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<D ao^iia^iir©^
JORNAL SGIENTIFICO E LITTERARIO.
TERCEIRO VOLUME.
o'A J?? ^
COIMBRA
IMPRENSA DA UNI VERSID ADE.
1833.
BMPB^i ^LPi^llTB©®
BO
TERCEIRO VOLUME DO INSTITLTO.
323
ing
103
181)
3il
isa
«48
Addiliirnpnto ^ geoni''lria tie Lepjendre 234
Adilil imcnios ao cilculu dilTercnrial di- Francoeur
— 11 » 769, 1." eligao
Agiias ilo mar da China (colurac;ao das)
A|")iaainenlo3 biui;ra|ihicoii subre o nosso iiisigne
Po.-la Lnij de Caniofs 137 151 ,,,3
A|i.,nturacntos d'i5|i|ica ' 26-1
Aslro""n>ia 3, 139,' '«80, S9I
Bacia carboiiifera du cabo Mondego (nulicia).
118, 158
Bihliosraphia H2, 172, 295, 30U
Breves rellexues historiras sobre anavegi^.lu do
Hondcvo e cidlura dus ram|ios de Coiadira...
Breves roflexoes — que filiidam-nlani o program-
ma, que olTereceuios para as e.vpiisi(;oe8 d'aniuiaei
donieslicos no dislricio de C.iulbra
Calor solar (ork'em do)
CI.1SS0 de liU'.-ralura gi-j
Cla-se de sciencias moraes e sociaes 243
Classe de sciencias physico-nialheraalicas 296
Coi rubra — Recorda^ues (poesia) 219
Collegio Ursiiliiio dasChugas era Coioibra . . 145 158
Comniemorarao c ,
Concorrencia '.'.'.'"'55,' 70, 83
Conselho superior de inslrncclo publica 2 25 37 53
77, 93, 109, 121, 14G,' 149, Ifil, 183, 201, '227
„ . . ^ 253, 269, 281, 09
Consli(ui(;Ho physica do Sol IgU
Coula da receita e d.speza dos hospilaes da uni'-
versidade de Coimbra 24, 160, 236, 308
Costumes A mericanos 3 ,
Coslumcs Arabes '. .'.V ' " '[Vy ' 2^9 303
Credito lerrilorial j^ ^g ^1
DocarneiUos inedilos 9^'g3_ 34^ , ' ^j
De. Welw relit e o Jardrm Botanico da miiiersi-
dade dr Coimbra ^24.13
Duque de Coimbra Vni 31, •
ilconomia polilica (e.tuilos de) -jj
Edilca(;il<. ilos aiiimaes lla anligciidade ..[] ] 16
Espirilos percussures ] " ' .^,
E.lalistica pathologica dog hospilaej li.-i u'lmerji'-
dade.^.. 5^^ gg_ ,,, ^^^
Jixposirops de animaes domesliros 231 2fj2 299 319
Exposi(;So universal de Pariz ' 25,3' ^95
Exposii;ao (primeira) da sociedade de Flora e '
Pomona
Faculd.ide de matheraalica '..'.'.. ......
Geologia
Gerai;oHs esponlaneas !.'!!!!!!!
Gravidez exlra-ulerina de 16 anno's! .'.'.'.'.' .'
Hymno do menino ao dcsperlar (puesia) .."" sju
Imprensa da universidade ,
Influencia d.a lua nos lerremolos " ! ! 1 10,
liislilulo de Coimbra Cdirec,;ao) ■.■."■ V40 » -
In»tilnlo de Coimbra 23 j jg"'
Inst.lu^to de Coimbra (sessoes das classes e'da
oirPC),au (jo) ....
Inslru,;,no „a liigla'lerra (esl'ado da) ! ! .' ! ! ! ! ! ! ! ' " 259
Ins ruc^So publica na Suecia e Noruega . . . . . 14
Inslruc^ao publica . ° ,i
Inslmc^iio primaria no disVriVlo' do FulrchaV, . . .
