-ivel  brevida- 
de   e    convenieiilemenle    acondicionadas,     ou 
directamenle  aos  ditos  jardins,  ou  a  Lisboa, 
para   d'a<pii    se  remelterem.    Da  niesma  iiia- 
neira  se  deve  animar   os   eoinmandanles  dos 
navios  do  eslado  para  alcangarcm  e  manda- 
rcrn  collier  sementes,   eic,  etc.,  de  qiiaesquer 
planlas  uleis  ou  ornamentaes  nos  paizes  oiide 
aporlareni,   Irazendo-as   ou   remetlendo-as  ao 
supra   deslgnado  destino.    Os  ecelesiasticos  e 
chirurgioes  cpiese  dcslinain  para  o  eiiibarque, 
ou  ao  servico   no   Ullrauiar,   devem   receber, 
antes   de  scguir  vlagem,   breves  e   bem    con- 
cerladas  inslruc^oes  (se  for  possivel  im()ressas) 
sobre  a  maneira   niais  conveniente  de  collier 
e  acondicionar  os  objectos  em  cima  aponta- 
dos.  Acliaiido-se  uina  vezos  jardins  do  Funclial 
c  de  Loanda  em  certo  estado  de  prosperida- 
de,    devia-se    proceder   a  crea^ao  d'analogos 
jardhts  Jilidcs  iias  mais    provincias   ultrania- 
rinas,    parlicularnienle    nas    illias    de    Cabo 
Verde,  em  S.  Tliome,  Quilimaiiee  em  Cioa, 
pois  em   todas  estas  terras,  siiiiilliantes  insli- 
tulos   nao  deixariio   d'excitar  e  de   furnenlar 
pod<"rnsaiiienle  o  goslo  para  a  liorlicuilura  c 
agricullLira,  como  isso  se  esta  cxperimentan- 
1    do  nos  jardins  d'acclimatagfio   em  Cayenne, 
'    Pondicheri/,    Cuba  de   Boa-Esperanga,   Col- 
:   cutd  e  Balavia,  creados  pelos    francezcs,   in- 
I    glezes   c   liollandezes,   para    fins    analogos,    e 
em   grande    proveito   para  as   respeclivas  co- 
lonias     das    na(;oe5    inencionadas. 

BE.  P.  WELWITSCH. 


SOCIEDADE  ASIATICA. 

O    coronel    inglez    Rawlinson    relala    de 
Bagdad    tiovos  descoljriinenlos  que  kz,  prin- 
cipalmente   de   cyjindros    d'argila    desenler- 
rados  das  ruinas  d'Um-Queer  (anliga  Ur  dos 
Clialdeos).    Dons  dos  cyjindros  examinados 
por    esle    sabio    arclieoiogo,      continliam     a 
eniimera^ao    dos    Iraballios    niandados    exe- 
cutar    por    Nabonidos,    ultimo     rei    de     Ba- 
bilonia,   na   Clialdej   meridional;    laes  eram 
a    reedifica^.io    de    templos    que    liavia    dez 
seculos    linliain    sido   conslruidos   pelou    mo- 
narchas    Clialdeos,    e    a    desobslruc^iio    de 
canaes  abertos  no  tem|)o   de  Nabopolassar  e 
Nabucliodoiiosor.   O  ponto  mais  imporlante 
esclarecido   pelo  descobrimento  des-les  cylin- 
dros  e  que,  o  fillio  primogenito  de  Nabonidos 
cbamava-se  Bel-sliar-ezar  e  governava  junla- 
menle    com    sen    pai.     Bel-sliar-ezar    e    mui 
provavelmente    o    Ualtliazar    de    Daniel,    e 
facil   agora   se  torna  compreliender  que  este 
principe     fosse     governador     de     Babilonia, 
quando   foi  lomada  pelas  for^-as  combinadas 
dos  Medos  e  dos   Persas,  e  que  morresse  no 
ataque,    ao    inesmo    tempo   que    Nabonidos, 
ehegaiido  em  soccorro  da  praya,  era  derrola- 
do  e  conslrangido  a  refugiar-se  em  Borsippa. 
Por   fim  apresenta   Kawlinson,  fundando- 
se  nos  mais  recentes  documentos,  um  bosquejo 
liistorico  das  dynastias  babylonicas  e  assyria- 
nas. 


R.    COLLEGIO  URSUMXO  DAS  CHAGAS 
EM  COIMBRA. 

PROGRAMMAS. 
185i. 

Por  dccrelo  de  21  de  junbo  de  1861  foi 
dado  o  convento  de  S.  Jose,  em  Coimbra, 
para  definitivo  assenio  do  real  Collegio  Ursu- 
lino,  que  fOra  fundado  na  villa  de  Pereira  ; 
e  no  dia  13  de  dezembro  do  niesmo  anno 
verificou  este  Colleg-io  a  sua  Iransferencia 
para  acjuella  sua  nova  casa. 

O  edificio  de  S.  Jose,  considerado  em 
quanto  a  sua  posiguo,  a  mais  bella,  sadia  e 
piloresca  de  Coimbra,  mcllior  pode  ser  repre- 
sentado  por  obra  de  pincel,  do  que  de  penna; 
jiurque  seiii  sempre  curia  qualquer  narrajfio, 
que  se  pretenda  fazer  de  suas  beliezas.  Hni 
quanto  ;i  sua  capacidade,  nao  pole  fazer-se 
idea  d'ella  pela  liumildade  de  sua  entrada, 
que  parece  buscada  de  proposilo  para  en- 
cobrir  a  largiieza  do  interior.  Tern  oplimas 
salas  para  aulas  e  dormitorios,  quartos  are- 
jados  e  bem  aliimiados,  corredores  alegres  e 
desafogados,  boas  casas  de  cosinlia  e  refei- 
torio,  e  outras  commodidades  para  todas  as 
oflicinas.  Eui  um  dos  lados,  fazendo  angulo 
com  o  mesmo  edificio,  corre  de  nascente  a 
poeiile  lima  espa^osa  varanda,  que,  abrigada 
do  norte,  e  aberta  ao  meio-dia,  n.'(o  pode 
liavel-a   mais  a  geito  para  gozar  o  soallieiro 


146 


no;  (lias  de  inverno,  e  o  fresco  cm  as  noutcs 
lie  vorriD.  Soliraiiccira  ao  Alondego,  e  se- 
nborcaiido  snas  deliciosas  niargens,  d'clla 
pode  nHo  so  c?praiai-se  e  dL'Icilar-so  a  vista 
])elas  muitas  qiiiiilas,  liorlas,  c  laraiijaos,  que 
liordaiii  uiiia  o  oulra  boira  do  no,  c  que  na 
major  parte  do  anno  inarileoin  verdiira  per- 
petiia  ;  mas  laiiihoiii,  desfnirlar-se  a  foniiosa 
porspecliva  da  cidado,  que  a  poiica  dislnucia 
Jjoiisa  doccmente  reclinada  na  eiicosla  de  uni 
motile,  com  a  fronte  ao  occidciile,  coroada 
polos  magestosos  edit'icios  e  reaes  pa(;os  da 
universidade. 

Estende-se  na  frenle  d'aqiiella  varanda,  e 
ao  longo  de  lodo  o  edificio,  inn  bcllo  jnrdim, 
ccrcado  de  muro,  e  dividido  per  miiilos  ale- 
gretes  em  ruas  de  murla.  o  qiial  olTcrece  as 
meiiinas  passeio  o  mats  aprazivel,  e  di^trac- 
gao  a  mais  agradavol,  para  n'clle  se  rccrea- 
rcm,  sein  serem  devas>adas  de  parte  alguma, 
e  podendo  ser  observadas  das  jjncllas  do  col- 
legio,  que  quasi  todas  para  all  cacm ;  riao 
faltando  para  inaior  desafogo  uma  extvnsa  e 
bom  siliiada  cerca,  aonde,  acom|)anliadas  das 
mestras,  as  meninas  podem  dar  mais  longos 
passoios,  lao  reconimendados  como  liygienl- 
cos,  ))ara  o  desenvolvimenlo  pliysico,  e  con- 
fcrvacao  da  saude. 

As  Religiosas  Ursulinas,  querendo  satis- 
fazer  aos  encargos  de  sou  Inslitulo,  que  lein 
por  fnn  e  objeclo  principal  a  ueducagao  e 
jiistruc^ao  do  sen  sexo  n  e  desejindo  cor- 
responder  a  protec^ao  regia,  com  que  sempre 
teem  sido,  e  ultimatnente  lao  soberanarneiite 
foram  conlempladas ;  bem  como  ao  benigno 
acolliiinento,  que  teem  recebido  do  publico, 
eslao  decididas  a  ein|)regar  os  meios  ao  sen 
alcance  para  aproveilarem  as  connnoJidades 
d'esta  bella  casa,  a  fnn  de  n'ella  eslabelece- 
rem  todos  os  ramos  d'ensino  necessario  a 
suas  edueandas;  e  aperft'i(;oarem  o  dos  eslu- 
dos  e  prendas,  que  acUialmenle  professam,  e 
constam  do  seguinte  : 

PROGRAIIMA    DO    KNSINO. 
I. 

ENSINO   UELIGIOSU,    MODAL    E  CIVIL. 

Doulrina  clirisia:  catecliismn  :  piepara^-fio 
para  a  primeira  couimunliao:  piactica  dos 
exercicios  religiosos  e  cliristaos,  clc. 

Jixplicac^ao  succinla  do  Evangellio  :  applica- 
rao  moral  de  todas  as  suas  niaximas  aos 
uses  da  vida,  etc. 

Priiicipios  e  regras  de  civilidnde,  compre- 
hendendo  os  elementos  do  estilo  eputolar, 
«lc. 

11. 

EXSmO    LITTERABIO. 

SKC(,'AO    I.* 

Ler,  escrcver,     e  contar  ;  Grammatica  Por- 

lugueza. 
Grammalira  Franceza,  Italiana  e  Ingleza. 

SECIJAO  2.* 

Dcsenho  linear  coin  applicagfio  aos  lavores  e 
bordadura. 


Geogra])liia  :  Cliorogrnpbia  I'orlugucza  ;  no- 
^oes  do  Cosmogia|)liia  (iralado  da  cs- 
pliera)  e  de  Cliroiiologia. 

Historia:  Sagrada  do  antigo  e  novo  Tosta- 
mento. 

Profaiia,  especinlmente  a  Portugupza. 

ftlytliologia  (elementos  oscolliidos). 

SliCI^AO  3  * 

Principios,  regras  e  uzos  geraos  de  econouiia 

domeslica  (governo  de  ca-a). 
Nojoes  elementaros  de  Hygiene. 

Ill 

ENSINO    AIITISTICO. 
SEC(,"AO   1.* 

roNTO  DE  MALiiA.  I'azer  meia  :  rendas :  cro- 
chet, espigar  :  fazer  luvas,  e  variedade 
d'obras  de  la,  etc. 

cosTuiiA.  Cozer :  talliar,  e  marcar,  etc. 

BORDAuunA.  Bordar  de  branco;  a  CDrdotmel : 
a  cabello,  etc. :  de  nializ  ;  a  sedo  :  a  froco: 
a  escomillia:  a  ouro  e  prata:  ;l  niis?anga: 
a  p6  de  la:  pelit  point:  em  vidro,  de  vaiios 
modos;  em  madeira,  etc. 

SECrio  2.* 
MUsrcA.  Canlar  e  locar  piano. 
FLORisTiCA.  Fazer  flores  :  c  de  cera. 
uEziiNHO.  De  figura,  paizagein,   etc. 


COXSELIIO  SUPEKIOU  DE  LNSTRUCC-XO 
PUBLICA.' 

INSTniCfOES  PAHA  OS  COMMISSABIOS   DOS  ESTIDOS. 

Art.  1.°  As  atlribui^oes  dos  commissarios 
dos  esludos  acliatn-se  prineipalmente  iiidica- 
das  nos  artigos  78  e  Ifil  do  dccreto  de  20 
de  seteinbro  de  I844,  e  podeui  reduzir-se 
as  funcjoes  de  reilores  dos  lyceiis,  e  u  vi- 
gilancia  edirec^fu)  dasescliolas  de  ensino  pri- 
mario  e  secundario  com  suliordinn^'ao  aocon- 
sellio  superior  de  instruc(;ao  publica. 

Art.  2.°  Como  reilores  dos  lyceus ,  iii- 
cunibe-llies  o  desempenlio  das  f(inc(,oes  mar- 
cadiis  nos  artigos  63  e  segiiinles,  do  decrelo 
de  17  de  novembro  de  1837,  c  em  oulrosi 
logares  da  legijlai^ao  sobre  a  in^trile5aa,  da 
qunl  devein  obler  perfeito  couliecimenlo ;  e 
n'esle  sentido  perlence-llios  : 

^.  1.°  Fazer  execular  as  leis,  regulamen- 
los  e  mais  providencias,  por  (|ue  se  gover- 
naai  os  lyceus ;  e  evilar  qualquer  relaxa^ao, 
ou  abuso,  que  descubram  nessa  execurao. 

§.  2.°  Convocar  o  presidir  aoi  conselhos 
dos  lyceus  seuipie  que  o  ^ulguem  convenien- 
le  ,  ou  llies  for  requerido  por  algum  de  sens 
membros,  nllegando  molivo   juslo. 

c^.  .T.°  Piopor  ao  consellio  do  lyceu  as 
providencias,  yuejulgarein  necessarias  para 
promover  o  melborainenlo  dns  esludos,  ou 
seja  na  parte  lilleraria,  ou  seja  na  discipli- 
nar,  ou    na  ecouomica. 

§.  4.°  Fazer  execular  as  resolucjoes  do 
consellio   do  lyceu   nos   objeclos  de  sua  com- 

'   DuciiTenlo  n.**  1  cilado  a  paj.   123. 


147 


pctencia  ;  e  propor  em  nome  d'clle  ao  con- 
selho  superior  o  que  depeiider  de  aucloriza- 
jao  superior. 

.'  An.  3.°  Na  meiina  riualldade  compele- 
llies  fazer  proceder,  e  pie^idir  ans  exainei  doi 
profesjores  ,  que  pieteiideiii  liahilitar-se.asslu) 
para  as.  cadeiras  dd  en^iiio  publico,  coiiio  para 
etHinar  p.irticulanneale  ,  guiando-se  pelas 
)M*lr!ic'c;('ie6  e  prop:raiiiiiKis  respcclivos.  Deere- 
lo  de  20  de  seleiiibrn  dt-  iJJlt,  artifjo  18,  e 
de  15  de  hoveinljrri  de  133lj,  ailigo  13. 
..  Art.  4.'  Os  spcrelarir)s  dos  lyccus  servi- 
jf'io  de  sccrelaiios  do  collHlli^sarlo  unicaiiieii- 
fe  para  aqiieiles  ados,  (pie  nao  pode'rem  ser 
expedidos  sciii  secrelaiio,  como  sfio  oi  exaiiie-^. 

§  wiiico..  Nas  capilaoi  de  dijlrjcLi),  otide 
B.io  esl.iverem  aindu  coiisllluidos  os  Ivccuj , 
para  esles  actos,  os  coininis,-ario5  rcqiiiailaruo 
iun  offieial  do  governo  civil,  que  s  rva  de 
SPOielario,  liecn  com'O  a  casa  e  uten  i;  neces- 
saries para  o  inesuio  tun. 

Art.  5.°  Em  qiianlo  a  diiecijao  do  ensiiio 
primaiin  e  sccuiidaiio,  compeleni-llics  as 
func(,'6es,  que  pido  arti^o  37  do  decreto  de 
15  de  iiiivemljro  de  183(),  liuhain  sido  fi\a- 
das  para  as  cornmissocs  inspetloras ,  a  salier: 
guiar  e  dirif^ir  os  profe. sires  ,  assim  de  pala- 
vra  ,  como  por  e^cripto,  no  que  diz  respeito 
ao  ensino;  provideuciar  nosrasos  de  sua  coin- 
petencia  ;  dar  coiila  ou  represenlar  ao  con- 
sellio  superior  ludo  o  que  a  e\ceder  ;  cumprir 
as  ordens  d'esle;  inforinar  com  exaclidao  as 
aucloridades;  e  formal izar  e  renietter  os  re- 
latorios  e  mappas  estali5licos  uos  lermos  do 
artigo  37  do  repulamealo  do  mesuio  conse- 
llin  de   10  de  novenibro  de   1815. 

Art.  G.°  Para  satislazer  estes  fms ,  e  es- 
pecialmenle  o  rclatorio ,  cpie  devem  remetlcr 
ail  consillio  por  occasiao  das  duas  couferen- 
cius  ordeuadas  no  arligo  21  do  mesmo  re- 
gulamentfi,  dever.'io  em  cada  semestre  fazer 
anlecipadaminile  uma  visrla  a  lodas  as  e.^clio- 
las  do  scu  iliitricto,  na  (pial  procurarfio  olitor 
perfcito  cordieriuienlo  do  estado  asim  pes- 
joal ,  como  mateiial  e  lillerario  d'cljis,  iio- 
laiido  as  alieragots  ,  (pie  iios  intervollos  fo- 
rem  occorr(Uido, 

'  §.  1.°  Em  quanto  ao  pes:^oal  :  nolar'io  em 
fada  uma  o  giau  de  meiecimeiilo  dos  pro- 
fessores  nas  Ires  considera^oes  da  sua  capa- 
cidade  lilteraria,  do  zelo  e  aplidiio  para  o 
eiisino,  (!  o  do  sen  compoitamenlo  moial  e 
rellgioso,  indicando,  ipiaiido  o  julguem  ne- 
Oessario,  os  faclos  comprolialivos  do  sen  juizo: 
inarcando  oulrosini  o  nunieio  e  aniueiicia 
dos  moniuoij  a  sua  regiilaiidade  e  aprovei- 
lamento,  o  iiumero  d'elles,  (pie  aiinualriien- 
le  saem  siilticienlcs,  e  o  tempo,  que  ordina- 
riamente   paia   iaso  gastam. 

'^.  2.°  Em  quaiito  ao  material  :  nolarao 
se  a  escliola  csla  collocada  na  posiyuo  mais 
lavoravel,  attentas  as  circumslancias  para 
a  concorrcncia  do  maior  numcro  d'alumnos; 
se  em  casa  puldica,  ou  particular  do  profes- 
sor ;    a  capacidado  e   disposi^oes   deila,   bem 


como  a  mohilia  c  iitonsi's;  com  outras  qoaes- 
quer  oliscrva^'nes. 

§  3  °  Em  qiianto  ao  litlerario  e  ccono. 
mico:  exaininaraoo  methodo  de  ensino  nsado 
na  escliola,  se  o  mutiio,  se  o  simultaueo  on 
0  mixto;  a  mancira  por  que  o  professor  o 
desem|)eulia,  e  os  sens  resiiltados;  as  differen- 
tes  classes  dos  alumiios,  e  as  di^ciplinas,  quo 
nejias  se  ensinam,  com  especialid.tde  as  que 
dizem  respeilo  a  moral  e  religiio;  os  livros, 
labelias,  improssos  e  maniiscriptos,  de  que  se 
usa  na  escliola,  interpnndo  o  sen  juizo  sobre 
elles,  e  lembrando  e  aconsclliando  os  mellio* 
res;  averiguarao  outrosiin  a  djjciplina  da 
e-clinhi,  as  lioras  das  liijfV's,  e  o  inodo"  de  as 
combinar  com  os  traballios  e  nocessidadcs 
dos  povos;  c  promoverSo  a  praclica  dos  exa- 
mes  annuaes  feil(.s  com  a  pnblicidade  e  im- 
porlancia  propria  a  estimular  os  meninos,  Ci 
sati-fazer  os  paes. 

^.  4°  li  toda!  eslas  observaroes  torao 
uui  registo  c(mf6rnie  o  modelo  junto,  que  os 
liabilite  para  ministrar  iiuae3(pier  esclareci- 
inenlos  que  Hies  forem  pedidos,  e  donde 
extractem  os  mappas  eslatisticos,  que  dcveni 
remelter  ao  conselbo  superior  nos  termos  do 
artigo  37  do  regulamenlo. 

Art.  7.°  I'or  occasiao  das  visitas,  ou  eni 
outra  qualquer,  que  llies  parc(;a  favoravd,  e 
sem  inconvenienle  para  as  li^oes,  farao  reunir 
aquelles  professores,  que  llies  parecerera  mais 
zelosos  e  mais  habeis  para  o  fun  de  confe- 
rirem  com  elles  sobre  a  excellencia  dos  dif- 
ferentes  metliodos,  sobre  os  nielliorcs  com- 
pendios,  reforma  da  dlsciplina  escliolar,  e 
meios  de  a  fazer  observar,  e  em  fun  sobre 
quaes(]uor  niellioramentos,  que  se  possatn 
effecluar,  ou  seja  no  syrloma  geral  do  ensino, 
ou  no  especial  de  algumas  escliolas,  beni 
como  sobre  a  mancira  de  propagar  nos  povos 
o  gosto  da  in-truc(;.'io. 

Art  8."  Promoverao  o  estabclecimento 
dp  a^socia5(^es  de  beneficeiicia,  e  fiindaji'cs 
de  escliolas  e  ca-as  d'asylo,  dando  parte 
ao  coiisellio  superior  nos  termos  do  artigo 
23  do  citado  decroto  de  20  de  si^leinbro. 

Art.  9.°  Ivm  quanlo  as  escliolas  e  col- 
legios  particulares,  cxecularlio,  na  parte  que 
llies  diz  respeito,  o  dispo=to  no  artigo  83  o 
scguintcs  do  mesmo  dcerelo. 

§  xtnico.  Tacs  escholas  e  colltgios  s.mo 
sujeitos  tanibem  a  inspec^.'io  e  virita  dos  coin- 
missarios,  e  dovem  fazer  parte  da  estalistica 
em    mappas  esprciaos. 

Art.  10.°  O  que  fica  dito  a  respeito  das 
escliolas  de  mcninos,  t:  lambem  appiicavel  as 
escliolas  do  sexo  feminine,  lendo  em  c(^iniide- 
ra^ao  a  parte,  que  perlence  as  prendas,  que 
n'ellas  se  devem   ensinar. 

Art.  11.°"  Para  a  execu(;,'io  d'estas  func- 
^(^es  poderao,  no  case  de  impedimenlo,  os 
couimissarios  fazer-te  coadjuvar  pelos  sub- 
delegados,  de  que  falla  o  artigo  161,  §.2,  do 
citado  decreto  de  20  de  setembro;  mas  em 
todo  o  caso  sob  sua  propria  reponsabilidade. 


148 


OBSERVACOES  METEOROLOGICAS  ,  FEITAS  NO 

GABINETE    DE  PJIYSICA 

DA  CMVERSIDADE    DE  COIMBRA. 

Anno  lie 
1854 

—  3 

E-   E  B 

Preasiiu  atiuuspherica  ao  meio   dia 

Eiitadu    lij'jfromclricg    da 
utiiiospbera  au  meio  dia 

Me.  de 
Julho 

Alliira    baro- 
nu-lrica  a  0." 

centi;j. 

Tensrio  do    va- 
por  almosphe- 
rico. 

PressHo  do 
ar  sccco 

-1-2 

O  S 

Quaotidade  (Ic  va. 
por  a(|aoio  conlidu 
em    Bm   nielro  «u- 
bicu  dc    ar. 

Dias 

Grans 
cenliff. 

Milliuietros 

Millimelros 

Millimetrus 

Grammas. 

1 

20 

754,677 

13,004 

741,673 

0,7551 

12,07 

N. 

2 

21 

753,075 

13,902 

739,173 

0,7590 

13,71 

N. 

3 

20 

753,461 

13,290 

740,171 

0,7676 

13,15 

N. 

4 

20 

753,461 

13,125 

740,336 

0,7581 

12,99 

N. 

5 

SO 

750,667 

13,993 

736,674 

0,808i 

13,84 

S. 

6 

19,5 

750,738 

11,678 

739,060 

0,6951 

11,57 

S. 

7 

19,5 

754,538 

10,940 

743,598 

0,0512 

10.84 

N., 

0 

19 

754,064 

10,976 

743,088 

0,6739 

10,90 

N. 

9 

19 

753,454 

10  8S0 

742,034 

0,6643 

10,74 

N. 

10 

19 

752,692 

11,217 

741,475 

0,6823 

11,14 

N. 

11 

19,5 

753,901 

11,732 

742,169 

0,6933 

11,63 

N. 

13 

20 

753,461 

12,073 

741,388 

0,6973 

11,94 

N. 

13 

21 

749,248 

12,439 

736,809 

0,6791 

12,«6 

N. 

14 

20 

749,776 

11,835 

737,841 

0,6J36 

11,71 

N. 

15 

20 

752,982 

12,580 

740,402 

0,7266 

11,45 

E. 

16 

21 

750,888 

13,058 

737, B30 

0,7129 

12,83 

E. 

17 

22 

755.454 

13,419 

742,035 

0,6911 

13,19 

N. 

18 

21 

750,888 

11,705 

739,182 

0,6391 

11, 6t 

N. 

19 

21 

749,248 

11,971 

737,277 

0,6336 

11,00 

E. 

20 

19 

753,302 

11,282 

742,020 

0,6937 

11,20 

O. 

21 

24 

752,892 

16,789 

736,103 

0,7700 

16,39 

E 

Si 

24 

752,892 

15,291 

737,601 

0,7013 

14,93 

O. 

23 

24 

752,133 

17,350 

734,780 

0,7957 

16,94 

O. 

24 

22 

754,206 

]5,98i 

738,222 

0,8232 

15,71 

O. 

25 

22 

754,460 

15,782 

738,678 

0,8128 

15,51 

O. 

26 

22 

753,393 

15,026 

738,367 

0,7739 

14,77 

N. 

2T 

23 

752,305 

13,434 

738,872 

0,6529 

13,16 

N. 

28 

22 

753,749 

12,871 

740,878 

0,6629 

12,65 

N. 

29 

22 

753,749 

14,044 

739,705 

0,7233 

13,80 

N. 

30 

23 

754,084 

15,552 

738.532 

0,7558 

15,23 

O. 

31 

22,5 

750,200 

14,905 

735,795 

0,7451 

14,63 

N. 

niedi.i  } 
<l»  mez  J 

21 

752,726 

0,7196 

a 

Te 

Mjiei-atnra 

Prcssao  almospherica 

Crdu  (Je  hu 

nitia.te  do  or 

-3 

Maxima 

absoluta.  .     23° 

Maxima  absoluta   .   .     755,454 

Maxima  absol. 

.   .   .  .     0,8232 

i»= 

s 

Miaiina 

19" 

Minima 749,248 

.   .   .  .     0  0391 

••  S 

bJ 

Maxima 

variai;.   .  .       4" 

Maxima  excursao  .  .         6,206 

Maxima  varia^itc 

)  .  .  .     0,1841 

Coiui 

bra  1."  de 

Agotio  de  1854. 

O  Demonalrador  da  Faciildade  de  Philoaophia ,  Mu 

noel  dot  Santos  i 

^eretra  Jardim. 

^< 


®  Jnetitiita, 


JORINAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


CONSEIllO  SIPERIOR  DE INSTULCCAO 
PL'BLICA. 

BELATORIO  ANNUAL. 

1847  —  1848. 


Senliora!  0  rolatorio,  que  o  conselho  su- 
perior de  instrucrao  publica  tern  a  honra  de 
levar  a  Augusta  Prescnca  de  V.  Magestadeem 
observancia  do  art."  40  do  dccreto  de  10  de 
novembro  de  1845,  se  nao  der  do  estado  da 
instruccao  publica  do  paiz,  uma  noticia  tao 
completa  e  satisfactoria,  como  o  conseJho 
sinceramente  deseja,  e  desveladamcnte  pro- 
move,  desdc  0  primeiro  momento  da  sua 
existencia,  dara,  pelo  menos,  um  conbeci- 
mento  fiel,  e  tao  exacto,  d'aqueile  estado,  e 
das  necessidades  do  ensino,  quanto  se  pode 
exigir  dos  poucos  elcmentos  estadisticos  col- 
ligidos  dos  variados  ramos  da  administracao 
litteraria,  elementos,  em  que,  sera  embargo 
de  incessantes  esforcos,  ainda  nao  foi  pos- 
sivel  alcancar  o  grau  de  perleirao  indispen- 
savel  a  trabalhos  positivos  d'este  genero. 

Progrediudo  lenta,  mas  gradual  e  regular- 
mente,  como  de  razao,  em  objecto  de  tal  na- 
tureza,  os  nicllioramenlos  excilado.s  ua  in- 
struccao publica  pelas  .sabias  provisOesde  1844 
e  1841),  vierani  subita  e  incsperadamcnte 
OS  desastrosos  acontccimentos  poiilicos  de 
1846  paralysar  o  andamento  regular  da  ad- 
ministracao litteraria,  e  nao  obstante  o  era- 
penho  sincoro  e  assiduidade  do  conselho,  os 
effeitos  d'aqueile  violento  abalo  ainda  se  nao 
dissiparam;  o  por  algum  tempo  tornaram  a 
marclia  dos  nicllioranientos  litterarios  vaga- 
.rosa,  conlrastada,  c  iutcrrompida. 

Wuito  fizeram  rccuar  (e  I'orca  dizel-o)  a  in- 
struccao do  paiz  OS  movimentos  politicos,  por 
que  temos  passado  nos  dois  ultimos  annos 
decorridos.  E  que  as  letras  fogem  do  estridor 
das  armas ;  e  so  no  remanso  da  paz,  e  a  sombra 
da  prosperidade  podem  mcdrar.  A  machina 
da  instruccao  publica,  dizia  o  maior  gcuio  do 
-  nosso  seculo,  deve  ser  como  a  macbina  do 
mundo — morer-se  sem  se  senlir — ,  e  com 
quanto  parallela,  scmpre  distante  da  esphera 
da  polilica. 

A  instruccao  primaria  foi  a  que  mais  sentiu 
OS  lamentaveis  clTeitos  das  discordias  civis.  As 
apuradas  circumstancias  da  fazenda  publica, 

YoL.  III.  Setembko  15—1854 


nao  podcndo  acudir  ao  pagamcnto  regular  dos 
profcssores,  teem  motivado  o  abandono  d'al- 
gumas  cadeiras,  que  estao  sem  exercicio,  por 
nao  ter  apparecido  quem  a  ellas  se  opponha 
em  concursos,  por  vczes  repetidos.  Era  natural 
este  rcsultado;  porque  os  profcssores  d'instruc- 
cao  primaria,  mais  desamparados  de  mcios, 
iiao  jwdem  supportar  o  atraso  de  ordenados, 
de  que  geralmente  falando,  vivcm  exclusiva- 
mente,  e  suas  familias. 

Na  secundaria  tem  apparecido  tambem  algu- 
ma  falta  de  concurrentes  aos  logares  vagos;  e 
por  isso  ainda  nao  esta  completa  a  organisacao 
dos  lyccus  em  todos  os  districtos :  nera  ainda  se 
achani  constituidos  os  de  Braganca,  Villa-Real, 
Avciro,  Guarda,  Castello-Branco,  Leiria,  Por- 
talegre,  Beja,  Faro,  Ponta-Delgada,  c  Dorta. 

A  instruccao  superior  mais  consolidada,  e 
robustecida.'podemelborresistir  asoscillacoes 
politicas,  c  crises  linanceiras.  Os  interesses 
que  ella  offerece  ainda  convidam  ao  concurso 
para  os  logares  do  magisterio,  a  pezar  da  dimi- 
nuiyao  e  irrcgularidade  de  pagamentos.  Mas  e 
nesle,  mais  do  que  nos  outros  ramos,  que  a 
djsciplina  das  escbolas  se  sentiu  quebrantada, 
em  consequencia  da  febre  do  delirio,  que 
costuma  de  preferencia  invadir  a  mocidade 
fogosa  e  inexperta. 

Mas  e  de  esperar  que  o  restabelecimento 
da  ordem,  e  conscrvacao  da  tranquillidade 
publica,  ponham  tcrmo  a  estes  males;  e  pre- 
stcm  abonada  tianca  a  um  fuluro  mais  agra- 
davcl.  Cumprindo  o  sen  dever  vai  o  conselho 
dar  coBta  do — estado  da  instruccao. 


Administracao  central. 

No  servico  do  conselho  superior  houvc  na 
maior  parte'do  anno  apenas  cinco  vogaes.  Dois 
falleceram,  cuja  pcrda  o  conselho  dcplora,  e 
um  nao  foi  ainda  sub.slituido :  oulro  foi  empre- 
gado  fura  de  Coimbra  cm  commissao  gratuita. 
Continuando  rcpartidos  em  tresseccocs  os  tra- 
balhos do  conselho,  mal  podiam  os  vogaes  em 
exercicio  satisfazer  as  exigenciasquc  o  service 
Ihes  incumbe,  sem  se  achar  completoo  numero 
da  lei,  que  nao  e  de  sobejo  para  os  muitos, 
variados,  c  graves  negocios  de  administracao; 
e  para  a  discussao  necessaria  d'estes,  e  dos 
trabalhos  deprojectos,  que  repetidas  vezes  tem 
de  offereccr  a  consideracao  de  V.  Magestade. 

Num.  12. 


^' 


^M^-^^ 


150 


Nil  secroUuia  do  consclho  tambem  faltou  urn 
oiHcial  ordinaiio,  que  ainda  nao  consla  ao  lOii- 
selho  fosse  suhslitiiido;  e  faltaiu,  sobre  liido, 
OS  meios  para  pagar  a  amauiK'nses,  por  vezcs 
indispt'iisavt'is  para  a  prompta  oxpcdicao  dos 
ncgocins. 

Ainda  nao  lia  rommissarios  d'i'stiidos  nos 
districtos  di'  I'onla-Delfjada,  Funclial.  Hi-ja. 
r.astello-Brani'o,  Coimlira,  Porlalogro,  Viana, 
Uorta.  Algiins  d'eslcs  ja  noinoados  nao  toeni 
loinado  posso  dp  sens  logares;  oiitros  nao 
I'oram  propostos  por  falta  das  informarOes  nc- 
cessarias. 

A  creai-ao  dos  sub-delogados  e  iudispensavel 
para  a  regular  iiispecfao  das  estholas.  0  cou- 
selho  sttperior,  roconheiendo  a  necessidadc  do 
mais  pcrfcito  accordo  enlre  estcs  empregados 
e  OS  commissarios,  a  quein  sao  subordinados, 
tcm  recommendado  a  estes  que  Ihe  indiquem 
as  pessoas  mais  capazes  de  hem  dosempe- 
uliareni  o  importaiile  mister,  que  se  llics  ha  d^ 
fonliar.  A  circuiuspeccao  e  madureza,  que 
devem  presidir  a  oscolbas  tao  mclindrosas, 
sorao  por  ventura  a  causa  de  sc  nao  rcalisarem 
com  a  promplidao  que  o  couselho  deseja ,  e 
alguns  commissarios  reclamam. 

Os  governadores  civis  cm  gcral  teem  pre- 
stado  sinccra  e  efficaz  coadjuvacao  ao  conse- 
Iho ;  e  alguns  teem  ate  mostrado  decidido  zelo, 
e  dedicacao  a  instruccao  publica  ;  mas  n'uma 
instiluicao  nasceate,  niio  e  logo  de  esfrtrar 
toda  a  perfeicao  de  service,  e  por  essa  causa 
OS  resullados  sao  per  ora  raenos  valiosos. 

Servicos  geraes. 

As  circumstancias  excepcionaes,  em  que  o 
paiz  tern  estado,  teem  estorvado  as  visilas  de 
inspeccao,  que  os  commissarios  de  estudos 
devem  lazer  em  seus  respeclivos  districtos. 
D'estas  visitas,  e  d'ouiras  prescriptas  no  art." 
162  do  decreto  de  20  de  septembro  de  ISii, 
feitas  nao  regular  e  periodica,  mas  inespera- 
damente,  colbera  a  iustruccao  copiosos  fru- 
ctos,  (juando  a  ordem  publica  e  a  seguranca 
individual  sc  achem  plenami'nle  consolidadas. 
No  districlo  de  Lislwa  e,  sobre  todos,  neces- 
sarid  essa  fiscaiisacao,  e  inspeccao,  como  em 
sen  rclatorio  conl'essa  o  corantissario  respe- 
ctivo,  quandn  para  aqiielle  imporUuite  traba- 
iiio  se  ache  liabilit;ido  com  a  coadjuvacao 
dos  sub-dcli'gadns. 

Us  negucros  de  e\]>edien'te  do  consellio  nao 
se  acham  alrasados,  nao  obstante  a  falta  que 
houve  de  alguns  vogacs  ordinarLos,  de  urn 
official  do  quadro  da  secretaria,  e  de  meios 
ipecuniarios. 

0  consellio  tcm  colligido  dos  livros  ele- 
mcntares  naeionaes,  os  mais  adaptados  ao 
ensino  da  instruccao  primaria  ;  e  annualmentc 
tem  communicado  ao  governo  de  V.  Magesla- 
do  a  colleccao  a<lopiada.  E  para  lamcntar  que 
aiuda  se  uao  publicasse  a  colleccao  relattva  ao 


corrente  anno  littcrario ;  e  que  esta  falta  tenha 
molivado  as  duvidas,  que  alguns  commis- 
sarios de  estudos  expocm  sobre  os  livros  con- 
venient!^ ao  ensino. 

Nesta  colleccao  lignram  alguns,  cujos  au- 
ctorcs  sao  vogaes  do  conselho  superior.  E  tanto 
neste,  como  nos  outros  ramosdeensino  publico, 
tcm-se  estampado  obras  de  merecimento  dis- 
tinclo,  adoptadas  hoje  por  compendios  nas  res- 
pectivas  escbolas. 

As  Typograpbias  publicas  teem  procurado 
mclborar-se.  Na  Imprensa  Naclonal  teem  pro- 
gredido  os  melhoramentos  a  pouto  de  hoje  riva- 
lisar  com  os  miiis  accreditados  da  Europa. 

Das  liibliolhecas  pubficas  apenas  pode  o 
consellio  superior  dar  conta  das  de  Evora  c 
Braga,  unicas  que  cumprirara  o  seu  dever  na 
remessa  dos  relatorios.  A  d'Evora,  contendo 
25;0()0  volumes  singelos — 5;000  volumes  do- 
brados — 1800  codices  mss. — ^6:000  e  tantas 
medalhas,  e  300  e  tantos  paiueis,  precise,  diz 
0  relatorio,  de  meios  para  a  conscrvavao  do 
que  existe,  e  acquisicao  d'outros  productos. 
Requer  o  bibliothecario  auctoridade  e  meios 
para  elTeituar  compras  Ibrtuitas  e  fugitivas,  e 
um  escriptiirario.  A  de  Braga  acha-se  em  la- 
stimoso  estado,  cstando  mais  de  20:000  vo- 
lumes cm  estantes  velhas  depinbo  que  ameacam 
arruinar  o  deposito  dos  livros  contido  em  31 
cubiculos  uupropi^ios  para  salas  de  bibliothcca. 

Servieo  especial  do  comsdho. 

Consta  actualmente  o  pessoal  do  conselho 
superior  de  sete  vogaes  ordinaries,  c  i'i 
extraordirarios  (mappa  n.°  1).  D'estes  acham- 
se  ausentes  19.  A  secretaria  tem  menos  um 
officiaJ  ordinario  do  que  compete  ao  seu  quadro 
provisorio,  por  nao  ter  ainda  sido  provide  o 
logar  (jue  vagara.  Crcscc  de  dia  para  dia  o 
numero  de  negocios  do  expediente,  como  era 
dc  espentr,  a  mcdida  que  se  fosse  centra- 
lisando  uma  administracao,  CHitr'ora  vaga,  e 
(Ii.«persa  ;  e  se  creassem  os  novos  ekiuento.s 
de  administracao,  e  inspeccao  indispensaveis 
a  unidade  c  forca  dc  direccao. 

Os  vogaes  extraordinarios  pertenccntes  ao 
corpo  univcrsitario,  e  como  tacs  subjeitos  aa 
service  de  suas  respectivas  faculdades,  nera 
sempre  podem  empregar,  no  service  de  conse- 
lho, leda  a  assiduidade  e  zelo,  que  a  voca- 
cae,  e  o  seu  proprio  interesse  Ibcs  podem  in- 
spirar.  E  nao  foi  por  outre  motive  ((ue  no  findo 
anno  lilterario,  nao  poderam  cuniprir  com  os 
tralwilbos  de  organisacao  de  compendios,  que 
pelo  conselho  Ihes  foram  encarregados :  acham- 
se  todavia  afguns  d'esses  trabalhos  muilo 
adiantados,  c  conlia  o  conselho,  que  no  decurso 
d'este  anno  possam  ser  apresentados. 

Nao  obstante  a  repeticao  de  avisos  a  todos 
OS  dclegados  do  conselho,  e  a  especial  mencao, 
que  nos  relatorios  anteriores  se  tem  feito,  da 
falta  de  cumprimento  dos  §§.  2,  3,  e  i."  da 


^^SkS^i." 


.'.^e^' 


^>N 


151 


aft."  37  do  decreto  dc  10  dc  novcmbro  de 
18iS,  ainda  nao  foi  possivcl  oblcr,  com  rc- 
i^ularidade,  os  csclarccimentos  e  niappas  esta- 
disticos,  que  dcvem  scrvir  de  base  ao  rclatorio 
geral  da  instnirrao  publica.  Sao  todos  inconi- 

Sletos  OS  rclatorios  dos  commissarios  c  chefes 
e  eslabelecimentos  litlcrarios:  faltam  mappas 
dc  frequpncia  c  aprovcitamcnlo  dc  337  pro- 
fessorcs  d'instnirrao  primaria;  do  niaior  nu- 
liittro  dos  d'instiucfiio  secundaria ;  e  dc  todos 
OS  cstabclecimciUos  scientificos  dc  Lisboa. 

Esperava  o  conselbo  que  cm  septembro  ao 
menos  se  cumpiissc  rigorosamcnte  o  dcver, 
que  de  todo  se  csquece  nos  outros  periodos 
niarcados  no  cilado  decreto.  Infelizmente  assira 
nao  acontcce;  e  julgando  indispensavelalgum 
excmplo  de  scveridadc,  sem  o  qual  nao  pode 
ja  nutrir  espcrancas  de  eonseguir  o  cumpri- 
ihcnto  da  lei,  nao  dissimulara  a  falta  em  que 
cstao  OS  delcgados  das  Ilbas  Adjacentes,  que 
nunca  ate  agora  satisfizeram  as  citadas  dis- 
posicocs,  e  actualmente  collocam  o  consclho  na 
impossibilidade  de  dar  noticia  do  estado  da 
instrucfSo  n'aquella  parte  da  monarcbia. 

klkm  dos  trabalhos  de  servico  diario,  e  da 
cxpedifao  de  portarias,  officios,  e  provimentos 
tcmporario?  a  muitos  professores  d'instruccao 
publica  c  particular,  tem  o  conselbo  rcmettido 
.  ao  governo  de  Y.  Magestade,  desde  dezembro 
de  1847  ate  ao  principio  d'este  mez,  103 
consultas  sobre  objectos  de  intcresse  geral  ou 
pcssoal,  expedido  3  circulares  aos  sub-delega- 
dos;  e  discntido  2  projectos  dc  regulamentos, 
^ucprepara  para  submettcr  a  regia  approvacao 
de  V.  Magestade,  alem  do  que  fdra  offereci- 
do  em  consulta  de  26  de  maio  do  corrente  anno 
para  a  administracao  da  bibliotheca  de  Braga. 
Contimia. 


APONTAMENTOS  BIOGRAPUICO^ 

SOBRE    0  NOSSO    INSIGNE    POETA    LlIZ    DE  CAMOES. 
Coiitinu-iilo  de  pag.   139. 

Simao  Yaz  de  Camoes,  filho  do  dito  Joao  Vaz 
de  Villa  Franca  e  Calharina  Fires,  viveu  em 
Coimbra,  e  tendo  servido  na  guerra  d'Africa 
e  na  Marinha',  esteve  ausentc  d'esta  cidade 
como  era  indispcnsavel  a  quem  andava  em  ser- 
vico do  rei  e  da  patria  alguns  annos,  duran- 
te OS  quaes  e  natural  passasse  seu  pae  a  se- 
gundas  nupeias  com  Branca  Tavares,  com  a 
qual  ja  em  1328  se  achava  casado;  e  devia 
seu  neto  Luiz  de  Caraoes  ter  neste  tempo 
quatro  annos,  creando-se  em  casa  do  avo 
que  entao  residia  nesta  cidade",  e  aqui  havia 

'    Bispo  lie  Viieii,  lora.  1  |ia(f.  S7  c  £8. 

'  Cit.  bispo  (Je  VisL-u,  p;ip.  S9,  fallando  do  anno  tin 
que  o  nosso  poeta  natceu,  di2  =  o  anno  do  jeu  naicimrn- 
lo  nao  fui  o  de  1517  .. ..  mas  o  de  ISSi.  = 


de  continuar  ate  que  nuidando-se  a  universi- 
dadc  de  LisbOa  para  Coimbra  ein  1537  para 
1538,  nclla  comcfaria  os  sous  cstudos  por 
esta  occasiao,  pois  devia  conlar  ja  1.4  annos, 
tempo  em  que  urn  talento  pcnctranle,  e  urn 
engcnbo  dotado  de  uma  vea  rica  e  fina,  em 
breve  cstaria  prompto  para  com  bom  aprovci- 
tameiito  se  aperl'eicoar  nos  cstudos  superiores, 
e  continuar  estc  longo  tempo  que  nesta  cidade 
passou,  como  elle  diz.' 

Ausentando-se  depois  dc  Coimbra,  provou 
todos  OS  contratcmpos  da  forluna,  e  os  accr- 
bos  fructos  de  Marte,  como  elle  proprio  conta*, 
que  0  obrigaram  a  sair  do  rcino,  e  a  ir  nas 
avenluras  do  mar  e  terras  estranbas  buscar  a 
fortuna,  que  a  sua  ma  sorte  Ibe  nao  pode  fazer 
propicia.  NSo  podemos  .saber  o  anno,  cm  que 
saiu  do  rcino;  mas,  segundo  as  mais  discrctas 
c  precatadas  conjcciuras,  tendo  estc  aconte- 
cimcnto  tido  logar  depois  de  1530,  foi  neste 
nicsmo  tempo  que  sua  tliia,  mcia  irma  de  seu 
pae,  Isabel  Tavares,  rcuovou  em  si  o  prazo 
das  casas  na  rua  dos  Coutinbos  (/jue  como  ja 
dissemos  naquelle  tempo  se  cbamava  da  Porta- 
nova),  vislo  ter  succcdido  nelle  pela  morte  de 
seu  pae;  o  qual  possuiu  por  dois  annos,  findos 
os  quaes  renunciou  as  vidas  e  dircito  que  nel- 
las  tinba  ,  a  favor  de  seu  irmao  Simao  Vaz  de 
Camoes,  fazendo-as  reverter  a  seu  irmao  pri- 
raogcnito,  mediante  uma  doacao,  que  estelhe 
fez  de  muita  parte  de  sua  fazenda  para  ella  ca- 
sar  com  Alvaro  Pinto  %  como  consta  dos  docu- 
mcntos  extraidos  dos  livros  dos  emprazamen- 
los  da  Slide  Coimbra;  documcntosque  mostram 
a  qualidade  da  pessoa  e  familia  de  Simao  Vaz, 
por  nelles  se  dcsignarem  as  coudecoracoes  que 
tinha,  e  a  sua  rosidcncia  nesta  cidade;  e  que 
por  arranjos  domestiios,  c  para  casar  a  dita 
sua  irma  com  o  dito  Alvaro  Pinto,  bavendo-lhe 
ccdido  a  maior  parte  da  sua  fazenda,  ella  Ihe 
ccdeu  as  casas  de  que  se  lavrou  escriptura  em 
3  d'agosto  de  1552  \  para  ncHas  viver,  po- 
dcndo-as  nomear  a  um  filbo  ou  filha  que  ti- 
vesse  ate  a  bora  de  sua  morte.  Pareee  que  por 
cste  novo  conlracto  seabria  um  novo  caminho 
para  a  successao  de  Luiz  de  Camoes  na  casa 
paterna,  e  nos  mais  bens  em  que  devera  ter 
quiuhao;  mas  a  forluna,  que  sempre  Ihe  era 
avessa,  em  breve  Ihe  tornou  a  fugir,  porque 
Simao  Vaz,  auscntando-se  para  o  Porto,  alii 
esteve  residente  alguns  annos,  em  quanto  o 
filho  vagava  pela  India,  c  com  a  sua  prolon- 
gada  auscncia,  a  casa  se  arruinou,  e  Luiz  de 
Camoes,  tambem  ausentc,  ncm  tractou,  uem 
podia  acudir  ao  dcsmanlelamenlo  dos  bens, 
que  a  prolongada  ausencia  dos  donos  dcixa 
perder,  e  em  breve  cair  em  ruinas',  ate  que 
voltando  outra  vez  do  Porto  com  animo  de 


'  Cani;ao  IV. 

■'  Can^lo  XI. 

^  Vej.  o  duciimento  n  "  2. 

*  Dociim.  cit.  D.°  S. 

'  Vfj.  o  dycum.  n."  3. 


152 


residir  nesta  cidade,  novamente  requereu  ao 
Cabido  senhorio  direclo  das  ditas  casus  iuiio- 
vaiao  do  lonlrai'lo  omphytfutico  por  mais  ou- 
tras  tres  vidas,  alcai  das  ([ui' jii  tiiilia,  alteii- 
dendo  a  niuila  ruiiia  em  quo  o  predio  so  aclia- 
va,  e  a  niiiila  despcsa  (luc  iielle  liiilia  de  fazer, 
0  que  tudo  o  luesiuo  (".aliidii  llii-  concedeu  por 
escriptura  imu  22  de  seleiuhio  de  loTO  '.  Nem 
uesta,  nem  na  anteredenle  escriptura  lavrada 
a  3  d'agoslo  de  lii."i2,  se  faz  nicu(;ao  da  mu- 
Iher  de  Siniao  Vaz,  que  dcvia  sor  Anua  de  Sa 
e  Macedo',  sigual  de  ser  ja  fallecida  nesta 
ultima  data;  nem  tao  pouco  se  falla  era  lillio 
que  detla  houvesse,  e  este  slleiicio  nos  faz  prc- 
sumir,  que  ou  desgostoso  Simao  Vaz  de  seu 
rtlho  por  algum  verdor  d'annos,  (que  nas  suas 
limas  clle  da  a  entender)  o  teiia  feito  enibar- 
car  para  a  Africa,  c  na  votla  daqui  para  a 
India,  o  que  teve  logar  cm  1553  ' ;  ou  que  a 
ma  sorte  do  nosso  pocta,  seu  genio  fogoso  c 
insoffrido,  o  faria  despresar  todas  as  reiacOes 
doiuesticas,  e  os  lacos  da  propria  convenien- 
cia,  e  abandonado  de  sens  mais  proximos  c 
familiares  parentes  correr  a  discripcao  e  von- 
tade  de  sous  caprichos,  exulado  de  todo  da  fa- 
milia  a  que  pertencia.  Nem  podemos  imagi- 
nar  outra  coisa,  vendo  preferidos  os  ramos  col- 
lateracs  da  madrasta  ao  proprio  (ilho,  verda- 
deiro  successor  dos  bens  paternos,  quando 
voltando  o  poeta  da  India,  e  sendo  seu  pai 
ainda  vivo,  se  nao  bouvesse  estas  anteceden- 
cias,  nao  deixara  cair  na  miseria  o  proprio 
fdho,  de  qucm  lanta  honra  llic  vinha,  com  a 
publicacao  dos  Lusiadas,  que  viram  a  luz  pu- 
blica  em  1372,  e  no  mesmoanno,  nova  edicao; 
foisa  original  nos  annaes  da  nossa  litteratura! 
Tao  grande  foi  o  entliusiasmo  que  com  esta 
produccao  elle  adquiriu,  que  todos  a  portia 
demandavam  um  exemplar  da  sua  epopea,  o 
que  egualmente  demonstra  o  bom  gosto  e  aprc- 
co  da  nossa  litteratura  no  seculo  XVI  *. 

Teve  Joao  Vaz  de  Camoes,  d'alcunba  o  do 
Villa  Franca,  outro  irmao  por  nonie  Pero  Vaz, 
d'alcunba  deCoimbra,  ambos  foram  cidadaos, 
emoradores  nesta  cidade';  e  Pero  Vaz,  como 
se  estabeleceu  no  Algarve,  abi  esteve  por 
escudeiro  do  conde  de  jMonsanto,  como  se  diz 
na  escriptura  de  9  d'agosto  de  1330. 

E  por  que  aqui  so  falla  no  conde  de  Mon- 
santo cm  cuja  valiosa  proleccao  se  acbava 
Pero  Vaz  de  CamOes,  farei  uma  pequena  di- 
gressao  sobre  esta  familia,  a  quern  o  nosso 
poeta  foi  devedor  de  mui  assignalados  favores. 

Eram  os  condes  de  Monsanto  dos  princi- 
paes,  e  mais  nobres  fidalgos  portuguezes.  A 
sua  ascendencia  (seguindo  D.  Luiz  Salazar  no 


*  Docmii''nto  cil.  n."    3. 

'■'    Ri'pu  lie  Visi-u  cil.  |i.i;;.   S9. 

*  lacm  |>.i:r.  -if}  e  se;,'uintPs. 

*  li.  pa-'-  a?  .=  qii.uicio  C.iinues  app.irccia  ii.is  riias 
lie  Lislioa  [innivain  as  peFsoas,  tjue  iam  pnssanilo  a  vel-o 
e  nao  cuuliiiimiam  mm  quo  priiiniro  fivi'sie  ilc-sai>|iarc- 
ci'lo.  = 

*  V'-j.  o  djciimtjily   D."  1. 


livro  intilulado — Glorias  da  Casa  Farnese — 
ao  mesmo  tempo  que  se  entronca  na  estirpe 
real  de  D.  Garcia,  fillio  de  D.  Fernando  o 
grande,  rei  de  Castella,  perde-se  na  escuridade 
dos  seculos:  mas  approximando-nos  mais  aos 
leuijws  modernos  sabemos,  que  o  3.°  conde  de 
Monsanto  1).  Pedro  de  Castro,  foi  alcaide  mdr 
c  fronteiro  mor  de  Lisboa  nos  reinados  de 
elrei  U.  Manoel  e  D.  Joao  III ',  e  era  ncto  de 
I).  Fernando  de  Noronba,  1 ."  marqucz  de  Villa 
Real,  |)or  ter  sido  sua  mae  D.  Joanna  de  Castro 
casada  com  D.  Joiio  de  Noronba,  iilbo  do  dito 
marquez.'  Seu  Iilbo  D.  Luiz  de  Castro  4.° 
conde  do  mesmo  titulo,  casou  com  D.  Violan- 
te  de  Tavera,  lilba  do  1.°  conde  da  Castanheira 
D.  Antonio  d'Ataide,  c  de  D.  Anna  dc  Tavera 
(da  casa  dos  condes  dePortalegre).  ^  Sous  ne- 
tos  com  0  senborio  de  Caseaes  passarara  a 
marquezcs  d'este  titulo,  e  havendo  faltado  a 
descendencia  dirocta  acba-sc  boje  encorpora- 
da  a  casa  e  titulos  na  dc  Niza.'  Deste  tracto 
mais  familiar  e  frequente  dc  Pero  Vaz  de  Ca- 
moes, tbio  do  nosso  poeta,  com  o  conde  de 
Monsanto  nasceu  senao  com  eerteza,  prova- 
velmente  a  eslremada  amisade  com  que  Luiz 
dc  Camoes  foi  bonrado  por  D.  Antonio  de 
Noronba,  Iilbo  dos  condes  de  Linbares,  e  dos 
mais  bdalgos  seus  parentes,  grangeando  com 
ella  0  favor  que  na  India  Ibe  deu  D.  Constan- 
tino de  Braganca,  e  D.  Manoel  de  Portugal, 
da  casa  do  Vimioso''  favor  que  elle  retribue 
com  agradecida  correspondencia  nas  suas 
eclogas,  elogias  e  sonelos,  cm  que  se  nota  a 
amisade  ou  antes  veneracao  que  tribulava  ,9. 
tao  elevadas  personagens.  Voltemos  porem  ao 
nosso  assumpto. 

Casou  0  sobredito  Pero  Vaz  no  Algarve 
com  Brites  Gomes,  alii  deu  princfpFo  ao  rarao 
d'algumas  familias  nobres,  que  ainda  boje 
aparontam  com  a  do  nosso  poeta  pelo  lado 
d'este  seu  tbio,  pois  que  a  descendencia  de  seu 
pai  f!Om  elle  se  perdeu,  licando  so  a  de  Filip- 
pa  Tavaros,  irina  de  sua  madrasta  Branca 
Tavares'.  Sabia,  e  discrcta  provisao  da  Pro- 
videncia,  que  nao  querendo  croar  outro  genTo 
egual  ao  nosso  poeta  na  linha  desccndente  de 

'  F.iria  e  Leraos.  Pulil.  Mor.  e  Civil  lom.  i.°  pag. 
.'lOl. 

-  Moreri  Dicriitn.  art. — C.islrn  —  ondc  refere  esta* 
nolic'i.is  que  alcan(jMm  niais  do  que  as  rcferidai  na  Hislo 
ria  G'Mifaio;;.  da  C.  K  ,  e  pw  is80  as  vamos  sejruinilft. 

-  Proias  da  Hisloria  Geneal.  torn  11  cap.  5  11.°  15. 
paj.  9:i0. 

■•  MiMiiorias  para  a  Hiat.  Eccles.  do  Alsrarve  pcio  socio 
da  Aculemia  rjilta  Lopes,  18*11  p.m.  493  onde  se  dil 
adrainislr.ir  a  casa  de  Moiisanlo  o  vinnila  que  o  bispo 
.\lao  insliluira  em  Lisboa  na  cjreja  de  S.  Barlholoiteir, 
e  hoje  a  casa  de  Niza. 

>  Sobrc  oi  fa\ore3  dost'S  fldaljos  veja-se  e  que  dil  o 
bi«po  de  Viseu  na  s'la  Memoria  citada  no  lom.  1  dai 
sriag  obras  pa:j.  ."8.  e  sobre  os  versos  aos  liilul^'os  leani-se 
as  Rimas  rle  Camoes  mi3  lojarea  ai)onlados,  aonde  d'clles 
faj  (special  Icnibrant;a. 

'  Sua  irma  Isabel  TavareJ,  que  deiio  casada  com 
Alvaro  Pinio,  presume  nilo  ler  lido  g.-rarao  ,  por  que  0 
resto  dos  bens  de  SimiSo  Vaz,  ludo  passuu  aos  collaleraM 
dctia,  ate  qi-,c  »c  cslir.^'uiu  de  lodo  cm  1643. 


153 


sua  familia  com  elle  terminou  toda  a  sua  poste- 
ridade.  Sobre  a  qualidadc  de  sua  pessoa  nao  so 
era  lidalgo  d'elrei,  seu  pai  SimaoVaz;  senao 
tambcni  seu  avo  Joao  Vaz,  para  cuja  prova 
basta  so  ver  os  documenlos  juntos  a  cstes  apon- 
lamentos,  ondc  sao  dcsignados  por  escudeiros, 
e  cavalieiros,  sohre  cuja  norao  diz  o  Elucida- 
rio' — Em  quanto  os  fidalgos  sc  nao  armavam 
cavalieiros  serviam  na  milicia  com  o  nome 
de  escudeiros. — Ora  sendo  Joao  Yaz  designa- 
do  por  csta  qualilicacao  nos  documenlos  que 
oITercccmos,  lica  manifesta  a  sua  nobreza  na- 
quellc  tempo.  Da  dcsccndcncia  de  Pero  Vaz  de 
Camoes,  que  se  estabeloceu  no  Algarve,  da 
testemunho  com  outros  o  citado  e  eruditissimo 
bispo  de  Viseu%  e  porque  nao  e  do  nosso 
assumpto  descrcvel-a,  passo-a  cm  silencio,  ate 
por  nao  ler  visto  documentos,  que  me  podes- 
sem  por  a  salvo  d'alguns  cnganos,  excepto  o 
que  no  seulogar  apontamos,  e  quedemonstra 
a  sua  existencia  no  reino  do  Algarve.  Ora  ten- 
do  seu  avo  vivido  nesta  cidade  e  designando- 
se  cidadao,  assim  como  seu  pai  Simao  Yaz, 
tendo  nella  bens  e  propriedades,  grandc  pre- 
sumpcao  me  lica  (para  nao  dizcr  certeza)  de 
ter  sido  a  sua  naturalidade  d'esta,  e  nao  da 
cidade  de  Lisboa.  Faria  c  Sousa,  apurado  in- 
dagador  d'anliguidades,  tendo-o  dado  por 
natural  de  Santarcm,  na  segunda  vida  que 
deu  do  nosso  pocta,  muda  de  parecer  fazen- 
do-o  natural  de  Lisboa.  DomingosFernandes, 
na  dedicatoria  das  Rimas  que  offereceu  a  uni- 
versidade  de  Coimbra,  e  publicou  em  1607,  o 
declara  natural  d'esta  cidade,  dizcndo — pois 
nascendo  elle  nessa  vossa  cidade  de  Coimbra 
^expressao  que  denota  estar  certificado  mais 
que  OS  outros  biographos  da  sua  naturalidade; 
0  que  ludo  combina  muito  com  os  documen- 
tos que  nestes  apontamentos  oderecemos,  a  ver 
se  algum  mais  habil  indagador  pode  descobrir 
outros  que  nos  soltem  as  difficuldadcs,  e  escla- 
rccam  as  trevas  em  que  nos  achamos  envolvi- 
dos.  Em  lS8i  ja  Simao  Vaz  era  falccido,  e  as 
suas  casas  tinham  passado  para  urn  parente 
de  sua  madrasta,  que  casou  com  sua  segunda 
mulher  D.  Francisca,  a  qual  tinha  ficado  her- 
deira  de  seu  marido  Simao  Vaz  de  Camoes,  e 
por  esta  razao  encontramos  uma  determinacao 
do  Cabido  concedendo  a  um  sou  conego  Fran- 
cisco Pessoa,  0  dircito  de  as  revindicar  da  mao 
do  Dr.  Roque  Percira  Tavares,  que  as  possuia, 
por  sua  dita  mulher  D.  Fraheisca,  viuva  do 
sobrcdito  Simao  Vaz.  ^  Daqui  se  conclue  que 
tambem  Simao  Vaz,  dcpois  que  voltou  do  Porto 
em  1570,  novamente  casara  nesta  cidade  com 
uma  D.  Francisca,  cujos  appellidos  mais  se  nao 
podeni  saber  pelo  apoucado  do  assento,  e  falta 
noticiosa  que  encerra.  Nao  encontramos  o  re- 
sultado  e  decisao  da  queslao  que  o  dito  conego 
Francisco  Pessoa  intentara  contra  o  referido 

'   Vilerbo.  Eliici,!.  arl.  C.ivallciro,  no  Hm. 

'   Mem.  d'CamSes  nns  suas  ubras  lorn.  1.  paj.  88. 

'    Vcj.  o  (locumenio  n  °  5. 


doutor.  A.cho  porem  que  era  160b  esle  requc- 
rSra  ao  Cabido  para  nao  emprazar  nmas  casas 
na  rua  de  S.  Christovao  a  um  seu  cunhado, 
sera  Ihe  darem  vista '  do  requerimento  e  pcr- 
tensao  do  dito  cunhado,  e  em  1628  se  encon- 
tra  outra  pertensao  de  Manoel  Corr6a,  a  quem 
0  Dr.  Roque  Pereira  tinha  deixado  o  direito 
de  renovacao  do  referido  prazo,  signal  de  que 
nesta  data  ja  era  falecido,  nao  se  sabcndo  se 
tambem  teria  tido  egual  sorte  sua  mulher  D. 
Francisca,  viuva  do  dito  Camoes.  Tacs  sao  as 
noticias  que  encontramos  nos  emprazamentos 
da  cathedral,  unicos  que  descobrimos,  c  assim 
mesmo  ainda  minguados  de  csclarecimentos 
maiores,  que  muito  se  desejam  para  poder 
documentar  uma  hisloria,  que  tao  cara  se 
torna  a  quem  tern  amor  pela  patria,  e  p«la 
gloria  nacional,  de  que  o  nosso  poeta  foi 
estrcmado  admirador,  e  sublime  pregociro. 

UIGLEL   BIBEIRO  DE  VASCONCELLOS. 

CoHlinua, 


NOVAS  TABOAS  DA  PARAI.LAXE  DA  LUA. 

FOB   J.    C.    iDtHS. 

Pela  comparagao  da  parallaxc  das  taboas 
lunares  de  Burckhardt  com  a  parallaxe  que 
Dainoiseaii  deu  em  suas  taboas,  Adams  acLou 
que  miiilas  das  peqiienas  equajoes  da  paral- 
laxe deduzidas  das  taboas  de  Biirckliardf, 
difTeriain  comj)letarnente  de  sens  valores  tbeo- 
ricos  dados  por  Darnoiseau.  Foi  enlfio  que 
elle  soiibe  Wr  ja  Clausen  advertido  (vol. 
XVII  doi  ^stronomische  Nachric/ilen)  que 
liavia  iinja  difVeren^a  entre  as  equajoes  da 
parallaxe  de  Burckhardt  c  as  de  Biirg  e 
Dacnoiseau,  ii'uma  analyse  comparalivad'eslas 
taboas. 

A  inexaclidao  dos  coefficientes  de  quatro 
das  pequenas  eqiia(;oes  da  parallaxe,  explica 
Adanif,  suppondo  que  Burckhardt  einpregou 
por  engaiio  a  longitude  verdadeira  em  \ez 
da  lonj^itude  media  do  sol,  na  formayfio  dos 
argumenlosda  evec^ao  eda  variacSo.  A  respei- 
lo  d'uma  outta  d'eslas  equagoes  o  seu  coef- 
ficlente  foi  lomado  com  signal  contrario,  e 
finalmente  n'outra  equa^.io  mais  o  arguinen- 
lo  c  falso. 

No  toino  X  das  Memorial  da  Sociedade 
real  ostronoinica  de  Londres  apresentou  Hen- 
derson uma  nova  delerniina^ao  da  parallaxc 
da  lua  por  meio  das  observaCj'oes  que  tinha 
feito  no  cabo  de  Boa  Esperan^a,  e  das  cor- 
respondenles  feilas  em  Greenwich  e  Cambridg; 
para  constanle  da  parallaxe  achou  31-22",'l6, 
comparando  a  parallaxe  observada  com  a  pa- 
rallaxe calculada  pelas  taboas  de  Damoiseau. 
Mas  como  a  parallaxe  das  taboas  e  estricta- 
mente  o  seno  da  parallaxe  reduzido  em  segun- 

'    Documenlos  n."  5  e  6. 


154 


ilos  tl'arco,  e  necessario  por  isso  lirar  0'',15 
Je  oi28",46,  o  que  rtidaz  ic-gmido  Henderson 
a  3+83'',31  a  constaiUe  da  parallaxc.  lisle 
reeullado  estii  em  ptirfeito  acconlo  com  o  valor 
de  3432'', o2.>  que  Adams  Q!)leve  fundando-se 
tips  llieorias  de  Daiiioisoau  c  Plana, 

Triipsforinando   a  expiessfio  da    parallajo 


dada  pela  llieoria,  a  lun  de  dopendor  dns 
arjjnmentoi  de  longiliide  de  Udrckliaidl, 
Adams  cliegou  u  se^iiintu  formula,  em  que  os 
argumenlos  da  evec(;iio,  anomalia  e  varia5ao 
sao  expresses  por  E,  A,  V,  c  os  argnniento5 
dus  pe(|iion.i6  oqua^oes  por  sen  niimero,  coino 
em  Uiirckliardl  : 


0",3t— 0'',34coi  (1) 
1,73  -4-  1,73    cos  (2) 
i.U  ■+■  1.4G    cos  (4) 
0,87  -1-0,87    cos  (5) 
0.71—0,71    co»  (6) 
0,11  —  0,11    cos  (7) 
0,62  —  0,62    cos  (8) 
1,81—0,05    cos  (9)-)-l",81  cos2  (9) 
0,21  —  0,21    cos  (12) 
0,16  —  0,16    cos  (13) 
0,14  -t-0,14   cos  (16) 
0.12 -(-0.12    cos  (23) 
O.lO-f-0,10   cos  (25) 
36,81  -H  37.22  cos  (E)  -^0".41  cos  2  (E) 
55'30,92  -4-187,14  cos  (A)-h  10,27  cos  2  (A)- 
2(»,18— 0,94  cos  (V) -1-26,34  cos  2 


i-0'',64  cos  3  (A)-i-0'',OV  cos  *  (A) 
(V)-+-0.t6  cos  4  (Yj. 


N'esta  formula  desprezou-se  urn  pequeno 
termo,  menor  que  0",01J. 

A  peqiienissima  dilferenga  que  lia  enlre  a 
somma  3422",29  das  constantes  da  formula, 
e  a  constante  da  parallaxe  adoptada  por 
Adams,  e  uma  consequencia  da  raudanja  na 
forma  do  desinvolvimento. 

As  novas  taboas  de  Adams  foram  por  lan- 
toconstruidas  pcla  dila  formula  com  os  mes- 
nios  arsumenlos  que  as  laboas  XXXVf, 
XXXVll,  XXXVII!,e  XXXIX  de  Bur- 
ckliardt  (edi(,ao  de  Coimbra).  Assim  que,  len- 
do-sc  formado  os  argumenlos  1,2,  4,  etc.  c  os 
argumenlos  da  evec^ao,  anomalia  e  varia^.'io, 
dovcm  procurar-se  com  elles  nas  taboas  cor- 
respondenlesde  Adams,  as  equajoes  da  paral- 
laxe liorisontal  equalona. 

Adams  deduziu  laml)em  a  formula  por  que 
foram  construidas  as  laboas  da  parallaxe  de 
Burckliardl,  e  acliou  a  mesma  que  vem  na 
edirao  de  Coimbra  a  pag.  X  da  explica^ao. 
Burckliardt  diz  exprc^samcnle  na  inlroduc^ao 
das  suas  laboas  ler  seguido  quanlo  a.  paral- 
laxe a  llieoria  do  Laplace;  porem  omiltiu  a 
forma  que  Ibe  deu  apropriada  aos  argumen- 
los que  adoptou. 

O  emprego  da  longilude  verdadeira  em  vez 
da  longilude  media  do  sol,  produziu  na  for- 
mar.^o  do  argumcnto  da  variajao,  erros 
nos  copfCicienles  das  equaooes  2  e  12,  e  na 
forma(;no  do  argumenlo  da  evec^.io,  erros 
nos  coefficicnles  das  equa^oes  4  e  13.  Os  er- 
ros da  parallaxe  provenientes  d'aquellas  equa- 
^ocs,  serao  geralmcnle  grandes  em  mar^o  e 
setembro,  e  pcquenos  no  printipio  de  Janeiro 
c  julbo,  cm  que  se  da  coincidencia  quasi  enlre 
o  logar  verdadeiro  e  o  medio  do  sol. 

A  qua^.'io  6  foi  tomada  com  signal  con- 
Irario,  e  na  equa^lio  da  varia^'io  parece  Icr-se 
enipregado  3  (V)  por  4  (V). 


O  erro  total  das  taboas  da  parallaxe  de 
Burckliardt  pode  cliegar  a  6",  independenle- 
in<?nle  d  l",8  que  n'ellas  a  conslanlo  da  pa- 
rallaxe tern  de  menos. 

Depois  de  liavermos  dado  noticia  das  taboas 
de  Adams,  acrescenlareinos  quo  no  connaii- 
sance  dcs  temps  para  o  anno  de  1856,  ontle 
encoiitraraos  as  novas  taboas  copiadasj*  do 
JS'autical  ^Ibiianac  do  mesmo  anno,  ainda 
n.'io  vem  caloulada  a  parallaxe  da  lua  por 
ellas,  de  sorte  que  as  nossas  epbemerides  para 
o  anno  de  1857  podem  saliir  com  mais  e*le 
apertelgoameiUo,  alem  dos  que  ullimamenle 
foram  n'ellas  introduzidos;  e  nSo  ficara  par 
este  lado  niais  avanlajado  o  conliQcInientiQ 
dos  tempos  de  Paris. 

Para  acmellianle  effeito  acbam-se  ja  no  prelo 
as  laboas  de  Adams  que  reduziinos  u  mesma 
forma  em  que  publicamos  as  de  M.  Bur- 
ckbardt,  c  que  servirao  de  complemenlo  a  csle 
traliallio,  e  de  subslituij.'io  as  taboas  respecT 
tivas  da  parallaxe,  quando  se  pretender  caU 
cular  ssla  CQin  maior  grao  de  perfei^ao. 
?.  M.  B.  FEIO. 


JERUSALEM  E  O  MAR-MORTO. 

AHCHEOLOGU    BKBAIICA. 
CoDllnu^Up  dc  p.ig.  I  {6. 

O  menos  conhecido  de  tndos  os  lagos,  at- 
tenta  a  sua  grande  celebridade,  e  o  Asplial- 
tite.  Uni  ve'o  mysterioso  envolve  sua  origemj 
natureza  e  produc^oes  :  collocado  no  meio  de 
um  medonlio  deserto,  suas  aguas  eslagnad.is 
e  immoTcis,  em  cuja  supcrficie  verdenegra  9e 


155 


rcflt'cle  o  ceo,  apresenlain  urn  lao  lugiibre 
aspecto,  que  por  iiso  llio  deram  o  nouie  dc 
JlJnr-niorto. 

Oa  aiilig"s  tinliain  miii  escassas  nolicias 
a  cerca  do  Ingo  Aspliallite,  que  so  come^ara 
a  scr  mais  cstudado  noi  priineiros  aniios  d'cate 
jeciiln.  Fora  eile  laj^o,  scguiido  lodai  as 
nrol)al)iIi<la(les,  lliealro  dc?  iitiia  graiide  ca- 
tastroplio.  O  notavel  aspecLo  das  siias  agiias; 
OS  siiigiilarcs  plienonieiins,  que  ellas  apreaou- 
lani,  altestadoi  por  lodoi  os  observadores, 
(ii^nos  de  niaior  crcdilo;  e  a  espanlosa  deso- 
la^ao  da  sua  praia  meridional,  sao  oulros 
lamns  vealigios  de  algiiina  grando  revolii^ao 
pliysica,  que  tiansformiira  complotameiUe 
a  superficie  do  solo  n'aqiiella  regiao,  oiide 
hoje  so  reina  a  solidao,  e  o  silencio  dos 
luaiidos.  Nealc  mesmo  logar,  segiindo  a  tra- 
difao  lieliraica,  exislirain  outr'ora  cinco  ci- 
dadc-j,  que,  lendo  iiicorrido  na  colera  divina, 
foraiii  fuliiiinadas,  <;  cornplelarneiile  destrui- 
das.  Acaio  eiilre  o  facto  pliysieo  de  iima  graii- 
de rcvoIuQ.no,  de  que  taiUos  indicios  reslain, 
ea  Iradi^rw  liebraica  liavera  aiguina  rela^-fio, 
mas  nesle  ponlo  os  iiiais  erudilos  arclicologos 
nfio  estao  de  acordo. 

Algutis  julgain  que  o  lago  coexislira  com 
o  Jordao,  e  outros  rios,  que  nelle  deserii- 
bocain,  regellando  conio  iiiadniissivcl  a  opi- 
niao  de  Cellario,  que  o  Jordfio  correra  ou- 
tr'ora no  golplio  arabico,  porque  o  Asplial- 
lite recebe  ao  sul  uiii  rio,  que  vein  em  direc- 
cao  inver?a  do  Jordao,  conchiiiido  d'aqui 
que  o  lago  j;i  existia,  quando  Levo  logar 
a  destrui^-ao  parcial  de  que  faz  iiieiisao  o 
Genesis 

O  cflebre  Micliaelis,  o  sabio  geographo 
Buscliing  e  outros,  suppoem  pelo  coiitrarjo, 
que  podeni  facilmente  couciliar-se  as  pagiiias 
sagradas  com  a  historia  d'aquelles  impor- 
lanles  plieiiorneiios  da  physica  do  globo. 

A  Ivscriptura  diz,  que  o  valle  de  Siddim, 
ou  a  planicie  de  Sodoina,  coiivertida  depois 
em  mar  de  sal,  ou  lago  Asphaltil'3  uconliiilia 
sobre  uma  va^la  exteusao  po^os  de  bituriie, 
e  que  era  toda  regada  como  o  paraizo  do  So- 
nhor,  ccoiiio  o  Egyplo  ued'aqui  conclulram 
aquelles  auclores,  que  uma  parte  dasaguasdo 
Jordao,  depois  de  aljineutarem  os  iiumerosos 
canaes,  que  fertilisavam  aquelle  paiz,  se  re- 
uiiiam  formando  um  lago  subterraneo,  e  que 
no  momciilo  em  que  os  raios  inflammaram  os 
po^-os  de  bitume  espalliados  ii  superficie 
d'esta  planicio,  o  solo  seabatera  [lela  violeucia 
d'estc  terrivcl  incendio,  e  as  ciJades  se  abys- 
maram  com  elle  no  tundo  do  lago. 

Ha  trinta  aimos  eata  liypotlie>e  pareceria 
coinpletaiiiente  destiluida  de  fundamento. 
Uui  liabil  oliservador,  pore'm,  que  moderna- 
iiiente  visitiira  o  lago  Asplialtite,  corroborou 
cm  parte  aquella  doulrina,  sustentando  queo 
lago  cobre  lioje  a  antiga  planicie  de  Siddjiii. 
Priineiramcnle,  diz  Robinson,  a  parte  meri- 
dional do  Mar-morto  dilTore  complelamente, 
quanto  ao  seu  aspecto,  da  do  norle,  que  llic  fica 


separada  por  uma  especic  de  peninsula,  quo 
parececortar  eui  dois  o  lago.  N'aquelia  parte 
meridional  o  mar  e  pouco  profundo  ;  na  «ua 
extremidade  ao  sudoesle  ve-se  uma  massa  de 
sal  gemma  na  altura  de  duzentos  pes,  a  que 
d.'io  o  iiome  de  I'romonlorio  W  Usdum,  oiide 
Sodoma;  as  suas  margens  ao  oeste  e  sudoesle 
sao  planas  e  escalvadas.  Obiervada  das  nioii- 
tanlias  do  oeste,  aquella  massa  de  sal  gemma 
pode  comparar-se  a  [or.  de  um  rio  na  vasante 
da  mare.  Em  segundo  logar  c^ta  regiao  e 
toda  volcanica  e  suj 'ila  a  repeiidos  lerre- 
motos,  cujos  vestigios  estao  aiuda  frescos  na 
rogifio  do  lago  Tiberias,  que  llie  fica  nfio 
mui  distante.  Em  terceiro  logar  o  asphalto, 
lioji  muito  menos  abundante  que  antiga. 
mente,  so  se  encontra  na  parte  meridional 
do  lago,  apparecendo  a  superficie  das  aguas 
apoz  alguni  abalo  do  terreiio;  cm  1334  e 
1337,  por  occasiao  dos  grandes  lerremotos 
que  dcsolarata  e^te  p.iiz,  os  ventos  arrojaram 
sobre  a  praia  grande  quanlidadc  d'aquelle 
bilume. 

Robinson  admitte  por  tanlo  a  Iradi^ao 
liebraica  quauto  a  destruijao  por  effeito  dos 
raios  celestes  das  cidades  crimiuosas;  mas  a 
e=ta  causa  ajunta  a  acs'io  volcanica,  concur- 
rendo  simullaneamente  para  abrasar  aquel- 
las  cidades,  inflammando  os  numerosos  depo- 
sitos  de  bitume  accumulados  lia  seculos  nos 
P090S,  de  que  faz  men5fio  a  Escriptura.  Aca- 
so  tambem  estas  grandes  massas  de  bitume, 
exteudendo-sc  por  entrc  as  divcrsas  camadas 
do  terreno,  segundo  a  sua  stractificajao, 
tornavam  o  terreno  de  Pentapole  um  im- 
menso  foco  de  inceudios  subterraneos.  Uma 
ou  outra  daquellas  causas  baslava  por  tanto 
para  a  dealrui^iio  do  valle  de  Siddim,  c 
immediata  formagSo  da  bacia  meridional, 
resullando  d'aqui  o  eugrandecimento  do  lago 
Asphallite.  Se  e»ta  catastroplie  se  realizasse 
por  aljalimenlo  do  terreno,  as  aguas  se  preci- 
pitariam  neste  abysmo  formando  uma  nova 
bacia  no  Mar-morlo  :  e  se  o  plieuomeno  leve 
logar  por  sublevajao  volcanica,  e  natural 
que  as  aguas,  transpondo  seus  antlgos  limites, 
se  espalliassem  para  o  sul  sobre  os  grandes 
baixos,  desde  a  peninsula  de  Id-Mozraa  ale 
a  extremidade  do  Mar-morto. 

A  llieoria  de  Robinson  esla  tambem  d'ac- 
cordo  com  a  maneira  por  cpie  os  geologos 
consideram  lioje  os  bilumi.-s  naturaes,  ou  as- 
pllalto^,  que  sao  conlados  entre  os  productos 
volcanicos  indircctos,  do  mesmo  mcdo  que  o 
sal  gemma,  as  erupjnes  gazosas,  e  as  fontci 
tliermaes,  e  por  i^so  o  distincto  geologo  de 
Buch  uao  duvidna  confirmar  em  muitos 
pontos  a  tlieoria  do  arclieologo  inglcz,  que 
um  insigne  poela,  e  um  alialisado  orienta- 
lista  lao  vivamenle  conibateram,  talvcz  por 
demasiado  escrupulo  religioso. 

"  A  presenga  iicstes  logares  d'aguas  tlier- 
m^aes,  enxofre  easplialto,  diz  Clialcaul)riand, 
nao  e  prova  suftieiente  da  existencia  de  um 
volcao;  por  tanto  reporto-me  pura  esimplcs- 


156 


nienle  li  Eicriplura  sagrada,  qiianlo  as  cida- 
iles  abisniadas,  seiii  recorrer  aoi  aiguinentoi 
plivsicos.  11 

Qiialreinerc  admilte  a  liypolbeae  de  Mi- 
cliaelis  com  alguinas  modifica^oes,  mas  rc- 
gcila  expreisarni'iile  a  ac^'io  volcaiiica.  a  A 
catastrophe  da  planicede  Sodotna,  dizosabio 
orioutalisla ;  n'lo  pode  ser  o  resultado  de  urn 
lerreinolo,  por  que  eslcs  iiiio  deixaiii  apoz  de 
si  tanta  desola^'io  e  lao  profiindos  estragos ; 
sc  lima  erup<;ao  volcanica,  on  inn  lerreinolo 
fojsem  a  causa  uiiica  da  ruina  de  Sodonia, 
e  das  cidades  circuinvisiiilias,  aquelles  plieno- 
inenos  deviam  ler-se  repelido  no  aiidar  dos 
tempos,  c  Jerusalem  teria  experirnentndo 
lambem  graves  calrastrophes.  ii  Som  negar- 
mos  a  for^a  d'estas  objecyoes,  nao  nos  parece, 
com  tudo,  que  ellas  pos^aiii  refular  os  funda- 
menlos  da  llieoria  de  Robinson 

Uma  Uieoria,  que  poderd  chainar-se  philo- 
logica,  p'-Ttcnde  siistenlar  com  numerosascita- 
joes  arrasladas  para  o  assumpto,  que  o  lago 
Aspliallite  nao  occupa  o  proprio  logar  de 
Pentapole.  Ileland,  hollandez  de  najao,  e 
reputado  um  dos  mais  profundos  sabedores 
em  antigiiidades  sagradas,  e  o  auctor  d'esta 
theoria,  que  mais  tarde  Malle  Brun  apoiara, 
e  de  que  ultimamenle  Saulcy  se  declarara 
ardente  partidista. 

Fora  na  verdade  grande  loucura  da  parte 
dos  fundadores  de  Pentapole,  diz  um  dos 
mais  illuslres  adversaries  d'esta  theoria,  se 
elles  livessem  preferido  um  pequeno  canto 
de  terra,  encaixada  n'lim  eslreito  valle  da 
ardente  moiitanha,a  fertil  planicede  Siddim, 
cortada  de  tantos  riachos  e  tao  aprasivel,  a 
pesar  dos  ardores  do  ciima,  que  ai^uns  com- 
mentadores  acredilam,  que  tora  n'esta  pirle 
da  Oanaan,  que  Deos  collocara  o  paraiso 
terreal. 

Nas  diflerentes  jiassagens  de  Jeremias,  de 
Sophonia,  e  d'Amos,  tractando-se  da  destrui 
•jfio  das  cidades  criminosas,  so  se  faz  inen^ao 
do  enxofi-e,  de  snrg,is,  de  lilacs,  e  de  incen- 
dios,  mas  ningiicm  igiiora  que  a  linguagem 
dos  profetas,  e  miiilas  vezes  my>teriosa ;  e 
quasi  sempre  vaga,  c  allegorica,  e  (pie  nao 
pode  por  isso  ser  invocada,  quando  se  tracta 
deavniiar  um  facto  physico,  do  niesmo  inodo 
que  iiinguem  se  lembroii  ainda  de  invooar  o 
Apocalypse  para  resolver  uma  questao  de 
geograpliia, 

Osnuctores  profanes  ciijo  testemunlio  citam 
OS  defensorei  da  theoria  philologica,  n.io  pro- 
vam  mellior  a  favor  d'ella,  (pie  os  livros 
sagradoj. 

A  submers'io  de  Pentapole  nao  e  contesta- 
da  pelos  historiadores  profanos  anteriores  a 
Jose,  se  excepliiarmcs  Slrabao  e  'J'acilo.  O 
primeiro,  as*ignando  sessenta  estadios  de  cir- 
cumferencia  as  ruinas  de  Sodonia,  parece,  (]iic 
nao  visitdra  nunca  a  Judea,  coiifundindo  at(i 
o  lago  Asphallile  com  o  Sirbon  ,  situado  no 
Egvpto  a  di>lancia  de  mais  de  sessenta  leguas 
do  Asphallito ;  ncm  era  verosimil  ijuc  as  rui- 


nas de  iiina  cidade  sobre  a  qiial  pezam  qua- 
reiita  seciilos,  e  Icvantada  por  uma  pequeua 
Iribu  arabe  no  ineio  de  um  oasi^,  podessem 
ainda  ter,  an  calx)  de  tantos  mil  annos,  Ires 
b'guas  do  cJrcumfereiicia.  Tacito,que  faz  os 
Judeus  oriiindoi  do  monte  Ida,  porqiie  delle 
lomarain  o  rioiiie,  nao  e  nesle  ponio  teste- 
niunho  de  maior  aiicloridade. 

Jos('  nas  siias  anligiiidndcs  judaicas,  di/, 
11  que  a  Sedomlcia  desapparece^T,  e  com  ella 
as  fnntes,  que  tornavam  esta  re;;iao  tfio  fertil ; 
Sodorna  desapnreceu,  e  o  lago  Asphallile  oc- 
cupa lioje  o  valle  tndo.  " 

Estevam  de  Bysancio,  geographo,  que 
escrevia  no  seciilo  V,  fallcindo  de  Sodonia, 
(llz  lambem  que  u  esta  cidade  era  a  capital 
de  dez  oiilras,  cpie  jazem  sepulladas  no  lago 
Asphallile.  ii 

Por  taiilo  nein  nos  escriptores  ])rnfanos, 
nem  nos  sagrados  se  encontraui  fjrnvas  suffi- 
cientes  em  abono  da  theoria  de  Ileland  ,  que 
Saulcy  perlende  su^tentar  na  sua  viagem  as 
terras  bililicas,  loinando  como  ruinas  da  an- 
tiga  Sodouia,  algiins  moiitoes  de  pedra  brii- 
la,  e  calcinada ,  descriplos  ja  por  outros 
observadores    ao   norle   da  monlanha  dc  sal. 

Nem  essas  suppo^tas  ruinas  podiam  per- 
tenccr  a  alguma  das  miseraveis  cidades  de 
Pentapole,  lao  pouco  importaiites,  que  uma 
so  noiile  bastara  para  Abrah'io  as  conqiiistar, 
e  que,  como  a  maior  parte  das  cidades  do 
oriente  ainda  lioje,  deviam  ser  corislruidas 
com  simples  lijolos.  Oi  Hebreus  quando  con- 
qiiistaram  Canaan,  e  muilos  tempos  depois, 
nfio  einpregavain  na  constriici^'ao  dos  edificios 
publicos  e  parliculares,  seiiao  madeira  e 
barro.  Uma  torre  de  madeira  era  a  unica 
defesa  da  cidade  Sicliem  ;  e  a  cada  passo  se 
le  na  Biblia  a  descrip^rlo  dessas  nie-quinlias 
conslruc^oes ,  que  conslltiiiain  toda  archile- 
ctura  liabraica.  A  lei  de  Moises  punia  com 
a  penna  de  at^oite  an  lalrao  (]ue  n'uma  nolle 
arroinbasse  as  paredes  de  uma  casa  ,  tal  era 
a  solidez  que  ellas  liiihaiii  ;  e  Joli  diz  que 
miiilas  vezes  o  venio  do  deserto  derribava 
eslas  pobres  cabanas. 

Eis  aqui    porqiie   em    toda   a  Palestina,  e 
nas  regioes  visinlias  nan  se  encontra  um  uni- 
co  iiioniimeiilo,     cuja    exialencia    remnnte   a 
epocha  deAbrahio,  on  mesino  li  de  David.' 
J.  u.  DE  ABREU. 


MOLESTl.i  DAS  VINHAS. 

Conlinuado  de   paj.    1S9. 

11  Adnlpho  Targioni  e  Emilio  Bechi,  de 
Floreiiga,  apreseiitarain  uma  memoria  miii 
imporlante  sobre  a  nalureza  da  molestia  das 
vinhas,  e  lornam-se  por  issn  dignos  na  opiniao 
da    coinmissao    d'uma    recompensa    de     mil 

'  Vej.i-se  a  Reeue  del  Detiz  Uond.  —  Pjris  1831  — 
torn.  VI. 


157 


francos.  Eslos  dois  sabios,  junlanienle  com 
Cozzi  e  Tliomaz  Funk,  lem  fello  niiinerosaj 
analyses  cliiiiiicas,  que  iicis  parecem  dignas  de 
alteiifao.  Analysarain  cotDparalivaiiienle  tniii- 
las  variedades  du  caclioa  d'uvas  atacadas 
da  inoleslia,  e  oulras  inteiiameiito  sfis,  no 
estado  secco,  e  normal.  Fizeram  la[iibeni  ti.na 
cspecie  de  analyse  meclianica,  separando  a 
pnjpa,  a  pele,  e  grainlia  dos  diversos  caches 
d'livas,  e  procederam  ii  analyse  chimica  deslas 
diflerentes  paries  do  fniclo  da  videira.  Ksles 
auclores  acliaram,  qne  as  uvas  atacadas  da 
niolestia  conlinhain  \ima  porcjao  muilo  riiaior 
de  azote,  dnplaj  e  ale  Iripla  da  que  exi^le 
nas  nvas  sas;  no  moslo  e  que  se  encontrum 
mais  subslancias  azotadas.  O  caclio  d'uvas 
eonlaminado  conlem  n)ai3  saes  mineraes,  e 
menoi  maleria  sacharina  C)s  niesmos  auclo- 
res analysarani  latiibem  oulras  planlas  egual- 
inente  atacadas  por  diversas  cryulogmas. 

t!  N'uma  ouUa  meinona  Ua-parini  de 
Xapoles,  de^ereve  a  rooleslia  da  viiilia  com 
grande  talenio,  examinando  a  parasita  em 
loclas  as  plla^es  da  sua  evolu^ao,  e  lermina 
com  uma  liisloria  mui  complela  da  germiua- 
yno  dos  spores  do  oidium  tuckeri,  poslo  que 
OS  n.'io  observou  nas  condi^oes  normaes  do  seu 
desinvolvimenlo;  por  lodes  esles  molivos  a 
commissao  cnlende  que  o  A.  merecia,  como 
prova  de  di.-linc5rio,  uma  giatificajao  de 
dOO  francos. 

u  Dois  outros  concurrenles  ilalianos  sao 
dignos  de  mencionar-se  pela  serie  debecn  diri- 
gidas  ex|>eriencias,  que  communicaram  a  so- 
ciedade  na  cnnformidade  do  seu  programma. 
ii  O  graiide  nuniero  de  documenlos  que 
nos  tVirarn  eiiv'uidos  d'aleni  dos  Alpes, -e  a 
imporlancia  das  experienrias,  que  alii  tern 
sido  feilas,  pode  avaliar-se  pelos  grandes  Ira- 
ballios  de  que  nos  occnpamos  ;  traballies,  que 
revelam  bem  a  gravidade  da  molestia  das 
vinlias  na  llalia 

u  Vos  sp.beis,  senljores,  que,  do  lodas  as 
experiencias,  sfio  as  agricelas  as  mais  diliiceis 
e  delicadas;  raro  acoMtece  serem  ellas  com- 
paralivas,  e  a  ^ciencia  agricola  carece  sempre 
de  proceder  com  a  maior  cault-l.i 

li  O  doulor  I'olli,  professor  de  cliirnica  na 
esciiola  leclinica  de  Mdk'io,  e  Mannet  Bou- 
zanini,  ciigejdieiro  civil  n'aquell.i  cidade, 
dislmguiram-se  pela  boa  direc^ao  de  suas 
oxperiencias  sobre  o  apj)lica^ao  das  dissnlugoes 
de  sulpliidialo  de  cal,  clilorurelo  de  cat,  sal 
coMUnuiM,  ^ul|lllalo  de  zmco,  agua  auioniacal, 
proveuicnle  da  rerinai,fio  do  gaz  do  carvao 
de  pedia,  do  gesso  em  |)6,  da  essencia  de 
terelientliina  di-solvida  em  agua,  eul  fiui  da 
Hgua  de  lavaj;em  das  follias  de  labaco,  la- 
vagi'm,  que  se  faz  em  uuia  dis=olii(,-rio  de  sal 
de  .'J  a  4.°  do  areouieUo  de  Bi-aume.  Os  dois 
"Ijsei vadores  ensaiaram  eslas  diflerentes  dis- 
solucoos  n'uma  vmlia,  applicando-as  a  algu- 
uias  videiias  collocadas  no  mcio  d'oulrns, 
a  que  iienliuin  lialamenlo  se  fizera.  De  todos 
I  ales  remedios,  a  agua  do  Ubaco  foi  o  unico 


que  deu  um  resullado  satisfactorio.  Seria 
curioso  indagar  se  no  emprego  da  agua  do 
labaco  e'a  nicolina  que  obra,  come  nos  julga- 
mos  ;  por  que  n'este  caso  a  nifolina  podeTia 
ser  subsliluida  por  atgum  dos  alcolioloides, 
modernamenle  conliecidos,  que  se  obleriau) 
scm  grande  despesa,  e  que  deveriam  enipre- 
gar-se  no  estado  de  saes.  M.  Fox  tinlja  ja 
experimenlado  com  bom  resullado  a  a^ua  de 
labaco. 

ii  Ha  um  faclo  digno  de  nolar-se,  posto 
que  d'elle  se  nao  possa  lirar  uma  conclusao 
delinitiva.  Livre  o  caclio  d'uvas  do  otdium, 
o  fruclo  corilinua  a  amadurecer  sem  diflicuf- 
dade.  Muitos  meios  tem  side  propostos  pelos 
diversos  auclores  de  memoiias  p-ira  expulsar 
o  oidium.  Um  dos  que  maior  credilo  tem 
lido,  e  o  de  vapor  da  agua  a  ferver.  Guillot 
^alvou  a  coliieita  d'uma  vinlia  efilre'  duas 
oulras  completamenle  perdidas,  injectando 
sobre  os  fruclos,  logo  depois  da  llora(;ao,  vapor 
da  agua  d'liui  regador  quente,  condusido 
n'um  carro  de  mao  pelo  meio  das  vinlias. 

li  Dois  pliarmaceulicos  Colliuel  e  Alalaperl 
observaram,  (jue  barrando  as  uvas  com  um 
poluie  feilo  com  agua  de  sabao  e  argilla  finu 
nio  OS  atacava  o  oidium.  ji 

O  parecer  da  commissao  foi  approvado  em 
lodos  OS  seus  arligos. 

(Journal  U'Agricult.  Praliq.  n."  15,  de  5  d'airoslo  d.- 
1854.)  ^ 


AS  MUIJIERES   IIISTORICAMEME 
CONSIDERADAS  '. 

Os  annaes  do  mundo  apresenlam  uma 
singular  contradigao  na  hisloria  das  mulljeres. 
N'(im  mesmo  povo,  n'uma  mesma  cpoclia,  e 
sob  as  mcsmas  leis  as  mulberes  sao  tracladas 
como  seres  superiores,  e  como  as  mais  infimas 
creaturas!  Poderia  dizer-se  que  algum  inson- 
davel  misterio  occulta  na  mullier  aos  ollios 
dds  legi-ladores  a  verdadeira  nalureza  d'ella. 

Segundo  a  Biblia  a  mullier  nao  podia  ira- 
balhar  nas  vestes  sagradas  dos  sacerdoles 
neu)  se  Ibe  concedia  o  dlreilo  de  preslar  inn 
jurauiento,  por  que  nao  linlia  palavra.  n  A 
mullier,  que  jura,  diz  Aloises,  nao  e  ebrigada 
a  sustenlar  a  sua  palavra,  se  o  espeso^  ou 
o  pailli'o  nao  concentem  »  o  que  equivalia  a 
coiifessar  que  ella  nao  tinlia  alma  !  E  Inda- 
via  o  mesmo  legislador.  Hie  concedria  o  dom 
mais  eminenle  da  nalureza  liumana,  on  antes 
supeiior  a  essa  natureza,  o  dem  da  profecia. 
Koma  condemnava  a  mullier  a  uma  per- 
pelua  tulella,  e  Roma  a  fazia  confulonle  dns 
designios  celestes  !  Os  oraculos  dt!  (Jumas 
eraui  annunciados  pela  boca  de  uma  mulliei. 
Depobitaria  dos  livres  sybillinos  era  lambeni 
uma  mulher;  |>arece  que  os  deoses  so  fal- 
lavam  pela  boca  das  mulheres.  Na  Grecia 
a  contradicjao  era  aiiida  mais  flagrante.  Os 

'      Legouve,  Hist,  morale  Jos  femnies.  —Paris  10-19. 


158 


(Jregbs  cdiileslaVam  a  imllher  oainor,  que  e 
a  sua  propria  essencia.  Plularco  no  sen  tra- 
clado  do  amor,  diz  que  o  verdadeiro  amor  e 
iinpossivel  eiilro  iim  liomein  o  iima  iiiullier, 
(•  lodavia  os  Gregos  pelo  mais  nolavel  con- 
Iraren50  concodiaiii-llie  a  sal)edoria  diviiia. 
Foi  lima  miillior  que  no  banquelc  de  Platfio 
iiiioioii  o  principe  dos  pliilosoplios  na  verda- 
de,  e  esclarcceu  a  alma  de  Socrates,  como  o 
proprio  Plalao  confessa.  "  Eu  so  comprc- 
liendi  a  diviiidade  e  a  vida,  rcpele  elle,  nas 
ininlias  tonversagoes  com  a  corteza  Tlieo- 
pompa.  11 

As'iim  no  miindo  antijjo  aqiiella  creatiira 
lam  dospresada,  crasempre  per  iim  ladocoii- 
siderada  superior  ao  liomem.  A  cortezfi  con- 
sellieira  de  Pricles,  e  amiga  de  Socrates  e 
como  uni  symbolo.  Nos  autigos  povos  da 
Germania  as  mullieres  nao  representavam  ])a- 
pel  algiim  na  carreira  publica,  porem  'I'acito 
diz,  que  aquelles  povos  reconheciam  n'ellas 
al"uma  cousa  de  divino  e  de  profelico,  e  as 
ropeilavam  como  seres,  que  linhaui  rela^oes 
coil)  o  ceo.  Na  Galia  as  funcyoes  das  dniidas 
er'io  superiores  as  dos  sacerdoles  desle  cullo. 
Na  niia  de  Sena  havia  um  collegio  de  nove 
virgens,  que  curavam  molestias  repuladas 
iucuraveis,  e  aplacavam  o  furor  das  ondas, 
quando  llies  aprazia.  Eslas  virgens  dictavam 
seus  oraculos  no  meio  das  tempeslades  sobre 
escarpados  e  agrestes  rochedos.  Veda  iima 
deslas  famosas  sacerdolisas,  invisivel  e  sempre 
presente,  governava  todas  as  povoayoes,  que 
llie  ficavam  em  lorno,  e  do  allodeuma  lorre 
dictava  a  paz  ea  guerra.  Eisaqui  factos  quasi 
incriveis,  e  que  a  nossa  razao  nao  pode  bem 
cornpreliender.  Como  podia  conciliar-se  lanla 
eleva^ao  com  tamanlia  subserviencia  ?  Como 
e\plicar-se  as  liomenagens  de  admira^ao 
npar  docomplelo  desprezo  com  que  o  homein 
traclava  creaturas,  que  na  npparencia  llie  sao 
semelhantes  e  que  elle  colloca  sempre  ou 
Miperiores,  ou  inferiores  a  elle?  Que  papel 
se  llie  quer  fazer  reprcsenlar  nos  designios 
de  Deus,  e  nos  deslinos  do  mundo? 

Por  que  molivo,  em  quanlo  se  llie  vedavam 
OS  mais  simples  exercicios,  Hies  permiltiam  as 
mais  sublimes  funcgoes  do  saccrdocin  1  I'oi 
que  em  fim  se  llie  prohibia  o  exercicio  da 
vida,  e  ao  inesmo  passo  se  Ihe  deixava  lomar 
lao  grande  parte  na  formajao  e  no  culto 
dus  ideas,  que  constituem  a  propria  vida 
—  na  religiao  ? 

Ccrto  a  inulher  lein  qualidades  muilo 
caracteristicas,  e  muilo  poderosas  para  ter 
conquislado  sobre  os  espirilos  um  lao  reslric- 
lo,  mas  ao  niesmo  tempo  tao  elevado,  e  sin- 
gular imperio. 

A  villa  d'este  resumido  quadro  Iiislorico 
podera  concluir-se,  que  a  mulher  e  mais  que  o 
liomem,  e  menos  que  elle  ou  que  a  sua  na- 
tureza  se  traduz  n'estas  palavras.  —  a  Egual- 
11  dade  com  o  homemj  porem  »gaaldade  na 
u  differenja,  )i 


NOTICIA  SOBIIE  A  DACIA  CAIIKOMt'liUA  UO  CADO 
■  MONPEGO. 

Conlinuadu  de  pacr.   119. 

Entado  actual  da  minii. 

Sendo  a  galeria  geral  a  primelra  c  mais 
essencial  obra  desta  niiua,  eski,  ern  rela(;,'ii> 
a  sua  importancia  e  permaneiicia,  em  parte 
acanliada;  as  suas  diinen^oes  sao  variaveis: 
salislaz  comludo  ao  servi<,'o,  o  em  todo  o  seu 
cumprinvnlo  circulam  wagons  de  1'"  de 
largura  na  bota. 

A  Idvra  da  mina  e  feita  de  um  modo 
simples;  divide-se  o  massi(;o  em  porgoes 
prismalicas,  que  se  cliainain  pilares,  por  meio 
de  galerias  de  avango,  desceiidentes  on  asceii- 
dentcs :  os  pilares  leni  7'",7  de  lado ;  as 
galerias  4"',4,  dos  quaes  se  enliiUiam  2"',G,  • 
licam  de  vao  l^S. 

As  aguas  aflluem  em  pequena  quaiilidade, 
de  verao,  aos  traballios;  nias  no  inverno,  a 
sua  ac-cuniula(;ao  e  sensivel  :  por  em  quanlo, 
como  todas  vem  dos  traballios  superiores,  e 
facil  derival-as  para  os  traballios  velhos. 

A  renovaijao  do  ar  faz-se  por  uma  cor- 
rente  natural,  determinada  pels  differenja  de 
nivel  entre  as  b6cas  da  galeria  geral,  e  a 
mina  Farroho,  estando  para  este  Iim  inter- 
rompidas  lodas  as  outras  communica^oes  com 
o  esgoto  :  comludo  jd  se  faz  com  difliculda- 
de  no  fun  da  galeria  geral,  e  exige  a  prom- 
pta  aberlura  da  galeria  ascendeiile,  ja  indi- 
cada,  que  communique  com  o  exterior  no 
'ilio  das  Fonlainlias 

As  madeiras  necessarias  para  as  construe- 
joes  subierrancas  faltam  toniiilelamenlc  nesia 
localidade  :  tem  de  prover-sc  do  pinlial  de 
Foja,  a  duas  legoas  de  diatancia:  este  pinlial, 
ja  luui  derrotado,  deixarii  em  breve  do  for- 
necer  madeiras,  e  entfio  sera  nccessario  obtel- 
as  do  pinlial  de  Lciria. 
Conliniia. 


R.  COLLEGIO   URSUr.liVO  DAS   CH.VGAS 
EM  COIMBKA. 


PROGRAMMAS. 
185i. 

D14rOSI90ES   BEGULAMENTARKS. 

A  educajao  reiigiosa,  moral  e  civil ;  bem 
como  a  direcjao  especial,  e  toda  a  economia 
particular  de  cada  ediicanda,  coniprelienden- 
do  a  fiscalisajao  do  uso  do  dinlieiro  dado  as 
meninas,  ainda  mesmo  para  seus  diverlimen- 
tos,  objectos  de  rccrcio,  etc.,  C3tao  a  cargo 
das  rcligiosas,  mestras  directoras,  a  qiiem  as 
educandas,  logo  que  admiltidas  e  matricula- 


159 


<la5  jio  cojlegio,  sao  eiilregiies  e  confiadas 
(jela  iiiadre  supeiiora,  disliilnndas  em  di- 
versas  classt'sou  t'amilia?,  preaidida  cada  iinia 
d'eslas  pela  sua  respecliva  meslra  diieclora. 
F.sla*  rcliyiosas  olliam  lainliern  com  espe- 
cial ciiidadn,  cada  uina  na  sua  familia,  pela 
cdiica^ao  pliysica,  pela  saude  das  iiieiiiiias, 
etc. 

A  iiistriic^ao  lilleraria  e  arlislica  corre  sob 
a  iininediata  iiispec^fio  de  uma  religiosa,  a 
prefeila  das  classes:  e  e  dada  em  diversas 
aulas  ou  classes,  a  que  correspoJidem  os  di- 
versos  esUidos  on  ramos  do  eii^ino,  sendo  cada 
uma  d'ellas  regida  pela  sua  respecliva  meslra 
professora,  e  em  couformidade  com  os  esla- 
tutos  e  rejjulamenlos  do  oollegio. 

As  educaiidas  tVequentaui  as  classes,  que 
les  sao  designadas  pela  mad  re  prefeila,  ouvi- 
las  as  respectivas  piofessoras,  e  em  allen^ao 
ii  capacidade  e  adiaiilameiilo  de  cada  uuia, 
seguiiido  depots  no  curso  dos  eshidos  a  ordeiii 
prescripla  iios  regulaiDentos  reipeclivos  e 
programma  geral  do  eiisino,  precedeiido  os 
compelenles  exames  e  approva^oes. 

Oaiiiio  elassico  principia  no  l.°de  outubro, 
e  terinina  eni  agoslo  coin  os  exames,  que 
cada  eddcaiida  deve  fazer  iios  esludoSj  em 
que  esliver  iiabilitada. 

A  exames  publicos  soniente  serao  adiiiit- 
tidas  as  que  forern  julgadas  digiias  d'esla 
distiiicjfio. 

Para  promover  o  adianlamento  nao  so 
e!lf(0  adopLados  os  melhodos  lidos  por  mais 
convciiienles ;  mas  laaibetn  se  empregam  os 
meios  adequados  para  desperlar  eiilre  lodas 
uma  nobre  einula^ao  e  amor  ao  traballio, 
com  louvores,  dislijiegoes,  premios,  etc. 

Oi  paes  oil  proleclores  das  educaiidas,  de 
fora  de  Coiiiibia,  lerao  regular  coiiliecirnenlo 
dr>  eslado  de  aproveilamenlo  das  que  llies 
perleiio'.'m.  Aleiii  d'esla  regular  int'ormajfio, 
serao  escrupulosamenle  avisados  os  paes  das 
educaiidas,  qiiaiido  alguma  d'ellas  se  ache 
do"'iile  com  iiiolealia  de  alguma  gravidade. 

As  educaiidas  to  podein  receber  visilas  de 
seus  paes,  p-eleetorcs  ou  luloies,  lliios  ou 
irmaos,  e  de  oiilras  pessoas,  (pie  venliaui  iia 
coiiipanliia  d'eslas ;  exceplo  no  caso  de  liceiica 
de  seus  paes,  proleclores.  ou  liitores,  direila- 
menle  dechuada  ou  en.vjada  ii  madre  supe. 
riora,  ou  a  respecliva  meslra  direcU  ra, 

Eslas  visilas  so  pod.'m  ler  logar  nos  dias 
sand  ificados,  on  feriados  iincollegio;  euunca 
e;ii  ilias  letlivos,  aiiida  iiiesmo  nas  lioras  vagas 
d.is  anl.is;  exceplo  niiicameiile  as  de  pessoas, 
que  veiiliaiii  de  Coia  da  cidade,  c  de  Ibra  dos 
?nlnirbios;  lis  quaes  purein  iifio  pode  o  col- 
legio  lazer  tiospedagein. 

N:io  sfio  permitlidas  as.  sai'das  temporarias 
;das  educaiidas,  ariida  mesiuo  q  prelexlo  de 
^ferias ;  exceplo  em  caso  de  moleslia  com  deela- 
ra^ao  poreseripto  do  facnllalivo.  As  que  para 
us6^de  banlios  ou  remedios,  salisfeila  a  con- 
;"dii;ao  poila,  sai'reiii  em  agoslo,  ou  allies 
;d  ell'-,  convern,  que   se  recolham   por  todo  o 


mez  d  oulubro,  para  nao  soffrerem  atraso  nos 
estudos,  que  se  leccionam  nas  classes,  desdc 
opriineiro  dia  da  sua  abertura  :  e  cujo  eiisino 
nao  pode  lornar  a  principlar-se  [Mr  cada  uma, 
que  se  recollie  (fora  de  lempo. 

As  educaiidas  esU'io  sujeitas  nao  so  a  eslas 
dispoii^oes  mais  geraes,  mas  lambcm  aos 
deiuais  regulampnlos  e  bons  usos  do  collegio ; 
qiier  sejam  dq  discipliiia  geral,  na  parte 
respecliva;  quer  es^ciaes,  xeJalivos  a  educa- 
jao  e  in-.trucf;ao 

As  corresponde,n.cias  |.gibr5  adojissao  e  en- 
irada  das  nieninas  educaiidas  deveni  ser  diri- 
gidas  a  superiora  do  C'ol(egio;  e  dejjois  da 
eiiliada,  as  respectivas  me^lras  dir.ecloras. 


SOCIEDADE  AZUTICA  DE  LOIVDRES. 

O  professor  Wilson  apresentou  iima  me- 
moria,  em  que  perlende  mostrar,  que  nfio  e 
exaclo,  o  que  ate  aqui  se  tern  dilo  sobre  o 
costume  singular  das  viuvas,  no  ludust-io,  se 
lan^'drem  nas  fogueiras,  onde  se  queimavam 
OS  reslos  de  seus  maridos,  para  serem  devora- 
das  pelas  cliammas  com  estes. 

Segundo  aq.ielle  erudilo  professor  a  ma  in- 
terpretas-io  do  lexto  dos  liyros  dos  Veda=,  que' 
se  invocava  para  auclorisar  aquella  barbari- 
dade,  ordenava  pelo  contrario,  que  as  viuvas 
procurassem  sobreviver  a  sens  maridos,  em 
logar  de  se  immorarem  pom  elles.  O  erro 
estava  na  palavra  agre,  que  on  de  proposito, 
ou  por  inguorancia  se  l^ra  agnhe,  que  quer 
dizer  a  que  ellas  caminbem  para  o  fo"-o  » 
em  quanlo  a  palavra  agrc  diz  pelo  eontrario 
11  que  vao  para  sua  casa.  « 

Aswalayana,  auctor  dos  Grihya  Sutras 
obra  quasi  de  lanta  auctoridade  como  os  Ve. 
das,  confirma  a  opinifio  de  Wilson,  por  que 
designa  ale  a  pessoa  aquem  compellia  acom- 
pauharacasa  a  viuva,  depoisde  assistir  aquel- 
la ultima  ceremoiiia  funebre  de  seu  .naridu 


Com  OS  annos  vem  a  prudeiicia  e  a  sabe- 
doiia.  Com  elles  se  extiiigue  a  ambioao. 
Ama-se  aso lidao,  onde  o  pouco  parecesobe- 
JO.  Iranquillos  em  fim  no  porto,  e  volvendo 
OS  ollios  com  espirilo  verdadeiramente  pl.ilo. 
soph  ICO  sobre  as  lempesladcs  das  paix5e=  a 
agricullura  dos  campos  paternos,  lorna-'se 
nos  a  mais  doce  e  aprazivel  tarefa  ;  on  ao  me- 
nos  ve  se  correr  placidamente  o  rio  da  vida 
qnedenlro  em  pouco  vai  perder-sc  no  Oceniu' 
da  elernidade. 

E.  si£. 


A  iristeza   e  um  dos  mais  poderosos  meios 
de  seduc^ao  de  uma  mullier  formosa. 

•*•    D'-JJ.IS. 


160 


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Morreram.  \    m 


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Existiam. 


Entraram. 


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Existiam. 


Entraram. 


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Morreram.  \ 
Existem.       I 


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Existiam. 


Entraram. 


Sairom. 


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Existem. 


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®  Jn^tittita, 


JORINAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


CONSELIIO  SUPERIOR  DE  INSTRUCCAO 
PUBLICA. 

BELATORIO  ANNUAL. 

1847  —  1848. 

Continuado  de  paj.  151. 

InstruccSo  primaria. 

Ila  1:169  escholas  d'instruccao  priraaria 
pagas  pclo  estado  no  conlincntc  do  reino  e 
ilhas  adjaccntes  (mappa  n.°  "2).  D'estas  sac 
46  do  sexo  feminine,  20  do  methodo  de  ensino 
mutuo,  e  0  resto  de  ensino  simultaneo.  Nem 
todas  se  acham  em  cxercicio;  havcndo  actual- 
mente  a  concurso  64,  e  muitas  d'cllas  sem 
que  tenham  encontrado  oppositores  era  con- 
cursos  repetidos;  e24  reservadas. 

Do  numero  d'escholas  parliculares,  nao 
teve  0  consellio  conhccimenlo  pclos  relalorios 
de  sens  delegados.  Mas  e  de  siippor  que, 
tendo  estado  muilas  escholas  publicas  fecha- 
das  porfalta  de  mestres,  nao  Icnlia  diminuido, 
mas  antes  augmentado  o  numero  de  1084,  de 
que  se  dera  conla  no  relatorio  de  1843. 

Nas  ilhas  e  avultado  o  numero  d'escholas 
parliculares ;  por(|ue  nestas  se  contam  tambera 
as  que  ha  suslentadas,  exclusivamentc,  pelos 
rendimcntos  de  corpos  moraes,  como  sao  as 
municipalidades  c  confrarias.  No  continente 
ha  13  sustentadas  por  legados. 

As  escholas  puljlicas  acham-sc  distribuidas 
pelos  dilTerentes  districtos,  na  forma  seguinte: 
Angra  13  —  Aveiro  08  —  Beja  44  —  Braga 
70  —  Braganca  o6  —  Castello-Branco  49  — 
Coimbra  70  —  Evora  29  — Faro  29— Guarda 
92— Uorla  10  — Funchal  14— Leiria  41  — 
Lisboa  143  —  Portalogrc  40  — Porto  84 — 
Santarcm  1)2  —  Viana  43  —  Villa-Real  09  — 
Viseu  129 — Ponta-Dclgada  16. 

Sao  744  OS  mappas  que  se  tern  recebido  ate 
fins  d'outul)ro  na  secretaria  do  conselho; 
faltando  337  das  cadeiras  actualnicnte  em 
exercicio.  0  numero  de  alumnos  que  frequen- 
taram  as  744  escholas,  e  de  30:180.  Calcu- 
lando  approximadamcnte  a  froquencia  das 
337,  nao  se  pode  reputar  inferior  o  numero 
total  a  43:300,  que  fora  a  frequencia  era  1843. 
A  frequencia  das  escholas  particulares,  de- 

VOL.   III.  OUTUBUQ  1. 


vcndo  augmcntar  pclas  razoes  expostas,  p6de 
com  seguranca  adoptar-se  a  eifra  de  18:780, 
que  marcara  a  frequencia  no  relatorio  do  an- 
no acima  indicado;  sendo  assim  84:276  o 
numero  provavcl  dos  alumnos  do  ambos  os 
sexos,  que  frequentaram  a  instruccao  pri- 
ma ria. 

Suppondo  que  a  populagao  do  reino  nao 
tenlia  augmentado  consideravelmente,  pelas 
causas  que  a  todos  sao  patentes,  desde  os 
ullimos  trabalhos  cstadisticos  ncste  gcnero, 
adoplando-se  era  consequencia  a  cifra  de 
3:412:300,  sera  o  numero  de  alumnos  da  in- 
struccao primaria  para  a  massa  total  da  po- 
pulacao,  na  razao  de  1:33.  Mas  calculando 
pelos  trabalhos  cstadisticos  d'outros  paizes 
era  082:300  o  numero  total  de  individuos 
chamados  pela  lei  a  frequencia  d'cste  ramo 
d'instruccao,  sera  o  numero  dos  que  frequen- 
taram para  o  dos  que  deviara  frequentar,  na 
razao  de  1:  lOf,  pouco  mais  ou  menos. 

Nao  segue  porem  razao  d'egualdade  aquella 
frequencia  cm  todas  as  provincias;  e  neste  sen- 
tido  a  classificacao  observara  a  ordem  seguin- 
te: tras-os-Montes  —  l:8i  —  Beira  1:10  — 
Minho  1:8; —  Alemtejo  1:13 — Algarve  1:18 
— Estremailura  1:16^. 

E  porem  de  notar  que,  firmando-se  este 
calculo  no  conhecimento  que  o  conselho  tem 
das  escholas  particulares  que  existem,  c  ha- 
vendo  muitas,  que  elle  iguora,  porque  a  pczar 
das  repetidas  ordens  e  instancias,  nao  foi 
ainda  possivcl  conseguir  que  os  mestres  par- 
ticulares se  hahilitem  todos,  na  conformidade 
do  art.  84  do  decreto  de  20  de  septembro  de 
1844,  e  possivel  que  ao  menos  nas  terras 
mais  populosas,  como  Lisboa  e  Porto,  haja 
muitas  escholas  particulares,  illegalmente  in- 
slituidas,  c  subtrahidas  a  inspeccao  geral. 

E  por  extreme  diminuto  (forca  6  dizel-o)  o 
numero  de  escholas  primarias  com  relacao  a 
popularao  e  necessidades  do  paiz,  se  o  com- 
pararmos,  nao  diremos  ja,  com  alguns  dos 
Estados  Unidos  da  America,  com  a  Ilollanda, 
Prussia,  Suissa,  c  Escossia,  mas  com  a  Franca 
e  Lorabardia,  aondc  o  desinvolvimento  da 
instruccao  popular  data  de  poucos  annos. 
E  ainda  e  mais  para  lamentar,  que  das  poucas, 
que  ha,  muitas  se  acham  vagas  por  falta  de 
professores ;  e  outras  regidas  por  mestres  pouco 
competentes,  e  tolerados  por  nao  privar  total- 
1834.  Num.  13. 


4^^^*^^ 


162 


incnle  a  massa  peimlar  de  lodo  o  genero  dc 
iiisirucvao. 

Seiilc-sc,  entibiar  o  dcsejo  dc  nuiltiplicar  o 
iiumcro  das  cscliolas  primarias,  quando  sc  vc 
a  pouca  fro(|iK'iicia  das  (|uc  uxislem,  c  a  falta 
de  concurrciicia  iis  que  vaf?am.  Todavia  se  do 
genero  das  que  exisleni  nao  e oiiveni  augiueiitar 
0  numero,  eiu  (luanlo  nao  tivcrmos  professorcs 
tbrmados  em  eseliolas  normaes,  sem  eujo  au- 
xilio  sera  l)aldado  lodo  o  esforco  por  melhorar 
estc  lamo  da  iiistruceao,  oulras  escliolas  ha  dc 
graduacao  inferior,  accomniodadas  as  necessi- 
dades  locaes,  as  quaes  podem  e  devem  ser 
creadas  por  intercsse  publico,  havendo  para  as 
disciplinas,  ([ue  Ihes  compelom,  mestres  con- 
venientenicnle  habiiilados.  Falamos  das  es- 
I'holas  dc  freguezias  ruraes,  que  sc  devem  li- 
milar  ao  cnsino  dc  ler,  escrevcr,  contar,  e 
principios  de  religiao,  c  eujo  ordenado  devera 
ser  inferior  ao  que  actuaimentc  leem  as  oulras 
escholas  do  1.°  grau. 

Jii  esta  idea  foi  proposla  no  relatorio  de 
18 13 :  c  sao  estas  realmeiite  as  escholas  de  que 
mais  bavemos  niisler;  c  para  exempio  da  ne- 
cessidade  d'cllas,  apontarcmos  o  dislricto 
(I'Evora,  era  que  ha  29  escholas  c  112  frc- 
guezias. 

0  consciho  conhece  que  as  circumstancias 
dcsfavoraveis  do  thesouro  offerecem  resi- 
stencia,  quasi  invencivel,  a  praclica  d'esta 
id6a,  jusUlicada  pcia  neccssidade  e  cxigencias 
dos  povos,  que  diariamente  pedem  ao  consciho 
a  crcacao  de  novas  escholas.  Mas  a  inslrucciSo 
popular  e  digna  de  lodos  os  sacrificios;  e  a 
base  da  organizacao  da  sociedade  modcrna, 
e  a  origem  real  da  forca  dos  governos.  Tal- 
vez  que  applicando  ao  paiz  a  praclica  adoptc- 
da  cm  outras  nacOes  illuslradas,  fazcudo  in- 
tervir  na  crcacao  das  novas  escholas  os  rcn- 
dimcnlos  niunicipacs,  coiifiando  o  ensiuo 
d'ellas  aos  parochos  ruraes,  se  podossc  al- 
cancar  o  dcsejado  lira,  sem  gravame  notavel 
do  thesouro. 

Tamheni  o  consciho  espera  que  o  paga- 
racnto  regular  dos  professorcs,  a  medida  que 
0  e^slado  da  fazenda  puhlica  melhorar,  fara 
concorrcr  opposilores  as  cadciras  vagas, 
como  d'anlcs  aconlecia.  Nao  se  pode  crcr 
que  a  causa  do  dcsvio  seja  a  pouquidade 
dos  ordenados,  porque  nesla  parte  nao  somos 
excedidos  por  muitas  nacoes.  Na  Franca  era 
menor  o  vencimento  da  maior  parte  dos  pro- 
fessorcs primaries,  ainda  contando  o  estipen- 
dio  dos  aluninos,  ate  o  principio  do  corrcnle 
anno.  Na  Escossia  e  na  Suissa  nao  podem 
reputar-se  supcriorcs  os  ordenados. 

0  que  todavia  niuito  convira,  e  estabeleccr 
categorias  nas  escholas  existcnles,  com  re- 
f'erencia  a  vcnciracntos  e  collocacao  das  ca- 
deiras.  Assim  ira  suscitar-sc  cn'tre  os  pro- 
fessorcs 0  salutar  principio  da  emulacao; 
assim  se  Ihcs  abre  uma  carreira  dc  espcran'cas, 
c  aja.ostra  um  melhor  future;  e  sera  conse- 


quciicia  Icgiiima  6  empcnhar-sc  cada  qual 
por  coiiscgiiil-o.  Na  verdadc  o  professor,  que 
vc  no  prescntc  o  quadro  de  lodo  o  scu  future, 
csfria,  esiuorecc,  e  cai  na  iudiffercnca. 

Imporla  a  despesa  da  inslrucrao  ])riniaria 
no  coulinentc  c  iUias,  rcgiilando-a  pela  verba 
votada  no  ultimo  oreameuto,  C}u  10S:823^77Jj 
rs.  Siiblraliindo  d'csla  somma  o  que  provavel- 
mcnte  sc  dcspcude  com  a  parte  iiwtcrial  das 
escholas,  pouco  exccde  a  despesa  dc  cada 
alumno  a  1^000  rs.  por  anno. 

E  superior  csta  cilia  a  de  outros  paizes 
princi|)almeule  da  Uollanda,  .Suissa,  Escossia, 
c  Prussia ;  portjue  a  maior  frequencia  das 
escholas  n'aquelles  paizes  diminuc  o  custo 
dc  cada  um  dos  alumnos,  ainda  dado  o 
mesmo  ordenado  do  professor.  Mas  nao  e 
lanta  a  dilTcrenca,  como  ji  primeira  vista 
parcco;  porque  saindo  da  bolsa  dos  alumncs 
uma  parte  dos  veucimentos  dos  professorcs, 
OS  ordenados  pages  pelo  cstado,  on  pelas 
munieipalidadcs,  sao  iuferiores  aos  nossos. 

Ncm  fara  allerar  esles  calculos  o  facto 
de  que  ncm  lodos  os  alumnos,  inscriptos 
nos  rcspectivos  mappas,  frequentam  lodo  o 
anno;  sendo  cerlo  que  nas  freguezias  ruraes 
se  cmpregam  nos  Irabalhos  do  campo,  c  nao 
frequentam  as  escholas,  grande  parte  do  an- 
no, OS  alumnos  das  classes  laboriosas;  por 
que  csta  mesma  nota  sc  cncontra  nos  re- 
la  lories,  c  trahalhos  csladisticos  dc  lodos  os 
outros  paizes. 

Avaliando  a  iiitellectualidade  das  differenles 
provincias  do  reino  pela  frequencia  e  apro- 
veitamenlo  d'estas  escholas  primarias,  ap- 
parecc  em  resullado,  que  a(|uella  csta  mais 
desinvolvida  nas  tres  provincias  do  Miubo, 
Tras-os-Monles,  c  Beira ;  c  menos  nas  do 
Alemlcjo,  e  Algarvc.  E  acha-se  estc  facto 
em  harmonia  com  outro  facto  capital:  nas 
tres  primciras  provincias  c  aonde  se  cncon- 
tram  melhorcs  professorcs  cm  geral,  c  aondc 
OS  concursos  sao  mais  povoados  dc  oppo- 
silores. 

0  cnsino  d'este  ramo  d'inslruccao  acha-se 
confiado  a  1:235  jirofessores;  havendo  um 
ajudante  cm  cada  cscbola  dc  ensino  mutuo, 
c  40  subslitutos  cm  escholas  de  ensino  si- 
multanco,  cujos  professorcs  vilalicios  se 
acham  impedidos  (mappa  n.°  2).  Naquelle 
numero  se  conlam  46  mcslras  de  racuinas; 
c  estc  pequcno  numero  indica,  o  quanto  o 
sexo  fcminino  ainda  sc  acha  desfavorecido 
na  reparticao  do  ensino  publico. 

JnUruccao  secundaria. 

Rcpartido  por  lyceus  e  escholas  dispersas 
pelas  povoacoes  mais  notavcis  do  rcino  sc 
acha  csle  ramo  d'instrucciio.  Ha  5  lyceus 
ma  lores  cm  Lisboa,  Porto,  Evora,  Coimbra 
e  Braga :  e  acham-se  esles  completes,  scexce- 
ptuarmos  algumas   cadciras   c  substituijoes 


-is^>»S! 


C  ,N" 


163 


que  nao  teem  aehaJo  concurrentes ;  e  3  ca- 
dciras  uo  lyceu  d'Evora,  uma  uo  do  Lisboa, 
C  outra  era  Braga,  que  nao  tecra  sido  postas 
a  concurso,  por  nao  liavcr  probabilidadc  dc 
sereiu  frcqucniadas,  segundo  as  informacoes 
chegadas  ao  conselho. 

Nos  oiilros  districlos  acham-se  conslituidos 
OS  )ycciis  de  Santarcm,  e  Yiseu,  Augra,  e 
Funchal;  e  agiiardam  a  concessao  d'edilicio, 
para  se  constituirem,  os  de  Leiria,  Castello- 
Branco,  e  Portalegrc.  Em  todas  as  outras 
capitacs  dc  dislricto  ha  os  elementos  para  se 
constituirem;  mas  nao  se  teem  ainda  habili- 
tado  OS  antigos  professores,  com  os  exames  e 
provas  publicas  das  disciplinas,  que  o  deereto 
de  20  de  seplembro  dc  1844  incorporou  nas 
cadeiras,  ([ue  regiam,  para  constituirem  os 
cursos  biennaes. 

Annexas  aos  lyceus  ha  nas  povoacoes  mais 
eoHsideraveis  79  cadeiras  de  grammatica  e 
lingua  latina,  e  2  de  philosophia  racionai  e 
moral  (mappa  n.°  3). 

Sao  frequenles  as  reprcsentacoes  que  os 
povos  dirigem  a  este  conselho,  pcdindo  a 
creacao  dc  cadeiras  de  latim.  E  natural  o 
dcsejo  nos  paes  de  familias  de  habilitarem 
scus  iilhos  a  carreira,  a  que  os  destinam,  sem 
o  sacrilicio  de  dcspesas,  e  da  ausencia.  0 
conselho  porcm,  pesando,  como  deve,  os  in- 
teresscs  de  todas  as  classes,  nao  julga  de 
convenicncia  a  multiplicacao  demasiada  d'a- 
quellas  cadeiras;  nao  so  porque  hoje,  que  a 
instruccao  primaria  tern  akancado  maior 
desinvolvimcnto,  se  nao  podc  justificar  a 
necessidade  d'aquolle  ramo  da  secundaria, 
como  complemcuto  da  primaria,  outr'ora  es- 
eassa  e  defieientc,  senao  tambem  com  o  pro- 
posito  de  nao  desviar,  da  carreira  propria  dc 
suas  circumstancias  sociaes,  a  muitos  indi- 
viduos  que,  fascinados  com  a  inslrucciio  da 
lingua  latina,  se  julgam  dcprimidos  e  rebaixa- 
dos  com  0  destiiio  a  cultura  das  artes;  pro- 
vindo  de  tao  infundada  vaidade  a  falta  de 
braces  cm  muitos  ramos  de  industria,  de  que 
a  sociedade  tirara  mais  uecessarias  c  solidas 
vantagens.  Accresce  ainda  a  regularidade  do 
ensiuo,  que  nao  e  de  csperar  tanto  d'uraa 
cadeira  -so  e  isolada,  como  dos  centres  lit- 
terarios,  estabelecidos  nos  lyceus.  Assim  que, 
no  intuito  de  conciliar  os  intercsses  locaes 
com  OS  geraes  do  estado,  o  conselho  tem  sido 
cscrupuloso  ate  em  complctar  o  nuraero  das 
120  cadeiras  coneedidas  ao  estudo  da  lingua 
latina. 

A  instruccao  secundaria,  Senhora,  no 
_estado,  em  que  ella  se  acha  cntre  nos,  c  com 
rela,cao  aos  fins  a  que  hoje  pode  scr  dcstina- 
da,  nao  prccisa  de  ser  mais  diffundida.  Nin- 
gucm  a  procura  so  com  vistas  de  se  instruir; 
.e  OS  que  a  frequentam  e  para  sc  habilitarem 
aos  emprcgos.  0  desiuvolvimcnto,  que  ella 
apresenta  no  paiz,  habilita  apenas  para  os 
estudos  superiores  c  professiouacs,  e  para  a 


carreira  ccclesiastica.  A  frequencia  mingoada 
dc  alguns  dos  lyceus,  e  dcmuitas  das  cadeiras 
annexas,  hem  clararaente  o  demonstra. 

Nao  satisfaz  ella  assira  as  necessidades 
publicas;  porque,  .seiido  certa  a  instruccao, 
que  completa  o  desinvolviraento  do  espirUu 
humano,  e  o  habilita  para  as  occupajOes 
mais  ordinarias  da  vida,  mal  se  pode  con- 
ceber,  que  o  consiga  com  os  estudos  clas- 
sicossomente.  Aagricultura,  ocoramercio,  ea 
industria  demandam  conhecimcntos  de  ramos 
philosophicos  indispensaveis.  As  sciencias 
naturaes  com  applicarao  as  arlcs  devem 
ser  uma  parte  integrante  do  ensino  .secun- 
dario.  Assim  o  pensou  e  Icgislou  V.  Mages- 
lade  no  deereto  de  17  de  novembro  de  1836, 
c  j)rudentemcntc  o  regulou  no  de  20  dc  se- 
ptembro  de  1844,  commettendo  as  sabias  li- 
foes  do  tempo,  e  da  experiencia,  a  creacao 
das  disciplinas  dc  sciencias  industriacs  nos 
lyceus  do  reino,  conforme  o  cxigisscm  as  ne- 
ces.sidades  locaes. 

E  este  0  ponto  a  que  hoje  devem  convergir 
as  nossas  attcnfoes,  em  vcz  de  mulliplicar 
cadeiras  dc  iatinidade.  Mas  o  ensino  dos 
ramos  industriacs  no  ponto  de  vista  practice, 
que  respeita  a  instruccao  secundaria,  carece 
do  conhecimento  dos  methodos,  e  practicas  sc- 
guidas  nos  povos  illustrados,  que  ha  niuito 
nos  preccdem  neste  genero  d'instrucfao,  com 
que  teem  cnriquecido  e  nobilitado  os  seus 
paizes. 

Os  cslahclecimentos  da  instruccao  secun- 
daria, que  enviaram  a  este  conselho  os  map- 
pas  da  frequencia,  foram  os  lyceus  de  Lisboa, 
Evora,  Santarcm,  Braga,  Coirabra;  e  61 
escholas  annexas.  0  numcro  de  alumnos  ncstes 
estabelecimentos  foi  dc  2:098;  sendo  maior 
a  frequencia  cm  Braga  e  Lisboa,  e  rauito  in- 
signiHcante  em  Santarcm.  A  despesa  do 
estado  com  estes  estabelecimentos  orca  por 
30:833^325,  regulando-a  pelas  verbas  vota- 
das  no  ultimo  orcamento:  importando  assim  a 
despesa  dc  cada  alumno  em  17^358',  e  de- 
vendo  ainda  subtrahir-se  d'esta  cifra  1^920 
rs.  que  cada  um  paga  de  propinas  de  ma- 
triculas. 

Nao  se  achara  superior  esla  despesa  a  dc 
outros  paizes,  em  que  todavia  a  freijuencia  e 
muito  maior;  porque  tambem  n'elles  sao 
maiores  os  ordenados  dos  professores,  c  mais 
dcspendiosa  a  administracae  litteraria  ;  sendo 
qua  nesta  despesa,  nao  se  ha  de  altender  so 
aos  encargos  do  tbesouro,  mas  aos  das  pro- 
vincias  c  municipios,  que  para  ella  concor- 
rcra . 

Sentc  profundamente  o  conselho  nao  poder 
calcular  a  frequencia  neste  ramo  d'instruc- 
cao,  com  relacito  a  populacae  em  geral,  e  a 
das  provincias  cm  especial.  Faltam-Ihe  porcm 
OS  documentos,  em  quedcvcria  lirmar  os  seus 
calculos. 

Qucixam-se   alguns    dos  commissaries   de 


164 


osluilos,  da  farilidade  roiii  quo,  om  ostiulns 
iiiiperiores,  e  mormi'iitc  iias  liabililarOcs  cc- 
clcsiasticas,  sao  ailniittidos  iiulividiios  com 
siniplps  attcslados  dr  frcqiiencia  cm  cscliohis 
particulares:  fazcndo  este  abuso  diiiiiiiiiir 
muito  a  frcquoncia  nos  lyccnis,  cm  ([iiu  so 
ohsorva  mais  rcgularidade  no  ciisino,  e  rif^or 
de  disciplina.  No  que  e  do  csUulos  suporiorcs, 
c  clicgado  0  prazo  de  so  nao  admillircm  a 
cxamcs  d«  capacidadc,  scnao  os  aliimnos 
(jue  mostrai'om  approvacao  previa  nos  lyccus; 
Na  repartieao  ccclesiastioa  nao  deve  con- 
sentir-se  a  indulgencia,  sendo  que  nos  func- 
cionaiios  d'esia  ordem  e  que  se  rcquer  mais 
solida  inslrucrao,  c  pureza  de  costumes.  Julga 
pois  0  consellio  de  summa  convenicncia,  que 
se  insinue  aos  preiados  diocesanos  o  es- 
cruptilo,  que  deve  obscrvar-se  cm  nao  admlt- 
lir  a  c\ames  os  ordinandos,  que  nao  Icgi- 
(imarem  o  seu  aproveitamcnlo  por  docu- 
raentos  legaes  e  insuspeilos;  dando-sc  pre- 
I'erencia  aos  babilitados  nos  lyceus. 

E  summamente  attendivol  a  rcquisicSo, 
que  alguns  delegados  do  consclho  fazem, 
(i'um  rcgulamento  cconomico  e  litterario  pa- 
ra os  lyceus.  0  conselho,  querendo  i)roceder, 
como  ihe  cumprc,  em  assumpto  de  tanta 
gravidade,  quiz  de  primeiio  ouvir  os  votos 
dos  principacs  lyceus  do  rcino,  e  rcsoivcr 
com  madureza  um  negocio,  cm  que  a  preci- 
pitacao  muito  podia  compromclter  a  instruc- 
cao.  Ainda  nao  recolhcu  os  votos  de  todos 
OS  lyceus  eonsultados;  c  logo  que  os  obtenlia, 
nao  se  deseuidara  de  um  objeclo,  que  tern 
incessantemente  occupado  a  sua  altencao.  E 
por  esta  occasiao  permitta  Y.  Magestad'e,  que 
0  conselho  lembre  a  urgepcia  da  resolucao 
do  projccto  das  habilitacOos  dos  professores 
de  instruccao  secundaria,  remeltido  cm  con- 
suUa  de  4  de  marco  de  1813;  porque  deve 
esse  trabalho  fazer  uma  parte  csscncial  do 
regulamento  geral  dos  lyceus. 

Mas  0  conselho  tern  desejado  supprir  com 
instruccoes  rcmettidas  aos  dir^ctores  dos  ly- 
ceus, a  falta  d'aquelle  rcgulamento:  e  nunca 
podia  receiar  a  notavel  irregularidade  que  o 
reitor  do  lyceu  de  Santarem  diz  em  seu 
rclatorio  tcr  havido  ncste  cstabclecimenlo, 
que  no  estado  nascenle  devc^ra  comecar  por 
dar  provas  de  mais  amor  iis  letras.  0  conse- 
lho porem  espera,  que  podera  introduzir 
n'elle  a  devida  regularidade,  sustentando 
com  firmcza  e  resolucao  a  cxccucao  das  leis. 

Parece  digna  de  altender-se  a  rcquisicao 
do  commissario  d'cstudos  de  Lisboa,  d'um 
secretario  para  a  sua  repartieao.  A  allluencia 
de  negocios  na  capital,  e  n'um  districto  de 
grande  extensao,  parece  tornar  indispensavel 
a  creacao  d'aquelle  logar;  que  talvez,  me- 
diante  alguma  gratilicacao,  possa  ser  des- 
empenhado  pelo  secretario  do  lyceu.  Tam- 
bem  parece  convenientc,  a  perfeicao  e  cora- 
modidade  no  cnsino,  a  lembranca  proposla 


pelo  mcsmo  commissario,  de  confiar  o  cnsino 
do  IVancez  c  iiiglez  singularmente  a  eada 
um  dos  .2  professores  d'cssas  linguas,  ([ue  ha 
no  lyceu  de  Lisboa. 

A  lembranca,  que  propoc  0  commissario 
d'cstudos  de  Hraganca,  de  so  conccder  o  edi- 
licio  do  exiincto  convcnto  de  S.  Francisco 
d'aquella  ('idade  para  casa  do  lyceu,  e  digna 
de  ser  tomada  por  Y.  Magestade  na  mais 
scria  consideracao;  porque,  sem  esse  ou  outro 
(|iiali|uer  edilicio  adequado,  nao  sera  possivel 
inslaUar  a(|uello  lyceu. 

A  I'alla  deeditieios  publieos  para  collocacao 
das  cscholas  lanto  primarias,  como  sccunda- 
rias,  epontoemque  locam  todos  os  relatorios 
chegados  ao  conselho.  A  parte  material  das 
cscholas  mercce  de  prefcrencia  a  mais  seria 
sollicilude,  pela  inllueucia  que  tem  sobre  a 
parte  intellectual  e  moral  dacducacao.  Escho- 
las  nas  casas  parliculares  dos  professores,  nem 
podem  ser  vigiadas  tao  livremente  pelo  publi- 
co e  pelas  auctoridades  inspcctoras,  nem  obri- 
gam  OS  ])rofessores  a  decencia  c  aceio,  em  que 
devem  servir  de  espelho  aos  sens  disi'ipnlos. 

A  reprcsentacao,  que  faz  o  commissario  da 
Guarda,  sobre  a  necessidade  de  uma  cadcira 
d'instruccao  primaria  em  Quadrazaes,  e  da 
transferencia  da  cadeira  de  lalim  deLinhares 
para  Manteigas,  carece  de  mais  pausada 
meditacao.  Em  tempo  ojqiortuno  propora  o 
conselho  o  que  mais  convenha. 
CoiUinua. 


A  POESIA  SLAYA  MODERNA. 

Continuado  de  j>ag.  142. 

Bem  extranho  nos  parece  ter  passado  ate 
aqui  desapercebida  a  enormc  influencia  pro- 
duzida  pelos  gonshirs  sobre  os  poetas  sabios 
da  Slavia  contcmporanea,  nao  so  cm  Belgrade  e 
Agram,  mas  tanibcm  em  Praga,  cm  Petersbur- 
go  e  cm  Moscou.  Se  muitos  dclles  se  teem  fi- 
nalmente  desviado  da  trilha  cosmopolita,  se 
teem  voltado  de  novo  as  cores  locaes,  a  na- 
tural, ao  singclo,  as  inspiracoes  nacionaes, 
devcm-no  ao  youslo.  Para  mostrar  como  os 
poetas  illyrios  eservios  teem  tomado  os  gous- 
lars  por  modelo,  o  melhor  mcio  c,  como  ja 
dissemos,  citar  aqui  e  acola  alguns  cantos  po- 
pulares,  c  fazer  senlir  como  dies  se  relleclem 
na  poesia  dos  saloes.  Limitar-nos-hemos  neste 
inluito  a  algumas  indicacoes  essenciaes.  En- 
tre  OS  Illyrio-Servios,  tres  poetas  contempo- 
raneos,  Subbotitj,  Stanko-Vraz  e  Ostrojinski; 
— na  Russia,  na  Polonia  e  na  Bohemia,  Ler- 
montof,  Visniviski  cKolar,  servir-nos-hao  pa- 
ra characterizar  a  rcnascenca  da  poesia  slava, 
debaixo  da  inlluencia  do  youslo,  nos  seus 
aspcclos  principacs.  Como  esta  renasccnca  Icve 


165 


0  scu  principio  cntre  os  lUyrio-Scrvios,  i.  bera 
que  entre  clles  se  cstudc  priinciro. 

De  raca  pura  scrvia,  Subbotitj  tornou-sc  a 
gloria  da  voievodia,  em  quanto  Stanko-Vraz, 
natural  da  Slyria,  n'um  solo  quasi  conipleta- 
mente  germanisado,  educado  nas  escholas 
allemas,  achou  cm  si  bastante  energia  para 
arcar  com  os  prejuizos  de  nascimento  e  de 
cducarao,  e  soube  por  impulse  proprio  re- 
niontar-se  as  origens  as  mais  puras  da  iiispi- 
rafao  slava.  Pelo  que  respeita  a  Oslrojinski, 
croata  da  borda  do  mar,  o  scu  merecimcnto 
consiste  em  ter  side  o  primeiro  queabriuaos 
contemporaneos  a  eslrada  da  nova  pocsia.  De 
Ostronjinski  cilarei  apenas,  eomo  amostra,  a 
sua  ode  sobre  a  origcm  do  (jousle,  intilulada 
Uzrotsi,  palavra  que  se  nSo  pode  Iraduzir  nas 
nossas  linguas  racionalistas,  mas  que  so  por 
si  involve  uma  philosophia  inteiraniente  nova, 
porque  compreliende  na  sua  signilicacao  as 
causas  e  os  prodigies, — dois  factos  idenlicos 
para  todo  o  Sluvo  verdadeiro. 

«  Urn  bravo  iunak  atravessa  a  cavallo  a 
floresta  montanhosa;  fatigado  para  juncto  de 
uma  faia  carcomida,  prende  a  sua  cavalga- 
dura  ao  tronco  da  arvore,  e,  deitando-se  a 
sua  fresca  sombra ,  adormece  n'um  somno 
profundo.  Do  concave  da  faia  que  se  entre- 
abre,  Ihe  apparece  em  sonhos  a  vila,  e,  com 
urn  sorrir  divino,  Ihe  diz:  Heroe,  filho  dhe- 
roes,  lembra-te  que  la  em  baixo,  nas  planicies, 
defiuham  os  teus  irmaos,  escravos  de  exlran- 
geiros:  vae-te  a  libertal-os.  »  Elle  ergue-se  de 
urn  pulo,  corre  armado  para  seus  irmaos, 
e  conscgue  despedacar-lhcs  as  algenias.  Nao 
tardou  que  vicsse  o  inverno  coi)rir  com  o 
sen  manic  de  geada  a  floresta  montanhosa. 
0  joven  vencedor  torna  a  subir  pclos  atalhos 
conhecidos;  busca  a  faia  idosa  inspiradora, 
debaixo  da  qual  tivera  a  visao,  derruba-a 
com  0  seu  machado,  fabrica  um  goitsle,  e 
presentea  com  olla  um  ccgo  rapsoda  da  sua 
tribu,  para  Ihe  ajudar  a  cantar  os  braves  que 
deram  a  liberdade  ao  povo.  0  gouslar  co- 
mefa  o  seu  canto  beroico,  mas  cstrea-se  in- 
vocando  arila  da  floresta,  sem  a  qual  o  heroc 
se  nao  lembraria  de  combater  pelo  livramento 
dosseus.  Invoca  a  t'l/fl,  joven  e  immortal,  dos 
seus  avos,  que  alcancou  o  triumpho  da  sua 
tribu,  e  a  quem  unicamente  o  heroe  devcu 
a  id^a  de  transformar  a  faia  idosa  no  sagrado 
gousle  que  perpctiia  na  terra  o  culto  dos  ge- 
nios  superiores.  » 

0  Illyrio  dos  Alpcs  Stancko-Vraz  desinvol- 
veu  nas  suas  baladas  mais  de  um  pensamcn- 
to,  que  antes  delle  tinha  ja  inspirado  ot^gous- 
lars.  Basta  comparar  estas  baladas  com  as 
pecas  mais  ou  menos  analogas  da  coUeccao 
consagrada  por  Vuk  ao  gouslo.  Entre  os  poe- 
metos  de  Stanko-Yraz,  escolheremos  um  inti- 
tulado  0  Cacador: 

«  Ja  OS  carvalhos  perderam  afolha;  as  nos- 
sas montanhas  ergucm  ao  ceo  as  suas  cabe- 


cas  calvas,  como  velhos  que  senlem  rarear-Fhcs 
as  ultimas  cans.  A  buzina  rctine  pclos  bos- 
i|ues,  o  latir  dos  caes  estrugc  os  vallcs  c  os 
campos.  Todo  entrcgue  ao  prazer  que  o  ar- 
rasta,  um  joven  cafador  passa  a  galope,  per- 
seguindo  os  gamos  e  as  lebres. — No  anno  .se- 
guinte,  ao  despontar  da  primavera,  as  monta- 
nhas despidas  de  folhagem  convidam  o  joven 
cacador  a  entregar-se  de  novo  aos  mesmos 
prazeres;  mas  ja  nao  e  a  caca  quem  o  arre- 
hata.  Em  roda  delle  tudo  e  silencio:  a  sua 
buzina  coberta  de  p6  esta  dependurada  da 
parede;  os  seus  librcos  definham  presos.  £ 
melhor  caca  a  que  persegue:  suspira  de  amo- 
res  por  uma  donzella.  » 

0  canto  popularcitado  porYuk,  que  tracta 
0  mesnio  objecto,  considera  tambem  a  con- 
quista  do  corafao  de  uma  mulher  como  a 
melhor  carada  (naibolii  lov)  que  o  homem  po- 
de fazer  ca  na  terra. 

n  Parti  ao  romper  da  aurora  para  ir  cafar 
0  veado  nos  nossos  montados;  e  o  sol  que 
declinava  ja  comecava  a  lancar  sobre  mim  a 
sombra  dos  vcrdes  pinheiros.  Eis  que  deparo, 
sozinha,  deilada  ao  pe  d'uma  arvore,  com 
uma  linda  donzella,  com  a  cabeca  sobre  um 
feixe  de  trevo  cortado  de  ha  pouco,  com  duas 
brancas  rolinhas  sobre  o  seio,  e  um  veadozi- 
nho  a  seus  pes.  Feliz  com  a  minha  preza,  la 
passei  a  noite.  Dei  ao  meu  cavallo  o  feixe  de 
trevo  para  cear,  ao  meu  falcao  as  duas  roli- 
nhas, aos  mens  caes  o  veadozinho,  e  guar- 
dei  para  mim  a  donzella  formosa.  » 

Outra  piesiia  collacionada  por  Vuk,  mostra- 
nos  debaixo  dotitulo:  Amor  r-eciproco,  uma 
rapariga  lavando  a  roupa  da  sua  familia  na 
toTrcnte  arrebatada.  Seu  amante  que  passa, 
vendo  desenhadas  na  area  do  ribeiro  os  seus 
pes  brancos  como  a  neve,  suspira  ao  vel-os,  e 
pergunta-Ihe  se  qucr  ser  delle.  «  Oh !  respon- 
de  ella,  se  cu  podes.se  ser  tua,  lavar-me-hia 
nesse  dia  com  leite  para  me  tornar  ainda  mais 
alva,  esfregafia  as  faces  com  agua  do  rosas 
para  as  tornar  ainda  mais  vermclhas,  e  aper- 
tar-me-hia  com  um  cinto  de  seda  para  me 
tornar  ainda  mais  csbclta.  »  Uma  balada  de 
Slranko-Vraz  mostra-nos  do  mesmo  modo  a 
joven  Bielana,  que,  dcsde  a  aurora,  ,se  vai 
lavar  a  ribeira.  0  sol  nascente  reflecte  no 
espelho  do  rio  as  suas  formas  encantadoras. 
Nao  se  pode  imaginar  coisa  mais  linda.  c  Os 
seus  olhos  sao  duas  estrellas  que  saem  scintil- 
lantcs  do  seio  de  uma  nuveni,  suas  faces  sao 
duas  rosas  que  o  sol  acaba  de  entre-abrir, 
seus  labios  sao  tenros  como  uma  maca  que 
comeca  de  amadurecer.  Ella  mcsma  se  admi- 
ra  mirando-se  no  crystal  das  aguas,  e  entra  a 
dizer: — so  me  falta  a  coroa  de  casada,  para 
que  a  minha  belleza  seja  completa.^ Sozinha, 
julgava  que  ninguem  a  ouvia  ;  mas  do  pincaro 
de  um  rochedo,  um  mancebo  que  a  admira 
e  a  escuta,  corre  para  ella.  Apresenta-Ihe  a 
coroa  de  desposada,  e  cobre-a  de  beijos,  di- 


166 


zeiido-llie:  Agora  es  minha  para  semprc!  — 
Pela  pasclioa,  dopois  de  acabada  a  sancta  ([ua- 
resma.  celel)ra-se  o  casaraento,  c  Biclana  di- 
losa  caminha  da  egreja  para  casa  de  scu 
esposo.  » 

Dos  tres  poclas  aquelle  que  transportou  com 
raais  succcpso  a  inspiracao  do  ijouslo  para  a 
poesia  escripla  foi  Suhbotitj.  Para  nos  con- 
vencermos,  liasla  (.•cmiparar  com  os  cantos  do 
poeta  illyrio  os  caiitus  popuhircs  collacionados 
por  Viik.  As  Aoilcti  d'lneerno  do  hem-amado 
iuspiiaram  aos  tioiishirs  duas  cslrophcs  de  uma 
perfeita  naturalidade: 

«  0  furacao  noilurno  sopra  la  cm  baixo 
na  plaiiicic,  ia  cm  cima  sibilla  contra  a  for- 
taleza;  mas  na  fortaluza  uma  joven  despo- 
sada  diz  surrindo:  soprae,  aciuiloes,  durante 
as  compridas  noitcs  d'inverno.  —  Ouando  cu 
dormia  em  casa  de  meus  paes,  estendida  sobre 
novo  almol'adas  bem  moles,  tondo  em  cinia 
de  mini  nove  cobertas,  entao  as  noites  mais 
curias  me  pareciam  compridas.  Agora  dur- 
.  mo  juncto  do  men  voino,  sobre  urn  so  col- 
chao,  e  com  uma  so  cobcrta.  As  noites  mais 
compridas  parccem-me  curtas. » 

Ve-se  bem  que  Subbotitj  se  lembrava  d'estas 
eslrophes  na  sua  ode  intitulada  Momkhe  i 
Grmliavina  (0  Amaiite  e  a  Tempestade) : 

«  0  corisco  rasga  as  nuvcns,  o  raio  fendc  os 
ceos.  Troae,  trovoes,  brilhae  relampagos  scin- 
tillantcs,  para  illuminar  o  atalho  que  var  dar 
a  casa  da  minha  amada!  Afiigentae  os  maus 
olhos  para  que  nenbum  maldizente  me  pre- 
sinla,  e  cu  possa  acak'utal-a  nos  meus  bracos 
ate  a  aurora. — Redobra  o  vento,  arranca 
iroso  0  colmo  das  choupanas,  desfaz  os  tectos 
e  leva  os  scus  deslrocos  pelos  ares,  desarrei- 
ga  as  arvores  que  me  cercam;  mas  eu,  tran- 
quillo,  vou  cantando  os  meus  amores.  As  ri- 
beiras  vaocheias,  e  cnibaracando-me  o  cami- 
nho,  ameacam  de  submergir-me  na  passagem. 
Todos  OS  vivenles  erguem  ao  ceo  um  grito  de 
angustia;  mas  no  meio  deste  tumulo  da  na- 
tureza  que  a  cada  passo  se  me  abre  debaixo 
dos  pes,  0  astro  do  amor  me  allumta,  e  desfaz 
com  sens  raios  os  tcrrores  da  morte.  Canto  o 
que  mais  amo,  e  so  a  terra  neste  momento 
me  engulisse  nos  scus  abysmos,  en  Biorreria 
cheio  todo  de  amor.  » 

As  lamcntacoes  funebres  sobre  as  campas 
dos  mortos  oceiipam  um  logar  distincto  nos 
cantos  do  gouslo, 

«  Desabou  uma  pedra  da  niontanha  de  Bu- 
da;  caindo  no  valle  matou  um  mancebo,  o 
formoso  Andre.  Ao  cliegar-lhc  csla  notieia,  a 
pobre  noiva  d'Andre  disse  comsigo: — Ai !  se 
eu  me  puzer  a  grilar,  se  eu  repetir  em  tristes 
endeixas  todas  as  virtudes  do  meu  amado,  as 
minhas  endeixas  repetidas  do  bocca  em  bocca, 
acabarao  por  passar  para  os  labios  sarcasti- 
cos  desses  que  nunca  amaram.  Se  para  eter- 
nizar  o  scu  nome,  eu  Ibe  erguer  um  mausoleo 
n'um  longo  poema  impresso,  o  livro  passara 


dc  mao  cm  mao  ate  chegar  as  dos  niaus.  Mais 
me  val  o  calar-rac,  6  lu  que  dcvias  ser  meti 
esposo;  c,  longe  do  mundo,  elevar-te  dentro 
do  nuMi  corafSo  magoado  um  tumulo  que  nao 
possa  scr  manchado.  » 

Parece-me  diilicil  encontrar  cousa  mais  ma- 
viosa  e  ao  mesmo  tempo  mais  slava  do  que  » 
seguinte  elegia  dc  uma  das  macs  bosnias: 

«  Unica  IVlicidade  de  sua  mile,  o  joven 
Konda  niorreu.  Nao  podendo  apartar-se  do 
corpo  dc  sou  tillio,  a  pobre  mae  entcrra-o  jun- 
cto da  sua  babitacao,  n'um  bosque  de  verdn- 
ra.  Debaixo  de  uma  laranjeira  de  fructos  dou- 
rados  se  crgue  o  tumulo  de  Konda.  Todas  as 
manhas,  a  mae  desconsolada  vai  dcitar-se  so- 
bre a  campa,  e  conversa  com  a  alma  do  seu 
filho.  —  Meu  pobre  (ilho,  dize-me,  a  terra  po- 
sa-le  muito?  o  tcu  peilo  esta  opprimido  pelas 
taboas  do  tcu  caixao?  Um  som  lastimoso  e 
suave  sai  das  entranhas  da  terra: — Nao  e  o- 
peso  da  terra,  6  miuba  qucrida  mae,  nera  as 
taboas  do  meu  caixao,  que  me  0|)[)rimera;  » 
((ue  me  atormenta,  6a  dor  e  a  aflliccao  da  mi- 
uba noiva.  Todas  as  vezes  que  clla  cbora,  a 
minba  ahna  geme  nos  ceos,  e  quando  chega  a 
desespcrar-sc,  os  meus  ossos  qucbram-se  em 
batendo  uns  nos  outros  dentro  do  tumulo.  » 

Em  Subbotitj  encontra-se  um  canto  fune- 
bre,  que  por  todos  os  motives,  tcm  o  seu  fo- 
gar  nmrcado  a  par  d'esta  endcixa  tocante; 
iulilula-se  o  Orvalho,  e  do  orvalho  do  cora- 
cao  de  que  se  tracta  : 

n  Que  ligura  e  aquella  que,  a  lardo  e  de 
manba,  se  ve  sentada  aos  pes  da  cruz  musgo- 
sa?  sera  acaso  a  de  uma  menina  que  perdeu 
por  aqui  um  annel  de  pedras  preciosas,  ou 
aigiima  preuda  rica?  Ou  antes  a  de  um  aman- 
te  que  vem  encontrar-se  aqui  com  o  anjo  dos 
seus  pensamentos? — Nao  e  uma  menina  que 
l)rocura  um  objecto  perdido,  nem  um  aman- 
te  procurando  aquella  que  guarda  a  sua  fe; 
e  uma  pobre  miie  que  vem  chorar  sobre  o 
tumulo  dc  scu  lilho  unico.  Aqui  vem  todos  OS 
(lias  desl'azer-se  em  pranto.  Das  suaslagrimas, 
umas,  derramadas  quando  nascc  o  sol,  sao  pa- 
ra chorar  o  lilho  que  ja  nao  exisle;  as  outras, 
derramadas  quando  o  sol  se  poe,  sao  para 
conjurar  a  Deus  que  a  leve  tambem  para  si. 
As  lagriraas  quedcrrama,  para  pcdir  aos  ceos 
que  a  reunam  a  seu  biho,  brilham  ao  luar 
como  as  perolas  mais  puras;  e  as  lagrimas  que 
derrama  sobre  a  morte  de  seu  lilho,  sobem. 
orvalho  ardcnte,  nos  raios  da  aurora,  que  as 
lovam  para  Deus.  « 
Conliniia. 


METEOROLOGIA. 

A  distribuicao  do  calor  a  superficie  do 
globo  terrestre  e  um  dos  pontos  mais  iFan- 
scendentes  da  meteorologia,  e  o  que  offerece 


167 


talvez  maiores  difficuldades,  era  razao  do 
grande  numcro  dc  factos,  que  abrangc,  c  do 
pequcno  nuraero  de  leis  conhecidas,  que 
estabelecem  as  suas  rclacoes.  Para  resolver 
completamente  csla  queslao,  seriam  necessa- 
rias  longas  series  d'observaroes  era  lodes  os 
pontes  do  globe ;  observarOes,  de  que  a  scien- 
cia  ainda  carece,  nao  obstante  as  numerosas 
viagens  scientilicas,  feitas  por  physicos  distin- 
ctos  em  todos  os  mares  e  em  dillercntes  pai- 
zes.  Creada  no  principio  do  seculo  actual  pelo 
barao  de  Humboldt,  a  cujos  interessantcs  tra- 
balhos  devc  a  sua  origem,  esta  parte  da  pby- 
sica  esta  ainda  longc  do  grau  de  perfeirao,  a 
que  outras  teem  chegado.  Teem  com  tudo  os 
physicos  dado  tamanba  impoitancia  a  este 
objccto,  que  nao  ha  preiaucao,  que  se  nao 
tenba  tornado  ua  avaliacao  da  teraperatura 
do  ar,  a  (im  de  que  os  resultados  obtidos  se 
possam  haver  por  exactos.  Esta  consideracao 
e  a  leitura  d'uma  nota  de  Mr.  Le  Yerrier  na 
occasiao,  em  que  apresentiira  a  academia  das 
aciencias  de  Paris  um  resume  das  obscrvacoes 
meteorologieas,  feitas  nos  mezes  dc  Janeiro, 
fevereiro,  marco  e  abril  do  corrente  anno, 
movcram-nos  a  dizer  alguraa  cousa  sobre  o 
assumpto. 

Os  thermometros  liquidos,  sendo  de  um 
use  faeil  e  commodo,  sao  por  isso  mesmo  os 
que  se  empregam  geralmente  nas  observaeoes 
meteorologieas.  A  regularidade  das  dilata- 
foes  do  mcrcurio  dentro  dos  limites  ordina- 
ries da  cscala  thermometrica,  sobre  outras 
muitas  vantagens,  torna  os  thermometros 
construidos  com  este  metal  preferiveis  a  todos 
OS  outros;  sao  com  tudo  indispensaveis  os  de 
alcohol  na  avaliacao  de  temperaturas  muito 
baixas.  Para  se  poder  fazer  use  d'estes 
thermometros,  c  necessario  que  sejam  gra- 
duados  por  comparacao  com  um  bom  thermo- 
melro  de  mercurio  entre  0°  e  25",  cm  razao 
da  irregnlaridade  das  dilatacocs  do  alcohol  em 
temperaturas  um  pouee  elevadas.  Assim  gra- 
duados,  teem  estes  thermometros  a  vantagem 
de  serem  muito  mais  scnsiveis,  do  que  os  de 
mercurio,  c  podcra  ser  erapregados,  sem  erro 
sensivel,  na  dcterminacao  de  todas  as  tem- 
peraturas inferiores  a  35.° 

No  emprcgo  dos  thermometros  liquidos,  e 
mister  nao  pcrder  de  vista  que  o  zero  da  es- 
cala  e  sujeito  a  deslocar-se  com  o  tempo, 
quando  se  tomam  por  pontos  fixes,  na  gradua- 
fae  do  inslrumente,  as  temperaturas  do  gelo 
fundenle  e  do  vapor  da  agua  fervente ;  e  que 
desloeafOes  similhantes  teem  tambem  logar, 
quando  se  submette  o  thermometro  a  uma 
teraperatura  clevada.  Nas  obscrvacoes,  em 
que  se  precisa  somente  de  certa  approxima- 
cao,  usa-se  de  thermometros  d'escala  li\a, 
graduados  muilos  mezes  depois  da  sua  con- 
struccao,  a  lira  de  que  o  zero  da  eseala  nao 
possa  sedrer  variacoes  sensiveis;  nas  inve- 
«tigacoes,   que  exigem  muita  precisuo,   em- 


pregara-se  thermometros  d'escala  movel,  que 
permittem  verificar  os  pontos  fixes  de  tempos 
a  tempos. 

Alcm  d'estas,  outras  precaucOcs  sab  ncces- 
sarias,  para  que  os  resultados  das  observa- 
cocs  sejam  exactos.  Uma  condicao  indis- 
pensavel  6  que  o  thermometro  tenba  pequeno 
rcservatorio,  para  que  as  suas  indicafoes 
sejam  muilo  promptas.  Nao  e  menes  impor- 
tante  que  o  thermometro  esteja  exposto  ao 
norte  e  a  sombra  dos  edificios,  a  fira  de  nao 
ser  influenciado  pela  irradiacao  das  paredes 
aquccidas  directamente  pelo  sol.  Scria  tam- 
bem convcniente,  come  advcrtc  um  physico ' 
distincto,  collecar  o  thermometro  ciitrc  dois 
discos  de  madeira  de  grande  diameiro,  que 
interceptassem  a  irradiacao  da  terra  e  deses- 
pacos  planetarcs;  o  Iherraometro  indicaria 
assim  com  maior  exactidae  a  teraperatura 
da  caraada  d'ar,  cm  que  elle  se  acha. 

No  observatorio  de  Paris  observa-se,  ha 
muitos  annos,  a  teraperatura  do  ar  cora  um 
therraometro  de  mercurio;  munido  d'escala 
de  vidro,  e  abrigado  da  chuva  por  um  tecto 
conico  de  metal.  Este  thermometro,  fixado 
sobre  um  tambor  de  madeira,  que  pode  gyrar 
era  torno  d'um  ei\o  de  ferro,  e  exposto  dire- 
ctaraente  ao  norte,  e  nao  recelie  por  conse- 
guinte  OS  raios  do  sol  senao  durante  alguraas 
boras  desde  o  equinoccio  da  priraavera  ate 
ao  do  outomno.  Quando  isto  acontece,  faz-se 
gyrar  o  tambor,  e  poc-se  o  thermometro  a 
sorabra.  As  obscrvacoes  sao  feitas  as  9  h.  da 
manha,  ao  meio  dia,  as  3  h.  da  larde  e  as 
9  da  noite. 

Mr.  Le  Yerrier,  receando  que  o  thermo- 
metro, dc  que  acabaraos  de  falar,  fosse  in- 
fluenciado pela  irradiacao  das  paredes  do 
observatorio,  massas  consideraveis,  que  nao 
tomam  immediatamente  a  teraperatura  do  ar, 
tracteu  d'esclareeer  este  ponto.  Para  isto,  col- 
lecou  ao  lade  do  thermometro  fixo  eutro 
thermometro,  comparado  com  e  primeiro,  c 
ao  ([ual  se  pode  imprimir  ura  movimento  dc 
retacao  alternado  e  assas  rapide,  para  au- 
gmentar,  ([uanto  c  possivel,  a  inlluencia  di- 
rocta  do  ar  sobre  a  teraperatura  de  thermo- 
metro. As  obscrvacoes,  comecadas  era  niarce 
d'cste  anno,  leera  mostrado  que  asindicacOes 
dos  dois  thcrmomelros  nao  sao  cemparaveis. 
No  mez  de  marco  as  indicacoes  do  thcrmo- 
nielro  fixe,  as  3  h.  da  tarde,  forara  quasi 
constanteracnle  superiorcs  as  do  thermometro 
(jtjrante,  sendo  de  mais  d'um  grau  as  dif- 
fcrencas  individuacs.  0  mesmo  aconteceu  em 
abril  iis  3  h.  da  tarde,  sendo  pelo  contrario 
as  indicacoes  do  thermometro  (ixo  as  9  h. 
da  uoite  ura  pouco  inferiores  as  do  thermo- 
metro (jijrante. 

Mr.  Le  Yerrier  entendeu  que  devia  registrar 
em  columna  separada  os  resultados   oblidos 

'    Peclel. 


168 


com  0  thcrmometro  gyrante,  cujas  indicac5es 
sc  dcvcm  considerar  como  mais  proximas  da 
verdadcira  temperatura  do  ar.  Dcsde  o  mez 
de  marco  os  mappas  das  obscrvajoes  melco- 
rologicas,  feitas  no  observatorio  dc  Paris, 
trazem  as  temperaturas  indicadas  pelos  dois 
ihermomelros.  Ycrcmos,  se  cstes  resultados 
sac  conlirmados  pelas  obscrvacoes,  que  se 
fazem  no  gabincle  de  physica  da  nossa  uni- 
versidade,  para  ondc  se  inandara  ja  vir  urn 
thermometro  gijrante.  \s  dilTerencas,  scndo 
mnito  consideraveis,  mercccm  por  certo  a  at- 
tencao  dos  physicos,  c  fazem  crer  que  darao 
origera  a  novos  aperfeiooamentos,  que  muilo 
contribuirao  para.os  progresses  da  sciencia 
n'esta  parte.  S.  G. 


LIVROS  SAGRADOS  DOS  IXDIOS. 

o  hig-v£da. 

Passa  de  tres  mil  annos,  que  um  pequcno 
povo  pastor  e  guerreiro,  partindo  das  pla- 
nicies  enlre  o  mar  Caspio,  e  o  lajfo  Aral, 
descera  das  frias  regioes  da  aita  Asia,  e  se 
encaminhara  para  esse  forinoso  paiz  banhado 
pelo  Idus,  pelo  Ganjes,  e  pelo  Dejamouna. 
Os  Aryenos  eram  esle  pequeno  povo. 

Iinpellidos  pelo  inslincto  da  emigra5ao, 
biiscavam  resolutamente  uma  terra  de  prouiis- 
sao,  uma  nova  palria,  onde  um  ou  dois  seculos 
antes  da  expedijfio  de  Alexandre  se  achavani 
ja  eslabelecidos  com  o  nome  de  Indies.  Este 
povo,  pori'in,  que  a  si  mesmo  dava  o  nome 
de  veneravel  —  dryas  —  constiluia  unicamenle 
um  dos  tres  ramos  da  giande  faniilia  asiatica, 
iranienna,  ou  aryenna,  cujo  Lerco  t'ora  a 
Clialdea.  Dos  outros  dois  ramos  permaneceu 
um  no  solo  natal,  foram  os  Zcndcs  d'onde 
provieram  os  Medos,  e  Persr.s  ;  o  oiitro  den 
origcm  as  na^oes,  que,  seguindo  desde  o  Cau- 
caso  as  duas  margens  do  mar  negro,  occnpa- 
ram  a  Asia  nienor,  e  se  espalliaram  em  toda 
a  Europa  :  foram  05  Gregos,  Kouianos,  Celtas, 
Germanos  e  Slaves.  Eis  aqni  em  duas  palavras 
a  historia  da  raqa  japlietica,  desses  desccn- 
dentes  do  fillio  segundo  de  iNoe,  dos  quaes  a 
Escriplura  diz  »  Kstes  repartiram  entre  si  as 
ilhas  das  nagoes,  estabelecendc-se  em  diversos 
paizes,  onde  cada  um  teve  sua  lingua,  as  suas 
f'amilias  e  o  seu  povo   particular  '.  r 

A  pliilologia  tern  completamente  confirma- 
do  as  palavras  da  Escriptura  sagiada,  e  de- 
monstrado  cabalmente  o  lago  que  entre  si  une 
lodos  OS  anligos  e  modernos  idiomas  falados 
pelos  povos  dos  tres  ramos  da  ra^a  aryenna. 

Nao  e,  porem,  so  na  linguagem  que  existem 
eslas  affinidades.  O  estudo  dalitleratura  sans- 
cWia  ^  mostrou,  que  existlamas  mais  notaveis 

'   Genes,  cap.  X.  v.  5. 

2  O  Sanscrit  e  a  antiga  lingua  dua  brahmanes,  que 
ticoii  considerada  a  lingua  sagrnda  do  Indostao ;    dietin- 


relajocs  enlre  o  genio  deslas  nagoes  asiaiicas, 
e  o  dos  povos  do  Occidente.   Nos  Aryenos  da 
India  dd-se  esla  tendencia  para  a  rellexao  e 
medilagao,  que  produz  apliilosopliia  e  a  poezia; 
e  a  imagina(;."io  briliiante  que  e  o  apanagio  dos 
povosjaphelicos.  Os  Aryenos  nao  conseguiram 
incnos  que  as  mais  celebres  na(;oes  d'antigui* 
dade,   levando  a  luz  da  civillsagiio    ao   nieio 
das    Iribus    sclvagens,    e  dos    povos  a  quern 
impozeram  suas  leis,  costumes,  e  linguagem. 
Como  OS  Gregos,  prezarain  o  sentimenlo  da 
sua  superioridade  intellectual;   e  orgulhosos, 
como  OS  Romanes,  dilataram  suas  conquistas 
ate  aos  confms  do  mundo  enliio   conhecido. 
Dosgragadamenle  para  elles  o  isolamento  em 
que  secollocaram  dos  grandcs  povos,  a  quem 
novolver  dos  seculos  coube  uma  parte  brilhan- 
le  nos  destinos  da  humanidade,  nfio  Ibes  per- 
mitliu  partlcipar  dos  novos  elementos ,    e  das 
ideas  regeneradoras,    que  complelamente   re- 
novaram  a  face  do  mundo.  Enervados  per  sua 
longa  residencia  sob  um  clima  lao  benefice, 
e   enlagados    no   andar  dos   tempos    com    as 
ragas  indigenas,  nao  souberam  resistir  ao  po- 
der   invasor    do  islamismo.   Oito    seculos  ha 
que  comegara  para  elles  a  era  da  sua  deca- 
dencia,  e  todavia  este  longo  periodo  nao  Ihes 
afrouxou  o  zelo  peja  conservajao  de  suas  tra- 
dijoes   religiosas.   No   momento,  pore(n,  em 
que  o  imperio  das  novas  ideas  penetrara  por 
uma  forga  irresistivel  no  seio  das  mais  antigas 
nagoes,  e  que  aquellas  tradigoes  corriam  risco 
de  perder-se,  foi  a  propria  liuropa,  e  particu- 
larmente  os  sabios  inglezes,  a  quem  se  deveu 
a  salvajao  dos  mais  venerados    monunienlos 
da  litteratura  sanscrita,  e  os  bralimanes  de- 
positaries dos  textos  antigos  censenliram  em 
iniciar  nos   segredos  do    seu   idioma  sagrado 
esses  europeus,  cujo  character  e  dedicagao  pelas 
sciencias  Ihes  inspirara  completa  ceufianga". 
O    texto   das    leis   de    Manou,   duas   vezes 
impresse  em  Calcula,  fizera  coiihecer  a  orga- 
nisagao    da   sociedade   aryenna    dividida   per 
castas  dez  seculos  antes  da  nossa  era,  quando 
o  brahmanismo  estava  no  seu  maior  auge,  a 
dominava  a  realeza  pela  supreniacia  da  forga 
espiritual  sobre  o  poder  temporal.  As  grandes 
epopeas  o  Mahdbhdrata,  e  Rdvuiyana,  verda- 
deira   Iliada  e  Odyssea   destes   povos  adora- 
dores   dos   heroes,    mostram    a   allura   a  que 
chegara  o  genio  poetico  dos  Indios. 

llecentemente  Burnouf,  e  Wilson  pulilica- 
ram  deis  Pourdnas^  ma\  importantes,  e  que 
podem  considerar-se  ce[no  specimens  d"essas 
immensas    miscellaneas,    onde  se  encontratn 

g:iie.se  dt«s  outros  idiomas  da  Inilia  p^la  pprfei(;ao  do  seu 
mechanismo  graniniatiral,  Os  Insilexea,  e  particularmenle 
William  Jones,  foram  os  primeiros  que  eicilaram  a  al- 
ten»;ao  dos  sabios   da  Europa  6oI>re  o  estudo  do  tanscrit. 

'    William  Jones  ^  Celebrookc  —  Wilkins,   e   oulros. 

^  E  o  nome  de  nniilos  poemas  em  lingua  lanscrila, 
que  contem  alheoijonia*  a  cosraogonia  dos  Indios.  Dezoito 
Pouranns  traclam  da  crea(;rio  e  reno\a<;So  dits  mundus,  tia 
gencalo^ia  dos  deuses,  dos  reinadus  dos  Manous,  e  dol 
fcitoB  de  seu«  dcscendentes. 

Bichertlle.  Diction.  Tiacion. 


1G9 


rciinidas  todas  as  descripgocs  mytliologioas 
com  as  legendas  popularea,  que  vogavani  eiilre 
OS  Indios;  o  dogma  e  a  pocsia  aiixdiaiido-se 
muliiamente  para  aiiimar  os  ohjcctos  pliysicos, 
e  dar  as  abslrac^ocs  tiielapliysicas  as  (oiinas 
corporeas.  A  pliilosopliia  speculaliva  e  a 
dogmatica,  o  drama  e  o  apologo  favorilo 
dos  orienlaes,  em  fim  as  siias  ciironicas  ma- 
ravilliosas,  teem  sido  tambcm  puhlicadas  em 
Jnglalerra,  Franja  e  Allemaiilia  pclos  ciiida- 
dos  e  pelos  esfor<;os  dos  sens  mais  eminentes 
fscriptores,  c  com  o  auxilio  e  protecyfio  dos 
respecUvos  governos.  niassim  que  na  primeira 
metade  d'cslo  seculo  a  Kiiropa  leni  feito  as 
mais  imporl.'uiles  e  valiosas  coiiqiiislas  nos 
dominios  da  lilleraliira  iridiaria.  Hnlre  taiilo 
OS  qiiatro  Vedus,  ou  os  livros  sagrados  jaziam 
ainda  mamiscriplos  na  mao  dos  brahmanes 
ou    nas  bibljolliecas  da   India   e  da  Europa, 


e  sera  esle  auxilio,  difficil  senao  impossirel 
fora  coidiecer  a  fimdo  a  primeira  edade  dos 
povos  indianos.  Delialde  se  prociirara  sua 
diversa  origem,  e  as  condicjoes  da  sua  primi- 
liva  exislencia  nos  poemas  e  na  compila^-fio 
das  suas  iels,  o  passado  perdia-se  sempre  dc 
vista  involvido  em  vaporosos  myllios,  c  dcsap- 
paiecia  como  as  illusoes  da  miragcni, 

Os  f^edas,  pore'm,  acabam  de  ser  publica- 
dos,  e  Iraddzidos  quasi  na  sua  inlegra  ',  e 
lirje,  como  diz  umesiTiplor  distincio,  aquel- 
ie  magesloso  e  profiindo  rio  da  Ijtteratnra 
sanscrita  leui  sido  explorado  ale  a  sua  origem. n 
Conliniia, 


'  Rig-J'eda-Sanhila  hy  Mat.  Miiller.  Ovfonl  104'J 
—  1854  =  Riy-I'eila  par  H.  A.  Wilson,  vol.  1.°,  O.vforil 
m50^=  liig-Feda,  ou  Livre  dpi  Htjmnes  Irailiiit  en  fran- 
^ais  par  Lanfilois  4  vol.  8  ■-  Paris,  1848 —  1831  =  Des 
f'edaa  par  Barlhiilemy  S.'  Hilaire  —  1  vol.  Paris,  18.54. 


APONTAMENTOS  BIOGRAPHICOS  SOBRE  0  NOSSO  INSIGNE  POETA  LUIZ  DE  CAMOES. 
GONCALO   VAZ   DE  CAMOES 

TALVEZ  TnONCO  DOS  SEGCINTEs' 
Continuado  de  pag.  153. 


Joao  Vaz  de  Camocs,  chamado  nos  docunicntos  J.  Y. 
de  Villa  Franca,  vivia  em  Coimbra  em  1502 

CASOU    COM 

1.'  Calharina  Pires  f  em  liiOS 

2."  Branca  Tavarcs,  que  cedcu  um  prazo  que  tinlia  com 
seu  marido  no  sitio  do  Alvor,  cm  sua  irma  c  cunha- 
da,  em  frente 


Pero  Vaz  de  Cainoes  que  nos  docu- 
nicntos se  chama  P.  V.  de  Coim- 
bra, casou  no  Algarve  com  Brites 
Gomes  c.  o.  Alii  viveu  cm  1330 


Philippa  Tavares  ficou  com  o  pra- 
zo do  Alvor  por  nomeacao  de  sen 
cunhado  c  irma       c.  c. 
Gaspar  Nicolas,  escrivao  das  sj- 
zas  ncsta  cidade 


Siniao  Vaz  de  Caiuues 

da  1."  mullier 
c.  c. 
1 .'  -Vnna  de  Sa  e  Macedo  ^ 
2.'D.  Francisca  .   .   .   .   ' 

depois  de  viuva  casou 

com  0  Dr.  Roque  Pcrci- 

ra  Tavares' 


Isabel    Tavares    da   2." 
niullier 

c.  c. 
Alvaro  Pinto. 

s.   G. 


Antonio  Tavarcs,  escrivao  como 
seu  pae  c.  c. 

Maria  Rodrigues,  e  viveram  nc- 
sta cidade  com  mais  parentes. 


Luiz  de  Camocs  ■[•  sol- 
tciro,  em  157'J. 


Pedro  Tavarcs,  o  qual  casou  nesta 
cidade  com  F.  .  .  . 


'  Digo  tahez  for  nao  constar  ilos  dociimenlos  qitcm  verdailcira. 
mentc  seja  pae  Uos  iLia  irmaos.  Vi-j.  a  memoria  do  cil,  bispo  de 
Viseu. 

'■  Foi  a  m.ic  do  poela,  coiiforme  o  cilado  blino  de  Yiseu  lom.  1 
par.  «8. 

Assc-nhorcou-se  do  prazo  das  casas  da  ma  dos  Coulinhos,   por 
tcr  ficado  herdeira    de  seu   raarido   Sim3y  Vaz.    Dijcumeulo  n."  4. 
*  Ja  tioha  fallecido  o  poela. 


Anna  Tavares,  ([ue  casou  com  Gi- 
raldo  Lopes  2."  marido,  e  teve  do 
1.°  matrimonio 


I'ina  doida  que  f  cm  1043.  s.  o. 
e  passou  o  prazo  a  um  filho  do  pa- 
drasto  por  nome  Luiz  Lopes  de 
Moraes.  Desla  sorlc  terminou 
nesta  cidade  a  casa  dos  Camocs, 
e  de  sens  parentes. 


170 


DOCUMENTOS 


EXTllACTAllOS  DOS  LIVUOS  DE  EMPIIAZAMENTOS  DA  SE 
PE  COIMBKA  ^0S  LOUAKES  ABAIXO  AfOMADOS. 


I. 


Aos  16  dias  do  racz  d'agoslo  do  anno  do 
nascimento  de  IS.  S.  J.  Ciiiiisto  de  IBSO  annos 
em  a  ridadc  do  Coimlira,  doiilro  na  so  della 
em  caliido  cluiniados  a  olle  os  srs.  Dognidadcs 
e  Coiu'gos  ao  deanio  nomoados;  e  hem  assi 
cslando  o  iiiiiilo  hoiirado  Joao  Vaz  de  Yilla 
Franca,  cavalli'iio  cidadao  da  dita  cidade,  c 
cm  clla  moiadi)!',  logo  por  die  I'oi  aprescntado 
iim  instrumento  de  reniinciarao,  e  trespassa- 
meuto  assigna<lo  em  puvrieo,  de  que  o  Irasla- 
do  delle  de  verho  a  verbo  e  lal  como  se  segue 
=  Saibam  quantos  cste  estiumento  de  renun- 
ciaoao,  o  tiespassamento  vircm,  qiie  no  anno 
do  uascimenlo  de  N.  S.  J.  Chiusto  de  lt)30 
anuos,  aos  1*  dias  do  mez  de  junlio  do  dilo 
anno  cm  a  villa  de  Lagos,  nas  casas  da  raora- 
da  de  Pcro  Yaz  de  Coimhra,  escudeiro  do  sr. 
condc  de  Monsanto,  estando  elle  hi  de  pre- 
sente  c  Brites  Gomes,  sua  mulher,  logo  por 
elles  foi  dito  que  era  verdade  que  clles  tra- 
iiara  por  litulo  dc  prazo  umas  casas,  que  estao 
na  rua  que  vai  para  o  chao  de  Joane  Mendes, 
na  cidade  de  Coimhra,  as  quaes  sao  foreiras 
a  se  c  cabido  da  dita  cidade,  no  qual  prazo 
tile  dilo  Pero  Vaz  era  a  dcrradeira  pessoa,  c 
que  consirando  elle  como  ora  vivia  neste 
reino  do  Algarve,  e  Joao  Vaz  de  villa  Franca, 
cidadao  e  sen  irmao;  ([ue  presente  estava  nio- 
rava  na  dita  cidade  de  Coimhra,  disseram  elles 
ditos  Pero  Vaz,  ea  dita  sua  mulher  que  a  elles 
llies  aprazia,  e  de  facto  aprouve  de  renunciar 
a  dita  vida  e  direito  que  tern  nas  ditas  casas, 
nas  maos  delles  ditos  srs.  Denidades,  e  Cone- 
gos  c  cabido  da  dita  se,  com  tanto  que  a  dita 
vida  c  casas,  (ique  c  se  traspasse  ao  dito  Joao 
Vaz,  seu  irmao,  por  se  seguir  mais  utilidade 
c  proveito  ao  dilo  cabido  por  o  dito  Joao  Yaz 
ser  mais  velho,  aos  (piaes  srs.  Dcnidades  e 
cabido  pedem  jior  merce  (jue  hajam  por  hem 
de  lazer  a  dita  trespassacao  ao  dito  Joao  Vaz, 
porquanlo  a  elle  dilo  Pero  Vaz,  e  a  dita  sua 
uuilhcr  Ihc  apraz  dc  bojo  para  sempre  de  rc- 
nuuciarem,  e  trespassarem  a  dita  vida  com 
lodo  seu  direito  que  nas  ditas  casas  tem  no 
<!ito  Joiio  Vaz,  e  por  este  se  obrigam  a  terom 
e  a  cumprirem,  e  a  haverem  por  bem  lodo  o 
que  0  dito  cabido  fizer  ao  dilo  Joao  Vaz,  seu 
irmao,  sob  obrigacao  de  seas  bens  moveis  e 
de  raiz  que  para  (die  obrigarara.  E  em  tesle- 
iiuinho  de  verdade  mandaram  dello  scr  feito 
cste  estrnmento  de  rcnunciacao  e  traspassa- 
menlo,  Testomunhas  que  foram  presenles  \1- 
varo  Diz.  cavalleiro,  e  .Mvaro  Fernandes, 
creado  do  dito  Joao  Vaz.  e  lUii  Bertes,  caval- 


leiro, que  assignou  por  a  dita  Brilcs  Gomes, 
c  por  si  0  por  outros.  E  eu  Vicente  Lourenco, 
pruvico  tabeliao  por  eirci  nosso  senhor  cm 
csla  villa  de  Lagos,  que  esle  escrcvi,  e  aqui 
meu  pruvico  sinal  lizquelal  e.  =  Segue-se  o 
cmprazamento  u  traspasse  feilo  enlre  o  cabido 
e  0  dilo  Joao  Vaz,  irmao  mais  velho  dc  Pero 
Vaz,  das  casas  da  rua  dos  Coutiulios,  a  favor 
delle  Joao  Vaz,  e  de  sua  mulber  Branca  Tava- 
res,  e  para  um  lilho  ou  liiha  d'entre  ambos, 
clc.   (L.  8  dos  cmprazaiiiciilos  fl.  58 .j 


II. 


Saiham  quantos  cste  instrumento  vircm  co- 
mo aos  3  dias  de  agoslo  de  1'>!J2  dcnlro  na  .se 
cathedral  dc  Coimhra,  eslaudo  presenlc  os 
srs.  Deguidades  e  Conegos,  estando  hi  Simao 
Vaz  de  Camoes,  lidalgo  da  casa  d'elrei  nosso 
senhor,  por  o  qual  foi  dito  em  presenca  de 
mini  tabeliao  pubrico,  c  das  teslemunhas  ao 
dianlc  scriptas  que  era  verdade  ipie  Isabel 
Tavares  sua  irma,  Irazia  por  lilulo  dempraza- 
niento  em  Ires  vidas  um  assento  de  casas  c 
(|«inlal  nesta  cidade,  que  perlencem  ao  dilo 
cabido,  as  quaes  Ibe  ficaram  per  falecimenlo 
de  Joao  Vaz,  seu  pac,  que  sancla  gloria  haja, 
cidadao  desla  cidade,  as  quaes  Ihe  o  dito  ca- 
bido ennovara  a  dila  sua  irma,  e  ella  era  ora 
nas  ditas  casas  e  quintal  a  primcira  vida,  e 
dellas  pagava  de  pensao  em  cada  um  anno  ao 
dilo  cabido  mil  reis  era  dinhciro  e  dois  capoes: 
as  quaes  casas  estao  na  freguezia  da  dila  so, 
e  partem  de  um  cabo  com  Jeronymo  Salvago, 
conego  na  dita  se,  e  do  outro  com  quintal  do 
Prolonatario  lleitor  Roiz  de  Gouvea,  conego 
oulro  si  na  dila  se,  e  por  dclraz  enlestain  era 
casas  do  licenciado  Joao  Vaz,  e  por  deanlc 
partem  com  rua  puvrica,  e  com  outras  con- 
frontacOes  coin  que  de  direito  devcni  partir, 
dizendo  elle  mais  Simao  Yaz  de  Camoes,  que 
elle  casara  ora  a  dila  sua  irma  c  Ihc  dera  a 
niaior  parte  de  sua  fazenda  era  casamcnlo,  por 
a  qual  razao  ella  com  seu  marido  Alvaro  Pin- 
lo  Ihe  tizera  doacao  das  ditas  casas,  pera  que 
elle  as  bouvesse  e  innovasse  em  si  pera  o  que 
Ihe  lizerain  procuracao,  e  nella  Ihe  derain  lodo 
0  seu  comprido  poder  para  que  elle  Simao 
Vaz  em  seu  noine  delles  Alvaro  Pinto,  c  Isa- 
bel Tavares,  sua  mulher,  renunciasse  as  ditas 
casas  na  niao  do  dito  cabido  e  direcio  seiilio- 
rio  dellas,  para  que  llies  innovassem  a  elle 
Simao  \'az,  e  Ihe  lizessera  novo  litulo  dellas, 
segundo  logo  hi  inoslrou  por  o  dito  cstromen- 
lo  de  doacao  e  procuracao  que  anda  nesic 
livro  de  notas  de  mim  tabeliao,  etc.  E  \isto 
lodo  pelos  ditos  srs.  Denidades,  Conegos  c 
cabido,  disseram  que  elles  rccebiain  em  si  a 
dita  rcnunciacao  do  dilo  assento  de  casas  c 
(liiinlal,  c  desobrigavara  aos  ditos  Alvaro  Pinlo 
e  sua  mulber  dos  encargos  em  que  eram  ao 
dilo  cabido  etc.  (L.  12  //.  31  e  Pi.) 


171 


III. 


Saibnni  os  que  eslc  piihrii'O  inslriinicnto  de 
novo  eniprazamonto  em  trcs  vidas  pola  nia- 
iieira  adeante  dcclaiada  virem,  que  aos  ti 
dias  do  mez  de  sctembro  de  1570  annos,  em 
osta  cidade  de  Coiml)ra  c  easa  do  cabido  da 
?e  catbedral  della,  ondcoslavam  presentcs  os 
muito  magnilicos  srs.  Denidades  c  Conegos  e 
cabido  adeante  nomcados,  e  ncsta  iiota  as- 
signados:  c  oiitro  si  estando  hi  presciite  o  sr. 
Siiiiao  Vaz  deCamoes,  fidalgo  da  casa  d'eirei 
nosso  scnbor,  e  era  morador  na  cidade  do 
Porto,  por  elle  foi  dito  que  elle  no  cabido  pas- 
sado  lizera  iima  pelirao  na  qual  Ihc  fora  dado 
iim  despacbo  de  que  todo  o  traslado  de  verbo 
ad  verbum  e  o  seguinlc.  Muito  illuslres  srs. 
Diz  Simao  Vaz  de  Caraoes  que  elle  possue 
per  titulo  de  eraprazaraento  de  vossas  mcrces 
umas  casas,  que  teni  a  rua  do  Adeao  em  tres 
vidas,  cm  que  elle  c  a  1.',  as  quaes  sac  um 
sitio  muito  grande  antigo,  e  muito  arruinado, 
que  quasi  eslao  no  cbao  como  dirao  os  srs. 
([uc  as  foram  ver,  e  estao  de  maneira  que  sc 
se  nao  fizerem  de  novo  sc  perderao  de  todo, 
c  por  que  elle  supplicante  se  quer  vir  viver  a 
csta  cidade,  e  fazer  no  dito  sitio  umas  casas 
nobres  em  que  se  obriga  gastar  300^000,  sem 
OS  quaes  sc  nao  podem  fazer,  c  inda  com  mui- 
to mais,  no  que  vossas  merces  recebem  muito 
proveito  por  razao  dos  dizimos  que  elle  sup- 
plicante ba  de  pagar  de  sua  fazenda  por  ser 
seu  fregucz  e  vassalo.  Pedc  a  vossas  merces 
havendo  respcito  ao  sobredito  Ibii  deem  mais 
cinco  vidas  alem  das  vidas  que  tem,  as  quaes 
nao  pagucm  mais  pensilo,  que  a  que  tem,  que 
sao  mil  reis  c  dois  capOes,  quee  muito  grande 
foro  pera  o  dito  sitio  e  gasto  que  sc  ba  de 
fazer.  Despacbo.  Apraz  ao  cabido  havendo 
respcito  a  calidadc  do  supplicaiUe  c  vistas  as 
razoes  cm  sua  peticao  declaradas,  quegastan- 
do  elle  em  quatro  annos  cem  mil  reis,  e  cm 
mais  dois  annos  os  200^  que  beam  nestas 
casas  de  Ihe  darem  mais  trcs  vidas  das  tres 
que  agora  tem,  as  quaes  corrcrao  acabadas  as 
tres  que  tem,  com  obrigacao  ....  que  cada 
unia  das  dilas  vidas  que  for  nomeada  dentro 
cm  um  mez  se  vira  aprescntar  em  cabido  com 
a  nomeacao  que  liver,  sob  penna  dc  Ihe  nao 
valer  coisa  alguma,  c  as  ditas  casas  licarem 
vagas,  c  devolutas  a  nos  e  a  nossa  meza  ca- 
pitular: como  tanibem  ficarao  vagas  e  vaga- 
rao  falecendo  a  pessoa  que  for  viva  sem  no- 
mear  ....  D'esta  maucira  Iho  faz,  alias  nao. 
—  0  licenciado  Francisco  Pessoa,  concgo  e 
escrivao  do  dito  cabido  o  fez  por  seu  maudado 
aos  20  de  setcmbro  dc  lo70  annos.  Ocban- 
tre  Pcro  Brandao.  A  qual  peticao  assi  fcita  e 
trasladada  licou  em  podcr  do  dito  Simao  Vaz 
de  Camoes,  o  qual  dissc  mais  que  as  sobrc- 
ditas  casas  estao  na  dita  rua  do  Dcao  fregue- 
zia  da  dita  se,  e  partem  deum  cabo  com  casas 
dc  Jcronyrao  Salvage,  conego  della,  c  da  ou- 


tra  com  quintal  que  foi  doprotonalario  lleiior 
Uodrigues  de  Gouvea,  conego  que  foi  nadita 
se,  que  Deus  baja,  e  por  detraz  eiitestam  em 
casas  dos  herdeiros  do  licenciado  Joao  Vaz,  e 
por  dcante  partem    com   rua  pubrica   c  com 

outras  confrontacoes estas  sao  as  conteu- 

das  no  titulo  ([ue  Icm  do  dito  cabido,  jiorquc 
e  elle  Simao  Vaz  nas  ditas  casas  a  prinicira 
vida,  como  dclle  constou  por  o  prescular,  c 
que  ora  pedia  llie  fizesscm  novo  titulo  de  em- 
prazamcnto  conforme  ao  despacbo  atraz.  0 
que  visto  por  dies  seaborcs,  disseram  em  pre- 
scnca  de  mini  tabelliao  e  tcstcmunhas  adean- 
te nomeadas  que  por  todo  o  sobredito  passar 
assi  c  na  verdade,  e  o  cabido  tcr  feito  vedo- 
ria  nas  ditas  casas,  e  sc  achar  que  estavani 
muito  danilicadas,  c  que  fazendo  o  suprican- 
te  e  inclino  Simiio  Vaz  as  ditas  bcmfeilorias, 
seria  muito  em  proveito  e  utilidade  da  sua 
meza  capitular,  assi  pela  nobreza  da  proprie- 
dadc,  e  lerradcgos  e  dizimos  que  sc  aquiri- 
riam  por  cstarcm  na  freguizia  da  dita  se,  e 
deferindo  a  calidadc  dc  sua  pessoa  dclle  Si- 
mao Vaz,  e  por  outros  justos  respeitos,  quii 
OS  a  isso  nioviam  e  conforme  ao  dito  despa- 
cbo Ibe  eniprazavam,  edefcito  emprazaramas 
ditas  casas,   etc.    f/,.  14  dos  emprazamentoi 

(I.  n.) 

IV. 

A^Ho  dada  ao  sr.  licenciado  Francisco  Pessoa 
nosso  iniiao  das  casa,i  que  foram  de  Situdo 
Yuz  Canwcs  que  eslq,o  defronte  das  suas. 

Aos  7  dc  novembro  de  1384,  scndo  clia- 
mados  para  cabido  se  deu  ancao  ao  sr.  licen- 
ciado Francisco  Pessoa,  nosso  irmao  jx>ra  po- 
der  tirar  c  dcmandar  ao  Dr.  Roquc  Pereini, 
e  sua  mulher  I).  Francisea,  como  herdeiru  e 
successora  de  seu  marido  Simao  Vaz  Camoes, 
que  Deos  tem,  umas  casas  de  que  o  cabido  d 
dirccto  senborio  que  estao  junto  com  as  do 
sr.  Jeronymo  Casco,  c  defronte  das  que  die 
sr.  Francisco  Pessoa  vive,  pera  o  que  Ihc  dao 
todo  0  direito,  que  pera  as  podcr  tirar,  tem 
ou  por  vagas,  ou  por  qualqitcr  outro  direito, 
que  0  cabido,  ou  sua  meza  capitular  tem, 
porque  todo  trespassam  ncUe  pera  cslc  cfl'ci- 
to,  por  acharcm  ser  isso  proveito  da  casa,  c 
si  obrigou  as  custas;  e  die  assi  accilou.  E 
mandarao  fazer  estc  assento  c  assignou  conii- 
go.  — Antonio  Moutinbo,  Francisco  Pessoa. — 
(Accorddo  do  cabido.  L.  dp.  131.  vers.) 


V. 


Ao  derradeiro  dc  Janeiro  de  1603  annos  fez 
0  Dr.  Uoquc  Pereira  Tavarcs  uma  petijao  ao 
cabido,  em  que  narrou  que  sua  mac  Antonia 
Tavarcs  o  noracou  em  testamento  em  umas 
casas  prazo  do  cabido  que  estao  a  S.  Christo- 
vao,   em  as  quaes  casas  sc  meteu  dc  posse 


172 


dellas  Antonio  Manso,  cunhatlo  do  dito  Ro- 
q\ic.  Pereira,  jiara  que  vindo  o  dilo  Anionic 
Manso  on  sua  muliier  podir  innovai.ao  das 
ditascasas,  so  nao  I'aca  nom  deliia,  s<'ni  man- 
darem  dar  vista  ao  dito  Roquc  Pereira :  o  (juc 
vislo  pelo  dito  cabido  mandaram  que  so  nao 
faca  titulo  algum  sera  sc  dar  vista  ao  dito 
lloque  Pereira,  para  ccrteza  do  sobredito  liz 
eu  Vasco  d'Almeida  cste  assento  no  dito  dia 
mcz  c  anno,  em  (|uc  assinou  o  sr.  Deao. — 
Vasco  d'Almeida.  (L.  b  dosaccorduos  jl.  67.J 

YI. 

Anno  do  nascimcnto  dc  N.  S.  J.  Chbisto  de 
1C2S  aos  14  dias  do  mez  de  Janeiro  na  se 
cathedral  della  ondc  cstavam  especialmenlc 
coiigregados  os  srs.  Dignidades  e  Conegos, 
etc. ,  e  sendo  presente  Manoel  Correa  morador 
na  sua  (juinla  de  Lordeniao  por  ellc  foi  dito 
que  entre  os  mais  bens  e  propriedades  de  ([ue 
0  dito  cabido  e  sua  meza  capitular  era  senho- 
rio,  bem  assi  era  uma  murada  de  casas,  que 
rile  tinba  e  possuia  na  rua  de  S.  Christovao  da 
dita  cid'ade  prazo  do  dito  cabido  ([ue  nelle 
nomeara  oDr.  Ro<iue  Pereira  Tavares ,  as  quaes 
casas  partiara  da  do  soao  com  quintal  das 
casas  de  Mareal  de  Macedo  cidadao  da  dita 
cidadc,  edabanda  do  sul  com  casas  do  mesmo 
Mareal  de  Macedo,  e  do  aguiao  com  rua  pu- 
blicii  que  vai  de  S.  Christovao  para  a  se,  c 
com  as  mais  confrontacoes  com  que  de  dircito 
deviam  partir,  e  que  per  enteuder  que  as  vi- 
dasdodito  prazo  cram  acabadas  pedia  a  elles 
scnhores  Ibe  lizesscni  merce  de  Ihe  renovar  as 
vidas  do  dito  prazo  bavendo  elle  de  ser  a  pri- 
meira  com  poder  de  nomear  a  segunda,  c  a  se- 
gunda  a  terccira  ate  bora  da  sua  morte:  o  que 
tudo  assi  visto,  disseram  ([ue  por  ja  ter  preec- 
dida  neste  caso  verdadeira  informacao  baviam 
por  bem  que  se  Ibe  lizesse  novo  titulo  etc. 
(Extrahido  do  L.  Iddosprazosafl.  V6i.) 


BIBLIOGRAPIIU. 

ELBHEKTOS  DE  DHSENDO  LINEIB  PABA  ISO  00  BBAL 
COLLEGIO  CBSLLIXO  DE  COIUEBA,  1  VOL.  £51  8 
(.OU   FIG.    COIUUKA   1SS3, 

A  falla  de  compenclios  adaptados  para  nso 
das  escbolas  piimarias  e  uiji  dos  iiiaiores 
obstacolos,  que  eiitre  no;  se  oppoe  ao  adian- 
tamento  d'csle  imporlaiitissinio  raiiio  da  in- 
stnicjao  publica.  Nas  niaiscultas  na56es  leni- 
se  procurado  com  lodo  o  cuidado  popolarisar 
as  difterentes  sciencias,  tornaiido-as  acccs- 
s-iveis  a  todas  as  intelligencias  por  meio  de 
nianuaes  e  compendios  de  principlos  elenien- 
tarissiinos  d'essas  sciencias,  que  mais  util  ap- 
plicajao  teem  nos  usos  da  vida,  ou  que  ser- 
vcm  de  proveitosa  babilila^fio   para  maiores 


.;» 


esliidos.  Mas  o  que  sobre  tudo  ale  boje  Icm 
I'lcado  em  mais  lainenlavel  esqiiecimento,  nii 
antes  reprebensivel  fuila,  e  a  inslrucgao  do 
sexo  feminine,  ii  os  raros  coUegios  de  educa- 
gao  de  meninas,  digiios  d'esle  notne,  que  entre 
nos  existem,  careciam  complelamente  de 
iivros  proprios  para  o  ensino  das  siias  ediican. 
das,  e  nao  fora  lacil,  nem  lalvez  conveiiiente 
supprir  esta  i'aila  com  Iivros  exlranlios,  que  ou 
por  niui  volumojos,  ou  porque  suppoem 
maiores  conbeoimentos,  do  que  realmenle  se 
podem  adquirir  no  eslado,  em  que  se  acba  a 
nobsa  inslrucgao  uiimaria,  sfio  menos  proprios 
para  o  fim,  que  se  deve  ter  em  vista  no  ensino 
do  sexo  femiuino. 

Annunciamos  por  isso  com  satisfacjao  os 
novos  Elemenlos  de  desenho  linear  orde- 
nados  com  loda  a  precisuo  e  clareza,  para 
servirem  de  llieiiia  as  ii(,'6es,  que  sobre  esLe 
assumpto  se  explicam  as  meninas  principian- 
les  no  collegio  ursulino  de  Coimbra. 

O  modeslo  A.  niui  singolamenle  declara 
o  fun,  que  se  propozera  neste  seu  opusculo 
nas  palavras,   que  aqui  copiamos. 

11  Levou-no5  a  esle  |)equeno  Irabalbo  a  consi- 
deraciio  de  que  llies  faltava  um  livro  em  lin- 
guagem,  que  fosse  adaptado  as  circumslancias 
d'aquelle  estabeiecimento.  Como  so  era  para 
servir  de  introducjfio  a  estudos  mais  amplos, 
de'mol-o  a  estampa  tjio  compendioso,  deixan- 
do  para  obra  mais  auctorisada  e  competente, 
o  raaior  desinvolvimento  d'estes  principios,  e 
a  sua  applicagfio  aos  bordados  e  ornatos  das 
senlioras,  na  qual  se  devein  exercitar  as 
meninas  mais  adiantadas.  )? 

Estes  elemenlos  sao  divididos  em  duas 
partes  ;  a  primeira  comprebende  o  desenbo 
linear  a  ollio,  elracta  das  linlias,  superficies  e 
solidos  :  a  segunda  parte  e  dedicada  ao  desenho 
linear  grapbieo,  comprebendendo  a  resolugao 
de  alguns   problemas  geometricos. 

Era  tnuilo  para  desejar  que  outros  iniitas- 
sem  oexempk)  do  illustrado  A.  dos  Elemcniot 
de  desenho  linear,  e  que  sobre  tudo  no  que 
respeita  aos  diversos  ramos  das  sciencias 
pbysicas,  e  bislorico-naturaes  se  dessem  li  mo- 
desta,  mas  utilissinia  tarefa  de  e^tampar  em 
iinguageni  os  elemenlos  d'aqiiellas  sciencias, 
ordcnados  de  modo,  que  servisseni  de  recreio, 
e  proveitosa  instrucgao  li  nunierosa  classe  dos 
alumnos  de  ambos  os  sexos,  que  tVequentam 
as  escliolas,  e  coUegios  de  iiislrucgao  primaria. 
J.  u.  BE  AllREU. 


A    observajao    do   coragao  bumano   e  uin 
manancial  perenne  para  a  litleratura. 

U.    8TAEL. 


A  corrupguo  e'  o  maior  obstaculo  para  o 
progresso  dos  destines  bumanos. 

BALANCUB. 


®  3n0 titiit0^ 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


MIVERSIDADE  DE  COUIBRA— PROGRiJIMAS. 

FACULDADE  DE  TBEOLOGIA, 

1853—1854. 

1."  ANNO.  — 1.»  CADEIRA. 

HrSTORIA    ECCLESIASTICA, 

Lente  — Dr.  Joaquim  Cardoso  de  Jraujo* 

C0WPBM>IO F.     A.     LOBO  ,    RRSUMO     DA.     HrSTORlJt     DA 

£GREJA     DO     ANTIGO    TKSTAMESTO,     COIMBRA     1H27.    

DA.>(\R.\MAYR,     IWSTITrTION  ES    UISTORIAB    ECCLESIASTI- 
CAE   -NOV,    TEST.,    CU.MMBRICAE    IBSG. 

A.  Isag-oge  da  Historia.  Sun  no^ao  —  divisao  — iitili- 
dade  —  fira  —  objeclo.  Fonlea  hiBloricas  — espccies  — au- 
ctoridnde.    Hisloria  litlrraria  —  Bil)liographia  bisturioa. 

B.  Hisluria  da  Egreja  do  A.  Teslaiiieiilo.  Crca9ilu  do 
mundo  —  (]tic(la  de  Adao  e  Kvo.  Dilnvio,  Voca^3o  de 
Abrahao.  Patriarchas,  Moyses  —  in3titiii<;3o  e  leis  do  povo 
jiidaico.  Jiiizea  —  reis  —  divisao  do  reino.  Reis  de  Israel 
ate  d  destrui);*io  do  reJno  per  Salman^tzar.  Reis  de  Jiid.i 
Hl6  ao  capli\ciro  de  Babylonia.  R'Slilui^ao  dos  Judciis 
— govenio  dos  sumraos  sacerdoles — Machabeus.  Ainbi<;oes 
e  coulendas  por  causa  do  g:()verno.  Herodes  rei. 

C.  Hisluria  da  Ei:reja  do  N.  Tcstamenlo. 
1.   Periodo  primciro  desde  J.  C.   ate  Coaslanlino  Majjn'j. 

a.  Jesus  Cliristo  —  sua  duiilrina — morte — resurrei(;ilu 

—  ascenstio.  Api;*I'jIo9  —  sens  trabalhos  —  egrfjas  apusla- 
licas.  Pre^a^aij  do  Evangelbo  —  causas,  que  a  favorecem 

—  difficuldarles,  que  enconlra.   Persojiii^Ses. 
i.   Cunsliliiii^So   da   Egreja —  puiitifice   romaiio  —sua 

primazia— bispus  —  presbyleros  — ^diaconos  E!ei(;3o  dos 
niiiiislros  aagrados.  Successao  dos.Lispos  nas  pnncipaes 
egrejas.   Concilios.  Padres.    Escriplores  ecrlesiasticos. 

c.  Doutrina  Clirl^la.  Discij'lina.  Rites.  Costumes. 
Inflocncia  da  Heligi3o  nos  costumes  pulilicos. 

d.  Controversias.  Scismas.  Heresias.  Gnosticos,  Ma- 
ni  cheus 

S,  Periodo  segiindo  desde  Constantino  al^  Carlos 
Magno. 

a.  Oi  Tmperadores  protcgem  a  Egreja.  Conversao  dos 
Barbaros. 

b.  Privjlegios  e  poder  do  clero  —  causa  e  origeiu 
d'este  poder.  Principio  do  poder  dos  papas  Sdbre  os 
principt's, — palriarrhas  — exarchas,  elf,  Aucloridado  do 
romano  pontiflce.  Infliiencia  dos  principes  nas  elei^oes  dus 
bispos.  Concilios  ecumt'nicos  — sua  aucloridade.  Padies. 
Escriplores  ecclesiaiticos. 

c.  Disciplina  —  ritos  — mais  —  e  maJs  pomposos 
Coslunif'8.  Infltieiicia  da  Religiao  sobre  a  sjciodade,  e 
especialmente  sobre  a  legisla^rio  e  cosluincs.  Monges  — 
lua  ori;;eiu  e  especies  —  seu  augmentu — influencia 

d.  Controversias  —  sc'smas  —  diverso  roodo  de  proce- 
der  da  Egreja  contra  os  herejes.    ArJnnos.  Pelagianos. 

3.  P.;riodo  terceiro  desde  Carlos  Magau  ale  Gregorio 

vn. 

a.  ConvprsSo  (aa  vezes  violenta)  do8  povos  do  Norte. 
A  seita  de  Mahomet  no  Oriente  — na  Africa— na  Hespa- 
nba. 

6   Grande  poder  do  clero.  Os  bispos  senliores  feiidaes. 

Vol.  III.  OcitBBO  15— 


Origem  das  investidiiras.  Os  bispos  nonieados  pclos  prin* 
cipes  —  inconvenientes  e  escandalos  d'eslas  nomea^ofS. 
Ignoraiicia  da  Enropa.  Traballios  dos  monges. 

c.  Ritos  siipeisticiuBos,  Lendws — aclaa  falsag  —  abiiso 
dns  reliqiiias  e  das  perigrinH(;uc3.  Corrup<;ao  dos  costumes. 
Simonia  escandalosa.  Inrontinencia  do  rlero. 

d.  Conlro\er&ia  sobre  o  culto  das  imagens.  Scisma 
dos  Gregus — seu  pretexlo  —  verdadeira  can<ia. 

4.  Periodo   quarto  dt-sde  Gregorio  VII.  ale  Luthero. 

a.  Cruzadas  —  seus  bens  e  males.  Ordens  militares  — 
scus  abusos.  Tempi. irios.  O  Chrislianismo  se  propaga  no 
sul  da  Africa — na  Intia  —  na   America. 

b.  Puder  papal.  Gnerras  sobre  as  investiduras.  Jui2'> 
sobre  Gregorio  VII.  e  siias  reformas.  Necessidade  de  re- 
forms. Conciiio  de  Constanta  —  de  Basil^a  — de  Ferrara 
e  de  Florenea. 

c.  Scliolastica — sua  inOuencia.  Restaurai^Jio  das  letrai. 
Ponlifices  mais  illuslres. 

d.  Scisma  do  Oriente.  Clemenle  V.  em  Arinbao. 
Scisma  do  O.cidente — graves  males,  que  elle  causa, 

e.  Abachard  —  Albigenses  —  inquisi^ao. 

5-  Periodo  qin'nlo  desde  Luthero  at<S  ao  fim  do  eeculo 
18.'' 

a.  Eslado  politico  e  lillerario  da  Enropa  —  corrup^So 
dos  custumes.  Leao  X.  —  indidgencias —  Luthero. 

b.  Revolij^ao  rcligiosa  — suas  verdadeiras  causas  — 
scus  effeitus  quanto  a  Egreja  e  quanto  ao  Estado. 

c.  Progressoa  do  Protestant  ismo,  Dieta  de  Worms  — 
de  Spira  —  confissao  d^Ausbonrg  —  Zwinglio — Calvioo 

—  guerra  dos   30  annos.  Paz  de  Westphalia. 

d  Prujectos  de  concordia  —  conciljo  de  Trenlo  — 
juixo  sobre  die. 

e.   Henrique  VIII  — scisma  anglicano, 

f.  JesuitdS  ^  Jansenistas  — Quietistas. 

g.  Resumo  da  hisloria  da  Egreja  reformada. 

2.'  CADEIRA. 

THEOLOGrA     OOGMATICA      GBRAL. 

Lente — Dr.  D.  Viciorino  da  Concei^ao  Teixeira  Nece$ 

RebeUo. 

COMPENDKl J.     PRUNYf,     SYSTEMA     THEOLOOIAB     DOGMA- 

TICAE  CHHISTtANo-CATHOLTCAB,    COMISI BUICAE    1848. 

A.  Prolognmrnos.    Noi^So  — divisSo  —  objecto — dm 

—  excellenria  —  necessiilaite  —  subsidios    da   Theologja 
Dogmatira.  Sua  hisloria  liileraria. 

B.  Theoria  da  Reljgiao  :    - 

1.  Em  geral.  Sua  nu^ao  —  divisao  —  possibilidade  — 
necessidade. 

2.  Em  parlicular  : 

a.  Religiao  natural.  Sua  no^ao — possibilidade e  insuOi- 
ciencia. 

b.  Religiao  re»elada.  Sua  no^So  —  divisSo— pol« 
sibilidade  —  necessidade  —  criterios. 

3.  Das  religiocs  falsas. 

C.  Theoria  das  fonles,  ou  logares  Theoiogicos. 
1.  Primilivot : 

a.  Escripliira.  Sua  authenticidade  —  Teracidade  — 
integridade  —  inspira^iio  —  sentido. 

b.  Tradit^So.    Sua   no^ao  —  divisiio  —  valor — regrat, 
K.   Denvolivos.    Concilios,    principalmcnie  os  geraes  : 

bispos,  principalmente  o  romauo  ponliGre:   padres,  prin- 

1854.  Num.  14. 


174 


ri|i;tImrnlo  os  dos  primciroi  leculos  :  sjmltoloi  ,  priuci- 
]'alnieiile   os  antijus.    Lilur^ia.   Prf6cri|n;rio. 

3.  SuUidiariui.  Historiu.  Philusopliia  natural  e  racio- 
nai.  Direitu  caituiiico  e  civil. 

D.   Theoria   ila  K-jfoja  : 

1.  Sua  no^uo  — inslitui^So  —  fiui  —  visibilidade  — 
perpeliii<I.Hle. 

2.  Siias  nolas^applicarao  J*cslas  as  difTereotes  egre- 
jas 

3.  Sim  auctoriilade  objecliva  e  suljectiya. 

4.  Sens  dircilos  e  prerofralivas. 

5.  Sens  memltrjs  c  hierarchia, 

2."  ANNO.  —  3.»  CADEIRA. 

THSOLOGIA    D0GUATIC4     ESPEClki*. 

Lente  —  Dr,  Joae  Gome*  Achilles, 

COMPENOIO-^J.    PRUNYI,    SVSTEMA    THEOLOGfAE    DOCMA- 
TICIE  CURISTIANO-C\TBOLICAE,    CO.M.MfiHICAE    18-lB. 

A.  Nd^ocs  previas.  Vordadeira  no^So  da  Tlirtilo^ia 
Syml>olica.    Historia  especial    d'esU   parte   da  Theologia 

—  stia  relai^ao  com  a  I>iii;malica  especial — no^rto  e  prin- 
cipi'j  d'eslit  —  sua  historia.  DeGiii^ao  e  coiidi(;ues  du 
Do;rni3.    DifTerentea  melhndus  Sfgnidus  na  suaexposi^Su 

—  lijslorico  —  denioiislralivo  —  poicinico,  Vantagens  do 
fjiie  rcunir  lodus  esles  elenieiiloa.  Mysterios  e  sua  possi- 
l>tlidade.  Artii;i)9  fiindam<--nlae$  e  nao  riin(lamenlar>s  d<'S 
Proteslanles.  Exfiosi^-Jto  e  refutai;ao  dj  indilTerenlisiuo,  on 
tolerancia  leligiusa.  SymludiiS  —  livros  symbolicos. 

B.  Unidade  de  Deus — Dualismo — Pulylheismo  — 
Panilieisnio.  Kssencja  de  Dens  —  aUnlmtos  de  Dens. 

C.  No^ao  da  Tritulatic  —  eren^a  da  E^'reja  n'esle 
Doirnia  —  sua  iniportancia.  Denomina(;5o  e  divindade 
.ilo  Pae  —  do  Fillio — ilu  Espirilo  Sanclo,  Oisliiici;ao  real 
tins  Ires  Pessons.  PruceasGcs  e  outras  coiuo  propriedades 
do  myelerio. 

J).  Incarna^ao. 

1.  Conlia  OS  JuJeus:  promessa  do  Redemplor  conlida 
no  A.  Teslamenlo  —  analyie  e  exposi^ao  de  loJas  os 
-propheciiis  n'elle  conlidas,  e  (|ne  dizem  respeito  ao  Mes- 
jlia^,  Epoclia?  ^n<'l,is  cliaracterifilicas  —  officios  on  oiunns 
•lo  iMessias.  Jesus  de  Nazar<  tli  e  o  verdaileiro  Messias. 

2.  Contra  os  hereges  ;  Jesus  de  Nazaretli  e  \erda- 
delro  Deus  P  verilacleiro  lioniem  —  diias  nalureaas  —  von- 
ladcs  e  opera^ocs  de  Clirislo.  Chrislo  e  Qlho  proprio  de 
Den?-.  Maria  iii3e  dcClirJslo  e  mSe  de  Deus  —  sua  xirgin- 
ilade.  Hnmauidadfi  de  Chrislo  unida  hypostaticanienle  ao 
Verbo  — .  cnllo  que  Ihe  <5  deudo,  Communica^iio  ue 
idion)as.  Morle  e  sepulJnra  de  Chrislo  —  reflexoes  a  cerca 
ita  senleii^a  da  sua  condemnac^rio  —  refutat^ao  de  J.  Salva- 
dor. Dt'scida  ao8  Infernos — resiirrei(;ao  — asrensao  de 
Chrislo  aos  Ceos  — seu  assento  a  dextra  do  Padre, 

E.  Morte  imposta  a  todos  os  homeno.  Juizo  particular. 
Deslino  dos  jnslos  —  dos  condeninados  —  Purj:alorio  — 
Cuinmunhrio  dos  Sanclos  — seu   culto —  cullo  das  Ima^ens 

—  das  sagradas  Reliquias.  Resurrei^ao  dos  corpos  —  Juizo 
voiversal. 

IV.B.  Nesle  segnndo  anno  os  alumnos  de  Theulogia 
Irequeotam  a  aula  de  Dirrito  Natural^  ou  Pbilosophia  de 
Dircilo  Da  Faculdade  de  Direilo. 

3.*  ANNO.  —  4.»  CADEIRA. 

CONTINUA^AO    DA    THEOLOGIA    DOfJMATICA     ESPECIAL. 

Xente  —  Dr»  Francisco  Jntomo  Rodrigues  de  Jzevedo. 

COUPB.NDIO — J.  PRONYr,     SYSTBMA    THBOLOGIAB    DOGMATI- 
CAE    CHRISTIAXO-CATHOLICAE,     COMMBRICAB      1848;    C 

simultancamenle~-F.  l.  b.  LiEseRMANN,  institutio- 

JiES    THEOLOGIAE,    MOUUKTIAE    1U44, 

A.  Primeira  parte. 

1.  Crea*;3o — do  mundo — lirado  do  nada.  Exame 
das  diversns  opiniSes  sobre  a  historia  da  crea^So  referida 
por  Moyses  —  fiui  — conserva^ao  —  goverao  do  mundo  — 
Provideocia. 


2.  Anjo8  —  sua  eiislencia  —  nalureza  —  ejcellencia 
—  dotes  — minislerios  —  queda. 

3.  Homem  —  sua  cren(;So  —  nalureza  —  doles  — • 
deslino.  Decadeucia  dos  priineiros  paes  —  exame  crilico 
da  historia  da  queda  primiliva  referida  por  Moyses.  Pec- 
cado  original  -^  uoiversalidade  da  sua  transfusSo  — opi- 
nIOes  diversas  a  cerca  da  nntureza  e  modo  da  propaga^So 
do  peccado  original  —  J.  Chrislo,  e  a  Virgem  luiie  de 
Dens  sao  d'clle  excepluados. 

B,   Scgnnda  parte. 

1.  Gra(;a  e  suas  especies  —  imporlancia  d'esta  doulri- 
na,  e  sua  difliruldade  —  conIro\ersias  fauiosaa  a  cerca  da 
gra<;a.  K  a  questilo  philosophica  enlre  a  liberdade  e  a 
fatalidadc. 

2.  Grai;a  actunl  — sua  necessidade  para  toda  e  qual- 
qner  ol)ra  salntar.  — gra^a  etTicaz  — uao  iirejudica  a  liber- 
daile.  Ponlos  definidos  pela  Egrcja  —  apprecia^So  do8 
di\ersos  syslemas  sobre  a  cITicacia  da  gra^a.  (Iro^a  suf- 
ficiente —  e  graluita  —  se  6  dada  a  todos?  Ponlos  deflni* 
dos  pela  Egreja  —  exame  das  opinuVs  a  cercu  dos  nSo 
deflnidos  —  desegualdade  das  trra^as.  PredeslinaQao  e 
reprovH^ao  —  a  reprova^So  dSo  i  absulula  —  e  a  predesti* 
na^So  ? 

3.  Gracja  sanclificante  —  sua  natrireza  —  doutrina  do 
coricilio  deTreutu  — disposi(;ues  ou  meios  para  alcan^ar 
a  justificaeHo  —  corollaries  d'esta  doutrina.  PropriedadeB 
da  jnsliflcai;ao  —  sua  incerleza  — amipsilpilidaje  — au;;- 
mento  ou  dimioui^ilo.  Qnestoes  escholasticas  scbre  esta 
materia. 

4.  Boas  obras— sua  npcessidade— sen  merito.  Espceic^ 
de  ruerito  —  suas  condi<;oe3  —  ol>jeclo  —  variedade. 

5."  CADEIRA. 

THEOLOGIA    DOGMITICO-PRACTICA. 

Lento  —  Dr.  Jose  Ernesto  de  Carvalho  e  Rego, 

COMPENOIO A.    LUBV,  THEOLOGIAB    MORAMS  rN  SYSTEM* 

REDACTAB^   ETC.,   CONJMBRICAB    1848. 

A.  Parle  geral  de  Moral  Christa. 

1.  No<;oes  preliiuinares  sobre  a  nalureza^objeclo  ^ 
fim  —  di\isao  —  utiiidade  — excellencia  — funics  daTheo- 
Iogi;i  Doirniatieo-Practica.  A  sua  hisloria  litteraria, 

2.  Natureza  moral  do  hnmem  era  geral  —  em  particu- 
lar sua  nalureza  moral,  relalivamenle  aos  qualro  estados 
da  innorencia  primiliva  —  da  culpa  —  da  gra^a  —  e  da 
gloria.  Seu  fim — deslino — e  dignidade. 

3.  Praxeologia  moral,  Natureza  e  indole  das  ac^fSes 
mornes  do  homem  em  geral  —  norma  d'eslds  ar^'oes,  e 
sua  flpplica^ao  a  ellas  tanibem  em  gerrd.  Leis  em  parti- 
cular, conio  norma  das  ac^oes  moraes,  e  sua  ajijilica^ao 
a  ellas  como  principio  d*onde  nasce  a  imputa^ao.  CoDsci- 
encia— nioralidade   das  ac^oes. 

4.  Arelologia  geral.  No(;iio,  indole,  divisao,  ordem  e 
collisao  d'ollicios  e  direilos.  Theoria  dos  habitus  em  geral 

—  em  especial  dos  bons —  no^iio,  nalureza,  molivos,  con* 
di<;oes,  nccessidade,  divisao  da  virtude -— impedimentos 
ireraes  da  i  irlude  —  adminiculos  tia  \irtude  em  geral. 
Theoria  dos  habitos  raaus  em  especial.   Vicios  e  peccadoa 

—  causas,  fuutes,  occasioes — grau  dos  vicios,  e  da  vicio- 
nidade.  Emenda  moral. 

B.  Elhica  Chrisla  applicada. 

1.  Onicius  do  homem  Christao  a  respeito  de  Deus  — 
virludes,  que  d^elles  nascem,  vicios  que  Ihes  sSoopposlos. 

2.  Officios  do  homem  Christao  a  respeito  de  si  raesmo 

—  virtudes  e  vicios,  que  se  seguem  da  sua  observancia, 
ou  D'lo  observancia. 

3.  Officios  tantoabsolutoa,  como  hypolhelicos  a  respei- 
to do  proximo  —  virtudes  e  vicios,  que  Ihes  correspoodem. 

4.  Conlractos  em  .geral  — em  particular. 

5.  Sociedade  conjugal  e  palerna  —  obriga^5es  e  direi« 
tos,  que  Ihes  sao  annevos. 

C.  Theologia  pastoral. 

I  Officios  especiacs  dos  pastoret  da  Egreja  de  toda* 
as  hierarcbias*  no  que  respcita: 

fl.  A  prega^So  da  palavra  de  Deus. 

b.  A  disprnsa^lo  dos  sacramentos. 

c.  A  cura  das  almas. 


> -^-^^^Vx-  .^**"  "^V^^- 


175 


d.  Ao  exercicio  do  culto  externo. 
S.  Oflicius  do  povo,  rclativameute  ao  clero  em  geral 
^-ao8  seUB  paslorcs  em  particular. 

4.*'  ANNO  — 6.»  CADEIRA, 

THEOLOGIA    LITORGICA. 

lieote— Dr.  Anlonio  BeUarmino  Carr^a  da  Fonseea* 


COMPBNDIO J.   PHUNYI,  STSTEMA   THEOLOOrAH   DORMATI- 

CAE  CURISTIAISO-CATUOLLCAB,    COMMBKICAB   l9iB> 

A.  Sacramental. 

1.  Sacraaientus  em    geral:    no^ao  c    inslltui^uo    dos 

cacramejilos — sens  cuiistiliitivos  —  rcqiiisilos  dt>  ministro 
—  do  subjeito.  For^a^  efficacia  e  numt-ro  dos  sacramen- 
tos. 

2.  Sacramenlos  em  particular: 

a.  Baplismo  —  noi^ilo — instilni(;ao,  materia,  furraa, 
mitiistra,  sulgeilo,  necessidade,  efTeitos  do  baplismo. 

b.  Confirmaqau,  verda'lelro  sacramcnto  — sua  materia, 
fiJrma,  miiiislro,  suhjeiln,  necessidade  e  effeitus. 

c.  Eiirhiirislia — mysterio  da  presen«;a  real — Irans- 
eubstuncia^aii.  E  verHadeiro  sacramenlo.  Sua  maleiia, 
forma,  miuislro,  necessiilade.  E  verdadelro  saurificio  da 
Lei  no%a  —  proplcialorio  —  ialreutico  — ■  eucUaristico  — 
imjtelral(>rio. 

d  Ptiiilciicia — J.  Christo  deu  a  Egroja  o  poder  de 
reter  e  perdoar  pi;ctailos — neccssiitade  da  conCssaa  sai-ra- 
tnenlal —  da  cuiitri^ao  —  satisfac^ao  —  poder  da  E;;reja 
de  conceder  indnl^'encias  —  maleria,  forma,  Qiinistro, 
suljeito,  effcilo  iK>sacrameiito  da  penitencia. 

e.  Exlrema-Unc^ao  —  verdadeiro  sacramenlo  —  sua 
materia,  forma,  roinistro,  sul-jeilo,   Qecessidade,  effeilos. 

/,  Ordem,  autre  sacrameiito  —  sua  maleria,  forma, 
minislro,  suljt-ilo,  ntcessidade,    effeitos. 

g.  Matrimonio  —  e  urn  olficio  da  natureza  instiliildo 
por  Dens  —  e  lamln-m  verdiidt-iro  sacramenlo-^  sen  mi- 
nislro, miilerirt,  forma  e  subjeilo  —  a  E;.Teja  tern  j)()der 
dc  cstal»f;lecer  iinpedinientus  dirimeiiles  do  malrimonio  — 
Poly^amia  simnltanea  prohibida  na  Lei  nova — iudissolu- 
bilidade  do  matrimonio. 

B.   Liti:r<;id  em  especie: 

I.  Nor  fin. 

S.  Divi.sao  : 

a,  Historira  —  exposi^Ho  das  varia^OL'S  succedidas 
oa  E;5rcjii   a  respeilo  iJo  cullo. 

A.  Techiiira — desinvoUimenlo  das  \eri1adt-jras  caiisas 
d'eslas  varia(;ot'S  — estjbelecimento  do  cullo  religioso  maid 
accummodadu  ao  espirito  do  Chrisliaiiismo. 

A.  li.  Nesle  quarto  anno  us  aluiuims  de  Theologia 
frequeutam  a  aula  ile  Dlrt^ito  Ecclcsiuiiticu  Publico  na 
Faculdade  de  Direito. 

uh 
5^  ANNO.  — 7.»  CADEIBA. 

ESCRIPTURA   DO    TESTAMRNTO  VELHO    E   DO   TESTAMESTO 
novo    PARA    AS    LI^OES    DE    EXEGETICA. 

Lente  —  Dr.  Anlonio  Jose  de  Freilas  Honoralo. 

CoMPE^UIO  — FR.    J.     DE    S.    CLARA,     CONSPECTUS   HERME- 
NEUTICAE      S  A  CRAB      WOVI      TESTAMENT!,      CuNIMBR  ICA  J-: 

1827,   E  — J.    JUI/IAM.    MONSI'EUOER,    I.^STlTLiT10.^ES 

HBRUGNEUTICAE    «OV.    TEST,,    \I.\DOBONAE    1704. 

A.  Hermeneiitica  s.ic;rai!a  do  novo  e  anti^^o  Teslamcn- 
lo  : -^liermeneutica  em  gpral — hermeneulica  saijrada  cm 
especial — hermeneutica  sagrada  do  noio  TistaiucnU)  mois 
e6|)ec(alme)ite  —  do  anli:;u  —  livros  apucrijjhos  do  Tcsla- 
mcnlo  novo  —  do  autigo.  Fim  inlerno  e  exlcnio  da  h-r- 
menenlica  sa^rada  —  meios  proximos  e  romolca  jtroprios 
para  seconst-iruir  csle  Gm  —  uso  d'esles  meios  pela  analyse 
e  epilyse— regras  Lermeneulicas  a  cerru  do  senlido  da 
Palavra  de  Deus — dos  meios  hcrmeneuticoa  —  do  uso 
d'esles  meios. 

B.  Analyse  hermeneiillca  da  hisloria  harmonica  dos 
qimtro  EvaiigelliDS.  Explicada  — expusi^ao  de  cada  uma 
das  pericopas  mais  obscuras  —  analyse  hermeneulica  das 
pericupas  mais  diOiceis  do  antigo  Testamento, 


C.  Epilyae  hermeneulica  dfl  alguns  logares  c)as*icoa 
d*entre  as  pericopas  da  analyse  —  epilytc  — ejtegetica — 
eleoclica  —  porismatica, 

N.  B,  Nesle  quinto  anno  os  aliimnos  de  TheoIo;n*a 
frequentam  a  aula  de  Direito  Ecclesiastico  Particular  na 
Faculdade  de  Direito. 

SEXTO  ANNO. 

Neste  fiexto  anno  os  atumnos  de  Theologia  repelem 
as  aulas  do  qnlnto  anno. 

No  lira  de  cada  iim  dos  primeiros  cinco  annos,  os 
aluinnos  habililados  liram  duis  ou  mais  pontus  sobre  us 
materiaa,  que  frequentiiram ;  e  n'esles  sao  examinadoa 
jjublicamenle  pur  Ires  ou  qiiatro  Lentes  de  Theologia  e 
de  Diri'ilo  (nas  suas  materias). 

Aos  alumiios  approvados  no  exame,  ou  acto,  do  quarto 
anno,  se  confere  u  ijrau  de  Bacharel. 

t)s  repelenlt's  (ahimnos  do  6.°  anno)  defendem  publi- 
camenle  no  fim  do  anno  umas  TlieseSj  tiradas  de  tudas  as 
disciptin.is,  que  frequfntaram  ;  e  nas  quaes  Ihe  arc<:nmen- 
tam  oilu  Lenles,  ou  Duiilures  Theologus.  DepuJs  era  uni 
ExHtiie  pritatlo  seis  Ltenles  Tlieologos  os  examinam  sobre 
as  miiteria?  principaes  de  lodo  o  curso.  Ao  alumno  ap- 
provado  n'f'Ste  exame  e  conferiJo  o  gran  de  LiccnciaJo, 
e  p(J(le  lomar  o  de  Doulor. 


RELATORIO 

Dos  Irahalhos  do  conselho  da  faculdade  de 
muthematica,  no  anno  lectivo  de  1833  para 
18u4. 

A  pezar  da  alteracao  que  soflVcu  o  soccgo 
publico  nesta  cidadc  por  occasiao  da  lesta 
do  Carnaval,  e  dos  aconterimcntos  cxtraor- 
dinarios  que  d'ahi  resultaram,  o  servico 
ordinario  da  faculdade  correu  regular  por 
parte  dos  professores,  que,  animados  do  maior 
zelo  pelo  ensino  publico,  poderam  allenuar  os 
nifius  effeitos  d'aquelles  acontecimentos,  tendo 
a  satisCaecao  de  ver  que  este  seu  zelo  foi  coroa- 
do  de  resultados  satisfactorios  para  o  apro- 
vellamento  de  grande  nuniero  dos  sous  disci- 
pulos. 

0  tempo  das  aulas  foi  prolongado  o  mais 
possivel,  conlinuando  as  do  3.°  e  4."  anno  ate 
10  dejunho.  e  levando-se  ainda  mais  adiante 
as  do  1."  e  i.°  anno,  dei\ando-se  somente  o 
tempo  quo  jjareceu  necessario  para  se  fazereni 
os  ados  dos  esludantes  habilitados. 

Os  ados  lizeram-se  com  o  rigor  costumado; 
e  0  conselho,  depois  d'elles,  dccidiu  que  se 
consignasscm  no  livro  das  adas  das  congrcga- 
coes  OS  nomcs  dos  esludantes  que  se  haviani 
tornado  distinctos  pela  sua  frequencia  e  nosi 
ados. 

Tendo  o  governo  de  S.  M.,  em  portaria  do 
ministerio  dos  negocios  do  reino  de  i'6  de 
agosto  de  lSb3,  dcclarado  que  o  arbitrio, 
adoptado  pela  faculdade  de  mathematica  em 
29  dejulbo  domesmoanno,  satisfaz  completa- 
mente  ao  pensamento  que  dictou  a  portaria 
de  3  de  agosto,  relativaniente  a  classiticacao 
dos  alumnos  que  foram  approvados  no  3."  e 
4.°  anno  da  faculdade,  a  tim  de  serem  equi- 
parados  em  vantagens  aos  alumnos  da  eschola 


176 


do  exercito:  n'essa  conformidade  fez  o  conse- 
Iho  n'este  anno  a  classificacao  dos  estudantes 
do  3."  e  4.°  anno,  a  qual,  por  via  do  prclado 
da  univcrsidade,  fez  subir  a  presenja  do  S.  M. 
Nao  havcndi)  no  anno  lectivo  ultimo  estu- 
dantes niatriculados  no  5.°  anno  da  faculda- 
de,  cntcndou  o  consclho  ser  niais  conveniente 
que  OS  sextanistas  da  faruldado,  em  vez  dc 
frequenlarem  a  ".'  cadeira  collocada  no  5." 
anno,  frcquentassem  antes  a  8/  cadeira;  e 
tnniando  esta  decisao,  foi  ella  approvada 
pelo  governo  dc  S.  M.  em  portaria  de  4  de 
uovembro. 

Estatistica  da  frequencia,  e  aproveitamenio  dos 
alumnos  da  faculdade  de  malhemalica  n'esle 
anno  lectivo. 


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113 

Podendo  a  letra  dos  estatutos  dar  logar  a 
duvidas  sol)re  quern  deve  piesidir  ao  acto  das 
theses,  fcii,  por  proposta  de  urn  dos  vogacs 
do  fouseliio,  ventilada  esta  questao,  resul- 
tando  detidir  o  raesnio  conselho,  quasi  por 
tinaniinidade,  que  esta  presidencia  cabia  ao 
lento  de  prima  da  faculdade,  ou,  na  sua  falta, 
a  quern  suas  vezes  lizesse. 

Tendo  sido  presente  ao  conselho  a  portaria 
de  5  dc  septembro,  relativa  ei  publicacao 
gratuita  do  jornal  do  Inslituto  de  Coimbra, 
na  qual  sc  pcrmitte  as  faculdades  acaderaicas 
0  fazor  imprimir  as  publicaoOes  scientilicas 
e  litterarias,  foi,  por  proposta  do  vogal 
Barrcto-Feio,  nomeada  uma  commissao,  com- 
posta  dos  vogaes  Guerra  Osorio  e  Jacome 
Sarmento,  para  colligir  das  actas  e  archives 
da  congregaeao  o  que  mereccsse  ser  publicado  ; 
e  ao  niesmo  tempo  foram  convidados  os  pro- 
fessores  da  faculdade  para  darcra  por  cscripto 
quaesquer  demonstracOes,  aditamentos  ou 
memorias  com  que  substiluam  ou  ampliem 
algiima  parte  dos  compendios  por  onde  cx- 
pliquem,  a  lim  dc  ser  tiido  publicado  no  jornal. 

Tambem  foram  mandados  alii  pul)licar  os 
programmas,  cxigidos  na  portaria  do  mini- 
stcrio  do  rcino  dc  11  de  maio,  depois  dc  com- 
pctentemente  approvados  pelo  consclho. 

Durante  este  anno  lectivo  o  consclho  da 
faculdade  tomou  as  seguintes  resolucues: 

Que  OS  professores  das  respectivas  cadciras 


d(*cm,  em  oongregafao,  conla  dos  alumnos 
que  deixarem  dc  entrcgar  os  exercicios  que 
Ihcs  forem  passados.  —  Que  as  dissertacoes  de 
partidos  ou  premios  corram  por  todos  os 
vogaes  do  conselho,  a  fim  de  que  todos  pos- 
.sani  volar  sohre  a  conccssao  dos  mesmos 
partidos  ou  premios. — Que  no  principio  de 
outubro  de  cada  anno  lectivo  se  publiquem 
por  edilal  todos  as  dccisocs  do  consclho  sobrd 
a  contagem  e  elTcitos  das  faltas. — Que  sejam 
dois  OS  dias  de  ponto  no  3.°  anno. 

0  conselho  approvou  para  compendios  da 
faculdade  : 

A  1."  parte  dos  elemcntos  de  astronomia, 
aprcsentada  pelo  vogal  Sousa  Pinto. 

A  nova  traduccao  da  algebra  superior  do 
curso  demathematicas  puras  de  Francocur. 

K  decidiu,  (juc,  vista  a  demora  que  tem  tido 
a  imprcssao  dos  ullimos  volumes  da  nova  edi- 
fSo  de  astronomia  de  Biot,  nao  fossem  os 
estudantes  do  4.°  anno  obrigados  a  comprar 
OS  prinieiros  volumes  na  imprensa  da  uni- 
vcrsidade. 

Decidiu  tambem,  que  no  proximo  anno 
lectivo  frcquentassem  os  alumnos  do  S.°  anno 
a  C  cadeira  collocada  no  4."  anno,  e  que 
n'ella  comecassem  por  estudar  a  mechanica 
dos  iluidos,  c  que  na  5.'  cadeira  se  explicas-' 
sc  optica. 

0  consclho,  decidindo  que  se  instasse  pela 
conccssao  de  lodas  as  verbas  pedidas  no  seu 
ultimo  ortamento,  quiz  que  n'este  relatorio 
se  fizessc  tambem  sentir  ao  prclado  da  uni- 
vcrsidade a  urgente  necessidade  da  acquisi- 
ciio  dc  uma  casa  propria  para  aula  de  dese- 
nho,  visto  que,  tendo  o  governo  de  S.  M. 
cedido  a  faculdade  de  niedicina  o  cdilicio  do 
collcgio  das  Artcs,  tica  o  mesmo  consclho  pri- 
vado  da  casa  onde  primciramentc  fora  col- 
locada aciuclla  aula. 

0  consclho  pediu  tambem  ao  prclado  a 
graja  de  sollicitar  do  nicsmo  governo  de  S. 
M.  a  conccssao  da  casa  da  livraria  do  col- 
lcgio de  S.  Pedro,  a  qual,  no  entender  do 
mcsmo  conselho,  e  a  unica  que  mais  eco- 
nomicamenlc  pode  ser  aproveitada  para  esse 
lim,  e  sera  o  que  se  tornara  impossivel  a 
exislencia  d'esta  cadeira,  tal  qual  deve  ser 
montada. 

Sendo  reconhccida  a  necessidade  de  mais 
uma  casa  d'aula  para  uso  da  faculdade,  c 
tendo  esta  requisitado  da  faculdade  de  philo- 
sophia  a  casa ,  onde  antigamente  fora  esta- 
belccida  no  museu  a  aula  de  hydraulica :  a 
vista  do  olTcrecimento  de  outras  casas  por 
parte  da  faculdade  de  philosophia,  nomeou 
0  consclho  uma  commissao  composta  dos 
vogaes,  Castro  e  Silva  Montciro  para  de  ac- 
cordo  com  o  prclado  escolhcrum  no  niesmo 
local  do  museu,  e  mandarem  prcparar  uma 
aula  que  satisfaja  as  condicocs  materiacs  do" 
cnsino. 

Em  consclho  da  faculdade   foi  lida  uma 


177 


carta  do  digno  par  do  rcino,  director  do 
observatorio,  dirigida  ao  revercndo  hispo  de 
Braganra,  na  qiial  participava  lerem  cliega- 
do  no  paquete  de  2i  de  abril  os  conhecimentos 
dos  instninientos  para  o  observatorio,  que 
deviam  cbogar  nessa  scmana  a  Lisboa  no 
vapor  D.  Maria  II,  sendo  depois  remctlidos 
para  a  Figueira  no  primeiro  navio  do  esta- 
do  (jue  possa  alii  descmbareal-os.  E  o  consc- 
llio,  pelo  intcrosse  de  tao  grata  nolicia,  dc- 
tidiu  que  d'ellcs  se  lizesse  mcnrao  nas  suas 
aclas. 

0  vogal  Sousa  Pinto,  director  interino  do 
observatorio,  cxpoz  a  convcnicncia  de  sercm 
propostos  para  ajudantt's  do  uicsmo  observa- 
torio OS  actuaes  calculadorcs  extraordinarios, 
c  tanibeiu  a  do  provimento  do  logar  de  3." 
astronomo.  0  conselbo  concordando  com  a 
nccessidade  da  nomeacao  dos  ajudantes, 
foi  de  pareccr  que  a  do  3.°  astronomo  devc 
scr  adiada  per  agora,  attcnlas  as  circum- 
stancias  do  se  acbar  incompleto  o  quadro 
da  faculdade,  e  da  auscncia,  em  graude 
parte  do  anno  lectivo,  de  tres  de  seus  vogaes 
occnpados  em  servico  da  jXacao. 

PassanJo  a  fazer  a  visila  do  observatorio, 
tevc  0  conselbo  occasiao  de  exaniinar  oflicial- 
mcnto  OS  instrumentos  ullimamente  cbcgados, 
OS  quaes  ja  baviam  sido  montados  provisoria- 
mcnlo,  para  se  vcr  se  havia  falta  de  alguma 
pcca,  e  de  cuja  coilocacao  dellnitiva  se  cstava 
traclando  torn  a  maior  diligencia,  tcndo  cbe- 
gado  jii  a  auctorisacao  para  se  I'azcr  a  des- 
pesa  nece'ssaria  para  siniiibautc  elTeito.  E  o 
conselbo  resolvcu  que  norelatorio  da  faculda- 
de se  manifestasse  a  gratidao  de  que  seacbava 
possuido  para  com  o  governo  de  S.  M.  por 
uma  accpiisicao  tao  importante  para  o  servico 
e  credilo  da  faculdade  de  nialbemalica. 

0  director  interino  do  mcsmo  observatorio 
dedarou  nessa  occasiao  ao  prelado  da  uni- 
versidado  que  Ibe  constava  ter  sido  lembrado, 
pela  commissao  encarrcgada  de  escolber  urn 
local  e  cdilicio  proprio  para  cadea  desta  ci- 
dade,  a  parte  construida  do  antigo  observa- 
torio ao  Castello:  e  que,  a  ser  isto  certo, 
cntendia  que  a  faculdade  de  matbematica 
devia  emprcgar  todos  os  csforcos  para  que 
se  nao  desse  tal  destino  a  um  edilicio,  que, 
pela  sua  posiciio  c  capacidade,  oflcrecc  as 
nielbores  condicoes  que  se  exigem  n'um 
estabclecimento  asirononiico,  e  cujo  acaba- 
raento,  para  o  bm  a  que  desde  o  seu  principio 
foi  deslinado,  se  torna  ao  prcseutc  mujto 
mais  ncccssario  e  urgenle. 

0  conselbo,  conformando-se  cm  tudo  com 
as  ideas  do  director  interino  a  tal  respeilo, 
fez  seutir  ao  prelado  da  universidade  a  ncces- 
sidade de  se  nao  dar  destino  aquclle  edilicio, 
que  prejudique  o  que  teve  primitivamente; 
e  teve  a  satisfaccao  de  vcr  (|ue  o  mesmo  pre- 
lado promettera  auxiliar  o  conselbo  n'este 
cmpcnho. 


A  POESIA  SLAVA  MODERNA. 

Continuado  de  pa^.  166. 

Finalmente,  para  mostrar  a  graca  perfeita 
com  que  Subbotitj  soube  apropriar  a  indole 
das  piesnas  a  poesia  cavalleirosa,  nada  nos 
parece  tanto  a  proposito  como  rcsumir  acpii, 
conservando-lhe  o  colorido,  a  extensa  balladu 
de  trinta  paginas  que  clle  intitula  Bcidiii- 
Ichl.a  Jioulu,  ou  0  Voicvoda  Mirko  c  sua 
Fillm. 

«  0  velho  Mirko,  voicvoda  de  Syrmia,  cscrc- 
ve  da  sua  fortaleza  de  Berduik  uiua  carta  a 
seu  irmao  d'armas,  vclbo  como  clle,  o  beroe 
Jug  Eugdan:  Escuta,  amigo:  Tu  conheces- 
niinba  bllia  Ikonia,  que  exccde  era  altura  e 
belleza  todas  as  donzellas  da  nossa  terra; 
desejava  procurar  um  esposo  para  ella,  e  um 
genro  para  mini,  que  alliviasse  os  mens  bom- 
bros,  aluidos  pela  edade,  da  pesada  armadu- 
ra  que  ja  mal  posso  sustentar.  Nao  tenbo  j;L 
niuguem  era  que  espere  vcr-rae  reviver,  lla 
sete  iuinos  que  meu  lilbo  Radovan  partiu 
com  0  nosso  exercito:  e  de  ba  muito  que  o 
exercito  esta  de  volta,  mas  nenbumas  noti- 
cias  de  Radovan.  Ikonia  tinba-se  babituado 
a  ir  cacar  aos  monies  com  seu  irmao,  a  ma- 
ncjar  a  clava,  e  a  atravessar  a  aguia  com  as 
suas  frecbas  na  regiao  das  nuvens.  Tcndo 
perdido  seu  irmao,  desoja  um  esposo  em  tudo 
parecido  com  clle,  e  que  a  mini  me  avive  a 
mejuoria  do  fiibo  que  perdi. 

E  por  isso,  meu  velbo  amigo,  que  te  con- 
vido  para  que  venbas  visitar-me  dia  de  S. 
Joao.  £  nesse  dia,  que  ha  de  soltar-se  no 
canipo  um  ligeiro  veado,  que  minba  filba  apa- 
nbara  na  carreira;  atirara  com  a  sua  clava 
a  rail  bracas  de  distancia;  finalraentc  a  mil 
bracas  de  altura  se  dcixara  subir  aos  ares- 
um  falcao,  e  quando  la  chegar,  .sera  alraves- 
sado  por  uma  frecha  disparada  por  minba 
lilba.  Aquclle  dos  nossos  heroes  que  apanbar 
0  cervo  tao  depressa  corao  ella;  ou  que  alirar 
lao  longe  corao  ella  com  a  sua  clava ;  ou  que. 
atravessar  o  I'abao  a  mesraa  altura,  esse,  mi- 
nba lillia  0  acccitara  para  esposo,  e  logo  no 
dia  scguinte  se  festejani  o  noivado.  Traze  pois 
comtigo  OS  Icus  nove  blbos,  e  todos  os  senho- 
res  da  tua  voievudiu,  para  que  tomera  parte 
na  fcsla.  » 

0  \clho  cscreve  scgunda  carta,  cm  tudo 
siuiilbante  a  priracira,  a  Miloch  Obilitj  da 
serra  de  Potseria ;  envia  terceira  a  Branko- 
vitj,  da  nevada  Travnik;  e  depois  quarta  no 
mesnio  teor  aos  Jakcbitj  de  Belgrado. 

Dia  de  S.  Joao,  todas  as  senhoras  da  pri- 
racira jerarchia,  todos  os  senhores  dos  vastos 
paizes  servios,  se  acham  rcunidos  nos  cam- 
posextensos  quedomina  o  castello  deBcrdnik. 
Todos  estao  impacientes  por  ver  o  curioso 
descniace  d'esta  iucta  de  uma  donzclla  com 


178 


OS  raais  valciUes  heroes  slavos,  lucla  cujo 
prcmio  sera  a  sua  propria  mao,  quo  val  unia 
pica  voievodid.  Tao  longo  quanlo  podc  c'\lou- 
(ler-se,  a  vista  uao  ilescohri'  si'nao  cqiiipa- 
geus  c  spiiliorcs  todos  coberlos  d'oiro.  Figu- 
rem-se  as  tiiiias  da  aurora  sohrc  os  prados, 
quando  clla  I'az  lirilliar  o  orvalho  com  as  mil 
cores  do  iris;  assim  brilliain  os  canipos  de 
Berdnik  ao  rellexo  dos  milhoes  do  podras  pre- 
ciosas  ([uo  seinlillani  iios  hdljiaks  dos  guerrei- 
ros,  oomo  as  fulgontes  eslrollas  da  noito  na 
facliada  do  firmamonto.  La  estao  os  tres  irniaos 
adoptivos,  Jiarivo  o  Kralio\  itj,  Uolia  de  Novi- 
Bazar  e  Milocii  Obilitj,  tres  heroes  como  nuii- 
ca  se  virara  outros  similhanles  nos  sctc  rci- 
nos  latinos,  c  que  val  cada  um  delles  so  um 
cxcrcito.  La  csta  o  velho  Jug  Bogdan  com  os 
seus  novo  lilhos,  todos  frescos  como  novo 
golas  d'orvalho,  todos  parccidos  na  estatura, 
nas  foiroes  o  na  valentia.  J  undo  delles,  hi  so 
ve  0  fulminanlo  Liutilsa  Bogdan,  cuja  vista 
traspassa  o  inimigo  primeiro  quo  olio  chogue 
a  tirar  o  sahre  da  hainha,  o  o  enformo  Uoit- 
thiu,  quo  similhando  um  raorto  ambulante, 
iiao  torn  sonao  a  pelle  sobre  os  ossos;  mas 
seus  ossos  sao  como  do  ferro. 

0  I'oievoila  Mirko  desce  da  sua  cidadolla, 
seguido  da  encantadora  Ikonia  em  trajos  do 
um  joven  guerroiro,  com  o  manto  tluctuando 
sobre  os  liomhros,  o  prcso  no  poscooo  por  uni 
diamante,  que  so  olio  val  tres  cidades  impe- 
riacs.  Nunca  so  idoou  uma  t'i7rt  mais  I'ormosa, 
nunca  o  pincol  vonoziauo  podera  croar  con- 
lornos  mais  perfeitos,  nem  um  todo  de  linea- 
montos  mais  harmoniosos.  Todos  os  heroes  a 
contemplam  fascinados;  mas  atras  vera  pu- 
lando  0  veadozinho  captivo ;  traz  as  pontas 
douradas;  mordc  n'nm  I'roio  ornado  de  pero- 
las;  OS  seus  pes  ligoirns  alcanoariam  uma 
viJa  ou  uma  estrolla  cadonte  atraves  do  ceo 
azulado.  0  voicvoda  Jlirko  solta  as  rodeas  ao 
prisionoiro,  e  com  uma  cliicotada  o  lanca  no 
meio  da  arena.  0  animal,  sentindo-sc  livro, 
parte  veloz;  mas  do  tres  saltos  Ikonia  o  alcan- 
ca,  e  pondo-llie  uma  das  niaos  sobre  a  cabe- 
ca,  salia-lbo  no  dorso,  e  o  reconduz  como  um 
docil  corcol  a  sou  pao.  Todos  os  ospectadores 
ficam  siloneiosos  e  estupofactos;  nonhum  se 
'bole.  Os  vclhos  olham  para  os  mooos,  c  os 
mocos,  cheios  de  dospoito,  olham  para  KriUi- 
iilj  \  0  guerroiro  alado  de  Novi-15azar;  mas 
Krilatilj  abaixa  a  cabeca  oncostada  sobre  a 
rclva. 

Do  repenlc  da  handa  do  horizontc  ouve-se 
uma  cancao  alegre :  c  a  de  um  guerroiro 
dcsconhocido,  montado,  sera  cstribos  noni  sol- 
la,  sobre  um  oavallo  selvagem,  quo  pula  como 
um  tigrc  e  cujas  clinas  varrom  a  relva.  Esto 
hcroc,  do  uma  physiognomia  oxtravagante,  traz 

'  Kn'l/ititj  na  lingua  servia  stgnifica  o  que  traz 
nzas,  e  ilii-se  psli-  nonic  aos  fruerreiros,  que  chegam  a 
saltar  de  uma  nu  ve«  |i"r  cima  Ue  sete  cavallus  de 
combate  postos  ao  lado  uns  dos  outros. 


0  comprido  manto  dos  bulgaros.  Barbas  hran- 
cas  desceni-Ihc  a  cinclura,  os  ollios  oscoudem- 
.so-lbe  debaixo  das  bastas  sobrancollias,  e  os 
bigodcs  lliu'tuantos  caom  onrolados  para  tras 
das  orelbas.  Chogado  ao  moio  dos  hrilhantes 
sonhoros,  lanca-llios  um  olhar  dosdenhoso,  c 
vollaudo-se  para  Relia  Krilatilj:  «  I'or  ipie  tc 
appollidas  tu  o  guerroiro  alado,  se  nao  Ions 
onorgia  para  rivalisar  com  a  donzolla  em  ve- 
locidado? — Guerroiro  dcsconhocido,  res[ion- 
de  Krilalitj,  deixa-tc  do  injustas  roprohen- 
sOes.  Tonho  luclado  om  volocidado  com  a 
andorinha,  c  tenho  passado  adiante  das  pom- 
has,  som  buscar  outra  recompensa  mais  do 
que  0  men  divertimento.  Como  nao  rivalisa- 
ria  eu  agora,  se  podosse,  aqiii  com  osta  mc- 
nina,  quando  ella  (i  o  proniio  da  lucta,  ella 
que  nao  enoonlra  egual  nos  sole  roinos  lati- 
nos? Acho-mo  porem  coberto  do  dezesete  fe- 
ridas,  ainda  nao  cicatrizadas;  o  por  pouco  que 
eu  corrosso,  ellas  se  tornariam  a  ahrir  no 
mesmo  instanto.  »  0  dosconbecido,  dirigin- 
do-so  entao  para  os  mancebos,  lanca-lhos  sar- 
casmos  pungentes.  Como  e  que  llies  faltara  os 
brios  para  esgottarom  as  suas  Ibrcas,  e  arris- 
carem,  se  tanio  for  mister,  a  vida  para  me- 
rocorem  uma  tal  belloza?  nTalvez  quizesscm, 
([uo  ella  so  tomasse  ospontaneamente  de  amor 
por  olles,  0  que  viosso  tiuiida,  na  sombra  dos 
seus  harens,  enlrcgar-se  as  suas  caricias.  E 
uma  vergonha,  liuda  Ikonia,  quo  Kquos  assim 
abandonada:  mas  antes  marido  rellio,  que  sent 
marido.  »  Diz,  solta  o  veadozinho^  e  de  uma 
SI)  obicotada,  que  Ihe  rasga  a  polle  o  Ihe  faz 
saltar  o  sangue,  o  lanca  na  arena.  Excilado 
pelo  estimulo  da  dor,  o  animal  foge  rocando 
a  terra  com  o  ventre,  como  para  escapar  a 
mortc;  mas  o  guerroiro  descoubecido  o  segue. 
N'um  instante  ja  Ihe  passa  adoante,  e  toman- 
do-o  pela  redea,  vem  trazel-o  ao  vnieeoda 
Mirko,  e  somc-se  dopois  no  moio  damultidao. 
C'ontinua. 


COSTUMES  AR.\.BES. 

A  >OBUEZ.V  SO  DESEllTO.   ' 

«  D'uma  sarca  espinhosa, »  dizia  Ahd-el- 
Kader,  «  rogada  todo  o  anno  com  agua  de 
rosas,  nao  se  obteni  souao  cspinbos;  d  uma 
palmi'ira,  scni  roga,  sem  cultura,  senipre  sc 
colliom  taraaras.  »  Segundo  os  arabos,  a  no- 
breza  6  a  palmeira ;  a  plehe,  a  sarca  espi- 
nhosa. 

No  oriente  crc-sc  no  poder  do  sangue,  na 
virtudc  das  racas;  considera-se  a  aristocracia 
como  uma  nccessidade  social,  ate  como  lei  da 
nalureza.  Ao  contrario  do  que  succede  entre 

^  Extraliido  do  que  escreveu  o  geueral  E.  Daiimas 
sol)re  este  olyecto. 


179 


OS  povof  do  occidcnlc,  ningiicm  ppnsa  em 
revoltar-se  contra  esse  principio  alii  recebido 
com  placida  resignacao. 

Af'ora  a  nohreza  d'origcm  lonpiqua  e  sagra- 
da,  que  se  cnmpoe  dos  desccndentes  do  pio- 
pheta  ((■hn-ifc.'<\  teem  os  arabcs  outras  duas 
Bobrezas  distinctas;  a  religiosa'  e  a  iiiilitar. 
Os  marahoules  e  os  djouudes  sao  duas  classes  de 
nobreza  que  deiivam  sen  csplcndor  ja  da  pic- 
dade,  ja  do  valor;  cstes  alcaiicam-o  no  coin- 
bate,  aquolles  com  a  oracao.  Estas  duas  clas- 
ses pcrscguem-sc  com  odio  implacavcl.  Os 
djouudes  exiialam  contra  os  muruhoutes  as  con- 
suras  que  d'ordinario  sc  fazem,  em  todos  os 
paizes,  as  ordens  religiosas  que  procuram  in- 
tronieller-sc  nas  cousas  temporaes;  accusam- 
nos  dc  inlrigas,  de  pianos  tenebrosos,  de 
pcrpetua  cubira  dos  bens  mundanos  disfarca- 
da  com  um  falso  amor  de  Deus.  Diz  um  dos 
sens  j)roverbios:  «  Da  zuoitia'  sempre  sae  uma 
serpente.  »  Por  outra  parte  os  imirahoutes  ac- 
cusani  OS  djouades  de  violencia,  rapina  e  im- 
piedade.  Kste  ultimo  arligo  ministra-lhes  mui- 
tas  vezcs  uma  arnia  terrivel;  os  mdrdboutes 
sao  paja  sens  rivaes,  o  que  era  o  clero  da 
edade  media  para  essa  nobreza  leiga  a  quern 
um  anathema  vencia,  a  despeilo  do  formida- 
vcl  apparelho  dc  sua  forca  guerreira.  Se  os 
djouudcf!  arrebatam  o  povo  recordando-lhe  os 
perigos  arrostados,  o  sangue  espargido,  fazen- 
do,  emfim,  valer  oprestigio  militar,  os  ?;!«;■«- 
boutcs  exaltam-lhe  a  imaginarao  com  a  omni- 
potencia  das  creucas  religiosas.  Nao  e  raro 
ver  um  marabout  amado  on  tcniido  do  povo 
p6r  em  risco  a  dominacao  c  ate  a  vida  dc 
um  djouad.  Para  sc  comprebendcr  o  que  c 
um  nolire  do  Sahara  cm  todo  o  seu  esplendor, 
em  todo  o  estroudo  e  animacao  de  sua  cxi- 
slcncia,  c  mister  saber  o  que  se  passa  n'uma 
grandc  tcnda  desdc  as  oito  ate  as  doze  boras 
do  dia. 

A  poesia  anliga  refcre  a  multidao  de  clicn- 
tcs  que  em  Roma  inundava  os  porticos  dc  um 
palacio  patricio.  Uma  grande  tenda  no  dcserto 
e  bem  siniilbante  ao  que  eram  as  sumptuosas 
habitacoes  pintadas  por  Uoraeio  e  Juvenal. 
Assentado  soiire  uma  alcatifa  com  o  ar  dc 
dignidade  proprio  dos  oriontaes,  o  chefe  da 
tribu  recebe  por  sou  turuo  qucm  quer  que 
vcnha  invocar  a  sua  auctoridade.  Qual  podc 
justica  contra  um  individuo  ([ue  procura  se- 
duzir  sua  muiiier,  qual  accusa  um  rico  que 
se  sublrabe  ao  pagamento  de  uma  divida,  qual 
pede  auxilio  para  descobrir  o  rebanho  que 
Ihe  roubaram,  (pial  implora  proteccao  para 
uma  filha  maltractada  por  sou  brutal  marido. 
E  muitas  vezes  acontece  ir  qucixar-se  uma 
mulher  dc  scu  marido,  porque  a  nao  vestc, 
porquc  Ihe  nao  da  o  alimento  necessario,  por- 


*  Estaliolecimentos  religiosos  que  comprcliendem  d'or- 
I  dinario  uina  mesquita,  uma  eschola,  e  os  tumulos  de 
I    seus  fiindadore:,. 


que  Ihe  recusa,  o  quo  os  arabes  na  energica 
originalidade  de  sua  linguagem,  ehamam  a 
parte  de  Deus.  Este  ultimo  caso  e  frequentc. 
E  cerlo  ([ue  a?  mulheres  das  classes  elevadas 
nunca  veem  alii  assoalhar  asrcconditas  mise- 
rias  da  vida  conjugal;  porem  a  niuliier  do 
povo,  sempre  que  reclama  as  consequencias 
do  malriinonio,  csla  convencida  de  que  usa 
de  um  direito,  que  obedcce  a  um  dever,  c 
apresenfa-sc  com  a  intrepidez  que  Ihe  da  a 
coiisciencia  dc  tor  por  si  a  religiao  e  a  lei. 

A  paciencia  c  a  primeira  virtude  de  \\m 
chefe.  Este  presta  ouvidos  attcntos  a  todas 
as  reclamacoes  que  oassallam.  Esmera-sc  cm 
curar  (pialquer  genero  de  feridas  que  se  Ihe 
patenteeni.  0  bomem  que  estii  no  poder,  «  diz 
uma  maxima  oriental,  »  deve  imitar  o  medico 
que  nao  pretendc  curar  todos  os  males  com 
OS  mesmos  remedies.  »  Nestes  tribunacs  dc 
juslica,  (jue  fazem  lembrar  o  modo,  por  que 
primilivamentc  os  reis  tractavam  os  inleresses 
jirivados  de  sens  subditos,  o  chefe  arabe  em- 
prega  toda  a  .sabcdoria  (jue  Deus  concedeu  a 
sua  intelligencia,  toda  a  forca  de  que  dotoii 
a  sua  vontade.  A  nns  manda,  a  outros  acon- 
selha,  a  ninguem  recusa  suas  luzcs  ou  pro- 
teccao. 

Ao  chefe  arabe  niio  basta  possuir  a  quali- 
dade  que  Salomao  pedia  ao  Senhor;  a  sabc- 
doria  deve  reunir  geuerosidadc  e  bravura.  0 
maior  elogio  que  se  Ihe  pode  fazer,  e  dizer- 
Ihc  que  »  traz  a  espada  sempre  desembainha- 
da  c  a  mao  sempre  aberla.  »  Esta  especic  dc 
caridade  imposta  pela  lei  musulmana,  deve 
ser  continuamente  practicada  pelo  chefe.  Sua 
tenda  deve  ser  o  refugio  dos  infelizes,  nin- 
guem deve  alli  morrer  de  fome,  porque  diz  o 
propheta : 

8  Deus  nao  lerd  misericordia,  scndo  dos  mi- 
sericordiosos.  Crentes ,  dae  esmola,  ainda  que 
nao  scjasenao  de  mctade  dc  uma  tamara.  Quern 
lioje  fizer  uma  csinohi,  sera  farto  a  manlta.  » 

Se  0  guerreiro  perde  o  cavallo  que  consti- 
tue  a  sua  forca,  se  uma  familia  lica  sem  o 
rebaniio  de  quo  vive,  ao  chefe,  sempre  ao 
chefe  e  que  ."^ao  dirigidas  estas  queixas.  0 
desejo  de  fazer  lucro  jamais  deve  preoccupar- 
Ihe  0  csjtirilo.  0  arabe  nobrc  que,  debaixo 
de  tautos  aspcctos,  se  assimelha  ao  senhor  da 
edade  media,  dilfcre  essencialmenle  dos  nos- 
sos  cavaliu'iros,  na  aversao  que  jirofcssa  pelo 
jogo.  Nem  OS  dados,  nem  as  cartas  teem  uso 
algum  no  remanso  da  tenda.  Um  chefe  arabe 
nem  joga,  nem  faz  emprestimos  usurarios.  0 
unico  modo,  por  que  alguma  vez  faz  render  o 
seu  dinheiro,  c  entrando  indircctamente  n'uma 
empresa  commercial.  Enipresta  a  um  nego- 
ciante  certa  somma,  o  negociante  exerce  o 
seu  trafico,  e  passados  alguns  annos  divide  o 
interesse  com  o  seu  credor. 

Nao  se  julgue  porem  que  a  riqueza  seja 
cousa  desprezada  pelos  oriontaes;  pelo  con- 
trario  e  uma  condiyao  indispcnsavel  para  al- 


180 


caiuar  o  podor.  Qiiem  chpga  a  ser  pohre, 
tamliciu  ciic  na  ohsciiriiladc,  e  qiiem  se  torna 
ric'o,  I'afilmo.nle  ailquire  as  honras  quedcsoja; 
n>as  0  anibicidso  cm  vez  de  procurar  adquirir 
ri((iiezas  pola  iiuhisiria,  busca-as  antes  no 
canipo  da  balallia.  0  pueireiro  que  faz  mui- 
tas  razzias  dondc  llie  provem  ao  iiiesmo  tem- 
po dinlu'iro  t\  gloria,  e  chamado  Ben-Deraou 
(lillio  dc  sell  hraeo),  e  iiode  aspirar  as  pri- 
meiras  dignidades  da  sua  tribu.  Isso  mostra 
que  a  qualidadi!  fundamental  da  alma  de  urn 
nobre  aiabe  e  a  bra\iira. 

<•  Nao  ba  eousa  ([ue  mais  realce  na  deshmi- 
brante  braucura  de  um  albernoz,  do  que  o 
sangue  «  dizia  Abd-el-Kader.  0  chefe  arabe, 
come  OS  capitaes  d'oulr'ora  dcve  ser  o  mais 
\alente  dc  sens  homens  d'armas.  Sua  influen- 
cia  licara  para  senipre  perdida,  semanifestas- 
se  quai(iuer  vislumbre  de  cobardia,  e  e  a  rea- 
lidade,  e  nao  a  apparcncia  (jue  os  arabes 
apreciam.  Aduiiram  uma  alma  de  tempera  for- 
te, nao  ja  um  exterior  degigante  oud'alliele- 
ta.  Cumpre  nao  crer  n'uma  preoccupaeao  que 
se  apoderou  de  muita  gente,  e  vcm  a  ser  que  a 
grande  estatura  e  a  i'orca  corporea  produzem 
nos  arabes  viva  imprcssao.  Nao  eassim:  elles 
qucrem  que  um  bomem  seja  robusto,  insen- 
sivel  a  sede,  c  a  fome,  apto  para  supportar 
as  mais  rudes  fadigas;  mas  e  certo  que  nao 
dao  grande  importaneia  a  altura,  a  forca 
muscular  siuiilbante  a  dos  valentoes  de  feira 
ou  dos  gallegos.  0  que  elles  apreciam  e  a 
agilidade,  a  destrcza  ea  bravura;  pouco  Ibes 
importa  a  grandeza  ou  pequenez  do  corpo,  e 
ate  ao  contemplar  uma  ligura  collossal  muito 
gabada,  frequentes  vezes  se  Ibes  ouve  csta 
exclamaeao  sentcnciosa:  «  Que  importa  a 
estatura,  que  importa  a  forea?  Vejamos-lbe 
0  coracao:  talvez  que  alii  nao  exista  mais  que 
uma  jielle  de  leao  sobre  o  dorso  de  uma  vacca ! 
Conlinua. 


^■OTI^IA  SOBItB  A  BACIA  CAHBONlFEaA  DO  CABO 
MOXDEGO. 


Continuado  ele  pa^.  159. 
Fuluro  que  promctte    a   lavra. 

A  linporlancia  da  galeria  geral  de  esgoto, 
e  a  exlensao  que  per  meio  della  pode  dar-se 
a  lavra,  nao  estao  em  rela^ao  com  a  procora 
do  combiistivel  que  esta  inina  fornece.  Para 
dar  coniMino  ao  carvao  quo  ba  annos  se  ex- 
Iralie  della,  e  necessario  que  exista  a  fabrica 
de  garrafas  prctas  do  Bom-Successo  em 
Liiljoa,  sou  iinico  cousumidor.  Seis  a  oito 
loneladas  dc  carvao  per  dia  satisfazem  as  ne- 
cessidades  d'cale  estabeleciinento  ;  e  por  conse- 
guinlc,  sern  tocar  nos  pilares  da  mina  Far- 
robo,    lem    sido    sufficientc    lavrar    algumas 


por^oes  a  jusante  da  camada,  sem  que  taes 
trnhallios  leidiam  cxcedido  ale'in  de  novenla 
melros  na   inclioacrio  da  tnesiiia  camada. 

I'lsta  lavra  pccca  por  tanlo  ))cln  mcsquliiboz 
do  coosiimo;  e  coiiio  a  extracCi'io  do  carvao 
de  grandes  profoodidades  carcce  do  cmprcgo 
de  meios  que  so  luna  ampla  lavra  pode  com- 
portar,  o  resiillado  sera  ficar  |)or  lavrar  a 
parte  destc  deposito  mais  importanle,  tanto 
pela  abondancia  como  pola  qiialidadc,  se  o 
cooiumo  se  nao  extender,  ea  lavra  iifio  poder 
tornar-se  mais  activa. 

E  pois  necessario  :  1.°  procurar  novosconsii- 
oiidorcs,  e  eslabelecer  obras  on  Irabalbos  de 
cba racier  permanente,  que  tornein  no  futiiro 
a  lavra  mais  exteiisa  e  proveitosa,  o  que  nao 
pole  coiiseguir-se  sendo  a  conccssao  feita 
coMio  actualiiieiite  est;i,  teinporariamenlc,  nem 
tao  pouco  con)o  a  lei  anterior  de  niiiias  pres- 
crevia  por  prazos  nunca  nialoies  de  30  annos, 
e  niediante  a  maior  rciida  que  fosse  olferecida 
em  pra^a'.  Forain  eslas  eoutras  raznes  geraes, 
que  mnveraisi  d  conselbo  de  obras  publlcas  e 
inioa*,  a  propor  o  projeclo  do  decrelo,  (jue  o 
govcriio  promulgou  com  data  de  31  dc  de- 
^embro  de  1852,  e  as  curies  depois  sane- 
cioimram. 

Ji^te  decrelo  manda  entrar  as  minas  de 
co!iibu>tivel,  em  que  csta  se  comprebende, 
iia  regra  geral  das  conccssoes  de  minas;  islo 
e,  lornar  a  sua  concessfio  illimitada  em  qiiaiilo 
ao  tempo  e  subjeila  nnicamciile  aos  impostos 
uslabelecidos  para  as  oulras  minas. 

2.°  estabelecer  as  condijoes  necessarias 
para  que  no  futuro  possa  a  miiia  fnrnecer-se 
economicamonte  das  madeiras  que  llie  forcm 
necessarias.  Quandoalavra  da  mina  comegou 
por  coula  da  fazenda,  ordenou  o  governo  a 
coin])ra  de  terras,  e  a  sementeira  de  pinbae! 
dos  arredores  da  mina,  o  que  logo  foi  cum- 
prido,  Em  18;it  havia  ainda  um  vasto  pinbal 
com  excellentes  e  abundaiites  madeiras,  c  um 
empregado  a  qucm  e^lava  coinmellida  a 
guarda  da  propriedade.  A  companbia  de  en- 
iMO,  nao  tendo  feito  alii  Irabalbos  de  minera- 
gao,  sacrificoo  a  conserva^ao  do  pinbal  e 
propriedade  dellc  a  mesqiiiidia  economia  do 
salario  de  um  goarda,  e  o  governo  lolerou 
que  o  de^pedisse. 

As  terras,  que  conslituiam  as  perlengas  da 
mina,  acbam-se  em  parte  nas  mfios  dos  parti- 
culares,  e  o  reslo  sob  a  adrninistra^.'io  e  frul^ao 
da  juncta  de  parochia  de  Quiaios. 

Devendo  neeessarianientc  inq^or-se  aos 
concessionarios  da  mina  de  Bnarcos  a  im- 
mediata  sementeira  e  cultura  de  um  pinbal 
nas  viziuban^as  da  mesina  mina,  condi(;ao 
indispensavel  para  lornar  no  futuro  menos 
subido  o  piego  do  carvao,  e  indispensavel  que 
a  mina  lenba  annexa  uma  porgao  de  terreno 
conliguo,  que  o  governo  pode  fornecer-Uie 
mediante  uma  certa  renda,  reivindieando  as 
terras  de  propriedade  nacional  das  pessoas, 
que  se  apossaram  dellas  indevidamenle. 

(Dol.  do  Minist.  das  Obr.  publ.J 


181 


LIVROS  SAGRADOS  DOS  INDIOS. 

O   BIG-VtDA. 
ContintmJo  de  png.   169. 

Uma  e?p("cie  de  sabeisnio  era  a  religiao 
doniinante  dos  Aryeiios  enlrados  no  terrilorio 
da  India  :  os  sens  riiltos  forain  consagrados 
a  iKitiirnza  divinUada.  Tnl  foi  laniljeiii  a 
rcligiao  dos  Clialdeus,  dos  Persas,  e  da  iiiaior 
parle  dos  povos  da  anlignidade.  O  hoiiiem, 
depois  de  tcr  adoiado  a  Dens  nas  suas  ma- 
ravillias,  psquccera  o  supremo  creadnr,  que 
debalde  seus  ollios  prclendiam  descorliiiar 
nos  ceos  ;  e  na  sua  fiaqueza  invocou  Os 
aslros  que  regulam  o  leuipo  e  o  cnrso  das 
eslafoes.  Rsle  obscuranlismo  da  intelligcncia 
liurnana,  e  a  sub-liluigao  do  culto  das  po- 
teiicias  naturaes  a  adoragao  de  uin  supreuio 
e  unico  Deus,  foi  o  pnuieiro  passo  das  na- 
gnes  priiuilivas,  dejiois  da  dispersiio  dos  fillios 
de  Noe',  para  o   polvllieisriio. 

Reinoulando  aos  primeiros  tempos  da  sua 
exislcncia  social,  quando  eslavani  aiiida  divi- 
didos  em  familias  ou  tribus,  quo  para  o  diaute 
seconverleran)  em  oulroslaiUos  povos  diversos, 
OS  Aryenos  haviain  povoado  o  seu  olympo 
de  tnilliares  de  plianlastiras  diviiidadcs.  A 
terra  que  produzia  e  alimciilava  os  objectos 
proprios  para  os  sacrificios;as  llores:os  fruclos  ; 
os  rebanlios  e  eereaes:  — a  agua  que  feililisa  a 
terra  :  —  os  venlos  que  regulam  as  csta^oes,  e 
amenisam  os  iliinas:  —  o  fogo  einblema  da 
for(;a  ;  que  devorava  as  oftereiidas  dos  deuses, 
e  OS  aliinenluva:  —  o  crepusculo  da  maiilia 
e  da  tarde,  que  designa  a  liora  sniemne  da 
ora^ao  : — a  lua  praleaudo  a  azulada  abobada  : 
—  a  aurora  annunclando  o  despej  lar  da  natu- 
reza :  em  fun  os  manes  de  sens  inaiores,  laes 
foram  os  primeiros  objeclos  da  voncra^-ao 
d'estas  tribus. 

Os  cullos,  que  elias  rendiarn  a  estas  diviii- 
dadcs, consistiam  em  sacrilicios,  oragoes,  e 
liymnns  canlados  durante  as  ceremonias,  que 
eram  reguladas  pelos  I  edas,  que  se  dividem 
em  qualro  paites:  o  liig-Fcda  ou  o  livro 
dos  bymuos;  o  Yadjour-Fcda  (braiico  e 
negro),  que  e  como  iiiri  ritual,  e  que  con- 
lem  03  formularios  proprios  para  serem  reci- 
tadas  asora^'nesdurantea  cclebra^ao  dossacri- 
ficios  ;  —  o  Slnia-(^cda,  tollec^ao  de  liymiios 
e  de  invocajQCS  exlrabidas  do  Riga  do  i ad- 
jour; —  em  fim  o  yitfuirva-p'cda,  mais  mo- 
derno,  que  os  outros  Ires,  conlendo  os  formu- 
larios  das  feiticerias,  dos  exorcismos,  e  das 
imprecagoes. 

Dos  quatro  Vcdas  o  ultimo  e'  o  fructo  nao 
da  inspirajao  rcligiosa  dos  Aryenos,  mas  da 
colera,  do  espirito  de  vingan^a,  e  da  super- 
slijao  dos  btalimanes.  O  tercoiro  e  urn  cxtra- 
cto  dos  dois  prinieiios,  e  ])or  isso,  estudados 
esles,  tern  pouca  importancia.  O  segundo  i 
mui   nolavel,  e  parece  que    ate  o  seu   nome 


Yadjour  do  radical  i/adj  —  sacrificio)  se  ap. 
plicava  a  todos  os  quatro   Fredas. 

Depois  que  se  estabeleceu  esta  divisao, 
cada  um  dos  quatro  Fcdas  era  representado 
nos  sacrificios  por  um  sacerdote.  Ao  director 
do  sacrificio  tocava  recitar  as  ora^oes  do 
Yadjour ;  o  olTiciante,  que  aprcsentava  a  of- 
ferta,  cantava  os  liymiios  do  Rig,  e  der- 
ramava  no  fogo  as  liba^oes;  o  cantor  repelia 
em  alta  voz,  e  em  torn  modulado  os  canticos 
do  Sdina;  eum  bralimane  escoiliido  na  assem- 
blea  pronunciava  as  feiticerias  do  yllliariian. 

D'estcs  qualro  livros  sagrados  o  Rig-f^cda 
e  aquelle,  que  em  sens  mil  e  tantos  iiymnos 
patentea  mais  claramenle  o  espirito  religioso 
e  guerreiro  dos  Aryenos.  Ha,  porem,  na  ultima 
sec^iio  d'esta  collecgao  de  cantos  sagrados 
alguns  Iiymnos  sobre  os  aclos  civis  e  polilicos, 
e  outros  em  que  os  principios  pliilosopliicos 
e  a  pliantasia  poetica  se  mistulam  ao  senti- 
mento  e  as  inspirajoes  religiosas  de  um  modo 
digno  de  especial  attcijjfio. 

Certo  as  odes,  em  que  dogmaticamente  se 
tracla  a  queslao  da  nlma  universal,  e  da  sua 
naturcza  n^o  sao  dos  primeiros  tempos  vedicos, 
e  perlencem  provavclmente  a  epoclia  cm  que 
foram  escriptos  os  Oupanic/iads,  que  contein 
o  ap|)cndice  tlieologico  e  pliilosophico  dos 
Fedas. 

A  piedade  sinceia,  qucdictara  as  fervorosas 
invoca^'oes  a  Jgni',  e  Indra^,  cedera  o  pas- 
so a  reliexao;  e  a  luz  da  pliilosophia  conie^ou 
a  illumiuar  os  liorizontes  da  intelligencia.  A 
idea  religiosa  nao  caducara  ainda,  mas  os 
poetas  comeyaram  a  associar  aos  assumplos 
leligiosos  outros  pen-amentos  puramonte  liu- 
nianos,  e  povoando  sempre  o  olvmpo  de 
novas  divjndades,  o  examc  do  seus  attribulos 
foi  submetlido  ao  ctcalpelo  da  critica  pliiloso- 
pliica. 

o  Como  so  jocira  a  ccvada  no  crivo,  diz  o  A. 
do  hjnuio  a  I'alavra,  assirn  tambem  se  forma  a 
palavra  na  alma  dus  sal)ios.  £  a  prova  dos  vcrda- 
dciros  amigos,  porquc  todo  o  seu  valor  eslii  na 
sanclidsdc  da'palavra. » 

As  onze  e^laiicias  d'este  liymno,  primorosa- 
mente  traballjado,  nfio  deixam  vcr  se  o  A. 
quizera  tractar  da  palavra  revelada,  ou  da 
sinccridade  liumana;  mas  o  fiindo  do  seu 
pensamenlo  e  a  origem  divina  da  palavra, 
que  nunca  o  hornem  devr  profanar  pela  men- 
tira  ;  a  idea  abstracia,  porem,  esta  aqui  con- 
fundida  com  as  particularidades  da  vida  real. 

A  liberalidade  e  a  beneficencia  iiispiraiani 
aos  cantores  do  l^edii  odes  cheias  das  mais 
doces  e  formo^a5  imagens,  e  em  que  o  cora- 
(j.'io  fala  uma  linguagem  quasi  lao  sublime, 
como  a  dos  Psalmos. 

<i  A  opulencia  do  liomem  bemfazejo  niio  acabara 
nunca.  0  mau  nao  cncontra  um  amigo.  Na  ver- 
dade  a  abundancia  do  rico  i  cstcril  —  c  a  sua 
propria  morte.  t  um  pcccador  invetcrado  no  vlcio, 


'   O  F,5go. 
'■  O  Elhcr, 


182 


que   ludo  consomc,  sem  deiiar  rcserva  alguma 
]>ara  o  future.  •> 

Eii  aqui  preceilos  do  moral,  e  relip'mo. 
()  poela  recorja  aos  l)ornen5  a  exislencia  de 
uina  outra  vida,  para  a  qiial  e  niisler  ajniiiUir 
lliesouros.  A  sociedadc  arveniia  e^lava  ji 
desinvolvida,  e  a  tique/.a  egdbla  e  avaru 
tlagcllava  ja  oi  pobres.  O  Uymno  em  toz  de 
ser  excliisivaraeiilc  iim  canto  sagrado,  e  unia 
iiivocajfio  para  celebrar  os  sacn'ficios,  era 
lambein  iima  formulo  por  meio  da  qual  se 
apreseiitavain  lodas  as  iiispira^oes;  ea  Irom- 
bela,  que  cada  poela  eiiibooava  para  aiuiuii- 
ciar  a  um  povo  iiilclligeiile,  dehaixo  das 
subliincj  harmoiiiasdas  siias  ealnncias,  osniais 
uobres  e  elevados  peusamcjilos. 

O  hymno  ao  deus  da  Jogo  e  uma  dessas 
iiotaveis  produc^oes,  que  em  iieiiliiuiia  outra 
lingua  se  encoiUra  egiial. 

«  Eu  amo  torn  entliusiasmu  cstcs  filhos  do 
grandc  AVibhaka  ',  cstcs  dados  que  se  agilam  cntrc 
OS  dcdos,  que  se  lancain,  e  rolaui  sobre  o  taboleiro. 
A  niinba  cnibriagucz  c  cgual  a  do  soniuo.  I'rolc- 
ja-me  AVibbaka  sempre  acordado.  Toiibo  uma 
esposa  lao  bondosa,  que  nunca  se  cncolcrisa  co- 
migo,  nem  ujC  dirigc  nma  unica  palavra,  que 
mc  seja  offensiva  ;  scmprc  lao  affavcl  para  os 
meus  amigos,  como  carinbnsa  com  o  seu  csposo  ! 
E  eu  abaudono  csta  extrcmusa  niulhcr  para  me 
entregar  aos  azares  dujngo  !  —  Eulre  taulo  mniha 
sogra  meaborrecc  —  repelle-me  minha  esposa. — 
Ao  pobre  rccuso  a  esmola.  que  me  pedc,  porque 
a  sorte  de  um  jogador  e  como  a  de  um  vclho 
cavallo  d'alugueb  —  Oulros  consolam  a  esposa 
J'aquelle,  que  so  ama  os  dados,  que  Ibc  dao 
o  ganho.  Seu  pae,  raae,  e  irmiios  Ibe  dizem; 
uao  0  conbecemos  -  prendci-o. 

<i  Quando  mcdilo  scrbamcnte  na  miiiba  sorte, 
o  men  proposilo  c  de  iiao  mais  ser  desgrarado 
com  estes  dados;  os  amigos,  porcm,  vccm  fazcr- 
me  quebrar  o  mcu  prolcsto.  Os  ncgros  dados 
Jancados  sobre  o  taboleiro  soam  aos  meus  oiivi- 
dos,  e  cu  corro  para  o  logar  d'ondc  este  som 
■vera,  como  uma  mulber  louca  de  amores.  0  jo- 
gador cntra  na  companliia,  c  a  priracira  pa!a\ra 
que  Ibc  s,ie  dos  labios  c  —  ganliarei  cu? — E  os 
dados  seuboream-sc  da  abna  do  jogador,  que  Hie 
enlrega  a  sua  furtuna  toda. 

oOs  dados  sao  como  o  conductor  do  elcpbanlo, 
que  0  IcTa  amarrado  com  um  la^o:  com  a  ambi- 
cao  doganbo.  ou  a  desespcrarao  daspartidas  per- 
didas,  OS  dados  alormcnlam  a  abua  do  jogador; 
alcanram  triumphos,  e  distribucm  o  roubo  para 
felicidade  ou  desespcrarao  dos  jovcns  inexpcrien- 

Ics,    0  para  scduzibos,   cobrcmsc  <lc  mel 

O  jogador,  larga  por  uma  vcz  os  dados;  cultiva 
OS  campos,  c  colho  os  doccs  fruclos  do  teu  tra- 
balho  e  da  tua  sabcduria.  Jiu  fico  com  meus  re- 
banbos  e  com  minha  esposa  .  .  .  .  —  0  dados,  sedc 
bons  para  nos,  e  traclac-nos  como  amigos;  guar. 
dae  para  os  nossos  inimigos  a  \ossa  colera.  Vin- 
dc,  mas  nao  com  um  corac.io  inacccssivel  a  |)ic- 
dadc.  Das  cadeias  d'cslcs  uegros  combatcules 
nos  qucremos  vcr  libertados.  u 

O  jogador,  que  assirn  fala,  nfio  eslu  scniio 
meio  couvertido.  O  deinonio  do  jogo,  que  se 

^  O   deus  que  regula  a  felicidade  dos  homens. 


Hie  apossura  da  alma,  por  vezos  aiiuia  o 
acominetle;  c  nislo  ver«a  o  principal  iiiteresse 
draiiiatico  d'esta  singular  produc(,'rio. 

E  adiniravcl  o  medn  que  o  pobre  jogador 
Irm  aos  7i«n-ros  dados,  que  elle  adorara  como 
Ntia  divindade  e  cuja  irresislivel  paixfio  do- 
iiiinara  os  proprios  reis,  e  Ibe  fizc^ra  perder 
n'uma  so  partida  o  reino,  como  ao  priiicipe 
Nala. 

Continua. 


CONSTITUICAO  PllYSICA  DO  SOL. 

Com  lima  nnva  applicarao  da  )ihologra]i!iia 
prclcndc  M.  Thomaz  Wood  haver  pnsto  em 
evidencia  a  naturcza  provavel  do  sol.  Sera 
este  astro  solido,  gazoso,  ou  uma  c  oiilra 
cousa  ao  mesmo  tempo?  E  um  ponlo  sniire 
(pic  nao  concordam  os  aslrononios.  As  a[)i)a- 
rencias  particulares  das  manchas,  e  as  mu- 
danras  ([ue  estas  soilVem,  induzeiii  a  crer,  (pie 
seja  0  que  for  em  si  mesmo  o  d'sco  do  sol, 
por  certo  o  cerca  um  involucre  gazoso;  e  o 
facto  descoberto  por  M.  Aragn,  que  a  luz  dl- 
recta  do  sol  se  nao  aclia  polarisada,  tcndc  a 
provar  ([uc  tal  invohicro  e  uma  cliamma. 

Eis  alii  as  experiencias  com  ijiie  ,M.  Wood 
julga  confirmar  csta  opiniao  que  c  hojc  a  mais 
gcralmentc  recebida. 

Em  uma  camara  obsnira  c  sobre  a  mcsina 
lamina  pholographica  recebe-se  uma  scric  de 
oito  imagens  do  sol,  obtcndo-se  a  primcira 
por  via  de  uma  exposicao  quasi  iiistaiilanea, 
a  scgunda  por  uma  exposicao  maisdcniorada  e 
assiiii  siiccessivamcnte.  Exaiuinando  atlcnta- 
mentc  estas  imagens,  aclia-sc:  1."  que  dilTe- 
reiii  notaveliiicnlc  de  grandeza,  e  que  .seu 
diametro  vae  constautemeute  augmcntando 
ale  certo  liniito,  segiindo  o  tempo  da  exposi- 
cao; 0  ccntro  de  cada  inuigcm  e  muilo  mais 
imjiressionado,  do  que  osbordos. 

Este  idliiiio  facto,  ([ue  ja  era  conbecido, 
prova  simplcsmenle  que  a  luz  da  porcao  central 
do  sol  e  mais  intensa  ou  energica  (pie  a  do.s 
bordos.  Mas  que  signilica  o  augmcnto  de  dia- 
metro da  imagem?  Subslituindo  ii  luz  do  sol 
a  de  uma  vela,  ou  de  um  bico  de  gaz,  M. 
Wood  acliou  que  tamlicni  ncstc  caso  as  di- 
mensOes  das  imagens  crcscem  com  o  tempo 
da  exposi(;ao.  Operando  da  mesma  maneira 
sobre  a  luz  Drunimond,  isto  (i,  um  pcdaco  de 
cal  levado  a  incandescencia  por  um  jado  in- 
llamiiiado  d'oxigenio  e  hydrogcnio,  observou 
que,  j)elo  contrario,  o  diametro  da  imagem 
iicava  sensivelmeute  o  mesmo,  posto  que  os 
tempos  variasscm,  notando-se  apenas  uma  au- 
reola devida  a  atmosphera  gazosa  que  rodOa 
a  cal. 

A  luz  do  sol  olira  pois,  nao  jii  como  a  dos 
corpos  solidos;  mas  como  a  dos  gazosos;  e 
daqui  vem  0  ser  provavel  que  a  superficie  do 
sol  seja  um  involucro  gazoso. 


183 


CONSELIIO  SUPERIOR. 


Dando  noticia  ao  publico  da  colIccfSo  dos 
livros  clenienlaros,  auctorisados  pclo  consellio 
suiKM'ior  de  instrucrao  publica  para  uso  das 
csdiolas  cm  cadu  urn  dos  graus  do  ensiuo 
publico,  tenios  a  salisHurao  do  expor  um 
testcmunho  iirecusavel  do  zelo,  e  cslorcos  do 
mesmo  consolho,  e  do  amor  pclas  b'tras  e 
scicncias,  acordado  foiizmente  do  longo  le- 
thai'go  em  que  jazera,  pelo  palriotico,  e  mui- 
to  louvavel  empeniio  de  alguns  coracocs  ver- 
dadciramente  portnguezes,  em  quedetodo  se 
nao  apagara  algunia  faisca  do  saiiclo  fogo,  que 
outr'ora  innamiuara  pcitos  votados  a  illuslra- 
cao  e  gloria  do  seu  j)aiz. 

0  consellio,  comprcbendendo  a  sua  missao, 
e  nao  transpoiido  os  limites  de  seus  direitos 
c  attribuirijes,  segue  o  exeraplo  de  outros 
povos,  que  boje  servem  de  modelo  em  admi- 
nistracao  lilteraria,  auctorisando,  mas  nao 
impondo  ol)rigacao  de  admissao  cxclusiva  nas 
escholas  para  quabiuer  dos  livros  escolbidos. 
Aos  professores  toca  a  adopcao  livre  do  uns 
ou  outros  no  mesmo  gcnero,  e  grau  de  cnsino. 
0  que  na  inslrutrao  primaria  e  concessao 
feila  com  disc!;rnimeuto  a  intelligencia,  a  vo- 
cacao  c  gosto  do  professor,  respcitadas  as 
sabias  licOes  dc  experiencias,  na  secundaria, 
c  superior  e  entre  nos  dever,  competiudo  por 
lei  a  escolba  dos  compcudios  aos  cousclbos 
das  escbolas  respectivas. 

Querer  toear  osponlos  da  perfeicao,  apenas 
se  comeca  a  escrever  ol)ras  desta  natiireza  lao 
dilliceis  c  trabalhosas,   quanto   neeessarias  e 
uteis;  (juerer  que  em  obras  compendiosas  de 
sua  natureza  enfadonhas  pclos  limites  que  o 
scu  destiao  Ibesmarca,  pela  compressao,  que 
die    impOe   no   espirito   obrigado   a   resumir 
substanciahueutc,  de  exccncao  Irabalbosa  pela 
necossidade  de  clareza,  deduccao,  estylo  di- 
dactico,  e  mais  condicoes  Indispensaveis  ao 
cnsino  das  classes  em  um  determinado  tempo; 
querer,  dizemos,  saia  de  improviso  obra  tao 
inteira  e  acabada,  como   Pallas  saira  da  ca- 
beca  dc  Jupiter,  e  cxigir  deiuasiado,  e  aspirar 
muito  alem  da  I'orca  luimana;  lura  afugentar 
0  zelo  c  dedicacao,  desanimando  escriptores 
novels,  (|ue  progredindo  se  aperfeicoam.  Em 
bomenagem    devida  a    estes  prineipios,    tern 
havido    geralniente  certa   indulgencia,   certo 
favor  com  que  miiis  se  accende  o  entjeaho  em 
todas  as  nacoes,  quo  procuram  imprimir  im- 
pulso    vigoroso    e    energico    a    diffusao    das 
luzes.  Se  compararmos  as  primicias  dos  nos- 
sos   escriptores   com    prodiiccoes   do    mesmo 
gcnero  de  auctorcs  cxtraugciros,  ainda  mais 
vctcranos,    ficamos    em    que    nao  se  achara 
dcsvantagcm  da  nossa  parte,  quer  na  cxacti- 
dao  da  doutrina,  qucr  na  pureza  da  plirasc 
e  clareza  da  cxposicao. 
Sobrcsacni  c  ennobreccm  a  colleccao  dos 


livros  clcmentarcs  doiscompcndios  demecba- 
nica,  pbysica  e  cbymica,  composlos  pelo  sr.  J. 
J.  Fcrreira  La  pa,  offerecidos  cm  eoncurso  ao 
descmpcnho  de  programmas  dados  pclo  con- 
selbo  superior,  cpremiados.  Destinados  para  o 
cnsino  da  inslruccao  primaria,  com  lal  csme- 
ro  e  I'elicidade  os  compoz  o  scu  A.,  que  sem 
favor  ])odcm  servir  tambcm  ao  cnsino  na 
instruccao  secundaria.  Ornados  de  bellissi- 
mas  estampas  desenbadas  com  perfcicao,  faci- 
litam  sobremodo  o  estudo,  c  tornam  cxlrcma- 
mcnte  proveiloso  o  cnsino,  lixaudo  as  idea.s 
claras  que  imprimem  no  espirito  dos  alumnos. 
Consta-nos  que  o  mesmo  auctor  se  propo- 
zera  ao  preraio  offerecido  em  programma  de 
um  compendio  dc  agricullura  com  applicacao  d 
instruccao  primaria;  e  muito  cstimamos  ouvir 
que  a  obra  offerccida  cxccde  ainda  as  outras 
ja  prcmiadas,  podendo  bavcr-sc  como  um  pri- 
mor  em  escriptos  de  tal  natureza.  INao  so  na 
agricultura  propriamcntc  dicta  apresenta  todas 
as  nocoes  indispensaveis  a  par  da  scicncia; 
mas  descrevc,  desenba,  e  ensina  o  uso  de 
todos  OS  inslrumentos  c  maquinas,  (jue  boje 
cnriqucccm  a  scicncia,  aperfeicoam  e  nielho- 
ram  as  jiracticas  agricolas,  economisando  mui- 
to da  mao  de  obra:  e  para  cabal  descmpenbo, 
liga  essas  doutrinas  com  as  de  scicncias  au- 
xiliarcs  e  connexas;  tractando  a  geologia,  a 
bolanica,  a  agrimensura,  a  veterinaria,  e  a 
economia  rural  com  tal  precisao,  mctbodo  o 
clareza,  que  nao  sera  facil  apontar  Manual 
que  no  scu  gcnero  o  cgiiale. 

0  sr.  Lai)a,  abrindo  o  exemplo  entrc  nos 
a  cscrijitos  tao  importantcs,  e  summamcute 
neccssarios,  como  sao  os  manuacs  de  scien- 
cias  industriaes,  glorilica-se  prestando  ao  scu 
paiz  um  scrvico,  que  merecc  ser  galardoado. 
Sinceros  votos  fazcmos  porque  acbe  imitado- 
res,  certos  de  que  nos  nao  falta  o  genio,  nem 
0  amor  da  patria ;  mas  falta  a  resolucao,  para 
veneer  alguma  timidez  e  a  forca  da  inercia 
devida  ao  pernicioso  liabito  dc  uacionalisar  o 

J. 


C'oliecrao  de  lavr®.*  cSemcBiJarei* 

Que  o  consellio  superior  d'lnstruc^no  publlca  do  reiiio 
aucioriza  inUrlnamcnte  para  uso  das  escholas  pri- 
mariaSj  pultlicas  e  parlicvlares ;  e  bem  assitn  para 
nso  das  escholas  de  ensino  secundaria,  e  superior. 

iNSTR'ccc.Ko  rniM.vniA. 


Oalnchismo  de  Doutrina  Ctirista  e  civilidatle,  para 
in8truc(;.at>,  e  |iara  exi;rcicio  de  leilura — ('atecili^lnl^ 
de  Doutrina  Chrisla,  adiiptado  pelo  arcet)i?po  de  Brai'a — 
Resiimu  do  mesmo  Calechismo  —  Thesoiivo  da  mocidade 
portii;,'ueza,  por  IS.  J.  Koqiiete  —  Historia  de  ^^iai.lo  de 
Naiitua  —  Comj>endio  de  Historia  do  antijio  e  novo  Testa- 
mento,  tradiizido  por  Antonio  Soare.s — Li(;oes  de  boa 
moral,  de  virlude  e  urbanidaile,  Iraduzidas  em  porluyiiex 
por  I'rancisco  Freire  de  C'arvallio  —  Elenlento^  ileriiili- 


184 


Jade  c  da  decencia,  por  Mr.  Prevoste,  tradiizidos  na 
liiigua  iK)rlii:.Mieza  —  A  Biblia  da  Itifaucia,  tradiizida  pi-lo 
Pudn-  Ariluiiio  dc  Castro — Mcdlta^Cics  reli^iosns,  por 
J.  J.  Rodriirues  de  Bast. is  —  Arti>  de  apprender  a  Icr 
letra  manuscripta,  por  Diiarte  Ventura  —  Kegras  mctliO' 
dicas  jiara  apprender  a  escrever,  sejjuidas  de  um  trijclado 
de  Arithraetica,  p<)r  Ventura  da  Silva  —  Metbi»do  facil- 
liuio  para  apprender  tanto  a  letra  redonda,  conin  a 
manuscripta,  por  E.  A.  Montcverde— Thesnnni  juvenil, 
por  Midosi — Expositor  Portuguei,  por  o  dicto — t'unipen- 
dio  de  Ilistoria  Portugueza,  por  o  dido  —  Elementos  de 
Geographia,  pelo  Dr.  B.  J.  da  Siha  Carneiro  —  O 
Amigo  dos  IMeniiios,  traduzido  por  uma  st-nhora  — 
Itenerario  da   India,  pi>r   Fr.   Gaspar  de  S.   Bernardino 

—  Livraria  Classica  Portugueza,  torn.  11."  ate  IB.''  — 
Selecta  (.'lassica  Portugueza,  por  A.  C.  Borges  de 
Figueiredo  (l.'^  parte)  —  Tractado  de  Agriinensura,  por 
Estevam  Cabral  —  Manual  Encyclopedico,  por  E.  A. 
Munteverde  —  Tabellas  Geraes  para  o  juro  e  desconto 
de  qualquer  quantia,  por  J.  J.  da  Costa  e  Silva  — 
O  Bora  Menino,  traduzido  do  italiano,  por  Luiz 
Francisco  Ki.sso  —  Taliellas  de  Geographia,  por  Dr. 
Adriao  Pereira  Forjaz  de  Sampaio  —  >iova  Taboada 
e  Arithraetica  da  Infancia,  por  o  dicto — Catechismo 
de  Doutrina  Chrisla  da  Dioeese  de  Coimbra,  por  o 
dicto — Synopse,  ou  Indice  Chrouologico  e  Alphabetico 
da  Legislat;ao  rcbitiva  ;i  Instruc^^iio  Primaria — ■  No^oes 
rudimentaes,  por  Antonio  Feliciano  de  Castillio  —  Melho- 
do  deleitura  repentina,  por  o  dicto — ^Novo  Abecedario 
e  nova  Taboada  exacta  e  curiosa,  por  J.  S.  Bandeira  — 
Nova  Taboada  exacta  e  curiosa  {%r^  edi^ao),  por  o 
dicto  —  Corapendio  de  Arittimelica  para  uso  das  escliolas 
de  instruc<;ao    primaria,    por    Joaquim    Maria    Baptista 

—  Tractado  dos  principios  de  Arithmetica  segundo  o 
raelhodo  de  Pestalozzi  para  uso  dos  professores  e  alumnos 
das  escholas  de  instruc^ao  primaria,  por  J.  11.  Paz  — 
Novo  Mcthodo  para  apprender  a  ler,  por  o  dicto  — 
Compendio  de  Moral,  por  M.  A.  F.  Tavares  —  Codigo 
da  Civilidade  de  J.  A.  Dias  —  Rudimento  da  Leitura 
Portuffueza,  por  M.  J.  Pires  —  No^oes  primordiaes  de 
Moral,  por  J.  J.  da  S.  P.  Caldas  — O.  Amigo  dos 
Meninos,  traduzido  pelo  Dr.  M.  A.  C.  da  Rocha  —  Cate- 
chismo de  Moral,  por  iM.  A.  T.  Tavares  —  Compendio 
de  Chorographia,  por  J.  L.  Carreira  de  Mello  —  Com- 
pendio de  civilidade  religiosa  e  moral,  e  de  Doutrina 
Christa  Dogniatica  e  Moral,  por  o  dicto  —  Summula  de 
preceitos  hygienicos,  por  F.  A.  Rodrigues  de  (Jusmao  — 
O  bora  ]\Ienino,  por  Estevam  Xavier  da  Cunha  — 
Grammatica  Portugueza,  por  F.  Andrade  Junior  —  Novo 
(■ompemlio  de  Historia  de  Portugal,  por  A.  F.  Moreira 
de  Sa  —  O  Camoes  e  Cosmos,  por  J.  S.  Ribeiro  — 
Compendio  de  Mechanica,  e  Compendio  de  Physica  e 
Cln  mica  (premiados  em  concurso)  por  J.  J.  Ferreira 
Lapa  —  Peepiena  Chrestoniatia  Portugueza,  por  A,  M. 
Pereira — Compendio  de  Grammatica  Portugueza,  exposta 
era  verso,  por  M.  J.  Pires. 


ESCnOLAS  NORMAES. 

Principios  de  Grammatica  Portugueza,  por  Andrade 
.Ivinior — Methodo  facil  e  racional  |iara  ensinar  a  ler 
vi  meninos,  por  Julio  Caldas  Aulete  —  Primeiro  livro 
da  Infancia,  pur  F.  J.  Caldas  Aulete — Grammatica 
Portugueza,  por  Carlos  Auguslo  Vieira. 


ISSTRCCCAO    SECUNDARIA. 


Compendio  de  Arithmetica,  pelo  Dr.  Rufino  Gnerra 
Osorio — Primeiras  no^oes  de  Algebra,  i>elo  Dr.  Jaconle 
Luiz  Sarmento  —  Historia  de  Portugal,  ate  Elrei  D. 
Duarte,  por  J.  Felix  Pereira  — Li^ues  d'AIgebra  ele- 
montar,  por  JoHo  Ferreira  de  Campos  —  Tractado  de 
A  ersifica^ao,  por  Antonio  Feliciano  de  CastilUo  —  Gram- 
matica da  Lingua  Inirleza,  por  D.  Jose  Urculu  — 
Bosquejo  historico  da  Litleratura  Classica,  por  A.  C. 
B.   de    Figueiredo  —  Inslitui^Oes   de    Rhetorica,    por   o 


dicto  —  Logares  Selectos  dos  Classicos  PortMpuezp5f,  por 
o  dicto  —  Historia  antiga  e  raoderna,  pelo  Dr.  J.  A. 
<le  S.  Doria  —  Elementos  de  moral  e  principios  de 
direito  natural,  pelo  Dr.  B.  J.  da  S.  Carneiro  — 
Curso  Grammatical  da.s  linguas  Lalina  e  Portugueza, 
I'.Hnposto  pelo  professor  Joao  Teixeira  de  Vasconcellos — 
Curso  de  philusophia  elementar  —  Logica  —  Metaphysica 
—  Ethica — Hi.''toriadaPhiIosopha,pur  D.  Jaime Balmes, 
presbylero  —  Nova  Grammatica  Portugueza  c  Inglezn, 
e  Portugueza,  por  L.   F.  Midusi. 

IN'STRUCCVO  SUPERIOR. 


Litjiies  de  Philosophia  Chymica,  pelo  Dr  J.  A. 
Sim5es  de  Car\  alho  —  Taboas  de  Lua  reduzidas  lias 
de  Mr.  Burckhardt  ao  meridiano  do  observatorio  da 
Universidade  de  Coimbra  para  facilitar  o  trabalho  das 
Ephemerides  Astrononiicas,  pelo  Dr.  F.  M.  Barreto 
Feio.  — Compendio  de  Veterinaria  ou  Medicina  de 
Animaes  Domesticos,  pelo  Dr.  J.  F.  de  Macedo  Pinto 
—  Index   Plantarum,    pelo   Dr.    A.    J.  R.   Vidal. 

Coimbra,  e  Sccretaria  iU>  sobredicto  Conselho  Superiur , 
l.^de   Septembro   de    H\o4.  , 

O  Secretario  Geral  do  Conselho,  | 

Joise  Antonio  (C Amnriin.  ^ 


PDYSICA. 

Da  electricidade  que  se  proditz  na  evaporardo 
da  (ujua  saUjada. 

As  expcripnrias  de  Gaiigain  lovaram-no  a 
um  resiillaclo  a  que  por  experiencias  mui  sc- 
melhantes  havia  chcgado  Heicli,  de  FreyluTg, 
a  saber,  que  a  electricidade  desiiivoli  ida  pela 
evaporaeao  da  agua  salgada,  e  o  elTeito  do 
atlrito  dos  globulos  da  agua  iirojeclados  con- 
tra as  paredes  do  cadinho.  Estas  experiencias 
foram  publieadas  n'uuia  pequcna  mcmoria 
apresenlada  a  Sociedade  das  Sciencias  do 
Leipzig  no  anno  de  IH^C. 

Em  Berlin  foi  por  Hiess  verificado  o  mesnio 
rosuhado,  como  se  \i  da  nota  inserida  nos 
Annaes  de  Piiysica  de  PoggendorlT,  tomo 
LXIX,  pag.  101, 


M.  de  Paravey  dirigiu  a  Acadcmia  ilas 
Seiencias  de  Franca  uma  nota,  em  que  tracla 
de  provar  que,  segundo  asmedidas  dos  tijolos 
quadrados  de  Baliylonia,  dos  antigos  padroes 
e  do  pe  actual  da  Cbina,  o  pe  de  rei  I'rancez, 
e  niuitas  d'eslas  mesmas  medidas  em  uso  na 
Allcmanha,  teem  sido,  como  na  Ciiina,  im- 
porladas  da  antiga  Chal<!ea  e  do  Indo-Persa. 

D'aqui  prclcnde  deduzir  uma  so  origem  de 
civilisacao  depois  do  ullimo  diluvio. 


MaEsillon  e  o  Racine  do  pnlpilo. 

Ll   UAUPK. 


Os    jiirainciitoh    assinielliam-se    ao   papel- 
tnoeda,    qui;    inulliplicando-se    perdc   do  scu 

valor.  ♦  »  • 


185 
SECglo  DE  BIATHEMATICA. 

APONTAMENTOS   DE  TRIGONOMETRIA  SPHERICA. 

Conlinuado  de  pag.  133. 

11.     Qiiando  no  triangulo  ABC  sao  dados  os  lados  6'  e  c'  com  o  angulo  c  opposto  a 
urn  d'elles,  a  formula 


C 


b: 


B'        B  C  *>' 

spn  6' 

sen  0  =:  sen  c.  ■ 

sen  c' 

nioslra  que,  em  geral,  se  podem  formardois  Iriangulos  CABeCAB',  nos  quaes  os  angiilos 
Ji  s  B'  sfio  supplementos  uni  do  oiitro  ,  e  que  salisfazeni  aos  dados;  mas  ha  casos  em  que 
desapparece  a  incerleza. 

1.°  S*-ja  c<90%  6'<90°.  Se  f6r  c' <  6' ,  os  dois  triangulos  BAC,  B'  A  C ,  terfio  os 
mesmos  dados  b' ,  c' ,  c,  e  salisfarao  ainljos  a  qiiestao.  Se  for  c'  >b' ,  o  ponlo  B  caira  em 
B^  a  direila  de  C;  e  as  partes  do  triangulo  A  B  C,  correspondentes  as  dadas,  serao  6',  c', 
180°  —  c:  por  consegiiinle  so  otriangvilo  A  B'  C  satisfara  a  questfio.  Em  fim,  se  f6rc'=:6', 
a  poiito  B  cniiicidira  com  C,  e  o  triangulo  procnrado  sera  so  A  B'  C.  Por  lanto  o  caso  de 
c  <  90°  e  6'  <  90*  somenle  sera  duvidoso  ,  qnando  for  c'  <  b'. 

2.°  S<jac<90°,  6'>90".  O  triangulo  ACB,  no  qnal  e  ^  C  =  180°  — &',  esta  no 
caso  precedenle.  Ecomo  ACB  sera  indetenninado  ou  delerminado,  conforme  o  for  A  C' B  , 
segue-sc  que  o  caso  de  c<  90°  e  6'  >  90°  somenle  sera,  duvidoso,  quando  for  c'<  180°  —  b',  ou 
<;'  +  6'<  180°. 

3°  Seja  c  —  ACB/>90\  O  triangulo  ACB',  no  qnal  e  ^CB'=180°  — c, 
^B'=180°  —  c',  esta  no  primeiro  caso,  quando  e  i'<90°;  e  no  segundo  caso,  quando  e 
6'>90°.  Ecomo  o  proposto  ACB/  sera  delerminado  ou  indeterminado ,  segundo  o  for 
ACB',  segue-se  que  o  ca;0  de  c  >  90°  sera  duvidoso,  quando  se  derem  as  circumstancias 
seguinles: 

b'<90°;eAB'<b',oabi+c'>\  30° 

b'>00°;  e  AB'  +  i'<  180°,  ou  t'<c' 

12.     Por  tanlo  liavera  duas  solugoes,  quando  liverem  logar  as  condisoes  seguinles: 

•6'<90°,         c'<b' 


r6'<90°,         c'<b'  ") 

c<90°,e^  I 

[_b'>90°,        6'  +  c'<180°3 


c>90°,  e 


6'<90°,         6'+c'>180° 
?/'>90°,        c'>6' 


13.  Quando  sao  dados  dois  angulos  bee  com  o  iado  c'  opposto  a  um  d'elles,  tambem 
satisfazem  em  geral  os  dois  Iriangulos  CA  B,  C'  A  B' ;  mas,  se  applicarmos  os  cliaracteres  do 
qnadro  precedenle  ao  triangulo  supplemenlar  ,  em  que  entram  os  lados  180°  —  6el80"  —  c 
com  o  angulo  180° — c',  acliaremos  <i|ime»mo  quadro,  mudados  respcctivamenle  c,  b' ,  c', 
em  c' ,  b  ,  c.  " 

14.  Quando  nao  se  dcr  algum  d'esles  casos  duvldosos,  as  condisoes  de  serem  os  lados 
menores  que  180°,  de  se  oppur  a  um  Iado  maior  uin  angulo  maior,  e  de  ser  a  senii?orn- 
ina  de  dois  angulos  da  mesina  espccie  que  a  semisomma  dos   lados  oppostos  '  ,    raostrarao 

'     Como  EC  ri  pela  expressao  de  „  (a  +  r),  que  da  a  primeira  aaalogia  de  Neper. 


18G 

sempre  qual  dos  dois  angulos,,  correspoadeiites  a  scu6,  se  deve  loiuar,   sc  c  a<;udo ,   sc  o 
obtuso  '.  Assim  : 


[6'<90°,  c'>fni=&' 
|i'>90°,  t'  +  c'>ou: 
:t'<90°,  6'  +  c'<ou  =  180° 


.c<90',  e 
rt   I  (b'>90',  t' +  c' >  ou  =  180° 


6  agudo 
^    j6  obtuso 


S   J6  a;3;iido] 
Fc>90*,e^  H; 

'6'>90°,  c'<ou  =  6'  V  fcobliiso^ 


.11 


E  com  etTeito  e  facil  ver,  que  nos  casos  de  duvida  indicados  pode  haver  uirt'angulo 
agudo  e  outro  obtuso,  que  saliafajain  dqiiellas  condijocs;  e  que  nos  outros  casos  so  uiii 
dos  angulos  salisfaz  a  lodas  ellas. 

15.     Seja  o  triangulo  ABC 


Produzamos  os  seus  lados,  ale  se  encontrarem  dols  a  dois,  e  formarcm  os  tres  fuso* 
sphericos  A  J',  B  B',  CO.  Ocirculo  A  CA'C'.J  sera  abase  da  semi-spliera  A  C  B  A'  C; 
e  esta  semi-spliera  compor-se-lia  dos  triangulos  m  ,  n,  p,  q. 

Charaando  pois  .S^=2  itr^  a  superficie  da  secni-sphera,  e  observando  que,    por  serem 

AB-  =  l&Q°  —  AB  =  A'B,  C  B' ^IQ0°—C  D=^  BO ,  B=^B', 

s'lo  eguaes  os  triaugulos  ^1  B'C,  A'  BO,  teremos 

S=  m  -f  n  +  p  +  (?  =  (H  +  "  +  /'( +  p  +  wi  +  5  —  2  m 
zziAA'+BB'+CO  —  am. 
E  COD70  OS  fusos  sphericos  sao  proporcionaes  aos  seus  angulos,  islo  e, 

^^'-Tk--^''BB'^^,.S,CO  =  ^..S, 
AA'+BB'+CO=  -+g +-.  S, 


teremos 

c  consegiiinteraeiile 


a-t-b-f  c— 180° 
3GU° 


.  S. 


Se  quizermos  lomar  pnr  unidade  dc  superficie  aaiijaerficie  do  triangulo  Irirectangulo,  que 
e  a  quarla   parte  da  semi-sphera,  e  por  unidade  d'angulo  o  angulo  recto,  a  expressao  de  m 

loinara  a  forma 

jn  =  a  4-  6  -f  c  —  2. 

<      O  mesmo  sn  moslra,  c  acha-se  o  raesmo  quadro,  fazendo  as  con!truc<;3es  de  que  se  nsou  no  n.°  II,  e  appli- 
caml.)  as  condiroes  de  serem  os  lados  mcnorcs  que  180°,  e  de  ec  oppor  a  um  lado  maior  um  anjulu  inaK.r. 


187 

16.  A  superficie  do  trianjjulo  v^m  assim  expressa  nos  sens  tres  an^ulost  mas  qiiando 
OS  angulos  nao  forem  dados,  poderemos  exprirnil-03  nas partes  que  forem  dadas,  e  substituir 
depois  essas  expressoes  na  da  superficie,  011  d'uma  funcjao  trigonomelrica   d'ella. 

Per  exemplo,  se  forem  dados  os  lados  a'  e  c'  com  oangulo  comprehendido  6:  tomando 
o  triangulo  trireclangulo  por  unidade  de  superficie,  e  o  angulo  recto  por  unidade  d'angulo, 
tereraos 


colgm)  =  _tang(:i+^  +  |) 


ad-c  b 

tang— ^  +  tang  - 

a  +  c  6       "' 

'anff-g— tang-  — I 

a'         c' 
ou ,  em  virtude  da  primeira  analogia  de  Neper ,  e  fazendo  tang  — tang— =^, 


cot 


(H- 


b        a' — c'  b        a'  +  c' 

cot  -  cos  _^_  + tang- cos -^ 

a'  —  c'  a'  4-  c' 

o'       c'  a'       cW        b  b\ 

cos^cos^+ssn-sen-(^cos'-_sen>-j 

I         7'        7'  6        6 

1  +  tang  — tan"- -cos  o 
_  ^       '^•i       "2  _l  +  t  coi  b 

a'         d        .  t  sen  6 

tang  — tang -sen  6 

Desinvolvendo  em  fim  ^mtxa  serie  crdenada  segundo  as  potencias  de  t,  sera 

—  TO  =  <  sen  6 -t  sen  2  6 , 

3  2 


oLi ,  se  desprczarmos  as  quantidades  da  quarla  ordem  relativamente  a  a'  e  c', 

m-=^-a  d  sen  6. 
2 

E  porque  e'  dasegunda  ordem  adifferen^a  entreos  senos  do  angulo  6  dotriangulo  spherico 
e  do  angulo  correspondente  dotriangulo  lectilineo,  que  tern  os  mesinos  lados  que  o  spherico, 
ve-se  que,  desprezando  os  termos  da  quarta  ordem,  a  superficie  do  triangulo  spherico  eegual 
a  do  rectiiineo. 

17.  Chainando  r  o  raio  dasphera,  e  exprimindo  as  linhas  trigonometricas  do  segundo 
membro  da  equojao  (1)  nos  compritnentos  dos  arcoa  respeclivos,  facilmente  se  mostra 
(Trigon.  de  Legend  re  ,  appendice  §.  V)  que  os  angulos  a,  6,  c,  d'um  triangulo  spherico  de 
lados  inuito  pequenos  teem,  desprezando  os  termos  da  quarta  ordem,  com  os  correspondentes 
0|,  6|,  c  ,  do  triangulo  rectiiineo,  cujos  lados  sao  tambem,  a',  6',  c',  as  seguinles  rela^oes 

Im  , ,1ot  ]to 

''='''+3r'senl"'  '  +  3r'senl"'   ''—'''+ 3  r' sen  1" 

sendo  m  a  superficie  do  triangulo  rectiiineo,  que  segundo  o  numero  precedente  e  egual  li  do 
spherico. 

O  que  reduz  a  resolujao  do  triangulo  spherico  proposto  a  do  triangulo  rectiiineo,  cujos 
lados  s.io  a',  6',  c',  e  cujos  a^-'^iilos  sao  a^,  6y,  c^. 

O  numero  de  segundos e  o  exccsso  spherico,  que  se  reparte  assim  egualmenle 

r'  sen  i  ' 
pelot  tres  angulos  do  triangulo. 


188 

18.  Suppondo  o  raio  da  spbera  iiifinilo,  e  os  comprimentos  dos  arcos  nnitris,  on  as 
suas  gradua<j6es  infinitesimas .  o  triangulo  splierico  toriia-se  rectilineo  ;  e  por  isso  podemos, 
fazendo  aquellas  hypotheses,  passar  dos  theoremas  da  Irigonometria  splierica  para  os  cor- 
respondentes  da  Irigonometria  rectiiinea 

Qiiando  nos  theoremas  da  trigonoiiiclria  -pherica  entra  mais  d'lim  lado:  passando  d'el- 
les  para  os  triaugiilos  roctilineos,  podem  ap|.iiiecer  razoes  entre  as  gradiia^oes  dos  lados;  e 
porque  estas  razoes  podem  ter  iim  liiiiite  de  graiideza  finita,  quando  se  tornam  infinitesimas 
as  gradiiajoes  entre  as  quaes  ellas  teem  iogar,  pode  apparecer  urn  tlioorema  correspondente 
da  trigonometria  rectiiinea  no  qual  entrem  lados.  Mas  quando  nos  theoremas  da  Irigo- 
nometria spherica  entra  so  um  lado,  a  hypothese  de  ser  este  inCniite^imo  iiecessariamente  o 
faz  desapparecer :  e  o  theorema  reduz-se  para  a  trigonometria  rectiiinea  a  nma  rela^fio 
entre  angulos. 

19.  Appliquemos  as  hypotheses  indicadas  aos  principaes  theoremas  da  trigonometria 
spherica.  N ellas: 

,       — 2sen'-a'+2sen'-6'+2sen"-c'_4sen'^6'sen'-c' 
cos  a'— cos  6' cose' 2     ^  2    ^  2 2  2 

1.    cosa= r-i ; Ti ; "" 

sen  0  senc'  sen  6  sen  c' 


cos  a: 


2t'c' 


nf 


sen  a       sen  a'         , ,      sen  a      a' 
2  °  =: da      =:  ri- 

sen b       sen  6'  sen  b      6' 

cos  a  4-  cos  b  cos  c        , ,     .       cos  a  +  ens  h  cos  c 

3.'  C03a'= ^ dii    1  = ^4 J 

sen  6  sen  c  sen  o  sen  c 

ou  cos  a=:  —  cos  (6 -|- c)  ?     ou    a -\-b -\-cz=180°. 

c' 
4.°     cose'  cos  0  =  senc'  cot  6'  —  sen  a  cot  6      da     cos  a  =77  —  sen  a  col  6, 

c' 

ou  sen  (o-j- 6)=r7jsen  6  =  sen  c. 

5.°     A  priineira  analogia  de  Neper  dii     tang  ^  (a -j- c)  ^=  col  -  6  , 

islo  e,  -  (a +  c)  =  90°  — lb,      ou    a  +  b  +  c  =  l80'. 

6."    A  segunda  da  o  Iheorcnia  da  trigonometria  rectiiinea 

1  d—c'       K 

Ung-(a-c)  =  -;-p-;C0l-5; 

7."     A  terceira  e  a  quarla  dao 


por  conseguinte 


t.     .      cos-(a — c)  sen--(a  —  c) 
aJifC'            2                "'  —  c'  2^ 

cos-(a  +  c)  sen-(a  +  c) 

cos-fa— c)      sen-(a  —  c)  _  , 

2  a'  2  ^  '  ,         2  ^  '  2  sen  (1  a'       sen  a 


b-  1  ,  1  ,  ,       sen  1  u  +  c)  b>       sen  6 

cos^(a+c)       sen-(a  +  c) 

2  c'  2  sen  c  c'       sen  c  * 

^  'b<    ~"sen  ("  +  c)'       °      b'~  en  6* 

Por  tanlo  osquatro  theoremas  fundamentaes  da  Irigonometria  spherica,  e  asquatro  ana- 
lo^ias  de  Neper,  correspondein  aos  qualro  theoremas  principaes  da  trigonometria  rectiiinea. 

BODRICO    BIBEIRO    DE    SOUSA    PINTO. 


®  Jn0titut0, 


JOlllNAL    SCIENTIFICO     E    LlTTEaARIO. 


REL.VTORIO 

Da  imprenm  da  loiiversiJaile  de  Coimhrn  no 
anno  leclivo  de  lSIi3  a  185i,  incluiudo  as 
trabalhos  de  refurma  e  melhorameulo  pro- 
movidos  pela  comtnissiio  creiido  pnr  porta- 
ria  do  goseriw,  dc  1  de  nuecmbro  de  1853. 

A  commissao  <le  reforma  e  mclhoramcnto 
da  imprcnsa  da  univcrsidade,  tcndo  sido  cn- 
carrcgada  pelo  prclado  de  concorrcr  par.i  o 
rclatorio  geral  da  univcrsidade  de  Coimbra 
com  0  especial  relalivo  a  imprcnsa  da  mesma 
univcrsidade,  vem  satisfazer  a  esta  obrigacao, 
de  que  nao  Ihe  permittia  cscuzar-se  nem  a 
elevada  niissao  e  superiiitendencia,  de  que 
fdra  incunil)ida  quando  mcreccu  a  rcgia  no- 
meacao  do  govcrno  de  S.  M.,  nem  a  dcdica- 
fao  e  assiduidadc  com  que  se  tern  cmpregado 
110  descmpeniio  de  tao  laboriosa  incumbcncia. 

A  commissao  expora  licl  mas  resumida- 
mentc  o  que  tern  fcito  a  cerca  da  rcorgaiiisa- 
jao  da  typograpbia  da  univcrsidade,  e  bem 
assim  as  providencias  que  para  esse  elTcito 
teem  sidopropostas,  ja  forani  approvadas  pelo 
govcrno  ue  S.  M.,  ou  cstao  scndo  cnsaiadas 
provisoriamciite  para  sui)ircni  depois  a  sanc- 
fao  do  govcrno;  todavia  nao  pode  a  commis- 
sao abster^se,  posto  que  o  dcsejjjra,  de  rcpe- 
lir  aqui,  coino  tern  I'cilo  nas  consultas  diri- 
gidas  ii  prcsenca  de  S.  JI.  por  via  do  prclado 
da  univcrsidade,  o  ruinoso  estado  c  quasi 
complcta  decadcncia  em  (]ueencontrou,  quan- 
do comecou  a  funccionar  logo  depois  da  sua 
installarao  cm  14  dc  novcn)bro  dcl8o3,  uni 
dos  priucipacs  cstabclccimejUos  universita- 
rios,  digi)0  por  ccrto  da  maior  soliicitude  e 
consideracao,  ja  como  auxiliar  podcroso  e 
indispejisavel  das  scicucias  e  das  artos,  ja  pelo 
grande  valor  que  esta  contido  nos  sous  arma- 
zens,  ou  6  diariamcijtc  produzido  uas  suas 
oQicinas. 

Em  consulta  dirigida  ao  govcrno  dc  S-  M. 
com  data  dc  "2i  dc  dczcnil)ro,  foram  apre- 
sentados  osprimciros  trabalbos  a  que  a  com- 
missao procedeu.  0  inventario  de  todas  as 
obras  que  se  encontravam  nos  armazens  da 
imprcnsa,  e  bera  assim  o  dos  priilos,  typos 
e  moveis  das  oHicinas,  que  a  conferencia 
que  govcrna  a  imprcnsa  da  univcrsidade  na 
Vol.  III.  MovEMBiio  1.° 


parte  technica  e  litteraria,  devia  ter  orden.!- 
do  na  conformidadc  do  artigo  11.°  do  regi- 
mento  de  9  dc  Janeiro  de  1790,  mercceu  a 
commissao  o  primeiro  cuidado;  porque,  tendo 
requisilado  a  conferencia  da  imprcnsa  os 
ai\tigos  iuventarios,  que  nao  deixariam  de  se 
ter  feilo,  a  rcsposta  official,  que  a  principio 
obtevc,  foi  que  ncnbum  inventario  existia, 
e  so  passado  algum  tempo  soubc  da  existen- 
cia  d'um,  apenas  principiado  em  3  de  dezem- 
bro  de  1849,  e  interrorapido  desde  27  de 
maio  de  1830.  Teve  portanto  a  commissao  dc 
ordenar  todo  cste  trabalbo  de  novo. 

0  armazera  principal  estava  na  peor  dispo- 
sicao  possivel,  tanto  para  a  classificacao  como 
para  a  conservacao  das  obras  que  alii  se  re- 
colhiam,  as  quaes  jaziam  estendidas  ao  longo 
do  pavimcnto  da  casa,  sera  estantes,  nem 
rcsgnardo  algum. 

0  outro  armazcm,  onde  estavam  cm  dcpo- 
silo  anligas  edicoes,  feitas  por  conta  da  im- 
prcnsa, de  varies  classicos  portuguezes  e  la- 
linos,  e  d'outras  obras,  era  tao  humido,  por 
scr  um  claustro  quasi  sublerraneo,  que  n'elle 
foram  cncontradas  completamente  podres  c 
perdidas  muitas  obras,  algumas  das  quaes 
aiuda  hoje  s.to  niuito  cstimadas,  e  cuja  venda 
se  tcria  podido  promover  fazendo-lhes  um 
al)atinicnto  rasoavel  nos  prceos. 

A  ofTicina  onde  estavam  os  prelos,  servia 
ao  mcsmo  tempo  dc  casa  para  os  composito- 
rcs;  sendo,  alem  de  escura,  lao  apertada,  que 
OS  officiacs  se  embarafavam  uns  aos  outros. 
Os  cnvalctes  e  as  caixas  dos  typos,  postas  umas 
sobre  outras,  mal  cabiam  n'um  corrcdor  tao 
estreito,  resultando  d'ahi  grande  impcrfeicao 
e  difficuldade  nos  trabalhos  typographicos. 

A  maquina  lythographica,  que  ha  annos  se 
compriira,  e  que  era  indispcnsavel  n'um  esta- 
belecimcnto  d'esla  ordcm,  estava  ainda  en- 
caixotada,  por  nSo  haver  onde  collocal-a. 

Entrc  OS  graves  abuses  que  o  tempo  havia 
introduzido,  devem  principalmente  citar-se  as 
aposentadorias  que  dentro  do  cdificio  da  im- 
prcnsa tinham  divcrsos  emprcgados,  quando 
era  nccessario  alargar-se  a  officina  typogra- 
phica;  o  grande  numero  de  propinas  distri- 
buidas  d'um  modo  inconveniente  e  illegal;  e 
esta  rem  em  poder  d'um  so  dos  tres  clavicu- 
larios,  n'esse  tempo  administrador  da  impren- 
sa,  todas  as  chaves  dos  armazens,  c  do  cofre, 
—1854.  NcM.  15. 


•i    -i 


-^ 


^1  51  ;?•  ;1  ^ 
sem  inventarios,  s'cra  S*  compeieihtcS'  fiftnfris,' 
permittiudo-se-ihe  que  elToiiuassc  so  por  si  a 
venda  de  lodas  as  obras  alii  impressas,  e  nao 
se  obstando  a  que  do  doposito  das  antigas  sc 
vendcsse  a  p^so;,  ■^Fmscllflcjaoalauma.^  graa'l" 
poroaodepapcl,  caquetao^i'co'deposrio  tives- 
se  side,  coino  parccia,  niuilo  dcfraudado. 

A  falla  de  fiscalisacao  e  de  zelo  na  admi- 
nislra^'ao  da  imprcnsa  ostontava-scrguTiimente 
nao   so  no   proprio   ediiicio,  pela  ruina   dos 
teliiados,    caixilhos    das  janellas,    etc.,    mas 
alii  ;iuis  ..casas.pcrtcncctttes  a  cste  cstaheleci- 
_racBlo,  algainias  diss  quaes  estavam  inhabi-| 
,taveis.!,    , ' ".  -,'-',   ,,,  '       '.,  ,'    ,' '  .  ' ','    ;■ 
',  Na  adnunis'tracao  da  jjnpreiis^i  niicjiodia; 
^prepciji^dJr-ger  da  iuais'  regular  ■ecstrujiuiosa 
escriplui;aet)0,,.  re-sullaiido   de  nao   sc   tcremj 
-f*;it6,,pp|-' ■muito  tqiiipo, Os  asse.ntps  iK^cessarrbs ^ 
ii ',imipo|sD)iJi.cla,J(j  do  verijicar.'as  verbas  d'e, 
.ricei'taj  pTOVcni^entes'4apol)ras  vcrididas  a  df-j 
.ycr^fts   VjVjFeiros,    eaj'as'.  r.equisieoes  Orit^iiiae's  > 
..aih|ia  Ija  poycoitcnj.po  nao  jbraiivajyrcsintada^',  ] 
)iiias  *apenas,unia,copja,'  para  do'cujuentar  a'si 
vendas  eT/eituadiis.  ' '    '  ;.    '  '  .'■.   ' 
.  -,.,Ii'iiialnvciitc  pextran'io  e  estrago  d(i  grapde; 
,piir^ao-de  typo  ai^tigp,'  ciiao  se  haver  realizado  i 
.3,r§ni}ira  de  fiovp,  fazia  coniqiie  se  alrazassci 
niui|b,a  c.omppsifa,6  typograplii'ca,  e'se  recu-^ 
?^^eiu  ,olca^  'que  bs  sous,  auqtpr'es  prcten-^ 
dlam  alli'iiiiprrmir,  sericlo  que  por  isso  per- 
diata  ,casi)  inuitos- lucrps,   e;nao  nienos  o's; 
.  t'<^njP|Ositdres.c  jiuprcssores,,  qiie-por  faita  dej 
,  lyijP  nSo.pdtliam  muitas  ycz^s  trabaihar. 
.'^  .P9F_ieste|  rapj'dp.'  eslipjo  s'era'.facil  conipre- 
h(?n.fler,'.^qijp  .a'f.aii^nijssap ,|C'arecia;  ile'  fazer; 
, rii.iiijas  refpj:jOi^,.na'  imprcnsa  da  un i versida-' 
.^de../liiiHo  ,i).?,'pjrte''adpiriistraliya   como  ria 
:Bipel)a,jii|ca,;  e  t^ue'as  .prpvidencias  prdpostas: 
;.a5>  §oycrnO|.(Ie,S,'M,  par^  'se  .alcanjarcrn  dsi 
■nudribramc"ntp|,de',qup,fosse.,'susc(?pliyd     liao' 
Docliam.deixar.d^e  a-branger 6  pessoaldk 
'j(up.reij.sa.  '■  '  '"     ,   '  ■      ■ '    '  '  "  j 

-;.  I.     l^or'ar'ii  do  'miniiterip   d,6s' ric^ocios  do; 

jfejrtb.'de  }0;dy'maifp  dVcprricnie  aiino  ' ,  ap- 
.proyaiidp  as';med,idas'  dc'  re'forma. ,  lir'oposfasj 

peliv  .comr(iiss,ao,.  primeiro  'resultai}6"de  'seus 
',  tislbrc OS, .  vei'u'^.aucforizar  a,  meslna  c'omm'iss'aoi 

Pi""?  iP^fOsoguir  com ,  maiS|  eiicrgia  'e,  prorapli- 
,  ,dSo  jiips  tpabflltios  ;  de  'que  eslava  cncarrega-' 
;;'|a,.'pP,Jende  petp  art.  18.;°  da  ci'iada,  pbr'taria! 
_|lomiir,'  d'accbrdo''  ^o^ii    o  prelaldp,  \ts'  provii- 

'dencjas^conomica's  ,que  nao'  dependessem'de: 
1  jpsQliicap  fe^ia,  ,/Oem  d'isto,,,  cm  (jonsc'qtien-i 
.!*!;> 'da  dcmissap  dadii. 'nor  dccrcto  de  S  doi 


18.0. 


.'■**•• "», 


J''^f'0'P«?,dc  marco  a  ,J[Qiib..'FranGisc'p  da  iCruz,! 
0   -  .  !l^^^/,,:!^'^  a(liiiiiii,iirajQr;  da  imp'ren.s.a';(la; 
_,t^hiyer,sid'adb,,lm',uonie;itlp  uiteripainp^^^^^ 
-ii?'.';i''v'"!!s''*5Vi°  <^''RW^ft9'"  'da'iniprepsa  na-!  , 
.,  f^'iyPi'^PlvniiJio  ;Nic'oTau   ,Ruy  Ferliaficles;  jo'  '■ 
__  qyaljdcMii  csclarccq-  a' commissab'^obrc' asj  ' 


■    uf^ll^^"  ^"'^  ^^^<^^nii!  ''^''' 


.uit- 


=^^v 


>     'C^.* 


'('ie'j'sc  adopiit',  tan  to  era  rclarao  d  parte  admi- 
nistrativa,  como  a  rospeilo  da  parte  technica. 
E  com  efleito  os  distinctos  servifos  prcstados 
por  este  enviircgado  teem  sido  segnra  abona- 
orM),.}^-,das  sous  QOuiiccinieu(os  Icchnicos  c 
de  admlnistracao;  ia  da  cseolha  acortada  que 
d'elle  (izera  o  governo  de  S.  M.  para  tao  ira- 
portantc  (im. 

-A  fonimissao,  convencida  de  que  era  d'ur- 
genle  nccessidade  a  promjita  c\ecui-ao  da  so- 
brcdita  portaria,  entcndeu  que  principalmen- 
te  dos  art.  4.°  e  5.°  d'ella  (o  4-''  transferindo 
a  aposcniadoi'ia  do  directPr,  '6  o  5."  fazcndo 
cessar  a  de  todos  os  outros  empreg;idos)  dc- 
pendia  uma  boa  parte  das  reformas»qup  cram 
mai's  essenciaes;  I  >  .  ■'  ■,  ■,;■,,':  !  ■,  , 
■  A  cPmmlssabirepresentbu  ao' pwkdo  a,ur- 
-gcn-cia  de  ser  .enearrcgado  0  pr.pfessor- dc 
grego,  Antonio -Ignacio  Coeiho  de  Moiaes,  de 
fazer  recoliier  os  diccionarios  e  riiais  livros 
que  tinham  .sjdo  confiados  ao  fallecido  profes- 
sor jubiladb, Jose  Vicciitc  Gomes  deSloilra, 
para  p  acabainento  ilo.  dicclon'ario  Grfto-la- 
linb;  ebehi  assim  todos  os'pijpcLs 'manufe'crr- 
ptps  que  periencessem  ao  mcsmo  dici'ioB^rio, 
cuja  imprespao  estava  mliito'  iidiarjiada,'  'se'- 
nap  qiiasi  cbricluida,  e  qnc  pcio  merecimenlo 
d'pl)ra  (ao  prirapi-osa,  e  pelas  miii  dvullhdas 
despezas  que  a  imprcnsa  ja  linha  'fcito  para 
a  sua  piiblicacao,  rpdamava  que  seempre- 
gassem  Ipclos  ps  hicios  e  boas  diligtrtcias  para 
que  riap'iicasse  fnconipleth.  E  foi  i-mn  efreito 
cncarrcgadb  aquclle  professor  nao  so  da  coni- 
missao  p'roposla^  nia.stambcm  da  cbnclhsa'o  do 
diccion'ar.io  Grcgo-bitlno,  aoqual  ainda'teiii 
dp  ajulitar-se  nbtaveis  additamchtos;'  parii 
ebrfespbhder'Ss  melbores  publicadoes  riiCKier- 
has  que  ha  n'estfc  geribro.  '  '  '•■  '  '■''-    ' 

A  cbniralssSo  passoil  logo  a  tomar  tis  sS- 
giiintes  resol'uc'oes  d'accbrdo  cPni  bprelado, 
as  quaes  fpram  cpmmunicadas  a  cbnfci'encia 
da  inip'rensa  da  iin'ivcrsidade:  Qne  assisfisse 
a's  sessues  da  conferencia  da  mcsma  iiiipreii- 
sa  uhi  dps  nienibros  da  cnramissfioj  auctori- 
'sadb.  para  pi'omover  ludo  o  que  julgasse'  cbii- 
"\'ehiente  a  bcm  das  reformas  que  tihham  de 
rcalizar-se'  laiito'n'a  pdfte  econ'omica  cofflo 
na  lecbnica':   Que  fbsie  jiost'o  era  cxecneab 'O 
rCgrtlahiehto  provisbrip,  feito  para  a  cOntabi- 
lidiide,   fiscalisiicao  e  escripturacSo  da  admi- 
'pistnicao,  goral  da  impreiisa  nacionaf,   para 
kipprirTriterihanicntc  as'omissOes;  n'cssa  par- 
te,'dos  rcgulaniehtPs 'da  impi-^nsa  da  nuivet- 
si(fade:   Qiie  fbssc- transfcrido  para   dm  cofte 
.especial  na  casa  da  extincla  junta  da  fazenda 
da  iiniVers'jdade ,  b  'dinhefro  que  entab  *xislia 
ilb^  'cdl'r'e'  da    imprens^;  'deixando-se   n'cste 
'a4]'uiiii,t'ia  sbmente  nceessaria  para   o  paga- 
fnbtfto  'da  •fei'ia  scnlanhr  e  d'outras  mais  deS- 
'  j|lcz'a's"df'ffiyariaii,'  para  o  que  a  dita  'quantra 
'■'liSo  e'xiyde^iit'jSm'ai-s-a'trCTcntoi  mil  reis,-  'e 
"fcb'ii^etVh'ii'dd-se  «(a  ■iuefeirta  'sprt-e  a's  ch&ves 
'f'Mbby;b's',tf6freS''cmpoderHlps  tres  resnecii- 


|9| 


vos  jclavicularios :  Que  o  aloadpr  lose  da  S.il- ! 
va  Baudeira  nao  continuasso  a.accynuttar  as  ; 
attribuicGes  do  ajudante  do  a(^iiiio4slra)3or, 
as  quaes. interioameute  pram  comiiic^id.as  a 
Mauricio  Jose  Dias,  composilor  da  inipfensa 
nacional:  Que  ao  fundidor  de  typos  Jo'aquiiu 
Maria  da  Cruz,  cessasse  o  salario  djiarlo  de 
2^0  reis,  devendo  pagar-se-lhq  somenle  9  ser- 
vice de  que  fosse  encarrcgadd,  e  pe!6  prcfo 
qiie  se  ajustasse. 

,  Todas  cstas  resolucocs  foram  appr.ovadas 
ppla  porta ria  do  ministerio  dos  ncgocibs  do 
reino  de  20  de  maio.  ,  ,.  ,    -    ,    f 

Tendo  a  execucao  do  ar^.',i:.°  jda  porfaria 

de  16    de  marjo  dado   logara  difficuldades 

inesperadas,  que  poralgiira  tempo  demoraram. 

OS  trabalhos  da  coramissao,-lbj  iiecessario  di- 

rigir  ao  governo  de  S.  M.  cpiiSuIta  com  data 

de  10  d'aliril;  e  j^Jcj  mesmo  motiyo  foi  pre- 

seatftdcpois  a  conira[ssao  um  requerimento  do 

qignO.par  do  reino  director  da  imprensa  da 

i|niyev,sidade,  sobre  cujo  contexto  se  mandou 

ouvir  a  commissao,    que  respondeu   cm   19 

do  dito  mcz  d'abril  0  que  a  cerca   de  seme- 

.lliante  objecto  se  Ihe  oirereccu.  Por  fim  man- 

te-ve^se,  como  era  de  juslica,  a  disposicao  do 

Jii^:  ;4v  da  citada  portaria  em  virtude  d'oulra 

^.exjpedida  em  13,de  maio.  Todavia,  jior  causa 

^"dos  muitos  reparos  e  concertos  que  foi  mister 

j'-effeituar  nas  casas  para,  onde  se  .transferira 

.yXresidcncia  do  director,  a  lim  de  liie  propor- 

!J;;^,^io9ar,o  maior  numero  possivel  de  eommodi- 

,^;  dadcs,  e  para  que  ficassem  por  uma  vcz  fei- 

"  '  tas  todas  as  obras  nccessarias,   ainda   teve 

d'csperar-sc  ate  0  fim  de  juiho  porquc  fossem 

5j  desoccupadas  as  casas  onde  0.  director  tivcra 

^"l^'a  sua  appsentado.ria.        '         : 

'-.^.   .Pe.sde  entao  e  que  os  trabalhos  da  com- 

"'■missao  poderam  recomecar  com  maior  activi- 

^.';dade,  e  receber  tpdo  b*  impulsb  de  qiie  ca- 

-"'Wciam. .  .       .  ■■■.■; 

A   cofiimissao  tinha  man.dado  ja  fazer   as 

,  .  estantes  para  0  armazcm  principal,  e  collocar 
' '^n'ellas  todas  as  obras  que  se  encontravam 
.:.iii'*!^'^'''^"'^''''  '^""lo  fica  dito,  ao  longp  do  i)a- 
»x"'-^''"®°'°-   R°  ""'fo  armazem  mandou  mudar 

^  ipara  salas  enxutas  e  vcnliladas  as  chronicas 
i},'?eDamiao  de  Goes,  e  deAndrada;  e  as  obras 
^^;;de  Duarte  Nuncs.  dc,  Leao,  de  Rezende,  de 
grt-'.^^^SyPO  .Psoriq,   e  d'dutros  classicos,   para 

■"jeyitar  a  sua  total  ruina.  E  actuEiImentc  tra- 
^'.  eta  dc  promoyera  V^nda  de  grande  numero 
Bj,"'4'.«^emplarcs  d'aqucllas  obras,  fazendo-lhes 
4!,  ^^  aiatiiiienlo  rasoavel  nos.precbs.  \ 
Oil  '■  i'^^-'^P  **  principio  do  mez  d'agosto  ultimo 
^,  totoefaram  todos  ps  trabalhos' i'ndispeiisaveis 
Mb  ^^  "^^'^  conyehientes  para  a  melli.or  eollbcacab 
^^,,,0  outl-a  ofG'cihii  de  composicao  nas  casas  que' 
^•^'desocciipou  b  director  da  im[irensa.  A  casa 
^^  da  impressao  t6rnou-se  indepehdente  das  casas 
Soj-  -  <^oniposicao  typograpliica;  fizeram-se  novos 
Cos  '^•^^''        '  '^"'^''*  ^^  composicgo  e  mais  uten- 

V  sihos  typographicos  segunddos  modelos  man- 


.d?dos  yir  dc  Lisboa ;  cscoiheu-se  um  local 
'ai)ropriad'o  jpaVa 'a  maqiiitia  lytH'ogfapWca , 
onde  foi  defi'riitivament'e  collbcadaifja-r'fS '{ttider 
fuBccionar ;  in'trbduzirain-se  varitJS'  aperfei- 
coamentos  techrlicos.  ■  '  '  '  i'  ;■•■,'-•',  ■ 
■  Tiinto  no  edificio  da  intprensa' como'' nas 
casas  pertencentes  a  este  estabelecimento 
iiiandar<Ym-sc  fazer  todos- as  bbrdS  e  f^jaros 
Os  mais  indispensaveis.  '  '•>■■-  1' 
'  Tem-se  feito  em  grande  pdrte  0  sortimento 
de  typo  novb,  emblemas  e  vinhetas,  e  remet- 
tido  enl  troca  avultada  p0rc5o  de  typo  in u- 
tilisado,  ficando  ainda  a  sulliciente'  detypo 
velho  para^  p'roseguirerii  as  •  irfipressoes  que 
estavam  em  andamento,  ou  para  as  iieimpres- 
soes  d'algumas  obras  que  sao  propricdade  da 
impi-ensa.  Be  gothicos  e  cursivds  e\iste  Ti'este 
estabelecimento  tao  rico  e  abundante  sorti- 
mento, que  pbde  dispor-se  de  -raetade'  por 
venda  ou  troca,  0  que  a  commissao  espera 
conseguir. 

■  Eram  necessarias  algUhias  niac^iiiiias  e  uten- 
sili'bs  piira  a  o(Iicfn\i  de  impressao;  a  saber, 
um  prelo  de  ferro  maior  do  que  0  cOmmum, 
tintciros  de  ferro  pafa'oS  pr6los,'  iinia  prensa 
hydraulica,  e  um  torculo  d'estamparia,  pcio 
que  resolveu  a  commissao  em  7  d'agosto 
encarregar  0  administrador  interino  Olympio 
Nicolau  Ruy  Fcrnandes,  de  fr  ao  PortO  e  a 
Lisboa,  devendo  estar  de  volta  ate  ao  1." 
de  setembro ,  a  firn  de  comprar,-  n'aqueltas 
cidades,'  petos  menbres  prefos,  os  sobfedilos 
objectbs;  e  visto  nao  se  ter  offerecrdo  pro- 
posta  alguma  para  0  fornecimento,  por  meio 
d'arreniatacao,  do  papel  necessario  para  a 
imprensa  da  universidade,  tambera  aucto- 
risbu  o'^dilo  administrador  interino  para  ajus- 
tar  0  papel  das  fabricas  nationaes  d'Alem- 
quer  ou  do  Tojal,  que  for  precise,  ate  a 
quantia  d'um  con  to  dermis,  tendo  em' vista 
as  melborcs  condicoes  que  se  olTerecessem,  e 
lirmahdo  os  necessaries  contractos  eescriptu- 
ras  com  todas  as  solemftidades  legaefe.  Esta 
incumbehcia  foi  perfeitamente  deseiiipenhada 
pelo  administrador  interino,  que  nao  sb.com- 
prbu  pelos  menbi^es  precos  no  Porto  e' em 
Lisboa  aquellas  maquinase  wteusilios,  mas 
tambcm  concluiU  com  a  fabrica  d'Alemqtier 
0  mais  vantajosocontraclo  a  cerca  d*  papel, 
consijilindo  em  que;  a  i'miirettsa  podera  ter 
sempre  nbseu  arnlazem  ate  0  valor  dumconto 
de  reis  de  papel,  pel6s  me.^mOs ' precoS'  por 
que  Hi'o'  fojneciam  OS  eommissarios  da  fabri- 
ca, mas  sem  empate  de  capital,  considetando- 
se  0  papel  como  em  depo'sito,  psgandiS  a  im- 
prensa no  fim  de  cada  mez  sbmcnta  a  irapor- 
tancia  do  consumido,  e  perofebendo  ainda  5 
por  cetito  de  comriiissao '.' 

'  A  respeito  do  papel  cumpre  notar  que,  no  anno 
lectivo  de  1853  a  1854,  se  gastou  nas  impressoes  da  casa 
7785800  feis';  c  qne'pjJe  dr(;aHse  o  coiripr'ado'pelos  par- 
ticiilareS  ])ara  a  impressao  das'  sua*  obras  "approxiina- 
damente  em  1:200|1000  reis  por  anno. 


192 


Na  auscncia  do  administrador  intcrino  foi 
cncarrcgado  de  fazor  assuas  vezcs,  e  dehaixo 
da  sua  responsahilidado  para  todos  oselTcitos, 
0  ajudanle  iiilcriiio  Mauricio  Jose  Uias. 

As  precedeiiles  rcsoliicOcs  forara  todas  ap- 


provadas  pela  porlaria  do  ministerio  dos  nc- 
gocios  do  rcino  de  23  d'agosto. 

As  despozas  que  sc  tcm  fcito  na  imprrnsa 
da  uuivcrsidade  no  anno  Icctivo  dc  1853  a 
1834,  sao  as  seguinlcs; 


Obras  no  cdificio  da  imprcnsa,  incluiudo  a  pintura 

Ditas  nas  casas  para  ondc  se  Iransferiu  a  residcncia  do  director 

Dilas  na  casa  denominada  do  lliesoureiro 

Ditas  na  dita  da  rua  da  lilia 

Caixas  de  coniposicao  e  niais  utensilios  typographicos 

Cavaiotes  e  pintura  dos  niesmos .•  . 

Typo  novo,  '3:230  arrateis  e  4  onjas' 1:307^09:$ 


1 


:013p95 
158^145 

37^875 
127^100 
12 2^9 00 

S7$4S5 


Emblemas  e  vinhetas 


17^220 


I'rimeira  remcssa   de  typo  velho  1:C02  arratcis 

e  4  oncas    

Segunda  dita  1:783  arrateis' 


224^13 

249^020 


1:324^913 


473^933 


L'ra  pr61o  de  ferro '  . 

Sete  tinteiros  de  ferro  a  24^000  cada  urn 

Unia  prcnsa  liydrauliea 

Urn  torculo  d'estamparia 


859^978' 
158^000 
168^000 
510^000 
92^040 


Pela  portaria  de  23  d'agosto,  ja  cilada,  foi 
tarabem  conlirmada  pelo  governo  de  S.  M.  a 
proposta  feita  pelo  vicc-reilor  da  universida- 
de  para  nomear  interinaraente  para  exercer 
as  funccoes  de  director  da  imprensa  um  dos 
vogaes  da  commissao,  c  na  falta  on  impedi- 
mento  d'alguni  d'elles  o  administrador  interino 
da  raesma  imprensa.  Esta  providencia  tinha 
sido  reclamada  pela  ausencia  do  director 
proprictario  e  subslituto  durante  o  tempo  das 
ferias. 

Ainda  varias  reformas  sao  necessarias  para 
(lue  este  cstabelecimento  typographico  venha 
a  prcstar  os  utcis  sorvicos  que  pode  cfTectiva- 
niente  prestar  cm  beneficio  das  sciencias  e 
das  letras;  porem  muitas  d'ellas  convem  que 
sejara  experimentadas  provisoriamente  antes 
de  serem  submettidas  a  approvacao  definitiva 
do  governo.  Assinique  a  respeito  da  revisao 
typographica  a  commissao  coraccou  por  tomar 
cm  3  de  junho  algumas  providencias  mais 
urgentcs  para  que,  a  par  ,das  reformas  na 
parte  tecbnica,  se  effeiluassem  tambem  na 
parte  litteraria,  as  quaes  nao  deviam  merecer 
menor  attencao  para  credito  e  proveito  d'csla 
typographia. 

A  commissao  tem  eontinuado  depois  a  pres- 
tar 0  mais  serio  cuidado  a  scmelhantc  objeeto : 
0  pessoal  da  revisao  havia  sido  quasi  todo 
provido  rccentemente  pelo  governo  de  S.  M. 
era  jovens  de  muitas  csperancas,  6  verdade, 


'   Ainda  tem  de  vir  1  ;000  a  1 :  jOO  arrateia. 
^  Prepara-se  outra  remessa  de  1:000  a  1:800  arrateis. 
'  Ha  de  ser  ainda  necessario   outro  prelo  lyt!;ogra- 
phico,  que  tmportara  pouco  mais  ou  meaos  120^000  reis. 


Reis 3:322^448 


mas  que  ainda  nao  podem  considerar-se  como 
revisorcs  feitos,  nem  mesmo  como  philologos 
consummados:  por  outra  parte,  o  servigo  da 
revisao  tinha  augmentado  consideravelmente, 
0  ([ue  muito  havia  concorrido  para  cresccrem 
cgualmentc  as  difficuldades  a  que  a  commissaa 
tern  procurado  dar  remedio.  Para  este  elTcito 
sc  coordenou  em  7  d'agosto  um  rcgulamenlo 
provisorio  para  o  servico  da  revisao,  o  qual 
se  mandou  logo  communicar  a  confcrencia  da 
imprensa  para  ser  interinaincnte  execiitado. 

A  commissao  no  orcamento  da  imprensa 
para  o  anno  cconomico  de  1853  a  1856,  que 
dirigiu  ao  governo  de  S.  M.  em  4  de  setcm- 
bro  ultimo,  introduziu  tambem  algumas  altera- 
coos  e  propostas  relativas  ao  pessoal  da  mesma 
imprensa;  e  quanto  aos  revisorcs,  propondo  a 
commissao  augmento  nos  seus  ordenados,  en- 
tcndeu  ao  mesmo  tempo  que  nao  convinha  que 
fossem  distrahidos  com  qualquer  outra  oceu- 
pacao  do  servico  publico,  e  qucporisso  devia 
declarar-se  hem  expressamente — que  nao  po- 
deriam  accumularcom  ocmprego  de  revisorcs 
qualquer  outro,  nem  scquer  do  magisterio. 

A  commissao  tcm  tomado  oulras  muitas  pro- 
videncias cconomicas  e  administrativas  de 
rceonhccido  interesse,  ja  relativas  a  loja  da 
vcnda  dos  livros,  ja  sobre  as  attribuigoes  do 
ficl  da  officina  e  d'outros  cmpregados,  j4 
linalmcnte  cm  relafao  ao  melhor  arranjo  da 
sala  da  conferencia,  e  organisayao  da  biblio- 
theca  da  imprensa,  tendo  sido  auctorisada 
pelo  prclado  da  uuivcrsidade  para  escolher  do 
dcposito  dos  livros  e  pinturas  dos  conventos 
cxtinctos,  tanto  os  livros  que  fossem  neces- 
saries para  a  dita  bibliolheca,  como  as  pin- 


193 


turas  que  devcsscm  oinar  y   ^ala  da  confc- 
rencia. 

Todas  estas  providencias  e  rcformas,  e  bem 
assim  as  inais  (]iii'  lorem  siigf;eridas  pela 
rxperioiicia  c  assiduas  iii\u?li(2;at0c'.s  da  com- 
inissao,  scrau  consignadas  opportuiianu'iito  no 
rcgidamento  geral  t'lu  que  a  cominissao  esla 
tiabaliiando. 

A  cominissao  seria  digna  do  ccnsura,  se 
uestn  logar  doixasse  de  fazor  honrosa  menrao 
dos  bons  sorviros  que  Mauricio  Jose  Dias 
piestou  a  imju'cnsa  da  universidade,  per 
cspaco  de  seis  mezes  ein  que  esteve  cncar- 
regado  da  iiispecrao  da  eschola  lypographica 
da  mosma  imprensa,  e  das  attribuicOes  deaju- 
dante  do  administrador,  caigos  que  exerceu 
coin  miiita  inielligencia  e  dedicacao,  ficando 
assignaladas  provas  d'isso  tanlo  na  separacao, 
arranjo  c  syslemalica  disposicao  de  typos, 
vinhetas,  etc.,  como  cm  muitos  oulros  ol)je- 
ctos  em  que  se  requeriam  conbecimcnios  lecbni- 
cos:  e  outro  sim  por  haver  desempenhado  com 
cgual  zelo  e  com  toda  a  regularidade  as  func- 
cocs  de  administrador,  cujas  vezcs  fez,  como 
ja  so  disse,  na  ansencia  do  actual  quando 
csleve  occupado  no  service  imporlante  que 
Ihe  fdra  incumbido  pela   cominissao. 

E  porqiie  nao  basta  somente  que  se  facam 
refornias  provcilosas,  mas  i  lambem  ncces- 
sario  que  ellas  se  (irmem  solidamente  e  fru- 
ctiliquem,  entende  a  commissao  que  muito 
convem  para  isso  serem  ainda  por  muito 
mais  tempo  aprovcitados  os  services  utilis- 
simos,  que  ja  tern  prestado  a  imprensa  da 
universidade  o  administrador  intcrino  Olympio 
Kicolau  Ruy  Fernandes,  ale  que  os  mclhora- 
menlos  tecbnicos,  administrativos  e  lilterarios 
d'este  estabelecimento  typngraphico  tenbam 
chcgado  ao  grau  de  perleiciio  e  estabilidade, 
que  a  cominissao  conliadamente  espera  obter, 
niuilo  prineipaimente  continnando  a  ser  escla- 
fcciija  e  auxiliada  por  uni  emprcgado  tao  in- 
tclligcnte  como  bencmerito. 

Coimbra,  28  d'outubro  de  18ai. 


MOSTEIRO  Dl  YACCARICA.. 


Fundaiao  do  Mosteiro. 


Exisliu  cm  outros  tempos  urn  famoso  cou- 

'  A  Xoticia  Historica  do  Mosteiro  da  Vaccari<;a,  etc. , 
p>:lo  sr.  Dr.  Miguel  Ilibeiro  de  VascouceUus,  que  a 
ucaJemia  real  das  sciencias  acaba  de  piiblicar,  levar- 
me-liia  a  relirar  do  prelo  iima  grande  parte  d'este  nieu 
traballio.  se  nao  me  vira  ojmproinetlijo  i  sua  publi- 
ca^ao  jiela  promessa  que  fiz  em  18j2,  no  Instituto  de 
Coimbra  n."  4,  nota  1."  ao  meu  artigo — Os  Banhos  de 
Ltiso. 

Cabe  aqui  um  testemunho  do  meu  reconhecimcDto  u 
boa  vontade  com  que  o  sr.  Miguel  Rlbeiro  me  patenleuu 
o.s  doruraentos  do  archive  da  se  de  Coimbra.  na  quah- 
dade  de  carlorario  d'este  arcliivo.  e  do  muito  que  Die 


vento,  0  Mosteiro  da  Vaccarica  '  ou  Mosteiro 
Bubulence  ,  na  anliga  viUa  da  Vaccarica, 
hoje  pertenceule  ao  couceliio  da  Mcalhada, 
siluada  perto  deBussaco,  meia  k'gua  ao  poen- 
te,  de  LubO. 

E  muito  obscura  a  bistona  da  fundacito 
d'este  mosteiro.  A  cpocha  assignada  por  fr. 
Leao  de  S.  Tbomaz,  a  mais  geralmente  segui- 
da,  e  muito  conteslada  por  fr.  Antonio  da  Pu- 
riiieacao.  Esle  chronista,  attribuindo  a  Paulo 
Orosio  a  fundacao  do  Mosteiro  de  Lorvao  no 
anno  de  Cbristo  de  4o0,  quer  que  o  mesmo 
eremita,  poucos  annos  depois,  fundasse  tam- 
bem  0  Mosteiro  da  Vaccarica.  Servc-Ihe  de 
prova  um  catalogo  dos  conventos  do  S.'" 
Agostinho,  no  qual,  depois  de  se  fallar  do 
Mosteiro  de  Lorvao,  se  menciona  outro  perto 
de  Luso',  euja  fundacao  tambem  se  atlribue 
a  Paulo  Orosio. 

Por  outro  lado,  a  Benciliclina  Liisitana  e  os 
mais  cbronistas  aliirmam  i|ue  os  dous  mostei- 
ros  foram  fundados  no  seculo  VI,  pelos  pri- 
nieiros  mongesque  S.  Beulo  mandara  do  Mon- 
te Cassino  a  llespanba,  e  antes  da  morle 
d'este  Santo  Patriarcba. 

Fr.  Bernardo  de  Britlo  encontrou  no  car- 

coadjuvoii  em  1850  n'esle  meu  trabalho ,  que  pouco 
depois  tive  de  interrompor  com  outros  de  maior  ur- 
gencia. 

Se  n'aquelle  tempo  despertei  a  atten(;So  do  sr.  Mi- 
guel Ribeiro  para  o  Mosteiro  da  Vnccari(;a,  dar-me- 
hei  por  bem  j)ago  das  semanas  que  alii  gastei  so  cum 
a  lembran(;a  de  ter  actuado  como  causa,  se  bem  <iue 
remota,  na  publicaf^iio  d'uma  memoria,  que  a  academia 
real  das  sciencias  tantu  apreciou. 

'   Vaccarica   deriva,  segrindo  geralmente  se  ere,    de 

—  A'accaria — por  se  terem  dado  a  cria^ao  do  gado 
vaccum  os  antigos  habitautes  d'esta  ^■ilhl,  fa\'orecidos 
peljs  bons  p.'istos  que  poderia  minislrar  loda  a  \arzea 
do  norte,  fertilizada  pela  Ribeira  de  Luso;  ou  de  —  A'ac- 
ca-rica  —  porque  fossem  bem  reputadas  no  mercado  as 
vaccas  alii  cria<las,  e  ainda  porcjue  o  talho  do  abaste- 
cidu  Mosteiro  Bubulense  fosse  muito  acreditado  uos 
arredores,  dando  sempre  optima  vacca  ou  varca-rica. 

-^  A  denominaf^iio  de  Bubulense  julga-se  que  proviera 
de  se  ter  alatinado  a  mesma  etyraologia — bubulus — . 
Alguas  cbronistas  o  denominaram  Mesteiro  Bulmlense; 
mas  nos  documentos,  que  possuimos  d'este  mosteiro, 
do   seculo  X    em   diante,    vem   sempre   designado   por 

—  Monasterium.  Acislerium.  Cenobium  Vaccarize  — 
como  diz  o  sr.  Miguel  Ribeiro  na  sua  Noticia  Histo- 
rica do  Mosteiro  da  Vaccarica  ^.   13, 

^  In  territorio  Conimbricensi  unum  ad  Lurbanuni .  .  . 
et  aliud  ad  Lusum  .  .  .  ba-c  etiani  Orosio  tribuimus. 
Chronica  dos  Eremitas  de  Sancto  Agostinho  por  fr.  An- 
tonio da  Puriflca(;ao  torn.  I,  li\ .  1.  tit.  8.  ^^.  4  e  a. 
N'este  ultimo  ^.  se  le  tambem  o  seguinte  :  t^  Aqui  per- 
ti  se\eramos  (os  Agostinhos  na  Vaccarica)  ate  a  enlra- 
w  da  dos  Sarracenos  em  Hespanha ;  os  quaes  com  bar- 
1.  baro  furor  tirarao  a  \ida  aos  pobres  Eremitas:  e 
"  assi  ficoH  o  Mosteiro  deseniparado  ate  que  quitdo 
(I  a  Portugal  chegou  a  Reformai^ao  de  Clune  foy  outra 
«  vez  habitado  de  Religiosos  de  S.  Bento.  *)  Poderiam 
ter  havido  esles  estragos,  ou  os  Monges  fossera  Agosti- 
nhos ou  de  S.  Bento;  mas  a  circumstancia  de  s.- 
mencionarem  n'esta  chronica  so  por  incidente,  e  de  nao 
ter  encontrado  aos  mais  historiadores  o  menor  indicio 
d'este  facto,  leva-me  a  julgar  fabulo>a  esla  noticia,  e  a 
suppor  que  seria  dada  para  unia  e\plica!;.^o  plau-ivel 
da  pertendida  transicao.  da  ordem  de  Sancto  Agostinho 
para  ordem  de  S.  ijcnio  .   no  .Mosteiro  da  ^  ii'-cariga. 


194 


toi  io  dc  Lorvao,  no  fim  d'uin  livro  manuscriplo 
iiuiito  antigo,  uma  momoria,  que  diz  tor  sido 
t'lindado  cste  mostciro  ainda  cm  vida  de  S. 
Bcnto'.  George  Cardoso  ciUi  um  livro  dos 
ol)itos  do  carlorio  de  Lorvao  ondc  se  diz  que 
Lucoiicio,  depois  Bispo  deCoimhra,  foi  o  pri- 
meiro  al)l)ade  de  Lorvao';  c  estc  mcsmo  Lu- 
«eni'io,  que  assignou  o  conciiio  Bracharense 
em  563  ■",  foi.  segundo  o  mesmo  auctor,  um 
dos  doze  discipulos  que  S.  Benlo  mandou  dc 
(lassino  para  cdilirarcm,  cm  Castclla  a  Yelha, 
0  convento  de  S.  Pedro  de  Sardciilia  era  537  ', 
donde  saio  para  a  Lusilania,  e  cdilicou  o  con- 
^cnto  dc  Lorvao  \ 

0  anno  d'estas  fundaeocs  \cm  niais  prcci- 
samcntc  dcsignado  para  o  Mosteiro  da  Vacca- 
riea,  n'um  livro  memorial  antigo,  do  carlorio 
do  Moslciro  de  S.  Pedro  de  Pedroso,  citado 
por  fr.  Lcao  de  S.  Thomaz,  ondc  sc  diz  que 
o  .Mosteiro  da  Vaccarica  foi  edilicado  no  anno 
de  541  pouco  mais  ou  menos,  depois  de  fun- 
dado  0  de  Lorvao '. 

So  com  ostes  dados  nada  se  pode  colhcr , 
<|uc  satislaca,  sobre  a  fundacao  do  Mosteiro 
Biibulensc.  Tanto  o  catalogo  dos  conventos 
<ie  Santo  Agostinho  como  o  livro  dos  obilos 
do  cartorio  de  Lorvao,  o  livro  manuscrijito 
do  mcsmo  cartorio,  e  o  livro  memorial  de  S. 
Pedro  de  Pedroso  sao  escriptos  scm  rcfercn- 
f  ia  a  documcntos  contcniporaneos,  c  sem  data 
iiem  auctores,  que  os  auctoriscm.  Mas,  sc 
a  pezar  d'isso  e  permillida  uma  opiniao  de 
probabilidade,  sera  talvez  menos  arriscada 
a  dos  que  se  inclinam  a  que  o  Mosteiro  da 
Vaccarifa  fora  fundado  no  seculo  VI,  entre 
OS  annos  de  537,  vinda  dos  Monges  Bcncdi- 
rtinos  a  Ilespanha,  e  543,  morte  de  S.  Bcn- 
to'; nao  porque  os  outros  escriptos  tcniiam 

^  Domus  nostra  Lurbani  constnicta  fait  viuele  patre 
iiosiro  Benedicto.  Chronica  de  C'ister  por  Fr.  Bernardo 
lie  Brifto  Part.    ].»  liv.  6,  cap.  29. 

*  Eadem  die  (10  d'abril  —  niio  diz  o  anno — >  obiit 
^  enerabilis  Lucencius,  primn.s  quondam  Abbas  Lurbani, 
postea  vero  ad  Episcopatura  Colimbri^ensis  ciuitatis  jis- 
siimptiis,  qui  literis,  et  virtutibus  clarus  muHis  inter- 
fuit  coneiliis.   A;j:iuli|;io  Lusitano  pelo  Licenciado  George 

.Cardoso  torn.  2,  Coniraentario  ao   10    de  .\bril 

•^  Catalogo  dos  Bispos  do  Porto  por  Do  Kodrigo  da 
Ciinha  part.  1.',  cap.  4.  Fr.  Antonio  de  Yejws  torn.  1, 
cent.  1.  George  Cardoso,  referindo-se  a  Lo,i7sa,  quer 
que  OS  concilios  Bracharenses  a  que  a.ssistiu  Lucencio, 
tivessem  logar  em  561  e  572,  torn.  8,  Comcnt.  ao  10 
de  Abril. 

**  Este  anno  tambem  o  aponta  fr.  .\ntonio  de  YepeA 
torn.    1,  Centuria  1."  folh.   87. 

*  Agiologia  Lusitano  torn.  2,  Comment,  ao  10  de 
Abril. 

'  Benedictina  Lusitana,  torn.  1,  trat.  8,  part.  2, 
cap.    12. 

■  Ainda  ha  mutta  divergencia  nog  AA.  sobre  as 
epochas  do  nascimento  e  morte  de  S.  Bento,  apeTar 
il'alguns  se  terem  referido  a  factos  relaliros  aos  reina- 
dos  dos  imperadores  Anastacio  Deoscoto  e  Justino,  do 
rei  de  Leao  D.  AfTcmso  Magno  e  de  Totila  rei  dos 
(iodos.  Fr.  .\ntonio  da  Purificat^ito  diz  que  este  Sancto 
Patriarcha  naseeo  em  527,  fundou  a  sua  ordem  em 
Ca'sino  em  567,  e  que  morreu  em  5119.  Tritencio, 
que    nasceii   em  480.    0   cardeal    Malheus   Palmerio, 


mais  auctoridadc  do  que  o  catalogo  dos  con- 
ventos de  .Sancto  Agostinho,  mas  por  scrcm 
mais  cm  nnmero,  c  muilo  mais  acreditados 
pcia  grande  maioria  dos  nossos  archcologos. 
No  meiod'esla  divergencia,  os  dons  adver- 
sarios  fr.  Lcao  de  S.  Thomaz  e  fr.  Antonio  da 
Purilicacao,  fr.  Bernardo  de  Brilto  na  sua 
Chronica  de  Cister,  o  licenciado  George  Car- 
doso no  Agcologio  Lusitano,  o  doutor  fr.  An- 
tonio Brandao  na  Monarchia  Lusitana,  fr.  An- 
tonio de  \cpcs,  e  os  mais  que  pudenios  con- 
sultar,  todos  concordam  cm  (|uc  o  .Mosteiro 
da  Vaccarica  fora  fundado  logo  depois  do  dc 
LorviJo,  que  tiveram  ambos  o  mcsmo  I'unda- 
dor,  e  que  foram  na  primitiva  da  mesma  or- 
dem religiosa.  Assentam  esta  ligacao  dos  dous 
niosteiros  nos  mesmos  cscriplos,  donde  forani 
biiscar  a  sua  fundacao;  mas,  como  n'estc 
ponio  nao  ha  divcrgencias,  nao  e  muito  que 
csta  noticia,  a  pezar  de  muilo  duvidosa,  se 
conceda  a  quern  sc  conlcnlar  com  a  cpocha, 
tao  mal  averiguada,  da  fundacao  do  Jlosteiro 
da  Vaccarica. 

Cviilinua.  \.  \.  da  costa  SIMOES. 


PHYSIOLOGIA  APPLICADA. 

Transmissao  dos  sons  por  meio  dos  corpos  soU- 
dos;  e  sua  applicacao  ao  ensino  dos  meni- 
nos  no  estado  de  surdez  incompletn. 

Os  methodos  d'inslruccao  para  os  surdos- 
niudos  ou  sao  completamenle  desconhecidos 
cntre  nos,  ou  nao  teem  sido  ensaiados  com 
proveito.  Pode  quasi  dizer-sc  que  csta  dcs- 
gracada  classe  de  nossos  irmaos  tem  sido  dci- 
xada  ao  abandono.  Os  csforcos  feilos  ale  aqui 
para  Ihes  dar  certa  edncacao,  teem  sido  dc 
todo  infructiferos  neste  paiz,  c  por  loda  a 
parte  se  encontram  d'cstcs  infelizes,  a  qiiein 
nenlium  bcncficio  tem  feito  o  progresso  de 
todos  OS  conhccimentos  humanos.  0  seu  espi- 
rito  tem  ficado  scm  pao  no  mcio  do  banquete 
gcral  dc  todas  as  outras  classes,  como  se  dies 
foram  degradados  da  civilisacao.  Tocados  por 
tamanho  infortunio  vamos  dar  conta  n'estc 
jornal  d'um  mcthodo  ullimamentc  ensaiado  em 
Franca  para  transmittir  os  sons  e  fazel-os 
ouvir  e  aprcciar  pcrfcita  e  distinctamcnte 
pelos  surdos-mudos  no  estado  de  surdez  in- 
complcta. 

Uavendo  as  pessoas  cmpregadas  na  instruc- 
cao  d'esta  deshcrdada  classe,  observado  que, 
a  maior  parte  dos  surdos-mudos  podia  ouvir 

em  494.  Victor  Capuano,  alguns  annos  depois  de  494. 
O  Padre  Roman  e  fr.  Luiz  dos  .\njoj,  em  497.  Mariano 
Escoto  c  Sigeberto  cm  570.  E  a  Benedictina  Lu>itin\, 
o  Cardeal  Baronio,  Herniano  Conlrarto,  Genebrardo, 
Arnulfo,  Yepes  e  outros  afiirmam  que  naseeo  em  480, 
que  fundou  cm  Cassino  a  ortlemj  Benedictina  em  529) 
e  que  morreu  em  543. 


195 


alguns  sons,  c'sendo  ccrlo  que  os  corpos  soli- 
dos  Iransmittem  os  sons  com  mais  energia 
que  OS  fluidos,  M.'  D.''  Itard,  M.'  Strauss 
Durckhcini,  e  Lc-Cot,  parocho  do  Bolonha 
sobre  o  Sena,  que  disputam  entre  si  a  prio- 
ridadc  d'cste  descobrimcnto,  approximando 
estes  dois  factos  de  natureza  dilTerente,  con- 
ceberam  a  idea  de  que  os  surdos-nmdos 
ouviriani  com  mais  facilidade  c  perfeicao  os 
sons  que  Ihes  fossera  transmittidos  pelos  cor- 
pos solidos  do  que  os  que  Ihes  chegasscm  por 
intermedio  do  ar.  Restava  descobrir  um  meio 
facil  de  transmissao  segundo  esle,pensamento, 
e  I'oi  descoberto.  Este  meio  tao  facil  como 
simples  consiste  em  articular  ossonsdistincta- 
mente,  masscm  esforco  no  centrodo  paviihao, 
ou  bocca  d'um  porta  voz  ordinario,  on  corneta 
acustica,  de  zinco  ou  lata,  que  o  surdo-mudo 
deve  apertar  nos  denies  pela  extremidade 
que  tern  o  menor  diametro.  Do  emprego  d'cste 
simples  apparelho  asseverara  os  sens  pretcndi- 
dos  inventorcs  Strauss  e  Lc-Cot,  liaverem  ti- 
rado  OS  mais  auspiciosos  rcsultados;  o  que  o 
primeiro  corrobora  com  as  cxperiencias  por 
olle  feitas  em  1842,  na  prcscnca  do  professor 
Puybonnieux,  cm  alguns  alumnos  da  eschola 
de  surdos-mudos,  e  o  segundo  com  os  nomes 
de  tres  criancas,  entre  mais  de  vinle,  que 
quasi  todas  immediataraente  repetiam  os  sons, 
([ue  Ihes  haviam  feilo  ouvir  [)or  csle  proccs- 
so.  A  pezar  de  tudo  isto,  como  confessa  o 
niesmo  M/  Lc-Cot  na  carta  que  escrcveu  ao 
Presidente  da  Academia  das  Sciencias  a  (im 
de  que  esta  corporacao  scientiliea  nomcasse 
uma  commissao,  para  se  entender  com  elle 
sobre  este  objecto,  verilicar  os  rcsultados  das 
suas  cxperiencias,  e  formular  sobre  esta  inte- 
ressantc  questao  uma  opiniao  sanccionada  pela 
authoridadc  irrefragavol  da  Academia  das  Sci- 
encias;nem  este  methodo  serve  para  fazer  ouvir 
OS  meninos  absoliitamente  surdos;  nem  ainda 
OS  sens  rcsultados  estao  delinitivamcnte  com- 
provados  por  factos  incontestaveis,  e  por  expe- 
riencias  aulhenlicas.  Com  elTeito  a  idi^a  de 
M.' Itard  era  a  mesma,  c  todavia,  nao  tendo 
OS  rcsultados  oblidos  segundo  as  suas  indica- 
coes,  corrcspondido  as  suas  espcrancas,  foi  o 
sen  methodo  completamente  abandonado.     i 

Mcsmo  assim,  no  estado  de  inccrteza  cm 
que  nos  achamos  a  respeito  das  vantagens  da 
applicacao  d'cste  methodo,  e  tao  importantc 
0  assumpto  de  que  nos  occupamos,  que  nao 
duvidamos  chamar  sobre  elle  as  attencoes  dos 
homens  compctentes,  c  pedir  aos  amigos  e 
bcmfeitores  da  humanidadc  que  continucm 
as  suas  cxperiencias  n'cste  sentido,  pois  so 
assim  pode  chegar-se  a  verdade,  c  obter  a 
somm'i  de  factos  necessarios  para  o  confir- 
mar  c  seguir,  ou  para  o  abandonar. 

Sobre  a  sua  facilidade  e  simplicidade  este 
methodo  tem  para  a  surdez  nao  completa, 
jncontestavel  superioridade  sobre  os  antigos 
jucthodos  cmpregados  com  zelo  e  dedicacao 


pelos  direclores  das  escholas  e  estabelecimen- 
tos  de  surdos-mudos  em  Franca,  onde  dcsdc 
0  abbade  De  L'Epee  e  Sycard  ate  hoje  se  tem 
dado  largo  dcscnvolvimento  a  este  objecto. 

Comparemos  para  o  provar  os  rcsultados  e 
vantagens  d'estcs  metbodos.  Os  geralmente 
cmpregados  nas  escholas,  ensinam  6  verdade 
OS  dcsgracados  surdos-mudos  a  articular  sons, 
mas  isso  imperfcitamente ;  conscguem  fazel-os 
fallar,  mas  sem  que  tenham  consciencia  dos 
sons  que  eraittem:  daqui  resulta  primeiro,  que 
OS  alumnos  precisam  de  fazer  um  grande 
esforco  d'attencao  e  intelligencia  de  que  ncm 
todos  sao  capazes;  resulta  ainda,  que  nao 
comprchendendo  bem  o  que  fazem,  saindo  da 
eschola  eentrando  em  casa,  quando  mais  ne- 
cessidade  tinham  d'applicar  o  que  haviam 
aprendido,  desgostam-se  d'isso,  nao  se  exerci- 
tam  c  esqueccm-sc;  e  resulta  em  fim,  que  os 
sons  que  emittcm  sao  muitas  vczes  falsos  e 
inexactos,  sem  que  possam  mesmo  conceber  o 
vicio  de  sua  pronunciacao.  Mas  pelo  methodo, 
que  indicamos,  niio  so  podc  desenvolver-se 
consideravclmente  o  sentido  e  orgam  do  ou- 
vido,  mas  ate  chcgar-se  dcpois  de  certo  lapso 
de  tempo  a  fazer  ouvir,  mesmo  sem  o  concurso 
d'instrumentos,  frazes  inteiras  a  meninos  que 
a  principio  parecia  nao  pcrceberem  som  al- 
gum,  e  que  nao  obstante  licam  por  fim  com  a 
consciencia  do  que  ouvcm  e  do  que  pronun- 
ciam.  Tem  ainda  este  methodo,  nas  maos  das 
pessoas  exercidas  na  arte  dilScil  deinstruir  os 
surdos-mudos  a  vantagcra  de  poder  auxiliar 
poderosamente  os  metbodos  ainda  hoje  usados 
c  d'abbreviar  consideravclmente  o  tempo  dos 
estudos.  E  finalmentc  podc  com  proveito  ser 
applicado  por  as  pessoas  mais  estranhas  a 
educaeao  dos  surdos-mudos,  de  sorte  que  as 
macs  podcm  comecar,  e  o  meslre  de  primeiras 
letras  continuar  a  sua  educaeao. 

E  e  por  todas  estas  vantagens,  que,  a  nosso 
vcr,  merecem  a  attencao  das  pes.soas  que 
estiverem  nas  circumstancias  de  verilicar  os 
rcsultados  ja  obtidos,  e  de  ensaiar  novas  cx- 
periencias; e  pelo  alto  intercsse  que  ligamos 
a  esta  questao  humanitaria,  que  d'ella  fizemos 
0  presente  extracto. 

J.  DE  Q. 


INFLUENCIA  DA  LUA  NOS  TERREMOTOS. 

Depois  que  foram  apresentados  a  Academia 
das  Sciencias  de  Paris  os  trabalhos  de  M. 
.Alexis  Perrey  sobre  a  influencia  da  lua  nos 
terremotos,  dos  quaes  se  dcu  conta  no  n." 
0  do  Inslituto,  appareceu  em  sessao  de  21 
d'agosto  uma  correspondencia  de  M.  Fr.  Zan- 
tedeschi  dirigida  a  mesma  Academia,  que  tem 
por  fim:  tirar  algumas  consequencias  das  va- 
riacoeg  continuas  que,  segundo  o  auctor,  a« 


196 


mart's  inteinas  dovem  lazcr  cxpciimcntar  a 
lornia  do  csplieroide  tcnestrc;  c  citar  aljiu- 
inas  jiassaftons  d'esciiplores  do  seciiloWllI, 
I'lii  (u-ova  di'  line,  desde  o  priiKii)io  d'aqiu'l- 
ie  .scciilo.  SI',  couliocia  a  iuthiuiifia  ilas  posi- 
«;ut's  da  lua  I'  do  sol  nos  tcrromolos,  hojc 
coiilirmada  pclos  traliallios  dn  .M.  A.  Pcrrey. 
Da  imulaiw.a  ptuiodira  da  forma  do  osplie- 
roidi'  lerruslrc  dt'\om  sc.r  consoquencias  as 
vuriacOes  da  dri»re?sao  do  liorisonte  cm  cada 
um  dos  logarcs  da  terra,  dcvidas  a  elevarao 
c  alialiiiH'uto  que  as  mares  dao  a  esse  logar, 
segiuido  as  posii-Oes  da  lua  e  do  sol,  um  a 
respoito  do  outro,  e  a  respeito  do  pcrigcu  c 
do  moridiano;  ou  mais  geralmciile  a  mudanra 
de  projcfcao  d'um  ponLo  lixo  sobre  a  abobada 
celesle;  e  lamlxMii  a  retardarao  do  pendulo 
na  prcamar,  c  a  acceleraeao  na  baixa  mar, 
as  quaes  M.  Zantedesfhi  attribue  cerlos  saltos 
dos  relogios  aslroiiomicos,  qua  os  astronoraos 
ate  agora  iiao  podcram  explicar.  Por  isso  e 
que  sobre  csles  dois  pontes,  o  sua  influcnoia 
nas  oliservacoes  astronoraicas  e  na  contagem 
do  tempo,  se  chama  ua  correspondencia  a 
atteneao  dos  ol)ser\  adores. 

Para  mostrar  (|ue  ja  era  coiihecida  no  se- 
culo  passado  a  inliueneia  da  lua  nos  terre- 
motos  fita  M.  Zantedescbi  as  passagens  se- 
guiutcs  das  obras  de  Jorge  Baglivi,  e  de  Jose 
Toaldo. 

«  In  singulis  Luns  aspectibus,  sen  qua- 
«  draturis,  potissimum  in  pleniludine  ejusiicm 
I.  seu  totali  opj)ositione  cum  Sole,  certo  suc- 
<c  cedebant  terr;c  motus,  frequenter  pauluhim 
<i  praicedebant  ipsos  aspeclus.  y>{Gewijii BuijU- 
ri  Opera  omnia;  Bassuni,  1737;  pay.  415. — 
Editionis  Veiieliurum,  17S2;  pay.  326.) 

«  Toaldo,  parlant  en  general  de  trenible- 
(•  ments  de  terre,  dit: 

"  Feu  M.  Bouguer,  dans  la  relation  de  son 
«  voyage  au  Perou,  art.  3,  parle  beauooup 
«  des  tremblements  de  terre  qui  sont  iVc- 
"  quonts  dans  ce  pays.  II  menlionne  comme 
«  (louteuse  I'asscrtion  d'un  savant  Peruvien 
<i  ((ui  dit  que  les  tremblements  de  terr«  ont 
(I  certaincs  licures  fatalcs  et  marquees  qui  sont 
('  les  hcures  de  la  bas.sc  maree.  D'un  autre 
(I  cote,  Chanvalon,  dans  son  voyage  iila  Mar- 
(.  tiuique,  note  beaucoup  de  tremblements  de 
«  terre  qui  ont  cu  lieu  ii  I'hcure  de  la  baute 
«  mer,  et  le  treniblemcnt  de  terre  qui  ren- 
<'  versa  Lima  la  28  octobrc  1740,  arriva  a 
(I  3  heures  du  matin,  au  moment  du  Hot 
"  (ora  dcUa  prima  acqua).  Ainsi  on  a  remar- 
«  que  dans  d'autres  pays  que  ces  phenomenes 
«  eux-memes  peuvent  dependre  de  causes  cos- 
li  miques  de  I'uction  du  Soleil  et  surtout  de 
«  la  Lune.  »  (Giuseppe  Toaldo,  Delia  vera 
influenza  deyli  a.ftri,  ccc.  Sayyio  meteoroloyi- 
<v;  Padova.  1770;  p.  190.) 

A  inliueneia  da  lua  nos  phenomenos  ter- 
restrcs  ehamava  lia  muilo  tempo  a  atteneao 
dc  M.  Zaatedestbi,  como  provam  scus  estudos 


publicados  nos  Annales  de  Phtjiique.  1849  — 
ISiiO,  pag.  129  (De  I'aelion  de  la  lumiere 
lunaire  sur  les  veyeUiux,  sur  les  corps  inorya- 
niques.  et  de  son  aelion  eulorijiqne) ,  e  a  Nola 
communicada  por  M.  Arago  a  .\cadeniia  das 
Sciencias  em  sessao  de  11  d'outiibro  de  18K2 
[Sur  les  mouvemenls  pr^.\-enles  par  plunieurs 
reyetan.v  e.vposes  a  itirlion  de  la  luniierc  lu- 
naire, v..  R.,  tome  XXV,  pag.  822.) 


I.IVROS  SAGRADOS  DOS  I.NDIOS. 


(I  big-v£d.\. 


Contimmdo  de  pac.  182. 


Chegando  on  solo  indianno,  os  Aryenos 
Irocaram  os  babilos  da  vida  nomade,  pelos 
gnsoi  e  comrnodidadi's  da  vida  sedenlaria. 
(Japtivados  pcla  lielleza  d'este  paiz,  pela 
amenidade  do  sen  cliaia,  e  fertilidadc  dc 
Sf-us  aprasiveis  calnpo^,  e  risotihos  valles, 
aqiiellaj  Iribns,  ale  alii  erraiiles,  virain  nesta 
terra  do  proinissao  a  saa  verdadeira  palria. 
As  teiulas  e  cabanas  volanles  siiccedcm  as 
c(Histruc<,'oes  niais  regulaica  e  permaneiiles ; 
e  o  eslabeleciniento  de  peqiienas  aldeas.  A 
popiila^ao  cresce  ;  os  traballios  e  occupagoes 
arlisticas,  e  indiistiiaes  miiltiplicam-se,  e  o 
cliefe  de  famdia  lega  a  sens  filhos  os  vasos 
proprios  para  os  sacrificios,  as  armas,  os 
instriiinentoa  agricolas,  sens  cainpos,  e  spus 
rebanlios.  A  propiiedade,  qiieassim  comeijara 
a  scr  reconliecida  conic  um  direilo,  parecia 
tatnbem  iir.por  iupielles,  que  a  berdavam,  o 
dever  de  coiitiiuiar  os  tiabalbos,  de  que  na 
infancialinbain  adquiridoas  prinieiras  iiojoes, 
Deste  inodo  o  regiiuen  da  faiiiilia — o  regimen 
verdadeiramerile  pairiarclial,  ia  gradiialmeii- 
le  desapparecendo,  ao  pasao  que  a  sociedade 
pro^eguia  iia  sua  eiiiancipa4,ao  por  uinaorga- 
nisagao  mais  couipleta. 

Durante  suas  einigra5oes,  os  Aryenos  ti- 
nbain  sido  goveinados  pelos  deicendenles  do# 
antigos  chei'es  das  Iribiis.  Depositarios  dos 
conbecimentos  e  das  tradic^oes  religiosas, 
esses  boinens  celebravam  os  sacrificioi  como 
sacerdoles  do  culto  vedico,  e  occupavam  por 
isso  o  primeiro  logar  no  meio  d'aquellas 
Iribus;  todavia,  uma  parle  da  auctoridade 
que  o  sacerdocio  exercia,  devia  passar  coino 
nos  juizes  enlre  os  Ilebreus,  para  os  mais 
valeiiles  giierreiros,  de  facto  investidos  ja  do 
mando.  Foi  a^sim  que  a  raaleza  se  eslabele- 
ceu.  E  tal  era  provavelmenle  a  situagao  dos 
Arvenos  na  epocba  vedica. 

Oi  indlviduos,  que  podiain  pegar  em  armais, 
vigiavam  pela  defeza  e  segnranga  coininum. 
Os  mais  mojos  da»am-se  a  cullura  dos  cam- 
pos,  e  a  vida  pasloril,  quando  os  cuidadns 
da  gnerra  nao  urgiam  ;  porem,  nesta  mesma 
sociedade  nasceiite  exisliam  jii  classes,  entre 


197 


as  quaes  todavia  a  Ici  nao  lirilia  ainda  levan- 
lado  essR  iniiro  de  bronse  das  castas. 

A  Iradic^ao  reli^iosa,  a  linp;iia<5ein,  e  o 
cuko  vedico  s'lo  os  Ires  poiilos  futidamenlaes, 
que  consliliiern  a  nacioii.ilidado  dos  Aryeiios, 
e  a  sua  inconteslavel  superiorldade  sobrc 
todos  OS  povos,  que  antes  d'clles  occuparain 
a  India.  Os  saeerdoles,  que  consliluiain  um 
corpo  destinado  para  o  exercicio  das  funcQoes 
rcliu^iosas,  e  para  o  ensinn,  eraui  os  unices 
deposilarios  d'aquelle  lliesouro  de  sciencia  e 
religiao.  Uoladoda  sociodade  por  seu  proprio 
inlcrcsse,  e  e?collieiido  exciusivaiuciite  no  seu 
seio  OS  conljnuadores  da  sua  niissfio,  aquelie 
corpo  tornou-se  uma  ra(,'a  privilcj^iada  —  a 
dos  braliinanes,  ou  prinio;;enilos  de  Braliina, 
intimaincnle  idenlil'icado,  coui  a  pulavra  divi- 
na  e  inalleravcl,  e  cuja  aiicloridai.le  se  for- 
lificiira,  (•  cresrera  por  isso  rapidaniojile  Pur 
oulro  lado  a  del'eza  dus  cidades  edilicadas 
em  diver^os  pontns  do  lerriLorio;a  prolcc^ao 
das  terras  cullivadai  eui  toriio  d'ella-,  e  que 
se  iam  con>lituindo  pui  oulras  tautaj  pro- 
vincias,  ou  priueipados;  a  manulcncfio  das 
relagiies,  que  se  eslal)L'leeiani  enlre  as  diver-.as 
provincias,  a  necessidade  em  fim  de  rppdlir 
as  agfjressoes  dos  barbaro-,  obiigaran)  o,  reis, 
e  suas  fatnilias  a  fazer  do  iiiisbjr  das  armas 
a  sua  principal,  e  por  venlura  quasi  unica 
occupajao.  A  posse  dos  feudos,  e  o  exercicio 
de  um  podi-r  quasi  illiuiilailo,  constiluiram 
por  assim  dizer  os  privdegios  e  recoui|)ensas 
dos  valiosos  servi^os  prestados  peU  classe 
militanle,  que  formava  o  cortejo  dos  reis, 
como  nos  tempos  feiidaes  succedia  com  a  no- 
breza.  Os  fCclialtri/as,  ou  guerroiros,  a  quern 
tanibem  cliamavam  nidjas,  ou  lillios  de  rei, 
erain  como  os  brajos  da  jnven  e  podero^a 
iiagfio,  cuja  cal)eva  era  o  braliuiane.  Os  vai- 
eyas,  ou  inercadores,  e  agricuUore-i,  coiirlitui- 
aiii  uma  terceira  classe  nao  meiios  utd  e  in- 
leressante,  que  as  duas  priineiras,  que  lodavia 
elles  reconlieciain  como  superiores.  Uedicados 
ao  exercicio  d'aqueiias  profissoes,  que  nem 
exigiam  lanla  corageu)  e  esforijo;  nem  la- 
inanliaelcvagaode  espirilo,  e  lirmezade  ca  rac- 
ier, o  svaici/as  respeilavam  o  braljinane  como 
mestre  das  ieis  diviuas  e  humanas,  e  o  rei,  exe- 
cutor d'estas  inesmas  leis ;  em  fim  o^  ^owlras 
formavam  a  classe  dos  servos,  que  <-xerciam 
OS  mais  liumildes  occupa^oes,  e  que  n'loparli- 
cipavam  de  direitos  alguns  na  socied.ide  ary- 
enna. 

A  grande  dislancia  que  separava  as  duas 
primeiras  classes  ou  castas  das  dos  vaicyiis,  e 
goudras,  coniprehende-se  facilmente,  se  at- 
lendermoi  a  que  os  Aryeno*,  conquistaiido  o 
territorio  que  occupavam  na  India,  e  inipon- 
do  por  coMsequeiicia  suas  leis  e  costumes  aos 
povos  vencidos,  deviam  naturalmente  evilar 
com  todo  o  escrupido,  que  a  raja  piira  dos 
conquisladoresse  misturasse  com  ados  eslran- 
geiros  no  meio  dos  quaes  vieram  eslabeb  cer-se. 
As  duas  casta«,  por  tanin,  deposilarias  da 
aucloridade  reiigiosa  e   niiiitar;   e  exercendo 


por  consequencia  o  poder  espiritual  e  tem- 
poral, conservaram  intaclo  o  elenicnlo  aryen- 
no,  em  quanto  a  terceira  casta  pela  sua  propria 
condi(,rio  e  inleresscs  n.'io  duvidara  aiiar-se 
as  familias  indigenas,  e  admittir  ate  no  seu 
gremio  aciueilas  (pie  liaviam  abro^ado  o  culto 
vedico.  Os  goiidnii  pela  sua  parte  eram  ver- 
dadeiros  servos  ou  illotas,  liiados  dentre  os 
vencidos,  a  quern  a  suprema  lei  da  neces- 
sidade reduzira  li  dura  condi^ao  de  servir  os 
vencedores,  como  mais  tarde  acontecera  aos 
I  ridioi  ^d'Auierica  depois  da  sua  conquisla. 
Assim  as  castas,  que  rigorosamente  podem 
leduzir-se  a  tres,  represeiitam  a  ra^a  con- 
quiitadora,  os  mestizos  e  os  indigenas. 

Dissemos,  que  o  regimen  das  ca-tas  n'lo 
ejtava  ainda  estabelccido  no  tempo  dos  vedas, 
.\'uin  liynirio  porem,  de  maia  recente  data 
comparalivamentc,  que  a  da  maior  parte  dos 
que  se  euconlrain  n'aquella  cojlec^'io,  le-se  a 
propo!ito  da  Pouroiiclia,  ou  a  altiia  universal, 
e  o  priuieiro  scr  a  quern  os  Aryenos  davani 
altriljutos  corporeos,  o  seguinte  em  ver^o.  «  O 
braiimaue  foi  a  sua  boca — o  rei  os  seus  bragos 
—  o  vaicya  as  pernas,  e  de  sens  pe's  nasceu 
o  goudra.  n  A  divisfio  das  castas  e'  aqui  re- 
pre^enlada  aliegoricamenle.  O  pensamento  e 
a  palavra  sao  considerados  superiores  a  forga 
e  poder  material.  A  coragem,  e  dedicayao 
sao  lidas  em  mais  subido  prego,  que  a  induslria 
e  commercio ;  a  tiqueza  intellectual  sobre- 
puj  I  a  opulencia  material.  Esle  myllio  ap- 
paiece  lambem  no  codigo  das  leis  de  Manou 
debaixo  de  uma  forma  sentenciosa  e  dogma- 
lica.  I'ara  distinguir  a  primeira  vista  as  dif- 
ferentes  castas  o  legislador  fizera  inscrever 
no  nome  de  cada  unia  dellas  a  caracteristica 
da  sua  gloria,  ou  da  sua  degradagao. 

A  primeira  das  duas  palivras,  de  que  se 
couipoe  o  nome  brahmane  significa  —  o  fervor 
propicio  :  a  do  nome  Kckaltrya  —  a  forja  ; 
a  de  vaicya  —  a  riqueza,  e  a  de  ^^oudra  —  a 
abjiTjao. 

1^  certo  que  a  partilha,  que  o  braiima- 
nisino  fez  entie  as  classes  da  sociedade  aryen- 
na  foi  leoniua;  mas  a  quem  senao  ao  brali- 
niauismo  deveu  essa  sociedade  o  esplendor  e 
prosperivlade,  que  por  tantos  seculos  gosara  '. 
Guardas  fieis  e  unicos  interproles  da  lei  vedica, 
OS  braiimanes  recollieraiii  com  piedosa  sol- 
licilude  estes  vencrandos  tnonumentos  da  sua 
lilteratura.  Foram  elles,  que  em  todas  as  oc- 
casioes  libertaram  os  Aryenos  da  tyrauia  dos 
seus  reis,  coiuluzindo  sen)pre  o  povo  oelo 
camiiilio  da  civilisagfio.  Ao  brahmanismo 
Qi've  a  India  os  numerosos  pagodes,  temples 
sublerraneos,  e  magnificos  palacios,  cujas 
munumeulaes  reliquias  ainda  lioje  se  admiram; 
e  essas  imme.nsas  composigoes  lilterarias,  que 
a  liuropa  cidla  bade  vir  a  conliecer  e  apreciar 
como  as  obras  primas  dos  pnelas  da  antigui- 
dade  classica. 

De  todos  estes  monumentos  litlerarios, 
porein,  neniium  pode  comparar-se  ao  vidn, 
iivro    multiple,  em  que   se   reilectcm,   como 


im 


n'um  bellbeipellio,  as  credoa?,  a  viola  pnblica,  k 

<■'  OS'  inlimos  Icnlimeft-tos-  dw  'ATyftnos.    A. 

■cxcepgSo'dd'Biblla,  h  ■rihlii*iikladt!-nrio  of- 

"'fereco  umaobf.T,  que'siisCtle  hf>  cspirito  maior 

'ntimerd'  de^iaetis  do,  qtie  6  vcdu.  Falta-llie  v 

'''vcr^adc   o  eleiiVeftlo  liislorico,  mas  em  IrDco 

diko   ftdniira-se   em  '«iiaS'   I'leHas   patinas'  o 

=  "eneroso  rmptilso  de  unia  fta^abj  qiiei^a  for(:a: 

Ho  s6u  entlmsiaimo  v6acom'atdor  apo«  sens 

'fu'turos   e   b ri I liantes  destines,-    t\ca   delseivO, 

-qd'aclividadb.  SCAas  abslrac^ees  do  sabfeistrto 

\e-se  desponlar  o  paiillieisulo,   que  eitvnlveia 

como    n'um    lurbilhao    as    geraCoes    fiituras. 

Suas  viriadas  poesia^' aprescnlfim  oS  priflieiros 

traces  das  lendas   popiilafes,  dtssb   riializado 

cairipo   das    iiiais    belTas    e   rodoriferas   fTorcs, 

'com   que    se   adorna  a   modcma 'liueralura, 

"Mas  siias'e,tancias  represenla-SB'bem  debiixa- 

'  do  o  qiiadrg  da  fo'rina^ao  de  uma  sbciedid? 

•  tfieocraliea,  iriaij' zclosa  pfelo-'ttdlo  de  sens 
''•deoses,'  do  que  pelos  ieiis  pro^riosinteresSes ; 
'  sfcm'pre  prompUa  celebrai"  os-saenhcios  em 
'■  horii-a  •detles,   despresando 'coril  geri^TOsa   flb. 

■  negagao '  a   pomposa   osleniajaa  das    gloriap 
muhdanas.'  '    ,       ''     , 

Cerlo  iiao  le'mbs  'nOticia  exacla  'd*  marcbfi 
dos  Arvcnos  desde  a  sua  parlidii  das  planicieis 
da  Azia,  nem  'encontramOS  fflemorla  das 
hatalhas  que  se  pelejaVam,  e  dos  dbslaculus 
com  que  os  Arye'nos  lutaram  au-  vir  a  ^stabq- 
lecer-se  no  Iiido,l'io;  mas  saberaos  pelos  seijs 
livros  sagrados  o  que  pediara  aos  deosds  ei(i 
seus  sacrlfioios ;  os  inimigos cija  presenja  qs 
atemorisaVa;  quaes  suas  armas,  e  seus  instn(- 
•  nienlos  agricolas,  os  habitos  em  I'lm  da'sua  vida 

■  domestica.  E  esle  qiiadro  conipleto  d'aquella 

*  longinqua  e'pocha,  que-  oLivro    dbs  bymniis 
nos    apresenla   em    suas  eloquentes    paf^nnas, 

'■   podebemsiippriraHeglige'ncm'dosqupdeixa- 

■  ram    sepultadas;  ho   esqilecimento  memories 
ditrnas  dti  parliCiilar  h'lStbiia".        ■ 

°         •     '^   .       ..'     ji'irf.  DE  ABREU. 

I  •       ,  ,    ■      ri<r.t-J;-:     «     ■  ■  '      ■    -• 


d'anim«os  flunifsiicns.  Os  triadorcs.-alii  iiii- 
cniilrara'o.'ccrtrts  prol)ltiuas  ■  de^  »juja  solucao 
resuUnr*  gra-rtdc  'proveitoa''  eHcs  da-  todo  o 
paii,  ale'm  da^  'consideracao  que  por'isso 
hSf)-dp  grahgi'ar. '■•     '    ■'    ■■  •      '  •''  ■'    •  ■' 

A  t'alta' de  'ura'^regTamma'torna^se  tanto 
niais  soiisivcl,  ([iianto'c  poi'to,  que  o  reguld- 
monln  iltie  se' prftpue  (leionvcjlver  o'  deu'reto 
dc'lU  (Iti  doz(*ml)l^  do  1882  aptiia!;  cbntetu 
'  aceroad'este  Al)ji'c'f6  d  aTt.'  19  que  diz:  '<;  Os 
jSrimeiros  pri'tiiirts  pecuniarios  iiao  podtrao 
adjudicar-se  sc'  rtSo  'a'fjuc'llp*  c^pbsitorfes,  que 
aprcsentiirehi  gadoV  htftaHois  pelas  prop'Offocs 

An     cm'   I'o'rflllil  r   '  rrrn  tltll^yft     'P      npll/»7n      rlo     CI1!1s: 


BREVES  RBFLESOES 


Que  fundammldmoprogTattima^ne  ofereee)n'QS 
.',««;■((  as  e.rposicdes  d'dkimdes  doMesticds  ifo 
''tlLtrkto  de  Coimbfa.  '"      '         '.  .  ' 


,i  Creraos fazer  algura  serVico' a  este  (fislricto, 
,'  ,  dijiido  publicidade  a  urn  programma,  que  ao 
,.,;H0S50  pareccr,  deve  geguirjse  nas  exposicocs 

•       ■■■,*■ 

•■-'■'  '  1  Vpja-se  a  Kevue  des  Heiix  IfortJ.'iobi.' <;*"— Piris 
'"■'' iffSi.' '    '  "  -**'';'' "'  i->*i4'"i..t'i'i'>''.r. 


de  sua' regular'  gra'ndo^a'e'  b'ellcza  de  Siias 
fuinias.  »  E  e  de  nolar  'qu'e'  o  artfgo  t'ran'scripto 
considerfi  absohltamcVite'  uma'  melhoria  que 
pode  m'uitas  vezcs  'ir  de' encoritro  as  circum- 
sUincias'  topographi'ca's  d'asl '  localidades  onde 
houvereui  do.  dar-se  as  e\'posicOes.i 

Cuiiipria  ,attcnd(;f  I'l  tlHc   a  .grandeza" -56 
pode   ler  tuna   ipyifjrlancia   i;pla,tiya,, 'po'rquc 
csta ,  po'r  sua ^ iiatui;ezp ,  depende  das  circ(im- 
siaucias  (Iq,  clinia,  doijogac,  e  finaInieritC|jdos 
produclos.qiic.  4it(.?  iuvmacs  q,uerci)ios,  pjjljer^.  ' 
Tanto  isto.e  vcrdadej  que,  lallando.dq.  ga,do 
bovino,  a  rapa  do  Algarve  (vacas  anas  do  cabo 
de  S.  Vicente)  pode  eon,?ti^,uir  uma.verdadeira 
riqueza,  para  as  localidades  on.ije  jis  citci|m- 
,atancias  topogcaphicas  se  oppqcm  a  .cria^ao  e 
propagacao  .dasi  racas  de  estajura  clij.vada.,  A 
industria  pecuaria  d'esle  disUitto,  nuo  se  en- 
riqueceria  com  a  imporlacao  d'aquella  rafa, 
na  maior  parte  das  localidades  da  beiraiiaar'? 
Nao  resuUaria  um  aperl'eicoaraento  do  a  cruza- 
rcm  com  as  que  existem  nos  logares.moiiita- 
nhosos?  Quern  possutr  alguns  conheciiiienitos 
de  zoptecbenia,,  nao   reeuzara,   por   cerloj  0 
seu' Assenso -a  cstas  verdades.    ■  .-  ■        ,     ■ 

Istoquc  dizemos  de  passag<sm  e  sufficientc 
;para  nroslrar  que  0  citado-  regularacnta  c 
inutil  aoscriadores,  e  que  0  jury  encarrega- 
do  de- Sdjudiear  os  premios  aos  expositores, 
nao  pode  fazer  obra  por  elle.  0  pragramma 
que  oll'ercceiiios,  segundo  nos  parece,  pode 
supprir  estaiaeurta,  'se  a  junta  geral  aproavcr 
adopial-o.     '  ■■  ■'    "■    >■  :    ' 

■  E  dcsnecessario  advcrtir  que- devem  ser 
comtempladds  com 'os  primeiros  prehlios  os 
expositores  daquelles  animats  que  por'  suas 
qualidades  seaproximarem  do  tVpo  das  rajas 
mencionadas  tto  progranima';  e  com  os  segiin- 
dos  OS  (jue  apreseutarem  auimacs  immedi'ala- 
iliente'  iiiferiores;'  e  hfes'ifti  Siiceefesivaraentc '. 


•   -Veja-se  Zooiatiica  dt)  Pr.Dr.  Mncedo'Pinfo 
'  ^  'Para  o  cavallo  veja-k-  M. 'de  itepiiiatrlia  do  sr  J 
iji  Perreinij  epara'bs'ciitfos.'anfmuesaZooiat:  cil:    ' 


•ihi     *».li 


s..sji?v.>i    i\itw*>i,>   ,,'-\*I.'i;ii^- ;■  x.^  •■ 

'\    .     .      '  s.)    .'.sidi    s. 
:    ibiJ.iiOrv 


199 


Ga- 
dos 


\ 


"o  ■ 


uu 


.1':' 

fi  < 


JjOcalidadts 


CaiiiboS  do  Moridc'go;  ' 

Canipo?  de'Sburf ,  Con- 
deixa,  de  Goes,'  de 
Louza  ,c  de'  Miranda 
do  CoH-Q.  ;'  ■    /'■  - 

Sfonjlanlids  'd'Arganll/ 
de  Co'ja,'  de  Taboa,  e 
dedliveira  do  Hospi- 
tal.,  '    ',  /  "  ■   ■  ' 

Caiiipo' d(i'  Mondfgo;  , 

Difos  db  Sou'rc,  dcDon- 
deixa,  e  de  Goes,  etc. 

Slqrilanhas  d'^Vrjanil; 
Coja,  etc.       '    ■■  ' 

Campos' do  Mondc^o. 

pitos  de  So'ute',  deCon- 
'deixa,  elie'.  ",''.,'';' ',  ' 

MoiitaiihaS  ■i^Argatiil:'' 


'  Campos'' do  Moridc'goi 
OitosdeSouW.  deCoin- 

deixa,  '«tc.  •   ' 

Mdntahha's    d'Argaritl) 

de  CQja,  eic; 


% 


ejra-iilaf.  ■ 


ara-mal 


v.:  \i\:-\.\ 

f.a  tl),^■... 


]  diimpos  '(4,0'  Sldnd'egbi 

'Ditos  deSolire, 'de€oii- 
dejxa,  etc. 
Si,o'ntarilias   d'Arganil,. 
'  deCoja,'  etc."'    '   •'  '"■ 
Ditas  do  resto  do  di- 

■siM '[y "'■'"' ['■ 

Em  toddiO'dislriclo.: 


;'-:\m\ 


iRflca* 


CavaUbs  paraUiro' lig^ifo'e  ppsarfd. 
Cavallos  de  .sella  proprios  parajbr- 
■nada;  -  -  *i  •  "  i'-  '■■■-'  ■--'-'■  - 

'    •  -    ;    ■     -^     ■:  •::-:'[»?  '..-iy^  .ty. 

■Cavallos  galliliianosr' ■  ''■^■^'-  ^t>  «' 

i  '.'-■■■■  ,  u\:?jyjt!\ilt  <;,••■". 

Burfopara  tfro. 

Barro  para  sella^'"''^'  ''  <'.■'■■.' ?.;iMPr 
•      ■  -i-  I  J)';)   :■-.[  -.■■',    .'.\.'... 

Burro  pequerio  paTa  Irabalhar'nestas 
'   localidades. '       •    1   >-"-.i:'.  j.;''3  i 

Mullo  para  tii'd.''*"*^^  <>  ««>  «fi"^«': 
'Mullo  para  s^lla. 

.'■■■■  ■  ■        ■-■'•'  0  mm  £r,?.'t;9  ?..',j?.o: 

Mullo '  asneirbi  pa>^''1ransitiir-per- 

'' por 'estai   lodalidades^    tanto   de 
sella' cOTTiode  ctirga.'' ■'■'!' '-•[  f-'--i 
Ra^k  de  ceVa',  e  leittirL-  .?-:?-='!"1  e:: 
■Racasi  de  tra'balhe-  'e-'de  'eevs^. :- : ^'M  i 

■'"'■'    ■■  ■   '  '■■•'  •   ;^:;,3   -X.t   \..i\:.-}.i,vi 

Racas  pequorias  esforcadas  no  tra- 
Wlho,  com  aptWao  t)ara;  a' ceva'^ 
e  produccao  de  leite.         '      '  ."■ 

Racas  de  pecjueno  talho  hoks  para  ' 
trabalho,  efara  ceva  (precisahdo  - 

'  de  pouco  aiimento):  asvaecasdao 
kbuiidante  leite.  '.   '  ■  -' 

Racas  leiteiras,  ec6m  aptidao-'para" 


.'  Nfiois&jnlguo'  (nte*nl 
qnakjucr  das  loeafidadfs 
eitaTlas  .  se  nao  pode'ra 
ohter  cavallos'  para  oii-^ 
tros  mistcrefi;  pori-m  de- 
vead\ ertir-se  que altehi 
dendo  as  c ircumsianc las 
topographicas,  t6rna-*e 
noce.ssitrio  crial-os  pelo 
systema  d'estabnlacad', 
0  que  emuito  desjilen- 
diosD.:^  ■;  -.      '■  ;   .s-j  I 

■  li7;rd  ■  ..■_'•■ 


;'■', 


'd«  la; 

Racas  leiteiras 
cao  de  la. 


Era  itodo  o'disiHcto.i  ■ ,{  Racas  corpulcnta^  cfljn  aj>tia,ao;paiia  i 


a  ceva. 


Antes  de  expormos,  ainda  que  muito  supei^- 
licjaliiUcnte,  as  medidas  que  conveni  adoptar, 
par4  .que  se  ,cfijeitue  p  melhoranicnto  de  cada 
uni^  das  especies  de,  qije  acabamos  de  fallac, 
dizenjos' que  nag  julgaraos  possivel  melhorar 
OS  gados  ap^scentados  nos  campos  do  Mondc- 
gp,  sem  que  providenciifs  legislativgs  acabem 
per  uma,  vez  .com  as  pastagen?  communs,  e 
.Vs  no^sp?  lavra(lqres  (leixem  as  culluras  roli- 
neiras  a  q.ue.cstao  r«duzidos,  c  ensaiem  systp- 
raas,  desconhecidos  entreups,  ,e  verdadc,  mas 
lia  muito  generalisfidps  nos  paizes  estrangclros. 

Para,  que  nos  campg^^do  Mondego  possa-l 


Vej. 
Vej. 


Zooiat.  cit. 
Zuuiat.  cit. 


:•■{  ■■■'.  :X'iT,ii\  ir.ri  lovir 
J  ei-i  cl2T,\  iu'3  .S'jiiigiec.b' 

..hihi  iib  L'i> 

t:.  Ill  tCLjaiLO  £0    ■  :r  1 

'•rp',  f.'o  (.ila-ymzv. ,.    .i 

,    .    '  :  •.  i-a-thV's^  teiw) 

OJeite  nas  localidades, 
como  0  campo  "do  Jtov- 
dego,  eabiindantei'mas 
a  iiua  qualidadei^  jfkfe- 
rior,.  todavia  pode  mo- 
Iborar-seGondinientandb 
alimentacao  '.  Ningrtem 
ignora  que  o  qneijo.  da 
Serra  da  Estrclla  e  '  do 
Rabacal'  6  niui  agrada- 
vel  aopaladar,:o-qiie  e 
devido  as  partagensaro- 
maticas i'i>i  :ii  'iii.'ii;.i 

mos  obter  bohs  cavallos  de  tiro,'  e  mister  por 
em  plractica.  0  ('asticftmento' por  scllM-cgo^  dils 
racas  alii  criadas,  porem  mais  vantajoso  scni 
iniporta?  b  eaVallo  nprmahdo  ^  e  cruzal-o  coin 
as  egiias,  'qii'e  ■  mais  se  aproximareni  d'elli; 
em  Gonforjiiajao,        ■  •  •'       •      ■  •■^■-  ■ 

Nos  carii^ok  'de'  Soure,  CondfeiSa  cit:'}  piodc- 
mos  obter  p  caMlla  de  sella,  propi'ib  paifa'jor- 
hada,  cruz'andP,  as  eguas  escolhtdas  .d'cstas 
localidades  cOni  o  briosP,"tlocil;  e  .corajoso 
corcel  da  Araljia.  ■  '■  '  '  .'■''  '■•'■'  '■  ■  ■ 
'  Nas  riiPntanhas  d'Argaiil;  Coja  cic^^  dcvcm 

effeituar-se    grandes    melhorameTitos;  -o  ate 

.;.i;  -ii  i.o  uA.  0  ;.:e3  ii,'fi.zd 

'   Vij.  Zooiat.  cit. 

^  Vej.  M.  de  Hippiatrica  cit.      ,.     .  .    ,,..,, 


•  a  engorda.' 
Bacas'  leitcifEis,  e-pafa  'a  Jir-OdttOcaO'' 

de  liv  ■  -    ■      ■   :    -•  '    ''■■    "1  ;■    :.':'r 

Racas  para  a  produtCao  de'la  e 

•  'boa  carne.       "    '  '  ■  •'  .'''■■'i;i-  -'  'i"  ■ 
Racas  penuehas  para."i  piodUetad-- 


de"  ceva 


e  prqduc- 


200 


luesmo  introduzir  alii  n  rucn  galliziana  que, 
cm  conscquencia  da  sua  pequciicz,  e  propria 
para  o  traiisito  dc  sella,  ou  dc  carga  em  tcr- 
reiios  montanhosos,  que  ahi  abuiidara.  0 
melhorameulo  d'esta  rara  oblera-sc  pelo  sen 
cruzamento  com  a  rafa  arabe  dc  marca  pe- 
quena  e  pello  de  rato,  doiide  resultara  uiiia 
raja  que  a  par  de  rauita  foroa,  para  suppurtar 
peuosiis  trabalhds,  lera  belieza  em  suas  formas 
c  docilidade;  qualidadcs  dilBceis  d'encoiitrar 
cm  as  nossas  facas  ou  garranos,  que,  como  sa- 
bemos,  sao  quasi  lodos  raal  proporcionados, 
traicoeiros  e  rifadorcs. 

0  apuramcnto  dos  nossos  jumentos  e  tam- 
bem  uma  graudc  nccessidadc,  por  isso  que 
teem  chegado  ao  maximo  dc  degeneracao;  o 
scu  aperfeicoamcnlo  pode  conseguir-se  pelo 
cruzaraenlo  das  Lossas  burras  com  o  burro 
castelliano. 

Pelo  cruzamento  das  nossas  cguas  com  o 
jumento  aiulaluz  alcancaremos  bellos  mullos 
para  lodos  os  servicos. 

0  mullo  usneiro  c  o  mais  proprio  para 
viver  nas  localidades  pouco  ferteis,  e  terrenos 
dcsiguaes,  em  razao  de  ser  mais  barato,  muito 
sobrio,  e  bom  para  ahi  trabalhar  de  carga 
ou  de  sella. 

Poucas  sao  as  localidades  que  se  preslcm, 
corao  OS  campos  do  Mondcgo,  a  criacao  e 
melhoramcnto  das  racas  bovinas,  tanto  de  ceva 
como  leiteiras:  alcaucam-se  as  racas  de  ceva, 
cruzando  as  vaccas  cscolhidas,  que  ahi  se 
apascentara.  com  os  touros  da  raca  minhota, 
e  as  leiteiras,  raultiplicando  e  apurando  a 
raca  turiua. 

Os  campos  de  Soure,  Condcixa,  etc.  pelas 
suas  circumstancias  topographicas  prestam-se 
muito  hem  a  criacao  de  bona  hois  para  tra- 
ballio,  que  ubteremos  pelo  cruzamento  das  ra- 
cas que  ahi  vivem  com  o  Zebu  ou  misticns  da 
rafa  de  Mafra.  Tambem  podemos  nestas  loca- 
lidades criar  iofs/wco  (('ly/,  cruzando  as  racas 
ahi  existcntes  com  a  do  Minho. 

Nas  montanhas  d'Arganil,  Coja  e  algumas 
oulras  podemos  criar  pcijucnos  bois  para  tra- 
balhar em  terrenos  escabrosos,  como  sao  os 
d'a(iuellas  localidades,  esforrados  no  trabulho, 
aplos  para  a  ceva,  e  raccas  abundantes  em 
leite,  cruzando  a  raca  que  alii  abunda  com  a 
raca  do  Algarvc.  E  de  grandc  utilidaile  a  pro- 
l)agacao  d'esta  ultima  raca  na  maior  parte  da 
beira-mar  do  nosso  districto,  a  qual  e  pouco 
abundaute  cm  pastes  '. 

E  muito  para  desejar  que  o  barbaro  divcf- 
tiniento  das  touradas  termine,  e  seja  subsli- 
tuido  pelas  corridas  dc  cavallos  e  bois,  don- 
dc  poderao  resultar  alguns  benelicios  para  a 
nossa  industria  pecuaria;  porem  em  quanto 
dura  esta  mania  peninsular,  podemos  ohter 
l)raYissimos  touros,  cruzando  as  nossas  rajas 
br«vas  com  e  boi  da  India. 

'   Vej.  Zouiat.  cil.  ";     ■ 


Os  campos  do  Mondego  nao  banhados  pela 
mare,  nao  sao  muito  prnprios  (lara  a  criacao 
do  gado  ovino,  ponjuc^  a  athmosphera  c  as 
pastagcns  sao  alii  muito  huniidas,  porem 
observando-se  o  que  a  hygiene  aconselha,  po- 
dem  muito  bem  criar-se  nessas  localidades 
bons  carneiros  para  ceva,  e  boas  ovelbas  leitei- 
ras, pelo  casticamento  por  selleccao  da  raja 
commum,  e  cruzamento  d'esta  com  as  rajas 
cstrangeiras  Dishlcy  Southdown,  etc. 

As  condicoes  topograjjbicas  c  climalcricas 
das  planices  de  Soure,  Condeixa,  etc.,  fazem 
com  que  estas  localidades  muito  bem  se  prc- 
stem  a  criacao  do  gado  ovino,  tanto  para 
ceva,  como  para  Id,  obtendo-se  o  primero  pelo 
cruzamento  das  nossas  ovelhas  com  as  rajas 
cstrangeiras  acima  citadas,  e  o  segundo  pelo 
cruzamento  com  os  carneiros  merinos;  mas  o 
que  e  mais  para  desejar  e  a  importacao  d'esta 
excellente  raca:  foi  assim  que  a  Franca  enJ 
menos  d'um  seculo  a  generalisou,  eonstituin- 
do  hoje  uma  das  suas  principaes  riquezas. 

Nos  logarcs  montanhosos  d'Arganil,  Coja 
etc.,  alcancaremos  racas  para  prodiizirem  b6a 
came,  pelo  cruzamento  das  ovelhas  que  alii 
existem,  com  as  racas  Dishjey  etc.,  e  fara 
prodiizirem  Id,  oruzaremos  as  mesmas  ove- 
lhas com  0  carneiro  merino. 

No  resto  das  montanhas  ferteis  do  nosso 
districto  podem-sc  criar  racas  pequcnas  para 
darem  boa  Id,  cruzando  as  ovelhas  d'alli  com 
OS  carneiros  merinos. 

A  cabra  pcla  sua  muita  sobriedade,  vigor 
e  resistencia  aos  agentes  morbilicos  pode  com 
muita  utilidade  criar-se  em  todo  o  districto; 
porem  conveni  melhorar  a  raca  commum, 
casticando-a  por  iiellecjao  ou  niesmo  cruzan- 
do-a  com  as  das  outras  provincias.  Muito  con- 
vira  a  importacao  das  cabras  do  Tibet  e  d'An- 
gora. 

0  atrazo  da  agrlcultura  cm  o  nosso  distri- 
cto faz  com  que  nao  possamos  criar  bons  por- 
cos  se  nilo  pelo  systema  de  estabulacao,  porem 
sera  de  muito  proveito  (pie  se  oblenha  uma 
raca,  que  a  par  da  sua  aptiduo  para  a  ceva, 
tenha  uma  estatura  elevada,  e  isso  conse- 
gue-se  pelo  cruzamento  da  raca  do  porco  da 
JJeira,  ou  de  graiide  estatura,  com  a  do  por- 
co chino,  ou  do  Alemtejo  '. 

Terminamos  a(iui  a  nossa  larcfa,  e  fazemos 
vfltos  para  que  a  junta  geral  do  districto  de 
Coimbra  tome  em  considerarao  esle  ramo 
d'industria,  scguindo  oexempin  da  do  distri- 
cto de  Hraganca  :  lenibranios  que  muito  con- 
vira  que  a  exposicao  de  gado  lanigero  nao 
tenha  Ingar  em  novembro  (ainda  que  enliio 
deva  fazer-se  a  do  gado  suino);  mas  antes  em 
maio,  epocha  em  ([ue  estes  animacs  se  osten- 
tam  gordos,  nedios  c  vigorosos. 

O  Vetcrinario, 
Francisco  Marquea  Cardoia. 

'   Vej.  Zooial.  cit. 


JOlllNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


CONSELHO  SUPERIOR  DE  INSTRL'CCAO 
PUBLIC A. 

RELATORIO  ANNUAL. 

1847  —  1848. 

Continuado  de  pag.  16-1. 

Inslrvc^ao  superior. 

Tern   sempre  cntie  nos  offerecido  perspe- 
ctiva  mais  agradavel  oste  ramo  d'instrucrao. 
Destinada   a  formar  funccionarios    pubiico.s, 
tem  sido,  era  todo  o  tempo,  luais  frequonlada 
proporcionalmcnte   do  que  os  oiitros  ranios. 
A  esperanca,  e  a  teudencia  para  os  empregos 
publicos,  que  dc  ha  muito  nos  characteriza, 
tem    produzido    sempre    larga    coiicurrencia 
(talvez    hoje  deniasiada)    aos  esludos    supe- 
riorcri.  Se  por  ella  I'osse  licito  ajuizar  da  in- 
telleclualidade  nacional,  talvez  poucos  povos 
sc  nos  avautajassem.   Mas  os  ramos  da  in- 
struccao  estao  entre  si  tao  ligados,    tao  dc- 
pendenles  sac   uus  dos  outros  per  sua  na- 
tureza  e  fins,  (jue  todos  formara  uma  serie, 
cm   que    nao   devcria    alterar-se   iim   termo, 
sem  que  expeiimentem  mudanea  proportional 
todos  OS  outros.   0  que  nao  pode  com  tudo 
negar-se,  c  que  as  rel'ormas  e  meiboramentos 
concedidos   em  varias  epoelias    a  inslrucfao 
superior,  sem  eonsideracao  previa  com  a  pri- 
maria  e  secundaria,  nao  produziriam  os  bons 
resultados,    que   temos  experiraentado,   e   os 
cxtranhos  niio  ousam  negar,  se  nao  foram  os 
excellentes  metliodos  de  cnsino,  e  o  zelo  cf- 
ficaz   de  professores,    qufe  teem  illustrado   e 
honrado  este  paiz. 

Dos  eslal)elecimentos  d'instruccao  superior, 

confiados  a  inspeccao  do  conselbo,   recebeu 

este   relatorios  e  esclarecimentos  estatisticos 

I  relativos  a  universidade,   a  eschola  mcdic.o- 

I  cirurgica  do  Porto,  a  academia  polytechniea, 

C  a  de  beilas  artes  da  mesma  cidade. 

0  relalorio  da  universidade  nao  desabona 

istc  grandiose  estabelecimento,  a  pczar  da  ir- 

rcgularidade  do  anno  litterario  findo.   Ante£ 

'  offereti!  urn  testemunho  incontrastavel  do  zelo 

dos  profe^rores,  a  noticia   das  obras  scien- 

I  tificas,  que  teem  publicado,  as  mudancas  feitas 

Vol.  III. 


na  dislribuicao  das  materias  do  cnsino  pelos 
diversos  annos  das  faeuldades,  e  a  adopcao 
de  compcndios  novos,  elevados  a  altura  actual 
das  seiencias. 

Foi  este  estabelecimento  freqnenlado  por 
899  alumnos  no  anno  litterario  findo:  sendo 
a  faculdade  de  tlicologia  por  104:  a  dc 
direito  por  'J07:  a  de  medicina  por  35:  a 
de  matbematica  por  90:  c  a  de  philosopbia 
por  103. 

A  eschola  medico-cirurgica  do  Porto  tcvc 
67  alumnos.  A  academia  polylechuica  179. 
A  dc  bcllas  artes  lo9. 

A  somma  total  dos  alumnos  nestes  quatro 
estabelecimentos  e  de  1:304,  (mappa  n.°  5). 
A  despesa  da  universidade  reguiada  pela 
verba  do  orcamento,  foi  de  00:040^930  rs.  A 
da  eschola  medico-cirurgica  de  9:860^000 
rs.  A  da  academia  polytechniea  de  11:934^000 
rs.  A  de  beilas  artes  de  S:C60$000  rs.  Im- 
porta  a  despesa  total  d'cstes  estabelecimentos 
cm  94:1'204930  rs.  Custou  cada  alumno  ao 
estado,  approximadamente,  7'2:400rs.  Dedu- 
zindo  porcm  d'esta  cifra  as  propinas  de  matri- 
culas  que  sao  de  '24^000  rs.  para  o  maior,  e 
19:200  rs.  para  o  menor  numero,  c  o  que 
reverte  ao  thesouro  de  custo  de  cartas,  titulos 
c  diplomas,  nao  exccdera  muito  a  40|,000  rs. 
a  despesa  paga  pclo  estado. 

Nao  e  mais  custosa,  antes  inferior  a  muitos 
outros  paizes,  a  despesa  indicada;  havendo 
para  os  nossos  alumnos  a  vantagem  de  nao 
dispenderem  sommas  avultadas  com  a  fre- 
quencia  de  cursos  particulares  e  licoes  dc 
apijlicavao  practica;  devcndo-se  a([uella  van- 
tagem a  dilTerenca  nos  mcthodos  de  ensino. 

Na  comparacao  da  frequencia  das  faeulda- 
des universitarias  sobresae  o  desequilibrio 
causado  pela  consideravel  aflluencia  a  de  di- 
reito. E  em  verdade  excessiva,  coniparada  com 
a  populafao,  e  com  a  concurrencia  as  outras 
faeuldades.  E  sendo  certo,  que  nao  ba  em- 
pregos em  que  se  possa  accommodar  tanta 
gente,  o  resultado  niSo  pode  ser  favoravel  a 
ordcm  publica.  Fora  esta  rellexao  fecunda 
era  consequencias,  apresentada  no  relaloiio 
de  1845;  e  por  essa  occasiao  lembrada  a 
creafao  de  uma  eschola  de  administracao,  lao 
necessaria  ao  systema  politico,  (|ue  actual- 
mente  nos  rege.'Assim  se  rcparlira  a  concur- 
rencia entre  as  duas  escholas,  c  se  dariam  se- 

NiM.  10. 


NovEMBft^  13 — 1834. 


^ 


202 


guras  garanlias  a  adminislrarao  civil  com 
habiiitaroos  convonioiUos,  e  adeciuadan.  Estc 
piano  adoplado  cm  aigiins  cstados  d'Allema- 
nha,  foi  ja,  no  piosente  anuo,  iiuilado  em 
Franca;  creando-sc  jiuicto  ao  collcgio  dc 
Franca  uma  cscliola  d'administracao,  cm  quo 
vac  a  scr  cducados,  os  ([tie  ?c  deslinani  A 
carrcira  da  adininislracao  civil.  Entrc  nos 
nao  liira  dispcndiosa  essa  crcacao;  aprovci- 
tando-sc  os  cirnicntos,  (|ue  cxislcm  no  gran- 
«lc  cciitro  univcrsitario.  E  porqiie  nococs 
elcmcntarcs  dc  scioncias  exactas,  e  philoso- 
pbicas,  sao  iiidisponsavcis  aqiiolics  estudos,  e 
muitas  vozes  nccossartas  na  adminislrarao 
judicial;  e,  ainda  scm  rciacfio  a  (ins  tao  im- 
porlantcs,  sao  cllas  o  podcroso  meio  do  dcs- 
involvimonto  o  cducaciio  intellectual,  fora 
talvez  con\eniente  elevar  a  estc  ponto  o  grau 
das  habilitacOes  para  os  cursos  da  faculdade 
jiiridica. 

As  escholas  do  Porto  medico-cirurgica,  e 
polytcclinica,  repetem,  em  sous  relalorios,  as 
represcutacOes,  jii  por  vezes  dirigidas  a  V. 
Mageslade  sohro  a  ncccssidade  urgente  de 
reformas  materiaes.  E  justas  parccem  ao  coa- 
selho  as  pretensOes  das  escholas.  Os  grandes 
centres  scienliiicos,  insliluidos  para  a  cul- 
lura  e  engrandecimento  das  sciencias,  nunca 
podem  prosperar,  sem  serem  cercados  do  es- 
tabelecinientos  materiaes,  appropriados,  e  an- 
nexes. Nao  e  possivel  exercer  dignamente  as 
funccoes  pedagogicas  a  eschola  cirurgiea,  sem 
que  tcnlia  casas  ^ara  aulas,  exames,  cen- 
gregacoes,  tlieatro  anatomico,  museu  ana- 
temico-patbologico,  e  enfermarias  clinicas, 
com  numero  sullieiente  de  exemplares,  dt;  que 
possa  dispor,  sem  subordinacao  a  vontade, 
muitas  vezos  capricliosa  e  irreflectida,  d'um 
corpo  moral,  extranhoaos  interesses  dascien- 
cia  e  do  ensino.  Nao  podera  dcsinvolver- 
se  e  prosperar  a  acadcmia  polytechnica,  sem 
um  museu,  uni  laboratorio  chymico,  urn 
gabineto  de  pliysica,  e  um  jardim  botanico. 
Muito  teem  I'eito  aquelles  estabelecimentos  sci- 
enliiicos, reduzidos  a  tao  mesquinha  estrei- 
teza,  em  terem  sustentado  o  ensino  com  zelo, 
c  persevcranca,  digiios  do  elogie. 

As  necossidades  publicas  sae,  eu  devem 
sempre  ser,  o  ponto  de  partida  para  a  crea- 
cao,  e  conservacao  dos  estabelecimentos  lit- 
terarios.  Se  ellas  justilicam  e  legitimam  a  crca- 
cao d'a(iuelles  estabelecimentos,  parccc  ae 
conselbo  indispensavel,  que  se  attenda  as 
reclamacoes  dos  conselhes  das  escholas,  sem 
0  que  desapparccea  responsabilidade,  quelhes 
eabc. 

Mas  nao  basta  crear  os  estabelecimentos 
scicnlifiros  annexes  as  escholas  superiores;  e 
misler  lia!)ilital-os  com  meies  para  pederem 
sustcntar-se,  aperl'eicoar-se,  e  collecar-se  a 
par  das  sciencias  uaturaes  sempre  em  pro- 
gresse.  Queixa-sc  a  universidade,  a  este  re- 
speito,  de  falta  de  mcios;  e  posto  que  a  dota- 


cao,  destinada  para  ocusloamcnto  deseus  es- 
tabelecimentos, fosse  I'avorecida  no  ultimo 
orraniento,  nao  obviara  ella  por  certe  aos 
inconvenicntes  apontados  ne  rclatorio  do 
observalorio  aslrononiico,  aos  do  museu  c 
gabincle  pliysico,  ao  dos  estabelecimentos  me- 
dicos; pon|uo  todos  demandam  dosj)esas  ex- 
traordinarias,  e  avultadas,  ])ara  se  devarem 
a  situacao,  quo  de  direito  Hies  compete.  Nera 
sao  menos  fundadas  as  reclamacoes  a  estc 
rcspeito,  por  vezes  re|ielidas,  da  eschola  me- 
dico-cirurgica, e  academias  polytechnicas,  c 
de  liellas  artcs  de  Porte.  Todas  desejam  elc- 
var-se,  assumir  a  posicao,  que  Ihes  toca  na 
escala  scientilica.  Para  conseguir  aquelle 
lim,  siio  indispensaveis  os  meins:  V.  Ma- 
gestado,  pesando  na  sua  alta  sabedoria  as  ne- 
cossidades do  ensino,  e  conciliando-as  com 
as  necessidailes  publicas,  provcra  de  remedio, 
conio  0  julgar  mais  adocjuado. 

A  inlolligoncia  do  art.  i:!2  do  decroto  dc 
20  de  septombro  de  ISii  tern  side  objccto 
de  duvidas  na  universidade,  e  a  faculdade  dc 
medicina  resolveu,  que  se  devia  pedlr  oxplica- 
cao  .sebre  pederem  ou  nao  asletras  de  distinc- 
cae  em  litteratura  compensar  as  do  ,consi- 
deracao  em  costumes.  0  conselho  deseja'ouvir 
nosto  assumpto  e  veto  das  eutras  faculd'ades; 
mas  inclina-so  a  que,  polo  nienos,  seja  indis- 
pensavel redaccao  mais  dara  no  citado  art. 