45
II
128
19
223
242
242
37
68
297
273
Iiislriic(;-rio prim.tria
Iiltrodnc^So
I>ra''litas em Koma jtc
Jardins d'arclrraJta(;ao na Madeira e Angola na
Africa atistro-occldenlal igrj
J^^rusilem e u mar raurlo gi in'
Liberdade em i)oesia
Litteralnra dramalica h. spaiihola e seus hisloria-
, ,'^"''«' 217, 257,
Uivros elemeiilares (colle^'iio de)
1
lU
I5t
«8ti
313
183
Livros sagrados dos indios jrJS 181 196
M.ircas typographicas '_ _ ' 51 j
Mar-vermelho, raar-amarcllo , mar-branco, ilc,
(origern dos nomes) . , 7^
Matliemalicai, discnssao de dolls nielhodos arabes 76
Malhematicas (necQao de) 59, 105, 130, 1H5
M.-le..rolou'ia jgg, 221
Mezas giranles de Mr Babinel (reflexoes) 29
Mezas giranles 17 27
Jloleslia das \inlias ]2g 155, '263
Mosleiro da Vaccari^a ]93, 20j,' 244^ 278
Miilhcres (as) lii>toricaraeiile considerailas 157
Mnlh( res (as) do isl.ipj e in miillicres chrislas 246
Jliisulraanos (uomes e lilulos) jj
Necrologio '.""225, 289
Observa^oes raeteorologic.is fellas no gabiiiele de
phy=ica da universidade de Coimbra.... 1?, 35
9^ l«0, 148, 224, 252, 268
Obras olTerecidas i Bibliollieca do Inslitulu. 35, 52
r.. , r . *8U, 32«
(jli-o de figidos de baealliau 222
<_)■. iilio Nazao g 3g ^3
Philosophia alleina (criso da) ' '99
Pliysica do globo .■.'■■■ 'us J ,g
'"'O'lCa jg^
Pliysiobigia applieada ig^
Poesia Slava no secolo deciino-nono. 57 66, 98, 141
I6t, 177, 208, 290
Preceilos hygienicos (siinimola de) 23
Programmas. 3, 13, 26, 39, 65, 81, 113, "l23, 173
„ , , ,. -'3, 227, 283
llelaeoes lilloranas com as imiversidades de Hes-
„',""•,''» H4, 271
i{elai;ao nominal dos socios do Insliluto 2i0
^■"'■''"^i" 175, 'I'aO, 237
Selenosrrapliia jjo
Srlvio Pellico e o sen tempo 204
Socieflade Asiatica j,^t
Sociedade Asialica fie I.ondres j jg
Sociedade geologica de Londres go
Taboas da paralaxe da liia 1^3
Tradu^ao do 4." livro da Eneiila (fragmenio da).. 274
303, 314
Um banho no Tcjo (poesia) 53
Uina illusao (poesia) jgj
Uma lagrima 2^3
(Jma perda para as lelras 42
Uma tragedia Arabe 204
Uuiversidade de Coimbra 134 137
Variedades ' 5J
Victoria linda (poesia) S8'J
Ei\I\OS 1TJNC[PAE8 DESTE \^OLUME.
•t'liil. ('■<l. Link.
Kiros.
50
.1
4r, ('uiistniili'S enlre
no nltn da piirj. Hunieiis — tiimcslre , etc.
No movimento ile toilas as cuferinnrias
— ri'larSo dos falecidob para toilos us
tralmlu's — l:lH,:i
l:U,.i
Ali-^tracijao
1, 2. 3, 4, 5
c\e 141U
rna
uctjao ilu bai;o ■■
Embara^o f^aslrico
H Bronchite
•i Bronchite chror.ico
\ Anasarca
I Anasarca
HII
,> ordtiii das notus
119
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) Sarni
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28,'i'J f30
47 f 41i
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/ inlos prcd
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ilietos de Ju
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22
iniiiit,
Mtiia '
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N. O. E. e S. O.
N. O. N. e S. O.
so'inenle f =90°
com lado
23
com angulo
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13
— - < sen 3 6
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12
primeira
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22
1 28
•i\u HO fun ha-sr.
oviUtr
sejas
InU-j;raes eiitrf
lluiiicns — eiifrrmaiias ile molcslias in*
U'riias — Iriiiu'slre de . t'lc.'-
1:14.4
i:i:j.4
Obslruccuo
1, i, 5, 3, 4
de 154G
obsti"uc(;au do baro .
Sania
8 Bronchite
2 UruncUite chroiiico
'i Embara^o gastrico
Anasarca
Anasarca AscUe
NO., E. e SO.
NO., N. eSO.
somente c'=90°
cum angulo
com lado
i^ sen 2 i
2
ultima.
Ov iedo.
Este argumento perde a forra, saben-
do-se que os Abbades, ou C'hefes de
IMosteiro, ussignarara este concilio
com a denominacao de Archymandn-
• his, como iH>(!e ver-se na collect;ao de
concilios, dtr Labbei.
lea-se — (Continuado de pag. 219.)
Conti/nia. r. r. de sousa pinto.
vi-silar.
da palavra — extinccao — per diante,
(leve ler-se — extinccao, por tereni
decoirido apenas oito aunos de 108G
a 1094, e nao apparecer neiihum do-
cumento em cuntrario. Everdadeqiio
OS mosteiros duplices ja tinham sido
prohibidos por Gregorio II em .S46 *,
e depois no Concilio de Nicea em
7{.n ' ; mas, e certo que, apezar disso,
continuaram subsistindo em Portugal
e por toda a parte, como nos dizem
Vilerbo ^ e Boehmero -K
este.
seja.
Deer. tJrac. cans. 18.
'-i Cone. 2 de Nicea can
quest, -i. c. 22. (a not. 'i
^0 do Deer. Civuc. cans
I da monia pag. 280),
. 18 iniest. '2. c. 21. — Diffininnis minime duplex monas-
^ lone, a ue iMct;*! l;i^M-■^. .^\j "» ^ -- — ^'^' i .... , . ,■
lerh.m fieri- .|"ia scandalum id, et ofTendicrilum miillis elVicilnr. ^l vcro al.qui cum cognatis mundo abrciuinlia-
,c, et nionaslicam vilam scctari voluerint, debcnt (piidem ^h■\ xironim adire coeuobium. foeminas vcro
lierum ingrcdi monasterinm. . . .
•i Elucidario por Vilerbo — I'alav. Mosleiro.
• Boelimero not. 99 aoDecr. Orac. cans. 18. nue^t. 2. c. 22.
mu-
® Jitj^titnta^
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
IKTilODUCCAO.
\j que deve ser o Institiilo assnz o com-
preli'-ndfltiios : o que tcm sido jd o sabc o
piililioo: o que sera, nn lerceirn anno de sua
exi^tcncia, proval-o-liao os esfor(;o3 que se
reuovam para coiilinuar cste jornal, o mais
durador dequanlos, d'esLe genero , se Leein
eslrcado em Coiinhra.
Ilnje que as mais liabeis pennas do paiz
pstao Miagnelisadas pcli mesmerica ititluencia
da politica, lioje que os e^lOl^a^'os de miillos
dos que leem follias ie[)eilem a sciencia que
ni" teiii urn sabor de curiosidade pueril, e
nial digererii a littsratura que nao for roman-
ce ou foUu'liiii ; ju e arrojo , ja e dedica^'ao
perlinaz conlar com fui;ilivos momcntos rou-
bados as porfuiias lides academicas, para
suitentar umacmpreza, a qua! nem o inleres-
se , nem a gloria, nom eslimuln alf^um, que
iifio scja urn sincero di'SfjO de preslar al^'um
servigo a sciencia e a liUeralura, servem de
incenlivo.
E nao fallamos dnservijo tpie faz, ou poJe
fazer a redac(,Lio, com seas escriptos ; que
esse pouco (■ ou nonlium.
O In-litulo, alo.a oslraballios da sociedade
de qi;e eor^fio, (.-m virlude da porlaria do
niini^lerio do rcino de 5 de si-lemliro de
1833, lia de puldicar os arlii^;os que Hie ea-
viarem o ioiis( |ho superior de iiistruccfio pii-
blica, c as faeiildados acijdeiiii<;as , que no-
mcarain commis-oes expres-ainenle encarre-
gadas d'orir;iiii-ar Lraballios ^cnuilificos digiios
de ver a iuz publica ne^te joriial. C) liiiliLulo
deve [X'is, d'oia avanle, eiicamiiiliar-se a re-
prestiilar as Ires corpor.i^nes lillerarias mais
respcilaveis (l'i-?la cidade — a lliiiverjiidade ,
o Conrcllio supeiioj (l(t ln>lruc(,'ao publica, e
oJnslilr.lo du Coiinbia, liyadas pela fraler-
nal ami^ade ile sous ineuibros, e, mais que
tudo. pelo sagrado si'nliniciilo que anima a
lodos — 0 amor das letras palrias.
i'-' se e^las tros |)olencia5 nao deixarcm soi
na li^-a os poucos nieiiii)ros do Instilulo cpie
consliiueiu a redac^ao , os quaes mal po-
dem sali-fazcr ao scu especial misler de
censores; e se os socios correspondeiiles do
InsliUiIo se iir,o dedignareiu de uuxiliar, de
Vui. in.