E  para  lamontar,  e  magoa  no  vivo  ao  con- 
selho, que  por  falta  de  noticias  havidas  dos 
estabelecimentos  scientilicos  doLisboa,  se  nao 
fafa  d'olles  mencao  em  um  rclatorio  geral  da 
iustruccao  publica!  Omissao  tao  notavcl, 
e  inesperada,  colloca  o  conselho  em  ponosa 
impossibilidade  de  comparar  os  diversos 
estabelecimentos  scientilicos  do  paiz;  a  fre- 
quencia  de  uns  e  oulros;  o  sou  aprovcila- 
mento;  as  esperancas  que  cada  um  oll'orece 
a  goracao,  que  a  custa  de  pesados  sacriticios, 
OS  si'.stcnta ;  as  geracocs  futuras,  para  quera 
se  preparam  estas  reformas;  e  ajuizar  linal- 
mente  do  estado  da  inteUednuliddde  naeio- 
nal,  pela  cemparacao  de  movimonto  das 
escholas,  com  a  populacao  em  geral.  0  conse- 
lho faz  sinceros  votes,  porque  tao  irrepre- 
hensiveis  omissoes  se  nao  renovom;  e  es- 
pera  que  Y.  Magestade  previna  a  continna- 
cao  de  abuses  intoferaveis,  com  a  rosolufSo 
da  consulta  dirigida  por  este  conselho  a  V. 
Magestade  em  3  de  corrente  mez. 

ConclusHo. 

A  regularidado  ne  service  da  dircccao  cen- 
tral, a  mulliplicacae  c  melhoramento  das 
escholas  primarias,  o  complemeuto  das  se- 
cundarias,  e  nos  ostudes  superiores  a  crea- 
fao  de  uma  eschola  de  adminislracao,  e  de 
alguns  cstabolocimentos  annexes  a  eschola 
medico-cirurgica,  academia  polytechnica,  e 
dc  bellas  artes  do  Porto,  ^uo  as  neccssidades 


*V««fcKkS» 


^    ^^^-i^ 


203 


da  inslrurrao,  a  ([uc  dc  prompto  so  dove  at- 
tender. 

Miilliplicar  o  niimcrn  do  escholas  priniarias 
c  a  primeira  noccssidadp.  Baslara  c(iiii|iai'ar  o 
nilincro  (inc.  lonios,  com  as  (|iio  teem  a  IJelgiea, 
Hanover,  a  Silezia  c  Lnmhardia,  pani  se  ex- 
plicar  o  estado  de  atrasameiilo  em  (|ue  se  aclia 
a  instniccao  primai-ia  no  paiz.  E  csla  a  inslnic- 
cao,  que  devc  ser  levada  a  porla  do  todos ;  por- 
fliie  i  a  de  (|iic  todos  prceisam.  Das  (]iie  cxi- 
stem  em  1."  giati  nao  seria  nmilo  facil  elevar 
0-  numero  desde  ja  pela  dilliciildade  de  aehar 
mestres  compelentemente  habilitados.  Nao 
podemos  conlar  com  elles,  sem  que  tenhamos 
escliolas  normaes,  em  -(nie  elles  se  possani 
forniar.  Felizmente  estii  proxima  a  entrar  em 
cxercicio  a  nossa  1."  escliola  normal  fiindada 
em  Ik'lem. 

Mas  lima  so  eschola  normal  nao  pode  dar 
a  linstruccao  primaria  todos  os  mestres  de 
que  clla  carece.  Nao  c  muito  possivel,  attento 
0  estado  do  tliesouro,  augmentar  o  numero 
de  escliolas  normaes,  por  sua  natureza  dispen- 
diosas:  nem  as  cidades  ricas,  c  populosas  sao 
consideradas  como  os  logarcs  mais  accommo- 
dados  a  instituicoes  d'estc  gencro.  0  piano 
de  formar  mestres  pcia  practica  dc  escliolas 
accrediladas,  em  que  os  aspirantes  sirvam  de 
ajudantes,  tern  produzido  muito  bons  resuita- 
dos  na  Uollanda,  na  Prussia  e  n'outros  paizes  ; 
e,  por  menos  dispendioso,  seria  preferivel  lioje 
entre  nos.  Ja  teve  o  consclho  a  lionra  de 
proper  esta  idea  a  V.  Magestade  no  relatorio 
de  18ii),  lembrando  a  conveniencia  de  crear 
as  escholas  possiveis  de  i.°  gran,  c  aproveital- 
as  principalmente  para  a  formaeao  dc  futuros 
mestres.  0  conselho,  persuadido  da  utilidade 
da  idea,  aproveita  esta  occasiao  |)ara  dc  novo 
a.  levar  ao  conliecimento  de  V.  Magestade. 

Sendo  porem  a  instruccao  das  classes  labo- 
riosas  a  mais  minguada;  e  as  freguezias  ru- 
Iracs  as  mais  necessitadas,   a  instruccao   ele- 
jmentar   propria  d'aqnellas  classes  aclia  com 
Ifacilidade  mestres  condignos  a   missao,   que 
lilies  compete.    Nao   deixa   o  conselho   de  re- 
©mheccr  as  apuradas  circumstancias  do  tlie- 
souro, quo  e  forca  respeitar;  mas  nao  julga 
limpossivel   que,  ainda  no  ca.so  de  licareni  a 
Icargo  do  thesouro,  annualraente  se  va  creando 
Inm  numero  d'ellas  pouco  avultado,  ate  que  a 
|{azenda  publica   possa  supportar  maiorcs  en- 
leargos. 

Na  Suecia,  aonde  hojc  se  acha  muito  vul- 
garizada  e  desinvolvida  a  instruccao  prima- 
ria, adoptou-se  um  piano  muito  economico 
para  comecar  a  dilhindir  esta  instruccao.  Crea- 
rani-se  mestres  ambulaules,  que  leccionavam 
era  cada  freguezia  por  um  espaco  de  tempo 
determinado.  A  mingua  de  outros  nioios  mais 
productivos,  talvez  podcsse  ensaiar-sc  este  me- 
thodo  cntre  nos. 

No  relatorio  de  1843  nutria  o  conselho  a 
lisongcira  esperanea  de  poder  fundar  escholas 


com  OS  sobejos  de  rrndinnMUos  miinicipae.=, 
e  de  conlVarias.  Auiiiiava-o  o  exemplo  do  que 
se  esta  practicando  iias  ilhas  adjacentes.  Ap- 
peliou  para  o  jiatriotismo  e  zelo  dos  sens  de- 
legados,  empenhou  todas  as  I'orcas  para  eonsc- 
guil-o:  foi  tudo  baldado!  Nem  aiuda  iias  po- 
voafoes,  que  rc(|ueriani  com  mais  urgencia  a 
creacao  de  escholas,  llic  foi  possivel  obtcr 
subsidio  d'a([uelies  corpos  nioraes. 

As  echolas  de  asylo  sao  um  ohjccto,  que 
tern  nierecido  a  altencao  c  desvclos  de  V. 
Magestade. 

Merecem-no  em  verdade ;  porque  cstas 
escholas  sao  o  berco  da  instruccao  primaria, 
a  educacao  primordial  da  edade,  em  (|ue  ania- 
nliece  a  luz  da  razao,  e  precisa  de  ser  guiada 
por  mao  sabia  e  virluosa.  Nas  circulares  a 
todos  OS  sens  delegados,  tem  o  conselho  re- 
comniendado  a  creacao  d'escholas  d'este 
genero,  e  a  sustentacao  das  que  existem. 
Nao  tem  o  conselho  por  ora  alcancado  resul- 
tados  satisfactorios;  mas  nao  esmorece,  quan- 
do  v6  as  que  existem  sustentadas  por  elTeito 
da  benelicencia  particular,  e  reflecte  nas  boas 
propensoes  d'um  povo,  que  em  todo  o  tempo 
se  tem  distinguido  por  sentimentos  de  buraa- 
nidade.  Julga  porem  o  conselho  que  alguma 
condecoracao  honorilica,  alguma  niencao  hon- 
rosa,  para  com  os  individuos  que  mais  se 
teem  distinguido  em  promover  a  creacao  e 
sustentacao  d'estas  escholas  maternacs,  seria 
um  poderoso  incentivo  para  animar  outros, 
e  entreter  o  fervoroso  zelo  d'aquelles,  a  prol 
dc  estabelecimentos  de  tao  suhido  interesse. 

E  nao  fdra  menos  conveniente  empregar 
egualmente  este  meio,  para  fundar  escholas 
de  dias  sanctilicados,  destinadas  ao  ensino 
dos  adultos ;  sendo  que  esta  e  uma  das  pri- 
meiras  necessidades  do  nosso  paiz. 

0  melhoramcnto  da  instruccao  primaria 
nao  depende  tanto  da  cxtensao  dada  as  ma- 
terias  do  ensino,  como  dos  bons  livros  c 
methodos  de  ensino.  0  conselho  tem  empre- 
gado  todos  os  meios  ao  seu  alcance,  para 
conseguir  uma  colleccao  de  bons  livros  para 
este  ramo  de  instruccao;  recommendado  ate 
a  traduccao  dos  bons,  ([ue  ha  em  outras  nacOes, 
mormente  na  Prussia,  Inglaterra,  e  Toscana. 
Nao  pode  porem  lisongear-sc  de  o  haver 
conseguido  ate  agora.  Para  regular  os  metho- 
dos de  eusino,  teni-se  lemhrado  de  iuslituir 
conferencias  cntre  os  commissarios  dos  estudos 
e  OS  professores  mais  accredilados,  e  tcm-DO 
recommendado  em  suas  instruccoes;  mas  re- 
conhece,  que,  para  lacs  ensaios,  nao  e  aiuda 
chegada  a  bora,  por  falta  dosclementos  neces- 
sarios.  Seria  conveniente  que  se  ensaiasscm 
entre  nos  os  methodos  de  Jacotot,  Pcrtalozzi, 
e  Kiev,  de  que  em  outros  povos,  se  diz, 
haver  tirado  vantagens,  sobre  tudo  para  a  fa- 
cilidade  do  ensino;  e  nao  se  dcscuidar;i  o 
conselho  de  o  lembrar  opportuuameule  ao> 
sens  delegados. 


20  i 


Mas  primoiro  do  quo  tiulo,  cuiiiprc  que  sc 
(1(5  iiiii  rosiilaiiKMito  ii  instruccao  priiiiaria; 
que  V.  Mafjt'stailc  sc  (ligiie  de  resolvor  solirc 
0  projecto  olTcrecidn  oiu  consulta  de  '24  do 
Janeiro  de  ISiy,  solire  os  das  escholas  dc  "i." 
giaii,  olTerecido  em  eonsulta  de  14  de  niareo, 
sol)rc  0  projecto  de  vciKiiiicntO!',  jubilacoes 
e  aposcntacoes,  juncto  a  consulla  de  15  de 
jullu)  de  184S. 

Na  instruccao  secundaria  e  tempo  dc  se 
ircni  preparando  os  elenicntos,  para  o  cnsiuo 
de  scicncias  iniluslriacs.  A  geoiiietria,  niecha- 
nica,  e  cliyniica  com  apjilicacao  as  artes  c 
a  agricullnra,  ensiiiados  no  ponlo  de  vista 
praclieo,  dcvcm  (azer  parte  da  instruccao 
secundaria  nos  lyceus  maiores  ao  mcnos,  e 
em  algnuuis  povoacocs  induslriaes  do  reino; 
e  (luaiido  a  instruccao  secundaria  tenha, 
neste  scntido,  alargado  a  sua  esphera,  li  entao 
([ue  mais  cunipre  dilTundil-a.  A  civilizacao 
materia!  e  iioje  o  espirito  do  seculo,  a  ten- 
dencia  dos  povos  cultos,  uma  necessidadc  da 
e))ocha.  Por  toda  a  parte  se  cura  de  ceono- 
mizar  bracos,  de  simpliticar  processos,  de 
aperfeicoar  i)roductos,  de  encurtar  distan- 
cias.  A  instruccao  secundaria  c  da  classe 
media;  e  esta  c  a  classe  que  costuma  dar-se 
as  artes.  Mas  os  productos  da  arte  nao  podem 
aperCeicoar-se,  scm  que  aos  raios  da  sciencia, 
desperte  a  induslria  adormecida  entrc  nos. 
Devem  porcm  prcparar-se  de  antemao  os 
estahelecimentos  nialeriacs,  e  os  professorcs 
ipie  se  han  de  enipregar  nesto  novo  ramo  de 
ensino;  scndo  q\ie  o  credito,  e  os  progresses 
de  quai(|U('r  instituicao  nova,  dependem  in- 
leiramcnle  do  aprovcitamcnto,  que  os  pri- 
meiros  alumnos  alcancarem. 

As  necessidadcs  da  instruccao  superior 
reduzem-se,  j)or  agora,  a  creacao  de  uma 
eschola  de  administracao;  organizacao  dos 
estai)elecimentos  annexes  a  eschola  medico- 
cirurgica,  e  academia  polyteclinica,  o  de  Lei- 
las artes  do  Porto;  e  melhoramento  dos  que 
pertencem  a  universidade.  Ainda  que  de 
(irnmpto  .so  nao  possani  rcmediar  lodos  os 
males,  porcjuc  de  recursos  extraordinarios 
carece  o  melhoramento  d'alguns  estaheleci- 
mentos scicnlilicos,  algum  sacrilicio  e  in- 
dispensavel  para  conservar,  na  perfeicao  de- 
vida,  0  ensino  practico  de  que  jnincipalmente 
depende  a  parte  util  das  scicncias.  As  univer- 
sidades,  concentrando  cm  um  ponto,  em  grau 
transcendcuto,  as  scicncias,  artes,  e  Ictras, 
sao  foco  de  luz  que  alimcnta  a  cultura  e  il- 
liistracao  dos  povos;  mas  nunca  poderao  sa- 
tisfiizer  ao  lim  da  sua  creacao,  sem  (]ne  estejara 
cercadas  de  cslahelccinienlos  practicos,  sitna- 
dos  na  allura,  a  que  as  scicncias  se  teem  ele- 
vado. 

Tal  e,  Seniiora,  o  cstado  da  instruccao  pu- 
hlica  no  paiz,  resumido  em  quadro  singclo, 
e  nao  pcrleilo.  A  impcrfcicao  e  toda  involun- 
taria  da   parte  do  cousclho;   sol)rava-lhe   o 


(lesejo  de  podcr  aprcscntar  uma  cstatistica 
coniplcia,  c  c()ni|iaral-a  com  as  de  povos, 
(pie,  por  sua  illirslra(;rio,  servcin  lioje  de  nio- 
delo  na  rcparlicjao  das  Ictras.  V.  Magestade, 
scmj)re  hcuevolcnte,  ha  de  rclcvardclcitos,  ipie 
0  cnnsclho  (piizcra  ter  e\  itado.  E  espera  coniia- 
danieute  o  con.selho,  ([ue  ]ior  meio  d'algiimas 
pro\i(lencias,  ja  ordenadas  por  esta  rcparti- 
jao,  e  de  outrasque  a  Y.  Magestade  pare(am 
mais  adequadas,  hao  de  desccr  dias  mclhorcs 
sohre  a  instnucao  do  paiz,  se  a  mao  da  paz 
hcneficcnlc  nos  dcr  scguro  amparo.  Coimhra, 
em  consclho  de  2S  de  novemhro  de  18'i8. — 
Josr  Jldcliaitd  d'Ahrni.  riie-reitor.  e  vicc-presi- 
deute  —  BiisiUo  Allmiio  de  Sousa.  I'intn  — 
Manuel  Anluiiio  (/iiellu)  da  Korlui  —  Jerdin/mo 
Jose  de  MelU>  —  Fraiui.seo  de  Custro  Freire  — 
Manuel  Marlins  Binideira  —  Antoniu  Carduso 
lioKje.s  de  Fiijtteiredo  —  Luiz  Iijnuew  Ferreiru. 


SILVIO  PELLICO  E  0  SEU  TEMPO. 


Um  escriptor  piemontcz  Pietro  Giiiria,  aca- 
ha  de  jtuhlicar  dchaixo  d'cste  tilulo  uma  hio- 
graphia  do  A.  do  livro  das  ininhas  Prisdes, 
a{|iieni  o  evangclico  espirito  da  Imilardo  ])a- 
recia  ter  complclamente  inspirado.  0  novo 
hiographo  podcria  ter  accrescenlado  nuiis 
algims  tracos  ao  sen  quadro  [lara  lornal-o 
menos  indcciso  ,  jiistilicar  mais  cahaimente 
0  sen  tilnlo;  com  tudo  a  narracao  dc  Giuria, 
cos  fragnientos  ineditos,  que  a  aconipanham, 
dcixam  aprcciar  a  suave,  e  sofredora  natu- 
rcza  do  Poeta  de  Saluces,  uma  das  primeiras 
glorias  conlemporaneas  de  Italia. 

Silvio  Pelico  cscrevera  tragedias,  hymnos 
e  cBucoes,  que  elle  considerava  como  I'ragmen- 
tos  dc  um  grande  poema  sohre  a  Italia  da 
meia  idade :  dez  anno«f*de  captiveiro  cm 
Spielberg  I'oram  uma  dolorosa  prova ,  (|ue, 
dando-Ihe  a  aureola  de  um  longo  solTrimento 
na  flor  dos  annos,  cortiira  as  suas  melhores 
espera ncas,  e  as  seus  votos  pela  rcgencra('ao 
nacionai,  a  (pie  elle  sc  associara  com  os  cscri- 
plores  italiauos  de  18'20 — os  Manzoni,  os 
Eerchet,  os  Romagnosi,  os  Gioia,  os  Viscoii- 
ti  e  oulros! 

Scm  duvida  Silvio  Pcllico  era  um  conspi- 
rador  pouco  perigoso;  um  livrinho,  porem, 
s-cu  causcira  mais  mal  a.*iustria,  do  que  uma 
conjura(;ao,  ponjue  esse  pequeno  livro  Wra 
a  singcia  ex[)ressao  de  unui  queixa  sem  I'el, 
e  de  uma  resignaciio  scm  amargor;  era  a 
pura  narnujao  de  uma  alma,  em  ([uem  a  pie- 
dade  apagiira  nao  todas  as  recordacocs,  po- 
rcm todo  0  ressenlimeuto  violeuto.  Silvio  Pel- 


205 


lico,  porem,  nao  podera  dar  a  luz  o  livro — 
asminhas  Prisoes,  que  tanto  rcnome  llie  gran- 
geara,  seni  quebrar  quasi  com  sens  antigos 
amigos,  que  o  accusavam  de  trair  o  lihcra- 
lismo,  e  que  sobre  tudo  se  assustavam  com 
as  suas  tendeucias  religiosas.  De  feito  a 
mais  sincera  e  I'tTvorosa  piedade  absorveu  os 
ultimos  vintc  annos  da  sua  existencia. 

Saindo  das  prisoes  de  Spielberg,  fora  con- 
vidado  para  ir  occupar  em  Franca  uma  posi- 
fjo  vanlajosa.  Silvio  Pellico  recusou.  0  longo 
captiveiro  tinha-lhc  feito  amar  a  solidao.  A 
sua  mui  delerioiada  saude  nao  ilie  pcrmittia 
ja  aturados  estudos,  nem  o  tempo,  que  ihe 
sobrava  dos  exorcios  religiosos ,  e  de  algu- 
mas  aprasivcis  diversOes  literarias,  o  podia 
dar  a  outros  cuidados  mais  graves.  Uma  vida 
simples  e  Iranquilla  era  o  que  unicamente 
Ihe  convinha. 

a  Eu  leio,  dizia  elle  n'uma  carta,  penso, 
amo  OS  meus  amigos,  nao  aborreco  pessoa 
alguma,  respeilo  as  opiniOes  dos  outros  e 
conserve  as  minhas;  eis  aqui  a  minha  vida, 
nao  isenta  de  dores,  mas  tambera  nao  priva- 
da  de  consolacoes.  »  A  sua  I'e  mais  viva;  a 
sua  maior  devocao  acaso  Ihe  lizera  esquecer 
suas  esperancas  pela  emancipacao  da  bella 
Italia,  e  sua  antiga  dedicacao  pela  causa  da 
liberdade?  Certo  que  nao.  A  illusao  desapa- 
rec^ra,  mas  a  sua  profunda  conviccao  licara 
inabalavel.  «  A  idade,  dizia  elle,  amadure- 
cendo  a  verdura  das  minbas  opiniOes,  mo- 
dificara,  mas  nao  mudara  a  essencia  d'el- 
las.  »  Uma  resistencia  iutima,  mas  pacilica, 
era  tudo  quanto  Ihc  restava  do  seu  antigo 
patriotismo.  Nao  tratava  com  os  revolucio- 
narios,  nem,  em  geral,  com  os  partidos  ex- 
clusivos. 

Em  1848  era  o  seu  voto  pela  uniao  de  to- 
dos  OS  pi'incipes  italianos  «  voto  seguramente 
justo,  dizia  elle,  mas  inutil,  como  muitos 
outros  bons  desejos.  »  Quando  se  procedeu 
dsprimeiras  cleicoes  no  Piemoilte,  Silvio  Pel- 
lico teria  acceitado,  talvez,  a  procuracao  dos 
eleitores  de  Saluces,  sua  patria ;  nao  foi 
porem  entao  eleito;  e  quando  depois  Ihe  of- 
fereceram  esta  candidatura,  ja  de  todo  Ihe 
fallavam  as  forcas  para  o  desempenho  d'a- 
quella  missao. 

Como  homem,  Silvio  Pellico  foi  sempre  o 
typo  de  uma  suave  e  terna  resignacao,  a  que 
as  suas  desvenluras  derara  a  uucao  religiosa. 
Como  poeta,  nao  era  um  genio  transcendente, 
porem  nas  suas  tragedias,  e  sobre  tudo  nos 
Iragmeutos  liricos,  brillia  a  graca  e  amenida- 
de  de  suas  inspiracoes. 

As  opinines  e  o  talento  poetico  do  illustre 
A.' das  minhas  PrizSes  pertenciam  ja  a  uma 
gerajao  meia  extiiucta,  de  que  elle  fora  um 
dos  maiores  luminares. 

J.  SI.  DE  ABREU. 


MOSTEIRO  DA  VACCARigA 


Duracao  do  Mosleiro  da  Vaccarica  desdc  a  ska 
fundacdo  ate  ao  fim  do  seculo  X. — Desde  o 
principio  do  seculo  XI  ate  a  sua  extinccuu 
em  1094. 

C'ontinuado  de  pag.  94. 

A  obscuridade  da  historia  do  Mosteiro  Bu- 
bulense  continiia  ainda  ate  ao  tim  do  seculo 
X.  Apenas  algumas  doacoes  e  outros  docu- 
mentos  ' ,  que  mostram  a  existencia  do  Mosteiro 
de  Lorvao  do  seculo  VIII  em  diante,  dariam 
igual  noticia  do  Mosteiro  da  Vaccarica,  se  a 
pretendida  ligacao  dos  dous  mosteiros  em  eras 
remotas  tivera  fundamentos  menos  duvidosos. 
Assim  nao  tendo  encontrado  citacoes  de  ne- 
nhum  documento  do  Mosteiro  da  Vaccarica, 
relativo  a  este  longo  periodo,  em  que  as 
invasOes,  e  repetidas  guerras  dos  Suevos, 
Wisigodos  e  Mouros,  poderiam  ter  influido 
nos  destinos  de  todas  as  casas  religiosas, 
nem  sequcr  colhi  a  certeza  de  ter  existido 
entao  o  Mosteiro  Bubulense,  a  pezar  de  quan- 
to se  tem  escripto  da  sua  historia  n'este  pe- 
riodo. 

Se  n'esta  epocha  existiram  monges  na  Vac- 
carica, e  de  crer  que  se  conservassem  em 
paz,  durante  o  dominio  dos  Suevos,  e  ainda 
mesmo  depois  de  subslituidos  pelos  Wisigo- 
dos era  38!)  ',  porque  nao  consta  que  n'esses 
tempos  fossem  muito  perseguidas  as  ordens 
religiosas,  principalmentc  depois  da  conde- 
mnacao  da  heresia  prisciliana  no  concilio  Bra- 
carense  de  563  ' . 

Como  porem  os  mouros.  na  sua  entrada 
pela  Ilespanha,  depois  da  batalha  de  Guada- 
lete  em  714  \  destruiram  muitos  conventos, 
a  Chronica  dos  Eremitas  de  Sancto  Agosti- 


'  Doa^ao  de  Theoddo  C5de  dos  Chrislaos  em  Coim- 
bra  feita  a  Aydulfo  abbade  de  Lorvao  e  a  seus  mongess 
de  duas  herdades  em  Almafala  termo  de  Coimbra  no 
anao  de  Christo  de  770.  Monarchia  Lusilana  por  Fr.  Ber- 
nardo de  Britto — torn,  apart.  *,liv.  7,  cap.  8. 

Uma  doa(;iio  d'elrei  D.  Ramiro  a  D.  Ju.io,  abbade  de 
Lorvao,  de  herdades  em  Montemdr  no  anno  de  Christo 
de  848.  ■•  In  nomine  ia  di  uiduie  Sanctaeque  Trinitatis, 
II  Donationis,  at  te.slamenli  carta  hsec  est,  eam  facere 
«  eslalui  ego  Rex  Ramirus  adiulus  diuina  inspiratioe 
u  vobis  Joannis  Abbalis,  et  vestris  monachis  de  Lurba- 
■<  no,  "  etc.  Monarchia  Lusilana  torn,  e  part.  2,  liv.  7, 
cap.  1£. 

Um  privilegio  do  rei  mouro  Alboacem  ou  Alibosem 
ao  Mosleiro  de  Lorvao,  isentando-o  do  trihuto  que  impos 
aos  outros  mosteiros  no  anno  de  Christo  de  734.  Benedic- 
tina  Lusitana  tom.  1,  trat.  2,  part,  i,  cap.  4. 

^  Compendio  de  Historia  por  Joiio  Antonio  de  Sousa 
Doria  —  voL.4,  4.°  periodo  da  hist.  ant.  de  Port. 

■■  Historia  del  Reyno  de  Portugal  por  Manoel  de  Faria 
y  Sousa  part.  2,  cap.  5. 

••  Historia  Geral  de  Portugal  por  La  Clede  —  torn.  8, 
liv  3  =  Compendio  de  Historia  por  J.  A.  de  Sousa  Do- 
ria—  log.  cit. 


206 


nlio  fazenlrar  fta  ronla  d'eslcs  oMosleiro  da 
Vaccarii'a  '.  Mas  a  inaior  parte  dos  histniia- 
doresaflirmamqiic  iia  Lusilania  jaosSerraco- 
conos  proeediam  d'liin  modo  difl'e rente,  dci- 
\aiido  tiear  nosronvonlos  os  monies  que  llio, 
pagassom  trilmtos;  e  ate  uni  dos  priniciros 
reis  moiiros,  Alilioasou.  rujo  doniinio  seosten- 
dia  desde  o  rio  Mva  e  Mondcgo  ate  Agiieda, 
isentoii  OS  mon};es  de  Lorvao  ^  d'a(iuelle  tri- 
Imlo,  so  deriiios  erodito  a  uina  carta  dc  lei 
lie  73i,  arcliivada  no  niesmo  convenlo,  c 
citada  |)or  fr.  Lciio  de  S.  Thomaz  \ 

A  Chronica  dos  Carniclitas  descalcos  quer 
que  0  Mosteiro  liuhulense  tambeni  alcancasse 
OS  mesmos  privilegios  que  o  de  Lorvao';  mas 
ainda  que  demos  pouco  peso  a  esta  ultima 
uotioia,  por  nao  vermos  citado  nenhum  do- 
eumento  em  que  se  funde,  devemos  com  tudo 
supper  que  ucsta  epocha  se  conservassem 
tranquillos  os  monges  da  Vaccarica,  na  iiy- 
potiiese  da  sua  existencia  por  aquelles  tempos. 
No  dominio  suecessivo  dos  Mouros,  e  nas 
alternativas  que  se  seguiram  de  reis  mouros 
«  catholicos,  uao  apparecerara  notabiiidades, 
(jae  me  constem,  das  casas  religiosas.  So  por 
uma  doacao  de  terras,  castoilos  e  villas,  que 
D.  Goncalo  Moniz,  senhor  de  toda  a  iiisita- 
uia  catholica,  fez,  segundo  La  Clede,  em  !)S1, 
ao  Mosteiro  de  Lorvao',  podemos  ajuizar  da 
«onsideTa-fa«:  em  que  eram  tidas  estas  casas, 
c  conseguintemeiite  do  bom  pe  em  que  entao 
poderia  estar  qiialijirer  mosteiro  na  Vaccari- 
ca. Mas,  se  El-Mausur,  nas  suas  invasoes  a 
Peninsula,  e  ainda  na  tomada  de  Coimbra 
aos  christaos  em  987',  fazia  nos  templos  e 
nos  catLolicos  os  estragos  que  referc  Faria  e 
Sousa  \  e  natural  que  por  aquelles  tempos  nao 
ficassem  em  niuilo  descanco  os  monges,  que 
liouvesse  na  Vaccaripa. 

Vemos  pois  que  ate  ao  fiin  dt»  seculo  X 
nada  sabomos  eom  certeza  sobre  o  Mosteiro 
Babnlense. 

Por  todo  0  seculo  XI  temos  noticias  mais 
positivas  do  .Mosteiro  da  Vaccarica,  em  escri- 
pturas  c  outros,  documentos,   cujas  copias  se 


'  Chronica  dos  Eremilas  de  Sancto  Asostinho  —  torn. 
I,  liv.  1,  lit.  8,  ^.  5,  jicitadoapag.  193,  not.  3. 

■*  Chronica  dos  Cariuelitas  Desoal<;x)s  turn.  2,  livro  4, 
cap,  15. 

■^  Benedictina  Liuitaita  torn.  1,  ttat.  2,  part,  a 
cap.  ■*. 

La  Clede  aecrescenta  que,  n'aquelle  mesmo  anno  de 
734,  o  rej  moaro  concedeu  aos  catholicos  o  privilegio  de 
terem  em  Coiuibra  um  conde  seu  e  outro  em  .igueda- 
mas  o  traduclor,  n'unia  nf>ta,  poe  em  duvida  a  veracidade 
if  este  salvo  conducto.  Tom.  i,  livr.  4. 

*  Chronica  dos  Carmelitas  Descalcos  por  Fr.  Join  do 
Sacramento  torn,  i,  \iv.  4,  cap.  15,  ^.  122. 

'   ta  Clede  —  torn.  2,  liv.  4. 

'  Historia  de  Portugal  por  A.  Heccu]ano  torn.  1, 
introdiicf.  n."  3. 

'  Faria  J  Sousa  part.  2,  c.<ip.  8  e  9,  «  el  prrmer  inceo- 
"  diu  era  en  lus  templos  sagrados:  j<  el  primer  golpe  en 
.1  los  ministros  dellos,  y  en  los  Catholicos  de  viiia  mas 
.•  inculpable.  »  Vej.  tambem  a  not.  3.  da  pag.  193. 


conservam  archivadas.  Das  que  acharaos  no 
Livro  Preto  do  carlorio  da  Se  de  Coimbra,  so 
v6  quo  0  mosteiro  evistiu  por  ipiasi  todo  esto 
sTculo,  por([ue  as  datas  d'a(iuelles  documen- 
tos se  relV'rem  a  amies  quasi  todos  segiiidos, 
desde  1002  ate  1004,  a])parecendo  apenas 
:  algiins  intervallos  de  um  anno,  um  interval- 
lo  de  Ires  annos,  tres  de  quatro,  tres  de  seis 
e  um  de  treze  '. 

Todos  estes  documentos  inculcam  a  per- 
manencia  dos  monges  na  Vaccarica  nos  annos 
a  (|ue  se  relerem,  excepio  o  de  lOiO,  relati^ 
vo  a  uma  demanda  entre  os  herdeiros  dc  D. 
Unisco  e  o  Mosteiro  da  Vaccarica,  sobre  a 
jiropriedade  de  Mosteiro  de  Vermoim,  por 
onde  consta  que  Todegildo  ou  Todeildo,  ab- 
bade  da  Vaccarica,  no  tempo  em  que  Ihe' 
conlirmaram  uma  doacao  dos  mosteiros  dtf 
Leca  e  Vermoim,  anteriormi'nte  leila  por  DV 
Unisco  e  sou  tilho  Oseredo  ao  Mosteiro  da 
Vaccarica,  se  achava  longe  d'esta  villa,  por 
ler  I'ugide  aos  Serracenos  n'uma  incursao' 
que  lizeram  por  estes  sitios'. 

Nao  posse  dcterminar  o  anno  d'esta  fuga, 
nem  e  tempo  que  estaria  sem  monges  o' 
-Mosteiro  da  Vacarica,  pori]uc  nem  ao  menos' 
se  acba  averiguada  a  data  d'aquella  escri- 
ptura  de  conlirmacao  de  U.  Unisco  e  Osere-, 
do,  acceite  por  Todegildo  fdra  da  Vaccarifa. 
Inculca  ser  este  documcntc  um,  que  sc 
acha  mal  redigido  no  Livro  Preto,  datado  de 
lOia  '  ou  antes  de  1014;  mas  esta  data  naw 
pode  conciliar-se  com  a  de  1021  *,  em  que 
teve  lugara  doacao  a  que  poderia  referir-se; 
e  alem  d'isso,  como  ja  notaram  os  sr.'  Joao 
Pedro  Ribeiro  '  e  Antonio  Carvalbo  Velho  de 


*  N'outro  logar  desta  Memoria  serao  apontailas  as  data^ 
d'estes  documentos,  e  as  folhas  do  Livro  Preto  onde  se 
acham. 

-  et  super  valuernnt  gentes  hismaolilarum  super 
xpianos  .  .  .  et  ipse  abbas  in  araore  de  fide  xpi  fugivit 
ante  ipsas  gentes.  ...  El  tcnente  ipso  abbate  ipsos  mo- 
nasterios  in  su<j  jure  in  diebus  serenissimo  et  principem 
nostrum  adefonsus  re.x.  el  comitissa  lota  domna  <iue  in 
ipso  tenii)ore  ipsum  comitatnm  imparabat.  et  post  mortenii 
ipsius  regis  et  comitissa  surrexil  filius  ipsius  rex  glorio- 
sissimo  vermudus  principe  et  in  ejus  presenlia  i>errexit- 
ipsa  domna  cum  ipso  testamento  et  cum  suas  firmitates, 
et  cum  ipse  abba  et  confirmavit  ipse  rex  et  suos  judlceai 

et  duces  el  ex  tola  palacio ,^ 

Post  obitum  de  ipsa  domna  unisco  surrexernn- 

omnes  propinquiores  sui  et  inquietarerunt  indo  mona^tet 
rium  vermudi  et  pervenerunt  inde  inconciru>  ante  Judi* 
ces  menendo.  vimariz.  pelagium  sesnandiz.  suarium  gaia- 
diz.  in  presentia  comite  menendo  nuniz.  el  genitricis  sue 
domna  eldora  ....  octurgavit  et  confirmavit  ipsos  ju- 
dices  ipse  prefatus  el  ipse  dux  ipsos  lestamenlos  et  ipsos 
monasterios  ad  ipsum  abbatem  ctijus  Veritas  erat.  Livro 
Preto  folh.  55.  v. 

-*  Livro  Prelo  folh.  74  v.  (Era  decies  centena  quin- 
quies  dena  1."  inquoante  secunda  —  era  de  1051  entrando. 
em  1052  anno  de  Christo  de  1013  OK  1014).  Pode 
haver  confusiio  niio  applicando  esta  advertencia  ao  qua 
diz  o  sr.  iVliguel  Ribeiro  d'este  docuraento.  Mem.  cit. 
parl.l.'  n."  5. 

■*  Livro  Preto  folh.  72  v. 

'  Disserta(;15e3  Chronologicas,  turn.  4,  part.  3,  pag, 
138. 


2o: 


Barbosa  ',  csta  descnconlrada  com  a  epocha 
do  reinado  dolVermudo  ou  Borniudo  111,  que 
so  ve  assignado  no  niosnio  dociinipiito. 

0  sr.  Yellio  da  Burl)osa  iiiclirta-se  a  quo 
csta  fuga  tivera  logir  em  10'J2,  I'undado  em 
documentos,  quo  diz  e\islircm,  assignados 
u'a(juellc  anno  pido  abbado  Todogildo  cm 
Lcfa  '.  No  Livro  I'relo  achamos  uma  doariio 
da  povoacao  do  Loi;a  (como  parece),  fcila  por 
Trastina  ao  abbado  Todoildo  e  sous  mouges 
n'este  anno  do  1032  ',  sem  mostrar  so  a 
coraraunidade  estava  em  Loca  ou  na  Yacca- 
rica;  mas,  se  e  este  o  dotumcnlo  ou  outros 
semclhantes,  a  que  se  refere  o  sr.  Barbosa, 
no  mcsmo  caso  se  acba  a  doarao  de  Loovoiis 
a  Loca,  leita  por  Didacus  ao  mosmo  alibado 
e  sous  monges  cm  1034  \  e  a  doacao  de 
herdades  em  Avelenyo,  Comparodella  e  Anta, 
I'eita  por  Aduzinda  tambom  ao  abbado  To- 
deildo  e  sous  mongos  em  1038  ',  nao  podendo 
d'aqui  inferir-so  que  o  Mosteiro  da  Vaccarica 
estivera  desomparado  em  todo  ostc  pcriodo, 
porque  tambom  no  anno  de  1034  o  mcsmo 
abbade  Todoildo  concodeu,  na  Vaccarica,  aos 
presbytoros  Froila  e  Vormudo  que  babitassem 
0  Mosteiro  de  Rocas';  e  em  1030  vomos  o 
abbade  Florito  e  sous  monges,  acceitaudo  na 
Vaccarica  umas  casas  dcntro  do  castoUo  do 
Penacova,  que  Ihe&doaram  Natalia  eslia  filha 
Palmella  ' . 

E  cerlo  porem  que  esta  perseglifcao  dos 
monges  da  Vaccai*ica  teve  I6gar  entre  os 
annos  de  1021,  em  <|ue  Todegildo  acceitou 
fia  Vaccarica  a  doacao  de  D.  Unisco,  e  de 
1040  com  que  vem  datado  o  documento  rela- 
tive ii  doman<la  de  Vormoim.  E  em  todo  este 
period©  tivoram  os  Sorracenos  muitas  occa- 
sioes  de  assoberbar-se,  esperancados  nos  ba- 
rulhos  e  dissonsoes  entre  os  chrislaos,  occa- 
sionadas  pola  morle  do  D.  Afl'onso  V  de  Leao 
junto  aos  muros  de  Yisou;  polo  assassinate 
do  Conde  de  Castolla  D.  Garcia,  em  Leao, 
quando  alii  fora  com  o  intento  de  dosposar 
D.  Sancha,  irma  d'elrei  D.  Bermudo  III, 
successor  de  D.  Affonso;  e  pela  morte  de  D. 
Sancho,  rei  de  Navarra,  ate  a  reuniao  dos 
reiaos  de  Leao  e  Castella  em  D.  Fernando 
I?. 

Afora  este  revez,  nao  constant  mais  soffri- 
mentos  dos  monges  da  Vaccarica  com  o  do- 
minie serracono;  e  antes  se  vai  conhecondo 
0  engrandecimonto  progressivo  do  mosteiro, 
pelas  doacOes  particularos,  de  quo  tractam  a 
maior  parte  d'estes  documentos;  e  mesmo  no 

«■  Memoria  Historioa  da  Antigiiidnile  do  Mosleiro  de 
Le(;a. 
^  Idem. 

■■   Livro  Pretofolh.  96.  v. 
'  Livro  Preto  folh!  97  y. 
'  Livro  Prelo  fclh.  95  v. 
'   Livro  Preto  folh.  74. 
'  Livro  Preto  folh.  45. 

'  Historia  de  Portusal  por  A.  Hercnlano.  toill.  1,  in- 
I  Iroducj.  n.''3. 


anno  da  tomada  de  Coimbra  por  D.  Fernan- 
do I,  de  Leao  e  Castella,  depois  do  cclobrc 
ccrco  do  seis  mezos,  cm  10C4  ',  nos  apparcce 
0  Mosteiro  da  Vaccarica,  cm  grande  opulen- 
cia,  lazcndo  um  invcntario  de  muilas  \illas 
e  logares,  do  que  era  senhor,  como  vorcmos 
mais  adiante  '. 

Dos  annos  seguintes,  vamos  enconlraiido 
eseripturas  no  Livro  Preto;  e  ainda  oni  108ti 
uma  doarao  da  Marmeloira  por  Arias  %  e  ou- 
tra  da  villa  d'Orta  por  D.  Sisnando'  ao 
Mosteiro  da  Yacarica;  em  1091,  outra  om 
que  0  prelado  da  Vaccarica  da  ao  do  Leca 
tudo  0  quo  la  grangeasse  ';  e  em  1003  mais 
outra  do  prazo  do  uma  vinha  em  Loca  '. 

Parecendo  mostrar  estas  eseripturas  a 
prosperidade  e  bom  concoito  do  Mosteiro  da 
Vaccarica,  e  nao  se  encontrando  documentos 
que  possam  inculear  a  sua  decadentia, 
com  grande  surprcza  um  anno  depois,  em 
1094,  vemos  cair  esta  poderosa  corpora- 
racao  dos  monges  Bubulonses,  por  uma  doa- 
fao  do  seu  convonio  e  pertencas  ao  Bispo  de 
Coimbra  D.  Cresconio,  e  aos  clorigos  da  sua 
Se,  foita  por  D.  Haymundo,  conde  de  Borgo- 
nha,  governador  de  Portugal  e  Galiza,  casa- 
do  com  D.  Urraca,  herdeira  dos  reinos  de 
Castella'. 

Cora  esta  doacao,  confirmada  pelo  sancto 
padre  Paschoal  II,  em  1101%  e  por  outros 

'  Na  Monarchia  Lusitana,  torn,  e  part.  2,  li^'.  7,  cap. 
28,  vent  trasladad:!  nma  escriptura  de  doa^So  por  D. 
Fernando  ao  Jlo-steiro  de  Lorviio,  d'este  mesino  anno  de 
1064,  onde  se  diz  que  esles  monges  caadjnvaram  a  tomada 
de  Coimbra  com  muitos  mantimentos  que  ministrarara  nos 
ultimos  dias  docercti.  O  si".  JoSo  Pedro  Kibeiro,  na  pri- 
meira  da.s  suas  Dissertai;8es  Chronologicas  (loDi.  1,  ca]i. 
3,  paj.  43),  inclina-se  a  que  este  forneciniento  fora  antes 
ministrado  pelos  mongre!.' da  Vaccarica  ;  mas  esta  opiniSfi 
nao  assenta  em  documentos,  e  jd  o  sr.  Castilho  a  ciJnSi- 
derou  g:ratuita  no  terceiro  dos  seus  Quadros  Historicos. 

^  Veja-se  o  art.  Riquezas  do  Mosteiro.  (n'oniro  |.)gar 
d'estaMemoTia.) 

^   Livro  Preto  folh.  151*  v. 

*  Livro  Preto  folh.  48  v. 

'   Livro  Preto  folh.  84  v. 

^   Livro  Preto  folh.  65. 

'  .  .  .  .  Ego  raimundus  coraeS  et  uxor  mea  urr.ica 
adefonsi  tholetani  imperatoris  IJIia  cum  in  civilate  colim- 
bTia  venireraiis  cognovimiis  de  episcopo  domno  cresconio 
ejusdem    civitalis    et  de  suis   cjericis    quod    poterentur 

multis  nece.ssitalibus et  idcirco  nos  imanitatis 

mizericordia  corapulsi facimus  cartam  testanienti    . 

ecclesie  sancte  marie  superdicte  sedis  episcojalis  de 
cenobio  uocarice  quod  eslsitum  prope  ipsam  colimbriam 
snbtus  monte  buzatho  Damiis  ipsum  supradictum  ceno- 
l>ium  cum  suis  cunctis  adjetronibus' .  .  .  .  Facta  est  hec 
carta  testament!  et  conl5rmata  .  .  .  in  era  C  XXX'II 
post  M.«  ....  (Anno  de  Christo  de  1094).  Livro  Preto 
folh.  40. 

'  .  .  .  .  villam  quoque  vacariviam  curts  ecclesiis  e( 
coloniis,  ac  prediis  suis  sub  jure  proprio  episcoporum 
collimbriensium  confirmaraus,  sicut  ab  egregio  coniite 
raimundo  coUinibrienSi  ecclesie  donata,  el  scriploruni 
testimrjniis  ablata  est ...  .  Dant  laleranis  per  nianus 
johis  sancte  romane  ecclesie  diaconi  cardinalis  IX  Kal. 
april.  indie.  IX,  dominice  incarnationis  anno  millesimo 
centesimo  primo  (anno  de  Cht'tslo  de  1101^  pontilica- 
tus  autem  Somni  pascbalis  secundi  pape  secundo. 
Livro  Preto.  folh.  SS9. 


208 


( liere>  da  Egrrja  ' .  liberalisou  D.  Raymundo 
;i  Sf  (Ic  r.oiiiibra  graude  parte  do  grosses 
rcndiinentos  ijue  desfructou  ate  1831. 

Os  docuiueiitos  posteriores  a  lO'.li  parecein 
moflrar  ((ue  o  bispo  D.  Crescimio  logo  to- 
mou  posse  do  mosteiro  c  suas  pertencas,  dei- 
xando  com  tiulo  licar  os  mouges  em  coiiimuni- 
dade  por  alguns  annos,  se  bein  quo  debaixo 
da  sua  direceao.  De  1095  temos  uin  testa- 
meiito  (le  Bailessa  e  scus  lilhos  d'lima  ermi- 
.da  de  S.  .Martiiiho  ii  cgreja  do  Salvador  de 
Coimhia,  e  ao  mosteiro  de  S.  Vicente  da 
Vaccarica,  entao  regido  pelo  abbadc  Salo- 
niao;  leslamento  que  se  fez  por  assentimcnto 
do  liispo  de  Coimbra  D.  Cresconio  '.  De  1098 
ha  um  docuinento,  per  onde  se  ve  que,  n'este 
anno,  alguns  frades  pediram  ao  uiesmo  D. 
Cresconio,  ([ue  os  deixasse  habitar  o  Mostei- 
ro de  Tresoi,  subordinado  ao  da  Vaccarica; 
o  que  0  bispo  Ihes  concedeu,  cxigindo  que 
primeiro  pedissem  conselbo  ao  prior  do  Mos- 
teiro da  Vaccarica,  D.  Salomao  '.  De  1099 
apparece  outro  documento  de  uma  dcmanda, 
cm  que  tigura  por  um  lado  Pelagio  Soares, 
alcaide  do  conde  D.  llenriquc,  e  por  outro 
lado  0  abbade  Zoleinia  a  favor  do  Mosteiro 
da  Vaccarica,  dando-se  a  dcmanda  a  favor 
do  mesmo  abbade  *. 

D'aqui  em  diante  nenhum  documento  mos- 
Ira  a  existencia  dc  monges  na  Vaccarica  ' ;  e 


'  Clironica  dos  Carmelitss  Descal^os  —  torn.  13,  livr. 
4,  cap.  13,  (nao  cita  documento). 

^  Ego  bailessa  cum  filiis  meis  placuit  nobis  .  .  .  facere 
cartam  testaraeoti  sicut  et  facimus  ecclesie  sancti  salva- 
toris  culimbrie.  et  monasterio  sancti  vicentii  de  vacca- 
riza  de  ilia  heremita  quam  vucitant  sanctus  marlinus 
tic  paliais.  ipie  est  sita  in  territorio   cullirabrie  subtus 

monte  viminaria 

....  Facta  carta  testamenti  ....  sub  consensu  epis- 
copi  domni  cresconci  collimbriensis.  et  dominante  saio- 
mone  abbate  cenobii  vaccarize,    Livro  Preto  folli.  90.  v. 

^  Esro  arias  didas  et  pelagius  didas  et  vermudus 
iben  ildras  et  froiula  jhoniz  cum  ceteris  nostris  soriis. 
Placuit  nobis  .  .  .  .  ut  venissemus  ad  episcopum  dom- 
niim  cresconium  petere  monasterium  quod  dicitur  tra- 
zoi  quia  est  testamentum  sancti  vincenti  vocabulo  vac- 
carice  sub  monte  buzaco  ut  ibi  populassemus.  et  editi- 
cassemus  ad  partes  monasterii.  Ille  antem  jussit  nobis 
ire  et  consilium  petere  ad  priorem  domniim  salomo- 
nem  qui  siib  sua  raiinu  tunc  iUud  monasterium  rege- 
bat  ....  Livro  Preto  folli.  36  v. 

*  Orta  fuil  inlcntio  inter  pelagium  sudarij  et  abba- 
tera  domnum  zuleimam  super  illam  ha^reditatem  de  ana- 
zeti  .  .  .  .  et  ille  abbas  zoleima  dicente  sua  voce  qui 
erat  testamentum  de  illo  monasterio  de  vacariza  .... 
Ego  pelagius  suariz  vobis  dorano  abbati  zoleima  in  hoc 
placito  vel  dimissionem  manum  meam  roboro.  .  .  .  Livro 
Preto  fulh.  51  V. 

*  O  sr.  Miguel  Ribeiro,  na  sua  Memoria  Historica  do 
Mosteiro  da  Vaccarica,  etc.,  transcreve  um  empraza- 
mento,  sem  data,  de  herdades  em  Ventosa,  a  tres  cleri- 
gos,  no  tempo  do  Bispo  D.  Goni^alo  e  do  governo  de  D. 
Thereza,  e  por  isso  feito  entre  1112  e  1123,  ou  antes, 
e  tarabera  segundo  o  mesmo  ,\uct.,  entre  lioy  e  112H, 
<Ioude  coUige  que  n'esla  epucha  ainda  a  Se  nao  estava  de 
]>osse  de  todos  os  bens  e  propriedades  do  convento.  Esle 
documento,  nao  considera  os  tres  clerigns  como  (rades  da 
Vaccari<;a;  e,  aiuda  mesmo  admittindo  que  o  tiveram 
)»ido,  nao  p(jde  colligir-se  que  figurassem  alii  como  cor- 


nos  documentos  posteriores  apparece  o  Bispo 
e  a  Se  de  Coimbra  em  pleno  dominio  do 
mosteiro  c  suas  p('rtencas,  como  se  lora  uma 
casa  particular  ' . 

Cantinua  *.  *.  da  cosxi  SIMOES. 


A  POESIA.  SLA.VA  MODERN.^. 


Continuado  de  pag.  17K 


As  faces  d'Ikonia  comefain  a  corar-se  de 
vergonha.  Esperancada  aiuda  dc  que  podera 
escapar  a  este  veiho,  pcga  da  sua  buzdovana 
de  cabo  de  prata  e  de  castao  d'oiro,  que  pesa 
com  okas,  e  mencando-a  por  cima  da  cabefa 
a  arremessa  as  nuvens  com  toda  a  sua  forca. 
A  massa  voa  como  um  relampago,  e  sibilando 
vae  cahir  d'alli  bem  longe.  Marko,  lilho  do.s 
Avals,  nao  pode  soffrear  um  grito  de  admira- 
cao.  0  desconhecido  torna  dc  novo  a  escarne- 
cer  a  cobardia  dos  nobres  espectadores,  e 
mormeute  do  Kralievitj  Marko.  «  Principe 
de  I'rilip,  o  nosso  povo  nao  se  canca  de 
glorilicar  nos  seus  cantos  a  tua  poderosa  buz- 
dovana ;  mas  parece-me  a  mim  Marko,  que 
andarias  melbor  se  em  vez  da  massa,  pegas- 
ses  de  uma  penna  delgada  dc  corvo,  e  te 
puzesses  com  ella  a  dcscrever  a  tua  paixao  e 
languida  pelos  atlractivos  da  I'ormosa  donzel- 
la,  a  ver  se  a  decidias  a  que  viesse,  no  teu 
castcllo  de  Prilip,  servir-le  a  ti  de  esposa,  e 
ii  tua  mae  idosa  de  criada.  »  Marko  dcsculpa- 
sc  dizendo  que  lizera  voto  a  Deus  de  nuiica 
arremessar  a  sua  buzdovana  se  nao  para 
esmagar  o  pcito  de  um  inimigo.  Entao  o 
desconhecido,  voltaudo-se  para  Ikonia,  repe- 
te-lhe  rindo:  «  Beleza  sem  par,  antes  inarido 
velho  que  sera  marido,  »  e  arremessa  pela 
sua  vez  aos  ares  a  buzdovana.  Parte  ella  lao 
ligeira,  que  nem  mesmo  se  ouve  sibilar,  e 
depois  de  ter  ultrapassado  o  termo  marcado 
por  Ikonia,  cae  encravando-se  na  terra  at6 
ao  castao.  0  velho  Bogdan  t'elicita  o  desco- 
nhecido pela  sua  forca  prodigiosa,  e  pcrgun- 
ta-lhc  por  que  razao  tern  dcmorado  ate  tao 


porariio  do  mosteiro,  e  nao  como  particulares  ou  frades 
secularisados.  O  emprazamento  foi  o  desfecho  d'uma  dc- 
manda, que  se  deu  a  favor  do  Bispo,  por  se  ter  provado 
que  as  dictas  propriedades  perlenciam  ao  Mosteiro  da; 
Vaccari(;a  :  d'onde  tambcm  se  coUige  que  a  i\litra  n'esse 
tempo  ja  possuia  todas  as  perten<;as  do  Mosteiro,  que 
nao  eram  contestatias.  Livro  Preto  folh.  41.  Acha-se 
publicado  na  citada  Memoria  do  sr.  Miguel  Ribeiro,  prova 
n.oil. 

'  Veja-se  o  tempo  em  que  o  Bispo  de  Coimbra  dooa 
o  Mosteiro  da  Vaccarica  ao  CoUegio  de  NossaSenhora 
da  Graca.  (n'outro  iogar  d'esta  Memoria.)  f 


^09 


(aide  0  seu  casaraonto.  — »  A  culpa,  diz  o 
vellio,  6  de  niinhas  madrinhas,  du  minlias 
fiinhadas,  de  minhas  primas  e  de  minhas 
lias,  que  nao  tiveram  o  cuidado  de  me  casar, 
e  eu  pohie  solteiro,  nao  souho  acliar  mullier. 
Mas  por  lim,  lioje,  precisamentc  no  inslanle 
em  que  toco  nos  nieus  ccm  annos,  eis  que 
chego  a  alcancar  a  bella  Ikonia:  aquella  que 
nao  tern  rival  del)aixo  do  sol,  sera  para  mini, 
vellio  ceiitenario,  que  a  alcancarei  para 
vergonha  dos  heroes  servios.  »  Disse,  e  vac 
perder-se  no  meio  da  multidao. 

Ueslava  a  ultima  prova,  a  do  arco  e  da 
vista  tcrlcira.  A  bella  Ikonia,  toda  palida  e 
com  as  lagrimas  a  descercm-llie  pelas  faces, 
pcga  do  seu  arco  d'aco  doirado,  que  I'ora 
alinado  ]ior  novc  annos  n'um  logo  ardente, 
e  que  por  oulros  nove  I'ora  lemperado  no  gelo. 
Solta-se  jiara  o  ceo  o  falcao  proso  a  um  lio 
de  seda  de  mil  hrafas  de  comiirido.  A  ave 
iia  regiao  das  nuvens  nao  apparcce  ja  senao 
como  um  ]>onto  negro,  que  uns  ainda  veem, 
mas  que  ja  oulros  nao  distiuguem;  a  joven 
Ikonia  seguc-a  porem  com  vista  scgura,  e 
disjiara  para  ella  unia  das  suas  douradas 
I'reihas.  A  seta  mortifera,  tinlia  voado  sozinha ; 
mas  ve-se  em  breve  ([ue  vein  descendo  em 
companliia  do  folcao  todo  cnsangnentado,  ciijo 
coracao  traspassara.  Vendo  isto,  e  clieio 
de  enthusiasmo,  Miloch  Oliilitj  nao  p<)de 
esqnivar-se  a  dizer  a  donzella:  «  Nao  e  um 
simples  heroe,  mas  sim  um  Isar,  Ikonia, 
(|iie  tu  niereccs  para  csposo.  »  Disse,  mas  nao 
se  medic  do  seu  logar,  e  eisque  do  novo  o 
velbo  desconhccido  se  adianta,  o  insulla 
rndemente  Miloch  Obilitj  pela  sua  falta  de 
coragem  era  enlrar  na  lucta  para  alcancar  a 
Ibrniosa  donzi'Ua.  0  hello  Milok  responde  qu(! 
jit  lem  unia  esposada,  e  que  a  sua  alma  e 
assaz  pura  para  requestar  duas  damas  ao 
niesino  tempo.  «  Nao  sera  culpa  minha,  e.x- 
dama  o  velho,  se  por  (im  tens  de  pertencer- 
me.  Jii  que  lodos  reniinciam  a  lua  mao,  nao 
aregeitarei  eu.  »Doitchin  o  enfcrmo,  esperan- 
doque  faria  desanimar  o  desconhccido,  conieca 
a  chasqueal-o.  «  Escuta,  men  velho  ccnte- 
nai'io,  quero  dar-te  um  conseHio:  o  honicm 
em  (juanto  vivc,  teni  sempre  que  aprcnder. 
Ora  pois!  Sc  nos  tens  mostrado  que  conservas 
ainda  todo  o  vigor  dos  tens  membros,  nao  to 
arrisques  a  passar  peia  vergonha  de  nos  cer- 
titicar  que  tens  a  vista  perdida.  E  mellior 
que  pouhas  OS  teus  oculos;  olha  que  val  a 
pena,  por  ([ue  lens  de  acertar  a  mil  hracas 
de  altura.  »  Soltam  lodos  unia  gargalbada,  c 
0  velho  riudo  tanibem,  responde  a  Doitchin: 
obrigado,  amigo,  peloconselho!  mas  ainda  nao 
eslou  como  aqtielles  carneiros  que  vao  perden- 
do  o  pelo.  «  Faz  subir  o  falcao  aos  ares,  e 
quaiido  este  ia  chegando  a  altura  convencio- 
nada,  o  vclJio  assobia:  n'um  inslanle  o  seu 
cavallo  selvagem  corre  para  elle,  o  heroc  cen- 
teuario  salta-lhc  cm  cima,  o  animal  parte  a 


galopc,  c  na  carreira'o  velho  despede  a  sua 
frecha.  0  tiro  inevitavcl  vai  Iraspassar  a 
cabeca  do  falcao,  e  o  faz  cair  sem  vida  no 
meio  da<iuclla  reuniao  immensa. 

0  desconhccido  caminha  em  triumpho  para 
0  voicvoda  Mirko,  e  Ihe  diz:  Meu  querido 
sogro,  agora  accredilaras,  que  nao  sao  neni 
OS  annos,  nem  a  barba  branca,  que  nos  lornam 
vclhos;  conlia  em  Deus,  que  por  fim  de  conlas 
sal)(^  sempre  tornar  o  mal  em  hem.  E  tu, 
minha  heroica  bellcza,  rellecte  profundamenle 
no  que  von  a  dizer-te:  ([uanio  n'este  momenlo 
me  estiis  olhando  de  traves,  tanto  me  abra- 
fariis  amanlia  de  contentanienlo.  Por  isso  ate 
a  nianha,  e  prcpara-te  para  o  que  lem  dc 
durar  sempre. 

Iletira-se,  e  some-sc  por  entre  a  multidao 
consternada.  Todos  lamentam  a  sorte  da  for- 
niosa  Ikonia.  Ella,  a  coitada,  relirada  no  seu 
aposento,  desfaz-sc  em  lagrimas.  «  I'ara  ([ue 
me  havia  de  eu  retirar  do  men  ollicio  dc  bordar 
e  das  modestas  prendas  do  meu  sexo?  Quiz 
fazcr  d'amazona,  e  seguindo  os  exemjilos  das 
heroinas  d'outras  eras,  ganhar  um  esposo  na 
lica  dos  valentes,  e  agora  eis  ahi  como  acabo 
dc  ser  punida!  Mas  esse  velho  insensato,  ([uc 
ja  com  um  pe  dentro  da  cova,  pretende  des- 
posar-se  com  uma  menina,  nao  devera  elle 
tambem  ser  punido?  Deve;  e  eu  lomo  sobrc 
mim  0  inlligir  o  castigo  que  anibos  nos  me- 
recemos.  Sera  envencnado  junclamente  com- 
migo.  Pois  ((ue  a  sua  loucura  c  que  nie  arroja 
para  fora  do  mundo,  e  de  jnslica,  ijue  tanibem 
elle  o  abahdone.  »  Cheia  de  lao  feinestos 
pensamenlos,  parte  como  um  raio,  e  vai, 
jielas  montanhas  verdejantes,  procurar  de- 
iiaixo  das  pcdras  cinzentas  as  aspidos  vene- 
nosas;  e\tralie-lhe  o  veneno  e  o  Iraz  para 
casa,  onde  o  mistura  com  o  mais  gciieroso 
vinho  de  Uiingria;  c  depois  lica  csperando  o 
seu  desposado. 

«  Os  preparatives  da  boda  sao  esplendidos. 
Cliega  (inalmente  o  pretcndido.  Vcm  adorna- 
do  como  um  pavilo,  Iraz  desponladas  as 
suas  long.is  barbas  braneas,  ve-se-lhe  luzir 
a  pomada  nos  seus  asperos  bigodes,  e  o  cen- 
tenario  surri  para  os  convrdados,  como  um 
joveri  iuiuili  (cavalleiro).  E  a  pobre  Ikonia, 
tambem  elfa  chega.  Todo  o  salao  resplandece 
com  a  sua  I'ormosura.  0  seu  vestido  de  seda, 
tecido  de  Ihama  de  prata,  brilha  dcbaixo  de 
um  veo  purpurino,  como  a  neve  dos  Karjialhos 
debaixo  dos  rosados  fogos  da  aurora.  Todo.t 
OS  convivas  se  assentam  na  ordem  de  sua 
jerarchia,  e  era  frenle  de  Ikonia  ^sonta-se  o 
seu  velho  noivo,  o  qual,  radianle  de  alegria, 
Ihe  torna  a  repelir:  «  Lcmbra-te  beiu  do  que 
tc  digo,  minha  belleza  sem  cgual:  quanto  me 
olhas  hoje  de  traves,  tanto  te  chamaras  ditosa 
iimanha  por  me  abrafares,  tendo  reconiiecido 
na  minh'alma  a  alma  que  ca  na  terra  mais  se 
asscinclba  a  tua.  »  Entregue  porem  intciramen- 
to  a  sua  dor,  a  formosa  Ikonia  nao  sabe  com- 


210 


prohendor  estas  palavras.  Sol)rc  utiia  liandeja 
(I'ouro  clla  aiirosciita  ao  sou  noivo  os  ddis 
cojms  quo  tinlia  pro|)arado,  o  llie  diz:  »  Ton\a 
mil  dosU's,  c  hehe-o  ii  minlui  liuiira,  om  (]iiaiito 
(1110  oil  l)oberoi  o  oulro  ii  tua  saiido. — .Viiida 
i]ilo  oil  M)ubosso,  rospoiido  o  vollin,  i|iio  oslo 
vinlin  oslava  oiivoiieuado.  noiu  jjor  isso  doixa- 
ria  lie  liol)ol-o  por  sor  olVorooido  jior  liias 
iiiaos.  >)  E  dospoja  o  coiio,  som  llio  doivar 
uma  giiita.  Ikonia  ollia  para  olio  doliulliada 
0111  lagi'inias  amargas,  o  toniando  loiiiiniu'iito 
I)  sogiindo  oopo,  laniliom  olla  o  dospoja.  N'o 
cutaiUo  0  coiUonario,  vondo  (luc  lajjrimas 
ardontos  rorrom  pola  faoc  dc  sua  noiva.  Ilea 
eutornocido.  Nao  (|uor  lovar  o  frraoojo  mais 
adiante,  o  laiioando  fora  a  oabolloira,  as 
harhas  postioas,  a  mascara  onrugada  o  o  sou 
manlo  hiilgaro,  moslra-se,  como  e  roalmcnlo, 
uiu  maiuobo  do  trinla  annos,  o  mais  galanlc 
do  imporio  sorvio,  o  proprio  irmao  do  Ikonia, 
lladovan!  A  esta  vista,  a  desditosa  donzolia 
lioa  fria  de  marmore.  Dobalde  sou  irmao  a 
estroita  em  sous  brafos,  dobalde  ella  fixa  sobre 
elle  um  olhar  polrilioado  que  parooc  pedir 
(liic  a  revoque  a  vida.  0  vonono  subtil  a  gola : 
0  por  lim  cae  morta  debaixo  de  milliares  de 
heijos  de  sou  irmao,  que  bem  deprossa  die 
mesmo  se  soute  desl'allecor.  »  You  unir-me 
comtigo  som  pozar,  minba  quorida  irma,  ii'um 
tumulo  oommum.  Dous  nao  (juor  que  iios 
cstojamos  soparados.  »  E  solta  o  dorradoiro 
suspire  sobro  o  poito  de  sou  volbo  pac,  que 
sente,  olle  tambem,  focharcm-se-lhe  os  olbos 
pouco  a  pouoo.  No  dia  soguiuto,  numorosos 
■senboros,  convidados  para  a  boda,  rosliluiram 
a  terra  tres  oadavoros  illustros  e  se  disporsa- 
ram  silonciosos.  Desde  entao  ate  hoje,  o 
castollo  de  Bordnik  fieou  abaudonado.  Con- 
tiiiua  ainda  a  dominar  com  as  suas  ruinas 
.soinbrias  as  risonhas  planieies  de  Syrmia  e  o 
branco  mostciro  do  Ravanilsa;  mas  as  vitas 
das  nuvens  vom  ali  muitas  vezes  de  noite 
colher  novas  floros,  rebontadas  das  raizes 
outr'bora  somoadas  por  Ikonia,  c  que  o  vonto 
das  ruinas  lorna  a  semoar  em  cada  outomno 
nos  logaros  ondo  olla  tornou  a  oncoiitrar  sou 
irmao.  Dopois,  ontranoando  ostas  lloros  nos 
sens  cahollos  azulados,  ostas  musas  da  nossa 
palria  dausam  o  sou  kolo  aos  raios  da  lua 
aniiga  dos  mortos. 

11a  mais  (pie  uma  lioao  para  aprcndcr 
nosta  ballada.  P.oconboco-se  logo  quo  Sub- 
bolilj  ipiiz  nolla  dar  as  suas  ooiupatriotas 
preooilos  de  moral  ospiritualisla.  Demais  toda 
a  obra  se  aprosonta  como  uma  hoiuonagom 
ii  pnreza  dos  costumes  da  familia.  Tudo  isto 
conrorma-se.  o  mais  possivel,  com  a  jjhiloso- 
phia  do  fioii-sh.  E  por  isso  quo  a  exten«a 
ballada  do  Subbotitj  nao  se  distingue  das 
verdadoiras  rapsodias  popularcs  sonao  pola 
degancia  das  t'ormas  c  pola  pureza  classica 
do  cstylo.  E  assim  que  nos  entendemos  que 
0  ymi.sle  dcve  fornocer  aos  poelas  slavos  mais 


bem  inspirados  o  raoto,  o  granite  bruto,  com 
([ue  dies  podorao  edilioar,  pda  abstraccao 
ideal,  nioiiumoiitos  immortaos. 

Com  ostas  rapsodias  puraiuonte  cpicas  con- 
trastam  oniro  os  poctas  sorvios  os  i'ragmontn5 
tiagioos,  OS  soubos  sombrios  de  um  ]iatrinli.s- 
mo  comprimido,  os  gritos  I'ugazos  das  jiaixOos 
viiiloulamenlo  rocalcadas,  os  dillnraml)os  ar- 
dontos e  as  ologias.  como  a  quo  Slauko-Vraz 
iiililula  n  lumlxi  do  Iraiilor  (Grub  Izihiiice), 
ua  ([ual  se  rolloctc  com  onorgia  o  liorror  dos 
Croatas  para  com  aiiuollos  de  sens  irmaos, 
(pio,  voiuloudo-sc  ao  gormanismn,  vondom,  no 
onti'ndor  dollos,  a  alma  ao  domouio. 

Quo  tumba  maldita  o  ai|uolla  guardada  por 
um  corvo  negro  om  continuo  grasnado?  Ave 
do  niiiu  agouro,  por  que  nao  doixas  nunca  cssa 
tumba  solitaria? — Estou  aqui  para  porluri)ar 
0  doscanco  de  um  rcnegado.  O  la,  oapilao, 
as  taboas  do  teu  caixao  sao  posadas?  Tons 
saudades  da  tua  amanto,  do  teu  sabre  ou  do 
tou  lindo  cavallo  dos  combalos? — Das  on- 
tranbas  da  terra,  uma  voz  gomobunda  respon- 
do  ao  corvo  lugubre:  Ai!  nao  tonho  saudades 
nem  da  minba  joven  amanto,  nom  da  minha 
boa  espada,  nom  do  men  cavallo  de  guorra. 
0  que  me  opprimo,  e  a  maldicao  com  (pie 
OS  mous  me  persoguom,  e  a  discordia  que  a 
minha  traicao  somea  por  entre  olios,  e  que 
nosta  bora  anna  irmaos  contra  irmaos.  O 
meu  supplicio  e  ponsar  eu  (pio,  a  troco  de 
uma  pouca  do  gloria,  vendi  a  minha  patria  a 
sonhoros  oxtrauhos.  0  ([ue  mo  devora,  e  o 
tor  prol'orido  ao  amor  dos  mous  algumas  vans 
docoracoes  progadas  sobre  o  mou  jioito  por 
maos  de  gcnoraes  opprossorcs  da  minba  raca. 
Estas  cruzos  malditas  e  que  mc  estao  agora 
esmagando.  Esta  arooJa  de  nm  dia  e  o  fogo 
inlornal  que  me  consome,  e  que  obriga  a 
minh'alma,  expulsa  de  todas  as  partes,  a 
voltar  aqui  todas  as  noitcs,  para  diligonciar 
0  ontrauiiar-se  de  novo  nos  mous  ossos  e  ver 
so  ao  monos  aqui  aclio  algum  repouso.  Oh! 
nao  haver  mao  compadecida  que  dosenterre 
0  mou  cadaver,  quo  o  lance  as  avos  de  rapina 
e  (juo  apagiio  ludos  os  vostigios  da  minha 
so[Hiltura,  para  que  nao  lique  signal  de  mim 
por  toda  a  terra!  —  Assim  se  lamonta  a  alma 
do  iraidor,  mas  nao  ba  ouvidos  que  a  cscutom; 
OS  corvos  grasnadores  sao  os  unicos  que  a 
comprohondom,  e  ((uo  a  iusultam  ....  Deus 
se  amercoe  della  c  ponlia  lim  ao  seu  tormen- 
to!   (( 

Como  acaba  de  ver-se,  ontre  osIllirio-Servios 
0  gouxlo  combinou-so  facilmonte  com  a  pocsia 
oscripta;  e  oncontrou  om  Subbotitj,  em  Stan- 
ko-Yraz  e  em  Oslrojinski  intorpretos  liois  que 
soubcram  o|)erar  osta  allianca  dolicada  sera 
altorar  considoravelmonte  os  molos  populares. 
As  outras  tres  povoafOes  slavas  torao  sido 
cgualmontc  fdizes?  E  o  que  nos  falta  ainda 
examiuar. 

Carilinia. 


211 


ESTAT.STICA    PATIIOLOGICV   DOS  IIOSPITAES    DA   D.V.VEas.DADE. 

nOME.NS.—  ENFCRHARUS  DE  MOLESTUS  INTEBNAS- 


■TRDIESTnE    DEJLLIIO  A  SEPTEMBllO  DE  I8of. 


EDADES 


47  I'Vhre 


6  Fflire  iierxo^a       .... 

5  Kilire  g.islrica        ...!!'.] 

"  "  Aliccsst)   do  fifjado 

"         •>         Alitesso    n'iniiu  pirnn  ...'.',' 
"          Co, 1,1,  extninho  iia  coriua  csnucrda 
inlerrnilk-iilc '         "  .     . 

"  "  Kheumnliimo  iirlinilar  chroiiic'o 

**  Bronchite       .... 

Edcmicin  na>  eitrcmiilaJca  infe. 

rierfg         

"  "  Ohslr:,r^i'io   do    ba^o      .       '.      ,      . 

^  ••  (Mslnicim  do  boro-Uronchile     '. 

"  '  crmes    inletthinis     .... 

5  Fclire  inli-rnnllcnle  ga.-lrica      .     .  """""■     •     • 

2  Allium 

13  Hiieiruiuoia *' 

»  Diarrhea  ....  

1  PricnniQnia  chronica  ..,'*'*"''* 

6  f'lciircsia 

3  G..slrile       .      ." 

2  Gaslro-cntprite 
I    KiiliTu-nenluiiile  . 

1  Hepalile      .     . 

2  Oplilahnia  .      .      . 
1    Ervsrpi-la  na  rabei;a 

3  Er)M|,cla  pill,. 


1    I!l,   ,        ,     •      ''''"t'"o8''    "as  ejtremidadcs 
I   liMciiiiiaiismo  aiticnl.ir 
10   Klkllnialisiiiu  , 


arlicul^ir  chronico 


Diarrhea 


2  Eheiimalismo  muscnlar 
5  Bruncliile 

"  Hirysipcla  na  face  .     .     ', 

.  D  '     ,  .       ^'"'■as  tiu  trachea  >  .   . 

3  Urunrbile  cbruiil.-a 

E    17    1  "  I'leureiia    .     ,      . 

b   tnibara^o  gnslrjco 

T    n,'!,„„      1  •    "  '3hatrucp1o  do  baco 

1   Ejiilt-psia     .     ,     ,     , 

4  Ciaslralsia  .      _ 

1   A(iij|iloxia  .      .      ,     ' 

1  Paralyija  peral  inromnlela' 
1  I  aralj,sia  do  lado  esquordo  d 
a   Faraple^'ia  . 

1    Ainaurose     .      .      ,  

12  Tisica  jiulmonar   .     ,      ' 

Obilrueiao  do  bafo-Atcile 


squordo  da  faco 


1  Tisica  loryngea 
8  Asfile    . 


"     Albuminuria 
3  H^'drothorax     . 

"  Anatarca 

o  Anasarca 


J  Heraorrhoidas 


1  Ciilarrho  vesical 

2  Diarrhea     . 
1   Anemia 


1U7 


*«  lericia yjljcesnn  x//.   ff »„ 

.'erlrophiadoi 
6  Obslrucv-rlo  do  ba^o'VT"'"™'""'''''^"'^""""""'" 


1  H 


■fS30  do  Jigado 


bC°!:!":;:'t'?"^-  -  /^vr«u„...  i  Weu„ 


Cancro  do  eslomago 

lilfplianliase         ~  

Mu!e..ias  „ao  clas-sifiiadas  (nm  e-iirou  m^riluadoi     i 


15 


CJ 


1 
1 
1 
32 
1 
1 


2 
1 
5 
2 
12 
1 
1 
6 
3 
2 
1 
1 
2 
1 
3 
1 
9 
1 
2 
3 
1 
1 
2 
1 
5 
1 
1 
1 
4 
1 
I 
1 
5 
1 


43      103        40 


187 


212 


Movimettlo 


V.W^ViMW 

I'jitriir;ini > 

S'liram 

Fnllecernm 

Relac;rio   Jo3  falleciclns  para   os  elllrad.is 

para  OS  saiiios 

para  toiljs  os  Iraladus  (exi&lentfs  e  cnlmdos). 


JlltllO 


Motiniento  rf«  lo'tns  as  etiferiiia^-ias  ths  fiespitties 
{la  universiitaite  em  todo  o  tririttslre. 


Evisliam 

Enlrarain 

Sairam « 

Falleccrnm 

ReIa(;.lo  dos  fallrcidos  para  03  entrndos  . 
para  03  saiilos 


]:ara  tndtjs   os  (ral.idos  (exis'enlcs  e  en- 

traiKis) 


Ho  mens 


103 

393 

328 
50 

1.7,9 
1:6,5 

1:10 


37 

72 

50 

9 

1:8 

1:5,5 

1  12,1 

Mnlherts 


70 

240 
«)0 
22 
1:10,9 
1:9,5 

1:14 


Observo^iles  imteorologicas.  ' 


(Temp 
Media  s 

(Altnr, 


nperatiira  atmospherica  at)  uieio  dia  . 

lira  liaronielrica  a  0.°  Ceul , 

Venlus  preiloaiinantes , 


luslilnlo  Vol.  3,  N.°  U. 


Jijoslo 


4  9 

50 

43 

18 
1:3.1 
1:2,3 
1:5,11 


Setembi  0 


1.5,4 
1  3,4 
1  I!. 4 


I  lo  melts 


U 
1 
1 
0 


Miitheres 


Jl.l'lO 


21"  cent. 

mil 
75i,7i6 

NO.  O.  e 
J  NNO. 


Agosto] 


Trhitt  slr 


cent. 

23,"  12 

md 
751,60.1 

NO.  O.  e 
ESE. 


aio 

145 
42 
1:5 
1.3.4 
1:5.8 

TodoB 


190 
640 
5.i9 
72 
1:8,0 
1:7,4 

1:11.6  1 


Sep'enibro 


23  64 

mil 

75i,773 

S.  SE.  e 
NNO. 


NeslP  trjmeslre  ve-se  maior  morlaliilude  dn 
que  a  ordinaria  nos  lio^piiaes  da  uiiiverjida- 
de ;  e  esla  dift'oreiK^'a  aiiida  se  lorna  mais  110- 
l.Tvel  na  morlalidade  dos  doentes  de  pueii- 
iiioiiia.  No  Irimeatre  passado  vi  ()iie  a  iiialor 
rnorlalidade  dos  piiuiimonicos  liiilia  recaido 
fill  doentes  que  eiilrardin  no  hospital  coin 
niiiitob  dias   de   moleslia :   agora    e  provavol 


que  subsista  a  inesma  raz.'io;  mas  nao  o  posso 
a^sevorar,  porque  o  men  eslado  de  saude  iiii- 
pcdin-ine  de  f'azer  o  servi^o  do  liospilal  em 
grande  parte  do  trimeslre.  'J'ainbeni  por  este 
inotivo,  nao  posse  avaliar,  conio  de^cjafa,  as 
cansas  da  rnaior  rnorlalidade  era  todo  o  lioipi- 
tal,  no  tnesmo  trimeslre. 

A.  A.    Di    COJTA   SIMOES. 


ERRATAS  DO  VOL.  3.%  N." 


Png. 
89 


r.inh. 


28.  29  e  30 


47  e  47 

Vento«  prcdomiii 
dilos  de  Jiiohu 


de  Ma 


En-OS 

i  Snrna 

I  OhstrtieQi'io  do  Oago 
(2  Eiiiliararo  gaslrico 
.^8   lironrliilu 
(2  Hroiicliile  chronicn 
S  Anasarca 
f  Anasarca  Aseite 
)     N.O.  S.  e  SO. 
N.  O.N.eS.O. 


Eiitendas 

OHtme^ut)  do  bfti^o 

Stn-tuf 

B   Broncliilo 

^   lirnucliite  chronico 

2  Kiiibararu  irastricQ 
Anasarca 

f»       AscUc 
NO.,  E.  0  SO. 
^•0.,N.  c  SO. 


I 


(D  3nstitttto, 


JOUNAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


CMVERSIDADE  DE  COIHBRA— PROGfiAMMAS, 

FACULDADE  DE  DIREITO. 

1853—1834. 
1."  ANNO.— 1*  CADFJRA. 

HtiTOSIA   niZRAl.     DA  JrRI^PRFDGNCIi ,    E    A   PAKTICt'LAB 
DO    DiaKlTO   UOMANO,    CANOMCO   E  PATHIO, 

Lenle — Or,  Joaquim  dos  Reis. 

COMPBSDIO  — MAHTISI  ,  OKDU  HISTORFaE  JURIS  CIVILIS  , 
COMMBRICAR  1844;  —  B  M.  A.  C.  DA  ROCHA  ,  ENSAIO 
KOBRB  A  HISTOHIA  DO  GOVERNO,  B  DA  LBGISLATAO 
DR    FOHT^GAL,    COIHBRA    1851. 

Eosino  primeiro  a  no^uo  da  natureza,  Gm  e  o)>jeclo  da 
Historia  du  Direito  Romano;  a  iitilidade  d'e^ta  ,  as  8iias 
(livisdes ,  e  o  mellior  melhodo  de  a  estudar  |  indjcandu 
OT  livros  necessarius  para  esle  Om  ,  lanto  aniigos  cumo 
modernos  ;  e  depois  fa9o  a  divisao  da  hisloria  em  epo-; 
chas ,  aegundo  os  diversos  auclores. 

Dou  uma  iiulieia  breve  dus  costumes,  governo  e  leia 
das  na^Ses  ,  que  prerederam  us  Romanos  ;  dL'(endo-me 
niais  na  historia  dus  Hcbreus ,  Eiypcios  e  Gregos  ,  por- 
que  8uas  k-is  serviram  de  foiiUs  as  romanas. 

Na  historia  romana  dou  ,  em  cada  uma  das  epochas , 
noticia  do  f^ovemo  e  suas  allera^Ses ;  do  2;enio ,  doa 
Dosluities  da  na^-ao  ;  magistrados,  fonles  das  lels,  codiiros  , 
e  ealado  da  sciencia  do  Direilo,  continuando  com  esta 
hiatoria  no  imperio  oriental  ale  ;i  sua  extiuc^So,  e  tam- 
hem  com  a  do  iifcpcrio  occidrntal  ;  —  dos  povos  que  o 
conquistaram,  e  du  legi-ila^ao  propria  dos  Godos ,  Lom- 
bnrdos ,  e  outras  na^oes  ,  que  n'clle  se  estabeleceram. 

Moslro  (pie  no  secnlo  12.°  foi  o  eslndo  do  Direito  Ro- 
mano rcnovado  por  Irnerio  ,  e  continnado  por  Accursio  , 
Barlholo ,  e  Cujacio  ;  quaes  os  methodos,  de  que  usaram 
estas  escbolas  ;  u  finnlmente  como  o  Direilo  Romano  ec 
tornou  conliecido  em  (oda  a  Eurupa ,  e  eiitre  u6s. 

Passo  depois  a  historia  do  Direito  Porlui,'uez  ,  que 
divido  em  seple  epochas  com  o  compendio.  Exponbo  na 
primeira  o  eslado  da  Lnsitania  antes  da  conquista  dos 
Romanos,  c  quat  era  a  sua  furma  de  ^o\erno,  rcligiao  , 
civiliza^rio ,  riquezas,   coslunir>s  e  h-ls. 

Na  se^unda  epucha  conlint'io  a  tiii^toria  da  Lnsilania  , 
quando  foi  redwzida  ;i  provincia  romana  ;  qua!  foi  o  e>la- 
do  d'eela  provincia  no  tempo  dos  imperadori-i ;  a  sua 
furma  de  goicrno,  leis  ,  civilizn^au,  prosperidade  e  reli- 
giao  ;  como  se  introduziu  a  cbrislii ,  e  os  factos  notaveis 
da  E^reja  lusitana. 

Na  terceira  epocha  relalo  a  invas?to  doa  barbaros ,  o 
CBtabelecimenlo  dos  Godos  na  Lnsitania,  e  a  sua  fueao 
com  OS  Romanos  e  indigcnas,  e  qual  foi  a  sua  forma  de 
governo;  a  aucloridade  dus  concilios  ,  dos  bispos  e  dos 
nobres  ;  a  Uisturia  das  leis  antiiras  dos  Godos  ;  do  codigo 
Wisigolhico,  da  rebgiao  doe  Godos  e  das  egrcjas  mais 
anligas  ;  dos  concilios  e  bispos  nolaveis  da  Lusilanta  ale 
ao  principio  do  sfculo  8.° 

Na  quaria  epocha  dou  nolicia  da  invfisUo  doa  Sarrace- 
no8  ;  da  ongeui  e  jirogresso  do  rcino  de  LeSo  ;  do  eslado 
da  Lnsii.inia   n'esle  tempo;  da   sua   forma   de  governo, 

Vol.  III.  DEZEMBao  1."- 


don  concilioR ,  do  anj;mento  do  poder  do  clero  c  rios 
nobres;  e  Onalmpnte  da  legiala^Jlo  e  do  fAro  de  Leao  , 
do  estado  da  Egreja  lusitana  e  do  progresso  da  vida  mo- 
nastica. 

Nn  quinia  epocha  apresenlo  a  historia  da  funda^ao  da 
monarchia  portugneza,  e  da  separarSo  e  independencia 
dePurtugal;  do  seu  governo,  le^isla^So,  adrainistraqSo 
<ia  jiK'ti^M  ;  do  extraordinario  poder  ila  ordem  eccleaiasti- 
ca ,  do  poder  da  nobreza  ;  e  Gnalmente  do  eatado  da  ia- 
dustria  ,  instruc<;iJo  ,  e  da  Egreja  bisitana, 

Na  sexla  epocha  refiro  qual  foi  a  forma  de  gOTcrno ,  a 
snccessiio  da  cnrcja ;  a  Jnfluencia  da  c(Vte  de  Roma  sobre 
as  Cdusas  de  Portugal ,  a  adraissao  indislincla  do  concilio 
de  Trenlo  por  D.  SobasllSo,  e  o  recnrso  a  cor<5a  j  e  o 
eslado  da  nolireza  ;  a  hisloria  das  Ordena^oes  AfTonsinas 
e  Mannelinas ,  das  reformas  seguintes  da  leg(sla);3o  e  da 
coiIec(;ilo  de  Duarte  Nunes  de  LeSo,  da  reforma  dos  fo- 
raes  por  D.  Manoel  ,  e  da  lnslruc(;3o  e  juriaprudencia ; 
da  introduc^'io  da  inquisitjao  em  Portugal  ;  da  separa^ao 
da  Egreja  porlugneza  da  hespanhola  ;  do  eslabelecimenlo 
dos  Jesuilas  em  Portugal  ;  e  dos  bispos  porluguezes  nola- 
veis. 

Na  aeptima  epocha  conclno  esia  materia  com  a  histo- 
ria <Ia  occiipa^ao  de  Portugal  por  Philippe  II.  deHespa- 
nha ,  e  da  acclamai^ao  do  duqne  de  Bragan^a  em  1640; 
da  forma  do  governo  ;  da  ordem  lio  clero  ;  da  ordem  da 
nobreza;  da  legislarao  e  da  induslria  ;  da  fazenda  publi- 
ca ;  da  iostruc^-So  e  jurisprudencia ;  e  finaluente  da 
Egreja  lusitana. 

Por  falta  de  tempo  limilo  a  Iiisloria  do  Direito  Cano- 
nico  a  uma  nolicia  breve  das  colU*c{;oes  do  mesmo  direi- 
to ,  e  deixo  o  seu  mqjor  desinvolvimento  para  oa  doit 
annoB  du  curso  de  Direilo  Canonicu. 


•*^^ 


1."  ANNO.  —  2.»  CADEIRA. 

DIREITO   NATURAL    OU     PHILOSOPHTA    DB    DIREITO, 
B   DIREITO    DAS   UE.NTBS. 

Lenle — Dr.  Vicente  Ferrer  Nefo  Paiva, 

COMPENOrO  — •  V.  p.  N.  PAI7A  ,  ELEMKNTOS  DB  DTREITO 
NATURAL,  OU  DE  PHILOSOPHU  DE  DIREITO,  COIMBRA 
1U50  ;  —  E  RLEMEMTOS  DE  DIREITO  DAS  GH.-<TB8, 
COIUDRA    1850. 

DIREITO   NATURAL. 

O  compendio,  nproveitando  a  raelhor  doulrina,  que 
86  enconira  noa  princlpaes  escriptores  de  lodas  as  escho- 
las ,  das  quaes  da  conta  em  uma  lal)ella  ,  segue  princi- 
palmente  a  efichola  allema.  E  dividido  cm  qnatro  partes. 

Na  part,  I.  Iracla  du.s  principios  geraes  de  philoso- 
phia  de  direilo,  e  i  subdividida  em  Ires  se  echoes :  na 
].*  occupa-se  da  no^ao  ,  fonles  ,  characteres  e  subsidios 
do  Direilo  Natural  ,  na  2.*  dos  limites  e  divisao  do  Di- 
reito Natural,  e  na  3.*  da  ulilidade  e  systemas  do  Direi- 
to Natural. 

Na  part.  II  tracta  do  Direito  Natural  absolulo,  ee 
subdividida  era  Ires  8ec<;5es  :  na  1/  tracta  dos  direiloa 
absolulos  ,  na  2.*  da  natureza  dos  direitos  absolutoa,  e. 
na  3,*  das  obriga^Ses  absolutai. 

-1854.  NcM.  17 


214 


N.i  pari.  Iir.  Ir.icta  d<»  Direllu  NAlural  hypothelico  ,  e 
t,-  suliilivitli.Ia  em  sppte  (iec(;ue8 :  n.i  1.'  tracts  da  acqiiisi- 
V'lo  imnKHliata  ,  na  2.*  (Jus  dirt-itos  c  exliiic^to  <In  iluiiii- 
nio ,  nrt  3.*  das  Iceues  do  duininio  ,  na  4.*  da  ac(jiiisi(;ilo 
mediata  —  coiilraclos  em  {jeral,  na  5.*  das  diversas  enpe- 
cies  de  pactus ,  na  6.*  da  suciedade  em  geral  ,  e  na  7.* 
da  fAmilla. 

Na  part.  IV.  irarta  das  garanliaa  do  Dircilo  inlernas 
e  e^ternaji. 

Nas  miiihjis  preIeci;oes  oraes  sifro  principalmenle  as 
durilrinas  de  zeilek  ,  KU-ifsB,  ihukss  ,  jouffroy  ,  db- 
J.IME  ,   etc. 

OIREITO    DIS    GE.NTES. 

O  compendio  fiinrla-se  nus  principios  de  Direito  Natu- 
ral do  compendio  anterior,  t\o  qiial  e  iima  conlinn«(;5o  ^ 
applicando  o  Oireito  Natural  puro  us  rela^ues  interna* 
cionaes.  E  di\ididu  em  cincD  partes. 

Na  part.  J.  Iracta  dos  principios  ^eraos  do  Direilo  das 
Genlf 8  ,  e  e  sididivldida  em  dims  ser^'ue?  :  na  1.*  farla 
da  noi;aOf  orig^em  e  cliaracterea  du  Direilo  das  Gentes  , 
e  nft  8.*  (hi  soberaiiia. 

Na  part  Jl.  (racla  dos  direitos  daei  na^oes  em  tempo 
dc  paz,  e  «  £nljdi\idi<ia  em  .pialro  sec^-oeis :  na  1.*  traeta 
"li>  Iransilo ,  ita  2."  do  ac^lo,  ua  3.°-  do  coiumiTcio,  e  ua 
4^*  dos  exiraiiLreiros. 

Na  part.  111.  tracia  dos  direitos  das  Da^uPt>  em  tempo 
dc  gnerra  ,  e  e  snbdividida  em  nove  s^ec*;**' »  :  na  1.*  Ira- 
cta dos  principioi  yeracs  do  dirrilo  da  guerra  ,  na  8.'*  doa 
meius  de  faacf  a  giierra  ,  na  3.*  dos  prisioneiros ,  na  4* 
das  repreaalias  ,  oa  5.*  dos  Iransfugas  ,  na  6.*  dos  rorsa- 
rias  e  piratas,  Dft  7.*  do  bloqueio  e  sitio  ,  na  8."  da 
ncutralidade  ,  e  na  9.*  da  virluria. 

Na  part.  IV.  tracia  dos  raeitia  d'eslabelecer ,  conser- 
Tar  e  reslabelecer  a  pal  ,  e  e  snlxJividida  em  nove  sec- 
^oes ;  na  1."  Iracta  dus  tractados  em  gera!  ,  na  S."  dos 
Itactados  de  comaiercio  ,  na  3.*  dos  lrncta<Io8  de  federa- 
rao  ,  na  4.*  dos  Iraftados  d'alliari<;a,  na  S.**  daa  Irfjroas, 
na  C*  do  »a|vu-conducto  e  da  Mlva-fruarda  ,  na  7.*  da 
capilnlatjuo,  na  »,•  dos  tractados  de  jwz,  e  na  9.*  dus 
se^iiiranras  do«  tractados. 

Na  |>art.  V.  tracia  das  pesHoas  encArrcj:adas  d'eslabe- 
lecer ,  conservar  e  rvstabelecer  a  paa  ,  e  e  snbdividida 
eiu  ciuco  sec(;dt:s  :  na  I.*  tracia  dos  aitentes  dtplomalios  , 
na  S.*  dos  consules  ,  na  3.*  dus  medianeiroi  ,  na  4.*  dus 
arbilros  ,  e  na  3,*  dos  coiipreseog. 

Tambem  tem  nm  app^^ndix  sipbre  a  ettquela. 

Em  minhas  prelec(;ties  oraes  siso  de  preferencia  as 
iloulrinas  de  vtTTEL,  maktuns,  bigcklme,  s.  p,  fer- 
HEiKA,  otr.  ,  occommodando-as  ang  principios  de  Pliilo- 
fophia  de  Oireilo  anterioraieule  ensinados. 


l."  e  2."  ANNO  — 3. »  e  4.*  CADEIRAS. 

CURSUS    BIBNNALIS    iURlS    ROMANI. 

Profcisorea  _  J  O.  jiat^nins  Nmic*  de  Carvnlho. 

\  D.  Fridtricus  de  Azevedo  Faro  Xoronha* 

COiiPBNDIUM  — D,   JO.    P.   WILDRCK,   I.\STITUTI0NE3  Jl'BIS 
CIVILIS    HEIWECCIA.NAB,   CO.NI.MBRICAE    1849. 

CO-HSPECTtS  PRAELECTIOSUM,  QUIBt'S  PRIMA  ELEMB\TA 
JURIS  CIVILIS  RO.MAMI,  JLXTA  UHDINE.M  INSTITUTtO- 
MM  Jl'STIMANI  IN  ALMA  COMMBRICENSI  ACADEMIA, 
PHIMO  ANNO  CURRICULI  JURIS  JUSTIMANBIS  «OVIS 
TRADUATtR  : 

Doceute 

D,  Antonio  Nutict  de  Carvalho , 

Reginae  Fidelissimae  a  Consiliis,   Juris  Civilig  Profes- 
sore  Publ.  Ordin. 

MATERrEM  SUPPBDITANT 

Inslilutiones  Juris  Civilis  Heineccianae ,  erawidalae 
atque  reformatae  a  d.  jo.  petro  waldeck,  jurecon- 
suUo  eximio,  et  olim  facnllslis  jnriilicae  ffoUin-ensis 
ornamento.  Edilio  quinta  conimbriceneia ,  typjs  academi- 
cis  tvulgata  ,  anno  1849  ,  uno  vol.    8.  moj. 


ti  Ut  omnia  inslllutionit  ncademicae,  ila  ct  Imjits,  tit 
«  qua  ver-^ainnr ,  ta  est  iiulules  ,  «l  lis,  (pii  ea  ulimtiir  , 
r«  tunc  denium  fnirtiiosa  .sit ,  el  sahititris  ,  si  pracler 
(4  idnneam  praeparalionem  ,  et  in  undicndo  dili;;entiain  , 
<i  domi'sticae  repetitionis,  el  indiislriae  atlflidiiitatem  aiilu- 
it  beanl ,  t<im  nieililiindo  de  rebus  ,  qiia.>i  in  srholis  co^no* 
It  verinl  ,  tuin  libn-s  boiiae  frii;:is  liruiiibus  scriptos  sednlrj 
«  It'Si-ndii  et  conferendo.  »  H.tnbold,  Inst,  Jur,  Rom. 
Priv.y  PruUg.  cap.  3.  ^S.  34. 

PROEMIUM     INSTITL'TIOM'.M. 

Prneco^nita  historiae  liternrioe  ad  i^tndiiim  Juris  (,'i\i' 
lis  vnlde  ni'cessaria.  —  N'otilia  liislorica  Corporis  Jnria 
Civilis,  et  mutiva  rolb-itinnis.  —  De  Jii.sliniano  colle- 
cliiMiis  aiirture.  Corporis  Juris  (Civilis  partes,  —  Adpen- 
dices  Corporis  Juris.  Siibtiidla  ad  penitiorem  Juris  Ho- 
m«ni  intf  llectnm  adNequembiin  niasime  c<mdiicentia : 
flftii  instiliilionnm  cominenliirii ,  el  fniirnirnta  Valicana 
ncnissime  reperta  :  paraplirasis  graeca  Theophili  a  Kei* 
tzio   laline  redtlita. 

Usus  hodiernns,  el  anclorilas  Jnriii  Civilia  Romani  in 
compleMi  apud  Losilanos ,  el  sini;nlariim  eju-«  partium 
iider  se.  De  opiimis  editionibus  Corporis  Juris  lum  glos* 
sail  ^  dim  non  glossalt ;  in  primis  Inslitiitionnm.  De 
iniido  alle^'andi  leAliis.  De  Juris  Civilis  interprelibns  nc- 
ctirnlissiniis  et  receDtis<^iinis ,  nlqne  de  eormn  scriptis. 
Dfiiiqiie  de  optima  melliodo  diacendi  Juris  Civilis  cle- 
ment a. 

LIBER  I   DE  PERSONIS. 

PROLEGOMENA. 

T.  I.  De  Justitia  et  Jure. —  Vocabnli  juris  signifira- 
liis  freqitenliores.  — Jnrisprndenliae  nolio. — Jureconsid* 
111,-!  \eri  nominis  qiiis  ?  —  in  quo  a  Le^iilej.i  et  a  Rabnla 
illfTernt.  Onicium  jiireconsnlti ,  —  dotea  ,  in  civitale  prae- 
stanlia. 

De  lesnm  inlerpretatione ,  et  earnm  applicationc  ad 
facta.  De  Jiislitia  —  in'erna  el  externa:  haec  el  non  ilia 
polios  pro  fine  Jiirispnidenttne  Iiabenda. 

Tria  Juris  praecepla,  secundum  ^.  3.  I.  h.  I.  et  fr. 
10.   ^'i.  J.   D.  h.  t, 

T.  2.  De  Jure  Natiirali,  Gentium,  et  Civili  ad  men- 
teni  Iclurum  Romanorum  p.trliliones  Juris  :  —  I.  LepaJi**,  ' 

—  Jus  Piildirum,  et  Jus  Privatum;  Jus  Privatum  Iripar- 
tilnni  ,  Nalurale,  Gentium,  Civile.  —  5!.  Doclrinales, 
rt-speclii  oriiflnis  ,  fundamt-nli  ,  ol>jecli ,  oblipatiunis. — Ju» 
ex  scriplo,  ant  non  ex  scripio;  sen,  nt  vulf,'o  diciUir, 
Jus  scriptnm ,  et  Jus  non  scriplum.  Pontes  Juriii  Humani , 

—  scripti  et  non  scrtpti.  Oi'jectum  Juris  tria: — perso- 
nae  ,  res  el  oblig^aliones  ^  acttooes.  Divuio  Intilitntiumini 
in  quatuor  iibros. 

DE    PERSOMS. 

T.  3  —  T.  De  Jure  per.-'onHfnm.  Persona  qnis?  in  Jnre 
Rom.ino  homo  ct  persona  dififemnl  ■ — stains  quid,  et 
quoluplex  — Status  naturalis—  ejus  potiores  species.  — 
Slaliio  citills: — pnblicus,  et  priv.-itus.  De  raidtis  demi« 
nntione.  De  servis  secundum  Jus  Romanum  Jiialorice,  et 
summalim,  —  Conditio  servorum  :    conslitnlio  servitnlis: 

—  nativilale  ,  —  faclo  ex  Jure  Gentium  veteri :  — ex  jure 
JQstinianeo  in  poenam 

De  in;,'rnuis  et  liberlinis.    De  mannmissione  servonim  : 

—  modi  maniimttfndi  :  1.  civiles  : — S.  naturales.  Con- 
ditio liliertinorum  —  palroni  :  —jura  palronatus.  De 
nclionibns  circa  slaUim  libertalis  —  el  civilalis. 

T.  8.  De  his,  qui  sui  ,  vel  alieni  juris  sunt.  FamilJae 
romnnac  constitnli').  Personae  sui  juris :  —  paler,  raa» 
lerve  familias:  personae  nlieni  juris;  —  liberi,  qui  patriaor 
polcsUti  ; — eervi  et  ancillac  ,  qui  dominicae  potestati 
subsnnt. 

Dominica  poleslas  —  in  personam,  et  in  bona  servo 
rum.  — Ejnsmodi  poleftlatis  mulHlioncs. 

T.  9.   De    patria    pnlestate.  —  Nolio ,    el    ratio.   Joro  . 
patris  Tamilias  in  prrsonas  liberornm,  — et  liorum  in  bo- 
na. Dc'triplici  raodo  adquirendi    patriam  poteslalem  : — 
nempe  ,  nuptiae,  legitinialio  ,  adoplio. 

T.  10.  De  nupliis.  Sponsalia  :  — jus  et  modus  ea  con- 
trahtndi ,  —  vis ,  —  dissolulio.  Nnpliarura ,  matrimowii  » 
et  conluberuii  diacrimina  jure  veteri  — ct  sub  Justinianp- 


215 


Matrimonii  forma  —  impedimcnla,  late.  Nuplioe  inceslae, 
—  jndecnrae,  —  noviae.  KITeclufl  matrimunii :  —1.  reape- 
clii  coiijuguni :  —  2.  respeclu  libcrormn.  Dissululio  rua- 
trimonii. — 

De  ilole  ct  paclis  dotnlibus,  Dslis  iiolio  et  species: 

jura  ,  —  bona  puraphernalia.  —  Pacta  dulalia.  — 

De  le|;ilinialioni>  generaliter  :  —  pjus  origo  ,  — modi 
Irgitjamiidi  — specialiler  :  I.  |)er  siil)9eqiiens  malrinm- 
nirnn,  —  2.  per  curiae  ilaliunem  ,  — 3.  per  rescriplum 
principis  : — earnni  etTertiis, 

T.  11.  De  adoplionjlius.  De  adoptione  strirle  sic 
dicia,  —  de  adrogaliune.  —  Forma  ailoplionis, — el  adro- 
ftationis.  Jus  adoplandi :  — elTeclus  aduptionis  —  el  adro- 
gatioiiia  jure  novissimo. 

T.  12.  Qiiiliiiii  modis  jiia  patriae  potestalis  sohiliir:  — 
1.  morle  su|.j.-clurMm  ,  — 2.  .speciali  ie;i.*  disposilione  , 
—  'i,  voliinrale  pafris  :  . —  a  adrufalione  ipsilis  palris. — 
6  datione  GUI  in  adupliuiieiii  plenani ,  —  c  eraancipaliu- 
ne:  1.  emaocjpalio  vetus  ,  sen  legiliiua  ,  Z.  anastasiana , 
3.  jii.sliniaiiea. 

T.    13.  De  lulelis.    Tidelae   nolio,  — sul'jecli,  1. 

pupillus,_2,    lulor.   Modi    coiislilueiidae    liilelae  Irea  ; 
unde  tutela  le.ilanientaria  ,  Icsilima  ^  rl  dativa. 

T.  14.  Qui  leslamerdn  tuloreii  dari  pusntinl  ,  s\\e  de 
tutela  testanienlaria. —  I.  Ejus   iiuiio   et  origu  ; — 2-  jus 

dandi  tulureiii  te.-*lanienlo  : — 3.  modus  illud  exercendi  

Vis  tnlelae  leslaiuenlodatae  :  —  perfeclae, —  imperfeclae. 
T.  15.   De  le:iitima  atfiiaturum  luteta  :  —  ejus  indoles 
jure  ^eleri  , — jure  novo. 

T.  16.  De  capitt.s  deminulione  —  maxima,  media,  et 
minima.  Causae  capitis  iJentinulionis  ciijusque. 

T.  17.  —  19.  Aliae  le^iliniae  lulelae  sjiecies  ; — patro- 
norum  . —  parenlum  ;  —  fidiiciaria  tutela. 

T.  20  De  .■Vtilranu  lulore,  el  eo ,  r|iii  elc  le^e  Jidia 
et  Tilia  ilalur,  vel  de  lulela  daliia.  Principia  Juri.s  Ko- 
mani  circa  huju.smodi  tulclao).  Jus  dajidi  tuiores  dalivos  , 

—  exerciliuni  liujus  jtnis. 

T.   21.   De  auclnritale  tuloruni. — Nolio  et   ratio: 

olliciiun  luluris ,  —  1    in  suscipienda  intela,  —  et  in  admi- 
imtranda  ; — 2.  modus  earn  interponendi  ;  —  3.  ne^olia 
quibus  adhibeliir.  "        ' 

T.  22.  Quibus  modis  lutela  finilur.  Causae,  1.  in 
pupillu  posilae.  —2.  in  lulore :  — 3.  in  modo  consti- 
tiitionis. 

T.  23.  De  curalorilMis  — I.  Nolio  ciirae,  —  2.  con- 
slilulio,—  3;  personae,  quae  ei  subsuiil  ,  —  4.  olTlcium 
curaloris,   5.   nMdus   finiejidi  curam. 

T.  24.  De  .«aliidalione  tulorum  vel  ciu'atorum  Notio 
et  species   cautiouum.  —  Satisdalio   a  future  praestanda  : 

—  ab  ea  iinmunes.  — Vis  salisdalionis. 

T.  25  De  Hxciisaliorie  lulurum  vel  c uralorum.  Excu- 
tatiunis  notio  ,  el  species.  —  Causae  commi.nes .  —  ea'isae 
curae  propriae. 

T.  26.  De  suspeclis  liiloribus  el  rurnloribns. — Tulo- 
ri»suspecti  nolio.  —  Puslulalio  susjiecti  —  suljecla,— 
»i»  po&tulatiunis, — exlinctio. 

LIBER  II.  DE  REBCJ.S. 

T  I.  — 1.  De  reriim  divisione: — 2.  et  adquirendo 
rcrniB  ilorainio.  Uei ,  pecuniae,  bonoriim  nuliones  in 
Jure  Civiii.  —  Rcrunj  divisiones  illustriores  Icjaleg  et 
ductrinales.  — 

De  possessione.    1.   Nolio,  —  divisiones   variae. De 

•dqui^iliuue,  conservalione ,  aiui^soue  po>.sesslonis.  2. 
Jura  poseessionis ,  — remedia.    Do  jure  rerum  in  sc-nnre. 

—  Jus  in  re,  seu  in  rem;— jus  ad  rem,  sen  in  perso- 
nam  Nuliones  ,  — indoles    —Juris  in   re   speci.'s  :    1. 

doroininm  stride  sic  dictum  ,  2  jus  hereditarium  ,  3.  jus 
lervilutis  ,  4.  jus  pijtnoris. 

T.  2.  De  ad.purendo  rerum  dominio.  —  \utio  ilominii, 
jura,  quae  ejus  csscnlianr  conslduunl.  —  Div  isiones  va. 
riae.  —  Adquisilio:  —  liiulus  et  modus.  — Tiluliis  du- 
lilej;:  — 1.  Jus  Gentium, — 2.  Jus  Civile.  —  Muili  duo 
quoque  genera:_l.  naluralis,  — 3.  civilis.  —1.  Modi 
iiahirales,  sen.  Juris  Gentium:  —  i.  ..ccupatio ,  —  2 
adcessio,  — 3.  trad.lio.  — 1.  De  occupalione  in  eenere  : 

—  species:  — si;;illati.n  thesauri,— et  rerum  hoslilium. 
— «.  De  adce,SM,ne, —notio, —  divisio   in  naluralem  , 


induslrialem  ,   mixlam.  —  Variae  cujnsque  specie!. —  3 
l>e  IradiUone  ,  —  notio  ,  —  «ut.jecli.,  —  modus.  — 


De  aclionibug  ex  dominio  oriunjij —  I.*  reiviudiialio 

—  2.*  actio   Publiciana, 

T.  3.  De  scrvilutihm  praediorura.  —  Pci^'ilutis  nolio, 

—  et  genera:  —  1.   servitules  rerura  ,  —  S.    personarum  : 

—  illarum   proprielales  ,  —  duplex   genus:  —  exempla. 

— •Communia  servilulnm  praediorum  :  —  I.  codstitulio 

2.  Amissio  ,  —  causae  amissionis. 

T.  4    De  serviliiiibiis  personarum.  —  I.  Ususfruclus 

—  notio — objeclum,. —  moili  eura  consliluendi ,  — jus 
u.(ufrucluarii  — commoda,  — obligaliones.  —  Modi  Dnicn- 
di  iisumfructiira. 

T.  5.  1.  De  ulll,  2.  et  habilalione.  —  De  actionibils 
occasione  servilutum  compel'eiilibua  :  —  1.  a.  coiifessoria  , 

—  2.  a.  negflloria. 

II.  Modi  adquirendi  (ToDiinium  civiles  :  —  I.  universa. 
les  .  —  2.  sinpulares  ;  — sj)ecii'S  ulrurunique. 

T.  6.  De  usucapionibus,  et  longi  teuqioris  pracscri- 
plionibus.  —  Prar.scripliunis  nolio  :  —genera,  —  I.  exiin- 
(tiva  —  2.  adquisiliva  ;  —  hujus  species, —  1.  ordinaria  , 

—  extraordinaria  :  — illius  objeclum  —  Icgitima  posses- 
sio,  —  legilimiim  temjius,  —  cuutinualio  jiossessionis.  — 
Praescriptio  exhaordinaria  ,  seu  longissimi  lemporis  ;  — 
species — !.•  30  annohim  ,  —  2.»  40  annorum  ,  — 3.* 
100  annornm.  —  De  praescriptione  iinmeniuriali. 

r,  7.  De  donatiunibus.  —  Quare  inter  niodos  civiles 
adquirendi  dominii  a  Jusliniano  retails.  —  1.  Donatio 
inter  vivos,  — ejus  subjecla  ,  — objeclum,  — forma, — 
vis.  — Causae  rescindendae  hujusmodi  donationis.  — 2, 
De  cU.iialione  propter  nuplias. 

T.  H.  Quibus  alienare  licel,  vel  non.  — ■  Exempla. 

T.  9.  Per  qiias  personas  cuique  adquirilur:  —  1.  per 
servos  —  2.  per  libcros  in  poleslate  nostra  constilulos,  — 
3.  per  ex traneas  personas. — De  peculio   fihali — nolio, 

—  et  species.  Jus  peciilii  mililaris, —  profeclilii,  — 
adventilii  ordinarii,  —  et  exiraordinarii,  —  De  adquisi- 
lione  per  exiraneas  personas  jure  antiqua  , — jure  novo. 

T.  10.  Delestaraenlis  ordinaudis  — Hereditalis  nolio, 

—  el  species  — Testaraenii  defiuitio  ,  — diffi-rentia  a  co- 
dicillis,  —  requisila   generalia;  — forma— jure  aniiquo 

—  jure  novo. — Teslamenlum  publicum,' — et  priialum: 

—  sulennilates  ambobus  communes ,  —  jiropriae  —  J. 
testaraenii  script!  —  2.  el  nimcupalivl. 

T.  11.  De  mililari  tektanicnlo.  —  Ejus  privilegia,— 
quibus  compclUQl.  —  extinclio.  —  Alia  teslamenta  pri- 
vilegiala:  I'  parentis  iider  liberos  testantis,  —  2.  tem- 
pore peslis  factum,  — 3.  rure  fuclum  ,  —  4.  Icstamentniu 
poslerius  imperlertum  ,  — 5.  Ad  pias  causas. 

T.   12.  Quibus  non  est  peruiissum  facrre  testamentum. 

T.  13.  De  lilieris  exheredandit.  —  De  legilima  ,  — 
quibus  debelur.  —  De  lieredibus  necessariis.  —  el  vobm- 
lariis. — Exheredalionis  nolio,  —  causae  juslae  a  Jnsti- 
uiano  sanctae. 

T.   14    De  heredibus    iustituendis.  —  Qui  sint  idonei , 

—  qui    iucapaces  : — 1.    absolute,  — 2.  secundum    quid. 

—  Temfius  delerminandi  idom-italem  —  De  divisioue 
heredilalis,  —  de  .Jus  parlibus.  —  De  modis  instituUo- 
nis:  —  diei  adjeclio  ,  —  condilio,  —  elTeclus. 

T.  15  De  vulgari  subsliluljune.  — Duplex  genus  ;^ 
I.  'd)liqua  ,  seu  IJdeicomnlissaria,  — 2.  direcla — cujii* 
species:  I.  vulgaris,  2.  pupillaris  ,  3.  quasi  pupillaris, 
4.  mililaris.  —  Subslilutionis  vulgaris  nolio  — forma  — 
jus. 

T.  16.  De  pupilbiri  subslilulione.  —  Nolio,  forma 
externa  —  jus  pu|iilUriler  subsiiluendi  , — vis  —  extin- 
clio   —  De  subsliluli.iuibus  quasi  pupillati,  —  mililari. 

T.  17.  Quibus  modis  leslanienla  inQrmaulur.  —  De' 
testamento  nullo  ,  —  rupio ,  —  irrilo  ,  — ■  destituto ,  —  re- 
scisso. 

T.  IS.  De  inoflicioso  testamento.  —  De  querela  inofli- 
ciosi  I. — ejus  origo  ,  —  nolio,  — .  fundamentum. — Qui- 
bus compelal  ,  —  causae  ex  quibus  cessat. 

T.  19.  De  heredum  qualilale,  el  differentia.  —  I. 
Diiersa    heredum  qualilas. — 2.    Adquisilio  hereditalis; 

—  a  in  herede  necespario  ;  —  A  in  herede  voluntario. — 
3.  Jus,  el  modus  ndeimdi  heredilalem.  — Effecfus  ad- 
quisitae  hereditalis,  —  BeneGcia  heredi  concessa: . —  1.  be- 
neQcium  deliberandi,  —  2.  bencficium  inientarii. 

T.  20.  De  legalis.  — Magna  olim  differentia  inter  le- 
gata  ac  fideicommissa  sirlgularia,  .^  sed  a  Jusliniano 
e.xaequata. — Notio  legati. — Forma  dandi  legata  , — jure 
auliquo  ,  . —  jure  ao\o.  — Pcrsonae  ,  —objeclum,    acci- 


216 


tii'iitalift,  —  ndqiiisitio  Ie2:ali,  —  ElTcolus     adquisilionis 

—  jus  ailcrescendi. 

T.  SI.  Dtj  ademplione  legaloium  ,  —  Iranslatione  , — 
exliiiclione. 

T.  22.  De  lege  falcidia.  —  Qiiarta  falcidin  quid  — 
Jus   i'\    liac  le!;e.  —  Modus   earn  comiJUlaiidl.  —  Causae  , 

T.  !£3.  l)e  Gtleiromiuissariis  heredilalilms,  —  Fidei* 
commissi  iiotio  el  s|)t'cies  :  —  1,  qiioait  formam  ,  modiim- 
•Iii«  , — i.  <|iioad  persunus.  —  Jui-  fldeiconinitssi. 

T.   24.   I)e  singulis  relnis   per  Ddeicomiuissiim  relicMs. 

T.  25.  De  codiciliis. — Eonim  ori;;o  ,  — et  raliu. — 
Notio,  — el  species:  —jus  — clausula  cudicillaris  ,  — 
ejus   vis. 

LIBER  III.  DE  REBUS  ET  03LIGATI0NIBUS. 

TT.  1  — 9.  De  hereditalihus  ,  quae  ah  inlesUlo  defe- 
ruiiliir.  —  Siifcessin  inlcslalorum  jure  veteri  —  summatim. 

—  Ejtis  fiindameiilum. 

T.  10.  De  bonunim  possiessionibus. — Succepsio  prae- 
loria.  —  liuiioruin  possessioiiis  ratin,    et  noliu  :  —  sp^-cies 

—  1.  contra  labiilns  ,  —  2.  si-ciiiiiluni  labulas  ,  —  3.  ab 
inlpjslato:   ejus  nilquisJliii ,  —  siircessio. 

T.  II.  De  adqiiisUioric  per  adrogationem,  —  1.  ex 
jure  veleri  — •  et  iiuvo 

TT   12  el.   13.   Materia  hislorire  relata. 
De  successione  ab  iulestnlo  secundvira  Novellam  118. 
De  pelifioiie  heredilatis  ,  —  qualificata  ,  —  el    simplex. 
De  jure  pij^'itoris  ; —  pij,'nnris  nolio , —  conslihiliu  , — 

1.  quoad  oljpctiim  ,  —  2,  quoad  mudum,  —  Coubliliiti  pi- 
^iioris  jura,  — solulio. 

DE   OBtlCATIONIBUS. 

T.  14.  De  obligalionibus.  —  Nolio,  — species:  — 1. 
ex  causa  remnia  ,  —  2,  ex  causa  proxima.— De  conve- 
iitionibus.  — Notio,  — forma,  —  ubjerlum  ,  —  subjecta  , 

—  elTeclu!).  —  De  conditlone  ,  —  el  die  coiivfiiliuiiibiis 
adjertis. — Varia  j;enera  convenlionum  :  — ■  1.  pacU  , -^ 

2,  coiilractiis.  —  Eorum  diflferenlia  Jure  Romano, —  De 
contrnclibus  ;  —  1.  nominuiis,  — iniiomiualis.  — Hurum 
qualuor  genera,  — lolidem  illurum.  —  Nomina  ulrurum- 
([ue :  — raliu   inmiinis.  —  Ali^ie  cunlracluum   divisiones. 

—  De  pJirhs  nudis  , —  1.  contraciibus  bonae  fiilei  adjf-- 
clis,— 2.  pr:ifli.riis,  —  3.  le^'ilimis.  — Exenipla.  —  De 
ilatuni  praestaliune,  —  notio  ,  —  causae  ;  —  1.  dulus  ,  — 
2.  culpa,   triplex,'— 3.  casus. 

T.  15.  Quibus  modis  re  rontralutur  obli{;;alio. -^  Con- 
tractus nominali  realms  :  —  1  muluum  ;  —  m-lio  ,  —  for- 
ma ,  —  obli:.;^atio  —  aclioni^s.  —  Eadem  de  S.  cummodato  , 

—  .S.   di-pusilo  ,  — 4,  [lij^nure. 

T.  1*J.  De  verhorum  oblliij'atiuuibus.  • — De  slipulatio- 
iie,  —  notio  ,  —  furma  ,  —  modus  ,  —  objectum  ^  —  perso- 
nae  ,  —  oblijjalio  ,  —  aclioncs, 

T  J  7.  De  duubiis  reis  .stlpulandi ,  et  proniillentli. 
Corrci  qui?  —  1.  crt-dendi  , — 'li.  debendi,  —  Obli^aliu- 
nis  correalis  fiimlameiila  ,  —  effectus. 

T.   18.   De  slipulatione  servorum  ,   hislorice. 

T.   19.  De  di\i»ione  stipulalionum : — qualuor  genera. 

—  Exemplu, 

T.   '^0.   Do  iuutilibtis  sli[iulationib(is. 

T.  21,  De  fideijugsoribus.  —  Fideijnssionis  notio, — 
dislinctio  al)  aliis  inttjrcessionia  spt-cietius.  —  Furma  ,  de- 
bitum  ,  — •  persona  fideijussoris  qualis  ,  —  oblii^atiu  ,  — 
ejus  rigor  temperalus  no\iori  jure:  —  Beneficiis  ,  1. 
ordinis,  —  2.  divisionis,  — 3.  cedendarum  aclioiium. — 
Fideijussionia  extinctio, 

T.  22.  De  lillerarum  oblii;ationibufi.  —  Conlracli'is  lil- 
teralis  nolio.  ■ — S()ecialim  de  cuntractu  chirocraphario. 

T.  23.  De  obligationibua  ex  consensu.  —  Conlraclunm 
consensuali'im  indoles  ,  —  species. 

T.  24.  De  emplione  el  vendiltone. — Nolio,  — for- 
ma. —  ol'jectum— 1.    res  quae  veneunl ,  —  2    prelium. 

—  ElTecltis :  —  1.  translalio  periculi ,  et  commodi  ,  —  S. 
niulua  obli;:nlio.  —  Actiones. 

T.  25.  De  locatione  et  conduclione. — Nolio,  et  spe- 
cies.—  Forma  ct  substantia.. —  Objecluui — ■  personae  — 
obli^aliones  :  —  1 .  locatoris  ,  —  2.  conductoris  ,  —  com- 
munes ulrique — acliuncs.  —  De  contractu  cmpliyteuseos 
origo  — de  jure  emphyteiilico,  —  Conclralus  notio,  — 
modus  perGcicndi  ,  —  ob  igalio  —  actio  emjdi^'teulicaria, 

—  duplex. 


T.  26.  Dc  societole.  —  Notio  ,  et  species.  —  Modus 
earn  perficieutli  ,  — ct  iiieundi. — Obligatiu, — actio.— 
Dissolutio. 

T.  27.  De  marnlat(w  —  Notio  — el  subelantinlia ,  — 
dUtinclio  I.  a  negoliorum  gfstione,  —  2.  a  locatione 
upfViirum  ,  —  3,  a  cunsilio  ,  —  4.  a  commendatiune  ,  -^ 
5.  a  jussu.. —  Mudiia  conlrali'-ndi  ,■ — objectum  ,  — obit- 
t^iitio.  — Aclionea  :  — 1.  directa  ,  —  2.  cunlraria.  — St- 
lulio. 

T.  28,  De  obliealionibus ,  quae  quasi  ex  conlraclu 
nascunlur.  —  Quasi  cuutrncti'ls  nutio. —  Speci'*s  :  —  1.* 
Ne;j;<diorura  gcslio:  —  ejus  nolio,  —  personae  .^obli^a- 
tiones  : —  1.  gealoris,  —  2.  domiiii  nefiotiorum  ;  —  nctiu- 
UPS  —  directa  ,  —  et  cuntrar ia.  —  2,*  Tutela  —  indoles 
uldi^alionis  ;  —  acliones ,  —  direcla^  ,  —  uiiIhs,  —  3.* 
Hereditatis  , — el  4.'  rerum  cummunia  ; — quo  sensu  ad 
ipiasj  conlraiius  rcferunlur  —  actiuues.  —  5."  Heredita- 
lis   aditio  ,  —  oblii^alio:  — actio.  — 6.*  Indebili  sululio  , 

—  obligalio  , — artio  , — quae  differt  ab  aliis  condiclio* 
niluis  ,  —  el  a  quibus. 

T.   29.   Pnr   quas   prrsnnas   nobis  obliffalio  acquiritiir. 

—  De  adtpiisilioiie  per  alios,  —  jure  \etefi  , — et  novo 
jurt". 

T.  30.  Quibus  nuidis  tullitur  obliiialio  :  —  1.  ope  ex- 
ceptionis.  —  2.  ipso  jurt; :  —  communes ,  — proprii.  -^ 
Eorum  L*numeraliu  ,   et  descriptio. 

LIBER  IV.  DE  OBLIGATIOMBUS  ADHUC  , 
ET  ACTIONIBUS. 

T.   1.   De  obligalionibiis,    quae  ex  delicto   nascuntiir. 

—  Delicti,  sen  nialeficri  notio,  ■ — ■  species,  — De  Jure 
Criiuiuuui  apud  Uumenus  —  1.  Dclicla  [uiblica  ,  — .  K, 
piivala — 3.  ordiuaria,— 4  extraordinnria.  — Aclionea 
ex  dfliclis :  —  I.  rei  perseculoriae  ,  — 2.  poenae  per- 
seculoriae  ,  —  3.  niixlae.  — Indoles  obli-jalMiuis  ,  — el 
actiuuutn  ex  delicto,  speciatira  de  lurto,  —Nutio, — 
species: — 1.  ex  ol'jeciu  ,  — 2.  ex  modo. — Actiones  ex 
furto;— 1.  ci\iles,  —  2.  criniinales. 

T,  2,  De  \\  l)unorum  raplururu.  —  Rapinae  notio  — 

requisila  :  —  I.  dolosa    rei    abenae   mobilis  contreclalio  , 

—  2,  consilium  lucri  faciendi  —  corollaria.  — Reniedia 
Jure  Rumatu). 

T.  3      De  lege    Aquilia,  —  Darani    injuria  d^ili   notio: 

—  ditTerenlia,  1.  a  no\ia,  —  2.  a  pauperie.  — Cajiit.i 
Legis  Aquiliao  : — caput  primum  .  —  secundum,  ex  Gaji 
cuuiuieulario  3."  ^,  215    — lerltum. — ■  Olfserwitiones. 

T,  4.   De   injuriis.  — Species  — sut'jeria — remedia  : 

—  I.  judicialia  —  criminalia.  —  Relorsio.  — Remedioruni 
extincttu, 

T.  5.  De  ob!igationibus  ,  quae  quasi  ex  delicto  nascun- 
lur. —  Quasi  delictoruui  nolio,  —  species. 

T  6.  De  ai'lionibus.  • — Notio, — divisrones  :  — 1.  a 
fuudauK'uto  remlo,  — 2.  a  proximo,  —  3.  ab  ol-jecli 
qiialilale  ,  — 4,  quantilale  ,  —  5.  a  puteslate  jttdicis, 

T.  7.  Quud  cum  eu  ,  qui  iu  aliena  putchlale  est  ,  nego- 
tium  geslum  esse  dicetur.  —  Actiunum  ex  conlraclu  alie- 
no  .  —  I.  funs,  —  2.  sjiecies. 

T.  8.  De  nuxalibus  aclionibus.  —  Obligalio  ex  deli- 
cto :  —  I.  servi,- — -2.  fllii  familias. 

T,  9.  Si  quadrupes  pauperiem  fecisse  dicalur. — Obli- 
galio,— -actio.  —  D*"  aedililio  edicto. 

T.  10.  De  iis,  per  quos  agere  licet:  jure  veleri  j  — 
jure  novo.  De  procuraloribus  jiidicialitius, 

T.  11.  De  s.ilisdationibus,  —  Canliones  judiciales  ,  — 
1,  ab  auclore  el  reo  ,  —  2.  a  procuratore  praestandis. 

T.  12.  De  perpetiiis  el  temporalibus  aclionibus:. — 
el  quae  ad  lieredes  ,  el  in  heredes  Iranseunt. —  De  prae- 
scriptione  artionum  ,  — 1.   generatim  , — 2.   speciatim  : 

—  a  ci^ ilium  ,  —  b  honorariarum  — De  transitu  actionnia 
iu  lieredfs,  — aclivo,  —  passive. 

T.  13.  De  exceptionibus. — Exceplionis  nolio ,  varia 
genera. 

T.  14.  De  replic.ilionibus. 

T.  15.  De  inlerdictis.  —  Noliones  — species;  —1. 
adipiscendae,  —  2.  relinendae,  — 3.  recuperandae  pos- 
sessiunis.  —  Oliservationes  generates. 

T.   16.  De  pfiena  temere  liligantiiini. 

T.  17.  De  ofliciu  judicis.  —  OfTicium  magislratiif  ,— 
oflicium  judicis  pedanei  ,  Jure  Romano. 

T.   18.  De  publicis  judiciis  opud  Romanes,  hislorice- 


y]7 


LITERATURA  DRAMATICA  HESPANHOLA 
E  SEUS  UlSTOUIADORES. 

I 

No  vasto  campo  da  literatuia  hospanhola, 
0  thealro  do  XVI  e  XVII  scculo,  e,  depois 
da  popsia  da  meia  idade,  o  assiimpto  ([uc 
raereccra  mais  a  particular  attonrao  dos  histo- 
riadores,  e  dos  criticos.  A  propria  Ilcspanlia, 
que  torn  ahandonado  aos  estranhos  o  ciiidado 
do  explorar  as  suas  ri(|uezas  litcrarias,  in- 
volvidas  no  p6  de  taiitos  scculos,  nao  se 
esqucc(^ra  de  hnscar  cssas  preciosas  reliqiiias 
da  sua  lilcralura  dramatica  para  com  cllas 
alevantar  uin  monumento  digno  do  gcnio, 
que  inspirara  os  seus  conipalriotas.  Ila  quasi 
vinte  annos,  um  grande  niimero  de  escri- 
ptores  tem  pretcndido  reslaurar  o  thealro  de 
Caldcron,  e  Lopes  de  Vega.  Este  generoso 
inipulso  dado  pelos  poelas,  devia  natiiraimen- 
tc  excitar  os  Irabalhos  dos  eruditos.  Em 
quanto  D.  Angelo  de  Saavedra,  duque  de 
Rivas,  e  D.  Antonio  Gil  y  Zarale  sacudiam 
cm  fini  0  jugo  da  imitacao  franceza,  rcsti- 
tuindo  a  arte  dramatica  as  suas  fontes  naturaes, 
OS  criticos  nao  podiam  licar  niudos  e  qiiedos 
no  raeio  dcsia  grande  transformacao,  que  se 
operava  nos  dominios  da  literatura'dramatica. 
E  de  feito  assim  aconteceu.  0  duque  de  Rivas 
fizera  reprcsentar  em  1833  o  bello  drama  — 
la  Fuerza  del  sino.  0  applauso,  com  que  fora 
acolhida  csta  produccao  dramatica,  decidiu 
dos  deslinos  do  theatro  hespanhol.  No  anno 
seguinte  comecou  em  Madrid  a  publicar-se  o 
theatro  anligo  e  moderuo  d'llespanha,  que 
hoje  conta  mais  de  cem  volumes.  Desde  esta 
epocha  os  trahalhos  sobre  Lopes,  c  Calderon, 
e  ate  sobre  oulros  auctores  menos  conhe- 
cidos,  vao  sucessivamente  appareceifdo  a  luz 
publica.  Em  1839  D.  Agostinho  Duran, 
publicou  um  excellente  artigo  sobre  Lopes  de 
Vega  '  ;  em  1840  Joao  Colon  y  Colon  deu  a 
cstanipa  nuii  curicsas  e  iuterossantes  noticias 
sobre  os  auctores  draraaticos  anteriores  a 
Lopes  \  Nao  .'^ao  menos  dignos  de  racncio- 
nar-sc  neslc  ponto  os  eruditos  trabalhos  de 
Gil  y  Zarale  %  de  Mesonero*,  Moron  ',  Alberto 
Lista',  e  outros,  alem  da  mui  noliciosa  bl- 
bliotheca  dos  auclores  hespanhoes. 

Enlretanto  todos  esles  ensaios,  que  at- 
testam  o  gosto  e  a  tendcncia  dos  espirilos, 
cxcitados  tambem  pelos  brios,  c  pundouor  na- 
tional pela  restauracao  do  seu  anligo  theatro, 
nao  eonstitucm  por  certo  abistoria  completa 
da  scena  he.spanhola  desde  os  seus  primeiros 

'    Revista  de  Madrid. 

"I  jy^ticias  del  Teatro  espanhol  anterior  a  Lope. 
Manual  dc  Lileratnra  —2  v.  Madrid  1844. 
^^^^"P'de  coup  d'oeil  historipie  sur  le  theatre  espa- 

'   Rcvisla  de  Espaiiha  y  del  estrangero 

Ensat/os  lilerarios  y  criticus.  —  Madrid  1844. 


e  mui  singclos  ensaios  ate  as  suas  cai)ricliosas 
transformafOes,  pas.sando  alternativameiile  da 
inspiracao  ecclcsiastica  a  inspiracao  roma- 
nesca.  Um  trabalho  tal  involve  lantas  dif- 
liculdades,  e  depende  de  lantos,  e  tain  pro- 
fundos  estudos,  que,  para  leval-o  ao  cabo, 
fdra  talvcz  insufficiente  a  vida  e  os  esforcos  de 
um  so  homem.  E  lodavia  a  empreza  era  digna 
de  tal  sacrificio,  por  quo  o  theatro  hespa- 
nhol e  um  dos  mais  curiosos  problemas,  ([uc 
pode  ofl'erecer-se  a  resolucao  dos  sabios,  c 
uma  das  mais  preciosas  conquistas,  que  pode 
fazer-se  na  historia  da  pocsia. 

0  distinclo  escriplor  allemao,  Adolpho 
Frederico  de  Schack,  nao  duvidou  loniarsohre 
si  tao  ardua  tarefa,  e  se  elle  nao  logrou 
resolver  o  problema,  e  assenlar  um  juizo 
decifivo  sobre  esla  parte  tao  original  e  tao 
controverlida  da  literatura  moderna,  e  pelo 
menos  certo,  que  fez  ne.ste  ponto  mui  graves 
e  iniportanlcs  descobrimenlos,  e  que  a  sua 
obra,  a  pezar  de  nao  ser  isenta  de  defcilos, 
e  com  tudo  um  monumento  de  erudicao,  um 
trabalho  primoroso,  que  honrara  semprc  o 
seu  auctor. 

A  obra  de  Schack  compoe-se  de  tres  vo- 
lumes' ;  0  primeiro  occupa-se  do  thealro  hes- 
panhol desde  a  sua  origem  ale  Lopes  de  Vega  ; 
0  segundo  e  consagrado  a  este  auctor,  e  aos 
seus  contemporaneos;  o  terceiro  trata  de  Cal- 
deron, e  tormina  cxpondo  a  longa  decadeucia 
do  theatro,  e  os  ensaios  que  modernamcnte  se 
teem  f'oilo  para  a  sua  regeneracao.  Schack  na 
primeira  parte  da  sua  obra  tracou  o  quadro 
dos  dois  mui  imporlantes  periodos  da  litera- 
tura dramatica  em  Ilespanha:  o  primeiro 
desde  os  primilivos  tempos  desta  vasta  mo- 
narchia  ale  ao  reinado  de  Fernando  e  Izahel, 
e  0  segundo  desde  o  governo  destes  principes 
ale  ao  reinado  literario  de  Lopes  de  Vega. 

A  Ilespanha  nao  possuia  um  unico  desses 
roportorios  dramaticos,  que  a  Inglaterra  deve 
a  Collier,  a  Italia  a  Riccohoni,  e  a  Franca 
aos  irinaos  Parfait;  e  Magnin  podia  apenas 
ministrar  uma  cscassa  luz  no  meio  da  obscu- 
ridade  d'aquellas  remotas  eras,  a  pezar  disto 
Schack  nao  desrorocoou  da  empreza  a  que  reso- 
lutamente  se  corametti^ra,  e  esta  parte  da  sua 
obra  e  uma  das  mais  inleressantes,  e  que  mui 
claramentc  mostra  o  fio,  que  prende  os  poetas 
do  XVI  e  XVII  seculo  as  tradiccoes,  e  lendas 
populares,  que  lantos  elemenlos  forncceram  i 
poesia  naquelles  dois  periodos,  os  mais  bri- 
Ihantes  da  literatura  dramatica  cm  Ilespanha. 

E  sobre  tudo  a  influencia  da  egreja,  que 
desde  o  principle  do  thealro  hespanhol  comeca- 
ra  a  manifestar-se  sobre  a  scena.  Ja  no  XIII 
seculo  a  egreja  doniinava  tao  largamente  no 
theatro,  collocado  sob  a  sua  proteccao,  e  ate 
certo  ponto  dirigido  por  ella,  que  na  lei  das 

'  Geschiehte  der  dramaiischen  Literatur  vnd  Kunst 
in  Spanien  —  von  A.  F.  von  Scliack  —  Berlia  — 3  vol. 
1845  —  1846. 


'2  IS 


sete  pallidas  AITouso  X  julgiira  opporluno 
regular  o  exercicio  d'ossa  auctoridade,  ao 
passo  que  no  rcsto  da  Europa  a  induciuia 
da  eprcja  no  theatro  ia  suct'ssivamonti'  do- 
caindo  para  ser  suhstituida  polos  dois  oulros 
elenienlos  da  liltcratura  dramatica  na  idado 
media,  as  truaniccs  dos  scnhores  feudaos,  e  as 
dos  popularos,  (luc  no  mcio  do  sociilo  XIII  lo- 
luarani  o  logar  ao  drama  ccclesiastico. 

Na  epocha  cm  (pie  A.ITonso  o  Sahio,  prohi- 
liindo  OS  espcetaculos  licenciosos,  porniittia  que 
sc  pozessem  em  scena  os  dramas,  em  (pie  se 
representavam  diversas  passagens  dos  livros 
sagrados,  L'rbano  IV  instiliiira  a  festa  de 
Corpm  Clirisli,  (|ue  em  llespanlia  fora  recebida 
com  a  maior  devoeao.  A  celebraeao  deslas 
festas,  scgundo  as  ideas  do  tempo,  proporcio- 
nava  uma  nova  occasiao  para  os  especlaculos 
ecclesiaslioos,  em  que  e  muito  do  crer,  que 
nao  raro  se  transposessem  os  liniites,  que  o 
respeito,  e  a  decencia  religiosa  exigiam,  e 
que  a  lei  ordenava;  ao  menos  a  historia  de 
todo  este  periodo  nos  apresenta  uma  continua 
lucta  entre  o  instincto  dramatico,  disposio 
sempre  a  quebrar  as  cadeas,  que  sc  Ihe 
impunham,  e  o  poder  religiose,  que  tinha 
por  obrigacao  reprimir  taes  excesses,  que 
mui  naluralinente  provinliam  do  espoiilaneo 
ardor  da  arte,  ainda  na  sua  infancia.  E  com 
tudo  digno  de  notar-se,  que  em  quanto  cstes 
dois  elenienlos,  o  religiose,  e  o  dramatico, 
liaviam  conipletaniente  rompido  em  toda  a 
Europa  os  lacos,  que  por  seculos  os  uuiram 
cm  eslreila  allianca,  na  Ilespanba  eonservaram 
sempre  muluas  e  benevolas  relacOes.  A  egreja 
nao  amaldicoara  a  arte  dramatica,  mas  unica- 
mente  procurava  moraiisal-a,  e  convertel-a 
era  proveilo  proprio.  0  concilio  de  Aranda 
em  1473,  renovando  as  proliibicoes  das  sele 
parlidas,  estabclccera  provisoes  a  favor  do 
drama  religioso. 

Assim  neste  primeiro  periodo,  o  Iheatro 
hespanhol,  conservando  estrcitas  relacoes  com 
a  egreja,  e  introduzindo-se  como  accessorio 
importante  nas  pompas  do  culto  religioso, 
nao  abdicara  com  tudo  a  liberdade,  que  e  a 
vida  da  arte,  e  que  incessantemente  arrastava 
OS  poelas,  ainda  debaixo  das  venerandas 
abobadas  das  calhedraes,  onde  scus  au(os  tao 
applaudidos  cram,  para  o  campo  das  paixOes 
raujidanas,  proprias  das  obras  profimas. 

Tal  e  a  feicao  caracteristica  do  genio 
bespanhol  no  decurso  de  toda  a  sua  historia. 
Calderon  com  os  sens  autos  mysticos,  e  seus 
longos  dialogos  romanticos,  e  urn  documcnto 
mui  notavel  dascontradiccoes  do  antigo  theatro 
hespanhol,  que  sucessivamenle  se  fdram  repro- 
duzindo  nos  seguinles  seculos. 

Ao  periodo  dos  instinctos  primitives  suc- 
ccdt^ra  o  primeiro  periodo  literario,  que  inau- 
gurara  Joao  del  Encina,  que  floresceu  no  reina- 
do  de  Izabel  e  Fernando. 

Encina,    como   Lopes   de  Vega,    Tirso  de 


Molina,  Calderon,  e  Antonio  Solis,  seguira  o 
eslado  ecclesiastico  ao  cabo  de  uma  vida  mui 
trabalhada,  e  morreu  em  Salamanca  em  1334. 
Na  historia  lileraria  de  llcs|)anba  sao  frequen- 
tos  cstes  exemplos  de  poetas  dramaticos,  que 
abracavam  o  estado  ecclesiastico,  ou  tomavam 
0  liabito  n'alguma  religiao. 

Os  dramas  pastoris  sobre  assum|)tos  re- 
ligiosos  foram  as  pecas,  cm  (|ue  .loao  del 
Encina  mais  se  distinguiu.  0  enredo  e  por  via 
de  rcgra  mui  singolo,  e  o  estilo  (juasi  jiueril; 
pastores  reunidos  em  volta  do  berco  do  menino 
Deos,  ou  a  porta  do  cstabulo,  communicando 
uns  aos  oulros  a  alegre  nova  do  sou  nasci- 
menlo,  e  celebrando  a  gloria  do  milagroso 
menino  com  a  mais  piedosa  cmocao:  eis  aqui 
a  que  se  reduziam  aqucllcs  autos  religiosos. 
Algumas  vezes  o  poela  procurava  animar  a 
scena  pelo  interesse,  que  deviam  produzir  os 
differentes  personagens,  que  n'clla  liguravara. 
Com  este  intento  n'uma  das  pecas  d'aquellc 
A.  dois  ermiloes  apparecem  no  sanclo  se- 
pulcro,  lamenlando  com  prol'unda  dor  a  morto 
de  Chrislo,  e  a  Veronica  vcm  junctar  a  estas 
scnlidas  queixas  as  suas  piedosas  lagrimas. 
Estes  trcs  personagens  ajoelliam  anie  o  tu- 
mulo  do  Salvador,  e  um  anjo  Ihe  apparece, 
annunciando-lbe  a  proxima  ressurreicao  de 
Cbristo.  Em  tudo  isto,  porem,  falta  a  accao, 
que  conslilue  o  verdadeiro  drama,  e  so  e 
(ligna  de  admiracao  a  terna  candura,  que  . 
inspirara  o  poeta,  que  por  um  singular  con- 
Iraste  cscrevera  a  par  d'aquellas  religiosas 
pastoris,  pecas  proi'anas  cheias  de  cbocar- 
rices,  que  mais  tarde  serviram  de  funda- 
mcnto  aos  entremezes  de  Lopes  e  dc  Calde- 
ron;  e  romanescas  aventuras,  ou  historias  de 
amorosos  galanleios,  de  que  Fileno  y  Zambardo 
e  uma  boa  amostra. 

Em  liiOO  publicara-se  em  Salamanca  a 
Celesliiui.  As  vivas  cores  oom  que  o  A.  d'esta 
obra  pinlara  as  loucuras,  os  desvarios,  e  as 
niiserias  da  paixao  a  ponto  de  fazcr  muitas 
vezes  esquecer  o  cynismo  do  assumpto,  para 
se  attender  so  ao  espirito,  e  lina  observacao 
das  mais  inlimas  parlicularidades  da  vida 
bumana,  livera  uma  notavel  influencia  neslc 
periodo  literario,  generalisando  rauilo  o  goslo 
das  pinturas  profanas.  sera  todavia  diminuir 
0  numero  das  pecas  religiosas. 

Joao  Rays,  arcipreste  de  Ilita  ja  no  seculo 
XIV  imitara  de  uma  comedia  latina,  errada- 
mente  attribuida  a  Ovidio,  e  que  parece  antes 
uma  das  lubricas  invencues  de  Pctronio,  aquel-  ^ 
les  lascivos  quadros.  Assim  era  quanto  Encina 
e  outros  edihcavam  os  fieis  nas  grandes  so- 
lemnidades  do  Natal,  e  de  Corpus  Chrisli 
com  OS  scus  aiitos  sacramentaes,  cstes  mes- 
raos  auctores,  a  pezar  de  toda  a  sua  de- 
vocao  e  piedade,  comccavam  a  por  tambem 
em  scena  todas  as  peripecias  das  mais  amo- 
rosas  aventuras,  cujos  niodclos  Ihes  dava  a 
Cekslinu. 


219 


Nao  era,  porem,  so  nos  mcsmos  auctorcs,  se 
nao  tamhem  nas  mrsmas  obras,  que  se  encon- 
Irava  csia  raistura  do  profanocom  oreligioso. 
Um  distincto  poeta  portuguez,  que  perlence  a 
historia  do  theatro  hespaiihol  pela  inlluencia, 
que  teve  em  Madrid,  e  pelas  pecas  que  escre- 
veu  em  castelhano  e  uma  prova  irreeusavel 
deste  facto. 

0  insigne  Gil  Vicente,  que  florescera  pelos 
lins  do  seculo  XV,  c  que  ao  mesmo  tempo 
fora  auctor,  e  actor,  grangeara  por  suas 
composicoes  dramalicas  tao  grande  credito, 
e  tal  reputacao,  que  o  lizera  conhecido  em 
toda  a  Europa  cuila :  so  para  ler  as  comedias 
tleste  auctor,  Erasmo  aprendera  o  portuguez. 
Gil  Vicente  foi  o  primeiro  que  deu  o  nome 
d'autos  as  suas  composicoes  religiosas,  que 
cram  de  duas  especies:  as  Eclogas  sagradas 
como  as  pastoris  de  Joao  del  Encina;  e  as 
alegorias  mysticas,  composicoes  mais  complica- 
das  e  que  muitas  vezes  continiiam  um  singu- 
lar amalgama  do  sagrado  com  o  profano,  da 
inspiracao  religiosa  com  as  pinturas  raunda- 
nas. 

A  inlluencia  da  Celestina  c  evidente  era 
muitas  comedias  romanescas  deste  auctor.  A 
nova  da  emancipacao  do  theatro  da  tulella 
ecclesiastica  soara,  pelos  esforeos,  e  assiduos 
trabalhos  d'Encina,  Torres  Naharro,  e  Lopes 
de  Rueda,  que  podem  considerar-se  como  os 
f'undadores  do  theatro  hespanhol. 

Nas  ohras  de  Lopes  de  llueda  nao  se  acha 
um  unico  dcsses  uutos  religiosos,  que  eram 
a  principal  inspiracao  dos  seus  predecessores. 
E  todavia  as  relacOes  entre  o  theatro,  e  a 
egreja  subsistiam  ainda.  Em  quanto  o  instin- 
cto  dramatico  procurava  dilatar  os  limites  da 
sua  dominacao,  a  egreja  pela  sua  parte  tinha 
particular  cuidado  em  nao  deixar  quebrar  os 
lacos,  que  uniam  a  arte  dramatica  a  prcgacao 
das  cousas  sagradas. 

0  concilio  de  Toledo  de  13G5  e  loCG,  re- 
novando  as  prescripeoes  de  Afl'onso  X,  e  do 
concilio  de  Aranda,  ordenara  mais  regular- 
menle  o  uso  das  representacOes  sagradas. 
D'alli  em  diante  os  aulos  so  podiam  represen- 
tar-se  nas  egrejas  com  lieenca  da  auctoridade 
ecclesiastica;  as  representacOes  nao  podiam 
mais  ter  logar  durante  a  missa;  nem  em 
c^rtos  dias  do  anno,  como  por  exenipio  no 
dos  santos  Innocentes;  aos  padres  foi  prolii- 
hido  0  represenlar  n'aquelles  autos.  Todavia 
OS  padres  do  concilio  julgaram  convenienle 
nao  proscrever  o  uso  dos  dramas,  que  podiam 
excitar  a  piedade  dos  fieis.  Dois  annos  depois 
(li5C8)  a  auctoridade  ecclesiastica  decidira, 
que  todos  OS  annos  se  representassem  dois 
(lutos,  tirades  dos  livros  sagrados,  no  dia  de 
Corpus  Christi. 

Assim  OS  dois  elementos  do  theatro  hespa- 
nhol, a  inspiracao  ecclesiastica,  e  a  inspira- 
cao romancsca  nasceram,  floresceram,  e  fruc- 
lilicarani   junctas  por   um   mutuo    instincto 


nacional,  que  unia  os  poetas  c  a  egreja  nos 
sentimentos  de  comnium  interesse.  Nao  raro, 
lambcm,  os  auctorcs  empregavam  o  drama 
religioso  como  um  meio  de  cohonestar  as 
dcmasias  das  representacOes  profanas;  c  foi 
com  esle  intuilo,  que  na  segunda  metade  do 
seculo  XVI  .se  introduziram  nos  verdadeiros 
theatres  os  dramas  religiosos,  que  ate  enlao 
so  se  representavam  nas  egrejas;  e  constilui- 
ram  uma  das  formas  da  literatura  dramatica. 
E  talvez  d'aqui  proviesse  a  differenca  enlre 
as  comedias  divlnas,  e  os  autos  sacramenlaes, 
pois  que  estes  sao  muito  anteriores  as  comedias 
divinas,  que  erara  verdadeiros  dramas  re- 
ligiosos de  uma  composicao  literaria  mais 
elevada  e  mais  polida,  e  destinados  por  isso 
para  se  representarem  nos  theatres  com  aquel- 
la  denoniinacao. 

Continua.  3.  M.  de  ABREl'. 


COIMI33IA. 

(RECORDACOES.) 


Coimbra!  .  .  .  Terra  de  incanto. 
Do  Mondego  alcgre  flor, 
Venho  pagar-te  era  meu  canto 
Tribute  d'antigo  amor; 
Nao  m'o  engeites  porque  e  pobre, 
Porque  tens  o  canto  nobre 
Do  cantor  da  linda   Ignez; 
Nao  ra'e  engeites  desdenhosa, 
Nao,  que  esta  alma  saudosa 
Se  inflamma  ao  ver-te  outra  vez. 


Sou  quasi  teu  filho;  amci-le 
Da  vida  no  alvorecer; 
De  Minerva  o  sacro  leite 
Por  tuas  maos  vim  beber; 
Foi  nestas  margens  virentes 
Que  ce'as  azas  incipientes 
Meu  estro  voar  tentou  ; 
Foi  aqui  que  me  sorria 
0  mundo,  a  vida,  a  poesia ; 
Sou  quasi  teu  hlho,  sou. 


Andei  la  por  longes  terras, 
Tantas  cidades  que  vi , 
Outros  climas,  eutras  serras, , 
E  as  vezes  scisniava  em  ti ! 
De  Londres  vi  a  grandeza, 
Vi  0  incanto  de  Veueza, 
De  Paris  a  seduccae; 
Vi  de  Roma  os  monumentos, 
E  mesmo  n'esses  mementos 
Foi  fiel  meu  coracao. 


220 


0  Rheno  com  sous  oaslellos, 
Vienna.  Milao,  Bcrlim, 
Da  Suissa  os  CantOes  hellos 
Nao  me,  fallavam  a  mini; 
Kao   fallavam   f(inio  fallas, 
Coimbra,  nas  liias  gallas 
Que  eu  sei,  que  apprendi  de  cor, 
Nao  diziam  o  que  dizes 
N'esse  estendal  de  malizes, 
Que  tens  do  ti  ao  rcdor. 


Se  nao  contas  tantas  glorias 
Quantas  per  la  querem  ter, 
Es  um  livro  de  mi'morias 
Que  umportiiguez  sabe  ler; 
Eu,  por  mini,  n'ossa  tua  fronto, 
N'essas  colli  nas  del'ronte, 
No  tcu  lie  de  crystal, 
Na  tua  I'oiUe  dos  amores , 
No  ar,  na  terra,  nas  flores, 
Leio  em  tudo — Portugal! 


Aos  que  pedirem  facanhas 
D'audaz,  guerreiro  valor, 
Tu  as  podes  dar  tamanhas 
Que  OS  facam  mudar  de  cor; 
Se  quizerem  da  cidade 
Provas  d'antiga  lealdade 
Apontas-llie  o  ten  Martini; 
Tens  sobeja,  altiva  gloria, 
Mas  nao  e,  nao  e  tua  historia 
0  que  so  me  faila  a  mim. 


Tudo  aqui  me  falla,  tudo, 
D'csse  tempo  que  la  vae, 
Quando  nas  lides  do  estudo 
Tive  em  cada  nit-stre  um  pae; 
Falla-me  o  si  no  da  torre 
(]oin  nm  soni  que  nunca  niorre 
Nos  ei-lios  ([ue  a  vida  tern; 
Fallam-me  os  dias  d'outrora 
Cum  lolguedo  era  cada  hora, 
Com  horas  que  mais  nao  vcem. 


Leml)ram-nie  aquelics  passeios 
La  baixo  no  Sulgiieiral , 
<)u  na  Ldpa  dos  Bsleios, 
Ou  no  fulgente  Areal; 
Lembram-me  as  idas  a  Cellar, 
\s  suaves  tardes  bellas, 
Passadas  da  Ponte  no  ()'; 
E  quando,  ja  n'essa  cdado, 
No  Penedo  da  Saudade 
Saudadcs  geniia  so. 


Nem  mc  licaes  esquecidos, 
Antigos  socios  de  entao, 
Que  a  esses  dias  volvidos 
Yossos  nomes   iionie  dao; 
Foi  vida  de  irmaos  a  nossa, 
\(iui  o  palacio  e  a  cboca 
Erani   por   dentro  eguaes; 
Crencas  vivas,    rosto  puro, 
Ollios  litos  no  fuluro, 
No  amor  da  palria  rivars. 


Esia  mesma  casa  ...  oli !  quanta.-^ 
Quantas  lembrancas  me  traz! 
Palco  aniigo,   tu   me   incantas 
Co'as  imagens  que  me  das; 
Comi)5e-me  inteiro  o  passado, 
E  d'esse  viver  sonliado 
Deixa-me  agora  enganar. . . 
Mas  nao.  .  .  logar  ao  presente. 
Que  cil-o   se  ergue  nobremento 
Com  novos  loiros  sem  par. 


Quaes  fonios,  sois  hoje  a  esp'raufa, 
Mancebos,  da  patria  a  lior, 
Do  I'uturo  segnranca. 
Das  nossas  lettras  penhor; 
Entre  vos  o  rei  da  lyra 
Bem  vedes  que  vos  inspira, 
Brandindo   um  faclio  do  luz, 
Bem  vedes  o  imnienso  brilho 
Com   que  o   nome  de  Castillio 
Em  nossas  glorias  reluz. 


Eia,  mancebos,  avanle, 
Vcncei-nos,  vencci-nos,  vos; 
Soja  a  patria  triumphante. 
Que  e  0  que  importa  a  todos  nos 
Tendes  crenca,  logo  e  vida, 
Tendes  a  alma  despida 
Do  lodo   das  vis   paixocs; 
Levae  ao  mundo  essa  aurora, 
E  sobre  os  brazOes  d'outrora 
Levantae  novos  brazoes. 


Eia,  pois,  Coimbra  seja 
Primavera  do  porvir, 
E  n'elia,  man  grado  a  inveja, 
Portugal  senipre  a  llorir; 
Ob!  possa  eterno  este  sulio, 
Este  augusto  caiiitolio 
Das  ])atrias  leltras.  brilbar. 
Que  eu ,  tornado  de  respeiio, 
Eu  sempre,  dentro  do  peilo, 
Uei-de  seu  nome  guardar. 

Cuimbra,  ga  Ue  Noverabro  dc  lllj-t. 
J.  DB  LEMOS. 


221 


METEOROLOGIA. 


AURORAS    BOREAES. 


Na  tabella  das  auroras  lioreacs  observadas 
em  Norwcpa  e  Christiania  desde  1837  ale 
1853,  per  llansteen,  director  do  ohsorvalorio 
d'aqiiella  cidade,  iiota-se  um  phenomeno  mui 
imporlante,  e  que  ja  anteriormente  fora  re- 
conhecido  por  Mairan. 

As  auroras  boreaes  soguem  uma  pcriodici- 
dadc  annual,  c  aprcsentam  todos  os  annos 
doismaxiraos,  c  dois  minimos  mui  distinctos. 
Os  maximos  correspondcra  aos  equinoccios,  e 
OS  minimos  ao  soisticio. 

Os  minimos  do  soisticio  sao  tam  nolaveis, 
que  durante  os  16  annos  das  observacoes  de 
Hanstcen  nao  houvera  uma  unica  aurora 
boreal  cm  todo  o  mcz  de  junho. 

Quetelet  nota  tambem,  que  desde  1739  ate 
1762,  de  783  auroras  boreaes  observadas  em 
Upsal,  uma  unica  tivera  logar  no  mez  de  junho. 
Fora  para  desejar  que  estas  observacoes  so 
gencralisassera  a  outros  pontos,  c  por  uma 
.serie  maior  de  annos;  entre  tanto  aquclle 
periodo  de  16  annos  do  constantes  observafoes 
e  ja  de  grande  importancia. 

«  E  mui  digno  de  altencao,  diz  Quetelet, 
que  no  tempo  de  Aristoteles,  pelos  annos  de 
384  e  322  antes  de  J.  C.  a  luz  polar  fosse 
visivel  na  Macedonia,  por  que  n'uma  obra 
dedicada  ao  rei  Alexandre,  o  A.  menciona 
rauitos  pbenomenos  luminosos  no  eco,  a  que 
eilc  da  0  nome  gencrico  de  esplenclores. 
Alguns  subiam  acima  do  horisonte  com  extra- 
ordinaria  velocidade;  em  quanto  outros  nao 
passavam  do  mesmo  logar;  umas  vezes  dcsap- 
parcciam  deprompto,  outraspcrmaneciam  por 
mais  tempo,  e  aprcscntavam-se  debaixo  das 
mui  variadas  formas,  a  ([ue  davam  differen- 
tes  nomes,  ora  na  parte  oriental,  ora  na 
occidental  do  ceo,  ora  em  lini  n'um  ponlo  inter- 
raedio.  N'outra  obra  faz-se  mencao  de  uma 
luz,  occupando  um  grande  espaco  no  ceo 
tanto  em  iargura  como  em  comprimcnto,  as- 
semelhando-se  a  uma  fogueira  de  colrao  no 
meio  de  um  campo. 

Seneca,  que  vivia  em  Roma  no  tempo  de 
Nero  (SO  annos  depois  de  Jesu  Christo)  tracta 
deste  phenomeno,  descrevendo  assim  aquellas 
auroras  boreaes,  a  que  davam  o  nome  de 
cavernas  profundus,  em  razao  da  sua  appa- 
I'encia. 

"  Cum  velut  corona  cingente  introrsus  ipneus  coeli 
"  recessus  est,  similis  effossae  in  orbem  speluncae  ' ;  >» 

As  aberturas,  que  assim  ehamavam  as  au- 
roras boreaes,  que  aprcsentavara  uma  certa 
forma,  sao  descriptas  pclo  mesmo  A.  do 
scguinte  modo. 

«  Cum  aliqnod  coeli  spatium  desedit,  et  flammam 
"  dehiscens,    velut  in  abdito,   >t>tentat.   " 

'   De  Qtiaeslionibus  nataralUm  —  caji.  XIV. 


N'outra  parte  acrescenta : 

«  (.'olores  qiioque  honim  omnium  plurimi  sunt ;  quidani 
"  rnl)oris  acerrinii,  quidam  evanidae  ac  levis  flammae, 
«  quidam  candidae  lucis,  quidam  micantes,  quiduni 
u  aecjualiter,   et   sine   eruptionibus   aut   radiis   fulvi,  ■' 

No  capitulo  XV  diz: 

»  Quidam  fu]j;ores  certo  loco  pcimanent,  et  tanluni 
4(  lucis  eniittunt,  ul  fulijent  lenebras  et  diem  repraesen- 
t(  tent,  dnnf'c,  conisunipto  alimento,  primum  obscuriores 
.1  sint,  deiude  llammae  modo,  quae  in  se  cadit,  per  as- 
(*  siduam  diminutionem  redifijantur  in  nihilum.   » 

< Dubium    an  inter  hos  (coraetas)  ponantur 

"  trabes  et  pitliitae ;  raro  sunt  visi.  Multa  eruni  conglo- 
u  batione  ignium  indigent,  cum  ingens  illorum  orbis 
"   aliquando  malutini  ampliludinem  solis  exsuperet.    " 

Plinio,  0  novo,  na  sua  historia  naturalis, 
tractando  no  capitulo  XXV  do  livro  2.°  de 
coiiu'tis  el  coeleslihus  prodigiis,  natura  et  situ, 
et  (/eiieribits  eorum,  conclue: 

"  Omnes  ferrae  cernuntur  sub  ipso  septentrione . 
(c  aliqua  ejus  parte  non  certa,  sed  maxime  in  Candida, 
"   quae  lactei  circuli  nomen  accepit.    x 

Quetelet  cita  tambem  os  seguintes  versos 
de  Lucano'. 

"  Ignoia  obscurae  viderunt  sidera  noctes, 

»  Ardentemque  polum    flammis,   coelo    que  volanto 

«  OI)liquas  per  inane  faces,   crinemque  timendi        , 

«   Sideris,   et  terris  mutantem  regna  cometen. 

«   Fulgura  fallaci  micuerunt  crebra  sereno. 

M   Et    larias    ignis    denso   dedit   aere  formas, 

u  Nunc   jaculnm  longo,   nunc  sparso  luniine  lam])a.> 

w   Emicuit  coelo  :    tacitum  sine  nubibus  ulUs, 

"  Fulraen,  et  Arctois  rapiens  de  partibus  ignem. 

"   Percussit   latiale  caput,  etc.   " 

Para  explicar  esle  facto  sera  necessario 
suppor  que  a  regiao  magnetica  mais  forte,  que 
actualmente  csta  quasi  no  meridiano,  a  DO" 
0.  de  Greenwicb,  existia  no  tempo  de  Aristo- 
teles em  um  meridiano  de  pcrto  de  24°  ao  E;  e 
que  pclo  seu  movimento  de  E.  para  0.  cbegara 
ao  logar  que  presentemente  occupa,  nos  2:200 
annos  decorridos  desde  aquella  epoclia. 

Esle  movimento  do  centre  da  luz  polar  e 
tambem  conlirmado  pelas  anligas  relacocs  da 
Norwcga,  que  referem,  que  cm  remolos  tempos 
a  luz  polar  apparecia  mais  perlo  do  vcrda- 
deiro  norte,  e  que  successivamente  fora  ap- 
parecendo  mais  alta  no  ceo,  e  desviada  do 
sou  vcrdadeiro  centre  mais  para  o  Oesle. 

Consultando  muitas  obras  e  anligas  cbroni- 
eas,  Quetelet  ordenou  uma  tabella  das  ap- 
paricfles  da  luz  polar,  observadas  desde  o 
anno  de  602  antes  de  J.  C.  ate  ao  presente, 
por  onde  se  conhece,  que  vinte  e  quatro  vezes 
durante  este  longo  periodo,  a  luz  [lolar  se 
manil'cstara  mais  ou  menos  frequenle,  com 
grandes  intermitcncias,  em  que  parecia  tci- 
completamente  desapparecido  ao  menos  das 
regiOes  do  meio  da  Europa,  sendo  unicamen- 
te  visivel  na  Groclandia. 

As  epochas  em  que  a  luz  polar  apparecera 
com  maior  intcnsidade  forani  a  9."  de  oil  .i 
603;  a  12.'  de  823  a  887  (sessenta  e  quatro 
annos);  a  22'  de  1500  a  1588  (oitenta  e  oiio 

'   I'analia — Lib,  I,  v,  521,  e  segg. 


222 


aunos.  c\v.  quo  n  mni-iiuum  fora  enlrc  os  annos 
dc  Vm  a  i;i88);  c.  a  24."  dc  1707  a  1788 
ou  17flO  (dc  oitcuta  c  uiij  annos,  scndo  o 
ma.rimum  por  \l'i{)).=zVeja-st  l'i>stitut.  1.'" 
Seel.  .Y.  1082,  sepl.  ISoi. 


OLEO  l)!i  IIGADOS  DE  BACALHAl!. 

Os  osl'orros  praprep;ados  por  todos  on  cliiiiros 
pani  ohslar  aos  terriveis  cH'iMios  das  molestias 
tuhcrciilosas  dos  pulniOcs,  Ihos  teem  I'eito 
lanc;ar  niao  dos  dilVereiUes  meios  ate  hojc 
iiiiapiiiados  para  conseguir  urn  tal  fim. 

0  oieo  de  ligados  de  liacalhaii  esta  u'este 
caso,  V.  julgaiiios  de  bastaiite  interesse  as 
considcrai'Ocs  que  a  cerca  d'oste  mcio  tliera- 
peutic'o  0  Dr.  Williams  expeiideu  n'um  artigo 
puhlicado  no  jornal  do  mcdicina  de  Londres. 

0  oleo  de  ligados  dc  l)a(alliau  administrado 
pcio  Dr.  AN'illiams.  em  mais  de  400  rasos  dc 
molestias  tuberculosas  puhnonares  foi  seguido 
dc  rcsiiltados  os  mais  lisonjeiros.  De  234  casos 
([ue  apontou  no  seu  diario  notou  que  apenas 
lioiive  9  em  que  o  oleo  produziu  mau  elTeito, 
c  19  em  quo  a  sua  accao  i'oi  indilTerente: 
nos  rcstantes  o  seu  uso  foi  seguido  do  notavel 
.iprovcitamento. 

A  poquena  por(;ao  dc  iodo  que  enira  na 
composirao  do  oleo  de  figados  de  bacalliau', 
a  observarao  de  que  os  docntcs  iiao  cxperi- 
nientam  com  a  administracao  do  iodo,  em 
varias  combinacOes,  mudanfas  seniclhantes 
as  que  se  seguera  do  uso  do  oleo,  teem  levado 
0  Dr.  Yiilliams  a  negar  a  influencia  do  iodo 
no  curalivo  ,  e  a  attribuir  tal  eU'eito  a  uma 
virludc  especial  c  privativa  do  oleo  de  ligados 
dc  bacalhau.  '■ 

Propricdadcs  nutritivas  Ibe  sao  tambem 
assigaadas,  e  reconbocidas  por  todos  os  pra- 
ticos,  nao  sc  liniitando  eslas  a  uma  simples 
dcposieao  de  gordiira  no  tecido  adiposo,  mas 
augmcnlando  sciisivel  c  rapidamenlc  a  forra 
c  actividado  museulares,  o  niellioraudo  a  cdr 
das  faces  e  labios,  indicio  d'um  intujncscimen- 
to  de  vasos  com  mais  c  mellior  sanguc.  As 
analyses  d'csie  liquido  n'um  caso  de  plubisica, 
tratado  pclo  oleo  dc  ligado  dc  bacalliau  mos- 
traram  um  notavel  augmeuto  nos  princijiios 
auimacs  especialmenlc  na  albumina;  a  fibri- 
ua,  geralmcnte  abuiidante  nos  pblbisicos  loi 

'  Se^iiiulu  Girardin  e  Preiwser  em  cad,i  Iiir(»  d'ulc) 
entram  api-ii.Ts  1.t  centijjrurama.^  d'iodurcln  de  pofassin. 

^  Eala  upinirio  de  Williams  niio  <■  segiiida  por  todog; 
al^uin  ha  para  os  quaes  a  grande  divi.sao  em  t{\iK  o 
iodureto  se  eucontra,  favoreceiido  a  sua  absor]K;rio  i)e|o.s 
t»-cidos,  e  a  causa  efliciente  duii  efTeitus.  uttribuidos  ao 
ulco. 

OulroR  afGrmao  que  o  oleo  noo  sendu  eliminado  da 
ecouomia  com  tanta  facilidade  como  as  outras  prepa- 
ra<;ops  soliiveis  d'iodo,  a  arrrio  d'e~te  etemente  l'c  toriia 
a?^^m  mais  lenta  e  regular. — 


rciluzida  a  ordinaria  proporcao.  A.  gordura 
nenhum  augmenio  solTrcu. 

Se  cstes  rcsiiltados  tbrem  confirmados  por 
subsoqucntes  observacoes  nao  diividaremos 
altirmar  que  o  oleo  de  ligado  dc  bacalbau  .sera 
ainda  lentado  conio  nutricnte  de  todas  as 
tcxturas;  pois  (|ue  o  augmeuto  do  principio 
albuminoso,  iniporta  o  de  um  dos  mais  neces- 
saries a  uulrirao,  ]ior  isso  (jueco  ((uc  sc  acha 
mais  disseniiuado  na  economia  animal.  Nao 
deixa  porcm  dc  scr  objecto  de'duvida  sc  a  um 
trabalho  intimo  cntrc  a  albumina,  c  libi;ina, 
ou  a  uma  mcnor  pcrda  dc  principios  albunii- 
nosos  no  acto  ri-spiratorio  se  dcve  attribuir  tal 
augmenio  dc  niitrii,'ao. 

A  gordura  rcprcscuta  um  imporlante  papol 
no  proccsso  nutritivo,  qucr  formando  as  cel- 
lulas  pclo  podcr  dc  coagular  a  albumina  em 
loruo  de  si,  como  suppOe  Acberson  de  Ber- 
lin, qucr  originando  as  molceulas  centracs 
dos  granules  dcmentares  das  texturas,  como 
opinao  outros.  0  oleo  de  figados  de  ba- 
calbau nao  suppre  a  gordura  ondc  d'ella  se 
carece,  mas  torna-a  de  melbor  especie,  mais 
fluida,  c  divisivcl,  menos  sujcita  a  mudancas 
c  mais  apta  para  scr  absorvida  para  o  intimo 
dos  orgaos,  oH'crerendo  no  chylo  uma  delicada 
base  molecular,  c  materia  para  um  melbor 
liquido  nutritivo. 

A  ac(;ao  bcnelica  do  oleo  torna-se  assim 
mais  notavel  nos  periodos  de  molestias  tu- 
berculosas cm  que  os  depositos  abundam  em 
gordura.  Um  dos  mais  notaveis  cITcitos  do 
oleo  de  ligados  de  bacalbau  em  certos  casos 
de  pblbisica  no  scgundo  ou  terceiro  grao,  ou 
em  molestias  cscropbulosas  com  grande  sup- 
puracao,  e  o  prompto  desapparecimento  dos 
suores,  e  outros  symptomas  caractcristieos  da 
febrc  hectica. 

.\iuda  que  csle  plicnomcno  seja  attribuido 
por  alguns  auctorcs  ao  podcr  nutritivo  do 
oleo  de  ligado  de  bacalbau,  julga  o  Dr.  Wil- 
liams que  sc  pode  explicar  por  uma  quebra 
na  insalubre  sujipuracao  excitada  em  torno 
dos  tubcrculos  amolecidos  e  cscavados  Esta 
diminuicao  de  siippiiracao  e  devida  a  mcnor 
oxidacao  dos  atoinos  exsudados,  a  cuja  ultra- 
oxidacao  attribuc  Williams  a  sup|)uracao. 

A  prcscuca  d'lima  materia  lao  combustivel 
como  0  oleo  obsta  a  esta  ultra-oxidacao.  e  por 
conscguinte  aos  pbcnomcnos  suppuratorios, 
prevenindo  d'cste  raodo  a  degencracao  dos 
corpusculos  no  cstado  plastico  dos  globule? 
purulcntos. 

Se  sc  provar  que  o  oleo  dc  figado  de  ba- 
calhau aparta  o  cxcesso  de  fibriua  no  sangue 
dos  pblbisicos,  d'accordo  vae  esta  explicacao 
dc  ^N  illiams  com  a  sua  doutrina  a  cerca  da 
I'ormarao  da  fibriua.  que  clle  faz  provir  d'uma 
oxidacao  da  albumina,  pois  que  o  oli'O  im- 
pedindo  esta  oxidarao  diminue  a  teudencia 
para  os  depositos  inilammatorios. 

0  oleo  dc  ligado  de  bacalhau  raras  veze* 


223 


perturba  o  csloraago  o  os  inlestinos,  on  altera 
as  I'unccOes  hepalicas.  Nisto  csta  cm  op- 
posicao  com  os  oulros  olcos  e  Korduras;  — 
porque  OS  olcos  vcgetacs  orilinariamcnte  teem 
avirtude  piirgativa,  e  os  d'origcm  animal  tor- 
nam-se  rancidos  causando  acidez  nas  vias  di- 
gcstivas,  ata(Hies  hiliosos,  easvezesa  icliricia. 
is  funcfocs  clix  iopocticas,  e  a  acrao  do  figado 
sao  de  tal  modo  mclhoradas,  que  cm  algiins 
CBsos  aprescntados  na  pratica  do  Dr.  Wil- 
liams 0  appetite  c  o  poder  digestivo  foram 
restaurados  c  os  docntes  habilitados  a  tomar 
maior  poriao  d'alimenlos  do  que  a  ordinaria. 

Esta  inlluenria  peptica  e  de  rerto  devida 
a  algum  principio  bilioso  contido  no  oleo ; 
favorefcndo-sc  d'cst'arte  a  divisibilidade  no 
processo  da  digestao,  epromovendo-se  a  natu- 
ral secrccao  do  figado. 

Durante  a  administrarao  do  oleo  de  figado 
de  bacalbau  tcm-se  notado  que  a  bile  corre 
livre  e  uniformemente;  o  volume  do  (igado 
augmenta  scm  sc  notar  moleza  alguma  ou 
outro  signal  d'alleraffio.  Diz  o  Dr.  Williams 
que  isto  parece  scr  uma  cspecie  de  hypcr- 
irophia  causada  pcio  oleo  que  augmenta  o 
volume  c  quantidade  das  cellulas  hepaiicas, 
e  suppre  ao  raesmo  tempo  uma  materia  mais 
apta  para  a  seiretao  biliar,  por  quanto  ja 
contem  alguns  elemcntos  que  serviram  para  o 
mesrao  uso  no  ligado  do  pcixe,  ainda  que  a 
uma  tempcratura  mais  baixa  e  por  conseguinte 
menos  lavoravcl  a  actividade  do  processo. 

Estas  obscrvacocs  nao  (icaram  cstcreis.  0 
Dr.  Williams  emprcgou  o  oleo  de  ligado  de 
bacalhau  em  varias  molestias  do  ligado,  cara- 
cterisadas  por  diminuicao  ou  alteracao  dos 
productos  segregados :  notou  que  o  scu  uso 
era  scguido  dos  mais  satisfactorios  resultados, 
principalmcnte  n'um  caso  de  formacao  de 
calculos  hepaticos  cjue  tinbam  resistido  a  todas 
as  formas  de  tratamento. 

Ainda  que  ulteriores  observacoes  scjam 
neccssarias  para  delerniinar  precisflmente  a 
extensao  que  se  pode  dar  ao  uso  d'este  agente 
therapeutico  nas  molestias  tuberculosas  pul- 
monarcs,  julgamos  comtudo  que  os  casos  ja 
cilados  poderao  servir  d'incentivo  para  investi- 
gacOes  mais  profundas. 

F.  A.  ALVES. 


GR.4VIDEZ  EXTRA-UTEUIN.\  DE  16  ANNOS. 

Sao  pouco  vulgares  as  gcstafoes  extra-ute- 
rinas,  e  ainda  menos  as  que  nao  tocam  um 
termo  fatal  logo  ao  fim  dos  9  mezes  ou  pouco 
depois.  Esta  gravidez  de  10  annos  da-se 
n'uma  mulher  casada'ba  2S  annos  e  com  Ki 
de  edade.  Vive  na  Serra  do  Monro,  concelbo 
de  Cbao  de  Couce,  e  chama-se  Maria  Fran- 


cisra.  Obscrvci-a  a  primcira  \C2  cm  marco  de 
184o,  e  repeti  a  obscrvacao  em  julbo  passado. 
D'ambas  as  vezes  encontrei  no  ventre  uni 
corpo  elliptico,  ou  antes  com  a  forma  d'um 
rim,  com  cinco  pollegadas  no  scu  maior  dia- 
metro,  dure,  bolcado,  c  tao  movel,  ipie  facil- 
mente  o  liz  pcrcorrer  toda  a  cavidadc  abdomi- 
nal; occupando  a  rcgiao  bypogastriea,  aiguni 
dos  hypocondrios  etc.,  segundo  a  posijao  da 
mulber,  c  obodecendo  sempre  ao  proprio 
peso. 

A  mulher  leve  um  parlo  regular  no  prr- 
meiro  anno  do  scu  casamenlo;  e  passados 
annos,  em  outubro  de  1S38,  julgou  tcr  con- 
ccbido  segiinda  vez.  Trez  mezes  depois  ap- 
])arcceu-lbe  uma  metrorrhagia,  acompauhada 
de  violentas  dores,  que  logo  se  modilicarani, 
dcmorando-se  a  bemorrhagia  por  mais  de, 
sete  scmanas.  Este  incidente  nenhuma  descon- 
lianca  Ihe  produziu,  por  ver  que  na  progres- 
siva elevacao  do  ventre,  nos  movimentos  do 
feto,  na  intumesccncia  dns  pcitos,  e  em  ludo 
0  mais,  se  tinbam  manifestado  todos  os  pbc- 
nomenos  d'uma  gravidez  ordinaria.  Fez  o 
enxoval;  e,  no  lim  do  tempo,  quando  o  c.spe- 
rava,  appareccram  as  dores  em  tudo  semc- 
Ihantes  as  do  primeiro  parto.  A  parteira, 
surprebendida  com  a  demora,  custou-Ihe  a 
convencer-se  de  que  eram  frustrados  os  sens 
trabalhos,  e  que  d'esta  vez  nao  teria  a  satisAic- 
gao  de  aparar  a  crianca.  Logo  no  1.°  dia 
reappareceu  a  metrorrhagia;  ao  3.°  dia  cxtra- 
vasou-se  o  leitc,  e  ao  8.°  scccou  de  todo. 
As  dores  foram  abrandando  pouco  e  pouco ; 
8  0  volume  do  ventre,  que  diminuia  succes- 
sivamente,  ficou  no  lim  de  seis  scmanas, 
quando  deixou  de  correr  o  sangue,  conio  um 
ventre  de  mcia  gravidez.  Em  1845  ainda 
tinha  este  volume,  mas  acbei-o  menos  clcvado 
a  ultima  vez  que  o  obscrvci.  Deixou  de  scniir 
OS  movimentos  do  fcto  desde  os  primciros 
dias  d'aquclle  trabalho.  Passado  pouco  tempo 
rcgularisou-se-lhe  a  menstruacao,  que  so 
dcsappareceu  na  edade  compctcnte. 

Ficou  soU'rcndo  babilualmcnte  dores  no 
ventre,  que  pouco  a  incommodavam  ;  mas  que 
uma  ou  outra  vez  subiam  de  ponio,  so  com 
0  bar,  com  uma  volta  na  cama,  e  sempre  que 
tentava  services  pesados.  De  1843  para  cii 
tcm  solTrido  muito  menos,  e  ja  ha  annos  que 
se  entrcga  a  toda  a  casta  de  services  duma 
mulher  do  campo. 

Esta  gravidez  extra-uterina  parece  das 
abdominaes  primitivas;  e  tudo  leva  a  crer 
que  0  fcto,  tcndo  morrido  no  lim  do  tempo 
da  gestacao  ordinaria,  e  involvido  nas  pro- 
prias  membranas  ou  n'um  kysto  de  no\a 
formacao,  se  conserva  mumificado,  ou  todo 
convertido  em  substancia  ossea  e  cretacca. 
Neste  estado  pode  conscrvar-se  indclinida- 
mente,  sem  comproraetler  a  vida,  nem  mcsnio 
prejudicar  a  saude  da  mulber. 

A.  A.  Ds.  COSTA  SIMUES. 


224 


OUSEU\ 

AtOES  METEOROLOGICAS.  FEITAS  NO  GABIXETE    DE  I'HYSICA 

DA  UNIVEKSIDADE    LE  COIMBRA. 

AllQo  lie 
1HJ4 

PresiSo   at 

llos|iherica  ao  nieio   diit 

K.slddu  hygromelrico  da 

=     3 
—     '-J 

.itinuspliera  au  meiu  dia 

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A:;.J»lo 

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vapor  aqaoto 
GuDtido  no  »t 

ar  8eccu 

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OS 

vapor  conlido 
cubico  de  at 

?  5 

~   o 

11 

tempo. 

Dias 

Ur.ici= 
eeiilt^'. 

Milhmelrus 

Milliraelrit 

Uillimelros 

Grammas 

I 

23 

749,153 

13,791 

735,362 

0,7103 

13,05 

N 

Nublado.  Bom  tempo. 

■0 

22 

;5i,20l 

14,044 

738,157 

0,7233 

13,80 

N', 

Clar.  elimp.  T.  seren. 

:i 

21 

752,06.) 

11,818 

740,251 

0,04.12 

11,05 

N. 

O  mesmo.    O  me.^smo. 

•I 

2i 

751,600 

13  015 

738,051 

0.0703 

12,79 

N. 

O  mcemo,    O  mesmo. 

5 

22 

750,396 

14,255 

736,141 

0,7342 

14,01 

N. 

Cliuva.  Vento. 

6 

21 

"50,518 

12,364 

738,156 

0  6749 

12,19 

N. 

Nublado  Bum  tempo. 

7 

22 

749,153 

12,067 

737,08'j 

0,0215 

11,86 

E. 

Nublado  Bom  tempo. 

8 

20 

748, 6B5 

12,744 

735,941 

0,7361 

12,61 

E. 

CInr.  e  limp.  B.  temp. 

9 

21 

748,614 

13,343 

735,271 

0,7285 

13,16 

E. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

10 

23 

752,383 

14  058 

738,325 

0  6832 

13,77 

N. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

11 

23 

753,450 

14,0511 

739,392 

0,6832 

13,77 

N. 

Cbuva.  Temp,  venloso. 

12 

21 

751, 7aa 

13,728 

738,060 

0,7495 

13,54 

O. 

Nublado   Bom  tempo. 

13 

21 

749,681 

13,944 

733,737 

0,7613 

13,75 

N. 

Claroelimp.  Veutoso, 

14 

21 

751,337 

14,329 

737,028 

0,7823 

14,13 

O. 

Claro elimp.  Ventoso. 

15 

21 

754,355 

10,089 

743,406 

0,5945 

10,74 

N. 

Claroe  limp.  B.  temp 

a    ^^ 

21 

753,083 

12,277 

740,1108 

0,6703 

12,10 

N. 

Encuberlo  T.  \entofo. 

t     '^ 

22 

751.693 

13,986 

737,607 

0,7203 

13,74 

O. 

Nublado   Bum  tempo. 

1       18 

23 

751,409 

14,982 

736,487 

0,7281 

14.67 

O. 

Claroelimp.  T. seren. 

1!) 

24 

751,957 

13,601 

738,356 

0,6238 

13,28 

SE. 

Claro  e  limpu  B.  temp. 

20 

25 

750,230 

13,909 

736,321 

0,6024 

13,53 

S. 

O  mesmo.    O  mesmo 

31 

25 

751.323 

15,941 

735,382 

0,6903 

13,31 

NO. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

2« 

25 

751,831 

16  631 

735,200 

0,T2O2 

16,18 

NO. 

Ciar.  e  hmp.  Ventuso. 

23 

24 

752,311 

14,357 

737,654 

0,6CT6 

14,21 

NO 

O  mesmo.    O  mesmo. 

S4 

22 

752,963 

ll,l!85 

741,078 

0,0931 

11,68 

NO. 

O  mesmo.    0  me^mo. 

23 

25 

754,067 

13,193 

740,874 

0,5714 

*      12,83 

E. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

26 

23 

752,339 

11,832 

740,507 

0,S904 

11,31 

E. 

O  mesmo,    O  mesmo. 

27 

27 

751,083 

15,378 

T35,T05 

0,5942 

14,80 

N. 

Clar,  e  limj).  T.  seren. 

28 

26 

751,205 

14,U20 

736,385 

0,6061 

14,37 

E. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

29 

26 

753,743 

12,243 

738,502 

0,6234 

14,78 

E. 

Clar.  elimp.  B.  temp. 

30 

26 

752,831 

14,913 

73T.968 

0,6099 

14,46 

E. 

O  uicsmo.    O  mesmu. 

31 

2a 

752,231 

10,985 

741,24« 

0,3939 

10,58 

N. 

O  mesmo.    O  mesmi. 

nieilia  ) 
du  mez  \ 

23,12 

751  695 

0,6646 

to 

S 

Taiiji 

eralura 

Prcssao  atmospkerica 

Urdu  de  hnmidade  do  ar 

^ 

Vciiloi  prcdomifiauUs 

« 

Maxima 

absul.      28 

Maj.absol.      754,067 

Maxima  abicd.  0,7823 

Minima  . 

...       20 

Minimi  .  .      743,614 

Minima    .  .   .  0,3939 

N.  e  E. 

M.ixima\ 

arinr.         8 

Max.  excur  .  .     5,453 

Max.  varia;.  .  0,3884 

Coiin 

bra  1."  de 

Setembro  de 

1854. 

O  Demuiisir 

iilor  da  FHciil.lade  de  PI 

iloKojthia,  Manoet  dos  Sc 

HlOS   P 

'rei'ra  Jar  dim. 

&&9 


itiit0, 


•    Uii'>    iOi 

■J  oir«iiIIi 

.lORNAL    SCIENTIFICO     E  LITTERARIO. 

aoioc,  j.u-  'jhr.lAioS  ?■()(]  h  f:oy:-jl  torin.  [f  -.b  ioif 

■!■  linn  ■■!  ^ 


.\U  OUi  • 


4ao'j  Qii  Klin 


>  9  ,Gh>nfi{IoD/t>  loYBJaaJ/' 

nvnol 


if  Satidade  !  gusto  amargo  de  infelizes  , 
w  Que  me  estAs  repassando  o  intimo  peito 
*i  Com  dur  ^   (I'lc  eg  seios  d'alma  dilacera !  » 
Gabbbtt  —  Camies. 


O  IxsTiTUTo  DE  CoiMBRA.  acaba  de  perder  o  seu  maior 
omameiito  — o  mais  illustrc  e  distincto  dos  seus  SociosHo- 
norarios-  o  Sr,  Visconde  d' Almeida  Garrett!!! 

Engenho  sublime,  geuio  raro  e  portentoso,  Joao  Bapti- 
sta  d' Almeida  Garrett  fora  como  poeta,  como  romancista , 
e  como  orador  politico  um  dos  homens  xnais  erainentes 
d'este  seculo;  e  o  primeiro,  sem  duvida,  dos  nossos  poetas, 
depois  de  Cam5es. 


Vol.  III. 


De^kmbjio  lu — 183i. 


NcM.  18. 


^-^A^^,^^^^^-^- 


226 


O  theatre  nacional  Ihedeveu  a  sua  regeneracao:  ou  antes 
foi  elle  o  creador  d'esse  theatro  moderno,  que  o  nosso 
illustre  Consocio  immortalisara  coni  o  seu  Gil  Vicente,  e 
Fr.  Luiz  de  Sousa. 

Na  preciosa  colleccao  das  suas  obras  poeticas^  o  illustre 
Cantor  de  Camoes  legou  a  posteridade  um  perenne  niouu- 
mento  das  sublimes  iuspiracoes,  profundos  talentos,  e  in- 
contestavel  excellencia,  e  elevacao  de  espirito,  que  fizera  do 
nosso  grande  Poeta  o  digno  emulo  dos  maiores  engenhos, 
que  a  Europa  adniirara  desde  Milton,  e  Shakspeare,  at6 
Byron  e  Lamartine. 

Romancista  conceituoso ,  do  mais  fino  e  polido  gosto; 
orador  consi^mmado  nas  lides  da  tribuna,  o  Visconde  d'Al- 
3IEIDA  Garrett  terminou  a  sua  brilhante  carreira  ao  cabo 
de  longa  e  tornaentosa  enfermidade ,  deixando  no  estadio 
das  letras  patrias  um  Nome,  que  as  maiores  glorias  littera- 
rias  nao  poderao  nunca  eclipsar. 

Nos  Annaes  do  Instituto,  que  teve  a  fortuua  de  contal-o 
no  numero  dos  seus  Socios,  flcara  elle  sempre  gravado  em 
indeleveis  characteres,  como  o  seu  maior  e  mais  glorioso 
tropheo. 


II  Em  prezaila  memoiia 

u  Vivjra  para  sempre  eternamenle, 

a  lua  gloria,   p 

GiBBETT — Flores  »em  Fructo. 


.oi-io8  ' 


r-\txun  omoj  .cJ'Jou  of 


■fi;nr  srrorrmd 


227 


CONSELOO  SUPERIOR  DE  INSTRUCQlO 
PUBLICA.. 

CO.NFEBENCIA  GEBAL  DE  31    d'oUTCBBO  DE  1854. 

Abriu  a  sessao  o  snr.  vice-reitor  e  vice-presideatc  Jose 
Ernesto  de  Carvallio  e  K.ego,  com  o  seguuite  dis- 
oureo: 

Senhores! — Em  Abril  passado  live,  pela 
primeira  vez,  a  satisfaccao  de  ver  reunido 
nestc  mesmo  logar  o  Conselho  Superior  d'ln- 
Etrucfao  Publica  em  confercncia  geral  or- 
dinaria,  na  qual  so  apresentaram  os  relatorios 
compleraentares,  relatives  ao  anno  iectivo  de 
1852  para  1853,  e  o  mais  que  decorrera  ate 
cssa  epocha.  Iloje  obedecendo  a  lei,  ainda 
me  cabe  a  honra  de  vos  annunciar  a  abertura 
desta  conferencia  tarabem  ordinaria,  ordcna- 
da  pelo  art.  21  do  regulamento  de  10  de 
novembro  de  1845,  cm  quo  vao  ler-se  os 
relatorios  do  anno  Icclivo  iindo. 

Comparando  o  estado  presente  da  Instruc- 
fSo  Publica  entre  nos  com  o  passado,  e  com 
0  das  Nagocs  mais  civilisadas,  se  nao  acom- 
panhamos  a  estas  com  passo  cgnal,  como  era 
de  desejar,  podemos  ter  a  satisfaccao  de  que 
as  seguimos  de  perto.  Ninguem  pode  ja  des- 
conhecer  o  notavel  melhoramento  da  Instruc- 
5ao  Primaria,  quanto  se  tem  alargado  a 
esphcra  do  ensino,  e  quanto  se  ha  melhora- 
do  sen  methodo.  Se  Portugal  nao  possue 
ainda  tantas  d'estas  escholas,  quantas  de- 
manda  a  sua  populacao,  o  numero  d'cllas 
Val  todavia  crescendo  progressivamente. 

Nao  e  menos  lisongeiro  o  estado  da  In- 
Btruccao  Secundaria ;  a  creaf ao  nos  Lyceus 
de  Lisboa,  Coinibra  e  Porto  das  cadciras  de 
arithmetica,  algebra  clementar,  gcometria 
synthetica  elementar,  principios  de  trigo- 
Dometria  plana,  e  geographia  mathematica; 
e  de  principios  de  pbysica  e  chymica,  e  in- 
troducfao  a  historia  natural  dos  tres  reinos 
augmentam  e  quasi  completam  a  sua  esphera. 
A.  sabia  e  salutar  disposijao,  que  prohibe  o 
ensino  particular  a  lodos  os  professores  pu- 
blicos  de  quaesquer  escholas  ou  estabeleci- 
mentos  ha  de  contribuir  ainda  mais  para  o 
melhoramento  e  perfeiyao  do  ensino  publico. 

A  Instruccao  Superior  tem  tambem  me- 
Ihorado  consideravelmente  nestes  ultimos  an- 
Dos;  0  esmero  com  que  os  conseihos  de  todas 
as  Faculdades  da  Universidade  tem  escolhido 
bons  compendios,  que  estejam  a  par  da  sci- 
encia;  a  preferencja  que  se  tem  dado  aos 
melhores  methodos  de  ensino,  provados  pcla 
experiencia ;  a  melhor  distribuijao  de  cadeiras 
e  combinafao  de  disciplinas,  tudo  tem  con- 
tribuido  para  o  seu  aperfeijoamento.  Os  con- 
seihos das  outras  escholas  separadas  da  uni- 
versidade lera  empregado  eguaes  esforcos 
para  o  mesmo  fim.  A  creacao  do  curso  ad- 
ministrativo,  em  que  se  adquiram  as  babilita- 
fSes  indispensaveis  para  a  carreira  da  ad- 
miaistrafao   geral,    e  que  j4   se  acha  em 


exercicio,  tonia  mais  ample  a  Instruc^So  Su- 
perior. 0  regulamento  para  se  por  ji  em 
practica  a  ultima  lei  dos  concursos,  para  o 
provimento  dos  logares  do  magisterio,  ha 
de  concorrer  efficazmente  para  o  seu  progres- 
sivo  engrandecimento  e  esplendor. 

0  Conselho  Superior  da  sua  parte  nao 
tern  cessado  de  dar,  pelo  modo  que  Ihe 
parece  melhor,  impulso  convenientc  a  todos 
OS  raraos  d'lnstrucfao;  e  vai  dar-vos  conheci- 
mento  d'algumas  diligencias  que  fez  nestc 
pequeno  periodo.  Dcsejando  porera  soccorrer- 
se  a  todas  as  illustrafoes,  aproveita  esta  oc- 
casiao  de  reuniao  geral  para  convidar  todos 
OS  sabios  do  Paiz,  a  que  na  forma  do  art. 
22  do  nosso  regulamento  aprescntem  suas 
memorias  ou  requerimentos,  lendentes  a 
proraover  os  melhoramentos  dos  estudos,  ou 
a  declarar  os  verdadeiros  obstaculos  contra 
0  seu  progresso;  e  a  proper  as  providencias 
mais  proprias  para  se  obterem  os  bcncficios 
d'uma  educacao  nacional  e  moral,  conforme 
as  necessidades  do  seculo. 

0  snr.  Secretario  da  1.'  Secjao  tem  a 
palavra  para  ler  o  seu  relatorio. ' 


miAERSIDADE  DE  COIMBRA-PROGRAMIIAS. 

FACULDADE  DE  DIREITO. 

18a3— ISoi. 
2."  ANNO.  — 5.*  CADEIRA. 

CDRSO  DE  DPREITO  PCBLICO  CNITERSAL  ;   DIREITO  PCBLIOO 

PORTUOOEZ  ;  raiNciPios  de  potiTici  ;  E  scie.nci,i  db 

LE(nSLA<;AO. 

Lenle  —  Dr.  Vicente  Jose  de  Sei^a  Almeida  e  Sitva. 

COMPE!^DIO  — I.-  A  MACAREL,  ELEMENTS  DE  DROIT  POLI- 
TIQUE, COIMBRE  I8W;  —  E  CARTA  CONSTITUCIOMAL 
PORTtOUEZA  DE  1026,  E  ACTO  ADDICIO\AL,  COIUBBA 
18.10. 

No(;5o,  divisSo,  fontes ,  e  siibsidios  do  Direito  Publico 
Universal.  Kaini  enlre  eJla  sciencia  e  outrns  ,  que  dizem 
mais  particidarmenlc  respeito  a  vida  hiimann,  e  ao  desin- 
voMmenlo  individunl  e  social  do  homem.  Rcspeclivaj 
proprieclades  de  todag  estas  «ciencia8,  rasoes  em  que  eilos 
cnnvpem,  e  por  onde  diversiOcam  do  Direito  Publico 
Universal ;  e  islo  mais  amplamenle  em  relaijao  4  Polilica, 
visto  ser  a  sciencia  inlennedia  enlre  o  Direito  Publico 
Philo!iophico  e  o  Direito  Publico  Posilivo. 

Necessidade  e  insienes  vaiilo^ens  do  estudo  d'esle  Di- 
reito ;  o  muiti  que  d'elle  depende  o  bem  da  Egreja  e 
do  Eslado.  Origem ,  progressos ,  e  estado  actual  da 
Sciencia, 

Defini(;5o,  origem  ,  'fim,  effeitos  da  eociedade  civil; 
Iheorias  das  dilTerentes  escholas  aobro  a  materia  ,  — juizo 
critico  It  cerca  de  cada  uma  d'ellas. 

Condi^oes  d'uma  boa  conililuiijSo  polilica  em  geral. 
Breve  nolicia  hislorica  da  roiisliliiii;iio  polilica  portugue- 
>a  desde  o  principio  da  roonarchia  ale  a  epocha  presente. 

Sobcrania,  sua  origem,  exercicio,  e  allribitlos;  theo. 
rias  das  diHerentes  escholas  &  cerca  da  materia. 

Divisao  dos  governos  ;  dos  goiernos  republicanos  ;  do« 
governos  monarcbicos  ;  dos  goiernos  mixtos. 

'  Os  relatorios  de  cada  uma  das  Sec5Jle9  deiiam 
de  ser  aqui  publicados,  por  isso  que  tem  de  publicar- 
se  em  tempo  competent*  o  relatorio  annual  io  inatru* 
^0  publica. 


228 


BoDtlade  intrinseca  doi  goffrnoi, 

Gnraoljds  iuciaes 

DivtsJo  du«  piidere*  politicos;  leu  fundaroento  ;  poder 
I^iilativo,  |iuUer  modtrador  ,  poder  executivu ,  poder 
Judicial. 

EleniCDtos  da  poder  le£:iclativo  ;  sua  orj;aniin(;ito ;  suns 
atlnbrri^Ses  Poder  moderador  ;  suas  allribiii.;5eg.  Ori^a- 
uiia^Ao  do  fiuder  exfciitivo  c  siias  altrihiii^Scs.  Organi* 
la^ao  t\o  |>od"T  judicial  ;  etpmentus  da  aticturtdade  jiidi- 
cial.  Pas  caii'^as  que  corroiii|>t-iu  e  dissulvem  os  governo*, 
Daj  re\olin;5»*s  ;  (Ihs  reaci;ft'S. 

Nus  prelf-crSei  uraes  sejjue  o  Professor  a  ordem  dns 
materias  ado|i(;ida  p<.r  m.  micarul,  aprovcitando  a  con- 
nexao  das  dontrin^iB  para  Iruclar  do  Direito  Purlii;uei, 
dos  Priucipius  de  Pulilica ,  e  Srieiicia  de  Lef,n»l«);Ho , 
cilando  in»  prjncipio  de  c;*du  capitulo  os  publicishis  taiito 
nacionaes ,  como  extraiigfjrus  ,  tpic  traclam  uielhor  a 
materia. 

2."  ANNO.  —  6.»  CADEIRA. 

Cl'HSO   D'ECONOMrA    POLITICA     B    DA    THBORIA     DA 
ESTlDISTICA. 

Lenle—  /Jr.  Adrido  Pereira  Forjaz  de  Sumpaio* 

C0.MPE^DIO    —    A.      p.     FORJAZ     DE     S«MPAIO,      RLKMEST08 

D'ecoNOMIA  PoLlTICA,   CUIMBHA    1  8 J*  ;  B   PRIM&IHnK 

ELEMENTOS     DA     THBORIA      D.V     E:iTAbI8TICA  ,     COIMBUA 


1852. 


l.»  PARTE. 

ECONOMIA     POLITICA. 


Ksia  primeira  parte  do  curso  comprcbendera  todas  as 
li^oes  do  snno  leclivo,  menus  as  nitiniai  qniiiie,  as  'iiiacs 
lenlo  resr-rvadas  para  a  2.»  parte  —  Th«oria  daEstadisii- 
ca  ,  —  Jiniitando-s**  o  Professor  aj  lU'^Ses  niais  ^eracs  e 
aos  prinripius  mais  fnndainenlaea  por  causa  da  estreiteaa 
do  tempo ,  e  niclhodo  do  eiisino ;  sfgundo  o  qual  iim 
iinico  aniuj  lectivo ,  de  poiico  mais  de  cem  tn^ofi ,  e 
deslinado  para  a  exposi^iio  e  esliido  de  tiio  vastus  e  im- 
porlautes  (pjehtoes ,  ecoDouiicas  e  ftociaes. 

introdi'c<;ao. 

1.°  No^OfS  d*utilidade  ,  de  valor  ,  e  de  riqupza.  —  2. 
No^5o  d'Eronoinia  Pulitica,  i»iias  di\i.-«oe»,  sim  especiali- 
dade  como  scit-nria  ,  sua  rela(;,u)  cem  as  outras  scieiicias 
juridicas  e  polilicas.  —  3."  IJlilida-ie  d.»  aeu  ^'^^lidl< ,  e 
rediiiiiD  de  sua  hi«turia  ,  nuiiiia  dus  kj^lvmas  pi  iiuipaes  , 
biljlioirrnphia. 

IV.  IS.  O  professor  adopta  a  classifica^So  d')»  ecouo- 
mislMS  allemJtea  cm  Ihforia  da  fconoiiiia  na(-ion:<l,  ronsi- 
dera'ius  us  phcnoii.enos  i-conouiicos  eiu  almlraclo  das  ri-la- 
^OHS  coin  OS  j:ov.Tnus  ;  e  em  llu-oria  da  pulicia  ccononii- 
ca  ,  oil  das  r'-|di;u*'S  do  goveriio  rom  a  ««,ihera  iiidnstrial  , 
compreht-ndt-ndo  n'e^ta  os  primeiros  t-lciiK'ntus  da  acien- 
cia  de  Faz>-nda. 

THRORFA    DA    ECOMHIIA    DA6    nAI.UUS 

Da  produrqiio :  —  1."  N  rG.  s  ;i;crur.*s  a  c^rca  dus  acen- 
\fs  e  instriMiienlo*  de  produ»(;au  ;  «  cm  ej^penal — das 
for(;.iB  naluiat-s,  da  iiiiinstria,  e  d<>s  c:ipilae9, 

2.°  Do  api-rfei^oaniento  da  produrrau,  c  de  sua*  rau* 
sas  proAJmas 

3."  Da  cirrnlaijilo ,  rousidfrada  como  ciiiulii;iio  «la  pro- 
ducij-ao:  — noroi-s  tjerafs  d**  Mia  iialureia  e  iuiporUBcta  ; 
—  dos  pre9o^  ; — do  iiiim'Tarm  ,  —  il.t  creditu  Na  rtpu- 
si^ao  da  naliircza  e  elTciUis  <lu  cru'Iilt)  o  Prof'"M>r  otxii- 
par-se-lia,  rom  a  [)uS!.ivp|  e\l.*n.sao  <;  jniiivi.liia(;3u  ,  dos 
vi^naes  rcpresenlativos  ,  espfcialm<'nl.e  ilas  lelras  e  nflasi 
do  ttHucu  ;  dos  entuntros  ;  do  cainbiu  ;  e  dus  baticos  , 
indiislrj.ips  e  tt-rrilnriaes. 

Ufi  (iistnbiii^no  .  — o  qrie  sfja  ; — sua  forma  primiti»a 
pnr  a9(iooia<;ao  e  raleio  ,  —  sua  forma  aperfeitjuada  por 
estipulrt);ruj  ;  — circunistaiicias  ajfra^-s  (pie  detfrminam  o» 
salarios  ; — os  interesseit  dus  c^pitats  ;  —  a  reoda  das  U-r- 
ras  ;  —  e  os  lucros  das  emj  resas. 

Do  conaumo —  em  yerai  ; — e  da  rela^aq  eolre  a  pro- 
dui'cau  e  o  coiisumo  improduclivo ; .— e  cntre  os  consu- 
mos  produclno  e  imprndm  Iim 

Em  supplemenio  a  Ihcorra  da  dislTibui(;5o,  o  Pro/essor 
evpora  as  theorias  {\  efxcx  do  principin  da  po\oa(jrju;  — 
da  iuiportancia  das  m'irhinaSf  consiileradas  coni  relat.'^io 
a  di^lribuj^lo  ;  —  e  da  ii>ct'(i.>ii|aJe  e  alcance  das  assucia- 


<:flei,  livre*  e  naluraei ,  enlre  os  industriaei,   para  o  pro- 
gressivo  melhorameido  de  sua  condu^rto  moral  e  materia!. 

THEORIl    DA    POLICIA    EdiNOMICA. 

1.*  Das  rela^Ses  do  eslado  com  a  economii  da  na^So; 
—  Do^oes  fundamenlaes.  de  que  se  denva  o  prinripio  da 
liberdade  industrial,  e  da  insfiec^ao  policial  ; — da  inter* 
vein;.1.i ,  a  que  o  eslado  ^  ol-rifrado  ;  —  da  intervention 
que  a  Iheona  repruva:  —em  especial  <los  re:;ulameirtoa 
fal>ri»  ; — e  das  pmvidencias  reli^ti^ai  a  cirndii^So,  moe* 
da*em  ,  papel-mueda  ,6 —  prohibi^(>8  c  restricrdcs  com* 
mrrciaes. 

t.  Da  ecumjmia  do  entado  em  tjeral  ;  —  dos  rendtmen^ 
tos  pnldicos  ;  —  dos  iiupostos  ,  cua  iiahireza  e  e.-pecies  ; 
qual  a  maicria  colkTla\ el  ;  (jimcs  os  prinplpfos  que  deveui 
dflerniinar  a  seleri^riu  dos  iuiposlos  ;  de  sua  cobraiicn  por 
adiiiitii*lrrt<;aij  e  arr'-iidaiiieiito  ; — ii<i(;o*'s  f,'fra«--s  u  cerca 
das  dfsj'e.*a8  do  fst.olu  ;  —  recursos  extra. . rdmarius ,  c 
em  especial  d-.s  omprestimtis ,  sua»  esppcins  ,  miiii'ira  por 
que  se  realtzam  ,  seus  pfruiciusus  effeitos  ,  e  como  a« 
auiorlizam. 

fi.»  PARTE. 

TIIHORIA    DA    BSTADISTICA- 

No(;ao  ,  ol)jcclo  edi\i»Ce*  da  tbeoria  da  Esladistiro-; 
— •  quaes  ei'j.iiu  os  fartus  estiiilistifos  ;  —  quaes  as  opera- 
^OL'S  ^■l'ladl^llcas,  pur  cnjo  mejo  esses  factos  hao  de  reca- 
Iher-se  e  BJunctar-se  ;  —  quaes  as  fnnles  d^s  dados  esta- 
dislicos  ; — do  tuelliodo  da  Esladislica  ,  ronfronl;ii;(>»  « 
dediiC(;oes  das  series  dos  da<los  estadislicus  ;  —  ulilidado 
poljijra,  admtiiidtrajiva ,  c  phitusophica  do  estudu  da 
Esladislica. 


CLAUSTRO  PLENO  DA  UNIVERSIDADE. 

Em  virlude  da  lei  de  It  de  aj^osto  iiltimo,  que  confibN 
H09  conselhoa  academicos  o  ordfnar  os  necessarios  regula* 
menlos  littcrarios,  e  disciplinares,  sob  a  immediata  np» 
provarao  do  Governo,  se  reuniu  a  assomblea  ireral  de  toilat 
as  Faculdades  acailcinicas  para  traclar  do  re^rulamcnlo 
para  os  exames  preparatorius  para  a  primeira  admissau 
nas  Facuidailes;  e  das  indi^penaaveis  provjdtncias  8))bre 
fall.is  (te  fipqueiirias  dus  ahininos  as  aulas,  e  ontros  objec- 
tos  disciplinares.  Resolveii-se  que  se  nomeas^em  duas 
comniFsi^oes  de  cinco  meml>ros  cada  uma,  a  primeira  pari^ 
or^raiiisrir  o  pro]- cto  de  re^Milamenlo  ilus  examcit  prepara- 
lorio^i,  e  a  seL'onda  para  prupOr  ai  cuUM-iiientes  provi- 
dencias  disriplMiares  e  admini>-lrativas  ;  e  ftiram  nomeadoi 
{>ara  compor  a  priiiu'ira  cummiksao,  srodo  em  ambai 
eleito  um  luembm  de  cada  fat-uldade,  us  duuclores  Fran* 
CISCO  Antonio  Rodrignes,  Vicenlr  Ferrer  Nilo,  Ftorencio 
Peres  Fiirtailo,  Joaqiiini  fion(;ulves  M-imt'tie,  ejt.se  Alaria 
de  Abreu  ;  e  para  a  seirimila  os  doucliires  Anluiiio  Bel» 
larmiiio  da  Foiiseca,  Fridenco  de  Azfvedo  Faro  e  No* 
rnnha,  Francisco  Feniandcs  Costa,  Jose  Teiteira  de 
Qiifin.z,  e  Hf-nrique   do  Coulo  de  Aliiieiila. 

Lofju  que  as  respecli\as  conimis.'Srj.  lenham  prompto* 
oa  sens  trabalhus  reunir-se-ha  iiovamenle  o  Clau.-lro  rtca? 
demicx  para  disculir  e  vular  os  coinprteulfs  remilamen- 
tus,  a  flm  de  serem  siiumeltidus  a  appruvit^ao  duGovetDo. 


FACULDADE   DE  PHJLOSOPHIA. 

O  Cuisfllioda  Frtcutdade  de  Pliiloi-i.pliia  fez  lima  impi>r- 
lante  refornia  no  piano  dot-  sens  eslodus,  jmra  cumerar  a 
ler  executj.'to,  parte,  dcodf  j.ij  u  parle  no  futuro  aimo  lee? 
livo. 

Frain  ha  muilo  couheciilos  ns  crii^-s  incnn^enienles  de 
inl.-rroniper  o  curso  ile  I'hyniira  'in  1."  anno  com  o  rtft 
Physica  ito  2  ",  vindo  a  concluir  no  3  **  o  esludo  de  Cliymicat 
sob  a  direi-c;l«»  de  divcrsus  professores. 

Pur  oiilro  lado  a  Phjsjca  mal  podia  ensinarso  com 
provejtu  a  alumnus,  que  das  muthem^dicHS  puras  pnjisui.iiU 
apenns  a  (ieometria,  e  os  primeiros  elementos  d'AlEjebra? 

Por  vezes  o  Conselliu  Iraclara  do  prover  conveuieotef 
meiile  subre  esle  importaiite  objedo,  tk;  que  uiuilo  depeil* 
dia  o  mcllior  npruvrilamenit)  dus  alumnus  ;  mas  sumpr^ 
se  Ihe  oppiinha  a  completa  falla  de  estuilos  preparatorios 
dt'S  principios  de  Pliysica  e  Chymica,  e  IntrodiiC(;So  a 
Hi'turia  natural  dos  trcs  reiuos,  e  da  (jcoiik  Iria,  cum  qitj 


229 


oa  aliimnoB  eram  ndmiUidus  /i  nialrloula  no  piimsiro 
anno  <Io  ciirsu  i>Inlufii'|tliico  ;  preparnlorios  sem  os  tjiiucs 
■  mill  podiii  erilr.tr-se  no  pmrumlo  fonlierinifiito  do*  di\erst»9 
rnmoB  das  scirni'ias  physicas,  e  parlicul»rmenle  da 
Chymica  or^^anica  e  da  Pljysica, 

A  lei  de  12  de  a;;ofctM  iillimo,  creando  cadriras  de 
Introduci;ao  a  Hi^loria  iialural,  c  lurnandu  uhrii^alurio 
esle  prepnraliirio,  e  o  da  Gcomelria  para  a  primoira  ma- 
IrJcula  era  (odoa  os  cursos  de  liinlruc^^io  sitptrior,  hrtbili- 
tuii  a  Factddade  ile  Pliilosulia  para  dar  ous  seus  eshidofl 
itnia  nova  e  niais  oiivenifnte  di8posi(,'So. 

A  Cliyraiia  (pe  ale  aqui  se  ensina^a  no  I.^e  3.**  anno, 
BfrA  lida  no  I,**  e  '2.**  anno  em  curso  hiennal  reiii  lo  por 
doii  proressores  ;  desle  modo  o  ensino  sera  niais  regular, 
e  tiniforme.  c  no  niesmo  Ifnipu  u)>  Htiiniiius,  li\tes  do 
esludo  mais  Iraosceink'iile  e  difficil  da  Physica,  poder3o 
<Jar  tnetlior  conia  das  lirues  de  calculo  ;  (_'  liabililadus  com 
o  esludo  ilesia  ultima  disciplina,  podr-iao  lanibem  colher 
major  fruclo  das  Itt^ues  ile  l*lty:sica,  cnja  cadeira  pnssa  do 
8,"  para  o  3  "  anno  para  alij  se  ier  conjtiuclameiile  com 
a  de  Zuolozta. 

Nu8  mais  annos  da  facnldade  conlinnam  n  Ier ne  ni 
fiiesmas  diaciplinas,  mas  provavelinente  hnvcri  allfra^'So 
em  alguQS  dos  cumpendius,  que  scrvem  de  leslo  us  lM;dea. 


O  HYMNO  DO  MEMNO  AO  DESPERTAK. 

(Produc^So  da  Harmonia  VII;  L.  I.,  de  Laniartine) 

i.;  O  Pae,   que  men  pae  adora 

Com  OS  joelhos  no  chao ; 
A  cujo  nome  se  inclina 
Minha  mSe  com  devo^So ! 

Do  ten  poder  tenlio  ouvido 
Que  e  o  sol  uma   centeiha; 
Dizem  que  oscilla   a  tens  peg 
Como  a  alampada  vermelha. 

Kos  carapos  as  avezinhas 
Dizem  fizeste  nascer ; 
Que  DOS  deste  instincto  e  alma 
P'ra  te  amar  e  conhecer. 

Dizem  que  es  tu  que  produzeg 
Dos  jardins  as  lindas  flores, 
Que  o  vergel  sem  ti  seria 
Avaro  dos  seus  priraores. 

A  03  dons  que  esparpes  bondoi^o 
Todo  o  universo  e  conviva, 
Deste  urn  luj^ar  ao  insecto 
N»  tua  meza  fesliva. 

Trepa  a  cabra  ao  medronheiro. 
Roe  o  cordeiro  o  serpiio, 
Na  ta(;a  de  |eite  a  mosca 
Vem  comijo  ter  quinhao. 

A  gran  que  das  I'lras  salta, 
Aprovcila  a  cotovia ; 
Segue  o  pardal  o  ceifeiro; 
O  menino  a  mae  que  o  crla. 

E  para  oijter  estes  mimoi, 
Que  fazes  desabruchar, 
Basla  so,  a  qualquer  hora, 
Teu  Dome,  6  Deus,  invocar! 

Teu  nome  d'anjos  temido, 
Que  esta  bocca  balbucia, 
Tu  distingues  enlre  os  c(Jro» 
Da  celeste  melodia. 

Dizem  que  os  r<5go8  da  Ufaacia 
lu  lolgas  mais  de  acolher 
Por  causa  desta  innocencia, 
Que  fids  temoj  sem  saber. 


Que  nossas  preceK  Angelas 
Vao  melhur  aus   Icus  ouvidos, 
Talvez  porque  os  ccos  tera  anjos, 
Com  quern  somos  parecidos. 

Oh !  jA  que  ouves  de  lao  longe 
Preces  que  <is  labius  agitam, 
Quero  pedir-te  incessanle 
O  que  OS  outros  neceijsltam. 

Du,  o  meu  Deus,  agua  us  fontes, 
Da  pennas  aos  passarinhos, 
Da  orvalho  e  sombra  aos  campof. 
Da  Ian  aos  cordeirinhos. 

Aos  doentes  da  saude, 
Aos  pobrezinhos  o  pSo, 
Aos  prezos  a  liberdade, 
'Ao8  orphSlos  a  habita(;ao. 

Ao  pae  que  teme  o  Senhor, 
Da  familia  numerusa  ; 
A  mim  da-me  siso  e  ditas, 
Torna  minha  mae  ditosa. 

Faz-me  bom  desde  menino, 
Como  o  anjinho  do  teraplo, 
Que  de  manha,  juncto  ao  leilo, 
Sempre  a  surrir-me  contemplo. 

Pde  na  minh'alma  a  justi^a, 
Nos  mens  la1)ios  a  verdade ; 
Em  meu  peito  a  tua  lei 
Ache  —  amor,  fldelidade, 

Minha  voz  a  ti  se  eleve 
Como  o  incenso  perfumado, 
Que  em  ondas  sae  do  thnribulo, 
Por  meninos  embalado. 


COSTUMES  ARABES 

A   NOBBEZA   NO   DESERTO. 
C'ontiuuado  de  pag.    180. 

Apezar  da  adniiracao  que  os  arabes  tribu- 
tani  a  coragem,  para  dies,  todavia,  o  ponto 
dc  honra  nao  e  como  enlre  nos.  Nao  julgani 
covardia  o  retirar-se  um  homem  de  qualquer 
numero  de  aggressores,  ate  o  fugir  de  um 
inimigo  mais  fraco,  se  nao  ha  interesse 
em  veneer.  Os  arabes  riera  muitas  vezes  de 
nossos  escrupulos  eavalleirosos.  Amando,  a 
nao  podcrem  mais,  as  desenfreadas  correrias 
a  cavallo,  e  a  estrepitosa  linguagem  do  canhao, 
esforram-se  para  que  seus  combates  tenhara 
0  mais  possivel  um  fim  de  ulilidade  prac- 
tica.  Tornados  do  maior  ardor  em  quanto  os 
favorece  a  fortuna,  dispcrsara-se  e  desappa- 
recem  logo  que  elia  os  atraicoa.  Tambem  no 
modo  de  appreciar  a  bravura,  em  niuilos 
pontes,  dilTerem  essencialmente  de  nos.  Por 
estimarcm  a  valentia,  nem  por  isso  tractam 
com  excessiva  severidade  os  a  quern  falla  esta 
virlude.  Nunca  um  covarde  subira  as  digni- 
dades  da  tribu,  mas  tambcra  nao  sera  alii  um 
ente  desprezivel.  Dir-se-ha  simplesmente,  sem 
a  cholera  que  o  fanatismo  muita  vezes  produz: 
«  Nao  quiz  Deus  que  elle  fosse  bravo,  e  digno 


230 


de  lastima,  nao  ja  do  consiira.  »  Exige-se 
todavia  que  o  pusillanime,  em  dcsconto  da 
sua  fraqueza,  seja  de  coiiselho,  e  raais  que 
tudo,  de  constantc  generosidade. 

A.  fanfarrice  e  reeel)ida  com  muito  raais 
desprezo  do  (jue  o  m(>do.  «  Se  dizes  que  o 
leao  e  urn  asno,  vae-llie  por  um  rabreslo»; 
assim  se  expressa  um  proverbio  oriental  de 
freqiitnte  applicajao.  Ainda  (|ue  possuem  um 
sangue  ardeiile  e  uma  linguagem  hypcrboiica, 
OS  arabes  exigem  que  a  bravura  se  arme  rom 
a  dignidade  do  silencio  de  (|ue  fazem  tanlo 
appreco.  Em  relacao  a  esle  objecto,  iiada  Ibes 
veiu  das  iiacnes  que  combateram  no  tempo 
do  Cid,  assim  como  no  que  respeila  aos 
combates  individuacs,  que  entre  eiles  sao 
desconhecidos.  Uma  tradicao  que  taivez  re- 
monte  ale  as  cruzadas,  diz  que  oulr'ora  chel'es 
illustres  se  baterani  cm  combate  singular; 
porem  ninguera  depara  nas  tribus  com  homem 
antigo  que  se  recorde  de  ouvir  fallar  de  se- 
melbante  facto.  Qualquer  (jue  e  offendido, 
procura  vingar-se,  como  era  costume  no  seculo 
XVI,  \)0T  via  do  assassiuio.  Encontram-se 
conscieiicias  largas  e  condescendentcs  que 
por  modico  preeo,  descartam  um  individuo 
do  sen  inimigo.  Com  tudo,  quem  e  mais  avaro 
do  euro  que  da  vida,  quem  e  prompto  em 
ferir  e  demorado  era  abrir  a  bolsa,  espreita 
a  occasiao  de  se  lancar  sobre  oque  o  injuriou, 
e  mala-o  ou  e  morto;  se  perece,  Icga  as  mais 
das  vezes  a  outrem  essa  divida  de  sangue, 
porque,  apezar  de  nao  ser  favorecida  pelo 
duello,  nem  por  isso  a  vinganca  e  menos  ef- 
ficaz  e  llorescente  nos  arabes.  Transmitle-se 
de  geracao  cm  geracao.  La  se  encontram  essas 
pendencias  de  racas,  que  outr'ora  tingiram 
de  sangue  as  ruas  das  cidades  italianas,  e 
ainda  hoje  ensanguentam  o  solo  de  uma  illia 
franceza. 

As  causas  mais  geraes  da  vindicta  arabe 
sao  questoes  a  cerca  de  aguas,  pastes,  nuircos, 
0  rapto  de  uma  joven  esposa  ou  de  uma 
donzella,  o  assassiuato  de  um  marido  zeluso, 
de  um  rival  preferido,  de  uma  mullu'r  ipie 
nao  quiz  dar  o  sim,  (iuaes(iuer  rivalidades 
entre  os  cliefes,  cujo  parlido  lomam  primeiro 
OS  parentes,  depois  os  amigos,  os  clientes,  a 
Iribu  toda,  e  por  lim  as  tribus  alliadas.  I'or 
isso  niesmo  que  o  duello  nao  e  conliecido 
entre  os  arabes,  sueccde  que  alii  as  conlen- 
das  individuaes  lerminam  pelo  assassinio,  e  os 
odios  continuamente  alimentados  eternisam- 
se.  E  de  notar  que  pelo  contrario  a  vindicta 
tendc  a  desapparceer  dos  costumes  de  um 
povo  onde,  como  cm  Corsega  e  Italia,  csta 
introduzido  o  duello.  Nisto  fazia  o  duello  um 
immense  service  a  sociedade  arabe,  porijue 
substituiria  o  liomicidio  feito  de  enibuscada, 
pelo  combate  leal,  e  lace  a  face.  Se  o  duello 
ianea  em  lucto  algumas  familias,  ao  menos 
nao  llies  lega,  como  a  vindicta,  o  duvidoso 
ponto  de  honra  de  eternas  rcpresalias. 


A  vindicta  pois  e  individual  ou  gcral  con- 
forme  sao  individuaes  ou  geraes  os  interes- 
ses  lesados.  Se  por  um  motive  ([ualquer 
houve  morte  de  homem  em  uma  iribu,  cau-. 
sada  pelo  chefc,  ou  ainda  por  um  subalterno 
da  tribu  vizinha,  pagando  o  homicida  a  dia. 
[0  preco  do  sangue)  aos  herdeiros  da  vielima, 
lica  0  negocio  legalmente  concluido.  A  dia  e 
0  Wekri/eld  dos  Allemaes,  com  a  dilTercnja 
que,  alem  do  character  de  Icgalidade  lem,  entre 
OS  arabes,  desde  sua  origem,  um  character 
religiose. 

Se  dermos  credito  aos  tolbas,  esta  pena 
remonta  ao  avd  de  Mohamed,  Abd-el-Metta- 
leb,  e  loi  a  causa  indirecta  do  nascimenio  do 
propheta.  Abd-el-.Mettaleb,  chel'e  da  tribu  dos. 
Koreischitos,  nao  tinha  lilbos,  e  um  dia  des- 
esperado  dirigiu  a  Dens  esta  supplica.  «  Sc- 
nhor,  se  me  derdes  dous  lilhos  varoes,  juro 
immolar-vos  um  delles  em  accao  de  grajaso 
Ouviii-o  Deus,  c  fel-o  duas  vezes  pae.  Abd- 
el-Mettaleb,  liel  ao  veto  que  (izera,  lancou 
sorles  para  ver  qual  havia  de  ser  a  victiraa, 
e  a  sorte  caiu  em  Abd-Allah;  mas  levan- 
tando-se  a  tribu  contra  este  saerilicio,  foi 
decidido  pelos  chefes  que  em  logar  de  Abd-AJ- 
lah,  se  olferecessom  dez  camellos,  que  de  novo 
se  consultasse  a  sorte  ate  Ibe  ser  favoravel, 
e  que  de  cada  vez  que  fosse  advcrsa,  se  jun- 
ctassem  mais  dez  camellos  aos  primciros.  So 
na  undecima  prova  foi  Abd-Allah  resgalado, 
e  em  vez  delle  immolaram-se  cem  camellos. 
Algum  tempo  depois,  manifestou  Deus  que 
acolliera  bera  esta  substituicao,  porque  de 
Abd-Allah  feznascer  Mohamed,  seu  propheta 
e  desde  esta  epocha  licou  a  dia,  o  ])reco  do 
sangue  de  um  arabe,  taxada  cm  cem  camel 
los.  Todavia  este  prcfo  clevado  soffre  modi- 
licacoes  segundo  as  circumslancias. 

Quasi  que  nao  ha  excmpio  de  homicida 
que  pagasse  a  diu  e  soffresse  outro  genero  de 
castigo:  os  parentes  do  morto,  c  ate  sens  lilhos 
accommodam-se  voluntariamente  com  tal  sa- 
tisfaceao;  mas  see  criminoso  nao  pode  pagar, 
ou  se  0  governo  julga  convenienle  avocar  a 
si  a  causa,  enlao  e  imposta  a  pena  de  laliao; 
olbo  por  ollio,  dente  por  deiite,  vida  por 
vida.  U  segiiinte  facto  succedido  em  Mascara 
no  anno  de  1837,  mostrara  como  se  alii 
applica  a  pena  de  taliao  cm  todo  o  seu  rigor. 

Estavam  duas  criancas  a  bulbar  no  meio 
da  rua,  cis  (|ue  acodem  os  paes,  travam-se 
de  razoes,  das  injurias  passam  as  ameacas, 
animam-se  pouco  e  pouco,  e  por  dm  um 
delles  arranca  a  faca  e  fere  o  seu  adversario, 
([ue  logo  cae  morto.  Tinha  cinco  feridas,  duas 
no  peito,  duas  no  venire  e  uma  nas  costas. 

lima  multidao  de  pcssoas  havia  corrido 
para  alii  vindo  tambem  alguns  ckaouclif:  que 
se  apoderaram  do  criminoso,  e  o  conduziram 
a  casa  do  hakein  da  cidade.  Os  aoulumas 
reuiiiram-se  logo  e  constiluiram-se  em  tri- 
bunal.  Em  menos  de  meia   bora   forara  in- 


231 


quiridas  as  Icstomunhas  e  o  culpado  condem- 
nado  a  soffrer  a  pcna  do  taliaoexeeutada  pelo 
irniao  da  victima.  A.  uiii  signal  do  cadi, 
dous  cliaouchs  amarrarara-lhc  os  pulsos  com  uni 
lajo  em  alfa,  collocando-so  um  a  dircila  outro 
a  esquerda,  e  preeedidos  do  executor,  con- 
duziram-no  a  praca  do  mercado,  onde  ja 
estavam  amonloados  dous  ou  tres  mil  arabes. 

0  terruos  da  sentenca  eram  que,  o  lioniicida 
devia  morrer  com  tantos  golpes  quanlos 
havia  dado,  e  rccebel-os  nos  mesmos  sitios 
em  que  os  havia  rccohido  a  sua  viclinia. 
•Quando  tiido  eslava  preparado,  o  excculor  e 
0  condeniiiado  dcntro  de  um  circuio,  o  pri- 
meiro  com  uma  faca  na  mfio,  o  srguiido  lian- 
quillo  e  como  que  iiidin'ereiite  ao  que  ia  suc- 
ceder,  um  chuoiuh  IcvaiUou  o  seu  basiao: 
era  o  signal.  0  executor  lanrou-se  logo  ao 
pacienle  e  feriu-o,  prinieiro  no  iado  direilo, 
depois  no  esquerdo,  mas  som  offender  o  cora- 
jao  scgundo  parecia,  porqne  o  desgracado 
gritava:  «  Fere!  fere!  mas  nao  crfias  que  me 
niatas;  so  Ucus  pode  matar!  » 

Comtudo  0  supplicio  continuava  com  furor, 
e  0  suppliciado,  cujas  entranhas  saiam  com 
jorros  de  sangue  das  duas  novas  feridas  que 
recebera  no  ventre,  continuava  a  injuriar  o 
algoz. 

Faltava  o  ultimo  goipe:  o  ferido  voltou-se 
ejle  mesmo,  e  a  lamina  da  faca  mergulbou-se- 
Ihe  toda  nos  rins.  Yacillou;  mas  nao  caiu. 
«  Basta,  basla,  »  gritou  o  povo,  «  die  dcu  so 
cinco  facadas,  nao  develuvar  mais.  »  Deleito 
a  execucao  estava  lerminada,  e  o  Iriste  que 
acabava  de  soffrel-a  ainda  pode  chogar  a  casa 
per  sen  pe.  0  medico  do  consuiado,  M.  Var- 
nier,  chegou  alii  quasi  no  mesmo  instante,  e 
em  quanto  atava  as  feridas;  a  Ob!  peco-te, 
dizia  0  doente,  que  me  cures!  Dizcni  que  es 
um  grande  medico,  da  provas  disso,  eura-me 
para  que  eu  possa  matar  aquelle  cao!  »  Mas 
todos  OS  esforcos  foram  inuteis,  naquclla 
mesma  noite  o  desgracado  expirou. 

Cunlinua, 


EXPOSir.OES  DE  ANIMAES  DOiMESTICOS. 

As  exposicoes  que  ti^'eram  logar  nos  divcrsns 
districlos  do  reino,  deveni  necossarianicnlc 
cliamar  a  attencao  da  Administracao  pubiica 
sobre  o  estado  actual  da  nossa  prnduccao  pe- 
cuaria.  Em  todas  eilas  se  couheceu,  quao 
distantes  estao  os  nossos  animaes  domeslicos 
daquelie  estado  de  perfeicao,  a  que  teem 
chegado  os  d'outras  nacOes,  em  condicOes 
topographicas  mais  desfavoraveis.  Nestas  ex- 
posicoes  nao  despontou  uma  idea  de  pro- 
gresso,  ncm  ao  menos  concorreram  exempla- 
res  de  todas  as  nossas  racas;  e  dos  animaes 
cxpostos  a  maior  parte  erao  vulgares  e  tao 
inferiores,  que  estavam  bem  longe  de  tocarcm  o 
grau  de  perfeicao,  a  que  devem  ser  elevado^. 


Por  tanio  a  experiencia  mostrou,  que  as 
exposicoes,  mandadas  fazer  pelo  decreto  do 
l(i  de  dezembro  de  18o2  e  respeclivo  rcgula- 
mento  de  2  de  marco  do  corrente  ann.o, 
serao  ineflicazes,  em  quanto  se  nao  determi- 
nar  o  objecto  que  deve  ser  premiado,  e  se  nao 
indicarem  o*  meios  de  o  produzir.  Nas  nossas 
exposicoes  nao  appareceram  esses  modelos, 
que  excitam  a  emulacao  e  o  zelo  dos  creadores, 
fazendo  nasccr  o  desejo  de  os  imilar  e  re- 
produzir,  e  dando  a  todos  uma  idea  exacta 
dos  typos  mais  perfeitos  e  das  Iransforma- 
cocs,  que  exigem  as  nossas  racas,  para  se 
cons("guir  o  seu  mciboranienlo.  Estas  van- 
tagens  das  exposicoes  nao  as  tenios  colliido, 
jKir(|ue  nao  appareceram  taes  modelos;  e  nao 
appareceriim,  porque  um  programnia  os  nao 
pediu:  pois  conliamos  em  que  alguns  dos 
nossos  criadores,  levados  do  estiniulo  do  pre- 
niio.  da  estima  dos  sens  concidadaos,  e  do  amor 
da  |)atria,  tentariam  satisfazer  a  esse  pedido, 
insiruindo  por  esta  forma  os  sens  viziuhos,  e 
OS  concurrcntes  a  exposicao  do  seu  districto  '. 

Em  lim,  o  ensino,  dilTundido  entre  os  cria- 
dores por  meio  das  exposicoes,  nao  dara  com- 
plete resultado,  em  quanto  se  nao  divulgarcm 
OS  principios,  que  dominam  a  ]iroduccao  ani- 
mal, procurando  coordenar  os  factos  da  expe- 
riencia com  estcs  principios:  o  que  so  podera 
conseguir-se,  quando  o  piano,  pelo  ([ual  se 
organizarem  os  progranimas  de  cada  exposi- 
cao, assentar  sobre  doutrina  verdadeira,  que 
possa  esclarecer  e  dirigir  a  produccao  animal, 
proniovendo  o  desinvolvimento  dos  typos 
mais  perfeitos,  e  julgando  devidamente  o  valor 
dos  mellioramentos  realizados. 

Ao  passo  que  em  Franca  se  discute  porfiada- 
mente  sobre  a  mellior  base  dos  progranimas 
para  as  exposicoes;  entre  nos  cone  liulo  it 
revelia,  por  isso  taes  teem  side  os  resultados. 
Se  a(|Hella  nacao  adoptou  em  grande  parte 
as  practicas  da  Inglaterra,  porque  esta  a 
precedera  na  rcforma  da  sua  industria  pecua- 
ria,  por  que  moti\o  se  nao  adoptarao  entre 
nus  as  practicas  das  nacOes  civilizadas,  ou  os 
factos  julgados  que  estiverem  mais  em  relacao 
com  as  circumstancias  pecuiiares  dos  criadores, 
e  com  as  nossas  condicOes  topograjibicas? 

Desenganemo-nos,  que  nesta  ejwcba,  toda 
de  reformas  e  de  movimento,  eslucionar  e. 
cnrelliecer,  e  parcir  e  morrer  jiara  a  civilisa- 
rao  (jue  incessantemente  caminba. 

A  proporcao  que  as  necessidades  mudam  e 
augmentam,  os  productos  devem  modilicar-se 
e  multiplicar-se;  e  por  isso  necessario  que  o 
productor  anteveja  o  pedido  do  consumidor, 
por(|ue  (i'tarde  esperal-o,  niio  basta  produzir, 
e  necessario  especular. 

Diversos  systemas  se  offerecem  para  a  orga- 
nisajao  dos  programmas  das  exjiosicoes,  mas 

'  Sobre  a  necessidade  desles  programmas  ^  eja-se  pag. 
199  do  g.°  vol,  deste  Jornal.  —  Meios  tte  prornoi't-r  a 
jfiuttiplica^ao  c  o  melhoramtnto  dos  animaes  donttstlros. 


232 


Indos  dies  poilom  rcdiizir-sc  a  Ire?:  formnhr 
n  ))iogrnmma  .lobie  o  eslailn  artual  da  proiliic- 
(I'lo  iiiiinial,  s("guin(lo  csrniiuiliisnmciili'  a  sua 
inaivlia,  scni  llic  lazer  a  mais  \c\o,  corri'crai); 
—  ei(i)llier  o  Ijijio  mnis  perfeilo  piirii  cadii 
especie,  sem  sc  iinporlar  com  as  resistnicias 
i|iic  a  prodiicrao  curDiilrar;  —  em  liiii,  (iilo- 
jitiir  o.s  iijjins  mais  perfeilD.i  c  i/ne  mi'lhor 
•^iili.tl'(ii;nm  (i\  >u'(rx.\idii(les  da  eporlui  e  as  con- 
diiiics  d(i  produca'tn. 
,  0  piimriio  xii-ilcnia  siippoe,  (|ue  o  inlnressc 
iii(li\  iiliKil  e  0  mclliur  jriiia  para  se  aleaiiear 
II  inelliiiraiiiento  ilos  aiiiiiiaes  domesticos;  (pre 
I'sles  sao  iiecessariameiilo  o  que  deviatii  sor, 
e  (pie  nao  podcm  ser  senao  o  resullado  de 
lodas  as  condiiOcs  agricolas  c  economicas, 
u(i  meio  das  (piaes  foram  criados. 

A  adopeao  deste  systenia  c  a  gloriliearao 
do  v/(/<it  (/HO,  0  lorna  inulil  o  cstal)cleeinienl() 
(las  e\posi('ocs  c  dos  premios:  como  nao  lia 
cslbreos  dispcndiosos  da  parte  dos  criadores, 
podcm  eslesscr  dirigidos  someute  pelo  inlcrcs- 
se  da  veiula  dos  seus  ])roductos.  Importa, 
porem,  ad\erlir  que  os  animaos  xdo  necessaria- 
tiiciile  0  que  deviam  ser,  e  (pie  sdo  o  re.ndtado 
dfis  condiroat  mjrkolas  e  economicas  somen te 
em  (pianlo  eslas  se  conservarem  eonstanles  c 
rotineirus,  mas  se  variarmos  raeionalmente 
estes  factores,  e  seguirmos  a  risca  os  preceilos 
liygioteelinicos,  os  animaes  serao  o  que  nos 
(piizermos,  parecendo  mais  ohra  da  arte  do 
ijiie  da  nahireza. 

0  segundo  sijstema,  fazendo  abstraoean  das 
coudieoes  economicas  da  produeeao,  e  ate 
dos  progresses  agricolas,  inipOe  um  unico 
lypo  de  perleieao  para  cada  espeeie.  Na 
presenca  das  nuidancas  que  nos  nossos  habitos 
devem  elTeiluar  os  meios  mais  rapidos  de  com- 
iuunicii(;ao  prios  cauiinhos  de  I'erro  e  pelas 
dcligeiicias  etc,  e  o  aperl'eicoamcnto  da  me- 
liianica  agricoia,  antolha-sc  a  iieeessidade  de 
iduer  do  cavaliu  mais  I'orca  e  agilidade;  e 
ua  impaciencia  do  resullado,  podera  alguem 
preferir  exclusivamenle  o  cavaliu  inglez,  como 
lypo  unico,  para  a  espeeie  cavallar;  para 
rijalizar  mais  promptanu'nle  abundante  pro- 
due(;ao  de  carne,  podera  desprezar  os  nuiitos 
e  variados  scrvi(;os  da  esjiecie  bovina,  para 
a  moldar  pela  ra(;a  de  Durham,  e  desprcza, 
egnalmente  alguns  iiroduetosda  espeeie  ovjnar 
para    a  conl'ormar  pelo  earneiro  de  Dislilcij. 

I'm  programma,  forniulado  per  e.ste  exag- 
gcrado  systema,  pede  os  resuitados  e  nao  se 
importa  com  os  meios,  por  isso  sua  formula 
(bgmatiea  lem  provocado  pertinaz  resistencia, 
da  parte  dos  criadores,  nos  paizes  em  que  se 
experimeutou.  Deve  porem  confessar-se,  que 
estc  systema  esta  mais  proximo  da  verdadc, 
do  que  o  primeiro,  e  que  e  dirigido  pelo 
desejo  do  progresso;  mas  tcm  o  grande  incon- 
veniente  cle  nao  abracar  a  proihucao  animal 
cm  loda  as  suas  partes,  c  nao  facilitar  o  ca- 
minho  ao  inlcressc  e  a  liberdade  do  criador. 


0  tercciro  sijslema  conhcce,  que  nao  deve 
conformar  todos  os  animaes  de  cada  es|)ecie 
])or  um  so  padrao;  por  i.-so  ([ue  sao  diversas 
as  cnnvcniencias,  que  exige  a  produc(ao  dc 
(lil'fereutes  typos;  a  agrieultura  nao  reune  cm 
toda  a  parte  as  mesmas  condicues,  em  (im' 
as  nossas  rneas,  e  as  circumstancias  cm  que 
elias  vivem,  nao  sao  na  aeluaiidade  o  que 
deviam  ser,  e  exigem  grande  rd'orma.  Nao 
devemos  proeiirar  os  typos  perfcilos  nos  nitimos 
graus  (la  escala  das  racas  dos  animaes  do- 
mesticos, c  tambem  nao  devemos  espcrar 
da  miscria  e  eega  obstina<;ao  dos  pi'(pienos 
lavradores  tentativas.  ([ue  j)0ssam  melliorar 
OS  nossos  gados.  Aos  proprietaries  abastados 
e  instruidos  e  que  incumbc  comecar  a  re- 
forma  da  nossa  ])roduccao  pecuaria,  collocan- 
do  OS  typos  mais  pcrlcitos  na  altura  que  Ihes 
convem,  e  apropriando-lhes  as  condi(;Oes  em 
i}ue  melhor  possam  vivcr  e  prosperar. 

0  i)rogramma,  I'ormulado  por  este  systema, 
deve  ser  lal,  (pie  admitla  todos  os  modi'dos  de 
perlcii.ao,  deixando  a  cada  criador  o  cuidado 
de  tentar  o  desinvoUimento  d'aipielle  que 
julgar  mais  comj)ativcI  com  as  suas  circum- 
stancias; limitando-se  por  tanto  a  indicar  os 
que  mais  llie  conveem.  Todavia  deve  nolar-se, 
(|ue  quando  os  premios  sao  dados  pda  Admi- 
nistracao  publica,  tem  esta  o  direito  de  cxigir 
com  ])referencia  os  typos,  que  julga  serejii 
mais  uteis  e  mais  necessarios  as  necessidades 
do  estado:  assini  na  actualidade  con\iria  pro- 
mover  com  grande  sollicitude  odesinvolvimen- 
to  das  raeas  do  cucallo  de  tiro  para  que  o 
servi(;o  das  diligencias  se  podesse  fazer  com 
cavallos  criados  no  paiz,  evilando-sc  a  dura 
neeessidadc,  em  que  se  acFia,  de  os  importar 
pagando-os  por  grandes  precos. 

I'ara  determinar  os  typos  mais  perfeitos 
que  se  devem  recommendar  n'um  programma,  o. 
nccessario  nao  conl'undir  a  perlei(-ao  zo^ 
otecbnica  com  a  zoologiea  ou  natural'  ;  Bau- 
dement  deline  perfciiao  —  a  reuniao  de  todas 
as  ipialidades  que  tornam  o  animal  proprio 
a  um  s(j  gi-nero  de  service  ou  de  produeeao, 
e  llie  cbama  esperializaccio  dos  animaes,  que 
nao  e  outra  cousa  mais,  do  (pie  a  applica- 
('ao  ii  zootecbnia  d'uma  lei  das  sciencias 
economicas,  deduzida  do  estiido  do  desin- 
volvimenlo  industrial  dos  povos, — a  dioi- 
sdo  do  trabalho.  Aiuda  que  a  especializa' 
cdo  nao  seja  um  principio  tao  absolute,  como 
pretende  Baudement,  e  todavia  por  elle  que 
se  devem  escolher  os  modelos  que  um  program- 
ma deve  rccoHimendar;  por  que  a  especializaeffn 

*  Art.  19  do  citfido  regiilamento.  «  Os  primeiro.^ 
premios  pent  niarios  udfipoda-ao  adjutlicar-se,  sfrwodi/uel- 
Us  cxpfisitures  que  apresefildfetn  gadits  tiotavcis  pelas 
propor^oes  de  sua  refjulnr  graiideza  e  perjei^iio  dt 
suas  Jormas.  »>  Grandeza  e  Jormas  est'io  suborilinadM 
ao  df.'stino  do  unimal;  por  isso  deve  inlender-se  que 
suo  mais  perfeilas  as  que  iiidioarein  mais  aptiduo  para 
saltsfazer  ao  peiieru  d«  i*ervi(;u  ou  de  produc^ito  que  Kft 
exige  do  animal. 


233 


e  que  mclhor  pode  modificar  a  organizarao 
c  0  modo  do  viver  dos  animacs  vm  ordem 
fl  tornal-os  mais  aptos  para  salisfazercm  as 
necessidades  que  o  progresso  da  civilisafao 
multiplica  cada  vez  mais. 

0  estudo  experimental  da  cconomia  animal 
nos  ensina,  que,  variando  os  seus  modilica- 
dores,  podemns  arhitiariamente  exaltar  a 
actividade  d'unia  funcrao,  e  augmentar  o 
volume  do  orgam  que  a  cxeice:  a  maior 
energia  e  volume  dos  inslrumentos  piiysio- 
logicos  dii  logar  a  maior  (juanlidade  de  pro- 
duclos  ou  rendinu'uto  da  maciiina  animal. 
Esta  verdade  piide  liaver-se  conio  demonstra- 
da  a  respeito  da  secrecao  do  leite,  da  produc- 
fao  da  carne,  da  gordura,  da  Ian,  da  forca, 
daagillidade  ele.  lm|)ellindo  a  macliina  animal 
para  esta  especiulizucw) ,  pelo  augmenlo  de 
energia  cm  cerlos  c  delerminados  orgaos, 
rompe-sc  o  equilihrio  physiologieo,  para  que 
(ende  o  principio  da  vida,  e  nas  primeiras 
edades,  em  que  elle  eslii  em  oseillarao,  dirigin- 
.do-se  com  maior  intcnsidadc  ora  para  um  ora 
para  outro  orgam;  c  se  lor  allrahido  para  nm, 
mais  faciimente  sc  concentra  nelle  para  multi- 
plicar  a  actividade  do  sen  crescimento  e  da 
sua  funccao,  diniinuindo  e  suhordinando  ale 
a  dos  outros  organs:  assini  como,  diniinuindo 
ou  abolindo  uma  I'unccao,  .se  suspende  o  cre.s- 
cimento  do  orgam  (jue  a  cxeree,  e  se  vai 
augmentar  a  actividade  d'outras  funccoes. 
Estas  disposicoes  physioiogicas  muito  concor- 
rcm  para  o  honi  resultado  da  eapecializucun, 
dando-nos  aseguranea  de  que  a  macliina  ani- 
mal se  accommoda  aos  dcseuhos  que  o  cria- 
dor  Hie  iniprinie. 

Porfanio,  sendo  econoniicanientc  vantajoso, 
e  physiologicamente  possivcl  realizar  a  cspe- 
cializacao  dos  animaes,  e  qucrcndo  por  ella 
determiuar  a  sua  pcrfeicao,  devemos  escolher 
OS  generos  de  servico  e  de  produccao,  que 
mais  convem  exigir  de  cada  uma  das  nossas 
especies  de  animaes  domesticos;  c  a  reuniao 
das  qualidades,  que  intiiram  a  maior  aplidao 
para  tal  ou  la!  genero  de  ser\ieo  ou  de  pro- 
duccao,  deve  cliaracterizar  cada  um  dos  ty[)Os 
mais  perfeilos:  mas  esles  lypos  acliam-se 
descriptos  nas  Zooteclinias ',  bem  como  estao 
ja  indicados  os  principaes  proce'ssos  de  os 
ohter;  e  tambem  nao  e  este  o  logar  para  tiac- 
(ar  objectos  de  lao  graiide  ex'tensao. 
.  Qs  programnias  devem.  nece.'^sariamentc  ser 
privatjvos.a  cada  um  dos  distrietos,  e  deve 
aitida  atlender-se  as  circumstancias  parlicu- 
lares  das  localidades  mais  notaveis,  recomeii- 
dando  OS  lypos  maisperleitos  e  que  mais  facil 
e  economicamcntc  se  possam  cj-iar  \    ■■  -      . 


'  Veja-.'ie  Hygione  e  Zootcclinia  Ao'Cur'so'completo 
lie  y.uaiatiictt  damestica —i  ■iro^ioi  vol.  em  U.»  Cuimtira 
1854.  ■■   ;i  :.-.   _f   ■   •         .  ■ 

-  O  sr.  Cardoso,  Vcterinario  nesia  cidaiie,  fi.i  lalvez 
«   primeiro,    que    lenlou    fazcr  ■  o   iir.)gi»i|iinji,_pai'a..a3  | 


0  rriador  a  vista  dos  pedidos  quo  se  Ihe 
fazem  no  programma,  nao  liesitara  em  escollier 
0  typo,  e  determiuar  o  genero  de  servico 
ou  de  producfao  para  que  deve  preparar  os 
seus  animaes,  principaimente  se  elleinvestigar 
0  estado  das  racas  da  locaiidade,  se  consultar 
a  sua  posifao  agricola  e  commercial,  em  (im 
se  elle  conbecer  as  condicdes  que  deve  fazer 
realizar  a  macliina  animal,  alim  de  que  satis- 
faca  ao  destino  que  tem  em  vista;  com  estes 
dados  se  dirige  ao  luluro  com  conlianca 
nos  seus  recursos.  Neste  systema  sao  os  e'x- 
positores  que  classilicam  os  seus  produetos 
na  calegoria  em  que  devem  eoncorrer,  por 
isso  que  sao  elles  ([ue  mellior  sabem  o  typo, 
que  escolherara  para  conforniarem  os  sens 
animaes:  mas  as  decisoes  do  jury  Ihes  fazem 
conbecer  ate  que  ponto  satisiizeram  ao  pro- 
blema,  que  Ibes  foi  prnposto. 

Ojury,  que  devequalilicar  osanimaesdignos 
dc  premio,  sendo  esclarecido  pelas  dcclara- 
coes  dos  expositores  a  cerca  dos  meios  que 
elles  empregaram,  e  comparando  o  producto 
que  se  Ibe  aprcsenta  com  o  typo  determinado 
no  programma,  pode  julgar  com  conbecimento 
de  causa. 

As  exposicoes,  feitas  por  esta  forma,  mo- 
stram  a  Auctoridade  quaes  sao  as  condicoes 
agTicolas  que  sc  teem  melhorado  e  quaes  as 
ra^as  de  animaes  que  seaperfeieoaram  ;  ccom 
estes  dados  e  que  ella  pode  diri'gir  a  industria 
pecuaria. 

Por  este  modo  as  exposicoes  terao  a  sua 
verdadeira  signilicacao,  sendo  um  nieio  de 
iustruccao  e  emulacao  para  o  productor 
dando  ao  jury  meios  de  fazer  inteira  justicai 
e  sendo  para  a  Auctoridade  administiativa  a 
bussola  por  onde  pode  saber  o  rumo  que 
leva  a  produceao  pecuaria. 

As  Sociedades  reaes  de  Agricultura  da  In- 
glaterra,  Irlanda  c  Escossia  recommendam 
com  especialidade  os  typos  mais  perfeitos,  por 
isso  Ibes  destiuam  sempre  grandcs  premios: 
assrm  a  Sociedadc  real  de  Agricullura  dc 
Inglalerra  destinou  ullimamente  a  sonima  de 
1811  libr.  ster.  para  cada  uma  das  tres  racas 
mais  perfeilas,  e  somente  70  libr.  para  todas 
as  outras  racas  da  especie  bovina ;  e  votou 
'120  lib.-,  ster.  para  as  2  racas — DiMeij  e 
SouUidown  e  apenas  30  para  as  outras  racas 
da  especie  .Oviua,  etc.  Nos  programmas  da 
todas  as  sociedades  agricolas,  que  teem  dado 
0  maior  desiuvolvimcnto  a  produceao  animal, 
se  manifesla  grande  empenbo  em  gcniTalizar 
os  typos  mais  perfeitos,  mas  sempre  d'accordo 
com  OS  dados  pliysiologicos  e  agricolas.  Em 
couformidade  com  estes  faclos  (izemos  as 
Ijrccedeutes  renevoes  a  cerca  dos  program- 
mas, para  as  exposicoes. 

Continim.  j.  f.  m.  PI.XTO. 

exposi(;ups  do  seu   dislriclo.    Veja-ie    paj-.    J9U    d«   3.« 
.Volume  dc-ste  Jorual^ 


234 
ADDITAMENTO  A  GEOBIETRIA  DE  LEGENDRE 


POBMCIAS   FC5DiMBSTAES     DA   TBIGONOJIETRIA   tlECriUNEA. 


Ainsi  Us  proposiliont  Jondamcntales  de  la  gt'ometrie  >i 
Ttduisfnty  pour  aiitsi  dire,  accUe-ci  Sfu/e,  que  leztrianglti 
e^/uiangtea  out  Iturs  c6lc»  homologues  projwrtiontuh. 
Lboe.mirb.  I.iv.  3.°  |>ru|i.  23. 


Baixando  do  vertice  yl  sobre  a  base  BC  a  perpendicular  Ap  os  Iriangulos  A  Dp,  ApC 
djio  pelo  citado  llieoreraa  de  Legendre,  Liv.  3.°  prop.  18, 


a  sen  B  =  6sen^:/:    a  sen  C=c  sen  /^:    c  sen  i?  =  6  sen  C  , 


(0. 


Neste  systenia  deequajoes  unia  dellas  e  cnnsequcncia  necessaria  das  oulras  duas.  Resol- 
veiido  OS  triangiilos  reclaiigiilos  AUp  e  pAC,  islo  e,  tirando  os  valores  de  Bp,  e  Cpf 
(t.)  acha-se  a^^c  cos  B-\-h  cos  C;   e  por  i^so ,   procedendo  semellianleiuenle,    conchiimos 


a  =c  cos  B  -\-b  cos  C;    b=^  a  cos  C-\-c  cos  y} ;    c=a  cos  Z?  -{-  6  cos  yl. 


(&) 


As  cciua^oes  (p)  mostram  que  u  y^s  projecrocs  dos  dous  lados  de  iim  triaiigulo  sobrc  o 
iercciio  (produzido  se  necessario for)  sdo  eguoes  no  tcrceiro  lado.  )>  Veja-se  Franc.  Trig.  n.° 

212X11. 

Subslituindo  em  o:=6  cos  C+ccos  B  os  valores  de  6  e  c  liradoi  do  a  sen  B;=z6  sen  ^, 

a  sen  B  cos  C       a  sen  C  cos  B 

fl  sen  C=^c  sen  .^,  fica  a  = : H ,* 

ben  ./i  sen  .r-i 

ou  sen  (B  + C)=sen  Z?  cos  C+sen  Ccos  jB (-j)  , 

Se    na   inesma    equa^ao    a:=6co3   C  +  c  cos  B    escrevermos     por    b    o     valor    (g) 
/j=:a  cos  C^c  coiji,  acliaremos 

fl=j(a  cos  C-\-c  c<x^)  cos  C+c  cos'B;  osen  '  C::=c  cos  B  +  c  cos /f  cos  C 


logo 


_  ,   .       ,^^     (I      sen  y^ 

cos  i?  =  —  cos  ( .^  +  C) ;  -  = '■ 

^  c      sen  C 

cos  {A -^  C)z=coi  A  cos  C — sen  ►^  sen  C. 


(*) 


Por  consequencia  (-j)  (J')  sendo  a  e  p  dous  angulos  posilivoi,  e  cada   um  dellc*  Inenor 
quo  ;,,  se  verificara  seuipre  as  eqiiajoes  (,) 


sen  (a  +  p)  =  sen  a  cos  ^■\-  cos  a  sen  p 
cos  (a  -j-  p)  =  cos  a  cos  p  —  sen  a  sen  p 


1 


(.) 


Sabe-ie  pela  geometria  que  sen   (i^  +x)  =cos  a:;  e   que   cos  (iB-f.ar)=r  —  stn  x. 
Seja   pois  a,=iit  +  a)   teremos  sen  (a,  +  p)  =  cos   (a  +  p);  cos    (o,+  pj  ;:=  —  sen  (» +  6) 

logo  (t)  sen  (a,  +  p)  =  cos  »  cos  p  —  sen  a  sen  p : 

cos  (a,  +  p)  =  —  sen  »  cos  p  —  cos  ^  sen  9 :  ' 

oliminando  a  dos  segundos  membros  d'eslaa  equa5oes,  ficara 

sen  (a,  -f  P)  =  sen  a,  cos  p  +  cos  a,  sen  p 

cos  (a,-fP}  =  co»  «,  cos  p  —  eeo  j,  sen  % 


235 

O  methodo,  por  que  se  alcangaram  estas  eqiiacoes,  mostra  que(i)$aoexacta9,  quaesquer 
que  sejaro  as  grandezas  de  »  e  p ,  com  tanto  que  esles  arcoi  (ejam  posilivos. 

E  sabido  que  sendo  n,  e  n'  inteiros  posilivos 
*enir=sen  [^nv-\-^)'<  cos  a?'  =  cos  (2«'w  +  a;'};   ou  x  seja  positive  ou  negativo:   podemos 
poii   tomar   n  e  n'   convenieiitemente   grander    para    que  2/i«4-,,    Zrf'„  +  ^  sejam   arcos 
pnsitivos :  logo 

sen  (»+g)=  sen  (2ra  „+a+  2n'  «+p)  =  sen  {In  „+«)  cos  (2n',+p)+cosJ(2i« ,+«)  sen  (2«'  ,4-g) 

cos {»+p)  =  cos  (2rt  „+»+2n' „4-p)  =  cos  {J2n  ,+«)  cos  (2re'  «-^p)— sen  (2n  ,+,)  sen  (2n"  ,-f  p ) 

ou     sen  (a  +  p)  =  sen  a  ens  g  -J-  cos  „  sen  p ;  cos  (,  -)-  p)  =:  cos  a  cos  p  —  sen  a  sen  p  :    pof  lanto 

y/j  equa^oca  (,)  ocrijicam-se ,  quaesquer  que  sejam  as  grflndezas  e  signaes  <fe  a  e  p. 

A  terceira  equa^'io  (p)  e  c=:acos  5  + 6co3  ^;   porein  {»)  a*Aen*  Z?  =  6*8en^  ..^ 


ou 


i2J 


=V-^ 


sen^^;  logo  (c  —  5  cos  .4)'=   a* — 6* sen'  // ;  e 


:t'+c='  — 26c  cos^- 


•W 


6'  .•=:  a'  +  c"  —  2ac  ;cos;B 
c^=a^  +  6»  — 2a6  cos  C^ 

Logo:  asequa55es(a),  (?),(^'),  ($),  (•),  (x) resolvem  todos  os  problemns,  que  podem  pro- 
■por-se  sobre  resolugao  de  Iriangulos,  conio  pode  ver-se  passim  em  qualquer  trigonomelria, 
;(Bspecialinente  na  de  Francoeur  ii.°  200  a  203 ;  e  211  e212.  Por  islo  se  ve  com  quanta 
•razao  diz  Legendre  no  scbolio  II  da  proposigao  XIX  do  3.°  Livro  da  Geometria,  a  respeilo 
.dos  triangulos  semelhanles: 

«  Les  deux  propositions  precedentes  qui  n  en  font  propi'ement  quune,  joiiites  a 
M  celle  du  quarre  dc  L' hypotenuse,  sont  les  propositions  lea  plus  importantcs,  et  les 
K  plus  fecondf.s  de  la  geoiiiilrie  •    elles  suffisent  presque  seides  a  toutcs  les  opplica- 
'■:  «  tions,  et  a  la  resolution  dc  tous  les  problcmes. 

Podiamos,  [com  Legendre  Trig,  ou  Franc,  nota  sobre  o  n.°201.]  lomar,  como  principiolan- 
damenlal  da  Trigonomelria  rcctiliiiea,  as  equagoes  (li),  as  quaes,  combinadas  duas  a  duns 
por  somina  e  dil'ferenga ,  dfio  por  somma  as  equagoes  (p)  ;  e  por  diiTerenga  as  segiiitiles 
a^ — 6''^  c  [a  cos  B — 6  cos  y1] ;  a'- — c^=6[acos  C — ccoijj] ;  6* — c^=a  [6  cos  C — ccos  B]: 
e  comparando  eslas  equajoes  com  (pj,  tiramos  (a)  ,  (f),  [S],  (t). 

Coin  tres  angulos,  cuja  somma  seja  egual  a  it,  podeinos  conUruit  a  vonlade  urn  trian- 
gulo,  c  depois  intinitos  semelhanles  ao  primeiro;  Leg.  Geom.  prop.  21,  Liv.  3.°;  e  por  ib>o 
dados  OS  tres  angulos  de  um  triauguio  nao  podemos  construir  um  detenninado  trianguln  ; 
ficain  porlanlo  reduzidas  as  conslrucgoes  as  liypolheses  dos  problemos  7°,  8.*,  9.°,  10.°ell.°, 
da  citadu  Geom.  de  Leg.  Liv.  2°.  Islo  mesiiio  se  couclue  da  analyse,  ou  se  lomern  (a), 
ou  (?)  ,  tou)o  fundauienlo  da  Trigonomelria.  As  eqiiaijoes  (a)  represenlam  unicamente  duas 
equfu;oes  dislinctas  enlre  cmco  quanlidudes ;  porque  nma  qualquer  de  entre  estas  equagoes 
resulta  da  nuillipliragao  ,  e  convenionlemenle  ordeuada  ,  das  oulras  duas;  e  it  =./^  +  i?  +  C 

As  equagoes  (;)  lambem  se  reduzem  unicamente  a  duas  equagoes  dislinctas  enlre  ci?ico 
puanlidades.  E  coui  effeilo,  tome-se  (j)  como   principio  fundamental:   (a),  (p),  (7),  {S),  U), 

!ao,   oomo  vimos ,  corollaries   de   (j;):    ora   a  terceira  equagao   (;;)  e 
'=a''4-6'+2(i6  cos  (y^+ /i)  =  a^  +  6^4-,2a6  co5y:/co3i?  — 2a6  sen^seni?:    mas   (»} 
a  sen  fi  =  6  sen  .//,!    logo      c''=a*-)- 6^-)-2a6  cos  j4cos  B  —  26^sen*^;    ou 
c^^^a^ — 6^+ 2  6  cos  ./^  fa  cos  Zi -f  6  cos  ^]      ou      (p)t^  =  a'  —  6^+26ccos.^:    isto    <■' , 
"  =6^  +  c^— 26  c  cos  y^,    que  e  a  primeira  equagdo  (;;)     Logo; 

Tanlo  as  equagoes  (a),  com  as  equagoes  (5),  represenlam  um  systema  de  duas  equa- 
foci  dislinctas  entre  c\nco  quantidades ,  e  por  isso  (Francoevr  Algebra  Elemenlir  n.°  12.3) 
fiao  se  pode  resolver  um  trialigulo  ,  seni  que  os  dados  sejapi  tres  dislinclos;  islo  e,  sent 
que,  entre  os  dados  em  nuniero  de  tres,  entre  um  lado  pelo  menos.  Os  ires  angulos  ndo 
Matiffazem . 

Ve-se,  pelo  contrario  ,  que,  dados  oslres  lados,  aresolugao  dotriangulo  e'determinada ; 
porque  (a),  ou  (j;) ,  formam  systemas  de  duas  equajoes  em  que  enlram  os  tres  lades,  e 
dons  angulos. 

BCFIKO  OCEBf  A   OSORIO. 


236 


f  •  2= 


-  ^31 


S    c^ 


c.  C-; 


JO 


cr. 


rt       — 


Co 


o 


E^islhiiU. 


Eiriruram.  f    fj  , 

'O' 
iS 

01 


Sit  I  ram. 


^lurrrriiiii 


O 


to 

o 


KxJStK 


Eii'rarani. 


Sairain. 


Morrerara. 


CO 


E\i&ten). 


Etisliiira. 


Enlraram. 


Murrerani. 


Evistem. 


Exisliani. 


Eiitraiani. 


Murrerani 


E\i>^lem. 


E\;sliam. 


Enlraram. 
Sai'ram. 


Murrerani.  I 


Exislein. 


it. 


to 


10 


to 

10 

■■.■«)* 


Exibtiaili. 


Enlraram. 


Sairam. 


CO 


Morrcram. 


Exislem. 


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o 


,5  3  3  3  =5  3  a  e; 

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o        a.       -1  "^  I 

^r:=3,  =  2" 

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i^  O         ."*    i'=  CT  4^  'O  W  Ot  O  X  Cs 


JORNAL    SCIENTIFICO     E  LITTERARIO. 


IXSTITUTO  DE  COIMBRA. 

SessifO  soltmne  de   17  de  dezembro  de  1854. 

Liila  e  approvada  a  acta  da  sessao  antecedente,  o 
«nr.  Slicretario  Jacintho  Antonio  de  Sousa  I'assou  a  ler 
o  Helatorio  annual  da  gerencia  litteraria  e  adminis- 
trativa  da  Direc^ao;  e  apresenton  tambem  asrespecti- 
vas  conta-s,  j;t  vistas  e  approvadas  pela  Direc^ao,  e 
que  eijualmente  foram  approvadas  pelo  Institiito,  man- 
dando-se  imprimir  tanto  o  Relatorio,  como  as  contas; 
Da  conformidade  do  ^.  2.°  do  art.''  4.'^  do  Regulamento 
provisorio. 

Leram-se  depois  os  nomes  dos  novos  Socios  Hono- 
rarios,  Effectivos,  e  Correspondentes,  que  haviam  sido 
eleitos  em  atten^ao  ao  seu  distincto  merecimento,  e 
aos  services  lilterarios,  que  muitos  d'elles  haviam  pres- 
tado  ao  Instituto. 

Em  se^uida  procedeu-se  a  clei^uo  da  Direc9So  para 
o  seguintc  biennia. 

As  Classes  procederam  tambom  a  elei^ao  dos  respe- 
cljvos  Directores,  Secretarios,   e  Vice-S»'cretarios. 
O  Si^cretario, 
J.  Alves  de  Sousa. 


RELATORIO. 

Senhorcs! — Ila  dous  annosouvisles  o  que, 
na  sessao  solemnc  d'al)crtiira,  leu  era  vossa 
presenca  um  digno  socio  ([ue  occnpava  este 
logar.  0  Instiliilo  acahava  entiio  d'acordar 
de  um  d'esses  pcriodos  de  lelliargo,  cm  que 
tantas  vezes  tern  caido;  mas  acordara  com 
muita  vida. 

Uma  reforma  adequada  a  al(a  missao  que 
tinha  de  cumprir,  os  sollicitos  esforros  de  mui- 
tos de  scus  lienemeritos  menibros  deram  vigor 
e  alento  a  esla  instiluicao.  E  a  direccao  actual 
viu  desinvolver-se  em  todos  os  seus  orgaos  priii- 
cipaes  a  vida  vicejante  do  Instituto.  As  com- 
missoes,  as  classes,  o  jornal,  o  g;il)inete  de 
leitura,  a  sociedade  toda  estava  aiiiniada  de 
um  movimento  cnthusiaslico. 

Sabcis,  seniiores,  ([ue  sob  a  dirccrao  que 
hpje  vein  dai-vos  eonta  da  sua  gerencia,  forani 
feilos  OS  regulamentos  do  Instituto,  do  galiine- 
te,  e  dos  curses  de  leitura ;  foram  designados 
em  cada  uma  das  classes  varios  assuniptos 
para  discussocs,  mcmorias  e  cursos  de  leitura ; 
foram  distribuidos  muitos  elogios  funebres  dos 
socios  linados,  dos  quaes,  e  com  pezar  o  dize- 
mos,  apenas  um  so  foi  apresentado  e  lido  pelo 
digno  socio  o  sr.  Jeronymo  Jose  de  Mello,  cm 
sessao  de  20  de  fevcreiro  de  1853. 

Vol.  III.  Janbiho  1.°- 


Sabeis  que  os  socios,  cujos  nomes  aqui 
mencionamos  com  saudade,  os  snrs.  Joao 
Baptista  da  Silva  Ferrao,  Levy  Maria  Jordao, 
e  Jose  Julio  d'Oliveira  Pinto,  lizeram  trcs 
cursos  de  leitura  sobre  tres  importantissimos 
objectos  —  Deduccuo  do  priyicipio  da  enlidade 
— JtelacOes  do  espirilo  e  do  corpo — Liherdade  de 
cominenio;  e  que  cstes  cursos,  bcm  como  as 
discussoes  publicas  que  tiveram  as  classes, 
deram  logar  a  muitas  sessOes  extraordinaria- 
mente  concorridas  pclos  socios,  pela  academia, 
e  ate  pelas  auctoridades  academicas  e  civis. 

Foi  uma  epocha  de  esplendor  para  o  Insti- 
tuto, mas  que  passou  infelizmente.  Era  activa 
em  dcmazia;  nascera  do  cnthusiasmo;  e  este 
estado  do  espirito  nao  pode  durar  muito.  Dos 
socios  que  nutriam  esta  inestimavel  disposifao 
tao  proiieua  a  vida  interna  da  sociedade,  uns, 
coucluidos  OS  seus  estudos,  ausentaram-se  de 
Coimbra  para  scmpre,  outros  foram-nos  se- 
questrados  pela  politica  que  os  chamou  a 
representacao  nacional. 

Ncstas  circumstaucias  compreliendeis  bem, 
senhores,  quae  grandes  difliculdades  tinha  a 
direccao  que  veucer.  As  sessoes  publicas  do 
Instituto  e  das  classes  tornarani-se  impos- 
siveis,  porque  a  maior  parte  dos  socios  que 
restavani  nao  coucorriam  a  ellas — foi  forcoso 
deixar  reinar  nessas  salas  o  silencio;  mas 
restava  um  jornal  para  dirigir  material  e 
intellectualmente,  restava  um  gabinetc  de 
leitura  para  fornecer  de  jornaes,  uma  biblio- 
theca  para  enclicr  de  livros. 

A  direccao,  auxiliada  com  o  extremado  zelo 
de  alguns  poucos  socios  e  pessoas  cstranbas  ao 
Instituto,  procurou  melliorar  estes  estabelecj- 
mentos.   Tornoii  gratuita  a  administracao  do  . 
jornal,  inciimbindo-a  ao  vosso  secretario,  que 
a  exerce  ha   dous  annos;   e  desta  sorte  eco- 
nomisou  neste  espaco  de  tempo  108^000  rs. , 
l{e(|uereu   ao  governo  dc  S.   Majestade  para  : 
que  a  composicao  e  imprcssao  do  jornal  fosse: 
por  conta  do  Estado,   e  se  Ihe  concedessc  a 
casa  da  qual  o  Institute  pagava  renda  a  Aca- 
demia dramaiica.  A  portaria  de  5  de  septeni- 
bro  de  1833  deferiu  favoravelmente  a  esta  pre- 
tencao,  e  vein  economisar  annualmente  mais 
ISO^OOO  reis  na  composicao  e  impressao  do 
jornal,  e  24^000  reis  na  rcnda  da  casa. 

Diminuidas  assim  as  despcsas  do  Instituto, 
era  uma  conscquencia  olTerecer  mais  algumas 
-18oS.  Num.  19. 


238 


vanlagens  aos  seus  contribuinles:  foi  o  que 
fez  a  direccao  em  sessao  de  oulubro  de  1853. 
Abaixou  a  quota  mensal  dos  socios,  mandou 
augmeiitar  de  vez  cm  quando  o  numcro  das 
paginas  do  jornal,  que  desdc  logo  foi  rcmot- 
tido  franco  de  porte  aos  assignanles;  e  orde- 
nou  consideraTcis  melhorameiitos  na  casa  que 
serve  de  gabinele  de  leiliira,  bom  como  a  as- 
signatura  demais  alguns  jornacs  cstrangeiros. 

Quizeramos  fazcr  aqui  distincla  mencao  de 
todas  as  pessoas  que  leem  auxiliado  a  direccao 
em  sua  ardua  tarefa,  ja  coliaborando  no  jornal, 
ja  offereccndo  as  suas  obras  a  bibliotbcca,  jii 
enriquecendo  o  gabinete  com  o  donative  de 
um  jornal  francez,  e  d'um  cxccllcntc  niappa 
da  guerra  do  oricnte;  porem  os  nomcs  destas 
pessoas,  afora  uma  a  quem  occulta  a  modcstia, 
ja  OS  conheceis  pelo  jornal. 

Com  as  obras  offerecidas  ao  Institute,  e  com 
as  colleccoes  dos  jornaes  mais  importantcs 
comeja  a  fundar-se  a  biblioiheca,  estabclcci- 
menlo  annexe  ao  gabinete  de  leitura.  A  direc- 
fSo  tem  desejado  fazer  no  Instituto  uma  bi- 
bliotheca  como  determinam  os  eslatutos;  e 
dos  varies  meios,  por  que  sc  isto  pode  eon- 
seguir  em  Coimbra,  apenas  tcm  podido  teutar 
aquelle,  aguardando  occasiao  opportuna  para 
alcangar  alguns  livros  dos  extinctos  conven- 
tos,  que  teem  andado  por  ahi  a  rodo,  a  extra- 
viarem-se,  a  perderem-se  inutilmente. 

Tendes  de  nomear  hoje  uma  nova  direcfao, 
que  recebera  da  actual  o  jnrnal — Instituto 
com  0  18°  numcro  do  3.°  volume  ja  publicado; 
um  gabinete  tornado  assiis  decente  e  agasa- 
Ihado,  e  recebendo  03  jornaes  nacionaes  e  es- 
tiangiiros;  um  embryao  de  bibliotheca  com  9G 
volumes;  um  volume  das  memo.-ias  do  Instituto, 
cuja  impressao  esta  baftante  adiantada;  uma 
dotafao  do  govcrno,  que  assim  se  Ihe  podc  cha- 
mar,  equivalonte  a  171^000  reisannuaes,  um 
saldo  em  cofre  de  55^520  rcis,  como  vereis 
das  contas  que  submettemos  ao  vosso  examc. 

De  todos  estes  objectos  o  que  certamente 
mais  carece  da  vossa  sollicitude  e  o  jnrnal, 
porque  delle  depcnde  a  existoncia  dos  outros 
estahclecinientos,  a  vida  real  da  sociedade.  .V 
sua  impressao  por  conta  do  Estado  foi  concc- 
dida  com  a  condicao  de  se  reservarem  quatro 
paginas  para  objectos  do  conselho  superior  e 
das  facuidades  acadcmicas.   A  direccao  pro- 

f'ltnla  d-  r.-.<v.itn  e.  d  sprsn  qtir.  ii'-rth)!/  <>  si 


RECEITA. 


Dinhi-iro  rec^liiilo  peln  sr.  Jonqnim  A.  Si- 
mUes  lie  Carvalhu.  i|,i  ev-ailiuinislrador 
Juaiiiiira  Marlins  ilc-  Curvalbu,   nm  .   .  . 


Suiiinia 


7511015 


curou  converter  esta  obriga^ao  n'uma  verda- 
deira  vantagem,  estreitando  o  mais  possivel  as 
relajOes  do  Instituto  com  aquelles  estabeleci- 
mentos  scienlilicos. 

Por  intcrvenyao  do  prelado  da  universi- 
dade  consoguiu  que  em  quasi  todas  as  facui- 
dades acadcmicas  fossem  nomeadas  commis- 
soes  para  colligircra  e  reverem  trabalhos  ja 
feitos,  ou  fazcrem-nos  de  novo,  a  lim  de  que 
n'essas  quatro  paginas  avultasse  materia  de 
reconhecida  imporlancia.  Era  uma  especie  de 
compromisso  demutuo  auxilio  que  a  direccao 
procurava  crear  cntrc  as  Ires  mais  respeita- 
veis  corporacoes  littcrarias  de  Coimbra.  De 
mutuo  auxilio,  dizemol-o  com  intencao:  sc  a 
redaccao  do  Instituto  pode  receber  das  facui- 
dades acadcmicas  e  do  conselho  superior  um 
poderoso  contingcnle,  e  tamhcm  certo  que 
muitos  artigos  que  dalli  recebcmos,  ainda 
nao  teriam  visto  a  luz  publica  tao  dcsalTron- 
tadaraente,  sc  o  Institute  nao  existisse;  e 
ningucm  pode  hoje  questionar  quanto  importa 
a  essas  corpoiarrK's  darom  a  maior  publici- 
dade  aos  sous  trabalhos. 

E  mister,  todavia,  confessar,  que  embora 
0  nosso  jornal  se  tenha  oecupado  de  objectos 
importantes,  embora  rcceba  todos  esses  feudos 
preciosos,  o  maior  trabalho,  o  fundo  da  redac- 
fao,  e  toda  a  direcjao  material  teem  pesado 
sobre  alguns  poucos  socios  que  por  si  sos, 
ou  nao  teem  forcas,  ou  nao  teem  tempo  livre 
de  outras  occupajoes  obrigatorias,  para  ele- 
var  aquella  publica^ao  ao  que  ella  pode  ser. 
Ila  certamente  uma  causa  geral  que  pro- 
duz  entre  nos  cste  phcnomeno  notavel — uma 
immensa  desproporfao  enlre  o  nuniero  d»g 
jornaes  litterarios  e  o  dos  jornacs  politicos; 
mas  alcm  dessa,  militam  em  Coimbra  outras 
cspcciacs,  que  impcdcm  que  o  Instituto  pros- 
pcre  e  seja,  como  devia  de  scr,  um  dos  pri- 
meiros  jornaes  litterarios  e  scienlilicos. 

Convcm,  senhores,  convcm  muilo  que  a 
sociedade  que  se  ufana  de  ler  no  sen  gremio 
as  maiores  notabilidades  littcrarias  do  paiz, 
que  nasceu  e  vive  aqui,  na  terra  das  Icttras, 
0  Instituto  de  Coimbra,  a  que  essas  notabili- 
dades se  honram  de  pertenccr,  rcconlicc.i  sua 
nobre  missao,  e  se  esforce  pcla  cumprir. 
O  Sccrclario, 

JACINTIIO    .4.    DE    SuliSA. 

.  T/icsniire  }•■!  J  .-/   Sinins  df  ('nrrii'lin 


DESi'IiiiA. 


7,1^013 


t]st<'»rina  c  ttzeilf  jmrn  sciisueii  nuclurnHj  ttu 
JnsUltilii,  rcU 

Au  sr.  Ailriau  Fui j  iz  |)ur  viiiia^  il  S|'*-s>ia 
((lie  fez,    rt'i8 , 

P-T  inn  tinlfiro   de  melal  aniar»-l|o    .... 

Um  mez  de  eralificri^ao  ao  ex  atlniiiii»ilrador 

Au  livreiro  Moru  pela  wssiguttlura  de  j-'f- 
naci  franC'  ze«    feila  pelu  ^r.  Forj.iz,   ret* 

Por  duie  tMiDf&lrid  da  rendu  di>  Gubincle,  reis 


Somnia 


Ueia 


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DIRECCA.0  DO  INSTITUTO  DE  COIMBRA. 


I  :eita  em  sessao  solemne  de  17  de  hezembro 
D£  1834. 


Presidente. 
ifrancisco  Jos6  Duarte  Nazareth. 
:  Vice-Presidente. 

Francisco  de  Castro  Freire. 
.  I        i    I  ■ "    Secretarios. 
Jacintho  Antonio  de  Sousa. 
Joaquim  Alvcs  dc  Sousa. 

1^1  Thesoiireiro. 

Jose  Ferreira  de  Macedo  Pinto. 


DIIIECTORES    DO  GABINETE   DE  LEITURA. 

Nomcados  em  sessao  da  Direccao  de  23  dc 
dezembro. 
Raymiindo  Venancio  Rodrigucs. 
Manoel  dos  Santos  Pereira  Jardim. 
D.  Francisco  de  Sousa  e  Holstein. 

COUMISSAO    BEDACTOnA. 

A  Coinissao'  Redactors" do  Jornal  do  Insti- 
tuto,  nomeada  na  niesma  sessao,  para  servir 
ate  se  proceder  a  deliniliva  elcicao  nas  Clas- 
ses, ficou  coraposta  dos  Directores,  Seerctarios 
e  Yice-Secrelarios  das  tres  classes,  e  dos  dois 
Secretaries  do  Institute. 

^  COMMISS.VO    REVISORA. 

Francisco  de  Castro  Freiro, 
Henrique  O'Neill. 
Jacintho  Antonio  de  Sousa. 


RELAC.AO  NOMINAL  DOS  SOCIOS  HO.VORA- 
EIOS,  EFFECTIVOS  E  CORRESPONDEN- 
TES  DO  INSTITUTO  DE  COIMBRA. 

"    J 

SOCIOS    UONORAKIOS. 

Cardcal  Patriarcha  dc  Lisboa,  D.  Gitilherme 
Henriques  dc  Carvalho. 

Cardcal  Arcebispo  Priraaz,  I>.  Pedro  Paulo 
de  Fifjueiredo  da  C'unlia  e  Mello. 

Duque  de  Saldanlm,  Joao  Carlos  de  Sal- 
danha  de  Oliveira  e  Daun. 

Arcebiitpo  de  Mytelcne,  B.  Domingos.  Joie 
de  Sousa  Muijulhdcs. 

Condc  de  Lavradio,  D.  Francisco  de  Al- 
meida. 

Conde  A.  Raczynsky. 


Visconde  daCarreira,  Luiz  Antonio  d'Abreu 
e  Lima. 

Visconde  de  Sa  da  Bandcira,  Bernardo  de 
Sd  Noyueira. 

Visconde  dc  Santarom,  Manoel  Francisco 
de  Barros  e  Souza  de  Mesquita  de  Macedo 
Leildo  e  Carcalliosa. 

Alexandre  llerculano. 

Antonio  Jose  d'Avila. 

Antonio  Feliciano  de  Castilho. 

H.  ShoelTer. 

Jose  Fgnacio  Roquete. 

Jose  Joaqfiim  Rudrigucs  dc  Bastos. 

Jose  da  Silva  Tavarcs. 

Jose  Freire  dc  Serpa  Pimcntel. 


SOCIOS  EFFECTIVOS. 

CLASSE    DE   SCIENCIAS   MORAES   E   SOCIAES. 

Director. 
Miguel  Ribeiro  d'Almeida  e  Vasconcellos. 

Secretario. 
Adriano  de  Abreu  Cardoso  Machado. 

Vice-Secrelario. 
Manoel  Bernardo  de  Sousa  Ennes. 


Adriao  Pereira  Forjaz  de  Sampaio. 
Alexandre  de  Meyrelies  do  Canto  e  Castro. 
Agoslinlio    de    Ornellas    de    Vasconcellos 
Esmcraldo  e  Moura. 

Antonio  Ayres  de  Gouvea. 
Antonio  Bernardino  d(!  Menezes. 
Antonio  Corrca  Caldeira. 
Augusto  Cesar  Barjona  de  Freitas. 
Basilic  Alberto  de  Sousa  Pinto. 
Bernardino  Joaquim  da  Silva  Carniiiro. 
Bernardo  de  Serpa  Pinientel. 
Duarte  Gustavo  Nogucira  Soares. 
Francisco  Antonio  Diniz. 
Francisco  Antonio  Rodriguez  dc  .\zevedo. 
Francisco  Jose  Duarte  Nazareth. 
D.  Francisco  de  Sousa  e  llolstein. 
Francisco    Augusto   Furtado  de  .Mesquita. 
Frederico  de  Azevedo  Faro  e  Noronha. 
Jacinth*  Antonio  de  Sousa. 
Jciao  Chrysostomo  d'Aniorini  Pessoa. 
Joaquim  Alves  Pereira. 
Joaquim  ,\lves  de  Sousa. 
Joaquim  Maria  Rodriguez  de  Brilo. 
Jose  .\dolplio  Trony. 
Jo.se  Ernesto  dc  Carvalho  e  Rego. 
-Jose  Maria  de  Atircu. 
Jose  Maximo  da  Silva  Rebello. 
Justine  Antonio  de  Freitas. 
Luiz  Cactano  Lobe. 
Manoel  Eduardo  da  Motta  Vciga. 


241 


Manoel  de  Scrpa  Machado. 
ManocI  dos  Santos  Pereira  jardiin. 
Sebastiao  Jose  de  Carvalho. 
Vicente  Ferrer  Nello  Paiva. 
Vicente  Jose  d' Almeida  Seica. 


CLASSE    DE   SCIENCIAS    PUVSICO-MATIIEMMIC  \  S  . 

Director. 
Uodrigo  Ribeiro  de  Sousa  Pinto. 

Seaelario. 
Antonio  Augusto  da  Costa  Siinoes. 

Vice-Secretario. 
Mathias  de  Carvaliio  e  Vasconcellos. 


Albino  Aiiguslo  Giraldes. 

Antonio  de  Carvaliio  Coulinho. 

Antonio  Joafjiiini  Darjona. 

Antonio  Joaqnini  Uibeiro  Gomes  de  Abreu. 

Antonio  Jose  Tcixeira. 

Antonio  Liiiz  Fcrn^ra  Girao. 

Callisto  Ignacio  d' Almeida  Ferraz, 

Florencio  Mago  Barreto  Feio. 

Francisco  Antonio  Alvcs. 

Francisco  de  Caslro  Freire. 

Francisco  Pereira  de  Torres  Coelho. 

Jacintho  Antonio  de  Sousa. 

Jeronymo  Jose  de  Mello. 

Joiio  Alberto  Perciia  de  Azevedo. 

Joao  Antonio  de  Sousa  Doria. 

Joaquim  Augusto  SimOes  de  Carvalbo. 

Jose  Ferreira  de  Macedo  Pinto. 

Jose  Maria  de  Abreu. 

Jose  Pereira  da  Costa  Cardoso. 

Jose  Teixeira  de  Queiroz. 

Luiz  Albano  d'Andrade  Moraes. 

Manoel  Maria  Correa. 

Manoel  dos  Santos  Pereira  Jardim, 

Miguel  ieite  Ferreira  Lcao. 

Raymundo  Venancio  Rodrigues. 

Roque  J.  Fernandes  Thoniaz. 

Thoiuaz  Autonio  de  Oliveira  Lobo. 


CL.4SSE  DE  LITTEUATUBA,   BELLAS  LpTBAS 
£  BELLAS   AJITES, 

Director. 
Jose  Maria  de  Abreu. 

Secret  aria. 
Antonio  Ayres  dc  Gouvea. 

Vice-Secretario. 
Joaquim  Simoes  da  Silva  Ferraz. 


Adriano  de  Abrou  Cardoso  Machado. 

Adriao  Pereira  Forjaz  de  Sanipaio. 

Alexandre  Meyrelles  dc  Canto  e  Castro. 

Antonio  Augusto  da  Costa  Simoes. 

Antonio  Bernardino  de  Menezes. 

.\nlonio  de  Carvaliio  Coutinho. 

Anionio  Correa  Caldeira. 

Antonio  Florencio  Sarmento. 

Antonio  Joaquim  Ribeiro  Gomes  dc  .\1)rcu. 

Antonio  Luiz  Ferreira  Girao 

Antonio  Nunes  de  Carvaliio. 

Antonio  Xavier  dc  Sonsa  Montciro. 

Bernardino  Joaquim  da  Silva  Carneiro. 

Florencio  Mago  Barreto  Feio. 

Francisio  Antonio  Diniz. 

Francisco  dc  Castro  Freire, 

Francis£0  Jose  Duarte  ^Jazareth- 

Henrique  O'Neill. 

Jacintho  Antonio  de  Sousa. 

Joao  Anionio  de  Sousa  Doria. 

Joaquim  Alves  de  Sousa. 

Joaquim  Augusto  Simoes  de  Carvalho. 

Jose  Adolpho  Trony. 

Jose  Maria  da  Silva  Leal. 

Jose  de  Menezes  Parreira. 

Jose  Teixeira  de  Queiroz. 

Luiz  Albano  d'Andrade  Moraes, 

Miguel  Leite  Ferreira  Leao. 

Miguel  Ribeiro  d'Alnieida  VasconccUos. 

Rodrigo  Ribeiro  de  Sousa  Pinto. 

Vicente  Ferrer  Nelto  Paiva. 


SOCIOS    CORRESPONDENTES.' 

CLASSE    DE  SCIENCIAS  MOBAES   E  SOCIAES. 

0  Benefic'iado  Francisco  Raphael  da  Silveira 
Malhao,  em  Ohidos. 

Guilbermino  Auguslo,  em  Villa  Real. 

Joao  Baptista  da  Silva  Ferrao  de  Carvalho 

Martens,  en  Lisboa. 

Joao  da  Cunha  jN'eves  de  Carvalho,  em 
Lisboa. 

Joaquim  Januario  de  Sousa  Torres  e  Al- 
meida, em  Braga. 

Jose  Julio  de  Oliveira  Pinto. 

Jose  Joaquim  dos  Reis  e  Vanconcellos,  em 
Lisboa. 

Levy  Maria  Jordao,  em  Lisboa. 

Luiz  Jose  de  VasconccUos  Azevedo  e  Silva 
Carvajal,  em  Lisboa. 

*  Sao  unicamente  considerados  socios  correspoiidentes, 
OS  que  teem  salisfeito  as  seguiotes  disposi^oes  dus  Esta- 
tutos. 

M   .4rt.  13.  Ao3  correspondentes  inciimbe: 

1,°  «  Dar  conta  annualmente  ao  Ini^tituto  dostrabalhos 
u  scientificos,  litterarios  e  artisticus,  que  no  decurso  do 
«  anno  tiouverera  feito. 

2.°  "  Remetter  no  fim  de  cada  dois  annos  uma  memoria 
«  original  para  ser  publtcada  pelo  Institnto. 

u  ^rt.  15.  Dei.\arilo  de  perlencer  ao  Institute  ossocioi, 
que  faltarem  us  disposi^Ses  d'estes  Estatntos.  n 


242 


CLASSli    111;    SCIKNCUS    PIlVSICO-MATilEMATICAS. 

Aiiloriiu  Fi'iTcira  ilo  Maccdo  Piiilo,  no  Poiio. 

Antonio  .Maria  Itarlinsa,  em  Lisbon. 

Bernardino  Antonio  Gomes,  em  Lisboa. 

Carlos  lUlieiro. 

Daniel  Aiigiisto  da  Silva;  cm  Lisbon. 

Francisco  Antonio  Rodriguez  dc  Gusmao, 
PHI  Aljiedrinha. 

Franeisro  Jose  da  Cunl)a  Vianna,  em  Lisbon. 

Joa(]uini  de  Sancla  Clara  Sousa  Pinio,  no 
Porto. 

Jose  Francisco  da  Silva  Pinto,  na  Louzd. 

Jose  Fructiioso  Avres  de  Gouvea  Osorio,  no 
Porto. 

Jose  Joaquira  da  Silva  Pereira  Caidas,  em 
Brtiga. 

Jose  Viclorino  Damasio,  em  Lisbon. 

D/  ^^■el\vicllt,  em  Anyoln. 


CLASSE   DE    LiriERATURA    BELUS   LETllAS    E   AllTES. 

Alexandre  Magno  de  Casiilho,  em  Lisbon. 

Aniandio  Tnde  Barrelo  Feio,  no  Porto. 

Antonio  de  Serpa,  eia  Li.ibon. 

Antonio  Xavier  Rodrigucs  Cordciro,  em 
Leiria. 

Francisco  Antonio  Rodriguez  de  Gusmao, 
(m  Alpedrinlia. 

Guilhermino  Angiislo,  em  ViUa-Benl. 

Joao  Daptista  da  Silva  Ferrao  de  Carvalho 
Martens,  em  Lisbon. 

Joao  da  Ciinha  Neves  e  Carvalho,  em  Lisbon. 

Joao  de  .Lcmos  Sci.vas  Castello-Branco,  em 
Lisbon. 

Joaquim  Januario  de  Sousa  Torres  e  Al- 
meida, em  Brnijn. 

Joaqnini  Lopes  Carreira  de  Mello,  em  Lisbon. 

Jose  Fructuoso  Ayres  de  Gonvca  0^orio, 
no  Porto. 

Jose  Joa(|uim  da  Silva  Pereira,  em  Bragn. 

Jose  Julio  de  Olivcira  Pinto. 

Jose  Tavares  de  Maccdo,  em.  Lisbon. 

Levy  Maria  Jordao,  em  Lisbon. 

Luiz  Aiiguslo  Rebello  da  Silya,  em  Lisbon. 

Luiz  Bravo  d'Alireu  e  Lima,  pm  Vinnnn. 

Marcelliano  Ribeiro  de  Mendonca,  no  Ftin- 
chal. 


DIRECg.iO  DO  INSriTUTO. 

Sessau  de  IG  ilt   dtzembro  de  183-1. 

Foi  encarregailo  o  Sucio  Correspondente,  o  .snr. 
.MarceMiauo  llilitiro  de  iMeiidfiii;a,  do  ,elugio  ;funel)re  do 
Socio  Hunorariu  fellecido,  o  sur.  yiiicoiide.  d'Almeida 
tiarrett. 

Foram  approvadas  dofiiiiliv.anieulij  ai  di(I(;reptes  yro- 
;postas  para  aadmusao  de  alsuas  novo^  S«cio,'i. 

Discutiram-se  e  |ipprovj|ra)i|-.s«.as  cpola-i  :da  gerencia 
administrativa  J^  Dirccsu,(^,.,fqrftjp^«n)  jifcspjiles  a  as- 
:^emblea  geral.  '  i 


^fanilou-.xe  jitildu'ar  ho  Joriiai  lio  Iiivlitnto  do  I.'' 
de  Janeiro,  a  Helai;iio  nominal  de  lodos  os  .Sucios  Ho- 
norarios,  K(Tecli\o8,  e  ("orrespondenlcs,  de  liiit  acttial- 
raenle  .se  couipoe  o  Iii^itituto. 


Sessdo  de  2.')  de  dtxemhro. 


A  nova  Direc^ao  dcpois  do  installada  procedeu  ii 
nnmcai;ilo  dcs  tres  Direetores  do  (iabinete  de  I.eiliira, 
e  da  CunimissSo  revisora  do  Jornal.  Foi  nomeada  tara- 
liem  tinia  Commiss.no  provisoria  |  ara  a  reilaC(;ilo  do 
hislilutOy  composia  dos  snr.'  .Miitiiel  Uibeiro  de  Al- 
meida e  Vasconcellos,  Kodrigo  Uilieiro  de  Sousa  Pinto, 
e  Jose  Maria  ile  .Vlireu,  Direclore*  das  Ires  Classes;  dos 
dois  Secrelarios  do  Inslilulo,  os  srs.  Jacinllio  Antonio 
de  Sousa,  e  J«'aipiim  Alves  de  Sousa,  e  dos  Secrelarios 
e  Vice-Secretarios  das  Classes,  os  snr."  .\driano  de  .\breil 
Cardoso  Macliado,  .M.  Bernardo  de  Sousa  Knnes,  A. 
Ayres  de  fiouvea,  J.  S.  da  Silva  Ferraz,  A.  A.  da  Costa 
Sinioes,  e  Mathias  de  (^ar^alho,  commissao  que  sob  a 
presidencia  de  um  dus  Directores  das  Classes,  por  lurno, 
entrara  logo  em  exercicio,  e  continuara  os  sens  traba- 
Ihos  ate  se  proceder  dcGnitivamenle  as  compelenles  elei- 
4;5es. 


Seestio   de  26  de  d  ezunbrn. 

Foi  encarregado  do  expedienle  lillerario  do  Instilnio 
o  sccretario  J.  Alves  de  Sousa,  e  do  do  contabilidade 
o  sr.  serretario  Jacintho  Antonio  de  Sousa. 

Foi  auctorisado  o  Tfiesoureiro  j  ara,  de  combina^?io 
com  o  Secrelario  de  contabilidade,  toniar  as  provideneias 
necessarias  para  regular  as  cuntas  dc  receita  e  desjiesa, 
devendo  o  Thesoureiro  preslal-as  a  0irec(;ao  lodos  os 
trimestres. 

Resolveu-se,  que  quanto  antes  se  convocassem  ad 
differenles  Classes  para  se  designarem  os  competentes 
pontos  para  assum])lo  de  discussijo,  memorias  e  cursoa 
lie  leitura. 

O  Secrelario, 
J.  Atves  de  S'JllSfty 


INSTITUTO   DE  COIMBRA. 


Sessdo  de  31  de  dezembro  de  1854. 


Convocou-se  extraordinariamente  o  Instituto  e  foi 
presidido  pelo  sr.  vice-presidenle  Francisco  de  Castro 
Freire,  que  declarou  ser  o  objet-to  daquella  sessao  plena 
deferir  ao  retpierimenlo  que  Ihe  fizeram  alguns  socios 
das  dilTerentes  classes  —  que  a  Sociedade  auxiliasse  as 
conimissops  creadas  com  o  generoso  inluilo  de  erigir  um 
monumento  ao  fal<\»cido  vitconde  d'Almeida  Garrett, 
socio  honorario  do  Instituto,  e<iue,  ajjprovada  esta  idea, 
provesse  aos  meios  de  a  realisar. 

A  primeira  [arte  da  proposta  foi  desde  logo  appro- 
vada  pleuamenle,  e  ;i  cerca  da  segunda,  fallaram  os  srs. 
A.  Ayres  de  (jouvea  ,  Jacintho  A.  de  Sousa,  Miguel 
Ribeiro  de  Vasconcellos,  .-Vdriao  P,  Forjaz  de  Samjaio, 
Jose  Maria  dWbreu  e  Rodrigo  de  Sousa  Pinto,  e  foi 
votado  que  a  Mesa  auxiliada  jjeliis  seeretarios  e  vice- 
secretarios  das  classes  procurasse  obter,  por  subscrip^oes 
ou  qualquer  outro  modo  conveniente,  os  meios  adequa- 
dos  ao  fini  que  se  deseja  alcancar;  que  depois  a  Mesa 
daria  parte  ao  Instituto  dos  sens  Irabalhos,  e  entao  se 
resolveria  a  qual  das  comniissijes  existentes  seriam  offe- 
recidos  esses  meios  ;  e  que  finalmente,  no  dia  em  (pie 
fosse  lido  o  elogio  fuuebre  do  si.ciu  tjnado,  o  sen  busto 
ou  o  seu  retrato  fosse  collocado  ua  sala  daa  gessoes  so- 
Icmiies  do  luslitulo. 

O  Secrelario, 
J.  Alves,  de  ISeu^a. 


213 


CLAUSE   DE  SCIENCIAS  MORAES  E  SOCIAES. 


Sessao   de  30  de  dezembro  de  1054. 

Presidente  —  o  Director  da  classe,  o  sr.  Miffucl  Ribeiro 
d'Almeida  Vasconct-lltts. — Ordeni  du  dia  —  Dfiiifriia^ao 
<!os  pontos  para  as  disciissoes  da  classe  e  para  as  memunas 
dos  Socios  —  noniea(;ao  de  Comissoes  na  furma  du  art. 
26  ^.    1."  do  Re^ulamentu, 

O  Secretario  por  ordem  do  sr.  Presidente  deii  parte, 
n  classe,  dos  traballios  que  tiavia  feito  sobre  os  pontos, 
e  leu  OS  que ,  teiido  sido  nos  annos  anteriures  designa- 
dbs  pela  mesma  classe,  tiavlam  ficado  por  Iractar,  e  apre- 
fentou  outros  novos,  que  submelleu  a  censura  da  classe. 
Mais  pontos  foram  tamijem  apresentados  por  varios  socios. 
Nao  sendo  possivei  di>cutir-se  de  improviso  tantos,  e  tao 
diversos  assuinptns;  resolveu-se  \.°  que  se  elegessem 
conimissSes  para  dos  pontos  existentes  e  de  outros  que 
fOBsem  apresentadoB  pelos  socios,  esculherem  os  que  mais 
proprios  julfiassem  jara  as  discussoes  e  memorias,  daiido 
sobre  dies  os  sens  jarcceres;  2.^*  que  as  commissQes  se 
limitassem  em  sens  pareceres  a  emittir  juizo  a  respeito 
dos  pontos,  que  houvesseui  escolhido,  sem  fazerem  men- 
ffio  dos  outros,  ficando  salvo  aos  socios,  que  julgassem 
Com  esle  silcncin  prejudicados  os  interesses  da  sciencia, 
o  direito  de  provocar  na  classe  a  discussao  sobre  os 
pontos  omittidus  pelas  cummissijes;  3."  que  os  socios  que 
houvessem  de  apreseutar  aUuns  pontos,  os  dirii^issem  ao 
secretario  da  classe  para  este  o  s  distribuir  pelas  com- 
missoes  a  que  perlencerein,  sem  referir  o  nume  dos  socios 
que  OS  appresenlaraiu;  i.^  que  as  commissoes  para  tra- 
clarem  d'este  objrclo,  fusseni  a?  mesmas  que  na  forma 
do  regulamento  deviam  de  ser  eleitas  u'esta  sessao;  5." 
que  eslas  commissoes  constassem  de  tres  membros  cada 
uma. 

Procedendo  a  nomea^ao  das  commissCes,  foram  eleilos: 
Para  a  commissao  de  sciencias  moraes,  os  snrs.  Juaquim 
Alves  de  Sousa,  e  .\nlonio  Ayres  de  Gouvea,  e  Maaoel 
Eduardo  da  Motta  Veiga. 

Para  a  commissao  de  jurisprudencla,  os  srs.  Joaquim 
Maria  Rodrigues  de  Brito,  .Alexandre  Meirelles  do  Canto, 
e  Jose  Adulpho  Trony  : 

Para  a  commissao  de  sciencias  economicas  e  adminis- 
trativas,  os  srs.  .Adriao  Pereira  Korjaz  de  Sampaio, 
Bernardo  deSerpa  Pimentel,  e  Jacintho  .Antonio  de  Sousa. 

O  sr.    Presidente    levantou   a  sessito,    era  meia  hora 
depois  do  meio  dia.  ilando  para  ordem  do  dia  da  seguinte 
sessao  —  Pareceres  das  commissoes  sobre  os  pontos. 
O  Secretario, 
I  Adriano  d\ibr€u  Cardoso  Machado. 


CLASSE  DE  LITTERATURA. 


Sessao  de  30  de  dezembro  485i. 


O  sr.  J.  M.  de  Abreu,  Director  da  Classe,  abrindo 
a  sessao,  motivou  csta  rcUniSo,  moslrando  a  ncces- 
sidadc  de  se  aprescnlarem  ponlos  para  memorias 
e  discussoes  que  dcssem  lustre  a  corporaciio  quer 
docentc  quer  discenle,  por  issu  que  muito  para  a 
^onrar  cram  bem  claburadas  memorias  e  brilhan- 
les  discussoes,  como  as  que,  dois  annos  ha,  se 
travaram  crudilas  e  instructiras  sobrcmancira  para 
esta  mocidade  que  se  vota  a  carrcira  das  Ictras. 
—  Em  scguida  t;on\ldou  os  presenlcs  socios  a 
remcllcrcm  ao  Sccretaiio  da  classe  os  ponlos  que 
Ihes  aprouvesse,  para,  conjunclamcntc  com  os  ja 
cxislcntcs  de  ha  dois  annos,  sercm  remettidos  as 


respccti^as    romniissdcs   cm  quo  esta  dividida    a 
classe. 

0  sr.  Suusa  I'into  ponderou  a  gra\idadc  e 
maxima  allcnrao,  com  que  as  commissoes  deviant 
proccdcr  na  revisao  dos  pontos  ja  consignados  no 
Instiluto. 

0  sr.  Castro  Freire,  concordando  com  o  anlc- 
cedcntc  orador,  disse  f\uc  potilos  podia  haver,  qu* 
por  concurso  de  circumstancias,  scndo  nuiitfj  para 
apprcciar  ha  dois  annos,  se  apresenlariam  hoje  sem 
inleresse,  c  que  por  esses  deviam  dc  cortar  as 
commissoes. 

0  sr.  Presidente  c  o  sr.  Adriano  Machadn 
roboraram  com  alguns  argumentos  este  incidenle 
cxplicalivo,  e  findo  die  passou-sc  a  nomcar  as 
duas  commissoes — de  Litteratura,  —  e  de  Ilellas- 
letras — ficando  addiada  sob  proposta,  approvada, 
do  sr.  Castro  Freire,  a  eleicao  da  commissao  de 
—  Bcllas-artes. 

Foram  nomcados  para  a  commissao  de  liltera- 
lura :  <is  srs.  Adriao  Pereira  Forjaz  Siimpaio, 
Adriano  d'Abreu  Cardoso  Machado ,  e  Joaquim 
Simoes  da  Silva  Fcrraz.  E  para  a  dc  bellas-letras: 
OS  srs.  Francisco  de  Castro  Freire  ,  Henrique 
O'Neill,  e  .Antonio  Ayres  de  Gouvea. 

O  sr.  Jacintho  A.  de  Sousa,  fazendo  algumas 
consideracoes  sobre  o  cstado  da  nnssa  litteratura, 
mandou  para  a  mesa  uma  these.  O  Secretario  da 
classe  annunciou  tambem  algumas  Ihcscs,  que, 
regularmenle  redigidas,  levaria  as  respcctivas  com- 
missoes. 

Finda  a  ordcm  do  dia  —  pontos  para  memorias, 
e  discussoes:  o  sr.  Castro  Freire,  bosquejando 
quanto  as  Iclras  patrias  deviam  aos  esforcos  do  V. 
d'Almeida  Garrett,  socio  honorario  do  Institute, 
mostrou  que  o  Inslituto  nao  devia  ficar  indiffe- 
renlc,  quando  no  paiz  se  faziam  esforcos  para 
erigir  urn  monumento  a  memoria  de  tao  illustre 
escriptor. 

0  sr.  Presidente  ponderou  que,  so  a  assemblea 
geral  competia  resolver  sobre  tal  objecto ;  mas 
que  de  cerlo  esia  idea  era  bem  vinda  para  o  Insti- 
luto: alguns  dos  socios  presenlcs,  logo  requeram, 
segundo  os  estalulos,  a  convocacao  da  assemblea 
geral. 

0  sr.  Presidente,  dando  para  ordem  do  dia  da 
sessao  immcdiala  —  Pareceres  das  commissoes 
sobre  os  ponlos  para  as  memorias  e  discussoes, 
levantou  a  sessao  as  2  boras. 

O  Secretario,  A.  Ayres. 


UMA  LAGRYMA. 


Ha  existeneias  privilegiadas  para  qucm  o 
termo  da  vida  e  o  principio  d'ellas.  0  .sr. 
Almeida  Garrett  e  uma  d'essas  raras  existen- 
eias. 0  talento  do  insigne  escriptor,  com 
quanto  bemquisto  sempre,  so  agora  comcca 
a  ser  devidamente  aprcciado.  Nao  tardara 
que  se  faca  justiga  inteira  aos  dotes  do  seu 
coracao  como  ja  se  faz  aos  da  sua  intclii- 
gencia. 

Finou-se  como  christao  e  celebrou-se  isso! 


244 


Nao  I-  ijoriMii  a  s\ia  conlricao  do  calliolico, 
0  r[\\c  I'll  aclio  inais  (lif;iio  do  que  so  registro; 
iiao  me  pasuici  dflla;  o  porta  nao  doscrou 
niiiica,  nao  ha  de  jamais  dcscrer  da  Divin- 
dado.  0  (iiie  vu  descjaria  era  que  so  rei'onliccos- 
sem  as  virtudes  sociaes  do  sr.  Almeida  (jar- 
rett,  assim  como  se  rcconhecom  os  sous  la- 
lenlos. 

Teve  fraquezas  d'honiem:  quern  ha  ahi  que 
as  nao  lenha?  Mas  possuiu  virludes,  que 
nuiilos,  talvez  d'quelles  mcsnios  que  ellas  mais 
alirigavain,  lingiam  nao  conhecer.  Sabia  clle 
lie  sous  detractores;  a  sua  bdcea  porem  niin- 
co  se  ahriu  jiara  deprimil-os;  nem  suns  quei- 
\as  foram  jamais  acrimoniosas.  Em  lodoo  lein- 
po  ([ue  gozci,  (|uasi  (|ue  diria  da  sua  inliiui- 
dade,  nunca  Ihe  ouvi  proferir  uma  injuria; 
ao  fontrario,  muitas  vezes  admirei  vel-o  ror- 
rigir  a  salyra,  se  acaso  era  feita  em  sua  |ire- 
senca,  contra  os  mesmos  que  mcnos  jusiiea 
Ihe  liiziam.  Nem  sol  de  ncnhuma  ollensa  qiie 
jamais  praclicasse! 

As  paixOes  mesquinhas  do  odio  e  da  inve- 
ja,  tao  communs  enlre  os  homens,  tao  vui- 
gares  iioje  enlre  nos,  nao  as  sentia  o  sr.  Al- 
meida (iarrett.  Cavalheiro  em  sens  hrios, 
amenissimo  em  sen  tracto,  modesto  na  fanii- 
liaridade;  d'uma  generosidade  d'animo  pou- 
co  vulgar;  d'uma  leaidadc  provada;  pae  ex- 
tremoso;  amigo  e  protector  sincero  c  por 
gosto  inlimo  de  todos  os  homens  de  lettras  e 
artistas,  indaguem  d'uiis  e  outros  se  as  (|ua- 
lidades  inoraes  que  mencionei  as  nao  tiiiha 
d'aima  e  corarao  o  sr.  Almeida  Garrett. 

Nao  lecc  poreni  o  panegyrico  d'um  homem  ; 
lamcnto  a  perda  de  um  amigo;  choro  com  o 
paiz  a  falta  de  um  grandc  escriptor. 

Yerdadeiramente  grande!  que  nao  ha  em 
prosa  cscripto  seu,  (jue  nao  seja  um  modelo 
d'elegancia  e  de  slylo:  nem  em  verso  pro- 
duccao  sua,  que  nao  tenha  o  cunho  da  ins- 
pi  racao  e  do  hom-go.--to.  Em  verso  e  em  prosa 
nao  deixou  ohra,  que  nao  soja  exemplar  gra- 
cioso  do  genero  cm  que  foi  escripla.  E  em 
todos  elics,  quasi  em  lodos,  escreveu  o  sr. 
Almeida  Garrett:  se  nem  sempre  com  ogual 
felicidade,  —  seria  impossivel, —  sempre  com 
superioridade  notavel, —  nao  podia  dcixar  de 
ser. 

As  suas  obras,  que  sao  muitas,  mais  c 
muitas  mais  poderiam  ser,  sc  ii  litteratura 
houvera  so  consagrado,  como  devcra,  o  sou 
grandc  lalento,  e  a  sua  existencia.  Teria  en- 
tao  faltado  a  tribuna  parlamentar  um  dos  sens 
mais  eloquentcs  ornamentos;  mas  a  lingua  e 
a  poesia  patria  tcriam  tido  mais  alguns  beilos 
raodelos  a  seguir,  e  mais  alguns  brilhantes 
monumenlos  cm  que  glorilicar-se.  Que  nao 
lora  se  nao  acabando  o  grande  numero  de 
raanuscriptos,  quo  bavia  comccado;  as  hollas 
coisas  quo  linha  traradas.  .. 

.Mas  foi  curia  a  vida  do  sr.  Almeida  Gar- 
roll!  E  a  lodos  OS  respcitos  pcna  foi!  que  se 


olla  mais  louga  fdra,  poucos  auiios  mais  de 
dosongano,  o  fariam  por  ventura  volver  in- 
toiro  para  as  lettras,  d'onde,  oxala!  nunca 
tivcra  sabido! 

Infelizmonto,  porem,  o  sr.  Almeida  Garrett 
foi  tocado  da  lepra  da  sua  epocha.  Figurou- 
sc-lhe  que  entre  homens  que  se  deixavam 
deslunibrar  por  ouropeis  e  lentijolas,  as  ri- 
quezas  do  espirilo  so,  por  esploudidas  que 
fossem,  nao  bastavara  para  brilliar.  0  seu 
espirilo  elevado  nao  Ihe  consontia  ver-.se 
confundido  nas  lurbas.  Desconliou  do  futuro; 
0  sorrindo  do  prosontc — ncin  unia  intelligen- 
cia  d'aquellas  podia  deixar  do  sorrir  d'ollo  — 
conformou-sc  com  a  moda;  quiz  ser  do  seu 
tempo,  c  ..  sacrilicou  a  Baal! 

Nao  0  censuramos  por  isso:  choramol-o 
por  nijs,  e  pela  lingua  portugueza  I .  .  . 

-Mas  0  sr.  Almeida  Garrett  dcveria  ter  con- 
liado  mais  na  posteridade. .  . 

Eil-a  abi  que  surge! 

Do  sr.  Almeida  Garrett  ja  nao  lembra  a 
farda  do  ministro,  nem  o  brazao  do  visconde, 
nem  os  armiuhos  de  par;  mas  nao  esquecc- 
rao  mais  os  trcchos  do  elegante  prosador,  as 
strophes  do  mimoso  poeta.  0  fauslo  do  fu- 
hlicano  la  vac  desfazcr-se,  como  o  p6  do  ca- 
daver, nas  lajes  do  tumulo:  as  gracas  da 
inspiracao  ahi  vao  perpetuar-se,  como  a  eter- 
nidade  do  espirilo,  na  mcmoria  dos  homens. 

Uma  coroa  de  perpotuas  ao  poeta. 

I'm  ramo  de  saudades  ao  amigo. 

Coimbra,   17  dc  Dezembro  do  1854. 
t.  H.  s.  LEAL. 


MOSTEIRO  DA  YACCARICA. 


Onlem  Religiosa  do  Mosteiro  da  Vuccarica 
e  sua  qualidade  de  moxleiro  duplex. 


Conliimado  de  pnjr.  208. 

Sobrc  a  primitiva  ordom  religiosa  do  Mos- 
toiroda  Yaccarioa,  cnconlra-se  nos  chronistas- 
a  mosma  divergoncia,  quo  ja  notci  sobre  a 
sua  fundaoao.  Nao  tcnios  a  certeza,  como 
disse,  de  qiiando  se  fundou  este  mosteiro, 
nem  mesmo  so  o  fundador  foi  algum  dos 
aponlados  Paulo  Orozio  ou  Luconcio.  Tendo 
sido  fiuulado  por  Paulo  Orozio,  teria  sido 
primciro  da  ordom  de  .Sanolo  Agostinho,  a 
quo  perloncia  aqucllo  cremita  celebre;  e,  sc 
foi  fundado  por  Luconcio  ou  por  outros  monges 
bonodictinos,  a  sua  ordora  primitiva  teria  sido 
a  dc  S.  Bonto. 


2^ 


40 


Na  falta  de  bons  tlociimcnlos,  que  siivam 
(lirectamontc  para  csla  qucslao,  os  chronistas 
a  tern  suhordinaiio  a  (jiicslao  mais  poral  sobre 
a  epocba  do  estabcb'finieiito  dds  bcnodicti- 
nos  na  Hcsiianba.  Fr.  Antonio  da  Puriiicacao 
qucr  (iiic  so  dcpois  da  reforniarao  dc  (Iliini', 
em  910,  apparecessem  na  Ilesjianlia  os  pii- 
mciros  mongcs  bcnedictinos;  u  Fr.  Lcao  deS. 
Thomaz,  com  os  mais  chronislas,  que  Icniio 
citado,  pretendc  ([ue  ja  alii  os  houvesse  mais 
de  300  annos  antes  d'aquella  reforma. 

Em  favor  da  primcira  opiniao  vem  uma  cs- 
criplura,  feila  no  anno  dcCbristo  do  TSl,  entre 
0  abbade  do  Mosteiro  de  S.  Vieenle  dc  Ovedo 
e  23  novicos  ou  monges  que  enlraram  nVsle 
mosteiro  ' :  uma  cscriplura  i\w.  fez  .Vdelgastro, 
filho  d'Elrei  D.  Silo,  no  anno  de  Cliristo  de 
180,  ao  Mosteiro  de  Nossa  Senbora  d'Oi)ona  ' 
(Asturias):  oulra  escriptura  ou  privilegio  dc 
D.  Ordonbo,  Rci  de  Leao,  ao  Mosteiro  de  S. 
Pedro  de  Monies  (Galliza),  no  anno  de  Chrislo 
de  lOS':  e  uma  doarao  d'EIUei  I).  AITonso 
Magno  e  sua  mulber  U.  Ximena  ao  Convenlo 
de  S.  Facundo  (no  rcino  dc  Leao),  no  anno 
de  Chrislo  de  90o'. 

Em  todas  estas  eseripturas,  doaroes  c  pri- 
vilegios  anleriores  a  'JIO,  os  mongcs  e  mos- 
teiros  llespanbocs,  a  que  se  rel'erem,  sao 
tractados  como  mostciros  e  mongcs  de  S. 
Bento.  Por  outro  lado,  para  mostrar  que  so 
dcpois  de  910  se  cstabeleceram  os  bcnedic- 
tinos na  Ilcspanha,  aponla  Fr.  Antonio  da 
Purilicacao  um  privilegio  dc  D.  Ramiro,  Rci 
de  Leao,  concedido  ao  Ttispo  e  Cabido  da 
mesraa  cidade  no  anno  de  Christo  de  946  \ 


'  O  Abbade,  n'esta  escriptura,  declara  aos  novicos 
que  20  annos  antes  linha  edificado  aquelle  mosleiro, 
recebendo  a  rt*j;ra  de  S.  Bento  para  a  piiardar,  e  que 
na  mesma  cunfurmidade  cts  recebia.  Chronica  Gfii^rol 
de  la  arden  de  San  Jienito,  Piiiriarchii  de  Hetir/iosos 
por  Frey  Antuniu  de  Yepes — -Appendix  do  torn.  3." 
Escript.   11. 

^  N'esta  escriptura,  diz  Adeljrastro  que  institue  este 
mosteiro  —  u  ad  jionorem  Dei,  et  Bealae  Mariae  ....  et 
Sancti  Benedict!  Abbalis,  cujus  ordine  in  ipso  monasterio 
instituimus.  .  .  i>  Yepes.  Appendix  do  torn.  3."  Escrijil. 
17: 

■*  t(  Nos  Arnnlplius  Episcopus  Astoricen.sis  sedis  ordina- 
vimus  pro  consecralionis  officio  ,\bbHlem  nomine  Genna- 
diuni,    dedimns    que    ei  Reiulam    observationis   sanctip 

vita" et  oninem   doctrinam    deifieam   constilutam 

in  Regula  beati  Benedicti,  quani  eis  obseruandani  tra- 
didimus,  cum  cunctis,  sibi  subieclis  monacliis  relinen- 
dam  initi^^iuius :  lianc  iure  monastico  ol)seniare  elr^i- 
mus...." — Yepes.  Appendix  do  torn.  2."  Escript.  14. 
*  Os  doadores,  depois  de  terera  referidj  a  duacjao 
ao  alibade  do  mosteiro,  accrescentam  — »  y  es  nuestra 
voUintad.  que  tenfra  cuydado  del  dicho  ^lonasterio,  y 
le  rija,  y  lia^a  guardar  la  vida  monastica  conforme  la 
repla  de  San  Benito  ••  —  Yepes.  torn  3.°cenluria  3.'  cap. 
S  folli.    169. 

11  Vidumus  nanque,  et  ordinamus,  quod  Rejula  Pan- 
cti  Benedicti  qua;  utique  per  inclytos  Monachos  <  luuja- 
censes  ad  nostras  Ecclesias  recenter  adnenisse  perliibetur, 
in  universis  ncstrac  dilionis  finilius  denote,  ac  benigne 
prout  ciivenit,  hospitetur,  el  fanealur  ....>.  Chronica  dos 
Krera.de  Sand.  Agost. — torn,  c  part.  8.'  liv.  4."  til. 
3."§.  12. 


e  outro  privilegio  de  D.  Sanebo  Ramircs,  llci 
d'Aragao,  ao  Mosteiro  de  S.  Salvador  de  Leire 
(Navarra)  no  anno  de  Christo  de  1070'. 

N'cslcs  privilegios,  dizcndo-se  que  a  orQem' 
de  S.  Bento  vicra  do  Mosteiro  de  Chine  para 
cstes  silios,  parcce  moslrar-se  que  so  dcpois 
d'esla  reforma  sc  estabclcceram  na  ilcspanha 
OS  monges  bcnedictinos;  mas,  vendo-se  por 
outro  lado  a  riarcza  com  que  os  outros 
documentos  apoutados  mostram  a  opiniao  con- 
Iraria,  parcce  nao  haver  outro  mcio  de  sair 
d'esta  contradiccao,  talvez  apparcntc,  a  nao 
ser  a  lembranca  de  que,  tendo  sido  a  rcfor- 
marao  dc  Chine  uma  reforma  tao  capital  da 
rcgra  dc  S.  Bento,  c  tendo  feito  de  certo 
niodo  esquecer  a  primitiva  instituicao  da 
ordem  bcncdictina,  pclo  credito  e  vu'lto  que 
toinou  cm  toda  a  Christandadc,  e  por  tcr  sido 
abracada  em  todos  os  mostciros  bcnedictinos, 
|)ode  crcr-se  que,  marcando  csta  reforma 
uma  nova  era  na  ordcm  dc  S.  Bento,  o 
mosteiro  de  Clime  fosse  considcrado  como  a 
Ibute  da  ordem  bcncdictina  para  todos  os 
mostciros  que  a  abraearam,  ainda  mcsmo 
para  aqucllcs  que  antcriormcnlc  ohscrvassem 
a  primitiva  rcgra  de  S.  Bento.  Se  d'cste  modo 
podcr  salvar-se  a  contradiccao  d'aquelles 
documentos,  podera  admitlir-se  a  cxislencia 
dos  monges  bcnedictinos  na  Ilcspanha  antes 
de  910^;  mas  ainda  assini,  mostrada  a  pos- 
sibilidade  dc  tcr  sido  benedictina  a  primitiva 
ordem  rcligiosa  do  Mosteiro  da  Vaccarica, 
nao  podc  alliriuar-se  que  o  fora,  por  falta  dc 
documentos  que  dircctamentc  o  provcm,  c 
ainda  mesmo  pcla  obscnridade  historica  da 
sua  fundacao  e  sua  cxislencia  ,nte  ao  (im  do 
seculo  10.  Ainda  na  epocba  do  melhor  conhc- 
cimento  do  Mosteiro  da  Vaccarifa,  dos  prin- 
cipios  do  seculo  11  em  diantc,  nao  aclici 
provas  directas  de  ser  entao  de  S.  Bento  o 
-Mosteiro  da  Vaccarica;  mas  app.ircce,  em 
muitos  documentos  d'esta  epocba,  o  chcfe  da 
corporarao  com  o  traclamcnto  dc  abi}ade,  de 
prior,  e  de  prcposito;  e  a  rcgra  do  mosteiro, 


'  .;  Nunc  i,?itur  ofjo  liumitlimus  scruurum  Dei  feniu 
djno  Dei  Panclius  Uex  Munasterium  Sanctis  Saluatoris 
de  Leire  corroboro  Alibali  Panctio  etc.  talia  priuiieria, 
pr.Tcepla,  et  decreta,  et  libertales,  q\iai>a  liabet  ( lu- 
niacense  JNlonasterium,  de  cujus  Sanctissimo  foitle  Onto 
Beacti  Benedicti  in  his  parlibus  prius  eraana'.'it,  "  ■ — 
Cliron.  dos  Erem.  de  Sanct.  Af-'ost.  —  l;jnl,  e  j'art.  2.« 
liv.   4.»  tit.    3.»  §.  12. 

-^  I'undndo  no  me.srao  principio  de  nao  tercm  cnlrado 
OS  Iienedictinos  na  Hespanha  senilo  depois  dc  910,  _Fr. 
Herniene;?*!  lo  de  S.  Paulo  diz,  que  o  Mo.steiro  dr;  T..or\rio 
fora  da  sua  ordem  (Monaclialo  Belhelmilico  ou  Mo- 
nachato  Jeroniminiano")  ate  ao  anno  de  1000  (Chron. 
dosCarm.  Descal^os.  torn.  2."  li\'.  4.^*  cap.  15.° — pair. 
05).  O  auctor  pretende  que  tanto  este  de  Lor\ao,  conio 
todos  OS  mais  da  Ilcspanha,  e  por  C4>nse'.:uinte  o  da  \  :tr- 
cari(;a,  fossem  da  sua  ordem  afe  aquella  ep.icha.  Etn 
vista  do  desinvolvimento  que  tcnho  dado  a  esta  questiio, 
e  da  nenhunia  importancia  que  a  citada  chronica  d.i  n 
esta  asser<;ao  de  Fr.  Hermeneirildo,  poss.t  a  talvez  repit- 
tar  como  simples  conjectura,  que  nao  ni'^nc-'  ''xuiKe 
B"rio. 


216 


J  t.,i..,,.,-ft  1] 

(lenomiii.ula  rcgra  sancta,  {I'onde  inferiram  os 
( liioiiijitas,  0  luodcriKimciUe  os  srs.  Ydlio  dc 
Barbosa,  t>  Mif^iicl  Hiliciro',  quo  n'csia  ii'oi'ha 
i-ra  do  S.  Bt'iili)  a  ordeiii  roligiosa  dos  r.i(m|:;cs 
(la  Yaccai-ica;  rofuroando  o  snr.  Yollio  dc 
Barbosa  a  sua  o[iiniao  com  uma  espcoio  de 
profissao,  conrormo  a  regra  de  S.  Benlo,  fcila 
pclo  presbytero  Uaiulull'o  e  o  mongc  Tcdro, 
iriui\a  oscriptura  de  conipra  c  veiula  ao  ali- 
hado  Todiklo   . 

Nao  soi  ale  quo  poiito  podoromos   conliar 
u'estes   fundameiilos.    Os  tiliilos  de  abhade, 
prior  c  prcposito  liveram  applieacao,  seguiido 
OS  diccionarios,  quo  pude  tonsullar,   a  dif- 
ferontes  dignidados  das  corporaoOes  religiosas 
indisliiiclamentc,  c  algiins  a  parocbos  do  cerlas 
ogrejas,  c  a  dilTerentes  cargos  civis,  e  ale  a 
poslos   mililares.  0  traclamonlo    de  abbade, 
-seguudo  Fr.  Aulouio  da  Piirilicarao,  nao  era 
extlusivo  da  ordom  de  S.  Benlo,  porlenoendo 
Cgualmeule    na    primiliva    as  anligas    ordens 
de  S.  Basilio  e  Sanclo  Agosiinbo'.  E,  sc  no 
concilio  de  Conslanlinophi,  em  iiS,  assigna- 
ram   vinlc  c  ires  abbades,   como  assevera  a 
Bibliolheca  do  homem  d'eslado  e  do  cidadao', 
nao  foraiu  de  certo  dos  monges  benedictinos, 
cuja    ordem    u'csta    epocba    ainda    nao    era 
instiluida'.    0   lilulo  de   prior  compelia   em 
alguns    convenlos   ao    primeiro    director    do 
mosleiro,  e  n'oulros  ao  diroclor  immcdialo; 
mas  apparecia  este  tractamentonas  dilTeronles 
ordens  de  S.    Basilio,  Sancto  Agoslinbo,   S. 
Benlo,  S.  Joronymo,  nas  ordens  mililares  de 
S.  Tiago,  Calalrava,  Aicanlra,  etc.  compelia 
cgualmenle  aos  cabocas  dos  consulados  esta- 
lielccidos    era    Andaiuzia,    Lima    c    Mexico, 
encarregados  de   bis  Flotas  ij   Galcones  e  o 
niais   (lue   dizia    respeito    ao   commercio    da 
India'.    Tamiiem   se    ebamavam    priorcs   os 
primeiros  magistrados  de  muitas  cidades  da 
Croacia    c   Daiiiiacia,    havondo  aleni    d'isso, 
n'aqueiies  lenipos  anligos,  difl'erenles  cargos 
civis  com  otiuiio  do  jirior '.  0  Iraclamcnlo  de 
preposilo,  nos  mosleiros  de  difl'erenles  ordens, 
dava-se  anligauienle  como  tilulo  do  dignida- 
de,  immodialo  ao  de  abi)ade,  o  era  tambem 
assim  designada  uma  dignidade  ecclesiaslica 
nas    calbodraes;    mas   compelia   alera   d'isso 
cnlro  OS  romanos  a  differentas  cargos  civis  e 

*  Memoriae  citadas  d'esles  dous  auclores. 

''  Livro  Preto  —  fulli.  81  v.  Vem  copiada  na  Memaria 
Mir-lorica  do  Mo?teiru  de  Leqa  —  dociimeoto  n.**  3. 

*  Chronica  d'>s  Krem.  de  Sanct.  Agostinho  —  torn,  e 
liarl.   2.»  —  ad;li(;riii  —  J.   -1. 

*  Dictionnairc  Uiiiverscl  des  sciences  morale,  econo- 
niiqiie,  ])uliti<iuo  ct  diploinatiiiue;  oti  Bibliotheque  de 
'homme  d'etat  (;t  dii  citoveii  —  1777 — v.  Abbe. 

^  Vfja-se  o  artigo  —  Fuuda^io  do  Mosleiro  da  Vac- 
carira.  — - 

'  Diccinnario  de  la  Lengua  Caalellana  etc,  compu- 
f.-ito  por  la  Real  .Academia  HesiianoU  — 1737  —  v.  Prior. 

"  niossarium  ad  .'^criptore-i  mediie  et  inOma^  latini- 
tali.;.  Atilore  Carolti  Dufresne,  Domino  Du  Caiige  — 
1734.  Prior  Jciralorum  —  Prior  Loci  —  Prior  Forensis 
—  Prior    Provincialis,  etc. 


mililares  e  ainda  nicsmo  a  diffcrentts  umprcgu.< 
do  servioo  jiarlicular  dos  Iniperadores'. 

Coiu  uma  applieacao  lao  commum  nas 
ordens  religiosas,  o  lao  exlensiva  a  diversos 
cargos  civis  e  mililares,  ainda  que  mais  usados 
n'lima  dada  ordem,  cstes  lilulos  em  qualquer 
mosleiro,  nao  jiodom  domonslrar  a  nalureza 
da  sua  ordem  religiosa.  A  iatilude  do  suas 
accepcOes  de\eria  ler-ibes  tirado  uma  signili- 
cacao  reslricta;  c,  considerados  esles  lilulos 
como  synouymos  de  chefe  ou  director  de 
([iialquer  corporacao,  nao  admira  (juc  se 
adoptassem  arbilrariamcnle  cm  dilTcrentos 
convenlos,  qualquer  que  fosse  a  sua  ordem 
religiosa. 

Continua.  A.  a.  da  costa  SIMUES. 


AS  MULIIERES  DO  ISLAM.  E  AS  MLLIIEUES 
CHUISTAS. 

«  Como  6  Formosa  a  niulher  do  Oricnle, 
Haydea,  Guinara,  ou  Medorahl  formosa  como 
0  sonbar  do  poeta! 

Vede-a E  noito.  Desceu  aos  jar- 
dins  do  harem;  alravessa  lentamonte  as  Ion- 
gas  mas;  e  para,  por  alguns  instantes,  debaixo 
dos  limoeiros  e  jasmineiros  lloridos.  Olbou 
para  o  ceo.  Que  de  bumidas  cbamas  em  .sous 
grandos  olbos  negros,  raelancolicos,  brilbanles 
e  meigos,  como  os  olbos  da  gazela  do  scu  paiz ! 

Agora  que  ja  nao  teme  vistas  indiscretas, 
doixa  nas  maos  das  odaliscas  o  iasmali  branco 
quo  Hie  vela  o  roslo,  c  o  feredje  que  Ibe  escondo 
0  laibe  nas  vastas  pregas.  Sua  veslia,  dc 
largas  mangas  roviradas,  enlretecida  de  ilores 
de  prata,  enlreabre-se  no  peilo,  e  deixa  vcr 
uma  camizinlia  do  gaze,  tao  lina  (pie  nao  solTre 
0  taclo,  e  scinlilantc ;  —  um  raio  de  luz  e  um 
supro  enlrelccidos.  0  chahutr  lluctuante  dosce- 
llie  ate  aos  pes,  cuja  ponla  se  ibe  esconde  em 
terliks  semeados  de  pcroias.  Anneis  de  prata 
sdao  em  sous  artelhos  mis.  Sou  braco,  escul- 
Uirado  em  marmore  vivo,  abandona-sc  as 
mordediiras  d'uma  scrpente  desapbyra  coma 
cabeca  de  rubis.  Seus  dodos  estao  carregados 
d'anncis,  sobre  os  quaes  o  babil  arlista  gravou 
as  suralni ' ,  que  fazcm  amar. 

Diias  longas  irancas  nogras,  entremeadas 
de  so(|uins  d'oiro,  escapam-se  do  lurbousch 
escarlale,  e  perl'iimam  o  ar  que  as  afaga. 
Advinha-sc  que  basla  querer  para  que  Ihe 
obedecam;  e  que  arrastaria  o  mundo  com  um 

'  Blitteaii.  Vocabnlario  Portugiiez  e  Latino  1720. — 
Moreri.  Diccionario  historico,  o  iMiscellanea  curiosa  Ac. 
la  historia  sa.srada  y  profana,  traducido  por  D.  Joseph 
de  Miravel  y  C'asadevaiite.  17.53  —  Pra'po.-^itus  monetK 
—  Pra^positiis  fabrica;  —  Prjrpositus  militum — Proepo- 
situs  auxilioriim  —  Pr.'ppositiis  Palatii  —  Pra?posilus 
canianc  re^jalis  on  cubicidarius  —  Pra^positus  mensie  — 
Pra'positus  fibiilip  —  Prxepositujs  basla^'K,  etc,  elc. 

*  C'apitulos  do  alcoruo. 


247 


so  cahello  do  seu  coUo  —  nnn  crine  colli  sui, 
como  diz  tao  bcm  a  EscripUira. 

Eis  ahi  o  rctrato  d'um  mod(Mo  entrevisto 
jjcio  prisma  da  iningiiiarao. 

Eis  aqui  outro  que  iiao  c  menos  vcrdadeiro; 
c  egualmcnle  tirado  da  natiircza  viva. 

Yj  incio  dia,  c  as  esrravas  ainda  nao  levan- 
taram  o  cortinado  de  sMa  diante  das  janelas 
da  odd.  Ainda  nan  c  dia  para  as  cadiiuis 
preguioosas.  Uma  dellas  no  enlic  tanto  bate 
n'uma'campainlia  dc  cobre:  as  escravas  cor- 
rem;  abrc-se  a  luz.  Guinara  osprcguica  seus 
brafos  ociosos. 

Crcio  que  ITaydea  boicjou.  Apresentaram 
a  Medorab  o  nurrjliileh  da  Persia,  carregado 
de  tombalii;  cnjo  fumo  leva  as  boras  pesadas, 
eprolonga,  alravezdodia,  o  sonbar  volupluoso 
da  noite.  Depois  do  niiryliileli  servir-se-bao 
as  conscrvas  perfiiniadas,  os  sorveles  de  neve, 
e  OS  copos  de  rozas  liquidas. 

Assim  cnmora,  assim  acal)ara  o  dia.  Nunca 
urn  livro:  Medorab  nao  sabe  ler.  Nunca  unia 
agulba:  a  favorila  nao  Irabaliia.  Emquanlo  a 
casa,  essa  vai  como  piide,  cnlrogue  as  escravas 
que  a  roubam.  E  para  ([ue  ba  de  occupar-seda 
fortuna  do  senbor,  cujo  repudio,  semappella- 
cao,  pode,  a  cada  iustanie,  separaral-os?  Os  nie- 
iiinos  scmi-nns  (beb)s  mcninos,  rcalmenlelj 
brincam  de  mislura  sobre  csteiras  do  Egypio, 
e  rolam-se  sobre  tapeles  de  Labore.  A  mae 
nada  tern  que  Ibes  ensine:  ella  nada  sabe. 
'  Uma  amiga  vcm  visilal-a :  nao  se  conversa 
—  0  Oricnle  conversa  pouco,  isso  cansa  ;  — 
mas  fazem-se  desdobrar  as  s^das  de  Brousse, 
OS  gazes  d'Argcl,  c  os  cbalcs  da  India  ;  abrem- 
sc  OS  cofres  de  joias  scintilantes;  provam-se 
oolares;  ostenlam-sc  perolas  d'Opbir,  c  dia- 
luanles  dc  Golconda.  A  amiga  tern  inveja: 
isto  faz  passar  uma  on  duas  boras!  Depois, 
pela  porta  encobcria,  introduzcm-se  as  almes  ' , 
peritas  na  arte  dc  conimovcr,  que  cantam  as 
cancoes  laseivas,  e  dansam  os  passos  provo- 
cantes. 

A  noute  ohega,  o  senbor  vcm; — on  nao 
vcm.  Anianba  sera,  como  hdje,  como  hontem, 
como  scniprc! 

Tal  e  a  vida  dos  ricos!  A  dos  pobres  nao 
e  melbor:  tern  de  menos  o  verniz  da  clegan- 
cia  com  que  a  riqueza  adorna  seus  vicios; 
leni  de  mais  a  borrivel  miseria  que  piiue 
seniprc  a  prcguica  do  pobre! 

0  marido  c  auscnte,  vivc  pouco  cm  casa; 
encontra-se  no  cafe,  na  mesquita,  debaixo  das 
arvores,  ou  a  borda  das  fontes;  fogc  da  vida 
interior.  A  mulbcr  levanta-sc;  o  seu  primeiro 
cuidado  6  mandar  buscar  o  labaco  para  o 
dia: — o  pao  vira  mais  tarde,  —  se  reslarcm 
algumas  piastras  cm  casa.  0  tchibouci;,  uma 
\!}z  accc^so,  nao  se  apagara  senao  a  noite.  A 
mulbcr  scnta-se,  de  bracos  caidos,  c  pernas 
cruzadas,  no  seu  divan  esburacado;  c  dcixa 
passar   as   boras,   seguindo,    com   urn   olhar 

'    Bniladi.nras 


dislrahido,  a  loura  cspiral  do  Aimo.  Os  mc- 
ninos esfarrapadosgritara  c  ciioram  a  uni  canto. 
Algumas  pancadas,  distril)uidas  ao  acaso,  mas 
com  miio  vigorosa,  reslal)clecem  o  sib'Rcio  e 
a  piiz.  I'ma  vclba  escrava  ncgra  repartc-lbes 
uma  salada  verde  ou  alguma  talbada  de  mc- 
lancia.  A  niai  I'uma  scnipre.  0  marido  entra: 
se  nao  scniir  em  suas  ilbargas  o  aguilbao  do 
dcsejo,  nao  tcra  para  com  sua  mulbcr,  fria  c 
taciturna,  ncm  um  surriso,  ncm  urn  lancar 
d'olbos! 

Eis  abi  tambcm  um  csboco  vcrdadeiro  da 
vida  oriental ! 

Nao  screi  eu  todavia,  que  lancarei  a  pri- 
nicira  pedra  a  mulbcr  mussulmana.  Aqui, 
como  em  outras  partes,  a  nuilber  c  viclima 
das  leis  opressivas,  que  o  homem  fez  para  si, 
c  contra  clla. 

Entretanto  saibam-no  bcm:  a  condicao  so- 
cial das  mulbercs  e  a  pedra  de  toque  da  ci- 
vilisarao  d'um  povo;  os  mussulmanos  sSo 
punidos  por  ondc  peccam.  A  mulbcr  mussul- 
mana nao  e  a  companbcira  dobomem,  rcspei- 
tada  a  par  com  die,  sua  amiga  ao  mesmo  tempo 
que  sua  amantc;  nao  6  mais  que  o  instru- 
mcnto  aviltado  do  prazer;  e  uma  coisa;  coju- 
pra-se,  Iroca-se,  rcvende-se.  Nao  e  jamais  a 
cs[)osa,  scgundo  o  espirilo,  admittida  a  esta 
cnmmunliaodascoisas  bumanase  divinas,  que, 
na  linguagem  energlca  e  grandiosa  do  direito 
romano,  se  tornara  a  mcsma  dellnicao  das 
justas  nupeias.  E  verdade  que  a  mulbcr 
mussulmana  nao  sente  semprc  o  p^so  de  suas 
cadias:  ([uando  joven  e  bclla,  a  cadfia  e  de 
rosas  do  prazer:  mais  tarde  adormeccr-se-hii 
no  torpor  cmbriaganlc  do  opium. 

Quanto  a  mini,  scmpre  me  pareceram  mais 
para  lamentar-se  os  que  nao  sabcm  (jue  sao 
miscravcis. 

Mas  cste  syslema  egoista  da  segnranca  ao 
mais  grossciro,  assim  como  ao  mais  cego  dos 
ciiimcs  aquellc  que  se  ere  sufficientcnientc  pro- 
Icgidopor  uma  grade,  ou  por  uma  cbave;  que 
toma  por  pudor  a  rcchisao;  e  que  nao  dis- 
tingue entre  a  escravidao  e  a  lidclidade! 

Nos  impomos  menos,  e  pedimos  mais; 
bavcmos  mister  da  ca^tidade  voluntaria  o 
d'uma  fe  conjugal,  que  nasca  do  amor,  ou 
pelo  menos  do  dever:  quanto  a  segnranca 
pela  reclusao,  ncm  os  grandes  coracocs  so 
resignam  a  ella,  nem  as  almas  melindrosas  sc 
contentam  com  ella.  Ab!  comprebcndo  agora, 
que  0  arabe  nem  mesmo  tenba  palavra  para 
exprimir  o  sexo  dcsprezado;  e  quo,  para  an- 
nunciar  o  nascimcnto  d'uma  lllba,  diga  ans 
amigos:  ifasceii-me  uma  desijraiada ! 

Comparae  agora  a  mullicr  dcgradada  do 
islam  a  mullier  tal  como  a  civilisacao  cbrisla 
nol-a  faz,  egual  a  lodos  os  devores,  c  suiiorior 
a  lodas  as  forlunas;  dubrando  o  prcco  Ja 
sua  prel'erencia  pela  independcncia  da  sua 
escolha;  e  ennobrcccndo  a  mcsma  virtudc  ppla 
libcrdade  que  tcm  para  nao  ser  virluosa. 


248 


Antes  do  casamciito,  coroada  de  graras, 
amor  dos  sous,  orgnllio  c  alcgria  da  I'aniilia; 
d('|)ois  do  casamento,  inspiracao,  conscllio  c 
apoio  do  honuMii.  Rica,  c  a  rainlia  do  imiiulo, 
torn  tim  lo()uc  por  sceplro,  adoraiulo  pela 
sua  so  pri'seiK.-a  a  aspercza  das  coiilendas 
viiis,  e  sancliliraudo  nossos  costuino.s  inccilos, 
tomo  se  coisa  nciihuma  d'impuro  podosso 
subsistir  diaiite  da  luz  de  sens  olhos.  Adiui- 
nistra  a  sua  casa  ans  olhos  de  Dciis,  partiudo 
pelos  mciios  aforlunados  o  i]iic  llie  sobeja  das 
proprias  necessidades.  Livrc,  sai  alpiinias 
vezes,  som  que  uni  marido  susi)eiloso  (pieira 
saber  para  oiide  vai:,.  mas  os  pol)ros  sa- 
bem-no,  e  respoiideni-lhe  por  ella. 

Uesueis  vos  algmis  degraus  iia  hierarcbia 
social?  0  Iii\o  desapparece;  ja  nao  vedes  as 
elegaiicias  doiradas  da  \ida;  mas  por  toda  a 
parte  ao  menos  cncontrais  na  casa  urn  hrafo 
active  e  industrioso;  adviobais  uma  provi- 
dencia  araavel  c  familiar,  um  bom  genio  at- 
tento,  ao  qiial  nenluima  cousa  jamais  escapa, 
e  que  sc  multiplica  com  as  neccssidades, 
corao  para  I'azer'SC  tiido  para  todos. 

Descei  ainda,  vinde  a  casa  do  pobrc:  6 
aiii  talvez  que  a  mulber  mais  desinvolvc  uma 
iuflucncia  fcliz.  A  forca  d'ordcm,  faz  frente  a 
sua  miseria;  asprivacoes  redobram,  a  mullier 
cresce  na  luta ;  e  a  esla  luimible  casa,  aonde 
I'altam  tanlas  coisas,  ella  darii  ao  menos  a 
ultima  alegria  dos  olhos,  a  perfeila  limpeza  ; 
c  em  quanto  aos  que  sollrem  juiH'to  d'ella,  so 
nao  Ihe  e  dado  cural-os,  ao  menos  consola- 
OS,  amando-os! 

(La  terre  sainte,  vni/afjc  <hs  qunrante  pcle- 
rins  de  1^'6'i,  par  Louis  E'nault.  X.  pay.  107). 
Quizeramos  dar  uma  breve  noticia  deste 
livro  curiosissimo,  que  por  acaso  nos  vein  a 
mao,  e  do  qaal  nao  tcmos  ouvido  falar. 
Pareceu-nos  que  o  breve  trecbo,  que  a)ii  lica 
trasladado,  era  mais  expressive  que  (juacs^ 
(juer  arrazoados  e  encarecimenlos. 

Os  quarcuta  peregrines  cscQlbidos,  per- 
tencenles  as  primeiras  classes  da  sociedade, 
de  ruja  romaria,  de  Paris  a  Jerusalem,  fal- 
larani  muilo  no  anno  proximo  os  jornaes  reli- 
giosos;  0  que  visitaram  os  logarcs  sanctos  em 
uma  cpocha  notavel,  por  isso  que  a  sua  viagem 
coincide  com  o  comeco  da  guerra  do  Oriente, 
tivcram  um  narrador  digno  delles. 

L.  Enault  pinta  com  trafos  do  fogo,  nao 
menos  rapidos  do  que  vivos  e  penetrantes, 
OS  sitios,  OS  sanctuarios,  e  sobrctudo  os  cos- 
fumes  do  arabe,  do  turco,  do  cbristao,  do 
scismatico,  c  dojudeu.  Aos  quadros,  ora  atra- 
ctivos,  ora  medonbos  e  temerosos,  d'um  paiz 
tao  abundante  cm  rccordajoes,  como  original 
nos  uses  e  costumes,  o  auctor  sabe  entreniear 
prudentcs  reflcxOes,  ((ue  nao  agradani  menos 
pela  brcvidadc,  tao  propria  d'cscriptos  d'esta 
ordem,  do  que  pela  scnsatcz  com  que  sao 
fcilas.  ^ 

A.   FOIUAZ. 


ORIGEM  DO  CALOR  SOLAR. 

0  calor  omittido  pelo  syslema  solar,  diz 
M.  Thomson  n'uma  Memoria  de  rccente  da- 
ta ',  corresponde  a  um  desinvolvimento  d'c- 
nergia  mechanica,  que  no  espaco  de  quasi 
com  annos  cquival  ao  total  da  forca  viva 
necessaria  para  produzir  o  moviniento  de  to- 
dos  osplanetas.  Mas(|ualea  origem  d'esta  tao 
poderosa  accao?  Sera  por  ventura  dcvida  a 
um  reservatorio  de  [iriniitivo  calor,  ou  a  uma 
acriio  chymica,  ou  linalmente  a  massas  cm 
movimento?  Na  primeira  liypotiicse  a  irra- 
diacao  solar  dcvia  limitar-se  precisamenle  ao 
s(d,  mas  um  tal  reservatorio  de  calor  prinii- 
live  achar-se-bia  exbauslo  no  espaco  ja  decor- 
rido  do  seis  njii  annos;  nem  tao  pouco  a 
accao  chymica,  ou  a  conibuslao  entre  os  clc- 
mentos  da  massa  solar  poderia  alimeutar  a 
emissiio  de  calor  durante  um  tao  longo  pe- 
riodo,  e  por  conse(juencia  nao  pode  a  irra- 
diacao  solar  attrii)uir-se  nem  ao  calor  primi- 
tive, nem  a  uma  combuslao  inlrinseca.  Os 
movimentos  ordinaries,  jiorem,  da  massa  solar 
scriam  tambcm  do  per  si  insulTicientcs  para 
satisfazer  as  condicoes  d'aquelle  pbenomeno, 
e  por  isso  e  forcoso  admittir.  que  o  movimen- 
to de  corpos  estranbos  caindosobre  o  sol,  sao 
a  origem  mais  provavcl  d'aquella  enorme  por- 
cao  de  calor.  Se  a  combuslao  fosse  a  causa  do 
phcnonicno,  era  necessario  admittir  que  a 
materia  co]nl)ustivel  Ihe  era  fornecida  por 
corpos  exteriores;  mas  nenhuma  materia  pode 
vir  dos  espafos  exteriores  ao  sol,  sem  produzir, 
so  polo  facto  do  scu  movimento.  um  calor  mi- 
lliares  de  vezes  mais  intense  do  que,  o  que 
poderia  resultar,  quer  de  uma  combustao  en- 
tre OS  proprios  elcmcntos,  (pier  de  uma  cora- 
binacao  com  substancias,  ([ue  primilivamcnle 
existissem  no  sol,  cxccpto  se  ellas  possuissem 
aflinidades  chymicas  incomparavelmcnte  sn- 
periores  as  de  todas  as  substancias  terrestrcs 
e  nietcoricas  ate  boje  conhecidas.  Parece  por 
tanto  que  e  mcteorica  a  origem  do  calor  so- 
lar, c  que  rcsulta  do  movimento  de  inelcp- 
ros,  que  ciiem  sobre  o  sol. 

Watcrston  foi  o  primeiro  que  na  ultima 
reuniao  da  associacao  britannica  em  Hull  apre- 
sentou  aquella  idea  sobre  a  origem  do  calor 
solar.  Porem,  .so,  como  avancara  Waterston, 
caissem  dos  cspacos  cxtraplanelarios  tantos 
mcteoros,  que  produzissem  o  calor  actualmcn- 
le  emittido  pelo  sol,  a  terra  no  sen  gyro  teria 
tido  muilo  mais  frequentes  enconlros  com 
esses  meteoros,  do  que  na  reajidade  tern  ti- 
do; e  a  accumulacao  dc  matcrias  no  centro 
do  syslema  Icria,  no  espaco  dos  ultimos  dois, 
ou  Ires  mil  annos,  causado  no  movimento 
terrcstre  uma  acceleracao,  que  os  annaes  da 
astronomia  nos  nao  permiltem  admjltir. 

Os  meteoros,  que  alimcnlam  o  calor  solar, 

'    Mernoire  sitr  I't'nTffit  ntecaniqne  (tu  nyatime  s  lUtirc. 


249 


pelo  menos  dcsde  o  periodo  historico,  devcra 
por  consequencia  achar-se  no  interior  da  orbila 
terrestrc.  Sao  cslcs  mctcoros  iiluniinados  pelo 
sol,  que  se  ol)servam,  quando  este  astro  esla 
eravado  no  iiorizonte,  no  lurbilhao  a  que  se 
da  0  nomc  de  /«:  zodiacal,  que  circnia  em 
lorno  do  sol,  e  em  sua  revolucao  arrasla  a 
atmosphera  interplanctaria,  de  niodo  que  a 
forca  centrifuga  faz  quasi  equilihrio  a  gra- 
vitaoao  solar,  cxcepto  na  proximidade  da  su- 
perficie  do  sol. 

Provavelmente  estes  meteoros  vaporisam-se 
a  uma  pequena  distancia  do  sol  cm  conse- 
quencia da  alia  temperatura  d'esta  parte  do 
espaco,  mas. por  iini  perdcm  sua  velocidadcde 
rotacao  por  causa  da  grande  resistcncia  que 
experimentam,  entrando  na  atmosphera  solar; 
e  condensando-se  no  estado  liquido  por  elTei- 
to  da  gravitacao  solar,  ropousam  sobre  a 
superlicie  do  sol. 

A  quantidade  de  calor  assim  produzida  na 
regiao  d'esta  podcrosa  resislencia,  pela  queda 
dc  uma  dada  porcao  de  materias,  excedeni 
em  metado  do  equivalentedo  trabalho  produ- 
zido  pela  gravitacao  solar  sobre  uma  egual 
massa,  que  caissc  d'uma  distancia  infinita, 
uma  quantidade  egual  ao  calor  latente,  quese 
desinvolve  durante  a  conden.sacao,  augmen- 
tado  com  o  calor  devido  as  combinacoes  chy- 
niicas  que  podeni  ter  logar. 

A  segunda  metade  do  trabalho  produzido 
pela  gravitacao  solar  sobre  os  corpos,  que 
caem  de  uma  distancia  iniinita  (ou  egual  a 
um  grande  numcro  de  vezes  o  raio  do  sol)  da 
pelo  atrito  o  calor,  que  se  espaiha  nos  cspacos 
interplanctarios. 

Suppondo  que  a  materia  mcleorica,  de  que 
temos  fallado  como  causa  do  calor  solar,  se 
accuniula  a  superficie  d'a(|uelle  astro  com 
uma  densidade  egual  a  sua  densidade  media, 
ate  a  espcssura  dc  18  metres  n'um  anno, 
esta  accumulacao  de  materias  nao  augmenta- 
ria  com  tudo  as  dimensoes  apparentes  do  sol 
mais  dc  um  segundo  em  ([iiarenta  mil  annos, 
0  que  cm  dois  milhoes  d'annos  nao  faria 
inaior  dilTerenca  do  que  se  obscrva  entre  os 
mezes  de  junho  e  dezembro.  Este  augmento 
se  ainda  continua  a  ter  logar  do  mesnio 
modo,  qualquer  que  seja  a  densidade  actual 
do  deposito,  deve  ser  insensivel  desde  os 
mais  antigos  periodos  historicos  ate  as  mais  re- 
centes  observacocs:  e  para  milhoes  d'annos 
futuros,  as  medidas  do  diamelro  solar,  ap- 
parente,  tomadas  com  a  maior  exactidao,  nao 
poderao  dar  prova  ou  argumento  algum 
contra  a  theoria  da  origem  meteorica  do 
calor  solar. 

A  temperatura  quasi  uniforme  do  sol  em 
todas  as  partes  da  sua  superficie  e  provavel- 
mente devida  a  vaporisacao  dos  meteoros, 
que,  se  exisiisscm  no  estado  solido,  quando 
entram  na  regiao  da  intensa  resistcncia, 
parece,  que  deviara  accumular-se  cm  quan- 


tidade muito  maior  nas  regi5es  equaloriae.*, 
do  ([ue  nas  poiarcs. 

As  nianchas  do  sol  sao  provavelmente  n 
cITeito  de  turliiihoes,  anaiogos  aos  tiifoes  das 
regioes  tro])icaos  na  atiiiosphera  terrestrc, 
posto  (|ue  produzidos  por  causas  diversas, 
OS  quaes,  em  consequencia  da  forca  cen- 
trifuga, produzem  durante  ccrto  tempo  uma 
grande  diminuicao  no  deposito  das  materias 
metcoricas  sobre  poryoes  limitadas  da  super- 
licie do  sol,  e  liie  permittem  arrcfeccr-se  pela 
irradincao,  a  ponto  de  comparativaniente  se 
aprcscntarera  como  .sorabras  ou  manchas.  ■■ 


0  D.'  WELWICHT  E  0  JARDIM  BOTANICO 
DA  U.NIVEUSIDADE  DE  COIMBRA. 


0  sabio  e  infatigavcl  naturalista,  o  D.' 
Weiwicht,  aqueni  oJardim  Botanico  da  uni- 
versidade  de  Coimbra  deve  algumas  das  suas 
mais  preciosas  collecgocs  de  somentes,  e  plan- 
tas  da  Flora  Angolense,  acaba  de  offerecer  a 
este  Estabelecimento  uma  nova  colleccao  de 
estacas  bulbos,  e  sementes  de  vintc  e  quatro 
especics  das  mais  raras  c  estimadas  d'aquella 
Flora,  alguma  das  quaes  o  illustre  botanico 
assevera,  que  .so  nao  encontram  em  Jardim 
algum  da  Europa. 

Os  exemplarcs  rcccbidos,  chegaram  cm  bom 
estado  de  conscrvacao,  e  foram  logo  plantados 
com  as  neccssarias  cautclas  em  attencao  ao 
exccssivo  frio  da  presentc  estacao.  Em  q'uanto, 
pori-ra,  se  nao  construir  no  Jardim  Botanico 
uma  cstufa  tal,  como  o  pede  um  tao  grandio- 
so  e  importante  Estabelecimento,  e  ineviiavcl 
a  perda  de  algnmas  d'aquellas  e  d'oulras 
especics  dc  plantas  d'Africa  e  d'Asia,  que 
sem  cstuliis,  neni  abrigadouros  nao  podem 
resistir  ao  rigor  dos  nossos  invernos. 

Felizmentc  as  cortes  votaram  um  subsidio 
para  so  dar  principio  a  construccao  d'aquel- 
la estufa;  e  se  nos  seguintes  orcamentos  con- 
tiuuar  0  mesmo  subsidio,  como  e  dc  espcrar, 
dentro  cm  poucos  annos  o  Jardim  Botanico 
da  universidade  se  acbara  habilitado  para 
conservar  plantas  de  todas  as  partes  do 
mundo,  e  promover  a  aclimatacao  das  que 
mais  uteis  forem  para  a  agricultura  e  para 
OS  divcrsos  ramos  da  industria  nacional. 

Entretanto  a  Faculdade  dc  Philosophia  da 
universidade  dc  Coimbra,  justa  avaliadora 
dos  eminentes  services,  que  o  sabio  U.' 
Welwiciit  tern  prestado  a  historia  natural,  e 
cm  particular  a  botanica  naqucllas  inhospitas 
terras  d'Africa,  e  no  meio  dc  climas  tao  in- 
salubrcs,    nao  podia  deixar   de  dar  uni   so- 

'   L'lwliUit.   I.   sect.   n.°  1085  — oct.    1854. 


250 


Icmne  tcstemunho  de  louvor,  e  reconheci- 
mento  ao  illustre  nnluralista,  que  tanto  tern 
cnriquecido  os  annacs  da  sciencia  com  suas 
importantcs  descoburtas  e  esludos  praclicos, 
nao  so  no  rcino,  mas  tambcm  nas  nofsas 
possessocs  ultramarinas,  lao  poiico  conhecidas, 
se  nao  quasi  ignoradas  dcltaixo  do  ponto  de 
vista  scienlilico;  e  resoivcu  por  isso  unanime- 
mente,  que  se  lizcssc  muilo  lionrosa  e  dis- 
tincta  mencao,  no  iivro  das  suas  actas,  do 
nonie  do  snr.  D.'  Welwiclit,  c  que  o  secre- 
lario  do  Conselho  transmilisse  ao  Prelado  da 
iiniversidade  uma  copia  auliientica  da  rospc 
ttiva  acta,  para  scr  remcttida  iiquelle  insiguc 
l)otanico  para  sua  satisfaccao. 

J.  M.  DE  ABREU. 


COMMISSAO   PORTUGUEZA 


EXPOSICAO  UNIVERSAL  DE  PARIS. 


A  commisslio  central  portupueza,  a  quem  Sua  Ma- 
jeslade  el-rei,  regente  em  nome  da  rei,  confiou  o  bon- 
roso  encargo  de  orpanisar  a  exposi^Jio  dos  productos  da 
a::rric»Uura  e  da  industria  fabril  de  Portujsral,  na  exposi^uo 
universal  de  Franca,  por  este  meio  se  dirige  ao  paiz,  de 
ipiem  essencialmente  depenile  u  bora  exito  da  sua  missao. 

A  commissao  espera,  que  st>ndo  conhecidos  os  fins 
Srandiosos  do  encarjro  que  Ihe  Tii  ineumbido,  beni  omo 
as  suas  inten^oes  a  cerca  dos  deveres  que  elle  Ihe  impoe,  o 
paiz  Ihe  preslara  o  auxilio  franco  e  decidido  com  que  a 
mesma  coramissao  conlou  ao  acceitar  uma  responsabilj- 
iladp,  superior  aos  meios  proprioa  de  que  poderia  dispor, 
a  fini  de  corresponder  a  confian(;a  com^  que  foi  honrada 
pel  J  governo  de  Sua  Majcstade. 

.A.  exposi^ao  universal  de  Paris  sera,  assim  como  foi  a 
exposi^Jio  universal  de  Londres,  uma  exposi^lo  geral  do 
e-tadodacivilisarao  do  muudo,  representado  pel  >s  recurs.)S 
que  as  na^oea  possuem   no  sul  i  e  no   trabalho. 

A  c  )mmissao,  depois  de  ler  cxaminado  os  docunipntos 
que  tp:n  recebido  dacommissau  imperial  de  Franca,  pode 
asejurar  ao  paiz,  que  o  character  peculiar  eimporlaiiteda 
sulnnne  exposi^ao  para  que  o  convida — e  o  de  uma  ver- 
(ladeira  represenlacjao  d'csses  grandes  recursos,  qtii-  resul- 
lam  d J  a^rupamenlo  dc  iiraa  variedade  inilnita  de  pr-idu- 
etos  naturaes,  e  da  poderosa  acr^ao  das  tao  variadas  for^as 
d  >  trabalho.  A  cxpjsi(;.'io  de  Paris  representara,  por  esta 
firma,  o?  elementus  essenciaes  da  vlda  e  do  poder,  que  ao 
pre-iente  constituem  e  fi>rtalccein  as  nacionalidades.  — 
Exis^te  portanti>  uma  difTeienra  capital  e  palentc  a  todas  as 
intelligencias  entre  as  cxposi<;ries  universacs,  a  que  a  com- 
missao  se  refere,  e  as  exposi<;ues  nacionaes  ou  locaes,  que 
eram  conhecidas,  antes  da  exposi^ao  de  Londres.  Os 
productos  que  se  nito  ndmittera,  por  communs  e  deuiasia- 
damente  conhecidos  nas  exposi^des  de  cada  paiz,  aquelles 
para  que  se  nao  volta  a  allen^uo  dos  seus  pruprios  pos- 
suidores  ou  productores,  podem  ser  o  .objecto  de  serio 
estudo  do  sabio,  na  exposi^ao  dos  productos  do  mundo, 
causando  ale  novidade  a  muitas  das  pessoas  que  ahl 
concorrem  para  comjiarar,  nao  os  productos  de  uma 
mesma  na^ao,  mas  os  de  quantas  concorreram  a  expor 
o  e^tado  da  sua  industria. 

A  commissilo  julga  indispensavel  que  o  paiz,  possuido 
corapletamente  d'estas  ideas,  se  nao  tenha  por  impossibili- 
tado  de  acceitar  o  couvite  honroso,  que  a  Frantja  Ihe  diri- 


giu,  (xqiie  a  mesma  commusilo  tem  a  bonra  de,  por  este 
nieio,  inais  aulhenticamente  levar  ao  seu  conhecimenlo. 

A  corumissilo,  fallando  ao  paiz  a  linfjuagem  da  verdade, 
intende  ser  i^ssivel  que  Portugal  fi^^ure  honrosamenle  na 
expusi^So  de  Paris,  e  esta  sua  opiniao  (•  con-requencia  de 
um  estudj  previo  e  demorado  a  cerca  dos  meios  que  temos 
para  que  assim  aconte^a. 

A  coramissao  nfto  assevera,  queremettera  para  Fran<;a 
primores  de  goslo,  ncm  phantasias  do  geiiio;  mas  confia 
que  a  industria  Ihe  fornecera  primores  de  trabalho,  e  opti- 
masapphca^oesde  inventos  uleis;  nao  pensa  cm  fazer  de- 
mnn^trar  em  Paris  os  prodigios  da  sciencia  e  do  capital  ap- 
plicadns  a  ngricultura  ;  mas  tem  a  cerleza  de  que  o  paiz  Ihe 
pmle  facililar  os  meios  de  formar  uma  das  mais  valjosas  e 
appreciaveis  collec^oes  de  productos  agric  das  que  se  pos- 
sam  admirar  em  Paris.  Nao  exporemos  iuventos  que  re- 
viducituuMn  a  indu>tria,  ou  deemjuma  ni.va  direc(;ao  ao 
commercio ;  mas  nuo  nos  ser.'i  diflicll  pruvar,  (pie  emprega- 
mos  cjm  vanlagem  e  discri^ao  as  inven<;i^es  impi.)rtantes, 
que  o  geuio  das  nn(;oes  mais  adiantadas  tem  posto  ao  servi^o 
da  iutelligencia  e  do  trabalho. 

A  commissao  intende,  que,  firmes  na  for^a  danossa  von- 
tade,  devemos  serniudestos  nos  nossos  desejos,  niloqueren- 
do  oada  exjwsitor  julgar-se  desde  logo  com  direilo  a  um 
preniio.  Figurar  n'aquella  exposi^ao,  estar  habilitado  para 
ler  um  logar  em  que  o  seu  nome  se  inscreva  ao  lado  de  um 
prodiiclo,  em  lao  majestosa  reuniao  dos  tropheus  memo- 
raveisdas  victorias  do  lalento  e  da  vontade  —  eja  mais  do 
que  um  preraio,  e  um  litulo  que  ennobrece,  porque  signi- 
lica  que  o  expositor  e  util  a  humanidade,  e  que  sabe  hon- 
rar  o  nome  da  na^ao  a  que  pertence.  E  bastam  poucos 
exemplos  para  esclarecimento  da  idea  fundamental  de 
todos  OS  trabalhos  da  commiss5o.  Uma  medida  de  trigo 
portuguez  sobre  um  apparador  marchetado  de  compoM- 
^oes,  que  se  confundam  com  o  metal,  com  a  tartaruga,  e 
com  o  esmalte,  ao  pe  das  sedas  maravilhosas  de  LySo, 
cercada  dos  bronzes  em  que  o  gosto  do  desenbo  se  manifes- 
ta  em  caprichos  phantasticos,  siguifica  para  o  economista 
um  ponto  serio  de  estudo,  dizendo-lhe  que  Portugal  produx 
cereaes  para  o  seu  consumo,  e  que  ja  tem  ido  pur  vezes 
alimentar  os  mercados  famintos  da  Europa,  elle  que  ahi 
levuu  o  ouro  das  minas  de  um  imperio,  jxirque  nao  tinha 
trabalho  para  dar  em  troca  do  pao  deque  se  klimentava, 
e  porque  havia  julgado  que  esse  ouro,  capital  que  se 
consume  e  acaba,  podia  substituir  o  capital  do  trabalho, 
que  e  indestructivel,  sobrevivendo  a  uma  gera^ao  para 
enriquecer  a  que  se  Ihe  se^ue.  Essa  mesma  medida  e 
a  sua  significacao  economica  explicaria  como  existindo 
em  Portugal,  no  anno  de  1835,  umasu  mnrliina  de  vapor 
da  for^a  de  dezeseis  cavailos ;  ja  ao  presente  existem  setenta 
c  )ra  a  fjrt^a  de  novecentos  oilenta  e  nove  ca\  alios.  Istoe, 
a  agricultura,  augmentandj  o  alimento  da  vida,  achou 
cju-unijsno  trabalho  fabril,  que  ao  ladu  d-i  seu  incremento 
se  f  ji  de>inv.dvendo,  e  a  povoaijao  industrial,  crescendo 
apresentou  o  incentivo  efficaz  a  producqao  agricola,  ^^jjual 
foi  dand  >  valores  a  terras  que  o  nao  tinham.  E  assim,  per- 
dido  o  Brasil  pela  politica,  acabado  o  munopolio  dos  ge- 
neris c.d»Miiae.-i  pelas  rev.  lu^oes  do  coramercio,  as  minas 
(le  ouro,  que  haviamos  perdido,  foram  novamenle  acbadas 
|>el>  arad  )  na  terra  que  a  inercia  tinha  deixado  inculta, 
pelo  bfa<;o  nj  tear  que  se  deixava  apodrecer  no  ocio,  e, 
finalmente,  pelagera^au  em  queestamos,  n'essjis  culumnas 
de  vapor  que  parecem  destinadas  a  guiar  o  homem  a  uma 
era,  em  que  a  intelligencia  quebre  na  terra  o  ultimo  annel 
da  cadeia  que  a  prende  a  servidao.  Similhantementc  um 
frasco  de  vinho  do  Douro  sighificara,  ao  laib)  dos  primorea 
do  arte  de  Se\  res,  uma  proerainencia  commercial  de  tal 
ordem,  um  privilegio  natural  tao  importante,  que  n5o  pode 
ser  disputavel,  nem  disputado.  E  sendu  a  sua  apparencia 
bem  modesta  ao  lado  de  um  d'esses  gigantes  de  ferro,  que, 
depois  de  aquecidos  pelo  vapor,  vao,  com  a  for^'a  de  qui- 
nhL^tos  ou  setecentos  cavailos,  p6r  em  movimento  uma 
das  tanlas  povua^oes  induslriaes,  que  se  admiram  era 
Inglaterra;  os  valores  produzidos  por  essas  machinas  col- 
lossaes  nao  excede  os  que  tem  produzido  em  Portugal  o 
liquido  d'esse  frasco.  Uma  das  laranjas  que  se  produsem 
nas  povoa^ues  que  ficam  nas  abas  de  Li^boa,  ou  das  que 
enritpipcem  a  nnssa  ilha  de  S.  Miguel,  dara  idea  dcavulta- 
doscapitaes,  aiiida  que  Oque  mal  escondida  cDtre  os  varia* 


251 


dos  e  lindoa  artefactos  da  bijouteria  franceM.  Um  frasco 

toZl\T:  "■"  ™"™'"'"J"  1«'»  "egociante  iZvZ- 

a,    a,    IZclT'"  ""'"  """"  "'■""' "  **'''""".-  ■'-"" 
cajiiiai,  e  prcfenra  o  seu  cxame  ao  de  muiti.s  nr,.,i„„i 

que,  i  primeira  visla,  p„s,am  parecer  mr^dlnn  H    r    "' 

A  commi,s3o  observaru,  que  alem  dos  product  que  sao 
»R  .ncavcs  ,,el ,  caj.ilal  ,,„e  representam,  ^  mZr  consi 

'.rer,::';'::'""'^'"'"'" "  '■'''^'  -^  "■- "-""--  p-a : 

v.r      '   ^  "™'"  **■'"  '^■^•"ra-a.;aj,  o  que  Ihe  dl  um 

V.1  ,r  mu„o  superior  ao  que  habiu,al,ueme  Ihe  a  b  trTJ 
-  E  e,te  valor  de  aovidade,  p„r  um  capricho  da  moda 
pAe-set„r„ar  em  um  imporlanle  valor  cimmcrcial    Des-' 
eendo^a  exem,,|,s,  bastani  nolar,  que  as  nossas  e    e"l- 
que    a  s.mdl.an^a  de  laj.ete  em  l».laterra,  sao  em  For 

n^^in^..asseU„ados,aqueasrh;:::^a'rw! 

etadmirada,  qua„a„  se  sabe  que  ella  representa  o  traba 
Iho  morahsa.  or  da  familia,  e  que  resul.a  do  .^^raro  com 
qm,- a  povoa^-ao  laboriosa,  das  u.ais  povoadas  terras  dePor 
t^al,  se  eutrega  ao  rude,  mas  sanlo  mister  do  trabalho 
n„  horasem  quehabitualmente  se  descausa  ou  se  caminha' 
Aquel  es  tecd.s  grosseiros,  que  veMem  os  povos  que  "e 
exlendem  em  volla  da  serra  da  Estrella,  serL  vktos  com 
prazer  June  o  ao  mais  primoroso  arlefac  a,  em  que  o  "ea" 
mechaa,co  transforma  a  la  de  Saxouia,  por'que  a  m  d"es  e 
d1  err'",'''  «'"'"^'  """=  '*"  "  I-Wmun.o  do  pob  e 
C  evidaT      "'V^'""'^'  I-dend..  srf  a.sim  darcon-' 

TltjeT'^  "'  ''''""'''  <"'«  -  '"  "  ""  •'-Sa-'™, 
A  commissao  iria  mais  1  mw  n'eslas  sua.s  eypm.rn- 

dari../      r  "»«>'l"rito  de  lodos  muitas  ideas  de  util" 
dade  e  de  ,a  or  que  se  ligam  a  lantos  dos  nossos  ,,roduc  o 
que  a  sua  vuiiar.dade  nos  faz  j,',  desconhecer.       '""""='"'' 
A  commissao  charaa  mui  [.articularmenle  a  attencao  do 

rcctbidTT""'  -"i'^""'^  d-^  "mmunica^Ses  que  , em 
rcccbido  da  commissao    mrerial  i   .    ■,.,.    i„™     i 
conhecimenlo  do  paiz-  ^  '—-^a,  tem  a  levar  ao 

c^^^l  -r         " •T''"''  •'*'  """  MajP-tade  nomeado  uma 

.'-OS  por.u,ue.es  da  a^icuur  ^ri:^s;^:^n^^''- 

lar^^res^oflr'  ''"'  ^''"''"^^*''  ^  fo^ar  uma  commissSo 

'ude  d-esir,x,„vrier       '"■"''  ""'"'":^'>^  eqiie  em  vir-  1 
<le.er„omearp     El  R7r        ,""*"^^""^  '^ve  a  honra 
crtar  em  communi  a^o  dir'ee?'       "°  "°""  ""  ^"''  P"™ 
e  com  OS  exposilo;"?;,!;™'''    "'"  "  '""""'"'"  *'"''"'«' 

ceiia  nenbuma  correspondeocia  com  os  «po37J:rou  | 


outros  quaesquer  rarticulares  das  nacties  evlrnn^elr.o       ■ 

ten^  e  auUienlicado  cou.  „  se.lo  I  meln  a  c-ZrAo^f" 
y^e  deixam  unicamenle  de  ser  admiuidos  a^^i  ost^'„  . 
1.^  Os  aniuiaes  e  ,  lantas  no  es.ado  de  v.da  ;        '    ^      ' 

»us;ep^:rdrr;;;:^t^^ "  ='"™''"' "°  ^-""^  "^  f--«- 

}«.^^i;::^;:m:±sxrs::---- 

fi"'da?;;;^t' "^  '<""  '-■"  -'-  <I<— "'-.le  excedan.  „s 

-,.o^=rritSi:-:-^^^^^ 

je/adtrrarrt^^'urrl"""''"  "f  '"''■^"''  "«  «-  "- 

convne'^e^r:^;^:^:!^^;-;;:- '"" ""'"--  - 

ev^IUd-'oTprd^elr'""''  ^'^' '""■"-  °-«"-  "eida 

c.o?,7ctdu°cS;:'rT^j»''°^  "'^"•^^  -  p-'^"- 

I  eoXrd    rrit  r ',"  ''  <"'f-ereiro  proximo,  a 

I'orqul  em    5  ie  marco  fl"„dr  '"'''""^  ^'"  '""'-• 

[•  em  Pariz  •  ^      "''''  "  '"•"'»  '  "''  «  «"a  recc,  ^r.o 

Que  a  commissao  .e  reuneno  ministerio  das  „l,ri,  ru 
A  commissao  conDa  ,  leuamente  no  ,  aiz  |ara  „  desem 

a  e™  ■''^  "''*^"  '■''  ''^'"■ni^^ao  central  pnrlu^uva  ,  .-a 
a  exposijlo  universal  de  Paris,  17  de  novembro7e  ?854 

f«'-P'^=  de  Ficalho,  Presidente. 

^^-•-""■^      i/o«^  Jorje  Loureiro. 

Josi  Ferreira  Pinto  Besto. 

Ayrcs  de  Sd  D/ogueira. 

Julio  Maximo  de  Oliveira  PimitiUI  1 

J'W  Pedro  Collares.  | 

tS.  J.  Ribeiro  de  Sd,  Vogal,  Secretario. 


252 


OBSEUVACOES  METEOUOLOGICAS  ,  FEITAS  i\0  GAniNETE   DE  PIIVSICA 
DA  UMVEKSIDADE    DE  COliMBUA. 


Anno  <le 
18ft4 


Mez  lie 

I  Seplem- 

liro 


DiflS 


3 
4 
5 
6 
7 
8 
9 
10 
II 
12 
13 
14 
15 
16 
17 
18 
19 
■iO 
21 
22 
23 
24 
25 
26 
27 
28 
29 
30 


media  j 


o     ^    i' 


Grutia 
r.lili?. 


27 

27,5 

26 

25,25 

25,75 

25 

25,3 

24 

24,5 

23 

23 

24 

24,75 

24 

23 

21,75 

23,25 

22,5 

24 

23,5 

22,5 

£1.5 

21 

22 

23,5 

22,75 

22 

22,75 

23,5 

«2,51 

23,64 


Piessito  titmosjiherica  au  nicio  dia 


Allura  la- 
romt'lricii  a 
0."  ceiili^'. 


Millimetruij 


751,500 

75i,2T7 

733,017 

751,28a 

752,492 

752,331 

750,550 

751,948 

751,380 

751,564 

751,159 

753,972 

755,144 

753,972 

755,360 

751,987 

753.052 

754,865 

750,453 

754,539 

756,687 

753,013 

754,847 

736, 74J 

754,033 

750,702 

751,686 

750,335 

750,599 

751,622 

732,773 


vapor  ntjuoio 
CijDlido  i:o  or 


Millimi'lru.- 


Temimaltira 

Maxima absol.  27°, 5 
Minima   ...  21° 
Max.    varia^.     6,° 


9,889 
14,316 
13,308 
15,949 
15,122 
14,420 
17,283 
14,504 
15,109 
14,066 
14,935 
14,479 
15,989 
14,695 
15,524 
16,012 
18,219 
15,691 
14,515 
16,645 
13,308 
11,666 
8,005 
8,324 
11,597 
13,502 
14,229 
15,067 
16,051 
15,734 


PressAo  du 
ar  scccu 


Milliiiiftros 


741, K91 

737, '.16  I 

739,709 

735,339 

737,370 

737,911 

733,2:17 

737,444 

736,191 

737,498 

736,224 

739,493 

739,155 

730,277 

739,036 

735,975 

734,833 

739,174 

735.938 

737,894 

743,381 

741,347 

743,842 

748,419 

7J2,436 

737,200 

737,457 

735,2611 

7:!  4, 5  48 

735.8.8 


Kslftd'i  hvfTromflricii  da 
ali)UiS|iliera  au  nieiuitia 


a  s 


0.3731 

0,5215 

0,5326 

0,6652 

0,6123 

0  6123 

0,7124 

0,6538 

0,6645 

0,6734 

0,7150 

0,6527 

0,6953 

0,6624 

0,7432 

0  8345 

0,8565 

0  7743 

0,6543 

0,7732 

0,(i566 

0,6118 

0,4328 

0,4234 

0,5387 

0,6382 

0,7238 

0,7345 

0,74.56 

0,7764 

0,6562 


Quantid.  de 
vapor  contido 
em  urn  mvtru 

cubico  de  ar 


Graniiiias 


VtcssSo  almospherictt 

Max.  absol.  756,743 
Minima  .  .  750,335 
Max.  excnr .  ,     6,403 


9,359 
13,815 
12,907 
15,507 
14,678 
14,033 
16.791 
14.162 
14,806 
13,781 
14,632 
14,137 
15,573 
14,348 
15,209 
15,734 
17,034 
15,399 
14,174 
l.'j,207 
13,0.'i8 
11,407 
7,096 
0  183 
11,343 
13.239 
13  908 
14,774 
15,699 
15,441 


Crnit  dt  ItumidaiUdoor 

Maxima  absol.  0,8565 
Minima  .  .  ,  0,4234 
Max.  lariaf.  .  0,43J1 


NE 
K. 

E. 

NO. 

NO. 

NO 

NO. 

NO 

N. 

N. 

N. 

NO. 

N. 

N. 

N. 

N. 

NE. 

E. 

E. 

NO. 

N. 

NE. 

E. 

E. 

NE. 

NE. 

NE. 

SO. 

SO. 

NO. 


I'lstailo  do  Cf'o  e  do 
tempo. 


Clarne  limp.  B  temp 

Nublado.      O  mesnio. 

Mem.  Truv.  e  al^'.  cliuv 

('lar.  e  limp.   B.  temp. 
CI    ate  ao  nl.  dia;  en 
Cob.  delard.,  T.  ecliuv 
CI.  de  m.,  ene.  de  tard. 

Nnbl.  Trov.  detarde. 

O  mesmo. 

Nev.  ale  as  10  h.  dam.; 
cl.  e  limp,  uurcst.  dod. 
O  mesmo. 

Nubl.;  T.  nofim  da  t 

Nublado.  Bom  tempo. 

CI.  e  limp.  O  mesmo 

O  mesmo.    O  mesmo 

Nev.  e  chuviscos  de  m. 

O  mosino. 

Dens.i  nev.  ate  ao  raeio 
ilia  ;  al;,'iins  cliuviscus. 
Claro  e  limpo. 

Nubl  ch.  dep.  dnm.  d. 

Nnbl.;  trov.no  Rmdat. 

Nub.;  nev.  pela  manh 

Enc. ;  truv.  ealj  chnv 

Claro  e  linipo. 

O  nipsmo. 

Nublado. 

Claro  e  limpo. 

O  mesm-i. 

Enc;  de  tard  eun-<it. 

trov.  e  al^uma  chuvu 

Nublado. 

Niibl  ;  truv.  e  ali^uma 

chuv.  nu  juiiic.  da  tard. 


f  cntos  predominantes 
N.  N.O.  e  N.E. 


Coimbra  1."  de  Outubro  de  1834. 

O  Demonstradur  da  Faculdade  de  Pliilosnphia  ,  Joaquiin  Angvslo  Sinti'es  de  CarcttVio. 


®  Jn0tititt0) 


JORINAL    SCIENTIFICO    E  LITTERARIO. 


CU.NSELIIU  SUPERIOR  DE  IP^STBUCgAO 
PLBLICA.. 


i(jiir> 


liELATORIO  A>'.M'AL. 


1848—1849. 


Senhora:  Nao  obstante  terem  ccssado,  ou 
em  parte  diminuido,  as  causas  principacs, 
que  nos  ultimos  annos  desgrafadaniente  en- 
torpeceram  o  andamento  e  progresso  dos  dif- 
ferentes  lanios  da  piiblica  administracao:  nao 
pode  todavia  estc  conselho  superior  de  ins- 
trucrao  publica  lisongear-se  ainda  de  que  o 
scu  Relalorio  geral,  correspondente  ao  anno 
lectivo  que  acaba  de  findar,  seja  tao  completo 
c  apresentc  uni  quadro  tao  satisfactorio,  couio 
seria  para  desejar,  e  como  por  ccrto  sc  alcan- 
caria,  sc  para  isso  bastassera  uniramentc  o 
auxilio  eflicaz  do  Govcrno  de  Vossa  Majestade 
e  0  zSlo  e  constante  empenho  com  que  o  mesmo 
conselho  se  dedica  ao  curaprimenlo,  da  alta 
e  dillifil  missao,  que  Vossa  Majestade,  se 
digHOu  incumbir-lbe. 

Porem,  Senhora,  os  effeitos  dessas  causas 
desastrosas,  posto  que  vac  felizmcnte  decres- 
cendo,  sentcni-sc  e  hao-de  fazer-se  ainda 
longamente  sentir.  A  esses  effeitos  accrescem 
as  resistencias  que  enconlram  serapre  todas 
as  reformas  e  mclhoramentos,  e  que  a  cx- 
periencia  tern  mostrado,  que  se  nao  vencem 
nunca  por  uma  maneira  proveitosa,  scni  a 
ajuda  do  tempo,  e  sem  esforcos  continuos  c 
ao  mesmo  tempo  bem  medilados.  Finalmentc 
OS  auxilios,  de  ([ue  este  conselho  tinha  a  es- 
pcranca,  e  mesmo  o  direito,  de  se  ver  rodea- 
do,  e  desajudado  dos  quaes  pnuco  e  mai  pode 
caminhar,  sao  por  liora  muito  escassos,  e 
teem  dcixado  o  conselho  quasi  que  entrcgue 
aos  seus  liraitados  rccursos. 
j  A  pezar  disso  este  conselho  nao  esraorece. 
Se  nao  pode  fazer  ludo  quanlo  descjava,  tem 
p  consciencia  de  ter  feito  o  mais  que  pode; 
fi  aniraado  com  a  approvacao  que  a  Vossa 
jMajestade,  mereceram  os  seus  trabalhos,  e 
torn  OS  louvorcs  que  foi  servida  dirigir-Ihe 
pa  portaria  de  10  de  agosto  do  corrcnte  an- 
no, ardendo,  se  e  possivel,  em  mais  zi^lo  e 
)erseverando  sempre:  tem  toda  a  confianca 
lue  as  faitas,    alius    menorcs    comparativa- 


Yoi.  m. 


mente  com  os  annos  prccedentcs,  que  ainda 
tornam  incomplete  o  presenle  Relalorio,  hao- 
de  em  breve  desapparecer ;  e  que  os  ramos 
definhados  da  instruccao  publica,  onde  prin- 
cipalmente  se  nota  a  I'alta  de  progresso, — 
com  a  protecfao  valiosa  do  Governo  de  Vos- 
sa Majestade,  com  o  melhoramento  progres- 
sivo  das  nossas  financas,  com  a  continuacao 
da  ordem  e  soccgo  piiblico,  e  com  os  esfor- 
cos  incessantes  deste  conselho,  coadjuvado 
pelos  corpos  scientificos  e  pelos  sabios  amantes 
da  patria, — hao-de  robustecer  e  desinvolver- 
se  vicosamente  de  anno  para  anno. 

0  Relatorio,  que  o  conselho  tem  a  honra 
de  elevar  agora  a  presenca  de  Vossa  Majesta- 
de, em  cumprimento  do  que  determina  o  art. 
40  do  decreto  de  10  de  novembro  de  1845, 
imperfeito  pelos  motives  mencionados,  mas 
elaborado  tao  (ielmente  quanto  foi  possivel, 
sera  dividido,  como  os  anteriores,  em  cinco 
partes  correspondentes  as  divisoes  que  mui 
naturalmente  se  offorecera.  1."  administracao 
central  da  instruccao  publica — °2."  instruccao 
primaria — 3.'  instruccao  secundaria — 4.'  in- 
struccao superior — S."  couclusao  geral. 

1."  PARTE. 

Administracao  central. 

A  direccao  central  regimento  e  inspccfao 
geral  de  todo  o  ensino  e  educacao  publica, 
com  as  unicas  excepfOes  das  escholas  depen- 
dentes  dos  ministerios  da  guerra  e  marinha, 
e  dos  seminarios  eclesiasticos,  foi  desde  20 
de  septembro  de  1844  confiado  por  V.  M.  a 
este  conselho  superior  d'instruccao  publica- 
Sao  sete  actualmente  os  vogaes  ordinarios  do 
conselho,  em  consequencia  do  logar  que  se 
acha  vago.  0  nuraero  dos  vogaes  extraordi- 
narios  e  de  40  residindo  em  Coimbra  24 
e  estando  ausentes  16.  V.  M.  foi  servida  ul- 
limamente  nomear  os  empregados  que  fal- 
tavara  para  preencher  o  quadro  interino  da 
secretaria;  tendo  porem  uni  dos  agraciados 
pcdido  a  V.  M.  a  sua  exoneracao,  acha-se 
ainda  vago  um  logar,  que  o  conselho  mandou 
por  a  concurso  na  forma  da  lei.  A  secretaria 
tem  satisfeito  bem  e  regularmenlc  o  servico 
que  Ihe  tem  sido  encarregado;   e  posto  que 


J.iXBlBO  11)— 18S5. 


Ndm.  20. 


254 


so  acho  ainJii  iiiiiito  sohrecarrogada  com  tni- 
balho.s  com  tiido  aclia  o  coaselho  (iiio,  sciuio 
provido  0  logar  vago,  torii  o  qiiadro  siifli- 
ciente  do  ompicgados  para  satisfazcr  cm  liieve 
as  exigoncias  acliiaos. 

Em  coiise(|Ucncia  da  apinovacao  ([uc  Y. 
M.  foi  servida  dar  para  a  cnllooarao  dn  coii- 
sellio  no  cxtinclo  collt'gio  dos  Paiilislas,  c  da 
auclorisacao  da  ipianlia  dc  2(10^  rs.  para  sc 
t'azor  a  mudanra  jtara  aquellc  rollegio,  que 
se  acliava  arreiidado  a  urn  particular,  c  cujo 
arrendamcnto  acabou  no  mcz  de  seplenihni, 
tracta  o  conscllio  do  nuidar  ])ara  alii  quanlo 
antes  a  sua  sccretaria,  tondo  j.i  fcito  as  suas 
sessocs  ordinarias  no  mesmo  edilicio. 

Durante  o  ultimo  anno  lectivo  tiveram  logar 
pela  primeira  vez,  nos  mezes  de  aliril  c  ou- 
lubro,  as  duas  conferencias  ordinarias  do 
conselho  geral,  na  conformidade  do  que  de- 
terniina  o  art.  21  do  Regulamento  do  mesmo 
conselho.  E  a  pezar  da  falta  permanentc  de 
um  vogal  ordinario,  cujo  logar  se  aclia  vago, 
e  que  V.  M.  nao  se  dignou  ainda  prover,  c 
das  faltas  temporarias  porem  motivadas  de 
alguns  dos  outros  vogaes  tambem  ordinarios, 
fizeram-se  regularmente,  como  consta  da 
copia  das  suas  actas  remettidas  mensalmente 
a  y.  M.,  as  conferencias  do  conselho  ordi- 
nario, Jiem  conio  as  das  suas  tres  seccoes. 

Em  ambas  as  conferencias  do  conselho 
geral  foram  lidos  pelos  Sccretarios  das  tres 
seccoes  OS  sens  respectivos  Rolatorios;  e  cm 
ambas  dedararam  os  vogaes  extraordinarios, 
u  queni  tinlia  sido  encarrcgada  a  cnnfeccao 
de  programas,  inslfuccocs  e  compondins  para 
0  ensino,  que  ja  tinham  prompta  parte  destes 
seus  trahalhos,  e  que  esperavum  na  reuniao 
seguinte  a  ultima  dc  outubro  ou  mesmo  an- 
tes, apresental-oscompletos.  Precisaudo  obras 
dcste  genero  dc  muita  meditacao,  e  succe- 
dendo  que  os  vogaes,  a  quem  foram  encar- 
regadas,  teem  sido  distrahidos  para  outros 
trahalhos  litterarios,  que  a  lei  Ihes  incumbe, 
aclia  0  conselho  que  se  Ihes  deve  relevar 
esta  demora,  c  espera  que  estcs  vogaes  pro- 
turarao  satisfazcr  quanto  antes  as  conunis- 
socs  que  Ihes  tem  sido  cncarrcgadas  pelo 
raesuio  conselho. 

E  como  nestas  conferencias  geraes  sc  nao 
aprcsentasscm  niemorias  ou  requerinicntos 
lendenlcs  a  prouiovcr  os  mclhoranicnlos  na 
instruccao  publica,  ou  para  remover  us  obs- 
taculos  ([UC  se  fqqiocm  ao  sen  progresso;  foram 
convidados,  na  confercncia  geral  de  a!iril,  os 
vogaes  cxtraordiuarios  para  dirigirem  as  suas 
mcditacues  para  a  maneira  inais  conveniente 
de  organizar  um  curso  ccouomico-admiuis- 
trativo  na  universidade,  e  para  a  analyse  das 
alteracoes  c  reforraas  nas  leis  de  instruccao, 
propostas  a  Camara  dos  srs.  Deputados'  na 
ultima  scssao  legislativa.  E  como  tambem  na 
confercncia  geral  dc  outubro  nenhuns  traha- 
lhos apparecesscm  nest?  scatido,   decidiu  o 


conselho  que  se  nomeassc  uma  commissao  de 
vogaes  cxtraordiuarios,  cscolhidos  na  facul- 
dade  de.  direilo  e  nas  tres  de  scicncias  na- 
luracs,  para  trahalharem  na  confcccao  do 
projecto  da  nova  faculilade  dc  scicncias  eco- 
nomicas  c  admiuislrativas;  procurando  o  con- 
selho obter  por  este  meio  mais  eleinentos 
para  nicllior  dcsemjienho.  do  (|ue  a  este  rcs- 
pcito  Ihc  loi  dcterniinado  |ior  Y.  .M.  na  por- 
taria  de  It)  dc  agosto  do  prcsente  anno. 

Nas  conferencias  ordinarias  o  conselho  nao 
so  deu  sohicao  prompta  ao  sen  numcroso 
(!\[)cdienlc  c  as  — ISl — consultas  cpie  por 
Y.  M.  llics  foram  jiroposlas,  mas  tambem  prc- 
cncheu  e  cumpriu  os  devcrcs  e  attribuicocs 
([UC  a  lei  Ihe  impoe  pela  forma  seguinte. 

§.   1."  DirecrCw  central. 


1."  A  lim  de  promover  o  aperfeicoaniento 
dos  cstudos  disciitiu  e  clevou  a  prcsenca  de 
V.  M.  em  data  de  20  de  junlio  de  ISW  o 
projecto  de  regulamento  e  jirogramma  para 
OS  exames  de  habilitacao  para  a  primeira 
matricula  na  universidade. 

2."  Em  circular  dirigida  a  todos  os  com- 
missarios   dos  cstudos  e  reilorcs  dos   lyccus 
detcrminou,  em  cxecucao  intcrina  do  que  se 
aclia   disposto  no  art.   08 — §  nnico  do   de- 
creto  de  20  de  septcmbro  de   ISii,   que  sc 
nao  adniitta  a  matricula,  ncm  a  frcquencia, 
neni  aos  primeiros  exames  da  instruccao  se- 
cundaria,  alumnos  alguns  que  se  nao  nio.s- 
trem  dcvidamente  liabilitados  com  os  conhcci- 
menlos  de  todas  as  disciplinas  que  formam  o 
objccto  da  instruccao  priniaria;  para  que  nao 
aconlcca    cxporcm-se   temerariamente   a   frc- 
quentar   a    instruccao    secundaria,    e    muito 
mcuos  a  superior,   sem  possnirem   os  indis- 
peusavcis  conhecimcntos  da  primaria.   Para 
prova  desta  hahililacao,  c  cm  quanto  se  nao 
regula    o  modo   por  que    sc  hao-dc   fazer  os 
competentcs  exames  nas  escholas  pnlilicas  de 
instruccao  j)rimaria,  exigiu  que  estcs  exames 
se  lizcssem  nos  lyccus,  pelo  mesmo  modo  por 
([ue  se  fazcm  os  exames  das  discijdinas  que 
nelles  sc  cnsinani,   c  segundo  o  programme 
que  se  Ihe  remcttcu  para  esse  fim. 

3."  Encarregou  a  alguns  dos  seus  mcrabras 
e  ja  ap|irovou  a  confcccao  de  alguns  pro- 
grammas  jiara  o  concurso  aos  premios  esta-  i 
helecidos  a  favor  de  quem  aprcscntar  catc-  | 
cismos  com  nococs  clemcntares  dc  chymica, 
de  agricullura,  e  dc  geomctria  e  mechanica, 
apropriados  as  escholas  de  instruccao  pri- 
maria do  2.°  grau. 

i."  Approvou  durante  o  ultimo  anno  para 
podcrem  ser  adoptadas  inlerinamente  nas 
escholas  publicas  as  obras  scguintcs,  ja  im- 
pressas. 

0  Bom  Mciiino,  editor  Eslevam  Xavicr  da 
Cunha. 

llistoria  dc  Portugal  ale  cl-rci  D.  Duarte 


V 


I 


255 


por  Joao  Fcliz  Pereira.  Priineiras  nor.oes 
d'algobra  jiara  uso  dos  lycuiis  jicld  d.'  Ja- 
cottw  Luiz  Sarmc'iito  —  Traclado  do  voisilica- 
fao  por  .\iiloiiio  Fi'liciaiio  du  Caslillio — Novo 
e  facilliiiio  nictliodo  para  cusinar  a  lor  em 
poucas  licOcs  ])elo  lucsmo  aiictor — e  mandoii 
imprimir  dupois  d(!  approvado  em  conrormi- 
dade  com  o  art.  107  do  decrelo  dc  20  dc  se- 
plembio  de  18ii  o  compeiidio  de  arillimeliia 
olTcrctido  pclo  lento  siibslitulo  da  I'aculdade 
dc  malhomatica  Uulino  Giierra  Osorio,  o  ciija 
confeceao  lliehavia  sidoencarregada,  na  qua- 
lidade  do  siibstituto  CNtraordinario  da  raesma 
faculdado. 

f,B.°  Cniilinuou  a  fazer  todos  os  esforcos 
para  colloear  todas  as  oscholas  em  cdilicios 
publicos.  Em  qiianlo  as  csehobis  do  cnsino 
primario,  das  (piaes  lOii!)  ainda  seacbam  por 
colloear  devidamcnte,  grandos  enibaracos  ea- 
controu  na  falta  daiiuollos  cdificios  em  mni- 
tos  concelbos,  e  na  falla  de  rocursos  dos  mu- 
nici|iios  em  outros. 

Yossa  Majostade  foi  servida,  cm  rcsolucao 
de  consuba  desto  consellio  superior  do  3  d'al)rii 
de  18i(>,  mandar  expedir  oflicio  ao  ministorio 
da  fazenda  para  por  a  dispnsirao  do  nii- 
uisterio  do  reino  os  edifieios  publicos,  que,  na 
mencionada  cnnsulla,  se  julgavam  nccossarios 
para  a  coliocacao  das  cscbulaspublicasnosdif- 
ierentes  districlos  do  rcino,  seguindo  as  in- 
formacOcs  havidas  dos  respeclivos  govcrna- 
dores  civis;  porcm  ate  agora  ainda  o  con- 
sclho  nao  recebeu  rcsolucao  alguma  a  esto 
rospeilo.  A  pezar  disto  nao  dcsiste  do  sou 
cmpenbo,  ])om  certo  de  que  e  necessario  que 
seja  completamentc  satisfeito,  para  que  so 
possa  obler  uma  inspeccao  sovcra  sobro  o 
metbodn  c  ]iracticas  de  cnsino  dos  mostres  e 
sobre  a  parte  economica  das  escholas. 

Em  (luanlo  aos  lyceus,  consoguiu-sc  que 
fosse  deslinado,  por  docreto  do  2fl  de  fevereiro 
de  1849,  0  seminario  da  cidade  de  Faro 
para  a  coliocacao  do  lyceu  d'aquollc  districio; 
c  acham-sc  cxpedidas  as  ordens  nccossarias 
as  respectivas  anctoridades  para  que  se  vc- 
ritiquc  esta  coliocacao.  Por  decreto  de  10  de 
Janeiro  foi  (ambem  deslinado  para  a  colloca- 
rao  do  lyceu  do  Leiria  o  seminario  d'aquella 
cidade.  Pondem  consultas  sobro  a  coliocacao 
do  lyceu  de  Portalogre,  ou  no  edificio  do  se- 
minario, ou  no  do  exlincto  convento  dos 
Agostinbos-dcscalcos. 

0  conselbo  reconbece,  que  a  actual  colloca- 
jao  das  cscbolas  tanto  do  ensino  primario, 
como  das  delalim,  necessita  em  grando  [larle 
jde  rcforma;  c  por  isso  tcm  instado  com  os 
1  governadores  civis,  para  que,  nas  reuniOes 
jgcraes  das  junctas  dc  districio,  ou\ido  tam- 
jbcm  0  pareccr  das  camaras  municipacs,  se 
|tractc  cdiscula  esic  importanle  objeclo,  oqual 
|s6  piidc  ser  bora  rosolvido  pelo  conbecimento 
das  necessidades  e  circumstancias  das  respe- 
ctivas localidadcs.  consideradas  principalmcn- 


to  debaixo  do  ponto  dc  \ista  da  sua  geograpbia 
jiliysica.  .Vpenas  pori'm  o  govornador  civil  de 
Viseu  no  sou  bcm  traballiado  relatorio,  que 
ha  pouco  romoitou  ao  conselbo,  satisfez  a 
osta  cxigencia  por  uma  maiieira  que  mcreceu 
a  approvacao  do  conselbo,  c  (juc  dou  logar 
a  resolver-so,  quo  se  consultasse  a  Y.  M.  a 
esle  respcito  na  forma  por  ellc  proposta. 

0."  Tendo  0  commissario  dos  esludos  de 
Evora,  cujns  esforcos  pela  publica  instruccao 
e  louvavcl  descmpenho  do  suas  obrigacoes 
esto  conselbo  deve  citar  com  elogio  a  V.  M., 
— offorecido  um  projeclo  do  rcgularaento  para 
associacOes  de  bonolicencia,  acbou-o  o  conse- 
lbo tao  conforme  com  o  ospirito  do  art.  28 
do  decreto  de  10  de  septombro  de  1843,  e 
tao  cuidadoftamontc  pensado,  <]uc  nao  duvi- 
dou  jiropol-D  ii  soberana  approvacao  dc  Y.  M. 

"."  A  lim  de  cumprir  com  a  obrigacao  do 
promovor  as  associacOes  e  ostabolocimentos 
das  salas  de  asylo  da  infancia  desvaiida,  clc- 
vou  a  presenca  de  Y'.  M.  uma  roprescntacao 
documontada,  em  que  o  conselbo  da  dircc- 
cao  da  sociodade  de  benoticencia  do  Coimbra 
para  asylo  da  infancia  sollicitou  do  governo 
de  Y.  M.  a  concessao  do  um  edificio  do  esta- 
do  para  local  jiermancnlo  do  cslabelecimento, 
e  0  ordenado  para  uma  mostra.  0  conselbo 
pelo  conbecimento  que  tinba  das  difficulda- 
dcs,  por  que  passou  aquelle  estabelecimento 
para  poder  por  muito  tempo  subsistir  quasi 
milagrosamonlo  ate  chcgar  a  um  estado,  sc 
nao  dc  prosperidado,  ao  mcnos  de  alguma 
solidez,  e  attendendo  ao  zclo  das  pessoas  por 
quern  e  dirigido,  e  ao  bom  mctbodo  por  que 
alii  sc  da  o  ensino,  nao  besitou  em  inculcal-o 
a  Y.  M.  como  digno  do  sor  protegido  e  ani- 
parado  pelo  governo  como  um  nieio  impor- 
tanle da  cducacao  das  classes  pobrcs  nao  so 
no  interesso  especial  de  Coimbra,  mas  na 
goral  de  todo  o  paiz.  E  dc  novo  torna  aqui 
a  manifestar  a  sua  opiniao,  de  que  sera  con- 
vcniente  que  o  governo  do  Y.  M.  Ihc  con- 
ceda  0  modesto  cdilicio  pedido,  fazendo  con- 
lirmar  a  concessao  pelo  poder  legislative,  se 
for  necessario,  c  cxpedindo  alguma  provi- 
dencia  para  que  alii  so  conserve  o  estabeleci- 
mento ato  se  vcrilicar  aquella  concessao.  Em 
quanlo  porem  ao  ordenado  pedido  para  uma 
das  mostras,  o  conselbo  em  attciicao  ii  pol)reza 
actual  do  thcsouro,  nao  s^anima,  como  eutao 
se  nao  aniniou,  a  propol-(i,  a  pezar  dos  muitos 
desejos  quo  Ihe  assislem  de  que  se  Ihe  con- 
coda  esto  auxilio,  para  o  qual  alias  julgue 
auclorizado  o  governo  de  V.  M.,  consideran- 
do-se  como  uma  creacao  de  escbola  de  me- 
ninas. 

8."  Conbecendo  a  nccessidade  que  ha  da 
immediata  publicacao  de  jornacs  scientificos 
nos  tcrmos  do  art.  109  do  decreto  de  20  de 
septembro  de  1844,  e  avaliando  ao  mesmo 
tempo  as  muitas  difficuldades  que  se  tcm  en- 
contrado  em  levar  a  effeito  a  sua  redaccao  e 


256 


lunnuteni'ao,  fez  no  Cm  do  anno  leclivo  pro- 
|)Ostas  icndeutcs  a  auxiliar  e  inspeccionar 
uma  cniprcsa  que  se  propue  croar  um  jornal 
naqiielle  sontido,  f  que  se  coni[)ronietle  a  por 
a  disposjrai)  do  couselho  iiiua  parte  do  mosmo 
jornal.  Tcudo-se  intorrom|)ido  duranlo  as 
fcrias  acadeiiiicas  as  ncgociatOes  enceladas 
para  que  osle  meio  se  ievasse  a  effcito,  vai 
i<  conselho  de  novo  trailar  do  as  coiicliiir.  E 
se  por  eslo  niodo  nao  poder  obter  o  que 
tanto  descja,  procurara  por  oulro  arbitrio 
chi'gar  a  rcalizacao  de  uma  medida  tao  justa- 
menle  reclamada. 

9."  Em  (!\eciirao  da  portaria  de  10  de 
agoslo  de  1849  examiuou  com  attcncao  os 
Relatorios,  consnltas  e  representaroes,  que  a- 
corapauharam  a  niesma  portaria;  e  tendo  re- 
con>idorado  tudo  em  vista  dos  csclarecimentos 
c  re(lamai;oes  alii  nieucionadas,  ja  consiiltnu 
de  novo  a  V.  M.  sobre  os  seguinles  objectos: 
Rcgulamcnlo  para  as  escholas  de  instrucrao 
primaria  (i."  grau),  dicto  para  provimcnto 
das  cadeiras  da  instruceao  secundaria;  dicto 
para  as  cscliolas  medico-cirurgicas  insulares  e 
para  as  viaj<nis  scieulilicas;  rcgulamento  ge- 
ral  da  aoademia  polytechnica  do  Porto. 

E  converteu  em  propostas  de  lei,  para 
serem  opportunamente  apresentadas  as  cortes, 
1.'  para  a  creaoao  de  um  logar  do  continue 
no  lyceu  de  Coiiubra;  sobre  as  propinas  de 
malricula,  c  diplomas  nas  escholas  medico- 
cirurgicas  insulares;  accrca  da  maneira  por 
que  devcm  scr  nomeados  e  mandados  doutores 
(la  universidade  visilar  as  escholas  raais  cele- 
hres  dos  paizes  cxtrangeiros;  e — sohre  a  dis- 
tribuicao  dos  promios  na  aoademia  polyte- 
chnica do  I'orlo. 

Em  cxocucao  do  art.  5.  da  mencionada 
portaria  hem  dcsejava  o  conscliio  que  este 
relatorio  fosse  acompanhado  da  proposta  de 
lei  para  a  ereacao  de  uma  nova  faculdade 
de  sciencias  economicas  e  administralivas  na 
universidade  de  Coimbra;  sendo  poiem  esle 
um  objecto  que  demanda  profunda  attcncao, 
e  tendo  dado  logar  nos  paizes  mais  adianla- 
dos  do  que  nos  a  serios  debates  sobre  a  me- 
Jhor  organizacao  dc  lacs  esludos,  (juiz  o  con- 
selho rodear-sc  de  todos  os  elcmentos  que  o 
podesscm  ilhistrar;  e  por  isso,  alem  da  com- 
missao  dos  vogaes  extraordinarios  a  quem 
cncarregou  o  estudo  sobre  estas  materias  c 
a  apresentacao  de  um  piano  baseado  sobre 
elle,  dirigiu-se  ao  prelado  da  uui\ersidade 
para  que  consullasse,  da  maneira  que  mais 
convcnientt!  Ihe  parccessc,  as  faculdades  de 
cujo  bcio  devem  sair  os  elcmentos  i)ara  a 
organizacao  pedida.  Como  todos  estes  traba- 
Jhos  comecaram  dcpois  da  abertura  das  aulas 
no  prcsenle  anno  leclivo,  uao  foi  por  isso 
possivel  no  tempo  marcado  satisfazer;  espcra 
poreni  o  conselho  que,  ate  ao  fim  do  anno 
civil  corrcnte,  podera  aprcsentar  a  V.  M. 
algum  resultado  a  este  rcspeito. 


Mas  se  nao  pode,  pelo'aperlo  do  tempo, 
apresentar  ja  a(piella  proposta,  tcm  a  satisfac- 
cao  de  dirigir  a  Y.  M.  as  propostas,  que  cm 
vista  das  reclamacOes  dos  divcrsos  corpos 
scienlilicos,  julgou  nccessarias  para  auctoriza- 
rem  algumas  despesas  do  servico  litterario, 
([ue  se  tornam  de  maior  urgencia. 

§.  2."  Pro.iiuenlo  de  emprejos. 

Neste  anno  leclivo  o  conselho  coordenou 
varios  programmas  para  exames  dos  opposi- 
lorcs  as  cadeiras  e  logares  a  concurso,  c 
enlre  elles  o  rclativo  a  eadcira  de  desenho 
na  universidade.  Proveu  temporariamente 
131  logares  de  professores  do  1.°  grau  na 
instruceao  primaria.  Consultoii  a  V.  M.  a  no- 
meacao  de  professores  para  '.i'i  cadeiras  vagas 
nos  dilTerentes  ramos  de  instruceao;  c  a  de 
emprcgados  para  14  logares  vagos. 

Encctou  pela  primcira  vez,  e  concluiu  j4 
em  parte  alguns  processos  administrativos 
sobre  jubilacOes  a  aposenlacoes,  que  a  lei 
concede;  e  que  (ornando-se  n'uma  rcalidade 
hao-de  ser  por  certo  um  incentive  poderoso 
para  que  os  emprcgados  neste  ramo  de  ad- 
ministraciio  sirvam  com  mais  zelo  e  perse- 
veranca,  conliando  que  no  inverno  de  seus 
dias  hao-de  obler  o  merccido  galardao  dos 
seus  arduos  ainda  que  honrosos  Irabalhos. 

§.   3.°  InspeccSo. 

0  conselho  forcejou  por  todos  os  meios 
por  tornar  effccliva  a  inspeccao  das  escholas 
e  estabelccimenlos  littcrarios.  Porem  ainda 
que  alguns  dos  seus  delcgados  procuraram 
coadjuvar  o  mesmo  conselho  neste  seu  em- 
penho,  cumpre  eonfessar  que  se  licou  muito 
aquem'  dos  seus  descjos.  Esta  inspeccao  nao 
se  pode  tornar  regular  e  complela,  sem  que 
se  realizem  as  visitas  d'inspeccao  feitas  pelos 
commissarios,  ou  pelos  seus  subdelegados,  e 
por  visitadores  extraordinarios. 

Aos  commissarios,  pela  maior  parte  pro- 
fessores dos  lyceus,  falta-lhes  o  tempo,  e  mesmo 
OS  meios  para  fazerem  eslas  visilas.  Aos  sub- 
delegados c  visitadores  e  neccssario  arbitral 
e  tornar  effectivas  gratificacoes  taes,  que  por 
ellas  se  Ihe  possam  exigir  bom  e  alurado 
servico. 

0  conselho,  conheccndo  que  da  boa  inspec- 
cao e  que  dcpende  lodo  o  progresso  na  in- 
struceao iiublica,  e  que  e  sobre  clla  que  se 
deveiii  basear  os  successivos  melhoramenlos, 
lamenta  eslas  diffituldades;  e  nao  se  atrev.« 
a  iMopor  ja  a  V.  M.  o  rcmedio,  porque, 
podeiido  talvez  importar  augmeuto  nas  des* 
pesas  publicas,  e  estaudo  ligado  com  mclhor 
divisao  do  terrilorio,  rcccia  o  conselho  que 
seja  inopportuno;  ainda  que  por  outra  part? 


257 


reconhccc  que  aquellas  dcspesas,  quasi  indis- 
pcnsavcis,  seriam  compensadas  com  a  boa 
exccucao  c  rcgiilaridade  dcstc  scrviro  iinpor- 
lante,  e  que  poderiam  scr  deduzidas  de  al- 
gumas  ecouomias  foilas  na  propria  verba  da 
instrucrao  publica. 

Ac  consellio  chegaram  durante  o  anno  (iu- 
do  algunias  queixas  contra  jirofessores,  c  a 
noticia  dcconflictos  excitados  nos  corpos  col- 
lectivos;  do  tudo  tomou  coiibecimenlo,  dan- 
do  0  rcmedio  possivel.  Acba-se  porcm  na 
obrigagao  de  dizcr  rcspeitosamente  a  V.  M., 
que  para  a  justa  applicaeao  das  penas  dis- 
ciplinares  se  torna  cada  vez  mais  urgente  a 
resolucao  de  V.  M.  sobre  o  projccto  para  o 
processo  dosdclirlos  dos  professores  d'instruc- 
jao  puhlica,  remettido  com  a  consulta  de  9 
do  Janeiro  de  ISii). 


§.  4."  Esladistica. 

Em  conformidade  com  o  que  fica  dicto  no 
principio  deste  relatorio,  ainda  eile  vai  ba- 
stante  incomplete  e  falho  de  noticias  estadis- 
ticas.  A  pezar  dos  esforcos  do  conseiho,  edos 
officios  repetidos  que  dirigiu  para  obler  os 
relatorios  parciacs  de  todos  os  sous  delegados, 
bem  como  os  mappas  dos  professores  tanto 
publicos  como  particulares,  nao  pode  conse- 
guir  que  cuniprissem  todos  com  este  seu 
dever,  tanlas  vezesrecommcndado.  Era  execu- 
fao  do  que  foi  determinado  no  art.  7.  da 
portaria  de  10  de  agosto  ultimo,  o  conseiho 
leva  ao  conhecimcnto  de  V.  M.  que  deixaram 
de  remetter  os  relatorios  parciaes: 

Os  reitorcs  dos  lyceus  de  Aveiro,  e  Beja  — 
OS  directores  da  acadcmia  de  bellas-artes  de 
Lisboa — os  governadorcs  civis  de  Beja,  Braga, 
Coimhra,  Leiria,  Ponta-Delgada ,  Portalogre, 
Porto,  Santareni,  e  Villa  Heal  —  os  commis- 
sariosd'estudos  dcBcja,  Braganca  ePortalegre. 

Scgundo  0  disposlo  no  art.  35  do  decreto 
de  10  de  novembro,  ja  o  conseiho  organizou 
um  livro  especial  para  o  asseutameuto  dos 
vogaes  cxtraordinarios;  e  encarregou  um  dos 
seus  vogaes  ordinaries  para  fazcr  os  assenta- 
mentos  dcstc  livro,  no  (jual  se  vao  lancando 
OS  services  cffectuados  por  aquelles  vogaes 
cxtraordinarios,  bem  como  o  juizo  do  conse- 
iho sobre  estes  services. 

Para  principio  de  exccucao  do  art.  41  do 
mesmo  decreto,  commctteu  o  conseiho  ao  vogal 
extraordinario  o  doutor  D.  Yictorino  da  Con- 
ceicao  Teixeira  Neves  Ilebeilo  a  confeccao  de 
uraa  synopse  ou  indice  chronologico  de  toda 
a  legislaoao  providencias  e  regulamentos,  por 
ijue  em  Portugal  se  tem  regido  e  rege  o  ensino 
primario.  Este  trabalho,  acompanhado  de  um 
indice  alphabetico,  foi  com  effeito  apresentado 
por  aquelle  vogal,  e  mereceu  a  approvacao 
do  conseiho,  que  o  mandou  imprimir. 
Conlinua. 
* 


LITERATURA  DRAMATICA  HESP.iNllOLA 
E  SEUS  HISTOUIADOUES. 


I 


0  instincto  e  a  imaginacao  popular  toii- 
■stituira  OS  eiementos  do  thcatro  hespanhol. 
Por  uma  parte  os  successores  de  Torres  Na- 
harro,  e  Lopes  de  Rueda,  e  por  outra  os 
ensaios  dos  theatres  de  Seviiha,  Valenca,  e 
Madrid,  que  haviam  sacudido  o  jugo  da  in- 
fluencia  ecclesiastica,  proseguiam  activamente 
em  seus  trabalhos.  A  eschola  de  Seviiha  em- 
pcnhava-se  na  imitacao  do  antigo  theatro, 
em  quanto  a  de  Yalenea  recorria  a  assum- 
]itos  alheios  fis  tradicocs  nacionaes,  para 
attrahir  com  a  novidade  a  attencao  puiilica; 
ambas  estas  escholas  porem  nao  poderam 
lograr  o  seu  intento,  a  pezar  dos  esforcos  de 
algiins  distinctos  engenhos  que  procuraram 
sustental-as. 

A  epocha  da  inspiracao  religiosa  e  roma- 
nesca  chegara  em  fim ;  e  neste  theatro,  mais 
polido  ja,  as  novellas  de  Cervantes  obtinham 
a  influencia,  que  sobre  o  theatro  nascente 
tivcra  a  Celestina.  As  comedias  divinas  corae- 
caram  a  apparecer  em  scena  fora  das  egrejas. 
D'este  chaos,  em  que  entao  se  achara  a  li- 
teratura  dramatica,  e  que  Cervantes  com  tanta 
razao  censurara,  devia  em  fim  sair  a  ordem. 
A  luz  ia  succeder  as  trevas;  Lopes  de  Vega, 
Castro,  Alarcao,  Molina,  Moreto,  Soils,  e 
Calderon  iara  enriquecer  os  annaes  da  litera- 
tura  dramatica. 

Entre  esta  brilhante  pleyada  de  poetas 
distinctos,  sobresae  o  vulto  gigante  de  dois 
charactercs  eminentcs,  que  suecessivamente 
dominaram  no  theatro  hespanhol,  e  cujas 
obras  tem  por  isso  mais  parlicularmente  oc- 
cupado  a  attencao  dos  criticos. 

Lopes  de  Vega,  a  quem  Cervantes  chamdra 
0  milaf/re  da  naturesa,  e  Calderon,  sao  por 
assim  dizer  os  dois  grandes  fundadores,  ou 
restauradores  d'aquelie  theatro.  Meio  se- 
culo  (1585 — 163S)  os  dramas,  os  uclos,  e 
iiilremeses  de  Lopes  de  Vega  occuparam  a 
scena  hespanhola  com  admiracao  e  geral  ap- 
plause; nao  se  limitaram,  porem,  a  isto  so 
OS  trabalhos  do  grande  poeta,  que  ao  mesmo 
tempo  que  escrevera  poemas  epicos,  didacti- 
cosecomicos,  epigrammas,  satyras,  e  tracta- 
dos  de  mcditacao  religiosa;  continuara  o 
Ariosto,  luetara  com  a  cpopea  italiana ;  c  es- 
crevera um  poema  sobre  Maria  Stuart,  oslen- 
tando  sempre  em  todos  os  assumpios  urn 
estylo  nuiilas  vezes  demasiado  colorido,  mas 
cheio  sempre  de  vigor,  de  elegancia,  de  forca 
e  elevaeao  de  espirito!  Tal  era  a  prodigiosa 
fertilidade  d'aquella  tao  brilhante  imagina- 
cao, quando,  scgundo  diz  Schack,  creara  o 
theatro  nacional,  e  pozera  em  scena  centena- 
res  d'obras  primas  sobre  os  grandes  feitos 
da  historiu  patria.  » 


258 


Talvoz  do  loiloj  o.<  liistoriadores  da  lilcra- 
liir.i  licspanliol.i  uoiihura  cngraiidecera  mais 
I)  merilo  dc  Lmics  dt;  Yoga,  do  que  aquclle 
(listiiicto  escrijitor  allemao,  que  algumas  vezcs 
lodavia  parece  cxaggerar-se. 

<<  Existcni  dois  uuicos  tlicatros  verdadeira- 
ciouto  modenios,  c  originaes,  diz  Schack, 
(|uc  sao  a  gt'iuiina  expressao  do  gciiio  ua- 
ciunal  do  ])aiz,  (|ue  osvira  iiascer — o  llieati'O 
lii'spauliol,  c  0  ingloz.  0  Iheatro  hcspaniiol, 
liorom  pela  sua  i'i(|ueza  e  coinplelo  desisi- 
volvimrnto  cm  lodo  o  sentilo,  e  iiiuilti  su])ei'ioi' 
ao  do  Sliakspeare.  0  llieairo  lii'spauliol  6  o 
I'rimeiro  de  todos,  e  o  honicui  (|U('  rcjiroseuta 
I'sle  theatro,  o  esci-iplor  que  piTsonilica  e.^la 
iucomparavcl  gloria,  e  Lopes  de  Vega,  n 

Com  esta  prevenrao  iiao  e  para  admii-ar 
que  Seiiack,  a  pczar  da  rigorosa  exaelidao  e 
iniparcialidade  das  suas  analyses,  se  dei\e 
iilgunias  vczes  seduzir  por  aquella  tlieoria, 
que  I'le  represcnta  o  poeta  de  Madrid  touio 
0  maior  geiiio  da  poesia  moderna.  E  de  I'eito 
unia  longa  scric  de  heroicas  faeanhas,  sole 
i^eculos  ricos  de  gloriosas  tradifoes,  era  o  mais 
Ijello  assumpto  que  podia  olTerecer-se  a  um 
l^oeta  que,  elevando-se  aciaia  do  espirito  do 
seculo  cm  que  vivera,  e  dcsprendendo-sc  do 
trilho  vulgar  dos  scus  eoiitemporaneos,  creas- 
se  0  grande  drama,  a  grande  tragedia  ao 
mesmo  tempo  liespaiihola  e  liumanitaria — iia- 
cional  e  universal.  Lopes  de  Vega,  porein, 
cedeu  ao  espirito  lilerario  da  sua  epoelia,  do- 
niinada  ainda  pelo  gosto  da  meia  etladc,  pelas 
:;venturas  rcmanescas,  anccdotas  e  tasos  im- 
ju'evislos,  que  toeavam  o  maravilhoso,  o  os 
emhroglios,  .serviado-se  apenas,  como  diz 
Taillandier,  da  grande  tradirao  cpica,  que  a 
historia  patria  Ihe  oiTerecia  em  tantos  feilos 
estreniados,  emtantas  gentilczas  cavalleirosas 
para   nella  cncaixiiliar  os  sens  romances. 

0  theatro  de  Lopes  de  Vega  comprehcude 
(juasi  todos  os  acontocimcntos  memoraveis 
<la  historia  de  Hespanlia  desde  os  mais  re- 
inolos  tempos.  As  lutas  dos  Ceitiberos  contra 
oi  Itomanos  forara  o  assumpto  da  Ainistad 
■ji/'gadd.  El-rei  ^\'umhu  e  o  ((uadro  das  per- 
turbac(5es  que  precederam  a  queda  da  n;u- 
uarchia  golhica.  0  Pruslrcr  Godo  de  Es- 
)>ma  c  uma  peca  (jue  reprcsenta  a  iiisloria 
de  D.  Rodrigo  c  Florinda,  a  invasao  dos 
inoi'.ros,  e  por  lim  a  rcstauracao  da  monar- 
(hia  chrjsta  debaixo  do  poder  de  Pelagio;  0 
Primer  reij  dc  Espana  pinta  os  primeiros  trium- 
phos  da  ilespauha  chrisla.  As  conlestacoes 
entre  Sanclio,  o  bruro,  c  suas  irmas,  o  as- 
■sassinato  do  rci,  e  alguns  Iracos  da  historia 
do  Cid,  sao  o  assumpto  das  Almciuis  de  Toro. 
k  rivalidude  de  Pedro,  o  justiceiro,  e  de 
ricnrique  de  Translamara  ligura  no  drama 
—  Cierlo  i>or  lo  Diidoso.  No  MiUnjro  por  los 
Celos  apparece  em  scena  a  i|ueda  de  Alvaro 
(!c  Luna  no  tempo  de  .loao  11.  0  Piedoso 
Aranonez  e  a  hisieria  de  Carlos  dc  Yiaiia, 


de  sua;  revoltas  c  de  sua  morlo,  depois  da 
qual  Fernando,  o  cutlwliro,  licara  lierdeiro 
do  reino  de  Aragao.  No  Mejor  mozo  de 
Espann  \(:-se  preconizada  a  futura  graudeza 
de  Fernando  e  Izabel.  0  i\iiccii  Muiidn  dis- 
cubierlo  por  CItrisluhul  Colon  e  a  maravilho- 
sa  coiupiista  do  grande  navegante  genovcz. 
Em  lim  a  viiorin  del  muniucs  df  Simla  Cruz 
e  consagrada  a  um  feito  d'armas,  cm  que 
0  projirio  Loj)es  de  Vega  ligurara  na  sua 
mocidade. 

Els  aqiii  os  iirisicipaes  dramas  historieos, 
cm  (juo  esle  auclor  procurara  (Tuar  com  as 
I'ormas  pooticas  os  grandcs  feilos  da  historia 
do  nunulo  desde  o  periodo  romauo  c  guthico 
ate  a  lucta  emprehcndida  para  a  expulsao  dos 
mouros  para  alem  dos  mares,  c  dasde  esta 
cpocha  ale  ao  [irincipio  da  unidade  moder- 
na. .\.  illusao  e  lin-il  no  meio  dc  tantos  a.s- 
suinptos  brilhantes,  de  tantas  aventuras  ro- 
manescas,  dc  tantas  pcripecias  extravagan- 
tes,  ([ue  adultcram  as  vezes  a  singela  nia- 
jeslade  da  historia.  Intrigas  aniorosas,  prin- 
cezns  lancadas  em  mcdonhos  calaboucos,  dcs- 
cobertas,  surprezas,  tudo  cm  iim  quauio  .sc 
presta  ao  orgulho  dos  scntimentos  cavallei- 
rcscos  formam  o  fuado  d'aquellas  pccas,  ein 
que  avultam  mais  as  bellezas  de  segunda 
ordeni,  do  que  esses  tragos  sublimes  do  genio, 
« que  por  si  so  formam  uma  Illiada.  >>  Lopes 
de  Vega  sacrilicara  muitas  vezes  ao  gosto  do 
seu  paiz  e  do  sen  seculo  a  grandeza  do  drama, 
e  nem  sempre  clevara  a  liistoria  a  altura  d'i 
poesia. 

0  gosto  favorilo  do  romance  predomina 
largamcnle  em  todos  os  pretendidos  dramas 
historieos  desle  auctor,  cujo  vasto  e  fecundo 
engenho  nao  podia  couter-se  nos  limites  da 
historia  patria.  Assim  a  lula  entro  I'.odolpho 
de  llabsUourg  e  Oitocar  rei  de  Bohemia  foj 
0  assumpto  do  Imperial  de  Ollion.  0  rci  sin 
regno  reprcsenta  a  anarchia  da  llungria  antes 
de  Mathias  Corviii.  0  gran  dunuc  de  Moscovia 
versa  sobre  um  ponto  de  que  lambem  se  oc-r 
cnpara  Scliillcr,  Ponchkinc,  e  modernamenle 
Prosper  de  Merime.  0  castigo  sin  vengama 
pinta  0  tragico  cpisodio  da  coric  de  Ferrara, 
que  Byron  illustrara  na  Parisimiu.  A  PonceU 
III  de  Orleiins,  e  el  valiciile  Jacotin,  que  in- 
I'elizmente  se  pcrderam,  pcrtenciam  a  historia 
de  Franca. 

No  meio,  pnrem,  de  tantos  c  tjio  transccn- 
denies  assumptos  Lopes  de  Vega  nao  possuira 
0  verdadeiro  drama  historico.  Uespresando  a 
realidade  dos  faclos,  a  uatureza,  o  caracter, 
e  OS  habilos  das  diversas  nacionalidades,  c 
nem  se  quer  prcscrutando  o  espirito,  e  as 
inclinacoes  de  cada  jjovo,  e  de  cada  cpocha, 
Lopes  de  Vega  so  procurara  ornar  os  seus 
quadros  com  um  ccm  numero  de  enredos, 
amorosas  intrigas,  e  cavaleirescas  aventuras, 
Iransformando  os  grandcs  feitos  da  historia 
contcmporauca  em  lendas  fabulosas. 


259 


Ob  romances,  as  aventuras  e  surprcsas,  nio- 
Vimento  nos  factos,  rapidez  no  diaiogo  eis 
aqui  as  feiroes  caracleristicas  dcste  theatre 
em  que  a  varieiladc  e  o  maravilhoso  das  pcri- 
pecias  cauj^a  a  primeira  vista  uma  complcta 
illusao.  Os  dramas,  porera,  que  teem  jmr 
objecto  a  tyraniiia  e  barbaridadc  da  socieda- 
de  feudal  sao  as  obras  piimas  deste  auctor. 
Lopes  de  Vega  possuia  como  ninguera  o  in- 
limo  scgredo  da  vida.  0  grito  das  paixoes 
arrancado  do  coracao  e  do  iiindo  das  entra- 
iilias  das  victiraas  da  bnitalidade  dos  senhorcs 
feudaes,  rcsoa  admiravelraente  no  meio  dos 
inais  cnmplicados  enrcdos.  <)  honrado  Iler- 
inano,  comparado  ao  Horace  de  Cornciile,  a 
jiesar  da  distancia  que  vai  da  tragedia  ao 
drama  romanesco,  aprcsenta  ate  nos  mais 
pequenos  lances  da  vida  intima  inspirarOes 
verdadeiramente  sublimes.  Quando  a  Julia 
de  Lopes  de  Vega,  vciido  cntrar  seu  ir- 
mao  carrcgado  com  os  despojos  ;do  proprio 
amante,  Ihe  grita  no  I'uror  da  suprema  deses- 
peracao  «a  tua  victoria  nao  esta  complcta,  e 
mister,  que  me  assassines  tambem  —  cu  sou 
Curiacio,  eu  o  sou  (Yo  soy  Curiacio,  yo  soyJ.> 
esta  expressao  sublime  da  mais  pungente  dor 
faz  esquecer  outros  defeitos  do  auctor.  Cora 
Cstas  tao  vivas  cores,  com  a  cloquente  c  ar- 
tebatadora  linguagem  da  paixao  e  do  interes- 
se  que  Lopes  de  Vega  com  tanla  lelicidade 
manejava,  os  seus  quadros  nao  podiam  deixar 
do  ser  admirados  como  urn  primor  d'arte.  As 
?uas  comcdias  sobre  tudo  sao  acabados  mo- 
delos  do  mais  iino  gosto,  e  apurada  elcgan- 
cia,  em  que  a  phantasia  de  Shakspeare  se 
acha  estreitanicnte  unida  com  o  iateressc  dos 
mais  engenhosos  enrcdos,  e  das  mais  curiosas 
aventuras. 

0  gcnio,  porcm,  de  Lopes  de  Voga  nao  crea- 
ra  so  dramas  e  comedias,  fundara  lambera 
uma  notavel  esehola  de  pocsia,  e  este  e  talvez 
0  niaior  hrazao  da  sua  gloria  liltcraria. 

Em  todos  OS  thcatros  da  Europa  a  sua  in- 
fluencia  fora  iilimitada.  Doscartcs-dizia  dai-me 
a  materia,  e  o  movimento,  e  eu  vos  darei  urn 
mundo.  k  materia  e  o  movimento  eis  o  que 
Lopes  de  Vega  deu  ao  drama.  Aos  sous  suc- 
cessores  competia  a  creacao  do  tlieatro  nio- 
derno;  e  foi  sobre  a<iueilos  fundamenlos  que 
Corueiile  e  Moliere,  Calderoa  e  Aiarcao  eieva- 
ram  ohras  inimortacs,  cujo  briihante  clarao 
nao  pode  deixar  de  reQcctir-se  sobre  o  vulto 
niajcstoso  d'aquclie  grande  genio,  que  fora 
uin  dos  maiores  luminarei;  da  moderna  poesia. 
Cor.Hnua.  i.  h-  he  .4BREU. 


ESIADO  DA  INSTRUCCAO  NA 
INGL.UEUHA.' 

De  todos  OS  ramos  de  instruccao  publica  a 
injtruccao   primaria   c  que  hoje  attrahe  as 


I  serias  altenfr)es  dos  povos  civilisados.  Escen- 
trica  por  largos  annos  em  Ingialerra  a  acfao 
govcrnaraeiUal,  e  confiada  cxclusivamenle  ao 
jiatrocinio  individual,  ou  collectivo  de  as- 
sociacocs,  e  a  especulacao  de  indiistria  [)ar- 
ticular,  icm  ella  nestesuliimosannns  merecido 
attcncao  tao  sizuda  do  goveruo  e  do  parla*- 
mento,  (]uo  em  pouco  tempo  tern  grangoado 
foros  de  nobreza,  que  a  elevam  acima  do  que 
e  em  mnitos  povos  ilhislrados  mais  anligos  nas 
reformas  de  administracao  litteraria.  A  aclivi- 
dade  do  governo  na  crcacao  de  cscholas  do 
estado,  em  subsidies  prestados  as  cscholas 
particulares,  e,  mais  que  tudo,  a  introduccao 
no  ensiiio  primario  dos  ramos  de  sciencias 
iaduslriaes  mais  necessaries  aos  uses  geraes 
do  vida,  as  artes  e  oSicios  do  seu  paiz,  .^ao 
vcrdadeiros  padroes  de  gloria  para  governos 
'piu  lao  saliiamente  se  interessam  na  prospe- 
ridade  dos  governados.  Damos  com  alguma 
iiiveja  ao  publico  noticia  dos  rapidos  progres- 
ses da  instruccao  cm  Inglaterra  no  scguinte: 

Relalorio  ao  ministro  da  instruccao  publica 
c  dos  cultos  por  Milne  Edwards,  decano  da  fa- 
culdade  de  sciencias  de  Paris,  encarrcgado 
do  uma  missao  na  Inglaterra. 

Sr.  minislro, 

A  sociedade  estabelecida  cm  Londres  em 
nSi  para  fomento  das  artes,  manufacturas, 
c  commercio,  quiz  celebrar  a  sua  existencia 
secular  por  uma  solemnidade  util  ao  desin- 
volvimcnto  da  educacao  scientifica  das  classes 
industriaes;  e  nessas  vistas  resolvea  que,  para 
dar  ao  publico  meios  de  comnarar  e  ap- 
preciar  os  diversos  processos  emprcgados  para 
a  instruccao  do  povo,  abriria  este  anno  uma 
exposicao  de  livros,  instrumentos,  cartas,  mo- 
delos,  e  outros  objectos  usados  no  ensino 
elcmontar,  e  no  das  sciencias  applicadas  a 
industria.  Pcdiu  o  concurso  de  outros  paizes, 
onde  a  dilTusao  das  luzes  da  scienoia  6  objec- 
to do  sollicitude  dos  governos,  nao  inferior  a 
de  Inglaterra:  e  um  de  sous  membros,  tendo 
olitido  a  honra  de  cxpor  ao  imperador  o 
pcnsamento  de  que  era  animada  a  socicda<!e, 
obtcve  logo  a  cooperacao  da  Franca.  Por 
carta  vossa  de  30  de  junho  ultimo  quizestes, 
sr.  ministro,  designar-me  para  reprcsentar  a 
universidade  de  Franca  na  commissao,  que, 
sob  a  presidencia  de  S.  A.  U.  o  principc 
Alberto,  era  encarregada  do  exame  das  ques- 
tocs  do  ensino  publico,  e  na  forma  das  instruc- 
coes,  que  vossa  excellencia  mc  transmiltiu. 
me  parti  para  Londres  no  1."  do  julbo. 

.\.  sociedade,  juncto  a  qual  eu  era  delegado, 
exerce  muilo  ha  consideravel  influencia  sobre 
OS  progresses  da  industria,  e  da  instruccao 
das  classes  laboriosas  em  Inglaterra;  para 
esse  fim  tem  distribuido  cm  premios,  c  oulros 
subsidies  uma  somma  (pae  excede  a  dois 
milhoes  e  meio;  tomou  a  iniciativa  de.'sas 
exposijoes  de  productos  da  industria,  cuja 
utilidadc  ninguera  hoje  contesia,  c  tornou-.se 


260 


cemro  i-ommum  do  numerosas  instiluicoes  para 
a  propagacao  de  conhecinieiitos  uteis,  com 
que  a  Gran-Brotauha  se  tern  cnriquecido  por 
virUide  do  patriolismo,  e  habitos  do  associa- 
cao  tao  desinvolvidos  em  nossos  viziiilios 
d'alem  mar.  Conta  hoje  a  Inglalerra  IUj'V 
dt'stas  iiistitiiicoes  dc  ensino  scionliiico  i)0- 
jiular,  e  doslas  3oo  sao  lilhas  diri'clamentc 
da  sociodade  das  artos  assi-nte  cm  Londios. 
Cursos  do  sciencia  apjdicada  a  iiiduslria 
ahrem-se  cm  loda  a  parlo;  l)il)li()tliecas  para 
USD  dos  artistas  miilliplicam-st'  com  rapidcz 
admiravcl;  laboratorios,  ollicinas,  sallas  dc 
csludo  para  ensino  practico  das  scicncias,  e 
das  arlcs  vem  prcstar  o  auxilio  indispensavd 
ao  ensino  oral,  de  que  nos  costumamos  pagar- 
uos:  c  0  Estado,  que  ate  estes  uilimos  annos 
linha  julgado  dcver  licar  extranho  aos  cuida- 
dos  que  rcclama  a  educaeao  de  sens  lilhos, 
lioje  intervcm  de  um  mode  activo  e  poderoso 
na  administracao  da  inslruc^ao  puhlica. 

Este  ultimo  facto  loi  o  que  maior  impres- 
sao  me  fez  no  estudo  rapido  que  acabo  de 
fazer;  e  nao  foi  sera  particular  salisfaccao  que 
cu  vi  a  Inglaterra  c  a  Franca  approximarem- 
se  neste,  assim  como  cm  muitos  outros  pontes. 
Outrora  dois  systemas  oppostos  reinavam  de 
uni  modo  absolute  nos  dois  paizes:  nos  nos- 
sos vizinhos  bavia  so  o  ensino  iivre  coniiado 
a  industria  particular,  ou  ao  patrocinio  mais 
ou  menos  illustrado  de  individuos,  ou  corpos 
municipaes;  entre  nos  a  inslruccao  publica 
eslava  toda  nas  maos  do  Estado,  ou  pelo  menos 
subjeita  a  sua  inspcccao,  organisada  por  um 
piano  uniforme. 

Mas  ao  mesmo  tempo  que  a  Franca  quiz 
al)rir  o  ensino  a  concurrcncia  de  todos,  c 
deixar  desinvolver  as  instiluicoes  privadas 
ao  lado  dos  cstabelecimcntos  nacionaes,  a 
Inglaterra  comprcbendeu  o  jierigo  que  podia 
resultar  da  falta  de  rcgra,  de  inspeccao,  c  do 
bom  exemplo,  assim  como  da  falta  de  Socorro 
do  Estado  em  materia  de  instruccao.  Enlrou 
linalmente  ncsle  caminlio  novo.  Hoje  apjilica- 
se  a  desinvolver  com  sollicitude  os  ramos  da 
educacao  do  povo,  cujos  progressos  llie  nao 
parecem  suDTicientes,  e  procura  cxercer  por 
iutervencao  de  sens  inspectores  uma  fiscalisa- 
cao  real  na  direccao  do  ensino  Iivre. 

Em  prova  desta  tendcncia  a  approximacao 
nas  ideas  das  duas  nacoes,  pclo  que  toca  a 
represcntacao  do  estado  na  administracao  da 
instruccao  publica,  bastara  lembrar  de  um 
lado  todas  as  liberdades  concedidas  ha  annos 
em  Franca  a  industria,  e  ao  ensino,  e  do 
outro  alguns  factos  recenles,  de  que  vossa 
excellencia  talvez  nao  tenha  noticia,  em  ma- 
teria do  iutervencao  do  estado  em  Inglater- 
ra nas  questoes  de  instruccao  publica. 

Ila  poucos  annos  iuda  o  governo  inglez 
era  tao  extranho  a  tudo  o  que  perlencia  a 
educacao  da  mocidade,  que  nao  jiossuia  dado 
alguni  sobre  numero  e  populacao  das  cicholas 


publicas,  ou  particulares,  nera  da\a  direcla- 
mente  ao  povo  meios  de  instruccao.  Quando 
a  administracao  quiz  velar  pclos  intercsses 
da  educacao  nacionai,  um  dos  sens  primeiros 
cuidados  foi  saber  o  que  havia  ;  e  a  estadistica 
da  instruccao  publica  em  Inglalerra  acaba  de 
ser  feita  com  muito  cuidado.  Por  ella  consta 
(]ue  [nglaterra  jiossue  hoje  mais  de  40:000 
escholas  ordinarias,  das  quaes  1H:S00  sao 
sustentadas  totalmente,  ou  cm  parte  pela 
fazcnda  publica,  c  donatives  voluntaries;  e 
Itd.'iOO  pcrtcncem  exclusivamente  a  industria 
jirivada.  A  par  dcstes  estabelecimeutos  em 
(pie  diariamente  se  da  ensino  mais  ou  menos 
elementar  a  2,l'ii:000  moninos,  abriram-se 
para  as  classes  industriaes  2;5:SOO  escholas 
de  domingo,  frequentadas  por  2,400:000 
aliimnos,  e  loOO  escholas  nocturnas,  que 
reccbcm  40:000  adultos.  Em  1851,  que  estes 
ddcumcntos  foram  recolliidos,  a  populacao  de 
Inglaterra  era  de  17,'J27:00o  almas.  Os  bel- 
los  trabalhos  estadisticos  executados  por  oc- 
easiao  do  ultimo  recenciamcnto  mostram  que 
0  numero  total  de  meninos  de  3  a  IS  annos 
constilue  ]  da  populacao  geral,  e  pode  ser 
avaliada  em  4,900:000'  babitantcs.  \'e-.se  por 
tanto  que  o  numero  de  criancas,  completa- 
mente  privadas  do  benelicio  de  uma  educa- 
cao qualquer  cscbolar,  nao  constituc  |„  desta 
l)arte  do  povo  inglez;  sendo  certo  que  para 
mais  de  ametade  a  educafao  e  ensino  o  mais 
elementar  sera  muito  incomplete,  reduzido  a 
nm  dia  por  semana.  Se  compararmos  a  po- 
pulacao total  0  numero  de  meninos  com  fre- 
qucucia  nas  escholas,  \eremosque  correspon- 
de  a  12  por  100  dos  habitantes.  Direi  tambem 
(jue  a  maior  parte  das  escholas  adraittem  criau- 
cas  dos  dois  sexos,  e  que  os  meninos  tigurara 
na  proporcao  de  13  para  11  meninas. 

A  duracao  media  das  classes  nas  escholas 
(i  de  quatro  annos  e  Ires  quartos.  E  das 
rescnbas  rccebidas  resulta  que  na  maior  parte 
das  csebohis  o  ensino  e  dns  mais  cb'mentares; 
sendo  que  de  100  alumnos — 88  apprendcm 
a  ler — ■■V>i  a  cscrever  — 50  a  contar — -27 
esludam  grammatica  ingleza  —  30  gcograiihia 
—  4  linguas  modernas — i  linguas  auligas — 
3  mathcmaticas  —  a  desenho — 10   nuisica. 

0  numero  de  escholas  normaes  deslinadas 
a  furmar  mestrcs  tem  aiiguientado  muito  ha 
nns  annos.  Coniani-se  hoje  40,  que  recehcni 
(|uasi  todas  subveucoes  do  estado,  e  podem 
admittir  uns  2:000  alumnos. 