Abbil l." — 1834,
vez em quando, esla ardua larefa, enclipnd.)
algurnas columnas com sabios produclos de
suas lucubragoes ; e se todos os que amam
as sciencias e a litteratura, socios ou nao
socio?, quizerem vir aqui depositar al;Tiimas
das (lores e fructos mimosos de sens estudo? ,
neste cainpo que llies abriraos de boa vonlade ;
entfio siui , enliio poderemos afian(;ar que o
lerceiro volume do Inslitulo sera o que deve
scr, em Coiinbra, ou em qual(pier parte do
muiido civilisado, urn jornal scientifico e lil-
lerai io.
E porqiie nao lia desel-o?
Nao lia lioje ninguem verdadeiramenle pen-
sador que nao sinla a neccssidade de consi-
gnar ao papel sens pensamentos apenas con-
cel)ido3, e de fazel-os voar jielo mundo com a
rapidez do relainpago; porque a Immanidade
caminlia com urn movimento accelerado, e o
liomem , Icvado do impuLo que Hie vem de
cima , trabaHia , esfor(;a-se por tornar a car-
reiia mais veloz.
As ideas succedem-se uinas as oulras : as
alias que-toes sociaes e politicas agitam-se
por toda aparle: as sciencias naluraes, dondci
depende o progresso das artes, e o progresso
das artes que se reilecte immediatamcnle so-
bre a pro^peridade material, occupam todos
03 aiiimos. Ora neste mierocosmo, pequeno
sim em extensfio, mas graude em inlelligen-
cia, onde vein u;nas apos oulras novas gera-
<;oe3 de mancebos estiidiosos excrcilar e de-
senvolvcr suas mais nobres faculdados, far-
?e-lia uuia excepgao pouco decorosa ?
Os prolessores da universidade , muitos dos
quaes, e verdade , teem publicado em maior
tomo importantes e aprimorados escriptos,
coiitiniiarao a cntliesourar os preciosos re-
sullados de sens Cstudos qiiotidiancs, que,
pottos em mais vasla circulayao, muito con-
tribuiriam para o progresso do nosso tao
atrazddo p<;iz , fazendo d'esla arte soar, alem
do acanliado recinto das aulas, seu bSm me-
lecido renome \
demos que a uns e outros demasiado tem
sido demo^trada eisa necessidade palpavcl ,
e que demasiado a sentem ; por isso, nestas
diias paiavras de introducgao, diziamos e
coiiliamos que o Instiluto sera o que deve
ser, unica recompensa que arabioionamos
dos nosios trabalLos. /^tf^.,,^.?;^
Ncu. 1,"
CONSELIIO SUPERIOR DE I.XSTRUCCAO
PL'liJ.iCA.
Diiposi^oes regt'lamtnlares porn o e.rntnc de geomelriii
tio Ijcett tie Coimitra y cuino preparaltino para a nni-
versidiule.
Art. 1." Os cxamiiKMnlos de ppomotria dt^ptn lirnr
iim porito na vfjJi'eru do exame , com aiiUcipa^iio |n'lo
luiiii.s (le \ inte luriis.
^. I." Au ado (le (Inr os ptiiilos Ji'sislir.i o presiilenlp
(Icst.\»i exanies coin u lu'del , que ftira a clKiiiiad* ilus
cxaiiiinariiiitS peltis si-ris rei|iiff inienlns , c luui;uri*i nu
livro leypei-livo us [loiitus liradus u sorle.
^. S." Em lofrar do presidenie puderii assist ir e dnr
OS piinlos qiialqiHT dus cxamiiiadures , a que illu coin-
luelliT este sr-rvit^o.
Arl. S." Os punlos de que Irota o art. 1.", doveni
romprpliendcr Ires i)ropnsii;Ot'S da ffeonicli ia de Encli-
des , scndo senijire iima dellas do Uvro sc\(o desla obra :
110) ponto dt? ali,'ebra , e onlro de aritliinelica.
^S. un. () nifsmii poiilo podera ser\ir para uma liirma
de examinmnios tiao superior a (res.
Arl. 3." O exaine de jr''om»?lria podera ser feilo rm
tnnuas de dois on tres cxaminandos de cada vez , qnamlo
«o punlo tenlia sidu dado oa conforroidade du ^. ?i/iico
do nrl. 2.*
Art, 4.° O examinador inais antis:o conieijara o e\a-
me , escuHicndu para isso uma parte (jiialqtier do fionto ;
c se nr^junu-nUir em {leonielria , o fara de sorte que a
cada um dos examinaudos d'linia liirma ari;umente em
jiropo?ii<;ao dilTerenle ; e o onlro examinador dcpois
argnmeiitara rm alijelira, on rni arilhmelica , mas qnan-
do ar^Mimentar a nm examinanilo da mpsma lurma em
aljehra , ao ontro ur^nnient.tr.'i em arilhinelica.
^. tin. A dnrai;ao do ar^umentu tie cada nm dos
examinadores sera de quince niinutos marcadui por ani-
pnlliela.
Art. 5." Os examinadores serao obri^ados a interro*
gar OS examinundos na parte vit^a niarcada no r>>speclivo
jirogramma ; na outra parte porcm devem reshinsir-se
ao pun to , e apenas poderao explorar os examinandus
nos principins g'eraes qne (lies sej^im concernenles , on
nas applicai;6ps geraes, e menus difGceis , a que os pon-
tos dercni lo^rar.
^, un. Q'lando o exame se fizer em Inrraas , o presi-
dente podera mandar responder lambpm as pergnntas ,
feltas p>ir qnalpier dos examinadores a nm examinaiiiJo ,
ontro da turma , eiiibora tivessc ja coiiclnido u exame
oral.
Art. 6." Di'pois do exame oral , cada nm dos exa-
minanilos tirara asorle nm problema de aiithmelica , qne
possa resolver-se por uioio das propott^ops e da applica-
^ao dos principios preraes de aritiuni'tica ; o qnal proble-
ina resohera pur esoriplo em arto snccessivo.
^. 1.° O lf?injio coML-edido para resolver o problema
por escriptn si-ra de nsna liura e mei.-t,
^. 2.** Ftndo este prazo , o presidente adiprlira o
examinandii para qne entrei,'ne o proldenia resuhido; mas
se elle pfdir Hlj;um tempo mais, podi-ra proro^rar-se-Ihe
o prazo do ^. l.** por meia liora ; porem paxsado e>le
flegnndo prazo de tempo , apresenlani uo estado em que
estiver o prot)Iema.
^. 3." O examinnndo deve assif;nf>r-9e por lialxo da
resoliK^ifo do problema, e depois da data tio dja do exa-
me ; e islu o frtra mesmo quando nito teidia sat)ido resol-
■ver o proldema , a pezar do angmcnlo de temjio de qne
Irala o ^. 2.**
Art. 7 ** O- ponlos para o exame oral, qne liverem
saliido Ires vpzfs, serao aeparados da nrna ; e os proble-
mas de qne Irata u art. G.°, loiro que teniiam saltldo uma
vcz , devem ser alterad'js, uindando-lhes us nnnieroa,
qne entrani rm sen ennnriado.
Art. 8.** A rd'-nlidade do exaniinando , e do ponto
tirado para o t-xame , deve ser veriQcada com ludo o
escrnpulo u circnmspei'(;ao.
Ksta cunforoie, — O secrelario geral , Josi- Jnlonlo
Q^ Aihorim,
UAU'EltSlDADE DE COIMBA-PBOCBAMHAS.
FACULDADE DE SI A T a E 31 A T I C A.
l8o3— 185i.
},^ A^^O. I.'' CADETRA.
ARITHMHTICA — <; ROM F.TK lA SVNTHnTICA DE LBGBNDRR
ALfJCBUA ATE H«L'ArOES DO ShfiL'.VDO GRAO IMLL-
SlVAMliATK^TRIGO.NOMETniA PLANA.
Lenle — Dr. Rufmo Guerra Ozorio.
ARITIIMIiTICA.