.\le  poucos  annos  antes  o  governo  nao 
exercia  accao  alguma  sobre  as  escholas  fossem 
particulares,  ou  publicas  sustentadas  pela  fa- 
zcnda, taxas  locaes,  fundacOes,  ou  cotisacoes 
voluntarias:  mas  ha  dose  annos  o  governo 
organisou  um  systema  de  fiscalisacao  sobre 
as  que  recebem  subvencao  do  eslado,  e  assim 
se  subjeitam  ajsua  inspeccao.  Comprehciide 
hoje  esse  systema  4000  escholas,  em  que  produz 
rc,-ullados  excellentes.  Os  fundos  emprcgados 


261 


nessa  dcspesa  suhirara  no  anno  antccedente  a 
3,750:000  francos;  e  foram  dcstinados  anie- 
Ihoramento  de  ediiicios  oscliolaros,  ordcnados 
de  mcstres,  ac(iuisicao  dc  livros,  modtMos,  fi- 
guras,  e  outros  objectos  de  cnsino. 

E  convcni  saber  que  as  contas  relativas  ao 
cmprego  dcslas  sommas,  c  os  rchUorios  dos 
inspectores  sao  siibmettidos  ao  parlamento, 
e  publica<los  cada  anno  pcla  commissao  do 
conselho  encarregado  da  adminislracSo  da 
educacao. 

Outra  criacao  nao  mcnos  importanlc  e  a 
de  uma  grande  escliola  national  para  o  ensino 
das  artes,  e  das  sciencias  uleis  a  industria. 
A.clia-sc  subordinada  as  attribuicOes  de  uma 
seccao  especial  do  ministurio  do  commercio: 
e  corapoc-se  de  tres  estabeiecimentos  distinc- 
tos,  mas  eonnexos  e  coordenados;  a  saber: 
uma  escbola  central  de  sciencias  naturaes 
appiicadas  a  lavra  de  minas:  um  collegio  de 
sciencias  chymicas:  e  uma  eschola  de  bellas- 
artes. 

0  1.°  destes  estabeiecimentos  fundado  em 
1833  por  um  dos  naluralistas  mais  distinctos 
de  Inglaterra,  sir  Henry  dela  Becbe,  com  o 
titulo  de  museu  de  geologia  practica,  occupa 
hoje  um  magnilico  editicio  construido  para 
esse  lim  em  Jermyn  street  E  uma  iniilacao 
da  nossa  eschola  de  minas,  e  de  uma  porcao 
do  nosso  museu  de  bisloria  natural.  Acham-se 
,  nelle  magnilicas  coileccoes  geologicas ;  e  cursos 
de  varios  ramos  sobre  metallurgia,  e  mechanica 
industrial. 

Continua.  M. 


UMA  ILLUSAO. 


Passou...  desfea-se...  como  sonho  raj)ido ! 
£ng;ano  lisoriKciro,  em  fim,  rasi,'oii-se 
Xo  df  sensiano  da  verdade  aniarfra ! 
Esqtiiva  luz  brilhuu,  atravessando 
As  trevas  de  uieus  dias,  por  moslrar-me 
O  horror  da  escuridau ! . . .  \Ji  vae . , .  sumiii-se  ! 
Oa  ficaraos  nos  su.s,  no  ermo  da  vida. 
Men  desgra(;ado  Curasao.. .  !  Que  im|)urla  ? 

0  mundo  e  feito  ass.im !  Quanlos  surrisos 
Vigte  a  sorle  ate  hoje?  Quantus  viram 
Os  felizps  da  terra?  E  lei  do  alto! 

As  lagiimas  ao  homeiii  fnram  dadas 

l*ara  contar  por  ellus  cada  passo 

Na  distancia  que  vae  do  her^o  a  campa ! 

Devia  ser.  Adel?a^ou-se  o  vulto 

Da  risonha  fic(;ao  .  .  .  e  apoz  um  sopro 

![>s  restos  dissipou. . . !  Porque  tao  breve 
So  ardenle  imaginar  me  recendeste, 
Mimosa  flor  de  menlirosa  esp'ran^a?! 

1  II 

Ai !  flor,  como  eras  formnsa  ! 
Tenho  saudades! — Que  mal 
Ha  jii  nisto,  se  eras  rusa 
Uue  desfolhuu  no  rosalr! 


Tambem  c  crime  a  aaudade  i 
Tambem  a  razao  persuade 
A  tollier  a  liberdade 
Nisto  mesmo  ao  cora^ao  ? 
Do  que  foi,  do  que  nao  era  , 
Do  que  eii  sonliei,  da  chimera, 
Cuidei    ([Ue ,   ao   meiios,    pudera 
Ter  cii  saudades . . .  pois  nao  ? 

Foi,  bera  sei,  foi  luz  de  eslrella 
Nas  ondas  a  sciiitillar, 
Veiu  nuvem  desfazcl-a 
E  ficou  sem  biz  o  mar; 
Mais  ainda  ;  foi  somente 
Delirio  d'accesa  mente 
Que  uma  sombra,  de  repente. 
Mal  desenha  e  ve  correr  ; 
Mas  se  essa  visao  foi  linda  , 
Se,  embora  falsa,  e  ja  finda, 
Nao  posso  adoral-a  ainda, 
Ter  pena  de  a  ja  nao  ver  ? 

Criei  tudo  !  Fiz  a  imag:em 
D'um  ser  sem  elle  existir ; 
Fingi-Hie  vida  e  lin^uagera 
D'um  jii  supposto  sentir! 
Namorado  da  pintura, 
Juntei  loucura  a  loucura, 
E  aos   pes  da   aerea  %ura 
Puz  d'alma  o  riso  e  a  dor; 
Sem  ver,  sem  ouvir,  julgava 
Que  era  vivo  o  que  eu  pintava. 
Que  era  ella  que  fallava 
Quando  eu  Ihe  dizia — amor. 

Como  com  azas  no  tempio 
Os  anjos  pintados  vi, 
Com  este  anjo  aquelle  exem])lo  , 
Enthusiasmado,  segui ; 
Quiz-lhe  azas.  ,  .  mas  per  dal-a<i 
Ao  meu   anjo,   por   pintal-as, 
Mal  sabe  onde  fui  buscal-as, 
Onde  as  azas  Ihe  estudei ! 
Da  poesia  essa  aguia  altiva, 
Tomei-a  nas  maos,  cajitiva 
E  penna  a  peuna,  em  dor  viva. 
As  azas  nuas  deixei .' 

Mais  bella  entao  me  par'cia, 
Mais  fadada  para  amor; 
N'aquellas  azas,  dizia. 
Ha  de  levar-me  onde  for. 
Vagaremos  sem  desUno, 
Dots  sons  casados  n"um  hymno. 
Vlvendo  um  viver  divino, 
N'um  mnndo...  todo  ideal- 
Ambos  iivres  la  seremos, 
La,  de  encantados  extremes, 
Trocando  as  almas,  teremos 
Mil  souhos  d'amor. . .  sem  mal ! 

Engano,  engano  !  Nessa  hora 
Em  que  eu  mais  a  acreditei, 
Quando  dos  labios  ajjora 
Nao  sei  que  Jlur  Ihe  invejei; 
Quando  o  sangue  me  escaldava. 
Quando  a  razao  me  deixava, 
Qnaudo  mais  me  arrebatava 

Foi  entao tudo  passou  ! 

Cahiu-me  a  venda  que  eu  linha, 
Era  so  illusao  minha, 
E  por  ter  azas,  sozinha, 
Batendo  as  azas . . .  voou  ! 

in. 

Desappar'ceu  \e\nz  no  ethereo  esjia^o 
Como  pomba  fugida . . . !  E  eu  ja  neni  lenli. 
For(;a  sequer  para  enganar-mej  ao  menoi. 


262 


('o'«  iU'.i^rio  ilii  illiisio!   N»o  .lolio  n'alaia 
Toiu  qtie  finjrir  nas  Iioras  scismndorft^ 
I'm  sinmlacrn  vHo  dft  fnl.«a  iniagem ! 
I.ovou-mft  tndo ...  a  phnntafin . . .  o.*  8(Hiho>- . . . 
Que  aein  \io&if.o  .<oDhur. . .  e  m*  me  deixa 
O,-  C'*]»ialios  ila  roiia  .  o  doin  fiii»e.*;(i» 
Of*  rHC'»r(^ar-n»e  sempro  Uessp  onoaiio' 
\.^o...  oh!  iiJlo...  esqDccia  AS  rouxns  flur"--', 
Qiif*  da  mSo  doscuidftda  llie  cniiam 
Antes  do  v()o  flrmcr,  n  que  cu  no  ncij. 
Beijando-as,  reclhi !  Duas  violpta^, 
Ksmnla  dn  acaso...  omtiora,  ::Hardo-as, 
Quo  teem  na  triste  cAr  a  cAr  qiic  veste 
Mi'ii   pohro  cufa^iio...  t  foram  d'ella  ! 

1,  DB  KKMOS. 


KXPOSICAO  DOS  ANIMAES  DOMESTICOS. 


C^'ntinuodn  li-  : .:      ^,:  t 

OtMiois  tie  !ia venues  fcito  algumas  coiiside- 
racoes  geracs  acerca  dos  progiammas  para  as 
expoiiroes,  veni  a  proposiio  occuparnio-nos 
das  particiilaridades  rclativas  a  cada  especie 
dc  animal;  mas  por  agora  falaremos  somente 
do  ((uo  e  respeclivo  a  especie  vaceum. 

No  gado  i)ovino  podeni  explorar-se  tres 
grandes  aptidoes,  scgundo  variarmos  as  con- 
dii'ocs  da  sua  produccao,  coiiformando  os  ani- 
maes  para  scrvico,  para  cevit,  ou  para  secre- 
rCio  de  kite :  cada  unia  dcstas  aptidoes  con- 
stituc  um  typo,  que  CM'lue  qualijuer  dos  ou- 
Iros  dous,  quando  se  pretcade  levar  ao  seu 
inaior  grau  de  perfeicao.  Os  ty]ios  raais  per- 
leitos  sao  representados  peios  animaes  de  maior 
rcudimcnlo,  e  de  mais  t'aeil  e  economica  pro- 
(iucrao ;  e  estcs  se  podem  ohter  por  meio  da 
espcciulisaam.  criando  e  educando  os  ani- 
maes eoni  vistas  de  conseguir  uma  so  apiidao. 

Os  nossos  lavradores  exigem  dos  animaes 
irabalho  c  aigumas  vezes  leite,  e  depois  a 
engoida:  a  especie  \accum  satisfaz  a  todas 
eslas  exigi-ncias;  mas  os  seus  productos,  com- 
parados  do  que  respeita  a  quantidade  e  qua- 
lidade,  sao  muilo  inferiorcs  aos  dos  animaes 
eonformados  para  um  so  genero  de  produc- 
rao:  por  tanto  aronselhamos,  na  maior  parte 
dos  cases,  a  esfeciaJisucdo  como  o  meio  mais 
vantajoso  de  cxplorar  a  industria  bovina, 
criando  racas  exclusivamentc  kiteiras;  de  pas- 
so  ligeiro  e  ronformaeao  apropriada  para  ser- 
rinn,  e  de  cngorda  e  creseimento  precoce. 

A  raca  holUnu'cza  apurada  pode  cou'^ide- 
rar-se  como  o  typo  das  racas  leiteiras,  por 
I'sso  que  exccde  a  todas  na  produccao  do  lei- 
te; a  raca  iniUana  pode  tomar-se  como  o 
niodelo  do  boi  de  service;  em  lim  a  raja  de 
JJtirliam  apurada  dcve  julgar-se  como  o  meilior 
lYpo  do  boi  de  ceva.  E  para  esies  modelos 
que  convem  dirigir  a  nossa  allencao,  e  com 
estes  elemcntos  e  que  devemos  levar  a  cITeilo 
a   iransformayao  das  nossas  raca?   bovinas; 


por  if-o  que,  em  qualqiior  d'aqucllc;  typo?,  o 
rendimento  da  macbina  animal  e  muito  su- 
perior ao  do  nosso  boi  ordinario.  sendo  esle, 
na  maior  parte  dos  cases,  mais  dispcndioso 
no  seu  siistento. 

Para  dar  compbno  desenvolvimento  ri  nossa 
industria  bovina  fora  iieccssario  importar  e 
aclimatar  a(iuellas  racas,  c  reformar  as  in- 
digenas,  por  meio  do  cruzamentn  com  ellas 
e  do  set!  casiicamcnio  por  seleccao,  fazendo- 
sc  uma  rigoro^a  a[ip!icacao  dos  preceitos  zoo-' 
Icciuiicos.'  Felizmenlc  a  adimatacao  seria 
faoil,  por  quo  possuinios  ja  as  vaccax  turinax 
c  0  boi  zebu  restando-nos  somente  apurar 
estas  racas  e  aclimatar  a  de  Durham. 

Para  satisfazer  a  conveniencias  particula- 
res,  convem  aigumas  vezes,  c  principalmente 
aos  lavradores  pouco  abastados,  rcunir  uo 
mesnio  animal  mais  do  que  uma  apiidao; 
mns,  para  que  a  combinacao  de  dous  ou  mais 
typos  possa  dar  horn  resuUado,  e  necessario 
scr  dirigida  com  nniita  prudencia.  Se  com- 
pararmos  entre  si  os  typos  perfeitos,  nota-se 
grande  dillerenca  na  conformafao  dos  ani- 
maes, na  actividadc  de  aigumas  funcfocs,  no 
regimen  que  Ihes  convem,  etc. 

0  boi  de  ceva  tem  ossada  miuda,  os  mus- 
culos  volumosos  mas  tenros,  o  corpo  bojudo 
em  forma  dc  pipa,  a  cerneiha  iarga,  as  espa- 
duas  curtas  e  grossas,  as  pernas  curtas  e 
delgadas  etc. ;  o  boi  de  .^erviro  e  ossudo,  os 
sous  musculos  seccos  o  resistentes,  o  corpo 
comprido,  a  cerneiha  estreita  e  elevada,  as 
pernas  altas  e  carnosas  etc.;  a  vacca  kiteira 
e  paneuda,  tern  as  tetas  grandes,  flaccidas, 
pouco  carnosas,  as  (jruvuras  regulares  e  sy- 
metricas  etc,  .V  energia  da  assimilajao  dos 
principios  nutritivos,  i)ropria  ao  boi  de  ceva, 
e  subslituida  pelo  vigor  do  systema  muscu- 
lar no  boi  do  scrvico,  e  pela  aclividade  dos 
orgaos  secrelores  do  leite  nas  vaccas  kiteiras. 
0  repouso  lavorece  a  ceva,  ao  passo  (pie  o 
irabalho  indiirece  a  fibra  muscular  e  desin- 
vfilve  a  sua  Ibrca ;  o  service  accelerando  a 
circiiiacao  e  a  respiraciio,  precipita  por  csta 
I'brma  a  reiiovacao  material  do  corpo,  e  obslft, 
ii  nutrioao  e  ao  deposito  de  gordura,  t)u 
secrecao  de  icitc.  Em  fim  a  produccao  d^ 
cada  um  dos  referidos  typos  exige  condicoeif 
particuiares  i;a  sua  criaciio,  educaciio  e  regir 
men   rilimen'ar. 

Pica  por  tanto  manifesto,  que  niio  6  possi- 
vcl  combiner  estes  typos  sem  corlar  por  al- 
guma  de  stias  vantagens,  diminuindo  o  valor 
de  cada  unsa  das  aptidoes  para  que  o  animal 
for  destinado;  devemos  por  isso  combinar  os 
typos  que  forem  mcnos  oppostos ,  para  que  a 
sua  combinayao  nao  va  dcstruir  as  condifSes 
mais  essenciaes  de  cada  uma  das  aptidoes, 
que  0  animal  deve  pnssuir,  subordinando  um 


'   Veja-se  Ziii'lithiila  no  Curso  C'omplcfo  ile  Zuoiatriu  I 
iloineslir;i. 


$ 


263 


lypo  ao  outro,  conforme  as  circiiiiistanrias 
cconomicas  e  as  coudicoes  de  sua  produccao 
0  c\igireni. 

A  aptidao  da  producrao  de  Icili;  liga-se 
melhor  com  a  da  ccva,  do  que  com  a  do  scr- 
vico :  toda.i  as  vaccus  leileiras  enyordum  facil- 
nienle,  depois  de  ter  cessudo  a  secrecao  de  ki- 
te: estas  duas  aptidOcs  succcdera-se  no  mesmo 
iadividuo,  e  sao  favorecidas  pclas  mesmas 
condicOes.  Todavia  e  necessario  nao  abusar 
das  relaroes  physiologicas,  que  e\isteni  entre 
a  secrecao  do  leite  e  a  nutricao,  julgando 
que  da  comhinacao  das  duas  refcriJas  apli- 
does  se  pode  deduzir  uraa  proposirao  iu'.  ersa 
u  antecedente,  que  uma  ram  apta  para  ceva, 
0  scja  eijualmenle  para  a  j/roduceao  do  leiie: 
esta  proposicao  tern  sido  combalida  pela  ex- 
periencia,  mas  ncm  esta  prova  fora  misler: 
bastaria,  para  conhecer  sua  I'alsidade,  refle- 
ctir  que  no  primeiro  caso,  cessando  a  secre- 
yao  do  leite,  a  aciividade  desta  funccao  se 
transporla  para  as  funcroes  iiutritivas;  e  no 
segundu  com  o  apparecimento  da  secrecao  do 
ieile  nao  cessa  a  lorca  assimilatriz. 

A  f'aculdade  de  jironipta  c  antccipada  en- 
gorda  dcpende  d'uraa  conforniacao  organica 
particular,  acompanhada  do  predominio  dos 
systemas  que  Iransformam  os  principios  aii- 
mentares  era  came  e  gordura,  como  se  uota 
na  raca  de  Durham.  Dada  esta  conforniacao, 
nota-se  que  os  animaes  se  conservam  nulri- 
dos,  ainda  mesmo  sendo  mal  alimentados; 
por  isso  0  appareciniento  da  secrecao  do  leite 
nao  pode  annullar  este  habito  oiganico,  e  a 
'.  aeca  de  ceva  sera  sempre  pouco  abundante 
viu  leite,  principalmente  quando  clla  estiver 
nutrida. 

A  aptidao  para  a  produecao  de  leilc  pode- 
ni  ligar-se  com  a  de  service;  mas  e  necessa- 
rio, que  a  vacca  deixe  de  trahaliiar,  em  quan- 
ta durar  a  secrecao  do  leite,  para  que  sc  e\;i!ie 
a  actividode  desta  funccao  pela  cessacao  do 
r\ercicio  muscular,  podeiido  aiigmen'ur-sc  a 
leferida  secrecao  por  meio  de  apropriada  ali- 
mentacao. 

Todas  as  racas,  lanto  de  serviro  como  iei- 
teiras,  devcm  ajiroximar-seda  conformacao  do 
typo  de  ceva,  por  que  o  lim  dos  animaes  bo- 
■inos  e  0  consumo;  poreni  deve  imita:-se 
aquellc  typo  somcnte,  no  que  for  compativcl 
com  a  aplidao  respecliva  a  cada  raca,  sem 
alterar  os  caracteres  essenciaes  do  scu  typo. 

A  nossa  raca  minlwta  poderia  apurar-se 
para  engorda  ou  para  service,  por  que  reune 
eslas  duas  aptidOcs,  ainda  que  em  pequeno 
grau;  todavia  e  para  o  trabalho  que  a  sua  j 
conforniacao  mais  a  dispoe.  A  raca  de  Mafra 
deve  aperfeicoar-se  cxchisivaiuente  para  o 
scrvico,  porque  os  seus  elementos  a  levam 
para  este  destino:  assim  o  boi  zebu  pode  ser 
considerado  como  typo  do  boi  de  servico,  e  a 
rafa  ribatejana  e  de  todas  as  nossas  racas  a 
mais  apta  para  o  servico ;  por  isso  os  mestizos 


dcstas  duas  rayas  devem  ser  aperfeicoados  no 
sentido  da  sua  maior  aptidao  genelica.  Do 
cruzamcnto  do  zebu  com  outras  racas  taiiibcm 
se  poderao  obter  mestifos  para  reunir  duas 
aptidOes. 

As  racas  gallega  e  trasmontana  reuncm 
aptidoes  para  servico  e  para  producciio  de 
leite,  por  isso  muito  convinha  mellioral-as 
exclusivamente  na  direccao  dcstas  duas  apti- 
does. A  raca  turina  deve  ser  apurada  exciu- 
sivamenle  para  produecao  de  leite;  poreni.  ;-e 
fosse  cruzada  convenientemente  com  outras 
racas,  poderia  dar  mestifos  com  duas  ajitidees. 
Em  lim  as  vaccas  anas  (raca  do  Algarvc)  p6- 
dem  reunir  duas  aptidoes,  a  da  produecao  dc 
leiie  e  a  de  ceva,  sendo  convenientemente  aper- 
feicoadas  para  satisfazerem  a  estes  dous  tins, 

Devcmos  porera  advertir,  que  na  combina- 
cao  das  aptidoes,  e  principalmente  quando  so 
prctende  exaggerar  mais  uma  dellas,  cuiuiire 
attender  nao  so  as  considcracoes  de  convc- 
niencia,  mas  tambcm  a  conformacao  dos  ani- 
maes que  prctendemos  aperfeicoar  n'um  (iado 
sentido.' 

A  grandeza,  a  estatura,  as  formas,  a  cor, 
OS  cliifros  etc.,  nao  podem  ter  senao  um  va- 
lor rclativo,  subordinado  ao  typo  para  que 
forani  criados  os  animaes,  as  circumstaiicias 
da  localidade,  e  as  condicoes  economicas. 

Cotitinua  j.  f,  de  uacbdo  pimo. 


.MAIS  i::il  RE.MEBIO  PAUA    A  MOLESTIA 
I)A5  ViMiAS. 

M.  Vial,  cullivador  em  Argei,  diz  ter  em- 
pregado  com  bom  resultado  o  seguiute  re- 
medio  por  elic  descuberto. 

Consiste  cm  pulverizar  as  uvas  com  ciirza 
de  madeira  e  cm  seguida  podar  novamenle  a 
vinha,  tres  ou  quatro  pollegadas  acima  do  ulti- 
mo cacho.  As  vinhas  sujeitas  a  este  processo 
sao,  segundo  elle,  imraediala  e  constantemeii- 
te  preservadas  da  niolestia.  As  cinzas  cmprc- 
gadas,  nao  devem  ter  soflVido  a  accao  do  ar 
para  que  os  saes  nellas  contidos  nao  srjai!! 
decoi;ii)oslos.  Este  remedio  e  simples  e  pou- 
co dispeiidioso.  0  Akiibar  que  o  annuncia 
triis  um  grande  numero  de  attestados  de  cc- 
lonos  d'Algeria  que  dizem  ter  veri'icado  a 
sua  efEcacia. 


ERR.VT.VS  DO  N."  IS. 


rag.      Col.     Link. 


Err  OS 


£nteriit. 


'i.32         I.'       4S         desprezs  lifspr-var 

!i!33  "         SI  vida,  vida: 

•"=  "        ''■*        orfain;  e  jc  for        urKiai,  >■•  r,. 


264 

APONTAMENTOS  d'opTICA. 
AbVERTENClA. 

Ncsk's  a|)onlaiiH'iilos  Irnclaiiios  deninpliar,  on  siipprir,  a«  (loiiirina:,  da  paiif  J.i  Optica 
do  Lacaille.  quo  ha  algims  anuria  leiii  siil"  prdviioiiaim-iitc  pxplicada,  coino  prcliiiiiiiar,  iia 
cadcira  d'Arlronoiiiia.  N.'io  se  ericoiilruia  pnis  iiollos  iim  tiactado  complelo  d'Oi)lica;  mas 
soinoiile  o  que  iia  ex|)osi(;rio  eleinenlar  d'acpiclla  parlo  jidgu;iios  util  accrosconlar,  i;  a  cnjii 
piil)licasao  annuiiiios  ein  bcnoficio  dos  rospoctivos  oiivintes. 

CATOPTRICA. 

Eipdhos  csphericos. 

1.  Scja  '  A j\I  {^fig.  1)  um  espellio  espliorico,  C  o  seu  cenlro,  O  o  puiUo  lutiiiiios!.!, 
O  M  utn  raio  iiicidenle,  ]\1  F  o  rcflectido  ;  e  fac^amos  : 

OA  =  d,  CA  =  r,  FA=f,  ACM=i,  OMC=zCMF=i. 

0^  liiatigulos  O  cm  e  FCM  dao: 

imMOC_MC      senA  FMMC 
sen  OiWC~  OC     i>^nFjVlC~'FC' 

sen  (b — i)  r  sen(e4-j)  r 

oil  ■  —  =  J ~  ?     : —  = y 

sen  I  a  —  r  sen   >  r — f 

Desenvolvendo  sen  (9  —  i)  e  sen  (9  +  ')  «'"  senos  e  cosenos  de  t  ei  •  depois  eliminaiido 
cot  i'  e  finalmenle  resolvendo  a  equagao  resiiltante  em  ordem  a/;  leremos,  usando  dos 
signaes  superiores,  j^ 

•^'^'■^"2  (c/+r)  cos  i±r) ''^^' 

D'onde  rcsiilta,  que  lodns  os  raios  emillidos  de  O,  e  iiicidenles  nos  poiilos  da  circum- 
ferencia  da  base  do  sector  e^plierico  doscriplo  pela  revohi^ao  de  A  CM  a  roda  de  A  C,  se 
reunem  no  n)e.-nio  foco  F. 

2.  Differeiiciando  a  equajao  (1)  em  ordoin  a/e  0,  resulta 


S  9  [ii  {ii  +  '■)  CO  6  ±  rj'  \        r) 


sen  0 (^2) 

O  signal  desta  exprossao  inostra  que  o  f.'Co  se  apprnxiinarii  do  espeliio  quando  M 
se  afastar  de  A.  Oseu  valor  mostra,  que  a  variag.'io  sera  <-u)  geral  pequeiia  da  ordem  de  i  6, 
se  o  angulo  g  for  considoravel ;  e  pcquena  da  segunda  ord^.n ,  se  o  angulo  9  for  tambem 
pequeno  da  priineira.  D'onde  resulta  que  as  iinagens  f>rmada3  pelos  raios,  que  ficam 
muilo  proxiinos  do  eixo  dn  espeliio,  devein  ser  muito  mais  vivas  e  distinctas. 

3.  Se  na  formula  (l)suppn7.ermos  9  uiuito  peqm-no  da  primeira  ordem,  de  sorte  que  n 
superficie  do  espeliio  seja  uina  pequena  por5So  d'espliera,  toreuios  cos  9  =;  1  ,  e 

Estas  eqiia^oes  moslram  que:  para  (i  =  o  e'/nullo;  desde  d  =  oa.\.6  (ir=  _r e/negatlvo 

e  crescente,  e  o  seu  crescimenlo  cada  vez  mais  rapido ;  para  d  infinilamente  approximado  de 

-r  e /"  negative  einfinito;   desde  d=.—raX&  d=oo  ef  positive  e  decrescente,  e  o  seu  de- 
2  2  ,        1  ,  . 

crescimento  cada  vez  mais  vagaroso;  e  finalmente  para  d=  00  ef=:-r.  O  que  diioseguiiite 

quadro: 

*     As  Ggura3  gerSo  publicadas  00  Gm  d'cstes  apontamealoi. 


265 


-o  /■  =0 

1 

neg.  e  cresc. 


pos.  e  decresc. 


_l 


4.  Se  no  caso  de  ser  o  espelho  convexo  (fig.  2  )  fizermos  urn  raciocinio  semcllianle 
acharemosas  mesmas  formulas,  que  acbamos  para  os  espcHios  eoncavos,  com  lantoqiie  neslas 
se  mude  r  e  —  r:  adverlindo  poreni,  que  aciticlla  mudan^a  faz  coutar  os  def  positives  para 
a  parte  canvexa,  de  A  para  O;  e  que  por  isso ,  se  quizerrnos  coiilar  05/  posilivos  para  a 
parte  coiicava ,  como  rvos  espellios  eoncavos,  sera  necossario  mudar  tainlx-ni  o  si>;iial  de  /. 
Teremos  assim,  em  logar  das  forimilas  (I),  (2),  (3),  (1)  com  os  signaes  sup?riores,  as 
mesmas  lormulas  com  os  signaes  inferiorcs.  £,  para  asdiversas  dislancias,  a  f6rmula  (3)  daru 


o  quadro  seguinle  ; 


I 

<r 

_  1' 

2  /     ""  i"" 


cu 


1 


Reduzindo  aomesmo  denominador,  edividindo  por  drf,  lambem  sepode  dar  as  formulas 
(3J  a  forma  symmetrica 

I  +  l-JL                     '"       .  -g.) 
J~d-l    ■'' 

a 

6.     Quando  os   valores  de  /  relalivos   ao   e^pellio  concavo  sao  positivos,  o   ponto    F, 

onde  enlao  se  reunem  os  raios  reOeclidos,   e'  nmjbco  real;    mas  quando  aquelles  valores  sao 

negativos,    o  ponto  F,   onde  entao  se  reunem    os  prolongamentos  dos  raios  reflectidos,   no 

sentido  opposlo  ao  do  seu  niovimento,  e  nm  foco  virtual  ou  imaginario.    Nos  espelhos  con- 

ve\os  OS  valores  positivos    de  /'  perlencem  ao  foco  virtual. 

Blunii',/'  I        'jTrinoi     -    , 

Portanlo  nos  espelhos  eoncavos  o  foco  e  virtual  desde  d==o  ale'  d=-r,  e   rcardesde 
1  ,  .2 

d  =  -r  ate  d  ^^  00  ;  nos  espelhos  convexos  o  foco  e  sempre  virtual. 

6.  A  equa^ao  (3')  fica  a  mesma  para  o  signal  superior,  quando  se  muda/  em  d  e  d 
lem  /;  e  para  o  signal  inferior  nta  a  niesnia  que  para  o  superior,  quando  se  muda/  em  d  c 
•rf  em — /.  Por  conseguinte  o  foco  real  do  espelho  concavo  e  conjngndo  com  o  ponto 
lurainoso,  isto  e,  estes  dois  pontos  sao  reciprocamente  focos  reaes  utu  a  respeito  do  outro  : 
*  o  foco  virtual  do  espelho  concavo  e  conjugado  com  o  fcco  do  espelho  convexo  ,  de  sorle 
lue  estes  dois  pontes  sao  reciprocamente  focos  virtuaes  uni  a  respeito  dooutro.  O  que  etam- 
bem  una  resultado  immediate  das  leis  da  rellexao,  e  se  confirma  pela  comparajao  dos  valores 

de/ no  espelho  concavo,   correspondentes   aos  de  d  desde  (Z=-r  ate  d=  r,  com    os   cor- 

respondentes  aos  de  d  desde  d=  00  ate  d  =  r;  e    pela  comparasaodos  valores  de  /  no  espe- 

Iho  concavo,  correspondenles  aos  de  d  desde  d=io  ate  d  =  -^^r,  com  os  valores  de/ no  espc 

Iho  convexo,  corrcspondenles  ao';  de  o!  desde  c/  =  o    atec?=oo. 

D'onde  resuLta,  que  o  quadro  das  dislancias  focaes  no  espelho  concavo,  correspondenles 

iis  dislancias  do  ponto  luminoso  desde  o  ate^r,   e  o  quadro  das  dislancias  focaes  no  mesmo 

espelho,  correspondenles  at  dislancias  do  ponto  luminoso  desde -r  ale  r,    servem  tambem  :  o 


2  GO 

nrimelro  para  todas  as  dUlanci.s  <lo  po„l..  Imni....,,  no  .,peli>r.  convexn  ,  r  o  .y,u.]o  par:t 
L  "li!u°das  do  po.uo  luminoso  no  espelho  co„cavo  dcsde  o  luNn.lo  ale  rj  .nudando  nelles 
^-  ,i;  nnrias  focaes  era  dislancias  do  ponlo  Imimio^o,  e  lnver^a^lentc. 

"  '^  S  d  pois  da  etlex^o  foren.  (f,g.  3,  .l/.V, ,  M  N>,  JVI  N,"  .. .  .  os  raios  lam.nosos  cor- 
responden  es  is  dUlancias  desde  ,/  =  o  aie  ,/=  ..  ;  o  M  N,  MJ^',  MN"..o,  so.s  prolonga- 
mentos  vo.se  que,  ao  passo  q.c  a  di.la-.cia  do  porto  lumino.o  no  e.p.lho  cot.cavo  vana 
T  T.  I'n.nL  a  recla  N  N.  sira  no  seiitido  jV  A' A'"  .  .  .om  toinn  d'urn  eixo  perpendicular 
desde  o  ale  co  ,  a  recia  iv  m,   ^mu  m  ^  Hesorlp  ncie  itp 

em  7U  ao  piano  da  figura,  lo(nando  as  po,i(,oes  M N,,J\<  A/,  ^\"  A/  ..,  ^'^  ^orie  que  ale 

,    ,o.k--.o   A"  A'"  o  prol.m-amenlo  JV/ A' W  do  raio,  e  depois  o  mesmo  raio  ;17yV,(0  >encon. 
tra  o  eixo.    Percebe-se  assiin  clarameiite  que  a  solu(,'ao  de  conlinuidade,   que   o  valor  de  / 

opioscnla  na  passagem  ded<|r  para  c/>-r,    ainda  corresponde  ao  movimento  conlinuo 

da  recla  A' AT,  a  roda  do  ponlo  Jl/.  _ 

7  A  doutrina  dos  numeros  l."  e  2.°  mostra  qual  c  a  condirao  necessaria  para  q„e 
ns  raio5  retlectidos  se  reunain  em  nm  so  ponlo  do  ci:;o  que  passa  pelo  ponlo  luminoso.  Mas 
para  tornar  mais  sensivel  geometricamenlo  em  que  consisle  esla  condirfio,  farcmos  as 
considera^oes  seguinles:  -      ,.        ,,  .•/-... 

Seiam  N  Aj\  (fig-  4)  o  corlc  crrlral  d  uma  por(;:io  d  espelho  espherico,  Co  centre  da 
eipliera  e  O  um  ponlo  luminoso,  collocado  na  dislancia  0^  =  d  da  exlreuiidade  do 
diametr'o  que  por  elle  passa.  E  sejam 

? 

as  eouacoes  do  circulo  NAN,   e  d'uma  ellipse  de  que  este  circulo  seja  osculador,   e  que 

Icnba  O  por  foco. 

fi  sabido  que  os  raios  luminosos  emiltidos  do  ponlo  O,  reflectindo-se  na  ellipse,  irfio 
rcunir-se  no  oulro  foco  F.  Ora  as  coiidigoes  de  ser  o  circulo  osculador,  c  de  ser  O  uin 
dos  focos,  dao  (Franc.  Malh.  pur.  n."  775  II) 

T=^—,    ^F  =  c=2w  — (?,  »n'=re'  +  (»n— c).' 
m 

Eliiiiinando  pois  can  enlre  estas  Ires  equagoes,  resulla 

»n  =  — T ,    donde  yf  jK=c  =  --- , 

que   concorda  com   a  formula   (3). 

.  Mas  se  dcsprezarmos  a:*,  isto  e' ,  se  considerarmos  a  pequena  por(,;io  de  curva  coui- 
mura  ao  circulo  e  a  ellipse,  que  se  osculam ,  a  equajao,  que  nesta  parte  pertenco  a  amhas 
as  curvas,  sera 

y'^  =.'2,rx: 

logo  ,  com  lanto  que  se  tome  so  uma  porfHo  de  suporficie  da  espliera  tHo  pequena  ,  que  se 
possa  considerar  como  perteocente  ao  ellipsoide  de  revolujao  osculador,  os  raios,  que  par- 
tem de  O,   reunir-se-bao  em  F. 

Se  05  raios  luminosos  forem    parallelos  ao  eixo,   isto  e,  se  o  ponlo    O  estiver  a  uma 

dislancia  infmila  de  A,  a  ellipse  lornar-se-lia  em  parabola,  e  c  reduzir-so-lia  a-r.  E  com 

effeito  o  que  deve  aconlecer;  porque  na  parabola  os  raios  parallelos  ao  eixo  reunem-se  no 
foco,  c  a  comparagao  de  ?/^  =  2ra:  com  y^  =p  x  da  p  =  -lc=2r,  e  por  conseguinte 
1 

8.  £m  quanlo  a  grandeza  das  imagens,  seja  PQP'  (fig.  5)  um  objecto  circular  con- 
centrico  ao  espelho  concavo  BAB':  a  imagem  sera  um  arco  pqp'  tambem  concentrico.  E 
cbamando  O  a  grandeza  do  objeclo  PQP',  e  I  a  da  imagem  J><]p'i  sera: 

o      ca     r—W 


267 

Se  tV>r  pqp'  o  objecta,  o  PQ,P>  a.  ioiagem  ,  leremos  ainda 

O       Cq       d  —  r      T  —  d' 
Porta/)[o,  em  quanto  fur  2rf>ra  imdgem  seril  inverlicia,  e  teretnos: 
/      f—r  r 


•'     8d  (2a!  — r)-" 


(5). 


ror  onde  se  ve  que,  desde  a  distancia  iiifinila  do  olyeclo  ale  amelade  do  semieixo,  a 
linagein  y,  foiinada  ])or  iim  espellio  concave,  eresce  quando  diminue  a  distancia  do  objeclo 
ao  espellio,   sondo:    iiifiiiitanieiue  pequena  para  d=  oo  ;    egual  ao  objeclo  para(Z  =  r;    e  in- 

finila  para  d=-r. 


Para  2  J  <r  a  Inoagetn  sera  direita|(fig.  6),  e  tereinos 


O       CU 


=  0. 


r  —  d       r  —  Qd'    Sd  '  {r—<idy" 


(6). 


Por  onde  se  ve  que  neste  caso  a  imagem  diminiie  quando  diminue  a  distancia,  sonde: 
iiifinita  para  c?=  -r;  e  igiial  no  objeclo  para  rf=:_  . 

-  oo 

iSos  espelhos  convexos  (fig.  |7)  a  imagem  e  direita,  e  temos 


Cq      r-f 


O      CQ      r  +  d      iid-^r'    id 


U  =  -0. 


Qr 


{^d  +  r)' 


,(7). 


I 


Por  onde  se  ve  que  nesles  espelhos  a  imagem  eresce  quando  diminue  a  distancia  ,  sendo  : 
nulla  para  d=.  oo  ;  e  egual  ao  objeclo  para  d=o. 

I).  Para  comparar  enlre  si  as  imagens  do  mesmo  objeclo,  collocado  a  mesma  distancia 
de  differonlos  espellios ,  diffeienciaremos  os  valores  de  1  dados  pelas  formulas  (5)  ,  (6)  ,  (7), 
em  ordera  a  r ;  o  que  dard  : 

Si  2  (/ 

^^"^""""'^  ('^ T7-=^-(M=^ 

Na  formula   (6) L.^_0.^j—-y^ 

Naformula  (7) ^=0..      f       ■;. 

^   '  Sr  {^d  +  r}' 

Logo,  noj  espelhos  concavos  as  imagens  crescem  quando  diminue  a  curvalura  do 
espelho  ,  no  caso  de  ser  a  di-lancia  maior  queametade  do  raio;  e  diminuera  com  acurvatura 
no  caso  de  ser  a  distancia  menor  que  amelade  do  raio:  nos  espelhos  convexos  scinpre  as 
imagens  crescem  quando  diminue  a  curvatura  do  espellio. 

10.  As-formulas  relativas  aos  espelhos  esphericos  tornam-se  nas  dos  espelhos  pianos, 
fazendo  nellas  r  =:  oo. 

Se  OS  espelhos  tiverem  outra  figura,  e  esta  for  conhecida  de  modo  que  se  possfm  tirar 
03  sens  planns  langenles,  applicar  se  h.io  as  leis  da  retlexao  nos  espelhos  pianos  aos  pianos 
que  locam  a  sup(>rficic  nos  ponlos  d'incidencia ,  e  que  se  confundem  com  ella  nas  visinhanjas 
d'esses  ponlos.  A  equai^ao  do  piano  tangenle  a  superficie  proposta,  combiiiada  com  as  Icis  da 
reflejifio  nas  superficies  planas  e  com  a  posicao  do  ponlo  luniiuoso,  u.ira  as  posi^oer  succc«- 
sivas  dos  raio?  refleciidos,  e  por  conseguinle  as  suas  intersec^ocs  consti.utivas. 


268 


OBSEUVACOES  METEOUOLOGICAS 

FEITAS  NO 

GABl.N'ETE   DE  PHYSICA 

DA  UMVEIISIDADE    DE  COIMCUA. 

Anno  lie 
1834 

Pressao  atmoK|>herica  ao  meio  dia 

Esrado  bygroniptrico  da 
atuiosphera  a0|mejuilitt 

"^     O 

Met  <\e 
Oiilubni 

HI 

t    o    a^ 
H  5  H 

Altiira  bnro- 
niftricaaO." 

Tcnffio  do    va- 
por aqtioso  con- 
tuio  no  av. 

Pressao  do  ar 
secco 

-3-3 

o  "s 

Quaol.d.nJc  Je  tj. 
por  3qao*o  cooliiio 
Km    Mm   metro  cu- 
lico  dc    ar. 

Dias 

"';'"'           MNl.melros 
ceiilii.'. 

Millimelrus 

Millinielros 

Grammas. 

1 

22 

753,349 

14,449 

7311,900 

0,7022 

14,15 

NO. 

2 

23 

752,841 

15,465 

737,376 

0,7516 

15,15 

s. 

3 

S4 

755,842 

13,591 

742,251 

0,7 

13,36 

NO. 

4 

21 

755,601 

14,466 

741,138 

0,7898 

14,26 

NO. 

5 

20 

753,918 

13,073 

740,845 

0,7551 

12,93 

N. 

6 

21 

746,552 

14,049 

732,503 

0,7670 

13,85 

N. 

7 

19 

740,667 

11,714 

728,953 

0,7192 

11.63 

S. 

8 

19 

745,982 

11,869 

743,113 

0,7287 

11,78 

s. 

9 

19 

754,243 

13,406 

740,837 

0,8231 

13,31 

so. 

10 

17 

757,374 

12,144 

745,230 

0,8394 

12,14 

s. 

11 

18 

759,783 

12  428 

747,355 

0,8095 

12,38 

o. 

12 

17 

756,096 

9,823 

746,273 

0,6790 

9,82 

E. 

13 

16 

756,219 

8,218 

748,001 

0,6030 

8,24 

E. 

14 

15 

756,343 

7,893 

748,449 

0,6149 

7,94, 

E. 

15 

16 

756,219 

8,421 

747,798 

0,6179 

8,45 

SO. 

16 

16 

756,269 

8,855 

747,414 

0  6497 

8,88 

SO. 

17 

17 

748,377 

11,639 

736,739 

0,8041 

11,63 

o. 

18 

15 

746,974 

9,006 

737,968 

0,7016 

9,06 

s. 

19 

li 

747,603 

9,103 

738,500 

0,7532 

9,19 

so. 

20 

14 

751,145 

8,989 

742,156 

0,7437 

9,03 

so. 

21 

14,5 

752,100 

8,425 

743,675 

0,6738 

81,80 

N. 

23 

15.5 

754,369 

11,086 

743,278 

0,8378 

11,14 

N. 

23 

16,5 

75i,a04 

12,371 

742,533 

0,8808 

12,39 

N. 

24 

18 

753,407 

13,028 

740,379 

0,S4ti6 

12,98 

so. 

25 

20 

750,667 

12,718 

737,849 

0,7340 

12,58 

o. 

26 

16 

757,439 

11,214 

746,275 

0,8228 

11,25 

N. 

27 

14 

754,812 

9,233 

735,579 

0,7639 

9,32 

N. 

28 

13 

753,112 

8,469 

749,643 

0,7444 

8,58 

N. 

29 

J  3,5 

736,527 

7,6'12 

748,845 

0,6518 

7,77 

S. 

30 

15 

755,087 

9,9o2 

745.125 

0,7761 

10,03 

SO, 

31 

15 

757,612 

10,218 

747,394 

0,7960 

10,28 

so. 

lio  mez  $ 

17,19 

753,757, 

0,7447 

N 

Teinperatiira 

Prosao  Hi 

mospherica 

Grdit  de  humidade  do  ar 

-3 

Maxima  absol.    .  .     23^ 

Maxima  absol. . 

759,783 

Maxima  absol 0,8806 

E 

....      740,667 

M 

El] 

Maxima   vari.irao    .     10° 

Maxima  excur; 

io  ..        19,116 

Maxima  variaijao 0,2776 

Coiu 

bra  1.°  de  Novembro  de  1854. 

O  Demonslrador  da  Faciildade  de 

Pbilosophia,  iitt 

noel  dot  Santoi  Pereira  Jardim. 

,{OJi>AL    St  IKiNTISK  O     K    J.ITTEIIA JIK). 


CONSELflU  SI  I'KRIOR  I)E  INSTRlCCACl 
PUBLICA. 


ilKHlORKl   ANM   U,. 


ISiS  — ISilt. 


Cfinliitiiad'*  de  jiu^'.    "iol . 

2.'  parti:. 

fiiiinician  priiiidiin. 

A  inslnicfao  priniaria  iia  sua  ;!Olii:ii  or- 
ganisacao,  comprcliciKh'  unia  pscliola  nnrnial 
om  Lisboa,  oscliolas  d'cn^ino  mudio  o  s'lnul- 
taneo  pagas  pclo  Esiadn;  pscholas  pagas  por 
corporarOes,  on  por  lega(lo>;  e  oscliolas  par- 
ticularcs. 

As  cscholas  uormaes,  psscs  \iveiios  oiidc 
sc  criam  os  eihicadorcs  p  nipstros  do  povo,  e 
que  tern  iiipiccido  das  napops,  oiidp  seria- 
meiite  sp  tuida  da  inslrncrao  piihlita,  o  mais 
desvolado  iiit<'rcssr,  sao  parliculaniipntp  piilrp 
DOS,  em  c'onspqiipncia  da  falla  de  ponlipci- 
mentos  pedagogicos,  os  estabplpcinipntos  dondn 
deve  sair  a  rpgpnpracao  do  onsiiio  priinario. 
quasi  gpralniPiilp  reduzido  aos  spus  primoiros 
e  infornies  rudimcntos. 

K  para  laniciilar  qiiP  as  iiecessidades  pu- 
blicas  tcnliam  ohiigado  o  governo  de  V.  M.  a 
limitar  por  era  estes  pstabolpcinipntos  a  uma 
so  pschola  na  capital  do  roino,  c  que  essa 
mesma,  nao  tendo  podido  atp  agora  func- 
tionar,  seja  urn  niotivo  para  constituir  o  con- 
sellio  na  nccessidade  de  por  raais  tempo 
ainda  admittir  temporariamente  ao  ensiiio, 
meslres  sem  as  liahililacocs  sudicipiites.  e 
que  apenas  poderiam  servir  em  escholas  de 
freguezia  ruracs  inferiores  as  do  l."  grau. 

A  pschola  normal  de  Lisboa,  cujo  regula- 
menlo  foi  publicado  pelo  governo  de  Y.  M. 
em  24  de  dezcmbro  de  1818,  tern  um  profes- 
sor nonieado  por  decreto  de  17  de  marco  de 
1848,  Francisco  Julio  Caldas  Aulete;  e  a- 
chando-se  concluido  o  edilicio,  juncto  a  casa 
pia  de  Belem,  como  V.  M.  se  dignou  com- 
municar  ao  conselho  superior,  em  portaria 
de  22  de  maio  de  1848,  nao  tem  depois  o 
Vol.  III.  Fevereuio  1 


coiiseliio  >abido  do  cslado  cm  que  .se  aclia 
aquella  pscbola,  ucm  dos  irabalhos  que  forani 
cominettidos  ao  sen  professor,  juuctamentc  com 
0  da  casa  pia,  Francisco  Anionio  de  Michel- 
lis;  e  nao  tendo  ainda  sido  resolvida  a  cou- 
sulla  do  1."  de  jullio  de  1848,  sohre  o  pro- 
jecto  do  regulamento  aprcsenlado  pelo  pro- 
fessor Aulete,  nao  pode  esto  conselho  dizer 
cousa  alguma  sobre  o  estado  d'esta  eschola. 
Ha  no  continente  e  llhas  1:109  escholas  de 
ensino  primario,  sendo  1:123  para  meninos, 
e  4(i  para  mcninas,  as  quaes  cstao  distribui- 
das  pelos  dilferentes  dislrictos  como  se  v6  no 
majipa. 

Nas  1:110  que  ha  no  continente,  segue-sc 
0  methodo  de  ensino  simultaneo  em  1:039,  e 
d'pstas  para  meninos,  estao  providas  vitalicia- 
menle  70"),  temporariamente  2ol,  vagas  e  a 
concurso  89,  e  rcservadas  11;  e  para  me- 
niiias,  estao  providas,  vilaliciamente  39,  c  2 
vagas  e  a  concurso.  Das  10,  para  meninos, 
em  que  e  spguido  o  methodo  d'ensino  mutuo, 
estao  12  providas  vitaliciamente,  1  a  con- 
curco  e  3  reservadas.  Dos  300  ma{ipas  das 
escholas  do  continente  cntrados  na  secretaria 
ate  esta  data  ve-se,  que  o  |numero  dos  a- 
lumnos,  que  no  ultimo  anno  lectivo  frequen- 
taram  as  escholas  a  que  se  referem,  sobe  a 
33:113,  bavendo  um  excesso  de  2:933  sobre 
0  numero  apurado  no  anno  precedente. 

Das  llhas,  d'ondc  faltam  a  maior  parte  dos 
relatorios  dos  commissarios  e  dos  mappas  dos 
profpssores,  apenas  consta,  que  as  28  cadeiras 
dos  dislrictos  de  Angra,  Funchal  e  Horta 
foram  frcquentadas  por  1:522  alumnos.  As 
escholas  em  exercicio  pagas  por  legados  sao 
no  continente  13,  e  acham-se  providas.  Por 
3  mappas  remettidos  consta  que  foram  frc- 
quentadas por  148  alumnos.  Nas  llhas  ha  28 
escholas  pagas  pelas  caniaras  municipaes;  3 
pagas  pelo  thesouro  e  junctas  de  paroehia,  e 
19  pelas  junctas  de  paroehia  e  confraria. 
Alumnos  2402. 

0  conselho  procura  ir  vencendo  a  resis- 
tencia,  que  sens  delegados  tem  enconlrado 
em  obrigar  os  profcssorcs  das  escholas  par- 
liculares  de  ensino  primario  a  habilitarem-se 
com  as  competentes  certidoes  de  capacidade, 
na  conformidade  do  que  determina  o  decreto 
de  20  de  septembro  de  1844.  No  anno  Cndo 
habilitaram-sc  legalmenle  11  individuos  do 
1853.  NcM.  21. 


270 


sexo  mnsciilino  c  2  do  fcniinino.  E  a  ppzar  de 
toilas  as  (iiligencias,  apeiias  sc  ohtivcram  I'.! 
inappas  dos  alumnos  que  fre(iucntaram  simi- 
IhaiUcs  aulas  era  numero  de  '.MO. 

E  pois  0  iiumcio  lolal  dos  alumnos,  que, 
segundo  os  mappas  rcccbidos,  frcquenlaram 
diirantt!  o  ultimo  anno  lertivo  as  escholas  do 
ensino  primario,  de  37:i)8o;  o  numero  poreni 
dos  individuos,  que  no  niesmo  anno  sc  ap- 
pliearam  a  esle  ramo  do  ensino,  podc  elevar- 
se  sem  exapgeiarao  a  70:000,  que  cm  relarao 
a  populaiao  actual,  coniputada  em  :};412:oOO, 
almas  da  cm  resultado  a  pioporcao  de  l:'iS7. 
A  rclacSo  do  numero  das  escholas  publicas 
para  o  das  frcguezias  em  todo  o  reiiio  esla 
na  proporrao  de  1:3,3. 

0  ensino  primario  acha-sc  actualmente 
conliado  a  1:183  professores,  contando  os 
ajudanles  das  escholas  de  ensino  niutuo,  e 
OS  substitulos  dos  professores  d'ensino  simul- 
laneo.  A  verba  volada  para  os  ordenados 
d'estcs  professores  no  conlinente  e  Ilhas,  a- 
balendo  os  impostos  da  lei  de  lOd'agosto  de 
1818  6  de  07:101^170  rs,  c  esta  despesa  cm 
relacao  a  37:i)8S  alumnos  das  escholas  cor- 
rcsponde  a  despesa  annual  de  2:S8S  por  cada 
alunino. 

E,  Senhora,  na  instruccao  primaria  princi- 
palmente  que  o  quadro  apresentado  a  V.  M. 
por  cste  conselho,  esta  bem  longe  de  ser  a- 
inda  tao  lisongeiro  coino  sc  dcseja,  e  como  o 
pcde  0  estado  actual  da  civilisacao. 

N'este  quadro  dejiara-se  logo  com  tres  ])0- 
dcrosos  olistacuios  ao  j)rogresso  e  propaga- 
cao  d'estc  pnnto  fundamental  de  tuda  a  in- 
struccao, esao:  a  insufliciencia  dcgrande  nu- 
mero de  professores,  o  diminuto  numero  de 
escholas  publicas,  e  a  ponca  afiluencia  de 
alumnos  a  muitas  deltas. 

A  insufiiciencia  dus  professores,  com  a 
•lual  em  parte  tem  sido  necessario  coudes- 
ccnder,  nao  pode  ser  remediada  radicalmentc, 
senao  pela  organisacao  das  escholas  norniaes; 
e  n'um  future  niais  proximo,  apcnas  poderao 
conceber-se  algumas  esperancas  mais  lison- 
geiras  a  este  respeito,  se,  melhorando  o  esia- 
do  do  thesouro  publico  a  ponto  de  vencer-se 
0  alraso  fatal  cm  que  se  acham  os  pagamen- 
tos  dos  .servidores  do  Estado,  pod6r  oll'ereccr- 
sfi  nma  [lerspectiva  melhor,  (jne  convide  aos 
concursos  para  as  cadciras  d'esia  parte  do 
ensino  o|)positores  mais  habilitados.  Da  rcia- 
cao,  em  que  esla  o  nnmero  das  escholas  com 
0  das  frcguezias,  deprebende-se  hem  que  cstc 
numero  nao  satisfaz  as  necessidades  do  Paiz. 
E  na  vcrdade,  sendo  a  parte  mais  elementar 
do  ensino  primario,  isto  e,  aquelta  parte  que 
se  limila  ao  ensino  dos  principios  moraes  e 
rcligiosos,  de  ler,  escrever,  c  contar,  uma  das 
necessidades  mais  geraes  abs  individuos  de 
todas  as  condicoes,  tanto  para  o  inleresse  do 
Estado,  como  para  o  .spxt  projnio,  em  quauto 
a  nao  virmos  propagada  por  todas  as  povoa- 


coes,  de  modo  que  ao  lado  de  cada  ogreja 
parochial  baja  sempre,  pelo  mcnos.  uma  es- 
chnla  d'esia  calcgoria,  poderemas  dizcr  que 
nos  falla  o  alicerce  mais  seguro  da  muralisa- 
cao  e  civilisacao  do  povo,  e  jjor  conseguinle 
0  fundaniento  de  quaesquer  melhoramentcs 
que  se  cmprchenderera  para  felicilar  a  na- 
cao 

Na  impossibilidade  em  que  se  acha  actual- 
mente 0  governo  de  V.  M.  de  augmcnlar  o 
nuHiero  das  escholas  com  os  recursos  do  the- 
souro, tem  0  conselho  a  salisfaccao  de  dizer 
a  V.  M.  (pie  mui'.o  se  poderia,  a  pezar  disso, 
fazer  n'este  sentido,  sc  as  aucloridadcs  admi- 
iiistrativas  e  os  commissaries  d'eslndos  imitas- 
seni  0  goNcrnador  civil  de  ISraganea  c  o 
commissario  d'estndos  d'Evora,  nos  nieios 
de  propagar  a  instruccao  por  elles  jii  ensaia- 
dos  com  successo.  0  governador  civil  de  Bra- 
ganca,  z(doso  pelo  progresso  da  instruccao 
po])ular,  dirigio-se  aos  sens  adoiinistradores 
e  iis  camaras  municipaes,  pedindo-liies  os  es- 
darecinientos  necessaries  para  se  reconhecer 
a  possihilidade  de  augmcntar  o  numero  das 
escholas  pelos  meios  apontados  no  art.  9. 
do  decreto  de  20  de  septembro  de  1844,  e 
instando  com  aqucllas  camaras,  com  as  jun- 
ctas  de  parochia  e  irmandades,  obteve  em  re- 
sultado do  sen  zelo,  que  se  creassem  3S 
cadciras,  sendo  dnas  pagas  pelas  camaras, 
4  pelas  jnnctas  de  parochia,  0  pelas  confra- 
rias,  e  23  regidas  gratuitanuMite  pelos  paro- 
cbos. 

0\ala  que  este  exempio  seja  seguido,  e  que 
todas  as  aucloridadcs  administralivas  e  os 
paracbos  lonicin  a  pcilo  fazer  reconhecer  aos 
povos  a  iniporiancia  da  instruccao,  porque 
reconbecida  esta  necessidade  acontccera  como 
no  districio  de  Braganca,  c  como  e.-lii  acon- 
teccudo  cm  ((nasi  todo  o  Reino  com  outra 
necessidade  que  caminha  a  par  da  jjrimeira, 
mas  lioje  geralmeutc  reconbecida,  e  (]ue  por 
isso  todos  se  emj)cnham  em  que  seja  satisl'eila, 
a  do  melhoramcnto  das  vi.is  de  communica- 
cao. 

Ovalil  que  haja  o  maior  cuidado  na  educa- 
cao  e  nas  habilitacoes  do  nosso  dero,  porque 
eiitao  OS  dignos  jiarocbos  do  dislricto  de  Bra- 
ganca tcrao  nuiilos  imiladores;  e  na  verdade 
ninguem  melhor  do  que  os  parochos  poderia 
nas  frequcncias  ruraes  mcuiuliir-se  do  ensino 
primario  clcmciilar;  elles  a  iiiiem  esla  in-- 
cnnihida  a  educacao  religiosa  do  povo,  acha- 
riam  na  parte  comidcuientar  do  ensino  das 
[irimciras  Iclras  uma  das  occupacues  mais  cm 
harmonia  com  o  sen  sagrado  minislerio,  nao. 
se  achando  felizmenle  no  nosso  paiz,  como- 
aconlecc  cm  quasi  todos  os  oulros,  embaraca- 
.dos  com  as  collisoes,  de  diversas  crencas: 
religiosas.  0  commissario  dos  cstudos  d'Evora 
com  0  seu  projeclo  de  associacocs  do  beucli- 
ccncia  dirigida  para  o  ensino  das  cla.sse* 
pobrcs,  que  ha  pouco  foi  por  V.  M.  njiprn- 


•^  5S 


271 


vado,  al/riu  um  outro  raniiulio,  pelo  (luul, 
sendo  di'vidanicnle  coadjuvado  polas  atictori- 
dados,  devo  tainlii'm  coiisegiiii-  o  augiiicnto  e 
jirojiagarao  da  iiislriK'<;ao  primaria.  N'aqucllo 
projccto  prcndc-so  o  i-eiilimciito  dc  Iniiiiaiii- 
dade  e  bencliceiu-ia  das  pussuas  priiiripaes  e 
infliicntes  com  os  lial)ilos  rcligiosos  dos  povos, 
I!  cunvida-se  o  clei'o,  v  princi|ialiiienl('  os  pa- 
rochos  a  toniar  [larte  acliva  iiesta  ohra  de 
caridadu  e  civilisaciio.  Com  taos  clciiicnlos 
lia  luolivo  para  espcrar  ([».>  esla  luiitativa 
jiroduzira  os  rosiiltados  quo  sou  auctor  Icvc 
(!m  vista,  e  que  segundo  jiarlicipa  no  seu 
relalorio  j.i  vo  oni  parle  coroados  no  concellio 
do  Alandroal,  aonde  o  adiiiinistiador  do  con- 
cellio, 0  paroclio  e  o  prol'essor  d'aquella  villa 
tern  tornado  muilo  a  peilo  promovcr  por  aqucl- 
Ic  nicio  0  auginenlo  da  inslruccao  primaria. 

A  poiica  allliioncia  dos  alumnos  a  algumas 
das  cscliolas  piiblicas  o  molivada  em  ])arle 
peio  estado  de  ignoraniia  cm  que  ainda  jaz 
grande  jioreau  da  I'amilia  porliigiieza,  e  cm 
parte  pela  miseria  das  classes  operarias. 

Para  veneer  a  primeira  causa,  intende  o 
consellio  que  os  melliores  raeios  sao  os  ja 
apontados  da  persuasao  e  do  exempio,  nao 
se  devendo  recorrer  aos  coercivos,  senao  de- 
pois  de  e\liauridos  os  primeiros.  Tambem  con- 
correra  para  este  fim,  c  conjunctamente  para 
desperlar  o  zeio  dos  mestres,  tornar  ellectivo 
0  disposto  no  arligo  2(J,  §.  unico  do  decreto 
dc  20  de  septemliro,  dando  a  graliticaciio  de 
10^000  rs.  aos  prolessores  que  no  espaco  de 
dois  aunos  dercm  promptos  nos  cxaraes  an- 
nuaes  o  uumero  de  discipulos  marcados  no 
mesmo  g. 

As  associacoes  de  benelicencia  remcdiarao, 
em  parte,  a  miseria  das  classes  operarias;  e 
para  que  a  iustruccao  dos  alumnos  saidos 
d'eslas  classes  po.-.sa  combinar-se  com  o  au- 
xilio  que  OS  seus  paes  d'elles  exigeni  nos  sens 
traballios,  c  principalmenic  no  servico  de  a- 
gricultura,  ja  o  conselho  providenciou  per- 
mittindo  que  algaus  prolessores  possam  esco- 
Iher  horas  d'aula  mais  accommodadas  a  cstas 
circumstancias. 

Alem  dos  obstaculos  mencionados,  tornava- 
se  iiotavel  a  falta  de  um  regulamento  geral 
das  escliolas  de  ensino  jirimario,  principal- 
niente  para  mcninos.  Porem  tendo  V.  M. 
achado  convenientc  remctter  ao  conselho  su- 
perior, com  a  portaria  de  i'j  d'agosto  ultimo, 
entre  oulros,  o  regulamento  sobre  este  objeclo 
que  0  conselho  lizera  subir  a  preseuca  de  Y. 
M.  em  consulta  de  24  de  Janeiro  de  1843,  a 
fim  de  viir  se  ueccessitava  de  algumas  raodiii- 
cacoes,  e  addicionamcntos  aconselhados  pela 
experiencia  do  tempo  decorrido  desde  a  sua 
organisacao,  ja  o  conselho  se  occupou,  como 
ua  jirimeira  parle  d'este  relatorio  lica  dicto, 
d'este  objeclo,  fazendo  sobre  elle  subir  nova 
consulta;  e  espera  que,  dignando-sc  Y.  M. 
resolver  o  que  julgar  mclhor  a  este  respello. 


cessani  a  falta  mencionada,  e  com  clla  a  ir- 
regularidade  lao  ]irejudicial  no  ensino  publico. 
Em  conclusao,  S(Mihora,  se  csta  parle  l5o 
esseiicial  da  inslruccao  esta  ainda  longe,  de 
adingir  ao  lermo  desejado,  e  innegavel  que 
n'ella  temos  f'eilo  progresses,  principalmcnlc 
so  a  compararmos  com  o  eslado  em  que  se 
achava  em  periodos  nao  muito  remotos.  Co- 
nliecidos  os  obstaculos  ([ue  amda  a  embara- 
cam  no  seu  desinvolvimcnto,  c  apontados 
alguns  remedios  para  vencel-os,  tem  o  conse- 
lho toda  a  conlianca  que  o  governo  de  Y.  M. 
lao  sollicito  pela  illustracao  e  prosperidadc 
publica,  dara  pelos  meios  que  a  sua  inlcl- 
ligencia  e  patriotismo  Ihe  hao-dc  suggerir  um 
impulso  forte  a  inslruccao  primaria,  contem- 
plando  a  sua  perfeita  organisacao  como  a 
primeira  necessidade  do  paiz,  e  de  ciija  sa- 
lisfaccao  scimenle  poderao  derivar-se  os  ele- 
nientos  rcgencradores  que  hao  de  erguer-nos 
do  nosso  estado  actual  de  proslracao  e  dc- 
cadcncia. 

Contim'ta. 


UELArOES  ENTRE  AS  ESCnOLAS  SCPERIOIIES 
DE  UESPA>UA  E  PORTIGAI.. 


Os  curiosos  da  nossa  hisloria  litteraria  es- 
la rao  lembrados  da  correspondencia  que  cm 
18:J2  se  principiou  a  entabojar  entre  a  nni- 
versidade  dc  Coimbra  c  a  central  de  Madrid ; 
por(iue  este  acontcciraenlo,  provocado  pelu 
zelo  d'um  dos  nossos  mais  dislinclos  profes- 
sores,  0  sr.  Yicente  Ferrer,  e  lao  importanle 
para  o  progrcsso  das  nossas  lelras,  que  mal 
se  desculparia  aquclle  que  o  ignorasse. 

Ila,  porem,  hoje,  quem,  nao  contenle  com 
isso,  quer  que  se  estabelecam  mais  eslreitas 
relacoes,  nao  so  entre  as  duas  universidades, 
senao  lambem  ienlrc  todas  as  de  Ilespanha  c 
as  escholas  superiores  de  Coimbra  e  Lisboa, 
formando  entre  ellas  uma  nniao  tal,  que  os 
estudos  comecados  n'umas  possam  nas  outras 
ser  conliuuados,  scm  differcnca  d'eschola  ou 
de  nacao. 

Este  peusamento,  apresentado  primeiro  nas 
cortes  dc  Uespanha  era  sessao  de  14  de 
dezembro  do  anno  passado  pcio  sr.  deputado 
Bertemati,  foi  logo  no  dia  seguinle  reprodu- 
zido  pcIo  Adelante,  jornal  politico  de  Madrid, 
c  com  tal  empenho,  que  nao  so  se  encarrega 
de  propagar  pela  sua  patria  esta  idea,  mas 
convida  a  imprensa  de  Coimbra  e  Lisboa  a 
que  aconsclhe  a  sua  adopcao  em  Portugal. 

0  Iiislilulo  nao  se  julgaria  comprehendido 
n'este  convite  geral,  se  o  nao  livesse  recebido 
parlicular  da  redaccao  do  Adelante,  porquc 


^)79. 


0  pcriodico  dc  Madrid,  r  antes  d'olle,  o  i-r. 
ItertciiuUi  coiisideraram  a  «nino  nniversidiiia 
siinplcsmt'iilc  conio  uni  do  olos.  inedios  dc 
lima  uiiuin  diiradcra  y  inovcchosa  para  ani- 
bos  piiehlos'i,  isto  e,  encararaui-ua  >ul)oi- 
dinada  a  iiraa  (lueslao  p«lilua  (pie  pode  dar 
materia  para  imii  clociueiites  discursos,  mas 
que  nao  pode  ter  cabida  ii'um  joniai  exclu- 
sivaraciite  littorario,  como  este. 

Julgando,  porem  do  nos<o  dever  dar  satis- 
faccSo  ao  coinitc  do  Adelauie,  sem  faltarmos 
as  iiossas  obrigacOcs  dc  joriialistas  iittcrarios, 
dosviarcmos  uiii  pouco  a  qucslao  do  camiiilio 
per  que  a  ievam  os  nossos  viziniios,  para  u 
campo  sciontitico  em  que  so  iios  compete 
disculil-a.  N'este  campo  os  principios  da  pu- 
blica  adininistracao,  c  as  bases  em  ([iic  as- 
scnta  0  iiosso  systema  de  inslruccao  pui)lica, 
conduzem-nos  a  um  rcsultado  diverso  d  acpiel- 
le  a  que  chegou  o  Adelaiite,  parliudo  de  dil- 
lercnte  ponlo,  e  por  oulro  camiuho. 

Apaixonados  pela  liberdade  d'ensino,  im- 
plieitamenle  sanccionada  no  g  i'i  do  art.  I'lii 
da  carta  const.,  desinvolvida  uo  decreto  de  *'J 
niarco  de  1S32,  e  ratilicada  nos  decretos  da  rc- 
t'ormacao  litteraria  de  183C  e  no  de  18ii, 
julgamos  com  tudo  que  o  Estado  nao  pode, 
ncm  deve  deixar  de  exercer  os  sous  dircitos 
de  inspeccao  sobrc  o  exercicio  do  magisterio 
particular  c  livrc,  porquc  assim  como  o  Esta- 
do por  um  |)rincipio  sanitario  deve  probiiiir 
a  venda  de  vencnos  a  pessoas  que  nao  deem 
garantias  do  bom  uso  d'esta  faculdade,  cum- 
prindo-lbe  liscalisar  muilu  de  perto  o  uso  (pie 
d'ella  lazcm  as  pessoas  a  quiMu  e  concedida, 
assim  dove  vigiar  que  os  prolessores  nao  usem 
mal  da  palavra,  que  tanto  pode  ser  um  re- 
mcdio  como  um  veneno,  e  deve  acautelar 
(|uc  nao  abuseni  da  credulidade  publica,  iii- 
culcando-se  por  grandes  medicos  sem  pas- 
sarem  de  rudes  cliarlataes.  Este  prineipio  da 
in.speccao  do  Estado  no  ensino  livrc  acha-se 
estabelecido  nos  art.  83  e  seguintes  do  uosso 
decreto  de  H)  de  septembro  de  184i;  rcce- 
beu-o  a  Franca  na  coustiluicao  de  18i8  '  e 
depois  d'ella  a  Inglaterra  '■ :  "do  maneira  que 
nos  accusados  de  andarmos  a  tras  de  todas 
as  nacoes;  ie],.cheiididos  de  indolentes  no 
promover  a  instruccao  primaria,  porque  em 
vintc  annos  nao  livres  de  agitacOes  politicas, 
nao   coiiseguimos   derramar   a    luz   por   tres 

Ma  I.-i  franceza  dc  29  frimaire  anno  II.,  e  na  constit. 
ilo  anno  III  achavam-se  combinailas  a  liberdade  de  ensino 
com  a  fiscalisai;ao  da  aucloridade,  mas  nao  chegaram  a 
eiecutar-se.  A  carla  dc  1830  proclamava  em  termos  abso- 
lutes a  liberdade  d'ensino,  mas  o  governo  notando  a  lucla 
enire  o  clero  e  a  universidade  de  Fran(;a,  que  se  disputa- 
vara  a  inlluencia  no  ensino,  nao  pflde  nunca  lograr  que  se 
fizessera  as  leis  organicas  para  levar  por  dianle  aquella  pro- 
Tidencia.  A  conslit.  de  1848  eatabelecendo  os  verdadeiros 
prmcipios  teve  e.xecu9ao  desde  a  lei  de  15  de  marc;o  1850, 
que  e  a  data  de  que  devemos  comerar  a  contar  cm  Kran^a 
a  liberdade  d'ensino  e  a  inspeccao  do  governo. 

V.  0  numero  antcccdente  do  liistiluto  pag.  260. 


milboes  e  meio  do  babitanles  acoslumado^ 
as  trevas,  c  aflei^-oados  a  escuridao;  devemos 
todavia  lisongear-nos  de  bavermos,  n'este 
ramo  de  administracao  publica,  tornado  a 
dianteira  as  nacoes  mais  cullas'. 

Seiulo  jiois  a  inspeccao  no  nicio  da  liber- 
dade 0  modo  de  conciliar  os  interessps  das 
I'amilias  com  os  dircitos  e  deveres  do  Estado,  e 
nao  podendo  ella  cxercer-se  em  terrilorio 
alheio,  a  regra  e  (|ue  nfio  se  deve  dar  a  fre- 
quencia  d'aiilas  exirangeiras  o  mesmo  valor 
(pie  a  diis  nacioiiaes. 

E'^la  regra  toriia-se  rigorosa  a  respeiio  da 
iiislnic(;a(i  superior.  .Vs  oscbolas  superiores 
publicas  sao  iuslilutos  polilicns,  ipie  liabili- 
lam  OS  (|ue  as  rre(|uentani  para  o  exercicio 
ilos  cargos  piiblicos.  Estas  escbolas  esiao  sub- 
jcitas  nao  someiite  a  iiispec('ao,  mas  a  direc- 
cao  do  Estado;  este  (■  ([iiem  ediica  as  pessoas 
(pie  devcm  occupar-se  da  governacao  d'esin 
graiido  familia,  a  que  cbamam  na('ao.  Assim 
e  entre  nos.  Temos  os  exames  preparatorios 
determinados  pcio  Estado,  a  edade  para  o 
princijiio  dos  cursos  superiores  determinada 
pelo  Estado,  a  distribuicao  das  disciplinas 
pelas  cadciras,  e  um  piano  d'estudos  igual- 
mentc  determinados  pelo  Estado. 

Nao  se  nos  csconde  que  este  prineipio  t- 
muito  combalido  por  uiuitos  sabios  da  Al- 
lemanlia.  yuaiido  a  cainara  ]iopulnr  de  Bade 
manil'estou  mui  decididas  tendencias  para 
estabelecer  um  piano  obrigatorio  d'estudos 
superiores,  tendencias  ipie  Savigiiy  qualific.i- 
ra  "d'lima  conspiracan  systematica  contra  a 
liberdade  docenle  e  discente,"  appareceu  a 
rebatel-as  uma  inlinidade  dc  escriptos,  cla- 
borados  na  maior  parte  por  professores.  Os 
de  Savigny,  de  Midd,  de  Scbleiermacher, 
iliierscb,  .Mayendorrs  e  outros  pretendem  a 
mais  completa  liberdade:  ([uerem  ([ue  cada 
(|ual  siga  o  metbodo  e  systema  que  melhor 
lliesparecer  nos  seus  estudos;  que  priiicipiem 
n'lima  universidade  oii  em  particular  e  acabeni 
n'outra  como  Hies  aprouver.  Fundam-se  em 
que  0  contrario  seria  toHier  a  instruccao 
universal,  e  limilar  a  liberdade  pessoal.  Re- 
cusam-se  a  considerar  as  universidudes  como 
eslabelecimcntos  politicos,  e  dizeni  (pie  para 
OS  eiupregos  nao  se  deveni  prelerir  os  que 
teem  segiiido  um  dado  systema  d'estudos  aos 
que  possucni  a  verdadeira  sciencia. 

Estcs  argumentos  nao  atacani  a  iiossa  dou- 
Irina.  Nos  nao  impedimos  a  instruccao.  nem 
reslringimos  a  liberdade.  Cada  qual  que.  se 
contentar  com  ser  um  sabio,  pode  estudar- 
particularmente,  ou  nas  nossas  escholas  su- 
stentadas  pelo  Estado:  nao  sao  ellas  publi- 
cas'? Podem,  pois,  ouvir  os  professores,  tomar 
apontamentos,  consultar  as  bibliothecas.  Mas 
que  certos  emjiregos  sejam  providos  cm  qncra 
nao  tiver  certas  babililafoes  previamentc  de- 

'   V.  anot.  i.» 


273 


signadas  na  lei,  (■  inadmissivd;  e  iim  principio 
conJc'iiinado  jii'la  expericiicia.  Nos  tcstemu- 
nlias  do  tantas  agitarOcs  proniovidas  por  iinia 
niultidao  d'aspirantcs  anslogaros  piil)licns.  nos 
victimas  do  pcssimo  despmpenho  d'enipregados 
anal|dial)Otos,  nos  que  elamamos  contra  a  in- 
stiluicao  dos  jiiizcs  ordinaries  que  devoni  ap- 
plicar  a  iri  sem  terem  a  ohrigafao  de  a  sai)or. 
nao  |)ndemos  roniprehcnder  como  se  suhslitua 
0  arltitrio  do  jiodor  cxcciitivo  as  presunipioes 
legaes  de  capacidade  attestada  por  uma  esclio- 
la  de])ois  d'um  curso  regular.  Nao  podemos, 
pois,  deixar  de  considerar  as  csrholas  supe- 
riores,  como  inslitutos  politieos  subjeitos  a 
vigilaneia  e  direceao  do  eslado.  E  como  esta 
vigilancia  nao  pode  transpor  as  fronteiras, 
como  esta  direceao  nao  pode  permiltir-se  em 
aiiieio  lerritorio,  segue-sc  que  a  uniao  entre 
as  escliolas  de  diversos  paizes  e  contraria  aos 
principios  administrativos,  c  sobre  tiido  a 
todo  0  nosso  systcma  dc  instruccao  superior. 

E  (OS  sabios  nao  tern  naeao»  disse  um  jor- 
nal  d'csla  cidade,  adberindo  a  idea  da  uniao 
uni\ersitaria  proposta  pelo  Adelantc.  E  ver- 
dade;  mas  as  bai)ilitaeoes  para  as  funcfoes 
publicas  teem  uma  regra ;  essas  teem  nacao, 
assim  como  os  enipregos  para  que  cllas  sao 
preiiiuinares. 

Aiem  d'esla  razao,  ha  outras  deduzidas 
tambem  das  relacoes  entre  as  nossas  escbo- 
las,  para  as  quaes  nao  existc  essa  uniao  que 
0  Adehinte  quer  ampiiar  as  universidades  da 
Peninsula;  sendo  para  nolar  que  esse  jornal 
I'allasse  nas  escliolas  de  Lisboa,  como  equipa- 
radas  a  universidadc  dc  Coinibra,  c  nao  I'al- 
lasse nas  escliolas  do  Porto,  que  sao  realmen- 
te  equijKiradas  as  de  Lisboa.  Nao  admira  (pie 
0  Adehinte  nao  livesse  conbeciiiiento  do  nosso 
systenia  de  instruccao  publica,  jiorque  mesmo 
entre  nos  esle  conliecimenlo  uiio  c  vulgar, 
nem  facil  de  adquirir  por  causa  do  cstado 
confuso  em  que  sc  acba  toda  a  nossa  legis- 
lacao. 

Eis  0  que  pensamos  n'osta  materia.  Nao  se 
pode  dizer  que  nao  coueordamos  com  o  nos- 
so collega  de  Madrid,  porque  cada  um  de 
nos  se  coUocou  eiu  diverse  campo.  Mas  o 
resultado,  a  que  cliegamos,  parcce-nos  o  unico 
conforme  aos  principios. 


A  INSTRUCCAO  PRIMARIA  NO  DISTRICTO 
DO  FLNCUAL 

A  falta  dc  inspeccao  nas  cscholas  prima- 
rias  6  o  defeilo  que  mais  imputam  ao  syste- 
ma  da  nossa  instruccao  publica;  mas  esse 
defeito  nao  provem  da  lei,  ([uanto  a  inspec- 
cao que  ella  estabeleceu,  provem  principalmen- 
le  de  serem  tao  mal  rclribuidos  os  logares  dc 


comniissarios  dc  esludos,  —  on  nao  lia  i\w\\\ 
OS  queira  servir,  ou  os  que  os  acceitam,  salvas 
algumas  lionrosas  excepcOes,  limitain-se  ape- 
nas  ao  mero  expediente  dos  exames,  a  ([ue 
teem  de  presidir  por  ordem  do  conselbo  su- 
perior, sem  curarcm  do  cvitar  e  inspeccio- 
nar  as  escliolas  dos  sens  districtos,  dc  pro- 
mover  a  associacfio  dos  professores  disperses 
pelas  povoacees  ruraes,  um  des  meios  mais 
elTicazes,  e  mais  utilmente  practicades  era  Al- 
lemanba,  de  aperfeieoar  o  ensino,  corrigir 
OS  abuses  des  dilTerentes  melbodos,  e  excilar 
entre  os  individuos  dcsta  classe  o  amor  do 
cstudo,  e  0  intcresse  pelos  melhoramentos 
deste  importantissime  ramo  da  instruccao  pu- 
blica. Finalmentc  os  commissaries  dc  estudos 
nem  Iractara  de  esclarecer  e  admoeslar  os  pro- 
fessores para  o  bom  dcscmpenbo  dos  deveres 
do  seu  magisterio,  e  d'aqui  provem  e  lamen- 
tavel  abaiidone  de  nuiitas  das  nossas  cscho- 
las, e  desleixo  e  negligencia  des  professores, 
c  a  pouca,  ou  neuliuma  censideracae  de  que 
pcia  raaior  jiarte  gosam,  quando  tiio  esiimados 
e  respei lades  deviam  ser. 

0  defeito,  por  tanlo,  repetimol-o,  nao  esta 
no  systema,  mas  nas  pessoas,  e  nestas  prin- 
cipalmentc  pelos  poucos  estimules,  e  mais  que 
mesquinba  remuneracae,  que  por  tal  servico 
Ihe  e  concedida.  Nao  entendemos  que  devam 
estabelecer-se  grosses  ordenados  aes  comniis- 
sarios de  estudos,  mas  sim  que  tenham  e  suf- 
licientc  para  sem  outros  cargos,  poderera  mais 
dctidamentc  occupar-se  dos  deveres  do  seu 
eHicie,  que  muitos  e  mui  importantes  sao  dies. 

Em  abono  de  systema  dc  iuspeccao  das 
nossas  cscholas,  estahelecido  na  legislacao 
actual,  fallam  hem  alto  os  distinctos  e  rele- 
vantes  services  d'alguns  d'esses  comniissarios, 
cm  quem  o  inlercsse  das  Ictras,  e  amor  da 
solida  instruccao,  c  da  boa  educacae  moral  e 
religiosa,  e  o  zelo  c  dcdicacae  por  cste  ramo 
da  administracao  publica,  podem  mais  que 
outras  nicscpiinhas  consideracues  de  pessoal 
convenicncia. 

Destas  raras  e  distinctas  qualidades  no 
desempenho  de  tao  laheriesas  fuuccOes,  po- 
demos aprcsentar  como  modelo,  sem  elTcnsa 
de  outros  earacteres  respeitaveis,  o  diguissimo 
commissarie  des  estudos  no  districto  de  Fun- 
chal,  0  sr.  Marcelliane  Ribeiro  dc  Mendonea. 

Eutrando  no  exercicio  dcste  cargo,  um  dos 
sens  primeiros  e  mais  louvaveis  cmpcnhos  foi 
0  cstabelccinienlo  de  uma  associacao  dc  pro- 
fessores'ique  pausadamente  estude  e  aprecie 
em  cenfcreiicias  regulares  os  diversos  methodos 
d'cnsino;  defeitos  ou  vanlagens,  que  tenha 
cada  um;  rcferma  eu  mclhoramenlo  que  re- 
clame) 

Para  este  Iim  e  sr.  Mendonea  ordenou  um 
projecto  de  regulamento  de  uma — associacao 
de  coitfercncius  sobre  o  ensino  primario — ao 
qual  cenvjdou  a  suhscreverem  todos  os  mestres 
do    seu   districto    n'uma   circular,   que    Ihes 


274 


dirigiu,  clioia  dii  mui  jmiit'iosasc  hem  cscriptas 
pondtTa^^oes  sohre  a  vanlagem  e  ncccssidadc 
de  unia  tal  associacao  ' . 

Por  oulra  circular  o  commissario  dos  Cistudos 
do  Fuachal  reconiniendava  aos  respcctivos  pro- 
fessorcs  o  cxaclo  cumprinicnto  do  regulamcn- 
lo  de  20  de  septeniltro  do  INjO,  (iiiaiito  a 
obrigacao  do  ensiuo  rcligioso  (|uc  uas  uschokis 
d'aquclie  districto  so  aciiava  no  uiaior  c  mais 
cscaudaloso  abaudono. 


O  pnsino  religioso,  dizia  o  illustrc  comuiissario.  e  a  cul 
tura  do  iiui  inhtinclu  lia  htimuiiidade  — t:1u  real  coiiio  qual 
ijuer  Dtitrii  — I'  o  innis  iui|mrlanle  de  ti>dii!>.  Se  t*iii  tudos  os 
Ifinpos  trni  sido  uma  precisao  dajiivcntude  aciilliirad'c^le 
instincto,  hoje  i.^  ella,  mais  que  minca.  de  absuluta  indis- 
peDsahilidade. 

Bern  sabe  V.  quiio  puucos  jjaes  e  niaes,  nos  tempos  cm 
que  vivemos,  podem  r  tpierem  (omar  subre  si  a  inslriic- 
<;ao  religiosa  df  sons  fiUios.  Essa,  deixam-na  quasi  por  in- 
tPiro  acargo  do  profesj^or  do  ensiiio  primario.  Ora,  se  este 
OS  nao  ensina  a  respeitarem  a  reli^iao,  como  nao  haja  no 
lyccu  cadeira  atg^iima  que  llies  de  tal  eiisino,  elles  stirau 
da  escliula  para  o  lyccu,  do  Itoeu  para  a  socicdade  na  mais 
crassa  ignurancia  das  ^erdades  que  dizem  resjieito  a  Deos, 
a  fe,  e  as  cousas  da  outra  vida.  A  qnanlo?:  periiros  os  nao 
expora  no  mundo  lao  funesta  iijnorancia!  Que  esperanra 
poden'i  alental-us  em  meio  dos  trabaitios  da  vida!  Que 
podera  esperar  do  taes  liomens  a  socicdade  !  .  .  . 

Bern  sei  (pie  philoso]ilios  de  certa  eschola  pretendeni" 
queoensino  reiigioso  deve  scr  pura  e  exclusivaaltribuit^ao 
do  clero."  —  Nao  creia  em  tal,  sr.  Professor.  Bern  longe 
de  assentir  a  uma  doulriua  que  esla  cm  manifesta  opposi- 
^ao  com  a  lei,  fa^a  po^capacita^-^e  de  (jue  em  nossos  costu- 
mes presentes,  no  estado  actual  de  nossas  inslilui^oes  ha 
considera^oesespcciacs  desobra,  que  requerem  na  eschola 
uni  ensino  reliijioso  mais  succulento  e  profundo  tpie  nunca. 

Quanto  mais  livres  furem  as  institiii^oes  de  um  povo,  e 
quanto  mais  adianlada  a  civili-^at^ao  que  as  tenha  prodiizi- 
do,  tantomais  puros  reclamam  ellas  os  costumes;  eos  costu- 
mes SI)  sao  puriis  quando  teem  por  alicerce  fortes  convicf^oes 
religiosas.  Ora  con\'ic(;(jes  d'eslas  sao  effeito — on  de  unia 
fe  espontanea,  ing:euua,  primitiva,  que  ja  hoje  e  mui  rara, 
—  ou  de  uma  iustrucijao  conscienciosa  e  completa.  —  O 
cspirito  do  seculo  apoiita  com  itreferencia  para  esta  seguu- 
da  fonte. 

E  se,  p'tr  uutro  lado,  elle  tern — para  assim  dizer  — 
^lepurado  a  fe  em  nossa  uatiireza  immortal,  esseacialmente 
moral  e  religiosa;  se  conhece  ([ue  na  humanidade  ha  um 
senlimento  poderoso,  vivacissimo,  o  mais  sublime  de  todos, 
que  »'  o  scntimenio  religiose;  porq\ie  motivo  lia  de  a  S'>pie- 
dadedeixar  sem  cultura  este  sentimenlo  ?  Porque  nao  hride 
amparal-o,  prolegel-o,  Irazel-o  quanto  antes  ao  estado  de 
florescencia  e  fructifica<;ao?  Porque  nao  hade  tirar  d'elle 
todas  as  vanLagens  que  contem,  assim  para  o  indiA  iduo 
como  para  o  estado,  nesta  como  na  otitra  vida? 

A  ediica^ao  da  e^reja  por  si  so  nao  piide  fazer  tal.  O 
mmistro  do  allar  falla  em  nome  da  fi' ;  o  instituidor  pubb- 
co,  cm  nome  da  razau.  Ora  as  condi(;5es  da  vida  presente 
sao  taes,  que  so  em  mune  da  razao  e  (jue  o  espirito  hade 
curvar-se  e  prestar  ouvidos  as  palavras  da  fe.  Por  isso  diz 
MnL^deSlael  —  «Ninguera  d'oravanle  podera  remo^ar  a 
ura^a  humaiia,  senao  fazendo-a  turnar  u  religlao  pela  phi- 
ulusuphia,  oao  senlimento  pela  razau.^ 

A  par  do  ensino  religioso  o  sr.  Ribeiro  de 
Mendonca  reconuuendava  n'outra  circular  o 
ensino  moral,  expondo  aos  professores  a  ri- 
gorosa  olirigacao,  que  tcm,  de  auctorizar  esle 
eusino  pelo  nieio  dirccto,  que  e  o  preceito^  e 
peio  indirecto,  que  e  o  eiemplo. 

*  Veja-se  o  Semnnario  oJjtHal  do  Funchal,  n."  23  de  7 
de  outubro  de  1854. 


<)  horaem.  diz  o  tHll^l^e  commissario,  e  ura  ^er  social  e 
perfectivt'l.  Como  si-r  social  precisa  p6r-sc  em  harmonia 
de  ideas,  de  sentimenlos,  ilcacivies  com  sens  semelhantos, 
morniente  com  atpielles  qui' tenha  mui?- ao  pi';des:,  e  (|ue 
;;oziMn  asiMis  olho»  de  maior  auctoridade,  Cumo  ser  perfec- 
tive!, e  de  conliniit:  propellido  pur  um  muviuiento  secreto 
para  e^'ualar  qiianlo  (■■.leja  acima  d'elh',  para  rivalisar  com 
faculiladeseforeas  cpu'  Ihe  parei^am  snperioros  assuas,  uma 
vezijue  nansejainsupperavel  adistancia  (luea-fsepara.  Esta 
dn|)lirada  teudciicia  e  direccjao  de  nossa  nalureza  e  a  (jue 
sc  manifesta  em  nos  pelo  instincto  da  iinitarao. 

A  auctoridade,  islo<',  anctoridadr  mnrul {i\uv  e  a  deque 
acpii  se  Iracta)  e  a  preponderancia  (|ue  talvez  tem  em  nos- 
sas resolu^Hespeisoa  que  leidiamos  em  conla  de  malsnvnn- 
tajada  ([ue  nds,  em  j»rudencia,  probidade,  e  bcnevolencia 
para  coninosco  —  iJJiiraiite  os  primeiros  annus  da  \ida,'t 
■uiiz  Reid,.4a  auctoridade  i'  o  nosso  unico  director:  e  bom 
lit-  (pie  assim  seja.  A  nao  ser  esta  dis]iosi(;;"!o  natural  que 
'Uios  faz  crer  implicilamente  em  ludi)  (luantu  nos  diL'am  a^ 
iipessoas  com  quem  convivenios,  seriamos  absolutamente 
'tiucapazes  de  ensino,  e  aperfei<;oamenlo  ulterior, '> 

Ja  d'aqui  se  \^  como  se  prendeni  e  I';ram  enlre  si  as  con- 
di(;ries  da  effieacia  do  e\tMU|  lo,  cnn^-iiierado  como  mi*io  de 
educa^ao  moral.  A  aueloi  idade  accorda  o  des»?jo  de  aper- 
fei(;oam<'nh»  individual ;  o  instinclode  imllaijrio  reali^a  esle 
desejo:  nem  o  instincto  scm  a  auctoriilade  poderia  dcsin* 
volver-se,  nem  esta  sem  o  iiislincto  cdificar. 

Eis  aqui  como  o  digno  commissario  dos 
esludos  no  Funchal  tem  sahido  comprehcndcr 
beni  a  sna  missjio,  aconscliiamlo  e  dirigindo 
OS  professores  cm  todos  os  objeclos  de  que 
mais  parlicularmente  depende  o  aproveila- 
uhmUo  dos  alumuos,  o  a[)crfcicoamento  do 
ensino,  e  o  credito  das  escholas. 

N'outros  poutos  discipliuares  o  sr.  Ribeiro 
de  Mendonca  tem  entendido  com  egual  zclo 
e  diligencia.  0  regulamento  da  secretaria  do 
commissariado  dos  estudos,  as  circularcs  diri- 
gidas  aos  professores,  exigindo-lbes  o  cumpri- 
mento  das  diversas  obrigacocs  (^ue  liies  sao 
impostas  pclos  regulamentos,  e  que  nunca 
linham  sido  ievadas  a  practica,  e  as  providen- 
cias  sobre  livros,  mohilia,  c  mais  objectos, 
que  nas  escholas  bem  policiadas  se  requerem, 
sao  um  testemunho  claro  da  superior  intel- 
ligencia  e  dedicacao  d'aquelle  bcneuierito  com- 
missario. e  abonam  o  actual  systenia  de  in- 
speccao,  quando  conliado  a  maos  habeis  e  sin- 
ceramente  dedicadas  pela  causa  do  ensino 
publico,  e  da  educa^ao  nacional. 

X. 


FRXGMENTO. 

DA  TRADUrrXo  DO  IV  LIVRO   DA  ENEIDA 

POR 

Monoel  Matthias  Vieiva  Fialho  dc  Mendoncci' 

Oh  Ceiis!  mentiram 

De  lonffGs  dias  esperan^as  fautta=, 
E  dura^&o  de  ilor  ttdlieu  mil  friictos! 

BOCAGE. 

Pareceu-nos  que  fariamos  bom  service  d  lit- 
teratura  nacional,  c  sati^fariamos  os  desejos 


275 


(le  rauitos  dos  scus  amaJores,  reimprimindo 
no  nosso  jornal  cslc  fragnioiilo  do  uma  tra- 
duccao  da  opopea  do  Yirgilio,  a  qiial,  se  fosse 
levada  ao  cabo,  scria  per  Ventura,  pcia  sua 
(idelidade  jioelicn,  pfcla  sua  concisao  quasi 
laliua,  e  pela  harmoiiia  nao  iiUiMronipida  dos 
scus  versus,  a  prinieira  cm  merecimenio  dc 
quantas  se  teem  publicado  nao  so  entre  nos, 
mas  ainda  nas  liiiguas  cstraiilias. 

Foi  uo  auuo  do  l.SH  c  uo  niui  accrcditado 
jornal  poituguez,  iniprcsso  cm  Londrcs,  o  In- 
vesliijudor,  que  viu  a  luz  publica  csta  exccl- 
lente  produccao  (loctica.  Mas  na  passagom  ra- 
pida  e  iniprcvista  dos  grandes  aconlccimcntos 
de  nossos  dias,  1S14  e  para  nos  como  que  a 
data  de  um  seculo  renioto;  c  o  Invexli/jiulor, 
sumido  noprimeiro  alvoreecr  da  nossa  cpoclia 
jornalislica,  poucos  haveia  lioje  que  o  conhe- 
cam.  Assim  esla  rcinipressao  no  tempo  pre- 
scnte  pode  reputar-se  uma  publicajao  verda- 
dciiamente  nova. 

Na  introduccao  que  no  Iiioestigador  prece- 
dia  este  fragmento,  e  que  cm  scguida  vae 
Iranscripta,  da-se  uma  noticia  biographica  do 
seu  auctor.  Scja  porem  permitlido  a  raao  da 
amizade  iiel  o  accrcscentar  algumas  linhas  a 
lao  intcressante  noticia. 

ManocI  Mattiiias  deixou  por  sua  morle, 
ainda  em  teura  edade,  um  lilho  unico  do 
mesmo  nome,  sobre  o  qua!  se  lixarani  todos 
OS  cuidados  da  mais  assidua  educacao  por 
parte  da  sua  magoada  mac,  senbora  icspeila- 
v«;l  c  bem  conbecida  nesta  cidade  de  Coim- 
bra,  0  cujos  talentos,  nao  vulgares  no  scu 
sexo,  sac  apcnas  excedidos  pela  sua  muita 
piedade  o  virtudcs.  Abencoou  Deus  os  desve- 
los  maternos,  fruclilicando-os  no  filbo  com 
^entimeutos  nunca  desmentidos  de  solida  e 
fervcnte  rcligiao,  com  extremos  de  amor  filial, 
p  com  rapido  e  brilhanle  adiantamento  nos 
.estudos  a  que  se  dcdieou.  Manoel  Matthias 
Yieira,  bibo,  cursou  a  faculdade  de  mathema- 
tica  dcsta  universidade,  na  qual  se  formou  e 
loi  repeteute,  tornando-se  uella  distincto  pe- 
lo  seu  procedcr  e  pclos  seus  talentos,  sendo 
premiado  cm  todos  os  annos.  Foi  tambem 
um  estudaute  distincto  na  faculdade  de  philo- 
sophia. 

Um  novo  golpe  estava  porem  reservado 
ainda  para  retalhar  o  coracao  da  pobre  mae. 
0  lilho  unico  morreu  no  dia  29  d'abril  de 
1834,  aos  25  annos  d'edade!  Jaz  na  capella 
do  exlinclo  collegio  de  Sancta  Rita  desta  ci- 
dade. 

Na  dupla  »iuvez  de  um  lal  esposo  e  de  urn 
tal  blbo,  qual  seria  a  dor  da  viuva  fiel  c  da 
mSe  extreraosa?!  Repetiremos  aqui  o  que  Ihe 
diziamos  n'um  anniversario  da  morte  do  lilho: 

A.  dor  que  o  coracao  hoje  te  punge, 
Qiicm  pode  avalial-a? — Tem  mysterios 

Ai)S  coracocs  de  mae  so  revelados 

Niio  ha  na  terra  balssjuo  que  a  adoce; 


Deus,  Deus  somente  confortar-te  pode: 


Gralo  ascinzas  do  aniigo,  tristes  lagrimas 
IJoje  lis  tuas  uni;  e  orei  por  ellc! 
F. 


INTRODUCClO. 

«Na  minha  opiniao,  diz  Mad.  de  Stael  na 
sua  bella  obra  da  Allcmanba,  failando  dc 
Klopstock,  todos  OS  homens  cumpririam  di- 
gnamcnte  com  os  deveres  da  vida,  se  cm 
(]uul(!uer  goncro  que  fosse,  procurasscm  as- 
sigiialar  a  sua  passagem  sobrc  a  terra  pela 
cnipresa  de  algum  nobre  objecto  ou  de  algu- 
ma  grande  idea.  E  com  eficito  ja  uma  honro^ 
sa  prova  dc  character,  o  dirigir  para  um  unico 
lim  OS  raios  disperses  das  suas  faculdades, 
e  OS  resullados  de  todos  os  seus  trabalhos.» 
Neste  caso  devemos  considerar  o  auclor  deste 
Fragmento.  Eraprehendondo  uma  obra  de  tanto 
IraJialho  e  honra,  nao  so  pessoal,  mas  para 
a  sua  mesma  patria,  tem  direito  a  raerecer  a 
gratidao  nao  so  daquelles  que  o  conheceram, 
porem  de  quantos  lerem  esles  restos  dos  pro- 
ductos  do  seu  iutcndimento.  Ate  mesmo  nos 
parece,  que  a  circumstancia  de  haver  sido 
cortado  em  flor,  e  de  haver  como  o  cysae 
completado  a  carreira  da  vida  no  meio  das 
harmonias  do  seu  canto,  deve  concorrer  nnii- 
to  mais  para  estiniarmos  a  sua  mcmoria,  t: 
bonrarmos  seus  escriptos.  Em  ccnsequeucia 
destes  priucipios,  e  por  sahermos  quanto  a 
certas  pessoas  sera  grata  csta  nossa  publica- 
cao,  com  muito  gosto  a  vamos  fazcr,  dando 
previamcnte  uma  breve  idea  do  auctor,  e  dos 
seus  trabalbos  littcrarios. 

Manoel  Matbias  Vieira  Fialbo  de  Mendon- 
ca,  nasceu  era  Cabanas  de  Torres,  termo  da 
villa  de  Alemquer.  Seu  pac  foi  o  dr.  Manoel 
Vieira  de  Mendonca,  que  seguiu  a  JJagistra- 
tura,  e  que,  sendo  despachado  juiz  de  crime 
da  Babia,  levou  comsigo  seu  lilho,  de  edade 
de  seis  annos.  Di^pois  dc  haver  alii  servido 
OS  logares  de  juiz  do  crime  e  corrcgcdor, 
arnda  que  Ihe  coubesse  entao  ser  desembar- 
gador  do  Porto,  como  se  achasse  ja  adiantado 
em  annos,  e  nao  se  quizesse  cxpor  aos  novos 
incommodos  de  viagcra,  preferiu  ticar  na 
America,  viveado  como  particular  ale  a  sua 
morte. 

Os  prinieiros  estudos  de  ManocI  Matthias 
foram  por  consequencia  na  Babia,  onde  teve 
por  mestre  Jose  Francisco  Cardoso,  auctor  do 
Canto  de  Tripoli;  e  e  muito  para  louvar  que 
nunca  se  esqueceu  dos  disvelos,  com  que  o 
educara,  porque  con.servou  sempre  por  clle 
mui  singular  aflecto  e  estimacao. 

Nos  seus  primeiros  annos  compoz  Farias 
oliras,  ainda  incorrectas  por  falta  dc  espc- 


276 


rioiuia,  mas  que  jii  annunciavam  lorra  de 
tiilenlo;  estas  foraiii  iim  drama  f^alanto,  com- 
imsirao  orif^iiial;  pinlai'os  do  traduccOcs  das 
SToryicas  de  Virgilio,  e  varias  outras  cnii^as 
tjuc  luinea  se  imprimiram.  0  scgundo  tomo 
das  suas  Rimas,  ainda  <iue  improsso  dopois, 
foi  composto  ncsse  mcsmo  tempo,  on  todo 
oil  ([nasi  todo;  e  per  isso  hem  indicani,  que 
0  seu  gcnio  ainda  iiao  ostava  assas  dcsinvol- 
N  ido. 

Deliberou-se  a  vir  a  iinivcrsidade  de  f.oim- 
l)ra  foiniar-se  cm  leis,  e  cmliarcou;  c  lia 
dellp  iim  idilio  que  compoz  ao  auseiitar-se  da 
Baliia,  no  qnal  so  devisa  ja  essa  ospocie  dc 
melancliolia  e  sciisibilidade,  que  dc  ordinario 
cliaractcrizam  o  pcnio. 

Clicgando  a  Coimlira,  iiao  se  contciitou  sim- 
l)lesmentc  com  estiidos  jiiridicos,  cstudou  geo- 
melria,  pliisica  c  liisloria  natural.  Era  incan- 
cavel  no  estudo  da  lingua  porlugueza.  saliia 
muitas  oulras;  e  na  latina  foi  na  realidadc 
cniinenlc.  A  sua  alma  insaeiavcl  de  conlie- 
limcntos,  nao  podia  limilar-se  a  csle  ou 
aquelle  ramo,  queria  sai)er  tudo,  e  formando 
por  conseguinte  uni  vastissimo  piano  dc  estii- 
dos, esle  Ihe  custou  a  pcrda  da  saude  e  da 
vida.  Muitos  dos  nossos  illustrcs  sabios  c  lit- 
teratos  o  conlicccram,  e  nao  sera  por  tanto 
I'ora  de  proposilo  rcferir  o  que  um  dclles,  o 
sr.  Jose  Bonifacio  de  Andradc,  disse  fallando 
da  morte  dc  Manoel  Matthias:  —  icxcellenle 
coracao !  capaz  de  tudo  o  que  era  grandc,  bello 
c  sublime !  Ja  os  sens  taleutos  llie  baviani  attra- 
liido  um  grandc  numero  de  amigos;  mas  foi 
mui  apressado  em  sens  trabalhos,  e  a  cxlre- 
ma  actividade  do  seu  espirilo  Ihc  ralou  a 
existeneia!  Eu  pcrdi  um  amigo,  c  a  naoao 
perdeu  nuiito.» 

Em  quanto  frequentou  a  universidade,  da- 
va-se  ao  mcsmo  tempo,  nas  suas  boras  vagas, 
ao  estudo  da  poesia  e  bclias  Ictras;  c  foi 
nesta  cpocha  que  elle  fez  a  sua  bella  traduc- 
rao  da  tragedia  de  Alreo  por  Crcbilion ,  a 
qual  OS  estiidantcs  representaram  em  Coim- 
bra,  e  dcpois  se  imprimiu  no  tomo  primciro 
das  suas  rimas.  Parte  do  que  se  eontem  neste 
volume  nao  e  de  grande  merecimento,  e  o 
ine>mo  auetor  o  conliecia,  arrcpondido  dc  o 
liaver  lao  cedo  publicado.  11a  com  tudo  nellc 
cousas  excellentes,  c  cnlrc  eilas  apontarem- 
o.'-  a  traduecao  do  primciro  canto  do  Heine- 
(lio  do  Amor,  de  Ovidio;  a  carta  de  Sapho, 
em  que  ba  mui  bcllos  versos;  as  odes  a  guer- 
ra,  e  a  sua  ailcza  real  o  principe  regente;  c 
as  caiilatas  de  J.  B.  Itousscau. 

A  traduecao  da  Eneida  de  Virgilio  deve-sc 
contar  como  um  dos  mais  distinctos  dc  lodos 
OS  scus  traballios  littcrarios;  infelizmcnte  se 
perderam  na  invasao  franccza  os  tres  pri- 
meiros  livros  com  a  maior  parte  da  sua  livra- 
ria,  e  quasi  toda  a  sua  casa.  Nem  se  qucr 
podeudo,  como  Camoes,  salvar  no  meio  da 
dcsgrafa  os  fructos  do  seu  intendimento,  ncm 


como  Bocagc  reslaural-os — cow  opromjito  uu- 
xilio  (1(1  fiel  viemoria, —  porquc  a  morlc  Iho 
impediu,  restou-lbc  so  cstc  fragmcnto  do  iv 
livro,  quo  foi  acbado  outre  ruinas,  precur- 
soras  ainda  de  outra  mais  fatal, — a  morle 
do  auetor. — Vc-sc  pois,  que  circumstancias 
tao  notavcis  dcvem  fazcr  mui  circiinispcctos 
OS  leitorcs,  quando  hajani  de  censurar  ([uaes- 
(|iii'r  imperfcicocs  que  nelle  so  cu'^ontrcni. 
Ncsli"  mcsmo  dcsastre  so  llie  perderam  oulras 
muitas  obras,  tanto  originaes  como  Iraduzi- 
das,  (]ue  muito  bonrariam  a  sua  mcmoria ; 
[inrquc  neilas  de  ccrlo  havia  algiinias  dc  um 
nuii  reb'vante  merecimento. 

Manoel  Matthias  formou-se  (inaimenlc  em 
leis  no  mcz  de  jullio  de  1807,  c  casou-sc 
no  anno  segiiintc.  AV?o  iiuercudo,  como  die 
dizia,  senuo  servir  o  sen  principe,  tanto  (|uc 
viu  Portugal  occu])ado,  c  dominado  por  tro- 
pas  cstrangeiras,  largou  o  seu  antigo  dcsignio 
de  scgiiir  a  magistralura,  c  foi  cstabelecer-se 
cm  Santarem  como  advogado,  rcgeiido  ao 
mcsmo  tempo  uina  cadcira  de  latim. 

Entrando  cm  uma  carrcira  nova,  todas 
as  suas  facuidades  se  voltaram  para  hem  a 
descmpeniiar.  Applicou-sc  absolutamcnte  a  le- 
gislacao  patria,  e  nisto  gastou  tanto  cabedal 
de  saude,  que  bem  se  pode  dizer,  que  foi 
uma  das  causae  da  sua  morte  prematura.  Os 
sous  motives  cram  mui  nobres;  pon|uc  desti- 
nandn-sc  a  dirigir  os  scus  concidadaos  em 
todos  OS  sens  embaracos  e  contendas  civis, 
julgava  ter  contrahido  um  dever  sagrado  de 
.se  constiluir  capaz  dc  bem  os  aconselhar  c 
conduzir:  e  na  verdade  a  recordacao  de  tao 
virtuosos  scntimentos  deve  fazer-nos  mui  sau- 
do.sa  a  sua  mcmoria. 

0  resultado  dc  todos  cstes  trabalhos  foi  a 
composicao  dc  um  Diccionario  Juridico,  (juc 
deixou  quasi  acabado;  c  que  certamcnte  com 
mais  aiguns  mczcs  dc  vida  teria  deixado  com- 
pleto,  ])orque  ja  mui  doente  nao  ])odia  ven- 
cer-se  de  nao  Ihc  consagrar  aiguns  momen- 
tos,  chamando  a  esta  vioienta  applicacao  ura 
gosloso  entrctcnimento. 

Existe  ainda  do  mcsmo  auetor  um  Canto 
Ileroico,  dedicado  aos  portuguezcs  na  grandc 
epocha  da  restauracao,  o  ([ual  foi  imprcsso 
em  Coimbra  por  ordem  de  qucm  entao  a  go- 
vernava.  Outra  obra  tambeni  de  grande  mo- 
meiito,  que  cmprcbcndcu,  c  a  traihicciio  do 
Saliustio,  (|uc  prineipiou,  quando  cstava  refu- 
giado  em  Lisboa  na  invasao  de  Massena;  mas 
della  apeiias  restam  fragmentos,  escriptos  com 
tudo  com  tanta  clegancia,  que  tem  merecido 
OS  louvores  dos  intcHigentes. 

Eis  aqui  pois  como  empregou  Manoel  Ma- 
ihias  0  curto  pcriodo  da  vida,  que  na  reali- 
dadc abbreviou  peio  iiuansavel  espirito  que 
tinha  para  trabalbar  e  instruir-se.  Uma  fcbre 
hectica,  consequencia  destes  dilTcrentcs  cstu- 
dos  immodcrados  o  levou  em  Iim  a  sepultura 
na  florente  edade  de  trinta  c  tres  annos,  aca- 


277 


bando  OS  sous  Hiiis,  cm  Coiml)r.i. 
ik  uoite  de  li  de  abril  Je  1813, 


9  lioras 


Ja  cuidado  morlal  magoa  a  Dido, 
Fogo  devorador,  fcrida  occulta 
Nutrc  donlro  de  si'   na  menle  pinta 
De  Eneas  o  \alor,  nolireza,  e  fama; 
Gravou  uo  coracao  feicoes,  palavras, 
D'eilas  a  imagein  Ihe  al'ugenla  o  somno. 

Mai  c'o'a  Plicbca  luz  aurora  nova 
Dos  ccos  al'iigpntiira  liumidas  sombras 
Pela  terra  esparzindo  o  claro  dia, 
Victinia  da  ])ai\ao,  dclirio  toda, 
Co'a  lida  irma  d'esta  arte  desaiiafa. 
«Anna,  i)arbaros  sonbos  me  borrorizani ! . . 
"Que  extrangeii'o  pousou  em  nossos  dimas? 
«Que  geslo!  (pie  valor!  que  lieroicidade! 
"Crcio,  cnao  creio  em  vao,  deuninumc  e prole: 
«As  almas  baixas  o  temor  denionstra. 
"Eneas  arrostou  perigos,  fados, 
iMilgiierras  cnii)relieiideu,  (indou  mil  gucrras. 
"Ab!  so  immo\cl  tencao  me  nao  vedasse, 
I'Sc  laros  conjugaes  me  fosscm  gratos, 
'iSe  em  odio  nao  tivesse  o  toro,  as  laxas, 
"Desde  que.  nic;  illudiu,  desde  que  a  morfc 
"No  men  prinieiro  amor  Irustrou  mens  goslos; 
"Seria  esla  all'eicao  meu  so  delicto. 

■  Eu  t'o  confesso,  irma:  desde  que  o  sangue, 

■  0  sangue  de  Sicbeu,  do  infausto  csposo, 
'Vertido  polo  iniiao  tingiu  meus  lares; 
"So  elle,  amada  irma,  so  pode  Eneas 
"Fazer  doce  imprcssfio  em  meus  scntidos, 
.<Fazer-me  vacillar,  mover  minba  alma. 

■,  Vestigios  sinto  em  mini  da  antiga  flamma . . . 
Mas  por  gmgaiitas  mil  me  sorva  a  terra, 

■  Raios  de  .love  ao  tartaro  me  arrojem, 

'  Lii  oiule  e  liido  liorror,  c  sombras  tudo, 
Antes  do  que  \iolar  com  meu  perjiirio 

■iTuas  sagradas  leis,  pudor  .-iagrado. 

"0  primciro  que  a  sua  uniu  minba  alma, 
Meus  aniores  roubou,  comsigo  os  guarde, 

■  Do  sepulcro  no  liorror  com  elle  liabiteiu.u 
Disse:  I'urvido  praiilo  assoma  aos  olhos, 
Prauto  que  em  borboloes  Ibe  inunda  o  scio. 

«0h  til,  que  cii  prczo  mais  quo  o  ser,  que  a  vida, 
(Anna  Ihe  respoiideu  i  "  na  llor  dosaiinos 
«Hao  de  ralatar-tc  a  misera  existencia 
dTristeza  e  solidao?  sem  tu  gostares 
<0  prazcr  de  beijar  mimosos  lilbos, 
'Delicias  com  que  amor  aos  sens  premcia? 
"Pensas  que  no  sepulcro  cinzas,  manes, 
"So  recordam  de  ti?  Dos  teus  pezares 
'lEmbora  nao  triumpbe  em  Lybia  em  Tyro 
«Iarbas  e  chefes  mil  d'Africa  adusia; 
«Insensivel  despreza  os  seus  extremos: 
«Mas  contra  a  inclinafao  nao  lute  Eliza. 
dNao  pensas  em  qual  terra  csta  tcu  reiuo? 
"A  Gctulia  daqui,  nacao  valente, 


•  [uvcncivel  nacao;  daqui  tc  ccrcam 
"Numidia  iiifreue,  inbabilavcis  syrtcs: 
«Hodeiam-te  d'alli  Barceos  ferozcs 
(cAridas  regioes,  desertas  plagas. 
iiGuerras  quantas  surgir  cu  vejo  em  Tyro? 
iiAmeacas  I'ataes  do  irmao  nao  temcs? 
(lAuspicios  divinaes,  favor  de  Juno 
nlmpelliu  para  aqui  baixeis  troyanos. 
»Ap6s  consorcio  tal  teonde,  obDido, 
"Elevar-se  veriis  teu  grande  impcrio? 
■  Troyanas  armas  reforcando  as  Tyrias, 
"Tc  onde  se  ba  de  alcar  a  gloria  nossa? 
"Aos  names  so  te  cumprc  orar  piedade, 
"Dar  ao  lieroe  bospicio,   e  cullo  as  aras; 
"Cumpre-te  dcmoral-o,  urdir  pretextos, 
".la  c'os  perigos  da  intractavel  ([uadra, 
"Ja  pon[ue  rotas  naus  reparo  exigem, 
"Ja  porque  sobre  o  mar  derramam  furias 
"Cbuvoso  Orion,  tormentoso  inverno." 

Yozes  taes  dao  mais  fogo  ao  fogo  antigo: 
Fogem  receios,  surgem-lbe  esperancas, 
Os  hifos  do  pudor  pai\ao  desata. 

Eil-as  no  tempio  assomam,  e  ante  as  aras 
Orando  auxilio  estao  a  Baccbo,  a  Ceres, 
Creadora  das  leis,  a  Pliebo,  a  Juno, 
Dos  lacos  conjugaes  propicio  nume. 
Ritual  sacrilicio  as  aras  tinge: 
Sobre  a  fronte  de  Candida  novilba 
A  pulcherrima  Dido  as  lacas  verle, 
Gyra  entre  as  pingues  aras  e  ante  os  mimes, 
Instaurando  oblacoes  da  dia  em  dia ; 
Rolos  peitos  de  victimas  consulta, 
De  palpitantes  visceras  no  agoiro 
Avida  anceia  ler  futuro  occulto. 

Ob  sacrilicios  vaos!  ignaros  vatesi 
Que  valem  contra  amor  o  tempio,  os  voiosi 
Lavra  de  veia  em  veia  a  labareda, 
Vive  aberto  no  peito  o  goipe  occulto. 
Ardc  Dido  infeliz,  sem  tino  vaga: 
(Jual  cerva  onde  o  pastor  deixou  cravada, 
Sem  .saber  que  acertou,  a  alada  sella; 
Ella  discorre  a  selva,  o  monlc,  o  cam))o, 
0  letal  passador  Ibe  afferra  o  lado. 

Dido  a  Eneas  conduz  por  entre  os  munis. 
Os  sidonios  ibesoirus,  a  cidade 
One  Ibe  destina,  jii  Ibe  patenlea: 
Comeca  a  declarar-sc. .  .  e  socobrada 
No  nieio  da  expressao  se  prcnde  a  falla. 
Ao  Iransmontar  do  sol  festins  inslaura. 
Mil  vezes  pede,  anbela  ouvir  trabalbos, 
Ouvir  Troianos  feitos,  c  mil  vezes 
Dos  labios  do  que  os  conta,  est.i  pendente. 
Separados  era  fim,  ja  quando  a  lua 
Sepulta  os  luraes  seus  no  escuro  occaso, 
E  OS  aslros  que  se  poem,  couvidam  somno--, 
No  vasio  salao  sosinba,  triste, 
.Vusente  Eneas  ve,  ausente  o  cscuta; 
Pousa  onde  elle  pousou,  ao  peito  aperia , 
Co'a  mente  so  no  pae  Ascanio  amima  : 


278 


Liila  por  cngaiiar  iiaixao  teirivol. 
Npiu  coniefadas  luncs  vao  suhindo, 
Norn  mocidade  jii  sr  cxcrce  cm  annas; 
Saspoiidom-so,  iiUerrouipcm-si;  trahallios, 
l)i'  amcaijadoras  dc  soix-rbas  moles, 
Ivlilii'los,'  caslcllos,  pni'los,  muros. 

Tanlo  ([lie  Juno  viii  do  Eliza  os  males, 
Que  nem  faiiia,  mi  remorso  a  amor  obslavam, 
iV'sla  arte  a  Venus  diz:  ..Ampla  vietoria, 
.  l.nuvor  eiiregio,  menioravel  nome 
..  Ganluim  ViMius,  o  amor,  se  os  dolus  d'anilios 
i.Vemineo,  fragil  peilo  avassalaraui! . . . 
„Sei  ipie  d'alla  Carthago  os  altos  muros 
..Siispeitosos  te  silo,  le  sao  temidos: 
K.Mas ([ual  lermo  liao  de  haver  eomiiates  tanlos? 
"Kia,  OS  lacos  da  paz  travemos  ambas, 
«E  OS  lacos'dc  hymeucu:  goza  oqnc  anlielas. 
"Arde  Dido,  a  paixao  Ihe  eala  o  peilo: 
>  Dado  Ihe  seja  unir-seao  i)l)rvgiu  esposo, 
..  I'ju  dote  Ihe  reeebe  os  T\  rios  reinos, 
nLin  povo  formcm  so  Trojanos,  Tyrios, 
(.Com  podercs  egnacs  n'ell;;  imperemos. - 

Com  tal  simulaeao  falou  Saturnia: 
Quer  na  Libia  reler  da  Italia  o  rcino. 
Venus  prcsenlc-a,  e  diz:  ..Quern  pode  insano 
"Os  tens  dons  desprezar,  querer  tens  odios? 
..Possa  a  forluna  prosperar  tens  volos! 
«.Mas  03  I'ados  ignoro;  se  apraz  a  Jove 
(.Que  a  mesma  plaga  habitcm,  queseenlaccm, 
(.Que  reja  a  mesma  lei  Troianos,  Tyrios. 
(.Com  preccs  tenlear  do  esposo  a  menle 
<-k  ti  so  cumpre:  scguirei  teuspassos. » 

..Tua  soria  hei  dc  ser  no  mesmo  empeulio, 
(.Saturnia  Ihc  lornou  atteuta  adverte, 
,.Qual  lim  disponho  a  urn  proximo  successo. 
(..\.  miserrima  Dido,  o  heroc  troyano 
...V  pomposa  raeada  eslao  dispostos, 
..Apcnas  de  Tita'o  snrgiiido  a  fronle 
..As  terras  aelarar  e'os  seus  I'ulgijrcs. 
((Quando  tremuhi  rede  orlar  as  selvas, 
('Sobrc  dies  soltarei  chuveiros,  nevoas, 
(.0  polo  atroarao  trovoes  medonhos, 
(rNos  ares  soltarei  da  noite  as  somhras. 
(.Mai  for  ua  escuridao  di-persa  a  turba, 
(.()s  dois  abrigara  propieia  gruta; 
cUvmen  alli  sera,  serei  com  dies. 
(.Se  teus  votos  sao  taes,  consorcio  cstavd 
(.Ao  Troyano  a  dara,  sera  so  delle.a 

Cvthereia  annuin  de  Juno  as  preccs, 
Dos'ardis  que  entrev(i  surri-se  a  Deusa. 
Continua. 


MOSTEIllO   DA  VACCARICA. 

C'.jiilinuad.)  de  |iag.  246. 

O  segundo  fundamento,  a  dcnominacao  de 
..Uegra  Sancta"  eomo  exdusiva  da  regra  de 
S.  llcnto,  0  uuieo  de  imporlancia  para  o  sr. 


Miguel  Kihoiro,  mereeo,  e  verdade,  mais' 
cousideravao,  mas  assim  me.smo  ainda  me 
deixa  algunias  duvidas,  quo  dcsejara  vcr 
dissipadas. 

0  Dieionarifl  de  Du-Cange  tem  eonio  syno- 
nymos  regra  saucta  e  regra  de  S.  Uento,  I'uu- 
dando-se  ua  auctoridade  de  varios  auctore?, 
que.  por  oecasiao  de  fallarcm  ua  regra  de  S. 
lleiito,  a  deuouiinaram  regra  saneta  '  ;  e  o 
Diccionario  Universal,  iuipresso  por  ordem  dc 
.Miinseigncur  Prince  Souveraiu  de  Dombes, 
tambem  diz  (juc  alguns  auctorcs  tcmchamado 
ri'f',ra  saneta  a  regra  dc  S.  Bento'.  .Mas  n(j 
Dieeiouario  da  Aeadeniia  Franecza  ',  no  Dic- 
cionario da  Aeadeniia  Uespanhola  \  no  Diccio- 
nario Liniversal  das  scieucias  ecclesiastieas ', 
e  u'onlros  (pie  pude  eonsullar,  a  palavra-rcgra 
— applicada  ao  regimcnto  do  ser\i(;o  dos  cun- 
vciitos,  tern  uiua  signiiieaeao  comiiuim  iis  dif- 
lereules  ordcus  rcligiosas,  trazcudo-se  para 
cxem|dos  a  ordem  de  S.  Uento,  e  indistiiieta- 
uieiite  as  outras  ordens  rcligiosas,  .seni  nunca 
se  I'allar  em  regra  saneta. 

Este  ultimo  adjectivo,  (juc,  nos  docunientos 
jii  meucionados  do  Livro  Preto,  se  acba  ligado 
a  regra  do  .Mosteiro  da  Vaccarica,  tambem 
alli  se  encontra  qualilicando  as  localidades 
d'este  mosteiro  e  do  de  Leca,  tratando-os 
como  logares  sanctos'.  E  nos  mcsnios  docu- 
nientos do  Livro  Preto  uao  so  i'alla  da  regra 
saucta  d'um  modo  tao  iuvariavd,  ([ue  possa 
desigiuir  a  regra  ou  ordem  do  Mosteiro  da 
Yaecari(;a  ;  luas  adopta-se  igualmente  a  expres- 
sao  de  vida  sa.icta,  de  vida  mouastica,  etc., 
para  se  expriiuir  talvez  a  moralidade,  a  linha 
de  condueta.  ou  regra  dos  nionges   . 


'  GI.^.(sar"nnn  ml  scriplores  media'  el  infiinrr  latini- 
tatis.  .Viit.^r.'('ar..|.iOiifreisnc,  D^'niinoDiiCarifie — Ilegiila 

Saiiela,  eadeni.  (piu'  S.  BenedicU Ke;iiila  Saiic- 

toriini  |ialriim.  S  S.  Benedicti  scilicet  et  C.iluiiibani. 

■(  Dicci.inaire  Universel  Fran(;ais  el  Latin  —  iinprimt' 
par  ordre  de  A.  A.  S.  Munsei;,'neiir  Prince  S..iinerainde 
OMinbcs — 17'il.  La  Uegle  de  Saint  l^jiioit,  (pie  (pielipies 
Aiileurs  ont  appdl.'e  Ile^Ie  Saint. 

■*  Nunveail  D.cci.inairede  I'Acadeini.'  Francaise — 171H 
.  .  .  (in  appelle  a.o.si,  Rejrle,  les  Slaluts  (pie  le>  Ileli^iienx 
d'lineOrdre sDiil  .dili^ezd'abserver.  I^a  lte;;ledeS.  Bazile. 
ia  Ile):Ie  deSainl  Angnstin,  la  Regie  de  S  Benoisl,  laRefifle 
de  S.  I'"ran(;uis. 

*  Dicciuuaria  de  la  Lensoa  Castellana  ....  compiiesto 
p.ir  1.1  R.  Aca.l.'inirt  Ile-ipa'ola  —  ITM  —  Re^la  se  llama 
tainbien  la  le)  iiuivei'^al,  (pie  C'.niprehende  lu  snbstuncial 
(pie  debe  i^bservar  iln  cuerpo  relifti.iso. 

^  Dicciunaire  Lniversel,  diigmatiipie,  caiioniqiie,  his- 
tori(iue,  geo;:rali'pie,  el  cIir.inoK.gi.pie  des  sciences  ec- 
clesiastiinies  .  .  .  .par  le  R.  P.  Richard  —  ITIil — Regies 
in.inasli.pies,  se  dit  des  Ijix  qui  sout  observ(5es  dans  les  dif- 
ferents  urdres  R./lisjieiix. 

*  Ego  aiicila  christi  vita  domna  coguomento  trastina 
....  concedo  ail  ijisHm  I.iciim  sancliiin,  et  fratribus  qui 
ibi  perseveraverint  medietatem  integram  ....  Anno  103S. 
Livro Pret.j  fulli.  (J6  v. 

.  .  .  Ego . . .  didaciisdaildiz .  .  .  teot.i  et  conced.iad  ipsum 
locum  sanctum,  et  vobis  tudeildo  abbati,  el  fratrilms  ve«- 
tris,  ipii  ibi  liabitanles  fuerinl  .  .  de  villa  mea  nominala, 
quani  niincupanl  leoveriz  .  .  1034.  Livro  Preto  —  folh.  9* 


V  ■■ja-se  jia^'.  iTJ' — not.  da  8."  ciA. 


279 


Tenilo  pois  d'um  lado  as  auctoridades  de 
Uu-Cange  e  dc  Souvcrain  de  Dombos,  que 
tomam  como  rogia  sancla  a  rogra  de  S. 
Bento,  e  tendo  por  oiitro  lado  a  omissao  dos 
outros  dii'fionarios  a  cste  respeito,  c  a  cnnsi- 
derariio  de  que  nos  documentos  do  Livro  Prelo 
nao  se  enconlra  so  a  expressao  dc  regra  .sanc- 
la, mas  lamhem  a  de  vida  sancla,  e  ate  a  de 
logar  sancto  applicado  ao  logar  do  mosteiro; 
e,  se  altcndcrnids  alera  d'isso  a  que  na  pri- 
niitiva  OS  niosteiros  se  regiani  apenas  por 
iusliuceOes  voiaes  de  seus  insliluidores,  co- 
mecando  a  adoptar-se  a  regra  escripla  nas 
dill'erentes  ordens  religiosas  so  dcpois  da 
insliluicao  da  regra  de  S.  Benlo';  se  alten- 
dernios  linalniente  a  que  csla  regra  nao  tinlia 
nenlium  lilulo  que  llii'  conl'erisse  a  denoiiiina- 
cao  prceisa  de  regra  saneta  :  podera  algueni 
indinar-se  a  que  a  expressao  de  regra  sane- 
la,  applicada  a  ordeni  de  S.  Bento,  nao  era 
a  designacao  precisa  da  respectiva  regra,  mas 
scrviria  para  cxprimir  o  bom  comporlamcnlo 
dos  monges,  ou  a  sua  vida  sancla,  nos  nios- 
teiros cxcniplarcs  ou  n'aqueiles  logares  sanc- 
tos;  c  que  estas  cxpressoes,  por  vaidade  ou 
imilacao,  se  deveriam  propagar  nas  oulras 
ordens  religiosas,  que.  nao  leriam  em  menor 
conta  0  comportamento  dos  seus  moiiges,  a 
regra  que  os  dirigia  no  caminlio  da  sanctida- 
de,  ou  a  sua  regra  saneta. 

0  oulro  iundamento,  dc  que  falla  o  sr.  Vclho 
de  Barbosa,  isto  (i,  a  escriptura  de  compra  c 
venda,  em  que  o  prcsbytero  Bandullo  c  o 
monge  Pedro,  exprinieni  o  seu  respeito  ao 
abbade  Todeildo  d'um  modo  semclbante  a 
Corniula  da  [irolissao  recommendada  na  regra 
lie  S.  Bento,  tera  menos  importaneia,  lalvez, 
sc  atlendermos  a  que  forani  modeiadas  pela 
legra  de  S.  Benlo  as  regras  cscriptas  das 
oiitras  ordens  anligas,  e  que  a  formula  do 
juramcnlo  das  prolissoes  deveria  ser  urn  dos 
pontes  mcMos  allerados  nas  differentcs  regras. 
Na  impossi!)ilidadc  de  I'oruiar  opiniao  segiira 
a  este  respeito,  entrego  lodas  estas  cousidera- 
eoes  a  judieiosa  critiea  das  pcssoas  comi)eten- 
los.  Mas,  se  ainda  subsiste  a  forea  dos  fun- 
danientos  com  que  unanimemente  se  tern  re- 
pulado  de  .S.  Bento  a  ordem  dos  monges  da 
Vaccariea,  eneonlra-se  a  deiuonstracao  n'unia 
grandc  ])arte  d'aqiieiles  docunieutos  do  Livro 
I'reto  de  todo  o  seculo  XI.  Km  ([uinze  doeii- 
iiientos  achei  o  preiado  da  Vaccariea  com  o 
IratanK'ntn  de  abbade;  com  o  tralamenlo  de 
prior  em  dous;  e  com  o  tilulo  de  preposilo  cm 
seis.  X  regra  do  mosleiro,  o  comjiortamento 
dos  monges,  ou  a  sanctidade  da  sua  vida 
elaustral  e  a  sanctidade  da  propria  localidade 
do  mosleiro,  acbei-as  meneionalas  em  quatorze 
documentos  designadas  com  cxpressoes— regra 


'  DIcciiHinHirc  Viiiversnl,  ilDp^maliqiio,  cannniqiie.his- 
luriitiie,  jL'DirrspiiiqHe  et  chronuloffiiine  <lf s  scienr^ji  ec- 
cli'.*la.^ti(iMes .  .  .  P.ir  le  II.  I'.  Iliciinrd  (j;i  cilad-j^). 


sancla — vida  saneta — vida  monastica — e  logar 
sancto ' . 

0  convento  da  Vaccariea  foi  dos  moslciros 
duplices  da  anliguidade,  onde  viviam  trades 
efreiras,  era  reparlicoes  separadas;  masexer- 
ccndo  0  ollicio  divino  na  mesma  igrcja,  em 
coros  dilTerentes,  ou  no  mcsmo  euro;  senda 
n'alguns  niosteiros  a  oracao  communi,  e  orando 
n'oulros  cm  separado. 


'  O.'andiniKs  .  .  .  vel  Sandirius  Diaconus  .  «  .  plncnif 
nobis  lit  faccrcQius  ....  ahhatcni  anderias  .  .  .  cartiilatn 
te.slainenti  ....  si  in  vita  sancla  perseveraverit  .  .  .  nisi 
qui  ill  \ita  saneta  perseveravprit  .  .  .  Aiino  de  Christo  dr- 
do   1002 — Livro  Prcto  —  folli.   fil. 

.  .  .  abbatlhiis  aiit  munachis  aiit  fratribus.  qni  in  \ila 
sancla  perseveraverint  .  .  .  1003  —  fulh.  Gli. 

.  .  .  e'^o  fanmlij  del  reseinundo  ...  lit  faceremua  vobis 
eiuiliaiio  abbati  et  colatiuni  nionasterii  vaccariec  qui 
in  \ila  sancla  perseveraverint  carliilani  teslamenti  do  tiere- 
ditato  mea  quam  liabeo  in  ^  ilia  ricardanes  .  .  .  lOlH  — 
fulh.  60. 

Ei;o  .  .  .  licet  indigniis  zalania  pbr  tibi  iiiiliani  abliali 
et  ad  fratres  qui  ibi  semper  in  vita  sancla  perse\erav('riiil 

. . .  una— foih.  5a  V. 

.  .  .  et  ad  ipsiim  abbalcni  d.jiiuiin  tiuleildiilil,  el  fralri- 
bils  suis  qui  in  victa  sancla  perse^eraveriot,  et  niunasli- 
cara  ^ilam  deduxint  .  .  .  1018  — fulh.  (^'^. 

.  .  .  vobis  todeu;riUlo  abbati  .  .  1021  — folh.  7'i  v. 

.  .  .  et  vobis  tudeildo  abbati,  et  fratribus  vestris  qui  in 

vita  sancla  perseveraverint  .  .  1032  —  folli.  yo  v.  ja  cilado, 

.  .  .  cenubiu  vaccariza  ad  pbroset  ad  frs(pii  ibi  moranles 

fuerint,  et  vitam  sanctani  deduxerinl .  ..  et  vobis  abball 

domno  (lorite  .  .  .  1036  —  folh.  45. 

.  .  .  pro  tolerancia  fratruni  hospitiim  pregrinoriim.  ipii 
in  vita  sancla  perseveraverint,  et  monasticam  dedii.veriiit 
vilam  .  .  .  10311  —  folh.  95. 

.  .  .  ludeildiis  abbas  in  cenobio  vaccariec  .  .  .  ipse 
abba  solam  cum  coUeijio  monactiorum  et  fratrum  qni  sub 
sua  re^^nla  saneta  dediixerint  .  .  1040 — folh.  55  v. 

.  .  .  habitantc  {^undisalvo  aiihate  in  cenobio  vaccariza 
.  .  .  cum  coUeirio  inonachorum  et  (ratruni,  qui  sub  sua 
regnla  sancla  deduxerint.  .  .  1040  —  folh.  71  v. 

.  .  .  ep:o  jhones  una  cum  fratribus  meis  .  .  .  concedinius 
monasterium  saiirio  cum  jacentiis  et  a  prestationibus  siiis 
vobis  llorile  abbaet  ad  fratres  vestros,  et  ad  monasteriiiui 
vaccari(;a,  qui  in  vita  saneta  perseverare  vohleril  el  mo- 
na4icanl  dediixerint  vilam  .  .  1043 — fulh.  41  v. 

...  si  bonus  fuerit  et  in  vita  saneta  persei  eraverit  .  .  . 
1045  — folh.  69. 

D.miino  nosiro  tudeildusabba  ]  actum  siiuul  et  |  l.Tcifuiii 
facio  vobis  fratribus  liostris  llorile  preposilus,  et  frairibus 
tuis  de  cenobio  vaccariza  .  .  .  1045  folh.  78  v. 

.  .  .  ad  prehenderit  sine  benedictloneabbatis,  vei  sancla 
commune  reirule  habeas  potestatem  supper  nos{proniessa  de 
obediencia  dos  frades  ao  abbade)  .  .  .  .  1045  —  folh.  Jiii. 

.  .  .  et  pairi  florido  abbati  .  .  .  et  alvito  pbro,  |ireposilo 
vestro.  et.con!:regaiioni  cenobii  Aaccarice  .  .  .  1047  — folh. 
04. 

.  .  .  Vobis  atvitn  abbati  .  .  .  et  ildras  ]>reposilus  ( uiii 
da  Vaccari<;a  e  ontro  de  Leca)  .  .  .  1055  —  foIli.  54  \ . 

.  .  .  monaclios.  el  ad  fratres  qui  \ilam  sanclam  |  erseir- 
raverinl  .  .  .  1078 — fulh,  44  v. 

.  .  .  Ejo  Eseineo  friirlunio  prolis  pariter  cum  umtc  una 
siizana  .  .  .jubeniiis  per  leauiis  prejosili  nostri,  vel  (htmii. 
jielro  abbali  .  .  .  iinum  mulinum  cum  sua  varzena  .  .  .  pro 
i,M!bernatione  fratrum  vel  sornrum  qui  in  ordine  sitiiclo 
perseveraverint  ....  1079 — folh.  50  v. 

.  .  .  Hoc  placitum  confirmare  inter  se  elep-ernnt  zoleime 
pbr  cilicet  prior  vaccariec  cenobii  sancti  vincenfii.  et 
^'uiinus  presbyter  ....  predict!  priorisde  ncisterio  de  leya 
vocabulo  .  .  .1091 — folh.  84  v. 

.  .  .  eRO  raniinis  vaccarienjii  |iriur  c  uifirinn.  fjn  eidi 
david  filiiis  prior  leze  cesobii  confirnio  .  .  .  1(HI3  — f"lii. 
C5. 


280 


A  tibjcuridado  da  >ua  |ii>hii'ia  atf  an  lim 
do  scculo  X  nao  iios  pcrmiUc  saber  jp  logo 
iia  sua  instiluijao  I'oi  iiiosloiro  d'esia  iialiiic'/.a. 
Dosde  1003  ale  lOSIi'vem  moncionados  os 
I'radcj  c  frciras  da  Vaccarira  cm  varias  doa- 
focs  e  outros  dociinicnios  do  Livro  Prclo ;  domic 
se  podc  colligir  qiic  lora  mosloiio  du[)l('\  jior 
Indo  esle  scculo  ale  a  sua  I'xlincrao;  nao  so 
por  teioni  deroirido  apcnas  oito  anuos  de 
lOiST)  alt'  10',)'i,  M>ni  apjiarcciT  nouliuni  docu- 
iiiculo  I'lu  conlrario;  mas  aiiida  ponjuc  a 
aholirao  dos  mosti'iros  duplicos  toni  unia  data 
nniito  posterior ' . 

C'ontinua  a.  a.  da  costa  SIMOES. 


Cotij.  etn  long. 

2  0  i  -"lOi'SO'S 
«  c  ;  7.  IS.  11,4 
Re?  7.19.39,6 

Jdiivimentot  hor.  em  long. 

«  +  4'  33 
?  +  3,12 

/  +  1,97 


rtiff.  lie  lii(. 

J  —  /—  28'0 

r_;_    0,2 

^<— 2+30,3 

Mov .  hor.  cm  lul . 

+  0'383 
+  0,000 
■f  0,H)14 


ASTRONO.MIA. 


No  dia  7  do  fevcrciro  ha  de  observar-se  um 
d'aqucllcs  phonomenos,  que  Lalaude  eluuna 
f/randes  conjunct-ucf  Jos  plinicliis,  e  que,  sem 
influencia  alguma  sobre  a  lerra  e  sous  hal)i- 
tantes,  devc  com  tudo  despertar  a  allencao 
dos  curiosos.  Sao  as  conjunrcoes  dos  tres  pla- 
nelas,  Mercurio,  Venus,  e  Marie,  dois  a  dois, 
0  a  pequcnas  dislaneias  iins  dos  oulros. 

0  ealculo,  feito  por  um  dos  collaboradorcs 
da  Ephemeride  de  Coimbra,  da  os  seguintes 
lenipos  das  conjunccoes  verdadeiras  dos  Ires 
astros,  as  respeclivas  difiereneas  de  latiludes, 
0  OS  movimenlos  liorarios: 

'  .  .  .  .  Adicimus  ibidem  doniine  ,id*ipi^ii)s  sacro  snnc- 
liiiu  .  .  .  et  venerahilem  tenipliiiii,  (jui  sunt  pni  velatiiinf 
siTvorum,  vel  ancilaniin  .  .  ,  Anno  Io03  — I.i\ .  Pr.  I.dli. 
til!  (ja  citado). 

.  .  .  Vobis  tndengildu  abbali  i-l  fratribus  el  suroribiis 
habilantes  in  monasterio  vaccariza  . .  .  lo'il — folh.  Ti  v. 
ya  citado). 

.  .  .damus.  .  .  iit  tolerantiaSit  fralribusetsororibusibi 
prcseverantes  .  .  .  1034  — fuhl.  U6  i .  (j:'i  eitado). 

.  .  .  qui  sunt  pro  velaniine  servoruni  vel  aacilarum 
ilei  .  .  .  lO-H— folh.  62. 

.  .  .  utladse.'voruni\clancilarum  dei  .  .  .  1043 — folli. 
till,  (ji  citado). 

.  .  .  .\diciraus  ibidem  domine  ad  ip.«iiis  sacrosanctnin 
lel  vcnerabileni  templum  qui  .sunt  per  volamcn  nervorum 
vel  ancilarum  deo  de  servitio  .  .  .  1047 — folh.  64.  (ji 
eilado). 

. .  .  E«;o  unisco  .  .  .  vobis  todeogildo  abl)atti  et  fralribu 
i:t  Mororibushabitanle.'.  in  monasterio  vaccariza  concedimua 
vubii 1032  — folh.  Ti  V. 

.  .  .  pro  sobernatione  fratrum  vel  sororuni  qui  in 
nomine  sancio  perscveraverint 1079  —  ftlh.  50  v. 

.  .  .  ut  habeant  et  pos.sideant  fratres  et  sorores  (|ui  ipsum 
locum  sanctum  oblinucrint 1086  — folh.  40  v. 

^  In  nullo  loco  nionachos  et  monachas  permitim  uno 
monasterium  habitare;  sed  nee  ea,  qua'  duplia  vocant.  El 
si  quod  tale  est ;  reliftiosns  episcopus  mulieres  quidi  m  in 
«llo  loco  manere  sludeal;  nionachos  aub'  aliud  monaste- 
rium edificare  coRat.  Si  autem  plurima  sint  talia  nionns- 
teria  :  separetur  in  aliis  monasteriis  nionacha-,  el  in  nliia 
mouachi :  res  autem,  qua*  habent  communes,  secundum 
joraeis  competencia  dislribuantur. — Decrctum  Graliani 
—  Ligdviii  1584. 


Itigorosamenle  a  observaeao  em  tini  logar 
exige  a  passagem  das  conjunccoes  verdadei- 
ras |)ara  as  a]ipareiites;  mas  a  corrcccao  e 
aqui  de  pouca  iiniiorlancia ,  por  .serem  pc- 
quenas  as  jiarallaxes  dos  iros  astros. 

Procurando  com  esles  elcmentos  as  epochas 
das  miiiinias  dislaneias,  acbam-se,  com  dil- 
I'ereni'a  de  poucos  minulos,  as  inesnias  tpie 
as  das  conjunccoes,  nienos  em  quanlo  a  -.  c  ?. 
para  os  quaes  c  proximamente 

Ejioeha  da  min.  disl.  7''  12  '  41'        Min.  disl.  29  0. 

•Mlendendo  pois  a  estcs  valores;  aos  movi- 
menlos liorarios  dos  tres  astros;  aos  tempos 
medios,  ti''23'  da  tarde  e  7'  iJ2'  da  manlia,  do 
seu  occaso  no  dia  7  c  nascimento  no  dia  8; 
e  aos  tempos,  o  24'  da  tarde  e  7''4'  da  ma- 
nhii,  do  occaso  e  nascimento  do  Sol  nos  mesmos 
dias:  v6-se  que,  principalmenle  ao  anoilecer 
do  dia  7,  e  ainda  ao  anoilecer  do  dia  8,  .se 
poderao  observar  os  tres  astros  a  muito  pe- 
quenas  dislaneias  nns  dos  outros. 

Na  astroiiomia  de  Lalande  cilam-se  nniilos 
desles  iilieiiomeiios,  como  foram :  a  approxi- 
maeao,  que,  scgundo  os  livros  chins,  tivera 
logar  entre  alguns  ]>lanetas  iniiilo  antes  da 
nossa  era;  a  de  Mercurio,  Venus,  e  Marie. 
i|ue  se  viaiu  ao  mesmo  tempo  no  canipo  do 
lelescopio,  em  17  de  marco  de  172o;  e  a  de 
Venus.  Marie,  e  Jupilcr,  que  dislavam  ape- 
nas  um  grau  uus  dos  oulros,  em  23  de  dc- 
zembro  de  17G0. 


MAIS  OBP.AS  OFFEHECIDAS    A  IIIBLIOTHECA 
PO  INSTITUTO. 

Memoria  da  vida  c  escriptos  do  rev.  sr. 
Jose  Vicente  Gomes  de  Moura,  por  F.  A.  Ro- 
drif/ues  de  Giismun. 

Noticias  d'alguus  cases  da  molcstia  de 
Bright,  observados  no  hospital  de  S.  Josij,  c 
resumo  das  doulrinas  mais  modernas  a  cerca 
i  desla  doenca  —  trabalho  apresenlado  a  Aca- 
deniia  Real  dasSciencias  deLisboa  pelo  socio 
Dr.  Bernuidino  AnUmio  Gomes. 

Documentos  olliciaes  da  commissao  central 
porlugueza  para  a  exposicao  universal  de 
IS  1)0,  e  systeina  de  elassilicacao,  publicado 
na  conformidadc  do  art.  IC  do  reguiaraenlo 
geral. 


JORINAL    SCIENTIFICO     E   LlTTEllARIO. 


CONSELHO  SUPKRIOH  DE  1NSTUI'C(>0 
rUBLlCA. 

IIEL.VTOUIO  ANM  AL. 

1858  — 184!). 

CoiiUiiiiiido  (le  j>a^.    ill. 

3.'  PARTE. 

Jnslntecao  secundaria. 

Coniprchcndc  cslc  ranio  (k'  instrucrao  os 
lyccus  c  escholas  annexas ;  c  as  escholas  de 
instruccao  especial. 

g.  1.°  Lyreits  e  escholas  (inncras. 

Com  a  iinica  cxccprao  do  lyccu  de  Viana 
de  Castello,  cuja  nrganisacao  sc  acliou,  por 
ora,  iuopi)ortuna,  acliam-se  conslituidos  efuiie- 
cionando  rnniplclamoiUe,  ou  em  parte,  lodos 
OS  lyeeus  do  contiiii'iilc  do  reino;  e  lodos  t-ol- 
locados  em  edificios  pnblicos,  excepio  os  dc 
\veiro,  lieja,  Castello  Ilraiuo,  Giiarda  e  Vil- 
la Heal. 

Nas  illias  I'oi  elevado,  por  carta  de  lei  de 
12  de  jiinlio  do  corrente  anno,  a  calegoria 
dos  niaiores,  o  lyceu  do  Funclial,  qiii^  se  acha 
laniliem  runccioiiando,  lieni  conio  os  oulros 
das  illias.  0  lyceii  do  Funclial  esta  collocado 
no  antigo  convento  dos  Jesuilas,  vulgiiinicn- 
tc  cliamado  jiateo  dos  esliidos;  ignora  |)Oi-em 
0  consellio  se  us  outros  lyeeus  se  acliani  colioea- 
dos  em  edilicios  pulilicos. 

Segundo  se  \e  do  majipa  ''l.°),  e  no  conti- 
nente  o  niiniero  das  cadeiras  dos  lyeeus  de 
100,  eslando  d'estas  82  providas  vitalicia- 
nienle,  1  leniporariamenle,  vagas  a  eoncurso 
\i,  e  reservadas  j.  0  numeio  dos  aluninos, 
((uc  as  lre(|uenlaram  no  anno  lectivo  ultimo, 
c  de  1:802. 

0  numero  das  escholas  annexas  e  de  S3, 
das  quaes  sao  deslinadas  ao  ensino  da  lingua 
latina  80;  1  ao  eurso  biennal  de  |ihilosoiiliia 
e  aiitlimetica,  c  2  ao  de  tlieologia  moral  e 
dogmalica;  acliando-se  7!l  pro\idas  vitalicia- 
niente,  e  I  lemporariamente.  0  numero  dos 
alumnos,  ([uc  as  frequentaram  no  anno  Undo, 
e  de  964. 

Vol.  III.  Feneueibo  13 


0  numero  das  cadeiras  dos  lyeeus  e  escho- 
las annexas  nas  ilhas,  e  de  23.  Em  consc- 
qncncia  porem  da  falta  dos  relatorios  respec- 
tivos  e  rcmessa  dos  mappas,  apenas  se  sain; 
que  em  Angra  e  Funclial  foi  o  numero,  dos 
ijue  as  frequentaram,  de  196.  —  0  numero 
total  dos  alumnos,  que  consta  tercm  frequen- 
lado  no  ultimo  anno  os  lyeeus  e  escholas 
publicas  annexas,  foi,  por  tanto,  dc  2:962, 
OS  quaes  se  achara  classilicados  por  districtos 
no  mappa. 

No  precedente  anno  lectivo  de  1848 — 1849 
fora  este  numero  dc  2:098;  houve  por  tanto 

0  excesso  dc  864  a  favor  do  ultimo  anno. 

A  pezar  de  repetidas  instancias,  nao  sc  tern 
podido  ainda  conseguir  que  todos  os  profe.s- 
sores  parliculares  do  ensino  sccundario  se 
habililem  na  conformidade  da  lei.  Dos  esfor- 
cos  empregados  neste  scntido  por  alguns  dos 
delegados  do  eonselho,  notando-se,  entre  el- 
les,  OS  commissarios  d'esludos  d'Evora  e  Faro, 
apenas  tem  resultado  o  terem-se  habilitado 
com  exame  dc  capacidade  para  o  ensino  par- 
ticular 14  piofe.ssores  de  latim;  3  de  francez; 

1  de  inglez;  4  de  philosophia  racional  c  mo- 
ral, c  1  dc  rhetorica. 

E  pois  0  numero  total  dc  29,  numero  in- 
signilicantissimo,  comparado  com  o  d'aquellcs, 
(|ue,  segundo  e  sahido,  sc  encontram  por  todo 
0  reino  eil-'inaudo  particularmente  sem  hahi- 
litacOes. 

6  eonselho  nao  cessa  de  exigir  toda  a 
vigilancia  neste  sentida,  c  cspera  que  V.  M. 
se  dignara  coadjuval-o,  rccommendando  aos 
governadores  civis,  que  procurem  por  todos  os 
meios  ])6r  um  termo  a  este  contrabando  lit- 
terario,  nao  menos  nocivo  do  que  esse  ([uc 
se  faz  a  despeito  das  nossas  alfandegas. 

Ainda  ha  pouco  o  eonselho  olliciou  ao  go- 
vernador  civil  de  Evora  para  que  mandasse 
autuar  e  entregar  ao  poder  judiciario  alguns 
individuos  que  se  tem  rccusado  a  ensinar  sem 
as  devidas  habilitacoes,  estando  certo  que  so 
jior  alguns  cxemplos  dc  scveridade,  preccdi- 
dos  de  previas  exhorlacoes  dos  governadores 
civis,  se  podera  Icvar,  nesta  parte,  a  lei  a 
execucao. 

Nao  tendo  pois,  por  este  niolivo,  sido  pos- 
sivel  obter  os  mappas  dos  alumnos,  que  fre- 
quentaram as  escholas  paiticulares  do  ensino 
sccundario,  tujo  numero,  ha  todos  os  dados, 
_1855.  Num.  22. 


„ei^^  /^^'^7^'S^.a^ '^ — ■*;^'^^^i^:2gi-^ 


282 


para  fazor  subir  a  muito  mais,  que  o  das 
csiliolas  puhlitas,  falla  a  base  indispeusavel 
para  n'clla  se  asscnlar  a  rslatisliia  actual,  e 
couii)arativa  nesta  parte  do  iiislrurrao;  c  por 
isso  quaes(]uor  rcsulladns,  que  |jor  agora  se 
prctendercm  lirar  de  I'lomontos  tao  esoassos, 
scriam  sunimaiiioulo  prohloniaticos,  c  inuteis 
por  coHseguinte. 

Todas  as  cadeiras  dos  lyceus  e  osdiolas 
annexas,  no  I'ontinciito  e  illias,  sac  pagas  pcio 
cstado;  oxisliudo  apciias  ciu  pxorcicio  unia 
cadeira  de  latim  em  Fronteira,  paga  por  lega- 
do,  e  unia  sem  exorcicio  cm  Moncao. 

A  despesa  votada  para  esta  verba  no  ultimo 
orcamcnto,  abatidos  os  im])Oslos  da  lei  de 
26'd'agosto  de  1848,  e  de  !)0,017§i20  reis, 
quantia  donde  sc  dove  dcsconlar  a  impor- 
tancia  das  cadeiras  vagas,  e  a  das  propinas 
das  matriculas,  na  iiuantia  approximada  de 
3:(IOO$000  reis. 

0  conselho  tern  a  salisfacgao  de  poder  dizor 
a  V.  M.  que,  segundo  o  que  ha  podido  cbegar 
ao  scu  conhecimento,  todos  os  professores 
publicos  enipregados  uesta  parte  do  ensino, 
salvas  pequenas  exccpcoes,  possuem  as  quali- 
dades  moraes  c  litterarias  (pie  sc  tornam  in- 
dispensaveis  para  o  bom  descmpenho  de  scu 
importante  ministerio.  Mas  por  outra  parte 
sente  tambcm  dizer  a  V.  M.,  ([ue  esta  na 
persuasao  de  que  o  excesso  nunierico  dos 
alnmnos,  que  no  anno  preterito  concorrerara 
as  aulas  dos  lyceus,  nao  pignifica  um  passo 
niais,  andado  no  melhoramcuto  d'estes  esla- 
bclecimentos;  c  que  nao  de|)endcu  da  maior 
importancia,  que  por  ora  sc  llies  va  ligando, 
porem  sim  de  circumsiancias  mcramenle  ac- 
cidcntaes. 

Da  maior  parte  dos  relatorios  dos  conselhos 
dos  lyceus,  consta  que  o  aiirovcitameuto  dos 
alumnos  nao  corrcspondeu  a  este  augmenlo, 
e  quasi  todas  as  uoticias,  que  vao  chcgando, 
conlirmam  esta  opiniao,  senilo  Concordes  em 
dizer,  que  no  anno  lectivo  (|ue  principia,  al- 
Duiram  muito  mcnos  alumnos  as  matriculas. 
— Esta  I'alta  dc  a])ro\citamento,  e  de  alflucn- 
cia  iis  aulas  ]ml)licas,  julga-se,  e  com  I'unda- 
mento,  que  sao  dcvidas  em  grandc  parte  a 
nullidade,  cm  que  sao  tidas  por  ora  as  habi- 
litacoes  dos  lyceus. 

E  com  elTeito,  cm  (juanto  o  curso  regular, 
e  complcto  das  disciplinas  cnsinadas  n'estes 
cstabelecimcntos,  nao  for  exigido  como  pre- 
paratorio  indispensavel  jtara  a  admissao  na 
univcrsidade,  c  em  todas  as  escholas  supe- 
riorcs;  em  quanto  este  corso  nao  lor  babili- 
tacao  necessaiia,  para  a  maior  parte  doscargos 
lucralivos  do  cstado;  em  (pianto  as  augustas, 
c  vencrandas  funccOcs  do  sacerdocio,  f'orem 
coDiiadasa  Individ uos  igiiorantes  dosprimeiros 
rudimeutos  das  bumanidadcs;  em  quanto  sc 
consentir  o  tralico,  cm  ([ue  vergonhosamente 
fc  mercadcja  as  [lortas.  quasi,  de  todos  os 
lyceus  para  apromiilar  alumnus  no  mcnor  leiit- 


po  possivel;  nunca  poderao  prosperar  laes 
cstabelecimcntos,  antes,  a  nao  si'  acudir  com 
remedio  i)rompto,  sera  a  sua  decadcucia  pro- 
gressiva, e  OS  reduzira  cm  pouco  lem|)o  a  nul- 
li(lad<',  tornando-se  infructuoso  o  cmpcnho 
com  (pie  V.  J[.  tao  desveladameiile  piocurou 
rcsuscitar  o  estiulo,  enlrc  uos  amortccido,  das 
boas  Ictras. — (lontiuna  a  scr  reclamada,  por 
parte  de  alguns  conselbos  dos  lyceus,  a  crea* 
(;ao  das  cadeiras  elcmentarcs  dc  sciencias  na- 
tural's, com  as  suas  applicacoes  as  artes  c  a 
indiistria,  dcterminada  no  artigo  4!)  do  dc- 
creto  de  iU  de  septembro.  Este  conselho  re- 
conlicce  a  necessidade  de  dilatar  a  esphcra 
do  ensino  sccundario,  c  de  addicionar  aos 
estudos  classicos,  por  cujo  progrcsso  .se  affcr- 
rem  os  diirercnlcs  grans  da  polidez  das  na(;oes, 
OS  estudos  industriaes  e  economicos,  cuja  pro- 
]iagacao  as  tornam  mais  intclligenles  eactivas 
iios  sens  apcrfci(;oamentos  materiacs. 

E  se  e  certo,  como  jii  o  conselho  tevc  a 
honra  dc  expcjr  a  Y.  M.,  n'um  dos  sens  pre- 
ccdentes  relatorios,  que  cumpre  ncstas  creacocs 
caminliar  prudcntemente,  jiara  nao  ir  edifi- 
car  no  deserto,  intende  tambcm  o  conselho, 
que  esta  prudencia  nao  se  deve  lornar  era 
inercia,  agora  priiicipalmente  que  se  vai 
desinvolvendo  entre  nos  um  genio  cmprchen- 
dcdor  c  aclivo;  e  que  .sera  hom  comci'ar  o 
ensaio  d'estes  estudos,  onde  sao  mais  rccla- 
mados.  Talvez  mcsmo  fosse  possivcl  comecar 
sem  grandc  p(5so  para  o  thesouro,  convidan- 
do,  ]ior  racio  de  gratiiieacOcs,  os  professores 
dc  alguns  d'esses  lyceus,  que  se  niostrasscm 
habililados,  a  fazer  cstcs  cursos  diias  ou  ires 
vezcs  na  semana,  ea  boras  taes  que  podessem 
aprovcitar  as  classes  industriaes. 

Tambcm  os  conselhos  dos  lyceus  dc  Faro 
c  E\oia  reprcsentam  contra  a  uniao  do  ensino, 
em  uma  so  cadeira,  do  Iranceze  ingicz,  uniao 
ii  (|ual  julgam  dcvida  a  I'alta  dc  opposilores 
a  eslas  cadeiras.  Sobre  estas  e  outras  recla- 
ukk.m'h's  (|uer  o  conselho  meditar,  c  so  as 
julgar  alteiidiveis,  levani  ii  presen(;a  de  V. 
M.  0  scu  pareccr  snbre  ellas. — Torna-si^  cada 
vcz  mais  urgente  a  coufec(;ao  do  regulamento 
dos  lyceus,  objccto  ([ue  tcm  sido  tornado  muito 
cm  coiita  [lelo  conselho,  e  (pic  nao  tem  pro- 
gredido,  por  isso  que  os  conselhos  dos  lyceus 
de  Lisboa  c  Porto,  aos  quaes,  hem  como  aos 
outros  lyceus  maiores,  sc  exigiu,  ha  muito 
tempo,  0  sen  pareccr  sobre  este  negocio,  ainda 
nao  satislizeram  li  cxigencia.  0  conselho  insta 
para  ipie  seja  satisl'eita,  e  cspeia  aprcsentar 
a  V.  M.  este  Irabalho,  por  todo  o  anno  le- 
ctivo. 

Innunicraveis  teem  sido  os  requcrimenlos 
dc  camaras  niuuicipacs,  pcdindo  a  Y.  M.  que 
mande  por  a  concurso  niuitas  das  aulas  de 
lingua  latiiia,  que,  se  acham  por  proviir.  0 
conselho  cspera,  que  por  parte  de  todos  os 
governadorcs  civis,  Ihe  sejam  rcmettidos  os 
parcecrcs  das  junctas  de  disiricto  si'ibre  este 


283 


objecto,  para  cm  vista  d'cllcs  propor  a  V.  M.  o 
piano  gcral  da  collocarao  d'estas  esciiolas,  que 
naodevcm,  cm  casoalguni,  exccdcr  o  luimcro 
das  cento  e  vinte,  deterraiiiadas  noarligo  l!iO 
do  decrelo  dc  20  dc  seplembro  de  18i4. 

,  §.  2."  Escholas  de  imlrucrao  especial. 


A  acadeuiia  dc  bellas  artcs  de  Lisboa  foi 
t'requentada  cm  todas  as  suas  aulas,  no  anno 
lectivo  dc  1848- — 1849  por  213  alumnos, 
sendo  ordinaries  48,  voluntaries  89  e  das 
classes  fabris,  "8. 

A  acadcmia  de  bellas  arlcs  do  Porto  foi 
frcqucnlada  por  109  discipulos,  sendo  ordina- 
rios  60,  e  voluntaries  49.  No  anno  lectivo 
de  1847 — 1848  tinha  side  frequentada  por 
139  alumnos. 

Importam  as  verbas  das  despezas  com  estas 
duas  academias  na  somma  de  10:908^030. 

0  consclho  attendeu  ii  justa  requisicao  fcita 
pelo  vice-inspector  da  academia  das  bellas 
artcs  de  Lisboa  fazendo  acompanhar  este  re- 
latorio  d'uma  proposta  de  lei  para  que  o  go- 
verno  de  V.  M.  seja  auctorisado  para  mandar 
comprar  em  Roma  uma  colleccao  dos  melho- 
res  modelos  em  gesso,  das  estatuas,  e  bustos 
dos  antigos. 

A  academia  do  Porto,  alem  d'outras  recla- 
macoes  que  o  conselho  loniara  na  devida 
consideracao,  queixa-se  de  novo,  de  nao  ter 
um  edilieio  proprio,  vendo-se  obrigada  a  ter 
as  suas  aulas  dispersas  cm  dois  cdilicios  rauilo 
distantes.  0  inconveniente  de  similhante  esta- 
do  e  obvio:  e  se  e  certo,  como  se  allega,  que 
este  inconveniente  c  devido  a  falta  do  cum- 
primento  de  um  contracto,  feito  pela  camara 
da  cidade  do  Porto  com  o  govcrno  de  Y.  M., 
parece  ao  consclho  que  a  camara  deve  scr 
compcllida  a  cumprir  aquelle  contracto. 

S.°  3."  Entabelecimentos  annexos. 


Bibliotbeca  deBraga.  0  bibliothecario  par- 
ticipa,  em  officio  de  30  dc  scptcmbro  ultimo, 
que  0  salao  destinado  para  collocacSo  da  bi- 
bliotbeca, e  ondc  de  ba  nuiito  sao  redamadas 
obras  indispcnsaveis,  para  que  possa  terlogar 
aquella  collocacao,  fora  visitado  pelo  gover- 
nador  civil  do  districto,  pelo  vice-presidente 
da  camara  municipal,  c  por  um  Major  d'cn- 
gcnharia,  rcsidente  n'aquclla  cidade,  que  alii 
se  dirigiram  afim  de  dar  impulse  aquellas 
obras,  que  elle  espera  continuar  muito  cm 
breve. 

Bibliotbeca  publica  da  cidade  do  Porto — 
No  anno  findo  de  1848 — 1849  foi  esta  biblio- 
tbeca frequentada  por  2:013  Icitores,  e  visita- 
da  por  518  pessoas,  sendo  401  horaens,  e  117 
icnhoras. 

Imprensa   Nacional   de  Lisboa.    Esta    of- 


ficina,  que  pelos  seus  melboramentos  progre,'*- 
sivos,  conseguiu  collocar-.se  a  par  dos  melhores 
estabelecimentos  extrangeiros  d'este  genero, 
e  que  devera  servir  de  modiMo  aos  nacionaes, 
continua,  gracas  ao  zfilo  do  scu  director,  a 
veneer  alguns  erabaracos  Dnanceiros,  que 
linbam  impedido,  ale  agora,  a  sua  complcia 
prosperidade. 
Continua. 


DSIVEBSIOADE  DE  COllIBRA-PROCRAMAS. 

FACULDADE  DE  DIREITO. 
1853—1854, 

3."  ANNO.  —  7.»  CADEIRA. 

OIREITO  lOMI.MSTRlTIVO  POHTUOUEJ    E  PRIXCIPIUS 
D^  ADMIN  16TfiA(,'Io. 

Lente  Siibslilulo  —  Dr.  Bernardo  de  Serpa  Pimentel. 


C05IPE5DI0 —  CODKiO     IDMIMSTHATITO    PORTDGUE/.  , 
COIMBHI    1849. 


PARTE  1.* 

Conic(;»renio9  por  eslio^nr  rapidamenle  um  ligeiro  T^i- 
ilro  lie  luilas  as  sciencias  juridicas,  em  que  no  sen  com- 
p<flenle  logar  colloqiiemus  o  ramo  do  Direilo  Adminislra- 
livo  ;  e  Icnlaremoa  demnrcar  o  campo  de  loda  a  sciencia  . 
H.liiiiuislrativa  ,  lrH<;ando  as  linlias  divis<jri»s,  que  o  sepa- 
ram  das  demais  scicncias.  Ciiidareraos  depois  em  assignar 
11  AdDiini>lr»sSo  Publira,  instiluic;5o  indispensavel  para  a 
rralizai;i5o  do  Direilo  Adrainislrf  livo,  u  logi-r  que  llie  per- 
lince  e'litre  as  divetsas  insliliii(;5es  sociaes.  Com  este  in- 
luilu  se  ha  delraclar  dos  dinVrenles  pndi-res  do  Eslado  , 
se^'iMido  a  nossa  orpranizai^ao  politica  fundada  na  Carta 
Coiisliliicional  de  S9  d'Abril  de  1U26:  do  poder  lejjisla- 
li\o,  Jdo  nii'derador  ,  do  judicial  e  do  execnlivo;  e  esle 
iillimo  srindil-o-hemos ,  separando  as  duas  paries  de  que 
se  conipije,  Pohlica  e  Adminislra^So ;  e  deixando  de 
parte  acpi.lla,  d'esla  espccialuienle  nos  havcmus  do  occu- 
par,  moslrando  a  pobi<;iio  que  llic  cimpcle.  ja  era  lela- 
qao  aqueH'oulra  parte  do  poder  exerutivo  ,  ja  em  rclai;ao 
ao  poder  le^'islalivo  ,  ja  ao  nioderador  ,  ji  ao  judicial  , 
lendo  era  vista  o  salutar  principio  da  separai;5o  e  inde- 
pcndi-ncia  dos  poderes  polilicos  ,  e  mi  nrionaudo  ta  mbem 
a  diversa  maneira,  por  que  se  achavara  confusamente  or- 
sanizados  i.s  r.feridos  poderes,  duranle  o  retrinieii  politico 
anterior  a  Caria  Conslitucional.  Notaremos  ainda  ,  que 
exi»le  na  sociedade  civil,  alem  dos  poderes  polilicos, 
oMlro  poder,  d'aquelles  srparado  e  indeprndeule ,  o  po- 
der espirilual,  da  compelencia  das  respeclivas  auclorida- 
dcs  ecclcsiasticas,  ao  qiial  lodavia  andani  annexas  allri- 
buii;oes,  que,  Iranspondo  as  raias  do  que  e  meramenle 
espirilual  ,  enlram  mais  on  nienos  pelo  dominio  temporal  ; 
que  ninnetosas  e  importanles  relai;Si-s  se  d'lo  por  lanto 
enire  o  Eslado  e  a  Ejreja  ,  provenienles  ja  da  diversa 
nalureia  dos  dous  poderes,  ja  <la  posi(;ao  cspe.ial  em  que 
a  C-irla  Consliliicional,  e  muilas  leis  do  reino ,  tern  col- 
locado  a  Esreja  Calholica  ,  com  evclusao  de  todaj  as 
mais  egrejas  ou  conOssoes  religiosas  ,  ccnlemplando  comi> 
religiiio  do  Eslado  somenle  a  Calholic»-Apo»tol.<a-Roma- 
na  e  proloRendo  a  sua  doutrina  ,  o  seu  culto ,  e  os  seus 
uiinislros ,   pelos  muitoi   e  variados  meios  que  sao  da  sua 


284 


cotupelencia  ;  c  que  em  fim  uran  l>ua,  [larle  d'eshis  rela- 
coes  exltriures  dii  K|;r<ja  ^Tiu  pren«ler  com  a  Atlniiiiislra- 
rao  Ptihiica  ,  o  que  nuA  lf^.1^il  n  marcar  taailiem  a  posi- 
riio  (I'eslii  em  relm;uo  nu  podrr  ecclekiaslicu. 

Fixada  a»$in\  a  posii;i'iu  <la  A<lintiiistrn(;5n  entre  oa 
pi>dtrre>  que  a  ceffiuii  ou  ineio  tin  suriedailc  ciul,  deniar- 
rodo  poi  tudus  OS  lados  u  catupo  da  ^ciencia  ndmiiiivtra- 
liwi ,  e  coiirruiiladu  nun  os  lerrcooi  lt'inilrc»ph«*s  dss  oti» 
tras  sciKDci'-s  ,  laiic;arenioi  a  viala  para  u  interior,  para 
firmannui  os  ptinci|ii.iii  de  Adminislra<;iio  que  rutislilin-m 
a  lm?c  ilV'stu  ^ciencia  ,  (raclannuji  da  ri'ntriilii:t(;au  adnir- 
nislralita,  c  pvpIiiMriiU'S  cm  fim  a  or^rnnitHrao  il'aqut'll»s 
jioderes,  <pie  na  numarclua  pnrlnjiifii*  cnsliliUMU  o  cii- 
tro  dc  UmIu  a  Admini>lrai;iVu  piihtica,  aatim  activa  ,  conm 
runiulliva  .  dfliln-rativa  e  conlfneiu>a  ;  e  espfrifiliuenle 
Uaclaremus  dos  luinislerios  e  serreUriiis  iTI^lailn,  do 
conselho  de  niinislros  e  sen  presideiilej  e  do  consellio 
d'K^tadu,  e  beu  aaeim  do  Rfi. 

PARTE  S.» 

Or2;anizftdo  o  puder  cenlral  ,  era  quern  resjile  o  pen?a- 
niento  ,  que  dniuina  loda  a  adiainislrarao  publica  ,  pas- 
saremos  a  dcBrnvolver  os  mais  impoitantfs  assuiuplus 
ada]ini>trativu9  ,  a  que  se  din^'e  aqut-lle  pensaiuenlo  ,  e  a 
examlnar  a  ori;iiniza<;:"So  de  *arias  repaftl<;6(*s  pnldii-as  , 
que  lecm  a  sen.  cargo  al^nm  ramo  especial  de  ser\i^o 
adininistralivo,  que  pur  dcmandar  fouhecimenlos  U'cliui- 
cos,  ou  por  outros  resju-'ilus  ,  carece  de  ser  ilesempeuha- 
do  por  rerta  ordeiu  de  funccionarioH ,  que  conslilue  iiuia 
classe  a  parte  dus  deniai*  funccionarios  adiuinislraljvns. 
D'cstes  assiimpio*  ircmoslruclando  succ-ssivamenle  ,  bem 
como  d-is  respeclivas  repurli<;oeii  publicas  ;  porem,  coiuo 
alguns  d'elles  eetiloeiilre  8i  iuliuiauieate  ligadus  e  uoiJos, 
e  a  rcppeilo  de  outros  appareceui  mais  deslij,'ados,  oii 
inleirameiite  descomiexo*,  fareinus  diversas  sec(;ocs,  pelas 
quaes  osiremos  distribaiudo ,  segundo  as  indiou(;ot:s  aimu- 
tadas. 

Na  1.*  scci;ao  se  ha  de  Irac'ar  do*  bens  publicos:  sua 
naUireza;  diffrreules  especies ;  characleree  que  os  diblia- 
ptiem  dos  bens  do  douiiuiu  do  Estado  ,  e  de  todus  us  bens 
dislrictaes,  municipals  e  parui  hues ;  maneira  por  (pie 
divcrsos  beiia  adquirem  ou  perdeni  a  nalureza  de  bens 
publicos  ;  attribuit;oes  das  auituridades  em  rela<;ao  a  sua 
conservaq^o  e  melhorauunto  ;  e  eui  ^'cral  das  oi-ras  pu- 
blicas  ;  da  or-;»niza(;ao  das  reparti^-oes  do  Ksludo  espe- 
cialmenlc  iucumlndiifl  d'cste  rauio  de  servii^o ,  e  em  lim 
da  e\propriii(;ao  por  molivo  .le  utilidade  puidica. 

A  set-^ilo  2.*  coinpreheiidt-ra  tres  di\eri'os  lapilulos , 
relativos  aos  bens  do  douiiuio  do  Kslatlo  ,  sens  rendimen- 
los  ,  e  reparli<;oes  pNldicas  ,  que  IJie  ilizem  re>peilo. 

No  1."  capiluhi  s^  ha  de  rxpor  a  iiatureza  ilos  referi- 
dos  liens,  sua  cliissiGca<;ao  e  \ariadas  d'li.iuiluaroc-s ,  e 
modos  d*adqnisi(;ao  c  alituacjao  ;  apresciitaiidu  iiau  so  o 
jiystema  da  lei;isUH;ao  actual,  mas  lauiliem  aa  muil.is  difie- 
reu^as  da  anlijra  Iej;i^la(;i'tu. 

No  2."  capilulo  destinamos  Iractar  dos  rendimenlua 
publico?,  que  fazendo  parte  do  th^souro  publico  nai  iu- 
un!  ,  constttiicm  a  receita  do  IC-itado  .  nieucionaremoa  as 
diversas  fuiiL^  d'e^les  r«-ndimento3  ,  com- (;ando  p^-la  mais 
im|)urtante  d.- tudas,  os  iiupu.sl..s  e  cont(ibuii;oes  pul.lii-as; 
Iractaremus  <Ias  suas  variuda-*  opocies,  e  d-js  dilT-rentes 
proccssos  pclos  quaes  se  realizam  as  sunnuiii!,  que  diuia- 
nam  dVsIa  caudal  corrt-ale.  Passarrmos  a  'i  *  f.,ule  uidl- 
naria  da  rc-ceila  piiblica  ,  os  prcdu.s  do  duuiinio  do  E>la- 
do,  df  ciija  aJmiuistra(;A'»  trurtujemos  u'ote  loi,'ar,  bt-m 
como  do  ipiaesriuer  capilais  prodiitlivos  ,  ipie  pertt-nram 
tambcm  ao  dominio  do  Estado.  Mencionarenios  ainda  uma 
3.*fonle,  poslo  que  extraordinaria  da  receita  putilica  , 
OS  empreslimos  e  suppriuieidos  teitos  oo  Govcruo  ;  e  vi^lo 
que  toda  a  abundauria  d'esta  nsfcenle  depeude  iio  credi- 
to  publico,  tambpin  d'este  nos  b«\emos  de  uccupar ,  bi-m 
como  dus  cstat^elccimenlos  respecti\os  ,  r^peci.ilmenle  da 
junrla  do  credito  publico,  e  didiauco  de  Portugal. 

O  capilulo  3.°  e  det-tinado  para  as  diveraas  iiucti'rida- 
dcs  e  r(*parlii;oe3  fisi-aes ,  (pie  tern  a  scu  carj,^o  a  perce- 
p^ao  ,  L^uarda  e  ap[dica<;ao  dos  diuheiros  puldicos  ,  sua 
cscri  pIura(;!io,  couUl)ilidade  e  fiscalizn^ao.  E.>;pecialmenle 
Iractareipos  d^i  or^'aniza^So  e  atlribui";oes  do  Iribunal  do 
thesoiiro  publico  e  tribunal  de  coiitas  ;   Ijem  cumo  das  re- 


parlicoe?  de  rizenda  lii-s  di>(ricIo8  admini.'lratlMif  ,  f-icri- 
\i1e3  de  faze n 'I a ,  rerebedorcs  dos  roncelhos  c  alfaiidf^at 
maiorrs  e  menures. 

A  st-rrao  3.*  rouipreliendera  as  allribui<;ofa  da  Adinl- 
ni<[rar'io  cm  rela);rio  an  dnminio  cidteclivo  ,  *■  no  d'»nii« 
ni'i  particular,  e  as  inslitiMi;5t-s  Icndenlrs  a  deKiiiV'dier 
us  ipi(fress<-8  nial'*riais  do  paiz  .  (••ipecialmcnU'  ipitido  u 
a^ricullnra,  commi-rcio  •  iutluslria  ;  Im-ui  como  a  b-gjrilii- 
i;riu  r  duulrina  relativari  a  propri'-dadr  litloraria  ,  propne- 
dad'"  indiiN  rial ,  aos  p»-sos  ,e  mcdidas  ,  e  a  moeda. 

I*ara  a  sccrao  4  '"^  resrr\.imns  uiitrw  dnt-rso  e  iuiportan- 
t'ssillio  oliji't  In  :  alii  l--liciou  iRlos  Iractar  da  educarao,  e 
da  liour(ici-iii-ia  publica:  das  ei»cliolas,  cidlc^rios  ,  asylos, 
0  main  cstabt-liTimeiitos  publicus  c  parliciilarcs  rebdivos 
a  cada  iim  d'csses  ol'jcclos  ;  das  iep»i  ticoi-s  piddicas 
fiipicialiu'iiio  incuiiibidas  da  direci;ao  de  (piahpiir  ircntes 
raiuos  de  scriiro;  e  cm  i^'eial  das  pri'\  idcncias  e  in.-tilni- 
<;ocs  ronsaf:radas  ao  proi;fe>so  inli  Ilcctunl  e  ui'iral  (U 
suri''d,ide,  e  da^  Hllribtiirorg,  que,  soiire  taes  assumptos, 
^erabnenle  compctem  a  AdmiiiiHlracau  publica. 

A  seci;a.i  5  "  cabc  a  l*olicia  eiu  :;eral ,  e  em  n.ipecial 
a  cpie  e  rclaiiva  ;'i  S'^'uranra  '\o  E>taili) ,  a  pntlectjao  do« 
ridadilos  ,  e  ii  snude  publica;  e  se::uidauieut>'  Iraclaremos 
da  r<in;a  armada,  t  mlo  de  mar  cunm  de  terra  ^  da  sua 
orj,'ariiza(;.lo  nos  tempos  nnlcriurrs,  da  urjraniaa);rio  aclual, 
da  rela(;ao  eiUrc  o  s)>tema  d"e>ta  nri:auiZ!i(;So  e  a  furiim 
de  iiownut  do  Esiadi>,  e  em  fim  das  iiarautias  que  Psta 
or^anizaciio  admilt**,  ja  em  favor  da  ordi-m  e  da  liber- 
dade  publica  ,  ja  d"S  cidadilos  sul-jeitos  ao  s-rviijo  mill- 
tar,  ja  dos  (pie  ef^ccti^aulcute  professam  a  carrcira  daa 
arm  as. 

PARTE  3.» 

R'-slum-nos  para  a  3*  parte  alg^iins  poutos  de  Admi- 
nisira(;ao  ^eral,  q-ie  nao  carecem  de  Iuhl^o  desinvohimen- 
lo  ,  e  at(!'ai  d'tsito  loda  a  Adintnistrai;ao  local,  e  ain<la  n 
Aihnini>lra(;iio  conlenciosa.  Para  mais  facihupnle  nos  dc- 
sempenharmos  d*estu  ultima  parte  da  nos.ia  tarofn  ,  (oma- 
remos  put  gnia  o  Codi;'o  Administralivo  de  18  de  Mar^o 
de  IH4'j!;  e  lomando  na  mao  o  Oo  das  doutrlnas  ,  que 
elle  uosa|>reseuta ,  segiiil-o  hemus  ale  o  fim,  mas  de  modo 
que  \amos  ao  niesino  lenipo,  ora  coiiftontaudo  as  suas  dl- 
sposi^'Ofs  com  OS  \erdaiIeiros  priucipi.is  da  scieiicia  Admi- 
nislraliva  ;  ota  encliendo  as  lacunas  qu**  eucuntrnrn»os , 
ja  ajundando-lhe  as  prondencias  da  Icjrislac.'ao  ulterior, 
ja  em  lim  fazi-ndo  brev<.-8  dii.'re9s5es,  aqiii  e  ali^m,  jxlos 
as^unqilos  admiuistrativos  de  que  em  varios  arljgos  do 
Codigo  se  faz  expffssa  men^ao ,  para  assim  liiiarn  os  a 
parte  otjcctivada  .■\dmlui^t^a^:^o  com  a  purle  subjiTtiva  , 
de  qiie  efi])(;cialiuente  se  occupuu  o  referido  Codiiro,  que 
nada  mais  com|ireliende  do  que  a  orgaiMza(;ao  e  indicii- 
^ao  das  allribiii(;("»f*H  daa  auctoridades  e  corjius  ad'miiiislra- 
tivdS  locaes.  E-ise  fio  de  doutriii.is  ,  (pie,  ^.ll^a  a  uiodifi- 
ca(;ao  c  exciirsoes  indicadan ,  ha\cmus  dc  scjL'uir  ,  e  o  se- 
t:ointe  :  Ci>nie(,M  o  titulu  l.^pela  iugaiiiza<;ao  adminislni* 
Ina  ,  ciMnprelieiidcndo  a  divjt>ao  do  leriiloriu  e  o  pessual 
da  AtI(inui»lra(;ao.  O  2.'  tracla  da  forma(;rio  e  altriliui- 
^oes  d.ts  corpus  atlmis  rativ..s:  das  camaras  muiiicipaes  , 
sua  urgaiit/ji,-au  ,  eleiiures  e  (de?i\eis,  recen»eanieuto , 
elei(;ao ,  reunioe«  e  deli^erai^ocji  ;  altril>hi(;ufs  (jue  llic 
(tompclcm  ,  despcsa ,  receita.  ursamt-nto  e  conlaI)ilidade 
do  niunicjjiio;  do  coiicelho  municipal,  do  escrivilu  da 
camaia,  e  do  llu>ourerro  i!o  conselho;  e  pur  ullimo  ttan 
jimctas  geraes  de|  ili>Iriclo ,  sua  ori;aniza(;ao ,  eIei(;Ho, 
reirnioes,  deliberiM.'ot-g  ,  e  MUribui«;o'-s  r>  speclivas.  U  n»- 
siimpto  do  titulo  3."  srio  OS  ma.'istrailog  ailinliiistrutivos : 
no  ca})ilido  1.",  governadnr  civil  e  secretario  geral  ;  no 
'2.**,  adiitinislradur  i\ij  concidlio  e  seus  olTiciaes.  O  tihilo 
4.**  sob  a  inscrip(;ao  —  Oua  Triijiinacs  Adniinistrativos  , — 
occupase  operias  ciuu  a  orcaTiiz.i(;ao  e  alt(itiui(;oe9  do 
conselho  de  dislricto,  mencionando  ,  alt-m  das  allribui- 
(;o''s  contenciosas ,  as  d(diberativa8  e  as  nit^ramenle  con- 
sullivas,  ao  que  (emos  de  nccrescentar  ludo  o  que  per* 
tcuce  ao  contenrioso  administralivo,  e  roiiniclos  de  juriii* 
dic^ao  das  aiicloridades  adminislrativns  enlre  si  ,  e  com 
as  (io  poilf-r  judicial.  O  titulo  5. J  lem  pur  olijelo  a  Admi- 
nistracao  parocliiiil,  e  Iracla  especialmente  das  jimclaf 
de  parochia  e  sen  pscri\So  e  Ihesoureiro,  e  do  regcdof 
de  parochia  e  seus  odiciaes.  O  tilulo  6.'  estabelcce  algu- 
mas   prov  idcnciaa  espcciaea   |»ara  as  ilbas  ailj  icentes.    O 


285 


litiilo  7/  contem  iliversa*  ilisiJOba.uns  ^craos.  O  tilulo 
8.  ,  (li3|K>sir5e8  penfin.-!,  E  u  litii!o  U."  em  fim  Iracla  dos 
r-niQlumenlos  tlus  fiinccionarJui  ailiiiiiiiblrulivus. 


INSTRLCgA.0  PIUMAHIA. 


Os  progresses  da  rivilisarao  teem  fcito  con- 
vergir  em  toda  a  parte  as  main  serias  attcn- 
coes  para  uiu  ramo  de  instrucfao  publica 
fao  pouco  atleiidido  nos  seculos  passados. 
A  instrucrao  primaria  e  a  vcrdadeira  instruc- 
(•<To  nacional.  Conquistados  pclos  povos  os 
governos  do  povo  era  impossivel  doivar  em 
abandono  a  intelleciualidadc  popular.  Che- 
gou-lhe  a  hora  da  sua  emancipacao. 

Gasla-so  niuito  lenipo  no  appreadizado  da 
instruccao  primaria.  E  opiniao  asscnle.  0 
leni])0  teni  um  grandc  valor:  quatro  annos 
da  iiifancia  coiprogados  iiaquellc  estudo  e  seni 
duvida  deniasiado  para  queni  precisa  coiiti- 
nuar  a  sua  educaeao  com  cstudos  secunda- 
rios,  hoje  muito  aceresceiUados;  e  para  os 
que  precisam  do  traballio  de  seus  iilhos,  para 
acudirem  as  primeiras  necessidades  da  vida. 

Era  fousa  natural  allribuir  ao  defeito  dos 
methodos  de  ensino  o  pouco  adiantamento 
dos  alumnos;  e  tentar  novos  metliodos,  que 
facilitasscm  o  estudo.  Julgou-sc  ([ue  o  defeito 
estaria  na  pronuncia  das  letras  do  aiphaheto. 
Mudou-se.  Comccou  a  cnsinar-se,  —  fe  —  em 
vez  de  —  efe;  me,  ne — cm  logar  de  —  cnie, 
cne.  A  cxperiencia  tem  mostrado  que  nada 
se  adiantou. 

Espiritos  pbilosophicos  era  indispensavel 
acudirem  cm  auxilio  a  rcsolucao  de  um  pro- 
Llcma  mal  comprcbendido.  Era  preciso  ana- 
iisar  attenta  e  maduramcnle  a  constituicao  das 
linguas,  e  a  relacao  natural  e  legilima  da  liu- 
guagem  pbonica  e  gra))liica.  Foi  depois  de 
aturado  estudo  (jue  nos  paizes  mais  illustrados 
se  cbegou  a  conbecer  (|ue  o  defeito  dos  me- 
thodos de  ensino  estava  era  considerar  as 
letras  com  egual  valor,  tanto  na  leitura  como 
na  escrijita;  e  na  ])retencao  do  ensino  da 
palavra  pelo  conhccimeiito  dos  uomes  das 
Jelras  isoladas,  sem  attencao  ao  scu  valor 
syllahico. 

Entao  a  cxperiencia  veiu  asscUar  csta  opi- 
niao; porque  realmenle  a  cxperiencia  mostra 
que  0  mais  tempo  gasto  no  eusino  primario 
se  emprega  no  cxercicio  de  soletrar. 

Infclizmente  a  pouca  gente  tern  lembrado, 
0  que  a  cada  momcnto  esta  vendo,  (jue  o 
valor  syllabico  das  letras  nao  e  o  valor  no- 
minal dellas,  mas  o  de  suas  combinacoos  na 
linguagcm  jilionica;  e  que  ua  linguagem  j^ra- 
pliica  a  letia  ligura  com  o  \alor  do  seu  uomc. 


Querer  poisque  da  pronuncia  singular  da  lelra 
saisse  a  pronuncia  da  palavra,  era  querer  o 
impossivel.  So  com  niuito  uso,  tempo,  e  estu- 
do se  podera  conseguir.  E  ntlo  se  creia  que 
a  difficuldadc  e  so  para  o  discipulo.  Os  pro- 
prios  niestres,  pronunciando-se  singularmen- 
te  cada  uma  das  letras,  elementos  da  pala- 
vra, sera  reHexao  niio  dirao  a  palavra,  que 
ellas  exprimem.  Ainda  ha  pouco  o  observa- 
mos  em  uma  liyao  da  eschola  normal  do  en- 
sino repcntino,  em  ([ue  os  mestres-aluninos 
pediram  ao  professor  que  declarasse  primeiro 
a  palavra  que  ia  compor. 

Forcosamente  assim  devia  succeder.  Se 
estivessemos  em  eschola  grega,  e  nos  quizessem 
ensinar  a  palavra — biblos — dizendo — beta, 
iota  (hi),  beta,  lambda,  omicron,  sigma  (bios) 
diria  alguem  que  destes  sons  reunidos  resul- 
tava — biblosl  Pois  nao  vae  dilTercnca  niuito 
grande  a  pronnncia  da  palavra  portugueza. 
Pronunciando  —  c,  h,  a,  p,  e,  o, —  ninguem 
dira  de  repente — cliupeo.  Mas  se  ensinarera 
a  um  nienino  —  x,  a,  p,  eu,  sera  facil  conbe- 
cer 0  valor  da  palavra.  Se  em  vez  de  ensinar 
a  soletrar — c,  h,  a,  r,  1,  a,  t,  a,  o  —  Ihe  en- 
sinarem  pelo  soletrar  phonico — x,  ar,  la,  lao — 
dira  sem  difficuldadc  a  palavra  que  os  seus 
elementos  combinados  r^presentam. 

Depois  de  repetidas  e  estudadas  tcntativas 
feitas  em  paizes  adiantados  nos  methodos  de 
ensino,  tera-se  dado  a  prcferencia  ao  systema 
dicto  phonctico,  em  que  as  letras  no  soletrar 
cntram  pelas  suas  conibinacoes,  e  nao  pelo 
valor  nominal.  E  e  muito  para  notar  que  pes 
muitos  estudos  feitos  para  criar  um  niethodo, 
que  abreviasse  o  apprendizado  do  ensino  ele- 
menlar,  a  ninguera  lembrasse  o  methodo  re-r 
pentiiio  conhecidu  de  mais  em  Franca,  Ingla- 
terra,  e  na  Belgica! 

Foi  era  resnitado  de  reconliecidas,  e  pro- 
vadas  vantagens  do  soletrar  syllabico  aprecia- 
do  por  inspectores,  e  directores  de  escholas 
normaes  em  Franca  que  Mr.  M.  C.  Michel 
reduziu  a  regras  o  novo  methodo.  0  primeiro 
livro  de  leitura  de  Mr.  Michel  vcm  acompa- 
nhado  de  uma  obra  destinada  a  servir  de 
guia  ao  mestre,  ministrando-lhe  todas  as  ex- 
plicacOes  convenientes  sobre  o  eniprego  do 
methodo,  e  o  ensino  de  cada  licao.  A  parte 
do  livro  destinada  ao  exercicio  da  leitura 
divide-se  em  ties  seccoes.  A  primeira  com- 
prehende  o  estudo  dos  elementos;  a  segun- 
da  cxercicios  para  a  reuuiao  de  syllabas;  a 
terceira  excrcicios  sobre  difliculdades,  e  a  no-; 
malias.  : 

Divide  0  auctor  as  vogaes  em  simples  — 
a,  c,  i,  0,  u, — notando  os  diversos  sons  que 
cabem  a  cada  uma;  e  compostas — eu,  ou,  an, 
in,  on,  un, — jior  cntrar  na  sua  composicao 
mais  de  umclemento,  scndo  todavia  o  som  um 
so,  insopaiavel  no  soletrar  da  syllaba.  Tam- 
bem  um  grupo  de  letras  forma  por  vczes  si)- 
meute  ura  som,  como — ia, — em  diacre,  t — 


28C> 


ien — cm  bien.  Chamam-sc  diphthongos  ossps 
grupos;  c  0  som  nao  se  divide  no  solelrar 
phonico. 

As  consoantes  divide-as  em  simples,  rom- 
postas.  e  consoantes  diphtliongos.  Chama  rom- 
postas  —  ch,  gn,  ill  —  (mouehc,  montagno, 
iille).  Consoantes  diphthongos  sao — hi,  el,  fl, 
gl, — elo.  A  letra  x  6  iima  consoante  diphtongn 
equivalenle  a — rs,  on — gz. 

Fallando  das  syllahas  diz;  no  conhccimen- 
10  dellas  esta  a  sciencia  da  leitura.  Lemos  por 
syllabas,  assim  como  |)0r  syllabas  fallamos.  A 
syllaba  e  I'ormada  de  um  ou  dois  elementos; 
qiiando  de  uni,  e  este  sempre  vogal;  de  dois 
e  um  vogal,  outro  consoante.  Tanto  o  clemen- 
10  vogal  como  o  consoante  podem  ser  simples, 
compostos.  ou  diphtiiiingos.  0  elemento  con- 
soante pode  preeeder,  ou  seguir  a  vogal. 

0  1."  curso  do  methodo  de  leitura  compre- 
hcnde  doze  licoes  repartidas  por  Ires  classes. 
A  1.°  licao  da  1.'  classe  contem  exercicios 
siobre  vogaes  e  consoantes  simples,  compre- 
hendendo  quatro  letras  somente:  a,  e,  i,  p. 
As  syllabas  pa,  pe,  pi,  sao  formadas  destas 
h?tras:  e  dellas  as  palavras:  papa,  pape,  pipe, 
etc.  Assim  se  poupa  ao  alumno  o  enfado  de 
apprender  o  alphabcto  inteiro  sem  Ihe  ligar 
idea.  Mas  licoes  seguintes  segue-se  a  mesma 
.<implicidade  variando  vogaes  e  consoantes. 
E  (juando  chega  ao  fim  da  12.'  licao  tem  o 
Bienino  ja  lido  algiins  centos  de  palavras  for- 
fiiadas  exclusivamente  de  vogaes  e  consoantes 
simples. 

Na  2.'  classe  comeca  o  estudo  das  syllabas 
formadas  de  vogaes,  e  consoantes  comjiostas. 
Acham-se  a  frente  de  cada  licao  os  elementos 
das  syllabas,  que  a  essa  licao  competem. 
Comeca  o  mestre  por  se  assegurar  do  conhe- 
cimento  cxaclo,  que  o  alumno  tem  daquelles 
signaes,  Vao-se  graduando  os  exercicios  sobre 
aquelles  elementos;  e  so  depois  da  S.'  licao 
se  faz  entrar  os  diphthongos  na  composieao 
das  palavras  para  ir  habituando  o  meuino  a 
rencer  essas  dfficuldades,  E  na  composieao 
das  palavras  tambem  so  tem  evitado  a  intro- 
duccao  de  letras,  que  nao  conservem  o  seu 
som  primitivo. 

Na  3.'  classe  cstudam-se  as  diHiculdades 
da  lingua.  Nem  sempre  cada  som  tem  ura 
signal  permanente  por  character  proprio :  nem 
0  mesmo  character  tem  um  valor  constante,  e 
nnifornie.  0  som— o—  acha-se  representado 
por — 0,  au,  eau — o  som — -s — por  s,  ss,  c 
etc.  Ha  pois  signaes  equivalentes:  o  conheci- 
menlo  delles  constitue  a  grande  difficuldade 
da  leitura,  e  da  orthographia.  0  auctor  divi- 
de em  3  partes  o  estudo  desta  classe: 

Equivalentes  de  consoantes: — equivalentes 
de  vogaes — letras  mudas. 

Sobre  lodas  estas  difEcuIdades  contem  o 
manual  do  alumno  exercicios  graduados  com 
toda  a  simplicidade,  e  methodo.  Cada  exer- 
cicio  thcorico  e  seguido  de  uma  serie  de  pe- 


quenas  phrases  hem  escolhidas  com  um  senti- 
do  completo,  c  inteliigivel  para  o  discipulo, 
condirao  imporlante,  que  ordinariamenle  falla 
nos  mctliodos  de  leitura. 

0  primeiro  livro  de  leitura  de  Mr.  Michel 
e  seguido  de  um  curso  de  orthographia,  in- 
dicando  ])rocessos  ingenliosos,  em  que  vac 
levaudo,  como  pela  mao,  o  mestre  para  al- 
cancar  dos  alumnos  o  aproveilamento  descja- 
do.' 

Se  a  experiencia  nao  houvera  ja  sancciona- 
do  este  methodo  de  ensiiio,  podera  a  priori 
julgar-se  a  sua  utilidade.  0  piano  c  vcrda- 
deiramenle  philosophico,  deduzido  da  con- 
stituicao  da  lingua,  e  desinvolvjinenlo  iiitel- 
leclual  dos  que  desejam  apprendel-a.  0  sys- 
tema  analytico  preside  a  todos  os  processos 
na  niarcha  do  ensino,  dirigindo  o  estudo,  e 
conduzindo  sempre  os  alumnos  do  simples  ao 
coniposto. 

Nutrimos  csperancas  pelos  resultados  vanta- 
josos  deste  methodo.  Fazemos  sinceros  c  ar- 
denles  votos  porque  alguma  intelligencia  dis- 
tincta,  e  cnlti\oda  nas  lides  do  ensino  pri- 
mario  se  lembre  de  applicar  o  methodo  ad 
ensino  da  nossa  lingua  nas  aulas  elementares, 
certos  de  que  entre  nos  sera  niais  I'acil,  i 
vantajoso;  porque  nao  ha  na  3.'  classe  d(» 
curso  de  leitura  tantas  difficuldades,  e  ano- 
malias,  como  na  lingua  franceza  se  encou- 
tram.  M. 


LIBERDADE  EM  POESIA. 


Os  anligos  poetas  creavam  difficuldades 
para  depois  as  resolvereni,  e  .sacrilicando  por 
vezes  a  essencia  a  forma,  punham  peias  ao 
genio.  Muitas  destas  difficuldades  forani  ar- 
voradas  em  arte  pelos  mestres  que.  ora  dan- 
do,  ora  tirando  mais  ou  menos  liherdade  aos 
que  escreviani,  conservaram,  ate  a  nossa  epo- 
cha  litteraria,  a  pocsia  subjeila  a  tyrannia  das 
regras. 

As  artes  poeticas,  esses  codigos  infloxiveis, 
que  por  tanto  tempo  regeram  o  niundo  litte- 
rario,  passaram  de  moda,  e  assim  devia  acon- 
tecer;  por(|ue  os  sous  preceitos  ou  eram  inu- 
teis  como  quando  proiiihiam  disparates  op- 
postos,  jii  nao  digo  ao  bom  gosto,  mas  ao 
senso  commum,  ou  eram  prejudiciaes  quando 
prendiam  o  auctor.  E  certo  que  ninguem  le- 
varia  a  liherdade  tiio  longe,  que  puzessC 
golphinhos  na  terra  e  javalis  nos  mares;  nem 
quern  narrasse,  contaria  ao  mesmo  tempo  a« 
aventuras  egualmente  interessantes  de  dois  he- 
roes diversos;  ninguem  scria  tao  immodes'.o  que 


287 


cmpregasse  o  amlabo  do  vclho  Cyclico,  sem 
llie  pdr  a  restriirao  sr  a  tanlo  me  ajiidar  tn- 
genho  e  arte  dc  Luiz  do  Canioes.  As  unidadcs 
de  tempo  e  logar  eiam  prcjudiciaes,  porque 
liravam  a  liberdadc  ao  pocla  sem  darem  niais 
verosiniilhanca  ao  j)oema.  Sc  nos  concedem 
que  Bruto  e  Catao  lalleiu  as  lingiias  moder- 
nas,  para  que  nos  dao  so  uni  palacio,  c  algu- 
mas  horas  para  a  acrao? — 0  nao  querer  Boi- 
leau  que  no  soncto  entrc  a  mesnia  palavra 
rcpclida,  e  unia  extravagancia,  a  nao  ser- 
como  clle  mesmo  confcssa,  para  pousser  a  bout 
tons  les  rimeurs  franrais.  Tinham  as  artes,  e 
verdade,  prcreitos  utcis  que  dirigiam  o  poe- 
ta,  nao  couio  prisioneiro,  mas  conio  aniigo; 
esses  poreni  colhem-so  principalmente  da  lei, 
tura  dos  l)ons  auctores,  auxiliada  por  urn 
tacto  (ino,  e  uni  gosto  beni  formado. 

Mas  nao  forani  so  estas  regras  que  deram 
tractos  as  cabecas  dos  classicos.  Ilouve 
epocbas,  de  decadencia  e  verdade,  era  que 
cada  urn  rapriibava  em  forjar  cadeias  com 
que  se  prendesse.  Vieram  os  acrosticos,  vie- 
ram  os  sonetos  era  latini  e  portnguez,  vieram 
OS  anpbiguris  ja  olTereeendo  dois  sentidos,  ja 
podendo  ler-se  de  duas  nianeiras  diversas,  e 
outras  subtilezas  de  cgual  jaez.  Houve  auetor, 
que  levou  o  amor  da  diffieuldade  a  ponto  de 
comecar  todos  os  versos,  e  mesmo  todas  as 
palavras  de  urn  poema  pela  mesnia  letra. 
liubaud  dedicou  a  Carlos-o-Caivo  ura  poema 
de  trezentos  versos,  em  que  todas  as  palavras 
principiavam  por — C — Eis  aqui  o  priraeiro: 

Carmina  clarisona  cahis  cantate  catnena. 


No  museu  em  Lisboa  existe  um  soneto  im- 
presso  em  circuio,  no  qual  todos  os  versos 
acabara  cm  —  A. —  e  alem  disso  as  primeiras 
letras  de  cada  verso,  junelas  com  nao  sabemos 

I  que  mais,  c  com  o  A.  final,  dizem: 


Soberano  Congresio  dot  Lusos  gloria. 


Nesta   poesia   de  gymnastica,    ha   sonetos 

i-cujos  versos  terminam  cm  syllabas  pela  or- 
'dem  das  vogaes,  e  outros  em  que  toda  a 
♦ima  e  formada  de  duas  palavras  tomadas 
era  accepcoes  diversas.  Agora  perguntarcmos, 
sc  com  taes  embaracos,  o  pensaraento  se  po- 
'dia  traduzir  em  palavras? 

Felizmente  a  libcrdade  litteraria  seguiu  de 
perto  a  liberdade  social,  e  engenbos  superio- 
res  crcaram  novas  escbolas  onde  se  dcu  quasi 
completa  liberdade  a  poesia,  mas  nao  tao 
anipla  que  a  libertasse  dos  fortes,  posto  que 
doirados,  grilbOes  da  rima. 

0  costume  tyrannico  de  rimar  as  palavras 
faz  pcrder  a  lingua  a  sua  pureza,  e  prende 
0  poeta  com  prejuizo  da  boa  poesia, 

Se  quem  escreve  em  prosa,  para  se  exprimir 


com  fluencia,  precisa  abslrair  completamcnte 
do  trabalho  material  da  escripta,  pensando 
so  nas  ideias  que  quer  representar,  o  que 
sera  na  poesia? — 0  prosador  babiiua-se  a 
nao  repartir  a  attencao,  e  adquirindo  um 
mode  de  sc  exprimir,  que  se  chama  cstylo, 
segue  sem  iiiterrupcao  o  fio  das  ideias.  Na 
poesia  nao  acontece  assira;  o  habito  nada 
pode  contra  a  rima,  e  o  poeta  6  forcado  a 
interroraper-se,  nao  para  acbar  palavras  pro- 
prias,  mas  que  tenham  uma  terminacao  dada. 
Esta  interrupcao,  mais  incommoda  do  que 
pode  parecer  a  primeira  vista,  altera  a  forca 
do  pensamento,  que  dcve  ser  representado 
brilliante  como  foi  concebido,  e  sem  ([ue  no 
csforco,  que  exige  a  eopia,  se  pcrcam  alguns 
tracos  do  original.  A  cada  passo,  c  ainda 
nos  melhores  auctores,  vemos  a  um  verso 
exccllente,  que  saiu  livre  e  de  um  jacto,  suc- 
ceder  um  verso  frouxo  ou  forcado  pela  sul)- 
jeicao  em  que  esla  ao  priraeiro;  a  um  epitheto 
apropriado  outro  epitheto  iniproprio,  e  a  poe- 
sia nao  pode  deixar  de  se  resentir  destas 
intermittencias,  que  a  prejudicam.  Nem  sera- 
pre  pode  haver  uma  palavra  obrigada,  que 
rcpresente  uma  ideia  tambera  obrigada,  e  em 
caso  de  collisao  sacrifica-se  esta  aquclla. 
Muitos  poctas,  hoje  principalmente,  olliam  a 
rima  como  parte  integrante  da  poesia,  quan- 
do  esta  lei,  ou  antes  moda,  nao  pode  tornar 
sensivel  se  nao  o  trabalho  da  arte,  que  para 
ser  perfcito  deveria  eonfundir-se  com  a  na- 
tureza. 

Verdade  e  que  entre  nos  os  bons  modelos 
tern  escripto  em  versos  rimados.  Caraoes  e 
Ferreira  riraaram,  e  no  reinado  de  D.  Jose  I, 
seguada  edade  de  ouro  para  a  poesia  portu- 
gueza,  vemos  brilhar  Diniz  e  Garcao.  Entre 
os  contemporaneos  um  dos  nossos  poetas  mais 
fluentes,  ea  quem  a  rima  parece  obedecer,  e, 
no  nosso  entender,  o  sr.  Joao  de  Lcraos;  os 
seus  versos  sao  cheios  de  naturalidade,  e 
parece  que  as  palavras  Ihe  vera  de  iuvolta 
com  OS  pensamentos.  Mas  isto  nao  prova  que 
a  rima  seja  necessaria  nera  ao  menos  util. 
Que  nao  teriamos  nos  a  esperar  destes  talen- 
tos  ferteis,  se,  guiados  so  pelo  genio  e  enthu- 
siasmo  de  verdadeiros  poetas  escrevessera  livre- 
mente? 

Temos  exemplos  a  milhares  para  provar 
que  a  nossa  lingua,  e  o  nosso  genio  se  pre- 
stam  maravilhosamente,  e  era  todos  os  generos, 
a  poesia  livre.  0  Hijssope,  a  Castro,  o  Ca- 
mOes,  OS  Ciumes  do  Bardo,  e  poesias  mais 
pequenas  de  Bocage,  do  sr.  llerculano,  e  do 
auetor  da  Lua  de  Londres  parece-nos  que 
satisfarao  os  mais  exigcntes.  E  nem  se  diga 
que  sem  a  rima  os  versos  nao  tem  barraonia, 
e  que  neste  caso  e  mellior  escrever  era  prosa. 
Ura  verso  bem  feito  tornado  isoladamente  e 
senipre  harmonioso,  c  para  o  acharmos  tal, 
nao  necessilamos  ouvir  aquelle,  que  a  ma- 
neira  de  echo  Ibe  responde  na  rima.  Entre  a 


288 


prosa  e  o  verso  ha  ainda  outras  (lilTeren- 
cas.  A  prosa  iiao  coiupele  certo  fogo  tic  ex- 
pressao,  certo  arrojo  de  imagcns,  c  certo  hri- 
Ihantismo  dc  cores  ([iio  sao  apaiiagio  do  ver- 
so. Ninf;uem  diria  cm  prosa,  fallando  do  iima 
niullier  Icvada  por  uiii  toiro, 

Na  cstrada  inccrlo,  polos  rcdores  volve 
Por  qii,iiilo  siliii   a   laiva   o  \nc  Icvunilo, 
Roja  a  uiulhcr  comsigo,  o  troiico,  c  a  rocha. 

Nenhum  toiro  ate  hoje,  por  muita  raiva 
(|iic  tivcssc,  rojou  coiusigo  Ironros  c  roclias, 
mas  0  poeta  I'az  scntir  por  csta  exaprgeraiao  a 
liiria  do  animal,  ociiie  nao  era  permittido  ao 
jjrosador. 

Na  mrsma  pocsia  composta  de  versos  octo- 
sjllabos  e  dalii  para  baixo,  oiide  parecc  scr 
iadispensavel  a  rima,  se  podc  prescindir  del- 
la,  0  poiito  csla  cm  que  o  poeta  seja  pocla.  ' 

Cabe  aqui  indicar  outro  iiuonvcnicnte  e 
nao  peqiieno,  que  dcvemos  attribuir  a  rima, 
e  e,  parcce-iios,  por  a  poesia  ao  akance  de 
todos  OS  que  se  lembrani  de  fazer  versos,  sem 
tcrem  para  isso  os  conhecimeutos  suUicientcs, 
0  um  certo  tacio  natural  tao  ucccssario.  To- 
<los  OS  dias  as  I'olhas  periodicas  e  as  publica- 
i'oes  separadas  uos  pOe  diante  dos  olbos  cen- 
tos de  versos,  cuja  leitura  nos  leva  a  julgar 
que,  entre  nos,  a  poesia  estii  na  razao  in- 
\  ersa  dos  poetas.  E  nao  se  ache  contradic- 
cao  nisto  que  dizemos:  coucebe-se  que  o 
mesmo  que  serve  de  obslaculo  aos  bons  poe- 
tas, seja  caminlio  facil  para  aquellcs  que, 
Icvados  pela  harmonioso  das  palavras,  cousc- 
guindo  tiizer  versos  certos,  licam  por  ahi, 
sem  curarem  do  mais  importante  que  e  a  poc- 
sia. Se  as  palavra.s  sao  o  meio  pelo  i[ual  se 
Iransniitle  a  poesia.  e  claro  que  devem  scr 
proprias  c  accoinmodadas  ao  assunipto,  mas 


'  romo  taes  exemplos  uao  sao  miiilo  commuii.s, 
seja-nos  permitUdo  eitar  os  seguintes  logares,  onde 
ninguem  sentira  de  certo  a  falta  dos  .copspant^s. 

"i  ' 
Quereis,  oli  amadores    '■'*''■■  '*'' 
Amadores  ditosus, 
Ir  de  Jornada?  —  As  margcns 
De  \6s  visinhas  ide. 
Um  miindo  senipre  bello, 
'    Sempre  variado,  e  novo 
Vm  .10  ootro  vos  sede, 
Tende  por  nada  o  resto. 
Eu  tambem  vos  confesso 
Que  amei 

Ai !   momentos   tao  meigos 
Quando  vireis  de  volta?! 
Taes,  tantos,  tjlo  donosos 
Ot>jectos,  tcDi,  a  arbitrio 
Do  im|)io  dessoce^o 
Desaiui'arar  esta  alma?  ! 
Mais  de  sentir    nao  tenho 
Esse  encanto  que  enleva  ? .' 
Transpuz  d'amar  a  quadra?! 

FbaKCKCO  MlNOEL. 


nao  Ihe  devemos  dar  tanta  importancia  que 
se  tornem  0  unico  alvo  do  poeta.  \  poesia 
ntio  Icni  SI)  por  lim  impressionar  mais  ou  menos 
agradavehnente  0  ouvido,  mas  deve  insinuar- 
se  na  alma,  0  inspirar  nos  que  ouvem  as 
paixt-jcs  c  OS  sentimentos  do  poeta,  isto  e, 
acordar  cm  nos  scnsacOcs,  ((uc,  ou  por  Icr- 
mos  lima  imaginatao  menos  brilliante,  ou 
um  sentimcnto  menos  delicado,  ou  linalmente 
por  nao  estarmos  nas  circumslancias  t|ue 
0  poeta  dcscrcvo,  nao  tinliamos  scnlido.  Para 
i.'-lo  t!  ucccssario  que  a  poesia  csciipla  seja 
livre  e  llcxivel  para  se  amoldar  a  poesia 
sentida. 

A  pczar  disto  a  rima  tern  sido  de  todos  os 
tempos;  mas  parcce  indicar  quasi  sempri: 
uma  epocha  de  diMadencia  na  lilleratura. — 
uQuaiuio  0  goslo  e  a  dclicadeza  (juc  resullava 
de  ouvir,  c  de  I'allar  a  lingua  lalina,  diz  M. 
Canlu,  comecou  a  embotar-se,  nao  se  atten- 
dcu  scn.io  aos  sons,  como  se  \v  em  certos 
auctores  e  nos  hymnos  da  egrcja,  faccis  para 
0  canto,  mas  rebeldes  A  prosodia.u  —  Estc 
llagello.  porem,  vcni  de  mais  longc;  nao  so 
era  conhccido  dos  classicos  grcgos  c  latinos, 
que  ainda  assim  punham  todo  0  cuidado  em 
evilal-o,  mas  tambem  dos  arabes,  e  ate  so 
aflirma  ([ue  0  livro  dc  Job  no  stni  original 
era  uma  poesia  rimada.  Seja  porcm  como 
for,  e  certo  que  os  grandes  niodclos  da  anti- 
guidade  seguiram  so  a  naturcza,  c  nao  se 
prenderam  com  palavras  lerminadas  no  mesmo 
som. 

Nao  sabenios  so  todas  as  linguas  se  pndera 
libertar  da  rima.  A  franceza,  a  pezar  de  M. 
de  Voltaire  dizer  na  sua  arte  poetica  que  os 
versos  precisam,  para  tercm  harmonia,  tla  que 
llic  I!  dada  pela  repelicao  dos  mesmos  sons,  tcni 
por  si  e  contra  a  rima,  cntre  outros,  Feneloa 
c  Mercicr.  Nas  dcmais,  onde  a  transposicao 
e  mais  facil,  pode  e  tem-se  dispensado  a  rima. 
Muitos  dos  bons  poetas  ingiezes  cscreverani, 
e  cscrevem  em  verso  solto,  e  nem  conheciam 
a  rima  antes  de  li/iO,  epocha  em  ipie  foi  in- 
troduzida  por  LijJfjate.  Os  hespanhoes  e  italia- 
nos  escrcveni  cm  verso  solto,  e  nos  podemos 
prescindir  inteiramenle  dos  consoantcs.  Ncsta 
opiniao  podemos  eiiganar-nos,  mas  engana- 
mo-nos  cm  muito  boa  comi)anbia;  t'ilinlo,  0 
campeao  da  lingua  portugueza,  dclcstava  a 
rima,  eacbava  que  era  uma  cousa  prejudicial. 
Os  seus  onze  volumes  estiio  clicios  de  excel- 
lentcs  versos,  c  so  uma  ou  outra  poesia  de 
menos  vulto  t;  rimada,  e  elle  mesmo  diz,  que 
as  escrev^ra  para  contentar  a  todos. 

A.  GIRAO. 


289 


MEC'K-OIiOC^IOc 


Mais  urn  anjo  vooii  da  terra  a  corle  celes- 
tial!   Grande  c   sui)iinie  ideia    e  esta, 

com  que  a  religiao  sancia  vein  niitif,'ar  as  an- 
gustias  da  faniilia  cntregiie  ao  iuto  e  a  dor; 
e  um  balsainn  divino,  que  Deos,  por  sua  iuli- 
iiita  liondade,  derrama  snl)re  as  I'eridas  aher- 
tas  pela  saudade  consuniidora.  0  pranto  e  a 
conslcrnarao  exlinguiriani  a  vida,  se  a  reli- 
giao, no  nieio  de  tanla  amargura,  nao  prc- 
slassc  conlorlo  dc  esperanca  e  eonsolaeao. 

Mais  um  anjo  voou  da  terra  ii  corte  celes- 
tial! Esle  acontecimenlo  giorioso  nos  faslos 
da  etcrnidade,  mas  deploravcl  na  lusloria 
d'unia  fumilia,  teve  logar  no  dia  IS  do  mez 
passado,  pelas  scis  horas  de  tarde.  A  morte, 
por  insondaveis  designios  do  Allissimo,  des- 
c^rregou  o  goipe,  e  a  E\m.'  Sr."  D.  Maria  da 
Victoria  Osorio  Cahral  Pereira  de  Menezes 
deixou  de  existir  entrc  nos. 

Era  uma  planta  de  grandcs  csperancas,  que 
foi  cortada  pela  fouec  do  segador,  no  verdor 
dc  scus  dias ;  viu  o  niundo  mas  nao  o  conheccu ; 
seu  espirifo  revcstiu-se  das  formas  humanas, 
so  para  sc  fazer  admirar. 

Nem  a  elevada  intelligencia  dos  facullativos, 
ncm  a  assiduidade  e  esmero  no  tratameuto, 
nem  mcios  alguns  dc  salvacao  poderam  debcl- 
iar  agravidade  eprogresso  do  nial;  nesta  luta 
cntre  a  vida  e  a  morte,  a  medicina  sentiu  a 
f'raqueza  dc  scus  rccursos,  c  a  filiia  mais  nova 
do  Exm.°  sr.  Antonio  Maria  Osorio  Cabral  e 
da  Exra."  sr.°  D.  Maria  da  Conceieao  Pereira 
de  Menezes,  cxlialou  o  ultimo  suspiro  na 
vespera  do  seu  decimo  quarto  natalicio. 

Sua  alma  pura.  .  .  pura.  .  .  como  um  anjo, 
pubiu  gloriosa  ao  seio  do  Eteruo:  sini,  como 
um  anjo....  d'outras  pcssoas  seria  tenierida- 
de  dizel-o,  mas  da  Senliora  D.  Maria  da  Victo- 
ria seria  tcmcridade  duvidal-o.  Suas  facul- 
dades  intellectuaes  haviam  manit'estado  um 
desenvolvimento  admiravcl  e  preraaturo;  suas 
virtudes  rcligiosas  e  moraes  faziam-se  notar 
pela  perfcicao  e  (irmesa,  que  so  por  muitos 
annos  de  provas  se  pode  adquirir.  0  juiso, 
a  prudencia,  a  caridade,  e  todos  os  mais 
dotes  que,  no  mcio  das  procellas  da  vida, 
podem  fazer  um  ente  feliz,  e  util  aos  outros, 
revestiam  este  anjo. 

A  morte  roubou-nos  este  thesouro,  onde 
se  achavam  encerradas  tao  prcciosas  virtudes. 
Sua  alma  Candida. .  .  .  essa  faisca  da  divin- 
dadc,  subiu  radiante  ao  centre  donde  tinha 
dimanado.  « • 


VICTORIA  LIADA. 


AEXM.^SR.^D.  MtRiA  DA  CONCEH,  \o  PERFTRA  DE  MENEZES. 


I. 


S('pro  de  morte,  ein  Itia  aurora  aiuda. 
Victoria  linda,  desbotuu-tp  a  cor; 
Voz  do  Senhor  a  ontra  vida  infinda, 
Victoria  linda,  te  chamuu  em  flur  ! 

Xascida  ;i  sombra  de  forraoso  rodro  , 
Onde  Dom  Pedro  mciga  Ig:nezaniou, 
Como  choroii  a  morl.i  If^iiez  Dora  Pedro  . 
Ao  pe  do  cedro  tua  niae  chorou. 

Fonte  de  lag:rimas  e  amor  chamada 
Viu-te  embalada  na  liia  infancia  ahi ; 
Do  Ceu  aqui  lii   vinhas  ja  fadada 
A  ser  chorada  neste  amor  por  ti. 

Vento  da  tarde  te  levou  sem  cnsto, 
Qual  tenro  arbu^to  sem   raiz  no   jn' ; 
Mas  vacs  co'a   fi'   enraizar    sem  suslo, 
Do  throno  augusto  do   teu  Deiis  ao  pe. 

Como  arribada  d'oulra  praia  a  beira, 
Ave  estrangeira  que  por  ca  gemeu, 
Do  patrio  ceu  a  suspirar  fagueira 
N'aza  ligeira  remontaste  ao  Ceii. 

Anjo  da  morte  a  derradeira  hora 
Na  torre  agora  <iue  soou  ja  diz, 
O  bronze  quiz  alii  chorar  .  ,  .   nao  chora, 
Nem  prece  implora  ...  so  bradoii  — Idiz  ! 

II. 

Feliz!  de  certo,  e  nao  chores 
Dira   tudo  k  triste  mae; 
Porque  a  filha,  sens  amorps, 
Mclhor  nuindo  agora  tern : 
Nao  chores  Ihe  jiersuade 
A  christa  conformidade, 
Nao  chores  ,  .  .  mas  a  saudade 
Rebeivta  do  cora^ao ; 
Se  curva  a  fronte  ao  tormento, 
Se  obedece  o  pensamonto, 
Vem  rebelde  o  senfimenlo 
E  as  faces  regadas  sao. 

Nem  ha  crime  nes.'e  pranto, 
Da  Dens  prantos  para  a  dor  ; 
Na  amargura  teem  encanto, 
Que  autre  maguado  amor; 
As  lagrimas  sao  do  horaem. 
Por  j)rivilegin  Ih'as  lomem, 


*  Estes  versos  foram  feitos  por  occasiao  da  iiiuilu 
da  Exm/  Sr."  D.  Maria  da  Victoria  Osorio  Pernira  de 
Menezes,  que  nasceu  na  Quinta  das  Lagrimas,  junto  a 
Coimbra,  em  16  de  Janeiro  de  li;41,  e  falleceu  na  mesma 
Quinta  em  15  de  Janeiro  de  1U3.),  sendo  enterrada  no 
dia  16  em  que  completa^a  14  annos  de  edade.  Sua 
extremosa  miie,  a  quem  os  versus  sao  offerecidus,  costu- 
mava  charmar-lhe  flctoria  liitda,  e  d'esta  terna  expre- 
sao  do  afTt'Clu  maternal  se  tomou  o  litulo  da  composiijSo. 


290 


Quo  -te  A  lui  dos  olfaoa  somelOt 
Tambera  nellas  briiha  luz; 
<juanilo  da  Cruz  ja  pendta 
O  Fillm,  que  Ihe  morria, 
Tamhem  a  Virgem  Alaria 
Fui  chornr  aos  pes  da  Cdiz! 

Chora,  poiSf  6  mSe  saiulot^a, 
Chora  a  filha  que  morreu. 
Koiha  a  folha  dossa  rosa 
Hecarda  n  que  ja  foi  leu : 
Pinta  as  gramas  na  memoria , 
Kssas  Kra(^as,  docp  gloria 
Que  da  formosa  Victoria, 
N'alma  e  corpo,  podes  ter; 
Beija  o  nome  —  prophecia 
Ua  victoria  que  a  devia 
\a  vida,  c  na  morte  um  dia, 
C'roada  sempre  trazer. 

Sp  ves  triste  o  esposo  ao  lado. 
Sc  OS  raais  fiUios  tristes  ves, 
Se  o  teu  anjo  e  tao  chorado, 
Tu  mais  na  dor  te  reves; 
Mais  lembra  enlao  que  voarn, 
Na  falta  mais  se  repara, 
Mats  viva  se  retratitra 
A  pomba  que  andava  alii; 
Kra  a  alegria  de  tiulo, 
\a  meza,  no  brinco  e  estudo, 
K  tudo  agora  ves  mudo, 
E  a  saudade  cresce  em  tl. 

Oh !  n^o  ha,  nao  ha  na  terra 
Outra  dor  corao  essa  dor. 
Que  longe  ca  nos  desterra 
Da  vida  do  nosso  amor; 
E  das  i>enas  negra  pena, 
Toda  a  outra  e  mais  pequena, 
K  se  Deus  nao  a  condemna 
Deixem  a  pena  (>enar; 
Se  nos  leva  todo  o  riso , 
Se  is  vezes  leva  o  juiao, 
Do  gosado  paraizo 
Vossa  a  satidade  Gear. 

Chora,  chora,  alma  pungida, 
Pobre  miie,  se  alivio  e  teu; 
Intendo-te  a  dor  sentida 
Que  l>era  perto  a  vi  ja  eu; 
TambfUi  do  filha  formosa 
Vi  na  face  meliiidrosa 
Desbotar  nascenle  rosa, 
K  a  raurle  em  torno  a  rugir; 
Da  sepuitura  aos  regelos 
Vi-lhe  OS  pes  ir  a  descel-os, 
Quando   Deus   pelos   cabeUoS 
A  suspendeu  de  cahir. 

Tu  foste  mais  desgra^da, 
Rola  viuva,  bem  sei ; 
Choras  na  campa  fechada, 
\a  campa  aberta  eu  chorei; 
Mas  nessa  magoa  que  eu  tluhs 
A  Ina  bem  se  adevinha, 
K  por  isso  acceita  a  minha 
Que  comtigo  chorar  vera ! 
Ah!  dize  ,  como  eu  dissera, 
Se  e  anjo  do  Ceu  .  .  .  podera , 
Vivendo  como  vivera, 
Sqt  anjo  depois  tambem. 

HI. 

Mu<  lii  ^■ac  .  .  ,  oh !  la  jaz  .  . .  inda  fumegam 
Mai  extinctos  brandSes!  .  .  . 

A^ora  em  voUa  os  crepes  se  despregam  . , . 
E  das  sanclas  can^oes 

yo8  ja  desertos  muros  da  capella, 

So  re-;ta  o  echo  a  suspirar  por  ella! 


Quatorio  primavera^ .'  ....  Falta  um  dia  .  .  . 

Dia  do  aeu  nalal  I  .  . 
Ai  1  mas  nesse  .  .  .  infeliz!  ...  a  mtie  fazirt 

Da  filha  o  funeral ! 
E  em  vez  de  fesla  em  honra  da  donzella. 
So  resta  o  echo  a  suspirar  por  ella! 

Senhor!  Senhor !  Xao  linhas  lu  mais  anjos? 

Tao  de  pressa,  Senhor?  ! 
P<ii,s  rallam-te  no  Ceu  coros  d'archanjos 

A  cantar  teu  louvor? . . . 
Koubando  ca  da  terra  essa  vox  bella. 
So  resta  o  echo  a  .suspirar  por  ella  I 

Eterna  roagoa  nunca  interronipida 

Ksta,  ao  menos,  sera; 
Entrc  a  morte  e  a  memoria,  espai^o  a  vida 

Alegre  nao  tera. 
Que  da  alegria  da  apagada  estrella 
Sii  resta  u  echo  a  suspirar   por  ella! 

i.  DE  LEMO^. 


POESl.V  SLAYA  CONTEMPORANEA. 


Continuado  dc  pag.  tlO. 


III. 


Se  folliearmos  as  obras  dos  poetas  russos 
Derjavin,  Pouchkine  e  Lermontof,  com  o 
iiiluito  do  dt'scobrir  os  iiovos  horizonles,  as 
fonles  iguoradas  que  Ihes  abriu  o  gouslo, 
acliaremos  que  para  cllcs  o  sentiniento  da 
poesia  popular,  e  de  um  ideal  propriamcnle 
sou,  aiiida  agora  comora  a  grrniinar;  mas, 
pcio  mcnos,  ja  se  ve  que  vae  apontando;  c 
se  na  Russia  desabroclia  com  vagares  que 
fazera  descorfoar,  deve  isso  laucar-se  cm  conta 
a  causas  pet  iiliares.  Em  priniciro  logar  o  gouslo 
russianno,  debaixo  do  embrutecimento  devido 
a  oppresMio  dos  moujiks,  caiu  n'um  estado 
niuilo  viziiiho  da  salvajaria.  As  piesnas  col- 
lacionadas  pelo  cosaco  Jakubovitcb,  mais  co- 
niiecido  pelo  pseudonymo  de  Kircha  Bauilor, 
abundam  em  treebos  de  fazer  arripiar.  Re- 
seiUem-se  do  lataro  c  do  mongol.  As  ran- 
cOes  amorosas  denuneiani  um  deploravel  aba- 
timento  moral.  Os  eantos  beroicos  sao  os 
unicos  (jue  conservam  aiuda,  scnao  toda  a 
pureza  jirimiliva,  pelo  menos  a  sua  energia. 
E  por  isso  coneebe-se  bem  o  soberano  desprezo, 
a  que  OS  poetas  acadeniiios  de  S.  Petersburgo 
votam  0  fpiisle.  Jukovski  e  Baliucbkov,  apezar 
do  seu  talento  inconteslavel,  apenas  sabem 
traduzir  no  russo  as  ideas  eslrangciras.  Der- 
javin possuc,  na  verdadc,  mais  alguma  cousa 
da  jwesia  local;  mas  as  suas  principaes  inspi- 
rafocs  sao  colhidas  nos  velbos  monumentos 
i  da  literalura  sagrada. 

0  rosmopolita  Poucbkine  parece  ter  sido  o 
primeiro  que  na  Russia  comprebcndeu  o  go- 
uslo, mas  foi  para  o  repellir,  pois  intendeu 
de  prompto  que  encontraria  nolle  um  rival 
temivel.  Assim  nao  perde  nunca  a  occasiao  de 
moltcr  a  ridiculo  os  rapsodas  enfadonhos  que 
ellc  conipara  com   os  auctores  asialicos  dos 


£91 


Contos  da  Mil  e  Uma  Noiles.  Pouchkino  compoz 
unia  ininicnsidadc  do  contos,  porcni  vcidadci- 
ras  piesiia.s  iicm  iinia  so.  Acontoce-llie  porciii 
as  vezes  o  aliiiar  pelo  loin  dos  youslars,  como 
em  alguns  dos  sens  vi-rsos  iiUiliiiados  o  Giro 
eoSabre.  «()  oiro  gahava-se  ccrlo  dia  dizeiulo: 
0  nuindo  intciro  e  nicu;  mas  o  sabre  respon- 
dcu-lhe:  Enganas-le,  so  a  inim  e  quu  o  muiulo 
pertcncc.  —  Eu  posso  comprar  liido!  cxilamou 
0  oiro.  —  E  cii,  ri'plicoii  o  sabre,  posso  coii- 
(|uistar  ludo  pela  lorra.i)  Nao  parece  esta 
setiteiifa  extrahida  das  collecc'Oes  dc  Yak? 
Apossando-sc.  jjorem  da  allegoria  popular, 
Poiichkine  nao  dcixa  dc  Ihe  misliirar  seiupre 
0  I'el  c  0  puiigente  sarcasmo  byronico,  que  o 
impede  de  eomprehonder  a  belleza  primitiva 
iia  sua  simplicidade  graudiosa.  E  assini  que 
0  cnconlramos  na  sua  allegoria  dos  Dois  Vor- 
tos:  <(Um  corvo,  passando  no  seu  v6o  per 
pcrto  d'oulro  corvo,  grila-Ihe:  Onde  leremos 
hojc  que  janlar?  —  La  em  baixo  vi  que  jazia 
0  corpo  de  um  heroe  assassinado — Por  quern, 
e  por  que  I'oi  elle  morto?  So  tres  cnles  o 
sahem:  o  seu  falcao  que  fugiu  voando  do 
bo.sque;  a  sua  egua  prela,  na  qua!  monlou 
o  seu  inimigo;  e  a  sua  joven  esposa,  que 
parece  que  espera  por  quern  ama,  nao  pelo 
assassinado,  mas  pelo  vivo.»  Nada  por  certo 
menos  digno  do  youslar  do  que  o  riso  cruel, 
com  que  termina  esle  rasgo  poetico. 

Ve-sc  porem  que  Pouchkine  fazia  tao  pouca 
idea  dos  thesouros  sotterados  na  poesia  popu- 
lar russiana,  que  intitulou  Cunlo  sercio  uraa 
das  slias  poesias  ligeiras,  que  parece  o  resumo 
literal  da  piesna:  Na  litooskom  rubijie  (na 
Fronleira  lilhuania),  da  colleccao  de  Kircha. 
E  um  corsel,  que  sentindo  approximar-se  a  sua 
morle  e  a  de  seu  amo,  abaixa  a  cabeca  na 
vcspera  da  balaiha,  c  dcixa  cair  sobre  a 
rclva  as  suas  criuas  compridas,  scm  querer 
heber  nem  comer.  Ao  seu  cavalleiro,  que  llie 
pergunta  a  causa  dos  sens  pezares,  responde 
cxactamcntc  como  o  cavallo  do  joven  boiar 
moscovila  na  poesia  de  Kircha;  e  e  a  isto 
que  Pouchkine  cliama  um  canlo  servio. 

Para  os  herdeiros  deste  Goethe  moscovita, 
a  scena  muda  d'aspeeto.  Lcrmontof  e  ainda 
ura  pocla  byronico,  e  um  admirador  de  Sa- 
tanaz  c  dos  sens  triumphos,  celebra  os  heroes 
da  epoclia,  e  divinisa  o  inferno  com  tanta 
paixao  como  qualquer  dos  romancislas  actu- 
aes;  percebc-se  porem  que  nelle  a  veia  sa- 
lanica  esla  para  seccar-sc  Sem  o  prcsenlir  e 
doniado  por  um  fdrca  mysteriosa,  cujos  segre- 
dos  ignora.  Apczar  do  seu  desdcra  orgulhoso 
para  com  a  poesia  primitiva,  e  forcado  a 
admiral-a,  e  n'um  lorn  meio  chocarreiro,  meio 
impio,  procura  inspirar-se  deila,  coran  se  pode 
\h  na  sua  cxtcnsa  piesna  sobre  o  tsar  Ivan 
I  nsilierilch,  o  seu  joven  pagem  e  o  audaz  gost 
Kaldchnikov. 

•■X  ti,  terrivel  tsar  Ivan  Vasilicvitch,  ao  teu 
pagem  mais  estimado;  e  ao  atrevido  raerca- 


dor  Kalachnikov,  dedicn  eu  esta  cancao!  Foi 
composia  por  un\a  nioda  cstrangeira,  nos  a 
cantamos  pela  toada  do  gotisle!  Ao  ouvil-a,  o 
povo  ortliodoxo  sc  rcgosijou ;  o  bniar  Mathias 
nos  apresentou  uma  laca  a  iransbordar  dc  med 
cspumoso;  a  sua  nobre  e  alva  esposa  nos  fez 
assentar  a  sua  mesa,  c  nos  poz  dianle,  sobre 
um  service  de  prata,  um  guardanapo  orlado  de 
soda,  e  por  tres  dias  e  tres  noites  nos  rega- 
lou,  seni  se  cansar  de  ouvir  a  nossa  cancao. 
Jii  nos  ceos  s'esconde  o  sol,  e  as  nuvens 
azuladas  nao  o  podcni  adorar,  porque  li  su- 
perlicie  da  terra  esta  assentado  no  seu  palacio 
do  Kremle',  coroado  de  um  diadema  brilhan- 
to,  0  terrivel  Ivan  Vasilicvitch;  os  sens  escu- 
deiros  trinchantes  esiao  em  pe  por  dc  tras 
delle;  ao  lado  (icam-liie  os  sens  guardas,  e 
cm  frente  estao  os  boiars  e  os  kniazes.  0  l)an- 
(jucte  esta  animado:  o  tsar  bcbe  a  gloria  de 
Dcus,  a  sua  propria  gloria  e  a  satisfaccao  dos 
sens  prazeres;  dcpois,  tomando  do  snupiiisoir 
doirado  cheio  do  niais  gcneroso  vinho  do  ullra- 
mar,  envia-o  aos  sens  guardas,  os  quaes,  todos 
cm  Ilia,  bebem  a  gloria  do  tsar.  Um  so  dentre 
dies,  um  beroe  ainda  joven  c  audaz,  nao 
quer  beber;  mas,  'silcncioso,  inclina  a  sua 
frente  altiva  e  triste  sobre  o  largo  peilo  onde 
bate  um  coracao  robusto.  Apenas  repara  na 
attitude  do  mancebo,  o  tsar  lixa  sobre  elle 
um  olhar  agastado,  como  o  abutre  que  do 
alto  de  uma  nuvem  espia  a  innocente  pom- 
binha ;  dcpois,  batendo  violentamcnte  com  o 
seu  bastao  sobre  a  mesa,  grita  com  uma  voz 
terrivel:  Kiribiecvitch,  meu  pagem,  em  ([ue 
pcnsas  tu  com  esse  ar  sombrio?  Acaso  eslas 
cansado  dc  me  servir,  ou  invejas  a  minha 
gloria?  Quando  a  lua  sobe  pelo  ceo,  as  estrel- 
las  regosijam-se  dc  a  ver,  e  as  nuvens  mais 
tencbrosas  tornam-se  claras  a  sua  approxima- 
cao;  nao  te  acontece  o  mesmo,  Kiribieevitch. 
A  alegria  do  teu  tsar  te  assombra.  0  mancebo 
pro.stcrna-se  diante  do  terrivel  tsar:  Sciiboi-, 
se  por  Ventura  o  leu  indigno  escravo  irrilou 
a  tua  alma,  faz-lhe  cortar  a  cabeca  dc  promptu, 
elle  mesmo  ira  olTcrcccl-a  ao  algoz. !  —  Que 
e  pois  0  que  te  falta?  replica  o  tsar.  0  ti'u 
caftan  de  tela  d'oiro  ja  esta  usado?  a  caso 
enxovalbaste  o  ten  Katpak  de  zibclina?  o  leu 
cavallo  esta  manco?  ou  tu  mesmo,  filbo  de 
gosl,  deste  algum  niau  geito  no  assalto  em 
que  pelejaste  as  punhadas  .sobre  as  margens 
da  Moskva? 
Continua. 


ASTRONOMIA. 

Dcpois  que  se  publicou  em  o  N.°  11  do  2."  v. 
do  Instituto  a  relafao  dos  pequcnos  plauetas 
descobertos  ate  o  fim  do  anno  de  1852,  desco- 
hriram-se  os  seguintes,  de  que  temos  noti'  ia  : 

'   O  Kremlin. 


292 


N.-' 

24 

;N.'^ 

2j 

N."' 

20 

IS'," 

27 

N,^ 

2S 

■Phocea — por  Cliacornac  em  C  de 
abril  de  18o3. 

-Tliomis — por  Gasparis  em  C  de 
ahiil  do  1853. 

•  Proserpina  —  por  Luther  era  !>  de 

Maio  de  1853. 
-Euterpe — por  Uiiid  em  8  de  iio- 
vemliro  de  1833. 

•  Amphitrite — por  Marlli  em  I,  e  por 

(lliacornae  em  3,  de 
Marro  de  18oi. 

•  Bcllona — por  Luther  em  1  de  mar- 

fo  de  ISj'i. 

■  Urania — por  Hind  em  22  de  jiilho 

de  1834. 

■  Euphrosina — por  Ferguson  em  2  de 

setembro  de  1834. 
■Pomona — por  Goidschmidt  em  20 

d'oulubro  de  183i. 
■Polymnia — por  Cbacornac  em  28 
d'oulubro  de  1834. 


Ve-se  pois  que,  neste  ramo,  os  trabalhos 
4o.<  aslronomos  em  Italia,  Franca,  Ailema- 
uha.  Inglaterra  e  Estados-Unidos,  nao  foram 
letribuidos  com  menos  absndante  colheita  nos 
annos  de  1833  e  1834,  do  que  o  haviam  sido 
iia  maior  parte  dosannos  precedenles. 


N.' 

20 

N." 

30 

^r 

31 

K." 

32 

IN.' 

33 

BIBLIOGRAPHIA. 

O  Aniiiro  dosMeninos,  parte  1.",  extrahida  principal- 
juoiile  do  Der  Deutscher  Kinderfreiind  de  Mr.  Wilinsen, 
ordenada  pelos  cuidadus  do  ill."'*'  sr.  M.  A.  Coelho  da 
Rocha,  Lente  calhedralico  da  faculdade  dedireitoda  Cni- 
versidade,  menibro  do  Conselho  superior  d'inslruc^ao  pu- 
biica,  etc,  eapprovadapelo  mesmo  Conselho  superior  para 
iizo  das  eschulas, — segiinda  edicao — Coimbra,  1853, 
J.  ina.° 

O  Aniigo  dos  JMeninos,  parte  sepunda,  ou  Manual  de 
principios  elementarissimos  de;;enp:raphia,2:eral,  ctioro;jra- 
phiac  historiade  Portugal,  !^rammatica,arithmetica,  dou- 
Irinachrista,  hisloria  sagrada,  e  moral  practica  e  reli^'iosa, 
coordenailo  e  publicadt*  para  uzo  das  escholas  e  exanies 
d'instruc^aojjrimaria,  por  A.  Forjaz,  eapprovadopelo Con- 
selho superior.  Coiinbra  1H54,  1  in  H.*^ 

O  Ami?o  dos  meninos,  introduc^ao,  comprehendentM 
uni  ahcedario  de  loilura  e  numera^ao,  e  uns  primeirus 
exercicios  de  leilura;  e  ne^tes  o  pequeno  catecismo  das 
dioeeses  de  Colmbra.  Vizcu,  Lamego,  Bragaut^a,  etc.,  e 
tudo  em  raracteres  variados,  por  A.  Forjaz.  Primeira  e 
sppinda  edi^ao,  1854,  1  in  8." 

(.'alecisrao  de  doulriiia  christit  da  diocese  de  Coimbra, 
adoplado  pelu  Excell.™"  e  Revd.""*"  senhor  Arcebispo  Bispo 
Conde  (eposteriormente  pelos  Kx.™"*  eRevd."'"*'  srs.  Bispos 
de  Hragan^a,  Bfja,  Vizeu  e  Lamego),  Iff54,  1  in  12;  e  — 
«» rt'zumo  do  mesmo,  primeira  esegundaedi^ao,  1854,  1  in 
:vi.  - 

Em  lodos  OS  pafzes  encomenda-se  a  amizade,  lizongeira 
f  benevola,  o  dar  noticia  das  no^as  publicaf^Ces,  com  ipie 
n  liomem  de  lelras  enlendeu  dever  concorrer  para  a  il- 
lii.-lra^rio  deseus  conlerraueos,  senaodomundo.  Em  muit"s 
b:l  lambem  jornae?,  que,pelo  interesse  geral,  tnmam  sobre 
^i  »  mui  util,  mas  melindroza  tarefa,  da  critica  literaria, 
iulnuetendo,  com  pausada  leitura  e  reflexao,  a  um  exame 
rlgurozo  essas  me»ma«  publira^ocs. 

A  criltca  literaria.  verdadciramente  fal,  vae  atrazada 
cutre  n-ji.  \ao  temesjornaes  bibliojrraphicos.  Alcum  tti- 


eiUificoapeoas  vegeta.  Epor  von  turn  que  as^im  sefiimclhor 
p.»r  emquanto.  Sao  tao  poucos,  absolutnuuMiti'  falaudn, 
Iportpif  em  relaratj  a  tempos  passadits  s'lo  ja  muitus"),  os 
escriptos  que  saem  dos  nossos  prelos.  qnr  fura  para  recear 
d'uma  crilica  severa  oaugmciitar  mais  um  estiVAo  a  tnntos 
ipiefazem  descoro^oar  enire  nos  a  lodo  ocscriptur,  que  nao 
sfjii  jMiro  romancista,  ou  antes,  bom  ou  nuin.  traduetor  de 
novelas. 

O  editor  d'umas  da-<!  jmblicat/Bes  ncima  aununciadas, 
autor  d'outras',  traduclor  d'algnmas;  e  por  cujas  mSos  cor- 
reram  todan  com  grande  traballio.  dezejoso  df  (pic  a  hislo- 
ria delbis,  e  a  noticia  de  seu  couleudo  ficass<'ni  consignadaa 
nas  paginas  do  Iiislituto,  poderia  rogar  a  paciencia  e  il- 
Instra^ao  d'amigos  para  que  se  dignasseni  tomar  sobre  si 
c-sf  <'»carreg'>  '•  entendeii  |iort^m  (pie,  a  nao  obfcr  lima  cir- 
cumstanciada  cpnsura,  era  mellior  eserever  elle,  .suscitan- 
do  taU  i-z  por  isso  mesmo  a  occasiao  da  critica,  que  dezeja 
para  m*-lhorar  o.>  sens  trabalhos. 

O  nonie  do  princi|'al  colaborador  do  primeiri),  as  appro- 
vatM^i's  de  todos  peb>  t'onsi-Iho  superior;  e  naipieiles,  que, 
por  sua  materia,  mais  irapor tarn  ao  beiueiiillustrat^ao  geral, 
OS  catecismos,  a  adop<;ao,  que  dos  uiesmos  teui  sido  feita 
por  alguus  dos  prelados  da  egreja  porluguf-za,  manifestam 
haver  ncstas  pul)Iicai;oes  um  inlert'sst-  vcrdadeiro  e  solido, 
cuji*  conceit**  galar(b'jaa  todos  os  que  tomaram  parte  nellas; 
e  em  especial  nus  anima  a  nos  a  darmos  conta  ao  publico 
do  seu  ctHileudo. 

O  nonie  do  sr.  Coelho  da  Rocha  sera  sempre  saudoso  na 
Cniversidade,  Era  um  sabio.  Era  maisainda.  um  phijoso- 
pho  chri-stao,  exemplar  como  sacfrdote.  modcsto,  d'vim 
tracio  singelo  e  facil,  despido  de  toda  a  fatuidadc  e  pedan* 
laria,  (|ue  lanlas  vezesassombra  e  escuruce  os  mais  profun- 
dos  conbecimentos  nas  artes  ou  nas  sciencias. 

Membro  do  Conselho  superior,  foi  naturalmeatc  con- 
duzido,  no  meioeapezar  de  seus  profundos  e  incessantes 
trabalhos  juridicos  e  historicos,  ain\esligar  de  ipie  modo 
a  inslruc^ao  ]>rimaria.  fiindaniento  de  toda  a  oulra,  cresce 
e  vigora  uos  pai'zes  mais  cuUos  da  Europa.  O  grande  juris- 
consullo  nliif  se  dedignava  de  ter  na  sua  bibliotheca  e  de 
constiltar  e  ler  algnns  e  muilos  dos  lirn'nhos,  pueris  na 
Torma,  mas  adultos  na  sa  moral  e  variados  conbecimentos, 
(|ue  por  M  se  publicam  e  consomem  com  profuzao  para  U30 
dos  mcninos. 

D*-animailo  da  poUtica,  por  que  conhecera  a  fundo  o 
vao  dos  parlido.*,  e  a  immoralidade  de  sens  combates  am* 
biciosos,  soubede-jprender-se  jiara  sempre  da  rede,  em  que 
um  inslante  se  embara^ara ;  e,  t.»do  entregue  ao  desem- 
peidio  de  suas  ardua'i  func^Oes,  reparlia  o  tempo  entre  a 
jurisprudencia  e  oscuidados  j)ela  inslruc^iio  publica,  qimn- 
do  a  inPvoravL'l  inorle.  precedida  por  umadas  mais  terriveis 
enf(Tmidade.s,  veio  cortar  ofio  d'uma  exislencia  tao  util  as 
letras  e  a  humanidade. 

Uuem  (piizcr  ffrmar  exacla  Idea  da  dedica<;ao  e  pacien- 
cia, a  toda  a  |'rova,  dosr.  Coelho  da  Roclia,  nos  trabalhos, 
a  que  se  pn>j)tNiha,  saiba  o  como  era  feitaa  primeira  parte 
do  amigo  dos  meninos. 

Lf'ra  elle  ein  V.  Cousin,  que  o  livro  Kinderfreund  de 
Mr.  Wilm.sen  eia  um  dos  mais  uzailos  nas  cscludas  |>ri- 
mariasda  Allomanha;  eque  por  toda  a  parte  seencontrava 
debaixo  do  bra(;o  dos  alumnus,  que  caminharam  para  a 
eschola.  Moven-lhe  a  curiosidade  de  ver  esse  livro  a  boa 
infornia^iio,  (pie  por  este  modo  alcan^ara  delle.  Masosr. 
C.  da  Rocha  ign^rava  a  lingua  allema ;  e  jmra  traduzil-o 
nao  tinffa  oiitro  meio  senao  o  auxillo  de  pes.soa.  cujo  por- 
tnguez  careria  as  ^ezes  de  nova  lradiici;fio  em  linguagelii 
corrente  para  que  podesse  bem  cinnprehender-se. 

Todavin  o  livro  veio,  leu-se,  e  a  traduc(;iio  l«'ve  principio. 
Com  que  jaciencia!  Que  enfado  para  qualquer  outrol 
enfado,  qnajquer  (pie  fosse  o  livro,  embora  o  mais  primo- 
roso  escripto  d'iim  Savigny,  inapreciavel  para  um  Jcto!  E 
(1  livn*  (»ra  dt."  meninos,  pueril  na  forma,  singelo  na  substan- 
cia;  qual  cunvintia  [ara  as  escholas',  mas  qual  em  regra 
afasta  os  homens  costumados  a  ler  e  meditar  Hvros  de  sci- 
encias ! 

Passaram-nos  pelas  maoe  os  cadernos  em  borrao.  Conhe' 
C'-uios  por  vezes  (pie  o  sr.  C.  da  Rocha  havia  sido  mais  que 
tradurtor;  liam-se  nelles  murtos  periodos.  todos  .wus. 

\aopodcuios  recordar-nossenj  comnioi^aodolegado.quc 


293 


recebemos  dc  vivn  voz,  qiiarulu  a  inorte  jii  era  |»ru\imn ; 
legado  llie  cliain^mos,  por  que  n  era  para  uos,  anU'S  coino 
iireceito,  a  que  nao  deviamos  faitar.  Tudavia  a  sua  dcliea- 
deza  limitara-se  auma  recuniendarao.  a  urn  dczrjn,  deque 
nl^uem  nproveitasse  esses  sens  trahallins  priiicipiadus. 

Do  extenso  livro  de  Mr.  Wilmsen  apenas  cslava  Irasla- 
dada  lima  parte,  c  es.<a  mesnia  carecendu  de  niadura  re- 
\isriu.  O  sr.  ('.  Uoclia  assim  o  conlieeia:  c  iia  inipn'SMao, 
que  comr^ara  a  fa/er,  ;'i  niediila  qu«'  as  pruvas  rosseiu  cor- 
rendo,  iria  apiirandn  <>  trahalho. 

Sens  liL-rdeirns,  sabednres  da  sua  ^ontaib-,  ofTerorcram- 
nns  n  manuseripto.  Aceeitamos  com  a  condif^rm  dt-  ht  para 
o  As)Io  da  infancia,  (pie  tivt^ra  a  liorira  df  onlar  em  o 
numero  de  seus  fundadures,  e  diiraiiti-  <»  efpat;")  dc  ]  1{  annos 
n<jd<'  sou  socio,  a<»  Itemfazeju  t.-  illuslri-  linado.  ()  li\  ro,  que 
o  ])ubIico  hoje  [hjssup,  conti'm  a  maiur  e  UK-Hior  parte  do 
queencontrain()snomanuseriptu,  accr*'>centail'>eoiii:il;riins 
coQtos  de  Schmid,  e  cum  iimas  imii  breves  nn(;ues  de  dese- 
nho  linear  freometrico,  faceis  decunipndiemler-se,  e  uteisa 
todas  as  classes. 

No  manuseripto  ha\iau us  ])rincipios,  niiocoiiclnidos.  dc 
doutrina  clirista  e  de  jrrammalica.  Knleudemos  qui-  era  tan 
conveiiiente  realisar  o  lu-usamento  do  sr.  ('.  da  K<jcha, 
tornarido  este  livro  o  mais  ciunpleto  |n»s>ivel.  e  d<-  modo 
i|ue  OS  pais,  conipratulu  urn  su.  ahi  eucontrasseni  |  ara  seus 
lilhos  lodo  o  quadrn  do  que  deve  aprender->e  na  esciiola; 
enmo  iadispensa\el  fazel-ocoma  mator  reflexiio.  mormeiite 
na  parte  reb^'iosa.  IC  por  isso  reserv.mios  para  ou1r<i  tempo, 
que  uao  tarduu,  o  ciiidar  deste  grave  nej^ociu  ;  para  o  qua! 
jtt,  deha  muito,  couver^iam  os  nossos  peusamcntos,  eal^ruus 
(rul)alho.s  haviamos  pucetado, 

Ficou  ]iois  redtizido  o  que  juidemos  apru\ritar  do  ina- 
nuscritodo  sr.  C.  da  lloclia,  e  s.eeoulem  na  primeira  parte 
do  Atnigo  dos  meninns  a  4  sec^-oes:  —  a  1."  (pie  tern  por 
objeclo:  Breves  liqoes,  propriaa  para  exritnr  a  altem;do  t 
a  rejJexao  dos  iitenifum  :  a  2.*  Li^urs  proprias  para  avivar 
a  intiUitjencia  e  exc'ttar  us  boiis  senti/iient'JS  .a  .1.^  Canfos 
moraes  t  religiosas:  a  4."  Historia  natural ;  e  uma  5/ 
addieional.  que,  como  ja  dissenios,  Ihe  accrescenlamus : 
Algumas  iia^ots  de  deatnho  linear. 

Nada  mais  curioso  do  que  a  maneira,  por  que  Mr.  ^Vil- 
nisen,  na  primeira  see(;ao,  occupandu-se  de  noroes  di>s 
phenomenos  os  mais  vul;:ares,  e  da  natureza,  sensivel  e 
patpavel,  dos  otyectos  que  nos  cercao,  attrae  aattent^Tio  dos 
meninos,  e  sem  esfor^o  os  ol>rii.'a  a  retlectir.  e  como  a  advi- 
nharem  o  que  de  couzas  elb-s  pro|irios  sal)em,  sem  o  pensar. 
Destes  objectos  materlaes  o  alitor  sobe,  na  mesma  sec- 
ijiio,  aos  moraes  e  intellecluaes,  sem  alterar  a  mesnia 
constante  singeleza  d'cst^lo,  e  clareza  d'ideas,  occeshivel 
aos  ahimnos. 

Qiier,  por  expmpl->,  fazer  sentir.  se  nos  e  licito  dizel-o 
»v>ini.  a  existencia  em  nilsd'um  esjiirito,  do  ipial  o  c.irpo 
nrio  r  senao  um  instruniento;  enliioo  A. ,  depoisde  uioslrar, 
em  bre\es  linhas,  ronio  os  S4'nliib)S  nos  dao  conlu'cinienlo 

das  cinisas  externas,  accrescenla  b)go : jMas  obser^o. 

que  nao  <■  su  nos  mens  menibros  que  exihte  a  eauza  destes 
movimentos.  Os  ouvidos  nruiouvom  por  si  so;  por  <pie  no 
iiomem  morto,  e  ainda  quando  se  durme,  nada  diiituacon- 
Icce. 

Deve  por  tanlo  exislir  era  mini  uma  causa  diversa,  que 
produz  nos  meml)ros  estes  en'eil(»s.  Dcmais,  eu  descubro 
em  miin  outras  for(;as,  e  outra  rapacidade,  que  nao  pode 
provir  dos  menibros,  nem  dos  senti4l.iSj  Tosso  leml>rar-me 
do  ipieapreiidi  honleni  naeschobi,  do  que  comi  anlehon- 
tem.  e  do  btgar.  aoude  estive,  h;t  muilns  dias.  I'o.sso  re- 
preientar-rae  a  ft.^iira  d'uma  arvore,  <pie  eu  vi  d'aqiii  niuito 
longe.  c  a  jaqueta  que  romp!  antes  desla.  'I'eniio  pre>enle. 
como  se  a  esUvesse  vendo,  a  fjgura  de  men  pai,  de  minha 
iniie,  lie  meus  irmaos,  api'zar  de  os  nao  ver  a^ora.  Posso 
lembrar-me,  e  imaj^inar  ludo  isto,  sem  empregar  nem  a 
cabeea,  nem  as  maos,  nem  os  pes,  ncra  o.^  oin  idos,  nem  os 
(tlhos,  nem  outro  allium  membro. 

Queni  e  pois  que  me  lembra  e  representa  estas  couzas  ? 
jfe  a  minha  alma;  nao  a  vejo,  mas  ella  existe  em  mini: 
percebo-a  pela  memoria,  pela  iniagina<;ao,  pelos  sentidus." 
Se  o  A.  pretende  inslruir  ns  nieninos  a  cerca  das  ideas 
abstractas  do  inipossirel ^  do  nercssarif),  »b»  indiff'ere/ite, 
i\ufim.  eis  ahi  como  elle  sefaz  eiilender  facil  esua\emente. 


— •'•  rhama-se  impossivel  aquilln  que  nao  se  pddi:  fiizi-r. 
A^sim  <■  irnji<»ssi\ri  ipie  uin  meiiino  apreuda,  se  nao  e.-ti\er 
atteuto,  E  iuipuvsivil  que  o  lume  nao  rpieime,  (pn-  u 
un^rto  lonie  a  viver,  que  uma  pessoa  de  um  salto  para  a 
lua." 

No  fini  desta  belbi  seceao,  iIel)aixo  do  tilulo  de — ptr- 
gunlan  rariadaa,  o  meslre  e  condiizido  a  in\estij:ar.  eon- 
versando,  se  as  sini^elas  no(;oes  aniecedentes  peui-lrarao  no 
entertdimento  e  na  memoria  dos  jo\ens  leitores.  Por  exmi- 
plo  :  —  'lOas  eousas,  que  conheceis,  aponlai-meas  que  '■h't 
feilas  de  b-rro.  —  (b'  la,  —  d'altrodao  clc." 

Mais  adiante  :  - —  ut^uando  si-  diz  ijue  e  dia  r  Onde  rsl.i 
n  stil.  (piaudo  o  c«'o  esta  coberto  cb*  nuvensr  K  onde  cstil 
file  de  noiti;.'"  Muis  adiante:  Kemulai  agora  asseguintes 
I)roposiroes. 

Uiieni  niio  esta  na  eschola  enm  altenrao.  naibi  ,  .  .  e  lieu 
11  m  .  .  . 

Na  agua  vi\em  os  .  .  .  Xoar  vivem  os  ....  A  tinin  »■  as 
pennas  servem  para  .  .  ,  as  agulhas  para  ....  etc.  clc- 

Se  o  eiisino  da  leitura  devc  apenas  consislir  em  inslririr 
OS  meninos  np  processo,  mais  ou  menos  mecanico.  (b*  lit'ar 
OS  elcmentos  f-^criplos  da  pnlavra,  sem  fazer  retlectir  rm 
seutido  dessa  palavra,  toda  esta  primoro>a  sec^'io  e  inilil- 
fereute,e  lanto  valadoplal-a  para  leitura  cor  rente  na-se-^clm- 
las,  cnmo  um  qiiabpier  outro  allarraljio.  Mas  ye  a  irislriic- 
rao  priuiaria  tem  de  dirigir-se  principalmento  ai*  enteiidi- 
mento,  e  somente  dejiois  a  memoria,  como  entendemos  ;  si- 
Ihe  perti-nce,  d'obriga<;ao  ngorosa,  de  pb-na  responsabili- 
dade  perante  Deos  e  perante  o  niundo.  fazer  sua^eiiu-nle 
de^envolver  as  mats  nobres  faculdades  da  alma,  e  allrair  a 
infancia  a  reflexao  eaoestudo,  sem  constrangimento.  pur 
gosto,  jKtr  emulaijao  eporhaluto,  ah!  nesse  enso  nenliiini 
mestre  jias^e  de  corrida  a  1  .'^  sec(;aodo  Amigo  dos  meninos, 
Lei-a.  e  relei-a  muitns  vezes,  pausadamente.  eenlremeada 
de  perguntas  e  resposlas,  naturnes,  como  em  coiner>a,  nTio 
obrigatorias,  c  impostas  pebi  auetoridade, 

Temos  que  e>le  primeiro  capitulo  da  ohra  de  l\Ir  A\  ihn- 
sen,  so  por  si,  justifica  a  acertada  escolha  do  sr.  ('.  il;r 
Rocha. 

Os  ot)jectos  das  sec^oes  segunda  e  lerceira,  e  a  maneiiu 
por  que  saodesempenhados,  attrae  naturalniente  a  curiosj- 
dade  dos  meninos;  e  satisfazendo-a,  deixa-llie  na  ;ilma  a< 
mais  puras  c  Airtuosas  impres>-oes.  No  manuscrilo  lia\  ia 
alguns  excerptos  das  niiiitas,  e  niui  \ariadas,  e  edificaliwi"' 
scenas,  (pie  se  eneontram  na  leitura  ibi  Biblia,  e  tpie  laiil-i 
instruem  e  e-^clarecem,  como  dtleiliio  a  quein  as  b'.  Ttula- 
via  pareceram-nos  incoinpletus,  e  ipie  preeisa\am  d'uiii 
trabaiho  mais  d'espa^o.  que  por  entao  nos  era  im])ossi\»I 
enijireheneb^r ;  e  do  tpial  nos  desvia^a  a  considerarao  Ue 
(pie.  neste  ptinto.  j.'i  as  e>chula>  po>>viiiani  iini  Ii\  n*  d'oitn.. 
iuiiuila\el,  fi'ito  ciTlameiile  por  qiu-ni  nrm  m'>  niuito  >abi;i 
(bi-i  c  lusas  .sairrada-*,  mas  taiiibem  nada  menus  do  uiodo  d.- 
falbir  cjm  aserian(;as,  e  interessabas, —  a  Ilibii/i  da  in- 
fancia  de   Ntiirlieux. 

O^a/ftnrft.'  pcrdido,  o  —  innrangvriro,  o —  i)i  i/s  rshi 
em  toda  a  parte,  o — nienino  esnialfr^  que  iiiscrimos,  \cr- 
leiido-os  de  Schmi'It  e  outros,  tem  (amanlia  naturabd;!- 
de  e  iTio  lina  niorabdade.  (pie  tius  parece  juslilicada  suhej;i. 
niente  a  sua  adniissao  neste  excellente  li\  ro. 

A  s(:-c<;ao  4.^  —  hislorin  natural — ('■  e.^cripla  com  n 
mesmo  gosto  apurado,  e  segura  experiencia  do  genio  .!..> 
meninos.  STio  breves  uo(;oes  a  cerca  dos  Ires  reiiios.  nui- 
cluirubi  com  oulras  —  da  terra  e  dc  sens  /lalfitantes :  .■ 
todas  ellas  enlremeadas  com  al-^iimaa  miii  a]>r' prlada- 
hi>torietas.  agrada\eis  e  inslructnas. 

Na  sfC(;ao  j.^  procuramos  imilar  o  eslibi  de  Mr.  A\  jhu- 
sen  ;  e  as  no(;oes  geraes.  actuupanhada-i  das  conqieteiilo 
figiiras,  accrescenlanios  uma  C(dle(;ao  de  pc(iuen<is  j»rob|.-- 
mas,  (_'  a  maneira  mais  simi)les  e  clara  di*  os  resul\  cr. 

A  primeira  edi(;ao  esgotuu-se  breve,  nem  foi  pii-.-.i^i! 
einiiil-a  a  todos  os  assignantes.  A  segunda  vai  sendo  pm- 
ciirada,  mormente  em  Lisboa,  signal  certo  de  que  os  jim- 
fessores  fazem  justi<;a  a  este  livro,  jielo  (jiial  o  sr.  ('.  (bi 
Kocha  mi>slrou  I^em,  (pianlo  e  apreciaiel  a  gloria,  tpie  n^t  . 
engeilou  em  Hespanba  .Martinez  de  la  lloza,  e  na  ilaha 
Cesar  Cantu.  a  d'escrc\er  |m.Ta  o?  meninos. 

Cnutinna. 

A.  FOKJAZ. 


294 


ESTATISTICA    PATHOLOGICA.    DOS  HOSPITAES 

DA   UMVERSIDADF. 

1 

nOMENS. EKFERSUBIAS  DE  MCILESTIAS  INTEBNA9  —  THIllESTBK  DE  OUTIBRO  A    DRZEMBRODK  1831.          1 

£DADKS               J 

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S 

MOLESTiAS. 

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6 

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3 

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17 

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18 

5»J  Febre  pislrica 

,. 

>i            )>          pneumonia 

„ 

n 

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2 

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»            ;»          Otite       .                 ... 

1 
1 

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1 

I 

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1 

»>            n         Ottte  Obstriicgao  do  bago     .... 

„ 

1)            »          Erysipila   na  face 

., 

1 

11 

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1 

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1 
8 

I 

•»            "          Tympauite 

"              "           Obstruc^iiO    do   bngo 

] 

11 

,1 

1 

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„ 

I 

»            "          Obslruc^ao  dojigndo 

1 

11 

1 

n 

11 

1 

J 13  Febfe    inteniiitlL'nte  .     .           

8 

3-1 

SI 

1 

6G 

4 

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70 

r                   n              Pneumonia 

n                  »              pneumonia — atcite     .... 

M 

„ 

11 

1 

11 

11 

1 

t»                   •.              Otite 

» 

1, 

1 

1 

,1 

1 

"                    n               Bronchile 

3 

1 

9 

.1 

„ 

9 

»>                  }■>              lironcfiite  —  ascitc — anasarca   - 

M 

„ 

„ 

I 

11 

„ 

1 

«                   ij              Paraplegia 

M 

1, 

,1 

1 

1 

1 

H                   '■>              Ascite — anasarca 

» 

„ 

] 

1 

11 

1 

2 

»                   »              Ascite  —  Obstrucgao   do  ba^o     . 

,: 

1 

11 

1 

1 

11 

2 

»                  •              Anasarca 

•  ) 

„ 

] 

2 

11 

11 

2 

n                 n             Edcmacia  nas  extremidadet  infe- 

rioret         

n 

I 

i; 

2 

11 

11 

2 

»                  »i               Diarrhea 

M 

1 

„ 

I 

n 

1, 

n                  u              Obslrucqao   do   ba^o     ,     ,     .     . 

7 

9 

11 

13 

4 

11 

17 

»                 tf             Ohsiruc^ilo   do   bago — ascite  ^^ 

anasarca   

» 

1 

fi 

11 

1 

11 

11 

»                   n              Obstrticqao  do  ba^o  —vermes  in- 

Ifstinaea 

" 

1 

„ 

11 

,1 

1 

11 

»                    »                Vermes  inttatinaes        .... 

.. 

1 

„ 

11 

1 

11 

11 

"                  «               L'lcrra  atonicas  nas  eatretntda'lea 

infer  ores 

ti 

] 

M 

» 

1 

11 

n 

18  Febre  interniiltentc  ga&Uica . 

>. 

4 

6 

1 

10 

1 

11 

11 

n                  n                  n       Bronchite 

11 

„ 

1 

., 

1 

•1 

11 

"                   »                   "       Broi'chite  —  rbeumatismo 

uriiritiar  chronica      . 

11 

,. 

1 

r 

I 

11 

■1 

m                   f.                  n       Kdtmacia  nas  extreniida- 

dts  inftriores    ,     - 

11 

,. 

„ 

1 

1 

11 

11 

"                    t;                    n        Obstrucgdo    do   ftgado  — 

ictenca 

I) 

„ 

1 

„ 

1 

11 

11 

»»                   »i                   '»       Obstruo^do  do  ba^o     ,     . 

11 

ki 

1. 

11 

1 

1 

■1 

w                   "                  M        f  ermcs  inttslino($ 

11 

, 

1 

1 

11 

11 

3   Angina 

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1 

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13 

1 

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"          .ttfite — anasarca — febre  intermittrnte     . 

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«  C^tlrile 

1 

1 
2 
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1 
1 
(J 

3 

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i 

'i   F.iilcnle 

4   Opl.[alniia 

5  Er}sij>ela   nas   orellids 

»          nas  exltcniirlades  inforiores 

"         nns  e.\tremi(Ia(leg  inferiores  — brouchife 

1. 

1 

•    " 

t. 

1 

1, 

M 

2  Rho'inialismo  mnsrular 

„ 

2 

2 

,. 

„ 

" 

1 

1 

i 

i 

4 

1 
1 

5  Klu-iimalisnio  arlicular  chrunico 

7    Brunchile 

" 

'i 

2 

1 

3 

1 

1 

;; 

»          Rhenmatismo  articular  chronica     .... 

»          Obatruc^do  do  baqo 

11 

2 

1. 

1. 

1 

1 

„ 

" 

■■ 

1 
1 

" 

1 
1 

" 

" 

n         Rhevnintismo  articular  chronica     .... 

»          Ascile  —  pneumonia 

„ 

„ 

1 

„ 

„ 

„ 

1 

1 

1 

3 

1 

3 

2 

" 

"            Obsiruoqno  do  bo^o 

I  Mania 

" 

1 

4 

'■ 

3 

1 

1 

" 

7  Ciaslralgia         

i»          Rheumatismo  muscular 

" 

" 

1 

1' 

1 

*• 

" 

295 


MOKESTIAS 


I^ileinitcm  nnt  rxtrem%daiie$  infcrtores 
rermet  intettinara 


1    FIrmipltffit 


Par;ipli-i;m  iti('oin)iU'lii 

TiKira   pulmoimr         

AstitP 

n      Pueiimonia 

n      Bruncfiti* 

n     .-tntiiarca 

«   ^^'  I'lui 

»      Ohntnic^uo   ffo   hoQO 

Hjdrottiorax  —    ^^ctt  

*f  j-ticile  ()Kir  insufieieiicia    de   \;ihutHii) 

AllHsarra 

Dinrrlica      .- 

Siirampo .      . 

K'-rartutJiia 

Jrleririn •*. 

Il.'icliiltsnm 

Hypfrlrophi;!  iln  cdraijHu ,     •■    . 

Olislrurrrm  <li>   li.iro    .,.,.....,. 

C'tiirro   do  fsli'Hia^'t) 

Alliijininitria  —  Typl^o 

'I'ifira 

Mutt'AtJus  nau  cUffSiricaJiis  (cincu  cr.trarani  moribunJuti) 


^H 


41 


217  :     45 


1 
1 
1 
1 
3 
11 


305 


Motiineiito 


Exi-itiam 

Rntruram 

S'liram 

Falleccraiu 

lieh(;ai)  dog  fallt'cidus  para  06  eiilrados 

I         |>ara  us  saidos 

jiara  tudus  os  Iratadus  (cxUlciites  e  fntradus). 


Morimenlo  de  toflas  at  euffrmarias  ths  fiospitiies 
fla  iinivertitiade  em  totlo  o  trinuslre. 


Kxibliaiu 

Eiilraratn 

Sairam 

FalteCL-ratu 

[tclac^'au  dos  fatlccidus  para  us  t-idradus 

para  os  gajdus 

para  Indus   ds  Iratadus  (exislenlns  e  i 

Iradus) 


//«// 


li3 

4ia 

59 
1:8,3 


1:10,3 


Oulubro       !\ovembro       Dezemliru      Trinuslre 


60 

131 

91 

12 

1:10  9 

1:7,5 

1:15,9 


MtdhcTis 


78 
263 
2-'0 

38 
1:7 
1:5,7 

1:9,3 


88 
119 

9  J 

10 

1:6  6 

1:5,1 

1.11.5 


97 
87 
89 
13 

1:0.6 

1:6,8 

1:14,3 


ihmi-tls 


14 
8 


Midktrei 


10 
1 
0 
0 


337 

272 

43 

1:7  8 

1:6,3 

1:9,2 

Tudoi 


Ohsertaruet  tin  Itoroliigicat. 


Medin 


(TemperuUira  aliuospherica  ao  Dicio  dia  , 
C-VItiira  Imrometrica  a  0.°  Ccnl , 


Vcrdus  preduminantos . 


763 

640 

104 
1:7,3 
1  6,1 

1.9,5 
Oiituhio 


17,19  cent. 

mil 

753,  757 

E.  SSE.  e 
SE. 


Instilulo  Vul.  3,  N."  iO. 


296 


Ainila  n'cste  trimostic  iifio  aiipam-pu  urn  so 
ciiso  de  fehre  intiMniillcnU',  cm  (jiie  licasse 
(lomonstrada  a  iiioflicacia  do  sullato  dc  (|ui- 
iiini).  Quatro  dos  dooiiles  iiCio  airaih-i  iiao  so 
(Icnioraram  no  hospital  o  toiiipo  iiccfssaiio 
para  so  a\aliar  o  cllcito  do  aiiU'poiiodico.  o 
todos  OS  niais  so  ciiiaram  da  I'ebro  inlonnit- 
loiilo,  apparoooiido  aiiida  alguns  d'oslcs  na 
casa  dos  nao  ouiados,  per  nao  so  lor  ooniplo- 
lado  a  fiira  das  moloslias  t\w'  vioiam  ooni- 
plicar  a  fohro.  I'oi  viiliiiia  dostas  ooniplica- 
(■("ios  0  dooiito  (|M0  ajipaiToo  na  oasa  dos  I'al- 
looidos. 

\  niorlaliilado  nas  piiounionias  foi  piando, 
o  nao  adniiiaxa  ipio  fosso  niaior  ainda,  por- 
(pio,  dos  17  pnoiunonioos  ontrados  no  liispi- 
lal.  "lu  oiilioii  oom  3  dias  dc  molostia,  olnoo 
com  i  dias,  (|ualio  com  ii,  uui  com  7,  tics 
coin  8.  0  urn  coi\i  I  0! 

\  Dii'ccloria  dos  hospilacs  n\inca  dci\mi  dc 
vocollicr  OS  doontos  dc  pneumonia,  por  muila 
ponuria  que  >  isso  no  ostahclccimonto;  mas 
0  ccilo  ([uc,  levada  por  osta  pcnuria  a  fechar 
a  porta  a  muilos  doontos,  e  conhoclda  por 
loda  jiarto  osta  diliculdado  nascntradas,  mui- 
tos  dcs^racados,  (|uc  alias  tiriani  procnrado  os 
rocnrsos  do  hospital  no  principio  dc  suas  nio- 
lostias,  so  alii  apparcccm  (piando  jii  nao  tem 
rcniodio.  No  nicu  onlcnder  a  rigorosa  ditlicul- 
dado  na  acccitacao  dos  doontos  6  um  desscr- 
\ico  na  Uiroctoria  dos  hospitaos,  (|uo  alguoni 
]iodcra  juflilicar  com  os  apnros  da  casa,  mas 
(|uo  tom  a  posada  rosponsahilidadc  dc  nuiilas 
viclimas  da  tlassc  mais  dcsgracada,  quo  nao 
]iodo  nom  sahe  quoixar-sc. 

Xao  continiio  a  puiilicacao  desta  osUUisti- 
ca.  porqno  doi\ci  do  scr  ciinico  dos  liospilacs. 

A.  \.  DA  COST.k  SIMOES. 


dirocfao  da  classe  dentro  de  15  dias,  e  quo 
em  egual  espaco  de  tempo  as  commissoes  da- 
riam  a  cerca  dessos  pontos  o  sou  parccor. 
0  socrctario  da  classp, 
Antunio  A.  (hi  C.  SimOea. 


ci.AssE  i)i:sr.i£>riAS  piiysico-matiie.maticas. 


Pri'siilriilc  II   sr.    Roilrign   RtOvlro    de  Sottsa   Ptnlo. 

\  18  do  Janeiro  dc  1 800  reunir-sc  osta 
classe  e  na  forma  do  rcgulamento  nomcou: 

P.ira  a  commissao  do  scicncias  malho- 
maticas.  os  srs.  Florencio  Mago  Barrolo 
I'cio,  Francisco  Pereira  Torres  Coelho  0 
\iiLonio  Jose  Toixcira. 

Para  a  commissao  de  scicncias  physicas, 
OS  srs.  lloque  Joaquim  Fcrnandcs  Thoniaz, 
.loa(iuim  Auguslo  Simoes  de  Carvalho  c 
Antonio  de  Carvalho  Coutinho. 

Para  a  commissao  de  scicncias  mcdicas, 
(IS  srs.  Jcronymo  Jose  de  Mollo,  Joao  Antonio 
do  Sousa  Uoria,   e  Francisco  Antonio  Alves. 

l)ptorminou-se  que  os  pontos  jjara  cursos, 
mcmorias    c   discussoc?  fosscm   rcmetlidos  a 


(;O.M.MISSAO  CK.NTR.VI. 


EXPOSIC.VO  IMVFUSAL  DE  PAltlS. 


U  ISO. 

A  cinilmUsiiii  renlrjil  parii  a  <'xposi(;iii>  iiiiiMT.siil  de 
Paris,  (li-?,fjti.su  (11*  [ircstnr  ticis  srs.  t'xposi tores  lodus  us 
esclarecillU'lltiis,  lellilrntes  a  fazer  represetltar  dr\  idanU'U- 
tc  n^aqiirlla  granite  rciiiii.HO  o  riosso  paiz,  lem  a  Ii(U\ra  tie 
advlrtir  a  todos  a'luelles  senIiori;s,  ipie  liu"  teem  diri^Ido 
alfiumas  diividas  snlirr  os  prodnclos  a;;rlculas,  (jiie  podem 
ser  adinittidos  a  niesina  expo.si^.ao,  e  sobre  o  modo  por 
que  deM'm  ser  feltjis  as  remessas,  o  segiiinte; 

1.**  Uiie  entre  todos  os  prodiietos  a^ricola.^.  teriin 
nuilor  aecei  lai;.'io  os  que  fazem  ja,  ou  podem  vir  a  fazer 
ohjecto  do  conimerclo,  sem  com  ludo  excluir  os  que  teem 
na  pro|)rIa  localldade  uma  a|)plIca^iio  restricta. 

m."  Que  as  remessas  de  cereaes,  ou  deoutras  ([uaesqiier 
sementes  miudas,  devem  ser  feltas  a  commissao  central, 
ou  as  commissoes  dos  distrlelos,  cm  >oIumes  que  nao 
excedam  a  uma  quarta  de  cada  <{ualidade  dilTerente  em 
saccos,  cai\as,  ou  Trascos,  com  as  competentes  desijrua- 
(;ues  de  nome,  pre(;o,  e  mais  indIca(;oes  convenientes. 

.1."  Que  das  er\itluts,  fa^as,  feijoes,  jrr.'ios  de  l)ico.  r 
mais  lef,'unii's,  ainetuloas.  avel.'is,  castanhas.  etc.,  etc., 
remettam  Milinnrs  ipie  n,no  sejam  siiperiores  a  UQia  qtiar- 
ta,  para  cada  (ptalidade  diversa. 

4.°  Que,  pel(>,ipie  loca  aos  tulierculoSj  raizes,  cebolas, 
etc.,  etc.,  a  remessa  nao  iteve'exceder  aquairo  arraleis 
de  cadaespecie,  seudo  acondiclonados  de  modo  (pie  ctie- 
puem  sem  alterac.Vi  ao  sen  destiiuj. 

5.°  Que  as  azeilonas  e  oulra>^  qiiaesquer  conservjts  de- 
vem ser  remeltiilas  e(n  fraseos  devidro,  on  potes  de  loii- 
(;a,  tieni  arrolliados  e  tac(ados,  u.ho  df\eudo  jiesar  cada 
volume  mais  de  quatro  arraleis. 

G  °  *iue  o  \  inlio  deve  ser  remellulo  em  jrarrafas  ordl- 
narias  do  eommercio.  e  cada  remessa  ni*io  de\e  conter 
mais  de  sets  ^'arrata-  da  inesma  qualldade.  nem  menus  de 
ipiatro. 

7."  Que  II  azeite  diM  e  ser  taniliem  remeltido  em  ^ar- 
ralas  brancas  de  mela  caiuida,  poiK-o  mais  ou  menus,  « 
cada  remessa  niio  (Ic*c  c. inter  mais  de  duas  irarrafas  (In 
me  ma  (pi.itidftde. 

W."  Que  as  remessas  de  met,  de  assucar.  de  eera.  de 
commas,  rezina*.  feculas,  litiras.  cascas  e  outros  prodii- 
ctiis  varios.  n.io  di-vem  evceder  em  peso  a  (piairo  arraleis. 
e  devem  \\v  liem  (te  ludicionadas. 

9."  Flnatineiite.  que  a  commissao  deseja  e  pede  (pie 
todi»s  OS  srs.  evposilores  ra(;am  acompanliar  as  suas  re- 
ines.-as  do  inal>.r  nuinero  de  e^etareelnienlos  que  Ities  for 
jHissivet  atiaiiijir.  relatiMis  a>is  sens  pniiiitetos.  inencio- 
nando,  com  e>|<eeiatidade.  a  nalureza  do  solu.  em  ipn^  o 
priiduclo  se  ciilli\a.  as  cireunslaiicias  especlaes  do  ctima. 
o  metliodo  lie  eiillura,  os  pn.cessos  de  extrac^ao,  prepa- 
ra(;ao  e  conser\a(;riii,  as  (jiianlidade's  ipie  dos  mesmos  se 
pi'ide  older  na  localldade.  o  pre(;o  por  que  se  podem  lan(;ar 
no  commercio,  e  Indus  os  onlros  esclarecimenlos  ten- 
dentes  a  dar  uina  notleia  compteta  do  otijecto  exposto. 

Sala  da  commiss.'io.  ;U  de  Janeiro  de  U\3^^.^=  Marqurz 
df  t'icalhn.  presidente  ^=  Jfy.ve  Jorge  I.ourtiro  =:=  Julio 
Mfixinio  df  Olirrira  Piiiientel ^=Carln!t  lionnt-t=.4yrrs 
dc  Sfi  .\ogufira^^Jf/tit  Ptdra  C'dlani  —  SrbnMido  Jti^f 
Uihcir't  df  ,SV(.  s(erelarlii. 


®  3u0tituta, 


JORINAL    SCIENTIFICO     E   LITTERARIO. 


I 


IIVSTITUTO  DE  COIMBRA. 

CLASSE  DE  SCIE.NCIAS  MORAES  E  SOCIAES. 

Spfisllu  (le  lo  de  feVLTeiro  de  1^55. 

Prosidcntc — o  dircclor  daclasse — o  sr.  Miguel 
Uibeiid  d' Almeida  e  Vasconcellos. 

Ao  mcio  (Jia  Ueclarou  o  sr.  yresidente  aberla 
a  sessSri,  cstantlo  prescntes  13  socios  da  classe. 
Ijida  e  approvada  a  acla  da  sessao  antecedenle, 
passuu-se  a  ordcm  do  dia:  I'arcceres  das  commis- 
soes  sobre  os  pnntos  para  memaiias  dos  socios  e 
discussOcs  na  classe.  I.ido  o  parccer  da  commis- 
sao  de  scieiicias  ccoiiomicas  e  administrativassolirc 
OS  vinto  e  dois  ponlos  que  Ihe  haviain  sido  dislri- 
biiidos,  OS  quaes  todos,  merios  tres,  approvaia, 
salva  a  redaccau,  decidiu-se,  depois  d'alguma  dis- 
cussao:  que  sc  disculisse  snmente  sobre  a  materia 
dos  ponlos,  deixando  a  sua  redaccao  a  cargo  da 
mesa  cum  a  obrigacao  de  dar  conta  d'cUa  a  classe. 

Scguiu-se  a  discussao  e  votacao  dos  14  pri- 
mciros  pontes,  dos  quaes  foram  approvados  oilo, 
julgando-sc  que  os  outros  seis  podiam  ser  refuii- 
diJos  n'aquelles,  mediatite  leves  modificaeocs  na 
redaccao  dos  approvados. 

0  sr.  presidcntfi,  dando  para  ordem  do  dia  da 
sessao  seguinle  a  continuacao  do  mesmo  objecto, 
l£\antou  a  sessao  cram  duas  horas   da  tarde. 
O  Secretario, 
Adriano  ilachado. 


Sesflao  de  18  (Ic  fevereiro  i\f.  1855. 

Presidcnte — o  director  da  classe — o  sr.  Miguel 
Ribeiro  d' Almeida  e  Vasconcellos. 

As  11  '  horas  da  manhan  foi  aberta  a  sessao, 
estando  reunidos  doze  socios.  Lida  e  approvada  a 
acta  da  antccedcntc  sessao  ])assou-se  logo  a  ordem 
do  dia:  Coiilinuacao  da  discussao  dos  parecercs 
das  commissocs  sobre  os  ponlos  para  memorias 
dos  locios  e  discussOcs  na  classe. 

Foram  votados  os  oito  ullimos  pontes,  perlen- 
centes  a  commissiio  de  sciencias  economicas  e 
administrativas,  approvando-se  cinco,  e  julgando- 
se  prejudicados  dois,  e  regeitado  um.  Passou- 
se  a  leitura  e  disciissiio  do  parecer  da  commis- 
sao  do  sciencias  nioraes,  versando  sobre  quatorze 
pontos,  OS  quaes,  menos  tres,  ha\iam  sido  ap- 
provados, saha  a  rcdacrao,  pela  refi-rida  comrais- 
sao.  D'estes  pontos  foram  pela  classe  approvados, 
salva  a  redaccao,  setc,  e  suppriniidos  quatro, 
ficando  tres  adiados  para  que  a  sua  discussao 
podesse  assistir  o  socio  que  os  propoz.  Passou-se 
depois  a  dcsignar  um  dos  pontos  approvados 
para  ohjecto  de  discussao  na  classe,  c  decidiu-se 
Vol.  III.  M.uico  1." 


que  na  proxima  sessao  de  3  de  maico  polas  fi 
horas  da  tarde  comecaria  a  discussao  do  seguinle 
ponlo:  (1,1  carta  de  lei  de  29  de  jullio  de  ISo'i, 
iirelntiva  d  moeda,  eslard  cm  harmonia  com  ns 
fiprincipios  da  sciencia  c  com  o  eslado  actual  e 
110  futuro  prorarel  du  commercio  dos  metaes  prc- 
aciosos?  t) 

Nao  havendo  mais  nada  a  Iractar,  o  sr.  pre- 
sidcnte levantou  a  sessao  pelas  duas  horas  da 
tarde.  0  Secretario, 

Adriano  Machado. 


LNSTRUCCAO  PUBLICA. 

A  um  ponlo  de  grande  interesse  publico, 
syniholisando  overdadeiro  progresso  das  scien- 
cias physicas  o  naturaes,  convergeni  hoje  os 
esforcos  dos  sabios  mais  dislinclos.  Populari- 
sar  as  sciencias,  difl'undir  pela  massa  da  ge- 
racao  presente  a  parte  util  dos  maravilhosos 
desinvolvimentos,  que  neste  seculo  ellas  teem 
grangeado,  tiral-as  das  regiOes  especulativas 
da  abstraccao  para  o  mundo  posilivo  e  pra- 
ctico,  e  hoje  o  singular,  proficuo,  e  desvelado 
empenlio  das  niaiores  reputacoes  scientificas. 

A  sciencia  nao  perdc  a  sua  dignidade  quan- 
do  desce  da  elevacao  do  pensaiuenlo,  do  cam- 
po  ontologico  a  realidade  dos  factos,  ao  fim 
verdadeiro  para  que  fora  creada;  quando  me- 
Ihora  a  cxislencia  da  especie  humana,  aug- 
menlando  os  commodos  da  vida  domestica  e 
accrcscentando  as  I'aculdades  nos  trabalhos 
industriaes. 

Compenetrados  desta  verdade,  vao  hoje  os 
gigantcs  scientilicos  dirigindo  o  ensino  no 
ponto  de  vista  praclico.  Nao  e  .so  na  instruccao 
primaria  cm  que  a  insliucciio  scicnlilica  elc- 
mentar  se  acha  inoculada  ha  niuilo  entre  as 
nacOes  mais  cultas,  e  que  tao  rapidos  e  agi- 
gantados  progresses  ha  IVilo  ultimamente  na 
Inglaterra  e  na  Franca,  que  as  sciencias  indu- 
striaes tomam,  como  de  razao,  o  aspeclo  de 
ensino  puramente  praclico.  Nao  e  somenle  na 
inslruccao  secundaria,  cm  que  as  sciencias 
nao  podem,  nem  devem  elevar-se  ao  gniu  de 
transcendencia  reservado  as  Faculdades,  de- 
vendo  restringir-se  a  um  ensino  classico,  que 
transmitte  a  massa  da  nacao  as  nocoes  mais 
geraes,  e  mais  uteis,  que  hoje  se  encontra  o 
cunho  praclico  do  ensino.  K  na  instruccao 
superior,  no  seio  das  Faculdades,  no  centro 
-1853.  Num.  23. 


^2v     — ,;:*''Sigfcr^ 


;9S 


(1.1  Eiiiopa  civilisada  que  vemos,  o  admiiamos 
as  tfii'lciicias  ao  iMisiiio  ila  pailc  ulil  das 
sciciu-ias ;  podo  estc  dizer-sc  o  liaiilismo  da 
fivilisarao  nioderna,  a  verdadoiia  icjioiioia- 
cao  do  onsiiio  puhliio, 

Talvez  niii(;ui'ni  iciilia  coiUiiiiuido  laiilo 
para  esia  utilissima  reloima  coiiio  Justus  Lie- 
big,  e  Dumas.  Liebig  com  a  piildicarao  (,'rt.v 
iiocas  curias  sobre  a  chijinica  dedicadas  a  Mr. 
Dumas,  fuiidou,  pode  dizer-sc,  uma  sciencia 
nova.  Dumas  ao  melliodo  do  eusino,  que  Icm 
adoptado,  deu  a  sciencia  a  evoiucao,  que  re- 
quciia  0  cspiiito  do  seculo,  cm  que  vivc. 

OlTiTccemos  ao  publico  um  siiecimeii  dcsse, 
inelUodo,  cscoliicMdo  uma  das  licoes  dc  Mr. 
Dumas,  c  resumindo-a  em  breve,  mas  substan- 
cioso  c\lracto. 

Carbonio. 

E  diCiicil  dar  uma  delinicao  boa  do  carbo- 
nic. Umas  vezes  e  i)rauco,  oulras  negro: 
umas  opaco,  oulras  luzeiile;  ja  e  exccHente 
conductor  do  calorico,  ou  da  clectrieidade, 
ja  mau  con<luctor  de  ambos.  0  diamante, 
a  pioniliagiua,  a  grapiiile,  o  carvao  das  re- 
torlas  do  gaz,  o  car\ao  animal,  o  eoia>,  os  pos 
de  sapatos  sao  outros  tautos  typos  incluidos 
ua  dcnominacao  geral  de  carbonio.  A  madei- 
ra contera  em  geral  !i2  por  cento  de  carbo- 
nio: durante  a  sua  carbonisacao  abandona 
cm  formas  diversas  o  bydrogenio,  o  oxygenic, 
que  entraai  na  sua  composicao  e,  se  a  ope- 
racao  lor  bem  feita,  com  100  Kilogrammas  de 
madeira  teremos  Hi  de  carvao.  Nas  artes  nao 
produz  mais  (jue  IG  a  17  ^  por  cento  de  car- 
vao; por  que  a  teraperatura  e  levada  ao  ru- 
bro,  c  assim  os  produclos  gazosos  explicam  a 
perda  enorme.  Seni  preciso  elevar  ao  rubro  o 
pau  para  o  carbonisar?  ^iio;  e  a  expcriencla 
0  pro\a.  Iviucaudo  mercurio  eui  uma  retorla, 
e  pondo  sobie  ellc  um  pedaeo  dc  madeira, 
levado  0  mercurio  a  ebulliciio,  que  aconlece 
ua  temperalura  de  3oO  graus,  a  madeira  sera 
car])ouisada.  Logo  nao  e  necessaria  a  tempe- 
ralura a  rubro.  Este  facto  e  de  alia  impor- 
tancia  para  a  bygiene,  e  scgurauca  publica  : 
OS  arcbitctos  devem  ter  delle  coubecimenlo 
para  a  disposicao  das  traves,  e  emmadeira- 
mento  dos  edilicios:  a  eslabilidade  dcstes  ,  o 
a  vida  dos  individuos  podem  ser  ameafadas 
pelo  desenvol'. imento  de  gazes  deleterios  re- 
sultantes  da  escandecencia,  distillacao  ou  car- 
bonisacao da  madeira. 

O  diamante  acba-se  nos  lerrenos  de  allu- 
viao  produzidos  pela  dccomposicao  das  roclias 
scliisto-argilb)sas.  Apresentam-se  em  formas  di- 
versas, verdiis,  azues,  amarellos,  negros  c 
rozas.  Os  iiicoiorcs  sao,  como  se  sabe,  os  mais 
estimados.  Davy  foi  o  primeiro  que  mostrou 
pida  com])ustao  directa  svr  o  diamentc  o  typo 
cbimieo  do  car!)onio.  Newton  o  havia  pre- 
visto  estudaudo  as  propriedades  opticas  delle. 
Trausl'ormar  o  caxvao  em  diam;i;^ie  c  ciues^ao 


fn. 


que  muiio  ha  preoeupado  os  pbysicos  e  cbi- 
micos.  Alguns  julgaram  (|ue  baslaria  fazel-o 
supporlar  uma  tem|)eratura  mui  elevada,  e 
uma  pressao  consideravei  para  oilier  o  dia- 
nuiiite.  Foi  sempre  iliiulida  a  sua  esperanca. 
I  llimameiiie  ba  |)i)Uco*  mezes  .Mr.  Despretz 
alcancou  nm  resullado  notavel  submetleudi) 
aos  polos  de  uma  bateria  forte  o  carvao  puro 
do  assucar  candi.  Pela  inlluencia  da  accao 
lenta  da  electricidade  depositou-sc  nos  lies 
conduclores  um  [i.')  negro  e  branco,  em  que 
reconbeceram  phy^icos  e  mineralogistas,  lodas 
as  propriedades  do  diamante.  Eis  ahi  resol- 
vida  nuia  parte  do  prohlema. 

Juncio  ao  diamante  secollocam  a  graphite, 
e  a  plonihagina.  A  graphite  e  o  producio  arti- 
licial  de  alia  I'usao.  Nas  labricas  de  liindicao 
mistura-se  o  carvao  com  o  I'erro,  estando  este 
eiu  I'usao,  e  na  rel'rigcracao  abandona  este  al- 
giinia  i)orc5o  de  carvao,  que  se  condeusa  cm 
laminas  negras,  e  brillianles:  e  a  graphite.  A 
lilombagina,  chamada  pelovulgo  injustament(! 
mina  de  chumbo,  e  empregada  na  confeicao 
dos  lapis  por  causa  da  propriedade  que  tern, 
como  oulros  carvoes,  de  dar  Iracos  no  papel. 

Desde  que  se  fabrica  em  grande  escala  o 
gaz  de  illumiuacao,  os  pbysicos  e  os  chymicos 
estao  dc  posse  de  um  dos  produdos  dcsta 
industria:  6  um  carvao  puro,  mui  compacto, 
sonoro  e  brilbante.  Elevado  a  alta  tempera- 
tura,  e  como  todo  o  carvao,  mui  bom  condu- 
ctor da  electricidade;  e  por  isso  se  cmprega 
na  composicao  das  pilhas.  Encontra-se  mais 
depois  da  distillacao  nas  retortas  do  gaz  o 
coke;  c  mui  consideravel  se  tern  tornado  o  sen 
consumo.  Curapre  lodavia  dizer  que  nem  lodo 
0  coke  do  commercio  vem  das  ofticinas  de 
gaz;  em  algumas  localidades  se  opera  a  car- 
bonisacao do  carvao,  como  a  da  knha.  0 
coke  ardcndo  produz  mais  calor  que  a  lonlia 
mais  dura,  dado  o  mesmo  volume.  Apaga-se 
facilmente,  nao  scndo  alimentado  por  uma 
corrcnte  de  ar;  porque  menos  poroso  que  a 
lenha  olTerete  menos  superlicic  ao  ar.  Assim  n 
seu  podor  conductor  para  o  calorico  exige  ar 
constantemente  renovado  para  poder  arder.  0 
mesmo  acontecc  ao  carvao  da  lenha,  (juando 
muilo  calcinado  tern  perdido  a  sua  porosida- 
dc;  nao  podc  arder  sem  rapida  corrcnte  dear. 

Os  pos  dc  sapatos  sao  o  resullado  da  com- 
buslao  incomplela  dos  gazes  carbonados.  Basta 
\er  uma  luz,  que  arde  mal,  e  recollier  uum 
corpo  IVio  0  fumo,  que  lanca,  jiara  ohier  um 
residue  negro  coniposto  dc  carvao  muilo  divi- 
dido.  Todo  o  mundo  conhccc  os  uses  dos  p;is  de 
sapatos :  servem  para  a  tiiila  da  China  ;  a  da 
iniprensa  ;  para  I'azer  os  lapis  de  desenho,  etc. 

0  carvao  animal  provcm  da  calcinacao  dos 
ossos  cm  vasos  fechados.  E  uma  mislura  de 
carvao  muilo  lino  e  de  saes  calcareos.  Deste 
carvao  iaz  boje  grande  uso  a  industria.  Um 
exemplo  provara  a  sua  ulilidade.  Eni  I'SVi  c 
ISll  uao  .podia  produzir-se  assucar  por  lue- 

!  o;.;.,,','. 


•200 


■Hos  lie  10  franros  a  libra:  sn  enipiTgassem 
n  carvao  animal  para  dcsombai-arar  o  succo 
(la  l)c(aiTal)a  das  suhstanrias  cslranlias,  ou 
roloianlps,  podrriam  prodiizil-o,  (.•omo  lioji', 
2o  on  30  fentesinios  a  lihra. 

Alguns  dos  carvfK's,  que  tenios  nicnciona- 
do  gozara  da  prerogativa  de  descorar,  e 
desinreilar  as  substancias,  com  que  so 
poem  em  contaclo.  Onira  prnpiiedadc  muito 
nolavol  consisie  na  absorprao  dos  gazes. 
Tomc-se  um  rarvao  em  braza,  apague-se  na 
tina  de  mcrrnrio,  c  faca-se  depois  passar 
por  um  vaso  de  ammoniaco,  vcr-se-ha  o  nier- 
curio  da  tina  subir  pouco  e  pouco  no  vaso 
do  ammoniaro;  o  que  prova  quo  o  gaz  sc 
condensou  no  carvao;  e  com  effeito  dclle  sc 
p(ide  cxlialiir.  Ncsta  expcricncia  um  volume 
de  cai'van  absorve  00  volumes  de  ammoniaco. 
EsiP  mesmn  ^olume  podia  condensar  cm  sens 
poi'os  So  volumes  de  gaz  cblorliydrico,  'iU  de 
gaz  sulphui'oso.  'Mi  de  acido  carbnnico,  0  de 
oNvgonio,  7  {  de  azote,  1  \  de  bydrngcnio.  Po- 
deria  ainda  mostrar  que  quanto  mais  csohivel 
ii'agua  uiu  gaz,  mais  e  absorvido  pelo  carvao. 
Em  lodos  estes  cases  nao  e  uma  conibinacao, 
e  condcnsacao  o  que  se  opera.  0  gaz  carbo- 
nico  tern  siJo  assim  condensado  a  ponto  de 
se  tornar  parte  liquido. 

Esta  proprii'dade  de  condensacao  nos  con- 
duz  naturalmenle  as  applicacocs,  que  a  pra- 
ctica  pode  aproveilar  para  descorar  liquidos. 
0  poder  desinfectancte  do  carvao  csta  em 
relacao  com   a  sua  propriedade  descoloraiitc. 
As  aguas  mcnos  potaveis,  nauseosas  ate  pelo 
seu  man  clieiro,  como  sao  as  dos  pantanos, 
serao  conipletamente  desinfcctadas  depois  de 
repetidas  liltracoes.  Pode  tirar-se  as  substan- 
cias amargas  o  seu  caracler  especial,    fazen- 
do-as  passar  porum  liltro  de  carvao  animal:  o 
abfinlbo,  a  quina,  nao  resistem  a  csta  prova. 
Finalmentc  quando  o  carvao  e  muito  com- 
bustivel,  e  rcduzido  a  pulverisacao  tal  que  o 
po  toma  0  nivel  de  um  li(]uido,    nao  se  dei- 
xara  som  perigo  em  contacto  com  o  ar.  Nal- 
gumas  fabricas  de  polvora  para  piilverisar  o 
carvao  aquelle  ponto  emprcga-se  um  processo 
que  algumas  vezes  tern  compromettido  a  vida 
dosobrciros.  Mctte-se  ocarvao  c  balas  do  bronze 
num  tonel,  imprimc-se-Ihe  um  movimento  de 
rotacao  rapida;  e  pouco  a  pouco  o  carvao  sc 
reduz  a  um  p6  impalpavel.  Se  neste  estado  se 
J-  abre  o  tonci,  e  espaiha  o  conteudo  no  cbao 
eleva-se  a  temperatura  a  fiO,  100,  300  graus, 
e  0  carvao  espontaneamente  se  inflama.  Pode 
todavia  cvitar-se  o  perigo  misturando  o  en- 
xofrc  com  o  carvao  era  quanto  este  se  pul- 
verisa. 

0  carvao  muito  fino,  que  se  lira  das  torcidas 
das  luzes,  pode  tambem  indamar-se  ao  con- 
taclo do  ar;  assim  aconteccu  muitas  vezes, 
quando  se  usava  de  luzes  de  azeite  nos  thea- 
tros,  deixando  juntos  os  raorroes  por  dcscuido. 

M. 


EXPOSICAO  DE  AN1M.\ES  DOMESTICOS. 

Continn.-ulo  (If  paj;.  2(i2. 

0  apuraniento  das  dilTi'rentes  racas  caval- 
larcs  tem  avtiltada  imporlancia  em  o  nosso 
paiz,  que  se  presta  com  ^anlagem  a  criacao 
dellas,  vista  a  variedade  de  suas  condifoes  to- 
pograptiicas;  mas  a  indusiria  do  gado  caval- 
lar  nao  pode  progredir  sem  que  o  criadoraprecic 
dcvidamente  ascircumstancias,  (jue  deven\  rea- 
lisar-se  ua  criacao  e  ediicacao  de  cada  raca'. 
A  especie  cavallar  olTerece  um  so  genero 
de  produccao,  o  scrvico;  lodavia  e  lao  variado 
este  service,  e  sao  lao  diversos  os  individuos 
dessa  especie,  que  se  torna  diflicil  determinar 
OS  typos  mais  perfeilos  que  ella  coniprebcn- 
de  "actualmenle.  Analysando  as  condicoes 
geraes  em  que  se  emprega  o  cavallo,  uola-sc 
que  todas  exigem  um  esforco  mecbanico  maior 
ou  menor,  e  durante  mais  ou  nienos  espaco 
de  tempo,  esforco  mulliplo,  por  que  e  diverso 
0  servico  para  (juc  o  cavallo  e  destinado:  a 
forca  e  a  velocidade  pelo  hulo  dynamico,  e  a 
corpiilenria  e  a  energia  pelo  -lado  organico, 
conslituem  as  principaes  qualidades  do  caval- 
lo. 

A  corpulencia  e  a  forca  no  seu  maior  des- 
involvimento  conslituem  a  aptidao  do  ca- 
Kcillo  de  tiro  pesado;  a  energia  e  a  velocidade 
no  mais  elevado  grau  conslituem  a  aptidao 
do  cavallo  corredor;  lodavia  entre  esles  lypos 
exlrcmos  encontram-se  outros  muilos,  lanto 
de  liro,  como  de  sella,  cbaraclcrizados  pelo 
maior  ou  menor  grau  de  corpulencia,  de  esta- 
lura,  de  forca,  de  agilidade,  de  coragera,  de 
docilidade,  de  belleza,  etc.  ' 

Cacallo  de  tiro.  Este  lypo  pode  subdividir- 
se  em  cavallo  de  tiro  pesado,  de  tiro  ligeiro, 
e  de  tiro  de  liixo.  Scndo  constanle  em  lodos 
elles  a  aptidao  para  o  servico  de  tiro,  a  con- 
formacao  e  qualidades  da  macbina  equestre 
podem  variar  por  forma  que,  na  escolba  do 
primeiro,  deslinado  a  arrastar  pesados  fardos, 
se  procure  a  corpulencia  e  a  forca,  embora 
sua  andadura  seja  lenla:  na  do  segundo,  de- 
stinado ao  servico  das  diligencias,  dos  cor- 
reiosclc,  mereca  preferencia  a  forca  e  agili- 
dade para  que  a  sua  andadura  seja  rapida,  sem 
com  ludo  deixar  de  ter  conformacao  robusla: 
na  do  lerceiro  em  lim,  se  evija  belleza,  agili- 
dade, brio  e  regularidade  nos  movimentos, 
por(|uc  0  servico  dos  trens  de  luxo  nem  e 
pesado  nem  continuado. 

Cavallo  de  sella.  Este  typo  pode  subdivi- 
dir-se  nos  seguiules:  cavallo  de  Jornada  ou  de 
.iervico  militar,  que  exigc  conformacao  ro- 
busla, mais  forca  do  que  agilidade,  mais  ro- 
bustez  do  que  belleza,  fazendo  a  Iransicao  do 
cavallo  de  sella  para  o   de   liro;    cavallo  de 

'  Veja-se  a  de.-cripruo  dos  tUfferentes  typits  na  Zou- 
Icchnia  tlo  cavallo  ^Curs»  comjilelu  de  Zuoialrica  du- 
mcbtica.  Vfel.  2.") 


300 


pa.tieio.  que  dcve  ser  de  todos  o  mais  hollo, 
iigil,  docil,  c  hrioso;  carallo  corredor.  qui' 
drve  liT  a  confonnacao  c  as  qualidades  i(iie 
iiiais  I'acililaiii  a  carrcira,  emboia  vao  d'cn- 
coiilro  a  hidk'/.,!  c  roliuslez;  ciivallo  de  cnrya,  . 
outra  variedadi",  cm  quo  a  helleza  v  a  agilida- 
(le  se  doviMU  siil)joitar  a  forca  c  roliustci!,  e\i- 
j;iiido  por  issii  uuia  (■onroriunc'ao  especial,  (iiic 
0  dispoe  |)ai'a  suppoi'tar  ^raiides  ])esos  solii'c 
0  dorso,  c  ti'anspiirlal-os  a  i^raiide  di^laiicia. 
A  dilYereiiia  iia  l'^laUl^a  pode  tamheiii  dar 
loijai'  a  varii'dados  nuiito  esliiuadas,  e  ate 
ualpumas  localidades  as /■,((•(/<  o  os  (jairanos 
sao  pri'leriveis  aus  ia\ alios  de  marca. 

0  cavallo  de  dous  deslinos,  isto  c,  com 
a|ilidao  |)ara  servico  de  sella  e  dc  tiro,  e  lueiios 
pioprio  para  (juahiuer  delles,  do  quo  sondo 
exclusivamoulo  cuiiroimado  para  urn  so  goiioro 
de  servieo. 

Cada  gonero  de  servieo  exige  unia  certa 
conrorniacao  organica,  que  o  eriador  procura 
conseguir  por  iiieio  da  especializacao  da  ma- 
chiua  cquestro,  (azendo  coneorrcr  na  produe- 
cao  do  cavallo  o  complexo  das  condicoes,  que 
mcllior  satisfazom  a  esse  iutuito;  so  por  este 
meio  se  conscguem  animaes  que  Iraballii'm 
nuiito  sem  se  arruinar:  quando  as  suas  (|ua- 
lidades  estao  cm  opposicao  com  o  genero  do 
servieo  para  que  sao  destinados,  trahalliam 
sempre  coutrafoitos,  doiulo  rezulla  arriiiua- 
rem-se  em  pouco  tempo,  fazondo  niais  sor\  ieo. 
Os  typos  mencionados  coniproliemlem  todos 
OS  servicos  para  que  a  especie  cavallar  pode 
ser  destinada,  e  todas  as  condicoes  de  sua 
produecao;  mas  iniiiorta  quo  o  eriador  esco- 
Iha,  para  conlormar  os  sous  animaes,  o  typo 
quo  for  de  mais  ecounmica  produecao  e  mais 
rendoso  ;  loudo  sempre  em  vista,  que  as  bestas 
darao  tanto  maior  rendimonlo,  quanlo  mais 
aporfeicoadas  cstiverem  cm  relacao  ao  sou 
destino. 

As  condicoes  peculiares  das  variadas  loca- 
calidadcs  do  nosso  paiz  pormitlem  a  criacao 
dc  todos  estes  typos  do  cavallo,  e  nao  so  em 
quantidade  sudicionte  para  satisf'azer  as  nossas 
nocessidadcs,  nuis  ate  para  os  exportarmos, 
tiraudo  grando  interesse  deste  geuero  de  in- 
dustria,  e  deixando  de  gastar  as  avultadas 
sommas  que  annualmonte  pagamos  aos  ex- 
trangeiros  pela  compra  de  cavallos.  Todavia 
para  se  conseguir  cste  resultado,  e  necessario 
que  cada  eriador  conhoea  as  cireumstancias 
especiaes  da  sua  localidado,  o  estado  em  que 
estao  as  nossas  racas,  e  os  meios  que  dcve 
cmpregar  para  as  melhorar:  e  tambeni  neces- 
sario que  0  governo  dosvie  alguns  tropocos, 
([ue  embaracam  o  melboramenlo  da  gadaria, 
abolindo  os  paslos  communs,  mandando  caslrar 
todos  OS  cavallos  que  nao  lorem  escolhidos 
para  cobricao,  e  I'acultando  aos  lavradores 
garanhoes  de  boa  raca. 

No  estado  actual  seria  um  processo  demo- 
rado  0  rcgencrar  todas  as  nossas  racas  caval- 


lares  por  meio  do  cavallo  arabe,  transmiitin- 
do-llios  docilidade,  energia  c  outras  qualidades 
de  que  tanto  careceni,  e  apnq)rial-as  aos  dil- 
ferontes  goneros  de  servieo:  lora  talvoz  mais 
jiromplo  rogonorar  somenlc  as  molbores  ra(,'as 
por  meio  de  garanbOos  extrangoiros  ja  aper- 
/'eicoados,  ou  acclinuitar  as  ravas  que  boje  se 
conlieconi  mais  pcrloilas. 

So  lizessomos  a  devida  applicacao  dos  pre- 
ceitos  zootccbnicos,  poderiamos  criar  nos 
valles  c  planices,  abundantes  em  agua,  lao 
bons  cavallos  de  tiro,  como  os  (|ue  actualmcn- 
te  se  oble(!m  cm  Franca,  Inglaterra  e  Alle- 
manlia;  nas  planicois  onxulas  leriaiuos  caval- 
los de  sella  e  de  tiro  ligeiro;  nas  localidades 
pouio  moutaiibosas  e  forleis  em  pastos,  cria- 
riamos  cavallos  corrodores,  tao  bons  como  os 
iiiglezos,  c  dc  jiassoio,  tao  Ixdios  coiuo  os  an- 
daluzos;  nas  localidades  montanliosas  alcan- 
cariamos  bons  garranos  c  facas  para  servico 
dc  sella  ou  de  albarda;  em  lim  polo  systenia 
de  estabulacao  podiamos  obler  bons  cavallos 
em  ([ual(|uer  localidado  e  para  qualijuor  desti- 
no. sem  dopendencia  das  condicoes  do  clima. 

As  racas  do  cavallo  corrcdor  e  de  pas- 
seio  douuindam  condicoes  particulares  na  sua 
produecao:  cada  um  destes  typos  lem  exigen- 
cias  privalivas  no  seu  desinvolvimento,  e 
carece  d'uma  criacao  e  oducaeao  jjarticular, 
para  se  obterom  com  as  qualidades  quo  os  dis- 
linguem. 

A  produecao  do  cavallo  de  tiro  e  mais  fa- 
eil  0  economica,  e  nao  exigo  tantos  cuidados; 
todavia  dcmanda  tambem  um  processo  par- 
ticular. 

0  cavallo  dc  sella,  tanto  juira  Jornada,  co- 
mo para  servico  militar,  app-oxima-se,  na  sua 
priiduccao,  do  cavallo  do  tiro,  c  pode  criar-se 
dcbaixo  das  mosmas  condicoes,  varinndo-lbe 
um  ])ouco  a  educacao  e  o  regimen  alimentar, 
depois  dc  eerla  cdade. 

A  escollia  dc  eguas  I'antis  e  dc  licllos  gara- 
nbOos, possuindo  em  elevado  grau  as  quali- 
dades 0  aptidiio  que  se  pretcndcm  obtor  n'u- 
ma  raca,  e  um  dos  objectos  a  que  muito  dove 
attcnder  o  eriador  que  descja  ter  bons  potros; 
mas  estes  nao  podem  dar  bons  cavallos,  so 
nao  foroni  criados  conveniontemento  polo  rc- 
giiueu  alimentar  que  Ibcs  couvcm,  e  niio  li- 
verem  a  educacao  quo  requer  o  seu  dosiino. 

A  espocie  asinina  pode  ser  empregada  no 
servico  do  sella  c  no  de  tiro,  e  por  isso  se 
distribue  nos  lypos  que  rd'erinios  a  respcito 
da  especie  cavallar;  todavia  no  servico  de 
carga  e  de  sella  e  que  mais  se  emprega  em 
0  nosso  paiz.  0  gado  muar  e  mais  espocial- 
mento  destinado  para  servieo  de  tiro  ou  de 
carga,  mas  pode  egualmcntc  conlormar-se 
para  (jualquer  dos  outros  servicos  referidos. 
Tanto  as  muares  eymiricas  como  as  asueiras 
dependcm  da  juncciSo  de  duas  especies  —  a 
cavallar  e  a  asinina,  c  por  isso  o  seu  dosia- 
volvimcnlo  esta  subordinado  a  pcrfcicao  d'es- 


301 


las;  sciii  bons  progeiiitores  iiao  e  possivcl 
obler  boas  nuiarcs,  postoque  as  ciiem  e  edu- 
qucm  scgundo  os  prcccitos  da  ZootL-chnia. 

Os  programinas  para  as  exposiroos  devem 
exigir  cm  cada  localidadc  os  typos  mais  pcr- 
I'eitos,  e  de  mais  cconomica  producriio.  St^  a 
Auotoridade  dostiiiar  os  ]iremios  dL-  maior 
valor  para  os  cavailos  melhor  coiiCormados  e 
cducados  para  o  scrviro  dc  tiro  ligciro,  e 
maiular  garaniiocs  das  melhores  raras  de  tiro 
para  o  campo  de  Coimbra,  \lemtcjo,  Miran- 
della  CMa\os,  etc.,  passados  ([uatro  on  (/inco 
aniios,  pndcia  escolher,  iicstas  localidades, 
bons  fa\ alios  de  tiro,  para  o  serviro  das 
dcligentias,  sujieriorcs  aos  cxtrangeiros;  por- 
que,  em  estando  aeeiiuiatados,  sao  mais  diira- 
veis,  fazem  mellior  servico,  e  nao  exigem  tall- 
ies cuidados  no  sou  regimen. 

CoiltilHia  1.   K.   DE  MACEDO  PINTO. 


0  DUQUE  DE  COIMBRA 
ESegentc  tl©  rojno. 

Enire  os  liomcns  illustres  que  no  seculo 
XV  engrandeceram  o  nosso  reino,  e  ilhislra- 
ram  a  nossa  historia,  devcrcmos  rontar  sem 
diivida  alguma  o  infante  D.  Pedro,  diiquc  de 
Coimbra  e  regenle  do  reino  na  menoridade 
dc  sen  solirinlio  D.  Afl'onso  V.  Foi  este  prin- 
cipe  lilbo  do  esclarec-ido  rei  D.  Joao  I,  e  ir- 
mao  do  infante  I).  lienri([ue,  cuja  memoria 
pcrnunu'cera  nos  I'astos  portnguezes  em  quanto 
(lurar  esta  naeao.  0  seu  caraeler  Ibano,  e 
lioas  quaiidades  revelam-se  elaramente  em 
lodos  OS  docunientos,  que  de  tao  eselareeido 
priufipe  eneontramos  eoni  frequeneia,  e  de 
que  mais  adiaiite  nos  bavemos  de  oceupar. 

As  gncrras  que  por  tantos  annos  suslenta- 
raos  sempre  victoriosos  contra  os  Almubades, 
tcrminadas  na  Peninsula  com  o  seu  aniquilla- 
mento  passaram-se  para  Africa,  tbeatro  de  nao 
nienor  gloria  para  o  nome  portuguez.  Tanger, 
Ceuta,  Arziia  c  Tetuao  foram  o  comeco  das 
fonquistas  que  maistardo  unidas  a  coroa  por- 
tugueza  lizeram  depois  conhecer  o  nuindo, 
dcsde  0  Tejo  ale  alem  do  Ganges,  e  dacjui  ao 
Amaznnas  e  Rio  da  Praia,  passando  ainda 
ate  ao  estreito,  que  com  sen  nome  nos  rccor- 
da  0  seu  primeiro  descubridor  Fernao  de  Ma- 
galliaes. 

Difl'erentes  nacoes,  divcrsas  cidades  e  va- 
riadas  linguas  obcdcciani  ans  pnrtuguezes ,  e 
ao  nome  so  de  um  AR'onso  d'Albuqui'r(jue 
tremiara  os  idolos  dosPagodes  cabindo  desmo- 
ronados,  e  submeltiam-se  Iribatarios  os  reinos 
do  Indostao,  Goa,  Malaca  e  Ormuz. 

0  Filbo  de  Deus  era  adorado,  c  junto  a 
Cruz  dohravam  o  joelho  lantas  nacoes,  e  povos 
barbaros.  Cumpriam-se  agora  as  promessas, 
(pie  tantos  annos  antes  havia  o  Eterno  revela- 
do  ao  primeiro  Affouso  nos  ca,nipos  d  Ouriquc. 


Cercado  de  sabios,  e  sabio  elle  mesmo, 
institue  o  infante  I).  IIenri([ue,  uuia  cschola 
cm  Sagres,  e  com  as  luzes  que  esta  cspaiha 
ii  beira-mar  enxcrga  ao  largo  aquellas  terras 
d'Africa,  que  depois  faz  unir  a  coroa  portu- 
gueza.  0  seciilo  XY  sc  por  uni  lado  cngran- 
dece  0  nome  portuguez,  servindo  d'assombro 
as  mais  poderosas  nacoes,  que  actualmente 
teni  na  niao  o  tiel  da  balanca  europea;  nao  o 
engrandece  menos  pelo  lado  da  civilisacao, 
cultura  das  lelras  c  instruccao,  que  o  fez 
eleiar  a  gloria  a  (pie  era  possivel  subir,  com 
0  esmerado  ensino  das  mais  precisas  e  neces- 
sarias  scjencias,  que  eomportava  o  cspirito 
iiinnano  naquellas  eras. 

Escassos,  e  apoucados  cram  ainda  na<[nelle 
tempo  OS  coniiecimenlos  da  navegacao,  e  nao 
podiam  ospilotos  afastar-sc  das  costas,  guian- 
do  por  cllas  o  rumo  das  suas  viagens.  .\per- 
feii'o.ido  nesta  escliola,  e  com  a  descoberta 
do  (innel  (jniduado,  (|ue  dizem  superior  ao 
astrolabio,  o  nosso  celei)re  luatbematico  Pe- 
dro Nunes  faz-nos  conhecer  todas  as  eostas 
occidentacs  d'Africa,  e  mais  larde  dobrar  o 
cabo  tormentoso:  raas  antes  deste,  e  com  me- 
nores  conhecimentos  nauticos,  e  mais  imper- 
feitos  instrumentos,  passam  os  nossos  nave-^ 
ganles  aquelle  temivel  cabo,  que  por  ninguem 
ate-  atiueiie  tempo  o  podcr  transpor  Ihc  poze- 
ram  o  nome  de — Nam — parecendo  com  elle 
indicar-se  aos  navegantes,  que  dalli  nao  sur- 
dissem  mais  avanle:  com  os  mesmos  meios,  e 
com  as  mesnias  imperfeicGes  dobra  Gil  Eanes, 
natural  de  Lagos,  em  li30  o  cabo  Bojador, 
fa(;anlia  tao  grande  e  maravilbosa  naquelles 
rudes  scculos,  que  os  anligos  escriptores  nos- 
sos tiveram  para  si,  como  egual  aos  trabalhos 
d'llerculcs,  expressao,  que  se  hoje  achamos 
exagcrada,  nao  o  era  certo  naquelle  tempo'  ! 

Em  liiO,  Nuno  Trislao,  e  Anlao  Goncai- 
vcs  cliegam  ao  cabo  branco,  descobrindo  novas 
terras  e  clinias  ate  aos  14"  c  48'  de  latit.  N. 
As  viagens  sc  continuam  c  proseguem  com 
denodo,  e  quando  o  Yeneziano  Luiz  Cada- 
mosto  se  embarcou.  para  ir,  com  licenca  do 
infante  regente  D.  Pedro,  ua  carevela  de  qne 
era  patrao  Vicente  Dias  de  Lagos,  ja  os  por- 
tnguezes tinbam  devassado  a([uelles  mares 
([w.  elle  agora  sulcava  em  '14io  pcia  primeira 
vez!  gloria,  que  alguns  invejosos  nos  ((uizc- 
ram  tirar  no  seculo  actual,  e  que  com  discre- 
ta,  e  mui  judiciosa  critica  reivindicou  o  sr. 
visconde  de  Santarem  na  memoria  sobre  a 
prioridadc  das  descobertas  portuguezas  na 
Africa   occidental. 

Finalmente  Bartholomeu  Dias  cm  148C  sa- 
bindo  do  Tejo  com  outro  companheiro  do- 
bram  o  cabo  das  Tormentas,  onde  mais  tarde 
Vasco  da  Gama  ouvira  aquelle  terrivel  pro- 

'  jSiav(>s:acHO  tSo  temero.«a.  tSo  clieia  de  jierit'os.  .  .  . 
rjur  tie  dc^atinada  e  luiicfi  Ihe  fui  poslo  o  iiunie  jiL-i«'S 
estran^iifos. 

SyiB.  J'id.  do  .trceh.  lir.  4.  ™;a  :i. 


302- 


gnostico  das  desvciUuras,  cjue  havia  do  tor 
a  =  liriiiuir(i  armada  qiir  fizesse  paxsut/cin  jxtr 
tdo  in.si)f(ridus  oh(/((,s',  =tiido  isto  dmido  ao 
di>sv('llado  ciiipfulio  com  que  os  illuslri's  iillios 
di'Irei  L).  Joao  1  pioiuovcram  a  I'dicidadi'  o 
iiislruccao  em  lodo  o  reiiio. 

Ao  mesmo  passo  [lorciii,  que  por  loda  a 
cosla  afiicana  e  illias  adjaceiiles  era  coiihe- 
eida  a  liui;na,  c  lespeitado  o  uome  portuguez, 
e  se  iaui  alonganiio  as  coiKiuislas  por  um 
iiKido  mara\  illioso,  o  eslado  inlerior  do  reino 
iiao  era  iiuictivo;  a  vida  iulelloclual,  eoulor- 
lada  com  o  amor  da  patria  e  iiohro  gloria  do 
seu  iioiue,  llorescia  em  todo  o  gonero  depreii- 
ilas,  dando-nos  um  dos  nossos  filulos  mais 
lionrados  com  iiue  haviam  de  ennobrocer-se 
as  I'uluras  geraeoes. 

D.  Diiiiz  tiiilia  I'uiulado  a  univerjidade  cm 
Lisboa,  chauiando  a  clla  prolessores  os  mais 
habilitados  para  o  magislerio,  c  scmprc  pro- 
vidcnciaudo  sobrc  os  mcios  do  obler  deHa 
melliores  recursos,  mudou-a  para  Coimbra. 
Tinba-a  au\iliado  com  muitos  privilcgios  e 
dotacoes,  que  sens  successores  ampliaram,  c 
Coram  coiilirmando.  D.  Joao  I  desassonilirado 
das  giicrras  de  Caslclla  e  das  afanosas  lidas 
cm  que  com  cllas  se  acbava  cinolto,  augmeu- 
tou  quauto  podia  o  esplendor  da  reiigiao,  e 
protcgou  as  lelras  como  foale  da  moral  dos 
povos,  e  da  prosperidade  da  iiacao.  0  mcsmo 
I'avor  ambas  experiuientaram  nos  reinados  sc- 
guiutes;  e  desde  o  seculo  XIV  por  diaule  as 
letras  e  bellas  artes  llorescoram  abrigadas  a 
sombra  dos  reis  e  principes  portuguczes,  o  mais 
que  era  possi\  el  em  seculo  de  tanla  ignorancia. 
Molivos  que  iiao  podemos  descortinar  alravez 
do  silcncio  que  guardam  as  cbroiiicas,  e  dos 
mysterios  de  taiitos  seculos,  lizcram  reverter  a 
Li'sboa  a  universidadc  no  reiuado  de-  D.  Af- 
I'onso  IV,  e  no  niesmo  rcinado  tornar  a  voltar 
a  Coimbra,  como  que  com  este  faeto  se  iu- 
dicasse  a  todos  ser  Coimbra  o  logar,  e  terra 
propria  para  este  cstabelecimeiUo.  Yemol-a 
dopois  tornar  para  Lisboa  no  rcinado  d'eirei 
D.  Fernando,  para  commodidade  dos  lentes  que 
de  fora  do  reino  mandara  vir  para  o  magisle- 
rio publico,  e  naquella  cidade  conlinuar  ate 
([ue  D.  ,loao  III  a  mudou,  e  delinitivamenle 
cslabelcceu  nesta  cidade  oadc  ora  exisle'. 
Destc  sinifdes  e  singelo  esboco  clararaento  se 
moslra  o  desveio  com  ([ue  os  reis  conlcmpla- 
ram  sempre  uma  corporacao  <[ue  tanio  lustre 
deu  ao  reino,  e  em  ((ue  a  gloria  portugueza 
subiu  ao  cumc;  sendo  sens  profcssores  uao 
so  nellc  conhecidos,  mas  em  todas  as  iini- 
versidades  da  Europa  onde  exerceram  o  ma- 
gisterio  publico  muitos  de  sous  digaos  mes- 
tres.  Salamanca,  Montpelier,  Padua  e  Turin 
ainda  lioje  podem  attestar  a  celebridade  dos 
doulorcs  portuguczes,  e  darcm  um  claro  leste- 
munlio  do  progresso  da  civilisacao,   da  pros- 

'    Vej.  ollviil.  du  Inslit.  mem.  hist,  da  univ.;j>elo  sr. 
Dr.  J.  JI.  d'Abrcu. 


pcridade  das  scioncias  no  nosso  reino,  c  do 
conceilo  em  que  Portugal  era  tido  ])or  toda 
a  parte'.  Eu  niio  couhoco  neubuma  outra 
nacao  ((ue  nos  curtos  limiles  do  seu  territo- 
rio  teulia  podidn  encerrar  tao  grande  gloria, 
e  emparelliar  com  as  mais  poderosas! 

Acliava-se,  como  jii  vimos,  a  universtdado 
estabelecida  em  Lisboa,  e  esta  cidade,  (jue 
linlia  sido  destinada  para  os  esludos  superio- 
res,  acbando-se  situada  longe  do  centre  do 
reino  toruava  dillicultoso  o  esludo  aos  alumnos 
das  provincias,  pela  distancia  em  que  dcll.i 
se  acbavam,  alem  do  inconveniente  das  despe- 
sas,  que  era  indispeHsa\el  I'azer  para  nella 
manter  os  cscbolares  com  tresdobrado  custo 
do  que  Idra  mister  em  outra  parte  do  reino 
mais  central.  Niio  podiam  tao  grandes  descon- 
veniencias  escapar  a  penetracao  do  infante 
regente  U.  Pedro,  e  querendo  remediar  este 
mal,  e  cspalbar  quanto  possivel  as  luzes  por 
todo  0  reino,  traclou  de  procurar  os  meios 
(jue  mais  ade(iuados  Ibe  pareceram  para  nesta 
cidade  fundar  uma  universidade  de  estudos 
geraes  de  tbeologia,  bistoria,  direito,  etc. :  e 
])orque  nao  podia  so  com  suas  rendas  Icvar 
ao  complemeuto  tao  luminoso  pensamento.s 
escreveu  as  corporacnes  ecclesiasticas  e  bispos 
do  reino,  para  o  auxiliarem  em  tao  brilbante 
cmpresa.  Era  neste  tempo  (liiC)  bispo  de 
Coimbra  I).  Luiz  Coulinbo,  irmao  de  D.  Fer- 
nando Coulinlio,  tamliem  bispo,  que  della 
linlia  sido  anteriormente,  e  ambos  tillios  dft 
2."  marecbal  do  reino  D.  Goncalo  Vasqnes 
Coutiulio. 

Este  bispo  D.  Luiz,  amigo  intimo  do  regente. 
e  seu  iiel  companbeiro  ate  a  morle,  na  infeliz 
Jornada  d'Allarrobeira,  promoveu  com  todo 
o  desveio,  e  auxiliou  quanto  poude  as  vistas 
do  regente,  aleancando  uma  dotacSo  para  esla 
nova  I'undacao  da  universidade  em  Coimbra; 
e  0  cabido  da  mesma  cidade  junto  com  a 
collegiada  de  S.  Pedro,  padrociros  da  egreja 
d'Almelaguez,  duas  leguas  ao  sul  desta  cida- 
de, cederam  do  padroado  e  rendas  da  mesma 
egreja  para  (icar  unida  e  encorporada  na 
universidade,  e  dos  seus  rendinientos  se  pa- 
gar  aos  lentes  e  mais  ofliciaes  d'ella,  com  a 
condicao  porem  de  nesles  estudos  se  cnsinar 
direito  canonico  e  civil,  e  a  universidade  per- 
manecer  nesta  cidade;  por  (jue  laltando-sc 
iiquella  condicao,  ou  mudando-sea  universida- 
de, 0  contracto  seria  de  nenbum  elTcito.  No 
que  tudo  convieram.  —  «Consirando  (|uanto  a 
storia  das  lelras  be  necessaria,  e  proveilosa 
coisa  a  todos  e  singularmente  as  pessoas  eccle- 
siasticas"— e  acbando-se  certos  tambem  da 
—  ((grande  vontade  que  ba  o  muito  illustre, 
e  mui  virtuoso  principe  o  sr.  inl'ante  D.  Pe- 
dro  titer,  e  curador  d'eirei  nosso  senlior 

c  rregcdor  por  ell  destes   rregnos. » — Tudo 
isto  loi  ordenado,  e  passado  a  escriptura  pu- 

'    Vej.  ol  vul.  du  Inslit.  J'ag.  178, 


303 


hlica  cm  24  de  main  dc  HiG,  e  no  mcsmo 
<lia,  eno  mcsmo  documento  coiilirmou  o  bispo 
D.  Luiz  Coutinho,  c  uniii  a  niosiiia  univcnii- 
(ladc  as  rendas  e  o  padioado  da  rel'eiida 
cgreja,  reservaiulo  uma  congnia  para  o  viga- 
lio  ou  cura  que  nclla  admiiiistrassc  os  sacra- 
nieiitos  ',  como  pode  vcr-se  nas  ro[iias  que  no 
(im  dcsla  nolicia  aprcsentamos  para  prova. 

Uo  que  temos  dito  se  pode  notar  o  desvcio 
coin  ([ue  cstc  magiuiiiimo  |)rincipe  pretcndia 
eiigraiulccer  o  reiiio,  adiaiitar  as  scieucias, 
promover  a  ciillura  das  letras  e  abrir  as 
tonics  da  prospcridadc  e  jii-ogrcsso  nacional, 
doiide  havia  depois  sobrcvir  a  foitiina,  e  ri- 
(|iioza  de  Portugal  com  a  al)erlura  da  estra- 
da  das  Indias!  Conio  li  porcm  variae  capri- 
chosa  a  I'ortuna!  E  como  sao  d'ordinario 
contrariados  por  clla  os  bomens  ainda  mcsmo 
no  meueio  de  seus  mais  jiistos  devercs!  0 
conde  de  Barccllos,  irmao  do  regente,  conti- 
nuando  acinte  suas  iutrigas  e  vergonbosa 
opjiosicao  ao  scu  govcrno,  sacrilicando  loda  a 
iiacao  a  sua  desmcsurada  ambicao,  comecou 
a  lecer  as  iiUrigas  ba  muito  urdidas,  e  a 
atear  o  fogo  da  discordia  a  tal  ponto,  que  o 
rci  se  declarou  maior,  tomou  a  si  o  gover- 
110  do  rcino  c  formou  uma  barreira  ao  rcgcn- 
Ic  quo  nao  I'oi  possivel  transpor.  Os  odios  fo- 
ram  crescendo  de  uma  e  outra  parte,  c  o 
figro  da  discordia  cbcgou  a  ponto  tal,  que 
desenganado  o  infante  de  nao  sobrepujar  seus 
iuimigos,  tomou  o  parlido  mais  arriscado  e 
perigoso  nas  circumstancias,  ])rctendendo 
jusliiicar-se  contra  eUes  na  companbia  do  gen- 
tc  armada,  com  que  saiu  dcsla  cidade  eslrada 
de  Lisboa  ate  ao  silio  d'AII'arrobeira,  onde 
com  cllc  se  pcrdeu,  pode  dizcr-sc,  a  flor  e  espe- 
ranca  da  nacao  com  tao  calamitoso  desastre,  e  o 
reino  licou  privado  de  um  tao  poderoso  auxi- 
lio,  como  tinba  cm  tao  magnanimo  principe. 
Este  aconlecimcnto  reduziu  a  nada  a  nova 
I'undacao  da  universidade  nesta  terra  em 
liiti,  e  as  nascentes  csi.erancas  .(le  tantas 
prosperidades  seriam  de  lodo  aniquiiadas,  se 
a  Providcncia  nao  vigiasse  des\eladamcnte 
sobre  Portugal,  continuandn  por  outro  lado 
a  olVerccer  o  Jialsamo  para  curar  tantas  feri- 
das  e  sanar  tantas  caiamidadcs. 

Nas  memorias  liisloricas  sobre  a  universi- 
dade que  com  grande  trabaliio  coligio,  c  pu- 
blicou  0  sr.  Dr.  J.  M.  d'Abreu,  e  que  correm 
impressas  em  varios  numcros  deste  periodiio, 
que  compoem  os  seus  dois  primciros  volumes,  e 
cuja  vaiia  todos  sabem  apreciar  pdas  boas  noti- 
cias  que  cncerram,  nao  se  I'az  mcncao  de  uma 
carta  de  privilegio  que  a  mesma  conccdeu 
D.  Diniz,  em  o  1."  dedezcmbro  de  1312,  para 

'  Dpste  mcsmo  contracto  se  pdilc  ver  qnanlo  e  mal 
cabida  a  consiira.  que  geralraente  se  faz  ao  estado  eccle- 
siaslico  na  oppasi(;uo  constanle  que  fazia  an  deserivolvi- 
mento  da  universidade.  Esle  documento  diz  mais,  do 
que  as  vasas  declama^oes  sem  prova,  c  sem  pouaerai;ao 
lias  razoes  da  opposi^ao  I 


OS  cscholares  podercm  cm  Coiml)ra  comprar 
casas,   uma   vez  que  fosse  para  dies  habita- 
rcin,    e   por  sua   morte   dei\arcm   a   pessoas 
ieigas.  Seu  filbo  eirci  D.  Alfonso  IV  confir- 
niou  este  mesmo  privilegio  por  carta  de  22 
de  maio   d'    1325.    Estes   dois   documentos, 
(pie  encontrei  no  arcbivo  da  catbedral,   nao 
se  acliam  talvcz   no  cartorio  da  universida- 
de, OH  pelo  desarraujo,  em  (|ue  as  mudancas 
deviam  collocar  os  papcis  delle,  o  que  lao'fti- 
cil  (i  de  acontecer,  ou  por  se  nao  terem  com 
cITeito   nelle  guardado  sendo  documentos  de 
albcio   interesse   aos    da   universidade,    ])ois 
eslao  trasladados  em  uma  cscriplura  de  coin- 
lira  d'umas  casas  que  fez  no  bairro  alio  desla 
cidade  o  arcediago   de  Cervcira   no  bispado 
d(^  Tui,    D.  Pedro  Annes,    mestre  ou  doutor 
nesta  universidade  em  1320,  c  que  se  verao 
nas  copias  que  se  juntara  no  lim  deste  artigo. 
Como  OS  escholares  neste  tempo  se  acha- 
vani  debaixo  da  proleccao  ponlilicia,   e  eram 
isenlos  da  jurisdiccao  civil,  tinba  eirei  probi- 
bido  a  acquisicao  de  casas  pela  difficuldade, 
que  baveria  de  Ihe  pagarem  os  foros  e  mais 
direitos  senboriaes,  e  para  evitar  o  inconve- 
niente  que  havia  da  falta  e  escassez  de  mo- 
radas  [lara  viverem  as  pessoas  da  univerdade, 
dispensou  na  lei  a  seu  favor  com  as  ja  decla- 
radas  condicoes,  para  que  os  direitos  doniiui- 
eaes  podesscm  nielbor  ser  recebidos:  signal 
evidente  do  fdro  que  em  todas  ellas  geralmenle 
carregava.  Ainda  (juc  a  aposentadoria  a  favor 
dos  escholares  tivesse  sido  concedida  por  carta 
de  2u  de  maio  do  dilo  anno  1312  ',   ainda 
esia  providcncia  nao  bastava  para  supprir  a 
lalta  ([ue  liavia,  sendo  por  isso  concedido  mais 
aquelle  privilegio.  Tudo  isto  revela  bem  qual 
era  o  patrocinio  dos  reis,    e  o  favor  que  a 
hem  dos  estudos  recebia  a  universidade,  para 
meihor  caminhar  na  niarcba  progressiva  das 
scieucias  e  das  artes,   em  seculos  de  tanta 
ignorancia. 

Cantiuua.        M.  H.  d'almeida  e  VASCQNCELLOS, 


FRAGMENTO 


DA   TUADUC^lO  DO   IV  LIVRO   DA  ENEIDA 


Mnnocl  Matthias  Vieira  Fialho  de  Mcndoina. 
Continuado  de  pa^.  231. 


Em  tanto  a  aurora  surge,  edeixa  os  mares 
Juvenil  esquadrao  poslado  as  portas 
E  sidonios  magnates  Dido  aguardam: 
Yem  redes,  vein  farpoes  de  estranhas  formas, 
Bravos  monteiros  nos  massilios  polros, 
E  destros  animacs  de  subtil  faro; 

I       '    InslU.  vol.  I,  pag.  388,  not.  8. 


301 


D'oiro  c  purpura  ornado  cspunia  c  inordo 
()s  doirados  liocars  frizao  soberho: 
Ellin'  aiifiiislo  lorli'jo  assoiua  Eliza. 
Ilopia  tianiide  a  cdlirc,  orlada  cm  torno 
Do  hordauo  galao,  no  inatiz  \ario; 
I'cnde-llic  aureo  carcaz,  aurca  livi-lla 
Tonia-Ihe  as  dohras  da  purpurea  \csle; 
Aurco  no  llio  aiavia,  ciilaca  a  coma. 
Eis  Ascanio  lou(,'ao,  ois  plirygios  .<ocios; 
L"nc-sc  Eneas  a  luzida  turba, 
Piilclu-rrimo  cnlrc  os  mais:  (|ual  deixa  .Vpnilo 
As  corrciites  do  Xanlo,  a  Inbcrna  L\iia, 
Voa  ii  niaterna  cslancia,  a  grala  Dclos 
Onde  Agalliyrsos,  Dryopes  crolcnscs, 
llonrando  o  nome  sou  cm  sens  allares, 
Em  (laiicas,  em  can^'Oes  iiislaiiram  cluiros; 
Trcpado  ao  cyntliio  ccrro,  assollas  coma*- 
Com  hraiulo  louro  as  croa,  cm  oiro  as  ata, 
Aos  liombros  no  carcaz  rclincm  ilexas. 
rs'ao  menos  do  que  Apollo  assoina  Eneas: 
Tal  roniiosura  llic  alirillianla  as  faces! 
Por  sciidas  nao  triliiadas  e  alios  monies 
Bravios  aniinacs  se  vao  halendo; 
Salla  do  cume  alpesfre  o  veioz  cervo, 
E  cnlrc  nuvens  do  |io  travessa  os  campos. 
No  vallo  OS  acommelle  o  bravo  Iiilo, 
Folga  acossal-os   no  fogo.so  briito; 
Agora  estes  alcanca,  agora  aqucllos, 
Por  cntre  os  bandos  do  mcdrosas  Icras 
Anhela  quo  se  arrosle  em  caiiipo  abcrto 
Loao  solierbo,  javali  sanhudo. 

Em  Innlo  ja  so  vao  loldandoos  arcs, 
.la  medonlio  trovao  ressoa  ao  longc, 
Ja  sobre  a  terra  cae  granizo  e  cliuva, 
Plu'iiosa  torrontc  cscorrc  o  nicnte. 
Ue  Cylborca  o  nolo,   0  Tciicro,   o  Tyrio, 
Aqui,  alii  disperses,  se  guareoeni 
Aos  l;os(|ucs,  sis  cavernas:   ia  sc  abrigam 
A  mesnia  grula  Dido,  a  inesma  Eneas. 
A  Terra  e  Juno  do  consorcio  luimes 
Dao  signal:  eis  relamptigos  l'ii;'iliiiu. 
Quaes  lavos  de  hymeneu;  robom!>a  o  ])olo, 
Coiiscios  de  tanjo  nial  os  ecus  trovojam, 
E  no  cume  do  monte  as  nympbas  gcmem. 

Oil  momcnto  de  borror!   (u  so  lu'foste 
r.ausa  dos  males  sous,  da  morle  sua! 
Ncm  decoro^  nem  fania  abalam  Dido, 
ISao  qucr  liirlivo  aiuor;  ([uor  so  consorcjo, 
O  noiiic  do  bymencu  paleia  a  culpa. 
Por  iflda  a  e.vtensa  Lyl)ia  a  fania  \6a  : 
Monsiro  nao  vaga  mais  veIoz  do  (jue  ella. 
Da-llio  forcas  e  vida,  o  movimenlo, 
Alguin  tanlo  ao  nascer  a  acanlia  o  medo; 
Cresco  .  .  .  ale  que  ncs  ecus  suiiiiiido  a  fronle, 
Firma  a  I'ronle  uos  cons,  na  terra  as  plaulas. 
Dizem  quo  a  Terra  dove  o  nascimenlo 
(Juando  dos  numcs  quiz  vingar-so  a  Terra, 
Porquc  Cico,  porque  Encclado  abismarara: 
Ajuda-se  das  jizas  o  das  plantas, 
iSos  gyros  sens  o  monslro  ingonle  c  borrondo: 
QuanUts  plumas  a  veslem  iqiie  portcnto!; 


Tantas  as  linguas,  tanlos  os  ouvidos, 
Taiitas  as  boccas  s5o,  e  os  olbos  tantos, 
Quo  velam  scni  cossar,  quo  se  nao  ccrram 
Do  socegadi)  sonnio  ao  doco  peso. 
Em  quanlo  a  nolle  reina,  croiiiam  sombras, 
Vda  enlre  a  terra  e  ecus  rangeudo  asazas; 
Em  (|uanto  o  sol  da  luz,  alerla  pousa 
Em  sublime  algoroz,  em  torre  allisa, 
Espalliando  o  terror  de  povo  cm  povo. 
.VITorrada  a  liccao,  ((uanto  a  verdado, 
.^ssoallia  liccoos,  verdados,  crros. 
'•"olgava  0  monstro  de  cspalliar  nas  terras 
0  Icilo  e  por  I'azer,  com  rumor  vario; 
Quo  Eneas  aporloii,  quo  e  (eucro  sanguc. 
Quo  anceia  a  bclla  Dido  uuir-so  ao  Toucro. 
Quo  0  longobyuverno  os  viu  luilrindoamorcs, 
No  lu\o,  na  paixao,  no  es([ucciniento 
Dos  scus  ostados.  Vozes  lacs  derrama 
0  niimou  malfeilor  de  bocca  em  bocca. 
Ja  do  larbas  ao  rcino  cstonde  os  voos, 
Exacerba-lbo  o  ardor,  Hie  dobra  a  raiva. 
U'iianion,  da  (Jaramanlido  Ibi  jirolo 
Esio  roi;  crigiu  no  vaslo  imporio 
Allares  cento  a  Jove,  em  tomjtlos  cento; 
Nas  aras  niyica  cxpiram  sacrus  lumes, 
Aos  cullos  da  Dcidade  oternos  velam ; 
Yictimas  scnipre  em  sangue  a  terra  ensopam, 
E  lloridos  festocs  das  portas  pondcm. 
Som  lino,  e  no  furor  da  aiuarga  nova, 
E  I'ama  que  ante  as  aras  e  auto  os  numcs 
Alcando  aos  ecus  as  raaos,  dest'arte  orara : 
»0!i  jove  omnipolente,  que  rocebes 
"As  que  cntre  os  loros,  e  os  foslins  te  olTerla 
"Leneas  libacoes  a  maura  goule, 
uNao  vi^  isto?  nao  vos?  ob  jiadre!  oh  nume! 
«Teus  raios  medos  vaos  aomundo  inspiram? 
«Tu  vibras  som  destino  acrios  logos 
"Nas  azas  do  trovao?  Temor-to  e  sonho? 
<•  Mnlbor,  quo  deslorrada  em  meus  ostados 
I'Couiprou  tenue  porcao  de  praia  e  campos, 
"Que  me  dove  a  cidade,  o  dove  as  terras 
"Glide  iavra,  oude  impera,  onde  legisla, 
I'Kojcila  a  ffluilm   mao?  e   aoollie  Eneas? 
«E  oTeucron;  senhor  sou?  roubou-ma  oToiic  ro? 
"Urn  Paris,  uui  cobarde,  a  ipie  nao  peja 
"0  Meonio  galero  atar  na  barba, 
"Trazer  de  essoncias  rescendcnle  a  coma! 
"Aquem  scmiviril  cortejo  adula!  .  .  . 
»Eeu,  por  que  cm  Icmplos  teu';  cmnulo  offrend;is, 
"Do  prole  lua  em  vao  me  illusira  a  lama?" 
larbas  desla  arte  orou  co'as  uiaos  nas  aras ; 
0  omnipoteiito  ouviu  do  lillio  as  preecs. 
Os  ollios  vol\o  0  deus  aos  rogios  pacos. 
Alii  do  mcliior  lama  desluiubrados 
Os  dois  amaiitos  vo;  Slercurio  cbanio, 
E  desla  arte  Hie  falla :  <((;6rre,  voa 
"Sobre  as  azas  dos  zephyros,  6  lilbo; 
"  Vcioz  por  entro  os  arcs  to  desliza  : 
"Dizo  ao  troyauo  chefo,  (|uc  so  anlollic 
«A.s  cidades  que  o  lado  llic  destina, 
"Longe  de  repousar  nas  tyrias  plagas: 

■  Tal  me  nao  [iroiuetleu,  nem  tal  o  intouto 

■  Da  bella  Venus  I'oi,  quando  cnire  os  Grcgo* 


305 


(il'ma  voz,  e  outra  vpz,  da  niortc  o  salva. 
nQiic  da  gucrreira  Italia  orcupft  o  llirono, 
"Terra  de  heroes,  de  reis  feciiiula  palria; 
«Que  da  troiana  eslirpc  o  Iroiico  seja, 
«A  quern  o  iimnde  iiileiro  as  leis  aeatc, 
<(0s  seus  destinos  sao.  Dc  gloria  tanta 
oSe  abrazal-o  nao  podc  o  qiiadro  illustre, 
«Sc  sen  proprio  esi)lendor  nao  vale  as  lidas, 
oTenta  ao  liliio  rouliar  da  Itiilia  o  reino? 
'(Entre  imiga  nacao  que  h''}  que  espera? 
"Nao  v6  lavinio  campo?  ausonia  prole? 
«Navegue.  Eismcu  querer;  nieu  niandoeeste.n 
Disse.  Obedece  o  Deus  de  Jove  ao  niaudo; 
Aureos  talares  aecommoda   as  plantas, 
Semprc  em  rapido  voo  as  azas  d'elles 
0  levam  sobre  o  mar,  ou  sobrc  as  terras: 
Empolga  0  caduceu,  com  elle  as  almas 
Ao  tarlaro  conduz,  ou  d'elle  as  lira; 
Com  elle  os  somuos  da,  e\pelle  os  somnos, 
Dos  oliios  dos  mortaes;  no  ponto  extremo 
Com  elle  extingue  a  luz,  com  elle  alToito 
As  nevoas  alravessa,  acoita  os  mares. 
CoiUinua. 


COSTUMES  ARABES. 


A    NOBREZA    NO   DESEKTO. 


ContinuaJo  de  pag.  231. 

Falliivamos  da  vindicta.  Se  o  homicida  e 
algum  maioral  da  tenda,  tao  poderoso  que 
infunda  respeilo  a  trihn,  e  se  nega  o  prcco  do 
sangue,  cedo  ou  tarde  o  paga  com  a  \  ida 
(|ue,  em  se  nao  t'azendo  justica,  e  reelamada 
pela  vindicta ;  mas  tambem  dalii  nasce  a 
guerra,  como  dissenios.  Numerosos  exemplos 
de  vindicta  podcriamos  citar:  o  que  se  vae 
ler,  tirade  dos  costumes  de  uma  tribu  do 
Sahara,  os  chamba,  e  de  uma  povoacao  do 
grande  deserlo,  ostouareg,  separados  uns  dos 
OLilros  pelo  espaco  de  duzentas  Icguas,  dara 
idea  exacta  desse  odio  obstinado,  dessa  sede 
dc  vinganca  ([ue  se  traduz  sempre  pelos  mesmos 
actos  de  violencia. 

Um  troeo  dos  chamba,  capitaneado  por 
Ben-.Mansour,  cbefe  d'Ouergla,  surprehendeu, 
junclo  do  Djebcl-Batcn,  alguns  touareg  que 
vinham  ao  Oiied-Mia  dar  de  beber  aos  seus 
camellos,  e  commandava-os  Kheddache,  chele 
do  Djebel-Hoggar.  Odio  implacavel,  cuja  ori- 
gem  e  desconbecida,  tao  antigo  e  elle,  traz 
OS  chamba  em  guerra  com  os  touareg,  alcni 
de  que  estes  andam  em  perpetua  vindicta  com 
as  tribus  do  Sahara,  ou  porque  sao  berberes  e 
niSo  arabes,  ou  porcjue  impoem  as  caravanas 
do  Soudan  um  dircito  de  passagem. 


Travou-»e  enlrc  riles,  e  sem  preliminares, 
um  combale  encarnicado:  os  touareg  I'oram 
postos  em  fuga,  deixando  dez  dos  seus,  mortos 
no  campo,  um  dos  quaes  era  o  seu  cbefe  cujo 
coi'po  decapitado  cncoutraram  passados  dias: 
a  cabeca  levara-a  c  expozera-a  Ben-Mansour, 
como  tropheo,  era  unia  das  portas  do  Ouergla. 
A  nova  dostc  successo  cobriu  de  luto  os  habi- 
lantes  de  Djebel-Uoggar,  e  os  levou  a  fazereiu 
etc  juramento  solemne:  »A  minha  tenda  sejas 
destrnida,  se  kheddache  nao  lor  vingado." 

Kheddache  deixara  uma  viuva  f-ormosissima 
por  nome  Fetoum,  e  um  lilbo  aiiida  infante. 
Segundo  0  costume,  Fetoura  licava  governando 
com  0  conselho  dos  grandes,  em  ([uanto  seu 
lilho  nao  chegasse  a  edade  do  poder.  Um  dia 
cstavam  os  grandes  reunidos  em  sua  tenda; 
(iMeus  irmaos,  Ibes  diz  ella,  acjuelle  de  vos 
que  me  trouxer  a  cabeca  de  Ben-JLinsoup, 
ter-me-ha  por  esposa»,  e  em  a  noite  desse 
mesmo  dia  todos  os  jovens  da  montaiiha,  ar- 
mados  em  guerra,  vieram  dizer-lhe:  «Amauha 
partiremos  com  nossos  servos  em  procura  do 
teu  presente  de  nupcias.»  E  de  feit«>,  ao  al- 
vorecer  da  madrugada,  trezentos  tauareg, 
commandados  por  Ould-Biska,  primo  de  Khed- 
dache, marcbavam  na  direccao  do  norte.  Ao 
cabir  do  sol,  quando  ja  tomavam  posicao  para 
fazer  alto,  viram  correr  sabre  a  sua  retaguarda 
dez  camellos  montados,  entre  os  quaes  se 
distinguia  um  mais  ligeiro  e  rieaniente  ajaeza- 
do  ;  era  o  de  Fetoum  ;  e  Fetoum  vinha  reunir-se 
a  este  pequeno  exercito  que  a  recebeu  com 
acclamacoes  de  regozijo,  porque,  e  ccrto  era 
a  intencao  della,  pareeia  querer  aconipa- 
nbal-o  para  mais  promptamente  cumprir  a  sua 
promessa. 

Era  no  mez  de  niaio:  estavam  as  barrocas 
cheias  d'agna,  as  areas  juncadas  de  relva;  a 
estaciio  fa\  orccia :  ao  I'azer  alto  no  oitavo  dia 
de  marcha,  aununciaram  os  Ijatedores  que 
um  forte  troco  dos  chamba,  commandado  por 
Ben-Mansour,  dirigia  seus  rebanhos  para  as 
pastagens  do  Oued-Nessa;  porem  os  chamba 
logo  percebftram  a  aproximacao  dos  touareg 
e  cortaram  rapidamente  para  o  norte,  procu- 
rando  alcancar  o  Oued-Mezab.  Descoberto 
este  movimento,  com  marcha  forfada  de  um 
dia  e  uma  nolle  foram  os  touareg  embuscar- 
se  em  barrocas  e  brenhas  a  poucas  leguas 
de  seus  iniraigos  que  de  tat  nao  deram  fe. 
Alii  passaram  o  dia.  Ao  anoitocer  desceram 
a  planicie,  e  seria  meia  noite  ipiando  o  latido 
dos  caes  descobriu  o  aduar  que  procura\am. 
Em  um  memento  Ould-Biska  da  o  signal,  e 
OS  cavalleiros,  levantando  o  grito  de  guerra, 
cahcm  sobre  os  chamba,  dos  quaes  apenas  es- 
capam  cinco  ou  seis.  Um  destes  e  perseguido 
por  Ould-Biska  que  o  fere  nos  rius  com  um 
golpe  da  sua  comprida  laufa.  Levado  por  seu 
camello,  o  desgraeado  chamba,  vacillante, 
forcejando  por  segurar-se  na  sella,  ainda 
da  alguns  passos,  mas  em  breve  se  abate 


306 


(•  vai  rolav  sol>rc  a  area,  dosprcndendo  de  si 
uma  criaiira  do  sete  a  oito  annos  quo  trazia 
ofi'ulta  (lehaiNO  do  alhcrnoz. 

—  »Ben-^lansour!  BiMi-Maiisniir!  (^onhocps 
Bcn->!ansoiir?»  P(M-i;iiiilon  Onlil-liiska  acriaii- 
ra,  que  poniuuiecia  traiuiuilia  jiinclo  do  cada- 
ver. ((Era  nuni  pae,  cit-o-ahi! 

Cliegava  entao  Fctoiiin  segnida,  cercada, 
comprimida  por  urn  grupo  do  touarog. 

— Malei-o  ou!  exrlaniou  Ould-Biska. — A 
iniiiha  palavra  sera  cimipiida  —  re^pondeu 
Potoum  —  mas  laiioa  mao  desse  punhal,  n 
vae  acalmr  do  rasgar  o  corpo  do  maldicto; 
arranca-lhe  o  corarao  v  dcita-o  aos  caos. 

Em  qiianto  Ould-Biska,  joclho  cm  terra, 
curvado  sohre  o  cadaver,  cxecutava  est  a 
ordom,  Feloum.  cujos  labios  sc  viam  contra- 
liidos  e  aiiitados  por  um  tremor  nervoso, 
cevava-sc  avidameitte  iiesle  horrivel  espe- 
rtaculo.  Torminado  a  atroz  refeicao  dos  sloii- 
(jui  (caes  g;algos),  Feloum,  sntisfeita  a  vin- 
ganra,  nao  curaiido  dos  despojos  que  os  seus 
amontoavam,  nem  dos  rebauhos  que  dies 
andavam  a  reunir,  moulou  lo^o  em  seu  ma- 
liari,  e  deu  o  signal  para  a  relirada.  0  lillio 
do  Ben-Mansour  nao  o  mataram,  mas  aban- 
donaram-no,  c  alii  estove  o  infeliz  dous  dias 
a  chorar  com  fome,  sede,  e  calor,  ate  que 
deram  com  eilc  alguns  pastores  e  o  condu- 
ziram  a  Oucrgla  onde  existia  ainda  em  1845. 
Assim([ue  os  caes  dos  touareg  comeram  o 
coracao  do  chcfe  dos  chami)a,  mas  lambem 
entre  e^tes  dous  povos  havera  sempre  guarra 
implacavel. 
Coiitinua. 


BIBUOGRAPHIA. 

Cunlinuado  ile  pa^.  293. 

INIiiii  p:ra(io  \ainos  contimiar  o  arti^o  que  com  aqiieUe 
tilulo  principiitmos  em  o  n."  'i'i  do  In^slituto;  porque,  ha- 
venJo  agora  ili;  falar  de  trabalhos  inteiraniente  proprjos, 
avullam-nus  ao  pen.sameiilo  todas  as  dlfficuldades  da  eni- 
presa;  e  pur  que  tambein,  para  satisfazer  ao  promeitidu,  t* 
fnrra  que  uma  onlra  vez  levautemos  a  voz  neste  jornal  a 
favur  do  inethodo  portuguez,  coinbatido  per  um  dos  nossos 
niais  iUut-ires  e  assidaos  collaboradflres, 

Ahi  esl.i,  no  mesruo  n."  a  pas?.  '2iio,  debaixo  do  titiilo  — 
Instrifr^fio  piimaria,  —  o  niesmo  campeao  fuhninando 
iiovnmentn  a[in'il:i  invcnrao  on  introdiic^ao  (que  importa 
Ijso?).  que  iius  prL'zamos  de  recdihecer  por  excellenle;  e 
I'm  favor  da  qiial,  e  em  harmonia  cjm  eUa  havemos  publi- 
cado  primeira,  segumla,  e  terceira  edi^oesd'um  —  I^ovo 
fibcedario ^  indicio  este,  com  o  das  tres  ou  quatro  que  se 
tern  feito  do  mesmo  mctliodo  portuiruez,  de  que  a  reforma 
|jroirride,  e^nriha  terreno,  apezar  de  sens  anta^onistas. 

'i'emos  por  coiisa  decidida,  que  nao  ha  seiiao  venta,:^ens 
na  ilii-cussao  d'um  quabjiier  ponto  literario,  porque,  na 
Incta,  estuda->e  mais  profundamenle  a  materia,  palpam-se 
rnelhor  as  diffirublades,  e  esclarece-se  em  Dm  a  verdado. 
Mas  esta  quebtao  tern  tornado  uma  forma  tao  singular ;  a 
paixao,  e  o  caj)richo,  parecem  ter  nsurpado  com  lamanho 
azedume  o  Ios;ar.  que  nao  e  dado  seniio  a  rellexao  impar- 
cial ;  que,  au  locar  ainda  levemente  nest«s  pontos,  ficilmus 
jiressenlirlo  o  subreiBlt'e  do  leitor.  e  o  seu  justo  receio  pela 


con^erva^ao  da  honeslidade  d'um  jornal  l3lo  Hizmenle  cx- 
clusivo  das  scieucias  e  da  lileratura,  como  e  o  Instiluto.  A 
b-  pon'm  d'lioniem  de  bom,  e  com  o  trstimunho  anterior  de 
ludo  (pianio,  subre  quabpier  assuuipio,  liavenios  e,-;cript.>. 
ousamos  prometler,  que  nao  seremos  nos  ipn-  a  manchare- 
mos  por  via  desta,  ou  de  qualquer  oiitra  quentrio. 

Como  o  que  ib;ixanuw  dicto,  prende  diredamente  com 
a — Intro(hir(;ih)  an  .tiitign  dos  Mininns  — ,  u'.na  da-^ 
pul)lioa(;oes  de  que  ums  propozcmn-;  dar  nt>lii'ia.  vamit*^  a 
principiar  purelbi,  embora,  nn  ordein  dos  traballiosaponta- 
dus  em  prineipio,  tivesse  o  primeiro  lofrar  o  Manual. 

K*la  Intriuhic^no  conteni  quatro  lartcs:  —  i^  1."  e  um 
abcednrio  t\r  ttititra ; — a  ii  "  pudcremos  chainar  tambem 
aliccdari'j  de  niiineraQao ;  —  a  .'i."  sao  uns  pn'mdros  e.vcr- 
rict'js  dr  fefhtra; — e  a  4.",  conlinua(;So  desta,  eo  p^que- 
no  catecisiuo  da  di.icese. 

A  1."  e  a  *.'  parte,  I)em  como  aliiumas  pajrinas  da  ii." 
cont*?m  a  reproduci^-ao  dos  Abcedaiins  novos  para  uao  do 
a.fj/io  da  iiiffinria,  publicados  em  11)51. 

Esta  nrt  preio,  mui  reiormada,  uma  ■3.'''  ediriio  da  ftilro' 
durriio,  que  vem  a  ser  a  'i.^  dos  releridos  abeetUirios. 

J. 

Rstds  nao  conlem  mais  de  novo  numeros,  em  dezaseto 
pairinajide  letras,— palavras, — e  phrases.  A  di.sposii;HO  das 
b'tras,  a  elassilica^ao  das  mesmas,  tudo  o  sin^elissimo  cou- 
lexto  desle  alu'edario  e  baseado  no  s)  sterna  (b)  sr.  Castilh'i : 
o  qual,  apenas  approvado  ptio  Cmistlho  Superi')}'^  e  antes 
mesmo  que  mis  o  lessemos,  nos  ha\  ia  siib)  mui  inculcado 
pur  um  dos  mats  bvnemeritos  e  consrrririnsos  ivjyac!  de.'isf 
Cansflhoj  para  o  fazermus.  expcrimentar  ua  eschola  do 
as}  b:). 

O  1.^  numero  contem  as  seis  vogaes,  com  os  seus  nomes 
na  phraseologia  muemouica  do  sr.  Caslilho,  a  qual  por 
experiencia  ja  sabemos  que  se  grava  admiravelmeiite  na 
mcmoria ;  e  que  serve  tanto,  senao  melhor.  do  (pie  as  an- 
tigas  denoraina^-oes,  para,  no  dictado  do  escrevcr,  se  ma- 
nifestarem,  au  que  escreve,  os  characteres  de  que  ha  de 
usar. 

Todas  as  vofjaes,  majusculas  e  minusculas,  vao  em  cha- 
racteres redondos  e  inglezes,  repetidos,  afim  de  que  os 
meniaos  possam,  desde  logo,  ir  apprendendo  uma  e  o\itra 
leitura,  imj)ressa  e  manuscripta.  E  esse  piano  conlinuamos 
inalteravelmente  em  os  numeros  seguintes,  compo^tos  de 
letras,  palavras,  e  phrases,  em  ambos  os  characteres. 

As  vogaes  seguem-seo  que  chamamos,  comosr.  Castilho, 
sons  oraes  on  puros ;  e  contem  as  modifica^-5es  dos  val6res 
das  vogaes,  que  podem  sii^'nificar-se  pclos  accentos,  e  pelas 
mesmas  vogaes  nao  accentuadas.  Conclue  o  primeiro  nu- 
mero com  as  poucas  palavras  ja  susceptiveis  de  se  fornia- 
rein  somenle  de  vogaes,  como  ai!  ui!  cu,  o  tiio  e  a  aiu^ 
tu  ia  ao  aio,  etc. 

Debaixo  do  titulo  —  Exercirios^  ao  cabo  deste  numero, 
ou  primeira  li(;iio,  iiidicamos  o  processo  que  nos  parecen 
deverseguir  o  professor,  quando  intenda  convlr-lhe  mais 
emjiregar  o  abcedario,  do  que  o  puro  melhodo  portuguez, 
ou  combinar  um  e  outro. 

O  1 ."  diz :  —  ■"  De])ois  d'algum  exercicio  de  divisao  de 
wpalavras  em  syllibas,  e  de^^las  em  rlementns  phtmicos,  e 
ittamhem  de  leitura  auricular, —  repetir  o  val»ir  das  vogaes. 
O  2.° — »  Dizer  o  valor  de  cada  vogal,  de  que  se  com- 
«poem  as  palavras.  e  Ugar  esse  valor  em  s)  Uaba^i  naturaes. 
tiCome^ar  a  cantar  ou  recitar  as  regras  dos  valores,  e  a 
conhecer  como  se  a])[  Jicam. 

Ve-se  pois  que  persistimos  na  eminente  conveniencia  do 
grande  trabalho,  rigorosamente  analytico,  do  melhodo  jwr- 
luguez,  da  decomposi^-ilo  da  palavra,  feita  em  coro  e  a 
compasso,  jtelos  meninos;  cousa,  a  ipial,  como  a  leilura 
auricular,  podera  ser  reputada  por  incomprehenslvel,  ou 
nimiaraente  penosa  e  moedora  para  os  meninos,  por  quem 
(pier  que  OS  conhe^a  tao  somente  de  longe,  ou  haja  preten- 
(lido  estudar  a  eschtda  no  silencio  e  rccolhimento  do  gabi- 
ncte,  enlre  as  grandes  e  Iranscendenles  cdvras  dossabios; 
mas  *pie,  para  os  que  forem  vlsitar  uma  e  rauilasvezes 
a<|uella,  se  moslrara  claramente  ser  tao  facil  de  compfc- 
hender  e  exercitar,  como  a)irazivd  egraciosa,  e,  em  sens 
ctTeitos  ultenores,  averdadeira  —  viaftrrta  —  daUitura, 
com')  Ihe  cUamou  com  toda  a  razao  o  sr.  Castilho. 


307 


NVsta  parte  permitta-se-nos  observar.  que  o  A.  do  art., 
a  qiiL'  em  priiicipio  alliiiJiraos,  nos  caiisou  a  iiiaior  lias  sur- 
prczas  111)  cjuo  e.^crt-veu  a  pa^.  2H5.  —  uQiicrer  pois-qne 
.(  tia  (iroimncia  singular  ilit  lulra  Suisse  a  proiiuncia  da  jia- 
.*  !avra,  era  tiuerer  o  impossivel !  ! 

E  todavia  esse  impossivel  faz-se  constante.  prompta,  e 
facilimamente  nas  escholas  dv>  methudo  purtiiguez,  cmiio 
temos  obscrvado  e  pxperhuuiilado  muitas  vezes  no  asylo  da 
infancia;  e  nao  so  a  respeitu  de  nojiies  d'objectos  cominuns, 
mas  d'oiilfos  inleiramejite  desconhecidos  dos  alumnos, 
conio  OS  de  cidades  e  paizes  estran^'eirus. 

E  se  o  ilhislre  A.  ilo  arligose  tiveiisediidoaoincommodo 
do  bem  observar  practieaiiiente  o  comose  devem  fazer  soar, 
se^nndo  o  melhudu,  cada  uma  das  cons-iautcs  (o  qtie  nau  e 
siisceptivol  de  se  eserev^r),  e  taiilu  melhur  qiianto  mais  se 
di-'r  de  mao  a  todaa  (:'Xao;^era(;a(j;  temosque  llieacuiitecena 
o  mesiiio,  que  iia  nieUior  boa  le  asseveiaiuus nos  acontecera 
a  ]irincipio. 

Lendo  e  relondo  o  melhodo,  e  ajipHcando,  com  elle,  a 
palavra — porta  — ,  coiuiuimos,  com  o  nossa  collejiia,  por 
aqut;l!a  inipos.-iliilidade;  mas  desde  que  ouvinios  p(jr  em 
obra  a  theoria,  e  fazer  soar  devidamentc  as  consoatites, 
segundo  o  ensino  do  sr,  Casfilho,  iiin  conio  veo,  que  nos 
toUiia  a  \ista,  rasjou-se  diante  de  nussosolhos,  e  adiHicui- 
dadedesapparecen  para  se.mpre. 

Eiu  contraposi^ao  ao  que  airirnia,  e  nos  accreditamos.  o 

A.  do  arl.  ha\  cr  ubservado  nos  mehtres  assisleutesao  curso 
normal.]  odeni OS asseverar-llie,  que,  nos examesdosmesmos 
nieslres  dilficiluiente  appareccu  algum,  dos  mais  rudes, 
(alguus.  I  oucos  em  verdade,  niai^que  rudes),  que  nao  Ira- 
duzisseeni  palavra,  prom pta  e  imnn-'diata men  te,os sons  que 
se  Jhe  enviavum,  por  differenles  pe.ssoas,  sem  a  mais  peque- 
na  indica^-rio  anterior.  E  que  muilo,  se  os  meninos  fazem 
esse  mi  la  ire  ! 

Sentimosserraosfor^ados  pelo  A.  adizer-Iheque  as  suas 
mesmas  palavras  provam  contraproducentemente.  Quern 
duvida  deque,  assimcomo  Wraimpossivel  extrahir,  por  via 
dos  sons  ouv'idos,  a  palavra  biblos^  expressando  pelo  nome 
proprio  cada  urn  de  sens  elomentos,  na  lingua  grega;  da 
mesma  (urma  e  absolutaraente  superior  as  humanas  lor^as 
lirar  a  palavra  —  chajit'ii  —  dijs  elemeiitus  c,  li,  a,  p,  e,  u, 
como  sp  inculca  que  pretenda  o  melhudo  portuguez,  se|ia- 
rando  o  (pie  elle  ajuucta,  eJfazendo  soar  a  aniiga  o  que  elle 
transforma  em  cimo  s5pros  e  quasi  sons  indiziveis !  ? 

Qaando,  em  ieiliica  auricular,  (na  qual  e  evidenteque 
figuram  somente  os  \alores  usuaes  dos  caracteres,  e  nao 
a  fi5r-nia  destes),  quizernios  que  os  alumnos  nos  digam  — 
ifjiapifu.,  certaraenle  niuguem  llies  dira  —  c,  h,  a,  p,  e,  u, 
—  mas   sim — .r  {\alor    da   articuIa(;ao   cumposla  f/(,). 

B,  /;,  in  {on  —  (',«*•  Da  mesma  sorte  em  chfirlnlno:  e 
^ntao  o  alumno  —  dij  a  sent  difjlcvldadc  a  palavra^  fjue 
OS  sens  elc/ncnt^)S  combiiiadus  representani  (palavras  do 
Qiesmo  art.) !  ! 

'_,  Se  em  seguida  o  professor  mandar,  como  deve.  deconi- 
bor  em  syllabas,  e  estas  nos  sous  elementps;  o  alumno 
respondefa  talvez  que  o  primeiro  elemento  e  a  ^ — tisoirti, 
9  X,  a  s'egunda  a  arvore  etc.;  e  aquelle  Uie  eiisiiiara 
que,  segundu  o  raodo  dVscrcver,  nao  e  o  x,  mas  e  o  rh 
o  primeirp  eleniento  da  palavra  chapi'v,  com  o  mesnio 
Valor,  conjo  ja  aprendpra. 

Mas,  se  com  elVcito  o  aUimno  nuo  pude  ligar  ele- 
m.entos,  mas  unicamente  syllubas,  ou  •)  suletrar  sillabiro 
da  velha  eseluda;  que  s\llabas  ha  (perguntaremos  nos) 
nas  palavras  chapeu  e  chaitaliio,  parlidas,  como .  quer 
0  art.   em 

X,  fl,  pj  ('«; 
e  X,  -ar,  la,  tao.  ? ! 

A  id^a  de  apprender  a  ler  palavras,  quazi  desde  a  I.^ 
li^ao,  (Tolgamos  de  o  ler  ahi),  e  approvada  por  M.  Michi-l, 
ciija  obra  nao  vimos.  Seus  svllabarios,  inculcados  no  art.", 
tenio-los  por  autiquados  e  inuteis  cm  nossa  terra,  aunde 
nao  ha  carlilha  ou  abc,  velho  on  novo,  que  nao  condemne 
OS  pobres  meninos  a  fazerem  uma  longa  e  asjjerissinia 
fiajem  desde  o  6  e  a  —  bd,  e  o  b-r-d-o  —  bnlo  ale  as  eSti- 
rndas  palavras  —  constitudonalidade  e,  misericordiosis- 
isniamente^  etc. 

Os  nossos  abcedarios  continuam,  dasf  vogaes  em  diante, 
eom  as  consoanles  —  M.  N.  L.  R.  o  n.**  ti.":  — B.  P.  D. 
tv.f.  y.  o  n.o  3.0:  — Q.  K.  C.  C.  S.  o  n.«  4.°:  -Z. 


\".  J.  G.  11.  n  a."  5.": — sons  nazaladoe  8imi)lices  ecom- 
postos,  o  n.«  6.":  — Ch.  Lii.  NU.  Ph.  no  n."  7.*:  — al- 
gous, mui  poucos,:exemplos  de  consoantes  dobradas,  no 
n."  H.": — e  como  parte  coniplementar  uma  variada  col- 
lec(;a(j  d'abcedario.s,  pcia  aiUiga  ordem,  em  o  n."  y.'* 

Em  todos  OS  n."*,  menos  no  ultimo,  »fgue-se  o  piano  do 
1  .^  0-* characteres  sao  variados.  Nenhumas  syllabas  <pie  nao 
exprimam  consas,  e  estas,  quanto  possivel,  vulijares  e  por 
isso  conhk-cidas  dos  meninos.  Phrases  curtas,  pequenos 
periodiis;  e  ludo  composto  de  elementos  ja  sabidos.  em 
conslanle  appIica(;ilo,  e  recapitula^ao  dasauteriores  li^oes, 
—  procesio  tao  simples,  coniu  eflicaz  para  apprender,  em 
means  tempo,  e  com  su)>error  facilidade,  a  l^r  uns  e  ou- 
tros  characteres,  redundos  e  manuscriptos. 

Em  assumptosde3taordemcr^mosqueomol!iorargumen- 
toeudaexperienciu.osfactos  bem  verificadose  apreciados, 
e  repetidus  por  um  tempo  bastante  jiara  devidamentc  se 
julgarem. 

Portanto,  se  estes  abcedarios  valem  alguma  cousa,  so 
supprem  bem  us  longos  syllabarios,  se  se  amoldam  a  todos 
OS  methudos,  e  se  sao  susceptiveis  do  fructlGcar,  sAb  a 
intelligente  apjilica^ao  d'um  professor  cuidaduso,  nao  a 
devomus  dizer  nm  a  priori;  que  o  digam  esses. mesmoa 
professores  pelos  laclos. 

Pela  nossa  parte,  limitamo-nos  a  asse:verar,  que  desdo 
1^5]  nao  ha  syllabarios  na  eschola  do  asylo; — que  as 
camadas  de  meninot  desse  edosseguintes  annos  teemappren- 
dido  a  i^r  em  menor  tempo,  as  meninas  ^ratutfassem  mais 
ensino  que  o  oral  do  methodo  portiiguez;  e  os  meninos  gra- 
luitos,  e  OS  pensiunistas,  ]relo  me.smo  melhodo,  auxiliadgi 
com  o  uso  de  tabellas  inteiramente  conformes  aos  abceda- 
rios, l.^e2.''edi(;ao.  Tres  para  quatro  annos  d'experiencia 
tem  Jilguma  importancia;  e  6  por  isso  tpie  aguardaremos 
razoes  mais  fortes,  ejuizos  menos  apaixunados,  para  mo- 
dilicar  ou  abaudunar  inteiramente,  se  for  possivel,  a  nossa 
intima  cnnvic(;ao  da  excellencia  do  methodo  porluguez,  » 
da  absolula  desnccessidade  e  inconvenlencia  das  li^Oes  de 
syllabarios. 

Nem  o  puro  methodo  portuguejs,  com  todos  os  seus  suc- 
cessivos  aperfei^oamentos,  nemos  nossos  abcedarios,  nem 
outro  qualquer  jirocesso  pude  produzir  o  milagre,  segundo 
inlendemos,  de  habjlitar  os  alumnos  para  lerera  prompta  e 
correnlemenle,  apenas  conliecidos  tw  characteres.  l^^a  e 
serds  mestre  e  em  ludo  a  pura  verdade.  A  excellencia  do 
methodo  esta  em  fazer  veneer,  no  menor  tempo  possivel  e 
com  facilidade  e  gosto,  a  primeira  Jornada.  No  termo  delJa 
p  alumno  sabera  conhecer  asletras,  seusvalOres,  combinal- 
os,  e  extrahir  delles,  por  assim  dizer,  a  palavra  formada  e 
significante. 

O  (pie  se  segue, -(^  obra  do  tempo.  ^ 

E  as  liguras,  e  d  canto,  e  as  historietas,  e  o  rithmo,  e  a 
analyse  da  palavra  formada,  e  o  movimento  das  palmas  e 
dopasseio,  els  o  grande  e  fecundameio  por  que  se  obtem 
orimdealiaixareaiilanarocaminho,c.7Tivertendo-od'arida, 
pedregoza,  e  alcantilada  encosta,  era  alegre  e  vistosa  ala^ 
tiK^da,  tapizada  derverde  relva,  e  animada  pelo  gorgeio  dos 
pas.'arinhos. 

E^tas  conquistas  do  genio,  bemfazejo  da  humanidade, 
temos  para  nos,  que  ahisluria  as  regislrara,  perdoando  por 
ellas  a  fraqueza  do  homcm  o  ((ue  e  do  bomera;  e  discrinii- 
iiandiiaexaggera^uoajiaixonadadoqueeoiropurodesolida 
e  permanente  utiUdade. 

Uma  ultima  palavra  a  ci:rca  dos  Abcedarios.  Publieamos 
OS  primeiros  tao  ^mcnte  com  o  intuito  no  melhor  ensino 
do  asylo.  O  public6  acceitoii-ns.  Quando,  no  anno  proximo, 
demos  a  Inz  a  primeira  edi^ao<la  Introdur^ati^  nao  liganius 
a  e^ie  trabalho,  a  menor  esperan(;a  d'uiiia  boa  sahida. 
Entrava  no  piano  lulal  de  nossos  escriplos;  cedianios  quazi 
a  uma  jiaijao,  senXo  a  uma  mania,  d'escrevinhar.  Eoanno 
nao  era  findo,  e  ja  estava  no  prelo  uma  nova  edi^ao,  desti- 
nada  a  salisfazer  ao  pedido  d'exemplares  d'uma  casa  consi- 
deravel  de  negocio  de  livrus  ! 

O  publico  pois  dispensa  os  syllabarios  de  Mr.  Michel; 
aco<_'iUi  as  emana<;oes  do  methodo  portugnez;  muitos  dos 
que  r,  iri'la  vacillam.em  o  seguir,  coucordam  em  aproveilar 
0  que  nao  ^  mais  que  uma  sumbra  delle ;  e  nds  recebemos 
a  duce  satisfac^ao  ^e  havermos  feito  alguma  cousa  ulil. 
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Continm,  '  a.  FORJAZ. 


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Murreram. 


Exislem. 


Exiiitiam. 


Entraram. 


Murreram. 


Exislfm. 


Existiam. 


Enlrarani. 


Sairam. 


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Morreram. 


Exislem. 


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JOKINAL    StIE^TIl  ICO     E   LITTERARIO. 


CONSELHO  SUPERIOH  DE  INSTRUCCA.0 
PUBLIC  A. 

REI.ATOniO  ANNLAL. 

1848  — 18i!). 

Conliniiado  de  pag.  283. 

4.'  PARTE. 

Instruccao  superior. 

Os  estabelecimentos  dc  instruccSo  superior, 
que  se  acham  debaixo  da  inspeccao  do  con- 
selho  superior  de  instruccao  publica  sao:  a  uni- 
versidade  deCoimbra,  aacadomia  polytechnica 
do  Porto,  e  as  escbolas  medico-cirurgicas  de 
Lisboa,  Porto,  e  Funchal. 

§.°  1.°  Universidade. 

No  anno  lectivo  de  1848  para  1849  foi 
frequentada  a  universidade  per  828  estu- 
dantes  dos  quaes  116  cursaram  a  faculdade 
de  theolof^ia,  1)42  a  de  direito,  33  a  de  me- 
dicina,  111  a  dc  mathematica,  e  122  a  de 
philosopbia.  A  despesa  votada  no  orcaniento 
ultimo  para  a  universidade  imporla  cm 
61:902^750  reis,  de  cuja  quantia  deduzindo 
OS  ordenados  de  cadeiras  e  outros  logares 
rvagos,  bera  como  o  iraporte  de  matriculas, 
'cartas  de  formalura,  actos  grandes,  iniposto.s 
addicionaes  c  seilo  de  cartas,  tudo  no  valor 
muito  approximado  de  26:000^000,  resta  a 
quantia  que  effeciivamente  tinha  a  desem- 
bolsar  o  thesouro,  se  pagasse  em  dia,  de 
35:902^730  rcis,  que  repartida  pelos  828 
esludantes  da  a  despesa  annual  de  43^360 
reis  a  cada  esludante.  Da  inspeccao  do 
numero  de  estudantes,  que  no  ultimo  anno 
frequentaram  as  diversas  faculdades  univer- 
sitarias,  reconhece-se,  que  continua  ainda  a 
«er  frequentada  em  maior  concurrencia  a 
faculdade  de  direito,  como  aquella  que  ainda 
sejulgaolTerecermaisexpectativadecmprcgos, 
ou  dar  mais  proveito  aos  filhos  das  familias 
abastadas  que  pretendem  adquirir  juncta- 
mente  com  um  grau  mais  subido  de  instruc- 
cao, OS  conheciraentos  necessaries  para  me- 
Ihor  dirigirem  os  negoeios  de  suas  casas. 
Vol.  III.  Mabco  13 


Nota-se  porem  ao  mesrao  tempo,  que  esta 
afHuencia  comeca,  era  parte,  a  ser  distrahida 
para  os  estudos  theologicos,  ainda  ba  poucos 
annos  quasi  de  todo  abandonados;  sendo 
isto  principalmente  dcvido  a  practica  hoje 
felizmente  seguida  de  se  provercm  todas  as 
egrejas  vagas  por  meio  de  concursos.  E  esta 
mais  uma  prova  de  que  para  animar  os  dif- 
ferentes  ramos  das  artes  e  das  siencias,  c. 
forcoso  ou  tornar  sensiveis  os  recursos  pra- 
ctices que  se  adquirem  no  sen  estudo,  ou  a- 
presental-os,  proporcional  e  convenicnteraen- 
te,  como  babilitacoes  indispensaveis  nas  di- 
versas escalas  doscargos  publicos.  Alias  suc- 
cedera  como  nas  faculdades  de  matbematica 
e  pbilosophia,  onde,  por  uma  parte  o  pouco 
desinvolvimento  que  tem  tido,  por  ora,  o 
ensino  practice  e  util  d'estas  sciencias,  e  por 
outra  parte  as  poucas  babilitacoes,  que  actual- 
mente  oilerecem,  reduzidas  quasi  unieamente 
as  do  magisterio,  fazem  com  que  o  numero 
dos  sens  alumnos  seja  assas  diminuto. 

A  faculdade  de  mcdicina,  apezar  do  mais 
subido  credito,  de  que  gozam  os  alumnos, 
que  n'ella  se  formani,  nao  so  em  compara- 
cao  com  OS  alumnos  das  escbolas  medico- 
cirurgicas  do  reino,  mas  mesmo  com  os  das 
escbolas  estrangeiras,  e  tambcm  muito  pouco 
frequentada,  em  conscquencia  da  brevidade 
e  facilidade  com  que  se  estao  babilitando 
alumnos  n'aquellas  nossas  escbolas  cirur- 
gicas;  os  quaes  pelo  demasiado  desinvolvi- 
mento, que  as  mesmas  se  tem  dado,  pre- 
tendem competir  com  os  da  universidade. 

Este  conselbo  superior,  reconhccendo  que 
ja  tem  decorrido  um  espaco  de  tempo  suf- 
liciente,  durante  o  qual  se  podera  ter  ava- 
liado  OS  effeitos  practices  da  novissima  re- 
forma  litteraria,  decidiu  dirigir  a  tedos  os 
cerpos  scientilicos  uma  portaria  circular,  com 
data  de  20  de  julbo  de  corrente  anno,  re- 
commendando-lhes  que  nes  .seus  relatorios 
do  anno  findo  indicassem  o  que  a  experiencia 
Ibes  tivesse  suggerido  sebre  a  execucao  da 
mesma  reforma,  e  sobre  os  meios  de  a  mo- 
difiear  na  parte  que  intendessem  precisava 
de  ser  altcrada.  E  come  a  maior  parte  d'estes 
cerpos  nao  podesscm  satisfazer  no  prazo  in- 
dicado  a([uella  recommendacao,  por  falta  de 
tempo  sufficiente  para  tractarcm  madura- 
mente  de  negocio  tao  ponderese,  e  declaras- 
-1855.  Num.  24. 


^-^^^^^^^^^^"^^^^-^^^^^ 


310 


sera,  a6  raesmo  leiapo.que  prorarariam  faz^l- 
0  c  com  a  possivcl  l)re\  iciadc ;  por  isso  o 
conselho  aguanla  a  rcmcssa  de  todos  os 
Irabnilios,  sohre  esle  objecto,  para  os  toiitar 
na  devida  conta. 

Dos  relalorios  enviados  pelas  dilTcrcntcs 
faculdades,  conlu'tcu  o  conselho  qiic  todas 
ellas  se  dcdicam  com  o  maior  zcMo  ao  apcr- 
I'eicoanuMito  do  cnsino,  c  a  coiiservarao  e 
cngraiideciiiiento  dos  cstalu'lccimcntos  scicn- 
tilicos  (|iie  llu's  sao  conllados. 

A.  faculdade  dc  Iheologia  iifana-se,  com 
razao,  da  regiilaiidade  e  desinvolvjnieiilo 
que  tiverani  os  estiidos  iheiilngicos,  e  da  cou- 
correucia  e  aproveitauieulo  dos  aluiiinos  no 
ultimo  anuo  leclivo,  sendo  este,  em  ludo 
superior  a  lodos  os  dccorridos  desde  IS'.ti. 
Ensaiaiido,  pela  primeira  vez,  os  novos  coin- 
pendios  que  ha\ia  adoptado  no  anno  leclivo 
de  ISio  para  ISiG,  reconlieceu  ijuc  inuito  se 
lucrara  no  cnsino  fcito  per  olles. 

0  coDseliio  da  faculdade  dc  medicina  da 
conta  de  que  adoplara  para  compendio  na 
cadeira  dc  partes  c  nioleslias  de  pucrpcras  c 
reccranascidos,  o  trmtado  •praclico  da  arte 
de  partos  de  Mr.  Chaily. 

ExpOe  a  ncccssidade  urgcnte  de  completar' 
0  quadro  do  seu  pessoal  com  os  logares  de 
um  demonstrador  e  trcs  ajudaules  de  cliuica 
— dii  parte  dc  que  cuidando  em  dar  o  pos- 
sivcl desinvolvimcuto  as  applicacoes  da  sci- 
encia,  nomeara  em  3  de  novcmbro  de  1848 
um  dos  scus  membros  para  t'azer  parte  da 
commissao  creada  para  organisajao  das  ins- 
Iruccoes  afim  de  prevenir  o  cholera  mwbus  c 
seus  desinvolvlmentos  n'esta  cidade,  e  que 
em  conselho  de  3  de  novcmbro  do  mesmo 
anno  nomeara  oulra  commissao  composta  dc 
trcs  membros,  a  qual  dcpois  addicionara  mais 
dois,  a  fim  dc  eusaiarem  o  as,^(icu  no  Iracta- 
mento  dos  doentes  do  hospital  dos  lazaros. 

Lamonta  a  falta  de  subsidies  de  que  se 
rcsentem  os  hospitacs  e  mais  cslabelcci- 
mentos  annexos  ii  laculdade,  bem  como  a 
sua  pequena  capacidadc  nao  so  era  rclacao 
ao  numcro  e  di\isao  dos  doentes  nos  hospi- 
laes,  raas  ate  a  maior  CYlensao  do  ensino, 
sendo  causa  de  que  nao  so  podesse  ainda 
obter  um  gabinctc  proprio  e  com  luz  suf- 
liciente  cm  que  o  demonstrador  de  analomia 
pos5a  I'azer  as  demonstraroes  de  analomia 
transcciidentc. — Finalmente  em  conselho  dc 
-\i  de  julho  d'cste  anno  nomeou  uraa  com- 
missao para  dar  o  scu  parccer  sobre  a  con- 
veniencia  da  mudanca  dc  todos  os  seus  cs- 
tabelecimentos  para  os  collegios  de  S.  Bcnlo 
V,  S.  Jcronymo. 

0  conselho  da  faculdade  de  mathematica 
rcelama  lambem  como  ncccssidade  urgcnte 
0  provimento  das  cadciras  vagas  na  lacul- 
dade. Da  conta  de  que  Ihe  lora  oflerecido 
pdo  opposilor  da  faculdade  o  D/  Jacomc 
Luiz  Sarmeuio  um  manuscriplo  intilulado — 


niethodo  do  cakulo  das  distancia.i  hinares,  do 
qual  sc  lez  mencao  no  livro  dos  asscnta- 
mcntos  da  faculdade,  e  que  se  mandou  cor- 
rcr  por  todos  os  vogaes  para  d'ellc  se  fazcr 
0  devido  juizo.  Incumbiu  a  unia  commissao 
0  examc  de  uma  obra  manuscripla,  que  de- 
bai\o  do  titulo  de  —  romjilenieiilo  de  rjeometria 
(le.'irrl plica  de  I'^ourcij — Idra  feita  e  olTerccida 
pclo  lenle  da  laculdade  o  D/  llodrigo  Hibeiro 
de  Sousa  Piulo.- — -Tanlo  no  rclatorio,  como 
em  resposta  a  uma  reciuisicao  do  jirelado  da 
uuivcrsidade,  cxpoe  ([ue  e  de  ncccssidade 
absolula,  para  que  o  observatorio  deCoirabta 
possa  ser  util  a  sciencia,  e  n'elle  sc  cooperar 
l)ara  o  apcrfcicoanicnto  da  astrononiia  com 
OS  observatorios  mais  accrcditados,  ([ue  elle 
soja  pro\ido  dos  seguinles  inslrumenlos — 
um  circulo  mural — um  instrnmcnlo  de  pas- 
sagem  de  maior  forca  e  dimcnsocs  que  o 
actual=um  telescopio  de  forca=um  ocnlo 
niunido   de  compctcnlc  micromclro. 

0  conselho  superior  reconhecendo  que 
todos  esles  inslrumenlos  sao  indispensaveis 
para  se  podcrem  I'azer  as  observacocs  com 
exactidao  c  com  a  neccssaria  rcgularidade, 
c  que  e  neccssario  eollocar  este  cstabcleci- 
mento  cm  cslado  dc  grangcar  pelas  suas 
observacocs  a  mesma  celebridadc  que  Ihe 
grangeou  no  muudo  scienlilico  a  organisa- 
cao  das  suas  cphemerides,  nao  duvida  em 
execucao  com  o  detcrmiuado  na  portaria  do 
minislerio  do  reino  de  fazcr  acompanhar  cste 
rclatorio  dc  um  projcclo  de  lei  para  que  o 
govcrno  de  Y.  M.  seja  auctorisado  a  mandar 
eomprar  os  inslruraentos  pedidos.  Torna-se 
tambem  urgentissimo,  nao  so  para  o  aper- 
fcicoamcnto  dos  estudos  mathcmalicos,  como 
tambem  para  os  philosopbicos  c  medicos, 
que  se  organise  dclinilivamenle  a  aula  de 
desenho  dc  mode  que  possa  prccnchcr  OS 
lins  para  que  fora  creada  nos  estatutos  dc 
1772,  c  para  isso  cspera  o  conselho  que  o 
governo  dc  V.  M.  se  dignara  dc  rcsolver 
com  a  brevidade  possivcl  sobre  o  prograra- 
ma  que  o  mesmo  conselho  submetleu  a  regia 
approvacao  de  V.  M.  na  consulta  para  o 
provimento  d'aquelia  cadeira  cm  um  profes- 
sor que  possa  salisfazcr  a  todas  as  cxigencias 
dos  cstalulos  e  da  lei  de  '20  dc  septcmbro 
dc  18i4. 

0  couselbo  da  faculdade  dc  philosophia 
da  conta,  dc  que  procurando  remover  os  inr 
convcnienles  que  a  experiencia  dos  aflBOiS 
precedenlcs  havia  dcmouslrado  cxistirem  na 
distribuicao  das  materias  do  cnsino,  c  usan- 
do  da  permissao  ([uc  a  lei  Ihe  offerece,  fizera 
antes  da  abcrtura  das  aulas,  as  seguialos 
alleracocs:  Que  no  primeiro  anno  se  Idsse 
toda  a  chymica  inorganica,  para  no  segundo 
se  dar  maior  desinvolvimento  ao  cstudo  da 
philosophia  chymica  e  da  pbysica :  Que  a 
cadeira  de  zoologia  fosse  lida  no  3.°  anno, 
coniuuctamcnte  com  a  do  chvmica  organica, 


^^5^^^^ 


311 


c  que  a  do  mincralogia  passassc  para  o  1.°, 
a  lira  de  <|ue  sc  nao  coIlfclis^(!  o  grau  de 
baeharel,  sem  o  estudo  coinplclo  du  toda  a 
historia  iialiiral,  v.  (|ue  [Jura  toriiar  coiiipleto 
o  curso  di;  applicaroes,  so  jiiuctasso  a  cadcira 
de  agricultura  c  oconomia  rural  o  eiisino  do 
technologia  quo  ale  agora  so  lia  no  'i.° 

Para  liarmonisar  o  (.'iisino  das  diversas 
discipliuas,  cncarrcgou  ao  ionle  subslituto, 
D/  Pedro  Noilicrto  Corroa  a  coTifecvao  do 
um  cloiitlio  de  liolaiiica,  o  qiial  a((uelle  lento 
apprescntou  o  corre  iniprcsso. 

Tends  acecitado  o  olToroeinionto  dos  lentcs 
substitutos  Honri(iuu  do  Couto  e  Almeida 
Valle,  c  Jose  Maria  de  Abreu  para  proee- 
derem  ao  novo  arranjamenlo  e  classilioaeao 
do  gabinete  zoologico,  e  havendo-se-llie  de- 
signado  para  base  o  uilinio  metbodo  de  Mr. 
Cuvier,  lem  o  eonselbo  da  faculdade  a  satis- 
J'accao  de  ver  ua  congregaeao  de  \isita,  que 
a  1."  parte  de  tao  iniportanle  lrat)allio  liavia 
side  satislaetoriamente  desempenbada  pelos 
referidos  lentes.  Nomeou  nma  comniissao 
para  examinar  um  compendio  de  bolunica 
offerecido  pelo  lento  suhstituto  o  D.'  Pedro 
Norberto  Correa.  Discutiu  e  approvou  o  novo 
piano  que  deve  segiiir-se  na  adniinislracao 
ccononiica  e  scicnlilica  das  cercas  destinadas 
para  o  esliido  da  agricultura  practiea.  A  lim 
do  enriqueeer  o  jardim  botauico  e  o  sou  res- 
pectivo  gabinete,  sollieitou  directaniente  do 
governo  de  V.  M.  na  sua  represenlacao  de 
26  d'abril  ultimo  o  Uerbario  Portuguez,  ar- 
ranjado  por  um  distiucto  botanicoestrangciro, 
para  cuja  conipra  ja  o  niesmo  governo  de 
V.  M.  fora  auctorisado  por  lei;  pediu  por 
intcrvencao  do  prelado  da  universidade,  que 
0  cclebrc  bolanico  o  D.'  Welwetseb,  a  ([uem 
0  jardim  botanico  deve  muitas  c  importantes 
acquisieoes  de  scnientes,  I'osse  commissiona- 
do  para  remetter  os  produelos  botanicos,  que 
obtivesse  na  sua  proxima  viagem  as  eostas 
orientaes  da  Africa;  e  linalmente  redigiu  as 
instruccdes  que  pelo  governo  de  V.  M.  devem 
ser  enviadas  as  anctoridades  do  ullramar, 
afira  de  remettercm  tanto  para  o  jardim  como 
para  o  muscu  da  universidade  produelos  dos 
tres  reiiios  da  natureza.  N'este  seu  relatorio 
eniitte  lambera  os  sens  votos  para  que  se 
realise  o  [lensamento  de  se  converterein  em 
hospitaes  os  collegios  de  S.  Bento  e  S. 
Jerouymo,  augmenlando-se  o  museu  com  parte 
do  actual  da  conceicao,  onde  poderiam  col- 
locar  sc  as  colleccoes  de  historia  natural,  ja 
muilo  apertadas  nas  salas  do  museu.  Final- 
mente  faz  sentir  a  necessidade  de  se  provercm 
OS  logares  vagos  de  demonstradores. 

Dos  relatorios  dos  directores  do  outros  es- 
tabeleeimentos  annexes  a  universidade,  ve-se 
que  se  tracla  com  zelo  da  sua  consorvacao  c 
augmento.  E  para  desejar  que,  logo  que  as 
forcas  do  thcsouro  o  pcrmittam,  se  destine 
alguma  quantia,    maior  ou  menor,   para  a 


compra  das  obras  novas  para  a  biblioibeca, 
aonde  por  agora  apenas  sc  vao  compraudo 
alguns  |)0ucfis  jornaes  litterarius.  em  resultado 
de  uma  pequena  econoniia. 

Na  typograpliia  da  universidade  vao-se 
substituiiido  alguns  prelos  de  jiau,  loscos  e 
imperleilos,  por  outros  de  ferro  de  uso  mo- 
derno ;  coniprou-se  uma  prensa  litliograpbica, 
(|ue  uao  liavia,  e  espcra-sc  que  no  corrente 
anuo  lectivo  .se  exerca  na  oilicina  esta  arte 
preciosa.  Vai  cncommendar-se,  u  cntra  no 
I'liluro  orcamento,  uma  prensa  bydraulica, 
de  cuja  macliina,  alias  dispendiosa,  muito 
depende  a  perl'eicao  typographica.  Sollicita-se 
a  auctorisaoao  do  governo  de  V.  M.  jiara 
que  da  oilicina  nacioual  de  Lishoa  sc  niande 
um  ollicial  de  rcconbecido  mcrilo,  para  in- 
Iroduzir  n'esta  typograpliia  os  bous  usos  c 
aperieicoanientos,  de  que  realmente  ainda 
carece. 

i?."  2.°  Acadcmia  polytbechnica  do  Porto. 
Pelo  relatorio  enviado  pelo  director  da  mesma 
academia,  ve-se  que  foi  o  anno  lccti\o  ultimo 
muito  regular  e  de  aproveitamento. 

Frequentaram  a  academia  nas  11  cadeiras 
do  que  se  compoe  145  cstudantes  contados 
pelas  matriculas,  e  72  contados  individual- 
meute.  Alera  d'estes  frequentaram  mais  a 
academia  48  cstudantes  ouvinles. 

A  despesa  com  este  estabclecimenlo  e  de 
0:51)0^970,  da  qual  dcduzindo  o  importe  das 
matriculas  no  valor  de  348^000  rs.  resta  a 
quantia  de  9:242^070  rs.  que  dividida  pelos 
72  cstudantes  eleva  a  despesa,  que  cada  um 
d'elles  casta  ao  tbesouro,  a  128^374. 

0  consellio  da  academia  torna  a  instar 
jicla  concessao  do  extincto  couvcuto  dos 
Carmelitas  do  Porto,  para  a  qual  j.i  o  governo 
de  V.  M.  foi  auctorisado,  alim  de  alii  se  es- 
tabelecer  o  jardim  botanico  para  uso  da  a- 
cademia ;  e  este  eonselbo  superior  iutcndc 
que  muito  conviria  que  a  dicta  concessao  se 
verilicasse  quanto  antes. 

Aponta  alem  disso  como  causas  que  ob- 
stam  ao  progresso  e  mcllioramento  da  mesma 
academia  a  falta  nao  so  de  execucao  de  muitos 
arligos  da  lei  de  20  de  septembro,  mas  tam- 
bem  de  algumas  refornias  que  se  tornam  ur- 
gentes.  0  eonselbo  superior,  desejando  me- 
dilar  pausadamente  sobre  as  exigencias  do 
eonselbo  da  academia,  nao  se  dcscuidara  de 
as  altender  convenienleuiente,  elevando  a 
prcsenca  de  V.  .M.  o  seu  juizo  sobre  ellas. 

g."  3.°  Escbola  mcdico-cirurgica  do  Porto. 
0  service  aiademico  do  anno  lectivo  bndo 
Ibi  feito'  lambera  com  bastanle  regularidadc 
nas  9  cadeiras,  de  que  se  compoe  aquella 
escbola. 

Matricularam-se  31  estudantes  dos  quaes 
um  perdeu  o  anno.  Na  escbola  de  pbarmacia 
bouve  um  so  malricuiado,  e  no  eurso  de  par- 
teiras  terminaram  o  curso  biennal  c  lecbaram 
matricula  3. 


312 


Era  virtude  da  iiidicafao  feita  na  circular 
do  con^^clho  superior  d'inslruccao  publica  a- 
preseutou  o  eonsolho  da  osciioia  alguuias 
medidas,  que  julga  se  devem  adoptar  na 
actual  organisacao;  as  quaes  tarabcm  cste 
conselho  lomani  na  dovida  conta. 

§."  4."  Esetiolas  medico-cirurgicas  de  Lisboa 
e  Funchal. 

Nao  foi  prescnte  ainda  a  este  conscliio, 
por  parte  das  escholas  medico-cirurgicas  de 
Lisboa  e  Funchal,  o  seu  relatorio  do  anno 
lindo. 

Cuntinua. 


INSTRUCCA.0  PRIMARIA. 

Reuniu-se  a  2o  de  setembro  de  18iii  urn 
coii'^resso  pedagogico  cm  Altenbourg,  com  o 
dcsignado  lim  do  apreciar  os  rcsultados  de 
varios  mcliiodos  c  processes  de  ensino,  livros 
elemenlares  e  objectos  materiaes  das  escholas 
da  instrucrao  primaria. 

Ilouve  no  mesmo  anno  cm  Londres  uma 
cxposicao  pedagogica  no  mesmo  genero.  Na 
proxinia  exposicao  universal  de  Paris,  la  ha 
logar  reservado'  para  os  raeios  da  propagacao 
da  instruccao  primaria. 

Animados  por  exemplos,  tao  dignos  de  se- 
rem  imitados,  resolvemos  dar  noticia  ao  pu- 
blico de  um  novo  methodo  de  leitura  eitscri- 
pta  de  L.  C.  Michel,  eusaiado  com  felicissimos 
resultados  cm  niuitas  escholas  de  Franca,  e 
ja  adoptado  para  ensino  era  ires  escholas  nor- 

maes. 

Quanlo  o  permillia  a  estreiteza  das  eolumnas 
de  um  jornal  resumiraos  os  pontos  cardeaes 
do  melbodo.  Julgiimol-o  philosophico  pordiri- 
gir  0  estudo  do  simples  ao  composto;  por  se- 
parar  o  normal  da  lingua  das  suas  aberra- 
coes,  e  anonialias;  e  mais  que  tudo  pela  dc- 
duccao  rigorosa  tendo  o  seu  ponto  de  jiarti- 
da  na  eslruclura  da  lingua,  e  rclacoes  de 
expressao  phonica,  e  graphica.  Exprimimos 
um  desejo  ajienas  do  que  esse  novo  methodo 
fosse  cnsaiado  entre  nos,  sem  deprimir,  re- 
baixar,  nem  ao  menos  avaliar  neuhum  dos 
methodos  hoje  niilitantcs  no  paiz. 

Foi  era  on. °  de  I  I'l  de  levereiro,  e  neste  jornal 
a  pag.  283,  que  foram  lancadas  essas  poucas 
linhas,  tendo  para  nos  que  na  imitacao  do 
exemplo  dado  por  naroes  mui  esclarecidas 
alfuni  servico  larianios  as  lelras  patrias,  em 
especial  ao  r'amo  de  instruccao,  para  que  hoje 
convergera  as  attencoes  do  mundo  civilisado. 
E  logo  no  seguinte  n.°  do  1.°  de  marco  ap- 
parece  estampado  um  artigo  dizendo  mui 
rasgadamente  o  seu  A.  que  vue  Iceuntar  a  voz 
(fortunam  Priami  cantabo.  .)  em  favor  do  me- 
thodo portuguez  comlmlido  por  nos,  e  novamen- 
le  fulminiido  em  o  n."  desle  jornal  a  pay.  28i).' 
e  remain  protestundo  que  nao  ahandona  as  suas 


coneiecoes  sem  que  veja  razoes  mais  fortes,  e 
juizos  menos  apaijronados!  Pareceu-nos  tudo 
um  sonho.  Se  nao  Ibra  a  nossa  boa  fe  accre- 
ditavamns  que  sc  quiz  imaginar  um  crime, 
e  arrojal-o  sobre  nos.  Yenba  a  publico  o  pe- 
riodo,  a  phrazc,  a  palavra  que  possa  ministrar 
0  i'undamenio  jirovado  as  asscrcOes  infunda- 
das  do  A.  do  arlign  alludido.  E  certo  que 
acostumados  a  respeitar  a  inlclligencia,  e 
nao  a  vonlade;  c  ameslrados  ])ela  experien- 
cia  cm  nao  crer  Icvianos  cm  milagres  dos  ho- 
mens,  c  do  seculo,  em  que  a  ])czar  da  illustra- 
cao,  e  do  ])rogresso  ainda  ap])arecem  Caglio- 
stros  do  magnetismo,  bonieopalhia,  e  outras 
novas  magias  de  igual  jaez,  nao  ousamos  por 
ora  clogiar  um  methodo  problematico,  sujcito 
ainda  as  |(rovas  publicas.  Alguns  fiictos  tere- 
mos  apoutado  dos  muilos  que  ha,  c  oflicial- 
mentc  coustam,  em  dcsabono  do  methodo  dicto 
porlufjuez.  Talvez  mesmo  tenhamos  combatido 
(nao  nos  recordamo.'i)  algum  principio  da  sua 
parte  philosophica ;  e  |ior  este  lado  olTerece 
elle  grande  preza  aos  seus  adversaries.  Sera 
este  procediniento  sempre  usado  entre  homens 
de  lelras,  (piando  se  trata  de  sanccionar  al- 
gum descobrimento,  prova  do  juizo  apaixona- 
do?  Recommondar  outro  descobrimento  no 
mesnu)  genero  para  se  ensaiar,  e  devidamen- 
te  appreciar,  sera  fulminar  os  que  o  preccdc- 
ram?  Sera;  mas  nao  invejanios  a  logiea  em 
que  asseuta  o  raciocinio. 

Creia  o  illustre  A.  do  art."  no  seu  perfilhado 
methodo:  nao  abandone,  robusteca  as  suas 
conviccOes:  veja  se  pode  grangear  factos  que 
destruara  as  opinioes  dos  homens  compelentes ; 
veja  sc  a  Franca  o  galardoa  na  proxima  ex- 
posicao,  e  seremos  o  priraeiro  a  render-lhc 
Iributo  de  horaenagem. 

Mas  pedindo  venia  a  sua  musa  que  tarn 
bella  e  radiosa  sabe  converter  akanliladas 
encostus  em  alegres  vistosas  alamedas,  tapica- 
da.s  de  relva,  animadas  do  yorfjein  dos  pas- 
sarinlios,  permitta  o  A.  do  art."  que  descendo 
dessas  elcvadas  rcgioes  da  poeaia,  tao  accom- 
modada  a  instruccao  da  infancia,  ao  prosaico, 
positive,  e  real,  Ihe  digamos  que  nao  cora- 
jirehcndeu  o  methodo  (juc  desadora.  Seria 
nossa  a  culpa  por  brevidade,  ou  vicio  ds 
exposicao;  mas  devera  inlcirar-so  do  objecto 
antes  de  Ihe  fulminar  tremendo  anathema, 
consultando  o  original,  ou  exigiudo  explica- 
cocs.  0  juiz  imparcial  assim  precede:  nem 
sombras  de  paixao  deve  abrigar. 

Come  se  achava  auctorisado  e  illustre  A.  do 
art."  para  ter  jior  antiquados  e  inuteis  em  nosm 
terra  os  syllaliarios  de  Michel?  0  autor  do 
systema  pjionico  nao  recorre,  e  verdade,  .is 
cxtravagaiites denominacoes  de  tesoira,  arvoro, 
mandriae,  ferneiro  nas  denominacoes  das 
letras,  e  seus  variados  sons:  nao  precisa  de 
mncmouicas  tao  excentricas:  vae  mais  ao 
natural.  Estabclece  a  dislinccao  entre  vogacs 
simidi's  cvegaes  compostas,  sonde  ISaotodo; 


313 


divide  as  consoanles  em  >imi)li'c,  compostas, 
c  consoantcs  diphtongos.  Figurando  ua  leitura 
as  letras  [lor  grupos,  e  nao  isoladamcnte,  os 
sons  vocaes  e  oraes  sao  expi-imidos  por  giupos, 
c  nao  por  letras;  eslas  figuram  singulisrmenle 
na  iinguagcni  graphiea;  assim  que  os  elemen- 
tos  na  linguagem  phonica  sao  as  syllahas,  na 
graphiea  as  letras.  Faz  parte  cssencial  do 
mesmo  nietliodo  o  ronlieeiniento  dos  eqiiiva- 
!entes  na  leilura,  oousa  que  imiilo  cselarece, 
e  abrevia  o  estudo  de  ler,  e  escrever. 

A.S  letras  teem  um  nome,  e  um  valor;  duas 
cousas  perfeitamente  distinclas.  Ler  e  fallar 
palavras  cscriptas;  e  n6s>  fallanios  per  syl- 
labas,  e  nao  por  letras.  Eis  ahi  os  dois  prin- 
cipios  fundamenlaes  em  que  assenta  o  edifi- 
cio  do  novo  niethodo.  Fundando-se  ncstas 
bases,  o  sen  abecedario,  ou  syllabario,  que 
tera  com  todos  os  syllabarios  de  outros  mc- 
thodos  absolutamente  diversos?  E  quem  nos 
auctorisara  a  dizer  que  o  publico  dispcnsa  o 
syllabario  tie  Mr.  Michel,  e  accita  as  emana- 
(oes  do  melhodo  portuguez?  .\onde  esta  esse 
publico?  Esle  sim  que  se  podera  dizer  juizo 
apaixonado. 

Uma  voz  da  consciencia  escapou  ao  A.,  do 
art."  e  essa  acceitamos  nos.  Em  assumplos 
desta  ordem  o  mellior  anjiimento  ^  a  expe- 
riencia.  Nao  o  dignmos  nos,  que  o  digam  os 
professores  pelos  factos.  Teem  muito  poderio 
estas  phrases:  representam  a  verdade  era 
toda  a  singelleza;  nao  martellemos  o  nosso 
juizo;  deixeraos  fallar  a  experiencia.  Nao  de- 
cida  0  illustre  A.  do  artigo  laudativo  com  sacu- 
dido  ademan  do  methodo  de  Michel  sera  que 
dclle  tenha  conheciraento  perfeito;  e  ouca  o 
que  delle  esta  dizendo  a  iraprensa  litteraria 
da  Franca.  Do  melhodo  dido  portuguez  pode, 
querendo,  saber  os  resultados  obtidos  era 
quasi  lodo  o  paiz.  Os  professores  teem  ja 
fallado  delle  afouta,  e  miudamente.  E  pos- 
sivel  que  a  boa  execueao  desse  methodo  es- 
teja  reservada  somente  a  algum  espirito  pri- 
vilegiado.  Se  assira  e,  nao  serve.  Mas  creia 
firmissimamente  que,  aguardando  as  sabias 
lifoes  da  experiencia,  nao  prescrcveriamos  ja 
a  adopcao  de  ura  nem  de  oulro. 

M. 


LITTEIIATUR.^  DRAMATICA  HESPANHOIA 
E  SELS  HISTORIADORES ' . 

Continiiadu  dc  pay.   S5fl. 
I. 

A  nova  geracao  que  succedera  a  Lopes  de 
Vcga,|e  a  frente  da  qual  se  achava  Calderon, 
seu  pfimeiro  representante,  aspirava  visivel- 
raente  a  um  ideal  mais  perfeito.  Calderon  e 
0  complete  epilogo  da  meia  edade  hespanhola  : 

'    Km  o.<  X.'»  17  e  SO  deete  jornal. 


possuiudo  0  espirito  romaucsco  e  religioso  lui 
mais  elevada  expressSo,  rcvela  em  .>;uas  obras 
maior  vigor,  mais  arte  e  siibliniidade,  do  que 
Lopes  de  Vega,  e  lodavia  Calderon  nao  ehegara 
a  transpor  os  liraites,  cm  (jue  se  circumscrc- 
vera  Joao  del  Ensina. 

Os  dramas  de  Lopes  sao  muitas  vezes  de- 
raasiado  superlici;:es;  os  de  Calderon  pelo 
contrario  tecra  o  cunho  dc  ura  pcnsamenlo 
mais  grave  e  profundo.  Os  cuius  de  Lopes 
sao  rapsodias  escholasticas,  as  vezes  sem  goslo, 
sera  critica;  os  de  Calderon,  ainda  que  re- 
cheados  de  extravagancias,  deshinibravam  os 
expectadores  pelas  suas  maravilhosas  visoes.  , 
Apesar,  porem,  desta  inconlestavel  superiori- 
dade,  Calderon  nao  soubera  inaugurar,  conio 
Shakspeare,  um  theatre  verdadeiramentc  novo, 
que  representasse  a  epocha  era  que  vivera. 

Shakspeare  e  raoderno  como  Corneille 
Racine,  Pascal,  e  Bossuet.  Calderon  foi  o 
ultimo,  e,  como  Dante,  o  mais  raaravilhoso 
dos  poelas  da  meia  edade.  E  todavia  entre  o 
poeta  florentiuo  e  o  hespanhol  medearam 
quatro  seculos,  e  que  seculos!  que  movimen- 
to  nos  espiritos!  que  transformacao  na  huma- 
nidadel  Assim  esta  decidida  piedileccao  de 
Calderon  pela  meia  edade,  sincera,  como  era, 
passiira  a  ser  um  systema,  de  cuja  poderosa 
influencia  elle  nao  podia  ja  isentar-se. 

Sismondi  cbamava  ao  auctor  do  principe 
Constant — «o  poeta  da  iuquisicao. »  Taillandier 
diz,  talvez  com  mais  propriedade,  que  elle 
era — «o  typo  da  meia  edade  arlificialmente 
reproduzida.i)  E  de  feito  nos  autos  de  Calderon 
nao  ba  aquella  ingenua  e  encantadora  expres- 
sao  do  catholicismo,  que  sobresae  grave  e 
solemne  ate  nas  mais  supersliciosas  Icndas 
populares;  pelo  contrario  transluz  alii,  a  cada 
passo,  a  inspirafao  contrafeita,  o  pensamento 
reservado  da  polemica  no  poeta  dominado 
pelas  ideas  do  seculo  XIII,  e  escrevendo  os 
sous  dramas  sob  a  impressao  da  reforma  que 
iizera  o  concilio  de  Trento. 

A  meia  edade,  diz  Jose  de  Maistre,  tinha 
uma  mythologia  christa  propria  e  cbeia  de 
encantos  ainda  em  sua  singeleza:  em  Calde- 
ron esta  mythologia  6  ficticia.  A  devocao  do 
seculo  XIII  cliegava  alguma  vez  a  ser  pa- 
ganisrao;  mas  a  candura  dos  espiritos  com- 
pensava  aquelle  involuntario  defeito :  no 
grande  poeta  hespanhol,  pelo  contrario,  o  pa- 
ganismo  nascia  da  profunda  rellexao.  Quando 
a  par  do  drama  singular  da  devocao  a  cruz, 
e  das  tenebrosas  aventuras  do  purgatorio  de 
S.  Patricio  se  le  uma  pagina  de  Bossuet, 
Bourdaloue,  Fenelon,  ou  Malebranche,  facil- 
mente  se  aprecia,  quanto  o  cbrislianjsmo  do 
pensamento  moderno  dista  dessa  meia  edade  de 
pura  phantasia.  N'aquelles  e  n'outros  drama** 
do  poeta  hespanhol  sobresae  um  fundo  de 
grosseiro  materialismo,  raal  disfarcado  sob  o 
brilhante  mysticismo  de  linguagera  e  d'imagi- 
nacao;  c  lodavia  Calderoij  escrevcu  tanibem 


314 


0  ■primife  Constant,  uoia  das  mais  sublimes 
i'rcaj,'Ocs  (la  poesia  rcligiosa,  alein  d'outras 
peras,  autos  sacramentues,  c  eomedias  dioinas, 
cm  que  a  exaltarao  da  fc  parecc  Iransligurar 
a  humanidade,  envolvcr  o  ecu  c  a  terra,  o 
diviuo  0  0  profano!  Esta  lula  involuulariu  entre 
0  verdadciro  e  o  falso,  entrc  as  supcrstii-Oes 
da  mcia  edado  arlilieial,  c  as  siiiceras  inspira- 
eoes  do  ihrislianismo  espiritualista,  de  quo  ha 
tantos  exemplos  uo  tliealro  de  Caldcroii,  era, 
l)or  certo.  esludo  diguo  de  urn  historiador 
pliilosoplio 

Ao  passo,  porem,  (jue  o  auctor  do  principe 
CoHslant  so  deixava  dominar  por  aciuellas 
arrojadas  inspirafucs,  Tirso  de  Molina,  Moreto, 
Hojas,  e  priiuipalmeule  Alarcao,  seguindo  os 
progresses  da  civilisarao  nioderiia,  coniecavam 
a  brilhar  pela  superior  illustraeao  e  beni  euteu- 
dida  liberdade  de  seus  escriptos,  presagio  I'eiiz 
de  mellior  cdadc  '.  Esles  sym()tomas,  porem, 
de  vida  e  niovimeulo  intellectual  erani  pas- 
sagciros.  0  despotismo  e  a  inquisiiao  de- 
^iam  em  breve  de  produzir  seus  Iruetos.  Os 
uiestres  da  arte  nao  acbavam  eutao  na  cou- 
scicneia  gerai  o  apoio  do  que  o  poeta  dra- 
matico  havia  mister,  c  ale  no  momcnto  em 
que  a  primeira  aurora  do  rcuascimcnto  as- 
soniava  no  liorisoute,  uni  pcriodo  de  uiorte 
eomcfiiva  ja  a  reinar. 

E  todavia  quantos  germes  de  vida  nao 
possuia  a  Ilespanlui  uo  scculo  XYl  e  XYll? 
Poruiu  ladn  a  esehola  dos  pensadores  mysticos, 
a  cscbola  de  S."  Thereza,  Fr.  Luiz  de  Leao, 
e  Fr.  Luiz  de  Granada,  urn  dos  mais  notaveis 
griiposqueapresenta  a  liistoria  litteraria  d'este 
paiz'.   Por  outro  lado  o  cspirilo  vigoroso  e 

'■  O  3."  volume  (la  olira  dc  Scliack,  consa^rado 
pnuci|ialnienle  a  analyse  dus  trabalhus  de  t'alderon, 
e:,cede  todas  a<  memorias  (lublicadas  sobre  este  auclur. 
Antes  desta  publica^rio  o  Irabalho  mais  digno  de  coa- 
s:iUar-se  a  esle  respeito  fura  dado,  i  luz  em  lU'i'i  pur 
\  alei^tiu  Schmidl  luis  Aimules  de  I'ienne,  e  reproduzidf) 
quasi  na  sua  intejra  por  llosenkranz  na  interessante 
hisloire  de  In  pnesie  (IlaUe  103;!).  Os  autos  sacramen- 
tn^s^  e  an  eomedim;  dieinna  raai';  inijiorlantes,  forani 
tradiizidas  com  o  maiur  inimur  pelo  liarao  d'Eicliendorf. 
!M.  Harlzenbnsch  publicmi  tambem  na  bibliulkeca  de 
eutores  espamlea  a  mais  complela  edi<;rio,  tpie  hoje 
possiiimos  das  eomedias  de  Calderon.  O  raesmo  aiictor 
p.iiblica  n'ai|Mella  Jlibliulhera  iiraa  e\cellente  edii;ao 
dm  oliras  de  Alarcao,  que  Ferdinand  Deniz  fizera  co- 
nhecido  nas  suas  ckroni^ues  rhcriileresqiies  )iela  mni 
en;;enhosa  traduci;ao  do  Tisserand  de  Sigoi-ie.  Alarcao. 
Jloreto.  Tirso  de  I\I(dina,  llojas,  Soils,  e  Cliristoval 
s.lo  lambem  devidamente  apreciados  na  historia  do 
li'.eatro  he.spanliol  de  Frederic  de  Schaclc. 

I'r.  Luiz  de  Leao  fora  jireso  e  perseguido  pela 
inqnisi(;ao,  lalvez  porque  em  suas  obraa  se  manifestava 
o  espiritualismo,  (pie  aos  olhos  d'aipielle  tribunal  i  as- 
sava  como  urn  crime  contra  a  auctoridade  relisiosa! 
Tal  era  a  oppressao,  sob  a  q.ial  no  reinado  de  Filippe 
U  jaziam  as  letras,  e  o.s  seus  cultores.,  oppres.iao  que 
i:ievitavelincute  devia  dar  em  resultado  a  destruiy-io  de 
1. dos  OS  cljnienlos  de  vida  e  desenvolvimento  intel- 
lectual n'aquella  epochn  de  vcrdadelra  decadencia  para 
a  litteratura  Hespaliholn. 

Os  liymnoa  de  Luiz  de  Leao  forani  tradusidos  com 
rauito  primor  jior  Scliliiler  eStorck. 


encantador  do  aurlor  do  D.  Qui.xote,  (|ue, 
uiiiudo  0  mais  fino  bom  senso  ao  sentimento 
das  mais  uobres  Iradii.oes  uacioiiaes,  dura  o 
primeiro  passo  para  a  trausformavao  doespirita 
publico,  que  devia  operar-se  n'aquelle  paiz. 

Cervantes  e  inconlestavelmeute  o  mais  cmi- 
nentc  cscriptor  hespanhol  uo  seculo  XVH: 
conscrvando  illesas  as  tradii.'oes  nacionaes 
jiossuia  verdadeiramente  o  espirito  moderno, 
e  sabia  desatar  os  lacos  da  infancia,  comc- 
fando  nova  vida.  Ninguem  como  elle  julgara 
0  tbeatro  conlemporaneo  com  lanla  inipar- 
cialidade  e  clevaeao  de  pensaiuenlo.  ludican- 
do  a  lei  da  unidadc  a  Lopes  de  Yega,  acon- 
selhava-o  a  meditar  mais  largamejite  as  suas 
]ief  as ;  e,  como  se  previra  os  erros  de  Calderon^ 
condemuiira  as  invencoes  dc  niilagrcs,  que 
sobre  a  scena  desliguravam a religiao.  Cervantes 
forma  va  uuia  elevada  idea  da  poesia  e  conhecia 
perfeitamcnte  o  caracter  varouil  que  Ibe  cum- 
pria  tomar,  o  ministerio  sagrado,  ([ue  ella  devia 
dcscmpenbar.  ((Apoesia,  dizia  aquelledistinclo 
escriptor,  e,  na  minlia  opiniao,  similbaule  a 
uma  joven  dc  tenra  edade,  dotada  de  pcrcgrina. 
I'oruiosura,  a  quem  outras  muilas  jovens  ata- 
viam  com  todo  o  primor  e  riqueza ;  estas  jovens 
sao  todas  as  outras  sciencias,  de  que  a  poesia 
deve  aprovcitar-se,  e  todas  devcm  ser  por  clla 
engrandecidas. » 

E  corto  a  litterratura  hespanhola  podia  ter 
produzido,  depois  de  Calderon,  outras  obras 
dc  mais  siibido  preco,  se,  seguindo  as  inspi- 
rafOes  dc  Cervantes,  se  associasse  a  verdade, 
a  philosopbia  e  a  scicncia,  donde  devia 
rccebcr  todo  o  brilho  e  esplendor. 

Inl'elizmentc  nao  aconteceu  assira.  A  meia 
edade  ficticia,  que  o  genio  de  Calderon  susten- 
tiira,  desapparecera  com  este  grande  poeta,  e 
coin  elle  tambem  succumbira  essa  litteratura. 
hespanhola,  que,  ate  enlao,  gozara  de  racre.cida 
celebridadc. 


Continua. 


J.  M.  DP.  .\BREU. 


FllAGMENTO 

DA  TRADUCg.iO  DO   IV   LIVRO   DA  ENFJDA 

pou 

ifanocl  Matthias  Vicira  Fialho  de  Mendonia. 

Continuado  de  pag.  231. 

Ja  voa,  enxerga  ja  o  oxcelso  pico. 
Do  duro  Atlante  as  ingrenies  eucoslas, 
D'Allanle,  oni  cuja  fronte  os  ecus  cscoram,, 
De  dcusa  mala,  e  corracoes  croada, 
Sempre  df.s  clnivas,  c  aqui'.oes  batida. 
Escarchas  sobre  os  hombros  se  amonloam, 
liios  das  fauces  com  fragoi:  dcspeiiho, 


31 


TofeiJa  cm  polos  pernio  a  liorrivc-1  balrba. 
Cyllenio  aqiii,  libra iidn-sc  iias  azas, 
Uiii  jrDiico  sc  (Ictciii:  d'alli  d'um  seillo 
Sobre  as  ondas  o  Dens  so  prccipila : 
Qual  are,  que  girando  escolbos,  praias, 
Voa  rente  do  mar,  buscaiido  a  presa; 
Tal  cntre  a  terra  e  ecus  voara  o  Nume, 
Quando  do  mnnte  avito  ao  mar  swltando 
Voa  ao  longo  das  lybicas  areias. 
Ondc  Carthago  foi  mal  lirma  as  plantas, 
\o  Tciicro  T(^  I'liiulando  ini[>erio  novo: 
Pendente  ao  ladn  tern  brilhante  espada 
Dc  jaspides  coberla  ;  aos  bombros  jiende 
De  purpura  de  Tyro  o  regio  manto, 
Dc  espleudido  Aiigor  da  c(5r  das  chnmmas. 
De  Dido  uiimo  foi,  de  Dido  a  dextra 
Os  Iwrdados  subtis  trafou  na  tella. 
0  nunie  o  interrompeu:  «Cidadc  eNcolsa 
ttlnteulas  construir?  fundar  Carthago? 
(cPrC'so  cm  femineo  amor  de  ti  nao  ciiras, 
nDe  ten  reino  e  tens  fados  esquecido? 
It  A.  ti  me  envia  o  Deus  que  os  deuzes  rege, 
ciQue  a  um  leve  aceno  abata  os  ecus  e  a  terra  ; 
uNuncio  da  sua  voz  eumpri  seu  niando. 
»Que  fazes?  com  que  intenio,  e  que  esperancas, 
frConsoraes  o  ocio  ten  na  lybia  terra? 
oSe  nao  te  abraza  ja  da  gloria  o  quadro, 
«Se  tcu  proprio  cxplendor  nao  vale  as  lidas; 
«Nao,  nao  prives  lulo  e  a  prole  d'elle 
eDa  esperanra  de  alcar  da  Italia  o  throne 
TiNo  proniettido  imperio.»  Assim  fallava: 
^0  fallar  foi  perdeudo  a  humana  forma, 
E  cm  tenue  virarSo  desfez-se  aos  olhos. 

Eneas  co'a  visao  pasmou,  ralou-sc, 
Pegou-sc  a  vnz  na  I'auce,  hirtou-se  a  coma: 
Artie  jii  por  fugir  da  plaga  amiga, 
Mionito  co'a  voz  do  Deus  que  o  manda. 

Desgracado  amador!  com  que  rodeios, 
Com  que  expressoes  diras  a  anciosa  amante, 
Que  be  forjoso  o  partir?  De  tal  discurso 
Qual  ha  de  o  exordio  ser?  Tacs  pensamentos 
Seu  agitado  cspiriio  dividem; 
Agora  este  Ihe  apraz,  aquelle  agora, 
De  projecto  cm  i>rojecto  a  mente  o  leva, 
Scm  nenbnm  prcfcrir  por  todos  vaga  : 
Em  tal  pcrplexidndc  assim  resolve. 
Chama  Sergesto,  Mcnesiheu,  Cloantho, 
Manda  a  frota  esquipar,  manda  que  os  socios 
Em  armas  sobre  as  praias  sc  apresentem, 
Que  do  impcrado  a  presto  a  causa  occultcm. 
Em  quanto  ignora  Dido  os  seus  projeclos, 
Em  tanto  elle  tentcia,  cm  tanto  cspreita 
Suave  occasiao,  subtis  maneiras, 
Que  de  Eliza  no  peito  Ihe  disponham 
Ao  iacrimoso  adeus  bcnigno  acccsso. 
Subito  a  voz  do  chefe  os  socios  correm, 
E  todos  a  porfia  o  mando  exerc^m. 
Tcrnos  amantes  illudir  quem  pode! 
Dido  0  apreslo  prcve,  presente  os  dolo*, 
Temot''eii  nao  Ihe  alTasta  a  scguranca: 
I'mpia  fama  Ihe  diz  (jue  a?  naus  sq  aprestam, 


5 

Exacerltando  o  amor  Ihe  diz  ([uc  pafleiii :  ', 
Arde  Dido,  scm  tino  cirante  vaga, 
Qual  a  bachanle  cm  tricnnaes  orgias, 
Meno.indo  a  Lieu,  Lieu  bradando, 
Do  Cytheron  nocturno  acode  aos  brados; 
E  desfa  arte  primciro  o  amante  Incrcpa. 

"Crime   tao   negro,   o   pcriido,   csperavas 
sOccultar?  .  .  .  c  fugir-nic?  c  nao  le  prendc 
uNosso  amor,  fe  jura  da  e  minha  morte? 
"Moric  cruel,  que  a  iufausla  Dido  aguarda  ! . .  . 
"As  naus  aprcslas  na  bybcrnosa  ([uadra? 
uYiiis  arrostar  c'os  aquilloes,  co'as  ondas? 
«0h  cruel!  que  farias  nao  buscando 
"Ignotos  lares,  estrangciras  terras: 
iiTroia  loras  buscar  cnlre  as  procellas? 
iTu  fugiras  de  mim?  .  .  .  por  cstes  prantos 
nPela  dextra  te  rogo  que  me  has  dado 
«(Ja  que  por  nada  raais  rogar-te  posso) 
«Pelo  nosso  hymeneu  tao  malogrado; 
«Se  amor  to  mereci,  sc  liz  tens  gostos, 
«Se  inda  em  teu  coraeao  me  valem  prcces, 
<iDa  ruina  fatal  de  meus  estados, 
«E  de  Eliza  infcliz  te  compadece. 
iiTao  barbara  tencao  de  ti  dcsterra. 
«Tu  da  Numidia  e  Lybia  c  meus  vassalos 
«Me  atrahiste  o  rancor:  tu  so,  tu  mesmo 
tiMe  cxiinguiste  o  pudor,   murchaste  a  fama, 
II Que  d'anles  de  te  ver  doirou  mea  nomc: 
uEm  que  raaos,  a  que  morte  mc  abandonas, 
oEstrangeiro?  E  assim  s6chamar-tc  cumpre?.., 
«Que  espero?  Ver  tornar  men  tbrono  em  cinzas 
«Pclo  barbaro  irmao?  ou  mancatada 
<(Ornar  triunfos  do  getulo  Jarbas? 
oSc  antes  da  fuga  ao  mcnos  me  deixasscs, 
'(Qual  teu  retrato,  pequenino  Eneas, 
«Que  ante  os  meus  olhos  nossaloes  brincassc, 
('0  engano,  a  solidao,  sentira  meiios.u 

0  beroe  d'olhos  no  chao,  co'a  racntc  cm  JoVe;'' 
No  resoluto  peito  a  dor  suffoca, 
E  breve  respondeu:  «Negar  nSo  posso, 
«Rainha,  quanto  devo,  c  quanto  has  dito, 
<iE  grata  me  sera  tua  mcmoria, 
«Em  quanto  era  mim  bouvcr  mcmoria  e  vida. 
I'Ouve,  attende,  nao  penses,  nao  me  arguas 
(iDe  tentar  fugas,  de  deixar-te  a  furto: 
((Nem  faxas  conjugacs  ante  nos  vimos,  . 

uNem  laco  conjugal  nos  ha  ligado. 
0  Ah !  se  meus  fados  dirigir  podesse, 
«Dado  me  fora  terminar  meus  males, 
('Doces  reslos  dos  meus  e  a  patria  minha 
('Me  houveram  junto  asi!  e  d'entre  as  cinzas 
(I  Do  Priamo  o  palacto,  os  teucros  muros      '' 
cFizera  renascer.  Mas  lycias  sortes 
"Mandam  que  so  procure  a  Italia  terra: 
«Eis  a  patria,  eis  o  amor  que  so  me  outorgam. 
<(Se  foram  fados  tcus  nas  lybias  plagas 
"Vir  tao  longe  de  Tyro  alcar  Carthago, 
«Deixa  os  Teucros  pousar  na  ausonia  terra. 
"Quantas  vezcs  a  noite  enluta  o  mundo, 
oQuantas  os  igncos  astros  se  levantani, 
kVera  d'Anchiscs  a  sombra  horrorizar-me: 


316 


I'Repri'liousOes  de  um  pae  escuio  cm  sonhos; 
c'\  injuria,  o  roubo  feito  ao  filho  araado 
"Do  Ihrouo,  que  o  dcstino  llie  promette, 
I  PuDgcm  meu  corajao;  ncste  momenlo 
«Vi  baixando  dos  ecus  de  Jove  o  nuncio. 
'■\  nossa  mutua  dor  com  teas  qucixumes 
•  Nao  pxacerbcj  mais  ...  A  custo  cu  parlo.» 


0  DUQUE  DE  COIMBRA 


Bcgenic  do  reino. 

Continuodo  de  pag.  898. 

Por  I'allccimcnto  do  duque  de  Coimbra  de- 
sa.^sombrado  elrci  do  peso  que  ate  cntao  Ihe 
fazia  0  rcgente  sou  thio,  mais  pelas  malevo- 
volas  intrigas  do  conde  de  Barcellos,  irmao 
do  raesmo  duque  rcgente,  do  que  por  ma 
vontade  do  rci,  foi  eontinuando  o  mesmo 
favor  e  proteccao  a  universidade  que  os  seus 
anteccssores  liic  tinham  liiieralisado,  e  pro- 
seguindo  nos  assisados  pensamentos  do  thio 
tentou  elrei  D.  Ail'onso  V.  levar  ao  cabo  a 
sua  dcrradcira  idea,  instituindo  nesta  cida- 
de  outra  universidade  (provavelmente  a  que 
0  regente  mcdilara  primciro):  mas  uma  outra 
vez  abortou  cste  piano,  e  as  cousas  licaram 
no  mesmo  estado  so  com  a  dillcrenca  de  ter 
elrei  nomeado  para  ella  reitor  antes  de  se 
achar  fundada  e  dotada.  '  Nao  poderia  lalvez 
D.  Affonso  Y.  cumprir  o  seu  desejo,  embara- 
cado  com  os  negocios  do  seu  governo;  pois 
e  certo  que  nenbuni  documento  acbamos,  que 
nos  descubra  suas  uiteriores  resolujoes,  alem 
do  que  temos  relerido,  e  detlara  o  sr.  J.  M. 
d'Abreu  na  citada  memoria.  Mas  se  desejos 
tao  assisados,  e  ainda  mesmo  nao  comi>ietos 
merecem  ser  elogiados,  quando  se  dirigem  a 
fins  honestos,  c  ao  eugrandecimeuto  da  uacao, 
certo  que  muita  gloria  cabe  a  elrei  D.  Alfon- 
so V  proscguindo  no  pensamcnto  civilisador 
do  duque  de  Coimbra,  digno  de  ser  lastimado 
por  tao  desgracado  lim,  lendo  sido  viclima 
do  desvario  de  ruins  ambicOes,  e  mal  cabidos 
caprichos,  que  terminaram  com  a  sua  apolo- 
gia, dando-.se  o  louvor  devido  a  suas  virtu- 
des  e  abrandando  o  anirao  d'elrei  com  a  re- 
vogacao  das  sevcras  proscripcOes,  que  com 
estas  occorrencias  tiveram  logar  infelizmente 
neste  reino,  com  tao  desastrada  guerra  civil. 

A  sua  memoria  sera  lembrada  sempre  por 
todos  OS  qucsouberem  o  desvelo  que  tinha,  e 
0  apreco  que  fazia  do  augmenlo  do  reino,  e  da 
sua  prosperidade,  e  quanta  era  a  araabilidade 

'    Vej.  a  memoria  cit.  vol.  2  do  Instit.  n."  15. 


com  que  tractava  os  proprios  subditos,  ainda 
dentro  dos  limites  de  suas  altribuicoes  e  prero- 
gativas  de  regente.  Ao  cabido  desta  cidade  de 
Coimbra  tractou  sempre  com  demonstracoes  da 
maior  urbanidade.  Em  carta  de  3  dedezembro 
de  1413,  cscripta  da  cidade  d'Evora,  e  em  que 
elle  se  dedara  —  regedot  com  a  ajiida  de  Deus 
Defensor  por  sen  Sr.  Elrei  de  seus  regnos,  e 
senliorios — felicitando  o  cabido  llie  diz — que 
lite  envia  muito  suudar  como  dquelles  cujo  r«- 
gimento  virluosamenle  queria  rer  aecrescen- 
tado — e  eontinuando  sobre  o  objecto  da  sua 
rccommendayao  accresccnta  —  quanta  ao  que 
me  escrevestes  sobre  a  coonesia  de  Gil  Este- 
ves,  capelldo  d'elrei  meu  senhor  de  que  o  ora 
proveu  a  sr.'  ruiiiha  minha  filha  por  podei-  do 
indullo  que  Ihe  o  Padre  sunlo  nosso  senhor 
outorgou  pedindo-me  que  vos  enviasse  o  dito 
indullo,  ou  traslado  delle,  por  vos  ser  neces- 
sario,  por  algumus  razOes  que  me  escrevestes, 
eu  vol-o  envio  pelo  dito  Gil  Esteves,  etc. — 
acba-se  assignada  pelo  rcgente  mas  so  com 
0  titulo  —  infante  1).  Pedro. 

Em  outra  carta  passada  na  mesma  cidade 
cm  21  de  marfo  de  1444,  depois  do  mesrao 
formulario  acima  diz  esle  principe: — Faco- 
vos  saber  que  a  sr.'  infanta  minha  muito 
presnda,  e  amada  mulher  me  escreveu  como 
vos  falldra  sobre  a  egreja  de  Castelldos  para 
Pero  Goncalves  meu  creado  e  capelldo,  e  que 
vos  Ihe  respondestes  que  me  tinheis  outorga- 
da  esta  egreja  para  quern  me  prouves.9e,  e  que 
se  vos  eu  escrevesse  que  a  desseis  ao  dito 
Pero  Goncalves,  que  vos  prazia  dello.  E  rf-e 
vos  tao  boa  vontade  lerdes  a  cerca  desto  eu 
vol-o  agradeco  muito  e  tenho  em  servico,  e 
por  que  do  dito  Pero  Goncalves  tenho  grande 
carrego  como  he  razom  assim  por  ser  men 
creado  como  por  o  iervico  que  me  faz  eu  vos 
rogo  e  encommendo  que  por  minha  comtem- 
plucom  vos  prazu  pois  tao  bom  desejo  em  esta 
tendes  que  o  pouhaes  em  f\m  dando  a  dita 
egreja  ao  dito  Pero  Goncahes  o  qual  delta  he 
bem  mcrecedor  e  proccdenle.  Finalmente  certos 
que  muito  vol-o  gradecerei.  Escripla  em  a 
cidade  d'Evora  etc.  Infante  D.  Pedro  —  Aos 
bonrados,  e  Onestos  Dayilo  e  Cabido  da  Se  de 
Coimbra. 

As  expressOes  tao  cheias  d'aCfabilidade  e 
delicadeza,  como  se  leem  neste  documento  te- 
riam  a  magia  de  nao  so  grangear  uma  agra- 
detida  eorrespondencia  para  com  a  vontade 
do  principe,  se  nao  tambem  a  de  se  Ihe  votar 
uma  constante  dedicacao,  sacrificando-se  por 
die  a  propria  I'azenda  e  vida ! 

Mas  como  e  varia  e  cambiante  a  aura  bran^ 
da  da  corte;  ordem  do  muudo,  e  como  sao 
debeis  e  apoucados  os  lacos  com  que  a  poli- 
tica  nos  prende!  Este  Pero  Goncalves  tatO 
cstremado  do  principe,  seu  tao  tiel  scrvidor, 
e  companheiro  ainda  na  bataiha  d'Alfarrobei- 
ra,  decahido  da  privanca  daquelle,  que  tan- 
to  0  protegia  nao  poude  veneer  os  effcitos  da 


317 


icacfao  politica,  que  cm  seguida  comejou,  c 
por  isso  foi  posto  fora  da  egreja,  em  que 
tinlia  sido  apresenlado,  dando-se  por  vaga, 
e  apresentando-se  de  novo  em  Martim  Gon- 
jalves  valido  c  apaniguado  d'elrei  D.  Affonso 
V,  julgada  vaga  por  ter  o  outro  seguido  o 
parlido  do  infante  agora  aioimado  reo  de 
losa-magestade ! 

Assim  se  conhece  da  carta  regia  de  8  de 
julho  de  1449  em  queD.  AEfonso  diz — «  Con- 
i<stando-nos  que  a  egreja  de  Castellaos  da 
«  qual  a  aprezentarao  pcrtence  a  vos  he  ora 
(I  vaga  pela  privacom  que  della  fizestes  a  Pero 
'I  Goncalves  que  della  foi  postumeiro  rector 
0  por  vir  a  bataiha  com  o  infante  D.  Pedro 
u  contra  nossa  pessoa  e  rrcal  estado  .  .  .  vos 
<(  rogamos  e  eucomendamos  que  vos  praza 
«  aprczenlardes  a  dita  Igreja  Martim  Gonfal- 
«  ves  ou  quem  vos  elle  disser  scendo  ccrtos 
(1  que  polo  grande  enearrcgo  que  nos  dclle 
.«  temos  vol-o  gradeoeremos  muito  e  teremos 
«  em  servifos,  etc  ,  com  a  assignatura  d  eirei, 
ne  por  fora — por  elrei  ao  Cliantre  e  Cabido 
c<  da  See  Coimbra  e  o  seilo  grande  a  fechar  a 
u  carta.  ' » 

Destas  e  d'outras  mais  cartas  que  deste 
principc  podia  offcreccr,  todos  conhcceram  o 
tacto  fino  e  as  delicadas  maneiras  com  que 
0  regente  tractava  os  subditos  e  mais  pessoas 
deile  dependentes,  podendo  desta  correspon- 
cia  apreciar-se  quanto  raaior  valia  tern  as 
expressoes  cheias  de  grajas,  affecto  e  urbani- 
dade  que  naquelles  tempos  se  usavam,  do  pae 
as  de  reserva  e  severidade  que  mais  adiante  se 
adoptaram  a  proporcao  que  a  auctoridade  real 
I'oi  crescendo,  com  o  descahimento  da  inlluen- 
cia  aristocratica,  e  do  contrapeso  do  terceiro 
estado. 

CARTA   DE  PRIVILEGIO   \  FAVOR   DA   CNIVERSIDADE. 

f,  D.  Deniz  pela  grafa  de  Deos  rei  de  Portu- 
gal, e  do  Algarve.  A  vos  TabelliOes  de  Coim- 
bra saude.  Sahede  que  a  L'niversidade  do 
raeu  stado  dcssa  villa  mi  disse  que  alguns 
scholares  nao  podiao  by  aver  casas  em  que 
raorassem  por  seus  alugeres  e  que  tinhao  que 
alguns  ihas  pilhavam  e  embargavam  de  guisa 
que  nom  podiao  em  ellas  morar.  E  pedirao- 
me  por  merce  que  eu  ihes  leixasse  by  com- 
parar  casas  em  que  morassem.  E  eu  quereudo 
fazer  grara  e  merce  a  dita  Universidadc  te- 
nho  por  bcm  e  raando  que  aqucllcs  scoiares 
que  estiverem  no  dito  studo,  e  by  Icereni  que 
comprem  em  essa  vila  casas  em  que  morera 
so  tal  condicom  que  a  sa  morte  de  cada 
huDs  dciles  ffiquera  essas  casas  a  pessoas  Ici- 
gas  segundo  he  contendo  na  minba  postura 


I  '  Todos  estes   documcnto3  se  encontrara   na  gav.  do 

A      Padroado  de  Calallaos  n.<"  5,  6  e  20. 


(Archieo  ifa  Cathedral.) 


que  eu  sobrc  esto  for  que  facao  o  foro  a 
mini,  que  eu  de  cada  uma  dessas  casas  ouvor 
daver.  Por  que  vos  mando  que  vos  facades 
ende  as  cartas  das  comparas  segundo  sabedcs 
que  be  conteudo  na  minba  postura.  E  mando 
a  minba  justifa  dessa  vila  que  Ibes  leixeni 
hy  as  ditas  comparas  fazer  c  Ihc  ponbao  cm 
essas  cartas  o  sello  do  concelbo  se  mcslcr 
por.  E  vos  fazede  de  guisa  que  em  essas  com- 
paras nom  (ique  hy  enganado  e  que  nem  urn 
scolar  nom  compre  by  por  csta  carta  onlias 
casas  salvo  aquellas  em  que  houver  de  morar 
c  cada  uma  dessas  comparas  que  by  algiini 
scolar  fezcr  resgistadea  logo  em  vossos  livros, 
de  guisa  que  nem  um  dclles  nem  possa  hy 
dcpois  dessa  compara  autras  casas  comparar 
senom  aquellas  em  que  ouver  de  morar  assi 
como  dilo  be.  Un  al  non  facades  senom  pei- 
tarmades  quinhentos,  quinhentos  soldos,  c 
denials  tornarmei  eu  porcm  a  vos.  Dante  em 
Coimbra  primeiro  dia  de  Dezembro.  Elrei  o 
mandou  pelo  bispo  de  Lisboa.  Martim  Fernan- 
dcs  a  fez  Era  de  mil  trezentos  e  cincocnta 
annos.  Episcopus  I'lixbonensis  vidit  —  Elrei 
a  vio.  (anno  do  1312). 

CARTA    DE  CONFIRMAfAO    DA  PRECEDENTE  A  MESMA 
UNIVERSIDADE. 

D.  Affonso  por  graca  de  Deos  Rei  de  Portu- 
gal e  do  Algarve.  A  quantos  esta  carta  vircm 
faco  saber  que  eu  querendo  fazer  graca  c  mcrc(; 
aa  Univcrsidade  do  meu  studo  de  Coimbra 
outorgolbcs  e  confirmo  as  cartas  e  privilcgio.^ 
que  tern  das  grafas  merccs  e  libcrdades  que 
Ihes  dcu  ElUei  D.  Deniz  meu  padre  a  que  Deos 
perdoe.  Oulrosi  Ihes  outorgo  as  gracas  cartas  e 
privilegios  que  am  do  papa  e  mando  que  Ibes 
sejam  compridas  e  aguardadas  todalas  sobre- 
ditas  cartas  e  previlegios  cm  todo  assim  como 
em  ellas  be  conteudo  e  que  nengun  nom  llics 
vaa  contra  ellas  so  pena  dos  meus  cncoutos. 
Em  testemuinho  dcsto  del  aa  dita  Univcrsi- 
dade esta  minba  carta.  Dante  cm  Coimbra 
22  dias  de  Maio  ElRei  o  mandou  por  niiguel 
vivas  seu  clcrigo  veedor  de  sa  chanccllaria. 
martim  sieves  a  fez  Era  de  1363.  (anno  de 
Vii'i)  miguel  vivas. 

Acham-se  em  buma  esc);iptura  dc  compra 
que  fez  D.  Pedro  anncs  de  umas  Casas  forci- 
ras  a  Se,  sendo  die  Arcediago  de  Ccrvcira  no 
Bispado  dc  Tui,  e  vendidas  por  Pero  Soavcs 
Alvasil  de  Coimbra,  em  lo  de  julbo  Era  de 
1364  (anno  dc  1326). 

^  .      JG.  4R.  1  m.  2  n.  6o. 

•'3>:   OVl';=i    »i'j 
CARTA  DE  DOACAO  A  CNIVERSIDADE. 

In  Tiomine  domini  amen. 

A  quantos  esta  carta  dc  perpetua  doaconi 
e  outorgamento  virem.  Nos  dignidades  e  Ca- 
bido da  See  de  Coimbra  cbamados  singular- 


318 


nu'nte  para  o  ado  soguinlc  a  Cabido  c  Cahi- 
(lo  lazcudo  scfjiindc)  nosso  costume,  e  nos  prior 
0  cliantre  c  hcncliiiados  da   Igrcja   dc   sam 
podro  d'almcdiiia  lazcmot;  sal)er,   que  tousi- 
rando  nos  iiuanto  a  storia  das  Inlras  hi'  iiti- 
(cssaria  e  provi'ilosa  (H)usa  a  todos  c  siiif,Mi- 
larmente  aas   pi'ssoas   cdesiasticas  (pic   liao 
dc  rrcger  c  encaniinhar  si  mcsmos  e  outros 
a  salxT  guardar  os  maiidainenlos  dc  Dcos  c 
Hsnr  dc  virUidos,  sendo  nos  cerlos  da  f,'rande 
voiitade  que  ha  o  mui  ilhistre  o  mui  virtuoso 
Principe  0  sr.  Inl'anlc  D.  Pedro  dcsta  niccsma 
cidadc  tutor  c  curador  d'EIRci   nosso  sr.  e 
ciirador  c  rrcgcdor  por  ell  dcstcs  rrcgnos  dc 
a   ennohrcccr  dccorar  c  acrrcsccntar  c  mc- 
Ihorar  mandando  aas  suas  proprias  dospcsas 
lazor  cstrcuiadas  e  sclentes  scolas   e  cstudo 
jiceral  dc  todas  as  artcs  scicuciaacs  para  so- 
porlaniento    e   govcrnanca    das   quaaes   som 
ncccssarias  rrcndas   certas   suhlicicntes  para 
salariar  os  doulorcs  e  luais  Lcntcs  e  os  outros 
ofliciacs  e  para  soportar  os  carrcgos  do  studo 
V.    univcrsidadc   dos   studantes   para   a    ([ual 
fousa  0  dito  sr.  rrcgcntc  logo  primciro  que 
outrem   conicfou  dc   o  dotar  assignando-Ihe 
para   scmprc  hunia  hoa   c  grande  canlidadc 
dc  renda  das  suas  proprias  terras  mandando- 
nos  alincadamcnte  e  graciosa  rrogar  c  rre- 
querer  que  nos  outrosi  que  do  dito  studo,  e 
Iructo  das  scienpias  aviamos  seer  quinhociros 
quizesscnios  fazer  para  esto  alguma  ajuda  de 
rrcnda  perpetua,  c  depois  dos  rrazoaraentosque 
sohrello   ouYcmos   todos  acordadanicntc   sem 
contradicora  sentimos  e  ouvenios  por  hem  dc 
outorg-ar'  a   apropriar  e   dar  ao   dito    studo 
(|uanto   dc  dircito   podemos  o  padroado   da 
Igreja  de  Santiago  d'almahigucz.  0  qual  pa- 
droado  c   dcrcito   dc  aprcsenlar  pcrtcnce  a 
nos  c  ao  prior  chantre  e  eolegio  da  Igreja 
dc  sam  pedro  dc  almedina  dc  conccnsu  c  de 
pernieo  c   assim    cstamos    dc  posse  pacilica 
scu  quasi  dc  aprescnUir.  E  dc  feito  por  aque- 
sta  prczcntc  nos  todos  apreciamos  c  damos 
ao   dito  studo  todo  o  nosso  dircito  do  dito 
padroado  c  o  tiramos  e  demetimos  de  nos  de 
lal  mancira  que  qnando  quer  que  acontccer 
il'  a  dita  Egreja  vagar  por  morte  ou  rrcnun- 
ciacom    d'alvaro    paacz    que    ora    della    he 
prior  ao  qua!  nora  entendemos  por  aquesta 
doarom  c  outorgamcnto  fazer  algum  prejuizo 
que' as  rrcndas  todas  della  que  ora  ao  prior 
pertcncem  ferao  e  pcrtcnccrao  ao  dito  studo 
c  Ihc  scrao  ancxas  por  virtude  desse  nosso 
outorgamcnto  o  qual  fazenios  afora  a  tcrea 
(|ue  hy  lia  o  cabidoo  a  qual  o  dito  cahidoo 
.<emprc  hy  hade  aver  cni  salvo  sem  algiimas 
rustas  nem  censos  salvo  em  apanhar  ou  ar- 
rendar  sua  rrcnda.  E  afora  esto  nicesmo  tres 
moios  pcla  vclha  de  pao  meado  convcra  saher 
nicio  trigo  c  mcio  milho  ou  segunda  que  a 
dita  egreja  dc  S.  Pedro  d'almcdina  ha  davcr 
cm  cada  hum  anno  do  rrcilor  da  dita  Igreja 
d<'  -antiagn  segundo  qnc  scmprc  ouvc  c  agora 


ha  dc  alvaro  paacz  prior  c  scgiindo  sc  contcm 
cm  ronijiromisso  c  cscriptura  desto  que  antrc 
as  dilas  Igrejas  ha  e  tao  hem   a  dita  Igreja 
de  S.  Pedro  lia  dc  dar  aa  dita  Igreja  dc  San- 
tiago em   cada  hum   anno  tres  nieos  dazcilc 
por  a  vellia  pnia  lamjicda   scgnudo   se  con- 
tem  em  o  dito  coinpromisso,  c  a(|iiesto  outor- 
gamcnto   e  doaeom   fazenios  com   as  oondi- 
rocs  segumtes  convem  a  saber  que  das  rrcn- 
das dcsta  Igrcja  siiso  ditas  (|ue  ao  prior  agora 
pertcncem  seja  rcscrvada  c  assignada  ou  ta- 
xada  tal  parte  por  o  bispo  para  sustcntamento 
do  vigairo  c  vigairos  perpcluos  poeddiros  em 
ella  per  tempus  por  que  honcstamcntc  possao 
viver  e  soport;ir  os  carrcgos  da  dita  Igrcja 
que  agora   ao   dito   |)rior  pertcncem  a  aprc- 
zcntacao  do  qual  ou  dos  quaes  vigairos  para 
scmprc  poedoiros  scja  ou  pcrleiica  para  scm- 
prc anos  e  ao  prior  c  bcncliciados  suso  ditos 
dc  S.  Pedro  dc  con.scnsu  c  dc  permco  assim 
como  nos  agora  pcrtcnce  a  aprcsenlaeom  dos 
Priorcs.   Item  se  por  vcntiira  acouteccsse  as 
ditas  escolas  e  ftudo  nom  virem  a  apcrfeicao 
para   que  sc  fazcm   convem   a   saber    de  se 
leerem  cm  elle  e  aprendcrcm  sciencias  artes 
geralmcnte  segundo  se  cspera,  e  segundo  se 
acostuma  de  se  leerem  cm  os  cstudos  geeracs 
ou  depois  cessassc  por  tempo,  ou  tempos  ou 
se  mudasse  para   outra   comarca,    ou   lugar 
fora   dc^ta  cidade  (pie  em  tal   caso  todas  c 
quaaes  ([uer  que  o  dito  studo  ouvessc  daquesta 
Igreja  dalmaiagucz  e  Ihc  fosse  como  dito  he 
unidas,  e  apricadas  que  logo  ficassem  ou  li- 
quem  esse  facto  apricadas  por  aipiella  mecsma 
guisa  aa  dita  see  c  a  sam  pedro  dalmcdinc*i 
para  as  fithrieas  e  ohras  dellas  segundo  que  a 
cada  huma   pcrtcnce  o  dircito  do  padroado 
c  que  as  ditas  see  e  Igrcja  de  sam  pedro  da 
almedina  sem  outra  autoridade  Judicial  possa 
aver  c  filhar   por  si  as  ditas  rrcnd<as  como 
cousas  dcvolutas  a  elles  que  Ihcs  pertcncem 
tanto  que   for  certo   ou   nolorio  que    o   dito 
sludo  cessa  de  se  leer  me  ell  dircito  canonico 
c  civil  ou  se  mudar  como  dito  he  c  que  qual- 
quer  que  por  forca  ou  contra  razom  e  Justica 
estas  rrcndas  Ihc  torvar  ou  embargar  por  si 
ou  por  outrem  seja  maldito  e  cscomnngado  e 
sacrilcgo  epedimos  de  niercce  ao  nosso  prcla- 
do  e  sr.  D.  Luiz  Coutinho  bispo  dcsta  cida- 
de que  com  estas  condicoes  eclausolas  tcnha 
pur  hem  dc  fazer  a  dita  anexacom  em  forma 
suso  dita  c  acoslumada  c  esto  niccsmo  pedi» 
mos  de  mercee  ao  hem  aventurado  papa  En- 
genio  nosso  sr.  quo  esla  doafom  e  outorga- 
mcnto e  anexafom  que  se  della  fara  do  com- 
primento  do  scu  podcrio  qucira  aprovar  rrati- 
iicar   e  confirmar   a   peticom   de  nos   todos 
sens  humildosos  servidorcs  deara  c  cabidoo 
da  see  de  Goimbra  c  prior  c  bcncliciados  da 
Igrcja  de  sam  pedro  dcssa  cidadc  em  teste- 
munho   das   quaaes  cousas  maudamos  todos 
scr  fcita   csta    carta   scclada   dos   seellos  dji 
dita  Igreja  cathedral  c  da  Igreja  collcgiada 


319 


de  sara  pedro  feila  cm  a  dita  ciJadc  a  i'l 
dias  do  mcz  do  mayo  Era  do  nascimento  de 
iioi-so  Sr.  Jlic«u  xpo  dc  1440  a,' 

APPBOVASAO  E  CO>FIBMACAO  DO  li.°  DE  COIMBBA. 

D.  Luiz  Coulinlio  por  raercAe  de  Deos  c  da 
Sania  Igrcja  de  rroma  bispo  de  Coiml)ra  con- 
liraiido  as  cousas  e  razOoes  conllieudas  cm  a 
suso  dita  doat'om  screm  verdadeiras  e  legiti- 
nias  Inclinado  aos  justos  rcqrymcnlos  do  suso 
nomcado  niuy  yllustrc  principc  e  Sr-  Infante 
dom  pcdro,  c  dos  padroeiros  fazcmos  a  doafom 
C  outorgamento  com  dczcjo  esse  lucesino  que 
CY  do  tlicsouro  Iiicomparavcl  da  scicncia  scr 
acicsccutado  cm  esta  cidade  e  rregno  rralili- 
comos  aprovamos  e  avemos  por  boa  a  dila 
doacom  e  de  conscntimcnlo  e  hencplacito  de 
nosso  Cabido  quanto  com  dircito  podcmos 
ancxamos  unimos  c  ajuntamos  as  rrciidas  da 
dita  Igrcja  de  Santiago  dalmalagiiez  que  ao 
prior  ou  priorcs  pertecnciao  e  agora  ainda 
pcrtcncem  aa  L'niversidadc  do  dito  studo  com 
as  condicoocs  c  clausulas  contbeudas  e  cxprcs- 
sas  em  a  suso  dita  carta  dc-doacom  e  outur- 
gamcnto  c  per  outra  guisa  nom  rescrvando 
mais  e  taxaudo  para  convinbavel  e  onesto 
soportamento  do  Vigairo  ou  vigairos  que  por 
tempo  siam  era  a  dita  Igrcja  de  Santiago 
perpctuos  e  para  ellcs  tcreni  dc  que  pagucm 
as  procuracocs  c  conlirmacora  e  suportc  todol- 
los  ciicarrcgos  da  dita  egrcja  de  Santiago  a 
que  0  prior  ou  priorcs  dc  dircito  erao  Ihcudos 
E  esso  mcesrao  a  pagar  aquelle  pao  mcado 
aa  Igrcja  de  sara  pedro  segundo  o  prior  ora 
paga  a  Icrca  parte  de  todo  o  que  rrendcr  a 
dita  Igrcja  ou  rendcria  ao  prior  se  by  ouves- 
se  como  ora  ba  e  mais  todo  pec  do  altar.  E  as 
outras  duas  partes  da  renda  I'azcndo  tres  partes 
daquello  que  ao  prior  pcrtence  (iijucm  c  sejao 
uuidas  e  apricadas  ao  studo  o  qual  as  aja 
yscntas  e  livres  e  as  possa  mandar  arrcndar 
ou  apaniiar  como  sua  propia  rrenda.  Em  tes- 
Icraunbo  das  quaacs  cousas  niandamos  scr 
i'cita  esta  carta  seciada  do  nosso  sccio  pen- 
dente dada  cu  na  cidade  de  coimbra  a  vinte 
c  quatro  dias  do  mcz  de  maio  era  do  nasci- 
mento dc  nosso  Snr.  Jesu  xp.°  dc  mil  qualro 
centcs  quarenta  e  scis  annos. 

Acham-se  e^tes   ducumeiitos  na  pav.    1.  R.  1.  m.  2. 
n.»  2y.  (Archirn  da  Callindral.) 

M.  R.  u'lLMEIDA  1!  VASCONt'EIXOS. 


EXPOSICAO  DE  ANUIAES  DO.MESTICOS. 

C'uniiiiiiaMo  tie  pag.  209. 

k  especie  ovdhum,  scndo  a  que  mcihor  sc 
jircsta  as  moditicacocs  que  se  ibe  iniprimcm, 
1  (.imprcliciide  por  isso  maior  numcro  dc  racas, 


(|ue  0  capric.ho  do  bomeni  niultipiica  e  dcs\ia 
cada  vez  mais  do  sen  typo  primitive. 

A.  producfao  de  la  c  a  de  caruc  constitucm 
as  principacs  aplidoes  para  as  quaes  se  devcm 
conformar  os  animaes  ovinos,  por  que  a  pro- 
duccao  do  leitc  c  secundaria:  todavia  sao 
tao  imporlantcs  aquellas  duas  aptidocs,  ([ue 
nao  convcra  conformar  uma  raca  exclusiva- 
mcnlc  para  uma  dellas. 

Qualqucr  que  seja  a  cspeculacao  que  sc 
qucira  fazcr  a  respeito  dcstcs  animaes,  e  for- 
coso  consideral-os  como  productores  dc  la  e 
dc  carnc,  cmbora  se  attenda  particularnicntc 
a  ([uantidade  ou  qualidade  dura  so  dcstcs 
objectos:  assim  se  os  animaes  ovinos  forcm 
destinados  para  produzir  boa  la,  devcpromo- 
ver-se  que  o  crescimcnto  scja  precoce  e  a  cn- 
gorda  facil,  sem  prejudicar  a  natureza  da  la 
(jue  se  prclcnde  obtcr:  e  do  mcsmo  nindo, 
se  forcm  destinados  para  consummo  convcm 
altcnder  tambcm  A  qualidade  da  la,  no  (|uc 
for  compativcl  com  o  principal  destine  do 
animal. 

importa  porcm  advcrlir,  que,  cntre  a  pro- 
duccao  de  la  fina  e  a  dc  boa  came,  existc 
alguma  incorapalibilidade  physiologica  e  eco- 
nomiea ;  por  isso  e  necessario  distinguir  bem 
cstes  dous  gencros  de  produccao,  que  depen- 
dcm  de  difYcrentes  condicocs  dc  organizacao, 
c  que  cxigem  diversas  circumstancias  na  cria- 
cao  dos  animaes.  N'um  caso  o  criador  dcve 
cuidar  da  aplidao  lanigcra,  ainda  que  a  carne 
scja  de  inferior  qualidade,  e  no  outro  dcve 
cmprcgar  os  meios  de  obtcr  animaes  que  pro- 
duzam  boa  carne,  ainda  que  a  la  seja  me- 
dia na. 

Por  tanto  6  necessario  conformar  dous  typos 
oppostos  para  satisfazcrcm  cada  um  a  sua 
aptidao;  todavia  cntrc  estes  dous  typos  sc 
cncontram  outros  muitos,  em  que  predo- 
mina  mais  oa  menos  a  produccao  da  la  ou  a 
da  carnc  ou  algunias  qualidadcs  dcstcs  obje- 
ctos, nao  se  podcndo  ainda  ol)ler  constante 
n'uma  raca  o  cquilibrio  dcstas  duas  aplidoes. 

Podcmns  toniar  para  typo  de  produccao  dc 
13  fina  c  carnc  mediocre  a  raca  merina;  dc 
boa  carnc  c  la  mediocre  a  raca  de  Sotillt-Down  : 
dc  la  comprida,  carne  soffrivcl  e  crescimcnto 
[irccocc  a  raca  dc  Pislileij;  dc  la  lina  c  facil 
cngorda  a  raca  dc  Mumhamp;  dc  boa  carne, 
crescimcnto  precoce  e  la  solfrivel,  a  raca 
aperfeiroada  de  Glocester;  Ac  boa  carnc  e 
muila  la  dc  linura  mcdiana  a  raca  de  Uol- 
lunda  etc.  ' 

E  pouco  c  de  inferior  qualidade  o  nosso 
gado  ovino:  os  rcbanb.os  dc  Tras-os-nion!es, 
da  scrra  da  Estrclla,  do  Alenitejn  etc.,  pcr- 
tcncem todos  a  raca  conimum  de  la  curta  e 
grosscira,  e  carne  de  inferior  qualidade;  as 
pcqucnas  varicdades   que  se   encontram   no 

*  Vpj.n-so  Zontectmia  dos  animafs  oviiio^.  (Cui.-o  r.iii;- 
I  leto  lie  Zooiatria  vol.  S.*") 


320 


iios.<o   f!iido   miudo    ?ao  iiiius    iiiii   cITcito  da 
influeiuia  das  locaiidados  do  que  do  homem. 

Na  nossa  industria  agrirula  a  ciiafilo  do 
{jadoniiudo  podia  iiumar  uina  fonte  principal 
lie  riqueza,  lanto  para  opeiiueuo,  como  para 
0  graiidc  laNrador,  e  lornecer  odemeiito  iii- 
dispoiisavel  para  o  desiuvolviiiu'nto  dos  lani- 
(icios:  mas,  para  que  o  paiz  se  toruasse  ar- 
mculoso,  era  necessario  que  os  nossos  agri- 
cullores  se  decidissem  a  soguir  os  preccitos 
da  Zoolcetinia  da  cspecie  ovina,  eoulirmados 
pela  experieiifia,  e  cuidassem  seriamenlc  ua 
reforma  da  produceao  peeuaria. 

Para  nielliorar  o  nosso  gado  c  necessario  cs- 
lollier  as  oveliias  inais  beni  eonl'ormadas  e 
de  melliores  qnalidades,  reunil-as  com  car- 
iieiros  de  scmeiile  d'outra  localidade  e  egual- 
mente  escolliidos,  c  criar  e  educar  convcni- 
cnlemente  ascordeiraseoscordeiros.  Poremo 
nosso  gado  o\ino  csta  por  tal  forma  abaslar- 
dado,  que  nao  podera  devidamcnte  apcrfei- 
coar-se  senao  pelo  cruzanieuto  com  bons 
carueiros  de  racas  extrangeiras:  assim,  para 
conseguirmos  las  linas,  fora  necessario  cru- 
zar  as  nossas  ovelhas  com  carneiros  me- 
rinos de  raea  pura;  para  obtermos  la  com- 
prida,  cruzal-as  com  os  carneiros  da  raca  de 
Glocestcr;  para  conseguirmos  gado  que  pro- 
duzisse  nuiita  c  boa  carue,  era  forcoso  cruzar 
as  nossas  ovelbas  com  Of  carneiros  da  raca 
de  South-Down  etc.,  escolhendo  sempre  as 
o\cllias  mais  bem  eonl'ormadas  em  relacao  ao 
typo  que  se  pretende  dosinvolver. 

Mas  tudo  islo  nao  e  bastanle  para  nos 
dispensar  de  importar  as  meihores  racas  ex- 
trangeiras a  fim  de  acdimatal-as  nas  locaii- 
dades  em  ([ue  nieliior  possam  prosperar. 

Das  variedades  da  raja  raerina  a  leorieza 
6  a  que  mais  nos  convem  acdimatar  nas  loca- 
lidades  pouco  montauhosas  e  enxutas;  a  raca 
dcMauchamp,  podo  acclimatar-senas  niesmas 
locaiidades;  a  raca  de  Soutii-Down  pode  accli- 
matar-se  em  todas  as  locaiidades  era  que  vive 
0  nosso  gado  ovino,  ate  mcsmo  nos  terrenos 
raoutanhosos;  a  ra^a  de  Dishley  e  a  de  Glo- 
ccster  apcrfcicoada  sgo  ruuito  propriiis  para 
as  locaiidades  baixas  e  pantanosas,  porque 
resistem  melhor  a  influencia  da  humidade, 
c  ate  prosperam  em  pascjgos  humidos,  onde 
nao  podera  viver  as  outras  racas;  por  isso 
muito  conviria  acclimatal-as  nos  carapos  do 
l^londego  e  do  Tejo;  em  fim,  a  raga  Uollan- 
(Icza  podia  acdimatar-se  nas  locaiidades  pouco 
humidas  e  abundantcs  em  pastes. 

Importa  porem  adverlir,  que  lanlo  o  me- 
llioramenlo  das  nossas  rayas  ovinas,  como  a 
importacao  das  extrangeiras,  nao  pode  dar 
bons  resultados  sem  que  oi  lavradores  refor- 
inem  suas  practicas  em  harmonia  com  o  cstado 
actual  das  nacocs  civilisadas,  empregando  o 
.ivstema  dc  cslabularao,  dtipastuycin  oa  mixto, 
lonformc  as  circumstancias  o  exigirem,  e  es- 
lalieierendo  bons  prados  arlificiaes. 


Nos  progranimas  para  as  exposicoe?  dos  anr- 
niacs  ovinos  a  \uctoridade  pode  proinover  o 
desinvolvimenlo  das  racas  que  julgar  mais 
uteis  era  rela(,-ao  ao  nosso  estado,  daudo  pre- 
lercncia  as  mais  prnduclivas  de  carnc,  ou  de 
la,  e  deslas,  aqucllas  de  que  mais  carecerem 
as  nossas  I'rabricas  d(!  lanilirios. 

0  decreto  de  l(i  do  dezombro  de  1882  nao 
cliama  as  exi)0sic6es  o  gado  ca])rino,  e  parece 
tcr  justo  t'undamento  para  nao  promover  a 
niulti|iliracao  desles  aniniaes;  por  que  sao 
tao  danininlios  que  se  podem  considerar  como 
0  principal  inimigo  da  arboricultura,  e  lara- 
bem  sao  pouco  rendosos:  todavia,  sendo  niuilo 
rusticos  e  vivazes,  prosperam  em  locaiidades 
montanhosas,  onde  se  nao  pode  apasccntar 
oulro  gado;  por  isso  convem  promover  o  seu 
aperl'eicoamento  ncsses  logarcs,  e  tambem  se 
podem  criar  pelo  systema  da  eslabula^ao  sem 
causarem  prcjuizo. 

As  aptidoes  (|ue  devem  dirigir  o  melhora- 
mento  das  nossas  eabras  sao  a  da  producfao 
de  came  e  a  de  leite;  mas  esta  ultima  merece 
preferencia,  porque  a  cabra,  eonsi.ierada  como 
produclora  de  came,  e  muito  inferior  ao  car- 
neiro. 

Alem  destes  motives  tambera  o  rcferido 
decreto  nao  devia  esquecer  o  gado  caprino, 
por  ser  de  grande  utilidadc  a  importacao 
da  cabra  do  Tibet  c  de  Angora,  e  podiamos 
ate  comecar  pelas  acdimatar  no  Algarve  c  na 
Estrcmadura.  Estes  animaes  sao  muito  su- 
periores  a  cabra  commum,  nao  so  ua  quan- 
tidade  do  leite,  na  qualidade  da  carne  e  em 
terera  cresciraento  precoce,  mas  tambem  era 
produzirera  nm  tosao  muito  fino  e  proveitoso 
para  tecidos. 

A  especie  snina  offerece  urn  s6  genero  do 
produccao,  c  em  toda  a  parte  o  porco  e  dcs- 
tinado  para  consummo;  por  isso  o  melhor 
porco  sera  o  que  produzir  muior  quanlidade 
de  carne,  de  melhor  qualidade,  em  menns 
temjK)  e  com  alimentacdo  mais  economica. 
Todavia  e  forcoso  confessar,  que,  a  divisao 
dos  animaes  suinos  cm  trcs  racas — de  grande, 
mcdianu  e  fcquena  cstalura,  nao  merece  tanto 
desprezo  como  inculca  Baudemenl;  por  que 
esta  em  relacao  com  a  diversidade  das  cou- 
dicoes  ijue  ofl'erecc  cada  localidade  para  a 
criacao  do  gado  suino,  com  a  diversa  ap- 
plicacao  da  came,  e  com  as  exigencias  do 
mercado  deste  genero. 

Ainda  que  o  destine  do  porco  seja  unico, 
pode  todavia  variar-se,  predominando  a  pro- 
daccao  da  came  muscular  ou  do  toucinhe, 
e  ()ualquer  destes  objectos  pode  ter  mais  valor 
n'uma  localidade  do  que  n'outra. 

0  porco  da  bcira  pode  considerar-se  como 
0  typo  de  grande  estutura  em  que  predomina 
a  parte  muscular;  porem  esta  raca  exige 
grande  reforma,  que  a  torne  menss  ossuda, 
de  prompto  crcfciinento  e  facil  engorda ;  tudo 
isto  se  pode  censeguir  por  meio  do  seu  cru- 


321 


zamento  com  o  porco  chino  do  \lemlejo. 
Se  estc  cruzamento  for  coulinuado,  os  nics- 
lifos,  criados  convenienlemenlP,  fonnaraociii 
breve  unia  rar-a  perfeita  do  porco  dc  grandc 
eslatura. 

0  porco  chino  conslitiic  uma  rara  perfeita 
de  fieqnena  eslatura,  prompto  crescimento  e 
facil  engorda,  e  com  aplidao  particular  para 
a  produccao  do  toucinho. 

Em  lim  nos  possuimos  os  elcmentos  para  o 
aperfeicoamento  das  racas  suinas,  mas  e  iie- 
cessario  aproveitar  convcnioiitementc  as  boas 
qualidades  do  porco  da  Beira,  eas  do  chino  do 
Alemtejo,  escolhendo  a  porca  ou  o  varrao 
n'uma  d'estas  racas,  conformc  as  qualidades 
que  quizermos  representar  nos  mesticos;  e  es- 
colhendo egualmente  ambos  os  pro^enitores 
com  a  conformaciio  e  qualidades  que  meihor 
reprcsentem  o  typo  que  sc  pretende  obter. 
E  necessario  fazer  rigorosa  applicacao  dos 
preceitos  zootechnicos,  nao  so  no  que  respeita 
ao  cruzamento,  mas  tambem  no  regimen  ali- 
mentar:  por  esta  forma  poderemos  consoguir 
rafas  suinas  perfeitas,  c  talvez  superiores  as 
((ueactualmente  possuc  a  Inglaterra  ca  Fran- 
fa. 

0  programma  para  a  exposicao  do  gado 
suino  deveria  cxigir  os  lypos  mais  perfeitos, 
daudo  prelerenci^i  em  cada  localidade  as  racas 
degrande,  mediana  ou  pequena  estalura,  con- 
forme  as  conveniencias  relativas  a  produccao 
dos  animaes  e  ao  sen  deslino,  exigindo  porcm 
fossem  constantes  em  todas  ellas,  a  boa  qua- 
iidade  da  carne,  o  crescimento  precocc,  e 
pronipta  e  cconomica  engorda. 

J.   F.   DE  MACEDO  PIMO. 


BIBLIOGRAPHIA. 


Otntinnado  de  pajj^.  '21)3. 


II. 


O  2."  ubjecfo  da  Inirodncriii)  ao  amign  dos  ineuitiDs 
*.rtt(  as  primeiras  no^oes  da  nuinera^-au,  e  a  h^itura  e 
couhecimciilo  <los  numcroa,  d'lmidadea  ati'  milhou's,  d"in- 
leiros  e  qiiebrados,  e  decimaes,  comprehfndendo  as  iio- 
Mm  medidas  do  systema  in(:'trico,  e  cuiichiindo  com  as 
laboadas   dadii;au   e  diniinuii^iio. 

Tiido  (pianlo  d'ahi  transeende,  nnteiidf^nios  que  pcr- 
tf^nce  a  iima  outra  ordem  superior  de  conhecimentos,  e 
a  difftirpnte  classe  d'aluninos  nas  escholas. 

Esta  sec^ao  se;^ue-se  ao  abcedario,  e  antecede  aos 
prhneiros  exercicios  da  Ifitura  pela  razao  de  que,  se- 
icnndo  o  nosso  juiz.i,  ao  passo  <pie  os  ineninos  entram 
no  aboedario,  nao  so  e  possivtd,  nia^  miii  cinvenieiile 
(pie  principiem  i^ualmente  com  a  numera^ao, 

Xada  luais  fastidioso  para  o  homem.  e  muilt>  mais 
para  a  crian^;a,  do  que  a  inalteravel  repeti^iio  da  mesma 
cou:!'a  por  largo  tempo. 

Duvidamos  de  <pie  as  mesmas  li^oes  de  le'itura,  In- 
tenneadas  de  cantos,  e  continuados  mnvimentus,  ani- 
muda  peloscontos,  e  s(^Ua  d'um  rii,'oroso  coustratiirimont  • 
c  terrOr    do  velho    tntifjhter,    nao  cheguem    a  piiJec-r 


por  monotonia ;  sc  a  escripta  e  a  mimers^ao  nSo  loma- 

rem  uma  parte  das  horas  da  eschola. 

-/  escripta,  dtzemos;  embora,  por  um  man,  mas 
mui  inveterado  costume,  ainda  d'exccHentes  profesBorcs 
Oque  ordinariamenlc  reservada  para  depois  de  ser  co- 
nhecidu  pelos  aiumnos  ao  menos  o  alphabeto  :  nao  S(J 
nao  reconlieceiiios  impossibilidade  em  come^ar  os  en- 
saios  do  tra(;ado  de  letras  ao  par  com  o  .ibcedario" 
mas  cremos  que  sera  esse  um  meio  nao  s6  do  variar 
OS  exercicios,  mas  de  fazer  corihecer  os  caracteres  do 
manuscrijito,  e  ;;ravar  na  meraoria  as  suas  Cruras.  Nesta 
parte  as  rccoiueuda^-oes  do  melliodo  portuguez,  a  cerca 
dos  ensaios  oas  ardozias,  em  accordo  com  o  que  se  le 
nos  directorios  das  casas  d'as} io  de  Franca,  parecem- 
nos  de  pouco  ,  ou  nenhura  effeito,  quando  os  aiumnos 
forem  muito  novos. 

Esses  ensaios  serao,  conforme  se  observa  naquelles 
estabelecimeulos,  apenas  um  meirt  de  variar  os  exercicios 
sem  esperan^a  de  resultado;  porque  nem  a  imafrma^ao, 
nem  a  mao  e  o  bra(;,o,  em  tao  teiiras  idades,  podem  pre- 
star-se  a  tra(;ar,  sera  direc(;So,  nem  exemplo  anterior 
lima  quahpier  imaijem  toleravel  dos  caracteres  pedJdos. 

RIeUior  nos  parece  o  alvitre  de — ciiamar  a  taboa 
preta  turmas  de  cinco  ou  seis  aiumnos,  e  de  Uies  trarar 
ahi  o  professor,  ou  algum  dos  monitores,  mais  adiaula- 
dos  em  escripla,  os  caracteres  ordinarios,   a  principlar 

pelos  mais  singelos,   como  o  —  i — ,   o  —  / — ,  o  —  u 

etc.,  apagando-os  depois,  e  volvendo  a  tra^al-os  uma  e 
mais  vezes,  de  mudo  que  vejam  beni ,  como  se  fez  essa 
opera);ao ;  e  so  depois  ir  chamando,  um  a  um,  aos  meninos 
da  turma,  para  que  imilera  os  tra^os  que  se  Uies  ensina- 
ram,  em  compelencia  uns  com  outros. 

Por  experiencia  sabemos,  que  um  bom  professor  en- 
con  trara  neste  singelissimo  processo  tan  to  a  occaziao 
d'iustruir  a  sens  aiumnos,  como  a  de  os  entreter,  e  me- 
Ihor  de  os  encher  de  brios,  nao  se  descuidando  de  excitar 
OS  de  uns,  que  conseguiram  acertar,  com  os  merecidos 
elogios,  e  de  animar,  com  os  bons  modos  e  palavras  affa- 
veis,  os  que  forem  infeUzes  na  tentaliva. 

Desde  que  os  aiumnos  souberem  suITicientemente  fi- 
gurar,  na  taboa  preta  e  era  ponlu  graude,  oa  caracteres, 
e  so  entao,  e  que  deverao  ser  admittidos  a  li^ao  d'escri- 
pta,  sentados,  com  a  niao  e  bra^o  em  divi'da  posi^ao,  e 
sobre  ardozias,  ou  papel.  A  primeira  difficuldade  venceu- 
se,  brincando.  Cremos  que  as  segundas  se  vencerao 
igualraente  com  facilidade  e  gosto ,  dando  ao  tempo  o 
que  e  do  tempo;  por  que  neste  ponto  a  brevidade  pode 
conseguir-se  no  ensino  dos  primeiros  passos,  nunca  no 
desenvolvimento  d'escrever,  que  depende  do  uso  e  da 
idade. 

"O  tra^ado  de  riscos,  e  por  Ventura  ate  mesmo  de 
curvas,  entendemos  igualraente  que  e  tao  desnecessario 
como  o  Zi  e  a  —  ba  dos  syllabarios  para  a  li-ilura.  Assini 
como,  com  todo  esse  longo  e  fastidiosissimo  aprendizado 
o  maximo  numero  das  pessoas  ficava  escreveiido  nial,  a 
muilos  boje  succedera  o  mesmo  sem  elle;  mas  outros 
como  entao,  aproveiiarao.  Com  boa  vontade,  geito  natu- 
ral ,  e  bons  traslados  que  niio  faltain,  e  mestre  liabil, 
sem  diJTiculdade  se  apura  a  forma  da  lelra  ;  e  os  que 
nao  podem  aspirar  a  tanto,  conseguem  escrever  intelligi- 
velraente  na  metade  ou  ter9o  do  tempo,  que  anlecedcn- 
temente  se  requeria. 

A  numera^ao  e  incomparavelmente  mais  facil,  e  ac- 
cessivel  aos  nit-uinos,  ja  porque  se  applica  a  um  sem-nu- 
mero  d'objeclos  visi^eis  e  do  uso  quotidiano,  ja  porque. 
para  ler  e  combluar  os  caracteres  numericos,  nao  e  mister 
escrevel-os. 

Os  singelissimos  processos  da  contagein  pelos  dedos, 
pelos  individuos  presentes,  pelos  vidros  da  jancla.  pela>: 
bolinhas  do  contador  raechanico,  e  muitos  outros  analogos. 
(pie  OS  directorios  das  casas  d'asylo  da  Franca  e  da  Belgica 
ensinam,  abrem  ocaminho  prompta  e  siiaveraente  para  a 
intelligencia  e  conhecimento  dos  caracteres  numericos, 
dependendo  todo  o  proveito  da  execurao  da  boa  vontade, 
engenho  e  cuidado  do  professor,  sem  o  que  nao  ha  mellio- 
do, nem  regtilamento  que  valba. 

Nos  nossos  elementos  de  numera(;ao  damos  cnmo  pri- 
raeiro  exercicio  :  —  u  ensinafj  com  auxilio  dos  dedos,  uu 


322 


u  por  qimlqii^r  oulrft  f<5nnft  jtiBgela,   a  fazer  itU^a  das  | 
(i  unidades  :  ?>  e  o  2." — «  ensinar  a  If^r  e  conbcccr  os  rui- 
(i  mcros,  por  sua  ordora,   jiela  invorsa,  e  saUeados :  •'  r 
<i  3.°  : — ■"  cnsinar  a  eserever  iimdndes.  « 

\a  Intiira  d«s  imidades  dcscjamos  que  o  proIV'ssor 
.desde  Utp*  \k  cncamiiiliando  os  mciiinos  para  o  Iralmlho 
d'addi»;r(0  ;  a.«siu)  aputitandn-Ihcs  o  primeiro  mnncr>t  na 
nrdem — 1,  S,  3,  4,  5,  0,  7,  8,0,  0  —  dirA  ^  wm  ;  .- 
lofi;n  —  e   mai-t  um — suo   rfyt'.v,   c  apoiilarA   o  se^uiidn, 

A  I'Mlura  das  dezonas  simples,  e  compostas  ;  a  dn^ 
rnntiMias,  inilharos,  otc,  r  diri^ida  pela  raais  ripirosu 
aDalysp  dns  clenifntos ;  e  a  exp'jrif acta  tins  t^m  mostrado 
qnao  faril  i-  a  qiial'pier  monitor,  ou  monitora,  o  desem- 
prahnr  c-sa  dirrc^'ao. 

(Jiiaiid.i,  por  cxemplo,  no  3."  nmnero  —  dezenns  com- 
fiostas^-.  o  monilor  apontar  n  nuraero  — 11,  e  o  ler, 
cm  sesuida  n  10  com  a  addi<;ao  da  imidadc  ;  dever/i  repe- 
til-o  d'oiitra  forma,  toniatido  individualineutc  us  cara- 
etc'res,  da  dircila  para  ae^ipn-rda;  a  saher,  —  uma  tiiii- 
dade — uni^  v  uma  dfzeiia  ~-dvz,  \o^o  sao  —  onzt\ 

Xuo  tiifL'mos  mais  .vobre  esta  parte  da  Inirodnr^do, 
>e  nao  quf.  desde  1849,  o  fiisino  da  niim<'rac;i"io,  no 
asvio  da  iiifancia  ,  i?  feito,  ao  par  com  o  da  leitura,  sobre 
tabfias  analojras  a  eslas  brevissimas  no{;oes,  e  com  excel- 
h'liU's  resultadus. 

As  imiicatNles  do  melhodo  portiifinez  sobre  a  mnemo- 
•siiic  das  fiiruras  numericas  iiilo  nos  n?radam  j>or  nbscn- 
ra^,  e  al;;iimas  ate  por  ioconvcnientes.  O  ensino  da  nii- 
mera^ao  arabica  parece-nos  escusado.  Quando  se  faz 
jnister  conhectd-o,  na  idade  mais  crescida,  e  facilimo  o 
aprendtl-a,  scm  que  se  haja  tomado  um  qualquer  cspa- 
Qo,  na  julancia,  para  esse  aprcndizado. 


III. 


\o  pequcuo  proloj^o  a  —  Introdncrdo  dixemos  a  cer- 
ca  dos  —  Priiiuiros  Ererririos  :  t^Os  primeiros  exercl- 
ii  cios  dizem  de  si.  Sao  formulas  doutrinaes,  contendo 
u  a  Santa  o  pura  moral  do  Evan^jplho;  jiequf^nas  e  deli- 
•i  cadas  histnrietas,  extraidas  d'al-Tuns  optimos  escripto- 
(-  res  eslranfri;iros.  ^» 

Bastara  pelo  cpie  respeita  as  primeiras  folha-;  desta 
.secrao.  Quern  qner  que  for  accostumavio  a  lidar  e  pra- 
rticar  com  os  meninos,  facilniente  rcctmlieccru  quantos 
atraclivos,  e  boas  lii;oes  de  prompta  compreht-nsao  abi  en- 
contrarao  os  jtcfpienos  leitores  nos  sing:elos  e  tocantes 
<[uadrosinlio^  do  amor  maternal,  dos  ciiidados  paternos, 
<Ia  amizadf  d'irmaos,  etc. 

Da  parte  de  S.  M.  I.,  a  Scnhora  Duqueza  \iuva  de 
Bra<raii^a,  tivpmos  a  honra  de  receber  as  mais  lison^ei- 
ra-i  e  honrosas  fflicila(;6es  por  esse  nosso  trabalhn;  que  a 
mcsma  auausla  brMnfeilora  da  infancia  jal:i:i)ii  mui  adapta- 
du  para  derramar  mais  aljiunia  escolbida  semeiile  de  boa 
moral  ni>s  innocentes  coratjoe^;  dos  sens  num^rosos  bene- 
ficiados.  Assim  como  o  abcedario,  todos  estes  exercicios 
sao  variados  nos  caracteres;  al^iimas  linhas  nos  redon- 
dos,  outros  nos  italicos,  muitas  uos  cursivos,  e  aljriimas 
no  gothico. 

Contiivia.  \.  FORJAZ. 


MAIS  OBUAS  OFFERECIDAS  A  BIBLIOTUECA 
DO   INSTITITO. 

DESCRip<;Io  DA  SESSAO  soLEMNE  qiic  tcvc  logar 
110  collogio  de  N.  Senhora  ila  Conccicao  em  8  de 
tlczembro  de  1854  por  Joaquim  Lopes  Carreira 
(h  Mello,  (lirecLor  do  dilu  collegio  e  socio  cor- 
respondeute  do  Snstituto  dcCoimi)ra. 

COMPENDIO    DK  GEOGBAPHIA    E    (  HRO.NOLOGIA  para 

uso  das  oscholas.   1   \ol.   pelo  mesmo  auctor. 

BREVE   BESUMO  DOS  PBIVILEGIOS  DA  >OBREZA  :    1 .° 

dos   profcssores  publicos:    2,"   dos    mestres   dos 


principes:  3.**  dos  aios  dos  mesmos  scniiores,  dc- 
dicadu  a  S.  M.  F.  Elrci  o  Sr.  D.   Pedro  V.  par 

Francisco  An(o7iio  iyartins  Bastos. 

ELKMFNTOS  DO  PitocEsso  CIVIL  2."  odiijiio'  cor- 
rrcta  e  muito  auf^iiu'nl.ula  por  Francisco  Jose 
Duartc  Muzarcth,  Icule  cathcdralico  ila  faculda- 
dv  do  dirt'ito,  dcpulado  as  cortcs,  c  socio  do  Insli- 
tiito  do  ('nimi)ra.  -"^-'S 

QUADUATruA  DO  ciBCULo  por  Ilcnviqucs  Martins 
Pcrcira,  coronel  de  engenheiros. 

DissEKTATio  i.NAiGruALis  do  pcrfoct iiino  (  hrist  13- 
na  rclif^'iosus,  quaui  rt'ciLal)at  ac  pniinigiiabal  £m- 
manucl  EduarUus  da  Motta   Vciga, 

>ogoES  tiKRAES  ni-ciiiMicA  PRACTicA,  traduzidos 
0  cuordcnados  por  Joaquitn  de  Sancta  Clara 
Sniisa  Pinto 


ERRATAS.— N."  19. 


Lin/i . 

Col.   Pag. 

Erros. 

Eiiieiidas 

245 

I.'     12 

primnira 

ultima. 

» 

14 

vj  veilo 

Ovitil... 

„ 

..       lU 

1110 

7110 

n 

"     a 

19lt 

898 

246 


£2  a  2ft  —  Este  arpumento  perde  a  forra, 
sabendo-se  que  os  Abbades,  ou  Ohefes  de 
Mosteiro,  assit;naram  este  concilio  com  a 
denomina^ao  de  Archymandritas,  como 
pode  ver-se  na  coUec(;ao  de  concilioSj  de 
Labbei. 


N."    20. 

Ptig.    Cal.   Lin  ft.  Emendas. 

257       ^^        3       lea-se  —  (Conlinuado  de  pair.  S19.) 
267    n«i  fim  |ea-se  —  Continua.     r.  r.  i»e  sois\  pinto. 


N."  21. 


E  men  das. 


Pfif}.    Col.   Linh.  J^rros. 

£7.1     2.*     fi  evilar  visilar. 

2liO  1.*  8  — da  palavra  —  extinc^ao — por  diantp, 
dere  /f/'-se  ^  exlinc^ao,  por  terem  decor- 
rido  apenas  oito  annos  de  10J16  a  1094,  c 
nao  apparecer  nenhuni  ducuinento  em  con- 
trari<».  E  verdade  que  os  mosleiros  duplices 
j<i  tinliam  sido  prohibidns  por  (irejrorio  11 
em  546  '  ,  e  dejtois  no  Concilit*  de  Nicea 
em  7!{7  '  ;  mas,  e  certo  <pie,  apt-zar  disso, 
continuaram  siibsistindo  em  Portugal  e*j)or 
toda  a  parte,  como  nos  dizem  VitcrbQ  •*  -e 
B.tehuiero  ■*. 
'  Deer.  Grac.  caus.  lU.  quest.  2,  c.  22.  (a  not.  2 
da  mesma  pa','.  21i(t). 

'■  Cone.  2  de  TSicea  caus.  20  do  Deer.  Grac.  caue. 
lit  quest.  2.  c.  21.  — DilTinimus  minime  duplex  monas- 
tiTium  fieri  :  quia  scnndaliim  id,  et  ofTi-ndicnlum  multis 
edicilur.  Si  ^i-rn  aliqui  cum  Ciiinalis  muudo  alirenuntia- 
re,  et  monasticaui  vitam  sectari  vulueriut,  debent  qui- 
dcm  viri  virornm  adire  coenobium,  foeminae  vero  mu- 
lierum  inpredi  monastcrium.  .  .  . 

■*    Kliicidario  por  Viterbo  —  palav.  .Mosteiro, 
^JJoelimero  not.  99  ao  Deer.  Grac.  caus.  18.  que.'t.  S. 
c.  22. 


303      «.' 


N."  23. 

ete 

este 

sejas 

seja. 

I 


323 

ADDITAMFCNTOS  AO  CALCULO  DIFFERI^NCIAL 
DE  FKANCOEUR  — N.°  7fin,    i .'  EDI^IO. 

PUINCIPIO  DOS  UMITES  ,   E  APPI.ICACAO  DELLE. 


I 


1.     Sejnm  A  ,  B,  C,  f(inc<;."es  cojitinuas  de  x,  e   J>  n>Cj    (a)  deiitro   dos  limilcs  » 
p  dc  X,  sendopo  valor  dex,  que  faz  ^  =  1}  =.  C.  'roiiiiuuio  uiii  valor  a  do  a;,  coinpreliendido 
«utre   ot,   p,    e  depoii  oulros,   que  gradual    e  succeibivametile   se    vao  approximaiido  de   p, 
V,  acliareiiioi 

yl     B     ^       ^<     B'            ^"     B" 
^    -r;>f-,>  i  ',     TV  ^Jv  >  '  '•     -flu  '*  7^  >  1  ' Se  for  6  W  urn  valor  de  x ,  niul  proxiuin 

,    de  p,   a   reliirao  sera  poiico  dilTorenle  da  uiiidade,  e— 7— -ainda  menos  differente   o  sera 

(tf)  :  de  sorte  que,  loinando  esle  poiito  de  parlida,  podomos  eserever 


^4+' (') 


■ieiido  S  uma  quanlidade  positiva  epequena,  que  ira  diminuindo,  sem  nunca  seloniar  nulla, 
ao  passo  que  x  se  for  approxitnandn  de  p.  Teinos  pois  (b)   que   duas  quanlidades  variaveis 
passando  por  lodoa  os  estados  successivos  de  grandeza,  se  conservaui  constanlemeiile  en-uaes  : 
logo  ellas  tern  o  mesmo  liinite  j    porquc    a  mesma  grandeza  nao   pode  approxiiiiar-se    ao 


(H  \        n 

■T7  +  ^  )  e  TT,  logo,  se  nos  soubeimos 

que  o  litmlc  rft  — =  1  ,  concluiremos  Inn  :  —  =^  i.  =  lim  :  ■—  : M 


g.     Sejam  AJO,  e  M'  O  langenles  a  ruiva  PM M',  em  JMeMi;  MO  —  m,  .\J<Or- 
(',   MO  jH'z=a,   J\l  M' ,   uiji  pecpieno  arco  dacurva,  e  egual   a  p  M'  —  PM=^l  =  isti' 


0-s' 


+  -—■;-...:  8  ,  pequeno  aiigulo,  egual  a  M  C  M' :  O  MM'  =  ^;  OjM'M=^';  CM=r; 
C.i;'  =  r,  =r  +  6  ,•■  -t-illl  +  .  . :  a  superficie  CP  Bl M'—  CP  M:=z^  0  ,'+  Jl,"  +  . .  .  . 

i.a  1.2 

e  a  corda  MM'  =c;  m  +  in'  ='M. 

O  triangiilo  MM'O  da 

);i        sen  p'     m'       sens        M      senp  +  senp'       sen  p(l  +  co5a) 
= ;   —  = ;  e  —  = = i-fcosp,  porseiR+ s'+a='ir: 

<-         sen  a        c         sen  a  c  sen  a,  sen  n  '  1    1   r   ■ 


324 

do  que  liranios-^=:coi  p-p  sciipcot-a  =  l +-^fi4- 5p' +  C'p' -|-Plc.  :  e  se    «    nuiica  for 

zero,  iicm  exceder  a  ^j  a  scrie  prccedonte  so  pode  fazer  tao  convergenle ,  quaiito  so  quizcr, 
fazendo  ^  convenipntemenle  peqiiono.  Consideraiido  pois  invariavel  o  systema  CMO  M\  e 
fazendo  d«crescer  gradiialnieuio  p  ale  zero,  acliareinos  neste  liiiiile 


1/ 

innttc  d<.\  —  —l    (I) 


I'uri'iii  [Logciidre.   Geoin.    Liv.   4."  prop.  9|.     .17  >  /  >  e     por  coiijoipieiicia  (I.  c  ) 

I 
liwiU  de-=  I (2) 

t)ra  o  tiiangulo  J\IM'  C  dd 
on  c'  =r  j'  (r'  +  J"'')  +  termot  com  poloicias  tie  e  superiores  d  scgunda  :  logo 


■;  c  com  Ulo  acliainos       limilc  Jc-=^ —  -•  c 


si 

-____,  =  1,  oil  s'z:r  J/-7-— rr- 

3.     A  superfieie  CMOM'  e  egual  a^rr^  ^eii  6  + -c  in  sen  p=  /^  (Francocur  Trigmi 


n.'  364.  V.  2,'')5  e  a  do  iriangulo  CMM  =  a~-rr^  sen  «  r    mas     /'>i>Q; 


P                 r?i  sen  pi  1/  r= +)•"  +  ,  0  p 

f>ra  —  =l-j — de  donde      limite  det- — 1 


rr,{l  —  ~  +  m)  « 


6 


2  2  2 

Logo       limttcdc-^=l     mas       — ■=: ^ ,  por  consegnlrile 

O  u      1       ,,      s'     , 


^iW<«  rfe  —  =  -I—  =:  1 ;  oil  e'  =- »•' 
U       1   ,  3 

—  3 
3 


(D  aug^a^iu^© 


9 


JORNAL  SCIENTIFICO  E  LITTERARIO. 


QUARTO   VOLUME. 


COiniBRA 

niPRENSA  DX  UNIVERSID/VDE. 

1836. 


INDICE   ALPHABETICO 


DO 


QUARTO  V0LU3IE  DO  IIVSTITUTO* 


A  ^""^ 

x\chromatismo 179 

A^ricultura  (A)  ilos  Carthag:inezes 285 

Annuncios  em  Inglaterra 220 

Arredores  de  Coimbra 157 

Banhos  de  Luso 61 ,  70,   102 

Bibliofcraphia  23,98,  100,  135,  169,201,  226,  238,274 

Biologia(estudos  preliminares) 21,  35,  50 

Bussaco  (O) 139 

Carla  do  Sr.  A.  Herculaao    195 

»       do  Sr.  M.  R.  de  Vasconcellos 247 

Cerca  do  Bussaco 32,  45 

Chimica  Lecal     10,  55,  69,   81,   120,  188,  258,  267 

Cidade  de  Deos    109 

Collegio  de  S.  Bento 1 33 

Conselho  superior  de  I.  P.  (f.  Relatorios.)  .... 
Costumes    academicos  nas  universidades  Alleraas     260 

Curso  commercial 146 

Despachos   de  inslruc^uo  publica     12,  24,  63,  85,  99 
124,147. 159, 171, 177,203,226,239,  251,275,288 

Dioptrica  (lentes  esphericas.) 25 

Ensaio  sobre  os  principios  de  mecbanica(J.  A.  da 

Cunha) 212,  222,  236 

Ensino  industrial  na  eschola  primaria 209 

Epochas  do  nascimento  e  morte  de  J.  C 96 

Estabelecimento  pecuario  em  Coimbra 57 

Estatistica  do  hospital  dos  Arcos  de  Val  de  VeZ       37 
"  da  Universidade  de  Coimbra*.  ..      107,   190 

Estudos  philologicos 95,  48 

Ferimento  por  arma  de  fogo 284 

Harem  (O)    83 

Indices    de    refrac^uo 167 

Instituto  de  Coimbra 173 

Introduc^ilo 1 

Instruc^ao  primaria 53 

)'  O    passado  e   o  future 256 

w         Resposta  ao  sr.  A.  F.  de  Castilho  .  .  .     279 

Juizo   sobre   a  Eneida  Brasileira 231 

Lexicon    Grego-Ialino 142 

Lusiadas  (Os)   traduc^ao    franceza  do  Duque  de 

Palniella 116,  127,  250 

Luz  (A)  artiGcial 287 

Lyceu  de  Coimbra 201 

Mappas  dos  hospitaes  da  universidade  de  Coim- 
bra       40,    1 48,  227 


Pag. 

Marmier   (X) 214,  272 

Memorias  do  Instituto  de  Coimbra 275 

Memoria  sobre  a  revolu^iio  que  tirou  a  corfia  a 

D.   Sancho  II  ...      153,   185,   198,  208,  218,   232 

Methodo  do  ensino  parallelo, 243,  253,  26« 

Mosteiro  de  Santa  Clara  de  Coimbra    .^0 

"         da  Vacari^a    15 

Musiea(A)    122 

Neerlandia  (A)  e  a  vida  Holandeza 287 

Nolicias  litterarias  e  scientificas     159,  170,   177,   191, 
202,    215,   225,  238,  251,  263 

Nova  escala  thermometrica    129,  156 

Obras  de  Longchamps 80 

"      offerecidas  ao  Instituto 12,   171 

Observa^oes    meteorologicas     64,    76,  136,  160,  172. 

178,   192,  204,  216,  228,  240,  252,  264,    276 

Observations  sur  la  decuuverte  d'un  lac  dans  I'Afriqur 

(V.   de  Santarem) 234 

Optica 25,  72,  167,   179,  203 

Poesia  Slava  moderna 5,   18 

Primeiras  linhas  d'hermeneulica  juridica     11 

Programmas  das  Faculdades 3,   13,  29 

Relatorio  do  administrador  de  Mangiialde     ....       241 
"         du  conimissario  dos  estudos  do  Funcbal     91, 

101,    113,    125 
»         »  »  em  Lisboa     137,   149,   161,   173 

It         t>  »  do  mesmo  sobre  a  Mnemonica     265 

277 

»        "         »         do  Conselho  Superior  de  I.  P.  2, 

41,  65,  77,  89,   193,  206,   217,   229 

)j         M  »  nas  sec^oes     181,  205 

n         »  »  dafaculdadede  mathematica      163 

Rima  (A)   na  poesia   moderna 8,   19 

Salsugem  do  mar 94 

Selectasinha  classica 4 

Sinos  (Os) 68,   165,  223,  271 

Telegraphia  electrica 44,   110,   118,   141 

Theoria  das  parallelas 86 

Tribunaes    Inglezes 176 

Tumulo   do  bispo   D.   Tiburcio 31 

Universidade  de  Coimbra 107,    19(t 

)>  de  Finlandia    131,   144 

Vestigios   da  vida  nas  Gtleiras 262 

Visila  a  Serra  da  Estrella..    95,   104,  128,   145,  158 


COLLABORADORES  DO  IV  VOLUME  DO  LXSTITUTO. 


Adriao  Pereira  Forjaz. 


Agostinho  de  Ornellas  de  Vasconcellos. 

Alexandre  Herculano. 

Antonio  Alves  Pereira. 

Antonio  Augusto  da  Costa  Sitnoes. 

Antonio  Cardoso  Borgcs  de  Figuciredo. 

Antonio  Ignacio  Coelho  de  Moraes. 

Francisco  Antonio  Alves. 

Francisco  A.  Rodrigues  de  Gusmao. 

Francisco  de  Castro  Freire. 

(iaspar  Uibciro  de  Vasconcellos. 


Henrique  O'Neill. 

Ignacio  Rodrigues  da  Costa  Duarte. 

Jacintho  Antonio  de  Sousa. 

Jeronymo  Jose  de  Mello. 

Jos6  Ferreira  de  Macedo  Pinto. 

Jos6  Maria  de  Abreu. 

Marcelliano  Ribeiro  de  Mendonca 

Marquez  de  Sousa  Ilolstein. 

Miguel  Ribeiro  de  Vasconcellos. 

Rodrigo  Ribeiro  de  Sousa  Pinto 

Rufino  Guerra  Ozorio. 


€)  JnotittttiJ, 


JORNAL    SCIENTIFICO     E  LITTERARIO. 


INTRODUCE  VO. 


Comeca  o  quarto  anno  da  publicafao  do 
INSTITUTO,  jornal,  que,  ha  tres  annos,  tem 
resistido  ao  mau  fado  de  todos  os  jornaes  lil- 
tcrarios  dc  Coimbra,  atii  aqui  publicados  — 
o  de  nao  passarem  do  primeiro  anno.  E 
com  ludo  parece,  que,  em  Coimbra,  melhor 
do  que  em  outra  qualqunr  cidadc  de  Portu- 
gal, podia  c  devia  (lorescor  ura  jornal  d'este 
genero;  Coimbra,  que  possue  o  Conselho 
superior  de  instrucfao  piiblica,  uma  univer- 
sidade,  que  consta  de  cinco  faculdades,  com- 
prehendendo,  ao  menos  em  programma,  o 
ensino  universal,  e  uns  mil  e  tantos  mofos 
na  flor  dos  annos,  e  isto  tudo  n'uma  epocha, 
em  que,  seja  dicta  a  verdade,  parece  que  as 
letras  querem  renascer  de  veras  entre  n6s. 

Qual  sera  a  causa  d'esta,  d  primeira  vista, 
inexplicavel  contradiccao?  Longe  de  nos  o 
acceitarmos  a  pouco  airosa  comparafao  que 
se  fez  das  universidades  com  as  fabricas  de 
loufa,  que,  sempre  rodeadas  deinutilrefugo, 
enviam  para  longe  as  primorosas  obras  que 
decontinuo  produzem.  Vejamos  se  podemos 
descobrir  alguma  causa  a  este  mal,  porque  o 
i',  e  grande,  e  se  haverS  algum  remedio  pos- 
sivel,  que  possamos  indicar. 

Comecaremos  pelo  fim.  Porque  6  que 
n'uma  cidade,  onde  ha  mil  e  tantos  raofos,  a 
fldr  da  mocidade  portugueza,  frequentando, 
muitos '  com  aproveitamento,  e  alguns  com 
distincfao,  asdifferentes  aulas  d'umauniver- 
sidade,  porque  nao  ha  de  ahi  prosperar  um,  e 
at6  muitos  jornaes  scientificos  e  litterarios? 
A  causa  nao  est&  na  falta  de  vontade;  nem 
na  carencia  de  talentos,  nem  mesmo  na 
escacez  de  meios  pecuniarios :  pois  os  jor- 
naes litterarios  de  Coimbra  nao  teem  mor- 
rido  k  mingua  de  assignantes;  alguns  talen- 
tos n'elles  se  estrearam,  e  nunca  houve  em 
Coimbra  tanta  apparifao  e  desapparifuo 
de  jornaes  litterarios,  como  nestes  ultimos 
tempos.  Ha  pois  a  forca  e  a  vontade ;  falta 
a  boa  direcrao.  Expliquemo-nos.  Julgamos 
Vol.  lY.  AbriiI- 


que  jornaes  como  o  institcto,  s5o  sobre 
tudo  chamados  a  espalhar  conhecimentos. 
Quem  diz  espalhar,  diz  dividir;  diz  tambem 
dar  uma  f6rma  adequada  a  essas  verdades,  a 
esses  raios  da  sciencia,  para  que  cheguem  a 
todas  as  intelligencias  e  illuminem  todos  os 
olhos;  porque  um  jornal  d'este  genero,  nao 
deve  ser  uma  collecfao  de  monographias.  Para 
esse  fim  6  necessario  certamente  sciencia, 
por6m  ainda  com  uma  sciencia  limitada  s«^ 
pode  fazer  grandes  services,  possuindo  a  fir- 
ma,  isto  6,  0  estjlo,  o  habito  de  escrever,  a 
ordem  e  clareza  de  expressao. 

Esta  forma  6  que  falta  ,1  maior  parte  dos 
mofos,  ainda  os  mais  estudiosos,  e  falta-lhes, 
porque  os  nao  ensiharam,  quando  cumpria ; 
porque  nao  ha  nem  nos  collegios,  nem  nos 
lyceus,  nem  em  parte  alguma  de  Portugal, 
que  se  saiba,  uma  aula  de  litteratura  portu- 
gueza, que  mercfa  tal  nome.  Por  isso  se 
perde  tanta  forfa,  tanta  seiva  de  mocidade, 
que  se  pode  assim  comparar,  obrigada  a 
mostrar  a  vida,  que  a  anima,  por  meio  d'es- 
sas  pubiicafoes  informes  e  sempre  epheme- 
ras, de  que  fallSmos,  a  uma  terra  fertil,  que 
por  nao  cultivada,  produz  magnificas  urti- 
gas  esuberbos  cardos,  servindo  s6  para  aba- 
far  alguma  planta  mais  util,  que,  por  acaso, 
entre  elles  germine. 

Em  quanlo  ks  cinco  faculdades  da  univer- 
sidade,  cujos  lentes  em  grande  parte  sao  so- 
cios  do  LNSTiTUTO  de  Coimbra;  a  de  mathe- 
matica  bastante  tem  ajudado  a  publicafao 
d'este  jornal ;  a  de  direito  tambem  o  tem 
auxiliado,  assim  como  a  de  philosophia;  a 
de  medicina  menos;  a  de  theologia  nada. 
Avaliamos  o  grande  onus,  que  pesa  sobre  os 
hombros  dos  sabios  professores  da  universi- 
dade,  com  tudo  tambem  aqui  os  quizeramos 
ver  a  todos  h  frente  da  mocidade,  dirigindo-a 
n'estas  lides  scientificas,  e  nao  s6n'um  jornal 
senao  em  cinco. 

Do  Conselho  superior  de  instruccSo  pii- 
blica nadadiremos:  os  leitores  do  institito 
teem  sem  duvida  apreciado  as  immensas 
vantagens,  que  o  jornal  e  o  publico  teem 
18'J3.  Nca.  1. 


tirado  da  publicafio  de  relatorios,  que,  fican- 
do  ineditos,  davam  raotivo  a  infundadas  ac- 
cusacoes  contra  aquella  respeitavel  corpora- 
rao.  Somos  progressistas  na  alma,  e  accredi- 
tamos  firmeraente  no  future.  De  cousas  pe- 
quenas  nascem  grandes  cousas ,  havendo 
aptidao  e  boa  vontade.  Esperamos,  que  cssa 
boa  vontade,  esse  amor  pelo  verdadeiro  pro- 
gresso,  que  nao  p6de  existir  sem  a  sciencia, 
juncte,  em  torno  do  institdto  de  Coimbra, 
todos  esses  talentosos  mofos,  que,  ajudados 
pelos  conselhos  e  exemplos  de  sens  sabios 
inestrcs,  alcancem  pela  sua  perseveranja  as 
habilitafoes,  que  Ihes  faltavam,  quandoentra- 
ram  nos  cstudos  superiores;  tornando  assim 
0  UfSTiTUTO  ura  jornal  modelo,  digno  do 
nome,  que  tern,  e  da  sociedade,  a  que  per- 


CONSELUO  SUPERIOR  DE  INSTRUCClO 
PUBLIC A. 


KELATOBIO   ANNUAL. 


1848—1849. 


C'untiDuado  Je  pag    314  do  3."  Tol. 

B.'  PARTE. 

Concltisao  geral. 

A  administracao  central  incumbida  ao  Con- 
selho  superior  niSo  se  fez  com  a  rcgularidade, 
que  0  mesmo  Cousclho  desejava,  per  nao  ter 
sido  geralinente  coadjuvado  pelos  seus  delega- 
dos;  porem  o  Conselho,  contando  com  as  ef- 
licazcs  reconimendacoes  do  governo  de  V.  M. 
a  este  respeito,  e  com  a  reileracao  dos  seus 
proprios  esforcos,  e&pera,  que  este  estado  ha 
de  melhorar  progressivamente.  Em  quanto  a 
inspeccao  e  necessario  procurar  meios  de 
tornar  effeclivas  as  visilas  regulares  dos  com- 
missarios,  e  dos  seus  sub-delegados,  recom- 
mendadas  no  art.  101  do  decreto  de  20  de 
septembro  de  1844. 

A  instruccao  priraaria  e  o  ramo  do  ensino 
puhJico,  que  mais  definhado  se  acha,  e  que 
mais  exige  a  contemplacao  do  ffoverno  de 
V.  M. 

Insta  a  creacao  das  eschoias  normaes;  a 
regularidade  dos  pagamenlos  dos  diminutos 
ordcnados  dos  professores ;  e  o  augmento  das 


eschoias,  quando  nfio  seja  pelos  rccursos  do 
lliesnuro,  ao  menos  pelos  das  camaras  mu- 
nicipaes,  junctas  de  parochia,  misericordias, 
confrarias,  e  oulras  associafoes  de  benefi- 
cencia. 

A  instTaccao  sccondaria  n5o  precisa  de 
maior  numero  dc  esludos  classicos,  porem 
sim  de  se  tornarem  monos  superliciaes.  E 
necessario  alem  disso  dilalar  a  espliera  desta 
parte  de  ensino,  no  sentido  das  disciplinas, 
e  sciencias  induslriaes. 

A  instruccao  superior,  cm  quanto  a  au- 
gmento de  esludos,  apeiias  carece  na  Uni- 
versidade  da  faculdade  de  sciencias  economico- 
administrativas,  para  os  elemcnlos  de  cuja 
organisafao  ja  se  estii  trabalhando  na  Facul- 
dade de  direito,  e  nas  de  sciencias  naturaes. 
Talvcz  para  maior  apcrfeicoamento  e  utilidade 
das  sciencias,  e  mesmo  para  economia  do 
thesouro  publico,  conviesse  rcduzir  todos 
OS  estabck'cimentos  de  instruccao  superior  a 
um  so,  a  Universidade,  concentrando-se  em 
Coimbra  todos  os  esludos  theoricos  no  seu 
maior  grau  de  dcsinvolvimento,  e  annexan- 
do-llic  aqui,  na  capital  e  nas  outras  terras 
populosas,  scgundo  melhor  conviesse,  os  es- 
tudos  de  applicacSo  com  os  seus  estabeleci- 
raentos  devidamente  organisados  para  a  maior 
perfeicao  do  ensino  practico  eulil  dasmesmas 
sciencias. 

Esta  idea  e  a  sua  opportunidade  submette 
0  Conselho  respeitosamente,  bcm  como  todas 
as  outras  lanyadas  neste  relatorio,  a  sobcrana 
consideracao  de  V.  M.,  bcm  certo,  de  que  o 
animo  maternal  de  Y.  M.  sollicito  pelo  pro- 
gresso  da  instruccao  publica  dos  seus  sub- 
ditos,  resolvera  o  que  for  mais  justo  sobre 
tao  importante  objccto. 

Coimbra  em  conselho  de  30  de  novembro 
de  1849.  Jose  Machado  d  Abreu,  vice-rcilor, 
viee-presidente  —  e  assignado  por  todos  o-s 
vogaes. 

Proposta  de  lei. 


E  0  governo  auctorisado  a  dispcnder  a 
quantia  necessaria  a  lim  dc  mandar  comprar 
para  uso  do  observatorio  da  Universidade  de 
Coimbra  os  seguintes  inslrumentos:  Um  in- 
slrumeuto  de  passagera  de  maior  forca  c 
maiores  diraensoes  do  que  o  que  existe  actual- 
mcnte  no  observatorio — um  Circular  mural 
— um  Telescopio  de  forca — ura  oculo  muni- 
do  do  compelente  micrometro. 

E  0  governo  auctorisado  a  dispender  ate 
a  quantia  de  seis  centos  mil  rs.  para  por  a 
disposicao  do  ministro  portuguez  na  corte  de 
Roma,  a  iim  de  comprar  uma  collccfao  dos 
melhores  modclos  em  gesso,  das  estatuas  e 
bustos  antigos  para  uso  da  academia  da« 
bcllas  artes  de  Lisboa. 


$ 


CmERSIDADE  M  COIHBRJ— PROCRABMilS. 

FACVLDADE  DE  DIREITO. 

18S3— 1854. 

3."  e  4.»  ANNO  —  8  '  e  10.»  CADEIRAS. 


l!iSTlTt;l(;oB«    DC   niHEITCl    ECCLESIASTICO,    riELlCO,   PAR- 

TiciLAK  I.  i>oaiU(iUEz  (curso  liltnnalj. 


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L-nles   }  '^•■-  Fraiiciiro  Furreira  dt  Cajvaltio. 

(  Dr.  Joiiode  Sande  (Ic  Maijalliiiis  Alexia  Salema 


tOMPEXDIO  7— GMEINEllt,  INSTlTlTroStS  JDRrs  ECCLE- 
•  IISTICI,  CONI.MBHrCAE  1  850  i  —  K  CiVlLLA  H  ]  I ,  I^ST1• 
TITIONES  JURIS  CA^O.^ICI,   CU.VIMBHICAB  J81C. 

As  li(;8es  s5o  ordenaclas  e  ss  materias  explicadns  pelo 
niellioilo  •ynlhelico  — ilsmonslralivo  r(jin|)emliano,  nian- 
«IaJo  oLfervar  pelos  Eslaliilus  da  Uiiiveisidade  de  1772, 
■B  que  <al)inraeiile  «e  acha  rr^iilado  por  elies  niesmoi  no 
J"-.  «.  til.  3.  cap    1.   desJe  w  J.  13  a  i'i. 

Coini'^ara  as  li(;o<i»  por  noc.oes  elemenlarrs  do  Dircilo 
■ccdesiaslii-o,  pulilico  uu  canoiiico  comiiium  e  universal: 
faiem-«e  con»idora(;ops  a  cerca  da  iniporlancij  d'esle 
•Direilo,  e  do  di»tinclo  io'.-ar,  cpie  elle  occiipa  enlre  us 
clemais  scieiirias  ,  que  rompoem  o  qiiadru  da  Faculdade 
We  Uireilo:  tio  exposlos  os  priniipjus  geraes  do  Dircitu 
canoDico,  dando-sc  a  ronheCL-r  a  sua  naliireza  pela  deli- 
oitao  do  mesiiio  Dircilu  ;  pelns  dilTercnles  acwp^Ses,  em 
(Jlie  «e  loma,  c  especies  (pie  lia  dVlle;  pelas  verdadeiras 
fonles,  de  (jue  se  deriva  ;  pela  urigeni.,  pro-iessos ,  e 
Bllera^oes  a  cerca  d'elle  ;  e  jielo  sen  uao  e  auiloridade 
cm  lodas  as  «ccepi,oes  ,   em  que  po.le  ser  considerado 

Km  segiiida  Iracla-se ,  em  geral  ,  do  loieriio  da  socie- 
dade  liumana  pelos  dois  poderes ,  espiriluol,  e  temporal  ; 
era  geral  tamliein,  da  cialnreza  e  indepeodencia  do  sneer- 
docio  e  do  ioiperio  ;  do  objecio  das  suas  allribuici5es  e 
.dos  »eiis  IJmiles ;  da  iiecr-ssidade  de  eslarem  em  har'monia 
e  de  »e  ausiharein  reriprocamente  ,  bem  como  do«  metos, 
que  dciem  ser  empre^^dos  para  e(se  fira. 

Da-.ehiima  ndaia  liisfonea  das  diircrentes  collec(;3c8  , 
de  que  se  coiiipoe  o  corpo  de  Direilo  canonico:  do  direi- 
lo nonssimo  do  i-oiu-ilio  de  Trenio ,  assim  como  do  uso  e 
•uucloridade  legal  dVslas  colleci;oes ,  sem  se  oraillir  o  que 
lia  a  re>peilo  da  collrr^o  de  Isidoio  Mcrcador ,  ea.  ra- 
Eao  das  jio\a«  luasimns,  coui  que  veiu  allerar  o  Direilo 
canoiiico  primili\o  ;  l.em  como  uma  nolicia  litteraria,  e 
liibliographiia  do  Hireito  ranonico,  assim  commura, 
Cunio  parlu-iilar  da  E^rreja  liisitana 

Trada-se,  em  singular ,  da  cunsliluii-ao  e  organisarao 
da  .ociedade  ecclesiaslica  ;  das  qoalidailes  especiaei ,  que 
a  dHliurtiera  das  outras  sociedades  ;  das  faculdades ,  que 
Ihe  comprl-m  ;  d.s  raembros,  de  que  ella  se  coni|iOe  ;  das 
pessons.que  form.im  a  hirrarctiia  erclesia.lica,  e  dos 
«eus  direilos  eobrig;i,;o..s,  scgiindo  o  gran,  que  cada  uma 
na  raesma  oc<ii|ia  ;  da  fdrma  da  sua  eleiqilo  em  geral ;  e 
por  quem  sao  lioje  eleilos  na  Egrejn  porlugueza,  e  por 
que  molivo  ;  jior  quem  sao  conOrmados  :  a  quaes  o»  irre- 
^uiart-e. 

Finalmenle  rersam  as  li^Bes  a  cerca  das  cousas  cspiri- 
toaes,  d'enlre  as  quaes  le  escoihe  com  preferencia  a 
maleria  de  sacrameulos  para  d'elles  se  Iraclar  ;  a  cerca 
das  cousas  sagradas  ,  religiosas,  e  leniporaes  ,  e,  dVnIre 
«las,  se  csrollie  a  maleria,  em  geral,  dos  bens  eccle- 
siasticos  e  da  sua  admini8lra.;ao  segundo  a  disciplina  anti- 
fe'a,  dos  reddUos  acluaes  d.is  egrejas ,  e  da  dota^So,  em 
especial,  do  clero  e  cullo  ;  a  cerca  da  nalureia  e  origem 
Uos  benelicios  ecclesiaslicos  ,  e  da  sua  colla^ao  ;  das  pes- 
«ons  a  quem  devem  ser  conferidos ,  e  da  obriga^ao  de 
■resiilirem,  bem  como  ,  por  essa  occasiao  ,  do  direilo  de 
padroado,  e  do  que  ha  a  respeilo  d'esle  na  Egreja  por- 

Como  n3o  cabe  mi  tempo  lecliro  dos  dois  nnnos  seguir 
odo  o  syslema  do  Direilo  canonico ,  on  publico  on  par- 
ticular ,  em  cada  urn  dos  seus  arligos  ,  sem  excep.;ao  de 
•Igum,   08  prof.ssor.s  escolhem  ai  materia!  ,   que  julgam 


mais  impntlanles  para  a  cerca  d'ellas  lercionarem :  e, 
pur  ticcasiSo  das  lii;opt,  adduzeni  a  proposito  os  prin- 
cipios  philosopUicos  das  scienciai  auxiliares,  bem  como 
OS  da  hisloria  sagrada.  e  da  ecclesiaslica ,  assim  universal 
como  parlirular  da  Egreja  porliigueza ,  apreseolando  o 
eslado  publico  da  Eirreja  a  lodos  ih  respeilos  ;  ebem  como 
opporliinaroenle  vSo  Iraclanuo  d'o  que  se  acha  eompeten- 
teraente  estaluido  a  cerca  das  liberdades  da  Egreja  por- 
liigueza. 


.■!."  e  4.''  ANNO  — 9.'  e  11."  CADEIRA. 
DiHEiTo  cim  roRTiuuRz.  (Curso  bitnnal). 

!lJr.  Jnlonio  da  Cunha  Pireira  Bnndiira  dt 
Xeivn. 
Or,  Joat:  Matioel  Rnas, 

COMPE>niO  — M.     A.     C.     DAROCMA,     IXSTITUII.OES    DB 
DIRBITO  CIVIL  PORTl'GUEZ  ,  COI.MBRA    1852. 


NVsIas  Institui^fies  se  propi^n  o  digno  professor  irailar 
o  svslema  ,  e  piano  geral  do  accredilado  il/anuri  de  Droit 
Roiitain  de  v.  .mackeldei  ,  professor  da  Uiiiversidade  de 
Bonn  :  comr<;ando  a  sua  obra  por  uma  breve  introduc^ao 
ao  estudo  do  Direito  civil  porluguez,  onde  se  conl^m 
as  no^oes  geraes  e  hisloricas  sobre  as  leis  e  fonles  do 
Direilo;  e  que  corresponde  aos  litulos  do  Digeslo  —  de 
jtistilia  et  jure  —  ,  e  —  de  legibui. 

Depois  divide,  como  aquelle  ,  as  suas  Insliluijoes  em 
iliias  paries,  uma  geral ,  c  outra  especial :  na  parte  geral 
colloca  o  que  se  pdde  chamar  a  technologia  da  Sciencia, 
islo  e  ,  as  deGnii;oes  coramiins  ,  e  principios  mait  geraes , 
lie  que  continiiadamenle  tera  de  se  fazer  uso ,  e  applica- 
i;io  na  parte  especial:— e  esla  divide-a  em  tres  livros , 
com  atten(;ao  aos  tres  elementos  do  direito, —petsoas, 
cousas,  e  aclos  Jiiridicos. 

No  li\ro  1."  Iracla  dos  direitos,  e  obriga^Ses ,  que 
derivam  dos  diversus  eslados  das  pessoas  ;  toniando  por^m 
so  em  considera^ao  os  jirincipaes  d'esses  etlados  ;  «  sub- 
divide 0  livro  em  seis  sec^'Ses. 

Na  1.^,  considera  as  pessoas.  em  quanlo  ao  estado  de 
cidade;  —  porliiguezes,  e  etttangeiros. 

Na  2.',  e  3.*,  em  quanto  ao  eslado  de  familia ; — 
conjuges  ,   paes,  c  fllhos. 

Na  4.*,  em  quanto  ao  estado  de  parentesco 
Na  5,*,  em  quanto  ao  eslado  de  incajtacidade  para  se 
reger ;  —  meiiores  e  iiiterdictos. 

E  (inalniente  na  6.*,  Jem  quanto  ao  estado  de  ausenles. 
No  livro  2."  tracla  dos  direitos  cousiderailos  com  rela^ao 
ao  objecio ,  sobre  que  versam  ,  —  as  cousas  :  e  debaixo 
d'esle  poiilo  de  visla ,  tracla  principalmenle  dos  direitos, 
que  se  exercera  sobre  o  uso,  disposiijao,  e  posse  de  uma 
cousa  ;  OS  qiiais  os  JCtos.  romanos  enumeravam  nas  diffe- 
rent<-8  especies  de ^u*  in  re,  e  que  oaiictor,  seguindo  os 
raodcriios ,  comprehende  na  expressito  geral  de  proprieda* 
de  ;  accrescentando  ahi  os  modos  dendquirir,  quando  pro- 
vcm  immediatamente  da  disposii;ao  da  lei ;  e  reservando 
para  o  livro  3.'^  fallar  da  sua  oulra  causa  elDciente  e  im- 
medinla,  os  actus  juriditios. 

Subdivide  o  livro  2.°  era  nove  sec^oes.  Na  1.*,  tracla 
da  propriedade  em  geral.  Na  2.*,  dos  modos  de  a  adqui- 
rir  em  virtiide  da  mrsma,  Na  3.*,  da  posse  e  prescrip93o. 
Na  4.*,  da  propriedade  coinmum.  Na  5.*,  tracla  da  pri- 
nieira  especie  de  propriedaile  limilada,  os  vinculos.  Na 
6.*,  da  empbyteuse.  Na  7.*,  das  servidoes.  Na  8.',  do 
usofriiclo,    Na  9  *,  do  penhor  e  hypolheca. 

No  livro  3.°  Iracla  dos  direitos  e  obriga^oes ,  em 
quanto  aos  aclos  juridicos,  reduzindo  estes  a  diias  clas- 
ses principaes  :  1.'  dos  aclos  ou  dis|iosii;Ses  de  ultima 
vonlade,  ou  cau»n  mortis:  2.*  dos  aclos  inter  vivos;  a 
que  principalmenle  pertencem  os  contraclos. 

Subdivide  o  livro  3.°  em  seis  secijoes.  Na  I,*,  tracla 
das  dis|iosii;5es  de  ultima  vonlade.  Na  2.",  dos  contraclos 
em  geral.  Na  3.*,  dos  cunlractos  gratuitos,  Na  4.^,  dos 
onerosos.  Na  5.*,  dos  alcatoiios.  Na  6.%  Onalmente  dot 
accesiorioc. 


E  esiR  a  base ,  que  o  aiirlor  aJo|itou  p.ira  a  diitribui- 
Vuo  1,'oral  lias  iloiitiinns  do  Direilo  Ciiil  Porluguez  ;  com 
vxcIiui\o  (lorum  dug  que  duein  respeilo  au  Proceito^  <]\k: 
|"ir  l-'i  perlenccra  a  caileirn  de  Jiiris|iriidt;iicia  Kurninlaria 
e  Eiiremalii-a  :  e  e  tarulttfin  se^iindo  csla  mesmn  liase ,  e 
por  Mia  mesma  ordcnl ,  i|ue ,  com  aliriimas  altcia^ors  , 
coslumamus  por  ora  re);ular  as  |ireleri;ocs  a  nosius  ouvin- 
le»,  pelo  mi'lliodo  S)nlh«'lico  dcmunslralivu,  oa  coufor- 
luidade  dos  Etlallilos  dVsU   Unheraidade. 


4.»  ANNO.  — li  '  CADEIRA. 

DtKItlTO    COMMBRCI.IL    &    M4HITIMO. 

COMPENDIO  — CODIGO  COMMERCIAL  POHTl'GCEa, 
CUIMBRA    U151. 

Lcnie —  B«riw  de  Sanct' lago  de  Lordelh. 

Do    COMMBRCIO    l>B  TBRRA, 
I. 

Inlroduc(;3o.  Noqoei  i,'erafs  de  Commercio,  considi-ra- 
do  dctiaixo  de  diversas  rela(;Bes,  especialinenle  em  rpianlo 
:'i8  leis ,  que  regem  as  siius  tiansac^aes  ,  e  a  Jurispruden- 
rja  commercial. 

Breve  notlcia  hislorica  da  legislB<;aa  porlustipia  sohrp 
Commercio,  aalerior  an  Codigo  do  Senior  D.  Pedro  4° 

—  Id^a  geral  d'esle  Codijo. 

Ados  commerciaes — mercados  —  feiras — praijas  de 
Commercio. 

Comniercianles  em  geral  ,  e  siias  diversas  especies  Dos 
commissarios  —  consiiiiialarios  —  canibislas  ,  e  banqueiros 

—  empresarioi,  es|iecialmente  de  Iransportes  ;  rr'coveirus 
Empreirados  commerciaes  ;  feilores  ,  jiiardalivrus ,  cai- 

xeiros  —  cofretorcs  de  prai-a  ,  e  iiiterprelcs  de  naiios 

Obrigacjoes  e  ileveres  commons  a  lodos  os  que  jirufes- 
tam  Commercio   em  gtral  —  escriplnra(;3o,    e  correspon- 

dencia   niercantil  —  re-i,lo    pul)l]co     do    Commercio  

prcEta^iio  de  contas. 

U. 

Naliircza ,  forraacjSo  ,  e  elTeilos  das  obrigai;oes  enire 
coramprci»nle  —  muluo  mercanlil,  e  jiiros  commerciaes. 

Commodato  —  depositor  penlior. 

Mandalo  mercanlil  —  commissao  —  consigna^iio. 

Fiant^as  commerciaes. 

Compra  e  venda  mercanlil  —  escombio  on  Iroca  mer- 
canlil—  loca^Soe  condiic<;,1o  mercanlil  —  empreiladas 

Conlracio,    e  lelras  de  camliio  — bilheles  a  domicilio 
e  ordem  —  lelras  .le  terra  —  ordeiis  — livrancas  —  cheques' 

Cartas  de  credilo. 

AssocinijSes  commerciaes.  Socied.-\des  mercanlis. 

Modos,  por  que  «e  dissolvem ,  e  se  dislingiem  as 
obrigaijOes  commerciaes. 

Indemniza^Oes  por  inexecujao  dos  eonlractos  e  obri- 
gai;3e8  mercanlis 

III. 

Quebras  —  rehabilila^Bcs  dos  fallidos  — raoralorias. 

Do    COMniEHCIO    IHIRIT7MO. 

Breviesima  nolicia  Inslorica  das  rollccijOes  d'usos,  costu- 
mes,  e  leis  sobre  Commercio  Maritim  o  dos  povos  mais 
commerciaes   aniigos  ,  e  modernos. 

Das  embarca<;5e8.  Dos  douos  de  navies  —  parceria  ma- 
ritima,  e  compart,  s  —  caixas.  Capitr.o  ,  contra-mestre — 
pilolo.  Ajusle  esoldadas  dos  oHiciaps,  e  geiiles  de  Iripll- 
la^Bo,  sens  direitos  e  obriga,;6es.  Frelamenlos  — conhe- 
cimcntos. 

Principaes  accidenles  ,  antes  e  depois  de  comecada  a 
viagem,  de  que  resullem  direitos  e  obriga(;oes.  —  \lm\. 
joav'So  — encalhc,  c  vara(;ao  — naufra?io,  e  fragmcntos 
naufrasos  —  alijaraenlos  —  a  rrestus  —  prezas 

Arribadas^  Cunlracio,  de  risco ,  i  grossa  avenlura, 
tollomri/i.  Seguros.   Avarias, 

Extioc^ao  das  obrigavSes  em  materia  de  Direito  Ma- 
ritimo. 

A'.  B.  Sobre  pontes  raais  iroporlanlcs  de  cada  uma 
destaa    nialerias ,   especialmenle   u    cerca   d'aclos ,    que 


sejom  pracllcados  no  nosio  paii  para  terem  execiirSo  era 
paizes  exirangeiros ,  ou  vice  versa,  »e  dara  nolicia  da 
legislat^ilo  exirangeira  dos  psizes  priunpaes,  com  cpiem 
o  iiossu  tern  mais  freqiientes  reiaroes  cuminerciaeSf  quan* 
do  a  legi<lai;ilo  d'clles  for  differeulo  da  no.sn. 
.S'e  0  tempo  permitlir,    te  tracliira. 

Da  organiza^ao  do  foro  commercial ,  e  eompetencia  do 
juii. 

Dos  tribiinaes  de  1.*,  e  8.*  iuslaiicia. 

Dat  ac^Ses  commerciaes. 

Das  provNS 

D.IS  decisOes  judiciaeg  e  A^m  recursos. 


INSTRUCg.VO  PRIMARU. 

Nclccfasinha   Clanslca    pnrn   uito   dai* 
eNcIioIa«  do  diNtricIo  dc  .ln|;ra. 

Dislinguem-se  entre  todas  as  nossas  escho- 
las  primarias  as  das  IHias  adjaccntes  pelas 
mclhores  habilitacOes  dos  seus  profcssores, 
regular  frequencia  dos  alumnos,  capacidade, 
siluacao  e  mobilia  das  casas,  no  que  niuito 
se  deve  ao  zelo  e  esforfos  das  camaras  niuni- 
cipaes  respectivas;  c,  o  que  a  tudo  sobreleva, 
a  sustentacao  das  escholas  e  a  meiios  gravosa 
ao  thesouro;  porque  o  palrioiismn,  amor  das 
letras,  e  espirito  geral  de  bonelicencia  dos 
liabitantes  insularcs  tern  applicado  ao  cnsino 
popular  OS  sobejos  dos  reiHliiiiciitds  das  ir- 
mandades,  confrarias,  junctas  de  parochia,  c 
niuiiicipios,  afora  avultados  legados,  esubscri- 
pcoes  espoiitaneas,  que  a  virludc  de  nacionaes, 
e  estrangeiros  esla  diariameule  promovendo. 
Oxala  tao  bons  exemplos  fossem  iniilados  no 
continentel 

Os  bons  livros  elementares  siio  ainda  hoje 
uma  das  prrmeiras  necessidades  para  o  nosso 
cnsino  priniario  a  pezar  da  collecrao  valiosa, 
que  ja  possuinios,  devida  ao  palriolko  cm- 
empenho  de  alguns  bons  escriiilores.  Sentin- 
do  cssa  neccssidade  o  sr.  Moniz  Barreto  Corte 
Real,  commis.sario  dos  cstudos  na  llha  Ter- 
ceira  coraraettera  aelevada,  bein  que  ingrata, 
empreza  de  colligir,  c  coordenar  excerptos 
escolliidos  nos  Hvros  dos  mais  dislinctos  escri- 
ptores  portuguezes,  princiiialiiuMile  nas  obras 
do  nosso  doutissimo  Vieira,  formaudo  desta 
arte  colleecao  rica  em  volume  poqueno,  accoi- 
raodado  as  foreas,  gosto,  e  poucos  haveres 
da  maior  parte,  dos  alumnos  d'aquclle  ramo 
d'instruccao. 

As  excellentes  maximas  moracs,  bons  exem- 
plos, OS  dictos  sentenciosos,  e  espirituosQS 
acbam-se  reunidos,  e  disposlos  methodica- 
niente  n'aquelle  livrinbo,  conslituindo  assim 
uni  codigo  de  moral  da  infancia.  Nem  teem 
mcnos  valor  as  encyclicas  dirigidas  aos  chefes 
de  familia  a  bem  da  frequencia  das  escholas, 
e  as  allocucoes  feitas  pelo  mesnio  comraissario 
aos  seus  discipulos,  que,  impressas  no  princi- 
pio  da  obra,  Ihe  servera  de  valiosa  intro- 
ducfao. 


Quizeramos  para  dar  alguma  idea  do  ma- 
nual transcrever  dclle  alguns  trcchos.  Nao 
soiihenios  acliar  a  preferencia.  Fora  mister 
copial-o.  So  nao  resistiremos  a  teiitacao  de 
repetir  uma  seiitenca,  que  parece  talhada  de 
nioide  para  o  cstado  actual  das  transforma- 
foes  sociaes. 

<c  Facam  o  que  i/uizerem:  em  qtianlo  se  nao 
cuidar  e/fectivamciile  na  educacdo  da  plebe, 
assim  politica  coino  rcligiosa,  verao  sempre 
perpetuada  a  cadi'a  das  desordens,  que  desa- 
fiam  a  nossa  magoa :  porque  em  fim  e  grande 
ioucura  esperar,  que  venha  a  ser  melhor  a  ge- 
racao  futura,  se  Ihe  nao  fornecermos  outros 
recursos,  que  nao  teve  a  nossa.  »  (d.  fr.  caet. 

BBANDAO.) 

Cremos,  que  muito  aproveitou  ao  auctor  da 
Selectasinha  a  cxcellente  produccao  do  sr. 
Antonio  Cardoso  Borges  de  Figueiredo,  vogal 
do  Conselho  su])erior  d'instruccao  piiblica,  pu- 
blicada  sob  o  titiilo  de  —  Logares  Selectos  — 
e  hoje  adoptada  era  todas  as  escholas  do  con- 
tinente:  mas  na  boa  escolha  de  alguns  fra- 
gmentos,  que  Ihe  addicionou,  deu  prova  in- 
contestavel  de  inteliigencia  distincta,  e  de 
apurado  gosto.  Se  ja  possuiaraos  a  Selecta 
Classica  do  sr.  Cardoso,  nem  por  isso  se  havera 
por  superflua  ou  inutil  a  do  sr.  commissario 
dos  estudos  de  Angra. 

Obras  destas  nao  se  avaliam  pelo  vulto, 
que  apparcce:  antes  o  contrario  se  requer 
para  a  facil  propagacao  do  ensino  popular. 
Os  livrinhos  de  pouco  preco,  e  facil  conduo- 
jao,  se  elles  encerram  as  boas  doutrinas,  e 
sacs  preceitos  em  phrase  pura,  clara  e  concisa, 
sao  verdadeiros  thesouros  de  meninos,  e  titu- 
Jos  de  gloria  para  seus  auctores. 

Assim  conceituamos  o  livrinho,  que  pren- 
deu  a  nossa  attencao;  assim  queremos  render 
culto  siucero  a  virtude,  que  muito  desejamos 
ver  imitada  pelos  funccionarios  da  administra- 
fao  iitteraria.  Modesto  escra  pretencoes,  o  sr. 
Moniz  Barreto  tem  merecido  mais  que  outros 
apregoando  por  toda  a  parte  as  suas  obras, 
Jevados  talvez  de  ambicao  ou  arareza. 

E  porque  sejamos  em  tudo  francos  e  sincc- 
ros  nao  occultaremos  o  desejo,  que  sentimos 
dc  ver  a  2.'  edicao  da  obrinha  tirada  em 
typographia  mais  aperfeif  oada ;  e  supprimido 
0  exemplo  da  ingratiddo  dos  portuguezes,  por 
aao  «xp6r  a  luz  meridiana  o  que  devSra  nao 
sahir  das  trevas.  M. 


POESIA  SLAVA  MODERNA. 

Cootinuado  de  p»g.  890  3.°  vol. 

0  principio  d'esta  poesia  de  Lermontof  6 
perfeitamenle  russiano,  mas  ao  cabo  de  qualro 
paginas  ja  die  se  mostra  afadigado  com  ella. 


Seainda  parece,  queforceja  porvibrarojfotuk', 
OS  sons,  que  tira,  sao  falsos.  0  joven  fciribie- 
vithc  responde  ao  tsar,  que  o  seu  fogoso  caval- 
lo  pula  de  contente  debaixo  delle;  que  o  seu 
kaftan  ainda  esta  cm  bom  uso ;  que  o  seu 
kalpak  briiha  como  sempre;  mas  que  tem  o 
cora^-ao  ferido  mortalmente  por  causa  de  um 
amor  mal  correspondido.  Persuade  o  tsar,  de 
que  a  sua  amada  e  uma  menina,  e  que  nao 
podcndo  enternecel-a  e  veneer  os  seus  desdens, 
tudo  no  mundo  se  Ihe  torna  amargo.  E  por 
isso,  que  elle  conjura  o  tsar  para  que  o  deixe 
partir  para  a  companhia  dos  Cosacos  livre.s 
do  Volga,  onde  possa  encontrar  debaixo  de 
alguma  lanca  musulmana  a  morte  suspirada 
combatendo  os  Tartaros,  inimigos  da  cruz  e 
da  patria.  Els  aqui  na  verdade  um  comejo 
de  amor  spiritualista  no  gosto  popular  siavo; 
mas  em  breve  se  rcconhece,  que  nao  c  mais 
do  que  uma  negaca  do  poeta  para  engodar 
as  almas  simplices,  e  impregnal-as  depois  mais 
facilmente  no  seu  sceplicisrao  gelado.  0  tsar, 
condoido,  decidiu-se  a  dotar  ricamenle  o  seu 
pagem  e  a  casal-o  com  aquella,  que  tanto  ama. 
E  neste  ponto  termina  o  auctor  a  primeira 
parte  do  seu  canto,  excitando-se  a  si  mesmo 
nestes  termos:  «Eia,  goiislar,  nao  cances  no 
teu  cantar.  Despeja  a  saiide  dos  teushospedes 
um  copo  de  vinbo  espumoso,  e  afina  o  teu 
(jousle. 

Ja  a  noite  se  approxima,  o  sol  esconde-se 
por  dctraz  dos  sanctuaries  do  Kremle.  Sen- 
tado  em  frente  da  sua  loja,  depois  de  haver, 
durante  todo  o  dia,  convidado  com  boas  pa- 
lavras  os  passagciros  para  Ihe  comprarem 
algumas  das  suas  ricas  pecas  de  seda,  o  joven 
gost  Estevam  Kalachnikov  fecha  o  seu  armazem 
com  uma  fechadura  allcma.  Deixa  de  guarda 
um  cao  de  presas  ameajadoras,  e  vae  para 
casa  reunir-se  com  a  sua  joven  esposa,  Alena 
Dmitrevna;  mas  nao  a  encontra  e  acha  os 
seus  filhinhos,  ainda  por  deitar,  chorando  e 
amofinando-se  sem  sabeyem  porque,  como  se 
estivessem  para  morrer.  Esta  ausencia  de  sua 
mulher,  n'uma  hora  tao  adiantada,  aterra 
a  alma  de  Kalachnikov.  OIha  inquieto  da 
janellaparaa  rua,  que tolda  uma  noite sombria, 
e  onde  os  flocos  da  neve  apagam  todos  os 
signaes  de  pegada  humana.  Finalmente  sente 
uns  passos  precipitados,  e  a  porta  da  sua 
habitacao  se  abre.  0  poder  da  cruz!  Diante 
delle  apresenla-se  a  joven  esposa,  com  os 
cabellos  desgrenhados,  cuberta  de  gfilo,  olhan- 
do  com  olhos  de  louca  e  murmurando  pa- 
lavras  imcomprehensiveis.  Por  dm  cahe  de 
joelhos  aos  pes  de  seu  marido  indignado: 
oMeu  senhor,  sol  de  meu  coracao,  mata- 
me,  se  assim  queres ;  nao  receio  a  morte  nem 
0  escarneo  dos  homens:  do  mundo  so  receio  a 
perda  do  teu  amor  I »  E  conta-lhe  por  fim, 
como  fora  assaltada  na  rua,  debaixo  da  neve, 
pelo  pagem  tsariano  Kiribievithc,  no  meio 
das  gargalhadas  dos  visinhos,  que  espreitavam 


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das'jancllas,  c  fomo  tivora  de  deixar-lhc  uma 
parte  dos  vostidos  para  escapar  a  sua  violcncia. 

0  esposo  iiltrajado  decidc-sc  a  ir  provocar 
0  joven  ])agcm  a  urn  duello  as  punhadas.  I'cde 
a  sens  iniiaos  niais  novos,  (|uc  Ihe  sirvam  de 
padrinlios,  e  (|ue  o  vinguein,  sc  aeaso  suc- 
cunihir.  Seus  irniaos,  (|ue  scmpre  foram  de- 
dicados  a  sen  irniao  mais  velho,  Ihe  respon- 
dem:  K^uaiido.  apromptando-se  para  iinia 
carnilicina  eminente,  a  aguia  eslende  nos 
ceos  as  suas  garras,  logo  os  lilhos  acodeiu  ao 
sou  reclaiuo.  Tu  es  o  nosso  segundo  pae:  por 
toda  a  parte  te  scguiremos,  ao  turaulo  mesmo 
se  tanto  for  iiccessario.» 

A  aurora  comeca  a  despontar;  do  alto  dos 
ceos  sorri  para  a  terra;  c  mira-se  como  uma 
Venus  nas  cupulas  lustrosas  c  doiradas  do 
Krcnile.  0  tsar  no  mcio  da  sua  drujina,  ou 
cdrte,  sahe  do  seu  palacio,  e  caminlia,  seguido 
dos  guardas,  para  a  vasta  praca  de  Moscou, 
toda  branea  de  neve.  Manda  alii  formar  ura 
grande  circulo  com  uma  cadea  de  prata,  pas- 
sando  de  poste  a  poste  n'um  comprinicnto  de 
vintc  e  cinco  toezas.  Apenas  formado  o  circulo, 
e  quando  uraa  multidao  compacta  se  tinha  | 
apinhado  em  volta,  o  tsar  grita  aos  seus 
guardas:  uQue  e  dellc  o  athleta  que  se  proni- 
ptifica  a  cncelar  a  lucta  com  um  rival?  Esse, 
([ueentre  no  circulo.  Diverti  o  yosio  buUuchka  ' , 
mcus  lillios!  Aquelle  (]ue  malar  o  outro,  cu  o 
recompensarei ;  em  quanto  ao  que  for  morto 
assini,para  divertimento  do  seu  tsar,  essecuida- 
ra  Deusde  o  rcconipensar.»  Ninguera  se  apre- 
senta.  Por  fim  o  joven  Kiribievitch,  para  com- 
prazer  a  seu  senhor,  salta  na  arena,  e  pro- 
voea  OS  mais  atrevidos  dos  concidadaos.  De 
repente  abre-se  a  multidao  dos  curiosos,  o 
gost  Kalachnikov  adianta-se,  prosterna-se  ante 
0  terrivel  tsar,  pede-lhe  licenca  para  luctar 
contra  o  seu  pagem,  e  tendo-a  ohtido,  entra 
no  circulo  fatal.  0  marido  ullrajado  lixa  sobre 
0  seu  inimigo  uma  vista,  em  que  se  pinta 
todo  0  seu  furor.  0  joven  pagem  inipassivel 
diz-lhe:  «Valente  athlela,  quererias  tu  favore- 
ccr-me  com  o  teu  nome  e  o  da  lua  familia, 
para  que  no  fim  do  combale  eu  soubesse  por 
quem  deveria  mandar  dizer  o  oflicio  dos  de- 
functos?)) 

Eu  sou,  Ihe  responde  o  adversario,  Estevam 
Kalachnikov,  de  boa  e  honrada  familia.  Tenho 
vivido  na  lei  do  Senhor.  Nunea  requestei  a 
mulher  do  proximo;  nem,  como  tu,  medeslizei 
atraz  dos  seus  passos  com  o  fim  de  a  deshon- 
rar  nas  trevas,  longe  da  claridade  do  dia. 
Assim,  fallaste  a  verdade,  nada  mais  certo,  a 
nianha  cantar-se-ha  por  um  de  nos  a  missa 
dos  defunctos. 

Perturbado  com  estas  exprobracoes,  o  provo- 
cador  desniaia,  seus  olhos  se  obscurecem,  um 
tremor  gelado  Ihe  coa  pelos  ossos;  mas  em 


'   Baliuchka,  papdzinho,  nome  familiar,  que  se  diao 
tsar. 


breve  tornando  a  si,  .salta  sobre  o  sou  rival, 
e  com  uma  punhada  no  peilo  Ihe  I'az  voraitar 
sangue.  0  gost  responde-Ihe  coui  oulra  pu- 
nhada sobre  a  fonte  esquerda.  0  pagem  solta 
um  ligeiro  suspiro,  c  rola  ja  morto  sobre  a 
neve. — Que  fizestc?  grita  furibundo  o  tsar  a 
semelhante  vista.  Foi  de  jjioposito,  ou  seiu 
querer,  que  assim  me  mataste  o  melhor  do? 
nieus  athletas? — Tsar  orthodoxo,  responde  o 
gost  Kalachnikov,  foi  com  toda  a  minha  boa 
vonladequeeu  malci  o  teu  pagem  Kiribievitch. 
Agora  podes  torturar-me,  fazcr-iiie  raorrer 
como  quizeres,  mas  nao  abandones  os  meus 
dois  orfaoszinhos  e  a  minha  joven  viuva — 
Pois  hem!  por  me  fallares  com  taiita  franqueza, 
eu  mandarei  educar  a  minha  cusla  os  teus 
dois  hlhos,  e  darei  uma  pensao  a  tua  viuva. 
Em  quanto  a  ti,  meu  lilho,  sobe  aqui  a  este 
cadafalso,  para  offereceres  a  tua  cabeja  em 
holocauslo  ao  cutelo  imperial .... 

0  sino  funebre  do  sobor  (cathedral)  dobra 
OS  signacs  da  agonia.  0  joven  gost  envia  a 
Deus  as  suas  ultimas  oracOes,  e  cohre  de  beijos 
um  relicario  dc  Kiocv,  (pic  trazia  pendente 
ao  pescoco;  recommenda  a  seus  irmaos  a  sua 
triste  viuva  e  os  seus  (ilhos ;  depois  cncaminha- 
-se  subindo  para  o  algoz,  que  o  espera  para 
Ihe  decepar  a  cabeca. 

Eis  aqui  a  forca  hiula  a  mais  iniqua  de- 
capilando,  em  nome  de  uma  perlendida  justica 
imperial,  um  nobre  defensor  da  moral,  um 
martyr  do  dever  domeslico!  E  o  poela  nera 
ura  suspiro  solta  a  favor  desla  vlctima.  No 
tim  da  poesia,  exclaraa:  oEia,  meus  que- 
ridos  hospedes,  molhae  de  novo  a  garganta 
do  gouslar.  Nos  comecamos  beni,  e  bem  nos 
cumpre  tambcm  acahar.  Uonra  e  justifa  a 
quem  sao  devidas.  Ao  senhor  hospitaleiro 
slaoal  a  sua  linda  esposa,  slaval  e  a  todo  o 
povo  orthodoxo,  slaval « 

De  todos  OS  poemas  de  Lermontof,  de  que 
temos  nolicia,  este  e  o  unico  em  que  mostra 
manil'esta  intencao  de  se  inspirar  do  goiislo, 
mas  Lermontof  ri-se  evidcnlcmente  desta  poesia 
primitiva.  Para  esle  cosmopolila  embriagado 
com  as  suas  experiencias,  eulastiado  de  tudo 
por  ter  de  tudo  abusado,  voltar  a  simplicida- 
de  ruslica  e  inlanlil  dos  cantos  do  govslo,  era 
humilhar-se  muilo.  Preferiu  escarnecer  della; 
e  isso  era-lhe  mais  facil. 

Se  da  Slavia  oriental  pass;imos  para  os  sla- 
ves do  occidente,  vamos  dar  ahi  com  o  slavis- 
mo  ainda  mais  mutilado,  e  com  o  gouslo  em 
maior  degradacao.  Na  Bohemia  e  na  Polonia 
0  proprio  nome  do  gouslo  e  pouco  conhecido. 
Pode  assevcrar-se  an'oitamente,  que,  quanto 
mais  um  paiz  slavo  se  approxima  da  actual 
civilisacao  germanica,  lanto  mais  insensivel 
se  torna  a  poesia  popular  e  ao  hello  ideal  dos 
gouslars.  E  por  (|ue  de  todas  as  farailias  sla- 
vas  do  occidente,  aquella,  que  mais  viva 
guardou  a  lembranca  do  gousle,  foram  os 
Slovaks  da  llungria,  como  aquelles  que  pela 


I 


forfa  da  sua  posirao  gcographica  e  das  suas 
relafoes  commerciaes,  forara  arremcssados 
para  o  Danubio  i>  para  o  Orientc.  Os  roman- 
ces e  idyllios  popularcs  slovacos  sao  aiuda 
Ijoje  de  imiito  niimo,  e  as  vezes  chegam  a 
rivalisar  com  os  dos  Servios.  Kolar  pubiicou 
uma  colleccao  d'ellcs  em  dois  grosses  volumes. 
Citaremos  aqui,  para  e\cmplo,  urn  d'estes  ro- 
mances slovacos:  os  Amanles  pobres;  que  ti- 
ramos  das  Melndius  sliiras  (iSlnwische  Mclo- 
dien),  traduzidas  por  Sicglricd  Kapper. 

(t  Nada  possuo  debaixo  do  sol.  Nao  tenho 
prados,  cm  que  me  assente,  nem  casas  que 
me  abrigucm.  E  lii  tambcm,  i's  um  pobre  or- 
phao  abandonado,  sem  pacs,  sem  familia; 
mas  eu  te  aperto  nos  mcus  braces;  nieus 
olhos  lecm  nos  tens  olbos;  meu  coracao  pul- 
sa  juncto  ao  tea  coracao,  interroga-le,  e  rece- 
be  uraa  resposta  de  amor.  Os  mens  brafos  to 
cingem — ob!  os  meus  olbos,  os  mens  labios, 
0  meu  coracao  te  dizem:  Alegra-te  que  na 
llungria  ha  ainda  quem  seja  mais  pobre  do 
que  nos.  » 

0  canto  bohemio  ja  niio  tern  esta  frescura 
dos  idyllios  slovacos;  nao  queremos  com  tudo 
dizer  com  isto  que  lallc  aos  poetas  bohemios 
conteniporaneos  o  desejo  de  avivar  o  seu  estro 
ao  sopro  dofjoii.slo.  Um  graiide  numero  d'clles 
procurara  inspirar-se  do  (jouslo  naeional,  mas 
e  um  goHslo  de  mais  reccnle  data  e  ja  alterado. 
E  assira,  que  a  todas  as  poesias  tcheques  nio- 
dernas,  tunlo  popularcs  come  academicas, 
falta  virilidade  e  hcroisnio.  Nao  tern  re- 
lacao  alguma  com  as  rapsodias  historicas  e 
nacionaes  d'outros  tempos.  Essencialmente 
lyrica,  ainda  mesnio  nas  epopeas,  como  a 
Slavy  Dcera,  logo  que  pretende  tomar  o  torn 
serio  das  rapsodias  slavas,  a  poegia  Icbeque 
lorna-se  erapolada,  da  saltos,  sem  gradacao  nos 
pensaraentos,  por  maneira  que  al'adiga  o  Icl-a. 
Em  parte  alguma  da  Europa  se  v6  como  em 
Praga  tao  dcsinvolvido  o  espirito  do  negocio 
e  da  industria,  as  especulacoes  da  bolsa  e 
dos  eaminlios  de  ferro,  os  calculos  commer- 
ciaes.  Nao  admira  por  isso  que  a  inspiracao 
natural  nao  se  encontre  tambem  em  parte  al- 
guma em  tanta  decadencia  como  na  Bohemia. 
Adorador  da  sua  nacionalidade  por  systema, 
0  Tchekh  ja  nao  sente  em  si  os  anligos  trans- 
portes  da  sua  raca.  0  rjoiislo  e  para  elle  um 
monumento  do  passado;  contenta-se  com  ro- 
deal-o  de  respeito,  e  se  Ihe  acontece  tirar 
ainda  sons  melodiosos  e  sentidos,  como  os 
sons,  que  os  antigos  sacerdotes  sabiam  tirar 
dos  seus  idolos  de  pedra,  e  sempre  debaixo 
da  condicao  de  resumir  algumas  estrophes,  e 
de  apanhar  no  voo,  para  assim  dizer,  uma 
inspiracao  fugitiva. 

Sera  um  pouco  arriscado  asseverar,  que  as 
populacoes  polacas  vivem  n'uma  athmosphera 
poetica  mais  pura  do  que  essa,  que  respiram 
OS  Bohemios.  0  lidalgo  polaco  e  um  latino, 
um  Irancez  do  Yistula,  mas  a  plebe  conser- 


vou-se  slava.  E  e  por  isso  que  clla  canla 
muito  mais  do  que  o  Bohemio.  A.  Polonia 
conhece  duas  espccics  diversas  de  cancoes 
popularcs:  as  krakoviakas  e  as  koloniyikas.  A. 
krokui'idka  compoe-se  (|uando  muilo  de  duas 
ou  trcs  estrophes,  c  ordinariameute  nao  con- 
teem  mais  do  que  trcs  ou  ([uatro  versos.  E 
um  sini])los  capricho,  um  iniproviso,  que  o 
camponcz  de  Mazovia  atira  de  passagcm  ao 
echo  das  Horcstas  para  manifestar  a  sua  alc- 
gria,  ou  para  se  distrahir  d'algum  accesso  de 
tristeza.  Eis  aqui  alguns  exemplos  que  nos 
fornece  o  sahio  Visznievski: 

«  0  prado  esta  triste  sem  o  rouxinol,  c  eu 
entrisiei_o-me  longe  de  meus  paes.  k  arvore 
desl'olliada  secca-se,  o  peixc  fora  d'agua  mor- 
re,  e  o  meu  coracao  mirra-se  no  meio  d'eslra- 
nhos. 

«  Por  que  e  que  ja  nao  lavraes,  6  meus 
bois,  braneos  da  pocira?  0  minha  mocidade, 
por  que  assim  caminhas  triste?  Meus  boif 
cinzentos,  de  mais  ja  tendes  lavrado,  e  tu, 
minha  mocidade,  tempo  de  mais  j;i  tens  per- 
dido. 

Ao  longo  da  estrada,  rebentou  uma  enfia- 
da  de  tortulhos.  As  raparigas,  que  passam 
pela  estrada,  zombam  de  Janek.  Janek  nao 
sabe  lavrar;  Janek  nem  sabe  cavar,  ncm 
brincar  com  as  raparigas. 

A  pobre  orpha,  ccilando  o  linho  alheio, 
conta  ao  hosque  verdcjante  o  seu  triste  desti- 
ne. Nao  tenho  familia;  mas  tu,  Deus  do  ecu! 
tu  me  serves  ainda  de  pae,  e  tu  me  recolhe- 
ras  na  tua  morada  celeste;  c  tu,  6  terra  ne- 
gra,  tu  me  serves  ainda  de  mae,  e  tu  me 
abriras  o  leu  seio. — A  dura  terra  enterne- 
ceu-se,  e  respende-Ihe:  Animo,  minha  filha, 
ve  se  0  munde  te  consola,  porque  cstas  mi- 
nhas  enlranhas  sao  muito  I'rias,  e  os  tens 
cncantos  dentro  dcllas  depressa  se  murcha- 
riani.  » 

Os  aldeoes  ruthenios  da  Galicia  compoe, 
com  0  nome  de  kolomyiko,  cancoes  de  um 
cunlio  dili'erente,  mais  extensas,  mais  livres, 
mais  synibolicas,  e  ende  respira  uma  imagi- 
nacao  mais  florida,  mais  oriental.  Asscmc- 
Iham-se  por  isso  muito  mais  as  piesiuis  cosa- 
cas  e  servias.  Nellas  se  v6  transparccer  com 
mais  forca  a  vida  do  municipio,  a  vida  da 
familia : 

«  Ao  pe  de  uma  choupana  alvcjantc  ha  tres 
jardins  de  vcrdura:  n'um  d'ellos  trina  o  rou- 
xinol meigas  cancoes;  no  outro,  e  cueo  solta 
gritos  lastimosos;  no  terceire,  uma  carinhosa 
mae  diz  baixinho  ao  seu  tilho  casado  de  ha 
pouco: — Meu  filho  qual  das  cousas  ca  no 
mundo  e  mais  grata  ao  ten  coracao.  E  a  tua 
nova  esposa,  a  tua  sogra,  ou  a  tua  propria 
mae?  —  A  minha  esposa  entorna  docura  na 
minh'alma  quando  estamos  em  cemjileta  har- 
monia.  .V  minha  sogra  agrada-me,  quando 
me  nao  importuna;  mas  tu,  o  mae  que  me 
trouxestc  uas  tuas  entranhas,  c  que  me  deste 


8 


a  Iii7.  no  nioio  dp  dores  para  depois  me  ali- 
luenlarcs  com  o  ten  k'itc  de  dia  c  dt'  nolle, 
tu  so,   0  minlia  qiiprida  niae,   es  em  todo  o 
tempo  0  suave  attractive  do  meu  corarao. 
Continua. 


A.  RIMA  NA.  POESIA  MODERNA. 


Dcstinada  a  sensibilisar,  a  commover,  a 
pocsia  so  conspguira  o  seu  flm  dando  as  phrases, 
de  que  reveslc  as  paixoes  e  seutiiueutos,  que 
exprime,  toda  a  harmonia,  toda  a  melodia  pos- 
siveis  na  linguagera  fallada.  Poesia  coniplela, 
vcrdadeira  poesia,  como  arte,  so  o  e  aquella, 
era  que  o  som  das  palavras,  o  elemcnto  sen- 
sivel,  longe  dc  Hear  iuforme,  apparece  re- 
gulado  e  dirigido  pelos  principios  da  har- 
monia. A  sensaeao  agradavel,  que  provcra  da 
regularidade  e  ordem  inlroduzidas  pela  arte 
nos  sons  disperses  da  linguagem,  para  d'clles 
I'ormar  urn  todo  melodioso,  e,  sem  questao 
aiguma,  um  elemento  essencial  da  poesia.  Se 
a  prosa  versitieada  se  hade  chaniar  verso 
c  nao  poesia,  a  expressao  dideas,  de  pen- 
samentos  poeticos  n'uma  linguagem  prosaica, 
nao  e  niais  do  que  prosa  poetica. 

Harmonia  e  melodia,  eis  as  duas  quaiida- 
des  que  deve  possuir  o  verso  para  actuar 
agradavelmente  sobrc  os  senlidos,  nao  a  har- 
monia propriamente  dicta,  a  sensacao  produ- 
zida  por  sons  coexislentes,  porque  esses  sons 
nao  podcm  dar-se  na  linguagem  fallada;  mas 
a  harmonia  imilativa,  que  tem  por  base  uma 
relayao  d'egualdadc,  entrc  a  impressao  feila 
pelo  objecto  que  a  palavra  signilica,  c  os  sons 
articulados,  de  que  ella  se  compOe. 

0  mais  iniportanle  elemento  musical  da 
versificarao  c  a  melodia,  c  a  impressao  pro- 
duzida  por  sons,  que  se  succedem  guardando 
entre  si  taes  relacOes,  que  conciliem  a  unida- 
de  com  a  variedade.  Dous  sao  os  svstemas 
principaes  que  ornara  a  aiccao  poetica  com 
esta  qualidade  musical,  systemas  intimamente 
ligados  com  a  pro.sodia,  qucr  ella  se  basee 
sobre  a  variabiiidade  da  duracao  das  syl- 
labas,  qucr  tenha  o  seu  principio  no  accento, 
que  manifesta  a  signilicacao  d'ellas.  Quando 
a  prosodia  d'uma  lingua  se  fundamenta  na 
quantidade  das  syllabas,  o  systema  mais  ac- 
commodado  a  indole  d'essa  lingua,  o  unico  pro- 
prio  para  tornar  melodiosa  a  forma  material 
da  sua  poesia,  e  a  versificacSo  rythmica,  que 
se  funda  no  principio  prosodico  da  quantida- 
de,  e  faz  consistir  toda  a  melodia  do  verso  na 
disposifao  harmonica  das  syllabas  longas  e 
breves,  e  dos  pes  por  ellas  formados.  Mas 
aas  linguas,  em  que  fallece  esse  elemento, 


nas  linguas,  cujas  syllabas  nao  tem  relafocs 
lixas  de  quantidade,  e  impossivel  deixar  de 
fundamcntar  sobre  outros  principios  a  bel- 
leza  material  da  expressao  poetica. 

«  Quando  o  scnlido  espiriluhl,  diz  Hegel, 
se  apodera  das  syllabas  radicaes  e  se  com- 
bina  com  ellas,  a  ponto  de  formar  uma  uni- 
dadc  compacta  tem  outro  desinvoivimento 
organico,  o  unico  elemento  material  e  sen- 
si\cl,  que  se  pode  manter  livrc  e  indepen- 
dcnle,  ao  mesmo  tempo,  da  niedida  do  tempo 
e  da  accentuacao  dos  radicaes  e  o  som  mesmo 
das  syllabas.))  Mas  para  haver  melodia  nos 
sons  diversos  das  syllabas  e  mister,  que,  d'in- 
volta  com  sons  diflTerentes,  se  reproduza  um 
som  sujeito  a  lei  d'uma  repetiiao  unil'orme,  o 
qual  se  torne  preponderante  por  meio  dessa 
repeticao  e  assim  introduza  unidade  na  va- 
riedade. Esta  reproducrao  ([uer  das  mesmas 
letras,  quer  das  mesmas  syllabas,  e  ate  as 
vczes  das  mesmas  palavras,  e  que  constitue 
0  segundo  systema  de  melodia,  cujos  modes 
sao  a  alliteracao,  a  assonancia  e  a  rima. 

A  lingua  grega  e  a  latina,  principal- 
mente  aquella,  possuiam  uma  prosodia  ba- 
seada  na  quantidade  das  syllabas:  a  esta 
prosodia  devia  necessariamente  corresponder 
0  systema  de  versificafao  rythmica,  e  foi  a 
que  sem  excepeao  empregaram  os  poetas  ne- 
taveis  das  epochas  mais  brilhautes  da  littera- 
tura  d'a(iuelles  povos.  A  indole  ditferente  das 
linguas  niodernas,  nas  quaes  es  elementos 
que  constituiram  a  melodia  dos  versos  an- 
tigos  nao  tem  a  mesma  forca,  exige  outro  sys- 
tema de  versilicacao.  Como  nellas  e  accento 
estii  ligado  com  o  scntido  principal,  estacom- 
binacao  dos  dous  elementos  espiritual  c  ma- 
terial torna  niui  pouco  sensiveis  as  differen- 
cas  da  duracao  das  syllabas,  as  variacOes  da 
sua  quantidade.  Daqui  o  nao  cxistirem  nas 
linguas  niodernas  syllabas  breves  nem  syl- 
labas longas,  salva  a  pcquena  raodilicacao, 
que  Ihes  advem  da  maior  ou  menor  velocida- 
de  da  pronuncia,  niodificacao  tao  leve,  que 
sobre  ella  se  nao  pode  fundar  um  systema  de 
metrilicacao.  A  prosodia  das  linguas  nioder- 
nas tem  e  seu  principio,  nile  na  quantidade, 
mas  no  accento,  e  por  isso  o  som  das  syllabas 
e  0  unico  elemento  de  melodia  que,  sujeito 
a  lei  d'uma  repeticao  uniformc,  pode  nestes 
idiomas  servir  para  dar  as  concepcoes  e  ideas 
peeticas  a  belleza  sensivel,  que  Ihes  6  indis- 
pensavel. 

« Nos  verses  gregos,  diz  Benloew,  nao  era 
0  tode,  que  determinava  as  partes,  eram  as 
partes,  que,  tendoum  valor  absolute  pela  sua 
quantidade  prosodica,  se  combinavam  n'um 
todo  harmonico.  Nao  sendo  o  rythmo  do 
verso  outra  cousa  mais  que  esta  corabinapao, 
terminar  o  verso  era  interromper  a  serie  das 
syllabas,  dos  valores  prosodicos  absolutes, 
para  dar  ao  ultimo  um  valor  relative  (syllabu 
anceps  hiatus).  Nas  linguas modernas,  em  que 


I 


as  syllabas,  que  compdcm  o  verso,  teem  quasi 
lodas  um  valor  relativo  e  variavel,  terminar 
0  verso  6  dar  a  ultima  syllaba  um  valor  ab- 
soluto  c  invariavcl. »  0  verso  antigo  composto 
d'elemenlos  materialmente  appreciavcis,  me- 
lodiosos  por  si  mesmos,  tinha  meiodia  em 
cada  uraa  de  suas  partes;  o  verso  moderno, 
eoraposlo  d'elementos,  cujo  principal  valor 
vem  da  idea  que  representam,  e  quasi  sem 
raelodia  sensivel,  que  Ibe  seja  inherente,  lera 
o  seu  principio  de  meiodia,  a  sua  unidade 
na  rima,  na  repetirao  do  som  das  syllabas. 

A.  historia  da  lilteratura  da  edade  media 
confirma  o  principio,  que  deixo  eslabelecido. 
A  rima  nasceu,  quando  a  decadencia  da  lin- 
gua latina  fez  perder  o  uso  de  medir  exacta- 
mente  as  syllabas,  e  deslruiu  a  meiodia  dos 
versos  antigos.  Fez-se  entao  sentir  a  necessi- 
didade  d'outra  combinacao,  que  desse  em  re- 
sultado  tornar  harnioniosa  a  forma  material 
da  poesia,  e  a  rima,  principio  d'unidade 
necessario  no  meio  da  variedado  dos  sons, 
que  compunbam  o  verso,  meiodia  mais  ap- 
propriada  a  accentuacao  das  novas  linguas, 
comecou  a  ser  empregada  pelos  poetas. 

Percorrendo  os  escriptos  dos  numerosos 
poetas  dos  primeiros  seculos  da  edade  media, 
logo  apos  a  queda  do  imperio  do  occidente, 
cncontram-se  provas  irrecusaveis  de  que  o 
uso  da  rima  fni  devido  a  necessidade  de  dar 
meiodia  a  versilicacao.  A.  transioao  do  systema 
rythmico  para  a  consonancia  foi  gradual,  a 
medida  exacta  das  syllabas  perdcu-se  pouco 
e  pouco,  ale  desapparecer  totalmente,  dando 
logar  a  rima.  Pode  seguir-se  a  desorganisa- 
fao  gradual  do  rytbmo  antigo  nas  composi- 
coes  poeticas  do  tempo.  Um  exemplo  bem 
sensivel  da  pcrda  dos  verdadeiros  principles 
da  meiodia  do  verso  antigo  sao  os  seguintes 
versos  do  poeta  Commodiano,  autor  que  viveu 
no  seculo  HI. 


Saturniig  que  senex  pi  dens  quando  senescit 
Nee  diviniis  erat  sed  deum  sese  dicebat. 


0  dislico  seguinle  e  tambem  curioso: 


Tot  reum  criminibus  parricidam  quoquc  futurum 
Ex  aiictorilate  vestra  contulibtis  in  altum 


Breve  se  esqueceram  de  todo  as  regras  da 
medicao  das  syllabas,  e  se  destruiu  a  versi- 
ficacao  rythmica,  cuja  meiodia  se  nao  ac- 
comodava,  nem  com  a  accentuacao  das  novas 
linguas,  nem  com  a  accentuacao  corrupta  do 
latim,  vindo  a  rima  coordcnar  o  cbaos  des- 
harraonioso,  que  formavam  as  syllabas  sem 
principio  algum  de  meiodia,  que  as  ligasse. 
Comtudo  0  uso  da  consonancia  final  dos 
versos,  como  elementos  de  raelodia,  nao  foi 
uma  creacao  da  littcratura  da  edade  media. 
Os  llebreos  rimaram,  e  rimam  em  geral  os 
povos  orientaes.    As  priraeiras  composijoes 


poeticas  dos  gregos  e  dos  latinos  offerccem 
exemplos  do  uso  da  rima,  uso  depois  aban- 
donajo,  ((iiando  estes  povos,  conhecendo  mc- 
Ihor  a  prosodia  das  saas  linguas  e  a  raelodiij 
mais  propria  da  sua  versificafao,  a  basearam 
na  quantidade  das  syllabas.  Esla  innovafao 
originaria  da  Grecia  introduziu-se  na  littera- 
tura  latina  pelos  fins  do  sexto  seculo  de  Ro- 
ma, e  substituiu  a  rima,  ate  entao  geralmente 
usada,  e  de  que  ainda  nos  texlos  das  doze  ta- 
boas  seencontram  vestigios,  bem  eorao  em  al- 
guns  versos  do  poeta  Ennio.  Mas  nas  obras  dos 
seculos  mais  florescentcs  das  letras  latinas  a 
rima  desappareceu  de  todo,  substituida  pela 
vcrsificacao  rytbmica,  e,  se  por  accidente,  a- 
chamos  nas  obras  d'Ovidio  c  d'Horacio  con- 
sonancia final  cntre  alguns  versos,  6  tao 
rara,  quo  so  ao  acaso  pode  ser  attribuida; 
al6m  de  que,  a  meiodia  da  versificacao  latina 
era,  depois  da  introduccao  do  systema  grego, 
fundada  sobre  o  principio  da  quantidade  e 
nunca  sobre  a  consonancia. 

Depois  da  invasao  dos  barbaros  e  da  cor- 
rupcao  das  linguas  antigas  cuja  accentuacao 
foi  mudada,  a  rima  reappareceu,  tanto  nas 
poesias  latinas,  como  nas  das  novas  linguas 
das  nacOes  d'origem  germanica,  em  cuja  lit- 
teratura  ja  existia  o  germen  do  novo  systema 
de  versificacao,  e  se  notava,  como  o  attesta 
Hegel,  lima  tendencia  manifesta  para  regula- 
risar  o  som  das  syllabas,  submettendo-o  a 
lei  duma  repelicao  uniforme.  Estas  foram  as 
causas  da  introduc^'ao  da  rima  na  poesia 
moderna  da  Europa.  A  opiniao,  que  attribuc 
a  litteratura  dos  arabes  o  ter  importado  na 
Europa  este  novo  systema  de  meiodia  nao 
tem  I'undamenlo  algum.  Os  escriptores  arabes, 
que  florcsceram  antes  da  invasao  da  Peninsula 
pelos  Mabometanos,  foram  inteiramente  estra- 
nhos  ao  movimenlo  litterario  do  Occidente, 
e  OS  que  se  tornaram  celebres  depois  da  con- 
quisla  sarracena  foram  muito  posteriores  a  ap- 
parifao  da  rima,  quer  nas  poesias  latinas,  quer 
nas  composicoes  escriptas  nas  linguas  das 
nacoes,  que  se  estabeleceram  sobre  as  ruinas 
do  imperio  Romano.  Os  primeiros  escriptos 
da  meia  idade  em  que  se  dcscobrem  vestigios 
da  rima ,  sao  as  obras  dos  auctores  ecclesiasticos 
dos  primeiros  seculos  do  christianismo.  No 
hymno  de  Santo  Ambrosio,  diz  Hegel,  ja  a 
prosodia  e  regulada  pelo  accento  da  pro- 
nuncia  e  deixa  apparecer  a  rima.  A  priineira 
obra  de  Santo  Agostinho  contra  os  donatistas 
e  quasi  um  canto  rimado.  £  tambeni  rimado 
um  epigramma  do  papa  Damaso,  escripto  nos 
fins  do  seculo  IV.  Muratori  nas  Antigui- 
dadcs  Italicas  faz  mengao  d'uma  poesia  do 
6.°  seculo  era  disticos  rimados.  Todos  estes 
exemplos  do  uso  da  rima  sao  anteriores  a 
invasao  serracena  na  Hespanha,  e  ao  conheci- 
mento  das  letras  arabes  na  Europa. 

Este  uso  de  rimar  tornou-se  geral  na  lit- 
teratura dos  povos  do  Occidente,  e  apparcce 


10 


em  lodo";  os  poetas  notaveis  ate  o  scoulo  XV, 
que  cscrovpram  cm  latim,  ou  n'alguma  das 
lingua?  inodernas.  No  pcriodo  da  renasren- 
ra,  cpoctia,  cm  que  a  arte  antiga  tornando- 
sr  conhccida  na  Europa  atlrahiu  a  attencan 
dc  todas  as  inielligoncias  do  tempo,  e  exer- 
cPTi  sobre  o  desinvolvimento  artistiro  do 
Occidente  lao  podeiosa  inlluencia,  a  leitnra 
dos  versos  sublimes  dos  gregos  c  dos  latinos, 
tornando  mais  couherida  a  prosodia  d'aquel- 
las  antigas  linguas,  fez  proscrcver  a  rima 
das  poesias  latinas,  e  empregar  de  novo  a 
TersiticavSo  rythmica,  de  que  fizerani  um  uso 
tao  feliz  Vida  o  Sannazaro.  Mas  na  poesia 
das  linguas  modernas  a  rima,  elemenlo  im- 
portantc  da  melodia  do  verso,  unidade  prin- 
cipal do  lodo  que  cile  forma,  conservou-se  e 
foi  usada  pelos  grandes  poetas,  que  entao 
lloresceram. 

Mais  tarde,  quando  a  adrairafao  pela  arte 
antiga  chegou  ao  sou  apogcu,  algumas  ten- 
lativas  se  lizeram,  ja  para  introduzir  na  versi- 

■ficafSo  moderna  o  systema  antigo  dos  pes  e 
das  syllabas  longas  c  breves,  lentativas,  que 
nuuca  forara  coroadas  de  bom  resultado,  pois 
desconheccram  a  ligacao  intiraa,  que  exisle 
entre  a  prosodia  c  a  versilicafao  d'uma 
lingua,  ja  para  libertar  os  versos  da  rima 
sujeitando-os,  era  quanto  ao  mais,  as  regras 
da  prosodia  moderna.  Estes  versos,  ordina- 

•riaraenlc  denominados  versos  soltos,  come- 
faram  entao  a  apparecer  na  poesia  de  algu- 
mas nacoes  da  Europa,  sendo  ainda  hoje 
cmpregados  por  muitos  escriptores.  E  porem 
ctrto,  que  so  cm  certos  generos  de  poesia 
so  pode  fazer  uso  do  verso  solto,  acrescendo, 
que  nem  todas  as  linguas  sao  proprias  para 
.sc  emanciparem  da  rima. 

A  grande  variedadc  dos  sons  diflicilmente 
dcixara  de  produzir  durcza  e  dissonancia  no 
verso,  se  nolle  nao  introduzir  um  eiemento 
d'unidade,  que,  sem cahir  na  monotonia,  dfia 
phrase  toda  a  melodia  possivel,  conciiiando 
a  unidade  com  a  variedade.  Esse  eiemento 
d'unidade  6  a  consonancia  final  d'um  ou  mais 
versos,  e  a  rima. 

Por  mais  suave  que  seja  um  som,  por  si 
so,  nao  pode  produzir  melodia,  mas  quando 

'dc  periodo  em  periodo  se  reproduz,  d'invol- 
ta  com  outros  sons  differentes,  combina-se 
Com  a  variedade  d'estes  uma  cerla  unidade, 
que  contribue,  para  que  seja  mais  grata  ao 
ouvido  a  impressao  feita  por  todos.  Nas  lin- 
guas modernas,  o  principal  eiemento  sensivel, 
a  que  p6de  rccorrer  a  arte,  para  tornar  me- 
lodiosa  a  versificafao,  eo  som  das  syllabas,  e 
esse  som,  para  sobrcsahir,  para  cbamar  a  at- 
tencao,  dcve  estar  sujeito  a  ki  d'uma  repeti- 
f3o  uniformc.  Daqui  a  importancia  da  rima 

■para  a  melodia  do  verso,  para  o  augraento 
da  belleza  material  da  dicjao  poetica. 


Conlinua. 


1.  Dii  0RNE1.LAS. 


CIIIMICA  LEGAL. 

Analyse  cl'uns  rrn^-menloi  de  .«ubslancia  liranea  achados 
no  I'stoinaito;  analyse  Jci  luesnio  estomaj;o  e  d'um 
liiiuido  !■  mai*  subslanrias  que  se  linliam  enrontrado 
nVsta  viscera,  mandadas  de  Villa  Cova,  jiilgado  de 
Fragoas. 

Acredita-sc  geralmente,  que  as  analyses 
toxicologicas  cxigcm  sempre  tantos  apparc- 
Ihos  e  reagentcs,  e  que  sao  tao  complicados 
os  sens  processes,  que  nao  e  possivel  fazel-as 
sem  OS  recursosd'um  i)om  iaboratorio  chimico. 
N'aiguns  cases  cverdade  tudo  isto,  e  e  pouco 
tndo  0  que  se  disser  da  exlrema  dil'liculdade, 
<jue  ha  no  reconhecimonto  d'um  vencno,  que  se 
procura;  mas  n'outros  casos,  e  de  cerlo  no 
maior  numero,  o  vencno  e  rcconhecido  com 
niuita  facilidade,  e  por  meios  tao  simples,  que 
OS  pode  fornecer  qualquer  botica  d'aldea.  Entre 
nos  quasi  que  nao  se  propina  senao  o  arsenico, 
e  0  seu  reconbecimento  por  meio  do  appare- 
Iho  de  Marsh  e  facilimo  em  muitos  casos. 
Tendo  trabalhado  n'cstas  analyses,  com  outros 
collegas  em  commissao  de  peritos,  lembrei-me 
de  publicar  os  processes  cmpregados,  apezar 
de  nao  darem  novidades  scienlilicas;  nao  sd 
pcio  proveito,  que  posso  tirar  d'alguma  re- 
flexaoaiheia;  mas  ainda  porque  alguns  d'estes 
exames,  pela  simplicidade  dos  sens  proces- 
ses, poderao  mostrar  a  possibilidade  de  se 
fazcrem  em  toda  a  parte,  logo  em  seguida 
ae  primeiro  exarae  no  cadaver  ou  nas  sub- 
stancias,  que  se  julgam  envenenadas.  Se  aos 
laboratories  de  Coimbra,  Porto  e  Lisboa  fos- 
sem  incumbidos  so  os  exames,  que  offereces- 
sem  duvidas  nos  processes  analyticos  dos 
primeiros  peritos,  evitava-se  a  accumulafao 
d'estes  exames,  que  aqui  se  tern  visto,  e  o 
estorvo  dos  peritos,  que  .sao  professeres,  e  a 
quem  o  tempo  falta  para  o  desempenho  dos 
seus  deveres:  evitavam-se,  alem  d'isso,  os 
graves  incenvenientes,  que  as  vezes  traz  con- 
sige  a  demora  no  andamento  d'um  processo 
crime. 

N'csta  publicaoao  comefarei  pelos  exames 
de  processes  mais  simpliccs,  deixando  para 
ultimo  logar  os  mais  complicados,  e  que  of- 
fcreceram  maiores  difliculdades. 

Friiijmentos  de  svbstancia  branca:  —  uma 
porfao  d'estes  fragmentos  de  substancia  branca 
i'oram  sujeitos  a  ebuilicao  per  mais  de  duas 
horas  em  agua  distillada;  es  fragmentos  dis- 
solveram-se,  e  esta  dissolucao,  depois  de  fil- 
trada,  destinou-se  ao  omiirego  dos  rcagenles. 

Tractada  pelo  azetate  de  prata,  aprcsentou 
no  momento  da  experiencia  a  cor  amarella 
do  arsenito  de  prata. 

0  sulfate  de  cobre  ammoniacal  deu  um 
precipitado  com  a  cor  verde  do  arsenito  de 
cobre. 

Com  a  agua  de  cal  appareceu  um  precipita- 
do branco  proprio  do  arsenito  dc  cal. 


Ik 


0  aeido  sidphydrieo  olTereceu  oo  gcto  da 
experiencia  o  araarello  proprio  do  sulfureto 
de  arsenioo. 

Para  sujeitarnios  o  mesnio  liquido  ao  ap- 
parelbo  de  Marsh,  montamos  este  apparelho 
com  as  modilifafoes  adoptadas  pela  commis- 
sao  do  Inslituto  de  Franca,  e  tizemol-o  Ira- 
baljliar  em  braiico  por  mais  de  meia  hora,  sera 
que  apparecesse,  no  tuho  ou  na  porcellana,  o 
menor  indicio  de  impiircza  do  zinco  ou  do 
acido  sullurico.  Lanrauios  no  apparelho  o 
liquido  suspcilo,  e  logo  em  seguida  appare- 
ceram  na  porcellana  miiitas  manchas.  Pouco 
c  pouco  foi  diminuindo  a  grandeza  d'estas 
inanchas  ate  desupparecerera,  apezar  das  dif- 
ferenles  diraensoes,  que  so  dcu  a  chamma. 
Neste  estado  laiicamos-llic  niais  liquido  sus- 
peilo,  e  as  manchas  appareeerara  segunda 
vez,  repetindo-sc  o  mesmo  resullado  todas  as 
vezes  que  juntiinios  novas  porcoes  de  liquido, 
quando  o  apparelho  linha  deixado  de  produzir 
inajjcbas.  Os  anneis,  que  procuramos  no  tubo 
.'lunca  se  mostraram  hem  earacteristicos,  o 
que  altribuinios  a  impureza  do  vidro. 

Collocando  horisontalmente  sobre  a  charama 
do  apparelho,  a  dislancia  de  meia  polegada, 
uni  bocado  de  porcellana  huracdccida  com 
«ima  dissolucao  de  azotato  de  prata  ammonia- 
cn\,  appareceu,  na  orla  da  dissolujao,  a  cor 
amarella  do  arsenito  de  prata. 

Aniesma  ciiamma,  dirigida  a  uma  dissolufio 
de  sulfate  de  cobre  amraoniacal,  deu  n'alguns 
pontos  a  cor  verde  do  arsenito  de  cobre. 

Todas  as  manchas  da  porcellana  offereciam 
a  c6r  aloirada  e  o  brilho  nietalico  das  manchas 
arsenicaes;  e,  expostas  as  dilTerentes  reacjOes, 
.deram  os  resultados  seguintes. 

1.°  Desappareceram  instanlaneamente  com 
9  chapia  do  bydrogeno. 

2.°  0  mesino  desapparecimento  prompto 
com  os  vapores  do  chloro. 

3."  Os  vapores  do  phosphoro,  em  bocados 
Buma  capsula,  as  lizeram  desappareccr  pas- 
sadasduas  boras  pouco  mais  ou  raenos. 

4.°  Os  vapores  do  iodo  tizerara-lhe  tomar 
a  cor  de  cidra  do  iodureto  de  arsenico,  e, 
expostas  depois  a  um  calor  brando,  desappare- 
ceram com  proniptidao. 

{).°Dissolverani-se  com  o  acido  iodhydrico, 
deixando  pela  evapora^ao  um  residue  amarel- 
lado. 

6.°  Com  0 hypochlorite  decai,  dissolveram-se 
passada  meia  bora. 

7."  Dissolveram-se  ou  desappareceram  com 
0  .acido  azotico  a  frio. 

8.°  A  evaporagao  azotica  das  manchas 
^ey^da  ale  a  scccura,  a  um  calor  brando^ 
c  0  residue  tractado  por  um  pequeuo  cristal 
■de  azotato  de  prata  ammoaiacal,  e  uma  gota 
de  agua  distillada,  tomou  uma  cor  amarel- 
•lada;  e  depois,  com  um  calor  brando,  mais  cor 
de  tijolo,  senielhante  a  do  arseniato  de  prata. 

9.°  0  mesmo  residue  da  dissolujao  azotica 


das  manchas  levada  a  seccura,  sendo  Iratado 
pelo  acido  sulphydrico,  mudou  a  cor  para 
amarello  sujo,  fazcndo  lembrar  a  cof  do 
sulfureto  de  arsenico. 

10.°  Produziu-se  o  mesmo  phonoipeno  com 
0  emprogo  do  sulphydrato  ammonico  cm  logar 
do  acido  sulphydrico. 

Eslomaijo — .  Dividimos  uma  parte  das  pa- 
rodes  do  eslomago  cm  pcqucnps  bocados; 
siijeilamol-os  a  ebullicao  pur  mais  de  duas 
boras  em  agua  distillada,  filtramos  o  liquido, 
e  destinamol-o  aos  ensaios  analyticos. 

Sujeitando  este  liquido  ao  apparelho  dc 
Marsh,  depois  de  o  termos  feito  trabalhar  eni 
branco  com  as  cautcllas  jd  indicadas,  aican- 
fiimos  0  mesmo  resultado,  que  nos  tinham  dado 
OS  fragmenlos  de  substancia  branca;  so  com 
a  dilTerenca  de  serem  as  manchas  mais  pe- 
quenas,  e  em  numero  muito  nienor.  Podemps 
regular  a  dcsinvolucao  do  hydrogeuo  para 
uma  chamma  de  3  a  fi  milliraetros,  sem  que  a 
espuma  do  apparelho  subissc  a  ponto  de  jhe 
perturbarotrabalbo.  A  analyse  d'esta  chamma, 
e  das  suas  manchas,  deu  o  mesmo  resultado, 
que  tinha  apparecido  nos  mesmos  processes 
da  analyse  dos  fragmentps  de  substancia 
branca. 

Lij^mdo  e  mais  substancias  encontradas  no 
eslomago — .  Sujeitiimos  a  ebullicao  em  agua, 
distillada  por  mais  dc  duas  horas,  uma  porgao 
dos  liquidos  e  mais  substancias  contidas  no 
estomago;  filtramos;  e  .sujeitamos  o  liquido 
ao  apparelho  de  Marsh.  Com  este  liquido 
alcanfamos  as  manchas,  conio  as  que  tinham 
dado  OS  fragmenlos  de  subtancia  branca  e 
as  parcdes  do  eslomago ;  e  tambem  deu  resul- 
tados scmelhantes  a  analyse  d'estas  manchas  e 
da  charama,  que  as  produziu. 

De  todos  OS  processes,  que  temos  descripto, 
e  do  resultado  negativp  d'outros,  que  nao  men- 
cionamos,   tiramos  as  conclusoes  seguintes — 

1.°  Que  eram  de  arsenico  (acido  arscnioso) 
OS  fragmenlos  de  substancia  branca  encon- 
trados  no  eslomago. 

2.°  Que  se  achavam  enveuenadas  con)  ar- 
senico as  paredcs  do  eslomago,  e  os  liqui«los 
e  mais  substancias  contidas  nesla  viscera. 

3."  Que  a  quanlidade  de  arsenico  encon- 
irado  nesta  analyse  era  mais  que  suJBciente 
para  ter  produzido  a  morle  por  envenena- 
menlo. 

Conlinua.  k.  a.  da  costa  SIMOES. 


PRIMEIRAS  LINHAS  DE  HERMENEDTICA 

JURIDICA  E  DIPLOMATICA, 

poa 

Bernardino  Joaqum  da  Sitva  Carneiro. 

Coimbra  1835. 

Com   este  titulo  acaba    de  ser   publicada 
uma  obra,  cujo  fim  e  servir  de  texlo  as  ex- 


12 


plicafOo?  do  professor  de  hcrmeneulica  ju- 
ridica  c  diplomatica  na  faculdade  de  direito. 
0  sen  auctor  deilara,  que  a  fez  para  sen  uzo, 
durante  o  tempo,  que  foi  subslituir  o  proprie- 
tario  d'aquella  cadeira.  Mas  deixando  a  mo- 
destia  do  auctor,  que  vale  para  ser  apreciada 
fomo  uma  virtude,  mas  nao  para  ser  em  tudo 
acreditada,  diremos,  que  rauito  conviria  ao 
ensino  d'aquellas  disciplinas,  que  esta  obra 
fosse  adoptada  para  compendio.  Nao  ha  nada 
lao  funcsto  para  o  ensiuo  como  a  falta  d'um 
livro  elementar,  que  recorde  aos  discipulos 
OS  pontes  eapitacs,  sobre  que  rccahira  a  ex- 
plicafao  do  professor.  D'onde  se  \i,  que  a 
obra,  de  que  fallamos,  procurou  salisfazer  a 
uma  necessidade  urgente  do  ensino.  E  nao 
sd  0  procurou,  senaoquetambemo  conseguiu; 
porque  com  quanto  nao  seja  urn  d'estes  livros 
de  theorias  novas  e  elevadas,  e  urn  livro 
elementar,  claro,  e  methodico.  Quern  liver 
estudado  bem  hermeneulica  e  diplomatica, 
excusa  d'abrir  o  livro,  que  nada  encontra 
n'elle  que  aprender.  Mas  quem  quizer  estudar 
cstas  disciplinas,  procure-o,  que  d'clle  sabera 
cm  pouco  tempo,  o  que  sem  elle  teria  de 
huscar  per  muitos  volumes,  com  muito  tra- 
balho,  a  custa  de  muito  tempo. 

0  auctor  d'esta  obra,  como  de  varias  ou- 
tras,  em  que  tem  mostrado  a  sua  pioliciencia 
assim  nas  letras  como  na  sciencia  do  direito, 
lem  jus  ao  nosso  rcconhecimento  pelo  muito, 
que  se  esmera  em  dotar  o  ensino  publico 
com  livros  elementares. 


REL\CAO 

Dos  individuos  nnmcaios  por  despachns  do  conse- 
Iho  superior  d'insfrKffao  publica,  e  decretos  do 
governo,  desde  o  dia  IS  ale  ao  fim  de  Marco 
ultimo. 

Inntriirono  prlmarla. 

Por  despachos  do  Conselho  superior  foram 
nomeados  Icmporariameiite  para  as  scguintes  ca- 
deiras  d'mstruccao  prlmarla  (1.°  grau) — ^  Jose 
Narciso  Pereira  da  Cunha,  para  a  cadeira  de  Villa 
Cha,  districto  de  Braga  —  Alexandre  Jose  Xavier, 
para  a  d'Evora-Monle,  districto  d'Evora  —  Joao 
■aianoel  Nunes,  para  a  do  Valle,  districto  de  Via- 
,ij — Joaquim  Maria  Mortc,  para  a  do  Alandroal, 
districto  d'Evora — Manoel  da  Cunha  Lima,  para 
a  de  Coura  (a  2.'),  districto  de  Viana  —  Manoel 
Joaquim  de  Mira  Escalro,  para  a  dc  Santo  Isi- 
doro,  districto  de  Lisboa  —  Victorino  Joaquim 
Dias,  para  a  de  Candedo,  districto  de  Villa  Real 
—  Antonio  Alexandre  da  Silva  Franco,  para  a  da 
Moita  dos  Ferreiros,  districto  de  Lisboa  —  Joao 
Pedro  Cf'rrea,  para  a  de  Pomballnho,  districto  de 
Coimbra — Jose  Aniceto  Boroa  Condestavel  Ju- 
nior, para  a  de  Cascacs,  districto  de  Lisboa  — 
Severino  Gonsalves  Guerreiro  Chaves,  para  a  de 
MertoU,  districto  de  Bcja. 

Instruccao  aecondaria. 

Por  decreto  de  7 — Agostinho  Marinho  Alvcs 


da  Cruz,  para  professor  da  4."  cadeira  da  secrao 
occidental  do  lyceu  nacional  dc  Lisboa. 

de  21  —  Andre  Diogo  Martins  Pam- 
plona, para  professor  de  latim  da  Villa  da  Kibeira 
Grande. 

de  7  — Antonio  da  Uocha  d'Antas 

de  Mendonca,  para  1.°  official  da  bibliothcca  da 
Cniversidade. 

de  14 — Antonio  dos  Sanctos  Dias, 

para  professor  de  latim  e  francez  da  Villa  de 
Moura. 

Por  decreto  de  14,  Jose  Joaquim  Rodrigues 
dc  Bastos,  para  commissario  dos  estudos  do  di- 
stricto do  Porto. 

de  21  —  Antonio  Pereira  da  Silva, 

para  professor  dc  latim  de  Sctubal. 

de  7  —  Joaquim   Eduardo    Manso 

Preto,  para  a  cadeira  de  latim  de  Torres  Novas 
por  transfercncia  d'a  d'igual  discipllna  deTavira. 

dc  17  —  0    Dr.    Manoel    Eduardo 

da  Motta  Vciga,  para  revisor  da  imprensa  da 
Universidadc. 

InMrurrao  nuporior. 

de  14 — Jose  .\lvcs  Moreira  de  Bar- 


ros,  para  o  logar  de  dcmonslrador  de  cirurgia 
da  eschola  medico-cirurgica  do  Porto. 

de  14 — O   Dr.    Jose   Ferrcira   de 

Macedo  Pinto,  para  lente  cathedratico  da  facul- 
dade de  medicina. 

de  21  — Os  Drs.  Luiz  Albano  d'An- 

dradc  Moracs  c  Almeida,  e  Francisco  Pereira  de 
Torres  Coelho,  para  substitutos  exlraordinarios 
da  faculdade  de  matbematica  da  Univcrsidade. 


OBBAS  OFKEItECtDAS   AO  GABINETE   DO   INSTITUTO 
DE  COIMBRA. 

PRIMEIRAS  LINUAS    DE  HERHENEUTICA    JURIDICA   E 

DIPLOMATICA,  por  Bernardino  Joaquim  da  Silva 
Carnciro,  ca\allelro  da  ordem  de  Christo,  lente 
substitulo  ordinario  da  faculdade  de  direito,  e 
socio  effcctivo  do  Institute  de  Coimbra. 

MEMORIA  SOBIIE    OS  ILTIMOS   TEMPOS    DA    DOMINA- 
VAO  ROMANA    EH  UESPANHA    E  n'uhA  PARTE    DO  TEB- 

RiTORio,  QUE  iiojE  £  PORTUGAL,  por  JoHo  da  Cunha 
Neves  Carvalho  e  Portugal,  socio  da  academia 
real  das  sclencias  de  Lisboa. 

MEMORIA  DA  VIDA    £  ESCRIPTOS    DE  ESTEViO  DIAS 

CABRAi,  por  F.  .1.  Rodrigues  de  Gustnao,  bacbarcl 
formado  em  medicina  e  cirurgia  pcla  L'niversidade 
de  Coimbra,  socio  do  Instituto  da  mesma  cidade, 
mcmbro  correspundenle  da  sociedade  de  sclencias 
medicasde  Lisboa,  commissario  dos  estudos,  ereitor 
do  lyceu  nacional  dc  Castello  Branco,  etc. 

BREVE     TRATADO     DE    MCSICOGRAPHIA,     pOr     Jote 

Thcodoro  Ilygino  da  Silva,  approvado  pelo  con- 
servalorio  real  de  Lisbua. 

NOTICIA    ARCHEOLOCICA    DAS    CALDAS    DE  VISELtA, 

por  Joaquim  da  Silva  Pereira  Catdas,  lente  de 
mathcmatica  do  lyceu  nacional  do  Braga,  e  socio 
correspondentc  du  Instituto  deC'  imbra. 

NOTICIA    TOPOGKAPHICA    DAS    CALDAS    DAS    TAIPAS, 

pelo  mesnio  auctor. 

I.NDICULO  GENERICO  DAS  VIRTLDES  DAS  CALDAS  DK 

visELLA,  pelo  mcsmo  auctor. 

VERSAO  INTERLINEAR   DA   IIISTOIUA  BOMANA,    pelO 

mcsmo  auctor. 


€>  Jn^tittttxr^ 


JORINAL    SCIENTIFICO     E   LITTERARIO. 


IISIVEBSIDADE  DE  COIMBRA-PROGBAMMAS. 

FACUtDADE  DE  DIREITO. 
1853—1854. 

S."  ANNO  —  I.i.»  CADEIRA. 

DFREITO    CRr.yiNAL    POKTCfiUEK. 

Lciile  —  Dr.  Basilio  Alberto  de  Soma  Pinto. 


CnMPE.\Dro — ►PASCHAI.IS  .1.  MELLri  ,  LIB  SING,  DE  JURE 
CKI.^ItWLI,  CONIMBRICAE  1853;— E  CODIGO  PENAI, 
PUltTUtiL'BZ  ,    COllIBRV    1853. 


As    iloiilriiias    do    Cora|)endln    seiao    acconimodailas    as 
disi)osi(^Oes  du  nolo  Codijio  penal  jmrtui^'uez  , '  e  colli;,'i- 
das  e  exj)licadas  pelo  niellioiio   synthelico-deaionstralivo. 
foiupen-liario ,    ordenado  iios  Eslalulos  da  Uiii\ersidade 
L.  S,  Til.  3,  C8|].   1,  ^S^V  18  — is!. 

Em  desenipenlio  dVste  methiido  ,  comcrarilo  as  ii^ues 
jielas  no^oos  preliminares  do  esliido  do  Direito  criminal , 
dando-se  nnia  idea  d'cste  Direito,  ilo  lojar  ,  qne  occupa 
na  arvore  !;eoealogica  do  Direilo,  da  ena  importancia  , 
e  da  sua  historia  ,  lanto  anli^a.  como  moderna ;  lanlo 
geral  ,  como  particular  de  Porlnjal. 

Depois  d'estas  noi;oes  preliminares,  segnir-selia  a 
exposi(;5o  dos  principios  geraes  do  Dirt-ilo  criminal , 
comprellen'lidos  no  1."  litnlo  do  referido  com[)endio  ,  e 
Da  pane  geral  do  niencionado  cutligo  ,  relativos  aoa  cri- 
mes ,  delictos  ,  e  cunlraven(;oes  ,  sua  nalureza  .  gra\  iila- 
de,  e  moralidade:  — aos  prcparalorios  ,  e  lentaliias  do 
crime,  e  crime  fruslrado  : — aos  delinqoenles  ,  auclores, 
c  complices  do  delicto: — as  circumstancias  allcnuantes, 
ajsravantes,  ejnstiDcativas: — as  penas,  suns  qnalidatica  , 
effeitos,  propor^So,  applica<;iio  e  execucau  :  —  ;i  tespon- 
sabilldade  civil ,  extincrao  dos  crimes  e  penas. 

Passando  depois  a  parte  especial  do  conipendio,  e  do 
codigo,  serao  applicados  aquelles  principios  a  cada  ura 
dos  crimes,  delictos  e  contravencoes ,  classifioados  pela 
sua  nalureza,  gravidade,  e  moralidade  :  assignando  a 
rada  um  a  pena  correspondenle  tanto  na  aniiga  l-u'isla- 
i;ao  ,  como  em  o  novo  codigo  penal  ,  r«zendo-se  a  com- 
j)ara9ao  d'essas  penas  com  as  que  so  aclium  estabelecidas 
nas  Iegisla(;oes  d'outras  na^oes ,  e  inlerpondu  um  Jnizo 
jnodesto  sobre  as  suas  vanlagens  e  defcitus. 

No  estudo  das  noijBes  preliminares  ,  em  i|imnlo  u  liislo- 
ria  antiga  ,  servir-nos-bemos  das  nulicias,  que  d'ellas  no 
da  ALBERT  DU  BOYS ,  Hisloire  du  IJroil  Crimincl  <ks 
Peuptet  Anctpyis  :  —  em  quanto  a  mudeina,  ilas  de  m. 
ORT0LA.\  5  Cottrs  de  Legislation  comparce  ,  httroduction 
Ifistoriqiie ;  —  e  em  quanto  a  particular  ile  Portugal, 
d'as  do  academiro  a.  r,  do  ajiaral  n.is  Memories  /mrii 
a  Historia  da  leij^tta^do,  e  costumei  de  Portugal;  e 
PEREIRA  E  SOUSA  naa  Ctastes  dos  Crimes. 

Na  exposieao  dos  principius,  e  na  sua  applica(;ao, 
seguiremos,  ptincipalmente  ,  rossi  ,  Traite  de  Droit  Pe- 
nal;  boiard,  iffoiis  sur  Us  Codes  Penal  el  d' Instru- 
ction Criminel;  cheauveau,  Theorie  du  Code  Pinal: 
PACHEco,    Codigo   Penal  concordado  e  commentado.   Mas 

Vol.  IV.  AbkilIK 


nem  por  isso  desprezaremos    as   doulrinas   de   bi^ccirii, 

FIL.\Nr,IRHr  J     imiSSOT,     P^XTORET,    BENTH4M,    C  OUtroS  , 

que,   a  pezar  de  sesuiretn  differenle  sy»tema  ,   furain  o8 
fundadures  da  Sciencia,  e  podem  ser  lidos  com  proveito. 


5.»  ANNO-14.'  CADEIRA. 

JtRISPRL'DCNCrA    FORMl'I-iRU     E    EUR  EM  \TfC.V  ;    PKACTrC.i 
DO  PROCESSU  CIVIL  ,   CRi:kII.\A.L,   COMMERCIAL  EMILITAR. 

Lente  SubstUulo  —  Dr.   Joaquiin]  Jose   Paes  da   Silva, 

COMTENDIO  —  F4SCHALIS,    LIB.  IT.   DE   OBLIG.    ET    ACTION, 

CONIMBRICAE    J853  ;  E  F.  J.  D.    NAZARETH  ,   ELEME.V- 

TUS    DO    PROCESSO    CRIMINAL,  — E   ELEME.NTOS    DO    PRO- 
CESSO    CIVIL,     COIMBKA    1853. 

Come^a  por  se  dar  uma  idea  de  Jiirlsprudencia  prn- 
ctica,  e  do  sen  inleressc,  e  du  histuria  d'ella.  Tracla-se 
depois  <la  divisao  da  raesuia  Jurispriidencia  em  Formuia- 
ria  e  Eiiremalica  ,  fazendo-se  ver,  qual  o  objecto  de  cada 
uma  dVstas  paries  da  Jurisprudencia  pructica.  E  conui 
o  primeiro  ohjecto  da  JiiriBprudencia  formidaria  e  a 
materia  das  ac^Oes ,  eiisJria-se  a  doutrina  das  actjoes  :  e  , 
dfpois  de  se  ler  feito  ver  o  que  sao  ac^ues  e  a  sua  iitili- 
dade  e  Iransrendeticia  para  a  appIica^So  do  Direito  ,  se 
tracta  da  divisao  das  aci^oes  era  prejudiriacs  ,  reaes  ,  pes- 
aoacs  e  raixlaa,  e  depois  da  oiilra  liivisuo  em  rci  persecu- 
torias  ,  penaes  e  niixtas  ;  e  purqiie  as  ac^»jfs  pcrlence  a 
materia  dos  interdictus  possessdrios  ,  retintndne  ,  reciipe- 
randae  ^  e  atlipiscetidae ,  se  tracta  d'esles,  bem  como  <Ia 
materia  d'accuiiiula(;iio  das  ac^oes,  Scfri;e-se  no  ensino 
d'estas  maleri.is  a  ordem  do  rompendio  t^obrpilirto .,  e\ur- 
iiaiidose  raais  a  materia  com  o  importante  Trnc'-ado  dn.t 
Ac^ites  do  sr,  cokrea  trllks.  No  exame  da  doulrioa  das 
aci;6es  se  fala  lambem  na  materia  das  excep^Ses ,  segun- 
do  o  metliodo,  que  seguiu  o  sr.  paschoal. 

Pelo  que  respeila  a  Jurisprudeucia  euremalica  nao  ha 
compeudio,  e  pnr  isso  o  Lente  vai  applicando  a  cada  uma 
das  doulrinas  tanto  das  ac^oes,  como  depois  no  processo  , 
as  rej:ras  cumpetentes.  Dada  a  materia  das  arroes  ,  pas- 
sa-se  depois  a  materia  do  pruccsso  ;  e  como  os  Elemeiitos 
do  Processo  Civil  somente  contem  a  materia  do  prucesso 
tanto  na  primeira  instancia,  como  na  se^unda  inslancia  , 
e  a  matffia  doi*  rccnrsos,  faltandu  aiiida  a  materii  dad 
execu(;oes  (ciijo  Trartado  o  A.  tern  entre  maos)  ,  ensina- 
se  esta   pelo  Manual   do  Processo   Civil   do   sr.  cokrea 

TRLLbS. 

Nos  Elemenlos  do  Processo  Civil  ,  antes  de  se  tractar 
das  formas  relalivas  ao  processo  ,  se  tracta  primeiro  da 
crea^So  ,  competencia  ,  e  altiibnn;ues  das  diflerenles  au- 
ctoridades  ,  ipie  com|iot*m  a  hierarchia  judicial  ;  e  segun- 
do  esta  ordem  se  tracta  do  supremo  tribunal  de  justi^-a 
e  procurador  geral  da  cur6a  ;  secretarios  e  empregados 
snbatternos  do  mesmo  IribuiiHt  ;  das  rclaroes  e  dos  pro- 
curadores  regius  e  seus  ejuilantes;  dos  gnardas-mores  , 
menores,  e  ofliciacs  das  rela^oes ,  bem  como  dos  coo- 
tadores ,  revedores ,  e  escrivaes  das  mesmas  ;  dos  tribu- 
naes  de  policia  corrorcional ;  dus  jnizcs  de  direito  de 
Lisboa  e  Porto;  dos  juizes  suhstitulos ,  delegados ,  cura- 
dorcs  geraes  dos  orphaos  ,  e  roai^  empregados  de  justi^a  ; 
dos  juizes  de  direito  das  comarras ;  dos  detet'ados  do 
I  prncfirador  regio  ;  dos  e»cri\aes  ,  contadnres,  e  mais  e»i- 

—  1855.  Num.  2. 


14 


prpjftilos  ilo  jiisti^n :  dus  ji.izcs  onlinarios  e  doa  siib- 
(iele;;a(!us ,  e  ilos  csciivfirs  e  onicincs  (tt?  dilii;enfias  ;  dns 
jiiizes  dt'  paz  ,  dos  jiiizt'S  "•Icilos  ,  e  dos  nrl)itrus,  e  ilo 
jury.  I)(.'|njis  irarta-se  dfs  triltunaes,  quo  exercem  jiiris- 
«iict;So  cuinmiTcial  ,  muHi  cjV)  o  supremo  triluiiial  de 
jii!>ti(;ii,  a  rel«rao  coinincrrinl  deLislmtt,  us  triliniines 
comiuerriuea  ilu  |iriineira  ii)slunci«  ,  e  arbilrus  comiiiiT- 
ckics. 

Dada  assim  a  inaleria  da  urc^niiisarito  judicinria  ,  pHs- 
.«a-se  loi:o  a  Iraclnr  do  |irort>so  Pin  :;eral  ,  e  fiia  divijao 
cm  ({irnntn  a  forma,  em  ordinario  ,  .^ummario  ,  snmtiiaris- 
*irao  ,  e  CYecutivo  ,  fjizeiuio-se  ^er  <|uiihs  pSi*  as  causae  , 
<|iie  suo  siijf-ilas  a  cada  utnn  d'esliis  di»ersns  furmas  de 
I'focesso,  e  a  razau  d'isto.  I'alla-Sf  tnn.ltom  da  divisSo  do 
jirocesso ,  (luanlo  an  s^ii  fim,  nm  (•i\tl  ,  e  criminal  ,  lazeti- 
du<se  \er  o  que  e  cada  inn  d'ellt-s  ;  c  lambem  da  dt\isao 
do  pntcesso ,  eni  qirantu  a  tiiia  causa  elluMenle  em  secular 
e  ecclesiaslico.  Dejiuis  trarln-se  das  [icfsoas  ,  que  cousli- 
tuem  II  j«iiz(> ,  tynlo  das  prinripaes  ,  romo  jniz  ,  aulur  , 
reu  e  escii\iio.  cumo  das  ffcuudarins ,  como  accet-sur, 
advoirado,  procurador  ,  tlufeiistir  ,  e  excusadur,  faaendo-pe 
ver,  quaes  as  lialiilila<;t)es.  cpiacs  os  direiloSj  e  quaes  us 
deveres-de  cada  uma  d'c-ilus  pcssoa;!.  Em  sepuido  se  expTte 
a  importaute  lu.'ihTia  <la  rouqietiiicia  ,  (anlo  i,'eral  como 
cspfcial  ,  c  a  pri\  ih'j:iaiia.  Djdas  estas  ideas  yeraes  , 
foine(;a  a  fallar-se  dus  arlos  do  prucesso  civil  em  primeira 
ii)>lancia  desde  a  ritn^ao  ate  a  senlen^a.  £xpoe-se  a 
dculriua  da  cila);HO,  dus  mo'lns,  por  cpie  se  faz,  dos  sens 
elVfitos  jinidicus,  e  da  inslaiicia :  f.izpudo-se  \er  cumo 
ella  Cume^a  ,  se  snspeiide,  e  acaba  ;  Item  como  se  Iracta 
(las  inlrma^ops.  t'alla-se  depnis  das  andiencias  ,  mosfran- 
do-se  adiflpHMi^a,  qire  iia  das  ordinarias  as  geraos  ,  e 
Has  ordinarias,  a  dilTeren^a  il'audiencia  de  expodicale  ,  e 
de  julgameiilo ,  e  os  oIijl'cIus  perteucenles  a  raila  uma 
d'ellas:  da  dislriliuic^'au  (I;is  aci^wes  pflos  escri\iies  ;  e 
depois  e\poe-se  a  duiitrina  das  ferias.  Come^n-se  de[pois 
a  I'ailar  do  processo  poraute  os  juizes  arliitros,  do  prurcs- 
so  peraute  os  juizes  de  paz  ,  fazcudo-se  ver  ao  mesmo 
tempo,  quaes  sao  as  causas  sujeilas  io  juiao  da  concilia- 
i;So ,  e  quaes  oxceptuaclas^  e  quaes  os  oifeilus  da  cilacao 
para  a  concilia^ao,  e  quaes  tis  da  coiiciliaqao  ;  do  pro- 
cesso peranle  os  juizes  elrjdis,  lanlo  uas  causas ,  qrje 
cabem  na  fiiia  al^ada  ,  como  nas  causas  sobre  coimas  e 
IransLTCs^opii,  que  sao  excedeul'-*  a  sua  alcada,  e  recnrsos 
qiiM  lia  ;  do  processo  [)eranlo  u  jiiJz  ordluaiio  ,  nas  causas  , 
que  cabem  na  sua  ul(;ada.  Acabadas  eshis  malerias.  p;is-a 
a  fallarse  do  processo  civil  orduiario  ,  o  qual  lem  libellu, 
contrariedade ,  replica  e  treplica  ;  ensinando-se  o  luodo 
de  formar  estes  arlicubidos  ,  e  o  que  de\e)n  conler  ,  bem 
como  as  formulas  res])ecli\as  a  rada  um  d'ldles  .  e  e^'oal- 
meute  os  termos  ,  que  ha  a  s'-t.Miir  ui)  proC'sso  para  o  ofTe- 
recimculo  c  recebimeulo  tb^s  mesuios  aiiicnlados  ;  e  an 
niesnu>  lempo  a  maneira  e  uiudo  de  ftirmar  as  excepcoes 
em  geral,  e  parliciilarmento  a  excepcao  declinaloria /or/ , 
e  a  de  suspei^iio ,  e  o  processo  especial  de  cada  uma 
d'eslas:  ensiua-se  a  maleria  da  auluria  e  reconven(;iio  , 
fazenilo-se  ver  os  casos  em  que  lem  lo:::nr,  e  qua!  o  sen 
jirocesso.  Depois  cumeca  a  inqiorlanle  materia  das  pru\as 
eni  ireral  e  em  especial,  falbindose  da  pruva  por  conQs- 
sao  da  porle .  por  juramenio ,  por  Inslrumeatos ,  por 
Icslemuuhas,  por  presumpcfies  ,  arbilrameutos ,  exames , 
e  visturias  ;  em  seirujda  se  ensiua  a  doiitrina  da  coriclu- 
SHO  c  do  jidi^amenlo  com  inter\en<;rin  lio  jury  ,  o  seni 
elle,  e  as  formulas  rpspecti\a8  a  ludo  o  sobrediclo;  p 
itepuis  se  Irarla  da  maleria  da  spulen^a  ,  buas  dilTerenles 
espcries,  definili\a  e  interlocutoria,  e  esta  niera  e  mixla  , 
e  OS  elTeilos  de  cada  uma  d'ellas;  bem  como  se  expoe  a 
doolrina  das  ciistag  e  uudrta. 

Exjmslo  isto  ,  Iracta-se  depois  dos  recursos  em  geral  , 
tanlu  ordinaries,  como  extraordinarK'S.  Come»;a-se  pelo 
pecurso  de  embargos  as  seulen^as  ,  que  cabem  na  a!(;8da  , 
t*  so  exp<5e  a  forma  do  processo  il'esle  recurso  :  o  meaiiio 
hp  faz  a  reppeilo  do  recurso  da  appellacao  e  d'o  da  revisia  , 
OS  quaes  todos  Sao  recursos  coiilra  as  seBten(;as  deliiiili- 
^as.  Falla-se  depois  dus  recursos  contra  as  setilcn^as  inter- 
locutorias,  como  sao  o  airgravo  de  pe(i(;ao  ,  iuslrumcnio, 
e  no  ante  do  processo  :  e  por  fim  tracta-se  da  maleria  dos 
recursos  extraordinarios,  que  s3o  os  recursos  a  cor<^a  y 
lonlliclos  dc  jnrisdic(;ao  ,  e  queixa  immediata  ao  sobe- 
taiio. 

AcabaUa  aesim  a  doiilriiia  do  processo  civil  ordinasio, 


expoe-se  em  ;;cral  a  doUlrina  ilo  prccfsso  >i.mmario  .  V 
do  aunimaii'simo ,  e  execulivo,  leudo  em  vi.-la  a  leirisla- 
rlSo  da  Itejorma,  e  o  Manital  do  Proctsso  Civil  do  Sh. 
coniKA  TiiM.ES,  no  fiiiv,  ohde  falla  de  ililTerentes  proceo- 
pt'8  dVsla  nathreza:  e  e  foreosn  se^^uir  esle  piano,  porque 
uao  ha  compcndin  ndnpladn  pela  Cnu?re:.'aran  para  isto. 
K\poe-sp  ot  lornns  <rid^uus  dos  principaes  d'esles  pro- 
cissos  ,  pois  nao  e  pos!-neI,  iiu  cspatjo  d'umauno,  per- 
correr  os  brmos  de  lodus  os  processus  dVsIn  naturezn  : 
mas  indicani-se  aos  eetudanles  os  Iiatos,  por  oudc  os  hiin 
de  istudar,  Se^ue-se,  em  romplemenlo  do  jimcesso  civil , 
Irailar  das  execuroes,  para  u  que  us  Mestrcs  lijlo  adopla- 
do  o  Manual  do  Processo  Civil  do  Sa.  cohuka  tllles  , 
e  eulao  pe  expoe  a  diiutrina  do  processo  compelenle  para 
a  execii^ao,  c  dns  Urnios  li.dos  da  exeriir^o,  desde  a 
ci(a),TiO  do  de\edur,  para  em  dez  dins  pa;:ar,  on  dar 
bens  a  penliora ,  ale  final  arrcmatai^an  de  bens,  ou  adjii- 
dicacan  no  credor  ,  qunndo  iiao  ha  lanvadnr  ;  ensina-fie 
an  nipsmo  tem|)o  a  doulrina  dos  iruideiites  das  execu- 
eups,  fi.mo  5S0  tjs  cmbar^'ofi  du  cxeculado,  os  embargos 
dc  lerceiro  ,  e  do  concurso  dos  credores  no  juizo  das 
preferencias  ,  quaudo  cs  bens  do  devedor  nSo  chegam  para 
lodos. 

Kxplicada  a  llieuria  da  prarlica  ,  vao  lopo ,  a  propor- 
(;5o  que  ec  \iio  explichudo  dinerentrs  doultinas,  a  dar*sc 
cspecics  practicas  j)ara  formar  procesnos ,  como  os  foreii- 
ses ,  a  fim  de  que  oa  esludanles  vejam  prac licamento 
na  aula  ,  o  que  se  faz  uo  foro  ;  e  se  faz  audiencia  na 
aula  ,  havendo  juiz  ,  escrivao  ,  adx'ogadtis  ,  antor  ,  reo  , 
e  official  de  dili::<'ncias  :  e  assim  lopo  que  o  Lente  acaba 
de  explirar  a  doulrina  do  processo  peranle  os  arbilros  , 
jierante  o  juiz  eleilo,  perante  o  juiz  de  paz,  e  pernnte  o 
juiz  ordinariu  ,  nas  causas  <p)e  cabem  na  sua  aleadn,  d/i 
logo  especies  praclicas  para  cada  um  d'esle*  prcjcessos, 
dislribuidos  de  lal  maneira ,  (jue  Indus  os  esturjanle* 
leuham  trabiijjios  ,  em  que  se  occupem  ;  e  fazendo-se  nos 
(lias  da  audiencia  peiguidas  a  outrns  esludanles  da  aula 
fora  <raquelles  ,  que  eslFio  cnlrelidos  na  audiencia.  Simi- 
Ihnnlemeiite  ,  quaiulo  acalia  a  doulrina  do  processo  civil 
ordinario  ,  se  diio  lojro  especies  pr;'.ctiras  para  esle;  e  n 
inp.-mo  se  faz  a  respeito  d*algumas  especies  para  alguns 
prut'fssos  suriimnrjos  ,  e  sunimarissimns,  e  executivos. 

Acabada  a  doulrina  du  processo  ci\il  pelo  piano  indi* 
cado  ,  comera-se  a  do  prucesso  criminal  ;  e  se^nindo  o 
rompendiu,  enslnn-se  qual  e  a  organisn^rio  judicial  crimi- 
nal ,  fazendo  se  »er  (ci'nio  acima  se  dtssr  a  respeilo  do 
processo  civil)  tptaes  s.To  as  din'erenlps  aucloridades,  que 
exercem  jurisdir^ao  criminal ,  e  suas  altribui^oes ;  e 
assim  se  fala  niis  allril  ui^oes  do  supremo  Iribnnal  de 
juslica,  do  procuradnr  grral  da  coroa  ,  das  relacoes  e 
prucuradur  refjio  ,  dos  jnizes  de  diroito  e  delegudos ,  dos 
juizes  ordinaries  e  snbdelegados ,  dos  juizes  crimiiiaes  de 
Lisboa  e  Porto  ,  e  do  jury  ;  bera  como  das  aucloridades 
admintslralivns. 

Depois  tracla-se  do  processo  criminal  em  geral ,  mostran- 
do ,  que  e  ordinario  e  sumraario  ,  e  fazendo  ver  o  que  e 
um  e  outro  ;  o  que  e  aceao  criminal ,  qual  o  sen  fiin  y. 
e  como  se  exlingue  ;  bem  como  da  materia  da  rompeten- 
cia  criminal,  enainando-se  os  dilTerentes  principios  e  regras 
d'esla  importanle  maleria.  Em  seguida  come*;a  a  doulri- 
na do  processo  criminal  ordinario,  que  se  ilhide  em  pro- 
cesso d'inslrnccSo  ou  preparalorio ,  e  processo  d'accusa- 
(j-jiu.  Nn  processo  d'instruccSo  se  ensina  a  materia  do. 
corpo  de  delicto  ,  da  querela,  do  summario  de  vinte  lesle- 
mnnhas,  da  prondncia  ;  e  depois  se  falla  da  prisSo ,  da 
fiani-a  ,  das  pergunlas  ao  reo  ,  e  da  ratificaeao  da  pronun- 
cia.  Seguc-se  depois  o  processo  ordinario  da  accusatjiio 
do  reo;  e  ahi  se  expoe  a  maleria  do  libello,  das  excep- 
(;ues  e  conlea(af;ao  do  reo,  da  inqurri^ao  dag  leslemunhas 
perante  o  jurj'  de  senleni;a  ,  discussjio  pulilica  da  causa , 
deeisao  do  jury  sobre  o  faclo,  e  senlenea  do  juiz  de 
direito.  Segue-se  de])ois  a  maleria  de  recursos  criminaes, 
que  sao  appellacao,  revisla  ,  aggravo  de  pelifjao,  inslrn- 
raento  ,  e  no  auto  do  prucesso.  Ultimamenle  explica-se  a 
doulrina  do  processo  criminal  summario  ,  que  vem  a  ser 
o  de  policia  correccional ,  o  militar,  processo  contra  os 
ansentes ,  e  de  cuntrabando  e  descaminho  de  direitos ; 
expundn-se  a  doulrina  relativa  a  cada  um  ,  e  as  furmas- 
differentes,  que  Ihes  respeilara:  e  se  ensaiam  larabem 
em  exercicios  pricUcos  na  aula  uignns  d'esles  processos 
ate  onde  cbega  0  lempo. 


15 


MOSTEIRO  D\  VACC\RIC\. 

Riquezas  do  Mostelnt  da  Vutrarini. 

Cuutinuado  de  pair.  liilO  '^."  vol. 


Naila  consta  dos  teres  do  (lonvento  da  Vac- 
carica  ate  ao  liiu  do  seculo  X.  ()s  docuiiR'n- 
tos  Jmpoi'laiUos,  qui'  iiinslraiii  as  iiiinii'iisas 
doarOi's,  iiue  o  lioiii  coiiccito  espiritiial  d'esle 
mosteiro  Iho  I'ez  alUuir  de  miiita  parte,  todos 
sao  do  seculo  XI.  desde  1 0(12  ate  Ul'.l'.f. 

De  1002,  aclianios  uiiia  dnaeao  de  (iiiiiitinax 
e  ^(indiiiu-s,  das  poNoaeoes  de  Borax  c  Pensu, 
e  do  .Mosteiro  de  Hoaix  com  todas  as  suas 
])erleneas,  cntrando  caliees,  crazes  e  imiitos 
paraineiitos  ' .  Km  lOii;}.  Ilu;  dooii  (jodo  as 
povoacoi's  de  Pedroso.  Jliiuiusi',  Srapaeiis,  e 
Cide  '.  Em  lOO.'J,  temos  a  doacao  do  Mosteiro 
de  Sever  com  todos  os  sens  hciis  '.  Km  lOOG, 
a  doacao  de  Villa  Nova  jior  D.  Friiela  Goii- 
salvcs,  lilha  de  Goiisalo  Mouiz '.  Em  lOiS, 
a  doacao  das  povoacOcs  do  Paradella,  Aholiui, 
.S'o/«.v  e  S.  .Martinlio,  c  o  Mosteiro  di^  Sever 
com  todas  as  suas  pertcncas  '.  Em  1020,  uma 
doacao  importante  das  povoacoes  de  Lcoiru 
Jjizari)  (;  oulras,  com  as  respectivas  proprie- 
da(ies  uuma  ^'raude  e\tensao  entre  Villarinlio 
e  .Mamarrosa   pur  (jaudio,   Elias,  etc.'.  Em 


'  i^mtildiiius  ....  \f'I  .-iatidiiius  diiu'uiius  .  ,  .  jilacuit 
liohis  lit  faceremiis  .  .  .  altbatem  anderias  .  .  .  cartiilani 
t<•slam^Mlti ...  id  e.sl  siibhi-s  monle  zebrabrio  in  \'iila  qtiam 
VDi'itant  roi;as  inonasterio  ipiod  vocitant  saiu-ti  .salvatoris 
.saiicli  .  .  .  sant'li  pelafrii,  ciijiis  basilica  esl  t'lindata  in  ipso 
loco,  dim  dooms  inlrinsecii.s  domorum,  lilieros,  capsas. 
4'alices,  (;ruces,  coronas,  vela,  vol  vcstinuinta  ei,  it  I  estorna- 

menta  ecclesie,  cinn  omnibus  adjnncttonibns  siiis .'t 

adicimiis  ad  ipsiim  Incnm  ipiod  lestamils  villa  <pie  diceiit 
penso  ]>or  siios  lermiuos  cum  omnibus  preslatiiinibus  suis  — 
Liv.  Pr.  — lolii.  (11. 

■'-...  e<^u  domiiie  ancila  tua  ffodo  .  .  .  adicimiis  .... 
mcdicanu-nta  de  ecclesia  que  sila  est  in  \  illas  prenemina- 
las.  hie  sunt  pedi'oso,  et  maniose,  et  scajianes,  et  villa 
cidi  .  .  .  Liv.  Pr. — folh.  fi8. 

•*  .  ,  .  damns  vobis  ipsilm  monaslenum  cum  domiis 
domorum.  vel  in  corcis  suis  [lomares  per  areaiieum  euares, 
saltos.  terras  riiptas  vel  inruptas  petras  mobiles  ved  iino- 
biles,  aquis  aipiorum,  exitus  vel  regressus  .  .  .  Li\ .  Pr. — 
lolh.  B?  v.». 

"•    .  .  .  E^o  froiula  prols  fliindisalvi  miinionis 

eiro  supra  nominatils  ....  facimus  seriem  testamenti  ad 

mouasterium  di*  \accariza villa  nominata 

que  vocilant  A'illa  nova  siiburliio  cidiiultrie  jiixia  monteni 
buzacho  ad  rio  de  .\ii^'arna  .  .  .  concedimus  illam  per  siios 
lerrainos  antiipios  cum  omnibus  suis  prestationibus  ipian- 
tum  iu  villa  potueritis  invenirc  pomares  Hectares  arbores 
fruetuo-sas  Ael  infructuosas  terras  ruplas  vel  inniplas  .  .  . 
Livro  Prelo  —  fglh.  35  v.". 

"...  Ob  inde  ejio  tula  domna  (diz  ipie  faz  doacao  ao 
RIo8teiro  da  Vaccarii-a  do  M?i:iiirite. )  ...  Id  sunt  mediela- 
tem  de  parabdla  ad  mtesrrum.  et  medietalem  de  aboimi. 
medietatein  de  salas,  vel  villa  de  sancto  martino  ipianto 
iliidem  potuerint  invenire.  et  ilud  monaslerinm  de  severi 
iute^'ro  cum  cnnctis  ajunctioniliiis.  et  peslalionibus  suis  .  . 

l.i>.  I'r.  —  folli.  Do. 

'   Et'o  saudiuct  liel.a"  pariler  cum  uxore  mea  sratiosa 


1021,  a  doacao  do  Mosteiro  de  Leca  com 
todas  as  suas  pertencas  do  varias  povoacoes, 
e  miiitas  herdades,  cjirejas,  paramentos,  etc.. 
por  1).  Unisco  Mendes  e  sen  lillio  Oseredo 
Tritilcsindes '.  Em  1017,  outra  doacao  muito 
avtiltada  de  ogrejas,  jiropriedades  e  muitas 
povoacoes,  que  lez  Hc.sfinondiis  prolix  Mniifi'hr 
el  Ba.sidinw  '.  Em  lOSO,  a  doacao  ([ue  Fez  o 
Duque  U.  Sisiiando  da  povoacao  d'ilorta'';  e 


.  .  .  placiiit  nobis  .  .  .  iit  faceremiis  vobis  andrias  abliali  et 
fratrilius  vestris  in  monasterio  ipiod  vocitant  vaccariza  .  .  . 
I'acimusvobis  le.vlum scripture  lirmitatis  de  villa  nostraiine 
vocitant  livira  in  territorio  colimbriensi ,  et  de  alia  villa  que 
clicunt  lazaro  .  .  .  cum  cpiantum  preslilum  hominisest .  .  . 
Et  ipsa  liereditas  dividit  ab  orienlale  parte  cum  viUarino 
el  ad  meridiem  per  ipsiim  montem  usque  vertit  ad  ilium 
ro;;io  quem  vocitant  saniia,  ab  aquilone  parte  ubi  vertit  se 
ilia  livira  in  lliimen  certome,  ad  occidentalem  partem  per 
iilii  dicimt  mamoa  rasa  ubi  est  ilia  heremita  que  vocitant 
.sancli  rumani  et  dividit  per  ipsam  serram  ad  portiiiii 
auruo  et  vertit  in  lliiraine  certome  per  ubi  concludent  no- 
stras hereditates  et  ipsas  liereditates  desii|ier  taxatas  fir- 
miler  habeatis  et  possidiatis  in  perpetiium  .  .  .  Liv.  Pr. 
—  lolh.  44. 

"...  Ejro  unisoo  |irolis  menendi  el  palrina  .  .  .  vobis 
todeojrildo  aldiati  et  fratribus  et  sororibus  habitantes  in 
inonaslerio  vaccariza  concedimus  voljis  ....  raonaste- 
riiim  de  leza  cum  cnnctis  adjeQlionibus  suis  et  prestatio- 
nibus .  .  .  et  eso  unisco  cum  filio  meo  oseredo  villa  de 
aeprelanes  ab  inlefjra  cum  sua  varzena  .  .  .  hereditates 
que  jaceut  in  patrocello  et  in  saltarios  tarn  de  audeiigo 
ipiam  etiam  in  nostras  cartas  resonat  el  de  villa  necarie- 
de  medietalem  integram  et  de  ilia  alia  media  II  actaba* 
una  de  recemondo  et  alia  de  afffivido  hereditate  de  mala 
ilu  ill  i|isa  villa  idem  in  ipsa  villa  hereditate  que  fuit  de 
donino  vllifons<i  at)  iiitefjro  hereditate  de  froraosiudo  ab 
integro  hereditate  de  romano  V  integra  de  hereditate  de 
fromarifio  Y"  Integra,  et  in  villa  kaeiros  nos  hereditate 
quam  hie  habiiit  frater  savarigo  comparata,  villa  manualdi 
cum  omne  adjunclionibus  suis  villa  paiisalella  .  .  .  ^illa 
suuiltanes  cum  omnibus  adjuuctioniliiis  suis  mitoiiaeli  et 
canderedi  villarciim  omuiluis  adjunclionibus  suis  caitorelo 
et  alius  villar  cora  diirio  alduari  cum  omnibus  adjunclioni- 
bus suis  et  una  ecclesia  vocabiilo  sancli  martini  idem  in 
manualdi  diias  partes  de  ecclesia  sancli  mamelia  (consta 
ainda  de  livros  d'egreja,  caliees,  e  muilos  paramentos). 
Livro  Prelo  — folhas  7^  v.° 

^  Ego  domine  famulus  tmis  resemondiis  prolix  iiiau- 
rele  el  Imselise  ....  Adicimus  iliidem  domine  ad  ipsiils 
sacrosauctum  et  ^'enerabilem  templum  qui  sunt  jicr  vela- 
men  servorum  vel  ancilarum  deo  de  servicio,  medietalem 
de  ecclesia  que  sila  esl  in  villa  foramoutanos  \ocaluilo 
-sancte  marie  cum  medietate  de  mea  hereditate  de  ^'illa 
volpeliares,  sicul  illam  liabeo  pro  prelio  et  cartas  et  di- 
iiiliano  quantum  obtinuil  per  me.as  cartas,  et  in  villar 
quantum  in  meas  cartas  continet,  in  villa  nigrelos  fpiailtum 
obtinuil  per  meas  cartas  medielatem  inteirram  in  ripa 
vauga  in  marnel  ubi  dicent  arravalde  riuantum  in  meas 
cartas  resonat,  et  in  villa  iliavo  quantum  in  meas  cartas 
resonat  ....  in  villa  ricardanes  sanctus  michael  cum 
ajunctioniliiis  suis  ipie  fiiit  de  iniliira  ptiro,  liereditas  que 

full   de    lanioi et    in    villa    carvaliales  ecclesiam 

vocabulo  sancli  martini  .  .  .  Et  in  villa  antoUni  et 
nesperaria  .  .  .  el  in  villa  ferreirolos  et  castro  .  .  .  Ibi  in 
recardanes  lariaset  cortinas  .  .  .  et  damns  de  villa  seixozelo 
(seguidamenle  nomeiam-se  caliees,  paramentos,  etc.)  .  .  . 
Livr.  Pret.  folh.  (i4. 

-'....  Ob  inde  ego  domnus  sisnandus  ciii  dominus  sal- 
vetiir  placui  milii  pro  hone  pacis  voluntale  ut  facerem 
lextura  scripture  firmitatis  .  .  .  .  de  ipsa  villa  quos^ocitaiit 

Orta Dunn   adipie  concedo  ipsam  villani   iam 

superius  nomilatam  ad  ipsum  locum  sancli  vincenti  (da 
Aacc:iri(;ai  cum  omnes  suas  prestatioues  ....  Liv.  Pr. 
—  folh.  W\. 


IC 


nutra  da  Marmeleira,  por  Arias  Mendcs  c  sua 
niulher  Ticili  ' . 

Aleni  (I'estas,  enconlram-se  no  Livro  Prclo 
iiinas  iriuta  doaoOes  d'egrejas,  povoacOes,  pro- 
priedades,  etc.,  nao  contandd  imiitas  escri- 
pluias  do  emprasameiUo,  do  lierdades,  etc,  o 
line  dou  ao  Mosti'iro  da  Vaccarira  uiiia  opii- 
leiicia  tao  subida,  c  tao  vasta  jurisdiq-ao  solirc 
egrejas  e  mosloiros,  de  ([iie  so  pode  ajuizai- 
(|iiein  liver  lido  no  Li\ro  Prclo  ostes  mimcrosos 
V  iiilcrcssaiitcs  dociiniciilos  '■ .  So  eritre  o  Voiiga 
I'  .Moiidi'go,  o  Moslciro  da  Vaccarira  era  sonlior 
dc  nuiilas  povoacucs,  as  iiiais  iiii|iortanles  d'a- 
(juellc  tempo,  cnnio  consla  d'uiii  inveutario  que 
I'ez  cm   1004  '. 

A  doaciio  dc  todos  os  l)ens  do  mosteiro,  em 
lU9i,  devia  a  Su  de  Coiinbra,  coino  ja  disse, 


'    F.;;o    nrios    nirnendis  el  uxor  niea  livili 

facimiis  lestaraenlum  de  nostra  villa  quam  vocitant  raar- 
ineleira,  et  liahet  has  terminationes  per  cacumen  mons  tri- 
lici  ....  .Mandamus  iil  si  onus  ex  nobis  morieril  sit  istuni 
teslamentum  oonfirmatum  in  honorp  sancti  vincenti 
et  ipsud  testanlentuni  quod  siir.sum  resonat  fiat  per  maniis 
eujus  fuerit  monasterium  vacarice Liv.    I'relo 

—  folh.  137  v.» 

•"  Os  anrios  a  que  se  referem  as  datas  dos  documentos 
c|ue  achei  no  Livro  Preto.  relativos  ao  Mosteiro  da  \  ac- 
oaric;a,  alii  vao  apontados  por  ordeni  nunierica,  com  as 
folhas  do  livro  em  que  se  achara  transcriplas  —  anno  1002 
full,.  61  —  1003,  fia  — 10(1.-,,  67  v.°— loof),  3.)  v  "^ 
1008,  81  v.°  — 1014.  74  v.«— 1015,  35  v."— 1016    60 

—  1018,  57,  58,  59,  59  v.°,  63,  85  —  1019,  58  V  ° 
66  v. 0— 1020,  44—1021,  72  v.»— 1025,  153  — io32 
96,v.»— 1034,  74,  97  v.»  — 1036.   45.  74—1038,  H.i 

—  1040,  55  v.",  71  v.»— 1041  .  6i— 1043,  41  v.»— 104i 
69,  77,  7K  v.",  80  —  1046.  T2  — 1047.  42  v.»,  64  65 
v.o— 1052,  72  v.°— 1053,  70  v."— 1055,  54v.°.  80  v." 

—  1057,  43,  52  v.«— 1064,  36  — 1078,  44  v.°  — lOT'l 
50v.°— 1084,  49  v.»— 1086,  48  v.»,  157  v."  — 1091' 
84  v.«— 1093,  65  —  1094,  40—1095,  90  —  1098  36 
v.°— 1099,  51  v.»,  60  v."— 1101,  229. 

Notitia  de  villis  vaccarice  —  inventarium  inter 
voucam  et  raondecura  — era  dc  1102  (anno  de  Christo  de 
1064).  Nolum  facimus  de  villas  que  sunt  de  monasterio 
de  vaccariza  inter  vouca.  et  raondeco  territorio  collimbrie. 
id  sunt  villa  nova  que  liiit  de  gundi.salvo  moniz  et  testa- 
Mt  earn  filius  suns  fr.ijula  gunsalvis  ad  vacarizam.  Villa 
de  musarros  cum  sua  ecclesia  que  fuil  de  abbate  love- 
glldo  ab  integro  per  suis  lerminis.  Eccbziam  vocabulo 
sancti  cucuvati  cum  adjecioniblls  suis.  Villar  de  correi.xe 
cum  sua  ecclesia  vocabulo  .sancti  martini.  Et  in  sanyalios, 
villa  que  fuit  de  elias  exalaba,  ubi  se  avelanas  infundit 
in  certuma.  Villa  barriolo  cum  ecclesia  vocabulo  .sancti 
mametis  cum  adjectionibus  suis.  Villa  moronitauos  ad  in- 
le^rum.  Villa  lamen^'os  cura  sua  ecclesia  vocabulo  sancti 
patri,  que  fuil  de  abba  gaudio.  Villa  orta  ad  intej;rum.  Vil- 
la  arinlos.  Villa  ventosa  integra.  Vinea  deabba  lodemiro 
hic  in  ventosa  villa  de  cepiis  intesra.  Villa  eilantes  inte- 
Sra  cum  sua  ecclesia  vocabulo  sancti  felicis.  In  villa  al- 
favara.  Ecclesia  vocabulo  sancti  chrislufori.  In  villa 
mortede  ecclesia  vocabulo  sancta  maria.  cum  adjectioni- 
bus suis.  Et  in  villa  de  majistro  montajueirae  monasterio 
vocabulo  sancti  petri.  Villa  freixenedo  ad  inlefrrum  ec- 
clesiam  vocabulo  sancta  eolalia  in  ripa  cerlome.  Villa 
vimeneira  ad  inteirum.  Monasterium  de  lauredo  ad  inte- 
i;rum.  Sancia  xpri  cum  adjectionibus  suis.  Villa  ca- 
ncllas  ad  intesrura.  Villa  de  luzo,  que  fuit  de  abba  no- 
Ruram  cum  sua  ecclesia  vocabulo  sancti  tome.  Ecclesia 
voccabulo  sancto  pelaRio  de  varzenas.  Monasterium  de 
irazoi,  quod  luit  de  abba  Irazoi.  Sancta  xpri  de  morlalogo 
Monasterium  de  sourio  ad  inlcjirura.  Ecclesia  sancti  salva- 
toris  decollimbria  —  Livr.  Prcl.  — folh.  36. 


grande  parte  da  opulencia,  que  Ihe  vimos  osten- 
lar  ale  IS'.Ji. 

Neste  anno,  pela  execurao  do  decreto  dos 
foraes,  promulgado  na  lilia  Terceira  cm  1832, 
loram  abolidos,  cm  hcnclicio  dos  lavradores, 
miiitos  I'oros,  que  laziam  hoa  parte  dos  anligos 
rciidinii'iilos  do  .Mosteiro  da  Vaccarica. 

Dc.stinos  po.^tcriore.s'  da  Ei/rrja  do  Mosteiro 
da   Vaccarica. 

Na  Yaccarifa    nao  ha  pcca  d'architeclura 
nem  monuiiiento,  que  possa  marcar  com  pre- 
cisilo  0  sitio  do  aiitigo  mosteiro.  Apenas  sohre 
0  topo  0.  da  egreja,  a  corrcr  com  a  fafe  .N., 
na   antiga   casa  da  residcacia,   que  liie   esla 
conligua,    se   cncontra    uma    parede    de    iini 
mclro  de  grosstira,  com  as  pcdras  do  quinal 
muito  carcomidas.  Esta  parede,  que,  ha  pouco, 
se  demoliu  cm  grande  parte,  e  niuitas  moedas 
posteriorcs  a  1).  Diniz',  que  tcm  apparccido 
cin  aliccrces  ahertos  nas  vizinhancas  da  egreja, 
inculcando  a  succcssao  de  construccoes  neste 
local,   poderao  servir  d'ura   leve   iudieio   da 
transii,-ao  do  antigo  mosteiro  para  a  egreja  e 
casas,  que  hoje  cxistem,  e  que  sao  de  archi- 
tectura  muito  mais  moderna.  Transicao,  que 
mcllior  se  pode  presumir   por  vermos  ainda 
na  egreja  actual    a  mesnia  invocacao  de  S. 
Vicente,   que  linlia  a  egreja  dos  nionges,   e 
que  scnipre  se  tem  conservado,  como  se  dcprc- 
hende  dos  documentos  do  Livro  Preto,   que 
lenho  citado,  e  dos  escriptos  e  tradicao,  em 
que  sc  funda  a  ultima  parte  d'esta  memoria, 
de  que  me  resta  I'allar.  Accreseendo  ainda, 
que  0  sitio  amcno  e  um   pouco   retirado  da 
actual  egreja,   casas  e  propricdades,  que  Ihe 
sao  contiguas,   me  parece    muito  apropriado 
ao  eslabclecimcnto  dos  monges  da  Vaccarica. 
I'nia  demarcacao  sein  data,  que  se  encontra 
no  Livro  Preto,  com  medidas  de  extensao  a 
contar  do  mosteiro  em  dill'erentes  direccoes^, 

'  N'estas  moedas,  que  mostrei  o  anno  passado  ao  sr. 
Alexandre  Herculano,  ao  sr.  Bastos  que  o  acomjianhava, 
e  ao  sr.  Leiy  Maria  Jordiio,  npenas  se  descobrem  as  armas 
de  D.  Diniz. 

^  Aflirmatio  passalium  —  nos  fratres  de  cenobio  sancti 
vincenti  (pii  sua  veritate  juraturi  siimus  nos  nominatos 
xpophorus  frater  face  bona  pbr,  Ihons  pbr,  sinilla  frater 
lirmamus  perdeiim  viviim  creator  omnium  reriim  qiiiaipsos 
passalessedecim  qui  jacent  directo  foute  miras.  Ex  utraque 
parte  de  rio  usque  in  monte  sunt  in  veritate  sunt  de  cenobio 
sancti  vincenti  per  cartas  et  directo  pretio  comparatos  et 
non  de  testamento  de  laurbano.  Et  similiter  firmamiis  ipsos 
qiiatuordecim  passales  de  ilia  retorta  ubi  colli};it  se  ipsa 
aqua  et  stat  in  compenso  pro  divertere  ad  jtartede  mauros, 
et  inde  plicat  in  illo  rio  ajratha  a  parte  aciuilonis,  ubi  se 
applicat  ill  ipsofluminead  ipsiim  montem.  Et  similiter  fir- 
niamus  viginti  Irez  passales  recto  ipsa  fonte  de  laj;ina  de  rit> 
in  rejro,  qui  discurrit  in  ecclesia  sancti  michaelis,  sicut 
illos  partimus  et  demarcamils  cum  nostras  heredes.  Sic 
firmamiis  istos,  qiiomodo  illos  alios  cum  suos  cazales 
(|iios  in  nostras  cartas  et  in  nostros  invenlarios  referiinl 
iibique  illos  potiierimiis  inveuire  cum  nostros  sapitores, 
et  sicuti  ecclesia  firmamus  ipsam  sancti  michaelis  quia 
est  testata  Integra  ad  sanctum  ^■icenlem  pro  directo  testa- 


17 


podcia  ainda  csclarcccr  cste  jionlo  duvidoso 
a  queni,  com  o  estudo  no  propn'o  local,  poder 
tradiizir  os  nonies  ja  perdidos  das  Ibntes, 
rilieiros  c  monies,  que  alll  se  mencionnm.  0 
toiu  mysleiioso,  com  que  fallam  os  hahilantes 
da  Vaccarica  n'um  sitio  chamado  os  Fieis  de 
Dcus,  ja  I'ora  da  villa  a  IS  E..  I'aria  Icmlirar, 
(|uc  algtim  convento  n'aquellc  ponlo  Icria  sido 
0  logar  do  marlyrio  dos  Eremitas,  do  que  falla 
a  chronica  de  Sanclo  Agostinho,  se  alguni 
itredilo  merecesse  aquella  noticia'.  A  aridez 
do  teneno  faz  lepellir  a  idea  da  construccao 
d'um  mosteiro  nesl(;  local,  como  ja  notou  o 
sr.  Miguel  Uibeiro;  e  os  inJicios  tendem  a 
raoslrar,  que  houvc  alii  apenas  uni  simples 
cruzeiro,  ou  cousa  similhante,  juncto  do  qual 
OS  tieis,  que  passavam,  tivessem  accumulado 
OS  monies  de  pedras,  que  por  alii  se  tern  en- 
contrado,  segundo  a  usanca  das  devocOcs 
antigas.  E  do  mesmo  parecer  o  sr.  Descmhar- 
gador  .loao  da  Cunha  Neves  de  Caivalho, 
com  quern  f'allei  em  Lisboa  a  cste  respeito  em 
1851 ;  e  a  sua  opiuiao  e  de  muito  peso,  pclos 
sous  conhecimentos  archeologicos,  e  pelo  es- 
tudo, que  fez  nesta  localidade,  em  todo  o 
tempo  que  alli  residiu,  na  quinta  de  Boufcl- 
la  ou  Gesteira '. 

Qualquer  que  Tosse  o  local  do  antigo  Mosteiro 
da  Vaccarica,  a  sua  egreja  de  S.  Vicente,  de- 
])ois  da  extinccao  do  mosteiro,  diz  Fr.  Antonio 
da  Purilicacao,  que  licou  sendo  a  egreja  pa- 
rochial da  freguezia  da  Vaccarica,  e  a  matriz 
de  mais  duas  parochias,  que  nesta  epocha 
lamheni  se  levantaram  naquelles  sitios,  uma 
cm  Luso  c  oulra  na  Panipilhosa.  Todas  tres 
licaram  parochiadas  por  clcrigos  seculares, 
cada  um  dos  quaes  tinlia  por  congrua  os 
raeios  dizimos  da  sua  freguezia. 

Assim  se  conservou  por  nuiitos  annos  a 
egreja  da  Vaccarica;  e  em  1j37,  com  auclo- 
rjsacao  d'um  Breve  de  Paulo  4.",  de  22  de 

njento,  et  non  invenimus  in  eo,  quod  aliquam  partem 
liabeat  laurbanum  ad  hereditandum.  Liv,  Pr.  fulh.  43  v. 

'  Vej.  pag.  193  nut.  3. 

^  Na  verga  d'ura  portao  de  pateo,  juncto  ao  adro  da 
Ks;reja,  ve-se  um  letreiro  tosco,  aberto  a  sinzel,  parecendo 
Jizer  —  475  annos.  Esta  ultima  palavra  esta  escripla  com 
um  sd-n-,-  e  entre  ella  e  os  al^arismos  tia  um  cora^ao  atra- 
vessado  por  uma  setta.  A  primeira  letra  d'algarismo  fiirma 
com  OS  dous  raraos  um  angulo  recto,  sendo  o  horizontal  um 
pouco  mais  curto ;  e  por  cima  do  ramo  vertical  v^-se  uma 
tispecie  de  accento  a^nido.  Este  accento  podera  ptlr  em 
duvida  se  a  inscrip^ao  e  475,  175  ou  1475.  Em  qualquer 
dos  casos  parece-me  sem  valor  esta  inscrip^ao,  porque  a 
epocha  de  175  e  inteiramente  alheia  as  noticias  que  ha  do 
Mosteiro  da  Vaccari(;a ;  a  de  1475  cae  entre  a  extinccao 
do  convento  e  a  sua  doa^ao  feita  aos  Eremitas  de  Nossa 
Sr.*  da  Gra^a;  e,  se  a  de  475  poderia  approximar-se 
da  epocha  em  que  alpuem  juli;ou  ter-se  fundado  o  mos- 
teiro (vej.  pajr.  193)  a  pcrfeita  conserva^ao  da  pedra 
(calcareo  das  pedreiras  de  Ilhastro  ou  An<;a),  assim 
exposta  a  ac^ao  do  tempo,  nao  permitte  a  suspeita  de  que 
esta  inscrip9ao  fora  contemporanea  do  facto  que  represeo- 
taria ,  nem  mesmo  dos  primeiros  seculos  depois  d'este  facto. 
Ainda  podera  julgarse,  que  esta  inscrip9ao  teria  sido  copiada 
d'outra  pedra ;  mas  nSo  vejo  fundamento  nem  indicios,  que 
posjjo  dar  alguqia  probabilidade  a  eeta  simples  conjeclura. 


ahril  do  mesmo  anno,  foi  doada,  com  as  duas 
filiaes  e  os  respectivos  mcios  dizimos,  aos 
eremitas  de  Nossa  Scnhora  da  Graca  deCoim- 
bra,  pelo  IJispo  D.  .loao  Soares,  como  reconhe- 
cimento  de  ter  rccchido  d'esla  ordem  a  sua 
educacao  religiosa  ' . 

0  reitor  do  collegio  da  Graca  llcou  sendo 
0  prior  collado  da  egreja  da  Vaccarica,  e  as 
ftinccoes  parochiaes  exercidas  por  um  encom- 
mendado  com  a  denominacao  de  vigario, 
nomeado  em  cajjitulo  entre  os  mesmos  regula- 
tes e  conlirmado  pelo  ordinario.  Tinha  um 
coadjuctor  secular  nomeado  pelo  reitor,  e 
lamhem  conlirmado  pelo  ordinario.  A  mesma 
noraeacao  tinha  logar  a  respeito  dos  curas 
seculares,  que  parochiavam  as  egrejas  liliacs 
de  Luso  e  Panipilhosa  '. 

0  vigario  da  Vaccarica  tinha  alem  do  pe 
d'altar,  a  casa  e  o  rendimenlo  dos  bons  pas- 
saes,  oitenta  mil  reis  do  collegio;  e  o  coadjuc- 
tor unicamente  casa  de  residencia  e  setenta 
mil  reis. 

0  cura  de  Luso  tinha  quarcnta  mil  reis; 
e  0  da  Panipilhosa  oitenta  mil  reis;  tudo  cm 
melal  '. 

Em  1831,  pela  abolicao  dos  dizimos  e  ex- 
tinccao das  casas  religiosas,  desligaram-se 
aqucllas  tres  egrejas,  e  a  boa  vivenda,  casas 
e  quinta,  que  constiluiam  os  passaes  da  Vac- 
rarica,  foram  incorporados  nos  bens  nacio- 
naes,  e  vendidos  ao  sr.  Manoel  Ferreira 
d'Azevedo,  da  Mealhada,  em  11  de  feverciro 
de  ISii,  por  dous  contos  oitocenlos  e  um 
mil  reis,  entrando  nesta  quantia  novecentos 
trinta  e  tres  mil  e  setecentos  reis  em  metal, 
e  0  mais  em  papeis  de  credito. 

0  ultimo  vigario  regular  da  Vaccarica,  que 
eslava  na  egreja  cm  1834,  e  que  alli  se  con- 
servou, como  secular  encommendado,  ate  ju- 
nho  de  1833,  foi  o  sr.  Fr.  Jose  de  Menezes. 
Seguirara-se  parochos,  que  a.ssignavam  os  as- 
sentos  da  egreja  como  parochos  interinos,  o 
sr.  P."  Constantino  Joa([uim  de  Oliveira  ate 
2  de  fevereiro  de  1830,  o  sr.  P.'  Jose  Vieira 
de  Mello  desde  cste  dia  ate  13  de  abril  do 
mesmo  anno,  e  depois,  o  sr.  V.'  Joaquim 
Duarte  de  Mattos  atti  3  de  julho  de  1837. 
Seguiu-se  um  intervallo  de  mais  de  3  annos, 
em  que  esta  egreja  esteve  sem  parocho.  Nesta 
epocha  os  freguezes  da  Vaccarica  quasi  todos 


'  Chronica  dos  Eremitas  de  Sanclo  Agoslinho — torn. 
e  part.  I."  livro  1."  titulo  8."  v^.°  5.°  —  Diz,  que  este 
breve  se  acha  no  Cartorio  da  Graqa;  mas  quern  o  quizer 
ver,  so  por  casualidade  o  podera  encontrar.  Procurando 
no  governo  civil  de  Coimbra  aquelle  breve  e  outras  no- 
ticias, achei,  em  logar  do  interessante  Cartorio  da  Gra^a 
de  1834,  uns  poucos  de  masses  de  papeis  sem  ordem.  que 
apenas  occupavam  tres  ou  quatro  palmos  ao  canto  d'uma 
estante. 

*  Chronica  dos  Eremitas  de  Sancto  Agostinho —  logar 
citado. 

-  Os  documentos  d'estas  noticias  deveriam  estar  em 
outro  tempo  no  cartorio  da  Gra^a.  Ainda  bem  queja  sao 
noticias  contemporanea^. 


18 


se  confessavam  e  desobrigavani  nas  egrejas 
\izinhas;  c  ulgiins  servicos  demaior  urgencia 
eraiii  leilos  allemadamcnle  jior  dilTeieiitcs 
clerigos  da  Ircguozia ;  iiriiuipaliiu'iiU'  pcio 
sr.  P."  Victoiiiio  Vioira  de  Mi'llo,  (|iic  fez  a 
inaior  parte  dcslo  scrvico,  o  sr.  P.'  Conslaii- 
lino  Joa(iiiiiM  do  Olivcira,  e  o  sr.  P."  Joa- 
iiuim  Diiarte  de  Matlos.  Em  22  de  novenil)ro 
de  18'i0  acal)ou  esta  irregularidade,  loinaii- 
do  posse  de  vigariu  eneoiniiieiidado  o  sr.  P." 
.Vntouio  Correa  da  Foiiseea,  ([iie  seiviu  ate 
1847.  Neste  aniio,  a  23  de  iiovembro,  foi 
collado  nesta  egreja  o  actual  paroclio  o  sr. 
P.'  Yit'toriiio  Vieira  de  Mello,  (prirao  d'aqiiel- 
le),  que  tciu  de  congrua  duzeutos  mil  reis, 
enlrando  nesta  quaiitia  sesscnta  uiil  reis  que 
llie  arbitraram  de  pe  d'ailar'.  No  processo 
da  collaeao  ainda  veni  considerado  como 
\igario;  mas  da-sc-lhe  gcrnlmeute  a  denonii- 
uacao  de  prior,  que  ja  conipetia  ao  reitor  da 
•  iraea  na  qualidade  dc  paroclio  collado  na 
mesma  egreja. 

A.   .*.   DA  COSTA  SIMOES. 


POESIA  SLA.YA  -MODERNA. 

Continuado  de  pag.  U. 

ElemeiUarcs  e  aranbadas,  como  sao,  estas 
duas  especies  de  cancoes  populares  coiisti- 
tuem  as  unicas  ruinas,  que  ainda  restam  do 
antigo  genio  uacioiial  poetico.  Tudo  quanio 
nao  for  krakoHnka  ou  koloiiujiku  nao  tern  eii- 
trada  na  cboupana  do  povo,  nem  Iraz  o  cunbo 
espontaneo  do  genio  pobuo.  Poesia,  que  lor 
exclusivamente  privativa  dos  pacos  dos  senbo- 
res,  em  paiz  algum  pode  intitular-se  popular; 
sera  talvez  muito  bella,  porem  a  sua  accao 
decisiva  sobre  as  massas  e  quasi  nulla.  E 
0  I'ructo  d'esl'orros  individuaes,  de  talentos 
isolados,  e  a  poesia  cosmopolita.  Por  muito 
sublimes  que  sejam,  e  em  virtude  mesmo  da 
sua  sublimidade,  Krasiiiski,  Mickievicz,  Slo- 
\acki,  nao  podem  scr  seguidos  nos  seus  voos 
scuiio  por  urn  numero  diminuto  d'espirilos 
escolbidos.  0  povo,  esse  nao  os  corapreben- 
de,  por  que  naquellas  lyras  nao  ha  uma  so 
corda,  que  Ihe  vibre  ossons  dogouslo.  Quasi 
sempre  impalpaveis  para  o  vulgo,  andam 
pairando  nas  abstraccoes,  no  absoluto.  Em- 
balam-se  nos  sonbos  do  occidente. 

Nao  queremos  dizer  com  islo,  que  o  espirilo 
da  Polonia  nao  possua  instinctos  maravilbosa- 
niente  slavos  e  conf'ormes  com  as  crcncas  do 
ijouslo.  0  latinismo  so  conseguiu  desnaciona- 
lisar  as  classes  elevadas.  0  povo  baixo  ficou 
0   que  era,   c  melhor  (|uc  os  seus  proprios 


'  O  Parocho  de  Liiso  tem  125^000  reis,  rontan4lo  de 
pe  d'altar  50^000  reis;  e  o  da  Pampilhosa  JOO^OOO  reis, 
eiitrando  14!$000  reisdep^  d'altar. 


magnates  comprehcnderia  as  rbapsodias  ser- 
vias,  se  Ib'as  traduzissem  ;  porem  o  mesmo 
turbilbao  d'iunovaeoes  e  cosmopolitisnio,  que 
revolveu  a  llussia  ,  arrasta  tambcm  a  Polo- 
nia. E  eis  a  razao  jioniue,  ate  hoje,  apeaas 
produziu  dnis  bomeus,  (|ue  souberam  desen- 
Iranluir  do  I'undo  das  velbas  llorestas  lekbitas 
I)  (/ousle  de  seus  avos,  e  dar-lb(!  a  forma  de 
uma  poesia  nova,  admiravel  rellexo  da  vida 
slava.  Estes  dois  homens  sao  Kasimiro  Brn- 
dzinski  e  Uohdan  Zaieski.  0  primeiro,  lilho 
das  provincias  exclusivamente  latinas  da  Po- 
lonia, apenas  tem  podido,  e  verdade,  ideali- 
sar  a  krakoviaca.  Mas  ao  mcnos  elevou-a  a  uuia 
perl'eican  de  forma,  a  uma  graca  d'cstilo,  a 
uma  candura  de  pensamentos,  a  que  nem 
ainda  de  leve  poderam  attingir  os  nebulosos 
romantii'os,  (|ue  Ibe  succederam,  scm  exceptuar 
0  proprio  Michiovicz.  Em  (pianto  a  Bohdan 
ZaIeski,  naseido  cm  mais  favoraveis  condi- 
cocs  de  desinvolvimento  poetico,  caminhando 
livre,  como  o  lilho  da  naturcza,  por  meio  dos 
steppes  illimitados  da  sua  querida  Ukrania, 
pikle  encontrar  alii  toda  a  frescura  d'inspi- 
racao  e  toda  a  independencia  slava.  Reuno 
a  transpareucia,  a  lim[iidez  de  forma  dos 
antigos  lyricos  gregos  a  originalidade  da  sua 
raca.  E  um  digno  rival  de  Subbotitj,  de  Sta- 
nko-Vraz  e  dos  classicos  servios  mais  puros. 
Desgracadamente  um  e\ilio  muito  prolougado, 
uma  sequestracao  comideta  doambienle  e  dos 
costumes  slavos  ondo  embalava  a  sua  vida, 
acabaram  por  lancar  Zaieski  na  poesia  oc- 
cidental, que  elle,  por  tim  alliou  aos  extasis 
niessianicos,  mas  as  suas  duiiikus  ukranias  e 
OS  seus  cantos  galicios,  licam  sendo  pelo  menos 
um  tbcRouro  rcservado  para  o  futuro  da  Po- 
lonia. Em  vao  prelende  a  chusma  dos  imita- 
dores  desligurar  o  modclo,  desnatural-o,  ac- 
carretar-lbe  o  ridiculo;  a  obra  do  meslre 
persiste,  e  como  o  germc  fecundo  cscondido 
debaixo  da  neve,  espera  para  produzir  o  fru- 
cto,  dias  mais  quentes,  mais  creadores  que  os 
nossos. 

Em  summa,  a  influencia  ate  agora  exercida 
pelo  yoitslo  sobre  cada  uma  das  quatro  litte- 
raturas  slavas  e  muito  diversa.  Os  Polacos 
fazem  todos  os  esforcos  para  reanimal-a,  mas 
OS  seus  maiores  poctas  ainda  nao  a  souberam 
comprehender.  E  certo,  que  elles  reanimam 
com  um  raro  amor  filial  o  culto  das  tradi- 
coes  da  mae  patria,  mas  param  nas  tradicocs 
ja  corrompidas,  sem  se  alToitarem  a  rcmontar 
ate  as  origens  slavas,  ate  as  verdadeiras 
dziady  da  Polonia;  e  assim  nada  mais  fazem 
do  que  girar  num  circulo  vicioso.  Pelo  que 
respeita  aos  Bobemios,  estes  rcconbecendo-se 
incapazes  de  ressuscitar  o  yuuslo,  cmbalsa- 
mani-no  piedosamente  como  iima  mumia.  Mais 
diloso,  0  povo  moscovita  ainda  escuta  com 
paixao  o  sen  yousle,  embora  as  musas  aristo- 
craticas  de  Pelersburgo  se  obstmcm  em 
desdenhal-o;  mas  entre  as  suas  maos  sarca- 


19 


I 


stii'as  nao  passa  dc  iinia  bonccn,  ilr*  (|iio  so 
servcm  para  diverlir  as  creaiiras  c  caplar  a 
gcnte  do  povo.  Em  toda  a  Slavia  somcnte  os 
poetas  illyrios  servios  tomarain  o  yoiislo  a 
scrio.  Em  quanto  que  as  outras  lilicraluras 
slavas  comcraram  pelo  lim,  pcio  cosmopoli- 
tismo,  j)ara  vollarcm  mais  lardc,  coxcaiido 
e  jii  fatigados,  as  suas  origens  c  ii  infaiuia 
(!a  poesia ;  a  lilteratura  illyrio-servia  line  o 
1)0111  senso  de  comerar  pelo  principio.  toiiiaii- 
do  por  ponto  de  partida  o  espirito  de  raea, 
e  iniitando  os  antigos  Gregos,  os  quaes  ao 
passo  que  se  iam  desinvolvendo,  iiunca  dci- 
xaiam  perdcr  de  vista  o  (jue  era  o  sen  (jouslo 
d'clles, — a  poesia  liomeriia. 

D'tste  despertar  de  raca  enlre  os  Slaves, 
do  que  nos  parece  tcr  indicado  suflicientcs 
testoniunlios,  queremos  por  agora  lirar  unica- 
mente  unia  conclusao:  voni  a  ser,  que  uma 
litteralura  liassica  e  viva  emanada  dos  ijonf;- 
lars,  que  se  constiluisse  num  povo  podcroso 
nos  limites  da  Europa  e  da  Asia,  c  que  tives- 
sc  urn  largo  desinvolvimeuto,  invoslida  de  res- 
peilo  no  interior,  forte  pela  propaganda  no  ex- 
terior, tornar-se-hia  o  vehiculo  o  mais  agrada- 
vei  e  ao  niesmo  tempo  o  mais  poderoso  d'um 
progresso  pacifioo  eutre  povos  todos  (illios  do 
Oriente.  Basta  com  elTeito  a  compararao  mais 
superficial  para  patenlear  a  singular  scme- 
liianca,  que  tem  as  picsnas  dos  gonslnrs  com 
as  poesias  persicas,  indias,  tataras,  e  ate 
com  OS  poemas  dos  mandarins  chinczes;  so 
com  a  dilforenca  que  as  pie.tnas  slavas  teem 
urn  sopro  d'lieroismo  e  d'abnegacao  chrisla, 
que  faita  as  poesias  asiaticas;  e  dcliaixo  deste 
aspecto,  sao  o  ponto  de  passagem  entre  as 
velhas  litteraturas  panteisticas  do  Orien- 
Ic,  e  as  litteraturas  christas  moderiias.  0 
ijoiisli)  niio  alcancaria  cxercer  mais  do  que 
uma  inllucncia  muitc  secundaria  sobre  as 
sociedades  occidcntacs;  mas,  lornamos  a  re- 
petil-o,  pode  servir  para  auxiliar  as  povoa- 
coes  do  Oriente  nas  suas  tendeucias  para  as 
reformas  prudeutes,  que  podem  sos  assegu- 
rar  a  sua  emancipacao.  Tal  e  o  fito  para 
onde  convem  hoje,  que  se  dirijam  as  littera- 
turas slavas  inspirando-sc  do  (jouslo;  e  se 
ellas  0  conseguem,  muito  bem  mcreccrao  tan- 
lo  da  Eurojia  como  do  Oriente. 

\^r.  ROBERT,  ua  Revista  dos  dots  mundos.) 


A  RIM  A  NA  POEZIA  MODERN  A. 

Continiiado  de  jiaj.  23B. 

A  scnsacao  agradavel,  que  causa  o  verso 
quando  0  adorna  a  rima,  nao  e  a  unica  van- 
tagoni,  que  d'esta  provem  a  vcrsificacao.  Em 
linguas  tao  fracamente  accentuadas,  como  as 
modernas,  a  repeticao  dos  mesmos  sons  torna 
mais  saliente  a  terminacao  do  rylhmo,  pouco 


sensivel  pela  ijicerleza  das  suas  longas  e 
breves;  laz-nos  mais  lacilraente  conliccer,  que 
0  verso  acabou.  A  riina  produz  no  verso  o 
mesmo  cITcito,  que  a  repeticao  do  rythnio 
causa  no  poema :  da-lbe  unidade,  cstreita  os 
lacos,  que  prendem  as  suas  differentes  partes. 
A  reuniiio  de  sons  similhantes  excita  o  sen- 
(imeiito  musical,  dispoe  o  ouvido  a  perceher 
a  relacfio  das  outras  syllabas  e  o  cspirito,  a 
comprehender  o  encadeamento  das  ideas.  A 
rima  auxilia  lambem  a  memoria,  a  conso- 
nancia,  que  a  conslilue,  da  a  intelligencia  urn 
meio  facil  de  recobrar  o  lio  das  ideas,  e  e 
uma  vantagem  incontestavel  facilitar  o  traba- 
Iho  da  rcminiscencia,  e  para  os  bons  versos, 
mais  uma  boa  qualidade  o  nao  ser  difficil 
rc<ordal-os.  Rimar  e  difficil;  mas  venci- 
da  felizmcnte  essa  difficuldade,  d'ahi  resulta 
prazer  para  o  espirito  e  belleza  para  o  ver- 
so, que  assim  adquire  mais  um  ornamenlo.  E 
realmentc  consideravcl  a  graja,  a  energia,  a 
vivacidade,  que  a  rima  da,  ao  pensamento  e 
a  expressao,  pela  forma  elegante  dc  que  re- 
veste  a  phrase,  com  quanto  para  o  conse- 
guir  .scja  necessario,  que  clla  appareca  com 
tal  uaturalidade,  ([ue  encubra  o  trabalho  de 
procural-a. 

A  pczar  das  incontcstaveis  vantagens,  que 
da  rima  provem  a  exprcsao  dos  sentimentos 
e  paixoes  do  poeta,  muitos  e.scriptorcs,  entre 
OS  ([uaes  avultam  Fenelon  e  La  Motte,  rejeitam- 
na,  como  um  defcito  so  capaz  de  produzir 
inconvenientes.  Negar  que  a  rima  seja  um 
clemento  de  melodia  de  summa  importancia 
jiara  o  verso  seria  difficil,  nem  e  esse  o 
caminho,  que  scguem  os  sens  antagonistas. 
0  defcito,  sobre  que  mais  insistcm,  o  maior 
inconveniente,  que  na  rima  encontram,  e  o 
obslaculo,  que  d'ella  dizem  resultar  para  a 
expressilo  forte  e  energica  do  pensamento 
poelico:  accusam-na  de  prender  a  imaginacao, 
de  aUerur  as  ideas  concebidas  pelo  poeta. 
inipedindo-o  de  as  apresentar  taes,  quaes  as 
creou. 

Esta  objeccao,  posto  que  especiosa,  nao 
tem  muita  importancia.  Que  scja  mais  dif- 
licultoso  ao  poeta  exprimir-se  com  uaturalida- 
de e  energia,  tendo  de  submetter  as  palavras. 
que  emprega  a  uma  eon^onancia  obrigada, 
e  uma  verdade;  mas  que  d'ahi  se  deduza 
a  ulilidade  da  obliteracao  da  rima  em  todos 
OS  generos  de  poesia,  e  inadmissivel.  Admit- 
tida  clla,  reprovada  a  rima  como  obstaculo  a 
belleza  da  expressao,  e  logico  proscrever  tam- 
bera  0  verso,  que  sujeita  a  uma  cadencia  e  a 
um  rylhmo  forcado  as  palavras,  que  enun- 
ciam  a  concepcao  do  poeta:  de  mais,  a  rima 
longe  de  difficultar  a  expressao,  ajuda-a  as 
vezes  e  cnriquece-a  sempre  com  os  ornamen- 
tos  materiaes,  de  que  a  rcveste.  Rimar  bcni  e 
uma  difficuldade;  mas  vencida  ella,  a  belleza 
do  verso,  e  portanto  da  poesia,  augmenta, 
e  augmenta  consideravelmente.  Os  versos  ri- 


20 


mados,  pela  molodia,  que  Ihese propria,  actuam 
>iiiiullunoaiiii'iilc  sobre  a  iiiuifjiiiacao  e  os  sen- 
tidos,  possucm  no  mais  elevado  grao  o  podiT 
de  commoM'r,  de  scnsiliilisar,  lim  priiuipal 
da  ])0esia.  E  a  dilliciildade  veiu'ida  e  mais 
iim  luorecimcnto  para  o  vorso,  e  jjara  o  jioela. 
0  cscravo,  quo  a  cuslo  arrasta  as  cadoas,  quo 
o  algomam,  nao  surprolioiido  iiinguoni,  mas 
adniirara  a  todos,  so  com  tal  arto  dislaroar  o 
incommodo  o  poiui  ([ue  llio  cnusam,  (]uo  mais 
parocam  ornal-o  ([uo  prondol-o.  Que  a  rima 
nao  sulToca  iiom  tyraiiiza  o  pensamenio,  at- 
teslam-no  os  magnilicos  vorsos  de  Ariosto, 
lie  tamOos,  de  Tasso,  de  Violor  Hugo,  e  de 
niuitos  grandes  poolas  (jue  limaram,  som  ([uc 
d'alii  provicssem  defeitos,  senao  maiores  bel- 
lezas  as  suas  poesias. 

Daqui  nao  pode  deduzii-se  que  a  lima,  que 
a  forma  scja  o  principal  e  a  idea  o  accessorio; 
peio  contrario.  Veneer  a  difliculdade  da  rima 
0  0  que  0  poeta  dove  ter  em  vista,  mas  sem 
nunca  liie  sacrificar  um  grande  scntimenlo 
ou  uma  bella  imagom.  A  idea  dove  dirigir, 
a  rima,  como  diz  Boiloau,  ol)edecor  conic 
escrava.  Conseguir  conciiiar  o  ornamcnto  da 
forma  com  a  magestade  eenergia  da  idea,  niio 
e  lao  diflicil  como  parcce.  Os  inconvenientes 
da  rima,  diz  o  abbadc  d'Olivet,  tao  sensiveis 
nas  obras  d'um  mau  poeta,  convcrtem-sc  em 
bellezas  nas  maos  d'um  bomem  do  genio. 
Alem  de  que  e  de  summa  difliculdade  evitar 
nos  versos  soltos  dureza  e  desbarmonia.  Nos 
versos  do  CamOes,  e  da  D.  Branca  sente-se 
que  as  gracas  e  enfeitcs  da  rima  nao  venbani 
realcar  o  bello  do  pensamenio  as  vezes  dimi- 
nuido  pela  dureza  da  forma,  ao  passo  que  so 
adniira  nos  versos  do  sr.  Joao  de  Lenios  a 
felicidade  com  que  a  suave  mclodia  da  versi- 
ficacao  sc  casa  com  a  expressao  forte  e  e\a- 
cta  da  idea. 

Neni  se  pode  imputar  a  rima  o  pur  a  pocsia 
ao  alcance  dos  maus  poetas.  Rimar  bera,  il- 
ludir  a  difliculdade,  Irazer  os  consoanles 
com  tal  naturalidade,  que  pareca  que  a(iuelle 
e  0  unico  modn  porque  se  poderia  exprimir  o 
pensamenio  do  poeta,  e  urn  trabalbo  superior 
as  forcas  de  quem  nao  Icni  talento  natural, 
habilidade  para  a  poesia.  0  abbade  Dubos, 
nas  suas  Reflexoes  triticas  sobre  a  poesia, 
sustenta  que  e  impossivel  deixar  de  consi- 
derar  o  trabalho  de  rimar  como  a  mais  baixa 
das  funccoes  da  raecbanica  poetica.  Outro 
tanto  se  deve  entao  dizer  da  syllaba,  e  dos 
pes  dos  versos  d'Uomero  e  de  Yirgilio,  e  das 
construcocs,  lao  cuidadosamente  elaboradas, 
([ue  OS  antigos  scriptores  julgaram  tao  impor- 
tantes  nos  sens  discursos,  como  a  ligacao  c 
ordera  das  ideas. 

Nao  concluirei  d'o  que  levo  dito,  que  os 
versos  soltos  da  lilleratura  de  todos  os  povos 
modernos  sejam,  como  quer  Voltaire,  prosa 
sem  medida  alguma,  so  dislincla  da  prosa 
ordinaria  per  certo  numero  de  syllabas  eguaes 


c  monotonas,  que,  por  convencao,  se  denomi- 
nani  verso  X  consonancia,  a  repeticiio  uni- 
forme  dos  sous  nao  e  semprees.sencial  a  poesia. 
Quanto  mais  graudeza,  iuteresse,  e  vigor 
tcm  um  pensamenio,  mais  diminue  d  im- 
portancia  o  roalce,  que  a  rima  da  ao  verso; 
ijuanto  mais  energicas  e  tocanles  sao  as  ideas 
I'xprimidas,  menos  valor  se  da  a  forma  ma- 
terial, (jue  as  revesle:  o  interesse  que  a  nar- 
racao  inspira  nao  consenle  roparar  na  liar- 
monia  da  pbrase,  ou  na  melodia  dos  sous. 
Por  isso  e  que  em  algumas  linguas,  cuja  ac- 
cenluacao,  mais  pronuuciada,  mais  dislincla 
do  sentido,  introduz  no  verso  alguma  melodia, 
se  bem  quo  pouco  sensivel,  a  poesia  se  tern 
[>or  vezes  liberlado  dos  grilboes  dourados  da 
rima.  Mas  os  versos  soltos  das  linguas  mo- 
deruas,  da  allema  mesma  que,  pela  sua  indole, 
forma,  para  assim  dizer,  a  Iransicao  enlre 
as  linguas  antigas  e  as  modernas,  estao  longe 
d'imilar  a  melodia  da  versiticacao  antiga; 
antes  diHicilmente  cvitam  cabir  na  desliar- 
monia  e  na  dureza. 

Segundo  Benloew  as  tentativas  ale  boje 
feilas,  para  liberlar  da  rima  as  poesias  be.s- 
panholas  e  ilalianas,  teem  sido  infelizes.  Na 
poesia  franceza  a  rima  e  indispensavel.  Ver- 
dade  e  que  Scoppa  c  Mablin  sustcntaram, 
que  a  lingua  franceza  se  piestava  como  as 
outras  a  imitar  os  versos  antigos,  e  quo,  so 
ate  entao  se  nao  tinliiio  feito  versos  sollos 
cm  francez,  isso  devia  ser  altribuido.  on  a 
falta  d'inlelligencia  dos  poetas,  ou  a  sua  pre- 
guica,  que  recuava  diante  d'algumas  dillicul- 
(iades.  Mas  esta  opiniao,  alem  deconlraria  ao 
pensar  de  crilicos  laes  como  Boileau  e  Voltaire, 
nao  se  funda  sobre  um  so  exempio  de  bons 
versos  francezcs  niio  rimados.  0  tretho  se- 
guinte  traduzido  por  Voltaire,  da  Merope  de 
Maflei  e,  a  meu  ver,  prova  sufficiente  de  quao 
pouco  propria  e  para  se  liberlar  da  rima  a 
versilicacao  franceza. 

Je  me  souviens  encore  de  celte  pompe  aiigusle 
Qui  jadis  en  ces  lieiix  marqua  les  premiers  jours 
Dm  regne  de  Ctiresphonte.  Ah  le  prand  appareil ! 
II  n'est  pas  aujourd'hui  de  semblables  spectacles  : 
Plus  de  cent  animaux  y  furent  immol^s; 
Tons  les  pretres  brillaient,  et  les  gens  ^Mollis 
Voyaient  Tor  e  I'argent  partout  etinceler. 

Nao  foi  mais  feliz  o  celebrc  ministro  Turgot 
na  sua  tenlativa  de  traduccao  da  Encida  em 
versos  hexametros  regulados  pelos  principios 
da  versilicacao  latina. 

E  como  imaginar,  que  uma  nacao,  que  pos- 
sue,  tanto  como  outra  qualquer,  o  senlimento 
do  bello,  se  enganasse  por  tanto  tempo  sobre 
0  genio  da  sua  lingua,  a  ponto  de  rimar 
sempre,  podendo,  sem  esse  constrangimenio 
ter  versos  harmoniosos? 

Naquellas  linguas  cuja  accenluacao  mais 
sensivel,  menos  confundida  com  a  significa- 
cao,  perraitte,  para  cxprimir  affectos  fortes, 


21 


(I  uso  do  verso  «olto,  essa  libcrdadc  so  pode 
oxtfiidcr-se  ao  vcrsoi  ile  mais  do  nove  syl- 
labas;  porque  so  nesses  versos,  que  reunem 
uni  mnior  niimero  de  pausas  e  d'accentos, 
podc  iiaver  uma  tal  on  qiial  mclodia,  que  nao 
seja  a  provenieiite  da  rima;  melodia  pouco 
sensivel  na  verdade,  mas  que  nao  e  urn  de- 
feilo,  quando  a  idea  e  hastanle  forte  por  si 
mesnia  para  prender  a  attencao.  Nao  acon- 
leco  porem  assim  nos  versos  mcnores,  onde  o 
pequeno  numero  dos  accenlos  c  pausas  torna 
indispensavel  a  rima  para  cvitar  que  os 
versos  se  confundam  com  a  prosa.  Esta  regra 
de  goslo  seguiram-na  todos  os  bons  poetas. 

E  lacil  accunuiiar  os  exenipios.  Milton,  que 
I'screvcu  em  verso  soito  o  seu  niagnilico  poe- 
ma  0  Paraiso  fjerdido,  rimou  il  Ponseroso 
escripto  em  verso  menor.  Pope  c  Byron  so  dei- 
xaram  as  vezes  de  rimar  versos  d'onze  syi- 
labas.  Na  nnssa  litteratura,  Garrao  inimigo 
declarado  da  rima,  quando,  na  sua  bclla  ran- 
tata  de  Dido,  passa  do  verso  maior  para  o  dc 
quatro  syilabas,  rima,  por  que  scni  isso  olTen- 
(ieria  o  ouvido.  E  inutil  insislir  sobre  este 
ponto:  pode  assegurar-se  que  a  universalida- 
de  dos  poetas,  salva  uma  ou  outra  infeliz 
lentativa  de  Francisco  Manoel,  seguiram,  como 
regra  invariavel,  o  liberlar  da  rima  tao  s6- 
mente  o  verso  maior  de  novo  syilabas,  quan- 
do neile  se  exprimem  assumptos  tao  grandcs, 
que  podem  prescindir  do  ornato  loucao  e  de- 
licado  das  consonancias. 

A.  deORNELLAS. 


ESTLUOS  PRELIMINARES  DE  BIOLOGU. 


I.=    PARTE. 


Definicdo  de  phijsioloyia:  hisloria  e  impnr- 
tancia  d'esla  sciencia. 


I. 


0  estudo  do  organismo  e  dos  seus  dif- 
I'erentes  actos  e  um  dos  mais  iranscen- 
dentes  e  necessarios  ao  homem,  que  no  mun- 
do  se  encarrega  da  missao  mais  nobre  de- 
pois  do  servico  dos  altares,  ao  homem  que, 
como  diz  Huiland,  se  pode  chamar  o  sacer- 
dote  do  fogo  sagrado  da  vida,  o  seubor  das 
forcas  occultas  da  natureza.  Todo  o  medico, 
dizia  Hippocrates,  deve  estudar  a  natureza 
humana. 

0  medico  nao  pode  conhecer  o  estado  anor- 
mal  do  ser  organisado,  objecto  dos  seus  es- 
tudos  e  cuidados,  sem  que  tenha  um  perfeito 
c  cabal  conhecimento  d'este  individuo  no 
«stado  normal  ou  physiologico. 


0  cnle  vivo  consta  de  diversas  partes; 
estas  sao  dotadas  dc  dilTerentes  propriedades; 
entram  em  exercicio  ou  funccionam  segundo 
certas  e  determinadas  leis.  A  sciencia,  que  se 
occupa  do  conbecimento  d'estas  proprieda- 
des, d'cstas  I'uncOes  c  das  suas  leis  regula- 
doras,  tonia  o  nomc  de  physiologia. 

Algiins  auctorcs  teem  procurado  subsliluir 
a  palavra  pinj.siolrxjia  o  termo  biolorjia  como 
•mais  proprio.  Physiologia  indica  estudo  da 
natureza,  e  sendo  esla  o  complexo  dos  seres 
que  conipoem  o  universe  ou  natura  naturata, 
ou  por  outra  o  complexo  de  corpos  que  Deus 
creoH,  concluem  que  a  expressao  physiologia 
comprehende  mais  do  que  o  dctinido. 

Assim  devia  ser,  se  a  palavra  natureza  ti- 
vcsse  uiiicamente  esta  significacao. 

0  vocabulo  natureza  deriva  d'uma  pahnra 
chaldaica  que  signilica — fogo:  era  o  cati- 
dum  innatum  considerado  pelos  antigos  como 
origem  da  vida,  e  causa  de  todas  as  cousas. 

Nos  Gregos  a  palavra  natureza  deriva  de 
tfjoi;  do  verbo  grego  ipuo,  eu  produzo.  D'cstc 
modo  a  natureza  era  para  elles  uma  causa 
activa,  e  productora  e  o  objecto  continuo 
d'um  culto  especial. 

A  palavra  natureza  tambem  se  emprega 
para  exprimir  a  ordem  pcrpetua,  que  preside 
ao  mo\iiiiento  do  universo.  A  idea,  que  os 
Gregos  Ihc  ligavam.  d'uma  causa  activa  e  pro- 
ductora, fez  com  que  Hippocrates  designasse 
pelo  termo  natureza  tpuci?  a  causa,  que  pre- 
side a  todos  OS  movimentos  organicos  e  vi- 
laes, — 0  principio  animador  do  ente  vivo. 
Com  0  mesnio  lim  imaginou  Crollio  o  seu 
astrum  internum;  Miguel  Alherli  o  principium 
energoumenon;  Van  Ilclmont  o  arclieo.  Estas 
consideracues,  signilicar  a  expressao  natureza 
tamhcm  a  esscncia  intima  d'uma  cousa,  fazeni 
adoplar  como  exacta  a  palavra  physiologia 
para  designar  a  sciencia,  que  se  occupa  da 
causa,  que  preside  aos  phenomenos  da  vida, 
e  que  estuda  a  essencia  intima  dos  corpos 
organisados. 

Pelo  que  acabamos  de  dizer  se  pode  ado- 
plar nao  so  0  termo  physiologia,  mas  tam- 
bem a  idea  de  a  delinir  sciencia  da  natureza 
como  se  exprime  Burdach,  um  dos  mais 
celebres  physiologislas  dos  tempos  moder- 
nos. 

0  ente  vivo  pode  achar-se  em  dois  estados 
mui  distinctos,  saudc  c  doenca:  a  ambos  se 
estende  o  dominio  da  physiologia :  e  d'ahi 
vem  a  divisao  de  physiologia  em  normal  ou 
hijcjienica,  e  anormal  ou  patholoyica.  A  phv- 
siologia  tambem  se  divide  cm  (jeral  e  es- 
pecial. A  primeira  e  aquella  que,  sem  fazer 
applicacao  a  especie  alguma  determinada  de 
seres,  tracta  d'um  modo  phylosophico  e  ahs- 
tracto  dos  phenomenos  da  vida.  0  contrario 
d'isto  e  a  physiologia  especial. 

Relativamente  ao  mesmo  individuo  a  phy- 
siologia tambem  se  pode  dividir  em  geral  c 


9Q 


especial,  boguudo  sc  occupa  <los  plicnonirnos 
do  ser  vivo  em  globe,  on  liatla  de  cada  iima 
das  fuiicriies  em  especial. 

A  pliysologia  pode  ser  theorica  ou  experi- 
menlul,  segiindo  o  seu  esludo  se  limitar  a 
exposirao  lie  doutrinas,  c  ao  raclocinio;  ou 
sc  esclarecur  com  observacOes  leitas  no  boiiicm 
ou  nos  animaes:  dividindo-se  iieslc  ultiiiio 
caso  em  i)bysiologia  liiimdiia  e  compuimla. 


II. 


A  pbysiologia  como  seienria  luio  data  de 
lemotas  eras.  A  sua  hisloria  pode  ser  di- 
\idida  em  dois  periodos  mui  distinctos,  rom- 
prchcndendo  o  primciro  a  liisloria  da  jiliy- 
siologia  antiga,  e  o  seguiido  a  hisloria  da 
pbysiologia  moderna,  que  data  do  rciiasei- 
lueuto  das  lelras  ua  Europa,  (piaudo  o  estudo 
da  aualomia  deu  um  impulso  particular  a  esla 
.sciencia.  Escusado  nos  ])an'ce  demonslrar  a 
conncxao,  que  exisle  eiitrc  csles  dois  ranos 
da  arte  de  curar.  Todos  os  factos  ua  pby- 
siologia resultam  da  oiiiaiiisiiruo,  o  do  dyna- 
mismo;  o  conhecimento  d'a(|uella  ninguem 
o  pode  dar  scuao  a  analomia. 

A  mcdicina  dos  tempos  anligos,  bascada 
lias  observafoes,  na  cxpericiicia  e  na  aiia- 
logia,  oecupava-sc  so  c  uiiicainente  da  cura 
das  molestias.  Eram  os  padres  ijue  se  dedica- 
vam  a  estc  sancto  mister,  e  isso  eslava  em 
iiarmouia  com  as  ideas  religiosas  eulao  do- 
minantes,  julgaudo-se  as  molestias  castigos 
da  ira  diviua.  As  obras  mais  aiitigas  da  me- 
diciua  parccem  devidas  aos  Cbins;  attri- 
biie-se  ao  imperador  Cbin-Nong,  raorlo  2700 
aimos  antes  ilc  J.  C.  a  publicacao  do  jirimciro 
livro  medico. 

Naquelles  tempos  dc  superstiiao  julgava- 
se  sacrilegio  a  abertura  dos  cadaveres;  nao 
podia  por  eoiiseguinte  haver  ideas  cxactas 
sobre  a  anatomia  e  ainda  mesmo  sobre  a 
pbysiologia.  As  epochas  antigas  contain  com 
orgulho  trez  homens  cminentes  no  aperfei- 
coamento,  que  depois  leve  a  medicina.  Foram 
Melampo,  Chiron,  e  Esculapio.  Este  ultimo 
prestou  tantos  services  a  bumanidade,  (jtie 
mereceu  ser  contado  entrc  os  dcuses,  e  era 
sua  honra  se  erigiram  trez  templos,  cm  cujas 
parcdes  so  depositavam  as  relacoes  das  mo- 
lestias e  a  applicacao  dos  reracdios,  que  ti- 
iihara  aproveilado,  c  ruja  administraeao  era 
semprc  acompanhada  de  practicas  religiosas. 

Nada  indieava  com  tudo  que  em  tal  epocha 
a  pbysiologia  fosse  estudada. 

Esla  sciencia  tomou  origcm  nos  antigos 
(ircgos.  Posto  que  as  suas  ideas  ainda  fossem 
por  exiremo  vagas.  com  ludo  ellcs  procura- 
ram  ligar  os  phenomenos  physiologicos  ao 
principio  particular,  a  que  cada  um  procurava 
referir    todos   os   phenomenos  [da    natureza. 

Foi  a  eschola  philcsophica  de  Pythagoras 


a  priiueiia  que  sc  entregou  ao  esludo  da  ana- 
lomia, e  procurou  raciocinar  a  cerca  das 
luncoucs  animaes.  Mui  incerlas  e  obscuras 
sao  as  opinioes  attribiiidas  a  Pythagoras  e  a 
todos  os  antigos  philosojihos.  Parece  que 
aijuelle  procurou  determinar  a  formacao  suc- 
ccssi\a  do  euibryao;  todos  os  animaes  nasciam 
d'um  germe,  c  iuadmissel  era  a  doutriiia  das 
gcracoes  esponlaneas.  Notou  o  encadeamento 
de  todos  OS  ados  da  economia  animal. 

Alcmeon,  de  Crotone,  Empedode  d'Agri- 
gento,  e  principalmcnle  Di'inocrito  entrega- 
ram-se  a  disseecao  dos  animaes,  e  procurarani 
resolvcr  divcrsas  qncstocs  phjsiologicas. 

Alcmeon  colloca  o  loco  da  alma  no  ccrebro: 
scgundo  elle  o  pae  e  a  mae  lornecem  egual- 
mente  a  semente  na  geracao ;  o  sexo  do  feto 
segue  0  do  individuo  que  mais  parte  activa 
tomou  no  acto  de  copula.  A  cabeca  e  a  pri- 
meira  parte  que  sc  I'oriua :  o  feto  nulre-se 
l>ela  pelle.  0  moviraento  do  sangue  e  o  prin- 
cipio essencial  da  vida :  a  sua  cslagnacao 
nas  veias  determina  o  somno,  e  sua  expan- 
sao  acliva  cutretem  a  vigilia.  A  saude  con- 
sislc  no  eciuilibrio  das  qualidades  primarias 
taes  como  o  calor,  o  frio,  o  sccco,  o  humido,  o 
amargo,  o  ddce;  o  predominio  de  uma  d'estas 
qualidades  produz  a  doenca.  Empedode  rc- 
conhece  uma  grande  analogia  entre  o  ovo 
dos  animaes,  e  as  scmentes  das  planlas.  Ad- 
miltia  ja  que  o  feto  tirava  a  sua  nutriccao 
do  cordao  umbilical.  A  inspiracao  e  expira- 
cao  Ibe  parecem  depcndcr  d'um  fluxo  e  re- 
lluxo  alternado  do  ar  nos  vasos.  que  van  as 
diversas  partes  do  corpo. 

Democrito  explicou  pela  diversidade  de  or- 
ganisacao  a  variedade  de  costumes  e  haliilos 
dos  animaes.  Conheceu  a  importancia  da  bile 
na  digeslao.  Os  orgaos  dos  sentidos  sao  como 
espelhos,  onde  se  pintara  os  objeetos.  Todas 
as  sensacocs,  cujo  numero  se  nao  pode  iixar 
rcduzem-se  a  do  tacto. 

Anaxagoras  sustenlava,  que  o  corpo  do  in- 
dividuo era  composto  de  partes  homogeneas, 
que  se  reparam,  apropriando-se  i)or  uma  es- 
pecie  d'allinidade  das  substancias  idcniicas, 
que  cncoutram  nos  alimeutos.  Os  corpos  do- 
tados  de  sentimento  sao  compostos  d'elemcn- 
tos  sensiveis.  A  perfeicao  das  maos  e  a  causa 
da  superioridade  do  homem  sobre  os  outros 
animaes. 

Diogenes  d'Apollonia  julgava,  que  o  ar  era 
0  principio  da  intelligcncia  do  homem.  e 
necessario  ii  cxistencia  de  todos  os  animaes: 
0  ventriculo  esquerdo  do  eoracao  leva-o  por 
meio  dos  \asos  a  toda  a  parte  do  corpo  onde 
se  mistura  com  o  sangue. 

Foi  Hippocrates  obomem,  que  prestou  gran- 
dcs  servicos  a  arte  de  curar.  A  pbysiologia 
Ihe  deve  tambem  niuitos  principios,  que  con- 
correram  para  o  seu  aperfeicoamento. 

Hippocrates  admittia  um  principio  simples 
nu  ^ua  cssencia,   nuiltipio  nos  seus  elTeitos, 


23 


e  que  presidia  aos  phenomcnns  vitacs,  o,  Ihes 
iJava  origcm.  Era  cste  principio,  que  die  chu- 
mava  ?uii;  (natureza);  e  esse  agenlc  que  nos 
i;liaiiianios  hoje  principio  vital. 

Condiiua.  ALVES. 


I 


TR\CTADO  PRA.CTICO  DE  P.VRTOS 


POn    U.    PEDRO  GO^ZALES  VELASCO,    V   D.    JOSE  DIAS 
BEMTO. 


Mtt.seii  Dupnijircn  de  Paris  por  D.  Pedro 
Benito. 


Impressas  cm  Madrid,  c  publicadas  cm 
18o4  as  duas  excellentes  obras,  que  annun- 
ciamos,  derani  eiilrada  iia  livraiia  da  univer- 
sidade  de  Coimbia  um  exemplar  de  cada  uma 
d'eilas  em  cdieao  nilidissima  e  luxosas  eiica- 
deruai'Oes,  rcmetlidos  polo  nosso  Govenio,  a 
quern  scus  auclores  generosamente  os  oU'er- 
taram. 

Fez  0  sr.  Velasco  um  serviro  importante  a 
arte  nhstetrioia  na  fom[)i!acao  das  vordades 
doutriiiaes,  ((uc  liie  respeitam,  nvligidas  em 
eslylo  aphoristico  com  a  ciareza  e  concisao, 
que  liie  competem;  exemplilicandn-as  na  par- 
te practiea  com  bellas  estampas  illuminadas, 
em  quo  se  acliam  representadas  as  pbases  da 
evolucao  do  germc,  dcsde  o  dia  18  da  fecun- 
darao  ate  an  parlo;  e  as  variadas  posicoes  do 
leto  no  parlo  natural,  nao  natural,  e  diflicil : 
e  dcu  niais  realce  a  sua  obra,  juiictando-llie 
em  appendice  uma  colleccao  de  objcrvacocs 
de  partos  difliceis  colhidas  no  sou  paiz  e  no 
estrangeiro. 

E  summamente  inleressantc  o  atlas  de 
estampas,  que  enriijuece  a  obra.  Nesta  parte 
a  sciencia  colhcu  grandcs  auxilios  da  arte; 
e  da  sciencia  bem  mereccu  o  sr.  Velasco. 

Do  rico  Museu  Dupuytren,  que  a  Mr.  Or- 
(ila  dcve  (|uasi  toda  a  sua  existencia,  faltava 
0  conbecimento  exacto,  e  circumstanciado  a 
quem  nao  lem  visitado  aquelle  eslabelecimen- 
10  grandioso.  Teve  o  sr.  Velasco  um  pensa- 
mento  feliz,  quando  cmprebendeu  a  descri- 
pcao  bistorica  dos  objectos,  que  encerra  cada 
uma  das  reparticOes  d'aquelle  conservalorio 
de  anatomia  patbologica ;  e  pelo  conbecimen- 
to, que  d'clle  temos,  parece-nos  dignamente 
desempenbada  a  idea  do  sr.  Velasco.  E  bera 
soube  aproveilar  ensejo  o  auctor  da  obra, 
dando  por  essa  occasiao  conbecimento  ao 
publico  de  alguns  museus  publicos  e  particu- 
lares  mais  notavcis  da  Franca,  Inglaterra  e 
Hespanba. 

Qualqucr  das  obras  do  sr.  Velasco  mcrece 


ser  lida.  e  csliidada.  Cremos  que  escrevendo 
assim  e  que  sc  lazcm  servicos  reaes  as  scicn- 
cias,  e  as  arles.  0  sr.  Velasco  comprebendeu 
porfeitamenle  o  caracter  da  epocba  em  que 
vive,  e  respira  o  ar  do  seu  seculo. 

M. 


BIBL10GRAPIII.\. 


Conlinu.-ido  dc  pai:.  307  do  3.°  vol. 


Os  Catecismos. 


A  1."  edicjiio  da  IntroducrJio  ao  AmiKo  dos  Menino*. 
terminava  pelt)  peqiteno  catecismo  de  doutriiia  chrisljl 
da  diocese.  A  ^.'',  ja  concluida,  contem,  depois  do 
catecismo,  al;runs  apologos  escolhidos  de  Bticafre  e  Ma- 
Ihao,  conservando-se  a  mesma  alterna(;ao  de  caracteres, 
redondos,  ilalicos  e  cursives. 

D'estes  ijriraeiros  exercicios  dp  leitura  a  parte  princi- 
pal e  certameute,  nao  tanto  por  sua  exlensao,  como  pelii 
materia  e  forma,  o  petjueno  catecismo;  do  (pml  se  teni 
feito  desde  o  anno  proximo,  em  que  saiu  a  luz,  quatro 
edicjoes,  duas  como  numero  1."  dos  LiiYinhos  itof/ovo, 
a  20  reis,  e  duas  como  parte  da  lntroduc(;ao. 

Adoplaram-no,  como  mui  excellente  para  o  ensint)  <los 
meninos,  e  por  venlura  ate  inesmo  dos  adultos,  a  (pieni 
nao  possa  distrihuir-se  um  pao  mais  abundante  de  dou- 
trina  evangelica,  os  Ex.'°"*  e  Revd."'™  Arcebi.spo  Bispo 
t.'onde,  e  Bispos  de  Viseu.  Lamefro,  Bra;^anca.  e  Beja ; 
e  a  ap]irova(;ao  mui  explicila  e  motivada  do  Eminentissi- 
mo  Cardeal  .\rcebispo  Primaz  le-se  nas  ])rimeiras  papina* 
do  Catecismo  maior,  assim  como  as  auctorisacjoes  ana- 
loKas  do  Eraineutissimo  Cardeal  Patriarcha,  e  do  Ex.'"" 
Bispo  de  Leiria. 

Em  olijectos  d'esta  natureza  e  este  o  unico  solido  e 
inconlroverso  testemunho  .  aquelle  que  a  Egreja  exige,  e 
a  razao  appro\  a.  Os  priuieiros  prelados  de  Portugal  appro- 
varam,  muitos  ado|daram  para  nso  de  sens  diocesanos, 
estes  catecismos.  O  mais  escrupuloso  catholico  niio  tern 
(pie  dovidar  da  piireza  de  suas  doutriuas.  Para  nos  pu- 
r(;m,  que,  na  presen(;a  de  tantos  resumos  da  doutrina 
christa,  como  jior  ahi  correm,  e  fallalldo-nos  as  necessa- 
rias  habilitac5es  tlieologicas,  empreendemos  um  Iraba- 
Iho  tao  grave,  parece-nos  indispensavel  accrescentar  mais 
alguma  cou.-a,  que  possa  explicar  e  mesmo  absolver-no» 
do  arrojo. 

Defeito,  ou  nimio  escrupulo  nosso,  tendo  feito  nso 
d'alguns  d'aquelles  resumos,  e  procurado  ensinar  e  fazer 
ensinar  por  elles,  desagradava-nos  em  uns  a  escassez  e 
pouca  ciareza  da  materia,  n'outros  a  linguagem,  ou  a 
forma  pouco  adaptada  a  tomar  de  memoria  as  respostas; 
e  neste  nosso  conceito  haviamos  encootrado  companhei- 
ros  incomparavelmente  mais  intelligentes  e  melhor  habi- 
lilados  que  nos. 

Por  acaso,  nestas  circumstancias,  livemos  noticia  de 
que  o  sabio  Arcebispo  de  Paris  Mgr.  Sibour,  prelado  tao 
iUustrado  como  apostolico,  tinha  publicado  uns  catecis- 
mos para  uso  da  sua  diocese  em  183'i. 

Apenas  os  tivemos  a  mao,  niio  so  nos  pareceu  teruio.s 
encontrado  o  raodelo  desejado,  mas  que  a  mesma  neces- 
sidade  sentida  em  Portugal  liavia  sido  a  causa  da  con- 
fec^ao  e  publicaijao  dos  catecismos  de  Pans. 

Na  provisao  de  15  d'agosto  de  1852,  que  os  auctori- 
sa  ,  e  vem  estampada  na  edi^ao  d'esse  anno,  depois  de 
se  ponderarem  os  inconvenientes  de  tocar —  '■  nestes  ma- 
il nuaes  da  infancia  christri,  que  contem  definii;oes  e  ex- 
"  plica^tjes  gravadas  na  memoria  das  gera(;6es,  '>  —  ac- 
crescenta-se,  que  a  experiencia  havia  mostrado  ser  diflicil 


24 


til-  ili'corar  r  unteniler  o  mciimo  ultimo  catecismo  tie 
MiT.  Afrc  ;  •'  qiif,  h  iiiataucia?  do  cIt;ro,  e  dt'|)uis  dc 
li.iiis  annos  d'i*!-ludos  c  consnltas,  se  piiblicavam  t'  adota- 
vam  OS  novos  catocismos.  coino  —  x  texto  mais  breve, 
-siti^t'lo  e  claro  do  tpu'  n  antecL-dfiite.  » 

Na  tradiior.ru),  ([Ui*  emprecndcmos,  d'cstes  cathecis- 
mos  livfino.-i  a  luaiur  cautela  em  evitar  imo  so  on  jialicis- 
mo--i,  luas  t(j<l;i  a  ex|)rL'Ssao  menos  CMiirornn*  com  o  pfii- 
samt'iilo  da  Ki^rnja.  Para  esse  Dm,  sriu|ni-  quf  liv<-mos 
diivida,  nos  snccorriMiins  am  a  li'tra  do  auli^o  v  niiii 
acreditado  Catrcismo  do  Palrinrchado. 

A  sin;;»'lfza  do  texlo  IraiiCL'Z  Ifiilamoa  accrcscentar 
um  aperf«.'ii;oampnto.  NcMe  as  respostas  contL-m  sompre 
as  perfrunlas.  irpeliiido-as;  o  que  aujrmenta  cansidfra- 
velmenlf  i»  miiiicro  das  palavra*.  que  Into  dc  entrejrar-se 
a  memoria.  N«>s  omitUmos  a  ri'iR-Urao.  Quern  qucr  (pic 
rulcjar  o  mosmo  tevlo  fraiicez  com  o  portu{;uez,  facil- 
meutr  descubrira,  qui-  fizeuiQS  mais  alj^uma  cousa,  com- 
plelaiido-o  com  aljruns  arlij^os,  que  faltam  nos  calecis- 
mos  de  Paris,  r  se  encontram  em  todus  os  portujjuczes  ; 
a  saber  a  explica<;ao  do —  persiirnar,  —  a  Ictra  dos^ 
arti^os  da  fe  —  das  obras  de  misericordia,  etc. 

O  catecismo  maior  faz  parte  do  — Manual  de  piin- 
I  ipio.-i  e!emtntarissi/tf)s. — Segue-se-Ihe  outro  —  d'Histrj- 
ria  sagrada,  cnncebido  no  mesmo  peusamento  de  clare- 
za,  simplicidade,  doulrina  subsitancial,  e  facil  de  tomar 
dem  emoria.  Miiu  ou  bom,  como  obra  purameute  nossa,  a 
respoiisabihdade  iiao  recaliira  em  mais  niiiiruom.  Ti'mol-o 
por  iiiteiramentL-  orlodovo,  exaclo  nos  factos,  e  facilimo 
d'aprender.  Knrarecer  a  suma  cunveniencia  de  ser  liiio 
e  estiidado  nas  escholas  parece-nos  escusado ;  por  que 
nin^uem  ha  (pie  possa  nej?ar  em  boa  fe  a  liga^-ao  lao 
necessaria,  coma  admiravel,  da  historia  da  religmo  com 
a  sua  doutrina. 

O  Manual  comjireende  mais  as  primeiras  no^oes  de 
fjtographia.  quaes  um  menino  piide  e  deve  ajirender 
xobre  os  mappas,  escriptas  a  maneira  dos  trabalhos  ana- 
logos  francezes,  isto  e,  com  bre^  es  inlerrofiatorios,  d'esjia- 
(;o  a  esparo,  (pie  o  mestre  deve  fazer,  subre  us  mesmos 
mappas. 

Kste  piano  <■  o  mesmo  que  se?iitmos.  em  mais  araida 
escala,  na  —  Geographia  da  infaucia^  publicada  em 
1B50,  e  cuja  2."  edi^ao,  muito  meltiorada.  esta  no  prclo. 

\au  so  e  possivel,  e  facilimo,  e  mais  ainda  i?  soljre- 
moilo  deleilavel  e  instructi\o  para  os  meninos,  este  estu- 
(in  sobre  OS  mappas  ;  o  qual,  diricrido  como  indicaraos, 
p'jde  ate  ser  tornado  como  desenfadu  e  rccrea^ao. 

A  jeosraphia  se^ue-se  uma  brevissima  —  Hi.-^t'jn'n  de 
Portugal,  entretecida  dos  factos  mats  notaveis  ,  aponta- 
i\os  em  proza ,  e  feitos  mais  salientes,  sempre  que  e  pos- 
sivel, com  a  divina  poezia  do  nosso  CamOes.  Com  espe- 
cial cuidado  entregamos  ao  pequeno  leitor  o  fio  de  nossas 
?;loriosas  descobertas,  dos  quaes  os  rezuminhos  anteriur- 
mente  conhecidos  nao  se  occupavam  siifTicientemente. 
Fizeinos  rani  saliente,  em  cada  ^rande  cjiocha,  o  facto 
ou  factos  principaes.  que  a  di  tinguem,  ora  pela  gloria 
e  en;:randecimento,  ora  jiela  desgra^a  e  pelo  abatimento. 
Estas  mesmas  notas  fundamentaes  com  09  nomes,  ape- 
lidos,  e  tempo  de  g:overno  de  cada  rei,  ou  reg'ente,  con- 
jitituem  no  fim  do  compendio,  um  mappa ;  o  qual  muito 
pode  ajudar  a  memoria  ,  e  recordai^ao  do  encadeamento 
drts  successos. 

Curamos,  na  gramatica  que  se  segue  a  historia, 
d'amoldar  ao  genio  e  ao  gosto  dos  meninos  as  mais  ari- 
das  nocoes  da  gramatica  geral,  e  em  especial  da  por- 
tu!^ueza,  sendo  o  nosso  grande  desideratum ^  que  os  que 
apreudessera  por  ella.  e  conforme  o  melhodu  da  ci>n- 
versa^ao  amena  entre  o  mestre  e  o  disci])ulo,  nao  ficas- 
si*m  com  o  ledio  e  ate  rancor  a  estes  estudos,  que  nos 
tleixaram  os  nossos  primeiros  annos  litterarios. 

De  duas  immensas  vantagens,  que  resuUam  do  estu- 
do  do  nosso  compendiosinho,  podemos  dar  o  mais  seguro 
tostemunho,  fundado  em  experiencia; — 1.**  que  e  possivel 
aprender  0  maii  essencial  da  gramatica  a  conversar,  e 
passear,  sem  impor  tarefa,  nem  sujeitar  os  meninos  a  nia- 
caquearem  os  grander,  sentando-se  grave  e  fastidiosamente 
a  uma  raezapara  introduzirem,  coraoamartelo,  na«caheras 
om-a-.  que  Dio  comprehendera;  "2. "que  Ihes  e  facilimo  en- 


trar  no  estudo  do  francez  e  do  lalim,  e  dt- qualquer  outra 
lingua,  aualvzando  pnunptameiite  quabpicr  plirazc,  <pie  se 
IIu-s  ofTercra.  logo  (|ue  o  meslrc  os  instrua  do  que  ipiereui 
dizer  OB  ternuis.  O  nosso  alumno  leiido  —  miindua  a  do- 
mino cotistilutus  tst,  era  principin  de  todo  o  ensino  lati- 
no, e  ajudado  do  mestre,  como  d'um  diccionario  vivo, 
annliza  gramatica  e  logicamenle;  e  pode  comp(;ar  a 
tra(hizir  >;enao  desde  hora  «',  an  menos  desde  (pie  com- 
plelou  o  estudo  dos  vurbos  regulare-..  As  regras  princi- 
pals da  sintaxe  adipiirio-as  briucaiido  ;  as  esjiCciaes  da 
linsna  tomal-as-ha  pouco  a  pouco. 

As  no<;5es  d'arithmeljca,  que  nuo  sao  senile  a  repro- 
thi^ao  melhtirada  da  --  ArUhmrtica  da  injancia^  publi- 
cada em  1H50  pfla  1.*  vez,  e  ao  presente  no  prelo  em  3." 
edi(;ao,  silo  escriptas  debaixo  do  mesmo  sistema,  levando 
o  meaino  desde  o  cinliecimenlo  dos  numeros  ate  as  pro- 
]ior^*oes. 

A — Moral  practica  e  rfUgiosa — ,  (pie  fecI:H  0  vo- 
lume, e  <?  a  traduc^iio  d'um  bom  livrlnho  seguido  e  apro- 
vado  em  Franca,  foi  destinado  a  completar  us  conheci- 
meutos  que  devem  exigir-so  d'um  meiiino,  ao  lerminar 
a  eschola :  e  procede  no  mesmo  espirilo  de  singeleza  e 
clareza,  avullando  sobre  as  regras  os  exemplos,  main 
fortes  do  que  ellas. 

Em  tndos  OS  nossos  traballios,  feitos  de  mistura  com 
(Oitros  indispensaveis,  e  muitas  vezes  a  longos  inlervalos. 
pela  mesma  causa,  encontram-se  muitas  iraperfei^ues  e 
defeitos,  que  nao  e  possivel  emendar  seiiao  nas  seguintes 
edi^'ijes.  O  mesmo  succedeu  no  iManual.  Os  principaes 
porem  sao  faceis  de  conliecer,  e  corrigir  jielo  proprio 
meslre  sobre  o  e.xerajdar,  deque  se  servirem  os  alumnus 

A.  FOR.! A'/. 


PiEL\CAO 


Dos  iudtiHiluris  iiomeados  por  (tvcielr.s  dv  Gofernn 
communicadus  ao  Consrlho  superior  cl'inslnic- 
Can  ptiblira,  desde  o  dia  I."  air  no  dia  la  dn 
presenir  mc:  d'Abril. 


I.NSIHUCgiO  PRlMABIi. 

Por  dccrelo  do  Goveino  de  4  d'abril  uUimn 
foi  nomeado  Joaqiiim  da  Costa  Assumprao,  para 
professor  ^italicio  da  cadeira  da  Villa  do  Cralo, 
districtu  do  Portalegrc,  por  Iransfercnela  da  de 
Alcafuzes. 

IXSTRlICpiO  SECB.NDARIA. 

Jose  Joaquim  Borges  Cardoso,  para  professor 
vitalicio  da  3.°  e  4  "  cadeiras  do  lyceu  nacional 
da  Giiarda,  por  dccrelo  de  :28  de  marro  ultimo. 
— Jose  Joaquim  Fernandes  Vaz.  para  o  lo^ar  de 
porteiro  do  lyceu  nacional  de  Viaiia  do  Caslello, 
por  dccrelo  de  4  do  corrente. 

INSTBCC(AO  SUPERIOR. 

Jose  de  .\ndradc  Gramacho,  para  o  logar  de 
demonstrador  de  medicina  da  eschola  medico-ci- 
rurgica  do  Porto,  por  dccreto  de  29  de  marco 
iil'iuio. 


25 
DIOPTRICA. 

I.E.NTES  ESPHERICAS. 

(Conliuuado  da  pag.  267  do  3.**  volume). 

11.      LenUs  conoexjs.  Sejam  ^  M  (fig.  8)  iim  coKe  central d'linia  siiperficie  esplierica  ; 

C  o  cenlro    da  espliera  ;    O  31  o  raio  incidente  ;    M  F   o    ret'raclo  ;    FA^=f;    O  /I  —  rf  ; 

srnOjV/iV  .  ,  ,  ,,,..,. 

»i  = = — r-^a  razao  cnnstante  do  sono  do  ansido  d  incideiicia  nara  o  doantrulo  de  retra. 

sen  F  M  C  °  1  o 

c';:'io  na  passageni  domeio  exterior  (P)  para  o  interior  (Q).  0=  triangidos  O  jl/Ce  C.l/ Fdao 

03f^  =  (c?  +  r)'  +  r'-  — 2r(d  +  r)  cos  e, 
FJ/  =  =r/— rf +  »-^  +  2>-(/— r)cos6, 

0.1/  sen  e 

OM        OC      OC       sen  O  JJ  i\      d  +  r  d -{■  r 


FM      FM'    FC  sen  6      '  f~r      n(f—r)' 

FC  ienCMf' 

c  por  consegninle 

^d  +  r)''  +  r'  —  2r  (d  +  r)  coi»_    (d  +  ry 

(/— rj^+r' 4- 2r  (/—;■)  cos  6       ri^(/— r)=' '^   ^' 

12.     No  c.Tso  de  ser  6  iniiilo  peqiieno  de  prinieira  ordem  ,  esta  equaj/io  reduz-se  a 

n  dr 
•/  =  (n  — l)d  — /■ ■••■(-)/ 

;i  (]ii;il  se  pode  tainliem  dar  a  forma  mais  symmetrica 

7,+/  =  "-^ » 

1.3.  Como  a  le!  de  refracf-ao  dii  somente  unia  relajHo  enlre  os  senos  dos  angulos  d'in. 
cidencia  e  de  refrac^iio  ,  I'lca  duvjdoso  se  o  raio,  depois  de  incidir  na  superlicie  AM,  deve 
todiar  a  direcgao  J\I  F ,  se  a  J\J  F'  j  e  por  isso  a  eqiiaj.'io  (1)  e  do  segundo  gran.  Devendo 
porem  o  raio,  no  caso  de  iiaver  refrac^ao ,  penetrar  no  mcio  (Q),  e  necessario,  que,  em 
virlude  das  ac^oes  dos  dois  meios,  elle  encontre  o  eixo  OF,  on  para  ca  docentro,  ou  para 
ide'in  do  ponlo    T,  oiide  a  tangente  ao  circnlo  cm  Al  encontra  o  mesnio  eixo.  Logo  deve  ser 

f 
f  pobitivo  ,  e  f —  )■  >o;  ou  /  negalivo,  e — /+  r  > .  Foi  por  isso,  que  nao  aproveitamos 

COs  0 

o  outre  signal  do  radical,  quando  deduzimos  a  equa^fio  (2):  e  com  effeito  este  signal  daria 

ndi- 

]= r— ,  que  e  senipre  posUivo  e  <  r. 

•'       (n  +  l)a(-f  »■'    '  ^      ' 

14.  Se  dit'l'erenciarmos  a  equagao  (1)  em  ordem  a/e  5,  acliaremos ,  attendendo  -X 
inesn)a  equajfio , 

*/_      if—rf  sen  e  [ry-  (/— ?-)  +  rf+r] 
F6~  {.d  +/■)   [{f—r)co%  9  +  »-J 

Por  onde  se  ve,  que,  em  geral,  para  angulos  a  infinitesimos  as  variagoes  cJ/serito  in- 
finilameule  mais  peqiienas  do  <iue  para  angulos  6  finitos. 

Para  6<  90°, —  e'  negalivo  quando/-^  re  posilivo  ;  conseguintemente ,  quando  o  foco 

o    ft 

e  real,  o  ponlo  F  approxima-se  de  A  ao  passo  que  6  cresee. 

15.  Lentes  concavas.  Iim  logar  de  I'azer  nova  construcgao,  e  novos  calculos,  para  as 
leiiles  concavas,  podemos  applicar-llies  as  expressoes,  que  achamos  para  as  lentes  convexas, 
mudando  nella^  r  em  —  r.  A  concavidade  I'icara  voltada  para  O,  e  as  linbas  positivas  ainda 

(_se  contarao  na  figura  de  O  e  ^  de  cima  para  baixo  :   pelo  que,    se  quizessemos  conlar  os  f 


26 

posilivns  de  bai\o  paracima,  islo  e,  para  o  lado  da  concavidade,  seria  iiecessaiicj  miidar/ 
era — f;  o  que  lambeni  se  obleria,  como  deve  ser,  mudando  somenle  d  em  —  </. 
Fazeiido  pois  r  negativo  Das  eqiia^Oes  (1)  c  (2j,  (;i),  terenios 


((/  —  ,■)  ^J^r^'  +  ^r  jd  —  r)  cos  0         ('/ —  r)  ' 
(/+'')^  +  '-'  — 2r  (/+r)  cose  """"(/+'•)■' 


•(•1), 


■(^).      i-^7  =  -^--(«)- 


(«  — 1)  d  +  r   '    '      '   •"       a!  '/ 

16.  Se  nas  equajoes  (4)  e  (6)  suppozermos  fa  distancia  do  nbjecto ,  c  luiidariiio?  n 
om^^',  achaieinos,   chamando/'  a  distaiicia  focal, 

(/'+>•)'  +  >■'  — g>-(;'  +  r)  COS  6^    (/'  +  '■)" 
(/—  '■)  ^  +  r  "  +  2  ,•  {f—  r)  COS  9  "  «  '  (/—  /•)"  ' 

1       n       71  —  1 

equajoes  ,    que  coinparadas  coin  (1)  e  (3)  d.^o  d=f.    Dondc  rejiilla,  que    o  raio  biiniiioso 

refracto  O  M  F,    se  relrocedesse  pela  direcj'io  FJJ,  iria  cnconlrar  o  eixo  no  poiilo  O,  isto 

<■' ,  que  o  foco  e  o  objecto  sfio  leciprocaiiierite  objccto  e  foco  urn  do  outro,  ou  que  os  poiitos 
O  e  F  sac /ocos  conjugados. 

17.  Lcntes  compostas.   Snpponhamos  ajjora   a  lenle  bi-convexa  (fig.   9)];   en,  — , ,  as 

razues  dos  senos  dos  angulos  de  incidencia  e  de  refrac5ao  na  entrada  e  saliida  da  leiile  em 
M  c  ^1  (fig.  9).  Os  raios  refrattados  pela  leute  na  entrada  viriani  reuiiir-se  no  poiilo  P  , 
que,  fazendo  AP-=.x,  e  suppondo  o  infiiiitesirno,  se  acliaria  pela  formula  (.3) 

1       n       n  —  1 

d+'^- -• 

"       X  r 

Mas  a  face  Q  ^M' Q,'  da  lente  faz  experimentar  ao  raio  na  saliida  uma  refrac(;'io ,  em 
virlude  da  qual  elle  corta  o  eixo  no  foco  F ;  logo,  se  o  raio  relrocedesse  pela  direc<,"ao  F  M', 
toniaria  a  direc(,\'io  AI' J]/,  e  per  conseguiiite  seria  /' o  seu  foco.  Applicando  pois  aequajfio 
(3),  e  altendendo  a  que  nella  se  deve  toinar  enlao  como  negaliva  a  recla  ^' P ,  que  na 
equajao  preccdenle  se  lomou  como  positiva,  teremos,  fazendo  A'  F  =  x',  e  cliamando  e  a 
espessura  da  lente, 

1  „'  ,i'  _  1 

ic'       X  —  c  r' 

Fiiialnieuie  cliininando  x  entre  eslas  duas  equacoes,  teremos  a  distancia  focal 

r'   ^  7ir'd  —  (n — l)ed-\-r(> 


n'—  1)    ^nr,l  —  {n  —  l)(:(/  +  r(\    +  n' r'  ^  (n  —  1)  d  —  rl 


Se  o  raio  passa  do  ar  para  a  lente,    e  da  lente  para  o  inesmo  ar,  e  k  =rn' ;  e  ■ic  nesse 
caso  se  despreza  a  espessura  da  lente,  e  se  chama/  a  distancia  focal  principal. 


tenit 


1        1        1       ?j— 1       n- 


x'^d~f~       r       +'    . 

18.     l']m    geral  supponliamos   um   ponto  collocado    no  eixo  cominum    de  muitas  limtes 
convexo  —  concavas  (fig.  10),  ciijos  raios  sao  r  ,  i\  ,  ?■.,•■..-.  ;   separadas  as  siiperficiei 

iinias  das  onlras  pelas  espessiiras  c  ,  e,, ;    e  taes  que  nas  passageiis  successivas  <lo 

uieio  d  emiss.'io  para  a  primeira,  e  d  iitnas  para  as  oiitras,  as  razoes  dos  senos  d(js  angulos 

d'incidencia  para  os  senos  dos  angulos  de  lefracgao  sejarn  w,  :   I  ,  n.:   1 ,  "^ :  1  , ^  '" 

cllamenios  z^,  %,,  %.-,..,.  as  distancias  dos  sens  vertices  aos  pontes,  nos  quaes  o  raio  refra- 
ctado  por  ellas,  coino  se  cada  uina  fosse  a  ultima,  enconlraria  o  eixo. 


S7 

Poslo  isto,  36  pela  incidencia  na  superficie  da  oideni  («' — 1)  (fig.  11)  a  dislancia  do 
vertice  d'ella  ao  foco  deveria  ser  %,_, ,  a  distancia  do  verticc  da  scguinle  da  ordem  (i)  ao 
inesmo  ponto  seria  S(_i  —  «,_,=;:;';_,.  Mas  se  o  raio,  depois  d'incidir  na  superficie  seguinte 
da  ordem  (i),  e  tor  zi  por  dislancia  focal  ao  vertice  da  mesma  superficie,  retrocedease ,  o 
sen  foco  estaria  a  distancia  ::',_,,  sendo  1  :  mJ  a  razao  do  seno  do  angulo  d'incidencia  para 
o  de  refrac^fio  nessa  volta.  Conseguintemenle,  applicando  a  formula  (6),  e  fazendo  nella 
'.' i_i  negativa,  lerianins 

1-1 

1  1  n,  ..         _,  „         . 


", 


I  eremos  assim  a  serie  d"Fqua9oes : 


d  -^n.  r,      ^ 


1 


v„ 

n.  —  l 

^3 

>-.. 

_'!«  — 

11^  — \ 

(7), 


H.  —  1 


-f-i— c,_,       s,  J-,- 

entre    as   quaes  eliminando    as   a  —  1   quantidades    z,  ,    %,,   ~-.^,  ■  ■  ■    ^i-i  j    acbaremos   iima 
equaCj'ao  final  em  zi,  que  fara  conliecer  a  distancia  da  ultima  jente  ao  foco. 

Por  exeinpio,  fazendo  i  =  2,  ?ij  =  — ^,  e  suppondo  r,  negativo,  estas  ecjuagoes  dao 


1  ?l,  ?!, —  1 


•— 1 


que  s/io  ,  como  devcm  ser,  as  dadas  no  n."  17  para  uma  lenle  biconvexa.  % 

]9.     Podemos    nas   equagoes  (7)   usar  dos   indices   de   refrac^'ao  »«,  ,  '"^ , '"3  ?  •  •  •   de 
lodas  as  lentes  na  passageiii  do  ar  para  ellas ,  isto  e,  substituiv  em  logar  do  n^  ,  n^  ,  n^ , . . 

;is   expressoes  n^^^m^,  n^=z^,  n^  =  — 5 ,  . .  .    n;= -;   o  que    transforma    aqiiellas 


equa(;nes  cm 


•m. 


TO, 

m,  —  1 

• —  —^^~— 

^1 

»". 

TO^ 

_  m^  —  m^ 

*2 

»". 

'"? 

?»3  —  'W, 

»/!.   r_^  ,      ™  ■— I  TO  ;— I  »"  i— 3 


Sj-.  — e._. 


:l_  +  -    = 


(8), 


(9). 


28 

que  sommadas,  e  tomando  o  indice  ,  desde  o  limite  inferior  ale  o  superior,  dao 

Tcrenios  pois,  usando  das  cqiiagoes  (7)  on  (0),  a  distancia  focal  para  um  numero  i  de 
lenles  dc  faces  convcxas  para  o  objecro  ;  e  qiiando  al^iimas  das  faces  se  lornarein  concavas 
ou  planas,  fare.uos  negalivos  ou  infinilos  os  raios  respeclivos.  Qiiando  se  desprezarem  as 
espessuras  das  ientes,  desappareceru  o  sornmatorio,  que  entra  no  priraeiro  meinbro  da  equa- 
?ao  (9)  ;  e  esta  equa^ao  dani  immediatameiite  a  dislancia  focal  z,  . 

Siipponlianios,  por  exeiiiplo,  (pie  o  sysleiiia  se  coinpoe  de  dois  vidros,  um  biconvexo,  e 
o  oulro  concavo-convexo,  ajiislaiido-se  a  segunda  face  do  primeiro  com  a  primeira  face  do 
segjiiiido  (fifr.  12).  Nesle  caso  sac  r, ,  r^ ,  uegativos,  ew,  =  l.  Desprezando  pois  aespessura 
da  lente,  a  formida  (!))  dara 

1       1^,„,„1      ,„,-,n         m,-l 

d      ^s  ■>-,  ■>■,  »-. 

E  no  caso  de  ser  plana  a  uUima  supcrficie,  ou  r^  infinilo, 
1       1         TO ,  —  1       TO  I  —  ?;i . 


Adianle  verenios,  que  esle  systema  e  o,  que  se  emprega  na  construcgfio  das  lenles 
acliromaticas ;  e  por  isso  mencionamos  aqui  a  formula  respecUva. 

20.  Se  o  angulo  do  raio  incidente  com  o  eixo  nao  fosse  muilo  pequeno,  applicariarnos 
successivamente  a  cada  Icnte,  em  logar  da  equa^ao  (3),  a  equa^ao  (1),  semelliantemenle  ao 
que  fizemos  nos  numeros  17  e  18  ;  mas  em  cada  uma  dellas  subsliluiriainos  por  o  o  sen  valor, 
ou  ajuntariatnos  ao  systema  d'equa^cies  assim  formado  as  reIai,'oes,  que  na  figura  ligam  os  re- 
speclivos 6  com  as  oulias  quantidades. 

Por  exeniplo  na  lenle  biconvexa  (fig.  9),  fazendo  C M P—C  P  M=i/,  leriamos  o  systema 
d'equagoes  (1)  applicadas  ds  duas  laces,  e  as  relagoes  deduzidas  dos  Iriangulos  MC  P, 
AVC'P, 

(d  +  r)^  +  r^  — 2»- (d  +  r)cos  ^  _     {d^r)'' 

{z  —  r)'^4- r^ -f  2r  (^i; — r)  cos  9        n'- \%  —  r)'-' 

1  > 

•="'.^'0.'/       ,_2r     11  sen(0'+P)        -.  +  r' _  e  . 

r^^'^^-a-^^-^'         sen/>       =—F~'  > ^"^ 


(:.'  +  7-')  ^  +  ,■'  ^  —  2  r'  (::'  +  r')  cos  9'  (i'  +  r') 


{—:.  +  «  —  »■')  ■=  +  r'  ^  +  2  r'  (—  ^  -f  t  —  r' ;  cos  e'       n'  ^  (—  x  +  e  —  r')  ^/ 

as  quaes  dai  iain  conseculivamenle  ti,  y,  P,  e',  ::'.  No  caso  de  ser  e  muilo  pequeno  de  primeira 

ordem  ,  as  ei|ua<,'6es  segunda,  lerceiia  e  quanta,  moslram,  que  s.'io  da  mesma  ordeni  y,  P ,  0'  '• 

conseguinlemente  a  primeira  e  quinla  das  niesmas  equagoes  reduzir-se-lifio  as  duas  do  11. °  17. 

21.     Differenciaiido  as  equayoes  (11)  em  ordem  a  6,  teriamos  cinco  equagoes,  que  dariam 

»-.      Sti      SP      S6'      S%' 
consecut;vameme  _  ,     _£      ,    . — .,    — . 

*6      *  a       J  6        .J  6       Si 

i  ■' 
A  expressao  de  _J1  e  a  medida  da  ahtrra(-ao  d' csphericidade ,  islo  e,   da  dispers.'io  dos 

pontos,  onde  os  raios  huiiinosos,  depois  de  refractos,  encontram  o  eixo;  e  por  isso,  quaiido 
se  construem  as  lenles  coinpostas,  deve  determinar-sc  ao  menos  um  dos  raios,  por  exempio  r'  , 

pela  condirao  de  ser  — 1  minimo  ,    islo    e,     deve     satisfazer-se    a    condicfio  1- =  o.   As 

Ientes,  cujos  raios  e  dimensoes  sfio  delerminadas,  de  modo   que  nellas  nfio  seja   sensjvel  a 
al>erra(;iio  d'espliericidade ,  chamam-se  aplanaticas. 

Ha  oulro  defeito ,  deque  adiante  Iractaremos ,  proveniente  da  dispersuo  das  cores,  de 
que  se  compoe  o  raio  branco,  devida  a  diversa  refrangibilidade  d'eslas.  As  lenles,  nas  quaes 
elle  e  corrigido,  cliamarn-se  acliromaticas. 


©  Jnstitiitit) 


JORINAL    SCIENTIFICO     E   LITTERARIO. 


lJJilVERSIDADEDEC0IllB8A-PR0GR4HMAS. 

FACULDADE   DE  DIREITO. 

1853—1854. 
5."  ANNO.  — 15.*  CADEIRA. 


DF    PlUELECTIOMBt'S    HERME.NEUTTCIS  ,     AKALITICIS,     ET 
DIPLOMATICIS. 


ProTessor  —  D-   Emmanuel  de  Serpa  Macha'io. 
Suae   ni:ijedlutis   a  coiisiliis,   dignusqtic   regui  jiar. 

Triplex  est  oI)jecliim  sindii  e!  diisciplinae  h"jiis  cathe- 
drae, quod  m  IribiiB  partibus  recte  dislrtbiiilur  ;  qiiariim 
in  prima  de  Herraeneiilica  aiit  polins  de  re  Hernieneulica 
agiliir ;  in  SfCiiiiJa  de  e\ercitaliune  ipsitis  artis  el  scien- 
tiae,  et  applicatione  siilisiilionini ,  senlenliiirnin  ,  et  rrgu- 
larmn  ipsiiis  artis  ad  leges  ob\eiiienles  ,  qiiibus  regitiir 
Lmilaiiia  nostra,  el  corpus  Juris  Lusitani  conslituur.l ; 
nc  it)  terlia  et  poslrema  parte  de  re  diploniatira  ,  tarn 
penerali  (piam  speriali  el  domeslira  apiid  nus  rognila  , 
Liisitaiiiaeqne  \  iiidicala :  et  in  tribns  irs  parliixis  sen 
tilulis  omne  islius  aunl  stiidium  ,  nd  nostrum  onTiciuni 
attin-Tis  .  al'sohilur. 

Duchina  aulem  uninscujueque  liluli  in  varia  dislriluii- 
Itir  capita;  ii«m  [irini/i  pars,  si\'e  Iituliis,  octo  conliiiet 
capita  ;  quornm  in  primo  Iradere  opurtel  Aeras  iiuliones 
aitis,  vel  scientine  Hermenenlicae ,  lam  generalis,  (piam 
Bpecirtlis  ,  el  juris,  el  quaedam  adjtciam  de  illius  vuca- 
buli  elyniolo^ia,  usu  et  dcrivaiione.  Caput  secundum  sil)i 
tjndical  defiiiitionem  inlerpretJilioiiis  ,  ipsinsque  divisio- 
iiem  (am  a  veleribus,  quain  a  rerenlioribus  si-riploribiis 
lactura.  ][)  caplte  lertio  liisloria  artis  el  scienliae  Herine- 
neuticae  Iradititr.  Quarto  in  rajiile  ralinnem  dabimus 
de  libris  el  scriplnrilms,  qui  rem  hermeneiiticam  ,  vel 
generaliler,  rel  prout  arleni  etscietilium  Iractavere.  Dein- 
de  quinto  In  capile  snlisidja  Hermcrieulicae  brevitpr,  sed 
sigillatim  exponentur,  et  singuli  parraphi  sunm  quodque 
eubsidiiim  sibi  vindicabuut  ,  prout  ampliludo  doclrinae 
puslulet.  In  sexto  canones  et  sentenliae  Hfrmeneulicae 
tradentur,  et  quamquani  alii  et  aliae  promiscue,  et  minus 
accurate  usurpabuntur,  altanien  de  allerutris  pro  re  nala 
loquar,  servata  eoruni  diO'- reulia  el  dislinctione.  Sequi- 
Inr  in  capile  septimo  solutio  dnliiorum  el  cuntro\ersia- 
min  J  quae  oriri  possiint  in  aliqua  doctuna  anleccdentium 
fapitum,  quae  gpecialem  explanalionfiu  requirunl.  Ac 
landem  in  octa\o  capite  iliaui  milhoiju'u  ,  quam  adlii- 
bere  opo^l^'t  in  unaquaque  parte  Imjus  durlrina**.  Sed 
sin!*nla  capita  aljquas  adiiolaljuues  tl  obsenatiunes  de^t- 
deranl,  quas  el  dottniia  t-l  exemplis  pro  re  nala  exor- 
nabjmus. 

Ecce  pro2:ramnia  eliodfx  (uimacopusmli  parti?.  Nunc 
venianius  in  secunitani ,  qua,  nt  niiper  fxpn.suinius ,  excr- 
fiUnlur  siibsidia  ,  senleiiliae,  el  regulae  llerniencuticac 
Juris  ,  et  appbcantur  singulis  le^ibus  ob\enienlilui9  ,  qui- 
bns  resimur.  Qnum  aiileui  Lusitanae  leges  vel  ?int  inter- 

Vol.  IY.  Maio  1  - 


nae  el  dumeslirae,  vel  adventiliae,  in  illis  anle  eas  exer- 
cilaliones  iucipi'-mus.  Jus  Aero  inlernum  el  dooieslicnm 
est  tarn  scriplum  quam  non  sciplum  et  consueludiiiarium, 
et  illud  anteire  debet.  Sed  jus  scriplum  aul  invenilur 
collectuin  put>lira  aurlor title,  ^eluti  Cudex  Philippinus, 
Codex  Coinmercii,  Codex  Judicialis,  Code\  leguui  lunda- 
menlalium,  vel  sollicitudiue  pfivala  elaboraluin  ,  veluli 
colleclio  legum  edila  in  offi'ina  Viccnlina ,  alia  siibse- 
qiu-ns  al)  enierito  nia;;istr»tu  I'omposila  Delaado ,  et  Ipsa 
le;;un)  mililarium  rolleclii) ,  jampridem  a  Vicenlio  Jose- 
plio  Ferreira  Cardnso  editta,  sed  alii  el  aliae,  codices. 
et  collertiones  ,  c<-nlinenl  jus  publicum  et  jus  priv.itum  ; 
et  hoc  jus  privalum  compleclitur  el  jus  civile  el  crimi- 
iiale ,  quurum  illud  ^eI  aif  jutlifiuni ,  vel  ad  officium  nia- 
eistraluuni  ,  lel  ad  cummerciuni  et  jiuliciam  relpublicae, 
et  eliam  ad  jura  clvium  et  oblisatitmes  ,  quae  oriunlur  ex 
conventiuiiibus ,  ex  quasi  conlractibus ,  ex  legibus  ,  vel 
sub  nomine  jiirinm  rcaliuni  \enire  ?olent .  spectanl.  At 
vero  in  sin2;uli9  pro^inriis  tanlne  jurispnidenliae  adpare- 
bunt  exercilalion'-s  Hermeneulicae ,  quae  viam  aperiant 
tiruriibue.  ut  pus^int  ,  drtla  opera  et  occasione  paribus 
Icgibus  scifnliaiu  exe^eticam  cl  hermcneuticam  suis  \iri- 
bits  et  studio  ft-liciliT  exerrtre.  Elenrhus  aulem  to  tins 
hujiis  doclrinae  non  aniecedit  ,  sed  subsequitur  illara 
secundam  hujus  opnsculi  partem  ;  nam  numerus  legum 
interprtlandanim  maxime  a  ralione  lemporum  pendet. 

Siibjicere  aulcm  opurlet  ,  tliio  es-e  media  eniirleandi 
juris  exegeticc  ;  aliud  |pre\'e ,  arclum  ,  el  corapendiosiim  , 
aliud  acroamaticum  anq)lissimum  ,  et  \eluti  in  niodum 
disseilatiouis,    De  hoc   parce  ,  de  illo  uberrime  uleraur, 

Maleriam  praebcl  lertiae  hujus  opusculi  parti  ,  el  hnjus 
cathedrae  studii  .  secundum  Arademiae  in^tituta,  res  di- 
plomalit-a,  maxime  Lusilana  quae  nos  rationcm  cognos- 
ct*ndi  genuilalem  publicomm  dociimenlorum  veleruni,  et 
disliniliunem  inter  verus  el  suppusilos,  dubiae  incertae- 
que  vocis.  Qrnim  aniem  varia  el  di^prsa  sinl  media  rt 
arfiriimciila  ad  oblinendani  intaiila  re\eritalem,  (piodcum- 
que  medium  singuliim  caput  const il nit,  Priniiini  liuruni 
capihim  Paleolugiam  continebit  ,  scilicet  metliodum  judi- 
caiidi  de  geuuitale  documenlorum  secundum  liuguani  , 
qua  scripla  fuere ,  tl  capite  in  hoc  cadit  investigatio 
iiliomaiis,  dicendi  et  seribendi  generis,  et  orlhograpliia 
documenlorum.  Caput  secundum  ad  Paleographlam  alii- 
net,  nam  lilterae,  eorumiiue  furma  liocnmentorum  verila- 
lem  leslanliir.  Caput  tertium  refertur  ad  exainen  maleriae 
subjecli^ae  documenlorum,  vclnli  Ii;;ni  ,  lapidis,  melallo- 
rum  ,  eburis,  buxi,  mall  liau)niae  ,  quercus ,  papyri, 
membranae ,  nee  non  attramenli  ,  sive  roniniunis,  sivp 
a?iri  ,  ac  aliorum  coiorum,  ac  denique  quod  nttinel  ad 
scripturae  instrumenta,  scilicet  caelum,  calamiim  ,  pini- 
cillum.  Caput  quartum  ad  documenlorum  formam  me- 
chanicam  maxime  special ,  id  esl ,  ad  versiim  ,  marginem, 
verborum  divisiuneni,  parrapbum  ,  inlerpimctionem  ,  ac- 
cenlum. 

Capite  in  qtiinio  de  formulis  asilur  ,  quae  pertinenl  ad 
notarios  ,  at!  Ifstes  ,  ad  dies  adscriplns  ,  ad  sigillum  \el 
signum,  ar  ad  divisionem  documenlorum  per  litleras  A 
B  C.  Capul  sexlum  ad  chirographa  ,  snl)Scriplion<s  ( t 
rubricas  labulariortim  refertiir 

Dijctrina  sigillomm  el  signurum  in  septimo  capile  con- 
tinelur,  quae  a  Diplomalicis  tlirilur  —  Ars  Sphragislira. 
Denique  hi.-toria  arlis  vel  scieiiliae  Diplomalicae ,  illius 
librornm  el  scriptornm  notilia  in  caput  octivum  relega- 
lur.  Eoqne  ordino  doclrina  et  argumenlum  rei  Diploma- 
licae absolvilur, 

1855.  Num.  3. 


30 


MOSTEIRO  on  SANCT\   CUBA 
DE  COIMBB.V. 

Qucm  diria,  que  os  vicosos  sinceiraos,  que 
orlam  liojo  as  aprasiveis  mar^^eiis  do  Momloso 
cerca  de  Coimbia,  se  elevani  subre  deslrocos 
dc  columnas  sccubires,  iiras  sagradas,  e  re- 
liquias  dc  mortos? 

Quein,  ao  ver  em  noites  d'agoslo  os  fol- 
guedos  e  caiUares  dos  canipouezcs  nos  areaos 
do  rio,  poderia  scquer  imaginar,  que,  onde 
cntao  vibram  as  cordas  da  viola,  ja  resoaram 
harnionias  de  orgaos  saudosos,  e  caulicos  de 
virgeiis  consagiadas  ao  Senlior? 

Um  mosleiro  real,  e  trez  conventos  se  exten- 
diam  niajestofos  pela  beira  do  rio,  que  ainda 
cntao  corria  I'undo  e  euroihido ;  d'estes  resta 
apenas  a  memoria  nas  iliionicas  das  oidons 
rcligiosas,  cujos  eraui;  d'a(]uelle  soniente  e\is- 
tcni  as  valenU's  paredes  do  toniplo,  cobcrlas 
de  musgo,  e  bera,  os  portaes  e  canipanario ; 
e,  atravez  das  eslreitas  frcstas  ol)scrvani-^(^ 
as  naves  clicias  de  agua  e  lodo,  as  columnas 
quasi  submergidas,  uns  longes  dc  arabescos, 
e  algumas  iararias  esboroando-se. 

Neste  seu  presadissimo  lempio,  cm  com- 
panbia  das  virluosas  lilbas  de  Sancla  Clara, 
crera  a  Rainba  Sancla  Isabel,  teria  mansao 
perpclua  o  seu  cadaver:  assim  o  detcrminara 
em  testamento,  e  ate  lizera  collocar  em  sitio 
de  sua  escolba  o  moimento,  que,  aiiida  cm 
vida,  e  sob  sua  direcciio,  mandara  construir  '. 

Contra riou  porcm  o  Mondcgo  tao  piedoso 
proposito;  I'ez-se,  dc  bumilde  ([ue  era,  sobcrbo 
e  arrogantc,  elevou  o  alvco,  transpoz  as  mar- 
gens,  e  dcpois  de  submcrgir  a  freijuezia  de 
S.  Cucufate,  e  os  cniiventos  de  Sancla  Anna, 
S.  Uominijns,  e  S.  Francisco' ,  invesliu  o 
Mosleiro  de  Saneta  Clara,  cujos  dormitorios, 
<;  officinas,  foi  de  anno  cm  anno  demolindo, 
e  convertendo  eui  cbarcos  insalubrcs. 

A  principio  solTreram  as  freiras  paeiente- 
mente  as  descortczias  e  olVensas  de  tao  ruim 
visinbo,  por  conta  do  amor  que  tiniiam  ii 
casa,  c  respeito  que  tributavam  a  Saneta,  sua 
bemfeitora,  que  receavam  desagasalbar  ^ ;  re- 
dobraram  pori'ui  as  furias  do  rio,  e  seria 
tenlar  a  providencia  qucrer-lbes  resistir. 

'  O  padre  Jose  Pereira  Bayam  descreve  este  moimeD- 
li>  no  seu  Portugal  glnriitso  e  iilvstrado  —  \A\.  4.° — 
pag.  309;  vimol-o  muitas  vezes  no  euro  debaixo  da 
egreia  do  novo  mosteiro,  ao  lado  direito,  cercado  ile 
lazes  e  (lures  nos  dias  feslivos  da  Rainlia  Saneta. 

■^  A  freguezia  de  S.  Cucufate,  confinava  com  a  de 
S.  Barlholomeu,  e  exiendia-se  ate  ao  rio  da  parte  do 
nascente;  boje  nem  apparecem  vesti}rios  da  epreja,  nem 
das  casas  dos  freguezes.  —  A  infanta  D.  Branca  fiindnii 
em  12'£7  o  coJiveiHo  de  S.  Damingos,  que  ficava  nesta 
fi'e(;uezia.  O  roiweftto  de  Sanrta  .tuna  fui  fundado  em 
1174;  ode  .S.  Franchfo  fui  fnndadn  pelo  infante  D. 
Pedro,  Dlho  de  D.  Sancho  I,  em  1247  para  1248,  segun- 
do  a  melhor  opiniao. 

^  Ja  era  tempo  da  Hainha  Saneta  amea(;arao  mosteiro 
o  rio  com  uma  esi'antusa  enclienle,  que  foi  causa  de 
mandar  fazer  iima  tribuna  alta,  e  collocar  nella  o  seu 
tu  nulo,  El-Rei  D.  Manoel  curoi'adecido  d'aquelies  des- 


Requereram  a  I).  Joiio  IV,  qtie,  assim  como 
liavia  reslaurado  o  reino  do  doniinio  de  Cas- 
lella,  Ibcs  restaurasse  tambcin  a  babilarao, 
livraiuio-as  da  tyrannia  do  Mondego. 

Dcreriu-llies  el-rei,  niandou  edilicar  novo 
mosteiro,  eucommcudando  o  cuidado  da  obra 
a  1).  Antonio  Luiz  de  Menezcs,  Conde  de 
Canlanbedc,  depois  Marquez  de  JIarialva,  e 
a  planta  do  edilicio  ao  engenbeiro  mor  do 
Reino,  Fr.  Joao  Turriauo,  monge  bencdic- 
tino  ' . 

No  monte  da  esperanea,  a  3  de  julho  dc 
1049,  se  lancou  a  primeira  pedra;  e  com 
quanio,  dcsde  esse  dia,  se  trabalhasse  con- 
tiniiadamente  na  obra,  so  ao  cabo  de  2S 
aniios  se  concluiu  o  mosteiro^. 

Real  por  tao  cximio  fuiidador,  iifio  o  c 
men  OS  pela  traca,  e  grandcza. 

Tcm  dois  vislosos  mirantes,  cada  um  em 
seu  extremo,  olbaiido  ambos  para  a  cidadc. 
Um  portico  sumptuoso  corresponde  ao  d'lim 
e\lenso  paleo,  onde  se  conserva  ainda,  li\a 
no  solo,  uma  grande  cadca  de  ferro,  inulil 
monumcnto  do  anligo  privilegio  dc  Coulo  \ 

0  lempio  e  magnilico,  de  arebileclura  ro- 
niana ;  os  retabolos  dos  altares  rcprescutani, 
cm  nu'io  relcvo,  os  factos  principaes  da  vida 
da  Rainba  Sancla.  Em  2(i  de  junbo  de  Ifl'.Ki 
0  sagrou  com  grande  solomnidade  o  bispo  d(( 
Coimlira,  D.  Joao  de  Mello*. 

Com  quanto  so  acbasse  ainda  por  coucluir 
em  11)77,  i)orque  o  estava  ja  a  esse  tempo 
0  mosteiro,  accordoii-se,  se  tizesse  a  transla- 
dacao  da  Saucta,  e  das  freiras  no  dia  29  d'ou- 
tubro  d'aquelle  anno  '. 

EIrei  D.  Pedro  II.,  cnlao  prineipe  regente, 
tomou  singularmente  a  peito  o  celebrar  esta 
I'unccao  com  toda  a  pompa  e  majestado. 

commodos,  intentou  mudar  d'alli  o  mosteiro;  mas  comu 
ainda  enlao  u  damno,  que  se  padecia,  era  menor  do 
que  ao  dejjois  se  seguin,  nau  qiiizeram  as  religiosas  deixar 
o  ber^o,  em  que  a  Rainha  Sancla  as  creara.  —  Vid. 
Portugal  gloriQSO — pag.  317. 

'  Fr.  Joao  Turriano,  filho  do  Arcliilecto  Leonardo 
Turrianu,  entrou  na  ordem  dos  benedictinos  era  1629, 
na  edade  de  la  annos;  foi  nomeado  professor  de  mathe- 
matica  na  universidatle  de  Coimbra  por  El-liei  D.  Joao 
IV',  e,  alem  da  conslruc(;ao  do  !Musteiru  de  Sancla 
Clara,  dirigin  a  das  capellas  jirincipaes  das  Ses  de  V  izeu, 
e  de  Leiria,  e  os  trabalhu^  das  furtifica^o<'S  do  reino, 
etc. — Morreu  em  1679 — vide  dictiuniiaire  tiistoricO' 
ttrtiatique  du  Portugal —  Par  le  Comte  A.  Raczynskj. 

^  Foi  Manoel  de  Saldanha,  reitur  da  L'niveriidade,  e 
que  morreu  bispo  eleitode Coimbra,  que  lanijou  a  primeira 
pedra.  ajudado  pelu  Duutor  Fr.  Manuel  da  Ascensao» 
abbade  do  cullegio  de  S.  Benlo. 

'  Os  mostciros,  que  se  denominavam  coutos,  alem 
d'outros  privilegios  e  exemp(;oes,  erani  cumu  azylos,  onde 
podiam  acolher-se  os  criniinosos,  na  certeza  de  nao  po- 
derera  ser  ahi  perseguidos  ])or  quaesquer  justifjas. 

"*   Vid.  Port,  glorioso  e  illuslradtt. 

"•  Preveniu-se  uma  casa  grande,  que  servisse  d'egreja, 
e  euro,  dividida  pel»>  meio.  O  bispo  de  Coimbra,  D.  Vr. 
Alvaro  de  S.  Buaventura,  julguu  u  mosteiro  em  forma  de 
clausura,  e  obrigado  das  legitimas  queixas,  e  supplicas 
das  freiras,  permittiu  a  lraslada(;ao.  O  templo,  so  pas- 
sados  19  annos,  ^  que  recebeu  o  corpo  da  Saneta,  proce- 
dendu-se  a  segunda  traslada<;rio  com  tanla  pumpa,  e 
majniDcencia,  conio  na  primeira. 


31 


Mandou  a  Coimhra  a  Iraclar  de  sens  aprcstos 
0  consellieiro  d'Estado,  Marquez  d'Ariouchcs, 
c  0  Yisconde  D.  Diogo  de  Lima,  com  o  se- 
cretario  Roqiie  Monteiro  Paim;  e  cm  scguida 
OS  titulares  necessarios  para  levar  as  varas 
do  Pallio  c  borlas  do  giuao,  que  com  outras 
iill'aias  preciosas  offerewra  para  servico  da 
Sancta  '. 

Oito  Bispos',  a  Clerczia  regular  e secular, 
selenla  e  duas  Freiras,  todas  as  Irmandades, 
c,  Conl'rarias,  a  Corporacao  da  Universidade, 
as  Auctoridadcs  civis,  a  Camara,  etc.  com- 
pozeram  este  solemnissimo  Prestilo\  e  para  o 
ver,  evenerar  a  Sancta,  concorreram  das  va- 
rias  provincias  do  rcino  innuraeraveispessoas. 

For  trez  dias  se  abrazou  a  cidade  cm  lu- 
minarias,  e  o  ecu  com  fogo  de  varias  vistas; 
por  mais  tempo  duraram  as  justas,  os  concer- 
tos dc  musica,  as  dancas,  e  outros  generos 
(le  divertimentos,  usados  naquellas  eras,  e 
line  seria  loiigo  memorar. 

Bous  tempos  cram  a(]uelles,  em  que  os  Por- 
liiguezes,  por  tao  dill'erentes  modes,  tesle- 
iiuinhavam  sua  veneracao  a  Piainha  Sancta. 

Ao  presente,  apenas  meia  duzia  de  clerigos 
(a  quem  por  escarneo  denominam  o  cabido 

'  Foram  estes  titulares  o  Marquez  das  Minas,  Conde 
lie  Fi;;i]eird,  Conde  da  Feira,  Conde  Barao,  Conde  de 
Sjure,  Conde  de  Sancta  Cruz,  Conde  de  Aveiras,  e  Vis- 
conde  D.  Diof;o  de  Lima,  que  levarara  as  oito  varas  do 
fiallio,  vestidoscom  osniantos,  cada  mn  de  sua  cavallaria. 
O  Marquez  d'Arronelies  levou  o  Guiao,  sen  fliho,  Antonio 
Uozendo  de  Soiiza  o  eordiio  da  parte  esquerda,  e  o  Conde 
da  Ponte  o  outro  cordao  da  parte  direita. 

■*  O  Bispo  Conde,  os  de  Pernambuco,  Lamego,  Vizeu, 
Porto,  Portalcgre,  e  Miranda  foram  os  avisados;  compa- 
rcceram  ])orcm  alem  d'estes.,  os  bispos  de  Tarf,^a,  e  S. 
Tliome.  —  Estas,  e  muitas  outras  particularidadcs  podem 
M:r-se  na  Rtlarito  histnrica  da  seguiidajrasladardo  de 
S.  Izafiel,  Rainha  de  Purtugal^ — J677- — jiutdicada  na 
rcvisla  litteraria  dt  Parlif — -vtd.  VII. 

■'  Determinara  a  Rainha  Sancta  em  sen  tcstamento. 
que  OS  ossos  da  Infanta  D.  Izabel,  sua  Neta,  filha  d'El-ltei 
1).  Affonso  1\'  e  da  Haiiilia  I).  Beatriz,  descan^assf.'m 
juncto  dos  sens.  Por  isso  no  dia  30  d'outubro,  ininiediato 
ao  da  trasladac^iio  da  Sancta,  se  procedeu  a  da  Infanta. 
Abriu-seo  t\imnlode  pedra,em  quese  acbava,  na  presen(;a 
de  Roque  Monteiro  Paim,  e  dos  Bispos  de  Coinibra, 
Rliranda,  Targa,  Lamego,  Pernambuco,  e  S.  Ttionie; 
este  ultimo  tirou  d'um  cai\ito  de  madeira,  que  se  aclia^a 
dentro,  os  ossos  da  Infiinta;  limpou-os,  e  envolveu-os 
em  uma  toaiha  de  tiolanda ;  e  depots  de  os  metter  em  um 
caixao  forrado  de  tela  de  jasmin)  encarnada,  com  ferrajie, 
c  pregaria  dourada,  pegaram  nelle,  e  o  conduziram  ao 
novo  niosteiro  o  Marquez  de  Arronches,  e  o  das  Minas, 
sejuindo-se  diante  a  religiao  de  S.  F'rancisco,  e  acom- 
panliando-o  os  bispos  com  toclias  accesas,  e  os  condes, 
que  vieram  assistir  a  trasladai^.lo  da  Hainlia  Sancta.  A 
luadre  ,\l>badeca,  escri^a,  e  discretas,  e  a  mais  com- 
inunidade  o  esperavam  com  cruz  al^ada  e  toctias  accesas, 
e  o  levaram.  depois  das  declarai;oes  do  costume,  para  o 
coro  do  mosteiro,  onde  Ihe  fizerara  o  officio  da  Egreja 
com  loda  a  soleranidade.  — E  d'esta  princeza  o  tnmnlo, 
do  lado  direito,  que,  ao  presente,  se  acha  no  fundo  do 
templo.  — Os  AA.,  {[ue  descrevem  esta  solemnidade, 
nao  fazem  men^ao  da  traslada(;rio  da  outra  princeza, 
que  occupa  o  tumulo  correspondente  ao  da  infanta  D. 
Izabel,  no  lado  esquerdo  do  templo;  cremos,  (pie  e  da 
Infanta  D.  Maria,  fillia  d'El-Rei  D.  Pedro  1.°,  casada 
com  D.  Fernando,  Infante  de  Aragiio.  —  Vide  mappa  dt 
Portugal — por  Joao  Baptista  de  Castro — jag.  390. 


da  Se  Cathedral  de  Coimbra)  vao  todos  os 
annos  proccssioiialmente  ao  Mosleirn  de  Sanclii 
Clara  ceiebrar  uma  missa  no  altar  da  Bainha 
Sancta,  no  dia  2!)  d'outubro. 

A  camara  municipal  coslumava  acompa- 
nhar  o  cabido;  porem  desde  1834  tem  deixado 
de  cumprir  este  picdoso  dever '. 

R.  DE  GUSMAO. 


TUMULO  DO  BISPO  DE  COIMBRA 
D.  TIBURCIO. 

yuus  vous  arrHez  devani  cc 
lomtieau  poudreux,  sur  le 
/jufl  est  eouchee  lafigure 
(ji)tkique  de  cet  Evt^que,  rf- 
v^tu  de  ses  habits  poiitifi- 
eauxy  les  viaiiis  jointes, 
les  yenx  ftrmes. 

chateaubria:vd. 

Embebido  na  parcde,  juncto  da  sacbristia 
da  vcllia  calbedral',  esta  o  majestoso  vulto 
do  prelado  conimbricense,  rcvestido  de  habi- 
tos  ponlilicaes  e  mitrado,  na  devota  poslura, 
que  dcscrcve  o  A.  do  yenio  do  chrislianismo  ' . 

Inspira  religioso  respeilo  a  estatua  collossal 
de  ]iedra  amarellada,  debaixo  d'um  arco 
simples,  cavado  no  muro  antigo;  convida 
porem  a  mais  seria  meditaciio  a  jazida  d'este 
bispo  na  calbedral,  que  regera,  ao  pe  de  seus 
predecessores,  com  todas  as  insignias  do  pon- 
tilicado. 

Acbarani  suas  cinzas  decoroso  agazalho  sob 
as  abobedas  do  templo,  em  que  exercera  as 
funccOes  do  sacerdocio,  em  toda  a  plenitude 
do  poder,  e  rodeado  dos  esplendores  da  pom- 
pa  religiosa. 

Em  paiz  estranho,  na  Se  de  Toledo,  repousa 
ao  contrario,  sob  uma  campa  rasa,  sem  em- 
blema  que  denuucie  a  majestade,  nem  epita- 
pliio  que  rccorde  o  nomc  \  o  monarcba  por- 
tuguez,  a  quem,  subdito  desleal,  ajudara  a 
privar  da  coroa,  e  impellira  para  o  exilio\ 

Cerrando  os  olhos  longe  da  patria,  Sancbo 
volvia-os  para  ella  com  saudade,  e  pedia 
alguns  palmos  de  terra  no  reino  de  que  fora 
senbor,  para  dormir  o  loogo  sonuio  da  morte 

'  Tem  resa  propria  no  breviario  romano  a  traslada^ao 
da  Rainha  Sancta,  e  no  seu  dia,  29  d'Out\ibro,  ainda 
costumam  le\ar-lhe  uma  gallinhabranca  algumas  piedosas 
aldeas,  em  reconhecimento  de  recuperarem  pela  sua  in- 
tercessao  o  leite  ja  secco.  Na  vespera,  e  dia  4  de  julho, 
em  que  se  cidebra  a  sua  fesla,  vai  a  Cori)ora<;rio  da  Uni- 
versidade em  Prestito  ao  mosteiro  assistir  a  esta  functjrio. 

^  O  P.  Antonio  Carvalho  da  Costa,  fallando  d'este 
bispo  na  sua  ehorographia  pnrtugueza — Tomo  segundo  — 
cap.  1. — pag.  8,  diz,  que  estti  sepiiltado  na  capella  niiir 
na  parede  earn  um  arco  da  parte  di  evangelho.  Enganou- 
se;  nem  na  capella  mor  existe  al^um  tumulo,  nem  ha 
vestigios  de  que  uella  estivesse. 

^  Genie  du  chrislianisme  —  Tome  VII ,  pag.  10.i 
(Sixieme  edition). 

■"  Elogios  historicos  dos  senhores  reis  de  Portugal, 
escriplos  por  Fr.  Bernardo  de  Brito,  pag.  35. 

■'  No  concilio  celel)rado  em  Leao  de  Frani;a  no  anno 
de  1245  sob  Innocencio  IV,  requereu  o  bispo  D.  Tiburcio, 
e  D.  Joao  Egas,  por  parte  do  estado  ecclesiaslico,  fosse 


32 


juncto  das  cinzas  palernas;  a  verba  poreni  de 
seu  testamento,  pela  qual  semandava  sepultar 
em  Alcobara,  nao  se  cunipriu,  como  devdra. 

Delialdi!  preliMiderani  os  nionges,  que  se 
Ihes  cnlrefjassc  o  cadaver  do  Principe  por- 
luguez;  dohaldc  o  ordcnoii  o  proprio  liinocen- 
cio  IV  ao  prelado  Toledaiio.  Nem  vivo,  neni 
morto  Sanclio  II  dcvia  toriiar  a  traiispdr  as 
fronleiras  dc  Portugal  '. 

Lamenlemos  a  fatal  ignorancia  d'aqucllas 
rudes  cdades,  era  (jue  unia  politica  desar- 
razoada  auctorisava  tao  escandalosos  proce- 
■  dimeiitos;  e  vejaraos  o  conlraste  suldinic,  (jue 
lies  olTerecc  o  Hispo  e  o  Alcaide  de  Coimltra, 
naquella  famosa  cjiociia. 

D.  Tiburcio,  uiiuistro  d'uma  religiiio  de 
paz  e  caridade,  corre  a  Leao  a  accusar  seu 
legitimo  sobcrano  perante  uni  juiz  eslrau- 
gciro'':  pede  ao  Papa  lunocencio  IV  deponlia 
o  principe,  que  consumira  os  mais  belios  dias 
da  mocidade  em  combatcr  os  ininiigos  da  Fe. 

D.  Martini  dc  Freitas,  creado  entrc  os 
rancores  das  batalhas,  consultando  sonientc 
OS  brios  de  cavalteiro,  e  os  dictamcs  dc  liel 
vassallo,  defende  o  castcllo,  que  Ihe  conliara 
0  seu  rei,  e  so  o  enlrega  ao  irmao,  dcpois 
de  ccrlificar-se,  com  os  proprios  oihos,  na 
antiga  capital  da  Ilespanba.  que  era  linado 
0  senlior,  a  qiiem  tizera  preito,  e  mcnagem. 

Parando  em  frcnte  do  tumulo  dc  D.  Tiburcio, 
apcrla-sc-nos  o  coracao,  ao  recordarmo-nos 
das  anguslias,  com  que  amargurara  os  dias 
d'aquelle  desditoso  monarcha;  divisando  as 
venerandas  reliquias  do  vetusto  castcllo^, 
dilata-se-nos  suavenicnte  o  jieilo,  na  comlcm- 
placao  das  mudas  testemunhas  do  prodigio 
de  lealdade  de  Martini  dc  Freitas. 

Que  interessante  licao  iiosolTerece  a  bistoria 
dos  dous  personagens! 

B.  DE  GUSMAO. 


CEKCA  DE  BLSSACO. ' 

Mata  e  edificios. 

A  conbccida  mata  de  Bussaco,  com  o  extin- 
cto  conveiilo  dos  Carmelitas  descalcos,  occupa, 
iia  cxtreniidade  N.  da  scrra  do  mesnio  nome, 

Sua  Sauclidade  servida  de  privar  da  administra<;uo  do  reino 
a  el-rei  D.  Sanctio,  e  8ubstttuir-lhe  no  governo  d'elle  a 
s!'u  irmrto  D.  AfTonso,  conde  de  Bolonha,  a  cnja  peti^uo 
aimuiu  o  sunimo  ])onti(ice, 

'  Hisloria  de  Portugal  por  A.  Herculano. — Tomo 
segundo — paj.  430. 

-*  PorlugueEe8nosconciliosg:eraes.  Por  Antonio  Pereira 
lie  Figiieiredo  —  pag.  .'13. 

■•  Veja-se  a  descrip^'iio  d'este  monumento,  que  publi- 
ci'tmos  na  revista  universal  f^sbonense — Tom.  I. 

■*  Tem-se  querido  achar  a  etymologia  de  Bussaco  na 
I  alavra  —  Boral  —  cnui  que  (ienominavam  um  negro 
malvado,  que  se  diz  ter  vivido  nesta  mata;  na  inversao 
das  palavras  —  saco-bus  —  cum  ipie  respondia  umdevolo, 
lias  vizinhanras  de  Bussaco.  a  (piem  Ihe  pergiintava  o 
provelto  lias  suas  visitas  a  niata,  como  inciilcando  o  silen- 
cio  —  bus  —  que  '■aca^a  ou  ajirendia  a  giiardar  naquella 


a  parte  mais  elevada  da  sua  cncosta  occi- 
dental. 0  niuro,  que  a  circunda,  pcrcorre 
uma  nxtensao  dc  17:i'J0  palnios,  e  acha-se 
dividida  em  duas  partes  quasi  cguacs  pela  rua, 
([ue  vai  da  Portaria  a  Porta  de  Sula,  tendo 
0  muro  da  parte  iuierior  8:030  palnios  e  o 
da  parte  superior  8:300  '.  Assente  no  conce- 
llio  da  .Mealliada,  foi  prinieiro  do  districio  de 
C.oinibra;  mas,  pela  nova  divisao  territorial 
de  HI  de  dezcmbro  de  18o'.{,  licou  pertcucendo 
ao  districto  d'Avciro. 

Nao  acbci  nolicias  do  principio  d'csta  mala  ; 
e  do  crcr,  ([ue  osprimeiros  ermitacsd'a(|uclle 
dcscrlo  ja  para  alii  I'osscm  attrabidos  ])ela  soli- 
dao  d'aipicllas  sombrias  brcnhas,  i)iirciu  nem 
ap|iro\iniadaiuentc  Ihe  posso  marcar  o  sen 
coiiieco,  i]cla  inccrteza,  (|iic  vejo  em  liido  oquo 
diziMu  OS  clironistas  d'esses  antigos  ermitaes. 

Sabemos  (juc  os  frades  carmelitas,  poucos 
annos  dcpois  da  I'undacao  do  seu  convcnto", 
levantaram  os  muros  da  cerca  no  terreno,  ([ik^ 
acliaram  coberlo  dc  arvoredo;  e  ja  enlao  alli 
avullavam  nunierosos  e  grandes  carvallios, 
como  se  collige  d'uni  interessante  poema  de 
103i,  que  dcvemos  a  nossa  illustre  poetiza 
D.  licruarda  Fcrreira  de  Lacerda  '.  Mas  e  de 
crcr,  que  a  mata  estivcssc  n'csta  epoclia  iiiui- 
to  menos  I'ccbada,  porquc  a  nle.•^ma  pcuna 
achou  assumpto,  para  uma  elegante  ipiadra 
lalina,  em  rocbedos  cscalvados',  (lue  lioje  se 
acliam  cobertos  dc  arbustos  c  raniagem. 

sididao;  e  tanibom  se  tern  querido  derivar  do  nome  — 
siiblaco,  que  os  primeiros  Monges  Benedictim.s  da  V^ac- 
carli;a  teriam  dado  aquella  serra,  jii  entito  sitio  de  peni- 
tencia,  por  analogia  com  o  deserto  de  sublaco  na  Italia, 
onde  S.  Bento,  na  conhecida  cova  de  sublaco,  vivera  tres 
annos  fora  do  muudo  em  penitencia  austera.  Tendo  na 
de\ida  conta  estes  arbitrios  etymologicos,  achei  mais 
razoavel  guiar-me  pelos  escriptos  antigos  subrea  orthogra- 
pliia  da  palavra;  e  tendo  acliado — liuzaco  —  no  Livro 
I*rcto,  em  documentos  do  seculo  11.'*;  — Bussaco  —  na 
Benedicliua  Liisitana  escripta  em  1644,  e  —  Bussaco  — 
na  Chronica  dos  Carmelitas  Descali^os  de  1721,  prefcri 
—  Bussaco  —  a  Bu^aco,  seguindo  neste  arbitrio  a  ortho- 
graphia  geralmente  adoptada  nas  correspondencias  parti- 
culares,  na  imprensa  periodica,  e  nas  pe^-as  ulliciaes;  sem 
com  tudo  desconhecer  que  poderia  escrevcr — Bu^aco  — 
com  o  bom  fundamento  da  auctoridade  de  D.  Bernarda 
I'Vrreira  de  Lacerda,  e  do  Sr.  Adriao  Pereira  Korjaj  de 
Sam[iaio, 

'    Estas  medidas  foram  liradas  em  1853  pelo  sr.  JoSo 
Bajitista  Kerreira.  da  Mealhada. 
-*   Vej.  noiitro  logar  dVsla  mem. 
■*   Con  ni'^ras  sombras  de  roliles 
Que  alli  son  grandes,  y  mitchos 
Llenos  de  barbas  por  viejos, 
Y  en  las  cabe^as  tan  juntos 
Que  no  sufren  los  traspasse 
Kl  planeta  rubicundo. 
Ell  liigar  de  grama  siemUran 
El  sui-lo  giiijarros  duros, 
Pardos,  azuk's,  y  negrus 
Que  el  tiepo  cubrio  de  musgo. 
Sihdattes   tie  Bi/t^aco  por  Uotiu    Btritantd  Fn-rnra 
de  Lacerda  —  1G34. 
^         Siijier  riipes  tiias 
(iarrulantes    aves 
Cantitant  suaves 
Cantilenas  suas. 

(Idem.) 


33 


Os  ccdros  fiigantcs ,  ja  sobrancciros  aos 
carvallios  anligos,  conta  Fr.  Joao  do  Sacra- 
mento', que  toram  niaiidados  vir  dos  Azo- 
res ' ,  c  priim'irainenle  ))laiitados  jiiiiclo  a 
orniida  do  S.  Jose,  pelo  lleilor  da  I'niversi- 
(la'lc  Maiioel  de  Saldanlia,  que  fundou  aquel- 
la  ermida  cm  Itiili. 

Ao  priiuciro  cedro  dc  Bussaco,  ao  proge- 
nitor de  quantos  alii  se  teem  criado,  consa- 
grou  0  sr.  Jose  Frcire  uni  Ireclio  poetico  de 
muito  merccimento,  que  o  sr.  Adriao  Forjaz 
applicou  ao  respeitavel  cedro,  que  se  encon- 
ira  pouco  adiaute  da  ermida  de  Sancta  Tlie- 
reza"',  ua  rua  que  vai  do  convcnlo  a  Porta 
de  Sula.  Aiguem  se  teni  lemhrado  de  trihular 
csta  homenagem  ao  cedro,  que  se  ve  na  rua 
do  Ilorto  com  ii  palmos  de  circumferencia. 
Mas  Fr.  Lcao  dc  S.  Tliomaz,  e  Fr.  Joao  do 
Sacramento,  parcce  tcrcm  rcsolvido  a  questao, 
dizendo  ([ue  os  |)rimeiros  ccdros  dc  Bussaco 
I'orani  plantadus  juncto  a  capcila  de  .S.  Josc'; 
e  0  primeiro  aiictor,  tendo  escripto  cm  IGol, 
deve  juigar-se  coutemporaneo  do  facto. 

0  souto  de  ca.'-tanliciros,  que  se  ve  pcrto 
<ia  lonte  IVia,  foi  cortado  em  18j3,  c  reudeu, 
apjiroximadamcntc,  3dl)§000  reis  com  appli- 
cacao  a  reparos  no  convento  e  ermidas. 

Os  carvallios  c  alguns  arbustos,  que  se 
veem  na  mata,  encontram-se  tambem  fura  dos 
muros  na  encosta  occidental  da  serra,  vcge- 
fando  espontaneamente,  e  tendendoa  fechar-se 
em  brenha,  a  pezar  do  machado  e  dos  incen- 
dios,  que  rrequenlenicnte  os  vao  devastando: 
o  ([ue  parece  iuculcar  que  a  mata,  antes  de 
resguardada,  nao  tivera  outro  arvoredo;  e 
que  dcpois,  a  curiosidade  dos  religiosos  a 
iizera  povoar  da  variada  vegetafao,  que  alii 
se  enconlra.  E  ccrto,  que  os  frades  tinham 
todo  0  cuidado  na  conscrvacao  da  mata,  e 
pariicuiarmente  dos  ccdros,  que  o  prelado, 
j)or  obrigacao  ou  costume  anligo,  maudava 
semear  e  plantar  todos  os  annos. 

A  Chronica  dos  Carmclitas  Dcscalcos  falla 


'  Chronica  dos  Carmelitas  Descal<;os — torn.  2.",  livr. 
4.°,   cap.  20.° 

"*  Cedro  de  G6a  ou  Cedro  de  Bussaco  —  Cupressus 
Glaiica,   Cupressus   Lusitana. 

Os  Botanicos  sao  Concordes  em  que  estes  cedros  sao 
ori^inarios  dc  Goa ;  e  Le  Bon  Jardiiiier,  de  185-1,  diz 
que  foi  aclimalado  entre  nos  nas  visinhan^as  de  Lisboa. 
\os  .\(;ores  dizem-me  que  nao  ha  memoria  d'estes  cedros; 
r  que  so  ha  poucos  annos  sao  ciiUivados,  corao  novidade, 
n'al  juns  jardins  das  Ilhas  do  Pico  e  S.  Miguel. 

K  possivel  que  se  aclimatasse  primeiro  nos  Azores,  e 
que  se  perdesse  n'estas  Ilhas  pouco  depois  de  ter  passado 
H  Portugal. 

■*  Memorias  de  Bussaco  e  Uma  Viagem  aSerradaLouza, 
ptjr  Adriao  Percira  L'orjaz  de  Sampaio — part.  1."  —  ^.° 
5."  N'este  li^'ar  vem  transcripta  a  poesia  do  sr.  Jose 
Freire.  Encontra-se  a  descripc^rio  da  mala  e  do  c>;.ivento 
n'esta  memoria  do  sr.  Forjaz,  de  IBTiO;  na  Chronica  dos 
CarraelitasDescalqus.de  1721;  e  nas  SoUdadesde  Bussaco 
de  U.  Bernarda  Ferreira  de  Lacerda,  de  1634. 

■*  Benedictina  Lusitana  —  torn.  2.°  —  trat.  1.  —  parte 
*.' — cap.  17.  Chronica  dus  Carmelitat  Descil^oa — (logar 
cil.) 


de  ermidas  no  Bussaco,  ja  dos  primeiros  tem- 
pos da  era  clirista,  onde  diz,  ([ucvivcram  cm 
pcnitencia  os  eremitas  carmelitanos,  que  n'e.'-- 
sa  epocha  tinbam  vindo  das  visinbancas  de 
Toledo',  e  menciona  tambem  outras  ermidas 
como  depcndencias  do  Mostciro  da  Yaccarifa 
entre  os  seculos  VI  c  XI';  mas  esta  noticia 
tciu  apenas  o  valor  d'uiua  simples  asscrcao , 
scni  documcnlos  nem  auctoridade  contcmpo- 
ranca,  cm  que  se  funde.  Fr.  Leao  de  S.  Tlio- 
maz da  noticia  d'um  pequeno  mosteiro  uo 
cimo  da  montanlia,  perto  da  chamada  Cruz 
Alta,  filial  do  .Mosteiro  daVaccarica,  com  in- 
vocacao  de  Sancta  Eufemia,  cujas  ruinas 
aproveitou  o  Heitor  da  l'ni\crsidade  Maitoel 
de  .Saldanha,  para  mandar  construir  em  l(i48 
0  baluarte  e  amcias  sobre  que  assenta  aqucl- 
la  cruz  \  Podem  (icar  algumas  duvidas  sobre 
a  existcncia  d'csle  mosteiro  no  tempo  dos 
monges  da  Vaccarica,  c  como  filial  do  scu 
convento;  mas  nao  devcmos  duvidar,  ([ue,  an- 
tes d'esia  obra  de  .Manoel  de  Saldanlia,  havia 
alii  perto  um  mosteiro  em  ruinas,  jiorque  o 
venios  noliciado  por  um  auctor  contempora- 
neo'.  .V  Chronica  dos  Carmclitas  Descalcos 
nao  falla  d'cste  mosteiro;  mas,  referiudo-sc  as 
ermidas  d'aquelle  tempo,  menciona  os  vcsli- 
gios  d'uma  ermida  de  Sancta  Eufemia  (resto 
do  mosteiro,  provavelmente),  e  d'outra  de  S. 
Silvestre ;  accrescentando,  que  as  suas  inia- 
gens,  ja  de  ha  muito  tinham  side  traslada- 
das  para  as  povoacOes  vizinhas:  a  da  Sancta 
para  unia  ermida  da  Lamcira  de  Sancta  Eu- 
femia, e  a  de  S.  Silvestre  para  Luso,  onde 
por  muito  tempo  se  venerou  por  scu  orago'. 

A  historia  do  convento  carmelita,  c  das 
ermidas,  que  vemos  na  mata,  satisfaz  muito 
mais  pcia  sua  minuciosidade  e  maior  exaclidao. 

Fr.  Thomaz  de  S.  Cyrillo,  cscolbido  pelo 
provincial  dos  carmclitas  dcscalcos  para  fun- 
dador  e  prelado  d'este  convento,  partiu  d'A- 
veiro  para  Bussaco  a  2'J  de  junho  de  1G2S, 
junctamente  com  Fr.  Jofio  Baptista  e  Alberto 
da  Yirgem.  Chegaram  a  Luso  no  mesmo  dia ; 
e  a  2o  de  julbo  Ihe  apparcceram  para  o 
coadjuvar  Fr.  Antonio  do  Espirito  Sancto, 
Fr.  Bcnto  dos  Martyres,  e  o  pedreiro  Antonio 
das  Chagas  \ 

Comccaram  a  edificacao  a  7  d'Agoslo.  Ve- 
neraram  pela  primeira  vez  o  Sanctissinio  a 


'    Vej.  n'oulro  lojj.  d'esia  mem. 

^  Chronica  dos  Carmclitas  Descalcos — torn.  2.",  livr. 
4.°,   cap.  15. 

■*    Benediclina  Lusitana  —  (lo;?ar  citado"). 

'  F.'  Leiio  de  S.  Thomaz  (^Bened.  Lus. )  da  esta  noticia 
em  1651. 

''  Chronica  dos  Carmclitas  DeBCal<;os — torn.  2.".  livr. 
4.°,  cap.  15. 

A  invoca<jrio  da  epreja  de  Lnso  era  S.  Thome  em  1064 
(Liv.  Preto,  fulh.  36);  S.  Silvestre  em  1721  (Chronica 
cilada);    e  actualmente  e  Nossa  Senhora  da  Natividade. 

^  Chronica  dos  Carmclitas  Dcscalcos —liv.  4.°,  cap. 
IS."  e  16." 


34 


28  de  fevereiro  de  1629,  e  a  19  de  marco 
de  1630  poderam  jii  priiuipiar  a  completa 
obscrvancia  do  sen  institiito  '. 

Os  novo  passes  da  prisao  do  Cliristo,  desilc 
0  Horlo  de  Gelliesmiani  alo  ao  Prelorio  do 
Pilalos;  e  os  scis  da  I'aixao,  dosdc  o  Prelo- 
rio ato  ao  r.alvario,  forain  piimeiro  assigiia- 
lados  com  criizes  polo  Heilor  da  Uiiivoisiiladc 
Manool  do  Saldanha,  (luo  a  imiito  custo  con- 
scguiii  abrir,  nos  rochedos  da  encosta,  com- 
moda  eslrada  para  tnda  a  via-sacra.  0  bispo 
oonde,  D.  Joao  do  Mcllo,  localisou  com  niais 
precisao  osses  passos,  por  modidas  que  maii- 
dou  vir  da  propria  Joruzalom  ;  c  os  oncer- 
rou  nas  ormidas.  Ultimainente  D.  Antonio  do 
Vasconceilos  o  Soiisa,  taniboin  Bispo  doCoim- 
bra,  subsliluiu  as  piiihiras  das  capcilas  por 
imagcns  em  vulto  ',  que  successivamenle  se 
forani  apprloicoando. 

Nao  encontramos  as  datas  de  todas  estas 
obras;  mas  podeajiiizar-se  d'ollas,  pouco  mais 
ou  menos,  sabendo-so  (juo  Manoel  do  Salda- 
nha promovcu  em  Biissaco  oulros  traiialhos 
dcsdo  IGii  ato  Ki'iS,  quo  I).  Joao  do  Molio 
construiu  algiimas  ca|)ollas  em  1094%  o  (lue 
D.  Antonio  do  Vasconccilos  e  Sousa  possuiu 
a  raitra  desde  170G  ate  1717  '. 

As  capellas,  em  quo  os  religiosos  iam  pas- 
sar  a  vida  ermitica  da  sua  regra,  chamadas 


'    Memorias  de  Bussaco — pari,  'i."  ^  7. 

^  Esta-s  medidas  sao  uma  tic(;ao,  seffundo  al;;uns  via- 
jantes.  A  furija  das  tradi^ucs  tern  feilo  respeitar  em  Je- 
rusalem certos  lo^ares  conio  ns  proprios.  em  que  se  pas- 
xiram  as  differentes  seenas  da  Redeinpt^rio  :  mas  nem  a 
posi^ao  d'estes  lopares  se  liarinoniaa  com  a  sua  descripi^ao 
uo  Evanjelho  ,  uem  a  |>osse  tao  duradoura  d'esta  cidade 
pelos  Infieis  deixaria  de  apa^ar  os  vestijrios  d'estes  mo- 
numentos  da  christandade.  Chatea'.ibriand  e  Laniartine 
dizem  o  seguinte  — ..  J<Tusalem  a  ete  prise  et  sacagee  dix 
sept  fois;  des  millions  d'hurames  out  ete  e^jorges  dans  son 
enceinte,  et  ce  massacre  dure  pour  ainsi  dire  encore;  nuUe 
autre  ville  n'a  eprouve  ua  pareil  sort  "  —  Itiueraire  de 
Paris  a  Jerusalem  par  Mr.  le  Vicomte  de  Chateaubriand 
torn.  2."° 

(*  Le  Calvairc,  le  tombcau  et  plusieurs  autres  sites  du 
drame  de  la  Redemption,  se  trouvent  ainsi  accumules  sous 
le  toil   d'nn    seul  edifice  d'luie  mediocre  etendue;  cela 

semiile   peu  cnnfi»rnie  aux  reeits  des  evangiles 

Au  sortir  de  I'e^^'li^e  du  Saint  Sepulcre,  nous  suivtmes  la 
voie  Duuloureuse,  dont  JNI.  de  Chateaubriand  a  donne  un 
si  poetique  itineraire.  Rien  de  frappant,  rien  de  constate, 
rien  de  vraisemblable;  des  masures  de  construction  mo- 
derne,  donnees  partout,  par  les  moines  aux  pelerins, 
})our  des  vestiges  incontestes  des  diverses  stations  du 
(.'hrist.  L'oeil  ne  pent  avoir  meme  un  doute,  el  toule  confi- 
ance  dans  ces  traditions  locales  est  detrnite  d'avance  par 
I'histoire  des  premieres  annees  du  cbristianisme,  oii  Je- 
rusalem  ne  ctmserva  pas  pierre  sur  pierre,  oil  les  Chre- 
tiens fnrenl  ensuile  haiinis  de  la  ville  pendant  de  nom- 
breuses  anneef,  :> — Souvenirs,  Impressions,  Pensees  et 
Paysa^es  penilant  un  voyage  en  Orient  .  .  .  par  A.  De 
T.amartine — tuui.  'i.""= 

-  Chronica  dos  Carmelilas  Descalt;os —  torn.  2."  — 
liv.  4.»  —  cap.  21 

*  Nas  paredes  da  primeira  erniida  da  paixao  le-se  o 
yefruinte  ^=i<  Estas  dez  ermidas  nuindou  fazer  o  III.""*  Sr, 
1.  I).  Joao  de  iVIelio,  Bispo  Conde,  na  era  de  1694.  '» 
Meniorias  de  Bussaco  —  part,  'i.^ — ^.°  i." 

^   Catal'igo  manuscripto  dos  Bispos  de  Coinibra. 


ermida.^  d'habilacao  ou  de  penitencia,  veni 
mcncionadas  com  os  seas  fundadores  na  Chro- 
nica dos  Carmelilas  Descalros,  mas  so  a  quatro 
se  dcsigna  data  da  sua  fuiidacao. 

A  eniiiila  do  S.  Jose,  Itiudada  cm  Itiii 
polo  lli'ilor  Manoel  do  Saldanha. ' 

A  ormida  do  Sanrto  Siqutlchro,  fundada  em 
101(1  polo  luosmo  Heilor,  em  memoria  delluy 
b'ertiandos  de  Saldanha. 

h.  erniida  de  Nossa  Senhora  da  Expecta- 
cao,  fundada  em  1047  por  D.  Joanne  .Mendcs 
de  Tavora,  Bispo  do  Coimbra,  e  lilho  dos  Coii- 
dos  do  S.  Joao. 

A  ormida  de  S.  Joao  Baplisla  em  165il 
jior    .\ntonio    de   Saldanha    do  Conseiho    de       g 
(iiierra  de  El-Itei  D.  Joao  4.°,  Governador  da 
Torre  de  Bolem,  c  .\loaiilo  Mor  do  Villa-Ueal. 

,V  ormida  do  Snncla  Thoroza,  fundada  por 
Bonlo  Percira  do  Mello,  Deao  da  Se  de 
Coimbra. 

A  ormida  doS.EIias,  porAntonioPiutoBnllo. 

.\  ermida  do  Nossa  Souhora  da  Coiu'oir.ui, 
por  D.  Uodrigo  de  Mello,  irniao  do  Marquoz 
de  Forroira. 

A  ermida  de  S.  Miguel,  fundada  polo  li- 
cenciadn  .\ntonio  YazProlo,  priordo  Eroyxodo. 

A  ormida  do  S.inotissimo  Sacramoulo  por  1). 
Marianna  Cardeues,  Duqueza  do  Torres  Novas. 

A  ermida  do  Nossa  Senhora  d'Assumpcao, 
fundada  por  Diogo  Lopes  de  Sonsa. 

.V  ermida  do  Calvario,  pelo  bispo  D.  Joao 
do  Mello. 

Tamhem  afjui  se  pode  menctonar  a  ermi- 
da do  Sanoto  Aniao,  que  nao  e  de  hahitacao 
nom  do  passos,  e  quo  foi  fundada  pelo  Ueitor 
da  Univorsidade,  Manool  de  Saldanha.  "' 

No  sitio  da  Cruz  Alia,  quo  so  vi?  na  parte 
mais  olovada  da  mala,  coroando  o  cunio  da 
montanha,  diz-se  que  um  piloto  levantara 
primeiro,  cm  tempos  anligos,  uma  grando 
crnz  do  madeira  em  memoria  de  ter  avistado 
de  luui  longc  esta  parte  da  terra,  andando 
pordido  no  Oceano. 

Dostrtiida  com  o  andar  dos  tempos,  foi 
esta  cruz  suhstituida  j)or  outra,  quo  d'uni 
alto  cyproslo  mandou  fazor  Francisco  For- 
roira (li?  Miranda,  morador  ua  Graciosa. 

Esto  grando  Icnho  foi  derribado  por  nni 
raio  em  lUliJ;  e  a  14  do  Soptembro  do  1G48 
foi  erogida  cm  sou  logar,  pelo  ja  referido 
Heilor  da  Univcrsidadi'  Manoel  de  Saldanha, 
a  primeira  cruz  de  pi'dra  com  10  a  20  palmos 
d'altura,  sobro  um  baluarto  ccrcado  de  ameias, 

'  No  interior  da  capella  de  S.  Jose,  ve-se  uma  lapida 
que  diz  o  sefjuinle :  it  IVIanoel  de  Saldanha  .  .  .  mandoii 
ti  fazer  esta  erniida  com  os  Passos  da  Paixilo  que  d'cila 
"  come<;am.  "  .  .  l(>-t4. 

i\Ia:  se  pdde  conciliar  esta  inscripcjao  com  a  noticia  que 
da  a  Chronica  de  terein  sido  encerrados  em  ermidaji 
todos  OS  Passos  pelo  Bispo  D.  Joao  de  Mello  .  .  .  Pel » 
menos  pode  colliKir-se  que  estes  dous  Bispos  furam  tui 
fundadores  das  cajjellas  dos  Passos. 

■^  Chronica  dos  Carmelilas  L)escal9os  torn.  S.°  —  H^'- 
4."  — cap.  19. »  e  ao. 


35 


que  mandou  constiuir  das  ruinas  do  Mosteiro 
de  Sancla  Eufcmia,  de  que  ja  fallei.  ' 

Urn  outro  raio,  ou  acfuo  do  Icnipo,  pouco 
antes  de  18'M,  tinlia  feito  rachar  os  biafos 
d'esta  primeira  cruz  de  rantaria;  c,  acaba- 
da  de  quebrar,  foi  depois  rcconslruida  pclo 
govcrno  civil  de  Coimbra  cm  IS'il. 

A  ultima  obra,  que  tizcram  os  rdigiosos  no 
Bussaco,  foi  a  rei'dilicacao  da  portaria  da 
mata,  cm  18H1,  n'a(|uclle  gosto  singular  de 
(juinaes  toscos  c  grossciros  cmbreciiados,  que 
sc  ve  tcr  guindo  toda  a  construccao  do  con- 
vento  e  erniidas;  c  linliam  cm  couslruccao  a 
fonte  de  Sancla  Tiiereza. 

Contiutia.  A.  A.  DA  COSTA  SIftlOES. 


ESTUDOS  PRELIMINAHES  DE  BIOLOGIA. 

!.■   PARTE. 

JJefiniedo  de  pliijsiolo(/ia:  historia  e  impnr- 
lanaa  d  esia  sciencia. 

I. 

Continuado  de  pag.  23. 

A.  nalureza  era  formadora,  conservadora, 
0!i  meditatriz.  0  principio  vital  e  tambcm 
forniador,  couservador,  e  a  forca  mcdicatriz 
e  um  dos  seus  modes  d'accao. 

Hippocrates  conbecia  jii  osinconvcnicntcs  da 
suppressao  de  Iranspiracao ;  ja  antevia  aiguns 
phenomenos  da  circulacao  sanguinea.  Segun- 
do  elle  todas  as  veias  commuiiicam  entre  si, 
e  0  sangue  e  alternadamente  levado  do  ccntro 
para  a  circunil'crencia,  e  vice-versa;  o  calor 
animal  e  enlrctido  unicamente  pelas  Icis  da 
vida.  Reconlieccu  qual  o  encadeamento  que 
existe  entre  as  nossas  funccoes,  considcrando 
cada  uma  d'ellas  corao  o  liin  c  principio  dos 
actos,  cuja  rcuniao  constitue  a  vida.  Hippo- 
crates conjecturava,  que  o  chylo  era  absorvi- 
do  pelas  porosidadcs  das  carnes  ou  pelo  tecido 
cellular. 

D'este  resumo  das  principaes  ideas  de  Hip- 
pocrates sobre  a  sciencia  da  vida,  se  ve  que 
muitos  principios  estao  em  harmonia  com  as 
opinioes  actualmentc  dominantes,  fcitas  algu- 
raas  pequenas  modilicacOes. 

Todos  concordam  boje  na  vida  indepcnden- 
te  de  cada  um  dos  orgaos  concorrendo  para 
uma  vida  geral:  o  pae  da  medicina  ja  assim 
0  julgava.  0  calor  animal  e  produzido  se  nao 
unicamente  pelas  leis  da  vida,  como  julgava 
0  divino  vclbo  de  Cos,  comtudo  o  [irincipio 
vital  muito  concorre  para  a  lempcratura,  ale 
ccrto  modo  independente,  dos  seres  vivos. 
Hippocrates  tinalmentc  conheccu  que  ba  nos 

'  Benedictina  Lusitana — torn.  2.° — Irat.  l." — part. 
4."— cap.  17." 

Chronica  dos  Carmelitas  Descal(;o3  torn.  2.°,  liv.  2.°, 
cap.  22. 

A  Benedictina  da-lhe  20  palmos  d'nltura,  e  a  Chronica 
16. 


SKrcs  organisados  uma  causa  desconUetidu, 
que  preside,  e  que  nada  tern  de  conijauni 
com  as  lorcas  gcraes  da  materia.  JSSo  Itu 
senan  uin  aliinenlo,  mas  ha  muitas  espen-es 
d'alimeiilos,  dizia  Hipjmcrales.  As  tendeucia.s 
da  |)bysiologia  moderna  para  abi  se  dirigeni : 
a  piotcina  e  talvez  a  unica  base  alimentar. 
Isto  porem  nao  quer  dizer,  que  todas  as  ideas 
physiologicas  d'llippocrales  tinbam  o  cunbo 
da  cxactidao.  Scgundo  elle  o  espirito  babita 
nas  arterias;  o  semen  vem  da  cabeca  a  cspi- 
nbal  medulla  e  d'abi  aos  rins.  0  espirito  e 
levado  pelas  nariuas  ao  cerehro,  d'abi  ao  cs- 
touiago,  e  depois  aos  jjulmoes. 

Aristoteles  preslou  grandes  servicos  a  pliy- 
siologia,  creou  a  sciencia  mais  jiropria  para  o 
seuprogresso — a  anatomia  com|iarada.  Entre 
OS  resultados  dos  seus  trabalbos  devemos  nolar 
OS  seguiutes.  A  materia  alimentar  sabe  dos 
poros,  edosvasos,  solidilica-se,  e  transforma- 
se  em  came.  A  parte  essencial  de  todo  o 
animal  e  o  orgao  encarregado  da  digestao.  0 
coracao  forma-se  antes  do  cerebro,  e  naquclle, 
reside  um  calor  essencial  que  faz  ferver  o  san- 
gue e  produz  o  seu  movimento.  0  numerodas 
pulsacoes  nao  e  egual  ao  das  expiracOes. 

Erasistrato  pretendeu,  que  as  arterias  nao 
conk-m  scnao  espiritos,  e  que  a  inllamma- 
cao  e  produzida  pela  peuetracao  do  saugiif 
nos  vasos  dos  espiritos.  Os  nervos  nascem  do 
cerebro  e  da  medulla.  Conbeceu  as  valvulas 
do  coracao  c  seu  uso.  As  arterias  pulsani  por- 
que  0  coracao  se  esvasia,  e  leva  o  espirito. 
Altribue  a  digestao  a  conlraccao  do  estomago. 
Finalmcnte  recoubece  a  retaxacao  e  contrac- 
cao  dos  musculos  em  accao. 

Heropbilo  fez  muitas  indagacoes  sobre  o 
pulso,  quefazia  de|ien'ier  d'uma  forca,  que  se 
communica  do  coracao  as  tunicas  das  arterias. 

Galcno,  medico  de  Marco  Aurelio,  que  vi^ 
vcu  pelos  annos  13  depois  de  J.  C.  con.si- 
derava  os  corpos  constituidos  por  eleraentos 
tao  delicados  e  tao  simples,  que  esca])am  aos 
sentidos,  e  a  razao.  Oselementos  secundarios, 
unicos  que  podemos  apreciar  sao  o  logo,  a 
agua,  0  ar  e  a  terra.  A  cada  um  d'elles  cor- 
responde  sua  qualidade  propria:  o  logo  e 
quente;  o  ar  frio;  a  agua  liumida;  a  terra 
secca.  Da  combinacao  dos  elemenlos,  das  suas 
qualidades  resullam  productos  em  virlude  dos 
quaes  cada  ser  tem  seu  temperaniento  e  cada 
particula  sua  accao  propria. 

Ha  quatro  luimores,  como  ja  tinba  admilidn 
Hippocrates,  o  sangue,  a  piluita,  a  bile,  a 
atrabile.  No  figado  fabrica-se  o  sangue;  abi 
sejiaram-se  d'este  fluido  vapores  subtis  {es- 
piritos naturacs).  Estes  transportados  ao 
coracao  misturam-se  com  o  sangue  e  tornam-se 
espiritos  vitacs:  levados  ao  cerebro  tornam-se 
espiritos  animaes.  0  ligado  e  pois  a  sede  das 
fucuhlades  naturaes;  o  coracao,  das  vitaes;  e 
0  cerebro,  das  animaes.  0  cerebro  e  o  orgao 
da  intelligeacia:    nervos  especiacs  sao  des- 


36 


liufidos  ao  scnlimento,  c  ao  movimpnlo,  Ga- 
leno  conlieccii  granilo  parte  dos  phennnionns 
da  circularao.  Sabia  que  as  aiterias  sao  olioias 
de  sangiie;  que  o  corarao  imiu'lle  o  saiigiie 
para  todas  as  partes  do  corpo,  ondo  e  levado 
pelas  arte^ia^:,  e  d'oiule  e  trazido  pelas  veias: 
que  exisle  uma  comiminieaeao  entre  as  e\- 
treniidades  d'estas  diias  ordeiis  de  vasos.  \l- 
Iriliiiia  ao  ligado  a  I'linerao  da  formariio  do 
sangue,  e  supimnha,  que  d'alii  tomavaiu  ori- 
gcm  as  veias. 

I'oi  scm  diivida  esle  niodo  de  pensar,  que 
(>  impediu  de  reeonheicr  a  eireiilarao  pul- 
iiionar.  (ialeno  julgava,  que  o  ventrieulo  es- 
querdo  nao  reeehia  dos  pulmoes,  senao  ar, 
era  depois  com  o  sangue  levado  a  todas  as 
partes  do  eorpo.  Galeno  de^eobriu  nos  mus- 
eulos  uma  propriedade  tonica,  c  uma  cou- 
tractilidade :  o  pulmao  segue  o  movimento 
ilo  peito,  e  nao  e  a  causa  desse  movimento. 
I'rovou  que  a  ourina  nao  ciiega  a  beviga  se- 
nao por  meio  dos  ureteres,  pois  que  ligando 
estes,  aquella  nao  se  encbe. 

Depois  de  (iaieno  a  mcdicina  cahiu  num 
profundo  csqueeimento  e  com  eila  a  physio- 
logia.  So  no  seculo  XYI  e  que  se  sentiu  a 
importaucia  dos  conhecimenlos  anatoniicos; 
loi  so  entao  que  a  pbysiologia  pode  ser  cui- 
tivada.  Nasceu  n'esla  epocba  a  pbysiologia 
modcrna.  No  seculo  XVI  a  pbysiologia  fez 
poucos  progressos,  mas  prepararam-se  enlao 
as  grandes  descuberlas  do  seculo  seguinte.  Os 
medicos  occidenlaes  acabavani  de  sacudir  o 
jugo  litterario  dos  Arabes.  A  pbysiologia  e 
a  auatomia  de  Galeno  foram  abracadas  com 
enlbnsiasmo,  ate  (jue  apparcceu  Paracclso  a 
combater  o  gdlenismo. 

Fabricio  d'Aquapendente  dedicou-sc  ao  es- 
ludo  anatomieo  dos  animaes,  com  o  lim  de 
comparar  cada  orgao  com  o  sou  corrcspon- 
ilente  na  especie  luimana.  As  vantagens,  que 
islo  trouxe  a  pbysiologia  I'oram  por  extrcmo 
grandes.  0  seculo  XVII  c  mui  notavel.  0 
sen  principio  foi  illustrado  por  duas  descu- 
lierlas,  que  bastani  para  o  tornar  niemoravel. 
Eustachio  linba  descripto  o  canal  tboracico, 
que  descubriu  no  cavallo:  esta  descuherla 
bavia  lieado  esleril,  porque  nao  se  conhcciam 
OS  vasos  cbylil'eros.  Em  1022  Gaspar  d'Azelli 
l)rofessor  de  Pavia,  encontrou  esles  vasos. 
ICm  1C28  Harvey  publicou  uma  ibeoria  com- 
]>leta  da  cireuhicao,  que  elle  ja  tinba  conccbi- 
do  em  I()lfi  ou  1018.  A  iirimeira  descuberia 
t'oi  deviila  an  acaso;  a  segiinda  foi  resultado 
da  induccao  directa,  a  que  Harvey  foi  levado, 
rellcctindo  sobre  o  uso  das  val\  ula  das  veias. 
Em  lOi"  Pecquet  descobre  o  reservatorio  do 
chylo,  cujo  trajeelo  foi  depois  cnnbecido.  Em 
1052  Van  Horn  mostrou  que  uma  Jigadura 
feita  no  canal  tboracico  obstava  ii  subida  dos 
li(]uidos  brancos,  e  a  sua  chegada  as  veias. 
Os  lymphaticos  i'oram  depois  descubertos  por 
Bartholin,  e  Olaiis  Rudbecke. 


Nestc  mesmo  seculo  Kepler  mostrou,  que  o 
ebrislallino  e  uma  lente,  cujo  loco  se  acha 
na  retina:  que  para  ver  a  dilTerentes  dislan- 
cias  0  olbo  sollVe  uma  mudanca  interior  cujo 
agente  c  o  corpo  ciliar.  Jacques  Muller  fez 
notar,  que  durante  a  contraccao,  os  musculos 
augiuentam  em  cspessura.  Schneider  fez  um 
trabalbo  importante  sobre  os  nervos  do  ol- 
fato,  c  a  mucosa  nasal,  que  tomou  o  sen 
nome.  (ilisson  reconhecia  ja  a  irritabilidade, 
e  collocava  os  niovinientos  musculares  na  de- 
peiidencia  d'esta  ])ropriedadi'.  Willis  elas- 
silicava  OS  nervos  encepbalicos.  Bohn  indi- 
cava  0  trajecto  da  bilis. 

Wissong  de|)arando  com  o  canal  panerea- 
tieo  fez  descobrir  um  novo  li(|uido.  0  acto 
da  geracao  foi  estudado  com  cuidado.  0  nii- 
croscopio  veiu  neste  seculo  enri(|ueccr  a  ob- 
servacao  com  um  nieio  precioso.  0  empregn 
d'este  instrumento  fez  conbeccr  a  existencia 
dos  globulos  sanguineos  nas  correnles  capil- 
lares,  a  existencia  dos  animalculos  sperma- 
ticos,  facto  curioso  na  bistoria  da  geracao. 
Duverney  deu  algumas  luzes  sobre  a  forma- 
cao  e  nutricao  dos  ossos.  Foi  entao  que 
nasceu  a  idea  da  transfusao  do  sangue,  idea 
de  curta  duracao. 

As  doutrinas  physiologieas  mais  notaveis 
d'este  seculo  foram  diversas  e  variadas.  Van 
Ilelmont  adniittia  uma  anheo,  especie  de 
principio  intelligente,  que  tern  a  sua  scde  no 
orilicio  cardiaco  do  eslomago,  cncarregado  da 
direccao  suprema  da  raachina  animal.  Infe- 
riores  a  este  baviam  arc/if'os  secundarias,  pre- 
sidindo  ii  accilo  de  cada  orgiio,  e  produzindo 
por  meio  de  fermentos  ou  certas  operacOes 
cbimicas,  todos  os  phenomenos  vitacs.  Sylvio 
reduziu  todos  os  phenomenos  da  vida  a  actos 
purameule  cbimicos.  Foi  entao  que  nasceu  a 
escbola  mecanica  com  a  pretencao  deexplicar 
OS  actos  vitacs  por  accoes  puramente  phy- 
sicas. 

Bernard  suslenia  que  o  figado  e  encarrcga- 
do  d'unia  secreeao  sacharina.  Experiencias 
tercssantes  teem  mostrado  a  induencia  do 
pneumo-gastrico  sobre  a  digestao,  e  a  forma- 
cao  do  succo  gaslricn.  Os  diversos  niovinien- 
tos do  conducto  digeslivo  e  o  mccanismo  do 
vomito.  teem  cbamado  a  attencao  dos  pliy- 
siologistas.  A  absorpcao  tcni  sido  objecto  de 
miiitos  trabalhos,  em  (|ue  tomaram  parte  Ma- 
gendie  e  outros  .V  nutricao  foi  eselarecida 
por  trabalhos  microscopicos,  quanto  a  circu- 
larao  caiiiilar.  A  respiracao  teni  sido  consi- 
derada  na  sua  parte  mecbanica  e  na  sua  parte 
chimica.  Tem-se  demonstrado  a  dependencia, 
em  que  o  calor  animal  esta  do  systema  nervo- 
so.  Savart  e  Muller  teem  estudado  a  andicao. 

No  nosso  seculo  appareceu  Burdach,  da 
escbola  allema,  renovando  as  ideas  subtis 
da  aniiga  pbilosopbia  grcga,  e  procurando 
penetrar  ate  a  rssencia  das  coiisas.  iSup- 
pOe  elle  que  'a  forca  universal,   a  alma  do 


37 


mundo  ou  Deus,  prodiiz  manifestando-se,  on 
realisandose  todos  os  corpos  da  naturcza.  0 
horaem  e  a  realisa^ao  mais  perfeila  d'esta 
Ibrca.  A  forra  universal  c  a  idea,  ou  o  infi- 
nilo;  a  materia  e  o  finito.  Toda  a  existencia 
resulta  da  aocao  da  idea  sohrc  a  materia.  0 
homem  seria  a  imatrcm  ou  arealisacao  com- 


pleta  d'este  infiuito,  que  e  Deus,  ou  natura 
nainrans. 

Do  pequeno  esboco  historico  que  acabamos 
de  traear,  ve-se,  qual  tern  sido  o  progresso 
d'uma  sciencia  quasi  ignorada  nos  tempos 
aiUigos  a  pezar  da  sua  extrema  importaucia. 

Continiia.  ALVES. 


ESTATISTICA  DO  HOSPITAL  DOS  ARCOS  DE  VAL-DE-VEZ  EM  1854. 


Mohsiina 


AliCfSSU    (1«   co.\:i       .... 

A'lcnilfs 

Alioiiarjio   iiH  nl.i]     .      ,      .      . 

Amenorrlica 

Anasarca 

Apeilo   aurtico 

A(M.|.Iexia  pnlnionar  .  .  . 
AscilfS  —  Hiiasitrca  .^eiifisu- 
niii  piiininii.ir  .... 
Asriles  —  ci^ro^e  tlu  G^;ntu(r) 
Asnia         ... 


Asnia  svpliiliiicii  (?) 
l!e\i:ia!.  n.nflijprili  s 
Rlr-imrrhpa  Miliil.Ju'a 
Bruii.  hjks  airiida    . 
•>  « iirunira 

Cl.Ior.se    .... 


"       [lur   t'xre^sna    mens- 

liiia^;M) 

Coiijiiiiiii  iles 

<Jitn(u>5('.s 

JJiarrhta  clirHijica   .      .      .      . 

"  »»  anafatca    . 

»  "  tracheitis 

— pstomaliles  ulcerosa    .      . 

Dures  (.s(eur()p;is      ,     .      .     . 

Kmliataru  inl'slinal       .      . 

Krysipela  ila  fHce     .     .      .     . 

Escrufiilas 

Kspinha    \etilosa    (  no   fcinn) 
Ksli'niatiles  iilctrusa  nu-rcurial 
Ffhre  ejilieinfra      .      .     .      , 
'•       intetuiiUiRle  sinipl'  s 
"  "  aMile.-- — e 

(Jpniacia    das    exlrtrmida 
Jcs  iuf.-riures     .      .      ,      . 
»      iiiterniitenle  —  sjileniles^ 
»•  »  pnfiiiininia 

»      remittenle     —     gaslro- 
spleniles — ascites  , 

"       lyphnjde 

Kefi'las  Ct-ntusas      .... 
F'Timenlo    por  arma  tie  fugu 

Fleim'to 

rractiira  das  custellas  .      .     . 


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Molest  ias 


srites 


Transporte   . 
P'ractura  complicada    . 
!i        cuniuiinutiva 
Gaslralgia      ... 
Gaslrites  ocuda  . 
(Jasirites  fhrouica    . 
IIeiiiij>l'*;;ia  inconiplela 
He|i;diles    chronica  — 

—  anasarca     

HiM.ria 

riyilrwCL-llft 

H)dr..lliurax 

iiiipttiiro        

Inlerjit's  ai;nifa 

KTalilcs — ccIr<»|non  . 
Keralit'S     ulciroza  —  htruM 

da  i-is 

Li)iii)io^o 

Liipia 

Mi-lrorrliagia 

Nerrtisf  syphilitica   du  isrhiun 

PiiiiHritio 

Ptiiuiosid 

Plcitrodinia    ...... 

Pnetmionites  agnda 

')  jiii^iida  — intermit- 

lelites  —  splenites. 

Piirpiira 

Qiieiniailnra     ( 4."    gran     de 

Depiiylren") 

Rheiiuiidisnio  airiiilo 

»i  chr-inico        .     . 

Serain|ielo 

S|>leNdfs  —  ascites  .... 

Triiia 

Treimira     nervo:?a     ( larlo     di- 

reito) 

Tmha 

Tisica 

'•     cscrofiilas        .      .     .     , 

Tynipanilrs 

L'lcera  atunica 

M       esfrofiiK.8a  .... 

'»       herpelira      .... 
Vuniilo   nefvoso       .... 


1 

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II 

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1 


I  97  I  43 


154 


Foram  tractados 15i 

Existiam 12 

Entraram 142 

Sahiram 138 

Morreram 9 

Ficaram 7 

■Proporrao  dos  faliecidoscom  osque 

I'oram  tractados 1:17,   11 


Alguns  dos  doentes,  que  morreram,  vieram 
d'um  Hospital  vizinho  em  estado  muito  proximo 
a  mortc.  Se  isto  nao  fosse,  mais  I'avoravcl  seria 
a  proporcao  dos  raorlos  com  os  tractados.  0 
regulameuto  d'este  Hospital  limita  o  numero 
de  camas  a  nove ;  com  tudo  poucos  sao  os  dias, 
em  que  ha  so  os  nove  doentes;  e  muito  menos 
aquelles,  em  que  ha  menos.  Segundo  o  regu- 
lameuto nao  sao  admittidas  ccrtas  molestias. 


38 


Aindd  que  iiSo  houvc  n'estc  Hospital  ne- 
nhum  caso  cxlraordinario,  lodavia  farci  al- 
gumas  reflcxoes  a  c^rca  do  que  houve  dv 
mais  notavol. 

Apojjle.ria  pulmonar.  A  viclima  d'csia  mo- 
lestia  foi  uma  mullicr,  que  por  vozes  linlia  lidn 
congostOcs  pulmonaros.  Oiiaiido  cntrou  uo 
Hospital  aprcseutava,  alem  dos  symptomas 
caraclcristicos  da  apoplexia  do  pulmao,  uma 
anasarca.  Com  Sangrias  ercvulsivos  live  a  fc- 
llcidadc  do  ver  nudhorar  a  docnlc  d'uma 
mok'slia  tao  morlifcra.  Passados  dias,  jul- 
gando-sc  a  doenlc  curada,  me  pediu  para 
llie  daralta;  poriim,  como  a  nao  considorava 
restai)cllofi(la,  naoconsenti.  Continuou  a  prs- 
sar  todo  esle  dia  som  mais  aigum  incomniodo: 
;i  noite  ecoii  rom  ai)pclite.  I'olas  tres  horas  da 
madrugada  do  dia  spguinle  a  doente  visinha 
a  viu  sentar  na  cama,  e  sorvir-se  do  urinol, 
t'azcndo  lodos  os  niovimcntos  necessarios  scm 
I)  raenor  indicio  dc  cstar  mais  incommoda- 
da;  conlinuou  a  dormir;  e,  scriam  cinco  c 
meia  da  maniia,  a  nipsma  visinha  scntiu, 
que  ella  tinha  como  wnti  dilJinddade  em  expec- 
torar;  cliamou,  e,  como  liie  uao  respoudeu, 
avisou  OS  iiifermeiros,  que  acudiram  im- 
mediatamente,  e  acharam  a  doente  sem  falla, 
com  OS  olhos  fecliados  e  beioos  um  jjouco 
lividos;  applicaram-liio  alguns  rcrulsivos, 
poriim  apenas  durou  alguns  minutos. 

A.ttcndcndo  aos  seus  padecimentos,  e  a  ra- 
pidez  da  morte,  parece-me,  que  clla  foi  victima 
d'tim  novo  atacjuc  d'a[ioplexia  do  pulmao. 
A  autopsia  me  seria  de  hastante  utilidade 
para  verilicar  o  diagnostico;  infelizmcnte, 
porem,  nao  me  e  possive!  na  actualidadc  fa- 
zer  aiitopsias  nos  cadaveres    do  Hospital. 

Asma  sijpliiliticn.  A  liistoria  do  doente  me 
Icvou  a  diognosticar — asma  syphilitica;  e,  se 
OS  resultados  da  Iherapoutica  servcm  para 
tonfirmar  o  diagnostico,  n'csle  doente  foi  clle 
fonfirmado  pela  therapeutica  eniprcgada.  Ti- 
nha a  voz  tao  altcrada,  que  quasi  eslava 
aphouico,  o  quo  de  certo  era  uma  consequencia 
d'ulceras,  que  tivera  na  glotis.  Estc  caso 
lavorece  as  ideas  do  D.'Lagneau,  fdho  docc- 
lehre  syphijiografo  do  mcsmo  nome.  Com  tiido 
fiquei  ainda  duvidoso  a  cerca  do  diagnostico. 
Bexitjas  conjlnenles.  Um  dos  doentes  de 
liexigas  foi  iractado  so  com  dicta.  E  na  ver- 
dade,  que  outra  cousa  mais  dove  fazer  o 
medico  nas  febres  eruptivas  simples  e  regiila- 
res  do  que  vigiar  a  marcha  da  molestia  para 
tie  prompio  rcmcdiar  alguma  complicacao, 
rcgularizar  a  successao  dos  symptomas,  em- 
pregaudo  entao  os  niedicamcutos  conveuien- 
tes?  Por  isso,  certo  de  que  nao  podia  alterar 
a  marcha  da  molestia,  pois  que  os  phenome- 
nos  morbosos  deviam  neccssariamente  seguir- 
.se,  limitei  o  tractaniento  so  ii  diela.  0  oulro 
doente  foi  tractado  apenas  com  uma  infusao 
de  llores  de  l)orragem. 

Cwrose  do  figado.  Senti  nao  fazer  autopsia, 


que  n'este  caso  era  nccessaria  para  veri- 
licar 0  diagnostico  ainda  tao  obscuro,  apczar 
dos  trabalhos,  que  ultimamentc  se  tern  feito 
sobre  esta  molestia. 

I'ebre  iiUeniiiltente.  Tive  occasiao  de  con- 
tinuar  a  observar  os  bons  cfl'eitos  dos  vomi- 
tories nas  intermittentes;  mcsmo  nas  que  li- 
nham  levcs  indicios  de  saburras  gaslricas. 
Tive  cases  de  nao  ser  ncccssario  empregar 
0  sulplialo  dequinino;  oquallenho  empregado 
cm  dissolucao,  bastando-me  sctc  a  nove  graos, 
dados  no  intervallo,  em  dozes  fraccionadas, 
segundo  aconseiha  Bricpiet.  ' 

Fcbre  tijplioidc.  Tive  uoanno  dc  ISoi  muito 
poucos  casos  de  fchrc  typhoide.  No  primeiro 
periodo  d'esta  grave  molestia  emprego  na 
maioria  dos  casos  os  cvacuantos  iutestinaes, 
para  que  as  fezes  domoradas  nos  intestinos 
nao  aggravera  a  situacao  do  doente,  qucr  pela 
sua  accao  local  em  orgaos,  (jue  em  taes  mo- 
Icstias  solTrem;  quer  pela  sua  accao  geral  no 
sangue,  cm  consequencia  da  obsorpcao,  que 
tcm  logar  nos  iutestinos,  introduziudo  no 
sangue  principios,  que  concorrerao  a  mais  o 
alterar,  scndu  talvcz  a  alteracao  do  sangue 
a  causa  da  febrc  typhoide.  Quando  ha  len- 
dcncia  para  a  adynamia,  ou  esta  se  esta- 
belece,  nao  tenho  duvida  na  applicaciio  cau- 
tcloza  dos  tonicos;  mcsmo  nos  cases,  em  que 
supponho  alguma  iullamacao  intestinal;  guian- 
do-me  ai[ui  pelos  mcsmos  principios  que 
nos  levam  a  iguaes  applicacOes  n'uma  in- 
flamacao  externa,  em  doentes  enfraquecidos 
pela  idade,  ou  por  longos  padecimentos. 

Se  para  dilTerencar  o  typho  da  febre  ty- 
phoide, fosse  para  nos  sufliciente  nao  existi- 
reni  dores  abdominaes,  exhalar  o  doente  o 
cheiro  a  ratos,  a  que  Landousy  da  rauita  im- 
portancia,  etc.  diriamos,  que  o  doente,  que 
nos  morreu  de  febre  typhoide,  fora  victima 
d'um  typho.  Eraumidiota;  os  symptomas- 
que  mais  prcdorainaram,  foram  os  ataxicos; 
cxisiia  0  cheiro  a  ratos  era  um  grau  in- 
suportavel  I 

Graslrtilfjia.  Empreguei  cm  alguns  casos 
0  carvao  vegetal  (carvao  de  choupo),  segundo 
0  conselho  de  Bellvo;  e  obtive  bons  resul- 
tados. Ha  0  inconveniente  de  ser  de  dillicil 
admiuistracao  pela  repugnancia,  que  tem  os 
doentes  em  tomarem  uma  tao  grandc  doze, 
como  a  aconsclhada  por  Bellvo;  nao  bastante, 
rontinuarei  a  fazer  uzo  d'elle  em  casos  simi- 
Ihantes.  Tem  a  vantagem,  na  medicina  dos 
pobres,  de  ser  um  medicamenlo  barato,  e  por 
tanto  digno  de  toda  a  attencao  dos  nossos 
practices.  Aproveito  esta  occasiao  para  dizer, 
que  em  um  caso  de  vomito  nervozo,  que 
houve  no  Hospital  no  anno  de  18o3,  o  carvao 
foi  eflicacissimo. 

Gaslriles.  Nos  casos,  que  ohservei  no  Hos- 

I  N'este  anno  de  1R55  principiei  ja  com  os  ensaios  da 
santonin:i  na«  intermittentes.  e  esjjero  dar  na  eslatiilica, 
que  fizer  ci'c^te  anno,  os  restiUado-*  que  obtiif  r. 


39 


pital.  eontinuci  a  vcrificar  o  que  por  muitos 
practifos  tem  sido  nolado — lingua  humida,  cor 
natural  ou  com  cnduilo  esbranquirado,  cs- 
palniada.  A  lingua  nem  scmpre  e  o  cspelho 
do  esloinago;  poniue,  em  casos  d'inllamacao, 
appresenta-se  como  acabo  de  dizer;  e,  em 
casos  de  febres  conlinuas  graves  scm  irrita- 
fao  no  estomago,  muilas  vczes  se  encontra 
secca,  vermeiha,  grossa  e  eslreila  etc. 

Hepatites.  Nas  iiepatites  e  splenites  chro- 
nicas,  o  cniplaslo  mercurial  teve  uma  iuflueu- 
cia  muilo  saliitar. 

Aperlo  aortico.  Attenilondo  a  naturcza  do 
som,  que  pcla  auscuitaeao  se  ouvia  no  cora- 
cao;  ao  tempo  e  ao  iogar,  era  que  se  lornava 
raais  intenso,  diagnostiquei,  aperto  aortico. 
Alem  desta  iezao,  havia  alguma  hypartro- 
phia  excentrica  no  ventricuio  esquordo,  o 
que  estii  em  liarraonia  com  a  opiniao  de 
Beau,  e  estatislica  de  Gairdncr.  N'este  caso, 
a  hypertropliia,  longe  de  scr  uma  Iezao,  que 
augmenlava  a  gravidade  do  padecimento,  era 
polo  contrario  uma  modilicaiao  providencial 
nas  paredes  musculares  do  ventricuio,  ([ue 
diminuia  o  emiiaraco,  (pic  na  circulacao  devia 
prodiizir  o  aiicrto  aortico.  E  digna  de  toda 
a  attencao  dos  [iracticos  esta  coincidencia  da 
iiypertropliia  do  ventricuio  esqucrdo  com  as 
afteracoes  das  suas  aberturas  e  das  valvulas, 
que  as  guarnecem. 

Pneumonites.  Tenbo  notado  os  bons  resul- 
tados  do  metbodo  de  Gendrin  no  tratamento 
d'esta  grave  molestia.  Nao  posso  com  tudo 
deixar  de  notar,  que  estava  um  pouco  pre- 
venido  contra  os  causticos,  visto  que  Luis, 
practice  de  tanla  auctoridade,  os  niio  consi- 
derava  proveitosos.  Todavia  a  observacao 
me  tem  raostrado  os  bons  resultados  da  sua 
applicacao.  Tenho  egualmente  empregado  o 
emetico  desde  o  principio  da  molestia  nos 
individuos,  (jue,  pela  edade  ou  outros  pa- 
decimentos,  nao  estavam  nas  circumstancias 
de  serem  abundantemente  sangrados.  Nunca 
porem  empreguei  o  emetico  em  alias  dozes, 
e  nem  por  isso  os  resultados  deixaram  de 
corresponder  aos  mens  desejos.  Nao  ob- 
stante saber,  que  a  pneumonia  e  uma  das 
molestias,  em  que  mais  abundantemente  se 
pode  sangrar  o  doente,  com  tudo  nao  sou 
muito  prodigo  nas  sangrias.  E  tal  porem  o 
seu  elTeito,  que  por  ora  nao  tenho  o  valdr 
de  seguir  o  conselho  d'alguns  medicos  Al- 
lemaes,  quo  pretendem  mostrar  por  meio  de 
estatislicas  o  pouco  clleito  das  sangrias,  acon- 
selbando  a  cxpectacao  como  o  methodo  mais 
proficuo.  Em  Franca  mesmo  se  esta  dando 
importancia  as  provas,  que  se  vao  colhendo 
para  mostrar  a  vantagem  da  expectacao  como 
methodo  de  tractamento  na  pneumonites.  Nao 
me  admirarei  por  tanto  se  souber  de  alguraas 
pneumonites  tracladas  pelo  methodo  expectan- 
te,  methodo  que  em  algumas  molestias  da 
grandes  resultados. 


Blieumalismo  agtido.  0  doente  foi  tractado 
unicamcntc  pelo  nitro  em  alias  dozes.  Este 
tractamento  tem-me  sido  muito  proveitoso.  0 
rheumatismo  foi  polyarticular;  porem  o  estado 
local  das  articulacOes  nao  correspondia  as 
dorcs,  havia  pouca  inchacao  e  pouco  rubor. 
Existiria  em  maior  grau  o  elemcnto  rheu- 
matico,  do  que  o  inflamatorio? 

I'isica.  Dus  remedies  emprrgados  na  tisica 
e  0  oleo  dos  ligados  de  bacalliau  aquolle,  em 
que  mais  conlianca  tenho  tido  para  conheccr 
OS  seus  bons  resultados,  basta  ver  a  maior 
nutrirao,  que  adquirem  os  doentes,  quo  d'elle 
lazem  uzo ;  diz  Hiot'rey  que  ha  um  verdadeiro 
autagonismo  entre  a  gordura  e  o  tuberculo. 
Nao  seni  porem,  esta  appurencia  de  mili-iecld 
uma  conse(iuencia  do  excesso  das  subslancias 
gordas  superior  a  quantidadc,  que  pode  entdo 
ser  ([ueimada  pelo  oxigenio  inspirado?  Todos 
OS  practices  conhecem  a  repugnancia  da  maior 
parte  dos  doentes  em  tomarem  o  oleo:  a  sua 
adminislracae  em  capsulas,  ainda  que  dimi- 
nue  0  seu  mau  cheiro  quando  u  tomado,  nao 
e  diminue  nos  arrotos,  que  sc  tornam  insup- 
portaveis  aos  doentes.  De  mais  esta  maneira 
de  administrar  o  oleo  so  conviria  nos  casos, 
em  que  fosse  sufliciente  pequena  quantidade 
d'elle.  Estes  inconvenientes  clinices  me  leva- 
ram  mais  dcprcssa  a  eiisaiar  o  tratamento, 
aconselhado  per  alguns  medicos,  mas  pre- 
cenizado  principalraente  por  Briciieteau,  que 
entre  todos  os  methodos  de  tractamento  cm- 
pregados  ate  hoje  na  tisica,  aciiicllc  que  Ihe 
mcrece  maior  cenfianca  pelos,  resultados  que 
d'elle  tem  ebtide,  e  e  tractamento  pelo  emetico. 
Deis  dos  tisices  cm  1.°  grau,  foram  tracta- 
dos  pelo  emetico  em  pequenas  dozes;  e  os 
resultados  feram  taes,  que  me  animam  a  con- 
tinuar  este  methodo  de  tractamento. 

Voiiiito  nervozo.  0  doente  quando  se  me 
appresentou  vinha  em  tal  magreza,  e  com  a 
physionemia  tao  altcrada,  que  a  primeira 
vista  julguei,  que  teria  a  tractar  um  cancro 
do  estomago.  Depois  de  exame,  que  liz,  o  men 
diagnostico  foi,  vemito  nervoso,  causadepela 
ma  c  insufficientc  alimentacao.  Julguei,  poi.s, 
que,  alimentando  convenientemente  o  doente, 
a  molestia  devia  cessar;  e  que  o  doente  se  res- 
tabeleceria  mesmo  da  tal  ou  qual  alteracae 
intellectual,  que  as  vezestinha,  ainda  que  em 
grau  muito  diminuto,  c  notada  pelo  mesmo 
doente. 

0  doente  curou-se  e  nutrio  sem  tomar 
mcdicamente.  Era  este  um  caso,  que,  talvez, 
ucredilasse  qualquer  tractamento,  que  se  Ihe 
lizesse.'  A  simples  dieta,  sem  medicamcnlos, 
cura  muitos  doentes. 

A.  A    PEBEIRA. 


'  As  atten^oes  estao  a^ora  voUadas  para  a  Heliciiia. 
Df-'iis  queira  que  nao  tenha  a  sorte  d'outros  medicamen- 
tos,  que  se  tem  inculcado  com  egual  ou  maior  entiisias- 
mo  para  o  tractamento  d'esta  molestia. 


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Evisteni. 


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Enlrnram. 


Sahiram. 


Morrerara. 


Exisleni. 


Evieti.ini. 


Enlraram. 


Sahiram. 


Mofrerani. 


Exislem. 


Evisliam. 


Enlraram. 


Sahiram. 


Morroram- 


Exislem. 


Existiam. 


Entraram. 


Sal.iram. 


Morreram, 


Exislem. 


Exisham. 


Ealraram. 


Sahiram. 


Murreram. 


Exislem. 


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i)  Jnstitttt0, 


.50R1NAL    SCIENTII  HO     l]   UTTERARIO. 


C0.\SEl!10  Sl^PERlOR  BE  llTRlXCiO  PL'BliCA. 

REL.VTORIO  A.\iM  AL. 
1849—1830. 

Ao  conselho  superior  d'instruccao  piiblica 
incunibe,  na  conformidade  do  artigo  40  do 
decreto  de  10  de  novcmbro  de  1845,  Icvar  a 
augusta  prescnca  de  Y.  M.  o  relatorio  geral 
da  insiruccao  piiblica,  durante  o  anno  lecti- 
vo  findo  de  1849  a  18S0.  0  conselbo  na  ex- 
posicao  do  estado  da  instruceao,  e  das  pro- 
videncias  condurentes  ao  seu  progresso,  e 
melhoramento,  sera  franco  e  leal;  e  conscio, 
de  que,  nestc  trabalho,  nao  pode  deixar  de 
haver  faltas  e  imperfcicoes,  respeitosamente 
supplica  a  V.  M.  a  graca  de  benignamente 
releval-as. 

Este  relatorio,  em  observancia  da  portaria 
circular  do  1.°  d'oulubro  do  corrente  anno, 
sera  dividido  em  cinco  partes;  1/  direccao 
e  inspeccao;  2.'  insiruccao  primaria;  3." 
instrucfao  secundaria;  4/  instruceao  especial; 
S."  instruceao  superior. 

PARTE  1.' 

Direccao  e  inspeccao. 

A  intendencia  e  direccao  da  instruceao , 
nao  comprehendeudo  a  acaderaia  polytechni- 
ca,  e  a  eschola  naval  de  Lisboa,  e  os  semi- 
narios  episcopaes,  esta  commettida  a  este 
conselho  superior,  que  se  compOe  de  oito  vo- 
gaes  ordinaries,  presididos  pelo  prelado  da 
universidadc,  e  dos  vogaes  extraordinarios 
todos  distribuidos  nas  trez  seccOcs — primaria 
—  secundaria  —  e  superior. 

Nao  houvc  outra  alteracao  no  pessoal  do 
conselho,  senao  a  ausencia  d'um  dos  vogaes 
em  commissao  gratuita,  o  Dr.  Jose  de  Sa 
Ferreira  dos  Sanctos  Valle;  —  o  provimento 
d'outro,  cujo  logar  estava  vago,  na  pessoa  do 
Dr.  Jose  Manoel  de  Lemos;  e  o  falleciraento 
d'outro,  0  Dr.  Manoel  Antonio  Coelho  da 
Rocha,  cuja  perda  o  conselho  deplora;  o  qual 
existe  ainda  vago. 
Vol.  IY. 


0  pcssoal  provisorio  da  secretaria  compoe- 
se  do  secrelario  geral,  do  official  maior,  e  de 
quatro  oQiciaes  ordinarios,  sondo.  por  decre- 
to de  14  de  maio  ultimo,  provido  um,  cujo 
logar  se  acbava  vago,  e  d'um  continuo  e  d'um 
porteiro. 

A  secretaria  tern  desempenhado  com  intel- 
ligencia,  rcgularidade  e  zelo  lodo  o  service, 
que  pelo  conselho  Ihe  tern  sido  ordenado. 

No  mez  d'abril  do  anno  lectivo  lindo  nao 
pode  ter  logar,  na  conformidade  do  art.  '21 
do  regiilamento  d'este  conselho,  a  conferencia 
ordinaria  do  conselho  geral,  por  falta  de  re- 
latorios  e  mappas  estatisticos,  e  d'alguns  vo- 
gaes ordinarios,  com  causa  justiticaJa,  como 
tudo  foi  prc'-ente  a  V.  M. 

A  pezar  d'isso  lizeram-se  regularmente  as 
conferencias  do  conselho  ordinario,  e  nao  me- 
nos  as  das  suas  respectivas  seccoes,  como 
consta  da  copia  das  aclas,  enviadas  mensal- 
mente  a  V.  M. 

Em  31  d'outubro  ultimo,  celebrou-se  a  con- 
ferencia ordinaria  do  conselho  geral,  lendo 
cada  um  dos  secretaries  o  relatorio  da  sua 
respectiva  seccao;  antes  porem  de  se  fechar 
a  sessgo,  e  vice-presidcnte  do  conselho  con- 
vidou  todos  OS  vogaes  extraordinarios,  e  os 
sabios,  que  estavam  presentes,  a  coadjuvar  e 
conselho,  apresentande  momorias,  projectos, 
ou  qiiaesquer  outras  pecas  litterarias,  que 
tivessem  ehiborade,  para  serem  lidas,  e  toma- 
das  em  consideracao :  nenhuma  memoria,  ou 
qualquer  outra  produccao  foi  apresentada  ae 
conselho. 

Os  vogaes  extraordinarios,  encarregados  de 
pregrammas,  compendios  e  regulamentos  para 
0  ensino,  nem  todos  pederam  ainda  apre- 
scntar  os  Irabalbos,  que  Ihes  foram  distribui- 
dos, por  estarem  ligados  a  obrigacoes  acade- 
micas,  que  exigem  loda  a  sua  attencao.  E 
carecendo  obras  d'esta  natureza  de  rauita 
meditacSo  e  reflexae,  entende  o  conselho  que 
merece  ser  desculpada  a  demora  de  sens  au- 
ctores,  na  cenclusao  e  entrega  dos  referidos 
trabalhos. 

A  commissao  dos  vogaes  extraordinarios, 
nomeada  per  este  conselho,  na  conferencia 
ordinaria  do  conselho  geral  d'outubro  do 
anno  passado,  para  confeceionar  o  projecto 
da  nova  faculdade,  oa  curso  de  scicncias 
.  ecenomicas  e  administrativas,  na  cenformi- 
Maio  13  — 18oj.  Ndm.  4. 


V-d 


(lade  da  poilaria  do  minislorio  do  rcinn  de 
10  d'agoslo  do  anno  lindo,  satisfoz  poiilual- 
menle  o  Iraballio,  dc  (]uc  Ibi  incumbida. 

Ak'm  d'uni  numoroso  expcdientc  da  sccrc- 
laria  para  aliertiira  de  coiu'iirsos,  inl'orma- 
('oes,  partii'ipaioes  officiaes,  e  cerliddes  para 
0  eiisino  particular,  o  conselbo  iias  suas  ron- 
fereiu'ias  ordiiiarias,  nao  so  resolvcii,  e  c\- 
ppdiu  uma  imiltiplicidade  de  ncgocios,  mas 
lanibom  olovoii  a  real  prcscnca  de  V.  M. 
riMiio  e  oitPiila  e  quatro  cousultas,  sohre 
olijcetos  de  interesse  ijeral  e  particular;  e 
lizongea-se  de  ter  e»i  dia  os  sous  niuitos  e 
variados  trahallios. 

Durante  o  ultimo  anno  lectivo,  o  consellio 
approvou  para  serein  inseridas  na  colleccao 
dos  livros  elenientares,  que  niais  accomnio- 
dados  teni  parecido  a  capacidade  dos  nicni- 
nos,  alguinas  oliras,  lanto  na  inslrucciio  pri- 
maria,  como  na  secundaria,  constantes  do 
luappan."  3,  avultando  entrecllas  a — Icitura 
repentina  —  d' Antonio  Feliciano  de  Castillio. 
Por  iuforniaeOes  sobre  o  ensaio  d'este  metbo- 
do,  procura  o  conselbo  averiguar,  se  o  elTeito 
responde,  ao  que  proraette  o  seu  auctor;  c 
acredila,  que  algunias  pessoas  zelosas  do  pro- 
gresso  da  instrucrao,  llie  hao  de  comiuunicar, 
0  que  acbarcm  sobre  esse  ractbodo ;  a  fim  de 
que  se  cure  de  o  generalisar,  verificado  (pie 
seja  0  seu  proveito.  INao  contente  ainda  com 
tantos  livros,  por  desejar  eseolber  os  mclbo- 
res,  0  conselbo  approvou  e  levou  a  real  pre- 
senca  de  Y.  M.,  programmas  para  compen- 
dios  sobre  agricnitura,  mecbanica,  pbisica  e 
chimica  com  appllca(;ao  ;is  artes,  propondo 
premios  a  ((uem  os  lizer  com  mais  erudicao, 
clareza  e  prccisao. 

0  conselbo  na  conforraidade  da  portaria  do 
ministerio  do  reino  de  10  d'agosto  do  anno 
preterite,  rcconsiderou,  c  quasi  refundiu  os 
projectos  sobre  as  jubilaeoes  de  lodos  os  pro- 
I'essores,  c  sobre  os  descontos  e  os  ordenados, 
e  OS  fez  depois  subir  a  augusta  presenca  de 
V.  M.,  para  serem  tornados  na  consideracao, 
([uc  merecercm.  Ofliciou  a  todos  os  corpos 
scientificos  exigindo  o  cumpriniento  dos  arti- 
gos  2,  3,  6  4,  do  §.  a  da  rel'erida  portaria, 
para  que  expozessera  os  tnclboramentos  e  nc- 
cessidades  dos  sens  cstabclctimentos. 

0  mesmo  conselbo  modilicou  e  considera 
como  seu,  o  projecto  discutido  no  claustro 
pleuo  da  universidade,  a  cerca  da  creacao  e 
organisacao  d'um  curso  de  sciencias  economi- 
cas  e  administrativas,  (jue  teni  a  bonra  de 
submctter  a  approvacao  de  V.  M.,  e  vai  ap- 
penso  a  este  relatorio. 

0  projecto,  Senbora,  modificado  quanto  ao 
numero  das  disciplinas,  e  a  duracao  do  tempo, 
em  que  deveni  ser  apprendidas,  lia  deattrabir 
muita  gente  <io  esludo  do  curso  Economico- 
administrativo,  e  como  prova  desta  asscrcao, 
ja  alguns  cstudantes  de  diversos  annos  da 
faculdade  de  direito,  se  matricularam  no  pri- 


meiro  anno  da  faculdade  de  iibilo>opbia,  a  fim 
de  se  ircm  babilitando  [lara  as  siibseqnentes 
disciplinas. 

Tambem  o  conselbo  orgaiiisou,  discutiu, 
0  approvou  o  projecto  para  regular  a  lei  de 
25  do  juHio  ultimo,  bem  como  o  jirogramnia, 
(jue  0  aconipanba. 

Sendo  indispensavel  para  uma  boa  inspec- 
(.■ao  sobre  o  metbodo  e  practica  do  ensin(» 
dos  professores,  que  as  escbolas  publicas 
sejam  collocadas  em  edilicios  do  Estado,  tcni 
este  conselbo  o  desgosto  de  I'azer  saber  a  Y. 
M.,  que,  a  pezar  de  todos  os  sens  esforcos, 
ainda  nao  p(jde  conseguir  a  collocacao  de 
todos.  Todavia  o  conselbo  nao  desiste  do  seu 
emiienbo,  e  instara,  quanto  em  si  couber, 
para  ([ue  se  execute  a  resolui;ao,  (|ue  Y.  M. 
i'oi  servida  dar  a  consulta  do  mesmo  conselbo 
de  ;{  d'abril  de  18i0,  mandando  ao  ministe- 
rio da  fazenda,  que  pozesse  a  disposicao  do 
ministerio  do  reino,  os  edilicios  pulilicos,  para 
collocar  as  escbolas  publicas  nos  differentes 
districtos  do  reino,  segundo  as  inromiacoes 
obtidas  dos  respectivos  governadores  civis. 

Para  que  a  inspeccao  das  escbolas  e  esta- 
belecimentos  litterariosseja  regular  e  completa, 
deve  ser  feita  pelo  commissario  dos  esludos, 
e,  nao  podendoestes,  por  sub-delegados,  esco- 
Ibidos  d'entre  pessoas  doladas  de  virtudcs, 
intelligeucia,  e  zcdo  pelo  bem  publico.  Por 
esles  s(Jmcnte  q.  que  os  comnussarios  podem 
ser  bem  informados  dos  servi(;os  dos  profes- 
sores respectivos,  do  numero  dos  discipulos, 
que  verdadeiramentc  fre(iuentam  as  escbolas, 
dos  que  de  cada  uma  d'ellas  sabeni  promplos, 
em  cada  um  dos  annos,  de  (juaes  sejara  as- 
povoacOes,  que  podem  commodamente  fazer 
concorrer  ahrmnos  as  escbolas  estabelccidas, 
e  mnitas  outras  particularidades,  que  devem 
encber  os  mappas,  que  annualmente  biiode 
ser  apresentados  a  este  conselbo  superior. 
Sem  esles  sub-delegados,  nao  e  moralmentc 
possivel,  que  a  laes  miudezas  possam  dar 
satisfac(;ao  oscoramissarios.  Os  services  d'estes 
sub-delegados  deverao  ser  tomados  na  devida 
considera(;ao,  quando  forem  feitos  de  perfeito 
acci'irdo  com  os  dos  commissarios  dos  estudos, 
a  quern  sao  subordinados;  e  para  que  o  con- 
selbo possa  exigir  d'clles  bom  c  constanle 
desempenbo. 

Pediram-se  informacoes  aos  commissarios 
dos  estudos  sobre  as  pessoas  idoneas,  que 
bouvessemos  nos  sens  dislriclos,  para  o  desem- 
penbo d'este  cargo:  d'alguns  ja  o  conselbo  as 
tem  recebido;  mas  como  ainda  nao  cbegaram 
de  todos,  reserva-se  para  proper  a  V.  M.  a 
nomeacao  dos  que  julgar,  que  podem  desem- 
peuliar  a(iuelle  euqirego. 

Nem  todos  os  delegados  d'este  conselho 
satisfizeram  ao  que  sao  legalmente  obrigados, 
enviando  no  tempo  marcado,  os  sens  relato- 
rios  e  os  mappas  dos  professores  publicos  e 
particulares;  e  por  isso  na  conformidade  do 


43 


art.  7,  da  portaria  do  ministerio  do  rcino  do 
10  d'agoslo  de  1848,  o  consclho  leva  ao 
conhecimento  de  V.  M.,  quo  dcixarani  dc 
remetter  os  relatorios  parciaos  os  romniis- 
sarios  dos  estudos  de  Aveiro — Portalpi,'re — 
Santarem  —  Aiigra  do  Heroismo — Fiinchal — 
Uorta  —  Ponta  Uclgada: — o  reitor  do  lyceu 
iiacional  do  Porlo: — os  govcrnadores  civis 
dos  districtos  de  Aveiro  —  Beja  —  Itraga  — 
Coimbra — Evora  —  Guarda — Leiria  —  Lishoa 
— Portalogre — Porto — Sanlarem — Villa  Keal 
—  Yizeu — Angra  do  Ueroismo — Ponta  Del- 
gada. 

PARTE  2/ 

fnstriicmo  frimariu. 

Este  raeio  de  ci\ilisapao,  inteiramente  11- 
gado  iis  prinu'iras  nccessidades  do  paiz,  e  ao 
desinvolvimcnto  de  todos  os  interesses  so- 
cjaes,  merece  ser  dilTiindido  per  loda  a  par- 
te; sem  elle  nao  pode  haver  moral  piiblica, 
base  da  seguranca  dos  Estados;  c  a  mais  lir- 
nie  escora  da  lei ;  e  unia  necessidadc  por  to- 
dos  sentida. 

Na  sua  actual  organisacijo,  comprehcndc: 
tima  eschola  normal  em  Lisboa ; — escholas 
d'ensino  muluo  e  simultaneo,  pagas  pela  na- 
cao;  —  escholas  pagas  por  corporacOes,  ou 
legados; — e  escholas  particulares. 

Escholas  d'ensino  simultaneo  pagas  pelo 
ihesouro  sao  no  continente  1:116,  pertencen- 
do  ao  sexo  feminino  41;  pagas  por  legados 
13;  d'ensino  muluo  13;  e  uma  eschola  nor- 
jnal  em  Liehoa,  que  ainda  nao  funcciona :  os 
professores  hahiliiados  pelo  conselho  para 
ensino  particular  sao  71. 

Nas  llhas  ha  32,  das  quaes  sao  S  de  me- 
ninas,  com  mais  3  de  eusjno  mutuo,  alem 
das  pagas  pelascamaras  municipaes.  Sommam 
todas  1:168.  Achani-sc  vagas  64,  reservadas 

la. 

Segundo  os  mappas  entrados  na  secretaria 
do  conselho  foram  as  escholas,  a  que  o  thc- 
souro  paga,  frequentadas  por  meninos  37:890, 
por  meninas  1:911.  As  pagas  por  legados 
tiveram  meninos  137,  e  pelas  camaras  — 
meninos  834,  e  meninas  961.  As  particulares 
concorreram  meninos  724,  e  meninas  352. 
D'onde  resulta  o  numero  total  d'alumnos 
37:890.  e  d'aluranas  1:911  nas  pagas  pelo 
thesouro  (Mappas  n."  4  c  5). 

Por  faltarem  ainda  outros  mappas  nao  pode 
0  conselho  dar,  agora,  por  inteiro  o  numero, 
nem  por  conseguinte  comparal-o  exactamente 
com  OS  dos  annos  anteriores.  Com  tudo  por  um 
calculo  approximado  a  vista  dos  mappas,  que 
faltam  ainda,  parece  subir  o  numero  d'est€ 
ultimo  anno  a  mais  de  70:000  alumnos,  a  que 
haviam  chegado  no  anno  anterior,  o  qual 
em  relacao  a  populacao  actual  de  3:622:964 
—  da  em   resultado  a  proporcao   de   1  :  52. 


(Mappa  n."  6V  A  relacao  do  numero  das 
escholas  ])iiblicas  para  o  das  freguozias  em 
todo  0  rcino  cstii  na  proporcao  de  1  :  3,B- 

Eslao  siippcnsoj:  3  prol'essores;  vigiados 
41:  advertidos  41.  Sao  de  provimciilo  vita- 
licio  722;  tcmporarios  ;i37;  com  substitute 
por  inipcdimcnlo  44;  r('(|ucrcni  jubilacfin  12. 

.Se  0  conselho  quizesse,   pelo  numero  das 
escholas  publicas,  apreciar  o  estado  da  insiruc- 
cao    priniaria,    achal-a-ia    por    cerlo    niuito 
ahaixo   do  grau   de  perteicao,    a  que  a  teni 
clevado  as  nacOes  mais  ilUistradas  e  adianta- 
das  na  civilisacao,  nas  sciencias,  e  nas  artes; 
con.sola-o   poreni  a   consideracao   do  quanto 
ha  crescido  o  numero  das  escholas  primarias, 
nos  setenta    e  oito  annos   decorrides   desde 
1772,  que,  sendo  enlao  dc  400  foram  dopois 
successivanicnte    subindo    de    modo,    que   o 
thesouro  paga  hoje  no  continente  do  reino  a 
1:116  escholas  d'ensino   simultaneo,    e   nas 
ilhas  a  52,  alem  das  que  siio  alii  sustentadas 
pelas  camaras  municipaes.  Escasso  e  todavia 
este  numero  comparado  com  a  populacao  por- 
tugueza.  Muitas  freguezias  estao  ainda  priva- 
das    d'estc    genero    d'instruccao,    e    para    o 
alcancarem  e  forcoso  confessar,  que  o  conse- 
lho (em  fcito  convidar  confrarias,  junctas  de 
parochia,  c  camaras  municipaes  a  contribuir 
com  os  sobejos  de  suas  rendas,  para  a  mauu- 
tencao  de  professores ;  visto  que  sao  hoje  tao 
minguadas  as  posses  do  thesouro.  Prestando 
aquellas  eorporacoes  uma  parte,  outra  o  the- 
souro,  com  este  reciproco  auxilio,   viriam  a 
formar-se  umas  como  escholas  mixtas,  quaes 
ja  se  tem  constituido  nas  ilhas.  No  continen- 
te, posto  que  nao  tenha  sido  tao  feliz  o  resul- 
tado dos  esforcos  do  conselho,   com  tudo  ja 
alii  conseguiu   o  crearem-se  no  districto  de 
Bragaiica,  niedianle  o  zelo  e  patriotismo  do 
governador  civil,  cadeiras  pagas  pelas  cama- 
ras, junctas  de  parochia  c  confrarias:  sendo 
23    regidas    gratuitamente    pelos    parochos. 
Espera  o  conselho,  que  outros  govcrnadores 
civis  imitem  este  nobre  exemplo,  e  nao  cessa 
de  investigar  outros  meios  de  augmentar  o 
numero  de  cadeiras,  sem  gravame  do  thesou- 
ro. Mas  ainda  mesmo  das  escholas  existentes 
muitas   estao  vagas,    a   pezar  de  reiterados 
concursos,  derivando-se  assim  d'uma  mesma 
fonte,  todos  os  males,  que  padece  a  instruccao 
piiblica.   Tao  pequenos  e  mal   pages  sao  os 
ordenados  dos  professores  d'instruccao  pri- 
niaria, pelas  circumstancias  dos  tempos,  que 
nao  e  de  admirar,   que  elles  abandonem  as 
suas  cadeiras,  e  nao  queirara  outros  concorrer 
a  ellas.  D'alli  nasce  tambem,  ordinariamente, 
0  pouco  zelo  d'alguns  professores  no  ensino; 
a  necessidade  de  prover  outros  menos  ido- 
neos,   de  maneira  que,   se  em  um  e  outro 
ponto   0    conselho   usasse   do   rigor   devido, 
fechada  estaria  a  maior  parte  das  escholas. 
D'alli  vem  ainda  em  parte  um  novo  mal  para 
a  instruccao;  porque  sendo  o  exercicio  dos 


44 


professores  cm  suas  proprias  casas,  mais  dif- 
ficil  ?e  torna  a  inspcccao  nao  so  sobre  o 
desempenlio  do  servico,  e  o  methodo  do  on- 
sino,  mas  tambem  sobre  os  costumes  e  exem- 
plos,  que  em  alguns  nao  serao,  os  que  dcvem 
adornar  os  eduradores,  principalmente  os  das 
primeiras  edades.  0  conscllio  para  veneer 
este  (litlicil  estorvo,  nao  se  tern  poupado  ao 
trabalbo;  e  com  (luanto  nao  baja  podido  re- 
movel-o  inleiramente,  csforca-se  em  o  ir  pnu- 
co  a  poiieo  desviando.  Tambem  o  consi'Hio 
lamenta  que,  nos  mcsmos  logarcs  onde  ha 
escholas,  alguns  paes  |)rivem  seus  lilbos  do 
ensino,  tcndo-os  sempre  occupados  nos  tra- 
balhos  campestres;  que  outros  por  desleixu, 
ou  miscria,  nao  os  mandem  ii  eschola;  e  que 
alguns  para  exeniptal-os  dos  cargos  publicos, 
queiram  conserval-os  em  perpetua  e  crassa 
ignoraneia. 

A  lim  de  remodiar  estes  males,  tern  egual- 
raente  o  conselho  permitlido  a  alguns  profes- 
sores 0  exercicio  das  aulas  cm  boras  compa- 
tiveis  com  o  servico  da  agricultura,  reconi- 
mendando  aos  parochos  que  facara  ver  ao 
povo  as  vantagens  da  instrucciio;  e  procu- 
rado  conslituir  associarOes  do  beneficencia, 
que  preslem  soccorro  aos  meninos,  que  por 
sua  niuita  pohreza  nao  podem  concorrer  as 
escholas. 

Pelo  que  respeita  a  este  ultimo  recurso, 
ja  foi  approvado  o  regulamento  para  a  asso- 
eiacao  de  beneliccncia  no  districto  administra- 
tivo  d'Evora,  e  tendo  subido  cm  consulta  dc 
21  de  dezembro  de  1849  o  mesmo  regula- 
mento com  ascmendas,  que  julgou  necessario 
I'azerem-se,  espera  o  conselho  a  approvacao 
do  governo  de  V.  M.  para  o  generalisar  aos 
outros  distrlctos  do  reino. 

Alem  d'estas,  e  de  muitas  outras  providen- 
eias,  dadas  ou  propostas  ao  illustrado  governo 
de  V.  M.,  lendentes  a  propagar  e  nielhorar 
a  instruccao  primaria,  prompto  foi  o  conse- 
lho em  organisar  o  regulamento  d'estas  escho- 
las, suhmettendo-o  a  approvacao  de  V.  M. 
em  Janeiro  de  JS'io.  E  sendo  devolvido  ao 
conselho  cm  agosto  de  1840,  a  lim  dc  sof- 
I'rer  as  modilicacoes  ou  additamentos,  que  a 
experiencia  tivesse  niostrado  convenientes, 
muito  ha  jii,  que  elle  o  fez  novamente  subir 
a  consideracao  de  V.  JI.  com  as  alteracoes, 
que  pareceram  uteis  ou  necessarias. 

Com  a  mesma  promptidao,  logo  que  che- 
gou  0  praso  prescriplo  na  lei,  para  as  jubi- 
lacoes  e  aposentacoes  dos  professores  de  todas 
as  classes,  o  conselho  fez  subir  a  approvacao 
do  governo  de  V.  M.  o  competenle  regula- 
mento, no  qual  procurou  conciliar  as  neces- 
sidades  do  ensino  com  as  individuaes  de  cada 
professor. 

0  estado  moral  c  litlerario  vai  era  pro- 
gresso  era  alguns  districtos;  esta  estacionario 
em  outros,  e  em  quasi  lodos  o  estado  mate- 
rial das  escholas  e  pouco  satisfaetorio. 


Os  coramissarios  dos  estudos,  e  alguns 
governadores  civis,  era  seps  relatorios  lera- 
bram:  1.°  o  prompto  e  regular  pagamento 
dos  ordenados  dos  professores,  afim  de  cum- 
prirem  as  suas  obrigacoes  com  mais  zelo  e 
vontade,  e  concorrerem  as  cadeiras  vagas: 
2.°  a  creacao  das  escholas  normaes,  afora  a 
At'.  Lisboa,  juncto  dos  grandes  lyceus,  onde, 
coino  em  outros  tanlos  viveiros  se  criem  os 
educadorcs  e  mestrcs  do  povo,  que  um  dia 
deveni  occupar  dignaniente  as  cadeiras  de 
instruccao:  3."  a  multiplicacao  de  cadeiras 
de  ensino  primario  tanio  para  meninos,  co- 
mo  para  meninas,  principniniente  para  estas, 
que  se  acham  assaz  desfavorecidas:  4.°  em 
lim  a  transferencia  d'algumas  escholas  para 
niaiores  e  mais  commodas  povoacocs. 

As  escholas  d'inslruccao  primaria,  pagas 
pelo  thesouro,  achara-se  di^tribuidas  pelas 
provincias  do  reino  na  conformidade  do 
mappa  n.°  0.  Por  elle  se  mostra  que  ellas  nao 
estao  na  prnporcao  da  sua  populacao,  por 
isso  que  ha  muitas  freguezias  que  se  acham 
privadas  d'este  ensino;  e  tomando  por  exem- 
plo  0  districto  d'Evora  que  consta  de  112 
freguezias,  separadas  entre  si,  por  duas  e 
mais  ieguas,  sabe-se  que  ha  para  cima  de  82 
sem  este  ramo  d'instrucrao;  e  pois  de  urgen- 
tissima  necessidade  crear  mais  cadeiras;  e 
sendo  estas,  com  as  actuaes,  bem  distribui- 
das,  e  collocadas,  ter-se-ha  egualraente  sa- 
tisfeito  as  exigencias  que  de  todos  os  pontes 
do  reino  se  tem  feito  a  este  conselho. 

A  instruccao  primaria  custou  ao  thesou- 
ro !)7:l(i'i^r70  reis. 

Em  conclusao,  Senhora !  tal  e  o  estado 
actual  da  instruccao  primaria,  que  com  a 
proteccao  do  sabio  governo  de  V.  M.,  com  a 
serenidade  dos  tempos,  e  com  os  esforcos  das 
auctoridades,  espera  este  conselho,  que  ira 
progressiva mcnte  melhorando. 

CoiUini'ta, 


TELEGRAPIIIA  ELECTRICA. 

Origem  da  lcle(jra^hia  cleclrica. 

I. 

Os  jiriniciros  cnsaios  de  telegraphia  ele- 
ctrica  datani  de  1774.  Vinte  e  quatro  fios 
metallicos  correspondentes  as  vinte  e  quatro 
letras  do  alphabeto,  e  uma  raachina  electrica 
ordinaria,  collocada  em  cada  uma  das  extre- 
midades  da  liuha,  consLituiam  unicamente  o 
apparelho  do  todo  este  processo.  Para  indicar 
na  cxtremidade  opposia  a  letra,  com  que  se 
queria  fornuir  uma  palavra  qualquer,  punha- 
sc  cm  communicacao  a  machina,  carregada, 
com  0  fio  correspondenle  a  essa  letra;  a  com- 


45 


mocao,  que  o  fio  experiraentava  reproduzia-se 
na  outra  extremidade,  e  iadicava  por  conse- 
(juencia  tal  ou  tal  letra. 

Vinte  aniios  depois  Reiser  aperfeiroou  este 
longo  e  dispendioso  proccsso,  subsliluindo 
pela  faisca  a  commocao  electrica.  As  letras 
eram  abertas  em  cobre,  c  collocadas  sobrc 
uma  mesa  de  vidro  nas  duas  eslacoes  extre- 
raas,  e  a  descarga  d'uma  niachina  electrica, 
correndo  toda  a  linba,  produsia  uma  faisca 
sobre  a  Ictra  locada.  Estas  tentativas,  porem, 
que  nao  haviara  escapado  ii  ingenhosa  per- 
spicacia  do  celebre  Franiilin,  nao  tiveram  se- 
guimento,  ate  que  Oersted  demonstrou  a  ac- 
fao  directriz,  que  uma  corrente  fixa  exercc, 
a  distancia,  sobrc  uma  agulba  magnetisada 
movel. 

Em  1811  Soemmering  inventou  um  lelegra- 
pho,  servindo-se  da  decomposigao  da  agua 
pela  pilha. 

Em  1820  Ampere  lancou  mao  d'outro  pro- 
cesso,  dirigindo  uma  corrente  electrica  sobre 
tantas  agulhas  magnctisadas,  e  tantos  lios, 
quantas  eram  as  letras  do  alpbabcto.  «  Pondo 
successivamente  em  coramunicacao  com  a  pi- 
lha estes  conductores,  dizia  Ampere,  podia 
estabelecer-se  uma  correspondencia  lelegra- 
phica  entre  dois  pontos  distantes  lao  prompta 
como  a  palavra  ou  a  escripta.  »  Enlretanto  a 
telegrapbia  electrica  licara  estacionaria  por 
vinte  annos,  sem  que  d'ella  se  fizesse  applica- 
cao  alguma  importante,  ale  que  em  1837 
Steinheil  em  Munich,  e  Wbeatstone  em  Lon- 
dres  construiram  telegraphos  electricos  com 
um  pequeno  numero  de  lios  raetallicos  obran- 
do  cada  um  sobre  uma  aguiha  magnetisada, 
e  fazendo-a  mover  sobre  um  quadrante  por 
meio  d'um  apparelho  electro-magnetico. 

Morse  em  1838  simpiilicou  este  apparelho 
empregando  os  electro-imans  por  urn  systema 
mui  ingenhoso,  porem  o  apparelho  mais 
geralmente  usado  hoje  e  o  de  Wbeatstone, 
que  Breguet  e  Froment  tem  aperfeicoado 
mui  to. 

Assira  a  telegrapbia  electrica  vai  geral- 
mente substituindo  a  telegrapbia  aeria,  a  quern 
leva  ineontestavel  vantagem,  tanto  pela  regu- 
laridade  das  coramunicacoes  quer  de  dia, 
quer  de  noite,  e  independentemente  do  estado 
da  atmosphera,  como  pela  espantosa  oelerida- 
de  com  que  no  espaco  d'alguns  segundos  se 
transmittem  as  noticias  de  um  a  outro  polo 
do  mundo.  A  velocidade  das  correntcs  elec- 
tricas,  empregando  como  conductor  um  tio 
de  ferro,  e  de  2o:000  Icguas  per  scgundo,  e 
com  um  fio  de  cobre  45:000  leguas!  Esta 
velocidade  pode  comparar-se  a  da  luz  que 
chega  do  sol  a  terra  era  oito  minutos  e  trcze 
segundos,  correndo  no  espaco  80:000  leguas 
por  segundo. 

Uma    bala  d'artilheria    corre  900    metros 

'    per  segundo,   de  maneira  que,   continuando 

sempre   com   a   niesma    velocidade   gastaria 


trinta    boras  em   pereorrer  o  osparo,   que  a 
electricidade  corre  u'um  si'gundo. 

E  verdade  que  a  telegrapbia  electrica  esta 
suJL'ifa  a  alguns  inconvenienlrs,  c|ue  toda- 
via  nao  e  diflicil  rcmediar.  Os  (ios  metallicos, 
que  scrvem  para  a  transmissao  das  noticias, 
sao  muito  bons  conductores  da  electricidade, 
c  OS  bus  que  se  emprcgam  nos  para-raios  sao 
por  isso  similhantes  iiquclles,  e  nao  seria 
rare  acontecer,  que  os  einpregados  no  scrvico 
dos  telegraphos,  iios  dois  i)ontos  extremes  da 
linba,  fossem  victimas  de  alguma  descarga 
electrica  na  occasiao  de  grandes  trovoadas. 
Para  evitar,  porem,  este  perigo  Froment  csta- 
beleceu,  que  na  casa  onde  se  reccbem  e 
transmittem  as  noticias  deve  entrar  so  um  fio 
de  meio  millimctro  de  diametro,  e  nao  o  de 
qnatro  millimetros  e  meio,  que  reina  em  toda 
a  linba;  alcra  d'isto,  como  a  electricidade 
alniosplierica  e  attrabida  pelas  pontas,  e  a 
mngnctica,  de  que  se  laz  uso  no  telegrapbo, 
so  etUi  siijcita  a  influencia  do  conlacto,  basta 
para  afasiar  completaniente  a  electricidade 
atmospherica  collocar  adiante  de  cada  estaciio 
d'um  e  outro  lado  uma  serie  de  conductores. 
que  nao  tocjuem  no  lio,  mas  que  se  aproximem 
d'clle  ale  a  distancia  d'um  milliraetro,  e 
communicando  com  o  lerreno,  porque  d'este 
modo  a  electricidade  atmospherica,  se  fosse 
conduzida  pelos  lios,  passaria  toda  para  os 
conductores,  e  a  electricidade  do  elcctro-iman 
continuaria  a  circular  ale  ao  apparelho  da 
respectiva  eslacao,  por  isso  que  ficava  iscnta 
do  conlacto.  Tomadas  estas  precaucoes,  ainda 
que  uma  pcquena  parte  de  iluido  electrico 
chcgue  ale  ao  apparelho  da  eslacao,  ja  nao 
pode  dar  logar  a  alguma  explosao  perigosa, 
e  apenas  interrompcra  momenlaneamente  a 
cxpedicao  das  noticias;  e  a  este  mcsmo  in- 
convenienle  se  pode  obviar,  augmentando  a 
corrente  da  pilha  ate  lornal-a  superior  a  cor- 
rente perturbadora. 

Nao  ha  por  consequencia  hoje  perigo  nem 
inconveniente  algum  na  adopcao  da  telegra- 
pbia electrica,  cujo  uso  se  vai  por  isso  genera- 
lisando  em  toda  a  Europa,  e  na  America. 
Conliniia. 


CEKCA  DE  BUSS  AGO. 

Ermitaes,  Hospedes,  e  Desterrados, 

Tem-se  fallado  de  ermitaes  em  Bussaco 
antes  da  era  de  Christo;  e  ate  se  tem  dicto, 
que  alguns  obreiros  da  Torre  de  Babel  vie- 
ram  acabar  penitentes  neste  retire,  c  que 
seguiram  o  sen  exemplo  alguns  Essenos  e 
Recabitos  do  Instituto  Prophetico  ou  do  Car- 
nielo.  vindos  com  os  Hebreos  que  Nabucbo- 
donosor  tinha  feito  passar  da  Babilonia  para 


16 


a  Hespanlia.  Tem-.«r  clicin  fpinlmenle,  <]iic, 
loiio  (lepois  de  Christo,  piocuraram  o  dcscrto 
<k'  Bussaco  algiuis  ermitao?  do  scmiiiario 
larniLditano,  I'uiidado  nos  airahaldcs  dc  To- 
ledo pcio  carnielita  Eljjidio,  oiUao  bispo  n'a- 
iiut'lla  Cidadc.  '  Mas  aiiula  prescindindo 
d'estas  fal)ulas,  iiao  aihfi  senao  prohahilida- 
di's  no  ma  is  (luc  sc  Icni  dito  dos  ermilacs  de 
iBussaeo. 

Em  (|iianlo  cxisliii  o  Mnsleiro  da  Yaccarira, 
i()iila-si'  line  iiin  on  oiiiro  iiiongc  suliia  de 
((iiando  cm  iiiiaiulo  aciuidla  Sorra,  para  alii 
irocar  a  vida  <ciiol)ilii-a  pela  vida  anaclio- 
rc'tica  em  erniidas  isoladas  '  ;  c  quo  por 
iiiuitos  auiios  tambein  alguns  d'estes  monges, 
que  so  linliam  vo'.ado  a  uma  vida  mais  coq- 
teutiada,  alii  viveiam  cm  communidadc  no 
pequeno  mosleiro  de  Saneta  Eufemia,  dc  que 
jii  fallei;  noticia  que  podcra  tor  algum  funda- 
mento,  sc  a  Mata  de  Uussaco  foi  pcrtcnra 
do  convento  da  Yaccarica,  e,  se  foi  annexo 
a  esle  convcnlo  o  pequeno  mosteiro  de  San- 
eta Eufemia  \ 

Conta-sc  lambem,  so  com  o  fundaraenlo 
de  simples  tradicao,  que  entre  os  ermitacs 
de  Bussaco  fdra  muito  colebrado  urn  sancto 
varao  de  Luso  ou  visinhancas,  que  por  mui- 
tos  annos  frequenlou  a(iuclla  mata  com  edi- 
ficante  dcvocao ;  e,  por  conlraste,  cgualmente 
se  lem  fallado  d'um  negro  malvado,  que  reco- 
lliia  as  suas  pilliagens,  naquella  gruta,  ain-  . 
da  hoje  chamada  Cova  do  Negro,  que  se  V(> 
na  ermida  do  Sancto  Sepulchro,  logo  acima 
do  Calvario  ' ;  tradicao,  cuja  imporlancia 
nao  se  pode  medir,  poniue  nao  sabemos  a 
epocha  do  facto  a  (jue  se  refcrc. 

Uesde  que  acabou  o  Mosleiro  da  Yaccari(;a 
em  1094  '  ate  a  doacao  da  sua  Egreja  ao 
Coilegio  da  Graea  cm  loo7  *,  nao  ha  noticia 
dos  ermitacs,  que  substituiram  cm  Bussaco  os 
bubuleuces;  mas  logo  depois  urn  graciano, 
i|ue  foi  viver  n'a(iuel!a  Yilla,  e  cujo  nome 
se  pcrdeu,  tornon-se  muito  salicnte,  segiindo 
conta  Fr.  Joao  do  Sacramento,  pela  devocao, 
com  que  subia  a  serra  todas  as  sextas  fei'ras, 
para  commcmorar  a  paixao  do  redamptor, 
licando  uas  erniidas  noutes  inteiras,  absorto 
na  contemplacao  das  tragicas  scenas  de  Je- 
ruzalcm  ■.  Seguiram-se  outros  devotos  scm 
nolabilidadc,  (|ue  foram  snecessivamente  con- 
servando  o  prestigio  religioso  naquellc  rctiro, 
ate  a  fundacao  do  convento  dos  carmclitas 
descalcos. 

Era  quanto  durou  cstc  convento  desde  1030 
ate  1834,   '  sempre  os  religiosos  cumpriram 

'   Chronica  Jos  CarmelUas  Descalras  tomo  2  ' liv 

4.°  — cap.  15. » 

-•  rhronkii  do*  rarmelitas  Descalcos (logar  citado.) 

^   Vej.  paE.  80  e  81. 

'    Vej.  a  nola  l^pa;;.  73. 

•   Vej.  pag.  a  I. 

'   Vej.  pa;.  Gfi. 

'   Chronica  dos  Carmclitas  Descalcos  — (lopar  citado.) 

'   Vpja-se  pag.  104. 


OS  deveri's  da  wda  ermitica  da  sua  I'fgra, 
nas  capellas  de  pcnitencia  ja  mencionadas. 
Depois  da  exlinccao  das  cor|)nrai;oes  reiigiosas, 
nao  ,sei  de  ningueni,  que  alii  se  tenha  dado 
aquelles  sanclos  exercicios. 

Em  todo  0  tempo  dos  religiosos  carmclitas, 
por  vezcs  se  rccolheram  ao  sen  deserlo,  entre 
outros,  OS  Bispos  deCnimbra  D.  JoaoManoel, 
I).  Joanne  Mendes  de  Tavora,  D.  Joao  de 
.Mi'llo,  1).  .Vntonio  de  Snusa  e  Yasconccllos;  c 
0  I'.ispo  Eleito  de  Yizeu  e  Beitor  da  Universi- 
dade  .Maiioel  de  Saldanlia,   etc. 

Jii  antes  de  1S34  visitavam  Bussaco 
ninitas  pessoas  dc  notabilidade,  uacionaes  e 
esirangeiras,  que  passavam  na  sua  visinhan- 
ca ;  mas,  depois  de  aberta  a  clausura,  torna- 
lani-se  mais  frequcntes  estas  visitas;  e  a  28 
d'abril  de  1832  almocaram  no  convento 
de  Bussaco  a  Sr*.  D.  Maria  II,  e  o  Sr.  D- 
Fernando  com  os  dous  lillios  mais  vcllios,  o 
Sr.  D.  Pedro  V.,  enlao  I'rincipe  Uegente,  c  o 
Sr.   Infante  D.   Luiz. 

Bussaco  e  visitado  em  todo  o  anno,  e. 
principalmenle  no  verao,  por  numerosas  fa- 
inilias  e  ranchos  de  camponezes;  mas  o  dia 
de  Nossa  Senhora  d'Assumpciio,  tem-se  con- 
vertido,  ha  poucos  annos,  em  dia  de  folgue- 
do  p  romaria.  A  concurrencia  neste  dia  tem 
augmentado  successivamente;  e  o  anno  pas- 
sado  jii  se  calculon  em  loOO  pessoas. 

Tambem  este  dcscrto  serviu  de  desterro 
aos  Infantes  D.  Antonio  c  D.  Jose,  (Meninos 
de  Palhava),  lilbos  naturaes  d'el-rei  D. 
Joao  v.,  desde  1760  ate  a  morte  de  cl-rei 
U.  Jose  cm  1777,  por  dissidencias  que  li- 
veram  com  o  Marquez  de  Pombal;  cm  1794 
e  1701),  a  alguns  padres  penitenciados  pelo 
Sancto  Oflicio;  ao  Bispo  de  Braganca  D. 
Antonio  Luiz  da  Yeiga,  por  ordem  da  Begen- 
cia  do  Beino,  desde  1814  ate  1818;  pelas 
nossas  dissensocs  politicas,  ao  Cardeal  Pa- 
triarcha  D.  Carlos,  era  18*21 ;  ao  Arcebispo 
de  Braga  D.  Fr.  Miguel  da  Madre  de  Dens, 
e  ao  Bispo  de  Pinhcl  U.  Bernardo,  cm  1823  '; 
e  nltimamente,  desde  outubro  dc  1820  ate 
fevereiro  de  1832,  ao  Prior  de  Monsarras, 
Joaquim  Placido  Galvao  Palma. 

Devo  aqui  mencionar  o  dia  27  de  scptem- 
bro  de  1810,  que  den  notabilidade  a  Serra  de 
Bussaco  por  todo  o  niundo  politico,  pela  conhe- 
cida  bataiha  cnire  os  Francczes  e  o  exercito 
Luso-Anglo,  de  que  se  acha  uma  descripcao 
curiosa  nas  Mcmorias  de  Bussaco  do  sr.  Forjaz, 
e  noutra  memoria  transcripla  era  ISlti  na 
Bedaccao  Patriotica  n.°  SO.  E  nao  e  menos 
glorioso  para  o  nome  dc  Bussaco  o  anno  de 
1853,  eni  que  esta  serra  ficou  sendo  conheci- 
da  no  mundo  scientifico  pela  publicacao,  que 
fez  a  Sociedade  Geologica  de  Londres,  de  uma 
intercssante  memoria  sobre  os  Irabalhos  geo- 
logicos  do  sr.  Carlos  Biheiro,  quando  diripia 

'   Mcmorias  de  Bussuco  —  pari,  'i  J.  10. 


47 


as  pesquizas  da  haeia  carbonifera  no  sope 
occidental  da  serra  ' ;  memoria,  que  se  acha 
ornada  com  niuitas  gravuras  de  fosseis  do 
Bussaco,  e  entie  estes  alguns  gcneros  e  muitas 
cspci  ies  dedicadas  ao  sr.  Carlos  Ribpiro,  como 
seu  descobridor,  incrocendo  particular  niencao 
0  novo  gonero  —  Ribciria  plinladiformis  — 
em  cuja  denominacao  a  Sociedadc  Gcologica 
de  Londres  quiz  dar  urn  testemunbo  da  eleva- 
da  consideracao,  que  Ibe  niercceu  o  geologo 
portuguez  '.  Tambom  se  podem  archivar  como 
lactos  historicos  da  scrra  de  Bussaco  o  corte 
cm  ziguizagnes,  que  ha  dous  annos  sc  fez  na 
montanha,  para  a  estrada  entre  aMealliada  e 
Vizou,  cujos  trabalhos  I'oram  dirigidos  pelo 
sr.  Vasconcellos,  e  o  edilicio  dos  banhos  de 
Luso,  que  se  acha  em  construccao  por  uma 
soeiedade,  que  toniou  a  obra  por  cmpreza  a 
camara  municipal  da  Mealhada. 

Possuidores  de  Bussaco. 

K  mesma  obscuridade,  que  aehei  sobrc  os 
principios  da  mata  de  Bussaco,  encontra-se 
tarabem  sobre  os  sens  priniitivos  possuidores; 

'  Em  Sancta  Christina  abriram-se  dous  po(;ns,  sendo 
uiii  obliqiiu  de  170  palmos  e  outro  vertical  de  50  palmos. 
Eii\  Sazes  urn  vertical  de  '200  palmos.  E  em  Valluiigo 
urn  tambem  vertical  de  200  palmos ;  e  do  fundo  para 
baixo  mais  420  jialmos  de  furo  de  sonda.  Come^aram 
on  trabalhos  em  Janeiro  de  1850,  e  suspenderam-se  em 
Novembro  de  1852. 

^  Fosseis  descouhecidos   em   geologia,    e  descobertos 

pcio  sr.  Carlos  Ribeiro  na  Serra  de  Bussaco,  com  a  in- 

dicacito  dos  auctores  que  os  classificaram. 

Dithyrocaris?  longicauda    Sharpe;  especie  nova. 

Ogygia?  glabrala  Salter;  esp.    n. 

Beyrichia  Biisacenssis         Jones;  esp.   n. 

Simplex  Jones;   esp.    n. 

Disteichia  reticulata  Sharpe;  genero 

novo  e  esp.  n. 

Synocladia  Lu-sitanica  Sharpe;  esp.  n. 

11}  pnoides     Sharpe;  esp.  n. 

Pecopteris  leptophylla  Hunburj  ;esp.  n. 

Ostis  Ribeiro  Sharpe;  e.sp.  n. 

Exornata    Sharpe;  esp.  n. 

BussacensisSharpe;  esp.  n. 

Mundoe        Sharpe;  esp.  n. 

Porambonites  lima  Sharpe;  esp.  n. 

Ribeiro      Sharpe;  esp.  n. 

Leptasna  Beirensis  Sharpe ;  esp.  n. 

Ignava  Sharjje  ;  esp.  a. 

Dolabra  Lusitanica  Sharpe;  esp.  n. 

Xucula  Costai  Sharpe;  esp.  n. 

Ciae  Sharpe;  esp.  n. 

Ribeiro  Sharpe;  esp.  n. 

Ezquerra:  Sharpe;  esp.  n. 

Leda  Escossura:  Sharpe;  esp.  n. 

Nucula  Maestri  Sharpe;  es]).  n. 

Eschvvegii  Sharpe;  esp.  n. 

Beirensis  Sharpe ;  esp.  n. 

Bussacensis         Sharpe;  esp.  n. 

Modiolopsiseleganlulus  Sharpe ;  esp.  n. 

Cypricardia  Beirensis     Sharpe;  esp.  n. 

Ribeiria  pholadiformis  Sharpe;  gen.  n.  e  esj'.  n. 

Pleurotomaria  Bussacensis  Sharpe;  esp.  n. 

Theca  Beiren.sis  Sharpe;  esp.  n. 

On  the  Carboniferous  and  Silurian  Formations  of  the 
neighbourhood  of  Bussaco  in  Portugal.  By  Senhor  Carlos 
Ribeiro.  With  Notes  and  a  Description  of  the  animal 
remains,  by  Daniel  Charpe.  etc. 


no  entanlo  aqui  pode  apanhar-.=;e  o  iio  das 
probabilidades  em  cpocha  muilo  maisreniola. 

Num  inViSii'tario  dos  iiens  e  iogares  do  con- 
vento  da  Vaccarica,  feilo  cm  106i  ',  encon- 
trei  mcncionados  trcz  Iogares  do  sope  da  ser- 
ra—  Luso,  Sancta  Christina  e  Varzeas  —  o 
que  parece  inculcar,  que  esle  sitio  da  mata 
cntao  Ihe  pertencia,  por  se  achar  nas  mesmas 
vertentcs. 

Se  cste  inventario,  e  o  que  nos  diz  Fr. 
Leao  de  S.  Tboraaz  do  Mosteiro  de  Sancta 
Eufcmia  de  Bussaco,  como  filial  do  Convcnlo 
da  Vaccarica'',  podcm  mostrar,  que  a  mata 
perlenccu  aos  Monges  Bubulences,  6  de  crer 
que  a  sua  actjuisifao  fosse  anterior  ao  seculo 
XI,  por  nao  constar  das  escripturas  do  Livro 
Preto,  de  conipras,  trocas  e  doacOcs  das  pro- 
priedadcs  d'cstes  monges,  cujas  datas  alcan- 
fam  a  1002. 