Syslcmas de nnmera<;rin. Qnntro operatjOes sobre of
nnuiertis iuleiros. Decomposi^ao doa inleiros em faclo-
rrs primos , e prupriediulps dus di\isures commnns a
ninilos nnmeros. Coiuli(,oes, qne deiem verifioar-^e ,
para que nni iinmero seja (livisjvel por ontro. Tlienrc-
nia de Fermal. ProMis das q'latro opera(;r)rs soltre intei-
rt>s. Definii^rm ^ n;tlnreza , e lransfurnm<;oes dos quebrn-
ilos. Qnalro iq)erai;ofs subre as qntMirados oidinarius .
decimaes , e coniplexos- Appro\iniai;oes ; e limites da
diziina |)eriodiea. Forraaeao das poleiicias e exlrarijao
das raizes qnadradas e cubical. Pri>por^oes .'iritlmn'ticas e
t^eometricas. Rei:ra de ties, simples, u cttiiipnsta ; e re-
j,'ras de companliia , e conjmiirta. Jnros. Deseontos, Pro-
g^ressoes arillmietieas e geomelricas. LogariltiUios.
ALGEBRA ELE1IB^TA^..
No^ries geraes, lleduc^Jio. Qnatro opera(;oPs. Divisor
commnm. Resoin^'-'to das eqna^iies do primeiro grao a
lima on mais incognitas, D'-su'iiablades. Probleinas inde-
lerminados Puteiicias e raizes dos monomius. Expoentes
ne2;ali\'o8 e fraecionarios. Uiizes quadradas e cnbicas
dus polvnouiios, Reaobn^au das eqnai^oes du sejnndo o;rao.
Propurcjues e pro;;res3oea arillmietieas c geanu'lrieas. Lo-
earitlimos, Jnrus composlos. Annnidiides. DescoiUos, Fal-
sa posi^ao.
GEOMCTRIA ELEMENTAR.
Explicnm-se os oilo primeiros livros da geomelria ele-
mentar de LcgenJre pela i^.^ edi(;ao de Paris.
A(*rLICA(;AO Di ALGEBRA A GEO.MLTUI.V ELEMENTAB.
Problcmaa subre as Itrdias. runstrnei.oes geometricRfi.
Si^riaes i\i\s qnaiili'ladHs na algebra applicada a geome-
Iria. Abscissas e ordenadas.
TltlGONOMGTRlA RECTILINEA.
Const rnrijao e definiroes das linlias trigononiPtrira-:.
Expressao dos arcos em paries do raio; e reci|)rocamenle.
Furnuiias geraes. Con.*tritccjo , e nso das taboas. Reso-
UxcJiQ dos triany^ulos rectangnlus , e obliiiuangnlos. Pro-
blemas.
2.** AN.NO, — 2.^ CADEIRA.
C0STI>L'A(JAO d'aLGKBRV ALCRBRA SUPEIiTOR — SERTE*
E PRINCri'lUS ELIi.MENTARES DE CALCl'LO DIFTBRKN*
CIAL E J.NTEGRAL.
Leiile — Dr. Rnyniundo J'enaJicio llodrigttes.
GEOIIETRIA A^ALVTICA A DL'AS DniEA'SOES.
Eqiiarao da linha recta — logar ^eomelricA da eqna-
rao do 1." gr/io — equaeao da recta, sttjeita a passar
por dons pernios — do angnio furmado por dnas reclas —
coniii^oes do sen paralbdiwrno , e da sua per]tendicnla/i-
ilaile — considerat;oe9 geraes sobre os [Mublemas relaiivos
a litdia recta — cxercicios , e exem))Ios
Eqna<;ao do cifcnlo — limites , symclria , c proprie-
dddes.
Problemas sobre as inlersecijoes e contacto da linha
reria com ocircnlo — iulersec<;oe3 e conlacto doscirculus
entre si.
Transforma^Ho de coordenadai.
Ellipse : hyperbole : e pirabola : c a respeito de cada
Uma d'estas curvas — sua eqiia^uj , ualureza , limites , e
proprieUadf'S.
E(iiia(;oes pobres de cada tima das dilas cnrvas.
Eqiiat^ilo da curva prodiizida pela inlerseci;'!© d'um
plauo (iiialniitT rum mna pyrami'le cunica — casos fin
i|ue esia equai^rio se rcdiiz a d'mn ponio ; a d'lnna
linlia reela ; a de diias reelas fLirmaiido um anc;iilo entre
si ; & do circulo ; li da ellipse ; a da Iiyperbule ; e a da
parabola.