Como  pcrtenca  do  Mosteiro  da  Vaccarica, 
passou  a  mata  de  Bussaco  a  Se  do  Coimbra 
em  109i,  pela  doacao  fcita  por  D.  Raimundo, 
de  todos  OS  bens  d'este  mosteiro  ao  Bispo  D. 
Cresconio".  Depois  em  11  de  maio  de  1028, 
foi  doada  pelo  Bispo  D.  Joao  Manoel  aos 
carmelitas  dcscalcos,  que  cntao  procuravam 
0  local  apropriado  para  uma  casa  de  solidao 
e  penitencia,  que  devia  ter  a  sua  provincia  de 
Portugal,  ja  desmembrada  da  de  Castella.  Esta 
doacao  foi  conlirmada  por  breve  do  Papa 
Urbano  VIII  de  8  de  fevereiro  de  1629,  que 
auctorisou  a  permutacao  d'esta  mata,  avaliada 
em  (cnto  e  oitenta  mil  reis,  por  outros  bens 
([ue  0  Bispo  comprou  para  a  Mitra  no  valnr 
de  cento  e  oitenta  e  sete  mil  reis''. 

Os  carmelitas  descalcos  construiram  o  scu 
convento  na  mata,  como  vimos,  e  alii  vivcram 
ate  1834.  Neste  anno,  pela  extinccao  das 
ordens  religiosas,  passou  a  mata  de  Bussaco 
a  fazenda  nacional,  onde  se  conserva  actual- 
mentc.  Abertas  as  portas  da  clausura,  foi 
immensa  a  concurrencia  dos  visitadores,  que 
alii  afHuiram  de  toda  a  parte;  e  o  dcsleixo  da.s 
aucloridadcs,  nos  primeiros  an'nos,  deu  iogar 
a  grandes  estragos  na  mata  e  ermidas. 

0  ultimo  prior  do  convento,  Fr.  Antonio 
dc  Sancta  Luzia,  e  mais  quatro  religiosos  (|ui; 
alii  ficaram,  Fr.  Antonio  dc  S.  Tbomaz  d'.\(iui- 
no,  Fr.  Joao  da  Cruz,  Fr.  Bernardo  de  Sancto 
Antonio,  e  Fr.  Antonio  da  Expectacao,  ar- 
rcndaram  depois  os  pcquenos  pedacos  de  ter- 
ra culta,  que  ba  juncto  do  convento;  c  em 
julho  de  1837,  por  uma  portaria  do  .Vdminis-' 


'    Livro  Preto— foi.  36." 

^   V.'j.  pag.  80  e  81. 

^    Veja-se  pag.  21  e  22. 

*  Chronica  dos  Carmelitas  Descal(;.os  —  lomo  2." — tiv. 
4."  —  cap.  11."  Nas  Memorias  de  Bu^aco  do  ^r.  Forja'i 
attribue-se  esta  doa^3o,  por  equivoco,  ao  Bispo  D.  Joao 
de  Mello ;  mas  nas  differentes  pe^as  do  processo,  copiadas 
na  chronica,  vem  claramente  designado  o  nome  de  D. 
Joao  Manuel,  Bispo  de  Coimbra,  e  Arcebispo  Eleito  de 
Lisboa. 


48 


irador  a,cra\  o  sr.  Manoel  Joaquim  Fernandcs 
Thomaz,  foi  o  P.'  Prior  cucarrcgado  da  giiarda 
especial  do  coBveiito  e  luata,  f9;|4i^'^'<'J''  1"^'^ 
Admiiiislrador  do  Coucelho.  Eiu  1838,  por 
sollicitacoes  do  \alioso  prol.ctor  d'estc  monu- 
mcnto  nacional,  o  sr.  Mauo''!  de  Si-rpa  iMa- 
fhado,  baixou  do  governo  a  Portaria  do  pri- 
meiro  do  dozembro,  que  alliviou  os  padres 
d'aquella  rcnda,  como  reeompensa  da  vigilaiuia 
da  mala,  e  do  cncargo  d'aiguiis  reparos  no 
muro  da  cerea.  Ultimamcnte  o  Go\eriuidor 
Civil  0  sr.  Tliomaz  d'Atiuiuo  Martins  da  Cruz, 
visitando  aquelle  sitio  no  verao  de  ISiiO,  pro- 
videneiou  sobre  a  policia  da  mala,  nuuulan- 
do  para  alii  uma  guarda  permaueiite  de  ve- 
terauos  d'A.veiro,  e  sujeitando  a  approvaeao 
do  goveruo  urn  regulamento  a  eslc  respeito 
com  daUi  de  12  de  septembro  de  ISiJO.  Dos 
religiosos,  que  alii  liearam  em  183i,  apcnas 
so  couserva  o  sr.  Fr.  Antonio  de  S.  Thomaz 
d'AquiuQ. 

A.    A.    D*  COSTA  SIM6ES. 


ESTUDOS  PHILOLOGICOS. 

I. 

Glotsario  das  palavras  «  phrases  da  lingua  fran- 
ceza,  que  por  detcuido,  ignnrancia,  ou  neccssi- 
dade  »e  tern  introduzido  na  locucan  portugucza 
moderna.  com  n  juizo  critico  das  que  sao  ado- 
ptaveis  nella.  Pur  D.  Fr.  Francisco  dc  S.  Liiiz. 

0  cardeal  Saraiva,  tomando  parte  nos  ac- 
contecimentos  mais  notaveis  da  epocha,  gran- 
geou  um  logar  distincto  em  iiossos  fastos  con- 
temporantos;  publieando  as  obras  inimorlaes, 
que  attestam  a  vastidao  de  seus  conheeimen- 
tos,  aleancou  mais  honrosa  nomeada,  c  direilo 
indisputavel  a  gratidao  de  todos  os  amigos 
das  iettras  portuguezas. 

Sob  a  triplice  consideracao  de  estadista, 
pontitjce,  e  litterato,  pode  ser  olhado,  a  luz 
da  historia,  o  magestoso  vulto  d'este  respeita- 
vcl  personagem ;  importante  materia  para 
sisudo  examc  presta  ao  estudioso  qual(|uer 
das  tres  phazes  d'uma  vida  tao  longa,  e  bem 
lograda;  deixando  a  outras  pennas  a  avalia- 
cao  das  duas  primeiras,  tocaremos  na  ultima, 
que,  se,  aos  olhos  do  vulgo,  e  de  somenos 
monta,  aos  do  phjlologo  e  de  mor  valia. 

Desesejs  annos  haviam  decorrido  apos  a 
primeira  metade  do  seculo  dezoito,  quando 
em  Ponte  de  Lima  abriu  os  olhos  a  luz  do 
dia  Francisco  Justiniano  Saraiva. 

Pelos  patrioticos  esforcos  dos  incansaveis 
arcades  principiava  entao  a  levantar-se  nossa 
decadenle  littcratura  do  abalimento  deplora- 
vel,  era  que  jazia  ha  annos. 

Pedro  Antonio  Correa  Garcao,  Francisco 
Dias  Gomes,  Domingos  dos  Reis  Quita,  Antonio 
Diniz  da  Cruz,  Francisco  Jose  Freire,  prece- 
didos pelo  abbade  Luiz  Antonio  Verney,  haviam 


ja  lan^'ado  bases  solidas  a  rcstauracao  do  bom 
gosto  [lelo  profundo  e  aturado  estudo  dos 
dassicos  naciouaes. 

Este  poderoso  impulso  dado  as  nossas  Iet- 
tras eontiuuou-o  lervorosa  a  aeademia  real 
das  sciencias,  que  nao  so  herdara  os  brios 
da  arcadia,  mas  recebera  em  .sen  gremio  os 
mais  distinctos  membros  d'esta  sociedade. 

Quando  o  joven  Saraiva,  guiado  pela  pieda- 
de,  ou  iiioviilo  pelo  inslincto,  (|ue  leva  para 
a  solidau  os  espiritos  meditativos,  vesliu  a 
cogula  bencdictina,  coutava  a  aeademia  dous 
annos  d'existencia,  e  doze  apenas  haviam 
decorrido,  ((ue,  de|)ois  de  o  ter  por  trabalhos 
litlerarios  premiado,  a  si  mesma  se  honrou. 
inscrevendo-o  no  catalogo  dos  seus  socios. 

Em  1794  comeca  para  Fr.  Francisco  de 
S.  Luiz  a  sua  vida  de  litterato.  As  distinccoes, 
que  grangeara  na  ordem,  os  triumphos,  que 
obtivera  na  Universidadc,  I'oram  apenas  sim- 
plices  pro\ancas,  por  que  devia  passar  o  nobre 
donzel,  antes  de  ser  admittido  a  prolissao  de 
eavalleiro  nesta  inclita  railicia. 

Se  a  aeademia  acudiu  diligenle  a  aproveitar 
0  prestimo  do  Doutor  S.  Luiz,  nao  Ihe  em- 
bargando  o  passo  a  consideracao  de  seus  poucos 
annos,  que  ainda  niio  chegavam  aos  trinta, 
0  novo  socio  correspondeu  plenamcnte  a  tama- 
nha  confianca,  desempenhando  com  zelo  os 
novos  encargos,  que  coutrahira. 

Fora  por  esta  corporacao  proposto  no  pro- 
gramma  de  1810,  na  classe  de  littcratura 
portugueza,  como  primeiro  assumpto,  a  com- 
posicao  de  um  glo-ssurio  ou  catalogo  de  palavras 
e  pliruses,  em  que  6e  mostrasse  com  locla  a 
individuacuo  as  que  eram  proprias  da  lingua 
[runceza,  e  ([tie  por  descuido  ou  ignorancia  se 
linltain  introduzido  na  locucdo  portugueza  mo- 
derna, contra  o  antigo  e  bom  uso,  e  principal- 
mente  as  que  fossem  contra  o  genio  da  tiossa 
lingua,  e  como  taes  inadoptaveis  nella. 

De  tanlos  acadeniicos  insignes,  que  entao 
compunham  esta  conspicua  sociedade,  nenhum 
ousou  occupar-se  de  tam  cspinhosa  empreza ; 
commetteu-a  S.  Luiz. 

Em  1817  apresentou  a  sua  raemoria  com 
0  titulo,  que  serve  de  epigraphe  a  este  trabalho, 
ol/ru  por  certo  de  muito  estudo.  e  critica,  como, 
ainda  antes  de  publicada,  a  couceituou  o 
eximio  secretario  da  aeademia,  Jose  Bonifacio 
de  Andrade. 

Com  grande  sisudeza  e  precato  impoz  a 
aeademia  no  programma  a  obrigacao  de  trac- 
tar  somente  dos  gallicismos,  que  na  locucao 
portugueza  moderna  se  houvessem  introduzido; 
porque  avultado  numero  de  vocabulos  pura- 
raente  francezes  se  haviam  incorporado  na 
locucao  antiga,  achando-se  naturalizados  e 
legitimados  pela  veneranda  auctoridade  de 
escriptores  de  grande  tomo. 

0  conde  D.  Henrique,  e  os  cavalleiros  fran- 
cezes, que  successivamente  vieram  estabele- 
cer-se  cm  Portugal,   nao  so  augmentaram  o 


i9 


patrimonio  de  nossa  lingua,  mas  alteraram  e 
adocaram  a  sua  proniincia,  expcllindo  as  gut- 
turaes,  e  aspiracoes,  que  as  linguas  golhica 
e  arabica  tinham  introduzido  nos  idiomas 
d'llespanha. 

Para  se  mostrar  quam  vulgar  era  o  uso  da 
lingua  franccza  na  corlc  do  scnhor  D.  Joao 
I,  e  seus  fdhos,  basta  ver  as  divisas  de  cada 
urn  d'elics,  que  se  acbara  no  convcnlo  da 
Latalha:  sao  todas  cm  fiancez.  A  do  sonhor 
Rci  D.  Joao  e:  11  me  plait  pour  bien ;  a  de 
D.  Pedro:  Desir ;  a  dc  D.  Henrique:  Taknl 
dc  bien  [aire;  a  dc  D.  Joao:  J'ai  bien  raison; 
a  dc  D.  Fernando:  Le  bien  me  plait. 

Circunifcripto  pois  o  catalcgo  a  exposirao 
s6mcntc  das  palavras,  e  phrazes  I'rancczas,  que 
so  liuham  ir.troduzido  na  nossa  linguagim 
moderna,  era  lorcoso  li\ar  a  epoclia,  donde 
devia  coniecar  o  cxame;  com  loda  a  razao  a 
principiou  a  conlar  o  A.  da  Mcmoria  do  prin- 
cipio  do  scculo  Will  ctm  o  reinado  do  scnhor 
D.  Joao  V.  Foi,  cm  verdade,  neslc  tempo 
que  fomccou  a  reslauracao  da  nossa  litlera- 
tura,  e  consequcutenienle  o  csludo,  efrequente 
licao  dos  livros  francczcs.  Scguiu-se  depois 
essa  cspantosa  ailuviao  dc  escriptos  bastardos, 
em  que  se  acha  desligurada  a  nativa  formosura 
da  lingua  de  Camties,  e  Yieira. 

Scndo  porcni  lac  gcral,  por  desgraca,  a 
adopcao  de  palavras  novas,  sem  reconhecida 
neccssidade,  uem  gencro  algum  dc  convc- 
niencia,  que  a  juslitiquc,  ha  todavia  escrupu- 
losos,  que,  pcccando  pelo  excesso  opposto, 
sentenccam  por  vozcs  novas,  algumas,  que 
tern  ja  scculos  de  antiguidade. 

Seriamos  scbrcmancira  diffusos,  se  nien- 
cionassemos  todas  as  palavras,  que,  logrando 
ja  ha  muilo  os  foros  de  portuguczas,  sao 
todavia  taxadas  dc  mcnos  casticas. 

Nao  e  porem  maraviiha,  que  pessoas  pouco 
versadas  na  leitura  dc  nossos  elassicos  rojeitcm, 
por  cstranhas,  tacs  palavras,  quando  o  pro- 
prio  S.  Luiz,  com  profundo  conhccimento  de 
nossos  bonissinioscscriptores,  condcmna,  como 
novas  e  desauctorisadas,  algumas,  (|ue  havc- 
mos  por  antigas,  e  dignas  de  reconimcndacao, 
deixando  alias  de  inscrever  no  glossario  outras, 
que,  cm  nosso  conceilo,  alii  tinham  mui  digno 
cahimento. 

Notar  a  discordancia  entre  a  opiniao  d'este 
insignissimo  critico,  e  a  nossa,  expondo  os 
reparos,  que  nos  icm  suggerido  o  nosso  cstudo, 
e  0  principal  proposito,  que  tenios  em  vista 
iieste  escripto. 

Bern  conhecemos  uosso  pouco  valor,  para 
querer  hombrear  com  o  primeiro  littcralo  por- 
lugucz  de  nossos  dias,  e  ainda  nuiito  menus 
para  ampliar  um  trabalho,  que  so  elle  ouzou 
emprehender;  afl'oulamo-nos  todavia  a  puLiirir 
estas  lucubracOcs,  porque  podcm,  por  \enti:ra, 
suscitar  em  qucm  possua  mor  cabcdal  de  conhe- 
cimentos  vontade  de  perfazer  lao  proficua 
obra,  e,  quando  raais  nao  seja,  damos,  por 


cste  niodo,  um  teslimunho  solemnc  do  fcrvoroso 
dczcjo,  que  nos  anima,  de  que  a  nossa  lingua 
se  restitua  sua  natural  bclleza  e  formosura, 
desempccando-a  dos  alavios,  e  modes  cstran- 
gciros,  corn  que,  pretendendo  arreial-a,  lanto 
a  tcm  dcsligurado. 

A —  Abstracao :  Alstracao  feita  e  gallicismo 
de  construccao ;  deve  dizer-se :  fazeiulo  abslrac- 
cao,  prescindivdo,  ou  abstrahindo  de,  etc. 

Adiado  {Ajonrne):  signilica  rigorosamente 
(dia)  pref.io,  (dia)  aprazado;  no  senlido  de 
espaeado,  Iransferido,  e  gallicismo  desneces- 
sario,  na  opiniao  d'um  escriptor  moderno;  nao 
nos  parcce  todavia  rasoavel  a  cxclusao  de  adia- 
do, nesta  ultima  accepcao,  admittindo-se  o 
verbo  udiar,  aprazar  dia  para  ahjiima  accBo, 
cuja  Icgitimidade  ningucm  conlesla  ;  admittido 
0  verho,  e  lorcoso  adniittir  o  participio. 

Al'cres  (A/f'aires) :  vcm  no  Cancioneiro  dc 
Rcscndc,  scgundo  Moracs.  Fazeres,  plural  de 
fazer  substantivado,  acha-se  cm  Gil  Vicente 
— Barca  1."  « Porque  cm  todos  teus  fazeres 
per  malicia  nao  arraste. »  Affazeres  ii  vocabulo 
mui  vulgar  nao  so  na  provincia  de  Entre 
Douro  e  Minho,  mas  nas  duas  Beiras. 

Argcm  [Argent):  no  sentido  de  dinheiro 
(no  nosso  povo  e  usual  a  phrase  chula  de  I'ar- 
gem)  vcm  no  Cancioneiro  fol.  158  v.,  e  em 
Gil  Vicente — Serra  de  Estrella:  oArrenego 
cu  do  argem,  que  me  vcm  dar  tormento.x 

Asccndente  (Ascendant):  no  sentido  de  pre- 
dominio,  superioridude,  imperio,  influenciu, 
e  condcmnado  pelo  A.  da  Mcmoria,  e  per- 
mittido  por  um  critico  moderno,  por  se  usar 
na  lingua  castclhana. 

Avalancba  (Aealanche):  «0  que  seria,  se 
a  cruz  redcmptora,  rcunindo  as  rcliquias  da 
ci\ilisafao  roniana,  nao  apparecesse  mais 
tarde,  como  unico  dique  possi\el,  para  suster 
essas  avalanclias  do  harbaros,  que  dcspren- 
dcndo-se  do  norte,  cahiram  sobre  o  mundo 
romano  ja  cm  ruinas?"  Condcmnamos  o  uso 
d'este  vocabulo,  que  na  lingua  Iranccza,  d'onde 
um  escriptor  moderno  o  pretcndcu  trazer  a 
nossa,  significa  massa  de  neve,  que  rola  das 
montanhas.  Nada  perderia  a  expressao  da  sua 
energia  metapborica,  e  fallava  com  propric- 
dade  se  dicesse:  »  0  que  seria,  se  a  cruz 
rederaptora,  rcunindo  as  rcliquias  da  civilisa- 
cao  roniana,  nao  apparecesse  mais  tarde,  como 
unico  dique  possivel,  para  suster  essas  torren- 
tes  de  harbaros,  que  precipitando-se  do  norte, 
alagarum  o  mundo  romano  ja  cm  ruinas?  » 

B — Blusa  (Blouse) :  E  vocabulo  muito  usado 
nas  traduccOes  dos  romances;  rcputamol-o 
desnecessario. 

C — Carnagem  (Carnage):  no  sentido  de 
malanea  e  vocabulo  reprovado  pelo  A.  da 
Mcmoria ;  achamol-o  porem  em  Garcao — obras 
poeticas — Soneto  XXXIV: 

Entao  OS  encalmados  scgadores 
Lancam  por  terra  os  esquadroes  vijosos : 
Da  carnagem  cruel  nenhum  se  salva. 


50 


HoiTorosa  carnmjem  disse  tami)cta  Joao 
Pedro  Riboiro  nas  siias  rejlrroes  historicax — 
parte  1.  pag.   I3i. 

Por  carniraria  exprimom  pommiiniciilo  os 
nossos  classicos  a  idoa  de  matam-a,  moitan- 
dade.  Yioira — sennOes — torn.  2." — pag.  17;> 
diz:  "Noincio  dodestroro,  ou  carniruriii,  ([iic 
ia  fazendo  a  pcstc  de  David  no  iiial  rontado 
povo  de  Israel. «  De  carnira,  no  mesmo  .';en- 
tido  deraatanra,  iisnu  Francisco  de  Sa  de  Me- 
nezes  na  eleijiu  a  morle  do  principe  D.  Joao : 

Fez  Moyses,  fez  Samuel  justa  carnica. 

Em  nossos  antigos  escriptores  (arnagem 
signilicava  provisao  de  carnes:  « leita  aguada, 
c  carnai/em,"  diz  Castanheda  —  kistoria  do 
descobrimenlo,  e  conquisla  da  India — liv.  1. 
cap.  III.  Barrcs^rffc.  Liv.  1.  cap.  II  tarabem 
diz;  « te  tornar  a  Ilha  das  gracas  pera  I'azer 
sua  carnagem. « 

Chanibre  {Rohe  de  chambre\ :  vestido  caseiro, 
t'raldado  ate  abaixo  dos  joeibos.  Ja  vem  em 
Moraes,  e  e  vocabulo  mui  usado  de  Tolentino 
— ohras  poelicas — torn.  1. — Soneto  LIII. : 

Com  bengala  na  mao,  chambre  tracado. 

E  no  memorial  ao  excellentissimo  senhor 
D.  Diogo  de  Noronba  —  pag.  117: 

Que  cm  longo  chambre  cmbrulhado. 

Antonio  Diniz  da  Cruz  e  Silva  tambem  diz 
no  seu  poema  —  0  Hijssope — Canto  1: 

A  tempo,  que  de  chambre,  e  de  chinellas 
Pela  comprida  sala  passeava. 

Cocar  (Cocarde):  E  reprovado  pelo  A.  da 
Meraoria  o  uso  d'cstc  vocabulo;  porem  Bernar- 
des  emprcga-o  na  nova  floresta — torn.  1.  pag. 
177  : 

«Da  Africa  as  pennas  dos  Avestruz  para 
OS  cocares  de  piumas  .  .  .  » — -Diniz  tambem 
usad'este  vocabulo  na  Odea.  Ileitor  da  Silveira 
— Anilistropbe  2: 

Ante  OS  muros  de  Pergamo  guerreira 

Hcitor  se  aprcsentava: 
Treme  o  crespo  cAcar  sobre  a  viseira, 

Que  OS  ventos  acoitava. 
Contintia.  '       r.  de  GUSMAO. 


ESTUDOS  PRELIMINARES  DE  BIOLOGIA. 
III. 

A  Medicina  it  a  physiolopia  dos 
corpos  organisados  applicada  a 
conserva^ao  e  restabelecimenlo 
da  saude.  (reil.) 

Sans  Physioloffie,  pas  de 

iVledecine.  giktrac. 

Grandes  e  mui  vaiiosos  sao  os  auxilios,  que 
a  pbysiologia  presta  a  arte  de  curar.  Depois 
que  tomou  o  caracter  de  verdadeira  seieucia, 


as  ideas  physiologicas  dominanles  nas  divcrsas 
epochas  teem  servido  de  base  aos  diflercntes 
systenias  patbologicos. 

Dando  lli])[iocrates  grande  iniportancia  a 
nnlurczn  inedicutriz,  a  sua  tiii'nipeutica  era 
expecianle.  on  tcmlente  a  dirigir  esta  forca. 
Boe  Syhio,  sustenlando  que  lodos  os  aclos 
vitaes  se  roduzem  a  oporacoes  cbimicas;  que 
a  efl'ervescencia  dos  bumores  e  sua  fermenta- 
cao  explicani  as  diversas  funccoes;  que  os  aii- 
mentos  lermentam  no  estomago  debaixo  da 
inlluencia  do  sucro  gastrico;  que  o  succo  pan- 
ireatico  e  a  iiilis  dao  Ingar  a  uni  novo  trabalbo, 
a  nni  desinvolvimento  de  gazes,  que  niuito  con- 
tribue  para  aperfeicoara  digestao;  quco  movi- 
meiilo  do  sangue  no  coracao  e  devido  a  unia  ef- 
f'ervescencia  ahi  produzida  pelo  enconlro  d'um 
.sal  volatil  da  bilis  com  um  acido  temperante 
da  lympba;  lancou  as  bases  de  um  novo 
systenia  pathologico  c  tberapeutico.  Todas  as 
molestias  erao  entao  occasionadas  pelos  pro- 
ductos  anormaes  das  divcrsas  combinacoes, 
e  OS  preparados  chimicos  mais  cnergicos 
admnistravam-se  temerariamente  com  o  lim 
de  curar. 

A  idea  de  explicar  pela  chimica  os  phe- 
nomenos  dos  seres  organicos  succedeu  o  iatro 
mechanismo,  assim  chamado  porque  se  basea 
no  principio  de  que  o  corpo  e  nma  macbina 
animal.  Para  o  seu  estabelecimenio  concorreu 
Descartes  que  explicava  as  secrecoes  pelas  di- 
versas formas  de  moleculas,  e  as  funccoes  de  re- 
lacao  por  um  movimento  vibralorio,  ([ue,  susci- 
tado  em  os  nervos  pelas  impressOes  evteriores, 
c  propagado  a  glandula  pineal,  se  dirigia  as 
(ibras  do  cerebro,  onde  deixava  vestigios  ma- 
teriaes. 

Nesta  theoria  physiologica  os  alimenlos 
introduzidos  no  estomago  experimentani  uma 
trituracao,  que  os  reduz  a  particulas  tenuis- 
simas;  o  apparelbo  circniatorio  c,  conside- 
rado  conio  uma  macbina  bydraulica,  reprcsen- 
tando  0  coracao  uma  bomba  aspirante  e  pre- 
mente;  o  calor  animal  foi  attribuido  exclu- 
sivamcnle  ao  altrito  dos  globulos  sanguineos 
entre  si  e  contra  as  paredcs  dos  vasos  que 
OS  contem,  e  cbegou-se  ate  a  calcular  em 
180:000  libras  a  forca  contract!!  do  cora- 
cao 1  ! 

No  tempo  em  que  dominivam  estas  ideas 
0  celebre  Boerhaave  explicava  (|uasi  fodos  os 
symptomas  das  molestias  si-gundo  os  prin- 
cipios  da  mechanica.  Alteracao  de  cohesao  da 
libra  elementar,  perturbacoes  no  movimento 
e  ([ualidades  dos  liquidos,  assim  como  a  oblite- 
racao  dos  vasos,  eis  as  unicas  causas  das 
molestias.  Eraissoes  sanguineas,  e  evacuantes 
de  todas  as  especies  eram  empregadas  como 
para  diminuir  a  rigidez  da  libra,  ou  des- 
obstruir  os  vasos. 

StabI  reconhecendo  os  abusos  das  oscholas 
cbimicas  e  mecanicas,  deu  grande  impor- 
tancia  ao  ostudo  dos  phenomenos  vitaes.    Os 


51 


aelos  vitaos  tinham  por  causa  um  principio 
inU'lligenle  c  dolado  J'uiiias  inlluoncia  seniprc 
bi'iielica.  Este  priiuipio  era  a  alma.  As  doencas 
erani  rcac<;oes  salutares,  e  a  niedicina  ri'du- 
zia-se  ao  simples  papel  d'expectarao,  papel 
algumas  \  czcs  hem  ]>ernieioso,  ]ioslo  que  noii- 
Iras  scja  o  qiie  se  deve  seguir. 

A  csta  seita  segiiiu-se  o  solidismo,  suslen- 
laudo  que  as  molestias  se  davam  unicamente 
nos  solidos.  Brown  era  uni  graiide  del'ensor 
d'estc  systema:  admittia  no  organisnio  uma 
luiica  propricdade  a  excilabilidade,  em  vir- 
tudc  da  ((ual  os  nossos  orgaos  respondeni  aos 
esiimulos.  A  aecao  dos  incitanles  snbrc  a 
ONtilabilidade  dos  orgaos  produz  a  vida.  A 
propriedade  da  exeitabilidade  era  susceptivel 
so  d'augmenlo  e  diniinuieao:  o  cxcesso  de 
forea  era  a  sthenia,  o  de  fraqueza,  ustlie- 
nia.  As  molestias  per  fraqueza  eram  as  niais 
numerosas;  e  d'abi  se  seguia  o  abuse  dos 
estimulanles.  Brown  nao  dava  imporlantia 
ao  eslado  local.  Toda  a  afl'eccao  era  uma 
alteracao  geral. 

Broussais  em  1810  Janca  as  bases  d'uma 
nova  doutrina  que  denomina  physiologica.  Dii 
toda  a  iniportancia  as  lesOes  materiaes,  porque 
scgundo  elle  o  principio  vital  jamais  pode  ser 
all'cctado  ou  alterado  primarianiente.  Esta 
doutriua  mereceria  mais  o  noma  de  anatomica 
ou  organica.  Broussais  julga  que  todos  os 
pbcnoraenos  da  vida  depcndcm  principalmente 
da  irritabiiidade,  que  tern  sua  sede  nos  orgaos 
dos  sentidos  e  nos  tecidos.  A  existencia  desse 
phenomeno,  nao  se  manifesta  senao  debaixo 
da  influencia  dos  irritantcs,  e  d'abi  resulta 
a  irrilacao.  E  necessario  porem  que  os  ir- 
rilantes  acluem  numa  medida  conveniente.  Se 
I'orem  mui  fortes  na  sua  accao  determinam 
uni  estado  especial  que  Broussais  chama  par- 
ticularmente  irritacau;  So  actuani  mui  I'raca- 
niente  produzem  a  JebilidaJe,  asthenia  oit  subir- 
ritacuo.  Broussais  partindo  da  idea  de  maior 
frequencia  das  molestias  stbenicas  dirigia  a 
sua  therapeutica  seguudo  eslcs  principios. 

A  doutrina  de  Broussais  prestou  grandes 
servieos  a  arte  de  curar;  deu  origem  material 
a  muitas  molestias,  e  desviou  a  medicina  do 
caminho  puramente  vitalista,  que  havia  toma- 
do. 

0  objecto,  que  deve  prcnder  todas  as  atten- 
cocs  d'um  medico  practico,  e  a  sciencia  do 
diagnostico.  Este  e  uma  sciencia,  que,  como 
muito  bem  dizia  Lnuiz,  occupa  o  primeiro  logar 
entre  todas  as  paries  da  arte  de  curar,  e  e 
ao  mcsmo  tempo  a  mais  util  e  a  mais  dif- 
ficil.  Sem  um  diagnostico  exacto  e  precise 
a  practica  e  muitas  vezes  inliel.  Medkus  suf- 
ficiem  ad  morbum  cognoscendum,  sufficiens  ad 
curaiidum,  diz  Baglivi.  E  a  physiologia  6  que 
devemos  recorrer  para  fazer  um  bom  diagnos- 
tico. 

Os  nossos  orgaos  podem  manifestar  os  seus 
soffrimentos,  por  uma  dor,  por  uma  alteracao 


nas  suas  funccocs,  ou  em  conscquencia  das 
relacoes  suiipalliicas  com  outros  orgaos.  A  dor 
e  uma  modilicacao  da  seusibilidade;  e  neces- 
sario conbecer  esta  propriedade  no  estado  do 
saude  para  avaliarmos  as  modilicacoes,  que 
constiliiem  o  eslado  morbido.  Os  nossos  or- 
gaos nao  sentem  tcdos  do  niesmo  modo,  e 
necessario  reconhecer  o  Ivpo,  que  Ibes  e  na- 
tural. 

Para  avaliarmos  cm  queconsistem  as  altera- 
cOes  d'uma  qualquer  lunccao  e  necessario 
conbecer  o  modo,  por  que  o  orgao  entra  em 
exercicio  no  estado  de  saude. 

Nem  sempre  as  alteraeOes  funccionaes  se 
manifestam  por  phenomenos  diretlos;  e  ne- 
cessario recorrer  a  observajao  dos  produ- 
ctos  d'estas  funccoes,  ou  a  algum  symptoma 
especial,  que  a  perturbaijao  da  lunccao  possa 
produzir. 

A  pbysiologia  leva-nos  ao  conhecimento  da 
scnsibilidade  propria  de  cada  orgao,  fornece- 
nos  i'sclarecimentos  sobre  o  exercicio  dos 
orgaos  e  seus  resultados,  mostra-nos  a  sym- 
pathia  que  os  liga,  e  por  isso  e  mui  util  para 
0  diagnostico. 

Se  a  agricultura  considerada  como  sciencia. 
tern  por  base  o  conhecimento  das  condicoes 
da  vida  dos  vcgetaes,  da  origem  dos  seus 
elementos,  das  fontes  da  sua  alimentacao,  os 
principios  da  physiologia  vegetal  serao  sem 
duvida  da  maxima  importancia,  porque  nos 
forneccrao  os  meios  de  obter  n'uma  certa  e 
determinada  area  de  terreno  a  maior  somma 
de  substancias  alimentares  destinadas  ao  ho- 
mem  e  aos  animaes. 

A  economia  animal  necessita  de  cerla  por- 
cao  de  chlorureto  de  sodio,  e  isto  tem  dado 
logar  a  considerar  como  beneiica  a  influ- 
encia do  sal  marinho  na  alimentacao  dos 
gados.  As  experiencias  de  Boussigault  sao 
concludendes,  e  conlirmam  as  indicacoos  theo- 
ricas. 

A  physiologia  presta  tanibcm  valiosos  ser- 
vices a  zoothechnia.  Immensa  e  sem  duvida 
alguma  a  importancia  de  boas  racas  d'animaes 
dcstinados  aos  nuiitos  e  variados  uses  da  vida. 
Estas  obteem-se  pele  crusamento  d'individuos 
d'especies  diflerentes;  —  id<j  verdadeira  obra 
do  homem  como  diz  St.  Ililaire.  0  facie  obser- 
vade  em  physiologia  que  o  pae  e  a  mae 
transmitteni  ao  fillie  as  qualidadcs  physicas  e 
ate  meracs,  deu  origem  a  idea  tao  feiiz  do 
cruzamento  das  especies  para  e  aperfeicoa- 
mento  de  novas  racas,  que  depois  se  per- 
petuam.  Com  muila  razao  diz  Magne:  ••  a 
geracuo  e  para  o  creador  o  que  a  yravura  e  a 
typotjraphia  sdo  para  o  escriplor. »  A  iulluencia 
de  cada  um  dos  repreducteres  sobre  o  producto 
da  concepcao  varia  conforme  as  edades,  os 
sexes,  e  o  estado  dos  individuos.  Determinar 
qual  seja  o  grau  d'csta  influencia  e  objecto 
especial  da  veterinaria.  0  nosso  fim  lei  unica- 
mente indicar  a  grando  vantagem,  que  se 


52 


pode  conseguir  do  seguintc  principio  physio- 
logico: — a  copula  fecnndanle  de  dois  iiidivi- 
duos  de  differente  especie  da  oriqcm  a  um 
novo  p'oduilo,  que  pnde  affectav  dinersos  ca- 
racleres  segnndo  o  predomiiilo  do  uiiirlto  ou 
da  feinea. 

.Vleni  drts  rondiroes  intemiis  lU'c-ssarias 
para  a  manireslacao  da  vida,  oiUras  lia,  (luc 
se  ac'liaiii  I'ora  dc  nos  o  sao  di^sliiuulas  a^)  iii.'smo 
(im.  Coino  obrani  esles  agentes  cxtornos  ou 
cosmicos.  se  a  sua  arrao  e  estimulaute  como 
ijueria  Brown,  se  o  sini  tim  c  cntreter  a 
tonicidado  dos  orgSos,  segundo  a  opiniao  df 
Thcmison,  se  o  seu  papel  c  irritaute?  Alii  estao 
outras  tantas  (luesloes,  em  que  uao  cntrare- 
raos  por  as  suppormos  deslocadas. 

Todo  0  ser  vivo  pode  ser  considerado  de- 
baixo  de  dois  pontos  de  vista  mui  distinclns; 
staiico  c  dijnamico.  A  hygiene,  ou  iiygioleciinia, 
como  Ihe  cliama  Fleury,  tratando  de  manter, 
collocar,  ou  restabelecer  o  liomeni  nas  condi- 
eoes  raais  lavoraveis  ao  desinvolvimenlo  regu- 
lar da  sua  organisacao  physica,  intellectual  c 
moral,  comprehende  cste  dupio  estudo,  c  os 
modifieadores,  de  que  se  occupa  pcrtencem 
ou  ao  mundo  exterior,  ou  ao  ser  vivo  consi- 
derado em  si  mesmo. 

0  conhecimento  de  taes  modifieadores  e 
dado  pela  pliysiologia,  e  sem  esta  nunca  po- 
deremos  collocar  urn  individuo  nas  condicoes 
mais  favoraveis  a  manil'estacao  da  vida.  A 
hygiene  pois  e  dependente  da  physiologia,  e  cm 
tao  elevado  grau,  que  Augusto  Conite  nao  ihe 
quer  conceder  a  catcgoria  de  sciencia,  chama- 
Ihe  arte,  applicacao  de  principios  physiolo- 
gicos ,  physicos,  ehimicos,  e  ate  astrono- 
micos. 

A  base  talvez  mais  racional  da  classilicacao 
dos  medicamentos  e  a  determinarao  da  sua 
accao  prima ria  no  homem  no  estado  physio- 
logico,  ou  as  mudancas,  ([ue  no  organismo  se 
succcdcm  a  introducrao  d'cstas  substancias 
por  qualqucr  via.  Se  nao  conhecermos  o  modo, 
por  que  as  funccOes  do  organismo  seexecutam 
no  estado  normal,  nunca  poderemos  julgar  das 
mudancas  nellas  produzidas  pelos  medica- 
mentos. 

A  medirina  operatoria,  ultimo  recurso  da 
therapeutica,  tambem  repousa  sobre  principios 
physiologicos.  Estes,  ensinando  ao  operador 
0  grau  d'utilidade  de  cada  orgao,  mostram-Ihe, 
quaes  sac  os  que  pode  impunemente  cortar, 
e  OS  que  deve  respeitar;  patenteando-lhe  os 
iraraensos  recursos,  que  a  natureza  tem  para 
cntreter  a  circulacao  por  nieio  das  anas- 
tomoses, tornam-no  mcnos  timido  na  ligadura 
das  arterias;  indicando-lhe  o  modo  de  forma- 
oao  das  partes  osseas,  e  as  mudancas  que 
experimentam  os  fragmentos  resullanles  d'uma 
Iraciura,  I'azem-lhe  ver  quaes  os  meios,  ([ue 
a  arte  deve  empregar  para  facilitar  a  con- 
solidaeao,  e  o  tempo  necessario  para  que  a 
ossificacao  se  operc. 


Temos  procuradomostraras  vaulagens,  (|ue 
a  physiologia  presta  a  arte  de  curar;  porem  a 
medicinn  hyppocratica  e  por  cxtremo  perrcita 
relativamcnte  aos  poucos  conheciuicntos  phy- 
siologicos, que  entao  havia.  A  iulhicncia,  que 
OS  nossos  orgaos  exercem  uns  snbre  os  oulros, 
e  a  maneira  regular,  pela  (jual  concorreni 
para  cntreter  a  vida,  ja  nao  era  estranlia  ao 
fundadnr  daModicina.  Consensus  unus,  compi- 
ratio  una,  con^entientia  omnia.  Ja  nao  ignorava 
as  rclacOes  sympathicas,  de  que  soube  tirar 
tao  grande  proveito  na  sua  clinica.  Muilos 
oiitros  pontos  da  physiologia  Ihe  eram  I'amili- 
ares,  c  se  cm  alguns  niostrava  deficiencia 
relativamcnte  ao  apuro,  a  que  esta  sciencia 
tem  chegado,  era  esta  falla  completamentc 
supprida  pclo  espirito  d'observacao,  que  tanto 
di-linguiu  0  illustrc  desccndeutc  dos  Asde- 
piades. 

A  physiologia  geral  e  a  parte  mais  impor- 
tanle  da  sciencia  da  vida.  Tractar  d'um  modo 
philosophico  e  abstracto  dos  pbenomenos  vi- 
taes,  e  sem  duvida  um  trabalho  por  cxtremo 
vasto. 

Nas  ideas,  (|ue  os  diversos  auctores  teem 
ii  ccrca  do  principio  da  vida,  se  baseam 
OS  dilTerentes  systeraas  pathologicos  c  thera- 
peuticos.  Estas  ideas  reccbem-sc  particular- 
mcnte  da  physiologia  geral,  assim  como  o 
conheciinento  das  incitacoes,  que  cliamamos 
inlegranlcs,  e  communs  aos  vegetacs  e  ani- 
maes.  E  a  physiologia  quern  nos  diz,  que  nos 
corpos  organicos  ha  continuo  movimento  de 
composicao  c  decomposicilo;  que  a  materia  e 
continuamente  susceptivcl  de  niorte  durante  a 
vida  d'um  ser  organisado,  e  (|ue  necessita  de 
ser  substituida  por  nova  materia  organica. 
Este  aeto,  que  .se  da  em  muito  maior  escala 
nos  animaes,  tem  merecido  [larlicular  atten- 
cao  de  Sniadechi,  Schwan  e  Goodsir,  porem 
ainda  carece  d'explicacao  satisfacloria.  Poslo 
que  nao  expliquemos  o  facto,  temos  d'elle 
conhecimento,  e  e  quanto  nos  basta  para 
avaliar  a  extrcma  necessidade  d'inlroduzir 
na  economia  substancias,  que  possam  servir 
para  nutricao  dos  orgaos,  substancias  vivili- 
cantes,  como  Ihe  chama  .Sniadechi. 

.\  physiologia  geral  cnsina-nos,  que  o  prin- 
cipio vital  diminue,  extingue-se,  accumula- 
se,  repara-se,  e  soffre  desvios.  0  conheci- 
mento d'estas  leis  e  da  maxima  importancia 
na  cura  das  molestias.  De  saber  que  o  prin- 
cipio vital  solTre  desvios,  nasce  a  medicacao 
revulsiva,  que  chama  a  um  ponto  o  excesso 
da  vitalidade  existente  na  parte  morbida.  Na 
physiologia  geral,  e  que  esludamos  a  dilTe- 
renca  entre  corpos  organicos  e  anorganicos, 
tornamos  bem  sensivel  a  distinccao  entre  leis 
physicas,  chimicas  e  vitaes,  e  encontranios  a 
enumcrajao  dos  caracteres  dos  animaes  e 
vegetacs. 

F.  i.  AI.VES. 


€)  jujsititttta^ 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


A  INSTRUCCAO  PRIMARIA. 

Ha  vinte  annos  que  estc  paiz  sentc,  c  sem 
equivoco  exprime,  a  conviccao  sincera  c  pro- 
funda da  necessidade  de  melhorar,  c  vulga- 
risar  a  instrucrao  primaria. 

Ha  vinte  annos  que  a  questao  se  debate, 
e  por  vezes  com  ardor;  e  a  solucao  d'cste 
grande  problema  social  ainda  nao  chegou  a 
hora  marcada  pela  sabedoria. 

E  delicada  a  questao.  NSo  somos  nos  so  os 
que  andamos  apalpando  os  meios  da  melhor 
organisacao,  e  administrarao  do  mais  irapor- 
tante  ramo  d'ensino  publico.  Na  Inglaterra, 
na  Franca,  na  Espanba  achamos  cxemplos  de 
versatilidade  ainda  maior  que  a  nossa  neste 
ponto. 

Nao  maravilha  que  a  forca  isolada  d'um 
ou  outro  individuo,  movido  do  amor  das 
letras,  e  do  bem  pOblico,  seja  insufficiente 
para  levar  ao  cabo  aquella  solucao.  Nao  e 
raesmo  censuravel  aquelle,  que  em  resultado 
do  estudo,  e  meditacao  profunda  e  pausada, 
tem  mudado  algiima  vez  d'opiniao;  porque 
ninguem  sc  deve  envergonhar  dc  raciocinar, 
e  d'apprender;  e  nesse  assumpto,  compara- 
dos  os  systemas,  c  os  resultados  de  povos 
diversos,  e  muito  illustrados,  nao  e  facil 
assentar  opiniao  inconcussa. 

0  que  porem  e  digno  de  reparo  e  quedc- 
pois  de  vinte  annos  d'estudos,  d'inquiricoes, 
d'esclarecimentos  officiaes,  d'experiencias,  fei- 
tas  sobre  imitasoes,  traduccoes,  e  transpjan- 
tacoes,  as  vezes  irreflectidas,  do  cstrangeiro, 
cm  que  tenjos  tide  uma  abundancia.  verda- 
deiramente  esteril,  apparecesse  ultimaniente 
urn  projecto  do  governo  muito  estendido,  e 
confuso,  que  por  vezes  tem  vindo  a  discus- 
sSo,  eoutras  tantas  tornado  a  commissao,  sem 
que  nada  se  tenha  adiantado  em  um  objecto, 
que  todos  dizem,  e  cremos  que  sinceramente, 
de  primeira  necessidade  nacional. 

Mas,  seja  o  projecto  disculldo  e  approvado, 
ficamos  em  que  de  nada  serve;  porque  nao 
comprehendeu  (julgamos  nos)  a  causa  do 
atraso  da  instruccao  primaria. 

A  primeira  e  maxima  difficuldade,  que  a 
hostilisa,  6  a  falta  dc  meios  no  thesouro  para 
multiplicar  as  escholas.  Este  mal  nao  o  re- 
medeia  o  novo  projecto;  porque  nao  lira  os 
encargos  ao  thesouro. 

Vol.  IV.  Ju.NHol." 


A  scgunda  difficuldade  e  a  falta  de  mestrc 
bem  babililados.  Esla  so  com  augmento  d'or- 
dcnados  se  pode  remover  em  parte.  Nao  ((ue 
em  outros  paizes,  geralmcnte  fallando,  os  or- 
deuados  sejam  superiores;  mas  em  um  paiz 
tao  pouco  illustrado  como  o  nosso  esla,  os 
poucos  homcns,  competenles  para  o  raagiste- 
rio  primario,  acham  facilmenle  empregosmais 
lucrativos;  e  soo  interesse  pode  attrabir  ao 
ensino  publico  os  homens  de  merecimento. 
Outra  causa  retarda  ainda  o  progresso  no 
magistcrio  primario,  e  a  nenhuma  esperanga 
de  meiborar  a  condicao  aos  professores.  Sera 
essa  carrcira  d'esperancas  abcrtas  diante  do 
funccionario  publico  ninguem  espere  que  elle 
trabalhe  por  se  aperfeicoar. 

A  questao  dos  mctbodos  d'ensino  tambera 
vein  coniplicar  a  solucao  do  problema.  E 
muito  importante  essa  questao ;  mas  e  secun- 
daria. Os  mctbodos  cnsaiam-sc ;  e  approva- 
dos  ensinam-se;  e  nao  se  impoem.  Em  ne- 
nlium  ramo  d'administracao  publica  e  tao 
insupportavel  e  perigoso  o  despotismo  como 
no  saccrdocio  do  ensino.  A  obrigacao  d'um 
determinado  methodo  imposta  ao  professor 
nao  serve  scnao  para  Ihe  tirar  a  responsabi- 
lidade,  quando  esse  methodo  contraria  a  sua 
vocacao;  e  o  ensino  assim  e  prejudicado. 

E  quem  pode  assegurar  a  exccllencia  d'um 
methodo  exclusivo?  Em  1835  todas  as  len- 
dencias  cram  para  o  methodo  de  ensino  mu- 
tuo.  Decrctou-se;  deu-se-lbe  o  exclusivo;  ea 
forca  da  inercia  resistiu-lbe,  e  venceu-o.  Em 
1830  ainda  duravam  as  tendencias;  mas  ja 
se  respeitaram  os  inleresses  creados,  e  as  ne- 
cessidades  e  faculdades  locacs.  Em  1844  ja  sc 
nao  fallou  cm  methodo  d'ensino.  Uoje  perdeu 
todo  0  prestigio  o  methodo  mutuo:  o  mixto 
simultaneo-mutuo  e  o  mais  seguido :  o  simulta- 
neo  pelo  processo  dictorepeiitino  disputa-lhe  o 
logar.  Se  a  esta  nossa  historia  contemporanea 
ajunctarmos  a  cousideracao  de  que  ainda  nao 
houve  inventor  de  methodo  que  o  nao  apre- 
goasse  por  unico  verdadeiro,  ameno,  facil,  e 
civilisador,  fonte  exclusiva  de  luz,  acabare- 
mos  por  nos  capacitar,  que  a  questao  do  me- 
thodo nao  deve  occupar  o  primeiro  logar  na 
resolucao  do  delicado  problema  da  organisa- 
rao  do  ensino  primario. 

Sem  embargo  da  errada  direcjao,  que  em 
nossa  humilde,  mas  sincera  opiniao,  tem  le- 
_18b5.  Num.  5. 


54 


vado  a  reforma  do  oiisiiio  pnmario.  mais 
alguma  vantascm  se  podia  tor  oblido  d'osfoi- 
fos,  (juc  stip|)omo5  enipregados  em  boa  I'e 
para  o  melliorar,  se  die  nao  livessc  cxislido 
desacompanliado  do  sen  piincipio  de  vida  e 
d'acrao.  A  iiispeccao  e  a  alma  da  inslrinrao. 
Que  inspccrao  lizeram  commissoes  gratuitas, 
crcadas  em  1830,  vivondo  vida  isolada  e  iiidc- 
pendeiile?  Que  inspecrao  tom  feito,  on  ])odem 
fazer  commissarios  d'cstiidos  com  l»2(lj^(IO(( 
ri'is  dordenado,   c  presidiiido  aos  iycous? 

Desengaiiemo-nos  :  se  queremos  dilTiindir  a 
instrucfao  primaria,  iiuillipli(iuomos  as  esolin- 
las  por  mcios  dcpcudentes  do  tiiesouro,  alar- 
guemos-lhc  a  base,  e  nao  esperemos  tiido 
da  bolra,  e  fiscalisarao  commum  do  Eslailo: 
cuidemos  mais  seriamenlc  das  escbolas  do 
belle  sexo.  Cada  menina,  que  se  ensina,  c 
uraa  oscliola  de  faniilia,  (|uc  se  fuiida.  Se  a 
queremos  melhorada,  e  mister  buscar  profes- 
sores  mais  babeis,  c  abrir-Uie  uma  carreira 
d'interesses  c  d'esperancas  para  eiles  cuida- 
rem  de  se  aperfeiooar.  E  mais  (jue  tudo  e 
indispcnsavel  urn  eorpo  d'inspcceao  regular, 
que  vizite  e  examine  o  cstado  das  escbolas, 
e  do  cnsiuo,  e  lealinente  o  participc  a  au- 
ctoridadc  central.  Sem  que  na  instruccao 
primaria  figure  o  olemcnto  religiose  taml)em 
nao  cremos  que  elia  prospere.  A  religiao  e 
a  base  da  instruccao  primaria;  porquc  c  a 
pedra  angular  do  estado  social.  Cumprc  for- 
mar  o  coracao  da  int'ancia  antes  de  Ibe  de- 
sinvolver  a  intelligencia.  Sem  boa  cducaeao 
a  instruccao  pode  ate  scr  mui  perigosa.  Mo- 
desta,  moral,  e  solida  como  dove  de  ser  a 
instruccao  primaria  ,  nao  agradece  creacoes 
fastosas,  programmas  gloriosos. 

Convencidos  profunda  e  sinceraracntc 
d'estes  principios,  ousamosavenlurar  uni  pro- 
jecto  de  reforma,  que  acaso  tera  alguma  idea 
util  nas  circumstancias  do  ])aiz;  e  submet- 
tido  ao  cstudo  e  meditacao  d'espiritos  mais 
elevados,  e  esclarecidos  por  expcriencia  e 
practica,  6  de  crer  resolva,  se  nao  todos,  mui- 
tos  dos  estorvos,  que  cmbargam  o  passo  a 
instruccao  popular. 

I'rojecio  de  reforma  da  in.ilrncfuo  primaria. 

Art.  1.°  A  instruccao  primaria  dividc-se 
em  trcz  graus. 

1."  Comprebende  ler,  escrever,  contar, 
principios  de  religiao,  de  moral,  e  dc  civili- 
dade. 

2.°  Comprebende,  alem  d'estes  objcctos, 
principios  de  grammatica  geral  e  portugueza, 
historia  c  geograpbia  do  paiz. 

3."  Alem  dos  antecedcntes  comprebende 
desenho  linear,  geograpbia,  e  historia  geral, 
historia  sagrada. 

§.  unico.  Podcra  o  ensino  ainda  compre- 
hender  a  arithmetica  e  gcometria  com  appli- 


cacao  a  induslria,  pbysira,  mcchanica,  e  chi- 
mica  industrial,  agricultura,  e  escripturaciio, 
conio,  c  aondc  o  exigirein  as  necessidadcs 
locaes. 

Art.  i."  No  1."  griiu  licam  comprehcndi- 
das  todas  as  escbolas  niraes.  No  2."  as  dc 
cabecas  de  concclho.  No  3."  as  de  capitaes 
de  districto,  cidades,  c  villas  que  cxcedara  a 
1:200  fogos. 

,\rt.  3."  Os  profcssores  no  1 ."  grau  venccm 
d'ordenado  annual  (iO^OOO  rs. ;  sao  obrigados 
a  riina  so  licao  diaria  na  bora  em  que  a  cscbola 
possa  scr  mais  fretiueulada ;  podem  admittir 
na  aula  mcninas  ate  a  edade  de  9  annos  e  em 
classc  separada.  Serao  prcfeiidos  para  a  re- 
gencia  d'estas  eaileiras  parocbos,  ou  ecde- 
siasticos  de  reconbecida,  c  provada  Nirtude, 
independentc  d'examcs. 

No  2.°  grau  vencem  osprofessorcs  120^000 
rs.  soudo  vilalicios;  e  no  3."  grau  os  \  italicios 
vencem  Ia0|l000  rs.  em  Lisboa,  Porto,  e  Fuu- 
ehal,  130^^000  rs.  nas  outras  cidades,  e  villas. 
Seudo  temporaries,  vencem  00^000  rs.  no 
2.°:  130^000  rs.  no  3."  em  Lisboa,  Porto,  e 
Funchal;  110^000  rs.  nas  outras  povoacocs. 

Art.  4.°  Os  professores  serao  promovidos 
d'uns  para  outres  graus  na  razao  dc  sens 
services,  e  merccimento,  ouvido  e  conselbo 
superior  d'instruccae  piiblica. 

Art.  S.°  Sao  creadas  escbolas  de  meuinas 
em  todas  as  terras,  cabecas  de  coucelbo,  (]ue 
as  nao  liverem.  As  mcstras  vencem  d'ordenado 
80|,000  rs.  aunuaes. 


g.  untco. 


Alem   dos   erdenades  reccberae 


OS  professores  e  professoras  d'os  que  pagarem 
de  decima  e  impostos  annexes  acima  de  400 
rs.  a  quota  semanal  arbitrada  pclas  camaras 
de  20  a  80  rs.  por  alunmo  para  despezas  do 
material  da  escbola. 

Art.  6.°  Pica  a  cargo  das  camaras  muni- 
cipacs  a  sustentaeao  das  escholas  primarias. 
Para  esse  effeito  sao  destinados  na  falta  de 
rcndimenlos  preprios  directos  c  indircctos 
dos  municipios: 

1."  Os  sobejos  dos  reudimentos  das  irman- 
dades,  c  confrarias  depois  de  satisfeitos  os 
encargos  pios: 

2."  Uma  quota  addicional  a  decima,  ([ue 
nao  exceda  a  3  por|],  votada  annualmcnte 
pelo  podcr  legislative: 

3.°  Um  subsidie  do  tbeseure  para  cumu- 
lar  e  deficit,  havendo-o. 

§.  nnico.  .\s  camaras  reeeberao  dos  thesou- 
rciros  das  irmandades  e  confrarias  es  sobejos 
julgades  cm  conselbo  de  districto,  por  que 
ficam  responsaveis  para  com  as  dictas  cama- 
ras, nao  podcude  ser  abenada  verba  de  des- 
peza,  que  nao  fosse  approvada  em  ercaniento 
pelo  mesmo  conselbo  dc  districto. 

Art.  7.°  Ilavera  uma  eschela  primaria  em 
cada  parochia  rural,  que  exceda  a  SO  fogos. 
As  dc  mcner  numcre  serao  annexadas  a  outras 
para  o  cffeilo  do  ensino. 


55 


Inspeccao. 

Art.  8.°  Em  ciiiia  dislricto  administrativo 
e  crcado  um  inspector  dinstiufouo  primaria 
com  0  ordenado  animal  de  000^000  rs.  Em 
Lisboa,  e  Porto  venccrao  800^000  rs. 

Art.  9.°  Os  inspcctores  licani  suliordina- 
do.s  ao  eonsellio  superior  d'instrucfao;  o  com 
lodos  OS  direilos,  c  attribuicocs  conl'oridas 
aos  commissarios  dos  estudos;  cxcepto  a  de 
serem  reitorcs  dos  iyceus. 

Art.  10."  Sao  creadas,  juncto  ascscholas, 
commissOes  d'iuspeccao  permanentc,  subor- 
dinadas  aos  inspcctores  rcspcctivos.  Eslas 
commissoes  scrao  coinpostas  do  parocbo,  au- 
ctoridade  administrativa  local,  juiz  de  paz,  e 
um  cbefe  de  famiiia,  escolbido  pola  caniara. 
As  fiinccoes  d'eslas  commissoes  sao  gratuitas. 
Os  sens  servicos  serao  tornados  cm  considera- 
cao  pelo  governo. 

Art.  11."  Ficara  abolidos  os  logares  de 
commissarios  dos  cstiidos.  Os  reitorcs  dos 
Iyceus  serao  de  nomeacao  do  governo  sobrc 
proposta  do  conscibo  superior:  e  terao  de 
gratilicacao  annual  100^000  rs. 

Art.  12.°  As  escbolas  de  casas  religiosas 
serao  visitadas,  c  inspeccionadas  por  ecclc- 
siasticos  escolbidos  pelo  prelado  diocesano, 
a  quera  darao  conta  do  estado  do  cnsino  na- 
quellas  escbolas.  0  conselho  superior  bavera 
dos  prelados  as  informacocs  iieccssarias  a  di- 
rcccao  do  ensino. 

Art.  13.°  0  governo  fara  os  regulamentos 
para  a  execueao  da  lei. 

Art.  14.°  Ficara  cm  vigor  as  disposicoes 
legislativas,  e  r^gulamentares  na  parte  nao 
alterada  pela  presente  lei. 

Se  parecercm  raodestas  de  ma  is  essas  es- 
cbolas ruraes,  que  abi  deixamos  em  projecto; 
se  mesquinbos,  e  insuficientes  alguem  cbaniar 
aos  ordenados;  advirta  priraciro  que  um  cura 
d'almas  em  povoacao  rural,  dicta  a  sua  missa 
diaria,  nao  tem  d'ordinario  em  que  empregue 
tempo  util.  0  servico,  que  se  Ihe  encarrega, 
sera  nao  nienos  proveitoso  a  elle  do  que  ao 
publico :  c  60^  rs.  em  addieao  a  sua  congrua 
sera  para  elle  gratilicacao  condigna. 

As  necessidadcs  das  povoacOes  ruraes  nao 
vao  alem  dos  ramos  de  instruccao  designados 
para  o  1.°  grau.  Mais  do  que  isso  fora  im- 
proficuo;  porque  as  familias  preferem  a  mais 
instruccao  o  lucro  do  trabalho  de  seus  tilbos; 
ou  ainda  nocivo,  creando  vaidosas  e  falsas 
posicoes  que  desviam  os  bomeus  dos  seus  des- 
tines sociaes,  que  sacrilicam  as  arles  ao  luxo 
das  letras.  As  necessidadcs  sao  em  regra  o 
ponto  de  partida  para  as  instituicoes  litterarias. 
Se  as  escbolas  ruraes  forem  grangeadas  com 
0  escrupulo  c  desvelo,  que  se  requer,  temos 
que  grande  impulso  darao  a  civilisacao  moral 
e  intellectual  do  paiz;  e  lirme  estabilidade  as 
instituicoes  liberaes. 

E  modica,   e  nao  reputaraos  illegal  a  re- 


tribuirao  mcnsal  dosaluiiiiios  mais  abastados. 
Mas  sera  ella  o  lucio  mais  poderoso  c  efficaz 
para  difl'iindir  e  mclliorar  a  instruccao  po- 
pular. Os  mcstrcs  larao  [lOr  augmcnlar  a  fre- 
quencia  dassuas  escbolas:  e  os  paes  de  fami- 
lias serao  os  primciros  liscacs  dos  professores. 
Ouando  tiulo  e  gratuito,  desapparcce  o  in- 
teresse  pelo  rcsultado  do  ensino;  cai-se  na 
iudilTereiiea. 

Diremos  por  lim  (|uc  nas  apcrtadas  cir- 
cumstancias  da  fazenda  publica,  e  pouco  sa- 
tislactorio  estado  do  paiz,  niio  fora  cxci|uivel 
piano  mais  gigantesco.  Vamos  melborando, 
como  e  possivel;  e  nao  desesperemos  do  I'uturo. 

M. 


CIIIMICA  LEGAL. 


Continuado  de  pajr.  10. 

Analyse  d'uma  porcao  dearrobc  ilc  amoras  eoxy~ 
mcl  simples,  mandados  do  Mangualdc. 

Antes  de  proceder  a  analyse,  procuramos 
0  peso  da  materia  suspeita,  que  deu  apenas 
oitava  e  mcia.  Eram  restos  de  arrobe  de  amo- 
ras e  oxymel  simples,  applicados  a  um  adulto, 
que  padecia  uma  angina.  Dcsgostou-se  o  doente 
com  0  sabor  da  primeira  dose ;  e  sua  mulber, 
para  o  resolver  a  continuar,  tomou  tambem 
algumas  colberes  do  medicamento;  e  ambos 
morreram  nessa  noute,  com  symptomas  de 
envenenamento. 

Diluimos  a  materia  suspeita  em  agua  distil- 
lada,  e  lavamos  o  copo  com  a  mesma  agua, 
fervendo  tudo  em  seguida,  por  mais  de  uma 
bora,  numa  retorta,  cujo  collo  niergulbava 
noutra  porcao  de  agua.  Este  liquido,  depois 
de  liltrado,  foi  sujeito  aoapparellio  de  Marsb, 
c  logo  deu  pequenas  manchas  de  cor  acbum- 
bada,  muito  brilbantcs;  mostrando  assim  o 
brilbo  das  mancbas  arsenieaes,  mas  sem  a 
cur  aloirada,  que  as  costuma  caraclerisar ;  e 
deu  no  tubo  pequenos  anneis,  um  pouco  aloi- 
rados,  e  ligciramente  brilbantes. 

Para  confrontacao,  preparamos  pelo  mesmo 
processo  mais  dois  liquidos  provenientes  de 
eguaes  quanlidades  de  arrobe  de  amoras  e 
oxymel  simples  insuspeito,  tendo  lancado  aci- 
do  arsenioso  em  uma  das  porcocs,  e  tartarato  de 
antimonio  e  de  potassa  noutra  porcao.  Entre 
as  manchas,  que  appareceram  com  estes  liqui- 
dos, algumas  mostravam  o  aloirado  e  os  mais 
caracteres  pbysicos  das  manchas  arsenieaes, 
e  outras  se  oll'ereciam  com  a  cor  denegrida  e 
mais  caracteres  das  mancbas  de  antimonio; 
mas  lanto  o  liquido  arsenical,  como  o  que  tinha 
antimonio,  deram  algumas  mancbas,  tao  si- 
milhantes  as  que  tinha  dado  a  materia  suspei- 
ta, que  nao  era  facil  distinguil-as  pelos  seus 


56 


caracteres  physicos.  Os  anncis  da  experieiuia 
melhor  se  dislinguiam,  ofl'ereceudo  os  de  ai- 
senico  urn  hrillio  hem  caracterislioo  e  a  cor 
aloirada,  em  quanlo  que  os  d'aiUimonio  sc 
aprcsentavam  sein  brillio  c  d  uiii  bianco  lei- 
toso  minzenlado. 

Passando  a  analyse  chimica  dc  todas  estas 
nianchas,  e  dos  anneis,  acluinios  o  si'i^iiiiilc : 
0  acido  azotico  a  frio  dissolveu  as  nian- 
chas da  materia  siispcila,  e  as  do  liqiiido 
arsenical,  com  nuiita  promplidiio.  .Vcluarido 
sobre  as  manclias  de  anlimonio,  dissolveu-as 
^Jo  mesnio  modo. 

A  dissolucao  azotica  das  manchas  da  ma- 
teria suspeila,  e  tamhem  a  mesma  dissolucao 
das  manchas  arscnicaes,  lendo-se-lhc  laiicado 
nma  gota  de  acido  suU'uroso,  e  tractada  dejiois 
pelo  acido  sulpliy<lrico,  deram  o  precipilado 
amarello  canario.  U  mcsmo  procosso  nas  man- 
chas de  antimonio  deu  a  mesma  cor  amarella 
um  pouco  mais  baca. 

Os  vapores  do  iodo  sobrc  as  manchas  da 
materia  suspeila,  e  sobre  as  manchas  do  li- 
quido  arsenical,  fizeram-lhe  toraar  a  cur  ama- 
rella carregada.  0  iodureto  ia-se  dissipando 
so  com  a  accao  do  ar,  e  exposto  a  um  calor 
brando  desappareceu  com  promptidao.  0 
mcsmo  processo  nas  manchas  de  antimonio 
nao  deu  dilTerencas  appreciaveis,  a  nao  ser  a 
cor  mais  alaranjada  do  iodureto. 

Os  vapores  do  phosphoro  (izeram  desappa- 
recer,  passadas  trez  ou  quatro  boras,  as  man- 
chas da  materia  suspeila,  c  as  do  li([uido 
arsenical;  e,  actuando  soJ)re  as  manchas  dc 
antimonio  deixaram  apenas  iima  sombra  de- 
pois  de  tcrem  passado  mais  de  vinto  e  (|uatro 
horas. 

0  chloro  gazoso  fez  desapparecer  com 
promptidao  as  manchas  da  materia  suspeita 
e  as  do  liquido  arsenical.  As  manchas  do 
antimonio  desapparccerani  com  egual  prom- 
ptidao. 

Fazendo  passar  uraa  corrcntc  de  acido  sul- 
phydrico  atraves  dos  tubos,  em  que  se  tinham 
iormado  os  anneis,  e  aquccendo  estes  anneis 
com  a  lampada  d'alcool,  do  lado  opposto  a 
direccao  da  corrente,  t'ormou-se  o  sulfureto 
adiante  da  chama,  com  a  cor  amarello  cana- 
rio f  um  pouco  brilbante,  nos  anneis  prove- 
nientes  da  materia  suspeita  e  do  acido  arse- 
nioso;  e  o  mesmo  sull'ureto,  nos  anncis  de  an- 
timonio. toniou  a  cor  denegrida  e  um  pouco 
amarellada  no  sitio  dos  anneis,  deixando  ver 
mais  adiante  um  |)0  d'uHi  branco  leitoso  acin- 
zentado. 

Fazendo  passar  atraves  d'cstcs  tubos  uma 
corrente  de  gaz  acido  chlorhydrico,  desappa- 
receu tudo  0  que  havia  nos  tubos  da  cxpe- 
riencia  do  antimonio,  menos  uraa  grande 
parte  ou  todo  o  p6  branco;  e  nao  houve  a 
menor  alteracao  nos  tubos  da  materia  suspei- 
ta e  do  acido  arsenioso. 

Lancando  ammouiaco  liquido  noutros  tu- 


bos, em  que  se  tinha  formado  o  sulfureto  com 
0  gaz  acido  sulphydrico,  mas  (pie  ainda  nao 
tinham  soll'rido  a  accao  do  gaz  acido  chlorhy- 
drico. dissolvcram-se  com  promptidao  os  sul- 
furctos  dos  tubos  da  materia  suspeita  e  do 
acido  arsenioso,  ticando  inalterado  o  do  tubo, 
que  serviu  a  cxpericncia  do  anlimonio. 

Nao  sujeitamos  as  manchas  e  anncis  a  maior 
nunicro  de  provas.  porcpic  o  nao  permiltiu  a 
pequena  quantidadc  de  materia  suspeita,  que 
nos  foi  cnlregue.  Pola  mesma  razao  nao  sujei- 
tamos 0  liipiido  aos  reagentes.  e  ajienas  podi'- 
nios  dispor  d'unia  i>equcna  porcao,  em  que 
lancamos  acido  sulphydrico.  Segiiiiido  com 
estc  reagente  o  mesmo  systema  de  compara- 
cao,  vimos  appareccr  immedialanii'iile  a  cor 
amarello  canario,  e  exaclamente  similhante, 
itos  dois  liquidos  da  materia  suspeita  e  do 
acido  arsenioso;  apparccendo  tambcm  imme- 
dialamente  no  liquido  do  tartarato  de  anti- 
monio e  de  potassa,  uma  cor  avinhada  ou 
antes  d'um  amarello  avinliado.  Estes  li(]uidos, 
deixando  sobrc  o  liltro  nodoas  amarelladas, 
sujeitiimol-as  ao  ammoniaco  c  acido  chlorhy- 
drico; e,  nao  permiltindo  a  pequena  porjao 
dc  materia  uma  apreciacao  hem  dara  dos 
caracteres  dilTerenciaes  enlre  o  arsenico  e  o 
antimonio,  apenas  podemos  notar,  que  os  trez 
residues,  tratados  separadamcnie  por  a(inelles 
dois  rcagcntes,  desappareciam  do  liltro;  mas 
que  este  desapparecimcnto  linha  sido  mais 
prompto  com  o  ammoniaco  no  rcsiduo  proce- 
dente  da  materia  suspeita  e  do  arsenico,  e 
mais  dcmorado  com  o  acido  chlorhydricO'; 
acontecendo  o  inverso  ao  residuo  proveniente 
do  tarlaro  emetico. 

Os  caracteres  physicos  das  manchas,  e  ain- 
da as  reaccoes  chimicas,  a  que  as  sujeitamos, 
deixam  diividas,  se  estas  manchas  seriam  de 
arsenico  ou  de  antimonio.  E  certo  que  nou- 
tras  experiencias,  que  temos  fcito  com  acido 
arsenioso  e  tartaro  emetico,  so  eHi  agua 
distillada,  ou  de  mistura  com  materias  ani- 
maes,  nunca  aehamos  tanta  confusao  nos  ca- 
racteres physicos  das  manchas,  c  no  resulta- 
do  das  reaccoes,  a  que  as  sujeitamos  nesta 
analyse,  e  isto  nos  fez  lembrar,  se  nesta  con- 
fusao, ou  distinccao  menos  caractoristica,  cn- 
tre  as  manchas  do  arsenico  e  as  do  antimo- 
nio, possa  figurar  o  acido  acetico  do  oxymel, 
OH  algum  ouiro  principio  de  todo  o  medica- 
mento,  d'um  modo  que  a  sciencia  ainda  nao 
tcnha  determinado. 

A  pezar  de  tudo  isto,  a  distinccao  physi- 
ca  cntrc  os  anneis  proveniontes  da  materia 
suspeita  c  os  do  antimonio,  a  par  da  simi- 
Ihanca  dos  primciros  com  os  obtidos  por 
ineio  do  acido  arsenioso;  a  coherencia,  que 
tambem  se  achou  nas  reaccoes  chimicas,  a 
que  podemcs  sujeitar  os  mesraos  anncis;  o 
rcsultado,  que  nos  deu  o  unico  reagente,  que 
podemos  empregar  no  liquido;  e  a  ponderosa 
consideracao  de  que  alguraas  colheres  da  ma- 


57 


leria  suspeita  loram  suflicienles  para  malar 
uin  adulto,  apena?;  afl'eclado  d'unia  lii,'eira 
c'sqiiinencia,  o  l.ambi'in  a  sua  mullicr,  que  se 
achava  de  perfeila  saude:  tudo  isto  iios  Icvou 
a  concluir  que  a  nialoria  suspeita  se  achava 
enveneiiada  com  arscnico,  c  em  quaiUidade 
l)astante  para  produzir  a  morte  por  envene- 
iiameiUo,  na  dose  de  algumas  collieres.  Nao 
dei\aremos  com  ludo  esla  conclusao  com  toda 
a  forca,  (|ue  Ihe  dariamos.  se  as  provas,  cm 
que  sc  funda  podessem  reforcar-se  com  outros 
processos,  a  que  nao  podemos  sujeitar  a  ma- 
teria suspeita,  por  se  ter  consumido  toda, 
sem  ao  nienos  Ihe  podcrmos  f,'uardar  uma  pe- 
(|uena  porcao  para  scfiuuda  analyse,  que  os 
triJHinacs  ))oderiani  cxigir. 

Coriliiiua.  A.  A.  DA  COSTA  SIIVIOES. 


0RGAM5ACA0     D  IM     ESTADELECIMENTO    PE- 
CLAIUO  NO  DISTRICTO  DE  COIMBRA. 

«HIcins  que  dcrem  cmpregar-se  para  o  progressivn 
■melliiiramcnlo  da  indvstria  pcctiaria.n  (Pro- 
prumma  ila  Assoc.  Agric.  1."  sercSo,  1."  parte, 
2.°  quesito.) 

0  meio,  que  mais  efGcazmentc  pode  reali- 
sar  0  progressiva  melhoramerUo  da  indnstria 
pecuaria,  consiste  em  olferocer  aos  iavrado- 
res  para  a  cohricao  das  femeas  cruadciras  os 
typos  das  raeihores  racas  d'aniniaes  domcsti- 
cos.  A  cullura  de  prados  artiliciaes,  que  I'or- 
necam  ahundantc  c  variada  base  aiiuien- 
ticia,  e  neccssaria  para  a  creacao  dos  ani- 
maes;  porcm,  em  quanto  a  sua  reproduccao 
nao  (or  convenientcmente  aperfeicoada  por 
meio  do  cruzamento  e  do  caslicamento  por 
seieccao,  a  produccao  pecuaria  nao  podc 
prosperar. 

A  utilidade  d'um  cstabelecimento  pecuario, 
que  reuuisse  os  typos  das  raeihores  racas  dos 
animacs  domesticos,  nao  carece  de  ser  de- 
monstrada ;  porque  e  geraimente  sabido,  que 
sem  pcrmanencia  no  cniprego  dos  modifica- 
dorcs,  lanlo  externos,  conio  inherentes  aos 
animaes,  nao  e  possivel  niclhorar  as  suas  dif- 
fercntes  racas,  c  que  a  multiplicacao  e  mc- 
Ihoramentos  dos  animaes  domesticos  consti- 
tuem  0  elemento  mais  productive  da  riqueza 
agricola. 

Tambem  nao  sera  precise  inculcar  a  neces- 
sidade  do  rel'erido  estabclecimeuto,  por  isso 
que  de  solicjo  a  nianil'esta  o  estado  actual  da 
nossa  produccao  pecuaria,  que,  dirigida  ainda 
pelo  systema  pustorit,  carece  de  com|)lcta  re- 
forraa;  e,  ainda  que  o  paiz  olTereca  excellcn- 
tes  condicOes  topographicas  para  a  levar  a 
effeito,  todavia  a  accpiisicao  dos  animaes  ne- 
eessarios  para  padreacao  e  niuito  dispendiosa, 
e.  nao  cstii  ao  alcance  da  maior  parte  dos 
nossos  lavradores. 


Bern  conhcccmos  que  os  apoucados  reudi- 
mpntos  dos  municipios  nao  sao  conipaliveis 
com  a  organisacao  d'uma  vasta  e  couiplctu 
pecuaria ;  por  isso,  altendendo  as  exigen- 
cias  da  scicncia  e  as  condicOes  economi- 
cas,  propomos  somente  a  conipra  d'aniniaes 
do  sexo  niasculino  os  mais  necessaries  para 
a  reproduccao  das  raeihores  racas:  e  preleri- 
mos  ate  distribuil-os  por  divcrsos  lavradores, 
por  ser  raenos  dispendioso,  do  que  pensai-os 
li  custa  do  cstabelecimento  ' .  Tambcra  em 
attcncao  a  consideracoes  cconoraicas  julga- 
raos,  que  nao  sera  possivel  fazer  acquisicao 
dos  typos  respectivos  a  cada  uraa  das  dilTe- 
rcntes  especics  d'animaesdomcsticos,  e  por  issn 
recommendamos  que  se  coraprcm  em  primeiro 
logar  OS  animaes  monodactylos,  que  o  lavra- 
dor  tem  maior  difllculdade  em  obler. 

Todos  cstes  niotivos  nos  conduziram  a  ela- 
borar  o  seguinte  projecto  ])ara  a  organisacao 
d'um  estabelecimento  pecuario,  que  compre- 
hendesse  uma  eoUcccao  d'aniniaes  domesticos 
do  sexo  niasculino,  e  em  numero  sullicicnte 
para  cohrirem  as  femeas  creadeiras,  pcrten- 
centes  a  este  districto,  com  o  lira  de  que  os 
melhoramentos  obtidos  por  este  meio  fosscm 
progressives. 

Projecto  para  a  orrjanisacdo  d'um  estabeleci- 
mento pecuario  no  districto  de  Coimbra''-. 

Art.  1.°  Crcar-sc-ha  no  districto  dc  Coim- 
bra um  estabelecimento  pecuario,  destinado 
a  aperfeicoar  os  animaes  domesticos,  e  sera 
denomiuado  pecuaria  de  Coimbra. 

§.  1.°  Este  estabelecimento  deve  possuir 
OS  raeihores  typos  de  todas  as  boas  racas 
d'aniniaes  domesticos,  que  tenham  mais  per- 
manencia  na  sua  conformacao  e  qualidadcs. 

§.  2."  A  caudelaria,  que  coniprebende  a 
parte  da  pecuaria  relativa  aos  animaes  mo- 
nodactylos, sera  coniposta  de  trez  garanhoes 
de  tiro,  dous  normandos,  e  um  hanovcriano; 
trez  dc  sella,  urn  arabe,  ouiro  anduluz  e  um 
outro  inijlez  (corredor) ;  e  dous  jumentos,  ura 
arabe,  e  outro,  ou  toscano  ou  castelltano, 
sendo  alguni  delles  de  mediana  e  o  outro  de 
grande  estatura. 

§.  3.°  Quando  as  circumstancias  economi- 
cas  0  permittirem,  o  director  do  estabeleci- 
mento I'ara  a  proposta  para  a  escolha  dos  ani- 
maes das  outras  especies  doinesticas. 

§.  4.°  Podeni  augmentar-se  o  numero  dos 
animaes  de  qualqucr  das  especies  doniesticas, 

'  Na  cntulelaria  tie  Bragan(;a  sao  os  animaes  pensadus 
pur  coiila  do  estabek'Cimeulo,  arrematando  ella  ou  com- 
prando  o  pensn. 

^  Tendo  confeccionado  este  projecto  por  me  haver  sido 
encarregado  em  conferencia  da  1.^  secrtlo  da  Associariio 
Agricola,  e  Dao  tendo  havido  outra  reuniao  da  referida 
seci;5o,  residvi  publieal-o  por  este  modo.  com  o  fira  de 
chaniar  a  attenrao  da  Jiincla  geral  deste  districto  sobre 
ol>jeclo  de  tanta  iraporlancia. 


58 


quando  as  nocossidadcs  da  reprodncyao  pe- 
cuiiria  do  dislricto  assim  o  exigircm. 

Art.  i.°  Hiivoni  um  director  encarrogado 
de  dirigir  oste  estahcU'ciraouto,  de  fazer  aii- 
nualmcnte  o  sou  orramcnto,  e  um  relatorio 
do  cslado  de  dcsiuvolvimcnto  da  industria 
pccuaria  do  dislricto,  e  de  propor  as  medidas, 
que  convcni  adoptar  para  o  seu  progressivo 
sporfeiroamcnto. 

Art.  3."  llaver;i  um  carlorario  encarroga- 
do de  toda  a  oscrii)luracao  administrativa  do 
cstiilielccimento  c  dos  assentos  genealogicos 
dos  animaes,  e  de  (luacsquor  oulros  que  liic 
forcm  ordenados  polo  director. 

g.  unico.  0  carlorario  sera  o  substituto  do 
director  nos  sous  impedimentos. 

Art.  4.°  llavcra  um  thesoureiro  encarro- 
gado de  guardar,  recebcr  e  dispendcr  os  I'un- 
dos  do  estabelecimento  na  conformidade  das 
ordeus  processadas  i>clo  cartorario,  e  assigna- 
das  pclo  director,  e  nos  impedimentos  d'estc, 
pelo  presidcnte  da  camara  de  Coirabra. 

§.  1.°  0  tbesoureiro  fara  todos  os  annos 
uma  conta  corrente  da  receita  e  despeza  do 
estabelecimento,  que  lemetlera  ao  director 
para  .'•er  presente  ii  Juncta  geral  do  districto 
ate  ao  fim  de_dczcml)ro. 

§.  2.°  Prestara  lianca  legal  d'uma  quantia 
correspondcnte  ao  numcrario  por  que  tern  de 
ser  responsavel. 

§.  3.°  0  seu  livro  de  receita  e  despeza  sera 
rubricado  pelo  director. 

Art.  Ei."  Ilavera  os  alumadores  necessaries 
para  o  service  do  estabelecimento,  os  quaes, 
alem  das  obrigacoes  que  Ibcs  sao  proprias, 
farao  todo  o  mais  servico  que  Ihes  for  ordenado 
pelo  director. 

Art.  6.°  A  Juncta  geral  do  districto,  de- 
pois  de  approvar  o  orcamento  das  despezas 
do  estabelecimento  pecuario,  fara  uma  dcr- 
rama  da  importancia  d'estas  por  todas  as  ca- 
niaras,  na  razao  do  niaior  proveito,  que  cada 
municipio  possa  tirar  da  industria  pecuaria, 
e  fara  cntrar  oste  rcndiraento  no  cofre  do 
estabelecimento  ate  ao  1."  de  Janeiro  de  cada 
anno  '. 

Art.  7.°  Eda  competencia  da  Jancta  geral 
do  districto:  1.°  nomear  o  director,  o  carto- 
rario  e  o  tbesoureiro  da  pecuaria  de  Coimbra: 
2.°  tomar  contas  a  este  ultimo:  3.°  approvar 
OS  regulamenlos  propostos  pelo  director:  4.° 
rstabelecor  as  posturas,  que  julgar  conveni- 
entes  para  o  desinvolviniento  da  industria 
pecuaria,  tomando  em  consideracao  as  re- 
flexoes.  que  o  director  apresenlar  nos  seus 
rclatorios:  8.°  auctorizar  e  niandar  fazer  as 
compras  dos  animaes,  ouvindo  o  pareeer  do 
director. 

Art.  8.°  Ascamarasmunieipaes,  cadauma 
no  seu  municipio,  incumbe:  1.°  fiscalisar  o 
l)om    tractamento    dos   animaes    e  a  inteira 

'  A  juncta  peral  do  districto  tie  Bra^antja,  arbitrou 
.tOOj^OOO  reie  annuaes  jiara  despezas  da  sua  caudclaria. 


exccucao  do  regularacnto  da  pecuaria :  2." 
propor  a  Juncta  geral  do  dislricto  as  pro- 
vidcncias  que  julgarem  necessarias  para  pro- 
mover  0  mcHioramento  dos  animaes  domesti- 
cos. 

Art.  9.°  Os  animaes  serao  distribuidos  pe- 
las  localidades,  que  Ihes  forem  mais  apropria- 
das,  c  em  que  liouverem  de  ser  empregados 
no  servico  da  cobricao. 

Art.  10.°  Aspessoas,  quequizcremsuslen- 
tar  (lualquerdos  animaes,  nao  tendo  bens  de 
raiz,  darao  uma  lianca  cgual  ao  vator  dos 
animaes. 

S.  1.°  Serao  preferidos  OS  lavradores,  que 
tiverem  de  sua  lavra  forragens  e  cercaes  para 
OS  sustentar. 

§.  2.°  Por  proposta  do  director,  approvada 
no  conselho  de  districto,  se  poderii  dar  uma 
gratilicacao  a  quem  sustentar  qualquer  animal, 
(piando  nao  bouver  quem  o  pense  pelo  servico 
ou  rendimento  que  elle  produzir. 

Art.  11."  A  camara  da  localidade,  em  que 
houverem  dc  residir  um  ou  mais  animaes  da 
pecuaria,  fara  uma  lista  triplice  dos  pcrten- 
dentes  que  os  querem  ter,  c  iuformara  o  direc- 
tor, cm  carta  conlidencial,  a  cerca  das  van- 
lagens  e  iuconvenientes  dc  cada  um  dos  prc- 
tendcntes. 

Art.  12.°  0  director  delerminara  o  local, 
em  (lue  deve  residir  cada  animal,  e  nomeara 
d'entre  as  pessoas  designadas  pela  camara 
a  que  0  deve  ter. 

§.  unico.  Esta  pessoa  nao  jiodera  ser  mcra- 
bro  da  camara,  nem  empregado  da  pecuaria, 
nem  o  administrador  do  concelbo. 

Art.  13.°  As  pessoas,  a  quem  fur  conllado 
quahiuer  animal,  sao  obrigadas:  1."  a  pen- 
sal-o  e  educal-o  conforme  as  determinacoes 
do  regulamento  da  pecuaria:  2."  a  ter  os 
animaes  cm  disponibilidade  para  o  servico, 
que  elles  houverem  de  fazer  nas  epochas  da 
cobricao:  3."  a  leval-os  a  inspeccao  do  director 
dc  trez  cm  trez  mezes,  ou  quando  cxtraor- 
dinariamente  cllc  o  ordenar. 

Art.  14."  As  pessoas,  a  quem  for  confiado 
um  animal,  poderao  empregal-o  no  seu  servico 
e  ulilisar-se  do  seu  rendimento,  no  que  for 
compalivel  com  as  disposicoes  dos  regulamen- 
los do  estabelecimento  pecuario. 

§.  unico.  Nao  sao  obrigados  a  sustentar  o 
animal,  (juando  elle,  por  niotivo  de  servico 
da  cobricao,  estiver  fora  da  sua  localidade 
na  distancia  de  mais  de  2  leguas.  Entao  fica 
a  sua  snstcntacao  a  cargo  do  municipio  onde 
elle  residir. 

Art.  lii.°  Todo  e  qualquer  individuo,  que 
pagar  contribuicoes  neste  districto,  tern  direito 
a  exigir  gratuitamente  cobricao  para  as  femeas 
creadeiras,  que  elle  possuir  '. 

*  Na  caudclaria  de  Bragant^a  paga-se  j>or  cada  femea 
1^920,  e  2i0  rei.*  ao  alumador. 

Sao  rejeitadas  as  egiias  que  tcm  menos  dc  51  pol- 
legadas. 


§.  1.°  Todo  0  individuo,  qao  nao  estiver 
nas  circurastancias  d'este  arligo,  pagara  por 
rada  fcmea  a  quantia  determinada  no  regula- 
mento;  e  se  illudir  esla  disposicao,  obtendo 
indevidainente  que  as  suas  femcas  creadeiras 
sejam  cobcrtas  gratuitamente,  pagara  o  dobro, 
sendo  nittade  para  queni  o  denuiiciar  . 

§.  2.°  Todo  cstc  rendimento  entrara  no 
col're  da  pecuaria. 

Coinibra  9  d'abril  de  ISSa. 

M.  P. 

ESTUDOS  PIIILOLOGICOS. 

I. 

Glossario  das  palavras  e  phrases  da  lingua  fran- 
ceza,  que  por  deacuido,  ignorancia,  ou  necessi- 
dade  se  tern  introduzidu  na  locucao  purtugucza 
modcrna,  com  o  juizo  crilico  das  que  sao  ado- 
plareis  nella.  Por  D.  Fr.  Francisco  de  S.  Luiz. 

Continuado  de  pag.  50'. 

Compor(ar-se  (.?e  comporler).  Na  accepcao 
de  nunleriir-se,  ser  so/frido,  occorre  cm  Gil 
Vicente  na  tragicomedia — Serra  da  Eslrella:» 
E  cada  um  se  eomporte,  dando  gracas  infiuitas 
a  Deus.  »  Na  accepcao  de  proceder  nao  tem 
auctoridade  classica  cm  nosso  idioma,  segundo 
observa  o  A.  da  Memoria;  neste  sentido  o 
emprega  todavia  o  capitao  Manoe!  dc  Sousa 
na  sua  traduccao  da  Ilistoria  de  Theodosio  o 
yrande  (hisloire  de  Tbcodose  le  grand — Par 
Monsieur  Fliichier)  —  Liv.  1,  n.°  63:  "  ultima- 
mente  se  comportava  com  tanta  prudencia  e 
moderacao,  que  parecia,  que  Fritigorne  era 
um  principe  romano,  eValente  um  barbaro.D 
0  crudito  A.  da  traduccao  da  Biblia  em  i.° 
— torn.  3.°  pag.  lOo,  tarabem  usou  d'este 
vocabulo  no  mesmo  sentido. 

Confeccao — Coufeccionar  [Confection — con- 
fectioner). E  frequente  o  uso  d'cstas  palavras 
no  sentido  de  composicdo,  organisacdo,  fazer, 
compdr.  Em  documento  cxpedido  por  urn 
tribunal  respeitavel  se  le:  «Torna-se  cada 
vez  mais  urgente  a  confeccao  do  rcgnlamento 
dos  lyceus. »  E  galiicismo  desnecessario,  e 
inadmissivel. 

Consignar  [Consigner).  No  sentido  de  contar 
referir,  mencionar,  registrar,  determinar,  d 
galiicismo  imperdoavel,  e  todavia  nuii  fre- 
([uente. 

Conlra-senso  [Contre-sens).  Isto  c,  par- 
voice,  necedade,  desarresoamento,  desproposito, 
etc.  e  galiicismo  desnecessario. 

Costume  [Costume).  No  sentido  de  vestido, 
habito,  ou  traje,  e  reprovado  pelo  A.  da 
Memoria;  usou  porem  d'este  vocabulo,  nesta 
accepcao,  Antonio  de  Souza  de  Macedo  na 
sua  obra — Eva  e  Ace — parte  primeira — cap. 
XIII  — n.°  7. 

oHeliogabalos  querem  hoje  ser  quasi  todos 


OS  homens,  gastam  mais  que  elle  a  proporjam 
da  possibilidade  de  cada  um;  muitos  mais 
gastam  so  em  vestidos  do  que  tem  de  renda, 
no  mais  se  sustentam  com  tracas,  que  nao 
sao  para  envpjar.  Ninguem  accitara  hoje  a 
merce,  que  Deus  fez  aos  Israelitas  nos  qua- 
renta  annos  que  andaram  no  deserlo,  e  aos 
sete  niocos  sanctos,  que  chamanios  dormentes 
nos  373  annos  (ou  perto  de  200  segundo 
outros  authores),  que  estiveram  em  unia  cova, 
nao  se  rompendo  a  uns,  nem  a  outros  o 
vestido,  e  caicado  cm  todos  aquelles  tempos. 
Todos  querem  costumes  novos,  peto  menos 
cada  anno.  >i 

0  Chantre  d'Evora,  3fanoel  Sererim  de 
Faria,  tambem  usou  d'este  vocabulo  no  sen- 
tido de  trnjo,  hahito,  no  seu  discuno  lY.  sobre 
a  origem,  e  grande  antiguidade  das  vestes, 
que  vsa  por  habito  ecclesiastico  o  clero  de  Por- 
tugal [varios  discursos  politicos — Tom.  Ill, 
pag.  103  niih.): 

cEste  grande  zelo,  que  boje  resplandece 
no  senhor  Cardeal  Infante  D.  Fernando,  e 
mui  justo,  que  seja  imitado  de  todos  os  pre- 
lados  de  Portugal;  pois  lloreceu  tanto  em  seus 
antecessores,  que  nunca  permittiram  aos  seus 
clerigos  alterarem  alguma  cousa  nos  costumes 
ecclesrasticos  antigos.  E  sendo  notados  todos 
OS  Portugnezes  de  mudarera  com  facilidade 
0  trajo,  e  de  serem  mais  affeicoados  ao  es- 
trangeiro,  que  ao  proprio,  comtudo  a  vigi- 
lancia,  e  sancto  zelo  dos  Bispos  fez  perraanecer 
sempre  nos  clerigos  Portuguezes  um  mesmo 
costume,  des  da  primitiva  Igreja  ate  gora, 
conservando  por  tanlos  seculos  o  habito  que 
rccebcram  da  Egreja  Itomana.  » 

Cotisar  [Cotiser).  Repartir  o  que  a  cada 
um  corresponde ;  entrar  por  cabeca  cm  gasto 
voluntario;  e  galiicismo  admissivel  na  opiniao 
d'um  critico  moderno,  por  nao  haver  palavra, 
que  exprima  esta  idea,  e  por  ter  analogia  em 
quota. 

A  nos  parece-nos  desnecessario;  porque 
temos  fintar  e  fintar-se,  contribuir  de  raotu 
proprio,  cspontaneamente;  v.  gr.  «  alguns 
patriotas  sc  lintaram  para  desafroutareni  a  na- 
cao,  crigindo-Ihe  um  monumento  (Moraes).  » 
E  tenios,  alem  d'esta  palavra,  uma  e.xpres- 
sao  classica:  entrar  ao  escote,  dc  que,  entrc 
outros,  usou  Sa  de  Miranda — Yilhalpandos — 
acto  3.",  scena  3."  «  pois  havemos  de  entrar 
ao  escote.  » 

D — Debutar  [Debuter):  e  frequente  o  uso 
d'este  verbo,  para  desigoar  a  primeira  re- 
presentacao  d'um  actor  no  theatre;  acha- 
niol-o  desnecessario,  e  inadmissivel;  porque 
tcmos  estrear-se;  e  podemos  por  outros  modos 
cxpor  esta  idea,  v.  gr.  encetar  a  vida  de  actor, 
appurecer  pela  primeira  ff:  na  scena,  etc. 

Desapontado  [Desappointe) :  com  a  signi- 
ficacao  de  cnganado,  logrado,  frustrado  em 
suas  vistas  ou  dezejos,  surprehendido,  e  gal- 
iicismo injustiticavel. 


60 


Diogo  Bcrnardes 


Descspcro  {Dcsespoir):  eslar  ao,  ou  em 
desespero  (rlre  au  dexespoir),  em  vez  dc  cstar 
incomolavd,  (i  gallirismo  frrosseiro. 

£ — Eiitrelcnimunlo  {£iilre[enement):  com 
n  siguiticavrio  Jo  cuidado,  dcspeza,  para  con- 
servar  algiima  cousa  cm  ])Oiii  eslado;  de  con- 
versarau,  ivnfcrenciu,  (i  gallicisnio  esciisado. 

F — Faiiado  {Fane):  fum  a  sigiiilicacao  de 
inurcfiaJo,  munlio,  que  pcrdeu  a  fnwcura,  e 
gallicibino  desiicccssario. 

Favorilo  [Fuiiori):  iiao  condemua  o  A.  da 
Memori'a  esle  vocabiilo,  visto  que  torn  a  seu 
favor  a  aiuloridade  de  Jorge  Ferrcira  na  Com. 
Ulisip.  (Moracs);  acoiisellia  porem,  que  nos 
nao  esquecaraos  absohitamenlc  dos  iiossos 
hons  vocabulos  miinoso,  favorecido,  aceito, 
valido,  etc.  E  sendo  os  excmplos  o  luais 
adequado  mcio  de  conlirmar  esta  doiilrina, 
porqiie  os  oiuiltiu  o  A.  da  Meinoria,  titarc- 
mos  algiins,  que  vem  mui  a  proposito,  c  seja 
0  primeiro  de  Fr.  Luiz  de  Sousa  —  Vida  do 
Arcebispo  —  Liv.  lY.  cap.  XXX:  «  Por(iue 
quantos  mais  feitios  fazia  o  muiulo  polo  ale- 
vanlar  em  liouras,  rendas,  e  eslado,  lazeiido- 
0  mimoso  dos  Papas,  facorecido  dos  Ilcis  e 
Priiicipes,  estimado  c  reverenciado  do  j)ovo ; 
tanto  mais,  etc.  »  —  E  Doulra  parte  —  Liv. 
V.  cap.  U:  ic  Entrando  pola  cella  foi  logo 
conliecido  do  Arcebispo,  que  era  dos  seus 
nceilos,  c  disse-lhc,  etc.  »- 

—  Lima — pag.  242  disse: 

Dc  Lusitania  as  miisas  mais  formosas 
Vos  dcvoni,  a  la!  eonia,  eteriio  canto: 
Que  sera,  so  ile  vos  forem  mimosas? 

Caraocs,  fallando  de  D.  Sancho  II,  disse: 

Dc  govcrnar  o  rcino,  que  oulro  pedc, 
Per  causa  dos  privados  foi  piivado. 
(Lus.  I.I.  91\ 

E  Bocage — Aren^o  e  Argira — ; 

So  c(uniielc  cssa  gloria  aos  meus  mimosas, 
So  all,  meu  vatido,  a  ti  somenle. 

Fraque  {Fruc  ou  Fraque):  nao  se  acha  este 
vocabulo  no  diccionario  de  Moraes  (Terceira 
cdicao),  usa  porem  d'elle  Tolentino — Obrus 
pneticas — Siityra  —  os  amantes : 

Busca  alpum  novel  basbaque, 
Que  ])or  pohro  nao  sahia, 
Mas  ja  niellc  o  bairro  a  saquc, 
Dcpois  que  engenhosa  tia 
Lhe  armou  dc  uma  saia  um  fraque. 

Fuzil  {Fu.sil):  E  vocabulo  jiistamenle  re- 
provado  jielo  A.  da  Mcmoria  no  sentido  de 
cspinfjurdu;  usou  porem  d'elle  Tolentino  — 
Obras  poelieas — Soneto  XXVIII: 

Que  tcm  que  ver  fuzil,  que  nao  mala. 

G — Gaiopim  (Galopiii).  Nao  vem  no  dic- 
cionario de  Moraes  (terceira  cdicao)  este  vo- 
cabulo, dc  que  usa  Tolentino — Obras  poetieas 

—  memorial  a  Sua  Altcza: 


Antes  que  cntre  vis  scquazts, 
Sendo  viclima  irrisoria 
De  mil  galupins  xorazes, 
Em  Idgnrde  palmatcjria, 
Dc  co'bordao  nos  rapazcs. 

L  —  Languir  {Laiujuir):  nao  sc  aclia  no 
diccionario  de  .Moraes  (terceira  cdicao),  que 
traz  Inntjne  derivado  dc  languir,  que  nao  se 
usa  (dizcllel);  vem  do  I'rancez /(»ir/iu>,  ou 
primitivamente  de  lanf/ncrc:  umore  lanyueo, 
(liz  a  esposa  dos  cantores.  Tcm  boas  auclori- 
dades  cm  pocsia;  alem  da  citada  pelo  A.  da 
mcmoria,  ha  a  de  El|)ino  Nanacriense — Tom. 
Ill,  pag.  203: 

Ti'isle  languia 
O  dcus  d'amor. 

AH'euo  Cyntiiio  iDomir.sos  Maxiniiano  Tor- 
res) lambem  diz  no  i;oneto  LX: 

Languc  a  Uislc  em  esleril  rocha  alpina. 
E  Francisco  Manocl  —  Tom.  XI  —  pag.  8S: 

Deita  a  vista  sagaz  c  carraneuda 
Aos  ermos,  ondc  lanijuc  o  pal.'idina. 

J\I — -.Merccer:  Merccer  bem  do  paiz  em  lo- 
gar  de  ser,  fuzer-se  bcnemerilo  da  putria,  e 
gallicismo  desnecessario. 

Mobilisar  [Mobiliser):  Mobilisar  o  exercito 
e  exjiressao,  hoje  cm  dia,  mui  usada;  nao 
nos  parece  porem  necessaria;  pode  dizer-se: 
por  0  exercito  cm  pe  de  ijuerra,  chumar  as 
armas  a  reserva,  reunir  os  soldados  licencia- 
dos,  completar  a  exercito,  etc. 

Montar  {Monler):  Montado  (Monte):  Em 
escripto  mui  conliecido  achamos  a  seguinte 
[)lirase:  «Aeschola  nao  esta,  ncm  nuncaesteve 
montada  para  esludos  Iranscendentes.  »  E  um 
gallicismo  intoleravel;  deveria  dizer:  «A  es- 
cliola  nao  foi  constituida  para  estudos  Irans- 
cendentes, nem  hoje  cm  dia,  por  falta  de 
organisacao  adequada,  pode  entregar-se  a 
dies.  „ 

0  —  Obsoleto  i  Obsolete  :  Antiquado,  des- 
ii.vr/(/o.  Este  vocabulo  falla  no  diccionario  de 
Moraes  ^ terceira  cdicao  i,  tern  comtudo  boa 
origcm  no  latim  obsoletus,  e  pode  admittir-se 
na  lingua. 

P — Palpitante  {Palpitant):  Palpilante  de 
inlcresse,  em  logar  de  muito  intere.ssante,  de 
f/raiidc  momento,  de  (jrande  tomo,  de  snmma 
iinporlancia,  c  gallicismo  grossciro. 

Partido:  Tirar  parlido  em  vcz  de  tirar 
proveito,  aproveitar-se,  6  gallicismo  inadimis- 
sivcl. 

Pedante  (Pedant):  Moraes  niio  abona  o  uso 
d'estc  vocabulo  com  a  devida  auctoridade; 
emprcgou-o  porem  Garcao  na  sua  bem  conhe- 
cida  salyra  II : 

Vejo  Pedantes 
Trepados  cm  cadeiras,  dcscompondo  etc. 


CI 


Percorrer.  Bern  que  se  nao  ache  no  dic- 
cionario  de  Moraes  (terceira  edicao),  tern  com- 
tudo  a  seu  favor  uma  auctoridado  respoitavel. 
Leonel  da  Costa  iia  vida  dc  Tcrentio,  que 
verteu  emportuguez,  c  poz  a  frentc  dequatro 
comedias  d'csteauctor,  diz:  «  scndo  (Terencio) 
convidado,  que  se  sentasse  a  ella  (meza), 
ceou  juntamente  com  elle :  e,  acabada  a  cea, 
foi  percorrcndu  pclas  niais  (comedias)  nao  sem 
grande  admiracao  de  Cerio.  » 

Precoee  [Prkoce).  Fructo  precoce,  cresci- 
mento  precoce,  prazeres  precoces,  se  escrevc 
por  ahi  commumente.  Posto  que  muito  usada, 
achamos  desnecessaria  csta  palavra,  porque 
temos  prematuro,  tempordo,  antecipado.  Sousa 
— Anays  de  D.  JoCio  III — Liv.  III.  cap.  YII. 
pag.  14'J  diz:  «  Foy  se  o  cativo  mais  rico  de 
baiTCtes  que  dc  companiieyros,  mas  alegrc 
polla  liberdade  que  lao  tempordo  alcancara.  " 
E  noutro  logar  da  mesma  obra  —  Liv.  1.  cap. 
III.  <c  Mostrava  em  tudo  o  que  fazia  tauto 
assento,  e  entendimenlo,  que  claramente  ven- 
cia  e  aiitecipava  a  edade.  » 

Prejuizo  [Prejudice):  N'a  signilicacao  de 
juizo  antecipado,  preocciipacdo  por  informacdo 
previa,  e  gallicismo  reprovado  pelo  A.  da 
Memoria,  e  desculpavel  na  opiniao  d'um 
crilico  moderno. 

Jt  —  Recidiva  (Recidioe):  Nem  no  diccio- 
nario  de  Moraes  (terceira  edicao),  nem  na 
Memoria  de  S.  Luiz  vem  este  vocabulo,  que 
temos  ouvido  condemnar  per  innovado;  usou 
porem  d'clle  Bernardes  —  armas  da  caslidade 
—  pag.  1C7  mih.:  «E  coratudo  sempre  da- 
qui  vera  o  Icitor,  quam  terrivel,  e  damnoso 
mal  c  0  d'estas  recidivas.a  E  mais  adiante  pag. 
173  mih.  :  "  0  doutissimo  GersiSo  em  um  Ira- 
liado  seu  dos  remedies  contra  as  recidivas 
noste  mal,  etc.  » 

Recidivar  [Recidiver) :  Tambem  falta  nas 
duas  obras,  que  citamos,  este  verbo,  de  que 
iisou  0  grande  Bispo  de  Silves,  D.  Jeronymo 
0^orio — Obrcts  ineditas — pag.  149:  «Eainda 
com  csta  l)randura  nao  Ihes  contando  as  cul- 
pas  nos  que  recidivaram  depois  de  perdoados, 
etc.  » 

Remontar  {Remonter) :  No  sentido  de  suhir 
I  em  dignidade  nao  temos  achado  este  verbo 
em  nossos  classicos,  usa  porem  d'clle,  em  fal 
atcepcao,  Manoel  de  Sousa — Uisloria  de  Tlieo- 
dozio  0  grande  —  Liv.  I.  n."  II.  pag.  15: 
'iRcmontou  ao  imperio  em  um  tempo  etc.  »  E 
mais  adiante — Liv.  I.  n.°  3.  pag.  18:  «Ti- 
nha  remontado  aos  primeiros  emprcgos.  .  u 
— Sousa — Vida  do  Arcebispo — Liv.  I.  cap. 
IX  disse  :  «  Quanto  havia  de  montar  na  ordem 
etc.  » 

Retrogradar  {Retrograder).  E  abonado  o 
•  juso  d'este  vocabulo  pelo  A.  da  Memoria  com 
|a  auctoridade  de  Bluteau;  tern  porem  a  seu 
ifavor  outra  de  maior  monta;  vem  em  Gil 
Vicente — Auto  da  Feira:  «  Quando  Venus 
declina,  e  retrogrdda  em  seu  curse.  » 


S — Saltar  aos  olhos  {Saillir  aux  yeux):  E 
cxpressao  franceza,  que  nao  convent  ao  nosso 
idioma,  segundo  a  opiniao  do  A.  da  Memoria  ; 
achamol-a  porem  na  Memoria  Bistorica  e 
crilica  dcerca  de  Fr.  Luiz  de  Sousa,  e  das 
sitas  obras,  do  sabio  Bispo  de  Vizeu,  D. 
Francisco  Alexandre  Lobo:  <A  cerca  do  estylo, 
salla  aos  olhos  do  Icitor  etc.  »  E  que  nao 
desdiz  tal  expressao  da  indole  do  nosso  idioma, 
prova-se  pela  equivalente  empregada  por 
Sousa — Yida  do  Arcebispo  —  Liv.  VI.  cap. 
VI:  «  He  a  Igreja  grande  e  alterosa,  e  tem 
muyta  luz;  com. ella  sabiam  as  miudezas,  e 
rcalcavao  as  ceres,  e  de  maneira  se  vinha 
tudo  aos  ollios,  que  etc.  » 

Sarcasmo  [Sarcasme).  Nao  vem  no  diccio- 
nario  de  Moraes  (terceira  edicao)  este  vo- 
cabulo, de  que  ja  em  1706  usou  Francisco  de 
Pina  de  Sa  de  Mello  no  seu  Thealro  da  elo- 
qnencia,  ou  arte  de  rhetortca,  onde  diz:  «  0 
sarcasmo  e  outra  especie  de  ironia,  e  so  com 
a  dilTerenca  de  center  maior  acerbidade,  c 
desprezo.  »  Deriva-se  da  palavra  latina  sar- 
casmus,  e  esta  da  grega  (iofxmi(i.l;,  irrisio 
amnrulenta;  nao  desdiz  da  indole  da  lingua, 
tem  boas  derivacoes,  e  por  isso  o  julgamos 
adniissivel  e  necessario. 

Subvencao  [Subvention):  Pareceu-nos  in- 
novada,  e  desnecessaria  esta  palavra,  porque 
temos  subsidio,  paga,  soccorro,  etc. ;  achamol- 
a  porem  no  dictionarie  de  Moraes  auctorisa- 
da  com  a  citacao  d'um  A.  classico. 

R.  DE  GUSMAO. 


BAMIOS  DE  LISO. 


Os  artiges  sobre  os  banhos  de  Luso,  publi- 
cados  no  primeiro  volume  d'este  Jornal,  exi- 
gem  uma  noticia  do  plane  de  cdificacao 
ultimamente  escolhido,  para  o  niclhoraniento 
d'aquelles,  e  do  andamento  dos  trabalhos  ate 
ii  sua  conclusao.  Damos  csta  noticia  em  tera- 
j)0  competente.  Agora  so  publicamos  o  regu- 
lamcnto  do  service  dos  banhos,  que  ja  este 
anno  se  ha  de  exccutar,  menos  o  que  diz 
rcspeito  a  taxa  dos  banhos,  que  tica  reduzida 
a  raetadc,  por  se  acharem  ainda  atrazados 
OS  trabalhos  do  estabeleniento.  Das  vinte  ba- 
nhciras  que  tem  o  plane,  abrem-se  quatro 
no  dia  24  de  junho;  e  conta  a  direccao  ir 
dande  mais  duas  em  cada  semana,  ate  a  sua 
conclusao.  A  direccao  tambem  espera  muito 
breve  a  machina  de  vapor  para  o  aqueci- 
mento  dos  banhos  dc  temperatura  artiiicial, 
cuja  abertura  La  dc  annunciar  nos  jornaes 
de  Coirabra. 


62 


REGLIL\MENT0  DOS  BA.M10S  DE  I.ISO. 

Administrardo  dos  banlios. 

Art.  1.°  A  administracao  econnmica  dos 
Banhos  do  Luso,  e  todo  o  snrviro  do  cstalic- 
Iccimciilo,  (■  iiu'iinibida  \wia  Diiecrao  da  Socic- 
dadc  a  urn  Director,  a  um  Fid,  c  a  uiii  Banliei- 
ro,  com  OS  Scrxentos  prccisos. 

Art.  2."  Os  Baniiistas  pafjarfio  20  rcis 
por  cada  banho  du  tcmpcratura  natural,  (luc 
nao  exccdcr  meia  liora,  a  contar  dc.sdc  a 
entrada  ate  a  saliida  do  quarto  do  banho;  e 
40  reis  por  cada  banho  do  tcmperatura  arti- 
ficial, tambcm  do  meia  hora. 

Art.  3."  Alem  das  banheiras  jiara  banhos 
de  meia  hora  com  as  taxas  designadas  no 
art.  antcccdcntc,  havera  ontras  para  banhos 
de  trcz  quartos  d'hora  com  a  taxa  de  iO  reis 
para  os  banhos  de  tcmperatura  natural,  c  de 
CO  reis  para  os  de  tcmperatura  artiliciai. 

Art.  4.°  SeoBanhista  se  demorar  no  quar- 
to do  hanbo  alem  do  tempo  dcsignado  para 
um  banho,  pagara  sogunda  taxa;  e  demoran- 
do-se  ainda  alem  do  tempo  marcado  para 
dois  banhos,  pagara  terceira  taxa,  e  assim 
progressivamcnte. 

§.  unico.  Nos  dias  de  menos  afluencia  de 
banhistas,  podera  o  Director  permitlir  mais 
algum  tempo,  para  cada  banho,  do  que  o  dc- 
signado neste  Kegulamento,  uma  vez  que  nao 
se  prolonguem  os  banhos  para  boras  incom- 
modas,  e  que  os  Banhistas  tenham  side  avi- 
sados  d'esta  medida. 

Art.  5.°  Como  ha  em  cada  quarto  de  ba- 
nho duas  banheiras,  estas  serao  occupadas 
ao  mesmo  tempo  por  duas  pessoas ;  e  se  al- 
gum Baubista,  porqual(|uer  motivo,  quizcrter 
a  oulra  baniieira  desoccupada  durante  o  seu 
banho,  pagara  taxa  dobrada,  como  se  foram 
dois  Banhistas. 

Art.  C.°  Os  Banhistas,  durante  o  tempo 
do  seu  banho,  podcrao  ser  acorapanbados  no 
respective  quarto  por  todas  as  pessoas  do 
mesmo  sexo,  que  elles  quizerem ;  e  ate  podc- 
rao mclter  comsigo,  no  seu  banho,  criancas 
ou  mesmo  adultos.  sem  que  por  isso  seja 
alterada  a  taxa  estabelecida  nos  art.  2.°,  3." 
e  4.° 

§.  unico.  E  proiiibida  a  entrada  simulta- 
nea  de  pessoas  de  sexo  difl'erente  no  mesmo 
quarto  de  banho,  sem  expressa  licenca  do 
Director,  que  so  a  concedera  em  casos  ex- 
cepcionaes  e  muito  urgentes. 

Art.  7.°  Sao  gratuitos  os  banhos  de  tcm- 
peratura natural  e  artiHcial,  para  todos  os 
pobres. 

Art.  8.°  Sao  considerados  como  pobres, 
para  os  elToitos  do  art.  antecedente,  todas  as 
pessoas  que  se  apresentarem  ao  Fiel  com  at- 
testado  de  pobreza,  passado  pelo  Parocho  da 
?ua  frcguezia,  e  rubricado  pelo  Administra- 


dor  do  Concelho;  e  alem  disso  com  outro 
alleslado  d'um  Facultalivo,  legalmente  babiii- 
iado,  e  tanibem  rubricado  pelo  Adminisirador 
do  Concelho,  por  onde  constc  que  llies  sao 
indicados  os  banhos  de  temperatura  natural 
ou  artiliciai. 

§.  1."  Pode  supprir  a(|uellcs  dois  attcsta- 
dos  uma  guia  de  ([ualquer  hospital  ou  mi- 
sericordia,  tamhem  rubricada  pelo  .Vdministra- 
dor  do  Concelho,  por  onde  conste  a  pobreza 
da  individuo  e  a  indicacao  dos  banhos. 

§.  2."  As  guias  e  attestados  de  pobreza 
serao  arcbivados  pelo  Fiel,  e  no  fim  da  qua- 
dra dos  banhos,  pelo  Secretario  da  Direccao, 
para  servirem  de  base  aos  processes  judiciaes, 
que  houverem  de  se  intentar  sobre  a  sua 
vcracidade. 

S.  3.°  Se  nos  atlestados  dos  pobres  nao 
vier  designada  a  qualidade  e  o  tempo  dos 
sens  banhos,  ou  se  o  medico  do  estabeleci- 
menlo  nao  os  indicar  d'outro  modo,  terao 
senbas  para  banhos  de  meia  hora  e  de  tempe- 
ratura natural ;  e,  cm  todo  o  case,  nas  banhei- 
ras que  Ihes  forem  destinadas  pelo  Director. 
Art.  0.°  0  pagamento  das  taxas  dos  ba- 
nhos teni  logar  por  meio  de  senbas  de  cartao 
ou  metal,  compradas  em  casa  do  Fiel,  c  entre- 
gucs  ao  Banheiro  ii  entrada  do  banho.  Os 
Banhistas,  que,  pela  sua  demora  no  quarto  do 
banho,  houverem  de  pagar  mais  do  (pie  uma 
taxa,  conformeodisposto  noart.  4.°,  entrega- 
rao  as  rcspeclivas  senbas  a  sahida  do  banho. 
Art.  10."  Nas  senbas  dos  banhos  havera 
a  designacao  dos  banhos  de  meia  hora  ou  de 
trcz  quartos  d'hora,  de  tcmperatura  natural 
ou  ariiticial,  e  da  respectiva  taxa  paga  ou 
gratuita. 

Art.  11."  As  senbas  dos  banhos  serao 
recebidas  pelo  Banheiro  cm  uma  caixa  com  trez 
chaves,  uma  do  mesmo  Banheiro,  outra  do 
Fiel,  e  oulra  do  Director.  Esta  caixa  sera  aber- 
ta  de  oito  em  oito  dias  por  estcs  empregados; 
as  senhas  conladas  com  a  sua  importancia; 
e  tudo  se  lancara  cm  um  termo  em  livro  apro- 
priado,  lavrado  pelo  Fiel,  e  assignado  por 
todos  trez. 

Art.  12."  As  senhas  serao  enlregues  ao 
Fiel  pelo  Director,  que  o  fara  responsavel  pela 
importancia  respectiva. 

Art.  13."     Uma  lista  de  todos  os  Banhistas, 
pela   ordem   da   sua   inscripcao   no   livro  do 
registo,    indicara  a  ordem  ou  vez  do  banho 
aos  Banhistas,  que  se  acharem  ao  mesmo  lem-  j 
po  no  estabelecimento,   na  occasiao  em  que   | 
se  forem  desoccupando  os  quartos  de  banho.   j 

§.  1."     0  Director,  cm  casos  de  concorren- 
cia  cxtraordinaria,  ou  quando  o  julgar  con-  ; 
veniente,  fara  substituir  estas  listas  por  ta- 
bellas,  em  que  se  marque  aos  Banhistas  a  sua 
hora  de  banho,  servindo-lhe  tarabem  de  base  , 
a  mesma  inscripcao  no  livro  do  registo. 

§.  2.°     E  pcrmittido  aos  Banhistas  a  tro- 
ca  das  boras  cnlre  si. 


63 


Art.  14.°  Achando-se  impossibilidade  de 
bcm  se  liscalisar  o  tempo  de  cada  banho 
a  dilTerenles  Banliislas,  sep:undo  o  disposto 
no  art.  antccedente,  o  Director  ordenara  o 
serviro  de  banlios  as  turmas  de  Banbistas, 
com  boras  detcrminadas  da  entrada  e  sabida 
dos  quartcs  de  banlio;  abriudo-se  d'este  mo- 
do,  ao  mesmo  tempo,  certo  numero  de  quartos 
de  banhos  da  mesma  iiaturcza.  Nesle  caso  as 
senbas  podcrao  indicar  a  respectiva  lurma 
ou  bora  do  banbo. 

Art.  1!).°  Nas  listas  ou  tabellas  de  que 
tractam  os  arlt.  i;i.°  e  14.°,  o  Banbeiro  ira 
pondo  signaes  de  convenrao,  que  indiquem  os 
banbos,  (|ue  for  toniando  cada  Banbista  e  a 
sua  iraporlancia. 
Continua. 


RELACAO 

Dos  individuos  nomcados  por  despachos  do  Conse- 
Iho  superior  d'instruc(ao  pitblica,  desde  o  dia 
1o  ale  ao  fim  d'Abtil  ttUimo  nomeados  tempo- 
rariamente. 

INSTRUC(40    PBIUASIA. 

Antonio  Joaquim  da  Silveira,  para  a  cadeira 
da  Villa  da  Lagoa,  districto  de  Faro. 

Antonio  Scares,  para  a  de  S.  Joao  da  Pesquci- 
ra,  districto  da  Guarda. 

Antonio  de  Sousa  Soares,  para  a  substituicao  da 
dc  dc  S.  Thiago  da  Capella,  districto  do  Porto. 

Joao  Ignacio  dos  Sanctos  Madail,  para  a  ca- 
deira d'Ovar,  districto  d'Aveiro. 

Joaquim  Antonio  Pinto,  para  a  de  Moura, 
districto  d'Evora. 

Jose  Ignacio  Marques  da  Silva,  para  a  de 
Pardilho,  districto  d'Aveiro. 

Manoel  Fernandcs  de  Carvalho,  para  a  de  S. 
Miguel  d'Acha,  districto  de  Castello  Branco. 

Maria  Jose  Olympia,  para  a  cadeira  de  meni- 
nas  de  BemCca,  districto  de  Lisboa. 

Caspar  Rei  Machado,  para  a  cadeira  de  Sei- 
xas,  districto  de  Viana  do  Castello. 

Joaquim  Cardoso,  para  a  substituicao  da  do 
Poco  do  Canto,  districto  da  Guarda. 

Joaquim  Morcira  c  Silva,  para  a  cadeira  da 
Villa  do  Torrao,  districto  de  Beja. 

Jose  Guedes,  para  a  dc  Mezaofrio,  districto 
dc  Villa  Real. 

Jose  Martins  da  Silva,  para  o  do  extincto 
Couto  de  Fragoso,  districto  de  Braga. 

Paulo  Maria  Lcitao,  para  a  de  Pavia,  distri- 
tricto  d'Evora. 


Dietos  desde  o  dia  1°  ate  1'6  do  corrente  Maio. 


INSTRCCfAO   PRIUABIA. 

Antonio  Jose  Marques  da  Trindadc,  para  pro- 
fessor temporario  da  cadeira  de  Barcos,  districto 
dc  Viscu. 


Joaquim  Gonsalves,   para   Aldea  de  Saboia, 
districto  dc  Bcjo. 

Joaquim  Pedro  Marreiros  de  Sousa  Benles, 
para  Aniardlcja,  districto  de  Beja. 

Jose  Auguslo  da  Ponte,  para  Ponta  Delgada. 

Jose  Medciros  Rcgo,  para  Ribeira  Sccca,  distri- 
cto de  Ponta  Delgada. 

Luiz  Pedro  da  Silva  Oliveira,  para  Tancos 
com  assento  em  Palo  de  Pelle,  districto  de  San- 
tartm. 

Manoel  Emygdio  Teixeira,  para  Agua  doPau, 
dislriclo  de  Ponta  Delgada. 

Manoel  Vicente  do  Sancto  Cordeiro,  para 
A'illa  Boim,  districto  de  Portalegre. 

Maria  Gertrudes  Soares,  para  mcstra  de  me- 
ninas  da  freguezia  de  Sancta  Izabel  de  Lisboa. 

Jose  Joaquim  Mendes ,  para  Villa-Alcosa, 
dislriclo  d'Evora. 

Jose  Maria  Varella,  para  Oriolas,  districto 
d'Evora. 

Manoel  Jose  Ogando,  para  Via-Longa,  distri- 
cto de  Lisboa. 

Miguel  Xavier  Mercier  Almeida,  para  Castello- 
Viegas,  districto  de  Coimbra. 

INSTRnC(iO  SECUNDARIA. 

Joaquim  Antonio  da  Fonseca,  para  professor 
vitalicio  da  cadeira  de  latim  da  Villa  d'Estrcmoz, 
por  decreto  de  25  d'abril,  proximo  findo. 

Jose  Maria  da  Silva,  para  professor  das  ca- 
deiras  3."  c  4.',  em  curso  biennal  do  lyceu  na- 
cional  de  Santarem,  por  decreto  de  9  do  corrente 
mez. 

INSTRDCfAO  SUPERIOR. 

0  Dr.  Jose  Maria  d'Abrcu,  para  lentc  cathe- 
dratico  da  faculdade  de  Philosophia,  por  decreto 
de  2  do  corrente  mez. 


ERRATAS 

DAS  MEMORIAS  DA  YACCAKICA  E  BLSSACO. 

N."^  2,  3  e  4  DO  INSTITL'TO. 


Pag.    CoL  Link.  Erros 

15       1."     19       lilha 

"        2."  7  e  8     Jicseiitondiis 
Maurtla 
BraselintE 


Enteltd . 

lilbo 

Resemondus 
Maurele 
Baselise 


16  »  41  u  anno  passado  em  1853 

33  "  62  livro  4."  torn.  S.»,  liv.  4." 

35  1."  55  liv.  2.°  liv.  4.° 

46  2.^  26  de  Nossa  Senhora  da  Ascen^ilo 

d'Assumpqao 

46  Nas  notas  3,  4,  5  e  6  da  1."  col.,  e  pag.  47  notas 
2  e  3  da  3."  col.  estSo  referidas  a  pag,  do  ma- 
nuscripto.  Para  nao  confundir  mais,  reservam-se 
estas  emendas  para  os  exem]ilares  d'esta  Memo- 
ria  que  se  tiram  em  separado. 

47  1.*     13       se  fez  se  concluiu 


35      %."    41      pelo3  aaaos  13 


pelos  annus  130 


64 


OBSEUVACOES  METEOROLOGICAS  ,  FEITAS  NO 

GABINETE   DE  PHYSICA 

DA 

UNIVEIISIDADE    DE  COIMBRA. 

Anno  lie 

1851 

H  E  5 

PreasSo 

atmosjiherica  au  meio   dia 

E.<itado  hygromelrico  da 
atmosphera  ao  meio  dia 

3 

c 

o 
c  '3 
=   3 

Mez  (le 

No\t>m- 

br,i 

Allnra  barome- 
trica  0  0."  da  fs- 
cata   cenligrada 

TenFao  do    va- 
por contido  no 
ar. 

Pressiio  do  ar 

SfCCO 

(irull    d'linnii- 
dade  doar,  r<-'- 
presenUndo  por 
1   o  ealadi)   de 
salurai^iio 

QuimiJadc   Je   va- 
por coDtiJo  em  Mm 
metro  cubico   d'ar. 

Dias 

Gfiius 

IMillimetros 

Millinietros 

Millimelros 

Grammas. 

1 

15,3 

759,623 

11,407 

748,216 

0,87 

11,466 

s. 

2 

16 

756,331 

10,159 

746,179 

0,75 

10,187 

s. 

3 

16,5 

758,428 

10,339 

748,089 

0,74 

10,356 

o. 

4 

15,5 

758,352 

9,173 

749,174 

0,70 

9,225 

SE. 

5 

15 

757,377 

8,254 

749,123 

0,65 

8,311 

E. 

6 

15,5 

756,920 

7,998 

748,922 

0,61 

8,039 

E. 

7 

14 

756,823 

6,668 

750,155 

0,56 

7.047 

E. 

8 

14,5 

756,745 

6,395 

750,350 

0,52 

6,451 

E. 

9 

14 

754,375 

6,787 

747,588 

0,57 

6,847 

S. 

10 

13,5 

758,123 

5,880 

752,243 

0,51 

5,952 

E. 

11 

12,5 

760,488 

5,294 

755,194 

0,49 

5,377 

E. 

12 

12,5 

760,125 

6,050 

754,075 

0,36 

6,145 

S. 

13 

12,5 

758,382 

7,779 

750,603 

0,72 

7,901 

S. 

14 

12 

755,456 

8,679 

746,777 

0,83 

8,831 

s. 

15 

12 

754,875 

8,888 

745,907 

0,85 

9,043 

s. 

16 

12,5 

740,412 

9,183 

731,229 

0,85 

9,327 

o. 

17 

12,5 

746,753 

9,832 

736,921 

0,91 

9,985 

o. 

18 

12 

750,571 

9,097 

741,474 

0,87 

9,240 

N. 

19 

11,5 

743,436 

9,007 

739,429 

0,89 

9,181 

s. 

SO 

10,5 

749,046 

7,295 

741,751 

0,77 

7,456 

N. 

21 

8,5 

749,808 

5,887 

743,921 

0,71 

6,065 

E. 

22 

8,5 

750,316 

6,052 

744,264 

0,73 

6,235 

S. 

23 

10,5 

736,600 

8,432 

728,108 

0,89 

8,618 

o. 

21 

9,5 

748,257 

7,978 

740,279 

0,90 

8,189 

s. 

25 

9 

744,728 

7,802 

730,926 

0,91 

8,023 

s. 

26 

9 

750,062 

7,545 

742,517 

0,U8 

7,758 

o. 

27 

8 

748,792 

7,376 

741,416 

0,92 

7,612 

N. 

28 

9,5 

759,324 

7,535 

751,789 

0,85 

7,735 

N. 

29 

8° 

763,270 

6,975 

756.295 

0,87 

7,198 

S. 

30 

9° 

761,572 

7,802 

753,770 

0,91 

8,023 

S. 

media  > 
do  mez  \ 

12" 

753,679 

7,918 

0,76 

B 

Te 

uperatura 

PressSo  almospherica 

Gran  d^humidade  do  ar 

o 

n 
E 

Ma  lima 

absol.    .     16°, 5 
.  .               8° 

mm 
Maxima  absol.    .   ,    .     763,270 

Minima      -   .                    736  600 

Maxima  absol 0  92 

Minima 0  49 

Maxima 

variaruo       8°,  5 

Maxima  excuri;ao  .  .       26,670 

Maxima  raria^So  ....     0,43 

2« 

Coiin 

bra  1."  de 

Dezembro  de  18. 

•4. 
Antonio  Sanche$  GoulSo,  Direct 

or  do  Gabinete  de  Physica. 

®  Jnj0ititttt0) 


JORNAL    SCIENTIIICO     E    LITTERARIO. 


mmm  superior  de  mimM  PisufA. 

RELATORIO  AN\IAL. 

1849—1850. 

Continuado  dc  pag.  44. 

PARTE  3." 

Fnstrucrao  secundaria. 

E.sita  instruccao,  de  que  nao  podeni  dispen- 
sar-se  os  horaens,  que  oocupam  os  priraeiros 
logares  da  sociedade,  ou  que  abraram  profis- 
soes  livres  d'uma  ordem  mais  elevada,  com- 
poe-sc  dos  principios  da  razao ,  e  do  gosto, 
do  conheciraento  das  linguas  sabias,  da  histo- 
rra,  da  litteratura  nacional,  e  das  sciencias 
exactas  c  naturacs,  applicadas  asartes;  o  seu 
cstudo  varia  neccssariamente,  segundo  o  pro- 
gresso  da  civilisacao. 

Na  sua  actual  organisarao,  comprcliondc  os 
lycous  e  cscholas  annexas;  as  cscholas  parti- 
culares,  e  as  eschoias  d'instrucrao  e.special. 

Nao  contando  o  lyceu  de  Viana  do  Castcl- 
lo,  cuja  organisacao  o  conselho  entende  ser, 
por  ora,  desnecessaria,  fiinccionaram  no  anno 
Icclivo  iindo,  conipletamentc,  ou  em  parte, 
lodos  OS  lyceus  do  continente,  collocados  em 
edilicios  publinos,  a  cxcepcao  dos  d'Aveiro, 
)!eja,  Castello-Branco,  Guarda  c  Villa-Real. 

Estao  vagas  nos  mesnios  lyceus  as  cadciras  : 
a.'  c  6.'  no  d'Aveiro;  1.'  e  2.'  no  de  Beja ;  a 
de  grego  no  de  Braga  ;  3.'  e  4."  do  de  Bra- 
ganca  ;  3.' no  de  Casteilo-Bianco:  3."nosde 
Santarem  e  Villa  Real.  Acham-se  a  concurso 
a  subslituirao  de  francez  e  inglez,  no  de 
Coirabra  ;  a  1 .'  c  francez  c  inglez  no  d'Evora  ; 
3."  e  4."  nos  da  Guarda,  Faro,  Leiria,  e 
Portalegre;  e  as  substituicoes  das  4.",  e  das 
5."  e  6.",  no  de  Lisboa.  Estao  reservadas  as 
5."  e  6."  de  Beja,  e  a  6.*  da  Guarda. 

0  numero  das  eschoias  annexas  aos  lyceus 
e  actualraente  no  continente  81,  das  quaes 
74  sao  destinadas  ao  ensino  da  lingua  latina ; 
8."  ao  de  theologia  moral  e  dogmatica;  e  1.' 
ao  de  philosophia  racional  e  moral,  arithme- 
lica  e  geometria. 

0  numero  das  eschoias  anne.xas  nas  ilhas 
e  de  11.  No  anno  leclivo  de  1848  a  1849 
forara  frequentadas  por  2:886  alumnos. 

Vol.  IV.  Jw:^no  15 


Os  lyceus  c  eschoias  annexas  do  continente 
foram  frequentadas  por  2:780  alumnos  se- 
gundo consla  dos  relatorios  c  mappas  entra- 
(los  na  secretaria  d'este  conselho  superior 
(Mappa  n  °  7  e  8). 

A  ppzar  das  cnnlinuadas  diligeneias  do 
conselho,  c  das  suas  representacoes  ao  govcr- 
no  de  V.  M.  sobre  este  objecto,  nao  tem 
sido  possivel  conseguir-se,  que  todos  os' pro- 
fessores  particulares  d'instruccao  secundaria, 
se  habilitem  na  conformidade  das  leis;  nem 
mesmo  que  os  poucos  habilitados  d^cm  con- 
tas  do  numero  e  approveitamenlo  dos  seus 
discipulos.  Os  unices  delegados  do  conselho, 
que  teni  empregado  louvaveis  esforcos  ncste 
sentido,  sao  os  commissarios  dos  estudos 
d'Evora,  e  Faro,  e  o  governador  civil  do 
districto  do  Porto. 

Em  quanto  se  nao  obtiverem  os  mappas 
dos  alumnos,  que  frequentaram  as  eschoias 
particulares,  cujo  numero  e  sem  duvida  mui- 
to  superior  ao  dos  que  frequentam  as  piibli- 
cas,  faltam  os  dados  necessarios,  para  nelles 
asscntar  a  eslatistica  actual,  e  comparativa 
d'esta  parte  da  instruccio. 

Todas  as  cadeiras  dos  lyceus  e  eschola> 
annexas  no  continente  e  ilhas,  sao  pagas  pelo 
the.'iouro;  existe  apenas  em  exercicio  uma 
cadeira  de  latim  em  Fronteira  paga  por  Ifga- 
do,  e  uma  sera  exercicio  em  Moncao. 

Quanto  ao  merito  dos  prol'essores  empre- 
gados  nesta  parte  do  cnsino,  pode  o  conse- 
lho, pelas  informacoes  que  tem  chegado  a(v 
seu  conhecinienlo,  annunciar  a  V.  M.,  que 
sao  todos,  salvas  pequeuas  excepcoes,  dotados 
de  quaiidades  raoraes  e  litterarias,  que  se 
exigem  para  o  desenipenho  de  tao  importan- 
tes  cargos  procurando  satisfazer  a  honrosa 
missao,  que  na  sociedade  Ihe  csta  conGada. 

Dos  relatorios,  que  ao  conselho  tem  chega- 
gado,  deprehende-se  porem,  que  o  approvei- 
tamenlo dos  alumnos  nao  corresponde  ao 
zelo  dos  professores,  e  que  diminue  a  frequen- 
cia  dos  lyceus. 

No  relatorio  geral  d'este  conselho,  dirigido 
a  Y.  M.  no  anno  preterito,  teve  o  mesmo 
conselho  a  honra  de  expor  a  V.  M.,  as  prin- 
cipaes  causas,  a  que  julga  devido  este  estado 
pouco  .satisfactorio ;  e  d'apontar,  ao  mesmo 
tempo,  alguns  remedies  que  muito  concorre- 
rao  para  mclhoral-o.  E  foi  por  isso  que  o 
-1853.  NtM.  6. 


()« 


racsmo  fonsi'Ih;)  \i.u.  am  a  mtrior  .sartJisfw- 
rao,  altendidus,  mi  portaiia  circular  3o  nii- 
iii'>lerio  dos  ncgocios  crclcsiasticos  edcjiistica 
de  io  dv  septcmbro  uUimo,  as  suas  rcllexOcs 
sobre  as  habilitacoes  lilli'rarias,  que  devem 
exigir-se  aos  sujcitos  que  so  dcsliuam  as  I'unc- 
coes  sacerdotaes;  dcterminando-se  na  cilada 
porlaria  que  cm  nonhunia  das  dioceses  do 
coiitincnte  c  ilbas  scja  admittido  a  ordcns 
sacras  ordinaiido  algum,  scm  nioslrar  liabili- 
tafao  nos  esludos  de  lalini,  rhcloiica,  e  pbi- 
losophia  racional  c  moral,  por  exame  c  appro- 
va);ao  nos  lyceus. 

K  instruccao  secundaria  nao  precisa  dc 
niais  estudos  classicos,  do  que  actualnionte 
tern  ;  e  nccessario  porem  que  cstes  se  loruem 
mcnos  superliciaes.  Tenciona  o  conselho  in- 
troduzir  no  regulaniento  dos  lyceus,  ((ue  bre- 
vemcnle  espcra  levar  a  approvacao  de  V,  M., 
practicas  saudaveis  que  reguleni  a  ordcm 
nesles  estudos;  os  quaes  lioje  se  fazem,  pela 
raaior  parte  com  ^jrecipitacao.  Todavia  c  de 
conveniencia  crcar-se,  no  lyceu  nacional  de 
Coinibra,  a  cadeira  d'arithmetica  c  geometria, 
e  priraeiras  Nocoes  d'Algebra  ate  as  cqiiarfies 
do  2."  grau,  nao  so  para  complemenlo  do 
curso  d'aquelle  lyceu,  mas  tambcm  para  sercra 
obrigados  a  sua  frequencia,  e  exames,  todos 
OS  aJuninos  que  sc  destinarem  a  froquentar 

05  estudos  superiorcs  da  universidade. 

As  razoes  que  se  allegam  na  consulta,  que 
este  consellio  faz  subir  ii  presenca  de  V.  M.. 
com  0  projecto  de  lei  para  a  creacao  d'um 
curso  de  scienc'as  economicas  c  adniinistra- 
livas,  parecem  attendiveis,  e  com  a  creacao 
da  referida  cadeira,  se  satisfara  as  conve- 
niencias  do  ensino,  que  tem  sido  por  tantas 
vezes  levadas  ao  conhecimeulo  do  governo 
de  V.  M.,  pelo  prelado  da  universidade,  (|ue 
c  tarabem  o  rcitor  d'aquelle  estabcleciracnto. 

0  conselho  conhece  lanibem  a  necessidade 
dc  ir  dilatando  a  csphcra  do  ensino  secun- 
dario,  e  ensaiando,  onde  mais  reclamados 
foreni,  os  estudos  economicos  e  industriaes. 
iSeste  sentido,  tenciona  f;izer  algumas  pro- 
postas  ao  governo  de  V.  M.,  a  (im  de  ir 
■cncetando  esle  caminho,  seni  grande  despeza 
do  Ihesouro,  em  benelicio  das  classes  opera- 
rias,  conforme  a  idfia  suscitada  no  rclatorio 
do  anno  passado. 

Como  0  governo  dc  V.  M.,  p6dc,  pelo  art. 

06  do  decreto  de  20  de  septembro  do  1844, 
cstabelccer  cadeiras  de  latim  nas  120  povoa- 
cOes  raaiores,  distantes  das  capilaes  dos  dislri- 
ctos;  0  conselho  para  salisfazer  a  um  grande 
numero  de  rcquerimentos  de  diversas  cama- 
ras  niunicipaes  pedindo  aquellas  cadeiras, 
forniou  sobre  as  informacoes  que  pode  obter 
dos  sous  delcgados,  o  piano  da  sua  dislri- 
huicao,  que  ja  subnietteu  .-i  consideracao  dc 
V.  M.  Neste  piano  porem  nao  comprchendeu 
todas  as  120,  de  que  tracta  o  citado  art.  do 
decrelo  de  20  dc  septpmbro  de  1844,  porque 


a  disptisicuo  d'elle  t  permissiva,  e  nao  obri- 
galoria  ;  e  a  concenlrafSo  dos  estudos  do  ensi- 
no secundario  nos  lyceus,  e  mais  provcitosa, 
do  (juc  a  miilliplicavao  de  cadeiras  fora  do"; 
iiiesnuis  lyceus;  principalnii'nte  nao  havcndo 
esperanca  de  serem  freiiu(tntadas,  c  exigindo 
0  estado  do  thesouro  a  nvaior  cconomia. 

Ainda  que  o  conselho  ja  declarou  a  V.  M., 
(Hie  julgava  por  conveniente  sobre-estar  na 
organisacao  do  lyceu  de  Yiana  do  Castello, 
com  lodas  as  cadeiras,  (pie  cxigc  no  seu 
rclatorio  o  govcrnador  civil  d'aquelle  distri- 
cto ;  com  tudo  nao  duvida  instar  para  que, 
resiiiuindo  a  fazenda  piibliea  os  bons  que 
portenceram  aos  exlinctos  Nerys,  bens  que  se 
acham  onerados  cum  um  legado,  que  os  obri- 
gava  a  sustentar  aulas  de  latim,  e  outras 
disciplinas,  possa  o  mesmo  conselho  fazcr 
prover  as  cadeiras  dc  grammatica  latina  e 
de  logica  da  villa  de  Moncao,  dando  d'esta 
forma  a  cste  districto,  mais  instrucciXo  secun- 
daria, do  que  actualmente  tem. 

Tendo  a  camara  municipal  do  districto 
d'Angra  do  Ileroismo  supplicado  a  V.  M.  a 
graca'da  creacao  d'uraa  cadeira  de  nautica, 
foi  0  conselho  superior  encarregado  de  for- 
mar  um  projecto  de  lei  auctorisando  aquella 
creacao,  a  fim  de  ser  apresentado  as  came- 
ras legislatives;  c  tendo  o  niesmo  conselho 
ouvido  sobre  este  objecto  a  seccao  de  malhe- 
matica  da  academia  polytechnica  do  Porto, 
organisou  sobre  o  programma  cnviado  pela 
mesma  seccao,  o  referido  projecto  de  lei,  que 
acompanliou  a  sua  consulta  de  19  de  feve- 
reiro  do  corrcnte  anno. 

Finalmente  o  conselho  tem  feito  quanto. 
cahe  nas  suas  forcas,  para  que  a  instrucfao 
secundaria  chegue  ao  estado  de  dilTusao  e 
perfeicao,  a  que  deseja  vel-a  elevada. 

A  instruccao  secundaria  custou  ao  thesoura 
62:221^10. 

PARTE  4.' 

Instruccao  especial. 

A  academia  de  bellas  artes  de  Lisboa  I'oi 
frequentada  em  todas  as  suas  aulas  no  anno 
lectivo  de  1848 — 1849  por21S  alumnos,  c  no 
1849—1850  somente  por  250  (Mappa  n."  9), 
0  governo  de  V.  M.,  cm  consequencia  d'uma 
consulta  d'estc  conselho  superior,  ja  .se  acha 
auctorisado  para  mandar  comprar  em  Roma, 
uraa  colleccao  dos  melhores  modclos  em  gesso, 
das  estatuas  e  bustos  antigos,  a  qual  bavia 
sido  pela  academia  justamente  requisitada. 

A  mesuia  academia  pedc  no  seu  rclatorio 
de  24  de  septembro  do  anno  preterito,  ela- 
borado  sobre  os  artigos  2,  3  c  4,  §.  5  da 
portaria  de  10  d'agoslo  do  mesmo  anno,  que, 
na  conformidade  da  portaria  de  21  d'agosto 
de  1847,  Ihe  scja  restituida  a  parte  do  esla- 
belecimento,  que  se  acha  ainda  occupada  por 


67 


dous  corpos  railitarcs,  a  Oni  de.  que  possa 
cumprir  o  que  deve,  na  parte  que  respeita  a 
scssao  e  a  cxposiflo  piiblica,  que,  ha  dois 
triennios,  tern  deixado  de  celohrar,  e  para  a 
qual  tern  preparado,  e  continua  a  elahoiar 
varias  producfOes.  Expoe  a  falla  d'um  rc- 
gulamenlo  especial  para  os  artistas  a;;{;rcga- 
dos,  conio  meio  de  atalhar  coiitliclos,  c  pro- 
curar  o  soccgo,  e  regularidado  que  dove  rci- 
nar  cm  cstabelecimoiito  d'esta  naturcza;  sen- 
do  necessario  delinir  as  abrigacoes  d'aquclles 
cmpregados. 

Propoe  varias  providoncias  que  vinliam, 
pela  maior  jiarfe  iiicluidas  no  projeclo  de 
reforma  dos  estatutos,  sobre  tuja  utilidadc  o 
neccssidade  V.  M.  foi  scrvida  mandar,  por 
portaria  do  ministerio  doreino,  de  13  d'abril 
de  1849,  que  o  conselbo  superior  consultasse 
0  que  se  Ihe  on'erecesse;  c  o  mesnio  conselbo 
em  consulta  do  1.°  de  marco,  que  levou  a 
augusta  presenca  de  V.  M.,  eniitliu  a  sua 
opiniao,  que  agora  confirma. 

0  orjaraento  d'esta  academia  no  anno  eco- 
nomico  de  18i9  a  1850  importou  era  reis 
12:163^530. 

A  academia  Portuense  de  bellas  artes  em 
1848  a  1849  tevc  109  aluninos,  e  no  anno 
lectivo  (indo  90  (Mappa  n."  9).  A  mesma  aca- 
demia em  officio  de  13  de  novembro  de  1849, 
baseado  sobre  os  arlt-  2,  3  e  4,  §.  5  da  portaria 
de  10  d'agosto  do  referido  anno,  pondera: 
1.°  Que  nao  tendo  a  caniara  municipal  do 
Porto  satisfcilo  a,o  conlratlo,  que  lizcra  com 
o  governo  de  V.  M.,  de  construir  urn  ediii- 
cio  em  parte  da  cSrca  do  extincto  convento 
de  Sanclo  Antonio  da  mesma  eidade,  com  a 
capacidade  sufficiente  para  todas  as  aulas  da 
referida  academia,  e  mostrando  depois  a  ex- 
perieneia  os  grandes  inconvenientes,  que 
occasionaria  aquelle  local,  por  sua  excentrici- 
dade  e  humidade,  Ihe  seja  concedida  a  cerca 
do  extincto  convento  dos  Carmelitas  descal- 
50S,  cujo  local  saUsfaria  a  todas  as  condifoes 
essenciaes  a  um  estabelecimenlo  d'esta  na- 
tureza:  2.°  que  quando  nao  seja  possivel 
levar  a  effeito  um  tal  projecto,  e  d'absoluta 
neccssidade  a  construccao  das  sallas  precisas 
para  as  aulas  noclurnas,  ordenadas  pela  lei 
da  academia;  visto  ser  um  dos  objectos  prin- 
cipaes  da  mesma  lei,  appJicar  0  estudo  das 
bellas  artes  a  practica  das  artes  fabris ;  assini 
como  a  construccao  d'uma  aula  do  mi:  3." 
que  e  precise  prover  a  academia  de  estampas 
historiadas,  de  bons  gAssos,  de  livros  classicos 
de  bellas  artes,  e  de  quanto  com  ellas  tem 
relacao  immediata:  4."  que  para  occorrer 
a  estas  precisoes  bastaria  a  quanlia  de 
l:000p00:  5.°  finalmente  que  sendo  as  au- 
las a  grandes  distancias  umas  de  manha, 
outras  de  larde,  e  algumas  de  noito,  e  neces- 
sario mais  um  guarda. 

0  conselbo  superior  confia  era  que  0  go- 
Tcrno   de   V.  M.,    nao   perdera   de   vista  0 


auginento  c  pro>pcridade  do  estabeiecimento 
de  bellas  artes  da  segunda  eidade  do  reino, 
mas  nao  se  confornia  com  a  indicafao  da 
ccrca  dos  extinctos  Carmelitas  descalcos  para 
a  constriKcfio  do  cdilicio  da  referida  acade- 
mia, no  caso  de  a  camara  municipal  haver 
de  reulisar  0  seu  contratto;  porque  V.  M. 
ja  se  dignou  destiuar  aquclla  cerca,  para  o 
horto  bolanico  da  acadcuiia  polytrclinica ,  que 
d'clle  tanto  carece,  e  lao  perto  Ihe  lira. 

Jit  foram  presenles  a  esto  cousclho  os  rela- 
torios  da  bii)liothcca  nacional  de  Lisboa,  e 
das  bibliothecas  de  Braga,  Evora  e  Porto. 

A  hihiiolhi'ca  nacional  de  Lisboa  vai  au- 
gmcnlaudo  o  nuniero  dos  seus  volumes,  nao 
so  com  OS  subsidies  do  governo,  mas  tambeni 
com  ofl'crtas  particulares.  Tem  actualmenlc 
95:149  volumes.  Foram  adquirida.s  no  anno 
de  1849 — obras  345,  volumes  483.  Os  catalo- 
gos  sao  manuscriptos;  so  0  das  Biblias  e  0 
das  obras  paleolypicas  das  collecfocs  Bodo- 
niana,  Elzeveriana,  c  d'outras  obras  magi- 
straes,  foram  inipressos  no  rclatorio  da  refe- 
rida bibliotbcca  de  1844. 

Alcm  dos  volumes  classificados ,  possue  tam- 
bem  a  mesma  bibliolbeca  9G0  volumes d'obras 
paleotypicas,  e490  descicnciasarcheologicas. 

Em  todos  OS  raezes  do  anno  de  1849  bou- 
ve  grande  concorrencia  de  leitores  em  todos 
OS  ramos  d'inslruccao. 

Na  bibliotbeca  de  Braga  continuara  as 
obras,  que  se  lornam  indispensavcis  para  a 
collocacao  dos  livros. 

A  bibliotiieca  d'Evora  possue  26:000  volu- 
mes, dos  quaes  ainda  tem  por  classificar  os 
que  pertenccram  aos  extinclos  conventos,  e 
que  ainda  se  acham  amontoados  cm  salas  da 
bibliothcca,  por  nao  haver  espa^o  onde  se 
collo(iuem. 

Na  bibliotbeca  Portuense  progridoni  roui 
grande  actividade  os  trabalhos  por  part- 
da  caniara  municipal,  conio  admiiiistradnra 
d'aquelle  estabeiecimento,  de  niaueira  qiir 
em  pouco  tempo  serao  collocadas  as  obras, 
(|iie  inda  estao  por  separar,  nos  corrcdores 
superiores  do  edilicio,  corredores  em  que  a 
cstreitcza  e  falla  de  luz  estorvam  um  dcsin- 
volvimento  mais  rapido. 

A  mesma  camara,  alem  da  applicacao  d," 
fundos  para  os  refcridos  trabalhos  de  augmen- 
to  local,  tem  apjilicado  lambem  algumas 
quantias  para  compra  de  livros  do  litleratura 
moderna  franccza,  de  que  inteiramenle  havia 
carencia  na  bibliotbeca,  e  que  fazia  com  que 
a  frequencia  dos  leilores  que  os  procuravam 
restrictamente,  fosse  por  isso  como  que  afu- 
gentada. 

Alum  d'isto,  tem  a  camara  formado  0  pro- 
jecto d'cstabelecer  uma  colleccao  d'obras  c'e- 
mentares  d'arles,  officios  c  industria,  para 
que  OS  artislas  c  operarios  possam  approve!- 
tar-se  dos  conheciraculos  difTur.didos  naqucl- 
las  obras. 


68 


No  ultimo  (iimestrc  tic  1849,  e  nos  Iroz 
prinieiros  do  ISoO,  foi  a  bibliotlieca  frcqiien- 
tada  por  2:S74  leilores,  e  durante  o  mesmo 
periodo  visitada  por  oi2  pessoas  d'amhos  os 
sexes. 

Do  rclatorio  do  administrador  gcral  da 
irapreusa  uacional  de  Lishoa,  ve-se  que  aqucl- 
le  importante  estabelecimento,  ja  muito  acrc- 
ditado,  continiia  cm  progressives  mclhora- 
mentos  econoraicos  e  raateriaes.  Esta-se  cons- 
truiiido  pelos  operarios  da  casa  uiu  [irelo 
lithograpiiito  de  grande  dimensao,  segunilo 
0  systema  modernissimo,  a  imitaeao  d'um 
que  veiu  de  Franca,  e  que  se  espera  licara 
ainda  mais  bem  acabado  do  que  o  inodolo. 
Foi  cscriplurado  por  diminuto  preco  urn  lial)il 
artista  francez  para  dirigir  os  trabalhos  da 
fundicao  dos  typos  nos  quaes  tern  introduzido 
cousideraveis  mclhoramentos;  c  que  mais  se 
obrigou  a  ensinar  trcz  fundidores  portnguczcs, 
ainda  mocos  e  que  apresentam  as  melhores 
(lisposiciies  para  aquella  arte. 

0  zelo  do  administrador,  a  traves  de  grandes 
difficuldades  financeiras,  e  digno  de  elogios, 
e  raerece  ser  apontado  para  servir  d'exempio 
e  incentivo  a  lodos  os  directores  dos  estabe- 
lecimentos  piiblicos. 

0  conselho  superior  nada  pode  dizer,  este 
anno,  a  cerca  do  conservatorio  real  de  Lisboa, 
e  das  escholas  nelle  creadas,  nem  mesnio  da 
inspeccao  dos  theatres,  porque  nao  Ihe  foram 
remettides  os  cempetentes  relatorios. 

A  instruccao  especial  custou  ao  thesouro 
21:9ia^450'reis. 

Continua. 


OS  SINOS. 

A  origera  dos  sines,  os  sens  diverses  uses, 
censtituem  uma  Listeria  que  varias  vezes 
despertou  a  allencae  dos  erudites. 

Desde  1495  ate  ao  secule  actual  escreve- 
ram-se  quasi  quarenta  tractades  sebre  este 
objecto:  o  mais  conhecide  c  e  de  Magio,  De 
Tintinnabulis.  0  auctor,  d'origem  italiana, 
era  juiz  civil  ae  service  dos  Venczianes  em 
Candia,  quando  esta  cidade  foi  sitiada  pelos 
turces  era  1571.  Tendo  side  feito  prisio- 
neiro  temou  come  passatempo,  escrever  este 
livro,  que  nos  conserveu  o  scu  nome.  Os 
estudes  a  que  teve  de  entregar-se,  nao  erani 
OS  mais  proprios  para  caplar  as  sympathias 
dos  habitantes  d'um  paiz,  em  que  os  sines 
sao  censiderados  come  e  symbolo  d'unia  re- 
ligiao  inipia,  e  por  isse  recebeu  em  recom- 
pensa  ser  decapilado  por  ordem  d'um  pacha. 

As  preduccoes  da  litteratura  brilannica  re- 
lativamenle  aes  sines  reduzem-se,  pela  mjiier 
parte,  a  arte  de  sineiro,  arte  que  os  in- 
glezes  sempre  eultivaram  com  predileccae. 
Era  tal  o  enthusiasme  das  classes,  ainda  das 
mais  elevadas,  a  este  rc-peito,  que  o  Dr.  Tres- 


ham,  no  tempo  da  rainha  Maria,  dizia  que  o 
unico  meio  que  havia  para  attraliir  os  estudan- 
tes  d'Oxferd  a  missa,  era  prometter-lhes  que 
trabailuiria  o  carrilhao  da  universidade,  o 
meihor  de  tedes  d'lnglalerra. 

Estamos  acestumades  desde  a  iufancia  a 
ouvir  0  sine  fallar  per  si  mesmo.  A  sua  voz 
retinc  por  entre  o  lumultuar  das  nossas  po- 
pulosas  cidades,  ou  paira  melodiosamente 
sebre  os  nossos  tranquillos  campos.  0  sine 
6  a  Jinguagem  do  tempo,  que  sem  isse  pas- 
saria  desaiicrceliido  por  sobre  nos,  silencieso 
come  as  nuvcns,  e  sem  que  cuidasseraos  no 
seu  perpeluo  I'ugir. 

E  0  sine,  que  alegremente  nos  annuncia  as 
festas,  OS  casamentos,  os  baptizades,  e  e  tam- 
bom  clle,  que  nes  notitica  a  passagem  d'unia 
alma  do  mundo  para  a  clernidadc.  Do  alto 
dos  campanarios  cliama  a  casa  de  Deus  os 
habitantes  dos  campes,  que  ainda  depois  da 
niorte  dermem  o  somno  cterno  nao  longe  do 
silie  aonde  vibra  a  sua  voz  bem  conhecida. 
0  som  do  sine  desperta  em  nos  mil  ideas 
associadas,  rail  recordacoes  do  passado.  0 
seu  use  entre  as  nacoes  civilisadas,  data  da 
mais  reniota  antiguidade.  11a  quasi  14  secules 
que  sao  cmpregados  pela  Egreja,  e  ja  eram 
conhecides  pelos  antigos,  antes  da  era  christa. 
Applicados  ao  service  do  christianismo,  acom- 
panharara  cora  o  sera  a  luz  que  e\clareceu 
OS  pagaos;  e  hoje  que  o  christianismo  tern 
penetrado  ate  as  mais  remotas  regioes  da 
terra,  pode  dizer-se  que  nao  ha  dia  nem 
minute  era  que  a  melodia  dos  sines  se  nao 
eleve  ate  os  ceus,  como  homenagem  que  a 
terra  tributa  ao  seu  Creader. 

Secules  antes  que  o  sine  annunciassc  do 
alto  do  vencrando  campanario  gothice,  que 
tambem  toraava  parte  nos  accontecimentos 
d'este  mundo,  usarani-se  pequenos  sinos  e 
campainhas.  lira  patriarcha  oriental  do  seculo 
XII  cita  um  escritor,  que  seriamente  attri- 
bue  a  Tubal-Cain,  fameso  ferreiro,  a  primeira 
transformacao  de  metal  sonoro  em  uma  espe- 
cie  de  sineta,  de  que  Nee  se  servia  para  cha- 
mar  ao  trabalho  es  ebreires  occupados  na 
construccae  da  area.  Os  bisteriaderes  de 
imaginacao  menos  viva,  contentam-sc  em  ce- 
mecar  per  aquelles  guisos  d'ouro,  (|ue,  diz  o 
E.xodo,  havia  nas  vestes  do  summe  sacerdete. 
a  imitacao  do  que  era  usado  nas  vestimentas 
des  antigos  reis  da  Persia;  eu  por  aquellas 
campainhas  de  bronze,  cuja  apparencia  indica 
serem  destinadas  a  servir  d'ernates  aos  car- 
res  e  aes  arnezes  des  cavalles,  e  de  que  M. 
Layard  achou  tae  grande  quantidade  numa 
das  sallas  do  palacio  de  Nemrod.  A  analyse 
d'estas  campainhas  mostra,  que  conlinham  dez 
partes  de  cobre  c  uma  d'estanho  que,  se  pro- 
vinha,  cemo  e  prevavel,  da  Phenicia,  e  muito 
possivel  que  teuha  side  exportado  da  Gran- 
Bretanha,  ha  trez  mil  annos. 

As  campainhas,  cntro  os  gregos,  eram  em- 


69 


pregadas  nos  acamparaentos  e  nas  guarni- 
5oes ;  suspendiam-se  aos  carros  iriumpliaes; 
usavam-se  no  mercado  do  peixe  cm  Atlicnas; 
chamavam  os  convidados  aos  banqucles,  pie- 
cediam  os  prestitos  funebres,  e  seiviam  para 
algunias  cerimonias  rcligiosas.  Quando  os 
malfcitores  iam  para  o  supplicio  Icvavam  unia 
campainha  pendurada  ao  pcscoco,  «  para 
evitar,  diz  Zonaras,  que  as  pessoas  lionradas 
fossem  manchadas  pelo  seu  contacto.  »  E  inais 
verosimil  que  este  aso  tivesse  por  fim  altrahir 
a  attencao  do  povo  sohre  o  criminoso  c  ag- 
gravar  assim  o  seu  supplicio.  Daqui  vein  pro- 
vavelmcnte  o  costume,  que  existia  entre  os 
Romanes,  de  collocar  no  carro  do  imperador 
unia  campainha  e  um  mangoal,  aviso  tacilo 
das  miserias  da  humanidade  e  antidote  do 
orguiiio. 

E  inutil  recapilular  todos  os  uses,  que 
tinham  os  sinos  cm  Roma.  Annunciavara  nos 
logares  publicos  as  boras  do  banho  e  as 
dos  negocios,  e  attendendo  a  insufficiencia 
dos  recursos  de  que  dispunbam  os  antigos 
para  mcdir  o  tempo,  e  de  suppor  que  os  sinos 
tivessem  entaomuito  maioriniportancia  do  que 
hoje.  Os  Romanes  opulentos  empregaram-nos 
para  convocar  a  sua  familia  « cxactamente 
como  hoje,  diz  Magio,  que  escrevia  cerca 
de  1B70;  a  criadagera  dos  nobres  e  dos  Car- 
deaes  de  Roma  c  ehamada  para  o  jantar  e 
para  a  cea  por  um  sino  suspense  na  parte 
mais  elevada  do  edilicio,  em  ordera  a  ser 
ouvido  nao  so  do  interior  da  casa,  mas  tam- 
bem  do  exterior.  » 

A.  seguinte  expressao  de  Macbeth  «  vae 
dizer  a  tua  senhora  que  de  uma  martelada 
no  sino  quando  a  minha  i)ebida  estiver  prom- 
pta  »  indica,  que  os  sinos,  cntao  empregados 
na  Inglaterra,  deviam  ser  maiores,  que  as 
campainhas  de  mao,  usadas  peios  gregos.  Mas 
no  tempo  d'Izabel,  a  trompa  ainda  existia 
.suspensa  por  fora  da  porta  principal  e  exercia 
uma  grande  parte  das  funccoes,  que  mais  tarde 
se  corametteram  ao  sino.  Existe  no  paleo  do 
Castelio  de  Penhurst  um  sino  de  grandes 
dimensoes  suspense  a  um  caixilho  de  madeira 
e  com  esta  inscripcao,  «  Roberto,  conde  de 
Leicester — 1649.  »  A  trompa  jd  entao  estava 
completamente  abandonada. 

0  desuso  das  campainhas  de  mao  foi  um  dos 
signaes  visiveis  da  decadencia  do  antigo  syste- 
ma  aristocratico.  A  moda  actual  de  collocar 
campainhas  nos  quartos  e  muito  moderna  em 
Inglaterra,  porque  nao  ha  d'ella  vestigios 
alguDs  nos  antigos  castellos  da  nobreza  ingleza, 
ainda  na  epocha,  tao  recente,  da  Rainha  Anna. 
0  defuncto  Duque  de  Northumberland  foi  o 
primeiro  que  permittiu  que  se  furassem  as  pa- 
redes  do  seu  castelio  de  Alnioick  para  la  se 
porem  campainhas.  Cada  quarto  tinha  o  seu 
criado  em  vez  de  uma  campainha.  0  castelio 
de  Holkham,  comejado  em  1734  e  acabado 
cm  1760,  nao  as  tinha,  e  foi  o  conde  que, 


ha  alguns  annos,  as  mandou  por.  Forani 
necessaries  niuitos  seculos,  como  se  ve,  para 
levar  os  homens  a  rcalisar  a  idea  tao  simples 
de  fazer  soar  uma  campainha  na  direccao 
horizontal  por  meio  d'uraa  mola  e  d'ura  arame. 
Continiia, 


CHIMICA  LEGAL. 

Analyse  do  eslomugo  c  figado  de  Theresa  de  Jesus, 
criada  do  sr.  Jlento  Kodrigues  Cvrr/a,  d'esta 
cidade  de  Cuimbra,  e  duns  fragmenlos  de  sul- 
stancia  branca  encontrados  no  mesmo  estomago. 

Os  fragmenlos  de  subslancia  branca  foram 
fervidos  por  mais  d'uma  bora  cm  agua  distil- 
lada,  e  o  liquido,  depois  de  liJtrado,  guar- 
dou-sc  com  a  designacao — a. 

Uma  porcao  do  estomago  foi  carbonisado 
com  acido  sulphurico.'ocarvao  foi  humcdccido 
com  acido  azotico;  depois  d'evaporado  ate 
4  seccura,  foi  fervido  em  agua  dislijiada  por 
mais  d'uma  bora;  e,  depois  defiltrado,  guar- 
dou-se  com  a  designafao  —  b. 

Outra  porfao  do  estomago  foi  fervida  em 
agua  distillada,  c  o  liquido  filtrado,  e  guar- 
dou-se  com  a  designacao — -c. 

Uma  porcao  de  figado  carbonisou-se  como 
a  primeira  porjao  do  estomago,  e  p6z-se  ao 
liquido  a  designacao  —  d. 

Outra  porcao  do  figado  foi  fervida  em  agua 
distillada,  eo  liquido,  depois  de  filtrado,  ficou 
com  a  designacao  —  e. 

0  alcool  evaporou-se;  ferveu-se  o  residuo 
em  agua  distil!f.da;  liltrou-se,  e  guardou-se 
com  a  designacao  —  f. 

Sujeitando  cstes  seis  liquidos  ao  apparelho 
dc  Marsh,  e  comeeando  pclo  liquido  —  f — 
conhecemos  que  o  alcool  cmprcgado  nos  fras- 
cos  nao  tinha  arsenico,  por  nao  ter  moslrado, 
na  porcellana,  nem  no  tubo  do  apparelho,  o 
menor  indicio  d'este  veneno.  Os  outros  cinco 
liquidos  mostraram  no  tubo  os  anneis  arseni- 
caes,  ainda  que  pouco  caracteristicos,  e  pro- 
duzirara  na  porcellana  numcrosas  e  grandes 
manchas  com  brilho  ractallico. 

A  chanima  do  apparelho,  cahindo  em  uma 
dissolucao  de  sulphate  dc  cebre  ammoniacal 
produziu  a  cor  verde  —  arsenito  de  cobre. 

0  gaz  do  apparelho,  raergulbado  cm  uma 
dissolucao  alcoolica  de  potassa  caustica,  nao 
a  turvou. 

Recebida  a  chamma  do  apparelho  em  um  tu- 
bo aberto  nas  duas  cxtremidades  e  inclinado, 
produziu  um  annel  arsenical  muito  caracte- 
ristico. 

Um  bocado  de  porcellana  humedecida  com 
uma  dissolucao  de  azotato  de  prata  ammonia- 
cal, e  collocada  cousa  d'uma  pollegada  aclma 


70 


da  rhaninia  do  apparelho,  mostrou  a  c6r  ama- 
rella  do  arseuito  de  prata. 

Etposla  uma  golla  d'agua  dislillada  em  unia 
vara  de  vidro  aciraa  do  appart'llio,  e  niislii- 
rando-a  depois  com  um  crystal  de  azolalo  de 
prata  ammoiiiacal,  mostrou  no  crystal  a  cor 
amarella  do  arsenito  de  prata. 

As  mandias  da  porcellana  desappareceram 
com  a  chamma  do  hydrogenco,  com  os  vapo- 
res  doeliloro,  c  com  osvapores  do  pliosplioro. 

Dissolveraiii-sc  com  o  acido  azotico  a  frio, 
com  0  hypoclilorito  polassico,  e  com  o  chlo- 
rurelo  de  soda. 

A  dissoiucao  azotica  evaporada  ate  a  sec- 
cura  a  um  calor  brando,  e  Iractada  pelo  azo- 
tato  de  prata  ammoniacal,  deu  o  rubro  cor  de 
tijolo  do  arseiiiato  do  prata. 

0  residue  da  dissnhirao  azolica  das  man- 
chas,  tractado  pelo  sulpliydrato  aramoninco, 
deu  a  cor  do  araarello  canario  do  sulpbureto 
de  arsenico. 

A  dissoiucao  azotica  das  manehas  com  ai- 
gumas  goltas  de  acido  suiphuroso,  sujeita  a 
accao  do  acido  sulphydrico,  deu  um  preci- 
pitado  amareiio. 

0  residuo  da  dissoiucao  azotica  das  man- 
ehas, tractado  poragua  distillada  ligeiramcnte 
aciduiada  com  acido  chiorhydrico,  c  sujeito 
depois  a  uma  corrente  de  acido  sulphydrico, 
deu  um  prccipitado  amareiio  abundaiite. 

As  manehas  sujeitas  aos  vapores  do  iodo 
tomaram  a  cor  do  cidra  do  iodurelo  de  ar- 
senico, que  se  volalilisou  a  um  calor  brando. 

Sujeitando  os  se.is  liquidos  a  varios  rea- 
gentes  appropriados  para  dcscobrir  o  arseni- 
co, apenas  o  mostraram  no  liijuido  —  a  —  o 
sulphato  de  cobre  ammoniacal  com  um  prcci- 
pitado verde  de  arsenito  de  cobre;  a  agua 
de  cal  com  um  precipitad^t  branco  do  arse- 
nito de  cal  ;  e  o  acido  sulphydrico  com  o 
precipitado  amareiio  de  sulpbureto  de  ar- 
senico. 

De  todos  estes  processes,  o  em  vista  dos 
symptomas,  que  precedcram  a  morte  e  das 
lezOes,  que  se  encontrarara  no  cadaver,  con- 
rluimos,  que  cram  de  arsenico  os  fragraentos 
de  substancia  branca  enconlrados  no  esto- 
mago;  que  o  niesmo  veneno,  encontrado  no 
cstomago  e  no  figado,  moslrava  que  tinha 
entrado  em  circulacao  com  o  sangue;  c  a 
quanlidade  d'este  veueno  mostrava,  tambcm, 
que  tinba  sido  bastante,  para  produzira  nior- 
te  por  envenenamenlo. 

Esta  conclusao  toruou  desnecessaria  a  ana- 
lyse dos  rins  c  dos  inlestinos  delgados  e 
grosses,  que  se  achavam  nos  outros  ires  fras- 
cos. 

Uma  parte,  da  substancia  branca  e  visccras 
analysadas,  beam  guardadas  em  frascos  ciii- 
tados  e  lacrados  com  o  sinele  do  presidentc 
da  commissao,  c  rubricado  pelo  mesmo  pre- 
sidentc. 

i.  A.  Dl  COSTA  SIMOES. 


REGULAMENTO  DOS  BANIIOS  DE  LUSO. 

Coolinuado  dc  puR.  63. 

Director. 

Art.  16.°  0  Director  dos  banbos  sera  no- 
meado  peia  Direccao  da  Sociedade  d'entre  os 
sous  vogaes.  Este  Director  podcra  dclegar  os 
sens  poderes  cm  um  Banhista  de  sua  conlian^a, 
que  0  subslituira  na  sua  ausencia;  e  csla 
nomeacao  sera  conlirmada  pela  Uireccao  da 
Sociedade. 

Art.  17.°  Compete  ao  Director  dos  banhos 
lazer  cumprircsteRegulamento,  e  em  especial : 

1.°  Fiscalisar  a  adniinistrat:ao  econoraica 
do  (>stabelecimento,  evitando  o  desleixo  e  pre- 
varicacoes  no  pagamenlo  da  taxa  dos  bunhos'. 

2."  Evitar  ou  reprimir  as  irrcgularidades 
do  service  do  Banheiro  e  Servcnles. 

3.°  Designar  as  banheiras  destinadas  a 
molestias  conlagiusas  c  ascorosas,  c  as  que 
forem  destinadas  a  banhos  de  pobres  e  de 
precos  dillerentes. 

4. "  Designar  o  servico  dos  banhos  segun- 
do  a  inscriju-ao  dos  Banhistas,  por  meio  de 
lislas  ou  tabelias,  conforme  e  disposto  nos  artt. 
13.°  e  li.» 

S."  Providenciar  de  prompto  sobrc  quai- 
quer  precisiio  ou  occurreneia  no  estabeleci- 
mento,  daudo  parte  a  Direccao  da  Sociedade 
das  niedidas  adoptadas. 

0."  Mandar  ao  Sccrelario  da  Direccao,  ate 
0  dia  20  de  Dezembro,  um  relaiorio  do  servi- 
ce do  estabelecimento,  em  que  se  mcncioncm 
as  difliculdades,  que  se  encontrarara  na  exe- 
cucao  d'este  Regulamcnto,  os  meies  de  as 
remediar,  etc. ;  mencionando  em  seguida  n 
movimcnto  des  Banhistas,  com  o  rendimento 
dos  banbos,  ministrado  pelo  Fiel,  e  a  esta- 
tistiea  patholcgica  des  Cliuices  do  estabeleci- 
mento, de  que  tracla  o  art.  28.° 

§.  unko.  Estes  relateries  do  Director  se- 
rao  copiados  todos  os  annos  pelo  Secrelario 
cm  um  livro  apropriado. 

Fiel. 

Art.  18.°  0  Fiel  dos  banhos  sera  nomea- 
do  pela  Direccao  da  Sociedade. 

Art.  l'J.°     Ao  Fiel  dos  banhos  compete : 

1."  Dar  aos  Banhistas  asseiibascorrespon- 
dciiles  aos  banhos,  que  quizerem  tomar,  co- 
brando  d'ellcs  a  importaneia  respectiva. 

3."  Inscrever  no  livre  do  registo,  segun- 
do  0  medelo  n.°  1,  o  nomc,  sexo,  residen- 
cia,  edade,  estado  e  prolissao  de  todos  os 
Banhistas,  nao  so  dos  chefes  de  familia,  mas 
ainda  de  todos  os  lilhos  e  mais  familiares; 
declarando-se  tambem,  se  tomam  banhos  com 
lins  hygienicos,  ou  a  molestia  que  padeccm, 
e  0  sen  resultado  depois  dos  banhos,  quando 
seja  possivcl;  e  declarando  linalmeute  o  na- 


mcro  de  scnhas,  que  forem  compradas,  e  a 
sua  iniportaiuia.  0  rcgisto  dos  pobres  sera 
fcilo  I'll!  urn  livro  separado,  c  cm  ludo  seme- 
Ihaiito  ao  regislo  dos  Banliistas  nao  pobres, 
incluindo  o  numero  das  sentias,  ^110  se  Ihes 
forcni  dando,  c  a  sua  iniporlancia  como  se 
fosseni  pagas. 

3.*  Orgaiiisar  com  0  Banheiro  as  listas 
ou  labellas  da  vez  011  bora  do  baiiho,  confor- 
me  0  disposto  iios  artt.  111."  e  l'i.° 

4.'  Dar  contas  ao  Direclor,  dc  oito  era 
oito  dias,  do  nuraero  de  scubas  rccebidas  e 
vendidas,  e  cm  relacao  com  as  cnconlradas 
dentro  da  caixa,  no  acto  da  sua  abertura, 
conforrae  os  art.  11.'  e  12." 

B.*  Dar  ao  Director  dos  banlios,  ate  lii 
de  Dezcmbro,  um  mappa  do  movimento  dos 
Banhistas  com  0  rciidimento  dos  l)anhos. 

6."  Mandar  ao  Tbesourciro  da  Soeiedade, 
ate  15  de  Dezcmbro  de  cada  anno,  0  livro  do 
registo  e  contas,  com  0  scu  relalorio  e  conia 
geral.  Estes  livros  serao  arcbivados  naSecre- 
taria  da  Soeiedade. 

7.*  Patentear  cm  sua  casa,  durante  a 
•luadra  dos  banhos,  0  livro  do  rcgisto  e  con- 
tas, a  todos  OS  Vogaes  da  Camara  Municipal 
da  Mealhada,  e  a  todos  os  Accionistas  da 
Soeiedade,  dando-iiies,  verbaluiente  ou  por 
escripto,  os  csclarecimentos  dc  que  precisarcm. 

8."  Patentear  aos  Medicos  do  estabcleci- 
raento  0  livro  do  rcgisto,  e  minislrar-lhcs  to- 
dos os  esclarecimentos  ao  seu  alcance,  de  que 
precisarem  para  a  estatistica  palbologica,  que 
tern  defazer,  sogundo  0  disposto  no  art.  28.° 

£anheiro. 

Art.  20.'  0  Banheiro  sera  nomcado  pela 
Direccao;  e  a  Assemblf'a  Geral  dos  Accioni'stas 
marcara  0  maximo  do  seu  ordenado,  delc- 
gando  na  Direccao  0  seu  ajusle  delinitivo 
(Estatutos  da  Soeiedade  art.  8.°). 

Art.  21."     E  da  obrigaciio  do  Banheiro: 

1."  Organisar  com  0  fiel  as  listas  ou  la- 
bellas, de  quo  tractam  03  artt.  13.°  e  14.°, 
affixal-as  no  cstabclccimeato,  e  regular  por 
ellas  0  service  dos  banhos. 

2.°  Recebcr  dos  Banhistas  as  compelen- 
tes  senhas,  conforme  0  disposto  no  art.  11.° 

3."  Despejar  e  lavar  cada  banhcira  que 
acaisa  de  servir,  guardando  a  chavc  <la  tor- 
neira  inferior. 

4."  Enxugar  os  cstrados  e  moveis  dos 
quartos  de  banho  a  sahida  de  cada  Banhista; 
lavar  mesmo  alguma  parte,  que  se  ache  pre- 
cisada;  raspar  e  caiar  immodiatamcnte  algum 
ponto  das  paredes  ([ue  se  veja  sujo ;  e  con- 
servar  em  boa  ordem  e  accio  (oda  a  mobilia 
dos  quartos  e  mais  casas  do  edificio. 

5."  Venlilar  as  casas  de  banho,  dcsde  a 
sahida  de  cada  Banhista  ate  a  entrada  do 
immcdiato,  e  sempre  que  cstiverem  desoccu- 
pados  OS  mesmos  banhos. 


6."  Fazer  lavar  todos  os  dias  0  pavimenlo 
de  todas  as  casas  dc  banho,  no  intervailo 
desoccupado  entre  os  banhos  da  manha  c  os 
banhos  da  tarde. 

7."  Fazer  lavar,  todos  os  sabbados,  0  pa- 
vimenlo dos  corredores,  e  de  todas  as  casas 
do  edificio;  incluindo  as  da  sua  habitacao. 

8.°  Mandar  varrer  lodo  0  edilicio,"  duas 
vezes  por  dia,  antes  dos  banhos  da  manha  c 
antes  dos  banhos  da  tarde. 

9."  Fazer  caiar,  nos  primeiros  trez  dias 
de  cada  mez,  0  interior  das  casas  de  banho 
que  nao  tivercm  pintura;  e  alguma  parte  das 
outras  casas  do  edilicio  que  se  achar  mais 
precisado. 

10.°  Aquecer  a  agua  das  banhoiras  de 
tcniperatura  artificial  por  meio  do  fogao,  fa- 
zendo  tomar  a  agua  a  tcniperatura  de  ',','i 
graus  do  thermomctro  centigrado,  para  os 
Banhistas  que  nao  dcsignarem  os  graus  de 
tcniperatura  que  Ihes  I'oram  indicados. 

11."  Aquecer  os  lencoes  dos  Banhistas 
para  0  servico  dos  banhos  de  temperatura 
artificial. 

12.°  Lavar  com  cinza,  todos  os  dias  a 
Route  e  ao  meio  dia,  todos  os  copos  em  servico 
do  cstabelecimento;  e,  alcm  d'estas,  as  vezes 
que  for  preciso,  para  (|ue  se  achem  sempre 
no  maioraceio;  e  conservar  tambcm  na  maior 
limpeza  as  duas  fontes  de  agua  mineral  c 
agua  communi. 

13.°  Conservar  em  limpeza  os  terreiros 
cm  volta  do  estabelecimenio;  fazer  regar  as 
arvorcs  e  flores,  conservar  0  buxo  na  altura 
conveniente,  etc. 

14.°  Dar  jiarte  ao  Director,  para  cste  0 
communicar  a  Direcc3o,  das  faltas  que  achar 
nos  moveis  e  utensilios  do  cstabelecimento; 
assim  como  das  difficuldades  que  cncontrar 
na  exeeuciSo  d'este  Regulamento. 

Art.  2:2.°  0  Banheiro  e  obrigado  a  resi- 
dir  no  estabelecimenio  cm  toda  a  quadra  do 
banhos,  que  tcm  priiicipio  no  primeiro  de 
Junho  c  acaba  no  fim  de  Novembro;  podenrio 
alii  vivor  0  rcsto  do  anno,  se  (]uizer. 

§.  iniico.  Se  0  Banheiro  nao  viver  no 
cstabelecimento  desde  Dezcmbro  ate  Maio, 
sera  incumbida  a  sua  guarda  ao  Regedor  da 
Parochia,  com  instruccoes  particulares  do 
Adminislrador  do  Conccllio. 

Art.  23.°  0  Banheiro  pride  cozinhar  lodo 
0  anno  no  fogao  do  eslabelecimento;  mas  so 
Ihe  sera  abonado  0  combustivel  durante  a 
quadra  dos  banhos. 

Art.  24.°  0  Banheiro  fara  cumprir  as 
disposicOes  d'este  Regulamento  dentro  do 
edificio  dos  banhos,  cmpregando  meios  dc 
boa  cducacao  e  urbanidade;  e,  quando  nao 
seja  attendido,  dara  parte  ao  Director,  que  so 
em  casos  cxlremos  recorrera  ao  poder  admi- 
nistrativo. 

Cant/'iua . 


72 

AMPLlFICAr.AO,  E  CAMPO  VISUAL,  NOS  INSTRUMENT05  0PTIC03. 

Conlinuado  ile  pag.  S5. 

22.  O  que  se  cliama  amplificasao  era  urn  telescopic  c  a  razao  do  angnlo  oplico,  pelo 
oual  se  ve  a  iniagem  do  objecto,  desenliada  no  foco,  com  aqiielle  pelo  qiial  je  veria  dire- 
cUmenle  o  niesino  objeclo.  E  campo  visual  c  o  angulo  optico  pelo  qiial  se  veria  directa- 
mente  o  maior  objeclo  que  pode  ver-se  pelo  ocular. 

22.      Telescopios  dc  Newton  e  d' Herschel  (IGCG,  e  1780).  Seja   BO  o  olijeclo,    Co 

ccnlro  do  espeliio   F,ob  a  iniagem  que  se  forniaria  no  foco,   o' b'  a  imagem  que  se  forma 

pela  retlexao  no  espeliio  piano,  e  A"  o  cenlro  da  lente  ocular.  Como  o  comprimenlo  do  oculo 

e  insensivcl    rclalivameiite  a  distancia  do   objecto  oliservado  com   o   lelescopio,   o   angulo, 

pelo  qual  esle   objeclo  serin  vislo  directamenle,  e  OCB^zocb;  e  o  angulo,  pelo  qual  c 

vislo  com  o  telescopio,  e  b'  K  o' :  ora,  cliamando  F,  m,  as  dislancias  focaes  do  grande  espeliio 

r.,       ob              ,,,.    ,       o'  b'       ob 
V,  e  da  lente  ocular,  e  tang  oLbz=—,,  tang  6  li  o'= :=  — ;  conseguinlemenle,   sup. 

pondo  as  tangenlcs  de  o  C6  c  b'  K  o'  proporcionaes  aos  arcos,  a  arpplifica^ao  e 

C       9 

O  mesrao  dlremos  a  respeito  do  lelescopio  d'llerscliel ,  que  so  differe  do  de  Newlon 
em  nao  ter  o  espeliio  piano,  e  ser  o  eixo  do  cspelho  esplierico  iiiclinado  ao  do  lubo, 
podendo  o  observador  rcceber  com  um  ocular  a  imagem  do  objeclo,  sem  que  a  sua  cabe^a 
intercepte  grande  numero  de  raios  luminosos  emillldos  por  elle. 

Em  quanto  ao  campo  visual,  como  se  pode  formar  uma  imagem  egual  a  sccg.'io  focal 

do  tubo,  se  cliamarmos  s  o  diamelro  d'esla  scc^ao,  sera  — — ; -r-o  angulo o  Cb=zBOC; 

'  2  r   sen  1" 

mas  como  os  raios  refleolidos,  que  vem  aos  bordos  d'esla  imagem,  nao  podem  caliir  todos,  on 

a  maior   parle,   no  espeliio  piano,  ve-se  que   no  telescopio  de   Newton  o  campo   visual  e 

menor   que e  que  a  sua  grandeza  depende  da  grandeza  do  espeliio  piano. 

^      jPsenl"         ' 

24.  Telescopio  de  Gregory  (166."?).  Sejam  OBo  objeclo;  Co  cenlro,  eoo  foco 
principal,  do  grande  espeliio  F ;  c  o  cenlro,  e/ o  foco  principal,  do  pequeno  espelbo 
r  ;  o'  o  ponlo  onde  se  reunem  ,  pela  reflexao  em  v,  os  raios  einillidos  de  o ;  e  finalmenle 
A"  o  cenlro  da  lenle  ocular,  cujo  foco  e  o'. 

Sejam  Fo  =  Coz^F,  vf=cf==f,  lCo'=,,  fo  =  »,  c  F  =  ci  =  .F4-/+ *.  Sup. 
pondo  proporcionaes  aos  arcos  as  laiigenles  dos  angulos  C,  c,  K ,  oi  Iriangulos  da  figura 
darao 

fC_co'_co^      c  _Co_F 
c      o'A"       9   '    C       oc      oc' 


logo 


K  _F.co' 

C  m.CO 


Como  OS  raios,  que  partem  de  o,  incidem  no  espeliio  v  na  di.-iancia  (jc:^f-\-i,  c  se 
reiincm  no  foco  o',  temos 


vo' 


3f/-l-*)-2/ 


73 

eonsegtiintemente  co' =  ro' —<«  =  «'<>'  — 2/-=:i — L  : 

eem  quanto  a  co,  <ico=c  f — of^=f — i,  Subslituindo  pohestas  expressoe«<lcc»  ec  o'  na  de  — , 

resulla  em  fim  a  amplificacao 

K_FJ 
C~  *.<,' 

seiido  i=  D—F—f. 

F  f 

Para  que  a  imagem  se  forme  dentro  do  lubo,  deve  ser  uo'  <  73 ,  ou  —  <  1  — 


n "       D—f 

J       •-  b'oi      co'       f  .  ,        . 

r,m  quanto  ao  campo  da  visao,  temos— —  = ^-  ;  e  por  isso,  occupando  a  iinasem 

^  '^  bo        CO        S        '^  '^ 

,.,,         ,  ....  ,       bo  S.i 

a  secgao  local  do  tiibo,  o  limile  do  campo  e 


f'scnl"       F.f^i^nV 

'     Ve-5e  pois"  (nie  o  campo   e  lanto   mais  pequeno,  quanto   raaisse,  encuita   a  distancia 
(]os  focos  para  augmenlar  a  amplifica9ao. 

26.  Tdescopio  de  Cassegrain  (1672).  Usando  das  mesmas  letras  neste  telescopio, 
lemos  ainda 

K  __F.co' 
C       f  .00 

Como  OS  raios,  que  partem  de  O,  reflectindo-se  no  jjrande  espelho  f^,  tendem  a  reuiiii-se 
no  poiilo  o ,  mas  relleclmdo-se  ainda  no  pequeno  espellio  convexo  v  antes  da  sua  reuniao, 
vao  ajunclar-se  em  o',  segue-se  que,  se  voltatsem  de  o' ,  lenderiam  a  reunir-se  em  o,  ou 
que  o  seria  o  foco  virtual,  quando  o'  fosse  o  ponto  d'emissao:  por  tanto  lemos 

""'•2/  .       ,  ,      .f(f-^)' 

OV  = -——    =:  f &  ,    ou    VO   = ■ , 

2!Jo'  +  2/        -^  *        ' 

e  co' :=  cu-r  t;  o'=2/'4- t!o'=  — — — ^t — :. 

Em  quanto  a  co,  e  co^:^f-\-  S. 

.    ,       .              ...      -                           K        F.f 
.Sera  pois  a  amplitica9ao  —  = , 

tendo  Z)  =  F+*— /. 

Por  onde  se   v4,  que  a  amplificacao  e'  a   mesma   nos   teiescopios  de   Gregory  e  de 

Cassegrain,  mas  que,  para  as  mesmas  dislancias  focaes ,  o  comprimento  do  segundo  teni 

de  Qienos  2/"  que  o  do  prinieiro. 

.    ,    o'fi'      c6>       f 
Em  quanto  ao  campo  ,  temos  ainda — -  =  —  =  r;    e    consegumiemenle    o   limite   do 

ob       CO      & 

.        «.* 
campo  e  -p— — . 

97.  Nos  teiescopios  catadioptricos  ha,  como  nos  dioptricos,  o  inconveniente  da  aber- 
ragao  d'esphericidade ;  mas  nao  lia  o  da  aberracao  de  refrangibilidade.  Com  effeilo  o  raio 
luminoso  ,  logo  que  chega  a  t.io  pequena  dislancia  do  espelbo  que  entre  nos  limites  da 
actividade  d'esle,  refrange-se,  e  decompoe-se;  mas  como  depois  da  retlexfio  des(  rcve  uma 
trajecloria  similhanle  a  primeira,  ate  passar  os  limites  da  actividade,  recompoe-sc,  e  sahe 
branco  como  linha  entrado. 

Por  este  motivo  principalmenle  tiveram  grande  uso  aquelles  teiescopios,  em  quanto  os 
dioptricos  nno  se  fizeram  acliromalicos,  a  pezar  do  seu  pequeno  campo,  da  difficuldade  de 
observar  com  elles,  e  da  facilidade  com  que  se  embaciam  e  eslragam. 


74 

2!?.     Lunetci  de  GcdiUu.  Nesto.  lunela,  cliainanda    Fe^  as  dislaiicias   focae5   da   Icnli" 
objcctiva  e   da  ocular,  a  acnplificajao  t; 

h~  9' 

Km   qiianlo   ao  campo  :   como  elle   depcnde   da   abertiira  da   pupilla,   cliatiiaiido  «   r> 

diametto  d'esta,  e  D  a  dislancia  das  duas  leiites,  e  o  campo  =  -7^ -r. 

J  J  sen  r 


2!).     Lunela  astronomica.  Nesta  luneta  c  evidcnlemenle  a  amplifica^rio 

K_  F 

V.  chamando  i  o  diamctro  da  secjao   focal,  o  liniilc  do  campo  o 


^'si-n  I' 


36.  J\'Iicroscopio  simples.  Sendo  O  A'  =  8  poll,  a  meiior  dislancia  ti  que  se  pode  ver 
dislinctamente  um  objecto  com  a  vista  desarmada;  c  A'o^y  a  dislancia  focal,  em  que  s«' 
colloca  oobjccto  para  se  ver  peialente,  cujo  centro  e  /iT:  lemos  evidcntemeiite  a  amplifica^rio 


b  ICo  a  3  f" 


BKO~  BKO 


;-il.  Microscopio  composto.  Seja  D  a  di>lancia  A'  Ldas  duas  Icnlcs;  O  L~i  a  disl-mcia 
ao  objeclo,  na  qiial  e  necessario  collocar  o  microscopio,  para  que  a  imaf^em  de  O  se  forme 
no  foco  principal  o  da  lento  ocular  K  ;  e/,  ip,  as  dislancias  focacs  das  duas  leiites.  A  figura 

BKO         i  L  p  BKO       SP"" 


logo   a  amplifica(;ao  c 


L  n  +  i'  bKo      D—,f'        a.  D^t' 

IKo      {D — ,).  8p»i' 


Se  qiiizermos  expriuiir  D  iias  dialancias  focaes  das  duas  Icntus ,  tereriio?  iis  cqiia5ac* 

^  T  III 

33.  Quando  nas  lunelas  ou  microscopios  se  usa  de  oculares  composlos ,  o  problema 
de  conhccer  a  amplificagao  resolve-se  ainda  peH  combina^ao  de  triangulos,  em  que  entram 
as  posigoes  dos  focos  do  objective,  e  dos  componenles  do  ocular. 

Siipponhamos  por  exempio,  que  o  ocular  e  nefjalivo,  composto  de  duas  lenlcs  con. 
vexo-planas  cujas  convexidades  eslao  voltadas  para  o  objecto;  que  o'  e  o  foco  da  lenle  A"; 


75 

e  qoe  o  olijccto  O  B,  que  pela  refrac^ao  no  objeclivo  L  se  pinlaria  em  06,  vein   pinUr-se 
em  o' li'  pela  seyunda  refracgao.  na  lenle  /.  Os  Iriangulos  da  figiira  dao 


hJo         Lo 
BLO      Jo' 

b'tC 
b'J 

0' 

Jo' 
Ko 

b'Ko' 

Lo 

Jo 

BLO 

Jo. 

Ko< 

logo  a  amplifica^rio  e 

Rejam  F=Lo,  f  a  distancia  focal  da  lenle  J,  9  —  Ko'  a  da  lenle  A',  (-•  D  a 
dislancia  KJ  das  lenles  do  ocular.  Conio  os  raios  emiuidos  de  0'  iriani  reuriir-se  oni 
o;  dando  a  oJ  o  signal   nt-galivo,   por  considerarmos  na  formula  dos    focos   conio   posiliva 

a   mesma    recla    para    o    lado    esquerdo    da    lenle   /,  sera   -=:  —  —  —j.    rercmos   pois 
Lo=.F,Jo'=D-„Jo=I^=£^2^   Ko'=, 

f—  O'J         J  +  If—  IJ 

o  <ine  siibstiliiKio    ua   expressao  de  dara  a  ainpliiica^.-io 

b' r< o< _  F.{f+,(  —  D) 

BLO~'  9/ 

33.  O  rnesmo  procojso  se  pode  applicar  no  microscopio  composlo  de  M.  Chevalier, 
C)UP  Mao  differe  essencialmente  d'aquelle,  a  que  nos  referiinos  no  n.°  31,  senao  em  ser  o 
ocular  composlo ,  e  em  se  reflectircni  os  raios  refractados  pelo  objeclivo  ein  nm  espelho 
inclinado  de  4&°  ao  cixo  d'etle,  o  que  Ihes  faz  tomar  ama  direcgfio  perpendicular  li  primoira, 
para  se  usar  do  inslriiineulo  commodauienle. 

DA  VI SAO. 

34.  Soljre  a  visao  coslumam  os  pliysicos  e  os  pbysiologiilas  apresentar  as  seguinles 
quesloes  principaes. 

1.'     ConiOj  pinlando-se  as  avessas  a  iinagem  na  retina,  nos  vemos  os  objeclos  as  direilas? 

2.*     Como  com  os  dois  ollios  se  ve  de  inodo  que  percebemos  tuna  sd  imagem  ? 

3.'     Como  sc  consegiio  o  acliromalismo  no  olho  ? 

4.'  Como  se  apreciaui  as  distancias  dos  objectos ,  sem  que  a  rcspeilo  d'ellas  nos  il- 
liidam  05  angulos  oplicos  pelos  quaes  os  vemos? 

5.*  Como  se  accommoda  o  oliio  a  visao  disliacla  ,  sem  que  a  perturbem  as  variajocs 
(le  distancia  dos  objeclos  ? 

35.  Para  resolver  a  prinieiia,  basta  lembrar  que  no;  referimos  os  objectos  ;i  direc^Ho 
final  dos  raios  luminosos,  quaesquer  que  lenliam  sido  as  trajectorias  pelas  quaes  elles 
clieguem  a  essa  direc^'ao. 

A  segunda  pertence  especialmente  a  pliyslologia. 

A  solugao  da  terceira  coinpreliende-se ,  logo  quo  se  conbece  a  exislencia  do  aclironia- 
tismo  nos  instrumentos  options. 

Em  quanto  a  quarta,  parece  que  o  habile,  a  clareza  da  imageai,  e  a  maior  ou  menor  in- 
clinagaoque  e  necessario  daraos  eixos  opticos  para  os  dirigir  ao  objeclo,  constiUiem  a  parte 
principal  dasua  solugao. 

36.  A  quinta  queslTio  o  realmenle  a  que  offorece  maior  difiiculdade  phisica. 

A  mudan<;a   das  di^tannas  respertivas  da  cornea,   do  crystallino,    e  da  retina,   devida 

ii  translag.'to  da  cornea  ou  do  crystallino;  a  mudaii(;a  de  convexidade  d'estes  corpos  refran- 

gentes,  devida  u  dilata^rio  ou  contracQ.'io  de  musculos  proprios;   a  mudanga  d'abertura  da 

pupilla,  devida  a  dilatagao  ou  conlracgao  da  iris,  em  virludeda  qual  a  aberragao  d'espheri- 

cidade  torna  maior  ou  menor  o  iutervallo  que  no  eixo  occupam  os  focos  provenientes  das  re- 

.fracgoesdos  raios  que  atravessam  as  differentes  zonas  coneentricas  da  pupilla;  a  exislencia  d'uni 

'(interoallo  focal,  devido  a  refracgoes  em  superficies,  que   ncm  sfio  espliericas,  uuai  homo- 

f!jfeneas  ,  nem  d'eixo  commum  ;  e  fmalmenle  a  coiifigurag.'to  e  densidade  das  diversas  partes  do 

jhumor   vitrco  arranjadas  de  modo  que   tornem   sensivelmente   constante   a  distancia    local  : 

ytacs  sijo  as  explicaroes ,  niais  ou  menos  plausiveis,  qne  se  teai  dado  do  phenomcno. 

Contmva.  S.  i*. 


76 


OBSERVACOES  METEOROI.OGICAS  .  FEITAS  NO  GABINETE   DE  PHYSICA 
DA   UNIVEKSIDADE    DE  COIMBKA. 


Anno  lie 
18.->4 


Mel  dc 

Deiem- 
bro 


Dias 


.■) 

4 

5 

6 

7 

8 

9 

10 

U 

12 

13 

14 

15 

16 

17 

18 

1<J 

'iO 

21 

22 

23 

34 

25 

26 

27 

28 

29 

30 

31 

meilias  j 
i]u  mez  ' 


a-    i  "3 
c  — 

if! 

H  s  s 


(Jl.,M» 

cenlii:. 


a 


10° 

10 

10 

11 

10 

10,5 

9 

8,5 

8 

8 

7 

7 

8 

8 

a 

7 

8 

8 

10 

10 

9 

9 

8 

9 

8 

7 

6,5 

6,5 

6 

6 

6 

8,29 


Presslto  atmospherica  ao  meio 


,.     i  EstaJo  hyjrromelricu  da 
dia  1    .  .  ^^  ■     , 

atino^pbcra  au  Dieiu  dia 


AUitra  ba- 
romctrica  a 
O."  cenliir. 


Mdliiuelros 


Milliuielro. 


757,7i0 

756,503 

738,228 

759, 6i5 

755,181 

757,506 

758,351 

754,608 

757,206 

754,069 

755,553 

759,866 

767,352 

767,352 

763,801 

763,671 

762,025 

759,235 

754,886 

755,724 

760,887 

705,199 

71)4,562 

760,120 

759,993 

759,511 

75U,405 

758,913 

763,542 

764,049 

764,557 

759,961 


Temperatura 

Maiimaabsol.  .  11° 
Minima  ....  6" 
Maxima   variai;.     5' 


8,017 

6,097 

5,687 

6,534 

5,491 

5,687 

5,687 

5,491 

5,302 

5,948 

5,598 

5,598 

5,607 

5,687 

5,491 

6,064 

5,491 

5,491 

5,491 

5,687 

5,45J 

5,530 

5,303 

5,637 

5,407 

5,127 

5,107 

5,491 

5,535 

4,793 

4,179 


Pressuo  do 
ar  tccco 


Graud'liii- 
niidade  du 


Millimelros 


749,703 

750,406 

752,541 

753,091 

749,693 

751,819 

75i,664 

749,117 

751,904 

748,721 

749,955 

754,26:1 

761,065 

761,665 

738,310 

757,607 

756,534 

753,741 

749,395 

750,037 

755,433 

759,669 

759,260 

754,439 

754,589 

754,384 

753,298 

753,422 

758,007 

759,253 

760,378 


Prcssao  atmoipherica 

mm 

Max.  absol.  767,352 
Minima  .  .  754,608 
Max.  exc.         12,744 


0,8747 

0,6652 

0,6205 

0,6672 

0,5991 

0,6002 

0,6532 

0,6822 

0,6613 

0,7419 

0,7472 

0,7472 

0,7093 

0,7093 

0,6349 

0,8094 

0,6849 

0,6849 

0,5991 

0,6205 

0,0361 

0,0449 

0,6613 

0,6632 

0,6745 

0,6844 

0,7052 

0,75a2 

0,7909 

0,6854 

0,5973 

0,6856 


Quantid.  d« 
»aj)or  conlido 
fm  uiu  mctru 
cubicu  d'ar 


Grammas 


8,215 

6,248 

5,828 

6,673 

5,754 

5,817 

5.848 

5,657 

5,472 

6,138 

5,798 

5,798 

5,069 

5,869 

5,667 

6,281 

5,667 

5,667 

5.6  n 

5,8i7 

5,001 

5,679 

5,471 

5,848 

5,580 

5,310 

5,298 

5,697 

5,753 

4,9115 

4,344 


(irau  d'humidade  do  ar 

Maximo  .  .  0.8747 
.Minimo  .  .  0,5973 
Max.   variai;.     0,2771 


S. 
S. 

s. 

E. 

N. 
N. 

N. 
S. 
S. 
N. 
S. 

s. 

SE. 

s. 

SE. 

N. 

NO. 

N. 

N. 

NE. 

N. 

SO. 

s. 

SE. 

SE. 

E. 

SE. 

SE 

SE, 

SE. 

SE. 


Media  annual.  ^^ 

Tempernlura 15°,59cenlij.  —  Pressiio  almospherica    .  .  .     754,018 


Estado  do  f'«  c  do 
tempo. 


Nitbladu.  Bom  tempo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Encuberto.  O  meimo. 
O  mesmo.  T.  chuvoso. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Nublado.  Bom  tempo. 
Clar,  e  limp.  B,  temp. 
O  mesmo.  Bom  tempo. 
O  mesmo.  O  nienmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo,  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Ntiblado.  Bom  tempo. 
Enniberto.  T.  cliuvoso 
Clar.  e  limp.  B.  temp. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  inoiino. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
i)  mesmo,  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesnio. 
O  mesmo.  O  mesmo 
O  mesmo.    O  mesmo. 


I'oitloi  dominanUt 
S.,  N.  e  SE. 


Coimbra,  1.°  de  Janeiro  de  1855. 

O  Deulonslrador  da  Faculdade  de  PUilosojjhia,  Joaquim  AuguKo  Simots  de  Carsalhc. 


€>  Justitwta, 


JORNAL    SCIENTIFICO     E     LITTERARIO. 


mum  SUPERIOR  de  mmm  mm. 

RELATORIO  AXIVIAL. 

1849— 1830. 

Continiiado  de  pag.  G*). 

PARTE  o.' 

Instruceao  superior. 

Esta  instruceao  chamada  professional,  di- 
vcrsilica  eonforme  as  dilTerentes  iirolissues;  c 
lera  por  objecto  fazer  profundar  aos  alumnos, 
que  as  abracara,  todos  os  estudos,  que  com 
clla  tern  relacao.  Suppoem  ja  ura  fundo  de 
eonhecimenlos,  dado  tanto  pela  instruceao 
primaria,  como  pela  instruceao  secundaria. 

A  instruceao  superior  pertence,  na  confor- 
ipidadc  do  decreto  de  20  de  septerabro  de 
1844,  auniversidade,  a  academia  polytcchni- 
ca  do  Porto,  e  as  eseliolas  Medieo-Chirurgicas 
de  Lisboa,  Porto  e  Funchai. 

Segundo  o  relatorio  da  univcrsidade,  o 
lyeeu  nacional  de  Coimbra  (seccao  da  uni- 
vcrsidade) custou  ao  thesouro  somente  no  anno 
economico  de  184'J  a  1830  reis  3:322^008, 
com  OS  quaes  o  thesouro  proven  de  raeios  do 
subsistencia  a  13  professores  e  substitutes, 
incluindo  um  jubilado,  que  ainda  faz  servico 
especial,  e  um  bedel;  e  deu  instruceao  a  131 
alumnos,  cada  um  dos  quaes  custou  ao  the- 
souro 23^323  reis  e  pagou  por  livros  e  ma- 
trieulas  2^833  reis,  sommando  as  duas  ver- 
bas  26^180  reis. 

Dos  131  alumnos  que  frequentaram  o  lyceu, 
d'alguns  repetcntes,  e  d'annos  anteriores,  e 
de  muitos  que  vieram  de  fora,  lizeram-se  em 
outubro  de  1849,  e  julho  de  1830  —  1223 
exames  preparatories  perante  os  jurys  uni- 
versitarios,  nos  quaes  foram  approvados  ne- 
mine  discrepante  649  — simpUciter  312  — 
reprovados  264. 

Tao  grande  numero  de  reprovados  e  meio 
reprovados,  nao  significa  rigor  demasiado  nos 
exames;  significa,  que  fiados  na  approvacao 
simpUciter,  animam-se  aos  exames,  muito  mal 
preparados. 

Para  ebrigar  os  alumnos,  que  se  destinam 
Vol.  IY.  Jllho  1 


as  sciencias  superiores,  a  hem  estudar  os 
preparatories,  e  conveniente  vollar  ii  appro- 
vacao por  unanimidade,  revogando-se  nesla 
|ia'rte  o  art.  69,  §.  nnico  do  decreto  de  20 
de  septcmbro  de  1844. 

Para  prevenir  os  funestissiraos  prejuizos, 
que  resullam  aos  alumnos,  aos  paes,  e  ao 
publico,  do  ensino  particular,  feito,  muitas 
vezes,  por  raestres  pouco  habilitados,  e  in- 
dispensavel  que  se  tonne  a  obscrvancia  rigo- 
rosa  dos  cstatutos  de  1772  liv.  2,  tit.  1,  cap. 
2 ;  que  se  obriguem  todas  as  auctoridades 
administrativas,  e  de  policia  a  fazer  cumprir 
OS  artt.  83  e  seguintes  do  decreto  de  20  de 
septerabro  de  1844,  e  que  finalmente  se  pro- 
hiba  expressa  e  rigorosamente  a  todos  os  pro- 
fessores publicos,  e  proprietaries  ou  substi- 
tutos,  que  houvcrem  de  ser  examinadores 
d'algumas  disciplinas,  quacsquer  que  forem, 
ensinar  particularmente  essa,  ou  qualquer 
outra  disciplina  preparatoria ;  sob  pena  de 
ser  logo  privado  da  cadeira  ou  subslituicao. 

Assini  como  pelos  cstatutos  liv.  1,  tit.  4, 
cap.  3,  §.  37,  e  liv.  3,  p.  2."  tit.  2.  cap.  4, 
§.  3,  OS  esludantes  reprovados  trez  vezes  na 
univcrsidade  nao  sao  mais  admittidos  a  outro 
exame  d'a(iuellas  disciplinas,  da  mesma  sorle 
se  deve  fazer  exlensiva  a  todos  os  exames 
d'instruccao  secundaria,  e  preparatories, 
aquella  disposicao  dos  cstatutos. 

Sendo  a  instruceao  primaria  a  base  da  se- 
cundaria, e  esta  base  da  superior,  e  devendo 
quanto  se  ensina  na  precedente  estar  em  har- 
nionia  com  a  que  ha  de  ensinar-se  na  seguin- 
te,  e  de  absoluta  necessidade  que  os  coni- 
pendios,  pelos  quaes  devem  Icr-se  as  disci- 
plinas do  ensino  publico,  sejam,  como  esta 
determinado  pelo  art.  1G7  do  decreto  de  20 
de  septembro  de  1844,  propostos  pelos  pro- 
fessores, c  approvados  pelos  conselhos  das 
respectivas  escholas;  mas  que  estcs  nao  pos- 
sam  fazer  uso  d'elles,  sem  participar  ao  con- 
selho  superior  d'instruccao  piiblica,  a  Cm  de 
regular  as  laxas  e  mais  condicoes,  a  que  os 
auctores  dos  compendios  deverao  ficar  sujei- 
tos,  na  forma  do  §.  2,  art.  3,  §.  unico,  art. 
137  do  mesmo  decreto;  (icando  todavia  livre 
aos  mestres,  e  aos  discipulos  usar  de  quaes- 
quer  outros  approvados  pelo  conselho  supe- 
rior, ou  pelos  conselhos  das  escholas,  com 
tanto  que  nos  exames  publicos,  hajara  de  dar 
—1833.  Num.  7. 


'8 


louta  (Jos  compendios  legacs,  e  moslrar  que 
us  sabeni. 

Pelo  que  pertence  a  universidade  c  escho- 
las  do  ensiiio  superior,  dcvem  todos  os  eon- 
selhos  das  faculdadcs  e  das  escliolas  regular- 
se,  quanlo  possivel  seja,  pclos  estalutos  liv.  1, 
tit.  6,  cap.  1,  §.  8  e  seguintes,  liv.  2,  lit.  3, 
cap.  1,  §.  20,  e  liv.  3,  p.  1,  tit.  2,  cap.  2, 
§.  3,  quando  iiouverera  do  dcliberar  sobrc  a 
adopcao  de  compendios ;  iiao  tciido  as  suas 
resolucoes  execucao,  em  quaiito  nao  I'orcm 
tontirmadas  pelo  conselho  superior,  a  ([uem 
serao  logo  eiiviadas  para  se  execHitar  o  disposlo 
no  reguianiento  de  10  de  novembro  dc  1845 
art.  27,  n.°  i  e  6,  c  decrcto  de  iO  de  septem- 
bro  de  18i'(,.art.  3,  §.  unico,  e  art.  1G7, 
tj.  tinico. 

Nao  dependendo  o  ensino  na  instruccao 
secundaria  somentc  de  nielhoraraentos  matc- 
riaes,  pelos  quaes  incessantemente  se  clama, 
mas  d'outras  causas,  c  entre  ellas,  avultando 
como  principal,  o  methodo  do  ensino,  con- 
vem  que  se  facam  reconsiderar  as  respectivas 
instruccoes,  horas,  e  metliodos  d'ensino,  e 
se  trade  de  aperfeicoal-os,  e  lazcl-os  geraes 
e  communs  a  todas  as  escholas  do  reino. 

Exigindo  a  boa  ordem  no  estudo  das  disci- 
plinas,  que  os  aiumnos  nao  frequenlem  as 
posteriores,  sem  se  mostrarem  habiiitados 
com  sulTiciente  conhecimento  das  prccedentes, 
deve  ser  inteiramente  abolida  a  ciasse  de 
estudanles  voluntaries,  revogando-se  o  que, 
a  respeito  de  tal  ciasse,  se  diz  nos  artt.  CO, 
07  e  68  do  decreto  dc  20  de  septembro  dc 
1844;  mas  conservada  somentc  uas  faculda- 
dcs de  mathcmatica  e  de  philosophia  para  o 
lira  indicado  nos  eslatutos  liv.  3,  p.  2,  tit.  2, 
cap.  §.  8,  e  para  o  efl'eito  de  nao  serem  obri- 
gados  a  fazer  acto  no  (im  do  anno,  e  pode- 
rem,  quando  tenham  sido  babililados  para  o 
fazer,  espacal-o  para  quando  liajam  prol'un- 
dado,  e  esludado  melhor  as  materias;  nao 
Ihes  sendo  permittido  niatricular-se  nos  annos 
seguintes,  sem  terem  feito  ado  das  discipli- 
nas  dos  annos  anteriorcs ;  e  apprescntado 
certidao  dc  todos  os  preparatorios  indispen- 
saveig  a  respectiva  facublade. 

Sendo  os  estudos  encadeados  pela  ordem 
natural,  e  dependentes  niuitas  vezes  uns  dos 
outros,  e  sendo  o  conhecimento  das  discipli- 
nas  preparatorias  precise  para  o  estudo  das 
sciencias  superiores,  sem  excluir  mesmo  as 
iinguas  grega  e  hebraica  naqucllasfaculdades, 
para  que  se  exige,  nao  dcvem  os  aiumnos  ser 
admittidos  a  esludar  as  disciplinas  dos  annos 
posteriores,  sem  exame  dos  annos  preceden- 
les,  e  a  cursar  as  faculdades,  sem  dar  conta, 
antes  d'entrar  nesses  estudos,  de  todos  aqucl- 
les  que  sao  considerados  como  preparatorios. 

Tendo  apparecido  em  julho  do  anno  passa- 
do  urn  exame  falso  em  latinidade,  sem  que 
se  podesse  descobrir  o  seu  auctor,  e  devendo 
prevenir-se  laes  falsidades,  seria  muiio  con- 


vfniente  que  todos  os  aiumnos,  que  vierem 
fazer  exaraes  preparatorios  no  lyceu  de  Coim- 
bra,  e  frcquental-o,  ou  a  universidade,  sejam 
obrigados  na  conforraidade  dos  cstatutos  liv. 
2,  tit.  1,  cap.  2,  §.  2,  a  appresentar  certidao 
passada  por  cada  um  dos  mestres  que  os 
instruiram  em  cada  uma  das  disciplinas,  de 
que  pretendem  fazer  exame,  e  alem  d'este 
documento,  e  d'identidade  na  forma  das  clau- 
sulas  exigidas  pelo  prclado  da  universidade 
no  seu  relatorio. 

0  conselho  superior  era  vista  de  tao  salu- 
tares,  justas  e  acerladas  providencias,  espera 
que  V.  M.  nao  so  se  dignara  acolhel-as  bene- 
volamente,  mas  tambem  dar-lhes  a  sua  real 
approvacao. 

No  anno  lectivo  de  1S48  a  1849  fre- 
quentaram  a  universidade  de  Coira- 

bra,  aiumnos 828 

No  anno  lectivo  de  1849  a  1850  frcq.       884 


Diffcrenfa  para  mais  ...         56 

Fizeram  acto  881;  foram  approvados  ne- 
mine  discreimnte  793,  simpliciter  01,  repro- 
vados  27. 

Custou  toda  a  despesa  da  universidade 
ol:93i)|l699  reis  liquidos  de  tudo ;  mas  aba- 
tendo-se  23:309^904  reis,  que  os  aiumnos 
pagaram  por  livros,  matriculas,  c  cartas  de 
formaturas,  custou  ao  thesouro  em  todo  o 
anno  lectivo  26:SCS|i693  reis.  Com  essa 
quantia  proveu  de  raeios  de  subsistencia  a 
08  mestres,  e  a  49  empregados,  c  deu  instruc- 
cao superior  a  884  aiumnos,  e  mais  lo  de 
musica.  Soccorrcu  nos  hospitaes  a  2:532 
doentes;  alem  de  varies  jornaleiros,  serven- 
tes,  e  operarios,  que  forani  pages  pelos  diver- 
sos  estabelecimentos,  c  cntraram  na  verba  do 
expediente. 

Custou  cada  um  dos  884  aiumnos  da  uni- 
versidade a  sous  pacs,  por  livros,  matricu- 
las, e  cartas  de  formatura  28^099  reis,  e  aa 
the.^ouro  29^798  reis:  total  58^497  reis. 
Cada  alumno  de  musica  custou  ao  thesouro 
14^910  reis. 

Coraparando  agora  o  que  cusla  ao  thesouro 
a  instruccao  de  cada  alumno  das  escholas  d'ins- 
truccao  superior  de  Lisboa  e  Porto  com  o  que 
custa  a  da  universidade,  ve-se  que  a  da  uni- 
versidade custa  menos  d'ametadc. 

Frcqucntarani  a  academia  poiytechnica  do 
Porto  103  aiumnos,  custando  cada  um  ao 
tiicsouro  93^115,  contados  individuaimente. 

A.  eschola  medico-chirurgica  de  Lisboa  foi 
frequculada  por  40  aiumnos,  cada  um  dos 
quaes  custou  ao  thesouro  188^075  reis  con- 
tados individuaimente. 

A  eschola  medico-chirurgica  do  Porto  foi 
frequentada  por  35  aiumnos,  cada  um  dos 
quaes  custou  ao  thesouro  223^670  reis,  con- 
tados individuaimente. 

Os  relatorios  das  diversas  faculdades  e  escho- 
las superiores  fizeram  couhecer  a  este  conselho 


79 


que  OS  sous  membi'os  se  esincrara  no  apei  feiroa- 
mento  do  ensino  dos  dilTercnles  ramos  das 
scieiicias,  que  Ihe  estao  confiados,  c  a  con- 
scrvacao  e  o  engrandecimento  dos  seus  esta- 
belecimenlos. 

Na  faculdade  dc  theologia  o  numcro  dos 
alumnos  tern  augmcntado,  c  niaior  seria,  su 
•iquelle  era  cujas  dioceses  nao  ha  seminaries, 
fossem  obrigados  a  estudar  a  theologia,  ou 
na  universidade,  ou  nos  outros  seminarios 
niais  proxiraos,  o  que  muito  conviria. 

0  quadro  dos  lentes  cathedraticos  effectives 
esta  rcduzido  a  quatro,  um  dos  quaes  nao 
faz  servifo  ha  muitos  annos  por  doente  c 
avancada  edade;  e  a  quatro  substitutes  ordi- 
naries, que  tern  feito  todo  o  serviro,  come 
effectives  sem  gratilicacao  alguma.  E  por  esta 
causa  que  e  conselho  da  mesma  faculdade  se 
lisengea  de  ler  cuniprido  os  scus  dcveres, 
promovido  o  progresso  da  sciencia  theologica, 
com  grande  approveitaraento  dos  alumnos,  e 
banido  a  dialectica  escholastica,  conio  o  re- 
commenda  o  estatuto. 

A.  faculdade  de  direito  no  seu  relatorio, 
da  conta  de  que  a  commissao,  nomeada  pelo 
conselho  da  mesma  faculdade,  elaborara  o  pro- 
jecto  para  a  erganisacao  d'uma  faculdade  ou 
curso  de  sciencias  economicas  e  administrati- 
vas,  0  qual  foi  depois  discutido  em  claustro  pie- 
no,  come  ja  fica  raencionado  neste  relatorio, 
que  outra  commissao  se  encarregara  de  con- 
feccionar  o  projeclo  da  reforma  littcraria  de 
1844  c  1845,  que  tambem  ja  comecou  a  ser 
discutido  em  claustro  pleno;  e  que  linalmente 
a  erganisacao  do  cadastre  topographico  fora 
addiada  por  uma  resolucao  do  conselho,  era 
consequencia  d'haver  adoecido  gravemente 
um  des  membros  da  respectiva  commissao. 

0  conselho  da  faculdade  de  medicina,  no 
seu  relatorio,  lamenta  a  falta  d'um  demon- 
strader  dc  materia  medica,  e  d'um  ajudan- 
te  no  hospital  de  molestias  de  pelle ;  faz  scn- 
tir  a  urgente  necessidade  de  se  transferir  e 
hospital  da  Conceicao  para  o  edificio  des  ex- 
tinctos  Benedictines,  ende  se  podem  accora- 
modar  os  muitos  doentes  que  diariamente 
affluem  aos  hospitaes  da  universidade,  sem 
que  per  falta  d'espaco  estejam  os  corredores 
cheios  de  camas,  e  as  enfermarias  tenham 
mais  doentes  do  que  os  que  nellas  devem 
permanecer  segundo  os  preceitos  hygienicos, 
come  succede  actualmente  no  hospital  da 
Conceicao:  pondera  que  o  cirurgiae  nao  pode 
Iractar  da  parte  cirurgica,  e  da  parte  fiscal 
ao  mesme  tempo,  por  que  as  boras  do  cura- 
tive em  todos  os  dias  se  encontram  com  ou- 
tras,  era  que  a  fiscalisacao  e  indispensavel : 
queixa-se  de  que  sao  pouces  os  empregados 
acluaes  no  servico  das  enfermarias,  e  com 
pequcnos  ordenados,  e  que  apenas  habilita- 
dos  na  cirurgia  ministranle,  deixam  os  seus 
empregos,  para  irem  a  outra  parte  tentar  me- 
Jhor  fortuna. 


Para  que  as  enfermarias  dos  hospitaes  se- 
jam  bcm  scrvidas,  e  os  povos  ruraes  tenham. 
por  modico  preco,  quem  Ihes  prcstc  os  pri- 
meiros  soccorros  em  suas  molestias;  cntende 
0  conselho  superior,  que  se  deve  tomar  em 
consideracae,  se  convira  restabelecer  os  ri- 
rurgiocs  niinislrantes. 

Lembra  o  conselho  da  mesma  faculdade, 
que  nao  e  possivel  com  a  dotacao  estabeleci- 
da  para  120  doentes,  curar  e  suslentar  237 
come  na  actualidade. 

Tendo  attencao  a  administracao  dos  bens 
dos  hospitaes,  c  aos  recursos  que  d'elles  se 
podem  tirar  em  proveito  de  tao  uteis  eslabe- 
lecimentos;  parece  ao  conselho,  que  devera 
ser  tomada  na  consideracae,  (jue  merecer,  a 
preposta  do  prelado  da  universidade,  sebre 
a  creacae  d'uma  commissao  mixta,  formada 
d'um  lente  da  faculdade  da  medicina  no- 
meado  pelo  conselho  da  mesma  faculdade, 
d'um  cidadae  probo  e  intelligente,  nomeado 
pela  camara  municipal  de  Coimbra,  e  d'eu- 
tro  nas  mesmas  circumstancias,  cleito  pela 
mesa  administradora  da  sancta  casa  da  mi- 
sericordia  da  mesma  cidade. 

Tambem  o  conselho  da  faculdade  de  medi- 
cina representa  que  o  dispensatorio  pharma- 
ceutico  neccssita  d'alguns  utcnsilios,  e  bem 
assim  de  varies  instrumentos  os  gabineles  de 
anatomia,  de  medicina  operatoria,  e  arte 
obstetricia. 

Do  relatorio  da  faculdade  de  matheraatiea 
ve-se,  que  o  govcrno  de  V.  M.  foi  auctorisa- 
de,  per  carta  de  lei  de  23  d'abril  de  corrente 
anno,  a  mandar  comprar  para  o  observatorio 
da  mesma  faculdade,  os  instrumentos  de  que 
mais  carecia,  e  ja  este  conselho  superior,  em 
consulta  de  17  de  septembro  ultimo,  indicou 
ao  governo  de  V.  M.  o  modo  come  se  pode- 
riam  adquirir  com  proveito  da  fazenda  piibli- 
ca.  0  conselho  da  referida  faculdade  deu  as 
providencias  necessarias  para  os  exames  de 
practiea,  que  devem  tor  logar  no  4.°  anno, 
e  que  foram  aprovados  pelo  governo  de  V. 
M.  era  portaria  de  24  d'abril  do  sobrediclo 
anno,  cm  quanto  a  experiencia  nao  mestrar 
as  alteracoes  que  conviriam  fazer-se. 

0  professor  intcrino  da  aula  de  desenho 
annexa  a  mesma  faculdade,  no  seu  relatorio 
da  conta  do  aproveitamento,  e  hem  compor- 
tamente  dos  seus  di^cipulos,  e  requisita  alguns 
objectos  indispensaveis  ao  ensino  d'aquclia 
arte. 

0  provimento  definitive  d'esta  cadeira 
acha-se  a  concurse  perante  a  academia  das 
bellas  artes  de  Lisboa,  cenfornie  as  regias 
erdens  de  V.  M. ;  e  e  conselho  espera  que  a 
vista  dos  programmas  publicados  no  Diario 
do  Governo  possam  haver  concorrentes,  entre 
os  quaes  se  escoiha  o  mais  habilitado,  para 
desempenhar  com  dignidade  a  referida  ca- 
deira. 

A  faculdade  de  philosophia  tern  curado  cam 


80 


zelo  Ja  scienc'ia,  e  Jos  estabelecimontos  a  scu 
cargo.  Nao  sc  limitou  ao  rigoroso  desempe- 
nlio  das  funccOcs  do  magislerio,  raas  para 
maior  aperl'eiroamenlo  da  scieiicia  formou 
Elenchos  das  malerias  d'ensino;  naquelles 
ramos  porcni,  luja  extensao  e  doraasiadaracn- 
te  longa  para  ser  lida  em  uiu  anno  leclivo, 
discutiu  a  imporlaiuia  rclaliva  das  materias, 
e  conteci'ionou  programmas.  Insta  pelo  despa- 
cho  dos  dciuoiislradiiri's  para  as  demonslra- 
cOes  das  respoilivas  cadi'iras,  c  para  os  pxa- 
mcs  d«  practica,  que  liao  do  ter  logar  no 
bimestre  do  correnle  anno  lectivo,  depois  que 
OS  alunmos  livorem  satislVito  as  provas  oraes. 
Os  sous  estabolocimcntos,  leiu  sido  objecto 
dos  maiores  disvolos;  e  o  por  isso  que  o 
consolho  da  mesma  i'aculdade,  no  sen  relato- 
rio  lundado  nos  artt.  2,  3  o  4,  g.  3  da  por- 
taria  do  10  d'agosto  de  1349,  propoe: 

1."  Que  se  complete  no  lalioratorio  chi- 
mico  a  collecrao  dos  corpos  simplices,  e  que 
se  proveja  esle  estabeiecimento,  d'alguns 
inslrumentos,  macbiuas  e  utcnsilios,  que  ain- 
da  Ihes  fallam,  para  se  podcrem  fazer  alguns 
ensaios  e  processes,  espocialiuenle  do  cbimi- 
ca  organica : 

2.°  Que  0  gabinele  dc  pbysica,.  abundan- 
do  em  niachinas  antigas  e  modcrnas,  neces- 
sila  ainda  de  alguns  aparelbos,  e  instrumcn- 
los  de  modernissima  invoneao;  que  inuito 
contribuirao  para  o  collocar  a  par  do  estado 
actual  da  sciencia,  e  fazer  prosperar  na  uni- 
versidade  o  ensino  da  pbysica  experiinenlah 

3.°  Que  0  gabinete  de  zoologia  seja  enrl- 
quecido  de  exomplaros  da  maior  parte  das 
especies  exoticas;  de  nuiitos  gcneros  e  I'ami- 
lias  inteiras  dos  vertebrados,  c  inverlebrados, 
(;  da  Fauna  da  Nova  Holianda,  tao  rica  e 
variada,  eomo  singularmente  interessante: 

i."  Que  se  crie  para  o  referido  gabinete 
ura  iogar  deproparador,  que  se  dediquecxclu- 
sivamente  ao  servico  das  prepararoes,  e  nao 
seja  ao  incsrao  tempo  })reparador  e  guarda, 
corao  actualmenle  accontece,  do  que  rosulta 
nao  poder  desempenliar  eabalmente  ambos 
OS  encargos,  com  manifesto  perjuizo  do  esta- 
belociraonlo;  c  que  alom  do  preparador  e  do 
guarda,  e  tambom  nccessario  ([ue  baja,  pelo 
nieiios,  um  ajudantc  que,  amestrado  com  as 
licues  da  exporiencia,  possa,  na  sua  falta, 
substituil-os  com  dignidade: 

5.°  Que  se  amplie  o  museu,  annexando 
Ihe  algumas  casas  do  bospital  contiguo,  alim 
de  haver  espaco  necessario  para  a  collocarao 
regular  e  metbodica  das  especies,  que  ac- 
creseerem;  o  que  se  pode  conseguir  facilnien- 
tc,  ordenando  V.  M.  que  o  referido  hospital 
se  raude  para  o  vasto  e  magnilico  edificio  dos 
extinctos  Benedictinos: 

C.°  Que  0  meio  mais  proprio,  e  conve- 
niente  de  enriquecer  cste  e  os  mais  estabe- 
lecimentos  d'hisloria  natural,  e,  scm  duvi- 
da,   0  melhodo  de  fazer  viagens  scicntificas 


dentro  e  fora  do  reino;  pois  so  assim  sc  po- 
derao  obtcr,  c  recolbor  ao  museu  coUeccocs 
conipletas  dos  troz  reinos  da  natureza,  tao 
necessarias  as  dcmonstracoes: 

7.°  Que  a  colloccao  dc  mincralogia,  sen- 
do,  d'enlre  todas,  as  colleccOes  do  museu  de 
historia  natural,  a  molhor  c  mais  corapleta, 
e  careccndo  aponas  d'alguns  corpos  simpli- 
ces, e  d'alguns  generos  c  especies,  pode,  com 
])equona  dospesa,  complelar-se  inleiramente  ; 
0  bom  assini  a  colloccao  do  geognosia,  que 
ja  e  de  grando  valor: 

8/'  Quo  para  a|>orroicoar  o  cstudo  dc  geo- 
logia,  e  indispensavel  uma  colloccao  de  fos- 
seis  caractcristicos  dos  divorsos  tcrrenos, 
assim  como  na  parte  monlanliislica,  uma 
outra  coUeccao  de  todos  os  inodolos  dc  nia- 
cliiMas,  e  instrumonlos  [lara  auxiliar  a  intei- 
ligoncia  dos  ahimnos,  e  para  a  porfcicao  dos 
methodos  dc  exploracao : 

9.°  Quo  0  jardim  botanico,  alom  da  estufa 
tompcrada,  que  ba  rauito  tempo  possue,  ne- 
cossita  d'outras  duas,  uma  quenlc  e  outra  fria  ; 
de  colleccOes  de  llerbrarios,  e  de  estampas 
coloridas,  e  bora  ao  vivo  desenhadas,  e  da 
conclusao  d'algumas  obras  comecadas  naquel- 
le  estabeiecimento: 

10.°  Que  0  estabeiecimento  d'agricultura 
torn  precisao  d'um  guarda,  d'algumas  obras, 
d'instrumentos  e  macliinas  apropriadas  para 
as  oporacoes,  e  procossos  agronomicos,  e 
principalmcnte  dc  modelos,  que  sirvam,  nao 
somontc  para  as  demonslracocs  na  aula,  mas 
tambom  jiara  vulgarisar  o  seu  uso  ontrc  os 
proprietaries  e  os  artistas: 

11.°  Que  fiualmento,  ostando  o  ensino 
technologico  annexe  a  cadeira  d'agricultura, 
e  do  grande  importancia  a  acquisicao  de 
modolos  e  macbinas  para  instruccao  dos 
alumnos. 

0  conselho  superior  cspera  quo  o  governo 
de  V.  M.,  tomani  em  consideracao  todas  as 
cxigencias  feitas  polo  consolho  da  faculdade 
de  pbilosopbia,  quo  nao  se  propoe  se  nao  o 
auginonto,  crcdito,  e  prosperidade  dos  esta- 
belecimentos,  que  Ibe  estao  confiados. 

Conti'ti'ta. 


OBR.VS  DE  M.  LONGCH.\.MPS 

OFrEKECIDAS  PELO  A.  A  IMVERSIDADE  DE  COIMBBA. 

0  sabio  naturalista  M.  Edm.  do  Selys  Lon- 
gchamps,  um  dos  mais  distinctos  Membros 
d'Acadomia  real  das  scieucias  de  Bruxellas, 
acaba  dc  olTerocer  a  universidade  de  Coimbra, 
por  intervencao  do  Ex."'°  sr.  Conselheiro 
d'Estado  Antonio  Jose  d'Avila,  uma  coUeccao 
das  suas  obras  sobre  divorsos  assumptos  zoo- 
logicos,    que  M.   Longchanips    teni  tractado 


81 


Luin  a  superior  inlelligencia,  que  o  distingue, 
«  que  da  aos  scus  escriptos  mereeida  cele- 
bridadc;  a  universidade  de  Coiml)ra  iiao 
podia  portanlo  deixar  de  recebcr  com  espe- 
cial reconliecimento  a  lionrosa  offcrta  do  il- 
lustrc  uaturalista,  niandando  coilocar  na  sua 
bibliotlieca  aquella  importante  collcccao,  para 
ser  alii  consuitada  pcias  pessoas  conipctentes. 

A  colleccao  de  Mr.  Longchamps  comprc- 
liciide  as  obras  seguintes: 

Monoyraphic  des  Libdlulidees  d' Europe.  1 
vol.  8."  com  cstampas.  1840. 

Uevue  des  Odonales,  on  LibeUuks  d' Europe. 
1  vol.  8.°  com  cstampas.  ISiJO. 

Esta  scgunda  obra  e  o  compleraenio  da 
primeira,  e  contera  as  correccocs  c  addicocs, 
que  dez  annos  de  successivas  obscivacoes 
tornavam  indispen.savcis  pan  completar  os 
primeiros  estudos,  que  o  A.  lizcra  sobrc  esta 
importante  parte  da  entomologia. 

A  monographia  das  Libellinlias  couipre- 
beude  os  caractcres  e  a  synonimia  dos  geiicros; 
as  observacoes  sobre  os  caracleres  especificos 
de  cada  grupo ;  a  exacta  descripcao  das 
cspecies  de  cada  seccao;  suas  variedades,  e 
costumes,  e  uma  sijnopsis  em  latim  com  uma 
tabella  analytica  dos  generos  e  das  piirases 
cspecilicas;  de  maneira  que  de  todas  as  me- 
niorias  publicadas  sobre  a  familia  das  Libel- 
linbas  (Odonatadc  Fabr.)  a  de  M.  Longchamps 
(i  a  unica,  que  pbde  considerar-se  conio  a 
mais  completa,  c  que  comprehende  a  concor- 
dancia  e  synonimia  de  todas  as  outras. 

Na  Revista  das  Libellinhas  o  A.  reuniu  aos 
seus  proprios  traballios  e  observacoes  as  do 
Dr.  Hagen  de  Koenigsberg  sobre  dilTerentes 
pontes  da  anatomia  e  physiologia  dos  in- 
dividuos  d'esta  familia,  e  sobre  as  Libellinhas 
fosseis. 

Faune  Beige  \."  parlie.  1  vol.  8."  18i2 
com  estampas,  comprebcndendo  a  indicacao 
methodica  de  todas  as  especies  de  Yertebra- 
dos  ate  af|ui  observados  na  Belgica  ;  os  logares 
era  que  ordinariamenle  ellas  babitam  ;  a  epocha 
do  anno,  era  que  aparecera  as  especies  de  ar- 
ribacao;  algumas  observacoes  eriticas  sobre 
pontes  duvidosos  da  sciencia;  as  variedades 
iocaes,  ea  synonimia;  era  lira  as  especies 
observadas  nos  paizes  mais  visinhos  alera  da 
fronteira. 

Esta  obra  teni  portanlo  a  duplicada  van- 
tagem  de  fazer  conhecer  aos  naturaes  d'aquel- 
le  paiz  a  riqueza  animal  que  possuem,  e  de 
au.\iliar  o  estudo  da  geographia  zoologica  em 
geral. 

Observations  sur  les  phenomenes  periodiques 
du  regne  animal  et  partindierment  sut  les 
migrations  des  oiseaux  en  Belgique,  1  vol. 
fol.  1848. 

Esta  memoria  contem  importantes  observa- 
coes sobre  as  diversas  causas  e  circumstancias 
d'aquellas  emigracoes,  e  sobre  o  estabeleci- 
jneDto  de  um  calendario  zootogico. 


Sur  le  C'alendrier  de  Faune  en  Belgique.  I 
fol.  I8o2. 

Birapitulalion  des  hijhrides  observes  dans  la 
famille  des  Anatidees.  1  fol. 

Enumeration  des  Insectes  Lepidopteres  de 
la  Belgique.  1  fol.  1844. 

Sur  les  oiseuux  nmericains  admis  dans  In 
Faune  Enropeenne.  1  fol.  1846. 

Essai  Monografique  sur  les  campaqnols.  I 
fol.   1830. 

Eludes  de  M icromammulogie ,  Remie  des 
Musaraignes,  des  Bats,  et  des  Cumpagnnls. 
siiirie  d'un  Jnde.v  methodique  des  Mummiferes 
d'Europe.   1  vol.  8.°  com  estampas  1830. 

Debaixo  do  nome  de  micromammulogia  o 
A.  eoiuprehenile  o  estudo  das  trez  ordcns  Ao> 
mamraaes  os  cheiropteros,  insectiveros,  c  roc- 
dores,  que  contem  as  es(iecies  mais  pequenas 
d'a(|uella  classe.  Os  antigos  naturalislas  oc- 
cupavam-se  principalniente  dos  grandes  qua- 
drupcdcs.  Das  trez  ordcns  dos  pequenos  mam- 
niaes,  de  que  o  k.  tracta  n'esta  obra,  apenas 
vinte  especies  sao  mcncionadas  nas  primeira.s 
edicoes  de  Bull'on  e  Linneo;  e  hoje  Long- 
champs cita  cento  e  tantas  cspecies;  assim  e 
este  um  trabalho  novo  e  mui  importante  que 
raerece  ser  lido  com  niuita  attencao. 

0  Index  methodicus  europaeorum  mamma- 
Hum,  com  que  o  A.  tcrmiua  aquella  mono- 
graphia, e  tambem  niui  util,  porque  satisfaz 
a  uma  necessidade  da  sciencia,  reunindo,  do 
mesnio  niodo,  que  Temminch  lizera  em  rela- 
cao  as  .\ves,  lodos  os  niamaes  da  Europa 
n'uma  so  obra. 

Distribuilion  Geographique  des  campagnoi; 
en  Europe  1847. 

Memoria  publicada  na  Beinie  Zoologique. 

Note  sur  quelques  petits  mammi feres  du  midi 
de  France. 

Memoria  publicada  na  Bevue  Zoologique  de 
maio  de  1843. 

Todas  estas  obras,  cuja  leitura  recomenda- 
mos,  se  podem  consultar  hoje  na  Bibliotlieca 
da  universidade. 

J.  M.  DE  ABREU. 


CHIMICA  LEGAL. 


Anabjse  de  pao,  fermento,  e  farinha,  manda- 
dos  de  Travanca  de  S.  Thomi,  julgado  do 
Carregal. 

AN.\LYSE    DO    PAO. 

Fizemos  ferver  por  mais  de  uma  bora  um 
pouco  de  pao  era  agua  dislillada,  e  deixamos 
outra  porjao  a  maeerar  em  agua  fria  por  mais 
de  oito  dias.  Estes  liquidos,  depois  de  filtra- 
dos,  foram  postos  de  parte  com  as  designacww 
a  para  o  primeiro  e  b  para  o  segutido. 


82 


Ouira  pant  do  pSo  foi  sujeita  a  ebullirao 
cm  agiia  distillada,  com  potassa  caustica,  na 
razao  de  ccni  partes  dc  materia  suspeita  para 
uma  parte  de  polassa.  Estaiido  a  agiia  quasi 
evaporada,  junctamos-lhe  viiite  e  qualro  par- 
tes de  acido  suirurico  conceiitrado.  0  pao 
foi-se  carbouisaiido  poiico  e  pouco  ate  se  re- 
duzir  a  iim  rarvao  (riavel;  que,  depois  de 
pulverisado,  foi  sujeito  a  ebuiiicao  em  agua 
distillada  por  mais  d'uma  liora.  Este  liquido 
lillrou-se,  e  p6z-se  dc  parte  com  a  designa- 
i.ao  c. 

Uma  outra  parte  do  pao,  com  uui  sexto  do 
seu  peso  d'acido  sulfurico,  foi  aquccido  pouco 
e  pouco,  e  pouio  e  pouco  a  subslancia  orga- 
iiica  se  foi  carbonisando.  I'or  cima  d'estc 
car\ao  depois  de  frio,  deitamos  muitas  got- 
tas  d'acido  azotico,  evaporamol-o  ate  a  sec- 
cura,  e  o  carvao  secco  depois  de  pulverisado 
loi  sujeito  a  ebuiiicao  em  agua  distillada  por 
uiais  de  uiua  bora.  Este  liquido,  lillrado,  foi 
posto  de  parte  com  a  designacao  d. 

Empreyo  doi  reayeiites  sem  o  aparellio  dc 
Marsli.  De  todos  os  reagcntes  empregados, 
so  0  azotato  de  prata  e  o  acido  sullhydrico 
poderam  mostrar,  cm  alguus  dos  quatro  li(|ui- 
dos  guardados,  pequenos  indicios  da  existen- 
cia  do  arsenico;  uias  tao  leves,  e  tao  pouco 
accessiveis  a  sua  verilicacao  por  outros  rca- 
gentes,  que  tivemos  por  mais  seguro  despre- 
7.al-os.  Nas  outras  aualyses,  do  fermento  e 
lariuha,  que  havemos  de  descrever,  uao  nien- 
cionamos  este  emprego  de  reagentes,  porque 
la  iiem  ao  meiios  derani  estes  fracos  indi- 
cios. 

Analyse  no  apparelho  de  3larsh.  Todos 
OS  liquidos  com  as  designacoes  a,  b,  c,  e  d 
foram  sajeilos  ao  aparelbo  de  Marsh.  Este 
apparelho,  montado  scgundo  as  modificacoes 
adoptadas  pda  commissao  do  iustituto  de 
Franca,  trabalhou  em  branco  por  mais  dc 
meia  hora,  sem  (|ue  apparecesse,  no  tubo  ou 
na  porcellana,  o  menor  indicio  de  impurcza 
do  zinco  ou  do  acido  sulfurico.  Eusaiaraos 
cada  uni  d'estes  liquidos  em  separado,  veri- 
ficando  scmpre  em  cada  ensaio  a  pureza 
dos  reagentes.  Comcrando  pelo  liquido  a, 
lancamol-o  no  apparelho,  e  logo  em  seguida 
appareceram  na  porcellana  muitas  mancbas 
que  foram  guardadas.  Pouco  c  pouco  foi  dirai- 
uuindo  a  grandcza  d'estas  mancbas  ale  nao 
apparecerem  mais,  a  pezar  das  differentes  di- 
mensOes  que  lizemos  dar  a  chamma.  JS'este 
estado,  lancamos-lhe  mais  liquido  suspeito, 
e  as  mancbas  appareceram  segunda  vez.  0 
mesmo  phenomeno  se  repetiu  todas  as  vezes 
que  juuctamos  novas  porcoes  dc  liquidos  quan- 
do  0  apparelho  tinha  dcixado  dc  produzir 
manchas.  Os  anneis,  que  procunimos  no 
tubo  com  a  lampada  de  alcool,  umas  vezes 
nao  appareciam ,  e  outras  vezes  manifesta- 
vam-se  apenas  por  uma  ligeira  sombra,  e 
nunca  bem  caraclehsticos;  nao  deixando  dc 


eslorvar  os  anneis  dc  churabn,  a  que  da; a 
logar  a  inipureza  do  vidro.  Por  estes  moti- 
vos  assentamos  emdesprezar  este  meio  d'ana- 
lyse. 

Analii.ie  da  chamma  do  apparelho  dc  Marsh 
e  das  manchas  da  porcellana.  Collocando  ho- 
risontalmente  sobre  a  chama  do  apparelho  de 
.Marsh,  a  dislancia  de  meia  polegada,  urn 
bocado  de  ])orcellana  bumcdecida  com  uma 
dissolucao  de  azotato  dc  prata  ammoniacal, 
appareccu,  na  orla  da  dissolucao,  a  cor  ama- 
rella  do  arsenito  de  prata,  ainda  ([ue  pouco 
pronunciada.  Ik-cebida  a  chamma  em  uma  dis- 
solucao de  sull'ato  de  cobrc  ammoniacal,  ap- 
pareceu  em  alguns  pontos  o  verde  proprio  do 
arsenito  de  cobre.  Dirigido  o  gaz  do  appiv- 
rclho  a  uma  dissolucao  alcoolica  dc  potassa, 
nao  houve  turvacao  do  liciuido.  Todas  as 
mancbas  da  i)orccilana  olfereciam  a  cur  aloi- 
rada  c  o  brilho  mctalico  das  manchas  arseni- 
cacs ;  e,  expostas  as  dill'erentes  reaccocs,  deram 
OS  resullados  seguintes. 

1."  Desapparcceram  instautancamente  com 
a  chamma  do  dydrogcneo. 

i.°  0  mesmo  desapparecimcnto  prompto 
com  OS  vapores  do  chloro. 

3.°  Os  vapores  do  phosphoro,  em  bocados 
em  uma  capsula,  as  lizeram  desapparecer  pas- 
sadas  duas  boras  pouco  mais  ou  menos ;  e. 
expostas  depois  ao  acido  sulphydrico,  deixou- 
se  vcr,  ainda  que  a  custo,  a  cor  amarella  do 
sulfurcto  de  ar.senico. 

4."  Os  vapores  do  iodo  fizeram-Ihe  tomar 
a  cor  de  cidra  ^iodureto  darsenico  .  Expostas 
depois  a  urn  calor  brando,  desapparcceram 
com  promptidao;  e  tornaram  a  apparecer, 
ainda  ligeiramente,  pcla  accao  do  acido  sull- 
hydrico. 

ii."  Dissolveram-se  com  o  acido  iodbydri- 
co,  deixando  pela  evaporacao  um  residue 
amarellado. 

ti.°  0  hypochlorito  dc  cal,  actuando  sobre 
as  manchas  por  dez  minutos,  dissolveu-as 
em  grande  parte. 

7."  A  dissolucao  ou  desaparecimento  das 
manchas  foi  prompto  c  completo  com  o  acido 
azotico  a  frio. 

8."  A  dissolucao  azotica,  evaporada  ate  ii 
seccura  a  um  calor  brando.  e  o  residue  tra- 
ctado  ])or  um  pcqucno  crista!  de  azotato  de 
prata  ammoniacal  e  uma  gotta  d'agua  distil- 
lada, tomou  a  cor  atijolada  do  arsenito  de 
prata. 

0.°  0  mesmo  residue  da  dissolucao  azoti- 
ca, sendo  tractado  pelo  acido  sullhydrico,  deu 
uma  sombra  amarellada  de  sulfureto  de  ar- 
senico. 

Concluida  a  analyse  d'estc  liquido  a,  e  da 
chamma  e  manchas  respectivas,  passamos  a 
ensaiar  o  liquido  b,  e  cm  seguida  os  liqui- 
dos c  e  d.  Todos  produzirara  manchas 
na  porcellana,  siniilhantes  as  do  liquido  d; 
apparccendo  os  phenoraeuos  no  trabaliio  do 


83 


apparclho  de  Marsh  do  modo  como  foram 
notados  no  primciro  ensaio.  As  reaccocs,  a 
que  sujeitamos  a  charama  do  appari'lho  e  as 
manchas,  nos  ensaios  dos  ultimos  trez  liquidos, 
tambem  derain  resultados  similliantcs  aos  da 
chamma  c  manchas  provenic.ntcs  do  liquido 
que  primeiro  tinha  side  analysado. 

ANALYSE  BO   FERMENTO. 

Preparamos,  com  o  fermento,  quatro  liqui- 
dos pelos  mesmos  processes  empregados  na 
preparacao  dos  liquidos  a,  b,  c  c  d  na  analyse 
do  pao,  e  designamol-os  com  as  mesmas  qua- 
tro letras. 

Analyse  no  appurelho  de  Marsh.  Os  qua- 
tro liquidos,  ensaiados  scparadamente  no  ap- 
pareiho  de  Marsh,  nao  produziram  anncis  no 
lubo  nem  manchas  na  porceliana;  a  exccprao 
do  liquido  c,  que  apenas  fez  appareccr  duas 
manchas  muito  pequenas  e  mal  caracterisa- 
das. 

As  suspeitas,  que  cstas  duas  manchas  lize- 
zeram  crear,  levaram-nos  a  repctir  noutra 
porcao  de  fermento  os  dois  processos  para 
ohtermos  novas  porcOes  dos  liquidos  bee;  e, 
sujeitando  estcs  liquidos  ao  apparelho  dc 
Marsh,  ohtivemos  com  o  liquido  b  muitas  man- 
chas em  tudo  similhantcs  as  que  tinha  dado 
a  analyse  do  pao;  e,  com  o  liquido  c,  outras 
manchas,  ainda  que  menos  numerosas,  tam- 
hem  similhanles  as  primeiras.  A  analyse  de 
todas  estas  manchas  deu  resultados  similhan- 
les aos  que  tinham  dado  as  manchas  do 
pao. 


ANALYSE   DA   FARINUA. 

Repetimos  na  farinha  os  mesmos  processos 
empregados  no  pao  c  fermento,  para  a  pre- 
paracao dos  quatro  liquidos  a,  b,  c  G  d. 

Analyse  no  apparelhu  de  Marsh. — Ensaia- 
mos  OS  quatro  liquidos  no  apparelho  de  Marsh ; 
e,  a  pezar  de  ternios  variado  as  condicoes 
da  chamma  cm  cada  ura  d'estes  quatro  en- 
saios, que  fizcraos  em  separado,  nunca  nos 
appareceu  o  menor  indicio  de  anneis  arseni- 
caes  nos  tubes  nem  manchas  na  porceliana. 
Repetimos  noutra  porciio  de  farinha  o  proces- 
so  empregado  para  se  obter  o  liquido  c;  e, 
repetindo  o  ensaio  d'este  novo  liquido  no 
apparelho  de  Marsh,  assim  como  d'outras  por- 
cOes dos  liquidos  a,  b  a  d,  que  ainda  resta- 
vara,  sempre  tivemos  o  mesmo  resultado.  Ape- 
nas 0  liquido  c,  ultimamente  preparado,  deu 
por  uma  so  vez  na  porceliana  uma  pequena 
sombra  sobre  o  pardo  e  seni  brilho. 

Esta  mancha  que,  pela  sua  pequenez  e  por 
ser  unica,  nao  sc  prestou  a  uma  analyse 
minuciosa,  nao  tendo  os  caracteres  physicos 
das  manchas  arsenicaes,  nao  se  tendo  dis- 


solvido  no  acido  azotico,  no  acido  chlorhydrico, 
nem  no  ammoniaco,  g  tendo-se  volalilizado, 
ainda  que  lentamcnte,  com  a  chamma  do  hydro- 
genco,  deixou-nos  inclinados  a  que  fosse  pro- 
duzida  para  materias  organicas,  ou  por  estas 
subslancias  e  cnxofrc. 

0  apparecimento  d'esta  sombra  ou  pequena 
mancha  aiuda  nos  levou  a  ensaiar  outra  por- 
cao de  farinha.  Preparamos  com  ella,  segunda 
vez,  0  liquido  a,  e  pcla  terceira  vez  o  liquido 
f,  mas  promovendo  a  carbonisacao  dentro 
d'uma  retorta  com  o  collo  mergulhado  emagua 
distillada,  e  aprovcitando  esta  agua  para  cima 
do  lillro.  Sujeitfimol-os  nova  mente  ao  appa- 
relho de  Marsh,  mas  nada  appareceu  que 
(izesse  lembrar  aquella  sombra,  manchas,  on 
cousa  similhante. 


CONCLUSOES. 

De  todos  OS  processos  d'analysc  que  temos 
descripto,  concluimos : 

1.°  Que  todo  0  pao  analysado  sc  achava 
cnvenenado  com  arsenico. 

2.°  Que  havia  arsenico  cm  parte  do  fer- 
mento analysado,  e  que  outra  parte  o  nao 
continba,  achando-se  d'este  modo  descgual- 
mente  distribuido  por  todo  o  fermento  que 
nos  foi  cntregue 

3.°  Que  a  porcao  de  farinha  analysada 
nao  tinha  arsenico. 

A.   A.   DA  COSTA  SIMOES. 


0  HAREM ' 


A  palavra  harem  significa  um  logar  reser- 
vado,  e  consagrado  a  algum  objecto  digno  de 
especial  veneracao.  Assim  os  arabes  chamam 
a  cidade  sancta  de  Medina  liaremi  nebevi  (o 
sanctuario  do  propheta).  Na  linguagem  corren- 
te  dii-se  aquelle  nome  as  casas,  em  que  habitam 
as  mulberes  inteiramcnte  separadas  do  resto 
da  familia,  como  no  antigo  gyneceu  dos  Gregos; 
as  ideas  religiosas,  porem,  que  no  Oriente  se 
ligani  as  relacoes  do  homem  com  a  mulher, 
dao  ao  harem  um  caracter  especial. 

0  harem  do  sullao  faz  parte  do  seu  palacio, 
com  0  qual  communica  por  duas  porlas  de 
bronze  dourado.  Escravos  negros  cstao  dia  e 
noute  de  guarda  a  estas  portas,  por  onde  nin- 
gucm  pode  entrar  sem  ordem  expressa  do 
soberano. 


'   ExtrahiJo da iiiteressante  obra — La  Turqiiir  actuel- 
le,  que  M.  Ubicini  acaba  dedar  i  Inz. 


Si 


De  lados  os  Uaruaiiliiis  o  sulirio  c  o  unico 
i|iic  pode  com  razao  ((iu'i\ar-so  da  dcscgual- 
(iade  das  coiidiijoes.  Ao  luesino  tempo  o  pri- 
lueiro  e  o  ullinio  do  todo!;,  sucllf  esta  pii\ad() 
do  diieilo  di'  coiUrahir  uni  casaiiH'iito  Irgal. 
A  lei  que  lonicdc  (nuitio  imilliorL's  Icgitimas 
a  todo  0  iioiilP,  qui!  as  |indcr  sustciitar,  coii- 
deuiua  o  sullilo  a  ler  coiuuliiiias  cm  vez  do 
csposas;  per  isso  o  povo  lallando  do  sultao 
desigiia-o  sompro  com  o  liliilu  u  do  lillio  da 
escrava. " 

Este  I'osliinio,  recel)ido  coiiio  maxima  do 
Eslado,  romoula  ao  tompo  dopiimoiro  lliiaim 
(1047).  Ate  osta  epoolia  os  siiltoos  ottoiiiaiios 
podiam  oonlraliir  logitimo  malrimonio.  Algiins 
d'ollos  esposaram  luulhores  chrislas.  E  tradic- 
(.•ao  coustantc  que  a  mac  do  conquistador  de 
Constanlinopla  I'oia  uma  princcza  francoza, 
que  cstivora  justa  para  casar  com  o  impcra- 
dor  grego  Joao  Paloologo,  quaiido  o  navio,  que 
a  transportava,  cahira  em  podor  do  aimiranlo 
Saroudji-pacha,  a  quern  Mourard  II  cedera  as 
joias  e  thesouros,  que  constituiam  o  dote 
d'aquella  princcza,  ficando  em  troco  com  a 
l)eila  captiva. 

Seduzido  pelos  (Micantos  do  scu  espirito 
Mourard  vciu  a  esposar  a  priucoza,  de  quern 
houve  Mahomet  II.  Affirma-so  tfiiiil)om,  que  a 
mae  de  Mahmoud,  a  qual  morrera  em  181G, 
era  I'ranceza. 

As  mullieres  que  occupam  o  liarem  sao 
di\ididas  em  cinco  categorias,  segundo  a 
sua  jcrarcliia  e  a  naturoza  das  suas  I'unccoes. 
As  primeiras  em  dignidade  tern  o  titulo  de 
Cddinas  por  corrupcao  do  vocuIjuIo  Khatoun, 
que  6  0  titulo  proprio  das  mullicros  perten- 
centes  a  nobreza  na  Turquia.  0  numero  legal 
das  Cadiuas  e  de  sete,  c  gozam  das  mesmas 
prerogalivas  das  antigas  sultanas. 

Tauto  as  cadinas  corao  as  outras  mullieres 
do  harem  perdom  os  nomes,  c  sao  dosignadas 
numericamcnte,  primoira  dania,  segunda,  tor- 
ceira,  quarla  dama  etc.  (KItaloun  birindji, 
Khatoun  ikindji  etc.)  A  cadiua  primeira  tern, 
segundo  dizeni,  vinte  oito  annos,  o  d'alta 
pstatura,  mas  feicoos  vulgares;  o  sultao  houve 
d'eila  0  seu  primeiro  lillio,  e,  segundo  as  Icis, 
compete-lhc  por  isso  a  eatcgoria  de  iniperatriz. 
A  cadina  segunda  6  de  pec|ucna  cstatura, 
cabcllos  louros,  mui  viva  e  interessanle:  a 
Icrceira  e  uma  Ibrmosa  circassiana,  que  so  dcu 
a  luz  uma  princcza:  a  qmrta  c  de  uma  rara 
helleza,  mas  infecunda:  a  (]uinta  c  trigueira 
com  olhos  azues :  a  sexla  foi  comprada  em 
Salonica;  e  loura,  e  mui  encantadora:  a 
seplima  e  uma  helleza  circassianna,  hem  apes- 
soada;  o  seu  rosto  c  radioso  corao  o  da 
lua,  e  OS  sous  olhos  sao  similhantes  aos  das 
houris. 

A  esta  brilhante  pleiada  segue-se  lim  grope 
de  cincoenta  a  sessenta  pequenos  planetas. 
Sao  as  odaliscas  [odalytj).  Eslas  tfiem  a  seu 
cargo  todo  o  scrvico  domestieo  do  sultao;  sao 


as  suas  giiarda-roupas,  servem-no  a  mcza. 
lavam-uo,  vestom-no,  e  licam  de  vigia  a  ca- 
liecoira  do  leito  em  (|uanto  elle  repou.sa. 
Algumas  das  odaliscas  c\crccm  I'unccoes  mais 
in\ojadas.  e  gozam  dos  favores  do  .seu  senhor 
como  as  cadinas;  mas  noui  por  isso  a  escrava 
lioiirada  com  o  titulo  de  I'avorita  [ikfiil]  dcixa 
do  viver  com  as  suas  com]ianlieiras,  e  so 
[lassa  a  categoria  de  cadina,  quando  csia 
gravida. 

0  titulo  de  sultana  so  e  concedido  as  lilhas 
nu  irmas  do  Grao  senhor.  .V  mac  d'oste  tern  o 
tiliilo  de  Vulidi'-Sultnn  (sultana  mae)  e  oc- 
ou])a  0  primeiro  logar  no  imperio  a  baixo  do 
Grilo  senhor. 

0  numero  das  odaliscas  e  illimilado,  e 
dopende  do  gosto  ou  capricho  dos  sultoes. 
Mourard  IV  teve  mais  de  trezcntas,  de  ([uem 
houve  cento  e  trinta  lilhos;  porem,  desdc 
Mahmoud  I  os  sultoes  estabeleceram  nestc 
ponto  certos  limites,  nao  so  por  economia, 
mas  tambem  em  attencao  a  opiniao  piiblica, 
que  na  Tur([uia  e  mais  poderosa,  do  que 
geralmentc  se  acredita. 

As  Oustas  sao  inferiores  as  odaliscas,  c 
fazem  o  servico  particular  da  sultana  mae, 
das  cadinas  e  dos  lilhos  do  sultao. 

Estas  dilTerontes  classes  conslituem  um  pes- 
soal  de  trezentas  a  quatrocentas  mulheres 
pela  maior  parte  da  Circassia,  e  d'outros 
pnnlos  do  Caucaso;  quasi  todas  ellas  ignoram 
a  familia  e  a  patria,  que  as  vira  nascer.  As 
que  nao  sao  designadas  polo  titulo  do  servico 
que  Ihcs  esta  destinado  no  harem,  teem  urn 
sobrenome  allusivo  as  suas  qualidades  moraes, 
ou  aos  sens  dotes  physicos.  Hayati  (que  da  a 
vida) ;  Safaiji  (que  busca  o  prazer) :  Nourisabak 
(aurora):  Gxdbahar  (rosa  da  primavera)  etc. 
A  excepcao  das  cadinas,  as  outras  mulheres 
do  harem  obedeccm  todas  a  uma  governante 
designada  pelo  sultao  d'entre  as  antigas  fa- 
voritas,  que,  em  signal  de  auctoridade,  usa  de 
um  bastao  guarnecido  com  laminas  de  prata. 
E  esta  de  certo  uma  auctoridade  bem  difficil 
d'exercer.  As  odaliscas  nao  gozam,  como  as 
cadinas,  de  privilegios  legaes,  mas  supprem 
esta  falta  pelos  mais  astuciosos  meios,  e  com 
intrigas,  e  enredos  que  a  sua  imaginacao  Ihe 
suggere  para  obterem  o  favor  do  sultao,  que 
e  0  unico  objecto  de  todas  as  suas  ambicoes. 
0  proprio  sultao,  «  este  poderoso  Assuero ,  » 
cuja  afToioao  disputam  mil  bellezas,  c  involvido 
naqucllas  intrigas  e  torn  muitas  vezes  d'oc- 
cultar  OS  alTectos  do  seu  coracao,  e  cons- 
pirar  em  segredo  para  nao  traliir  o  objecto 
das  suas  mais  intimas  inclinacoes;  taes  sao 
as  regras  ou  os  costumes  do  harem,  onde  um 
d'esses  myslerios  amorosos  revelado  produz 
uma  completa  revolueao,  que  nao  raro  ler- 
mina  tragicaraente,  e  mais  d'uma  favorita 
tem  cxpiado  pela  sna  indiscripcao,  victima 
do  vcneno,  ou  amargurada  por  outros  lor- 
mentos,  a  passageira  felicidade  d€  que  gozava. 


85 


Juiz  sera  appellarao  nestcs  raelindrosos  con- 
flictos,  a  governante  proniincia  a  sentenca, 
que  0  Kislar-aga  faz  executar. 

Contam-si;  muitos  casos  de  odaliscas  que 
morreram  victimas  do  ciiime  das  cadinas. 

0  sultao  Mahnioud  tinha  no  seu  harem 
uma  jovcn  cscrava,  que  Ihe  inspirara  uma 
violenta  paixao.  Cliamava-se  clla  Zcineb.  Per 
seu  rps[)eilo  o  sultao  desprcza\a  lodas  as  ca- 
dinas, posto  que  olle  tinha  a  cautella  de  so 
Ihe  fallar  as  esiondidas,  ou  pelo  receio  de 
exp61-a  ao  ciunie  das  suas  rivaes,  ou  por  que 
se  queria  iivrar  das  qucixas  e  accusacOes 
das  cadinas.  Zcinch  pcia  sua  parte  occultava 
tarahcm  a  sua  felicidade,  o  que  nao  era  vulgar 
entre  as  da  sua  chisse.  Uma  cadina,  porem, 
que  por  muito  tempo  vivera  na  illusao  de 
raerecer  exclusivamente  as  afl'eicOes  do  sultao, 
pode  descobrir  o  segredo  dos  dois  amantes. 
OITendida  raais  no  seu  orgulho  do  que  na 
sua  ternura,  rompeu  cm  violentas  injurias 
contra  a  pobrc  escrava,  e  no  furor  do  seu 
despeito  ordcnou  aos  eunuchos  que  a  aroitas- 
sem.  Zeiueb  recuando  um  passo,  e  levantando 
a  cabera  com  nohre  altivez,  diz  aos  eunuchos: 
«  Suspendei:  no  meu  seio  trago  um  sultao.  » 
Immediatamente  todos  se  prostraram  diante 
d'elhi  beijando  respoitosamenle  a  fimbria  do 
seu  vestido.  A  cadina  no  auge  da  sua  colera 
toma  um  vaso  cheio  d'agua  a  ferver  para  ar- 
remecal-o  aos  olhos  da  sua  rival  no  momento 
em  que  o  sultao,  ouvindo  este  alarido,  entrava 
no  aposento,  onde  csta  scena  se  passava. 
Zeineb  tremula,  e  lavada  em  lagrimas  lanca- 
se-lhe  aos  pes;  e  o  sultao  tomou-a  em  sens 
bracos. 

A  profunda  commocao  que  Zeincb  experi- 
menlara  fdra-llie  fatal;  algunias  semanas  de- 
pois  cxpirava  ella,  dando  a  luz  uma  menina, 
que  seu  pae  idolatrava,  e  que  na  edade  de 
onze  annos  loi  desgracadaraente  victima  do  in- 
cendio,  que  em  1810  consumiu  uma  parte  do 
harem. 

As  cadinas  teem,  cada  uma,  um  aposento 
e  um  banho  separado.  As  odaliscas  hahitam 
pequenas  cellas,  ornadas  com  pcrfeita  unilbr- 
midade  e  cujas  portas  dao  todas  para  uma 
grande  sala  redonda  com  magnilicos  espelhos 
nos  intcrvallos  das  janellas.  Este  salao  e  a 
ponto  de  reuniao,  a  assemblea  e  o  forum 
d'este  povo  feminino.  Os  cuidados  do  touca- 
dor  absorvem  todas  as  attencoes  nesta  as- 
semblea durante  o  dia.  A.  noule  a  cadina  ou 
a  favorita,  que  o  sultao  deslina  recolhe-se 
com  clle  aos  sens  aposentos. 

Na  primavera  o  sultao  deixa  o  seu  palacio 
d'inverno,  e  todo  o  harem  o  acompanha  para 
a  nova  resideneia. 

As  cadinas  quasi  nunca  fallam  com  mulhe- 
res  estranhas  ao  harem,  excepto  com  algumas 
antigas  escravas  do  harem,  que  estao  forras, 
e  se  acham  casadas  na  cidade,  ou  com  algu- 
mas mulheres  velhas,  que  vao  vender  objectos 


de  luxo   com  recomendacao  d'uma  sultana, 
ou  d'alguma  dama  nobre. 

J.  M.  DE  ABREU. 


RELACAO 


Dos  individuos  nomeados  para  os  seguintes  logarcs 
d'instrnci'ao  piiblica,  por  despachos  do  Conse- 
Iho  superior  d'instruci-uo  publica  desde  o  1 .° 
ate  0  dia  IS  do  mez  de  jiinho,  e  Item  assim  por 
decrelos  e  portarias  do  Governo,  communicadas 
an  mesmo  Conselho  superior  no  indicado  pe- 
riodo. 


INSTIinC(XO    PBIHARIA. 

Antonio  Jose  Alvcs  Teixeira  de  Magalhaes, 
para  professor  temporario  da  cadeira  de  Athey, 
districto  de  Villa-Real. 

Antonio  Percira  de  Carvalho,  para  a  dc  Villa 
Ruiva,  districlo  de  Beja. 

Candido  Maximiano  Xavier  de  Noronha,  para 
a  de  Formoselhe,  districlo  de  Coimbra. 

Jose  Bcnto  da  Gama  Lameira ,  para  a  de 
Assumar,  districto  de  Sanlarem. 

Jose  Maria  Xavier  Malheiro,  para  a  de  San- 
fins,  districto  de  Villa-Real. 

Jose  da  Rosa  Themudo,  para  a  de  Alpalhao, 
districto  de  Porlalcgre. 

Sebastiao  Jose  Teixeira  Pinto,  para  a  de  Val- 
Passos,  districto  de  Villa-Real. 

Caelano  Antonio  Fernandes,  para  a  de  Rcbor- 
does,  districto  de  Viana. 

Francisco  dos  Rcis  Oliveira,  para  a  de  Villa 
do  Bispo,  districto  de  Faro. 

Joaquim  Avelino  Barbosa,  para  a  de  Monte 
de  Caparica,  districto  de  Lisboa. 

Joaquim  Elysiario  Ferrcira,  para  a  de  Ericei- 
ra,  districto  de  Lisboa. 

Luiz  Jacintho  Percira,  para  a  de  Villa-Franca 
do  Campo,  districto  de  Ponta  Delgada. 

Maria  Libania  Fagundes,  para  mcstra  tcmpo- 
raria  da  eschola  dc  meninas  da  Villa  da  Praia 
da  Victoria. 

INSTHUCgiO  SECDNDABIA. 

Bento  Alvcs  Pereira  de  Moura,  para  Profes- 
sor temporario  da  cadeira  de  latim  de  Villa-No- 
va de  Famalicao,  districto  de  Beja,  por  portaria 
de  12  d'abril  proximo  passado. 

Joaquim  ManocI  Fernandes  Braga,  professor 
da  quarta  cadeira  do  lyceu  nacional  de  Ponta 
Delgada,  para  professor  da  terceira  cadeira,  para 
as  reger  cm  curso  biennal,  por  decrcto  de  36  de 
maio  ultimo. 

INSTRCCfAO  SUPER lOR. 

Thomaz  dc  Carvalbo,  para  lentc  proprietario 
da  primeira  cadeira  da  eschola  medico-chirurgica 
de  Lisboa,  por  decreto  de  30  dc  maio  ultimo. 


86 


APONTAMENTOS  SOBRE  A  THEORIA  DAS  PARALLELAS. 


ADVERTENCIA. 


Usamos  dos  Elenieiitos  de  Geoiiictria  d'Eiiclides,  piiUlicadob  pela  iuiprensa  da  uiii- 
versidade  em  1846:  na  definijiio  porem  de  parallelas  suhenteiidemos  suppriiiiida  a  phrase  on 
cquidt$tante$,  (vid.  def.  3d  do  1.°  Liv.),  porque  iiao  t;  d'Eiiclides.  Dcvciii  U'r-se  as  rcfc. 
rencias  ao  Legendre  na  duodecimo  edigdo  da  sua  gcometria,  impressa  em  Paris,  em  182."!. 

Lemma  I. 

ji  recta,  que  une  as  extremidades  de  duas  rectus  eguaes  c  perpendicnlares  a  uma  i/uarla 

recta ,  fa%  angxdos  eguaes  com  as  dictas  perpendicnlares. 
Fig.  I. 

\  ^  n      Sejam   (Fig.  1)  BC  e  AD  eguaes  e  perpendiculares  a  CD  , 

tire-se  AB:    digo  que  os  angulos  DAB  e  ABC  sao  eguaes. 
Pelo  ponto  G  raeio  de  DC,  esleja  tirada  a  recta  GE  perpen- 
'^  dicular  a  DC,  e  as  rectas  BG  e  AG.  A  perpeudicular  EG  esla 
denlro  do  angulo  AGB  (Leg.  liv.  1  prop.  21). 
n  f.  r.      Nos  triangulos  ADG  e  GBC  temos  AD=BC;  DG  =  GC, 

e  05  angulos  em  D  e  C  eguaes:  logo  (Leg.  liv.  1,  prop.  6),  os  triangulos  ADG  e  BCG 
sao  eguaes,  e  por  isso  e  DAG:=CBG,  e  DGA  =  CGB,  sendo  tambem  AG=sBG:  ora 
como  AG  =  BG,  «egue-se  (Leg.  liv.  1,  prop.  12)  que  e  GAE:?=GBE  :  por  conseguinle  as 
duas  egualdades  GAB  =  GBA,  ej  DAG  =  CBG,  dao  GAB  +  DAG  =  GBA  +  CBG  ;  ou 
DAB  =  ABC. 

coROL.  Sendo  DGE  =  CGE,  DGA;:;=CGB,  sera  AGEsssEGB:  ora  os  triangulos 
AGE  e  EGB  tern  AG  =  GB,  GE  coramum,  e  os  angulos  AGE  e  EGB  eguaes:  logo 
AEss  EB,  o  03  angulos  AEG  e  BEG  sao  rectos. 

scHOi.io.  Construidas  as  rectas  DC,  DA,  BC,  debaixo  das  condigoes  do  presenle 
lemma,  se  quizermos  baixar  de  B  ou  de  A  uma  perpendicular  sobre  GE,  produrida,  em 
logar  de  procedermos  na  conformidade  do  que  se  le  em  Leg.  (liv.  2.°  probl.  3),  bastard 
unir  OS  pontos  B  e  A  por  uma  linlia  recta.  Sabe-se  (Leg.  liv.  I,  prop.  16),  que  d  um 
ponto  dado,  fora  d'uma  recta,  se  nao  pode  tirar  aenao  uma  perpendicular  a  recta. 


1^ 


Lemma  IL 


As  rectas  (Fig.  I)  AD ,  EG ,  BC  sdo  eguaes. 

Porque  se  assim  nSo  fora,  verificar-se-hia  uroa  das  desegualdades 


Fig.  II. 


seCH  = 


l.»  EG>BC:2.'  EG<BC. 

Seja  em  prinicrro  lugar  EG  >  BC.  Snp- 
ponha-se  AEBCGD  (Fig.  II)  construida,como 
Fig.  I :  produzam-se  em  direitura  do  si  nies- 
mas  as  rectas  DC  e  CB;  tome-se  CC'=sDC; 
m  C  estpja  C'B'  perpendicular  a  CC,  e 
egual  a  BC;  tire-se  BB',  e  G'E'  perpendicu- 
lar ao  ineio  de  CC'.  fi  facil  de  ver  que  E'G' 
=  EG,  e  BC  em  tudo  egual  a  AC. 
r:  f<  Qi  '(f       Por  quanto  admitlimos  que  EG>BC,  tome; 

EG  =  E'G'.  Designe-se  um  ponto  I  acima  de  H ,  e  lirem-se  EH,  EI,  E'H,  E'l. 


87 

Oi  quadriialeros  EGCH  e  HCG'E'  sao  eguaes  por  construcgao  ;  e  a  tambem  (Lem.  I) 
GEH=EHU,  CriE'=G'E'H,  e  pela  egualdade  dos  quadrilateros,  EHC  =  CHE',  e 
KH=E'H:  logo  EHI=:E'HI,  comosupplemenlos  d'angulos  eguaes.  Sendo  pois  EH=E'H, 
HI  commiim  aos  triangulos  EHI  e  E'HI,  e  o  angiilo  EHI  =  E'HI  serao  os  triangulos 
liHl  e  E'lll  eguaes:  era  EI  +  E'l  >  EH  +  HE'  (Leg.  liv.  4,  prop.  9);  logo  EI  >  EH. 
Por  conse(iuencia  o  pe  da  perpendicular  haixada  de  E  sobre  CL  iiao  pode  estar  para  cima 
de  H  (Leg.  liv.  1  prop.  16):  o  dicto  pe  tambem  n.io  pode  estar  eni  H,  porque  EHC=HEG, 
e  HEG  e  obluso :  tambem  nao  pode  eslar  o  pe  da  perpendicular  para  baixo  de  H,  por 
exempio,  em  I',  alias  o  iriangulo  HEl'  teria  dous  angulos  maiores  que  dous  rectos,  o 
que  e  impossivel  (Eucl.  liv.  l."  prop.  17).  Por  lanto ,  se  EG  >  BC ,  do  ponto  E  nao  se 
pode  tirar  uma  perpendicular  a  CL  ;  o  que  e  falso  (Lem,  1  scholio,ou  Eucl.  liv,  I,  probl. 
12).  Logo 

BC  nao  e  menor  do  que  EG. 

Supponlia-se  BC>EG.  Feita  a  precedenle  construc^ao  (Fig.  II),  tome-se  CH'r^EG; 
para  baixo  de  H'  tome-se  um  ponto  T  ;  tirem-se  EH'jEI',  E'H',  E'l'.  Demonstra-se  come 
acima  fizemos ,  que  EI'>EH':  logo  a  perpendicular,  baixada  de  E  sobre  CL ,  nao  passa 
para  baixo  de  H';  e  como  GEH'  e  agudo,  sera  EH'C  agudo ,  logo  a  perpendicular,  de 
que  faliamoi,  iifio  passa  por  H';  mas,  sendo  EII'C  agudo,  EU'L  e  obtuso ,  por  isso  (Eucl. 
liv.  I,  pnip.  17)  a  dicta  perpendicular  nao  corta  CL  para  cima  de  H'.  Logo  sendo  BC  maior 
do  que  EG  nfio  se  podera  tirar  por  E  uma  perpendicular  a  CL,  o  que  e  falso  :  (Lem.  I.  scholio) : 
e  por  isso 

BC  nao  e  maior  do  que  EG. 

Concluiuios  pois  que  nfio  e  BC  maior  ncm  menor  que  EG;  logo  BC:=EG. 

CoKOL.  I.      Os  angulos  (Fig.  I)  em  A  e   B  sdo  rectos. 

Os  triangulos  GEB  e  BGC  s.'io  rectangulos  um  em  E  outro  em  C;  lem  a  raesma 
liypotlienuse  BG  :  e  EG  :=  BC :  logo  sao  eguaes  (Leg.  liv.  1,  prop.  18);  e  por  conseguinte 
EBG=BGC;  EGB=GBC;  e  por  isso  EGB  +  BGC  =  GBC  + GBE  =  EGC  =  a  um 
recto. 


CouoL.  II.     Os  irez  angulos  do  Iriangulo reetangitlo  eguivalem  a  dous  rectos. 

Porque  EBG=BGC  :  logo  BEG+EGB  + EBG=BEG-|- EGB+BGC=BEG  +  EGC= 

a  dous  rectos. 

CoROL.  III.     Os  trez  angulos  d'um  Iriangulo  qnalquer eguivalem  a  dous  rectos. 

lug.  III. 

Seja  o  Iriangulo  ABC  (Fig.  Ill)  oblusangulo,  e  B  o  angulo 
obtuso:  a  perpendicular  baixada  de  B  sobre  AC  caLira  (Eucl.  liv. 
1  prop.  17)  dentro  dos  ponlos  AeC:  tire-se,  e  seja  BP.  Os  seis 
angulos  do3  triangulos  ABP  e  BPC  valem  quatro  rectos:  tirando 
OS  angulos  P,  ficara  A+B  +  Ci^ia  dous  rectos. 

Se  o  triangulo  (Fig.  IV)  e  acutangulo  a  perpendicular,  baixada 
de  A  sobre  BC,  cahira  em  BC,  e  concluiremos ,  como  preeedente- 
mente  A  +  B-fC  =  a  dous  rectos. 

CoROL.    IV.     Os   quatro    angulos  do   quadrilalero    equivalem   a 
quatro  rectos.   Porque  o  quadrilatero   se  divide  em  dous  triangulos, 
C     por  meio  da  diagonal. 

CouoL.  V.     EB  (Fig.  1)  e  metade  de  DC. 

CoROL.  VI.     j1  diagonal  (Fig.  1)  DB  e  dividida  ao  meio  por  EG. 

Porque  EB=:DG:  DOG  — EOB;  DGO  =  OEB;  logo  (corol.  II)  EBO  =  OpG 
e  porlanto  (Leg.  liv.  I,  prop.  7)  DO  =  OB  ;  e  tambem  OG  =  OE.  E  assim  a  perpendicu- 
lar MN  ao  meio  de  AD  passa  tambem  pelo  ponto  O.  E  como  per  um  ponto  se  nao  pode 
tirar  mais  do  que  uma  perpendicular  a  uma  recta,  segue-se  que  a  perpendicular  baixada  do 
meio  da  diagonal  sobre  o  lado  do  reclangulo  divide  esse  lado  ao  meio.  (Leg.  liv.  I  prop.  lo). 
Advertiremos  mais  que  por  ser  OG=:OE,  e  2  OG  =  AD,  e  por  isso  MO  =  DG. 


88 


Thcorcma . 


Ou  axioina  duodecimo  do  priineiro  livro  dn  Geniiictria  d'  Eudidca. 

LI  se  uma  liaha  recta,  encoiitrwido-se  cotii  oulr<is  duns  rectus  ,Jizcr  os  aiigutos  intcruas 
__  incsma  jiartc  iiienorcs,  que  do^ts  I'cctos ,  cstas  duas  rectus  pradirJdds  ao  infinilo  concur- 
rcrao  para  ii  mcsina  parte  dos  diclos  angulos  ijUcrnos. 


da 


A 

P 

Q       P'      P' 

I, 

""---^ 

n 

H       G 

B 

^ 

1       11 

■' 

M 

jj 

t< 

W  ^~<^ 

t- 

M'^^~---,,__^^ 

/VV 

Scjam  AB  e  CT)  (Fi;;.  V.)  diiaa  roctas,  que  cortaclas  por  EC! 
fazeiii  OS  aiij,'ulos  BliG  e  E(iD  iiioiiores  i|ue  dons  reL-lns:  si-iido 
^   islo  assini ,  iitii  do^  an^'iilos,  por  cxpiMpIo ,  EGD  e  necessaria- 
ineiile  agiido ;    de  E    haixe-se   Ell    perpendicular  a  CD.    Por 
J)   hypothese  IIGE4-  GEM  +  HEB  sao  ineiioros  que  dous  rectos; 
G        H  mas  (Lciii.  II  corol.  II)  IICiE-|-GEH  vaiem  uni  recto;  logo 

IlEB  e  apudo :  por  couseguiute  o  estaliplecer  (|ue  BEG-j-J'^GD  sao  meuores,  que  dous 
rectos,  equivdl  a  supper  que  ,  scndo  EIID  recto,  e  IIEB  agudo.   Posto  isto  : 

Fis.  11. 

^        Seja  (Fig    \  I)  ACD  um  angulo  recto  e  CAB  uin 
angulo   agudo,  digo  que  as  reclas  AB  e  CD,  seiido 
^  prodiizidaS;  liao  de  cortar-se  paia  a  parte  BD. 

Ao  ponto  A  da  recla  AC  levaiite-so  AX  ,  perpen- 
dicular a  AC:  do  ponto  B  baixe-sc  BP,  perpendicu- 
lar a  AX  ,  e  em  urn  ponto  X  de  AX  levante-se  KX , 
.  Y  perpendicular  a  AX,  e  egual  a  BP:  tome-se  AL=BP, 
e  tirem-se  BL  e  BR,  que  estfio  em  direitura  uma 
^  da  outra,  porque  sao  rectos  (Lem.  II  corol.  I)  os 
angulos  PBL  c  PBR.  A  recta  AB,  produzida  para  o  Udo  DX,  passa  por  baixo  de  BR, 
porque  ABP  e  agudo,  e  por  isso  PBM'  e  obtuso.  Produza-so  pois  AB  ate  um  ponto  M': 
de  M'  baixe-se  M'P'  perpendicular  a  AX:  fa^a-se  P'n  =  PB:  o  ponto  II  esta  na  recta 
BR:  porque  o  quadrMatero,  que  se  formar  com  PP',  PB,  P'H ,  e  uma  recla  BH  lem  os 
angulos  em  H  e  B  rectos  (Lem.  II  corol.  I),  logo  (Leg.  liv.  I  prop.  15  corol.)  a  recla 
BH  do  quadrilatero  e  uma  parte  de  BK.  Sendo  PUB  recto  BUM'  tambem  o  e.  Seja  [  o 
nieio  de  IIM',  lire  se  IM  perpendicular  a  HM',  sera  M  o  meio  de  BJM'  (Lem.  II  corol. 
VI);  lire-se  jMQ  perpendicular  a  AX;  e  porque  PBG  e  recto,  QGB  tambem  o  e  (Lem. 
II  corol.  IV):  logo  o  triangulo  BGM  e  rectangulo  em  G,  como  MIM'  o  e  em  I:  por 
oulra  parte  e  BG  =  GH,  e  Gll  =  MI  e  HI  =  MG  (Lem.  II  corol.  VI),  e  PQz=QP. 
(Lem.  II  corol.  V).  Logo  M'il  =  2.  WG. 

Produza-se  AM'  em  direitura  de  si  mesma  ate  ser  M'M"  =  MM':  de  M"  baixe-se 
sobre  AX  a  perpendicular  M"P":  fa9a-5e  P''h  =  P'l  :  tire-se  1h:  por  esta  conslrucgao 
OS  angulos  P'ln  e  P"iil  sao  rectos,  e  por  isso  MIh  e  uma  recla;  e  o  angulo  MhM" 
e  redo:  divida-se  hM"  ao  meio  no  ponto  I':  a  perpendicular  a  P"M"  no  ponto  I'  passara 
necessariamente  pelo  ponto  M'  (Lem.  II  corol.  VI);  e  por  ser  M'l  perpendicular  a  Mil 
sera  I  o  meio  de  Mm  (No  mesnio  corol  )  :  e  nI'=M'I  =  rM''=MG.  Logo  M"h=2.  MG  : 
e  como  PBG'  e  recto,  P"G'B  tambem  o  e:  logo  (Leg.  liv.  I  prop.  15)  P"G'  =  PB, 
porque,  se  assim  nfio  fosse,  do  mesmo  ponlo  B  se  poderiam  baixar  duas  perpendiculares  a 
P''M''  (Lem.  II  corol.  J):  do  mesmo  inodo  se  ve  que  QG^PB:  e  por  isso  G'M'':=3.  MG. 
Podemos  continuar  indefmidamente  a  conslrucgao  precedeute :  e  por  isso  podemos  con- 
struir  uma  recta  GC"  — =)  M^"~')::=n.  MG  ,  aonde  M^''~'i  designa  um  ponto  de  AB  , 
produzida. 

De  L  para  C  lomem-se  Lx  =  xy=y%=^~tz=tu =  MG  :  se  MG  e  LC  s.'io  com- 

mensuraveis  um  dospontosa;,  ou  y ,  s.  .  .  .  caliira  em  C  ,  que  representa  a  divis;'io  n ;  con- 
tando  1  em  x;  2  em  ?/ ;  .S  em  %;....:  produza-se  AB,  e  de  B  para  Y  tome-se  uma  recla  egual 
a  n.  BM ,  a  extremidade  de  AB  ,  estara  em  CD  ,  egualmente  produzida ,  se  necessario  for; 
porque  a  perpendicular  baixada  sobre  AX  da  extremidade  de  <i  AB  +  '"-  BM  n  e  eguil  a 
AL-\-n.  L.V. 

Se  MG  e  LC  n.'io  sfio  commensiiraveis ,  a  ("""^  divisHo  x,  ou  »/■■••  cahira  entre  L  e 
C  :  a  divisilo  n  estara  para  baixo  de  C.  Tomando  em  AB  produzida  a  recta  ,  de  comprimento 
AB  +  n.  BM ,  e  baixando  da  extremidade  uma  perpendicular  sobre  AX,  essa  perpendicu- 
lar e  egual  a  AL  +  n.  MG.  Logo  AB,  produzida,  corta  CD. 

E.  G.  OZORIO. 
Abril  de  18SS. 


i)  Jn^stittttn^ 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


GOXSELHO  SUPERIOR  DE  ISSTRDCClO  PIJBLICA. 


RELATORIO  ANNUAL. 

1849—1850. 
PARTE  S." 

Instruccdo  superior. 
Continuado  de  pag.  69. 

0  director  da  bibliothcca  da  univcr.sidade, 
no  seu  relatorio,  da  conta  da  regularidade 
no  service  d'este  estal)eiecimcnto  da  parte 
dos  seus  emprcgados;  e  de  nao  ter  havido 
occurrencia  alguma  desagradavcl  da  parte  de 
todos,  OS  que  alii  I'requentaram  a  Icitura  dos 
divcrsos  ramos  scicntiticos.  Pondera  que  o 
conlingente  destinado  para  compra  de  livros, 
e  jornaes  litterarios,  tanto  de  sciencias  positi- 
vas,  como  naturaes  e  tao  limitado,  que  prc- 
cisa  ser  augmentado  para  poder  satisfazer  as 
neeessidades  c  curiosidades  dos  homens  de 
Ictras.  Pede  providcncias,  nao  so  para  que  se 
conclua  o  trabaiho,  ja  tao  adianlado,  da  cata- 
logacao  de  mais  de  cem  mil  volumes,  das  ex- 
tinclas  corporacoes  rcligiosas,  depositados  no 
andar  superior  do  edilicio  do  lyceu  de  Coim- 
bra;  mas  tambem  para  que  scmandem  reformar 
algumas  eslantes,  que  alii  se  acliam  em  gran- 
de  estado  de  ruina;  e  f'azer  alguns  reparos 
indispensavcis  naquelle  deposito. 

A  bibliotheca  contcm  obras  14:330,  volu- 
mes. classiQcados  e  encadernados  42:230,  em 
brochura  430,  volumes  nao  classificados  e  en- 
cadernados 8:700,  em  broxura  600.  Foram 
adquiridas  no  anno  lectivo  findo  obras  28, 
volumes  50. 

0  prelado  da  universidade,  no  seu  relato- 
rio, pondera,  que  o  tempo,  em  que  a  livraria 
da  universidade  csta  aberta,  nao  e,  nera  o 
sufficiente,  nem  o  mais  opportune  para  ser 
concorrida  de  lentcs  e  estudantcs;  e  ao  con- 
selho  superior  parece,  que  no  rcgulamento 
de  que  a  bibliotheca  carece,  se  devem  tomar 
na  considecao,  que  merecerem,  aquellas  pon- 
deracoes. 

Na  real  capella  da  universidade,  cclebra- 
ram-se  os  oiEcios  divinos  com  todo  o  esplen- 

VOL.  lY.  JlLHO  15. 


dor.  Os  capellaes,  e  mais  empregados,  cum- 
priram  os  seus  deveres,  e  foram  coadjuvados 
por  cinco  estudantes  ecclesiasticos,  que  pelo 
decurso  do  anno,  se  matricularam  como  addi- 
dos  a  real  capella,  e  prcstaram  service  vo- 
liintariamentc  nos  termos  do  §.  2,  art.  4  de 
dccreto  de  13  d'abril  de  1845.  Foi  provida 
em  2  de  marco  do  correnle  anno,  pele  cen- 
sellio  dos  decanos,  uma  capcllania  vaga,  ten- 
do  precedido  o  rcspectivo  concurso.  Fizeram- 
sc  alguns  pequenos  reparos  nos  ornamentos 
da  capella.  Finalmeute  e  urgcnle  e  concerto 
do  estuque  de  tecto,  e  o  do  orgao  da  mesma 
capella. 

0  director  da  typograpliia  da  universida- 
de, no  seu  relatorio  pondera,  que  os  novos 
typos,  e  machinas  d'imprirair,  e  es  prelos 
de  metal  com  outros  utensilios,  tern  concor- 
rido  para  a  perfeicao  typographica,  que  vai 
appareccndo  nas  ultimas  edicoes,  elaboradas 
na  mesma  oflkina.  Pede  a  continuacao  da 
auctorisacao,  que  Ihe  foi  concedida  no  orca- 
mento  do"  1845  a  1840,  para  empregar  as 
sobras  dos  seus  rendimcntos  annuaes  na  re- 
forma  dos  typos,  e  prelos,  que  devem  subsli- 
tuir  OS  de  madeira,  de  que  ainda  alii  se  ser- 
veni ;  e  bem  assim  d'um  torculo  de  metal 
fundido,  d'invencao  moderna,  para  cstam- 
par;  e  d'uma  machina  para  moer  tintas;  o 
que  tanto  concorre  para  a  belleza  da  imprcf- 
sao.  Pede  tambem  auctorisacao  para  obras 
no  edilicio,  a  fim  de  que  se  possam  collocar 
as  novas  machinas,  e  a  lithographia  cem  que 
se  vai  enriqueccnde  a  oflicina ;  e  ordeni  de 
credito  para  pagamento  d'aquella,  e  outras 
quantias  do  material  e  pessoal,  insertas  no 
orcamenlo  da  mesma  iniprensa.  Conclue  tinal- 
mente,  assegurando  que  o  service  c  traba- 
Ihos  da  typographia,  centinuam  com  a  pos- 
sivel  regularidade,  e  que  tem  side  reforraa- 
niades  os  abuses  introduzidos  pele  tempo. 

0  director  da  academia  polytheclmica  de 
Porto,  no  seu  relatorio,  represcnla  a  falta 
d'um  jardim  belanieo  c  experimental,  da  sexta 
cadeira,  que  foi  supprimida,  para  o  ensino 
do  curse  de  construccoes ;  d'um  gabinete  de 
physica  e  mechanica  industrial ;  d'um  gabincle 
mineralogico  e  zoologice;  e  d'um  gabinete  de 
chimica;  o  augmente  de  seu  laboratorio;  e 
d'instrumentos  physicos  e  mathematicos;  a 
denegacao  de  licenca  aos  alumuos  militares, 
-1853.  '  '  Num.  8. 


90 


para  cstudarem  na  acaJcmia  os  prepaialorios 
para  a  cschola  do  cxcrcito ;  o  al)Uso  de  se 
jiassarein,  na  inlendcncia  da  maiinlia,  cartas 
de  pilolagem  a  iiidividiios  scni  hahilitiirOes 
academical ;  e  tinalmente  a  necess^idadc  de 
fimplilicar  n  curso  de  pilotagom  para  facililar 
a  sua  fri'i]uoncia. 

Dos  l(i;{  aliimiios,  ([iie  frcqiieiilaram  a  aca- 
demia  polylcchnica,  tizeraiii  I'xamo  'Jii;  Ibraiu 
approvados  plt'iiaiiK'Ute  'JU,  simpliciter  '6. 

0  coiisoilio  superior  julga  ([ue  deve  ser  atten- 
dida  a  reprcsoiitacao  do  director  da  acaileinia 
polytechiiica  do  Porto,  por  quanto  os  oiijectos 
rcqiiisitados  acham-se  ordenados  pela  legisla- 
cao  vigeiUe,  e  iioiueadaineiUe  pclo  art.  IGj 
do  decreto  de  13  de  Janeiro  de  1S37,  e  peio 
art.  13S  do  decreto  de  20  de  fepteml)ro  de 
18ii. 

0  conseliio  da  escliola  inedico-cliirurgica 
de  Lisboa,  no  sea  relatorio,  diz  que  o  cstado 
material  da  cscliola  nao  e  tao  satisfactorio, 
como  0  conselho  deseja ;  que  o  estado  litte- 
rario,  pode  considerar-se  completo,  com  res- 
peito  as  necessidadcs  ordinarias  da  practi- 
ca;  que  o  estado  moral  foi  bom,  iiavendo  em 
todo  0  anno  lectivo  a  maior  rcgularidade,  e 
nao  occorrendo  uni  unico  caso  dc  perturba- 
cao,  ou  de  menor  rcspeito  da  parte  dos  alu- 
mnos;  e  (pie  cstcve  fechada  a  aula  de  clinica 
chirurgica  drsde  2i  de  dezembro  de  18i9, 
ate  20  de  junbo  de  ISoO. 

As  providencias  que  o  governo  de  Y.  M. 
tomou,  c  OS  concursos  abcrlos  ultiraamenle 
para  o  provimcnto  das  substiluicOcs,  e  de- 
nionstracOes  vagas  uaquellas  escbolas,  bao-de 
fazcr  cessar  csta  irregularidade. 

0  mesmo  conselho  cscbolar  pondcra,  que 
jiara  satisfazer  aos  iins  da  portaria  de  10 
d'agosto  do  anno  prcterito,  e  necessario  que 
a  dotaciio  da  escbola,  na  importancia  de  reis 
1:000$000  seja  elevada  a  2:3GS^i00,  verba 
cm  que  se  comprelicudc  o  orcamento  da  despe- 
za  para  o  anno  economico  dc  18a0  a  ISol. 

0  conselbo  superior,  com  ([uanto  acbe  justa 
a  ponderacao  do  conselbo  da  rcferida  escbo- 
la, no  estado  actual  de  sua  organisacao,  dei- 
xa  a  sabedoria  do  govcruo  de  V.  M.  tomal-a 
na  c'jusideracao  (jue  nierecer. 

Frequcntaram  a  escbola  8j  alumnos.  No 
rurso  de  parteiras  matricularam-se  S;  per- 
deu  0  anno  1 ;  lizoram  oxamc,  e  foram  ap- 
provados pionamcnte  7. 

0  conselho  da  escbola  medico-cbirurgica 
do  Porto,  no  sen  relatorio,  ([ueixa-se  da  lalta 
d'espnro,  ([ue  ba  no  edilicio  onde  csta  col- 
locada,  para  cstabelecer  os  gabinetes,  que  o 
eiisino  practice  exigc;  a  pezar  d'isto  cspera  o 
conselho  cscbolar,  poder  crear  habeis  chirur- 
gioes.  Queixa-sc  egualmente,  dc  que  os  phar- 
niaceuticos  approvados,  e  com  botica  aberla, 
nao  cnmpram  a  lei,  deixando  d'enviar  a 
cschola  impreterivelmcnte,  todos  os  annos, 
no  mez  d'oulubro,  os  registos  dos  praclirantes 


dc  pbarmacia,  que  practicam  na.s  suas  ollici- 
nas;  e  (|uc  sem  oito  annos  complelos  de  re- 
gular c  boa  priictica,  nao  podcm  scr  admit- 
lidos  a  fazer  examc  d'acpiella  disciplina. 

0  conselbo  superior  julga  digna  de  ser 
attendida  a  rcclamajao  da  escbola,  para  que 
se  torne  olTertiva  a  cxecucao  do  art.  131  do 
decreto  de  21)  de  dezembro  dc  1831)  acerca 
dos  pbarmaceuticos. 

0  nu'smo  conselho  cscbolar  convencido  de 
(]no  para  a  cxecucao  de  (jual(|iier  operacao 
cbirurgica,  cnja  practica  demanda  grande 
destreza  anatomica,  niio  era  bastanle  o  eslu- 
do  d'um  anno  d'anatomia,  impoz  aos  ainmnos 
do  2."  anno  a  o))rigacao  de  repelir  a  anato- 
mia,  c  pcde  que  dc  novo  se  mande  vigorar 
0  rcgulamento  de  2d  de  junbo  de  182ij,  re- 
vogado  pelos  decrctos  dc  29  de  dezembro  de 
lS3(i.  e  20  de  scplembro  de  18ii. 

Da  conta  dc  ter  adoptado  na  cschola  o 
nictbodo  jirescripto  nos  cstatntos  da  univer- 
sidadc,  para  os  exanies  da  clinica  medico- 
cbirurgica,  com  a  dilTcrcnca  dc  ser  liniitada 
a  sua  duracao  a  10  dias  uteis. 

Alcm  d'isto  pcde  ainda  varias  outras  pro- 
videncias, nmas  regulamcntares,  outras  Icgis- 
lativas,  que  esto  conselbo  cspera  levar  a 
presenca  de  V.  M.,  quando  cstiver  concluida 
a  (liscussao  principiada  no  clanstro  [deno  da 
universidade,  sobre  a  reforma  litteraria. 

A  clinica  medica  da  cschola  no  anno  lecti- 
vo dc  1819  a  ISjO  tern  18i  docntes;  a  chi- 
rurgica 91;  lizcram-se  19  operacoes  cbirur- 
gicas  donde  rcsultou  uma  unica  morte. 

A  cschola  medico-cbirurgica  do  Funcbai, 
desde  a  sua  creacao  ale  hoje,  nao  remetteu 
um  so  relatorio  ou  niappa;  de  maneira  ijue 
0  conselbo  superior  ignora  absolutamente  o 
cstado  d'aquella  escbola;  a  qual,  no  sentir 
do  mesmo  conselbo,  dcvc  ser  supprimida, 
pori[ue  a  julga  inutil  ao  cnsiuo;  ou  ser  or- 
ganisada  sobrc  oulra  base,  fazendo  os  pro- 
fessorcs  dcpcndcntcs  dc  concursos,  cm  que, 
por  provas  piil)licas,  se  moslrem  a  V.  M.,  por 
este  conselbo  superior,  dignos  do  magisterio; 
quando  V.  M.  nao  entenda  o  contrario  em 
sua  alta  sabedoria. 

A  instruccao  superior  cusion  ao  tbe^uro 
8S:028^5920"reis. 

S-  •'•' 

liexiilinilds. 

Em  qiiaulo  as  escbolas  do  cnsino  primario 
nao  forcm  insjicccionadas  pelos  commissaries 
dos  esludos,  ou  por  sens  sub-delegados ;  em 
quanto  os  professores  actuacs  nao  reccberem 
promptamcntc  os  sens  pequenos  ordenados; 
cm  quanto  liualmente  nao  se  crcarem  escbo- 
las normaes,  onde  sc  eduquem  e  formem  bons 
raestrcs;  nao  pode  progreJir  com  vantagem 
e   perfeicao   a   instinccao   primaria;    a    qual 


91 


precisn  ser  mais  ililTuiidida  do  que  ihoslmi- 
teraeiite  esta,  creando-se  novas  cadciras.  laii- 
to  para  OS  meninos,  como  para  as  meniiias. 

Dilalada  a  csphera  do  ciisiiio  seuiiiidaiio 
no  scntido  das  disciplinas  e  sciencias  in- 
dustriaes;  adoplados  coiiipondios  legaes;  fi.\a- 
da  a  ordcm  dos  cstudos,  c  aperfeii'oados  os 
metliodos;  proliibido  o  cusino  parlicular  a  (|ucm 
seja  prolcssor  publico,  e  a  (]imm  uao  teniia 
titulo  dv  capacidadc,  ol)tido  do  cohsl'IIio  su- 
perior: e  olirigados  os  mestres  parlifularej 
a  dar  no  principio  e  fim  dos  cursos  a  rolarao 
dos  seus  alumnos  na  forma  dos  cslalulos  da 
universidadc;  nao  rarecc  a  inslrucrao  secun- 
daria de  mais  estudos  classicos. 

Creado  o  curso  cconomico  administrativo, 
completa  fica  na  universidadc  a  inslruccao 
superior. 

Coinil)ra,  em  conseiho  de  20  de  novcmbro 
de  ISoU. — Jo6e  Muchmh  d'Abreu,  reilor, 
vice-presidcnle  —  liasilio  Alberto  de  Souza 
Pinto — Jeronijmo  Jose  de  Mello  —  Francisco 
de  Castro  Freire — Manoel  Martins  Bandeira 
—  Jose  Manoel  de  Lemos  —  Antonio  Cardoso 
Barges  —  Lni:  Ir/nacio  J'erreira. 


RELATORIO 

NoI>i'o  o  oslado  proNoiite  da  insli-iiocao 
pi'iblira  e  pai-li<'9ilar  <lo  niMricIo  sid- 
luiiiiKiractivo  ilo  Vunclial  osn  marro 
d(>  1  S55. 

SECCAO  1.' 

Eslado  presenle  das  Escholas. 

k  ordeni  e  dareza  da  materia  pcdcm  que 
esta  seccao,  a  subdivida  cu  em  tanlos  capi- 
tulos,  quantos  forera  os  ramos  de  inslruccao, 
«iue  aqui  se  cultivam.  Tacs  sao: 

1,"     Inslruccao  elcmentar. 

%."     Inslruccao  primaria. 

li."     Inslruccao  secundaria. 

•i.'     Inslruccao  especial  ou  superior. 

CAPITUIO    I. 

Instruciao  elemenlar. 

Debaixo  d'esta  rubrica  tractarei  de  varies 
«stabcleciuienlos  que  aqui  lia  ;  dos  quaes  uns 
sao  manlidos  pebi  caridade  piiblica,  oulros 
pela  phiiantrophia  particular,  e  oulros  pelos 
paes  dos  alumnos  que  os  fre(|uentani. 

Tern  iogar  entre  os  primeiros  a  Escholu  da 
infancia  desvalida.  fundacao  do  illuslre  Luiz 
da  Silva  Mousinho  d'Albuquerque,  quando 
aqui  foi  prefeilo,  e  governador  militar  da  pro- 
vincia. 

Durante  a  adminislracao  d'cste  cavaiheiro, 
ainstituicao,  que  elle  creara,  medrou  e  llore- 
ceu    consideravelmente;    porque  as  subscri- 


pcOes  c  donativos  d  uma  associacao,  por  elic 
fundada  para  a  prolege(,  davam  de  ssbejo 
para  alimcnlacao  e  ensino  do  avullado  nume- 
ro  de  creani.-as.  A  escbola  cliegou  a  contar 
180  alumnos  de  anibos  os  pe\os. 

Logo  poi'cra  ([ue  Mousinbo  dei\ou  o  gover- 
no  da  ijlia,  a  escbola  da  inl'ancia  comccou  a 
dccaliir,  a  associacao  que  a  protegia  a  enfra- 
quecer,  as  subscripcoes  a  diniinuir,  o  zcio 
das  seuboras  inspecloras  a  arrcl'ccer :  cm  iim 
a  escbola  loi  progressivanicnte  delinbando, 
ale  0  ponto  em  que  ora  se  acba,  reduzida, 
([uando  muito,  a  (|uarenta  alumnos  de  ambos 
OS  sexos. 

Eulram  csles  no  ostabelecimenlo  as  10  lio- 
ras  da  nianba;  apprcndem  ale  ao  meio  dia 
OS  primeiros  elemenlos  de  icitura  e  doulrina 
cbrisla;  a  csla  bora  teem  uma  mesquinba 
refeicao;  e  as  quatro  da  tarde  voltam  para 
suas  casas. 

0  elTectivo  das  subscripcoes  esla  reduzido 
a  mensalidade  de  reis  IbSOOO.  A  despesa 
com  salarios  dos  empregados  c  alimentacao 
das  creancas  monta  de  rcis2j^000  a  SO^frOO 
por  mcz.  Se  nao  fossem  alguns  donativos, 
principalraente  decxtrangeiros,  jadeba  mui- 
to leriu  perecido  a  fundacao  do  illuslre  Mou- 
sinbo. 

Pelo  molde  d'esta.  ba  aqui  outra  escbola 
mantida  pela  mensalidade  de  reis  !J0O.  que 
pagani  a  mestra  os  paes  dos  alumnos. 

Sao  csles  creancas  de  trez  a  seis  annos  de 
edade,  e  de  ambos  os  sexos,  que  alii  vao 
apprenderos  primeiros  rudimenlos  de  escripla, 
leilura  e  doulrina  cbrisla ;  mas  apenas  teem 
adquirido  babitos  de  sujcicao,  e  levc  tinctura 
de  lacs  materias,  logo  os  paes  as  tiram  d'esta 
escbola,  e  as  mandam  para  outras,  onde  so 
Ibes  de  mais  a  fundo  um  curso  de  ensino 
primario. 

A  mestra  d'esta  escbola  e  uma  pobrc  mu- 
Iber  de  meia  edade,  solieira,  extremaracntc 
nervosa ,  mas  d'unia  paciencia  seni  egual 
para  levar  com  certo  geito  as  creancas.  Ne- 
nliuma  outra  cousa  tern  de  (|ue  viva,  senao 
OS  proventos  da  sua  escbola;  e  porem  de 
animo  lao  despondenle,  ((ue  prefere  despedir 
OS  alumnos  e  morrer  de  fome,  a  fazer  uni 
exame  publico.  Espero  todavia  que  ha  (]'■■ 
resignar-se  a  exigencia  da  lei,  uma  vez  que 
0  exame  nao  passe  alem  das  materias  que 
cusina. 

Ha  nos  suburbios  d'esta  cidadc  crescido 
numero  de  escbolas  clemenlares,  mantidas 
pela  pbilanthropia  de  exlrangeiros  de  diver- 
sas  communhoes.  No  sitio  da  Pontinba,  fre- 
guezia  de  S.  Pedro,  ha  uma  escbola  de  mcni- 
nas.  sustcntada  por  uma  senhora  ingleza 
(M."nope)  da  communhao  catholica  romana. 
Nas  freguezias  de  Sancto  Antonio  e  S.  Mar- 
tinbo  ha  nove  escholas,  subsidiadas  por  va- 
ries exlrangeiros  proteslantes,  cujos  nomes 
ignoro. 


92 


•0  pnsiiio  em  toilas  eslas  cscholas  c  miiitis- 
simo  elementar;  nao.  passa  das  disciplinas  dc 
ler,  escreoer,  contiir,  dotttrimi,  e  moral  cliristd. 
Ha  ])Orem  qiicm  diga  que  cllas  sao  pcrnirio- 
sas  a  mocidade,  por  serem  mantidas  por  apa- 
nig;uados  do  1)."'  Kalley,  com  o  iiUuito  do 
dar  voga  as  doulriiias  hereticas  que  clle  acjui 
andou  pregando  ale  1840. 

Nao  posso  asseverar  sc  tal  informarao  e 
bpHi  fiindada.  0  que  sei  e  que  tenlio  visilado 
alsnnias  d'estas  eseholas;  e  tanto  pelo  que 
\i,  I'ouio  pelo  (jue  lue  declararam  nieslres  e 
discipuios  medianle  rigoroso  interrogatorio 
([ue  llies  liz,  iiao  posso  alliruiar  que  seja  con- 
traria  aos  dogmas  de  nossa  sancta  religiao  a 
doulrina  que  nellas  se  ensina. 

Isto  nao  oljstanle,  liz  saber  aos  mestrcs  e 
uieslias  que  nao  podiam  conlinuar  a  exercer 
o  magislerio,  se  nao  tivessem  titulo  do  capa- 
lidade;  e  para  ifso  era  indispensavel  (jue  se 
liabililassera  peranle  a  auctoridade  comi>cten- 
le,  provando  sua  capacidade  moral  por  docu- 
menlos,  e  a  litteraria  por  examc.  A  pedido 
d'elles  dei-lhes  o  praso  de  CO  dias  para  se 
apromptarem. 

CAPITUf.O    II. 

Instrucfao  primaria. 

Dehaixo  d'este  litulo  tenlio  de  coniprehen- 
der  trez  especies  de  escholas: 
1."     Escholas  parlicularcs; 
2.°     Escholas  municipaes; 
■J."     Escholas  piihlicas. 

ARTKJO    1." 
Escholas  parlicidures. 

Ha  neste  districto  escholas  primarias  par- 
ticulares,  algumas  das  quaes  estao  cm  niejhor 
pe  que  as  piihlicas.  A  eschola  de  meninos  de 
Auguslo  Francisco  Correa,  e  Julio  da  Silva 
Carvalho,  a  deEleziario  Joaquim  de  Sousa,  c 
a  eschola  de  meninas  de  Adelaide  Amelia 
Pereira,  pouco  deixam  que  desejar  era  ponlos 
de  perleicao. 

Cousa  notavel!  0  ensino  particular  neste 
districto  e,  em  geral,  mais  concorrido  que  o 
publico.  Os  prol'essores  partieulares  nao  sao 
raais  habeis,  que  os  das  escholas  do  cstado; 
mas  eslas,  pelo  menos  na  cidade,  sao  menos 
irequentadas,  que  as  partieulares.  Todo  o 
pae  de  familias,  que  pode  dispor  de  quaes- 
quer  meios,  prefere  pagar  mensalmente  reis 
SOO  a  1^000  pela  educacao  do  seu  lilho,  a 
inandal-o  para  a  eschola  piiblica,  onde  nao 
paga  nada. 

A  razao  d'isto,  cm  alguns  e  vaidade,  Nao 
querem  misturar  na  eschola  piiblica  os  sens 
com  OS  filhos  dos  pobres,  temendo  que  os 
maus  babitos  d'estes  viio  pcrigosamenle  inlluir 


na  educacao  d'a(iuelles.  Mas  o  que  em  todos 
mais  contribuc  para  este  resultado,  e  a  falsa 
persuasao  em  que  estao,  de  (iiie  o  mestre 
particular  ha  de  ser  neccssariamcnte  raais 
zeloso  pelo  adiantamento  dos  alumnos,  por 
isso  que  os  seus  interesses  estao  na  razaa 
di recta  da  repulacao  da  sua  eschola. 

Entendo  que  ii  inspeccao  superior  das 
escholas  incumhe  fazer  (juanto  possa  jiara 
destruir  este  preconceilo;  e  para  isto  e  mister 
elevar  as  escholas  piihlicas  a  tal  ponto  de 
regularidade  e  perleicao,  (jue  fwra  todas  as 
classes  da  sociedade  sejani  estas  as  preferi- 
veis.  0  ensino  publico  e  o  que  jxide  recehcr 
mais  directamente  o  impulse  da  auctoridade; 
por  elle  e  que  esta  ha  de  inlluir  nas  O|)ini0es, 
habitos,  e  caracter  moral  do  povo.  Oxalii  que 
elle  chegue  a  tal  grau  de  excellencia  entre 
nos,  que  era  breve  tenhara  de  lechar-se,  per 
I'alta  de  atumnos,  todas  as  escholas  partieu- 
lares ! 

Os  professores  e  mestras  das  escholas  d'csta 
classe,  illudem,  o  mais  que  podem,  a  neces- 
sidade  de  I'azer  exame;  e  para  que  a  auctori- 
dade inspectora  haja  do  I'echar  os  olhos  a  esta 
falta,  ou  recusam  enviar-lhc  os  mappas  de 
frequencia,  ou  fazem  n  contrario  do  ([ue  pra- 
cticam  OS  professores  piihlicas : — ao  passo  que 
estes  exaggeram  a  fre([uencia  das  respectivas 
escholas, — aquclles  minguam  exccssivaniente 
a  frequencia  das  suas.  Comeco  a  persuadir- 
me  que  os  meios  de  suasiio,  que  tcnho  em- 
pregado,  nao  sao  sudicicntes  ])ara  conipellir 
OS  professores  partieulares  a  se  hahililarcm 
para  o  magisterio  na  forma  da  lei. 
Continita. 


OS  SINOS. 

Conliniiado  de  pag.  69. 

Ainda  nao  acahamos,  porem,  de  fallar  da 
antiga  Roma,  onde  era  uso  pcndurar  cam- 
painhas  ao  pescoco  dos  cavallos,  costume  que 
ainda  subsiste  em  algumas  partes  do  conti- 
nente,  e  (jue,  nao  ha  muito,  era  quasi  uni- 
versal em  Inglaterra.  Em  noites  escuras  e  nos 
caminhos  estreitos  tinha  este  uso  um  tim  prac- 
tice rauilo  importaute — avisar  os  cavalleiros 
ou  OS  carreiros  da  sua  mutua  approximaeao, 
e  evitar  uma  collisao  onde  nao  havia  bastante 
espaco  para  passarem  a  par  dous  cavallos  ou 
dous  carros.  0  mellioramento  das  estradas 
acabou  com  este  costume.  Os  Romanes  tarabem 
punham  campainhas  ou  chocalhos  nos  seus 
rebanhos,  com  o  fini,  diz  Strabao,  d'afugentar 
as  feras.  «  Se  alguem,  diz  Justiniano,  nas 
suas  leis  ruraes,  tirar  o  chocalho  a  um  boi 
ou  a  um  carneiro,   seja,  depois  de  convicto 


93 


do  crime,  aooitado  como  um  ladrao;  c  sc  o 
animal  se  pcrder,  spja  oi)rigado  a  indcmnisar 
0  proprietario.  »  Magio  diz-nos  que  os  pasto- 
res  do  seu  tempo  observavam  ainda  esto 
costume,  «  nao  tanto,  »  contimia  eile,  «  para 
afugentaranimaesdamninhos,  como  para  achar 
0  gado  extraviado.  »  Ahi  esta,  com  effeito,  a 
principal  utilidadedas  campainhas,  ainda  hojc 
empregadas  principairaentc  na  Escossia,  onde 
cada  rebanho  tem  um  indicador  d'esle  genero, 
com  a  ajuda  do  qual  o  pastor  pode  procurar 
OS  animaes  que  se  Ihe  perderam  na  neve. 
0  Os  pastores  tambcm  acreditam,  diz  Magio, 
que  aos  rebanhos  apraz  o  sora  das  campai- 
nhas, assim  como  o  da  flauta,  e  que  o  prazer, 
que  d'ahi  derivam,  os  faz  engordar. »  Esta  idea 
e  ate  certo  ponto  confirmada  por  Southey, 
que  diz,  fallando  dos  rebanhos  dos  Aipes, 
que  tinha  visto  na  sua  mocidade: — caminham 
com  visivel  orgulho  e  satisfaccao  quando  fa- 
zem  resoar  as  campainhas.  Se  privam  a  vac- 
ca  principal  da  campainha  grande  que  traz, 
mostra-se  logo  mui  sensivel  a  esta  humiliarao, 
entra  a  mugir,  nao  come  e  delinha-se;  a  feliz 
rival  que  a  substituiu  em  tal  distinccao  torna-sc 
0  objecto  do  sou  odio  e  da  sua  vinganca. 

As  campainhas  conhecidas  de  ha  tanto 
tempo  na  antiguidade  paga  erani  niais  or- 
dinariamente  de  bronze,  mas  as  vezes  tambem 
de  prata  e  ate  d'ouro.  Aos  ehristaos  e  que 
e  devido  o  augmento  de  volume  que  depois 
se  llies  deu  e  que  hoje  teem  os  sinos.  Quando 
0  cullo  do  verdadeiro  Deus  havia  mister  de 
se  esconder  nas  cavernas  soJitarias,  e  nos 
covis  das  feras,  no  tempo  das  proscripcoes 
dos  pagaos,  mais  crueis  que  as  proprias  feras, 
som  algum  revelava  aos  perseguidores  do 
christianismo  os  logares  onde  se  eelebravam 
OS  mysterios  d'este  culto;  logo,  porcm,  que 
cessaram  as  perseguicoes,  e  os  louvorcs  do 
Omnipotente  se  elevaram  com  o  incenso  em 
lemplos  majestosos,  adornados  de  todos  os  ac- 
cessories que  podia  imaginar  a  devocao  dos 
fieis,  OS  sinos  appareceram  e  tomaram  parte 
nas  solemnidades  da  religiao.  Alguns  autores 
attribuem  a  sua  introduccao  (an.  Dom.  400) 
a  Paulino,  bispo  de  Nola  na  Campania,  e  con- 
temporaneo  de  S.  Jeronymo ;  mas  o  silencio 
d'este  prelado  acerca  das  campainhas  e  do 
campanario,  em  uma  carta  em  que  faz  uraa 
descripcao  minuciosa  da  sua  egreja,  e  um 
argumenlo  forte  contra  esta  opiniao,  e  ainda 
mais  porque  se  nao  acha  allusao  alguma  a 
este  respeito  nos  escriptores  contemporaneos 
ou  pouco  postcriores.  So  depois  do  anno  SOO, 
segundo  Hospianus,  e  que  os  sinos,  que  elle 
chama  campanae,  foram  empregados  pela 
egreja.  «  Os  sinos  maiores,  diz  Magio,  cha- 
mam-se  campanae,  porque  na  Campania  e  que 
OS  fundidores  exercem  esta  tao  util  industria ; » 
d'aqui  provem  egualmcnte  o  nome  de  cam- 
panario que  se  da  as  torres  onde  elles  se  sus- 
pendem.  A  cidade  de  Nola  e  tambem  prova- 


velmente  a  origem  da  palavra  iwlae,  que 
designava  certas  campainhas  pequenas  sus- 
pensas  a  um  caixilho,  e  (juc  se  locavam  du- 
rante 0  officio. 

Os  ecdesiasticos  nomades  nao  podiam 
deixar  de  trazer  para  Inglaterra  algumas 
amostras  d'estas  ultimas  campainhas,  pouco 
depois  do  comecarem  a  ser  applicadas  em 
Italia  as  cerimonias  do  culto;  por  isso  parece 
que  as  campainhas  portateis  d'altar  foram 
as  que  primciro  se  conhoceram  nas  Ilhas  Bri- 
tannicas.  Mas  o  sino  pesado,  de  sous  graves, 
foi  iiitroduzido  pclos  Anglo-SaxOes  em  epocha 
assaz  remola.  Foi  este  um  dos  objectos  que. 
no  reinado  d'Egfrid,  Benedicto,  abbade  de 
Weremouth  e  de  Jarrow,  trouxe  d'ltalia  para 
adornar  a  sua  egreja ;  e  pela  mesma  epocha 
(an.  Dom.  680)  era  o  que,  confornie  diz  Bedo, 
chamava  ao  coro  as  monjas  do  convento  dc 
Sancla  Hilda.  Pensam  alguns  antiquaries  que 
a  idea  do  campanario  foi  originada  pela  de  col- 
locar  0  sino  a  maior  altura,  para  ser  ouvido 
mais  longe. 

Durante  muitos  seculos  as  fundicoes  dos 
sinos  eram  nos  conventos  e  casas  religiosas, 
e  as  operacOes  cram  alii  dirigidas  pelos  ab- 
hades,  priorcs,  e  muitas  vezes  pelos  proprios 
bispos.  Todo  o  tempo  que  a  fundicao  teve  logar 
nos  mosteiros  acompanhavam-na  de  cerimo- 
nias, que  Ihe  imprimiam  um  character  reli- 
giose. Os  monjes  infileirados  em  redor  da 
fornalha  entoavam  o  psalmo  CL,  e  rogavam 
a  Deus  que  dcrramasse  as  suas  bencaos  sobre 
0  metal  fundido,  cm  honra  do  Sancto  a  qucra 
a  obra  era  dodicada  ' . 

Em  uma  vida  de  Carlos  Magno,  citada  por 
Magio,  menciona-fe  pela  primeira  vez  a  fun- 
dicao dos  sinos  nos  mosteiros.  Diz  o  auctor 
d'esta  obra,  que  um  frade  do  mosteiro  de 
Sao  Gall,  insigne  nesta  arte,  fez  um  sino, 
cujo  som  foi  muilo  admirado  do  Iraperador. 
«  Senhor,  Ihe  disse  entao  o  frade,  ordenai 
que  se  me  traga  uma  grande  quantidade  de 
cobre,  que  cu  purifiearei  no  fogo ;  e  mandai- 
me  tambem  dar  prata  em  vez  d'estanbo  — 
pouco  mais  ou  menos  100  libras  —  e  fundir- 
vos-hei  um  sino  ao  pe  do  qual  este  parecera 
mudo.  »  Magio  queixa-se  de  que  os  principes 
do  seu  tempo  eram  mais  avarentos  do  que 
OS  d'outrora,  nao  querendo  fornecer  o  metal 
necessario  para  dar  aos  sinos  um  som  argen- 
tine. Com  tudo  parece  que  a  idea,  geralmente 
espalhada  das  vantagens  de  introduzir  prata 
nos  sinos  nao  e  senao  um  erro  vulgar.  «  Ha 
pessoas,!)  dizumescriptorbeminformado,  nque 
asseveram  que,  para  lornar  o  som  do  metal  do 
sino  mais  harmonioso,  e  mister  ligal-o  com 
uma  pouca  de  prata,  como  se  vos  dissessem 
que  um  pouco  de  assucar  adoca  uma  chicara 


*  Ninguem  ignora  que  Schilier  fez  sobre  esle  as* 
sumpto  um  bello  poema  lyriroinlilulado:  A  Fundi^uo  Ja 
iino. 


94 


de  fhd  oil  um  copo  Jo  \iiilio  (luoiilo.  E  uiii 
eugano.  A  intrddui'rao  da  piata,  scndo  oiu 
grandi'  (luanlidadc.  prodiiz  o  pfleito  opiioslo, 
porqiu^  a  ])iala,  pcla  sua  naluroza,  nao  pode 
produzir  com  o  cobre  uina  liga  dura,  quebra- 
dica,  deiisa  c  vibraiile  que  se  cliaiua  metal  j 
de  sine.  ExistBiii  sem  duvida  diversos  ingrc- 
dientes  que  um  iiabil  fundidor  emprcga  para  ! 
melhorar  a  sua  composioao;  mas  sao  segredfls 
do  oflii'io,  e  oada  lundidor  torn  os  seus.  > 
Alem  d'islo  nada  nos  auctorisa  asuppor  que, 
a  nao  scr  o  coslunn;  de  lanrar  no  ladinho, 
como  Iributo,  algumas  moedas,  os  nossos  an- 
lepassados  lizessem  mais  uso  da  piala,  do  que 
nos  fiizemos,  na  fundicao  dos  sinos.  O  rol 
das  maleriasentiegues,  no  anno  3(i  do  reinado 
de  Henrique  111  (li52),  para  o  lahrico  de 
Irez  sinos  destinados  a  egreja  do  casteilo  de 
Dover  mostra-nos  qua!  era  cm  Inglalerra,  ba 
000  annos,  a  eomposieao  d'esia  Hga:  um  sino 
veibo,  l,OuO  libras  de  cobre  e  jOO  d'estanlio. 
A  mistura  nao  secompunba,  por  lanto  senao 
d'uni  ponco  mais  de  duas  partes  de  cobre  e 
lima  d'estanho;  o  sysiema  moderno  so  diiTere 
do  antigo  em  admitlir  trez  paries  de  cobre. 
Continua. 


SALSUGEiM  DA  AGUA  DO  MAR. 

iNiima  das  ultimas  reuniOes  do  Inslituto 
Canadense  M.  Ciiapnian,  i)roressor  da  univer- 
jidade  de  Toronto,  apresentou  uina  impor- 
tante  memoria  sobre  «  a  salsugem  da  agua 
do  mar.  »  0  A.  suppOe,  (|uc  o  mar  Idra 
salgado  desde  a  sua  origem,  e  analysa  depois 
as  opiniOes  eniitlidas  ale  ao  presente  para 
explicar  a  utilidade,  que  d'esta  condicao  da 
agua  do  mar  pode  rcsullar. 

A  opiniao  dos  que  pretendem  que  a  salsu- 
gem do  mar  tern  por  lim  evitar  a  corrupciio 
(I'aquella  agua,  parece  insustentavel  por  mui- 
tas  razoes,  mas  principalmente  porque  as 
imniundicias  organicas  numa  imniensa  por- 
cao  d'agua  em  movimento,  quer  scja  doce, 
<|uer  salgada  desappareceui  completaraenle  p  se 
dissolvem  com  tal  rapidcz,  que  parece  seria 
necessario  um  agente  especial  para  suspender 
a  total  aniquilarao  da  materia  organisada  em 
sua  oscilacao  linal  eutre  o  muudo  organico 
e  inorganico.  Chapman  recorda  as  myriades 
de  legiues  de  seres  microscopicos,  que  existem 
cm  grande  abundancia  na  maior  parte  das 
aguas,  c  que  parecem  particularmente  desti- 
nados, segundo  Owen,  para  alimentar-se  da 
materia  i|uasi  nao  organica  espalhada  nas 
diversas  zonas  de  habitacao,  e  lazel-a  entrar 
novamente  na  cadea  animal.  Esles  seres  de- 
voram-se  uns  aos  outros,  e  mantem  assim  a 
lirculacao  da  materia   organica,  fazendo-lhe 


percorrcr  as  diversas  cscalas  da  animalidade. 
Dado  porem  que  nao  se  julguem  admissivcis 
cstas  explica^oes,  dcvemos  pelo  mcnos  consi- 
derar  os  infasorios,  os  foraminiferos,  e  mui- 
los  lypos  mais  elevados  como  destinados  para 
absorver  a  materia  cm  esiado  de  decomposi- 
cao,  e  opp6r-se  a  sua  accumulaciio  cm  gran- 
des  porcocs. 

0  A.  d'aquella  memoria  demonstra  tam- 
bem,  que  em  muitas  circumstancias  a  (juan- 
tidade  de  materia  salina,  que  exisle  no  mar, 
nao  e  sufficiente  para  suspender  a  decompo- 
sicao. 

Oulros  pretendem  que  a  .salsugem  do  mar 
tem  por  lim  toruar  as  suas  aguas  mais  den- 
sas,  e,  abaixando  o  scu  ponlo  de  congelacao, 
oppur-se  a  que  ellas  se  gelem,  excepto  nas  pro- 
ximidades  dos  polos.  Esta  opiniao  pode  adrait- 
tir-se  ate  cerlo  ponto;  mas  nao  resolve  o 
imporlanle  problema  da  salsugem  do  mar.  0 
ponlo  de  congelacao  da  agua  do  mar  e  uni- 
camente  inl'erior  dois  graus  ao  da  agua  doce; 
e  com  a  actual  distribnicao  das  terras  e  das 
aguas,  e  raenos  ainda  com  a  das  precedenles 
epocbas  geologicas,  certo  nao  teria  occorrido 
pbenomeno  alguni  importante,  se  a  agua  do 
mar  fosse,  em  vez  de  salgada,  doce.  Quanto 
as  partes  habitaveis  do  globo  tal  diflerenca 
nao  tern  quasi  valor. 

M.  Chapman  considera  esta  questao  de  um 
modo  novo,  e  diverso  dos  outros  jihysicos.  E 
opiniao  sua  que  a  salsugem  do  mar  tern  por 
fim  principal  «  regular  a  evaporaciio  >■  e  op- 
p(jr-se  a  ([ue  csle  pbenomeno  se  de>involva 
em  grande  escala  sob  a  intluencia  de  causas 
perturbadoras,  que  poderiam  manifestar-seem 
diversas  epocbas.  Us  diirerenles  liquidos  de- 
baixo  da  mesma  pressao  almospherica  teem 
pontos  de  ebullicao  mui  diversos;  as  dissolu- 
cOes  Salinas  evaporam-se  mais  Icntamente, 
que  as  dissolucoes  fracas,  e  estas  mais  lenta- 
mente  que  a  agua  pura.  A  agua  do  mar  con- 
tem,  termo  medio,  'i  j  por  100  de  materias 
solidas,  das  quaes  "2,0  por  100  consistem  em 
cblorureto  de  sodio.  Chapman  fazendo  diver- 
sas ohservacocs  .sobre  a  evaporacao  de  eguaes. 
porcOes,  em  peso  d'agua  da  chuva,  c  d'agua 
contendo  i,0  por  100  de  sal,  achou  que  a 
agua  pura  perdera  em  relacao  a  dissolucao 
salina  no  espajo  de  24  boras  0,54  por  100; 
ao  caho  de  48  boras  1,05  por  100,  e  depois 
de  02  boras  1,40  por  100,  e  assim  por  dian- 
le,  proseguindo  por  0  dias  consecutivos  nas 
suas  experiencias. 

A  salsugem  do  mar  entra  portanto  na  ordem 
dos  phenomenos  d'equilibrio,  e  e  uma  d'estas 
admiraveis  disposicOes  d'barmonia  das  forras, 
(jue  a  natureza  nos  patentea  em  todas  as  suas 
partes. 

Assim,  dadas  as  mesmas  circumstancias, 
se  por  qualquer  causa  accidental  e  terapora- 
ria  a  proporcao  da  materia  salina  na  agua 
do  mar  for  superior  ao  seu  valor  normal,   a 


95 


e\apora5ao  tera  enlao  logar  cm  ciuantidadcs 
huccessivamentc  mais  pcquenas.  Se  pelo  con- 
Irario  a  porcao  da  materia  salina  diminue 
pelo  accrcseimo  de  agua  pura  em  grande 
quantidade,  o  poder  evaporalorio  augmenlara 
progressivamente  ate  se  restabeleecr  o  equili- 
brio  em  ambos  os  casos. 

0  A.  termina  a  sua  memoria  ponderando, 
que  esle  principio  poderia  la  near  alguma  no- 
va luz  sobre  a  distribuicao  geographica  dos 
lagos  d'agua  doce,  e  d'agua  salgada,  que 
actualmente  existem  a  supcrlicie  do  globo. 

A. 


L'MA  VISITA  A  SERRA  DA  ESTRELLA. 

Manoel  de  Faria  e  Sousa,  fallando  desta 
elevada  moutanha,  e  do  seu  encadeamenlo 
secundario  com  as  principaes  do  contincnte, 
diz:  «  que  a  natureza  formara  ocorpo  da  ter- 
ra com  um  espinhaco  de  monies,  que  teem  a 
sua  origem  no  monte  Tauro,  dividindo  este 
o  mundo  com  os  seus  bracos,  que  deixa  para 
todas  as  partes,  os  quaes  tomam  difl'erentes 
nomes  segundo  as  linguas  das  gentes  aonde 
caheni.  Chama-se  Tauro  aonde  mais  sccleva, 
aonde  divide  a  Pamphilia  e  Silicia,  provin- 
cias  da  Armenia  menor;  Caucaso  e  Parapo- 
neso  em  diversas  rcgiOes  da  India.  Dos  seus 
ramos  uns  se  chaniam  Caspios,  outros  Rifeos, 
Iperboreos  outros.  Na  Africa  toma  o  nome 
de  monte  Atlante;  aonde  divide  a  Germania 
da  Italia  tcm  o  nome  de  Alpes;  o  de  Apeni- 
nos  entrando  na  Italia,  e  entre  a  Franca  e 
Hespanha  toma  o  nome  de  Pyrenees.  D'estes 
ultinios  sahem  por  toda  a  Hespanha  muitos 
bracos  com  varies  uomes;  em  uma  parte  Idu- 
bedas,  cm  outra  Orospedas,  os  quaes  cingem 
e  cortara  estes  reinos  tortuosamente.  Em  Por- 
tugal entram  alguns  raraos  pela  villa  de  Cha- 
ves na  provincia  de  Tras-os-montes  e  alguns 
dividem  a  de  Entre-Douro-e-Minho  entrando 
para  alii  do  reino  de  Leao.  Em  fim  outro 
ramo  que  precede  das  montanhas  de  Idube- 
lia,  c  que  passa  por  Bonilla  e  Bejar  faz  pouco 
adiante  a  sua  entrada  pela  cidade  da  Guarda, 
donde  em  (im  resulta  entre  outros  a  serra  de 
Estrclla  a  que  antigamenle  se  dava  o  nome 
de  Erminio  maior.  » 

Segundo  Antillon  as  montanhas  da  penin- 
sula, que  comecam  para  oeste  do  rio  Ebro,  e 
a  que  por  esta  sua  opiniao  propoz  que  se  Ihes 
dessc  0  nome  de  cordilheira  Iberica,  desta- 
cam  uma  das  suas  cadeas  secundarias,  que 
atravessando  a  peninsula  de  oriente  a  occi- 
dente  forma  a  separacao  das  bacias  dos  rios 
Tejo  e  Douro.  A  serra  da  Estrella  formada 
pela  mesma  cadea  secundaria,  estende-se 
desde  a  cidade  da  Guarda  ate  a  extremidade 


do  cabo  da  Roca  ao  norte  da  foz  do  rio  Tejo, 
aonde  tcm  o  nome  de  serra  de  Cintra. 

A  serra  de  Estrella,  composla  principal- 
mente  derochas  graniticas,  apparece  denovo 
ligurada  dc  granito  juncto  de  Cintra.  Em  al- 
guns logares  o  granito  acha-sc  niisturado  era 
algumas  caraadas  comschisto,  cuja  mistura  se 
assemelha  ao  mica-schisto.  0  grez-scbistoso 
e  de  diversas  cores  cobre  o  granito  e  as  rochas 
schistosas.  Humboldt  suppSe  que  as  mon- 
tanhas de  basalto  das  ilhas  Canarias  sao  uma 
continuacSo  de  algumas  das  nossas,  porque 
ainda  que  no  continente  se  nao  encontram 
vestigios  alguns  de  vulcoes  extinctos,  toda- 
via  as  fontes  thermaes  de  alia  tcmperalura 
apparecem  nas  rochas  graniticas. 

A  vista  de  muitos  logares  elevados,  que  da 
serra  se  disfructa,  varia  segundo  as  diversas 
estacoes  do  anno.  Ate  marco  esta  quasi  sempre 
coberta  de  neve,  a  qual  ainda  que  por  esse 
tempo  comeca  a  derreter-se,  assim  mesmo  em 
alguns  sitios  em  agosto  ainda  apparece  gelada 
e  compacla.  Isto  mesmo  refere  Manoel  de  Fa- 
ria. A  serra  cm  alguns  pontos  culminantcs  e 
tao  elevada,  c  alii  a  tcmperalura  athmospherica 
e  tao  baixa  me;  mo  na  cpoca  dos  mais  intensos 
calores  do  esiio,  que  Link  supp5e-lhes  7000 
a  8000  pes  de  altura  acima  do  nivel  do  mar. 
Masestaavaliacaoeexagerada.  Biol,  suppondo 
que  a  monlanha  de  Mongo  na  Hespanha  pcr- 
to  do  mar  mediterraneo,  e  que  se  avisla  dc 
"20  leguas  de  distancia,  para  a  parte  do  mar 
lem  so  727  metres  de  altura,  da  para  a  serra 
de  Estrella  umu  elevacao  menor  que  7000  ou 
8000  pes,  porque,  se,  comodizem,  dos  logares 
mais  alios  da  serra  se  avistam  as  cercanias  da 
Figueira,  ou  talvez  a  foz  do  rio  Mondego,  a 
distancia  nae  e  maior  que  20  leguas  e  ainda 
que  as  nessas  sae  maiores  que  as  francezas, 
essa  differenca  nao  compensa  a  que  vai  de 
727  metres  a'  7000  ou8000  pes;  e  suppondo 
para  conciliar  a  opiniao  de  Link  que  com 
oculos  de  grande  alcance  sc  chegasse  a  desco- 
brir  parte  de  mar  da  Figueira,  nao  seria  por 
isso  menos  destituide  de  fundamento  o  cakulo 
d'este  .\.. 

No  Mappamundi  de  Dul'our  de  ISi'J  vein 
dcsignada  a  serra  do  Malliae  (ou  do  Mara-o 
provavelmente)  com  1800  metres  de  eleva- 
cao: ora  7000  pes  equivalc  a  2300  metres, 
per  tanlo  a  altura  da  serra  de  Estrella  segundo 
Link,  ainda  e  muite  maior  que  a  do  Malhao, 
segundo  Dufour,  que  nem  ao  menos  menciona 
a  serra  de  Estrella  no  sobredicto  mappa. 

Segundo  Urculu  e  Balbi  a  altura  maior  da 
serra  de  Estrella  nao  e  inferior  a  1077  tocsas. 

A  obra  Um  milhao  de  factos,  e  M.  Julia  de 
Fontcnelle  no  seu  manual  de  physica  divcr- 
lida  dao  para  a  me.sma  altura  1700  melro^, 
medida  metade  menor  que  a  anlecedenle. 

Talvez  que  a  falta  de  exactidao  na  cstima- 
tiva  de  Link,  a  respeilo  dos  logares  mais  ele- 
vados da  serra,  nascesse  dc  se  haver  perdido 


96 


cm  uma  das  siias  cxcursoes  pela  serra,  e  em 
que,  scgundo  clle  mcsmo  miudamenle  referc, 
passou  grande;;  pcrigos  e  Irabalhos  no  tempo 
da  estarao  invernosa  por  se  aiastar  casual- 
mente  do  sen  guia,  e  pelos  despenhadciros 
de  que  inscienlemente  se  aproximou,  nao  po- 
dcndo  distinguir  os  mcsmos  logares  porque 
uoutro  tempo  ja  liavia  passado  por  se  acha- 
rem  robertos  de  neve  de  muita  allura.  Mas 
0  fundamento  da  sua  cstimativa  e  tao  pouco 
digno  de  attencao,  que  decidiu-se  a  dar-lhe 
a  referida  altura  attendendo  a  sua  posieao 
geographica  e  a  baixa  temperatura,  que  alii 
experimentou  era  dilTerentes  vezes  e  compa- 
rativaraente  cmdiversos  tempos  do  anno.  Com 
elTeito  esla  mesma  altura  nao  differe  muito 
da  que  da  o  auetor  do  artigo — racleorologia 
e  physica  do  globo — do  livro  —  urn  milhdo 
de  factos  na  latitude  de  47 "  em  os  Pyreneos 
para  limite  inferior  das  neves  perpetuas.  Este 
iimite  e  de  2730  metros. 

Por  consequencia  em  quanto  se  nao  lize- 
rem  medidas  geodesicas  e  observacoes  baro- 
metricas  que  merecam  maior  coniianra  nao 
pode  emittir-se  a  este  respeito  uma  opiniao 
segura. 

Contitiua. 


EPOCAS  DO  NASCIMENTO  E 
DE  JESUS  CHRISTQ. 


MQRTE 


Acritiea,  que,  ha  dois  seculos,  tao  rapidos 
progresses  tern  feito  no  estadio  das  letras,  era 
ainda  na  primeira  deoada  d'este  seculo  quasi 
complclaniente  cstranha  ao  estudo  dos  mo^ 
numentos.  Os  antiquaries,  cmpenhados  mais 
em  colligir  essas  antigas  reliquias,  do  que  apu- 
rados  em  interprelal-as,  nao  as  examinavam 
em  relarao  ao  espirito  da  cpoca,  ou  do  povo 
a  que  pertencerara;  nem  procuravam  tirar  da 
observacao  da  sua  cdadc,  estilo  c  disposirao 
as  naturaes  rclacoes  desses  monumentos  com 
0  grau  de  civilisarao,  e  aperfeicoamento  mo- 
ral e  industrial  das  nacpcs,  que  os  possuiam; 
da  arte  que  ps  vira  nascer;  dos  habitos  em 
tim  e  das  tendencias  das  geraooes  que  no 
voiver  dos  tempos  se  foram  succedendo. 

Felizmenle  hoje  os  antiquaries  nao  seguem 
OS  preceitos  da  critica  com  raenos  rigor  dos 
que  OS  historiadores  e  litteratos.  De  todos  os 
ranios,  porem,  da  archeologia,  a  numismatica 
c  a  que  roaiores  progresses  tem  feito  nesta 
Dova  via,  que  tantos  resultades  utejs  tem  ja 
produzide. 

Uma  obra  recentemente  publicada  por  M. 
Saulcy  sobre  a  « numismatica  judaica  ' »  escla- 

*  M.  F.  de  Saulcy.  Recherches  sur  la  numismatiqne 
jniiaiguc.  Paris  1854.  4.'* 


rcccndo  niuilas  qucstocs  imporlantesacerca  do 
cstado  de  adiantamcnto  das  artes  entre  os 
liebreus  cm  epecas  muito  anteriores  as  que 
Mayer  e  eutros  antiquaries  Ihes  assignavam  '; 
oflerecc  tambem  sobre  outros  pontes  de  maior 
memento  relatives  aqueila  nacao,  documentos 
que  lanram  muita  luz  sobre  a  sua  historia  po- 
litica  e  religiesa,  e  que  pareciam  inteiramentc 
alhcies  dos  cstudos  numismaticos:  e  com  tudo 
e  nas  proprias  meedas  cunhadas  em  diversas 
epecas,  e  nas  suas  Icgendas  que  um  profundo 
c  sabie  investigador  cemo  Saulcy  pode  aehar 
0  tio  e  as  prevas  d'essas  grandes  lulas,  que  o 
amor  da  libcrdade  e  o  espirito  de  nacionali- 
dadc  lizera  nascer  'naquelle  povo  guerreiro, 
era  vencide  ora  venceder;  e  verificar  a  data 
e  duracao  do  cada  reinado. 

Algumas  observacoes  criticas  de  Alfredo 
Maury  sobre  esta  ultima  parte  dos  trabalhos 
de  Saulcy  deram  logar  as  judiciosas  reflexoes, 
que  este  A.  desenvolveu  'numa  carta  que 
ultimanente  publiciira  ■"  sobre  as  datas  do 
naseimento  e  merte  de  i.  C,  da  qual  resu- 
raidamentc  damos  aqui  nelicia. 

Sobre  este  mesme  ponto,  sempre  muito 
controvertide,  publicou-se  tambem  ja  no  de- 
curse  do  corrente  anno  uma  outra  obra  ■"  era 
que  0  A.,  fundando-se  'numa  interpretacao 
de  uma  passagem  do  Exedo,  contraria  as 
opinioes  de  Saulcy  sobre  e  dia  da  merte  de 
J.  C,  mas  as  provas,  em  que  Saulcy  se  aue- 
lorisa,  refutam  a  hypolbese  de  Luttereth,  de 
que  'neutra  occasiao  nos  eccoparcmos. 

A  paixao  de  Jesus  Chrisle  tevc  logar,  se- 
gundo  S.  Marcos',  n»  sexta  feira,  em  cuja 
noite  comecava  a  paschea  dos  judeus,  que 
sempre  cahia  a  14  do  mez  de  nisan.  Nos  an- 
nes  proximos  a  epocha  em  que,  segnndo  todas 
as  probabilidades  devia  ter  tide  logar  aquelle 
accontecimento,  ba  um  anno  so,  cm  que  o 
dia  14  do  nisan  cabiu  'nama  sexta  feira:  foi 
0  anno  de  33  da  nossa  era;  6  a  sexta  feira 
14  de  nisan  correspende  ao  dia  3  d'abril  do 
nosse  cailendario. 

Por  esta  censideracae  o  naseimento  de  J. 
C.  devia  preceder  e  primeiro  anno  da  nossa 
era,  o  que  esta  de  accordo  com  a  tradicao 
christa  que  diz,  que  J.  C.  vivera  33  annos 
e  trez  mezes,  e  por  consequencia  o  se«  nas- 
eimento devia  ter  logar  a  2S  de  dezembro 
do  anno  immedialamente  anterior  ao  primeiro 
da  nossa  era.  E  os  Evangelhes  contirmam 
esta  tradicao. 

'  Sefundo  Bayer  as  moedas  mai.s  antigamenle  cunha- 
das entre  os  Judeos  datavam  do  anno  140  antes  da  era 
chrisla,  cm  que  Aniiocho  VII  concedera  este  privilegio 
a  Simao  irmao  de  Judas  Machabeo.  Saulcy  encontrou 
'nalgumas  moedas  os  nomes  de  Jonathan  antecessor  de 
Simao  e  Judas  Machabeo,  o  que  ju  antes  observara 
B^rtheleniy. 

-■   L' Athenaeum  Fran^.  juin  1855. 

'  Henri  Lutteroth.  Le  jour  de  la  preparation:  Let- 
ire  sur  la  chronologie  pascale.  Paris  1855.  8.° 

*  S.  Marc.  XV,  44. 


97 


Quando  J.  C.  foi  baptizado  por  S.  Joao, 
entrava  no  seu  trigesimo  anno  ' ;  e  S.  Joao 
comerara  a  sua  missao  no  decimo  quinlo 
anno  de  Tiberio^.  Ora  Augusto  morreu  no 
niez  d'agosto  do  anno  decimo  quarto  da  era 
christa,  e  o  primeiro  anno  de  liberie  comera 
nesta  niesnia  data,  por  conseguintc  o  seu  de- 
cimo (juinto  anno  comeiava  em  agosto  do 
anno  de  28  e  aeabava  em  egual  mez  do  anno 
de  29;  o  baptismo  de  J.  C.  tevc  por  tanto 
logar  posteriormente  a  agosto  de  28,  pois 
que  elle  conieeava  entao  o  seu  trigesimo 
anno;  eontando  por  tanto  de  29  para  traz, 
cbega-se  ate  um  anno  antes  da  nossa  era  para 
prefazer  os  30  annos  de  idade  de  Christo 
quando  fora  baptisado. 

Por  outro  lado  S.  Joao  no  seu  Evangelho 
diz,  que  entre  o  baptismo  de  J.  C.  e  a  sua 
pai\ao  so  medearam  quatro  paschoas,  de  que 
a  quarta  comecara  no  dia  da  sua  morte;  por-  | 
tanto  tendo  elle  expirado  na  sexta  feira  3  de 
abril  de  33,  as  quatro  paschoas  sao  as  dos  an- 
nos de  33,  32,  31  e  30;  por  consequencia 
posteriormente  a  paschoa  de  29,  e  antes  da 
de  30  e  que  teve  logar  o  baptismo,  que  segundo 
a  tradicao  fora  celebrado  a  6  de  Janeiro  do 
anno  de  30. 

A  tradicao,  e  os  factos  historicos  estao  por 
tanto  de  accordo  sobre  a  epoeha  do  nascimento 
e  morte  de  Jesus  Cbristo. 

Nao  pode,  porem  dizer-se  outro  tanto  a 
respeito  da  existencia  de  Herodes  o  grande 
na  epoca  do  nascimento  de  J.  C.  A  Herodes 
succeddra  seu  tiiho  Archelau,  que  ficou  scnbor 
de  Jerusalem,  com  a  promessa  do  titulo  de 
rei,  em  quanto  que  llerodes  Antipas  era  te- 
trarca  de  Galilea.  Ora  existem  medalhas  deste 
principe  cunhadas  em  Teberiade  no  quadrage-, 
simo  terceiro  anno  do  seu  reinado  com  o  titulo 
de  Caius  Caligula,  t.  provavel  a  priori  que 
0  tetrarca  por  lisonja  tisesse  cunhar  estas 
moedas,  quando  Caligula  subio  ao  throno;  e 
como  liberie  morreu  no  fini  de  marco  de  38, 
6  Caligula  foi  assassinado  a  24  de  Janeiro  de 
41,  eontando  43  annos  atraz  de  38,  a  data 
da  morte  de  llerodes  o  grande  corresponde  ao 
quinto  anno  antes  do  comeco  da  era  christa. 

Se,  considerando  a  questao  pelo  lado  raenos 
favoravel,  cm  logar  de  suppormos  que  as 
medalhas  foram  cunhadas,  quando  Caligula 
subira  ao  throno,  admittirmos  que  tivessem 
sido  cunhadas  no  ultimo  anno  do  seu  reinado, 
isto  e  no  anno  40  da  era  chrisla,  o  primeiro 
anno  do  reinado  do  tetrarca  Herodes  viria 
ainda  acoincidir  com  o  3."  antes  da  era  christa. 
Porem,  segundo  Jose  na  sua  historia  judaica, 
Herodes  Antipas  fora  deposto  pouco  depois 
da  elevacao  ao  throno  de  Caligula;  e  portan- 
to  forcoso,  recorrer  a  primeira  hypothese  de 
que  0  quadragesimo  terceiro  anno  do  tetrarca 

'   S.  Luc.  Ill,  23. 
'■'  S.  Luc.  III.  1. 


fora  0  primeiro  de  Caligula,  e  em  caso  alguni 
J.  C.  podia  ter  nascido  durante  o  reinado 
de  Herodes  o  grande,  mas  sim  durante  o  go- 
verno  do  ethnarca  Archelau,  o  que  se  con- 
lirma  pelas  moedas  cunhadas  no  tempo  d'este 
principe,  que  todas  sem  excepcan  tern  o  nome 
de  Herodes,  mas  seguido  do  titulo  de  Ethnar- 
ca, de  que  so  usou  este  priucipe  da  familia 
idumea,  por  conseijuencia  o  Herodes  mencio- 
nado  nos  Evangellios  e  Herodes  Archelau, 
e  nao  Herodes  o  grande. 

Fundada,  como  parece,  esta  opiniao  nos 
testemunbos  historicos  e  nos  monumentos  nu- 
mismaticos,  ofl'erece  todavia  uma  grave  dif- 
liculdade:  S.  Matbeus  diz  expressaraente  que 
Jose  e  Maria  com  seu  Filho  se  conservaram 
no  Egypto  ate  a  morte  de  Herodes,  e  referin- 
do  como  um  Anjo  annunciara  a  Jose  a  morte 
d'aquelle  principe,  acrescenta  as  seguintes 
palavras,  «  que  sabendo  o  esposo  de  Maria 
que  Archelau  succedera  a  seu  pae  Herodes 
no  throno  de  Juda,  se  retirara  para  a  Gallilea, 
receoso  de  voltar  a  Israel ' . »  E  porem  certo  que 
0  nome  de  Herodes  e  applicado  nos  livros 
sagrados  'numa  accepcao  vaga,  e  gcral,  e 
Archelau  foi  como  seu  pae  designado  com  o 
nome  de  Herodes;  e  por  outro  lado  e  digno 
de  notar-se  que  S.  Lucas,  S.  Joao  e  S.  Marcos 
nao  fazem  mencao  da  residencia  de  Jose  e  de 
Maria  com  seu  Filbo  no  Egypto. 

Outra  difliculdade  que  se  encontra  na  re- 
solucao  d'este  ponto  e  relativaraente  ao  re- 
censeamento  feito  por  Quirinio  por  ordem  dos 
romanos. 

«  Por  causa  deste  primeiro  recenseamento, 
diz  S.  Lucas,  Jose  e  Maria,  ([ue  estava  pejada, 
foram  obrigados  a  ir  de  Nazareth  a  Belem 
para  serem  inscriptos  na  propria  cidade 
d'onde  eram  naturaes*.  «  Segundo  o  texto  sa- 
grado  Quirinio  era  prefeito  da  Syria ;  por 
outro  lado  Jose,  historiador  dos  judeus,  diz 
que  0  recenseamento  se  verificara  somente 
depois  que  Archalau  fora  deposto,  na  oc- 
casiao  em  que  a  Judea,  reduzida  a  provin- 
cia  romana,  fora  reunida  a  prefeitura  da  Syria. 
Um  procurador  da  Judea  fora  mandado  por 
Augusto  com  Quirinio:  cliamava-se  elle  Copo- 
nio,  e  era  membro  da  ordem  equestre.  Qui- 
rinio era  senador. 

Este  recenseamento,  que  dera  logar  a  se- 
dicoes  e  graves  extorsoes  entre  o  povo  hebreu, 
verilicou-se,  diz  o  mesmo  historiador,  no  tri- 
gesimo septimo  anno  da  era  acciaca,  que  cor- 
responde ao  7.°  anno  da  era  christa;  ha  por- 
tanto  uma  completa  discordancia  entre  a  nar- 
racao  de  Jose,  e  o  que  refere  S.  Lucas  no 
seu  Evangelho. 

Acaso  no  texto  do  escriptor  sagrado  fora 
posteriormente  accrescentada  a  narracao  d'a- 


'   S.  Math.  II.  14  e  segg. 
2  S.  Luc.  II.  1  e  segf. 


98 


ijiiclle  liUal  rtHcnseanu'iito?  Nuo  ousanuis 
dizcl-o.  E  poreiu  evidcnto,  que  se  J.  C. 
nasceu  em  Bclera  por  occasiao  do  referido 
lecenscamoiilo  no  "."  anno  da  era  christa.  e 
tendo  padorido  a  sua  paixao  e  morte  no 
anno  de  'i'.i,  como  esla  malliemalicamente 
provado,  tinha  apenas  2(1  aniios  qiiando  mor- 
rcu,  c  nao  era  cutrado  no  trif;esimo  anno 
(jiiando  rcoelieu  o  baptismo.  Mem  d»  que  sc 
-■■e  admitlir  aijuella  data  para  o  nasrimento  do 
Christo  1^0  anno  7.°),  c  se,  de  accordo  com  a 
tradieao  ijeralmente  receliida,  .1.  C.  tinha, 
quando  niorreu.  mais  de  'A'i  annos,  viria  este 
i-ucresso  a  ter  logarcm  40,  o(iiie  e  manifesla- 
raente  incxaelo.  pois  que  ja  a  esse  tempo  havia 
mais  de  dois  annos  que  Pilatos  tinha  sido  dimit- 
tidoe  desterrado.  Tiberio  tinha  lambem  mor- 
rido  no  tim  de  marco  de  ;)S ;  c  Maryllus,  se- 
gundo  successor  de  Pihitus,  era  procurador  da 
Judea  por  Caligula.  Em  lim  seJ.  C.  tivesse 
nascido  durante  o  recenscamento  de  Quirinio, 
que  so  teve  principio  dcpois  da  expulsao  de 
Ilerodes  \rchelau,  todos  os  factos  positivos 
acerca  do  scu  nascimento  seriam,  historica- 
mente  faliando,  impossiveis. 

0  recenscamento  que  Augusto  mandara 
fazer  era  das  propriedades,  segundo  ret'ere  o 
liistoriador  Jose,  e  parece  niio  haver  motivo 
para  que  Jose  e  Maria,  pobres  dos  bens  da 
Ibrtuna,  fossem  ohrigados  a  ir  recensear-se 
a  Belem,  onde  nada  possuiam.  E  mais  pro- 
vavel  que  urn  recenscamento  de  pcssoas  por 
tribus  ou  familias,  e  ao  ([ual  por  consequen- 
ria  Jose  e  Maria  deviam  sujoilar-se,  tivesse 
logar  pclo  tempo  do  nascimento  de  Christo, 
e  que  este  acto  de  administracao  puramente 
judaica,  e  proprio  para  excitar  a  nacionali- 
dade  do  povo  hehreu  e  cstrcitar  os  lacos  de 
farailia,  fosse  dill'erente  do  de  Quirinio,  que 
devia  ter  um  lim  politico  mui  diverso,  por- 
que  se  tractava  de  incorporar  no  imperio  dos 
Cesares  um  paiz,  cujos  habitantes  eram  sohre- 
raaneira  hoslis  ao  jugo  da  dominacao  roinana. 

Cumpre  tambem  obscrvar,  que  o  Evangcllio 
de  S.  Lucas  aprescnta  vestigios  de  uma  pri- 
initi\a  redaccao  seiuitica,  que  hoje  nao  jios- 
suinios,  e  era  possivel  que  o  traductor  grego 
nioditicasse  o  texto  original,  introduzindo 
nelio,  sem  mclhores  fundainentos  factos,  <|ue 
nao  estao  em  barmonia  com  o  theor  dos 
outros  Eviingelhos,  c  que  clle  achara  talvcz 
lonsignados    nalguma  glosa  marginal. 

Parece  ]iortanto  provado.  que  J.  C.  nas- 
cera  a  2u  de  dezembro  do  anno  que  pre- 
cedeu  o  primeiro  da  era  christa,  reinando 
cntao  0  ethnarca  Herodes  Archelau;  que  sof- 
frera  a  sagrada  paixao  a  3  d'abril  do  anno  de 
33,  e  que  e  respeitavel  atradicao  de([ueJ.  C. 
vivera  33  annos  e  trez  mezes,  pois  que  entre 
So  de  dezembro,  dia  do  sen  nascimento  ate 
3  d'abril  de  33,  em  que  expirara,  vao  exacta- 
mente  trinta  e  trez  annos,  trez  mezes  e  oito 
dias.  J.  M.  DE  ABREU. 


IMDLIOGUAPUIA. 


Gcuchkhtc  (lev  Piidagnfiil,. 


Historia  da  Peda;;os:ia.  <lf'sdc  o  renasciiiienlo  (Io^• 
estiidi^,s  classicos  ati-  ao  prcspiite.  por  Karl  von  Raiinior, 
4  vol.,  K."  Slutlsarl  1846—1834. 


A  pedagogiaso  na  Allemanha  rcuni'  todas  as 
condicoes  esscnciaes  d'uma  verdadeira  scien- 
cia,  ponjue  so  alii  ella  assenta  em  principios 
philosopliicos  gcralmcnte  admittidos,  'num 
melhodo  rigorosnmente  logico,  c  na  perraa- 
nenl(!  c  progressiva  applicaciio  das  theorias 
elaboradas  no  meio  da  sociedade  viva.  Nesto 
paiz  a  descentralisafSo  politica  e  administra- 
tiva  tern  mui  principalmentc  concorrido  para 
0  progresso,  e  pode  dizer-se  para  os  trium- 
pbos  da  sciencia  pedagogica. 

0  grande  numero  de  universidades,  gy- 
mnasios,  e  escholas  de  applieacao,  que  exisiera 
na  Allemanha,  devia  naturalmente  crear  entre 
todas  estas  instiluicoes  uma  salutar  concur- 
rencia,  e  uma  rivalidadc  tao  proveitosa  a 
sciencia  na  sua  mais  elevada  accepcao,  como 
ii  instruccao  popular  na  sua  mais  humilde 
esphcra. 

0  maior  c  de  eerto  o  principal  mcrecimen- 
to  da  pcdagogia  allcma  consiste  em  ter  sabi- 
do  manter  a  barmonia  entre  osdiversos  graus 
do  ensino,  sem  dcixar  abrir  entre  a  sciencia, 
que  e  0  apanagio  do  poucos,  c  a  instruccao 
popular,  0  abismo,  que  'noutros  estados  da 
■  Europa  existe.  Diversas  sao  as  causas  desta 
especial  siluacao  daquclle  paiz  no  que  toca 
ii  instruccao  publica,  c  6  por  isso  summa- 
mente  intercssante  estudar  a  sua  organisa- 
cao,  e  a  historia  das  causas,  que  successiva- 
mente  prepararam  e  fundaram  essa  mesma 
organisacao. 

Dcpois  dos  excellentes  trabalhos  de  Cousin 
acerca  da  instruccao  piihlica  na  Prussia, 
nenhuma  outra  ohra  importantc  sobre  este 
grave  assumpto  havia  visto  a  luz  publica  ate 
ao  momento  em  que  o  distincto  escriptor 
Karl  de  P.aumer  dcu  ii  cstampa  a  Historia  da 
Pc(lago(jia  comecada  ha  doze  annos,  e  cujo 
ultimo  volume  acaba  do  puhlicar-se. 

Esta  ohra,  a  pezar  de  carecer  do  espirilo 
philosophico,  que  tiio  essencial  e  em  assumpto 
tal,  eescripta  com  profundo  conhecimento  da 
materia  e  verdadeira  sciencia  ;  e  e  a  mais  com- 
pleta  de  quantas  sobre  esta  materia  se  tern 
publicado  em  Allemanha  ate  boje. 

0  primeiro  volume,  dcpois  d'uma  introduc- 
rao  sobre  os  raelhodos  do  ensino  usados  na 
meia  edade,  e  especialmente  em  Italia  desde 
0  nascimento  do  Dante,  cxpOe  a  influencia 
dos  gregns  que  escaparam  de  Constantinopla 


99 


sobre  a  sciencia  c  instrucoao  na  Italia;  os 
progressos  das  letras  e  da  instruccao  littera- 
ria  cm  Florenca  na  epoclia  dos  Medicis,  cm 
Roma,  e  em  toda  a  Italia  no  tempo  de  Lcao 
X.  0  A.  tracta  depois  da  historia  do  cnsino 
na  Allenianiia  e  nos  Paizcs-Baixos  desde  Ger- 
hard 0  grande  ate  Luthero  (1340 — 1483), 
desiuvolvendo  a  iiilUiencia,  que  sohre  o  en- 
sino  e  as  letras  tiveram  Krasmo  de  Rotter- 
dam, Platter,  Reuchliueoutros.  A  ultima  par- 
te deste  volume  tontem  a  historia  das  altera- 
cocs  introduzidas  no  ensino  publico  pcla  re- 
t'orma,  pclos  Jezuitas,  c  pelo  realismo  verbal, 
f[ue  eutao  comerava  a  dominar  nas  escholas. 

0  segundo  volume  occupa-se  dos  novos 
metbodos  de  oducacao  depois  da  niorte  de 
Bacon  ate  a  de  Pestalloni;  suas  lutas  com  os 
antigos  systcmas  e  suas  transformacoes.  0  A. 
consagrou  a  eada  um  dos  relormadores  do 
seculo  18.°,  reformadores  da  educacao,  e  do 
ensino,  como  foram  Locke,  Francke,  Gerner, 
Rousseau,  llaman.  Herder,  Wolff  e  outros, 
capitulos  mui  interessantes. 

0  terceiro  volume  e  dividido  cm  duas  par- 
tes; a  primeira  descreve  minueiosamente  a 
educacao  da  primeira  inl'aucia  na  casa  pater- 
na,  e  lora  d'ella.  Apresenta  cm  seguida  a 
historia  dos  metbodos  empregados  no  ensino 
da  latinidade;  apborismos  sobre  o  ensino  da 
historia,  geograpbia,  scicncias  naturaes  e 
matbematicas,  e  linalmente  consideracOes  so- 
bre a  educacao  pbysica,  a  gymnastica  etc. 

Na  segunda  parte  deste  volume  tracta  pri- 
meiro  das  cscbolas  de  applicacao,  onde  se 
ensinam  ao  mcsmo  tempo  as  scicncias,  as 
artes  e  a  industria;  segue-se  a  historia  dos 
metbodos  d'cnsino  da  lingua  allema  desde  o 
fim  do  seculo  1S.°  ate  ao  presente  nas  cscbo- 
las primarias,  secundarias  e  superiorcs  por 
Rodolpbo  de  Raumer.  Esta  segunda  parte 
termina  com  observacocs  sobre  a  educacao 
do  sexo  feminino,  e  sobre  as  relaeoes  da 
egreja  com  o  estado. 

0  quarto  volume  e  o  mais  iuteressante  para 
a  maioria  dos  leitores,  porque  contem  uma 
historia  conipleta  das  universidades  allcmas 
desde  o  seculo  14.",  comprehendendo  todas 
as  particularidades  da  sua  organisacao,  os 
costumes  mui  originaes  dosescbolares,  e  con- 
sideracOes mui  transcendentes  sobre  a  rela- 
cao  das  diversas  faculdades  acadeniicas  entre 
si,  e  dos  professores  e  estudantes. 

Seria  muito  para  desejar  que  uma  tao  im- 
portante  obra  podesse  ser  lida  por  todos 
aquelles,  que  enlre  nos  se  occupam  das  que- 
stOes  do  ensino  e  da  educacao  piiblica,  o  que 
ao  menos  se  traduzisse  ou  extractasse  a  im- 
portante  historia  das  universidades  de  Alle- 
manha,  que  fora  deste  paiz  tao  pouco  conhe- 
cida  e,  e  dos  diversos  metbodos  d'ensino.  0 
que  emprehender  esta  publicacao  lara  por 
certo  um  relevante  service  a  nossa  instruccao 
piiblica.  A. 


RELACAO 


Dos  individuos  nomeados  para  os  seguinle$  logares 
d'histnicciiu  piiblica,  por  despachos  do  Conse- 
Iltii  superior  d'instrucido  piiblica  desde  o  dia  4'i 
ate  ao  fim  de  jtnilw,  e  bem  assim  por  decrctos  c 
portarias  do  Gorcrno,  communicadas  ao  mcsmo 
Consclho   superior  no   indicado  pcriodo. 


INSTRUCtJiO   PRIMARIA. 

Anlonio  Joso  Correa,  para  professor  por  Irez 
annus  da  Cadeira  de  Cabecudos,  districto  de  Braga. 

Juao  Baplista  Marlins,  jtara  a  de  Eiia  Vodra. 
districto  de  Braga. 

Jose  Anlonio  Mendes,  para  a  de  Cevcr,  distri- 
cto de  Yiseu, 

Jose  Peixolo  Montciro,  para  a  de  Villa-Boa, 
districto  do  Porto. 

Juslino  Kodrigues  da  Cruz,  para  a  de  Villa 
Fernandes,  districto  da  Guarda. 

Antonio  Joaqiiim  Gonralves,  para  a  de  Metres, 
districto  do  Porto. 

Francisco  Machado  de  Miranda,  para  a  de  Passu 
de  Sousa,  districto  do  Porto. 

Mathias  de  Sancta  Izabel  Godinhu,  para  a  de 
SahalerradcMagos. 

Joao  Burgcs  d'Andradc,  para  a  dc  S.  Sebastiau 
de  Darqiie,  districto  de  Viana. 

Joaquim  Gualdim  Pinhciro,  para  a  de  Alvor, 
districto  de  Faro. 

Joaquim  Rodriguos  Loureiro,  para  a  de  Col- 
lares,  districto  de  Lisboa. 

Jose  Joaquim  do  Coracao  de  Jesus,  para  a  dc 
Caparica,  districto  de  Lisboa. 

Victorino  Joaquim  Dias,  para  a  de  Co\as, 
districto  de  A'illa-Real. 

Joao  da  Costa  Monteiro,  translerido  para  a 
cadeira  de  Sanfins,  districto  de  Braga,  da  de 
Pcndurada,  districto  do  Porlo;  por  decreto  de  C. 
de  jnnhu  findo. 

INSTRL'Cf.VO    SfPERIOlt. 

Dr.  Joaquim  Augusto  Simocs  de  Carvalhu,  para 
subslituto  ordinario  da  faculdade  de  philusophia 
da  universidade,  por  decreto  de  12  de  junho  fnido. 

Domingos  Martins  da  Costa,  para  subslituto 
das  cadeiras  da  seccao  de  philosuphia  da  acade- 
mia  polytechnica  do' Porto,  por  ilecrelo  dc  12  dc 
junho  findo. 


Despachos  diclos  desde  n  1 ."  ate  o  dia  /.i 
de  julho. 

INSTHDCgiO    PRIM.vniA. 

Antonio  Goiicalves  Pereira  Leal,  para  profes- 
sor Icmporario  da  Cadeira  dc  Sao  Sebastiiin  de 
Darque,  districto  de  Viana. 

Joaquim  Gualdino  Pinheiro,  para  a  dc  .\lvur. 
districto  de  Faro. 

Joaquim  Rodrigues  Loureiro,  para  a  de  Col- 
lares,  districto  lie  Lisboa. 


100 


Jose  Joaquim  do  Corai;ao  de  Jesus,  para  a  do 
Caparica. 

Vklorino  Joaquim  Dias,  para  a  do  Covas, 
dislricto  de  Villa  Ileal. 

Antonio  Gonealvps  Pereira  Lenl,  para  a  de 
Salvada.   dislricto  de  Beja. 

Augusto  Cczar  Pinto  Reimao,  para  a  de  Fer- 
rciros,  dislricto  de  Vizeu. 

Francisco  Candido  Ferreira,  para  a  dePodencc, 
districto  de  Braganca. 

Francisco  Igiiacio  Xavicr  Salgado,  para  a  dc 
Lamarosa  em  Ak-anhoes,  dislricto  de  Sanlarcm. 

Joaquim  Ferreira  da  Siha  Ramalho,  para  a 
d'Alaliiia,  dislricto  de  Sanlarcm. 

Antonio  Fillipe  de  Souza  Carvalho,  para  dc 
Aljubarrola,  dislricto  de  Leiria. 

Augusto  Taveira  Neves,  para  a  dc  Goujoim, 
dislricto  dc  Vizeu. 

Jono  Jose  dc  Brilo  Figueiroa,  para  a  dc  Ponta 
Dclgada,  dislricto  do  Funclial. 


Jose  Antonio  Gomes,  para  a  de  Rabo  de  Peixc, 
dislricto  dc  Ponta  Dclgada. 

Jose  Antonio  Lopes  Goncalvcs,  para  a  dc 
Treiriz,  dislricto  dc  Braga. 

Jiisc  Bernardino  de  Brilo,  para  a  de  Porto 
Moniz,  dislricto   do  Funchal. 

Miguel  Luiz  Valcrio,  para  a  da  Ponta  do  Sol, 
dislricto  do  Funchal. 

Antonio  dc  Lima  Barrelo,  para  professor  vita- 
licio  da  cadeira  da  Cur\cira,  dislricto  do  Porto. 

I>STnuC(iO   SECU.NDiRIA. 

Jose  Joaquim  Manso  Prcto,  para  professor  da 
Cadeira  de  Arillimctica,  Algebra  elemcntar,  Geu- 
mctria  Synthclica  elemcntar  c  principios  dcTrigo- 
nometria  plana,  c  Geographia  Mathematica  no 
Lyccu  de  Coimbra  por  decrelo  de  4  do  prescnlc 
mez. 


IIVIPRENSA  DA  UNIVERSIDADE  DE  COIMBRA. 


Lcgislnriio  Porlii$;aoza.  quo  «e  veiiilo  na  mcNma  InipreiiNa,  cujosi  precos 
roram  reiluzirtOK  cm  II  d'Abril  tie  1855. 


PRECO 


Assentos  das  Casas  da  Supplicacao  e  do  Civel,  4.° 

Colleccao  dc  Cartas  dc  Lei,  Dccretos,  etc.,  das  Cortes  Geraes,  Extraordinarias  e 
Constituintes,   dc  26  de  Janeiro  dc  1821  ate  20  de  Novembro  de  1822,  4."   .. 

Colleccao  chronologica  de  Leis  Exlravagantes,  posteriores  a  nova  Compilacao  das 
Ordenacocs  do  Reino,  publicadas  em  1603,  desde  cstc  anno  ale  o  de  1761, 
conformc  as  CoUcccoes  Yiccntinas  e  seu  Appendix,  as  quaes  accrcsceram  as 
compiladas  por  F.  da  C.  Franca  em  suas  Addifoes  e  Appendix,  4.°,  6  vol., 
com  0  index ; 

Colleccao  chronologica  de  Leis,  Alvaras,  Dccretos,  etc.  de  Junho  de  1823  ate 
Junho  dc  1828,  5  vol.  4.°    

Colleccao  chronologica  de  Leis,  Alvaras,  Dccretos,  etc.  de  Julho  de  1828  a 
Junho  dc  1831,  S  vol.  4." 

Correa  (Francisco) — Colleccao  de  Leis  e  Provisoes  d'ElRci  D.  Scbasliao,  reimprcs- 
sas  porordem  chronologica,  e  com  a  numeracao  de  §§,  que  em  algumas  faltava; 
seguidas  de  mais  algumas  Leis,  Rcgimentos  e  Provisoes  do  mesmo  Reinado, 
etc.,  c  com  a  Lei  da  Rcformacao  da  Juslica  por  Philippe  II.  de  27  de  Julho 
de  1582,  2  vol.  4.°,  com  o  l.»  e  2."  Appendix' 

Eslatutos  da  Universidade  de  Coimbra,  3  vol.  8." 

Eslatutos  da  Universidade  de  Coimbra,  3  vol.  4.°. .  . ,  , 

Leao  —  Leis  Ejtravagantes,  4.° 

Ordenacoes  do  Senhor  Rei  D.  Affonso  V.,  S  vol.  4.° 

Ordenacocs  do  Senhor  Rei  D.  Manoel,  4  vol.  4.°,  com  o  Repertorio 


And  go 

Actual 

1^580 

1^200 

1^440 

700 

6^660 

2^400 

2^260 

800 

1^230 

400 

1^20 

600 

ipoo 

600 

ipoo 

900 

1^100 

SOO 

4$000 

1^500 

3^000 

1^200 

€)  Jnotitttta^ 


JORNAL    SCIENTIFICO     E     LITTERARIO. 


BELATORIO 

fttolirc  o  rNtnilo  prewonlr  da  iciMlrurrfio 
pi'iltlirn  o  parliriilnr  <lo  niHiricIo  a<l- 
niiniMti-aclivo  <lo  Func-Iial  eu>  luarro 
do  1  »55. 

Continuj^do  de  pag.  92. 

ABTIGO  2.° 
Esiholai  municipaes. 

Poslo  que  aos  olhos  da  lei  as  escholas  mu- 
nicipaes sejam  parliculares,  d«i-lhes  lodavia 
aquclia  denoniinacao,  para  assim  as  dislin- 
guir  das  que  sao  niantidas  pelos  paes  dos 
alumnos,  ou  pelos  subsidies  da  philanthropia 
individual. 

Quasi  todas  as  raniaras  municipaes  d'cste 
districlo,  a  inslancias  do  govcrnador  civil  Jose 
Silvestre  llibeiio,  tjnham  creado  eseholas  de 
ua\e  outro  sexo  nas  mais  populosas  freguezias 
dos  respectivos  concellios.  Mas  taes  eschoks 
iiunca  tiveram  uma  organisacao  regular.  A 
ireacao  d'ellas  I'oi  mais  urn  acto  de  condcscen- 
(lencia  da  parte  dos  vereadores  para  com  os 
desejos,  alias  louvaveis,  d'aquclla  auctoridade, 
do  que  resultado  de  con\icrao  que  tivcssera 
da  necessidadc  e  conveniencia  de  taes  insti- 
tuicoes. 

Que  resultou  d'aqui?  Apenas  saliira  da  go- 
vernanca  aquellc  cavallieiro,  como  jii,  por 
outro  lado,  comecassem  de  escasscar  os  ren- 
dinientos  das  Tiuinicipalidades,  logo  se  foram 
esberoando  ecaliindo  taes  eseholas.  Acaraara 
da  villa  de  Sancta  Cruz,  que  tinha  uma  eschola 
priniaria  uoCaniro,  outra  em  Gaula,  outra  na 
(Jamacha,  supprimiu-as  todas.  A  da  Calheta, 
que  mantinlia  uma  eschola  no  Arco  da  Calhe- 
ta, e  outra  aa  l-"aja  da  Ovelha,  supprimi«-as 
ambas.  Outras  ha,  queainda  nao  supprimiram 
t'scbolas  que  houvessera  creado;  mas  ha  muitos 
mczos  que  nao  pagam  aos  respectivos  mestres 
e  mestras.  A  caniara  do  Funchal,  por  exemplo, 
ainda  conserva  onze  eseholas  de  mcninas  e 
cinco  de  rapazes;  mas  deve  a  cada  um  dos 
profossores  e  mestras  dez  raezes  de  ordenado. 

Posso  assegurar  a  V.  Excellencia  que  as 

mestras  das  eseholas  de  meninas  d'este  con- 

celho  s»o,  era  gcral,  de  rcconhecida  aptidao, 

YoL.  lY.  Agosto  1  - 


e  a  perder  de  vista  mais  habeis,  que  'os  pro-:. 
fessores  da  sua  classe. 

Taes  eseholas  tern  consideravclmente  con- 
tribuido  para  o  melhoramento  da  condifao 
physica  e  moral  das  povoacoes  ruraes.  Em 
freguezias,  onde  ha  dez  annos  atraz  so  as- 
sistiam  com  livro  a  missa  pessoas  cxtranhas 
a  cllas,  hoje  e  rara  a  donzelinha  que  nao  lea 
pelo  scu  (I  Manua!  de  missa  »  as  rezas  do 
servico  divino.  Os  trabalhos  d'agulha  que  se 
ensinam  nestas  eseholas,  e  que  sao  aqui  bem 
pagos  pelos  extrangeiros,  tem  deparado  as 
cducandas  uma  industria  Incraliva  e  civilisa- 
dora,  cujo  exercicio  as  obriga  a  viverem 
com  mor  limpeza  e  reealo.  E  as  que  ehegam 
a  casar,  sao,  era  geral,  melhores  esposas  e 
maes  de  familias,  cuidara  niais  do  arranjo  da 
casa,  c  educam  os  filhos  com  mais  esmfiro  e 
vanta^em  para  elles  e  para  ellas. 

E  de  lamentar  que  o  mau  estado  das  finan- 
cas  da  camara  d'esta  cidade  Ihe  tenha  inspi- 
rado  a  idt^a  de  ir  supprimindo  as  eseholas  de 
meninas,  cujas  cadeiras  forem  vagando. 

ABTIGO   3." 
Eseholas  publicas. 

Das  quatorze  eseholas  publicas  que  aqui 
ha,  as  que  eslao  em  melhor  pe,  sao  —  a  de 
meninas,  de  Alaria  Emilia  Cunha,  —  a  de 
nieninos  de  Egidio  Francisco  de  Sequeira, — 
e  a  de  Luiz  Correa  da  Silva  Aeciaioli.  Todas 
as  mais,  segundo  informacoesque  tenho,  estao 
no  mais  deploravel  estado  de  frequencia  e 
disciplina. 

A  falta  d'uma  auctoridade  superior  e  espe- 
cial que  vigiasse,  sem  distraccao,  pelo  desin- 
volvimento  d'este  ranio  de  servico,  fez  com 
que  OS  professores  primarios,  'deixados  a  si, 
tenham  contrahido  o  habito  de  tomarem  por 
unico  regulamento  o  sen  arbitrio,  e  nao  pro- 
moverem  com  a  devida  pontualidade  o  zelo 
e  adianlamento  dos  discipulos.  Da  prova  da 
verdade  d'esta  assercao  o  estado,  em  que  achei 
as  eseholas  piiblicas,  quando  tomei  conta  da 
inspeccao  immediata  d'ellas. 

0  regulamento  geral  d'estasescholas,achei-o 
bem   guardado   na  carteira  de   cada    profes- 
sor; mas  em  quasi  nenhuma  vi  executadas  as 
prescripeo^s  do  regulamento. 
-ISbS.    '  NoM.  9. 


•^t. 


102 


uma  so  sespao  por 


Em   lal  eschola  bavia 
(Jia.  ao  passo  que  cm  oulras  liavia  duas. 

\s  horas  lectivas  da  sessao  da  maiilia  iiao 
cram  as  do  regulamento;  variavani  diima 
para  outra  eschola,  ao  arbilrio  do  iirol'cssor. 
Todo  0  professor,  que  tivesse  tine  I'azer 
lora  da  sede  da  sua  escliida,  enleiidia-se  talvez 
com  0  respectivo  adminislrador  do  coiicclho, 
lecliava  a  eschola,  e  ia  para  oiide  o  cliama- 
vam  OS  scus  negocios. 

0  ensino  religioso,  principalmente,  estava 
om  completo  abandono  em  quasi  todas  as 
escholas.  Os  prol'essores  mais  pontuaes  limi- 
tavam-se  a  ensinar  de  cor  alguiiias  das  rezas 
e  oracOes,  que  a  egreja  tcui  adniitlido  para 
uso  dos  Ceis;  mas,  a  mingua  dc  explicacOcs, 
pouco  ou  nada  ciiteudiam  os  discipiilos.  Por 
falla  dc  livros,  nenhum  e\])licava,  na  vespe- 
ra  de  duniingo  ou  dia  saiu'lilieado,  a  epislola 
e  cvaugclho  da  missa  do  dia  soguiiile;  ne- 
nhum abria  e  encerrava  os  irabalhos  escho- 
lares  peia  retilacao  das  oracOes  indicadas  no 
regulamento;  nenhum  aconip:inha\a  os  alu- 
mnos  a  missa. 

0  ensino  theorico  dos  prineipios  da  moral 
nao  estava  era  melhor  estado.  Achei-o  redu- 
zido  a  mero  exercicio  de  memoria,  cm  que  a 
intelligencia  dos  alumnos  tomava  pequena 
parte,  nenhuraa  o  coracao.  Todo  o  trabaliio 
do  professor  consistia  cm  marcar  no  «  Manual» 
com  dois  signaes  de  lapis  urn  trecho,  e  dizer 
ao  aiumno:  «  Traga  d'mjui  ate  aqui. »  Ao  dia 
seguinte  voltava  o  alui>jno,  c  repetia  o  Irccho 
decorado,  as  raais  das  vezes  sem  enlender  a 
signiticacao  das  palavras  que  proferia ! 

Quanto  a  divisao  da  eschola  em  classes,  ne- 
nhum professor  a  tinha  feito  em  harinonia 
com  0  disposto  no  arligo  30  do  dccr<Ho  de 
20  de  dezembro  de  ISoO. 

Uns  nao  ensinavam  todas  as  materias;  oulros 
ensinavam  mais  uraas  que  outras.  A  divisao 
das  materias  pelo  tempo  lectivo  era  lao  irre- 
gularmente  feita,  que  —  unias  vezes  era  o 
professor  que  so  entrelinha  em  trabalhos 
estranhos  a  eschola,  em  quanto  esla  fuuccio- 
nava  sob  direccao  dos  decurioes: — outras  ve- 
zes era  a  maior  parte  da  eschola,  (lue  estava 
a  nao  fazcr  nada,  em  quanto  o  professor  to- 
mava licao  aos  decurioes. 

Pede  a  justica  que  eu  diga  uma  cousa,  e  e 
—  que  tal  desorganisacao,  pela  maior  parte 
provinha  da  falta  de  livros  elementares,  pro- 
prios  e  uniformes  para  os  trabalhos  de  cada 
classe. 

Depois  que  foi  prohibido  usar-se  nas  escho- 
las dos  livros  do  Novo  Teslamento,  de  edicao 
ingleza,  que  os  filhos  dos  pobres  podiam  aqui 
obter  de  graca,  nunca  mais  liveram  estes, 
para  aprenderera  a  ler,  os  livros  de  que  ea- 
reciam.  Este  frequentava  a  eschola  sem  livro; 
aquelle  lia  pelo  livro  que  o  acaso  Ihe  depa- 
rara.  'Numa  eschola  d'esta  cidade  vi  eu  — 
um  l^r  pcio  Panorama, —  outro  por  urn  volu- 


me do  yiajmie  nnirersal, —  outro  pela  Ilisto- 
I  Id  (h  Ciirlnit  Mdi/no, —  e  outro  ale  pclas  .li(M- 
ciiis  de  lirrlholilinho!  .  .  .  A  classe  de  leilura 
nesia  eschola,  niio  era  uma  classe;  era  uma 
pcqui'na  eschola  de  rmiiio  indii'iiliuil  cujos 
alumnos,  as  mais  das  vezes,  dcixavam  de  dar 
licao  por  falla  de  tempo. 

Assim  a  falla  de  livros  proprios  e  unifor- 
mes para  OS  trabalhos  de  cada  <  lasse,  tomava 
impossivel  a  divisao  da  eschola  em  classes; 
e  a  falla  d'estas  obslava  a  que  e  ]irofcs.sor 
seguisse  quabpier  oulro  methodo,  que  nao 
fosse  0  iiulii'Idiial.  Embora  digam  os  profes- 
sores,  nos  mappas  de  frequencia  reuicllidos 
para  o  conselho  superior,  «  que  o  nielhodo 
seguido  nas  respeclivas  escholas  e  o  uiuluo, 
on  o  simultaneo,  ou  o  mi\to  de  miituo  e  si- 
multaneo:  <>  nao  os  acredile  o  conselho  supe- 
rior. A  falla  dc  livnis  condemnava-os  a  seguir, 
com  rarissimas  excep^Oes,  o  nielho Jo  indivi- 
dual. 

Eis  a(iui.  Ex.""  Senhor,  o  eslado  pouco  sa- 
lisfaloiio  eai  (pie  achci  as  escholas  ([ue  tenho 
visilado,  isto  e,  as  melhores  do  districto.  As 
das  frcguezias  ruraes.  tenciono  visital-as  no 
niez  d'agosto,  unica  epoca  do  aauo,  chi  que 
posso  sahir  da  cidade,  sem  jirejuizo  de  mi- 
nhas  ohrigacocs  de  professor.  Mas  nao  e  pre- 
ciiO  que  eu  laca  esla  visita  para  saber  que 
as  escholas  do  campo  eslao  em  peior  estado, 
que  as  urbanas;  ponpie  a  lodas  as  incoitve- 
niencias,  de  que  eslas  solfreni,  accresce  para 
aqucllas  a  falla  de  mobtlia  propria,  vislo  que 
nenhuaia  canwra  municipal  at«  hoje  tem  dadd 
cuoiprimenlo  a  disposicao  dos  arligos  l."ei." 
do  decrelo  de  20  de  dezembro  de  ISoO,  rela- 
livamenle  ao  cusleanienlo  da.*  escholas  piibli- 
cas  dos  respeclivos  concc4hos. 

CAPITUI.O    HI. 

Inslruccuo  scrundaria. 

Neste  capilulo  tenho  de  hosquejar  a  histo>- 
ria  de  varios  estabelecimentos  (pie  tenho  visi- 
tado;  —  uns  puhlicos, — outros  particulares. 
Isso  me  aconselha  subdivtdil-o  nos  subse- 
quentes  artigos. 

AKTKiO    1.° 
Eschutas  partieulares. 

Ha  nesta  cidade  i]ualro  escholas  particula- 
res de  ensino  secundario:  - — duas  da  lingua 
iugleza, —  uma  da  lingua  franceza, — e  outra 
de  varios  ramos  de  instrucfao  secundaria, 
que  adiante  especihcarei. 

A  priineira  (J'eslas  escholas  e  ura  pequeno 
cslabclecimenlo,  empresa  de  um  ce/to  John 
Olivier  Small,  que  a  troco  da  mensalidade  de 
rCis  1^000  ensina  practieamente  a  lingaa 


103 


ingleza  a  scte  ahiinnos,  que  nao  qiiprcm  frc- 
qiienlar  a  aula  imhlica,  nem  podcm  pagar 
ouira  particular  niellior.  0  ensino  liniita-se  a 
— ler,  traduzir,  e  I'azer  exercicios  sobre  as  re- 
gras  da  etymologia  e  syntaxe  lodos  os  dias, — 
e  verier  do  portuguez  para  o  inglez,  e  pra- 
clicar  conversarao  iim  dia  sim  outro  nao. 
Era  breve  I'arei  habilitar  o  professor. 

A  scgunda  d'estas  escholas  e  de  mais  al- 
guma  forca,  que  a  primeira.  Frequenlani-a 
vinte  e  seis  alumnos,  quasi  todos  porlugue- 
zes,  cujos  paes  alii  os  mandam  procurar  o 
coiiliecinieulo  praclico  da  lingua  ingleza,  a 
troco  d'unia  niensalidade  de  reis  2§>000.  0 
professor,  que  e  Mr.  George  Williams,  tern 
muito  zelo  [)elo  adiantamento  dos  alumnos; 
da-lhes,  afora  o  conlieeimento  da  lingua  in- 
gleza, boas  noeOes  da  geograpbia  e  da  csphe- 
ra ;  tem  exames  piiblieus  lodos  os  annos;  e  o 
dia  da  dislribuieao  dos  premios  e  uma  ver- 
dadeira  fesla  para  os  alumnos  esuas  familias. 

M.  Alex.  Maurice  Duval  e  o  professor  da 
tcrceira  eschola  —  mode- to  estabeleeimento, 
frequentado  por  quinze  alumnos,  que,  das  trez 
as  cinco  da  tarde  em  dias  alternado.s,  alii 
vao  aprender  a  lingua  franceza.  Duval,  que 
e  0  unico  mestre,  e  bom  niestre,  e  goza,  co- 
nio  liomem,  dos  melhores  creditos.  0  sen  rae- 
tbodo  e  mais  practico,  do  que  tlieorico;  co- 
nliece  melhor  o  Diccionario,  que  a  gramma- 
tica  da  lingua;  nao  leva  o  ensino  d'ella  ate 
a  parte  litteraria.  Assim  mesmo  salisfaz  os 
desejos  dos  alumnos,  que,  cstudando  com  elle, 
tudo  0  que  buscam  e  o  conhecimento  practice 
c  familiar  da  lingua. 

A  ultima  d'estas  escholas,  dcnominadas 
CoUerje  at  schoul,  eorresponde  perfeitameute 
a  denomiuacao  que  tem-,  Nao  e  um  collegio; 
mas  e  uma  escliola,  onde  se  ensinam — as 
linguas  ingleza,  franceza,  latina  e  grega, — 
arilhmetica,  geonietria  e  algebra, — hisloria, 
geograpbia  e  descnbo.  O  mestre  de  desenbo 
e  um  inglez  (M.'  Cree);  o  de  francez  e  M. 
Duval;  e  lodos  os  mais  ramos  de  instruccao 
siio  perfeitaraenle  ensinados  peloR."'"  Alexander 
J.  D.  Dorsey,  antigo  professor  de  eschola  su- 
perior de  Gla.'^gow,  que  veiu  residir  ncsie 
paiz  por  amor  de  sua  saude.  Esta  traclando 
de  Lal)iliiar-se  para  haver  o  competcnte  titulo 
de  auctorisacao.  £  pcssoa  tao  qualilicada,  e 
de  tao  recoubecida  aptidao  e  talenio  para  o 
cnsiuo,  que  tenho  em  conla  de  nao  pequena 
vantagem  para  a  instruccao  piiblica  d'este 
paiz  a  boa  vonlade,  com  que  se  ha  prestado 
a  ser  membro  da  associacao  de  conferencias 
s6bre  o  eiisino  primario.  cujos  eslatutos  pen- 
dem  da  approvacao  do  governo  dc  S.  Mage.s- 
Jade.  A  eschola  collegiul  e  presentemente  fre- 
quentada  por  deze.seis  alumnos,  quinze  in- 
glezes,  e  so  um  portuguez.  Dao  a  razao  de 
tao  escassa  frequencia— o  alto  preco  do  hono- 
rario  do  professor, — e  o  ajuste  que  com  elle 
lizeram  os  paes  dos  alumnos  inglezes,  cora- 


{irometlendo-se  a  llie  .segurarem  cerla  somma 
de  libras  com  a  condicao  de  elle  nao  acceitar 
maior  numero  de  discipulos. 

ARTIGO  2.° 

E-ichulas  publicas. 

(Lyceu.) 

As  unicas  escholas  publicas  de  ensino  sr- 
cundario  que  a  qui  ha,  siio  as  que  formam  o 
Ii/ceu  nacioiial  d'esta  cidade,  a  .saber:  —  nma 
aula  das  linguas  porlugueza  e  latina, — outra 
das  linguas  ingleza  e  franceza,  —  outra  de 
arilhmetica,  georaetria  e  algebra, — outra  de 
pbilosopbia  racional  e  moral  e  principles  de 
direito  natural,  —  outra  de  oratoria,  poetica 
e  lilleratura,  —  outra  tlnalmente  de  hisloria, 
geograpbia  e  chronologia. 

E  professor  da  primeira  d'estas  aulas  o 
sr.  Francisco  d'Andrade,  cujo  zelo  pelo  adian- 
tamento dos  alumnos  c  superior  a  todo  o 
elogio.  Tendo  iraduzido,  e  accommodado  a 
lingua  vernacula  o  eximio  e  bcm  conbecido 
mellmlo  de  Arnold  para  o  ensino  da  latina, 
tenia  introduzil-o  na  sua  aula.  Contemplo 
nesla  innovacao  um  grande  melboramento; 
porque  so  ella  podera  remover  um  inconve- 
niente  que  ate  agora  tfim  sempre  apresen- 
tado  OS  exames.  Os  alumnos  que  concorriam 
a  exame,  posto  demonstrassem  assaz  de  pro- 
liciencia  na  parte  Iheorica  das  duas  linguas, 
posto  vertessem  com  facilidade  e  elegancia  o 
latim  em  portuguez;  em  se  Ibes  dando  um 
treclio  portuguez  para  o  porem  em  latim, 
gaslavam  muito  tempo  na  versao,  e  a  final 
sahia  uma  cousa  que  nao  era  latim  nem  portu- 
guez. Guiados  porem  pelo  melhodo  d'Arnold, 
e  pelo  consciencioso  esludo,  que  tem  d'elle  feito 
0  professor,  ja  comecam  de  compor  em  lalira 
com  facilidade  e  correccao.  Quanlo  ao  mais 
que  conviria  dizer  a  respeito  d'esta  aula, 
reliro-me  ao  que  live  a  bonra  de  expender 
no  meu  relalorio  de  1832 


CAPITULO    IV. 

Instruccao  especial  ou  superior. 

Neste  capitulo  vou  tractar  de  dois  estabele- 
cimentos  que,  posto  nao  estarem  comprehen- 
didos  na  esphera  de  minhas  attribuicoes,  co- 
mo  vao  mencionados  na  estadistica  litteraria 
(mappa  junto  sob  n.°  1)  devem  ter  neste  re- 
lalorio a  sua  hisloria:  taes  sao  o  seminario 
ecclesiaslico,  e  a  eschola  medico-cirurgica. 

ARTIGO    1.° 

Seminario  ecclesiaslico. 

0  seminario  de  Nossa  Senhora  do  Bom 
Despacho,  que  'noutro  tempo  foi  um  rico  esia- 


104 


helccimenlo  Je  educacSo  i>  iiislriici-iio  ccclo- 
siaslica,  acha-so  hojc,  quasi  reiluzido  a  mise- 
ravcl  condioao  do  hospedaria  do,-;  educandos 
que  se  destinam  ao  serviro  egreja. 

\s  unicas  aulas  que  netle  ha,  sao  —  uma 
de  musica,  frequenlada  por  treze  alumnos, 
cujo  professor  tem  o  ordenado  de  reis  (iO|,OOfl 
per  annum; — outra  de  caiilo-cliao,  fre(iULMi- 
tada  por  vinle  e  quatro  alumnos,  cujo  profes- 
sor e  0  padre  vice-reitor,  que  porcste  serviro 
tern  uma  graliticavao  de  reis  oO^OOO  au- 
nuaes; — outra  de  theologia  moral,  frequen- 
lada por  dez  alumnos,  cujo  professor  pereehe 
uma  gratifieaeao  de  reis  iOU^OOO,  paga  pelo 
cofre  do  rendiniento  da  bulla.  A.s  liunianida- 
des,  vao  aprendel-as  ao  lyceu  os  educandos; 
OS  quaes  sao  so  treze,  doze  cliamados  do  nn- 
mero,  e  urn  pensionista,  que  paga  ao  estabe- 
lecimento  uma  raensalidade  de  reis  C^OOO. 

As  fontes  da  receita  d'este  estabelecimento 
sao  —  uma  prestacao  de  reis  lO'.miO  liqui- 
dos,  que  niensalmente  Ihe  paga  a  fazeada 
piibliea, —  e  o  rendimento  de  varias  proprie- 
dades  que  possue  por  tilulo  de  doacao.  Em 
quanto  a  administracao  d'estiis  rendas  foi 
severa,  sempre  deram  de  sobejo  para  suslen- 
tacao  e  ensino  dos  alumnos,  e  sempre  lica- 
ra'm  crescidas  alcas  de  urn  para  oiUro  anno. 
A.ctualmente  porem,  ja  em  razao  de  mas 
administracoes,  ja  por  effeito  da  dimlnuicao 
do  rendimento  das  propriedadcs,  o  estado 
economico  do  estabelecimento  nao  e  prospero. 

Estou  persuadido  que  os  recursos  de  que 
ainda  dispoe  esta  casa,  scriam  sudicientes. 
quando  bem  administrados,  para  collocal-a 
em  melhor  pc,  e  niais  em  liarnvonia  com  os 
fins  de  sua  inslituicao. 

ARTIUO    i." 
Eschola  medieo-cirurgica. 

Este  estabelecimento  foi  aqiii  inslafado  no 
hospital  da  misericordia  d'csta  cidade,  no 
dia  2  de  maio  de  1837,  em  virtude  das  dispo- 
sicoes  do  decreto  de  29  de  dczenibro  de  183G. 

Compoe-se  de  duas  cadciras:  —  uma  de 
analomia,  operacoes  cirurgicas,  arte  obstrc- 
licia  e  clinica  cirurgica,  cujo  professor  c  o 
D."  Antonio  da  Luz  Pitta;  e  outra  de  patho- 
logia,  materia  medica,  therapeutica  e  clinica 
medica,  cujo  professor  e  o  D.°'  Juvenal  Ho- 
norio  d'Ornellas.  A  primeira  cadeira  tem  urn 
ajudante  deraonstrador,  cujo  logar  csla  vago 
por  obito  do  D."  Antonio  Alves  da  Silva,  e 
interinamente  o  exerce  Francisco  de  Paula 
Drolha.  0  boticario  do  hospital  tambem  e 
deraonstrador  de  pharmacia.  Estes  quatro 
funccionarios  formam  um  conselho,  que  tem 
0  govcrno  da  eschola,  c  confere  aos  alumnos 
que  completarem  o  curso,  cartas  de  licencia- 
dos  meuores,  em  virtude  das  quaes  podem 


exercer  a  mcdicina  e  cirnrgia  onde  nao  hou- 
ver  professor  mais  graduado. 

(>  curso  da  eschola  e  de  (juatro  annos.  Os 
alumnos  sao  ohrigados  a  frequentar  todas  as 
aulas;  mas  no  finx  do  anno  leclivo  so  fazeni 
exame  nas  disciplinas  designadas  |iara  o  estu- 
do  ol)rigado  d'clle.  Matricularam-se  este  anno 
septe  alumnos. 


UMA  VISITA  A  SERRA  D  ESTRELLA. 


Continuado  de  jiag.  96. 

Quando  a  neve  da  serra  acaba  de  der- 
reter-se,  coineca  esta  a  apresentar,  a  quern  a 
observa  de  mais  perlo,  uma  vista  mui  encan- 
tadora  nas  graiides  [danicies  e  encostas  quo 
a  rodeam,  cobortas  de  veccjantes  pastagens  e 
dc  algumas  arvorcs,  separadas  niuitas  vezcs 
umas  das  outras  por  escarpadas  rochas  e 
passos  diflSceis.  Caniinhan<to  uma  legua  ao 
sul  da  villa  dc  Cea  paralellamenle  ii  serra,  a 
montanha  deprime-se  niuito  seusivelmente,  e 
da  Lugar  a  estrada  que  a  atravessa  para 
Castello-Branco  no  sitio  dcnoniinado  o  Cai^ 
valhal  de  S.  Dniiiingds,  a  qual  em  tempo  de 
n^'ve  c  a  unica  viavel  para  os  povos  do  sul 
da  niesma  villa. 

0  Cantaro  Magro  o  o  Cimadouro  do  Caes 
sao  OS  pontos  ni.iis  culminantes  da  serra,  for- 
nmdos  cada  um  por  giaudes  massas  de  ro- 
chedos  e  separados  eutre  si  por  um  cstreito 
valle.  No  Cimadouro  do  Caes.  sao  as  rochas 
espessas  e  formam  muilas  agullias  ou  pontas; 
o  llantaro  Magro  e  um  cone  ronibo  no  vertice 
que  assim  mesnio  uingucm  pode  galgar,  e 
que  e  por  tanto  inaccessivel. 

Pi!rto  do  Cjntaro  Magro  esta.  outro  sitio 
denominado  Cantaro  Gordo,  accessivel  emcnos 
elevads.  Ambos  estes  lugares  nao  dislara  dc 
um  terceiro,  em  que  cm  IS  10  foi  construida 
a  torre  do  signal,  cuja  longitude  oriental  do 
meridiano  de  Coimbra  sabe-se  ser  Oi, 00:8518 
e  0i,4i80oB  a  sua  latitude  boreal. 

Talvez  que  a  villa  de  Cea  pouco  mais  diste 
que  uma  legua  em  linha  recta  para  oeste  da 
dicta  torre  do  signal,  tlcaudo  assim  pouco 
raais  ou  nienos  determinada  a  posicito  geogra- 
pbica  da  mesma  villa. 

A  antiga  villa  de  S.  Romao,  que  hoje  faz 
parte  doconcclho  de  Cea,  esta  affastada  d'esta 
um  quarto  de  legua  de  distancia,  pouco  mais 
ou  nienos,  em  linha  recta  para  o  sul  paral- 
lelaraente  a  serra. 

Sahindo  de  S.  Romao  para  lestc  e  subindo 
quasi  um  quarto  de  legua  obliquamente  pela 
serra,  vai-se  passar  o  rio  Alva  sobre  uma 
pontQ  dc  pedra  comcjada  a  conslruir  nos 


lOi 


primciros  annos  do  seculo  19,  e  sobrc  cujas 
margens  estao  a  crraida,  hospicio  e  capcllas 
denorainadas  da  Siir.'  do  Ueslcrro,  que  sao 
muito  frequentadas  cm  diversas  tpochas  do 
auiio. 

Tanto  a  rapella  principal,  que  psta  na 
margom  direila  do  rio  Alva  e  que  turn  Irez 
altares,  coro  e  sacrislia,  como  as  oilo  secunda- 
rias,  que  estan  a  esta  circumvisiiihas,  sao  ri- 
caniente  ornadas,  conio  nao  era  de  I'sperar 
'uum  lugar  lao  agreste  ejii  afaslado  do  Irausito 
e  conimerrio  ordinario. 

A  capella  principal  leni  da  parte  dc  dentro 
as  suas  paredcs  cobertas  de  grande  variedade 
de  quadros  com  legendas,  cm  que  se  designam 
e  mencionam  abreviadamenlc  c  de  muitos 
modos  e  allcgorias,  muitos  milagres  e  gracas 
obtidas  por  intercessao  e  invocacao  da  sancta 
Yirgem  sob  o  titulo,  que  dissemos,  do  Dcsterro. 
Muitas  das  capcllas  se  fecham  com  boas  grades 
de  ferro,  o  que  permitle  aos  devotes  e  cu- 
riosos  invocar  e  adrairar  as  bellas  e  grandes 
imagens,  que  dentro  eslao  eneerradas.  Os 
titulos  das  capcllas  secundarias  assignalam 
abreviadamente  os  diversos  objectos  de  culto 
a  que  estao  dcdicadas  e  sao  estes;  a  Expecta- 
£ao;  OS  Doulores  no  Tempio;  Jesus  no  Uorlo 
e-  OS  scus  Passos  com  a  cruz  as  costas;  a  S. 
Veronica;  e  oCalvario;  as  quaes  cinco  estao 
na  margem  direila  do  rio  Alva :  as  trcz  da 
outra  margem  sao  a  dos  Dcsposorios  de  S. 
Jose;  do  Nasciniento  dc  Christo;  e  da  sua 
manifestacao  aos  Reis  Magos. 

A  construccao  de  umas  e  outras  6  deyida 
as  numerosas  e  ricas  esmolas  dos  devotos 
c  pelo  scu  acabamento  e  perfeicao  algumas 
sao  ainda  superiores  as  da  Via-Sacra  do  Bom 
Jesus  do  Monte  nos  suburbios  de  Braga. 

As  imagens  da  capella  dos  doutores  nao 
*;endo  talvez  as  de  mais  merecimento,  nem  a 
capella  maior,  sao  todavia  muilo  admira- 
das  e  visitadas. 

Esias  imagens  representam  homens  dc  gran- 
des proporcoes;  a  aceao  cm  cada  um  e  diversa 
c  completamcnle  apropriada;  um  meditando  e 
folheando,  outro  eulevado  na  mais  cscrupulosa 
admiracao,  cslao  extaticamcnte  arrcbatados, 
ouvindo  ailonitos  os  oraculos  da  suprema 
Sabedoria,  para  quern  olham  attentamente. 

Proximo  a  ponte  separa-se  da  conllucnte 
do  rio  uma  grande  levada  de  agua  que  vai 
por  em  movimento  a  leste  de  S.  Romao  um 
engenho  de  cardar  e  (iar  las,  que,  ha  poucos 
mezes,  comecou  a  trabalhar,  perlencente  a 
um  ri,G0  proprictario  do  mesmo  povo,  e  era 
cuja  construccao  e  acabamento  nao  se  tem 
gasto  raenos  de  13:000^000  de  reis.  E  o 
unico  que  ha  dentro  de  um  raio  de  duas  ou 
trcz  leguas;  e  carda  e  fla  cinco  arrobas  de  la 
em  24  horas.  Bem  se  pode  avaliar  a  utilida- 
de  d'este  engenho  fabril  em  sitio  tao  abun- 
dante  de  gado  lanigero,  que  acha  na  serra 
grandes  pastes  em  muitos  mezes  do  anno;  e 


as  vantagens  da  venda  certa  das  las,  que  of- 
ferece  aos  proprietarios  do  mesmo  gado,  aldm 
do  benelicio  que  presta  a  agricultura  pelo  ar- 
roteamento  e  irrigacao  de  terras  ate  agora  de 
pousio,  e  totalniente  incultas  por  falta  de 
bracos,  que  andavam  emprcgados  em  cardar  e 
bar  as  las  e  por  preco  muito  mais  subido. 

No  curto  declivio  que  lica  entre  aquelle  en- 
genho fabril  ale  que  se  cntra  no  povo  de  S. 
Romao,  ha  diversos  moinhos  de  piio  que  a 
mesma  levada  de  agua  pOe  cm  movimento. 

Um  pouco  antes  (|ue  so  cbegue  a  armida 
da  Snr.'  do  Dcsterro,  esla  para  o  sul  uma 
caverna  nolavel  pela  antiga  tradicao  popular 
d'uma  moura  encantada  que  nella  vivcra  c 
que  por  isso  se  chama  a  Cova  da  Moura. 
Ainda  que  a  estrada  para  alii  e  cgualmcnte 
trabalhosa  e  difficil,  algumas  pessoas,  que  alii 
tem  entrado,  dizera  que  a  caverna  e  escura 
sim,  mas  muito  espacosa.  0  rio  Alva,  cujas 
aguas  provem  de  uma  das  lagoas,  que  se 
achara  em  logares  muito  elevados  da  serra, 
corre  com  grande  rapidez,  e  e  muito  abun- 
dante  de  peixcs. 

Parallelaniente  a  serra,  e  com  largura  em 
algumas  partes  de  meia  legua,  esta  o  valle  da 
Jagunda  proximo  a  Ci^a  e  S.  Romao,  o  qual 
tera  no  seu  maior  comprimenlo  cerca  de  duas 
leguas.  Este  valle  proximamente  a  S.  Romao 
aonde  se  chama  Assamassa  e  muito  productivo 
e  ferlilisado  pelas  aguas  do  Alva,  que  vem 
aqui  dar  ao  engenho  fabril  e  aos  moinhos 
sitos  a  leste  de  S.  Romao.  'Num  cruzeiro 
dentro  d'esta  povoacao  16-se  a  seguinte  in 
scripcao: — «  Em  1760  veiu  o  rjo  Alva  a  pri- 
meira  vcz  a  esta  villa.  » 

Caminhando  a  leste  da  ermida  da  Sr.*  do 
Dcsterro,  segue-sc  uma  estrada,  frequentada, 
excepto  no  iuverno,  para  a  Covilha,  a  qual 
nao  passa  longe  da  lagoa  comprida.  Nesta 
estrada  ingreme  e  cheia  de  torcicollos,  ha 
alguns  alalbos  verdadeiramente  difficcis  e 
pcrigosDs. 

Tomando  o  primeiro,  que  se  encontra  um 
pouco  acima  da  Sr.'  do  Dcsterro,  ponto  de 
parlida  aonde  os  viajantes  cacadores  e  visitan- 
tes  da  serra  costumam  ir  pernoitar,  encon- 
tra-se  em  distancia  de  um  pequeno  quarto 
de  legua  uma  extensa  planicie  cbamada  Chao 
das  Eiras,  em  muilas  partes  cullivada  de 
centeio,  e  ao  noroeste  da  qual,  em  distancia 
de  meia  legua,  tica  uma  outra  ermida  deno- 
minada  a  Sr.'  do  Espinheiro. 

Alguns  tapetes  de  verdura  formados  por 
uma  planta  a  que  os  pastores  chamam  ser^- 
vum,  e  que  c  muito  propria  para  alimeatar 
0  gado  lanigero,  suavisam  a  aspereza  do  ca- 
minho,  e  facilitara  o  transito  'nalguns  logares 
mais  escabrosos. 

Parece  incrivel  a  distancia  e  elevacao  em 
que  as  lagoas  principaes  da  serra  se  acham 
acima  da  Sr.*  do  Desterro. 
Contam-se  com  effeilo  duas  leguas  e  n5o  pe- 


106 


((ucnas  desde  este  logar  ale  a  lagda  eomprida. 
Depois  de  se  atravessarem  diversas  planicics, 
sohe-se  seraprc  passando  d'unias  para  as  oiitras, 
e  OS  carreiros  c  passageiis  para  quern  vai  a  pi; 
sao  muilas  vezes  arduos  e  penosos  cm  exlro- 
mo,  sendo  necessario  a  miudo  subir  e  desccr 
toscos  dcgraus  de  niuilos  palnios  de  altura 
^'uns  a  outros,  as  vezes  robertos  de  iirzes 
espessas;  caminhar  em  lini  snbre  lageas  escor- 
regadias  ou  a  borda  de  desponhadeiros  me- 
donhos. 

Assim  mesmo  pode  cbegar-se  quasi  ate  as 
iagdas  a  cavallo,  scguindo  com  cuidado  a 
Estrada  dc  que  f  llaraos,  que  rai  para  a  Co- 
vilha.  Esta  em  muilas  partes  so  se  dilTerenea 
do  caminbo  nao  trilbado  por  pecjuenos  monies 
de  pedras,  algumas  poslas  sobre  oulra  maior. 
iMuitas  vezes  eslas  balisas  distam  umas  das 
ioulras  um  liro  de  fuiida  c  consislem  em 
quatro  pedras  assentes  em  quadro  sobre  um 
pedestal  Iosco.  Sao  esles  os  unicos  marcos 
miliarios,  que  servem  de  guia  aos  viandantes 
para  acertarem  com  as  veredas  que  os  devcm 
conduzir  iiqueiies  pontos,  mas  cm  tempo  de 
inevoa  espessa  ou  de  muila  neve  uao  e  pos- 
sivel  descobril-os. 

A  communicaeao  de  que  acima  fallamos  e  a 
iBiais  direcla  entre  os  povos  do  sui  do  districlo 
'administralivo  de  Yiseu  e  do  nortc  dc  Coinibra, 
'6  OS  da  commarca  da  Coviiha,  mas  no  in- 
Terno,  e  depois  das  neves  torna-se  inlranzi- 
ftavel. 

Causa  admiraeSo  aos  homens  sexagenarios 
do  paiz  esta  passagera  boje  nuii  frequentada 
•entre  logares  lao  ermos  e  inhospitos.  Os 
caradorcs  sao  muilas  vezes  detidos  nas  suas 
excursOcs  c  monterias  em  manhas  de  nevoa 
eerrada,  que  nesses  sitios  e  lao  densa,  que 
com  difliculdade  apenas  pode  enxergar-se  o 
sitio  aonde  se  poc  os  pes,  succcdendo  por  isso 
extraviarem-se  por  niuilo  tempo. 

D'aqui  se  ve  que  a  agrtcuilura  em  algumas 
grandes  planuras  que  ha  ua  serra,  como  o 
Cliao  das  Eguas  e  a  Coulada  Rasa,  que  lira 
ao  norte  da  do  Cbao  das  Eiras  nao  pode 
fazer-sc  ao  arado,  mesmo  aonde  o  lerreno 
promelte  vanlajosa  recompensa  ao  lavrador, 
porqui'  0  Irabaiho  com  enchadas  e  o  unico 
compativel,  com  as  ingremes  ladeiras,  (|ue 
ba  a  alravessar,  e  so  accessiveis  a  homens  de 
pe. 

A  queimada  de  mates,  muito  frequente  nos 
mezes  de  eslio,  e  o  meio  de  que  se  servem 
ospaslores  para  afugentar  os  lobos  para  longe 
dos  campos  cm  que  pastam  os  sens  gados. 

Se  algum  veto  se  pode  emitlir  dc  incon- 
teslavcl  justica,  e  em  prol  dos  interesses  in- 
dustriaes  e  agrieolas  destes  povos,  ainda  um 
pouco  nossos  visinhos  de  oeste  da  serra, 
seria  o  de  uma  eslrada  commoda,  que,  facili- 
tando-lhcs  o  commercio  e  abaixando-lhcs  os 
precos  dos  Iransportes,  Ibcs  Iraria  innume- 
^aveise  iacalculaveis  vautageus  pelo  mclho- , 


ramento  da  sua  agricullura,  ainda  hoje  tao 
abandonada. 

Nao  longc  do  silio  que  arima  mencioniimos 
n  Carvalhal  de  S.  Domingos  lica  o  povo  da 
Vide,  pcrlo  do  qual  consta  por  |i('ssoa  conhe- 
cida  c  inslruida  haver  uma  abundante  veia 
dc  mercurio  (|ue  .sabe  a  (lor  da  terra. 

Na  dislancia  de  b'gua  e  meia  da  Sr.*  do 
Desterro,  e  em  caminbo  |iara  as  lagoas,  cncon- 
Ira-se  um  dcclivio  de  I'acii  accesso  forniado 
de  loscos  dcgraus  dc  pcdra  solta  a  semelbanfa 
dc  uma  cscada  coustruida  com  mui  grande  lar- 
gura,  c  cujns  dcgraus  arrninados  estao  fora  do 
seu  logar  e  em  posicfics  oppostas  uns  aos 
outros.  Entre  cstas  pedras  as  urzcs  ou  torgas 
que  'noulras  partes  formam  malas  que  cn- 
cobrem  o  viajante  e  que  cnslani  a  alravessar 
{Erix,  Erica,  Ulex)  aqiii  sao  dc  mediana  al- 
tura, e  tornam  esla  passagcni  mui  pitoresca. 
Sobre  uma  d'estas  pedras  ou  dcgraus  corre  um 
rcgo  de  agua  que  em  breve  desapparece  espa- 
Ibando-se  em  diversas  dircccocs,  mas  que  da 
ao  passageiro  ciinsado  e  sequioso  um  Icnilivo 
ilelicioso  para  apag-ar  a  sede  e  minorar  o  calor 
e  cansaco  do  caminlio.  A  cstc  fio  dc  agua 
chamam  a  I'nnlc  dos  Canaris.  A  sua  agua  e 
mui  crislalina  e  de  optimn  sabor,  mas  a  sua 
temperatura  extremamcntc  Iria,  e  por  isso 
perigosa.  Dizem  que  do  peixe  mergulhadfrnesta 
agua  por  cspaco  de  'ii  boras  sh  apparcce  a 
cspinlia.  A  veracidade  e  exaelidao  da  obser- 
vacao  e  lirniada  por  varins  pessnas  e  cacadores 
que  tcni  visitado  aquclla  Ionic;  e  ainda  que 
para  mim  niio  scja  fora  de  duvida,  auclorisarei 
0  conto  com  outros  a  que  anligamenle  se  da- 
va  tanlo  credito,  que  mereceram  a  attenfao 
dc  Manocl  dc  Faria  e  Sousa,  e  provavetmcmte 
dc  outros  hjstoriadores  e  gcogniphas  do  sen 
tem|)o;  mas  que  a  boa  crilica  bnje  repclle. 

«  E  a  serra  de  Estrelia,  diz  aquelie  elegante 
escritor,  agradavel  aos  pastores  com  seus 
fertilissimos  postos  em  dillcrcnlcs  varzeas  e 
plainos  que  iorma  cm  a  capacidade  de  sua 
grandcza.  Em  a  extrcmidade  ha  duas  ala- 
goas  dc  monstruosa  largura  e  profundidade, 
e  uma  tao  grande  que  uunca  se  Ihe  achou 
fundo.  Em  ambas  se  vecm  tabuas  dc  navios 
do  que  se  infere  communicar-se  o  mar  com 
ellas,  c  mais  havendo-sc  obscrvado  que  estao 
em  quielacao  se  o  mar  o  esta,  c  se  esta  allerado 
ellas  0  esiao  da  mesnia  sorle.  As  suas  aguas 
sao  tristes  e  nao  Irazcm  cousa  viva. 

«  A  serra  e  fertil  de  muitas  arvores  fruclife- 
ras,  e  de  exccllenlissimas  fonles  nas  CraWas. 
Em  lim  sao  todo  o  lustre  e  honra  da,  com- 
marca da  Beira.  0  rio  Mondego  nasce  na 
serra  d'Estrella,  caminbando  ao  poente  ale  o 
Oceano  em  Buarcos.  Na  sua  foz  e  navegavel 
e  durante  o  curso  de  onto  leguas  6  sulcado 
por  dill'ercntes  barcos.  0  rio  Zezcre  tarabem 
nasce  na  serra  d'Estrella,  e  enlra  furioso  com 
sua  copiosa  torrentc  no  Tejo.  a 
Continua. 


107 


ESTtDISTICl  LITTERARIA  DA  UNIVERSIDADE 
DE  COIMBRA. 

IS'o  anno  Icclivo  dc  IS54 — 1855. 

'Neste  anno  lectivo  raalricularam-se  na  Uni- 
versidade  de  Coimbra  e  no  Lyceu  mil  e  qua- 


troeenlos  e  sete  estudanles  contados  indivi- 
dualmente,  porque  o  numcro  das  matriculas 
foi  de  mil  q,uinhenlas  c  qiiarenta  e  duas,  por 
frequentarem  alguns  estudantes  as  aulas  de 
diversas  faculdades  siniultaneamenle. 

Em  ri'lacao  ao  numero  individual  dos  ma- 
triculados  'neslo  anno  houve  quarenta  e  nove 
mais,  que  no  anno  lectivo  anteccdente. 


E«lndiHlirn  do  movimcnlo  dot  cstudantoN  da  nnivcrNidado  <lc  Coimbra 

nvste  anno  lerlivo. 


Faculdades. 

Matriru- 
lados. 

Perderam 
0  anno 

A  pp.  Nem. 
discrepant. 

App.  Sim- 
pliciter. 

Reprova- 
dos. 

Deixaramde 
fazer  Ado. 

Theologia 

Direito 

Medicina 

113 
471 

S7 
131 
264 

16 

4 
22 

1 
36 
71 

S 

84 

386 

49 

38 

110 

6 

13 

32 

4 

8 

13 

1 

6 
13 

\ 

8 

« 

4 
16 

2 
46 
62 

4 

Mathematica  

Philosophia 

Curso  administralivo 

Totaes 

1052 

139 

073 

71 

31 

134 

Nas  cinco  faculdades  da  universidade  fize- 
ram  fonnalura  cento  e  sete  bachareis;  rece- 
beram  o  grau  de  doutor  sete  candidalos,  e 
um  0  de  licenciado.  Forcm  qualillcados  de 
distinctos  nas  informacOes  finaes  trinta  e  trez 
enlre  doutores  e  hachareis  formados;  vinte  e 
nove  foram  julgados  hons  por  unanimidade; 


trinta  por  maioria;  dezoito  foram  julgados 
sufDcientes  por  maioria,  o  que  equivale  a  re- 
provacao  em  litteratura ;  na  votacao  sobre 
procedimento  e  costumes  ficaram  reprovados 
cinco. 

0  mappa  seguinte  apresenta  o  resultado 
das  informacoes  por  faculdades: 


Inforniac'doM  fin*^  ohliveram  o«  dontoi-os  e  Iiacliarpis  fornindos  na  nnivcr- 
Nida«lc  do  C'oimlii'a  no  anico  IiH-liio  de  1S5I — I  !>t55. 


Faculdades, 

Distinctas. 

de  bom  pnr 
unanimid. 

de  bom  por 
maioria. 

rff  sufficient. 
por  maior. 

rfpteprovai;. 
em  proced. 

Totaes. 

Theologia 

Direito 

6 

16 

5 

4 

2 

4 

19 

4 

« 

2 

3 
19 

« 

K 

8 

1 

14 

« 
« 

3 

« 

s 

« 
ft 

« 

14 

73 

9 

4 

13 

Medicina 

Matheniatica  

'Philosophia 

Totaes 

33 

29 

30 

18 

5 

llo 

As  faculdades  de  theologia,  direito,  mathe- 
matica e  philosophia  conlirmaram  os  seguintes 
premios  pecuniarios,  e  as  honras  do  acce.mt 
aos  estudantes  mais  distinctos  por  seu  talento 
e  applicacao.  A  faculdade  de  medicina  ainda 
nao  conferiu  os  premios  aos  seus  aluranos  no 
anno  lectivo  findo. 


Premios  e  accessit  conferidos  pclas  facul 
dades  academicas. 


Faculdades. 

Accessit. 

Premios. 

Theologia 

Direito 

8 

7 
9 

8 

9 
13 

7 
8 

Mathematica 

Philosophia 

Total 

32 

37 

108 


'Nestc  lectivo  (k'fenrteram  ronclusSes  ma- 
gnas  novc  caiulidalos  ao  (trail  de  doutor,  e 
tiverani  para  ohjecto  das  siias  DisscrlarOes 
inaugtiraes  os  scguintes  assuinptos; 


TUEOLOGIA. 


S.  Mallhaeus  rap.  XXVIII,  vv.  10^20. 

Magislerium  aiilhcnlicum.  a  Christo  Domino 
in  ecdosia  inslilutuin,  infaliliilitalis  pracrogaliva 
gaudct. 

2.° 

Epistola  S.  Pauli  ad  Roraanos  cap.  II,  vv. 
12  —  16. 

Traditionalismi  syslcma  rcjicicndun}. 

3.° 

S.  Pauli  ad  Thessalonicenses.  Ep.  II,  cap. 
II,  V.  14. 

Traditionis  Divinae  dogmalicae,  a  Sacra  Scri- 
plura  dislinctae,  e^istunt,  ct  necessariae  sunt. 


Epistola  S.  Pauli  ad  Galatas.  Cap.  I,  vv, 
(j  — 12. 

Christiana   Rcligio    ita    perfecta,    ut   tcmporis 
successu  pcrfcctior  fieri  nequoat, 


FACILDADE    DE   DIREITO. 
1." 

Da  liniilac5o  da  propriedadc  pcla  constituicao 
da  cmphyteiise;  c  dos  mcios  adcquados  para  a 
reformar  em  Portugal  scm  lesao  dos  dircitos 
adquiridns. 

2.° 

Por  diroito  portuguez  o  erro  sera  causa  dc 
nuUidadc  do  acto  cm  que  intcr\eiu? 

3.° 

Sera  nocessaria  o  conscrvar,ao  dos  c\orcilos 
pcrmanontes?  E  ncsle  caso  convira  cmpregal-os 
nas  obras  publicas? 

MATHEMATICV. 


De  allractione  sphocroidiim  a  spboera  parum 
aberrantium. 


Quaonam  melhodus  ad  telliiris  magnilu(1incm. 
figuramque  detegeHdam  caclcris  pracferenda  sit? 


Em  niodicina  e  phiiosophia  niio  se  defende- 
ram  theses  'iieste  anno  lectivo,  o  iiao  houvc 
por  isso  dissertacoi's  inaiif^uraes.  Eslas  impri- 
incm-se  nas  I'acukladcs  detheologia  e  dircilo, 
e  ultimameiitc  resoheu  a  laculdado  de  phiio- 
sophia ,  que  sc  iinprimisseiii  em  portuguez 
as  suas  disscrlaoOes  inauguraes.  Seria  muito 
convenientc  (]ue  em  niedicinu  c  matiiematica 
Be  lizcsse  outro  tanto. 

Na  conformidade  da  lei  de  19  do  agosto  de 
18o3,  que  restabelcceu  na  Universidadc  o 
systema  dos  cnncursos  para  o  provinienlo  dos 
jogarcs  do  magisterio,  teve  logar  durante  o 
anno  lectivo  a  habilitacao  de  doze  candidatos, 
sendo  dois  cm  Iheologia;  cinco  cm  direito; 
dois  cm  incdicina;  dois  cm  matheniatica  e 
um  cm  Phiiosophia.  Ficaram  excluidos  dois 
candidatos,  e  prctcridos  dois. 

A  dcspesa  com  n  pessoal  da  nniversidado 
c  Lyceu  foi  40:()0S^3i;).  Nosostahclecinientos 
annexos  a  Universidadc,  nao  cntrando  a  im« 
prensa,  dispcndcii-se  a  quantia  dc  ■):S  'i3^063; 
no  Lyceu  13i|,000;  cnos  hospitaes  4:"',)o§3iiJ. 

A  importancia  dos  rendimentos  da  Univer- 
sidadc provenienle  das  matriculas  e  niais  pro- 
pinas  foi  a  scguinte; 

loiO  Matriculas  da  Universidado  18:6o9^o92 

383  Dictas  do  Lyceu 430^60t> 

08  Cartas  de  formatura  e  dou- 

toramenlo I;i28§8i() 

5  do  Ivceu    6^6i;i 


0  que  da  a  somma  de  ..  ..      20:oio^063 

Foi  0  rendimenlo  da  imprensa  da  universi- 
dadc'ncsteanuocconoinico  de  rs.  10:o73|iS31 . 

Nos  ullimos  cinco  annos  antcriores  o  ren- 
dimento  d'este  estabelecimento  foi  o  scguinte: 

lSi9— 1830 0:890^998 

18o0— 1831 G:it)'499r) 

1831—1832.......  7:286^383 

1832—1833 6:"87$632 

1833— 18o'i 8:183^991' 

0  rcndimcuto  por  tanto  da  imprensa  no 
anno  economico  lindo  teve  o  augmenlo  em 
relacao  ao  termo  medio  dos  ultimos  cinco 
annos  ;  7: 122^844)  da  quantia  de  3:430^987  ; 
e  comiiarado  com  os  annos  da  1849,  1830, 
e  1852  sobe  esse  augnicnto  a  3:785^179. 


^  Em  nuvembro  d'este  anno  come(;ou  a  funccionar 
a  commissSo  de  rcfurma  e  nielhorainento)  da  im|ireDM, 
adoplaiido-se  desde  logo  um  novo  sjslema  de  contabilc- 
dade  t;  li:iCaliba^ao. 


109 

E:Knntc«  prepnrnloi  io<i  foUon  poanfe  o  Jury  arndomiro  na  ITnlverMidatle 
de  t'oinibrn.  no  nnno  leeliio  tU'  l»»."il — 1^55. 


DisfiplifLa-t, 


■■fpp.  Nera.l  -4pp.  Sim- 
discrepant,        pliciter 


Rf  prove 
dos. 


Tntacs. 


Latinidade 

Ilobraico 

G  rcgo   

Franccz 

Allemao 

Pliilosophia  racional  e  Bioral,  e  dtrcito  natural. . 

Oratoria  i;  Poolica  e  liUeratura 

Ilistoria,  Clironologia,  e  Geographia 

.Vritliiiietica,  Algebra  c  Geoiiiolria 

Introduccao  a  llisloria  natural 

Tolaes 


131 

9 

28 

223 

4 

112 

1i:i 

10  i 

81 

37 


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47 
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2 

32 

46 

270 

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3 

37 

210 

4 

142 

8 

121 

39 

167 

4 

43 

•i'l'i 


1327 


J.  M.  DE  ABREU. 


t  CIOADE  DE  DEUS  DE  SANCTO  AG0ST1KHO.  ' 

k  transicao  enlrc  o  mundo  antigo  e  a  mo- 
derna  sociedade  conslitue  uma  epoclia  para 
scrapre  raenioravel,  epoclia  a  ([110  perteuceu  S. 
Agosliiiho.  Na  sua  mocidade  assistira  elle  as 
ultimas  festas  do  paganismo  meio  vencido; 
e  quaudo  niorrcu,  jii  0  clirislianismo  domiuava 
todo  0  inipcrio  roiuano. 

Na  sua  vida  e  em  seus  eseriplos  esta  impres- 
so  em  indeleveis  characteres  0  cunlio  d'esla 
suprema  luta,  que  tao  longa  e  sanguinolenla 
se  travara  entre  as  duas  religioes.  Natural 
dc  Tagasta  na  Numidia,  onde  vira  a  luz  do 
mundo,  no  anno  de  334  da  nossa  era,  e 
educado  nos  principios  da  rcligiao  chrislii, 
por  S.  Monica,  sua  mat,  .\goslinlio  passitra 
em  Cartliago  as  primeiros  arinos  da  sua  mo- 
cidade, e  t'ora  alii  testonuinlia  dos  espectii- 
culos  e  prazeres,  que  Ihe  oll'erecia  aquclla 
cidade,  uma  das  mais  dissolutas  do  imperio; 
0  gosto  porem  do  estudo  e  0  amor  das  lelras 
vencera  'nellea  inclinacao  pelas  ruins  paixOes, 
que  0  cercavaro.  A  leilura  do  llortencio  dc 
Cicero  produziu  em  Agostinho  uma  completa 
methaniorphose.  Niio  0  enlevava  so  a  purcza 
e  elegancia  da  diccao,  moditava  tambem  nos 
conceitos  da  obra  que  lia-  Entretanta  muitos 
annos  se  passaram  antes  que  elle  assentasse 
uma  opiniao  segura  entre  os  diversos  syste- 
mas  dos  pliilosoplvos,  que  mais  voga  tinham 
entao.  D'estas  inccrtezas,  era  que  lahorava  0 
seu  espirilo  se  livrou  elle,  lendo  com  profunda 
attencao  as  obras  de  Platao,  e  escutando  as 


'  />rt  Citt  de  Dteit  de  Saint  Juguxtin,  nouvelle  tra- 
duction avec  une  introduction  et  des  notes,  jiar  Emile 
Saisset.  Paris  1853,  4  vol.  in  Iti. 


licoes  de  S.  Ambrosio.  As  doutrinas  spiri- 
liialistas  do  pliilosopbo  grcgo,  a  Escriptura  sa- 
grada  interpretada  por  Ambrosio  dominaram 
comploiumente  a  sua  alma,  avida  serapre  dc 
conhecer  a  verdado. 

Agostinho  contava  trinta  annos  quando  foi 
baptisado;  abrarou  depois  o  estado  ecclesias- 
lico,  e  I'oi  eleito  bispo  de  llippona.  Um  con- 
stante  e  assiduo  estudo,  de  (jue  tantos  raonu- 
mentos  nos  deixou  era  seus  prcviasos  escriptos, 
era  0  objccto  de  todas  as  suas  occnpacoes  no 
tempo,  que  Ihe  sobrava  dos  cuidados  e  obriga- 
cOes  do  seu  ministerio  pastoral. 

Scmpre  incansavel  em  sustentar  a  pureza 
da  religiao,  comlialoii  \  igorosami'nte  os  ma- 
nicheos,  que  ncgavam  a  e\istencia  dc  Decs; 
OS  pciagiaiios,  inimigos  da  Graca;  e  os  dona- 
listas  d'Africa,  que  anieaoavam  a  egieja  dc 
um  scisma  nacional  e  religioso.  'Noulras  obras 
desitivolveu  0  sabio  bispo  de  llippona  os 
dogmas  da  religiao,  procurando  sempre  con- 
vencer  os  philasophos,  e  conl'undir  os  idola- 
tras. 

A  Cidade  de  Deus  e  por  assim  dizcr  0  cpilogo 
d'csles  longos  e  variados  trabalhos:  0  supre- 
mo e  mais  elevado  esforco  do  genio  sublime 
de  S.  Agostinho. 

Apos  trez  seculos  de  terriveis  perscguicoes 
0  triiimpho  de  Constantino  loi  tambem  0  trium- 
pbo  do  Christianismo.  A  verdade  vencera, 
em  fim,  gracas  a  palavra  divinamente  inspi- 
rada  dos  apostolos,  ao  zelo  dos  bispos,  e  ao 
sangue  dos  martyres:  os  proprios  barbaros 
comecavam  a  converter-se,  porem  os  templos 
dos  falsos  deuses  ainda  se  conservavam  em 
todo  0  imperio,  e  eram  frequentados  pela 
niullidao,  ([ue  alii  concorria  para  assistir  aos 
sacrificios;  e  0  paganismo,  nao  scndo  ja, 
como  nao  era,  a  religiao  dominante,  gozava 
comtudo  uma  parte  do  seu  antigo  presligio 
aos  olhos  do  povo  rude  e  iguorantc.  As  cala- 


no 


midadcs  publicas  imputavam-sc  muitas  vczos 
aos  christaos.  Os  (Icusos  vollavam-sc.  spyiindn 
<o  dizia,  contra  os  Itoniano--,  dosde  que  cstos 
deixaram  de  llu'.s  render  eiillo.  A  deriola  das 
legioes,  as  iuvasoes  iias  provincias  do  iiii|ieriii 
Oram  oiitros  tantos  castigns  do  eeu  irrilado 
eoiitra  os  liomeiis.  \  no\a  inespciada  de  (jiie 
Hoiiia  eahira  em  poder  d'Alarico,  resoara  em 
todo  0  imjierio  eomo  um  longo  gemido  de 
inlima  e  ijrofunda  dor,  e  os  parlidarios  dos 
idolos  iiao  perderam  a  orcasiao  de  aeeusar  a 
nova  religiao  de  tao  <alaiuiloso  successo.  Foi 
'neslas  dilliceis  ein-iimstaiieias  que  S.  Agos- 
liiilio  se  propoz  eonibater  os  seus  crros,  e  re- 
pellir  as  siias  blaspliemias,  escreveiido  a 
«  Cidade  de  Deos.  » 

Esia  obra  e  dividida  em  duas  paries  miii 
dislinelas.  Nos  dez  priraeiros  livros  tracla  S. 
Agoslinlio  de  reliitar  os  idnlatras  e  de  con- 
verter OS  pliilosojdios  a  sua  doulrina  ;  as  doze 
ultimas  partes  eompreliendeni  uma  verdadeira 
pliilosophia    da    liisloria    I'uudada   no  dogma 
christao.  Os  argumentos,  que  o  A.  emprega 
contra   os   pagaos   podem   parecer   hoje    um 
lanto  pueris,  ou  vollerienos.  como  dizia  Sals- 
set,  mas  esse  deleito   era  proprio  da  epoclia 
em  que  S.  Agostinlio  eserevera,  alera  de  que 
fora  0  sen  principal  intento  veneer  a  rudcza 
do  povo,  a  quem  se  dirigia,  iisando  por  isso 
de  uma  linguagem,  que  llie  fosse  mais  acces- 
sivel;  peio  contrario  dirigindo-se  aos  grandes 
llieologos  do  polytiieismo,  aos  Scev.olas,   aos 
Yari3es,  e  aos  Antistios  Lalu'ous,  o  bispo  de 
Hippona  emprega  os  mais  solidos  e  luminosos 
argumentos    para    combater    vietoriosamente 
o  verdadciro  prinei|)io  do  paganismo,  que  e 
o  pantlieismo  niaterialista,  isto  e,  a  adoracao 
da  natureza  e  a  idohitria  da  carne.  A  concliisao 
de  S.    Agostinho  e  a  alianea  necessaria  da 
jibilosopbia   espiritualista  com  cbristianisnio. 
E  esta  uniao  constilue  o  cbaracter  essencial, 
a   grandeza,    e  origiualidade   da    Cidade   de 
Deos,  de  que  Emiiio  de  Saisset  acaba  de  dar 
a   cstampa   uma   nova  traduccao   primorosa- 
mente  acai)ada  ,   I'azendo-a  preceder   de  uma 
notavel  iutroduccao  sobre  o  verdadeiro  espirito 
philosopbico  d'aquellc  grandiose  monumento 
do  genio  de  S.   Agostinbo,  que  nao  podera 
deixar  dc  ser  lido  sem  jusla  e  merecida  admira- 
<ao.  A. 


TELEGRAPHIA  ELECTRICA. 

Conlinuadu  de  pa^.  43. 

II. 

Apparelhos. 

A  electricidade,  que  passa  a  (raves  os  (los 
metalicos.  que  ligam  os  teiegrapbos  cleciri- 
cos  de   um  a  outro  ponto  exlremo,    differe 


essencialmcnte  da  electricidade  dasnuvcns,  e 
e  condnzida  jior  aquelles  lios  ii  vonlade  dos 
operadnres,  que  podem  instantaneamente  fa- 
zel-a  correr  por  elles,  ou  suspendel-a,  seguu- 
dos  llie  convem.  Para  por  em  commuiiicacao 
duasestacOes  jior  um  teli'graplio  eleclricn,  sao 
|irecisos  em  cada  uma  d'ellas  dois  a|i|iar(dbos 
eguaes,  ])or  meio  dos  quaes  possam  Irausmit- 
tir-se  e  receber-se  as  perguntas  e  respostas. 
Em  cada  estacao  deve  iiaver  portanto  um 
reservatorio  d'electricidade,  um  cylindro  ele- 
ctro-magnetico,  uma  alavanca,  que  alterna- 
dameute  se  pOe  em  contacto  com  o  eiectru- 
magnete,  um  ponleiro,  cujos  niovimentos  de- 
])eudem  d'alavanea,  e  um  quadrante  conten- 
do  as  vinte  c  quatro  letras  do  alpliabeto.  Taes 
sao  OS  unicos  apparellins  usados  na  maior 
parte  das  estacoes  dos  teiegrapbos  electricos. 
Eutre  OS  dois  pontes  extremos  de  unui  linlia 
telegrapbica  electrica  corrcm  dois  fios  de 
I'erro  ou  de  cobre,  sustentados  de  espaco  em 
espaco  i)or  postes  fincados  a  prumo.  Se  os 
tios  sao  de  I'erro  deveni  ter  de  diametro  (|ua- 
tro  millimelros  e  meio,  e  sendo  dc  cobre  dois 
millimelros  e  meio.  Com  os  primeiros  a  velo- 
cidadc  (la  electricidade  e,  em  cil'ras  redoudas, 
de  I  til  "UtI  kilometros  |.'or  seguudo ;  com  os 
ullimos  de  177  70U  kilometros.  Em  so  lio  pode 
bastar  para  as  communicacoes  entre  dois  ap- 
parelhos collocados  nos  dois  pontos  extremos, 
porque  a  terra,  que  e  um  bom  conductor, 
dispeusa  o  segundo  lio,  usado  ainda  'nalgu- 
mas  linbas  para  eslabelecer  a  corrente  electri- 
ca. que  deve  ser  coulinua. 

Ouerendo  estabelecer  as  communicacoes 
entre  Lisboa  e  Cintra,  por  e\em|)lo,  faz-se 
desiuvolvcr  ])or  meio  de  uma  pilha  de  Itun- 
sen,  ou  Uaniell  a  electriiidade,  con>tituindo 
assim  0  reservatorio  d'este  Ihiido;  pelos  lios 
de  I'erro  a  electricidade  corre  'num  segundo 
) 01 7(111  kilom.  e  chega  portanto  a  Cintra  no 
mesmo  memento  em  que  se  estabelece  a  cor- 
rente na  estacao  central  de  Li^boa.  Na  esta- 
cao para  onde  e  dirigida  a  corrente  deve  ha- 
ver nm  receptor  d'electricidade,  quo  e  um 
cylindro  electro-magnetico  coberlo  por  nm 
lio  metalico  envolvido  em  seda :  em  quanto 
a  electricidade  passa  atraves  os  lios  d'aijuelle 
cylindro  receptor,  adquire  elle  a  propriedade 
de  attrabir  o  lerro.  e  a  alavanca  d'aco,  de  que 
jii  I'allamos,  adbere  a  extremidade  do  mesmo 
receptor;  quando  porem  a  corrente  cessa, 
0  receptor  nao  atlrabe  o  ferro,  e  a  alavanca 
volla  ii  sua  primlliva  posicao  em  virtude  da 
mola,  que  tern;  se  se  renova  a  corrente  ele- 
ctrica a  alavanca  torna  a  adberir  ii  extremi- 
dade do  receptor,  e  assim  continuarii  succes- 
sivamente  'num  movimento  de  eaivem,  eomo 
um  dedo  que  o  operador  move  para  a  direita, 
ou  para  a  esquerda,  segundo  deixa  pa.ssar 
a  corrente,  ou  a  interrompe.  Se  este  movi- 
mento de  vaivem  se  transforma  em  movimen- 
to circular,   o  que  e  muito  simples,   a  cada 


Ill 


niovimcnto  da  alavanca,  um  ponteiro  eollo- 
cado  sobrc  um  quadrantc  marcara  'iicllo  a  di- 
rcita,  ou  a  csquerda  uma  das  lelras  do  aljiha- 
Lcto  alii  pscriplas. 

A.  correutu  luagnetica  pode  alternativamen- 
te  passar,  ou  suspender-so  a  cada  instante  ; 
a  alavanca  jior  consequcncia  sera  tambcni 
I  altiTiiativa  e  instanlaneaniente  atlraliida  pelo 
'  receptor,  ou  rcpcllida,  c  o  jionlciro,  que  ella 
move,  ex[ieriiiieiUara  as  mesnias  alternalivas, 
e  se  fixara  sohre  unia  letra  do  (luadrante  em 
quanto  a  correute  nilo  for  iuterronipida,  ou 
passara  successivamente  sohre  oulras  letras 
pela  allernaliva  da  correute  a  vontade  do 
operador,  ate  se  fixar  'naquella  que  elle  (|upr 
designar  na  cslacao,  para  oiide  transmitte  uui 
despaclio. 

Quer  per  exemplo  transniittir-se  a  letra  A 
dc  Lishoa  para  as  Necessidades,  estaudo  os 
jionteiros  no  signal  de  repouso,  que  e  indi- 
cado  sohre  o  quadrante  por  uma  cruz,  o  em- 
prcgado  'neste  servico  na  estacao  da  capital 
dirige  o  ponteiro  que  tem  uma  pequena  ma- 
nivcla,  sohre  a  letra  .1,  deixando  passar  a 
corrente  clectrica  do  reservatorio,  e  interrom- 
pendo-a  logo  depois,  a  petiuena  alavanca  do 
apparelho  da  estacao  das  Necessidades  e 
instantaneamente  attraliida  pelo  respective 
receptor,  e  por  este  movimento,  que  se  cora- 
munica  ao  ponteiro  este  passa  uma  divisao 
do  (|uadraute  e  vai  lixar-se  a  vista  do  ohser- 
vador  sohre  a  letra  A.  Se,  cm  vez  da  primei- 
ra,  quer  transmittir-se  a  tereeira  letra  do 
alpliahelo,  o  empregado,  ([ue  transmitte  o 
despacho  marca  sohre  o  seu  (juadrante  a  letra 
Ccom  0  ponteiro,  e  deixa  allernadamenic  pas- 
sar trcz  vezes  a  corrente  clectrica,  e  outias 
lantas  a  suspende.  A  cada  impulse  da  corrente 
0  ponteiro  do  quadrante  da  estacao  opposta 
passa  de  uma  letra  para  a  seguinte  ate  quo 
se  fixa  ua  letra  C,  que  era  a  tereeira,  que  se 
queria  Iransmittir.  Para  communicar  a  letra 
//  seria  preciso  imprirair  a  alavanca  um  mo- 
vimento tantas  vezes  interiompido  quantas 
sao  as  letras  que  o  ponteiro  deve  corrcr  suc- 
cessivamente ate  se  lixar  'naquella  letra,  e 
portanto  a  corrente  clectrica  teria  de  iuter- 
romper-se  vinte  e  trez  vezes. 

Se  0  ponteiro  do  aparelho  da  eslacao  de 
Lishoa,  por  exemplo,  em  logar  de  partir  do 
signal  de  repouso,  partir  de  uma  letra  qual- 
quer,  o  uumero  das  pancadas  que  elle  ha  de 
dar  sera  egual  ao  numero  de  divisoes,  que 
separam  esta  letra  da  seguinte,  girando  sem- 
prc  no  mesmo  sentido.  Se  de  Lishoa  para  as 
Necessidades  se  quizer  transmillir  pelo  tele- 
grapho  electrico  a  palavra  VE.\/iZA,  o  pon- 
teiro do  apparelho  de  Lishoa  hatera  successi- 
vamente vinte  e  duas  pancadas,  partindo  do 
ponto  de  repouso  para  indicar  o  V,  em  cuja 
I  tra  primeiro  se  fixa;  depois,  partindo  de  V 
para  E,  nove,  d'ii' para  A',  nove;  de  A' para 
0  segundo  E,  dezasele  pancadas,  etc.   Todo 


0  machinismo  per  tanto  sc  reduz  a  deixar 
passar  a  corrente  magnetica  pelos  fios  e  a 
sus[ieiidel-a  alternalivamente  ate  que  em  vir- 
tude  d'essa  allernativa  de  movimento  e  re- 
pouso, que  a  alavanca  por  tal  molivo  experi- 
menla,  e  (]ue  faz  passar  o  ponteiro  de  uma 
para  outra  letra  do  quadrante,  elle  se  suspen- 
de na  letra  que  se  quer  transmittir  por  tanto 
tcm[io,  quanto  necessario  for  para  ella  ser 
notada  na  respectiva  estacao,  ([ue  e  ordina- 
riamente  a  quiula  jiarte  d'um  segundo. 

Eis-a(iui  eui  summa  eomo  se  I'az  uso  do 
telegraplio  electrico.  0  modo  por  que  estes 
phenomenos  sao  produzidos  e  tamhem  digno 
de  attencao. 

Todos  OS  telegraphos  electricos  de  qua- 
drante, a  excepcilo  dos  de  Froment,  e  Sie- 
mens, tern  um  machinismo  de  relojo  que  da 
impulso  ao  ponteiro  que  reccbe,  ou  transmit- 
te um  signal  ou  uma  letra.  0  ponteiro  e  so- 
licitado  scmpre  para  mover-se;  a  electricidade 
produz  um  unico  ellcito  interrompendo  o  mo- 
vimento do  apparelho,  ou  deixando-o  livre. 
Nos  Iclcgraplios  de  Froment  e  a  electricidade 
que  I'az  mover  o  ponteiro,  ou  que  o  suspen- 
de, s(m  recorrer  aquclle  mechanismo  muito 
mais  complicado,  e  so  quando  a  distancia  das 
linlias  telegraphicas  emui  grandc,  e  que  elle 
lanca  mao  de  uma  roda  auxiliar. 

A  corrente  e  eslahelecida  entre  os  dois  fios 
mctalicos  por  uma  pilha:  pelo  fio  a  a  cor- 
rente vai  de  Lishoa  a  Cinlra,  e  pelo  fio  h 
volta  de  Cintra  a  Lishoa;  porem,  antes  de  se 
por  em  communicacao  com  estes  dois  pontos, 
0  machinismo  do  apparelho  exige,  que  o  fluido 
passe  por  duas  hastes  metalicas  entre  as  quaes 
gira  uma  roda  dentada,  que  faz  mover  o  pon- 
teiro indicador  das  letras  do  quadrante,  a  fim 
de  poder  alternativamente  pol-a  em  movimen- 
to, ou  fazcl-a  parar;  aquellas  hastes  metalicas, 
terminam  superioiuienle  em  forma  de  concha, 
de  modn  que  podem  tocar  um  dente  da  roda, 
ou  achar-se  entre  dois  sem  contacto  com 
eltes. 

Em  quanto  extstir  o  contacto  entre  a  haste 
metalica  e  um  denle  da  roda,  o  fluido  passara 
de  Lishoa  para  Ciutra  por  exemplo;  quando, 
porem,  a  concha  da  haste  metalica  esta  entre 
dois  dentes  da  roda,  nao  ha  contacto  nem  por 
consequencia  commuuicacao  da  electricidade 
com  ella,  e  a  corrente  lica  interrompida, 
como  se  cortasse  o  lio  conductor,  e  entao  o 
ponteiro  nao  passa  da  letra  (|ue  se  quer  in- 
dicar ate  novamente  se  por  em  movimento  a 
roda. 

Nas  communicacoes  usuaes  desnecessario  e 
indicar  todas  as  letras,  c  ha  eertos  signaes  de 
convencao  para  exprimir  uma  phrase  comple- 
la.  Nas  eslacoes  dos  caminhos  de  ferro  faz-se 
aviso  do  momento  da  chegiida,  ou  partida 
dos  wagons  por  uma  badalada  de  uma  sineta 
posta  em  communicacao  com  os  fios  do  appa- 
relho eiectra-magnetico,  c  tambcm  se  usa  d'cste 


112 


sifjnal  para  chamar  a  attenfiio  dos  oniprpga- 
dos  do  lima  cslarao,  (|iiaiido  se  llies  qiicr 
transiuillir  i|iial(|uer  iioticia,  cvitando-so  as- 
sini,  que  dies  se  vcjani  forrados  a  I'star  oni 
conslanto  observarao  a  loda  a  liora  do  dia, 
oil  da  iioite  ii  espcia  do  movimoiUo  do  rospi'- 
ili\o  ponleiro.  A  sinota  lonliiiiia  a  torar  ale 
que  0  rospeclivo  einpregado  a  faz  ])arar, 
subtrahindo-a  a  iiilluoiuia  da  corrente,  mas 
ao  mesiiio  tempo  diiige  a  corrente  para  a 
siiieta  da  estarao  opposta,  fazendo-a  assim 
tocar  para  advertir  aos  rcspcctivos  eiiiprcga- 
dos  qiie  estii  prcvenido  para  reccber  a  cam- 
niiinicaeao. 

Os  telegrapbos  dc  quadrantc  com  roda  den- 
lada  spgundo  o  machinismo  de  relojoaria,  c 
(jue  sao  mo\  idos  pi'lo  electro  uiagnelismo  iiao 
li^m  tanta  rapidcz  nas  communicacoes,  coiiio 
OS  dc  simples  vaivem.  por(iiie  iios  de  movimen- 
to  dc  rotacao  o  pontciro  para  passar  d'unia 
letra  a  outra  tem  dc  iiercorrcr,  termo  medio, 
lima  semicircumfrciicia,  e  c  este  uni  incon- 
vcnicnte,  que  ale  hoje  se  nao  tern  podido 
evitar. 

Continua, 


REGUL\MENTO  DOS  BANHOS  PE  LUSO. 


Conthlu^do  de  paj.   71. 

Serveiites. 

Art.  23. °  0  numcro  dos  Serventes  dc 
ambos  os  scxos,  a  sua  iiomencao,  e  o  scu 
ajustc,  serao  conliados  a  Direccao,  e  propostos 
pcio  Director  dos  banhos. 

Art.  20.°  Os  Servciitcs  dos  banhos  fazem 
0  servico  de  lavagein  c  lini])cza  do  cstaiieic- 
ciniento.  eo  niais  scrviro  <iuc  Ibcs  jndicarem 
o  Director  c  o  Banhciro. 

Medicos. 

Art.  27.°  Com  o  fini  de  se  ol)lerpm  dados 
r>|atisticos  dos  ciTeitos  niedicinaes  das  aguas 
dc  Liiso,  e  em  qnaiito  a  Sociedade  nao  podcr 
gralilicar  urn  Medico  do  estabeiecimento,  a 
Diri'crao  acccjta  com  rceonbecimento  o  ser- 
vico graliiiio  offerecido  por  ciiico  Medicos  da 
vizinbanca,  que  distribuirjio  cntre  si  e.ste 
.•^ervico  dc  modo,  que  durante  a  quadra  dos 
banbos,  o  estabebHimento  seja  vizitado  j)or 
uni  d'cllcs,  pelo  nienos,  uma  vez  por  semana. 

Art.  28.°  Os  Medicos,  durante  a  vizita 
do  estabeiecimento  de  que  tracta  o  art.  ante- 
cedeute,  irao  tiraudo  apontamcnlos  do  livro 


do  rcgislo,  das  inforniacries  do  Fid  c  Ba- 
nhciro, e  do  cName  dos  proprios  doentes. 
Com  estes  apontamcnlos  formarao  em  confc- 
rcncia  uma  cstatistica  mcdica  de  todos  os 
Banbistas,  que  usarem  de  banbos  e  aguas 
ncsta  ([uadra,  acoinpanbada  de  lodas  as 
reflexoes  que  julgarcm  convenienlcs,  e  remct- 
terao  esta  cstatistica  ao  Director  dos  banbos 
ate  ao  dia  15  de  Dezembro.  para  ((ue  cslc  a 
(iossa  iiicorporar  no  sou  rdatorio. 

Pirccr.So  da  Sociedade. 

Art.  29,"  0  Sccrclario  da  Direccao  da 
Sociedade  lancara  todos  annos  em  um  livro 
apropriado,  o  invcntario  de  todos  os  nioveis 
e  utcnsilios  do  cstabek'ciniento;  e  mandara 
ao  Baiibeiro  uma  ciipia  d'este  invcntario,  que 
0  tome  responsavcl  por  aquelles  oi)ject,os. 

Art.  30.°  Finda  a  quadra  (his  banhos, 
0  Tbesourciro  com  a  Direccao  da  Sociedade 
organisarSo  as  contas  do  estai)e1ecimento,  c 
as  sujeitarao  a  approvacao  da  Assemblca 
Geral  dos  Accionistas  no  1.°  de  Janeiro,  e 
scguidamente  da  Camara  Municipal;  c  logo 
que  sejam  approvadas,  abrir-su-ha  o  paga- 
mento  das  juros  dc  ii  por  cento  dc  todo  o 
capital  empregado;  e  tambem  o  pagamento 
de  parte  do  mcsnio  capital,  ua  proporcao  da 
([uantia  que  sobrar  de  todas  as  despezas  do 
estabeiecimento. 

§.  uiiico.  Este  pagnmento  tera  logar  cm 
Coimbra,  na  Mealhada,  e  cm  Anadia,  para  os 
.Accionistas  dos  Concelhos  respectivos. 

Art.  31."  0  primciro  anno  de  juros  de 
todo  0  fiindo  da  Sociedade  deve  considcrar- 
se  vencido  no  1."  de  Janeiro  de  1S30,  caicu- 
lando-se  que  o  prcjuizo  das  primciras  quotas 
licara  pouco  mais  ou  menos  compensado  com 
0  benelieio  das  ultimas.  Nos  annos  scguinte.s 
continuani,  scndo  o  1.°  de  Janeiro  o  dia  do 
vcBcimcnto  dos  juros,  que  serao  pagos  pcIo 
rendimcnto  dos  baniio^  da  quadra  anterior. 

Art.  32."  Scrii  reservado,  na  Tbcsouraria 
da  Sociedade,  a  (|uantia  que  for  orcada  jiara 
as  despezas  indispensavcis  no  estabeiecimento 
ate  ao  principio  da  seguinle  (piadra  de  banbos. 

Art.  33.°  A  Direccao  da  Sociedade  soli- 
citaia  das  Auctoridadcs  Adniinistrarivas  e 
Ecclesiasticas  dos  Districtos  e  Bispados  de 
Coimbra,  Aveiro,  Yiseu  e  Leiria,  a  publica- 
cao  ii  missa  conventual,  e  nos  logares  mais 
publicos  de  todas  as  Parochias,  d'uma  Circu- 
lar em  que  a  Direccao  aunuucic  a  aberlura 
do  novo  cstabecimenlo,  dando  conbccimenlo 
dosartt.  2.°,  3.°,  7.°  e  8."  d'este  Rcgulamento. 

Approvado  em  Scssao  da  Assemblea  Geral 
dos  Accionistas  da  Sociedade  para  o  mellin- 
ramento  dos  Banhos  dc  Luso,  de  C  de  Maio 
de  ISJiiJ. 

O  Vice-Presidcntc,  Francisco  de  Castro  Freire. 

O  Sccretario,  Antoniv  Auguslo  da  Cusia  Simoes. 


®  JuiStittttir, 


.lOllISAL    SCIEINTIFICO     E     LTTTERARIO. 


RELATORIO 


I>t'ibli!-a  «>  sKiatia-iilai*  <9o  nislriclu  a<l- 
niiiaiNla'artiio  do  a'^uiiclial  oni  ncarro 
<le  1S55. 


Conlinuado  de  pag.  104. 

SECCAO  2." 

Synapse  das  medidas  adoptadus  em  piol 
das  escholas  do  cnsino  primurio. 

0  que  ate  agora  tcnho  feilo  para  melhorar 
0  estado  da  instrucrao  primaria  'neste  distri- 
cto  pouco  e  na  vordade;  mas,  conio  d'esse 
pouco  nada  fiz,  dc  que  nao  I'ossc  dando  miu- 
da  conta  ao  consellio  superior,  agora  so  apoii- 
larei,  nosseguintpsparagraphos,  asprincipaes 
das  medidas  adoptadas. 

§.  1."  Para  inl'ormar-me  do  eslado  mate- 
rial das  escholas,  dirigi  aos  professores  as 
circuiares  n."  7  e  24,  publicadas  nos  n." 
24  e  28  do  «  Semanario  Oflicial,  »  pcdindo- 
liies  que  hoiivesscm  de  dizer-me  —  se  tinliani 
OS  livros  de  registo  que  dcviam  ter, — qual 
a  capacidade  da  rcspectiva  esclioia  em  reia- 
rao  a  frequcncia, — qual  o  estado  da  inoliilia 
cseholar. 

E  como  pelas  respostas  cliegassc  eu  a  sa- 
ber, que  debaixo  d  osle  poalo  de  vista  tudo 
estava  mal,  porque  as  camaras  mnnicipaes 
nunca  tinham  curado  de  rumprir  a  oLrigaeao 
que  Ihes  impoe  no  art.  2.°  o  decrelo  de  20 
de  dezcnibro  de  1850,  ofliciei  aos  presidentes 
das  diversas  munieipalidadcs,  dando-lhes  ro- 
nhecimenlo  da  despesa  que  tiuliam  dc  fiizer 
com  a  moliilia  e  registos,  de  que  careciam  as 
escholas  dos  rcspectivos  concelhos,  e  pedin- 
do-lhes  que  para  este  lim  meltessem  no  orea- 
mento  municipal  verhas  de  dcspesa  obriga- 
loria  na  iniportancia  da  dcspesa  requisitada. 

Aguardo  resposta ;  e  quando  esta  seja  ne- 
gativa,  lenciono  hvar  da  caniara,  que  a  dor, 
0  competcnte  recurso,  para  que  o  consclho 
de  districto  haja  de  fazer  cITectivo  o  cumpri- 
mento  dc  uma  ohrigacao,  que  e  imposta  as 
camaras  pur  lei. 

Vol.  IV.  Agosto  1j 


§.  2.°  A  irregularidade  em  ([ue  achei  to- 
das  as  escholas  relativamenle  a  horas  lecli- 
vas,  csta  removida.  Poz  cobro  a  ella  a  circu- 
lar n.°  20,  publicada  no  n."  2"  do  «  Semana- 
rio  Oiricial;  «  pela  qual  fiz  ver  aos  professo- 
res quanto  urgia  harmonizarem  a  abertura  e 
cnccrramenlo  das  sessoes  escholareS  com  ;i 
prescripcao  do  art.  7.°  do  decreto  de  20  de 
dezembro  de  18o0. 

Releva  porem  nao  omittir  aqui  o  que  jii 
tive  a  honra  de  ponderar  ao  conselho  supe- 
rior por  officio  n.°  32  de  S  de  dezembro  ulti- 
mo. As  horas  lectivas  indicadas  no  regula- 
mcnto  prejudicani  a  frequcncia  das  escholas, 
c  regularidade  dos  trabalhos  d'ellas.  Ila  sum- 
ma  conveniencia  em  fazcr-se  extensiva  as 
escholas  urbanas,  a  faculdade  que  pelo  §.  1." 
do  citado  artigo  tem  os  commissarios  dos 
esludos,  relativamente  as  escholas  ruraes. 

§.  3.°  Os  professores,  que  sob  qualquer 
prctexto  fechavam  as  escholas,  e  acudiam 
aonde  qucr  que  os  chamassem  negocios  sens, 
agora  ja  o  niio  fazcm  com  tanto  descmbargo. 
Atalhou  cste  abuse  a  circular  n.°  23,  publi- 
cada no  n.°  28  do  «  Semanario  Official.  » 

Em  harmonia  com  o  pensamcnto  d'ella, 
.odo  0  professor  que  precisar  de  licenca  por 
um,  dois,  ou  trez  dias  pede-a  com  antecipa- 
cao  ao  commissario;  e  se  o  estado  de  sua 
.saude  o  obriga  a  mais  prolongada  ausencia, 
propoe  pcssoa  que  intcrinamcnte  o  substitua 
na  cadcira,— proposta  que  o  co'iimissarin 
conlirma  ou  manda  reforniar  scgnndo  inlbr- 
macOes  que  tenha  da  capacidade  do  proposlo 

Actualmenle  csta  com  licenca,  Iractaudo 
da  sua  saude,  o  professor  da  eschola  da  villa 
de  Sancta  Cruz,  cujas  vczes  esta  fazendo  Pe- 
dro da  Cunha  Dultra  Stockier,  raoco  de  habi- 
lidade,  tilho  do  proprielario  impedido. 

§.  4.°  Para  suscitar  a  observancia  do  que 
dctcrmina  no  capitulo  quarto  o  decreto  de  20 
dc  dezembro  de  ISoO.  dirigi  aos  professores 
a  circular  n."  8,  publicada  no  n."  24  do 
"  Semanario  Official.  <> 

E  como  viesse  eu  no  conhccimento,  pelas 
respostas  que  obiive,  de  que  o  desinvolvi- 
mento  d'este  ramo  de  cnsino  carecia  princi- 
palmente  de  uniformidade  na  practica,  e 
coadjuvaeao  dos  cbcfes  de  familias,  cuja  ne- 
gligencia  era  parte  para  que  os  alumnos  dei- 
xassera  de  acompanhar  a  missa  o  respectivo 
— 1853.  NiM.   10. 


114 


professor,  rcdigi — para  os  prol'essores  o  pro- 
vimento  de  IS  de  dozembro  ultimo,  pul)licado 
no  n."  33  do  «  Semanario  Official,  » — e  para 
OS  paes  dos  alumnos  a  allocurnn  publicada 
no  mcsmo  niiniero  do  «  Semanario, »  e  depois 
impressa  cm  separado  para  llies  ser  cnviada 
officialmenle. 

g.  0.  Tendo  eu  porem  muito  cm  vista  o 
que  dispoe  oart.  21.°  do  cilado  decrelo,  rcla- 
tivamcntc  a  clausula  da  approvacao  de  que 
carece  a  traduccao  da  Bihlia,  por  oiidc  liaja 
de  fazer-se  na  escliola  a  leitura  e  explicacao 
do  cvangclho,  nao  tractei  de  dar  execucao 
ao  mencionado  provimento,  sera  primeiro 
obler  do  prelado  diocesano,  approvacao  ii 
tradiu-rao  do  Novo  Teslamenlo  pclo  Padre 
Antonio  Pereira  de  Figueiredo,  publicada  cm 
Londrcs  em  18i7,  da  qual  ja  eu  tinha  para 
as  escholas  BOO  exeraplares. 

Mas,  como  sua  Exccllencia  reverendissima 
se  nao  dignasse  acceder  ao  meu  requerimen- 
lo,  vi-me  na  precisao  de  reservar  para  nielhor 
ensejo  a  execucao  da  referida  providencia. 
De  ludo  0  que  se  ba  passado  a  este  respeito, 
dei  conta  era  separado  ao  conselho  superior 
d'instruccao  piiblica. 

§.  0.°  Com  0  intuito  de  melhorar  o  me- 
Ihodo  que  seguiam  os  professores  no  cnsino 
dos  principios  da  moral,  dirigi-lbes  as  circu- 
res  n."  10,  11,  20  e  33,  publicadas  nos  n.°' 
25,  27,  29  e  32  do  «  Semanario  Official,  »  as 
quaes  formam  uraa  especie  de  comraentario 
a  doutrina  dos  artigos  17  e  33  do  decreto 
regulamentar  de  20  de  dezcmbro  de  1830. 

Tenho  a  satisfaccao  de  dizer  a  V.  Exc.'  que 
esse  nao  foi  trabalho  de  todo  pcrdido.  Pro- 
fessores ha  que,  poslo  nao  tcnham  ainda  pres- 
cindindo  do  auxilio  da  memoria  no  ensino 
da  moral,  ja  comecara  de  robustccel-o  com 
explicacoes  c  anedoctas,  que  sobreraodo  faci- 
litara  a  inteliigencia  dos  trechos  decorados. 

§.  7.  Afim  de  poder  devidamente  aprc- 
ciar,  em  face  do  art.  30."  do  decreto  de  20 
dezcmbro  de  1830,  o  arranjo  economico  das 
escholas  pelo  que  toca  a  divisao  d'ellas  em 
classes,  dirigi  aos  professores  a  circular  n.° 
46  publicada  no  n."  39  do  «  Semanario  Offi- 
cial. « 

E  como  pelas  respostas  tivessc  cu  o  desgosto 
lie  saber  que  so  duas  escholas  tinham  regu- 
lamento  interno,  e  que  a  divisao  de  todas  as 
outras  em  classes  era,  sobre  arbitraria ,  tao 
irregular,  que  nao  estendia  o  ensiuo  a  todas 
as  materias,  nera  economisava  o  tempo  lecti- 
vo  a  bem  d'elle;  de  piano  recoiibeci  a  in- 
dispensabilidade  de  prevalecer-me  da  facul- 
dade  conferida  pelo  art.  31.°  do  citado  decre- 
to, para  dar  a  todas  as  escholas  piiblicas  do 
districto  uma  organisacao  uniforme  e  em  har- 
monia  com  as  condicoes  da  regra  do  supra 
ritado  art.  30.° 

§.  8.°  Mas  para  dividir  uma  eschola  em 
classes  scgundo  o  methodu  nuituo,   simulla- 


neo,  on  mixto,  a  primeira  de  todas  as  condi- 
coes e  ter  livros  uniformes  e  adequados  aos 
exercicios  de  cada  uma ;  porque,  se  cada 
alumno  tivcr  um  livro  dilTereiite,  ou  nao  liver 
nenhum,  como  podera  o  decuriao  ou  profes- 
sor dar  a  todos  a  niesma  licao?  Impossivel. 

Ora  sendo  este  o  cstado  de  quasi  todas  as 
escholas  piiblicas,  qua.>-i  exclusivamente  frc- 
(jucntadas  por  lilbos  de  pobres ,  facil  era  de 
verque  oque  mais  urgia  era  dar  aos  alumnos 
livros  e  os  denials  utensilios  escholares  in- 
dispensaveis  para  a  organizacao  economica 
d'ellas. 

Para  isto  recorri  a  caridade  piiblica.  E 
tendo  dirigido  a  nacionacs  e  txtrangciros  o 
appello  publicado  no  n."  27  do  «  Semanario 
Official, »  live  a  satisfaccao  de  vercoroada  esta 
providencia  pela  sympatliia  de  todas  as  clas- 
ses da  sociedade.  0  producto  da  subscripcao 
ja  passa  de  riiis  200^000.  Uma  senbora  in- 
gleza  (Lady  Balfour)  teve  a  benignidade  de 
tomar  a  sua  conta  o  fornecimento  de  mappas 
geographicos  e  outros  utensilios  escholares, 
que  eu  tivesse  de  mandar  vir  de  Inglaterra. 
Outra  senbora  natural  d'este  paiz  (a  ex.'°°D. 
Julia  de  Franca  Netto)  dando  um  concerto 
a  beneticio  dos  pobres,  do  producto  d'elle 
reservou  para  as  escholas  a  quantia  de  reis 
40^000.  Com  taes  adjutorios,  dentro  em  pou- 
co  terei  a  satisfaccao  de  ver  todas  as  escholas 
piiblicas  fornecidas  dos  livros  e  utensilios 
necessarios  para  sua  melbor  organisagao. 

§.  9."  Em  quanto  este  anhelado  momen- 
lo  nao  chega,  ja  so,  ja  em  conferencia  com  os 
professores  que  tenho  em  conta  de  mais  en- 
tendidos,  vou  emprcgando  o  tempo  na  redac- 
cao  e  coordenacao  de  um  manual  ou  direcio- 
rio  para  as  escholas,  feito — para  assim  dizer — 
com  lal  elasticidade,  que,  seni  prejuizo  da 
unidadc  que  deve  reiuar  era  todas,  possa  fa- 
cilmentc  accommodar-se  as  circumstancias 
especiaes  de  cada  uma. 

A  esta  condifao  ha  de  satisfazer  o  directo- 
rio,  espero  eu,  fazendo  lixo  o  numero  das 
classes,  mas  variando  o  das  subdivisoes  de 
cada  uma  d'estas,  ao  sabor  da  fie([uencia  da 
rcspcctiva  eschola.  Logo  que  esteja  concliiido 
este  trabalho,  dar-lhe-hei  a  forma  do  provi- 
mento, e  suhmettel-o-hei  a  sanccao  do  conse- 
lho superior. 

§.  10."  Pela  confrontacao  dos  mappas  de 
frc([uencia  das  escholas  com  a  esladistica  da 
povoacao  de  cada  frcgiiezia,  pude  logo  presu- 
mir  (|ue,  ainda  adniittidas  como  rigorosa- 
mente  exactas  as  indicacoes  dos  primeiros. 
tal  frequencia  eslava  muito  aquem  do  que 
devia  ser  em  uma  povoacao  do  cento  e  tantas 
mil  almas. 

Pelo  mappa  juncto  sob  n.°  1  vera  V.  Exc' 
demoustrada  a  verdade  d'esta  assercao.  'Num  ' 
districto,  onde  ao  presenle  ha  17,836  crean- 
cas  em  edade  de  aprender  (dos  seis  aos  qua- 
torze  annos;,  apenas  2:313  frequentam  cstho- 


115 


las  piiblicas,  municipaes  e  particulares!  Todas 
as  mais  vegetani  na  ignoraneia  vm  que  nascc- 
ram,  estranhas  e  inaccessiveis  aos  benelicios 
da  civilisarao! 

Isto  faz  piesentir  a  neccssidade  que  have- 
ra  do  recorrer-se  a  meios  conipulsoiios,  (de- 
pois  de  exhauslos  os  de  persiiasao)  para  obri- 
gar  OS  paes  de  I'amilia  a  darem  eduiarao  a 
seus  lillios.  E  visto  que  para  a  prolicuidade 
d'aquelles  meios,  releva  que  a  auctoridade 
inspectora  das  cscholas  sailia  quaes  sao,  era 
cada  localidade,  os  cliefes  de  familia  que 
cuniprcm  ou  deixara  de  cumprir  com  a  obri- 
garao  que  a  cste  respeilo  llies  impoe  a  iiatu- 
reza  e  a  sociedade,  traitei  imniediatamente 
de  colligir  os  clemcntos  de  que  prccisava  para 
a  confeccao  do  rccenseamenlo  da  populacao 
educanda. 

Este  trabalho  ja  esta  feito  era  grande  par- 
te; ja  estao  consignados  'nam  livro  especial 
0  nome,  profissdo  e  moradia  de  cada  chefe  de 
lamilia  educanda,  o  nome  e  edade  do  filho  ou 
filha  que  tenha,  com  designagao  da  eschola 
que  frcquenta.  0  niappa  junto  sob  n.°  2  e  a 
synlbese  do  livro  do  recenseamento,  rccensea- 
mento  que  ja  estaria  de  todo  concluido,  se 
eu  tivesse  alguem  que  me  coadjuvassc  em 
trabalhos  d'esta  natureza. 

SECCAO  3." 

Synapse  das  medidas  que  requerem  a  inter- 
vencdo  de  auctoridade  superior. 

Tenho  de  apontar  'nesta  seocao  divcrsas 
providencias,  a  cada  uraa  das  (juaes  consa- 
grarei  um  dos  seguintes  capilulos. 

CAPITCLO    I. 

Tempo  leciivo. 

Kespondendo  a  circular  n.°  yo  publicada  no 
n.°  42  do  « Seraanario  Official,"  todos  os 
professores  das  cscholas  ruraes  toncordam  na 
conveniencia  de  se  reduzirem,  'nestas  cscho- 
las, as  duas  sessoes  diarias  a  unia  so. 

II  Se  bem  que  o  decrcto  de  '20  de  septcm- 
bro  de  1844,"  dizem  os  professores,  ((per- 
il raitte,  no  artigo  42,  que  os  paes  de  farailia 
((  mandera  a  eschola  unia  so  vcz  por  dia  aquel- 
((  les  de  seus  lilbos  de  cujo  trabalho  carecam, 
((  com  tudo  do  exercicio  d'esta  faculdade  so 
((  podera  resultar  atrazo  para  esles,  e  desor- 
<(  dem  para  o  resto  da  eschola.  Alumnos  que 
« so  tenham  uraa  licao  diaria,  nao  podem 
«  seguir  de  par  com  outros  que  tfim  duas. 
((  Mas,  como  sempre  hao  de  fazer  parte  de 
((  aigunia  classc  (caso  se  nao  queira  que  in- 
«  teiramente  percam  a  licao  a  que  faltarani) 
« todos  OS  dias  terao  de  descer  de  uma  para 


(( outra  classe  inferior,  o  que  forcosamente 
((  ha  de  oecasionar  confusao  nos  trabalhos 
((  das  classes.  » 

Fundados  'nestas  ponderacoes,  entendem  os 
professores,  que  para  as  cscholas  ruraes,  o 
melhor  e  que  tenham  uma  so  sessao  diaria, 
de  cinco  horas  consecutivas,  havendo  cntre 
cada  duas  uma  bora  de  recreio.  E  confesso  a 
V.  Exc'  que,  para  me  eu  conformar  com  esta 
opiniao,  basta  reflectir  como  esta  derramada 
nos  campos  d'esta  ilba  a  populacao.  Para  os 
educandos  confluirem  a  um  ponto  de  cada 
frcguczia,  por  mais  central  que  seja,  tem  de 
fazer  grandes  jornadas  por  maus  e  perigosos 
eaminbos;  gastam  muito  tempo  em  idas  e 
voltas  de  casa  para  a  escbola,  e  da  eschola 
para  casa;  tempo  que  e  inteiramente  pcrdido 
para  elles  e  para  os  paes,  cujos  trabalhos  por 
Ventura  nao  dispcnsem  a  sua  coadjuvacao. 

Por  todas  estas  razoes  parece-me  que,  para 
se  conciliarem  melhor  os  interesses  da  agri- 
cultura  com  os  da  instruccao  das  povoacoes 
ruraes,  e  conveniente  alterar  a  disposicao 
do  art.  7.°  do  decreto  de  20  de  dezerabro 
de  1850,  e  commetter  ao  prudente  arbitrio 
dos  commissarios  dos  estudos  a  reducgao  das 
duas  sessoes  a  uma  so,  'naquellas  localidades, 
onde  a  dispersao  da  povoacao,  e  os  interes- 
ses agricolas  dos  paes  dos  alumnos  assim  o 
requeiram. 

capitulo  II. 

Ordenado  dos  professores. 

0  maior  de  todos  os  obstaculos  ao  desin- 
volvimento  da  instruccao  primaria,  nas  cscho- 
las ruraes  d'este  districto,  e  a  incapacidadc 
dos  professores;  e  —  seja  qual  for  a  inspec- 
eao  que  se  Ibes  ponba,  e  a  disciplina  que 
'nellas  se  estabeleja,  —  cssa  capacidade  con- 
linuara  a  ser  a  mesma,  emquanto  forem , 
como  ao  presente,  tao  escassos  e  mesquinbos 
OS  ordenados  de  taes  professores. 

Quem  ha  ahi,  que  sentindo-se  com  quai- 
quer  prestimo  natural  ou  adquirido,  queira, 
a  troco  da  mensalidade  de  reis  6  a  8^000, 
votar-se  ao  improbo  mister  da  regencia  de 
uma  eschola  rural?  So  busca  esta  carreira, 
quem  nao  tem  fe  em  si,  nem  melhorcs  espe- 
rancas  em  qualquer  outra.  E  confesso  a  V. 
Exc."  que  quando  contempio  a  exiguidade 
dos  ordenados  d'esta  classe  de  professores, 
quasi  que  tenho  remorses  de  exigir  d'elles 
accrto,  pontualidade  e  zcio  no  desempenho 
de  suas  obrigacoes. 

'Numa  terra  cara,  como  esta  e,  e  cujos 
lavradores,  de  pobres  que  sao,  mal  podem  ter 
generosidade  alguma  para  com  os  mestres  de 
seus  filbos,  dar  reis  8^030  por  mez  a  um  pro- 
fessor d'ensino  primario,  mais  e  querer  entre- 
ter  e  illudir,  que  educar  os  filhos  do  povo; 
porque    OS  professores,    sobre  nao   terem    a 


116 


necessaria  aptidao  para  o  ensino,  por  forra 
liao  (le  lanrar  mao  dc  qualquer  oiitro  sorviro, 
que  llie>  di'parc  os  meins  de  sul)sisteiu'ia,  que 
0  niagislerio  per  si  so  Ihes  nao  da. 

Parece-me  porta n to  que,  em  alteneao  as 
circumstancias  d'esia  Incalidade,  fdra  de  suni- 
ina  couvonienria  dislinguir  a  lei  trez  espccies 
de  escliolas  priuiarias: — as  da  cidade,  —  as 
das  villas  ou  raberas  de  concelhos, —  c  as  das 
freguezias  ruraes. 

Os  prol'essnres  das  primeiras  cstao  suflieien- 
temeiue  retrilniiilos,  percebendo  eada  uni 
d'ellcs  rcis  18|,a'.IO  por  mez.  So  o  nao  csta 
a  mestra  da  escbola  de  meninas,  que,  regen- 
do  a  luais  frequeiUada  de  todas  as  escliolas 
piiblicas,  so  percebe  a  mensalidade  de  ri-is 
(i^llt;;  com  a  gralilicarao  de  reis  20^000  per 
annum. 

Os  das  eseholas  das  villas  devem,  a  meu 
ver,  tcr  um  ordenado  polo  Ibcsouro  na  inipor- 
tancia  liipiida  de  reis  'J^OOO  por  raez,  e  niais 
uma  gratilica(,'ao  municipal  de  reis  10  a 
yO^OOU  per  annum,  segundo  a  frequencia 
efi'ectiva  da  escbola.  Se  esia  tiver  ma  is  de 
:!0  aluninos,  o  professor  tera  direito  ao  mi- 
nimo  da  gralilicarao.  Se  porem  tiver  mais 
dc  cem,  tera  direito  ao  maximo.  A  camara 
que  tem  interessc  em  pagar  o  menos  possi- 
vel,  sera  o  melhor  fiscal  da  elTectiva  frequen- 
cia da  cschola. 

Os  professores  das  eseholas  ruraes  nao  de- 
vem ler  mcnos  de  9^000  reis  liquidos,  sem 
gratificacao  municipal.  A  dilTerenca  dos  orde- 
nados  dos  professores  d'estas  duas  classes  e 
analoga  a  dilTerenca  das  habilitacijcs  e  traba- 
Ihos  de  cada  um. 

Os  das  eseholas  ruraes  so  terao  de  enst- 
nar,  'numa  unica  sessao  diaria,  ler,  escrever, 
contar  e  doutrina  christa.  Os  das  escliolas  das 
villas  terao  obrigacao  de  cnsinar,  em  dnas 
sessoes,  afora  aquellas  materias  maisdesinvol- 
vidas,  gramatica,  geograpbia  e  historia  por- 
tugueza,  e  principias  de  moral  o  ci\ilidade. 

Contimia. 


OS  LUSIADAS, 

Traducrao  franccza. 

Meu  aniigo.  —  Apezar  de  me  aehar  aqui 
no  remanso  das  ferias,  que  tao  liem  sabe  aos 
estudantcs,  nao  me  esqueco  do  meu  amigo  e 
do  nosso  Instituto,  ideas  para  mini  associa- 
das. 

Revolvendo  oiitro  dia  antigos  papcis  de 
meu  Pae,  deparei  com  o  inanuscriplo  origi- 
nal da  traduccao  dos  Lusiadas,  que  julgava 
perdida.  Fiquei  contentissinio,  como  pode 
imaginar.  A  maior  parte  d'esta  traduccao  e 
inedita,  e  no  que  foi  publicado,  restava  fazer 
alguinas  corrcccoes  que  do  aulograplio  se  ve 


tcrem  sido  aconselhadas  por  M."""  de  Stael 
Ksta  descoberta  foi  um  liom  acbado  para  mini, 
e  creio  (]ue  para  o  Inslilulo.  principaliuenle 
iiesia  opocha,  em  (]He  seiupre  foi  dillicil  aciuir 
materia  para  um  jornal  scientilico  c  litlerarin, 
publicado  em  (loimbra. 

Parcco-me  ((ue  iaco  um  scrvico  a  esse  jor- 
nal e  lambeiu  a  niemoria  de  meu  Pae,  publi- 
caudo  estes  fragmeutos,  (jue  podcm  fazer  con- 
siderar  o  seu  auctor  debaivo  de  um  aspeclo 
em  (|iie  e  pouco  conbecido.  Foi  o  Visconde 
d  Almeida  Garrett  quem  me  suscilou  cste 
pensamento,  cscrevendo  o  que  segue: 

«  0  leitor  folgara,  creio  eu,  de  acbar  aqui 
uma  nota  dfis  traduccOes  (dos  Lusiadasj  de 
que  pude  acliar  memoria,  ou  examinei  eu 
proprio 

«  A  traduccao  era  verso  francez  do  sr.  Dii- 
qne  (le  Palmella,  ipie  os  particiilares  amigos 
do  illustre  auctor  sabcni  eslar  nniito  mais 
adiantada,  posto  que  d'ella  so  apparecessom 
amostras  no  Invest igailDr  purlui/nez  em  Lon- 
dres  de  1813.  —  Posso  dar  teslemuulio  do 
muito  que  admirei  algumas  das  mais  bellas 
e  mais  dilliceis  passagens  dos  Lusiadas,  quan- 
do  0  nobre  poeta  (espero  que  se  nao  offeiida 
do  nome)  me  fez  a  honra  de  m'as  ler,  ha 
onze  para  doze  annos  em  Londres.  » 

Esla  traduccao  foi  cscripta  nos  primeiros 
annos  d'este  seculo.  Preparava-se  cntao  o 
que  chaniamos  a  invasao  dos  Francezes:  esta- 
vamos  em  vesperas  de  perder  a  nossa  nacio- 
nalidade,  e  ameacados  de  constiluir  mais  um 
departamento  daquelle  inimenso  iniperio  que 
aspirava  a  egualar  o  dos  Cesares.  'Nestas  cir- 
cunstancias  emprehendeu  meu  Pae  o  penoso 
e  dillicil  trabalho  de  traduzir  os  Lusiadas  em 
verso  francez,  trabalho  que  por  ykta-  era  ani-  /;" 
mado  pelo  nobre  desejo  de  tornar  conbecido 
dos  nossos  futuros  dominadores  os  altos  fei- 
tos  do  povo  que  pretendiam  avassalar. 

Acerca  do  merecimento  da  obra  nada  direi: 
lillio  do  auctor,  fora  suspcito  o  meu  juizo; 
allieio  ii  poesia,  julgo-me  inbabil  para  o  fazer. 

.V  publicacao  de  parte  d'este  trabalho  no 
Invcalifjador  porluijiiez,  com  a  carta  quo  a 
precede,  escripta  [lor  meu  Pae;  o  nome  do 
auctor,  c  o  testemunbo  de  Garrett,  serao  as 
unicas  rcconimendacoes  que  a  accompanbem. 

Adeus,  meu  amigo,  continuarci  a  ver  se 
posso  prestar  mais  algum  service  a  redacrao 
d'csse  jornal.  | 

Lisboa,  27  de  junho  de  ISiio. 

D.  Franei^o  de  Soitsa  e  Holstem. 


Carta  ao«»  re^lacloi-ew  ilo  Invo»«iarad«r 
pordigiiex  eiia  Iimlalcrta. 

Sr.'  redactores  do  Investigador.  Ja  que  Y. 
assim  o  querem,  tenho  a  honra  dc  Ihes  lemet- 
ter  alguns  fragmentos  d'unia  traduccao  fran- 


117 


ccza  dos  Luziadas ;  lisongeando-rae  que  o  il- 
lustre  nome  de  Camoes  seja  um  passaporte 
sufTiciente  para  fazer  perdoar  a  sua  insercao 
nura  periodico  porluguez. 

Ha  perto  de  oito  annos  que  esta  traduccao 
foi  principiada,  e  lendo-me  as  circunistancias 
pouco  depois  obrigado  a  interromper  o  nicu 
Irabalho,  assenlo  que  ja  agora  nao  terei  ani-  ' 
mo  para  o  conlinuar  e  levar  ao  iim. 

Nao  e  necessario  muito  conlieciniento  da 
lingua  e  da  poezia  franceza,  para  avaliar,  nao 
digo  a  difficuldade,  mas  a  tcmeridade  ,d'uma 
empreza  tal  como  a  da  Iraduccao  de  lode  o 
poema  de  CaniOos.  Traduzir  o  mais  harnio- 
nioso  dos  poetas  niodernos,  e  traduzil-o  de 
uma  lingua  rica  esonora,  para  outra  infinita- 
menle  niais  pobrc,  secca  e  aperriada  per  pre- 
ceilos  miudos  e  rigorosos;  e  intentar  o  copiar 
com  urn  lapis  preto  uma  pintura  adornada  das 
mais  vivas  cores;  ou  querer  seguir  a  I'orra  de 
remos  um  navio  que  corre  a  toda  a  vella.  D'essa 
verdade  me  persuadi  ainda  mais,  agora  que 
tornei  a  14r  de  sangue  frio  o  nianuscripto  que 
ha  annos  jtinlia  esquecido,  e  abandonando  a 
idea  de  o  proseguir,  resolvo-me  a  expor  (nao 
sem  um  justo  receio)  ao  juizo  do  publico  estes 
primeiros  cnsaios. 

A  lama  d'um  poema  tal  como  o  de  Camoes 
nao  podia  ficar  encerrada  na  sua  patria;  e 
com  elleito  nao  ha  lingua  culta,  em  que  nao 
esteja  traduzido,  nem  pessoa  medeanamente 
instruida  na  Europa  que  o  nao  tenha  lido. 
Porem  desgraoadamente  poucos  cstrangeiros 
se  aeham  no  caso  de  o  ter  lido  no  original;  c 
certamente  Camoes  d'eiitre  os  grandes  poetas 
e  um  dos  que  raais  pcrdcnj  em  ser  traduzidos. 
P6de-se,  sem  faltar  ao  rcspeito  que  llie  e  devido, 
nera  participar  da  heresia  litteraria  d'alguns 
nossos  comtemporaneos,  asseverar  que  o  pri- 
raeiro  merecimeuto  de  Camoes  e  o  da  diccao  ou 
do  cstyio,  e  por  confoquencia  aquelle  que  me- 
nos  se  pode  atlingir  na  traduccao.  A  melodia 
natural  de  que  sao  dotados  os  scus  versos,  a 
>umma  abundancia  e  lluidez,  com  que  elles 
Ihe  corriam,  dcrani  logar  a  que  se  precalasse 
menos  dos  det'eilos  inseparaveis  d'aquellas 
qualidades;  quero  dizer,  as  negligencias  no 
piano,  eas  vezes  a  repelicao  dasmesmas  ideas, 
variadas  porem  sempre,  e  verdade,  com  uma 
inexbaurivel  riqueza  de  expressOes.  Finalmen- 
le  essa  raesma  lacilidade  que  so  se  pode  com- 
parar  a  de  Ovidio  e  Ariosto,  o  induz  a  pas- 
sar  conlinuadamente  do  estylo  mais  sublime 
da  epopea,  para  o  d'uma  narracao  raais  sin- 
geli  e  quasi  familiar,  e  ate  mcsmo  para  o 
torn  jocoso  a  que  mais  d'uma  vez  se  entre- 
ga.  A  nada  se  Ihe  nega  a  musa,  e  Camoes 
mais  inspirado  do  que  qualquer  outro  poeta 
nao  recusa  nenhum  dos  seus  dons.  D'ahi 
nascem  as  maiores  bellezas,  d'ahi  se  originam 
lambem  alguns  defeilos.  Mas  os  defeitos  ap- 
parecem  lodos  na  traduccao  era  quanto  muilas 
das  bellezas  nao  pndoni  traduzir-se;  e  o  leitor 


estrangeiro  prevenido  pela  justa  admiracao 
que  Ihe  inspiraram,  nao  se  lembra  que  esta 
lendo  na  traduccao  a  raesraa  rausica,  porem 
que  nao  pode  ouvir  o  som  do  mesrao  inslru- 
mento. 

Se  e  diflicil  o  traduzir  os  Luziadas  em  qual- 
quer lingua,  a  maior  difliculdade  e  talvez  o 
Iraduzil-a  em  francez;  porquo  a  poesia  fran- 
ceza e  a  mais  limitada  e  a  menos  ousada  de 
todas.  Por  isso  nao  se  presta  ao  genio  das 
poesias  estrangeiras :  e  todos  sabeni  que  De- 
lille  foi  0  primeiro  que  conseguiu  traduzir, 
com  applauso,  em  verso  francez  alguns  dos 
poetas  epicos  das  outras  nacoes.  Estas  relle- 
xOes  e  muitas  outras  dcviam  ter-me  acobar- 
dado.  Porem  deixei-me  levar  do  desejo  de 
contribuir,  por  quanto  as  minhas  forcas  ra'o 
permittirem,  a  elevar  mais  um  monumento  a 
racmoria  do  nosso  grande  Yate;  do  unico 
poeta  portuguez,  cuja  gloria,  como  disse  um 
auctor  illustre  do  nosso  tempo,  nao  e  so  na- 
cional  mas  europAa. 

Dar-me-hia  por  summamente  satisfeito  se 
estes  ensaios  de  traduccao,  posto  que  debeis 
e  imperfeitos,  podessem  dar  a  conhecer  aos 
cstrangeiros,  que  os  lerem,  alguma  d'entre  as 
immensas  bellezas  de  que  abunda  o  nosso 
poema;  o  qual  ate  agora  tem  servido,  e  ver- 
dade, d'assurapto  a  rauilos  elogios,  porem 
tarabera  a  outras  tantas  calumnias,  para  os 
([ue  0  nao  conhecem. 

Nao  e  este  o  logar  de  entrar  numa  disser- 
tacao,  ((ue  prolongaria  cxtreraamenle  esta  car- 
ta, sobre  as  numerosas  criticas  que  tern  en- 
contrado  os  Luziadas.  Porem  nao  posso  deixar 
de  observar  que  a  principal  d'entre  ellas, 
tem  recahido  sempre  sobre  a  mistura  do  chri- 
stianismo  com  a  mythologia  paga,  e  nao  se 
pode  negar  que  esta  eritica  seja  muito  funda- 
da.  Coraludo,  lendo  com  attencao  os  Luzia- 
das, observa-sc  facilmente  que  nao  nasce  d'ahi 
uma  verdadeira  discordancia;  o  espirito  do 
poema  como  o  do  poeta  e  todo  cbristao,  e  o 
uso  que  elle  faz  das  liccocs  mythologicas  nao  e 
senao  um  mero  ornato,  um  jogo  da  phanlazia. 
de  que  Camoes,  cbeio  da  licao  classica  dos 
poetas  antigos,  e  nao  achando  ainda  modelo 
por  onde  se  guiar  na  poesia  chrisla  e  nioder- 
na,  julgou  nao  poder  prescindir.  Mas  v6-se 
para  assim  dizer,  que  toda  essa  parte  do  poema 
nao  e  seria ;  e  que  serve  como  duma  especie 
de  moldura,  em  que  se  julgou  obrigado  a  en- 
cerrar  o  seu  formoso  painel.  A  unidade  do 
interesse  dos  Luziadas  consiste  principalmente 
no  sentimento  patriotico  que  anima  ludo.  O 
titulo  mesmo  o  prova.  A  gloria  nacional  dos 
Portuguezes  e  o  espirito  cavalleiroso  d'aquel- 
les  tempos,  reproduzem-se  debaixo  de  todas 
as  formas  que  pode  inventar  a  imaginacao  do 
poeta.  Talvez  em  nenhum  poema  desde  os 
de  Homero,  se  ache  um  colorido  historico  e 
nacional  tao  forte  como  no  de  Camoes. 
Resta-me  so  agora  a  accrescentar  que  me 


118 


julguei  obrigado,  nos  fragmenlos  mesraos  que 
traduzi,  a  oniittir  niuitas  oilavas,  que  ou  por 
sereni  mais  fracas  ou  por  conterem  alguma 
repeticao  d'idCas,  desesperei  de  poder  tradu- 
zir  loleravelnicnle.  Pela  mesma  razao  procu- 
re!, alguraa  vez,  extraliir  d'uma  so  oitava  o 
sentido  de  duas  ou  trez,  Obscrvarei  tanibeiu 
que  0  metro  que  adoplei,  e  que  e  o  do  origi- 
nal, sendo  inteiraracnte  novo  iia  pocsia  fran- 
ceza  augmenta  sobre  mancira  a  dillieuidade ; 
porque  e  preciso,  na  lingua  em  que  ha  mais 
pobreza  de  cousoantcs  acbar  Irez  rimas  agu- 
das,  e  trez  graves  era  cada  oitava.  Porem 
estas  observacues  pouco  devem  importar  aos 
leitores,  pois  o  mereciraenlo  do  poeta  nao  con- 
siste  em  ter  vencido  dilliculdades,  mas  em 
ter  produzido  bellezas.  S. 

Continiia, 


TELEGRAPHIA  ELECTRICA. 

Continuado  de  paj.  112. 
III. 

Telegraphos  electrkos  francezes. 

ToIeKi'apbos  rtc  Brrt;net.  Os  telegraphos 
electricos  primeiro  e  mais  geralmente  empre- 
gados  em  Franca  foram  os  de  Breguct.  A  sua 
construccao  diversifica  um  pouco,  segundo 
elles  sao  destinados  para  o  seryico  do  estado, 
ou  para  os  caminhos  de  ferro;  ambos  porem 
tern  de  commum  o  serem  de  quadrante,  e 
seguirem  em  geral  o  processo  que  indicamos 
precedcntemente.  0  principio  e  o  raesnio: 
tem  todos  um  receptor  electro  magnetico,  que 
adquire  a  propriedade  de  attrahir  o  lerro, 
quando  a  corrente  eiectrica  passa  pelos  lios 
d'elle;  e  iima  alavanca  d'aco,  que  em  virttide 
da  molla  que  tora,  torna  a  sua  posifao  iiiicial, 
logo  que  a  corrente  eiectrica  e  interrompida; 
0  apparelho  porem  traballia  com  rndas  de 
relogiaria,  e  os  signaes  sao  did'erentes. 

Telcs>'a|>ho«>  parn  o  Men  iro  do  cnI  n<lo. 
Nos  telegrapbos  do  estado,  construidos  por 
Breguet,  emprega-se  a  pilha  de  Bunsen  para 
produzir  a  eleclricidade,  as  comraunicacoes 
nao  sao  feitas  por  letras  indicadas  por  um  pon- 
teiro  sobre  o  quadrante,  mas  por  duas  alida- 
das,  que  transniittem  os  signaes  adoptados  nos 
antigos  telegrapbos  aercos.  Cada  uma  d'eslas 
alidadas  mo\e-se  parallelamente  por  um  maclii- 
nismo  de  relogiaria,  collocado  por  detraz  do 
quadrante  receptor,  de  raodo  que  as  duas 
alidadas  podem  girar  scm  nunca  se  cncontra- 
rem.  Estas  duas  partes  do  ajiparelho  sao  in- 
teiramente  eguaes,  e  por  uma  se  pode  cxac- 
tamenie  comprehender  a  outra.  As  duas  ali- 


dadas sao  constantemente  solicitadas  para 
mover-se,  e  a  corrente  clectro-magnetica  e 
que  deterraina  'num  dado  memento  esse  mo- 
vimento.  A  alidada  indicadora  dos  signaes 
esta  collocada  sobre  o  eixo  da  roda  de  esca- 
pamento.  Um  tambor  com  uma  mola,  como 
nos  rclojos  ordinarios,  serve  de  forca  motriz 
e  transraitte  o  seu  movimento  ao  eixo  da 
roda  de  escapamento,  e  por  consequencia  a 
alidada  indicadora  dos  signaes.  A  introduc- 
cao,  c  inlerrupcao  successiva  da  corrente  eiec- 
trica imprime  a  alavanca  um  movimento  de 
vaivem,  como  anteriormente  notamos,  e  cste 
movimento  alternado  faz  andar  a  roda,  cujo 
eixo  sustenta  a  alidada,  um  meio  dente  a 
cada  impulso  ou  suspensao  da  corrente  electro- 
raagnetica,  de  raaneira  que,  prolongando-se 
esta  accao  alternada  da  corrente  eiectrica,  a 
roda  pode  dar  uma  ou  muitas  voltas  coraplc- 
tas.  A  roda  tem  quatro  dentes,  e  como  a  cada 
movimento  d'alavanca  a  roda  anda  um  meio 
dente,  segue-sc  (lue  'numa  volta  completa  a 
alidada  toma  oito  diversas  posifoes.  Como 
porem  sao  duas  as  rodas  postas  simultanea- 
mente  em  movimento  dehaixo  da  influencia 
da  corrente  eiectrica,  e  duas  tambem  as  ali- 
dadas, e  como  cada  uma  d'ellas  pode  tomar 
oito  diversas  posicoes  independentes  umas  das 
outras,  com  aquellas  duas  alidadas  se  podem 
representar  sessenta  e  quatro  signaes  coni- 
binando  os  oito  raovimentos  de  cada  roda,  c 
ate  duplicar  este  numero  com  um  signal  de 
convencao. 

Tal  e  0  apparelho  receptor.  0  apparelho 
que  transmitte  as  respostas,  c  que  Breguet 
chama  wrtJiipii/drfore  formado,  como  o receptor, 
de  duas  partes  independentes  e  similhantes 
cada  uma  d'ellas  posta  em  relacao  com  um 
dos  lados  do  receptor  por  um  fio  especial, 
de  manetra  que  estes  telegrapbos  exigem  dois 
lios,  duas  alidadas,  e  dois  movimentos  de 
relogiaria,  e  o  respective  eropregado  tem  de  >  " 

operar  com  ambas  as  niaos.  A  manivela,  de 
que  se  serve  o  operador,  entra   'num  disco       ^_ 
dividido  em  oito  partes  eguaes,  o  qual  trans-    ,   flj 
mille  OS  sous  oito   movimentos  ao   receptor    ■''™' 
por  meio  d'um  jogo  de  alavanca^:  quando  a 
manivela  passa  d'uma  a  outra  divisao,  o  lio  j 

do  receptor  e  posto  em   conimunicacao   com  I 

a  pilha,  c  logo  se  transmitte  a  extremidade 
da  linha  o  signal  dado.  Percorrendo  com  a 
manivela  as  oito  divisoes  do  disco  o  encar- 
regado  d'lima  conimunicacao  telegraphica  faz 
tomar  a  alidada  do  receptor  oito  diffcrentes 
posicoes,  que,  combinadas  com  as  oito  posiroes 
da  outra  alidada,  da  sessenta  e  qimtro  signaes, 
como  ja  dissemos.  Cada  movimento  da  roda 
produz  por  tanio  um  signal.  Quando  a  ala- 
vanca toca  o  lio  que  comnuinica  com  a  pilha 
a  roda  passa  um  meio  dente  e  faz  um  signal, 
quando  a  corrente  ccssa  a  alavanca  volta  a 
sua  posicao  ordinaria  pela  mola  que  tem,  a 
roda  pass^a  ainda  um  meio  dcnle,  e  a  alidada 


119 


marca  urn  novo  signal,  de  modo  que  neste 
apparelho  aproveitam-se  lodos  os  niovimen- 
tos. 

« Este  telegrapho,  diz  o  seu  A.,  tern  a 
vantagem  de  fazer  signaes  raui  distinctos,  e 
miii  segiiro,  e  pode  mover-se  eon)  grande 
rapidez.  Empregados  ha,  que  'num  ininuto 
fazem  duzentos  e  quarenta  signaes,  o  que 
corresponde  a  cineoenla  palavras.  Para  se 
obter  este  resultado  e  preciso  que  os  appare- 
Ihos  sejara  capazes  de  fazer  trez  mil  signaes 
por  niinuto  movcndo  a  manivela  continua- 
mentc.  » 

Apezar  d'eslas  vantagens  lao  incuieadas 
pelo  A.,  OS  telcgraphos  electricos  segundo 
esle  syslenia  estao  lioje  gcralmente  abando- 
nados.  Em  Franca,  onde  elies  tinbani  sido 
adoptados  «m  lodas  as  reparli{oes  piiblicas, 
porqae,  reproduzindo  os  signaes  usados  nos 
telegraphos  aereos,  nao  alteravam  o  antigo 
expediente  d'este  ramo  do  servico  adminislra- 
livo,  e  conservavam  o  segredo  das  noticias, 
esta  reconhecido,  que  o  systema  de  Breguet 
nos  telegraphos  do  eslado  e  mais  dispendioso 
porque  necessita  de  dois  tics  e  dum  ap- 
parelho dobrado;  e  raais  trabalhoso  para  os 
empregados,  que  tem  de  operar  com  ambas 
as  maos  ao  mesmo  tempo  para  transraitlir  o 
mais  simples  signal,  e  aleni  disso  pode  dar 
logar  a  graves  enganos  pela  troca  de  quai- 
quer  signal,  o  que  e  mui  facil  de  accontecer 
na  rapidez  com  que  elles  devem  serfeitos. 

E  por  estas  razoes  a  administracao  dos  te- 
legraphos em  Franca  tracta  de  substituir  estes 
telegraphos  pelos  de  teclado  de  Froment  de 
que  adiante  fallaremos. 

TelCKi'npIios  pnra  os  catntnltos  de 
fcrro.  Nos  telegraphos  construidos  para  o 
servico  dos  earainhos  deferro,  Breguet  eniprega 
a  pilha  de  Daniell  de  vinte  oito  pares,  ainda 
que  so  com  quatorze  pode  transmiltir  um 
despacho  a  trinta  ou  quarenta  leguas  de 
distancia.  Sao  estes  telegraphos  de  letras,  e 
nao  de  signaes. 

0  apparelho  receptor  nao  differe  do  que 
descrievemos  no  §.  11,  unieamente  alem  das 
letras  gravadas  na  circunilerencia  exterior 
do  quadrante,  teni  este  vinlu  ciuco  algarismos 
abertos  na  circuraferencia  interior.  0  mecha- 
nismo  interior  consta  d'um  tanilior  com  moias, 
que  fazem  andar  unia  roda  de  relogiaria. 
Todo  0  mais  processo  e  como  no  telegrapho 
de  signaes. 

0  quadrante  do  apparelho  manipulador 
tern  letras  e  algarismos  gravados  na  sua  cir- 
curaferencia conio  no  apparelho  receptor.  A 
manivela  pode  correr  todos  os  pontes  da  cir- 
curaferencia pondo  em  movimento  uma  roda 
regularmente  sinuosa,  que,  tocando  n'alavan- 
ca,  faz  allernativamente  passar  a  corrente 
electrica,  e  suspendel-a,  eem  cada  movimento 
d'alavanca  o  ponteiro  passa  d'uraa  para  outra 
letra. 


Os  fios  que  transmittem  a  corrente  electrica 
nos  telegraphos  de  Fran?a  e  d'outros  paizes 
sao  collocados  sobre  postes  a  prumo  de  altura 
de  seis  a  nove  metres  acima  da  superficie 
do  terrene  e  a  distancia  de  BO  a  60  metres,  e 
cravados  na  terra  pelo  menos  dois  metres. 
Os  postes  sao  injectados  com  sulfate  do  cobre, 
para  durarem  mais  tempo,  e  que  Ihes  da  a 
cor  verde,  que  apresentam.  Sobre  cada  prumo 
ha  um  pcqueno  apparelho  de  porcellana  em 
forma  de  sine  para  segurar  o  (io  e  o  isolar; 
eniprega-se  a  porcellana  por  serraau  conductor 
da  eleclricidade:  uma  pequcna  forquiiha  de 
ferro  soldado  no  apparelho  de  porcellana 
sustenta   o   fio. 

Os  lies  gcralmente  usados  sao  de  ferro 
galvanisado  de  4  melimetros  de  diametro; 
quando  elles  passam  debaixo  d'algura  subter- 
raneo,  cobrem-se  com  uma  camada  de  gulta 
percha,  ou  introduzem-se  'num  tubo  de  chumbo 
para  evitar  a  humidade,  que  ataca  o  ferro. 
Nos  paizes  era  que  os  postes  sao  substituidos 
por  canos  subterraneos  os  fios  devem  ser 
duplioados  ou  triplicados  e  cada  um  de  per 
si  involvido  em  gutta-percha. 

Telegrapho  <Ie  lec-lado.  Este  telegrapho 
elcctrico,  de  que  M.  Froment  e  o  inventor, 
substitue  com  grande  vantagem  os  telegraphos 
de  quadrante,  que  temos  descripto  summaria- 
mente.  0  seu  machinismo  interior  nao  pode 
descrever-se  sem  entrarmos  em  particularida- 
des  technicas,  que  nao  vera  ao  nosso  intenlo 
expor  aqui,  mas  a  maneira  porque  este  ap- 
parelho funcciona  pode  facilmente  comprehen- 
der-se. 

Compoe-se  este  telegrapho  d'um  teclado 
rectilineo  com  vinte  e  cinco  teclas,  como  o 
d'um  piano  de  quatro  oitavas.  Sobre  cada 
uma  das  lecla.s  esta  gravada  uma  das  vinte  e 
cinco  letras  do  alphabeto,  e  por  baixo  da 
letra  A  ate  a  letra  J  estao  gravados  seguida- 
menle  os  numeros  de  1  a  9 ;  debaixo  da 
letra  A  esta  o  numero  1  e  debaixo  da  letra 
J  a  cifra  ;  na  exiremidade  do  teclado  eslao 
dois  signaes  um  para  indicar  quando  se  falla 
com  as  letras,  e  nutro  com  os  numeros ;  assim 
por  exempio  pode  transmit(ir-se  a  seguinte 
conimunicacao:  sao  4  horas  menos  11  miimtos, 
sem  escrever  todas  as  letras  d'aquelles  nu- 
meros, mas  exprimindo-os  por  cifras. 

0  que  transmitte  o  despacho  carrega  com 
0  dcdo  na  tecla,  que  representa  a  lelra,  que 
elle  quer  exprimir,  e  o  ponteiro  lixa-se  im- 
mediatamente  no  quadrante  sobre  a  letra  cor- 
respondente.  0  que  recebe  o  despacho,  olhando 
para  o  seu  quadrante,  vai  escrevendo  no 
papel  as  letras,  que  o  ponteiro  Ihe  vai  suc- 
cessivanienle  indicando,  e  so  toca  no  teclado, 
quando  quer  responder.  Por  este  processo 
um  despacho  transraitte-se  como  quem  toca 
no  piano  uma  peea  de  rausica.  0  operador 
deve  porem,  ter  cuidado  de  nao  levantar  o 
dedo  d'uma   tecla  sera   ([ue  o  ponteiro  esteja 


120 


tino  na  letra  corrcspondentc  no  quadranlt', 
do  me?mo  modo,  que  tocando-se  'num  orjiao, 
ou  'iiiim  harmonium  so  nao  dove  levanlar  a 
mac  das  lechis  simu  quc^  cllas  tcmham  expri- 
mido  tim  som  prolongado. 

EstP  ingenhnso  apparellio  nao  e  susceptivcl 
dc  desarranjar-se,  e  a  rapidcz  da  communica- 
<ao  ('  tal,  que  para  cscrcver  um  despailio 
iransmiltido  com  presteza,  c  prociso  muita 
practira,  c  expudicao  da  parte  do  ((ue  o 
re(:el)e. 

Na  ordem  dos  lelegraplios  nao  escrevenles 
o  de  Fronient  teni  incoulcstavel  superioridade 
a  todos  OS  rcspeilos,  e  nao  p6de  com  hons 
fundanientos  justilicar-se  a  conservacao  em 
Franra  dos  tclograplios  dc  Breguet,  no  servico 
da  telegrapliia  do  eslado. 

Por  isso  0  governo  francez  conievou  ja 
a  cstabelecer  'nalgumas  linhas  telegraphicas 
o  lelegrapho  de  teclatlo  de  Froment,  que  em 
breve  substituira  completamenlo  os  de  Breguet, 
niachinista  alias  mui  habil  e  distincto. 

Coiitiiina. 


CniMICA  LEGAL. 

Continuado  de  pag.  83. 

Analyse  do  eslomago,  inlestinos  c  outras  aubstan- 
cias,  mandadas  do  concellio  de  Ovar  cm  cinco 
fiascos. 

k  materia  suspeita,  mandada  de  Ovar  para 
esta  comarca  de  Coimbra,  viuiia  acondiciona- 
da  era  4  frascos  de  vidro,  com  a  numeraoao 
seguida  de  1  a  4,  e  n'um  frasco  de  barro 
sem  numero.  No  frasco  n.°  1,  vinlia  uma 
jiorcao  de  intestines  dclgados;  no  frasco  n.° 
*,  todo  0  estomago;  no  frasco  n."  3,  um 
liquido  avermclhado  e  turvo,  composto  das 
materias  que  havia  dentro  do  estomago;  no 
frasco  n."  4.  uma  porciio  de  caldo  com  larinha 
ou  pao  de  miilio. 

As  sul)stancias  d'estes  4  frascos  vinhani 
conservados  eni  alcool. 

0  frasco  de  barro  cnnlinba  bocados  de 
substancia  dura,  em  secco,  quefnziam  k^mbrar 
codoas  de  pao,  misturadas  com  lixo,  terra, 
e  ate  com  espinbas  de  peixc. 

L'raa  parte  dos  intestinos  delgados  do  frasco 
n."  1  foi  carbonisada  com  acido  sulfurico;  o 
carvao  humedecido  com  acido  azotico;  c,  depois 
de  evaporado  ate  a  seccura,  foi  fcrvido  em 
agua  distiilada  por  mais  d'uma  bora.  Filtrou- 
se  e  p6z-se-lbe  a  designacao  a. 

Uma  porcao  do  estomago  do  frasco  d.°  2 
sujeitou-se  ao  mesmo  processo  e  poz-se  ao 
liquido  a  designacao  b. 

Uma  parte  do  li([uido  c  mais  substancias 
do   frasco    n.°   3,    depois    dc   cvaporada    ate 


quasi  a  seccura,  sujeitou-se  ao  mesmo  pro- 
cesso de  carl)onisacao,  licando  o  liquido  iinal 
com  a  designacao  c. 

Ainda  scguimos  o  mesmo  processo  para 
carbonisar  parte  do  pao  contido  no  frasco 
n."  4;  c  pozemos  ao  li(|uido  a  designacao  d. 
As  substancias  coutidas  no  frasco  de  barro 
foram  fcrvidas  em  agua  distiilada  por  mais 
d'uma  hora  ;  e  o  liquido,  depois  de  liltrado, 
guardou-se  com  a  designacao  e. 

Estes  cinco  liquidos,  sujcitos  ao  apparclho 
de  Marsh,  deram  anucis  no  tubo  e  manchas 
na  pnrcellana,  cxcepio  o  liquido  d,  prove- 
nientc  do  ]iao  contido  no  frasco  n."  4,  que 
nao  mostrou  o  menor  indicio  d'estes  anneis 
ou  manchas. 

As  manchas  dos  liquidos  n,  h  offereceram 
a  cor  aloirada  e  o  brilho  metalico  caracle- 
ristico  das  manchas  do  arsenico  ;  e  nas 
manchas  dos  liquidos  c,  e,  apparecia  a  cor 
acinsentada  e  uma  porcao  sem  brilho,  como 
defumada,  que  se  ve  nas  manchas  de  antimo- 
nio,  deixando-se  ver,  na  parte  inferior  das 
manchas  e  aos  lados,  a  cor  e  o  brilho  proprios 
das  manchas  arsenicaes. 

Uecebida  a  chama  dos  liquidos  a,  b,  c,  e 
na  extremidade  d'um  tubo  aberto,  formou-se 
logo  adiante  um  annel  aloirado  e  brilhante. 
Este  annel,  a([uecido  a  lampada  de  alcool, 
desapparect'U,  e  foi  depositar-se  cm  forma  de 
p6  branco  na  outra  extremidade  do  tubo, 
sahindo  ao  mesmo  tempo  vapores  brancos, 
sem  cheiro,  ou  com  um  cheiro  aleacco  (juasi 
imperceplivel. 

Collocado,  por  cinia  da  chania  dos  liquidos 
a,  b,  c,  e,  um  bocado  de  porcellana  humedecida 
com  azotato  de  prata  ammoniacal,  tomou 
logo  a  cor  amarella  do  arsenito  de  prata. 

Exposta  sobre  a  chama  dos  liquidos  a,  b,  c,  e 
uma  gota  d'agua  distiilada  'numa  vara  de 
vidrs,  e  levada  depois  a  uma  uissolucao  de 
azotato  de  prata  ammoniacal,  prodnziu  a 
mcsma  cor  do  arsenito  de  prata. 

A  chamma  do  apparelbo,  proveniente  dos 
liquidos  rt,  b,  c.  e,  cahindo  'numa  dissohicao 
de  sulfato  de  cobre  ammoniacal,  produziu  o 
verde  proprio  do  arsenito  de  cobre. 

A  chama  do  hydrogcneo,  acluaudo  sobre 
as  manchas  dos  li((uidos  a,  b,  fel-as  desap- 
parecercom  promptidao;  e,  sobre  as  dos  liquidos 
c,  c,  fez  tambem  desapparecer  com  promptidao 
0  que  era  aloirado  e  brilhante,  levando  mais 
tempo  a  desapparecer  a  parte  defumada,  c 
mesmo  alguma  parte  brilhante  mas  denegrida. 
Tanto  umas  como  outras  desapparccerani 
cgualmente  com  os  vapores  do  chloro. 

Os  vapores  do  phosphoro  lizeram  desap- 
parecer totalmcnte  as  manchas  dos  liquidos 
a,  b,  e  so  em  parte  as  dos  liquidos  c,  e. 

Os  vapores  do  iodo  deram  a  todas  a  c6r 
amarella  avermelhada ;  mas  esta  cor  desap- 
pareceu  com  promptidao,  e  a  um  calor  brando, 
nos  dois  licjuidos  n.  b,   levando  muito  mais 


121 


tempo  a  dcsapparecer;  e  so  com  um  calor  forte, 
as  dos  liiiiiidos  c,  e. 

0  acido  azotico  a  frio  dissolveu  logo  as 
manehas  dos  liquidos  a,  b;  mas  as  dos  liquidos 
c,  e  so  se  dissolveram  na  parte  niais  aloirada 
e  brilliante,  indo-se  dissolveiido  o  resto  do 
vagar  e  ao  passo  que  se  aqiieciam ;  e  assim 
mesiiio  ainda  licou  por  dissolver  uma  parte  do 
que  parecia  defumado. 

Adissoliiraoazotica  das  manehas  evapnrada 
ate  a  seccura,  e  tractada  pcloazotato  de  prata 
ammoniacal,  antes  de  ter  arrcl'eiido  total- 
mente  o  hoeado  de  poreellana,  mostrou  logo  a 
cor  amarella.  TeniJo  laneado  na  dissolueao 
azotiea  das  nianelias  algumas  gotas  d'aeido 
sulfuroso,  e  traclando-a  depots  pelo  aeido 
sulphydrico,  appaieceu  inimediatamente  a 
mesnia  edr  amarella. 

O.residuo  da  evaporaeao  da  dissolucao 
azotiea  das  manclias  dos  liquidos  a.  b,  c,  e 
dissolvido  em  agua  dislillada,  ligeiramente 
acidulada  com  aeido  cidorydrico,  e  exposto 
a  uma  correnle  do  acido  sulphydrico,  deu, 
passadas  24  horas,  um  precipitado  amarcilo 
cauario.  Uma  parte  d'este  precipitado,  sujeito 
a  accao  do  amoniaco,  pareceu  dissolver-se 
completamente ;  e  a  outra  parte,  tratada  pelo 
acido  chlorhydiico  e  sujeito  a  um  calor  hrandu, 
cao  sofl'rcu  alteracao  sensivel. 

Os  anneis  dos  liquidos  a,  b  eram  brilhantes 
e  amarcllados;  em  quanto  que  os  proven ien- 
tes  dos  liquidos  c,  c  cram  d'uraa  edr  de 
cbumbo  denegrida,  quasi  sem  brilho,  e  muito 
raaiorcs  que  os  primeiros. 

Sujeitos  a  uma  corrente  de  gaz  acido  sul- 
phydrico e  a([uecidos  com  a  lampada  d'alcool 
do  lado  opposlo  a  direccao  do  gaz,  formou-se 
adiante  da  chama  o  aunel  do  sulfureto,  d'um 
amarello  cauario  muilo  desvanecido  nos  anneis 
dos  liquidos  n,  b,  c  um  pouco  mais  tostado 
nos  anneis  dos  liquidos  c,  e;  e  notando-sc 
'nesies  uliimos  uma  zona  menos  intensa,  que 
separava  dois  anneis  mais  carregados  de  sul- 
fureto, sendo  o  menos  dislante  um  pouco 
mais  tostado  do  que  o  outro. 

Fazendo  depois  atravessar  pelos  mesmos 
luhos  uma  corrente  de  gaz  acido  chlorhydrico, 
nao  sollreram  alteracao  os  anneis  do  sull'iirelo, 
ou  apenas  diminuiram  um  pouco  de  intensi- 
dade;  mas,  empregando  o  mesmo  acido  liquido, 
dissolveu-se  uma  parte  muito  mais  sensivel 
de  todos  OS  anneis  era  todos  os  tuhos.  Lavados 
com  agua  distillada,  e  sujeitando-os  depois 
a  amnioniaeo  liquido,  dissolveu-se  com  promp- 
tidao  a  parte  dos  anneis  que  tinha  resistido 
ao  acido  chlorhydrico.  Em  lodos  estes  ensaios 
se  notou  (|ue  a  parte  dissolvida  pelo  acido 
chlorhydrico,  nos  anneis  dos  liquidos  c,  e, 
era  proporcionalmente  maior  que  a  dos  li- 
quidos a,  b. 

Corao  reagentes  sobre  os  liquidos  suspeitos, 
erapregiimos  o  sulfato  de  cobre  ammoniacal,  o 
azotato   de  prata,    o  azolalo  de  chumho,  o 


sulphydrato  ammonico,  o  acido  sulphydrico, 
a  agua  de  cal,  a  potassa,  e  o  amraoniaco.  De 
todos  estes  reagentes,  so  derani  resultados 
coherentes  com  os  do  apparelho  de  Marsh 
0  suH'ato  de  cobre  ammoniacal,  que  produziu 
um  precipitado  com  a  cor  verde  do  arsenito 
de  cohre  no  liquido  b,  e\  a  sulphydrato  am- 
monico, que  deu  no  liquido  c  um  precipitado 
com  a  cor  amarella  do  sulfureto  de  arsenieo; 
e  0  acido  sulphydrico,  que,  nos  li(|uidos6,  c,  e, 
deu  grande  precipitado  amarello  cauario, 
solnvel  no  animoniaco,  e  iujoluvel  no  acido 
chlorhydrico,  e,  se  alguma  porcao  deixou  de 
ser  dissohida  no  1."  reagente  e  o  foi  no 
1.°,  era  relativamcnle  tao  pequena,  que  nao 
se  tornou  apreciavel.  No  li(|uido  a  era  mais 
desvanecida  a  cor  amarella  com  o  acido 
sulphydrico  eo  precipitado  muito  menor;  mas 
lamhem  se  pode  conheccr  a  sua  prompta 
soluliilidade  no  ammoniaco. 

Como  0  liquido  rf,  da  substancia  conlida  no 
frasco  n.°  4,  nao  tinha  mostrado  os  indicios 
de  veneoo  que  apparcceram  em  todos  os  mais 
liquidos,  repetimos  o  mesmo  processo  de 
destruicao  d'esta  substancia,  operando  'numa 
retorta  com  o  collo  mergulhado  em  agua. 
Sujeilamos  ouira  porcao  da  mesma  substancia 
a  ehulicao  em  agua  dislillada  por  mais  de 
2  horas,  e  tamhem  dentro  d'uraa  retorta 
com  0  collo  mergulhado  era  agua.  Ainda  a 
sujeilamos  ao  processo  de  destruicao  por 
meio  da  agua  regia,  mettendo  uraa  porcao 
de  materia  suspeita,  com  egual  pezo  de  agua 
regia  nascente,  'numa  retorta  coramunicada 
com  um  frasco  vasio  e  constanteraenle  rel'ri- 
gerado  cora  agua,  e  este  frasco  coramunicado 
com  uma  pequena  camada  d'agua  dislillada 
no  fundo  d'um  segundo  frasco,  que  termi- 
nava  superiormente  por  um  tubo  de  \\'elter, 
em  cuja  curvaUira  tamheni  se  achava  agua 
distillada.  A  lampada  de  alcool,  favorecendo 
primeiro  a  destruicao  das  materias  organicas 
na  agua  regia,  fez  depois  distillar  o  li(|Hido 
da  relorta  ale  o  deixar  reduzido  a  vigesima 
parle  pouco  mais  ou  menos,  aproveitando-se 
a  linal  o  liquido  distillado,  que  se  raisturou 
cora  a  agua  do  segundo  frasco  e  do  tubo  de 
Welter. 

Todos  OS  liquidos  ohlidos  por  estes  trez 
processos  preparatorios  forani  sujeitos  ao  ap- 
parelho de  Marsh  e  aos  reagentes  que  ti- 
nhara  indicado  o  veneno  nos  liquidos  a.  b, 
c,  e,  sem  que  niostrassem  o  raenor  indicio, 
d'aquelle  veneno.  Alera  d'isso  ainda  o  liquido 
que  resullou  do  processo  de  destruicao  por 
meio  de  agua  regia,  foi  sujeito  a  uma  cor- 
rente de  acido  sulphydrico,  que  deu  e  verda- 
de  um  precipitado  amarello,  raas  que  se  reco- 
nheceu  ser  so  de  enxofre,  e  niJo  de  sulfureto 
de  arsenieo  ou  de  antinionio,  por  que  o  ani- 
moniaco nao  Ihe  dissolveu  porcao  nenhuma, 
nem  o  acido  chlorhydrico. 

De  todos  estes  processos  conduiraos  ([ue 


122 


sc  achavam  cnvenenadas  com  arsenico  as 
substancias  contidas  nos  frascos  1,  i,  3,  e  no 
fiasco  de  barro,  isto  e,  os  intestinos  delga- 
ilos,  0  eslomago,  uni  liquido  avermelhado 
com  substancias  parecidas  com  alimentos  en- 
contrados  'iicsla  viscera,  e  iima  mistura  de 
pao  de  milho  muilo  secco,  espinlias  de  jieixe, 
lixo,  e  outras  substancias  desconhecidas. 
Que  juntamente  com  o  arsenico  bavia  tarn- 
hem  0  tartaro  emetico  on  outro  composto  de 
antimonio,  e  em  grande  qiiantidade  nas  ma- 
terias  dos  frascos  H  e  o,  c  provavelmcnte  em 
l)cquena  quantidade  nas  materias  do  1  e  2 
irasco.  E  que  a  quantidade  do  veneno  en- 
contrado  no  eslomago  e  intestinos,  era  em 
proporcao  sufticienle  para  tcr  produzido  a 
iiiorte  por  envenenamenlo.  Concluimos  tam- 
iiem  que  o  pao  fermeiUo,  ou  farinba  com  cal- 
do,  que  se  acbava  no  frasco  n."  4,  nao  con- 
linha  arsenico  nem  antimonio,  nem  os  seus 
rompostos. 

Uma  parte  das  substancias  analysadas  ficou 
guardada  em  frascos  cintados  e  lacrados  com 
0  sinete  do  presidenle  da  commissao,  e  rubri- 
cados  pelo  mesmo  presidente. 

Coritiniia. 


A  MUSICA. 

0  gosto  e  0  cnsino  da  musica  tern  feito  na 
primeira  metade  d'esle  seculo  grandes  e  in- 
contestaveis  progresses  em  Franca.  A  crea- 
ciio  do  conservalorio,  e  da  eschola  de  Cho- 
ron ;  o  ensino  dos  elementos  da  musica  pelo 
methodo  de  Wilhem  e  de  seus  emulos,  que, 
se  tern  generalisado  entre  as  classes  opera- 
rias;  0  grande  movimento  da  musica  drama- 
tica,  que  dotou  a  opera  dos  Sponlini,  dos 
Rossini,  e  dos  Meyerbeer;  a  opera  comica 
dos  Cberubini,  dos  Mebul,  Boieldieu,  llerold, 
e  Auber;  o  theatre  italiano  dos  Rossini,  Bel- 
lini, e  Donizetti;  os  concertos  da  sociedade 
do  conservatorio,  fundado  i>or  Ilabeneck,  que 
lizeram  conliecido  o  talento  de  Beethoven, 
e  as  obras  primas  da  musica  instrumental, 
tern  lancado  no  publico  unia  variedade  de 
conbcrimenlos  e  de  formas  divorsas,  que 
apnrando-Ilie  o  gosto,  o  tem  tornado  mais 
severo,  e  cxigente  na  apreciacao  dos  talentos 
e  produccoes  musicaes;  e  cis  aqui  porque  os 
curiosos  da  arte  encontram  hnje  menos  favor 
nos  concertos,  que  vao  sendo  cada  anno 
menos  frequentados,  ao  mesmo  passo  que  o 
estudo  da  arte  progridc,  c  que  o  numero  e 
(jualidade  cos  artistas  distinctos  em  todos  os 
ramos  de  musica  vocal  c  instrumental  attesta 
0  subido  grau  de  perfeirao  que  ella  lem  alcan- 
cado  era  Franca  e  noutros  paizes.  Podera 
cilar-se  entre  os  cantores  francezcs  Garat, 
Martin.  Ponchard,  Nourrit,  Levasseur  e  Du- 
prcz;  na  ordem  das  cantoras  Branchu,  Damo- 


reau,  Falcon;  no  thcatro  italiano  Crivelli, 
Garcia,  David,  Rubini,  Mario,  Pellegrini, 
Galli,  Zucchclli,  Lablache;  entre  as  cantoras 
Barilli,  Catalani,  Pasta,  Sontag,  Malibran, 
Grisi,  Persiani,  e  Alboni. 

Os  violonistas,  que  tantas  relacoes  de  pa- 
rentesco  ligam  aos  cantores,  nao  tiim  sido 
menos  numerosos:  Viotti,  Bode,  Lafont,  Bail- 
lot,  e  Paganini  s3o  £rtistas  de  primeira  or- 
dem, a  que  so  podera  comparar-se  como  pia- 
nistas  Sleibeit,  Dussek,  llerz,  Listz  e  Thai- 
be  rg. 

0  estudo  do  pcqueno  rabecao,  e  dos  diffe- 
rentes  instrumentos  de  sopro  tem  feito  as- 
signalados  progresses.  A  tbeoria  e  a  historia 
da  musica  tem  sido  tractada  magistralmente 
por  Choron,  Perne,  e  principaimente  por 
Fetis,  distinctos  e  eruditos  escriptores,  que, 
cstudando  os  raonumentos  das  epochas  ante- 
riores,  t6m  mostrado  a  relacao  das  formas 
contemporaneas  com  esses  antigos  modclos. 

No  meio  porem  d'este  brilhante  concurso 
de  intelligencias  superiores,  de  artistas  de 
relevantc  merilo,  de  talentos  raros,  cujas 
sublimes  produccoes  e  primorosa  execujao 
enlevam  o  espirito  e  arrebatam  a  attencao , 
uni  grande  numero  de  curiosos,  sera  gosto, 
nem  arte,  tera  invadido  os  dominios  da  mu- 
sica, e,  animados  pelos  mal  entendidos  ap- 
plausos  da  imprensa  periodica,  tem  querido 
impdr  ao  publico  como  obras  primas  da  arte 
as  suas  mesquinhas  composicoes,  nao  sendo 
mais  felizes  na  execucao  das  pecas  dos  me- 
Ihores  auctores,  de  sorte  que  nao  raro  accon- 
tece  nos  grandes  concertos  ouvir  ou  raas  com- 
posicoes, ou  excellentes  rausicas  mal  desem- 
penhadas  por  simples  curiosos,  que  uma 
ephemera  reputacao  apregoa  como  artistas 
consummados,  e  por  ventura  corao  genios 
transcendentes. 

Tal  e  0  resultado  da  falsa  aprcciac.io  das 
obras  artisticas  feita  por  escriptores  ou  estra- 
nhos  a  arte,  e  que  exprimem  so  a  sensafiio  que 
experimenlaram,  ou  a  do  publico,  tao  pouco 
entendido  como  elles;  ou  dos  que,  tendo  al- 
guns  conhecimentos  da  musica,  fallam  dos 
auctores  e  das  suas  composicoes,  como  se 
foram  grandes  sabedores,  exaltando-os,  ou 
deprimindo-os  segundo  a  sua  ])hantasia,  ou 
OS  seus  interesses.  E  este  abuse,  de  que  desde 
1830  a  imprensa  periodica  em  geral  lem  dado 
0  pernicioso  exemplo,  conduz  inevitavelraen- 
te  a  decadencia  da  arte.  Entretanio  d'estas 
duas  classes  de  pseudo-criticos  a  menos  peri- 
gosa,  e  de  certo  a  raais  conscienciosa,  e  a 
d'aquelles,  que  se  limitam  a  exprimir  as  sen- 
sacoes  que  Ihes  causara  a  execucao  de  uma 
peca  de  musica,  ou  o  elfeito  que  produzira 
na  maioria  dos  expecladores. 

A  sensacao  e  um  facto,  cujo  valor  e  mister 
averiguar,  e  cuja  causa  e  neeessario  desco- 
brir ;  mas  para  achar  a  causa  e  assignar  o 
valor  do  efl'eito  que  produz  uma  peca  de  mu- 


123 


sica,  nao  basta  saber  musica,  e  precise  co- 
nhecer  o  «  passado  da  arte  »  porque  elle  in- 
flue,  e  prepondera  sobre  as  nossas  aegOes 
como  uma  atmosphera  moral,  que  nos  cerca 
desde  que  abrimos  os  ollios  a  luz  da  razao  ; 
e  se,  como  diz  Leibnitz,  o  conbecimento  das 
obras  priraas  reconbccidas  taes,  e  a  sua  tra- 
dicao  «  sao  os  ciemenlos  de  que  se  compOe 
0  progresso  do  future  era  todas  as  cousas,  » 
esta  tradicao  e  absolutaraciUc  necessaria  para 
julgar  as  obras  da  arte  musical. 

A  musica  e  de  todas  as  artcs  a  que  mais 
profundaraente  nos  toca,  dirigiudo-se  primei- 
ro  a  nossa  sensibilidade  physica  antes  de 
transformar-se  'num  senlimento  d'aluia;  so 
ella  tem  o  condao  de  penetrar  ate  ao  niais 
intimo  da  vida;  e  aquelle  que  nao  csliver 
bem  ao  facto  dos  termos  de  comparacao  e  dos 
principios,  (jue  explicam  o  seu  valor,  podera 
ficar  arrebalado  pela  primeira  nota  nova,  que 
ouvir;  mas  scm  aquellas  disposicoes,  dilficil, 
se  nao  impossivel,  e  ciassilicar  as  nossas  sen- 
sacoes  era  relacao  a  musica,  e  assignar-lbes 
0  compctente  logar  na  ordem  dos  conbeci- 
mentos,  ponpie  de  todas  as  sensaeoes  as  raais 
difficeis  de  ciassilicar  sao  as  que  em  nos  ex- 
cita  a  musica. 

Vaga  em  seu  objecto,  quasi  tao  rapida  co- 
mo a  luz,  a  musica  nao  deixa  apos  de  si  no 
espirito  ligacao  alguraa  que  Ibe  permitta  medir 
a  sua  prolundeza  e  verdade.  L'm  antigo  escri- 
plor  notara,  que  se  dizia  «  que  os  olhos  me- 
reciam  mais  conlianca,  que  os  ouvidos,  no 
que  nao  punha  duvida,  mas  que  sobre  ludo 
era  mais  dillicil  de  os  persuadir,  e  que  para 
convencel-os  era  necessario  um  maior  grau 
de  evidcncia.  Os  olhos  beam  litos  sobre  um 
objecto;  mas  as  palavras  que  soam  aos  ouvi- 
dos cadentes  e  barmoniosas  podem  scduzii-os 
e  desvairal-os.  » 

Estas  palavras  resumem  precisamente  a 
questao,  que  em  sens  problemas  Aristotelcs 
propozera.  "Porque,  dizia  elle,  so  as  sensa- 
eoes do  ouvido  produzem  uma  impressao  mo- 
ral, era  quanto  a  vista,  oolfato,  e  ogosto  nao 
produzem  um  Lai  efl'eilo?  n  Esta  questao  pby- 
siologica  e  psycbologica  foi  o  assumpto  da 
notavel  obra  de  Lessing,  o  Liiocoon. 

Todavia  a  musica,  como  todas  as  outras  ar- 
tes,  tem  seus  principios,  e  suas  leis  tanto  na 
ordem  mcllodiosa,  ou  da  successao,  como  na 
da  simultaneidade  ou  d'barmonia.  Mas  onde 
poderao  cncontrar-se  estes  prijicipios  de  uraa 
arte  tao  fugitiva,  eque  tao  niysteriosa  parece? 
Duas  sao  as  fontes  que  Hies  dao  origem:  pri- 
meiramente  a  tradicao,  a  bistoria  dos  proces- 
ses e  das  formas,  que  nos  tern  prccedido,  e  o 
estudo  dos  monuraentos:  depois  a  natureza 
humana,  invariavel  na  sua  essencia.  A  litte- 
ratura,  a  poesia  e  todas  as  outras  arles  nao 
foram  buscar  'noulras  fontes  a  sua  filiacao,  e 
OS  tiliilos  que  as  nobilitam.  A  psycbologia  e  a 
historia,  isto  e,  o  estudo  das  nossas  faculda- 


des,  e  dos  factos  externos,  que  sao  o  resulta- 
do  do  seu  desinvolvimento  no  tempo,  e  no 
espaco,  sao  os  verdadeiros  mananciaes  dos 
conhecimentos,  onde  a  arte  musical  foi  tam- 
bem  buscar  os  principios  per  onde  se  rege. 

Onde  existem,  porera  esses  monumentos  da 
arte  musical,  (jue  e  indispensavel  tonhecer 
para  avaiiarmos  com  exactidao  as  composi- 
coes  conteraporaneas?  Os  muzeus,  as  biblio- 
thecas,  e  as  eseliolas  possueni  os  mais  pre- 
ciosos  e  admiraveis  monumentos,  as  obras 
priraas  da  piniura,  da  escullura  e  da  poesia. 
lla  curses  piiblicos  consagrados  ao  ensino 
dos  diversos  ranios  da  litteratura  e  das  bellas 
artes,  da  sua  bistoria,  e  dos  seus  monumen- 
tos; e  a  comparacao  cntre  as  raodernas  pro- 
duccOes,  e  esses  primores  d'arte,  que  a  antigui- 
dade  nos  legara,  corrige  os  erros  gro.sseiros 
de  uma  critica  ignorante  ou  parcial,  que  ora 
condenina,  ora  exaica  as  obras  dos  auctores 
conteraporaneos, 

A  tradiciSo  da  musica  moderna  compoe-se 
da  reuniao  de  duas  grandes  escholas,  que  sao 
a  expressao  de  duas  racas  de  genios  muito 
dilTerentes:  a  eschola  italiana,  e  a  alleraa.  Por 
Cimarosa,  Rossini,  Jomelli,  Scarlatti  e  Caris- 
simi  sobe-se  ate  ao  Ihrono  de  Palestrina,  que 
termina  a  meia  edade;  por  Gumpeltzbeimer, 
Ilasler,  Keyser,  Sebastiao  Bacb,  Ilaendel, 
Haydn,  Mozart,  Beethoven,  Weber,  Schulbert 
e  Mendelssohn  desce-se  ate  Meyerbeer,  que 
domina  o  confluente  d'estes  dois  grandes  rios. 

Anteriormente  a  Palestrina,  desde  o  fim  do 
seculo  XIV  ate  a  segunda  metade  do  seculo 
XVI  uma  numerosa  familia  de  contrapontistas 
belgas,  de  que  o  mais  celebre  fdra  Jozquin 
Despres ,  occupa  um  logar  importante  na 
historia  da  musica,  durante  esta  cpocha; 
pbenomeno  notavel  ainda  nao  sulScientemen- 
te  explicado.  Entre  a  eschola  allema  e  a  ita- 
liana, as  unicas  que  sao  autochthonas,  e  ver- 
dadeiraraente  originaes,  tem  logar  a  de  Fran- 
ca, cujo  genio  cssencialmente  dramatico  so 
tem  procurado  'naciuellas  duas  grandes  escho- 
las as  inspiracots  rausicaes,  que  serviam  aos 
seus  instinctos;  e  e  por  isto  que  a  eschola 
franceza  se  aproxima  raais  da  italiana  que 
d'allenia,  e  os  seus  trabalhos  sao  uni  syncre- 
lismo  um  tanto  parcial  do  genio  do  Norte  e 
do  Mcio  dia. 

Se  estas  ideas,  que  apenas  enunciamos 
aqui,  fossem  professadas  em  curses  publicos, 
cuja  necessidade  e  de  todo  o  ponto  reconhe- 
ci(ia,  uma  falsa  critica  nao  faria  publicar 
diariamente  os  mais  grosseiros  erros  sobre 
as  diversas  composicoes  da  arte  musical. 

A  intervencao  dos  compositores  de  rausicu 
na  imprensa  jornalistica  tem  concorrido  tam- 
bem,  era  nao  peguena  escala,  para  desauclo- 
risar  a  critica  moderna.  L'm  musico  dotado 
dos  conhecimentos  e  da  instruccao  necessa- 
ria para  expressar  convenientemente  o  seu 
juizo  sobre  (jualquer  coraposicao,   ou  acerca 


124: 


da  sua  oxecuvao.  (iiflicilmcnlc  o  podcria  fazer 
coin  a  imparcialidadc,  (iiie  iima  sevora  critka 
exige.  porqiie  pola  mcsma  natuieza  das  toii- 
sas  0  artisla  creador  k  soiiipie  cxclusivo,  c 
iiao  da  valor  senao  a  forma,  que  e  a  cxprcs- 
siio  da  sua  individualidade.  «  Eu  nao  goslo 
sciiao  da  minlia  nuisica,  dizia  ingciiuaincnU' 
GiTtry,  porquc  e  obra  miiiha.  »  0  inlinio 
pensamcnto  do  todos  os  compositores  e  cstc; 
('  (]uanto  maior  lor  o  si'u  talcnlo,  em  mais 
suhido  prcro  hao  de  tor  n  I'rurlo  das  suas 
liicubraroes.  \  hisloria  a  cada  passo  apresen- 
la  cxi'inplos  de  injuslissiiuas  i-riticas  dos  mais 
distiiictos  arlistas  contra  os  contemporaiieos 
seus  emulos,  \  prnposito  de  iiin  quadro  de 
Ticic-no  dizia  Miguel  Aiigelo:  «  E  grando  ]jena 
quo  niio  liouvcsse  cm  Veneza  quern  soiiliesse 
desenliar. »  Com  egiial  iiijustiea  lieellmvon 
Iralou  Rossini;  e  Maendol  dissi-  .<  cjuc  (lIuiU 
nao  saliia  mais  musira,  que  oseu  cosinlieiro.  » 
«  0  verdadeiro  artista  apaixonado  pela  sua 
arte,  dizia  Stendhal  na  hixtoria  ihi  finturu 
italiana ,  e  essencialmente  intoleranle  e  se 
tivesse  na  sua  mao  a  aucloridade,  scria  um 
despota.  »  h.  qualidado  opposta  e  a  que  preci- 
fiamonte  constilue  a  verdadeira  critica.  A  im- 
pcrsonalidade,  a  aplidao  para  compreheader 
e  admirar  as  obras  diversas  dos  divcrsos  ge- 
nios,  assignando-llie  o  logar  que  Hies  compete 
no  grande  livro  da  vida,  tal  (i  o  verdadeiro 
caracter  da  critica,  como  a  exercerara  Schle- 
gel,  Grimm  e  Diderot;  e  sem  estes  elementos 
a  critica  da  musira  moderna  longe  do  apcr- 
feicoar  a  arte,  ecorrigir  as  suas  impeneieocs,' 
concorreni  para  a  sua  decadencia. 

A. 


RELACAO 

Uos  individuos  nomrados  para  os  se(]>iliiti's  Ingarrs 
il'instruccaa  publica.  por  drspaclws  do  Coitsr- 
Ihn  superior  d'inslrucfuo  piiblicn  dcsde  o  dia  13 
all'  an  fun  de  jiilho,  e  bem  asiiin  por  decrelos  e 
portarias  do  Ooverno,  communicadas  ao  mesmo 
Consdho   superior    no  indicado  periudo. 

i.\sTniir.(;AO  pnuiiiiiA. 

Joaqiiim  Lourciro  ScrraiKi,  para  profossiir 
ti-mporario  da  cadeira  d'Olhalvo,  dislricto  de 
l,isboa. 

Antonio  dc  Gouvea  c  Silva,  para  a  de  Vclla, 
(lisiricto  (la  Guarda. 

Jd.ao  Caelano  Percira  de  Sousa  Pinto,  para  a 
de  I.oures,  dislricto  de  Lisboa. 

Joao  JIamiel  da  Conceirao,  para  a  de  Alfun- 
d.To,  dislricto  de  Beja. 

.loaqiiira  Pedro  Teixcira,  para  a  d'AIdea  de 
(iiiies,  dislricto  de  Faro. 

Jose  Joaquim  Ferroira,  para  a  de  Canas  de 
Sabugosa,  districio  do  Viseu. 

Manuel  Maria  do  Conto  Albuquerque  eCunha, 
para  a  ilc  Gradil,  dislricto  de  Lisboa. 


I.uiz  Gaudcncio  d'Almeida  Benevides,  para 
professor  snbslitiito  da  de  Boucas  em  quanto  du- 
rar  o  inipedimenlo  do  proprielario. 

Jose  Uiiherlo  dos  Reis,  para  professor  vitali- 
cio  da  de  Contevel,  dislricto  de  Saiitarcm,  por 
decrclu  dc  11  dejulho. 

I.NSTRDCt.iO  SECUNDARIA. 

Jose  Joaquim  Fcrrcira  Guimaraos,  para  pro- 
fess'.r  vilalicio  da  eadeira  dc  Arithmelica.  Alge- 
bra F.l(  inenlar,  Georaetria  .Syiilbelica  Klementar 
0  Principios  de  Trigonomctria  Plana  e  Geographia 
Matbemnlica  do  Lyceu  nacional  do  Porto,  por  de- 
creto  de  IH  de  jnlho. 

Antonio  Auguslo  de  Figueircdo  Andrade  e 
Silva,  para  professor  temporario  da  cadeira  de 
I.atim  d'Idanha  a  Nova,  dislricto  dc  Castello-Bran- 
co,  por  porluria  de  '2'.i  de  julho. 


Bcspachos  dictos  desde  o  4.°  ate  o  dia  fS 
d'Ai/osto. 

INSTRCC(AO    PRIMARIA. 

Domlngos  do  Carmo  e  Rego,  para  professor 
temporario  da  cadeira  dc  Colmcas,  distrieto  dc 
Leiria. 

Jose  Bernardo  de  .\yres,  para  a  da  Villa  de 
Terrcira,  districio  de  Beja. 

Jose  Dias  de  Mesquita,  para  a  de  S.  Joao  do 
Brito,  dislricto  de  Braga. 

Luiz  Manuel  dc  Sa  Vilhegas,  para  a  dc  Chaves, 
districio  de  Villa  Real. 

Rodrigo  Teixcira  Pinto  de  Sonza,  para  a  de 
,\lvacoes  do  Corgo. 

Jose  Pircs  das  Neves,  para  a  de  Silvares, 
distrieto  de  Caslellu-Branco. 

Jose  Candido  da  Silva,  para  professor  vilalicio 
da  cadeira  de  S.  Marliiiho  do  Porto,  districio  de 
Leiria, 

Klorcncio  de  Sonza  Sanlos,  para  a  de  Gallcgos, 
dislriclo  do  Porto. 

Fernando  Maria  Percira  Machado,  para  a  dc 
.Sandomil,  distrieto  da  Guarda. 

Alaria  Emilia  da  Cunha,  para  mcsira  de  mc- 
nin^  do  Fiuichal. 

IXSTBCCflO  seccndahia. 

Joaquim  Freire  de  Macedo,  para  subslilulo  das 
cadeiras  S.^  c  6."  do  lyceu  nacional  de  Lisboa. 


ALMANACK  DE  I'ORTL'GAL. 

Para  o  anno  dc  1855  pelo  sr.  Luiz  Tr/ivnssos  f'aldez. 

O  Alniiinack  de  Portug:al  que  o  sr.  Yaldez  den  a  luz 
ne  presente  anno,  e  sf;};uramente  a  obra  mais  cumjdeta 
(|ue  neste  genero  se  tern  publicado  entre  nos. 

Os  antiijus  Almanacks,  de  que  o  ultimo  foi  o  de  1825, 
I'^ta^am  mui  lonj^e  de  abraiifjer  as  muitas  ciiriosas  noli- 
cias  que  se  encontram  no  do  sr.  Valdez. 

E  um  livro  mui  util  e  interessante,  e  de  que  repeti- 
das  vezes  «'  necessario  fazer  uso;  e  seru  muito  para  dese- 
jai"  (pie  0  A.  nao  desanime ,  proseguindo  n«ts  aiinos  se- 
jjuinles  csta  irajjortante  publicarao. 

Orf  poucnse\<'mplares  (jue  restam  d'este  edicV  acham- 
se  a  venda  na  loja  da  im|trensa  da  uiiiversidade  por  50O 
reis. 


? 


njstititta) 


.lORISAL    SCIElNTinCO     E     LITTERARIO. 


RELATORIO 

Solti'c  o  cMtailo  prcMcnip  (la  insiSi'iccrsio 
pi^blira  o  partiJ-iiEai-  do  (>if>lD->c-)o  u<l- 
miiniNU-actDvo  do  FigiicSinl  ciis  iiaai'io 
do  I  S55. 


Conliniiado  tie  )'ag.  116. 

CAPITXILO    III. 

Crtapao  de  novas  escholas,  c  mcilior  cotloea(ao 
das  cxistentes. 

Segundo  o  men  niodo  de  ver  entendo  que, 
em  regra  geral,  este  dislriclo  careee  de  trez 
especies  de  escholas  de  ensino  primario, — 
urbanas,  concelliias  e  ruraes. 

Na  capital  do  districto  liavera — iinia  escho- 
la  do  1."  grau  para  meiiinas,  oulra  noctunia 
para  aduttos,  e  outia  do  "2.°  grau  para  meiii- 
nos.  Os  ordenados  dos  professores  e  mcstra 
d'estas  escholas,  segundo  as  indicacoes  do  ca- 
pitulo  antecedente  imporlaiao  na  somma  11- 
quida  de  reis  352^100  per  annum. 

Em  cada  uma  das  villas  ou  cahccas  de 
toncelho,  havera  uma  eschola  do  1.°  grau 
para  meninos,  e  uma  eschola  elementar  para 
meninas.  E  como,  fura  do  concelho  do  Fun- 
chal,  ha  so  oito  cnncelhos,  as  dczeseis  escho- 
las que  tenho  a  honra  de  proporj  custarfam 
annuaimente  ao  ihesoifro-a  4uau'ti»;i..Ji!^Rida 
de  reis  1:728^000.  -«•>-—  '■^*^.-  .-^ii"-*' 

Em  toda  a  freguezia  rural,  que  reunir  mais 
de  200  creancas  em  edade  de  appreiider,  ha- 
vera uma  eschola  elementar  para  meninos, 
cujo  professor  so  lera  ohrigacao  de  ensinar, 
'numa  sessao  diaria,  a  ler,  escrevcr,  contar, 
doutrina  e  moral  christa.  Ora  as  unicas  fre- 
guezias  ruraes ,  que  fora  do  concelho  do 
Funchal,  estao  'nestas  condicoes,  sao,  como 
se  ve  do  mappa  n.°  2,  dezoito.  A  despeza,  que 
tera  de  fazer  o  Ihesouro  com  as  respectivas 
escholas,  sera  a  de  reis  l:94i^000  per  an- 
num. 

A  despeza,  que  presentemente  faz  o  thcsou- 
ro  com  as  quatorze  mas  escholas  que  existem, 
orca  pela  quantia  liquida  de  reis  l:66o^3i0. 
Subtrahida  que  seja  esla  quanlia,  da  impor- 
tancia  total  de  reis  4:224^160,  que  tera  de 
Vol.  IV.  Setembro  1.° 


custar  0  systenia  d'escholas  priniarias,  (jiie 
tenho  a  honra  dc  propdr;  segue-se  que  urn 
modico  augmento  de  despeza,  na  importancia 
de  reis  2:bS8^820,  seria  sutliciente  para  do- 
tar  este  paiz  com  um  mais  perfeito  systema 
de  escholas,  a  saber: 

Uma  do  2."  grau  para  meninos, 
que  fara  tambcm  as  vezes  de 
eschola  modelo  ou  normal  .   .       222|i080 

Uma  nocturna  para  adultos    .   .       222^080 

Uma  do  1.°  grau  para  meninas       1( 

Oito  escholas  do  1.°  grau  para 
meninos 

Oito  dictas  elementares  para  me- 
ninas         864^000 

Dezoito  dictas  elementares  para 
as  freguezias  ruraes,  que  reuni- 
rem  mais  de  200  educandos  .   1:944^000 


Sao,  ao  todo,   37  escholas,   que 

custam  ao  thesouro 4:224^160 

Case  porem  os  apuros  do  thesouro  nao 
permittam  realisar  desde  ja  oste  accrescimo  de 
despeza,  sera  forca  supprimir  as  oito  escholas 
elementares  de  meninas,  ou  por  a  cargo  das 
respectivas  municipalidades  a  despeza  com  os 
ordenados  das  mestras.  Em  todo  o  caso,  sao 
864^000  reis,  que  deduzidos  da  importancia 
de  reis  2:ao8^820,  reduzem  o  accrescimo  de 
despeza  para  o  estado  a  insignificante  quan- 
tia de  reis  1:694^820. 

Afora  a  insignificancia  do  angmento  de 
despeza  para  o  systema  de  escholas  priniarias 
que  tenho  a  honra  de  proper,  ainda  outra 
razao  ha  para  que  o  governo  de  Sua  Majesta- 
de  nao  denegue  a  este  paiz  a  creacao  de 
mais  23  escholas:  —  essa  razao  e  a  cquidade, 
que  0  governo  como  pae  commum  deve  ter 
para  com  todas  as  povoacOes  do  reino,  segun- 
do a  grandeza  e  importancia  politica  e  eco- 
nomica  de  cada  uma. 

No  continente  do  reino  nao  ha  nenhum 
dislricto  administrativo,  por  mais  pequeno  e 
obscuro  que  seja,  que  nao  tenha  mais  de 
quarenta  escholas  priniarias.  E  ao  passo  que 
0  districto  de  Yiseu  conta  120,  o  populoso 
districto  do  Funchal,  cuja  capital  e  a  tercei- 
ra  cidade  do  reino,  nao  tern  mais  que  14 
escholas  priniarias  —  apenas  cinco  escholas 
— 1853.  Num.   11. 


126 


mais,  que  o  obscure  districlo  da  Ilorta!  .  . . 
A  injustica  salta  aos  olhos. 

No  coiitinenle  do  reino,  para  unia  povoa- 
eao  de  3.412;500  almas,  ha  1;11G  escliolas 
priniarias.  No  dislricto  do  Funchal,  jiara 
uma  povoariio  dc  10i);000  almas,  ha  so  14 
escholas  piihlicas!  Sc  o  quo  a  justica  |)odc 
e  que  0  governo  cuide  eyuidmenle  da  institic- 
cao  primaria  de  todas  as  povoacoes,  a  relarao 
que  ha  enlre  a  povoarao  do  (•ontinente  do 
reino,  e  a  d'este  dislricto  administralivo, 
exige  que  nelle  haja  nada  menos  que  V.) 
escholas — numero  superior  ao  do  syslenia  de 
escholas  que  proponho. 

CAPITULO     IV. 

Custeamento  das  escholas. 

Em  vao  teria  o  estado  I'eito  um  esforro 
para  crear  37  escholas  onde  ate  agora  so 
havia  11',  se  por  outro  lado  nao  provcsse 
acerca  dos  meios  requeridos  pelo  custeamento 
d'ellas.  Crear  uma  eschoJa  nao  e  so  pagar  o 
ordenado  do  professor;  e  alem  disso,  estabe- 
lecer  um  local  proprio  para  ella;  6  fornecer 
este  local  da  raobilia  e  utensilios  indispcnsa- 
veis  para  os  diversos  exercicios  escholares. 
Eis-acjui  uma  nova  verba  de  despeza ;  se  o 
estado  a  nao  pode  tomar  a  sua  conta,  releva 
que  a  ponha,  de  um  modo  elBcaz,  a  cargo 
das  respectivas  municipalidades, 

Ja  a  este  respcito  alguma  cousa  fizera,  no 
capitulo  1.°,  0  decreto  regulamentar  de  20 
de  dezembro  de  1830;  mas  fizera-o  d'um  mo- 
do tao  equivoco,  e — para  assim  dizer — meti- 
ruloso,  que  nenhuma  municipalidade  tem  lo- 
mado  taes  provisoes  cm  conta  de  preceptivas; 
nenhuma  tem  d'ellas  induzido  obrigacao,  em 
que  esteja,  de  fornecer  as  escholas  piihlicas 
do  respectivo  concelho,  casa,  mobilia,  e  mais 
utensilios  de  que  carecam  para  o  servico 
escholar. 

Entendo  portanlo,  que  a  doutrina  do  ci- 
lado  capitulo,  cumpre  enuncial-a  de  um  mo- 
do mais  positivo,  elaro,  e  terminante,  para 
que  d'uma  vez  se  ni|ue  entoudendo  <iue  e 
essencialmente  obrigatoria  toda  a  despeza  que 
hajam  de  fazer  as  municipalidades,  com  a 
casa,  mobilia,  utensilios,  e  mais  custeamento 
das  escholas  piihlicas.  E  por  isso  rogo  ao 
conselho  superior  que  no  decreto,  com  que 
houvcr  de,  a  este  respeilo,  omendar  o  que 
vigora,  faca  inlroduzir,  do  modo  que  mais 
convenha,  as  seguintes  prescripcoes; 

1."  0  commissario  dos  estudos  enviara, 
todos  OS  annos,  antes  do  mez  de  mar^'o,  ao 
presidente  de  cada  uma  das  camaras  munici- 
paes  do  sen  districto,  orcamento  documenta- 
do  da  despeza  que  haja  de  fazer-se  com  o 
custeamento  das  escholas  do  respectivo  con- 
celho. 


2.'  0  presidente  recebera  o  orcamento,  c 
consignara  o  montanlc  da  despeza  d'elle  na 
classe  de  despezas  obrirjatorias  do  projeclo  de 
orcamento  municipal,  que  tivcr  de  appresen- 
tar  a  camara  no  devido  praso. 

3.'  Approvado  que  seja  pcia  camara  e  pelo 
concelho  de  districto  o  orcamento  municipal, 
lica  auctorisado  o  presidente  para  niandar 
I)roceder  ii  despeza  requisitada,  salva  qual- 
quer  economia  (jue  possa  fazer-se  scm  prejui- 
zo  da  integridade  da  requisicao  do  commis- 
sario. 

CAPITULO    V. 

Frci/uenrid  das  escholas. 

Fora  ahsurdo  que  o  estado  creasse  escho- 
las, que  provessem  ao  custeamento  d'ellas  as 
municipalidades;  e  que  a  mingua  de  frequen- 
cia  deixem  de  realisar-se  as  vantagens,  que 
por  Ventura  aconselharam  o  sen  cstabelecimen- 
to.  Para  que  tal  uao  acconteca,  e  mister  col- 
locar  ao  pii  das  escholas  creadas,  taes  meios 
de  proteccao  e  amparo,  que  promovam  e  cau- 
cionem  a  sua  maior  frequencia. 

Varies  sao  os  meios  estabelecidos  para  este 
fim  pelo  decreto  de  20  de  septemhro  de  1844. 
Aqui  porem  so  apontarei  dois, —  um  directo, 
— e  outro  indirecto,  que  eu  desejara  ver  mais 
fortalecidos,  para  obrarem  mais  eflicazmente 
na  frequencia  das  escholas  piihlicas. 

0  meio  indirecto  a  que  alludo,  esta  no 
artigo  33.°  do  citado  decreto.  Se  a  lei  deda- 
rar,  e  o  poder  executive  licar  entendendo  por 
uma  vez,  «  que  e  exemple  do  recrutaniento 
para  o  exercito  e  armada  tedo  o  individuo 
([ue  souber  ler  e  escrever,  em  quanto  houver 
outros  que  o  nao  saibam,  »  cstou  certo  que 
a  frequencia  dc  nossas  escholas  ha  de  melho- 
rar  consideravelmente. 

0  pove  dos  campos  d'esla  ilha  tem  tal  asco 
a  vida  militar,  que  tendo  noticia  d'aquella 
j)romessa  da  lei,  e  chegando  a  convencer-se 
da  veracidade  d'ella,  cortara  por  todas  as 
dilTiculdades  para  mandar  os  filhos  a  eschola. 
E  necessarie  pois  que  se  de  a  maior  puhlici- 
dade  possivel  aquella  disposicao  da  lei;  e 
necessarie  que  se  intinie  a  todas  as  aucteri- 
dades,  que  hajam  de  intervir  no  recrutanien- 
to, tenliaui  nuiile  respcito  a  exenipcao  decre- 
tada  em  benelicio  da  instruccao  de  povo. 

0  meio  directo  a  que  me  reliro,  e  o  que 
se  acha  censignado  nos  artigos  32.°,  36.°  c 
37  do  supracitado  decreto.  A  lei  moral  im- 
poe  a  cada  chefe  de  familia  a  obrigacao  de 
educar  ou  fazar  educar  os  sens  lilhos.  E, 
come  nao  e  indilTerente  para  a  sociedade  que 
OS  individuos  que  a  cempoem,  sejara  bem  ou 
mal  educados ;  nao  fara  o  estado  um  acte  de 
justica  pondo  ao  servico  d'aquella  lei  a  sua 
forca  para  a  tornar  effecliva?  Faz  certamente. 

Ja  se  vi  pois  que  eu  qucro  os  meios  com- 


]27 


pulsorios,  que  cslao  na  lei,  para  olirigar  os 
paes  de  familias  a  niandarom  os  filhos  para 
a  eschola ;  ma?  qiiero  esses  meios  com  duas 
condifoes: — a  primeira  (i  que,  so  depois  dc 
exhaustos  os  meios  de  suasao,  a  elles  so  re- 
corra;  —  a  segunda  e  que,  recorrendo-se  a 
laes  meios,  haja  toda  a  liimeza  c  lenacidade 
no  seu  empix'go.  E  para  isso,  parceo-me  con- 
venionte  que  a  lei  estaliia  o  seguinte: 

1."  Todo  0  cliele  de  familias  (iiic,  tendo 
lilhos,  OS  nao  mandar  a  eseliola  piihlica,  sera 
obrigado  a  provar,  peranle  a  aucloridade 
competente,  per  que  meios,  e  em  que  eslabc- 
beleeimento  particular  laz  dar  a  seus  filhos  a 
convcnienle  educacao. 

2."  I'ma  vez  uiatrieulado  em  esrliola  pii- 
hlica  0  lillio  de  qualquer  eliefc  de  I'amilias, 
incumbe  a  este  justilicar  as  faltas  dc  I'requen- 
cia  que  liver  o  educando;  e,  quando  o  nao 
faca,  podcra  ser  avisado  pclo  professor,  re- 
prehcndido  pelo  commissario  dos  estudos,  e 
ate  posto  em  custodia  pelo  administrador  do 
concelho,  a  requisieao  do  commissario. 

3.°  Logo  que  um  pae  tiver  matriculado  era 
eschola  piiblica  um  hlbo  scu,  ja  o  nao  podcra 
tirar  d'ella  seni  ter  concliiido  o  seu  curso  de 
instrucrao  primaria.  0  que  o  fizcr,  incorre 
na  mesraa  pena  em  que  iucorrera,  se  nao 
maudassc  o  lilho  a  eschola. 

4."  Nenhum  pae  podera  matricular  o  seu 
filho  cm  eschola  piiblica  que  nao  seja  a  do 
circulo  de  sua  rcsidencia- — salvo  se  para  isso 
se  dcr  alguma  razao,  de  cuja  validade  conhc- 
cera  o  commissario  dos  estudos,  ou  algum 
sub-delegado  scu. 

S."  Para  dar  execucao  ao  artigo  antece- 
dente,  sera  mister  dividir  o  districto  em  cir- 
nilos  de  instruccao  primaria.  Ncnluim  profes- 
.sor  publico  podera  matricular  na  sua  eschola 
educando  cstranho  ao  circulo  d'ella,  sc  nao 
cm  virtude  de  despacho  do  commissario  dos 
estudos. 

Coiidusao. 

Eis-aqui,  Ex.""  sr.,  o  raal  csborado  rcla- 
torio  assim  do  que  tenbo  feito,  como  do  mais 
que,  cm  minha  humilde  opiniao,  c  preciso 
fazer-se,  para  melhorar  a  instruccao  piiblica 
d'este  districto,  para  a  fazer  emergir  do  estado 
pouco  satisfatorio  em  que  se  acha  presente- 
mente. 

A  pouca  experiencia  que  ainda  tenbo  do 
cargo  que  exercilo,  de  I'eito  sera  parte  para 
que  este  meu  trabalho  cbegue  a  presenca  do 
tonselho  superior,  nao  cabal  e  completo,  como 
eu  desejara.  Mas  se,  nao  obstante  os  senoes 
que  0  maculam,  houver  'nellc  cousa  que  mc- 
reca  aapprovacao  do  conselho,  equemcdiante 
esta  venha  dar  vigoroso  impulso  a  cducacao 
I  e  instruccao  do  povo  da  minha  terra;  eis-abi, 
Ex."°  Seuhor,  a  verdadeira  paga  e  recom- 
pensa  a  que  aspiram  os  meus  esforcos;   por- 


que  hi  quanto  a  gratificacao  pecuniaria  que 
percebo,  essa,  far-me-ha  V.  Excellencia  a 
justica  de  acreditar  que  apenas  cobre  o  mon- 
tante  das  despezas  de  expedientc  d'esta  repar- 
ticao;  nao  me  babilita  para  pagar  o  servico 
de  quern  me  coadjuvc  cm  trabalhos  de  escrip- 
ta;  c  niuito  menos  para  fazer  a  visila  annual 
das  cscbolas  do  districto,  dc  qualquer  modo 
que  nao  seja  a  niinba  custa. 

Deus  guarde  a  V.  Excellencia.  Funcbal,  31 
de  Marco  de  ISiJS. 

lll.°'"'e  Ex."'°  Sr.  Y.  Reitor  da  Universidade 
e  vice-presidente  do  conselho  superior  d'lns- 
truccao  Piiblica. 

0  commissario  dos  estmlos. 

M.ARCELLl.VNO   RIBEIRO   DE   MENDOM:.^. 


OS  LUSIADAS. 

Trnflucctio  franceza. 

Coutinuailo  Je  pag.  118. 

LES   LUSIADES. 

Lues  Dieux  sont  rassembles  dans  la  cour  Etheree, 
lis  reglent  les  destins  des  Enfants  de  Lusus. 
Le  redoutable  Mars,  la  belle  Cytheree, 
Prot^pent  oes  puerriers  detestes  par  Bacchus. 
A  travers  les  dangers  d'une  mer  ignorce, 
A  Wossambique  enfin  ces  beros  parvenus, 
Par  de  sanglanls  combats  signalenl  leur  audace 
Et  partaut  de  ces  bords  arrivent  4  Mombace. 

CHANT    PREMIER. 

1. 

Jc  chante  ces  Heros  fameux  dans  I'univers, 
Qui  dos  bords  eloignes  de  la  Lusitanie, 
Par  de  nouveaux  chemins,  sur  denouvelles  mers, 
Porterent  leur  drapcaux  jusqu'au  lond  del'Asic; 
Qui  bravant  les  dangers,  surmontant  les  revers, 
Aux  plus  nobles  ttavaux  consacrerent  leur  vie, 
Et  fonderent  bicnlot,  guides  par  les  destins. 
Un  empire  eclalaut  dans  ces  climats  lointains. 

2. 
Je  vous  evoquc  aussi,  memoires  glorieusos, 
Dc  nos  antiques  Chefs,  de  nos  valeureux  Kois, 
Qui  domplant  d'Ismael  les  hordes  odieuses. 
Rendilcs  triomphants  votre  sceptre  et  la  croix ! 
A  jamais  dans  mes  chanls  que  vos  oeuvres  fameuses 
Survivent  a  la  mort  qui  vous  lient  sous  ses  lois; 
Et  puisse  le  genie  et  le  Dieu  qui  minspire 
Rendrc  dignes  de  vous  les  accords  de  ma  lyre'. 


Qu'on  cesse  de  vanter  les  perilleux  hasards 
Des  navigations  et  d'Ulysse  et  d'Enee 
Que  Ton  n'admire  plus  les  exploits  des  Cesars, 
Ni  du  fameux  vainqueur  de  la  Perse  etonnee ; 
Je  chante  ces  Heros  de  qui  Neptune  et  Mars 
Ont   couronne  I'audace  a  jamais  fortanee! 
Rentrcz  dans  le  neant  prodiges  fabuleux, 
Ma  muse  annoncera  des  fails  plus  merveilleux. 


128 


O  vous  qui m'inspirez,  vous  qui  des  moii jcuiie  .ige 
Remplites  mon  esprit  des  plus  sublimes  fcux, 
Si  jadis  dans  mcs  vers,  o  Nayadcs  du  Tagc, 
J'ai  chaiile  vos  attraits,  voire  fleuvc  el  vos  jeux; 
Nc  m'ahandonnez  pas,  animez  iikju  courage, 
Dictez-moi  des  accents  plus  graves  plus  pompi'ux, 
Alin  qu'applaudissant  a  lanleur  qui  in'eulraino 
On  prefere  voire  onile  .i  celle  d'liippcjcrenc. 


All   daigiiez   m'iMsplrer  uno   divine  ardenr, 
Que   ma  cadence  soil   ct  sonore  el  nombreuse, 
Et  laissanl  a  jamais  le  chalumeau  reveur. 
Je  vais  sur  la   trompelle  cjiique  ct  lielliqueuse, 
Qui  fait  p.'ilir  le  front  en  enflammant  le  C(eur, 
Celebrer  dignemeni  ma  nation  fameusc, 
El  faire  de  son  nom  retentir  I'univers; 
Heureux  si  taut  dc  gloire  apparllent  a  raos  vers! 

6,  7,  et  8. 
El  vous  donl  le  Soleil  vient  eelaircr  I'empire 
Aussltdt   qn'il  parail   aux  porles  du  malln, 
Vous,  qui  sur  vos  filats  le  voyez  toujours  hiire, 
Et  que  eel  Astre  cncor  saluc  ii  son  declin  ■ 
O  vous  dont  la  vertn,  dont  le  pouvoir  inspire 
line  terreur  fatale  an  barbare  Africain, 
Et  qui  par  voire  nom,  glacez  deja  de  crainte 
Les  vils  profanateurs  de  la  riviere  sainle, 


9. 


Daign 


?nez  lourncr  vers  moi  ce  regard  de  bonte, 
Cc  regard  si  touchant  que  I'univers  conlemple, 
Jcune  encore  il  est  vrai,  mais  plein  dc  la  lierle. 
Qui  de  la  gloire  un  jour  doit  vous  ouvrir  Ic  temple 
Souriez  a  mes  vers,   a  ma  temcritc; 
D'unc  sublime  ardeur  j'ose  donner  I'exemple 
En  consacrant  ma  muse  ainsi  que  mes  travaux 
A  chanter  mon  pays,  sa  gloire  et  ses  Heros. 

10. 

Ce  n'est  pas  un  vil  prix  que  ma  muse  reclame, 
J'as[iire  a  meriter  des  bonneurs  etcrnels; 
L'amour  de  la  patric  est  le  seul  qui  rn'onllamme, 
A  mes  concitoycns  j'eleve  des  aulels. 
GrandRoi,  lisezmesvers;  pnissent-ilsdansvolreame 
Graver  de  vos  sujets  les  travaux  immorlels, 
Et  vous  prefererez,  si  le  ciel  me  seconde, 
L'empire  d'un  tel  peuple  a  I'empire  du  monde! 

11. 

Je  n'irai  pas,  cberchant  des  vaines  fictions, 
Imiler  Ics  efforts  des  muses  etrangeres. 
Qui  voulant  exalter  leurs  propres  nations 
Composent  un  tissi.  de  fables  mensongeres; 
Pourquoi  mes  chants,  voues  aux  grandes  actions, 
Iraieut-ils  inventer  des  fails  imaginaires? 
Le  recit  des  exploits  que  ma  muse  enlreprend 
Surpasse  les  hauls  fails,  que  Ion  prcte  a  Roland  ! 

12,   I.'),  et  14. 
P\iisse-je  dignement  celebrer  sur  ma  lyre 
Du  premier  de  nos  Rois  I'heroiqne  valeur, 
La  vertn  de  Moniz,  que  Dieu  lui  meme  inspire, 
Du  fidele  Fuas  I'imperlnrbable  cipur, 
Et  tant  d'aulres  heros  que  la  patrie  admire: 
Nuno,  du  Portugal  le  fier  liberateur, 
Albuquerque  I'effroi  des  peuples  de  I'aurore, 
Les  vaillanls  Almeidas  que  le  Tagc  deplore  ! 


IS. 


Tandis  que  celebrant  les  fails  de  vos  Aieux, 
Ma  muse  h  vous  chanter  et  s'exerce  et  s'anime, 
0  Prince,  commenccz  ce  regne  glorieux, 
Qu'annonce  au  Portugal  voire  C(rur  magnanimc. 
Pour  vous  mes  vers  scront  sans  doule  plus  heureux. 
Par  vous  delHelicon  je  trouvprai  la  cime; 
Et  la  terre  il'Afrique  et  la  mer  d'Orient 
Piomel  a  voire  nom  un  dcstin  eclalanl. 

16. 

Ma  muse  voit  deja  la  mine  as.suree 
El  du  Mahometan  et  du  Maure  pcrvers; 
Deja  le  I'aicn  tremble,  et  sa  vue  egarce 
Sur  voire  jcune  front  croil  lire  ses  revers. 
Tlielis  abandonnant  sa  demeure  azuree 
Permet  a  vos  vaisscaux  de  regncr  sur  Ics  mers ; 
Et  sensible  a  eel  air  et  si  jcune  el  si  tendre, 
■V'ous  cede  son  empire  el  vouschoisit  pour  gendre! 

17. 

Ah  je  crois  voir  au  sein  de  la  Celeste  Cour 
De  deux  de  vos  Aieux  les  ames  bienheureuses: 
Vous  inspirant  dej.'i  de  leur  brillant  sejour 
Un  liesoiu  devorant  d'aclions  glorieuses ; 
Chacon  d'enx,  voit  en  vous  revivre  tour-a-tour 
Son  amiuir  ]jour  la  paix,  ses  ardeurs  helliqueuses, 
lis  V(ms  gardenl  Ions  deux  pour  prix  de  vos  verlus , 
I'ne  place  immortelle  au  temple  des  £lus ! 

18. 
Mais  landis  que  le  temps  av  ance,  ct  qu'il  s'apprcle 
A  remetlre  en  vos  mains  les  renes  de  I'fitat; 
Daignez,   o  jcune  Prince,  accueillir  le  pol'te. 
Qui  de  ce  peuple  heureux  veut  celebrer  I'eclat; 
Chanter  le  Portugais  qui  brave  la  tempete 
Intrepide  niarin,  intrepide  soldal. 
El  qui,  fier  de  servir  son  Prince  el  sa  Patrie, 
Fait  resonner  leurs  iM>ras  jusqu'aux  rives  d'Asie. 

19. 
Deja  Gama,  sui\i  de  ses  fiers  compagnons, 
Du  paisibic  Ocean  parcourt  I'immense  espace, 
Le  Zephyr,  succudant  aux  fougueux  Aquilons, 
Des  voiles  mollement  arrondit  la  surface; 
La  mer  au  ilevant  d'eux  entr'ouvrant  ses  sillons 
Par  ses  notsecumants  prolonge  au  loin  leur  trace; 
Le  nouvel  Ocean  n'avait  jusqnes  alors 
Vu,  que  les  seuls  Tritons  errer  pres  de  ses  bords. 
Cantinua, 


UMA  YISITA  A  SERRA  DA  ESTRELLA. 

Coutinuado  tie  paj.    10(5. 

Como  e  possivc!  que  as  liigoas,  que  estao 
quasi  nos  pontes  mais  altos  da  scrra  e  esta 
em  tao  prandc  altura  arima  do  nivel  do  mar 
se  commuiiiquem  com  ellc? 

A  higoa  comprida  e  um  vasto  rcscrvalorio 
Av  agua,  formado  pola  neve  que  se  vai  dorre-  | 
tendo,  e  que  para  alii  conflue  de  muitos  pon- 
tos ;  por  alguns  iiascentes  que  lalvez  borbulhera 
do  fundo  da  lagoa ;  por  uma  poquena  correntc 
d'agua  que  eperenne  aleem  tempo  dceslio,  e 


129 


pelas  abundantissimas  cliuvas,  era  que  muitas 
vezes  se  resolvem  as  trovoadas  cm  lodo  o 
anuo,  e  que  alii  sao  medonlias  e  muito  IVe- 
quentes. 

0  liigar  e  a  perspectiva  d'este  grande  lago 
e  verdadeirani(.'nte  magustosa  e  CDcantadora. 

Ca]iiinlia-sc  para  ellu  de  k'ste,  desceiido 
ura  declivio  jiouco  oliliqiio,  mas  de  mau  iiiso, 
por  ser  todo  furmado  por  uma  pedieira  gra- 
iiitica  apertada  e  quasi  como  urn  couliiiuo 
lagedo.  Esta  ladeira,  quu  em  muitas  partes 
so  termina  jiinclo  as  aguas  do  lago,  tem  cm 
algiins  sitios  pequciios  degraus  e  outras  pas- 
sageus  difliceis,  mesmo  na  primavera,  pela 
graiidc  qiianlidadc  de  gelos,  que  se  consoli- 
dam  com  as  pcdras,  c  poi-  onde  assim  raesmo  e 
necessario  aliiir  caminho.  Aiuda  no  mcz  d  a- 
gosto  apaiecciu  cm  mais  de  um  sitio  alguns 
restos  dos  gelos  do  invcrno.  D'aqui  se  ve  que 
por  estc  iado  de  oesle  loda  a  agua  que  sai  da 
neve  cm  toda  a  extensao  do  mesmo  declivio 
e  directamcnle  trans[iortada  para  a  lagoa 
coniprida.  Esta,  porem  nao  comeca  a  ser 
visivel  dcsde  o  principio  da  ladeira,  porque 
fica  um  pouco  jiara  o  sul.  A.  lagoa  podera 
ter  em  todo  o  scu  ecmprimcnto  meia  legua  de 
extensao,  e  a  sua  niaior  largura  em  algiimas 
partes  equivale  a  um  tiro  de  lunda  Jjcm  I'eito. 

Do  Iado  do  norte  a  margera  e  montanhosa 
e  summameiite  escabrosa,  e  os  sens  contornos 
desonhados  sobre  a  superlicie  das  aguas  tran- 
quillas  do  lago  deixam  vcr  lambem  muitas 
rochas  de  diflicii  accesso.  Passando  poicm 
paraamargem  es(]uerda  da  pequena  corrente, 
que  disscmos  conllue  para  a  lagoa  cumprida, 
e  subindo  pela  mesma  margem,  depois  de 
passar  alguns  degraus  cavados  na  rocba, 
tendo-se  andado  meio  quarto  de  legua  pouco 
mais  ou  iiienos,  clicga-se  as  bordas  da  lagoa 
escura.  Esta  e  de  I'orma  conica,  e  de  lodas 
as  paries  formada  de  lagedo  conpacto,  tendo 
tambem  em  toda  a  sua  cireuml'erencia  a 
mesma  curvatiira  e  o  mesmo  declivio  para 
dentro,  posto  nao  tenba  a  mesma  altiira. 
0  nive!  das  suas  aguas  sera  'numas  partes 
de  duas  varas  e  'noutras  de  trcz,  mas  num 
sitio  principalmcnte,  que  e  o  mais  proximo 
da  lagoa  coniprida,  ])ode  d'alli  lirar-se  agua 
commodamente  com  o  braco,  e  como  se  sabe 
que  as  aguas  d'esta  lagoa  se  descarregam 
na  lagoa  coniprida,  e  tambem  certo,  que  e 
por  esse  mesmo  sitio  que  este  segundo  lago 
se  lanca  no  primciro,  quaudo  as  suas  aguas 
tem  crescido  pelas  cbuvas  e  neves  a  ponto  de 
subircm  o  nivel  na  parte  mais  baixa  da  sua 
margem.  Como  porem  nao  lica  dominada  por 
elevacao  alguma  de  terreno,  nem  a  agua  das 
cbuvas  para  alii  pode  concorrerdc  muito  longe; 
nem  tambem  esta  poderia  conservar-se  em 
tanta  allura,  qual  a  que  pelo  declivio  das 
suas  margcns  ou  paredes  interiores,  e  pelo 
diametro  na  sua  maior  base,  este  lago  prova- 
velmente  tem,  e  de  crer  que  algum  nascente 


pequeno  alii  borbnlhara  do  fundo,  concorrendo 
com  0  seu  cabedal  para  rompensar  a  evapo- 
racao  diaria  da  superlicie  do  mesmo  lago. 

Ainda  que  attravessaraos  o  caminbo  que 
da  lagiia  coniprida  vai  ate  esta  por  um  cal- 
moso  dia  de  agosto  do  anno  lindo,  a  bora 
mui  adiantada  da  manba,  gozavamos  um 
Iresco  delicioso,  como  'numa  formosa  manba 
de  primavera;  'ualgumas  encostas,  porem, 
a  calma  incomodava-uos  bastante,  por  que 
ccssava  alii  a  viracao  da  serra. 

Em  muilos  logares  ha  ecbos  multiplos  muito 
notaveis,  que  repetem  depois  de  quatro  ou 
cinco  segundos  uma  detonacao  de  t'uzil,  e  de 
entao  por  diante  ouvc-se  um  som  de  tal  sorte 
prolongado  e  repetido  sem  intervallo,  que  se 
assemelba  pcrfeitamente  ao  estampido  ipie 
acompanba  o  raio  quando  nao  e  esperado, 
e  a  sua  tal  ou  qual  proxiniidade  nos  assusta. 

Ve-se  pois  que  o  nivel  das  aguas  da  lagoa 
escura  esta  mais  alto  que  o  da  lagoa  com- 
prida;  quanto  ao  nivel  das  aguas  correntes 
d'uma  pequena  ribeira,  e  dominado  por  uma 
margem  montanbosa. 

A  lag6a  coniprida  tambem  se  descarrega 
por  um  despenbadciro  que  fica  a  oeste,  e  que 
dii  origem  ao  rio  Alva. 

Ua  outra  lagoa  ainda  menos  notavel  que  a 
escura,  mas  que  a  tradicao  consagrou,  sup- 
pondo  que  'nella  fora  albgada  S.  Antonina, 
e  que  por  isso  conserva  o  nonie  de  lagoa  da 
piuxao,  que  com  tudo  se  mudou  no  noma  de 
lagoa  do  Pachao.  D'esta  nasce  o  ribeiro  da 
Candieira  que  nao  longe  da  villa  de  Manteigas 
se  preci|iita  d'um  elevado  rocbedo  lormando 
uma  vistosa  cascata. 

A  lagoa  do  Pachao  tem  a  mesma  extensao, 
pouco  mais  ou  menos,  que  a  lagoa  escura  que 
pode  ser  attravessada  diametralmente  por  um 
tiro  de  pedra;  e  menos  elevada,  e  estii  cercada 
por  um  prado  para  onde  corre  um  pequeno 
regato  de  agua. 

Alencionaremos  tambem  outro  sitio  conhe- 
cido  pelo  nome  de  Covao  das  Vaccas  nao 
longe  das  lagoas  que  descrevenios;  eumvaslo 
plaino,  que  se  termina  'numa  escarpada  mon- 
tanha,  da  base  da  ((ual  sai  o  rio  de  L'nbaes, 
que  corre  na  direccao  de  sul,  tomando  desde 
logo  0  nome  da  villa  por  onde  vai  passar. 

Ciinlinuu.  u.  R.  DE  VASCONC'ELLOS. 


NOVA  ESCALA  THERKIOMETRICA. 

Na  sessao  d'academia  das  sciencias  de  Paris 
de  23  de  julho  ultimo,  M.  Walferdin  apre- 
sentou  a  seguinte  memoria  sobre  as  difl'eren- 
tes  escalas  thermometricas,  hoje  adoptadas, 
na  qual  propOe  uma  nova  escala,  a  que 
deu  0  nome  de  ietrucentigruda,  por  ser  di- 
vidida  em  400  graus. 


130 


«  Das  numerosas  escalas  thermonietricas 
inventadas  pclos  physicos  ha  cento  e  eincociita 
annos,  trez  unicamente  estao  hoje  em  uso. 
A  de  Faliroiiheit,  geralmente  emprcgada  cm 
Inglalerra  c  nos  Eslados-Unidos:  a  de  Hcaii- 
niur,  ainda  actualmenle  usada  na  parte  me- 
ridional d'Allemanha,  na  Uusia,  Hesjiaiilia, 
em  aigumas  partes  da  Italia,  e  na  America 
meridional;  e  a  cscala  de  Celsius  modiliiada 
por  Stroemer,  ou  antes  de  Christin,  chamada 
cenligrada,  e  adoptada  era  Franea  e  no  norte 
d'Allemanha. 

A  temperatnra  do  gelo  fundente,  e  a  do 
vapor  da  agua  a  ferver  debaixo  da  pressao 
normal  dc  700°"°  de  mereurio  sao  os  rfois- 
pontos  fixos  adoptados  cm  cada  uma  d'a(]ii('l- 
las  tres  escalas,  c  o  espaco  comprehendido 
entre  estes  dois  pontos  fij-oa,  dividido  em  101) 
e  em  8U  partes  nas  escalas  centigrada  c  de 
Reaumur,  e  em  180  na  de  Fahrenheit.  I'm 
d'estes  pontos  fixos,  a  temperatnra  do  gelo 
fundente,  serve  ao  mesmo  tempo  de  ponin  dc 
partida,  isto  e  de  zero,  nas  escalas  centigra- 
da e  de  Reaumur.  Na  escala  de  Fahrenheit 
0  ponto  fij'o  c  0  niesnio,  mas  em  vez  d'este 
Ihe  servir  de  ponto  de  purtida,  como  'na([Hel- 
las,  a  teniperatura  do  gelo  fundente  cor- 
responde  'nella  a  32.°,  de  modo  que  o  zero 
de  Fahrenheit  desce  muito  mais  abaixo  que 
nas  outras  duas  escallas,  e  e  egual  a  — 17,78 
C.  e  — 14,17  R. 

A  discordancia  d'estas  trez  escalas,  discor- 
dancia  tal,  que  a  teniperatura  media  de 
Paris  10", 8  C.  se  traduz  por  8", 04  R.  e  !)1°,4 
F. ;  e  0  calor  do  sangue  humano  de  37°  a 
38°  C.e  =  29°,6  a  30", 4  R.  e'JS-.G  a  !00",4 
F.,  traz  comsigo  na  practica  graves  incon- 
venientes,  geralmente  reconhecidos  quando 
se  tracta  de  comparar  as  indicacoos  das  diversas 
escalas,  usadas  pelos  dilTerentes  auctores.  A 
uniao  portanto  das  escalas  de  Fahrenheit, 
Reaumur,  e  centigrada  'num  dado  ponto, 
que  permittisse  comparar  direclamente  as  in- 
dicacoes  actuaes  de  cada  uma  d'ellas,  e  o 
desideratum  da  sciencia. 

Examinemos  resumidamcnte  as  vantagens 
e  inconvenicntes  d'estas  trez  pscalas  thermo- 
metricas. 

Desde  que  o  espaco  comprehendido  entre 
a  teniperatura  do  gelo  fundente  e  a  da  agua 
a  ferver  foi  dividida  em  100  partes,  a  escala 
de  Reaumur,  onde  este  espaco  esta  dividido 
em  80  partes,  tende  evidentemenle  a  trans- 
formar-se  pouco  a  pouco  em  centigrada.  As 
inslantes  reclaniacoes  de  Arago  a  este  respeito, 
e  0  exempio  de  Ilumhold  c  Berselius,  hao  de 
eoncorrer  poderosamente  para  que  a  Allenia- 
nha  c  outros  paizes  abandonem  aquella  escala, 
que  ja  nao  ha  razao  sufliciente  para  se  con- 
servar. 

Outro  tanto  nao  pode  dizer-se  da  escala 
Fahrenheit.  Ainda  que  ha  mais  de  um  scculo 
se  comecou  a  usar  em  Franca  e  no  norte 


d'Allemanha  a  escala  centesimal;  era  Inglaler- 
ra e  ella  systematicaraentc  repellida.  'Neste 
paiz  0  Iherniometro  de  Farhenheit  continua 
cxdusivamente  em  uso,  nao  sem  lundamento. 
Os  physicos  inglezes  reconhecem  que  a  divisao 
do  espaco  comprehendido  entre  os  dois  pontos 
fixos  do  gelo  fundente  e  da  agua  a  ferver  cm 
180  paries,  em  logar  de  100  nao  teni  a  menor 
vanlagem;  este  nuniero  e  muito  suhido,  e 
nao  se  presta  por  isso  facilmente  ao  dcsin- 
volvimcnto  especial  dos  valores,  (|ue  ropresen- 
ta  ;  e  principalmcnto  cm  relacao  as  tempera- 
luras  acima  da  agua  a  ferver  tern  graves  in- 
convenicntes, pois  que  :200°  C.  =  3'.)2."  F.  e 
300"  C.=.'i7"2"  F.;  ncm  se  conserva  tamhem 
aciuclla  escala,  poripie,  sendo  o  gniu  de  F.  mais 
|ici[ueno  que  0  centesimal,  hastaria  dividil-o 
por  metade  para  ohter  uma  fracciio  sutliciente 
de  gniu  ;  jiois  que  a  facilidade  com  (pie  se 
fraccioua  (|uer  sim[ilesnient('  li  vista,  quer  com 
oauxilio  d  uma  lente  o  espaco  comprehendido 
entre  cada  divisao  d'uma  cscala  arhitraria, 
ou  entre  cada  gran  centesimal,  em  decimos, 
dii  ordinariamente  um  resultado  mais  exacto. 

0  verdadeiro  motivo  da  preferencia,  que 
ainda  hoje  goza  em  Inglaterra  a  escala  Fahren- 
heit, e  a  jjosicao  do  sen  zero.  Este.  achando- 
se  collocado  a  32°  abaixo  da  teniperatura  do 
gelo  fundente,  a — 17,°78  C,  dispensa  nas 
ohservacoes  meteorologicas,  por  exempio,  os 
signaes  positivos  e  negativos  nos  seis  nieses 
do  anno,  em  que  a  temperatnra  do  ar  alnios- 
pherico  pode  oscillar  acima  ou  abaixo  do 
zero  (gelo  fundente.) 

A  posiciio  por  tanto  do  zero  na  escala  F. 
ten)  uma  incontestavel  vantagem,  que  ainda 
nao  foi  devidamento  apreciada  pelos  parti- 
dislas  das  escalas  de  Reaumur,  e  Centigrada. 
Esta  vantagem  e  tal,  (jue  em  Inglaterra  as 
ohservacoes  meteorologicas  sao  niuitas  vezes 
feitas  sem  scr  nescessario  recorrer  aos  signaes 
negativos,  e  sem  nunca  enipregar  os  positi- 
vos. Nas  outras  escalas,  em  ([ue  o  zero  cor- 
responde  a  teniperatura  do  gelo  fundente,  nao 
se  da  aquella  vantagem. 

A  nccessidade  de  recorrer  aos  signaes  ne- 
gativos e  positivos  na  applicacao  dos  instru- 
mentos  thermometricos  centigrados  ou  de  Re- 
aumur olTerece  muito  maiorcs  inconvenicntes, 
do  que  geralmente  se  julga.  Os  practices  no 
trahalho  das  ohservacoes  meteorologicas  co- 
nhecem  por  experiencia  com  que  facilidade, 
quando  a  temperatnra  atmosplierica  oscilla 
proximo  do  zero,  se  le  c  escreve  o  signal  +  em 
logar  do  signal — ,  e  vice  versa.  Na  aprecia- 
cao  das  fraccoes  decimaes  dc  grau  em  serie 
ascendente  acima  do  zero,  e  de.scendente  a 
haixo  de  zero  outros  muitos  erros  se  podem 
facilmente  introduzir.  Os  observadores,  ainda 
OS  mais  exercitados,  tomam  niuitas  vezes 
inadvertidamente  uns  signaes  por  outros  nas 
oscillacoes  de  teniperatura  proxima  ao  zero  de 
gelo  fundente;  e  quando  estes  erros  tem  sido 


131 


( 


corrigidos  nas  observacoes,  facilmente  se  re- 
produzera,  quando  ellas  se  transcrcvem  nos 
quadros  nieleorologieos.  Para  obtcr  as  medias 
thermoraetricas  e  necessario  separar,  para  as 
sommar,  as  indicacoes  que  teiu  o  signal + 
das  quo  tern  o — ,  mas  na  escala  F.  nuii  raras 
vezes  (i  necessario  empregar  este  processo.  E 
por  conseguinle  evidentc  a  vista  dos  quadros 
meleorologicos,  que  durante  o  semestre,  em 
que  a  leniperatura  da  atmospiiera  pode  oscil- 
lar  baixo,  ou  a  rima  do  zero  centigrade,  o 
uso  da  escala  F.  evita  muitos  erros  que  lacil- 
meute  podem  dar  nas  outras  escalas.  A  sup- 
pressao  do  signal  -r,  ultiniameute  adoptada 
nas  taboas  das  observacoes  mcteoroiogicas, 
feitas  segundo  a  escala  ceiitigrada,  a  iniita- 
cao  das  (|ue  sao  ordenadas  pela  escala  F., 
nao  evita  os  erros  que  pelo  systema  opposto 
sao  niui  frequentes  nas  escalas  centigrada,  ou 
de  Reaumur,  porque  'naquolle  caso  a  ommissao 
involuntaria,  mas  napractica  muitolrequente, 
do  signal — ,cquivale  aindicacao  dosignal-)-, 
e  induz  por  isso  nos  mesmos  enganos. 

Assim  0  que  e  'neste  caso  sem  inconve- 
nientes  para  a  escala  F.,  em  que  o  zero  csta 
mais  abaixo  do  que  a  temperatura  do  gelo 
fuudente,  tem-nos  niui  graves  para  a  escala 
centigrada,  e  tanto  que,  se  nos  servirmos  de 
uma  escala,  em  que  o  zero  estiver  a  tempera- 
tura do  gelo  fundente,  sera  necessario  con- 
servar  pelo  menos  em  seis  mezes  do  anno, 
alem  dos  signacs — ,  os  signaes -)- ate  perto 
de  12  ou  15  graus. 

A   temperatura    porem   do  gelo   fundente, 
toraada  como  ponto  de  partida  d'uma  escala 
tlierraonictrica,  c  a  necessidade  de  empregar 
signacs  posilivos  e  negatives,   apresenta  um 
inconvenientc  ainda  maior.  Alinguagem  scicn- 
tifica,    que   tern   consagrado  o  signal  +  e  — 
a  distinccao   das   temperaturas   inleriores  ou 
superiorcs  a  do  gelo  fuudente,  tornado  como 
zero,   tem  introduzido   na  liuguagem  vulgar 
um  dado  completamemte  falso.  Os  graus  cen- 
tigrados  por  exemplo  inferiores  a  temperatura 
do  gelo  fundente  sao  ordinariamente  designa- 
dos  como  graus  de  frio,  e  os  superiores  como 
graus  de  calor.   No  inverno,  quando  a  tem- 
peratura estii  a  '6°C.  abaixo  de  zero,  diz-se 
geralmente  que  o  frio  esta  a  o°  corao  se  — 
5°  ou  5°  C.  de  frio  per  exemplo  nao  fossem 
mais  quentes   que  —  G°C.,   ou  para  fallar  a 
mesma  linguagem,  que  0°  de  frio.  Objecta-sc, 
e  verdade,   a  falla  d'um  zero  absoluto,   que 
e  impossivcl  fi\ar.  0  zero,  que  eguala  a  tem- 
peratura do  gelo  fundente,  e  puramente  eon- 
vencional,   mas  nem  por  isso  clle  apresenta 
menos  inconvenientes  na  applicacao  das  escalas 
centigrada  e  de  Reaumur,  inconvenientes  de 
que  ale  certo  ponto  esti  exempta  a  escala  de 
Fahrenheit. 

Da  comparacao  das  escalas  de  Fahrenheit 
e  centigrada,  e  da  posicao  do  zero  em  ambas 
ellas  resulta   uma  anomalia  ainda  mais  sin- 


gular, porque  se  chega  a  resultados  nao  so 
dillerentes,  mas  directamente  oppostos;  de- 
baixo  d'uma  mesma  temperatura  os  graus 
centigrados  de  frio  correspondem  cxactamen- 
te  a  graus  de  calor  de  F.  Por  exemplo: 

—  3.°  C.  ou  5  graus  de  frio  C.  =  +  23'  F. 
ou  i'i  graus  de  calor  de  Fahrenheit. 

—  ire.  ou  lO"  dictos  =  +14"ou  li"  id. 

—  IS'C.  ou  l!j"  dictos  =  +E)"    ou  li"     id. 
Termino  aqui  a  critica  das  escalas  thernio- 

metricas  hoje  usadas,  acrescentando  todavia, 
que  se  a  escala  F.  e  preferivel  a  centigrada 
unicamente  quanto  a  designacao  das  tempe- 
raturas inferiores  ao  zero  (gelo  fundente),  e 
todavia  hoje  insufficienle  para  a  indicaeao 
das  haixas  temperaturas  atmosphericas ;  alem 
disso  0  sen  zero  nao  e  um  ponio  lixo,  como 
0  do  gelo  fundente,  ou  da  agua  a  ferver. 
Foi  elle  originariamente  adoptado,  porque 
era  o  minimo  da  temperatura  atiiiospherica 
observada  em  ITOU,  que  Fahrenheit  repro- 
duziu  artiiicialmente  por  meio  d'uma  mistura 
frigorifera  ;  e  o  proprio  Fahrenheit  reconhecia 
a  incerteza  d'aqutlle  zero,  declarando  que 
nao  era  o  mesmo  no  verao,  que  no  inverno. 
Assim  0  zero  Fahrenheit  e  um  ponto  cal- 
culado,  mas  nao  observado.  » 
Continua. 


UNIVERSIDADE   DE   FINLANDIA. 

As  condicoes  para  a  admissao  dos  escho- 
lares  na  universidade  de  Finlandia  nao  sao 
niui  rigorosas.  Os  candidates  sao  obrigados  a 
apresentar  um  attestado  de  moralidade  e  ca- 
pacidade  passado  pelo  chefe  da  eschola,  onde 
ciirsaram  os  seus  estudos  preparatorios;  e  a 
fazer  um  exanie  oral  perante  uma  commissao 
composta  do  decano  da  faculdade  de  theolo- 
gia  e  dois  adjunctos,  nomeados  annualmente 
|iclo  consistorio.  Oexame  versa  sobre  a  histo- 
ria  da  egreja,  principios  do  christianismo , 
logica,  moral,  arithmetica,  geometria,  histo- 
ria,  geographia  e  litteratura.  Findos  os  exa- 
mes,  proccde-se  a  votacao,  e  so  sao  admitti- 
dos  OS  candidalos,  que  obtcm  uma  das  trez 
seguintes  qualilicacoes  :  approbatur,  approba- 
lur  rum  taude,  ou  lamhitur.  A  propina  pelo 
exame  e  matricula  importa  em  vinte  e  dous 
rublos,  quasi  quatro  mil  reis. 

Os  candidates,  que  tem  frequentado  os  seus 
estudos  nos  gymnasios  e  universidades  da 
Russia,  siio  dispensados  d'cste  exame,  e  para 
a  sua  admissao  basta  apresentar  os  respectivos 
diplomas;  poucos  candidates,  porem,  'nestas 
circumstancias  concorrem  a  llelsingfors. 

Em  tempos  antigos  os  candidates  que  pre- 
tendiam  matricular-se  na  universidade  de 
Finlandia  tinham  de  passar  por  certas  provas 
mais  comicas  e  burlescas,  do  que  difliceis. 

«  No  dia  destinado  para  a  matricula  todos 
OS  aspirantes  ao  titulo  de  estudantes  reuniam- 


132 


se  'iiiima  sala  com  urn  dos  cmpregados  da 
univcrsidade,  que  era  o  dcpnsitario,  no  raeio 
dc  lima  multidao  dc  expectadores,  que  os  in- 
vest i  a  in. 

Enfiiscavam-lhi's  os  rostos,   prendiani-llies 
nos  cliapeos  dcsabados  niniprulas  orollias,  c 
thifrcs;    punhani-llics   dois   grandes   iiigodcs 
retrocidos,   ou   dois  denies  de  cocliino,   (|iie 
elles  seguravam  nos  cantos  da  bocca,  conio 
iim  cacliiinbo,   e  vesliam-llies  cumpridas  la- 
pas  pretas:  niascarados  assim  os  candidalos, 
0  deposilarin,   tcndo   ua   niao   iini   cumpridi) 
l)aslao  com  uma  liaclia  na  ponta  lazia-os  sabir 
da  sala,   levaiido-os  deantc  de  si  couio  uma 
maiiada  de  bois  nu  uma  recua  do  juukmiIos 
ate  fi  sala   principal  da  univcrsidade,    onde 
iim  numeroso  concurso  os  esperava  para  as- 
sislir    a    esle    acto    snlemne.    0    depositai'io 
dispuuha-os  em  ciiculo,  depnis  de  os  tcr  mo- 
dido  e  alinliado  com  o  sen  bastao,   como  urn 
sarjento  com  a  sua  alabarda  mode  os  solda- 
dospara  os  mcUer  ualileira;  I'azia-ibes  enlao 
muitas  caranlonbas,  c  prolundas  rovorencias, 
sera   liies   dizer   palavra;    passava    depois   a 
chasqueal-os  pelomodo  ridicubi  edescomposto 
com  que  se  aprcsenUivani  trajados,  e,  toraando 
um  torn  serio,  comecava  a  disscrtar  sobre  os 
vicios   e   defeitos    da    mocidade,    mosirando 
quanlo  era   necessario  dar-lhe  corroccao,   e 
castigo,   e  limal-a  pelo  eslndo  das  bellas  le- 
tras.   Trocando  outra   vez  o  serio  pelo  bur- 
lesco,  ou  antes  polo  tragicomico,  o  deposita- 
rio  acadomico  propunha  aos  candidates  diver- 
sas  queslOes,  a  que  deviam  resiionder;  poiem 
OS  denies  posticos,  que  tinbam  ua  bocca  ,  os 
cmbaracavam  do  fallar    dara    e  inlelligivel- 
monlo,  fazendo-os  gruuliir  como  os  porcos,  o 
que  elleaproveitava.  para  Ihos  pdr  as  aleunlias, 
que   hem  Hie  pareeia,   dando-llies  nas  costas 
ao  do  love  com  o  baslao,   e  esbofeleando-os 
com  as  luvas,  ao  mcsmo  tempo  que  Ibes  diri- 
gia  uma  scvera  adraoostacao;  os  denies  dizia 
eile,  siguiiicavam  a  intcniporanca,  e  a  devas- 
sidao  dos  mancobos,  a  quom  os  excessos  das 
comidas  e  bebidas,  tornavam  obtuso  o  enlon- 
(limenlo.  Tirava  depois  d'nm  saco,  uma  esjje- 
cie  de  bolsa,  a  maneira  das  dos  poliliquoi- 
ros,  e  de  denlro  d'ella  umas  tonazcs  de  ma- 
deira, que  se  estendiam  ou  cncurtavam  a  von- 
tade,  era  forma  de  ziguozague,  com  que  Hies 
aiiorlava  o  poscoco,  sacudindo-ilies  a  caboca 
ate  que  os  denies  poslicos  Hies  sajlavam  fora 
da  bocca,  e  ao  mesmo  passo  Ibes  dizia,  que  se 
cllcs  fossem  doceis,  e  pozessem  diligoncia  em 
seguir  com  proveito  as  licOcs  da  universida- 
dc,  abandonariam  a  inclinacao,  que  linbam 
para  a  inlcmperanca  eglolonaria,  assim  como 
agora   deixavam   cahir   aquolles  denies:   ar- 
rancava-Ihes  depois  as  grandes  orelbas,  que 
cstavam  prezas  ao  cbapoo,   declarando-llios, 
<liic  deviam  applicar-se  aos  csludos  com  lodas 
as  forcas  para  nao  se  licaicra  parecendo  com 
o  animal  que  as  tern:  em  scguida,  arranca- 


va-lhes  OS  chifres,  signal  de  ferocidade  o 
brutalidadc.  Em  Iim  o  doposilario  tirava  do 
sou  sacco  um  rcbolo,  I'azia  deilar  os  candi- 
dalos uns  apos  OS  outros  com  o  vonlre  cosi- 
do  a  lorra,  e  os  burnia  por  todo  o  corpo, 
dizondo-lbos,  qne  do  mesnio  modo  as  bellas 
tolras  e  as  bellas  a-rtcs  poliriam  o  sou  espiri- 
to.  Depois  de  alguns  outros  ados  d'esla  bur- 
lesca  ceremonia,  encliia  ello  um  vaso  grande 
d'agiia,  e  a  lancava  sobre  a  caboca  desco- 
borta  de  cada  candidato,  e  por  todo  o  corpo, 
c  llies  limpava  o  roslo  com  um  grosseiro 
osfregao.  Terminada  esla  I'arca  podantesca 
com  esle  lavalorio,  o  doposilario  academico 
oxiiorlava  os  candidalos  a  soguirom  vida  no- 
va, e  conibaterem  os  maus  cosiumcs,  que 
Ibes  depravavani  o  espirilo,  assim  oomo  os 
trages,  com  que  se  liaviam  mascarado  Ihes 
lornavani  o  coipo  disfonne;  proclamava-os 
enlao  esludanles  da  univcrsidade  para  usa- 
rom  livremonle  d'esle  lilulo,  com  a  condi- 
cao,  (juo  ]>or  seis  mozos  usariam  dc  capas 
prelas  cumpridas,  como  as  que  'neste  dia  de 
provacao  trajavam;  e  que  todos  os  dias  iriam 
olTerecer,  cada  um  aos  esludaules  da  nacCto 
onde  fossem  reccbidos,  os  sous  services,  obe- 
decendo  em  tudo  submissamenle  ao  que  por 
elles  llics  fosse  ordenado,  e  que  solfreriam 
resignadameule  os  motejos  e  zombarias  que 
elles  Ibes  lizessem,  o  que  se  cliamava  as  pe- 
nnies. » 

A  maior  parte  dos  estudanles  da  universi- 
dade  do  Holsingfors  sao  pobres,  mas  passam 
vida  bonosta  e  folgaza.  Us  mantimontos  e  as 
casas  de  alugucl  sao  baralas  na  capital  da 
Finlandia,  e  as  morcadorias  vendeni-se  por 
niodico  proco,  de  maneira  que  os  escholares 
suslonlam-^e  com  po(|ucnas  mesadas;  e  ver- 
dade  (jue  nao  campcam  nas  grandes  festas 
como  OS  esludanles  de  Paris,  ou  dc  llepanba, 
nom  IVe(|uonlani  os  brilbanles  saraus  ou  os 
laulos  fostins;  mas  no  sen  bairro /rtirno  vivera 
alogromonle,  e  nao  raro  as  doces  affcicoes  do 
amor  voni  amenisar  a  aridez  dos  estudos,  e 
os  amargorcs  da  vida  cm  muilos  d'aquelles 
corarOes  de  mancel-.os,  embaliidos  polos  dou- 
rados  sonhos  de  um  luluro  mais  esporancoso, 
0  typo  do  estudanle  linlandez  e  nuiilo  pare- 
cido  com  o  do  esludanlc  allemao;  indilierente 
e  desloixado;  como  elle,  desinvollo  e  impre- 
vidente.  iSo  fim  de  cada  Irinieslre,  quando 
recebem  as  corapelontos  mezadas,  c  um  dia  de 
fosla  para  cada  escbolar;  os  amigos  e  con- 
disoipulos  sao  logo  convidados:  os  cliarutos,  o 
cbii,  o  poncbe,  e  cbampagne  siio  servidos  com 
profusao,  e  'nislo  se  vao  os  rubles  da  mesa- 
da  ,  mas  0  prazer  de  um  dia  de  folguedos  c 
de  boa  camaradagcm  compensa-os  dos  apuros 
dos  dias  seguinlos.  Enlrcgam-se  novamente 
aos  sous  estudos  som  pesar  nom  cuidado  al- 
gum,  esperando  resignadamenle  que  a  forlu- 
ua  OS  torno  a  favorocer  para  repelir  aquelle  pas- 
salenipo  com  os  sens  collogas,  e  gozar  d'aquel- 


133 


his  horas  de  oompleta  dissipacao.  E  'nesta 
eontinua  alternativa  de  dias  ora  laboriosos, 
TOelanchoiicos  e  solitarios,  ora  de  perfeila  ale- 
gria,  complcla  cxemprao,  e  d'lim  farniente,  que 
causaria  inveja  ao  syl»aritismo  do  inais  dcsal- 
mado  lazzaroni,  passam  a  vida  os  estudantes 
de  Hclsiiigfors! 

Oscstudaffltcs  (inlandezes  frwiuontam  poiico 
as  sociedades,  mas  nas  feslas  e  divertimentos 
pubiicos  sao  sempre  os  primeiros.  Desde  o 
principio  de  tnaJopcrconeiu  clicsosarrabaldes 
dacidadc,  celehrando  abella  estacao  dasflores 
com  diversos  folguedos,  descantes,  e  saiulcs. 
Nos  passeios,  iios  tbeatros,  e  nos  concertos 
sao  ciies  os  que  mais  applaiulem  os  adores, 
que  dao  vida  e  cnlluisiasmo  a  todas  essas 
reunioes.  Algumas  vezes  accontece  dar-se  en- 
tre  ellcs  alguma  rixa,  que  perlurba  a  boa 
■ordem  publica,  mas  lofjo  que  alguni  dos  prn- 
fessores,  por. qui'm  elies  tern  niais  sym])alliia, 
OS  adverte,  sciii  difliculdade  vnltam  aos  seus 
pacilicos  babitos  com  admiravel  doeilidade. 

Os  esludant^s  de  Uelsiiigfors  eslao  dividi- 
dos,  como  OS  de  Upsal  e  de  Lund,  em  niuilas 
classes,  ou  naroes.  Cada  iwrm  tem  uni  local 
proprio  para  a  sua  bibliotheca,  musicas,  e 
instrunientos;  onde  os  respectivos  membros 
vao  ler,  tocar,  ou  discutir  algumas  questOes 
iitterarias  ou  scientificas  de  maior  iiiteresse, 
para  se  habituarem  a  argumentar  e  fallar  em 
publico.  Cada  nacao  elege  entre  os  professo- 
rcs  da  universidade  um  inspector,  que  a  toma 
sob  sua  proteccao,  c  a  esclarece  e  aconsellia 
com  as  suas  luzes.  Ura  decidido  espirito  de 
corpo  reina  entre  eslas  nncoes  a  ponto,  que 
dcgenera  as  vezes  em  rivalidadc,  mas  nunca 
cbega  a  romper  em  desagradaveis  coiillictos. 
Todas  as  nutOei  coiebrara  'num  determinado 
dia  a  sua  testa  annual  com  «m  grande  ban- 
quete,  a  que  assiste  o  reitor  da  universida- 
de, 0  processor  inspector,  e  todos  os  mem- 
bros da  nacao.  Lera-se  poesias,  recitam-se 
composicoes  em  prosa,  e  i'azem-se  brindes  ii 
universidade,  aos  sens  cheles,  e  aos  lacos  de 
sympathia  e  de  honra  que  unem  entre  si  to- 
dos  OS  membros  da  namo. 

Estas  naroes  tem  privilegios  inviolnveis. 
Um  dos  principaes  e  o  poderem  admittir  ou 
recusar  livreniente  os  estudantes,  que  se 
pretendom  incorporar  no  seu  seio,  sem  te- 
reni  obrigacao  de  dar  os  motivos  da  admis- 
sao  ou  recusa.  Resulta  d'aqui  que  um  can- 
didate, que,  dirigindo-se  successivamente  a 
cada  nacao,  fosse  por  todas  recusado,  nao 
poderia  ser  recebido  na  universidade,  ou  ao 
menos  seria  nella  um  verdadeiro  parasita, 
que  nao  dependendo  senao  das  auctoridades 
superiores,  por  cuja  ordeni,  a  despeito  das 
naroes,  fora  admittido,  ver-se-bia  na  trisle 
necessidade  de  passar  uma  vida  isolada,  sem- 
pre exposto  as  perseguicoes  e  aos  odios  dos 
outros  escholares,  o  que  mais  cedo  ou  mais 
larde  o  forcaria  a  abandonar  a  universidade. 


Para  obviar  a  cstes  fnconvenientes,  os  chefes 
da  universidade,  ou  approvam  e  confirmam 
as  recusas  das  naroes,  ou  procuram  amiga- 
velmente  resolver  a  nacao  a  revogar  a  sua 
primeira  decisao.  Um  caso  d'estcs  teve  logar 
em  ISi'i  com  um  estudante,  que  fora  da  uni- 
versidade de  S.  Petersbourg. 
Ccnitinua. 


COLLEGIO  DE  S.  BENTO. 

No  dia  23  de  agosto  celebrou-se  'nestc  col- 
legio  a  primeira  dislribuicao  solemne  dos 
premios  conferiilos  aos  alumnos,  que  no  de- 
curso  do  anno  leclivo  Undo  se  distinguirara 
mais  por  seu  talento  e  superior  aproveita- 
mento  nas  diversas  aulas. 

0  digno  director  d'este  respeitavel  estabe- 
lecimento  litterario  celebrou  missa  no  ma- 
gnilico  lemplo  do  collegio,  que  ellc  tem  restau- 
rado,  assim  como  todo  o  edificio,  do  ruinoso 
estado  em  que  se  achava,  assistindo  aqueile 
acto  religiose  todos  os  collegiaes  com  o  seu 
uniforme,  os  professores  do  collegio,  lentes 
doulores,  e  outras  muitas  pessoas,  que  tendo 
sido  prevenidas  d'esta  funccao,  quizeram 
tornal-a  mais  luzida  com  a  sua  assistencia. 

Da  egreja  se  dirigiram  todos  para  uma 
espacosa  sala  do  collegio,  a  qual  so  achava 
ornada  com  ricas  armacoes  e  festoes  de  flores, 
havendo  logares  reservados  para  o  director,  e 
professores  do  collegio,  para  os  alumnos  pre- 
miandos,  e  para  os  hospedes;  uma  banda  de 
muzica  tocava  dentro  da  sala  diversas  pecas. 
0  sr.  Dr.  Joao  Antonio  de  Sousa  Doria,  profes- 
sor de  Ilistoria  no  lyceu  d'esta  cidade,  subiu 
entao  a  cadeira,  (|ue  estava  preparada  ao  topo 
da  sala,  e  leu  o  discurso,  que  publicamos 
aqui,  eque  menciona  com  o  merecido  louvor 
OS  importantissimos  services,  que  na  funda- 
cao  e  bom  governo  d'este  mui  util  estabele- 
cimento  tem  prestado  o  seu  beuemerito  fun- 
dador  e  director,  o  sr.  Manuel  Xavier  Pinto 
llomem. 

Collocado  'numa  das  mais  bellas  e  piio- 
rescas  situncOes  da  cidade ;  desl'ructando  de 
um  lado  o  magnilico  passeio  do  jardini  e 
eschola  botanica ;  e  gozando  de  outio  lado  a 
deliciosa  vista  do  Mondcgo  com  suas  apra- 
siveis  e  encanladoras  margens,  a  ponte,  e  o 
montc  da  Esjjeranca  com  o  grandiose  con- 
vento  de  Santa  Clara,  que  Hie  Ilea  fronteiro 
0  collegio  de  S.  Benio  e  uma  das  mais  sau- 
daveis  e  lindas  babitacoes  de  Coimbra.  0 
edificio,  ainda  que  nao  acabado,  e  um  dos 
melliores,  e  mais  grandiosos  da  cidade,  e  as 
obras  que  'nelle  tem  feito  o  seu  digno  dire- 
rector  a  custa  de  avultadissimas  despezas  tor- 
nam-o  o  mais  commodo  e  asado  para  habita- 
cao,  e  exercicios  litterarios  dos  collegiaes  que 
alii  siio  tractados  com  lodo  o  desvelamento  e 
exemplar  cuidado. 


134 


A  >educa^o  moral,  religiosa.  e  litteraria 
(los  collegiaes  nao  pudc  scr  niais  apurada  e 
proveitosa.  Uma  perfoita  rogulariJado  em  in- 
dos  OS  exercioios,  austiMa  vigilaucia,  e  assi- 
(liiidade  uas  aulas  t'azoiii,  (|ue  aluinuos  d'este 
colli'gio  sejaui  cnulu'fidos  por  sua  boa  nio- 
ligerafSo,  exemplar  jiroceiiiimnito,  e  soiida 
iiistniceao  nos  esludos  preparatoi'ios,  que  sao 
alii  eiisinado!;  por  lialjeis  professores. 

0  furso  (ie  Ilumanidudes  'neste  eollegio 
eomprehende  lalim,  francez,  iiiglez,  logica, 
rliclorica  e  geographia,  iiilroduecao  a  liislo- 
ria  iialural  dos  trez  rciiios,  arillimeliea  e 
geoinetria.  Para  os  alumuos  ainda  nao  iial)i- 
litados  para  frequentar  as  clas^ses  dc  lalim, 
ou  fraiuez  lia  uma  aula  de  insUuccilo  prima- 
ria  eorrcspoiideule  as  do  2."  grau  cstabele- 
cidas  na  lei  de  lSi4,  e  na  qual  sc  habililam 
competentemcnte  os  collegiaes. 

Tudo  concorre  portanlo  para  este  eollegio 
de  Ilumauidades  ser  um  dos  melhores  do 
leino,  e  que  mais  rclevaules  servicos  presta 
a  educacao  moral  e  litlcraria  da  mocidade  estu- 
diosa.  e  que  por  isso  muito  contribue  para  o 
progresso  dos  estudos  superiores,  que  so  po- 
derao  apert'eicoar-se,  quando  os  alumuos,  que 
OS  cursarem,  possuirem  os  solidos  conheci- 
nientos  de  todos  os  ramos  das  lelras  huma- 
nas,  e  os  elemeiitos  das  scieucias  physicas  e 
naturaes,  e  que  a  estas  indispensaveis  habili- 
tacoes  junctarem  o  habito,  e  o  amor,  que 
d'elle  nasce,  ao  csludo,  a  composlura  de 
costumes,  e  as  boas  disposicOes  moraes,  que 
inspiram  os  mais  uobres  e  geuerosos  senli- 
mentos. 

E  taes  sao  as  condieoes  que  o  eollegio  de 
S.  Bento,  em  Coimbra,  realisa  com  grande 
proveilo  das  lelras,  e  lionra  dos  scus  cuilores. 

J.  M.  DE  ABREU. 


DISCURSO 

nec'llado  no  rollesio  dc  H.  Bpnio  no 
ncio  do  sc  ronrrrirem  ttolcmnenien- 
te  ON  promioK  ao»  Nen**  alisninoM  no 
dia  33  de  aeoMlo  lic  I  S55,  pelo  Dr.  •). 
A.  de  ISouKa  Uoria. 

Cheio  de  regozijo  e  verdadciro  prazer  venbo 
iinnunciar-\os,  jovcus  aiumnos  do  eollegio 
de  S  Benlo,  (|uc  o  dignissimo  direclor  d'este 
estabelecimenlo  sob  o  consciencioso  voto  de 
\osso3  meslres,  resolvcugalardoar  as  faJigas, 
premiar  o  merito,  e  recoubecer  por  um  modo 
tao  poraposo  a  assiduidade  e  distinclo  apro- 
veitanienlo  d'alguns  de  vossos  corapaubeiros. 

Quando  as  lionras  assentam  sobre  o  reeo- 
nhecido  merecimeulo,  quando  os  louvores  sao 
a  expressao  da  \erdeira  lionra,  dislinguir  o 
nicrilo  onde  ella  existe,  e  uma  ac(;ao  sempre 
agradavel;  ouvir  nao  mcnlidos  louvores,  e 
sempre  gosloso  a  uma  alma  bem  formada. 

Sim,  jovens  aiumnos,  este  dia  festival  para 
vbs  outros,  dia  em  que  vao  ser  preraiados  e 
distinclos  alguus  de  vossos  collegas,  offerecc 


uma  prova  inequivoca,  do  que  acabo  de  di- 
zcr.  Com  etleilo  como  nao  ha  de  irasbordar 
d  alegria  o  mui  digno  director  deste  Collegio 
ao  eonlerir  dislincyOes  aos  sens  aiumnos?! 
Como  podereis  vos  todos,  jovens  collegiaes  e 
mais  Senhores,  que  meouvis,  deixarde  lomar 
paiie  ni'slas  lionras,  que  iao  euijiiuilicamente 
se  e\]iriiuem  com  a  distribuicao  de  preniios  e 
diplomas  dc  merito?! 

Vai  por  seis  annos  ([ue  existe  esle  collegio  sob 
a  direccao  litteraria  e  economica  do  illuslris- 
simo  sr.  Manuel  Xavier  Pinto  Ilomem  ;  os  cinco 
annos  primeiros 'num  local  dilVerenle  do  d'ho- 
je.  Mais  acanbado,  e  cm  posicao  menos  liygie- 
nica,  0  edilicio  de  S.  Francisco  da  Ponle  nao 
oll'erecia  as  commodidades  necessarias  a  um 
bom  eollegio  d'educacao.  Mas  o  sr.  Manuel 
Xavier  Pinto  Homem  com  uma  vontade  firme 
su])erou  obstaculos,  que  fariam  socobrar  (|ual- 
(|uer  outro,  e  mudou  o  sen  collegio  para  csla 
I'ormosa  casa.  Vos  todos  bem  o  vedes,  desdc 
agoslo  passado  o  digno  direclor  nao  se  tern 
poupado  a  sacrilJcios,  a  cuidados  e  despezas 
])ara  levar  ao  cabo  o  seu  piano.  Senhores, 
pelo  lado  litterario  nada  falla  j)ara  o  ensino 
da  instruceao  primaria  c  secundaria;  pelo 
lado  material',  pouco  resta  para  o  editleio 
ticar  com  lodas  as  commodidades  para  os 
collegiaes;  pelo  lado  regulamentar  e  policial 
0  collegio  de  S.  Bento  pbde  servir  dc  niodelo 
para  um  bom  collegio  d'educacao. 

A  estatistica  geral  dos  exames  dos  aiumnos 
do  aniigo  collegio  de  S.  Francisco,  c  hoje  de 
S.  Bento,  falla  mais  expressiva  do  que  eu  o 
podia  fazer;  e  o  elogio  mais  complete  da  boa 
direccao,  que  tern  presidido  aos  seus  estudos. 
E  crescido  o  numero  das  approvacoes  plenas, 
incomparavclmente  menor  o  das  simples  apro- 
vacoes,  e  uiiii  diminuto  o  das  reprovacoes. 
Contam-sc  na  1.'  ordem  40a  exames;  na  2.' 
70;  e  na  3.'  40.  Bem  simples  e  a  explicacao 
de  tao  satisfactorio  resultado,  resullado  tao 
honroso  para  o  collegio;  achal-a-heis,  Senho- 
res, no  bom  regimen  intcrno,  na  assidua  ap- 
plicacao  dos  aiumnos,  que  a(iui  tem  cursado 
OS  seus  estudos,  e  na  boa  escoiha  dos  seus 
professores,  I'eita  nos  annos  iindos. 

Nao  desista  pois  o  digno  direclor  da  em- 
preza,  que  comecou,  e  a  patria  Ihe  rendera 
louvores  jiela  boca  dos  paes  e  lutores,  que 
para  aqui  mandarem  seus  lilhos  ou  pupillos. 

Perdoai-me,  jovens  aiumnos,  por  me  ter 
desviado  um  pouco  do  meu  proposilo :  se  o 
liz,  foi  so  porque  esles  louvores  prendem  com 
OS  vossos.  Vos  ides  ouvir  os  nomes  dos  que 
mais  se  distinguiram  pelo  seu  bom  eomporla- 
mento  denlro  do  collegio  e  pelo  seu  aprovei- 
taraento  no  csludo.  .lovens  aiumnos,  deveis 
lixar  bem  esles  nomes  na  vossa  niemoria,  por- 
que a  dies  viriio  associar-se  ideas,  que  de- 
vem  desperlar  cm  vos  desejos  d'imitar  vossos 
companheiros.  (Foram  lidos  os  nomes  dos 
ulimnos  premiados.) 


135 


S5o  estes  os  alumnos  premiados  em  virtude 
da  confcrencia  que  leve  logar  cntrc  o  vosso 
benenierito  director  e  os  professores  respccli- 
vo.  Nao  sao  premies  Tilhos  do  patronato,  sao 
premios  bcm  merecidos.  Assim  cumpriu  o 
dignissinio  director  com  o  art.  50."  do  Novo 
Regulamenlo. 

Bern  scnsivel  e  a  falla  d'alguns  dos  pre- 
miados e  distinctos;  auscntes  nesta  occasiao, 
ser-lhes-iia  iransmittida  a  notieia  das  honras 
que  hojc  reccbem. 

Approximai-vos  agora,  vos  outros,  para 
quem  esta  festa  foi  deslinada:  vindc  receber 
da  mao  do  vosso  director  as  insignias  e  di- 
plomas lionoriticos,  que  tao  hem  merecestcs. 
{Seguiu-se  a  dislrihuirao  dos  premios  e  diplo- 
mas.) 

Agora 'so  me  resta  propor-vos  a  vos  todos, 
jovens  alumnos,  como  exempio  dignos  d'imi- 
tar  estes  mancebos.  Sirvam  as  honras,  (|ue 
elles  acabam  de  receber,  de  estimulo  e  incen- 
tivo,  que  vos  obrigue  a  ostudar.  Oxala  que 
no  fuluro  anno  lectivo  os  alumnos  internos, 
que  cursarem  as  aulas  d'este  collegio,  nao 
desiizem  da  senda  dos  noventa  e  oito  que  este 

Jassado  o  frequcntarani.  Se  forem  dignos  das 
onras,  que  vos  hoje  recebeis,  como  vos  igual- 
mente  as  receberao.  Disse. 

BELACAO    DOS   ALUMNOS   DO   COLLEGIO   DE  S.   BENTO 
PREMIADOS  NO  ANNO  LECTIVO  DE  1834 ISEiS. 

Latim. 

Antonio  Fialho  Machado — 2."  premio  —  medalha  de 
prata.  Latinidade. 

Paulo  de  Mendon^a  Falcao — 1.°  premio  —  medalha 
de  ouro. 


JoSo  Pacheco  Alves  de  Resende — 2.°  premio  —  meda- 
lha de  prata. 

Julio  Auguato  Heiiriques — 1."  accessit. 
Manuel  Pires  Marques  —  2.*  acccessit. 
Casimiro  Antonio  Fernandes — 3.°  accessit. 
Jos^  de  Sa  Coutinho — 1.'  distinci^ilo. 

Paulo  de  Mendoni;a   Falc3o — 1."  premio — medalha 
de  ouro. 

Antonio  Julio  Queiroz — 2.°  premio — medalha  de  prata. 

Pedro  Ignacio  Lopes — 1,"  accessit. 

Julio  Augusto  Henriques  —  2.®  accessit. 

Jose  de  Sa  Coutinho  —  1."  distinc(;ao. 

Casimiro  Antonio  Fernandes  —  2."  distinc^ao. 

Luiz  Antonio  Vellez  Andresson—  3.'  distinccao. 
Rhetorica. 

Jose  Luiz  Champalimaud  DulTe  —  2."  premio  —  me- 
dalha de  prata. 

Manuel NicoIaud'.\brcuCastello  Branco — 1. "accessit. 
Geornetria, 

Pedro  Ignacio  Lopes  —  1."  premio  —  medalha  de  ouro. 

Joaquim  dWlmeida  Peres  —  2,"  premio  —  medalha  de 
prata. 

Inlrodur^iio  a.  Historia  A'atural. 

Julio  Augusto  Henriques — I.°  preraio  —  medalha  de 
ouro. 

Franeez. 

Jos(*  de  Campos  Paes  —  1.°  accessit. 

Augusto  de  Carvalho  Vasques  de  Mesquita —  2.°  ac- 
cessit. 

Julio  Augusto  Henriques  — 3.°  acce.ssit. 
Instruc^do  primaria. 

Pedro  Maria  d'Alcantara  Hennah  —  2. "premio — me- 
dalha de  prata. 

ALfMNOS  EXTERNOS. 

L.tiiim. 
David  Nicolau  de  Sousa  Leitao — 1.°  accessit. 

Latinidade. 
Luiz  Guedes  Coutinho  Garrido —  1.°  accessit. 
Antonio  ftlanuel  Taborda — 2.°  accessit. 

Geornetria  e  Introduc^do. 
Joaquim  Machado  Cabral  e  Castro  —  1.'  distinccao. 

Logica. 
Antonio  Maria  d'Almeida  —  1.'  distinccao. 


IMPRENSA  DA  UNiVERSIDADE  DE  COIMBRA. 


Obras,  cujos  preroH  foraui  ullimameiite  retluzirtos. 


CompendioHistoricodoestadoda  Universid.  deCoimbra  no  tempo  dos  Jesuitas,  Lisboa  1 77 1,  4." 

A  me.^ma  obra  em  8.°  1772 

Andrada  — Chronica  d'ElRei  D.  Joao  IH,  Coimb.  1796,  4.°,  4  vol 

Damiaode  Goes —  Chronicasd'ElRei  D.  Manoel  edo  principe  D.  Joao,  Coimbra  1790,  3  vol.  4." 

Opuscula  quae  in  Hisjiania  illustrata  continentur,  Conimbr.  1791,8." 

Garcia  de  Resende  — Chrouica  d'ElRei  D.  Joao  II,  Coimb.  1798  4." 

Qfiorii  Hieronymi  — Opera,  Conimbr.  10  vol.  8." 

De  rebus  Emmanuelis,  Conimbr.   1791,  3  vol.  8." 

— —  De  gloria  et  nobilitate  civili  et  christianae  1792,  2  vol.  8."    

De  Justitia,  Conimb.  1793,  2  vol.  8." 

— — •-  De  regis  institutione  et  disciplina,  1794,  2  vol.  8." 

^  De  vera  sapieatia,  1794,  2  vol.  8." 

Legislaciio  Academica  desde  os  Estatutos  de  1772  ate  1830  inclusive,   pelo  Dr.  Jose  Maria 
de  Abreu,  Coimb.  1851,  4."    

desde  1851  ate  ao  fim  de  1854  pelo  mesmo,  1854,  4." 

sobre  Instruccao  primaria,  secundaria  e  superior,  ordenada  pelo  Conselho  Superior 

desde  1836  ate  1851.  Coimb.  1851,  4."    


PRECO 
.iiitigo    I  .Ictual 


1^000 
500 


1 11800 
400 
500 
2,11930 
l|i200 
500 
500 
480 
250 


600 
300 

1^200 
960 
160 
400 

1^80(1 
80(1 
300 
300 
300 
lOO 

36(1 
180 

480 


136 


OBSERVaCOES  METKOUOUXJICAS.  IKITAS  \0  (iAIil.XUTE    1)E  I'UVSICA 
DA   LMVEllSIDADE    1)E  COlMliKA. 


Anno'le 

J,   o         1 

n               1 
=   e         1 

si  g  s  1 

Piessilu  t 

tmo*|'I»erica   ao 

ueio  di.i 

Estudo  liy^runielrieo  da  almos- 
phi^ra  ao  ineio  dia 

§   = 

X   5 

Janeiro 

Alltira  linniiui'- 
Cilia  cenli^THila 

pur  aqnusii  cun- 
liilo   iij  ar 

Pies.s.1.,  do  ar 

SMCU 

(irau      iriinnii- 
daile  do  ar,  re- 
|ireiifnl  undo  pur 
1    o  e,lado   de 
salnrarfiK 

Qi,iinti,]nfli,  dc  va- 
por coDlkdo  cm  mm 
metro  cubico  d'ar. 

Diis 

(iriiij» 
rf  nil:;. 

MilliQietrus 

iMilliniPlrus 

Millin)t-lrus 

Grunimas 

I 

e.s 

764,00'J 

4,490 

759.519 

0  62 

4,658 

E. 

'i 

7,5 

759  056 

4,7i8 

754.328 

0,61 

4,0«8 

N. 

3 

8 

756,66 1! 

5,131 

751,531 

0,64 

5,295 

SE. 

4 

7,5 

757,267 

5,271 

751,993 

0,63 

5,449 

SE. 

5 

7 

759,320 

4,945 

754,375 

0,66 

5,121 

SE. 

6 

r, 

761, 5i2 

4,ei)9 

75l',,833 

0  67 

4,874 

E. 

7 

G 

762,537 

4,619 

757,918 

0,66 

4.U01 

E. 

8 

7 

702,060 

4,870 

757,190 

065 

5,043 

E. 

9 

7,5 

761,445 

4  961 

7.^,6,484 

0,64 

5,129 

E. 

10 

7,5 

758,904 

4,961 

753,943 

0  64 

5,129 

E. 

U 

8 

756,357 

5,291 

751,066 

0,66 

5,460 

S. 

12 

8,5 

754,6i2 

5,555 

749,067 

0,67 

5,723 

S. 

13 

9,5 

755,335 

5,939 

749,396 

0,67 

6,096 

s. 

14 

10 

753,9114 

6,232 

747,752 

0,68 

C,3I16 

s. 

15 

10 

753,883 

6,324 

747,559 

0,69 

0,41)0 

s. 

Ifi 

10 

752,666 

6, WO 

7J6,52fi 

0,67 

fi,i'J2 

s. 

17 

8 

747,326 

5,532 

741,794 

0,69 

5,7119 

s. 

18 

fi 

744,774 

4,899 

739.875 

0,70 

5,092 

s. 

I!) 

■»,5 

747,402 

4,482 

742,920 

0,71 

4.684 

N. 

20 

* 

753,897 

4,451 

749.446 

0,73 

4,1160 

s. 

21 

5,5 

755, -193 

5,275 

750,218 

0,78 

5,493 

NO. 

23 

6 

755,330 

5,668 

749,662 

0,81 

5,1191 

NO. 

23 

6,5 

749,434 

5,431 

74;, 003 

0,75 

5.635 

E. 

24 

8.5 

748  9iC 

5,GJ9 

743,277 

0,78 

.>,i:G1 

s. 

25 

6 

750,357 

5,5;;8 

744,829 

0,79 

5. 746 

S. 

!       .6 

7 

744,300 

5,993 

7311,307 

0,80 

6,207 

s. 

27 

8.5 

743,969 

6,7911 

737.171 

0,82 

7,003 

s. 

28 

8,5 

746,252 

7,213 

739,039 

0,117 

7,4111 

s. 

29 

11 

742.910 

8,715 

734,195 

0,89 

c,au9 

SE 

30 

12 

742,284 

9,411 

732.873 

0,90 

9,576 

S. 

31 

13 

749,212 

9,711 

739,501 

0,87 

9,841! 

s. 

int-tliii    } 
do  nipz  S 

7°, 72    1         753.271 

0,72 

H 

a 

Temjteratura 

PrcssSo  a 

tnwspherlca 

Grail  d^humitlaile  (h  ar 

Q 

■S 

Maxima  absoliila  .  .   13° 

Minima 4" 

Maxima  varia<;iio  ,   .     9" 

mm 

ta  .  .     764,009 

ltd 

S 

Minima  .   .   .   . 
IMaxima  excurs 

.   .  .     742,284 
HO  .   .        21,725 

■3   ^ 

Maxima  varia(;5o  .*.    .   .     0,29 

1^ 

Cuimbrn,  I."  de  Fevereiro  tJe  1855. 


Antonio  Sanches  CouIitOj  Director  do  GaLiuele  de  Phjsica. 


i)  JuiSititttt^) 


.lORlNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


RELATORIO 


itoliro  o  CNlado  fin  iiiNlnirrrin  prinia- 
ria  e  Npctindaria.  pi'iblica  t-  parlirii- 
lar.  <lo  Dislrirlo  nfliniiii»traliio  de 
I^iskboa,  om  niarro  dc  I  855. 


Frequtncia  das  escholas  de  instruccao  primaria 
e  secundaria. 


Nao  padecc  dilvida,  que  nao  pode  deixar 
de  notar-se  a  pouca  frequencia  das  escholas 
gratiiitas,  da  instruccao  primaria  e  secunda- 
ria, coraparativamenle  com  as  escholas  par- 
ticuiarcs,  pagas,  dasmesmasdisciplinas.  Com- 
tudo  pcio  que  respeita  aquelia  parece  obser- 
var-se  variacao  favoravel  na  opiniao  das  clas- 
ses ate  hoje  mais  renitentes,  o  que  por  Ventu- 
ra sera  fruclo  das  providencias  tomadas  desde 
algum  tempo,  e  da  persuasao,  que,  de  vagar 
sini,  mas  progressivamente  vai  medrando  da 
vantagem,  que  proporcionam  com  maior  lar- 
gueza  a  essas  classes  os  meios  obtidos  pela 
raelhor  cuitura  da  intelligencia. 

Pelo  que  respeita  a  instrucyao  secundaria 
cumpre-me  advertir,  que,  com  quanto  o  con- 
selho  d'este  lyceu,  segundo  cabe  nas  suas 
attribuicoes  legaes,  se  tenha  dcsvelado  com 
infatigavel  zelo  para  remover  as  causas,  que 
assustavam  rauitos  paes  dc  familia,  incutin- 
do-lbes  receios  de  mandarem  seus  filhos  as 
aulas  'nelle  estabelecidas  pelo  perigo  de  se 
Ihes  contaniinarem  os  costumes;  e,  posto  que 
a  exacta  observancia  das  bem  combinadas 
provisoes  do  seu  regulamento  policial,  tenha 
feito  affastar  individuos,  que  so  serviam  de 
dar  raau  exempio,  e  por  isso  prometta  attra- 
hir  OS  de  quem  o  paiz  tern  a  esperar;  com- 
tudo  de  outras  providencias  superiores  se 
precisa  ainda,  para  que  a  auctoridade,  e  vi- 
gilancia  paterna  se  considere  cabalmente  re- 
presentada  'nestas  escholas.  Aguarda-se  com 
impaciencia  o  regulamento  geral  dos  lijceus , 
que,  deferindo  preeisamente  a  natureza  d'estes 
cstabelecimentos  de  instruccao  e  educa^ao 
piibiica,  OS  converta  como  succede  cm  outras 
nacoes  (com  inveja  o  digo)  em  seminarios 
permanentes  de  letras  e  de  virtudes. 

Porem  estes  meios,  na  verdade  indispcnsa- 
YoL.  IV.  Setembbo  IE) 


vcis,  nao  serao  so  de  si  suiTicientes  para  que 
a  frequencia  das  escholas  publicas  se  tome  a 
que  deve  desejar-se,  e  e  necessario  que  seja. 
Ua  de  haver  sem  diivida  paes  de  familia , 
que,  apezar  de  tudo,  prefiram  mandar  os  fi- 
lhos as  escholas  parliculares,  emquanlo  po- 
derem  dictar  e  variar  alii  a  seu  talante  as 
condifoes  da  frequencia ;  condicoes  as  quaes 
OS  emprezarios  d'aquelles  estabelecimentos 
t^m  de  sujeitar-se  pelo  amor  do  proveito 
pecuniario,  que,  em  regra,  e  a  causa  que 
principalmente  os  obriga;  ao  passo  que  nas 
escholas  publicas  tiim  de  submetter-se  ao  re- 
gimen disciplinar. 

Para  occorrer  a  esle  gravissimo  inconve- 
niente,  que  faz  crear  habitos  de  orgulho,  e 
insubordinajao,  'numa  edade  em  que  se  ha 
mister  que  tudo  coopere  a  a(Teicoal-a  de  modo 
inteiramente  aquelle  opposto,  e  de  absoluta 
precisao  requerer  dos  emprezarios  provas  de 
maior  excepcao,  de  todo  o  ponto  competen- 
tes,  nao  direi  so  de  bom  comportamenlo  mo- 
ral, civil,  e  religioso,  no  quasi  esteril  senti- 
do,  em  que  infelizmente  se  tomam  em  geral 
estas  palavras,  mas  de  virtudes  solidas  e 
exempiares,  de  intelligencia  esclarecida,  de , 
zelo,  e  de  vocacao  dedicada,  que  de  certo 
nada  menos  pode  a  sociedade  pedir  a  ho- 
mens,  que  aspiram  ao  titulo  tao  respeitavel, 
e  ao  sacerdocio  tao  raomentoso  de  directores 
da  mocidade.  Abonacoes  officiosas,  por  desgra- 
ca  tao  faceis  de  obler,  e  que  ninguem  tcria 
em  conta  para  confiar  negocio  seu  particular 
de  alguma  monta,  nao  sao  de  nenhuma  sortc 
documentos  bastantcs  para  conferir-se  a  qual- 
quer  aventureiro  o  mais  transeendente  en- 
cargo  social. 

Alem  d'isso  um  regulamento,  que  prescre- 
va  as  condicoes  physicas  e  moracs,  religiosas, 
civis  e  litterarias,  de  que  se  nao  pode,  nem 
deve  prescindir  em  taes  emprezas  ;  que  deter- 
mine as  obrigacOes  disciplinares,  que  l4m  de 
cumprir  educadores  e  educandos,  e  providencia 
indispensavelmente  necessaria,  e  reclamada 
com  tanta  maior  urgencia,  quanto  e  certo  que 
vai  crescendo  de  modo  espanloso  o  numero 
dos  especuladores,  que  preferem  a  outros  este 
commercio,  ate  talvez  por  ser  o  unico  a  que 
a  auctoridade  piibiica  nao  tem  dado  regimen- 
lo!  E  quem  nao  v6  que,  estando  como  ainda 
esta  enlre  nos,  a  liberdade  tao  raal  compre- 
—1855.  NcM.  12. 


138 


hcndula  por  lalla  do  suffiiiente  conliecimento 
das  verdadpiras  doiitrinas,  as  caiisas  quo 
dcixo  ponderadas  lem  pxercido  e  cxerccm  per- 
nicioso  infliivo,  o  dan  azo  a  que  as  cscholas 
piiblicas,  espei'ialnieiUe  'iicsta  capital,  mule 
tanto  avulla  o  numero  das  ciuprezas  parlicu- 
lares,  sejam  pouio  fiequenladas? 

Mas  ainda  outia  causa,  e,  eomo  a  lenlio, 
gravissiiua,  tern  concorrido,  e  coucorie  de 
niodo  muito  cflicaz,  para  ([ue  as  aulas  do  Ijcou 
sojani  |iouco  frc(]uontadas,  c  e  a  falla  de  uni- 
Ibrmidade  Iciral  nos  compendios  por  onde  se 
Icem  as  disciplinas.  Nos  cstabclccimentos  de 
ensiuo  particular  prefcroni-se  geralmeutc  para 
tudas  as  disciplinas.  de  i|ue  se  fazcm  cxames 
na  uuiversidade,  os  compendios  adoptados  no 
lyceu  de  Coimhra,  isto  e,  na  mesnia  uuiver- 
sidade; cmquanto  que  no  lyceu  de  Lisboa 
cxplicam-se  os  compendios,  que  forani  esco- 
Ihidos  pelo  conselho  catliedralico  do  mesnio 
lyceu,  cscoiha,  que  nuiitas  vezes  tem  logar 
iintcs  por  nial  cabidas  contcmplacOes,  e  por 
condescendencias  indevidas,  do  que  pdos  mo- 
tives, qne  sds  deviam  fundameutal-a.  E  facil 
de  vcr  que  os  alunmos,  ou  seus  paes,  ou  sous 
educadorcs  hao  dc  prelerir  aqiiella  a  esta 
praelica.  Conlento-me  'ncste  momento  de  s6- 
mentc  aqui  apontar  a  causa  do  facto,  que 
era  preciso  explicar,  deixando  para  oulro  lo- 
gar nao  so  a  investigacao  luais  direcla  do 
mal  tao  grave,  que  provem  de  modo  inevita- 
vel  da  fulta  da  uuirorniidade  do  eusino,  mas 
tambem  indicar  o  remedio,  que  julgo  unico 
a  pouto,  e  0  so  decisive. 

Entretanto  do  Mappa  juncto  com  satisfac- 
cao  V.  M.  pode  tomar  conbecimento  seguro 
de  que  uiio  foi  tao  minguado,  como  acaso 
houvera  de  parecer,  tida  conta  as  considera- 
'  coes  notadas,  e  a  outras  muito  obvias,  o  mo- 
vimeuto  lilterario  da  iiixirucrao  primaria  e 
secundaria  d'estc  dislricto.  E  digne-sc  Y.  M. 
notar,  que  o  movimento  litterario  progrediu 
nao  so  em  geral,  com  respeito  ao  ensino  pu- 
blico e  particular,  mas  tambem,  e  dcsigna- 
damcnte,  com  respeito  ao  eusino  publico. 

Frequeutaram  as  escholas  piiblicas  e  par- 
ticulares  de  inslruccao  primaria  alumnos  sete 
mil  e  cincoenta  e  otto  (7:038),  sendo  do  se.xo 
masculine  cinco  iiul  oiiocenlos  e  sete  (S:8U7), 
e  do  feminino  mil  duzentos  e  cincoenta  e  um 
(1:231).  As  escholas  piiblicas  pertencem  trez 
mil  e  cincoenta  e  um  (3:U31)  do  sexo  mascu- 
line, e  oiiocenlos  e  um  (801)  do  feminino. 
As  cscholas  particulares  cabem  dois  mil  sele- 
centos  e  cincoenta  e  seis  (2:730)  alumnos  do 
se.xo  niasculino,  c  quatroccntos  e  cincoenta 
\450)  do  feminiuo.  D'onde  resultaque,  apezar 
do  ensino  parlii'ular  em  Lisboa  ter  tido  gran- 
de  incremenio,  e  liavcr-se  tornado,  com  ver- 
gonba  0  digo,  mero  trafego  industrial,  com- 
mercial, ou  mercantil,  ainda  assim  o  numero 
(las  escholas  piiblicas  na  inslruccao  primm-ia 
excede  cm  seiscentos  e  qnarenia  e  seis  (640) 


0  numero  dos  alumnos  da.5  cscholas  parti- 
culares. 

No  tocante  a  inslrucrSo  secundaria  tenho 
da  mcsma  sorte  a  salisl'accao  de  levar  ao 
conliecimento  de  Y.  M.  como  foi  consignado 
ja  no  relatorio  annnal,  que  o  conselho  do 
lyceu  fez  subir  a  presenca  dc  V.  M.  pelo 
conselho  superior,  que  abriram  matricula  nas 
dilTerentcs  cadeiras  trezentos  e  vinle  e  nove 
(329)  alumnos,  fcchando-a  cento  e  oitenta  e 
dois  (182);  dos  quaes,  lendo-se  apresentado 
a  exame  cento  e  quarenta  e  noce  (149),  lica- 
rani  approvados  cento  e  dezoilo  (118"). 

Da  instruccao  secundaria  nos  estabeleci- 
mcntos  jiarticulares  nao  inc  e  possivel  inl'or- 
mar  com  exaclidao  a  Y.  M.,  jiorque  os  map- 
pas,  que  sao  obrigados  a  apreseular  os  dire- 
ctores  d'estes  estabelecimenlos,  uns  nao  sao  J 
feitos  com  a  necessaria  clareza,  e  cxactidao,  \ 
outros  sao  apresentados  fnra  de  tempo,  alguns 
nao  sao  rcmctlidos  dircctamente  a  esta  com* 
missao  dos  estudos,  c  muitos  cm  ncnhuma 
parte  sao  ajiroscntados.  Neni  cstcs  niappas, 
alias  utilissimos,  sao  nunca  feitos  como  de- 
vem  scr,  emiiuanto  nao  liouver  modellos  mais 
adaptados  ao  lim  que  sedezeja;  nem  serao 
apresentados  em  tempo  compelente,  emquan- 
to  OS  directores  dos  estabelecimentos  littera- 
rios  particulares  uiio  forcm  obrigados  a  apre- 
sental-os  em  epochas  impreteriveis,  nas  respe- 
clivas  commis.socs  dos  estudos,  licando  sujci- 
tos  a  pagar  uma  multa  prelixa  que  seja  co- 
brada  administrativamcnie  por  ordem  dos 
administradores  dos  bairros  de  Lisboa,  ou 
dos  eonselhos,  logo  que  Ihes  for  assim  reque- 
rido  pelo  commissario  dos  estudos,  o  qual  de 
tudo  devera  dar  parte  a  Y.  M.  pelo  conselho 
superior.  A  experiencia  prova  dc  lufldo  in- 
veucivcl,  que  cm  objcctos  de  similhante  na- 
lureza,  so  as  medidas  coercitivas  produzem 
0  elleito  (|ue  se  iiretende.  E  por  estc  motivo 
que  lenlio  a  hnnra  de  aprcseutar  a  V.  M.  uma 
proposla  dc  lei. 

Comtudo  poderei  informar  a  Y.  M.,  que, 
dos  alumnos  da  instruccao  secundaria  nos 
estabelecimentos  particulares,  concorreram, 
no  anno  lectivo  findo,  a  exame  no  lyceu  cin-  \ 
coenta  e  um  (3!),  dos  quaes  licaram  appro- 
vados quarenta  e  cinco  (43). 

Por  ultimo  obscrvarei  que  os  alumnos  de 
instruccao  primaria,  que  ficaram  habilitados 
no  anno  lectivo  de  1833 — 1854  foram  duzen- 
las  e  doze  (212),  por  screm,  de  cntrc  duzen- 
tos e  sctcnta  e  sete  (277),  os  que  obtiverara 
approvacao  no  exame,  a  que  se  sujeitaram. 

Visita  as  escholas  de  instruccao  primaria 
e  secundaria  de  Lisboa  e  seu  districto. 


A  visita  das  escholas  piiblicas,  e  dos  esta- 
belecimentos particulares  litterarios,  e  sem 
duvida  meio  adequado  e  por  ventura  o  mais 


139 


effcctivo  para  prevenir  dcsvios,  para  atalhar 
abusos,  e  para  promover  melhoramentos  va- 
liotfos  no  cnsino  piiblico,  jii  corripindo  a  in- 
furia,  ja  exr,itan(lu  o  zclo  dos  professores,  e 
dos  educadores  da  mocidade.  Com  razao  estas 
visilas  Silo  ordenadas  jielo  dccrelo  de  20  de 
setembro  de  1844,  art.  161,  §.  1,  c  recom- 
niendadas  tanto  a  niiiido  pelo  consclho  supe- 
rior: a  experiencia  tem-mi'  evidcnciado  o 
provcito  que  pode  lirar-se  d'ellas. 

EiUrchiiito  e  t'orra  conressal-o,  nao  c  pos- 
sivel  ao  coniniissario  dns  csliidos  do  districto 
dc  Lisl)oa  prccncbcr  iura  da  capital  este  sen 
devcr,  alias  de  tao  graiide  iitiiidadc  |)iil)lica, 
sem  que  seja  auxiiiado  para  esse  lim  com  urn 
subsidio  pecuniario.  E  tao  dimiuuta,  melhor 
direi  tao  mesquinha,  e  csta  tao  abaixo  do  (|ue 
requcr  o  muito  trabailio  e  a  Iranseendencia 
das  obrigarOes,  ipie  pesam  sobre  o  commis- 
sario  dos  cstudos,  a  gratiiicacao,  que  Ihe  foi 
arbitrada,  que  toda  fora  eonsumida,  e  ainda 
nem  a  custo  Ihe  cbegara  para  fazer  a  visita 
lilteraria  do  districto,  a  nao  ser  visita  de 
mera  utilidade.  Porem  nao  e  isto  o  que  V.  M. 
C'uer:  e  outro  neccssariaraente  o  tim  da  lei. 
l\Ias  sendo  assim,  como  devom  corresponder 
aos  fins  OS  meios,  julgo  de  absohita  necessi- 
dade,  que  o  commissario  dos  cstudos  seja 
provide  dos  que  ihe  sao  indispensaveis  para 
I'azer  a  visita  de  todo  o  districto  quando  c 
como  haja  de  julgal-o  mais  proficuo. 

Entao,  e  so  entao  se  podera  requerer  do 
commissario  dos  estudos  de  Lisboa,  que  faoa 
periodicamenle  a  visita  litteraria  do  districto 
a  seu  cargo.  Antes  d'isso,  pedir-lhe  o  que 
nao  pode  dar,  tomar-lhe  contas  do  que  nao 
estava  ao  seu  aleancc  satislazer,  cquivale  a 
obrigal-o  ao  impossivel. 

E  ha-de  o  Commissario  dos  cstudos  apre- 
sentar-sc  so,  e  menos  decorosamente  em  acto 
de  visita?  Nao  ha  de  acompanhar-se  de  um 
empregado  da  commissao,  a  i|uem  incumba  os 
autos  da  visita,  e  o  desempenho  do  demais 
sorvico,  que  possa  ser  nccessario?  Nao  pode- 
rao  seguir-se  cm  muitos  casos  gravissimos 
inconvenientes  de  so  achar  a  sos  com  o  pro- 
fessor visitado?  Pelo  menos  e  logo  certo  o  da 
desconsideraeao  do  commissario,  (|ue,  dadas 
circumstancias  muito  provavcis,  lera  de  (igu- 
rar  nao  raras  vezes  tristementc. 

Desciilpe-me  V.  M.  a  Iranqueza  d'esta  lin- 
^agera;  se  nao  e  enfeilada,  tao  pouco  liavera 
ftindamento  para  a  taxar  de  desrespeitosa :  e 
a  da  verdadc.  Sei  qual  e  o  meu  derer,  nao 
careco  de  vontade  para  cumpril-o,  e  precise 
piorem  que  estejam  a  mao  os  meios  de  preen- 
cbel-o:  estes  os  pcco  e  pedirei  dcsassombra- 
damente  a  quem  deve  prestal-os,  c  tenho  di- 
reito  a  pedil-os. 

Cantinua. 


0  BUgACO. 


Uneni  ha  que  nao  tcuba  visitado  iiojc  o 
Bunico,  e  que  a  sombra  d'aquelies  annosos 
cedros,  oujuncto  das  suas  devotissimas  ermi- 
das  nao  tenha  gozado  moraentos  dc  ineffavel 
prazer,  profunda  emocao,  e  intimo  recolhi- 
mento?  (Jucm  juucto  de  suas  fonles  nao  tern 
passado  boras  de  suave  e  terna  melancolia? 
yuem  do  «  Calvario,  »  ou  da  «  Cruz  alta  '• 
nao  tern  coutemplado  o  grandioso  espcrtacu- 
lo  d'a(|uelle  vasto  horisonte,  ([ue  vai  perder- 
se  na  oria  das  espumantes  aguas  do  Occano? 
quem  da  «  portaria  )■  nao  tern  assistido  ao 
saudoso  por  do  sol  'nuraa  dessas  I'ormosas 
tardes  do  calmoso  estio,  quando  a  doce  brisa 
voni  deeipar  os  ardores  do  astro  radioso? 
Depois  0  c.onvento  higubre  e  siiencioso,  rpie 
admiravelniente  contrasta  na  sua  austera  po- 
breza  com  as  poniposas  galas  d'aquella  mata 
frondosissima. 

Um  ar  sempre  puro;  aguas  deliciosa.s,  pas- 
seios  magnilicos,  tudo  eoncorre  para  tornar 
este  Jogar,  vcrdadeiramente  monumental  no 
seu  genero,  a  mais  bella  e  deJiciosa  habita- 
cao  durante  os  raezes  do  estio  c  outono. 
Juucto  dos  muros  da  mata  existera  excellentes 
aguas  ferreas,  na  falda  do  monte  os  banhos 
de  Luso,  bem  coniiecidos  por  sens  admiravcis 
effeitos  medecinacs,  c  ([ue  segundo  o  piano  e 
obra,  por  que  se  andam  restaurando,  nao  tcm 
enveja  aos  melhores  cstabelecimentos,  que 
neste  genero  possuimos,  se  nao  que  a  quasi 
todos  levam  ventagem. 

Assim  0  Bucaco  reune  hoje  todas  as  condi- 
cOes  para  ser  cada  vcz  mais  frequcntado,  c 
para  se  tornar  esta  halutacao  mais  procurada 
de  muitas  leguas  em  torno,  e  ate  de  grandes 
distancias,  desde  o  mcado  da  primavera  nle. 
aos  tins  do  outono. 

Yimos  aqui  miiitas  vezes  cstrangeiros,  (|ue 
tern  percorrido  os  bellos  vallcs  da  Suissa,  e 
suas  pittorescas  montanhas,  contemplar  com 
admiracao  e  surpreza,  no  meio  das  e.scalva- 
das  serranias,  que  cercam  o  Bucaco,  esta  ma- 
gniliea  mata,  cujos  soberbos  cedros  disputani 
a  ])rimasia  aos  mais  eievados  do  Libano.  )■] 
todavia  o  Bucaco  com  todas  estas  J>elleza> 
naturaes,  com  todas  estas  favoraveis  disposi- 
coes,  que  em  nenhum  outro  ponto  do  reino 
se  encontram,  e  que  muitos  paizi's  nao  tem 
a  fortuna  de  possuir,  o  Bucaco,  dizemos,  ahi 
esta  em  compieto  abaudono,  e  ainda  mal, 
que  fora  so  o  abandono,  que  ao  menos  tivera 
aiguns  an-jios  mais  de  existencia;  c  talvez 
apos  de  nos  viesse  uma  geracao,  que,  para 
salvar  a  vergonha  da  que  a  precedera,  inlen- 
tentasse  restaurar  este  vencraudo  mohumen- 
to,  levantado  em  mais  rudes  tempos,  pela 
picdade  dos  fdhos  do  Carmello,  que  n'esta 
aprasivel  solidiio  vinham  refugiar-.se  do  buli- 
cio  do  seculo,   para  a  sos  se  entregarem  a 


140 


IJiaolu'a  doj  raais  austeros  excrcicios  religio- 
^os,  c  que  cuidadosamcnto  se  csmeravam  na 
conservarao  e  augmcnto  d'este  scu  tao  qiie- 
rido  ermo,  como  se  foram  grandes  e  cxperi- 
raentados  agronoraos  d'alguma  dessas  gran- 
jas  raodclos,  ou  dessos  pomposos  iustitulos 
agricolas,  que  por  ahi  vemos  tao  inculcados. 

0  Buraco,  porem,  nao  esta  so  em  abaiido- 
no;  esia  entregue  a  um  conipleto  vandalismo, 
que  em  pouios  annos  ameara  de  ronverter 
cm  searas  de  milho  os  plainos  e  encostas, 
que  0  niaeliado  deslruidor  vai  desassombraudo 
das  fiondosas  arvores,  que  erani  a  sua  me- 
liior  riqueza,  e  o  sen  mais  bello  ornato.  Os 
autigos  possuidores  do  Bucaco  cultivavam  ape- 
nas  juiu'to  ao  edilitio  do  convenlo  uma  peque- 
iia  horla.  Nao  havia  acjui  nem  abcgoaria,  iiem 
service  de  lavoura,  (|uc  exeusado  era  elle,  on- 
de  0  terreno  era  todo  de  copado  arvoredo. 
Ilojc  ao  contrario  o  casciro  ou  fcitor,  que  de 
[ado  aqui  govcrna,  susteiUa  uma  juncta  de 
liois  "  para  t'azer  as  suas  lavouras  noBu(;aco,» 
I'  vai  arroteando  o  terreno,  tomo  se  fora  um 
liaidio,  sem  niiiguem  Ihe  pedir  eonlas  desse 
desbarato!  Os  mais  copados  eedros,  carva- 
llios  magnilicos,  sobreiros  e  outras  das  melho- 
rcs  arvores  vao  lodos  os  dias  desapparccendo. 
Com  algunias  topamos  nos,  esle  anno,  roladas 
no  chao,  e  d'outras  vimos  os  pes,  que  moslra- 
\Am  ter  sido  corlados  recentemente,  ao  passo 
que  se  nao  tem  posto  o  machado  nos  grandes 
pinheiros  e 'noutras  arvores,  ja  seccas  ecarco- 
juidas,  que  em  sua  queda  cminente  amearam 
derribar  as  que  ihe  ficara  cm  torno;  porque 
eilas  50  dao  trai)alho  para  se  cortarcm,  e  nao 
rendem.  Aigumas  dessas  arvores  seculares, 
derribadas  pelos  vendavacs,  ou  fulminadas 
jielo  raio,  la  jazem,  ha  annos,  por  terra,  ar- 
rastando  comsigo  na  sua  queda  muitas  deze- 
nas  d'arvores,  com  que  tem  augmenlado  as 
fiarczas  da  mata,  c  inlerrompido  a  fresca  e 
aprasivel  sombra  dos  mais  belles  passeios. 

0  interior  da  mata  esta  reduzido  a  um 
cerrado  matagal.  Nunca  mais  se  tornou  a 
plantar  alii  uma  so  arvore,  nera  se  quer 
a  limpar  as  que  existiam,  ou  tem  nascido  ao 
acaso.  As  melbores  ruas  da  mata,  a  exccpcao 
da  que  vai  da  portaria  ao  convento,  e  d'ahi 
a  porta  de  Sula,  estao  quasi  de  todo  obstrui- 
das,  'nalgumas  o  transito  e  j.i  impossivel;  e 
d'outras  ate  os  vestigios  se  perdcram!  As 
cbuvas  tem-lhes  cavado  o  pavimento,  desmo- 
ronado  os  socalcos,  e  derribado  as  escada- 
rias  pelo  indesculpavel  dejmazelo,  de  Ihes 
nao  abrir  os  desaguadouros. 

As  fontes,  que  tao  bellas  corriam  em  diffe- 
rentes  pontos,  c  que  tao  amenos  e  aprasiveis 
laziam  os  sitios,  onde  o  suave  mermurio  de  suas 
aguas  Vonvidava  a  meditaoao  e  ao  mais  intimo 
rccolbimento  d'alma,  jade  todo  desapaceram, 
restando  apenas  nos  destruidos  canos,  por  on- 
de cram  encaminbadas  com  engenhosa  traya, 
escBfos  vestigios  da  sua  existencia.  Das  capel- 


linhas  e  cremiterios  c.icusado  e  fallar.  Aigu- 
mas dellas  sao  ja  um  montao  de  ruinas;  'nou- 
tras as  silvas  tocam  ale  a  ventana  do  antigo 
campanario,  que,  nas  boras  mortas  esilencio- 
sas  da  noite,  correspondia,  grave  e  solemnc, 
ao  dobre  do  sino,  que  no  convenlo  chamava 
OS  religiosos  a  oracao  matinal.  Em  todas  os 
estragos  e  ruinas,  que  a  mao  do  tempo  e  a 
niao  ainda  mais  barbara  dos  reformadores  de 
machado  tem  causado,  sao  cada  vez  raaiores. 
Apenas  os  telbados  do  convento  e  da  porta- 
ria foram  ha  pouco  rcparados  ii  custa  de 
madeira,  que  da  mata  se  vcndeu  com  aucto- 
risacao  do  governo,  mas  sem  as  devidas  pre- 
caucoes  para  evitar  o  destroco  da  mata! 

Nao  exageramos  o  quadro,  nem  carrcga- 
mos  0  pincel :  exprimimos  sinecramente  a  dolo- 
rosa impressao,  (jue  nos  causoii  ver  em  lasti- 
moso  abandono,  e  traclado  com  tanto  desprezo 
um  dos  nossos  mais  bellos  monumcntos,  tao 
rico  em  primores  c  galas  da  natureza,  que 
nem  loda  a  arte  e  riqueza,  por  mui  subida  que 
seja,  pode  se  quer  rastejar.  Custa  ver  em 
poucos  annos  destruir  uma  obra  monumental 
de  seculos,  que  de  maos  piedosas  tao  aprirao- 
rada  recebemos,  nos  «  os  filbos  queridos  da 
civilisacao  »  para  vel-a  acabar  tao  barbara  e 
brutalmente. 

De  feito  o  Bugaco  esta  hoje  como  um  dos- 
ses antigos  sola  res  d'alguma  familia  nobre, 
cujo  solarengo  so  cura  de  grangear  a  terra 
para  lucrar  em  seus  fructos,  deixando  cahir 
em  ruina  ou  desbaratando  os  jardins,  vergeis 
e  arvoredos,  para  correr  por  dies  livremente 
a  rclba  do  arado.  0  solarengo,  |)oreni,  rendia 
vassagem,  e  pagava  ccrtos  direitos  ao  scnhor 
do  solar  :  o  caseiro  do  Bucaco  grangeia  so  para 
si;  poe  e  dispoc  como  proprietario  de  tudo, 
aluga  as  hospedarias,  e  casas  do  convento  as 
faniilias,  que  para  aqui  vem  passar  o  verao; 
collie  OS  fructos;  vende  as  madeiras,  como  e 
quando  Ihe  apraz;  e  nem  renda  nem  tributes 
paga  desta  propriedade,  que  so  para  este  fira 
se  considera  como  «  monumcnto   nacional!» 

0  governo  oonliara  primeiro  a  administra- 
fao  do  Bucaco  ao  seu  ultimo  prior,  conce- 
dendo-lhe,  como  unica  retribuifao  deste  nao 
pequeno  service,  os  fructos  que  alii  celhesse, 
para  sua  parca  sustentacao.  Falleceu  elle, 
passados  alguns  annos,  e  a  adminislracao  do 
Bucaco  passou  as  maos  menos  vigorosas  de 
um  outro  respeitavel  aneiao,  antigo  morador 
d'esta  casa.  0  amor  d'aquelle  ermo,  onde  elle 
passara  em  austeros  exercicios  alguns  dos  mais 
formosos  dias  da  sua  mocidade;  o  sentimento 
intimo  da  sua  consciencia,  que  Ihe  dizia,  que 
um  lilho  do  Bucaco  nao  devia  recusar  a  mae 
querida  os  seus  derradeiros  services;  esse 
entranhavel  affecto  que  invencivelmente  nos 
liga  as  pessoas  e  aos  logares,  onde  primeiro 
abrimos  es  olhos  a  luz  da  razao,  tudo  venceu 
no  animo  de  bom  religiose  a  natural  e  jusla 
repugnancia    de  tomar  sobre  seus  hombros. 


141 


vergados  ja  pelo  peso  dos  annos,  um  encargo, 
<iuc  elle  mal  podia  desempenhar,  isolado  'ncstc 
crmo,  e  como  que  abandonado  dos  homens  e 
das  cousas  do  niundo! 

Um  creado  do  antigo  prior,  souhc  desdc 
logo  tirar  panlido  d'eslas  disposifocs  do  novo 
adniinistrador,  para  se  senhorear  de  ludo,  e 
converler  em  sou  pessoai  interesse  o  lucro, 
que  'naquella  admiiiistracao  podia  haver.  A 
mala  so  Ihe  inlercssava  pclas  madeiras,  que 
delia  podia  tirar  com  o  duplicado  lim  de  ga- 
nhar  o  prcro  da  venda,  e  de  desafrontar  o  ter- 
rene para  estender  a  sua  lavoura,  e  gran- 
gear  melliorcs  e  mais  largos  tractos  de  terre- 
ne. Da  linipeza  das  ruas,  piantacao  de  novas 
arvores,  e  lioa  direcrao  das  aguas  nao  leve 
nunca  o  menor  cuidado,  per  que  disto  so 
tirava  despesa  sem  fructo  algum  para  die! 

E  contra  estes  escandaiosissimos  abuses 
que  vale,  ou  que  podem  os  bons  dcsejos  e  a 
sincera  vonlade  dcsse  anciao,  quasi  nonage- 
rio,  sem  auxiiio  nem  forra  para  fazer  respei- 
tar  a  sua  auctoridade?  Deus  sabe  quantas 
vczes  0  vencrando  sacerdote  de])rucado  junto 
do  altar  sancto;  ou  sentado,  solitario  a  desho- 
ras  da  noite,  no  coro,  onde  tantas  vczes  en- 
toara,  cercado  de  nuraerosa  communidade  de 
irmaos  religiosos,  a  divina  psalmodia,  tera 
clle  agora,  unico  de  tantos,  que  alii  forani, 
lamentado  a  desventura  de  Ihes  sobreviver, 
para  ser  testemunha  silenciosa  da  destruicao 
do  seu  ermo,  que  elle  tambcm  com  suas 
raaos  ajudara  a  cultivar,  e  que  tao  beilo  e 
formoso  vira  ncsses,  para  elle  dourados  tem- 
pos, da  sua  mocidade  ! 

0  governo  mandou  para  o  Bucaco  scis 
veleranos,  que  aqui  vimos  paciHcamente  entrc- 
lidos  nos  lavores  e  trabalhos  de  costura  e  de 
nieia,  para  nao  alimentar,  talvez,  a  ociosida- 
de,  estranba  aos  babitos  da  sua  prolissao. 
Acbamos  acertada  a  lembranca,  mas  insufli- 
ciente,  ou  inelicaz  ja  pelo  escasso  numero 
d'homens,  de  que  se  compoe  aquella  "  veiha 
guarda,  »  ja  por  nao  tercm  um  official,  que  os 
commando,  e  que,  residindo  aqui  com  o  padre 
adniinistrador,  o  auxiliasse,  e  Ihe  prestasse  a 
forca,  de  que  sobre  tudo  earece.  Actnalmente 
OS  veteranos  vivom  aqui  como  acastellados  na 
portaria  do  convento,  e  nem  servem  para  a 
policia  da  mata,  nem  se  empregam  na  linipeza 
d'clla,  como  conviuha,  so  fossem  mais  em  nu- 
mero, e  tivcssem  por  estc  servico  uraa  pe- 
quena  gratificacao;  'nisto  aproveitariam  elles 
melhor  o  tempo,  eo  publico  ganharia  mais  do 
que  nas  suas  obras  de  meia  ou  costura. 

Acabar  com  os  escandalosos  abuses  da  admi- 
nistracao  do  Bufaco,  e  prover  a  sua  restau- 
racao  e  conservacao,  e  obra  tao  instante  e 
tao  digna,  que  nao  cremos  haja  'nesta  nossa 
terra  governo,  que  por  ella  se  nao  interesse, 
e  que  nao  procure  desvelladaraente  remediar 
OS  passados  descuidos  com  novas  e  acertadas 
providencias.  Cada  mez,  cada  semana,  e  atd 


cada  dia  de  abandono  para  o  Bucaco  cor- 
respondc  a  longos  annos  de  completa  rui- 
na.  0  machado  destruidor  nao  poupa  o  nia- 
gcstoso  cedro  do  Libano,  o  soberbo  carvalho, 
e  0  annoso  sobreiro.  Uma  hora  basta  para 
aniquilar  esta  obra  de  seculos.  E  quando  a 
mao  destruiddra  do  vandalismo  tiver  rareado 
cssa  espessa  e  frondosa  mata;  quando  as  suas 
hollas  ermidas  estivereni  rcduzidas  a  montoes 
de  ruinas,  quando  os  escalvados  penhascos 
do  Bucaco  campearem  a  descoberto  no  pen- 
dor  da  montanha;  quando,  no  volver  dos  tem- 
pos, da  "Cruz  alta »  ate  o  emblema  se  per- 
der,  0  navegante  juncto  as  praias  do  Oeeano, 
e  0  viajantc  avistando  de  longe  cstas  sandas 
ruinas,  se  curvara  reverente  ante  cllas,  e 
amaldicoara  a  memoria  da  gcracao  ignara 
e  barbara,  que  assim  deixara  perder  aquelle 
venerando  monumcnto,  tao  rico  de  singula- 
res  dons  da  natureza,  e  tao  cbeio  das  mais 
piedosas  e  sublimes  recordacoes,  dos  mais 
ternos  e  caros  affectos  d'alma! 
Bucaco,  setembro  1855. 

J.  M.  DB  ABREi:. 


TELEGRAPHIA   ELECTRICA. 


Contlnuadu  de  pag.  120. 


IV. 


Telegrapho  inglez. 

Em  Inglaterra  e  'nalguns  estados  dc  Alle- 
manha  os  telegraphos  geralmente  usados  tcm 
muita  analogia  com  os  de  Breguet  destinadns 
para  o  servico  do  estado.  Tem  dois  ponteiros, 
e  as  letras  sao  indicadas  pelo  numero  de 
oscillacoes  dc  um  dos  ponteiros  de  jier  si,  ou 
d'ambos  simultaneamente.  Assim  por  exem- 
plo,  estando  fixo  o  ponteiro  da  direita,  se 
0  da  esquerda  (izer  um  movimento  para  a 
esquerda,  este  signal  indicara  o  ponto  de 
suspensao;  se  o  mesmo  ponteiro  (izer  dois 
movimentos  no  mesmo  sentido  exprimira  A, 
se  fizer  tres,  B:  um  movimento  a  esquerda 
do  ponteiro  d'este  lado,  e  outro  a  direita  de- 
signara  a  letra  C,  e  assim  successivamente, 
combinando  os  movimentos  dos  dois  pontei- 
ros. Os  pequenos  arcos  descriptos  pelos  dois 
ponteiros  sao  limitados  por  caravelhas  nas 
quaes  elles  vao  topar.  Para  os  fazer  mover 
ora  para  a  direita,  ora  para  a  esquerda  mu- 
da-se  por  meio  de  commutadores  a  direccao 
das  correntes. 

0  desvio  da  agulha  magnetisada,  que 
Oersted  descobrira  em  18^0,  eoprincipio,  em 
que  particularmente  assenta  o  machinismo  do 
telegrapho  inglez. 


142 


Oersted  obserr.ira,  que.  approximando  um 
conductor,  que  rouiio  os  dois  polos  da  pillia, 
<lu  lima  apuiha  collorada  hoiisontalmcnte  so- 
lirc  uraa  haste  vertical,  aaguiha  era  desviada 
da  sua  dircerao  'nuni  sentido  quando  o  con- 
ductor |)assava  por  bnixo  d'ella,  e  'iioulro  pas- 
sando  por  rima ;  c  quando  a  direccao  da 
corrente  mudava,  Uimbcm  a  aguiha  cxperi- 
nienlava  cjjiial  imidanca  na  sua  direccao. 

Se  por  cxenipio  unia  ajjuiha  inagnetisada 
lor  coiocada  oiilrc  dois  tins,  nos  quaes  a  cor- 
rcnte  segue  duas  dircccOcs  opposlas,  a  cor- 
rente  elcctrica  tendera  a  lazer  desviar  a  aguiha 
no  mesmo  .senlido  com  unia  intensidade  du- 
pla ;  e  se  era  vez  de  um  fio  sc  empregam  dois, 
quatro,  seis  ou  mais;  ou,  o  que  iniporta  o 
mesmo,  se  um  mesmo  tio  sc  faz  girar  um 
certo  iiumcro  de  vezcs  ahai\o  e  acima  da 
aguiha  inagnetisada,  augmentara  tamhom  a 
tendcncia  d'esia  aguiha  a  dcsviar-sc,  'num  ou 
'noutro  sentido,  com  o  luimero  de  giros  que 
o  lio  lizer  ate  a  um  luaximo,  que  sera  o  limile 
d'esse  movimcnto. 

Quanlo  maior  lor  a  intensidade  da  corren- 
te,  maiores  serao  as  oscillacOes  da  aguiha  ou 
dos  ponteiros,  que  tomando  assim  diveisas 
posicocs  designarao  diversos  signaes.  Para 
tornar  maior  a  scnsibilidade  do  apparelho, 
Mohili  emproga  dois  ponteiros  um  interior, 
outro  exterior,  e  pOe  o  polo  de  um  em  oppo- 
sicao  ao  do  outro  para  dcstruir  em  parte  a 
accao  da  terra. 

Tal  c  0  processo  adoptado  em  Inglaterra. 
Os  dois  ponteiros  sao  fixados  sohre  um  eixo 
horisontal  na  parte  interior  c  extorinr  do 
quadranle:  sobre  este  eixo  esta  collocado  um 
multiplicador  de  300  nietros,  i|ue  e  de  lio  de 
cobre  involvido  em  seda.  Os  lios  estao  enlea- 
dos  em  doisquadros,  que  deixara  entre  si  um 
espaco,  oude  se  poe  um  dos  ponteiros,  e  o 
outro  sobre  oquadrante;  ambos  dies  sao  nia- 
gnetisados  e  sollicitados  no  mesmo  sentido.  0 
ponteiro  exterior  e  que  indica  os  signaes.  Na 
parte  inferior  do  instrumento  cstiio  collocadas 
manivellas  de  marlim.  Para  transmittir  um 
signal  faz-se  passar  por  meio  d'estas  mani- 
vellas a  correnle  elcctrica  'num  ou  'noutro 
sentido,  segundo  a  raanivella  e  movida  da 
direita  para  a  esquerda,  ou  vice  versa,  e  por 
consequencia  o  ponteiro  e  tambem  desviado 
para  a  direita  ou  para  a  esquerda. 

Este  telegrapho  tem  a  vantagem  da  simpli- 
cidade  da  sua  construcrao,  em  que  nem  uma 
roda  se  eraprega :  quanto  a  velocidade  na 
transmissao  dos  signaes  ou  letras  niio  e  ella 
maior  i|ue  nos  tolegraphos  francezes  de  Bre- 
guet,  ondc  todavia  os  signaes  sao  mais  distin- 
ftos,  e  mais  I'aceis  de  comprehender;  porque 
OS  signaes  inglezes  resultam  de  pequenas  osci- 
lacocs  de  uin  ponteiro,  os  signaes  francezes 
sao  coraposlos  do  angulo  formado  por  uma 
linha  invariavel  e  uma  linha  raovel.  0  tele- 
grapho inglez  e  dc  feito  mais  sensivel  que  0 


francez,  mas  csta  sujeito  a  dcsarranjar-se 
pclas  correntes  accidentaes  da  eleelricidade 
atniospherica. 

Vonliniitt. 


LEXICON  GREGO-LATINO. 

Motivos,  que  delrrmintiram  a  iinpifssiio  do  Lexi- 
C(in  OrtHju- Latino  dc  Urnjamhn  llederico  em 
I'orluijdt  im  R.  Impreiisa  da  L'nivirsidade  de 
Coiml/ia,  e  cstado,  em  que  se  acham  os  iraba- 
lltos,  (/uc  llie  dizem  respello. 

Pelo  alvara  dc  28  de  junlio  dc  17j9  '  foi 
determinado,  que  houvcsscm  (pialro  profes- 
sores  de  grego  na  corte  de  Lisboa,  dois  nas 
cidadcs  de  Coimbra,  Evora,  e  Porto,  e  um 
nas  outras  cidadcs  e  villas,  (|ue  fossera  cabe- 
cas  de  coraarca.  Os  estatulos  da  Universi- 
dade  de  Coimbra  ordenaram,  que  todos  os 
estudantcs  naturaes  das  cidadcs,  ondc  hou- 
vesse  cadcira  de  grego,  nao  podessera  matri- 
cular-se  em  (jualquer  Faculdadc  sem  o  seu 
exame,  e  permittiram  aos  naturaes  das  outras 
cidadcs  e  villas,  ondc  a  nao  houvesse,  e  que 
se  destinasscra  as  faculdades  de  theologia  e 
mediciua,  darem  conta  d'este  exame  durante 
0  curso  das  faculdades,  os  theologos  antes  do 
acto  do  4.°  anuo,  e  os  medicos  antes  da  raa- 
tricula  do  3.°" 

Pelo  alvara  de  17  dc  julho  dc  1772  foi 
determinado,  que  para  uso  das  cscholas  de 
grego  sc  imprimissem  Logares  cscolhidos  dos 
rcs|icclivos  classicos  em  prosa,  c  em  verso, 
conformc  a  tabella  aprescntada  jiclo  professor 
dc  Lisboa,  Cuslodio  Jose  d'Oliveira.  Foi  com 
effeito  coniecada  na  dicta  cidade,  cm  1773, 
c  concluida  em  1776,  a  Selecta  em  prosa.  A 
dos  poetas,  porem,  so  em  1830  e  que  foi  im- 
pres.sa  em  Coimbra  na  real  imprensa  da  Uni- 
versidade. 

Concluido  este  trabalho  restava  ainda  o 
d'um  Lexicon  Grego-Latino,  impresso  tam- 
bem em  Portugal.  Porem  uma  cmpreza  d'csta 
ordem  era  de  certo  niuito  ardua  e  dispen- 
diosa;  carecia  dc  professores  babeis,  aos  quaes 
fosse  cucarregada,  e  convinha  que  a  edicao, 
dejiois  de  rematada,  tivesse  um  consumo  nao 
duvidoso,  que  a  indemnizasse  das  despezas. 
Corria  o  anno  de  1830,  e  um  aggrcgado  de 
circumstancias  favoravcis  (acilitou  entao  a 
cmpreza.  A  Lusa  Athenas  contava  no  seu 
gremio  professores  insignes,  os  quaes,  tendo 
cnsinado  por  muilos  anuos  a  lingua  grega 
uo  real  collegio  das  Artcs  tiuham  adquirido 
com  0  sen  aturado  estudo  um  giande  cahe- 
dal   de   conhccimentos    nao    vulgares   'nestc 

•   i^.  13  e  14. 

^  Vejam-se  os  Estatutos  Ijv.  1.",  tit.  1,  cap.  3,  ^.  6: 
Liv.  2.°,  cap.  2,  ^^.  1 :  Liv.  3.»,  cap.  S,  \S^.  4  6  3. 


143 


ramo.  Taos  eram  os  srs.  Jose  Yicente  Gomes 
de  Moura,  Fr.  Forlunalo  de  S.  Boaventura, 
doutor  em  Iheologia,  c  niongc  da  ordeni  de 
Cislcr,  e  o  Dr.  Antonio  Jose  Lopes  de  Moraos, 
lente  de  Excgetira  do  Novo  Testaraenlo,  na 
Universidade  de  Coimbra,  e  que  antcccdcnte- 
raente  linha  sido  tanibcm  professor  de  grcgo. 
Tinha-sc  acabado  com  o  ensino  particular, 
determinando-sc,  que  nenlium  cstudante  fos- 
se admittido  a  fazer  exame  de  qiial(iuer  disti- 
plina  preparatoria,  cxcepto  de  latim,  sem  a 
ter  estudado  nas  aulas  regias,  e  pela  ordem, 
que  cnlao  foi  eslabclecida.  Tinha-se  poslo 
era  vigor  a  determinarao  dos  estatiilos,  acima 
dicta,  a  respeilo  do  exame  de  grcgo;  donde 
resultou  matricularem-se  no  real  collcgio  das 
Artes  cm  Coimbra  no  anno  de  18'2y  na  1/ 
aula  de  grego  101  estudanles,  e  na  2."  lu; 
e  em  1830  na  1."  49,  e  na  2."  29.  Ora  con- 
tinuando  assim  o  estudo  da  lingua  grega,  ja 
nao  era  duvidosa  a  indemnisacao  da  despc- 
za,  que  a  Imprensa  fazia  com  a  cdicao  do 
Lexicon,  porque  a  venda  era  ccrta. 

A.  vista  pois  de  tao  favoraveis  circumstan- 
cias  accometteu-se  a  emprcza.  Dos  Dicciona- 
rios  Gregos-Latinos,  culao  mais  usados  nas 
escholas  cstrangeiras,  que  eram  o  dc  Scbre- 
velio  e  o  d'Hederico,  escolbcu-se  o  d'este  por 
scr  mais  copiosoem  vocabulos,  signilicacoes,  e 
idiotismos;  e  das  differenles  edicOes  do  niesmo 
escolheu-se  a  de  Lcipsitk  de  1790,  por  ser 
entao  a  mais  copiosa,  que  era  conbecida.  E 
dividida  esta  edicao  em  trez  partes,  que  sao, 
1.',  llerraeneutica,  e  coraprehcnde  os  voca- 
bulos com  as  suas  dilTercntes  signilicacoes; 
2."  Analytica,  e  comprebende  os  vocabulos 
corao  sao  usados  nos  difTerentcs  dialectos, 
reduzindo  os  nomes  an  nominative,  c  os  ver- 
bos  ao  thema ;  3.'  Synthetica,  que  e  um 
Diccionario  Latino-Grcgo,  c  serve  para  verier 
0  latim  cm  grego. 

Foi  encarrcgadn  d'esia  laboriosa  tarcfa  o 
Dr.  Antonio  Jose  Lopes  dc  Moraes,  lente 
mencionado  de  Exegetica  do  Novo  Tcstamen- 
to,  e  sendo  dispensado  do  exercicio  da  sua 
cadcira ;  e  foram  designados  para  o  coadju- 
varcm  os  dous  professores  d'Humanidades 
tambcra  ja  diclos,  Jose  Vicente  Gomes  de 
Moura,  e  Fr.  Fortunato  de  S.  Boaventura; 
porera,  sendo  estes  cbaniados  para  oiitro  ser- 
vice, em  breve  acabou  a  sua  coadjuvacao,  e 
foi  necessario  recorrer  a  oulro  professor  alias 
insignc  no  ramo  de  i(iie  cstava  encarrcgado, 
mas  albeio  ao  estudo  do  grego,  qual  era  Fr. 
Jose  de  Sacra  F'amilia,  da  ordem  dos  Eremi- 
tas  descaicos  de  Sancto  Agostinlio,  professor 
d'arilhraelica,  geonictria,  cbronologia,  e  geo- 
grapbia,  e  de  ]>liilosopliia  racional  e  moral, 
no  real  collcgio  das  Artes;  mas  a  coadjuva- 
cao d'este  mesnio  foi  de  poiica  duracao,  por- 
que 0  cbamou  para  Lisboa  o  exercicio  da 
cadeira,  que  elle  tinlia  escolbido:  foi  entao 
convidado  para  coadjuvar  naqucllc  trabalbo 


oulro  eremila  da  mesma  ordem,  que  nao  era 
professor,  qual  foi  Fr.  Joao  do  Carmo. 

Ainda  que  dcstituido  do  auxilio  dos  dois 
professores  mais  habcis,  o  lente  de  Exegetica 
nao  afrouxou  na  emprcza,  e  no  anno  dc  183i, 
apezar  das  interrupcoes  motivadas  pela  guer- 
ra  linha  Icvado  a  impressao  do  Lexicon  Gre- 
go-Latino  ao  fim  da  Ictra  k,  e  principio 
do  A,  formando  ja  ura  volume  de  13o  folhas 
de  impressao  com  539  paginas.  Por  motivo.s, 
que  0  publico  nao  ignora,  o  Diccionario  (icon 
'nestes  termos  desde  o  anno  de  1834  ate  o 
de  1839.  Foi  cm  14  d'agosto  d'este  anno 
que  a  Augusta  Kainha  a  Sr.°  D.  Maria  II  de 
saudosa  mcmoria,  concedcu  a  jubilacao  ao 
sr.  Jose  Vicente  Gomes  de  Moura,  e  deler- 
minou,  que  elle  continuassc  a  edicao  do  Dic- 
cionario. Conlava  ja  cste  veneravel  anciSo 
mais  de  70  annos  d'edade,  mas  a  Divina 
Providencia  extendeu-lbe  ainda  os  dias  da 
vida  por  tanlo  cspaco,  quanto  foi  bastante 
para  elle  concluir  a  parte  Uermeneutica  do 
Diccionario,  levando-a  desde  a  foiha  136  ate 
a  folba  295,  desde  pag.  540  ate  1181,  desde 
0  A  ale  0  n. 

No  1.°  de  marco  de  1854  apagou-se  eslc 
brilhante  luminar  das  sciencias;  as  letras 
perdcram  um  dos  seus  maiores  cultivadores; 
as  humanidades  um  dos  seus  mais  ingigne.s 
professores;  c  ate  as  musas  perdcram  um 
vale,  que  sabia  cantar  em  verso  latino  e 
portuguez.  Falleceu  na  sua  casa  d'Abraveia, 
da  freguezia  de  Sancto  Andre  de  Poiarcs,  do 
bispado  de  Coimbra,  contando  mais  de  80 
annos  d'edade,  o  sabio  varao,  que  foi  a  bon- 
ra  da  sua  patria,  e  ura  dos  insignes  orna- 
nienlos  da  Lusa  Atbenas,  a  qual  na  longa 
carreira  do  sen  magisterio,  por  espaco  de 
mais  de  40  annos  prestou  services  de  grande 
valor,  ensinando  e  cscrevcndo. 

0  digno  prelado  da  Universidade  Icvou  en- 
tao ao  soberano  conbecimento  d'Elltei  Re- 
gente  em  nome  d'ElUei,  o  Sr.  D.  Pedro  Y,  i» 
fallecimento  d'aquelle  dislincto  professor,  e  a 
necessidade  que  bavia  de  continuar,  c  levar 
ao  bm  a  edicao  do  Lexicon  Grcgo-Latino,  c 
porque  fallavam  ainda  intciras  as  duas  par- 
tes, Analytica  e  Syntbetica. 

Foi  tao  benignamenlc  acolhida  esta  repre- 
sentacao,  que  por  uma  porlaria  de  17  de 
junlio  do  mesmo  anno  dctcrminou  Elllci  Rc- 
genle,  que  o  actual  professor  de  grego  do 
lyccu  nacional  de  Coimbra  Anlonio  Ignacio 
Coellio  de  Moraes  fosse  encarrcgado  da  con- 
linuacao  do  Diccionario.  Em  virlude  d'esln 
sabia  detcrminacao  logo  no  mez  de  jullio  do 
dido  anno  sc  deu  principio  na  imprensa  da 
Universidade  a  impressao  da  parte  Analytica, 
c  continuando-se  sem  interrupcao  iioiavel, 
acba-se  hoje  no  fim  da  lelra  a  com  24  follias 
d'iniprensa,  e  9G  paginas. 

Com  quanto  a  parte  Uermeneutica  sabis.se 
jii  mclborada  com  alguns  addilanicntos,   im- 


144 


porta  ciiliclanto  a(l\c'ilii.  que  dcidc  o  anno 
IS30,  cm  que  a  edirao  foi  tomerada ,  ale  o 
prcsente  dc  18ilo  lem  corrido  2o  annos,  e 
que  ncste  esparn  dc  tempo  nao  so  sahiram  a 
Ihz  edieOes  d'llfdcriro  mais  aciescPiUadas, 
como  a  dc  Piiiger,  e  I'assov  em  l.('i[)sitk  em 
182S,  repetida  em  Roma  cm  is:i2,  senao 
tamhem  os  sabios  Helleiiistas  da  Franca,  co- 
mo J.  Planclic,  c  C.  Alexandre,  insjicctor 
geral  da  univcrsidade  dc  Paris,  pul>licarani 
])ara  uso  das  cscliolas  novos  Diccionarios 
Grcgos-Francczcs,  manuacs  niuito  acrcsccn- 
lados  com  urn  grande  numero  de  vocahulos. 
Comparada  pois  com  elle  a  nossa  cdicao  d'a- 
quclla  parte,  e  evidcnle  (jue  nao  pode  corrcr 
parclhas,  c  que  o  zelo  pelo  adiantamcnlo  do 
estudo  dogregocntreuos,  demauda  iiucsellie 
faca  urn  Ajjpcndix  para  nao  licar  iiilcrior. 

Bem  conlicceu  csla  nccessidade  o  fallecido 
professor  Jose  Vicente  Gomes  de  Moura,  o 
qual  tendo  a  vista  as  edicoes  d'Uederico  de 
1832,  e  a  de  Planche  de  I8'39,  deixou  come- 
cado  este  Irabalho,  que  levou  ate  a  letra  a,  c 
palavra  ^r.f.Mvreo,  contando  ate  aqui  'o-.d'i'-i 
vocabulos.  0  actual  professor  encarrcgado  da 
continuafSo  auxiliado  pelo  Diccionario  de  C. 
Alexandre  de  1848,  da  ultima  cdicao  dc 
Planche  de  1852,  e  d'outros  mais,  comecou 
dc  novo  aquelle  traballio,  e  tendo  chegado 
com  elle  ao  iim  da  letra  E  conta  ja  l'J:00O 
vocabulos. 

Eis  aqui  o  estado,  em  que  se  acham  os 
irabalhos  rclalivos,  edicao  do  Lexicon  Grego- 
Latino. 

Setembro  dc  1855  C.  JI. 


UNIVERSIDADE    DE    FINLANDIA. 

Conlinuado  de  pag.  133. 

Os  magisterios  e  doutoramenlos  sao  uma 
das  maiores  solemnidades,  ([ue  a  Univcrsidade 
de  Finlandia  celebra  de  trez  em  trez  annos. 
Antigamente  os  cscholarcs  rcpresentavam 
'neste  dia  uma  comedia  moral,  analoga  as 
circumstancias  ;  e  o  rcitor  era  obrigado  pelos 
estatulos  a  dar  um  grande  jantar,  que  unica- 
mente  devia  conslar  dc  seis  pratos,  alem  da 
manteiga  e  presunto;  a  sobremeza  scrvia-sc 
somente  queijo,  cerveja  de  Finlandia,  e  vinhos 
dc  Franca.  0  rcitor  podia,  quercndo,  convi- 
dar  OS  impressores  e  encadcrnadores  da  cida- 
de ;  porem  pessoa  alguma  do  sexo  feniinino, 
nem  niesmo  as  esposas  dos  professores,  eram 
admittidas  a  este  jantar,  que  nao  devia  passar 
da  meia  noite.  Esta  clausula  faria  suspeitar 
da  sobriedade  dos  cscholarcs  'nestes  festins, 
mas  de  feito  parece,  que  sempre  'nclles  sc 
guardava  a  melhor  ordem. 

D'estas  antigas  practicas  boje  somente  se 
conserva  o  primitivo  ceremonial  dos  magiste- 


rios c  doutoramenlos.  0  professor  Grot  relerc 
do  modo  seguinlc  uma  d'eslas  solemnidades, 
(pic  I'ui  celelirada  cm  18i0: 

«  Foram  deslinados  ([uatro  dins  para  os 
doutoramenlos  nas  quatro  f;iculdad('S.  Todo 
0  corpo  acadcmico  se  dirigiu  proccssional- 
mcnte,  indo  dois  a  dois,  para  a  cgrcja  de  S. 
Nicolau.  Durante  o  transito  tocavam  as  mu- 
sicas,  davam-se  vivas,  e  salvavam  as  lorres. 
(;iicgado  0  prcstito  a  cgrcja,  os  candidatos 
collucaram-se  em  torno  do  pulpito,  no  ([ual 
0  i]rofcssor,  ([ue  bavia  de  cotifcrir  os  graus, 
rccilou  um  discurso  apropriado  ao  objeclo. 
Findo  elle  um  dos  membros  da  Univcrsidade 
pro|)6z  uma  queslao  sciculilica  ao  primeiro 
candidato,  que  rcspondcu  sobre  ella,  e  o 
mcsmo  se  practicou  com  os  outros  candida- 
tos. Concluida  esta  parte  d'esle  acto  solcmne, 
leu-se  em  latim  a  formula  do  juramento,  que 
lodos  OS  candidatos  prcstaram,  pondo  a  mao 
sobre  0  sceplro  ou  massa,  que  os  bcdcis  Ihc 
aprcsentavam.  Entao  comecou  a  ccremonia 
da  promocao  dos  doutorcs.  0  professor,  que 
coulcria  o  grau,  cobriu-se  com  o  sen  barrele 
doutoral,  dcpois  poz  o  mesmo  barrele  na  ca- 
bcca  de  cada  um  dos  candidates,  e  no  mesmo 
inslanle  lodos  os  doutorcs,  que  se  achavam 
preseules,  cobriram-se  com  os  scus  barretes 
pretos,  azues  ou  encarnados,  conforme  as 
faculdades.  0  mesmo  professor  metteu  um 
annel  d'ouro  no  dcdo  a  cada  um  dos  novos 
elcitos,  como  symbolo  da  sua  uniao  com  a 
sciencia;  deu  depois  aos  doutorcs  thcologos 
um  exemplar  da  biblia,  e  aos  oulros  uma 
espada,  e  iinalmenle  enlregou-lhes  os  sens 
diplomas  universitarios.  Durante  a  distribui- 
fgo  das  insignias  doutoracs  tocavfi  a  rausica 
denlro  da  egreja,  e  a  artilheria  salvava  nas 
lorres  da  cidade.  Acabada  esta  ccremonia,  o 
ultimo  candidalo  recilon  um  discurso,  agra- 
dccendo  a  lodos  os  circumslanles,  c  em  par- 
ticular as  senhoras,  a  honra  ([uc  Ibes  fizeram 
de  assistir  a  esle  acto.  » 

A  collacao  dos  mesircs,  ou  os  magisterios, 
ainda  c  mais  solcmne  que  os  doutoramenlos, 
ou  pelo  menos  6  festejada  com  mais  enlhu- 
siasmo  pela  circumslancia  de  ser  esle  o  pri- 
meiro premio  dos  Irabalhos  c  fadigas  littcra- 
rias  de  mancebos  no  verdor  dos  annos,  c  que 
por  isso  sao  objeclo  de  lerno  amor,  e  das 
mais  caras  esperancas  das  suas  familias,  que 
OS  veem  elevados  aquelle  primeiro  grau  aca- 
dcmico a  cusla  de  graves  sacrilicios  e  inces- 
sanles  cuidados.  0  ceremonial  dos  magiste- 
rios e  0  mesmo  que  o  dos  doutoramenlos,  so 
com  a  differenca,  que  em  logar  do  barrele 
doutoral  Ihes  poem  na  cabeca  uma  coroa  de 
louro,  que  os  novos  meslres  Irazem  lodo  este 
dia  passeando  pela  ruas  com  o  chapeu  na 
mao.  k  nolle  a  cidade  da-lhes  um  baile 
muito  lusido,  onde  elles  apparecem  com  as 
suas  coroas  na  cabeca,  recebendo  alii  novos 
applauses. 


145 


Antes  da  funcrao  dos  magistcrios  os  raa- 
gislrandos  costuraam  desde  tempos  antigos 
convidar  a  mais  nobre  e  mais  foiniosa  don- 
zela  da  cidade,  para  Ihcs  tecer  com  suas  ni- 
veas  raaos  as  coroas,  com  que  hao  do  ser 
laureados.  No  dia  da  collafao  dos  magistcrios 
OS  novos  mestres  offerecem-ihe  cm  nome  de 
todos  um  rico  presente.  E  tambem  costume 
aprescntar-se  clia  no  baile  com  uma  grinalda 
de  louro  no  vestido. 

Em  1C43  celcbrou  a  universidade  de  Fin- 
landia  pela  primeira  vez  a  funccao  dos  ma- 
gistcrios. Seguindo  o  espirito  de  austera  mo- 
ral, que  distinguia  o  scu  ensino,  o  consisto- 
rio  academico  admittiu  as  provas,  mas  nao 
quiz  conferir  o  grau  a  muitos  candidatos  de 
lelevante  raeiito  litterario,  porque  os  nao 
achara  correntes  in  vita  el  moribus.  Urn  estu- 
dante,  que,  por  desgraca  sua,  fazia  versos, 
foi  intimado  para  abandonar  esta  « lingua- 
gem  inutil  »  e  prohibido  de  andar  recitando 
pela  cidade  estancias  e  rimas,  que  acrcdita- 
vam  pouco  a  academia.  0  crime  de  feiticeria 
era  punido  nos  escholares  com  muito  maior 
severidade!  Em  1601  foi  accusado  de  feiti- 
ceria um.  As  provas  da  accusacao  faltavam; 
nunca  o  tinhara  visto  practicar  um  maleli- 
cio;  nem  no  seu  aposento  se  Ihe  encontrara 
livro  algum  de  magia,  ou  cifra  cabalistica ; 
mas  cram  tantos  os  progresses,  que  elle  tinha 
feito  nas  sciencias  orientaes,  e  ensinara  em 
tao  curto  espaco  o  latim  a  um  seu  condisci- 
pulo,  que  se  suppunha,  que  laes  maravilhas 
eram  obra  de  algum  pacto,  que  o  pobre  escho- 
lar  fizera  com  o  diabo,  e  por  isso  o  consisto- 
rio,  presidido  pelo  bispo  dioccsano,  sem 
escrupulo  o  condemnou  a  morte.jde  que,  nao 
sem  grande  difficuldade,  o  salvou  a  valiosa 
proteccao  do  conde  de  Brahe,  dando-se-lhe 
por  expiada  a  culpa  com  o  tempo,  que  sof- 
frfira  de  prisao,  e  a  vergonha  da  sentenca, 
que  0  condemnara.  Nove  annos  dcpois  outro 
escholar,  accusado  do  raesmo  crime,  foi  so- 
mente  riscado  para  sempre  da  universidade- 

Estes  antigos  prejuizos  acabaram;  e  oscur- 
sos  e  habilitacoes  scientificas  que  'nesta  uni- 
versidade se  exigem  para  obter  o  grau  de 
magisler  sao  rigorosissimas.  Eis-aqui  o  pro- 
gramma  das  materias  que  fazem  objecto  dos 
exames  para  aquelle  grau. 

Geometria,  arithmetica,  algebra,  trigonome- 
tria  plana  e  sphcrica,  .seccOes  conicas,  theo- 
ria  das  curvas,  calculo  diflerencial  e  integral; 
physica  de  Neumann,  astronomia,  chiniica 
organica  e  inorganica,  e  analyse;  mineralo- 
gia  ;  a  encyclopedia  d'Hegel ;  bistoria  natural, 
liistoria  universal  de  Beker,  e  uma  historia 
particular;  latinidade;  os  pocmas  de  Iloraero, 
um  livro  d'Herodoto,  um  de  Tliucydides,  duas 
tragedias  de  Sophocles,  os  versos  de  Ana- 
creonte,  as  odes  de  Pindaro,  o  Anabasis  de 
Xenophonte;  os  principios  das  linguas  hebrai- 
ca,  arabe,   e  pcrsiana ;  e  para  explicacao  os 


dez  pequenos  prophetas,  quarenta  psalmos, 
Genesis;  oAlcorao,  as  fabulas  de  Loeman ;  o 
Scbah-Naraek ;  a  historia  da  Russia,  e  a  lin- 
gua russa;  a  historia  e  litteratura  antiga  e 
moderna. 

0  exame  sobre  estes  diversos  ramos  da  fa- 
culdade  de  philosophia  dura  mez  e  meio  ate 
dois  mezes,  durante  os  quaes  os  estudanles 
fazem  dois  ou  trez  exames  por  semana:  para 
ser  admittido  ao  grau  de  mestre  6  necessa- 
rio  obter  em  cada  um  dos  diversos  assumptos 
do  programma  uma  das  trez  qualilicacoes 
seguintes  approbatur,  approbatur  cum  la'ude, 
ou  laudatur:  a  reprovacao  em  qualquer  das 
materias  de  um  exame  exclue  o  candidato  do 
magisterio.  0  exame  escripto  precede  o  exa- 
me oral,  e  consiste  em  dois  exercicios  lati- 
nos ;  0  primeiro  tem  por  fim  fazer  conhecer 
0  estilo  do  candidato,  e  o  segundo  o  desin- 
volvimento  que  elle  sabe  dar  aos  sens  pensa- 
mentos,  e  a  ordem  e  raethodo  com  que  tracta 
0  assumpto:  sobre  este  exame  recaem  as 
raesmas  votacoes  que  nos  exames  oraes.  Nao 
se  concede  dispensa  alguma  das  disciplinas 
d'estes  exames,  excepto  das  linguas  erientaes 
que  nao  6  difficil  d'obter,  principalmente 
mostrando-se  os  candidatos  muito  habilitados 
na  lingua  russa.  ' 

J,  M.  DB  ABREU. 


UMA  YISITA  A  SERRA  DESTRELLA. 


Continuado  de  pag.   129, 
VEGETAES  MAIS   NOTAVEIS   DA  SERBA   d'eSTRELLA. 

0  conde'  de  Hoffomansegg  na  viagem  que 
fez  a  Portugal,  redigida  por  Link,  impressa 
em  Paris  em  1805,  refere  ter  encontrado 
'neste  reino  1832  especies  de  plantas  ordina- 
rias,  572  especies  de  plantas  cryptogamicas. 
0  douctor  Friderico  Arth.  Wehvitsch,  vindo 
depois  a  Cfia  em  1848,  notou  as  seguintes 
especies,  indigenas  dos  arredores  da  serra. 

Saxifraga. 

(Califraga  de  Bento  Pereira?) 

S.  spalhularis  de  Brolcro;  (Saxifraga  alba  de 
Valmont?) 

nSaxifraga.segundoCalcpino:  Adianlum  nigrum 
aut  lierba  bipincllae  similis,  folio  tantum  minore 
ac  magis  scrrato,  et  minime  piloso,  quam  vulgus 
Parvum  Acus  Pasloris  vocal;  Graeci  Empetron. 
Ita  dictum  est  quod  calculos  in  corpore  frangat, 
vel  quia  in  locis  saxosis,  cum  cnascatur,  saxa  ipsa 
frangit,  dumcrescit. »  Plin.  1.22,C.21.  Calculos 
e  corpore  mire  pcUit,  frangilque,  utique  nigrum; 
qua  de  causa  potius  quam  quod  in  saxis  nasce- 
relur,  a  nostris  saxifragus,  a,  um. 

'  V.  a  obra  L'empereiir  Aleianire  II,  por  JI.  Li'oii- 
son  le  Due.  Pari*.  I!j55.  m  18." 


1 


16 


PtANT.i«o:  Artioglonum ,  PlaiUam.  Tanfliageiii. 
rimuee  cm  uiaiii,  dissomiM.i  em  agoslo.  a  Sic 
ilicia  i/uia  ptantac  pedum  similis  est.  As  siias 
lolhiis  sao  amargas  ailstringeiitcs,  vuliiL'rarins  e 
I'l'brifugas.  A  gentc  dc  tampci  iisa  ila  scmenle 
'Irjla  plaiUa  coiilra  as  dianlieas,  c  as  miilhcrcs 
I'ligiilcm-a  n)m  iiiii  civo  para  proM'iiir  o  alxirto. 
/'.  siibulata  ik'  l.iii.  lincnnlra-sc  no  M.illiaii  da 
soria. 

Auknahu. 
A,  laricifolia  dc  Brot.  Encoulra-sc  no  Malliao 
da  siTra. 

A-    letraguclra.    Eiicoiilra-sc    no    Sabuguciro, 
|)i>\oacii()  da  sena. 

A.  montanii  dv  I. in.  EiU'ontia-se  cm  Aldca  da 
scrra. 

Cakdajiijje. 
Canliiminc:  Crcssnii  rles  prh.  Mbstrari)  aquati- 
<"o  ;  Agriles ;   Aj^riucs. 

C.  Uerminii  dc  Ilnlj'munscgg.   Eiiconlra-se  nos 
Canlnros. 

JiNCis.  Jortr,  Jinii'o. 
J.  si/uavrosus  d«l,in,  muilo  vulgar.  Encontra- 
sc  no  Malhao  da  serra. 

-^ar.  p  c/«(ms.  Encuutra-sc  no  Sabu- 

guciri). 

J.  uUginosus,  Ilolh.  Encontra-se  na  lagoa  com- 
prida. 

Nardis,  Nari,  Nardo. 
N-  stricta  dc  Lin.,  muilo  vulgar.  Encontra-se 
no  Malliao  <la  scrra. 

Betdla,  Bnulcan,  Vidociro. 
Ji.  alba.  Vidociro.  Enconlra-sc  no  Sabuguciro. 

HiERACiiM.  Hcrhc   a  Vcpcrvicr. 
II.  pilosclla.  Pilosclla  dasBolicas;  cncontra-sc 
na  lagoa  rcdunda. 

H.  sabaudum.  Encontra-sc  cm  Cca. 

Droseba. 
Drosium,   Akhijmilla.  Pied  de  lion.  Sanicula 
maggiorc 

I),  rotundifolia  dcLin.  Uorclla  ou  Orvalhinha. 
Enconlra-sc   na  lagoa  rcdonda. 

Vioi.A,   Violclle,  Violela. 
T'.  jialustiis  de  Lin    Enconlra-se  na  lagoa  do 
Cantaro  Gordo. 

Ali.'i:m,   Ail,  Albo. 
A-  ticinrialis  do  Lin.  Ail  serpenlain,  faxnard. 
EncontTa-se  no  S.ilmguciro. 

LiLicM,   Lirio. 
L.    jnajfnjnit  dc  Lin.,  lilium  aurciini   Lis  oran- 
ge- Maslagao.  Enconlra-sc  no  Sabuguciro. 
Jasione,  Couve  brava. 
J.  vndutata.  Encontra-sc  no  Cantaro  Magro. 

-\lloscu.ns,  Fcto. 
.1.  crispus.    (Pleris    crispa   de   Lin.?)    Encon- 
lra-se no  Cantaro  Magro 

JuMPERis,  Oenevrier,  Zinibro. 
,/.  communi.i  de  Lineu,  g.  Knconlra-sc  dcsilc 
a  fonle  dos  Canaris  ale  as  lagoas,  aond*  o  tcr- 
rcno  niio  c  ccdjcrto  de  rochas.  Nao  loma  mais 
de  quatro  palmos  de  altura.  Tem  a  casca  a\or- 
raelhada;  o  Icnbo  c  leve  c  nao  mui  rijo.  0  cbeiro 
d'estc  vegetal,  quando  scco,  e  scmelhante  ao  da 
resina.  .\s  suas  I'olhas  de  cor  verde  carregada, 
saoestrcitas  rijas,  bicudas  edispostas  quasi  sempre 
cm  numero  de  Ircz  cm  volta  de  cada  no.  Eslc 
arbusto  cbcga  a  tomar  no  tcrreno  nma  superficie 
de  trcz  metros  quadrados,  lormando  um  pcqueno 
bosquc  verde,  scmelhante  ao  do  buxo  do  norle 
tosquiado. 


Campa.mla. 

Oantcleii :  Ganis  de  noire  Dame;  JUiroir  de  Ve- 
nus   Cauipainhas. 

C.  /icrmi/uide  I.ink.  Enconlra-sc  nos  Cantaros. 

('.  hederacea-  Encontra-se  no  valle  da  Can- 
dicira. 

C.  lOBFUNOii.  Brot.  EncoiUra-se  cm  Cca. 
(lENTiANA,  Oentiane,  (icnriana 

G.  liilraAvl.m    Encontra-se  no  Cantaro  (iordo. 

G    pneumnnunlhe  de  Lin.  Encontra-se  no  Ma- 
lliao da  scrra. 
Armeria;  Museipula;    Lychnis.  Attrape-mouche. 

A   .  ■  .    Encontra-sc  nos  Cantaros. 

Teucriim;  (Salriastrum  Sf.hieb?)  Sange amere ; 
Gcrntandiee  en  aibic.  Lingua  Ccrvina ;  Pimpi- 
nella. 

T Enconlra-sc  nos  Cantaros. 

SiLENE. 

A",  clcgans,  HofTmansegg.  Enconlra-sc  nos  Can.« 
laros. 

S.  species  a/f.  Sini.i  Elisabethae  }^n.  Enconlra- 
sc  no  Covao  das  Vaccas. 

Senecio;  Uerba  pappa    Scnefoyi    Herva  loira ; 
Cardo  Morto;  Espinafrc 
S.  ccspitntus.  Encontra-se  no  Covao  das  Vaccas 
C  Cima<louro  do  caes. 

SoLiUAGo;  liellis.  I'aquerctte.  Solda;  Consolda. 
S".  minor,  Brot.  Encontra-sc  no  Cantaro  Gordo. 

Cetraria. 
C.  islandica.  Enconlra-se  no  Canlaro  Gordo. 
C.  irislis.  Encontra-sc  no   Valle   do  Conde  na 
scrra. 

CuRYSANTUEBiCM.  Pampilho ;   Pamposto;  Bemme- 

qucrcs  dc  llor  amarcla. 

C.  oppositifolium.  Encontra-se  nos  Cantaros. 

CentiHua.  n.  a.  db  VASCONCELLOS. 


CURSO  COMMERCIAL 

Os  homens  nunca  cslao  .satisfeitos  com  o 
presente,  as  vezes  tem  saudades  do  passado, 
c  qnasi  sempre  tem  grandes  espcrancas  no 
futuro.  Nos  somos  dos  que  tudo  esperam  do 
fuluro,  nada  acrcdilamos  no  presente,  e  do 
passado  admiramos  muitas  accoes  heroicas 
so  para  nos  servirem  de  incenlivo  para  coii- 
sas  futuras. 

Esta  sociedade  esia  vellia,  caduca,  e  reia- 
xada;  e  tj  por  isso,  que  so  a  devemos  consi- 
<lerar  corao  a  d'uni  cslado  transilorio,  do  lim 
d'um  pcriodo  de  degradarao  para  a  d'ura 
e.stado  melhor,  I'uiidado  na  moralidade,  na 
inslrucrao  solida,  que  sao  a  base  para  um 
verdadeiro  progresso,  e  para  se  aicancar  a 
solida  civilisacao  d'um  estado. 

D'entre  os  diversos  ramos,  que  dao  vida  as 
narocs,  e  certamenle  o  do  comraercio  um  dos 
mais  importanles.  Seria  ocioso  o  querel-o 
demonstrar  com  a  hisloria.  Mas  a  sciencia 
commercial  de  pouco  e  conhecida  no  nosso 
paiz,  porque  a  maioria  do  corpo  commer- 
ciante  porluguez  apenas   tcni  a  eschola  da 


147 


rittina,  faltando-Ihc  os  conhecimenlos  iheori- 
cos  do  comnicri'io  elovado  a  sciencia,  para 
podercni  desemliaiajadamente  cucelar  em- 
prezas  calculadas  segundo  toda  a  regra,  e 
assim  levar  o  commercio  de  especulacao,  e 
com  die  a  civilisaiao,  aos  pontos  mais  remo- 
tos  do  globo. 

Em  regra  gcral,  algum  ncgociante,  ou  cai- 
xeiro,  que  no  nosso  paiz  apparece  com  mais 
algum  desinvolvimenlo  commercial ,  tcm-lhe 
sido  precise  ir  estudar  a  sciencia  na  Ingiater- 
ra,  Franca,  Belgica,  Allemanha,  etc.,  e  ainda 
que  por  via  de  regra,  um  tal  estudo  tenha 
sido  obtido  na  practica  das  principaes  casas 
de  commercio  d'anuelles  paizes,  elle  e  adqui- 
rido  debaixo  da  direccao  de  liomens  graiule- 
raente  instruidos  na  sciencia,  e  podemos  af- 
foutanienlc  assegurar,  que  casas  ha  que  sac 
verdadeiros  iuslilutof  commerciaes.  Entre  nos 
0  que  lia?  A  practica  de  caixeiro  simples- 
mente,  e  d'esta  e  diflicil  sahir  um  commcr- 
ciante,  na  verdadcira  aceepcao  em  ([ue  se 
(leve  tomar  esta  palavra. 

Entre  nos  nao  lia  um  insliluto  complete, 
para  a  classe  commerciante.  Na  universida- 
de,  ou  nas  Polytechnicas  poder-se-hia  isso 
conseguir,  mas  nao  convem  por  muitas  ra- 
zOes.  lia,  e  verdade,  ahi  unia  flute  chamada  de 
commercio,  que  em  cousa  alguma  corresponde 
ao  titulo  que  tem:  ainda  alii  se  da  o  secular 
fjuarda  lioros  moderno,  e  tem-sedicto  tudo.  Se- 
ria,  e  mesmo  concedemos  que  foi  cousa  muito 
boa  para  o  tempo  da  sua  creacao,  mas  para 
hoje  e  um  anaclironismo  complelo.  0  cstado 
de  civilisacao  de  muilos  povos  que  commer- 
ceiam  comnosco,  deve  obrigar-uos  a  creacao 
d'uma  classe  educada  debaixo  d'outro  ponto 
de  vista,  d'outras  regras  mui  divcrsas  d'aquel- 
las  que  satisfaziam,  lia  cem  ou  cincoenta  an- 
nos,  porque  os  tempos  sao  outros. 

Nos  que  no  desejo  de  servir  o  nosso  paiz 
nao  redemos  a  ninguem,  creamos  o  anno  pas- 
sado,  no  collegio  que  dirigimos,  um  curso 
especial  de  commercio;  foi  porem  elle  um 
ensaio,  ou  a  base  para  um  desinvolvimento 
mainr,  que  hoje  Ihe  damos,  como  se  vera  do 
scguiute  programma  para  o 

Curso  commercial  no  collegio  de  Nossa  Senhora 
da  Conceicao,  cm  Lisboa. 

0  ctirso  commercial  organisado  'neste  col- 
Jegio,  sera  de  rjuatro  annos.  Nao  podera  'nelle 
matricular-se  alumno  algum,  scm  que  tenha 
Icito  como  preparatorio  o  exame  de  todas  as 
disciplinas,  que  completam  o  curso  d'instruc- 
cao  primaria. 

0  curso  fica  distribuido  por  onze  cadeiras, 
a  saber: 

1.'  Francez. 

2/  Inglez. 

■i'  Allemao. 

■4.'  Desenho. 


5.'  Arithmetica  superior,  e  principios  d'AI- 
gebra. 

C."  Escripturacao  commercial  per  partidas 
simplices,  e  por  partidas  dobradas. 

7.'  Gcographia,  e  historia  agricola,  com- 
mercial, e  industrial. 

8.°  Elementos  de  economia  politica. 

!)."  Commercio  propriament(!  diclo. 

10."  Philosophia  racional  e  moral,  e  prin- 
cipios de  direito  natural. 

11."  Direito  commercial,  c  nocoes  geraes 
sobrc  0  direito  das  gentcs. 

J.  L.  CARRKIRA  DE  MELLO. 
.-/  Instruc^ao  PiiOlica. 


RELACAO 

J)os  individuos  nomeados  para  as  seguintes  cadei- 
ras d'ensiiio  primario  (I."  yrau)  cm  rirlude  de 
dcspaclws  do  Conselho  superior  d'instruccao  pu- 
blica  desde  o  dia  IS  aU  ao  fun  d'agosto,  e  bem 
assim  por  decretos  e pnrtarias  do  Govcrno,  com- 
municadas  ao  mesmo  Conscllio  superior  noindi' 
cado  periodo. 

Antonio  Andre  Maciel,  para  a  cadeira  da  Frer 
guczia  de  S.  Jorge  de  Lisboa. 

Carlos   Angusto   de  Norunha   e  Brito   Milne, 
para  a  de  Azambuja,  districto  de  Lisboa. 

Gualbcrto  Julio  da  Costa,  para  a  do  Rabacal, 
districto  dc  Coimbra. 

Jacintho  Bernardo  d'Almcida,   para  a  de  S. 
Lcurcnco  dos  Trances,  districto  de  Lisboa. 

Joaquim  Alvares  Cardoso,   para  a  de  Travas- 
sos,  districto  de  Braga. 

Joaquim  Fernandes,  para  a  dc  Castanheira  lUi 
Vouga,  districto  d'Aveiru. 

Joaquim  Jorge  Callado,    para  a  de  Payalvo, 
district!)  dc  Santarem. 

Joaquina  Emilia  da  Silva,    para  a  eschola  dc 
meninas  de  Miragaia  da  cidadc  do  Porto. 

Jose  Manuel  Paes  de  Souza,  para  a  de  Villar 
Secco,  districto  de  Viseu. 

Luiz  Lourenco  Marques  4c  Vasconcellos,  para 
a  de  Sabugosa,  districto  de  Viseu. 

Antcinid  dos  Reis  Bondoso,  ])ara  a  de  Figuei- 
ro  dos  Vinhos,  districto  dc  Lciria. 

Antonio  da  Soledade  Frcire,  jiara  a  da  Bata- 
Iha,  districto  de  Leiria. 

Jo.io   Gomes  Ferreira,   para   a   de  Almofalla. 
districto  da  Guarda. 

Jose  Antonio  Barbosa  Junior,  para  a  de  Ros- 
sas,  districto  de  Braga. 

Jose  Ferreira  d'Abreu,  para  a  de  Fornos  d'AI- 
godres,  dislricto  da  Guarda. 

Antonio  Correa  de  Mcsqnita,  para  a  dc  Sobral 
de  Monte  Agraco,  districto  de  Lishoa. 

Antonio  Gomes  Duque  Junior,  para  a  deJirci- 
ra,  districto  de  Santarem. 

Antonio    Jose  da    Cruz,    para   a   de   Valle   dc 
Ladroes,  districto  da  Guarda. 

Antonio   Rodrigues   dos   Sanctos,    para   a   dc 
Lavradio,  districto  de  Lisboa. 

Jose    Luiz   de   Matlos,    para   a   de   Sortelha, 
districto  da  Guarda. 

Manuel  N'ogueira  da  Silva,  para  a  de  Talha- 
das,  districto  d'Aveiro. 


148 


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JORTNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


RELATORIO 


ijolirc  o  eslado  da  instrucc-fio  prima- 
ria  c  secundaria,  piiblica  e  parlie-u- 
lar.  do  Districlo  adininiNlrativo  de 
Kiisboa.  em  marco  dc  1 S55. 


Continuado  de  j>ag.  139. 


Ordenados  dos  professores. 

Sao  sem  diivida  de  muila  vantagem  as  vi- 
sitas  as  escholas  publicas  d'instnicrao  priraa- 
ria  e  secundaria,  porem  este  nicio,  e  quaes- 
quer  outros,  de  que  se  lance  mao,  nunca  pro- 
duzirao  rcsultados  estaveis  e  do  alcance  que 
devem  prelender-se,  emqoianto  os  ordenados 
dos  professores  forcni)  os'qiic  sao.   E 'precise 
que  0  professor  obtenhapelo'  seu  officio  raeios 
sufficientes  de  decentc  sustentacao.  Nao  sen- 
do  assim  ver-se-ha  exposto  de  conlinuo  a  ter- 
rivel  tentacao  de  prevaricar;  e  niuitas  vezes 
ver-se-ha  obrigado  pela  necessidade,  corao  in- 
felizraente  todos  os  dias  esta  accontecendo,  a 
faltar  ao  seu  dever,  roubando  aos  discipulos 
0  tempo  e  cuidado,  que  do  direito  Ihes  per- 
tence,   ou  exigindo   remuneracOes,    que  nao 
estao   estes  obrigados  a   pagar,   para   haver 
aquelle   d'esta    sorte   a   subsistencia   que    o 
estado  Ihe  deve,  mas  Ihe  nega.   E  aonde  o 
fiscal  da  lei  lao  barbaro,  que  fosse  com  pro- 
fessores  de  tao  triste  condicao    nimiamente 
rigoroso?  Teria  coragem  de  vel-os,  para  as- 
sim nao  ser,  extenuados  de  fadiga,   e,  sobre 
tao  laborioso  viver,   delinhando  na  miseria, 
acabar  a  fome?  Por  honra  da  humanidade,  e 
ainda  bem,  nao  se  encontrara.  Mas  padece 
0  service,  a  lei  nao  se  curapre,  a  mocidade 
perde,  e  os  paes  de  familia  sao  prejudica- 
dos. 

Senhor,  de  nada  aproveita  multiplicar  disci- 
plinas  litterarias,  crear  estabeiecinientos  aon- 
de se  ensine,  aperfeicoar  os  methodos,  e 
exhortar  e  persuadir  a  mocidade  a  (|ue  se 
applique,  se  os  respectivos  professores  nao 
forem  postos  era  circumstancias  de  se  dedica- 
rem  exclusivamente  com  desvelo  e  esctrupulo 


ao  desempenho  do  seu  ministerio  tao  transceii- 
dente.  Dc  que  serve  fazer  tao  cstrondoso  ar- 
ruido  com  a  instruccao  piiblica,  se  falleceni 
OS  professores  com  as  condicoes  indispensa- 
veis  para  a  transmillir?  E  nao  sera  a  princi- 
pal d'essas  condifoes  o  haverem  elles  pela 
propria  proUssao  o  precise  com  algunia,  cm- 
bora  minima,  commodidade?  E  uma  irouia 
atroz. 

E  islo  verdade  a  respeito  dc  todos  os  pro- 
fessores de  instrucgao  priraaria  e  secundaria, 
porem  ainda  e  raais  rigorosamente  verdade, 
se  posso  assim  explicar-me,  a  respeito  d'a- 
quelles  que  tem  de  residir  nas  cidades  de 
Lisboa  ou  Porto,  onde  ludo  e  incorapara- 
velmente  mais  caro  que  nas  outras  terras  do 
rcino. 

As  observacoes,   que  apenas  indico,-  e  as 
infinitas  e  ponderosissimas  considcracoes,   a 
que  dao  logar,  tern  sido  reQectidas  por  mais 
de  uma  vez,  e  em  epochas  dilTerentes;  e  fo- 
ram  ellas  que  moveram  a  caniara  dos  senho- 
res  deputados  na  sessao  Icgislativa  de  1843, 
a  elevar  o  ordenado  dos  professores  dos  lyceus 
nacionaes  de  Lisboa  e  Porto  a  quinhentos  mil 
reis  (500^000);  assim  como  foram  ellas  que 
fizeram  sanccionar  as  disposicoes  do  capitulo 
4.",  art.  i'i  do  decreto  de  20  de  setembro  de 
1S44,  que  estabelece  aos  professores  d'instruc- 
cao  primaria  de  Lisboa,  Porto  e  Funchal,  o 
ordenado  annual  de  cento  e  cincoenta  mil  reis 
(130^000),    e  0  de  cem  mil  reis  (100|,nOO) 
nas  outras  terras  do  reino.  Porem  raau  fado 
nosso  quiz,  que  nem  a  primeira  provisao  fosse 
convertida  em  lei,  nem  a  lei,  que  prescreve 
a  scgunda,  fosse  ate  hoje  executada!  E  com- 
tudo    e  certo,    que  nao   sao   ainda   aquelles 
meios  os  indispensaveis  para  a  subsistencia 
dos   professores  que  sao  obrigados  a  residir 
em  Lisboa,  porque  na  realidade  em  Lisboa  e 
impossivel  que  so  com  taes  ordenados  os  pro- 
fessores possam  viver,   sequer,  com  modesto 
decoro.  Pretende-se  melhorar  a  instruccao  pii- 
blica, generalisando-a,  e  aperfeicoando-a?  Pois 
bcm   comece-se   pelo  principio,   e  chame  de 
modo  especial  a  attencao  de  V.  M.  a  instruccao 
primaria  e  secundaria.  0  meio,  que  proponho 
concorrera  quanto  e  possivel  para  que  se  tor- 
nem  ambas  practicamente,  o  que  para  pro- 
veito  da  causa  piiblica,   e  precise  que  seja 
uma  e  outra. 


Vol.  IV. 


OliTUBRO  1." — 1853. 


Nlm.  13. 


150 


Edificios   piiblicos  para   as   excliolas  pMica" 
de  inslruccao  primaria  e  secundaria. 

Soja-nii'  iH'i-mitlido  agora  ponderar  imiito 
rcspeitosameiite  a  V.  M.  a  cjiaude  conreitieii- 
cia,  on  antes  direi  molhor,  a  inslunte  ncces- 
sidade  di'  que  seja  dada  immediata  e  inleira 
e\cciK;ao  ao  art.  I,  g.  unico,  e  ao  art.  2,  do 
dccroto  dc  20  de  dezcmltro  de  18;j().  Foram 
providcntemcnte  ordonadas  as  disposicOes  alii 
])rescriptas  confornie  a  doiitrina  consignada 
no  decri'to  dc  20  de  selembro  de  ISii  art.  0. 
Com  vao  |)rete\to  de  que  nao  ha  em  algumas 
partes  ediiieios  puhlieos  em  disponibilidade  a 
lei  nao  leni  sido  eumprida,  como  se,  a  nao 
e\istireni  disponiveis  taes  ediiieios,  nao  de- 
vessc  entender-se,  que  impendia  a  auctori- 
dadc  local  a  ohrigaeiio  de  promplilieal-os!  E 
com  i|ue  motivo  justilicado  lerao  deixado  as 
camaras  raunicipaes  de  cumprir  o  que  no 
citado  art.  2  sc  Ihes  dctermina?  Nenhum  se 
allega  ;  porcm  e  verdade  que  nao  tern  sido 
cuniprido. 

Comtudo  so  d'esta  sorlc  se  podera  acabar 
com  a  praclica  abusiva  de  receberem  os  pro- 
fcssorcs  d'iustruccao  primaria  algum  subsidio 
pecuniario  dos  sens  discipulos,  seja  qual  lor 
0  pretexto.  Esla  ma  practica  deixa  incomplete 
0  pensamento,  ou  antes  frauda  o  dever,  que 
obriga    o   estado,    de    dar   gratuitamente    a 
inslruccao  indispensavel,  a  primaria,  a  todas 
as  classes  da  sociedade,  e  a  todos  os  indivi- 
duos  por  mais  pobrcs  e  desvalidos,  que  pos- 
sao  considerar-se.  Mas  nao  e  possivel  impdr 
elTectivamGnte   aos  professores  pena   efficaz, 
por  nao  observarem  a  este  respeito  com  rigor 
a  disposicao  legal,  quando  se  rellecte,  quao 
diminuto,  coraparado  com  o  difficil  e  laborioso 
trabalho,  a  que  os  sujeita  o  tiel  deserapenho 
dos  seus  dcveres,  e  o  ordenado  dos  professo- 
res da  inslruccao  primaria.  Esta  reflexao  ga- 
nha  forca  incoutestavel,  (juando  se  considera 
i|ue  OS  professores  tao  miseravelmente  retri- 
buidos  lem  de  ahigar,  a  sua  custa,  casa  assas 
espacosa  para  a  propria  residencia,   e  para 
admittir   consideravel    numero    de   aluranos, 
aos  quaes  deve   proporcionar  coramodidades 
para  mellior  aproveitameuto  do  ensino,  para 
boa  policia,   e  para  tudo  quanto  e  necessario 
nao  so  a  primeira  inslruccao  mas  tambera  a 
primeira  educacao  moral  da  mocidade,  a  qual, 
por  isso  que  nos  primciros  annos  da  vida,  e 
na  cpocha  em  que  as  impressoes  de  toda  a 
casta  se  Ihe  gravam  de  modo  indelevel,  pre- 
cisa  de  ser  dirigida  com  cantelas,  prudencia 
e  vigilancia  de  lodo  o  ponlo   impracticaveis 
nos  locaes  onde  agora  geralmente  einstruida. 
Accrescc  que  se  deve  atlender  a   que  os 
professores  estSo  a  todo  a  instantc  na  neces- 
sidade  de   cercear   os   sens   tao   mesquinhos 
ordenados  para  coniprar  tinla,  papcl,  pennas, 
taboadas,   compcudio  de  doutrina  christa,   e 
ale  oulros  livros  a  grandc  uumero  de  discipu- 


los. A  nao  0  fazerem  assini,  veriam  as  cseholas 
quasi  desertas,  sendo  certo  (|ue  os  lillios  das 
lamilias  mais  polin;s  dos  infclizes  ,operarios, 
e  de  outros  muilos  desfavorecidos  da  forluna, 
olilendo  a  cuslo  licenca  dos  paes  para  fre- 
(|uenlar  as  cseholas  declaram  carecer  de  to- 
dos  e  quaesquer  meios  pecuniarios  por  onde 
possam  haver  aquelles  objeclos,  alias  absolu- 
tamente  precisos  para  adquirirem  a  inslruc- 
cao que  procuraui.  E  todavia,  Senhor,  tenho 
a  satisfaccao  de  poder  allirmar  a  V.  M.,  ([ue, 
na  maxima  ])arte,  os  professores  piiblicos  de 
inslruccao  primaria  assim  oeslao  practicando, 
mais  ou  mcnos  extensamente  scgundo  os  ex- 
Iremos  da  sua  caridade,  mas  de  modo,  que 
dexem  a  clla  muilos  alumnos  nao  licarem  pri- 
vados  lolalmenle  de  ensino  e  educacao. 

Mas  sobre  as  razoes  acima  ponderadas  para 
juslilicar  a  necessidadc  da  collocacao  das 
escholas  em  ediiieios  eslranbos  a  habilacao 
do  professor;  ainda  accresce  oulra,  que  deve 
segundo  entendo,  merecer  grande  allencao; 
e  e,  que  nao  e  possivel  lisealisar  a  rigorosa 
observancia  das  boras  deslinadas  para  o  en- 
sino, sendo  as  escholas  no  mesmo  edilicio, 
onde  0  professor  habila. 

Se  nao  me  engano,  achara  V.  M.,  que  to- 
das estas  consideracocs  dao  mais  que  sobejo 
fundamento  ao  projeeto  de  decrelo,  que  tenho 
a  honra  de  elevar  a  presenca  de  V.  M.  Estou 
convencido  inlimamenle  de  que  da  sua  ado- 
pcao  deve  provir  grande  vantagem  para  a 
inslruccao,  educacao,  e  mais  largo  aprovei- 
tamcnto  dos  alumnos  de  todas  as  classes,  e 
especialmenle  das  menos  abastadas,  por  Ven- 
tura as  mais  dignas  de  contemplacao,  ate  por 
serera  as  que  mais  avultam  na  sociedade. 
Entao  ser-mc-ha  obrigacao  impreterivel  ser 
inexoravel  na  liscalisacao  da  Lei:  boje  o  ex- 
cesso  de  rigor  produziria  resullados  contra-, 
rios  aos  que  pretende^a  raesma  lei. 

Mndanca  da  3."  seccao  do  lijceu  para  dentro 
do  concelho  e  das  portas  da  capital. 

Cumpre-me  chamar  a  allencao  de  V.  M. 
para  o  local  onde  se  acha  estabelecida  uma 
das  quatro  seccoes  do  lyceu  d'esle  districto, 
a  secfao  occidental,  pois  rcquer  o  melhor 
service  publico,  e  o  aproveilamento  lilterario 
e  moral  de  maior  numero  de  alumnos,  que 
seja  removida  d'onde  csta  para  ponto  mais 
apropriado  dentro  das  portas  da  capital . 

Nao  me  deterei  disserlaudo  com  largueza 
acerca  d'esse  objecto,  porque  nao  sao  corri- 
dos  muilos  dias,  depois  (|ue  live  a  honra  de 
elevar  ao  conheeimento  de  V.  M.  a  repre- 
sentacao  dos  professores  proprietarios  e  substi- 
tutos  da  referida  seccao,  cm  quo  pedem  a 
lembrada  mudanca.  Fiz  e  faco  niinha  inleira- 
mentc,  como  live  cnlao  a  honra  de  dizer  a 
V.  M.  pelo  conselho  superior,  aquella  repre- 


151 


sentarao,  porquc  ?ao  cabaes  c  inconteslaveis 
as  razors,  (|ue  Ihc  servom  <lc  f'lindamento. 

Comludo  nao  duvidarei  accrescentar,  que, 
se  a  cxpcricncia  evidenccia  dc  modo  indiihi- 
tavel  a  ([iiasi  inutilidade  da  relerida  secrao, 
continuando  a  cstar  estabclecido  'num  local 
tao  pouco  hahitado,  e  no  tercciro  andar  de 
um  odilicio  conio  o  da  casa  pia,  c  por  isso 
(juasi  sera  puhlicidade;  pcio  contrarin  atiira- 
da  ohservarao  persuade,  que  se  tornara  de 
grandc  vanlagcm,  logo  que  seja  transferida 
para  dcntro  das  portas  de  Lislioa,  e  colloca- 
(la  em  algum  dos  edilicios  (nao  diHicullosos 
de  ciironlrar  muito  acooniodados  ao  fini,  que 
so  deve  procurar-se)  das  ininiediarOcs  d'AI- 
cantara ;  sendo  para  ter  cm  muita  conta  que 
nao  eslii  o  local  indicado  tao  distante  do 
concclho  de  Bclem,  ([ue  lique  I'ora  do  alcanec 
(ios  raros  alumnos,  que  rrc([uentam  alii  algu- 
mas  das  aulas  d'aquella  seccao.  Esta  provi- 
dencia,  que  nao  cessarci  de  reclamar,  deve 
produzir  cm  breve  Iructos  copiosos. 

Por  todos  estes  motives  rogo  instantcmente 
a  Y.  M.,  se  sirva  de  dar  quanlo  antes  as 
suas  rcaes  ordens  para  ser  levada  a  effeilo  a 
dicta  reraocao. 

Remuneracuo  aos  membros  do  jtirij  de  exames 
de  htthiUtacao  para  o  mui/isterio. 

0  ensino  particular  lia  mister  sem  diivida 
de  ser  vigiado  muito  de  perto.  0  estabeleci- 
mento  de  collegios  de  instruccao  litteraria  e 
educacao  moral  tornou-se  materia  de  combi- 
nacoes  commerciacs,  e  affigurou-se  a  muitos 
fonte  inexgolavel  dc  laceisproveitos.  A  legisla- 
cao  providenciou  ate  certo  ponto,  e  pode  talvez 
dizer-se  que  suflicientemenle,  mas  na  praclica 
0  abuso  tem  ido  tao  longc,  que  reputo  de 
indispensavel  necessidade  lazer  vigorar  com 
escrupulo  as  provisoes  dcspresadas. 

E  verdade  que,  depois  de  inveterado  o 
mal,  torna-se  o  remedio  mais  arduo,  porem 
a  firmeza  tcmperada  com  a  prudencia,  e 
dirigida  por  indefesa  perseveranca,  ha  de 
Iriumphar  a  final  de  todos  os  obstaculos. 

Entretanto  urn  dos  mcios,  de  que,  segundo 
a  lei,  ha  a  lanfar  niao,  e  nao  consentir  em 
exercicio  estabelecimento  algum  de  tal  natu- 
reza,  cujos  directorcs,  provada  a  ca|)acidadc 
moral,  nao  tenham  obtido  a  respectiva  pcr- 
missao  pelos  raeios  competentes ;  e  ao  mesmo 
passo  obrigar  a  exames  os  professores,  que, 
nao  devidamente  habilitados,  usurpam  quali- 
ficacoes  e  direitos,  que  Ihes  nao  pertencem. 
Pela  minha  parte  conto  satisfazer  ao  que  me 
cumpre,  e  espero  que  nao  me  falte,  antes 
comigo  coopere,  e  me  aplane  estorvos  a  au- 
ctoridade  administrativa.  Porem  a  necessi- 
dade indispensavel  de  siijeitar  as  provas  lit- 
terarias  os  individuos,  que  se  occupam  no 
ensino  particular  em  taes  estabelecimentos. 


tem  de  trazer  grande  augmento  ile  trabalho, 
c  dispendio  de  tempo,  aos  Membros  dos  respe- 
ctivos  jurys  de  habilitacao  |iara  o  magislerio 
assim  da  instruccao  primaria  conio  da  secun- 
daria: trabalho  d'estes  e  ja  muito  grande  pelo 
onus  que  sobre  clles  pesa  de  examinareui  os 
candidates  ao  niagisterio  publico  nao  so  do 
dislricto  de  Lisboa,  mas  tambem  de  grandc 
parte  do  reino,  e  agora  se  Ihcs  aggravani  cxces- 
sivamente  com  a  execucao  rigoiosa  da  lei, 
com  0  respeilo  .is  habilitacoes  dos  candidates 
ao  ensino  particular.  E  portanto  de  justi(;a, 
que  Ihes  seja  aquclle  servico  remunerado  por 
uns  e  por  outros.  Este  servico  Ihes  accresce 
cm  proveito  inimcdiato  dos  examinandos,  pa- 
gucm-no  estes  pois;  e  a  sua  vez,  muitos  d'el- 
les  gozarao  no  futuro  de  egual  vantagem. 
Em  nenhuma  das  reparlicoes  piiblicas,  a  ijuis 
elles  tem  de  recorrer  para  obterera  o  diploma 
que  pretendem,  onde  alias  os  empregados  sao 
melhor  remunerados  pelo  estado,  sao  servidos 
de  graca,  so  'uesta  reparticao,  onde  os  orde- 
nados  sao  tao  mes(|uinhos,  e  da  qual  depen- 
dc  0  servico  mais  importante,  e  que  se  ha  de 
exigir  um  trabalho  tao  iraprobo,  gratuita- 
meute?! 


Creacao  de  dous  lorjares  de  suhstituto  no  lycett 
nacional  de  Lisboa. 


Ouso  clevar  de  novo  a  prcsenca  de  V.  M. 
muito  resuraidamente  a  exposicao  ja  feita  pe- 
lo men  antecessor  em  representacao  de  30  de 
setembro  de  18S3,  que  demonstra  a  necessi- 
dade de  se  crear  'ncste  lyeeu  um  logar  de 
professor  substituto  para  as  seis  cadeiras  de 
grammatica  e  lingua  latina,  que  eslao  repar- 
tidas  pelas  trez  seccoes  central,  oriental,  e 
occidental  do  mesmo  lyceu.  Nao  e  so  convenien- 
cia,  6  necessidade:  porque  nao  ha  hoje  outro 
meio  por  onde  se  possa  esperar  vir  a  ter 
habeis  professores.  Para  se  chegar  a  ser  pro- 
fessor babil  e  precise  alem  de  vocacao  espe- 
cial, aturado  estudo,  e  fervorosa  dedieacao,  e 
nao  se  podcm  esperar  taes  esforcos,  que  re- 
querem  a  ([uasi  total  reniincia  dos  gozos  matc- 
riaesda  vida,  de  bomens,  que  nao  tenham  ja 
a  sua  sorte,  a  sua  reputacao,  e  o  .seu  futuro 
vinculado  a  proHssao  do  magislerio.  Nao  irei 
mais  longe,  mas  permitta-me  V.  M.  obser- 
var,  que  nao  e  possivel  (e  a  practica  o  tem 
provado)  a  so  um  substituto  supprir  as  faltas 
de  seis  professores,  c  as  vacaluras  de  seis 
cadeiras,  algumas  das  quaes  estao  collocadas 
a  mais  de  uma  legua  de  distancia  das  outras. 
Esta  necessidade  foi  conhecida  desde  longo 
tempo,  e  de  tal  sorte  que  nos  estabelecimen- 
tos puhlicos,  a  que  succederam  as  seccoes 
d'este  lyceu,  havia  ja  primeira  e  segunda 
substituicao  das  cadeiras  de  latim.  E  o  que 
proponho  agora  novamente ,  como  de  grande 
urgencia. 


15'2 


Por  idontiJailc  de  razao  julgo  dc  muita 
iicrcssidade  a  iTParao  do  mais  urn  logar  (W 
prolcssor  siihstilulo  para  as  cadeiras  o.'  e  (>.' 
lias  Irez  primt'iras  seccOes  d'estc  lyceu.  Sera 
esla  op[iortuiia  occasiao  di'  inlroduzir  uma 
iniiovariio  de  vaiUagem  eerta  para  o  ensiiio. 
As  niatprias  da  5.'  e  ti."  cadeiras  sao  de 
iiiuito  dixersa  iiatureza,  c  cada  uma  d'ellas 
(onlem  grande  miniero  de  especialidadei;, 
d'oiide  i)rocede,  nao  ser  facil  aehar  linmem 
assas  proluiido  eui  todas  ellas.  E  d'acjui  (|ue 
lem  provindo  a  dilliculdade  de  apresentar-se 
caiulidato  a  esta  subslituicao,  c  a  conscquen- 
te  precisao  de  aproveitar  o  que  apparecer, 
einbora  nao  seja  qual  se  carecia.  Creando-se 
o  logar  que  propoulio,  poderao  ser  discrimi- 
nadas  estas  cadeiras,  e  dos  dous  profc&sores 
>im  fiear  subslilulo  da  o."  e  oulro  da  0."  ca- 
deira,  e  amijos  com  exercicio  nas  trez  primci- 
ras  seccoes  do  lyceu,  optando  o  substilulo 
actual  por  aquella  das  duas  cadeiras,  ([uc 
inais  Hie  convier.  Esta  resolucao  ba  de  ser  de 
prompta  vantageni  para  o  ensino,  e  cada  urn 
dos  professores  substitutes  licara  com  trez  ca- 
deiras a  seu  cargo  como  succede  ao  da  i.' 

Creacdo  d'uma  cadeira  de  religido. 

De  grandc  estranheza,  Senhor,  deve  ser 
para  todo  o  homera  sisudo,  que,  sendo  a  ne- 
cessidade  da  religiao  uma  verdade  axiomati- 
ca,  pois  que  nao  pode  dcixar  de  considerar- 
se  a  religiao  corao  base  essencial  da  socieda- 
de  bem  ordenada,  por  isso  que  sem  religiao 
nao  ha  costumes,  e  sem  costumes  as  leis 
civis  nada  valem,  que,  dizia  cu,  tendo  nos 
tao  grande  numero  de  aulas,  onde  sao  ensi- 
nados  objectos  sem  conto,  nao  tenharaos  nera 
sequer  uma  so,  em  que  seja  ensinada  de  mo- 
do  proveitoso  a  mocidade  a  sancta  Religiao 
que  prol'essaraos. 

E  ccrto  que  o  ensino  da  doutrina  christa 
esta  consignado  nas  materias  obrigatorias  da 
inslruccaoprimaria;  que  se  tracta  alguma  cousa 
com  refercneia  a  tao  alto  assumpto  ua  aula  de 
philosophia  racional  e  moral;  e  que  tambem 
na  Universidade  de  Coimbra  ba  um  curso 
complcto  da  sagrada  tbeologia.  Entretanto, 
Senhor,  serao  de  sobejo  brevissimas  conside- 
racoes  para  cvidenciar,  que  nao  cstasupprida 
a  cadeira  que  proponlio,  cuja  necessidade 
reputo  indisputavel. 

0  ensino  da  doutrina  christa  nas  escholas 
primarias,  e  as  explicacOes  que  o  acompa- 
nham,  e  feito  em  tempo,  no  qual  a  mocidade, 
por  falta  de  habilitacOes,  por  carecer  ainda 
de  sufljciente  desinvolvimento  intellectual,  e 
pela  multiplicidade  das  materias  de  que  se 
oecupa  a.instrucra())irimiiria,  nada  aproveila. 
Este  ensino  reduz-se  enlao  para  a  mocidade 
a  um  acto  puramcnte  mechanico,  a  tomar  de 
cor  algumas  formulas,  cujo  seulido  ignora,  c 


algumas  cbamadas  cxplicacocs,  que  nao  com- 
jireliendc. 

Na  aula  de  pliilosojihia  riiciondl  e  moral  i- 
pouco  0  tempo  destiuado  aos  assumptos  que 
Ibe  silo  ])roprios ;  tracta-se,  e  nao  ])ode  dcixar 
de  Iractar-se,  superlicialissimamente  do  que 
respeita  a  Religiao.  Carcce-se  de  muito  mais, 
como  para  V.  M.  nao  podc  deixar  de  ser 
cvidcnte.  E  tauto  assim,  (jue  nos  gymnasios 
da  Prussia,  onde  tambem  ba  cadeiras  de 
jibilosopbia  racional  e  moral,  nem  jior  isso 
se  prescinde  da  cadeira  de  Iteliijido  Christa. 
Antes  pelo  conlrario  os  alumnos  do  gymna- 
sio,  seja  qual  for  a  aula  cm  que  loram  matri- 
culados,  tern  de  I'requenlar  a  de  Religiao 
Cbrista,  que  por  tal  motivo  esta  distribuida 
pelos  dias  da  semana,  tomando  o  professor 
dilfercntes  assumptos  em  harmouia  com  o 
grau  de  capacidade  e  alcance  dos  alumnos, 
quo  0  escutam. 

Os  estudos  Iheologicos  da  Universidade, 
pela  sua  transcendencia  requerem  applicacac, 
que  nao  podem  dar-lbes  geralmente  os  indi- 
viduos,  que  nao  se  dedicam  a  vida  cccle- 
siastica. 

Assim  que,  o  grande  numero,  a  maxima 
parte  dos  cidadaos  iguoram  completamente  a 
Religiao  que  professam.  Custa,  mas  nao  ha 
senao  assim  confessal-o,  porquc  a  verdade  e 
esta.  Ignorada  a  tal  ponto  a  Religiao,  dcsco- 
nhecidas  as  razoes  que  nos  obrigam  na  cons- 
ciencia  ao  fiel  desempenbo  dos  deveres  so- 
ciaes,  sera  maravilha  que  tao  mal  se  cor^ 
responda  ao  titulo  de  que  todavia  se  prcten- 
defazergala;  e  que  de  tantos  crimes,  tor- 
pezas,  e  miserias,  se  veja  icado  o  pobre 
Portugal?  Eouve  em  passados  tempos  outros 
meios  de  obviar,  ao  menos  em  parte,  a  mal 
tao  perigoso :  hoje  nao  pode  haver  senao  o 
do  ensino.  E  por  tanto  de  absoluta  necessi- 
dade crcar  uma  cadeira,  que  devera  ser  con- 
siderada  habilitacao  indispensavel  para  a 
instruccao  superior,  na  qual  se  expliquem 
methodica,  breve,  e  solidamente  os  funda- 
mentos  da  Religiao  Catholica  Apostolica  Ro- 
mana,  (jue  felizmente  professamos;  se  estahe- 
Iccam  OS  sens  dogmas;  se  explanem  as  suas 
doutriuas;  se  deduzam  as  obrigacOes  sociaes, 
a  que  sujeita  todos  os  cidadaos;  e  se  dcmonstre 
a  vantagem  practica  da  cxacta  observancia 
da  sua  moral  divina. 

Senhor!  a  creacao  da  cadeira  que  proponho 
sera  um  novo  padrao  de  gloria  para  V.  M., 
e  as  geracoes  por  vir,  saboreando  os  fructos, 
que  sem  I'alta  bao  de  rccolber,  bem  dirao  a 
memoria  de  V.  M.! 

Convencido  de  que^  fazendo  esta  proposta 
cumpro  um  dever  sagrado,  que  me  e  imposto 
niio  menos  pelas  razoes  especiaes  do  estado 
ecclesiastico,  do  qual  me  bonro,  do  que  pelas 
da  sincera  devocao,  que  dedico  ao  nieu  paiz; 
e,  julgando  desnecessaria,  por  facil,  mai.s 
larga   demonstracao   dos  motivos   da  conve- 


153 


niencia,  ou  antes  nrrossidadc  dc  sc  adnplar  a 
providcncia  que  tenho  arabadn  de  suf^serir, 
supplico,  pelo  hem  da  rausa  piihlica,  a  V.  M., 
que  se  digne  dar-lhe  a  sua  real  approvarao. 

Continua. 


MEMORIA  HISTORICA  E  CRITICA 


Sobre  a  i-cvolucao  <iibo  cm  I  SIC  liroii 
n  t'orua  n  It.  ^niic-Dio  it  iiat-a  n  4lai-  no 
t'OiaUe  <lc  Uoloiilia  kcii  irinao. 


I. 


A  revolucao  que  em  1240  quelirou  o  sce[itro, 
e  tirou  a  coroa  da  cabeca  a  U.  Saneho  11, 
para  a  collocar  na  de  seu  irmao,  o  conde  de 
Bolonha,  e  urn  dos  factos  niais  nolavcis  da 
nossa  historia,  cuja  averiguaeao  lem  dado 
rauilo  que  cnlender  a  difl'ercntes  cscriptores. 
Uns  a  attribuem  ao  mau  governo,  e  dissolu- 
fao  progressiva  da  soc-iedadc  com  a  imbecili- 
dade  do  rei ;  outros  a  querem  somente  impu- 
tar  a  demasiada  inlluencia  do  clero,  e  ;is 
surdas  intrigas  com  que  cste  minara  os  ali- 
cerces  do  tbrono  para  f'azer  bom  o  partido  do 
seu  protcgido  conde  dc  Bolonha ! 

Paschoal  Jose  de  Mello  no  principio  da 
sua  historia  de  Dircito  civil,  composta  em 
espirito  dc  malqucrenca  contra  o  clero  em 
geral,  que  sempre  invectiva  com  a  pena  mo- 
Ihada  em  fel,  attribue  esta  catastrophe  ii  dema- 
siada insolencia  dos  ecclesiaslicos,  e  a  ambicao 
que  0.1  devoraca.  Occultando  as  causas,  e  nao 
consultando,  talvez,  os  escassos  documentos 
d'aquella  epocha,  para  com  mais  seguranca 
formar  o  seu  juizo,  e  interpor  o  seu  parecer; 
aquclle  mui  douto  escriptor  declama  apaixo- 
nadamente  contra  o  clero  em  termos  desa- 
bridos,  nao  se  lembrando  que  as  revolucOes 
tern  sempre  uma  causa,  embora  haja  quem  a 
fecunde  e  faca  amplamente  desinvolver,  como 
havemos  ver  no  decurso  d'esta  raemoria. 

Mais  proximo  a  nos,  e  ainda  ha  pouco,  o 
sr.  Alexandre  Herculano  na  sua  historia  de 
Portugal,  cscrevcndo  a  vida  do  mesmo  rei, 
com  a  critica  e  discerniniento  que  ninguem  llic 
pode  negar,  seguindo  as  niesraas  ideas  impu- 
ta  aquelle  attentado  ao  clero  e  as  intrigas  da 
corte  de  Roma,  como  o  principal  nucleo  don- 
de  sahiu  tamanba  catastrophe.  Reflectindo  so- 
Lre  as  circumstancias  cm  que  o  reino  se 
achava  ao  tempo  do  fallecimento  de  D.  Af- 
fonso  II,  pae  d'cste  infeliz  monarcha;  na  de- 
sinvoltura  em  que  se  achavam  os  raembros  das 
diversas  jerarchias  do  estado;  na  fraqueza  e 
imbecilidade  governativa  do  novo  rei,  exami- 
narei  resumidamente  osaccontecimentos  poli- 
ticos  d'estes  dois  reinados,  para  sobre  elles 
fazer  o  meu  juizo  critico,  pesando  imparcial- 


menlc  as  provas,  que  tirarei  d'alguns  docu- 
mentos, ate'gora  ineditos,  (jue  me  parececon- 
vencerao  o  leitor  da  paixao,  com  que  tern  sido 
acoimado  o  clero  como  motor  e  agente  de  tao 
terrivel  drama,  discordando  da  opiniao  de 
tiio  (liscretos  e  judiciosos  AA. 

Terei  entcndido  hem,  ou  terei  entendido 
mal  estesaccontecimentos?  Se  osentendi  hem, 
nao  terei  de  (|ue  dar  desculpas;  se  os  enten- 
di  mal,  taxe-se  embora  o  entendimento;  mas 
nao  se  condemnc  a  vontade.  Pensar,  fallar,  e 
esrrever  sem  offensa  de  terceiro,  eisaqui  um 
direito  provenicnte  de  uma  justa  e  discreta 
liherdade,  que  o  dever  e  a  religiao  nos  estao 
inculcando  continuamcnte:  respeitar  as  opi- 
niocs  alheias  e  outro  dever,  que  cumpre  a 
todo  0  homeni,  qualquer  que  seja  sua  posicao 
social,  e  ([ue  I'arei  por  cumprir  fielmenle. 


II. 


Atacado  de  molestia  grave  e  ascorosa,  tinha 
a  clla  succunibido  elrei  D.  Affonso  II,  deixan- 
do  seu  lilho  D.  Saneho  era  menor  idade'. 
Malquistado  com  o  clero,  e  envolvido  em  por- 
liadas  discordias  com  os  principaes  prelados 
do  reino,  com  quem  teve  de  sustentar  luclas 
de.sagradaveis,  por  se  intrometter  na  jurisdic- 
cao  espiritual,  tinha  D.  AlTonso  II  attrahido 
sobre  si  os  raios  do  Yaticano:  e  as  excomu- 
nhoes  e^ccnsuras,  contra  elle  fulminadas,  se  o 
nao  iizeram  desistir  de  depor  e  destituir  benefi- 
eiados  collados,  sem  para  isto  ter  jurisdiecao, 
e  atacar  as  iramunidades  ecclesiasticas,  contra 
as  prcrogativas  do  clero,  que  seu  genio  vio- 
lento,  e  fogoso  olhava  com  sobrecenho,  fize- 
ram  comtudo,  que  mais  tardc  tractasse  de 
com  todos  se  compor;  e  nos  ultimos  mezes 
de  sua  vida,  com  todos  congracado,  rogava 
ao  mesmo  Pontitice,  que  tao  severas  admoesta- 
coes  Ihe  havia  feito,  de  tomar  sob  sua  protec- 
cao  como  pae  e  senhor,  sens  filhos  e  reino  ■'. 
Era  'ncste  tempo  bispo  de  Coimbra  D.  Pedro 
Soeiro,  ou  Soares,  (que  d'uma  e  outra  forma 
se  acha  escripto  nos  instrumentos  d'aquella 
era),  com  o  qual  teve  sempre  Allonso  II  gran- 
des  questoes,  alem  das  que  sustentou  com  seu 
temivel  adversario  D.  Estevam  Soares  da  Sil- 
va,  arcebispo  primaz  de  Braga.  0  interessante 
papel,  que  estes  prelados  desempcnbaram  du- 
rante 0  governo  d'este  rei  e  de  seu  lilbo,  me 
chama  a  dizer  ja  alguma  eoisa  sobre  as  desa- 
vencas,  que  se  atearam  na  corte  do  rei,  que 
entao  residia  em  Coimbra,  com  o  seu  prelado, 
movidas  pelo  favor  com  que  D.  Affonso  pro- 
tegia  0  mosteiro  de  Sancta  Cruz,  de  ([uem 
'naquelle  tempo  era  o  bispo  adversario.  0 
animo  insoffrido  do  rei  mal  tolerava  a  inlluen- 
cia d'este  prelado;  e,  ou  porque  notara  abusos, 
que  quizera  reraedear,  ou  porque  taes  se  Ihe 

'   A.  Herculano.  HUt.  dePort.  torn.  II,  not.  14. 
"  Id.  ibid.  liv.  *.",  pag.  854,  not.,  1.'  edi?. 


15 


autolhavam  ao  seu  ardor  os  proicdimenlos  do 
bispo,  declarou-se  contra  elle  com  muita  de- 
teriuiiiacao;  e  a  tal  ponlo  subiram  aquellas 
desavenyas,  e  por  tal  forma  foram  crescendo, 
aggravaiido-se  de  parte  a  parte  osagastamcn- 
tos,  que  para  cvitar  os  perigos,  que  de  perto 
0  ameacavam,  se  viu  o  bispo  D.  I'edro  algiun 
tempo  depois  iia  collisao  de  se  volar  a  iima 
reclusao  voluiitaria  em  sua  casa,  nao  ousando 
d'ella  saliir  com  receio  de  ser  preso,  nem  se 
alrevcndo  secular  algum  servil-o  com  medo 
do  rei;  apenas  os  ecclesiasticos  a  elle  tinham 
aecesso,  como  exemptos  da  jurisdiccao  real  '. 
Em  lao  critica  siluarao  se  acbava  o  bispo  D. 
Pedro,  que  i)ara  se  ver  livre  do  vexame  e  op- 
pressao  em  ([ue  cstava,  resolveu  ausentar-se 
do  rciiio  para  Camera,  e  depois  para  lloma, 
deixando  em  sequeslro  todos  os  seu  bens,  e 
rendimculos  ';  e,  demorando-sc  por  setc  a  oito 
annos  fora  do  seu  bispado,  teve  tempo,  ou  de 
esfriar  a  animosidade  do  rei,  ou,  depois  de 
aplacada  a  violencia,  que  caracterisou  quasi 
todo  0  seu  reinado,  de  voltar  ao  reino,  c 
coutinuar  no  governo  do  bispado  nao  sem 
continues  desgostos,  ate-  se  ver  ua  neces- 
sidade  de  renunciar  o  episcopado,  e  tornar 
a  vida  privada,  como  fizeram  alguns  de  sens 
antecessores.  D'onde  me  parece  baverem-se 
equivocado  alguns  AA.  attribuindo  estes  fac- 
los,  e  antecipando-os  ao  reinado  deSancboI, 
quaudo  dos  depoimentos  rel'eridos  se  mostra 
tereni  elles  tido  logar  no  de  All'onso  II. 

Com  eQ'eito  na  bistoria  citada  do  sr.  A.  Der- 
culano  estes  aggravos,  mencionados  em  uma 
das  notas  antecedentes,  sao  autecipados  ao 
reinado  de  Sancho  I  e  suppOe-se  por  elle  pra- 
cticados  mezes  antes  do  seu  fallecimento:  mas 
a  Bulla  d'Innocencio  III  nos  tira  de  duvidas, 
mostrando-nos  clarameute  o  anno,  e  marcan- 
do  a  epocba  do  acontecimunto  '. 

0  doutor  Pedralvarcs  Nogueira,  na  sua 
biograpbia  dos  bispos  de  Coimbra,  feita  em 
l!i80,  e  que  se  couserva  manuscripta  no 
cartorio  da  catbedral  Conimbricense,  priniei- 


'  E  oque  se  sabe  por  uma  inquiri^iio  de  testimunhas 
tiradas  em  1252,  e  que  'jxiste  no  cartorio  da  cathedral 
de  Coimbra  G.  13,  R.  2,  m.  1,  n.«  43,  e,  aiuda  que  nao 
tcm  data,  conliece-se  esta  pelo  seu  conteudo.  'Neila  pois 
jurando  o  deiio  e  mestre  eschola  da  cathedral,  e  outros 
mais,  todos  sao  Concordes  era  allirmar  ^. quod  fiiit  inclu- 
"  sus  ....  domibus  suis  timore  regis,  et  non  erat  ausus 
"  exire  de  domo  sua  et  laici  non  erant  ausi  eum  servire 
"  quia  rex  minatus  fuerat  eos.  Inlerrog.  per  qiiem  regem 
..  minatus  erat  ?  Dixit  quod  per  regem  domnum  Alfonsum 
u  patrem  istius  qui  nunc  est.  >)  Tudo  isto  e  relativo  ao 
bispo  D.  Pedro,  e  tudo  pelas  dictas  testimunhas  presen- 
ciado. 

■■  "  Et  bona  ipsius  (episcopi)  erant  occupala  per  re- 
gem  i-  ibid,  et  fuit  tunc  exul  ab  ecclesia  sua  per  7"°  no 
annos.  »  Jura  o  mestre  escbola  ibid. 

'  A  Bulla  d'Innoc.  i!  datada  7.  Kal.  mart.  Ponlificat. 
XIV,  t2'2  de  fev.  de  1'2I2).  Nao  podia  por  tanto  ser 
dirigida  a  Sancho  I  que  ju  era  fallecido.  CouQra-se  a  not. 
V  ao  torn.  2,  da  Hist,  de  Port.  1."  edi^..  etc.  A  Integra 
desta  Bulla  acha-se  no  nieu  Catalago  dos  bispos  de 
Coimbra,  ainda  ua  Acad.  R. 


ro  imputou  a  D.  Sancbo  os  desaguizados,  de 
que  0  bispo  D.  Pedro  se  queixava  a  este  Papa; 
mas,  alem  da  pouca  conliaufa,  que  merece 
este  A.  que  se  cngana  com  muita  iVcquencia, 
e  tem  I'eito  enganar  outros  ',  a  ItuUa  em  que 
Innocencio  111  admoesta  o  rei,  sendo  datada 
oiize  mezes  depois  da  morte  de  1).  Sancho', 
a  nenluim  outro  podia  ser  dirigida  senao  a 
.MlVmso  II,  que  entao  ja  era  rcconbecido  rei, 
e  successor  de  seu  pae  Sancbo  I.  E  por  isso 
i|ue  0  citado  A.  se  equivocara,  acreditando 
ter  sido  esta  de.savenca  com  este  rei,  e  nao 
com  All'onso  II.  A  inqiiiricao  porem  nos  tirara 
loila  a  duvida,  se  ainda  alguma  restasse,  ma- 
nifi'slandii-nos  de  um  niodo  mais  claro,  que 
estes  aggravos  foram  practicados  por  Alfonso 
II,  logo  nos  principios  do  seu  reinado,  e  nao 
por  seu  pae  com  o  qual,  pondo  de  parte  al- 
gumas  insignilicanles  discordias  e  contesta- 
coes,  tenlio  para  mini,  a  vista  dos  documentos, 
se  dera  bem  este  prelado;  nasccndo  aquella 
confusao  da  falta  cbronologica  dos  documen- 
tos, por  se  acliar  a  maior  parte  d'elles  sem 
datas,  como  notou  o  referido  A.  ;  e  outros, 
ate'gora  ineditos,  como  o  da  ini|uiricao,  ([ue 
me  tem  servido  de  guia. 

III. 

Tinham  finalmente  calmado  um  pouco  as 
dissensoes  cntre  o  rei  e  o  bispo  ;  e  dobre  ou 
sinceramente  AHonso  II  liavia-se  deelarado 
amigo  e  protector  d'elle,  c  dos  mais  prclados 
do  reino,  para  o  que  no  1."  de  dezembro  de 
1217,  concedeu  por  carta  patente,  sellada 
com  0  sello  de  chumbo^,  a  se  de  Coimbra  e 
ao  seu  bispo  a  sua  proteccao  e  amparo,  de- 
clarando-se  por  muito  seu  amigo  e  bemleitor 
com  tal  extremo  d'affecto,  que  nunca  a  ambos 
tivera  seu  pae  e  avo,  para  defender,  amparar 
e  beneficiar  a  egreja  Conimbricense,  por  cujo 
motivo  nao  so  os  tomava  dcbaixo  da  sua  pro- 
teccSo  individualmente,  senao  tambem  todos 
OS  sens  coutos,  bens  e  herdades,  reputando 
por  seus  inimigos  todos  os  que  coutraviessem 
esta  sua  disposicao,  assini  como  impondo-lhes 
uma  muita  de  rail  maravedis,  se  por  qual- 
([uer  forma  contrariassem  esta  sua  determi- 
nacao*.  Pela  outra  carta  patente  egualmentc 

'  Vejam-se  os  capp.  1.°  e  2."  do  men  Calal.  dos  bispos 
de  Coimbra,  impr.  nas  Mem.  d'Acad.  R.  das  Scienc.  Lui- 
boa  1854. 

^  D.  Sancho  falleceu  em  26  de  mar^o  de  1211.  A 
bulla  de  Innocencio,  sendo  dalada  de  22  de  fevereiro  de 
1212,  (anno  14°  do  seu  pontif. )  censurando  o  procedi- 
mento  do  rei,  nao  podia  ser  dirigida  seniio  a  D.  Affonso 
II.  como  jil  disse. 

^  Este  documento  original,  e  o  outro  abaixo  citado, 
foram  remettidos  para  a  Academia  real  por  portaria  do 
governo,  com  os  outros  pertenceutes  aos  seculos  XII  e 
XIII,  e  o  cartorio  da  cathedral  ficoua.<isimprivado  da  sua 
propriedade. 

■•  •!  Sciatis  quod  ego  sum  multum  debitor  ecclesie  san- 
cte  marie  de  Colimbria  et  nunquam  avus  meus  vel  pater 


1 


155 


sellada  com  o  seu  sello  dc  chumbo,  ilada  era 
Santarem  em  scxla  feira  dc  I'aixao  do  1218, 
concede-lhes  uma  avultada,  e  muito  valiosa 
reuda,  com  a  doacao  que  a  mesnia  Seebispo 
faz  dos  dizimos  dos  reguengos,  queate'hi  nao 
se  pagavam. 

Mas  scria  sincera  esta  sua  rcionciliafao, 
ou  scria  acaso  liiha  de  alguma  podcrosa  in- 
tervencao,  que  a  tanto  o  ohrigou?  Eis  o  que 
parece  nao  poder  descobrir-se  a  piimeira 
vista.  Fflra  esta  conciiiacao  talvez  semelban- 
te  ao  fogo,  que,  coberlo  de  cinza,  permancce 
algum  tempo  occulto,  ate  que  iiovameute 
ateado  rompc  com  cxcesso,  produzindo  fuiiestos 
estragos:  lal  se  me  ligura  D.  Afl'onso,  que 
pouco  depois  rompeu  novamenle  com  o  bispo, 
easdiscordias  continuaram,  senao  com  maior, 
ao  menos  com  cgual  vcbemencia.  Levado  d'cl- 
las,  depois  do  encerramenlo  em  que  viveu  no 
seu  paco  por  alguns  mezes,  como  ja  vimos, 
teve  0  bispo  de  sc  retirar  para  Camera,  e  de- 
pois para  a  curia  Romana,  onde  andara  por 
sete  a  oito  annos,  ate  que  voitou  ao  bispado. 
Esle  facto,  accontecido  depois  do  concilio  La- 
tcranense,  cciebrado  em  121 B,  eaonde  aquel- 
)e  prelado  se  achou,  ticaria  ignorado,  se  nao 
fdra  a  inquiricao  dc  que  ja  dei  noticia  ' ;  e  de- 
veria  eiie  ter  tido  logar  depois  do  anno  dc 
1215  ^  Com  effeito  em  1216  se  achava  o 
bispo  D.  Pedro  auzcnte  do  reino,  e  por  elle 
governava  o  bispado,  mestre  Martira,  chantre 
da  scj.  A  sinceridade  da  amizadc  que  o  rei 
mostrava  ao  bispo,  posta  acima  ja  em  diivida, 
mais  nos  devera  parecer  agora  lilha  de  cir- 
cumstancias  e  influeneia  de  validos,  do  que  da 
boa  vonlade  do  monarcha.  Na  doacao  dos 
dizimos  dos  reguengos,  feita  quatro  mezes 
depois  da  primeira,  nota-se  dizer  'nelia  eirei, 
que  attendendo  a  amizade  que  conservava  a 
mestre  Juliao,  seu  cbanceller,  ao  deao  da  Se 
de  Coimbra,  seu  fdho,  e  do  mesrao  nome, 
e  a   mestre  Silvestre,   bem  como  a  Feruao 

meug  majorem  habuit  volimlatera  bene  judicandi  et  am- 
farandi  ipsam  ....  quapropter  recipio  in  mea  comen- 
da  .  .  .  et  protectione  episcopum  et  capitulura  ....  et 
bona  ipsorum  ....  qui  ibi  malefecerit  pectabit  mihi 
mile  morabitinos  ....  et  insuper  habebitur  pro  meo 
ininiico.  »  —  Gav.  4,  R.  2,  m.  2,  n.'^^  ^  e  14.  no  Carturio 
do  cabido  de  Coimbra.  (Estes  originaes  toram  para  a 
Acad.  R.). 

'   V.  not.  l,pag:.  154,  col.  l.« 

■^  Inquiricao  citada,  onde  as  testimunhas  que  presen- 
ciaram  estes  accontecimentos,  nao  so  os  referem  acconte- 
cidos  com  este  rei,  senao  tambem  'nella  jura  o  mestre 
eschola  que  tiveram  logar  «.  post  concilium  Laleranen- 
«e  "  e  a  4.*  testemunha  jura,  que  este  exilio  accontecera 
30  annos  ou  35  antes  do  dia  do  inquerito,  e  sendo  este 
em  1252,  vem  a  deitar  de  1216  por  diante. 

^  Em  urn  dncuraeuto  da  collegiadade  S.  Joao  d'Alme- 
dina,  d'esta  cidade,  masse  2.°,  dos  que  foram  remettidos 
para  a  Academia,  s»  acha  expressado  o  que  diz  o  texto. 
Em  1217  parece  achar-se  ausente  o  bispo,  pois  na  carta 
patente  d'este  anno  nao  se  nota  a  assignatura  d'elle  entre 
OS  contirmantes,  sendo  datada  de  Coimbra,  signal  de  que 
ae  achava  ausente,  nem  na  outra  feita  em  mar(;o  de 
1219  pelo  mesmo  rei  ao  bispo  do  Porto  1>.  Martinho. — 
Cunha.  Hist.  Eccl.  de  Braga  p.  i.  cnji.  22. 


Peres,  e  outros  mais  que  'nella  nomea,  doava 
a  referida  Se  estes  dizimos  para  ler  parte  nas 
suas  oracfles,  e  sua  menioria  'nella  ser  lem- 
brada.  Estas  palavras  parece  indicarem  mais 
influeneia  e  pedido  estranho,  do  que  resulta- 
do  da  boa  vontade,  que  para  tal  lim  Ihe 
dispozcsse  o  animo.  Mas,  ou  fosse  que  elrei, 
cedendo  a  intercessao  dc  sous  validos,  lizesse 
tal  concessao,  ou  fosse  que  astutamentc  qui- 
zesse  attrahir  ao  seu  parlido  os  bispos,  que 
'neste  tempo  se  achavam  com  elle  divorcia- 
dos,  D.  Pedro  Soares  nao  recoiheu  ao  reino, 
e  continuou  a  desavenca,  em  que  estava,  as- 
sim  como  a  de  outros  prclados. 

0  primaz  dc  Braga,  que  por  este  tempo  se 
tinha  retirado  do  reino,  e  procurava  na  cdrte 
dc  lloma  rcmedio  aos  aggravos,  que  elrei  Ihe 
fazia,  e  com  que  o  ave.\ava,  achava-se  sera 
rendas  por  causa  do  scquestro  que  era  todos 
OS  sens  rendimenlos  se  havia  feito  pela  sua 
ausencia,  e  desavenca  com  o  rei;  e  por  esta 
causa  obteve  Estevam  Soares,  que  pela  Data- 
ria  sc  expedisse  Bulla  aos  prelados  do  reino 
para  por  dies  ser  soccorrido  '.  'Nesta  se  com- 
prebendia  tambem  D.  Pedro  Soares,  ([ue  na 
mesiua  conlribuicao  dcvia  ser  quinhoeiro, 
mas  como  'neste  tempo  elle  tinha  as  suas 
rendas  em  egual  sequestro,  mal  podia  acudir 
as  suas  ordinarias  despezas,  e  nem  por  conse- 
quencia  soccorrer  o  primaz,  failecendo-lhe  os 
meios:  nada  por  tanto  deu  %  e  por  csle  mo- 
livo  solfreu  uma  reprehensao  do  Papa,  alem 
das  censuras  do  primaz  '. 

Na  Ilistoria  dc  Portugal  diz-se,  que  entre 

05  cortezaos  mais  odiosos  ao  primaz  era  mestre 
Vicente  (deao  de  Lisboa,  e  depois  bispo  da 
Guarda),  e  o  bispo  de  Coimbra,  que  na  sua 
adhesao  a  parcialidade  do  rei  nao  so  se  esqui- 
vara  a  contribuir  para  a  siisleiitacuo  do  urce- 
bispo,  mas  ate  desprezara  as  censuras  do  me- 
tropolitano  *,  dcixando  de  concorrer  para  a 
pretensao  do  arccbispo.  Para  isto  provar  se 
serve  o  sr.  Ilerculano  da  Bulla  de  10  de  junho 
de  1222,  remettida  aos  abbades  de  Cella  Nova 
e  Osseira,  encarregando-os  de  se  dirigirem  ii 
presenca  d'AITonso  II,  c  Ihe  intimarem  que 
affastasse  de  si  o  bispo  de  Coimbra,  o  chan- 
tre do  Porto,  e  0  deao  de  Lisboa.  Quanto  ao 
bispo  dc  Coimbra  nao  mc  parece  exacta  esta 
narrajao.  0  rei  tinha-Ihe  feito  sequestro;  e 
amurado  por  estemotivo,  procurava  D.  Pedro 
obter  regresso  ao  reino,  achando-se  ainda 
dentro  do  tempo  dos  sete  a  oito  annos  em 
que  csteve  d'elle  ausente,  e  que  referem  as 
testemunhas  da  inquiricao  ja  mencionadas  \ 

6  por  tanto  nao  podia  die  ser  mandado  ex- 

'   A.Hercul.  Hist,  de  Port,  vida  de  D.  AJfonso. 

'   Vej.  acima  a  pas.  154,  col.  1.",  not.  I." 

'  A.  Hercul.  Hist.  dePort.  torn.  II,  liv.  4.°  pag.  249, 
attribne  este  facto  a  outras  causas,  que  me  nao  parecein 
exacfas. 

'   Id  ibid. 

'   Vej.  a  pag.  154,  col.  l.»,  not.  2. 


1 


56 


pulsar  (la  corlo,  por  'nella  se  nao  achar,  ncm 
tao  pouco  receher  rensura  por  nao  contribuir 
para  a  sustentarao  do  nietropolila,  iiaila  Icn- 
do,  nem  recohcndo  das  roadas  do  bispado 
(1  quia  episcojms  fere  nil  percipiehnt  de  episeo- 
palu,  »  coiiio  sc  111  iia  citada  iiiqiiirirao,  e 
jurani  as  siias  tcstimiiiihas.  Sc  ellc  pois  sc 
achava  nesta  siluaran,  como  liavia  (le  con- 
corrcr  com  sua  (juola  para  o  nietropolila? 

Cotttiniia.  «.  r.  de  VASCONC'ELLOS. 


NOVA  ESCALA  THERfflOMETRICA. 

Continuailo  de  pa^.  131. 

"  Tomiimos  para  pxrnipio  da  discordancia 
das  actuaes  cscalas  Ihermomctriias  a  applioa- 
rao  d'cUas  a  alguns  factos  mcieorologicos, 
onde  se  \i,  que  o  priucipal  c  lalvez  unico  obsta- 
culo  para  scr  adoptada  gcralmente  a  escaia 
ccntigrada'  e  a  posirao  do  seu  zero. 

Uma  modificaoao  portanto  'nesta  escaia 
e  Instantemcntc  rcclamada  pclos  niclrorolo- 
gistas,  alini  de  cvitar  as  nunierosas  causas 
d'crro,  que  temos  referido.  Cumpre-nos  cxa- 
minar  agora  se  sera  possivel  fazer  csla  mo- 
dificacao,  conservando  rigorosamente  ao  grao 
centesimal  o  seu  actual  valor,  eiiao  alterando 
as  numerosas  applicaf  ocs  do  calculo  e  da  obser- 
vacao,  cuja  base  e  o  mesrao  grau  centesimal. 

Dulong  e  Petit  demonstraram,  que  de  '3()° 
a  +  100°  0  thermometro  de  mcrcurio  ca- 
minhava  de  accordo  com  o  thermometro  d'ar,  o 
que  e  confirmado  pclas  recentes  observai-oes 
de  Regnault.  Os  dois  primeiros  physicos  de- 
monstraram tambem,  que  o  ponto  do  ebui- 
licao  do  mercurio  e  a  360°  da  sua  propria 
escaia,  ou  segundo  Regnault,  a  300°, a.  Por 
outro  lado  Pouiilet  reconheceu  que  este  metal 
se  eongela  a  —  40°, S  C,  ou  a  —  41°  segundo 
Person.  Diversas  series  de  observacoes,  que 
todavia  nao  podem  considerar-se  absolula- 
mente  rigorosas,  porque  a  maneira,  por  que  se 
contrae  o  mercurio  no  momcnto  da  sua  con- 
gelajao,  dilliciimente  deixa  determinar  com 
precisao  a  sua  temperalura,  me  derara  em 
resultado  —  40,°o  —  40,"0  —  40,°7  C. 

Por  tanto,  assim  como  pode  admitlir-se  com 
Dulong,  Petit,  e  Regnault,  que  360°  c  o 
ponto  de  ebullicao  do  mercurio,  tambem  pode 
cgualmente  admiltir-se  que  a  sua  completa 
fusao  tem  logar  a  —  40.° 

E  por  conseguinte,  como  o  tinha  previslo 
Dulong,  e  no  limite  de  400°  da  sua  propria 
escaia,  que  o  mercurio,  unico  metal  fusivcl 
a  temperatura  ordinaria;  o  melhor  liquido 
Ihermometrico,  mais  geralmente  usado;  e  que 
se  emprega  na  construccao  dos  nossos  llier- 
niometros  mais  perfcitos,  passa  do  estado  de 
completa    fusao  ao  sou   ponto  de  ebullicao. 


Levando  por  consequencia  cm  conta  a  dif- 
t'erenca,  que  vai  entre  o  thermometro  de 
mercurio,  e  o  d'ar  desde  +  lOO",  segundo  as 
observacoes  de  Dulong,  Petit,  e  Regnault,  as 
indicacOes  do  thermometro  dc  mercurio,  que 
ri'presentam  por  scus  vaioros  numericos  o 
augmento  real  da  energia  c  (juantidade  de 
calor,  podem,  posto  queosponlos  extremes  dc 
fusao  e  ebullicao  deste  nu'tal  nao  scjam  consi- 
dcrados  como  ponlus  fixux,  servir  dc  |)onlo  de 
partida  c  divisao  a  uma  escaia  de  400",  que 
abrange  lodas  as  temperaluras,  que  o  mercu- 
rio pode  experimentar  no  estado  li(|uido. 

E  por  consequencia  possivel  cslabeleccr  uma 
escaia  tetra-ccntigrada,  ou  de  400",  cujo  zero 
scja  collocado  a  tenii)eratura  da  completa  fusao 
do  mercurio,  e  na  qual,  conscrvados  rigorosa- 
mente OS  dois  ponlos  fixos,  a  temperatura  do 
gelo  fundente  corresponda  a  40"  T  C.  e  a  do 
vapor  da  agua  a  ferver  debaixo  de  700  mili- 
metros  de  mcrcurio  a  140°  T  C,  e  linalraente 
0  ponto  de  ebullicao  do  mercurio  a  400°  TC. 

A  introduccao  da  palavra  Utra-cenli(jrada 
niio  indica  mudanca  alguma  no  valor  dos 
graus  da  escaia  centesimal,  porque  hii  sempre 
100°  entre  a  temperatura  do  gelo  fundente  e 
a  da  agua  a  ferver.  Esta  nova  denominafao, 
porem,  era  indispensavel  para  fazer  ver,  que 
a  notacao  das  temperaturas  parte  de  um  ponto 
40°  mais  baixo,  (pic  o  zero  do  gelo  fundente. 
Por  consequencia,  a  excepcao  da  mudanca  do 
seu  zero,  a  escaia  ccntigrada  conserva-se  exac- 
tamentc  a  mesma  em  todos  os  pontes,  e  a  unica 
alteraciio,  quee  mister  introduzir 'nella,  limita- 
se  ao  addicionamento  da  cifra  40,  sem  fracfao 
alguma,  em  lodas  as  indicacOes  superiores  ao 
zero  da  escaia  centesimal.  A  simples  mudanca 
do  zero  desta  escaia  permitle  nolar  todas  as 
indicacOes  de  temperatura  abaixo  do  gelo  fun- 
dente, que  0  mercurio  pode  apresentar  antes 
de  congelar-se,  sem  que  seja  necessario  usar 
algum  dos  signaes  positives,  ou  negatives, 
que  actualmeute  sao  indispensaveis. 

Deve  notar-se,  que  os  primeiros  100  graus 
da  escaia  tetra-centiyrada  comprchendem,  com 
excepcao  d'um  pequcno  nuiuero  de  casos, 
em  que  o  thermometro  dc  mcrcurio  deixa  de 
apresentar  as  suas  indicacOes,  os  limitcs  extre- 
mes da  temperatura  da  atmosphera  a  superficie 
da  terra  nos  nossos  climas  di' — 10°  C  a  mais 
60  C,  ou  de  40°  a  140°  F.,  e  que  assim  consti- 
tuem  0  thermometro  meteorologico  propria- 
mente  dicto,  sem  ser  necessario,  tanto  quanto 
pode  empregar-se  o  thermometro  de  mercurio, 
recorrer  aos  signaes  +  e  — ,  que  diio  logar 
aos  erros,  que  jii  notamos. 

Por  meio  da  escaia  telra-cenligroda  os 
signaes  negativos  devem  empregar  unicamente 
nos  casos  mui  raros,  em  que,  nao  podendo 
usar-se  o  thermometro  de  mercurio,  e  preciso 
recorrer  ao  de  alcool,  (|ue  principia  a  dar  as 
indicacOes  da  temperatura  abaixo  do  zero  da 
escaia  de  mercurio.  » 


157 


Concluindo  a  leitura  d'esia  memoria,  M. 
Walfcrdia  apresriUou  a  acadcniia  uni  thcrmo- 
iiietro  de  iiaTCurio  dividido  nos  400  graos, 
<]ue  tonstiluom  a  oscala  lelra-centiyrada,  com 
uma  lamina  de  metal,  onde  se  via  a  relacao 
entre  esla  c  as  outras  Irez  escalas  tliermo- 
metricas;  e  iim  outro  tlierniomctro  lelra-cen- 
tifjrado  ou  de  400  graus.  Apresentou  tanibem 
mais  dois  tliermometios  de  mcriurio,  um 
dividido  desdc  zero  Hte  140  graos  telra-cen- 
tigrados,  ((ue  eo  ponio  dechullicao  daagua; 
c  outro  desde  zero  ate  100  graos,  (jue  e 
o  tliermometro  iiieteorologico  [iropriamenle 
diclo. 

Walferdin  declaroii  a  academia,  que  por 
mui  longa  experiencia  havia  conhccido  as 
vantageiis  da  mndilicarfio,  i|ue  introduzira  na 
escala  eentigrada,  e  ([ue  o  rcsultado  das  suas 
nao  interrorapidas  observacOes  o  conlirmara 
picnamente  na  superioridade  deste  tliermo- 
metro sobre  os  fundados  'noutras  escalas. 
Alem  de  que  para  verilkar  quaesquer  casos 
duvidosos  nas  observacoes  meleorologicas,  e 
indispensavel  usar  d'uma  escala  tliermometrica 
ao  niesmo  tempo  ascendeute  e  descendente, 
e  por  isso  Babinel  collocava  sempre  a  par  do 
thcrmomelro  cenligrado  o  de  Fahrenheit  para 
confrontar  as  nolacoes  de  temperaturas  in- 
feriores  ao  zero  (gelo  fundente);  processo 
este  que  ofl'ereec  graves  incouvenientes,  como 
aquclle  pbysico  reconhecera,  e  que  se  evita- 
vam  completamente  por  meio  da  escala  telra- 
centigrada,  que  dispensa  o  iiso  dos  dois  instru- 
menlos  e  evita  quaesquer  erros,  que  por  aqucl- 
le meio  podiam  cscapar. 

Desde  o  primeiro  de  dezcmbro  do  corrente 
anno  a  escala  telra-centigrada  foi  adoptada 
com  a  conbecida  vanlagem  pelos  distinclos 
meteorologistas  Berigny  e  Rycbard  de  Sedan 
no  observatorio  de  Versailles.  A. 


ARREDORES  DE  COIMBRA. 


Valle  fie  CozcIIias. 


Kis  desro  no  f'alle  .  .  ,  . 

Que  sce/ta  encantad'ira  ! 

Alfeso  Cynthiu. 


Depois  de  contemplar  de  Monte-Arroio  ' 
a  formosa  Quinta  da  ItiheUa,  e  os  majestosos 
cyprestes,   que  a  circumdam,  tao  celebrados 

'  Mons  rtthens,  Monte  ruivo^  e  (corruptoo  vocabiilo) 
Monte'roio,  ou  Montt^Arrait^  se  denomina  cm  uma 
tluat^au  dc  D.  I\Iendo  a  D.  JoeIo  Theolonio,  Prior  segundo 
do  mosteiro  de  Sancta  Cniz  de  Coimbra,  fallecido  a  '29 
ii'outiibro  de  1181. — Chron.  dos  conegos  regr.  de  S. 
Agostinho.  Liv.  IX.  cap.  VII.  pag.  206. 


pelo  cximio  botanico  Heinrich  Link ' ;  dp 
admirar  o  sumptuoso  aqueducto  de  S.  Sebas- 
tiao,  0  magnilico  zimhorio  da  cathedral,  e  0 
real  collegio  das  Artes,  dirigem-se  nalural- 
mente  os  olhos  ao  bosque  dos  jesuitas,  povoado 
de  annosos  cedros  e  loureiros-",  e  descancani 
depois,  com  inell'avel  complacencia,  no  ve- 
nerando  mosleiro  de  Sancta  Cruz,  nas  vizinhas 
hortas  e  pomares  ' . 

Que  multidao  de  idias  nao  affluia  ao  nosso 
cspirito  a  vista  d'estes  monumentos  famosos! 

Parecia-nos  divisar,  alem,  alguns  dos  suc- 
eessorcs  de  Francisco  Xavier,  passeando  em 
silencio;  figurava-sc-nos  ver  aqui  o  padre 
Theotonio,  e  Affonso  Henriques  em  conversa- 
cao  animada  ■". 

E  logo  nos  occorriam  as  sanguinosas,  c 
hem  feridas  batalbas  contra  a  mourisma, 
ganhas  pela  valentia  do  Principe,  e  piedosas 
preces  do  bom  Prior';  lembravam-nos  tani- 
bem as  gloriosas  conquistas  do  Oriente,  fa- 
vorecidas  pelos  trabalhos  sobre  humanos  do 
grande  Apostolo  das  Indias'. 

E  d'estas  cogitafoes  nos  dispertaram,  muitas 
vezes,  OS  longinquos  aceentos  de  uma  suave 
psalmodia. 

Tarn  grato  iraaginar  nao  ha  hoje  suscital-o 
0  aspecto  das  frondosas  allamedas,  a  vista  do 
cenobio  antigo.  A  proscripcao  dos  filhos  de 
Loyola  seguiu-se  a  expulsao  dos  filhos  de 
Agostinho.  Calarani-se  as  harraonias  saudosas 
dos  orgaos  dc  Sancta  Cruz  de  Coimbra;  ja 
se  nao  ouvem  os  canticos  maviosos  dos  seus 
conegos  regrantes! 

Esquecamo-nos  poreni  dos  erros  dos  homcns, 
perdoemos-lhes  as  demasias  e  injusticas,  con- 
templando  as  ponipas  de  uma  paisagemesplen- 
dida'.  Descamos  do  monte,  penetreraos  em 
Cozelhas. 


'  Voyage  en  Portugal.  Tom.  1.  pag.  401.  Tom.  i. 
pag.  98. 

-'  «  Si  I'on  desire  voir  les  lauriers  des  Indes,  de  G5a 
(Laiirus  Iiiilica)  dans  toute  leur  magniflcence,  c'est  ici 
qu'on  doit  se  rendre.  »  Link  —  Tom.   1.  pag.  379. 

'  Poucas  cidades  lia,  que  offereram,  aos  ollios  tarn 
variados  e  formosos  qiiadros,  como  Coinil)ra ;  por  qual- 
quer  lado,  que  seja  olliada  exteriormente,  apresenta  um 
panorama  encantador. 

*  No  profundo  vaUe  de  Monlarroyo  muilas  vezes  pas- 
seavam  esles  dois  varoes,  o  rei,  e  o  frade,  mcditando,  e 
conversando  do  ceu  e  da  terra!  —  A.  Port. 

'  1'  Tinha  El-rei  D.  AfTonso  Henriques  tanta  fe,  e 
confian^a  nas  oraijiies  do  Prior  S.  Theotonio,  que  jamais 
commetleu  empreza  alguma,  sem  primeiro  llie  dar  conta 
da  fac^ao,  que  delerminava  fazer,  pedindo-llie  roga.s.5e  a 
Deos  por  elle  e  sen  exercito.  " 

Chron.  citada  Liv.  I.\.  cap.  11.  pag.  177. 

'  Viil.  Histun'a  (la  riiia  dc  Francisco  de  Xavier,  e 
do  que  fizeram  na  India  os  mais  rdigiosos  da  compniihia 
de  Jesus.  —  Pelo  P.  Jouo  de  Lucena. 

'■  Les  vallees  pres  de  Cofrabre,  qui  se  dirigerit  en 
parlie  vers  la  valine  principale,  sont  arros(!es  par  le 
Mondego,  et  portent  de  noms  particuliers;  par  exemple 
I'nl  de  Cuzel/ias.  La  vegetation  y  est  tres-riche,  el  le 
Mondego  embellit  la  belle  flore  de  ce  pays,  par  beancoup 
de  plantes,  qui  proviennent  des  mont-igncs  elevees.  ■' — 
Link,  obra  cit.  Tom.,  pag.  91. 


158 


oil!  como  surge  majcslosa,  e  bella 
(loiii  viro  (la  creacao,  a  iiatureza 
No  solilario  valle  '  I 

Qucra  iiodoiii  (lescrever  a  formosUra  d'estes 
prados,  d'oslas  iol\as  tarn  mimosas,  csnial- 
tadas  do  varius  floros,  iias  (|iuu's  nao  sahercis, 
que  mais  vos  dcleile,  se  a  vivcza  da  sua  ror. 
sc  a  lindcza  do  sua  ligura  ou  a  suavidado 
do  sou  clieiro? 

Vcreis  com 

sincera 

Adrairajao 

0  fruclo,  a  flor,  o  aroma,  o  sol  que  os  gera, 
E  esla  vivaz,  vehemento  natureza, 

Toda  do  logo  e  luz, 
Que  ama  iucessante,  de  amor  nao  canca, 

E  conlinua  produz 
Nos  fructos  0  prazer,  na  flor  a  csp'ranra '. 

Tudo  quanlo  pode  cnlcvar  a  alma,  arrcba- 
lar  a  imaglnacao,   encender  o  cntliuziasmo, 
se  encontra  'nestc  amcno  e  fertii  sitio  '. 
R.  DE  gusmAo. 


UMA  VISITA.  A  SERILV  D'ESTRELLA. 


VEGETAES     MAIS    NOTAVEIS    DA  SERRA     DESTRELLA. 

Continuailo  de  jiag.  146. 

Thlaspi.  Atysson.  Mostardeira  brava,  crva  scmc- 
Ihanle  a  Bulsa  de  pastor. 

T [Montanum  de  Brol.  ?)    EncouUa-se 

nos  Cantaros. 

Deanthos.  Alecrim. 

D.  Itisitanus?  Encoiitra-se  nos  Cantaros. 
Blnil'M.  yavet.  Nabo  sdvestrc. 

B.  jlexuosnm  de  Brot.  Encontra-se  na  rua  dos 
Mercadorcs. 

POTAMOCETON.  t,pi  U'eau.  Erva,  que  naseedeiUro 
il'agua,  de  folhas  scmelhantes  a  selga  brava.  Selga 
brava. 

P.  natans  p.  Encontra-se  na  lagoa  comprida. 
Narcissus.  Narrisse.  Lirio  Vcrmclho;  Junquilho. 

N.  pseudo-narcissus.  Encontra-se  no  valle  da 
Candieira.  Link  afTirma  ter  visto  trez  cspecies  de 
lirio  em  flornrao  na  serra  cm  31  de  maio,  alguns 
dos  quaes  tinham  aberto  passagem  atra\(;s  da 
neve. 

N.  minor.  Encontra-se  no  Malhao  da  serra. 
Pedicciarjs.  Pedicttlaire.  Erva  Piolhcira. 

I',  lusitanica.  Encontra-se  na  lagoa  do  Paehao. 

'   A.  Herculano.  Poesias. 

^  Garrett. 

■■  A  Ribeira  de  Cozelhas  e  urn  dos  sitios  mais  ferteis 
que  ha  na  redondeza  da  cidade;  parte  d'a-suafeoundidade 
nasce  das  enchenles  que  o  Monde^^o  faz  para  ella.  e  cada 
alqueire  de  miUio,  que  se  Ihe  semea,  prodiiz  ordinaria- 
mente  cincoenla.  —  Ensaio  d'uma  discripr/io  physica  e 
economica  de  Cninibra  e  sens  arredores  (iMem.  Econ. 
da  Acad.  R.  das  Scienc.  de  LisbOa.   Tom.  1;. 


Crocis.  Carlhame;  Siifran.  Acafrao. 

C.  serotinus.  Encimlra-se  no  Malhao  da  serra. 

Genista.  Giesla. 
G.    tusiliinira'.'    Genet    du    I'lirtuijal   de  Linn. 
Encontra-se  no  Canlaru  Gordo. 

G.    polygalaefolia    de    Brot.    Encontra-se    no 
Canlaro  (iordo. 

SoRRis.   Sorhin- ;  Oirni/cr.  .Sorvcira. 
S    (lueuparias.    Traniascira.     Enconlra-sc    no 
Cantaro  (iordo. 

Alchimiiia;  Psadum;  LeimtnpoUium  \  Planla  leo- 
his.  Pied  de  lion  ;   Peree  perre. 
A.  alpina    de    Linn.?  Encontra-se  no  Cantaro 
Gordo. 

Avia;  Senccio. 
A.  cacspitosa.   Encontra-se  na  lagoa   redonda. 
Digitalis.  l)i<jittile. 

D.  thapsi    Encontia-se  na  Aldea  da  serra. 
Pbum'S    i'cKntcr  ;  /'ninc?/)Vr.  Ameixicira  ;   Abru- 

nlieiro;  Azcreiro. 

/'.  lusitanica  de  Linn.  Encontra-se  no  Pomar 
dc  Judas. 
CiiicAKA.  Ifcrbe  deS.'  Etiene;  Circee.  Mandrngnra. 

C.  lutctiana  de   Linn.  Encontra-se    no  Pomar 
de  Judas. 

Fl'mahia;   Fumus  tcrruc.  Fume  terre.  Erva  mo- 
larinba. 

F.  claviculata? 

Ervsemum.  Grfio  Inrco;  Saraniago  rinchiio. 

E.  virgutum  de  Linn.  Encontra-se  em  Cea. 

Sophia. 
5.   chencrgornm.  Tlialitron. 
Ckbysosple.vicm,  Saji/rnjcrforc'c;  Ucpaliqucdordc. 

C.  oppositifolium.  Encontra-se  em  Cea. 
ToRDiLiBM;  ileum.  Scsele;  Seseli;  fileo,  semelhantc 
ii  Erva  doce. 
r.  magnum  de  Brot.    Encontra-se   em   Sancta 
Marinha. 
Ilex.  Honx;  Asevinho. 
/.  tiquifolium  de  Linn.  Encontra-se  no  Pomar 
de  Judas. 

Anduosaemum.   Fontc  secinc.   Erva   de   S.  Juao ; 
Milfurada. 
,1.  o/JicinaUe.  Encontra-se  no  Pomar  de  Judas. 
Erynoiim.    Chardon   Holland.    Cardo    corredor. 
E.  tenue  de  Linn.  ?  Encontra-se  em  Cea. 

CvTiMS.  Cglise.  Codeco. 

C.  complicalus .  Encontra-se  em  Cea. 

Echil'm;  Buglossum.  Buglose,  Cbupamel ;  Lingua 

de  A'acca. 

E.  italicum,  Z.?  Encontra-se  em  Manteigas. 

Malva.  Malva. 
M-    alcea;    Alcca    vulgaris.    Alcoe.    Malva   de 
Ilungria.  Encontra-sc  em  Manteigas. 

M.  laciniala    Encontra-se  cm  Manteigas. 

LiNARiA.  Linaire. 
L.  IriornilhopJtora.  Encontra-se  cm  Manteigas. 
L.  rirgatula'!  Enconlra-se  em  Cea. 
L.  ajjinis  saphinnae  de  Brot.   Encontra-se  em 
Cea. 

Gallil'ra.    Petit    mugct ;    Caille  hit.    Erva    que 
coalha  o  Icite  ;   flor  dc  Cardo. 
G.   rubioides?  G.  lUilicola ;  Ilerbe  a  I'esqumance. 
Encontra-se  em  Manteigas. 
Asplemim.  Cetcrach.  Ceterac.  Hcrva  douradinha; 
seu  name  i-cm  de  splen. 
A.  lanceolatum    Encontra-se  em  Cea. 
A.  scolopendrion    Encontra-se  em  Cea. 
Angiliccm.  Angelique.  Angelica, 


159 


A.  silvestris.  Encontra-se  no  Pnmar  ile  Jiidas 

Ol'.TEGIA. 

0.  Idspanica.  Enccintra-se  cm  Mantcigas. 
Sedum;  Semper  rivum  majits;  Uiytlettus.  Semprc 
niiiva.  Saiao  jjiao. 
S.  prumaliim'!  Eiiconlia-se  no  Salniguciiii. 
S.  species    alliuis    albu.    Scilum    minus   tercli, 
folium   all);iin.    Trique    madame.    Encuntra-se  no 
Sahugiieiro. 

5.  Dscaym  Kii    wila.    Encontra-so  no   Salju- 
gueiro. 

Lasebpitii'u.  Beijoim. 
L.  peucedanoides.  Enconlra-se  em  Cea. 
CcciBALis.    Espiee   de   Mnnjriiiie.    Erva    moura. 
C.   baccifcras.    Alcine    liaccifcra    scandcns    ilc 
Linn.  Encontra-sc  cm  Sancta  Aiarinha. 
Achillea. 
A.  millefidium  do  Linn;    JIyriii|il)ylliim.  Mcl- 
lefcneUe.   Milfulhas;   ospccic    de  I'imiiinella.  En- 
contra-sc  cm  Akica  da  scira. 
OssiDNDi.     Usmonde ;     fougere    fleurie ;    fougere 
aquttliquc. 
0.  regnlis.  Encontia-sc  cm  Cea. 

Centaisea.   Cenlauree.  Iluiponto. 
C.  paniculaia  de  lirot.? 

QlEllCLS. 

Q.  pubcsccnsdehtol.'!  Ilouvre.  Encoutra-se  em 
Manteigas  e  Cea. 

Selebanthcs. 
5.  annuus  de  Linn.  Enconlra-sc  cm  Cea. 

Lepidu'm. 
L.  latifolium  dc    Linn.   I'asserage.  Enconlra- 
sc  na  quinta  das  Obras. 

CvpEBis.  Junca  clicirosa. 
C.   longus  de  Linn.  Enconlra-se  cm  Cea. 
fi.  R.  DE  VASCO.XCELLOS. 


NOTICIAS   LITTERARIAS   E   SCIENTIFICAS. 

Esta(i«i;««-a  cSai*  lL'B.i?.<'!i'Si«Ba«i!os  .4IIc- 
niaas.  No  scmestre  do  invcrno  ultimo  frcquen- 
laram  as  17  Universidadcs  d'Allcmanlia,  nao  con- 
tando  as  d'Auslria  e  Siiissa,  os  scguintcs  esludan- 
les:  Munich,  1,731;  Borlim,  1,484;  Uieslan  823 ; 
Wurzljurg,  818;  Leipzig,  813:  Bonna,  765; 
Guellingue,  713;  Heidelberg,  695;  Tubinge, 
693,  Halle,  629;  Eilangen,  521;  Giesscn,  378; 
lena  quasi  oulros  lanlos  ;  Fribourg,  344;  Marburg, 
251;  Greilswald,  222;  Uoslock,  92;  o  que  dii 
nm  total  dc  onze  mil  e  tresentos  cstudanles. 

No  scmestre  do  estio  o  numero  dos  cscholares 
tinha  diminuido  nuiilo.  Calculava-seesta  diminui- 
rao  approximadamente  em  scteccntos  cstudantes. 
Em  Munich  houve  'ncslc  scmestre  235,  c  em 
Borlim  149  cstudantes  de  raenos,  que  no  scmestre 
antecedenle. 


Atinursiios  e.«B  SBSKtaU-tTn.  A  Quatcrly 
UeviciK',  'num  dos  sens  ultimos  numeros  contcm 
nma  interessante  c  euriosa  noticia  dos  aiiminrins 
rm  Inglaterra  dcsde  os  do  lliercurius  I'olilirus 
cm  1652  ate  1855. 

0  auclor  d'esto  artigo  colheu  informaeijcs  das 
despezas  fcilas  com  a  publicac."io-dos  annunciosnos 
divcrsos  jornacs  por  alguns  industriacs  inglczes: 
Hollnway  pclos  annuncios  das  suas  pillulas  laxantcs 
paga  por  anno  75U;000  francos;  Mosy  e  filho  (cle- 


ctuarios  c  confeicijcs)  2S0:000;  Rowland  c  filho 
(oico  dc  Macassar) ,  250:000  francos ;  o  doutor 
Jongh  (oleo  dc  figado  de  bacalhao),  250:000 
Iraucos;  Heal  e  filho  (leitos  e  camas).  150:000 
francos;  Nicoll,  alfaialc,  1)2:500  francos.  Na 
cpoeha  da  mania  dos  caminhos  dc  ferro  so  'numa 
semana  o  Times  reeeben  167:175  francos.  Actual- 
mente  a  Icrmo  medio  da  reecita  dos  annuncios 
'neste  jornal  passa  dc  75:000  francos  por  semana. 


RELACAO 

Dos  iiKliridiios  nomeados  para  os  scgitintes  logares 
d'instnicriio  publico,  dcsde  o  dia  l.«  ate  \b  de  setem- 
bio  cm  virtndc  de  despachos  do  Coiistlho  superior 
d'instrucrdn  pi'/bUca,  c  pnrtarias  e  decrclus  do  Cover- 
no  communicadas  oo  mesnio  Consel/io  superior  noin- 
dicado  periodo. 

l?iSTRUCf;A(J    rniMARlA. 

Antonio  Baplisla  d'Oliveira,  para  professor  tempora- 
rio  da  cadeira  da  Carnota,  di.stricto  de  Lisboa. 

Juao  Juse  d'Andrade,  para  a  de  Alcafozes^  districto 
de  Castello  Branco. 

Joaquim  Antero  da  Costa  e  Oliveira,  para  a  de 
Peniche,  districlo  de  Lisboa. 

Jose  GuerreiroColta,  para  a  deMartimlongo,  districto 
de  Faro. 

Jose  Paulino  Carneiro  Tavares  de  Vasconcellos  Junior, 
para  a  do  Oliveira,  districto  de  Viseu. 

Jos^  RodrifruesBarlholo,  para  a  deTondella,  districto 
de  Viseu. 

Gon^alo  Caldeira,  ])ara  professor  proprietario  da 
cadeira  da  Villa  do  Cartaxo,  districto  de  Santarem,  por 
decreto  de  18  d'agosto  ultimo. 

Miguel  Luiz  Valerio,  para  a  de  PontadoSol,  districto 
do  Funchal,  (>or  decreto  de  IB  d'agoslo  ultimo. 

JIalhias  Pereira  d'Oliveira,  para  a  de  Lobelhe 
districto  de  Viseu,  por  decreto  dt-  22  d'a^osto  ultimo, 

Jose  Maria  d'Andrade,  para  a  de  Maceira-Dao,  per 
decreto  de  22  d'agusto  ultimo. 

Antonio  Albino,  para  a  de  Mangualde,  por  decreto 
de  22  d'agosto  ultimo. 

INSTRCC^'AO  SECDXDARIA. 

Annibal  Achiies  Martins,  para  o  officio  de  Perilo 
Palet^grapho,  por  decreto  de  IfJ  d'agosto  ultimo. 

Eleulerio  ('olla(;o  Mimoso,  para  professor  da  1.*  e 
2.^  radeiras  de  Liceu  Nacional  de  Faro,  por  decreto  de 
22  d'agosto  ultimo. 

rNSTRUC(;AO  SUPERIOR. 

Oi  doutores  Antonio  Jose  Marques  Corr^a  Caldeira 
para  1."  substituto  ordinario.  —  Antonio  J^uiz  de  Souza 
Henriques  Secco,  para  2."  substituto  ordinario,— Joaqnim 
Maria  Rodrigues  de  Brito,  para  3." substituto  ordinariu, — 
e  Adriano  d'Abreu  Cardoso  Machado,  para  4.^  substitute 
ordinario  da  faculdade  dp  direilo  da  Universidade,  por 
decreto  de  22  d'agosto  uUJino. 


PUBLlCAgOES    LITTERflRias. 

S.iliiu  a  luz  o  nicriiinnrio  Grrgn-Lntino  ile  Benja- 
min Heilerico,  pars  uso  dos  que  se  dedicam  ao  esliiilii 
Ja  Linirna  Grega,  l.»  edi^So  de  Coimhra,  jjelo  Dr. 
Antonio  Sosi  Lopes  de  Aloraes,  e  .lose  Vicente  Gomes 
de  Jloura:   Parte  Hermenentica,  2  vol.  4."'  —  :^5aou. 

F.stHo  no  prelo  as  Partes  Analytica  e  Sjnilielica, 
por  Antonio  I^'n.-ioio  Coellio  de  Moraes,  professor  lie 
GreRo  no  lyceu  de  Coimbra,  e  .V.  do  com|icnilio  ile 
Grammatica  Grefra. 

\  [larle  Analytica  arha-se  ja  no  fim  do  K. 


160 


OBSERVACOES  METEOROLOGICAS  .  FEITAS  NO 

GABINETE   DE  PHYSICA 

DA 

UMVEIISIDADE    DE  COIMBRA. 

AnDoile 
1833 

=   a 
H   =  1 

PressSo  e 

Imospherica   ao  mi-io  dia 



l^stadu  hycrijiin-lrrco  da  atinos- 
pht-ru  ao  iiieio  ilia 

3 
c 

0    w 

Met  de 
Feve- 
reiro 

Alliira  barome- 
trica  n  0°  da  es- 
calacenlisrada 

Tensjio    (lu  ML- 
por  aquosi)  con- 
tido  no  ar 

Pre^sSn  do  ar 
sccco 

(irau     d'hilmi- 
da<lc  <Io  ar,  re- 
jiresenlando  por 
1    o  pstado   de 

(lui.nl.H.,de  d.  .«- 
l>or  cooinio  i-oiuoi 
metro  cubico   d'ar. 

Dias 

ccnliR. 

Mitlimelros 

Millioietros 

Millinielros 

saliira(;ao 

Gnimmas 

d  g 

1 

13 

749,748 

10,157 

739,591 

0  91 

10,29!1 

s. 

2 

12 

747,081 

9,097 

737,934 

0,87 

9,256 

s. 

3 

11,5 

746,634 

8,197 

738,437 

0,81 

8,355 

s. 

4 

10,5 

742,952 

7,484 

735,468 

0,79 

7,635 

s. 

5 

10 

741,085 

7,332 

734,653 

0,80 

7,513 

s. 

6 

10 

740,984 

7,882 

733,102 

0,86 

8,077 

o. 

7 

10 

740,477 

7,240 

733,237 

0,79 

7.419 

so. 

8 

10 

738,703 

7,790 

730,913 

0  85 

7,982 

s. 

9 

9 

744,866 

7,459 

737,407 

087 

7,670 

s. 

10 

10 

737,164 

7,973 

729,191 

0,87 

8,170 

s. 

11 

10 

735,506 

7,973 

727,543 

0,87 

8,170 

s. 

12 

9,5 

734,197 

7,712 

726,485 

0,87 

7,910 

s. 

13 

10 

729,055 

7,607 

721,458 

0,83 

7,795 

s. 

14 

9,5 

743,073 

7,269 

735,804 

0,82 

7,462 

E. 

15 

8 

745,791 

6,173 

739,618 

0,77 

6,370 

s. 

16 

9 

743,133 

7,717 

735,416 

0,90 

7,935 

0. 

17 

10,5 

742,922 

8,432 

734,490 

0,89 

8.625 

0. 

18 

11 

746,695 

8,323 

738,372 

0,85 

8,498 

o. 

19 

12 

745,813 

8,679 

737,134 

0,83 

8,831 

o. 

20 

12,5 

745,247 

8,859 

736,388 

0,82 

8,998 

s. 

21 

a 

745,931 

8,323 

737,608 

0,85 

8,479 

E. 

£2 

11 

746,695 

6,854 

739,841 

0,70 

6,999 

N. 

23 

10 

753,410 

6,874 

746,536 

0,75 

7,044 

N. 

24 

11,5 

757,538 

7,590 

749,948 

0,75 

7,736 

O. 

25 

12 

756,208 

9,411 

746,797 

0,90 

9.576 

N. 

26 

11 

759,828 

8,519 

751,309 

0,87 

8,693 

N. 

27 

12 

760,516 

8,888 

751,628 

0,K5 

9  043 

N. 

28 

11 

755,570 

8,734 

746,836 

0,U0 

8,918 

N. 

inedirt    ) 
do  mez  ^ 

10°, 613 

7447^62 

0,83 

5 

s 

Temperattira 

Pressfio  atmospherica 

Cran  d'humidade  do  ar 

o 

mm 

■~    • 

Maximo 0  91 

Minima                                   729  065 

Minirao      0.70 

a. 

Maximii  lariarao   .    ,      5° 

Maxima  excuraao  .   .        31,451 

IVEaxima  varia^uo  ....     0,21 

>4. 

Coin 

bra,  1.°  lie  Marro  de  1855 

Antonio  Sttnchcs  Goultto^  Direc 

tor  do  Gabiiiele  de  Physica. 

^^ 

®  Jn0titttt0, 


JORNAL    SCIENTIFICO     E     LITTERARIO. 


RELATORIO 


Sioltro  o  c»(a<lo  fla  iiiNtrurrao  prima- 
i-ia  o  Mccundarsa,  itBiblicn  e  particu- 
lar, do  Districlo  ailininintrativo  dc 
Liisbua,  em  marro  de  1 855. 


Continuado  de  pag.  153. 


Eschola  normal  de  instruccao  primaria 
de  Lisbda. 


A  utilidade  das  cscholas  nonnaes  para  o 
ensino  da  instruccao  primaria,  sendo  aquellas 
escholas  o  que  devcm  ser,  acha-se  demonstra- 
da  tao  exuberantemenle,  que  seria  por  dcmais 
quanto  a  este  respeito  pertendesse  accrescen- 
tar;  mas,  so  assim  c,  cousinta-me  Y.  M.,  que 
eu  diga  muito  rcspeitosamcnte  pcrante  V.  M., 
que  e  muito  para  laslimar,  que  tendo  seguido 
a  eschola  normal  de  instrucrao  primaria  de 
Lisboa,  creada  por  decrcto  de  20  de  setembro 
de  1844,  as  phases,  que  se  deprehcndcm  da 
larga  serie  de  dccretos  e  portarias,  que  se  ex- 
pedirara  de  anno  a  anno  a  conlar  d'aquella 
data  ate  a  de  23  de  setembro  de  1833  inclu- 
sivameute;  estando  leita  a  desjjeza,  ha  tan- 
tos  anuos,  de  mais  de  nove  contos  de  reis 
(9:000^000),  que  tanto  se  dispendeu  para 
levantar  o  edilicio,  que  Ihe  foi  dcstinado; 
otando  dous  professores,  e  iim  d'elles  dire- 
ctor, recebendo  ordcnado  ha  muitos  annos, 
sem  fazerem  servieo ;  e  achando-se  hojc  na 
mera  dependeneia  dc  se  Ihe  tornar  effectivo 
0  orcamento  de  dous  contos  e  quinhentos  mil 
reis  (2:300^000),  para  costear  a  sua  despeza 
ordinaria;  e  muito  para  lastimar,  dizia  eu, 
que,  por  lao  leve  causa,  esteja  o  paiz  privado 
de  meio  tao  valioso  para  o  progressivo  me- 
Ihoramento  da  instruccao  primaria,  a  qual, 
todavia,  nao  pode  ja  hoje  deixar  de  considc- 
rar-se  primeira  necessidade  piiblica.  Demais, 
da  effectividade  do  pagamento  da  quantia  re- 
ferida,  sao  poucas  e  de  facil  resolucao  as 
providencias  a  tomar. 

'Nestes  termos,  pois,  e  convencido  das  van- 
tagens  que  devem  provir  de  encetar,  e  pro- 

YOL.  lY.  OUTIBBO  13 


gredir  em  sous  rcgularcs  cxercicios  a  eschola 
normal  de  instruccao  primaria  de  Lisboa  para 
habilitacao  dos  respectivos  professores,  atre- 
vo-me  a  rogar  instantemente  a  V.  M.,  que, 
bavendo  por  hem  acabar  com  as  pequenas 
difficuldades  ainda  existentes,  ordenc.  que  de 
promplo  esta  eschola  entre  no  cxercicio  de 
suas  funccoes,  e  se  desvele  por  preencher  os 
fins  para  que  foi  creada. 


Uniformidade  do  ensino. 

Senhor!  o  objecto  que  tenho  'neste  mo- 
mento  a  honra  de  por  na  presenca  de  V.  M., 
e  sobremaneira  grave,  e  requer  de  V.  M. 
particular  attencao,  e  prompta  e  eQicaz  pro- 
videncia. 

Senbor,  foi  dom  funestissimo  o  que  fez  o 
decreto  de  20  de  setembro  de  1844  aos  con- 
selhos  dos  lyceus,  outorgando-lbes  a  faculda- 
de  de  escol'herem,  e  adoptarem  os  compen- 
dios,  pelos  quaes  hao  de  ser  lidas  nos  mesmos 
lyceus  as  dilTerentes  disciplinas. 

Os  gravissimos  inconvenientes  da  conces- 
sao  feita  pelo  citado  decreto  no  art.  167  aos 
conselhos  catbedraticos  dos'lytreus  vem  a  lu- 
me,  logo  que  .se  considere:  1."  que  favorece 
as  disposieees  menos  louvaveis  (e  das  quaes 
todavia  esta  excmpto  raui  diminuto  numero 
de  individuos),  de  lorpecobica,  de  jactanciosa 
vangloria,  e  de  abjecta  veniaga:  2.°  ([ue  se- 
mea  a  discordia  entre  os  membros  do  corpo 
cathedratico,  se  os  debates  para  approvacao 
dos  compendios  tem  logar  conscienciosaraen- 
te;  e  se  os  pareceres  das  commissoes  respe- 
ctivas,  que  examinam  os  compendios  offere- 
cidos,  nao  sao  dados  de  pure  obsequio,  e  sem 
attencao  a  maior  vantagem  publica:  3."  que 
da  occasiao  a  serem  preferidos  compendios 
menos  perfeitos  a  compendios  mais  perfeitos 
com  manifesto  prejuizo  da  mocidade:  .4.°  que 
a  muito  grande  variedade  de  compendios  que 
d'ahi  precede  diCBculta  o  approveitamento  dos 
alumnos,  porque  Ihes  embaraca  as  habilita- 
coes;  porquanto  nas  idades  tenras,  ainda 
pouco  desinvolvidas  as  faculdades  intelle- 
ctuaes,  OS  alumnos,  embora  conhecedores  da 
materia  do  exame,  sendo  interrogados  de 
modo  dlverso  do  que  o  costumara  ser  nas 
1833.  NcM.  14. 


—1833 


162 


aulas  que  frequentaram,  e  sendo-lhes  aprc- 
senladas  as  qucslOes  por  mothoilo  c  sob  for- 
ma alheia  da  ([ue  Ihes  cnsina  o  compendio 
por  onde  li'-m  csludado,  desatinam,  coiiio  que 
se  llies  ailisura  assuinpto  pi'regiino,  e  e  a 
consequeuiia  iiao  satisl'azeicin  coiuo  dcvcm,  c 
por  Ventura  sabir.ni,  acharcni-se  rcprovados 
sem  injuslica,  fallando  ri^orosamcnto,  eni- 
quanto  que  por  outro  kulo  parecia  tercm  di- 
reito  a  approvarao,  (pie  oliteriaui,  s*  o  c\ame 
llies  fosse  I'eito  polos  conipendios,  por  oiidc 
aprenderam  as  malerias,  de  ipic  sao  exaiui- 
nados. 

E  portanlo  de  al)soluta  uoccssidade  acabar 
com  ohstaculos  de  taiUa  monta  para  a  inslruc- 
('50  publica;  e  nao  ba  outro  meio  para  cbc- 
gar  a  esle  (im,  sc  uao  restabelecer  cm  priu- 
cipio  a  uniformidadc  do  cnsiiio.  Ri-clama-o 
assim,  eomo  liia  manifesto,  nao  menos  a  mo- 
ralidadc  dos  professores,  do  que  o  aproveita- 
mcnlo  dos  alumnos  esludiosos. 

Obrigado  de  razoes  lao  pondcrosas,  que  a 
experiencia  confirma  de  dia  a  dia,  venbo 
supplicar  com  a  maior  instancia  a  V.  M.,  que 
se  digne  fazer  apresentar  ao  corpo  Icgisbiiivo 
um  projecto  do  lei,  em  virtude  do  (|ual  fique 
pertencendo  ao  conselho  superior  a  escniha 
dos  compcndios;  e  que  por  conipcndios  iden- 
ticos  hajam  de  ser  lidas  as  dill'ercnles  disci- 
piinas,  de  quo  se  compoe  a  iustruccao  prima- 
ria  c  a  secundaria,  nao  so  em  todos  os  lyceus, 
mas  tambcm  em  todas  as  aulas  doreino,  assim 
puiiiicas  como  partioularcs.  Com  esla  unica 
providencia  evitar-se-bao  os  gravissimos  in- 
convenientes  ponderados,  e  a  ninguem  se 
prejudicara.  E  obvia  a  razao  do  ninguem  ser 
prcjudicado,  porque  perante  o  conselho  supe- 
rior de  instruecao  piiblioa  poderao  disputar 
prefcrencias,  simultanea  ou  successivamente, 
OS  anetores  ou  introductores  dos  novo;;  com- 
pcndios, e,  para  que  nao  corram  iienhuin 
risco  uos  sous  interesses  os  auctor£s,  ou  intro- 
ductores dos  corapendios  que  I'orem  approva- 
dos,  pela  evcntualidade  de  Ihes  ser  prclorido 
em  breve  algum  outro  compendio,  podoria 
provcr-se  a  que  a  approvacao  do  conselho 
superior  uao  vigore  por  menos  de  dois  aunos. 


Creayo  de  iima  secoao  exclusiva  de  commissao 
dos  cstudos  do  districto,  annexa  a  sfecrctiiria 
do  re-qiectivo  lyceu  nacional. 

Ao  tomar  conta  da  reparticao,  que,  na 
qualidade  de  commissario  dos  cstudos  do 
districto  de  Lis'uoa,  me  foi  incumbida,  nao 
ju.lguei  sobremaucira  difficultosa  a  tarefa  a 
qiie  me  sujeitava,  rcputando  o  seu  desem- 
penho  dependcnte  so  do  meu  zelo  na  execu- 
cao  do  que  me  compete  por  dever.  Enganci- 
me.  0  commissario  dos  cstudos,  cmprego  tao 
laborioso  'neste  districto,  acha-sc  desajudado 


dos  mcios  indispensaveis  para  desobrigar-se 
do  (|ue  Ihe  cumpre.  Attenda-mc  V.  M. 

0  commissario  dos  estudos  de  Lisboa,  so- 
brc  quem  peza  trabalho  tao  conlinuo,  tao 
variado,  tao  penoso,  o  por  vozes  tao  arduo, 
para  ser  satisteito  como  cnnvem,  o  Ihe  e  re- 
(|uerido,  nao  tem  secrctario,  ni'm  amanuen- 
ses, nem  soquer  um  unico  cmprogado,  seja 
(|ual  for  a  donominacao  que  se  llio  ([uoira 
dar,  (pie  dc  algum  modo,  por  dever,  o  ajude, 
e  nem  ao  menos  Ihe  presle  o  servico  do  ievar 
um  oilicio  ao  corroio ! 

E  verdadc,  (jue  o  commissario  dos  estudos 
e  ao  mcsmo  tempo  reitor  do  lyceu,  e  que 
'nessa  qualidade  tem  secretario,  c  socretaria; 
porem  o  tao  grande,  para  esla,  a  alTluencia 
de  trabalho,  mormente  cm  alguns  mazes  do 
anno,  e  esla  tao  pobre  de  empregados  a  secre- 
taria  do  lyceu,  que  nem  para  so  esse  traba- 
lho sao  as  vezes  sullicientes,  por  poucos,  esses 
empregados,  tornando-se  inevitavol  requerer- 
Ihes  maior  numero  de  boras  do  servico,  c 
que  fa(.'am  mais  obra  do  que  dc  justifa  podeni 
ser  obrigados.  Tao  pouco  ha  nieios  dc  os 
auxiliar  extraordinariamento.  E  todavia  Di- 
gne-se  V.  M.  advertir,  que  sao  excellentes 
empregados  os  actuacs  da  secrelaria  do  lyceu  ; 
e  quo  0  zolo,  a  intelligencia  do  digno  secrc- 
tario d'c^ta  reparticao  com  dilliculdade  pode- 
ra  ser  egualado,  tendo  eu  para  mini  que  nao 
pode  ser  cxcedido.  Comprazo-mo  de  honrar 
0  verdadeiro  nierccimento. 

Em  conse(jucncia,  c  apesar  dos  eslorvos 
nao  raro  diliicois  de  veneer,  a  reparticao  da 
rcitoria,  ou  do  lyceu,  nada  dcixa  a  dcsejar; 
tudo  oslii  alii  bem  ordejiado;  e  os  trabalhos, 
que  Ibe  sao  peculiares,  camiubam  com  appro- 
vada  regularidade. 

Nao  succede  por(?m  assira  com  a  reparticao 
propriamentc  exclusiva  do  commissario  dos 
estudos ;  repartif ao  que,  longc  de  ser  menos, 
(i  mais  laboriosa,  do  que  a'da  rcitoria  do  lyceu 
como  facilraentc  sc  dcprehcudc  das  obrigacoes, 
que  por  lei  Ihe  sao  imposlas,  e  como  a  praclica 
poe  na  ultima  evidencia.  'Nesta  reparticao  a 
despeilo  da  minba  cflicaz  diligencia,  c  da 
valiosissima  cooperafao  do  djgno  secrctario 
do  Jyceu,  quasi  que  tudo  csta  para  I'azer-se. 
E  nao  por  culpa  do  meu  antecessor,  que  .fez 
muito,  e  bem,  dando  seniprc  de  si  a  mclhoj' 
conta;  mas  porque,  em  quanto  as  cousas  fo- 
rem  como  sao,  nao  e  possivel  que  seja  d'ou- 
tra  sorte. 

Devo  dizer  tudo ,  a  nao  ser  a  cfficacia  (alias 
lao  mesquinhamcnte  rcmuncrada)  do  actual 
secretario  do  lyceu,  que,  scm  reservar  um  so 
dia  para  o  repouso,  se  presla  scmpre  de  bom 
grade  a  quanto  esla  'neile,  nao  se  faria  com 
alguma  regularidade  nem  se  qucr  o  expedien- 
te  da  reparticilo  do  commissario  dos  estudos,, 
por  muito  que  seja  o  zelo  d'este.  E  quaes  sao 
OS  cstimulos,  que  podem  aguilboar  o  zelo  do 
commissario  dos  cstudos?  Se  nao  fossem  os  • 


I 


103 


do  pundonor,  V.  M.  hem  sabn,  ijue  nao  po- 
diam  scr  os  do  interesse.  EnlretniUo  a([uelles 
cansam  e  cmbotam-se,  gastos  por  inccssante, 
excessiva,  c  mat  avaliada  fadiga :  e  estc  c  de 
lao  love  niomento,  que  nao  mcrecc  lufneio- 
nar-sc.  Senlior,  o  serviro  mal  ijalardoado,  so 
per  exccpoao  rarissima,  tide  vanlagem  aquem 
cprestado:  prova-o  assini  a  exi)orieiK-ia,  con- 
tra a  qiial  nada  podeiii  oslenlosos,  mas  vaos 
discursos. 

E  qual  (3  0  rcstiltado  do  nao  cstar  a  com- 
missao  dos  cstudos  eslabclecida,  conio  se  ha 
mister,  com  sufficicnlc  niimero  do  emprega- 
dos,  e  com  os  nicios  prccisos  para  occorrcr  a 
quaesquer  evenlualidades,  originadas  cm  ser- 
vifo  cxtraordinario,  on  de  mais  demorado  e 
dilTu-il  dcscmpcnho?  Ucsulla,  que  I'altam  na 
commissao  dos  estudos  os  elementos  ate  mais 
communs,  c  menos  dispensaveis,  para  os  tra- 
balhos  proprios  e  especiaes  da  commissao. 
Rosulta,  que  nao  existem  os  escbirecimeiitos, 
que  a  k^i  quer  que  existam,  e  seni  os  quaes 
nao  podem  scr  satisfeitas  muitas  disposicoes 
da  mesma  lei.  Resulta,  que  o  govcrno  de  V. 
M.,  e  0  consclho  superior  frc(iuentemente  nao 
podem  obter  o  auxilio,  a  que  teni  direito,  da 
parte  do  comniissario  dos  estudos,  por  carecer 
usle  de  todos  os  meios  de  prestar-lb'o.  Resul- 
ta, 'nunia  palavra,  que  para  o  comniissario 
dos  estudos  se  torna  litteralmentc  impossivel 
preencher  cumpridamcnte  os  seus  deveres. 

E  como  nao  scria  assim,  se  o  triste  do 
comniissario  dos  estudos  ha  de  fazer  tudo, 
tudo  inteiramcnie,  de  si  proprio,  e  nao  tem 
pessoa  a  qual  baja  nem  de  copiar-Ihe,  ao 
menos,  urn  ollicio,  ou  de  entregal-o,  a  nao 
Ibe  pagar  da  sua  algibeira,  ou  a  nao  pedir- 
Ihe  por  favor  1?  Tal  e  o  estado  das  cousas. 
Nao  culpo  a  ningueni,  lamcnto  a  deficiencia 
da  Icgislacao  rcspecliva;  e  maravilho-me  de 
que  tendo-se  lanio  a  peito,  como  se  diz,  e  eu 
creio,  o  aperfeicamento  da  instruccao  publica, 
0  das  letras,  se  descurem  ate  tal  ponto  os 
meios  essenciaes  de  poder  veritical-o. 

Senhor!  E  precise  acabar  com  estado  tao 
digno  de  lastima  ;  se,  dopois  de  conhecido,  com 
e*ie  nao  se  acabasse,  baveria  entiio  motive 
mais  que  sobejo  para  justifirado  queixume. 

Senhor!  Sem  inslrucrao  primaria  e  secun- 
daria a  superior  nao  c  possivel,  c  nao  e  pos- 
sivcl  tao  pouco  o  aperfeicoamento  intellectual, 
da  socicdade.  Sos  de  per  si,  sao  aquellas  ja 
para  muito,  e  sem  ellas,  nao  adiantaremos 
nunca  um  so  passo  para  este  fim  tao  descja- 
do.  Mas,  para  que  a  instruccao  primaria  e 
secundaria  caminhcm,  se  melhorem,  e  obte- 
nham  a  desinvolujao,  que  conveni  dar-lbes, 
e  de  ahsoluta  necessidade,  que  as  duas  rcparti- 
coes,  a  cujo  cargo  esta  quanto  Ihes  respeita, 
estejam  constituidas,  e  ordenadas  de  niodo, 
que  possam  satisfazcr  cabalmente  o  que  Ihes 
cumpre. 

Coiilinua. 


RELATORIO 


Etas  tva.lial2n>%  <lo  <onNCIl90  <3a  riifiil- 
slssdf  «tc?  git»l!ioiinaIi<-n  «3a  Uiiivcu'wi- 
<Ia<Ei'  93(^  CoiiuEts-a.  cso  nnsetu  Ict'Ci^o 
<3c   BSdl  I9iu-a   1S55. 


Apezar  de  que  este  anno  lectivo  loi  prece- 
dido  d'outro  bastantc  agitado,  correu  clle 
lelizmento  sobremaueira  regular,  devendo-se 
ao  zelo  dos  professores  o  conservar-se  nas 
aulas  a  ordcm  e  a  disciplina  em  todo  o  rigor. 
Para  esse  fim,  alem  das  medidas  ordinarias, 
adoptou  0  conselho  da  faculdade  outras  que 
Ibe  parecerani  convenientes,  sendo  uma  d'el- 
las  a  disposicao  de  mandar  lancar  nas  actas 
das  congrcgacOes  os  nomes  dos  estudantes, 
que  OS  respectivos  professores  declarassem  que, 
sendo  cbaraados  as  licocs,  diziam  repetidas 
vczes  que  as  n5o  tinham  visto. 

0  movimento  dos  estudantes  durante  este 
anno  lectivo  ve-se  no  mappa  seguinte: 


2; 

o 

S 
S   o 

O    B 

ll 

Q 

Approiadus 

o 
o 
K 

i 
< 

'o 
a  *^ 

1.° 

84 

32 

37 

13 

2 

1 

2.° 

.•n 

3 

7 

i!) 

B 

t 

3.» 

3 

1 

.. 

(J 

" 

" 

4.» 

4 

>i 

ij 

a 

" 

" 

5.° 
Total 

3 

)i 

„ 

3 

" 

" 

131 

36 

46 

3a 

8 

3     1 

Teve  0  conselho  a  satislacao  de  distribuir, 
cm  resultado  da  boa  frequencia  das  aulas  e 
dos  actos  distinctos,  partidos,  premios,  acces- 
sit  e  distinccOes,  cm  todos  os  annos  do  curso 
mathemalico  aos  estudantes  scguintes: 

1.°    AKNO. 

Jose  Christiano  A^ill  .      .       Ipgrtidos. 
Alvaro  Kopcke  de  Barbosa  Ayalla  j 
Fernando  Maria  Garcia  da  Silva     l.°Accessit. 
Antonio  Eugenie  Ribeiro  d'Al- 

meida 2.°  dicto. 

Joao  Ignacio  do  Palrocinio  Costa 

eSitra 3."  dicto. 

Jose  Ferreira  de  Lacerda  .   .  .     Distinccao. 

2.°  ANNO. 

Antonio  dos  Sanctos  Viegas  Ju-") 

nior '-Partidos. 

Eduardo  Augusto  d'Oliveira  Lobo  ) 

Jose  Carlos  Lopes  Junior  .   .   .     l.°Premio 

Lourenco  Antonio  de  Carvalho     2.°  dicto 

Fernando    Augusto    d'Andrade 
Pimentel  e  Mello Accessit. 

Miguel  Archanjo  Marques  Lobo].jjjgj,jjj.ggg_ 

Barao  de  Pomheiro ) 


164 


Adolfo  Ferreira  cie  Lourciro  . 
Aiilouio    Joaquim    de    Cainpi 
Majtalbaes 


OS  >•  i 


Accessit. 


Antonio    Pinto    dc    Magalhaes 

Aguiar l.°Premio. 

Eduardo  Pinto  da  Cuniia   ...     2.°    dicto. 

b.°    ANNO. 

.lose  Percira  da  Costa  Cardosol  „ 

T,,  .    .     ■    ,■,.,•     ■     ,   I     f'Prcmios. 

Thom.iz  Antonio  u  Oliveira  Loho  ) 

Liiiz  Pinto  de  .Mcsquita  Carvallio     Accessit. 

Foraiu  dcfcndidas  conclusoes  magnas  pelos 
repetentes  Manoel  Maria  Corrca,  e  Antonio 
.lose  Teixeira,  sendo  estes  aclos  presididos 
pelo  scgundo  lente  da  faculdadc  Francisco  de 
Castro  Freire,  na  auzencia,  cm  cortes,  do 
lente  de  prima,  par  do  reiuo. 

0  repctcnte  Antonio  Jose  Teixeira  tomou 
snbsequontemente  o  grau  de  licenceado,  c 
tendo  exposto  a  congregarao  da  facuWade''S 
sua  falta  de  meios  para  tomar  o  grau  de 
doutor,  decidiu  a  facuidade  unanimemente 
levar  a  presenca  de  Sua  Magestade  a  pcrten- 
rao  do  suppiicante  para  se  Ihe  conccder  ca- 
pello  gratuito,  do  qnai  a  I'aculdade  o  achou 
digno  pelo  sen  distincto  mcrilo  litterario,  e 
era  attencao  nao  so  a  allegada  falta  de  meios, 
mas  ainda  pcia  necessidade  da  ac(|uisicao  de 
doutores,  que  possam  concorrer  aos  logares 
que  vagarcm  na  I'aculdade. 

0  conselho,  em  execucao  da  carta  de  lei  de 
19  de  agosto  de  1833,  e  decreto  regulamen- 
tar  de  27  de  setembro  de  18Si,  pdz  a  con- 
curso  as  duas  substituicoes  extraordinarias 
da  facuidade,  e  em  resultado  d'este  concurso 
foram  propostos  a  S.  M.,  e  por  S.  M.  despa- 
cbados,  OS  doutores  Luiz  Albano  4'Andrade 
Moraes,  para  a  1.°,  e  Francisco  Pcreira  do 
Torres  Coelbo,  para  a  2." 

Tendo  sido  presente  ao  conselho  a  portaria 
do  governo  de  S.  M.  de  1833  de  2(i  de  ju- 
nho  ultimo,  que  cliama  a  altencao  das  I'acul- 
dadcs  universitarias  sobre  as  disposicues  da 
carta  de  lei  de  12  do  niesnio  mcz,  relativas 
a  passagem  dos  Icntes  substitutos  extraordi- 
narios*  a  classe  de  ordinarios,  etlWrideu  o 
mesmo  conselho  que  devia  consullar  a  S.  M. 
mostrando  a  urgencia  que  ha  de  sc  dispensar 
0  tyrocinio  dos  dois  annos  de  servico  aos 
acluaes  substitutos  extraordinarios,  a  fim  de 
poder  serprovida  a  i."  substituirao  vaga,  de 
iia  muito,  no  quadro  da  facuidade.  Tendo 
S.  M.  rcsolvido  favoravelmcnte  esta  consul- 
ta,  propoz  0  conselho  a  S.  M.  para  4.°  lente 
fuhstituto  da  facuidade  o  1.°  subtituto  extraor- 
dinario  Luiz  Albano  d'Andrade  Moraes. 

Os  progranimas  do  ensino  nos  dilTerentes 
annos    da    facuidade    foram    descmpeuhados 


pcla  forma  por  que  haviam  sido  approvados. 
Na  6.°  cadeira  cm  que  os  alumnos  tiveram 
de  estudar  a  Mechanica  dos  /liiidos,  que  no 
no  anno  anterior,  se  niio  explicara  na  respe- 
ctiva  cadeira  pelas  causas  gcraes  de  que  se 
deu  conta  nos  precedentes  relalorios,  deram- 
se  todavia  as  seguintcs  doutriuas  do  scu  pro- 
gramma  nas  duas  ultimas  epochas  do  anno 
lectivo,  a  saber; 

Topoijraphia  e  geodoiin  —  e  de  mechanica 
applicada  as  partes  seguintcs: 

1.'  Hesistencia  dos  corpos  solidos  aos  es- 
forcos  que  tcndem  a  produzir  o  esmagamen- 
lo,  e  aos  esforcos  dirigidos  no  sentido  longi- 
tudinal que  tendem  a  produzir  extensoes  e 
ruptura  : — resistencia  de  um  corpo  prisma- 
tico  a  llexao  e  a  fractura  produzida  por  esfor- 
cos dirigidos  perpendicularmcnle  ao  compri- 
niento  do  corpo: — nocOes  sobre  as  thcorias 
de  resistencia  a  fractura  prnposlas  por  Gali- 
leu,  e  por  Mariotte  e  Leibnitz;  e  advertencia 
no  caso  de  ser  o  solido  prismatico  de  pequeno 
comprimento: — resistencia  de  um  corpo  pris- 
matico a  torsao  e  a  fractura  causada  pela 
torsao:  —  experiencias  relativas  aos  materiaes 
empregados  nas  construccOes,  e  maximos 
esforcos  a  que  podem  ser  exposlos  com  se- 
guranca. 

2."  Equilibrio  e  resistencia  dos  massicos 
forraados  de  malerias  adherentes,  quando  a 
superlicie  superior  e  carregada  jjor  um  peso 
qualqucr,  ou  quando  a  resistencia  se  exerce 
contra  uma  das  faces  lateracs:  casos  em  que 
a  ruptura  se  opera  por  escorregamento  ou 
por  derribamenlo,  e  em  que  as  pressocs  exer- 
cidas  sobre  o  massico  tendem  a  causar  o  esma- 
garaento: — ligura  do  massico  d'egual  resisten- 
cia a  fractura  por  esmagamento:  —  muros  de 
revestimentos  vulgo  succalcos  ou  cortinas,  que 
sustentam  o  impulse  das  terras  e  das  aguas: 
—  estabelecimento  dos  alicerces,  quando  os 
muros  sao  construidos  sobre  terrenes  com- 
pressiveis: — avaliacao  do  peso  especilico,  do 
attrilo  e  da  cohesao:  —  experiencias  sobre  a 
resistencia  dos  massicos;  e  com  relacao  a 
diversa  ipialidade  de  terras,  ou  no  estado 
natural,  ou  reccm-bulidas,  ou  ensopaveis. 

3."  Equilibrio  e  estabelecimento  das  abo- 
badas: — condicocs  que  devem  verilicar-se 
no  equilibrio  d'uma  reuniiio  de  aduellas,  se- 
gundo  OS  dilTerentes  casos  de  applicacao  das 
forcas: — principacs  experiencias  e  observa- 
yoes  rclatiTas  ao  equilibrio  das  abobadas:  — 
equilibrio  das  abobadas  cylindricas,  das  de 
zimborio,  de  arco  de  dauslro  e  de  arcsta:  — 
uso  dos  tirantes  e  cintas  de  ferro  para  con- 
solidar  esta  especie  do  construccoes  : — cal- 
culos  rolativos  ao  estabelecimento  das  abo- 
badas. 

A  maior  parte  das  sobredictas  doutrinas  de 
Mechanica  applicada  foram  explicadas  a  pri- 
nu'ira  vez  'naquella  cadeira  e  na  universida- 
dc.  Pcla  ausencia  em  cortes  do  lente  proprie- 


165 


lario  de  cadcira,  foi  regida  pelo  lente  subsli- 
tuto  0  Dr.  Florencio  Ma^o  Barreto  Feio. 

Tendo  sido  olTerccida  ao  conselho  a  segun- 
da  parte  da  Astronomia  Phi/sica  romposta  pelo 
vogal  0  Dr.  R.  R.  de  Sousa  Piiilo,  foi  esta 
segunda  parte  approvada,  como  ja  o  tinlia 
sido  a  primeira,  decidindo  o  conselho  que 
per  conveniencia  do  ensino  deviani  ser  desde 
Jii  mandadas  imprimir  c  adoptadas  para  com- 
pendio  as  duas  partes  assim  approvadas  da 
dicta  obra. 

Durante  o  anno  lectivo  ficou  prompla  no 
edilicio  do  nuiseu  unia  aula  privativa  da  fa- 
culdade  de  niatlieniatica,  onde  tiveram  exer- 
cicio  as  aulas  do  3."  anno  da  mesraa  fiuul- 
dade.  Alii,  e  na  sala  contigua  loram  colloca- 
das  as  antigas  machinas  pertencentes  ii  ra- 
deira  de  hydraulica,  que  se  niandaram  pdr 
cm  arranjo  e  pintar. 

Tambem  ficaram  promptas  e  arranjadas 
duas  salas  no  edilicio  do  antigo  hospital  da 
Conceicao,  para  uso  da  aula  de  desenho,  ha- 
vendo-se  construido  'numa  d'ellas  unia  gran- 
tie  claraboia,  d'onde  dimana  a  luz  neccssaria 
e  conveniente  para  os  exercicios  practices  do 
desenho. 

Decidiu-se  tambem  que  a  aula  da  faculda- 
de,  existente  nos  geraes  da  universidade  se 
arranjasse  em  amphitheatro  pela  forma  das 
aulas  do  museu. 

Em  eongregacao  de  14  de  junho  resolveu 
0  conselho  elevar  a  presenja  de  S.  M.  uma 
consuita,  na  qual,  expondo  o  quanto  e  aca- 
nhado  o  actual  edilicio  do  observalorio  para 
satisfazer  a  todas  as  exigencias,  a  que  as 
observacOes,  que  alii  vao  encetar-se  com  os 
novos  instrumentos,  podem  dar  logar,  pede 
a  S.  M.  se  digne  conceder-lhe  apenas  a  parte 
do  1."  andar  e  lojas  correspondentes  do  colle- 
g'o  de  S.  Pedro,  que  sirvam  para  casa  de 
habitacao  do  porteiro,  para  quarto  de  descan- 
SO  e  estudo  dos  observadores,  e  para  estabe- 
lecimento  de  mais  uma  aula  para  o  servico 
da  faculdade. 

Tendo  o  exm.°  Prelado  da  universidade 
declarado  em  uma  reuniao  da  maioria  dos 
membros  da  faculdade,  que  teve  logar  em  20 
d'agosto  ultimo,  que  o  Dr.  Antonino  Jose 
Rodrigues  Vidal  estava  resolvido  a  entrar 
'numa  composicao  relativamente  a  obra  que 
anda  fazendo  nas  casas  fronteiras  a  das  obser- 
vacoes,  sobre  a  qual  eslava  pendente  questao 
por  parte  da  fazenda  piiblica  e  da  Universi- 
dade; e  que  por  isso  julgava  conveniente  ouvir 
a  faculdade  sobre  cste  objecto:  decidiu  a 
faculdade  responder  a  S.  Ex.%  que  nada 
tinha  a  dizer  sobre  o  objecto  da  composicao 
a  que  se  julgava  completamente  estranha,  e 
que  unicamente  nao  duvidaria,  na  qualidade 
de  perito,  declarar  ate  que  ponto  as  obras  do 
Dr.  Antonino  prejudieavam  as  observacOes. 
Com  0  assentimento  de  S.  Ex.",  e  so  para  o 
fim  d'aquella  declaracao,  a  Faculdade  nomeou 


uma  commissao,  coniposta  dos  Drs.  Raymun- 
do  Vcnancio  Rodrigues,  Rufino  (iucrra  Osoriu 
e  Francisco  Pereira  Torres  Coellio.  os  quaes 
na  reuniao  seguinte,  do  dia  il,  doram  o  seu 
parecer,  que  foi  unanimeniente  approvado,  e 
(|ue  consistia  em  declarar,  que  licando  o  2." 
andar  das  casas  de  que  se  Iracta,  pertencen- 
tes ao  Dr.  Antonino,  com  12  painios  de  pe 
(lireito,  e  com  a  allura  de  7  palnios  coiitados 
da  cama  do  forro  do  dicto  2."  andar  ate  ao 
espigao  do  telhado,  e  o  telhado  com  4  verten- 
tes,  a  casa  do  Dr.  Antonino  nao  prejudica 
as  observacOes  astronomicas. 


OS  SINOS. 

Conlinuadu  de  pag.  94. 

Ha  quern  attrihua  a  superioridadc,  que  as 
antigas  carapainhas  e  os  sinos  tinham  sobre 
os  de  fabrica  mais  recente,  a  influencia  da 
atmospbera  durante  os  seculos  (pie  passaram; 
ha  porem  quem  julgue  isso  devido  ao  lume 
de  lenlia  que,  como  se  sabe,  e  melhor  que  o 
do  carvao  para  fundir  o  metal.  Mas  outra  e 
talvez  a  causa.  Se  a  quantidade  de  metal  nao 
estiver  na  proporcao  conveniente  com  o  calibre 
do  sino,  esle  perderii  o  seu  poder  de  soar, 
que  sera  duro  e  scraelhante  ao  de  ferro. 

Se  por  exempio  se  quizesse  obter  a  nota  mi 
de  uma  (piantidade  de  metal  so  propria  para 
dar  fa,  'nesle  easo  o  fa  scria  prcferivel  ao 
mi.  Ora  nos  sinos  antigos  emprcgava-se  para 
qualquer  nota  maior  quantidade  de  metal  do 
(|uelloj(^  quese  procura  harmonisaracconomia 
com  a  bondade  dos  productos.  0  sino  tenor 
da  cathedral  de  Rochester  peza  28  quinlaes; 
mas  hoje  alcancar-se-hia  o  seu  fa  com  muito 
menos  metal,  sacrificando  porem  a  qualidade 
do  som.  Os  fabricantes  actuaes  sao  incontesta- 
velmente  superiores  tanto  era  habilidade  corao 
em  pericia  aos  d'outrora. 

Este  ramo  de  industria  era  exercido  em 
Inglaterra  no  principio  do  seculo  XIY  por 
uma  classe  especial  de  artistas.  Tendo-se 
partido  em  1313  o  sino  da  Abbadia  de  Crokes- 
dan,  no  Staffordshire,  mestre  Henrique  Miguel 
de  Lichfit'ld  com  os  seus  officiaes  trahalhou 
em  0  rclundir  desde  a  oitava  da  Trindade 
ate  ii  testa  da  Nalividade  de  N.  S.  A  opera- 
cao  nao  teve  bora  resultado,  apezar  do  tempo 
que  com  ella  se  erapregara:  foi  mister  comeral-a 
de  novo,  o  que  levou  mais  dois  raezcs  de  tra- 
balho'. 

Um  dos  sinos  destinados  para  o  carrilhao 
da  Egreja  do  Vendome,  foi  fundido  com  lania 
felicidade,  que  produziu  precisamente  a  uota 

I  £  de  crer  que  mestre  H.  Miguel  tives.«e  rauito  que 
apr^nder  com  os  nossos  fundidores  modernos. 


166 


tjiie  sedcsejava  obtcr.  Este  l)om  resultado,  diz 
(liiom  prcsenciou  aqiiella  0])era<;ao,  foi  al- 
trilniiilo  a  uuia  moeda  de  prata  lanrada  pelo 
bispo  na  lifja  cm  cl)iilirao;  mas  um  lundidor, 
a  (jiicm  se  ri'foriu  osli-  laclo.  insist;'  em  que 
as  mocdas  do  prata,  (luaesquer  que  sejam,  so 
sei'vcm  paia  onrii|ue('cr  os  ixilsos  do  mesire 
e  dos  seus  ollioiaes,  porque  a  prata  precipita-se 
no  lundo  do  tadinlio,  e  nao  pode  toniar-se 
parte  integranle  do  instrumento  sonoro. 

NSo  depende  so  da  i)6a  qualidade  das  ma- 
terias  emprei;adas  no  I'alirico  d'um  sino  a  sua 
sonoridadc,  tainbem  da  sua  forma  c  da  pro- 
porcao  entrc  as  suas  dilVcrentes  partes.  Ligeiros 
dcloitos  de  som  podem  scr  corrigidos  depois 
da  l'undii;ao.  Se  succeder,  |)or  exenipio,  que 
a  nota  seja  niuilo  aguda,  adeigaca-se  o  sino 
com  0  lorno;  sc  for  demasiado  grave,  diminue- 
se.-lbe  proporeionaimrnte  o  diametro  rercean- 
do-se-lhe  o  bordo.  Nao  podemos  ailirmar  que 
estes  meios  fosscm  conhecidos  dos  antigos 
fundidores,  que  talvez  tivessem  de  se  conten- 
tar  com  o  resultado  da  primeira  fundieao. 

Em  liG3  era  tal  a  iraporlaneia,  (|ue  em 
Jngiaterra  tinha  adquirido  a  fabriraeao  dos 
sinos  pequenos,  que  se  prohibiu  que  fosscm 
importados  'neste  paiz,  porque  os  I'abricantes 
(]uei\aram-se  ao  rei  em  pleno  parlamento 
do  prejuizo  que  essa  importacao  Ihes  causava. 
Os  sinos  grandes  estavam  inais  desimpedidos 
da  coucurrencia  estrangeira,  porque  o  sen 
enornu>  pezo  augmentava  eonsideravelmente 
as  despezas  do  iransporte.  E  de  crer  que  os 
fundidores  de  Bristol  fossem  celebres  no 
seculo  XV.  Anteriormcnte  a  10S4,  Abraham 
Rudall,  de  Gloucester,  tinlia  clevado  a  arte 
a  um  alto  grau  do  perfeicao.  Os  seus  descen- 
deulcs  continuaram  a  cxcrccro  niesmo  mister, 
I',  em  177i,  a  familia  Rudall  tinlia  fundido 
0  grandissimo  numero  de  3o'.)4  sinos.  'Nesla 
fundicao  e  que  se  fabricaram  alguns  dos  mais 
affamados  carrilliOes  do  oeste  da  Inglaterra, 
alcm  de  muitos  outros  para  diversas  partes 
do  mesmo  paiz.  Taes  sao  os  de  Alle  SainU, 
de  ruUiiim,  e  em  Londres  os  de  .S'.  Dumian, 
S.  Bride  e  de  S.  Murlinho  dus  Campos.  Os 
sinos  da  egreja  da  Universidade  de  Cambridge, 
(|ue  Handel  tanto  adrairou,  foram  fundidos  em 
S.  Ncot,  cerca  de  17:J0.  Mess,  Mears,  suc- 
cessores  de  Kudall,  em  Gloucester,  e  que 
tamhera  tern  um  immenso  estabelecim^uto  em 
Londres,  labricam  cada  anno  muitos  centena- 
res  de  sinos  e  e  frequente  ver  ao  mesmo  tempo 
nas  suas  olVicinas  'M)  tonelladas  em  I'usao. 

0  grandc  numero  de  egrejas  que  se  tern 
construido  'ncstes  ultimos  tempos,  e  o  louvavel 
impulso  que  se  \ae  dando  a  restauracao  com- 
pleta  dos  antigos  edificios  rcligiosos,  elevaram 
este  ramo  de  industria  a  um  grau  de  prospe- 
ridade  d'antes  dcsconliecido. 

Muitos  dos  campanarios  de  construccao  mo- 
derna  tem  todavia  um  defeito,  e  nao  pe([ueno, 
0  serem  de  unia  construccao  tao  Jigeira  que 


nao  podem  supporlar  o  jogo  de  um  carrilhao 
completo.  Em  1810,  o  cam|)anario  da  egreja 
de  S.  Nicolau  em  Liverpool  abateu  na  oc- 
casiao  cm  que  os  licis  se  reuniram  para  o 
servico  divino.  Esta  catastrophe,  que  causou 
a  morie  de  i'i  pessoas,  foi  era  parte  motivada 
pela  vibracao  dos  sinos. 

Acabada  a  fundicao  do  sino,  seguia-se 
0  sen  liaptisado,  em  que  se  observavam  as 
mesmas  ceremonias,  quo  no  baiitismo  das 
creancas.  Era  Icvado  a  pia  baptismal,  davam- 
se-lhe  padrinhos  e  madrinhas,  era  aspergiilo 
com  a  agua  bcnta,  ungido  com  os  sagrados 
oleos,  e  linalmente  reveslido  com  a  facha 
i)ranca,  que  oscatholicos  davam  as  creancas  no 
lim da  ccrcnionia. como symbolo da  innocencia. 

As  gallas  que  'nestas  ceremonias  se  eniprc- 
gavam  eram  sumjituosas.  Faziam-se  festas 
magnilicas,  e  nuii  pc([uenas  aldeas  gasta- 
vam  mais  do  100  escudos  de  ouro,  para  soleni- 
nisar  o  baptismo  dos  seus  sinos.  Esta  usanoa 
e  ate  de  uma  remota  antiguidade:  Alcoin 
ja  dizia  que  nao  se  deve  achar  cstranho,  que 
OS  sinos  sejam  bcntos  c  ungidos  e  que  se  Ihe 
de  um  nome.  Poderiaaios  citar  aqui  numo- 
rosos  exeniplos,  mas  pouparcmos  aos  nossos 
leitores  uma  enumeracao  que  nao  agradaria 
provavelmente  senao  a  algum  antiquario:  so 
diremos  que  este  costume  subsistiu  em  Ingla- 
terra ate  a  reforma. 

('  Quando  se  emprega  a  palavra  baptismo, 
diz  Magio,  nao  se  quer  dizer  quo  os  sinos 
sao  baptisados  com  aquelie  baptismo  que  traz 
comsigo  remissao  dos  peccados;  mas  simples- 
raente  pretende-se  indicar,  que  na  bencao 
dos  sinos  sao  usadas  as  mesmas  cerimonias 
que  no  baptismo  das  creancas.  »  Esta  obser- 
vacao,  superflua  como  explicacao,  e  insuf- 
liciente  como  justilicaoao.  «  Nao  se  baptisam 
OS  sinos  para  os  remir  dos  seus  peccados,  diz 
Southey,  porque  o  peccado  original  d'um  sino 
nao  pode  ser  se  nao  alguma  racha,  ou  defeito 
de  torn,  e  nao  e  o  jwdre  que  se  encarrega  de 
ihe  dar  o  remedio.  «  0  que  na  verdade  sc  pode 
considerar  profano  c  indecoroso  'nesta  ce- 
remonia  e  ap[)licacao  das  forraas  d'um  Sacra- 
mento a  um  objecto,  era  quo  se  nao  podia 
dar  relacao  alguma  entre  o  signal  externo  e 
visivel  e  o  elVeito  interno  e  invisivel.  Os 
protestantes,  quando  se  suppriraiu  esta  ceri- 
monia  catholica,  comecaram  a  praticar  os 
excesses  contrarios;  c  uma  practica  supersti- 
ciosa  foi  substituida  por  indecentes  orgias. 
White,  de  Selborne,  falhndo  da  festa  que 
teve  logar  na  sua  villa,  era  173S,  por  oc- 
casiao  da  inauguracao  d'ura  novo  carrilhao, 
diz  que  um  dos  sinos  foi  virado  com  a  bocca 
para  cima  e  cheio  de  punch.  NiSo  podemos 
deixar  de  lamentar  esta  practica,  ainda  hoje 
usada,  que  associa  na  mcnte  dos  parochianos 
duas  ideas  tao  heterogencas — siuos  do  servifo 
divino,  e  embriaguez. 

Coiitinuo. 


I 


167 


INDICES  DE  REFRACCAO. 


Continuado  de  pag.  75. 

37.  Seja  SjM  mil  raio  luiiiinoso,  existeiUe  em  uni  piano  perpendicular  ao  eixo  do 
prisma  B^  C,  que  se  refraiige  em  J\J  e  AV  na  enlrada  e  saliida  do  niesmo  prisma.  Chamemos 
i,x,x',e,  OS  angulos  que  as  partes  d'esle  raio  refraclo  fazem  com  as  normaes  M  N,  M'  JS' ; 
e  S  o  desvio  do  rair  luniinoso,  isto  e,  o  angulo  L  K  S  que  a  sua  ultima  direc^ao  J\V  O  faz 
eonj  a  prlmeira  S.M. 

A   figura  da 

i=k-MR—x  +  KM'R  —  x'=i  +  c  —  x  —  x',x  +  x'=l80°—R=^a. 
Teremos   pois  as  seguintes  equa5oes 

(f  =  i  +  e  —  a,x-\-  x'  =  0,  n  sen  x  =  sen  i,  n  sen  a;'  =  sen  e (1 ) 

38.  O  angulo  ?' deve  ser  conliecido  pela  posi9ao  do  prisma  ;  os  angulos  fC  O  S e  K  SO, 
de  que  se  compoeni  i=  K  O S-\- fi' SO,  podem  determinar-se,  o  primeiro  observando-o 
com  o  circulo  repetidor  ou  com  outro  inslrumenlo  de  medir  angulos,  e  o  segundo,  que  nao 
sera  sensivel  quando  for  So  sol  ou  outro  objec'to  m'uilo  dislante,  deduzindo-o  das  posijoes 
dadas  de  S,  j\l,  O ;  e  o  angulo  diodro  a,  que  se  cliama  refrangente,  pode  medir-se  com  um 
goniomatro.  Por  conseguinle  as  eqiiagoes  (1),  nas  quaes  ficam  sendo  incognitas  x,x',e,n, 
podem  servir  para  delerminar  os  indices  de  refrac^ao  dos  solidos,  com  os  quaes  se  tizerem  os 
prismas,  e  dos  tluidos  e  gazes  contidos  em  caixas  prismaticas,  feitas  com  solidos,  cujos  indices 
sfio  coiiliecidos,  applicando-as  na  passagem  por  cada  um  dos  prismas  do  involucro  e  da 
substancia,  sujeita  a  experiencia,  que  o  raio  luminoso  alravessa. 

Em  quanio  porem  ans  gazes  cumpre  adverlir  que  e  necessario  atlender  a  sua  densidade 
no  tempo  da  experiencia;  e  por  isso  costunia  adaptar-se  ao  tubo  um  barometro,  cujo  ramo 
aberto  communica  com  o  interior  d'eiie  ;  e  um  thermometro,  que,  para  nao  occiipar  a  capacida- 
de  do  tubo,  se  poe  em  conlacto  com  as  suas  paredes. 

39.  As  equagoes  (1)  dao 

ji  sen  x  =  sen  i,  n  sen  [a  —  a;)  =  sen  (^  +  a  —  i),  das  quaes  se  tira 

sen  X  ■\-  sen  {a  —  x)        sen  i  +  sen  (J  +  a  —  «') 
sen  X  —  sea  (a  —  x)        sent  —  seii(J'-l-  a  —  ?')' 

1  '  1  , 

tang -a  tang  5(0  +  *) 


lang(a;_-a)    tang  [i— 5(0  +  *)] 


Teremos  pois  n  pelas  equajoes ' 


sen  I 


1  tang-alang[;  — -  (a  +  *)] 

tang  (x —  -  a)  = ,  n  = (2). 

tang  -(a  +  J) 


'     Quando  t:=o,  as  formulas  (2)  nao  sao  applicareis  j  porque  enlSo  e  i  =  o,  e  »  vem  debaixo  da  (o'rma  „• 
Mas ,  coma  e  z  =  a  —  x' ,  serve  o  systema 


tang 


Ung  j(a  +  ,J) 


168 

Ou  tambem,  eliminando  logo  x  entre  as  diias  primeiras  eqiiagoes  (I),  iransfor- 
inando  em  soninias  e  dilTeren^as  de  cosenos  d'arcos  ou  seiiiiarcos  as  exprcssoos  de 
sen  »(^+a  — ;■)  — cos^(  e  2  sen  i  sen  (*+a  — i),  e  decompondo  em  faclores,  resulla  immo- 
diatamente 

,j2  _  -^  _  [(cos  (I—  COS  ($  +  „)]  [(cos  a  +  cm  f^  +a  —  2  i)] 


4  sen  -  J  sen  (a  +  -  j.)  cos  ( -  ,f  —  2);cos  (-  ^  +  „  _  i) 


(Vej.  Biot  Pl)is.  Math,  lomo  3."         ). 

40.  Pode  determinar-se  n  seiii  inedir  o  angido  i  ,  procurando  a  expressno  do  niiiiiino 
valor  de  S  em  funcgao  de  n  ;  porque,  fazcndo  volver  o  prisma  etn  torno  d'uma  recta  paral- 
lela  ao  seu  ei.xo,  sera  facil  acliar  a  posi^ao  em  que  o  desvio  e  ininimo,  e  observal-o. 

Oraa  ultima  expressao  differenciada  porlogarilhmos  dii,  em  virludeda  condicao—  :=o, 

U I 

tang(i.-,)  +  .ang(l,  +  ._0^ ^-"  (^ -"^^  +  "^ ^„^ 

cos  (^*  — »■)  cos  {-S  +a—i) 

logo  *  —  2!-f  0  =  0,  ou  t  =  £, 

c  ,,»       ,  _[coia  — cos(^  +  a)](I+rosa)  ^_  (1  +  cos  n)  [1 —  cos  (J  +  «)] 

sen  -  (S  +  a) 

q"e  da  „  —  — ::: ^3^_ 

sen  —  a 

a 

41.  Tambem  se  pode  observar  o  angulo  S  correspondenlo  a  incidcncia,  para  a  qua!  d 
raio  luminoso  comeja  a  deixar  de  tefrangir-se,  e  se  retlecte  todo. 

Entfio  e  ei=S-{-a—i  —  90% 

e  por  conseguinte 

4  sen^  (-  S  +o)  sen  ^  -i 

"*  — 1  = ^ — (4). 

sen  'a  ' 

42.  Mostra  a  e.xperiencia,  e  resulta  da  tlieoria  da  refrac^ao,  que  a  expressao  it  ^ — 1 

\     ^a 1 

e,  paracadacorpo,  proporcional  asuadensidadej,  ou  que  econstante  ^  aexpressfio =;P. 

,  .,,    ■■■  ! 

D'onde  resulta  que,  deterniinado  o  indice  Ji  de  refracjao  d'um  corpo  elasticu  em  cerlo 
grau  de  densidade  j,  immediatamente  se  acliarii  o  seu  indice  n',  correspondcnle  ao  grau  de 
densidade  c'j  pela  formula 

J 


nl^- 


1  +  L(„-_|). 


E  portanto,  se  conseguirmos  reduzir  um  corpo  elastico  a  tal  estado  de  densidade  ;  que  re- 
fracte  tanto  como  a  atmosphera,  entao,  chamando  n  o  indice  actual  da  almospliera,  esta 
formula  dara  o  indice  n'  do  mesnio  corpo,  quando  a  sua  densidade  fdr  {'. 

n^ 1 

*     Os  FrancCTes  chamam  fuUunct  rtfriogmU  a  sxprcMSo  n*^l,  e  pmivoir  rtfringent  a  expressSo . 

Talvez  possamos  chamar  sem  improprieilade  e  primeira  fodtr  refrangente ;  e  a  segunila  tirtude  refrangtnte ,  ou 
capacidade  re/rangtntt.  Co'Uiiiiia. 


1G9 


BIBLIOGRAPHIA. 


Pro  fiiloIiSNinio  Rrso,  Pofro  qiifnlo  in 
l^utiilniiiini  Noliiiin  ^alnlilio  cJiin  <lie 
.Wl  KnI.  ocloh.  anno  igl>C('t'L.V  fcli- 
riler  evot-lo,  el  |>i'0  .%iiuii!i>ln  ipNiuK 
Elligie  in  niaximo  C'oniiuItrirenNiM 
Acaflcniiae  Uyinna#>io  lum  raiiNto 
■  naugurala  Oi-nlio  alt  A.  t'ardosio 
Itorses  <Io  FiKU<'ii'0<Io.  Coninibrscao, 
lypiN  Acadeui.  1  S5S. 


'Nesta  epoca,  era  que  o  estudo  das  lettras 
grcgas  e  latinas  tern  chegado  cnlre  nos  ao 
mais  laraentavel  abandoiio,  e  serapre  com 
grandc  satisfacao,  que  rcgistaraos  as  raias 
produccOes  de  AA..  iiossos,  que  vemos  saliir 
a  luz  'nalguma  d'aquellas  linguas,  tao  culli- 
vadas  aiuda  hoje  nas  mais  illustradas  nacOos, 
e  que  scrao  serapre  o  primeiro  e  raais  precio- 
so  raanancial  da  verdadeira  e  solida  liltera- 
tura. 

No  escasso  numero  d'essas  raras  produccocs, 
tem  logar  mui  distincto  os  escriptos  latinos 
do  sr.  A.  Cardoso  Borges  de  Figueiredo,  pro- 
fessor de  eloquencia  e  litteratura  no  lyccu 
d'esta  cidade.  Pureza  e  eleyacao  de  estilo, 
seleccao  nos  termos,  goslo  e  apurada  escoliia 
nas  frazes,  que  eniprega  cora  tanta  propric- 
dade,  que  a  leilura  das  suas  obras  faz  recor- 
dar  OS  meslres  da  cdade  aurea,  sao  dotes,  que 
dao  aos  escriptos  latinos  do  sr., Cardoso  incx- 
timavel  preoo. 

Ninguem  melhor  do  que  die  possue  a  fun- 
do  as  difliculdades  e  excellencias  da  boa  hUi- 
nidade,  e  ninguera  sabe  tao  bem,  como  elle, 
fazer  applicaoao  dos  vastos  conhecimentos  e 
variada  licao,  que  tern,  do»  classicos  latinos; 
de  raaneira  que  os  scus  escriptos  sao  sempre 
acabados  modelos  do  mais  apurado  esliio. 

A  oracao  latina  que  annunciamos  aqui,  e 
que  0  sr.  A.  Cardoso  recitou  na  sala  grande 
dos  actos,  pcrantc  lodo  o  corpo  academico, 
por  occasiao  do  feliz  anniversario  e  faustissi- 
ma  acclamacao  de  S.  M.  ElRei  o  Sr.  D.  Pe- 
dro V,  nao  desdiz  da  merecida  reputafSo  de 
tao  douto  professor;  e  a  Universidade  nao 
podia  por  certo  escollier  mais  digno  interpre- 
te  para  celebrar,  cm  tiio  solemno  occasiao,  na 
linguagem  dos  Livios,  Yirgilios  c  Uoracios, 
tao  elcvado  assumpto. 

Bem  ([uizcramos  reproduzir  aqui  alguns 
trechos  de  obra  Irabalhada  com  lanto  enge- 
nho  e  arte;  mas  sobre  a  difficuidade  de  eseo- 
Iher  as  mais  bellas  entre  tantas  e  tao  mimo- 
sas (lores,  semeadas  com  mao  de  mcstre; 
receavamos  tambem  fazer-lbe  perder  o  vico 
e  fragrancia,  colhendo-as  separadamente.  Nao 
podemos  comtudo  acabar  com  nosco  de  calar 
alguns  d'esses  trechos  mais  conceiluosos,  c 
onde  mais  brilha  a  pura  e  elegante  locurao 
dos  escriptores  do  seculo  d'Augusto. 

0    illustrc   professor  nao  se  recusara  ao 


desempenho  d'aquelle  tao  grato,  mas  tao  dif- 
ficil  encargo,  que  Ihe  fdra  commettido;  expri- 
mio,  porem,  ingonua  e  clcgantemcnteo  modesto 
reccio  de  que,  cansado  ja  pelos  annos  e  pelas 
fadigas  littcrarias  de  tantos  annos  de  atura- 
do  estudo,  a  sua  oracao  carecesse  d'aquella 
varonil  elo(|uencia,  que  o  assumpto  pedia,  ea 
vontade  e  reconhecimento  inspirava. 

u  Sed  tamcn,  jam  scnili  meo  corporc  animoque 
frigcscentc,  nun  immerito  vercor,  nc  frigida  quo- 
quc  evadat  oratiu  mea ;  timeo  ne  iiiopia  dicendi 
laudcs  delcram  Regis  adolescentis.  » 

Discorrcndo  pelas  egregias  qualidades,  soli- 
da  instruccao  e  vastos  conhecimentos  do  jo- 
ven  Monarcha,  o  orador  commomora  a  regia 
visita,  que  S.  M.  (izera  a  Universidade  em 
mais  verdes  annos,  e  a  admiracao  quo  ja  entao 
causara  a  consumraada  prudencia,  lino  tacto, 
e  singulares  disposifoes  do  moco  principe: 

<i  Cum  his  autem  plene  consenliunt  reliquae  re- 
gii  animi  et  corporis  etiam  dotes.  Monim  gravi- 
tatem  illam,  cum  dulci  comitate  conjunctam,  quae 
omnibus  quidem  spectaculo  sunt,  nosmclipsi  hac 
in  urlie,  in  hoc  ipso  loco,  summo  gaudio  simul 
et  admirationc  nimium  fortunati  vidimus.  Vidi- 
mus candidam  illam  in  tanta  dignilato  modestiam. 
Vidimus  curam,  sludium,  adtentionem,  quihus 
ille  omncs  administrationis  pnblicae  staliones 
inspiciebat.  Vidimus  eximiam  illam  non  oris  mo- 
do  ac  Tultus,  sed  totins  corporis,  pulchritudinem 
ac  Tenustatem  ;  quibus  illecebris  ipse  omnes  ad 
sesc  Tertit;  sic  tamcn,  ut  ex  ipso  adspectu  imago 
quacdam  ingenitae  virtutis  atque  honestalis  vidca- 
tur  emicare.  » 

0  illustre  orador  dcscreve  com  singela, 
mas  elegante  concisao  os  applausos  e  admi- 
racao que  0  joven  Monarcha  souhcra  gran- 
gear  nas  mais  eultas  nacOes  da  Europa,  que 
visitarajara  completar  a  sua  primorosa  cdu- 
cacao : 

« Quocumque  vero  nobilissimus  perveniebat 
adolesccns,  ita  ejus  advcntus  celebrabatur,  ut  ipsius 
famara  cxspcctalio,  cxspectationom  admiratio  su- 
peraret.  Mirali  eum  fuere  Brilanni,  mirati  Galli, 
mirati  Neapcditani  et  Ilali,  mirali  Belgae,  mirali 
Ilehetii,  ctcum  aliisGermani  quoquc  mirati.  Qui 
omnes  enm  ingenti  plaiisu  atque  gratulalione,  et 
quasi  triumphanlem,  excipiebant,  paencque  in- 
credibili  benevolentia  complcctebantur.  Qnumqne 
ilium,  deiis,  quae  vcl  in  academiis,  vel  in  museis 
Tcl  in  gymnasiis,  vel  in  oOicinis  caeterisque  publicis 
nbiquaque  slationilius,  ipse  conspiciebat,  acri  ju- 
dicio  allaque  intelligenlia  dissercnlem,  doclissimi 
quique  audirent,  obstupehant.  Hinc  singularis  ille 
coitus  inauditaque  observantia,  quibus  cum  maxi- 
marum  gentium  reges  velut  ccrtalim  proseque- 
bantur.  Adeo  Regem  magnum  magni  reges  sibi 
aestimabant  parcm !  » 

A  oracao  latina  do  sr.  Cardoso  nao  pode 
avaliar-sc  por  simples  e.xtractos;  nem  cahe 


170 


nos  istrcilos  limited  d'unia  siiccinta  noticia 
a  dcvida  apreciarao  d'ai|iiL'lie  di.*i'iirso,  a  to- 
dos  OS  rospoitos  digiio  do  assuiiipto,  c  nao 
iiu'iios  di^'DO  do  A.,  que,  disrorreiido  pelos 
priiu'ipars  fartos,  i\up  taracterisam  c  illtistrani 
lima  jiivonil  exisk'iicia  de  ■(  di'zoito  annos  » 
!iOul)e  cm  l)rcves,  mas  prnriindns  trai;os,  pdr 
em  ii'Icvo  as  alias  e  brilliantcs  iiualidades, 
que  cllc  coin  taiita  veidadc  c  singelcza  cii- 
nunciara  no  comero  da  sua  orajao  : 

«  Ecce  Princcps,  gencrosa  rcj;iim  suholcs,  ma- 
f,'mmi  Bri{,'arUiiiae  Slirpis  iiuicmcnliim:- Ecco 
Ko\  ille  lelsissimus,  ciii  reipnlilicae  liignilas,  cui 
Icgiim  custodia,  cui  civium  lihcrlas,  cui  lusitaiii 
populi  salus,  commissac  crcdilaeque  sunt.  Ecce 
PETRI'S  V,  grata  patriae  spcs,  fidumquc  pacis 
«c  prosperitatis  pignus.  >< 

J.  M.  DE  ABREU. 


XOTICIAS  LITTERARIAS   E   SCIENTIFICAS. 

ILJ»iisll«<«.  Scgundo  o  ullimu  receusoamonto  foilo 
nos  Eslados  Liiidus,  cxisliam  alii  mil  duzentas  c 
dczesete  liiljliulhccas.  coiitendo  uni  milhao  quatro- 
centus  c  quarcnta  e  suis  mil  c  quinze  \olumes. 

Este  numero,  ainda  que  ja  mui  avultadu,  torn 
duplicado  iluranle  o  anno  decorrido  dcpois  d'aquel- 
Ic  recenseamento. 

«;ovBlS3(^»  t:i5E»^3:<?™>  O  numero  das  folhas 
dos  (livcrsos  pcriodicos  que  sao  selladas  diaria- 
mcnte  para  screm  distriliuidas  aos  sous  assignan- 
tcs,  e  de  89:879.  So  do  Times  sao  selladas  diaria- 
mente  S8:80G  folhas;  do  Morning  Ad\ertiser 
6:632;  os  outros  jornaes  regulam  dc  500  ale  mil 
folhas  por  dia. 

Nos  semanarios  ha  a  mesma  dcspropor^ao  que 
nos  jcirnaes  quotidianos- 

Da  Illustralcd  London  iYerisao  selladas  130:305 
folhas  de  cada  numero ;  do  AVirs  of  tiie  iPorW 
110:999;  do  Lht/ifs  Wcckh/  News  ,  96:826; 
do  Wcckbj  Times  76:686;  do  WceMy  Dispatch 
40:09}.;  do  Exnmincr  4:88t;  do  Economist 
4:173;  G«orrfi«H  4:000;  CrjVic  3. -750;  Atlicnacum 
3:119;  SpcctiUor  ■2:93o ;  Leader  1:396;  Juhn 
Bull  1:667;  Literary  Gazette  500. 

Cunipre  observar  que  muitas  d'cstas  publica- 
coes  litlerarias  e  scientificas,  eomo  o  Atlicnueum, 
u  Critic,  a  Literary  Gazette  e  outros  tem  grandes 
edieoes  nao  selladas.  0  Athenaeum  por  cxcmplo 
tira  perto  dc  15:000  excmplares. 

CojugeEaTiSo  «8o  tSjia-  Xpsro.  Desde  o  anno 
de  401  ate  hojc  esle  mar  tem  gelado  18  vezcs, 
scndo  as  duas  ultimas  em  1823,  e  1849. 


^'ovo  C'oTneln. 

dc   Florcnca   a   3, 
junho  ultimo. 


Foi  observado  no  observatorio 
e  em   Bcrlim  e  Paris  a  4  de 


Estalistira  <lo<i  jornaen  Americnnos. 

Publicam-se  aetualmente  nos  Eslados  Unldos  dois 
mil   quinheutos   c  vinle   e  seis  jornaes.   So  nos 


eslados  da  Nova  York  sc  publicam  quatrocentos 
e  \inle  oil";  trezentos  e  dez  na  Pensylvania ; 
(luzcnlcis  e  sessenla   e  urn  cm  Ohio,  etc. 

I)'estcsjornaescxlraem-sepornumero5:183;017: 
e  o  numero  de  folhas  dc  tudos  csles  jornaes  sobe 
por  anno  »  426:409;978. 

Na  cidade  dc  Nova  York  passam  dc  120  us 
jornaes  e  publicaciics  periodicas,  (|ne  saem  a  luz, 
o  que  da  'num  anno  nada  meuos  dc  80  milhocs 
dc  folhas  dc  papel.  Ora  aquclla  cidade  nao  1cm 
mais  dc  830:0110  habitanles ;  e  Loiuires,  que  tem 
quasi  o  triplo  d'esla  populacao,  conla  apcnas  94 
publicaeocs  periodicas,  com  que  se  distribucm  ptir 
auuo  33  milhocs  de  folhas  dc  ])apel.  E  em  lodo 
0  reino  unido  cxislem  somcnlc  516  publicaeocs 
periodicas,  que  fazcm  circular  por  anno  90 
niilhucs  dc  folhas  dc  papel. 

Em  Paris  os  jornaes  politicos  csliio  prescntc- 
menlc  rcduzidos  a  30;  e  dos  jornaes  0  re\istas 
nao  politicas  lanto  em  francez  cumo  cm  divcrsas 
linguas  contam-se  426. 


"Xovo  plnmela.  Na  nolle  dc  5  do  eorrenle 
mcz  de  onlubro  descobriu  M.  Goldschmit  em 
Paris  um  novo  planela  da  11.'  a  12. »  grandeza 
enlre  o  Aquarius,  c  o  Viscis.  No  mesmo  mcz  dc 
oulubro  do  anno  proximo  passado  descobrfra 
aquellc  aslronomo  o  planela  de  Pomona.  .\s  se- 
guintes  sao  as  posieocs  do  novo  plancta  iudicadas 
pelo  seu  dcscobridor. 

Ascencho  recta.  Dcclinafao. 
1855     outubro.   3.    8''0"'  23''1"'19»— 7"49' 
»  »  6     755    23  0  26  —740 

»  »  7     730    23  59  34  —  733 

8     713    22  58  42—7  28 

Este  planela  era  pela  ordem  chronologica  o 
trigcsimo  sexto  na  scrie  dos  pcquenos  planctas. 
Pcla  sua  posieao  a  8  do  eorrenle  foi  comparado 
a  cstrcUa  n."  43120  do  catalogo  de  Lalande. 
Ainda  nao  csld  dccidido  o  nome  que  lera  aquellc 
astro. 

t9:or93lie«-n»  cljs  fc'ljrc  nnaaroHa.  0 
douetor  Ilumbuldt,  sobrinho  do  sabio  e  dislincto 
naluralista  do  mesmo  nome,  cstabcleceu  ullima- 
mentc  na  Havana  um  hospital  com  o  fim  de  se 
experimcnlar  'nellc  a  theoria  da  inoculacao  da 
febre  amarella,  scgundo  o  principio  da  vaccina 
das  bcxigas.  A  inoculacao  causa  alguns  aeccssos 
febris,  e  nm  cerlo  incommodo,  que  dura  uma 
semana. 

Soldados  inglezes  e  amcricanos  tem  sido  tracla- 
dos  por  aquellc  novo  proccsso. 

TEsescs  na  I'nivci'sitSailc  dc  Coambra. 

Por  portaria  de  23  de  Julho  resolveu  o  govcrno, 
sob  proposta  do  consclho  da  faculdadc  de  direito, 
que  lanto  'ncsla  como  nas  mais  faculdades  o 
ado  dc  Conclusoes  Magnas,  on  theses,  que  na 
forma  dos  estatnlos  os  candidatos  ao  gran  de 
licenciado  eram  obrigados  a  defender  'num  dia 
de  manha  e  de  larde,  peranle  a  Universidade, 
podessem  dcfender-se  em  dois  dias  consceutivos 
de  manha,  Icndo  em  cada  um  quatro  argumentos. 
e  sem  prcjuizo  dos  actos  a  que  os  lentes  hajam 
de  assistir  'nesses  dias. 


171 


YmpronMn  em  Connlati1inoi>ln.  Publi- 

cpm-se  actiialmenle  em  Cons  tan  tiriupla  os  scg;uiiiles 
jornaes : 

O  Taqvim-i-voqiia'i  (Jornal  dos  Factos)  6  o  jioriodico 
official,  em  lingua  lurca:  publica-se  extraordinariamenle. 

O  Djf-idfi-i'Iiat'adis  (Resumo  de  J\'oticins)  em  lin- 
gua turca ;  publica-se  duas  vezes  por  semana. 

Dois  jornaes  francezes,  o  Jnurunl  de  Constanttnnple, 
e  a  I*resse  d'Orit/it,  que  sc  puhlicam  ks  scgundas  l- 
0e\tas  foiras. 

Um  Jornal  grego,  o  Telcgraphns  tmt  Bosphnrou  (Te- 
iegrapho  do  Jiasphuro);  publica-se  aos  sabljados. 

O  Medjmoua-i-Hacadis  (A  C^'llecgao  de  IWtirias)^ 
jornal  turco,  impresso  em  caracteres  armenios,  publica- 
se  aos  sabbados. 

Urn  diario  armenio  o  Macis  (Mrinte  Ararat)^  que  sai 
is  quuittts  Teiras. 

O  Anadalu  (O  On'ente),  jornal  turco,  impresso  em 
^laracteres  jrregos,  publica-se  aos  sabbados. 

O  Akbhar-i-Co/istanti/iiiic  (As  iVovidftdcs  de  C'/iis- 
tantiiiop'la)^  jornal  hebdomadario  em  caraclcresarmenios. 

O  Avtdaper  (O  Mensageiro)^  jornal  armenio,  que  se 
.publica  de  15  em  15  dias,  as  quartas  feiras. 

O  Asdjid.  Arevt'lian  (A  Peqiiena  Estrella  do  Orien- 
ie),  Revista  raensal  armenia,  litteraria  e  scientifica. 

O  DJen'da-i-Dtone  (Resumo  Universal),  c  uma  Re- 
vista  turca  moral,  religiosa  e  litteraria,  que  se  publica 
todas  as  quinzenas. 

Ardzui-f'asbmiragan  {A  Agnin  de  J'nshoitr,  anti^a 
provincia  de  Van) ;  Revista  mensal  armenia  de  moral  e 
litteraltira. 

Tzarigradski-festnik  (O  Mensageiro  de  Consta/iti- 
nopla^  semanario  bulgaro. 

Esta,  annunciada  a  pnblica(;ao  de  urn  jornal  arabe 
'Com  o  titulo  de  Ddjeridet-iil-hnvadis,  que  sera  uma 
traducqao  do  jornal  turco  o  Djeridc-i-havad is . 

Um  semanario  hispano-judaico,  o  Hor-IsraH  {A  L.uz 
de  Israel),  impresso  em  caracteres  hebraicos,  publica-se 
fis  sexlas  feiras. 

El  Maladero,  la  Fuente  de  scieucia,  Revista  illustra- 
da  hespanhola,  que  se  publica  mensalmente. 

De  todos  estes  jornaes  o  Taqcim-i-faqual  ^  o  nnico 
official.  Todos  os  outros  estao  sujeitos  a  censura  ])revla, 
que  i  por  extremo  indulgente  com  a  imprensa  periodica, 
e  nem  o  governo  inlervem  na  direc^iio  politica  ou  admi- 
nistrativa  dos  diversos  jornaes,  que  gozam  de  mui  aui- 
pla  Itberdade. 


REUCAO 

Dos  indhiduos  vomeados  para  di/ferenfes  logares 
d'instruCQao  publica  por  despachos  do  Consclho 
superior  d'inslruc(ao  publica  desde  o  dia  1'6 
aU  ao  fim  de  setembro,  e  bem  assim  por  decrc- 
tos  e  porlarias  do  Governo,  communicados  ao 
mesmo  Consclho  superior  no  indicado  pcriodo. 

IiNSTROC{AO   PRUUARU. 

Anlonio  Joaquim  d'Oliveira,  para  professor 
per  trez  annosda  cadeira  d'Abbadim,  districto  de 
Braga. 