MethoJo das tan^enles ; snbiarigentes ; norraaes; e siib-
norm.if-s — sua applicarHo iSs ciirvas ja Iratadas,
Coiisidtrai^ucs subre cordas suppleuieiUares — suas ap-
plira(;3fs .'is luesinas curvus
Cenlros, diainetrus , e diamelros conjujaJos — deler-
mina^au irulles nas ihUs ciirvns.
Discitssrio da ef]iia<;rio ^t-ral do sefriindo gT;io a duas
indelenninadasi- x ey — lo^ares d'esla eqiia(;ao em cada
uma das liypollieses de ser zero, posiliva, on nes:aliva
a diffcrenra m, on B^ — 4i AC ^ entre o quadrado du
coefliciunle de xij e o qiifldrii|ilo do prodiiclu dus coefQ-
rieiiles de x^ e y', Recapilula^iu das considera^ues
feitas sobre estas Ires byputhest-s
Eivos pritjt'i])a'S — sua t:raiideza e direc^ao — appli-
caQjlo dVsta duulrina as curvas dc que se lem Iratadu.
Outro processo da discussiio da eqna^au gtral do se-
gundo grao , evilando o inconvenienie de mtroiluzir irra-
cionaes nos sens coefflcienles. Cutupara^ao d'este melho*
do cum 0 oidro.
Gera^ao das curvas pelo inovimento e jnlersec^ao de
linlias dadHs — ap|dicai;ao ao circulo ; ellipse; hyper-
bole ; 0 par;i!iola.
Problemas que passam do sefrmido jrao ; e especial-
njf'titti da dnplicfii^i'fi do cubo , e da trisec^ao do anyvlo.
Etpia^ao jjiuaholica — determina^iio dos valores dus
leiis coefficifiitcs — tnlf rpola^rto.
Curvas (III. IS — cunthuiile — cissoide de Diodes — lo*
^arilhoiica — ilus seiios — quadralriz — cycloide j e suas
diversas es[ifL'ies.
EpicycluiJt's — spiral de Archimedes — spiral byper-
bolica — sjdral logarilhmica — spiral paraboUca.
ALGEBltA. SUPERIOR.
Theoria das permula^ues , e combjna^oes — sua appli-
Cfl^ao ao d^s^Mi^oh imeiito da pulencia d'liiii binomio , e
d'um polyaumio , laiilo no casu de st-r o e.xpueule jnleiro
e po5itivo : cumo fracciuuariu ; oegalivo; irracional j e
imagiiiario.
Nnineros fignrados.
Pernitita(;o'-3 e coaibina^oes no caso de niio screm as
lelras lodas iljir.'renti-s.
Breves rnscu' s subre probabilidades.
Conipasi(;ao das tquai;5es — rela^ao das raizes da
eqiia(;ao cjm os sens coefficii.-ntes.
Transfdrin.iQri.) das ''qiia(;(5eji — l!iei>rla das drrivndas.
Limitcs lias ( lizi'S pclo nielhuiio de Brt-l , e de Ne^vton.
Raizes cumm^-nsiiraveis — raizes eguaes,
Theoria da eliuiina^ao.
Kxistenciu das raizps.
Raizes iiicunnuensuraveis pelo inclhodo de Newton , e
de Lagran;:p.
Re^ra ile Df^carlcs — melhodo de Fourier — applica-
<;6es d'esle oie'hDilo , e sua compara<;ao cum us de
Newton , e ile La^riin^e.
Raizes inia::iiiarias — sua forma e modulo.
Abai\auienlo do ffrao das equa^oes.
Equacufs a dous (ermus — ruizes da nnidade — Iheo*
rcmas de iMdire , e de Cute;'.
Euua^ucs a Iri s lermos.
Raizes das expres^oes cumplicadag com radicaes.
ResoIii(;."io das HquacjOes do 3." e 4.° grao. Inulilidade
Jas lenliitjias ptrji a ri'SidiK^Ho das equa^'Scs do grao
superior ao 4." pur nu-io de formulas aiialytiL-as.
Funci^oes sym' tricas. Sua applica^ilo a resoln^rto das
equaqoes — a eliuwna(;ao , e ao grao da equa^ao final
que resnlla da rlimin.iijao.
Geranrto , e pr.prii'dade? das frac^oes conlinnas.
Eqiiai^oes delcruiinadas , e indeltrminadas do 1." e do
S.* grao.
Equaf^oes indetcrniinadas de grao superior.
Resnlui^ao das eqna(;3es numericag,
Cueflii-ieiiles indelerminadus — deconiposi^ao das frae-
^oes racionaes.