Jose  Francisco  Carreira,  para  a  de  Maiorga, 
districto  de  Leiria. 

Thomaz  Antonio  de  Sequeira,  para  a  de  Sancta 
Maria  dos  Anjos,  districto  de  Braja. 


tI<STRCC(iO   SECUNDARIA. 

Caspar  Ahes  dc  Frias,  para  sul)stituto  da  1.' 
e  2.»  cadciras  do  lyccu  de  Coimbra,  por  decreto 
de  5  de  setembro. 

Jose  Joaquim  Borges  Cardoso,  para  secretario 
do  lyceii  da  Guarda,   por  decreto  de  7  diclo. 

Jeronymo  Namorado,  para  substitoto  da  3.'  e 
4."  cadciras  do  lyccu  d'E\ora,  por  decreto  de  7 
dicto. 

Manoel  Joaquim  Fernandcs  Braga,  para  secre- 
tario do  lyccu  de  Ponta  Delgada,  por  decreto  de 
10  dicto. 

Jacintho  Antonio  de  Sousa,  para  professor  de 
phUnica  e  physica,  e  de  historia  natural  do  lyccu 
de  Coimbra,  por  decreto  de  7  dicto. 

i.\sTKccc.io  suPEnion. 

0  Dr.  Luiz  Altiano  d'Andrado  Moraes  e 
Almeida,  para  4.°  lente  substituto  ordinario  da 
faculdade  de  malhematica  na  Universidade  dc 
Coimbra,  por  decreto  dc  5  dicto. 

Os  Drs.  Joao  Chrysostomo  d'Amorim  Pessoa,  e 
Conslancio  Floriano  de  Faria,  estc  para  3.°,  e  aquel- 
le  para  4.°  substituto  ordinario  da  faculdade  de 
thcologia,  por  decreto  de  5  dicto. 

O  Dr.  Mathias  de  Carvalho  de  Vasconcellos, 
para  4.°  substituto  ordinario  da  faculdade  dc 
philosophia,  por  decreto  de  6  dicto. 

Os  Drs.  Antonio  Joaquim  Uibciro  Gomes 
d'Abreu,  eCallisto  Ignacio  d'Almeida  Fcrraz,  este 
para  5.°,  e  aquelle  para  4.°  substituto  ordinario  da 
faculdade  de  medicina,  por  decreto  de  7  dicto. 

O  licenciado  Antonio  Jose  Teixeira,  e  os  ba- 
chareis  Jose  Pereira  da  Costa,  e  Thomaz  Antonio 
d'Oliveira  Lobo,  todos  da  faculdade  dc  Mathe- 
matica  para  ajudantes  do  observatorio  aslronomico 
da  Universidade,  por  decrelo  dc  8  dicto. 


OBRflS  OFFERECIDAS  PARA  fl  BIBLiOTHECA 
00  INSTITUTO. 

•  Ora<;«o  fumeljre,  que  nas  exequias  do  sr.  D. 
Jorio  III  recitou  na  real  capella  da  Universidade  o  Dr. 
Francisco  Antonio  Rodrigues  de  Azevedo,  lente  catlu-. 
dratico  de  theologia,  e  socio  do  inslituto.  Lishoa  1855 
8." 

Sormao  em  aci;ao  de  gramas  pela  defini^ao  dogma- 
tica  da  Imniaciilada  Concei^So,  pregado  na  egreja  de  S. 
Domingos  era  Lisboa  no  dia  19  d'agosto  de  1855  pelo 
'Oiesmo.  8." 


REVISTA  DAS  OBRAS  PUBLICAS. 

Agradecemos  a  illustre  Redaccao  d'cste  e\- 
ccllente  Jornal  a  remessa  que  nos  fez  dos 
n."  desde  o  1.°  d'abril  ate  lioje,  e  a  que 
temos  correspondido,  enviando-lhe  regular- 
mente  o  Instituto.  Recommendamos  a  loitura 
d'aquella  mui  importante  Revislu,  de  que 
iremos  dando  uoticia.  Os  RR. 


172 


OBSERVACOES  METEOKOLOGICAS  .  FEITAS  NO  GABIXETE   DE  PHYSICA 

DA 

UMVERSIDADE   DE  COIMBUA. 

Annode 

-  -  1- 

r-    5   5 

Pre&sSo 

itiuospherica  ao  meio  dia 

Fsladu  hygruinelrico  da  atmus- 
ptleru  ao  ilieiu  dia 

M.-7.  lie 
Man;u 

Altura  Imroiiip- 
Irica  a  0"  dw  ts- 
calact;ilti;:radA 

Teii?ru)   du  va- 
por nquosocun- 
tido  uu  ar 

PreKSao  du  ar 
secco 

(jraii      d'liiiiiii- 
da,k*  du  ai,  ri.'- 
Iiresriilaiidopur 
1     o   estad"    de 
salnra(;ilo 

Qa»nl„l,i,ie  at  M- 
por  cootiilo  cm  uiii 
raelro  cubico  il'ur. 

Dins 

I'L-Illl^'. 

Millimelros 

Milliiiu-tros 

Milhmclrus 

Graiuilias 

1 

10,j 

756,525 

7,105 

749,420 

0  81 

7,263 

N. 

si 

11 

755,569 

8,519 

747,050 

0,87 

8,699 

(J. 

3 

11 

753,033 

8,333 

754,710 

0,85 

8,499 

o. 

4 

10 

755,692 

7,607 

748,083 

0,83 

7,795 

o. 

5 

lU 

753,049 

7,790 

744,859 

0,85 

7,982 

o. 

6 

10 

755,641 

7,515 

748,126 

082 

7,701 

o. 

7 

11 

754,303 

8,029 

746,274 

0,82 

8.198 

o. 

tt 

10 

748,184 

7,333 

740,852 

0,80 

7,513 

N. 

9 

il 

754,048 

8,225 

745,823 

0,84 

8,398 

0. 

10 

10 

750,265 

6,690 

743,575 

0,73 

6,853 

N. 

11 

9,3 

753,288 

6,169 

749,119 

0,63 

6,332 

N. 

12 

11 

754,321 

6,267 

748,034 

0,6* 

6,399 

N. 

13 

11,5 

755,628 

7,185 

748,443 

0,71 

7,324 

N. 

14 

12 

755,735 

7,843 

747,892 

0,75 

7,980 

N. 

15 

11 

755,690 

7,638 

748,058 

0,78 

7,799 

N. 

16 

12 

749,844 

8,888 

740,356 

0,85 

9,043 

0. 

17 

12 

753, IhO 

9,307 

743,853 

0,89 

9,470 

O. 

18 

11,5 

732,338 

8,501 

743,837 

0,84 

8,665 

N. 

19 

11,5 

753,142 

8,400 

743,743 

0,83 

8,562 

N. 

20 

,3                    743,935 

8,818 

735,107 

0,79 

8,940 

S. 

21 

13 

740,743 

8,888 

731,855 

0.85 

9,043 

s. 

23 

11,3 

735,245 

7,792 

737,453 

0,77 

7,942 

s. 

23 

U 

734,036 

7,931 

736,105 

0,81 

8,098 

o. 

21 

11 

734,257 

8,039 

726,228 

0,83 

8,198 

o. 

25 

10 

7i7,957 

7,7  90 

730,167 

0,85 

7,9112 

o. 

26 

11 

744,938 

7,442 

737,496 

0,75 

7,599 

N. 

27 

10 

:jO,U91 

7,149 

743,742 

0,78 

7,325 

N. 

28 

9,5 

753,432 

7,003 

746,429 

0,79 

7,188 

N. 

29 

11 

753,563 

6,365 

747,198 

0,65 

6,499 

E 

30 

11 

754,320 

5,973 

748,347 

0,61 

6,099 

E. 

31 

10,5      i         757,892 

5,493 

752,397 

0,58 

5,621 

E. 

do  Inez  ^ 

10,9         1          750,343 

0,78 

a 

Tent/jeralura 

PretaSo  atmotpherica 

Gran  d^ Itumidade  do  or 

•; 

Maxima  altsuhita  ,   13° 

Miaima 9", 5 

Maxima  \ariai^)to  ,     3", 5 

Maxima  absolula  .  .     757, B92 

Minima 734,036 

Maxima  eicursilo  .  .       23,856 

Maximo 0  89 

a  O 

E 
111 
Coim 

■g   " 

Maxima  variajao  ....     0,31 

.5 

bra,  1."  lie  Abril  de  1855. 

Antonio  Sanches  Goulao,  Direc 

tor  do  Gabinete  de  Pbysica. 



®  Jn0titttt0, 


JOlllNAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


INSTITUTO  DE  COIIKIBRA. 

DIRECgAO. 

Stiss^o  de  17  de  unliibro. 

Foi  eleilo  Socio  Correspondcnte  do  Inslitulo, 
na  Classe  de  sciencias  Physico-Mulhemalkas, 
0  sr.  Caspar  Ribeiro  de  Vasconcellos. 

Foi  encarregado  da  direcrao  do  Gahincle 
e  Bibliotlicca  do  Inslitulo  o  sr.  Malhias  de 
Carvalho  e  Yasconi-ellos. 

O  Secretariii  do  Jnitituto^ 
J.   ALVES  DE  SOUSA. 


RELATORIO 

Soltrc  o  entado  da  iiistrurrao  prlma- 
ria  e  Hccundaria,  pi'iblioa  e  p  rlirii- 
lar.  do  Districto  adniiiiiHlranvo  de 
liisboa.  cm  mai'ro  de  1  855. 

Continuado  de  pag.  163. 

Methodo  portuguez,  ou  de  leitura  repentina. 

Ordeuou-me  V.  M.  cm  porlaria  de  22  de 
agosio  ultimo,  cxpedida  pelo  Conselho  Supe- 
rior de  inslruccao  piibiica,  que,  procedendo 
iis  convcnientes  averiguapoes,  havidas  soLre 
(juesitos  delerminados,  informasse  com  o  meu 
parecer,  em  capitulo,  a  parte,  d'este  relutorio 
acerca  das  vantagens  do  methodo  portuguez, 
ou  de  leitura  repentina.  Esla  no  meu  caracler 
nao  proceder  de  leve  no  locanle  ao  meu  de- 
ver,  porem,  com  respeilo  ao  objeelo  indicado 
concorrem  circumstancias,  faceis  de  presumir, 
que  dobradamente,  se  posso  explicar-me  d'esla 
sorte,  me  obrigani  a  ser,  sobre  circumspeclo, 
cscrupuioso.  Tcndo  a  peito  antes  de  ludo  a 
causa  piibiica,  eu  devia  ler  ao  mesmo  tempo 
era  muita  considerafao  o  nonie  respeitavel 
do  apostoio  do  methodo  alludido,  e  as  razoes, 
que  raoveram  a  auctoridade  a  tomar  d'jelle 
especial  conhecimento. 

Para  desempenhar-me  do  que  julguei  cum- 
prir-me  rigorosamente,  foi  meu  priraeiro  pas- 

VOL.  lY.  NOVEMBBO  1.° 


so  dirigir-me  a  todos  os  prol'essores,  iiiibiicos 
e  parliculares.  Responderam-me  iiocenia  e 
seis,  incluindo  'nesla  conta  dezoito  mestras 
de  mcninas.  Li,  e  examinei  por  mim  proprio 
altcntamenlc  todos  e  cada  um  d'cstcs  docu- 
mentos,  que  iiram  arcbivados  'nesta  rommis — 
sao  dos  estudos.  Dos  referidos  documentos 
dcduz-se  o  rcsultado  seguinte; 

Reprovam  o  metbodo  setenta  e  urn:  appro- 
vam-no  seis,  dos  quaes  o  practicam  sem  alte- 
racoes  quatro,  com  modificafoes  um,  c  appro- 
va-o  sein  o  practicar  um.  Ignoram  inleira- 
mente  o  methodo  dezenove. 

Importa  porem  advertir,  que,  de  entre  os 
prolessores  que  reprovam  o  methodo  portu- 
guez dezesseis  o  ensaiaram,  e  ao  depois  o 
rejeitaram  obrigados  de  differenles  razoes, 
que  apontam.  Os  demais  com  quanto  o  nao 
ensaiasscra,  mostram,  na  exposirao  dos  moti- 
ves de  nao  o  adoptarera,  que  o  conhecem. 

Tambem  me  cumpre  observar,  que,  no 
numero  acima  declarado  dos  professores  que 
ajiprovam,  se  incluera  duas  mestras  de  meni- 
nas,  assim  como  entre  os  que  rejeitam  se 
contam  oito  mestras,  que  o  reprovam  sem  o 
ignorarem. 

Mas,  Senhor,  para  que  V.  M.  possa  formar 
juizo  do  fundamento,  com  que  os  professores, 
e  as  mestras,  a  que  me  refiro,  rejeitam  o 
methodo  portuguez,  eonvera  ouvir  as  suas  ra- 
zoes, e  por  isso  agora  as  resumirei  substaii- 
cialmente. 

1."  Porque  se  da  grandissima  difficuldadc 
em  Lisboa,  e  impossibilidade  fora  de  Lisboa, 
de  conseguir,  que  os  alumnos  das  cscholas 
de  instruccao  primaria  comecem  curso  regu- 
lar de  estudo  em  epocha  lixa,  e  continuem 
com  pontualidade,  e  se  demorem  reunidos 
nas  escbolas  por  tao  longo  espaco  de  tempo, 
quanto  e  necessario  para  se  practicarem  os 
differentes  cxercicios  indispcnsaveis,  a  fim 
de  se  obterem  os  resullados,  que  se  pretcn- 
dgm.  0  methodo  portuguez  para  produzir  as 
vantagens,  que  prometle,  requer  essencial- 
mente,  que  o  ensino  seja  commum;  mas  como 
pcla  razao  dada,  nao  o  pode  ser,  torna-se 
impracticavcl  ou  inutil.  Os  arbitrios  enipre- 
gados  diversamente  por  diversos  professores 
para  attenuar  os  inconvenientes  da  irregu- 
laridade  das  matriculas,  e  da  frequcncia  (ir- 
regularidade,  alias  invencivel,  porquanto  a 
-Ibou.  Ndu.  13. 


174 


nao  se  pcrniitlir,  licariam  de  proniplo  dcsoN 
tas  as  cscliolas,  mormoiile  fora  das  giaiides 
i-idades)  seiulo  de  facil  e  de  provoitota 
adopcao,  qiiando  os  professores  empregam  o 
molliodo  simiillaneo  individual,  coiiirariani 
diri'clanii'iili'  o  da  leiluru  repentiiia,  ponnie  o 
loriiam  mais  iiioroso  e  iirmios  eflicaz. 

Cimjlnmim  a  sua  obscrvacao  com  o  argu- 
incnlo  deduzido  das  csciiolas  dos  usylos  da 
inftiuclu  dcxKulida,  our  ntgnhs  dos  quaes  pa- 
rece  tei'iMU-se  tirado  vanlagens  dn  inethoilo 
porhuiuez.  Alii  da-se  uni  conjuncto  de  cir- 
cunisiancias,  que  nao  se  diio  em  alguma  ou- 
lia  parte,  iiem  e  possivel  que  se  deem;  e 
comtudo,  (|uando  falta  superior  iiUelligeucia, 
e  evtremado  disvello  da  |)arle  dc  quern  ensi- 
na,  as  vantagcns  do  metliodo  sao  nullas, 
c'omo  estao  provando  as  escliolas  dc  alguns 
dos  mcsmos  asylos. 

2."  Por(|ue  deseonsidera  os  professores,  por- 
quanto  obrigando-os  a  cantar,  a  bater  as 
l)aimas,  e  como  (jue  a  I'azer  esgarcs  para  hem 
exprimirem,  eanlando,  os  dilVerentes  valores 
de  algumas  letras  etc.,  quando  aeconteoe  que 
0  professor  e  de  ligura  desastrada,  ou  defor- 
me  de  rosto,  ou  tem  dcfeilo  na  bocca,  ou  na 
toada  desafina,  o  expoe  a  mofa,  c  ao  riso  dos 
disci|mlos.  E  certo,  em  todo  o  caso,  que  a 
pouca  edade  ousa,  dcseuvoita,  o  que  nao  deve, 
e,  como  vulgarmente  se  diz,  loma  confianca 
demasiada  e  inconveniente  com  quem  com 
clla  como  que  se  desenfada;  e  e  certo  egual- 
mente  que  nao  fica  facil  ao  professor,  que 
necessariamente  ha  de  usar  de  taes  meios 
para  clicgar  ao  seu  fim,  manter-se  com  a 
gravidade  propria  e  indispensavel  de  quem 
ensina,  e  cdnca.  Observam  que  d'aqui  nasceu 
certo  ridiculo,  lancado  por  ventura  injusta- 
niente  sobre  o  metliodo  porluf/uez,  mas  que 
muito  oprejudica,  porque  d'aqui  vem  as  iras 
contra  elle  erguidas  de  grande  numero  de 
educadores,  e  dc  paes  de  familia. 

3/  Porque  sao  menos  promptas  de  gra- 
var-se  na  mcmoria,  c  menos  eslaveis  as  im- 
pressoes  ohtidas  por  este  metliodo.  Menos 
promptas,  porque  a  duplicacao  dos  signacs, 
e  a  apreciacao  dos  sens  valores,  a  comhina- 
fao  dos  elemcntos,  e  a  sua  decomposicao, 
operacOcs  indispensaveis  'nestc  methodo  de 
leitura,  dependem  de  processos  niultiplicados, 
que  sao  raras  vezes  apprelicndidos  devida- 
mcnte  pclas  criancas,  na  idade  em  que  se 
dedicani  a  leitura;  ou,  ([uaudo  mesnio,  sc 
tenha  so  attencao  a  toada,  ([ue  mechanica- 
mente  ih'os  imprimc  na  menioria,  nao  cahc 
na  diligencia,  i|ue  costuma  empiegar-se  geral- 
mcnle,  conseguir  que,  dada  eiiual  cjjicacia  da 
parte  do  professor,  c  egual  intellif/encia  e  bda 
voiitade  da  parte  do  discipulo,  csta  venca  em 
menos  tempo  niaior  trahalho.  Menos  estaveis, 
porque  a  atlencao  mais  dividida,  e  quasi  que 
so  arrastada  por  mero  desejo  de  cntreleni- 
mento,  nao  pode  tomar  senao  nocoes  niuilo 


supcrficiaes  dos  objeclos.  Conchiem  que  d'aqui 
rcsulta.  que  as  criancas,  ensinadas  por  este 
metliodo,  iropccam  a  cada  jiasso,  (piando, 
aiiida  nao  insiruidas  coiii|deiameiite,  e  cm 
taiito  tempo  quanto  fora  necessario  para  as 
ensinadas  pelo  moihodo  actual,  sao  constran- 
gidas  a  ler,  desajiidadas  do  canto  a  que  sc 
avezaram,  c  que  Ihes  serve  conio  de  anda- 
dciras. 

4."  Porque  e  nimia  a  facilidade,  com  ijue 
por  este  methodo  as  crianfas  adiiuirem  ile- 
I'eitos,  ao  depois  difliceis  de  extirpar.  Advcr- 
tem,  ipie  para  assim  o  convencer  bastani  ler 
coiita  aos  dcfeitos  de  proniinciu,  de  cadencia, 
e  de  gestos  com  o  rosto.  Os  primeiios,  por 
que  niuitas  vezes  o  professor  niio  da  com 
exactidao  aos  signacs  os  valores  ipie  Ihes  per- 
lencem,  o  que.  succede  quasi  inevilavelmenle 
por  vicio  palrio,  por  impcrfeita  construccao 
do  orgao  da  voz,  por  menos  cuidada  cduca- 
cao.  Os  segundos,  porque  as  criancas,  habi- 
luadas  a  cadenciar  o  que  lecra  ou  repetem 
de  cor,  conservam  por  largo  tempo,  e  so  a 
custo  pcrdem,  como  ensina  quotidiana  cxpe- 
riencia,  o  sestro  de  cadenciar  toda  a  sorte 
de  leitura  mais  ou  menos  fortemente.  Em 
fun  OS  gestos  com  o  rosto,  por  quanto,  ou  por 
neccssidade,  ou  por  hrinquedo,  tao  natural 
'naquellas  edades,  observa-se,  que  as  criancas 
raraniente  deixam  de  os  fazer  ou  iraitar, 
quando,  ohrigados  pelos  exercicios  proprios 
do  methodo,  estao  entoando  ou  cantando. 
Taes  geitos  ou  esgares  tornam-se  com  fre- 
quencia,  apezar  de  quanto  o  professor  possa 
opp6r-se,  inveneiveis,  e  para  lastimar  na 
maior  edade  Notam  que  no  methodo  actual 
so  0  primeiro  d'estcs  dcfeitos  piide  vingar, 
porem  so  ale  certo  ponto,  e  por  isso  menos 
pcrigosamante. 

3/  Por([ue  destroe  a  orthographia  etymo- 
logica,  geralmcnte  adoptada  por  todos  os  lit- 
teratos,  e  rccebida  com  leves  alteraroes  no  use 
conimum.  Ponderam  ser  esta  uma  conscquen- 
cia  necessaria  do  methodo,  c  que,  com  quan- 
to 0  seu  illustre  auctor  diga  que  a  sua  ortho- 
graphia e  natural  e  logica,  e  ohvio  com  ludo 
i|uao  grande  Iraustorno  litterario  viria  tra- 
zer-nos,  por  quanto  ou  nos  impOe  como  re- 
gras  OS  vicios,  a  ignorancia,  e  o  capricho  dc 
quem  escreve,  ou  para  cvitar  anarchia  tao 
absurda,  seni  preciso  crear  rcgras  de  muito 
maior  difliculdade  do  que  as  da  orthogra- 
phia etymologica.  Ponderam  alein  d'isso,  que 
e  facil  de  dcmonstrar  com  evidcncia  a  repu- 
gnancia  da  nova  orthographia  com  a  indole 
da  lingua  portugueza,  que  nao  jiode  renegar 
as  do  que  descende  sem  que  se  transforme 
'numa  algaravia  inintelligivel.  Ponderam  ain- 
da  que  a  nova  orthographia  difliculta  o  estu- 
do  das  linguas  eslranhas,  antigas  e  moder- 
nas,  com  as  quaes  a  orthographia  etymolo- 
gica tern  cvidente  afTiuidadc.  E  ponderam 
linalmente,  que  nao  c  possivel  que  deixem  de 


175 


fazer  foroa  ao  homem  dcsprcocupado  os  peri- 
gosos  resnltados,  no  futiiio,  de  tao  infundada 
iiinovaoao,  scndo  que,  dcniro  era  pouco  se 
haveria  mister  trasladar  todos  os  livros  ate 
liojc  escriptos  para  podi'rem  ser  iiitendidos. 

()/  Porque  nao  ensina  a  cserevor.  Itrfle- 
i-tem,  que  estc  defeito  do  iiietliodo  portuguez 
e  irremediavel,  porque  nao  I'azendo,  como 
nao  faz.  uso  alguni,  para  I'orraar  as  syllahas 
senao  das  letras  que  fallani,  deixa  os  aluranos, 
que  por  elle  aprendeni,  eui  eompleta  ignoran- 
lia  das  origens  ;  dc  sorte  que  tendo  por 
elle  aprendido  a  ler,  precisani  de  por  oulro 
aprcnder  a  escrever;  ou  os  expOe  a  coramet- 
ler  grosseiros  crros,  corao  teni  accontecido  a 
aluninos  ensinados  pelo  proprio  auctor,  e 
nao  e  possivel  que  deixe  de  accontecer  goral- 
nientc. 

7.'  Porque  nao  tern  dado  o  methodo  portu- 
guezdiscipulos,  que  se  extremem  por  sua  avan- 
lajada  perleieao.  Notam  que  se  evidencea  este 
I'aeto  pelo  resgisto  dos  exaines  fcitos  nolyceu, 
e  pelo  que  largamente  consta  das  escliolas, 
onde  por  elle  se  esta  ensinando.  E  lembram 
(\ue  nem  o  collegio,  que  foi  dirigido  pessoal- 
mente  pelo  auclor  do  methodo  inculcado,  al- 
oancara  acredilar-se  'nesle  conceito,  pois  que, 
pelo  contrario,  nao  pode  manter-se,  e  cessou 
de  lunceiouar  desapercebido. 

8."  Porque,  solire  as  razoes  apontadas, 
augmenta  as  despezas  do  eslado,  c  dos  parti- 
lares,  e  d'este  raodo  difficulta  a  instruccao 
geral,  que,  alias,  cm  proveito  commum,  deve 
I'acilitar-sc  quanto  lor  possivel.  Os  exercicios, 
a  que  este  methodo  ohriga  os  professores  e 
alumnos,  tornara  indispensaveis  para  as  escho- 
las  varios  utensilios,  que  devem  ser  pronipti- 
(icados  pelo  estado,  pois  que  seria  injusto 
impor  este  onus  aos  professores  tao  mesqui- 
nhamente  reniunerados;  e  traz  a  necessida- 
de,  para  os  alumnos,  de  conipendios  unifor- 
mes,  por  quanto,  se  o  nao  forem,  nao  pode 
o  mctliudo  practicar-se.  Mas  quem  ha  de  pa- 
gar  estes  conipendios,  que  todavia  nao  dispen- 
sao  OS  de  doutrina  ehrista  e  outros?  11a  de 
o  estado  mandar  distrilmil-os  graluitamente 
em  todo  0  reino,  ou  hao  de  os  alumnos  com- 
pral-os  a  sua  custa?  Na  primcira  hypotheso, 
ipiao  nuiilo  suhira  a  despeza  com  a  instruc- 
cao primaria,  sem  comtudo  ficarem  suppridas 
suas  mais  urgentes  necessidades!  Na  segun- 
da,  grande,  muitissimo  grande  nuniero  dc 
alumnos  licarao  sem  aprender  cousa  alguma. 
porque  nao  possueni  os  meios  de  haver  esses 
conipendios. 

Oniitto  oulras  objeccOes  de  dilTerentes  pro- 
fessores contra  a  adopcao  do  methodo  portu- 
guez,  por  consideral-as  de  menos  monta  com 
quanto  nao  sejam  de  nenhuma  sorte  para 
que  totalniente  se  desattendani.  As  que  deixo 
substanciadas  julgo-as  dignas  de  sereni  tidas 
em  conta.  Confesso  que  algumas  d'ellas  me 
fazem  pezo,  porque,  supposlo  possam  por  Ven- 


tura altenuar-sc,  nao  foram  com  tudo  ale 
hoje  cabalmente  destruidas. 

Por  ultimo  convirii  fazer  mtiilo  reparo  em 
(|ue  0  di'sleixo  dos  jirofessores,  quaiido  adopta- 
do  0  methodo  poliii/uez,  ha  de  tornar-se  mais 
prejudicial  a  niocidade,  do  que  proseguiiidn- 
se  no  methodo  actual,  nao  so  |iorqu(;  re(|ucr 
aquclle  muilo  grande  zelo  e  diligencia,  a  lim 
de  (|ue  se  nao  convertam  as  que  seu  auclor 
(|uer  que  sejanr  vantagpns  em  tropeco  c  re- 
niora,  mas  tamhem  para  evitar  que  nascani  c. 
medrcm  vicios  ao  depois  talvez  iuexlirpaveis. 
E  acaso  c  este  grave  senao  do  inculcado  me- 
thodo, pois  que,  em  geral,  de  professores  tao 
nial  galardoados,  quaes  sao  os  da  instruccao 
primaria,  ha  antes  a  temer  a  incuria,  do  que 
pode  contar-se  com  o  desvelo. 

Agora  porera  cumpre-me  declarar,  que, 
rigorosamentc  imparcial,  assim  como  nao 
passei  em  silencio,  nem  enliaqueci  as  ohjec- 
coes,  com  que  vejo  conibatido  o  methodo  por- 
tuguez,  assim  tamhem  nao  dcvo  hesitar  cm 
por  patenle  o  juizo,  que  lenho  assentado  nas 
ponderacOes  dos  professores,  que  o  defendem, 
c  na  minha  propria  ohservacao.  Direi  pois, 
que  no  methodo  portuguez,  considerado  cm 
si  mesmo,  se  me  affigura  desdc  logo  achar-se 
quanto  pode  ser  essencialmentc  necessario 
para  se  satisfazer  ao  que  parcce  dever-se 
mais  descjar,  a  fim  de  se  obterera  nas  escho- 
las  primarias  resultados  vantajosos  no  ensino 
da  leitura,  principalmente  com  respeito  ii 
condicao,  muito  para  ter-se  em  conta,  da 
economia  do  tempo.  Accrescenlarei  tamhem, 
que  descendo  do  conceito  theorico  a  applica- 
cao  ellectiva,  tenho  para  mini  que  a  divisao 
do  alpliabeto,  a  distinccao  das  artieulacoes, 
as  regras  para  os  sons  variantes  das  letras, 
e  por  ventura  alguns  outros  meios  adoptados 
pelo  methodo  portuguez,  sao  melhoramentos 
reaes,  e  de  vantagein  incontestavel  para  os 
sens  alumnos.  0  scrio  exanie,  a  que  lenho 
procedido  nas  escholas,  onde  se  esta  ensi- 
nando com  maior  proliciencia  por  este  metho- 
do assim  mo  tem  evidenciado;  e  assim  tam- 
hem 0  hao  rccoiihecido  alguns  professores 
'que  todavia  prefcrem  o  methodo  actual)  os 
ijuaes  nao  duvidaram  acceitar  estes  nielhora- 
nienlos,  c  os  estao  praclicando,  e  recolhendo 
jii,  scgundo  me  iuformam,  excellente  fructo. 
Uo  que  lica  exposto  julgo  que  posso  concliiir 
i|ue  n3o  se  apresentam  razoes  bastantes,  nas 
ipiaes  baja  de  fundamentar-se  a  coudemna- 
ciio  do  methodo  portuguez,  como  ha  quem 
pretenda ;  mas  que  tao  pouco  por  ora  se  dao 
as  que  se  precisam  para  haver  de  ser  adopta- 
do  exclusivameiUe,  corao  seu  illustre  auctor 
parece  desdc  jii  desejar. 

E  por  tanto  minha  opiniao,  que  convem 
que  OS  ensaios  continueni,  a  lira  de  (|ue,  me- 
Ihorado  progressivamente  quanto  o  possa  ser 
0  methodo  portuguez,  e  aperfeicoados  com  a 
reflexao  e  a  practica  os  professores,  que  to- 


176 


mareni  a  si  ensinar  conformc  a  die,  se  tnrne 
geral  a  conviccao  da  sua  maior  vantajjom 
sobre  0  metlioilo  actual,  e,  deslriiidas  proN en- 
roes,  c  liradas  diividas,  veiilia  formal  doscii- 
gaiio  ou  assogurar-llie  o  liiuniplio,  (|ue  sen 
ilhistre  aiiolor  Hie  vaticina.  on  de  coiivencel-o 
de  mcnos  util.  e  por  ionsef,'uinte  inado|)lavcl. 
Seiilior,  tcriDina  aqui  o  mcu  rolalorio.  Niio 
disiursei  ao  som  dn  lapriclio,  conio  sem  dii- 
\Uh\  era  niais  osieiiloso.  e  lambem  de  cerlo 
niuilo  luais  I'acil.  Oecupei-mc,  cm  coiironiii- 
(lade  da  lei,  do  (iiic  julgo  scr  de  mellior  pro- 
veito,  de  maior  iirgeneia,  e  de  niio  dillicil 
execurao.  Tomei  por  este  caininlio,  porqiic 
leiilio  para  miin  que  val  mais  cmciular,  do 
i[ue  deslruir  sem  certeza  de  poder  reedilicar. 
Se  as  propostas  de  lei  e  projeclo  de  decreto, 
que  tenho  a  lionra  de  apresentar  a  V.  M. 
t'orcm  adopladas,  serao  grandes,  e  indisputa- 
veis  as  vaiilagens  para  a  iustruccao  primaria, 
0  para  a  instruceao  secundaria;  se  o  nao  fo- 
rem,  restar-nie-lia  a  consolacao  de  ler  cum- 
prido  0  meu  dever,  e  desencarregado  a  mi- 
nlia  fonsciencia. 

OCommissario  dosEstudos, 

[).   JOSE  M.    DA.   A.   COllREA   HE  LACEHIIA. 


TRIBUNAES   INGLEZES. 

Os  Irihunaes  inglezes  podem  dividir-se  cm 
quatro  cathegorias:  1.°  os  tribunacs  de  lei, 
c  OS  d'equidade:  2."  os  ecclesiafticos,  milita- 
res,  e  maritimos;  3.°  os  criminaes:  4.°  os 
que  tern  jurisdiccao  especial. 

Os  tribunacs  de  lei,  ou  de  direito  munici- 
jjal  julgam,  como  o  sen  nome  indica,  scgundo 
as  praclicas  e  arestos,  conservados  na  lem- 
branca  dos  juizes;  e  nos  casos  duvidosos  recor- 
rem  as  decisOes  judiciarias,  que  cm  circum- 
stancias  analogas  tem  sido  proferidas  peios 
nutros  tribunaes,  e  que  existcm  arcliivadas. 
\  este  respcito  a  Inglaterra  esta  ainda  no 
ponto  em  que  se  acbava  a  Franca  ba  quatro 
seculos,  c  nos  ba  mais  de  dois  scculos,  antes 
da  publieacao  oflicial  dos  arestos  e  assentos 
dos  tribunaes.  Esta  phrase,  ba  muito  banida 
cm  Portugal  e  Franca  "  que  eu  me  lembre 
como  juiz,  nao  vi  nunca  caso  similliante;  » 
e  nuii  I'requente  ainda  bnje  no  foro  inglez. 

Os  tribunaes  de  direito  municipal  sao  os 
mais  importantes  de  Inglaterra,  e  conbccem 
dos  mais  graves  ncgocios  civis.  Dividem-se 
dies  em  duas  intrancias,  superior  e  iul'erior; 
a  jurisdiccao  d'esta  e  local;  sao  as  junctas  ou 
tribunaes  de  coiulado.  A.  aucloridade  dos  tri- 
bunacs de  intrancia  superior  estendc-se  a  todo 
0  rcino;  sao  os  Ivilmiuies  do  banco  da  rainha, 
o  tribunal  des  plaids  commuiis^  e  o  tribunal  de 
cant  as. 


0  baiiro  da  rainha  e  um  tribunal  supremo 
de  direito  municipal,  e  cxercila  nma  acrao 
liscal  sobre  todas  as  jurisdiccOes  iid'eriores; 
vela  pela  liberdade  dos  cidadaos,  e  conhecu 
de  todos  OS  negocios  civis  c  criminaes. 

0  tribunal  des  plaids  communs  conhece  dos 
ncgocios  civis,  e  particularmcnte  das  accoes 
sobre  posse  dc  bens  c  contractos. 

A.  jurisdiccao  do  tribunal  de  contas  nao 
se  cstendia  alem  dos  ncgocios  relatives  as 
rendas  piiblicas,  porem,  boje  conbece  tambem 
dos  mesmos  negocios  que  o  tribunal  des  plaids 
comniiins.  Das  decisoes  ou  scnlencas  d'estcs 
tribunaes  superiores  ha  rccurso  de  revista 
para  o  Iribnnai  da  uteza  da  fazenda,  compnsto 
dc  juizes  de  todos  os  quatro  tribunaes  supe- 
riores. 

Nos  negocios  levados  perante  os  tribunaes, 
ou  relacOes  de  condado  a  intervencao  do  jury 
e  facultaliva;  mas  perante  os  tribunaes  supe- 
riores todas  as  causas  civeis  devcm  ser  jul- 
gadas  por  um  jury  de  doze  jurados,  prcsidido 
por  um  magistrado  dos  ditos  tribunaes. 

0  direito  municipal  da  lugar  algunias  vczes 
a  graves  diHiculdades  de  intcrpretacao,  c 
outras  questoes,  cm  que  e  completamente 
ommisso.  'Ncstes  casos  a  dccisao  e  commct- 
tida  aos  tribunaes  d'eijuidade. 

Estes  sao  compostos  do  lord  Chanccller,  dos 
lords  juizes  d'appellacao,  e  dos  trcz  vice- 
cbancellercs.  Emiim  a  caniara  dos  pares  e  o 
tribunal  supremo  para  onde  se  pode,  cm 
ultima  instancia,  recorrer  das  decisOes  de 
todos  OS  outros  tribunacs. 

Em  cada  diocese  ba  uma  relacdo  ecclesiaslica 
que  leni  especial  jurisdiccao  sobre  o  clero; 
mas  conhece  lambem  das  causas  sobre  an- 
nullacao  de  matrimonios  c  veribcacao  de  testa- 
nientos.  Das  sentencas  d'estas  relacocs  ha  ap- 
pellacao  para  o  tribunal  dos  delerjudos.  As 
relacoes  dos  arcebispados  de  Cantorbery  e  de 
York  tem  o  titulo  de  tribunaes  dc  prcroi/atira. 

Dos  tribunaes  da  niarinha  o  mais  inipor- 
tante  e  o  conselho  do  almirantadu,  que  ro- 
nbece  dos  delictos  commcttidos  no  mar,  dos 
naufragios  e  da  rcjiarticao  das  [)rezas  ma- 
ritimas. 

Das  relacocs  ecclesiasticas  e  do  conselho 
do  almirantado  pode  recorrer-sc  para  a  com- 
niissdo  judicial  do  conselho  pricado  da  rainha, 
composta  de  lord-chanceller,  dos  presidcntcs 
dos  tribunaes  de  direito  municipal,  dos  lords 
juizes  d'appellacao,  dos  juizes  do  conselho  do 
almirantado,  e  dos  tribunaes  dc  preroga- 
tiva. 

Nos  negocios  criminaes,  o  tribunal  do  juiz 
de  paz  e  a  primeira  intrancia;  a  este  seguem- 
se  OS  tribunaes,  que  todos  os  trez  mezes 
celebram  as  suas  sessOes  em  cada  condado; 
e  OS  que  as  tem  pelo  menos  duas  vczes  no 
anno;  eslas  relacoes  ou  juntas  siio  em  Franca 
designadas  com  o  nome  de  tribunaes  d' as- 
sises. 0  tribunal  central  criminal,  conbece  dos 


£w  1* 


LiiU.  cia  Irppr  <id  liriiv 


Esti* 


Ksl.  I'f 


177 


crimes  e  dolidos  commetlidos  cm  Londrcs  e 
nos  sens  suburbios,  e  faz  as  suas  sessoes  uma 
vcz  mcnsalmente.  Todos  os  negocios  sao  «iib- 
mellidos  a  um  jury  de  doze  jurados,  ciijas 
dccisoes,  para  serem  validas,  devem  ser  to- 
madas  por  unanimidade  em  Inglaterra  e 
Ii'landa,  e  por  maioiia  na  Escocia. 

Entre  os  tribunaes  que  tcni  jiirisdicTao  espe- 
cial deve  mencionar-se  o  da  bauca-rOtu,  que 
conhece  das  falienoias. 

Ua  viiUe  annos  que  a  legislaeao  ingleza 
tern  tido  grandes  relormas.  As  leis  sobrc  a 
admissao  dosestrangeiros  aogozo  dos  direitos 
tivjs  e  poiilii'os,  a  legislarfio  das  palentes  de 
nova  invencao,  das  sociedades  industriaes  e 
commerciaes,  das  rallcncias,  dos  naufragios, 
das  successOes  testameiUarias  e  outias,  leni 
sido  ulliraamente  revistas  e  alteradas  cm 
diversos  ponlos.  Fora  dc  Inglaterra  eram 
porem  quasi  desconhecidas  estas  novas  pro- 
visoes, porque  a  ultima  edirao  I'ranceza  dos 
Commenlarios  de  Blakstone,  que  e  o  livro 
onde  se  acbara  meliior  compillados  os  prin- 
tipios  do  direito  inglez,  foi  publicada  em  1822. 
0  Vroil  anglais  de  Laja,  cxtraido  da  obra 
de  Blalkslone,  e  do  The  Cabinet  Lawyer,  li 
mui  superficial,  e  nem  sempre  muito  exacto. 
0  Code  des  etrangers  en  Angleterre  por  Baron, 
e  OS  Droits,  privileges  et  obligations  des  etran- 
gers por  Okey,  sao  mais  exactos,  mas  nao 
Iractam  das  leis  commerciaes. 

Era  portanto  muito  para  desejar  uma  obra, 
que  resumisse  os  principios  mais  importantes, 
e  as  regras  mais  usuacs  da  legislaoao  ingleza 
no  seu  eslado  actual.  Fclizmente  M.  We.sloby 
acaba  de  pubiicar  um  resume  da  Icgislacao 
ingleza  para  uso  dos  estrangeiros ',  ao  par 
das  suas  ultimas  relormas,  e  que  se  recom- 
menda  pela  clareza  e  exactidao  com  que  Iracta 
todas  as  materias. 


NOTICIAS  LITTERARIAS  E  SCIENTIFICAS. 

TelCKrnpliia  oleoli-ica.  Dcsde  1844,  om 
que  se  eslaleleceram  cm  Franoa  os  telegraphos 
t'leclricos,  ale  ao  (im  do  anno  de  1854,  esta\am 
em  exercicio  9:180  kilometnis  dc  fios,  dos  quaes 
4:500  seguem  a  direcrrio  das  liiihas  de  caminlio 
de  fcrro,  e  os  reslantcs  as  estradas  ordinarias. 

.\iirornN  IiorcacM.  Toda  a  mudanra  dc  estado 
dos  corpos  da  logar  ao  dcsciuolvimciUo  ou  troca 
das  clectricidades.  A  coiiversao  da  agua  das  nuvcns 
em  neve,  sendo  uma  mudanra  de  eslado,  poderia 
lalvez  altribuir-se-lhes  a  |iliuspliiiresccncia  das  nu- 
vens  no  memento  em  que  enlram  nas  regioes  frias, 
quando  as  vesiculas  aquosas  abandonam  o  seu 
calor  latcnte,  para  pas.sar  ao  estado  de  palhetas 
de  gelo  cristalisado.  E  lalvez  a  reunifio  d'eslas 
sintillas   debaixo    da   forma   de    raios   ou    traros 

'  Reiume  de  l<-j,'islalion  aii^la^e  en  maliere  civile  el 
commerciiile,  a  I'lisage  des  elrdiigcis;  par  W.  X.  S. 
Westoby,  1  vol.  ».»  Paris. 


luminosos,  de  logar  a  esses  fulgores  silenciososi 
a  esses  aaos  luminosos,  queconslituem  as  auroras 
boreacs.  'Nesle  caso  nao  scria  difficil  cxplicar  a 
ligacSo  d'esles  phcnomenos  electricos  com  os 
desvios  da  bussola,  e  a  perturbarao  dos  eleelro- 
niclros.  \  verifica^ao  de  um  so  facto  baslaria 
para  lornar  incontestavcl  esta  hypothesc  de  M. 
Jobard.  Era  preciso  verificar,  se  as  auroras  boreacs 
apparecem  quando  o  venlo  leva  as  nuvens  para 
OS  polos,  c  se  dcsappareccm  quando  os  ventos 
sopram  em  direccao  opposta. 

:\"ovo  pinnetn.  No  mesmo  dia  c  quasi  a 
mesma  bora  cm  que  Goldschmidt  obscrvara  em 
Pans  um  plancla,  de  que  ja  demos  nolicia  no 
numero  antecedcnte,  descobria  M.  Lulhero  cm 
Bilk  outro  planeta,  cuja  posicao  differe  muito  da 
do  planeta  obscrvado  por  Goldschmidl,  porque  a 
dcclinacao  d'um  e  austral,  e  boreal  a  do  outro- 
assim  como  sao  diversas  as  suas  asceneoes  rectas' 
O  planeta  observado  por  Lulhero  fica  sendo  o  .37  » 
dos  pequcnos  planetas  com  o  nome  dc  Fides  ■  o 
dc  Goldschmidt  leve  o  nome  de  Alalante. 

Camlnl.o««    de    Co,ro    own    exploiacao 
em  diverNON  paixcN: 

Estados-Unidos 34:640 kilometro. 

Inglaterra 12:460         „ 

AUcmanha 8:712         » 

^""ta '..'.'.'.'.'  4^500 

America  Ingleza  .  ..T.  ..  .  2200         » 

1"^^'"^ '.  2^000 

}^"f*"> 679 

i"^""-: 578         . 

ilespanha   ^gg 

Sardcnba 3gY 

i'"^'\ .■.■:.■:.■.:.■:    lei    i 

fsyp'" 144     „ 

auecia jgi 

America  do  Sul gg 

Panama gg 

Binamarca g^ 

Portugal .',,'  72         " 

A''™^   40 


RELACAO 


Dosmilanduos  nomeados  para  differentes  logarc 
d  instrucrao  piiblica  por  dvspachos  do  Comelhn 
superior  dinstrucfao  publica  dcsde  o  dia  I  ' 
ale  1o  d'outubro. 


INSTRDCglO    PBIMAHIA. 

Antonio  da  Cruz  Araujo  e  Moura,  para  pro- 
fessor temporario  da  cadcira  de  Sobrcposla  dislri- 
oto  de  Braga. 

Aiilonio  dos  Santos  Ferreira,  para  a  do  Bar- 
reiro,  dislricto  do  Lisboa. 

Joiio  Gomes  Barroquinho,  para  a  de  S.  Braz 
da  Granja,  districto  dc  Lisboa. 

Francisco  Pereira  Soares  da  Motta.  para  a  de 
Villa-Boa  de  Quires,  dislricto  do  Porto. 

Maria  Angelica  da  Cosla  Soulo-Maior,  para 
mcstra  temporaria  da  eschola  de  meninas  de  Villa 
Franca  de  Xira. 


irs 


1 

OBSERVACOES  METEOROLOGICAS  .  FEITAS  NO  GABIXETE   DE  I'UVSICA              | 

DA  L'MVEKSIDADE   DE  COIMBUA. 

Anno  tie 
1835 

=   « 

_    o 

H  5  S 

Pressao  atmospherica  ao  ineio  dia 

Kstddu  hy^Toiiielricu  da 
alniospliera  ho  nieio  din 

■^   'o 
z   o 
=    c 

ICslado  rio  cfn  e  do 
tempo  00  meio  dia. 

Mej  lie 

Ahnl 

Altura    bBio> 
melrica  *  o" 
tliciciliceii- 
ligradt. 

Tfn.io  do 
«apot  nqugio 
c^dtidouo  ar 

Press5o  do 
ar  seccu 

Gnu  J'humi- 
il<d,.     do    ;ir, 
rrpri-acnUndo 
por  \  o  Vila, 
do  dc  salura- 
t..o. 

Quantid,    de 
vapor  conlido 
i.|ii  mil  niciro 
rubico  d'ar 

DIas 

Oralis 
rentin. 

Millimelros 

Millimelros 

Millimflrus 

(iraniilias 

1 

11 

756,856 

7,076 

748, 9ao 

0  00 

8,042 

NO. 

Niiblailo.  Itom  teutpo. 

2 

12 

757,242 

0,405 

748,757 

0,01 

8,663 

NO. 

En.iibtrlo.  T.chuioso. 

3 

11 

757,861 

8,072 

749,789 

0,82 

0,242 

NO. 

Ntilil.    T.  cliuvisi'080. 

4 

U 

759,391 

8,111 

751,200 

0,03 

8,282 

NO. 

O  inesmo.  Ruj.  de  NO. 

5 

U 

758,230 

7,081 

750,349 

0,80 

8,017 

NE. 

O  nieanio.  Vi-nlorijo  e 

6 

11 

757,614 

7,484 

750,1. -J) 

0,76 

7,642 

NE. 

i-luna    por   iiilervallos 
Claro  e  limpo  B.  lemp. 

7 

1 1 ,5 

756,795 

7,215 

749,500 

0,71 

7.354 

E. 

O  niesmo.    O  mesmo. 

8 

12 

758,002 

7,288 

750,714 

0,69 

7,415 

SE. 

O  uiesino.    O  mesmo. 

9 

13 

758,441 

7,691 

760,750 

0,69 

7,798 

NE. 

Lig.  uiibl.  B.  tempo. 

10 

13,5 

756,806 

8,871 

747,935 

0,77 

8,979 

NO. 

Clar.  e  limp.  B.  lemp. 

U 

14 

753,957 

9,255 

744,502 

0,78 

9,351 

NO. 

O  raesnio.    O  mesmo. 

12 

14,5 

749,694 

10,686 

738,398 

0,87 

10,778 

O. 

Nublad.  T.  chiiviscos. 

13 

14 

749,144 

9,136 

740,008 

0,78 

9,231 

o. 

Eiicoberto  T.  cbiivoso. 

14 

13,5 

749,055 

8,071 

740,984 

0,77 

8,979 

NO. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

15 

12 

751,644 

8,763 

742,801 

0,84 

8,916 

NO. 

Nubl.  Ch.  por  inlerv. 
Trov.  no  Giii  da  larde. 

16 

13 

750,609 

8,729 

741,880 

0,78 

8,850 

E. 

Niibl.  Ch.  por  inlerv. 

17 

13,5 

749,7118 

8,469 

741,319 

0,73 

8,572 

E. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

18 

14 

748,866 

8,990 

739,876 

0,75 

9,083 

E. 

Nubl.  ('Ii.  por  iiiterv. 
Trov.  no  princ.  da  n. 

19 

14 

748,207 

9,493 

738,714 

0,79 

9,591 

E. 

Encob.  Temp,  cliuvos. 

20 

14,5 

748,803 

9,963 

730,810 

0,81 

10,049 

S. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

21 

15 

746,971 

9,843 

737,148 

0,77 

9,911 

E. 

Niiblado.  Bom  tempo. 

S'2 

15,5 

748,430 

10,501 

737,929 

0,00 

10,555 

SE. 

O  niesmo.  Al^um  Uq- 
to  cliuviseoso. 

23 

15,5 

750,457 

10,669 

739,708 

0,01 

10,721 

E. 

Nubl.  Ch.  delrovoad. 

24 

15 

753,812 

10,625 

743,107 

0,03 

10,698 

E. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

25 

15 

754,006 

9,949 

744,117 

0,78 

10017 

NE. 

Clar.  elirap.  B.  temp. 

26 

15 

752,545 

9,482 

743,063 

0,75 

9,547 

N. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

27 

15 

751,531 

8,305 

743,226 

0,55 

8,362 

NE. 

O  niesmo.    O  mesmo. 

28 

15 

751,479 

8,640 

742,1133 

0,6:l 

8,705 

NE. 

0  mesmo.    O  mesmo. 

29 

15 

752,545 

9,150 

743,:i95 

0,72 

9,213 

N. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

30 

15 

751,025 

9,618 

741,407 

0,76 

9,684 

NO. 

O  inesinu.  Tro> .  de  t 

do  niea  \ 

13,5             753,008 

0,77 

s 

TeinperaUn-a 

Pressao  at 

inospherifa 

(iriiu  (ritttii 

ida.-le  eh  tir 

^ 

oim 

I'tiilos  dominant. 

s 

Max.  absol.       15", 5 

.Max.    absu 

1.   759,391 

Maximo  .  . 

.   .     0,83 

n 

Min.  aLsol.      11" 

Minima.  . 

.  746,971 

.Minimo  .   . 

.    .      0,63 

NO    e  E. 

Max.  var.             4",5 

Max.  excur 

s.     12,420 

Maxim.i  ta 

ia;.     0, IH 

Coitu 

bra,  1."  de  Maio  de  18 

55. 

Jnio 

110  Sanches 

Goultio,  Dir( 

dor  do  Oal 

inele  dt 

Pliysica. 

DO  ACIIUOMATISMO. 

Cunlinuadu  de  pag.  16S. 

43.  Vcjamiis  =e  e  possivel  corrijfir  a  dispersao  dos  eleiiientos  do  raio  liitninojo,  resti- 
luindo-llies  o  parallflisriio,  por  iiieio  de  doii  prisma;. 

Se  considcrariiios  ansnios  d'incideiicia  lao  peqiienos,  que  sen!,  sen  x,  sen  (a  —  a?),  sene, 
scjam  seiisivoliiienle  pioporcioiiaes  aos  aicos,  as  equajoes  (1)  darao  i'=(n — Ija.  E  se  o 
raio  luniMioso,  di'pois  de  saliir  do  priaieiro  prisma,  encontrar  outro,  cujo  vertice  e^teja  col- 
locadfi  iiiversameiile  do  priiiic-iro,  leremos  o  desvio  final  D  :=(n  —  l)(i  —  (n'  —  I)  a' (5). 

Cliamaiido  pnis  v„  e  n,  ni  indices  de  rcl'iac^ao  de  dois  elemeiUos  luininosos,  por  exempio 
do  vjolelc  e  di>  encarnado,  para  que  esles  elcmentos  se  tornem  parulleios,  deverao  ser  eguaes 
OS  seus  desvios 

/>„  =  ;«. —  l)a  —  (7,',  —  l)  a,  D.^[n',—  l)a~(n',—  l)a<; 

n'        V,  —  V, 


o  que  da 


a       n\,  —  «  , 


O    acliromalismo    so    poderta    ser    perfeilo,    se    as    subslancias   dos    dois    prismas    fos- 

n    no 

sem    taes   que   a    rclagio ^  entre  as   dispersoes  dellas  fosse  a  mesma    para  todos  os 

elementos  do  raio  luminoso.  Nao  sendo  isso  possivel,  procura-se  ao  menos  recoiTip6r  os  ele- 
menlos  exlreinos. 

44.  Newlon,  em  resultado  das  experiencias  que  fez,  suppunha  que,  se  o  achromalismo 
linlia  logar,  o  raio  branco  emergenle  saliia  parallelo  ao  immergente,  isto  ^,  que  nao  podia 
liaver  achromalismo  sein  que   o  desvio  fosse  nullo. 

A  expcriencia  de  Newton  equival  a  suppor  que,  se  for  Lf^^D,,  tambem  sera 
D,  =  Dt^^o  ,  e  por  conseguinte  ' 

V,  —  1 TJj — 1  Vy  —  n'„       w„ — 1       n',  —  1 

ii',  —  1       n', —  l'        J).  —  n',       71.  —  1       n',  —  1' 

No  enlretanto  este  resultado,  que  Dollond  apresentou  a  Euler  ccmo  objecgao  contra  a 
ulilidade  das  suas  formulas  do  acliromatismo,  foi  depois  reconliecido  como  erroneo  pelo 
rnesmo  Dnilnnd.  [•',  consultando  uma  tal)ella  moderna  de  indices  de  refracjao  dos  elementos 
do  raio  luminoso  para  as  diversas  subslancias,  ve-se  que  ha  differentes  combinagoes  d'ellas 
propria?  para  dar  o  achromalismo. 

As  primeiras  d'estas  subslancias,  de  que  usou  Dollond,  foram  o  flint-glass  e  o  crown-glass. 

45.  Passemos  ao  achromalismo  nas  lentes,  em  virlude  do  qual  os  elementos  luminosos; 
se  devem  reunir  no  mesmo  foco. 

Em  duas  lenles  de  faces  convexas  para  o  objecto,  supposlo  o  objecto  inljnitamente 
distante,  e  chamando  x  a  dislancia  focal,  teriamos  (n.°  19) 

Por  tanlo  o  achromalisino  de  dois  elementos,  por  exempio  do  violele  e  do  encarnado, 
da  J-  =  J- 

(r>.  -r.)  (i  -  ^)  +  in'.  -  .' )    (2.  _  2_)  =  „, 

*     Corao,  na  mesiua  hypolhese  de  peqiienos  anffiilos  d'incidenciaf  e  chamando  r  an^ulo  de  refrac^So,   a  refrac^ao 
d'ura  raio  (piahpter  e  *  —  r  =  («  —  1)  r,  a  codcIusSo  de  Newlon  equival  a  suppur 

t  —  t'      r,         i'  —  r'„      r'f 
i  —  r/    rl~~  i'  —  t\  •    r7' 

Por  tantu  jiiigBoios  inexacio  suppor,  como  fazem  al^uns  auctorea  de  phjrsica,  que  o  resultado  da  ejperieticia  de 
Newton  equi\ul  a 


I  —  ry        I    —  1'  V  r  V  — ■  rv       «  —  ?> 

1 =^  —, r  ,  ou  a  — = 

«  — r,       1— r'    '  r-— r,       t  —  r. 


(la  qiial  se  lira  II     = 


ISO 


liic  ^/.;  —  /,',!-  li"  ^R  —  h' J  ^>.,  -«/./ 


Se  as  duas  lenles  t'oniiaiciii  uma  de  ijii.itio  \iJros,  dos  (jiiues  o  [iriiru'lro  >fja  convexo  , 
e  OS  oiitroi  ^ejam  concavos;  teiido  os  dois  do  iikIo  raids  e;,'iiai-s  para  sl-  iijii^lari'in :  a  formula 
precedenle  sera 


—  ( li  -'r  k' I  (,'■.  —  I'ti  -.-  li  I' 


46.  Ve-se  pois,  que  o  problema  do  acliromalismo  e  indeterminado  ;  mas,  como  nas 
cqua^oes  dos  feces  se  suppoz  oconciirsodos  raios  no  mestno  ponto  doeixi,  isiiip,  se  siippozerain 
as  superficies  das  lenles  infiiiilesiinas  a  respeito  das  espheras  respeclivas,  resulla  da  iiiexaclidao 
d'esta  hypotliese  umadupla  intluencia  d'eila  no  resullado  final:  poripie  o  n.'io  ser  iurtnilesitna 
a  superficio  d'uma  lente  produz  urn  erro  no  calculo  dos  focos  por  formulas  que  a  suppoe  tal; 
eo  erro  dofoco  d'uma  leiile  intlue^no  da  seguinle.  Doiide  resulla  que,'para  desUuir  ou  atenuara 

aberracaod'espbericidade,  seria  necessario  substiluir  succossivamenleasexpressoes  de  7-  e  r;-^ 

liradas  da  equa^ao  (1)  do  n.°  11,  e  egualar  a  zero,  ou  ao  menos  fazer  minima,  a  variagiio 
final  que  d'essaa  Variagoes  parliculares  resullaria  para  o  foco. 

Alem  d'isso,  quaiido  as  lenles  se  applicam  aos  oculos,  ba  limites,  eiitre  os  quaes  conrem 
que  se  escolba  a  grandeza  focal  x;  e,  escolbida  ella,  aexpressao  de  ar  e  mais  uma  condigao, 
a  que  os  raios  devem  salisfazer. 

Assira,  querendo  que  os  raios  dos  trez  priineiros  vidros  da  lenle  sejarii  eguaes,  e  que  a 
distancia  focal  lenba  uma  grandeza  a,  as  formulas 

„        -,      {n\~7,'.\  R  1  _  %i,  —  r><,—  \         v',—  \ 

~  /-.  —  »'. -2  (>»,  —  ,/./   u~  It  '*'      R'" 

deterrainarao  i?'"  e  R. 

Por  exempio,  em  uma  lenle  decrown  n.°  9  e  tliiit  n.°  13,  se  quizermos  que  a  distancia 
focal  soja  2™,  22,  teremos,  comparando  os  elementos  primeiro  e  septimn, 

n,  =  1,646660  n'.  =  1,671062 

n,  =  1,535332  «',  =  1,627749, 

47.     Cumpre  nolar  que  as  suppostas  equa(;oes 


I         v'   —  1 


.  -   I  n,—  i 


=  .1 


do  11.°  44  dariam  (u.°  45) 


1  f  1  I  /I  \    \} 

_  =   l„.-  1).   |-  _  -  +  ./   (^^  _  —y.  : 


exptessoes  que  so  poderiam   ser  eguaes  quando  o  (ossem   v,  en,,  o  que    nfio  pode    ser;   ou 

quando  fossem  nuUos  —  e  — ,  islo  e,  quando    a  direegao   final  de  cada   uni  dos   elementos 

fosse  parallela  a  primitiva. 

'Nesla  bypolhese  serla  pois  o  acbromatismo  incompativcl  com  o  desvio  dos  raios;  o 
que  concorda  com  oque  se  disse  no  n.°  44.  E  assim  devia  acconlecer,  porque  as  leutes  podeiii 
considerar-se  como  prismas  de  faces  infinilamenle  pcquenas. 

R.  B.   DE  SOlZi    PINTO. 


®  Jn0tituta, 


.lORlNAL    SCIENTIFICO     E     TJTTERAIIIO. 


EXPEDIENTE. 


A.ssigna-se  cstc  Jornal  em  Coimbia  no  Ga- 
Ijinetc  do  fnslilulo;  em  Lishoa  na  livraria  Jo 
sr.  Cobellos,  rua  Augusta  n."  2 ;  no  Porto  na 
do  sr.  Jacintho  A..  Pinlo  da  Silva,  rua  das 
Hortas  n."  14i;  em  Evora  na  do  sr.  V.  J.  da 
Gama,  collegio  de  S.  Paulo;  no  Pezo  da  Re- 
gua  na  do  sr.  M.  Mendcs  Osorio. 

Toda  a  corrcspondencia  franca  de  porte  sera 
dirigida  —  A'  liedamio  do  tnsliiiiio.  Coimbra. 

Prcco,  adiantado,  por  anno,  ou  24 
nuraoros,  francos  de  porte 1^440 

Por  semestre,  ou  12  numeros,  dictos       800 

Avulso 100 

Para  os  srs.  Assignantes  os  numeros, 
que  Ihes  faltarera  d'este  4.°  volume  se- 
rao  pcio  mcsmo  prcco  d'assignalura  an- 
nual,  ou  cada  um CO 

Os  exemplares  que  restara  dos  volu- 
mes I,  II  elll  d'este  Jornal  vendem-se, 
cada  um,  por 1$200 


tmim  SUPERIOR  DE  ICTRUCCAO  PljBLlCA. 

CONFERENCIA   ORDINARIA  DO  CONSELHO 
GERAL  EM  30  DE  OUTUBRO  DE  1865. 

Relalorio  ila  1.*  scceuo. 

Senhores:  Para  encher  a  obrigacao  que 
Ihe  irapoe  a  lei,  vem  a  primeira  seccao  do 
conselho  superior  de  instrucrao  piiblica  dar 
conta  do  estado  da  nossa  instrucfao  primaria 
no  anno  escholar  findo.  Sem  descermos,  po- 
rem,  a  particularidadcs  alheas  da  occasiao; 
e  sem  nos  deterraos  no  desenho  d'um  quadro, 
ja  de  ha  muito,  aos  olhos  de  todos  hem  pa- 
tente;  sera  este  relalorio  quasi  somenic  cir- 
cumscriplo  na  substancia  do  movimento  da 
nossa  administrarao  litteraria,  desde  a  ultima 
conferencia  geral  ate  hoje.  Assim  pelo  pro- 
prio  conhecimento  de  toda  a  gente,  como 
pelas  miudas  eontas,  que  haveraos  dado  or- 
dinariamente,  duas  vezes  por  anno,  ningucm 
pode  ignorar  ja  as  phases,  que  esta  parte 
Vol.  IV.  NovEMBBO  18- 


da  piihlica  instruccao  tem  suciessivamcntc 
apresentado ;  ninguem  de  boa  I'ti  nogar  o 
incremento  que  cm  nossos  dias  ella  tem  fon- 
seguido.  E,  de  feito,  quer  se  olhc  a  multi- 
plicarao  das  escholas,  quer  ao  alargamcnlii 
da  esphera  do  ensino,  ([uer  a  posse  de  -fon- 
vcnionics  livros  elementares,  quer  ainda  a 
facilidade  do  methodo  —  fuudanicntos  princi- 
paes  sobre  que  releva  assentar  o  grande  edi- 
ticio  da  instrucrao;  em  tudo  isto  se  vai  ma- 
nifestando  um  progresso  real;  scndo  cvidentc 
que,  'nesta  parte,  o  estado  da  instrucrao  d 
hoje  muito  maisagradavel,  do  que  outr'ora  foi. 
Mas  tambera  e  certo,  que  este  tao  precio- 
so  ramo  nao  tem  ainda  'nesta  nossa  terra 
florecido  e  fructiticado,  quanto  descjamos,  e 
quanto  e  mister,  para  que  a  civilisaeao  por- 
tugueza  se  eleve  ao  devido  grau,  e  para  que 
possa  hem  emparelhar-se  com  a  das  outras 
nacoes  cultas.  Se,  apostado  a  aplainar  a  in- 
fancia  o  caminho  para  a  sua  cultura  intelle- 
ctual e  moral,  tem  este  conselho  para  isso 
empregado  todos  os  raeios,  todos  os  esforcos, 
todas  as  providencias,  que  em  si  cabem;  se 
se  nao  ba  poupado,  nolle  e  dia,  a  pcsadas 
fadigas,  que  umas  as  outras  se  akancam  sem- 
pre:  innegavel  e,  todavia,  que  nniitas  e  gra- 
ves difficuldades  embargam  ainda  o  passo  ao 
melhoramento  desejado;  nem  elle,  todos  o  sa- 
hem,  podera  jamais  conseguir-se,  sem  o  con- 
curso  harraonico  de  varias  eircumstancias, 
sobremodo  difliceis  de  reunir. 

Tendo  percorrido  mui  rapidanicnte,  no 
curto  espaco  de  tempo  que  nos  fora  dado,  os 
relalorios  parciaes,  que  alguns  commissarios 
dos  esludos  ate  hoje  enviaram  a  sccretaria, 
achamos  que,  no  anno  findo,  o  estado  geral 
da  instruccao  primaria,  com  quanlo  nao  fos- 
se menos  hem  assomhrado,  ([ue  nos  annos 
anlcriores,  sentiu  ainda  muitas  d'aqucllas  ne- 
cessidades,  que  nos  relalorios  anlccedenlcs 
bavcmos  indicado ;  e  cujos  remcdios  nao  po- 
deram  produzir,  ainda,  um  I'ructo  plenamente 
salutar.  Senle-se,  e  por  muito  tempo  se  sen- 
tira,  apcsar  de  cada  dia  se  irem  creando  no- 
vas cadeiras,  a  necessidade,  sem  diivida  a 
maior  de  todas,  de  diffundir  mais  a  instruc- 
cao, pelo  menos  em  alguns  districtos,  onde 
muitas  freguezias  acham  fechada  ainda  esta 
primeira  porta  para  a  civilisaeao  dos  povos. 
(Onde  por  ventura  a  falta  d'escbolas  e  maij 
1855.  Nua.  10. 


182 


scnsivel,  como  rcpresenta  o  commissario,  e  no  I 
populoso  districto  do  Funchal,  que  so  possue 
14  escholas  priniarias;  quando  elle  pierisa, 
ao  menos,  de  37).  Para  aiiulir  a  csta  pri- 
nioira  necessidade,  que  mcios  o  conscllio  tp- 
iilia  eiiiprc'gado  e  proposto  ao  Uovprno  dc 
S.  M.  em  lodos  os  relatorios  o  inniimcravcis 
consullas,  superfluo  li  ropelil-o  agora,  depnis 
dc  lantas  vezes  o  liavernios  aqui  relaUulo. 
\ssim  deixaremos  agora  eiu  sileiieio  o  ciiiila- 
ddso  em])eiilio,  com  que  o  eonsellio  lia  couvi- 
dado  OS  municipios,  c  as  parocliias  e  as  con- 
I'rarias,  a  contriliuireni  com  o  que  possain 
para  ajudar  o  tliesouro  na  susteiilaeao  dos 
professores.  Nao  diremos  'neste  rclalorio  os 
esforcos,  que  elle  tern  t'eito  para  promover 
associacoes  de  beneficencia,  que  prestom  soc- 
corro  as  criancas,  que  por  sua  pobreza  nao 
podem  cursar  as  escliolas  piiblicas.  E,  se 
d'este  segundo  nieio  se  ha  colbido  muilo  cscas- 
so  I'ructo,  pelo  primeiro  varias  freguezias  lo- 
gram  ja  o  benelicio  da  inslruccao.  lias,  para 
que  0  resultado  podesse  responder  conipleia- 
mente  aos  nossos  descjos  e  cuidados,  fora 
necessario  que  alguns  d'aquelles  corpos  ti- 
vessem  maiorcs  posses,  e  que  outros  fossem 
animados  de  maior  zcio  e  palriotismo. 

A  par  d'esla  primeira  necessidade,  lamen- 
ta-se  a  falta  de  professores  idoneos;  'numa 
grande  parte  dos  exislentes  se  conhece  a  in- 
tapacidade,  'noutra  a  negligencia — dois  gra- 
ves estorvos,  que  encontra  o  desinvolvinieiito 
da  instruccao  primaria.  Poderia  romover-se 
0  primeiro  obstacuio  com  o  estabeiecimento 
das  escholas  normaes,  que  ainda  nao  pdde 
levar-se  a  cabo;  e  dando-se  aos  professores 
ordenados  mais  avultados,  o  que  tambom  e 
de  manifcsta  difliculdade.  Pode,  como  tcmos 
varias  vezes  dido,  diminuir-se  aqueile  segun- 
do mal  por  meio  d'unia  inspeccao  regular, 
continuada  e  vigilante,  a  qua!  nao  podem 
bem  desempenhar  os  commissarios.  Fora  tam- 
bem  de  summa  conveniencia,  (como  lembra 
0  sobrediclo  commissario  do  Funchal)  que  a 
lei  distinguisse  trcz  classes  d'cscholas  —  de 
(•idade,  de  concelho,  e  ruraes;  —  variando  a 
habilitacao,  o  trabalho,  e,  por  conseguinte,  o 
ordenado  dos  professores;  havendo  porem  uni- 
forniidade  d'cnsino  em  cada  classe. 

Outra  necessidade,  que  nao  pode  remediar- 
se  ainda,  c  a  de  cdilicios  jmblicos  para  as 
escholas,  cujo  exercicio  se  faz,  pela  maior 
parte,  nas  proprias  casas  dos  professores:  fal- 
ta esta,  que  as  camaras  municipaes  nao  tern 
querido  desviar;  havendo  muitas,  que  uem 
sequer  fornecem  aos  professores  os  moveis  e 
utensilios  indispensaveis.  Notam  mais  alguns 
relatorios  a  falta  de  frequencia,  ainda  em 
escholas  regidas  por  bons  professores;  e  nasce 
ella  ja  do  desleixamento,  ja  da  repugnancia 
dos  paes  ou  chefes  de  familia,  maiormente  dos 
que  nao  querem  arredar  os  filhos  dos  traba- 
Ihos  campestres  e  d'outros  servicos  raechani- 


cos. — Nao  lendo  ousado  ainda  lanjar  mao 
dos  mcios  compulsorios  prescriptos  na  lei, 
tem  0  couselho  reconinicndado  aos  parochos 
OS  meios  suasorios,  e  por  outra  jiarle  aucto- 
risado  os  commissarios  a  variar  as  boras  dos 
exercicios  cscholares,  sogundo  as  necessida- 
des  e  conveniencias  locaes.  Sendo  mui  copiosa 
a  colleccao  de  livros  elementares,  approvados 
por  este  tribunal,  e  cuja  lisla  vni  crescendo 
cada  anno,  escaceam  aos  meninos  pobres  os 
meios  de  haver  esses  livros;  d'ondc  resulta  o 
aicazamenlo  do  ensino,  ate  mesmo  por(|ue  a 
falla  de  unidade  nos  compendios  cmpcce  a 
simullaneidade  do  ensino.  Tainbem  esta  ne- 
cessidade deveria  achar  remcdio  nos  munici- 
pios, nas  parochias,  e  na  caridade  piiblica. 

Finalmente  acha-.se  ainda  a  falta  d'um 
syslema  d'cnsino  mais  perfeito,  mais  regular 
e  uniforme;  porque,  se  qualqucr  dos  melho- 
dos  ate  hoje  seguidos — o  simullaneo,  o  rau- 
tuo,  e  0  mixto,  —  leva  muita  vantagem  aos 
d'oulras  eras;  nao  ha  duvida  que  muito  se 
pude  melborar  e  aperfeicoar  o  systema.  E  c 
isto  0  em  que  tambem  os  cuidados  do  conselho 
tem  posto  a  mira.  E  porque  digamos  ludo  em 
resumo,  quatro  sao  as  necessidades  urgentes, 
a  que  de  prompto  convem  acudir — crear  escho- 
las normaes  para  formar  mestres;  melborar 
OS  vencimentos  dos  professores;  organisar  um 
systema  de  inspeccao  regular;  uniformar  nas 
classes  OS  livros  d'estudo.  Feita  esta  conquista, 
e  collocada  uma  eschola  juncto  ao  campana- 
rio  de  cada  parocbia,  maior  desinvolvimento 
se  podera  dar  a  este  ramo  de  instruccao,  in- 
troduzindo-lhe  o  ensino  practice  elementar 
em  sciencias  industriaes,  niormente  da  agri- 
cultura,  a  exempio  dos  povos  mais  illustrados 
da  Europa. 

Do  methodo  repentino,  dicfo  portuguez, 
nao  pode  o  conselho  ainda  formar  juizo  cabal 
e  seguro.  Com  (|uanto  a  maioria  dos  factos  o 
condemne,  e  os  cnsaios  feitos  era  trcz  escho- 
las do  concelho  de  Coimbra  Ihe  sejam  desfa- 
voraveis  todos;  quer  o  conselho  ainda  conce- 
der  ao  tempo  o  que  razoavelmente  Ihe  nao 
pude  negar;  tendo  em  attencao  o  imperio  do 
liabito  dos  metliodos  antigos,  a  reluctancia  do 
povo  contra  tudo  o  que  e  innovacao;  e,  mais 
que  tudo,  a  animadversao  que  stiscitaria  a 
indiscricao  dc  quercr  fundar  a  fortuna  do 
novo  methodo  sobrc  a  ruina  total  dos  outros. 
0  resumo  historico  dos  factos  e  resultado 
d'ensaios  por  dilTerentes  pontes  do  paiz,  ele- 
vado  ullimamente  ao  soberano  conhccimen- 
to  de  S.  M.,  por  si  falla;  e  mais  alto,  do 
que  0  podera  I'azer  este  relalorio.  Apparece 
agora  oulro  methodo  novo  de  cnsinar  a  ler 
e  escrever,  proposto  pelo  ja  mencionado 
commissario  dos  estudos  do  Funchal;  que 
parecc  muito  ingcnhoso,  filbo  de  muito  estu- 
do  e  seria  observacao,  assim  da  marcha  no 
desinvolvimento  do  espirito  humano,  como 
dos  methodos  de  ensino  ate  agora  seguidos. 


183 


0  conselho  aguarda  as  tabellas  practicas  d'este 
methodo,  para  o  fazcr  cnsaiar  convcnienlc- 
nienle,  e  apreciar  sens  resultados. 

Daremos  agora  o  resumo  dos  trabalhos  da 
sccfao  'neste  anno.  Di'[iois  da  rclarao  dos 
livros  elementares,  publkada  em  outuhro  de 
1864,  e  estanipada  no  Diario  do  Governo  de 
4  de  Janeiro  do  correiite  anno,  loram  por  csle 
tribunal  approvados  os  seguinles:  —  Florilei/io 
Ctassico,  por  Pedro  Diniz;  —  0  Amiga  dos 
Meninos  (parte  2.°),  por  Adriao  Forjaz;  — 
Calhecismo  da  Diocese  de  Coimbra,  pelo  mesmo 
auctor; — Selectazinlia  Classica,  pelo  GOffiiiiiiJ-' 
sario  d'Angra; — Resumn  da  Doutrina  Chrislu, 
pelo  professor  de  instruccao  primaria,  Joaquim 
Rodrigues  Loureiro. 

Foram  creadas,  'neste  anno,  niais  67  escho- 
las,  sendo  para  o  sexo  masculino  89,  para  o 
feminino  8.  Por  onde  o  numero  das  cadeiras 
piiblicas  no  contincnte  e  ilhas  e  hoje  de  — 
1:266;  das  quaes,  segundo  os  niappas  re- 
cebidos,  foram  1:029  frequentadas  por  30:501 
aluninos  ;  sendo  do  sexo  masculino,  pelo  ensino 
simultaneo  46: 2 IS,  e  [lelo  mutuo  1:660;  do 
feminino  2:626.  Faltando-nos  porem  ainda 
rauitos  mappas  estatistieos ;  e,  tendo  recebido 
sbmentelOrclatorios,  d'entreos21,  quedCTOnv 
entrar  na  sccretaria,  nao  e  possivel  apresentar 
exactamente  o  numero  dos  alumnos.  Ja  se  ve 
comtudo  que  excede  muito  a  60:000,  e  que  e 
superior  ao  do  anno  antecedente.  Dasescbolas 
particulares,  denominadas  —  de  academias, 
asijlos,  collegios,  instilutos,  lyceus,  mmiicipios, 
de  juncta  de  parochias,  de  confrarias,  de  le- 
gados,  aiem  das  pagas  pelos  chefes  de  fami- 
lias,  foram  no  anno  passado,  segundo  os  map- 
pas  cnlao  recebidos,  frequentadas  737  por 
19:989  alumnos;  pertenoendo  ao  sexo  feminino 
7:797  :  pelos  mappas  rccolhidos  no  eorrente 
anno,  teraos  ainda  so  430  escholas,  frequen- 
tadas por  16:879  alumnos,  sendo  do  sexo 
feminino  3.448. 

Expediram-se  pela  secretaria,  sobre  varios 
objectos,  como  —  crearao  e  transfereneia  de 
cadeiras;  transferencias,  jubilacoes,  aposenta- 
coes,  continuacoes  com  o  terco  raais  do  ordena- 
do,  reintegracoes,  exonerac oes  e  demissSes  de 
professores ;  sobre  methodo  d'ensino ;  sobre  edi- 
(icios  piiblicos  para  as  escholas,  e  outros  raais 
objectos,  119  consultas.  Despachos  para  pro- 
vimentos  temporarios  e  para  titulos  de  capa- 
cidade  203  ;  ordens  cm  portarias,  officios  c 
editaes  2:143  ;  em  cujo  numero  entram  duas 
portarias  circulares,  uma  aos  governadores 
civis,  para  intimar  todos  os  professores  publicos 
e  particulares,  para  enviarem  os  mappas  da 
frequencia  dos  alumnos,  sob  pena  de  suspcnsao 
de  vencimentos  :  outra  aos  commissarios  dos 
estudos,  sobre  a  formacao  do  jury  nos  exames 
de  instruccao  primaria,  como  preparatorio 
para  a  secundaria,  feitos  perante  os  mesmos 
commissarios  ,  segundo  o  art."  IS,  §.  unico, 
do  decreto  de  20  de  dezembro  de  18S0.  E, 


por  csta  substancia  do  pxpcdientc  se  podera 
i'ormar  alguma  idi^a  das  ladigas  do  conselho, 
que  continiia  a  desvelar-sc  no  mclhoramento 
da  instruccao  piiblica,  sob  a  protcccao  do  il- 
lustrado  govcrno  de  S.  M. 


UeDatorio  <la  S."  Morriio. 

Senhores:  0  diminuto  numero  que  havia 
no  principio  d'este  anno  lectivo  de  vogaes 
extraordinarios,  os  concursos  em  que  a  maior 
parte  d'elles  tivcram  dc  entrar,  c  a  passagem 
subsequente  de  quasi  todos  os  substitutes  ex- 
traordinarios a  substitutns  ordinarios,  fizeram 
com  que  nao  podessem  tcr  logar  'neste  anno 
as  conferencias  extraordinarias  da  2.'  seccao 
por  forma  regular,  e  com  que  se  paralysassem 
por  isso  OS  sens  trabalhos. 

Fizeram-se  porem  sempre,  duas  vezes  por 
semana,  segundo  prescreve  a  lei,  as  conferen- 
cias de  seccao,  e  por  ellas  foram  preparadas 
ol  propostas  para  creacoos  e  estabelecimentos 
de  cadeiras,  —  para  proviraenlos  do  logares 
de  commissarios,  de  professores,  e  emprega- 
dos  na  instruccao  secundaria,  —  para  jubila- 
coes, continuacao  no  servico  com  augmento 
de  ordenado,  transferencias,  exoneracoes,  etc. 
Alem  d'estas  propostas,  foram  feitas  e  dirigidas 
pela  2 .°  seccao  27  consultas  sobre  varios  objec- 
tos e  informes,  e  com  remessas  de  program- 
mas  e  regulamentos. 

Creadas  pela  carta  de  lei  de  12  de  agosto 
de  1834  a  cadcira  de  arithmetica,  algebra 
geometria  e  trigonometria  elementar,  e  de 
geographia  mathematica,  e  a  de  prineipios  de 
physica  e  chimica  e  introduccao  a  historia 
natural  dos  trez  reinos,  nos  lyceus  de  Lisboa, 
Coimbra  e  Porto,  tractou  o  conselho  pela  sua 
2."  seccao  de  occorrer  com  a  possivel  brevi- 
dade'^ao  sen  provimento.  Para  isso  propoz 
logo  a  S.  M.  que  o  professor  da  8.'  cadeira, 
que  fora  suppriniida  no  lyccu  de  Lisboa,  pas- 
sasse  a  reger  a  cadeira  analoga  das  novamente 
creadas,  o  que  S.  M.  houve  por  bem  approvar. 
Em  seguida  preparou  os  programmas  de  con- 
curso  para  o  provimento  das  cadeiras  acima 
niencionadas  cm  Coimbra  e  no  Porto,  pelos 
quaes,  depois  de  approvados  pelo  governo  de 
S.  M.,  se  abriram  logo  os  respectivos  con- 
cursos. Em  resultado  d'elle,  ja  foram  providas 
as  novas  cadeiras  do  lyccu  de  Coimbra,  e 
tambem  o  foi  a  de  arithmetica,  algebra,  geo- 
metria e  geographia,  no  do  Porto;  pendendo 
ainda  resolucao  de  S.  M.  sobre  a  consult;i 
d'este  conselho  para  o  provimento  alii  da 
outra  cadeira. 

0  conselho  fez  uma  consulta  a  S.  M.  sobre 
a  conveniencia  da  creacao  da  cadeira  de  prin- 
eipios de  physica  e  chimica  e  de  introducjao 
a  historia  natural  dos  trez  reinos  no  lyceu 
nacional  de  Ponta  Delgada.  S.  M.  dignou-se 
approvar  aquella  creacao,  ordenando  que,  para 


184 


satisfazpr  a  uina  iiidicacao  do  conselho,  cste 
lizessc  lima  rclacao  ilos  objectos  e  iiistiumcn- 
tos,  ciija  (iruvia  ac(niisii;ao  o  consellio  julgava 
upccssaria  para  quo  d'a(|iiello  estiido  jxissam 
OS  aliuuiios  lirar  conlicciiiiciilos  de.  iililidade 
jinictica.  Ksta  relarao  ja  I'oi  reiiieltida  ao  go- 
veriio  do  S.  M.  para  a  dirigir  ao  nosso  eiivia- 
do  0111  I'ai'is,  a  (luoiii  o  mosiiio  govcnio  oiioar- 
rcgoii  a  oonipra  dos  iiioiicionados  olijootos. 

Por  vozo^-  loin  o\poslo  o  ooiisollio  do  luou 
iiacional  do  Lisboa  a  iiocossidadc  iirgoiito  da 
roiiiooao  da  sua  socoao  oooidoiilal,  de  IJoleiii 
para  oulro  odilicio  luais  appropriado.  0  ooii- 
solbo  superior  d'insliucoao  piiblica,  convonoido 
d'csta  Iiocossidadc,  o  dopois  de  toiuadas  as 
averiguacOos  iiecessarias,  ordenou  ullimaiiieiilc 
que  0  rospeclivo  eommissario  d'estudos,  de 
combinarao  com  o  govcniador  civil  de  Lisiioa, 
indicasse  aigum  cditicio  piiblico,  para  oude 
podesse  scr  coiiimodameiito  Iraiisforida  a(|ii('l- 
la  sccciio.  Em  resullado  d'oslas  ordcus  doraiii 
estas  aucloridados  uiu  inlorme  em  quo  aiiibas 
coiubiiiaram,  c  em  virtudo  do  qiial  propoz 
estc  conselho  a  S.  M.  (jue  fosse  cedida  para  o 
mcncionado  liiu  a  parte  do  odilicio  do  (juarlel 
do  cxtiiiclo  batalliao  naval,  oni  que  se  acliam 
umas  salas,  que  o  eommissario  d'estudos  julga 
accommodadas  e  suflicientos  para  collooacao 
d'esta  sccoao  do  lyceu,  e  para  a  qual  se  obri- 
gou  0  conselho  do  lyceu  a  fazcr  a  mudanca 
ii  sua  casta. 

Tendo  o  prelado  da  diocese  Portuense  of- 
liciado  ao  reilor  do  lyceu  do  Porto,  expoudo  a 
necessidade  da  creacao  de  um  logar  de  substi- 
tuto  para  as  duas  cadeiras  de  tboologia  moral 
c  dogmatica  annexas  ao  mosmo  lyceu ;  e 
julgando  0  mesnio  reitor  attendiveis  as  razoes 
do  excellentissimo  bispo,  c  a  prolondida  creacao 
em  hanuonia  com  as  providoncias  do  art.  ij8 
do  cap.  2.°  da  loi  de  iO  de  seteiiibro  de  ISH, 
(jue  eslabolecem  que  nos  lyceus  maiore!<-hflja 
uni  siibstitulo  correspondonte  a  duas  do  suas 
cadeiras  :  dirigiii-se  para  este  lira  o  menciona- 
do  reitor,  ao  conselho  superior  d'instriiccao 
ptiblica.  Este,  achando  tanibom  de  convenion- 
cia  a  relerida  creacao,  fez  subir  este  sou 
parecer  a  presenca  de  S.  M.,  acnmpanbado  de 
um  projocto  de  loi,  por  enlender  (|iie  para  esta 
creaci'io  era  necessaria  a  sanccao  legislaliva. 

S.  .M.  diguou-se  rosolvor  quo,  se  o  conselho 
julgasse  osta  creacao  do  necessidade  iirgente, 
lizesse  acompanhar  o  seu  relatorio  geral  do 
referido  projocto. 

Passando  agora  a  dar-vos  conta  do  movi- 
mento  lilterario  e  material  nos  estabeleciraen- 
tos  quo  na  instrucoao  secundaria  se  acbam 
debaixo  da  inspccao  do  consellio  superior,  cum- 
pre-me  participar-vos,  cm  (|uanto  aos  lyceus, 
que  por  ora  so  tem  entrado  na  secretaria 
(I'este  consflho  os  relatorios  dos  reilores  dos 
lyceus  nacionaos  de  Braga,  Coimbra,  Evora, 
Guarda,  Leiria,  Lisboa,  Porto,  Viana,  Villa- 
Ueal,    c    Yizeu.    I'allaiido-Ilie    ainda    os    dos 


reilores  dos  lyceus  d'Angra,  Avoiro,  Beja, 
Braganca,  Castollo  Branco,  Funcbal,  Horla, 
Ponia  Dolgada,  Portalogrc  e  Santareni. 

Dos  mappas  alii  agora  recobidos  vo-se,  i|ue 
0  nuinoi'o  dos  alumnos,  (pie  este  anno  fro(iuen- 
laraiii  Ki"  aulas  dos  lyceus  c  cadeiras  an- 
nexas, loi  do  'i;017.  No  anno  antocodenlo, 
em  171  cadeiras  forani  os  alumnos  i:Ol)(i. 

As  aulas  dos  professores  parliculares,  (]ue 
onviaraui  mappas,  foraiii  fro(]uoiitadas  'neste 
mesmo  anm  por  '2:1(12  alumnos  do  .sexo 
masculino,  e  por  248  do  feminino. 

toneorreram  a  fazer  exanios,  nos  lyceus, 
738  alumnos  de  inslruqdo  prinuiria,  dos  (juaes 
foram  approvados  lioi,  c  reprovados  8i.  Nas 
disciplinas  da  inxtrucrdo  secundaria  foram  cxa- 
minados  SiiilD  alumnos,  sahiudo  approvados 
2:001),  e  reprovados  430. 

Polo  relatorio  do  conselho  do  lyceu  nacional 
dc  Braga  ve-se  que  a  freciuoncia  dos  alumnos 
a  esto  lyceu  lom  dimiiiuido,  o  que  o  niosnio 
conselho  atlribue  princi|ialmenle  a  I'alta  de 
exocucao  das  lois  na  parte  em  que  torna  obriga- 
torio  0  curso  coiiipleto  dos  lyceus  para  o  pro- 
vimenlo  dos  ompregos.  0  maior  nuiiiero  de 
alumnos  sao  dos  quo  se  doslinam  ao  estado 
T!Cclesra.stico,  e  nas  aulas  cujas  disciplinas  sao 
preparatorios  obrigados  para  a(|uolle  estado. 

No  lyceu  de  Coimbra  o  numero  dos  alumnos 
que  I'requenlaram  as  aulas  foi  superior  em  72 
ao  do  anno  passado.  Da  conta  o  conselho, 
que  por  falla  dc  mcios  pecuniarios,  e  princi- 
palmcnte  por  so  nao  tcr  podido  remover  ainda 
a  aula  dc  anatomia  para  o  odilicio  do  novo 
hospital,  nao  foi  possivel  estabelecer  ainda  a 
mosmo  lyceu  nas  casas  occupadas  pela  facul- 
dade  do  modicina  no  odilicio  do  musou,  c  em 
parte  do  abandonado  hospital  da  Conceicao. 
A  mobilia  do  ostabelocimonto  tern  augmontado, 
careeendo-se  porom  ainda  de  utensilios  e  ma- 
chinas  para  o  servico  da  nova  aula  de  ele- 
montos  de  physica  e  cliimiea,  e  inlroduccao  a 
bistoria  natural  dos  trez  reinos. 

No  lyceu  d'Evora,  posto  que  o  numero  dos 
alumnos  foi  um  pouco  inferior  ao  do  anno 
antecedonte,  foram  comtudo  cursadas  todas 
as  suas  aulas,  c  com  aprovoitamcnlo,  conio 
so  manifoslou  nos  exames  (inaes,  os  quaes 
pela  maior  parte  foram  fcitos  Qom  bom  resul- 
lado. No  seu  relatorio  pode  o  conselho  d'estc 
lyceu  a  creacao  de  unia  cadeira  dc  grogo, 
podido  a  que  ja  o  consellio  superior  tinha 
satisfeilo,  mandando  abrir  concurso  para  esta 
cadeira  pola  authorisacao  que  a  lei  Ihe  con- 
cede. Pede  tarn  bom  a  creacao  de  um  curso 
d'economia  industrial  e  d'escripturacao. 

No  seu  relatorio  expOe  o  conselho  do  lyceu 
nacional  dc  Lisboa,  que  a  eslatistica  dos  alu- 
mnos que  froquentaram  as  trez  seccoes  do  lyceu 
nao  elisongeira,  nom  corresponde  a  grandeza 
da  populajao  da  capital.  Julga  que  esta  falta 
de  coucorrcncia  e  devida  cm  parte  a  prefe- 
rencia,  que  os  pacs  dao  gcralmente  aos  col- 


\u 


legios  particulares,  onde  julgam  mais  vigiada 
a  ediiracao  o  moialidadc  dos  fillios,  e  em 
parte  a  ma  collocarao  dos  estabeleeimentos 
das  sccpoes  do  lyreu,  no  lado  da  cidade  (|ue 
oiha  ao  sul,  nas  proximidades  do  mar.  Para 
occorrer  a  primeira  causa  julga  o  coiisellio 
do  lycea,  que  a  execurao  do  regulamonto 
policial,  approvado  por  cste  conseiho  superior, 
0  que  0  mesmo  conseiho  do  lyceu  esta  resol- 
vido  a  manter  fielmcnte,  hade  com  o  teuipo 
convencer  os  chel'es  de  I'amilias,  que  o  meio 
mais  solido  e  proveitoso  para  promoverem  a 
instruccao  e  ao  mesmo  tempo  a  boa  cdtfcaiao 
dosseussuhordinados,  ematriculal-os  no  lyceu. 

Para  occorrer  a  segunda  causa  entende,  que 
devem  ser  transferidas  as  trez  seccoes  do  lyceu 
para  localidades  mais  ccnlraes;  e  por  isso, 
alem  da  mudanca  da  seccao  occidental,  de 
que  ja  vos  demos  conta,  propoe  agora  a 
mudanca  das  outras  duas  seccoes  para  os 
extinctos  mosteiros  de  S.  Vicente  e  dos  Pau- 
iistas.  Insta  por  uma  providencia  que  unil'or- 
mise  OS  compondios  em  todos  os  lyceus,  esco- 
Ihendo-sc  para  esse  lim  os  melhores,  debaixo 
da  api)rovacao  do  governo  de  S.  M. 

As  aulas  do  lyceu  do  Porto  foram  frequen- 
tadas  por  crescido  numero  de  alumnos,  e  os 
irabalhos  correram  com  toda  a  regularidade. 
Queixa-se  porem  novamente  o  conseiho  do 
lyceu  do  aperto  em  que  se  acha  aquelle  esta- 
belecimento,  e  das  poucas  espcrancas  de  poder 
em  breve  obtcr  local  mais  adequado,  pareccn- 
do-lhe  pouco  proprio  aquelle  em  que  o  reve- 
rcndo  bispo  do  Porto  se  propoe  edilicar  uma 
casa  para  esse  fim. 

Julga  que  o  unico  remedio  consisle  na 
rcalisajao  da  id^a  aqui  suscitada,  e  ja  pro- 
posta  a  consideracao  das  cdrles  por  um  digno 
vogal  d'este  conseiho,  de  reunir  todos  os  esta- 
belecimenlos  scientiticos  e  industriaes  da  cida- 
de do  Porlo  no  cdilicio  da  Graca,  que  foi  da 
antiga  acadcmia  de  marinha  c  commercio  da 
mesma  cidade.  No  entretanto  pode  obler  do 
director  da  academia  polytechnica  a  ccdencia 
de  duas  aulas  da  academia,  c  da  casa  onde 
linha  a  sua  secretaria  a  academia  portuense 
das  Bellas  Aries. 

So  tivemos  presenles  os  relatorios  dos  dire- 
ctores  das  bibliothecas  do  Braga  e  do  Porto, 
faltando-nos  das  bibliothecas  de  Coimbra, 
Evora  c  Lisboa. 

Na  de  Braga  torna-se  necessaria  a  conclusao 
das  obras  exigidas  para  que  possa  tornar-se 
piiblica  aquella  bibliotheca.  0  director  vai 
procedendo  a  cathalogacao  dos  livros. 

0  bibliothecario  da  bibliotheca  piiblica  do 
Porto  da  parte,  que  a  camara  muniiipal 
d'aquella  cidade  resolvera  concluir  a  obra  do 
accrescentamento  da  bibliotheca  para  formar 
trez  espacosos  salOes,  que  muito  concorreram 
para  a  mclhor  collocacao  dos  livros.  0  numero 
dos  leitores  que  a  frequentaram  foi  de  2:1  CI, 
e  as  obras  consulladas  foram  2:967. 


Dos  estabelccimentos  d'instruccao  especial 
s6  recebemos  os  relatorios  dos  directores  da 
academia  de  Bellas  Artes  de  Lisboa,  e  da 
academia  portuense. 

Na  1.'  foram  frequentadas  as  aulas  de  dia 
por  ;)!()  alumnos,  e  as  de  noite  por  141. 

Na  segunda  foram  frequentadas  as  aulas 
por  112  alumnos. 

Ambas  estas  academias  fazem  pedidos,  que 
este  conseiho  tera  na  consideracao  que  mere- 
cerem. 

Senhores:  Na  sessao  geral  do  mez  d'abril 
do  anno  seguinle,  esperamos  poder  completar 
este  relatorio,  ajipresentando-vos  todas  as  no- 
licias  que  tivermos  colbido  dos  relatorios  que 
ainda  nos  faltam,  bem  como  o  quadro  esta- 
tislico  complelo  da  instruccao  secundaria  du- 
rante 0  anno  lectivo  Undo. 


MEMORIA  HISTORICA  E  CRITICA 

KoUb-o  a  rcvolursio  qiieeiii  1316  tirou 
a  eoi-oa  a  n.  Kamrlio  II,  itara  a  clai-  ao 
coiidc  <Iv  ISoIonlsa,  seu  irraiau. 

Contiuuada  de  pag.  l^ti. 

IV. 

E  ja  que  tocamos  agora  um  ponto,  que 
envolve  grande  escuridade  pela  falta  de  docu- 
raentos  ategora  produzidos,  que  illustrem  a 
chronologia,  relativa  a  factos  mal  aprecia- 
dos,  faremos  uma  pequena  digressao  sobre  a 
ausencia  d'este  bispo  U.  Pedro,  desde  que 
foi  cbamado  a  Roma  por  Innocencio  III  para 
assislir  ao  concilio  Lateranense,  ate  a  morte 
d'AITonso  11;  espaco  de  oito  annos  com  pouca 
dilTerenca.  Importa  muito  estremar  estes  factos 
|»elo  interesse  historico  que  conlem;  e  pelo 
papel  importante,  que  com  os  reis  'neste  tempo 
OS  bispos  representavam.  Guiado  pelo  depoi- 
mento  de  onze  testemunhas,  que,  'nestes  cou- 
flictos  dramaticos,  ou  Coram  protogonistas, 
on  assistiram  ao  seu  desenlace,  seguirei  sens 
dictos  acostado  a  sua  autenticidade,  como  se 
fora  ao  fio  d'.Vriadne,  para  me  por  a  salvo  de 
tao  tenebroso  labyrintbo. 

Descontiado  e  temeroso  da  espada,  que  o 
determinado  ardor  do  rei  vibrava  com  mao 
pesada;  recluso  em  sua  casa;  e  servido  somen- 
te  po.r  ecclesiasticos,  por  nao  ousar  secular 
algum  entrar  no  seu  paco  :  tal  era  a  posicao, 
a  que  as  desavencas  com  o  rei  tinham  knaiio 
0  antigo  bispo  de  Coimbra,  como  jii  vimos 
acima  '  ;  e  se  por  ventura  tentara  sahir  de 
seus  aposentos,  certa  seria  sua  prisao,  porque 
para  o  assim  fazer  sobrara  ao  rei  a  vontade, 
mas,  para  a  execiicao,  carecia  d'opportunida- 
de,  que  d'esta  forma  se  Ihe  offerecia.  Fora  o 

'    V.  paj.  154,  col.  1.',  not.  1. 


186 


proprio  rei,  qucni,  conversando  com  o  chantre 
no  seu  palacio,  c  tractando  dc  o  fazer  tcrrar 
ua  composifao,  que  inlentava  arranjar  com 
0  hispo,  para  aoabarem  as  desavenfas,  em  que 
ambos  sc  acliavam  envolvidos,  virado  para 
a  residencia  episcopal,  Ihe  disscra  «  acold  esta 
a  (jalinha,  se  sae  font,  o  (alcCto  vae  sobre  ella  e 
a  apanlia  ' . »  D'ondc  claramente  clle  cnlcndi^ra 
0  perigo  em  que  estava  o  hispo,  se  por  vcu- 
tura  saliisse  dc  sua  casa.  Nao  sera  facil  as- 
sentar  precisamentc  o  tempo  d'estc  succes- 
so.  Acconteceria,  o  (pie  deixamos  referido, 
antes  ou  depois  dc  121!),  cpocha  do  eoiicilio 
Latcraiieiise?  Eis  o  prolilema  diflicil  de  rcsol- 
ver.  A  iiiiiuiricrio  ja  citada  nao  iios  ajuda  a 
sua  rcsolui.ao,  e  as  mesmas  tcslemunlias,  per- 
gutiladas  sohrc  a  sua  data,  umas  dizcm  sc 
nao  recordam,  outras  depoem  vasameiUe  e  por 
iucideiUe,  nada  mais  acorescenlando.  Incli- 
namo-nos  couitudo  a  crcr,  que  estcs  successes 
se  passariam  antes  d'aquelie  anno,  por  sc  nao 
ajustar  tao  hem  esta  epoclia  nos  annos  subse- 
(picntes,  em  que  novas  vicissitudes  marcaram 
0  governo  sempre  agitado  d'estc  prelado  ;  por- 
que  em  quanto  a  ausencia  que  elle  fez  do 
reino  para  Camora,  e  depois  para  a  curia 
Romana,  as  mesmas  testemunhas  dizem,  que 
elle  alii  estivera  por  sete  a  oito  annos  para 
evitar  os  aggravos,  c  desabrimento  do  rei,  o 
que  acconteeera  depois  do  referido  concilio: 
e  d'esta  declaracao  lira  a  minha  conjectura 
niaior  forca.  Seja  porem ,  que  lal  successo 
tivesse  logar  antes  ou  depois  do  tempo  referido, 
parece  que  nos  fins  de  1217  ja  D.  Pedro  se 
achava  novamente  fbra  do  reino,  depois  do 
seu  rcgresso  a  esta  cidade  do  concilio  dc 
Laterao.  Na  carta  de  proleccao  ja  mencionada, 
dada  pelo  rei  a  Se  de  Coimbra  com  a  data 
do  1."  de  dezembro  d'este  mesmo  anno,  se  nao 
cnconira  sua  assignatura  entre  os  confirman- 
tes,  como  era  costume,  e  muito  mais  a'ihda 
sendo  passada  'nesta  raesma  cidade,  em  que 
0  bispo  residia,  e  onde  clrei  sc  achava  'nesta 
occasiao. 

Na  merce  dos  dizimos  dos  reguengos,  que 
aos  bispos  do  reino  lizera  All'onso  II  no  seguin- 
te  anno  (1218)  e  que  jii  acima  mencionamos, 
nota-sc  a  assignatura  d'este  prelado,  na  carta 
dirigida  a  cathedral  Conimbricense  ;  mas 
veem-se  ao  mesmo  tempo,  como  se  forani 
presentes,  as  dos  outros  bispos,  que  cgual- 
mente  estavam  ausentcs  do  reino,  como  era 
0  primaz  Estevao  Soares,  e  o  bispo  do  Porto  ', 
confundidos  com  os  mais  bispos  das  oulras 
Ses,  0  que  nada  obsta  a  nossa  opiniao,  que 
0  da  por  ausente  'nesta  conjunctura ;  porque, 
alem  de  nao  provar  lal  assignatura  mais  do 

'  Aiidivit  regem  ista  dicentem  cum  rex  rogaret  istum 
testem  de  compositioDe  facienda  inter  ipsum  etepiscupum 
rex  dixit  ista  verba  —  hie  est  fatco  ct  ibi  ardea^  vertendo 
>e  ad  doinura  episcopi,  si  se  movent  falco  capiet  earn  — 
(Jur.  o  Chantre  de  Coimbra  ibid). 

•■  Sr.  A.  Herculano.  Hist.|de  Port,  na  vida  de  D. 
Affonso. 


que  acharem-se  eslas  cathedraes  providas  dc 
pastor,  como  ja  advertiu  Joao  Pedro  Ribciro, 
sabemos,  que  Eslevao  Soares  se  achava  'neste 
tempo  ausenle,  e  em  grande  opposicao  com  o 
inonarcha,  apparecendo  nao  obstante,  seu  nomc 
entre  os  conlirnianles,  signal  cvidcnte  dc  (|ue 
'nesle  documento  se  nao  podc  offerecer  a  as- 
signatura de  U.  Pedro  Soeiro  como  prova  da 
sua  CNistencia  'neste  reino.  Accresce  ainda  a 
cste  argumenlo  outro  de  nao  menor  iinpor- 
lancia;  por(|ue  sendo  aquclla  carta  patenle  pas- 
sada cm  Santarcni  em  se\ta  fcira  da  paixao 
do  a-nno-ja  referido,  e  lendo-se  'nella  o  signal 
de  todos  OS  bispos  do  reino,  conlirniando  a 
mesma  doacao,  nao  e  possivel  imaginar  que 
todos  se  achassem  'naquella  cdrte  em  um  lal 
dia,  aiiandonando  suas  cgrejas,  e  as  ohrigacoes 
da  celehracao  dos  oflicios  divinos  na  semana 
sancta,  jiara  fazerem  eorte  ao  rei,  com  quem 
muitos  se  acliavam  divorciados,  sendo  um 
d'cstes  0  bispo  de  Coimbra! 

Em  121ft  ua  carta  de  confirmacao  do  coilo 
de  Gondomar  ao  hispo  do  Porto,  D.  Martinho, 
nao  appareee  a  assignatura  de  D.  Pedro,  no 
documenlo  que  offerece  Cunha  na  sua  histo- 
ria  '  ,  0,  que  me  conlirma  a  ausenci;'  delle ; 
e  nos  differenles  instrumentos  existentes  no 
cartorio  da  mesma  cathedral  nao  se  encontra 
algum  em  que  elle  (igura  como  hispo  e  pre- 
lado d'esta  cgreja  senao  depois  do  fallecimcnto 
do  rei,  d'ondc  parece  poder  concluir-se,  quesd 
depois  d'esta  cpocha  clle  se  lecolhera  ao  reino, 
achando-se  ja  'nolle  serenada  a  tempestade 
com  as  pazes  e  concordia  feita  por  esta  oc- 
casiao com  OS  prelados  do  reino;  depois  de  cujo 
tempo  elle  do  novo  comeca  a  enlrar  em  scena, 
e  de  adversario  pertinaz,  que  ate  alii  fora  ao 
rei  e  seus  ministros,  passara  a  cntrar  na  pri- 
vanca  do  novo  inonarcha,  e  a  tomar  quinhao 
em  suas  leviandades,  que  Ihe  grangearam 
serios  desgostos,  que  tiveram  lim  com  a  re- 
nuncia  da  luitra,  e  pouco  depois  com  a  morte  ~. 


Ratificaremos  ainda  um  facto,  que  escapou 
a  analyse  critica  do  Sr.  Herculano  na  citada 
hisloria.  "Diz  este  A.  que  fora  provavelmente 
«  Joao  de  Abbeville  (cardeal  bispo,  Sabinense) 
« quem  jiersuadiu  o  relho  hispo  de  Coimbra 
0 1).  Pedro,  que  irocara  o  espirito  de  revolta 
II  contra  o  podcr  civil  'numa  subscrviencia 
«  cega  a  vonlade  de  Afl'onso  II,  a  ir  depor  o 
(I  baculo  pastoral  aos  pes  de  Gregorio  IX,  of- 
I.  ferecendo-se    assim    ao   castigo   por    haver 

« trahido  a  causa  da  cgreja deixando 

(I  a  curia  Roniana  o  prazer  de  levar   mais 

'  Cunha — Calalogo  dos  bispos  do  Porto,  p.  8.  cap.  8, 
pag.  52.  . 

^  Illudido.  talvez,  com  esta  mudan;a,  e  submissHo  ao 
novo  rei,  entendera  o  sr.  Herculano,  esta  subserviencia 
do  bispo  nao  a  Sancho  11,  mas  ao  pai.  V.  o  cil.  A.  no 
logar  abaixo  mencionadu. 


^87 


n  longe  sua  tardia  vinganca,  porque  depois  de 
«  1229,  nao  encontrara  (o  A..)  diploma  algum, 
"  em  que  D.  Pedro  figure. '  »  Esta  critica,  um 
pouco  severa  para  aquoilcs,  contra  quem  e 
dirigida,  se  por  um  lado  indica  maiquerenra 
aos  censurados,  patenlea-nos  por  oulro  o 
enganoque  'ncsta  historia  tivera  o  A.,  engano, 
porcm,  atlenuado  pcia  falta  de  documentos 
que  eile  coiilessa  nao  enconlrara,  c  dos  quaes 
nao  era  possivci  ler  nolicia  antes  da  sua 
visita  aos  cartorios  do  reino. 

Nao  I'oi  pois  a  Irairao  a  cgroja,  que  fez 
renunciar  o  episcopado  oo  ve!lio"T)l\j)o  dc 
Coimbva,  como  aflirma  graeiosainenle  a(nieile 
A.  ;  ao  contrario  D.  Pedro,  senipre  adversa- 
rio  d'AITonso  II,  nao  sc  ligou  nunca  a  sua 
politica,  e  por  esta  causa  se  saiiiu  do  reino, 
receando  as  cousequencias  da  sua  pouca  con- 
descendencia  com  a  vontade  do  rei.  "  Nao 
I'oi  0  bispo  Sahincnse  quem  o  aconselliou  a 
ir  ilepdr  iias  maos  de  Gregorio  IX  o  annci 
pastoral;  porque,  tendo  este  bispo  lerniinado 
a  sua  Icgacao  em  Portugal  o  ma  is  tarde  em 
1230,  e  tendo  logo  saliido  do  reino,  nao  podia 
dar-lhe  tal  alvitre  em  1233  para  'ncste  anno 
renunciar,  acliando-se  o  cardeal  Joao  d'Ablio- 
ville  ja  fora  d'elle  trez  annos  antes  • :  nem 
I'oi  lao  pouco  0  prazer  dc  levar  a  curia  Romana 
mats  longe  sua  tardia  vinganca,  quem  fez  com 
que  0  pontilice  corrigisse,  como  devia,  os  ex- 
cesses d'este  prelado. 

D.  Pedro  mereccu  o  castigo,  que  recebeu, 
pelos  desatinos  com  que  perseguiu  todo  o  sen 
clero,  e  attentou  contra  a  jurisdicfao  do  papa; 
obrigando  por  todos  os  modos  e  nieios  a  sua 
disposicao,  e  ate  mesmo  recomendando  a  seus 
apaniguados  nao  fazerem  cabedal  da  seatenfa 
de  interdicto,  em  que  o  reino  se  achava  poslo 
pelos  juizes  delcgndos,  que  entao  conheciani 
da  questao,  que  corria  entre  o  rci  c  o  bispo  de 
Lisboa ;  cbogando  ao  excesso  de  ameafaruns, 
e  privar  oulros  de  seus  beneficios;  mandando 
sequestrar  seus  bens,  e  fazendo-os  andar  por 
esta  causa  amurados,  e  ausentes  de  suas  casas. 
Assira  sc  le  com  elTeito  na  carta  de  Gregorio 
IX,  dirigida  ao  arcebispo  de  Braga,  de  que 
se  fez  um  capitulo  nas  decrctaes  do  mesmo 
papa,  cujas  cuipas  lodas  o  proprio  bispo  con- 
fessara  na  presenca  de  Gregorio  IX'. 

Estas  pois  foram  as  causus  pelas  quaes  o 
bispo,  sendo  cliamado  a  Roma,  para  d'ellas 
dar  coma  ao  ponlilice,  se  vio  obrigado  a  re- 
nunciar logo  a  milra,  victima  dos  e\cessos.a_ 

'    Sr.   A.  Ilerculalio.  Hist.  cit.  pag.  296  e  not.  IV. 

^  Propter  titnorem  regis.  —  Dizem  as  testemuubas  da 
ia(luirirno  cit.  ibid. 

"  O  cit.  A.  torn.  2.  not.  XX.  sobre  a  lega^ao  do  bispo 
Sabinense. 

*  « . .  inducere  monitis  et  flectere  minis  ac  terroribus  ad 
violandam  interdicti  sententiam  niiUa  potuit  ralione,  jiost 
atroces  injurias  aniissionem  bunoruin,  spoliationem  paren- 
tiim  .  .  .  coejrit  miserabililer  exulare  ....  quoe  omnia 
idem  Episcopus  in  nostra  et  tratrum  nostrorum  presentia 
publico  cognovit.  "  —  Cap.  Tanta  fin  '1^  de  excessib. 
praelator. 


que  0  inicitara  a  privanfa  com  Sancho  II,  dc 
quem  aquelle  prelado  se  tornara  valido,  para 
com  sua  ajuda  practicar  todos  esses  desaguisa- 
dos,  que  Ihe  grangearani  tantos  desgoslos, 
e  pouco  tempo  depois  a  morte  (meio  anno,  com 
pouca  diflerenca).  Nao  andou  tambem  melhor 
informado  o  citado  A.,  suppondo  auscnle  de 
Coimbia  o  bispo  desde  12211,  pois  que  em 
1231  e  nos  dois  scguintes  annos  ainda  clle 
permanecia  'nesla  cidade  ',  cpocba  cm  que  os 
desvios  das  regras  canonicas  o  lizeram  caliir 
no  desagrado  da  Curia,  levando-oii  correccao 
devida.  Isto  pois  previamente  nolado,  conti- 
nuaremos  o  nosso  trabalbo,  e  seguircmos  a 
interrompida  cadea  d'estes  successos. 

VI. 

0  premature  fallecimento  d'AfPonso  II  ^os 
37  annos  d'idadc,  com  a  nienoridade  dos 
principes,  deixava  o  reino  em  uma  crise  ter- 
rivel !  As  discordias  com  o  estado  ccclesiastico  ; 
as  desavencas  c.u  os  barOes  c  ricos-lioniens 
do  reino;  as  contestacocs  por  causa  dos  direi- 
tos,  e  prerogalivas  d'uns  e  oulros,  que  em 
breve  deviam  clevar-se  a  ponto  mais  alto; 
com  a  ausencia  c  se(|ucstro  dos  bispos,  que 
na  corte  de  Roma  procnravam  remedio  aos 
aggravos  que  o  rei  Ihcs  lizera,  e  que  se  tor- 
navam  agora  mais  publicos  com  as  rcpetidas 
quoixas  em  uma  cdrtc,  que  cm  tal  tempo 
tinlia  na  mao  o  liel  da  balanea  politica,  deixa- 
vam  0  tbrono  do  grande  AlTonso  cercado 
d'espinhos,  que  so  um  niui  discreto  consclho, 
e  precatado  governo  podia  cviiar.  Mancebo 
inexperiente  e  fcm  tocar  a  idade  de  revora, 
tinha  o  principe  de  soffrer  o  governo  da  re- 
gencia  ate  ser  dedarado  maior ;  e  como  AH'onso 
II  bavia  dciiado  o  governo  do  reino  durante 
todo  este  tempo  aos  ricos  homcns  e  mais 
magnates,  de  (|uem  se  lembrara  na  sua  ultima 
vontade,  a  mesma  politica  I'oi  conlinuando  o 
mesmo  estado  d'agitacao  interior  em  que  o 
reino  estava,  ate  (jue  o  novo  rei  tomou  sobre 
si  a  direccao  dos  negocios,  e  o  governo  do 
reino  '. 

L'ma  no\a  ejiocba  comecava  a  marcar  o 
reinado  do  novo   rei ;   e  a   uma   cnergica   e 

'  Do  primeiro  e  testeniunho  a  carta  de  transac<;iio  que 
emjiillio  di'  1S31  eile  fiiz  com  a  rainlia  D.  Thercza  c 
sua  irm.'i  I).  Saiiciia,  aliijadet^a  ile  I^urvao,  sobre  as  ejrrejas 
de  Holao,  Serpins  e  ontras(G.  B.  R.  I.  M.  2.  n."  lu.)  Do 
sesuiido  e  testemunho  a  cit.  inqiiiri<;iio,  que  o  di'i  por 
presente  em  H  de  se|>tembro  de  12.'i2,  dia  em  que  veiu 
fazer  iiontilicHl  a  Se,  sem  embargo  do  interdicto.  U'onde 
se  deixa  ciaramente  ver,  que  nao  foi  a  snbserviencia  cega 
k  vontade  dWHonso  11  quem  Ihe  |>roduzni  tamanliu 
desgosto,  mas  sim  a  viola(;ao  do  interdicto,  e  os  faclos 
acima  notados. 

-  «  Sem  ctiefe  supremo,  que  os  contivesse,  cada  um 
dos  Prelados,  dos  Cortezaos,  e  dos  Baroes  das  Pru\  incias 
era  levado  naturalmente  a  jiretender  para  ki  a  summa  pre- 
ponderancia,  e  a  lan<;ar  mao  dos  variados  elementos  de 
desordem  ....  Suscitaram-se  rivalidades  entre  os  mais 
notaveisricos-homens.ii  —  Hist.  cit.  dePort.  torn.  2,  pag. 
272. 


IS8 


scvpra  administrai-iio  seguira-se  outra  niais 
hiaiida  e  coiiciliadora.  As  nuvoiis  temerosas, 
(|ue  tinham  ate  alii  assumhrado  o  horizoule, 
liaviani-se  dissipado;  c  a  tempesladc,  parocora 
Micceder  a  bonanra  ' .  0  hispo  de  Coiml)ra,  (lue 
lia  pouco  viranios  avcxado,  c  pcrscf^uido  coiiio 
advorsario  do  AITonso  II,  c  sens  ininistros,  iro- 
cando  odios  antigos  polo  favor  da  corto,  o 
adhosao  aos  sonlinieiitos  do  roi  ;  de  iiiinilgo 
qui"  lura,  liiilia  ontiado  ua  sua  |)iivaiii;a  o 
\alimciilo:  os  oiilros  prolados  o  liaroos,  era 
mais  alagadns,  esiiuociaiu  sous  agiislauionlos  ; 
0  a  guorra  coiilra  os  moiros  prnscguia  dila- 
tando  mais  os  all'ozes  do  roino.  Esta  siluariio 
oiiti'otanto  iiao  dcvia  infoliznieute  olTorooor 
longa  durarao:  as  nuvons  om  lirove  loldarani 
0  liorizanto.  a  tonipcstado  roiii[iini;  a  anihioao 
0  OS  capriclios  proprios  da  barlnuidado  d'aquol- 
la  era,  invidaram  o  rosto.  0  socego  e  a  [kiz,  ipio 
])aroc(;ra  caractoiisar  o  principio  do  roinado  de 
Sancho,  loi  sul)stituido  por  uma  desciilVoada 
soltura,  e  omnimoda  licciifa.  A  guerra  civil, 
OS  roubos,  c  as  moites  esteiidiam-se  por  loda 
a  parte;  a  justica  nao  se  adminisirava!  I)c- 
balde  os  queixosos  representavam  ao  rei, 
pcdindo  remedio  a  sous  aggravos:  em  vao  se 
rociainava  dos  ministros  sorcorro  coiilra  a 
prepotoncia  e  soberba  dos  validos,  para  ata- 
Ihar  a  taiUos  males ;  lodes  vollavam  som 
(lererimcnto,  e  cada  qua!  se  prooatava  oomo 
podia  em  meio  de  tamanba  desordem,  se 
linba  por  ventura  de  fazer  Jornada,  ou  de 
alravcssar  algumas  terras,  ou  proviiu'ias  do 
rcino'.  Foi  o  que  accontoceu  a  varias  pes- 
soas,  cuja  posicao  os  devera  affianoar  de  tao 
graves  accontecimcntos,  se  o  rei  ou  sous 
ministros  dol'orisscm  as  queixas,  c  represon- 
tacocs  que  muilos  llies  faziam  scm  iiuo,  se  Ibes 
desse  remedio  algum  •  :  c  assim  foi  progrc- 
dindo  cste  estado  quasi  por  iii  annos. 

'  Em  toda  esta  noticia  seguirenios  com  confianc^a  a 
Hi>loria  do  A.  cil.,  se^nros  cum  os  dociinientos  em  ijue 
se  fliuda,  e  supposii;oes  que  faz,  nao  devendo  desprczar 
.supposii;.Ho  de  sugeito.  em  qiicm  reconht^cemos  saber  e 
Kravidade. 

-'  Assim  0  acliainos  consignado  na  cit.  mqniri^ao  (G. 
I'i.  R.  2-  M.  2.  n.°  431  —  quod  erat  lai;s  turliatio  el 
giiera  iti  regno  (piod  interflcirliantor  clerici  et  laici  ahltates 
et  alii  religiosi :  et  [aiici  aiit  [iiiUi  erant  aiisi  ire  tiiliiis 
per  regniira  .  .  .  .  et  midte  treuge  fracle  (sic.')  et  niiilti 
spoliati  bonis  siiis,  et  scit  hoc  quia  per  predictum  ten/pus 
f'liit  /irest^iis  et  absens  paiicis  vicibus  ad  civitalem  roderici 
et  ad  ilnaium  infantissarum  et  ad  franciam  et  quando 
ledibat  ad  regnum  invrnit  in  deterius.  .=-Jura  assim  o 
deao  C'iV'lati'nse  (Cidade  Rodrigo)  e  com  elle  sjio  miani- 
mes  o  resto  das  testemuidias  toilas  coevas,  e  todas  teste- 
iniinUasde  \  ista.  Outras,  cspccificaiido  niais  estes  factos, 
dizeni  (pie  entre  os  rotiltados  e  presos  fiira  o  dianceller 
d'AfTon^o  II,  ftleslre  Vicente,  depois  bis)io  da  Ciiiarda, 
o  deao  do  Porto,  o  chantre  de  Coimbra,  Fernao  Gomes, 
eonego  ua  mesma  Se,  Uarcia  Fernandes,  Templario,  e 
outros  que  foram  captivos,  e  que  dej.ois  se  reiuJram  com 
dinheiro  seu,  e  outros  que  foram  mortos ;  o  que  diirou 
))i)r  espaijo  de  15  a  20  alinos,  ciijos  tlictos  nao  refiro  por 
evitar  o  latim  barbaro,  em  que  se  acUa  escripto  o  docu- 
mento,  em  que  tudo  isto  se  refere. 

^  :<Quia  vidit  multos  conquerentes  regi  et  sinejustitia 
recedentes.  "  (Jura  o  cliaiitrc  de  Coimbra,   fallaiido  du 


Sao  conformes  'neste  depoimento  todas  as 
lestoinunhas  da  ja  oitada  inquiricao  '  e  d'esti; 
mosino  depoimento  pnderomos  tirar  o  oorol- 
lario,  que  Idra  todo  o  roinado  de  Sambo  II 
uma  continua  anarcbia,  uma  oompleta  dcsor- 
ganisaoao  dos  vinculos  sooiaes,  som  que  o 
roi  piidosse,  nom  sous  ministros,  atalbar  tao 
graiide  mal,  e  evitar  o  porigo  (juc  de  porto  os 
.inioacava  ooni  a  dosonvoitura  que  lavrava 
por  todo  0  reino. 

Continua.  m.  n.  de  VASCONCELLOS. 


CHIMICA  LEGAL 

Continuado    de  pag.    122. 

Anahise,  feila  no  laboratnrin  chimicn  da  unirer- 
sidafle  de  Coimbra,  do  eslomago  e  intcslinos 
inandadoK  do  concelhu  de  S.  Lourcnco  de  liairro. 

As  materias  suspcitas  vinbam  coutidas  om 
([uatro  frascos.  'Num  dos  frascos  vinba  uma 
poroao  de  aloool,  irniao  do  que  se  tiiiba  cm- 
pregado  na  oonservaoao  do  ostomago,  intes- 
tinos"  dolgados,  e  intostiuos  grosses,  que  se 
achavam  soparados  nos  outros  frascos. 

Tomamos  uma  porcao  do  estomago,  dos 
intestinos  dolgados,  c  dos  intestines  grosses,  e 
procedonios  a  destruicao  da  materia  organica 
d'estos  orgaos  soparadaniente  cm  trcz  capsulas 
do  porcclana,  omprogando  o  acido  sulfurico  e 
e  acido  azutico,  segundo  o  precesso  de  Vlondin 
e  Danger. 

Outra  porcao  dos  nicsmos  orgaos  foi  fervida 
em  agua  dislillai'a  jior  mais  d'unia  bora,  e 
tambom  separadamente  em  trcz  capsulas  de 
porcfilana. 

Estos  trez  liquidos,  depois  de  filtrados  e 
OS  trez  prinioiros  quo  resultaram  das  trez  car- 
boiiisacoos  com  o  acide  sulfurico  e  acido  azotico, 
foram  sujoiles  ao  apparelbo  de  Marsb,  cada 
um  per  sua  vez.  0  ajiparolbo  fnncoienou  com 
toda  a  rogularidado.  fazondo-se-liie  \ariar  as 
dimensOos  da  cbama,  e  it  pozar  de  so  ropoiir 
por  nuiitas  vezescstc  trabalbo,  nunca  apparo- 
ceu  no  tube  do  apparelbo  nom  na  porcelana 
0  mcnor  signal  de  annel  ou  niancbas. 

llocoando  que  alguma  porcao  de  arsenico 
cm  poqiienissima  quautidade  se  podosse  tor 
perdido  durante  a  carbonisafiio  ao  ar  livre, 
ropetimos  o  mesme  procosse  de  carbonisacao 
'num  vaso  fecbado;  mas  rounimos  uma  porcao 
de  estomago,  intestines  dolgados,  o  intestinos 
grosses  'numa  so  rotorta,  om  logar  de  os  car- 
bonisarmos  om  scparado.  0  cello  da  retorta 
mergulbava  em  agua  distillada,  e  esta  agua 

desmantelamento  em  que  se  achava  o  reino  'neste  tempo) 
"  ma.vime  a  qiiindecim  annis  citra  »  como  jura  o  mestre 
escula.  Ibid. 

'  Et  hoc  duravit  in  regno  ut  credit  per  XX  annos 
usque  ad  tcmpus,  quo  incepit  regnare  iste  rex,  qui  nunc 
est  — (D.  AITonso  III)  Id.  ibid. 


189 


sciviu  (li'pois  para  fcrver  o  carvao,  c  durante 
esta  fervura  aiiida  o  collo  da  retorta  mcrgu- 
lliava  'iioiitra  pnrrao  da  apua,  ([ue  se  junctou 
dcpois  ii  prinieira,  antes  dc  so  lillrar.  Este 
ultimo  liquido  giiardou-sR  com  a  dcsignarao  a. 

Oporando  taraliem  cm  retorta,  e  scgiiindo 
as  mesmas  cautcllas  do  processo  antccedcnle, 
carbonisou-sc  oiitra  porcao  dos  mesnios  orgaos 
icunidos,  cmprcgando  primeiro,  de  potassa 
caustica,  a  ccntesima  parte,  cm  peso,  da 
suhstancia  organica;  c,  dcpois  de  (|uasi  eva- 
porada  a  ngua  cm  (|iic  sc  dissolvcii  a  potassa, 
cmprcgando  i'i  ])or  cento  de  acido  siilfiirico, 
continuando  a  accao  do  fogo  ale  a  coniplcta 
carbonisacao,  e  lervendo  este  carvao  cm  agiia 
distiliada,  que  dcpois  de  liltrada  se  guardou 
com  a  designaciio  b. 

Os  dois  liqiiidos  o  e  b  I'orani  lancados,  cada 
um  por  sua  vcz,  no  apparelbo  de  Marsli,  e 
rcpetiu-se  por  muitas  vczcs  o  tnibalho  d'cste 
apparelbo,  sem  (|iie  apparecesscm  os  anneis  ou 
manciias  no  tulio  ou  na  porcciana.  Apcnas  o 
liquido  b  deu,  'nuni  bocado  de  porcelana, 
duas  pe(|uenas  sombras  dc  cor  parda  c  sem 
brilbo,  que  Ibram  postas  de  parte. 

Com  0  lim  de  obtermos  maior  nunicro  d'cslas 
sombras,  repetinios  o  mesmo  processo  que 
tinha  dado  o  liquido  ft;  e,  fazendo  de  novo 
trabalhar  o  mesmo  apparelbo  de  Marsh,  appa- 
reccram  ainda,  'noutro  bocado  de  porcciana, 
mais  duas  sombras,  niuito  menos  carregadas 
e  mais  pequenas,  mas  com  o  mesmo  aspecto 
das  primeiras. 

Estcls  qualro  sombras  sujeitas  aos  rcagen- 
tes  dcram  o  segiiinte  : 

lima  dissolvcu-sc  com  promptidao  no  acido 
azolico  a  trio,  c  outra  desappareccu  com  os 
vapores  do  cbloro  dcntro  cm  dois  minutes; 
outra,  exposta  a  cbamnia  do  bydrogcnio,  so 
desappareccu  cm  parte;  e  a  quarta,  Iractada 
tanibcm  pelo  acido  azotico  a  I'rio,  uao  se  dis- 
solveu,  conservou-se  insoluvel  ainda  depois 
de  aijuecido  o  acido,  e  depois  de  lavada  com 
agua  distilada  c  tratada  pelo  acido  cblorhy- 
drico,  jjrinieiro  a  trio,  c  depois  a  quente,  ainda 
se  conservou  insoluvel;  mas,  acbando-se  ja  pe- 
qucnissima  pclas  parccllas  que  estes  liquidos 
Ibe  tinliam  feito  destacar,  nao  era  ja  suscej)!!- 
vcl  de  sujeitar-se  a  novos  reagcntes. 

A  leve  suspeita  de  que  'nestas  sombras 
liouvesse  alguma  iiarcclhi  de  arscnico,  levou- 
lios  a  tcntar  outro  processo.  muito  rcconimcn- 
dado  por  Malaguti,  c  que  iios  parcccu  rasoa- 
\el,  para  sc  lirar  partido  da  lacilidadc  com  que 
0  arsenico  na  presenca  do  cbloro  passa  ao 
<!slado  dc  chlorureto,  e  da  grande  volatilidadc 
d'este  clilorurclo  dc  arsenico.  Lancanios  'numa 
retorta  com  o  collo  mergulhado  cm  agua  distil- 
iada, uma  porcao  do  estomago,  dos  inteslinos 
delgados,  c  dos  intestines  grosses,  com  outro 
tanto  em  pezo  de  agua  rcgia  nascente.  Com 
o  auxilio  da  larapada  de  alcool,  desapparecc- 
ram  no  liquido  todas  as  substancias  organicas^ 


ii  exccpcao  da  gordura,  que,  depois  dc  coagu- 
lada  pelo  arrefecimcnto,  foi  fervida  com  a  agua 
em  que  niergulliava  o  collo  da  retorta,  c  esta 
fervura  tambeni  se  I'cz  cm  retorta  com  o  collo 
mergulbado  'noutra  porcao  de  agua.  Estas 
aguas,  depois  de  torem  lavado  a  retorta,  o 
depois  de  liltradas,  reuniram-se  a  agua  rcgia 
que  linba  destruido  as  materias  organicas. 
Esta  mistura  dividiu-se  em  duas])arlcs.  I'ma 
d'ellas  poz-se  de  lado  com  a  dcsignacao  c ;  c  a 
outra  ])arlc  sujcitou-sc  a  distillacao  'numa  re- 
torta communicada  com  um  recipientc  consiaii- 
temeute  rcl'rigerado,  e  scguidamcnte  com  uni 
Irasco  contendo  uma  pc([ucna  camada  d'agua, 
cm  que  niergulhava  o  tubo  de  conimiiuicacao, 
e  da  tubulura  do  qual  sabia  um  tubo  dc  \\  cllcr 
com  agua  na  sua  curvatura.  Applicado  o  logo 
a  retorta  por  muito  tcm[)o,  ale  se  rcduzir 
0  sen  liquido  a  vigesima  parte  pouco  mais 
ou  nicnos,  demos  por  concluida  a  distillacao, 
e  rcunimos  com  a  dcsignacao  d  o  liquido  distil- 
iado  no  rccipiente,  a  agua  do  Irasco  e  a  do 
tubo  de  Welter. 

Este  li(iuido  d,  sujeito  a  uma  corrcnte  do 
acido  sulpbydrico,  que  deveria  moslrar  o  arse- 
nico se  0  houvesse,  no  ostado  de  sulfureto, 
nao  deu,  passados  trez  dias,  o  menor  signal 
d'este  veneno. 

Ainda  com  o  (im  de  procurarnios  o  arsenico, 
escolbcmo;.  de  todos  os  liquidos  guardados  os 
mais  apropriados  aos  differenles  reagentes;  c 
tendo  emprcgado  o  azotato  dc  prata,  o  azotato 
de  prata  ammoniaeal,  o  azotato  de  chumbo, 
0  sulphato  de  cobre,  o  sulphate  de  cobrc  am- 
moniaeal, a  agua  de  cal,  o  acido  sulpbydrico 
e  0  sulpbydrato  ammoniaco,  nao  dcscobrimos 
0  menor  indicio  d'este  veneno. 

Ainda  rccorremos  a  accao  d'unia  pillia  du 
corrcnte  continua,  a  pilha  de  Daniel,  com  duas 
placas  de  plalina  nos  dois  polos,  mcrgulliadas 
no  liquido  c,  e  ainda  assini  nao  appareccu  lui 
platina  o  mais  leve  signal  de  arscnico. 

Todos  estes  processes,  tendo  dado  resulla- 
dos  oppostos  as  suspeitas  da  existencia  do 
arsenico;  suspeitas  nascidas  da  solubilidado 
d'uma  das  mancbas  ou  sombras  no  acido 
azotico  a  frio,  e  da  volatilidadc  d'oulra  maiKha 
com  os  vapores  do  cbloro;  e,  estando  ainda 
contra  estas  suspeitas  a  insolubilidade  d'outra 
mancha  no  mesmo  acido  azolico  a  frio  e  a 
quente,  e  a  impcrfcita  volatilidadc  d'outra 
mancba  pcia  chamma  do  hydrugcnio,  fazendo 
assim  Icmbrar  os  caractcres  das  mancbas  (i(> 
zinco  ou  das  que  as  vezcs  produz  a  materia 
organica  dentro  do  apparelbo,  pozemos  de 
lado  as  suspeitas  do  cnvenonanicnto  pelo  ar- 
scnico, e  iraUinios  de  procurar  outros  venenns 
com  0  mesmo  resultado.  Com  estas  vistas  cni- 
pregiimos,  para  odcscohrimenlo  dos  compostos 
deantimonio,  apotassa,  oammoniaco,  a  agua 
de  cal,  0  chlorureto  de  platina,  o  acido  sul- 
pbydrico e  0  sulpbydrato  ammoniaco. 

Para  os  compostos  de  chumbo  empregamos 


190 


a  polassa,  0  iodurclo  dc  potassio,  o  acido  sul- 
|)liydrico  c  0  sul|iliydiato  ammoniaco.  Para 
lis  compostos  dc  cobrc  eiiiprcganios  o  arseiiico, 
a  potassa,  o  acido  siilplijdrico,  o  siilpliydrato 
aniiiioiiiaco,  o  cyaiiurelo  amarello  dc  polassa 
c  I'ei'i'O,  e  0  arseniato  dc  potassa,  uma  lamina 
dc  lerro,  e  uina  agullia  siispeiisa  num  cahcio, 
segiindo  a  lecomiiicndacao  dc  Boiitigny. 

Para  os  composlos  dc  nicrcurio  emprcgamos 
a  potassa,  o  iodurclo  dc  potassio,  cyamireto 
amarello  dc  polassa  c  dc  fcrro  (I'crro  cjaiiurelo 
potassico),  carboiiato  potassico,  carbonato  am- 
uioiiiaro,  ammoniaco,  acido  sulpliydrico,  sul- 
|iliydrato  ammoniaco  e  azotato  de  prata.  Em- 
prcgamos as  laminas  de  cobrc  e  de  zinco,  e 
lizemos  acinar  sobrc  o  liquido  uma  pilha  de 
Smilluon,  composla  de  euro  e  cobrc  segiindo 
a  rccommcndacao  dc  Briand,  e  outra  composla 
dc  ouro  c  ziuco,  aconselhada  pcio  sr.  Candido 
Albino. 

Tivemos  niais  uma  prova  de  que  nao  existia 


na  materia  suspeita  nenhum  dos  vencnos  mcia- 
licDs;  rccordando-nos  deque 0  li(|nidof,  qnan- 
do  sujeilo  a  accao  da  pillui  de  Daniel  com  as 
vistas  no  descobrinicnlo  do  arscnico,  nao  tinlia 
mostrado  ncnbnm  dos  metacs  rcduzidos  na 
supcrlicie  da  platina;  c  aleni  d'isso,  sujcilando 
0  nicsmo  liquido  a  uma  correnlc  dc  acido 
sulpliydrico,  como  se  linlia  feito  ao  liquido 
d.  tamlicm  nao  appareceu  nenlium  metal  no 
estado  dc  sulpliurclo,  como  leria  accontccido 
se  bouvosse  na  materia  suspeita  algum  vcneno 
mctalico. 

'Di'  lodos  estes  |)rocessos  concluimos,  (pie 
no  estomago  e  intestinos  analysados,  n;io  bavia 
arscnico,  nein  algum  outro  vcneno  da  classe 
dos  vencnos  mctalicos. 

Por  esta  conclusao  julgiimos  desnecessaria 
a  analyse  do  alcool  cmpregado  ua  conserva- 
ciio  d'aquellas  visceras. 

Colmbra,  4  d'abril  de  1855. 
Continua. 


UNIVERSIDADE  DE  COIMBRA. 

EslatliNlica  dos    eKtndaniCN  niatririaladoV  nat*  cineo  Faruldadcs, 

e  no  cui-NO  artmiiiiNli-ativo  <Ia  I'laivorKidailc  dc  Coimbra, 

no  anno  Icrlivo  <3o  1  H55 — B  S5S. 


Annos. 

Theulugia. 

Direilo. 

Medicina. 

Mathema- 
tica. 

Philosophia. 

Ciirso  Admi- 
ni.strativo. 

Total  por 
annos. 

1.° 

IG 

90 

11 

!i5 

54 

0 

231 

2.° 

37 

102 

2 

27 

27 

3 

198 

■6." 

14 

92 

7 

5 

18 

)) 

130 

4.° 

13 

91 

14 

4 

26 

» 

150 

0." 

6 

51 

8 

2 

12 

)) 

79 

6.° 

1 

3 

2 

2 

2 

» 

10 

Tolaes 

89 

429 

44 

95 

139 

8 

804 

K^ladiNlira  dOM  OKanics  preparatorio^i  foitos  no  niox  fic  oiilubro  do  correnle 

anno  pciantc  o  jniry  >iniv<'i'N>lario  |>ai'a  a  luatricula 

■laM  Facultlndes  acaflciuit-aN. 


Disciplinas. 

Apprt 
Nem.  disc. 

vados                [ 
Simpliciter.  j 

Totaes. 

Latinidadc 

drego                                 

60 

7 

5 
72 

3 
44 
50 
36 
31 

6 

17 

1 

» 

H 

23 

G 

11 

34 

2 

CO 

)) 
IJ 

38 

14 

3 

7 
23 

» 

137 

7 

6 

110 

5 

81 

39 

54 

88 

8 

llebraico   

Franccz 

ln""lez                            

Pbilosophia  racional  e  moral,  etc 

Oratoria    poetica    e  litteralura 

Hisloria,  chronologia  e  geographia 

Airilbmetica,  gcomctria,  etc 

Inlroduccao  a  hisloria  natural 

Totaes 

316 

94 

143 

553 

191 


NOTICIAS  LITTERURIftS  E  SCIENTIFICAS. 


Imprenwa  pei'io<lirn  cm  Allctnanlia. 

Em  1854  0  numcro  das  iniblicacocs  poriodicas  em 
Allcmanha  era  de  2:025,  das  quaes  403  jornaes 
[joliticiis,  e  1:622  scientilicos,  litlerarios  e  arlisli- 
cos.  'Naquella  lutalidade  comprchendiam-sc  208 
joniacs  p(dilicos  c  478  nao  pi)liticiis.  piil)licadiis 
n'Allemaiiha  mcriditinal  (Austria,  Ba\iera,  Wur- 
temberg  e  Bade) ;  c  n'AUemanlia  do  uorto  (Prussia, 
Hanuvcr,  Brunswich  etc.)  lliO  piiliticos,  c  695 
sohrc  oulrus  assumptos. 

A  Saxonia  e  outros  cstados  do  CfiRlrp  (liAI- 
lemanha  contavam  na  mcsma  cpocha  65  publica- 
coes  polilicas,  e  449  iitlerarias,  scienlificas  ou 
artisticas. 

'Ncsto  mesmo  anno  cxistiam  cm  toda  a  Al- 
lcmanha pcrto  de  duas  mil  livrarias,  entrando 
'neste  numero  400  eslabclecimentos  de  musicas  c 
gravuras  :  1:679  typiif;raphias  com  3:405  prelos 
ordinarios  e  971  movidos  per  vapor:  1:119  csta- 
bck'cimenlos  de  liLhographia  com  3:119  prelos 
lilhographicos. 

O  termo  medio  das  obras,  que  sc  publicam 
annualmente,  exccde  a  dez  mil.  A  fabricaeao  do 
Iiapel  tern  tido  tambcm  um  cxtraordiuario  incre- 
mcnlo  cm  Zcdiverein.  Em  1832  ainda  se  impor- 
tavam  12:000  quintaes,  c  pelo  contrario  cm  1852 
cxporlaram-se  mais  de  40:000. 


CaiiNa  <Ia  pernianonria  do  nivol  iIom 
niarfste  Nua  innueiiciasoS>rc  o  fului-o 
do  s;lobo. 

M  Jobard,  csludando  a  causa  d'cste  phcnomeno 
e  a  sua  inDucncia  sobre  o  futuro  do  globo,  apresen- 
la  as  scguiutcs  consideraroes: 

«  Laneando  area  ou  oulro  corpo  solido  'num 
vaso  cheio  d'agua,  o  liquido  cleva-se  ate  trans- 
bordar.  E  todavia  —  cousa  singular — o  mar,  para 
onde  lantos  rios  accarrclam  conlinuamente  muitos 
milhues  de  metros  cubicos  dc  areas,  calhaos,  e 
terras,  nao  transborda  nunca  do  scu  leito.  Uiz-se, 
e  verdade,  que  as  aguas  a  superficie  dos  mares 
se  estao  continuamcntetrausformando  em  vapores, 
OS  quaes  condensando-se  vem  a  cair  sobre  os  con- 
tineutcs  em  chuvas  ou  lorrcutes,  que  cngrossando 
OS  rios  voltam  ao  reservatorio  commum  d'onde 
sahiram;  mas  e  sem  duvida  ncccssario,  para  que 
as  aguas  do  mar  nao  transbordem,  que  se  perca 
uma  porr,"io  cgualaoesparooccupado  pelas  materias 
solidas,  que  as  arterias  lluviacs  arrojam  ao  mar, 
dcsdc  que  existcm  essas  corrcntes,  alias  o  nivcl 
dos  mares  sc  clevaria  constantemente  c  acabaria 
por  submcrgir  os  continentes.  Aquella  hypothese, 
portanlo,  de  que  o  mar  perde  por  um  ladu,  oquc 
pcio  outro  ganha,  c  tao  insuniciente  para  explicar 
0  phenomeno  da  permancucia  do  nivcl  dos  mares, 
que  ate  se  tem  prelcndido,  que  as  madrepuras  e 
divcrsas  conchas  concorriam  para  a  climinarao  da 
agua  diis  mares,  como  sea  parte  liquida,  quecllas 
podiam  alojar  no  scu  organismo,  nao  oceupasse 
quasi  tauto  logar  d'uma.  como  d'outra  forma. 

«  0  continuo  augmento  dos  gclos  polares  parcce 
antes  ser  a  vcrdadeira  causa  da  Iciita  desnivela- 
cao  dos  marcs;  porque  uma  parte  dos  vapores, 
que  se  levantam  da  terra,  e  transportada  pelos 
ventos  para  as  regioes  frias,  ondc  se  dcpositam 
em  gclos  elernos,  que  so  nas  epocas  diluvianas 
entram  em  circulacao,  destruindo  entao  a  hydro- 


graphia  do  globo,  e  submcrgindo  os  scus  habi- 
tantes. 

«  Os  calores  do  estio  podem  dcrretcr  os  frocos 
dos  clevados  crucheus  dos  gclos  polares,  mas  csta 
acciio  e  lao  poucu  jiodcrosa,  que  esses  mesmos  gclos 
vao  sempre  ganliando  lerreno,  como  observou 
Dumont  d'Urvillc,  que  du\ida\a  que  os  primciros 
navcgantcs  tivessem  podido  aproximar-sc  tanto 
dos  pidos,  como  indica  o  scu  itincrario,  pois  que 
OS  in(]ntes  de  gelo  tem  avancado  hoje  para  o 
cquador  mais  de  duzcntas  leguas. 

"  A  incessante  accumulacao  das  neves  nas  re- 
gioes polares  vira  a  prceneher  iis  achatamcntos  do 
globo,  rcstiluindo-lhc  a  sua  forma  geomelrica,  v 
muilando  as  rclaeoes  de  gravidadc,  c  por  conse- 
qiicncia  o  scu  piano  dc  rotacao.  Nao  e  por  tanto 
I'ura  dc  proposito  ]irever,  que  o  cquador  Icnla  ou 
subitamentc  tomar.i  o  logar  dc  mcridiano  ;  e  que 
o  sol  derrelcra  os  gclos  eternos  dos  polos,  tornando 
cultivavcis  aquellcs  vastos  tractos  de  terra. 

Este  futuro  calaclysmo  nao  seria  de  cerlo  o 
primeiro,  pois  que  o  Iransportc  das  rochas  cr- 
raticas,  as  frequentes  mudaneas  nos  Icitos  dos 
mares,  e  a  ausencia  dc  fosseis  humanos  nas  nos- 
sas  latitudes,  sao  notaveis  indicios  da  existencia 
de  taes  phenomenos  em  epocas  anteriores.u 


PUBLICAQOES  LITTERARIAS. 
ILLUSTRAgAo 

Luso-Braxileira. 

Jornal  universal,  collaborado  por  muitos  littera- 
tos  distinctos,  e  publicado  pelo  editor  do  Pano- 
rama, A.  J.  F.  Lopes. 

O  piano  da  Illustraciio  Luso-Brazileira  e  egual 
ao  das  publicacoes  similhantcs,  que  actualmente 
saem  na  Europa,  guardadas  as  dcvidas  proporcoes. 

A  lllustraQUO  Luso-Urazilcira  sahira  todos  os 
sabl^ados.  Cada  numero  contera  8  pagiuas  ou  24 
columnas  cm  formato  egual  ao  das  outras  similhan- 
tcs Illustracoes,  c  sera  ornado  dc  grandc  numcro 
de  gravuras  exccutadas  sob  a  direccao  do  nosso 
exccllente  gravador  o  sr.  Jose  Maria  Baplista 
Coelho. 

Tomam-seassignaturas  por  trimestrcs,  scmcstres 
c  annos  : 


Precos  cm  Lisboa . 


(  Anno 3^600 

,  ■'  Scmestre.  .  1^920 
(_Trimcstrc  .  1^000 


IVas  Provincias 

(Recebcudo  os  n.°*  em  casa  f  Anno  ....  3|^800 
dos  srs.  corrcspondentes)  (_Semestre.  .  2^^000 

(Recebcudo /'raHfo  pelo  cor-  |  Anno  ....  4|,00() 
rcUTj IScmestre.  .  2^100 

Todas  as  assignaturas  sao  pagas  adiantadas. 

Todas  as  pcssoas  das  provincias,  que  desejarcm 
subscrcver  paracstc  semanario,  podcrao  dirigir-sc 
aos  corrcspondentes  do  Panorama,  ou  ao  editor 
cm  Lisboa,  remettcndo  pelo  seguro  do  corrcio 
uma  ordcm  da  importancia  da  assignalura. 

Em  consequencia  dos  prcparativos  a  que  tcmos 

de  procedcr  para  assegurar  a  rcgularidadc  d'uma 

publicacao   tao   imporlantc,   o    primeiro   numcro 

sahira   no  primeiro  sabbado  do  mcz   dc  Janeiro 

I  proximo. 


192 


OBSERVACOES  XIIiTEOllOI.OGICAS,  FEU  AS  NO  GABI.NETE    DE  PllVSICA 
DA  UMVEKSIDADE    VE  COIMBUA. 


Anno  lie 
18S5 


.M^»  lie 


On, 


3 
4 

5 
S 
7 
8 
9 
10 
11 
13 
13 
14 
15 
IG 
17 
18 
19 
20 
21 


1.  ■— 


l-.'llliU' 


1j 
1.1 
14 
U 

l:i 

13 

13 

14 

14 

15 

15,5 

15  5 

15 

15,5 

15,5 

14,5 

14 

15 


Pfe:>»ilu  ntmo.iiilierica   ao  iiifiu  dia 


Altutn  baio* 
raetiica  a  o' 
.14  cicala  cca- 
tigrada. 


U,°78 


7<8,744 

741,144 

738,3^3 

739,135 

747, 7iU 

75li,.'>9l 

759,886 

759,003 

759,509 

757, aCB 

757,551 

755,778 

757,613! 

756,944 

754,765 

755,141 

756,9(6 

755,534 

753,lili 

7.i!i,544 

75i,U39 

753,304 

75i,3i4 

750.2o3 

745,85'i 

7  49,3«i 

750,141 

745,1174 

744,94+ 

741,3'Jj 

749,504 


Millimeli 


Pressrio  tlu 

ar  atjcco 


Esldtlii  hy^riiiiM-lrii-i.  (Im 
aln)u>[>lii-rH  iiu  mt-iuilia 


751,603° 


Tfmjieratura 

M;i\.  altsul.  .  16" 
Mill.  iiLsul.  .  13" 
Mux.  var.  .   .         3° 


9,'2;0 
9,778 
9,407 
9,!:88 
8,371 
7,9i5 
8,595 
8,li93 
8,455 
8,762 
9,178 
9,441 
9,397 
9,834 
9,834 
8,731 
8,693 
9,905 
9,524 
9,397 
9,143 
9,010 
9,016 
9,524 
9,524 
10,2i;7 
10,423 
10  558 
9,778 
8,381 
8,127 


739,474 

731,366 

729,576. 

729  847 

739,349 

7+8,666 

751,291 

750,310 

751,054 

749.104 

748,373 

746,337 

748,215 

747,110 

744,931 

746,410 

748, iU3 

745,629 

744,288 

743,117 

742.896 

744,21)8 

743,528 

740,739 

73(i,332 

739,095 

739,718 

734,516 

735,106 

733,014 

741,317 


Grau  d'bumi- 
iladt  do  .,r, 
rc)imenlandQ 
por  1  ,1  eJla- 
do  de  satura- 
fjii, 


Pressuo  aimospherira 
mm 

•Max.  ahsol.  759,88'; 
Minima absol.  738,983 
Max.  excurs.     20,903 


0,73 

0,77 

0,79 

0,78 

0.7,j 

0,71 

0,77 

0,73 

0,71 

0  69 

0^70 

0,72 

0,74 

0,75 

0,75 

0,71 

0,73 

0,78 

0,75 

0,74 

0,72 

0,71 

0,71 

0,75 

0,75 

0,76 

0,77 

0.711 

0,77 

0  66 

0,64 


QuanliJ.  de 
*apor  coiilido 
cm  um  mclru 
iiibicu  d'ar 


0,73 


9, .•'34 
9,845 
9,305 
9,384 
8,487 
8,035 
8.714 
8.783 
8.513 
8,822 
9,226 
9,490 
9,462 
9,885 
9,885 
8,1107 
8,783 
9,973 
9.590 
9,-162 
9,206 
9,078 
9  078 
9  590 
9  590 
10,32'S 
10,458 
10,594 
9,845 
8,439 
8,183 


(iraii  d'humiiiade  do  or 

Maximo  ....  0,79 
.Miniiuo  ....  0,64 
ftlaxima  variai;.     0,15 


N. 
O. 

s. 

N. 
NO 
N. 
.SO. 

N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
O. 
N. 
N. 
N. 
N. 
N. 
S. 

s. 

*:_ 

S. 

o. 
so 

N. 
N. 


i'Hiado  do  ri^u  r  ilo 
U'liijio  no  meio  din. 


Kncnkiertu.  B.  teni|io. 
Nulilado.  Bum  leni|)u. 
Knriilierto.  T.  clitivost, 
Niilitailii.  B'l.n  lempu. 
b^nculiiTi.  Bum  lempo. 
Claruelimjio  B.  U-mfi. 
Nnlij.ulj,  Bum  t^mpo. 
Li<c.  mililad.  B.  lf>ni|i. 
Cl.ir.  e  limp.  B.  Irmp. 
O  mesmo.  O  mpsnio. 
Encnbert.  Bum  temp. 
Nilbl.idu.  Buralempii. 
O  niesmn.  O  mesmo. 
Encnbert.  Bora  tempo. 
O  mesmu.  O  me.<mo. 
^fublHdlt.  Bum  lempo. 
O  nie#mu.  O  me»mo. 
Ciar.  e  limp.  B.  temp. 
O  mesino.  O  mesmo. 
Nnhladn.  Bom  lempo. 
O  mesmo.  O  nieiimo. 
Q  mesmo.  O  mesmo. 
O  me.<mo.  O  mesmo. 
Knrnbrrlo  T.  veiitono. 
Encobeilo  T.ehinoso. 
O  mesmo.  O  meginii. 
O  mesmu.  O  mesmo. 
O  mesniu.  O  mesmo. 
Noblado,  B.'in  lempo 
Niiblad.  T.  rhiiviocos. 
Nnlilado.  B  im  lempo. 


I'cntoa  domhtnnt, 
NO   eS. 


Coimbra,  I.°  de  Junho  de  1835. 


Antonio  Sanches  Gouliio,  Director  do  Gabinele  de  Physica. 


®  JuiStitttta^ 


JORISAL    SCIENTIFICO     E    LITTERAIUO. 


EXPEDIENTE. 

Assigna-se  este  Jornal  em  Coimbra  no  Ga- 
binete  do  Insliluto;  em  Lisboa  na  livraiia  do 
sr.  Cobellos,  rua  Augusta  n.°  2;  po  Porto  na 
do  sr.  Jacintho  A.  Pinto  da  Silva,  rua  das 
Hortas  n."  144;  em  Evora  na  do  sr.  V.  J.  da 
Gama,  collegio  de  S.  Paulo;  no  Pezo  da  Re- 
gua  na  do  sr.  M.  Mendes  Osorio. 

Toda  a  correspondencia  franca  de  parte  sera 
dirigida  —  A'  Bedacrao  do  InsiitiUo.  Coimbra. 

Preco,  adiantado,  por  anno,  ou  24 
numeros,  francos  de  parte 1^440 

Por  semeslre,  ou  12  numeros,  dictos       800 

Avulso 100 

Para  os  srs.  Assignantes  os  numeros, 
que  Ihes  faltarem  d'este  4.°  volume  se- 
rao  pelo  mesmo  prej o  d'assignalura  an- 
nual,  ou  cada  um GO 

Os  exemplares  que  restam  dos  volu- 
mes I,  II  elll  d'este  Jornal  vendem-se, 
cada  um,  por l^iOO 


mmm  superior  de  nsiRuctto  piblica. 

RELATORIO  ANNUAL. 

1850—1831. 

Senhora !  Entrc  os  importantes  deveres, 
que  ao  cousclho  superior  d'instruccao  piibli- 
ca  impoe  o  seu  regulaniento,  esta  o  de  levar 
a  soberana  picsenca  de  V.  M.  a  conta  an- 
nual do  estado  de  toda  a  instrurcao  piiblica 
do  paiz;  e  e  o  que  o  mesmo  conscllio  agora 
lem  a  honra  de  fazer,  em  relacao  ao  anno 
escholar  findo.  A  conta  nao  sera  per  ventura 
tao  miuda  e  inteira,  quanto  o  conselbo  deseja, 
e  qual  a  pede  materia  tao  complicada ;  nao 
sera  mesmo  tao  agradavel,  quanto  V.  M.  com 
a  Nacao  poderia  esperar;  sera  porem  dada 
com  aquella  verdade  singela,  que  muito  rele- 
va  chegue  sempre  aos  ouvidos  da  Magestade. 
Nao  se  tendo  ale  aqui  podido  superar  a  diffi- 
culdade  de  (ollier  a  tempo  os  precisos  escla- 
reciraentos  estatisticos,  fallecem  os  doeumen- 
tos  para  um  relatorio  copioso;  e  nao  pode 
levantar  edilicio  sem  fundamento.  Por  outra 
Vol.  IY.  Dezembbo  1.° 


parte,  nao  foge  a  sublime  considcracao  de  V. 
M.,  que  e,  nem  pode  dcixar  de  ser,  sempre 
lenta  a  marclia  das  relbrmas  litterarias,  ainda 
quando  Ihes  nao  embarguem  o  passo  as  vicis- 
situdes do  tempo.  Mas,  quando  os  ventos  c 
as  tempestades  abalam  a  planta,  certo  que 
nao  pode  o  cuidado  do  jardineiro  evitar  quo 
ella  padeca  ;  maiorniente  escaceando  os  nieios 
de  conserval-a.  Assim,  para  que  esta  formosa 
arvore    da    instruccao   ostente    seu   donaire, 
para  que  floreca  e  fructifique,  nao  bastam  a 
sollicitude  e  sabedoria  de  quem  ordena  a  sua 
cultura,  nem  o  afao  e  disvello  dos  que  a  diri- 
gem  e  administrara.  Por  isso  e  que  aos  esfor- 
cos  do  conselbo  nao  tern  plenamenle  respon- 
dido  0  cfieito;  e,  no  estado  actual,  a  instruc- 
cao,  com  quanto  se  nao  ache  descahida  ou 
degenerada,   antes,   aos  olhos  dos  que  a  sa- 
bem  apreciar,  offerece  uma  face  menos  desa- 
gradavel   do  que  era  de  recear ;  soffre  com- 
tudo  ainda   algumas  necessidades,   que   por 
ora  nao  podem  remediar-se  completamente. 
E  0  que  ha-de  ver-se   por  este  relatorio;   o 
qual,  tomando  pela  rota  e  piano,  por  V.  M. 
sabiaraeute  desenhado,   na   portaria  circular 
do  I."  de  outubro  de  18S0,  constara  de  cinco 
pontes    capilaes.     Dar-lhc-ha    entrada    uma 
succinta  noticia  dos  trabalhos  da  direccaa  e 
inspeccao,    I.'   parte:    scguira  depois  o  que 
respeita   a   instrnccdo   primaria,    i.'   parte: 
d'ahi  percorrer;;  o  quadro  da  instruccao  se- 
cundaria,   'i.'  parte:   entao  vira   em  seguida 
ao  que   pertenee    a   instruccao   especial,    k.' 
parte:  subirao  d'alli  a  instritccdo  superior,  S." 
parte:  o  remate  dara  em  substancia  os  resul- 
tadas. 

PRIMEIRA  PARTE. 

Direccao  e  inspeccao. 

Encarregado  da  direccao  geral  da  educa- 
cao  e  instruccao  piiblica,  o  conselho,  conti- 
nuando  com  o  seu  zelo  (permitta-lhe  V.  M. 
que  0  diga),  com  o  zelo  e  desvelo  pelo  tempo 
ja  provados,  proseguindo  por  todo  o  anno 
escholar  de  1850 — 1851  sens  arduos  traba- 
lhos sobre  os  meios  de  propagar  os  estudos, 
e  promover  seu  progresso  e  aperfeicoamento. 
Apezar  de  nao  ser,  para  a  multidao  e  gravi- 
dade  dos  negocios,  sobejo  o  numero  de  oito 
vogaes  ordinaries,  de  que  a  lei  compoz  o 
—1853.  Num.  17. 


194 


conselho:  apezar  de  se  nao  ter  ainda  substi- 
tuido  a  falta,  que  elfe  ainda  hojc  diora,  d'um 
vogal,  que  no  aniio  anterior  passara  a  mclhor 
vida;  apezar' de  que,  jior  alf^uns  niezes,  ([ue 
outro  vogal  passou  no  parlamento,  o  nuniero 
flcasse  reduzido  a  seis:  o  conseliio  todavia 
se  esforrou  ])or  euniprir,  a  todo  seu  poder. 
sua  elevada  missao;  seni  (|ue  pareea  tercm 
sens  liomi)ros  fraqiieado  sol)  tao  pesado  sor\  j- 
co.  Al)nndantcmenlc  o  testilieam  as  copias 
das  actas,  que  em  lodos  os  niezes  sac  levadas 
a  augusta  presenea  de  V.  M. 

Entre  os  innumcraveis  lral)aliios  da  direcrao 
geral  no  anno  lindo  avullaiu  os  que  se  vao 
a  referir.  Approvados  por  V.  M.  esles  reguia- 
mcnlos — 1."  sobre  a  administraeao  littera- 
ria,  moral  e  diseiplinar  das  escbolas  d'instruc- 
cao  priniaria: — 2."  para  o  provimento  das 
cadeiras  do  niesmo  ranio  no  primeiro  e  se- 
gundo  grau:  —  '.l."  para  o  provimento  das 
cadeiras  d'instruccao  secundaria  (decrctados 
em  20  e  30  de  dezembro  de  1850,  e  10  de 
Janeiro  ultimo),  o  conselho  fez  transmiltir 
estes  regulamentos,  e  outras  ordeus  supe- 
riores  aos  sens  delegados,  dando-lhes  as 
instruccocs  que  mais  convenientes  parcceram 
para  a  sua  facil  execucao.  Novas  medidas 
regulamentares  foram  'neste  anno  pelo  Con- 
seliio submettidas  ii  approvacao  real;  como — 
um  projecto  de  regulaniento  para  a  admissao 
d'alumnos  internos  no  lyceu  nacional  de  Bra- 
ga,  na  forma  do  art.  09  do  decreto  de  17 
de  uovembro  de  1830;  por  haver  parecido 
ao  conselho  d'aqtielle  lyceu,  que  tal  medida 
poderia  ser  parte  pant  ievantar,  sem  gravame 
do  thosouro,  a  instruccao  elementar  do  aba- 
timento,  em  que  se  suppunha  'naquelle  distri- 
cto.  Assim  procurou  o  conselho  superior  nao 
perdcr  esta  primeira  occasiao  d'ensaio  da 
disposiciio  do  citado  artigo;  que  grande  van- 
tagem  podera  trazer,  se  por  est'arte  se  conse- 
guir  que  a  mocidade  receba,  simultaneamen- 
te  com  0  ensino  litterario,  a  educacao  moral, 
que  0  deve  sempre  acompanhar.  —  Outro  pro- 
jecto de  regulamento  para  a  aula  de  tachi- 
graphia,  anne\a  a  seccao  occidental  do  lyceu 
nacional  de  Lisboa,  regulamento  em  que  se 
propoe  0  modo  de  ser  provida  a  cadeira,  de 
geito  que  com  o  proveito  do  ensino  se  com- 
padeca  a  cconomia  do  thesouro.  Fez  egual- 
niente  o  conselho  colligir,  coordenar  e  impri- 
mir  toda  a  legislacao  sobre  a  instruccao  pii- 
blica,  primaria,  secundaria  e  superior,  desde 
a  reforma  de  1830,  ate  10  de  Janeiro  do  cor- 
renle  anno.  Porque,  havendo  reeonhecido  a 
uecessidade  de  promover  a  publicidade  da 
mesma  legislacao,  entendeu  o  conselho  que, 
unindo-a  em  um  so  corpo,  se  havia  de  faci- 
litar  mais  o  conhecimento  d'ella,  a  lim  de 
poder  ser  devidaraente  executada  pelos  respe- 
ctivos  erapregados.  E  como  para  o  uso  de 
cada  um  dos  professores,  e  oulros  funcciona- 
rios  dos  divcrsos  ramos  d'instruccao  piiblica, 


nao  era  mister  a  colIccfSo  inteira ;  houve  o 
cuidado  de  fazer  imprimir  scparadaniente,  ou 
sobre  si,  cada  um  dos  diversos  artigos  que  a 
conipoe;  de  modo  ijue  para  os  dill'erentcs 
dcstinos  possam  desmerabrar-se  os  artigos  que 
Ihcs  foreni  applicaveis. 

0  cuidado  que  ha  sempre  tido  o  conselho, 
em  promover  a  composicao  e  introduccao  de 
livros  elcmentares,  tambem  o  occupou  no 
anno  lectivo  lindo;  revendo  e  approvando  os 
que  julgou  mais  dignos  de  adoptar-se  para  o 
uso  escholar,  rejeitando  com  tiido  os  defei- 
tuosos.  Para  com  alguns,  poreni,  enibora 
'nelles  topasse  com  alguns  descuidos  ou  raan- 
clias,  a  que  nem  sempre  eseapa  a  condicao 
hiimana.  sobre  pensado  nao  ousou  o  conse- 
lho de  rigorosa  censura;  imitando  assini  o 
que  se  o  observa  em  outras  nacoes.  liilendeu 
que  unia  critica  niniianiente  severa,  matando 
0  cspirito,  e  comprimindo  sentimenlos  no- 
bres,  sufl'oca  muitas  vezes,  a  nascenca,  ger- 
mes,  que  deixados  desinvolver,  poderiam  um 
dia  vir  a  dar  bom  I'ructo.  Intendeu  que  rele- 
va  muito  favorecer  os  enganos,  para  que  se 
multipliquem  os  escriptos,  e  d'est'arte  se  fran- 
quea  0  logar  a  escolha.  Numerosa  (i  ja  a  lista 
d'esses  livros  elemcntares,  ([ue  o  conselho  ha 
mandado  publicar  annualmente;  lendo  uns 
sido  espontaneamente  offerecidos,  outros  cn- 
carregados  aos  vogaes  extraordiuarios.  Os 
nomes  de  sens  auctores  tern  sido  honrosa- 
mente  raemorados  nos  relatorios  anteriores: 
'neste  anno  foram  revistos  e  approvados  para 
entrar  no  catalogo  dos  livros  elcmentares  em 
instruccao  primaria  —  Novo  Abcedurio  e  Nova 
Taboada  para  ii.fo  das  esclwlas,  por  J.  S.  Ban- 
deira:  —  Compeirdio  de  Aritlinielica  por  Joa- 
quim  Maria  Baptista  :  —  Tractado  dos  princi- 
pios  d'Arillimettca  serjundo  o  melhodo  de  Pesta- 
lozzi,  por  M.  Tate,  traduzido  por*««:  — 
Compeiidio  de  moral  para  uso  das  escholas 
primarias,  por  M.  A.  F.  Tavares:  —  Uudi- 
menlos  de  leitura  portiiijueza,  por  M.  J.  Pires: 
—  Na  instruccao  secundaria:  —  Elemenlos  de 
moral  e  princijnos  de  Direilo  Natural,  por 
B.  J.  da  Silva  Carneiro:  —  Cnrso  (jrammuli- 
cal  das  liiir/uas  latinn  e  porltifjueza,  por  Joao 
Teixeira  de  Vasconcellos:  —  na  instruccao 
superior,  —  Liroes  de  I'hilosophia  Chimica, 
por  Joaquim  Auguslo  SimOes  de  Garvalho:  — 
Taboas  da  Lua,  por  Florencio  Mago  Barreto 
Feio.  Alem  d'estas,  outras  obras  ha,  de  cuja 
revisao  se  occupa  o  conselho.  Publicados  fo- 
ram tambem  ja  os  programnias,  approvados 
por  Y.  M. ,  para  conipendios  sobre  arjricul- 
lura,  mechanica,  phijsica  c  chimica  com  appli- 
cacao  iis  artes;  propondo-se  premios  a  qucni 
OS  fizer  com  a  devida  elegancia  e  perspicaci- 
dade.  Alguns  vogaes  extraordinarios,  que  ain- 
da nao  satisfizeram  a  composicao  dos  livros, 
que  Ihes  fora  encarregada,  tt^m  declarado  nas 
conferencias  parciaes,  que  proseguem  com  a 
necessaria  reflexao  e  madureza  em  suas  traba- 


195 


Ihosas  lucubrafoes.  Estcs  vogaes,  que  actual- 
racnle  sao  vinte  e  quatro,  e  dos  quaes  se  acham 
ausentessete,  como  pertencentes  aocorpouni- 
vcrsitario,  e  por  isso  mcsmo  sujeilos  ao  ser- 
vico  de  suas  respectivas  Faculdades,  iiem  scm- 
pre  podom  cmprcgar  no  servifo  do  conselho 
aquella  assiduidade  c  zelo,  ([ue  o  seu  genio 
ou  0  sou  propiio  interesse  Ihes  podcni  inspi- 
rar,  como  em  outros  relatorios  se  levou  ja  ao 
alio  conhecimenlo  de  V.  M.  (Mappi  n.°  1). 

Pelo  que  respeila  a  inspeccao  de  toda  a 
administracao  das  eschnlas  e  estalielecimentos 
d'inslruccao,  egualniente  se  nao  ha  descui- 
dado  0  conselho  em  dar  impulse  ao  cumpri- 
racnto  das  leis,  legulamentos  e  inslrucfoes  por 
intervencao  de  scus  delegados,  a  qui-iu  com- 
pete a  inspeccao  especial  e  ininicdiata  das 
mesmas  escliolas.  Por  nieio  de  frequcnles  in- 
formacOes,  havidas  dos  govcrnadores  civis  e 
dos  commissarios  dos  csUidos,  vela  constante- 
mente  o  conselho,  para  que  se  nao  introdu- 
zam  ahusos  ou  relavacoes  na  observancia  das 
disposifoes  legislativas  e  regulamcntares;  e 
de  feito  tern  reprimido,  quanto  em  si  e,  o 
desleiM  d'alguns  professores  applicando-lhcs 
penas  diseiplinarcs;  e  reprehcndendo  os  ne- 
gligentes,  ou  propondo  a  demissao  dos  mais 
indignos:  assim  como  lambem  puhlicando  os 
louvorcs  pelos  heuemeritos. 

Mas  para  a  inspeccao  das  escholas  produ- 
zir  OS  eiVeitos  que  se  dcsejam,  forca  e  dizel-o, 
muito  nos  falta  ainda:  nao  bastam  os  com- 
missarios dos  estudos,  ainda  sendo,  como 
alguns  sao,  zelosos  da  instruccao  piiblica ; 
nao  bastam  os  governadores  civis  e  os  admi- 
nistradores  dos  concelhos.  Sobre  raodo  ne- 
cessaria  se  torna  a  nomeacao  dos  suhdelega- 
dos,  que  auxiliem  os  commissarios;  sao  in- 
dispensaveis  as  visitas  das  escholas,  e  I'eitas 
amiudadamentc,  e  cm  fim  preciso  collocar 
todas  as  escliolas  em  edilicios  piiblicos.  Islo 
poreni  e  o  que,  apezar  das  lidas  e  esforcos 
do  conselho,  so  nao  pode  ate  agora,  nem 
f'acilmenle  podera,  levar  ao  cabo.  Para  a 
escoiha  dos  subdelegados,  tern  o  conselho 
exigido  dos  commissarios  as  informacoes  pre- 
cisas  sobre  as  pessoas  mais  idoneas  para  tao 
imporlante  servico;  mas  porquc  mui  poucos 
tern  satislcito,  aguarda-se  o  cumprimento  de 
lodos,  para  dcpois  serem  propostos  a  appro- 
vacao  de  V.  M.  os  mais  dignos.  Nao  e  menos 
difficil  0  achar  casa  piiblica  para  os  profes- 
sores de  instruccao  primaria,  tendo  'nesta 
parte  sido  muito  infructuosos  os  eslbrcos  do 
conselho,  que  nao  cessa  todavia  de  invesligar 
OS  meios  de  rcmediar  tanianha  necessidade. 

Tamhem,  como  tica  indicado,  nao  tern  sido 
possivel  ainda  conseguir  na  epocha,  prescripta 
pela  lei,  os  relatorios  parciaes,  e  mappas 
estatisticos,  que  os  commissarios  devem  re- 
metter  ao  conselho,  para  servirem  de  base  a 
pstatistica  geral.  Esses  mesmos  relatorios, 
alem  de  serein  tardios,   sao  sempre  incom- 


pletes, nao  obstante  os  repetidos  avisos  do 
conselho,  c  a  dcspcito  das  penas  de  suspen- 
sao,  que  alguns  commis!*;^rios  ja  tern  solrido. 
E  por  isso  que  do  anuo  lectivip  lindo  somenle 
ate  aqui  chegaram  a  secretaria  relatorios 
parciaes,  e  mappas  904:  faltaudo  os  denials. 
Uonde  forcosamente  resulta  a  impcrl'eicao  do 
relatorio  geral,  como  nos  annos  anteriorcs 
se  levou  ao  conbecimento  de  V.  M.  ;  sendo 
assim,  que  nao  pode  saber-se  ao  certo,  nem 
0  numero  d'aliimnos,  que  I'requentam  as 
escholas,  nem  o  aproveitamento  ou  atraso 
dos  mesmos  alumnos;  nem  por  conseguinte 
comparar  bem  o  estado  da  instruccao  porlu- 
gueza  com  o  das  outras  nacoes  cultas.  0  con- 
selho porem,  qucrendo  remediar  esta  i'alta, 
aprcsenta  a  estatistica  do  anno  anterior,  poslo 
que  ainda  iniperfeita  pela  oramissao  dos  dele- 
gados. Nao  seria  assim  se  os  delegados  imi- 
tasscm  a  sollicitude  da  secretaria  d'este  con- 
selho, a  qual  com  perl'elta  intelligencia,  zelo, 
e  ponctualidade,  descmpenha  suas  funccoes; 
achando-se  todos  os  trabalhos  da  secretaria 
em  inteira  regularidade.  Do  desempenho  das 
obrigacoes  da  secretaria,  assim  como  das  fa- 
digas  do  conselho  da  irrefragavel  testemunho 
0  numeroso  expediente  ordinario  e  extraordi- 
nario.  D'esde  os  lins  de  novembro  do  anno 
passado  ate  25  de  novembro  corrente  expe- 
diram-se  185  consultas  a  V.  M.  sobre  varies 
objectos,  relatives  aos  trez  ramos  d'instruc- 
cae;  como  transferenclas  de  cadeiras,  creacao 
d'outras,  provinientos  vitalicios,  jubilacoes, 
aposentafoes,  reprehensoes,  exoneracoes  de 
professores,  e  louvores  dos  benemeritos.  Per- 
tarias  e  officios  1:405 — editaes  para  concur- 
sos  1:230 — annuncies  para  o  Diario  do  Go- 
verno  85  —  provimenlos  temporaries  123  — 
titulos  de  auctorisacao  para  collegies  de  en- 
sino  primario,  e  secundario  2  —  certidoes  de 
capacidade  para  mestres  parliculares  12 — ■ 
projectos  de  regulanientos  4. 

Contiiiua. 


CARTA  DO  SR.  A.  HERCULANO.' 

Srs.  Redactores.  Em  o  n.°  13  do  seu  apre- 
ciavel  jornal,  que  YY.  tem  tido  sempre  a 
benevolencia  de  me  remetter,  acabe  de  ler 
urn  artigo  de  sr.  M.  R.  de  Yasconcellos 
iicerca  da  revolucao  de  1246,  no  qual  Mello 
Freire  e  eu  somos  accusados  de  termos  escripto 
sobre  esse  accentecimento  dominados  pelo  es- 
pirito  de  malquerenca  contra  o  clero,  impu- 
tando  eu  em  especial  a  este  e  as  intrigas  da 
corte  de  Roma  a  queda  do  inl'eliz  Sanche  11. 

Estou  tao  habituado  a  accusacoes  de  sirai- 

*  l£staTa  ju  p&ra  entrar  no  prelo  ^e  oumero,  quandu 
recebemos  esta  carta,  com  que  nos  honrou  o  sr.  A.  Her- 
culano,  e,  para  nao  demorar  a  sua  pubIica(jJio,  reliramoi 
outros  artigos.  que  se  acharam  compostos.         Os  RU. 


196 


Ihante  Mlurcza,  tao  resolvido  a  nao  defender 
o  men  pobre  livro,  que  nao  hade  valer  nem 
deixar  de  valer  no. future  mais  ou  menos  por 
cssas  aggressoes  c  dflbsas,  raas  pelo  que  tivcr 
bom  ou  man,   e  em  lim  aclio-nic   reu  em  tao 
honrada  com|)anliia,  que  de  certo  nao  os  tcria 
inc'ommodado  com  esla  carta,  se  aquclle  artigo 
nao  fosse  de  quern  e,  e  se  alii  nao  se  cncon- 
trasse  uma  nota,  que  iniporta  a  Academia  Heal 
das  Si'lenrias  de  Lishoa,  a  qua!  parece  ligurar 
'ncssa  nota  romo  cumplice  'numa  espoliarao. 
Pelo  cargo  que  occupo  na  Academia  teniio, 
mais  (|ue  ninguom,  o  dcver  dc  pugnar  pela 
dignidade  d'ella;  e  e  esse  o  principal  motivo, 
por  que  importune  a  YV.;  mas  a])roveilarei 
conjunctamente  a  occasiao  de  fazer  algumas 
observacoes  ao  auctor  do  artigo,   cxceilente 
pessoa,  por  quern  tenlio  sympathia  c  estima  ; 
mas  que,  novel  'ncstas  iidas  iiisloricas,  corre 
apezar  da  sua  edade,  com  urn  ardor  dejuvcn- 
tude,   que  pode  precipita-lo  muitas  vezcs,   e 
que  ja    'neste    artigo  o   precipilou.    Yamos, 
porem,  ao  principal  objecto  da   minha  carta. 
'Nessa  nota,   a  que  alludo,  reforindo-se  a 
urn  documcnto  do  archivo  da  se  de  Coimhra, 
0  sr.  Vasconcellos  diz  que  este  documento  com 
outros  dos  scculos  XII  e  XllI  foram  remet- 
tidos  por  ordem  do  Governo  a  Academia  das 
Seiencias,  ficando  asxim  o  cartorio  da  cathedral 
privado  da  sua  propriedade.  Independente  de 
nao  poder  o  cartorio  da  se  de  Coimbra,  'nem 
ncnhum  cartorio  d'este  mundo  ser  proprietario 
de  cousa  nenbuma,  parece  deduzir-se  d'csta 
singular  phrase,   que  o  Governo  cnlrogou  a 
Academia  os  documentos  do  seculo  XII  e  XIII 
existentes  no  archivo  do  cabido  de  Coimbra. 
Podia  faze-lo,  porquo  nao  exorbitava  do  seu 
direito.  A  Academia  6  uma  estacao  piiblica, 
e  esses  documentos  pode   o   Governo   collo- 
cal-os  onde  melhor  julgar  qne  se  prove  a  sua 
conservacao,  ou  onde  entender  que  sao  mais 
uteis.  Entretanto  o  facto  nao  e  esse.  A  Acade- 
mia pcdiu  ao  Governo  que  os  raandasse  vir  a 
Lisboa,  para  se  |)uhiicarcm,  os  que  o  raereces- 
scm,  na  colieccao  dos  monumentos  historicos 
de  Portugal,  trabalho  comprehcndido  jjela  se- 
gunda  classe  da  Academia  e  subsidiado  especi- 
almente  pelas  Cortes.  No  seu  zelo  pcia  salva- 
cao  dos  restos  dos  nossos  antigos  monumen- 
tos, desbaratados  no  meio  das  luctas  poiiticas 
d'esta  epocha,  mas  nao  menos   desbaratados 
pela  ignorancia  ou  dcsleixo  das  corporacoes  de 
niao  niorta,  que  ate  abi  os  possuiam,  ou  ainda 
possuem,  a  Academia  nao  os  quiz  em  seu  poder, 
e  sollicitou  que  fossem  depositados  no  Archivo 
Geral  do  reino,  para  abi  ser  feito  o  exanie  e 
escolba  d'elles  e  ahi  mesmo  sercm  transcriptos. 
I'tili.sados  por  tal  modo,  sera  dcpois  o  Governo 
quem  resolva  sobre  o  seu  ulterior  destino;  e 
esteja  o  sr.  Vasconcellos  certo  de  que  a  Acade- 
mia das  Seiencias  nao  se  inquinara  na  hor- 
rorosa  espoliacao  da  propriedade  do  cartorio 
da  se  de  Coirabra.  Agora  pelo  que  respeila  a 


minha  opiniao  particular,  e  ella,  que  esses  c 
todos  OS  outros  documentos  analogos,  que  per- 
lencem  ao  Estado,  se  recolbam  e  guardcm  na 
Torre  do  Tombo.  Tendo  sido  eommissario  da 
Academia,  para  examinar  os  archives  do  norte 
do  reino,  tenciono  ])ublicar  um  dia  a  noticia 
do  estado,  cm  que  achei  os  documentos  dos 
cabidos,  das  collegiadas,  dos  mosleiros,  ex- 
tinctos  e  nao  cxtinctos,  e  das  camaras.  '.Nessa 
Iriste  narrativa,  apparecerao  os  fundamentos 
da  minha  o])iniao.  Os  factos  relalivos  aos 
cartorios  de  (loimbra  nao  sao  dos  menos  cu- 
riosos;  e  o  testemunbo  insuspcito  de  muitos 
dos  mais  res|)cita\eis  caractercs  da  Universi- 
dade  podcra  abonar  'nessa  parte  a  exaccao 
da  mesma  narrativa. 

Agora  que  o  sr.  Vasconcellos  me  permilla 
dar-Ihe  alguns  bons  conselhos,  apezar  dos 
sens  cabellos  brancos.  Os  mens  ja  vao  sendo 
gnsalhos,  e  em  tractar  materias  Iiisloricas  sou 
um  pouco  mais  vclho  do  que  elle.  As  obser- 
vacoes, quelhe  dirijo,  sao  uma  prova  da  con- 
sideracao  em  que  o  lenho.  Ua  aggressores  a 
quem  nao  respondo,  nem  faco  reflexnes,  nem 
dou  conselhos.  Ganhamos  todos  'nisso.  Elles 
ficam  contcntes  de  si  por  me  havercm  fulrai- 
nado,  e  nao  falta  quem  os  applauda.  0  ap- 
plaudir,  scja  o  que  for,  e  sempre  delcitoso  ; 
dcsopprime  o  coracao.  Eu  divirto-me,  e  poupo 
tempo.  Tiro  assim  duas  vantagens  de  guardar 
silencio  no  meio  do  ruido  que  fazcm  todos 
esses  talentos  e  toda  essa  sciencia  historica, 
que  andavam  sumidos  'nesta  boa  terra  de 
Portugal,  e  que  se  nao  fossem  os  meus  erros 
e  desvios  nao  teriam  illuminado  os  horizontes 
da  patria. 

0  sr.  Vasconcellos  accusa  a  Mello  Freire 
e  a  mim  de  espirito  de  ma  fe,  e  de  pouco 
conhecimento  da  materia  na  exposicao  das 
causas,  que  trouxeram  a  queda  do  desgracado 
Sancho  II. 

Sou  um  pouco  falto  de  entendimento,  e 
qualquer  icha-corvos  ou  jcsuita  pode  dar  teste- 
munbo de  que  tambem  sou  giande  poccador. 
Achando-nie  de  ma  fe  e  ignorante,  o  sr.  Vas- 
concellos podia,  sem  inconveniente,  dize-lo.  0 
nome,  porem,  de  Mello  Freire,  requcria  maior 
circumspcccao.  0  illustre  lente  da  Iniversi- 
dade  foi  homem  de  genio  e  de  saber,  e  tide 
sempre  como  respcitavcl  cscriplor.  Quando 
cremos  encontrar  erros  ou  menos  sinceridade 
nos  livros  de  auctores  taes,  o  meio  melhor 
de  accrtar  e  comecarmos  por  duvidar  da  nos- 
sa  propria  intelligencia.  Este  conselho  nao  e 
meu  ;  e  de  Quinctiliano.  Nao  perde  por  ser 
velho.  Pelo  (jue  me  toca,  o  sr.  Vasconcellos 
aflirma,  que  eu  iniputei  a  (lueda  de  Sancho 
II  ao  clero  e  as  intrigas  da  ccirte  de  Roma. 
Nada  mais  inexacto  ;  attribuo-a  a  diversas 
causas;  aos  odios  das  parcialidades,  em  que 
OS  grandes  .se  dividiram  na  mcnoridade  da- 
quelle  principe,  a  frouxidao  d'este  nos  ados 
de  administracao,  a  lucta  das  facfoes,  em  que 


197 


como  era  natural,  figuravam  principalmenle 
OS  turbulcntos  prclados,  e  a  ambii;ao  c  dcsleal- 
dade  do  Conde  de  Bolonha.  E  isso  o  que  esla 
no  nicu  livro,  c  terei  o  gosto  de  ver  como  o 
sr.  Vasconcellos  prova  o  tontrario.  As  iutrigas 
da  corte  de  Roma  eque  uao  podia  atlriliuil-a. 
A  corte  de  Uoma  intrigava  pouco  cntao : 
tinha  as  virtudes  e  os  vicios  dos  fortes:  era 
cubicosa  e  violenta,  mas  era  franca;  eneanii- 
nhava-se  aos  seus  (ins  com  a  fronte  erguida 
e  a  luz  do  sol.  Foi  depois,  quando  graduai- 
monte  enlraquecida  pelo  cxcesso  dos  seus 
abuses  e  crros,  nao  pode  conlinuar  a  man- 
ter-se  na  altura  politica,  em  que  Iliidebrando 
acoiiocara,  que  a  astucia,  os  menoios  occul- 
tos,  as  corrupcoes  pequenas  e  vergonhosas,  a 
duplicidadc,  reduzida  asystema,  substituirani 
na  curia  romana  a  energia  do  seu  anterior 
predominio.  Se  o  sr.  Vasconcellos  mc  quer 
accusar  por  descrevel-a  com  esses  caracteres, 
nao  faca  corpo  de  delicto  do  livro  V  da  historia 
de  Portugal ;  teni-nie  reu  confesso,  e  mais 
que  confesso:  no  II  volume  da  historia  do 
eslabelccimento  da  Inquisirao,  que  se  acaba 
de  publicar  ,  ahi  vera  deduzido  de  documen- 
tos  incontroversos,  o  quadro  repugnante  da 
dobrez,  das  baixas  corrupcoes,  das  intrigas, 
da  avidez,  e  da  dissimulacao  da  curia,  na 
epocha  a  que  esse  quadro  e  verdadeiraraente 
applicavel. 

Como  0  sr.  Vasconcellos  encetou  urn  pouco 
tarde,  ao  menos  como  escriptor  ptihlico,  os 
seus  trabalhos  historicos,  e  natural  faltar-lhe 
certa  destreza  na  averiguacao  e  reduccao  das 
datas,  dote  indispensavel  em  quera  escreve  a 
vista  dos  docuraentos  da  edade  media.  Quando 
estamos  pouco  habituados  aos  calculos  cbrono- 
logicos,  nada  mais  facil  do  que  iiludirmo-nos, 
e,  transtoruando  datas,  conl'undir  ludo.  Se  o 
sr.  Vasconcellos,  soguindo  o  i)receito  de  Quin- 
ctiliano,  duvidasse  mais  do  si,  nao  comecaria 
por  assentar,  como  base  do  seu  trabalbo,  a 
rectilicacao  de  um  supposto  erro  meu.  Dcscre- 
vi  ccrtas  contendas  do  bispo  de  Coimbra  D. 
Pedro  com  a  roroa,  como  occorridas  nos  tins 
do  reinado  de  Sancho  I.  Descubriu  o  sr. 
Vasconcellos  que  isto  era  um  erro,  e,  para  o 
provar,  estriba-se  na  bulla  si  te  diligenter  de 
7  das  calendas  deniarco  do  anno  XIV  do  pon- 
tificado  de  Innocencio  III,  original  no  archive 
da  se  de  Coimbra.  Na  sua  opiniao  desloquei 
conipletamente  os  successes,  e  attribui  o  que 
pertencia  a  epocha  de  Affonso  II  a  deseu  pae. 
Se  assini  fosse,  a  cquivocacao  era  nao  so  gros- 
^  seira,  mas  tambem  importantc.  A  bulla  porem 
I  si  te  diliyenler  tern  na  edicao  de  Baluzio,  de 
que  eu  me  servi,  a  mesma  data  que  no  original 
de  Coimbra.  0  sr.  Vasconcellos  e  que  nao 
{  soube  reduzir  essa  data  ao  compute  corrente. 
Diz  elle  que  sendo  VII  kal.  maitii  pontific. 
XIV  equivalente  a  22  de  fevereiro  de  1212, 
aquella  bulla,  era  que  se  ponderam  as  queixas 
do  bispo  de  Coimba  e  as  violencias  do  rei,  e 


dirigida  a  Affonso  II  e  nao  a  Sancho  I.  Infe- 
lizmente  nem  VIl  kalAinardi  eorresponde  a 
22,  mas  sini  a  2'.{  de  fevereiro,  nem  o  XIV 
anno  de  Innocencio  III  a  1212,  mas  sim  a 
1211,  que  sao  as  datas  que  eu  escrevi.  0 
poutilicado  de  Innocencio  111  comejou  a  8 
do  Janeiro  de  1198,  e  o  VII  dia  das  calendas 
de  niarco  I'oi,  e,  esera  sempre  (salvo  nos  annos 
intercalares)  a  23  de  fevereiro,  em  quanto  o 
cardeal  Antonelli,  on  o  Geral  dosjesuitas  nao 
mandarcm  o  I'ontrario.  Nao  so  essa  bulla, 
escripta  quando  Sancho  I  se  inclinava  para 
0  tumulo,  e  expedida  provavelmente  um  pouco 
mais  tarde,  e  dirigida  a  estc  principe;  mas 
tambem  o  e  cxpressamente  [Suiicio  illuslri 
recji  poiiuyalensi)  outra  de  26  de  maio  de 
1211  (Vll  kal  junii  ann.  XIV)  datada  dous 
mezes  depois  da  sua  raorte.  E  que  na  curia 
se  ignorava  o  facto,  porque  ainda  nao  havia 
nem  telegraplios  eleclricos,  nem  sequer  os 
ordinaries,  e  as  communicavoes  entre  Por- 
tugal e  Roma  eram  dilliceis  e  tardias.  0  sr. 
Vaseonsellos  pode  ler  essa  ultima  bulla  no 
Registo  de  Innocencio  111,  publicado  por  Ba- 
luzio, ou  na  colleccao  de  Aguirre  e  Catalan!, 
onde  tambem  vem  trauscripta. 

0  auctor  do  arligo  enthusiasmou-se  com 
um  inquerito  de  1232,  que  achara,  equal  me 
mostrou,  quando  comccci  o  exame  docartorio 
da  sii  de  Coimbra,  e  que  pertence  a  um  vo- 
lunioso  processo,  cujas  diversas  pecas  encon- 
trei  depois  espalhadas  entre  os  feixes  de  per- 
gaminbos,  cubertos  de  p6  secular,  e  assigna- 
lados  com  o  ferrete  de  inuieis,  que  povoavam 
uns  armarios  do  mesmb  archive.  Aquelle  in- 
querito e  interessanle,  mas  insuCBciente,  ain- 
da compulsando  tambem  as  outras  pecas  do 
processo,  para  fazer  a  revolucao  bistorica 
aci;rca  do  reinado  de  Sancho  II,  que  o  auctor 
do  artigo  nos  promette.  Cabem  aqui  algumas 
rellexoes  que  Ihe  podem  ser  uteis.  Uma  das 
cousas,  que  rc(|ucrem  maior  tino  historico, 
e  0  estudar  um  inquerito  d'aquellas  eras  com 
0  inluito  de  illuslrar  successes  politicos.  As 
testcmunhas,  em  rcgra,  variam  nos  acci- 
dentes,  e,  nao  rare  na  essencia  dos  factos, 
contradizem-se  frequentemente,  e  os  seus  de- 
poimentos,  quanto  a  datas,  sao  quasi  sempre 
ilucluantes  e  incertos,  sobretudo  tractando-se 
de  averiguar  accontecimeutos  anteriores  de 
20,  30  ou  mais  annos,  como  succedia  quan- 
do se  fez  a  inquiricao  de  12o2.  Para  tirar 
algum  fructo  de  similhantes  documentos  e 
necessario,  alem  de  muita  experiencia  e 
perspicacia,  afleril-os  por  outros  mais  preci- 
ses, directaraente  relatives  ao  facto,  que  se 
pretende  illustrar,  e  subordinal-os  a  estes  ulti- 
mos.  Por  desconheeec,  taes  doulrinas  e  que  o 
sr.  Vasconcellos  preteiide  que  seja  inexaclo. 
que  0  bispo  de  Coimbra  DV  Pedro  se  achasse 
do  lado  de  Affonso  II  nas  luctas  d'este  prin- 
cipe com  0  metropolita  Estevam  Soarcs,  lu- 
ctas,  que  se  proirahiram  desde  1219  quasi 


198 


ate  a  morte  do  rei,    reconhecendo  alias  que 
me  fiindo,  para  assim  o  referir,  'nura  docu- 
meiito  incontroyerso,  a  bulla  de  16  de  jimlio 
de  liii.  Niio  me  ostriliei  so  'nella,  eslribei- 
me  na   bulla  Sperubamiis  hactemis  de  i'i  de 
dezembro  dc    12i0,    dirigida  exprcssamcnte 
ao  bispo  de  Coimbra,  em  (|uc  o  pa[)a  Hie  e\- 
probra   a  sua  submlssan  ao  rei,    irabindo   o 
arcebispo,  a  queiu  pronietlera  scrvir,  iiegan- 
do-llie  por  subservieiiria  ao  monarcba,  todo  o 
soccorro,  e  despresando  as  censuras  de  Esie- 
vam  Soares.  Entcnde  o  aiictor  do  artigo  (|iie 
esta  uarracao  nao  e  exacta;  por(]iie,  segiiiulo 
a  chronologia,  que  elle  accreditou  cncoiUnir 
no  iM(iuerito  de  liol,   os  aniios  de  12211  a 
1222  caem  deiitro  dns  oilo,  em  que  o  bispo 
de  Coimbra  audou  foragido.  Nao  admira  que 
acbasse  tal  chronologia,  quando  acliou  que  o 
anno  XIV  de  Innocencio  III  correspondia  a 
1212.   Se  a  narraeao  que  liz  nao  e  exarta, 
queixe-se    o  sr.    Vasconcellos   nao  de  niini| 
mas  de  Estevam   Soares  e  de  llonorio  111' 
que  alias  nao  reputamos   tao  gratiiitamente 
mentirosos  como  o  sr.  Vasconcellos  os  sup- 
poe.    Porque  bavia    o  arcebispo    de    ir   ca- 
lumniar  o  seu  sulTraganeo,  se,  como  qucr  o 
auctor  do  artigo,    cste  andava  perscguido  e 
foragido  como  elle?  Ou  estava   Honorio  111 
doido  a  tal  ponto,  que  invectivasse  e  amea- 
casse  0  bispo  D.  Pedro,  do  niodo  que  o  I'az  na 
bulla  Sperabatnui-  liaclenus,  vendo-o  desterra- 
do,  pobre,  e  por  lauto  inbabilitado  para  .soc- 
eorrer  o  sou  raetropolitano?  E  acaso  possivel 
que  Estevam   Soarea   e   o   papa    ignorassem 
complctamente  se  o  bispo  de  Coimbra  so  con- 
servava  ou  nao  na  cdrte  de  AITonso  II,  e  que 
Honorio  III  ordenasse  cm  1222  aos  abbades 
de  Cella-nova  c  de  Osseira,  que  inlimassem  o 
rei  de  Portugal  para  o  alTastar  de  si?  Nao  e 
absurdo  despresar  o  testcmunbo  das  pessoas 
que  intervieram  na  questao,  que  'nesta  parte 
nao  tinbam  interesse  em  alterar  os  I'actos,  e 
que  daolestemunho  official  d'ellcs,  paraseg'uir 
0  de  individiios,   que     trinta  annos  depois. 
se  referiam  confiisamente  a  esses  factos?  Fi- 
nalmenle   esta    o   sr.    Vasconcellos   eerto  de 
que  cntendeu  o  inquerito  de  1232,  e  de  que 
deduziii  bem  o  resiillado  dos  diverse,  depoi- 
mentos  'nelle  contidos,   e  assignalou  a  cada 
urn  dos  successes,  ahi  referidos,  a  sua  verda- 
deira  data? 

Eu  tambem  li  c  cxtractei  em  Coimbra  o 
inquerito  de  1252,  ealemd'isso  os  [lergami- 
nbos  mais  importantes  da  demanda,  a  que 
elle  portence,  e  que  o  sr.  Vasconcellos  nao 
tinha  lido  nem  extractado;  porque  o  p6  de 
trezaltns  (por  me  servir  de  uma  expressao 
de  FilintoElysio),  com  queestavam  cubertos, 
repousava  de  certo  sbhre  elles,  sem  ser  per- 
turbado  desde  tempos  muito  anteriores  ao 
nascimento  do  sr.  Vasconcellos,  que  sincera- 
mente  mostrou  desconhecel-os  quando  Ib'os 
indiquei.  As  notas,  que  entao  liz,  nas  horas, 


em  que  nao  podia  occupar-me  no  deserape- 
nbo  da  minba  commissao  academica,  servi- 
ram-me  para  ampliar  e  melborar  alguns  lo- 
garcs  do  H  volume  da  Historia  dc  Portugal, 
de  que  'nessa  conjunctura  se  preparava  uma 
nova  edicao.  Aproveitei  esses  documentos 
com  a  sobriedade  que  cumpria  'numa  histo- 
ria geral,  ijue  nao  pnde  desccr  a  certas  par- 
ticularidndes.  Nao  refuguei,  todavia,  por  isso 
OS  documentos  incontroversos  sobre  que  as- 
sentava  a  minba  narrativa  ;  nem,  se  bem  rae 
recordo,  enionlrci  no  inipierito  as  novidades 
clironologicas,  (jue  obrigam  o  auctor  do  arti- 
go a  tractar-mc  tao  asperamente 

Permiltam  srs.  Hedactores,  (|ue  eu  termine 
esta  carta,  ja  demasiado  longa,  por  uin  ulti- 
mo conselbo  amigavel   ao  sr.   Vasconcellos. 
E  que  nao  jirelenda   nunca  anlecipadamenle 
provar   cousa   nenhuma    em  liistotia.    Depois 
de  ler  e  meditar  os  documentos  e  memorias,  e 
de  deduzir,  sem  tencao  I'eita,  as  conscquencias 
d'elles,  I'orme  entao  o  seu  juizo,  c  exprima-o 
sem  reserva.  Nao  accredite  na  prcvenvao  dc 
Mello  Freire,    ou   na   minha   contra   a   curia 
romana  e  contra  o  clero  do  seeulo  XIII.  Dis- 
semos  que  eram   maus   porque   os  acbamos 
taes;  ou  antes  nao  o  dissemos  nos:  dizem-no 
factos  incontroversos,   e  bao  de  continuar  a 
dizel-o  por  mais  que  tentem  transligural-os. 
Deixe  isso  a  uns  Bentos  Jose  Labre  redivivos, 
que  por  abi  andam  a  crear  uma  edade  media 
que  nunca  exisliu,  e  uma  historia  ecdesiasti- 
ca   de  convenciSo,   e  que  cuidam  supprir  a 
falta  de  intelligencia,   de  critica  e  de  saber 
solido  com  a  accuniulacao  de  citacoes  de  mo- 
numentos,  que  nao  podem  aproveitar;  porque 
nao  OS  move  o  amor  da  sciencia.  nem  tern  capa- 
cidade  para  os  entonder.  Ila  'nesses  esforcos 
interesses  que  nao  e  possivel  qualilicar  aqui ; 
mas  que  uma  pessoa,  tao  estimavel  como  o 
sr.  Vasconcellos,  nao  deve  servir.   Eu  e  que 
devo  confessar-me,  srs.  Redactores, 
De  VV. 
Att.°  V.'"  e  C. 

A.    UEliClILANO. 

Ajuda,  7  de  outubro  dc  1835. 


MEimORIA  HISTORICA  E  CRITICA 

Sobrc  a  rcvolmrao  que  cm  1346  liroa 
a  roroa  a  n.  !>»aiicUo  II.  i>ai-a  a  ilar  ao 
roncle  dc  Bolontaa,  ttca  Iriuiio. 

Contmuado  de  pag;.  188. 

VII. 

Nao  era  so  nos  prelados  c  no  clero,  que 
tamanhas  malfeitorias  secommettiara.  Os  ricos 
homens,  governadores  de  districtos,  templa- 
rios,  eordenspoderosasarmavam-se  unscontra 
OS  outros:  as  classes  todas  do  reino  mais  ou 


199 


menos  solTriara  os  inconvenientes,  e  males  de 
tao  lastimoso  eslado.  Os  passageiros,  se  nao  se 
precatavam  contra  sirailhantes  excesses,  erara 
sem  piedade  mortos  ou  desvalijados,  como  ac- 
conteceu  ao  mestre  Yicenle,  bispo  da  Guarda, 
ao  chantre  de  Braga,  que  dcpois  foi  arcebispo 
da  mesma  cidadc,  c  oiitros,   como  ja  vimos; 
0  horizoute  politico  mostrava-se  tao  temeroso 
e  carregado,  que  am('a(;ava  temporal  dcsfeito, 
tudo  quereiulo  destruir:  a  desordcm,  ea  coii- 
fusao   cspaliiava-se  por  todos  os  angulos  do 
reino'.  Alguns,  descjando  fuzer  justica,  e  ac- 
cudir  aos  oppriraidos,  moviaiii-sc  com  a  gente, 
que  podiam,   contra  os  cavalleiros,   ateando 
d'um  modoindelinidoa  dcsordera,  alimentando 
as  querellas,   e  dando  occasiao  a  que  outros 
tomassem  sua  deleza,  e  multiplicassem  os  ag- 
gravos  a  ponto,  de  serem  os  proprios  estranlios, 
OS  que,  usando  da  lorca,  se  intromettiani  as 
vezes  nas  discordias  particulares,  usurpando 
bens,  queliies  nao  pertunciam  .  Se  ajunctarmos 
a  tao  Idbrego  quadro  uiiia  particular  circum- 
stancia,  pela  qual  ia  D.  Sancbo  descaliindo  da 
graca  e  estima  de  toda  a  sua  nobreza,  teremos 
pintado,  ou  descripto  o  estado  interior  do  reino 
era  tao  desventurada  epoclia !  Fora  do  costume, 
e  antigos  estilos  do  reino  ua  concessao   das 
gracas,  que  o  rei  fazia,  serem  sempre  coulir- 
madas  pelos  ricos  homens,  e  prelados  do  reino 
as  cartas  de  taes  merces,  como  se  se  quizesse 
com  esta   assignatura   dar  a   entender,  que, 
ainda   que  a  vontade  do  rei  'nellas   tinha  a 
preponderancia,  nao  era  clla  com  tudo  tao  ef- 
licaz,  que   nao  podessc  ser  contrariada  por 
seus  barOes  e  prelados.  Novos  usos,  porem,  se 
comecavam  a  iutroduzir,  acrescentando-se  no 
fim  d'estas  cartas  patentes  a  formula  «de  con- 
sentimenlo  e  auctoridade  de  metis  proceres  e  mag- 
nates ' .   («  Este  novo  formulario  fazia  descon- 
tentar  a  aristocracia,  tornando-a  avessa  aos 
inleresses  do  rei,  que  pouco  a  pouco  perdia 

*  "Se^iiros  da  impunidade  os  senhores  de  Honras  adqui- 
ridas  bem  ou  mat  .  .  .  quaudo  os  exactores  da  fazenda  pre- 
tendiani  enlrar  'nesses  logares  defesos  ....  e.s)jancavam- 
nos,  mutilavam  os  pes  ou  as  maos,  e  cheffavara  a  arrasta-los 
a  Cauda  dos  cavaUos  em  roda  do  silio  vedado.  Bastava 
que  um  villao  da  herdade  ....  oude  quaUpier  nobre  }tre- 
tendia  apoderar-.se  das  coutribuii,'oes,  recusasse  paga-las, 
invocando  o  seuhorio  real,  |iara  ser  morto.  »  Ilisl  de 
Portng.  Tom.  II.  ]ia|?.  .344.  Assioi  descreve  o  A.  o  estado 
interior  do  reino;  estado  (pie  desde  ja  notamos  ao  leitor, 
para  dVlle  nos  servimos  mais  adiante. 

•^  "  As  vezes  os  governadores  de  districto,  os  ricos 
homens  irritados  com  os  espancamentos  dos  exactores, 
moviam-se  para  punir  os  cavalleiros,  masestes  compravam 
com  euro  a  impunidade  .  .  .  chefrou  o  excesso  a  ponto  de 
se  apoderar  o  infante  de  Molina,  irmiio  de  Fernando  III, 
do  Castello  d'Alva,  d'accordo  com  seus  habitantes.  •>  Id. 
ibid.  pag.  .345. 

^  De  consensu  et  auctorilate  raeorum  procerum  et  ma- 
gnatum,  como  se  le  na  doa^ilo  de  Cacella  em  1240,  e 
na  de  Tavira  em  1244.  (Id.  pag.  368  e  not.  XXIII.) 
"  Estes  estilos  de  chancellaria  guardados  desde  que  Por- 
tugal existia  .  .  .  pelo  que  tocava  a  merces  de  terras  .  .  . 
foram  completamente  alterados  logo  que  Sancho  so  rodeou 
da  sua  turbuleala  cdrte  de  m09O8  cavalleiros.  »  (O  mesmo 
no  logar  cit.). 


0  apoio,  que  encontrava  'naquelle  brafo;  que 
agora  via  com  desprazer  os  novos  usos,  que 
se  queriam  introduSir  na  concessao  de  taes 
mercte.  Se  ainda  acrescenlarmos  a  este  mesmo 
(|uadro  os  escrupulos  de  eonsciencia,  origina- 
dos  dos  interdictos,  era  que  por  varias  vezes 
incorrcu  o  reino  por  causa  das  desintelligen- 
cias,  que  por  diversas  occasiops  tiveram  logar 
enlrc  os  prelados  d'elle,  desde  o  tempo  das 
discordias  do  bispo  de  Lisboa,  Soeiro,  com  D. 
.Sancho,  por  este  se  apossar  das  cgrejas  e  des- 
prezar  a.s  immunidades  ecclcsiasticas,  teremos 
bem  desenhado  as  phases  de  todo  o  reinado 
d'este  infeliz  monarcha  ,  que,  mostrando-se 
forte,  e  energico  na  guerra,  era  brando,  e 
indolente  na  paz,  e  apoucado  d'animo  para 
center  desordens,  c  fazer  respeitar  as  leis,  e 
estilos  do  reino ,  que  todos  (]uebi-antavara  , 
coiuo  queriam,  seguros  da  impunidade. 

VIII. 

Ja  acima  mostriimos,  quaes  (uram  os  molivos 
rasoados,  por  queGregorio  IX,  tendo  chaniado 
a  curia  o  vellto  bispo  de  Coimbra  D.  Pedro,  o 
obrigara  a  renunciar  a  mitra,  e  submetter-se 
voluntario  ao  castigo,  que  o  papa  Ihe  quizesse 
dar;  sera  que  em  tudo  isto  interviesse  com 
seu  couselho ,  ou  preponderancia  o  legado 
Joao  d'Abbeville,  bispo  Sabinense.  Pelo  menos 
e  0  que  se  deprehende  claramente  dos  docu- 
raenlos,  ate'gora  ineditos,  que  nos  vao  servindo 
de  guia  no  decurso  d'e;ta  narrativa.  Com  ef- 
feito  tao  desasisado  procedimento  fora  sempre 
censuravel  em  toda  e'qualquer  occasiao,  que 
se  olTerecesse;  mas  muilo  mais  ainda  'numa 
epocha,  cm  que  a  curia  Romana,  eutendendo 
ser-lhe  conveniente  usar  da  plenitude  do  poder 
jiapal,  nao  so  estendiasua  correccao  ao  clero, 
senao  tamhem  coarctava,  e  ameacava  ainda 
a  corte  e  poder  dos  Cesares. 

Foi  por  tanto  em  1233  que,  renunciada  por 
elle  a  niitra  episcopal,  e  resignado  ao  castigo 
merecido  por  tantos  desatinos ;  no  descahi- 
mento  de  animo,  e  abatimento  de  espirito, 
que  por  isto  devia  experinientar,  D.  Pedro 
Soeiro  falleccu,  deixando  campo  aberlo  aos 
dcscontentes,  para  reagirem  contra  a  ordcm 
estabelecida,  que,  como  addido  ao  rei,  e  seu 
privado,  com  denodo  sustentara  '.  Por  seu  fal- 
lecimento  (dezembro  de  1'233)  novas  discor- 
dias se  suscitaram  na  diocese.  0  cabido  da 
cathedral,  a  quem  'naquelle  tempo  pertencia  a 
eleicao  dos  bispos,  levado  da  intriga,  ou  par- 
cialidade,  separou-se  cm  dois  bandos,  e  cada 
um  nomcou  seu  bispo,   dando  era  resultado 


'  Isto  mesmo  conijrraam  as  lestemnohas  da  cit.  io- 
quiri^ao  que  'neste  particular  dizem  ><  quod  dicta  guerra 
erat  inter  regem  et  barones^  et  inter  alios  de  regno 
et  inter  barones  ad  invicem  et  audivit  quod  magister 
Vincentius,  .  .  .  fuit  spoliatus,  el  vidit  duci  captos  can- 
torem  coliml)riensem  et  Suerium  geraldi  canonicum  per 
Martinum  dictum  bonafe.  n  (Ibid.  Testemunha  7.'). 


200 


qucbra  da  disciplina  eeclcsiaslica,  cxcmplo  dc 
amhicocs  scnipro  funcslOs  e  occasioos  de  le- 
tigios  e  dissenrr)psonlr(\  cnrporaffto,  quo  dovora 
sempre  estar  uiiida'  cm  lapos  do  tVaternidadc. 

Nao  podemos  ajudar-nos  dc  docunu'rilos, 
por  ([ue  conste  o  nouie  dos  novos  oleitos,  ni'ni 
nicsmo  fora  prcriso  ao  nosso  inlonto.  Basta 
so  nolar,  i\w,  quacsquer  quo  dies  fossoni,  a 
sua  oloioao  I'oi  iiuii  disputada,  o  ambos  os 
fonlendores  soguiram  sous  procossos,  e  acniu- 
panharam  o  negocio  da  cloicao  a  ouria  Melro- 
politana  ',  para  onde  I'dra  levado,  ate  quo, 
avocada  a  causa  para  a  corlo  do  Roma  por 
Gregorio  IX,  ambos  foram  mandados  pessoal- 
mente  romparoccr  'nella  (lara  rcnunciarem 
ao  diroito,  quo  por  vonUira  tivosscm  a  mitra 
Conimbrioonso,  dando  om  rosultado  a  nomea- 
lao  ponlilicia  do  successor  de  D.  Pedro  para 
a  roferida  catbedral  na  pessoa  de  mestre 
Tiburcio,  tbesoureiro  na  se  de  Palencia. 

Este  prolado,  om  quern  nao  podemos  doixar 
de  suppor  sciencia,  pela  designacao  de  mestre, 
que  Ibe  da  Gregorio  IX,  era  homem  austero 
de  costumes  e  tempera  rija ;  severo  talvez  em 
demasia  :  e  ou  fossem  estas  qualidades  pes- 
soaes,  ou  fossem  outras  manhas  e  partes  mais 
que  'nolle  concorriam,  foi  o  escolbido  pcio 
papa  em  lao  apuradas  circumslancias.  Sabia 
mestre  Tiburcio  as  dilliculdades  que  tinlia 
a  sobrcpujar;  os  abusos  que  cstavam  intro- 
duzidos  na  adrainistracao  da  justica  ;  os  po- 
rigos  que  tinha  a  veneer,  e  os  trabalbos  em 
que  se  vira  sou  antecessor  pohi  nimia  condes- 
cendencia,  ou  antes  3«bscrviencia  a  vontade 
do  rei,  que  o  obrigara  a'"practicar  exccssos, 
e  demasias,  que  Ibc  I'orani  tao  I'uncstas!  A  vista 
de  taos  precodontes ,  bem  podemos  conjoc- 
turar,  que  D.  Tiburcio,  ja  d'antes  havido  por 
homem  de  timorata  conscioncia,  e  de  quali- 
dades que  0  faziam  digno  de  recommendacao  , 
nao  deixaria  de  participar  dos  dissabores  c 
desenganos  do  principe;  e  que,  ainda  sem 
incitaniento,  se  determinaria  a  trocar  tao  alto 
emprcgo  e  tao  grande  bonra  por  estado  mais 
socegado,  e  vida  mais  livre  de  tao  agras  amo- 
finacoes,  c  por  isso  na  intjuiricao  dizem  as 
tcstemunbas,  que  olio  ronunciara  a  oleicao 
Ijontificia,  e  ate  jurara  nao  vir  tomar  conta 
do  govorno  episcopal  ' ;  sonde  forcoso  ao  pon- 
tifice  absolvo-lo  do  juramento,  e,  conslrangido 
sob  pena  d'obediencia,  oliriga-lo  a  accoitar  tao 

'  Bull.  deGrej.IX.  Cum  super  dtinbvs.  8.°  Id.  Sept. 
Pont,  anno  8."  (Setembro  fi  de  1235)  .  .  .  personaliler 
ad  sedem  aposlolicam  ipsi  electi  accessissent  .  .  .  taniiem 
post  concertatiunem  diutiiiam  jus  ,si  quod  habebant  libere 
resignarunl  (Gav.  dos  papeis  do  bis|ado  a."  227). 

'  .  .  .  Undo  dileclum  filiura  masislrum  Tiburcium 
Palentinum  sacristam  de  quo  multa  comendatione  di^iiia 
muUis  referentibus  .  .  .  qiiibus  ^'fidem  potuimus  merjto 
adhibere.  Id.  ibid. 

"  Assim  o  juram  iiniformemente  as  testemunhas  na  cit. 
inquiricjao.  Entre  ellss  o  clianlre  diz  i.audivil  quod 
domnus  Tiburcius  renunciavit  provision!  de  se  facte  et 
juravit  quod  non  veniret  ad  ecclesiam  suam  »  (G.  13, 
R.  2.  M.  1.). 


pesado  cargo  '  em  tao  arduas  circumslancias. 
Ao  caractcr  penetrante,  e  procatado  de  D. 
Tiburcio  niuito  menos  baslara  ainda  para  evitar 
as  ondas  e  tompostade  d'este  novo  omprego, 
contentando-se  com  o  do  sogunda  ordem,  em 
que  ja  se  acbava  ;  nao  ousando,  porom,  con- 
trariar  a  vontade  do  ponlilice,  loi  dissimti- 
ladamente  rotardando  sua  vinda  para  o  bis- 
pado ,  para  nao  ser  'nolle  coiilirniado ,  de 
modo  que,  desde  a  sua  nomoacao  om  123o,  o 
acbamos  semiTo  dosignado  por  oleito  ate  1243, 
de  cuja  e|ioolia  om  diante  se  conieca  a  intitu- 
lar  bispo  Conimbricense  ' .  Na  verdade  quem 
se  escusa  d'eniprego,  pelo  qual  tanta  parte  se 
diz  tomara  na  rcvolucao  contra  Sanobo  II,  c 
se  ve  obrigado  a  aceital-o  renitente  e  conxtran- 
gido,  segundo  o  toslomunbo  de  Gregorio  IX, 
parece-me  estar  bem  longe  de  jiremeditar  os 
accontecimentos,  que,  alguns  annos  dopois, 
tiveram  logar  com  a  deposicao  d'aquelle  rci ! 
Parece-me  egualmente  estar  bem  longe  de 
pensar,  (|uo  bavia  ser  um  dos  juizes,  que  mais 
adiante  bavia  de  vir  executar  a  bulla  Grandi 
non  imnierilo,  se  os  successos  o  nao  fossem 
chamando  pouco  a  pouco  a  ser  instrumento 
auxiliar  do  dosfecho  d'aquelle  drama ,  que, 
por  sua  niarcba  progressiva,  se  ia  tornando 
inovitavol.  Fdra  com  ed'eito  estranba  mara- 
vilba,  que  um  reinado  tao  tempestuoso,  e  tao 
clioio  de  crimes;  um  govorno  tao  farto  de 
attentadns,  e  coalhado  de  injusticas,  podesse 
consorvar-se  (irme  sobre  a  diuturna  paciencia 
de  subditos  voxados,  e  oppriinidos  com  tao 
extraordinarias  violencias,  e  com  as  calami- 
dades  piihlicas,  que  dilaceravam  o  reino,  e 
quobravam  os  elos  da  cadoia  social !  Lisboa, 
Coimbra,  Porto  e  Braga  ardiam  com  as  discor- 
dias,  que  lavravam  por  todo  o  seu  districto. 
Os  sens  prelados,  se  por  vcntura  dofendiam 
sous  direitos  e  prerogativas,  malquistavam-se 
com  0  rei:  se  ao  conlrario  se  uniam  a  sua 
politica,  sou  procedimento  era  estranbado  pela 
corte  de  Roma,  como  accontecera  ao  bispo  D. 
Pedro.  K  A  vordade  porem  e  (diz  o  sr.  A. 
«  Ilorculano)  (pie  esto  novo  aspecto  do  inter- 
«  minavel  combate  entre  o  sacerdocio  e  o  poder 
((  civil  ....  provinha  do  conjunoto  de  circum- 
«  stancias,  quo  facilitava  aos  bispos  os  meios 
"  de  ganhar  contra  a  coroa  unia  decisiva  bata- 
Iha  '  »  Nao  sei  como,  do  (|uc  atogora  tomos 
exposto,  se  possa  tirar  tal  conclusao  !  Molhor 
dissera,  (|iie  esle  conjtincto  de  circunistuncias 
'naquclle  tempo  facililam.  nao  aos  bispos,  mas 
as  classes  todas  do  reino,  aquillo,  que  seis 
seculos  depois,  e  em  tempos  que  se  dizem  de 

^  «...  licet  renitenlem  non  modicum  et  invitum  in 
episcopum  providimiis  assumeudum  firmam  tiabentes 
fiduciam  quod  sub  ejus  re^imine  resurffere  debeat  .  ,  . 
ecclesia  memorata. "  Bulla  cit.  de  Greg.  IX.  ibid. 

■^  "No  catalo^o  dos  bispos  de  Coimbra  impresso,  e  nao 
publicado  ainda  pela  Acad.  R.  das  sciencias  de  Lisboa, 
par  docuraentos  se  acha  provado  o  que  refere  o  textu. 

■■   Sr.  A.  Herculano.  Hist.  cit.  pap.  378. 


201 


civilisajao,  se  charaa  demonstracao  popular,  e 
de  que  infelizmenle  temos  visto  tantos  exem- 
plos,  e  observado  tantas  phases  nas  revolu- 
coes  que  com  assorabro  temos  presenciado  em 
toda  a  Europa  !  .    ... 

Podera  alguem  pcnsar  no  seculo  XIX,  que 
tao  desinvolla  anarchia  podesse  subsislir ;  e 
qualquer  governo  manter-se  cm  meio  de  tao 
procclosa  tormenta?  A  bistoria  contemporanea 
respondora  facilmente  a  esta  pergiinla  ! 

Continua.  M.  b.  de  VASCONCELLOS. 


LYCEU  NACIONAL  DE  COIHIBRA. 


EslacIiHlira  <Ion  aliiiiiiio^  inalririilndos 
no  anno  le<'li^o  de  1^53 — lH5i%. 


Discipliiias. 

Onlin. 

Volunt. 

Totaes, 

Grammalica  latina  . 

Latinidade 

Grego 

Uebraico 

Francez  

13 
i 

2 
3 
6 
6 

(C 

i 
15 
21 

36 

20 
IS 

2 

4 

16 

2 

1 

8 
11 
34 

11 

33 
19 

4 

7 

22 

8 

1 

12 

26 

5S 

47 

Inglez  

Allemao 

Logiea 

Oratoria,  e  Historia 

Geometria 

Introduccao  a  Histo- 
ria Natural 

Totaes..  .. 

110 

124 

234 

BIBLIOGRAPHIA. 


Grammatica  da  Infancia  —  Geographia  da  In- 
fancia  —  Arithmetica  da  Infancia  para  usn  das 
escholas  por  Adriao  Forjaz — 2.'  edii:ao.  Coimbra 
1855,  8.°  3  vol. 

Vai  longe  a  epoca,  em  que  os  cstudos  classicos 
absorviam  quasi  exclusivamenle  a  attenrSo  d'aquel- 
les,  a  quern  incumbia  a  educacao  e  inslrucoao  da 
mocidade ;  e  em  que.  Kra  da  carlilha,  o  livro 
mais  elcmcntar,  que  se  dava  aos  mancebos,  ao 
entrar  nas  escolas,  era  uma  volumosa  grammatica 
latina,  fertil  cm  repetidos  cxemplos  e  compridas 
regras,  que  a  dura  palmaloria  do  mestre,  ainda  mais 
duro,  fazia  pelo  terror  decorar  aos  pobres  rapazes, 
que  assim  comccavam  a  olhar  com  enfado  o  tiro- 
cinio,  que  so  deviaservir  para  instruil-os,  crcando 
'nelles  o  gosto  pelo  estudo,  o  amor  das  letras,  e 
0  descjo  de  alcancar  novos  e  mais  uteis  conheci- 
mentos. 

Da  grammatica  e  lingua  patria  nao  se  curava. 
O  latim  era  tudo,  e  tudo  suppria.  As  sciencias, 


graves  e  severas,  nao  desciam  das  academias  ate 
a  liumilde  escola.  Vulgarisal-as,  era  degradal-as. 
E  a  instruccao  primaria,  mesquinha  e  incornpleta, 
era  ainda  tao  restricta^  e  limitada  pelo  escasso 
numcro  de  escolas  piiblicas,  e  pelos  poucos  alumnos, 
que  as  frcquentavam,  que  uma  boa  parte  da  po- 
pulacao,  sobre  tudo  nas  aldeas,  ncm  ler  sabia? 

Njio  era  enlao  muito  para  estranhar  a  falta  de 
livros  de  auctores  nossos,  que  se  occupasscm  d'essa 
parte  imporlantissima,  mas  tao  desprcsada,  senao 
quasi  ignorada  da  iiossa  instruccao  primaria,  que 
lem  por  objecto  o  ensino  elemcntarissimo  das 
diversas  sciencias,  e  das  suas  mais  ulcis  e  variadas 
applicacoes;  ensino  que  devia  estender-se  obriga- 
toriamente  a  todas  as  escolas  dc  ambos  os  sexos. 

Nao  sSo  porcm  hoje  menos  raros  esses  livros  ele- 
mentares,  onde  a  infancia  possa  colhcr  sem  enfado 
nem  violcncia  uma  instruccao  tao  ulil  e  provcilosa, 
como  recrealiva  ;  mas  por  isso  tanto  mais  dignos 
sao  de  louvor  os  auctores  que  tao  csmeradamente  se 
dao  ao  improbo  Irabalho  de compendiar  os  elementos 
das  diversas  sciencias,  tornando-as  acccssiveis  a  in- 
fancia, e  fazendo-lne  adquirir  nocoes  claras  sobre 
as  suas  mais  imporlanles  applicacoes. 

No  numero  dos  liyros  que  se  recomendam  por 
tiio  valiosos  tilulos,  contamos  a  Grammalica, 
Geographia  e  Arithmetica  da  Infancia,  de  que  o 
sr.  Adriao  Forjaz  acaba  de  dar-nos  a  segunda 
ediciTo. 

A  Grammatica  e  Geographia  sao  escriptas  com 
summa  clareza,  em  eslilo  corrente  e  com  muito 
methodo  e  boa  deduccao.  A  Geographia  da  infan- 
cia comprehende  a  geographia  geral ,  algumas 
nocoes  de  comosgraphia  a  chorographia  dos  prin- 
cipaes  estadas  do  mundo,  e  particularmenle  de 
Portugal,  contendo  em  resumo,  mas  com  muita 
exactidao,  tudo  quanto  respeita  a  chorographia  do 
reino  e  possessoes  ultramarinas ;  sua  situacao, 
divisiio  territorial,  judiciaria,  administrativa,'ec- 
clcsiaslica  e  mililar;  npeocs  historicas;  nolicia  dos 
diversos  reinados,  e  successos  mais  notavcis  de 
cada  um  d'elles. 

A  Arithmetica  da  Infancia,  e  um  livrinho  de 
grande  utilidade  nao  so  para  as  escolas  mais  ele- 
nuntares,  mas  tambem  para  outras  classes  mais 
ailiantadas. 

Alem  das  operacoes  fundamentaes  d'arithmelica, 
conlem  a  operacao  de  quebrados,  complexos,  pro- 
por(6es  e  regra  de  tres,  regra  de  companhia,  juros, 
e  descnntos ;  tudo  exemplificado  demodoquc  torna 
facil  e  mui  curioso  este  estudo. 

0  A.  termina  a  sua  arithmetica  com  a  exposi- 
cao  do  syslema  metrico  e  sua  applicacao  em  relacao 
as  mcdidas  ,  ainda  usadas  no  reino  ,  o  que  nos 
parece  mui  intercssante  para  irgcneralisando  aquel- 
lesystema,  jadecretado  entre  nos,  masqueencon- 
tra  grande  repugnancia  niio  so  nos  antigos  habitos, 
mas  tambem  na  difficuldade,  que  para  muitos 
parecia  talvez  invencivcl,  de  tornal-o  intelligivel 
para  as  classes  menos  illustradas  da  sociedade. 

A  Arithmetica  da  Infancia  ,  familiarisando  os 
alumnos  das  escolas  mais  elcmentares  com  aquel- 
le  systema,  hade  concorrer  mui  cflicazmente  para 
desvanecer  as  reluclancias,  que  esta  neccssaria 
reforma  tcm  encontrado  na  practica  ;  e  as  pessoas, 
ainda  nao  habituadasaquella  nomenclatura,  ncm 
a  avaliar  a  relacao  entre  as  antigas  mcdidas  e  as 
do  novo  systema,  poderao  tambem  consultar  com 
grande  vantagem  aquella  obra. 

Modesto  e  singelo  como  e  este  trabalho,  cremos. 


'202 


que  com  a  publica^Ho  d'estes  lirrinhos  o  sr.  Adriao 
Korjaz  fez  iim  T.ilioso  serrici)  em  bencficio  da  nossa 
inslrucrac)  primaria,  disno  por  ccrUi  dc  ser  imi- 
lado  subre  liido  'noulros  ramos  ilas  scioncias  na- 
turacs,  d'affn'ciilUira  n  economia  rural,  da  hygiene 
0  crnncimia  indnufhial,  cujas  nnrocs  mnis  elomcn- 
larcs  sao  indispcnsavcl  complemcnlo  dc  um  vcr- 
dadciro  syslcma  dc  inslnic^ao  jirimaria. 

J.  M.  DE  ABREU. 


NOTICIflS  LITTERARiaS  E  SCIENTIFICAS. 

ENla<1i«lica  <In  inipB-ciiKa  allonia.  No 

primciro  scmeslre  do  corrcntc  anno  imprimiram- 
sc  nos  divcrsos  csladus  d'Allcmaiilia  3,87!)  (djras 
divcrsas,  das  quaes  I.IGO  foram  cslanipadas  cm 
Leipzig  e  Bcrlim,  sciido  d'estas  598  cm  Lcipzi;; 
e  571  em  Bcrlim,  de  mancira  que  csta  cidailc  so 
foi  exccdida  pcla  ])rimeira.  que  passa,  com  razao 
pcla  capital  das  livrarias  allcmas,  cm  25  obras.  Em 
Stutlfjard  imprimiram-sc  197obras;em  Ilambnrgo 
96;  Munich  93;  Ualisbouna,  I'raucfort  sobrc  o 
Wcno,  e  Halle,  62  cm  cada  uma  d'cslas  cidadcs; 
Brcslau  56;  e  finalmcntc  em  Drcsda,  Brunswich 
Erlangen  e  Weimar  o  numero  das  obras  impres- 
sas  foi  menor  que  cm  Brcslau.  'Neslas  treze 
cidades  \ieram  por  lanlo  a  pnblicar-se  2,018 
obras  ou  quasi  dois  tcrcos  do  numero  total  das 
publicaeocs  littcrarias  ou  scicnliricas  d'Allcmanha. 

Comparando  o  nnmcro  de  obras  publicadas  cm 
cada  um  dos  cstados  d'Allcmanha,  nola-se  que  a 
Prussia  leva  consideravel  vantagem  aos  outros 
cstados. 

Imprimiram-sc  -na  Prussia  no  s.emestre  Undo 
1,242  obras;  na  Saxonia  somcute  724;  na  .\ustria 
713;  na  Bavicra  397;  c'ifl  Wurlcmberg  270,  no 
Hano\cr  109.  A  cidade  de  l.ubeck  ,  o  grao  du- 
cado  dc  Luxemburgo,  e  o  principado  de  Waldcck 
cada  um  3  obras  somente.  Lippc-Dclwold  duas, 
c  Hcsse-Hamburgo  uma  unica. 

Muitas  obras  allcmas  se  publicaramera  divcrsos 
paizcsda  Europa;  155naSuissa;  31  na  Russia;  16 
na  Hungiia;  12  em  Franca;  10  na  Bclgica;  6  na 
Dinamarca;  3  na  Ilollanda,  e  uma  era  Inglalerra; 
ao  lodo  235,  o  que  elcva  a  4,114  o  numero  das 
obras  allcmas,  quese  publicaram  nos  primeiros  scis 
mczcs  do  correute  anno. 


RouiiiooN  liHorarias  o  srientifiras 
dMllcnsanlia.  Ooulono  e 'ncslc  paiz  a  cstaiao 
propria  para  cstas  reunioes;  no  presentc  anno,  jio- 
rcm,  nao  foram  cllas  tao  brilhantes,  ncm  tao  niimc- 
rosasromoera  costume,  I'ma  dasprimciras  foi  ados 
composilorcs  e  musicos  de  Gotha,  que  traclaram 
da  organisacao  d'uma  sociedadc  semclhante  a  que 
exisle  em  Franca:  para  os  primeiros  fundos  d'clla 
rcsolveram  publicar  um  album,  em  que  tomarilo 
parte  os  niais  insigncs  composilorcs.  Esta  sociedadc 
denominar-se-ha  associacao  mozartienna.  A  com- 
missao  fundadora  conta  enlre  os  sens  membros 
Lizst,  Spohr,  c  outros  "tompositores  de  grande 
lama. 

A  reuniao  dos  medicos  c  naluralistas,  que  dcvia 
Icr  logar  em  Vienna,  no  fim  dc  scptembro,  foi 
adiada  por  causa  da  cholera,  assim  como  o  con- 


cilio  da  cgreja  evangclica,  que  devia  celebrar-sc 
em  Halle. 

O  Veutches  h'unstblall,  jornal  de  Berlim,  con- 
scguiu  formarumaassuciac.iodassociedadesarlisli- 
cas  allcmas  para  se  occup'arem  da  arte  historica. 
A  iirimcira  reuniao  geral  foi  em  Drcsda  a  29  dc 
scptembro.  Pcla  mcsma  cpoeha  se  rcuniu  cm 
llamburgo  o  congresso  dos  philologos  e  profcs- 
sorcs. 

A  reuniao  dos  historiadcjrcs  e  aniiquarios  ter- 
minou  as  suas  sessocs  cm  lllmc  a  22  dc  scptembro. 
Esia  reuniao  scjbresaiu  a  todas  as  outras  pelos 
brilhantes  feslejos,  que  aquella  cidade  prepariira 
em  honra  da  sciencia.  A  parte  mais  curiosa  d'estas 
festas  foi  um  toineio  sobre  o  Danubio,  cclcbrado 
com  toda  a  pompa  da  meia  edadc  pcla  corporacao 
do<  Pescadores,  que  ainda  conservam  sens  privi- 
Icgios  e  antigos  costumes,  c  lem  o  titulo  de  der 
Wasseradel  (a  nobreza  aquatica). 


CaniinliOK  tic  foiTO  cm  Franra.  Dcsde 
0  cstabclecimcnto  dos  caminhos  de  fcrro  cm  Franca 
ate  24  de  fevcreiro  de  1848,  islo  e,  no  espaco  dc 
vinte  annos,  o  total  das  linhas  conlractadas'com 
companhias  particularcs  era  aproximadamente  de 
3:600  kilomctros.  Durante  os  annos  de  1848  at4 
1850  n,io  se  fez  contracto  algum  novo,  epclocon- 
trario  foram  rcscindidos  muitos  pcla  impossibili- 
dadc,  em  que  se  acharam  os  emprczarios,  de  os 
coulinuar.  Em  1851.  ou  antes  cm  1852,  tornou  a 
rcanimar-se  esta  industria,  c  a  rede  das  linhas  de 
cominho  de  fcrro  augmcntou  3:300  kilomctros. 
Em  1833  divcrsas  companhias  tomaram  mais  2,134 
kilomctros;  ecm  1854  abriram-se  aoservico  publico 
600  kilomctros.  .\'o  anno  que  vai  corrcndo  espera-sc, 
que  fiquem  concluldos  mais  de  1:000  kilom. 

Examinando  a  carta  dos  caminhos  dc  fcrro, 
vc-se  que  em  breve  todo  o  territorio  franccz  cslara 
sulcado  por  estas  maravilliosas  vias  decommunica- 
cao,  c  que  com  raras  excepcoes,  que  proMJm  das 
extraordinarias  dilTiculdadcs  do  tcrrcuo,  todas  as 
povnacocs  d'alguma  iniportancia  teriio  um  caminho 
de  f  rro. 

O'total  da  exploracao  das  linhas  de  caminho 
dc  fcrro  durante  o  anno  de  1854  foi  dc  4:676  kilo- 
mctros, que  renderam,  tcrmo  medio,  pur  kilome- 
tro  45:025  francos,  c  total  196:334:803  francos. 
Segundo  cstes  dados,  que  conslam  de  uma  infor- 
macao  e  mappa  publicado  pclo  ministcrio  das 
obras  piiblicas,  hoove  nt)S  pcriudos  corresponilen- 
tcs  um  augmcnlo  de  mais  de  trinia  milhocs.  O 
produelo  por  kilometro,  que  cm  1853  fora  dc 
41:712,  cm  1834  subiu  a  45:025,  ha  por  tanto 
a  favor  d'este  ultimo  anno  sobre  o  anteccdcnte  a 
vantagem  de  3:313  francos  por  kilom.  Scndo 
]iara  notar,  que  'nesta  conta  nao  vao  incluidos 
OS  intercsses  de  certos  fundos,  que  nao  pertcncem 
ii  exploracao  propriamente  dicta,  e  que  cm  1853 
renderam  cerca  de  scis  milhiJcs. 

No  memento  da  revolucao  dc  fevcreiro  as  linhas 
conccdidas  poremprezacomprchcndiam  uma  exten- 
sao  de  3:600  kilom.  ;  hojc  comprchendem  uma 
extensao  de  mais  de  10:000.  Dois  mil  kilometres 
cslavam  concluidos  ate  aquella  cpoeha,  e  no  fim 
do  anno  de  1854  ficaram  promptos  6:000.  Mais 
dc  dois  milhocs  lem  sido  empregados  'nesta 
cmpreza  gigantcsca. 

BEY.    DE   GBR.   PCBL. 


1 


203 


ADVERTENCIA 

SOBRB  OS 

APONTAMENTOS  DOPTICA.' 

Seguindo  na  deduccao  das  formulas  dos 
focos  das  lentes  c  do  achromatisnio  o  caminho 
que  a  propria  reQexao  nos  indicou,  nao  lunios 
dctidameute  o  processo  que  para  chcgar  a 
ellas  se  empreRa  era  algiins  tractados  de  phy- 
sica,  que  tinliamos  a  mac,  como  cram  os  de 
MM.  Peclet  c  Pouillet. 

Accontecendo,  porem,  que,  dopois  d'imprcs- 
sos  OS  artigos  que  compOem  os  upontaineiitos 
(('optica,  comparassemos  as  lespeclivas  formu- 
las e  resultados  nuraeriros  com  os  correspou- 
dentes  da  Gcodesia  de  M.  Salneuve ,  e  com 
OS  nossos,  acluimos  lal  discordancia,  que  re- 
cearaos  algum  cngano  da  nossa  parte  ;  e  por 
isso  corre-nos  a  obrigacao  d'expor  franca- 
niente  as  diividas,  que  se  nos  ofl'ereccram, 
a  lim  de  cliamar  sobre  ellas  a  atlencao  das 
pessoas,  cujo  voto  pode  corrigir  o  erro,  se 
'nelle  laboramos,  ou  confirmar  a  exactidao, 
se  a  conseguimos. 

Nao  concordamos  com  a  deduccao  da  for- 
mula dos  focos  de  MM.  Pouillet  e  Peclet  (Phys. 
de  Pouillet  pag.  218  210,  e  Phys.  de  Peclet 
pag.  397),  parecendo-nos  que  o  primeiro  usa 
de  /',  e  0  segundo  de  a',  com  signaes  trocados. 

M.  Pouillet  serve-sc  depois  d'uma  expres- 

1         1 

sao  de  j -tt,  que  nao  pode  ter  logar  na 

lente  biconcava  (vej.  pag.  184),  e  que  para 
pertencer  ao  mcnisco  convergente  deveria  ter 
signal  contrario.  D'onde  resulta  uma  com- 
pensacao  com  a  troca  do  signal  de  f ,  que 
lorna  a  expressao  de  r'  verdadeira  para  a 
lente  composta  d'uma  biconvexa  e  d'outra 
concavo-convexa. 

1111 

A  equacao ,  ^ p  de  M.  Peclet 

«       a        a,       a  I 

nao  da  o  valor  de  R''  do  fim  da  pagina  397, 

mas  sim  csle  valor  com  signal  contrario  no 

segundo  termo  do  denominador.  Porem,  cor- 

rigindo  o  erro  de  signal  de  a',  isto  e,  usando 

-1,111 

da  equacao  -  J-  -,  = 1 — ,-  ,    aehar-se-ia 

^     ■      a        a       a,       a  \ 

para  R"  aquelle  valor  com  signaes  contrarios 

em  todos  os  termos  do  denominador,  que  a 

0  que   realmenle  convcm   a   lente   composta 

d'uma  biconvexa  e  d'outra  biconcava. 

Emquanto  a  (ormula  de  M.  Salneuve  (Geodes. 

de  Salneuve  pag.  314),  que  dilfere  nos  signaes 

da  de  M.  Pouillet,  acliamol-a  exacta  ;   mas, 

quando  o  auctor  a  quiz  applicar  (pag.  316) 

a  uma  lente  composta  dos  dois  elementos  bi- 

fonvexo  e  biconcavo  formados,  inversamente, 

'  \.  pag.  264  do  vol.  Ill,  e  pagg.  25,  72,  167  e  179 
do  presente  vol.  d'este  Jornai. 

As  Estampas   d'esta  Memoria  bram  distribuidas 
cam  o  n.<*  15. 


das  mesmas  substancias  que  suppfie  o  exerapio 
de  M.  Pouillet,  parecc-nos  que  um  equivoco 
na  resolucao  da  ultima  equaoap  da  pagina  316 
em  ordera  a  r"  transtornou  o  resultado,  e  quo 
sem  esse  transtorno  viria  F  negative. 

Concluimos  pois  que  julgamos  incompati- 
vel  com  0  achromatisnio  a  forma  que  nos  trcs 
auctores  citados  se  atlribue  a  lente  composta, 
quando  se  suppoe  eguacs  os  tres  primeiros 
rains,  e  se  pretendem  achromalisar  os  elemen- 
tos luminosos  1.°  e  7.°  com  o  crown-glass 
n.°  9  c  lliut-glass  n.°  13.  Nao  queremos 
porem  dizer  (jne  para  outros  elementos  lu- 
minosos, ou  usando  d'outras  substancias,  nao 
se  possa  conseguir  o  achromatisnio  com  lentes 
d'aquella  eonslruccao;  antes  alTirniamos  o  con- 
trario, e  0  verilicamos,  por  exempio,  na  achro- 
nia(isacao  dos  elementos  luminosos  1.°  e  4." 
Advertindo  que  tiido  o  que  dizemos  e  sempro 
na  bypotbese  adniillida  do  ser  nuiito  pcquena 
de  primeira  ordem  a  grandeza  angular  das 
lentes,  e  insensivel  a  sua  espessura. 

K.   B.   DE  SOUSA  PI.NTO. 


RELACAO 

Dos  individuos  nomeados  para  as  seguintcs  cadei- 
ras  d'instruc(ao  primaria,  desde  IS  ate  ao  fim 
d'outubro  ultimo. 

Antonio  Ilenriqiies  d'Albuqucrque,  para  pro- 
fessor temporario  da  cadeira  do  JJrvedal,  districto 
da  Guarda. 

Antonio  Jose  dos  Reif,,de  Carvalho,  para  a  do 
Sobral  d'Abclhcira,  districto  de  Lisboa. 

Antonio  Morcira  Dias  Alves,  para  a  de  'Valle 
de  Refojos,  districto  dn  Porto. 

Bento  Guedes  d'Oliveira  Leile,  para  a  de  S. 
Felix  da  Maiinha,  districto  do  Porto. 

Joaquim  Jose  Ferrcira.  para  a  de  S.  Thome 
de  Ncgrollos,  districto  do  Porto. 

Joaquim  da  Silva  Franco,  para  a  da  Marinha 
Grande,  districto  de  Leiria. 

Jose  Pinto  Monteiro,  para  a  de  Pendurada, 
districto  do  Porto 

Jose  dns  SanctosDiniz,  para  a  de  S.  Quinlino, 
districto  de  Lisboa. 

Jose  Francisco  da  Costa  Torres,  para  a  das 
Pias,  districto  de  Beja. 

Jose  Marques  Amador,  para  a  d'Aldca  de 
Monle  do  Trifjo,  districto  d'Evora. 

Manuel  Jose  Dias,  para  a  da  Corte  do  Pinto, 
districto  de  Beja. 

Manuel  Lopes,  para  a  do  Espirito  Sanclo, 
districto  de  Beja. 

Vicente  Jose  da  Moita,  para  a  do  Pedrogao, 
districto  de  Beja. 

Antonio  Pinto  d'Azevedo,  para  professor 
subsliluto,  por  dous  annos,  da  cadeira  da  Ribeira 
de  Pena,  districto  de  Villa  Real. 

Jose  Maria  Bartholomeu,  para  professor  vitali- 
cio  da  cadeira  de  Cacarellos,  districto  de  Braganca. 


ERRATA  DO  N.°  15. 
Fag,  179  no  fim  oade  8e  le  >',  leia-se — )'. 


204 


OBSERVACOES  METEOnOLOGICAS,  FEU  AS  NO  GABINETE    I)E  PllVSICA 
DA   LiiMVEllSIDADE    I)E  COIMBRA. 


Anno  lie 
1H55 


SI.-I  .ie 
Jiinliu 


Uias 


3 

4 

5 

6 

7 

8 

9 

10 

11 

12 

13 

14 

15 

16 

17 

18 

19 

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21 

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23 

21 

25 

26 

S7 

28 

29 

30 


meilia   f 
do  niez  \ 


rt-nlii 


14 

14 

13 

14,5 

16 

16 

17 

16 

16 

17 

18 

17.5 

16 

17 

17 

17 

16 

16 

17 

18 

ly 

19 
20 
21 
21 

it 
21 

22 
22 
22 


PressSo  iitmotijilierica   ao  nicia  dia 


AIt[ira  bafo> 
nietrica  a  o*^ 
da  eiceln  cca- 
tigrada, 

Milliiuelrus 


17,°7 


7,)i,413 
752, i59 
755,325 
757,674 
751,413 
751), 396 
753,567 
754,957 
752,421 
753,059 
751, 9i3 
751,9115 
753,944 
752,U08 
752,300 
754, H34 
75S,217 
761,746 
759,138 
754,983 
751,801 
753, Sia 
755,730 
754,848 
755,007 
755,481 
755,608 
755,738 
755,484 
755,789 


TeniSo  do 
vapor  aqooio 
on  Lido  uo  ar 


iMillinic(ru> 


754,492" 


Temperatvra 

Maxiai.  absol.  22° 
Miaima  absol.'  13" 
Max.   Vflria^ao       9° 


9,201 

9,430 

9,050 

9,690 

10,627 

10,934 

10,354 

10,fi56 

10,196 

10,795 

11,156 

10,1163 

10,498 

10,658 

10,795 

10,557 

10,017 

9,659 

9,595 

10,311 

9,218 

9,259 

9,685 

10,679 

11,253 

11,104 

10,799 

1I,3!I0 

11,437 

12,164 


ar   seccu 


\lillimi'lr< 


743,209 

742. 8i9 

746,275 

747, 98t 

740,785 

739,462 

743,213 

744,301 

742,225 

742,264 

740,767 

741,122 

743,446 

742,150 

741,505 

744,277 

748,200 

752,087 

749.543 

744,652 

742,583 

744,063 

716,045 

711,169 

744.351 

744,380 

744  809 

744,358 

744,037 

743,625 


Estrtdit  h)'gruinrlrici>  du 
ahllospliera  «o  iilt-iudia 


Crau  d'bumi- 
dede  do  ar, 
repmi-ntando 
por  1  o  esla- 
do  de  satiira- 
fao. 


Pressao  atmospherica 

mm 

Max.  absol.  761,746 
Min.absolut.  750,396 
Max.  excurs.     11,350 


0  77 

0,79 

0.81 

0,79 

0,78 

0,81 

0,72 

0,79 

0,75 

0,75 

0,73 

0,73 

0,77 

0,74 

0,75 

0,73 

0,71 

0,71 

0,66 

0,67 

0,56 

0,57 

0,56 

0,58 

0,61 

0,56 

0,511 

0,61 

0,58 

0,62 


0,69 


9,300 

9,528 

9,176 

9,774 

10,663 

10.97  1 

10.354 

10.692 

10,231 

10,795 

11,136 

10,843 

10,531 

10,658 

10,795 

10,557 

10,051 

9  692 

9,595 

10,276 

9,154 

9.195 

9,585 

10,533 

11,099 

10,915 

10, 6n 

11,186 

11,242 
11,957 


GTaii  d' tiumidade  do  ar 

Maximo ....  0,81 
.Minimo  ....  0,56 
Maxima  varia^.     0,25 


N. 

N. 

N. 

O 

NO. 

SO. 

N. 

NO. 

N. 

O. 

E. 

E. 

O. 

O. 

O. 

N. 

N. 

E. 

E. 

E. 

E. 

E 

N. 

E. 

E. 

E. 

E. 

N. 

N. 

N. 


KsiOffn  do  CPU  f  do 
tcntj/o  uo  mt'io  dia. 


Nnblado.  Bom  tempo. 
O  inesuio.  O  mr>.snio. 
O  nirsiiio  O  mfsnlo. 
Clar.  e  limp.  B,  lump. 
O  mesnio.  O  mesino. 
Eiiritlierlo.  T.  chuvuso 
Li^.  niitdad.  B.  temp. 
O  mesnio.  O  niesmo. 
Claro  e  lirapo  B.  temp. 
Nublado.  O  rat-smo. 
Eiiciiberlo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesaio. 
Nublado.  T.  variavcl. 
Encuberto.  O  mesmo. 
Lig.  nul)lad.  B.  temp. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Cl.ir.  elirap.  B.  temp. 
O  mesmo,  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesiuo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
LiJ,^  nuhl.  B.  tempo. 
(^1.  e  limp.  B.  tempo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo  O  mesmu. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Niitdado.  Bom  tempo. 
O  mesmo.  O  m'-smo. 
O  me.'iiio.   O  mesmo. 


Vcntoi  dominant. 
E.  8  N. 


Coimbra,  1.°  de  Julho  de  1855. 


Antonio  Sancli£s  Goulao,  Director  do  Gabinele  de  Physica. 


i)  Jnstittttu, 


■'.1 


JORISAL    SCIENTIFICO     E    LITTER ARIO. 


EXPEDIENTE. 


A.ssigna-?e  este  Jornal  cm  Coimbra  no  Ga- 
binete  do  Instituto;  em  Lisboa  na  livraria  do 
sr.  Cobellos,  rua  Augusta  n.°  2;  no  Porto  na 
do  sr.  Jacintho  \.  Pinto  da  Silva,  rua  das 
Hortas  n.°  144;  em  Evora  na  do  sr.  V.  J.  da 
Gama,  collegio  de  S.  Paulo;  no  Pezo  da  Re- 
gua  na  do  sr.  M.  Mendes  Osorio. 

Toda  a  correspondencia  franca  de  parte  sera 
dirigida  —  A'  Redacrdo  do  Institulo.  Coimbra. 

Preoo,  adiantado,  per  anno,  ou  24 
numeros,  francos  de  parte 1^440 

Porsemestre,  oul2  numeros,  dictos       800 

Avulso 100 

Para  os  srs.  Assignantes  os  numeros, 
que  Ihes  faltarem  d'este  4.°  volume  se- 
rao  pelo  mesmo  pref  o  d'assignatura  an- 
nual,  ou  cada  um 60 

Os  exemplarcs  que  restam  dos  volu- 
mes 1,  H  elll  d'este  Jornal  vendem-se, 
cada  um,  por 1^200 


CONSELllO  SliP..Rli)ll  DE  MUm  PCBLICI. 


CONFERENCI.i  GERAL  DE  30  H'ot'Tl'BRO  DE  1855. 


Di«rurNO  do  o.vni,°  *>r.  ron««eII>cii'0 
vice-i'eilor  e  vi<e-i>2'e<«i<(cule. 


Senhores! — Pela  tercelra  vez  me  fabe  a 
distiucta  honra  de  vos  declarar  aherta  a  sessao 
ordinaria  da  presente  Conl'erencia  geral,  em 
que  vao  apresentar-se  os  relatorios  do  anno 
lectivo  de  1834  a  1853. 

0  exame  e  apreciacio  dos  relatorios,  que 
ides  ouvir,  vos  deixara  convencidos  de  que 
0  Conselho  superior  emprcga  com  desvelo  c 
assiduidade  os  meios,  de  que  pode  dispor, 
para  que  todos  os  ramos  de  instruccao  piiblica 
melhorcm  progressivamentc,  e  se  aproximem 
pelo  caminho  mais  breve,  ensinado  peia  expe- 
VoL.  lY.  Dezembro  13 


riencia,  que  em  tudo  e  a  verdadeira  mcstra, 
do  grau  de  desinvolvimento  e  pcrfeicao,  a 
que  teni  chegado  entre  as  nacoes  mais  cultas 
da  Europa. 

Para  conseguir  tao  iraportante  fim,  e  por 
vcnlura  tao  desejado  de  quem  seriamentc  preza 
a  sabcdoria  como  gloria  e  grandeza  a  mais 
solida  e  bem  fundada,  o  Conselbo  superior 
tern  aprovcitado  as  occasioes,  que  se  Ihe  offe- 
recem,  de  lornar  accessivel  a  todas  as  clas- 
ses,quanto  c  possivel,  a  parte  utii  das  scien- 
cias,  tornando-as  mcnos  especulativas  e 
abslractas,  e  fazendo  convergir  o  ensino  para 
as  applicacoes  mais  frcquentes  e  proveitosas 
nos  usos  da  vida  industrial.  D'cst'arte  nao 
cessa  de  fazer  as  convcnientes  rccommenda- 
foes  aos  commissarios  dos  cstudos,  e  a  todos 
OS  quo  tern  a  direccao  do  ensino  debaixo 
da  supreraa  inspeccao  do  mesmo  Conselho. 
Com  similhante  intuito  foram  ordonados  os 
programraas  ullimamente  publicados  para  o 
proviraento  definitive  das  cadeiras  de  Geo- 
metria,  e  Principios  do  Physica  e  Chimica, 
e  Introduccao  a  Ilistoria  natural  de  novo 
creadas. 

Ainda  assim  o  ensino  publico  ma!  podera 
acompanhar  enire  nos  a  civilizarao  moderna, 
e  obter  proficua  rcgeneracao  cncctada  tao 
sabiamcnte  e  proseguida  com  tanlas  vanta- 
gens  nas  duas  grandes  nacoes  —  a  Franca  e  a 
Inglalerra.  Sim,  e  mister  confessal-o,  o  movi- 
mento  geral  e  o  progresso  da  nossa  inslruccao 
piiblica  neccssariamente  ba  de  ser  vagaroso 
sem  0  mutuo  auxilio  de  todos  ossabios  do  paiz. 
que  0  Conselbo  tantas  vezes  tern  convidado 
cm  vao,  para  apresentarem  memorias  ou 
quaesquer  trabalhos,  lendentes  a  promover  os 
nielhoramentos  dos  estudos,  ou  a  declarar  os 
vcrdadeiros  obstaculos  que  diHicultam  o  seu 
progresso;  e  a  propor  profidencias  efficazes 
ou  mais  proprias  para  se  jconseguirem  os 
bencficos  effeitos  d'uma  educacao  esclarccida 
e  morigerada. 

Oxala  que  todos  por  uma  vez  se  desenga- 
ncm,  de  que  assim  prestarao  valiosos  servi- 
ces a  patria,  concorrcndo  por  aquelle  modo, 
conforme  as  suas  forcas  e  talentos,  para  a 
grandiosa  empreza  da  reformarao  e  aperfei- 
foamento  do  ensino  publico. 

Tem   a   palavra    o  sr.   Secrctario    da   1." 
seccao. 
—  1853.  Num.  18. 


206 


RELATORIO  ANJfUAI,. 

1850—1851. 

Continuado  de  pas.  195. 

PARTE    SEGUNDA. 

Inslruccao  primaria. 

Verdade  6,  Senhora,  que  o  ranio  da  instruc- 
(■ao  primaria  apparcce  hojc  entre  nos  mais 
desiiivolvido  e  mais  vicoso,  que  nas  passa- 
das  eras.  Afugeiitadas  as  trevas,  e  regene- 
rada  a  litteratura  palria,  Y.  M.  o  sabe,  cor- 
ria  0  anno  de  1772;  resoavam  os  cantos  da 
nova  arcadia;  na  lingua  d'acjuelies  nolires 
socios  resurgia  a  phrase  casta  e  o  bom  gosto 
quinhcntista ;  e  comtudo,  'numa  epoclia  de 
tania  gloria  para  as  nossas  letras,  e  no  pla- 
cido  remanso  da  paz,  nao  possuia  Portugal 
mais  que  400  cadeiras  d'instrucrao  primaria. 
Foi  dopois,  c  em  tempos  menos  claros,  que 
0  numero  d'cllas  foi,  pouco  a  pouco,  crescen- 
do, de  gcito,  que  temos  hoje  a  fortuna  de 
contar  no  continente  1:116  cadeiras  piiblicas; 
as  quaes,  com  52  insulares,  sobem  a  1168, 
sem  fallarmos  nas  escholas  e  collegios  parti- 
culares.  D'aquelle  numero,  s5o  d'ensino  si- 
multanco  para  o  sexo  masculino  1:064,  para 
0  femiuino  41;  d'ensino  mutuo  11;  aleni 
d'estas  esta  creada,  posto  quo  ainda  nao  em 
exercicio,  uma  eschola  normal  cm  Lisboa.  Sao 
14  no  continente  as  cadeiras  pagas  por  legados, 
das  quaes  unia  e  de  meninas:  23  as  pagas 
pelas  camaras  municipaes,  sendo  de  meninas 
4;  19  as  pagas  pelas  junctas  de  parochia  e 
confrarias:  collegios  de  educacao  2:  escholas 
particulares  regidas  por  professores  hahilita- 
dos  82,  seudo  para  meninos  02,  para  meni- 
nas 20.  Das  52  cadeiras  das  iliias  sao  d'en- 
sino simultaneo  para  meninos  4i,  para  me- 
ninas 5;  d'ensino  mutuo  3;  alem  das  pagas 
pelas  camaras  municipaes.  Assira  que  as 
cadeiras  piiblicas,  pagas  pelo  cofre  do  esta- 
do,  com  as  particulares,  regidas  por  proles- 
sores  auctorisados,  fazem  o  total  de  1:250. 
Acham-sc  vagas  no  continente  e  nas  ilhas 
62;  a  concurso  46;  reservadas  16  (mappa 
n.°  2). 

E,  se  por  este  quadro  se  ve  que  a  inslruc- 
cao primaria  se  ha  jii  projiagado  tanto,  que 
nao  estii  por  ventura  mui  longe  do  poder 
proporcionar-se  com  a  das  outras  nacoes  cul- 
tas,  tambem  e  certo,  que  ao  raesmo  tempo 
se  tern  alargado  nuiito  mais  a  esphera  do 
ensino  e  melhorado  seu  methodo.  Yerdadei- 
ramente  que,  pondo  em  parallelo  a  sorte 
hodicrna  d'este  ramo  com  a  que  Ihe  coube 
nos  tempos  antigos,   e  ainda  em  annos  que 


de  nds  nao  vao  mui  longe,  vemos  que  entao 
eslava  este  ensino  reduzido  a  simples  leitura 
d'alguns  manuscriptos,  d'uma  carliiha  ou 
d'uni  catbecisrao;  aos  grosseiros  Iracos  d'uma 
rude  e  informe  escriplura  e  aos  primeiros 
elementos  da  numerajao.  Hoje  tem-se  feito 
entrar  nas  escholas  do  1.°  grau  os  jirincipios 
da  grammalica,  a  historia  sagrada  ,  a  ari- 
tbmetica  mais  desinvolvida ,  a  caliigraphia 
apuraja;  e  nas  do  2.°  grau,  rudimentos 
de  theologia  natural,  de  pliilosopbia  moral, 
a  geographia,  a  historia,  a  escripturacao,  o 
desenbo  linear.  Entao  bavia  so  umas  breves 
iustrucyoes  ])ara  guia  dos  professores;  hoje 
ha  urn  desinvolvido  regulamento  para  estas 
escholas. 

Aposar  d'isto,  muitas  necessidadcs  'nesta 
inslruccao  scnte  ainda  hem  \ivamenle  o  con- 
selho,  sem  que  com  os  sens  constanles  csforcos 
tenha  ate  hoje  podido  dar-lhes  eflicaz  rcme- 
dio.  0  numero  das  cadeiras  niio  corre  pare- 
llias  com  a  populacao  portugueza ;  muitas 
freguezias  acham  fechada  ainda  esta  primeira 
porta  da  civilizacao;  nao  a  deixani  franquear 
as  minguadas  forcas  do  Ihesouro;  e  d'esta 
fonte  se  derivam  quasi  todos  os  males,  que 
solire  a  inslruccao  em  lodos  os  sens  ramos. 
Muitas  cadeiras  primarias  permanecera  por 
nuiilo  tempo  vagas,  a  despeito  de  reiterados 
concursos;  muitas  sao  abandonadas  pelos  pro- 
fessores, nao  tanlo  por  serem  tcnues,  quanlo 
por  virem  lardios  e  desfalcados  sens  ordena- 
dos.  Esfria-se  o  zelo  em  muitos  professores: 
sao  providos  muitos  menos  idoneos;  porquc 
mais  habeis  preferem  empregos,  deque  tiram 
mais  proveilo;  tolerando-se  os  fracos,  para 
([ue  a  infancia  nao  fique  tolalmente  privada 
d'instruccao.  Freguezias  ha,  onde  a  natural 
rudeza  dos  paes  se  vai  perpetuaudo  nos  lilhos 
e  netos;  nao  os  mandando  iis  escbohis,  uns 
por  miseria,  outros  por  dcslcixo;  aquelles  por 
quererem  antes  occup.il-os  nos  trabalhos  cam- 
pestres;  estes  para  por  raeio  da  ignorancia 
OS  exemplar  dos  encargos  piiblicos.  D'onde 
resulta  o  ser  por  uma  parte  muilo  escaco  o 
numero  dosalumuos,  por  outra  o  nao  chegar 
esse  mesmo  numero  a  collier  o  fructo  dese- 
jado. 

Por  isso  e  que,  com  quanlo  por  approxima- 
cao  se  calcule  o  numero  dos  alumnos  em  cerca 
de  70:000,  muilo  desemparclhado  Ilea  die  com 
a  niassa  total  da  populacao.  A  esta  longa  ca- 
dea  de  necessidadcs  tem  |)rocurado  acudir  o 
conselho ;  mas  ha  males  que  so  os  pode  curar 
0  tempo.  Yalendo-se  da  disposicao  do  art.  3." 
do  decreto  de  20  de  setembro  de  1844,  tem 
0  conselho  eonvidado  muitos  niunicipios,  fre- 
guezias e  confrarias,  a  contrihuir  com  os 
sobejos  do  que  gastam  com  o  culto  e  encar- 
gos pios,  para  crear  cadeiras;  dando  aquel- 
les corpos  uma  parte,  outra  o  ihesouro.  Mas 
apenas  ha  podido  conseguir  por  este  meio 
urn   pequeno   numero   d'ellas.    Contiuiia    na 


207 


investigacao  d'outros  meios;  e  na  ultima  con- 
ferencia  geral  designou  uma  extraordinaria, 
na  qual  os  vogaes  extraordinarios  e  outros 
individuos  do  corpo  acadumico  indiquem  as 
medidas  e  providencias,  que  tiverem  excogi- 
tado,  para,  sem  gravar  o  thesouro,  se  aciidir 
aqiiella  nccessidade.  Tem  promovido  associa- 
foes  de  benelicencia  para  a  prestacao  de  soc- 
corros  aos  ahininos,  (|ue  por  sua  pohreza 
deixam  de  frcquenlar  as  escholas  piiblicas; 
mas  so  lima  pode  acliar,  que  fosse  proposla 
a  approvacao  de  V.  M.  Tem  feito  recommen- 
dar  aos  paroclios,  que  I'acam  ver  aos  povos 
a  necessidadc  do  cnsino  e  educacao  da  in- 
I'ancia.  Tem  perniitlido  a  mndanca  das  horas 
do  exercicio  escliolar  nas  terras,  em  que  os 
meninos  se  dediiam  mais  aos  servicos  ruraes 
e  mechanicos.  Tem-se  esforcado  por  que  as 
camaras  deem  casa  piiblica  aos  professores, 
para  se  facilitar  a  iuspeccao  sobre  o  desem- 
penho  do  servigo  e  sobre  os  costumes  que 
devem  adornar  os  educadores,  maiormente 
OS  das  tenras  edades.  Mas,  com  magua  o 
confessa,  pouco  'nesta  parte  lem  conseguido. 
Alem  da  ja  mencionada  colleccao  de  livros 
elemcntares  para  cstas  escbolas,  tem  o  con- 
selho,  como  ja  dissc,  promovido  a  composi- 
cao  d'oiitras;  e,  seudo  um  dos  submcttidos 
ao  seu  juizo  o  novissimo  metbodo  da  Leilxtra 
Repenlina  do  Dr.  Castilho,  niio  quiz  o  conse- 
Iho  iuterpor  esse  juizo,  sem  esperar  o  resul- 
lado  da  experiencia,  que  e  a  melbor  prova 
da  bondade  de  taes  obras;  e  per  isso  encar- 
regou  0  commissario  dos  esludos  de  Lisboa, 
em  12  de  outubro  do  anno  passado,  de  obser- 
var  e  seguir  em  todo  o  seu  desinvolvimenlo 
0  ensaio,  que  o  proprio  auctor  hia  fazer  d'esse 
metbodo,  no  collegio  que  abriu  na  capital; 
e  ao  voga!  exlraordinario  o  Dr.  Manuel  Mar- 
ques Pires,  para  o  lazer  ensaiar  na  eschola 
primaria  de  Estarreja.  0  primeiro  nao  deu 
ainda  conla,  apesar  de  ser  instado  em  officio 
de  15  d'outubro  d'cste  anno  para  dar  as  in- 
formacoes  sobre  o  resultado  practico  d'aquel- 
le  metbodo:  eo  segundo  inlorma,  que  nao 
responde  o  proveito  a  pronicssa  do  auctor, 
que  parece  tamboni  ja  por  si  mesmo  desen- 
ganado.  Se  poiem  este  livro  parece  inutil, 
muitos  lenios  ja,  que  assim  na  parte  moral, 
como  na  litteraria,  bem  accommodados  sao 
para  o  uso  escbolar.  Assim  tivessemos  nos 
bons  professores!  Mas  e  este  o  ramo  da 
instruccao,  que  mais  carece  d'clles:  rarissi- 
mos  sao  os  idoneos ;  nao  so  pela  razao  aciraa 
indicada,  senao  tambcm  porfallarem  as  escbo- 
las normaes,  em  que  elles  se  formera;  e  raui- 
e  de  lamentar  que  a  unica,  creada  na  capi- 
tal, nao  tenha  ainda  podido  funccionar. 
Acham-se  substituidos  por  impedimentos  41 
professores ;  suspenses  2  ;  advertidos,  vigia- 
dos  ou  debaixo  d'investigacao  48  ;  foram  jubi- 
lados  2 ;  requerem  a  jubilacao  9  (mappa  n.° 
2).  Importa  a  despeza  da  instruccao  primaria 


no  continenle  e  ilhas,  segundo  a  verba  vo- 
tada  no  ultimo  orcamento  em  99:777^280 
reis. 

PARTE  TERCEIHA. 

Instruccao  secundaria. 

Mais  agradavel  apparece,  Senhora,  o  qua- 
dro  da  instruccao  secundaria,  ou  complemen- 
tar  do  desinvolvimento  do  espirito  bumano; 
coniprebende  ella  nao  so  os  estudos  das  hu- 
manidades  e  boas  letras,  babilitacao  para  as 
scieneias  superiores;  senao  tambcm  os  co- 
nbecimentos  philosophicos  com  applicacao  as 
artes,  para  o  desinvolvimenlo  da  industria 
nas  suas  diversas  relacoes:  dous  objcctos,  em 
verdade,  importantissimos.  Reconbecido  e 
hoje  0  progresso  e  melboramento  do  primei- 
ro objecto,  as  humanidades  e  a  litteratirra 
bella,  assim  no  metbodo  do  ensino,  que  hoje 
e  incoraparavelmente  muito  mais  breve  e  lu- 
minoso,  que  o  dos  antigos,  como  no  uso  dos 
novos  compendios,  que  todos  os  dias  vem 
aflluindo  era  grande  numero,  e  entrc  os  quaes 
varies  ha  de  provado  merecimento.  Assim 
que,  se  nas  escbolas  seajunctasse  aosprecei- 
tos  tbeoricos  mais  alguma  practica,  veriamos 
subir  era  breve  este  ensino  ao  mais  vivo 
esplendor.  Observam-se  os  effeitos  nas  pro- 
duccoes  do  genio;  e  abi  vemos  a  prova  'nessa 
mullidao  d'escriptos,  que  nao  so  era  tracta- 
dos  didacticos,  mas  na  eloquencia,  na  bisto- 
ria,  e  cm  quasi  todos  os  generos  de  discur- 
sos  vao  'neste  periodo  illustrando  a  literattii- 
ra  patria.  Somente  a  poesia  e  que  algunia 
cousa  se  resente  do  desfavor  das  Musas:  ja 
se  nao  estarapa  uma  epopea ;  quando  no 
mesrao  seculo  XVII  floreceram  ainda  cinco 
epicos.  So  apparecem  curtas  coniposicoos  no 
genero  epigramraatico,  e  no  lyrico  e  drama- 
lico;  escasso  reflexo  da  luz  antiga;  falta  or- 
dinariamente  a  inspiracao,  e  quasi  que  so 
para  a  realidade  lende  o  seculo. 

No  segundo  objecto,  porem,  isto  e,  nos 
conhecimentos  philosophicos  indispensaveis 
jiara  as  scieneias  naturaes,  com  applicacao 
as  artes,  corao  a  agricultura,  ao  conimercio, 
e  em  geral  a  industria,  atrazada  se  acha  ain- 
da cntre  nos  a  instruccao  secundaria.  Para 
estes  ramos  industriaes,  por  certo  que  nos 
fallece  ainda  o  desinvolvimento  dos  metho- 
dos  e  practicas,  niuito  ha  seguidos  nos  povos 
illustrados,  que  nos  antecedera  'neste  genero 
d'instruccao;  a  qual  ennobrecendo-os,  ao 
mesrao  tempo  os  ha  enriquecido.  Carccemos 
cgualmente  de  professores  assaz  bahilitados 
para  este  ensino,  os  quaes  muito  conviria  que 
lossem  receher  d'outras  nacoes  os  elementos 
de  sua  babilitacao. 

Culliva-se  o  ramo  da  instrucfSo  secunda- 
ria nos  lyceus,  que  devem  considerar-se  co- 
mo outros  tantos  centros   litterarios;  e  em 


208 


tadeiras  estabelecidas  em  localidades  diver- 
sas,  fora  dos  lyceus,  mas  a  elles  annexas  c 
subordinadas.  As  cadeiras  dentro  e  fora  dos 
lyceus  sobcm  ao  numero  de  210,  distribuidas 
nos  conrelhos  e  districlos  pelo  modo  constan- 
le  do  niappa  n.°  3.  Os  lyceus,  ja  constituiilos, 
acham-se  todos  eollocados  cm  edilicios  publi- 
cos,  cxccptiiando  somcnte  os  dc  Avoiro  o 
Villa  Real;  e  nao  so  os  cinco  lyceus  maiorcs 
do  contincnte,  que  sao  os  de  Lisboa,  Coim- 
bra,  Porlo,  Brajta  e  Evoia,  tein  em  exercicio 
regular  lodas  as  cadeiras  de  que  a  lei  os 
compoz;  mas  lanibem  em  todos  os  demais 
poucas  restam  a  prover-se.  Nas  illias  esla  ja 
lanibem  funccionando  em  todas  as  cadeiras 
0  lyceu  do  Funclial,  equiparado  aos  lyceus 
maiores  pela  lei  de  12  de  junho  1849:  os 
outros  lyceus  vao  conslituindo-se  pouco  a 
pouco  (mappa  n."  4). 

Os  prolessores,  encarregados  do  ensino  se- 

cundario,   salvas  poucas  exeepcoes,  possuem 

as  qualidades  moraes  e  litterarias,  indispen- 

saveis   para  o  bom  desempeiilio   de  seu  im- 

porlante  ministerio.    Os  poucos,   que  se  tern 

desviado   dos   seus  deveres,   tem  o  conselho 

procurado   chamal-os  a  direilura,   per  mcio 

de  advertencias  e  roprehcnsOes  salutares,  nos 

termos  que  a  lei   prescrcve.   Mas  apesar  do 

zelo   e   ponctualidade    da    maior   parte   dos 

professorcs,    observa-se  todavia  que  nem   a 

affluencia  dos  alumnos,  nem  o  seu  aproveita- 

mento  e  notavel.  Fogem  os  alumnos  da  poli- 

cia    e  regularidade   d'estes   estabelecimentos 

publicos  para  a  indulgencia  das  aulas  parlicu- 

lares;  contra  o  que  ja  no  relatorio  anterior, 

este  tribunal  propoz  a  sabia  consideracao  de 

V.  M.  alguraas  providencias  que  julgou  in- 

dispensaveis,  c  que  niuito  dcseja  ver  realisa- 

das.  Os  lyceus  niais  frequentados  siSo  ordina- 

riamente  os  de  Lisboa,  Coimbra  e  Braga.  No 

continente    cursaram    as    100    escbolas    dos 

lyceus  no  anno  lectivo  anlcriormente   findo 

l:Ho().  E  nas  82  escholas  annexas  aos  lyceus 

1:078.  Nas  ilbas  340  (mappa  n."  4  eo).  Do 

ultimo  anno  lectivo  pela  ja  niencionada  falta 

de  mappas  e  relatorios   pareiaes,   nao   pode 

neste   relatorio   dar-se  o  numero  exacto  de 

alumnos.  Muitos,  como  dicto  lica,  entregam- 

se  a  professores  particulares;  a  maior  parte 

dos  quaes  carecc   de   titulo   de  cnpnciilade, 

apesar  de  rcpctidas  circulares,   expedidas  a 

todos  OS  governadores  civis  (sendo  a  ultima 

em  30  de  setembro  ultimoj,  ordenando-lhes 

dc  novo  que  procedani  as  niais  c\actas  avc- 

riguacoes  a  tal  respeito,  e  (|ue  intimem,  com 

pena  de  suspcnstio,  os  ainda  nao  hahilitados, 

para  que  se  liabilitem  moral  e  litterariamen- 

le.  E  esta  uraa  das  necessidades,  que  tanibcm 

solTre  a  instrucciio  priraaria,   e  que  tarde  se 

podera  remediar  perfeitamentc. 

Tendo  ouvido  os  consellios  dos  cinco  ly- 
ceus maiores,  o  conselbo  superior  occupa-se 
actualmente  do  projecto  do  rcgulamenlo  dos 


lyceus,  para  o  submetter  em  breve  a  appro- 
vayao  de  V.  M.  'Neste  regulamenlo  espera  o 
conselho  introduzir  algumas  practicas  sauda- 
veis,  que  regulem  a  ordem  dos  esludos,  c  que 
OS  lornora  proveitosos,  por  arte  os  alumnos 
se  demorem  'nclles;  sendo  que  nao  se  ganlia 
tanto  em  extender  a  superlicie  dos  cstudos, 
quanto  em  dar-llies  forca  e  prol'undeza.  0 
conselho  em  lim,  meditando  nas  providencias 
de  poder  banir  a  anarcliia,  que,  ha  muito, 
dcsune  este  ramo  d'ensino,  excogita  os  meios 
de  estabelecer  a  uniformidade  de  doutrina  e 
methodo  nas  escholas  piihlicas  e  particula- 
res. Importa  a  despeza  da  Instruccao  secun- 
daria, segundo  oorcamento,  em  63:221^310. 

CoiUitiua. 


MEMORIA  HISTORICA  E  CRITICA 

Sobrc  a  rovoluruo  que  cm  lS4e  lirou 
a  coroa  a  n.  Kanrlio  11.  para  a  dar  ao 
contlc  dc  Boloiiha.  sea  irniao. 

Continuado  de  pag.  SOI. 


IX. 


Ja  acima  notamos  como  nao  era  so  entre 
a  coroa  e  os  prelados,  que  se  continuavam  as 
desavencas :  os  seculares  achavam-sc  na  mesma 
situacao,  e  as  lides  suscitadas  entre  os  baroes, 
0  povo,  e  as  classes  poderosas  cspalhavam  o 
terror  e  a  desolacao  [lor  toda  a  parte.  Se  o 
govcrno  attcndesse  entao  ao  seu  devcr,  c  pro- 
curasse  atalhar  tao  grande  calaraidade,  certo 
que  a  tempeslade  se  espalhara,  e  nao  lora  de 
recear;  porcm  a  imbecilidade  govcrnaliva, 
a  falta  de  energia  do  rei,  ou  sous  niinistros, 
a  seguranca  d'impunidade  que  linham  os  mal- 
fcitores,  foram  accumulando  mais  e  mais  as 
causas  da  revolucao,  ate  seu  rom|)imento.  A. 
um  estado  tao  alllictivo,  a  uma  tao  angus- 
liada  posicao,  remedio  nenhuni  se  dava,  ou 
por(|ue  nao  havia  lorca  sudicientc  para  obstar 
ao  mal,  ou  porque  nao  havia  vontade,  nem 
resolucao  para  cohihir  os  excessos  dos  prin- 
cipaes  nobres  e  poderosos,  que  'nelles  tao 
determinadamente  hguravam;  parece,  que  o 
unico  inslincto  do  governo,  em  tao  agitada 
epocha,  se  limitava  apenas  a  conservacao  dos 
logares  e  empregos  no  conselho  do  rei!  Raras 
vezes  mostra  a  experiencia  nos  homens  d'estado 
prudencia  tal,  que  os  leve  a  emendar  aquillo 
que  uma  vez  entenderam  dever  jiracticar  no 
exercicio  de  suas  funcvoes,  e  no  mencio  de  seus 
empregos.  Foi  exactamente  o  (|ue  acconteccu 
'nesta  occasiao.  Malquistado  com  os  prelados 
e  baroes  do  reino,  em  vcz  de  atalhar  a  desuniao 
e  congracar  os  bandos,  em  que  o  reino  es 
achava,  D.  Sancho  deixou  correr  a  causa  a 


209 


revelia;  os  aggravos  foram  conlinuando  e  as 
qiieixas  ii  r6rlc  de  Roma,  segundo  o  uso  d'a- 
quelle  tempo,  invidarani  o  restante'.  Tao 
cheias  do  jiistica  cram  as  pcrlenrOes  dos  bispos 
'nesta  occnsiao,  c  cspocialmente  as  do  bispo 
do  Porlo,  que  os  proprios  corlezaos,  aquelles 
mcsmos  qnc  mais  avOssos  llie  dcviam  ser,  cram 
OS  primoirus  a  dcsapprovar  as  dcsinlclligcncias 
do  rei  com  os  prelados,  pclo  rcccio  (]uetinliam 
de  taps  coiitendas.  Assim  veiiins  o  alferes-niof 
Martim  Amies,  o  clianeelltT  Duraudo  Froyaz, 
0  senhor  de  Sovcrosa,  e  sous  lillios,  entre  os 
•[uacs  ligiiia  o  proprio  Mailim  Gil,  a  qiicm  a[)- 
])ellidaram  Boa-fe  e  quo,  como  intiiuamente 
ligado  a  politica  do  rci,  jamais  o  dcsamparou, 
tendo  sido  o  general  de  siias  tropa?  ale  a  sua 
saida  do  rcino,  assim  vemos,  digo,  interviiem 
todos  a  favor  do  dicto  hispo  do  Porlo  para 
terminar  csta  conlcnda. 

Nao  era  menos  justa  a  pertencao  do  bispo 
de  Coimbra  D.  Tiburcio.  Deixara  Afl'onso  II 
a  sua  Se  sole  mil  maravedis,  para  com  csta 
quanlia  so  fazcr  o  elauslro,  que  ainda  hoje  se 
ve,  iiiiido  ii  Iniprensa  da  Universidade,  e  con- 
tiguo  a  mesma  catbedral,  para  depois  de  con- 
cluida  a  obra,  com  o  resto  se  comprarera 
propriedades  para  fundos. 

Este  dinlieiro  tinha  sido  enlrcgue  ou  depo- 
sitado  na  mao  do  prior  do  Hospital.  Demorado 
alii  ou  pela  ausencia  do  bispo  Soeiro,  de  que 
ja  dei  nolicia,  ou  pclas  desintelligencias  que 
este  nicsmo  bispo  teve  depois  com  o  sou  cabido 
e  clero  da  diocese,  nao  tinha  sido  cntregue 
ainda,  e  ficara  ao  successor  o  dircito  de  o 
reclamar  da  ordera  Jerosolimitana.  0  rei,  que 
pouco  alTeicoado  se  mostrava  a  D.  Tiburcio, 
que  scmpre  traclou  com  severidade'',  cmbargou 
na  mao  do  dicto  prior  a  rel'erida  somma,  e  nao 
consentiu  que  Ihe  I'osse  entregue.  Foi  por 
esta  occasiao,  que,  nao  jiodendo  nada  obter 
do  rei,  o  bispo  recorreu  a  Homa,  e  Innocencio 
IV,  que  liavia  pouco  tempo  tinba  sido  elevado 
a  cadeira  pontilicia,  expediu  ao  bispo  eleito  de 
Samora  eao  abbade  do  convenlo  de  Pelleis,  da 
ordem  de  Cister,  na  mesma  diocese  a  bulla,  Sua 
nobis  datada  V.  Id.  .lul.  Pont.  an.  I  (1243), 
pela  qual  os  mandava  conbecer  d'esta  causa, 
achando  tao  extraordinario  o  procedimeuto 
do  rei  em  impedir  a  entrega  do  diubeiro,  e 
parecendo-Ihe  cousa  tao  improvavel,  que  mal 
se  poderia  acrcditar  de  principe  catliolico  ;  c 
Ihes  mandava  alem  d'isto  que  o  obrigsssem 
com  censuras  ate  que  ievantasse  o  embargo 

'  «0s  instigadorea  d'essa  politioa  deploravel,  o  que 
fazem  e  condiisir  oa  iirincipes  a  uma  sitiia9ao  tremenda, 
em  que  ou  hao  de  ef,niaf:ai ,  ou  ser  esma^Mdos.  "  Hist,  de 
Portug.  loin.  H,  paj;.  353. 

*  Martinum  dictum  bona-fe^  diz  o  chantre  de  Coim- 
bra na  cit.  inquiri^ao.  Ibid.  Os  outros  factos  sao  referidos 
na  cit.  Hist,  de  Portug. 

^  Sao  as  testemunlias  da  citada  inquirii^ao,  as  que 
provam  esla  sua  ma  vontade,  porque  o  chantre  jura,  sendo 
perguntado  se  o  rei  o  estimava  — que  ai5  uma  vez  presen- 
cidra  tratal-o  bem.  Ibid. 


e  fosse  entregue  ao  bispo  este  dinheiro'. 
Mas  assim  mesmo  o  nao  foi,  e  S()  se  vcrilicou 
a  entrega  alguns  annos  depois,  sendo  bispo 
D.  Egas  Fafes. 

Injusticas  tao  ni.mifestas,  e  tiio  mal  enton- 
didos  caprichos  esfiiavam  de  lodo  os  aninios.  e 
alfastavaiu  longe  do  liirouo  acjuclb's,  que  niaior 
interessc  tinbam  em  eslar  ligados  com  ellc,  e 
eram  os  piccursores  da  rcvolucao  que  breve 
devia  rcbonlar  auxiliada  por  tantos  e  tao 
graves  dcscomedimentos. — «  Os  erros  dos  que 
«  governam,  diz  o  cilado  A.,  influem  quasi 
<'  semprc  mais  ou  menos  nas  revolucoes,  que 
«  dcrribam  os  tbronos  e  nuidam  as  dynaslias: 
«  cnibora  essas  revolucoes  parecani  ter  nascido 
«  de  causas  puranicnte  fortuitas,  das  intrigas 
«  d'arabiciosos,  das  innovacoes  ou  da  violcncia 
"  das  paixOesi)-.  Estes  erros,  pois,  crcaram  os 
doscontcntes;  estes  a  rcvolucao,  <[ue  nao  podcra 
sem  grande  injuslica  ser  impulada  sonicnte 
ao  clero,  quando  nos  virmos  toniarem  'nella 
parte  os  secularcs,  pelo  conjuncto  das  circum- 
stancias  referidas  jii,  no  bm  do  n.°  Y  d'esta 
mcmoria,  e  que  continuaremos  a  dcsinvolver. 
Se  pois  OS  erros  dos  ijoveriumles  influem  nas 
revolurSes  que  derriham  os  tlironos  e  mudum 
as  dynaslias,  quem  podcra  admirar-sc  da 
prcsente  rcvolucao,  seguindo  a  marcha  pro- 
gressiva dos  accontecimentos  e  o  desinvolvi- 
mento  rapido  que  agora  Ihe  davam  os  clcmen- 
tos  que  breve  a  dcviam  constituir?  Que  estra- 
nheza  podera  causar  a  commocao  no  reino  em 
taes  circumstancias? 

Conlinita.  m.  n.  de  VASCONCELLOS. 


ENSINO  INDUSTRIAL  NA  ESCHOLA  PRIiARIA. 

No  seculo,  era  que  vivcmos,  tudo  vae  to- 
mando  um  caracter  positivo  e  practico.  Ma- 
terialisar  ideas  parcce  ser  o  tim  de  todo  o 
cstudo,  0  cunbo  da  perl'ectibilidadc  do  cspi- 
rito  bumano.  Acabou  de  todo  a  rschola  pcri- 
patctica.  A  abstraccao,  a  idealidade  pura  fo- 
ram subslituidas  pela  realidade  objectiva. 

A  tendencia  cm  todos  os  raraos  de  ensino 
e  para  a  applicaciio  practica.  Tempo  inutil 
outr'ora  consummido  em  questoes  cspeculati- 
vas  emprega-se  hoje  na  parte  util  das  scien- 
cias. 


*  Bulla  Sua  iinbis  —  dada  Agnanie  V.  Id.  Jul.  Ponlif. 
aa.  I.  —  quod  vix  credere  possumus. — ibid. 

^  .4.  cit.  pag.  337. — Como  este  A.  attribue  so  ao 
estado  ecclesiastico  esta  revolu^ao,  que  considero  d'outro 
modo ;  muito  de  preposito  me  tenho  servido  dos  seu* 
argumentos  para  d'elles  tirar  differente  concliisiio:  e 
como  as  suas  rasOes  nao  podem  ser  suspeitas  ao  leitor. 
que  as  hade  julgar  iraparcialmente,  ficara  d'esta  sorte 
habilitado  a  apreciar  sua  valia,  podendo  d'ellas  tirar  u 
conclusiia,  que  Ihe  parecer  mais  proxima  da  verdade. 


210 


Nenlium  paiz  teni  'neste  gcnero  conscguido 
tanlo,  como  a  liiglaterra  uos  ullimos  irez 
aiinos.  Por  imiito  tempo  iiilcrior  nos  meios 
publicos  de  eiisiiio  a  outras  iiacOes,  (|ue  em 
materia  de  organisacao  social  a  imitaram. 
eoiila  lioje  uni  iiuiiiero  cspaiUoso  de  cseiioias 
pdinilares  iiulusiriaes. 

A  Franea  ainda  privada  d'csse  genero  de 
iiistituieOes  populares,  que  mais  (|ue  tiidu 
toiieorrc  para  viilgarisar  os  coiilietiiiieiilos 
iilcis,  eslbrea-se  por  dilTuiidil-os  por  meio  de 
periodicos  de  i'acil  cireiilaefio,  e  liaixo  proco, 
e  pelo  cnsino  uas  escholas  primarias  elemeii- 
tares. 

Daremos  uma  amostra  d'essas  lirocs,  por 
que  !-e  faca  idea  do  espirilo  e  do  methodo 
de  ensino:  e  oxala  que  eiitre  nos  se  ache 
qucm  deseje  imitar  aqueila  practical 

M.  Miguel,  teu  pae  e  rendeiro:  poderas 
dizer-me  quantos  hectares  semeou  elle  este 
auno? 

D.  Semeou  trez  de  ccnteio  e  scis  de  aveia. 

—  E  quantos  hectares  de  terra  aravei  tcm 
a  fazcnda  de  teu  pae? 

—  Tern  trinla. 

— -Restam  pois  vinte  cm  pousio,  e  que 
servem  so  para  pastagem:  nao  e  isso  dema- 
siado? 

—  Para  podermos  cultivar  maior  porcao  de 
terreno,  precisavamos  de  maior  quantidade 
de  estrame;  para  fazer  mais  estrumc  era 
preciso  mais  gado;  e  os  nossos  prados  nao 
dao  forragem  para  mais  gado  do  que  o  que 
tcmos. 

—  Que  gado  tendes  vos? 

—  Quatro  hois,  duas  vaccas,  duas  vitellas, 
uma  egua  com  scu  poldro,  cem  carneiros,  duas 
eabras,  e  duas  porcas. 

—  Pois,  Miguel,  eu  conheco  'noutros  de- 
partamcnlos  fazendas  de  trinta  hectares,  que 
tem  dohrado  gado,  e  cultivam  terra  dohrada. 

—  Sera  porque  estejam  essas  iazendas  em 
bom  paiz,  em  terras  de  trigo.  Aqui  teraos 
haldios,  terras  frias,  que  necessitam  muito 
estrume,  e  que  retem  a  agua,  como  uma 
hilha. 

—  As  plantas,  que  nascem  naluralmente 
em  qualquer  terra  iudicam  com  certeza  a  na- 
tureza  d'ella,  mcu  auiigo;  ora  as  terras,  de 
([ue  vos  fallo,  produzem  naturalmcnte,  como 
as  vossas  ,  juncos,  giestas  e  urzes:  a  agua 
licava  oulr'ora  'iiellas  cm  todos  os  baixios; 
e  OS  habitantes  tinham  as  fehres,  que  nuiitas 
vezes  ha  'neste  concelho:  alii  nao  havia  mar- 
ne;  em  fim  cram  terras  cxactamente  como 
as  vossas,  ate  que  urn  estrangeiro  veiu  com- 
prar  uma  fazenda  'neste  paiz,  e  por  em  pra- 
ctice trez  ou  quatro  processes,  que  os  outros 
visinhos  adoptaram  depois  que  com  sens  olhos 
viram  experimental-os;  trez  ou  quatro  pro- 
cessos  que  te  faremos  conhecer,  se  o  deseja- 
res. 

—  Fazieis-nos  ricos,  senhor,  se  nos  ensi- 


nasseis  meio  de  produzir  amelade  d'esses 
resultados,  sem  correr  o  risco  de  nos  arrui- 
narmos,  como  aceontece  com  os  que  os  livros 
eusinam.  Dizem  os  nossos  vellios  que  os  li- 
vros de  agricullura  foram  I'eitos  para  liomens, 
quo  se  tcm  arruinado  querendo  cultivar  por 
forma  dilTercnle  da  nossa. 

—  Podcm  conhecer-se  os  meios  de  lertili- 
zar  a  terra,  mens  mcninos,  e  nao  haver  todas 
as  (lualidades,  toda  a  experiencia  necessaria 
a  uiu  cultivador.  Os  homcns,  de  (lucm  me 
I'allaes,  nao  tinham  sido  crcados  no  cam|)o; 
nao  podiam  levar  a  todas  as  suas  explora- 
coes  OS  meios  economicos,  que  vos  aprcudeis, 
sem  0  sabcrdes,  de  o  vcr  fazer  todos  os  dias. 
Alii  esta  a  razao  da  perda  de  muitos  culti- 
vadores  que  seguiram  methodos  alias  excel- 
lentcs.  0  primciro  meio,  de  que  vou  fallar, 
niio  tem  feito,  que  eu  saiba,  a  ruina  de  uin- 
gucm,  e  tem  feito  de  cbarnecas  terras  tao 
productivas  como  as  de  trigo.  Vou  conlar-vos 
a  bistoria  de  um  liomem  que  o  iutroduziu 
'num  paiz  semelhante  ao  vosso. 

Era  um  jornaleiro  pobre  ,  porque  apenas 
possuia  dois  pequenos  lerrenos  de  um  liectar 
cada  um,  e  outro  de  terra  inculta  de  cineo 
hectares.  Iloje  e  proprictario  de  bens  (|ue  nao 
tem  menos  de  t'i  hectares  e  de  feracidade 
em  primeira  ordem.  Nao  era  mais  inlelligen- 
te  que  a  nior  parte  de  sens  visinhos  que  tanto 
como  elle  desejavam  augmenlar  sens  lucres 
e  procurar  a  felicidade  de  suas  faniilias;  com 
a  differcnca  que  em  vez  de  se  preoccupar  de 
todos  OS  meios  de  ganhar,  em  vez  de  consi- 
derar  na  perda  de  uma  especulacao,  que  ar- 
ruinou  alguem,  o  que  de  ordinario  so  I'az 
perder  tempo  e  causar  ailliccOes,  Boudin  (tal 
era  0  seu  nome)  linha  como  rcgra  invariavel 
nada  emprchender  que  nao  fosse  justo,  e 
Deus  nao  podesse  approvar;  e  assim  jioupava 
tempo  era  refle.xoes  iuuteis.  Fazci  como  elle; 
no  lim  de  cada  dia  tereis  feito  mais  ohserva- 
cOes  proveitosas  que  outros  'num  mcz.  E  uma 
so  observacao  boa  pode  ser  a  origcm  de 
grandes  hens. 

Bo\i(lin  irahalhava  algumas  vezes  com  nm 
dono  de  furno  de  cal  feito  na  extrcmidade 
da  charneca  a  trez  Uilometros  da  terra  de 
trigo.  Era  'ncsta  ultima  terra  que  se  tirava 
a  pedra  para  a  cal.  Tinha  elle  notado  que 
era  roda  do  forno,  nos  sitios  ondc  o  acaso 
tinha  levado  alguns  pedacos  de  cal,  a  herva 
era  de  cor  mais  carregada,  e  o  centeio  e 
aveia  tinham  um  vigor  extraordinario;  e  que 
alguns  pes  de  trigo  lilhos  de  graos  misturados 
com  a  oulra  semente  eram  vigorosos,  e  da- 
vam  bellas  espigas.  Pensou  'nisto  algum  tem- 
po ;  e  foi  depois  ter  com  o  dono  do  forno  a 
pedir-Ihe  os  restos  da  cal,  que  ficavam  era 
redor  do  forno.  Leva-os,  respondeu  o  dono; 
arabos  lucramos.  Boudin  foi  logo  entender- 
se  com  0  lavrador,  que  Ihe  lavrava  as  terras; 
seis  metres  cubicos  d'aquelles  restos  calcareos 


211 


foram  espalhados  em  caniada  sobre  amelade 
de  um  terreno  dc  Boudin.  Depois  mandou 
dar  uma  lavra  a  lodo  o  lorreno,  fel-o  estru- 
luar;  e  ao  raodo  usual  semeou  cenleio  na 
terra  nao  adubada  com  cal,  e  na  outra  adu- 
bada  luetade  cenleio,  e  melade  Irigo. 

Decididamente  Boudin  li  forca  de  pcnsar 
crrou  0  cakulo,  diziam  os  visinhos.  Esla  la- 
zendo  despezas  para  nao  colber  niais  do  (jiie 
nos;  taivez  menos;  porque  o  Irigo  acjui  niin- 
ca  se  deu.  A  iinguagem  poreni  nuidou  em 
breve:  na  terra  caleada  o  cenleio  I'oi  o  niais 
beilo  do  paiz;  e  o  trigo  como  o  das  nielhores 
terras  da  visiniianca. 

Deu  islo  niuilo  que  fallar.  Aigiins  asseula- 
ram  desde  logo  imilar  Boudin:  depois  espan- 
taram-se  das  despezas  de  cal,  que  o  dono  ao 
depois  queria  vender,  e  do  Iransportc;  alem 
de  que  as  niigallias  da  cal  niio  podiam  cliegar 
para  lodos.  E  seria  a  cal  a  que  I'ez  o  milagre, 
on  teria  Boudin  algum  segredo?  'Neste  esla- 
do  de  duvida  resolveram  esperar. 

Quanto  a  Boudin  fez  a  conla  das  despezas, 
e  dos  sens  lucres,  metlendo  cm  conla  as 
migalhas  de  cal,  que  o  dono  vendia  dgpois 
a  10  francos  o  metro  eubico,  acliou  que  o 
oitavo  de  iiectar  caleado,  e  semeado  de  Irigo 
Ibe  rendera  30  francos  liquidos ,  e  assira 
0  rendimento  de  todo  o  terreno  foi  clevado  a 
240  francos.  'Nesse  tempo  vendia-se  o  bectar 
de  terra  'naquelle  paiz  por  320  francos. 

E  nao  se  limilava  a  eslc  todo  o  proveito: 
a  aveia  semeada  produziu  muitomeihor;  e 
depois  a  erva  foi  mais  forte  e  de  mellior 
qualidade,  que  quando  o  lerreno  andava  em 
pousio.  0  professor  d'aqueila  povoacao  era 
mofo  estudioso  e  amigo  de  fazer  bem.  Miiitas 
vezes  a  tarde  voltando  Boudin  do  seu  tra- 
balho  0  encontrava  so  passeando  com  urn 
livro  na  mao:  algumas  vezes  o  bavia  inler- 
rogado  para  saber  o  por  que  de  algumas  cou- 
sas;  e  elle  Ibe  bavia  respondido  logo,  ou 
trasido  a  resposla  dias  depois,  sc  algum  estu- 
do  a  pergunta  exigia.  Assiin  se  eslabelecera 
entre  os  dous  unia  alfectuosa  conlianca.  Foi 
pois  consullar  o  professor  sobre  a  causa  d'a- 
(|ue!les  bons  resullados. 

Nao  meadmiro  d'elles,  respondeu  o  profcs- 
fessor.  Da  niuilo  que  em  algiins  silios  de 
Inglaterra,  onde  a  terra  c  muilo  fria,  usam 
OS  cultivadores  cobrir  de  cal  os  seus  alquci- 
ves,  e  acbam-se  bem  com  isso. 

Mas  qual  e  a  causa?  como  produz  a  cal 
esse  elleito?  poderia  eu  supprir  esses  residuos 
de  cal  com  ella  pura  em  menor  quanlidade? 
e  poderia  dispensar  o  eslrume  a  operacao  da 
cal? 

Nao  vanios  tao  apressados,  repeliu  o  pro- 
fessor; eu  vou  tractar  de  vos  dizer  como  os 
sabios  explicam  a  acjao  da  cal:  e  depois  vos 
direi,  ou  antes  vos  comprcbendcrcis  que  a 
cal  nao  dispensa  o  estrumc. 

Nao  vos  direi,  meus  meninos,  palavra  por 


palavra  o  que  o  professor  disse  a  Boudin  para 
Ibe  fazer  comprebender  como  a  cal  dispoe  a 
terra  a  produzir  colheitas  mais  abundantes. 
Mas  vos  mesmos  o  advinbareis  nas  reflexoes 
(|ue  vou  fazer. 

Todos  vos  Icreis  por  divertimento  semeado 
alguns  graos  de  trigo  em  terra  bem  prepara- 
da.  Nasce;  comeca  a  crescer;  e  se  enlao  o 
arrancaes  e  levaes  a  balanca  ,  peza  niuilo 
menos  do  ipie  no  tempo  da  collieita  clieio  de 
espigas.  D'onde  vem  pois  esle  pezo?  d'onde 
veiu  essa  materia,  quo.tanto  o  augmenta  em 
alguns  mezes? 

0  trigo,  disse  um  alumno,  lira  da  terra 
0  estruine  que  Ibe  lancamos. 

E  estaes  bem  cerlo,  disse  o  meslre,  i|ue 
nao  pode  vir  dc  outra  origem:  nao  tendes 
ouvido  dizer  que  em  terra  muito  estrumada 
0  trigo  tern  caules  tam  fracos,  que  ([uebrain 
ao  menor  sopro  de  vento?  0  eslrume  nao  da 
pois  ao  trigo  tudo  o  que  precLsa  para  bem 
produzir:  oulras  causas  ba  mister,  que  se 
nao  acbam  no  eslrume.  Mas  o  que?  e  como 
0  havemos  de  saber? 

Se  algum  d'esses  sabios,  que  fazem  livros 
de  agricullura,  nos  ensinar  que  subslancias 
sao  essas  que  o  trigo  precisa  ;  e  em  que  quan- 
lidade devem  exislir  na  terra,  nao  julgas, 
Miguel,  que  nos  faria  um  bom  service? 

De  cerlo,  senbor;  porque  assim  (icavamos 
sabendo  o  que  baviamos  de  ajunctar  ao  terre- 
no pobre  e  esteril. 

Todos  OS  homens  precisam  uns  dos  outros, 
meu  amigo:  o  jornaleiro  do  sabio;  o  sabio 
do  jornaleiro.  Assim  quiz  Deus  que  fosse, 
para  haver  razao  dc  nos  amar-raos  mutua- 
mcnte.  M. 


SEC^.iO  DE  MATHE3IATICA. 

Proseguindo  no  empenho  de  reimprimir  no 
Instilulo  OS  escriplos  de  rcconliecido  mereci- 
niento,  quo  a  incuria  dos  bomcns  ou  a  vi- 
cissitude dos  tempos  tem  tornado  raros  , 
apressamo-nos  a  publicar  em  seguida  os 
opu.sculos  de  dois  sabios  porluguezes,  que. 
pelo  seu  subido  engenho,  deixaram  nonic 
illustre  nao  so  na  palria,  mas  ainda  enlre  os 
estranbos.  E  sao:  um  Ensaio  sobre  os  princi- 
pios  lie  Meclianica  do  insigne  nialbemalico, 
e  lente  'ncsta  nossa  Universidade  de  Coini- 
bra  0  sr.  Jose  Anastacio  da  Cunlia ;  e  Notax 
(10  ensaio  sobre  os  priiicipios  de  Mechanlca 
do  nosso  illustre  e  bem  conhecido  compatrio- 
la,  ha  poucos  annos  fallecido,  Silvestre  Pi- 
nbeiro  Ferreira. 

0  Ensaio  sobre  os  priiicipios  de  Mechanica, 
obra  posthuraa  do  seu  auclor,  era  apenas  um 
esboco  de  um  iractado  complelo  de  Mecha- 


212 


iiica,  que  o  sr.  Jose  Anastacio  projectava 
eserever;  o  que  (lesgiaradamonle  iiao  pode 
realisar  cm  cdiiscciiicmia  da  sua  morte  pre- 
matura. Foi  puljlicada  em  Lnndres,  em  ISOT. 
pclo  eondc  do  Funcliiil,  I).  Doniingos,  pos- 
suidor  do  manuscri[)to  autliof;rapho,  iia  im- 
jireiisa  de  Cox,  son,  and  Itaylis. 

As  iSolas  «f)  A'h.s'hio  foram  iniprossas  em 
Amsterdam  ,  na  offieina  dc  Belinfantc  c 
eomp.,  no  anno  de  1808. 

I'ara  esta  reimpressao  tivcmos  dc  scrvir- 
nos  dc  dnas  copias  nianuscriptas ,  porque  , 
apesar  das  dilifjencias,  nao  pudemos  alcancar 
OS  opuscules  impressos.  Estamos  poreni  se- 
guros  da  (idclidadc  das  mesnias  copias. 

I'.  C.  K. 


ENSAIO  SOBRE  PRINCIPIOS  DE   MECHAHICA, 

poll 

J.  ANASTACIO  DA  CUNHA. 

Na  maior  parte  dos  innumeraveis  livros, 
que  se  tcm  escripto  sohre  a  mechanica,  tudo 
parccc  facil ;  c  as  chamadas  demonstracOes 
dos  mesmos  poulos,  que  per  fim  se  tern  acliado 
escurissimos  c  mui  ditlicultosos,  principiam 
constanteracnte  pelas  costumadas  lornuilas, 
il  est  clair  ;  il  est  evident ;  il  est  visible  ;  il 
est  palpable,  etc.  Mas  vieram  grandcs  geome- 
tras,  e  grandcs  philosophos,  e  quasi  todos  os 
principios  fundamcntaes  d'esta  sciencia  ap- 
parccerara  ccreados  de  dilliculdades,  d'onde 
rcbentaram  muitas,  mui  rcniiidas,  c  ainda 
nao  dccididas  controvcrsias. 

Desde  que  os  philosophos  principiaram  a  co- 
nheeer  os  danuios  (|uc  resultam  do  abuso  da 
metaphysica,  c  a  desconfiar  d'eila;  desengana- 
dos,  (|ue  de  cem  dispulas,  quem  gera,  mantem 
e  propaga  as  nnventa  e  nnvc,  e  a  cscurida- 
de  e  a  equivoracao  annexa  a  certos  ternios 
al)stractos,  eujos  olijettos  sao  puramcnte  inia- 
ginarios,  meros  cntes  de  raztio  ;  nu  para  f'al- 
lar  mais  ehiro,  uns  termos,  que,  a  nao  sc 
lomarem  unicamenle  eomo  abhreviaroes  das 
descripcOesprolixasdealgunsphenonu'nos,  nao 
tern  objeeto  real  :  entraram  a  clamar,  (]ue  o 
erro  esta  em  altribuir  existencia,  ou  physica, 
ou  mathematica  ,  e  analogias  gcometricas  a 
essas  cntidades  fantaslicas,  vulgarmcnlc  dcsi- 
gnadas  pelas  palavras,  velocidade,  movimento, 
forra,  etc. 

Outra  equivoracao,  que  me  nao  Icmbro  de 
ter  ainda  acliado  sufficientemente  exposta  , 
ainda  que  mui  principal  (talvez  a  mais  prin- 
cipal) cntre  as  que  tem  dividido  cm  bandos 
e  seilas  OS  mathematicos  e  cscandalisado  cs 
prolanos;  e  a  que  precede  de  se  nao  dislin- 
guir,  se  o  tractado  de  mechanica,  a  cfirca  do 
qual  se  disputa,  e  puramcnte  mathematico, 
ou  sc  tambem  e  physico.  A  Dynamica  de  Mr. 
d'Alembert,  v.  g.,  e  puramcnte  mathematica: 
a  obra  dos  principios  6  physico-mathematica. 


0  auctor  de  um  tractado  puramcnte  mathe- 
matico, podc-se  dizer  que  e  um  legislador, 
um  creador;  o  auctor  dc  um  traclado  mathe- 
matico dc  physica,  e  mere  iiitcrpcirc  c  com- 
iiiciitador  da  nalureza  A  vcrdadc  malhema- 
lica  nao  consislc  senao  na  legiliiiiidade  com 
que  OS  theoremas  c  as  solucocs  dos  prolili'mas 
se  dcrivam  das  deliiiicoes,  pustuhidos  e  axio- 
mas;  porem  as  delinicocs,  [losiulados  c  axio- 
mas,  podc-sc  dizer  que  a  nenhiima  lei  sao 
sujeitos.  D'aqui  vein  (jue  muitas  coisas,  que 
na  ]iliysica  sao  c  devcm  ser  objcctos  de  de- 
monslracao  experimental,  na  mathematica  nem 
devcm,  ncm  ordinariamente  podcm  scr  de- 
nionstradas.  E  de  qucrerem  por  nos  tractados 
mathematicos  como  theoremas,  o  i|ue  deviam 
por  como  delinicocs  ou  axiomas,  e  de  teima- 
rem  nos  tractados  physicos  em  demonstrar  ma- 
thematicamenle  o  que  so  a  expericncia  pode 
provar  ,  tcm  resultado  muito  principalmcnte 
tantas  altcrcacoes. 

Yerei  sc  exponho  mais  claramcnte  o  meu 
pensamcnto,  cxemplilicando-o.  Nos  principios 
malhemiiticos  de  philosnphia  natural  nao  ha 
dclinifdcs  senao  de  nomes:  nao  ha  axiomas  ', 
nem  postulados ,  nem  xa,u.ga»!)fA£va ;  ha  leges 
mollis  ensinadas  pcla  naturcza  ;  islo  e,  inda- 
gadas  e  conhrmadas  pcla  expericncia  :  o  que 
a  isto  se  segue,  c  que  e  tudo  mathematico. 
£m  lim  o  auctor  dc  um  tractado  mathematico 
de  physica  cum  geomctra  que  resolve  problemas 
propostos  pcla  naturcza:  se  omitte  algum  dos 
dados,  sc  os  altera,  se  Ihcs  subslitue  outros, 
ja  0  problcnia  que  resolve,  nao  e  o  que  se 
Ihe  propoz  ;  ja  o  geomctra  nao  e,  se  nao  o 
auctor  de  uma  novella. 

Como  auctor  de  uma  novella  se  pode,  por 
outra  parte,  considerar  quem  compoe  um 
traclado  puramcnte  mathematico.  Goza  dos 
mesmos  privilegios  que  se  concedem  pictori- 
bus  ulqne  poetis.  Posso,  v.  g.,  inventar  uma 
nova  curva  e  dcmonstrar  varias  das  suas 
propriedades.  Posso  escrcvcr  um  tractado 
d'optica,  em  que  tome  como  hypothese,  que 
a  luz  .se  propaga  nao  em  liiiha  recta,  mas 
cm  linlia  circular,  ou  cm  qualquer  outra 
linha.  Posso  compor  uma  mechanica,  sup- 
pondo  as  leis  do  movimento  que  eu  muito 
quizer.  E  se  os  mens  theoremas  c  as  minhas 
solucOes  dos  problemas  forem  Icgilimamen- 
te  dcrivadas  dos  principios  que  cstabeleci, 
ninguem  me  podcra  arguir  de  erro. 

Poderao  sim  ccnsurar-me  dc  ter  indigna- 
mente  abusado  do  precioso  tempo,  se  essas 
bem  ajustadas  c  talvez  elegantes  theorias  se 
nao  podcrcm  applicar  ii  philosophia  natural; 
se  d'cllas  nao  podcr  tirar  o  gcnero  liumano 
ulilidade:  e  esta  so  consideracao  e  que  pode 
e  devc  por  limites  ii  imaginaciio  do  inventor. 
For  isso  0  geomctra,  que  nao  quizer  incor- 

'  Tdmo  esta  polavra  no  sentido  nail  vulgar,  isto  e, 
propoiifSo  em  si  mesmo  eridente. 


213 


rer  na  censura  de  inutil,  deve  tomar,  por 
principios  ou  hypotheses,  nofoes  conirauns, 
verdadcs  de  facto,  que  a  natureza,  que  a 
experiencia  ensinam:  entao  o  physico  mostran- 
do  que  os  corpos  naturaes  sao  (ou  exacta  ou 
proximamentc)  dotados  d'aqucllas  mesnias  pro- 
priedades,  que  o  gcometra  suppoz  nos  corpos 
ruathematicos,  podera  I'azcr  uiua  feliz  applica- 
cao  da  theorica  puramente  niathoniatica  a 
alguns  assumptos  pliysicos. 

Assim  no  livro  dos  principios  as  leis  intitu- 
ladas  do  movimento,  nao  veni  denionstradas 
geometricamcnte ;  mas  de  serem  reahnenle 
as  leis  que  a  natureza  segue,  da  sir  Isaac 
por  liadora  a  mosma  natureza  :  quero  dizer, 
que  as  aljona  com  a  expcriencia.  Os  auclores 
que  depois  teni  eseripto  sohre  o  niesmo  as- 
sumpto  (c  alguns  d'elles  grandes  geometras) 
tem-se  cmpenhado  era  aciiar  denionstracoes 
malhematicas  d'aquellas  leis  ,  —  porcm  de- 
balde. 

Debaide ;  e  para  fallar  com  propriedade, 
nem  parallogisnios  inathematicos  se  podera 
chaniar  os  que  ofl'erecera  conio  denionstracoes; 
pois  se  fundani  em  principios  ou  subtilezas, 
que  antes  pertenoem  ao  qua  chamam  ontologia 
e  cosmologia. 

A.  inercia  dos  corpos,  e  a  composicao  e 
resolucao  do  movimento,  teni  sido  principai- 
nicnte  objecto  das  fadigas  de  alguns  dos 
maiores  geometras.  Mas,  se  o  tractado  que 
escreveis  e  puramente  mathematico,  a  inercia 
vae  sempre  incluida  na  hypothese.  Todas  as 
vezcs  que  era  um  theorema  ou  problema 
suppuzerdes  o  corpo  quieto,  quieto  o  tereis, 
porque  assim  o  suppuzestes ;  porque  oulra 
coisa  seria  contra  a  supposicao.  Se  tendcs 
estabelecido  algumas  leis,  segundo  as  quaes 
alguiua  causa  em  certas  circumstancias  altera 
0  estado  de  um  corpo  quieto  ;  e  se  na  hypothese 
se  indue  a  presenca  d'essa  causa  e  d'essas 
circumstancias,  para  algum  determinado  in- 
stante  ;  'uesse  instante  se  executara  a  mu- 
danca  conforme  as  leis  suppostas  ;  e  nao  por 
outra  razao,  senao  porque  qualquer  outra 
coisa  seria  contra  a  supposicao.  Similliante- 
mcnte  se  pode  discorrer  a  cerca  do  corpo  que 
se  move.  Assim,  qucrer  provar  eiu  um  tra- 
ctado puramente  mathematico  a  inercia  dos 
cor[)Os,  e  querer  provar  o  mesrao  que  se  sup- 
poz ;  e  que  denionstracoes  se  podem  esperar 
de  tao  aijeometrica  pertencao,  que  nao  sejam 
illusorias  ? 

A  composicao  do  movimento  nao  pode 
entrar  em  um  tractado  puramente  mathema- 
tico, se  nao  como  hypothese,  ou  Xajigavojievov. 
Ha    uma    causa,  4  B 

razao  ou  motive, 
que  ,  por  si  so  , 
faria  que  um  mo- 

vel ,  actualmente      .  — 

em  A,  descreves-    ''• 
se  uniformementc  a  recta  AB,  no  tempo  em 


que  oulra  causa,  por  si  s6,  Ihe  faria  descrever 
a  recta  AC:  que  ha  de  resultar  d'eslas  duas 
causas  junctas  ?  Todos  principiam  inferindo, 
ou  expressa  ou  tacitamente,  que  dc  haver  uma 
razao  para  que  0  movel  descreva  a  recta  AB, 
c  no  mesrao  tempo  outra  razao  para  que 
descreva  a  recta  AC;  e  de  nao  poder  0  movel 
descrever  ambas  as  rectas  a  um  tempo  :  se 
segue,  que  ha  de  descrever  uma  recta  no 
piano  BAC  dentro  do  angulo  BAC.  E  depois 
de  dizerem,  conlorme  0  costume,  que  isto  e 
evidente,  ou  paljmcel ,  vae  cada  um,  como 
pode,  edilicando  sobre  este  alicerce  a  sua 
demonstracao. — Que  0  movel  nao  ha  de  des- 
crever as  rectas  AB  e  AC  no  niesmo  tempo, 
evidente  e:  mas  0  que  deve  resultar  do  con- 
flicto  das  duas  causas  contradictorias:  se  ha  de 
descrever  uma  recta  depois  da  outra  ;  se 
ha  de  descrever  alguma  outra  linha  ;  e  que 
linha  ;  e  em  que  direccao  ;  se  ha  de  hear 
parado;  se  se  ha-de  aniquilar  '  ;  translormar ; 
etc.  etc.  etc. ;  quem  0  pode  mostrar  a  priori? 
Ilallucina-nos,  por  uma  parte  aphisica,  mos- 
trando-nos  0  que  'nestes  casos  succede  nos 
corpos  naturaes ;  e  por  outra,  a  ambicao  de 
dar 

a  razao  de  tudo  a  todos  '  ; 

ambicao,  que  nos  leva  a  suppdr  uma  serie 
de  denionstracoes  inlinita,  e  por  conseguinte 
inipossivel  c  absurda  ;  ou  nos  faz  caliir  no 
circulo  logico. 

Facanios  abstraccao  do  que  achamos  na 
natureza  a  cerca  da  composicao  do  movimen- 
to e  comparemos  0  argumento  acima  com  0 
seguinte.  «  0  movel  deve  por  uma  razao 
acbar-se  na  recta  AB ;  por  outra  na  recta 
AC:  logo  nao  sahira  do  ponto  A,  que  e  0 
unico  ponto  conimum  as  duas  notas.  »  Qual 
parecera  mais  evidente,  ou  mais  hem  fundado 
a  um  entendimento  livre  de  preoccupacao  ? 
0  ultimo  ao  nienos  assemelha-se  niuilo  a 
demonstracao  da  proposicao  IX  do  3."  Liv. 
dos  Elem.  de  Euclides.  Mas  vos  (me  dini  ([uem 
propOe  0  outrij)  nao  mclteis  na  conta  uma  cir- 
cumstancia  das  mais  essenciaes  da  hypothese; 
nao  fallaes  no  movimento.  —  Isso  remedea-se 
facilmente:  dirci  pois  assim:  «  Deve  mover-se 
na  recta  AB;  tamheni  na  recta  AC;  logo  mo- 
ver-se-ha  no  ponto  A;  e  soniente  no  ponto  A, 
pois  so  elle  e  comnium  as  duas  rectas.  »  Se 
vos  espanta  um  movimento  sera  mudanca  de 
logar;  dir-vos-liei  que  o  movel  se  move  no 
ponto  A  com  11  ma  velocidade  infinitamciile  pe- 
(/HcHfl.  Seainda  esta  resposla  vos  nao  satisfaz, 
cont'esso,  que  nao  sei  como  vos  possa  obrigar 
a  adiniltil-a;  nias  reineter-vos-hei  aos  moder- 
nos  analystas  methaphysicos,  os  quaes  profes- 

*  O  prande  Euler  nao  acha  outro  meio  de  explicar 
a  solu^ao  de  cerlo  problema  de  mechanica,  senao  dizendu 
que  o  movel  'naquelle  caso  se  aniquila. 

■'  O  qtte  tieu  a  raziio^  de  tudo  a  todos.  Verso  assaz 
conhecido  'neste  tempo.  E  de  um  soneto  feito  a  morte  do 
celebre  conde  de  Ericeira. 


214 


sani  explicnr  similhanles  noroos  com  a  maiof 
facHidade.  dareza  e  efidencia  —  Oh!  Meta- 
physica !  Metaphysira  !  sp  todus  bein  ponde- 
rasseni  quanlo  es  versatil ! 

Nao  ;  nem  da  inorcia  dos  I'orpos,  neiii  da 
tomposi^'ao,  nem  da  comnuinic?i(;So  do  mo\i- 
racnlo,  podem  os  homeiis  dar  oulra  prova 
senao  a  evpericncia  ;  nem  oulra  razao,  sonao 
a  livre  escollia  do  crcador. 

Em  mil  tractadn  puranieiile  iiialliemalit'o 
j;i  ohscrvamos  que  e  (reader  o  mesmo  gco- 
melra  que  o  conipoe.  Em  um  trartado  matlie- 
matit'o  de  pliysica,  nada  podera  dizcr  fom 
verdade,  que  nao  seja  legitiinamenle  deriva- 
do  das  leis,  a  que  o  Ser  Supremo  sujeitou  a 
nalureza. 

Pergunlcmos  pois  a  nalurcza  mosma  quaes 
sao  estas  leis:  perguntcmos-lho  por  via  da 
expefiencia  :  mas  com  sinceridade,  com  docili- 
dade.  Se  clla  mesnia  nol-o  nao  ensinar;  se 
clla  mosma  nos  nao  disser  o  seu  segredo ; 
dehaldc  martyrisaremos  a  imaginacao  para 
que  nol-o  descubra.  Deseiigancm-nos  as  IVe- 
neticas  e  fruslradas  tcntativas  de  tanlos  presu- 
niidos  (e  alguns  na  realidade  grandes)  enge- 
nhos,  que  aspirando  a  luua  indcpendcncia 
alisurda,  desprezando-se  de  aprender,  cuida- 
ram  (|ue  tudo  podiam  adivinliar. 

Nao  rac  dcmorarei  com  outras  questoes  ; 
lacs  como  a  Iheorica  melhapliysica  da  com- 
niunicacao  do  movimenlo;  a  razao  porque  e, 
fdt=ih\  as  forcas  vivas  de  Leibnitz;  etc. 
porque  me  parecem  (e  digo-o  com  toda  a 
humildadequeposso)  tolalmenteinuteis.  Todas 
nasccm,  e  se  niantem  de  altribuirem  os  au- 
clores  sujcito  rcalmcnte  existenle  aos  nomes, 
velocidade  ,  movimenlo,  forca  ,  etc.  ([ue  na 
realidade  carccem  de  sujeito. 

Nns  principles  que  proponho,  denote  com 
alguns  d'esles  nomes  cerlaslinhas  on  numeros; 
— nao  como  realmente  cxistcntes,  nem  aiiula 
come  propercienacs  a  alguns  entes  realmente 
existentes,  pois  taes  entes  nao  ha.  —  Eslas 
linhas  ou  numeros  (mesmo  na  applicacao  da 
mechanica  mathematica  ii  pbiosophia  natural) 
sao  meros  symbolos  (e  symbolos  arbitrnrios), 
que  depois  de  combinadns,  ou  desinvolvidos 
secundum  urtem,  denotam  ou  deterniinani,  que 
relacao  ha  cntre  os  espacos  descriplos  em  certos 
tempos,  ou  entre  os  tempos  em  que  se  dcscre- 
veram  certos  espacos.  Escolhi  estas  linhas  eu 
numeros  e  os  sous  nomes  ,  de  sorte  ,  que 
mesmo  com  a  signilicacao  assim  allerada , 
possam  quadrar  as  excellentes  lucubracoes 
geometricas  c  analylicas,  com  que  grandes 
geonielras  tem  enriquecidoo  mundo. — Assim 
(se  0  desejo  me  nao  engana)  (icara  a  mecha- 
nica mathematica  ,  verdadciramente  mathe- 
matica sem  mistura  ;  c  podera  ajudar  a  pliilo- 
sophia  natural  a  desviar-se  da  perigosa  cora- 
panliia  da  melaphysica. 

Continua. 


X.  MARMIER. 


1'  Ha  dose  annos,  que  eu  alravessava  pela 
seguiida  vez  a  Laponia,  parando  em  cada 
povo  de  Lapoes  pescadores,  em  cada  acampa- 
nienlo  de  Lapoes  nomadas  ,  e  observando  a 
jiliysionomia,  e  os  costumes  d'essas  antigas 
povoacees,  repellidas  por  uma  raca  con(|uista- 
dura  para  as  scrras  do  norle,  como  os  Indies 
para  o  dezerto. 

Ma  quatro  annos  que,  no  caminho  de  Je- 
rusalem ao  Mar-morto,  eu  tinha  outio  objecto 
dVstudo  na  pessoa  d'um  honesto  salleador 
lU'diiino,  que,  mediante  nm  cento  de  francos, 
nie  escoltava  com  doze  homeiis  do  seu  clan 
vagabundo. 

Ha  trez  annos  que,  no  El-Arisch,  nas  pla- 
nices  do  Egypto,  e  alguns  niezes  depois  na 
Argelia,  para  alem  dos  mures  de  Constanlina, 
eu  assistia  aos  cxercicios  ei|ueslres  ,  as  bri- 
Ihantes  fantasias  dos  arabes  ,  e>tes  valentes 
lilhos  do  islamismo,  vencidos  algumas  vezes, 
mas  semprc  indoniaveis.  » 

Assim  diz  o  erudite  conservador  da  biblio- 
thcca  de  Sancta  Genoveva  cm  Paris,  iraduc- 
tor  de  Schiller  e  Goethe,  delicieso  narrador 
de  suas  incessantes  e  extensas  viajens,  proximo 
a  enlrar  em  uma  povoacao  d'lroquczes  no 
Canada.  E  nos,  que  temos  a  jjcito  fazel-o 
mais  conhecido  da  mocidade,  curiosa  de  lei- 
luras  amcnas  e  instruclivas,  entendemos  dever 
dar  principle  por  aquelle  pequeno  trcclio,  por 
isso  que  lacilnicnte  se  deprchende  por  elle 
quao  rica  messe  de  nolicias  hao  de  encontrar 
nas  suas — Lellres  svr  le  Nord,  Ihlande,  la 
Ilollnnde,  la  liussie,  I'Algerie,  du  Rliiii  au!\'il, 
sur  l'Aiiieri(pie,  du  Danube  ou  Caucase,  etc., 
em  poucos  e  pequcnos  volumes,  de  preco  com- 
mode. 

Nao  e  dado  a  nossa  fraca  e  mui  cancada 
penna  o  poder  analysar  e  expor  dignamente 
as  bellezas  do  csiylo,  o  fundo  de  scntimento, 
a  elevacae  do  pensamento,  o  complexo  d'har- 
nionias,  a  curiosidade  e  viveza  das  imagens, 
0  incanto  das  carlas  de  Mr.  Marmier,  cujas 
ultimas  se  aventajam  sobre  as  jirinieiras  d'um 
mode  surprebendcnte.  Extrahiremos  uma  ou 
oulra  passageni,  quanlo  baste  ao  nosso  iiituite; 
e  nao  sorao  mister  niuitas  para  juslilicar  o 
nosso  juizo. 

As  cartas  sobre  a  America  ',  sao  endereca- 
das  a  uma  senbora  ;  e  por  ventura  esta  ahi 
a  explicacao  do  singular  mime  e  delicadeza 
com  que  sao  escriptas,  mais  poeticas  que  as 
anteriores,  mas  nao  menos  noticiosas,  positi- 
vas  e  circumstanciadas,  como  se  vera  do 
seguinle  primeiro  trecho,  que  Irasladamos. 

«  Formosa  cousa  sao  todavia  as  descubertas 
da  industria  !  (Assim  comeca  a  carta  VII). 
Se  alguma  vez,  na  minha  ignorancia,  ouzei 

'   Paris  laSl,  8  vol.  io  18  (Bertrand). 


215 


fallar  d'ellas  em  torn  menos  reverencioso, 
resolvi  emendar-me;  e  d'ora  em  dianle  in- 
clinar-me-hei  com  legitimo  respeilo  na  pre- 
senca  d'esta  nova  manifestafao  do  espirito 
humano. 

E  se  estaes  curiosa  de  saber,  qual  raio  de 
luz  me  descprrou  os  olhos  ;  como  chcfjuei  a 
fazer  um  serin  exame  de  conscieiicia,  e  a 
reconhccer  a  minlia  iiijustica,  vou  dizer-vo-lo. 

Esperava  eu  umas  cartas  da  cara  pallia, 
que  um  amigo  liavia  d'ir  procurar  para  mini 
ao  correio  da  New-Yorck,  e  mandar-me  a 
Montreal.  Cada  manha  via  luzir  estas  cartas 
na  minha  esperanca  ;  e,  apenas  chegava  o 
vapor,  corria  ao  encontro  do  carteiro  :  mas 
o  carteiro  nao  respoiidia  a  minha  pergunta 
senao  por  um  signal  ncgativo  com  a  cabeca, 
e  continuava  seu  caminho  sem  fazer  caso 
da  minha  decepcao.  Tcndes  esperado ,  no 
curso  da  vossa  vida,  algumas  cartas  deseja- 
das,  e  sabcis  quao  longo  cntao  parece  o  tempo 
d'um  ao  outro  correio  ;  e  como  imaginamos 
toda  a  sortc  de  chimeras  raais  ou  menos  allli- 
ctivas. 

Dcpois  de  ter  inutilmente  imporlunado  com 
as  minhas  perguntas  quotidianas  os  honrados 
empregados  do  correio  d'esta  cidade,  suspei- 
tado  sua  exactidao,  creio  ate  que  a  sua  pro- 
bidade,  o  melhor  meio  de  por  fim  aos  meus 
cuidados  era  evidentemenie  escrever  para 
New-Yorck,  a  saber  se  a  minha  recommcnda- 
cao  tinha  sido  cxecutada.  Mas  d'aqui  hi,  iia 
perto  de  duzentas  leguas,  trez  dias  para  ir, 
trez  dias  para  voltar  :  em  seis  dias,  facilmente 
se  pode  morrer  scis  vezes  d'impaciencia.  Um 
honrado  cidadao  de  Montreal,  tocado  du  minha 
aflliccao,  e  mostrando-me  com  o  dedo  um  lio 
d'arame  que  me  bahincava  sobre  a  cabeca, 
ensinou-me  um  meio  de  correspondencia  mais 
rapida.  Dirigi-me  ao  escriptorio  do  teiegrapho 
electrico,  aberto  aos  particulares  como  aos 
agentes  do  governo:  pela  somma  d'um  dollar 
expedi  a  minha  peticao  por  este  postilhao 
aerio,  que  uma  crianca  fazia  mover  diante 
de  mini,  pondo  a  mao  era  uma  niola  magica. 
0  maraviliioso  teiegrapho  foi  procurar  o  mcu 
amigo  ao  centro  d'unia  hospedaria  de  New- 
Yorck  ;  e  trez  horas  depois  voltava  com  a 
mesma  intclligencia  a  procurar-me  para  me 
fazer  saber,  que  as  niinhas  cartas  me  tinham 
sido  expedidas ;  mas  que,  teudo  havido  o 
esquecimento  de  as  franquear,  tinham  pro- 
vavelniente  licado  na  fronteira.  Um  novo 
signal  do  teiegrapho  bastou  para  as  reclamar 
era  Burlington;  e  no  seguinte  dia  pela  manha 
chegavam-me  pelo  vapor. 

Eisaqui  unsinventos,  pelos  quaes  a  physica 
realisa  os  sdnhos  da  poesia,  umas  niaravilhas 
que  teriam  conservado  desperto  o  difficil  suitao 
dos  contos  arabes,  c  salvado  certamente,  a 
milesinia  segunda  noite,  a  cabeca  da  enge- 
nhosa  Scheherazad ! 

Continua.  A.  F. 


NOTICIAS  UnERlRHS  E  SCIENTIFICAS. 


EflTeiloN  flo  raio.  0  doutor  Boudin  apresen- 
tou.  a  acadcmia  de  Paris,  uma  inlcressante  me- 
moria  siibre  o  raio.  Diz  cste  medico  francez  ha- 
ver observado  alguns  individuos  fulminados,  que 
tinham  iiu  ciirpo  imagcris  exaclas  de  objeitus  pro- 
ximos  d'ellcs,   na  occasiao  da  descarga  eleclrica. 

Ja  Franklin  rcl'crc,  que  estando  nm  hcimcm 
a  porta  de  casa,  em  dia  de  Irovoada,  se  Ihe  atliuii 
no  peito  o  desenho  da  arvore  fronteira,  ondc  ca- 
hira  o  raio,  que  o  fulminou.  Orioli  falla  de  uma 
senhora,  que  apoz  uma  tempeslade,  vira  no  pe 
debuchada  a  (lor,  que  tinha  ii  janclla,  cm  um 
vazo.  Em  1825,  succedou  que  no  berganliin 
Uuen  Serro,  fuudiado  na  mar  Adriatico.  foi  feri- 
do  de  raio  um  marinheiro,  que  se  tinha  senla- 
do  juncto  de  um  maslro  :  estava  alii  pendurada 
de  um  prego  uma  ferradnra  de  cavallo  :  exami- 
nado  0  cadaver,  nao  se  Ihe  encontrou  feiimcnlo 
algum,  senao  a  impressao  exacta  da  ferradura. 
Quasi  pelo  mesmo  tempo,  foi  fulminado,  cm 
Zante,  um  marinheiro,  em  cujo  peito  se  vio  dcse- 
nhado  o  n.°  4i,  que  estava  fixado  no  appardho 
do  seu  navio.  'Naquella  mesma  ilha,  examinado 
0  corpo  de  um  rapaz  morto  de  raio,  descobri- 
ram-se-lhe,  no  hombro,  varies  circulos  de  diffc- 
renles  diametros,  conformes  com  os  das  moedas 
que  trazia  'num  embrulho,  que  ficou  intacto. 

Eis  ahi  uma  serie  de  factos  immensamcnte 
curiosos.  Alguns  sabios  prelendem  ver 'nesle  phe- 
nomeno  uma  cspecic  de  daguerreotipia  ou  pho- 
tographia  natural.  Nos'  consideramol-os  como 
amosira  escassa  dos  riquissimos  thesouros,  rescr- 
vados  pela  natureza  aos  novos  talentos,  que  hao 
de  enriquecer  a  sciencia  do  homem. 


DeKapparccinienlodapopiiIarstonns 
iSlBa<«  rtf  ^atidiTicli.  A  populacao  'nestas 
ilhas  tem  diminuido  'numa  progressao  espantosa. 
Els  0  que  se  le  a  este  respcito  'numa  carta  de 
um  missionario,  publicada  no  ultimo  numero  dos 
Aimaes  da  propagaj-tio  da  Fe. 

« Poderia  dizer-se  que  os  missionarios  estiio 
aqui  para  assistir  aos  funeraes  d'esta  narao.  \ 
proxima  desapparicao  do  povo  havano  parece  imi- 
nenle.  i\o  tempo  de  Cook  exisliam  'nestas  ilhas 
300:000  habilaules:  na  cpocha  da  regenle  Kahu- 
manu  150:00!);  em  1836  108:000;  em  1830 
78:000;  era  1854  somenle  71:000  habitantes!! 
Na  historia  do  mundo  uma  deslruicao  ,  como  a 
que  1cm  tido  logar  'nesle  archipelago,  e  sem  exem- 
plo;  e,  se  a  desproporc.5o  annual  enlre  a  cifra 
dos  obitos  e  dos  nascimentos  conlinuar  na  mesma 
escala,  os  nossos  successores  no  apostolado,  e 
lalvez  mesmo  alguns  dos  nossos  contemporaneos 
tcrao  de  pregar  o  e>angeIho  a  novos  coIonos.i> 


CORRESPONDENCIA. 

Recebcmos  uma  carta  do  nosso  collega  o  sr. 
Miguel  Ribeiro  de  Vasconcellos ,  em  resposta  a 
outra  do  sr.  .\lcxandre  Hcrculano,  que  publicii- 
mos  no  numero  anteccdenle. 

Sera  tambem  publicada  'num  dos  proximos 
numeros.  Os  RR. 


216 


OBSERVACOIiS  SlETIiOUOLOGlCAS,  FEITAS  !\Q  GABl.NETE    DE  PIIYSICA 
DA  LMVEllSIDAOE    l)E  COIMBUA. 


Anno  <!(! 
1HS5 


M.!  lie 

J II I  ho 


Dins 


8 
9 
10 
11 
12 
13 
14 
15 
Ifi 
17 
18 
19 
£0 
21 
22 
i3 
2t 
25 
26 
27 
28 
29 
30 
31 


Grand 
centiij. 


ini>tll<i 
Id  ini-z 


22 
22 

21,5 

28 

22 

'it 

21 

Si 

22 

iZ 

21 

22 

21 

22 

25 

25 

23 

21,5 

22 

23 

23 

23 

22 

23 

22 

22 

22 

22 

23 


PfpisSo  nlmojjihericH   ao  meio  dia 


Altuia  baio- 
mctiica  ■  0" 
daetcali  cea- 
ligradi. 


MilliuK-lro,- 


737,Oul 

755,989 

734,217 

752,507 

752,193 

72C,8!i3 

752.952 

750,361 

747,812 

749,662 

754,217 

751,939 

750,545 

751,086 

755.102 

752,193 

747,7:ig 

748,016 

749,793 

751,748 

732,193 

751,311 

750,805 

752,829 

755,736 

754,601 

756,142 

755,483 

732,952 

752,193 

750,624 


Tensao  do 
vapor  aquoio 
conlido  no  ar 


Mllllilli'ln, 


22,»26  I    751.531 


Teuij/eratiira 

Maxim,  absoj.  25** 
Minima  aLsol.  21** 
Max.    varin^Jiu       4"* 


12, 11.17 
13,230 
12, 8.17 
12,632 
12,738 
12,341 
13,230 
12,833 
12,889 
12.833 
12,146 
12,833 
12,638 
12,933 
12,519 

12  146 
12.307 
13,414 
13,231 

13  109 
13,018 
13,870 
13, '■.61 
12,720 
11,577 
11,4119 
13,326 
12.833 
13,129 
13,522 
12,323 


PresSiio  ilu 
ar  st'cco 


Miihiiu'lt.. 


744,161 
742,739 
741,380 
739,875 
739,455 
714,542 
739,723 
737,531 
734,923 
736,829 
742,071 
739,106 
737,907 
738,753 
742,583 
740,047 
735,282 
734,602 
736,542 
738,639 
739,175 
737,441 
737, 14t 
740,109 
744,159 
743,112 
742,816 
743,650 
739,823 
738,671 
7311,299 


KiiUilu  liygruinetricu  ijii 
ahno.split-Tii  HO  iiu-iimIih 


Crau  d'htimi. 
dade  do  ar, 
rcprcicHlando 
por  1  o  c»la- 
do  de  laLura- 
fio. 


Prcssao  atiiiospherica 

mm 
Max.    absol.   737,001 

Min.absollil.   726,88.1 

Max.  excvirs.     31,118 


0,652 
0,673 
0,1152 
0.ri62 
0,647 
0.627 
0,673 
0,652 
0,096 
0,652 
0,617 
0,652 
0,61)3 
0,6.^7 
0,677 
0,617 
0,531 
0,569 
0,634 
0,687 
0,662 
0  664 
0,653 
0,609 
0,588 
0.350 
0,677 
0,652 
0,667 
0,687 
0,590 


0,642 


Quantid.    de 
vapor  rontidc 


12,619 

13.005 

12.619 

1 2,-4:19 

1^,251 

12,13! 

13.005 

12,615 

12,712 

12,615 

11,940 

12,615 

ll!,-46J 

12,713 

12,347 

11,940 

12,171 

13,053 

12,9ti2 

12,90y 

12,797 

13,688 

13.38* 

12,462 

11,380 

11,250 

13,099 

12,615 

1 2  906 

12,292 

12,075 


Gran  d'' humidade  do  ar 

Maximo  ....  0,696 
Minimo  ....  0,531 
Maxima  varla^.  0,165 


F.slado  do  chi  r  do 
tem/to  00  tneio  dia. 


Clar.  t'  ]im|  .  B.  tcm|i. 
O  nnsmo  O  niesnio. 
O  ine-iiiiin  O  niL'sniu. 
O  niesuio.  O  mesmo 
O  mcrtniu.  O  mesmo. 
O  niesmo.  O  mesmo. 
NiiLiladu.  Bom  leinjio. 
O  mesmo,  O  mesmo. 
Enruberto.  T.cliuvoso. 
Nublado.  Bum  tempo. 
O  mc«mo.  O  racsmi). 
Clar.  e  lintp.  O  mesmo. 
Nublado.  O  mesmo. 
O  mesmo.  ()  raosmo. 
O  mecmo.  O  mCHmu. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Clar.  e  limp.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo, 
Nubladu.  O  mesmo. 
O  mesmii.  O  mi'smo. 
O  mesmo.  O  mesmo, 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo,  O  mesmo. 
O  menmo.  O  m-'smo. 
Clar.  e  limp.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  [ii'-siiui.  O  mesmo. 
O  mesmo  O  meiiinu. 
Nublado.  O  im-smo. 
O  racsmo.  O  mt'.-imn. 
O  me&mu.   O  mesmo. 


f'cntos  dominant 
N.  e  O. 


Coiuibra,  I.**  de  Agosto  de  1855. 


Mat/iiat  de  Carcalho  de  f'asconcellos ,  Lenle  Snbstituto  dePhysica. 


®  Jn0titttt0) 


JORNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


EXPEDIENTE. 

\ssigna-se  cste  Jornal  cm  Coimbra  no  Ga- 
hiaete  do  Instituto;  em  Lishoa  na  livraria  do 
sr.  Cobellos,  rua  Augusla  ii.°  2;  no  Porto  na 
do  sr.  Jacintho  A.  Pinto  da  Silva,  rua  das 
Hortas  n.°  144;  em  Evorn  na  do  sr.  V.  J.  da 
Garaa,  collegio  do  S.  Paulo;  no  Pezo  da  Re- 
gua  na  do  sr.  M.  Mendes  Osorio. 

Toda  a  correspondencia  franca  de  parte  sera 
dirigida  —  A'  Redaccao  do  InsliMo.  Coimbra. 

Preco,  adiantado,  por  anno,  ou  2i 
numeros,  francos  de  porte 1^440 

Porsemestre,  oul2  numeros,  dictos       800 

Avulso 100 

Para  os  srs.  Assignantes  os  numeros, 
que  llies  faltareni  d'este  4.°  volume  se- 
rao  pelo  mesmo  prefo  da  assignatura 
annual,  ou  cada  um 60 

Os  exemplares  que  restam  dos  volu- 
mes 1,  II  e  III  d'este  Jornal  vendem-se, 
cada  um,  por 1^200 


CONSEIHO  SliPERlOR  DE  IKTOUCCAO  PtBlICl. 

RELATOniO  ANNUAL. 

1850—1831. 

Continuado  de  pag.  208. 

PARTE   QUART  A. 

Instruccao  especial. 

Assim  como  nas  disciplinas  dos  conheci- 
mentos  industriacs,  tomo  se  disse,  estamos 
ainda  atraz  d'outras  nacoes,  Senhora,  assim 
tambem  nao  podemos  por  ora  hombrear  com 
ellas  na  instruccao  especial  das  Bellas  Aries; 
as  quaes,  destinadas  ao  ensino  de  desenho, 
pintura,  architectura  e  gravura,  unem  o  util 
como  deleitoso.  Todavia  as  obras  emprehen- 
didas  e  acabadas  nos  ultimos  tempos,  por 
alguns  artistas,  nao  deixam  diivida  de  que  a 
feliz  applicajao  das  regras  do  bom  gosto  aos 
artefaclos  ha  concorrido  para  o  nosso  adiaq- 
lanicnto  nas  arles  I'abris ;  e  claro  teslemunho 
Vol.  IV.  Janeiro  1.° 


dao  dc  que  as  Bellas  Artes  em  Portugal  po- 
dem  ser  com  distinccao  cultivadas.  As  acadc- 
mias  de  Lishoa  e  Porto  constituem,  entre  nos, 
0  ceiitro  de  todos  os  conhccimentos  artisticos, 
offerecendo  auxilios  e  meios  de  raelhoramento 
aos  officios  e  artes  industriacs. 

As  aulas  da  academia  de  Lishoa,  que  no 
anno  anterior  haviam  sido  frequentadas  por 
250  alumnos  deram  ensino  a  266  no  anno 
lectivo  findo,  sendo,  d'aquelle  numero,  186 
OS  que  concorreram  as  aulas  nocturnas;  a 
dilTerenca  para  mais  e  por  conseguinte  de 
16  alumnos.  Com  esta  academia  faz  o  estado 
a  despeza  de  12:163^530  reis,  liquidos  de 
impostos.  A  academia  Portuense,  que  no  anno 
prelerito  tivera  90  alumnos,  teve  'neste  ulti- 
mo 103;  sendo  para  mais  a  dilTerenca  de  13 
alumnos.  Tern  esta  sido  custeada  com  a  quan- 
tia  de  4:744^500.  Mas  em  arabos  os  estabe- 
lecimenlos,  embora  va  crescendo  o  numero' 
dos  alumnos,  que,  segundo  os  relatorios,  tfim 
aproveitado,  sendo  alguns  distinctos,  e  ha- 
vendo  outros  merecido,  alem  da  approvacao 
plena,  elogios  na  conferencia,  embora  tenha 
liavido  regularidade  nas  aulas,  e  em  quasi 
todos  OS  professores  pontual  desempenho  de 
suas  ohrigacoes:  ha  todavia  inconvenientes, 
que  importa  remover.  Uma  e  outra  academia 
carcce  de  meios  de  desinvolvimento;  e  a  le- 
gislacao  e  regularaentos  da  sua  administra- 
cao  demandam  modificacSes,  que  o  sabio 
governo  de  V.  M.  se  dignara  de  promover 
opportunamente. 

Entre  os  inconvenientes,  dous  sao  os  prin- 
cipaes :  1.°  a  falta  de  capacidade  nos  edifi- 
cios;  sendo  que  o  de  Lisboa  se  acha  muito 
circumscripto,  pela  occupacao  de  dous  corpos 
militares,  que  Ihe  tomam  muitas  casas  neces- 
sarias:  e  no  do  Porto  faltam  egualmenle  salas 
para  as  aulas,  maiormente  para  as  nocturnas 
de  desenho  e  architectura,  que  de  muita 
vantagera  seriao  para  o  aperfeicoamento  da 
industria  nacional.  0  2.°  inconveniente  e  a 
falta  de  gessos,  estampas  e  livros.  Ja  a  con- 
sideracao  das  cortes  foi  pelo  governo  de  V. 
M.  ofTerecida  uma  proposta  de  lei  para  ser 
auctorizada  a  despeza  de  600^000  reis  na 
compra  de  uma  colleccao  de  modelos,  em 
gesso,  das  estatuas  e  bustos  antigos  para  os 
exercicios  escholares  da  academia  de  Lisboa: 
as  passadas  cortes  Ih'o  concederam,  e  V.  M. 
-1836.  Ndm.  19. 


218 


o  sanccionou  pcla  carta  dc  lei  dc  i3  d'abril  I 
de  1850.  Egual  coacessao  pediu  a  acadeniia 
Poitut'iise  a  V.  M.,  que  em  portaria  de  3 
d'outubro  ultimo  ordena  ao  coiisclho  superior 
de  instrurrao  piiblica  propouha  o  que  a  tal 
respeito  julgar  convenienle,  quando  ao  mi- 
nisterio  dos  ncgocios  do  reino  cnviar  o  re- 
latorio  annual  do  cstilo.  Tor  onde  o  consellio 
tern  a  honra  de  levar  a  alta  considerafao  de 
V.  M.  a  proposla  de  lei,  para  que  a  acade- 
mia  Porliiciise  das  Bellas  Aries  se  fafa  a 
inesma  concessao,  que  se  fez  a  de  Lishoa. 

Uo  estado  do  eonservalorio  real  dc  Lisboa, 
em  relaeao  as  trez  escliolas  eom  elle  juncta- 
lueute  creadas  para  cullura  da  musica,  de- 
flamaciio  e  dansa,  nada  piJde  este  anno  dizer 
0  couselbo,  por  Ihes  nao  ler  sido  presente  o 
respeclivo  relatorio,  como  ja  no  anno  ante- 
rior accouteeeu,  e  se  levou  ao  conhecimeulo 
de  Y.  M.  Conlia  porcm  o  conselho  no  provi- 
dente  governo  de  V.  M.,  que  eonbecedor 
da  grande  inlluencia  da  musica  e  d'outras 
arles  do  gosto  sobrc  a  educacao  civil  e  moral 
dos  povos,  promovera  com  solidos  fundamen- 
tos  as  reformas,  que  cm  geral  forem  mais 
convenientes  a  todas  as  escholas  do  couser- 
vatoiio. 

Tomando  aqui  logar  para  referir  o  estado 
actual  assim  das  bibliothecas,  como  das  typo- 
grapbias  piiblicas,  o  conselbo  pouco  tern  que 
levar  ao  conbecimento  de  V.  M.,  havendo  so 
colhido  OS  relatorios  das  bibliotbecas  de  Bra- 
ga,  do  Porto  e  da  Universidade.  'Nesta  ultima 
se  fez  0  service  por  todo  o  anno  lectivo  com 
regularidade;  observando-se  a  disciplina  nao 
so  da  parte  dos  empregados,  scnao  lanibem 
dos  que  frequentaram  o  estabelecimento;  sem 
que  occorresse  cousa  digna  de  notar-se.  Com- 
praram-se  algumas  obras  de  diversas  facul- 
dades  na-importancia  de  320^110  reis,  ten- 
do  ([uc  mencionar-se  entre  estas  uma  Biblia 
manuscripla  —  in  membranis,  e  Ibrmato  I'olio. 
Mas  ba  ainda  grande  necessidade  de  com- 
prar  livros  modernos,  maiormente  portugue- 
zes,  era  sciencias  e  litteratura.  Foi  frequenta- 
da  por  2:633  individuos:  a  leilura  em  diver- 
ges raraos  de  letras  e  sciencias,  foi  de  4:834 
obras.  Na  bibliotbeca  do  Porto  achando-se 
quasi  lindos  os  trabalhos,  que  se  baviam  em- 
prebendido  para  maior  exteusao  dos  saloes: 
0  numero  dos  leitores  foi  de  3:504;  as  obras 
consultadas  4:307.  Na  de  Braga  continuara 
OS  trabalhos  materiaes  do  editicio,  e  vai-se 
preparando  a  saia  de  leilura. 

A  imprcnsa  nacional  de  Lisboa  lem  pro- 
gredido  tanto  no  aperfeifoamento  do  syslema 
da  fundicao  dos  typos,  e  era  todo  o  aparelho 
typographico,  que,  se  nao  eguala  ainda  a  per- 
feicao  das  typographias  d'outras  naeOes  mais 
adianladas,  pode  todavia  dizer-se  que  as  se- 
gue bcm  de  perto  na  nitidcz  das  irapressoes. 
Pelo  que  respeita  a  imprensa  da  Universidade, 
niio  pode  ser  duvidoso  o  empenho,  com  que  se 


ba  procurado  fazcr  sabir  este  e-itabelecimento 
da  condirao  abatida  canliquada  em  que  jazia, 
e  cleval-o  ao  estado,  menos  desagradavel,  em 
(jue  se  acba ;  o  que  se  reconbece  pclas  im- 
pressoes  alii  feilas  'nesles  ultimos  aunos,  que 
demonslram  ja  notavel  melhoramcnto.  Nao 
e  este  porem  sufllcicnle  ainda ;  e  por  isso  e 
que  se  lem  requcrido  ao  governo  de  V.  M. 
as  competentes  ordens  d'auclorisacao  para  a 
conipra  de  typos,  prelos  e  outros  objeclos  ty- 
pograpbicos,  de  que  ainda  muito  se  carece. 
.\.  administracao  d'esla  imprensa  aguarda 
a(iuellas  ordens  do  governo  dc  Y.  M.,  bem 
como  a  conlinuacao  do  apoio,  que  Ihe  ba 
prestado. 

Contitiua. 


MEIVIORIA  HISTORICA  E  CRITICA 

fliobrc  a  rcvoluriio  que  pm  I  SIC  (Iron 
a  corda  a  D.  Kanclio  If,  parn  a  dar  ao 
ronde  dc  Bolonlia.  seu  iriuiio. 

ContinuBilo  de  pa;.  W9. 

X. 

Lugubre  e  melancolico  surgia  o  anno  de 
1245.   Podera  elle  ter  lalvez  mais  raacio  e 
risonbo   porvir,   se  ao  cancado  e  trabalhoso 
padecimenlo  do  reino,  pelo  governo  d'aquelle 
tempo  se  desse  discreta  e  assizada  providen- 
cia!  Infelizmenle  porcm  a  sua  administracao 
corria  descuidada  e  menos  segura,  cheia  de 
embaracos  e  ate  contradiccoes  ' ,  porque,  sa- 
bedores  das  discordias  e  desinlelligencias,  que 
lavravam   entre  os  baroes,   prelados  e  mais 
pessoas   do  reino,   na  geral   perlurbacao  e 
deslocamento  dos  elos  da  cadca  social,  nenbum 
melboramentoprocuravamosministrosa  admi- 
nistracao   da   justica  ,    nenbum    castigo   aos 
crimes,  e  nenliuma  reparacao  aos  aggravos, 
que   tanlo   reclamavam    os    olTendidos.    Esta 
incuria,  ou  antes  negligencia,  era  uma  per- 
feila    antithese    ao  precato ,    que   o  governo 
devia  tomar,  se  intentava  atravessar  illeso  mo- 
mentos  e  tempo  de  tanla  erise.  E  para  que 
nao  deixeraos  sera  prova  esta  assercao,  seja  o 
mesmo  A.  da  Ilisloria  de  Portugal,  o  que  falle 
agora.  «  Similbante  ignorancia  das  coisas,  e 
«  dos  bomcnsJ(diz;elle)  seria  indcsculpavel.  .  . 
«  Sancho  II  facilitou  na  verdade  com  a  sua 
«  brandura  a  propria  ruina ;  mas  essa  frouxi- 
adaocoraeca,  quando  vemos  desapparecer  da 
«  scena  politica  os  individuos  a  quem  parece 
« ter-se   devido  em   1227  e  1228  a   restau- 

«  racao  da  ordem  piibiica Conbece-se 

« que  novas  personagens  obtem  o  valimento, 

'  Para  se  avaliarem  estas,  bastara  ler  o  que  dii  o  sr. 
A.  Herculano,  cit.  Hist.  torn.  II,  not.  XXIV  no  fim  Jo  vol.- 
alii  se  verao  as  phases  de  quasi  todo  o  tempo  do  reinadof 
de  Sancbo  il. 


219 


«  c  disputam  o  passo  dos  antigos  validos.  E 
«  uma  corte,  que  se  vai  sobrepondo  a  outra. . . 
«  ohtem  elevur-sc  a  custa  d'oulras  '.» 

Eis-aqui  0  piincipio  da  rovoluoao  ;  eis-aqui 
0  principio  de  discorrer,  aonde  devemos  pro- 
furar  a  oiigeni  do  drama,  cujo  desenlace  foi 
a  deposifao  do  rei  ,  e  cujos  protogonistas 
I'oram  os  l)aro('s,  preiados,  e  oiilras  dosses  do 
reiiio.  Altriliuir  este  altentado  ao  cicio,  com 
cxclusao  dos  outros,  que  'nelle  tiveram  egual 
parte,  parecc-me  ser  so  lilho  da  prevenrao. 
Se  D.  Sanclio  facililou  com  sua  brandura  a 
propria  ruina  ,  certo  nao  foi  esta  liiha  de 
])lanos  lenebrosos,  ncm  do  premeditada  con- 
juracao:  os  erros  d'aquelle  governo  crearam 
a  revolucao,  da  mesma  forma  que  a  hisloria 
comtemporanea  iios  mostra  as  revolucOes,  (|ue 
tern  abalado  a  Europa  inteira  nos  seeulos 
niodernos,  e  nos  desinvolve  as  suas  causas, 
e  erros  dos  governantes,  que  as  tern  feito 
produzir!  Comccada  acliamos  nos  a  revolucao 
pela  nova  corle,  que  venios  elevar-se  a  cusla 
de  outras ,  disputando  o  fasso  aos  antujos 
validos.  Continuamos  a  ver-ihe  os  comecos 
no  desmantelamento  do  reino,  no  desmazelo 
adminislrativo,  e  em  todas  as  cousas,  que 
trazem  c  torn  trazido  comsigo  as  revolucoes, 
e  mudancas  polilicas  dos  imperios.  Levadas 
as  coisas  ao  extremo,  e  collocados  os  negocios 
politicos  no  ponto,  cm  (|ue  se  achavam  pelo 
crro  do'-  governantes,  fora  nuiitode  recear  a 
sublevacao  d'alguiis  mais  insofl'ridos  ,  aqueni 
ou  a  ambicao,  ou  o  desejo  de  raeiiiorar  a 
situacao  politics  desse  azo  a  experimentar 
a  sorle  das  armas.  Foi  o  que  acconteceu. 

Na  priniavera  de  1245  o  descontentamento 
cntre  a  principal  nobreza  d'alem-Douro  susci- 
tou  renliida  huta  eiitre  a  coroa  e  os  baroes. 
Rodrigo  Sancbes.  thio  do  rei,  e  Abril  Peres' 
Coram  os  campeoes,  que  por  parte  da  nobreza 
cnrestaram  as  lancas,  e  sabiram  a  publico  com 
a  gente,  que  poderam  por  em  campo;  Martim 
Gil,  0  Boufe,  esse  liel  servidor  de  Sancho,  foi 
o  que  se  oppoz  e  comprimiu  a  sublevacao. 
Nao  teve  esta  o  desenlace,  que  esperavam 
seus  auclores ;  o  combate  travado  com  os 
sublevados  trouxe  em  resultado  a  morte  dos 
seus  dois  campeoes,  c  a  dispersao  de  seus 
apaniguados;  e  viu  Sancbo  II  ainda  sobre 
sua  cabeca  a  corda  vaciiante  e  quasi  aniqui- 
lada  ^  ;  mas  se  esta  victoria  foi  sobeja,  para 
d'esla  vcz  Ihe  segurar  o  throno  jii  cambiante, 
nao  0  foi  com  tudo  para  o  I'azer  sahir  do  rc- 
pouso,  e  indolencia,  a  que  se  entregara  nos 
ultimos  annos  do  sen  reinado. 

Perdida  como  estava  a  lide  dos  nobres  na 
Jornada  de  Gaia,   e  pacilicado  este  tumulto 

'  Sr.  A.  Herciilano.  cil.  pagf.  339  e  3-tl  ibid. 

'  O  cit.  A.  pafi.  3U5,  nomea  os  baroes  mais  adversos 
*»  D.  Sancho  II ,  de  tal  sorte,  que  bem  se  pude  da  sua  lei- 
tnra  avaliar.  qual  era  a  opposi«;3o  de  seculares,  que  con- 
tra si  tiDha  liio  infeliz  luunareha. 

■*  Id.  ibid.  pag.  394  —  «<  os  dois  chefes  Rodrigo 
Ranches  e  Abril  Peres,  mortos  Juncio  de  Uaia.  '> 


com  a  morte  c  dispersao  d'os  que  a  tinham 
tentado,  buscaram-se  outros  meios,  que  pare- 
ceram  mais  adequados,  para  conseguiro  resul- 
tado ([ue  se  pretcndia.  A  allianca  do  clero 
com  a  nobreza,  ambos  queixosos,  e  ambos, 
ha  muito,  cm  contestayoes  porliadas  com  a 
corda,  ligava  agora  naturalmente  ura  c  outro 
em  mais  estrcilo  laeo  para  reparar  os  ag- 
gravos,  e  desfazer  as  sem-razoes,  que  o  governo 
nao  queria,  ou  nao  podia  remediar.  'Neste 
estado  as  cousas  caminliavam  com  passo  mais 
accelerado  ,  approxiraando  o  dcsenico  do  no 
d'este  tcrrivcl  dramma.  Todos  sabem  corao 
'na(|uella  epocba  a  cdrlc  de  Iloma  intervinha, 
d'ordinario,  nas  questoes  nacionaes  dos  povos 
catliolicos,  e  como  a  piedade  c  veneracao  ao 
pae  commum  dos  iieis,  fazia  cntregar  a  decisao 
dos  negocios  mais  difliceis  e  cmbaracados  a 
curia  Homana  ' .  Se  este  direito,  ou  prerogativa 
era  justa,  ou  injusta,  devida  ou  indevida,  e 
objecto  absolulamente  albeio  ao  meu  intento: 
seja-nos  com  tudo  licito  dizer,  que  era  o 
direito  publico  geralmente  admitlido  enlre  as 
nacoes  da  cbristandade.  Se  com  effeito  com- 
templarmos  'neste  caso  o  pae  commum  dos 
Iieis,  como  um  juiz  de  paz  universal,  charaando 
ao  juizo  concilialorio  os  conlendores,  e  pro- 
curando  todos  os  meios  pacilicos  para  termi- 
narem  semestrepito  as  contendas,  que  se  tern 
por  Ventura  suscilado  entre  os  povos,  certo 
que  as  lides  luctuosas,  que  tern  ensanguentado 
as  paginas  da  bistoria  nos  seeulos  modernos, 
teriam  raaior  nobreza,  e  seriam  mais  dignas 
do  bomem,  sendo  decididas  pelo  raciocinio, 
e  pela  moral,  do  que  pela  forja  das  armas,  e 
por  meio  de  guerras  assoladoras,  em  que  milba- 
res  d'horaens  sao  viclimas  sacrificadas  no  altar 
dos  caprichos,  e  vingancas  parliculares,  e  as 
vezes  no  da  inveja  e  ambicao  ^ ! 

'  AffonsoII  emseu  lestamenlo  encommendava  ao  poii.. 
tiDce  o  reino  c  Dittos  como  ao  pae  commum.  A  maior 
parte  das  doa^oes  feitas  a  e^rejas  e  mosleiros,  aiada  pelos 
reis,  eram  todas  conflrmadas  por  buUas,  que  se  requeriam  : 
e  parece  que  nenhuma  se  considerava  valida,  nem  livre 
da  violencia,  e  usurpafjao  dos  poderosos,  se  na  confirma- 
i^ao  ponlificia  se  nao  fulminasse  excommunhao  ao  teme- 
rario,  que  leulasse  ousadamente  lan(;ar-lhe  as  milos.  Isto 
e  tao  trivial  que  nao  carece  de  provas. 

^  Nao  se  juli^ue  que  intento  i)ersuadir  a  renova^jlo  de 
um  tribunal,  cuja  existencia  lioje  e  impossivel;  mas  elle 
serviria  de  remedio  aos  costumes  descompostos,  a  unida- 
de  de  o|)inir»es,  e  a  paa  dos  povos. 

O  padre  Francisco  \axier,  que  como  sancto  venera  a 
egreja,  com  o  bordao  de  peregrine  na  man,  e  o  breviario 
debaixo  do  bra(;o,  fea  mais  serviijos  a  cort5a  portugueza, 
do  que  um  exercito;  e  porque  os  nao  faria  a  c6rte  de 
Koma  ?  Mas,  se  aquelle  era  o  direito  'oaquellas  eras,  para 
que  investir  com  tanta  acrimonia  a  doutrina  entaq  re- 
cebida  e  professada  em  todas  as  escholas  ?  E  para  que  in- 
vestil-a  com  tSo  vagas  e  acerbas  declama^oes  ?  Todos  os 
reformadores  dcsde  Lutliero  ate  nos,  presumem  de  nao 
ter  corrompido,  masapurado  amoral;  e,  seguindo as  ideas 
do  seculo,  declamam  sem  prova  algum^  contra  o  dominio 
€  arrogancia  do  rlero;  contra  o  odioso  jugo  de  Roma, 
cheio  de  superstiijSes  e  fanatismo,  e  iinalmente  contra  os 
dictaines  da  mais  verdadeira  e  sublime  philusophia.  conio 
se  fossem  errados  ou  antes  ridicuios  prejuizos !  A  bisto- 
ria poreni  Ihes  prova  benj  o  contrario. 


220 


Similhantc-  ronloiidas,  decididas  a  fon.a 
das  arraas,  podcm  provar  maior  dexteridadc, 
niclhor  e  niais  alialisado  talento  no  vencedor, 
mas  nuiica  a  justica  da  causa,  neni  a  scm- 
razao  do  veucido.  Scja  poreni  conio  for;  nao 
tendo  podido  os  prclados  e  barOcs  do  rcino 
levar  ao  cabo  scu  intcnto,  neni  obter  por  estes 
nieios  a  reparacao  dos  aggravos,  que  com 
dies  enlendiam  grangear,  rcstava-lhes  o  re- 
curso  a  curia  Romana  segundo  a  disciplina 
do  tempo.  Foi  o  (|ue  arconteceu. 

Dois  annos  quasi  liavia  ja,  que  ao  solio  pon- 
tilicio  linha  sido  elevado  o  cardeal  Sinibaldo, 
(|ue  tomou  o  nome  dc  Iniiocencio  IV.  Esie 
pontilice,  que  podemos  dizer  ter  succedido  a 
Gregorio  IX,  por  que  Ccleslino  IV  apenas 
viveu  dezoito  dias  depois  de  eleito,  seguiii  a 
politica  de  Gregorio  IX,  continuando  a  guer- 
ra  com  o  imperador  Frederico  II,  que  aquelle 
tinha  comefado.  E  por  que  ja  desde  HiO 
premeditara  Gregorio  IX  ceiebrar  um  conci- 
iio  em  Roma,  cuja  convocacao  se  malograra 
por  causa  da  guerra,  que  coraeciira  em  1211, 
Innocencio  IV  tinha  agora  occasiao  de  iiitiniar 
0  desejado  inlento  d'este  pontifice.  Foi  exa- 
ctamenle  o  que  fez;  e  cm  Janeiro  de  12ii) 
expediu  Innocencio  IV  a  bulla  convocaloria 
para  o  concilio  de  Lyao.  Mas  em  quanto  isto 
passava  em  Roma,  vejamos  os  successes  de 
Portugal,  quanto  se  podem  saber  em  meio  da 
grande  falta,  que  temos,  de  documenlos  nos 
trez  annos  antecedcntes. 

Continua.  m.  r.  pe  VASCONCELLOS. 


OS  ANNUNCIOS  EM  INGLATERRA. 

0  jornalismo  d'esta  nacao,  que  e  hoje  um 
dos  mais  importantes  da  Europa,  data  apenas 
de  1622.  Houvera  antes,  e  verdade,  o  jornal 
English  Mercury,  mas  esta  gazetta,  que  nao 
apparecia  regularmcnte,  acabou,  apenas  ces- 
sara  a  causa,  que  Ihe  dera  origem,  tendo  visto 
a  luz  piiblica  em  lbS8,  quando  a  armada 
hespanhola  entrara  o  canal  inglcz.  Medida 
de  policia,  Ihe  chama  D'Israeli  ',  tendenle  a 
prevcnir  o  perigo,  que  'naquella  cpocha  de 
anxiedade  e  de  inquietacao  geral,  poderiam 
causar  as  falsas  noticias.  Tambem  em  Veneza 
houve,  no  principio  do  scculo  XYII,  um  jornal 
ou  cousa  similhantc,  mandado  publicar  pelo 
governo,  o  qual  continha  os  actos  ofBciaes  da 
serenissima  republica  \  Porcm  o  primciro  jor- 

'  Curiosities  of  lilerature.  1."  serie.  l."vul, 
^  Da  pequena  nioeda  lie  prala  chamada  gazetta,  custo 
do  jornal  veneziano,  deriva  Menage  e  com  elle  L.  Du 
Bois  e  D'Israelli  a  etjmologia  de  gazetta;  aCTaslando-se 
assira  da  opiiliSu  dos  que  a  faaem  derivar  ilo  catingaza 
(lliezouro);  ou  do  italiano  yaiso  (pi^ga);  elymologias  que 
Du  Bois  rejeila,  a  primeira  por  deniasiado  polida,  ea 
•egunda  por  deinafiaUo  insoleute. 


nal  regular  c  periodico  foi  sem  duvida  o 
W'cekeUj  News'.  Nao  obstante  limitar-sc  a 
algumas  noticias  estrangeiras.  dcstiluido  din- 
lerese  conic  era,  foi  todavia  o  precursor  do 
Times,  do  Illustrated  London  News,  do  Mor- 
ninij  Chronicle,  e  de  tantos  outros,  em  que 
hoje  abunda  a  imprcnsa  periodica  ingleza. 
Nao  continha  annuncios  alguns. 

Trinta  annos  depois  apparcce  o  que  abaixo 
transcrevemos,  e  ([ue  tai\ez  se  possa  dizer  o 
primciro  annuncio  «  Irenotlia  Grnlulatoria  : 
«  pocma  heroico  e  panegyrico  a  ccrca  da  rc- 
«  cente  chegada  dc  niylord  (icueral.  Londres, 
10u2.  »  Desde  entao  conicfa  a  geni'ralizar-se 
0  uzo  de  annunciar  publicacOcs  lilterarias, 
que  pareciam  pleitear  entre  si  qual  se  aprescn- 
taria  com  litulo  mais  ridiculo  «A  medulla  do 
Bvangelho- Altjuni  suspiros  dn  inferno-  Gemi- 
dos  d  um  precito  etc.  etc.  »  Rcclaniam-sc  pretos 
e  pretas  fugidos  a  sens  senbores,  com  a  cir- 
cumstancia  aggravante  de  Ihcs  terem  roubado 
alguraa  cousa;  c  e  de  notar  que,  entre  os 
signaes  que  se  davam  dos  lugitivos,  apparecc 
quasi  senipre  o  de  terem  o  rosto  crivado  de 
bexigas.  Instrue-se  o  publico  da  introduccao 
do  cha  em  Inglalerra,  como  se  \i  no  Mercurius 
polilicus  de  30  de  septerahro  de  lOliS.  « Aquel- 
« la  excellente  bebida  chineza  approvada  por 
«  todos  OS  medicos  e  que  os  chinos  denomi- 
«  nam  Tcha ,  e  outros  povos  Tay  ou  Tee , 
«  vende-se  no  cafe  da  cabeia  da  Sultana.  » 

A  restauracao,  porem,  fez  iutroiluzir  novo 
geuero  d'annuncios.  Carlos  II,  voltando  ao 
throno  dos  seus  maiores,  transportou  para  o 
seu  paiz  as  idias  (quasi  que  ia  dizer  os  vicios) 
da  eurte  do  seu  illustre  hospede  Luiz  XIV. 
Viu-se  entao  em  Inglaterra  o  que  ate  alii 
nunca  se  vira  ;  o  mais  explendido  fausto,  o 
mais  frenetico  luxo;  acabara  a  simplicida- 
de,  que  Cromwell  introduzira,  e  de  que  elle 
era  o  proprio,  que  dava  o  exemplo;  nao  se 
cuidara  seuao  em  festas,  banquetes,  e  galas; 
banira-se  aquella  rigidez  de  costumes,  que 
fora  um  dos  characteres  dislinctivos  da  epocha 
do  protectorado,  e  adoptara-se  a  etiqueta  e 
cerimonial  da  curte  franceza.  Os  annuncios 
d'aquelle  tempo  sao  outros  tantos  fieis  thermo- 
metros,  que  marcam  a  mudanca  dos  costumes. 
Enchem-se  as  columnas  dos  Mercurius  publicus, 
d'antes  Mercurius  polilicus,  d'annuncios  de 
caes  perdidos,  de  objcctos  de  luxo  extraviados, 
de  novas  invcnjoes  de  bijoutarias  e  perfuma- 
rias,  de  que  entao  se  fazia  um  uso  desregrado 
em  Inglalerra.  Por  exemplo  em  o  News  de  4 
de  fevereiro  de  1663  certo  Jorje  Grey,  bar- 
beiro  e  fabricante  dc  cabelleiras ,  otferece  10 


*  Nao  se  pode  mencionnr  como  jornal  as  Acta  diurnia, 
que  Junio  Ruslico  redigia  no  reinado  de  Nero.  Eslas  acta 
naoexistem;  taosunieutesabemospurTacito,  ipie  as  liavia. 
E  natural  que  nao  fo.>isem,  senio  unia  chronica  escripla 
por  Jiinio  Ruslico,  paraagradarao  imperador.  Xacauhada 
liberdade  d'iinprensa  concedida  pelo  t'ezar,  justifica  a 
nussa  opiniuo. 


221 


iJicllings  por  cada  onja  de  cabello  louro,  e 
fi  a  7  por  egual  quanlia  dos  de  diflerente 
<  or.  No  nicsmo  jornal  de  4  de  agosto  de  1684 : 
«  Perdeu-se  perto  de  Drury  Lane  um  retrato 
0  dc  senhora  encasloado  era  ouro,  trez  chavcs, 
<t  e  outros  diversos  pequenos  objectos,  tudo 
« contido  'num  sacco  perfumado.   A.  pessoa 

<•  que  OS  enlrcgar  em recebera  de 

«  alviraras  (jualro  vezcs  o  valor  do  ouro.  » 

Foi  tamhem  poreste  tempo,  que  comcfaram 
a  appareccr  cm  Londres  ,  aquellas  collecrOes 
de  curiosidades,  de  raridadcs,  e  de  remedios 
para  todas  as  molestias,  que  hoje  alii  se  osten- 
lara  cm  tamanha  quantidade.  Um  annuncio, 
entre  outros,  tern  a  honra  de  apresenlar  ao 
respeitavel  publico  uma  mumia  do  Egijpto,  um 
enorme  femur  de  giyante,  um  peixe  da  ha,  e 
muitas  outras  curiosidades,  qual  d'elias  mais 
exquisita  c  maravilhosa.  Em  1664  e  que  os 
Inglezes  viram   pela  primcira  vez  um  rhino- 

ceronte  e  um  cicphante pintados.   Na 

London  Gazette  do  22  de  junho  d'aquelle 
anno  annunciava-se  a  chogada  d'aquellas  ma- 
ravilhas,  e  convidavam-se  os  habitantes  da  il- 
lustre  cidade  de  Londres  a  comprar  os  retrac- 
tos  de  magnificos  animaes  ate  alii  desconhe- 
cidos ;  0  que  prova  que  a  historia  natural 
entre  os  inglezes,  nao  tinha  feito  grandes 
progressos. 

Um  curioso  specimen  dos  annuncios  d'aquel- 
la  epocha  e  o  seguinte:  «  White  Hall,  14  dc 
«  maio  del604.  S.  M.  Sagrada,  tendo  decla- 
«  rado  que  a  sua  vontade  e  real  intencao  era 
<i  continuar  a  locar  nas  alporcas,  durante  o 
a  niez  de  maio,  e  dcixar  de  o  fazer  depois  ate 
<i  0  dia  de  S.  Miguel,  manda  annuncial-o 
n  para  que  os  seus  subditos  nao  venham  inutil- 
"  mente  a  cidade.  »  0  costume  de  locar  as 
alporcas  reputava-se  privilegio  dos  reis  de 
Franca,  como  directos  successores  de  S.  Luiz, 
e  ungidos  do  Senhor ;  mas  os  reis  de  Ingla- 
tcrra,  que  se  diziam  legilimos  herdeiros  do 
tbrono  de  Franca,  tambem  julgaram  seu  este 
privilegio,  ed'eile  usaram  ate  a  rainha  Anna. 
Quando  ccssou  a  sagracao  dos  reis  de  Franca, 
cessou  tambem  o  uso  d'esta  prcrogativa. 

Em  1605  desinvolveu-se  em  Londres  uma 
grande  peste.  0  estado  de  agitacao  dos  espiritos 
conhece-.«e  nos  jornaes  da  epocha.  Ja  se  nao 
I'alla  em  perfumarias  e  bijouterias,  ja  se  nao 
annunciam  relratos  de  rliinoccrontes,  e  de  ele- 
phantes,  a  epidcmia  e  o  unico  objecto  de  que 
tratam  os  jornaes  da  epocha,  cujas  columnas 
se  enchera  de  remedios  e  reJatorios  de  curas 
celebres.  E  notavel,  porcm,  que  os  jornaes 
d'entao  nao  tallcm  do  grande  incendio,  que 
rebentou  em  Londres  no  dia  2  de  septembro 
de  1665,  e  que,  causando  a  morte  de  cem 
rail  pessoas  so  na  capital,  trouxe  comsigo  o 
desapparecimento  da  epidemia  '.  No  reinado 

'  O  Quartely  Revic%§,  d'onde  extrahimos  em  grande 
■")iJ!rle  este  artipit,  rppnta  principal  causa  do  desappareci- 
mento da  epidemia.  este  incendio. 


de  Carlos  II  n3o  it  rare  fazerem  Os  jornaes 
offerecimcntos  de  premios  pecuniarios  a  quern 
capturar  um  celebre  assassino,  ou  fizcr  revc- 
lacoes  a  cfirca  d'um  crime,  cujos  auctores  sao 
desconhecidos.  Na  London  Gazette  de  22  de 
dezembro  de  1679,  promette-se  BO  librasester- 
linas,  a  quem  der  alguns  indicios  d'uns  in- 
dividuos,  que  tinham  krido  John  Dryden  esq, 
na  segunda,  feira  18  d'aquelle  mez,  em  Rose 
street.  Em  1683  annunciou-se  pela  primeira 
vez  uma  companhia  de  seguros  de  incendios, 
denoniinada  sociedade  amigavel.  As  cazas  de 
Londres,  quasi  todas  construidas  de  madeira, 
eram  frequentes  vezes  sujeitas  a  taes  sinistros. 
Fora  aquella  companhia  fundada  por  alguns 
proprietaries,  com  o  tim  d'indemnizar  a  qual- 
qucr  socio  o  damno  que  sofTresse  por  csta 
causa,  dividindo  entre  si  egualmente  a  tota- 
lidade  da  perda. 

De  1688  por  diante  e  que  se  tornam  mui 
sensiveis  os  progressos,  que  fazia  o  jornalismo. 
Augmenta-se  o  formato  dos  jornaes,  publicam- 
se  cm  periodos  mais  curtos ;  criam-se  ate 
muitos  novos,  alguns  dos  quaes  duram  pouco, 
em  quanto  que  outros  prosperam,  enrique- 
cendo  os  seus  proprictarios.  Tambem  d'esta 
epocha  e  que  data  o  aperfeifoamento  d'um 
novo  gencro  de  jornaes,  meio  manuscripios, 
como  se  vft  do  seguinte  annuncio.  nQualquer 
«  pessoa  que  pretenda  mandar,  a  um  amigo 
('  ou  correspondente,  a  rescnha  dos  negocios 
«  piiblicos,  achal-a-ha,  pelo  precede  2  pence 
«  em  caza  de  S.  Salisbury,  ao  sol  nascente, 
«  Cornhill.  'Neste  jornal  impresso  'numa  folha 
"  de  papcl  fino,  metade  da  qual  se  deixa  era 
«branco,  podem  escrever-se  quaesquer  no- 
« ticias  particulares  ou  publicas.  »  [Flying 
Post.  1694).  A  necessidade  que  tiniiam  os 
Jacobitas  de  se  transmiltir  noticias  d'uns  pon- 
tes para  outros,  sera  comprometter  ninguera, 
fez  com  que  se  generalizasse  este  nicthodo 
de  correspondencia.  Ainda  hoje  se  vcem  no 
British  Museum  muitas  d'estas  folhas ,  meio 
manuscriptas,  meio  impressas,  algumas  das 
quaes  conservam  signaes  do  encarnicamento 
com  que  foram  defendidas.  Um  editor  d'aquel- 
les  tempos,  que  naturalmente  sentia  penuria 
de  materia  para  o  seu  jornal,  molestia  de  que 
muitos  ainda  hoje  se  queixam,  convidiira  oas 
«  senhoras  que  desejassem  dar  publicidade, 
«  sob  0  vcu  do  anonymo,  a  quacsquer  anecdo- 
(I  tas  occullas  de  pessoas  do  seu  conhecimen- 
« to.  a  enderccal-as  pela  pequena  posia  a 
«  Isaac  Bickerstaff  e.sq,  etc.  »  Nao  sabemos  se 
0  convite  foi  acccite,  mas  6  natural,  que  nao 
faltasse,  principalmente  do  sexo  para  quem 
era  o  annuncio,  quem  se  aproveitasse  d'este 
meio,  tao  commode,  de  fazer  conhecidasmyste- 
riosas  aveuturas,  que  'naquclle  tempo  eram 
aos  centos. 


Continua. 


S.  H. 


222 


mm  SOBRE  OS  PRINCIPICS  DE   HECHANICA, 

POB 

J.  ANASTACIO  DA  CUNHA. 

Continuado  de  pag.  £14. 


DoQnicocM. 

I.  0  exlrcmo  (principio,  ou  fim)  de  qual- 
quer  porciio  de  tempo,  cliaiua-sc  inslante. 

II.  0  poiilo  que  muda  conlinuamente  de 
logar,  isto  e,  que  nao  persisle  tempo  algum 
no  mesmo  logar,  nem  occupa  no  mesrao  iu- 
stanle  dois  logares  ;  diz-se,  que  se  move,  e 
sc  cliama  ponlo  movel,  ou  somente  movel. 

Axiomn. 

I.     0  ponto  movel  descreve  uma  linha. 
Dcflniriio. 

III.  Esta  linha  cliame-se  espaco. 

Poslolndo. 

llaja  uma  linha  que  seja  como  o  tempo, 
que  0  movel  gasta  em  descrever  o  espajo. 

Dcniiicdo. 

IV.  Essa  linha  chame-se  tempo. 

Uypotliese. 

I.  Entre  o  espaco  c  o  tempo  haja  relarao 
dcterminada. 

DeflnlrOcs. 

V.  Velocidade  de  urn  movel  em  qualquer 
ponto  do  espaco  que  descreve,  e  o  e.xpoente 
da  razao  que  tern  ultimamenle  o  espajo  intini- 
tesimo,  que  alii  prineipia  a  descrever,  para 
0  tempo  era  que  o  ha-de  descrever. 

■yi.  Direccao  do  movel,  ou  tambem  da 
sua  velocidade,  ou  tambem  da  sua  accelera- 
cao  no  principio  do  espaco,  e  a  recta  lirada 
por  esse  ponto  de  sorte  que  nao  faca  angulo 
com  0  espaco. 

VII.  Velocidades,  cujas  direccoes  sao  con- 
trarias,  sao  contrarias. 

VIII.  Acceleraciio  de  um  movel  em  qual- 
quer instante,  e  o  expoente  da  razao  que  tem 
vHimamente  para  o  tempo  infinitesimo,  que 
alii  nasce,  a  velocidade  que  alii  nasce  com 
esse  tempo,  e  com  clle  cresce. 

IX.  Acceleracoes,  cujas  direcjoes  sao  con- 
trarias, sao  contrarias. 

PropoKicfies. 

I.  Seja  e  um  espaco  descripto  no  tempo 
< ;  e  «  a  velocidade  do  movel  no  lim  d'csse 

„    .  de 

tempo.  Sera  «=t-- 


Di^riva-sc  facilmentc  da  definicSo  V,  e  da 
natureza  das  fluxoes. 

e 
II.     Se  «  e  conslanle,  sera  »==;;  e  logo 


t 


e  como  t. 


de 


Porque  «  =  —  da  »  (/<=rf'';  c  logo,  por  ser 
til 

V  constante,  vt  =  e. 

III.  Seja    £  outro   espaco    descripto   no 

tempo  T ;  e  V  a  velocidade  do  movel  no  tim 

d'esse  tempo.   Se  »   e    F  forem  constantes, 

serao  directaraente  como  e,  E;  e  iuversamen- 

te  como  t,  T. 

e  E 

Porque  sera  «  =  .  ,  ^  =  y  (P"""?-  ^)- 

IV.  Seja  a  a  acceleracao  do  movel  no  fim 

do  espajo  e.  Sera  «  =  — . 

Seja  V  0  tempo  infinitesimo,  que  prineipia 
no  fim  do  tempo  (  ;  e  u'  a  velocidade  que 
nasce  e  cresce  com  (' ;  sera  a  o  expoente  da 
razao  que  tem  ultimamente  v'  para  t'  (Def. 
8).  Mas  as  velocidades  nos  fins  dos  tempos 

■    .        ■  dv 
t  c  t  +  t  sao  c  e  u  + »' ;  logo  e  ^  o  expoen- 
te da  razao  que  tem  ultimamente  v'  para  t 

dp 
(Defin.  das  flux.)  E  logo  '2  =  tt- 

CoROL.     Logo  e  adt  =  dv,  e  fadl  =  v. 

V.  Tambem  ade  =  vdv,  ou  'ifade=.v'^. 
Porque  expulsando  dt  das  equacoes  adt=dv, 

e  v^~,  sahe  ade  =  vdv. 
dt 

VI.  Se  «  6  como  t'  t  a  constante ;  e  se 
a  e  constante,  e  e  como  t\ 

Porque  se  «  e  como  (',  seja  b  a  linha  con- 
«'  de      It  de 

stante  =  -;  sera  T,  =  -r'-  mas  e  t!  =  j-; 
edit)  "f 

2rf< 
logo  dD=— -.   Esta  equacao,  c  a  equacao 

2 
adt  =  di)  dao  0=  -. 
b 

Sendo  a  constante ,  sera  at  =  v.  Mas  6 

de  1 

t)  =  —  ,  logo  atdt  =  de;  e  logo  -•  at'  =  e. 
dt  Z 

CoROL.     'Nestes  casos  e  v  como  t ;  e  vice 

versa. 

Hjitolbcscs. 

II.  Se  ha  alguma  razao  ou  motivo  para 
que  um  movel  descreva  acceleradamente  um 
espaco,  outro  motivo  ao  mesmo  tempo  para 
que  descreva  outro  espaco,  e  outro  motivo  ao 
mesrao  tempo  para  que  descreva  outro  espaco  ; 
posto  0  movel  em  um  ponto,  que  seja  principio 
comraum  dos  trez  cspacos,  e  ao  redor  do  qual 
elles  formem  trez  angulos,  cujos  senos  sejam 
entre  si  como  as  acceleracoes  correspondentes 
aos  espacos  oppostos;  nao  resultara  dos  dictos 
trez  motives  movimento  algum. 


223 


III.  Se  OS  motivos  o  forein,  niio  de  ac- 
cclerarOes,  mas  de  vclocidades,  as  quaes  sejam 
entrc  si  conio  os  dictos  senos ;  lanibcm  nao 
rcsultara  inovimento  algum. 

D'estas  duas  hypotheses  se  deriva  facil  e 
geometricanientc  o  niais,  que  se  sabe  sobre  o 
que  ehaniaiii  composicao  e  rcsolucao  do  mo- 
vinienlo ;  a  dilTerenca  entre  o  movimento 
conslrangido  quando  o  espaco  e  anguloso,  ou 
quando  e  eonlinuamcnle  eurvo  ;  a  thcorica 
do  equilibrio  quando  o  raovel  e  um  so,  e  os 
motivos  do  movimento  diversos  ;  ou  quando 
OS  nioveis  sao  dois,  ou  Irez,  ou  mais  e  (ixos 
em  alguma  linha  inflexivei,  etc.  etc. 

A  iheorica  chamada  das  forcas  centraes,  e 
a  do  movimento  que  resulta  de  haver  em 
cada  instante  algum  motivo  de  acceleracao 
dirigida  a  algum  ponto  dado,  e  ao  niesmo 
tempo  oulro  motivo,  ou  de  velocidade  consl;in- 
te,  ou  de  acceleracao  dirigida  para  outra  parte. 
Resolvem-sc  similhantes  problemas  substituin- 
do  ao  motivo  de  acceleracao  successivos  mo- 
tivos de  velocidades  constantes,  e  buscando 
0  que  deve  sahir  ullimamente,  sendo  inlinito  o 
numero  d'estes  motivos,  e  infinitesimas  as 
velocidades;  assim  como  o  practicou  Sir  Isaac 
Nev\ton,  e  outros  depois  d'elle. 

As  leis  fundamentaes  da  percussao,  e  col- 
lisao  devcm  ser  hypotheses,  precedidas  d'um 
postulado,  era  que  se  estabelefa  relacao  de 
quantidade,  ou  o  que  chamara  massa,  nos 
moveis. 

Seguem-se  as  theoricas  dos  centres  de  gra- 
vidade,  de  oscillarao,  de  percussao,  momen- 
tos  de  inercia,  etc.  etc. 

Na  bydrostalica  e  hydraulica,  apezar  de 
lantas  e  tao  sublimes  lucubracocs  dos  maiorcs 
geometras,  devcnios  conlessar  que  tem  a  ma- 
thematica  bem  pouco  que  fazcr.  Ahi  tarabem 
quasi  todos  os  principios  fundamentaes  nao 
podem  ser  senao  hypotheses.  Um  geomelra 
deve  ter  por  dcsdoiro  vender  por  demonstra- 
cao  geometrica  o  que  o  nao  e. 

Ou  podem-se  approveitar  os  excellentes 
escriptos  dos  grandes  geometras  mudando  a 
signilicacao  a  certos  terraos  que  usani.  Por 
exempio  ,  suppondo  que  forca  accelerairiz 
signilica  um  motivo  de  acceleracao,  seja  esse 
motivo  qual  for,  patente  ou  occulto,  real  ou 
imaginado.  Quantidade  de  forca  accelerairiz, 
seja  0  que  delini  acceleracao.  Potencia,  signi- 
fique  um  motivo  qualquer,  ou  de  acceleracao 
ou  de  velocidade  constante,  conforme  as  oc- 
casioes,  etc.  etc. 

Podem-se  assim  desterrar  da  mathemaliea 
OS  entes  chimericos,  que  na  realidade  a  tem 
deslustrado,  fazendo-a  tao  contenciosa  ,  tao 
incerta  corao  a  mais  aerea  methaphysica. 

Prezo-rae  de  seguir  'nisto  os  passes  d'um 
geometra  e  philosopho  tao  grande  como  se 
sabe  que  e  M.  d'Alembert.  oTout  ce  que  nous 
voyons,  »  diz  clle,  «  bien  distinctement  dans 
le  mouvement  d'un  corps,  c'est  qu'il  parcourt 


un  certain  espace,  et  qu'il  employe  un  certain 
temps  ii  le  parcourir.  C'est  done  de  cette  seule 
idee  qu'on  doit  tirer  tous  les  principes  de  la 
mechanique,  quand  on  veut  les  demontrcr' 
dune  manifere  nette  et  precise  ;  ainsi  on  ne 
sera  point  surpris  qu'en  consequence  de  cette 
reflexion.  .  .  .jaie  entiercment  proscrit  les 
forces  inherentes  au  corps  en  mouvement, 
fitres  obscurs  et  metaphysiquos,  qui  ne  sont 
capables  que  de  repandre  des  tenebres  sur 
une  science  claire  par  elle  m(5me.  « 

Comtudo  em  varias  cousas  desvio-me  de 
M.  d'Alembert ;  e  pois  me  prczo  tanto  de  o 
seguir,  devo  dar  a  razao  porquc  entao  me 
desvio  d'elle.  Direi  pois,  que  so  o  faro  quando 
elle  recorre  a  argumentos  methapliysicos  para 
introduzir  como  theorcmas  na  mathnmatica  o 
que  clle  nao  pode  admiltir  senao  como  hypo- 
theses, ou  Xau.giivou.j77..  Nao  direi  sobre  este 
ponto  mais  nada,  senao  que  me  parcce  claro 
que  mesmo  M.  d'Alembert  rcconhcce  loda  a 
dilTerenca  que  vai  de  taes  demonstracoes  a 
todas  as  mais,  cujo  rigor  geometrico,  e  superior 
elcgancia  resplandece  no  seu  aureo  tractado 
de  Dynamica.  Em  abono  d'este  pensamento 
ponderem-se  estas  palavras,  que  vera  no  fim 
do  theorema  do  capitulo  segundo.  «  C'est  a, 
quoi  je  crois  etre  parvenu,  etc.  »  Je  crois, 
diz  d'Alembert.  Assim  no  que  tenho  dicto, 
nao  critico  ;  justilico-me  ;  ou  antes  posso  ter 
0  gosto  de  crer,  que  ale  'nesses  mesraos  pontos 
na  realidade  me  nao  desvio  de  tao  grande 
mestre. 

Continua. 


OS  SINOS. 

Continuado  de  pag.  166. 


Poucos  ja  sao  os  sinos  baptizados,  cxisten 
tes  no  tempo  da  reforma,  que  ainda  hoje  se 
acham  suspenses  nos  sens  antigos  campana- 
rios ;  e  a  maior  parte  das  suas  inscriprOcs, 
antigas  e  meio  apagadas,  eslao  actualmente 
tao  illegiveis,  que  e  difficil  perceber  o  nome 
outr'ora  venerado,  que  se  Ihes  dcra.  E  de 
crer,  que  bem  dirigidas  pesquizas  fizessem 
descobrir  la  no  fundo  das  provincias  alguns 
sinos,  de  que  a  historia  nao  falla;  posto  que 
e  provavel,  que  nenhum  se  achasse  tao  anti- 
go,  como  um  que  havia  'numa  egreja  de 
Cornwall  com  a  inscripcao  «  Alfredus  Bex  » I 
Suppoe-se  que  fora  dadiva  d'este  soberano,  e 
que  funccionara  durante  1000  annos.  Gran- 
de numero  de  sinos  celebres  pelas  suas  di- 
mensoes  e  pela  qualidade  do  som,  muilos  dos 
quaes  tinham  sido  offerecidos  por  particulares 


224 


ricos,  e  para  ciijo  l.ihrico  so  nao  linhani  poii- 
pado,    nem    dcsvclos    iicm    dcspozas,    foram 
roubados,  quando  se  supprimiram  os  convcn- 
los,   e  ale   mosmo   os  das  oatlicdraps  e  das 
parochiacs   lUMii   scniprc    foram    respcitados. 
Le-se  em  Stowc  que  Henrique  Vlll  apostou 
lima   vez  com   sir  Mils  Partridge,   e  contra 
uiua  entrada  de  100  lihras,   iiiii  campanario, 
([uc   havia  no   coniilerio  de  S.  Paulo,   e  em 
que  exisliam    quatro   sinos    dos   maiores  de 
Londres.    Sir   .Niils,   leiidn    ganlio   a   aiiosta, 
mandou    espedacar   os   sinos,    c   derrubar   o 
campanario.  Bulkeley,  bispo  de  Bangor,  ven- 
deu  era  liiil  os  sinos  da  sua  cathedral;  sir 
Henry  Spelmau  conta  que  na  sua  infancia, 
(cerca  de  lo'.t2)  ouvia  fallar  muito  nos  sinos, 
que   tinliam    sido   arrebalados   em    todos   os 
sitios  do  seu   condado  (Norfolk).  Foi  quando 
0    estado   se    asseuboreou    das   propriedades 
ccclesiasticas,  e  as  deu  a  b'igos,  que  comccou 
esle  deslroco.    Os  puritano.s,  apezar  de  con- 
irarios  a  niusica  de  egreja,  e  em  geral  a  ludo 
quanto   servia   para   fomcntar  a  supersticao, 
nao  declararara   comtudo  guerra  aberta   aos 
.sinos;  succedeu,  poreni,  que  no  meio  da  asso- 
lacao  geral,  na  epoca  da  repubiica  parlamen- 
tar,    nuiitos    sinos   foram   tirados    dos    sens 
campanarios.    Os    habitantes    de   Yarmouth, 
enderessaram,  em  lOoO,  uma  peticao  ao  par- 
lameulo,  para  que  se  Ihes  desse    «  parte  do 
chumbo    e   dos   maleriaes    da    cathedral    de 
Norwich,    vasto   e  inuiil   edipcio,    para   com 
elles  construirem  na  sua  cidade  urn  hospicio 
para    os   pobres    e    concertar   o   seu  dique.u 
Ouando   pois  os  habitantes   de  uma    cidade 
propuubam  ,    conio  cousa  muito  natural ,   a 
destruicao  do  telhado  de  urn  editicio  nobre, 
c  conspquentemenle   a  sua   complela   ruina, 
nao  se  pode  estranhar,  que  enliio  se  nao  desse 
aos  sinos,  senao  o  valor  do  metal.   No  meio 
da  indilTerenca,  que  geralmente  grassava  de- 
pois    da    revolucao,    succedeu    muitds    vezes 
venderem-se  os 'sinos  para  accudir  aos  repa- 
ros  da  egreja;  e  nao  raro  uma  parocbia,  que 
possuia   cinco  sinos.  vendia  quatro  para  sal- 
dar  as  contas  da  fabrica.  Muitos  mesmo  d'a- 
quellos,  que  escaparam  a  tantos  perigos,  foram 
pelo  andar  dos  tempos  arruinados  e  refundi- 
dos,  de  modo  que  actualmente  o  numero  dos 
antii^os   sinos  e  muito  diminulo. 

A^Escossia,  debaixo  d'este  ponlo  de  vista, 
ainda  sofl'reu  mais,  que  a  Inglalerra.  Abbot, 
arcebispo  de  Cantorbery,  contava  a  Spelman 
em  1032,  que,  visjlando  a  egreja  de  Dunbar, 
))crguntara  ao  respective  ministro,  individuo 
de  ma  catadiira,  que  Ihe  servia  de  guia,  quan- 
los sinos  havia  na  egreja,  a  que  cste  respondeu: 
c  nenhum.  »  Mostrando-.se  o  arcebispo  adnii- 
rado  d'esta  falta,  o  ministro  respondeu-lhe, 
([ue  era  uma  das  cgrejas  reformadas.  Em 
Edimburgo  nao  achou  Abbot  senao  urn  .sino, 
todos  OS  uutros  tinham  sido  Icvados  para  os 
P.tizes-Baixos.  Em  Franca  a  utilidade  que  se 


podia  tirar  do  metal  dos  sinos,  convertendo-o 
em  canhoes,  ou  cm  moedas  de  cobre,  causou 
a  sua  quasi  completa  destruifao.  0  famoso 
sino  Georijcs  d'Amboise  de  Kouen,  teve  o 
primeiro  d'cstes  destinos  'naquella  epocha 
lormentosa,  cm  que  a  rcligiao  do  estado  era 
a  guerra. 

Alguns  antigos  escriptores  inglezes  apra- 
zem-se  em  contar,  como  a  justica  Divina  se 
encarregara  de  punir  os  auctores  d'estes  at' 
tentados  contra  os  sinos.  Spelmcn,  dcpois  dc 
referir  aquella  aposta  de  Henrique  VIII  com 
sir  Mils  Partridge,  que  acima  mencionamos, 
accrescenta,  que  sir  Mils  foi  enforcado  alguns 
annos  dejiois  em  Cowerliill;  diz-nos  tanibem, 
que  0  bispo  de  Bangor  perdt^ra  repentina- 
niente  a  vista  na  occasiao  em  que  assislia  ao 
embarque  dos  sinos  que  vendAra ;  estes  sinos 
nao  foram  felizes  na  sua  viagem;  a  maior 
parte  dos  navios  que  os  conduziam  naufra- 
garam.  Os  dignos  escriptores  que  mencionara 
estes  factos,  nao  se  lembraram  provavclmen- 
te,  que  os  sinos  nao  foram  os  unicos  ohjectos 
perdidos  nestes  naufragios,  e  que  era,  pelo 
menos,  inutil  o  fazer  inlervir  a  Providencia 
na  destruifao  de  uns  sinos. 

Apezar  de  tudo,  ainda  exislem  alguns 
sinos  notaveis,  nao  so  pela  sua  antiguidade, 
mas  tambcra  pelas  suas  dimensoes  e  pela 
qualidade  do  som.  0  carrilhao  da  cathedral 
d'Exelcr,  o  mais  pcsado  de  todos  os  da  In- 
glaterra,  pode  servir  de  exenipio  para  mostrar 
a  supcrioridade,  que  tern,  quanto  ao  som, 
alguns  sinos  antigos  sobre  os  modernos.  Estc 
carrilhao  compOe-se  de  dez  sinos;  o  da  egre- 
ja de  S.  Salvador  em  Soulhwark  (Londres) 
que,  em  quanto  ao  peso,  se  apresenta  logo 
em  scgundo  logar,  tern  doze,  entre  os  quaes 
ha  nove,  que  tern  mais  de  quatrocentos  annos 
de  existencia.  Outro  carrilhao  de  doze  sinos, 
a  da  egreja  de  S.  Leonardo  em  Shoredilch  na 
mesma  cidade,  era  muito  admirado  pela  rainha 
Isabel;  esta  princcza  quando  vinha  de  Hat- 
lield  para  Londres,  occasioes  em  que  tocavam 
estes  sinos,  raras  vezes  deixava  de  parar  a 
certa  distancia  e  de  fazer  notar  as  pessoas, 
que  a  acompanhavam,  a  barmonia  dos  scus 
sons.  Os  carrilhoes  de  dez  sinos  das  egrejas 
de  Sancta  Margarida  em  Leicester,  de  Sancta 
Maria  em  Nottingham,  e  torre  de  Fulham, 
sao  lidos  por  uns  dos  mais  hollos  da  Ingla- 
lerra. Os  sinos  de  Dervsburg  sao  igualmenle 
afamados  pela  belleza  dos  sous  sons.  Urn 
d'estes  sinos,  conhecido  pelo  nome  popular 
de  «Bhick-Fnm»  de  Sothill,  e,  segundo  di- 
zom,  uma  olTerta  feila  em  expiacao  de  uma 
morte.  Na  vespera  de  Natal  fazem-no  dohrar 
como  se  fora  para  um  enlerro;  e  o  que  se 
chama  o  «  dobre  do  Diabo,  »  costume,  que 
provem  de  ter  o  Diabo  morrido  no  dia  em 
que  Christo  nasceu. 


225 


KOTICIAS  LITTERARIAS  E  SCIENTIFiCAS. 


Abcrlnrntln  ITnlvornidnilo  <le  Coim- 
bra.  As  aulas  da  Uni\crsidaile  e  dos  mais  cslabc- 
Iccimcntos  piiblicos  de  iiistruccSo  'nesta  cidadc, 
que  por  decrclo  de  9  de  outubro  haviam  sido 
adiadas,  em  consequcncia  do  reccio  da  itivasao  da 
cholera  morbus  cpidemica,  foram  mandadas  abrir 
por  decreto  dc  21  de  dezembro  ultimo  no  dia  7 
do  corrcnte,  devendo  lermiiiar  as  das  faculdades 
<le  Iheologia ,  dircito  e  medicina  a  20  de  junho, 
c  as  de  malhematica  e  philosophia  a  10  de  jiilho, 
afim  de  por  cste  modo  sc  supprir  a  iiitorrupcao  dos 
cstudos  na  primcira  cpocha  do  anno  Icctivo. 

Tambem  pcio  raesmo  fundamento  se  ordenou, 
que  nas  ferias  da  Paschoa  cessasscm  as  licijcs  sii- 
mente  desdedomingo  dc  Ramos  ale  ao  de  Paschoa, 
c  que  OS  ados,  que  nao  podcssem  cxpcdir-se  cm 
junho  c  julho,  ficasstm  rescrvados  para  us  pri- 
meiros  quinzc  dias  dc  outubro  proximo  futuro. 

Cnminlio-4  <lc  ferro  nox  E'Xnclos  I^iiii- 
dON.  Os  caminhos  de  fcrro  hojc  concluidos  nos 
Estados  I'nidos  Icni  um  comprimento  total  de 
1,7146  ;  milhas.  Os  que  cstao  cm  actividade 
podcm-se  dividir  cntre  os  diversos  Estados  da 
maneira  soguinle  :  Massachussetts,  numero  total 
de  milhas  1197,53  comprehendendo  42  seccoes, 
a  mais  comprida  das  quaes,  a  de  Western,  lem 
153,40  m.  e  a  mais  curta,  a  de  Wests  Stockbridge, 
2,73.  Os  caminhos  dc  fcrro  terminados  na  Nova 
Inglatcrra  tem  um  comprimento  total  de  1703,05 
a  saber  :  no  Maine  10  seccoes  364,75  m  ;  no 
New  Hamphisre  9  sec.  271,30;  no  Vermout  10 
sec.  494  m.;  no  Rode  Island  1  sec.  50;  no  Con- 
necticut 8  sec.  523.  A  mais  comprida  d'cstas 
linhas  e  a  de  Great  Trunk  Railivay,  que  tem  de 
extcnsao  119  m.,  e  a  mais  curta  a  dc  Calais  • 
Barling,  que  tem  6.  O  eslado  de  New  York  tem  23 
caminhos  de  ferro  em  exploracao,  representando 
um  comprimento  de  milhas  2224,41  :  a  mais 
comprida  d'cstas  linhas,  a  de  New  York  central, 
percorre  534,23  m.  c  a  mais  curta  a  de  Troy- 
Union  somcnie  2. 

As  outras  linhas  dos  Estados  Unidos  dividem-se 
do  seguinte  modo  :  Estado  de  Now  Jersey :  10 
seccijcs,  a  mais  comprida,  a  de  Camden  eAmboy, 
tem  65  milhas,  e  a  mais  curta  Camden  e  W'oodhury 
9  m.  Na  Pcnsylvania  39  sec,  a  mais  comprida, 
Pensylvania,  232  m.;  a  mais  curta,  PineGroTe,  4  1. 
No  Delaware  2  sec.  22  m.  No  Maryland  7  sec. 
a  mais  comprida  Baltimore  c  Ohio  380  m.,  a 
mais  curta  Frederic  Branch  3  m. 

Na  Virginia  15  sec.  ,  a  mais  comprida  ,  a 
central,  138  m.;  a  mais  curta  Appomatox  10  m. 
Na  Carolina  do  Norte  3  sec.,  430  m.  Na  Carolina 
do  Sul  8  sec.  537  m.  Na  Georgia  13  sec.  a  mais 
comprida,  a  central,  192  m.,  a  mais  curta  Miledg- 
villc  e  Gordon  17  m.  No  Alabama  3  sec.  222  m. 
Na  Florida  1  sec.  26  m.  No  Mississipe  2  sec.  67 
m.  Na  Luisiana  6  sec.  151  m.  No  Tcnescce  4 
sec.  No  Kentucky  3  sec.  90  m.  No  Ohio  24  sec. 
a  mais  comprida  Clevedand,  Calumbus  eCincinalti 
135  m.,  a  mais  curta  Hanover  Branch  1  [  m.  Na 
,  Indiana  15  sec.  a  mais  comprida  150  m  ,  a  mais 
curta  Shelbyville  Branch  16  m.  No  Illinois  7 
sec.,  a  mais  comprida  Chicasso  e  Mississipi  195 
m.  ,  a  mais  curta  S.  Charles  Branch  8.  No 
Michigan  5  sec.   a  mais  comprida  Central  278 


m.,  a  mais  curta  Tecumsch  Branch  10  ni.  .\o 
Wisconsin,  finalmente,  2  sec.  115  milhas. 

{American  Repoiiiory  of  useful  Knowledge  far 

4S55) 

Cnmlnho*  <to  ferro  n'AnNlrin.  Em  12 

de  scptembro  de  1834  inaugurou-se  n'Australia  o 
primeiro  caminho  de  ferro,  que  alii  cxiste,  c  que 
liga  Melbourne  com  a  bahia  dc  Hobson.  A  luco- 
moliva,  que  conduziu  os  passagciros,  foi  tambem 
a  primcira,  que  se  fabricara  'naquella  ilha.  Era 
de  seis  rodas,  e  forca  de  trinta  cavallos  :  trans- 
portou  130  toneladas  com  a  velocidadc  de  25 
milhas  por  bora. 

Kniisrncslo  para  a  tmprira.  No  anno 
de  1854  desembarcaram  cm  Quebec  53:183  emi- 
grados,  numero  que  excedcu  ao  de  todos  osannos 
antccedenlcs,  a  exccpr.io  dode  1847,  e  em  relacio 
a  1833  houve  para  mais  no  de  1834  dczescis 
mil  individuos.  D'aquelles  33:183  emigraJos , 
35:132  erao  oriundos  de  Inglalerra.  £  tambem 
notavcl ,  que  a  emigracao  irlanclcza  foi  mais 
numerosa  em  mulhcres  do  que  em  homcns;  no 
anno  proximo  passado  o  numero  d'aqucllas  exce- 
dcu em  duas  mil  duzcntas  e  nove  o  dos  homens. 

Em  Nowa  York  desembarcaram  313:748  emi- 
grados,  isto  c  mais  30:000  do  que  no  anno  dc 
1853.  O  numero,  porcm,  dos  emigrados  da  Gra- 
Bretanha  e  Irlanda  foi  mcnor  32:721  individos 
em  1854  do  que  no  anno  antecedenle.  A  Allcmanha 
deu  um  numero  extraordinario  de  emigrados,  o 
que  foi  causa  de  nao  baixar  a  cifra  da  emigra- 
cao 'naqucllc  anno. 

0  augmento  da  emigracao  irlandpza  tem  trazido 
adiminui(;rio  successiva  do  paupeiismo  'neste  paiz. 
Assim  por  exempio  a  associacrio  Emits  Utiinn,  que 
em  1851  soccorria  S:677  pubrcs,  tinha  em  1853 
sdmente  1:793,  e,  na  ultima  semana  do  mcz  de 
julho  proximo  passado,  os  pobres  a  seu  cargo 
estaram  rcduiidos  a  82S,  e  esperava-se  que  este 
numero  iria  diininuindo  progressivamenle.  No 
eondado  d«  Gallcs  o  pauperismo  ia  egualmente 
em  diminuicno. 

.%IiI?ll<'aoaodo  sazextracdo  daa:;uaiV 
■  lliiininaciioe  a<}U«'<'ln>(>n(o  <la>«  <  aKan. 

Acombustao  do  gaz  hydrogenio  puro  prodiiz  so  a 
humidade  prccisa  para  o  ar  rcspiravel,  e  n,io  sao 
por  isso  necessariss  chamines;  pelo  contrario  o 
gaz  carburetado  produz  uma  fuligcm,  quecobre  os 
moTcis,  e  as  paredes;  e  vaporcs  sulfurosos,  que 
atacam  a  respira^ao,  e  embaciam  os  metacs  pre- 
ciosos,  e  por  isso  torna-se  indispensavcl  o  uso  dc 
chamines  para  evilar  csles  inconvcnientcs. 

O  gaz  hydrogenio  puro  dcsinvolve  mais  calor 
queo  hydrogenio  carburetado,  eepor  consequcncia 
tambem  preferivel  nas  cosinhas ;  mas  nao  e  tao 
brilhante  para  a  illuminacao  como  este  ultimo  ; 
para  Ihe  fazer  porem  adquirir  aqiiella  proprie- 
dade,  basta  fazer  passar  uma  parte  do  hydrogenio 
puro  atravez  uma  caixa  de  carburetos.  Nas  expe- 
riencias  fcitas  por  Jobard  perante  a  acadcmia  das 
sciencias  de  Bruxellas  reconheccu-se,  que  um 
mcsmo  bico  de  gaz  puro,  cuja  luz  corrcspondia  .i 
de  7  bugias,  passando  pelos  carburetos  augmen- 
tava  a  ponto  de  corresponder  a  luz  de  36  bugias. 

Empregando  por  tanto  este  gaz  economisa-sc 
a  despesa  dos  fogoes,  da  lenha,  carvao,  e  azeite, 
que  nao  sao  necessaries  para  aquecer  ncm  illumi- 


226 


luir  <)  iiUerior  das  casas,  o  quo,  rcunido  a  vanta- 
gem  de  nao  ser  nocivo  .i  sntide,  o  lorna  muito 
prcl'erivcl  ao  gaz  cxtrahido  do  carvao  mineral. 

.treirolillin.  Mr.  Chaudron-Junot,  de  sele 
annos  dc  iKTse\cran(p  trahalho,  tirou  cm  resul- 
tado  unia  inipdrlantissima  applicacao  da  eloctri- 
lidadc  —  exliahiii  das  Kansas,  ale  agora  conside- 
radas  cstcreis  e  irreductiveis,  ractacs  novos,  cujas 
propriedadcs  os  collocam  enlre  os  denominados 
nohrcs.  Esses  corpos  que  mal  conheciamos  no 
ostado  de  purcza,  nao  tinliam,  nem  podiam  ler 
uso  Da  induslria  ou  nas  artes  liberaes:  a  desco- 
berla  de  Mr.  Ch.  Junot,  proporcionou-lhes  csle 
dupio  emprego.  Conscguiu  roduzir  oito  espccies 
diffcrcntes,  qucsiio:  o  chromo,  o  tungsteno.  o 
molybdeno.^o  litann,  o  urano,  o  silicio,  o  magne- 
sioeoahimiiiio,  que  dotodos  6  o  menos  prceioso. 

As  ligas  que  fez  com  os  seis  primeiros  cha- 
mou  argirolilha  {a  prata  de  pedra);  e  ^  de  notar 
que  na  sua  prepararan  enlra  como  parte  princi- 
pal 0  silicio,  que  Mr.  Ch.  Junot  extrai  do  quar- 
Izo,  da  area,  c  ate  das  pedras  das  caleadas.  Nao 
Ihc  falta  pois  materia  prima.  X  argirolitha  pode 
servir  ja  para  os  dcpositos  galvanicos,  ja  para 
OS  differenlcs  artefactos  que  fabricam  os  ourives. 
A  obra  feita  com  csta  liga  c  innocente,  aprcsenla 
um  brilho  superior  ao  da  prata,  c  custa  infii  i- 
tamente  menos  do  que  esta. 

A  imaginacao  confundc-se  a  vista  dc  tacs  re- 
sultados,  cuja  novidade  vein  surprehender  o  espi- 
nlo.  Renectindo  porera  que  todas  essas  divcrsas 
gangas,  como  que  cspnihadas  com  tanta  profusao 
sobre  o  globo,  para  indicar  a  sua  utilidade,  sao 
composlas  dcoxigenio  e  de  metaes,  podia  prevcr- 
sc  quo  OS  haviamos  de  chegar  a  separar  do  oxi- 
geno,  com  que  estavam  combinados.  A  electrici- 
dade  applicada  resoheu  o  problema.  Assim  e 
que  lima  dcscoberla  da  o  scu  conligente  para 
novas  descobertas,  que  antes  cram  impossiveis. 


REL.i^CA.0 

JJos  individuns  nnmrados  para  os  scguinles  logarex 
d'instrucfao  publico,  dcsde  o  dia  4.°  ate  to  de 
noveinbro,  par  dcspachos  do  Conselho  superior 
d'instrucfat  pithlicii,  e  dreretos  do  Governo  com- 
miinicados  ao  mesmo  Conselho  superior  no  indi- 
cado  periodo. 

INSTBDC(iO    PRIUIRIA. 

Andre  Barata,  para  professor  lemporario  da 
cadeira  dc  Margeni,  districto  de  Porlalegre- 

Antonio  Rodriguos  Silva,  para  dicto  de  Sel- 
lir  de  Maltos,  districto  dc  Leiria. 

Joao  Goijies  Ferreira,  para  dicto  de  Carmoes, 
districto  dc  l.isbiia, 

Joaquini  l.ii[ics  da  Cruz  Correa  Pimentel,  para 
dicto  de  Sao  Miguel  dcMachede,  districto  d'Evora. 

Manuel  Josp  Ferreira,  para  dicto  de  Caran- 
gucjeira,  districto  de  i.ciria. 

Mainiol  Vaz  Rczio,  para  dicto  de  Pontc  de 
Siir,  districto  de  Portalegre. 

Fernando  Maria  Percira  deMacedo,  para  dicto 
dc  Vera  Cruz,   districto  d'Evora, 

Francisco  dc  Paula  Sarmento,  para  dicto  de 
Avciras  de  Cima,  districto  dc  Lisboa, 


Henrique  Jose  Aniuncs,  para  dicto  dc  Para- 
nhos  de  Baixo,  districto  da  Guarda. 

Manuel  Dias  da  Silva,  para  dicto  de  Fcrmcn- 
lellos,  districto  d'Avciro. 

Jos(5  da  Costa  Nogucira,  para  professor  subsli- 
tuto  da  dc  dc  Santar,  districto  de  Viscu. 

Manuel  Nunes  da  Gucrra,  para  a  dicta  dc 
Cedavim,  districto  da  Guarda. 

INSTRUCCAO    SUPERIOR. 

Manuel  Maria  da  Costa  Leile,  para  sccrclario 
da  Eschola  Medico  Cirurgica  do  Porto. 

Luiz  Antonio  Pereira  da  Silva,  para  lente 
catliedratico  da  2.*  cadeira  da  mesma  Eschola. 

0  Dr.  Jacomc  Luiz  Sarmento  dc  Vasconccl- 
los,  para  o  logar  dc  3.°  astronomo  do  Obscrva- 
lorio  da  Univcrsidadc. 


BIBLIOGRAPHIA. 

Ewlndos    Kobre  oh   Prinioiron  Kle- 
mcnloit    an    Tliooria    <ln    R<«ln<linlira. 

por  Adriao  Pereira  Forjaz,  I.cnte  de  Economia 
Polilica  c  Estadistica  na  faculdade  de  direito, 
na  Univcrsidadc  de  Coimbra,  Socio  efleclivo  do 
Institute,  e  correspondenle  d'Academia  Real  das 
Sciencias  de  Lisboa,  A.  dos  Elementos  d  Econo- 
mia Politica  ed' Estadistica.  Coimbra  1855,  1  vol. 
8.°,  preco  340  reis. 

KIcmonloN  <lc  Cieomrtria  cl'Ruclide*. 

Nova  edic.io  corrccta,  e  cuidadosamente  emen- 
dada  tanto  no  texto  como  nas  estarapas,  por  Luiz 
Atbano  d'Andrade  Moraes,  Lente  substituto  da 
faculdade  de  Mathcmatica  na  Univcrsidadc,  c  So- 
cio effectivo  do  Instituto  de  Coimbra,  e  Antonio 
Jose  Tcixeira,  Ajudante  do  Oliservatorio  Astro- 
nomico  dc  Coimbra,  e  Socio  do  mesmo  Institute. 
Coimbra  1855,  1  vol.  8.°  grande,  com  estampas : 
preco  800  reis. 

ti^'oBosJo  ap|ili<in<^o.  Traitc  du  gisemcnt 
ct  de  Sexploitation  des  mineraux  utiles  par  Amcdce 
Burat.  3."  ediciio  dividida  em  duas  partes.  Na 
primeira  tracta  da  Geologia  practica;  c  na  segunda 
da  Exploracao.  A  1.=  parte,  1  vol.  8.°  com  figuras 
ja  sahiu  a  luz.  0  preco  dos  2  vol.  e  do  15  francos. 

Trailt^  irElprtricilo  ct  <lii  SlaKnclis- 

mo  et  des  applications  de  ees  sciences  a  la  chitnie, 
a  la  physiologic  et  aux  arts,  |ior  Becqucrel.  e 
Edmond  Becqucrel.  8."  Paris  1855.  Esta  obra  ha 
de  constar  de  3  volumes:  publicaram-se  ja  o  1." 
c  2.°  volume:  este  comprchende  a  Elcctro-chimia, 

Ilumholill  (Ales.)  Talilonci  <lo  la  7%'a- 
liirc*  tradiizido  da  segunda  e  ultima  eclii;ao  pelo  Dr. 
Hoefer.  2  vol.  8.°  com  estamjja:^  e  cartas  —  9  fr. 

Cnvirr  (Fred.')  DsttroiirH  »ur  lew  R<^vo- 
Iiilionn  tlu  dobc.  com  iiolas  e  appendices, 
flegnndij  as  mais  recentes  observaroes  de  Humlwldt, 
Flourcns,  Lyell,  Lindlej  etc..  redigido  pelo  Dr. //tff/ir, 
1  vol.  18  com  estampas  —  3  fr. 

Prontnarlo  d'Arrhitertara  por  D.  Ma- 
riano Carrillo  de  Albornua.  1  t.  4.*^  y  alias.  Madrid 
1BJ5.  —  60  reales. 


227 


5 


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Existi: 


Enlraram. 


Sab  i  ram. 


Murreram. 


Exist**!!). 


Evislinni. 


Enlraram. 


Sjihiram. 


M.,r 


'^  E.visle 


Evtsli 


Enlraram. 


Satiirain. 


Murreram. 


Evislem. 


ExisliBQi. 


Enlraram. 


Morreram. 


E\rste 


Existii 


Enlraram. 


Sahiram. 


Morreram. 


Exislem. 


Exisliara. 


Eolraram. 

So  hi  ram. 


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228 


OKStUVACOLS  METEOUOLOOICAS . 

FEITAS  NO  GABIXETE   DE  PIIYSICA              1 

DA   LMVEUSIDAOE    DE  COIMUKA. 

1 

^   : 

,.     1  Ksladu  bvKrunielncu  (111 

iK'spiieriCA    ao  nieiu  ilia 

1      1US5 

3  '^  .2 

s 

Ellado 

rf»  tfu  r  do 



Allufn    bato- 

Teniio  .)o         Pressjlo  du 

OrBu  (fhumi- 

Qaanljd.    de 

^   yUz  -le 

=  T.H 

1  metrkca   a  o' 

«por  .qua.o         ^^    g^^^, 

dade     do    ar, 
tr[>rcicn(ando 

em  um  metro 

^1 

teiUjio 

ao  ineio  dia. 

H  =  = 

lie'«l'- 

por  i   o  cila- 

rubico  (i'ar 

do  de  laliira. 
Jio. 

Dias 

dMihir. 

iMilliinetros 

Milllm<'lri» 

Millim-lrus 

Grammaii 

1 

24 

752,707 

14,343 

738,364 

0,646 

14,005 

N. 

Niihlailu.  BuQilemiiu. 

2 

22 

752,294 

13,190 

739,104 

0,671 

12,966 

N. 

O  iiipsmo.    O  mcsino. 

3 

23 

752,172 

13,270 

738,902 

0,635 

13,001 

N. 

O  mesino.    O  mesrao. 

4 

2J 

752,576 

13,623 

738,933 

0,652 

13,346 

N. 

O  niesino.    O  iiic»rao 

5 

24 

752,960 

14,084 

738,876 

0,635 

13,752 

N. 

O  mciDio.    O  mestno. 

6 

24 

752,960 

13,691 

739,269 

0,617 

13,388 

N. 

O  inesmo.    O  mesmo. 

7 

23 

753,487 

13,764 

739, :«3 

0,659 

13,485 

N. 

O  mesiuo.    O  luesmo. 

8 

22 

753,711 

13,230 

740,481 

0,673 

13,005 

N. 

O  meamo.  O  mesmo. 

9 

25 

751,824 

13,532 

738,292 

0,575 

13,168 

E. 

O  mc*nio.    O  meiiiio. 

10 

29 

754,621 

16  596 

738,025 

0,557 

15,935 

E. 

Clar.elinip.  O  raesino. 

11 

27 

7.i2,592 

15  324 

737,068 

0,586 

13,005 

N. 

O  m'  snio.    O  mesmo. 

12 

28 

753,480 

14,563 

738,917 

0,518 

14,030 

N. 

O  nie»iuo.    O  meaino. 

13 

28 

748,929 

14,985 

733,944 

0,533 

14,437 

E. 

0  mearao.    O  mestno. 

U 

28 

751,609 

15.906 

735,703 

0,566 

15,324 

N. 

O  mesmo.    O  meimo. 

15 

29 

733.357 

16.762 

7.16,593 

0,563 

16,095 

N. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

16 

28 

753,733 

16,109 

737,624 

0,573 

13,519 

N. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

i: 

27 

754,302 

16,332 

738,030 

0,616 

15,787 

N. 

O  mesmo.   O  mesmo. 

18 

27 

75^,349 

14,995 

737,351 

0,566 

14,494 

N. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

19 

27 

752  844 

15,392 

737,432 

0,5B1 

14,878 

N. 

O  meimo.  O  inesmo. 

20 

27 

754,(16'! 

15,162 

739,706 

0,572 

14,656 

N. 

O  mesmo.  O  niesroo. 

21 

28 

753,4  0 

16,249 

737,231 

0,578 

15,654 

N. 

O  rafsmo.  O  mesmo 

22 

29 

751,139 

16,524 

735,215 

0,535 

15,866 

N. 

Nublado.     O  mesmo. 

23 

24 

749,948 

14,975 

734,973 

0,675 

14,622 

N. 

O  mesmo.  O  m»<imo 

2* 

23 

751,631 

14,312 

737,319 

0,685 

14,021 

X. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

23 

22 

752,517 

13,1194 

7.38,653 

0,707 

13,638 

N. 

O  mc*mo.    O  mesmo. 

26 

23 

751,868 

14,521 

737,347 

0,695 

14.226 

.v. 

O  mesQio.  O  mesmo. 

27 

22 

751,6 "6 

13,963 

737,7>!1 

0,710 

13,728 

N. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

28 

22 

754,217 

13,943 

740,274 

0,709 

13,706 

N. 

()  mesmo.  O  mesmo. 

2 'J 

23 

7.^,348 

14,521 

739,827 

0,695 

\i,*i6 

N. 

Clor.elimp  Omwmo. 

30 

22 

754,97  7 

14  161 

740,816 

0,720 

13,920 

O. 

Nuljlailo.    O    mesmo. 

31 

23 

752. 8i9 

14,401 

738,428 

0,689 

14,109 

O. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

iiifiliit   ; 

tin  mfH  ^ 

25,»03  ' 

732,796 

0,626 

i 

To: 

iftfralura 

l*re$spo  atmospherica 

iiran  d'humidaile  do  or 

Fentot  dominant 

Maxim 

>l.,iul.      29° 

Max.    iil'sol.  754,977 

Maiimo  ....  0,720 

n 

N.  e  E. 

s 

MIniiiia 

alsol.     22° 

Min.nlnulijt.    7-18, 9i<) 

.Minimo  ....  0,518 

a 

M.iV.    va 

iac;S.)       7° 

Max.  exriirs.       6,048 

Maxima  varia^.   0,202 

Culm 

jra,   1."  il 

i  St^pleuibru 

de  1835. 

\«  di  f'ateOTt 

Mat  III  ( 

t$  de  Carral 

cellos.  I.enI 

e  Subsl 

Into  d.-  Pli 

ysica.                1 

®  Jnjsititttt0, 


.lOKNAL    SCIENTIFICO     E    LITTERARIO. 


co\SELiio  si'PERioa  DE  mm[U 

RELATORIO  AXNl'AL. 

1850—1851. 

Cuntinuadu  de  pog.  218. 


PARTE   QUINTA. 

Instrucrao  superior. 

Resta  agora,  Senhora,  levar  esle  relatorio 
a  exposifao  do  que  pertence  ao  eslado  do 
ultimo  degrau  na  cscala  dos  conheciraentos 
humanos,  e  que  e  corao  o  mais  alto  andar  no 
amplo  edificio  litlerario.  A  elle  servem  de 
base  a  instruccao  priniaria  e  secundaria;  to- 
cando  estas  os  diversos  pontos  da  superficie 
das  sciencias,  cujos  arcanos  penetra  ou  pro- 
funda a  instrucfao  superior.  E,  se  pela  soii- 
dez  do  fundamento  se  ha  de  apreciar  a  fir- 
nieza  do  edificio;  se  entre  a  litteratura  e  as 
sciencias  existe  uma  intima  allianca,  um 
estreito  parentesco;  claro  e  que  as  phases  ou 
naturaes  revolucoes  de  abjeccao,  ou  esplen- 
dor,  que  olTerecerem  as  letras,  essas  mesmas 
na  generalidade  sentirao  forfosamente  as 
sciencias.  Assim  se  ohserva,  que  o  progressi- 
vo  melhoraniento,  que  entre  nos,  como  dicto 
e,  tem,  'nestes  ultimos,  adquirido  os  dous  pri- 
meiros  raraos  d'instruceao,  e  acorapanhado  do 
aperfeifoamento  da  instruccao  superior.  Mas 
no  niesmo  aperfeiroaraento  ha  graus,  ha  va- 
riacoes,  em  que  mil  circumstancias  a  cada 
passo  induem.  Isto  se  vera  lancando  os  olhos 
pelos  diversos  centros  seientiHcos,  em  que 
superintende  o  tribunal  do  Conselho  superior 
d'instruceao  piiblica;  os  quaes  sao — a  Uni- 
versidade,  a  Academia  polytechnica  do  Porto, 
e  as  trez  escholas  raedico-cirurgicas  de  Lis- 
boa,  Porto  e  Funchal. 

Entre    estes    estabelecimentos    scientiflcos 

brilha,  como  a  lua  entre  os  menores  astros, 

0  luminoso  centro  da  Universidade;  a  qual, 

tendo  sempre  desde  a  sua  inslituicao,  por 

Vol.  IV.  Janeiro  15 


acertadas  reformas,  engrandccido  cada  vez 
mais  sen  lustre,  hoje,  apesar  da  pouca  sere- 
nidade  dos  tempos,  clar^a  com  mui  vivo 
esplendor.  Scgundo  o  respectivo  relatorio, 
em  todas  as  funcfoes  acadcmicas  correu  com 
a  devida  regularidade  o  anno  lectivo  lindo ; 
sendo  todavia  um  pouco  mais  curto,  por 
aquellas  circumstancias  piiblicas,  que  move- 
ram  0  real  animo  de  V.  M.,  assim  a  ordenar 
que  as  aulas  terminassem  mais  cedo,  como  a 
dispensar  dos  actos  os  alumnos.  Todas  as 
faculdades  deram  provas  de  que  com  o  maior 
zclo  e  ponctualidade  se  dedicam  a  aperfei- 
foar  0  ensino,  e  a  conservar  e  engrandecer 
este  nobiiissimo  estabelecimento.  Istoattestam 
0  aproveitamcnto  dos  alumnos;  a  vantagem 
do  ensino,  regulado  por  compendios,  que  de 
novo  se  tem  adoptado  em  harmonia  com  o 
cstado  actual  das  sciencias,  a  composicao 
d'outros,  que  'ncste  mesmo  anno  vieram  a 
lume,  e  ja  'neste  relatorio  foram  menciona- 
dos,  alera  d'aquelles  de  que  nos  reiatorios 
anteriores  se  fez  honrosa  memoria;  as  mu- 
dancas  feitas  na  distribuicao  das  materias 
pelos  diversos  annos  de  cada  Faculdade,  e 
outros  muilos  servijos  louvavelmente  desem- 
penhados.  Entre  estes  trabalhos  lustram  os 
que  vao  a  indicar-se;  c  sao  elles — a  discus- 
sao  em  claustro  pleno  sobre  a  reforma  dos 
estudos  superiores,  cujo  projeclo  subiu  ja  ao 
governo  de  V.  M.;  —  o  projecto  de  reforma 
da  Icgislacao  academica ;  —  parecer  sobre  o 
modo  de  julgar  os  servicos  dos  substitutos, 
oppositores  e  addidos  —  sobre  as  taxas  dos 
livros  das  aulas,  etc. 

Mas,  se  pela  rapida  c  simples  relafao  d'a- 
quelles servicos,  alem  d'outros  muitos  que 
seria  mui  longo  enumerar,  se  raanifesta  o  zelo 
e  diligencia  de  todas  as  faculdades,  epor  con- 
seguinte  a  florescencia  do  corpo  universitario ; 
por  aili  se  conhecem  ao  mesrao  tempo  algu- 
raas  necessidades  geraes,  que  pelas  projecta- 
das  reformas  importa  remediar.  Ha  porem 
ainda  outras  necessidades  peculiares  a  cada 
uma  das  Faculdades.  Na  de  Theoiogia  se  reco- 
nhece  necessario  que  a  bibliothcca  seja  for- 
necida  de  mais  algumas  obras  theologicas, 
recentemente  publicadas,  cuja  leilura  se  tor- 
na  indispensavel  aos  alumnos  da  Faculdade. 
Na  de  Dircito  muito  releva  organizar-se  o 
curso  de  sciencias  economico-administrativas, 
-1856.  Num.  20. 


230 


sobro  que  ja  este  CoDselho  superior  fez  subir 
;i  real  presen^a  dc  V.  M.  o  prujecto  iniu  a 
coiisulta  de  S  de  noveml)ro  do  ISiiO.  Na  de 
Mcdieiiia  alein  do  que  nos  relatorios  anlerio- 
rcs  se  I'ez  jireseiite  a  V.  M.,  earece  odispeii- 
satorio  pharniaceutico  d'aiguiis  uteiisilios; 
Iieiii  conio  de  varki>  instrunientos  os  gabiiielcs 
d'anatomia,  de  luedii-ina  operaloria  e  d'arle 
olisli'tricia.  Na  de  Mathematiea  sao  laiuliem 
iieeessarios  diversos  instrunientos  para  o 
oljservatorio  astronomieo,  cuja  compra  eon- 
viria  que  fosse  feita  por  uni  ou  dous  lentcs, 
aeomj)anliados  d'lini  iiabil  artista.  Ma  dc  Piii- 
lojopliia  rcsta  eompletar-se,  no  iaboratoiio 
cliimieo,  a  eolleeeao  dos  corpos  sinipliees, 
supprir  a  falta  das  niachinas  e  utensiiios: 
assim  conio  no  gabinete  de  zoologia  a  falta 
d'exenipiares  de  muitas  espeeies  exotieas : 
resla  em  liin,  er.nio  meio  mais  geitoso  para 
cnrii|uecer  cstc  e  os  demais  cslaiielecinieutos 
de  bistoria  natural,  o  por  em  practiea  o  me- 
tbodo  das  \iageus  sciciitilieas,  dentro  c  fora 
do  reino,  afim  de  se  obter  colleceoes  eomple- 
t;is  dos  trez  reinos  da  natureza ;  couio  ja 
este  Conselho  superior  teve  a  iionra  de  pro- 
por  a  Y.  M.  nas  cousultas  dc  20  de  fevereiro 
dc  1840,  e  0  de  novembro  de  1819. 

Foi  frequeiUada  a  Universidade,  no  anno 
eseliolar  iindo,  por  890  alumnos,  contados 
pelas  matricuias;  havendo  sido  no  anno  an- 
terior 88i:  dilTerenea  para  niais  15.  Indivi- 
dualmcnle  foram  7()0.  Toda  a  despeza  da 
Universidade  e  estabeleeimentos  annexes  foi 
de  aG:2G5^185  reis  liquidos  de  impostos. 
Deduzida  porem  a  importancia  das  matiicu- 
las,  cartas  de  formatura,  compendios  e  nuiis 
propinas  pagas  pclos  alumnos,  liea  a  despeza 
eiVectiva  do  thesouro  reduzida  a  20:097^738 
reis. 

Vindo  agora  aos  outros  estabeleeimentos 
scientificos,  cuja  inspeccao  esta  egualmente 
conliada  ao  Conselbo,  menos  agradavel  appa- 
rece  'nelles  o  estado  da  instruccao.  Na  Aca- 
dcmia  polytechnica  do  Porto,  segundo  se  ve 
do  scu  relatorio  foi  irregular  a  frequencia; 
abrindo-se  mais  tarde  as  aulas  por  causa  dos 
contursos  as  substituifoes  das  seccoes  de 
Matbematica  c  Philosophia,  e  terminando 
mais  cedo  o  anno  pelo  perdao  d'acto.  Aflirma 
comtudo  a  .Vcademia  o  aproveitaraento  lit- 
terario  dos  alumnos  ;  os  quaes,  contados  in- 
dividualmcnte  foram  sonicntc  9.2,  cnlrando 
ueste  numero  38  ouvintes.  Continnam  as 
causas  do  atrazo  d'este  estabelecimento,  pon- 
deradas  jii  'noutros  relatorios.  E  no  sentir 
da  Academia  eutre  outras  necessidades,  a 
falta  d'um  jardim  botanico  e  experimental ; 
a  falta  de  simplicidade  no  curso  de  pilota- 
gem;  a  falta  de  instrunientos  physicos;  a 
falta  dc  cadeira  para  o  ensino  do  curso  de 
construccoes:  tudo  isto  necessariamente  con- 
cone  para  que  d'esta  Academia  sc  nao  co- 
Iham  OS  fructos,  que  poderiam  esperar-se.  A 


sua  despeza  annnal,  deduzidos  os  impostos, 
anda  pela  (piantia  de  9:i3S^8I0  reis. 

Da  escbola  medico-eirurgica  de  Lisboa, 
pela  falta  do  competenle  relatorio,  nao  sabe 
0  Conscllio  ainda  (jual  foi  no  anno  Undo  n 
estado  da  instruccao.  No  anno  anterior  havia 
ella  sido  frequentada  per  40  alumnos;  per- 
tencendo  a  escbola  de  pliarmacia  unicamen- 
te  ^;  e  a  de  parleiras  8.  Na  parte  material 
do  estabelecimento,  earece  elle,  na  opiniao 
da  escbola,  de  se  melliorarem  os  seus  difle- 
rentes  estabeleeimentos  parliculares,  para  que 
se  possa  obter  o  progresso  tbeorico  e  pra- 
ctice das  sciencias.  A  despeza  ell'ectiva  d'esta 
eschola,  no  anno  anterior  ao  ultimo,  imporla 
na  (piantia  de  0:008^090  reis.  A  escbola 
medieo-cirurgica  do  Porlo  foi  no  anno  findo 
frequentada  por  il.'i  ahimnos.  Teve  a  escliola 
inedica  li8  doentes;  a  cirurgica  97:  lize- 
ram-se  16  opcracoes  cirnrgicas  mais  nolaveis, 
com  a  perda  de  so  dous  iiidividuos.  Teni  o 
conselbo  da  escbola  exigido  dos  alumnos  a 
repeticao  da  frequencia  das  cadeiras  d'ana- 
tomia no  2."  anno  preseri[ita  no  regulamento 
de  io  de  junbo  de  182o,  mas  omittida  na 
lei  de  20  de  septembro  de  1844.  Os  exanies 
dos  alumnos  tem  sido  regulados  pelos  esta- 
tutos  da  Universidade.  Estas  niedidas  extra- 
legaes,  que  a  escbola  julga  vantajosas  para 
0  adiantamento  <los  alunino.s,  pede  ella  que 
sejani  eonvertidas  em  lei;  assim  como  |)ro- 
poeni  outras  providencias  de  melboramento, 
j-i  indicadas  nos  relatorios  anteriores;  e  uo- 
meadamenle  para  a  cadeira  de  phariiKicia, 
pouco  frequentada.  A  despeza  elTecti.a  da 
escbola,  no  penultimo  anno,  foi  de  6:927^^300 
reis. 

Sobre  o  estado  da  escbola  medico-eirurgi- 
ca do  Fnncbal  nada  tem  chegado  ao  conhe- 
cimento  do  Conselbo,  porque  nunca  ella  Ihe 
envion,  conio  Ibe  cuinpre,  o  sen  relatorio ;  e 
jii  este  Conselho  no  relatorio  anterior  julgon 
por  conveniente  indicar  para  utilidade  do 
ensiuo  e  do  publico,  ou  a  suppressao,  ou  a 
refornia  d'esta  escbola  (raappa  n."  6). 

Resullados. 

De  tudo  0  que  exposto  lica  se  deprehendc, 
Senhora,  que,  seapesar  dosnublados  tempos, 
por  que  a  nacao  tem  passado,  nao  e  tao  desa- 
gradavel,  como  poderia  recear-se,  o  estado 
actual  da  piiblica  instruccao  portugueza  ;  solTre 
ella  comtudo  em  todos  os  seus  ramos  varias 
necessidaikis.  E  subslanciando  estas,  reconhe- 
ceu-se  que — a  instruccao  primaria  e  elemen- 
tar  ba  mister  de  ser  ampliada  pela  multipli- 
cacao  dos  escholas  d'um  e  oulro  sexo ;  que 
estas  sejam  pagas  com  exactidao  e  regulari- 
dade,  collocadas  em  edilicios  publicos,  e  visi- 
tadas  pelos  commissarios  dos  estudos,  ou 
pelos  seus  sub-delegados:  e  que  se  escolham 


231 


lions  professorcs  habilitados  em  escholas  nor- 
maes. 

A  iustrurcao  secumlaria  e  complementar 
carece  de  dilatar  a  osjiliera  do  eiisino,  na 
parle  relaliva  as  discipliiias  iiulustiiaes: 
adiantar  os  conhecimiiiilos  practicos  v,  do 
applicarao,  tao  necessaries  para  o  progresso 
d'agnculUira,  e  para  o  desinvolvimento  de 
todas  as  artcs  e  officios.  E  preciso  vcdar  o 
ensino  particular  aos  professorcs  publicos,  c 
aos  particulares  iiiio  lia'uilitados  com  o  com- 
petente  liliiio  do  capacidade  litleraria. 

A  inslriiccao  superior  e  professional  pre- 
fisa  d'ura  curso  economico-admiiiistrativo  na 
Universidade:  c  tanto  ueste  como  nos  de- 
mais  centres  scientilicos,  tarece-se  d'instru- 
nientos,  macliinas  c  utensilios;  sem  os  quaes 
nao  podcm  ter  andaraento  as  scicncias,  que 
mais  induencia  exercem  na  prosperidade 
dos  povos.  Muito  conviria  em  tim  ao  maior 
aperfeicoamcnto  c  utilidade  das  scicncias, 
e  mesmo  (i  economia  do  thesouro  publico 
reduzir  todos  os  estabelecimcntos  d'instruc- 
cao  superior  a  urn  so — a  Universidade;  como 
este  Conselbo  ja  submetteu  a  alta  considcra- 
fao  de  V.  M.  no  seu  rclatorio  annual  do  30 
de  novembro  de  1849.  Mas  para  tudo  isto 
se  elTectuar  siio  nccessarias  grandes  despezas. 
Passou,  e  verdade,  a  nossa  opulencia  e  gran- 
deza  antiga :  perraanecera  porem  os  elevados 
sentiiuentos  do  povo  portugucz,  e  o  seu  natu- 
ral amor  de  tudo  o  que  e  nobre,  grande  e 
glorioso.  Esta  consideracao  alenta  as  espe- 
rancas,  que  o  Conselbo  nulre  de  ver  um  dia 
tloreseer  mais  a  instruccao,  conllando  na  alta 
0  poderosa  proteccao,  com  que  V.  M.  desve- 
ladaniente  aniraa  as  letras,  as  artes  e  as 
scicncias.  Coimbra,  era  Conselbo  de  2S  de 
novembro  de  1851. 


JUIZO  SQBRE  A  ElEiDA  BRASiLEIRA. 

Quiz  0  exm."  sr.  conselheiro  Vice-Reitor 
da  Universidade,  que  eu  lesse  e  avaliasse  a 
Eneida  BrasUeira,  ou  Traduccao  da  EpopSa 
de  Virgilio,  por  Manuel  Odorico  Mendes.  Obe- 
deci  com  a  costumada  promptidao ;  e  a  mi- 
nba  obediencia  foi  compensada  com  a  leitura 
aprazivel  d'csta  nova  traduccao.  Alii  achei 
fielmente  trasladados  era  a  nossa  lingua  e 
idioma  os  conceitos,  as  paixoes  e  os  senti- 
nientos  do  grande  epico  Latino;  e,  sem  di- 
minuicao  nem  accrescimo,  repostas  as  suas 
niesmas  imagens,  e  ainda  muitas  das  suas 
flguras.  Bem  sabia  o  sr.  Mendes  que  o  vcr- 
dadeiro  traductor  nao  deve  ser  paraphrasta, 
senao  fielcopiador  e  retratista,  pdus  interpret. 
Alii  apparccera  postos  em  luz  clara  varies 
passes  da  Eneida  onde  illustres  commentado- 


rcs  nao  haviam  atinado  com  o  genuino  sen- 
lido  virgiliano,  mas  que  o  cximio  traductor 
pede  alcangar.  Isto  licara  cvidente  a  qucm 
consullar  as  cxccllcntes  notas,  que  seguem 
cada  um  dos  cantos  do  poema,  c  era  que  o 
mesmo  ostenta  vasta  erudicao,  e  eritica  judi- 
ciosa  e  csclarecida. 

Elegante,  limada  e  polida  0  a  sua  plirase; 
e  seus  versos  correm  quasi  scmpre  com  faci- 
lidade,  sao  de  ordinario  cadeutes  e  numero- 
sos.  A  perspicuidade,  a  precisao,  e  ainda  a 
concisao  bem  inlcndida,  a  propriedade  dos 
termos,  o  gosto  delicado:  todas  estas  virtu- 
des  la  olTerecem  seu  agradavel  donaire.  Esse 
grande  .segredo  dos  meslres,  a  barmonia 
imitaliva,  que  era  pinta  pela  onomatopea  as 
qualidades  scnsiveis  dos  objectos,  ora  cmpre- 
ga  a  analogia  dos  nuineros  ou  rbythmos  com 
as  ideas  ou  com  os  sentimenios;  essa  bella 
barmonia,  a  que  neubuma  das  linguas  mo- 
deruas  sc  presta  por  ventura  tanto,  corao  a 
nossa,  em  innumeraveis  phrases  e  versos  a 
descobrira  o  leitor  de  tacto  fine.  Se  fora  pro- 
posito  meu  dar  aqui  toda  a  analyse  da  tra- 
duccao, mui  longe  me  levaria  a  simples  indi- 
cacao  dos  verses  onomatopaicos,  que  'n-ella 
brilham :  bastera  para  exemplo  os  que  vou  a 
citar.  Nao  pintam  ao  vivo  o  arquejo  d'ura 
cansado  estes  biatos: 

<c  Crebro  o  anhcio  abala  os  mcmbros  todos  ?» 

Nao  se  figura  bem  a  queda  do  touro,  der- 
ribado  por  Dares,  'na  queda  d'este  verso  : 

«  Prostra-se,  area  e  no  chaoseestira  o  boi?» 

Onde  quasi  se  repoe  o  hemistichio  latino, 
procuiiibit  humi  bos.  Nao  representa  o  uivo 
dos  lobes  aquelle  verso : 

<i  Enormes  viMtos  ulular  dc  lobos?)) 

bem  sirailhante  ao  original — formae  magnorum 
ululare  luporum;  o  que  tambem  laz  lembrar 
0  —  lupi-s  idulanlibus  vrbes.  0  .som  dos  maru- 
Ihos,  ferindo  os  rochedos,  nao  parece  elle 
ouvir-se  aqui: 

a  Roucas  do  salso  cheque  as  rochas  soam?» 

Nao  parece  ver-se  a  hydra  do  Tartaro  abrir 

suas  boccas,  'neste  passe: 

((  Cincoenta  atras  guelas  hydra  enormc 
«  Dcntro  arreganha?" 

E  'nest'outro,  o  rangido  das  porlas  sobre  os 
gonzos,  e  o  sopro  terrivel  da  trombeta  guer- 
reira  : 

CI  Os  umbraes  dcscerrando  rangedores, 

«  Priiclama  a  gucrra;  guerra  os  mooos  bradam, 

n  Roucas  ereas  trombetas  resonando?u 

E  polo  contrario,  que  docura  'na  repeticao 
da  euphonica  letra  —  /  —  'neste  logar? 

«0  collo  inclina  a  laoguida  papoila!» 


232 


0  que  nos  traz  a  memoria  aquell'outras  ono- 
malop6as  do  terno  Mantiiaiio;  —  est  mollis 
flumma  medullas;  c  —  Mollia  luteola  pimjil 
vaccinia  caliha — . 

De  mancira  que,  assim  como  'uesta  hri- 
Ihante  virtude  I'oi  a  todos  os  poetas  latinos 
niui  superior  Viri;ilio,  assini  vejo  sobresaliir 
na  niesnia  aos  nossos  o  sr.  Mendes. 

Malta  graca  dao  tanibeni  a  sua  dirrao 
cstes  neologismos, — circumvoar,  empubescer, 
rechamar,  alifurjo,  leyifero ,  saxisoiiante  ;  e 
outros  multos.  Mas,  em  I'orjar  palavras  novas, 
algneni  quizcra  que  tao  bom  traduitor  fosse 
mais  sobrlo:  dahitur  licentia  sumtu  pudenler. 
Quern  souber  todavia  que,  so  n'os  Lusiadas, 
Camues  introduzira  duzcntas  palavras  latinas; 
e  que  depois  d'elle  em  todas  as  eras  quasi 
todos  OS  bons  poetas  Coram  innovando  pala- 
vras; nao  estranliara  tanto  a  sobejidao  dos 
neologismos  em  todas  as  paginas  d'esta  tra- 
duccao.  Para  cstas  innovaeoes  tinha  o  tra- 
ductor  pedido  venia;  e  tem  elle  sua  principal 
descarga  na  necessidade;  sendo  que,  como 
elle  em  suas  notas  mostra,  so  pnr  aquell'ar- 
te  podia  elle  guardar  a  preeisao,  que  tao 
justamente  ama,  e  copiar  a  justeza  das  idi)as 
e  forfa  dos  pensamentos  do  seu  prototypo. 
Neni  esta  liberdade ,  inventada  no  e.xempio 
c  no  raciocinio,  se  ncgou  jamais,  nem  ha- 
de negar,  em  quanto  as  boas  letras  tivercm 
preeo,  maiormente  aos  poetas.  Assim  o  pre- 
disse  0  mais  judicioso  critico  latino  :  — 

Licuit  semperque  licehil 

Signatum  praesente  nota  procudere  notnen. 

E  a  poesia  uma  creacao  inspirada ;  e  crea- 
das  ideas  novas,  I'orfa  ecrear  palavras  que  as 
signifiqueni.  Mas  quern  traduz,  acha  as  ideas 
creadas?  assim  e:  mas  quando  o  traductor 
niio  descobre  na  lingua  palavras  que  cxpri- 
mam  toda  a  forea  das  ideas  do  auetor,  que 
ha  de  fazer?  eis  a  necessidade.  Nao  e  poreni 
0  uso  dos  eruditos  oarbitro,  ojuiz  eo  rei  da 
linguagem?  sim:  mas  eu  anlevejo  ([ue  a  au- 
ctoridade  de  tao  grande  philologo,  qual  o  sr. 
Mendes,  que  cu  ja  estimo,  amo  e  respeito, 
ha  de  achar  quem  abrace  os  sens  neologi.s- 
mos ;  ver-se-bao  elles,  correndo  o  tempo,  en- 
trar  no  dominio  do  uso.  Assim  se  ba  seguido 
0  exempio  d'outros ;  assim  se  tem  enriqueeido 
e  hao  de  curiquecer  as  linguas.  Puristas  ha- 
vera  de  sentir  menos  conforme  ao  meu:  em- 
bora  :  outros  sentirao  commigo.  Grande  e  o 
service,  que  a  nossa  litteratura  fez  o  tradu- 
ctor. Longe  de  mim  o  rebaixar  as  traduccoes, 
que  ja  possuimos,  das  obras  de  Yirgilio,  in- 
teiras,  e  em  fragmentos,  como  o  do  quarto 
canto  da  Eneida,  admiravelmente  tradusido 
por  Manuel  Matbias.  Mas,  das  traduccoes 
e  opiniao  minba,  e  nao  so  minba,  senao  a  de 
dous  respeitaveis  litteratos,  que  esta  traduc- 
jao  a  todas  leva  a  palma. 

A.  c.  B.  DB  FIGUEIREDO. 


MEMORIA  HISTORICA  E  CRITICA 

Kolire  n  rovolsirno  Q-.icorsi  ISa«  lii-oii 
a  cor<in  a  n.  Kanrito  II.  [»ara  a  <Ii«r  ko 
<-oii(le  flo  Boloalin,  ;>oii  irinno. 

Cuntiuuado  de  pa;^.  2^0. 


XI. 


Jii  vimos  (pjal  era  o  cstado  deploravel  do 
reiiio  principalmente  na  ultima  decada  do 
reinado  de  Sancbo  II.  Aos  motives  de  des- 
goslo  que  causava  a  imbecilidade  e  indolencia 
do  rei,  outro  novo  se  levaiitava  com  o  casa- 
menlo,  (jue  elle  lizera  com  D.  Mecia  Lopes  de 
Ilaro,  sua  parcnta.  Este  casameuto  dava  oc- 
casiao  a  nova  perturbacao  e  novos  procedi- 
menlos  da  curia  de  Uoma  c  dos  prelados  do 
reino  para  a  separacao  dos  conjuges,  por  causa 
do  parentesco  que  entre  ambos  liavia,  e  t'alta 
de  dispensa  matrimonial.  Uepresentando  a 
fabiila  do  Edipo,  condemnado  a  uma  negra 
fatalidade,  parece  ter  sido  Saucho  fascinado 
a  um  ponto  tal,  ijue,  desprczando  adraocsta- 
coes,  e  nao  I'azendo  cabedal  do  parerer  de 
sens  mais  inlimos  conselliciros,  deixou  lavrar 
0  incendio  para  depois  mais  o  nao  poder  apa- 
gar. 

Os  prelados  do  reino,  entre  os  quaes  devemos 
contar  o  bispo  de  Lisboa,  que,  ja  ao  tempo  do 
chamamento  para  o  concilio  de  Roma  por 
Gregorio  IX  se  achava  rcsidente  na  curia, 
0  bispo  do  Porto ,  o  arcebispo  de  Braga  ,  e 
mestre  Tiburcio  bispo  eleito  de  Coimbra,  todos 
partiram  ,  conforme  a  carta  de  convocacflo  , 
para  assistirem  ao  concilio,  que  em  Uoma  devia  I 
celebrar-se  ;  mas,  como  por  causa  da  gucrra 
com  Frederico  II  se  nao  podesse  ajunctar  este 
concilio,  alguns  dos  prelados  nao  chegaram  a 
Roma.  Assim  acconteceu  a  U.  Tiburcio,  eleito 
de  Coimbra,  que,  tendo  para  alii  partido  a  ID 
de  novembro  de  12i0,  cbegou  a  Palencia, 
sua  patria,  e,  constando-liie  do  desbarato  da 
armada  e  prisao  dos  prelados,  que  'nella  lam, 
nao  passou  mais  avanle,  e  voltou  nos  fins  de 
julbo  para  a  sua  egreja  '.  Aqui  se  conservou 
D.  Tiburcio,  e  foi  durante  este  tempo  que 
teve  logar  a  intimacao  do  eleito  de  Camora, 

'  O  prior  do  S.  Bartholomeu  que  depois  foi  thesou- 
reiro  d'esta  se.  e  vifiario  do  bispo,  jura  na  citada  inque- 
ri(;.^o,  que  D.  Tiburcio  Bra  charaado  a  Roiua  por  Gregorio 
IX,  e  partira  para  alii  a  10  de  novembro  de  1*240,  vol- 
tando  nos  fins  de  jiillio  do  anno  seguinte  sem  chegar  ao 
destino  para  que  tinha  sallido. 

<*  Dixit  quod  T.  episcopus  prima  vice  fuit  Tocatus  a 
"  domino  (Jregorio  ad  curiam  Romanam  (juando  prelati 
u  fuerunt  capti  et  tunc  ivit  usque  ad  Palentinam  civita- 
u  tem,  et  ibi  and ito  quod  erant  prelati  capti,  non  ivit  ultra, 
«  stetit  in  Castella  toto  tempore,  <iuo  rediit  ad  ecclesiam 
I*  suam  in  finemensis  julii.  Interrog.  qua  die  arrei>uit  iter? 
11  dixit  quod  in  vigilia  beali  Martini,  et  hoc  vidit  et 
11  publice  dicebatur.  " 


233 


para  que  o  rci  fizesse  entrogar  a  s6  de  Coimbra 
o  dinheiro,  que  a  ella  deixara  seu  pae  Affonso 
II,  de  que  ja  dei  notiiia. 

Ja  a  este  tempo  a  corte  de  Roma  estava 
sabedora  do  que  se  passava.  Nao  so  os  comis- 
sarios,  que  Iniiocencio  IV  mandara,  o  haviam 
ja  inforniado,  se  nao  tambem  os  prelados,  (jue 
'naquelle  tomiio  passavam  a  curia,  e  alii  con- 
corriam  com  liequencia,  haviam  de  ter  dado 
parte  de  tudo  ao  ponlilice,  que  precalado 
toraava  entao  a  seu  cuidado  melliorar  a  sorle 
do  reino.  Em  maio  de  1245  niandava  lu- 
noccncio  expedir  bulla  aos  bispos  do  Porlo, 
c  Coiuibra,  e  ao  prior  dos  Domiiiicos  para 
admoeslarem  Saucbo  II,  para  se  abster  do  com- 
portanieiUo,  ([ue  ate  alii  tinba  tido;  por  cobro 
nos  abusosque  havia  deixado  correr  com  tan- 
ta  soltura,  e  remediar  os  males,  que  allligiam 
a  uacao,  e\horlando-o  a  emenda  e  reparacao 
de  tantos  aggravos.  Que  raeios  elles  empre- 
garam  i)ara  conseguir  este  iim,  que  resposta 
tivcram  do  rei,  e  ouUas  mais  circumstancias 
accessorias,  nao  sabemos,  nem  mesmo  importa 
ao  nosso  objocto,  que  todo  se  dirige  a  mostrar, 
que  tal  revolucao  nao  fora  so  feita  peia  insolen- 
cia  dos  ecclcciasticos  e  sua  extraordinaria  pre- 
potencia,  mas  que  'nella  tomaram  parte  todas 
as  mais  classes  da  socicdade,  como  temos  visto 
nas  revolucoes,  que  tao  I'requenles  tern  sido 
ha  meio  seculo  para  ca  '. 

Em  maio  (1245)  partiram  os  prelados,  que 
no  reino  ainda  estavam  ;  entre  os  quaes 
conto  D.  Tiburcio,  para  assistir  ao  coucilio, 
a  que  tinhani  sido  chamados  por  Innocencio 
IV  ,  e ,  chegados  a  Lyao ,  deram  parte  do 
que  haviam  passado  com  Sancho  II,  e  do 
nenhum  resultado,  que  delle  tinham  obtido, 
continuando  tudo  no  mesmo  estado  deplora- 
vel,  em  que  o  reino  se  acbava  na  parte  adnii- 
nistrativa  e  judicial.  Era  a  ultima  tentativa  , 
que  a  corte  de  Ilonia  fazia,  para  evitar  que 
Sancho  se  precipitasse  no  fojo  em  que  dcfgra- 
cadamente  cabiu.  Se  alguem  ([uer  ver  'nestc 
desenlace  revolucao  d'ante  mao  preparada, 
nao  comprehendo  ,  como  tal  se  possa  inCerir 
do  que  temos  exposto.  Em  todo  este  acconte- 
cimento,  nao  podemos  deixar  de  notar  esta 
cega  fatalidade,  que  muitas  vezes  nos  acompa- 
nha ;  este  destinn  da  providencia  que  nos  nao 
deixa  ver  o  prccipicio,  a  cuja  borda  estamos, 
ale  que  finalmente    iielle  cabimos.   Foi  exac- 

'   MelloFreire  no  vj,  XLVII  da  siiaHistoria  dedireito, 

("  era  outrcis  iogares  paralleios  diz,  fallando  d'esla  catas- 
trophe «  fnisse  in  priiiiis  nimiam  ecclesiasticurura  poteii- 
«  tiam,  et  superstilionum  .  .  .  quod  rex  .  .  .  eorum  vio- 
«i  lentias  reprimeret  cnrri/ptissimos  mores  emendaret  " 
etc.  Isto  diz  de  todos  os  eccle.«iasticos,  e  falando  dos 
seculares  diz  ti  (piorundara  nubiliuni.  "  Comparem-se 
com  esta  outras  similhautes  tiradas  parallelas.  e  veremos 
qual  sera  o  espirito  de  partido,  com  que  este  X.  escreve. 
NaHistoria  de  Portugalosr.  A.  Herculano.  naosdchama 
prelados  turljulentos  a  todos  os  d'este  reino  ;  sen3o  ainda 
conspiradores  etc.  pag.  394  not.  3,  1."  edi^.  Mas  estas 
sao  as  ideas  do  seculo,  que  so  no  clero  quer  ver  os  con- 
spiradores. e  so  'nelle  os  crimes  .' 


tamcnte  o  que  accontcceu  a  este  rei !  Despre- 
zando  as  admoestacoes,  nao  daudo  ouvido  as 
queixas,  nao  reparando  os  aggravos  ;  confir- 
mava  U.  Sancho  as  informacues,  (|iie  ja  na 
curia  constavam ;  e  agora  de  novo  inforniado 
pidos  prelados,  pormuitos  dos  nobres  e  mag- 
nates do  reino,  que  alii  concorreram,  levando 
cartas  e  representafoes  por  parte  de  nobreza, 
e  pela  de  diversas  corporacOes,  e  militares  ', 
Innocencio  IV  pela  bulla  Grandi,  non  im- 
merito  enviava  o  conde  de  Bolonba  a  Portu- 
gal, como  governador,  e  pessoa  a  quem  com- 
petia  a  administracao  do  reino,  sendo  succes- 
sor de  seu  irmao,  se  este  morresse  s(mu  lilhos; 
nao  sendo  de  sua  intencao  prival-o  da  coroa, 
nem  tirar  a  successao  a  seu  lilho  legitimo,  se 
0  tivesse,  mas  somenle  para  atalhar  os  males, 
que  corriam  com  grande  soltura,  pclo  reino; 
administrar  a  justica  e  punir  os  delin(|uentes, 
restabelecendo  a  ordem,  e  tranquillidade  em 
todo  elle  '. 

Pelos  lins  d'este  anno  cntrou  D.  Tiburcio 
com  0  conde  de  Bolonba,  desenburcando  em 
Lisboa,  sem  resistencia  :  e  cm  4  d'abril  do 
seguinte  anno  um  e  outro  entraram  em  Leiria 
onde  foram  festejados,  recebendo  de  todos  bom 
gasalbado  \  Algum  tempo  se  demorou  nesta 
villa  0  conde  de  Bolonha  com  seu  companheiro 
D.  Tiburcio,  em  cujo  tempo  coraecou  este  bispo 
as  graves  questoes  com  os  padres  Cruzios,  que 
0  tolhiam  de  exercitar  as  ordeus  episcopaes 
'nesta  villa  de  Leiria,  que  entao  era  do  seu 
bispado.  Desta  epoca  em  diante  acho  este  pre- 
lado  enipregado  no  governo  da  diocese,  tendo- 
se  passado  a  Monte-Mor,  onde  se  acbava  a 
raiuha  D.  Thereza;  e  onde  assistira  i'alto  de 
meios,  pelo  sequestro  em  que  tinha  as  rendas. 
0  arcebispo  de  Braga  D.  Joao  Egas  achava-se 
em  Ohidos\  lalvez  nao  quercndo  desamparar 
0  conde,  em  cujo  service  viera;  e  d'esta  villa 
data  elle  uma  sentenca,  conlirmaudo  certa  de- 
cisao  dada  a  D.  Tiburcio  sobre  a  qucslao  que 
teve  em  Leiria  com  os  padres  de  Sancta  Cruz  •. 

Tanlo  que  D.  Sancho  soube  que  o  bispo 
de  Coimbra  vinha  executor  do  mandado  apos- 
tolico,  fez-lhe  sequestrar  todas  as  rendas,  tomar 
celleiro  e  casas  de  residencia,  assim  como  as 
de  todo  0  cabido,  que  egualmeute  se  recolheu 
foragido  a  Monte-Mor.  D'estes  reudimentos 
dispunha  Gomes  Eanes  Portocarreiro,  a  quem 
por  mofa  chamavara  o  bispo  de  Coimbra,  se- 

'  .  .  .  Communitalum  baronum  ,  militum  ac  etiam 
noljilium  dommorum.  Cap.  Grand.  Deer,  de  suplenda 
neu'l.  pral.  in  6.° 

-  ]d.  ibid. 

^  Doc.  mandado  fazer  por  D.  Tiburcio  em  Leiria 
IV.  Non.  April.  Era  1284.—"  T.  dei  gratia  Collimbrien- 

sis   episcopus cum  domino  comite   Bolonie   de 

mandato  apostolico  incedentes  ad  villam  de  Leirena  ve- 
nioius  .  .  .  et  cum  idem  comes  ...  a  toto  populo  ejusdem 
loci  fuisset  receptus  —  etc.  Gav.  do  bispado  n.°  227. 

*   Ibid. 

>  Dat.  apud.  Obidos  IV.  Kal.  Jul.  E.  1284.  J.  pro- 
missione  divina  arcbiepiscopus  Bracar.  Assim  se  intitula 
'nesta  data.  Ibid. 


234 


gundo  ilepSem  as  tcsteniunluis ,  c  por  elle 
foram  adminlslrados  ate  a  saliida  dc  Sanclio 
para  Toledo.  'Ncsta  ultima  villa  fallecou  depois 
D.  Tiburcio  a  21  de  novembro  de  124(),  e 
poucos  dias  depois  tcve  iogar  'iiella  a  eleioao 
de  mestre  Domingos,  e  nao  Durando,  como 
cm  alguus  catalogos  se  lt\,  que  em  Leiria  I'oi 
(Onlirmado  pelo  primaz' ,  que  ou  tinha  mudado 
de  Ohidos  para  aquclia  \illa,  ou  linha  para 
l.-i  ido  por  alguni  outro  motivo,  que  se  ignora. 

Se  pois  segiiirmos  os  passos  dados  por  D. 
Tihuriio  durante  esta  revohirao,  vcromos  'nei- 
le  deterniiiiado  ajmlogista  do  governo  do  conde, 
e  ainda  deeidido  parlidario  do  seu  Iriunipho 
sobre  o  irniao  ;  luas  nao  poderemos  taxal-o 
de  turlmlfiilo  e  conxjiirador,  nem  de  lautor  de 
pianos  tenel)rosos  para  destruir  o  governo  de 
Saucho,  como  i)or  alguem  tern  sido  acoiniado. 
Venios  OS  prelados  e  baroes  do  reino  irritados 
contra  os  aggravos,  que  entendiam  deverem 
ser  reparados,  procurarem  todos  os  meios  de 
sahir  da  situarao,  em  que  se  aehavam,  scm  o 
poderem  conseguir,  e  na  presenca  de  tantos 
males,  e  de  tantas  calamidades,  ser  so  a  mu- 
danca  da  administracao  do  reino  o  unico  re- 
raed'io.  que  poderia  dar-se  a  descompostura, 
era  que  se  acbava,  c  o  unico  modo  de  sabir 
facilmente  dc  lerreno  tao  minado  pelos  dcscon- 
certos  da  sua  govcrnacao,  e  tao  mal  seguro. 
Como  0  desprezo  monstruoso  de  toda  a  boa 
ordem  foi  senipre  a  divisa  de  Saiicho  II,  ao 
menos  nos  ultimos  annos  do  sen  reinado,  e  o 
breve  apostclico,  nao  o  privando  do  reino, 
nem  a  elle  nem  a  seu  legilimo  bcrdeiro,  se 
por  Ventura  o  tivesse,  fora  'ueste  caso  o  recurso 
aos  tres  cslados  do  reino  o  unico  interprete 
de  tao  criticos  momentos,  e  talvcz  o  unico 
mcio  de  salvacao,  mas  nem  ainda  assim  se 
fez,  e  sera  embargo  dos  adherentcs  e  dos  auxi- 
iiares  que  a  favor  de  Sancho  tercavam  para 
0  salvar,  a  sua  cauza  foi-lhe  avessa,  e  a  forca 
das  circuraslancias  a  decidiu  nao  sem  con- 
testacoes. 

D.' Sancho  com  sua  irabecilidadc,  repouso 

'  Por  morledeD.  Tiburcio  foi  eleito  mestre  Domingos, 
liispo  desta  se,  pelo  cabido,  que  entao  estava  reunido  'na- 
quella  villa.  Na  Historia  de  Portugal  citada  liv.  V.  pag. 
413  chama-se-lhe  Durando:  isto  por^m  foi  engaiio ;  por 
c|ue  em  toda  a  serie  chronob)gica  dos  bispos  de  Coimbra 
nao  aparece  um  so  com  tal  nome,  ao  menos  que  por 
documeiitos  se  pussa  provar,  posto  que  assim  se  fa(;a 
men(;i;o  em  alguns  cattialogos  menos  exactos.  Que  fora 
mestre  Domingos  o  eleito,  consta  claramenle  da  citada 
inquiri^ao  em  que  as  proprias  testemunhas  que  oelegeram 
assim  o  juram  —  magister  dominicus  electiis  P'st  mortem 
domni  Tibmcii.  —  Se  elle  port'm  seguiu  a  politica  de 
seu  antecessor,  [larece  natural,  porque  as  mesmas  teste- 
munhas juram  que  elle  nao  podia  vir  a  Coimbra  com  receio 
do  rei  — sine  periciilo  caiitionis.—O  arcebispo  primaz 
o  confirmou  logo  em  Leiria,  para  onde  |)artira  depois  da 
eleioao  capitular,  como  afirmam  as  mesraas  testemunhas. 
Parece-me  ser  este  bispo,  aquelle  conego  que  assigna 
com  esta  disignagao  na  doa(;ao,  e  divisao  das  rendas  do 
bispado  pelo  bispo  D.  Pedro  Soeiro  ,  e  cabido  em  1210. 
Documento  na  Gav.  12,  R.  2,  m.  1,  n.»  35,  em  que  se 
vi  a  assignatura  —  magister  dominicus  —  immediata  ao 
arcediago. 


e  candura  facilitou  sua  ruina,  e  dcu  causa  a 
revolucao,  (|ue  terminou  o  eslado  lamentavel 
do  reino,  cobrindo-se  com  a  loisa  sepulchral, 
longc  da  patria,  novohinlario  asylo  que  csco- 
Ihcra  Lameiitaremos  a  fatalidade  ou  antes 
cegueira,  com  que  foi  fascinado,  para  o  coii- 
duzir  a  tao  deploravcl  situacao ;  mas  nao 
imputemos  a  coiijuracao  nera  a  faccOes  o  que 
fora  lilho  do  erro,  e  imprevideiicia  com  que 
governou,  ou  deixou  goveruar  ministros  am- 
liiciosos,  e  mal  avisados  conselheiros,  ou  va- 
lidos,  ([ue  Ihe  prepararam  tao  terrivcl  catas- 
trophe. 

Do  (;j'>  tenlio  exposto,  lanto  no  (jue  respeila 
a  historia,  como  no  que  respeita  a  critica, 
ver-se-ha  que  o  nieu  tim  era  ser  francamente 
imparcial.  Serito  as  minhas  obscrvacoes  justas? 

l)e('idain-o  os  outros  a  vista  do  ipie  (ica 
pondcrado.  Nenhum  proveito,  ncnhnma  gloria 
prociu'o  niais,  do  <|ue  levar  a  mais  alto,  mas 
devido  ponto,  a  estima  do  nosso  clero,  sempre 
docslado  por  sens  apostados  antagonistas  :  e 
por  isso  concluirei  com  os  seguintes  versos 
de  Ovidio. 

Caniiiiiilnis  qitnero  miserant/n  altliein  renim  : 
Preiiiii,  si  studi'i  cmseqttur  istii ,  sat  est. 

M.  R.  DE  VASCO.N CELLOS. 
P.   S. 

J  a  a  presento  memoria  estava  escripta  , 
(|uando  ao  .seu  A.  constou,  que  na  redaccao 
do  Instituto  se  achava  uma  carta  do  sr. 
Herculano  contra  os  tres  primeiros  capitulos 
d'esta  memoria. 

Nao  se  reputa  seu  A.  nem  se  lisongea  de 
ser  infalivel  no  apurado  exame  que  fez  dos 
documenlos,  de  que  se  serviu;  na  diligencia 
que  empregou,  e  nos  juizos  que  inlcrpoz  a  cerca 
dos  factos  que  rcferiu  ;  e  'neste  caso  vera 
tranquillo  a  sua  censura,  se  for  arguido  de 
diligencia  menos  esmerada,  ou  de  mal  forniatlo 
discurso. 

Sua  intencao  foi  so  o  amor  da  verdade,  c 
0  csclarecimento  de  succcssos  menos  hem  .iprc- 
ciados  atcgora.  Se  os  enlendeu  hem  ou  se  os 
entendcu  mal  o  leitor  imparcial  e  sem  pre- 
venjao  o  decidira.  Nao  deixara  com  tudo  de 
responder  iiquella  missiva  depois  de  publicada 
nas  paginas  d'este  jornal. 


OBSERVATIONS  SUR  LA  DECOUVERTE  D'UN  LAC  DANS 
L'AFRIQUE  AU  SUD  DE  L'EQUATEUR. 

L'Athenwtm  du  6  octobre  a  public  un  article 
sur  la  decouverte  d'une  mer  interieure  dans 
I'Afrique  equatoriale.  On  y  lit  que  M.  Reb- 
mann,  missionnaire  a  Mombas,  venait  d'en- 
voyer  a  M.  le  docteur  Pelerraann  une  carte 
represcntant  cette  mer  comrae  occupant  le 


235 


vastc  espace  situe  entre  I'equateur  et  le  10° 
de  latilutle  sud  en  longueur,  et  entre  Ic  23" 
et  le  30"  Jc  longitude  est  de  Greenwich  en 
largeiir,  de  nianiere  que  le  lac  Xijassa  Ibrnie 
son  evtremile  sud-est.  La  decouverle  s'ap])iiie 
sur  les  teraoignages  concordants  d'un  grand 
nonibre  de  nalureU  vivant  dans  le  \oisinagc 
de  la  nier  inlerieiire  ou  sur  ses  bonis." 

Jusqu'ii  present  la  decouverle  de  .M.  Reh- 
manii  parait  au  docleur  Petennann  n'etre 
etahlie  ijne  dans  ce  sens  qu'il  n'y  a  qu'un  seul 
grand  lac  dans  rArri(iue  meridionale  :  telle 
est  la  nouvclle  qui  nous  est  donnee.  Mais 
depuis  que  nous  eludions  les  cartes  anciennes, 
et(iuun  grand  nonibre  de  ces  prccieux  monu- 
ments de  la  geographic  sont  sous  nos  ycu\, 
11  est  I'ort  curieux  au  point  de  vue  de  I  hi-<toire, 
des  progres  de  la  science  geopraphique,  et 
dans  I'liiteret  des  exploratcurs  niodcrnes  , 
lorsqu'il  s'agit  de  nouvelles  decouverlcs  , 
d'examiner  si  les  anciens  ont  cu  ou  non  la 
connaissance  des  points  dont  il  s'agit ,  ct 
s'ils  les  ont  marques  sur  leurs  carles. 

L'etudo  de  la  cartographie  des  w"  et  \vi' 
siecles,  etait  encore  dans  I'enfance  en  1807. 
Cependant  deja  a  cetle  cpoque',  au  nioven 
soil  des  cartes  inedites  dressees  a  Dieppe,  en 
lb47,  par  Nicolas  Valard,  d'apres  les  cartes 
des  navigateurs  portugais,  soil  d'une  autre 
carte  de  la  meme  epociue,  et  qui  a  appartenu 
a  lord  Oxforde  (qui  existe  au  .Musee  britanni- 
que),  Barbie  du  Bocage  prouvait  que  la  Nou- 
velle-Hollande  avait  ete  decouverle  par  les  ■ 
Portugais  bien  avaut  I'arrivee  des  llollandais 
daus  ces  parages,  opinion  qui  avail  ete  ega- 
lenient  adoptee  par  Dalrimple,  Pinckerton,  de 
la  Kochette,  Coqueberl  el  d'autres. 

Uudson,  en  lOlO,  entra  dans  un  detroil  oil 
11  trouva  plusieurs  iles,  et  qui  condui^ait  dans 
un  grand  goll';  on  a  donne  son  noin  ii  ce  de- 
troit  ou  bale,  taudis  que  plus  d'un  siecle  avant 
lui(loOO),  les  deux  freres  Cortes  Heals,  et  d'au- 
tres marins  portugais  apres  eux,  avaiont  ex- 
plore ces  parages,  le  inenie  goile  parsenie 
d'iles  se  trouvant  tigure  dans  les  cartes  de 
Jean  Freire,  dressees  en  lo86,  et  dans  d'au- 
tres du  xvi'  siecle,  oil  Ton  remarque  aussi 
la  cote  de  I'Amerique  septentrionale,  recon- 
nue  jusqu'au  72"  de  latitude  boreale,  et  les 
cotes  couvertes  de  nonis  portugais,  jusqu'au 
Cabo-Brunco ,  situe  par  le  72'  de  latitude 
boreale,  par  consequent  dans  les  latitudes 
elevees  de  la  mer  de  BalTins. 

Pasco  Aligo ,  ambassadeur  de  Yenise  a 
Lisbonne  en  1500,  avait  ete  temoin  de  I'arri- 
vee de  Corte-Keal  et  des  Indiens  que  ce  na- 
vigalcur  conduisit  a  Lisbonne.  II  inlornia  son 
gouvernement  de  cet  6veneinent  dans  une 
leltre  qui  constata  cetle  decouverle. 

Le  fait  ineme  de  la  catastrophe  dont  cet 
inlrepide  niarin,  lors  de  son  second   voyage 

'    V.  M'nilcur  universcl  de  1807.  \\  761. 


aux  regions  arctiques,  fut  victime,  ainsi  qi  e 
son  frere,  qui  etait  alle  a  sa  recherche,  parait 
deniontrer  ((u'lls  avaienl  pi'uetrc  dans  la  mer 
Pohiire;  car  le  capitaine  Mac-Clure,  (|Hi  est 
uno  si  grande  autorite  (juand  il  s'agit  des  voya- 
ges arcli(iues,  dit  «  ipie  qiiiconque  a  ete  en- 
traine  dans  la  pleine  nier  [lolaire,  serait  inu- 
lilemont  socouru,  car  aiicun  navire  entre 
dans  eel  abime  n'en  pourrait  sortir.  »  Nean- 
nioins  les  nonis  que  ce  niarin  imposa,  lo.s 
de  son  premier  voyage,  a  ces  regions  par  lui 
decouverlcs,  sont  restes  consignes  dans  les 
cartes  anciennes,  coninie  ceux  de  Terre  du 
Labrador,  Terre  des  Corles-Iteals,  et  surtout, 
il  une  latitude  plus  elevee,  ceux  de  Terra- 
Verde,  et  de  Cabo-Branco,  qui  sc  trouve  in- 
dique  aussi  avec  ce  nom  (d'apres  le  recit  de 
Corte-Real ,  transmis  a  Yenise  par  Pasco 
Aligo),  dans  un  portulan  tres-rare,  dresse 
par  Pietro  Capo  de  Insula  en  1528,  vingt- 
sept  ans  apr6s  le  voyage  de  Corte-Real. 

Ce  ne  fut  done  pas  Hudson  qui  decouvrit, 
on  IGIO,  le  detroit  qui  fait  communiquer  cet- 
te  mer  avec  r.\.tlantiqne. 

Une  autre  pretendue  decouverte  modcrne 
a  etc  produite  en  1848. 

Un  celehre  voyageur  russc,  explorant  le 
lac  ou  mer  d'Aral,  a  cru  decouvrir  le  pre- 
mier trois  iles  inconniies,  et  leur  a  impose 
les  noms  de :  Nicolas  T',  Bapla-Kilmes  et 
Konyone-Aral,  tandis  que  ces  iles  se  trouvent 
dejii  marquees  dans  les  cartes  venitienncs  du 
commencement  du  xiv"  siecle;  ce  qui  ne  doit 
pas  elonner  ceux  qui  savent  que  les  Italiens 
etablis  a  Tana  et  dans  la  Tauride  possedaieni 
des  connaissances  tr^s-detaillees  sur  les  con- 
tiees  de  I'Asie  Superieure.  La  decouverte  der- 
niferemcnt  annoncee  de  roxistencc  d'une  mer 
intericure,  siluee  dans  I'Afrique,  au  sud  de 
I'equateur,  nous  semble  ctre  dans  le  meuie 
cas  :  lorsqne  Ton  examine  les  cartes  du  xvi' 
sifecle,  on  voit  dejii  marquee  cetle  grande  mer 
intericure  ;  elle  s'y  trouve  placee  des  le  S° 
latitude  sud,  jusqu'au  12"  s,  comme  on  le 
voit  dans  la  carte  inedite  de  Jean  Frcirc, 
dressee  en  1540.  A  cette  epoque,  un  grand 
nombre  de  voyageurs  portugais  avaient  pe- 
nctre  dans  I'interieur  de  TAIrique  auslrale, 
par  les  ports  de  la  cote  orientale.  Et  en  elTei. 
en  examinant  les  cartes  d'Afriquc  dc  Juan  de 
Cosa  (IBi)')),  de  Ruych  (1508),  la  carte 
espagnole  conservee  a  Weimar  (1520).  enlin 
celle  du  fameux  cosmographe  Diego  Ribero 
(1529),  on  remarque  les  progres  successil's 
do  la  geopraphie  de  cette  grande  partie  du 
globe  ;  niais  jusqu'a  cette  annee  ces  cosmo- 
graphes  n'ont  pas  eu  connaissance  de  cette 
mer  ou  lac  interieur.  II  parait  done  certain 
que  ce  fut  apies  I'annce  1529  que  les  cxplo- 
ratcurs  portugais  en  ont  connu  I'existence. 

Cela  ne  diminue  eu  rien  Ic  merite  des  ex- 
ploratcurs modernes  ;  il  revient  a  ceux-ci 
I'honneur  de   I'aire  inieux  connaitre,  d'apres 


236 


los  piosri's  (le  la  scienrc  actuelle,  ce  que  les 
ancioiis  avaicnt  sou\ent  sigiiale  iniparfaite- 

IllCllt. 

Toutefdis  il  nc  fawt  pas  oulilier  que  nous 
ilevons  de  la  {jraliuule  a  ces  liomnies  inlr6pi- 
(les  du  wT  siecle  qui,  les  premiers,  out  ou- 
\ert  la  route  aux  niodernes. 

V"  DE  SANTAREM. 
i  L\tthentteHm  Fraitr,  0  iteceiii-bre.  lH5-t.) 


ENsmo  sosaE  os  paiNCiPios  de  biechunica, 

POH 

J.  ANASTACIO  DA  CUNHA. 

Continuailo  de  pag.  '2'23. 

De  uma  racchauica  tal  coiuo  a  quo  lenlio 
delineado,  se  podc  apoderar  a  pliysica,  de- 
moustrando  que  nos  eorpos  naluraes  sc  ohser- 
vam  (ao  menos  proximamente)  as  mesmas 
leis  £\  que  se  supposeram  sujoitos  os  eorpos 
malhematicos.  Porem  ,  ainda  que  se  tern 
escriplo  e  trabalhadu  tanlo  em  pliysiea  expe- 
rimental, nao  sei  que  liaja  ainda  tudo  o  que 
para  isto  se  requer.  Falta  a  deraonslracao  da 
li\  potliese  tcrceira.  (As  licues  do  abhade  iS'ollet 
sobre  esta  materia  sao  impcrleitissimas.)  Na 
obra  do  sabio  s  Gravesande  vcm  uma  machina 
eomposta  de  tres  pendulos,  com  que  a  pre- 
lende  demonstrar ;  porem  funda-se  em  urn 
principio,  do  qual  da  uma  demoiistracao  ma- 
lliematica  errada;  principio,  cuja  demonstra- 
cao  mathematica  depcndc  da  dicia  bypothoe 
lerccira.  —  0  principio  de  que  lallo  e,  que 
urn  corpo  grave  ciiliindo  de  equucs  alturan. 
■\eja  qual  (or  a  linha  que  descrece,  com  luiito 
'jue  nOo  seja  aiujulosa,  adquire  eijuaes  veloci- 
dades.  Diz  elle,  ([ue  islo  succede  assim,  por 
(|ue  tambem  assim  succede  na  queda  dns 
^'ra\es  por  cima  de  pianos  diversamente  incli- 
iiados;  no  que  bcm  se  sabe,  que  se  enganou, 
e  cuido  que  depois  d'eile  o  nao  menos  estinia- 
\el  Muscbembroeek.  Esta  falta,  porem,  facil- 
mente  se  pode  remediar,  deixando  cahir  de 
■•Ituras  eguaes  sobre  substancias  molles,  liora 
verticalmente,  bora  em  arco  de  cir.^ilo,  como 
pendnio,  um  mesmo  corpo  espherico,  procuran- 
ili)  semprc  ,  que  lira  perpendicularmente  a 
superlicie  da  substancia  mole;  pois  I'ara  eguaes 
cavidades.  Seria  bom  que  nao  restassem  mais 
ilifliculdades;  mas  ainda,  cuido,  que  reslam. 
Eu  nunca  \i  a  macbina  de  M.  's  Gravesande 
senao  estampada  ;  mas  reccio  (|ue  'nella  nao 
seriam  as  experiencias  sufluienlemente  exac- 
tas ;  ))elo  muito  que  me  parcce  difficultoso 
napraxe,  que  as  duas  cspberas  tiram  a  terceira 
em  um  mesmo  instanto,  pois  que  a  I'erir  mais 
tarde  ja  Ihe  communica  niovimento  diverse 


do  que  devera;  e  parece-me  que  de  simiihaii- 
tes  dilTerencas  nao  podem  deixar  de  resultar 
grandes  irregularidades.  Estimarei  muito  cu- 
ganar-me. 

Nao  seria  nielbor  subsliluir  as  duas  primei- 
ras  espheras  dois  martellos,  nilo  eyiindricos, 
como  OS  do  abbade  Nollel,  mas  parallelipipc- 
dos,  para  mais  seguraufa ,  para  I'erirera  a 
terceira  espbcra  senipre  (ou  mais  tarde  ou 
mais  ciido)  quasi  da  mesma  sorte  ?  Sendo 
antes  pe(|uenas  do  que  grandes  as  velocida- 
des  conimunicadas,  e  o  pendulo  bem  com- 
prido ,  poderao  medir-se  com  I'acilidade  os 
arcos  que  descreve  ferido,  ora  |ior  um  mar- 
tello,  ora  pelo  outro,  ora  pelos  dois  a  um 
tempo. 

A  maior  parte  dos  auctores  inclueni  a  segun- 
da  bypothese  e  a  terceira  em  uma  so  prcqjosi- 
cao.  Serve-lbes  para  isto  a  palavra,  puleiicia, 
com  a  qual  (conlusissimamente  entendida) 
designam  indifTerentemente  a  acceleracao  e  a 
velocidade  constante;  conl'undindo  assim  dois 
casos  tao  diversos. 

So  0  catalogo  dos  erros  que  tem  introduzido 
nas  sciencias,  a  que  chaniam  por  excellencia 
exactas,  a  metapbysica  poetica,  encberia  vo- 
lumes.— 0  costume,  digo,  de  subslancializar 
as  palavras  velocidade,  movimento,  forea , 
accao,  resistencia,  pressao,  percussiio,  poten- 
cia,  etc.,  da  mesma  sorte  que  os  poetas  perso- 
nalizam  a  virtude,  o  vicio,  oamor,  a  inveja, 
0  somno,  etc.  —  Por  isso  nao  serao  talvez 
desnecessarias  algumas  rcHexoes  mais  sobro 
OS  principios  que  proponbo. 

1."     Chamo  a  -  -  velocidade;  a    ,    accele- 
at  dt 

racao.  Yulgarmenle  dizem  que  a  velocidade 

de 
e  como       ;  e  que  a  forfa  acceleratriz  e  como 

— .  Explicando-se  d'este  mode,  ou  suppoem, 

ou  induzem  o  leitor  a  suppdr  a  existencia  de 

uns  entes  t'autasticos;  de  uns  entes,  i|ue  ainda 

a  sereni  reaes,  nao  somente  seria  dillicultosis- 

simo  0  concebel-os    mas  totalmente  inutil  na 

mechanica  o  consideral-os.  Totalmente  inutil, 

pois  sem  OS  considerar  se  resolvem  todos  os 

problemas  que  e  dado  ao  homem  poder  resol- 

ver. 

2."     Excusam-se  assim  as  ordinarias  iiiter- 

de     .      do 
pretacoes  das   expressoes,   t;  =  —  ,/  =  --; 

inlerpretacoes  nao  menos  difficeis  aos  auctores 

que  aos  principiantes. 

''e       ,     ., 
'i.°     Assim  como  se  chamou  -r-   velocida- 

dt 

de,  podia-se-lhe  chamar  outro  qualquer  nome: 

..   .        de 
E  assim  como  se  chamou  velocidade  a  --, 

dt 

podia-se  chamar  velocidade  a  qualquer  outra 

funccao  de  dee  dl.  Tudo  isto,  nao  por  outra 


237 


razao,  senao  porqiie  o  mesmo  homera  que  se 
ehama  Pedro,  podia  cliamar-se  Mannaduk. 

Talvez  sera  necessario  expur  isto  niais  per 
e\tenso  aos  principianles. 


Descreva  um  move!  A  a  linha  infinita  AB, 
c  outro  C  a  linha  infinita  CD.  Sejam  os  pontos 
A  e  C  dados ,  e  gastem  ambos  os  moveis  o 
tempo  EF  em  descrover ,  um  o  espajo  AG, 
outro  0  eppaco  CU  \  e  seja  AG  >  CH.  Dizem 
todos,  e  0  mesrao  vulgo ,  que  o  move!  A 
correu  maisy  ou  que  andou  niais  de  pressa, 
ou  que  e  niais  vcioz,  ou  que  tem  maior  veloci- 
dade.  Assim  conforme  a  linsuagcm  vulgar, 
tem  maior  vclocidade  aqueile  movel ,  que 
descrcve  maior  espafo  em  egual  tempo.  Sc- 
nielliantoraente  se  aeha,  que  segundo  a  lin- 
guagem  vulgar,  e  mais  veioz,  aquolle  movel 
que  descieve  egual  esparo  em  menos  tempo 
E  em  (im,  chaniam  vulgarmente  mais  veIoz 
aquelle  movel,  que  descreve  maior  espato  em 
menos  tempo. 

Porem  o  mechanico  reflectindo  um  pouco 
'nestas  expressoes  nao  pode  dcixar  de  as  achar 
vagas,  e  insullicientes  para  o  que  elle  pre- 
lende.  0  que  elle  pretende  e  estaheler  metliodos 
seguros  e  geraes  para  determinar  as  relaeoos, 
que  ha  entre  espajos  descriptos  em  certos 
tempos  ;  ou  entre  os  tempos,  em  que  se  des- 
creveram  certos  espacos,  e  qualquer  daquel- 
las  expressoes,  por  quadrar  a  uma  inlinidade 
de  cases  diversos,  deixaria  os  problemas  in- 
determinados.  E  isto  por  duas  razoes:  1."  por 
()ue  ainda  que  seja  AG  >  CH,  pode  o  movel 
A  ter  descripto  algiima  porcao  de  AG  menor 
((ue  a  porcao  que  no  mesmo  tempo  descreve 
6' em  CI);  e  'nesses  logares  seria  C  o  mais 
veIoz  ;  e  isto  por  infinitos  modos:  2."  poiqiie 
tambem  sao  inlinitos  os  modos  (lorque  ]jode 
ser  A  G  >  CU. 

Remedea-se  tudo  isto  com  a  definicao  V  : 

mas  esla  detinijao  podia  ser  diversa,  e  ter  o 

mesmo  prestimo,  pelo  que  toca  a  precisao  do 

dt 
calculo.  Ponhamos  v.  g.  v  =  --^  -.    expressao 

de 

hem  diversa  que  offerece  a  definicao  V,  e  hem 
diversa  da  da  linguagem  vulgar  ;  pois  con- 
forme  esta  expressao  seria  necessario  dizex 
que  quanto  maior  e  o  tempo  cm  que  um  movel 
descreve  um  espaco  dado,  maior  e  a  sua  velo- 
eidade.  Porem  que  imporla?  Quando,  confor- 
mando-me  a  nova  delinicao,  digo  que  a  veloci- 
dade  de  um  movel  e  dupla  da  do  outro , 
denoto  o  mesmo,  que  denotaria  conformando- 
niea  definicao  V,  quando  dicesse,  que  a  velo- 
cidade  do  primeiro  e  metade  da  do  segundo ; 

de      .  .    dt    n        ,      . 

por  ser  —  o  mverso  de  -r-.  Para  denolar  a 
dt  de 


propricdade  dos  corpos  graves,  em  vez  de 
dizer  que  a  velocidade  e  directamente  como 
0  tempo,  teria  de  dizer,  que  e  inversamente 
como  0  tempo.  Da  mesraa  sorte  podiamos  por 
d'"e  d"e      ,  dPe 

d'"e  d'"e 

«'  =  asen.  -— ,  ouc  =  log.  -r-,  etc.  etc.  Ua 
d"t  "    d"t 

mesma  sorte   que   podiamos  inventar   novos 

nomes  para  as  cores,  para  os  vestidos,  etc.  etc. 

E  0  mesmo  diseurso  convem  as  definifoes 
da  accelerajao,  da  quantidade  de  movimento, 
etc.  etc. 

4.°  Pica  desnccessaria  a  trabalhosa  e 
escholastica  distincjao  entre  velocidade  ac- 
tual ,  e  velocidade  potencial.  —  E  terdade 
que  velocidade  variavel,  quantidade  variavel, 
tomando-se  estas  palavras  no  sentido  litteral, 
e  absurdo  :  porem  nao  e  assim  que  se  devem 
entender:  devem  entender-se  como  vcm  expli- 
cadas  na  delinifao  I  do  Ensnio  '  sohre  os 
Principios  do  calculo  jluxionario. 

5.°  Nao  menos  desnccessaria  fica  a  indaga- 
fao,  e  a  consideracao  dos  valores,  ou  das  pro- 
porcoes  do  que  chamam  causas.  Nas  hypo- 
theses 11  e  III  muito  de  proposito  evito  a 
palavra  causa,  e  digo  antes  molivo  ou  razao: 
por  me  parecer  que  estas  ainda  conservam 
intacta  a  sua  vulgar  significacao,  que  'neste 
caso  e  so  a  segura :  pois  a  da  outra,  adulte- 
rada  pelos  philosophos,  tem-se  feito  um  dos 
mais  I'ecundos  mananciaes  de  conl'usao,  equi- 
vocos  e  contendas. 

Eu  tomo  sempre  as  palavras  motivo,  razao, 
ou  causa  no  sentido  niais  popular.  0  homem 
geralmente  depois  de  observar  sufficientes 
vezes  (isto  e,  tantas  quantas  a  sua  natureza 
competeni)  que  a  repeticao  de  certo  phenomeno 
(i  sempre  acompanhada  da  repetic5o  de  outro 
certo  phenomeno,  chama  ao  primeiro,  causa 
do  segundo;  e  ao  segundo,  elTcilo  do  primeiro; 
e  e  de  facto,  que  fica  persuadido  de  que  sempre 
ao  primeiro  ha  de  aeompanhar  o  segundo, 
excepto  no  conflicto  de  outro  phenomeno,  que 
seja  incompativel  com  aquella  causa,  ou  coui 
aquelle  elTeito.  Nada  mais  necessita  iiem  pode 
saber  o  mechanico  sobre  este  ponto.  Se  aquel- 
la conjuncrao  (tanto  a  passada,  que  observou, 
como  a  futura  que  admitte)  precede  de  con- 
nexdo,  ou  se  succede,  como  a  harmonia  presta- 
bilita  de  Leibnitz  ?  se  se  deriva  necessaria- 
mente  da  natureza  dos  phenoraenos  conjun- 
clos,  ou  se  poderia  haver  outras  conjunccues 
diversas? — Que  homem  o  sabe?  Porem  tam- 
bem, que  necessidade  tem  o  mechanico  dc 
0  saber?  —  E  nao  so  o  mechanico  puramen- 
le  mathematico ,  mas  tambem  o  physico.  A 

'  Esta  ohra  njlu  existe.  A  definicao  I  do  livra  XV  dn.s 
Princ.  Mtith.  do  mesmo  auetor  e  a  seguinte.  "  Se  uma 
expressau  admittir  mais  de  nra  valor  ,  quando  outra 
expressSo  admitte  iim  s6,  chamar-se-ha  esla  constante.  e 
aqudia  variavel.  »  (Not.  do  E.) 


238 


sun  natureza  c  a  cxperiencia  o  forfam  a 
crer,  v.  g.,  que  ijuaUiuer  fori)0,  como  os  que 
(■onliecc,  desce,  (|uain)o  nao  aiha  cnibaravo, 
descrevtMulo  lo  pes  no  primeiro  I"  purto  da 
>uperlii-ie  da  terra  ;  e  que  na  distancia,  em 
queesUi  a  lu;i,  desereveria  15  pes  no  primeiro 


1 


Isto  nu'siiii)  denota.  coiiroriiie  a  iinguageni 


mais  vulgar;  dizeiido,  v.  g.  ([ue  a  viziuliaiita 
da  superlieie  da  terra  e  a  eausa,  motivo,  mi 
razao,  por  (jue  uin  eorpo  grave  desereve  Iti 
pes  em  o  primeiro  1'  ;  que  a  distaiieia  de  (10 
semidianietros  da  terra  e  a  causa,  motivo  ou 
razao,  por  que  urn  eorpo  grave  desereve  IK 
pes  no  primeiro  1  .  Cr£  da  mesnia  sorle  que 
ao  plienomeno  denotado  pela  palavra  impulso, 
nu  goipe,  se  segue  moviinenlo  unil'ormc : 
ensiiia-Ihe  tamhem  a  expcrieneia  (jue  ao  plie- 
nomeno denotado  pela  palavra  prcssao  se 
segue  movimento  similhanto  ao  dos  corpos 
graves.  Que  mais  llie  6  neeessario?  Se  urn 
eorpo  reeehe  dois  golpes  ao  mesmo  tempo 
diversamentc  dirigidos  ,  c  motivo  de  duas 
velocidades  constantes  em  direeeoes  diversas: 
se  um  eorpo  grave  recebe  ou  no  prineipio,  ou 
em  qualquer  oulro  instante  da  sua  queda,  um 
goIpe  cm  direcciio  nao  vertical,  lia  nm  motivo 
para  que  o  eorpo  descreva  accelleradamente 
wma  recta,  e  outro  motivo  para  que  desereva 
oulra  unirormemente  :  em  (jualquer  d'estes 
cases,  ou  cm  rjualqiier  outro  semelhanle  pode 
derivar  das  hypotheses  II  c  III  confirmadas 
.  pela  experiencia  ,  o  que  deve  succeder  :  e 
esfusa  de  martyrisar  o  cerehro  (e  martyrisal-o 
dehalde)  com  a  indagacao,  comtemplacao,  etc, 
do  (|ue  chamani  causas  ejfidentes,  ])roducentes, 
»fffl,jion«f!,  etc.  etc. 

(>."  D'este  modo  nao  poderao  achar  logar 
na  verdadeira  e  sa  mechanica ,  ou  pura- 
mcnte  mathemalica  ,  ou  tamhem  physica  ,  a 
queslao  Leibnitziana  sobre  as  forcas  vivas  e 
morlas;  a  queslan  BernouiUiana  sobre  a  equa- 
cao  fdl  =  (h\  etc.  etc.  Ficani  naturalmcnte 
de  lora. 


fiOTIClAS  LITTERflRiJS  E  SClENTIFICaS. 


4  ia^ricsiDtiim  ens  Iitelnloi-s-n.  'Niira 
meeting  agricola,  ultimanienle  celcbrado  em  In- 
glaterra,  lord  Stanlty  (leclarmi,  que  cm  todo  o 
Rciiio  UniJo  ha\ia  77  milhots  d'acrcs  [geiras)  de 
terra,  dos  quaes  47  milhues  bem  on  mal  cultivados; 
15  milhfies,  quo  nSo  eram  susctpti\cis  de  cultura; 
(■  IS  niilhoes,  quo  [jodiam  cul[i\ar-se,  mas  que 
lie  facto  cstavam  incultos  ;  ile  maneira  que  cm 
Inglaterra  so  se  agrieulta  a  qiiinta  parte  do  ter- 
rono,  e  essa  mesma   niio  e  loda  bem  culti\ada. 

0  mesmo  agronomo  disse,  que  o  tcrrcno  cul- 
ti\;ulo  'naquelle  paiz  poderia  dar  n  triplo  da  sua 
produccao  actual,  se  na  cultura  d'cUc  se  seguissem 
us  principios  o  as  praclicas  da  modcrna  agricul- 
tura. 


E:Ntatll<ilirn  do  Caiiatlai.  Os  numcro  total 
d'cgrcjas  dcdicadas  aos  divcrsos  cultos  no  Alto- 
Canada  em  1831  era  dc  1,747,  e  6t)()  no  llaixo- 
Canad.i.  <)  rulto  anglicano  possuia  344  egrejas, 
(■  conlava  2tl8,S9'2  sectarins :  o  euUo  catholico 
ruuiano  460  egrejas,  e  914,501  almas  ;  os  melho- 
dislas  453  egrejas,  e  '228,839  diclas;  os  presl)yte- 
riauos  "243  egrejas,  c  176,118  dictas  :  os  haplistas 
166.  e  49,846  diclas  :  c  us  congrcssionalisla.i  63,  e 
ll,67i  almas. 

No  Baixo-Canadii  ha  1.156  rasas  de  eschola  : 
2,532  escbolas  em  excreieio  com  108,285  alumnos. 
.\  provincia  toda  tern  5,479  estabelcciinenlos  de 
instruec.ao  frequenlados   por  303,020  esludanles. 

0  numero  das  cazas  no  Canada  occidental  que 
em  1823  era  de  8,876  subira  ate  1848  a  42,957. 

Nos  Eslados-Unidos,  segundo  o  ultimo  recen- 
scameuto,  nos  scis  annus  proximos  passados  tiuham- 
sc  conslruido  663,000  casas  de  novo,  e  avaliando 
cada  uma  d'estas  casas  i>or  termo  medio  em  100 
dolars,  scm  nieneionar  as  nioljilias,  e  todos  os 
mais  olijerlos  do  servieo  domcstico,  a  riqueza  d'este 
paiz  linha  augmentado  'naquelle  curto  cspaco  668 
milboes  de  dolars. 

(The  Land  and  liuilding  News.) 


BIBLIOGRAPHIA. 

Elcvliitn  <!e  OltraM  I*iiiBiIicn«i.  Estu  mui 

imporlante  jornal,  publica-se  cm  Madrid  duas 
vezcs  por  mcz  nos  dias  1."  e  15,  foimato  em  4." 
de  12  paginas  cada  numero,  e  acompanhado  dc 
gravuras  intercaladas  no  texto,  e  de  numerosa.' 
estampas ,  bem  lithographadas  ,  represenlando 
diversas  eonslruccoes,  machinas,  instrumentos  e 
outros  objcclos  relalhos  a  architectura,  caminhos 
de  ferro,  pontes,  telegrapbia  eleclrica,  obras 
hjdraulicas  etc. 

Comecou  a  sahir  a  luz  cm  maio  de  1833.  Os 
trez  primeiios  volumes  d'estaeollecciio  estam  com- 
pletos,  e  do  4."  ja  se  publicou  o  1."  numero  no 
1."  do  correnle.  Preco  por  trimcstre  para  Madrid 
seis  reales.  e  para  as  provincias,  franco  dc  porte, 
rinte  reales. 

Em  Coimlira  assigna-se  no  Gabinetc  do  Institutn. 

A  Herista  de  Obrus  Puhlieas  comprehende  a 
parte  oiTicial  d'este  ramo  da  administra^'ao  piiblica; 
arligos  donlrinaes ;  o  estado  das  obras  em  construc- 
jito,  e  as  que  se  projectam  do  novo,  as  mais 
recentes  descoberlas,  e  invencoes,  e  a  bibliogra- 
pbia  das  obras  scientificas  que  se  publicani  nos 
diversos  paizes. 

Este  jornal  tracta  tambem  com  muita  profi- 
ciencia  das  importantes  questoes  econoniicas  e 
sociaes,  que  se  ligam  ao  estabelecimcnto  ilas  obras 
piiblicas,  e  aus  differentes  syslemas,  que  podem 
adoplar-se  para  leval-as  ao  cabo. 

A  Kevista  das  Obras  PubUcas  merece  ser  lida 
nao  so  pelas  pcssoas  da  profissao,  mas  tambem 
por  todas  as  que  desejarem  adquirir  cuuhecimen- 
tos  sobre  esses  variados  assumptos,  que  hoje 
principalmentc  tanto  nos  interessam,  c  que  entre 
nos  sao  ainda  pouco  vulgares. 

t  alem  disso  de  reconhecida  utilidade  ver  o  esla- 
do,  e  seguir  o  progresso  dos  nossos  visiuhos 'nesta 
importantissima  parte  da  sua  adminislracrio  inter- 
na, que  nalguDS  pontos  nos  leva  vantagem  pelos 
reeursos  proprios  dc  que  a  Hespanba  pode  dispor. 


239 


REL.VCAO 

Dos  individuos  nomeados  para  os  seguiiile.i  Ingarcs 
d'inslrucfao  publica,  dcsde  o  dia  /3  atv  an  fim 
dc  novcmhro,  por  despachos  do  Consellio  superior 
d'instruciHo  publica,  c  decrelos  do  Guverno  rom- 
muiiicados  an  mrsmo  Conxetko  superior  no  iridi- 
radii  periodo. 

i.ssTiiL'cg.io  pniMAnrt. 

Antonio  Maria  Conde  Palma,  para  professor 
fpmpnrarii)  da  cadeira  de  Villu  Alva,  dislricto  dc 

Bcnlo  do  Oliveira  I'ercira,  para  dicto  dc  Siiu 
Salvador  d'Eiro,  cum  assciiio  eni  Bolicas,  districto 
dc  Villa  Real. 

Francisco  Goncalves  RiUa,  para  dicto  do  Er- 
\idel,  districto  de  Beja. 

Joao  Af;ostinho  Alberto,  para  dicto  do  Santa 
Eulalia,  districto  de  Portalegrc. 

Joao  Mauricio  Fernandes,  para  dicto  da  IVe- 
giiozia  do  Faial,  districto  do  Fiinchal. 

Antonio  Feliciano  Ahares,  para  dicto  dc  Sao 
Malliias,  liislricto  de  Beja. 

.\ntonio  Jose  Goncal-. I's,  para  ditto  de  Covas 
do  Douro.  districto  de  A'illa  Real. 

Antonio  da  Silvcira  Pcrcira  d'Aiidradc,  para 
dicto  de  Orca,  districto  de  Castcllo-Branco 

Angusto  Leitiio  Xavier,  para  dicto  d>^  Oledo. 

Joso  Antonio  d'Oliveira ,  para  dicto  de  Bein- 
querencas. 

im.u  .\ugusto  Ferrcira  Bemfeito,  para  dicto 
d'.XImcirim,  districto  de  Sanlarem. 

Joiio  Maria  Ucliello  I'ercira  da  Silva,  para 
dido  de  Lordello,  districto  de  Villa  Keal. 

Thiago  da  Encarnacio  Ferrcira,  para  dicto 
dc  Azaruja,  districto  d'Evora 

Antonio  RodriKues  Fernandes,  para  dicto  dc 
Dorncllas  dc  Caliril.  districto  de  Viseu. 

Joaquim  .\ntonio  de  Monra,  para  dicto  da 
Varf;ea,  districto  de  Castello-Branco. 

Manuel  Ricardo  da  Siha  Lamego,  para  dicto 
d'Obidos,  districto  de  Lciria. 

Jose  (^orrea  Pinto  Campos,  para  ajudantc  da 
eschola  d'ensino  mulno  de  Coinibra. 

Maria  Oililia  Mendonca  da  Silvcira  ,  para 
mcsnij  teniporaria  da  eschola  de  mcninas  de  Villa 
Franca  do  Campo,  districto  de  Poiita  Dclgada. 

Elena  .\ntonia  Ferreira,  para  dicta  de  llhavo, 
district!)  d'Aveiro. 

Antonio  Pires  da  Costa,  para  professor  vila- 
licio  da  cadeira  dc  Sopins  por  transfcrencia  ila 
de  Taveiro  (ilccrcto  de  20  dc  novembro  ultimo). 

Justino  .\iitonio  Soarcs  da  Costa,  para  dicto 
de  Taveiro,  por  transfcrencia  da  de  Mmite-Mor 
o  Velho,  districto  dc  Coimbra  (decreto  de  20 
de  novembro  ultimo). 

Joaquim  Jose  l)ias  Antunes,  para  dicto  de 
Tortozcndo,  districto  de  Castcllo-Branco. 

I.uiz  Jose  AnnesBaganha,  para  dicto  dc  .ilc.iccr 
do  Sal,  districto  de  Lisboa  (decreto  de  14  ite 
novembro  ultimo). 


Francisco  Duarte  Ramos,  para  dicto  dc  Tina- 
Ihas. 

Joao  Ferreira  Callado,  para  dicto  dc  .\mirjes 
dc  Baixo,  districto  de  Santarem. 

Scliasti.ao  d'.\lmeida  Siniocs,  para  dicto  das 
Fehres,  districto  de  C<iimbra. 

.\lvaro  Jose  dos  Sintos  Claro,  para  dicto  dc 
Sapi.ncs,  districto  de  Villa  Real. 

(jnalberto  Julio  daCusta,  [lara  dictodoRabacal, 
districto  de  Coimbra. 

Jose  Bento  Taveira  e  Costa,  para  dido  dc 
.ilfarella  de  Jalles,  districto  de  Villa  Real. 

Manuel  Jose  N'eutel,  para  dicto  da  Carapinheira, 
districto  de  Coimbra. 

Manncl  das  Dores  Rozado,  para  professor  vita- 
licio  da  cadeira  de  Cuba,  districto  de  Beja,  por 
decreto  de  5  do  corrente. 

IKSTnt'CgvO    SECnNDiBIA. 

Jacintho  Coclho  de  Oliveira,  para  o  logar  dc 
porteiro  do  Lyceu  Nacional  da  Guarda  (decreto 
dc  28  de  novembro  ultimo). 

Antonio  Jose  Lcbre,  para  professor  vitalicio 
da  cadeira  de  latini  da  Villa  d'Arouca,  districto 
d'.4veiro  (decreto  de  28  de  novembro  ultimo). 

Antonio  Augusto  de  Almeida  Pinto,  para  pro- 
fessor da  cadeira  de  physica  e  chimica ,  e  dc 
historia  natural  dos  tres  reinos  do  lyceu  nacional 
do  Porto   (decreto  dc  28  de  noveudno  ultimo). 

INSTRDCIjXo    SUPEBICn. 

Jose  Antonio  d'Andrade  Pedroso,  para  Icnte 
ill  4.^  cadeira  da  eschola  medico-clrurgica  dc 
Lisboa  (decreto  de  5  do  corrente). 


Dkta  do  I ."  at6  lb   dc  Dczcmbro. 

1N»<TUIIC(A0    PBIMARIA. 

Domingos  Goncalves  do  Couto,  para  professor 
lemporario  da  cadeira  de  Almaceda,  districto  da 
Guarda. 


PUBLICAgOES  LITTERflBIAS. 

O  ]E:irE>olia!<te-int<'<IIsco. 

I'ubticado  sob  os  ampicios  da  reparti{:an  de  saii- 
de  do  eu-enito,  pclos  facuUaliros  militares. 
A.  G.  do  Valle,  ,/.  A.  Marques,  J.  C.  Meiides. 

Esla  pnblicacao  bimcnsal  vai  enlrar  no  scu, 
13."  anno  dc  cxistencia.  Para  corrcs[iondcr  mais 
cabalmente  aos  fins  da  sua  institwicao,  incepta 
porem  o  anno  de  1836  com  um  augmcnto  o'c 
192  columnas,  sem  alterar  o  prcro  da  snbscri- 
])cfio,  e  abre  novas  seccocs  scicntificas,  quo  re- 
presentarao  como  convcm  o  eslado  da  mcdicina 
no  estrangeiro.  Estcs  mclhoramcnlos  c  aquelles, 
por  que  tern  passado  ultiniamcntc,  fazem  com  que 
0  Esclioliastc  scja  o  jornal  medico  de  mais  mo- 
dico  preco  que  a\.k  hoje  sc  tern  pnblicado,  ao 
passo  que  pelas  suas  relacoes  scicntificas  esi.i 
intciramenic  no  caso  de  aprcscntnr  em  dia  todos 
OS  adiantamcntos  e  faclos  notavcis  da  sciencia. 

Assigna-se  e  vende-se  cm  Lisboa  na  gcrcncia. 
rua  das  Flores  n."  30,  3."  andar,  on  na  loja  ilo 
sr.  Lavado,  rna  Augusta  n.°  8;  no  Porto  na 
pharmacia  do  hospital  militar  pcrmanentc  da 
mesma  cidade. 

Anno  com  cstampiiha  1^120 

Dicto  sem  cstampiiha   l^OOO 

Avulso    50 


210 


OBSERVACOES  METEOUOLOr.lCAS.  FEITAS  NO  GABI.NETE    DE  PHYSICA 
DA  UMVEKSIDADE    PE  COIMlillA. 


Anno  de 
1855 


Met  (ie 
Seplem- 


Dias 


3 
4 
5 
6 
7 
8 
9 
10 
11 
12 
13 
14 
15 
16 
17 
18 
19 
20 
21 
82 
23 
24 
25 
26 
27 
£8 
29 
30 
31 


c  •-  a 


22 
22 
21 
21 
19 
20 
20 
20 
20 

19,5 

20 

20 

19 

19,5 

20 

22 

20 

22 

20 

19 

20 

19 

20 

20 

20 

20 

19 

20 

19 
19 


Presxilo  iitiDopjihtrica  ao  meio  dia 


Altara  luiro- 
ruetrica  a  0^ 
da  eicaU  c«0- 
ttgrada. 


Ciraiis 


Millimetros 


media  't 
do  niez  1 


e 


754,977 

750,421 

745,734 

748,012 

752,054 

750,665 

749,653 

749,653 

749,400 

750,878 

754,261 

753,197 

750,788 

750,473 

752,691 

751,939 

755,0i0 

754,723 

752,488 

754,079 

749,400 

749,015 

751,172 

752,944 

752,691 

749,653 

749,522 

748,134 

746,989 

746,483 


Milliinctrus 


14,779 

14,582 

13,246 

13,703 

12,574 

13,219 

11,867 

12,475 

13,219 

13,684 

13,714 

13,540 

13,064 

13,347 

13,567 

12,764 

12,262 

13,525 

14,080 

13,715 

13,637 

12,768 

13,914 

13,540 

13,740 

13,171 

12,247 

13,171 

12,410 

12,769 


Press'io  du 
ar  aeccu 


R!«tNdi>  hyjjroujf  iricii  di* 
alinuspberu  au  lueio  dia 


Mllliuu-trua 


20,°0[0]{    750,904 


Tfinpfrattira 

Masim  absol.  22° 
Minima  aLsuI.  19" 
Max.    \uria);rio       3" 


740,190 
735,839 
732,408 

734,309 

739,480 

737,446 

737,786 

737,170 

736,181 

737,194 

740,547 

739,657 

737,724 

737,126 

739,124 

739,175 

742,7511 

741,198 

733,.108 

740,364 

735,763 

736,247 

737,258 

739,404 

738,951 

736, 4H2 

737,275 

734,963 

734,579 

733,714 


Gtau  d'huiui- 
ilade  do  ar, 
repreienlando 
pur  1  o  e,la- 
ilo  de  aatura- 
fio. 


Prcssao  atmospherica 

Max.  absol.  755,020 
Min.absolut.  745,734 
Max.  excurs.       9,286 


0,7  5-,: 

0,742 

0,716 

0  741 

0,709 

0,760 

0,6Bi 

0,717 

0,760 

0,812 

0,789 

0,779 

0,799 

0,792 

0,780 

0,649 

0.705 

0,li8J 

0,»10 

0,1139 

0,784 

0,781 

0,800 

0,779 

0,790 

0,757 

0,749 

0,757 

0,759 

0,781 


Quantid.  de 
*a|}or  contido 
em  uni  mctru 
cubico  u'ar 


GraiuniHs 


0,761 


14,547 

14,334 

13,065 

13,515 

12,487 

13,082 

11.735 

12,346 

13,082 

13,566 

13,573 

13,400 

12,974 

13,232 

13,427 

12,547 

12,136 

13,295 

13,935 

13,020 

13,496 

12,680 

13,771 

13,400 

13,598 

13,035 

12,162 

13,035 

12,324 

12,681 


O. 

S. 

s. 
s. 

N. 
N. 
E. 
E. 

S. 
S. 
N. 
O. 

s. 
s. 
o. 
o. 

E. 

N. 
O. 
N. 
O. 
O. 

o. 
o. 
o. 

s. 
s. 
o. 
o. 
o. 


Grail  d'hvmidade  door 

Maximo  ....  0,839 
Minimo  ....  0,649 
Maxima  variai;.  0,190 


Kstado  de  cen  r  do 
tempo  BO  meto  din. 


NnUladu.  Hum  lt.-H)|>o. 
O  mesniu  ()  nifsmo. 
O  meaniu.  ()  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  meamo.  O  uiesoiu. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Gncubert.  T.  chuvoso. 
Nubtado.  Bom  tempo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O^mesmo  ^.O  mesmu. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Encnbert.  T.  cbuvoso. 
Clar.  eUin|).  B.  temp. 
Nubladu.  O  mesmo. 
O  mesmo  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
O  mesmo.  O  mesmo. 
Encubert.  T.  chuvoso. 
Nubladu.  Bom  tempo. 
Encubert.  T.  chuvoso. 
Nubladu.  Bum  tempo. 
Encubert.  T.  chuvoso. 


yentoa  dominant 
O.  e  S. 


Cuiinbra,  1."  de  Oulubro  ile  1855. 


ilathia)  de  Carcalho  de  fatconcellos ,  Lenle  Subsliluto  de  PhjsicB. 


(D  3n0titttt(r, 


JORNAL    SCIENTIFICO    E    LITTERARIO. 


COXSELHO  MPERlOa  DE  IXSTRlCCiO  PllBlICi 


Rclatorio  do  admini^iirndor  <Eo  ron- 
rollio  (Ic  IHnnKnaUIn  »o  dtNliricto 
aduiintHfrattio  dc  VImcu. 


Senhor!  Em  execiicao  das  disposicoes  do 
decreto  de  2S  dc  fevereiro  dc  1841,  e  de 
diversas  portarias  do  ministerio  do  reino, 
e  nomeadamente  da  de  10  de  agosto  ultimo, 
cumpre-me  apresentar  o  relalorio  do  estado 
d'adiuinistrafao  litteraria  d'esle  concelho,  o 
que  fafo  pela  forma  seguiute: 

Numero  e  estado  das  escholas  publicas 
no  cGdcelho. 

Ha  'nesta  villa,  cabera  de  comarca,  e  uma 
das  mais  importantes  da  Beira-\lta,  uma  ca- 
deira  de  latim,  outra  de  ensino  primario,  e 
cinco  d'estas  nas  freguezias  de  Fornos,  de 
Maceira-Dao,  Lobelhe,  S.  Thiago  de  Cassur- 
racs,  Chas  de  Tavares  (concelho  extincto),  e 
Abrunhosa  Velha. 

Na  primeira  (a  dc  latim)  corre  regular- , 
mente  o  ensino:  e  frequcntada  cITectivamen- 
te  por  30  alumnos,  termo  'nveflio,  sahindo 
em  todos  os  annos  alguns  prom'ptos'para  exa- 
roe.  Nao  ha  ediiicio -piihlico  para  se  cstabe- 
cer,  e  por  isso  d;i  aula  o  professor  era  -sua 
propria  ca«a. 

Na  segunda  (a  de  ensino  primario  d'esta 
villa)  houve  no  anno  lectivd,  proxiniaraente 
(indo,  um  melhoramcnto'con"sideravel'.  Esta- 
•bcleccu-se  em  uma  cas|i^,ijjw?bttca,  pagii  pela 
camara,  fornecou-seue  pedras  (arSdsias)  e 
de  todos  OS  mais  materiacs  c  u le'risfTTbs  ne- 
cessaries a  custa  da  raosma  Vam'ai'a-^  e.;  por 
esforcos  que  fiz  ,  putle' pbter-que  ■foss.e  fre- 
■quentada  efl'ectivamente  por  um  considcravel 
numero  de  alumnos-,  chegando  as  vezes  a 
100;  numero  cste  de  que  nao  ha  mcmoria 
no  curso  das  escholas  d'estc  concelho. 

Afiluirara  muitos,  que  por  falla  de  iiieios 
nao  iani  aeschola;  forneceram-se-lhes  abece-. 
darios,  livros,  e  os  mais  objectos  necessaries, 
a  expensas  das  irmaudades  e  confrarias,  por 
con'ile  que  Ihes  !iz.  •■  ■ 

Vol.  IV.  Fevereiro  1 


Ilouve  muilo  adiantamento  nos  alumnos, 
para,  o  que  concorrcu  fazer-lhes  eu  amiuda- 
das  visitas,  e  assistir  as  suas  licoes  e  exer- 
cicios. 

Adoptou-se  um  systema  de  ensino  muito 
approximado  do  —  mituo  —  porque  nao  era 
possivt'l  ensinar  numero  tao  avultado  pelo 
simultaneo.  Para  isto  mandei  vir  porcao  de 
abeccdarios,  livrinhos  d'ouro,  e  outros  sinii- 
Ihanles  compendios  de  civilidade,  c  cathecis- 
mos  pcquenos  da  Diocese  de  Coimbra,  Ma- 
nuaes  Encyclopedicos,  e  Arithmeticas  de  A. 
Forjaz. 

Se  'neste  anno  houver  professor  habili- 
tado,  maior  desinvolvimento  espero  dar  a  esta 
aula,  e  com  bom  resultado;  porque  ha  muita 
mocidade  que  a  ella  afflue,  e  com  vontade, 
para  o  que  tern  concorrido  muito  o  ter-se 
acabado  com  os  castigos  corporaes,  e  ter-sc 
inlroduzido  o  uso  de  cantar  certos  exercicios 
dc  taboada,  e  arithmetica,  de  que  os  rapa- 
zes  muito  gostam,  e  apprendemcantando,  imi- 
tando  'nesta  parte  o  methodo  Castilho. 

D'esta  boa  vontade,  e  feme,  e  sede,  de 
instruecao  me  certifiquei  eu,  quando  annun- 
ciei  que  daria  abecedaries  e  livrinhos  aos 
meninoE  pobres,  que  quizessem  ir  a  eschola, 
pois  que  vi  ii  porta  a  pedil-os  muitos  dos  que 
andam  pelas  portas,  niis,  e  cheios  de  fomc, 
e  OS  vi  depois  diligentes  e  applicados. 

0  professor,  que  regeu  a  aula  neste  anno 
foi  0  de  Fornos,  Antonio  Albino,  porque  o 
rcspcctivo,  Mathias  Pereira  de  Oliveira,  por 
sua  edade,  padecimentos,  e  circumstancias, 
podera  reger  uma  cadeira  rural  de  pequena 
concorrencia,  mas  dc  modo  nenhum  a  d'esta 
villa. 

Por  esse  motivo  se  propoz,  a  transferencia 
do  de  Fornos  pafa  esta  villa,  do  dc  Lobelhe 
para  Forno^,  e  do  d'esta  villa  para  Lobelhe, 
transferencia,  que  se  fez  por  conveniencia, 
ou  antes  necessidade  urgentissima  (quanta 
ao  d'esta  villa)  do  ensino  .publico,  e  por 
amigavel  combinacSo  entre  elles. 

Na  aula  de  Fornos,  regida.  pelo  professor 
temporario  de  Lobelhe,  Jose  Maria  d'Andrade, 
houve  bt^stante  concorrencia,  estudo  e  ap- 
plicacao'.  E  dada  em  casa  particular,  por  a  nao 
haver  piibliea.  Nao  se  Ihe  deram  ainda  utensj- 
lios  alguns  para  o  ensino,  e  somente  abece- 
darios,  e  livros  para  os  pobrds.  0  profess6r, 
il85G.  ■,    NiM.  21. 


■/ 


242 


leni  zelo  actividade  e  qualidadcs  para  poder 
regi'r  i-oiu  proveilo  unia  escliola  rural. 

Na  (le  Lobellie,  regida  polo  professor  vita- 
licio  da  cadcira  d'csta  villa,  Matliias  Pcroira 
de  Olivcira,  liouvc  niui  pequpiia  coiitorrcn- 
(ia,  e  quasi  nenlium  aproveitameiilo.  Este 
professor  nao  pode  conUnuar  a  fazer  servijo 
'iiesle  concellio,  por  muilo  conlieeido,  e 
inesino  porque  os  discipulos  nao  llie  tern 
respeilo  algum.  Elle  mesmo,  convencido  do 
que  tenho  dicto,  vai  requerer  transferencia 
para  fora  do  concelho,  o  que  e  de  necessl- 
dade. 

Na  de  S.  Thiago  de  Cassurracs,  freguezia 
jjopulosa,  que  podia  trazer  100  discipulos  cf- 
fcclivos  nao  trouxe  certamcnlc  10,  nao  por- 
(|ue  fa  Item  ao  professor  conliecimentos,  e 
iiUelligencia  para  bem  reger  a  cadeira,  mas 
porque  a  indolencia  e  deslcixo,  (jue  os  paes 
lem  em  mandar  os  filhos  ;i  escliola,  accresce 
a  indolencia  e  desleixo  do  professor  cm  os 
ensiuar,  e  accresce  tambem  certa  prcveuciio, 
que  a  freguezia  tem  contra  elle.  Este  profes- 
sor e  0  padre  Simao  do  Aniaral  Chaves.  Ten- 
ciuno  'ncste  anno  dar  grande  impulso  a  esta 
aula,  e  para  isso  oiliciei  ja  a  juncta  de  parc- 
chia,  que  lem  hoje  um  presidente  zeloso  e 
intelligeute,  pedindo-lhe  uma  relacao  de  to- 
dos  OS  rapazes  uas  circumstancias  de  irem  a 
eschola,  para  os  fazer  concorrer,  pedindo-llie 
tambem  a  sua  cooperacao. 

A  das  Chas  de  Tavares  esta  regida  por  uni 
substituto  de  nomeacao  minha  devidamente 
conlirmada,  porque  tendo  o  professor  effectivo, 
Antonio  da  Fonseca  Real,  obtido  um  substi- 
tuto para  poder  ir  viver  com  a  mulher  nos 
Couttos,  concelho  deViseu,  com  a  qual  casou 
'nesse  tempo,  e  tendo  estado  a  concurso  por 
duas  vezes  para  provimento  da  substituicao, 
nao  tem  appareeido  eandidato,  nem  appa- 
rece.  Esta  actualmente  regida  por  Francisco 
Franco  Vellozo,  que  tem  as  habilitacoes  e 
qualidades  neccssarias,  para  bem  servir; 
nao  quer  porem  ser  substituto.  'Nesta  locali- 
dade  ha  uma  casa  da  camara,  onde  pode 
cstabelecer-se  a  aula  com  regularidade,  o 
que  somente  se  fara  depois  de  provida  a  ca- 
deira. 

A  d'Abrunhosa  Velha,  finalmente,  e  regida 
pelo  professor  vitalicio  Jose  da  Costa  Paes, 
homcm  de  poucos  conhecimentos  e  expediente; 
no  entanto  vai  tirando  mais  algum  fructo 
do  que  outros  mais  habilitados. 

A  aula  e  em  casa  d'elle,  e  somente  se  Ihe 
tem  fornecido  alguns  abecedaries  elivros:  ha 
de  tambem  melhorar-sc  o  seu  estado  logo  que 
se  possa. 

Em  todas  estas  escholas  o  systema  do  en- 
sino  e  o  sitinillanco;  icnho  porem  rccommen- 
dado,  que  se  aproveite  do — mutuo  —  quanto 
se  possa. 

Nao  se  ensaiou  o  de  — Ca^a/Ao  — por  nao 
haver  professor  habililado. 


Escholas  da  camara,  junctas  de  parocliia, 
confrarias,  e  de  parttculares. 

Nao  ha  nenhuma,  que  mereca  este  nome. 

As  junctas  e  confrarias  d'algumas  fregue- 
zias  nao  tim  meios  para  o  cstabelecimcnto 
d'ellas;  e  aquellas,  que  os  t6ri  nao  o  fazem, 
dizendo,  que  as  suas  freguezias  pagam  a  con- 
tribuicao  do  subsidio  litterario,  e  as  mais  do 
estado,  na  niesnia  proporcao,  que  as  fregue- 
zias conlempladas  com  cadeiras:  que  as  con- 
tribuicOcs  devem  ser  geraes:  e  que  o  ensino 
tambem  se  deve  dar  gratuito  as  suas  fregue- 
zias como  se  da  as  outras. 

Tem  'nisto  muita  repugnancia,  que  ha  de 
cuslar  a  veneer. 

Escholas  de  particularcs  ha  algumas,  niui- 
to  pouco  concorridas,  e  muito  irregulares,  sem 
professores  habilitados,  e  que  assim  mesmo 
vao  ensinando  muilo  mal  pelas  freguezias. 
Se  se  Ihes  exigir  a  habilitacao,  deixarao  de 
ensinar,  e  nao  sei  qual  sera  maior  mal,  at- 
tendendo  a  que  ha  povos,  em  ((ue  nao  ha 
quasi  ninguem,  que  saiba  ler  uma  carta,  ou 
uma  ordem,  que  se  raande. 


Providencias,  e  necessidades,  que  reclamam 
medidas  supcriores. 


Para  se  ver  quanto  e  impcrfeito  o  actual 
systema  de  escholas  de  ensino  primario, 
bastard  allender  ao  numero  d'cstas  em  cada 
concelho,  e  ao  raio  da  circumferencia  de  po- 
vos, que  se  obrigam  a  concorrer  a  ellas.  0 
dccreto  de  20  de  setembro  de  1844  reconhe- 
ceu  a  necessidade  de  obrigar  os  paes,  e  tuto- 
res,  a  mandarem  os  lilhos,  pupilos,  e  subor- 
dinados  as  escholas ;  mas  obrigou  so  os  que 
cstivessem  dentro  de  um  quarto  de  legua  em 
circumferencia  d'cstas. 

'Nesle  conselho  ha  18  freguezias,  e  6  escho- 
las, ficam  por  tanlo  12  freguezias  sem  ensi- 
no, e  das  e  ainda  parte  das  povoacoes  d'el- 
las ficam  sem  a  obrigacao  do  ensino  por  cx- 
cederem  a  esse  quarto  de  legua. 

E  merecerao  estes  seis  lao  limitados  cir- 
culos  de  ensino  a  despeza  de  CCO^GOO  reis, 
que  0  estado  e  a  camara  fazem  somente  com 
OS  ordenados,  e  gratificacoes  dos  professores 
para  ensinarem  200  rapazes,  quando  muito, 
e  mal?  Nao  por  certo. — Este  estado  nao  deve 
continuar.  E  necessario  uma  aula  em  cada  fre- 
guezia, se  se  quer  levar  a  instruccao  a  todas 
as  aldeias.  Reconheco,  que  nem  o  estado, 
nem  as  camaras  (ja  muilo  sobrecarrcgadas) 
podem  com  tanla  despeza:  ba  comludo  o 
meio,  que  me  parece  poderia  adoptar-se  como 
provisorio,  e  em  quanto  as  circumstancias 
linanceiras  nao  raclhorassem. 

Estabelecer  uma  aula  muito  regular,  com 
professor  bem  habililado  na  cabeca  do  con- 


I 


243 


celho,  e  bem  remunerado;  e  ainda  lanibem 
em  algumas  freguezias,  que  tivessem  povoa- 
cSes  mais  imporlantcs  e  illustradas. 

A  estas  aulas  podiam  concorrei-  lodns  os 
rapazes  do  concelho,  que  desejasM  iu  mais 
esmerado  ensino.  Nas  de  mais  freguezias  ru- 
raes  seria  baslante,  nas  circurastancias  em 
que  nos  achamos,  repito,  estabelecer  escho- 
las,  com  meuos  habllitacoes  e  despezas  para 
OS  professores,  e  que  nao  fossem  obrigados 
a  ir  examinar-se  nos  lyceus,  e  sempre  tem- 
porarios,  para  trabalharera  com  mais  zelo,  e 
applicacao  ;  pois  que  a  expericncia  mostra, 
que  logo  que  ol)tem  a  propriedade  das  cadei- 
ras,  dimiiiue  muito  o  seu  zelo  e  cuidado. 
Dando-se  a  cstes  professores  ruraes  uma  gra- 
lificacao  do  ihesouro  e  da  camara,  com  algum 
auxilio  das  junctas,  irmandades  e  confrarias, 
e  mesmo  taivez  dos  pae.s  que  tivessem  mcios, 
achar-se-hiani  pe'.as  freguezias  parochos,  onde 
coaviesse,  e  vizinbos,  que  sc  encarregariam 
d'este  servico  por  esta  menor  retribuicao,  e 
que  todavia  se  nao  propoe  a  cadeiras  fora  de 
sua  casa  com  maiores  interesses,  nem  se 
sujeitam  a  concursos  em  lyceus;  promplili- 
cando-se  todavia  a  babilitarem-se  nos  seus 
concelhos. 

Uir-se-ha,  que  este  systema  tem  inconve- 
tes,  e  e  rauito  imperfeito:  reconbeco;  mas  o 
actual  lambem  os  tem,  e  nao  preenche  as  ne- 
cessidades  do  ensino,  e  muito  tarde  se  podera 
levar  por  elle  a  instruccao  a  todas  as  fregue- 
zias, 0  que  e  de  absoluta  necessidade.  A.  ex- 
pericncia de  todos  OS  dias,  e  de  todas  as 
cidades,  villas  e  aldeas,  nos  moslra,  que  ain- 
da mesmo  onde  ha  professores  publicos  vita- 
licios,  e  por  isso  considerados  como  muito 
habilitados,  os  paes  de  familia  recorrem  mui- 
tas  vezes  a  professores  particulares  com  pou- 
ras  habilitacoes,  para  Ihes  ensinarcm  os  filbos, 
com  muito  mais  provcito  do  que  os  das  gran- 
des  habilitacoes  e  formalidades.  Eu  por  mim, 
sem  se  receber  nada  mais  do  thesouro  nem 
da  camara,  do  que  os  referidos  660^000  reis, 
montaria  escholas  em  todas  as  freguezias 
d'este  concelho,  em  que  poderiam  cstudar  mil 
rapazes  effectivanionte,  em  quanto  que  pelo 
systema  actual  nao  fretiuentam  as  escholas 
publicas  elfeclivamente  mais  de  duzentos.  A 
differenca  e  muito  consideravel. 

Conviria  tambem  muito,  que  se  ordenasse 
a  administracao  da  impreasa  da  L'niversidade, 
que  estahelecesse  nos  pontos  mais  imporlantes 
dos  districtos  depositos  de  abecedaries,  livros, 
arithmeticas,  e  traslados  que  fossem  designa- 
dos  pelo  conselho  superior,  como  mais  pro- 
prios  para  o  ensino,  porque  d'este  modo  se 
proporcionaria  aos  paes  de  familia  oecasiao 
para  os  comprarem,  e  se  evitaria  a  desculpa 
de  OS  nao  terem,  acabando-se  assim  com  uma 
diversidade  de  livros,  que  apparecem  nas 
escholas,  que  os  rapazes  nao  entendera,  e  em 
que  por  isso  nao  podem  ler  com  gosto,  alem 


de  concorrcr  muito  para  a  economia  do  tempo 
na  eschola,  e  utilidade  do  ensino,  a  unifor- 
midade  dos  abecedaries  e  livros. 

Os  professores  e  paes,  por  si,  em  geral  na- 
da fazem:  para  'neste  concelho  haver  esta 
uniformidade,  foi  preciso,  que  eu  mandasse 
vir  todos  esses  objectos.  0  mesmo  e  provavel, 
que  acconteca  nos  mais  concelhos. 

Os  professores,  pela  maior  parte,  princi- 
palmente  sendo  vitalieios,  curaprem  seus  de- 
veres  com  muita  indolencia;  nao  se  aflligeai 
com  trazerem  poucos  discipulos,  porque  se 
desculpani  com  o  desleixo  dos  paes. 

0  meio  mais  proticuo  para  cumprirem  e  o 
das  visitas  amiudadas  do  administrador  do 
concelho,  ou  de  alguem  da  camara. 

Algumas  sc  tem  feito  'neste  concelho,  e 
'neste  anno  se  hao  de  fazer;  no  entanto  os 
administradores  de  concelho  nao  podem  viver 
so  de  patriotismo,  e  por  isso  em  quanto  nao 
apparecer  uma  reforma,  que  Ihes  de  uma 
retribuicao  razoavel,  consideracao  e  garan- 
tias,  mat  podem  tambem  cumprir  com  este, 
e  outros  importantes  deveres,  porque  preci- 
sam  de  ter  outro  modo  de  vida,  que  Ihes  de 
de  comer,  ticando  por  isso  prejudicado  o  ser- 
vice da  administracao. 

E  quanto  por  agora  se  me  olTerece  dizcr  a 
Vossa  Magestade,  a  quem  Deus  guarde  por 
muitos  annos. 

Mangualde,  20  de  outubro  de  ISoS. 
0  Administrador  do  concelho, 
FUANCisco  d'albuquebqije  couto. 

Exiraoto  <Io  mappa  <lo  movimonto  dan 
encholas  de  inHtrurrilo  publica  no 
ronrellio  de  Uansuaide  no  anno  de 
1854   a  1855. 

.\lumnos 

Frequentaram  as  seis  cadeiras  d'ensi- 
no  simultaneo  no  concelho  de  Man- 
gualde      224 

D'estes  sahiram  para  occupacoes  .     .  41 

Para  estudos  superiores     ....  10 

Perderara  o  anno 3 

Ficaram  existindo  em  agosto  de  1835  2b6 
A   cadeira   de  grammatica  latina  de 

Mangualde  foi  frequentada  por  .  25 

Destes  sahiram  para  estudos  superiores  3 

Para  occupacoes  2 


METHODO  DO  ENSINO  PARALELLO 

DA 

ESCRIPTA  E  LEITIRA. 

0  opuscule,  de  que  damos  conhecimcnto 
ao  publico,  comeca  e  continuara  a  ser  im- 
presso  'neste  jornal.   Auctorisada  a  publica- 


244 


rao  polo  sen  auctor,  jiilgamos  fazcr  com  ella 
valioso  servifo  a  instnuTao  priniaria. 

0  iiotiio  do  auctor  e  o  elofiio  da  sua  obra. 
0  sr.  Marcclliano  Itihciro  de  Mcndonca, 
coniniissario  dos  csludos  na  Madeira,  e  niuilo 
foiilieiido  e  esliiuado  de  lodos  os  cullores  das 
l)oas  Ictras.  A  ol)ra,  que  elle  dedica  ao  pro- 
gvesso  da  instruerao  priniaria,  revela  nuiito 
saber,  muito  scria  oliservarao,  c  niuito  dcse- 
jo  de  facilitar  o  esludo  aos  ahimnos,  o  abi)re- 
viar  0  tempo  do  aprendizado,  que  em  verda- 
de  e  longo,  e  cnradonho. 

Comprehcndcndo  perfeitamente  a  causa  do 
lonijo  tirocinio,  olTerece  um  novo  nielhodn  de 
eusino,  nioldado  por  outro  ja  ensaiado,  c 
provado  num  dos  mais  iliustrados  paizes  da 
Europa,  do  qual  este  jornal  tern  dado  noli- 
cia.  Se  0  sr.  Uiheiro  de  Mendonca  desconlie- 
cia,  come  c  possivel,  o  novo  methodo  de 
Mr.  L.  C.  Miciu'l,  e  maravilhosa  a  coinciden- 
tia  dos  dois  proteclores  da  inslruccao  popu- 
lar; se  llie  nao  era  cslranho,  nem  por  isso 
fez  .servico  menos  rolevanle  as  letras  palrias, 
transplantando-o  e  melliorando-o,  para  a  lin- 
gua portugueza. 

Pondo  de  lado  a  parte  scienlifica,  transcen- 
dente,  e  puramenle  philosophica  da  formacao 
da  voz  e  loqueia,  cm  que  poderiamos  I'azer 
•alguns  reparos,  na  parte  praclica  do  metho- 
do parece-nos  encontrar  muito  ingenho,  mui- 
ta  psychoiogia,  e  muita  logica  para  desejar- 
mos  ver  as  tabellas  de  leilura  e  escripta,  que 
elle  indica,  e  os  resultados  practices  de  sua 
applieacao,  em  que  temos  fe. 


ISTRODUCCJO. 


Pero  licenca  aos  senhores  professores  de 
ensino  primario  para  od'erececer-lhes,  e  a  nio- 
cidado  educanda  do  meu  paiz,  um  pequeno 
traballio:  e  mais  uma  soluoao  a  este  impor- 
tanle  problema — « qual  o  melhor  methodo  para 
cnsinar  uma  creanca  a  ler  e  a  escrever?» 

Investigando  qual  o  melhor  methodo,  6 
meu  intento  dcscobrir  um,  que  seja  facil. 
Mas,  como — tal  so  podera  ser  o  que  for  ver- 
dadeiro, — e  verdadeiro  o  que  effectivamente 
se  conformar,  tanto  com  as  leis  logicas  do 
espirilo  humano,  como  com  os  factos  funda- 
mentaes  da  liuguagcm;  daro  esta  que  do 
estudo  e  e.xame  d'estes  factos  6  que  ha  de 
sahir  a  theoria,  que  devc  dar-nos  o  methodo 
procurado. 

Este  modesto  opusculo  tem  pois  de  divi- 
dir-se  em  duas  partes:  —  uma  theorica,  cujo 
conhecimento  pertcncera  exclusivamente  ao 
professor, —  e  outra  puramente  praclica,  ten- 
dentc  a  (ixar  a  attencao,  e  facilitar  o  tiroci- 
nio do  discipulo. 

A  primeira  parte,  forca  me  sera  subdivi- 
dil-a  cm  trez  seccOcs  — Na  primeira  farei  a 


crilica  dos  raethodos,  que  ora  andam  mais 
em  voga  no  ensino  d'aquellas  disciplinas. — 
Na  segunda  farei  a  cxposicao  dos  factos  fun- 
damcntaes  da  linguagem,  no  seu  ponto  de 
vista  [ihonico  e  orthographico ;  e,  mediante 
as  relacoes  naturaes  d'clles.  coordenarei  esses 
factos  de  niodo,  que  fornieni  uma  especie  de 
theoria. — Na  terceira  sollarei  d'essa  thwria 
as  ref/ras  pnicliiiis  que  nclla  se  contiverera, 
e  cuja  deduci.ao  dara,  es()ero  eu ,  o  mais 
facil  e  verdadeiro  methodo  que  pode  seguir 
um  professor  para  ensinar  a  \h  e  escrever 
hem,  e  em  pouco  temjio. 

A  segunda  parte  so  contera  modelos  para 
escripta,  o  promiiluario  de  palavras  deconi- 
ponendas,  labuas  de  si/llahas  naturaes  e  arti- 
ficiaes,  alphalicto  manuscripto,  so  e  compara- 
do  com  0  de  teltra  redonda,  trechos  para  cxer- 
cicios,  tudo  escripto  cm  lettra  de  mao;  por 
que,  segundo  as  condifoes  d'este  methodo,  e 
esse  0  unico  caracter  de  lettra.  ([uc  devc  co- 
uhccer  o  discipulo,  em  qaanto  nao  souber 
escrever  e  ier  correntemeute. 

Tenlio  a  esperanca,  quasi  infallivel,  de 
que  este  methodo,  quando  conscienciosamen- 
te  applicado,  ha  de  poujiar  a  puericia  muito 
dissabor  e  angustia  de  corpo  e  de  espirito; 
ha  de  consideravelmente  facilitar-Ihe  o  co- 
nhecimento das  materias,  que  por  elle  se 
tracta  de  ensinar.  Oh!  se  assim  fur,  se  esta 
minha  esperanca  for  uma  rcalidade  . . . .  esta 
conseguido  o  meu  dexideratum,  e  eu  soheja- 
mente  pago  do  trabalho  (jue  me  haja  custado 
a  solu^iSo  a  que  cheguei. 


SEC^AO   I. 

Crilica  dos  methodos  mais  em  voga 
presentemenle. 

Depois  do  ensino  moral  e  religioso,  o  mais 
importante  de  todos  os  ramos  do  ensino  pri- 
mario e,  inquestionavelmente,  o  das  disci- 
plinas de  ler  e  escrever. 

Com  referencia  a  este  ramo  de  ensino, 
tem  apparecido  e  estao  diariamente  appa- 
recendo  novos  methodos ,  todos  inspirados  pelo 
louvavel  desejo  de  communicar  ao  alumno, 
no  menor  prazo  de  tempo  possivel,  o  cabal 
conhecimento  d'aquelles  prelimiuares  para 
toda  a  especie  de  instruccao. 

0  tempo,  que  nao  e  riqueza  para  despre- 
sar  em  quadra  alguma  da  vida,  muito  menos 
0  deve  ser  'naquclla  de  cujo  aproveitamento 
depende  o  bem  estar  de  todas  as  outras. 
Mas  acima  da  economia  do  tempo,  acima  da 
brevidade  do  tirocinio  estao,  em  meu  enten- 
der,  a  perfeicao  e  proficuidade  d'elle.  Que 
monta,  com  elfeito,  ensinar  mal,  posto  que 
em  pouco  tempo,  o  que  so,  sabendo-se  bem, 
pode  aproveitar? 


ll 


245 


'Neste  presiipposto,  cxcusado  c  diz'T  'pi." 
me  iiiio  cnibcllcsa  esse  tao  priTOiiiziiilo  i:ii'- 
tliodo  (!a  leilura  rejmnlinu;  o  qual,  auiiaiido 
ao  niaravillioso,  pronieltu  cnsinar  a  Irr  em 
dois  mezi's;  mas,  para  cnsinar  a  esciever, 
cxige  como  condirao  sine  (/»»  non,  a  Nagalcla 
do  sanilicio  de  todas  as  Iradirocs  e  liliaroes 
elymologicas  da  lingua.  I'olji-e  Camocs!  Sc 
tiveras  lido  a  fortuna  de  adevinliar  cstc  nie- 
Ihodo  .  .  .  .  oiitio  gnllo  tc  eanl.ira.  Kis  aipii 
comn  escrevciias  a  piiineira  eslancla  dos  tens 
Lusiadas  immortaes: 

Az  armaz,  i  ux  ro)(5i;  r.siiirilitilux 
(Je  da  osiilcnlftl  prdia   Litzitiina 
J'ur  mnrcd-  vuga  diilrx  iiavei/ailux 
I'n^nrc.t'    'itfci    ulai   da    'Jaiinthanu; 
Qr  ai  jimUjux  i  qciaz  rxfuisodvx 
Jtl'ii.r  du  qe  jirrmitUi  a  fmsii  %imanQ, 
Eire  jrtc  icmtita  idi/ir/ardii 
A'lM'u  ruiiia  cjr.  ITilu  siiblimur'iu.' 

Tanil)em  me  nao  desvelo  pnr  ess'oiUro  me- 
llindo,  que,  ao  eaves  do  primeiro,  so  ciira 
rie  en^iiiar  a  piiUar  iHlrus,  pionuilgando  iima 
inlinidade  de  leis  para  cada  uni  dos  actos 
da  escripta,  desdc  o  aparo  da  pcnna,  poslii- 
ra  do  corpo  c  collocaeao  dn  pnpel,  ate  ;is 
Dials  rccondilas  e  niiudas  suhlilezas  do  Ira- 
rado  das  miiisciilaa  e  niiniiscula-^,  itoliciis,  tjo- 
tliicas.  saxnnifas,  ruicas,  Icntoniciis,  etc. 
Escrever  lioiiito,  pinlar  bem  os  caractcres 
itipliahcticos  podera  scr — se  o  qiiercm  —  nma 
laeiida ;  mas  oscrever  limpo,  rapido  e  eerto, 
e  Ulna  neccssidadc. 

Ambos  estes  nietbodos  sao,  a  men  ver, 
viciosos  por  lima  razao  analoga — ambos  se- 
param  coiisas  qne  a  natiircza  creara  para 
aiidarcni  jnnctas,  e  que  so  jiinctas  andani 
hem;  porque  so  assim  se  aii\iliam  c  com- 
pb'tam  unia  a  oiitra.  Qucmqiier  (jue,  sem 
jircvenrao,  oxaminar  o  que  sao  em  si  as 
operai'Oes  de  ler  e  escrever,  de  prompto  rcco- 
nlieeera  que  o  vcrdadciro  methodo  de  eiisi- 
iial-as  consisic  "  em  niio  separar  o  estudo  de 
lima  do  estudo  da  outra,  comeeando  todavia 
pelo  da  eseiipla.  " 

Assim  coiiiii  0  homem  so  depois  dp  pensar 
falbf.  e  de  I'aflar  esereve ;  assim  tamhem  so 
depois  de  eserever  le.  Niio  escrcve  porfpie 
le,  mas  le  porqiie  escrcve.  .\.  escripta  c  iim 
liabito  mechanico.  ao  qual  teni  de  respoiider 
oiitro  haliito  ii)tcli(M-lnni,  que  e  o  ler.  K  se 
estes  dois  babilos  dependem  iini  do  oiitro  ])or 
nianeira  tal,  que  o  corpo  nao  pnde  coiitra- 
hir  0  primeiro,  sem  que  o  espirilo  \(i,  ao 
mesmo  tempo,  ndqiiiiiiido  o  scguiido,  e  evi- 
dent*', (|iic  0  liiellior  meio  de  lixar  iia  memo- 
ria  OS  valorcs  plionicos  da  leitura,  e  dar  a 
rada  um  d'clles  um  sijmliolo .  e  adqiiirir  o 
ha!)ito  de  tracar  com  facilidade  as  figuros 
que  symljoiisani,  e  (scrcvel-os. 

'    V.  MolhoJuCaslilli.)  p.  146. 


De  feito:  a  escriptura  e  para  a  leilura  uma 
especie  demnemonica.  So  ensinaiido  a  escre- 
ver uma  creanca,  e  que  se  liie  bade  ensinar 
a  ler  —  com  facilidade,  c  nao  ao  contrario; 
por(|ue  a  lorca  de  attencao,  de  (|iie  e  capaz, 
nao  Ihe  pcrmitte  exercer  a  operariio  da  lei- 
tura, sem  0  adminiculo  de  signaes  graphicos, 
que  llie  sirvam  de  meio  mneniotecbiiico  para 
estaiiipar  na  memoria  os  sous  clementares 
da  palavra. 

Logo  [lorem  que  a  creanca  loni  assaz  il;' 
lino  c  forca  para  tomar  nos  dedos  uma  |ien- 
na  e  tracar  com  ella  linhas  rectas  c  curvas. 
que  sao  elemeiitos  de  loda  a  lettra,  enlao  ja 
esia  no  caso  de  aprcnder  a  escrever,  e  a  Irr 
consi'guinlenienle;  por([ue  tndos  os  esforcoJ 
([lie  (izer  para  imilar  os  signaes  graphicos, 
que  leni  diante  dos  ollios,  quasi  a  nao  sabi- 
(ias  d'ella,  a  irao  nieltcndo  de  posse  do  vabir 
plionico  de  cada  um.  Este  valor  por  lal  mo- 
do  sellie  associaiii  no  espirilo  com  osymbolo 
(|ue  0  representa,  que  a  vista  d'esle  logo 
llie  suscitaid  a  lenibranca  d'aquelle,  e  vice 
ver<,n. 

I'onto  cssencial  para  a  exequibilidade  d'este 
melbndo,  e  nao  conslrangcr  o  educando  a 
I'azer  o  que  nao  com])rehende,  o  que  absoln- 
tamciilc  nao  jicide  cnmiirebcndcr,  scja  qual 
for  0  grau  de  intclligencia  que  liic  liaji 
lilieralisado  a  niao  de  Deus:  —  ponto  esscii- 
cial  li  nao  exigir  d'elle,  que  dccoiiiponha  a 
syllaba  em  leltras,  ncm  com  estas  recoinpo- 
nlia  aqiii'lla;  ponjue  lanio  uma  conio  outra 
operacao  e  impossivel  para  elle,  no  esiado  (]:■ 
embriao  intellcclual  em  que  se  acba,  nior- 
mente  por  efi'eito  do  mctbodo  que  preside  ao 
ensino  da  leilura. 

Todos  OS  syilabarios  que  conbcco,  cKiiidi- 
cam  'neste  ponto — lodos  seguein  uma  mar- 
clia  contraria  ii  do  espirilo  hiimano;  todos 
|iartcm  do  simples  para  o  composio,  doabstra- 
cto  para  o  concrelo,  do  mais  diliicil  para  o 
mais  facil ;  todos  comecam  por  ensinar  a  In- 
leltras  para  cnsinarem  depois  a  ler  sijllabcis, 
([uando  nao  ha  lettra,  que  nao  seja  o  signal 
arbitiiirio  de  uma  cousa,  que  per  si  so  iiao 
teni,  nem  pode  ler  valor  algum,  em  pontes 
de  realiilade  exterior. 

Todos  sabeni  (pie  as  lettras  do  nosso  alpba- 
beto  so  designam  dois  dos  quatro  elcuienlos 
que  enlram  na  composiciio  de  todo  o  som 
articiibulo  —  a  voz  e  a  arliniliiran.  .Mas,  co- 
mo na  natiireza  niio  ba  som  ariiculado  qii.'. 
nao  rciina  tndos  aqiiclles  clenieiilos  sinuilla- 
neamente,  e  obvio  que  cada  lettra  dc  per  si, 
com  qiianto  assignab^  o  producto  de  nma 
nhstriirrun,  nao  signiiica  cousa  algiima  rcai. 
— cousa  algiima  C|Ue  uma  creanca  possa  scntir 
e  coiiliccer. — cousa  alguma,  [.or  conscqiien- 
cia,  de  que  ellB  possa  temhriir-xe,  qiiando 
acerle  de  alTronlar  com  o  signal  ([ue  llie  serve 
de  symbolo. 

Ora,  assim  conio  na  ordem  real  niio  pode 


246 


Iiaver  articulafao  sem  toi,  nera  voz  sem  arti- 
culaiao,  tambem  ao  orgiio  da  falla  nao  e  dado 
proferir  o  valor  dc  cousoaiite  alguma  sem  vo- 
ijal,  nem  o  de  vogal  sem  consuunle.  Que  I'az 
•jualquer  de  nos,  quaudo  acaso  ve  escriplos 
estes  signaes  «  a  «  «  fc  »?  Para  li^r  o  primei- 
ro,  juucta-lhe  mentalmcnte  a  consoante  «  h  » 
iigual  da  arliculafao  d'aqiiella  voz;  para  lor 
0  seguudo,  junla-llie  taml)em  a  vogal  '■  i^d  fc- 
chado,  signal  da  voz  d'aquclla  articulaoao; 
e  assim  diz  t  ha  »  »  be.  »  E  isto  que  cada 
urn  de  nos  faz,  uao  pode  deixar  de  fazel-o 
qiialqticr;  doulro  inodo  lora  irapossivel  ler 
taps  signacs. 

Pois  0  que  a  iiciiiium  de  nos  e  dauo  fazcr, 
o  que  alisoiutanii'ule  nao  pode  reallzar  nc- 
nhum  sabio  d'esic  nuindo,  querem  os  bons 
dos  nossos  syllabaries  que  saiba  e  possa  I'a- 
zel-o  uma  creanoa!  Querem  que  a  triste  de- 
lOmponba  a  syllaba  em  leltras,  e  que,  vendo 
no  alphahelo  letlras  voi/aes  elellras  eonsoaiitex 
isoladamtnle  escriplas,  va  de  piano  tradu- 
zindo  cstas,  por  artlcularOes  sem  voz;  aquol- 
las,  por  vozes  sem  articularao!  Querem  o 
irapossivel. 

Mas,  como  contra  esta  impossibilidade  for- 
cosamente  haviam  de  quebrar-se  todas  as 
velleidades  e  orgullio  da  ignorancia  pedago- 
gica,  que  I'azem  os  syllabarios?  Mettcni  no 
espirito  da  pobrc  creanca  um  primeiro  crro, 
que  incvitavelmeutc  ha  de  creseer  com  ella, 
e  ha  de  ser  germen  de  muitos  outros.  Abys- 
sus  abyssum  invocat.  Consiste  o  erro  a  que 
allude,  em  fazerem  cntender  ao  educando 
que  "  cada  lettra  do  alphahelo  e  signal  de 
um  som  perfeilo » ;  porque,  o  que  invariavel- 
menle  se  Ihe  tem  cnsinado  desde  o  primeiro 
dia  de  eschola,  e  —  que  a  val  ka,  b  val  be, 
c  val  c^,  m  val  emme,  e  assim  por  diante. 

Depois  de  Ihe  terem  arreigado  bem  no 
espirito  esle  erro,  vao  mais  longe  os  sylla- 
barios; impOem  a  pobrc  creanca  a  nccessl- 
dade  de  fazer  absteufao  do  senso  comnnim, 
de  comprehender  o  absurdo,  de  realizar  o 
irapossivel.  Agora  exigem  d'clla  que,  solle- 
tramlo,  tire  de  cada  duas  ou  tres  d'aquellas 
lettras  um  som  simples,  quando  cada  uma  de 
per  si  ja  era  signal  de  um  som  com|)leto.  Bar- 
baros!  Ensinareis  ao  credulo  discipulo  que 
esta  unica  lettra  b  val  be,  que  esl'outra  a  val 
ha,  e  quercis  agora  que  a  amhas  juntas  so 
elle  de  este  valor  ba? . .  Corao!  . .  .  Pois  se 
elle  livesse  um  tostao  'nuraa  niao,  e  mais  um 
losiao  na  outra,  junctando-os  arabos  'numa 
so,  uao  teria  'nesta  dois  tostoes? 

Ja  uma  vcz  em  niinha  vida  live  de  ensi- 
nar  a  kV  um  aduUo;  e  como  seguisse  o  me- 
ibodo,  que  seguiam  lodos,  live  occasiao  de 
observar  um  lacto,  (pie  me  surprehendeu  e 
rauito  maravilhou  a  principio;  porem  depois 
metteu-me  a  caminho  da  descoberta  da  falsi- 
dade,  que  jazia  no  amngo  d'csse  raetbodo. 
Ladino  e  licl  as  rainhas  licoes,  o  bora  do 


adulto,  quando  solletrava,  contava  sempre 
mm  0  valor  que  Ibe  eu  ensinara  ter  cada 
lettra;  e  assim  dava  a  cada  palavra  tantas 
syllabas  pelo  menos,  quanlas  batras  'nella 
bavin.  «  Fama,  n  por  cxeniplo  valia  para  o 
martyr  do  meu  cnsino  este  palavrao — effeaem- 
mea.  Voqo  encarecidamente  ao  leitor  que  .<ie 
nao  ria  ....  Dc  t'eito,  bavia  mais  logica  na 
pnictica  do  meu  pobrc  discipulo,  do  que  do 
melliodo  com  que  o  ensinava  ou. 

Para  remediar  a  este  e  similbantes  incon- 
vonieiUes,  viera  a  leitura  repenlina  com  o  seu 
plagiato  do  melhodo  rocal  ou  plioKelico;  e  ten- 
do  cm  virtude  d'cstc  metbodo,  <lenominado 
todas  as  consoantes  de  um  modo  analogo, 
I)ela  simples  adjunccao  do  «  e  >'  niudo  a  cada 
uma,  poz-sc  a  rir,  como  uma  douda,  por  en- 
tondor  que  tinha  com  isso  foiln  tudn:  m,  por 
exompio,  que  sempre  se  donomiuara  emme, 
tove  depois  do  novo  baptismo  o  nome  de  me. 
Egual  sorte  tiveram  as  oulias  con>oantes  f,  I, 
n,  r,  s,  X,  etc.,  que  os  latinos  diziam  semivo- 
ijaes,  e  nos  appellidavanios  com  os  disyllabos 
e/fe,  elle,  (nne,  erre,  esse,  chiz,  etc.  Rerao- 
vcu  por6m  esta  innovacao  a  difficuldade? 
Nao ;  addicionou-lhe  outra  niaior. 

Quando  mais  se  empavonava  a  leitura  re- 
penlina  para  requerer  alvicaras  pela  desco- 
berta, veio  a  enconlrar  'nella  as  mais  atrozes 
gonionias.  Ja  live  o  gosto  de  ouvir  a  um 
aposlolo  d'estc  metbodo  snilctrar  a  palavra 
htma  d'este  modo — le-a-mc-a.  E  quanto  mais 
ardia  por  que  Ihe  respondesscm  os  discipu- 
los  «  luma,»  mais  recalcitravam  os . .  .  perros 
em  ier  sleamea,  leamea.u  'Neste  affogo,  o 
apostolo  era  um  martyr.  A.  dilliciildadc  da 
solletrayao  das  consoantes  continuou  quasi 
precisaraente  como  era  'd'autes  da  innova- 
cao; tudo  oque  esta  fez,  foi  crcar  outra  diffi- 
culdade. 

0  iustincto  philologico  do  povo,  dando  a 
ccrtas  consoantes  nomes  dissyllabos,  ([uizera 
signilicar  com  isso  « que  cada  uma  d'cstas 
tinha  dill'erente  valor,  seguudo  vicsse  antes 
ou  depois  de  vogal. »  Assim  chamando  hiune, 
eime,  elle,  erre,  esse,  etc.,  a  estes  signaes 
m,  n,  I,  r,  s,  etc.  o  pensamento  do  povo  era 
indicar,  que  to  antes  de  vogal  val  me,  de- 
jiois  val  em;  n  antes  de  vogal  val  ne,  depoi.'? 
val  (n;  I  antes  de  vogal  val  lu,  depois  val  el; 
r  antes  de  vogal  val  re,  depois  val  er;  e  assim 
a  rcspeilo  das  mais. 

A  leitura  rcpentina,  porem,  reduzindo  os 
noracs  de  taes  consoantes  a  puros  raonosylla- 
bos,  como  que  supprimiu  metade  do  valor 
de  cada  uma ;  c  quando  acaso  encontrou  al- 
guma, posposta  a  vogal  respectiva,  ficou  lon- 
ta,  aparvalhada,  d'olhos  em  alvo,  sem  saber 
como  quadrar  o  valor  que  ora  tinba  a  con- 
soante, com  0  novo  nome  que  Ihe  impozera. 
E  na  verdade:  se  I,  por  exemplo,  so  tem  dc 
valor  le,  alto  deve  ler-se  aleto;  se  in  so  val 
me,   como   se  ha  de   Ier  cm  umbos,   senao 


247 


Amebos?  0  que  cstava,  Dao  cstava  de  todo 
mau.  Quiz  a  leitura  repenlina  fazcl-o  melhor: 
creou  taes  diiliculdades ....  que  a  deveiu 
ter  desengauado  do  erro  em  que  cahira. 

Eis  aqui  inuito  ao  de  leve  dissecados  os 
principacs  erros  que  maculam  e  estcrilisam 
tanlo  0  mctliodo  de  solletracdo  geralmcnte 
adoptado,  como  o  da  leitura  repenlina,  que 
coDspira  contra  elle.  Estes  erros  sao : 

1."  Eusinar  a  ler,  antes  de  ensinar  a  escrc- 
ver; 

2.°  Ensinar  a  16r  lettras,  antes  de  o  alumno 
saber  l^r  as  syliabas; 

3."  Ensinar  a  \h  syliabas  por  mcio  da 
uniao  das  lettras,  quando  o  erroneo  valor 
d'estas  jamais  podera  Icvar  ao  d'aquollas; 

4.°  Dar  as  semicogaes  nonies  analogos  aos 
das  outras  consoantos,  quando  estas  tem  um 
valor  unico,  e  aqucllas  dois. 

5."  Dar  as  semivoqaes,  quando  pospostas 
a  vogaes,  vaiores  arbitrarios,  de  que  absolu- 
tamente  nao  dao  idi^a  algunia  os  novos  no- 
nies que  se  Ihes  deram. 

Cada  um  d'estes  erros  e  um  espectro  de 
feia  catadura,  que  se  levanta  diaute  do  espi- 
rito  de  uma  creanra,  e  que,  bem  longe  de 
abbreviar-lhe  o  tempo  do  tirocinio,  eonsidera- 
velmente  ihe  protrahe  o  do  martyrio;  porque 
a  intiniida,  porque  Ihe  espanca  a  curiosidade 
e  0  amor  proprio,  ofl'usca-ihe  o  lume  da  ra- 
zao,  contradiz-Ihe  o  senso  commum,  e  assim 
Ihe  toihe  progredir  no  conhecimento  das 
disciplinas,  que  cstao  de  guarda  ao  vestibulo 
do  tempio  da  scicncia. 

Pobre  e  encantadora  puericia! ...  A  que 
de  penas  e  tormeutos  te  nao  condcmna  o  or- 
guiho  de  ignorantes  pedagogos!  Dera-te  Dcus 
uma  razao  para  veres  claro  e  direito,  para 
discernircs  o  erro,  eevital-o;  ensiuam-te  o 
absurdo!  E  nao  contentes  com  te  baverem 
entrevado  o  espirito  mais  do  que  o  tinhas, 
atterram-te,  magoam-te  e  martyrizam-te  o 
corpo — para  que!...  para  que  pagues  pelos 
erros  de  empiricos,  que  se  mettem  a  guiar  o 
que  nao  conhecem,  por  atalhos  e  viellas  que 
nao  sahem!  Tamanha  iniquidade  revolta. 

0  bem-estar  da  mocidade  educanda  vale 
hem  a  pena  de  pedirmos  ao  consciencioso 
estudo  dos  factosfundamentaes  da  linguagem, 
algum  mclhodo  mcuos  irracional,  mais  algu- 
ma  restea  de  luz,  que  haja  de  guial-a  com 
facilidade  e  seguranca  no  conbecimento  das 
disciplinas  da  escripta  e  leitura.  Tambem 
queremos  um  methodo  facil;  mas  como  facil 
so  pode  ser  o  que  for  verdadeiro,  e  vcrdadei- 
ro  0  que  se  conformar  com  as  Icis  que  regu- 
1am  0  desinvolvimento  da  linguagem  no  seu 
ponto  de  vista  mechanico,  iuterrogucmos  os 
factos  fundamentacs  d'ella ;  facamos  o  estudo, 
analyse,  e  exposicao  de  taes  factos ;  e  de- 
pois a  deducyao  fara  o  resto. 


Contintta. 


M.  B.  DE  MENDONgA. 


CORRESPONDENCIA. 


AntiKOH   Uotlaoloi'ost   c   Colleen*)-  — 

Em  0  numero  17  do  IV  vol.  do  nosso  periodi- 
co,  do  1."  do  corrente,  cncontra-se  uma  carta 
do  sr.  Alexandre  Hercuiano,  rcspondendo  ao 
principioda  minha  Slemoria  sobre  a  revolufSo 
de  1240.  Naoesperava  taoccdoesta  correspon- 
dencia,  mas  como  clla  saiiiu  a  luz  tao  acelcra- 
damente,  nao  posso  Hear  indillerente  depois 
de  sua  leitura.  Se  a  sobredicta  Memoria  teve  a 
dcsgi'iifa  de  atravessar  dois  reiuados  tcmpes- 
tuosos,  e  de  grande  agilacao;  tera  eguaimente 
a  desdita  de  sofi'rer  sevcra  e  rigorosa  critica  ;  e 
a  pobre  recem-nascida  ver-se-ha  conslrangida 
a  defender-se,  tao  apoucada  e  desvalida,  dos 
ataques  de  tao  terrivel  adversario.  Paciencia! 
Quando  d'ella  nao  tiraramos  outro  proveito, 
fora  este  bastante  para  nao  darnios  por  balda- 
dos  nossos  trabalbos,  vendo  nas  paginas  do  nos- 
so Institute  estampado  o  nomc  do  sr.  A.  Her- 
cuiano. Nao  deixarei  com  tudo  de  uotarja  pre- 
viamcnte,  que,  dando-me  o  A.  da  corrcspon- 
dencia  um  tao  salutar  conseliio,  extrahido  do 
seu  velho  Quinliliano,  se  deixasse  levar  do 
ardor  juveiiil  para  arguir  logo  a  nascenca  a 
Memoria,  cuja  publicacao  apenas  priiicipiava! 
Isto  me  faz  crer,  que,  apezar  de  vcllio  nas  afa- 
uosas  lidas  littcrarias,  nao  conserva  o  sr.  A 
Hercuiano  o  sangue  frio,  que  deve  ter,  e  qne 
Ihe  recoraenda  o  seu  ct/Ao  rhetorico!  Deixemos 
porem  palavras  ociosas,  porque  o  tempo  nao 
me  sohra ;  e  ate  mesmo  para  responder  ao  auc- 
tor  da  correspondencia,  sobre  os  dois  objcctos, 
que  elle  diz,  Ihe  tizerara  imprcssao,  precise  re- 
tardar  outros,  em  que  estou  mais  fortemente 
cnlcado. 

Que  possa  o  govcrno  apossar-se  dos  titulos, 
e  documentos  do  archive  d'esta,  c  d'outras 
cathedraes  do  reino,  mandados  escrever  para 
seu  grangeio,  ou  uso  particular,  pagos  com 
seu  dinheiro  para  seu  interesse ,  ou  adrainis- 
trayao  ecopomica  de  suas  cathedraes;  que 
possa  tirar-lh'os  involuntariamente,  mandal-os 
arcbivar,  e  guardar  a  -seu  livre  arbitrio,  por 
isso  que  nem  ellas,  nem  cartorio  nenhum  do 
inv.ndo  d'elles  podem  ser  proprietarios  e  uma 
tao  singular  opiuiao,  e  de  tao  apostada  realez;i, 
que,  fura  dos  estados  do  SullaoBadur,  rei  de 
Cambaia,  do  Grao  Chan,  ou  do  Grao  Senhor 
de  Coustantiuopla,  duvido  haja  A.  que  sustentc 
sirailhante  paradoxo.  Acostados  a  forja,  c  as 
revolufoes,  que  ha  ja  quasi  um  seculo  tem 
abalado  a  Europa  inteira,  alguns  escriplores 
modernos  turhulentos,  e  facciosos  t^m  pro- 
pagado  esta  doutrina,  para  sens  tins  particu- 
lares,  e  para  d'ella  se  ajudarem  em  occasiao 
opportuna.  Mas  que  direito  Ihes  pode  dar  a 
forca,  e  que  conscqucncias  Ihes  podem  lorne- 
cer  as  revolucOes  com  que  elles  canonizam 
sua  doutrina  ?  Sao  outros  tantos  Bentos  Jose 


248 


Lnhres,  outrns  tantnn  apnstado.^  jexuitax  cm 
st'utido  inviTso  do  (jue  diz  o  sr.  llcrculano. 
Essa  Alomanlia,  ondi;  primeiro  corrcram  tacs 
doiilrinas,  e  dondc  so  torn  dcpois  propajiado 
para   dc.^.^raca  da   liiiniaiiidadc,    IIk's  da  hojc 

0  dosmi'iitido  solciniu!  com  o  dccrelo  de  '6  (lo 
noicmhio  d'cslc  anno,  approvando,  p  (•onv(M- 
trndo  cm  lei  a  coiicordata  da  coitc  do  lioma 

com  a  de  Vienna  d'Auslria No  goveruo 

al)soliito  dc  clrci  D.  Joao  V.  quiz  a  \cadeniia 
real  d'llisloria  vcr  ccrlos  docunicnlos  dVstccar- 
lorio,  e  por  um  corrcio  especial  da  secrctaria 
mandon  clici  pcdil-os  para  alii  scrcm  vision, 
c  depoii  rcvcrtcrcm  ao  scu  loj^ar.  No  poverno 
dc  sua  neta  a  sr/  D.  Maria  I,  ontro  concin 
I'ni  expcdido  para  Icvar  do  niesmo  carlorio  o 
livro  dos  accordaos  do  cabido,  jiara  na  secrc- 
taria scr  ra^pado  o  rcgisto  da  carta  rejiia,  pcia 
ijiial  (lira  suspeiiso  o  l)ispo  D.  .Miiiuel  da  An- 
nuMciacao,  pcias  desavcncas  que  cirei  I).  Jose 

1  com  ellc  li\cra,  e  aclia-se  este  rcf^isto  riscado, 
c  ii  margem  resalvado  com  a  assignatura  do 
\isconde  do  Villa  Nova  da  Cerveira  ,  cntao 
minislro,  e  sccrctario  d'estado.  Islo  faziam 
'naquelle  tempo  os  govcrnos,  que  liojc  se 
chamani  dcspoticos,  e  que  I'azcm  agora  cs 
liberaes? 

Pode  0  auclor  da  corrcspondencia  sustentar 
a  opiniao  que  quizer  a  este  respeito ;  e  so 
-sc  acosta  a  opiniao  de  alguns  lentes,  c  douto- 
resd'esta  Universidade,  que  'nella  concordam, 
tambcm  me  posso  acostar  a  de  muitos  outros, 
qued'clla  discordam,  e  sustentam  a  contraria. 
Pode  0  sr.  Ilercuiano  dizer  o  ([ue  quizer  do 
pii  secular,  ou  antes  (para  me  scrvir  da  expres- 
sao  de  Walter  Scott)  do  «p6  classico»  dos  docu- 
mentos  d'esto  cartorio,  sc  elles  o  nao  tivcs- 
scni,  e  se  bcm  limpos  fossem  conduzidos  para 
casa  daigum  dos  meml)ros  da  niesma  corpo- 
racao,  certo  nao  teria  o  sr.  Ilercuiano  oc- 
casiao  de  notar  a  sua  iaulilidade  (para  a 
fazcnda  do  cabido),  ncm  a  sua  boa  ou  ma 
conservacao  apezar  d'esto  mcsmo  po ,  que 
no^  proprios  arcbivos  de  Lisboa  e  na  sua 
jiropria  livraria  ba  de  encontrar  sobre  sens 
livros,  como  ainda  aos  mais  prccatados  accon- 
tece. 

'<  0  govcrno,  (diz  o  A.  da  correspnnden- 
«  cia  ;)  no  seu  zelo  pcIa  salvacao  dos  nossos 
"  aminos  moiiumentos  ,  desbaratados  no  meio 
('  das  luctas  politicas,  e  nao  menos  pela  i{jiio- 
«  raiiria  das  corporaruM  de  mCio  moria,  entcn- 
«  dcii  que  os  dcvia  niandar  ir  para  Lislioa 
(os  documcntos)  a  fim  de  serem  salvos  por 
este  modo  dc  tao  crassa  ignorancia,  e  da  sua 
imminenle  dcstruicao  :  n  mas  a  conservacao 
d'cstps  mcsmos  documcntos^  que  excedcni  o 
numcro  dc  scis  centos,  contando  alguns  mais 
de  sele  secuios  dc  duracao,  de  muilo  I'acil  lei- 
lura  para  os  entcndi'dorcs,  posto  que  cobcrtos 
dc  po  classico,  parecc-nic  dar  solcmnc  desmen- 
lido  a  tao  sincjulur  phrase  .  mostrando  ji  evi- 
ilcncia  a  scm-razao  de  tao  apostada  e  ma! 


cabida  censura  a  corporaciio  de  man  morta, 
(|ue  d'cllcs  tcni  sido  scnbora  ate  a(iu(dla  cpoclia ! 
Tera  agora  logar  fazer  aipii  uma  pccpiena 
obscrvacao  accrca  do  zcio  do  sr.  Ilercuiano, 
pela  Acadcmia  real,  (piando  no  pcriodico  a 
Scmana,  dcclamava  com  tania  dcterminacao 
contra  a  mesma  Acadcmia  por  occasiao  de 
certu  coulestacao  suscitada  cnlre  die  e  outro 
socio  '  !  .V  Acadcmia  «  (escrevia  ellc)  a  dizer 
n  a  vcrdade  e  o  arcopago  mais  inolVcnsivo 
"  mais  divcrtido  (jue  ba  em  todo  o  niundo. 
«  Collectivas  on  individuaes,  as  censnras  (|uc 
n  sabem  dalli  uem  sccpicr  arranhan  as-vic- 
«  tinias  etc.  II  Isto  moslra-nos  bcm  o  apou- 
cado  da  nossa  condican,  e  a  volubilidadc,  e 
incunstancia  dos  juizos,  qne  t'azcmos  ainda 
no  centro  do  galiinctc,  longe  do  bulicio  do 
mundo ! 

()uaiito  ao  scgundo  ponto,  o  A.  da  Mcmoria 
quiz  ser  I'rancameiite  imparcial,  lanio  no  que 
rcspeiia  ii  liisloria,  como  no  ipie  rcspciia  ;i 
critica,  cicvando  a  maisallo,  mas  dc\  iilo  ponto, 
as  causas,  (|uc  prodiiziram  a  rcvolurao  ,  que 
cncbcu  de  terror  c  lucto  a  patria  no  anno 
de  12'i(i.  Tocando  por  incidcntc  alguns  factos 
ac'.'ontecidos  alguns  annos  antes  cnlrc  o  bispo 
dc  Coimbra  1).  Pedro,  e  os  reis  sens  contcni- 
poraneos,  entendcra  o  sr.  Ilercuiano  gravis- 
simo  erro  7."  Kal.  Mart.  22,  e  niio  2:i  do 
fevereiro  como  vem  nas  tabuas  cbrnnologicas 
impressas  cm  Antuerpia  Hlo,  que  tivc  prcsen- 
tcs,  quando  porcngano  escrevi  22,  em  vez  dc 
23.  Nao  me  ser;i  preciso  para  csta  menlira 
cbronologica  pedir  a  absoKicao  do  cardcal 
Antonelli,  on  do  geral  dos  jesuitas!  Aonde. 
elles  a  nao  dcveriam  dar,  scria  o  cbamnr  ao 
annoXIV,  do  pontilicado  d'Innoc.  Ill  1212, 
dcvendo  ser  1211..!  Posso,  porem,  consolar- 
me  'neste  engauo  com  o  proprio  A.  da  cor- 
rcspondencia, que  dos  niesmos  sc  nao  mosira 
excniplo,  escrevendo  cm  principios  dc  novcm- 
bro,  a  carta  a  que  respondo,  edatando-a  de  7 
d'outubro,  dia  em  que  ainda  nao  cstava  im- 
presso  0  n.°  13  do  Instituto,  (pio  continha  o 
principio  da  niinlia  Mcmoria,  por  lor  sahido 
com  algum  atrazo,  muito  depois  d'esto  dia. 
D'esta  I'alta  nao  sei  como  o  possa  livrar  o  pro- 
pr  0  cardeal!  Eis  aqui  como  sao  falivcis  os 
nossos  mais  prccatados  juizos! 

Concordo  ;  e  convenho  mcsmo  (com  fran- 
queza  o  digo)  (pic  os  factos  relVridos  na  bulla 
(ie  Innoccncio  III,  dc  23  de  leverciro  de  1211, 
scjani  altribuidos  a  Sancbo  I;  nao  concordarci 
com  tudo,  cm  que  o  bis|)0  D.  Pedro  sc  tivessi; 
ligado  a  polilica  de  AH'onso  11  sujcitando-se 
a  lima  fC7«  suh.serriencia  a  vonlade  d'estc  rci, 
a  ponto  lie  o  obrigar  a  ir  dcpor  nas  maos  ili- 
Gregorio  IX  o  baculo  pastoral,  guiado  pclos 
consclbos  do  cardcal  .loao  d'.Vbbcville.  Uma 
e  outra  couza  \ercis  bcm  rerulada  na  niinlia 
Mcmoria  pelo  dcpoimento  de  tcstemunbas 
cocvas,  que  pr(M'iiccaram.  e  com  o  bispo  sof- 
I'reram    os  niaus   trades  d'Aflonso  11   (^conio 


I 

1 


249 


ellas  juram),  escusando  agora  de  reproduzir 
seus  diclos  'nesta  carta.  Nao  podemos  deixar 
de  reconhecer  'ncste  dcpoimeiUo  prohidado, 
e  adequados  coiiliocimcnlos  iias  suas  teste- 
niunhas,  sendo  pessoas  de  saber,  e  que  dao 
razao  do  seu  dito,  l)em  difl'erenles  dos  outros 
em  que  o  sr.  llcrculano  nao  confia,  por  Ihes 
Bao  reconhecer  characleres  de  verdade,  mas 
antes  conlradiccoes.  Na  bulla  de  Ilonorio,  que 
refereD.   Rodrigo  da  Cunha,  na  Ilistoria  ec- 
clesiastica  de  Braga,  cm  data  de  10  de  junbo 
de  122'2  ,   dirigida  aos  abbadcs  de  Osseira  e 
Cella  Nova,  mandando  e\pulsar  da  corte  do  rei 
0  de3o  de  Lisboa,  o  do  Porto,  e  o  de  Coimbra, 
nao  se  falla  no  liispo  D.  Pedro  ou  ao  nienos 
nao  0  refere  o  citado  Cunha,  que  chama  D. 
Joao  ao  deao  de  Coiml)ra,  sendo  die  entao 
D.  Juliao,  lilho  do  chancciler  do  mesmo  rei, 
mestre  Juliao,  pessoa  de  muito  valimento,  e 
niui  protegida  de  AITonso  11;  o  que  faz  preva- 
lecer  a  minha  opiniao,   e  conlirma  o  depol- 
mento  das  tesleiuunhas  na  iuquiricao  de  que 
me  servi.  Alem  de  que  as  bullas,  com  que  o 
sr.  A.  Herculano  seajudouna  sua  correspon- 
dencia,  carecem  de  rigorosa  analyse,  devendo 
ser  vistas  na  sua  Integra,  c  nao  por  extractos, 
para  sobre  ellas  se  poder   formar  juizo   niais 
seguro.  Nao  me  admira  porem  (seja-me  licito 
retorquira  forma  do  argumento  que  elle  con- 
tra mim  emprega) :   nao  me  admira  ,   digo  , 
que  0  sr.  llcrculano  veja  no  bispo  D.  Pedro 
cega  subserviencia  a  vontade  do  rei,    quando 
viu  tambem  ser  a  sua  reniincia  resultado  dos 
conselhos  do  cardeal,  bispo  Sabinense;  assim 
corao  viu  na  sua  Ilistoria  um  D.  Durando, 
bispo  de  Coimbra,   que  nunca  houve  'nesta 
cathedral. 

Tendo  lido  com  bastante  reQexao  o  L.°  V, 
da  Ilistoria  de  Portugal,  pareceu-me  dcscobrir 
'nelle  aquelle  espirilo  de  malquerenca  contra 
0  clero,  que  mencionei  no  n.°  1."  da  minha 
Memoria  ,  incluindo  tambem  Mello  Freire , 
como  escriptor  prevenido ,  e  dominado  do 
mesmo  espirito,  que  pinta  o  clero  'naquelle 
seculo  como  devasso,  immoral,  insolcnte  e 
turbulento;  e,  como  tal,  pareceu-me  querer  o 
sr.  Herculano  fazer-lhe  tomar  a  parte  mais 
activa  e  principal  na  catastrophe  da  deposi- 
cao  do  infeliz  Saucho  11.  Na  verdade  as  ex- 
pressoes'scveras,  e  cheias  d'amargor  e  ironia, 
de  que  se  serve  a  paginas,  384,  383  e  388,  do 
Tom.  II,  dareferida  Ilistoria  e  outras  paralel- 
las,  em  que  Jemos — que  a  corte  de  Roma  estava 
sempre  prompta  a  sustentar  o  rigor  da  disci- 
plina,  quando  para  fins  politicos  alguem  in- 
teressava  em  promovcr  diwrcios  (entre  os  reis) : 
—  parecendo  cvidente  que  na  deposicao  do 
principe  portuguez  se  daria  um  documento 
estrondoso  da  superioridade  do  poder  ecclesi- 
astico  sobre  o  civil,  as  conveniencias  politicas 
dos  conspiradores  (prelados  portuguezes)  neces- 
.sariamente  dcviam  mover  o  coracao  do  pon- 
tifice  para  se  apiedar  dos  males  padecidos 


'num  reino  que  se  reputa  censual  da  se  apos- 
tolica  : — onde  ate  na  propria  eleicao  do  primaz 
D.  Joao  Egas,  ja  (o  A.)  via  d'antemao  o  dedo 
di)s  conspiradores — estasexpressoes,  digo  cheias 
de  rancor,  e  severidade,  davam-me  um  claro 
descngano  d'essa  mesma  malquerenca,  e  pre- 
vencao  (|ue  Ihe  attribui;  mas  o  estimavel  A.  da 
correspondencia  declarando  agora  o  contra- 
rio  na  sua  carta,  e  explicando  o  sentido  em 
que  escrevera  aquelle  livro,  cujo  pensaniento 
iiinguem  melhor  pode  interpretar,  faz  com  que 
desvie  da  sua  responsabilidade  as  palavras, 
de  que  me  servi  na  introduccao  da  minha  me- 
moria, carregando  so  com  ellas  o  doutor  jMello 
Freire,  a  quem  ,  reconhecendo  scus  vastos 
conhccimentos,  e  superior  talenlo,  nao  posso 
deixar  de  taxar  de  espirito  prevenido,  e  de 
ma  vontade  contra  o  clero ,  que  ataca  em 
deniasia. 

Nao  posso  ser  taxado  de  fanatico,  nem 
apaixonado  do  clero.  Conheco  tao  hem,  como 
0  sr.  Herculano,  rauitos  erros  que  elle  tern 
comettido,  e  excessos  em  que  tern  cabido  por- 
quea  (|ualidadede  ecclesiasticos  nao  os  exem- 
pta  dos  defeitos  e  fragilidades  hunianas  ;  mas 
conheco,  egualmente,  que  para  os  apreciar  e 
levantar  ao  ponlo  devido,  carecc  o  espirito  de 
estar  livre  de  prevencoes,  e  nossa  alma  de 
vivas  emocoes  em  tal  occasiao ,  para  nao 
julgarmos  seus  actos  por  outros  lantos  crimes, 
e  imnioralidadcs  ,  e  seu  procedimento  como 
lilho  da  ignorancia,  e  fanatismo;  e,  para  os 
avaliarmos  bem,  devemos  attender  ao  seculo 
em  que  viverani,  e  nao  ao  presente  em  que 
a  moda  tem  feito  prevalecer  a  dcclaniacao 
contra  o  clero,  nao  se  Ihe  relevando  o  mais 
levedefeito,  como  se  nao  fosse  quinhoeiro  no 
da  fragilidade,  e  fraqueza  humana  ! 

Nao  tive  o  menor  incitamento  para  escrever 
a  minha  Memoria  de  que  nem  gloria,  nem 
proveito  espero.  Foi  meu  principal  inlcnto 
esclarecer,  quanto  minhas  fracas  forfas  com- 
portam,  a  historia,  fundado  cm  documcntos, 
que  olTerecem  algum  interessc  ao  publico. 
Nao  foi  tambem  meu  animo  atacar,  nem  ainda 
levemente  o  sr.  Herculano,  cujo  merecimento 
sei  muito  bem  apreciar.  Se  o  Icilor  se  nao 
convencer  do  que  'nella  disse,  anibos  ficare- 
mos  satisfeitos,  elle  em  formar  sua  opiniao  a 
este  respcito;  eu  era  ter  enipregado  com  todo 
0  esmero  desvelada  diligencia  ,  publicando 
algumas  particularidades  historicas,  o  que 
ninguem  ate'gora  (que  eu  saiba)  tem  feito. 

Publicando,  amigos  Redactores,  esta  carta 
no  nosso  periodico,  I'areis  um  muito  apreciavcl 
favor  ao  vosso 

Collega  e  araigo, 
M.  B.  DE  VASCONCELLOS. 
Coimbra,  13  de  dezcmbro  de  1855. 


250 


OS  LUSIADAS. 

Tradurcao  franccin. 

Cuulinuailu  dc  paj.  Via. 

LES  LUSIADES. 

20 
Ainsi  Ic  PorUigais  vogiiail  sur  I'oiidc  amcrc, 
Tandis  qu'obeissaiil  au  moiiarquc  immortcl 
Mercure  fond  Ics  airs  de  son  aile  Icgere, 
Et  parcourt  ct  les  mors,  el  la  tcrre  ct  Ic  ciel  : 
Aussitot  par  ses  soins   dans  la   lirillanle  sphere 
Se  rassemble  des  Dioux  Ic  Senat  elerncl; 
(I  va  pescr  le  sort  de  la  Liisitanic, 
Et  Oxer  le  dcstin  des  peiiples  de  I'Asic. 

21 

On  les  voit  accourir  du  Icniple  du  Soleil, 
Et  du  palais  brillant  de  la  iiaissanle  Aurore; 
Des  rivagcs  glaces  qu'a  son  Iristc  reveil 
L'astre  pale  du  nord  pour  pen  d'instants  colore; 
Des  bords  occidenlaux  oil  d'lin  rayon  vermeil, 
Tout  pres  de  son  dcclin,  Pbcbus  se  pare  encore: 
Toutes  les  deites  de  la  tcrre  ct  des  cieux 
Remplissent  en  ce  jour  TOlympc  radieux. 

22 

On  distingue  le  Dieu  qui  lance  le  tonnerre 
A  son  front,  a  ses  ycux  si  plcius  dc  majeste ; 
Si  les  mortels  pouvaient  en  fixer  la  lumiere, 
lis  deviendraient  egaux  a  la  divinite ! 
Son  trune  etincclant  qu'un  feu  brillant  eclaire 
Semble  etre  dans  les  cieux  par  Ics  astres  porte; 
La  foudre  est  en  ses  mains,  et  I'Dlympc  s'clonne 
De  la  vive  splcndeur  que  jette  sa  couronne. 

23 

A  peine  dans  ce  jour  les  celestes  parvis 
Peuvent-ils  contenir  cctte  assemblee  immense. 
Deja,  scion  Icurs  rangs,  tons  Ics  Dieux  sont  assis. 
Sur  leurs  trones,  formes  d'une  pure  substance, 
Brillent  Ics  diamants,  les  pcrlcs,  les  rubis. 
Tout  parait  en  suspens,  tout  garde  le  silence; 
Lorsque  la  voix  du  Dieu  qui  rcgne  dans  Ic  ciel 
Prononce  ce  discours  auguste  ct  solemnel. 

24 

Immortels  habitants  de  la  vovile  eloilce, 
Vous,  dont  la  volonte  sert  dc  regie  aux  humains. 
Pour  vous,  dc  I'avenir,  I'histuire  est  dcvoilee, 
Vous  connaisscz  du  sort  Ics  dccrels  souverains : 
La  terre  de  Lusus  est  un  jour  appelee, 
Vous  le  savcz,  ainsi  I'ont  voulu  Ics  destins, 
A  surpasser  en  tout  les  grandeurs  qu'on  renomme 
D'Assyrie  et  de  Perse,  et  de  Grece,  ct  de  Rome. 

25 

Deja  vous  avcz  vu  ses  valcurcux  soldats, 
Contre  les  Musulmans  signalant  Icur  courage, 
Les  vaincre,  et  les  chasser,  aprcs  mille  combats 
De  tout  I'heurcux  jiays  arrose  par  lo  Tagc. 
Pendant  longlcuips  aiissi  defendant  leurs  etats, 
Pes  Caslillans  j.iloux  ils  ont  bra\e  la  rage, 
Kt  trioniphanl  du  luimbrc,  on  \i(  Ic  Portugal 
Sortir  toujours  vainqueur  dun  combat  inegal. 


26 

Je  nc  parlerai  pas  de  leur  antique  gloirc, 
Lorsque  Viriatus,  vcngeur  de  I'univers. 
Sut  a  I'aigle  de  Home  enlcver  la  vicloire 
Aux  ycuxdumondcenlicr,  qu'clleaccablail  defers. 
Je  tairai  Ics  exploits  ct  rillustre  niemoirc 
l)u  Komain  qui  chcz  eux,  aprcs  la[it  de  revcrs, 
Fuyanl  dc  son  pays  les  discordcs  publiques, 
De  la  vcrtu  de  Hume  apporta  les  rcliques. 

27 
Vous  voyez  aujourd'hui  ce  peuple  dc  hcros, 
Opposant  aux  dangers  un  courage  intrtpidc. 
En  des  lieux  inconnus,  sur  de  frclcs  vaisseaux, 
AITriinler  les  hasards  de  lOcean  perfidc. 
Errant  depuis  longtemps  sur  ces  irumenscs  eaux, 
De  climats  enclimats,  sanssecours  et  sans  guide. 
Par  de  nouveaux  clfjrts,  sur  le  vasle  clement 
II  cbcrche  les  chemius  des  mers  de  I'Orient. 

28 

Dc  ces  hcros  sortis  de  la  Lusitanie 
Dans  le  Livrc  fitcrncl  les  destins  sont  ccrits, 
Les  rivagcs  de  I'lnde  et  la  mer  d'Arabie 
Longtemps  a  leur  pouvoir  doivcnt  etre  soumis. 
Dejii,  pendant  I'hivcr,  la  fortune  ennemie 
Vicnt  de  leur  susciter  des  travaux  inlinis: 
II  est  juste  qu'enfin  cctte  terrc  inconnuc, 
But  de  taut  de  travaux,  soit  offerte  a  leur  vue. 

29 

Ah!  sans  douleilest  temps,  que  ses  braves  marins 
Trouvent  dansquclque  port  un  refuge  tranquille, 
lis  ont  asscz  lutle  dans  ces  climats  lointains 
Contre  les  fifs  d'fiole  et  la  mer  indocile. 
Je  veux  que  sans  retard  sur  les  bords  Africains 
Leurs  vaisseaux  fatigues  obtienncnt  un  asilc, 
Qu   ils  y  puissent  trouver  du  repos,  du  secours, 
Et  de  Icur  long  trajet  ils  repreudront  le  cours. 

30,  31,  et  32 
Ainsi  paria  le  Dieu  ;   mais  les  feux  de  I'envie 
Dans  le  ca>ur  de  Bacchus  s'allument  a  I'inslant; 
De  I'lnde,  que  son  bras  a  jadis  asservie, 
II  se  vantait  encor  d'etre  scul  conqucrant; 
A  I'aspect  des  enfanls  dc  la  Lusitanie 
Sun  cceur,  deja  trouble,  redoute  en  fremissant 
(Jue  du  triste  Lethe  I'ondc  noire  et  fatalc 
Ne  condamne  a  I'oubli  sa  marche  triomphale. 

33 

Cependant  en  faveur  des  enfants  de  Lusus 
Un  secret  sentiment  attcndrit  Cytherec, 
Elle  retrouve  eu  eux  les  antiques  vertus 
De  cctte  nation,  qu'cUc  avait  prcferee. 
Ileritiers  des  Romains,  I'.Xfrique  les  a  vus 
tgaler  sur  ses  bords  leur  valeur  cclebrce, 
Ils  ont  dc  ces  hcros  le  langngc  et  l.'S  mtcurs, 
Et  Venus  des  Latins  croit  voir  les  succcsseurs. 

34 

D'autres  pressentiments,  d'autrcs  desirs  encore 
Ont  decide  pour  eux  la  mere  dc  I'Amour  ; 
Que  d'enccns  elle  attend  d'un  people  qui  I'adore! 
Quels  triomphes  nouNcaux  dccorcront  sa  cour  ! 
Et  tandis  que  Bacchus,  que  la  furcur  dcvore, 
Craint  de  vcjir  ses  himncuis  s'cclipicr  en  ce  jour, 
Un  espoir  oppose  dans  Venus  sc  declare, 
Et  du  ciel  agile  la  discorde  s'empare. 


251 


3S 

C'esl  ainsi  que  Boree  cl  Ics  fiers  aquilons 
Au  sein  de  la  fordt  apporlcnt  le  ravage; 
Les  arbres,  arraches  par  d'affreux  lourbillons, 
Ne  peuvent  rcsister  a  leur  puissanle  rage; 
Les  torrents  6cumeiix  traccnt  de  noirs  sillons. 
On  croit  voir  s'cbranler  la  monlagnc  saiivage: 
Tout  se rompt,  lout  mugil,  tout  s'ecroule,  et  Icscicux 
Derobent  et  leur  vue  et  le  jour  h  nos  yeux. 

36 

De  meme  entre  les  Dicun  Icdesordre  s'augmentc; 
Mais  bientot  de  Venus  le  formidaltle  amant 
Se  Icvc,  son  air  sombre  inspire  I'epouvante, 
II  lance  sur  les  Dicux  un  regard  mcnacant ; 
II  aima  de  tout  temps  et  I'audace  cclalante 
Des  enfants  de  Lusus  et  leur  esprit  vaillant ; 
La  furcur  de  Bacchus  le  revolte  et  I'irrile, 
Et  SOD  glaive  est  I'appui  de  la  belle  Aphrodite. 

37 
II  s'avance,  on  le  voit  relever  d'un  air  fier 
De  son  casque  pesant  la  brillante  visiere; 
On  tremble  au  seul  aspect  du  bouclier  de  fer 
Que  dun  bras  vigoureux  il  rejette  en  arriere : 
11  marche  d'un  pas  ferme,  et  fixant  Jupiter, 
II  adresse  ces  mots  au  maitre  du  tonnerre : 
L'Olyrape  s'en  ebranle,  et  Ton  voit  d'Apollon 
Palir  pour  un  moment  le  celeste  rayon. 
Continua. 


NOTICIAS  LITTERARIAS. 

Appliraraoda  eloctro-chlmla  &  sra- 
TUra  e  InipreNsuo.  M.  Becquerel  apresentou 
a  academia  real  das  sciencias  de  Paris  em  5  de 
novcmbro  ultimo  algumas  amostras  de  gravuras 
feitas  por  Guiseppe  Devincesvei,  por  meio  d'um 
processo  electro-chimico,  que  ellc,  ha  annos,  lem 
ensaiado  sobre  a  arte  typographica,  reproduzindo 
OS  desenhos  e  characteres  typographicos  pela  gra- 
vura  em  relevo. 

0  zinco  e  o  metal  mais  proprio  para  csta 
especie  de  gravura.  Para  este  fim  tomam-se  laminas 
d'aquelle  metal,  granuladas  com  area  pcneirada  ; 
desenha-se  sobre  ellas  com  tinta  e  lapis  lilho- 
grapbico.  Feito  o  desenho,  prepara-se  a  lamina, 
como  se  tivesse  de  servir  para  uma  tiragem  litho- 
graphica  ;  mette-se  a  lamina  por  um  minuto 
'numa  dissolucao  de  noz  de  gaiha,  lava-se  depois 
em  agua  pura,  e  da-se-lhe  uma  demao  com  uma 
dissolucao  pouco  carregada  de  gomma  arabica. 
Molha-se  a  lamina  com  uma  esponja,  e  cobre-se 
o  desenho  com  essencia  de  terebenlina  ;  e  pas- 
sa-se-lhe  por  cima  um  cylindro  lithographico 
com  verniz ,  que  cobre  completamente  todos  os 
traces  do  desenho. 

Este  verniz  deve  ter  as  qualidades  seguintes: 
nao  alterar  o  desenho ;  adherir  muito  a  lamina , 
e  nao  ser  attacado  pelos  agentes  chimicos,  empre- 
gados  na  gravura.  0  verniz,  a  que  chamam  em, 
Inglaterra  Brunswicl:  black,  misturado  com  essen- 
cia d'alfazema,  c  o  melhor'.  Estando  secco  o 
verniz,  p6e-se  a  lamina  de  zinco  cm  communica- 
cao  com  outra  de  cobre  a  distancia  de  O^.OOS, 
'numa  dissolucao  de  sulfato  de  cobre  a  15°,  for- 

'  Este  verniz  e  composlo  de  asphalto,  oleo  de  linha9a 
fervldo,  e  terebenlina. 


mando  d'este  modo  nm  par  voUaico.  0  acido 
sulfurico,  que  resulla  da  decomposirao  do  sulfato 
de  cobre,  dissolve  todas  as  partes  do  zinco,  que 
nao  estao  cobertas,  isto  e,  os  desenhos;  e,segundo 
a  qualidade  d'elles,  assim  se  da  maior  ou  menor 
profundidade  a  gravura.  Em  geral  a  gravura  dos 
desenhos  a  lapis  opera-se  em  i  ou  5  minutos,  e 
a  dos  depena,  em  7  ou  10.  0  sulfato  de  cobre  nao 
ataca  os  mais  delirados  desenhos. 

A  todos  OS  outros  prorcssos,  pelos  quaes  se 
reproduzem  os  desenhos,  se  pode  applicar  este 
methodo.  Os  desenhos  feilos  'num  papel  ,  ou  as 
impressoes  das  pcdras  lilhogra|)hicas,  e  das  laminas 
d'aco  e  cobre  podem  Irasladar-se  para  as  laminas 
de  zinco.  As  machinas  de  gravar  produzem  as 
cores  uniformes  tanto  sobre  o  zinco  como  sobre 
as  pcdras  lilhographicas.  Este  processo  e  tambem 
applicavel  aos  characteres  d'imprensa,  de  modo 
que,  trasladando  uma  pngina  d'um  livro  para 
uma  lamina  de  zinco,  obtem-se  um  verdadeiro 
slereotypo.  Esle  methodo  de  gravura  dispensa 
por  tanto  a  stereolypia  ordinaria,  porquc  .1  medida 
que  se  vao  imprimindo  as  paginas  d'um  livro, 
pudem  trasladar-se  logo  sobre  folhas  mui  delgadas 
de  zinco,  e  d'estas  sobre  laminas  mais  grossas, 
para  graval-as  todas  as  vezes  que  se  quizer  fazer 
uma  reimpressao,  com  grande  cconomia  de  com- 
posicao  e  papel;  pois  que  por  este  meio  e  desne- 
cessario  lirar  de  qualquer  obra  grande  numero 
de  exemplarcs.  Uma  copia  em  folhas  mui  delgadas 
de  zinco  nao  fica  mais  cara,  que  um  exemplar 
impresso  em  papel  de  superior  qualidade. 

Por  este  processo  podem  tambem  trasladar-se 
para  laminas  metalicas  as  antigas  impressoes  no- 
taveis  por  alguma  oircumstancia  litteraria  ou  ar- 
tistica. 


RELACAO 

Dos  individuos  notneados  para  os  seguintes  logares 
d'inslruccao  publica,  por  despachos  do  Conselhn 
superior  d'instruccao  publica,  edecrctos  do  Go- 
verno  desde  o  dia  16  ale  ao  fim  de  dezembro. 

INSTRDCflO    PBIMiBIA. 

Joao  Maria  da  Costa,  para  professor  tempo- 
rario  da  cadeira  de  Carrazedo  de  Monte-Negro, 
districto  de  Villa  Real. 

Luiz  Candido  Augusto  de  Mello,  para  dicio 
de  Alijo. 

Manuel  Maria  Alves  Motta,  para  dicto  de 
Envendos,  districto  de  Santarem. 

Manuel  Maximo  Teixeira  Vaz,  para  dicto  do 
Pezo  da  Regua,  districto  de  Villa  Real. 

Saturnino  Antonio  Abrantes,  para  dicto  d'AI- 
dea  Velha,  districto  da  Guarda. 

Maria  Jus6  Olympia,  para  mestra  da  eschola 
de  meninas  de  Seple  Rios,  districto  de  Lisboa, 
por  transferencia  da  de  BemPica. 

Maria  Silveria  Pinto  Rego,  para  dicta  de 
Bemfica,  por  transferencia  da  de  Septe  Rios. 

I>STnUC?AO    SECUNDABI*. 

Manuel  de  Azevedo  Franco,  para  professor  dc 
latinidade  (2.*)  da  seccao  occidental  do  lyceu  na- 
cional  de  Lisboa. 

INSTBDCCXO    SUPERIOR. 

Joao  Mendes  Arnaut,  para  substitute  orilina- 
rio  da  seccao  da  eschola  medico  cirurgica  do 
Porto. 


252 


OBSERVACOES  METEOROLOGICAS ,  FEITAS  NO  GABINETE   DE  PHYSICA              | 

DA  UNIVEUSIDADE   DE  COIMBRA. 

Anno  lie 
11)35 

a  ■-    a 

If! 

Pressiio  atmtiapherica  ao  meio  (lis 

Eslado  hysroDielrico  il» 
almospbera  ao  meio  dia 

3 

»  2 

-5  ' 
o 

I'i 

Eslado  dt'  eht  s  dt 
tempo  ao'jneiQ  dia. 

Mez  .le 
Oulubro 

Altura    hkiO' 
iii«tiica   a  Qo 
(ia  cicala  cen- 
ligrada. 

Trniao  do 
vapor  atjuoao 
cjQItdo  no  or 

PrcMJao  do 
ar  secco 

Grao  d'kuisL. 
dado     do    a,, 
Tc^rcicoiaridu 
por  I  o  efta- 
do  dc  latuts- 
fdo. 

Qnantid.    de 
*.ipor  conlido 
cut  uin  nictfo 

Dias 

liraiis 
t-entiir. 

MiUimelros 

Millimelros 

.Milliniftrus 

GrMmma!* 

1 

It} 

749,137 

13,361 

735,776 

0,870 

13,316 

o. 

Niiblado.  Bom  lemjm. 

2 

19 

750,788 

13,894 

736  894 

0,850 

13,798 

o. 

Eiicuberl.  T.  cimvoso. 

3 

19 

751,647 

14,548 

737,099 

0,1)90 

14,448 

o. 

Niiblado.  Bora  tempo. 

4 

19 

749,263 

14,221 

735,047 

0  870 

14,322 

o. 

O  mesmo     O  mesmo. 

5 

18 

744,578 

13,668 

730,910 

0,890 

13,622 

s. 

Encnbert.  T.  chuvoso. 

6 

17,5 

743,374 

13,245 

730,129 

0890 

13,221 

s. 

O  mesmo.    0  mesmo. 

7 

17 

743,433 

11,938 

731,495 

0,828 

11,938 

s. 

O  nieumo.    O  mesmo. 

8 

17,5 

743,473 

12,947 

730,526 

0,870 

12,924 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

9 

18 

749,137 

12,523 

736  615 

0,815 

12,479 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

10 

16 

750,496 

12,373 

738,123 

0,914 

12,415 

s. 

Nublado.  Horn  tem^. 

11 

18 

734,709 

12,569 

742,140 

0,1118 

12,526 

s. 

Eitcubert.  T.  cimvoso. 

12 

18 

752,176 

13,602 

738,574 

0,885 

13,556 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

13 

17 

75^,539 

12,835 

738,704 

0,890 

12,835 

s. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

14 

17 

747,233 

11,681 

735,552 

0,810 

11,681 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

15 

18 

752,175 

10,443 

741,733 

0,679 

10,407 

o. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

16 

16 

751,914 

11,571 

740,343 

0,835 

11,610 

.N. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

17 

15 

752,138 

11,478 

740,660 

0,904 

11,557 

N. 

Nublrtdo.  Bom  tempo. 

13 

17 

752,299 

10,239 

742,060 

0,714 

10,239 

o. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

19 

15 

755,077 

10,794 

744,283 

0,850 

10,867 

E. 

Clar.  eliiiip.  B.  temp. 

20 

15 

757,107 

8,635 

748,472 

0,079 

9,230 

E. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

21 

15 

751,735 

11,048 

740,737 

0,870 

11,124 

N. 

NuUIado.     O  mesmo. 

22 

16 

750,801 

12,318 

738,483 

0,912 

12,360 

N. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

23 

15,5 

754,005 

11,284 

742,721 

0,861 

11,342 

E. 

CI.  e  limp.  O  mesmo. 

24 

15 

755,991 

11,416 

744,575 

0,899 

11,494 

E. 

O  mesnio.    O  inesmo. 

25 

14 

753,782 

10,360 

743,422 

0,870 

10,468 

S. 

Encubert.  T,  chuioBo. 

26 

13 

751,521 

9,264 

742,257 

0,850 

9,392 

S. 

O  mesmo.  O   mesmo. 

27 

12,5 

747,781 

9,379 

738,402 

0,868 

9,526 

s. 

Nubladu..  Bom  tempo. 

28 

13 

748,095 

9,813 

738,283 

0,908 

9,983 

NO. 

O  mesmo,  O  mesmo. 

29 

12 

747,841 

9,307 

738,534 

0,890 

9,470 

NO 

O  mcsmu.  O  mesmo. 

30 

12 

746,827 

9,236 

737,591 

0,883 

9,897 

NO. 

Encubert.  T.  chuvoso. 

31 

12 

750,377 

9,236 

741,141 

0,883 

9,397 

NO. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

IUeilt.1     > 

domez  S 

15'>,9 

750,339 

0,854 

M 

a 

Tt 

iitperatm-a 

Prfssdo  a 

tmospherica 

Gran  d^himidode  d»  ar 

^entas  dominant 

■a 

Maxim. 

ahsol.      19° 

Max.    abs 

j|.   755,991 

Maximo  ....  0,914 

S.  •  O. 

« 

Miniuia 

atsol.     12" 

Min.  absol 

Jl.   743,374 

Minimo  ....  0,879 

'2 

I\I»X.    \i 

ria(,'ao       7° 

Max.  excii 

rs.     12,617 

Maxima  Faria^.  0,235 

Cuia 

bra,  1."  t 

e  Nuvembro 

lie  1855. 

Math 

'at  de  Carva 

the  de    f'niconcellos,   Le 

nle  Sub 

Iilutn  d.-  Phjslca. 

®  Jnsititttt^r^ 


JOllNAL    SCIENTIFICO     E     LITTERARIO. 


METHODO  DO  ENSIJiO  PARflLELLO 


ESCRIPT.V  E  LEITl'RA. 

Continuado  dc  pa^.  247. 

HEC^'AO    11. 

Analyse  dos  (ados  fitndumenlaes  da  lingtiar- 
geni  no  sen  ponto  de  visla  plionico  e  ortlio- 
graphico. 

A  lingua  que  fallanios,  mecha&icaniente 
considerada,  e  um  systcnia  de  sons  articula- 
dos,  cada  um  dos  quaes  e  o  produclo  com- 
plexo  e  indissoluvel  de  qnalro  elemcntos,  a 
saber  —  voz,  articularuo,  turn  e  quuntidade. 

Yoz  e  qualquer  volume  de  ar  aspirado  , 
que,  cm  quanto  jiassa  dos  pulmoes  a  bocca, 
e  feito  sonoro  pcio  orgao  vocal. 

Esta  passagem  nao  podc  elVectuar-se  ?em 
que  0  orgao  se  aclie  'numa  posicao  qualquer: 
0  resultado  d'esta  posicao  casual  e  ua  voz 
uma  modificacao  inslantanca  que  a  articiila, 
e  uma  articuhicuo. 

Quando  o  ar  sahe  dos  pulmoes,  faz  vibrar 
ad  libitum  as  cordas  vocaes,  que  coroam  os 
labios  da  giote :  e  segundo  for  maior  ou  rae- 
nor  0  grau  de  lensao  d'estas  cordas,  assim  o 
som  sera  um  torn — alto  ou  agudo  no  primei- 
ro  caso  —  baixo  ou  grave  no  segundo. 

Mas  0  ar  nao  pode  fazer-se  sonoro  nem  ser 
modificado  pclas  cordas  vocaes  ou  qualquer 
outra  parte  do  orgao,  se  nao  dura,  sc  em  sua 
emissao  niio  gasta  mais  ou  menos  tempo: 
gastando  mais  tempo,  o  som  e  longo  —  me- 
nos, e  breve;  —  ora  mais  e  ora  menos,  e 
commum  ou  racional:  e  'nisto  consiste  a  du- 
ragao  ou  quaniidade  do  som. 

Ora,  como  nao  pode  haver  som  articula- 
do  —  que  nao  trausite  pelo  orgao  vocal, — 
que  nao  seja  modilicado  por  este  —  que  nao 
ponha  em  movimento  de  vibracao  as  cordas 
vocaes  —  e  (|ue  em  tudo  isto  nao  gasle  uma 
parcella  de  tempo  (jualquer,  segue-se  que  lo- 
de 0  som  articulado  ha  de  necessariamentc 
reunir  todos  estes  clementos — uma  I'o:,  uma 
articulacdo,  certo  torn,  e  certa  quaniidade. 
Estes  elemcntos  sao  tao  essenciaes  para  a 
Vol.  IY.  Feveeeiro  13 


formaeao  de  qualquer  som,  que  o  espirito, 
pcla  aclividade  de  que  e  dotado,  pode  pensar 
em  algum  sem  pensar  nos  oulros,  —  pode  ale 
appropriar  a  cada  um  d'elles  um  sijmbolo, 
um  signal  de  convenrCio;  mas  tudo  isto  e  uma 
abstraccao  do  espirito.  Em  se  passando  da 
ordem  ideal  para  a  real,  logo  se  topa  com 
a  impossibilidade  de  isolar  qualquer  d'estes 
elemcntos  do  concurso  de  todos  os  outros. 

Isto  nao  obstante;  nao  obstante  o  no  cego 
que  OS  prende  na  individualidade  de  cada 
som,  ha  dois  d'estes  elcmentos  que  sao  mais 
conspicuos  no  canto,  e  oulros  dois  que  o  sao 
mais  na  linguagem.  Os  prinieiros  sao  o  lorn 
e  quaniidade,  que  a  musica  designa  por  no- 
las;  OS  segundos  sao  a  arliculacao  e  a  voz, 
que  a  escriplura  signiHca  por  Ultras. 

Mas  tao  iiidispensavel  e  a  uniao  dos  qua- 
tro  clementos  em  qualquer  som  articulado, 
que  —  nem  o  caulo  pode  lev  nolas  sem  Ihes 
addicionar  vozes  e  articulacoes,  taes  como  do, 
re,  mi,  fa,  sol.  Id,  si,  em  cujo  logar  vem 
collocar-se  as  syllabas  da  palavra  canlada, — 
nem  a  linguagem  pode  /cV  lettras ,  sem  Ihes 
addir  um  torn  e  quaniidade  qualquer. 

Ora,   visto  que   o  tom   e  quaniidade   sao 

I  clementos — para  assim  dizer  —  arbilrarios, 
e  de  mui  secundaria  imporlancia  na  lingua- 
gem, a  escriplura  nao  os  assignala.  Os  unices 
clementos  para  que  ella  tem  lettras,  sao  as 
vozes  e  as  articulacoes:  —  eslas,  escreve-as 
com  consoanles;  —  aquellas  com  vogaes.  E 
assim  como  a  indissoluvel  uniao  da  arliculacao 
com  a  voz  forma  o  som  elementar  da  pala- 
vra, assim  tambem  a  inlima  combinagao  da 
consoanle  com  a  vogal  forma  a  svllaba  natu- 
ral, que  e  0  syrabolo  ou  signal  graphico 
d'aquelle  som. 

Enlre  os  sons  elemcntares  que  pode  formar 
0  orgao  da  falla,  e  o  do  ouvido  perceber,  o 
mais  ligeiro  e  tenue  de  todos,  o  que  —  para 
assim  dizer  —  resulla  da  inicial  determinacao 
do  orgao  e  o  represenlado  pcla  syllaba  natu- 
ral n  he  »,  composla  da  consoanle  »  h  »  signal 
da  simples  aspiracao,  e  da  vogal  «<!",  que 
sigoifica  a  voz  muda  i. 

0  valor  phonico  d'estes  dois  clementos  e 
tao  pouce  aprcciavel,  que  a  escriplura  pode 
fazcr  a  rcspeito  d'elles  e  que  faz  a  respeito 
do  lom  e  quaniidade  —  pode  ommiltir-lhcs  os 
siguaes.   E  quande  faz  iste;  quando  'numa 

—  1856.  Ndm.  22. 


254 


syllaba  natural  supprime,  quer  a  consoaniw 
«hn,  quer  a  vo^al  •■^  e  mudo  »,  o  rosiiltailn 
lia  suppressao  e  reiluzir  duas  syllabus  natu- 
raes  a  uma  so  artificial,  v.  g.  lla-mo-re  qiic 
tern  trez  syilalias  naluraes,  escrcve-sc  artili- 
cialmente  toui  duas  —  amor;  pa-he,  que  tein 
duas  natuiMcs,  pddn  escrcver-se  com  iiiiia 
artitiiial,  d'cslo  uiodo  —  pde. 

Quando  ua  escTi|itura  do  uma  syilaha  sc 
ommilto  0  signal  da  simples  aspirafao  ■  A  ", 
que  era  a  consoanlc  d'eila,  a  vogai  rospcctiva 
passa  a  comblnar-se,  na  mesma  emissao  do 
som  com  a  da  syllaba  aulecedonle;  e  esta 
licani  couslando  de  uma  consoanle  com  duas 
vogaes,  sera  mwdiphtonfjo.  v.  g.  Pd-he,  ma-he, 
que  artiticialmeule  se  escrcvcm  —  fde,   mae. 

Nole-se  que  ncm  todas  as  vogaes,  suppri- 
mido  0  (I  /(  I)  que  as  articule,  tern  de  ligar-se 
a  vogal  anlecedenlc  para  formarem  com  ella 
uma  so  syllaba  arlilicial,  um  diijlilongo.  Para 
uma  vogal  tor  esta  capaeidade,  o  mister  ((uc 
a  anteccdentc  seja  signal  de  voz  main  forte 
que  a  d'eila  ;  so  assim  a  vogal  prepositiva 
absorvera  a  pospoiitiva;  so  assim  haverii 
diphtongo.  Na  hypotbese  contraria  porem, 
sendo  esta  mais  forte  que  aquclla,  cada  uma 
das  syllabas  eonservara  a  sua  individualida- 
de:  nao  podera  ojiittir-se  0((/i».  v.  g.  Ba- 
hia,  bahii,  sahir. 

QiUHido  porem  o  signal  ommitlido  for — -nao 
a  consoanle  "  k  «,  —  mas  a  vogal  «  e  mudo  ", 
succede  o  contrario;  —  a  syllaba  artificial 
constara  de  uma  so  togal  com  duas  consoaH- 
tes,  ou  ambas  antes  d'eila,  ou  uma  antes  e 
outra  depois,  v.  g.  Pe-lo-ea,  ha-ie-ma,  que 
artilicialmente  se  escrevem  d'este  modo  — 
placa,  alma. 

Nem  lodas  as  consoaules  ommiltido  o  «  e 
mudo "  que  com  ellas  eoncorra,  podeni  en- 
costar-se  a  vogal  anteccdcnte,  e  mod i Ilea  1-a. 
As  unicas  que  em  nossa  lingua  tern  este  pri- 
vilegio,  sao  as  que  os  latinos  iniproprianiente 
appellidavam  semivoyaen ,  c  nos  designamos 
pelos  disyllabos — ell'e,eUe,  enuite,  enm ,  trre , 
esse,  hagd,  e  tambem  chiz,  e  :/.  E  com  razao 
se  dao  a  essas  consoaates  taes  nomes,  porque 
esles  sao  o  producto  dos  dois  valores  que 
cada  uma  tem, — um  quando  vem  antes, — 
outro  quando  depois  da  vogal  respectiva.  v. 
g.  /  era  lama  val  U  ,  em  alma  val  el;  m  em 
mono  val  me,  em  umbos  val  em;  n  em  nece 
val  ne,  em  antra  val  en;  r  em  patarata  val 
re,  em  amor  er;  a>  em  deixo  val  che,  em  ejem- 
plo  val  iz,  etc. 

Ate  aqui,  ainda  nao  sahimos  do  sensivel, 
do  real,  do  concrete,  porque  ainda  nao  sahi- 
mos dos  sons  elementares,  que  o  orgiio  vocal 
pode  formar,  e  o  ouvido  perceber.  Se  cITecti- 
vamente  produzirmos  um  d'estes  signaes  que 
fallam  ao  ouvidn,  ainda  o  alumno  podera 
txaduzil-o  por  outro  que  falle  aos  olhos,  e 
vice  versa.  Tanto  6  certo  que  todos  elles  sao 
cousas  reaes. 


Mas  0  espirito  humano,  com  quanto  eslreie 
pelo  eoncrclo,  niin  para  'nelle.  Nao  lia  ver- 
dadeira  scieneia  para  o  espirito,  em  (pianlo 
nao  sahe  do  conereto  para  o  abstraeto,  do 
niundo  das  realidades  para  o  das  ideas,  do 
composlo  para  o  simples; — em  quanto,  a 
lorca  de  comparar,  decompor  e  generalisar 
[ados ,  nao  chega  ii  posse  dos  priiicipius , 
isto  e,  ii  Huidade  da  variedade  de  nuiilas  pcr- 
cepfijes,  ao  typo  commum  de  muilas  indivi- 
(lualidades,  ao  quid  iiicuncussum  de  loda  a 
seieneia. 

Debaixo  do  peso  dc  tantos  sigiiacs  —  uns 
([ue  fallam  ao  ouvido,  c  sao  sons  articulados, 

—  outros  (jue  fallam  aos  olbos,  e  sao  sylla- 
bas—  a  memoria  do  alumno  pareee  vergar 
e  gemer.  Nao  sera  possivel  alivial-a  de  lama- 
nba  carga?  Nao  sera  possivel,  confrontando 
todos  esses  signaes  uns  com  outros,  achar 
entre  elles  aigum  elemenlo  commum,  algum 
prineipio  dassilicador,  que  Ihes  reduza  con- 
sideravclmente  o  numero,  sem  notavel  pre- 
juizo  da  verdade?  Vejamol-o. 

Quanto  aos  sons  elementares  em  si,  cscu- 
sado  e  fazer  a  tentativa;  porque  niuguem 
pode  dividil-os.  Em  se  tractaudo  de  reduzir 
um  som  articulado  a  cada  um  dos  seus  ele- 
mentos  integrantes,  na  ordem  real  toda  a 
separacao  e  inipossivel.  Mas  na  ideal,  mas 
na  abstrutta,  sera  a  mesma  cousa?  Pareee-me 
que  nao. 

Quem  se  der  ao  Irabalbo  de  inventariar  os 
sons  elementares  de  nossa  lingua,  para  logo 
topara  com  um  facto  bem  digno  de  reparo: 

—  e  que  pode  haver  sons  inteiramentc  simi- 
lares,  mas  nao  ha  dois  inteiramente  differen- 
tes.  'Nesla,  corao  em  todas  as  creaeOes  da 
uatureza,  vti-se  observada  a  grandc  lei  da 
unidade  na  rariedade.  Os  sons  elementares  siio 
mnitos,  sao  variados;  mas,  por  graude  que 
seja  a  variedade  d'ellcs,  nao  ha  um  so,  que 
por  um  ou  outro  aspecto  nao  tenha  sua  tal 
ou  qual  sirailhanca  com  outro  som  elemenlar. 
Pode  dizcr-se  d'elles,  o  que  das  artes  diz 
Uvidio: 

Fades  non  omnibus  una. 

Nee  diversa  tamen,  guiilem  dccel  esse sororum. 

Tomemos,  por  cxemplo,  as  palavras  caso , 
casa.  Compoe-se  cada  uma  de  dois  sous  ele- 
mentares. 0  primeiro  d'ambas  e  inteiramente 
similar;  podemos  represental-o  pelo  mesmo 
signal,  pela  syllaba  «  ca».  Mas  o  segundo  da 
primeira,  com  quanto  nao  seja  identico  com 
0  segundo  da  outra,  nao  e  inteiramente  dif- 
ferente.  Se  houvessemos  de  represental-os  por 
um  signal  so,  sacrilicariamos  a  differcuca  que 
OS  e.xtrcma ;  se  por  dois  signaes  difl'erenles, 
estava  sacrificada  a  similhanca.  Que  fazer 
pois?  —  E  rcpresentar  cada  um  d'aquelles 
sons  — nao  por  um  signal  imico,  como  faria 
a  escriptura  syllahica,  —  senao  por  dois  signaes 


255 


ao  menos,  os  quaes  variem  em  siias  combina- 
eOes,  como  variam  em  seus  olementos  cada  um 
d'aquellcs  sons  elemeiitarcs:  e  para  isto  — 
ponto  csscncial  —  6  decompor  a  sjjilaba  em 
Icttras,  (i  suhslituir  a  csciiplura  syltabka  a 
escriptiira  alpliiibetica. 

Para  rcalisar  csta  decomposifao,  tudo  o 
que  temos  dc  I'azer,  e  —  redigir  unia  labua 
das  syllabus  naluraes  de  nnssa  liiifiua,  exarai- 
iiar  atlonliimoiile  os  signacs  quo  'nulla  figu- 
ram,  coiiiparal-os  cntrc  si;  e  onde  qiier  que 
encontrarnios  dnis,  trcz,  q-salro  ou  mais  per- 
feitamenle  similares,  e  rcdiizil-os  todos  a  um 
signal  unico;  mas,  quanio  aos  diU'crentes,  e 
conserval-os  laes  quaes.  Assim  lercmns  redu- 
zido  a  talma  d:\s  syllabus  natunies  da  lingua 
a  dos  eleiiienlos  d'eslas  syllabas ;  assim  lere- 
mos  chogado  ao  alpliabcto. 

Ainda  jjor  outro  piocesso  poderemos  chcgar 
ao  mesnio  rosullado. 

Ja  saliemos  que  a  syllaba  muda  «  he  »  se 
compoe  de  elementos  lao  insignilicantes  para 
0  ouvido,  que  lalvez  pode  supprimil-os  a 
esoriptura,  scm  alterofao  sensivol  da  palavra 
fallada.  Tomemos  jiois  a  labua  das  syllabas 
naturaes;  e  onde  (|ucr  que  acharmos  um  dos 
elementos  d'aquella  syllaba,  imaginemos  que 
elle  la  nao  csta,  supprimamol-o.  Assim  tere- 
mos  feito  unia  abstracrno,  c  verdadc,  mas 
uma  abstracf-ao,  que  affastando-se  o  menos 
possivel  das  condicoes  da  realidade,  dar-nos- 
ha  0  que  procuramos  —  a  decomposirao  das 
syllabas  em  lettras.  ou,  niais  exactamente, 
OS  elementos  de  todas  cllas.  I'or  quanto: 

Na  primeira  linha  horisontal  da  labua  aeba- 
mos  eombinada  com  diversos  signaes  a  con- 
soante  «  h  ».  Suppriraida  que  seja  esla,  o  que 
fica  em  todas  aquellas  syllabas  sao  diversos 
signaes  de  vozes  sem  artkulwoes,  sao  as  let- 
tras vogaes  de  nossa  escriptura. 

Na  segunda  columna  vertical  deparamos 
■  com  diversos  signaes  em  comliinacao  com  a 
vogal  e.  Supponliamos  que  esta  e  o  »e  mudo  », 
e  suppriuianiol-a.  — 0  que  fica?  Ficam  di- 
versos signaes  de  articuhuOes  sem  voz,  ficam 
as  comoanles  sosinbas. 

Eis-aqui  pois  as  duas  classes  de  lettras  — 
vogaes  e  consnantes — ,  de  que  forma  o  abece- 
dario  ou  alpluibetn  mamtscri pto  de  que  usa- 
mos.  Este  alpbabeto  e  o  producto  de  uma 
abstraccao  ;  e  um  arlifiiio  commodo,  pelo  qual 
substituimos  a  uma  inimensa  recua  de  signaes 
de  sons  elementares,  o  mui  limitado  numero 
de  trinta  e  trez  lettras;  as  quaes  per  si  so 
nao  signilicam  cousa  alguma  real  ou  sensi- 
vel ;  mas  combinadas  umas  com  outras  repre- 
scmtam,  com  maior  commodidade  e  percisao, 
atquellcs  sons. 

Baslarao  os  trinta  e  trez  signaes  alphabe- 
ticos  para  symbolisarem  os  elementos  de  todas 
as  syllabas,  as  vozes  c  articulacoes  de  todos 
OS  sons  elementares  de  nossa  lingua?  Por 
ouiros  tcrmos  —  sera  perfeito  e  cabal  o  nosso 


alphabeto?  —  Estii  bem  longe  d'isso.  E  du- 
plicadamente  imperfeito,  —  imperfeito  por  fal- 
ta-;~e  imperfeito  por  excesso. 

E  imperfeito  por  excesso,  porque  talvez 
tem  mais  de  um  signal  para  representar  o 
mesmo  elemcnto  syllabico,  a  mesma  voz  ou 
articulacao.  V.  g. :  ]iara  significar  a  voz  «  i  » 
tem  dois  signaes,  um  grego,  outro  latino. 
Para  representar  a  articulajao  «  tj  »  nao  tem 
menos  dc  quatro  signaes  q,  c,  k,  ch  ii  grega 
Isto,  por  cerlo,  lia  de  causar  coulusao ;  mas 
a  quem?  a  quem  nao  eonbecer  as  analogias 
e  etymologias  da  lingua,  a  (juem  nao  souber 
a  ortograpbia  d'ella. 

E  imperl'eilo  por  falta,  porque  aleni  de 
nao  ter  signaes  para  as  articulacoes  nli,  Ih, 
para  crescido  numero  de  vozes  so  tem  seis 
signaes  distinctos.  Temos  seis  vozes  ubertas, 
quatro  fechadas,  seis  mudas,  e  seis  nasaes : 
mas  para  signaes  de  todas  ellas,  so  nos  da  o 
alphabeto  seis  vogaes;  as  quaes  podem  toda- 
via  distinguir-se  entre  si  pelos  accentos  — 
cimimjlexo,  agudo,  e  nasal,  designando  abso- 
luta  falta  de  accento  a  voz  muda.  v.  g.  AmA- 
mos,  aindinos,  umuin. 

Mas,  sem  embargo  de  todas  estas  iniper- 
I'cicoes,  0  systema  da  escriptura  alpbabetiea 
e,  a  perder  de  vista,  superior  ao  da  escriptura 
syllaliica, — ja  em  razao  do  admiravel  artifi- 
cio  com  que  designa,  por  limitado  numero 
de  signaes,  a  maxima  parte  das  vozes  e  arti- 
culacoes de  que  se  formam  os  sons  elementa- 
res da  lingua;  ja  pela  rigorosa  percisao  com 
que  assignaia  os  varies  matizes  de  dilTerenca 
ou  simiihanca,  que  acaso  tenliam  entre  si 
aquelles  sons: — o  que  a  escriptura  syllabica 
so  poderia  conseguir  a  custa  de  indelinido 
augmento  no  numero  dos  signaes. 

Esta  feita  a  resenha  dos  factos  fundamen- 
taes  da  linguagem:  e  fazendo-a,  temos  — 
para  assim  dizer  —  assistido  a  formacao,  de- 
composicao  e  inearnacao  do  som  arliculado: 
—  temos  visto  como  este  se  resolve  em  qua- 
tro elementos  que  sao  voz,  articulacao,  lorn 
e  (juanlidade:  como  os  dois  primeiros  vera 
reunir-se  na  individualidade  do  som  elementar, 
que  a  escriptura  traduz  na  syllaba  natural; 
e  como  esta  se  transforma  em  syllaba  artifi- 
ciul,  medianle  a  supjiressao  dos  elementos  da 
mais  fraca  e  tenue  de  todas  as  syllabas  nalu- 
raes:—  temos  visto  finalmente  como,  sahindo 
da  ordem  real  para  a  ideal,  o  espirito  chega 
a  decompdr  a  syllaba  em  seus  elementos, 
despresando  as  similhancas,  fazendo  so  conta 
com  as  differencas,  que  acaso  tenham  entre 
si  OS  symbolos  dos  sons  elementares;  e  estas 
differencas  sao  o  que  represenlam  as  lettras 
vogaes  e  consoantes,  de  que  se  compoe  o  nos- 
so alphabeto  manuscripto — unico  alphabeto, 
que  deve  conhecer  o  educando,  em  quanto 
nao  souber  16r  torrenlemente. 


Cwnd'nila. 


u.  a.  DE  MEItDONCA^. 


256 


0  fmm  1 0  FnuRO  u  mimM  nmm, 

Como  que  acordada  do  lethargo  diulurno 
cm  qiiL'  tern  jazido,  csquocida  do  seculo,  fora 
do  niDvimcnto  animado  e  progiessivo,  inipri- 
niido  [iida  revolucao  mais  adniiravi'l  do  cspi- 
rilo  da  cpoclia,  a  nossa  inslniccao  priinaiia 
comcra  allim  a  dar  si^naes  dc  vida. 

(iiaiidfi  niiiueio  de  cadeiras  loi  creado  para 
wm  e  outro  scxo  no  anno,  que  lindou  :  c, 
com  (luanto  inferior  ainda  as  necessidadcs 
da  ]inpnlai;rio,  alarpou  cm  fim  a  esplicra  da 
inslrnccao  popnlar,  e  dcu-nos  a  espcranca 
liindada  de  mciliorampnlo  progrcssivo,  que 
lalvoz  de  prompto  sc  aicancas-ii;  sem  grava- 
nic  da  lazcnda  puliiira,  se  fora  licm  acoliiido 
um  pciisamcnio  c\posto  iia  tempo  'neslo  pe- 
riodico.  0  tempo,  a  reflexao,  c  mais  ([iie  ludo 
a  cscasscz  de  recursos  do  estado  ,  iiao  dc 
por  lim  realisar  aciuelia  idea,  unica  possivcl, 
e  conforme  a  nossa  situacao.  Couliadamente 
0  espcramos. 

Mas  nao  basta  crear  escholas.  Para  isso 
nao  se  requer  mais  (|ue  verbas  no  orcameulo. 
Realisar  a  instruccao  do  povo,  como  o  exi- 
gem  as  condicoes  da  cpocha,  c  a  nossa  orga- 
nisacao  poiilica  e  obra  de  mais  elemcntos: 
carecc  de  bons  professores,  e  concurrcncia  de 
ahimnos. 

Bons  professores 'num  paiz,  ondo  a  iilustra- 
cao  (cm  conqiiistado  pouio,  e  o  merccimenlo 
e  procurado  para  emprcgos  mcnos  penosos, 
e  mais  lutralivos  nao  se  podcm  csperar  sc- 
nao  dc  cscholas  norma es.  Ua  unia  apcnas 
organisada  cm  Bciem,  (jue  csla  i)or  estrear 
apesar  de  (igurar  nos  orcamentos  desdc  184(i. 
Nao  e  por  certo  aquelle  genero  de  eschoias 
normaes,  o  que  mais  nos  agrada.  Eschoias 
menos  dispcndicsas,  e  mais  produclivas,  cm 
localidades,  que  inspircm  e  alcntem  o  cspi- 
rito  modesto  do  ensino  priniario,  e  nao  o  traus- 
viem  com  a  fruirao  de  commodos  e  praieres, 
que  mais  nao  apparccem  na  pequena  e  pobre 
aldea,  sao  realmcnie  as  que  convera  :  mas, 
pois  se  organisou  a  dc  Belem,  e  'nella  se  po- 
dem  aproveitar  elemcntos,  que  offerece  a  casa 
pia,  laslimamos  que  tanta  seja  a  sua  orfan- 
dade,  que  nem  um  alumno-mestre  baja  pro- 
duzido  cm  dez  annos. 

A  frcquencia  das  cscholas  piiblicas  cm  nos- 
sa terra  e  tambem  niuilo  inferior  a  de  outros 
paizcs.  Cincoenta  mil  aiumnos,  tcrmo  medio, 
cm  mil  e  duzcntas  eschoias  e  cifra  niuilo 
diminuta  comparada  a  de  outros  paizes.  K 
crivcl  que  a  dislancia  resultante  do  numero 
pcqucno  das  eschoias  seja  a  causa  principal  da 
difliculdade  na  concurrcncia  ;  mas  tambem  se 
nao  pode  negar  que  o  desleixo,  a  indifl'ereu- 
ca,  e  culposa  avareza  dos  paes,  c  tutores,  que 
prefereni  utilisar  o  service  da  infancia  em 
provcito  seu,  e  prejuizo  dos  educandos  con- 
corra  mui  podcrosameute  para  aquelle  de- 
sastroso  rcsultado. 


A  lei,  provendo  de  remedio  contra  esse 
abuse,  prcscrcvc  disposii'Ocs  penacs,  por  ora 
intactas.  K  ohjecto  mui  grave  e  arriscado  o 
eniprcgo  dc  medidas  obrigalorias  na  frcquen- 
cia das  cscholas.  Dcsadoran\  taes  nicdidas 
povos  muito  illustrados;  combatc-as  um  di- 
reito  sagrado  da  familia  ;  nao  as  fortilica  a 
expericucia.  Ainda  nos  paizcs,  que  as  t()m 
Icgislado,  recorre-sc  a  ellas  como  ultimo  re- 
medio ,  depois  de  esgotados  todos  os  outros 
meios.  Mcios  suaves,  suasorios,  e  medidas 
coercivas  iudircctas  produziram  scnipre  ell'ci- 
to  mais  seguro;  ponpic  nao  afugenlam,  susci- 
tando  horror  a  escbola. 

Tacs  sao  as  considcraeOcs  ([ue  dcvcm  occu- 
par  a  mente  do  Icgislador,  do  govcruo,  e  de 
quantos  jindcm  e  devem  intcressar-se  pela 
sorte  da  instruccao  primaria,  a  ([uc  csta 
cstreilamentc  ligada  a  libcrdade,  a  ordem,  a 
scguranca  c  prospcridadc  do  ])aiz. 

Sao  d'csta  ordem  os  esludos  (jue  vcmos  no 
cstrangciro  ,  em  quanto  nos  estamos  csperdi- 
cando  precioso  tempo  com  disputas  pura- 
mente  escholaslicas.  A  larga  e  ja  faslidiosa 
queslao  entrc  methodo  simultaneo-mutuo,  e 
simullanco  collectivo,  ou  rcpentino,  boje  po- 
de reputar-se  a  queslao  do — i — grcgo,  e — i — 
romano.  Fcliz  a  nacao  se  a  resolver!  Com 
I  quo  se  alimenta  boje  essa  famosa  questao? 
a  que  nos  pode  ella  conduzir?  0  methodo 
Ctisiillio  ja  csta  conhccido;  tem  side  experi- 
nientado;  ba  muitos  professores  Icgalmente 
hLibiliiados  a  practicarcm-no;  sejam  todos  os 
aspirautcs  ao  magistcrio  obrigados  a  dar  pro- 
vas  dc  0  cntcnderem;  que  mais  (juerem  delle? 
Dccrctal-o  obrigatorio?  Fora  uma  insania  cm 
nossa  bumilde  opiniao;  uma  disposieiio  Ibra 
da  lei  do  sense  commum;  contraria  as  rcgras 
pi-dagogicas  mais  triviacs;  embora  seja  elle 
mais  pbilosophico,  mais  ameno,  mais  facil, 
mais  perfeito,  questao  que  nao  inllue  nos 
resultados  practices.  0  conbecimento  cabal 
dos  metbodos  e  indispensavel  ao  professor;  o 
uso  delles  no  ensino  e  livre:  cada  qual  usa 
do  que  mclhor  Ihe  parece;  porque  oonstran- 
gido  0  professor  tornaria  peer  o  melhor  me- 
thodo. 

0  progresso  da  instruccao  primaria  6  boje 
avaliado  por  modo  mui  diverse.  Esluda-se  a 
facilidade  nos  processes  para  abreviar  o  ap- 
prendisado;  cura-se  do  ensino  intuitive  no 
cxcrcicio  de  todas  as  disciplinas;  recommcnda- 
se  a  abstencao  de  ideas  abstraclas  por  impro- 
prias  da  edade;  cultiva-se  a  instruccao  das 
scicncias  industriaes,  niormente  da  agricul- 
tura  priictica,  preparando  assim  a  gerafao, 
que  nos  sucecde,  para  as  cxigencias  do  secu- 
lo,  cm  que  vive;  e  mais  que  tudo  se  altende 
a  cducacao  moral  para  formar  o  corajao  da 
infancia,  e  inocular-lhe  os  germes  da  virtu- 
de,  e  da  vida  social,  a  que  se  destina. 

E  'neste  inluilo  que  nos  comprazemos  de 
trasladar  os  dous  documcnlos,  que  seguem, 


257 


e  esperamos  nao  sejara  perdidos  para  a  nossa 
hisloria  litteraria  conlemporanca. 

Circular  aos  srs.  reilores  a  respeilo  dn  en.sino 
practico  da  agrkullura  na.s  e.icholas  nor- 
naes  primarias. 

St.  reitor :  o  imperador,  solicilo  pelo  bem 
estar  das  classes  laboriosas,  ppnsoii  ([ue  o 
cnsino  practico  de  nococs  agricolas  e  da  lior- 
ticultura  scria  o  complonieiilo  necessario  a 
iustruccao  das  cscliolas  primarias. 

S.  M.  nao  quiz  lodavia  que  se  adoptassem 
medidas  geraes  antes  de  verilicar  por  expe- 
nencias  parciaes  os  resultados  que  liavia  a 
esperar  do  ensino  de  tal  nalureza.  Nao  quiz 
por  isso  que  o  orcamento  do  estado  suppor- 
tasse  as  dcspezas  das  primeiras  tentativas,  e 
em  1832  dignou-se  S.  M.  conceder  do  seu 
bolsinlio  OS  meios  necessaries  para  aniniar  al- 
guns  mestres  a  darem  a  sens  discipuios  licOes 
practicas  de  agric\illura. 

Os  ensaios  executados  por  ordem  de  S.  M. 
tiveram  logar  em  varias  eschoias  de  pontos 
dillerentes  do  imperio.  No  departamento  da 
Mancha  {canisy)  cullivaram  os  alumnos  com 
successo  em  um  terreno  de  dez  ares  os  legu- 
mes ordinarios  do  paiz.  Na  correze,  trinta 
da  eschola  de  Seilhac  appiicaram-se  a  tralia- 
Ihos  de  horticullura,  e  o  jiroducto  da  cultura 
em  oito  mezes  cxcedeu  vinte  Irancos  o  pro- 
ducto  de  um  anno  de  terreno  siiniiliante.  A 
eschola  normal  de  Macon  apresentou  resulta- 
dos ainda  mais  signilicalivos:  um  terreno 
plantado  de  vinlia  I'oi  comprado  era  1852-33, 
e  posto  a  disposicao  dos  alumnos-niestres. 
Foi  este  terreno  arroteado  e  semeado :  itrinta 
e  seis  ares  de  terra  deram  180  francos  de 
producto  liquido,  approximadamente  300  fran- 
cos 0  hectare.  Os  relatorios  que  recebeu  do 
anno  de  33 — 34  attestam  que  os  resultados 
foram  superiores  aos  do  anno  antecedente. 

Estes  factos,  e  outros  que  fora  longo  enu- 
merar,  provam  com  loda  a  cvidencia  a  alta 
sabedoria  do  pensamento  do  imperador,  e 
attestam  e  seu  earacter  eminentemente  pra- 
ctico. 

Nao  tenho  precisao  sr.  reitor,  de  insislir 
para  comvosco  no  que  encerra  de  fecundo 
para  o  fuluro  a  idea  do  ensino  das  nocOes  de 
agricultura  nas  eschoias  primarias.  Por  ura 
lado  este  ensino  deve  ter  por  effeito  propagar 
OS  bons  methodos  de  cultura,  e  levar  algumas 
eschoias  a  estado  de  se  sustenlarem  de  sens 
propfios  recursos:  por  outro,  que  llie  sobre- 
lev-a;  o  governo  deve  esperar  o  resultado  im- 
portante  de  conservar  enlre  os  mestres  gostos 
simples  e  modeslos,  e  ligal-os  por  inleresses 
pesitivos  ao  solo  das  povoacoes,  que  Ihcs  con- 
fiaram  as  eschoias.  Seria  pois  do  niaior  inte- 
resse,  sr.  reitor,  que  os  ensaios  tentados  em 
cilguBias  loealidades  se  extendessem  a  lode  o 


territorio.  Ora  c\\  sou  levado  a  crer  que  o 
verdadeiro  meio  de  alcancar  um  dia  o  resul- 
tado, que  se  deseja,  e  o  substituir  a  tentativas 
locaes,  e  a  esforcos  puramente  individuaes, 
um  systema  geral  de  ensino  agricola  nas 
eschoias  normaes  primarias.  Oonstituido  este 
ensino,  os  alumnos-mestres  difl'undiriam  pelos 
povos  boas  nocOes  do  agriciiltiira ;  poderiam 
dar  conselhos  uteis  aos  paes  de  sous  discipu- 
ios. D'este  modo  os  mestres,  eu  o  creio,  en- 
trando  mais  na  esphera  que  Ihes  foi  marcada, 
attraliiriarii  mais  consideracoes,  e  junctariam 
novos  tilulos  ans  que  ja  Ihes  deram  a  estima 
e  rccoubecimento  do  paiz. 

De  raais,  e  'noutro  ponto  de  vista,  nao  e 
natural  pensar  que  a  jovens  habituados  ao 
service  do  campo  seria  conveniente  achar  na' 
eschola  normal  as  condicoes  de  uma  vida 
activa;  e  consideracoes  de  ordera  moral  naff 
vi^m  apoiar  razoes  tiradas  de  irtteresses  de 
outro  character?  Convido-vos,  sr.  reitor,  a- 
conimunicar-me  as  vossas  observacoes  sobre  o 
projecto  de  organisacao  do  ensino  regular  da' 
agricultura  nas  eschoias  normaes  primarias 
da  vo^sa  reparticao,  ministrando-me  quanto 
julgardes  proprio  a  esclarecer  a  questao. 

Niio  vos  limiteis  ao  exame  no  ponto  de' 
vista  tbeorico  d'esta  questao.  Direis  como  o 
novo  ensino  se  pode  conciliar  como  o  das 
outras  disciplinas:  e  atlendereis  a  todas  as 
circumstancias  materiaes,  que  tornariam  mais 
facil  a  projectada  organisacao  nas  eschoias 
da  vossa  academia. 

As  eschoias  normaes  da  vossa  jurisdicao 
tem  todas  algum  campo  ou  jardim?  no  caso 
contrario,  o  aluguel  ou  acquisicao  encontra- 
ria  grandes  obstaculos?  tal,  ou  qual  director 
estaria  em  termos  de  dirigir  o  novo  ensino? 
Podcria  o  ensino  confiar-se  a  um  dos  mestres 
adjunctos?  Ou  julgareis  necessario  buscar  fora 
das  eschoias  o  mestre  em  estado  de  applicar 
na  sua  simplicidade  practica  o  pensamento  da 
administracao,  e  nao  seria  necessario  em  tal 
caso  provocar  a  derogacao  do  art.  8  do  decreto 
de  24  de  marco  de  1831?  Os  conselhos  ge- 
raes estarao  dispostos  a  concorrer  para  as 
despezas,  que  resultam  da  creacao  projectada? 
Todas  estas  questoes  exigera  o  mais  serio  exa- 
me da  vossa  jiarte,  e  rogo-vos  que  o  mais 
breve  possivel  me  dels  sobre  ellas  respostas 
precisas  e  practicas. 

Recebei.  sr.  reitor,  a  seguraiica  da  niinhai 
distincta  consideracao. 

0  ministro  da  instruccao  piiblica,  e  dos 
cultos,  U.  Portoul. 

Eis-ahi  o  progresso,  que  invejamos  para  a' 
nossa  instruccao  primaria,  vul'garisadas  poi" 
raeio  de  um  jornal  especial  as  n'ocoes  de  agri- 
cultura practica,  ac<;iomodadas  a  capacidade 
dos  alumnos. 

Entre  os  protfessOS'  digiios  de  elogio  por 
facilitarera  o  ensino  da  instrtccao  primaria 
merece  muito  honrosa  menfS* 


258 


0  LMo-leitor,  novo  jogo  para  ensinar  a  ler 
rapidumente,  e  se>n  trabalho,  de  Th.  Le- 
brun,  in,speclor  de  instruccdo  primaria  da 
academia  de  Paris. 


E  composto  0  jogo  de  trez  series,  ou  jogos 
distinctos,  um  para  Icltras,  oulro  para  sylla- 
l)as,  e  outro  para  phrazos,  meltida  eada  serie 
'mima  caixa. 

Mr.  Lehrun  tendo  notado  a  facilidade  que 
OS  meuinos  tein  cm  apprender  a  ler  por  meio 
do  jogo  OS  noveiita  priim-iros  numi^ros,  apro- 
\eitou  a  observarjio  ])ara  applicar  o  jogo:  1." 
a  leilura  de  lettras  ;  2."  a  do  palavras.  Para 
islo  prcparou  os  cartoes  de  lornia  (]ue  re- 
presentasseni  lodas  as  leltras  maiusculas  e 
minusculas,  outros  syllabas,  e  os  ullimos  pe- 
qiienas  plirazes. 

0  meiiino  brineando  com  este  jogo  de  Idto 
appreude  a  ler  dopois  de  estudada  sem  cuslo 
toda  a  seric  de  cartoes,  e  pode  logo  passar  a 
leitura  de  livro. 

Ha  0  quer  que  seja  no  manejo  dos  cartoes, 
e  no  pronunclar  alto  das  lettras,  e  palavras, 
que  agrada  a  mobilidade  da  infancia,  e  ex- 
plica  OS  progressos  d'este  jogo  que  pode 
substituir  nas  famiiias  o  jogo  ordinario  do 
loto. 

D'estas  innovacoes  gostaraos  nos.  As  maes 
de  familia  nao  deixarao  de  utilisar  o  desco- 
brimento.  Este  sim,  que  merece  o  nome  de 
ensino  repenlino.  M. 


CHIMICA  LEGAL. 


Continuailo  de  pag.  190. 

Analyse  das  risceras  do  esludante  Lazaro  Tavares 
Alfonso  e  Cunhu;  d'uma  porcao  de  terra  do 
silio  em  que  se  achou  o  eadarer;  e  d'umas  tiras 
da  balina  do  mesmo  estudante. 

0  estoraago  e  intestinos  estavam  conserva- 
dos  em  alcool,  separados  em  i  frascos  com 
OS  liquidos  e  outras  materias,  que  estas  visceras 
continham  ;  e  achava-sc  'noutro  I'rasco  uma 
porcao  de  alcool,  irmao  do  que  .so  tiuha  eni- 
pregado  nos  dois  primeiros.  'Noutro  frasco 
estavam  tiras  da  baliiia,  em  agua  distillada; 
e  'noutro ,  mais  tiras  'numa  dissolucao  de 
sulfato  de  soda.  Ainda  outra  porciio  de  tiras 
da  batiua  foi  guardada  'num  embrulho  de 
papel ;  e  'noutro  embrulho  achava-se  uma 
porcao  de  terra  do  Choupal,  onde  o  cadaver 
tinha  sido  cncontrado. 

A  commissao  de  periios  foi  encarregada  de 
proeurar  venenos  nas  visceras,  e  vestigios  de 
sangue  na  terra  e  tiras  da  batina. 


Analyse  do  estomago  e  intestinos  com  as  substan- 
cias  encontradas    nestes  orgdos. 

Sujeitamos  a  ebullicao  em  agua  distillada, 
pOr  mais  de  uma  bora,  uma  porcao  das  pa- 
redes  do  estomago  e  dos  intestinos,  com  uma 
parte  das  substaucias  (|ue  conlinliaui  ;  lillra- 
mos,  e  guardiimos  o  li(|uido  com  a  designa- 
fao  a,  para  o  sujcilarmos  aos  rcagenles. 
Outra  pori;ao  das  mesmas  subsiancias  foi  car- 
bouisada  numa  capsula  de  porccjana  com 
acido  suH'urico,  bumcdccida  com  acidoazoiico, 
e  toruada  a  soccar  pciu  cvaporacao,  rcduzida 
a  p6,  e  sujeito  a  ebullicao  em  agua  dislillada 
por  mais  d'uma  bora.  Este  liquido,  lilliado, 
guardou-se  com  a  desiguacao  b.  Outra  jiorcao 
das  mesmas  subsiancias  foi  carbonisada  pelo 
mesmo  processo;  so  com  a  din'cronca  de  se 
ter  operado  'numa  rolorla  com  a  cxlrcmidade 
do  collo  mergulbada  em  agua  dislillada,  que 
depois  serviu  para  a  ebullicao  do  carvao.  Este 
liquido  guardou-se  com  a  dosignacao  c.  Mais 
duas  porcoes  das  mesmas  subsiancias  I'oram 
carbonisadas  com  o  mesmo  acido  sulfurico, 
tendo  sido  prcviamcnte  tracladas  o  aquccidas 
com  uma  dissolucao  conccnirada  de  jjotassa 
caustica.  L'ma  d'esias  porcoes  foi  carbonisada 
em  capsula  de  porcelar.a,  e  a  outra  em  relorla ; 
e  dos  dois  liquidos,  que  resultaram  da  ebulli- 
cao e  liltracao  das  materias  carbonisadas,  o 
1.°  licou  guardado  com  a  designaciio  d,  e  o 
2."  com  a  designacao  e. 

Prcparados  os  cinco  liquidos,  passamos  a 
sujeilal-os  aos  reagentcs. 

No  apparelhc  de  Marsh  nenhum  dos  cinco 
liquidos  deu,  na  porcelana  ou  no  tubo  de 
\idro,  0  menor  indicio  de  arsenico,  nem 
mancbas  ou  anneis  d'oulra  natureza.  So  o 
liquido  c  fez  appareccr  na  porcelana  umas 
mancbas  amarelladas,  sem  brilho  e  que  desap- 
pareciam  em  grande  parte  s6  com  o  calor 
(jue  bcava  na  porcellana,  Jeixando  perceber 
0  cbeiro  do  enxofre.  Estas  mancbas,  que  desap- 
pareciam  totalmenle  quando  exposlas  a  um 
calor  brando,  insoluveis  pelo  acido  azolico  a 
frio  e  pelo  ammoniacc,  c  nao  oM'croccudo  os 
charactercsphysicos  nem  cliimicosdasnianchas 
de  arsenico  ou  do  sull'ureto  de  arsenico,  re- 
conhecemos  serem  mancbas  de  enxofre,  como 
as  que  se  costumam  formar,  quando  lem  logar 
denlro  do  apparclho  a  formacao  do  acido  sul- 
furoso,  e  seguidamente  do  acido  sulpbydrico. 

Ainda  com  o  lim  de  descobrirmos  o  arsenico, 
sujeitamos  estes  liquidos  aos  seguintes  reagen- 
tes,  sera  que  nos  apparecesse  o  menor  indicio 
d'este  vcneno.  —  Azolalo  de  prala,  azolato 
de  prata  ammoniacal,  azolalo  de  cluimbo, 
sulfato  de  cobre,  sulfato  de  cobre  ammoniacal, 
agua  de  cal,  acido  sulpbydrico,  e  sulphydrato 
ammonico. 

Empregamos,  alem  disso,  parte  d'estes  e 


259 


outros  reagenles  para  o  descobrimento  dos 
venenos  de  antimonio,  de  chumbo,  de  cobre, 
e  de  mercurio. 

Para  os  venenos  de  antimonio,  empregaraos 
a  polassa,  o  ammoniaco,  a  agua  de  cal,  o 
chiororeto  de  platina,  o  acido  sulphydrico,  e 
0   sulpliydrato  animonico. 

Para  os  venenos  de  chanibo  empreganios 
a  potassa,  o  iodiiroto  de  polassio,  o  atido 
sulpliydrico,  e  o  sulphydrato  animonico. 

Para  os  venenos  de  cobre  empreganios  o 
ammoniaco,  a  potassa,  o  acido  sulpbydrico, 
0  sulpliydrato  amraonico,  ocyanureto  amarcl- 
lo  de  polassa  e  lerro,  e  o  arseniato  de  potas- 
sa. Tambem  empreganios  nos  liquidos  previa- 
mente  acidulados  com  acido  sulfurico,  unia 
lamina  de  lerro,  e  nma  agulba  suspensa  'num 
cabello,  segundo  o  processo  de  Boutigny. 

Para  os  venenos  de  mercurio  empregamos 
a  potassa,  iodureto  de  potassio,  cyanureto 
amarcllo  de  polassa  e  ferro,  carbonato  po- 
tassico ,  carbonato  ammonico,  ammoniaco, 
acido  sulphydrico,  sulphydrato  ammonico,  e 
azotato  de  prata.  Mergulhamos  nos  liiiuidos 
as  laminas  de  cobre  e  de  zinco;  e  empreganios 
tambem  a  pilha  de  Smithson  lormada  por  ura 
annel  d'ouro  com  uma  lamina  de  cobre  enro- 
lada  em  espira. 

Nenluim  d'estcs  reagenles  e  processes  desco- 
brirani  indicios  dos  venenos,  que  se  procura- 
vam. 

Progredindo  na  mesma  investigacao,  recor- 
rcmos  ainda  ao  processo  de  Malaguti  e 
Sarzeaud,  applicando-o  nao  so  a  investigacao 
do  arsenico,  a  que  o  destinani  estes  auctores, 
mas  lornando-o  extensivo  a  todos  os  venenos 
melalicos.  Para  cste  llni,  aproveitamos  o  quo 
podia  considerar-se  communi  entre  este  pro- 
cesso de  Malaguti,  e  o  processo  aconselhado 
por  Briand,  paia  a  investigacao  simullanea 
de  todos  OS  venenos  melalicos,  do  niodo  se- 
guinte. 

Lanciinios  uma  porcao  do  estomago  e  in- 
testinos  nunia  retorta  com  egual  peso  de 
agua  regia  nascente,  e  favorecemos  a  destrui- 
cao  da  materia  orgauica  por  mcio  da  himpada 
de  alcool.  A  retorla  communicava  com  um 
frasco  vasio,  constantemente  refrigerado  com 
agua;  e  em  scguida  havia  oulro  I'rasco  com 
0  I'undo  coberto  de  agua  distillada,  onde  mer- 
gulhava  0  lubo  de  communicaiao  com  o  pri- 
nieiro.  Do  segundo  frasco  saliia  um  lubo  de 
Welter,  em  cuja  curvalura  se  achava  agua 
distillada.  Conipletada  a  destruicao  de  todas 
as  niaterias  organicas,  menos  as  gorduras, 
estas  se  deixaram  coagular  pelo  arrelecimenlo; 
separaram-se  do  liquido,  que  se  poz  de  lado  ; 
lavaram-se  com  a  agua  do  apparelho,  e  tizeram- 
sefundirna  mesma  retorta,  tendo-se  montado 
0  apparelho  com  outra  agua.  Coaguladas  de 
novo  ,  separaram-se  da  agua  por  mcio  do 
titro  e  despresaram-se.  Esta  agua,  com  a  agua 
rlegia  que  tinha  destruido  as  substancias  or- 


ganicas ,  misluraram-se  e  dividiram-se  era 
duas  partes  ,  guardando-se  uma  d'ellas  com 
a  designacao  a.  k  outra  parte  lancou-se  na 
retorta  do  mesnio  apparelho,  e  distillou-se  ale 
se  reduzir  a  vigesima  parte,  pouco  niais  ou 
menos. 

Despresado  o  residuo  da  distillacao,  guar- 
dou-se,  com  a  designacao  6,  o  liquido  dislil- 
lado  no  prinieiro  frasco,  reunido  com  a  agua 
do  segundo  e  do  lubo  de  Welter. 

Este  liquido  h  sujeitou-se  a  uma  corrente 
de  acido  sulphydrico  durante  niuilas  boras,  e 
dei\ou-se  em  repouso  por  mais  de  48  boras, 
seni  que  aparecesse  turvacao  do  liciuido,  pe- 
licula  ,  llocos,  ou  precipitado  aniarello,  que 
podcsse  indicar  a  formacao  do  sull'ureto  de 
arsenico  a  custa  do  chlorureto  de  arsenico, 
que  deveria  existir  'neste  liquido,  se  houvesse 
arsenico  na  materia  suspeita. 

0  liquido  «,  depois  de  se  Ihe  ler  junctado 
um  pouco  d'acido  chlorliydrico,  para  o  desem- 
baracar  d'alguni  composto  nitroso  que  podes- 
se  ainda  ter ;  e  depois  se  ter  aquecido,  para 
Ihoexpellir  algum  chloro  que  ainda  houvesse, 
sujeitou-se  tambem  a  uma  corrente  de  acido 
sulphydrico,  sem  que  apparecesse  nenhum 
sull'ureto  metalico,  conio  deveria  apparecer  se 
houvesse  na  materia  suspeita  algum  dos  ve- 
nenos melalicos. 

0  mesmo  liquido,  assim  preparado,  sujeitou- 
se  a  accao  da  Pilha  de  Daniel,  com  2  placas 
de  platina  nos  dois  polos  ,  e  nao  mostrou 
nenhum  metal  reduzido  na  superlicie  da  pla- 
tina. 

Para  a  investigacao  d'alguns  venenos  orga- 
nicos  mais  estudados  na  dasse  dos  alcaloides, 
seguimos  o  processo  de  Stas,  fundado  na  solu- 
bilidade,  em  alcool  e  agua,  dos  sacs  acidos 
d'esles  alcaloides,  e  na  faciiidade  de  reliraros 
mesmos  alcaloides  d'estas  dissolucues  ,  tendo 
decomposlo  os  saes  por  meio  de  bicarbonatos 
alcalinos. 

Lavamos  uma  porcao  de  estomago  e  intes- 
linos  no  dobro  do  sen  peso  de  alcool  absoluto, 
junctamos-llie  acido  tartarico,  lanramos  tudo 
'nura  niatraz  ,  e  aquecemol-o  a  73°  centigra- 
dos.  Depois  de  frio  llltramos,  lavamos  o  residuo 
com  alcool  concentrado,  iizemos  evaporar  o 
liquido  'nuiiia  temperalura  de  A'J".  0  residuo 
d'esta  evaporacao  foi  tractado  pela  agua  distil- 
lada e  evaporado. 

0  novo  residuo  foi  de  outra  vez  tractado 
com  alcool,  e  evaporado,  c  ainda  outra  vez 
tractado  por  agua  distillada. 

A  este  ultimo  liquido  jnnclou-se,  'num  lubo 
de  ensaios,  o  bicarbonato  de  palassa  ate  nao 
produzir  efervescencia;  misturou-se-lhe  cinco 
Tezes  0  sen  volume  de  ether;  agitnu-se  niuito; 
e  deixou-se  bear  em  repouso.  No  dia  seguinte, 
decantou-se  uma  pequena  porcao  do  ether  , 
e  deixou-se  evaporar  espontaneamenle  'numa 
capsula.  Appareccu  um  residuo  amarellado, 
sciu  a  forma  de  strias  oleosas ,   nem  chciro 


260 


aprrciavel  com  o  calor  da  luiio.  Esle  residuo 
nao  restituiu  a  cur  azul  ao  papel  do  touraesol, 
iiem  rcspondcii  aos  rcagiMites  eiiipiepulos  no 
descohrimunlo  da  slrycliniiui,  da  iiiorphiiia  e 
d'outros  alcaloidcs.  I'or  oiitro  lado  lomos  irac- 
taiulo  a  dissohirao  cllicrea,  (jue  so  acliava  no 
Uil)0  dc  eusaio,  poi'  dissolucocs  de  potassa, 
altci'uadas  com  diluicOcs  de  acido  sulfuiico, 
sogiindo  as  indicacoi's  de  Briand  ;  e.  procii- 
raiido  OS  alcaloidcs  no  ullimo  residuo,  livemos 
0  mesmo  resuilado. 

Devenios  porcra  advcrlir  (jue  nao  dauios 
per  infalivel  o  rvstillado  d'esle  processo,  por 
-ser  esla  a  prinicira  vez  que  o  enipregamos,  e 
por  ([uo  a  cxperiencia  que  liwnios,  a  par  do 
mesmo  processo,  com  a  slrichnina  em  visceras 
de  hoi,  nao  conrcspondeu  em  tudo  ao  que 
tiiiliamos  de  esperar. 

De  todo  cslc  traballio  concluimos  que  nas 
malerias  analysadas  nao  iiavia  arsenico  nem 
veucnos  mclalicos,  |)riiicij)aimcnle  os  de  an- 
limonio,  chumlio,  cobre,  emeicuiio:  etambera 
concluimos,  mas  so  com  probabilidade,  que 
nao  tinham  venenos  organicos  dos  mais  cstu- 
dados  na  classe  dos  alcaloidcs. 

Conlinua.  a.  a.  da  costa  SIMOES. 


COSTUftlES  nCADtrrtlCOS  NAS  UfJIVERSIDADES 
ALLEWfiS   NOS  SECULOS  XVI  E  XVII. 


I. 


Nao  vae  longe  o  tempo,  em  quo  a  fama 
das  cajoadas  fazia  entiar  mais  de  um  concur- 
rentc  aos  estudos  de  Coimbra,  e  choverem  car- 
tas de  recommendacao,  e  os  caloiros  entrarem 
na  cidade,  de  noite,  e  tao  encapotados  como 
cousa  de  contrabando.  Dizem  que  muitos  se 
deixaram  inipressionar  d'csse  terror,  e  regres- 
saram  a  terra  natal,  sem  ao  raenos  transporem 
OS  umbraes  da  porta  ferrea. 

Um  janiar  ou  cea  paga  aos  veteranos,  em 
(jue  0  caloiro  servia  a  mesa ;  a  defcsa  de 
umas  theses  improvisadas,  sobre  que  o  pa- 
decente  era  forcado  a  dizer  uma  multidao  de 
parvoices ;  a  iguominiosa  imposicao  da  avillau- 
te  e  sordida  borla  de  barro ;  ah!  esiao,  pouco 
mais  ou  menos,  as  penas  que  Ihe  eram  im- 
postas. 

Se  'nestas  provas  o  caloiro  dava  algum 
signal  de  chiste  e  sagacidade,  recebia  o  bur- 
lesco  diploma  do  r/ruduni  cnluuri,  mas  aiuda 
licava  sujcito  a  ouvir  muitos  insultos,  a  res- 
ponder  a  quaesquer  p-Tgnnlas.  que  Ihe  fizes- 
sem  OS  veterarios,  e  a  ser  de.sapiedadamenta 
apupado,  cm  apparecendo  nn  Cukada  ou  na 
Ponie  de  Cui:nbra. 

Esse  tempo  de  provarao  nao  se  estendia. 
alcm  do  nalal,  para  os  cstudaiiles  malricula^ 
dos  no  prime iro  anno,  (jue  se  chamam  notalos. 


e  que,  passada  essa  epocha ,  adquiriam  o  direito 
de  oaf  oar  os  matriculados  no  lyceu.  Coucluido 
0  primciroanno,  licava  o  estud'ante,  ipso  facto, 
cacoador  de  caloiros,  cabides  '  ,  e  novatos. 
em  (|uanto  que  os  de  annos  mais  adiantados 
rcservavam  para  si  o  mais  elevado  mister  de 
proti'ger,  isto  e,  de  livrar  o  corpo  do  caloiro 
de  ijuaesquer  maus  trades,  como  canueloes  c 
qnejandas  gentilezas    . 

K  lora  de  duvida  que  similliantes  usos 
revelam  ci\ilisacao  pouco  adiantada  ;  mas 
tambem  .se  pode  dizer  que  essa  perseguicao 
tenqjoraria  muitas  vezes  aproveitou  ao  caloiro 
ine.\|)eriente  e  neecssitado  de  tutela,  (juando 
se  abriam  dianle  d'elle  tantas  veredas  coudu- 
centes  a  ruina  physica  e  moral.  Quantas  vezes 
ao  mancebo  novamente  chcgado  a  Coimbra 
nao  assaltou  o  desejo  de  I'azer  e\[iloracoes 
perniciosas,  e  pouco  e  pouco  ir  convertcndo  em 
desordenada  licenca  a  liberdade,  que  ad(|uiriu 
ao  saliir  da  casa  patcrna?  Quantos  d'esses  que 
trajam  o  vestuario  academico,  mas  que  licam 
perpetuamente  em  preparatorios,  ou  no  mesmo 
anno  de  uma  faculdadc,  nao  foram,  com  fal- 
laz  amizade  ,  insinuar-lho  os  mysteries  da 
espelunca,  do  lupanar  e  de  todo  o  genero  de 
perversao  ? 

Porem  o  mancehn,  conscio  da  sorte  que  o 
csperava,  se  os  veteranos  o  encontrassem,  so 
e  transviado,  prendia-se  em  casa  com  os  seus 
livros,  entregava-se  ao  pensaraento  dos  seu.s 
deveres  e  do  seu  fuluro,  e,  por  gosto,  ou  por 
nao  acliar  outra  cousa  que  I'azer,  ia  esiudan- 
do.  Passado  o  tempo  do  noviciado,  sentia-se 
possuido  do  amor  a  vida  e  prazeres  intellec- 
tuaes.  Era  entiio  menos  facil  perverler-se. 


II. 


Esses  costumes  academicos,  di'  que  ainda 
lioje  apparecem  em  Coimbra  vestigios  quasi 
apagados,  derivam,  mais  ou  menos,  dos  que 
existiam  cm  quasi  todas  as  Ihiiversidadcs, 
nos  seculos  XVI  e  XVI!,  nao  obstante  a  op- 
posicao,  que  llies  faziam  as  authoridades  e  as 
leis.  As  cacoadas  nas  Universidades  a'llemas 
d'esse  periodo,  das  quaes  vamos  dar  breve 
noticia,  consistiam  em  excessivas  vexacoes, 
excrcidas  sobre  os  estudantes  que  vinham 
cursar  as  aulas  snperiores  ;  mas  nao  Hies  des- 
cobrimos  princi|)io  que  as  authorise,  a  niio 
ser  a  barbaridade  do  tempo. 

Comecavam  pela  famosa  deposicdo.  Em 
1071  ,  publicou-se  em  Slrasbnrgo  um  livro 
intitulado  —  Itilus  deposilionis  ,  ornado  de 
varias  gravuras,  e  contendo  os  promenores 
d'esla  travessura  escholastica.  0  caloiro  de- 
nominado  heanus ,  de   liec-jaune ,    bico   ama- 

<  Intlividtius  que  trajam  batina,  mas  que  nao  eslua 
matriculailus. 

■*  A  ([uem  desejar  conliecer,  por  mimlo,  o  que  eram  as 
ca(;oada9  em  Coimbra  ,  recomraendamos-lhe  o  Palilo 
Mi^tricor 


261 


rollo,  (termo  Irazido  de  Pariz,  e  que  signi- 
licava  0  niesmo  que  raposa),  era  considerado 
conio  peeiis  campi,  alimaria  que  devia  depur 
OS  cornos.  Dalii  vcm  a  deposirdo  adoptada 
cm  lodas  as  Univcrsidades  d'aquelle  tempo, 
e  d'alii  paiece  dcrivar  o  nome  (|ue  ainda  lioje 
tfim  OS  estudantes  do  lyceu  de  Coimhra. 

Os  caluii'os,  que  no  aclo  da  deposirao  erani 
chiimados  bacclianlos,  dirigiam-se  em  rehanho 
ao  depositor  ,  que  os  recebia  com  este  cum- 
primento  :  —  «  Yenham  ,  bacchantes,  quero 
depor-vos  os  cornos,  do  modo  niais  sim[iles. » 
E  logo  llies  ia  cortando  o  cabello  com  uma 
cnorme  tesoura  ,  dizendo  :  —  «  Faco-te  a 
honra  de  te  desbastar  o  pello  que  trazes  mui 
compri'Jo.  »  Seguia-se  arrancar  um  denlc  a 
cada  um,  o  dente  da  malediccncia,  para  que 
I'ugissem  da  ealumnia,  como  do  proprio  de- 
monio  ;  linuu-llie  as  unhas  Com  uma  grosa 
monstiuosa,  para  que  fossem  limpos  de  maos; 
lapar-llie  os  ouvidos  com  iiistrunientos  pro- 
prios  para  isso  {Kolben),  alim  de  que  os  cer- 
rassem  a  discursos  fatuos  ;  e  destapar-lh'os, 
para  que  podessem  ouvir  as  licoes  de  scus 
meslres,  e  instruir-se. 

Tcrminadas  eftas  ridiculas  e  brutas  cere- 
nionias,  dava  o  depositor  beijaraao  aos  bac- 
chantes, e  aspcrgindo-os  com  vi.ilio,  dizia- 
Ihes:  —  «  Descjc-vos  a  todos  boa  entrada  em 
vosso  novo  estado.  »  Era  entao  o  caioiro  as- 
saitado  de  perguiitas  buriescas,  precedidas  e 
seguidas  do  bofetoes  a  valer.  I'or  exemplo,  o 
depositor,  dando  um  bofctao  no  caioiro:  — 
Tens  mae? — Sim,  senhor. — Outro  bofetao. — 
Nao,  senhor. — Animal !  Qucm  te  pariu?  Pcr- 
guntava  depois  um  veterano — Quantas  pulgas 
tern  um  alqueire? — A.  mim  nao  me  ensinaram 
isso. — Outro,  bofetao. — Nao  sabes,  lolo,  que 
um  alqueire  nao  tern  pulgas?  Assim  apoquen- 
tavam  o  tiiste  do  caioiro,  que  ia  d'alii  matri- 
cular-se  na  faculdade  das  artes,  em  casa  do 
decaiio,  e  prostar  um  solenine  juramento,  em 
prcsenca  do  reitor. 

E  natural  pensar  que  o  caioiro  tosquiado, 
desdentado,  esbofeleado  terminava  o  sen  fa- 
dario,  passando  a  classe  de  novalo,  Fcder- 
burschen  ou  escrevenle,  como  llie  chaniam  os 
allemaes  ;  mas  nao  e  assim.  0  peor  tern  elle 
de  snilror  ainda,  no  anno  de  sorvifo,  dono- 
jniuado  Pennaljahr,  anno  de  escrevente. 

Verilicada  a  matricula ,  ol)rigavam-no  a 
festejar  a  sua  admissao  na  faculdade,  com 
um  brodio  offerecido  a  todos  os  estudantes,  e 
'ncste  mesmo  feslim  era  o  mesquinho  entregue 
a  qualquer  vctorano,  que  o  quizes«e  tomar 
por  famulo.  Ahi  licava  pois  o  novate  reduzido 
a  condicao  de  criado,  e  com  a  obrigacao  de 
tractar  o  vcierano  de  senhor,  de  o  servir 
a  mesa,  de  Ihe  escovar  o  fato,  de  limpar  o 
calcado,  e  o  mais  e,  que  veiu  a  generalisar-se 
0  uso  de  exigirem  dos  novates,  assim  aban- 
donados,  roupa  branca,  livros,  dinheiro,  e 
ate  pesados  e  humilhantes  services,  nas  orgias 


e  divertimentos,  que  os  veteranos  tinhara  na 
cidade  e  no  campo. 

Eram  tao  notaveis  essas  vexafoes,  que  os 
professores,  com  o  fim  de  as  atenuar,  muitas 
vezes  assistiam  as  orgias  academicas;  e  tor- 
nou-se  objecto  de  diseussao  entre  a  policia  de 
Jena,  quanio  conviria  aos  novates  que  os  len- 
tes  admittissem  ,  em  suas  proprias  casas  ,  as 
reuniocs  dos  estudantes. 

Acabado  o  anno  de  service  ,  que  uma 
requintada  maldade  lizera  constar  de  um  anno, 
seis  mezes,  seis  seraanas,  seis  dias,  seis  boras 
e  seis  minutes ,  havia  de  e  novato  visitar 
todos  OS  estudantes,  e  a  cada  um,  por  sua 
vez,  pedir  absolvicao.  Mas  era  mister  mimo- 
seal-os  com  um  novo  brodio,  em  que  se  in- 
vestigava  se  o  novato  cumprira  todas  as  suas 
obrigacoes  :  so  entao  Ihe  era  dada  solemne- 
mente  a  absolvicao,  em  nome  da  SS.  Trin- 
dade,  e  conferido  o  direito  de  trazer  espada 
(jus  gladii),  ate  alii  absolutamente  uegado. 

Soara  era  lim  a  hora,  tao  susjiirada,  da. 
emancipacao  do  novato.  Esta  ultima  cacoada 
elevara-o  a  classe  de  velerano:  niuguem  pode 
ja  violentar  a  sua  vontade,  antes,  pelo  con- 
trario,  e  elle  que,  lembrado  do  que  Ihe  lizeram 
sofi'rer ,  comeca  desde  logo  a  exercer ,  sobre 
OS  que  vem  de  novo,  injustas  represalias. 


III. 


Diziamos  que  as  authorid?des  e  as  leis 
lizeram  nao  pequenos  esforcos  para  desterrar 
estcs  barbaros  costumes;  ce  vcrdade.  Frederico 
Guilherme  de  Brandenburgo  ordenou  expre'-- 
sami.'nte  ao  reitor  e  ao  senado  da  Univcrsida- 
de  de  Koenigsberg,  que  usassem  da  maior 
severidade  contra  similiiantes  abuses.  A  Uni- 
versidade  de  Heidelberg,  annos  depois,  pro- 
mulgeu  varies  decretos  sebre  e  mesmo  objecto. 
Em  1GS4,  0  principe  de  Palalinado,  Carlos 
Ludevico  prehibiu,  por  lei,  aos  estudantes 
0  contcndercm  com  os  novates ,  secreta  ou 
publicamente,  nas  ruas,  nos  botequins,  ou 
nas  aulas;  mas  so  em  1072  fei  declarada- 
menle  banida  a  deposicao,  licando  salva  aes 
novates  a  liberdade  de  prcferirem,  se  quizes- 
sem,  e  serem  tractados  more  antiijuo,  cousa 
sebre  maneira  curiosa. 

Todas  essas  providencias ,  pereni ,  pouco 
ou  nenhum  resultade  tiveram.  No  lim  do 
seculo  XVIl.  as  Universidades  de  Jena,  Wit- 
tenberg e  Leipzig,  em  virtude  de  uma  con- 
cerdata  que  lizeram,  decretarara  que  os  estu- 
dantes riscades,  em  qualquer  academia,  por 
causa  de  cacoadas,  niio  pederiara  ser  admit- 
tidos  em  nenhuma  d'aquellas.  Este  exemplo 
fei  seguido,  pouco  depois,  j)elas  Universidades 
de  llelmstaedt,  Gicssen,  Altorf,  Rostock,  e 
Frankfort  do  Oder.  Entao  e  que  as  Universi- 
dades da  Allemanha  deixaram  de  solTrer  a 
eppressao  d'esse  hediondo  pesadelo,  debaixo 


262 


dc  cuja  inQueucia  sc  debateiara  ])or  lantos 
auiios. 

0  rcmedio  foi  cHicaz,  e  o  scu  cIVeilo  fcste- 
jaraui-iKi  todos  os  prot'essores  e  aullioridadcs 
aeademiras.  Itasta  dizer  quo  o  ndlor  dc  N\  it- 
tenboig  proiuimioii  em  pultlico  urn  cloqucnti' 
discurso.  em  (iiu'  dava  graras  a  Providi'ucia 
por  teroni  acahado  as  cacoadas. 

Sc  em  aitij^o  mais  curioso  do  que  cnulilo 
livesse  cahimeiito  a  aprociaeao  geral  das  leis 
univeisitarias  da  Allemanlia  .  haviamos  de 
mostrar  que  as  dos  seiulus  XVI  o  XVll  poiieo 
dilVeiem  das  piomiilgadas  anteriormente,  nos 
seculos  XIV  e  XV.  Lmas  o  oulias  prolii- 
biam  orgias  luis  tabernas,  pasquins,  lumultos, 
indecencias  de  varies  geiieros,  jogos  de  dados, 
furtos  elc.  elc.  Por  consegiiinte  os  eoslumes 
dos  estudantes  permaueeeram  quasi  os  mesiiios 
jior  espaco  de  quatro  seculos,  seni  que  mcdi- 
das  logislalivas  akanrassem  rerorniai-os.  Islo 
I)rovinha,  em  parte,  de  que  essas  leis  luuica 
erain  executadas  com  rigor,  aleiu  de  que  as 
penas  por  ellas  impostas,  as  mais  das  vezes, 
commutavara-se  era  insignilicaiUcs  muiUis  pe- 
cuniarias. 

As  I'aiversidades  de  Leipzig,  Straslnirgo, 
Rostock,  Genelira,  Basel,  e  Heidelberg  eraiu 
as  que,  na  manutencao  dc  uma  diseiplina 
raais  severa ,  levavam  a  palma  as  outras, 
acerca  das  quaes,  de  ha  muito,  se  dizia  que 
0  estudants  vindo  rfe  Tubiiirien  sem  mullier ; 
de  Jena,  sem  que  os  ossos  llie  partissem ;  de 
Uelmstaedt,  sem  que  o  corpo  Ihe  ferissem ;  de 
Marburgo,  mnntendo  a  stincla  creueu;  de  ne- 
nhuma  traz  sciencia. 

iNiio  se  deve,  porera,  concluir  do  que  lica 
dicto,  que  OS  estudantes  d'este  tempo  sahiam 
dos  estudos  totalmente  pervertidos.  A  per- 
versidade  dos  maus  teve  seus  annaes  nos 
processes  crimes  ;  mas  era  parte  alguma 
estao  registradas  as  virtudes  e  regular  pro- 
ccder  dos  bons  academicos.  E  se  attendcr- 
mos  ao  graiide  numero  que  entao  I'requentava 
as  Uiiiversidades  ' ,  suppondo  que  ealre  dez 
bons  apenasse  eucontraiiam  Irez  desalmados, 
nao  faremos  conjeotura  niui  di>taiite  da  ver- 
dade. 

Por  outro  lado  esses  costumes  dos  estudan- 
tes erara  urn  corollario  fatal  da  barbaridade 
do  tempo.  A  vida  do  estudante  divide-so 
enlre  o  prazer  e  o  estudo.  Que  dislraccao  of- 
ferecia  aquella  sociedade  uimiamente  gros- 
seira  e  material?  A  rausica  ,  apenas,  e  os 
autos  dramaticos.  Ora  o  estudante  que  ne- 
cessitava  de  recrcar  o  seu  espirito  cancado 
de  longas  lucubracOes,  em  taes  circumstancias, 
era,  digamol-o  assim,  convidado  a  esquadri- 
nhar  gozos  brulaes  no  tremedal  da  sensuali- 
dade. 

'  A  rniversiilade  ile  Pmsa,  rimOBtla  em  1348,  Jielu 
uiiperador  Oarloa  IV,  n  mais  anliga  ilas  vinle  e  taotas 
i|wc  hoje  exislem  na  AUemanha,  era,  em  1409,  fre^iiien- 
lada  por  A  iiile  mil  eslmlanle«. 


E  com  tudo  no  meio  d'essa  rudcz  c  barba- 
ridade revelava-se,  cm  geral,  nos  cliaractcres, 
a  natureza  ingcnua  e  rcpassada  de  poesia. 
Nao  I'oram  |)oucos  os  vellins  douloros,  e  os 
iiiucos  dotados  de  exoellente  coracao ,  que 
com|)arando  o  que  havia  de  bom  nos  antigos 
costumes,  com  o  relinado  cyiiismo  (|ue  os 
vein  substiluir,  no  lini  do  seculo  XVII,'  e 
princi|):ilmente  no  seculo  XVIU,  suspirarani 
com  saudade  pclos  tempos,  que  passarara,  e 
ja  nao  podiam  voltar.  Assim  sac  as  cousas, 
assim  sao  os  honiens.  J. 


VESTIGIOS  DA  VIDA  ANIIVIAL  E  VEGETAL 
NAS  GELEIRflS  '. 


A  nere  vcrmelha  6  uma  das  mais  singulares 
provasda  existencia  de  seres  organicos  uo  meio 
dasestereis,  edesoladas  regioes  cobertas  pelas 
geleiras  [ylaciers).  Ha  duas  ospecies  de  neve 
rennelha ;  uma,  segundo  a 'analyse  d'Ehren- 
bcrg  ,  compoe-se  de  matcrias  inorganicas  , 
taes  como  a  massa  de  p6  vermelho,  q'le  durante 
a  noite  de  17  de  feverciro  de  I80O  cabira  no 
monte  S.  Gothard,  e  sobre  as  cercanias  pro- 
ximas,  que  era  composta  de  espeeies  divcrsas 
de  terra  misturadascom  materias  ferruginosas, 
e  cinzas  volcanicas:  e  provavel  que  0  Vcsuvio, 
que  estava  entao  era  actividade,  lancasse  esta 
massa  dez  mil  -pes  acima  do  nivel  do  mar, 
e  que  'nesta  altura  fosse  arrastada  pela  grande 
corrente  almospherica  ate  aos  Alpes.  Pela 
quantidade  que  alii  cabira,  pode  calcular-se, 
quco  ar  transportara  muilos  milboes  de  quin- 
taes  d'aquelle  p6.  Outra  cspecie  de  i>eve  ver- 
melha  consisle  em  materias  organicas,  vegctaes 
e  aniniacs.  Primeiramente  so  sc  linham  desco- 
berto  nella  plantas  microscopicase  po  vegetal; 
mas  as  ulliuias,  e  mais  recenles  observacoes  de 
Shultlevvorth  e  de  Lament,  prior  do  grande  S. 
Bernardo,  provaram,  que  a  massa  d'aquella 
pretendida  neve  era  composta  de  infusorios 
microscopicos.  Karl  Vogt,  c  Rougemonl  con- 
lirmarim  aquellas  observacoes  por  uma  scrie 
d'expericncias  sobre  a  gcleira  de  Unteraar. 
Segundo  Vogt,  esta  massa,  que  da  as  geleiras 
a  cor  rosada  ou  vermelbo-alaranjada,  e  que 
se  transforma  em  cor  de  sangue,  quando  ca- 
minbamos  sobre  ella,  e,  pela  niaior  parte, 
composta  de  iul'usorios  do  gi'Doro—disceraea. 

A  disceraea  nieiilis  no  seu  estado  perfeito 
tem  a  forma  de  um  ovo,  coberta  por  um  en- 
volucro  transpa rente  de  materia  siliciosa,  e  na 
parte  agucada  do  corpo  lem  dous  labios  ala- 
ranjados,  e  lixados  'nelles  trombas  por  meio 

'  Dfis  ThicrU'btn  der  Alptnwdl.  F.  Tsecliuili.  1  vol. 
8.**  Leipzig. 


263 


das  quaes  este  pequeno  animal  se  move.  Quaii- 
do  elle  esUi  em  repouso,  estao  ellas  oncolhidas 
e  invisiveis.  Os  imlividuos,  que  tern  (orailo  o 
seu  completo  (lesinvolviiiu'iilo,  sao  quasi  opa- 
cos,  de  cor  vernieliio-escuro :  niultiplicam-se 
por  divisao,  gommos,  e  ovos.  Segiiindo  o  pri- 
nieiro  d'eslcs  mcios,  o  aiiimalculo,  couio  lodos 
OS  outi'os  iiifusorios  inreriores,  diviJe-se  em 
2,  i,  iS  partes,  que  se  fornuuu  no  iavolucro 
foniinuiu.  e  que,  ronipendo-o,  se  lornam  in- 
dividuos  p.'rl'eitos  da  sua  especie.  Na  segun- 
da  luaneira  de  mulliplicaeao,  apparecem  sohre 
dilTereiiles  partes  do  cor|jo  pcquciias  boliias 
transparentes,  que  vao  crescendo  alesedesta- 
carem  d'eilc.  0  gnnnuo  deslncado  e  ao  principio 
rcdondo  ou  oval ,  trausparente  e  sem  movi- 
mento  ;  pouco  a  pouco  fornia-sc  'nelle  urn  no, 
e  comeca  a  apresentar  a  cor  amarclla,  que 
passa  depois  para  vermelha  :  chegado  a  este 
estado,  o  novo  animalculo  nao  dilVere  do  in- 
fusorio  d'onde  se  deslacara.  A  geracao  por 
ovos  ainda  nao  esta  bem  vcrilicada  ;  Vogl, 
poreni,  jnlga  que  os  Protococcus  do  Slmltle- 
worlh  sao  verdadciros  ovos  de  disceraca  ni- 
valis. Ontros  infusorios  em  menor  quanti- 
dade,  e  vegetaes  microscopicos  I'azem  parte 
da  neve  vermelha,  que  se  produz  ordinaria- 
mente  sobre  o  nevado,  que  na  Suissa  ehaniam 
/tin,  e  que  cobre  algumas  vczes  as  niontanhas 
por  espaco  de  niuitas  leguas. 

Nas  geleiras  de  Unteraar,  e  do  monte  Bran- 
co  da-se  oulro  pbcnomeuo  ainda  mais  rayste- 
rioso. 

Na  primavera  rebcnla  sobre  as  antigas 
geleiras,  e  abaixo  da  caraada  de  neve,  que 
alii  tern  cahido  durante  o  anno,  uraa  especie 
do  cogumelo  amarello,  brilbante,  interior- 
mente  oco,  e  que,  quando  as  neves  se  uer- 
retem,  apparece  mui  vicoso.  Pouco  tempo  de- 
pois dissolve-se  esponlnneamcnte  ,  transfor- 
niando-se  em  materia  terrosa  amarella,  que 
rouba  o  oxygeno  do  gelo  e  o  I'az  lundir,  de 
modo  que  no  logar  do  cogumelo  se  forma  um 
buraco  de  trez  a  vintc  linlias  de  profundidade. 
Suppoe-se  que  este  pbenomeno  e  organico  ; 
0  seu  character  porem  nao  e  ainda  bem  ave- 
riguado. 

A.piilf/a  das  (jeleiras  (Gletscherfloh,  desoria 
(jlactaUs)  que  Desor  descobriu  sobre  o  monte 
Rosa,  e  que  mais  tarde  Nicolet  observara 
minuciosamcnte,  e  uma  prova  muito  mais 
dccisiva  da  existencia  de  seres  organicos  nas 
geleiras.  Aquelle  pequeno  insecto  pertcnce  a 
familia  das  poducellac :  o  seu  tamanho  nao 
excede  dous  millimetros,  mas  tem  um  grandc 
apparelbo  para  a  mastigacao,  e  e  por  conse- 
queneia  muito  voraz,  e  por  isso  mais  admira- 
Tcl  e  como  elle  pode  viver  no  meio  das  gelei- 
ras, sem  se  saber  de  que  se  sustenta.  A  pulga 
das  geleiras  supporta  o  frio  tao  bem,  (|ue  pode 
scr  uma  e  muitas  vezes  gelada,  e  desgelada 
sem  perigo;  pelo  contrario  um  calor  de  38.° 
centigrados  mata  este  insecto. 


NOTICIAS  LinERARIAS. 


O^  ('amintaOK  <lo  focro  nil  Rn>>>'in.  Os 

caminlios  dc  ferru,  cxplorados  na  Russia,  ciinipre- 
heiiilcm  aclualmi'iUe  uma  cxtcnsrio  de  1,030  kilo- 
molros  ;  estao  em  conslrucrTio  1,1)00  Idlomdros  ; 
c  em  pnijectu  3,670  a  maiiir  parte  d'estes  ultimus 
lem  sido  esliidados  somenle  anno  linhas  cstra- 
tcgicas. 

A  cxploracao  dos  i  ,030  kilom.  ja  promptos 
f(ji  feila  ao  principio  por  companhias ,  e  aclia-sc 
hiije  a  cargo  do  Estado;  e  o  estiido  c  exccucao  dos 
Ira  bathos  est;i  confiado  a  comraissao  especial  dos 
caminlios  de  ferro,  nomcada  pelo  governo. 

Apczar  da  Russia  ser  um  pai?,  pela  maior 
parte  piano,  ofTcrcce  com  ludo  grandes  ondula- 
cocs,  prol'undos  vales  e  um  grande  numcro  dc 
pequeiios  lagos,  o  que  jiincto  a  inclinaeao  dc 
meio  por  cento,  ou  0,'"005  adoptada  para  os 
declivcs,  e  os  grandes  raios  das  curvas,  tem  dif- 
Ocullado  muito  os  estudos,  e  cxccucao  d'cstas 
'linhas. 

As  obras  ja  cxecutadas  nao  tern  grandc  impor- 
lancia.  As  pontes  siio  quasi  todas  de  ladrilho, 
algumas  de  madeira,  e  muito  poucas  de  fcrro  fun- 
dido.  As  grandes  ponies,  que  dao  passagem  sobre 
OS  rios,  tem  pegoes  de  pedra,  e  sao  fcitos  de 
madeira,  segiindo  o  systema  americano  de  celosia. 
Estas  obras  foram  feilas  com  muita  impcrleicao, 
c  acham-sc   por  isso  lioje  em  man  estado. 

So  a  linha  de  .S.  I'etersbourgo  a  Zarslioe-Scio, 
na  cxtencao  de  30  l>ilom.,  c  que  ha  dois  carris. 
0  material  movol  e  do  systema  imericano,  a 
cxceprSo  da  linha  de  Varsovia  a  Cracovia,  que 
lem  machinas  belgas  e  allcmas,  porem  os  coches 
e  tvagons  sao  articulados. 

[Nouvelles  Annal.  de  la  construftiini.) 


CoTEEPcSia  rrr«!»<»«:-o.  Em  1409,  os  ccde- 
siaslicos  pobres  representaram,  cm  Londrts,  uma 
comedia  denominada  —  A  Crea;uo  do  Miindn. 
Durou  oito  dias  complelos  o  espcctaculo.  Princi- 
piava  por  um  prologo  que,  scgundo  o  gosto  do 
tempo,  era  destinado  a  dar  idea  da  peca.  Conti- 
nha  quarenta  actos,  e  o  dialogo  compnnha-se  dc 
discursos,  que  levavam,  pelo  menos,  um  quarto 
d'hora  a  rccitar. 


ERRATAS  DO  N."  111. 


7*0*7.  C,.l.  Link.            Erros.                  Emend  as. 

2:20  J.^not.2  4  Catingaza  latim  gaza 

2'il  id.  20  Rhinoctrontf'  R/htn /serous 

Jd.  id.  51  Rhinocerontes  Rhonoserr.us 

224  2  II  Spelmen  Speiman 

Id.  id.  15  Cowerhill  Tuwerhill 

Id.  id.  41  Shoredilch  Shoredilch 

Id.  id.  52  Derwsbiirt?  Dpwsbiiry 


Id.       id. 


55     M  Black  Fom  »        n  Black  Tom  » 


264 


OBSERV.\COES  METEOKOLOGIC.\S  .  FEITAS  .NO  GABI.VETE   DE  PHYSICA              | 

DA  UMVERSIDADE    DE  COIMIIUA. 

Anno  lie 
lil.-.S 

Pit'ssao  aliuo!'[therica   »o  nieio  dia 

Ksl.ul.)  hy;;romi-lrJci.  da 
atniuKphera  no  nieiu  di.i 

OS 

"c 

■6   - 

.2 
z  "S 
i  S 

h5   a 

ICstfi/'o  do  cnt  r  {^o 
Uinjio  uo  meio  diii. 

M.7.  ,1c 

Noveiii- 

liro 

Alluiii    biio- 
metrica   a  o"* 
da  cicali  cca- 
tigrada. 

TtDlio    do 

vapor  nquo.o 
coDlido  uo  ar 

Press.'io  »lu 
ar   seCLu 

Gran  d'humi- 
dade     do    ar, 
rcprescnlaiido 
por  1  o  eila. 
do  dc  aatura- 
C.\o. 

Quantid.    de 
vapor  coQlido 
em  nm  metro 
cubico  d'ar 

DiHS 

Uia.., 

Miilinu'lros 

Mlllinu'tru.- 

MilUm.lr.i." 

GrailHll.ls 

1 

12 

752,853 

9,997 

742,256 

0,966 

10,172 

NO. 

NiiUluilu.  T.  rhuvusu. 

2 

12 

752,912 

9,307 

743,1,06 

0,890 

9,470 

O. 

Nuliludu.  Boiii  leiiipvi. 

3 

11 

755,062 

8,644 

746,418 

0,11112 

8,8i7 

S. 

O  nusmo     O  mfsmo. 

4 

10 

766,301 

8,4ti6 

747,835 

0,924 

11,075 

s. 

CI.  e  limp.  Omesniu 

5 

10 

7j6,<J6ii 

7,790 

749,170 

0,860 

7,982 

s. 

O  mesmu.    O  iiiesmo. 

6 

10 
10 

757,722 

7,973 

749,749 

0,870 

«,i;o 

s. 

O  niesino.    O  iiiesmo 

7 

7411,201 

8,182 

741,019 

0-8U2 

8.384 

s. 

Nubhido.     O  jufsmu 

8 

10 

74il,084 

8,466 

739,618 

0,924 

K.675 

s. 

O  luesmu.    O  nifsiiio. 

9 

11 

749,231 

8,157 

741,074 

0,833 

8,329 

E. 

Eiiunberl.  T.  ctiuvusii. 

10 

11 

748,723 

9,146 

739,577 

0,934 

9,.!39 

E 

U  ui'-s.iiu.    O  moiimi*. 

11 

12 

760,376 

9,307 

74l,l;6;l 

0,1190 

9,470 

E. 

Cl.ir.elimp.  li  letup. 

12 

14 

751.096 

9,645 

741,4.")0 

0,810 

9,745 

O 

O  mesiii".    O  rfiesiuo. 

13 

IS 

747  841 

9,767 

7:!8,07i 

0,934 

9,938 

o. 

O  inciiino.   O  lU'-snio. 

U 

14 

7411,408 

9.645 

738, 7. ;3 

0,1110 

9,745 

s. 

O  I)lt^Dll>.     O  luesiiio. 

15 

14 

746,01.3 

9,181 

735,882 

0,771 

9  2'6 

s. 

Nublado,    O    nifsniu. 

16 

14 

743,49i 

9, -107 

734,0115 

0,790 

9,505 

s 

O  nifsmo.    O  nie>mu. 

17 

15 

748,743 

10,2:16 

7311,457 

0,810 

10,356 

o 

CI.  e  limp.  O  intsnio. 

18 

13 

749,747 

9,711 

740,036 

0,810 

9,846 

o. 

Nui  litlu.    O    mesmu 

19 

13 

749,747 

10,180 

739,567 

0,912 

10,3*1 

% 

CI.  e  litiip.  O  luesiiio 

SO 

12 

753,164 

9,307 

743,1167 

0,890 

9,479 

NO. 

Niiblailti.     O    mesmo. 

21 

13 

749,341 

10,793 

7.:8,54li 

0,967 

111,942 

O. 

Encuherl.  T.  cluivusu. 

■ii 

12 

7^7,841 

10,164 

737,677 

0,972 

10,342 

s. 

O  luesm-i.  O   uit'siiiu. 

23 

12 

74rt,5!3 

111,2/7 

736,346 

0,978 

10.405 

s. 

O  me.siiio     O  mesm.i. 

24 

12 

746,573 

9,937 

7:'6,576 

0,956 

10  172 

E. 

Niibladu.  Bum  l«-mpo. 

1       ^^ 

11 

742,891 

8,liT 

734,764 

0,8,0 

8,298 

N. 

O  iu<*siiio.  O   nic-sDio. 

26 

10 

747,272 

7,240 

740,032 

0,790 

7,419 

s. 

CI.  e  liinj>.  O  uitsuio. 

27 

8 

746,2'J8 

6,333 

739,9ii5 

0,7M0 

6, .■.36 

S. 

NitMailo.    O    ntt-siiio. 

28 

9 

749,879 

7,631 

742,248 

0,890 

7,848 

s. 

U  uiL-Biuo.   O  luesiuo. 

2'.) 

9 

746,937 

6,915 

739,992 

0,810 

7,142 

s. 

Eiiciibr-rt-  T.  .Iinvosu. 

30 

9 

748,510 

7,';;88 

741,222 

0,850 

7,394 

s. 

Niiblado.  Kt>n]_,U-inpu. 

n»pili;i    ^ 
do  mi-z  $ 

h                     lUlU 

11»,5     g     74a, 641 

0,876 

1 

? 

Ttnijieroltira 

Prcssiw  a 

tiiwspfier.ca 

firait  d'lnimiiluile  do  ar 

1 

- 

\        f  entof  ilo'n'niitnt 

•3 

Maxim     ul'So).      15° 
^Ii^liIll.l   atsul.       7" 

.Max.     alis 
Min.  ahiuli 

A.   757,722 
I.   712,891 

Maximo  ....  0,978 
.Minirao  ....  0,771 

S.    e  O. 

1      :2 

Mux     \ariat;-ti,       j;" 

Mix.  pxcu 

s,      14,831 

Maxima  variai;.  0,207 

) 

1         Cuiu 

lira,  I ."  d»_-  liizembtu 

lie  1865. 

1 

Math 

at  de  Cnri-oVio  lie   fasconcetlos ,   Le 

nle  Sub 

sliliilu  de  Pliysica. 

®  Jn0tittitir^ 


JORINAL    SCIEIVTIFICO    E    LITTERARIO. 


RELATORIO 

Do  comniiMfiario  <Ion  cstisdoa  do  distrl- 
c(o  adminiMlB'nlivo  flo  LiMboa*  cm 
II  de  Janeiro  dc  1$5C 

Senhor  :  —  Ordenou-me  V.  M. ,  pelo  con- 
selho  superior  d'instrucrao  piiblica,  corao  nie 
loi  communicado  cm  ollicio  do  secrctario  geral 
do  mesmo  eonselho  do  12  de  junho  do  anno 
proximo  passado,  ([uc,  chamando  ii  minlia 
prcsenca  Antonio  Pereira  Ferrea  Aragiio,  con- 
forme  ao  que  elle  supplicara  a  V.  M.,  peran- 
te  OS  prolessores  niais  competentes,  que  eu 
para  esse  fim  convocaria,  recehesse  as  provas 
dadas  pelo  requerenle ;  e  depois,  ouvido  o 
jury ,  inforniasse  com  o  meu  parecer  acerca 
do  merecimento  e  convenieucia  de  ser  adop- 
tado  nas  escholas  piiblicas  o  processo  c  for- 
mulas mnemonicas,  empregadas  pelo  mencio- 
nado  Antonio  Pereira  Ferrea  Aragao  no  en- 
sino  dos  principios  elementares  das  linguas 
latina,  grega  e  ingleza,  e  da  botanica  e  geo- 
graphia  ,  segundo  as  quaes  promettera  levar 
a  evidencia,  em  menos  de  quinzc  minutos,  a 
verdade  dos  grandes  resullados  por  elle  obii- 
dos,  verdade  que  fdra  ja  pronunciada  e  at- 
testada  por  pessoas  de  reconliecido  saber  'uuma 
sessao ,  que  diz  tivera  logar  na  Casa  Pia  de 
Belem. 

Tenho  a  honra  de  elevar  a  real  presenca 
dc  V.  M.  a  informacao,  que  me  foi  ordenada; 
c  cumprirei  o  mini  dever  com  a  leaklade  que 
devo  ii  eommissao  que  me  i'oi  imposta,  e  com 
a  minha  habitual  franqueza  ;  j)orem  permit- 
ta-me  V.  M.  que  antes  de  entrar  cm  materia, 
diga  a  V.  M.,  que  o  acto  publico,  a  que  se 
refcre  o  citado  officio,  so  pdde  tcr  logar  no 
dia  6  de  dezcmbro  preterito  ,  porque  os  tra- 
balhos  escholares  do  tim  do  anno  lectivo,  os 
examcs  de  julbo,  as  lerias,  as  matriculas,  os 
exames  de  outubro,  e  outras  occupacoes  gra- 
ves ,  e  improteriveis  minbas ,  e  dos  professo- 
res,  quo  baviam  de  compor  o  jury,  nao  con- 
sentiram  de  ncnbum  modo  que  mais  cedo 
podesse  este  reunir-sc. 

E  todavia ,  Senhor,   para  se  reunir  ainda 

'naquelle  dia,  foi  nocessario  que  dcixasseni  de 

funccionar  sete  dillerentes  aulas,  o  quo  muito 

lamentei ;  porque  bcra  sabia  cu  que  bavia  de 

Vol.  IV.  Mauco  1.°- 


scr  incomparavelmcnte  maior  o  prejuizo,  (jue 
linba  de  resultar  aos  alumnos  da  falta  de 
uma  licao  das  disciplinas  respcctivas,  do  que 
0  proveito,  que,  para  a  ropublica  litteraria, 
bavia  dc  provir  do  acto  a  que  ia  proceder-se. 
Entrclantojulgucicumprir-meassimpracticar; 
porquanto,  d'outra  sorle,  so  nos  fins  do  cor- 
rente  Janeiro  ,  ou  antes  nos  principios  dc  fo- 
vereiro  futuro  podoria  ter  logar  o  referido 
acto,  sem  tao  grave  inconvonicnte. 

Senbor :  em  observancia  das  ordens  de  V. 
M. ,  nomeei ,  para  comporom  comigo  o  jury, 
oito  professores  do  Lyceu,  distinctos  nao  so 
cada  urn  na  sua  especialidade  ,  mas  tambem 
d'excellente  nome,  ganho  a  custa  de  trabalbo 
louvavcl,  em  estudos  e  applicacao  varia  ;  e 
foramestes:  o  professor  da  2/  cadeira  da 
seccao  oriental,  secretario  d'cste  Lyceu,  Jose 
Maiia  da  Silveira  Almendro  ;  o  professor  da 
0/  cadeira  da  seccao  central,  Antonio  Ferreira 
de  Simas;  o  professor  da  1/  cadeira  da  mesma 
seccao,  Joao  Luiz  de  Sousa  Falcao;  o  profes- 
sor'da  lingua  grega  addido  ao  Lyceu  nacio- 
nal,  com  o  exercicio  na  seccao  oriental,  An- 
tonio Carlos  da  Silva  Vieira  ;  o  professor  das 
linguas  franceza  c  ingleza,  com  exercicio  na 
seccao  central,  Carlos  Luiz  do  Montaigut  Pe- 
reira de  Sousa;  o  professor  da  ti/  cadeira  da 
referida  seccao ,  o  bacharel  Henrique  Carlos 
Midosi ;  o  professor  da  3."  cadeira  da  mesma 
seccao,  o  bacharel  Joao  Evangclista  d'Abreu; 
e  o'da  4/  cadeira  tambem  d'esta  seccao,  o 
bacharel  Antonio  Maria  de  Lcmos. 

Constituido  0  jury,  com  toda  a  publicidade, 
na  sala  das  sessoes'do  eonselho  cathedratico, 
concedi  a  palavra  ao  examinando,  tendo  con- 
vidado  OS  membros  do  jury  a  fazerem  todas 
as  perguutas,  e  observacoes  que  julgassem 
convenientes ;  do  que  dei  o  exemplo  ,  a  fun 
de  que  tanto  os  cxpectadores ,  que  eram  nu- 
merosos  ,  como  os  membros  do  jury ,  e  eu  , 
podesscmos  todos  formar  cabal  conceito  das 
vantagens  do  processo,  c  formulas  mnemoni- 
cas, segundo  o  methodo  e  applicacao  por  aquel- 
le  annunciada.  Teve  elle  todo  o  tempo,  c  liber- 
dadc  para  fallar,  e  explicar-se;  porque,  tendo 
comecado  a  sessao  antes  das  10  i  boras  da 
manha,  se  prolongou  ate  depois  das  4  da  tarde; 
e,  em  quanto  a  liberdade  concedida  ao  exami- 
nando, nao  so  usou  d'ella  com  largueza,  porem 
abusou  lalvez.  N5o  me  csqucci  do  meu  dever; 
■  ISoti.  NoM.  23. 


266 


mas  julguei  que  dcvia  sor  antes  indulgente, 
do  ((ue  rigorosQ:  atU'iidi  a  dolorosa  situacao, 
a  que,  mal  aconselliado,  o  examiuaiulo  se  via 
reduzido. 

Agora  dirci,  por  ordem,  o  rosultado  das 
investigacocs  feitas  cm  observancia  do  oflicio, 
que  me  transmilliu  as  determiuaeOes  do  V. 
M.  ;  c,  sem  antieijiar,  iiotarei  eomtudo  d'esde 
ja,  que  vi  eonipletameiite  eoutirmado  o  de 
i|ue  nw  conveui'cia  dcsde  muilo  tempo  a 
ohservaeao,  e  a  expeiiencia  ;  isto  e,  que  as 
formulas  mnemonicas,  podendo  ser  de  alguma 
utilidade  para  o  homem  leito  em  bons  e  hirgos 
cstudos,  que  se  aproveita  d'ellas,  como  au- 
xiliares  da  memoria,  engenhando-as  para  seu 
uso  particular,  sao  inuteis  para  as  criauras, 
e  impossiveis  para  os  fins,  a  que  o  exami- 
nando  promettcra  applieal-as  com  vantagem. 

No  emprego  das  formulas  mnemonicas,  em 
relacao  ao  estudo  da  lingua  latina,  tornou-se 
evidente  que,  as  formulas  indicadas  pelo  exa- 
rainando  sao  insuflicicntes  para  o  discipulo 
aprender  as  declinacOes  dos  uomes  substanti- 
vos  com  as  suas  respectivas  excepcoes  ;  e 
inais  ainda ,  se  c  possivel ,  a  declinacao  dos 
pronomes,  e  dos  adjectives  de  qualquer  especie 
com  as  suas  numerosas  variantes. 

Na  conjwjarao  dos  verbos,  egual  incerteza ; 
ou  antes  a  certcza  de  nao  se  poderem  sujei- 
tar  a  nenhumas  formulas  os  verbos  irregula- 
res,  tantos,  e  tSo  importantes. 

Sabc-se  quao  muito  necessario  e,  para  a 
proficiencia  dos  alumnos  da  lingua  latina,  o 
cxacto  conhecimento  dos  preterilos  e  dos  su- 
pinos  dos  differentes  verbos ,  e  dos  varies 
(jcneros  dos  diversos  nomes  com  as  suas  mul- 
tiplicadas  excepcoes  ;  mas  ,  para  o  adquirir  , 
nao  appresentou  o  exaniinando  nenhuma  for- 
mula :  nem  as  podia  apprcsentar,  como  confes- 
sou,  porque  sao  impossiveis. 

E  que  direi  da  prosodia?  AfHicto  o  exa- 
niinando por  ver  esvaeccr-se  ,  como  o  fumo  , 
0  Olympo  glorioso,  que  Icvcmcnte  iniaginara, 
deu  azo  a  inferir-sc  que  nao  a  considerava 
parte  elementar  da  grammatioa,  pois  que  fez 
consislir  toda  a  sciencia  da  pronunciacao  no 
exclufivo  conhecimento  da  quantidade  das 
ultimas  syllabas  !  Seria  ignorancia  ?  Talvez  ; 
porquanto  e  certo  que  as  ultimas  syllabas 
pouco,  ou  nada  influem  na  pronunciacao  ;  e 
comtudo  0  exaniinando  ,  que  repetiu  uma  e 
niuitas  vezes,  que  applicava  a  mnemonica  as 
partes  diiliceis  das  linguas  e  das  sciencias,  a 
nao  applicou  a  esta  parte  elementar  da  lin- 
gua latina,  confessando  que,  para  as  syllabas 
madias  essenciaes  na  prosodia,  nao  tinlia  for- 
mulas. 

Em  fim  no  tocante  a  synlaxe  de  concor- 
dancia  e  de  regeneia  declarou  o  exaniinando, 
que  nao  era  possivel  sujeitar-lhe  as  regras  as 
formulas.  A.ssim  havia  de  ser  necessariaraen- 
te  ;  porquanto  a  causa  da  existencia  das 
formulas,  e  o  mcthodo,  por  que  sao  ordenadas 


e  coinpo.sias,  tudo  puramente  material,  poem 
na  maior  clareza  ,  que  por  meio  do  processo 
muemoiiico  nao  se  pode  coniprcjiender  de 
ncniiuma  mancira  a  razao  da  dilVcrenca  das 
variacoes  dos  verbos,  assim  como  nao  pode 
alcancar-se  a  applicacao  das  modilicacocs  dos 
nomes.  E  d'aqui  resulla  que  ,  ainda  quando 
mediante  um  sem  conlo  de  formulas,  com  que 
se  opprimiria  vamente  a  cabeca  de  uma  cri- 
anca  ,  podesse  conseguir-se  que  ella  tomasse 
de  cor,  com  alguma  facilidade,  grande  numcro 
de  torminacocs,  quer  de  nomes,  ipier  de  ver- 
bos, etc.  etc.  etc.,  nao  teria  adiautado  nem 
sequer  uni  so  passo  no  conheciiueulo  da  nia- 
neira  substancial  ,  das  furmas  essenciaes ,  e 
accideutaes,  da  indole  genuina  da  lingua  la- 
tina, ou  de  qualquer  outra  lingua,  que  se 
propozesse  aprender.  Poderia  sem  duvida  re- 
petir  sons  mecanicamcnte  ;  mas,  senao  dcpois 
d'oulro  mais  longo,  mas  arduo,  e  inteiramen- 
te  especial  estudo  ,  nao  poderia  comprehen- 
der-lhes  o  valor,  nem  dar-lhes  applicacao. 

Demorei-me  (deixando  de  parte  comtudo 
outras  observacoes  de  nao  Icve  memento) 
algum  tanto  com  as  investigacocs  acerca  do 
emprego  das  formulas  mnemonicas  do  exanii- 
nando ao  estudo  da  lingua  latina  ,  a  fim  de 
evitar  ulteriores  repetieoes,  a  que,  d'outra 
sorte,  me  veria  forcado  na  apreciacao  das 
provas  dadas  pelo  exaniinando  com  respeito 
iis  linguas  grega  e  franceza.  Tudo  o  que  fica 
observado  tem  inteira  ajiplicacao  ao  estudo 
das  linguas  niencionadas,  e  de  outras  quacs- 
quer.  Entrelanto  nao  devo  omittir  alguma 
observacao,  posto  que  breve,  relativameute 
a  cada  uma  d'estas  duas  linguas. 

As  provas ,  dadas  pelo  exaniinando  com 
respeito  a  lingua  grega,  serviram  sdmente 
para  demonstrar  que  elle  ignora  completa- 
raente  esta  lingua  ;  e  ,  com  quanto  o  niesmo 
examinando  nao  pozesse  nenhuma  hesitacao 
em  asscverar  que,  por  via  do  sen  methodo 
mnemonico,  se  pode  ensinar  o  que  se  ignora, 
0  facto  devia  convencel-o  a  elle  proprio  de 
([uao  pouco  ajustado  andara  com  a  razao.  0 
exaniinando  appresentou,  para  se  decorar  o 
artigo  ,  uma  formula  pelo  menos  tao  difScil , 
como  0  mesmo  artigo ;  e  comtudo  compre- 
hendia  so  o  singular ,  deixando  dependentes 
d'outras  formulas  o  Dual  e  o  Plural :  e  pro- 
clamou,  como  grande  aperfeicoamento,  que 
pelas  suas  formulas ,  se  podia  aprender  o 
artigo  em  24  horas  ;  sendo  sabido  que  qual- 
quer alumno  da  aula  de  grego  o  aprende, 
sem  taes  formulas,  em  menos  de  dez  niinutos. 
Persuadido  de  que  o  examinando  se  equivo- 
cara  ,  dirigi-lhe  immedialamente  esta  mesnia 
observacao  ;  porem  elle  ratificou  a  assercao  , 
c  balbuciou  algumas  phrases ,  que  tornaram 
patcnte  (jue,  nao  por  equivoco,  mas  por  igno- 
rancia da  lingua  assim  sc  explicara. 

Conliniia. 


267 


CHIMICA  LEGAL. 


Continuadu  de  pag.  '^60. 


Analyse  das  risceras  do  estudantc  I.azarn  Taraics 
Alfonso  e  Cunha :  d'uma  porfuo  de  terra  do 
sitio  em  que  se  achou  o  cadaver;  c  d'umas  liras 
da  batina  do  mesino  esludante. 


II. 


Passando  depois  a  piocurar  o  sangue  na 
terra  e  nas  tiras  da  batina,  I'omos  avaliando 
successivamentc  os  earacteres  physicos,  mi- 
croscopicos  e  chimicos,  que  o  sangue  nos  podc- 
ria  offerecer  'nestes  objectos. 

Characteres  physicos. — A  terra  appresenla- 
va  a  cor  e  consistencia  de  terra  vegetal  sccca, 
em  tudo  sirailhante  a  da  localidade,  em  que 
se  achou  o  cadaver,  sem  deixar  ver  a  cor  do 
sangue  nem  d'outras  materias  animacs.  So  o 
cheiro  d'estas  materias  em  putrefacao  e  que 
indicava  a  sua  presenfa  'nesta  porcao  de 
terra. 

Nas  tiras  seccas  da  batina,  viam-se  manchas 
cobertas  de  terra,  como  se  foram  manchas 
gordurentas,  sem  mostrarem  outra  cor  que 
nao  podesse  attribuir-se  a  terra  ou  poeira, 
(jue  Ihes  estava  adherente ;  mas  o  cheiro,  de 
materias  animaes  em  putrefaccao,  que  achamos 
na  terra,  tambeni  se  notava  'n-estas  manchas 
da  batina. 

Characteres  microscopicos.  —  Lancamos  a 
terra  em  tubos  de  ensaio  com  uraa  dissolu- 
cao  de  suifato  de  soda  ;  e ,  passadas  24 
horas ,  observamos  ao  microscopio  algumas 
gotas  d'este  liquido ,  apparecendo  constan- 
temente  a  forma  irregular  e  arrendada,  que 
as  materias  fibrinosas  c  albuminosas  costu- 
mam  dar  no  campo  do  microscopio,  vendo- 
se  algumas  vezes  uns  corpos  de  forma  arre- 
dondada,  mas  sempre  irregulares  e  franja- 
dos,  que,  apezar  de  tercm  alguma  similhanca 
com  OS  giobulos  rubros  do  sangue  ja  allerados, 
nos  deixaram  mais  inclinados  a  que  fossem 
da  natureza  da  outra  materia  organica. 

Nas  manchas  da  batina,  seguimos  o  mesmo 
processo ,  suspendendo  dill'erentes  tiras  do 
pane,  em  quatro  vidros  de  ensaio  com  a 
mesma  dissolucao  de  suifato  de  soda;  e.  era- 
pregando  cada  urn  d'estes  vidros  nas  obser- 
vacoes  de  cada  dia,  repetimos  estas  observa- 
coes  no  primeiro  dia  depois  da  immersao,  no 
2.°,  no  3.°  e  no  6.°  dia.  Sempre  tiramos  o 
mesmo  resultado,  que  ja  notamos  nas  obser- 
vacoes ,  feitas  sobre  a  terra.  Apenas  por 
uma  so  vez,  e  empregando  a  lente  Slanhop, 
vimos  um  corpo  arredondado,  com  a  forma  e 
grandeza  dos  globules  rubros  do  sangue ; 
mas  que  nos  pareceu  mais  provavel  que  fosse 
antes  alguma  bolha  de  ar  na  dissolucao  albu- 
minosa. 


Nao  aproveitamos  para  estas  observacoes 
0  liquido  salino  do  frasco,  em  que  os  primeiros 
perilos  tinham  mcrgulhado  as  tiras  da  batina, 
por  que  o  muito  tempo  que  tinha  dccorrido 
deveria  tcr  inutilisado  aquelle  proces.so  pre- 
paratorio. 

Analyse  chimica.  —  Lancamos  cousa  de 
meia  libra  de  terra  em  mais  de  uma  libra 
de  agua  distillada;  fomos  mexendo  aniiudadas 
vezes  com  uma  vara  de  vidro  por  mais  de 
hora  e  meia;  e  deixanios  em  repouso  ate  ao 
dia  seguinte.  'Neste  dia  decantiimos  uma 
porcao  d'esta  agua  ainda  muito  denegrida;  e 
sujeitiimol-a  a  ebullicao  'numa  cap.sula  de 
porcelana.  0  liquido  niio  se  tornou  mais  turvo, 
nem  appareceram  coagulos  albuminosos;  mas 
formou-se  na  superlicie  uma  espuma,  quo  fazia 
lembrar  a  do  caldo  de  came.  Esta  espuma, 
que  adheriu  em  parte  as  paredes  da  capsula, 
dissolveu-se  'numa  dissolucao  de  potassa  caii- 
stica ;  mas  nao  deu  a  cor  verde  k  rellexao, 
nera  a  cor  de  rosa  a  rcfraccao,  que  os  llocos  da 
albumina  do  sangue  costuniam  offerecer.  Este 
liquido ,  sendo  depois  tractado  pcio  acido 
azotico,  deu  um  prccipitado  gclatinoso,  que 
tornou  a  dissolver-se  com  a  potassa  caustica. 
Uma  outra  porcao  da  agua,  em  que  se  tinha 
lancado  a  terra,  foi  evaporada  ate  quasi  a 
seccura,  sem  offerecer  a  consistencia  de  xarope; 
e,  acabada  de  seccar,  deixou  toda  a  capsula 
(orrada  dos  residuos  da  muila  espuma,  que  se 
tinha  levantado  em  todo  o  tempo  da  cvapora- 
cao.  Lavou-se  a  capsula  com  a  dissolucao  de 
potassa,  que  dissolveu  todo  aquelle  residuo  ; 
e,  tractada  depois  pelo  acido  azotico,  e  em 
seguida  outra  vez  pela  potassa,  deu  o  mesmo 
resultado,  que  tinha  apparecido  antecedenle- 
mente. 

0  pano  da  batina ,  cortado  em  pequenas 
tiras,  suspendeu-se  em  tubos  de  ensaio  com 
agua  distillada.  Passada  meia  hora,  ja  se  viam 
muitas  cstrias  dcscendo  das  tiras  ate  ao  fundo 
dos  tubos,  mas  nao  se  Ihes  podia  bem  marcar 
a  cor  avermelhada ,  parecendo  antes  d'um 
amarello  escuro.  Quatorze  horas  depois  via-se 
um  deposito  mais  escuro  ;  e  o  liquido,  sendo 
agitado,  depois  de  relirado  o  pano,  tomou  a 
cor  do  deposito.  Levado  depois  a  ebullicao  no 
mesmo  tubo,  nao  produziu  flocos  nem  coagulos, 
deixando  apenas  ver  a  superlicie  muitas  bolhas 
similhantes  as  queproduz  o  sopro  por  um  tubo 
'num  liquido  albuminoso  ;  mas  esta  espuma 
desappareceu  pelo  arrefecimento,  sem  deixar 
vestigios  nas  paredes  do  tubo.  Arrefecido  o 
liquido  em  repouso,  deixou  ver  o  mesmo  prc- 
cipitado terroso  e  escuro,  que  nao  se  alterou 
com  a  dissolucao  de  potassa.  Variamos  de 
processo,  lancando  gotas  da  dissolucao  das 
manchas  sobre  uma  placa  de  platina  incan- 
descente,  segundo  as  indicagoes  de  Boutigny, 
esperando  que  estas  gotas  esphericas  se  tur- 
vassem,  para  Ihes  restituir  a  transparencia 
com  uma  gota  da  dissolucao  de  potassa  'numa 


268 


vara  de  vidro,  e  a  segunda  lurvarao  com  uma 
gola  de  acido  azoliro  ;  mas  nao  vimos  aquel- 
les  caracleres  da  alhuiiiina  cm  ncnhuma  das 
golas  (jue  sujeitiimos  a  experiencia  ,  apcsar 
das  dilVereutcs  dimcnsOes  que  llzemos  tomar 
as  espheras  do  liquido. 

Tamhem  cmpregamos  o  acido  liypocliloroso 
de  Balard  e  o  clilorurclo  de  cstaiiho,  que 
deveiiani  destruir  iiuuiediatameute  as  cores 
de  todas  as  malerias  orgauicas,  jwupando  a 
materia  colorante  do  sangue,  ([ue  so  niais 
tarde  se  doveria  deslruir ;  mas  a  inalteracao 
da  ciir  do  liquido,  desde  o  uuimcnto  da  expe- 
riencia ale  muitas  horas  depois,  lizeram-nos 
acrcditar  (jue  a  linta  preta  do  pano,  pclas 
malerias  inorganicas  de  que  se  couipuuha,  di 
logar  a  ineflicacia  d'esle  processo  cm  casos 
simiilianles.  Nao  applicants  csles  reagenles 
iuimedialamenle  sobre  as  manchas,  por  que 
nao  oll'ereciam  senao  a  cor  da  lerra,  como  jii 
dissemos ;  e,  depois  de  lavada  a  terra  com  agua 
dislillada,  apenas  se  deixava  ver  a  cor  preta 
do  pano. 

Conduimos  que  havia  malerias  animaes 
das  chamadas  albuminosas  iia  terra  e  nos 
hocados  da  balina  sujeilos  ao  nosso  exame, 
seni  podermos  determinar,  se  proviriam  do 
sangue  ou  d'outros  bumores  do  cadaver,  ou 
se  duns  c  d'outros  ao  mcsmo  tempo.  A.  falta 
de  globulos  rubros  nao  se  oppoe  a  que  cstas 
materias  organicas  proviessem  do  sangue, 
porquc  a  exposicao  do  cadaver  por  9  dias  de 
calor,  'num  silio  bumido,  foi  sufliciente  para 
tor  produzido  a  putrefaccao  dos  mesmos  globu- 
los, a  ponto  de  nao  poderem  ser  rcconbecidos 
com  0  microscopio. 

Em  vista  d'esic  resullado,  julgiimos  desnc- 
cessaria  a  analyse  do  alcool,  que  linba  sido 
guardado  em  frasco  separado. 

A.   A.  DA  COSTA  SIMOES. 


METHODO  DO  ENSINO  PARALELLO 

DA 

ESCRIPTA  E  LEITIRA. 

Continuado  de  pag.  '255. 
SEC^;.\0    III. 

Ileijras  prdctkas  do  metlwdo  ijuc  tern  de  pre- 
■tidir  ao  ensino  parallelo  da  escripta  e  leit- 
lura. 

Depois  de  termos  inquirido  e  acuradamen- 
te  medilado  os  factos,  cuja  theoria  ficou  ex- 
posta  no  capitulo  aniecedente,  vimos  agora 
deduzir  d'essa  Uieoria  as  illagoes  que  por  Ven- 
tura conlenha,  cada  uma  das  quaes  sera  uma 
regra  prddica  para  o  melbodo,  por  que  tem 
de  regular-se  o  ensino  parallelo  da  escripta  e 


Icitura.  Quanto  bouvcrraos  de  dizcr  'nesle 
capitulo,  tcl-o-ha  vislo  o  leilor  conlido  no 
aniecedente,  como  contem  urn  ])edaco  de 
marmore  a  eslatua,  que  d'elle  cxlrahe  o  cin- 
zel  do  arlista. 

Yislo  (jue  0  desinvolvimcnto  intellectual  de 
uma  crianca  ainda  Ihe  nao  permilte  compre- 
heiidcr  o  tilplnibcto,  uein  fazcr  us  (ibslraccOes 
que  a  sollclracao  presup|)ni',  ([uaudo  clla  li 
ja  capaz  de,  excrevendo,  iiiiiiar  as  liguras  que 
se  Ibe  appresentem  aos  ollios;  ponto  csscncial 
para  inicial-a  no  conliccimenlo  da  leitura  e 
da  escripla  e  ensinar-llie  a  escrever  c  \&r  syl- 
labas,  antes  de  llie  ensiuar  a  Icr  lettras. 

Em  obediencia  a  este  principio,  a  primeira 
cousa  que  tem  de  I'azer  o  aiiimuo,  apenas 
possa  pegar  'numa  penna  ou  lapis  de  pedra, 
e  apreuder  a  tracar  hastes  maiusculas  e  mi- 
nusculas,  curvas,  titjarOes  singellas  e  dobra- 
das,  circulos,  ellipses,  e,  'numa  palavra, 
quaesquer  tiguras,  (|ue  mais  se  assemelbein 
aos  cliaraclores  de  leltia  de  mdo — unica  espe- 
cie  de  lellra — torno  a  dizer — de  que  devera 
servir-se,  era  quanto  nao  soubcr  escrever  e 
ler  correntemente. 

Versado  que  esteja  o  alumno  'ncstes  cxer- 
cicios,  durante  os  quaes  se  Ibe  ensinani  a  as- 
senlar  bem  a  mao,  pegar  na  penna  e  mover 
OS  dcdos  convenicntemente,  sua  principal 
tarda  deve  ser  decompor  palavras  oralmen- 
te,  c  reduzil-as  aos  sons  eiemenlares  que  as 
formem.  Para  este  lim  deve  o  professor  ler 
de  sobremao  um  pronipluario  de  vocabulos 
— monosijllabos,  disyllabos,  tri.syllabos  e  poly- 
syllabos,  compostos  exclusivameute  de  sylla- 
bas  naturaes. 

Logo  que  0  alumno  souber  decompor  e  re- 
duzir  aos  respectivos  sons  eiemenlares  cada 
um  d'estes  vocabulos,  ensinar-lhe-ba  o  pro- 
lessor  a  traduzir  aquelles  sons  nas  syllabas 
naturaes  que  os  symbolizem:  para  o  que  pro- 
cedera  do  seguinle  raodo  : 

Em  primeiro  logar  escreveni  na  tabua  preta 
qualquer  palavra  que  o  alumno  ja  lenha 
oralmeute  decomposto,  e  cbamarii  a  altencao 
d'elle  sobre  a  correspondencia  dos  sons  eie- 
menlares da  palavra  fallada,  com  as  sijllabas 
da  mesma  palavra  escripta. 

Depois,  escreverii  por  baixo  da  referida 
palavra  a  primeira  syllaba  d'ella  e  mandara 
ao  alumno  que  a  imite,  escrevendo  na  lousa 
0  respeclivo  signal,  ao  qual  so  dara  o  profes- 
sor 0  valor  que  tenha  como  syllaba. 

Copiada  pelo  alumno,  mais  ou  menos  bem, 
a  primeira  syllaba,  escrevera  o  professor  a 
segunda ;  e  procedendo  a  rcspeito  d'ella  co- 
mo a  respeito  da  primeira,  mandara  ao  alumno 
que  a  lea  e  eopie  na  lousa,  repetindo  frcquen- 
lemente  o  valor  phonico  d'ella. 

Escriptas  que  sejam  assim  todas  as  syllabas 
da  primeira  palavra,  fara  o  professor  pergun- 
las  ao  discipulo  sobre  o  valor  individual  de 
cada  syllaba,  e  o  collectivo  de  todas  junctas. 


269 


E  depois  dc  lida  esla  palavra,  escrevcrii  na 
tiibua  outra,  que  em  algunia  syllaba  se  pare- 
ca  com  a  primeira;  e  a  respeito  d'ella  procc- 
dera  de  modo  analogo. 

Em  0  discipulo  sabendo  escrevcr  e  ler  pa- 
lavras  compostas  de  syllabas  iiaturaes,  ap- 
presentar-lhe-ha  o  professor  uma  tal)ua  de 
todas  as  syllabas  naluraes,  confeocionada  com 
columnas  transversaes  e  vcrticaes  por  manei- 
ra  tal,  que  'nestas  as  vogaes  sejam  as  mesmas 
c  variem  as  consoantes;  'iiaquellas,  ao  con- 
trario,  sejara  as  mesmas  as  consoantes,  e  va- 
riem as  vogaes.  Eis  aqui  como  devera  usar- 
se  d'csta  tabua. 

Le  0  professor  a  primeira  sylial)a  da  pri- 
meira colurana  transversal ;  c  depois  de  a  ter 
cscripto  na  tiibua,  manda  ao  discipulo  (juc 
tambem  a  lea  e  copie  na  lousa. 

Escripta  a  primeira,  continiia  o  professor 
a  escrevcr  e  ler  as  outras  syllabas,  e  o  disci- 
pulo a  copial-as  e  a  repelir  iuccssantcmeute 
0  valor  pbonico  de  cada  uma. 

Logo  que  o  discipulo  tiver  cscripto  c  lido 
todas  as  syllabas  da  primeira  linba,  lar-lbe- 
ha  iiotar  o  professor  como  'naquelles  signaes, 
de  par  com  alguma  cousa  similhanle,  ha 
tambem  uma  outra  cousa  differeute.  0  pri- 
meiro  character  de  cada  syllaba  e  o  mesnio; 
0  segundo  e  que  differc  de  uma  para  outra. 

Notado  isto,  escreve  o  professor  a  primeira 
syllaba  da  scgunda  linba ;  e  mostra  ao  disci- 
pulo como  esta  nova  syllaba  e  em  parte  si- 
milhante,  e  em  parte  differente  da  primeira 
da  liuha  superior.  A.ssim,  em  sabendo  clle 
imitar  o  signal  era  que  dill'erem  estas  duas 
syllabas,  sabera  escrevcr  todas  as  outras  da 
niesma  linba ;  povquc,  para  isso,  basta  substi- 
tuir  0  primeiro  signal  da  segunda  ao  primei- 
10  da  primeira.  E  assim  a  respeito  de  todas 
as  linhas  transversaes. 

Logo  que  o  discipulo  tiver  lido  e  trasladado 
d'este  modo  todas  as  syllabas  da  tabua,  en- 
trara  de  fazer  exercicios  para  fixar  bem  na 
memoria  a  fir/ura  e  valor  phonico  de  cada 
uma.  'Nestes  exercicios  proceder-se-ha  do 
seguinte  modo: 

Retirada  a  tabua  das  syllabas,  —  tal  vez 
escreve  o  professor  uma  syllaba,  e  pede  ao 
discipulo  0  valor  phonico  d'ella  —  tal  outra 
profere  um  sum  elementar,  e  manda  ao  disci- 
pulo que  alii  Ib'o  escreva  na  lousa.  Por  cste 
meio  verificara  o  professor  se  o  discipulo  esta, 
ou  nao,  de  posse  da  tabua  das  syllabas  natu- 
raes;  e  caso  reconheca  que  esta,  ensinar-llie- 
ha  a  cscrever  e  ler  syllabas  arlificiaes:  para 
0  que  usara  do  seguinte  processo. 

Pela  tabua  das  syllabas  naturaes  fara  o 
professor  ver  ao  alumno  como  nas  linhas 
transversaes  0  primeiro  character  de  cada  syl- 
laba e  0  mesmo,  variando  so  o  segundo;  e 
como  nas  verticaes  e  o  contrario  —  o  primei- 
ro e  que  varia,  ficando  o  segundo  o  mesmo. 
Pois  0  que  varia  nas  linhas  transversaes  sao 


OS  signaes  das  vozes,  s5o  as  vogaes;  —  o  que 
varia  nas  verticaes  sao  os  signaes  das  arti- 
culacoes,  sao  as  consoantes. 

Em  seguida  far-lhe-ha  notar  que  assim  co- 
mo nao  ha  articulaciio  sem  voz,  ncm  voz  scm 
arlioulacao  na  linguagem,  tambem  nao  pode 
haver  na  escripta,  isto  e,  nao  pode  ler-se 
vogal  sem  consoante,  ncm  consoantc  sem  vo- 
(j'll:  a  intima  uniao  d'estas  duas  leltras  for- 
ma a  syllaba  natural,  que  e  o  symbolo  do 
som  elementar  da  palavra. 

Mostrar-lhe-ha  depois  como  o  mais  sumido 
de  todos  OS  sons  elemcntares,  que  o  orgao 
da  falla  pode  formar,  e  o  representado  pela 
syllaba  muda  nhev,  composta  da  consoante 
<(  h  »  e  da  vogal  «  e  »  mudo.  E  visto  que  cstes 
elemcnlos  sao  quasi  impcrceptiveis  para  o 
ouvido,  pode  a  escriptura  supprimil-os,  c, 
d'e.sta  suppressao  resultarao  duas  especies  de 
syllabas  artificiues. 

Quando  se  ommitte  a  consoante  uh>i,  a 
vogal  respectiva  passa  a  combiuar-se  com  a 
da  syllaba  anlecedente,  na  mesma  emissao 
de  som;  e  assim  se  forma  de  duas  syllabas 
naturaes  uma  artificial,  que  e  um  dipbtongo. 
V.  g. :  Pd-hu,  pa-ho,  le-hi,  que  se  escrevem 
artilicialmente  pau,  pao,'lei. 

Quando  se  ommitte  o  «  e  mudo,  >i  a  con- 
soante que  0  modificava,  passa  a  modilicar  a 
vogal  da  syllaba  antecedeute,  a  qual  tica  por 
isso  composta  de  duas  ou  mais  consoantes. 
V.  g. :  Hi-em-pe-la-ca-ve-le ,  tern  sete  syllabas 
naturaes,  que  a  escriptura  reduz  a  ([uatro 
d'este  modo  —  implacavel. 

Feita  esta  explicacao  previa,  cumpre  ap- 
presentar  ao  alumno  diversas  tabuas  de  syl- 
labas artificiaes,  tanto  as  que  resultam  da 
suppressao  da  consoante  «/(»,  como  as  pro- 
venientes  da  ommissao  do  «  e  mudo  »,  que 
concorra  com  alguma  das  consoantes  f,  I,  m, 
n,  s,  r,  X,  i:  e  em  seguida,  e  o  professor 
ensinar-lhe  a  escrever,  apreciar  e  \er  cada 
uma  d'estas  syllabas ;  para  o  que  procedera 
de  modo  analogo  ao  com  que  procediira  a 
respeito  das  syllabas  naturaes. 

So  depois  de  o  alumno  saber  escrever  e  ler 
todas  as  tabuas  das  syllabas  naturaes  e  arti- 
litiaes,  so  entao  e  que  se  Ihe  ha  de  ensinar 
a  decompor  a  syllaba  em  lettras :  para  o  que 
observar-se-ha  o  seguinte  processo. 

Toma  0  professor  na  tabua  das  syllabas 
naturaes  a  primeira  linba  transversal,  e  a 
segunda  vertical.  Eliminaudo  da  primeira  a 
consoante  «hi>,  fara  ver  ao  alumno  o  que 
siio  as  vogues  por  si  so ;  e  supprimindo  na 
segunda  o  «e  mudo»,  assim  Ihe  fara  sentir 
0  que  sao  as  consoantes. 

Depois,  com  estas  duas  classes  de  lettras 
conslruira  o  abecedario  ou  alphabeto  de  lettra 
de  mao,  cujos  signaes  so  representam  os  ele- 
mentos  dos  sons  elementares  da  palavra,  isto 
e,  as  differencas  por  que  estes  sons  se  exlre- 
mam  uns  dos  outros. 


270 


Far-lhe-ha  ver  tambem  como  o  alphabeto 
e  imperfoito  por  falta;  porque,  havendo  em 
nossa  lingua  dozoilo  vozes  cntre  abertas,  fe- 
chadas,  vuidas  e  nasaes,  para  as  representar 
so  tem  0  alphabeto  seis  signaes  disliiiclos;  os 
quaes  so  poderao  extreraar-sc  uns  dos  outros 
por  nicio  dos  accentos  agudo ,  circumUcxo  e 
nasal,  designando  absolula  falta  d'ellc  a  voz 
muda. 

Mostrar-lhe-ha  egualmente  como  6  imper- 
feito  ])or  excesso  o  alphabeto;  porque  para 
designar  certo  e  determiiiado  clomento  de 
um  som,  tern  mais  de  um  signal.  V.  g. :  para 
significar  a  voz  «»'»,  tem  o  "  t  »  latino  e  o 
(I  y  )i  grego  ;  para  significar  a  articulacao  «  q  » 
tem  as  consoanto  q,  c,  k,  e  cit  a  grega. 

Rematara  cstas  observacOes,  fazendo-Ihe 
comprehender  por  que  razao,  apesar  de  tantas 
imperfeicOes,  6  a  escriptura  alphabetica  tao 
superior  a  syllabica. 

Entao  appresentar-lhe-ha  uma  rigorosa  clas- 
sificacao  de  todos  os  character es  alphabeticos : 
—  primciro,  a  tiibua  das  vogaes  com  todos  os 
seus  valores  pcrmanentes  c  aocidentaes  em 
virtude  dos  accentos  agudo,  circumflexo  e  na- 
sal etc.;  —  depois  a  tiibua  de  todas  as  con- 
soantes,  classiticadas  em  relacao  a  parte  do 
orgao  que  actiia  na  produccao  de  cada  uma, 
d'onde  Ihes  advem  as  denominacOes  de  la- 
biaes,  denlaes,  guturaes  etc. 

Preparado  o  alumno  com  o  conhecimento 
d'estes  principles,  dar-se-lhe-ha  entao  o  pri- 
meiro  livro  (que  ha  de  ser  em  lettra  manus- 
cripla),  para  que  o  lea,  e  lendo-o  adquira  o 
hablto  de  applicar,  com  desembaraco  e  ac^r- 
to,  aquelles  principios  ao  acto  da  leitura. 

Acabada  que  seja  em  cada  dia  a  licao  de 
leitura,  mandara  o  professor  fechar  o  livro; 
e  lendo  elle  mcsmo  successivamente  as  pala- 
vras  de  cada  sentenra,  fara  com  que  o  alumno 
va  oralmente  decompondo  —  primeiro  a  sen- 
lenca  em  palavrcts,  —  depois  a  palavra  em 
syllabas,  —  e  por  fim  a  syllaba  em  Ultras. 
Este  sera  o  principal  exercicio  para  ensinar- 
Ihe  practicamente  a  orthographia  da  lingua. 

Quando  o  alumno  souber  escrever  e  Wr 
com  tal  proticiencia,  que  possa  Ur  qualquer 
trecho  que  se  Ihe  appresentar  escripto,  ou 
escrever  qualquer  outro  que  se  Ihe  dictar,  so 
entao  ciimpre  dar-lhe  conhecimento  do  alpha- 
beto de  leltra  redonda  —  conhecimento  que 
facilmente  conseguira  pela  simples  confronta- 
cao  de  uns  com  outros  characteres.  Assim,  o 
alumno  vai  depressa,  porque  vai  do  que  co- 
nhece,  para  o  que  ignora,  vai  do  mais  facil, 
para  o  diflTieil. 

Logo  que  estiver  tao  familiarisado  com  a 
lettra  redonda,  que  possa  copiar  em  manus- 
cripto  qualquer  trecho  que  se  Ihe  appresentar 
impresso,  passara  a  ler  em  livro  de  lettra 
redonda,  como  d'antes  lia  em  livro  de  lettra 
de  mao;  e  este  facto  niarcara  a  epocha  em 
que  a  leitura  tem  de  separar-se  da  escripta, 


cm  que  0  primeiro  tyrocinio  do  educando  esta 
feito. 

D'aqui  em  diante  continuara  a  ler  e  a 
escrever  «  separadamente  »  ;  —  a  escrever, 
para  fazer  estudos  de  caUigraphia,  e  de  redac- 
rdo, — a  ler,  para  aprender  a  recitar  prosa  e 
verso,  e  a  declamar  conveuientemente. 


COIVCIiUSAO. 

A  idea  fundamental  d'este  methodo  e  ensi- 
sinar  a  ler  ensinando  a  escrever,  para  apro- 
veitar,  em  benelicio  da  leitura,  todo  o  esfor- 
co  da  intelligencia  e  attcncao  que  faca  o 
educando,  com  o  intuito  de  imitar  os  signaes 
graphicos  que  se  Ihe  apprcsentem. 

Por  consequencia,  sao  condicoes  essenciaes 
d'elle,  as  seguintes. 

1.° — 0  unico  abecedario  de  que  deve  usar 
0  alumno,  em  quanto  nao  souber  ifir  corren- 
temcnte,  e  o  do  lettra  de  mao. 

2.° — Usando  d'este  abecedario,  deve  apren- 
der, primeiro  que  tudo,  a  escrever  e  ler  syl- 
labas naluraes,  por  serem  estas  os  symbolos 
de  sons  elementares,  que  elle  podeni  desco- 
brir  por  si  mesmo,  fazendo  a  decomposicao 
da  respectiva  palavra. 

3." — So  depois  de  saber  escrever  e  Idr  syl- 
labas naturaes,  e  que  ha  de  aprender  a  escre- 
ver e  ler  syllabas  artificiaes;  —  o  que  facil- 
mente conseguira,  raediante  o  conhecimento 
da  origem  e  propriedades  das  duas  especies 
d'ellas. 

4.°  —  So  quando  souber  escrever  e  ler  toda 
a  casta  de  syllabas  de  uso  em  nossa  lingua, 
so  entao  e  que  se  Ihe  deve  dar  conhecimento 
das  Ultras  do  alphabeto  manuscripto  pela  de- 
composicao—  nao  dos  sons  elementares — se- 
nao  das  syllabas  que  os  significam. 

S.°  —  Em  sabendo  escrever  bem  o  que  Ihe 
dictarem,  e  ler  com  desembaraco  o  que  Ihe 
appresentarem  escripto  em  leltra  de  mao,  so 
entao  e  que  deve  estudar  o  abecedario  de 
lettra  redonda  (ou  qualquer  outro  que  tenha 
gosto  de  saber)  pelo  simples  exercicio  de  con- 
frontar  os  characteres  do  que  conhece,  com  os 
do  abecedario  que  ignora. 

6.° — Uma  vcz  familiarisado  com  o  abece- 
dario de  lettra  redonda,  metta-se-lhe  entao 
na  mao  o  primeiro  livro  impresso,  e  por  elle 
se  exercite  na  leitura,  jii  lendo,  ja  copiando 
da  lettra  redonda  para  a  manuscripta,  ja 
iffiitando  a  lettra  redonda. 

7.°  —  So  d'este  ponto  em  diante  e  que  de- 
vem  separar-se,  e  ser  para  elle  como  distin- 
ctas,  individualidades  a  parte,  as  disciplinas 
de  ler  e  escrever. 

M.  R.  DE  MENDONCA. 


271 


OS  SINOS. 

Continuadu  de  pag.  224. 

Calcula-se  ter  havido  em  Inglaterra  80 
carrilhoes  de  10  sinos,  300  dc  8,  aOO  de  6, 
e  2o0  de  5  ;  mas  este  caleulo  e  uma  simples 
approximarao;  os  dados  em  que  se  basea  sao 
muito  indetorminados.  Para  lormar  urn  car- 
rilhao  completo  sao  precisos  8  sinos,  (|ue  con- 
stituam  a  oilava  ou  escaila  diatonica.  Os  ama- 
dores  tem  como  ponto  de  capiiciio  o  executar 
grande  variedade  de  mudunras  ou  variacoes, 
que  augmentam  em  rapida  progressao  com  o 
numero  dos  sinos.  0  quadro  que  segue  mos- 
trara  de  que  modo  com  Irez  sinos  se  podem 
executar  seis  mudancas: 

1  _  2  _  3 

1  —  3  —  2 

2  —  1  —  3 

2  —  3  —  1 

3  —  1  —  2 
3  —  2  —  1 

Com  quatro  sinos  executar-se-hao  quatro  vezes 
seis  ou  24;  com  cinco,  cinco  vezes  vinte  e  qua- 
tro ou  120,  etc.  e  com  doze  sinos,  executam- 
se  479:001,600  combinafOes!  Soutiiey,  que 
muito  se  occupava  das  curiosidades  d'esta  arte, 
calculou  que,  dando-se  duas  badaladas  por 
segundo  ou  120  por  minuto,  eram  precisos 
91  annos  para  executar  as  variacoes  de  um 
carrilhao  de  12  sinos  ;  16,873  se  o  carrilhao 
fosse  de  14  sinos;  e  117,000  trillioes  d'annos 
se  fosse  de  24  sinos. 

Na  practica  ,  porem  ,  o  movimento  que  se 
da  a  um  carrilhao  e  duas  vezes  mais  veloz  do 
que  0  que  serviu  de  base  ao  caleulo  de 
Southey.  Refere  tambem  este  grande  poeta 
que  8  mancebos  de  Birmingham  executaram 
14,224  variacoes  em  8  horas  e  43  minutos. 
Em  1618  appareceu  um  enlhusiasta,  que  de- 
dicou  473  paginas  de  uma  obra  a  provar 
que  a  principal  occupacao  dos  bemaventura- 
dos  e  tocar  sinos;  tanto  podem  as  mysteriosas 
fascinacoes  d'esta  arte !  Posto  que  luenos 
enthusiasta  ,  Southey  pretende  que  o  meio 
mais  innocente  de  um  homem  fazer  bulha  no 
mundo,  e  tocar  sinos. 

Esta  observacao,  todavia,  nao  e  das  mais 
exactas.  D'ordinario  os  sinciros  nao  gozam 
de  boa  fama.  As  amizades  contrahidas  no  cam- 
panario  arrastam-os  para  a  laverna,  onde 
consomem  os  sens  ganhos ,  e,  facto  niuitas 
vezes  observado ,  o  sineiro  elimina-se  da 
egreja,  logo  que  para  la  tem  chamado  os  fieis. 

Deixemos  agora  os  carrilhoes  para  darmos 
uma  lista  dos  maiores  sinos  que  boje  existem, 
ou  que  ainda  ha  pouco  existiam. 

0  sino  grande  de  Moscow,  cuja 
altura  e6°50,  diametro  6'°,80;  cir- 
curaferencia  20°, 46  e  sua  maior      Kil.     d. 
espessura  0'",57,  pesa      .     .     .  201:266,40 

Outrofundidoeml819p6sa   .    81:273,60 


0  sino  da  torre  da  egreja  de 
Santo    Ivo    em  Moscow    (altura 
6°, 38,  diametro  8", 47  ;  peso  do       Kil.     d. 
badalo  1:911  Kil.)  pesa    .     .    .     87:978,20 
Outro  sino  da  mesnia  egreja    .    18:083,10 
0  sino  grande  dc  Pekim  (altura 
4"°, 40,  diametro  3°', 93),  pesa     .    84:424,10 
Outro  em  Nankim     ....    22:676,70 

Outro  em  Olmutz 18:184,70 

0  sino  grande  da  cathedral  de 
Ruao,  destruido  em  1793  (altura 
a", 93,  diametro  3", 33,  pesa  .  .  18:141,20 
Um  sino  de  Vienna  mandado 
fundir,  em  1711,  pcio  Imperador 
Jose,  com  os  canhOes  abandona- 
dos  pclos  Turcos,  quando  levan- 
taram  o  cerco  d'aquolla  cidade 
(altura  3°", 04  ,  circumferencia 
9"°, 42,  peso  do  badalo  300  Kilos.)    17:981,83 

0  Bordao  de  Nossa  Senhora  de 
Paris,  alii  collocado  em  1680, 
(circumferencia  7", 60,)  pesa  .    .    17:270,63 

Um  sino  de  Erfurth,  ([ue  se 
reputa  composto  do  melhor  me- 
tal de  sinos  boje  existcntes  (altura 
3°', 10,  diametro  2°, 80)  .  .  .  13:968,63 
Um  dos  sinos  da  Cathedral  catho- 
lica  de  Montreal,  fundido  em  1847    13:714,78 

0  «  Great  Peter »  collocado  na 
Se  de  York  em  1843  ....    10:920,90 

0  «  Great  Tom  »  de  Oxford 
(diametro  2", 15,  altura  2"°, 08)  .      7:709,90 

0  «  Great  Tom  »  de  Lincoln  re- 
fundido  em  1833,  com  mais  uma 

lonelada  de  metal 8:483,83. 

0  bordao  de  S.  Paulo  (diame- 
tro 2", 73,  peso  do  badalo  81  Kil. 

90) 3:203,83. 

0  mesmo  antes  de  refundido  .  3:740,40. 
0  uBunstano  de  Cantorbery  .  3:385, 33. 
Observa-se  'neste  quadro  quo  o  «  Great 
Peter  «  de  York,  fundido  depois  do  incendio 
de  1840,  que  destruiu  o  bello  carrilhao  da 
Cathedral,  e  o  maior  de  todos  os  sinos  do 
Reino  Unido.  Um  sino  e  pago  ordinariamente 
na  razao  de  6  guiucos  por  quintal,  mas  de 
certo  este  preco  augmenta  com  as  dimensoes, 
visto  que  o  «  Great  Peter  •>  chegou  a  custar 
2:000  libras  pagas  pclos  bahilantes  de  York. 
0  «  Great  Peter  >i  excedc  muito  cm  tamanho 
0  mais  alto  granadeiro  da  rainha  de  Inglater- 
ra, e  sao  precisos  quinze  homens  para  o  por 
em  movimento. 

Dizem  que  os  dous  «  Toms  »  d'Oxford  e  de 
Lincoln,  sao  assim  cbamados  por  onomatopea. 
0  sino  primitivo  d'Oxford  ,  que  estava  como 
0  u  Tom»  actual,  na  torre  do  alpendre  de 
Christcliurch,  foi  para  alii  trazido  da  Abbadia 
de  Oseney,  e  baptisado  com  o  nome  de  Maria, 
no  principio  do  reinado  de  Maria  Tudor. 

Presidiu  a  esta  ceremonia  o  vice  chanceller 
Tresham.  «0h!  doce  harmonia  ! »  exclamou  o 
enthusiasmado  chanceller,  a  primeira  vez  que 


272 


estcsino  o  thamou  para  a  missii,  o  Oh  incan- 
tadora  Maria  qiiaiito  me  enlevam  os  tens 
mclodiosos  sons!  »  Poreni  esla  iiiesiiia  Maria, 
cujos  sons  cram  lao  mcloiliosos,  foi  rolunilida 
cm  1G8U,  e  agora  tern  nnia  voz  tao  niascuiina 
conic  0  nome  '  ;  nom  snns  nulas  sao  I'xactas, 
nem  o  sou  timl)ri!  o  musical.  Todas  as  noitos, 
as  9  horas,  da  101  badaladas,  |)on|iic  taiilos 
sao  OS  ponsionistas   gratuitos  do  tolicgio. 

0  sino  grande  ou  bonh'io  dc  S.  Paulo,  uma 
das  curiosiiladcs  mais  popularcs  da  calliodral, 
estil  collocado  na  torre  do  moio  dia  ou  do 
rologio,  por  cima  dos  dois  siuos  que  dao  os 
([uartos.  Tern  a  seguinte  inscripeao.  «  Foz-mo 
liicardo  Pliclp  em  ITlfi.  »  D'liora  cm  liora  o 
uiartello  do  relogio  bate  alii  as  competentes 
pancadas  ;  mas  o  hadalo  nao  o  toca  senao 
l)ela  morte  ou  funeral  de  pcssoa  real ,  do 
hispo  de  Londres,  do  Dcao  de  S.  Paulo,  ou 
do  Lord-Maire  em  exereicio.  E  inlundada  a 
opiniiio  dos  que  pretendem  que  este  sino  lora 
lundido  com  metal  proveniente  d'um  «  Great 
Tom  «  de  Westminster,  que  estava  collocado 
'auma  torre  de  relogio,  outr'ora  juncta  da 
porta  da  grande  salla  ,  onde  por  cspacn  de 
400  anuos  indicou  as  horas  aos  juizes  d'ln- 
glaterra.  Esse  «  Great  Tom  »  de  veneranda 
mcmoria,  foi  dado  ou  vcndido  por  Guilherme 
III  ao  Dcao  e  Capilulo  de  S.  Paulo,  e  refiin- 
dido  por  um  certo  Wightman.  Aos  que  \isita- 
vam  a  cathedral,  era  permittido,  mcdiante 
unia  pequciia  retrihuicao,  tocar  'naquelle  sino 
com  um  martello  de  fcrro  para  Ihe  ouvir  o 
som.  D'eslas  esperiencias  repetidas,  resullou, 
cm  hreve  quebrar-se  o  sino,  c  Sir  Christopher 
Wren  encarregar  Phelp  de  o  substituir  por 
um  novo,  com  a  condicao  porem  de  se  nao 
tirar  o  antigo,  eniquanto  se  nao  collocasse  o 
(jue  elle  estava  fazendo ;  por.isso  se  pode 
dizer  que  este  nao  contem  nem  uma  onca 
de  metal  do  « Great  Tom. »  Com  tudo  o 
K  Great  Tom »  vai  agora  ter  quem  faca  as 
suasvezes;  o  relogio  exterior  do  novo  palacio 
de  Westminster  marcara  as  horas  com  um 
sino  de  quinze  toneladas,  que  deixara  a  per- 
dcr  dc  vista  o  «  Great  Peter  »  do  York. 

Continufr. 


X.  MARPfllER. 

Continuado  de  pag.   315. 

«  f<ao,  nao  tentarei  descrcvcr-vos  o  quadro, 
que  cu  acabei  de  ver.  Qucbraria  inutilmcntc, 
'neste  ensaio,  as  pennas  d'ouro  inventadas 
pelos  americanos.  Somcnte  Lamartine,  com  a 
sua  melodiosa  linguagem,  ou  Byron,  com  a 

'  Tom  t'  abrevia^iio  ingleza  de  Thomaz.  Tanibem 
serve  para  desiRnar  os  machos  d'algumas  especies  d'ani- 
uiaes ;  Tomcat  —  gato. 


sua  sobcrana  poesia,  podcriam  pintar  csta 
sccna;  que  exaltaria  o  sen  genio,  c'esmaga  o 
men  fraco  pensamento. 

Ua  logarcs  ([ue  se  cmhellezam  pela  distan- 
cia:  as  narrativas  dos  viajantcs,  as  gravuras, 
OS  paiucis  dao-lhc  uni  asjiecto  scm  egual. 

OuL'reuios  vel-os,  corrcnios  a  dies  com  a 
idea  exaggcrada,  ([ue  lormanios;  eacliamo-nos 
cngnnados  em  nossa  cxpeciacao.  Tive  medo 
d'e\|)crimcnlar  iiiua  cgiial  dccepcao,  indo  ao 
Niagara;  pouco  me  faltou  jiara  que  nao  renun- 
ciassc  a  I'azer  (e  por  me  poupar  a  um  arrepeu- 
dimcnto)  o  longo  rodeio,  que  haviade  levar-mu 
alcm  do  lago  Erie. 

Mas  ([uando,  a  alguns  centos  de  passes  da 
hospcdaria  da  aguia,  na  oria  d'um  bosque 
sombrio,  me  vi  repcntinamente  defronte  da 
cascata,  scnti-mc  penetrado  d'uma  tal  sur- 
prcza,  d'um  tal  arrebatamento,  que  fiquei 
como  prcgado  no  chao,  nao  podendo  mais 
que  soltar  um  grito  de  adniiracao.  Depois  a 
commocao  paralysou-me  a  voz,  e  cncheu-mu 
de  lagrimas  os  olhos. 

Pessoas  sensatas  dirao,  que  (i  fraqueza  de 
nervos.  Scja!  Entretanto  nunca  experimentei 
uma  commocao  similhante,  senao  em  lace  das 
obras  da  natureza.  Foi  quando,  das  ultimas 
praias  de  Spitzberg,  contemplava  os  extremos 
marcos  do  mundo,  as  etcrnas  barreiras  dos 
gelos  do  polo.  Alii  era  a  idiia  do  apartamenlo 
humano,  neste  lim  do  globo,  que  me  pertur- 
bava  ate  aos  seios  d'alma ;  e  aqui  o  cspecta- 
culo  mais  grandiose,  mais  deslumbrante,  que 
(i  possivel  concebcr-se,  um  espectaculo  unico 
debaixo  do  ceu. 

Fiquei  alii,  nao  sei  que  tempo,  so,  iramo- 
vel  e  calado.  Cliovia  a  cantaros;  mas  eu  nao 
sentia  nem  a  chuva  que  me  corria  pelos  hom- 
bros,  nem  o  vento  que  se  me  enlranhava  na 
capa,  Nao  ouvia  senao  o  estrondo  da  cascata, 
este  trovan  das  aguas,  como  Ihe  chailiam  os 
indios;  nao  via  senao  estas  largas  ondas,  que 
caliiam  do  alto  de  sua  bacia  no  precipicio. 
E  (juando  em  lini  tornei  a  cntrar  na  hospcda- 
ria, fui  como  por  instincto  asscntarme  diante 
do  logo  ;  nao  distinguia  cousa  alguma  do  que 
se  passava  deantc  de  mini.  Mens  olhos,  e  meu 
pensamento  estavam  lixados  no  Niagara;  toda 
a  tarde  a  estive  vendo,  e  toda  a  uoite  sonhei 
com  ella. 

Na  seguinte  nianha  tornei  la.  Esia  vez, 
foi-me  possivel  ser  senhor  de  mini,  e  contem- 
plar  com  maior  socego  o  que  tanto  me  agi- 
tara  na  vespcra.  Esta  vez,  poderei  dar-vos 
por  Ventura  um  csbofo  lopographico  d'esta 
maraviiha  da  crcacao.  Em  quanto  a  revelar- 
vos  a  sua  bclleza  sublime,  niio! . . .  para  mim 
i'  nm  impossivel! 

0  Niagara  e  formado  pela  massa  d'aguas, 
que  do  lago  Erie,  apcrtando-se  em  um  estrei- 
to  canal,  vera  arrojar-se,  a  30  milhas  de 
distancia,  no  lago  Ontario.  Do  escarpado  ci- 
mo  d'um  plaiuo  de  165  pes  d'altura,  preci- 


273 


pita-se  'num  leito  de  rocha,  por  duas  vastas 
cascatas  scparadas  pela  illia  d'liis,  uma  clia- 
mada  a  cascala  americuna  (anierkan  fall),  a 
outra  a  ferradura.  Este  notnc  6  perfeilamcnlc 
adaplado  a  imagcni  que  reprcsenta.  Quizera- 
llie  outro  niais  poetico. 

A  cascala  aniericana  seria  per  si  so  uni  dos 
bcllos  paineis,  na  siiperliric  do  glolio ;  o  to- 
davia  ninguem  a  considera  senao  conic  um 
phcnomeno  secuiidario,  depois  de  ver-se,  cm 
toda  a  sua  exlensao,  o  circiilo  imnicnso  da 
lerradura. 

Os  americanos,  que  em  geral  dao  pouca 
imporlancia  as  scenas  da  nalurcza,  mas  que 
nao  desprezam  cousa  alguma  do  (jue  possa 
favoreccr  a  sua  industiia,  tern  feito  tudo  para 
tornar  o  ospectaculo  do  Niagara  o  mais  I'acil 
e  atractivo  para  os  viajantes. 

Barcos  a  vapor,  c  caminlios  do  fcrro  vao 
buscal-os  a  Lewislon,  a  BulTallo,  c  os  trazcm 
ate  a  villa.  Carruageus,  e  mocos  estao  posla- 
dos  na  sua  passagom;  elegantes  hospedarias 
sorriem-se  para  ellos  por  suas  nunierosas  ja- 
iiellas.  Do  alto  da  montanlia  desccm  ate  ao 
rio  por  um  declive  rapido,  cm  uma  cadeira 
assente  em  carris,  e  sustentada  por  calalires. 
A  horda  do  rio  espera-os  uma  barca,  e  con- 
dul-os  para  defronle  da  (errudura.  E  este  o 
ponto  de  vista  por  excellencia;  e  alii  que  uma 
pessoa  quer  dcmorar-se  longo  tempo,  e  vollar 
outras  vezes.  De  la  contcmpla-se,  cm  toda  a 
sua  largura,  em  toda  a  sua  elevacao,  a  esquer- 
da,  a  cascata  americana,  e  a  iiha  d'Iris;  e 
em  frente  o  circo  da  cascata  canadense  com 
suas  profundas  aguas,  mais  verdes  que  a 
esmeralda,  e  suas  toalhas  d'espuma  mais  bran- 
cas  que  a  neve. 

0  seu  impulso  e  tao  impetuoso,  que  a  agua, 
caliindo  no  abysmo,  resalta,  c  torna  a  subir 
cm  redemoinlios  de  vapor  acima  da  bacia 
que  a  conlinha.  A  mais  de  ccm  niilhas  de 
distancia,  pode  distinguir-se  esse  redemoinbo 
fluctuante  como  uma  nuvem  de  prata  no  cimo 
da  montanba.  De  dia  esta  poeira  de  perolas 
irradia-se  com  os  raios  do  sol,  e  forma  um 
arco  iris.  Ate  de  noite,  algnmas  vezes,  a 
cinta  vaporosa  toma  cor  com  os  raios  da  lua; 
e,  qual  ponle  luminosa,  a  ponte  da  mytbologia 
Scandinavia,  reluz  nas  sombras. 

De  cada  lado  das  cascatas,  cxtcndem-se 
muralhas  de  rocbas,  e  matas  silvestres,  cujas 
sombrias  cores  augmentam  ainda  mais  o  cllei- 
to  do  retabulo,  que  molduram. 

Posto  que  se  saiba  que  estes  sitios  sao 
habitados,  todavia  experimenla-se  ahi  o  sen- 
timento  d'uma  solidao  majestosa,  d'uma  so- 
lemne  Tbcbaida.  'Neste  profundo  rccinto  fe- 
cbado  pela  aguas ,  coroado  pelos  bos([ucs , 
nao  se  vfiem  outros  seres  animados  alem  dos 
goelanos,  que  giram  por  cima  da  voragem,  e 
cujas  brancas  azas  desapparecem  nas  dobras 
de  sua  branca  espuma.  Se  acreditasse  na  me- 
tempsycose,  (o  que,  por  parenthesis,  me  agra- 


daria  'muito),  pensaria  que  estes  passaros 
cucerrara  almas  de  poetas,  a  (|uem  foi  dado 
0  gozar,  em  sua  nova  existencia,  d'um  dos 
explendores  de  Deus  nos  explendores  du  crca- 
cao. 

Alem  do  rio,  na  costa  do  Canada,  csla  a 
Mcza  de  rocha,  meza  redonda  e  plana,  i|uc 
sae  sobre  o  abysmo  uns  00  pes.  Os  que  nao 
tcmem  ser  atacados  de  vertigcm,  podem  cbe- 
gar-se  ate  a  oria  d'este  promoutorio,  c  d'abi 
mcrgulbar  com  a  vista  no  precipicio,  sibilan- 
le,  mugente,  fervente  como  uma  caldcira. 

D'esta  ponia  maravilhosa  desce-sc  por  um 
cstreito  carreiro,  ate  ao  pe  da  torrente.  Mas 
parece  que  uma  divindade  invejosa  defendo 
a  approximacao  por  meio  das  vagas  que  arre- 
messa  ao  curioso  profano,  que  avanca  para 
0  seu  sanctuario.  Entrctanto  nenhum  perigo 
real  o  ameaca;  e  nao  corre  outro,  seniio  o  de 
voltar  ensopado  ate  aos  ossos.  Arrostando  este 
vulgar  inconveniente,  cliega  debaixo  d'um  dos 
corlinados  da  cascata,  sob  uma  prisao  de  lim- 
pidas  aguas.  E  que  prisao!  Jamais  as  ladas 
e  as  naiades  construiram  outra  igual  para  o 
cavalleiro,  que  retinham  captive  em  seus  pa- 
lacios  de  cristal.  Para  passar  alii  alguns 
instantcs,  para  gozar  o  encanto  fabuloso  de 
uma  tal  aventura ,  nao  e  de  mais  atravessar 
0  oceano,  e  andar  GOO  milhas,  de  wagon 
em  wagon,  no  meio  dos  carrancudos  ameri- 
canos. 

De  volta  ao  cimo  do  rochedo,  encontrei  um 
paizano  canadense  com  uma  rustica  carroca, 
lorrada  de  pelle  de  bufalo,  que  me  conduziu, 
ao  longo  da  margem,  pelo  meio  de  copados  bos- 
ques,  a  uma  legua  de  distancia,  a  ponte  de 
iio  d'arame,  que  foi  lancada  a  outra  das  bor- 
das  do  rio.  Depois  de  ter  admirado  a  obra 
da  natureza,  tinha  que  admirar  tambem  a  do 
genio  bumano.  Nao  conheco  outra  mais  ousa- 
da ;  e  ainda  que,  na  descripcao  d'uma  ]iaiza- 
gem,  as  cifras  me  apparccam  com  hcdionda 
lace,  e  indispensavel,  para  vos  dar  uma  idea 
d'ella,  rccorrer  as  cifras. 

Esta  ponte,  d'um  so  lanco,  tern  ".'iO  pes 
d'cxlensao,  e  eleva-se  230  pes  acima  do  pre- 
cipicio! As  mais  pesadas  carrocas  podem  pas- 
sar por  ella  com  toda  a  seguranca:  e  todavia 
estremece  debaixo  dos  pes  d'um  mcnino,  c 
vacilla,  como  uma  barca,  ao  sopro  do  vento. 
Foi-nie  necessario  segurar  com  anibas  as  niaos 
uma  de  suas  pilastras  para  conlemplar,  do 
meio  d'este  cdilicio  aerio,  a  cascata  distante, 
e  a  voragem  aberta ;  porque  a  carroca,  que 
'neste  memento  a  atravessava,  fazia-a  oscil- 
lar,  como  um  leve  forro,  e  parccia-nie  ir  a 
desabar  no  abismo. 

Do  outro  lado  d'esta  ponte  esta  o  caminho 
do  fcrro  de  Levviston,  o  qual,  intrepido,  passu 
rente  do  cume  da  serra,  a  horda  do  preeii)i- 
cio ;  e,  a  alguns  passos  d'alli,  apparece  uma 
risonha  campina,  ferteis  sulcos,  serrados 
cheios  d'arvores  fructiferas,  novilhas  vagan- 


274 


tes  nos  prados,  casas  cujo  acccio  annuncia  a 
ordem  e  a  abastanra,  uma  doce  sccua  com- 
pleta  de  viila  liaiKiuilla  jmuto  das  terrivois 
scenas,  pelas  quaes  se  acal)a  de  passar,  uma 
verde  aciuarclla  liollandcza  ao  pi'  do  I'ragor 
da  tcmpesladc.  » 

Que  deliciosas  paginas  nao  vein  depois 
d'esla  arrel)aladora  descripcao !  Marmioi-  e 
nao  so  poela,  mas  lustoriador;  e  nenluiui 
I'rantez  podeia  ler  soni  aperto  de  coracao  as 
noticias  tanto  dos  hourosos  I'eitos  de  suas 
arnias  no  Canada  e  ua  Luiziania,  como  do 
vergonlioso  abandono,  em  que  os  deixou  o 
iudolente  e  devasso  goveino  de  Luiz  XV. 

0  divino  cantor  dos  martyres,  d'Atala,  e 
de  Uene,  visitou  tambem  o  Niagara.  As  pou- 
cas  linhas,  que  se  leem  no  lim  da  Alala,  tern 
0  cuulio  da  sua  penna.  Cremos  que  Marniier, 
mais  extenso  e  circumstanciado,  nao  llie  licou 
inferior  no  poetico  da  deseripcao.  0  que  po- 
reni  cspecialnienle  intercssa  ao  pensador,  e  a 
revolucao  immensa  porque  tern  passado  esses 
sitios,  t'ecuudados  pelo  geuio  do  bomem,  ani- 
mados  pcia  sua  induslria.  0  viajante  ja  nao 
precisa  .  como  Cbateaubriand  ,  d'uma  fra- 
gil  escada  I'eita  por  mao  dos  indios,  ou  na 
I'alta  d'clia,  de  se  pendurar  de  rocha  era  ro- 
cha,  arriscaudo-se  como  elle  a  despedacar-se 
na  vorageni.  A  riqueza  e  a  civilisacao,  que 
afugentara  os  indios,  e  as  serpentes  dc  casca- 
vel,  multiplicaram,  em  torno  da  grande  ma- 
raviliua,  os  apuros  da  conimoda  conimunica- 
cao. 

E  nao  lia  nuiitos  annos  que  a  imprcnsa  pe- 
riodica dos  Estados-Unidos,  zombando  da  cre- 
duiidade  buniana,  nos  mentia,  que  o  Niagara 
desaparecera  'num  tremor  de  terra! 

A.  F. 


CARTA  00  8R.  CASTILHO. 

AV.  Redactor.  —  Para  nao  subtra<liir  pa- 
ginas vossas  aos  iraportantes  artigos,  a  que 
Icndes  por  uso  consagral-as,  deixo  de  respon- 
der  na  vossa  Folba  ao  juizo,  que  ahi  publi- 
caslcs  da  leitura  repentina,  assignado  pelo 
comraissario  dos  estudos  na  ilha  da  Madeira, 
0  sr.  Marcclliano  Ribeiro  de  Mendonca.  0 
exame,  a  completa  refutacao  dos  erros  e  fal- 
sidades,  que  recheam  aquelle  notavel  docu- 
niento,  esta  no  Diariodo  Governode  lo,  10, 
20,  21,  22  e  23  do  corrente. 

Para  os  que  interessam  em  iiquidar  a  ver- 
dade  'nestes  assumptos,  de  rauito  mais  fundo 
e  consequencia  do  que  se  representam  a  su- 
peficie,  basta,  que  tenhaes  a  bondade  de 
mandar  inserir  no  vosso  proximo  numero 
estas  poucas  linbas. 

Sou  com  a  devida  consideracao,  illm."  sr. 
Redactor  do  Institnto,  vosso  muito  respeitoso 
e  obrigado  .servo  —  A.  ¥.  Custilho. 
Ljsboa,  '23  de  fevereiro  dc  1836. 


BIBLIOGRAPHIA. 

.\ns  curidsos  da  lioa  litlcratura  classica  de 
Grecia  c  dc  Kiinia,  e  nao  muiios  .ids  srs.  profes- 
snres,  totnamcis  a  lihordade  dc  rccommcndar  as 
cxccllciues,  c  baratissimas  cdiroes  do  classicos 
latiniKS  e  giegos,  com  lircvos  notas  explicativas, 
imldiiadas  em  Paris  pcla  caza  Hachctle  o  C." 

I>isliii(,'uem-sc  cUas,  como  annuneiam,  e  cum- 
prom,  —  pcla  correccao  dos  tcxlos,  —  uniformi- 
dade  d'ortographia,  —  systema  das  aiiolarocs, — 
l)clla  cxccuciio  typographica,  — scguranca  d'in- 
cadoriiacoes,  —  c  modicidade  (quasi  incrivel)  dc 
prccos. 

E  como  sc  isto  nao  fosse  sufficiente,  c  ainda 
diiplicada  a  publicacao,  sahindo  uma  seric  com 
as  aiinotacocs  cm  franccz,  c  outra  com  ellas  em 
latim. 

.4s  ohras  pur  exempio  dc  Virgilio  cnstam 
apcnas  2  fr.,  Tacito  3  fr.,  Sallustio  90  cent., 
Horacio  1  fr.  50  cent. !  Tamanha  e  a  extraccao, 
o  que  qucr  dizer,  tanto  sc  cstuda  'naqiiellc  paiz. 
dassico  da  civilisac,io  c  das  Icttras,  a  lingua  do 
Lacio,  que  os  nossos  pscudo-litteratos  quasi  sc 
lirezam  d'ignorarl 

0  conhccimcnto  d'estas  tao  commodas  cdicoes 
nos  fez  pcnsar  na  snmma  conveniencia,  que  havcria 
em  substiluir  por  ell.-s,  com  maior  cconomia  para 
OS  aUimnos,  os  livros  elcmentarcs  que  sc  dao  nos 
lyccus,  nas  aulas  de  lalinidade,  c  alguns  nas  de 
logica  e  dc  rcthorica.  Sao  cstes  cm  geral  pcssima- 
mentc  impressos,  e  cheios  d'crros  typographicos ; 
c  0  que  mais  e,  cxcluem  do  cnsino  alguns  dos  melho- 
rcs  auctorcs,  dos  quaes  ncm  ao  menos  ahi  se  cncon- 
tram  alguns  cxtractos. 

O  maior,  e  por  ccrto  mui  real  mclhoramento 
da  imprcnsa  da  Univcrsidadc  nao  podc  jamais 
obter  o  resultado,  de  se  poderem  dar  tao  baratas 
as  obras,  ahi  publicadas.  Uepende  isto  da  extcn- 
s.io  do  consumo,  impossivcl  d'allingir,  em  Portugal 
so,  ao  immenso  dc  Franca  e  paizes  estrangeiros. 
Calculando  sobrc  os  prccos  notados  no  mappa 
da  mcsma  imprcnsa  para  os  livros  de  que  fal- 
lamos,  c  0  das  primeiras  e  principacs  obras  das 
collccciies  d'Hachette  c  C.°,  c  manifesto,  que  com 
a  cconomia  d'nm  tcrco  os  alumnos  sc  provcrao 
dc  mclhorcs  e  mais  variados  exemplares  da  mais 
pura  e  gcnuina  litteratura ;  dc  cujas  obras  os 
profcssores  cscolhcriam  a  vontadc  os  melhores 
trcchos,  passando  d'uns  a  outros,  como  entcndes- 
sem  ,  uma  vcz  que  discorrcssem  por  todos ;  e 
que  OS  alumnos,  nos  cxamcs,  houvcsscm  de  ser 
mandados  traduzir  em  qualqucr  d'cllcs,  Livio, 
Sallustio  ,  Tacito  ,  Cicero  ,  Virgilio  ,  Horacio, 
Ovidio,  clc,  c  niio  exclusivamcnte,  como  agora 
somcnte  cm  Livio  c  Virgilio. 

Entregamos  cslas  nossas  lembrancas  a  pruden- 
Ic  rellcxao  d'aquclles  a  qucm  cumprc  tomar  a 
primcira  parte  na  restauracao  dos  bons  estudos. 
Possuimos  cxccllentcs  professorcs;  carcccmos, 
porcm,  de  grandes  mclhoramentos  nos  mclhodos, 
e,  cm  harmonia  com  cstes,  nos  livros  elementares. 
Qualqucr  que  comparar,  por  exempio,  as  gra- 
raalicasdcL'horaond,  Dutrey  etc.,  coma  nossa  tao 
volumosa  e  indigesta,  que  so  por  si  e  sufficiente 
para  dcsgostar  do  cstudo  do  latim,  far-nos-hia  a 
justica  dc  acredilar  que  nao  nos  move  ii  ccnsura 
qualquer  preconccito.  Nao  menos  carecemos  de 
dicciooarios  capazes.  Qua!  ha  ahi  que  possa  mui 


275 


de  longe  comparar-se  com  o  exccUcntissimo  de 
Quicheral  —  Dictionnaire  latin  franfais? 

Se  erramos  em  desejo  de  ver  inelhor  cultivada 
a  lingua  do  Virgilio  ;  se  u  seiilimento  que  expe- 
rimeulamos  pela  comtemplar  lao  csquecida  c 
dcsamparada,  pode  scr  taxadu  de  fossil,  gloria- 
mo-uos  d'isso  niesmo,  porque  fazemos  causa  com 
OS  liUcratos  dos  paizcs  mais  cultus  da  Europa, 
onde  nao  so  o  lalira  ,  mas  o  grego  conliiiuam  a 
merecer  os  mais  profundos  estudos.       A.  F. 


RELACAO 

Dos  individuos  nomeados  para  os  seguintes  logarcs 
d^instruc^ito  pt'ihUca  desde  o  dia  I."  ate  15  de  jnneiro 
corre/ite  cm  vtrtude  de  despachos  do  Conselho  superior 
d^instri/rrao  publtca^  e  decretos  do  (ioverno  cominuni' 
cados  ao  mesino  C.j?isel/iu  no  indicado  periodu. 

INSTRrCt;AU  FItlMARIA.. 

Antonio  ile  Sanipaio  Marinho,  para  professor  terapu- 
rario  da  cadeira  de  Cejiaes,  districto  de  Braira. 

Guilherme  Antonio  da  Costa,  i)ara  dicto  de  Villa 
Verde  dos  Francos,  districto  de  Lisboa. 

Jose  Thendoro  Pacheco,  para  dicto  das  Capellas, 
districto  de  Ponta  Del;;ada. 

Luiz  Nunes  Rudriijues,  para  professor  vitalicio  da 
cadeira  da  Villa  de  Oliveira  de  Frades,  districto  de 
Vizeu.  (decreto  de  26  de  dezembro  ultimo). 

INSTHUC^AO  SECONDARIA. 

Francisco  Martins  d'Andrade,  para  professor  da  ca- 
deira de  Numismatica  da  bibliotheca  nacional  de  Lisboa, 
decreto  de  26  de  dezembro  ultimo. 


Dicto  de  Janeiro  ate  ao  fim. 

INSTROC^AO  PRIMARIA. 

Adriano  Rodri^ues  Pereira,  para  professor  por  tempo 
de  trez  annos  da  cadeira  de  Avelans  de  Caminho,  districto 
d'Aveiro. 

Antonio  Dlas  de  Carvalho,  para  dicto  de  Santa  Comba, 
districto  da  Guarda. 

Francisco  Maximo  de  Souza,  para  dicto  de  Guiaes, 
districto  de  Villa  Real. 

Gregorio  Antonio  da  Silva,  para  dicta  de  Sancta 
Barbara,  districto  d'Anyra. 

Joaquim  Antonio  Ferraz  Fontoura,  para  dicto  de 
Seixal,  districto  de  Lisboa. 

Jose  Maria  de  Carvalhal  Azevedo,  para  dicto  de 
Villa  da  Calhela,  districto  d'Anj^ra. 

Thomaz  Pereira  Luiz,  para  dicto  de  Flamengos,  dis- 
tricto da  Horta. 

Agostinho  Dias  d'Amaral,  para  dicto  de  Pera  de 
Mo^o,  districto  da  Guarda. 

Carlos  Aujfiisto  Pinlo,  para  dicto  de  Moncliique, 
districto  de  Faro. 

Joao  Cardozo  de  Figueiredo,  para  dicto  de  Matta  de 
Lobos,  districto  da  Guarda. 

Jos^  Joaquim  da  Silva,  para  dicto  de  Ribaldeira, 
districto  de  Lisboa. 

Jose  Leocadiod'Oliveira,  para  dicto  deArgea,  distric- 
to de  Santarem. 

Jose  Maria  de  Gouvea  Ozorio,  para  dicto  de  Mus- 
samedes,  districto  de  Viseu. 

Manuel  Antonio  Durao,  para  dicto  de  Urros,  distric- 
to de  Brap:an9a. 

Miguel  Joao  Mestre,  para  dicto  de  Barrancos,  distric- 
to de  Beja. 

Anna  Magna  Moreira,  para  mestra  por  tempo  de  trez 
annos  da  eschola  de  nieninas  de  Guiniaraes. 

Maria  Jose  Pires,  para  dicto  da  Villa  do  Cartaxo. 

Pedro  Baptista  Gon^alves  Macide,  para  professor 
Titalicio  da  cadeira  da  Fregueaia  d'Ajuda  de  Lisboa, 
decreto  de  !S1  de  Janeiro. 


IMSTRUC^AO  SECUNDARIA. 

Ayres  de  Sa  Pereira,  para  professor  vitalicio  da  ca- 
deira de  latira  da  villa  de  Cantanhede,  districto  de 
Coimbra,  decreto  de  15  de  Janeiro. 

\ictorinu  da  Silva  Araujo,  para  professor  vitalicio 
da  l.-"  e  2."  cadeiras  do  lyceu  nacional  de  Leiria,  decreto 
de  '£3  de  Janeiro. 

Dainazio  Jacintho  Fragozo,  para  professor  vitalicio 
da  cadeira  de  grego  do  lyceu  nacional  de  Evora,  decreto 
de  23  de  Janeiro. 

Francisco  Augusto  Metrass,  para  substituto  da  cadeira 
de  Pintura  Historica  da  academia  das  bellas  artes  de 
Lisboa,  decreto  de  15  de  Janeiro. 


Dicto  ate  15  de  fevereiro. 

IMSTKUC^'AO  PRIMARIA 

Joaquim  Manuel  da  Trindade,  para  professor  tempo- 
rario  da  cadeira  de  Belmonte  ,  districto  de  Castello- 
Branco. 

Jose  Lopes  Barbosa,  para  dicto  de  Silvalde,  districto 
d'Aveiro. 

Jost:  Pereira  Lopes,  para  dicto  dc  Sancta  Catharina, 
districto  de  Leiria. 

Severiano  Jose  Tavares,  para  dicto  de  Covilha. 

Antonio  Juse  Capello,  para  dicto  de  Castanheira, 
districto  da  Guarda. 

Jose  Albino  dos  Reis  Sabugal,  para  dicto  de  Bnri)a. 
districto  d'Evora. 

Jose  Antonio  Pegado  d'OIiveira,  para  dicto  de  Alpor- 
tel,  districto  de  Faro. 

Jose  Victorino  de  Souza  Vilella,  para  dicto  de  Caii- 
dedo,  districto  de  Villa-Real 

Alexandre  Jose  d'Almeida,  para  dicto  de  Vidigueira, 
districto  de  Beja. 

Manuel  Joao  d'OIiveira,  para  dicto  de  Marrancos, 
districto  de  Braga. 

INSTRUC^AO  SECTJNDARIA 

Nuno  Jose  da  Cruz,  para  professor  vitalicio  da  cadeira 
de  grammatica  portugueza  e  latina  do  lyceu  nacional  de 
Coimbra.  decreto  de  29  de  Janeiro  ultimo. 

Joao  Pinto  da  Silva,  para  continuo  do  Ijceu  nacional 
do  Porto,  decreto  de  30  de  Janeiro  ultimo. 


MEhiORIAS  DO  INSTITUTO  DE  COIiYIBRA. 


f'endein-se  no  gabinete  do  Iiistituto^  R.  Largo  —  un  loja 
de  Mesquifa^  R.  das  Covas  —  na  Ivja  de  Posseiiiis^  R, 
da  Cal^ada,  as  seguintes: 

Apontamentos  de  trigonometria  spherica  por  Rt»driiro 
de  Sousa  Pinto,  lente  de  malhematica. 

Apontamentos  d'optica  pelo  uiesmo  auclor. 

i\Iemoria  sobre  integraes  deOnidos  ]»ur  Rufino  tiuona 
Ozoriu.  lente  de  mathematica. 

Ajtontamentos  sobre  a  theoria  das  parallelas  jtrlu 
mesmo  auctor. 

Fragmento  da  traduc^ao  do  4."  livro  da  Eneida  jior 
Manuel  Mathias  Vieira  Fiallio  de  Mendoiu;a. 

Estudos  philologicos:  glossario  das  palavras  e  phrase.« 
da  lingua  franceza,  que  por  descuido,  ignorancia.  ou  ne- 
cessidade  se  tem  introduzido  na  locui^ao  portugueza  nio- 
derna,  com  o  jiiizo  criticu  das  que  sao  adujita\eis  'nella 
pelo  cardial  D.  Francisco  de  S.  Luiz,  por  Krancij^co 
Antonio  de  Gusmao. 

Apontamentos  biographicos  sobre  o  nosso  insigne  jioeta 
Luiz  de  Camoes,  por  Miguel  Ribeiro  de  Vasconcellos. 

Memoria  historica  e  critica.  sobre  a  revolu^ao  que  em 
1246  tirou  a  corda  a  D.  Sancho  IL  pelo  mesmo  auctor. 


276 


OBSERVACOES  METEOROLOGICAS  ,  FEITAS  i\0  GABI.XETE   DE  PHYSICA 
DA  UiMVEKSlDADE   DE  COIMBllA. 


Anno  (le 
1335 

» 

S  i-.2 

file 

PressISo  Htmosphorica   ao  meio  liin 


Kslfldo  Ii}i,'roinelrico  da 
atnio.<i|)tiera  au  iiieiodia 

a,    3 

Is 

Iisto/fo  rft)  rru  r  iIq 
Uiiijio  ao  meio  dia. 

IMez  lie 

IJeiem- 

bro 

Allara    Ijaio- 
nielrica   B  0" 
da  cicala  CCD-. 
lijiaila. 

Tcnsao  do 
rajior  aquoso 
coulidoiio  ar 

Press.Ho  do 
ar   secco 

r.rau  d'Lurai. 
dadc     do    ar, 
ri'iireicnlando 
}ior  1  o  esla. 
do  de  taliira- 
tio. 

Quanlid.    dc 
Tajinr  conlido 
cm  um  niclro 

Bias 

(i  rails 
cenliu^ 

Millimetros 

Millinietrnt 

Milliiiir'lro..i 

Graimuus 

1 

11 

748,62i! 

8,144 

740,471) 

0,832 

8,316 

s. 

NnbUtlu,  Bom  leinpo. 

2 

10 

746,816 

5,607 

741,209 

0,612 

5,745 

o. 

O  mfsmo.    0  mtsmo. 

3 

9 

744,705 

5,822 

738,883 

0,679 

5,987 

o. 

CI.  c  limp.  Oraesmo. 

4 

H 

753,499 

4,666 

748,633 

0,5112 

4,815 

E. 

O  niesmo.    O  mesmo. 

5 

8 

752,995 

5,035 

747,960 

0,628 

5,190 

s. 

O  mesmu.    O  mesmo, 

6 

7 

752,234 

5.919 

746,335 

0.790 

6,130 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

7 

7 

745,912 

6,069 

739,843 

0,810 

6.286 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

8 

6 

746033 

4,633 

741,400 

0,662 

4,016 

s. 

O  mesmo.    O  mesmo. 

9 

6 

746,287 

3,667 

742,620 

0,524 

3,011 

E. 

O  mesmo.   O  mesmo. 

10 

6 

744,764 

4,283 

740,481 

0,618 

4,452 

E. 

O  mesmo.    O  lucsmo. 

11 

6 

740,958 

5,130 

735,828 

0,733 

5,332 

S. 

Enciihert.  T.  rhiivoso. 

12 

6 

746,033 

4,S83 

741,750 

0,612 

4,432 

E. 

Nubhuio,  Bom  tempo. 

13 

6 

745,525 

5,366 

740,159 

0,771 

5,577 

S. 

O  meamo.    O  raeemo. 

14 

6 

753,645 

5,668 

747,977 

0,810 

5,891 

E. 

CI.  e  limp.  O  mesmo. 

15 

7 

753,828 

5,919 

747,909 

0,790 

6,130 

E. 

O  mrsmo.  O  mesmo. 

16 

9,5 

754,485 

7,181 

747,304 

0,810 

7,371 

S. 

Nublado.    O    mesmo. 

1       '^ 

10,3 

752,587 

9,057 

743,530 

0,956 

9,264 

s. 

Eiicubert.  T.  cliuvoso. 

1       18 

11 

751,766 

9,577 

742,189 

0,978 

9,779 

s. 

0  mesmo.  O  mesmo. 

1       '^ 

10,5 

748,023 

8,640 

739,3113 

0,912 

8,033 

s. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

1       -° 

10 

746,816 

8,560 

738,2.'i6 

0,934 

8,771 

s. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

1       '^^ 

10 

747,030 

8,560 

739,270 

0,934 

8,771 

s. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

2 '2 

10 

751,888 

8,389 

743,499 

0,915 

8,590 

s. 

O  ai.-smo.  O  mesmo. 

23 

10,5 

759,434 

9,266 

750,161) 

0.978 

9,478 

s. 

O  mesmo.  O  mesmo. 

24 

10 

753,156 

8,5i6 

744,630 

0,973 

8,737 

s. 

O  mesmo.  O  raesrao. 

25 

11 

751,766 

9,146 

7-42,620 

0,934 

9,339 

s. 

O  incsmo.  O   mesmo. 

26 

12 

750,376 

10,342 

740,034 

0,989 

10,323 

s. 

O  nie-smo     0  mesmo. 

27 

12 

751,644 

10,342 

741,303 

0,989 

10,523 

s. 

O   mesmo.  O  mesmo. 

28 

11 

753,948 

9,361 

744,587 

0,936 

9,539 

s. 

O  mesmo.   O  mesmo. 

29 

11 

1     758,104 

9,146 

748,958 

0,934 

9,339 

N. 

Nubliidu.  Bom  tempo. 

30 

10 

1     760,256 

8,365 

751,891 

0,913 

8,372 

N. 

O  mesmo.   O  mesmo. 

31 

11 

1     753,033 

9,146 

743,887 

0,934 

9,339 

NO. 

Encuberl.  T.  chuvoso. 

meilia   ) 
^\o  luez  S 

9° 

1    750,542 

0,822 

N 

o 

1 

T 

Maxim. 
1  Minima 

emperaturn 

absol.      12° 
aLsol.       6" 

Piesiiio  t 

Max.    :ibs 
Min.  abso 

tmospfterira 

ol.   760,236 
lit.   740,958 

(iraii  d'hii 

Maximo  . 
.Mininio  . 

midatle  do  or 

.    .    .   0,989 
.    .    .   0,524 

fcntoa  dominant 
S.  e  E. 

\± 

1  Max.   \ 

aria^lo.      6° 

Max.  exci 

rs.      19,298 

Maxima  v 

ariai;.   0,405 

Coimbra.  1.*"  de  Janeiro  de  1856. 


Mathiaa  de  Carvalho  de   f'asconccllosy   Lente  Subsliluto  dePhjsica. 


€>  Jn^titttta^ 


J  ,i,pj.. 


JORINAL    SCIENTIFICO     E     LITTERARIO. 


RELATORIO 

Do  commissario  dos  estodoM  do  distri- 
cto  administratjvo  dc  IiiNboa<  eui 
1 1  dc  Janeiro  de  I  S5«. 

Continuado  de  paj.  266. 

Passou-se  a  applicacao  das  formulas  a  con- 
jugacao  dos  vcrhos  ,  e  enlao  acabou  de  ma- 
nifestar-sc  o  (lue  para  bem  poucos  poderia 
ainda  admitlir  duvida,  isto  e,  que  nao  pode 
ensinar-se  o  que  se  ignora.  0  examinando 
apresentou  unia  formula  para  os  verbos  cm 
o,  e  fez  applicacao  as  terminacoes  da  voz  ou 
differenca  activa  d'alguns  tempos  do  verbo 
Tm ;  porem  tornou-se  cvidente  que  ignorava 
do  modo  mais  complelo  as  varias  classes  dos 
verbos  banjtonos,  cireumflexos,  cm  (lu,  e  con- 
tractos ;  e  que  nenhuma  idea  formava  das 
di/ferencas  d'esles  verbos  ,  pois  que  ,  mencio- 
nando  a  formula  da  activa,  nao  se  fez  cargo 
da  passiva,  e  menos  ainda  da  media,  a  qua! 
nem  se  quer  fez  allusao. 

Nao  irei  mais  longe,  que  nao  e  necessario; 
e  so  accrescentarei,  que,  se  o  examinando 
tivesse  algum  conhecimento  da  lingua  grega, 
.  nao  tentaria  applicar  ao  seu  estudo  as  formu- 
las mnemonicas.  Estas  siio  bascadas  em  ana- 
lgias phonicas  (permilta-so-me  o  grecismo); 
porem  taes  formulas,  serapre  difficultosas,  tor- 
nam-se  impossiveis  cm  relacao  a  lingua  grega, 
que  tern  muitas  terminacoes  extensas,  e  muitos 
sons  sem  corrcspondencia  na  lingua  portu- 
gueza.  Alcm  de  ([ue.  como  e  sabido,  nao  basta 
conheccr  a  terminarSo,  mas  tambcm,  dc  mais 
a  mais,  e  prcciso  cstar  ao  alcancc  da  fignra- 
tiva  em  todos  os  tempos  para  podcr  conjugar 
OS  verbos  com  exactidao  e  seguranca;  e  como 
mnemonisal-as?  Omitto  as  difficuldades  nas- 
cidas  da  varicdade  dos  dialeclos,  e  outras, 
todas  inaccessiveis  as  formulas  mnemonicas  ;  e 
ponho  ponto  aqui  as  observacoes  relativas  a 
esta  parte  do  exame. 

Nao  dirsi  nuiilo  pelo  que  respeita  as  provas 
apresentadas  cm  relacao  a  lingua  franccza  : 
e  digo  cm  relacao  a  lingua  franceza,  porqiie, 
supposto  0  officio  mencione  a  lingua  ingleza, 
0  examinando  affirmou  ser  engano,  pois  que 
ignorava  esta  lingua,  e  nao  Ihe  fizera  applica- 
cao das  formulas  mnemonicas. 

Vol..  lY.  MarsoIB 


0  examinando  liraiton-se  ii  indicacao  c  ap- 
plicacao d'algumas  formulas  as  conjugacoes 
dos  verbos  regularcs  ;  sem  se  occupar  das 
prinu'iras  regras  da  [ormacan  dos  pluraes  nos 
nomes  ;  do  feminino  nos  adjectivos  ;  do  uso 
dos  artigos ;  das  anomalias  dc  cada  uma 
d'cstas  regras  :  em  fini  nao  se  fez  cargo  do 
que  pertence  aos  conhecimcntos  rudimcntaes, 
por  Gude  e  indispensavel ,  que,  para  progre- 
dircm  com  aproveitamento,  principiem  a  ser 
iniciados  os  ([ue  se  dao  ao  estudo  das  linguas 
vivas. 

Alcm  disto ,  as  formulas  do  examinando 
sao  insufBcientissimas  para  sc  obter  o  lim  per 
elle  indicado  ;  porque  sc  refcrcm  somente  a 
alguns  tempos  dos  verbos  regulares ,  e  de 
ncnbuma  sorte  aos  irrcgulares ;  sendo  toda- 
via  ccrto  ,  como  se  sabe  ,  que  nascem  d'estes 
grandes  difficuldades,  'nesta  c  em  todas  as 
linguas,  ate  para  os  proprios  nacionaes. 

E  verdadc  que  o  examinando  offcrcceu 
uma  cspecie  de  quadro  mncmonico  para  se 
aprenderera  os  gencros  dos  substantivos  com- 
muns  ;  porem  sao  tantas  as  exccpeocs  (e  nao 
foram  tidas  por  clle  cm  nenhuma  conta),  e 
OS  valores  dados  as  terminacoes  dos  vocabulos 
francczes,  comparado?  com  os  equivalcntes 
da  lingua  portugueza,  sao  tao  oppostos  a  recta 
pronunciacao,  qne,  longe  dc  ser  util,  seria 
muito  nociva  ao  ensino  d'esta  lingua  a  adop- 
cao  de  lal  melliodo. 

Sobre  cstas  brevissimas  observacoes  espe- 
ciaes,  tenlio  que  nada  mais  e  prcciso  notar, 
porque  para  aqui  tem  cabal  applicacao  tudo 
quanto  tica  observado  relativamente  ao  uso 
das  formulas  mnemonicas  no  ensino  da  lingua 
latina. 

Resulta  do  exposto  que  nem  o  examinando 
possue  nenhuma  das  linguas,  a'que  prctendeu 
applicar  as  suas  formulas  mnemonicas ;  nem 
e  possivel,  por  via  d'ellas,  aprcnder  nenhuma 
lingua,  por  mais  sabida  que  seja  dc  (juem 
pretender  dar-lhes  similhante  applicacao. 

Vejamos  agora  se  o  examinando  no  ensino 
mncmonico  da  geographia  ,  e  da  botanica  foi 
mais  feliz,  satisfazendo  d'algum  modo  ao  que 
se  obrigara. 

Em  quanto  a  geographia,  e  a  historia  espe- 

rava  eu,   e  esperavam  todos  os  membros  do 

jury,  que  o  examinando  mostrasse  que  'nestas 

disciplinas  pode  ser,  ate  certo  ponto,  d'alguma 

—1856.  NcM.  24. 


278 


^^^ 


ulilidade  a  applicafao  das  formulas  mnemo- 
nicas.  Nao  succedeu  assim.  E  porque  ,  para 
que  assim  acontera,  e  precise  ter  d'ellas  cabal 
conhecimento. 

Eis-ahi ,  resumida  mas  fielmeiitc  ,  como  o 
examinando  coraprehende  a  sua  imporlancia, 
0  modo  de  a  estudar,  c  por  conseguintu  o 
como  convcm  appiicar-ilie  as  formulas  mne- 
monicas.  Seguiulo  o  examinando;  u  0  objeclo 
sobre  todos  diiliculloso  e  importanlc  da  geo- 
graphia  ,  e  marcar  a  posicao  dos  iogares  ;  e 
portanto  tinha  asscntado  (o  examinando)  que 
devia  empregar  as  suas  formulas  do  modo 
que  sc  houvessem  de  decorar  facilmeute  noraes 
de  cidades,  promontories,  rios,  etc.,  com  as 
suas  respectivas  latitudes  e  longitudes  ;  por 
quanto  ,  conhecidas  estas  ,  logo  no  mappa  se 
encontra  o  logar  ,  que  se  procura  ;  sabc-se  a 
zona  ,  a  que  pertence  etc.  E  islo  o  essencial 
em  geographia  ,  a  qual  vai  a  pouco  mais  ; 
porque  a  parte  matliematica  aprende-se  (na 
opiniao  do  examinando!)  em  24  horas,  ten- 
do-se  alguns  conhccimentos  de  geometria  » ! ! 

Extractei  coA  escrupulo  a  exposicao  do 
examinando  ,  e  tenho  como  desnecessario 
observar  que  nao  carece  de  commentario. 
Quem  nao  ve  a  inutilidade  da  geograpliia 
estudada  mnemonicamente  conforme  as  ideas 
do  examinando  ?  E  improbo  o  trabalho  de 
tomar  de  cor  as  latitudes  e  longitudes  de 
grande  numero  de  Iogares  ;  mas ,  depois  de 
vencido,  iica-se  na  incerteza,  e  nao  se  obtem 
assignar  de  prompto  a  posijao  do  logar , 
que  pretende  achar-se,  por  isso  que  variam 
as  longitudes  conforme  ao  meridiano  adoptado. 
E,  alem  d'isto,  como  salvar  as  imperfeicoes, 
e  a  discordancia  dos  diccionarios,  e  dos  map- 
pas  ?  Em  quanto  porem  a  aflirmar  o  exami- 
nando, que  0  principal  objecto  da  geographia 
e  marcar  as  longitudes  e  as  latitudes,  des- 
presada  inteiramente  a  parte  politica  e  com- 
mercial ;  e  que  se  aprende  em  24  horas  a 
geographia  mathematica,  inclnindo  a  solucao 
dos  respectivos  problemas,  e  nao  querer  deixar 
duvidoso  0  juizo,  que  desde  logo  devera  for- 
mar-se ,  de  que  verdadeiramente  ignora  a 
geographia. 

A  liistoria  ninguem  dira  que  se  comprehen- 
de  'num  catalogo  de  nomes  e  de  dalas,  mais 
ou  nienos  extenso  ;  porque  as  datas  e  os  nomes 
estao  ligados  a  factos ,  e  sem  cstes  nao  pode 
haver  signilicacao  historica.  Entretanto  pelas 
formulas  do  examinando  nao  se  pode  conse- 
guir  senao  somente  saber  nomes  e  datas,  e 
por  tanto  nao  se  pode  aprender  historia. 
Dizer  mais  sobre  este  assumpto,  seria  desper- 
dicar  o  tempo. 

Vamos  a  bolanica.  0  examinando  faz  con- 
sistir  principalmente  o  estudo  da  botanica  em 
saber-se  de  cor  nma  classilicacao  inteira,  com 
OS  caracteres  geraes  de  cada  familia  :  apresen- 
ta,  por  exemplo,  um  discipulo  exercitado  a 
repetir  os  nomes  de  194  familias,  declarando 


a  que  classe  c  secjao  perlcnecm  ;  mas  esse 
discipulo  nao  diz,  nem  sabe  quaes  sao  as 
partes  de  que  se  compOe  uma  planta  ,  quaes 
as  diversidades  de  cada  uma  d'essas  paries  , 
como  se  opera  o  sen  successive  desinvolvi- 
menlo,  a  que  funccoes  sao  deslinadas,  quando 
c  come  as  exercem  etc.  etc. 

Um  adulto  consumiria  mezcs  d'estudo  abor- 
recido  para  aprender  de  cor,  mediante  o  me- 
thodo  mncmonico,  uma  tal  classilicacao  ;  a 
qual  tedavia,  apesar  da  Icnacidade  da  rae- 
moria  das  criancas,  estas  nao  aprcndem  sem 
muito  tempo  e  trabalho.  E  que  maier  vanta- 
gcm  tiraria  esse  adulto?  Quando  s'cstuda  com 
seriedade  algum  ramo  das  sciencias  naturaes, 
por  mulliplicados  que  sejam  os  sens  indivi- 
duos,  a  medida  que  s'invesliga  a  natureza  e 
propriedades  d'estes ,  vao-se  fixando  na  me- 
meria  os  nomes,  que  es  designam  por  maneira 
que,  apresentado  o  indiyiduo,  occorre  logo 
necessariamente  o  nome.  E  claro  pois  que  nao 
so  nao  vem  proveito  de  sobrecarregar  a  me- 
moria  com  grande  numero  de  palavras,  a  que 
nao  se  liga  nenhuma  idea,  mas  tambem  que, 
posta  em  cxercicio  exclusive  a  memoria,  sem 
intervencao  do  raciocinio,  dar-se-ia  azo  as 
pessoas  menos  reflectidas  de  sc  contentarem 
de  mcros  nomes,  como  se  podessem  estes  sup- 
prir  a  sciencia,  da  qua!  nao  ficariam  pos- 
suindo  nem  se  quer  os  rudimentos.  Pode  por 
Ventura  conseguir-se,  por  via  das  formulas 
mnemonicas,  o  conhecimento  apparatoso  de 
variadas  applicacoes,  sem  o  qual  com  tudo 
existiram  ,  e  existem  excellentes  botanicos, 
geographos  e  astronomos ;  porem  nada  mais 
pode  conseguir-se:  sendo  fora  de  duvida  que, 
so  com  aquelle  vao  conhecimento,  a  ninguem 
se  podem  conceder  estas  denominacocs,  como 
succede  ao  examinando  e  aos  sens  discipulos. 

A  respeito  da  astronomia,  a  qual  o  exami- 
nando tambem  diz  ter  feito  applicacao  das 
suas  formulas ,  e  em  que  se  tocou  incidente- 
mente,  so  direi  que  pode  elle,  e  podem  os 
sens  dis<:ipulos  repetir  os  nomes  de  muitas 
constellafOes,  e  contar  o  numero  das  suas 
estrellas  ;  mas  nao  podem  ir  avante  ;  e  isto 
de  certo  esta  muito  longe  de  poder  chamar-se 
astronomia.  0  defeito  vem  da  origem,  e  e 
inevitavel;  porque,  segundo  desde  o  principio 
observei,  na  razao  da  existcncia  e  mechanismo 
das  formulas  ,  esta  a  de  que ,  por  ellas  ,  nao 
podem  senao  repetir-se  materialmen  to  certos 
sons,  sem  comprehender-lhes  o  valor,  nem 
por  conseguinte ,  saber  dar-lhes  propria  ap- 
plicayao.  Talvez  e  isto  que  o  examinando, 
movido  da  evidencia  confessou,  asseverando: 
« Que  0  sen  methodo  niio  se  applicava  as 
theorias ,  e  que  para  cUas  nao  tinha  formu- 
las».  E  verdade  que  accrescentou:  « Que 
essas  theorias  pouco  valem,  e  com  duos  ou 
tres  licoes  se  explicam  pelo  methodo  ordina- 
rio »  :  porem  tenho  para  mim  que  o  exami- 
nando, obrigadopelaconsciencia,  quiz,  'neslas 


279 


ultimas  palavras,  dar  justo  fundamenlo,  ate 
aos  raais  desraaliciados,  para  concluirem,  sem 
tenior  d'errar,  que  o  seu  mctliodo  csta  jul- 
gado. 

Tenho  concluido,  senhor,  e  do  exposto  V. 
M.  pode  inferir,  ou  cm  que  conta  deve  ser 
tida  a  assercao  do  examinando,  mencionada 
no  citado  officio  de  18  de  junho,  de  que  a 
utilidade  do  seu  mctliodo  e  formulas  esta  pro- 
iiuiifiada,  c  altestada  por  pessoas  de  reconhe- 
cido  saber,  ou  como  podera  ser  avaliada  a 
pioticicncia  litteraria  e  scientifica  d'essas  al- 
ludidas  pessoas.  Entretanto  e  de  razao  adver- 
tir,  que  mera  condescendencia  leva  algumas 
vezes  homens  superiores  a  serem  indulgentes 
em  demasia,  sem  preverem  o  abuso  que  se 
fara  de  palavras  benevoias,  que  profcridas  ou 
escriptas  sera  intencao,  ou  com  intencao  muito 
diversa,  nao  podem  ser  tomadas,  sem  desaire 
seu,  com  a  que  Ibes  liga  immodestamente  a 
vaidade. 

Keraatarei  declarando  ser  minha  opiniao  e 
do  jury  unanime  comigo  ,  que  nao  deve  ser 
adoptado  nas  escholas  piiblicas  o  processo  e 
formulas  mnemonicas,  enipregadas  por  Antonio 
Pcreira  Ferrea  Aragao.  Y.  M.  mandara  o  que 
for  servido. 

Deos  guarde  a  Y.  M.  Lyceu  nacional  de 
Lisboa,  11  de  Janeiro  de  1850.  — Reitor,  o 
conselheiro  D.  Jose  Maria  d' Almeida  e  Araiijo 
Corr^a  de  Lacerda. 


iNSTRUcgiio  primaria. 

Besposta  no  sr.  A.  F.  de  Catttilho,  ftcer- 
ra  do  niotbodo  portognez,  pela  Asso- 
ciaruo  dos  professores  do  reino  c 
ilbat), 

Julgamos  d'interesse  publico  o  conheci- 
raento  do  volo  da  Associacao  dos  professores, 
inslallada  na  capital  acerca  do  merecimento 
do  novo  methodo  de  ensino  em  instruccao 
primaria  denominado  —  methodo  portuguez. 

A  competencia  dos  juizes,  o  couhecimento 
practice  dos  resultados  do  methodo  no  ensino 
por  espaco  de  mais  cinco  annos,  a  observa- 
cao  pessoal  do  processo  na  practica  do  me- 
thodo, exercida  pelo  proprio  auctor  d'elle,  a 
singeleza  e  naturalidade,  que  sobresaem  na 
resposta  escripta,  abonam  a  imparcialidade 
de  seus  auctores,  dao  suprema  auctoridade  a 
sua  voz,  e  resolvem  uma  qucstao  enfadonha, 
de  que  teni  vindo  grandes  males  a  instruc- 
cao mais  necessaria. 

Prenotacao. 

Yamos  publicar  o  officio  dirigido  pelo  ex."" 
conselheiro  A.  Feliciano  de  Castilbo  a  Asso- 
ciacao dos  professores,  afim  de  os  consultar 


acOrca  de  varies  quesitos,  em  cuja  solucao  sc 
comprehende  tudo  que  de  mais  importante 
rcspeita  ao  methodo,  que  primeiro  seu  A. 
chamou  de  leitura  repenlina,  e  ao  depois  por- 
tui/urz.  A  razao  d'osta  publicacao  e  princi- 
palnicnte  o  desejo  de  satisfazer  a  certa  an- 
xiedade  que  manifestou  'grande  numero  de 
pessoas,  que  se  interessam  sinceramenlc  pela 
instruccao  primaria;  e  em  segundo  logar, 
destniir  a  falsa  opiniao  que  alguem  adrede 
ba  prctendido  crear,  de  que  os  professores 
d'inslruecao  primaria  da  capital  carecem  da 
necessaria  aptidao,  e  desconfiam  tanto  de  si 
e  dajusta  causa  que  sustentam,  que  se  veera 
na  neccssidade  de  soccorrer-se  a  injurias  e 
doestos,  em  vez  de  empregar,  com  a  pruden- 
cia  e  decoro  proprio  das  funccoes  tao  graves 
do  raagisterio  e  educacao  da  priraeira  moci- 
dade,  as  armas  do  raciocinio. 

A  qucstao  esta  tractada  pelos  merecimentos 
da  ])ropria  qucstao:  a  razao  e  a  experiencia 
sao  OS  promptuarios,  a  que  unicamente  os 
professores  houveram  rccurso:  a  verdade  esta 
pois  com  elles.  A  verdade  triumphara. 

Srs.  Professores.  —  0  encargo,  que  a  lei  e 
0  governo  me  impozeram,  de  propagar  o  en- 
sino priraario  pelo  methodo  portuguez,  obriga- 
me,  assim  como  a  propria  consciencia,  a  em- 
pregar todos  OS  meios  directos  e  indirectos, 
conduccntes  a  esse  fim.  De  todos  os  imagi- 
naveis  nenhum  mais  proprio,  pela  sua  effica- 
cia,  do  que  a  publica  manifestacao  do  juizo 
dos  homens  competentes  na  materia;  e  esses 
sois  vbs,  inquestionavelmente,  srs.  Professores 
associados  na  capital.  Rogo-vos  pois,  em  no- 
me  do  melhor  servico  de  el-rei  e  do  reino, 
pelos  interesses  grandes  da  civilisacao,  com- 
prehendidos  na  instrucfao  primaria,  para 
realce  da  vossa,  ainda  nao  bem  avaliada  pro- 
fissao,  e  para  credito  mesmo  dos  vossos  no- 
raes,  deputeis,  desde  ja,  do  vosso  gremio, 
uraa  commissao,  escolhida  e  numerosa,  para 
examinar  e  comparar,  nos  seus  trabalhos,  c 
nos  seus  productos,  as  escholas  do  methodo 
portuguez  e  as  do  anterior,  a  lira  de  que, 
sobre  essa  base  positiva,  e  com  os  mais  co- 
nhecimentos,  queja  por  ventura  hajaes  adqui- 
rido,  ou  poderdes  ainda  adquirir,  no  assum- 
pto,  formuleis,  sera  contemplacoes,  a  vossa 
sentenca  honrada  e  imparcial,  veneranda  e 
inappellavel,  segundo  creio. 

Permitti-me  srs.  professores,  suscitar-vos 
aqui  alguns  dos  quesitos,  sobre  que  me  pare- 
ce  indispensavel  que  a  vossa  commissao  par- 
ticularise, muito  attentamente,  o  seu  exame 
e  juizo: 

1.°  Qual  dos  dous  ensinos  e  mais  attraetivo"? 

2.°  Qual  se  perfaz  em  raenos  tempo? 

3.°  Qual  da  fructo  mais  abundante  e  me- 
lhor? 

4."  Qual  dos  dous  combina,  mais  efficaz- 
mente,  a  correccao  da  pronuncia  e  a  refor- 


280 


ma  da  teriuinologia  barbara  da  plebe?  o  ler 
expedilo,  cntoado  o  intelligeiUe;  e  o  escrever 
legivel,  correilo  o  ponluado? 

5."  Qual  dos  dous  sc  accoinraoda  luelhor 
iis  exigencias  pliysicas  e  inslinclivas  da  pue- 
ricia,  ii  sua  natural  iPiideucia  para  o  movi- 
incnto,  para  o  canlo,  para  o  rillinio,  para  as 
\isualidadcs  e  imageus,  para  as  narraeOes 
Claras  e  amenas,  para  as  mueniouisajOes  siu- 
gelas  e  ellicazes? 

()."  Qual  dos  dous  nierece  a  palma,  coiisi- 
derado  sob  o  poiilo  de  vista  moral:  qual  em- 
prega  meuos  rigor  c  mais  amor?  (Jual  alVol- 
rda,  em  raaior  grau,  os  discipulos  ao  mestre, 
0  inostre  aos  discipulos,  c  todos  ao  traballio? 
(|ual  dt've  doi\ar  nos  aninios  da  niocidade 
maior  tendencia,  ou  maior  repugnaucia  para 
OS  livros,  e  para  os  estudos  subsi'i[uciUes? 

7.°  Qual  dos  dous  emprcga  verdadeirameii- 
le  0  modo  simultaneo,  era  lodo  o  rigor  do 
tcrnio?  e  por  lonseguinte,  qual  dos  dous  pro- 
mette  melbor  sal'ra  para  a  cultura  popular  em 
grande?  se  as  priuieiras  impressoes  exerccm 
algum  iufluxo  ao  longo  da  vida,  qual,  pela 
mauifesta  logica  e  patenle  cncadeacao  dos 
sens  processos,  educa  raclbor  os  espiritos  no- 
vels, para  que  depois  nas  sciencias,  nas  artos 
e  no  proprio  regimen  do  viver  practico,  dis- 
corram  com  mais  acerto;  c  nao  deem,  neiu 
acceitem  palavras  por  ideas,  e  nuvens  por 
castellos? 

8.°  Em  qual  dos  dous  sc  poderao  enxertar, 
com  maior  probabilidade  de  bom  e\ito,  os 
outros  ramos  do  priraario  ensino,  que  o  esla- 
do  tern  razao  para  espcrar  das  escholas,  alem 
do  ler,  escrever  e  contar,  a  saber:  gramma- 
tica  analytica,  grammatica  do  entcndimento, 
e  nao  da  memoria;  logica  practica;  rheto- 
rica  usual;  dedaraacao  elegante;  nocoes,  mas 
nocoes  raciocinadas  e  intelligivcis,  de  religiao 
e  de  civilidade,  de  bygiene  particular,  de 
gymnastica;  tiuturas  iuiciaes  de  hisloria,  e 
antegostos,  pelo  menos,  dc  encyclopedismo? 

9.°  Qual  dos  dous  allianca  mais  policia, 
attencao  e  decencia  as  escbolas? 

10.°  Finalmonte,  em  qual  dos  dous  se  aper- 
feijoara  melbor  e  crescera  mais  o  professor 
primario  aos  olbos  dos  sous  aluninos,  no 
respeito  das  populacoes,  na  estima  da  sua 
propria  consciencia,  e  no  juizo  da  providen- 
cia,  cujo  e  delegado  sobre  a  terra? 

Srs.  professorcs,  para  que  estes  quesitos, 
e  OS  mais  que  por  venlura  bajaes  de  fazer, 
possam  ser  respondidos  com  a  sisuda  gravi- 
dade,  que  tao  momentosa  questao  nos  esia 
pedindo  a  todos  quantos  sonios,  releva,  que 
as  invetigacoes  da  commissao,  honrada  com 
a  vossa  escolba,  recaiam  para  o  melhodo  por- 
turjuez  em  escbolas,  em  (|ue  este  se  professe 
genuinamenle;  e  nao  era  escbolas,  onde,  ou 
0  influxo  de  causas  estranhas,  ou  a  impericia 
do  ensinante,  bajam  abastardado  a  pureza  da 
doutrina.   Para  isso  lendes,  quasi  as  vossas 


portas,  a  eschola  do  Asylo  da  Infancia  des- 
valida  da  rua  dos  Calafates.  Para  que  e  citar 
outras,  se  o  que  n'uma  se  consegue,  evidente 
e  que  em  todas  se  pode  egualniente  fazer  e 
conseguir?  cabendo  porem  advertir,  que  'nesta 
mesma  eschola  ([uc  vos  aponto,  e  que  a  ne- 
nbuma  outra  cede  vantagem,  os  resultados 
que  se  obteem,  com  sereni  absolutameute  mui 
notaveis,  pouco  sao,  ou  nada,  comparados 
com  0  que  seriani,  se  nas  aulas  dos  asylos, 
como  em  todas  as  do  rcino,  nao  bouvessc  o 
deploravel  e  tcrribilissimo  vicio  organico  e 
fundamental  dc  continuas  missocs  d'alumnos 
em  todos  osdias  do  anno;  o  que  faz  das  nos- 
sas  classes  primarias  outros  tantos  teares  tie 
Penelope,  ou  cousa  aiuda  maisabsurda,  e  em 
todo  0  caso,  niuito  menos  dcsculpavel. 

Por  ultimo,  OS  trez  opusculos,  que  lenho  a 
bonra  de  vos  cnviar,  se  a  commissao  os  con- 
sultar,  antes  do  delicado  exanie  (|uc  solicito, 
alginua  luz  poderao  por  vontura  dar-lhe  para 
melbor  se  dirigir  'nesse  trabalbo  que,  por  novo, 
nao  deixara  de  Ihe  apresentar  dilliculdades. 
Sao  estes  opusculos:  Direclorio  para  os  smho- 
res  professores  das  escholas  primarias  pelo 
Methodo  Porlngiiez;  Ajiiste  de  contas  com  os 
adversarios  do  Melhodo  Portuguez;  e  Felici- 
dade  pelu  instrticcdo. 

Depois  de  tudo  isto,  fico  esperando  da  vossa 
sabedoria,  do  vosso  amor  patrio,  e  da  vossa 
religiosidade,  o  veredicto  de  maior  momento, 
e  de  mais  largo  alcance,  que  jamais  bavereis 
pronunciado. 

Deus  vos  guarde,  vos  alumie,  e  vos  ajude 
em  vossos  utilissimos  trabalhos,  srs.  profes- 
sorcs associados.  Lisboa,  l!i  dc  oulubro  de 
1853.  —  0  commissario  geral  de  inslruccao 
primaria  pelo  melbodo  portuguez  no  reino  c 
ilbas,  A.  F.  dc  Caslillto. 

lllm."  e  Exm.°  Sr. — k  commissao  eleita  pe- 
la associacao  dos  professores  d'cste  reino,  a 
pedido  de  V.  ex.°.  tem  a  bonra  de  dirigir-se 
a  V.  ex."  era  resposta  a  sua  missiva  de  15 
d'outubro  do  anno  preterito,  com  que  v.  ex." 
considera  a  pedagogia. 

A  commissao  cumpre  o  seu  dever  obedecen- 
do  ao  raandato  da  sua  asscmblea  geral,  e  ten- 
do  na  dcvida  attencao  o  illustrado  niodo,  com 
que  V.  ex."  procura  esta  comraissao,  a  raa- 
neira  esclarecida,  com  que  em  seu  muito  sa- 
ber avalia  o  magisterio,  a  franqucza,  com 
que  espera  nos  juizos  d'elle  as  allegacoes  de 
compelcncia,  que  v.  ex."  reconliece  'nesta 
comraissao,  e  o  ardente  desejo,  que  a  mesma 
comraissao  tera  de  concorrer,  por  todos  os 
modes,  para  o  melboramento  da  educacao  e 
instruccao  piiblica. 

0  que  esta  comraissao  tem  a  dizer  do  me- 
thodo portiiijuez  c  fructo  de  sous  estudos  e 
experiencias,  produzindo  razoes,  que  vac  sub- 
metter  a  consideracao  de  v.  cx.° 

E  iraparcial  esta  commissao.  Nem  raesmo 


281 


a  nierecida  dcforencia  para  com  v.  ex.'  move 
a  sua  intcgi'idade,  consciencia  c  juslica,  que 
a  dirigem. 

Nao  e  a  scntenca  inappellavcl,  que  v.  ex." 
Ilio  pede,  (|uc  clla  apresenla,  por  llie  pare- 
ccr  inconvenienle,  pois  que  v.  ex.*  consuUou 
.sobre  a  api'eciaeao  do  methodo  porluyuez  cor- 
poracoes  respeitaveis,  que  e.stao  para  rcspon- 
der;  c  sini  urn  juizo,  que  olTerece  a  v.  e.v." 
e  ao  publico,  que  a  observa  para  tambem 
julgal-a  sobre  o  transcendente  objecto,  que  se 
discute  nas  familias  raais  respeitaveis  da 
Litteratura. 

Avaliado  na  generalidade  e  na  espccialida- 
de  0  methodo  portiiguez,  julga  a  commissao 
que  nao  convem  ao  publico  por  ser  contra- 
rio  a  educacao,  e  as  disposicoes  da  boa  logica 
no  objecto  de  que  tractamos;  nao  pcrmittin- 
do  policia  possivel,  nem  descrevendo  a  ma- 
teria, motivo  e  tim  da  arte  dc  ler,  pelos  di- 
vcrsos  e  precisos  oQicios  das  vozes  e  artieu- 
lacoes  no  emprogo  da  palavra,  o  que  provara 
tractando  da  especialidade  do  niesmo  methodo. 

K  commissao  pois,  rel'oreada  das  razoes  e 
das  provas,  que  a  propria  experiencia  Ihe  tem 
subministrado,  deduziu  imparcialmente  a  se- 
guinte  resposta  aos  10  quesitos,  que  v.  ex." 
otl'ereccu  a  sua  altcncao. 

QUESITO  I. 

Qiial  dos  dois  eiisinos  e  mais  attradivo. 

Parcce  a  primeira  vista  que  o  canto,  os 
movimentos  de  marchar  e  palmcar,  bcm  como 
a  variedadc  da  leitura,  ou  da  posicao  do 
corpo,  deveriam  ser  um  forte  iacentivo  para 
attrahir  os  discipulos  a  eschola,  ao  estudo,  e 
a  ura  facil  progresso;  a  razao  lodavia,  e  a 
propria  experiencia  mostram  evidenteniente  o 
contrario.  Todos  sabcm  que  a  monotonia,  a 
I'requenle  repeticao  das  mesmas  accoes  e  sem- 
pre  aborrecivel  e  fastidiosa,  ate  as  pessoas 
adultas,  por  isso  que  a  vontade  no  horaem  e 
varia  e  de  pouca  duracao,  independente- 
mente  de  quaesquer  circumstancias  de  con- 
veniencia,  ou  desconvenicncia,  quo  possa 
haver.  E  se  esta  aversao  ao  I'requente  costu- 
me de  practicar  as  mesmas  accoes,  se  esta 
mobilidade  da  vontade  sao  tao  triviaes  e  tao 
inevitaveis  nos  adultos,  com  muita  mais  ra- 
zao se  devem  temer  nas  criancas,  visto  existir 
'iiellas  mais  fraqueza  de  juizo.  A  experien- 
cia, que  e  o  ficl  espelho,  onde,  muitas  vezes, 
se  veera  as  illusoes  de  ostentosas  theorias,  e 
a  experiencia,  que  nos  prova  a  verdade  d'esta 
proposicao.  Ye-se  que  as  criancas  no  meio 
dos  brincos,  dos  folgucdos  e  divertimentos, 
que  Ihes  sao  mais  attractivos  e  agradavcis, 
mostram  sempre  certa  volubilidade,  que,  pas- 
sados  poucos  dias,  ou  antes  poucas  boras, 
Ihes  torna  esses  divertimentos  enfadonhos  e 


aborrccido.i.  Ve-seegualmenle  nosadullos,  que 
0  continuado  hai)ito  de  practicar  as  mesmas 
accoes  laz  ([ue  estas,  de  ordinario,  scjam  I'ei- 
tas  mechaiiicamente,  sem  llics  prestarem  a 
mcnor  attencao,  nem  sentirem  por  isso  o 
mais  Icve  ]>razer;  e  se  isto,  iiiqucstionavel- 
mcnte,  se  da  nas  pessoas  crescidas,  e  ainda 
mais  natural  aconlecer  nas  criancas,  pois 
(juc  ellas,  como  ja  se  disse,  teem  mais  fra- 
queza de  juizo.  Segue-se  d'aqui  que  as  crian- 
cas, avesadas  ao  quotidiano  palmear  c  canti- 
lena, muitas  vezes  dc  necessidadc  hao  de 
cantar  iiivoluntaria  e  mechanicamente,  sem 
que  esta  cantilena  liies  inspire  a  menor  im- 
pressao  agradavel.  Alem  de  que,  se  no  cauto 
do  methodo  moderno  se  encontra  attractive, 
muito  mais  se  devc  encontrar  na  cntoacao 
do  antigo  soletrar,  pois  que  esta  nao  obriga 
as  criancas  a  tao  grande  sujeicao,  a  qual 
sempre  e  rcpuguante  a  pucricia. 

E  se  0  atlractivo  do  methodo  niodcrno  con- 
siste  egualmente  nas  pinturas,  deve  notar-se 
que  ellas,  apezar  de  serem  enlre  nos,  ha  mui- 
to, conbecidas,  por  pouco  tempo  prendem  a 
attencao  das  criancas;  c  que,  segundo  a  pra- 
ctica  e  a  opiniao  dc  pessoas  insusj)eitas,  com- 
petentes  e  emprcgadas  no  ensino  pelo  dicto 
methodo,  confundem  mais  as  criancas,  e  Ihes 
trazeni  maior  embaraco  do  que  esclarecimen- 
to.  (Yede  a  nota  1.")  Alem  d'isso,  sendo  fora 
de  toda  a  diivida  que  os  objectos,  mesmo  os 
que  mais  attrahem  e  satisfazem  os  olhos  do 
espectador  adulto,  quando  se  Ihe  ofl'erecem 
mui  repelidas  vezes  sempre  debaixo  da  mesma 
forma,  hem  ionge  de  Ihe  serem  apraziveis, 
tornam-se-lhe  ([uasi  constantemcnte  indiffe- 
rentes,  e  ate  importunes :  o  mesmo  effeito 
devera  produzir  nas  creancas  a  continuada 
vista  das  pinturas. 

Accresce  tambem  que  o  ensino  pelo  me- 
thodo moderno,  alem  de  nao  ser  mais  attra- 
ctive que  0  do  methodo  antigo,  torna-se  egual- 
mente insahibre  aos  discipulos,  e  insupporta- 
vel  aos  visinhos  da  eschola  onde  se  cnsinar 
por  tal  methodo.  E  iusalubre,  porque  as  crian- 
cas, quo  sempre  aproveitam  a  occasiao  de  se 
entregarem  a  turbulencia,  tao  propria  da  sua 
edade,  nao  se  limitarao  somenle  a  cantar; 
mas  necessariamente  hao  de  gritar,  e  a  con- 
tinuacao  d'esta  gritaria,  repetida  todos  os 
dias,  sem  diivida  Ihes  deve  ser  prejudicial, 
inhabilitando-as  de  certo  modo,  no  future, 
para  uma  vida  acliva  e  laboriosa.  No  caso 
porem  de  nao  se  dar  tal  gritaria,  e  se  por 
Ventura  o  canto  for  suave,  nao  deixara  com- 
tudo  dc  as  tornar  efl'euiinadas,  e  predispostas 
ao  ocio  e  a  molleza,  o  que  muito  se  oppSe  a 
robustez  tao  necessaria  na  puericia,  como  em 
qualqucr  outra  edade.  E  insupportavel  aos 
visinhos,  porque  o  canto,  ou  quotidiana  gri- 
taria, infallivelmente,  ha  de  ser  muito  incom- 
modativa,  resuitando  d'aqui  o  gravissimo  in- 
conveniente,  particularmente  nas  grandes  ci- 


282 


(lades,  (le  nao  ser  facil  encontrar-se  casa  para 
("stabelecor  a  eschola,  salvo  so  o  governo  a 
proniptilicar  cm  algiim  ediiicio  sou,  o  que  por 
iiiuitas  razOes  nao  podera  levar-sc  a  elVeito. 

Em  vista  poitanlo  do  ((iio  Ilea  cxposto  e 
demonslrado,  a  eommissao  6  do  (larocer  qiio 
o  ensiiio  polo  methodo  portur/ucz  iiom  li  mais 
attrai'livo  do  (jue  pciii  antigo.  ncm  olVfrece 
meiios  ohslaculos  e  dilliculdadcs  iia  pnictica 
do  que  elle. 

Continua. 


A  LUZ  ARTiFICiAL 

Fiiit  lux. 

Que  dilTerenca  cnire  as  hollas  descobertas 
de  Fresne!  e  o  trabalho  nislico  do  homom  de 
Virgilio,  quo  nos  longos  sade.i  d'iiiveniij  pro- 
lurava  no  amcujo  de  resinoso  Icniii)  com  que  se 
ahaniur ! 

Et  quidani  scros  frftrtitrni  ntl  liniiifih  ignes 
PeringUat,ferriiqiie  facfs  insiiicai  actifj. 

Quanlo  nao  distam  as  arlias  de  pinhciro, 
com  que  ainda  lioje  se  alumiam  miseravois 
cabanas  na  Islandia  e  na  Siiioria,  do  pbarol 
de  pi'imeira  ordom,  collocado,  sob  a  dircccao 
deMr.  Keynaud,  em  torredegrnndoza  natural, 
cntrc  todas  as  maravilhas  da  cxposicao!  Tudo 
prova,  cumpre  dizei-o,  que  o  cstado  piiysico 
domundo  actual  dacta  de  epoclia  mui  reconto. 

Da  pequena  quantidade  de  materiaes,  que 
OS  rios  teem  arrastado  para  o  mar,  c  da  que 
elles  de  la  reccbem  todos  os  annos,  concluc-se 
que  nao  ha  nuiitos  soculos  coniccou  o  sou 
curso  a  ser  qual  boje  o  vomos.  As  planlas 
e  OS  insectos  nao  tiveram  ainda  tempo  para 
se  dissemiaarem  por  todas  as  regioes,  que 
devem  occupar  mais  tardc.  Todos  os  dias  a 
natureza  c  a  arte,  sua  rival,  consoguem  at- 
climatar  novas  especies ,  dcsconbecidas  nos 
paizes  ([ue,  para  o  diante,  liao-de  povoar  e 
enriqueccr.  Porem  as  conquistas  do  ente,  que 
se  diz  indc'liuidamcnte  pcrfeclivol  ,  e  quo 
mostram,  do  modo  mais  frisante,  que  so  po- 
demos  chaniar  vcllio  o  mundo,  comparando-o 
com  a  curta  duracao  da  uossa  vida. 

Se  considerarmos  a  existencia  da  terra  em 
relacao  as  epoehas  geologicas,  poderernos  dizer 
qucoperiodo  hislorico  apenas  dacta  dchontem. 
Ponderemos  quao  atrazadas  cstavam  ,  antes 
do  seculo  actual,  as  artes,  e  principalmcnte 
a  da  ilhiminacao,  e  tornar-se-ba  evidente  que 
0  genero  liumano  nao  tcvc  tempo  para  fazer 
mais  avanlajados  progresses.  E  nao  e  mister 
metter  em  linba  de  conla  as  industrias  excep- 
cionaes,  que  so  aprovoitam  a  limitado  numcro 
de  pessoas,  e  nao  possuem  nenbum  dos  carac- 
leres  que  tornam  a  luz  e  o  lunie  quasi  indis- 
pensaveis  ao  genero  humane. 


Represenla-nos  a  mythologia  Ceres  a  pro- 
curar  sua  lilba  Proserpina  a  luz  de  dous 
pinhoiros  inllauimados  ;  mas  ninguem  nos 
diz  i|ual  fosse  a  opocha,  em  que  a  combusiao 
das  materias  gnrdas  e  dos  oleos  sulistituiu  a 
da  madeira  rosiuosa.  Um  grande  passo  na 
arte  de  alumiar  foi,  de  certo,  a  invencao  da 
nieclia  ou  torcida  do  lios,  que  ardem  no  mcio 
de  um  resorvalorio  do  substancia  combusti- 
vel,  aliniento  da  cbamma.  X  serra  e  o  com- 
passo,  instrumontos  da  indusiria  e  da  scien- 
cia  ,  atlribuem-se  ao  sobrinlio  de  Dedalo , 
Perdix,  que,  dizem,  foi  convortido  em  pcrdiz, 
cm  tempos  d'uma  anliguidade  pouco  ro- 
uiota  ;  mas  a  quem  devcaios  a  invoneiio  da 
mocha,  esse  a[)parelho  tao  simples  como  util, 
agente  cbimiio  e  pbysico  ao  mesmo  tempo? 
Tambom  ignoramos  quem  fosse  o  inventor 
da  mocha  iuvolvida  em  materia  solida  coni- 
bustivel,  como  a  das  tocbas  c  vclas  de  cera, 
de  ceho  ou  do  resina. 

0  uso  da  resina  na  ilhuuinacao  jiareoe 
muilo  antigo.  Virgilio  descrcve-nos  o  traba- 
Ibador  Irazcndo  da  cidado  um  bolo  do  resina, 
com  (|ue  de  certo  se  la  alumiar,  e  oin  muitas 
cboupanas,  cm  vcz  de  cera  ou  sebo,  ainda 
hoje  se  cmproga  csta  materia,  muito  menos 
cara,  mas  so  capaz  de  produzir  luz  nuii  fraca, 
e  acompanbada  de  um  coutiuuo  cropitar,  aloni 
do  cbeiro  desagradavel  e  infecto  (|uo  oxbala, 
quando  nao  ardo  dcbaixo  de  uma  chamino. 
Ao  clarao  dessa  luminaria  trabalbam  as  lian- 
deiras  aldeas ,  que  fazem  entre  si  a  despeza 
da  tristc  luz,  (|ue ,  no  dizer  de  um  jjocta 
hospanbol,  apenas  serve  para  tornar  a  escu- 
riddo  visivel. 

Como  em  todas  as  reuniocs  sociaes,  porem, 
a  imaginacao  tern  alii  o  sou  logar.  Umas  vezes 
passam-se  os  seroos  a  cantar  cantigas  popula- 
res ,  outras ,  uma  vclha  conla  historias  de 
ladroes.  d'almas  vindas  do  outro  mundo,  ou 
d'amantes  inCelizos.  0  local  presta-sc  bem 
ao  terror  provocado  por  esses  contos  que,  do 
forca,  involvem  apparicoes,  scenas  de  ceniite- 
rio,  ou  manbas  do  dcnionio  contrariadas  por 
algum  sancto  bomem.  Asantigas  londas,  sobre 
que  a  imaginacao  activa  dos  nossos  maiores 
se  exercitou,  tao  pocamcnto,  por  espaco  de 
alguns  seculos,  resam  d'almas  condemnadas, 
que  vinbam  rccomniendar  aos  sous  amigos 
molhor  proredor,  (pie  o  deltas  'neste  mundo, 
c  que  nao  fossem  seroar  com  as  liaudeiras. 

A  lamparina  do  cabcca  redonda,  apoiada 
sobre  iima  cspecie  I'e  castical,  e  nianida  da 
conipetente  torcida,  ainda  csta  muilo  em  nso, 
e  alumia  tao  mal  como  a  vela  de  resina.  Em 
compensacao  e  muito  economica.  "  Porque 
rasao  pergunta  o  velbo  Slroposiades  ao  sen 
escravo  na  comedia  das  Nuvens,  jiorquo  acen- 
deste  essa  alampada,  que  bebe  tanio  azoito?  » 
Eisahi  uma  censura,  que  se  nao  ]iode  fazer  iis 
nossas  lamparinas  d'estanbo ;  mas  tamhem 
que  luz!   Quantas  d'ellas  nao  seriam  uoces- 


283 


«itiias  para    produzir   a  luz  d'um   candieiro 
Cavcel ! 

E  uin  facto,  hem  vcrificado  pcia  expcricncia, 
que  para  ohtcr  muita  luz  de  iiiu  coml)u.slivel 
(lualquer,  r unipre  lazel-o  arder  vivamciite.  Jii 
iiao  e  0  nicsmo  cm  relarao  ao  ralor,  porquc 
a  somina  total  de  calor  c  sempre  a  mesma, 
(-■mljora  o  comlmstivel  se  consuma  IciUa  ou 
rajjidameiUe.  Assim  que  ,  a  vela  que  liver 
a  mecha  demasiado  delgada  ,  nao  sera  a 
(|ue  ollereca  mais  vaiitagem.  Durara  mais 
tempo,  e  vcrdade,  mas  dara  uma  luz,  cuja 
I'ruqueza  nao  sera  compensada  pela  duracao. 
Siipponliamos  que  uma  vela  a  arder  dura 
nictade  do  tempo  que  outra  :  para  haver 
c\acta  compensacao  hastaria  quo  aquella  dessc 
uma  luz  duasvczes  mais  intensa  do  que  esta. 
Mas  0  facto  e  que  a  intensidade  da  primeira 
aiuda  e  raaior  que  o  dohro  da  seguuda,  e  por 
isso  e  melhor. 

Nao  e  mister  dizer  quantos  milhoes  custa 
hoje  a  illuminacao  a  gaz  das  priiicipacs  cida- 
des  da  Europa.  Os  estahelecimentos  de  Cincin- 
nati destillam  ,  por  anno,  quatro  centos  a 
i|uiiihentos  mil  porcos,  cogazquedahi  resulta 
V  conhecido  pelo  cxquisilo  nonie — /«:  deporco, 
■porkliijlit.  Um  kilogrumnia  de  velas  de  estea- 
rina  ordinaria  custa  seis  ou  settc  vezes  o  preco 
de  um  kilogramma  de  pao,  c  nao  representa 
em  valor  venal,  senao  a  luz  que  pode  produzir. 
Concehc-se  pois  quanto  importa  achar  uma 
medida,  uma  halanca,  iim  instruraento,  que 
sirva  para  fazer  a  compiracao  da  intensidade 
real  do  duas  luzes  dadas. 

Lcmhrou-se  algueni  do  coniparar  a  luz  ar- 
lilicial  com  o  hrilho  da  lua  chcia,  procurando, 
a  que  distancia  de  um  papel  hranco,  devia 
(ollocar-se  a  luz  d'uma  vela,  para  que 
ahii!iiass(^  a  papel  como  a  lua.  k  luz  do  sol 
r.ao  podia  servir,  porque  e  oitocentas  mil 
vezes  mais  forte  que  a  da  lua,  demasiado 
(Icslumhranle ,  e  niui  dillicil  de  fraccionar, 
I'm  razao  da  excessiva  pe([iiCDCZ  dos  oriticios, 
por  onde  fora  necessario  fazel-a  passar.  Sup- 
pondo  a  luz  da  lua  cheia  invariavel,  que  nao 
e  assim,  esperava-se  podel-a  tomar  como  lermo 
do  com[)aracao,  para  avaliar  as  outras  luzes 
tiradas  dc  materias  gordas,  dos  hicos  de  gaz, 
ou  da  electricidade.  Jnfelizmente  a  luz  da  lua 
e  branca,  a  das  velas  e  do  gaz  avernielhada, 
c  a  da  cbamnia  electrica,  sensivelmente  verde: 
ora  OS  olhos  nao  podem  comparar  duas  luzes 
de  cor  diversa. 

(Js  varies  apparelhos  photomelricos  inven- 
lados  com  este  intuito  teem  tido  mais  reputa- 
cao  do  que  u>^o.  por(|uc  depenJem  da  existen- 
cia  d'uma  luz  invariavel,  (pie  sirva  de  termo 
de  comparacao,  c  e  mui  diflicil  ohtel-a.  Sir 
John  llerschel,  tao  sabio  oplico,  como  habil 
astronomo,  ate  cbogou  a  allirmar  que  nao 
podia  achar-se  essa  luz  bilola.  Mr.  liabinel, 
donde,  na  maior  parte,  extrabimos  este  arligo, 
propoc  0  seguinte  processo.    Fundindo,   cm 


um  cadinho  ordinario ,  um  quarto  ou  um 
oitavo  de  kilogramma  de  prata  (ina,  de  sorte 
que  lique  sempre  uma  porcao  de  metal  pop 
fundir,  a  fim  de  que  a  temperatura  nao  .se 
clevc  acima  do  calor  da  prata  em  fusao  ;  a 
superficie  do  metal  erradiara  uma  luz  branca 
brilbante:  cobrindo  o  cadinho  de  uma  lamina 
de  ])l;atina,  com  um  orilicio  circular  de  dez 
millimetres  de  diametro,  teremos  uma  especic 
de  disco,  ((ue  alumiara  sempre  com  o  mesmo 
brilho,  dadas  as  mesraas  circumstancias  pbysi- 
cas.  Esta  idea,  poreni,  ainda  nao  foi  realLsada 
experimentalniente.  E  tao  notavel  a  desigual- 
dade  das  luzes  vendidas  pelo  mesmo  preco, 
que  0  uso  de  uma  medida,  posto  que  inexac'ta, 
olTerecera  iraportantes  vantagens  aos  consu- 
m  id  ores. 

AH'astarao-nos  um  pouco  dos  progressos  da 
arte  de  produzir  a  luz.  Corrcspondera  esta 
digressao,  se  o  leitor  quizcr,  a  longa  serie  de 
sccnios  em  que  esta  arte  licou  cstacionaria. 
Ate  0  Iim  do  seculo  passado  nao  havia  il- 
luminacao  brilhante,  senao  a  dos  lustres,  dc 
grande  numero  de  velas,  que  illuminavam  as 
salas  dos  palacios,  e  custavam  sommas  ini- 
mcnsas.  As  placas  ou  serpentinas  de  duas  a 
cinco  velas  tambem  cram  de  uso  universal. 
Mas  nenhuma  d'estas  illumiuacoes  de  luxo 
era  eflScaz.  Os  hurguezes,  reduzidos  a  vela  de 
cera  ou  de  seho,  desprezavara  o  azeite  e  os 
ignoheis  e  mal  cheirosos  caudieiros,  quando 
0  candieiro  de  corrente  d'ar,  de  mecha  eylin- 
drica  e  occa,  e  de  diamine  de  vidro,  deu  a 
luz  de  azeite  a  superioridade  que  ainda  agora 
eonserva. 

0  inventor  d'este  candieiro  foi  Argant,  e 
a  e[)ocha  da  sua  invencao,  o  anno  de  1800. 
Algum  tempo  dcpois,  certo  Quinipict  chamou 
seu  o  candieiro  de  Argant,  e  deu-lhe  o  seu 
nome ;  foi  o  Americo  Vespucio  do  Christovao 
Colombo  da  illuminacao.  A  assidua  limpcza 
que  exigiam  os  candieiros  d'Argant,  ([uasi 
ia  compromettcndo  a  sua  adopcao;  mas  o 
brilho  admiravel  da  chamma  venccu  tudo,  c 
quando  depois  Carcel,  por  um  mecbanismo  de 
relojoaria,  regulou  a  quantidade  de  azeite. 
que  deve  ir  banhando  a  mecha,  pode  dizer-sc 
que  foi  attingida  a  complcta  perfeicao  d'este 
mngnihco  invento.  Fdra  injusto  uao  lazer 
mencao  do  candieiro  ,  dito  de  modcrador  , 
inventado  por  Franchot,  c  que  sendo  mais 
simples,  produz,  comtudo,  clleito  quasi  egual 
ao  do  mecbanismo  Carcel;  mas  uao  entra  em 
nosso  proposilo  demorarmo-nos  com  minuden- 
cias. 

Lucrecio  pinta-nos,  em  versos  pomposos, 
as  douradas  estatuas  que  empunham  na  mao 
direita  lampadas  ardentes,  com  que  se  alu- 
miam  nocturnos  festins  : 

....  Aurea  sunt  jm-enum  sitmilarhra  per  lutlfs 
T.fimpadas  ignifeins  mnnibus  rctinentia  dcxtih^ 
Lumina  nocturms  epulis  ut  snppediteutvr. 


284 


Taiubem  nos  tcmos  elegantes  cslaluas  porta- 
liizes,  que  sustentani  fatidiciros  de  corrente 
d'ar,  tao  brilhanles,  conio  os  anligos  nao  po- 
diam  imagiiiar.  Ilomcro  tern  por  incomparavel 
0  rlaro  logo  flamejanle 

dos  signaes  telegraphicos,  inandados  fazer  por 
ClyliMuiicstra  ao  longo  da  cosla  ,  para  que  a 
preveuissem  da  chegada  dc  Agauicmuon;  mas 
cram  Ibgueiras,  nao  jii  lanipadas  ou  tochas, 
que  davam  o  signal.  0  nicsino  se  pode  dizcr 
dos  signaes  de  fogo,  por  via  de  que  os  sobera- 
iios  da  Persia  tiubam,  em  poucas  lioras,  no- 
licias  das  extremidades  de  sou  vasto  impcrio. 
Erani  verdadeiros  telographos  de  noite,  cuja 
descripoao  liel,  dada  por  Aristotelcs,  moslra 
liem  que  os  anligos  conheciam  c  empregavani 
este  mcthodo  de  correspondencias  rapidas , 
com  que,  ordinariamenle,  se  bonra  a  Franca 
e  0  inventor  Cbappe.  De  todos  os  fachos  dc 
luz  adoptados  na  antiguidade,  o  archotc  de 
tics,  euvolvidos  era  resina,  e  dos  mais  bri- 
lhanles ;  mas  a  sua  chamma  nao  e  tao  forte, 
como  a  de  uma  fogueira  de  lenha,  e  nao 
lembrara  reunir  muitos  archotes,  a  fim  de 
obtcr  chamma  de  grande  alcance  lurainoso. 

Ciyntiiiuu. 


FERIMENTO    POR   ftRMA    DE   FOGO,    COM    PERDA 
DE  DOIS  TERgOS  DO  OSSO  WAXILAR  INFERIOR. 

.loaquim  d'Almeida,  filho  dc  Conceicao 
d'Almeida  ,  natural  de  Labarrabos ,  creado 
rural,  edade  13  annos  ,  temperamento  lym- 
phalico-nervoso,  desenvohicao  regular. 

No  dia  29  de  jullio  ultimo,  uma  arma  car- 
regada  com  chumbo  de  caca,  disparou-se-Ihe 
nas  maos  e  levou-lhe  os  dois  tereos  anterior 
e  lateral  esquerdo  do  osso  maxillar  inferior. 

Yimos  0  doente  no  dia  31  ja  soccorrido 
pelosr.  Pedro  Jose  Coelho  Ferreira,  cirurgiao, 
residente  em  S.  Martinlio  do  Bispo,  que  tiuha 
conseguido  limpar  a  fcrida  de  corpos  extra- 
nlios,  e  sustar  a  heraorrhagia. 

0  labio  inferior  achava-se  quasi  lodo  des- 
iruido,  restando  apenas  dois  petjuenos  re- 
talhos  juncto  as  commissuras.  Este  estrago 
extendia-se  inferiormeute  ate  ao  osso  ioide, 
tinha  de  largura  trez  pollegadas,  e  compre- 
bendia  quasi  todos  os  musculos  das  regioes 
sub-lingual,  e  supra-ioidea.  Na  regiao  cor- 
rcspondcnte  ao  bordo  inferior  da  metade  es- 
querda  da  maxilla  bavia  uma  solucao  de  cou- 
tinuidade,  que  parecia  ter  dado  saida,  a  este 
lado  da  maxilla.  D'esta  apenas  reslava  o  terco 
lateral  direito  com  quatro  denies  molares,  e 
do  lado  esquerdo  o  condilo  e  a  apophyse  co- 
ronoidea.  0  labio  superior  a  lingua  e  os  ma- 


xillarcs  superiorcs  nao  tinham  .<!olTrido  na  sua 
integridade.  Os  tecidos  viziiihos  a  ferida 
apresentavam  bastante  tumclaccao,  attraves- 
sados  ,  como  estavam  ,  pelo  chumbo  cm 
niuitas  partes.  0  doente  nao  podia  articular  a 
palavra. 

Em  vista  da  lesao  que  se  nos  apresentava, 
cnlcndomos  que  a  indicacao  era  restaurar  o 
lahio  inferior  ;  e  reconheiendo,  que  nao  po- 
diamos  seguir  a  risca  nenhum  dos  melhodos 
italiano,  ou  indiano,  e  nem  sc(|uer  os  proces- 
ses de  Cbopart ,  ou  Raux ,  decidimo-nos  a 
practicar  urn  processo  ad  hoc. 

0  eslado  geral  do  doente  era  animador  ; 
apenas  havia  alguma  frequencia  de  pulso  ,  e 
constipacao  de  ventre.  Foi  poslo  no  uso  de  be- 
bidasacidiiladas,  clystercs  com  oleo  de  ricino, 
caldos  de  frango  etc.  Passamos  dois  pontos 
verdadeiros,  aos  retalhos  formados  pelos  reslos 
do  labio  e  tecidos  vizinhos,  com  a  intencao 
de  os  aproximar,  visto  que  por  este  meio  .se 
nao  podiam  tocar.  Tractauios  a  ferida  com 
camphora  em  po ,  planchctas  de  lios  com 
pomada  campborada,  compressas  c  o  gualapo 
da  barba. 

No  dia  2  do  seguinte  mez,  achamos  o  do- 
ente com  mcnos  frequencia  de  pulso  ;  tinha 
0  ventre  desembaracado;  a  ferida  com  muito 
pouca  suppuracao ;  e  nos  tecidos  vizinhos 
havia  mcnos  lumefaccao :  o  que  nos  resolven 
a  practicar  a  costura  de  oito  de  conta. 

Processo  operatorio. 

Separamos  os  tecidos  molles  do  terco  que 
restava  da  maxilla  ale  ao  bordo  anterior  do 
masseter  corrcspondente,  poupando  a  arteria 
facial  ,  que  nao  tocamos ;  ampliamos  com 
incisOes  a  solucao  de  conlinuidade  do  lado 
esquerdo;  e  vimos  que  ja  se  tocavam  as  ex- 
tremidades anteriorcs  dos  retalhos,  que  aviva- 
mos  com  tezoura  ;  e,  dcpois  de  termos  foleado 
a  exlrcmidadc  do  osso  com  tenaz  incisiva,  e 
sustado  a  pequena  hemorrhagia  (pie  houve, 
lizcmos  a  uniao  dos  hordes  anteriorcs  dos 
retalhos  na  iinha  mcdiana,  passando-Ihe  trez 
allinetes  de  prata  ,  a  cada  um  dos  quaes  ,  se 
applicou  0  competente  lio  ;  e  eoadjuvamos 
esla  costura  com  duas  tiras  agglutinativas. 

Ve-se  que  o  labio  inferior  iicou  com  muito 
pouca  extensao,  por  ser  apenas  fornuulo  pelas 
pequenas  porcoes  que  restavam  juncto  as 
commissuras;  enlretanto  nao  quizemos  dilatar 
eslas,  por  nao  complicar  o  curative  e  alimen- 
tacao ,  e  principalmente  por  entendermos 
que,  no  easo  de  se  reconhecer  d'isso  neces- 
sidade  ,  a  todo  o  tempo  se  podia  proceder  a 
essas  dilatacOes  com  menos  inconvenicnte. 

A  solucao  de  conlinuidade  do  lado  esquerdo 
que  descrevemos,  e  as  incisoes  que  abi  tizeraos, 
foram  unidas  com  tiras  agglutinativas.  0  resto 
do  apparelho,  como  do  primeiro  curativo. 


285 


0  doente  llcou  sendo  alimentado  com  caldos 
dojgalinha,  de  vacca,  de  (arinlia  de  S.  Bento, 
de  revalenla  arabica,  e  geleas  diluidas  era 
agua,  que  se  Ihe  faziam  engulir  por  meio  d'um 
funil  de  construccao  appropriada  ;  e  alem  d'isto 
DO  uso  de  clystcres  com  caldo  degalinlia,  ou 
vacea. 

No  dia  5  tiramos  o  priraeiro  alfinetc,  no 
dia  8  0  segundo,  e  o  terceiro  no  dia  12  ; 
havia-se  eslabelecido  a  uniao ;  eslava  quasi 
tudo  cicatrizado  ;  so  existia  uma  ulceia  ar- 
redondada  juncto  ao  ioide,  com  o  diameiro 
de  pollegada  e  raeia,  a  qual  comniunicava 
com  a  cavidade  boccal,  por  onde  se  escoava 
abundantemeute  a  saliva. 

Tractamos  a  ulcera  com  camphora  cm  p6, 
planchctas  de  lios  seccos,  compressas,  e  gua- 
la])(i  da  barba. 

0  doente  pronunciava  sofTrivelmente  a  maior 
pane  das  palavras,  notando-se  maior  del'eito 
na  pronuneia  das  syllabas  labiaes. 

I'assados  5  ou  6  dias,  aclianios  a  ulcera 
muilo  diminuida  de  extensao,  com  pouca  sup- 
puracao,  como  ja  notamos.  Seria  efl'eito  da 
camphora?  E  o  que  temos  visto  era  todas  as 
feridas  e  ulceras  tractadas  por  este  meio,  e 
isto  na  nossa  praclica,  e  na  dos  prol'essores  que 
temos  seguido.  Mas  receando  ler  de  luctar 
com  a  rebeldia,  que  costumam  apresentar 
as  ulceras  fistulosas  como  esta,  emprcgamos  a 
cauterizacao  por  meio  do  nitrato  de  prata  e 
compressas  graduadas.  0  doente  principiou 
a  fazcr  ensaios  na  mastigacao  d'alimentos  de 
pouca  consistencia.  Insistindo  'neste  tracta- 
menlo  por  lo  a  20  dias,  a  ulcera  cicatrisou. 

E  de  notar  que  nos  dias  intermedios  aquel- 
les  que  aqui  vao  apontados ,  o  doente  foi 
tractado  pelo  sr.  Pedro  Jose  Coeibo  Ferreira. 

Actualmeule  existe  alguma  delomiidade , 
porque  se  nota  a  ausencia  da  proeminencia 
da  barba  e  uma  depressao  no  lado  direito 
d'ella,  occasionada  pelo  desvio,  que  o  terco 
existcnte  da  maxilla  toma  para  a  parte  in- 
terna. A  mastigacao  faz-se  de  alimentos  de 
mediana  consistencia,  corao  sao  piio  de  trigo, 
de  milho,  carnes,  frutas  etc.  a  favor  dos  4 
dentes  inferiores  que  restam  contra  os  supe- 
riores. 

Entende-se  muito  bera  a  pronuneia  ;  mas 
existe  ainda  algum  defeito  na  das  syllabas  la- 
bio-dcntaes,  que  deve  ser  causado  pcia  falta 
da  arcada  dentaria,  e  difliculdade,  que  ha  em 
unir  0  labio  superior  ao  inferior,  por  este 
ultimo  ser  pequeno,  e  achar-se  rctrahido  para 
baixo  ;  o  que  tambem  da  causa  a  alguma 
perda  de  saliva. 

Com  vista  de  remediarestes  defeitos,  mostra- 
mos  0  doente  aos  melhores  peritos  d'esta 
cidade :  concordaram  unanimemente  em  que 
nao  se  deviam  dilatar  as  commissuras  dos 
labios  para  dar  niais  amplitude  ao  inferior  ; 
porque  isso  poderia  dar  logar  a  maior  perda 
tie  saliva;  e   que   o  melhoramenlo  de  taes 


funcfoes  se  devia  esperar  do  tempo,  c  da 
exlensibilidade  que  os  tecidos  viessem  a  ad- 
quirir. 

0  sr.  dr.  Jose  Ferreira  de  Macedo  Pinto 
foi  d'opiniao  que  se  (izesse  a  extraccao  dos 
dois  dentes  incisivos  medios  superiores  ;  pois 
com  a  falta  d'elles  a  depressao,  que  o  labio 
superior  soffria,  facilitava  a  funcyao  ao  infe- 
rior. Pareceu-nos  que  se  poderia  tirar  bom 
resultados  desta  idea ;  mas  o  doente  recu- 
sou-se. 

llesolvemos  publicar  csla  observacao  ,  por 
nos  Icmbrar  que  poderia  aniniar  operadores 
e  dcentes  a  extraccao  de  parte  ou  loda  a 
maxilla  inferior ,  como  e  aconselliado  cm 
ccrtos  cases  ;  pois  nos  parece  ,  que  em  idcn- 
tidade  de  circumstancias  individuaes  se  dcv(; 
esperar  melbor  resultado  d'uma  operacao  me- 
tbodicamente  practicada  com  as  regras  da  ar- 
te, do  que  d'uma  mutilacao,  como  no  prezenlr 
caso. 

Cumprc-nos  porem  declarar,  que  em  epoclia 
alguma  do  tractamento  notamos  tendeucia 
para  a  deslocacao  violenta,  ou  reviramento 
da  lingua,  como  os  auctores  apontam,  apezar 
d'ella  se  achar  solta.  das  ligacOes  anleriores 
e  de  lodo  o  lado  csquerdo. 

Fazemos  tencao  de  nao  perder  de  vista  o 
doente,  para  avaliar  alguns  accidentes  conse- 
cutivos  ou  tardios,  que  se  possam  dar. 

Faltariamos  a  urn  dever,  se  nao  lizessemos 
mencao  do  disvello  e  caridade,  que  o  sr.  Padre, 
Jose  Antonio  de  Campos  Vieira  empregou  no 
tractamento  do  doente,  que  era,  e  continua  a 
ser  seu  creado 

Coimbra,  12  de  Janeiro  de  1856. 

IGNACIO   RODllIUUES    DA   COSTA   DUARTE. 


rri'V-)     fiOP/jiil 


fl  AGRICULTURA  DOS  CSRTHAGINEZES. 


A  agricultura,  enire  os  carthaginezes,  con- 
stituia  uma  verdadeira  sciencia  fundada  em 
regras  deduzidas  da  experiencia,  e  exempta 
de  todo  0  empirismo.  Uavia  mestres  que  a 
ensinavam,  e  cujas  escholas  cram  muito  fre- 
quentadas. 

A  prosperidade  agricola  do  tcrritorio  de. 
Carthago,  e  principalmente  de  Bysancio,  at- 
testada  por  muitos  escriptores  da  anliguidade, 
e  uma  prova  de  que  as  theorias  dos  seus 
mais  celebres  agronomos  tinham  a  sanccao 
d'uma  priictica  universal  e  secular.  As  obras 
de  Magon,  Ilamilcar,  e  outros,  sao  commenio- 
radas  por  Columella,  Plinio  e  Varrao,  com 
grande  louvor;  de  maneira  que  os  romanos, 
quando  occuparam  a  Africa  septentrional, 
encontraram  nos  campos  proximos  de  Carthago 
um  completo  systema  de  agricultura  racional. 

Os  habitantes  de  Numidia,  a  excepcao  do 


286 


liloral  onic  os  carthapinezps  possuiam  co- 
lonias,  que  pcia  sua  induencia  eslavam  ma  is 
adianlailas,  cram  os  unicos,  cuja  educa^-ao 
apronomica  estava  atrazada. 

E  porcm  facto  avori^aiado  que  a  agricul- 
lura  africana  foi  o  typo  da  a^ricultura  ita- 
liana,  c  que  Mapon  tcve  a  honra  do  servir 
de  guia  aos  agronomos  romanos.  Depois  da 
tomada  de  Cartliagn  ,  o  tractado  d'aquelle 
escriplor  foi  achado  na  bihliotheca  d'esta  ca- 
pital. 0  vcnccdor  niandara  distribuir  pelos 
rcizulos  d'Africa  tndas  as  obras  d'esta  biblio- 
theca,  queiendo  inciilcar  o  despreso,  em  que 
eram  tidas  as  produrcoes  litterarias  dos  ven- 
cidos.  As  obras  porem  de  Magoa  foram  as 
unicas  exceptuadas  d'esta  proseripcao,"  e  o 
senado  roniano,  apesar  de  Catao  ter  ja  escrip- 
plo  0  seu  celebre  tractado,  mandou  vertel-as 
em  latim  '. 

Magnn  tinha  reunido  em  vinte  oito  livros 
as  doutrinas  c  tradiooes  agrouomicas,  que 
entao  vogavara,  e  que  elle  havia  iliustrado 
por  seus  trabalhos,  longa  experieucia,  e 
esludo  dos  escriplores  gregos ,  que  o  pre- 
cederam.  Diiiiz  d'Utica  deu  uma  traduccao 
grega  d'esta  obra  em  vinte  livros,  na  qual, 
apesar  de  Ibe  supprimir  oito  livros,  compilou 
muitos  trechos  dos  melhores  auctores  gregos. 
Diophane  da  Bethynia  reduziu  a  seis  os  vinte 
livros  de  Diniz  ^ . 

Magon  gozava  entao  da  mais  elevada  repu- 
tacao  e  era  tido,  diz  Columella,  como  pae 
da  economia  rural'.  Dos  auctores  gregos 
c  latinos  foi  elle  o  verdadeiro  modello  \  A 
agricultura  racional  e  os  seus  progresses  na 
Italia  foram  por  tanto  importados  d'Africa. 
A  antiga  Lybia  cnsinou  aos  seus  conquista- 
dores  os  melhores  processos  e  as  practicas 
mais  pbilosophicas  para  a  cultura,  e  proprie- 
dade  do  seu  solo. 

As  obras  de  Magon  comprehendiam  as 
tlieoriasagronomicas,  que'naquella  epocha  ha- 
viara  recebido  a  sanccao  da  practica,  e  tinham 
por  consequencia  um  character  geral,  mas  nao 
deixavam  por  isso  de  ter  interesse  local , 
e  de  se  referir  em  particular  ao  clima  e  espe- 
ciaes  circumstancias  do  solo  africano. 

Este  character  especial  doniina  egualmente 

*  «  Et  Poeous  etiam  Mago  :  cui  qiiideni  tantiim  ho- 
iiurem  senatus  uoster  habuit  Carthagine  capta.  tit  quum 
regulis  Africae  bibliolhecas  dunaret,  unius  ejus  duode- 
triginia  voliimina  censeret  in  latinam  linguam  traosfe- 

rftida,  quum  jam  M.  Cato  praecepta  coadidisset • 

Plin.  Lib.  XVIII,  C.  V,  1. 

(I  Nam  hujus  octo  et  viginti  memorabilia  volumina  ex 
senatus  consulto  in  latinum  sermoaem  conversa  suat.  •> 
Colum.  Lib,  I,  C.  I. 

■■  Varron,  De  re  rustica,  L.  I,  C.  I,  10. 

*  <^  Verumtamen  ul  Cartha[;:inensem  Magonera  rusti- 
cutionis  parentem  maxime  veneremur.  »  Colum.  L.  1, 
C.  I,  13. 

*  «  Nam  el  Mago  Carlhaginensis  et  Hamilcar,  quos 
secuti  videnturgraecae  gentis  non  obscuri  scriptores  Mna- 
ses  atque  Paxamus,  turn  demum  nostri  generis  ,  .  .  .  v 
Colum.  L.  XII,  C.  IV,  S. 


nas  obras  dos  outros  agronomos  carthaginezes. 
Por  isto  c  que,  recomendando  Columella  os 
diversos  traclados  d'economia  rural  dos  auc- 
tores punicos,  diz  que  elles  devem  ser  cunhe- 
cidos  dos  cultivadores  romanos,  poslo  que 
ahi  se  encontrem  prineipios  inapplicaveis. 
Tremellio,  qiiei\audo-se  dos  niesnios  crros, 
desculpa-os  todavia  pela  difl'erenra  que  ha 
entre  o  solo  e  clima  d'ltalia  e  d'Africa,  cujas 
produccoes  sao  diversas. 

Reconhecido  por  tanto  este  character  especial 
nas  obras  dos  agronomos  carthaginezes,  facil- 
mente  se  compreliende,  que  os  preceitos  d'cstcs 
escriplores,  que  foram  adoptados  pelos  aucto- 
res gregos  e  latinos  em  seus  traclados  d'agri- 
cultura  eram  egualmente  applicaveis  a  Africa, 
0  que,  na  falta  do  outros  documentos,  lanca 
algunia  luz  sobre  a  agricultura  d'cste  paiz. 
'Naqnelles  mesmos  escriplores  gregos  c  latinos 
se  encontram  lambem  alguns  processos  agro- 
nomicos  particularcs  a  Africa. 

E  porem  nuiilo  para  lamenlar,  que  se 
perdesse  a  versao  latina  de  Magon  ;  porque 
esta  importante  obra  nos  daria  pleno  conhe- 
cimento  da  agricultura  d'Africa  e  das  practicas 
e  processos  usados,  nao  so  na  epoca  da  re- 
publica  carthagineza,  eposteriormentedebaixo 
da  dominafao  romana,  mas  tambem  nos  se- 
culos  seguintes,  pois  que  os  arabes  conserva- 
ram  em  todos  os  ramos  muitas  das  practicas 
de  sous  antecessores  e  particularmente  no 
qne  toca  a  economia  rural ! 

Se  pelo  menos  se  tivessem  conservado  as 
traduccoes,  posto  que  em  resumo,  de  Diniz 
d'Utica,  e  Diophane  de  Bithynia,  encontrar- 
se-hia  'nellas  a  substaneia  dos  escriptos  de 
Magon.  'Num  tractado  porem  de  agricultura 
eseripto,  noseculoXll,  pelo  arabe  Jahia-ebn- 
cl-A\vam ,  que  foi  traduzido  em  1802  por 
D.  Antonio  Banqueri ,  e  que  6  uma  compi- 
lacao  feita  em  relacao  as  condicOes  do  solo 
hespanhol,  o  A.  cita  um  Cassio  que,  sem 
duvida,  e  o  Cassius  Dionysius  Ulkensis  tra- 
ductor  de  Magon ;  e  e  mui  provavel  que 
Jabia-ebn-el-Awam,  quando  escreveu  a  sua 
obra  em  Sevilha,  tivesse  a  mao  o  manuscripto 
de  Cassius,   que  sera   lalvez  possivcl   desco- 

'  A  maior  parte  dos  tractados  de  economia  rural 
arabe  sao  compila^oes  dos  tractados  de  agricultura  dos 
agronomos  gre,:;os  e  latinos. 

Na  Hespanha.  onde  a  civilisatjao  arabe  chegou  ao  mais 
alto  grau  de  esplendor,  sao  frequentes  os  vestigius  da  in- 
fluencia  das  ideas  romanas,  das  suas  leis,  e  da  sua  in* 
dustria.  Pelo  que  respeita  a  agricultura,  entre  oritras 
obras,  merece  particular  men^no  um  almanak  arabe  com- 
posto  em  Cordova  no  anno  de  961  da  nossa  era,  pelo  bis])o 
Harib,  filho  de  Zeyd,  e  dedicado  ao  Kalifa  de  Cordova 
Hakem,  cognominado  Alinostanser-Billah  (que  busca 
apoio  em  Deos).  Para  couhecer  a  dura^ao  do  anno  solar, 
a  fim  de  regular  a  ordem  das  esta(;oes  e  os  trabalhos  agri- 
colas,  OS  arabes  serviam-se  do  anno  solar  e  dos  mezes 
syriacos  ou  copies ;  na  epoca,  porem,  dos  ultimos  Kalifas 
linham  adoptado  os  mezes  latinos  ,  e  'neste  almanak , 
que  contem  muitos  preceitos  e  observa^Oes  agricolas,  faa- 
se  sempre  men^Ho  dos  mezes  latinos,  e  das  festas  chrislas 
— Beynaud,  Geograph.  d'Jlioul/rda,  T.  I. 


287 


brir-3e  ainda  cntre  os  manuscriptos  gregos 
d'alguraa  das  antigas  bibliotliocas  de  Ilespa- 
nha  ,  como  no  convento  de  S.  Paulo,  na 
corinthia,  o  doutor  Fredegar  Mone  acaba  de 
descobrir  a  setima  parte  da  historia  natural 
de  Plinio  o  velho,  desde  o  livro  XI  ate  ao 
livro  XV. 

A  descoberta  d'aquelle  raanuscripto  faria 
nao  so  conhecida  a  sciencia  agricola  'naqucl- 
la  epoca,  mas  apresentaria  tambem  a  parte 
essencial  das  obras  de  Magon,  em  que  se 
coniprehendia  a  summa  dos  conhecinientos 
agronomieos  taes  como  entao  eram  practieados 
em  Carthago,  e  como  depois  o  foram  nas 
provincias  vizinhas,  e  ate  em  parte  do  con- 
tinente  europeo. 


A  NEERLANDIA  E  A  VIDA  HOLLANDEZA- 
1. 

Formafao  do  territorio.  —  Inundacoes  antigas  e 
rccentes. — Enxugamento  do  logo  de  Harlem. 

Exists  urn  paiz,  onde  os  rios  correm,  por 
assini  dizer,  suspensos  sobre  as  cabecas  dos 
seus  habilantes ;  onde  cidades  poderosas  se 
erguem  por  baixo  do  nivel  do  mar,  que  as 
domina  e  comprime;  onde  porcoes  de  campos 
cultivados  teem  sido  alternadamente  invadidas, 
abandonadas,  e  tornadas  a  conquistar  pelas 
aguas ;  onde  o  curso  natural  dos  rios  tern 
prendido  de  novo  illias  antigas  ao  continente 
por  um  laco  de  area ;  e  onde  (inalmente 
algumas  partes  do  anligo  continente,  destrui- 
das  e  naufragadas,  forraaram  illias  recentes  : 
este  paiz  e  a  Hollanda.  Em  presenca  de  uma 
constituicao  geographica  tao  singular,  nao  e 
motivo  unico  d'admiracao  o  ver  que  a  Hol- 
landa ,  com  um  punhado  de  gente  ,  podesse 
ganhar  e  manter  a  sua  indepcndencia  ;  que 
sem  pedreiras  conseguisse  levantar  cidades  e 
edificios  magestosos  ;  e  que  construisse,  quasi 
desprovida  de  matas,  navios  que  disputaram 
OS  mares  a  frotas  respeitaveis :  nem  causa 
tao  pouco  0  principal  espanto  observar  que 
ella,  desaliando  a  relha  do  arado  para  terras 
estereis  e  inundadas,  fizesse  das  suas  cidades 
grandes  feiras  de  gado  e  celleiros  abundantes. 

Nao  por  certo  ;  o  que  sobre  tudo  faz  pasmar, 
e  que  um  tal  paiz  cxista.  0  que  interessa 
aqui  ao  viajante  ainda  mais  que  os  acciden- 
tes  do  terreno  ,  o  caracler  dos  habitantes ,  a 
extensao  e  a  prosperidade  do  territorio ,  e  o 
mysterio  de  uma  formacao  e  de  um  destino 
singular,  que  em  parte  se  explicam  pela  na- 
tureza,  e  cm  parte  pela  industria  liumana. 

Liso  e  unido  como  um  mar  perfeitamente 
socegado,  chamfrado  por  golfos  e  babias,  en- 
trecortado  de  lagos  interiores,  banliado  de 
rios,  que  se  ramiticam  era  infinitos  ribeiros,  o 
solo  de  Hollanda  parece  ter  sido  o  theatro 


de  uma  lucta  entre  a  terrS  t  5^  aguas.  0 
actual  estado  d'estc  paiz,  especie  de  [ransac- 
cao  entre  os  dois  elementos,  e  uma  conse- 
quencia  evidente  de  causas  particulares,  e 
d'aconteeimentos  curiosos,  d'acontecimentos 
que  alias  nao  sao  tao  antigos,  como  se  poderia 
presumir.  Quando  a  sciencia  pretende  remon- 
tar  ao  berco  geologico  das  outras  partes  da 
Europa,  ve-se  obrigada  a  ir  estudar  niouu- 
mentos,  sobre  cuja  interpretacao  e  muda  a 
historia.  0  engenho  do  homem  vae  seguindo, 
atravcz  dastrevas  e  dasruinas,  olio  dos  acou- 
tecinientos  que  dcviani  succeder-se  sobre  a 
terra  nessas  epochas  em  que  o  homem,  se- 
gundo  tudo  nos  leva  a  crer,  estava  ainda 
lora  da  ereajao.  Aqui,  na  Hollanda,  o  espe- 
ctaeulo  que  se  nos  oflerece  e  mais  singular, 
apresenta  raaior  novidade  :  esles  golfos  ,  os 
lagos,  OS  grupos  d'ilhas,  estes  terrenos  d'al- 
luviao  que  constituem  provincias  inteiras  , 
tudo  isto  OS  honiens  virara  nascer  ;  viram  ja 
depois  dos  tempos  historicos  fecharem-se  as 
bocas  dos  rios  com  os  depositos  senipre  crcs- 
centes  das  areas  ;  viram  as  terras  converter- 
se  em  aguas,  e  seccarem-se  os  mares  inte- 
riores. Muitas  das  causas  physicas  por  onde 
OS  naturalistas  querem  explicar  as  antiquis- 
simas  mudancas  effectuadas  na  econoniia  do 
gloho  terrestre  ,  —  taes  como  os  diluvios ,  os 
ventos,  as  mares,  os  movimentos  do  nivcl  da 
terra  e  do  mar, — eontinuaram  em  plena  acti- 
vidade  sobre  o  solo  dos  Paizes-Baixos  ainda 
depois  do  estabelecimento  das  suas  cidades. 
Muito  tempo  depois  de  ter  ficado  mais  ou 
menos  estacionaria  a  estructura  do  continen- 
te europeu  ,  tern  a  Hollanda  comecado  ,  teiu 
seguido,  e  segue  ainda  hoje  o  curso  das  suas 
formacoes  geographicas.  E  e  por  isso  que  a 
historia  natural  das  variacoes  do  solo  e  re- 
vestida  aqui  d'uni  interesse  muito  particular. 
Liga-se  esta  historia  aos  deslinos  sociaes  do 
povo  que  habita  os  Paizes-Baixos  ;  e  a  geolo- 
gia  d'hontem  e  d'hoje,  a  geologia  militante, 
e  mesmo,  ate  certo  ponto,  a  geologia  politica. 
Ate  hoje  os  viajantes  e  moralistas  teem  dado 
pouquissima  importancia  a  reconstruccao  do 
theatro  physico  onde  vieram  estabelecer-se 
as  diversas  civilisacoes  da  Europa.  A  data  e 
a|natureza  deste  theatro,  as  condicOes,  no  meio 
das  quaes  elle  se  iorraou,  nao  sao  todavia 
estranhas  aos  factos  essenciaes  das  naciona- 
lidades.  Os  povos  sao  aquillo,  que  as  inlluen- 
cias  exteriores  do  paiz  que  habitam,  deter- 
minam  que  elles  sejam ,  aquillo  que  os  fa- 
zcm  |a  agua,  o|ceu  ,6  a  .terra.  0  valor  d'estas 
causas  topographicas  sobe  de  ponto,  quando 
uma  nacao  se  acha  coUocada  em  condicoes 
unicas  de  posicao  entre  o  continente  e  o  mar. 
A  geographia  d'este  povo  e  entao  o  prefacio 
da  sua  historia,  a  raiz  dos  seus  costumes, 
das  suas  instituicoes  e  do  seu  gcnio. 

Por  documentos  irrefragaveis ,   6  possivel 
saber-se,  o  que  foi  a  Hollanda  originaria- 


288 


mente ;  as  »\ViJaancas  por  que  tern  passado 
cni  vir'ude  da  acijao  (los  rios  e  do  mar ;  o 
cm  que  Ma  se  tornou  outre  as  maos  do  honiPin, 
c  'ruima  palavra,  conio  sc  fez  a  llollanda. 
Quanto  a  arcao  dns  lios  e  poderosa  e  imiitas 
\ezes  terrivci  ,  ainda  lia  poiico  tempo  acalia 
de  ser  revclado  pelas  iiuindacOes  que  ariui- 
^aram  muitas  das  provincias  neeriaiulezas ; 
e'ncste  tlieatro  de  desastrcs  recentes  e  que 
havemos  de  estudal-a. 

A  acoao  do  mar  podcrcmos  obscrval-a  iia 
regiao  das  dunas ;  a  do  homcm,  sobre  todos 
OS  pontos  do  territorid,  c  mais  particulamien- 
te  nos  arredores  da  Harlem.  I'or  esta  lurma, 
quern  nos  fnnierera  os  elementos  da  historia 
geograpliica  da  Hollanda  ,  serao  os  proprios 
monumontos  da  natureza,  aos  quaes  servirao 
de  complemcnto  outros  documentos  eompila- 
dos  dc  colleci-Oes  scientificas,  muito  pouco 
conhecidas,  que  existem  nos  Paizes-Baixos. 

I. 

Em  18S1  foi  nomeada  unia  commissao  para 
cxplorar  scientiticamente  o  solo  da  Neerlan- 
dia '.  Esta  commissao  estabeleeeu  a  sua  re- 
sidoncia  em  Barlem ,  celebrada  pelos  sous 
orgaos,  pelo  cerco  sustentado  em  1572  rontra 
OS  hespanhocs,  e  pela  bonra  de  ter  dado  o 
naseimento  a  Lourenco  Coster,  que  e  tido 
em  llollanda  como  inventor  da  imprensa. 
Outro  titulo  havia  para  que  Harlem  mereces- 
se  a  prcferenoia  da  commissao  :  era  a  abun- 
dancia  de  documentos  scientilicos  que  possue 
esta  cidade,  cujos  habilantes  tiveram  sempre 
decidido  gosto  pelas  colleccoes.  E  sabido  que 
Harlem  e  a  cidade  das  (lores.  Alii  vivem  os 
dcscendentes  d'esses  I'amosos  amadores  de  tu- 
lipas,  que  de  uma  cebola  faziam  dependcr 
toda  a  sua  fortuua  e  o  seu  amor  proprio. 

Hoje  ja  nao  e  urn  furor,  uma  mania,  mas 
0  ainda  um  gosto,  c  dos  mais  delicados.  Teem 
\ima  arte  conipleta  de  crear  novas  variedades, 
dc  reunir  as  cores,  de  produzir  ornatos  arti- 
ficiaos  ,  'numa  palavra  d'inventar  llores  que 
a  natureza  nao  tinha  prcvisto.  Ainda  mesnio 
OS  que  nao  sao  cntendedores,  e  impossivel, 
no  mez  de  maio,  que  deixem  de  ver  seni  in- 
teresse  as  ricas  culturas  de  jacinthos  e  de 
lulipas  lancadas  por  todo  o  terreno,  e  ate 
mesmo  algunias  vezes  pela  area  das  dunas, 
como  um  chaile  da  Persia  ou  de  Cacbemira. 
Das  colleccoes  de  flores  nasccu  ultimamente 
0  gosto  pelas  colleccoes  d'objectos  artislicos  e 
<lhistoria  natural.  A  maior  parte  porem  dos 
viajantes,  que  atravessam  a  cidade  de  Harlem 
de  fugida  ,  nem  sequer  sonham  a  existencia 
d'estas  riquezas.  Em  Franca  os  thesouros 
scientilicos  saltam  aos  olbos ;  na  Hollanda  e 

'  Adoptamos  a  palavra  Nterlandia  (terra  baixa)  com 
|jri'fereiicia  a  de  Hollanda  para  desipnar  a  reuni.lo  das 
provincias  constituidas,  depois  da  separa^ao  da  Belgica 
debaixn  do  titulo  de  "  Reino  dos  Paijes-Baixos.  •■  A 
TTollanda  propriamente  dicta  nao  forma  effectivamcnte 
mnis  que  diias  provincias  d'este  reino. 


precise  procural-os.  Estes  depositos ,  obras 
primas  da  paciencia  e  do  estudo,  sao  ignora- 
dos  pela  maior  parte  dos  habilantes,  nos  livros 
nao  se  falla  d'elles,  e  uma  sollicitude  modesta 
OS  guarda  religiosamente  debaixo  de  cbaves. 
Aqui  a  sciencia  sabe  ser  rica  com  discrijiio, 
mas  sem  passar  a  ser  avara.  Uma  vcrdadeira 
urbanidade  bollandeza,  sem  fausto  nem  pre- 
tcncoes,  abre  com  toda  a  boa  vonlade  a  porta 
aos  amadores. 

Continiia. 


RELACAO 

Dns  indiriduos  nomeados  para  os  scgtdntes  togarcs 
d'ini,irucr/to  j/iiblicn^  desde  o  d'ta  15  ai^  ao  fim  de  ft- 
vereiro^  em  viitiide  de  despnchos  do  Conselho  superior 
d'instntcrno  publico,  e  decret-'s  do  (ioverno  commnni- 
cados  ao  mesnio  Conselho  no  indicado  periodo. 

lNSTRlCf;AO  PRIMARIA.. 

Alexandre  T.uiz  Soaree  da  Silva,  para  |)rofessor  tern- 
porario  da  cadeira  de  C&stello  Viegas,  district*)  de  Coim- 
bra. 

Antonio  da  Cruz  Victorino,  para  dicto  de  Aragos, 
districlo  de  \  iseii. 

Antonio  Joaquim  Gomes  Soeiro,  para  dicto  de  Cha- 
ves. 

Antonio  Rodrigues  e  Silva,  para  dicto  de  Tornada, 
dislricto  de  Leiria,  por  transferencia  de  Selir  de  Maltos. 

Antonio  Jost"-  Freire  d'Andrade,  para  dicto  de  Pa- 
dreiro,  dislricto  de  Vianna. 

Luiz  Accioly  Noronha,  para  dicto  de  Sant'Anna  do 
Campo,  districto  de  Beja. 

Pedro  Jose  de  Mendon^a,  para  dicto  de  Alvorninha, 
districto  de  Leiria. 

Francisco  Anlonio  de  Paula  e  Almeida,  para  profes- 
sor vitalicio  da  cadeira  de  Sancta  Marinha,  districlo  da 
Guarda.  (Decreto  de  8  defevereiro.) 

INSTRUC^'AO  SECtlNDAtllA. 

Joao  Emilio  d'Azevedo  Guedes,  para  professor  tem- 
porario  da  cadeira  de  latim  da  Villa  de  Sabrosa.  (Por- 


laria  de  9.'i  de  fevereiro.) 


O  Jornal  da  Snciedade  Agricola  do  Porto  puWica-se 
no  fim  de  cada  mez,  formando  cada  numero  um  folheto 
de  nao  menos  de  :i2  paginas. 

Assigna-se,  no  Porto  —  na  livraria  de  More,  Pra^a  de 
D.  Pedro  n."  59  e  60. 

Em  casa  de  Cruz  Coutinho,  livreiro  aos  CalJeireiros 
n.«  14. 

No  escriptorio  commercial,  rua  de  Bello-Monte  n.** 
74. 

Em  Coimbra,  cm  casa  de  More  e  companhia. 

Em  Lisboa,  n:i  livraria  de  Lavado,  rua  Augusta  n."  8. 

Pre9u  da  assignatura  —  por  anno  .  .  .  1^440  rei», 
»  M  — semestre  720     »> 

IS'ao  se  recebera  assignaturas  por  menos  de  um  semes- 
tre, pago  a  entrega  do  1.°  numero  sendo  no  Purto,  ou 
pago  adiantado  sendo  fora  do  Porto.  Para  estas  ultimas 
assignaturas,  o  junial  sera  enviado  franco  pelo  pre^o 
acima  marcado 

A  correspondencia  deve  ser  dirigida  ao  redactor  do 
Jornal  da  Sociedade  Agricola  do  Purto,  franca  de  porte. 

Os  annuncios  relalivos  a  agricnltura  recebem-se  no 
escriptorio  da  typographia  commercial,  rua  do  Bello- 
monte  n."  74,  sendo  previamenle  pagos  na  razao  de  40 
reis  per  Iinha. 

Todos  o&  artigos  extranhos  a  redac^So,  que  forem  pu- 
blicadus  no  jornal,  scrao  asstgnados  por  sens  auclores. 


V