Series — cundi^oes para a sua convergencia.
Series recurrentes — exponenciaes — logafilhmicas —
cij (-III, ires.
Melhodo inverso das series.
Efpiacues de conJicao — methodo dos menorcs qua-
dradu^.
r.EOMKTRTV A.NALYTICA A TRES DIMKSSUES.
Tii^'ononietria psferica.
Suptrfii'ies e curvas de ilnpla curvalur.n.
Eqiia(;oes dn phmo , ^u cylindro, do cone, clc. — >
prohlenuis stiLre u ptaiio, e a liidia recla.
Transfonnafjrio de coorJenadas.
lulerseci;ues planas — supeificies de segunda ordem.
PRI.NCIPIOS ELEMENTARES DB CALCILO DIFFERENCIAL.
DeBnit^oes — Iheorema de Taylor — re^rras para as dif-
ferencia^ops, ou deriva<;oes das func^oes aljjehricas;
e\ponenciaes ; logarilhmicas ; e circulares. — Derivadas
das eqrihcuos,
IMiidanea da variavel imlependente.
Cdsos em que o Iheorema de Taylor e insufficienle.
Metliodo para leme'li.ir esla icsufficicncia.
Limites da serie de Tayl-T.
Uesenvolvimento em series das func^oes d' uma so va-
riavel. Theorema de Maclauriu,
Expressoes 05-,oX°=, — , " — *= etc.
Diis vwxinia , c m/«/mn — exemplos e applica^ues.
M'-lhu-io das tanuenles — recliGcai.oes — e q'ladialnras,
Principios c re^Tas do calriilo diflerencial Iraludo pelo
melhodo infinilesinial. Comparacao deste nu-Uiudo com
OS de exhanslau ; dos limiles ; das fluxoes ; e das deri-
\ad>.s.
Sua vaulagem pratica sobre csoulros.
PRINCIPIOS ELEMENTARES DE CALCULO INTEGRAL.
Regras fiindamenlaes da intesrac^ao das fnnrcoes d'u-
ina S(5 variavel — iiilegra<;au pur partes — cun3idera(;oe3
sobre as conslantes que se jmilani aus inlegraes.
Inl('L'ra(;iio das frae^o-'s r.iciunaes.
InIi'L'ra(;rio ile al^iunas fuiici;ri-s irmcionaes.
Oifferenciaes binomias ; e regras fundamenlaes para a
sua inlegrji<;ao.
Inlegra^ao das func^oes exponenciaes , logarilhmicas e
cireiilares.
Con.tantes arbitrarias — Conslanles entre Jimiles j ou
inte^raes defiuidos.
Jnlregratjao por series.
Quailraturas e reclifica^oes — areas e volumes do3
corpus.
A-STROXOMIA.^
Nos dias 3, 4- e 5 d'abill de 1854 loma-
rani-se com o circular rcpelidor no observa-
torio de Coimbru azimullis e distancias zpni-
ihaes d'um Coinela, que se coinc^ara alii a
ver nos dois dias precedcnU'S.
O astro ia perdendo successivamenle o bri-
llio; o que, junlo a circumslancia de crescer
a phase him'inosa da lua, foi_ causa de se
lazerem as observagoes com difficuldade , e
1 O primeiro desles arU^os. foi reci^bido na redar(;ao
em 14 d'abril , e pela sua unporlancia vai no presenle
n.* do jornal , coja publicat;ao tinha-se alrazado por em-
bara^os ioevitaveis.
sein inteira confian^a , em niinieio do 8 no
piiiiieiro dia , de 6 no segundo , e de 4 no
lerreiro.
A pczar d'csia desvantag;eni , e da prove-
nioiite da nalureza do iiiitruinento, do pe-
ijiieno raio do sou circiilo azirniitlial, c da
dilTiculdade que ofTorecia a leiliira do nonius
cl'esle circulo, a disciisjfio das oLservajoes
foz adoplar as sci;iiintes cooideiiadai, jd cor-
rt'clas da refrac<;rio:
3'enipomcd.oslr. Dili. Zenithal Azimuth
Z.^lSb.'bb" 77.°45.'-10'' 78.° 0.' 0"
4 7. 33. 18 77. 57.30 78.59.30
5. 7. 3d. 2 77. 18. 0 CO. 40. 15
E determinando com eslas coordenadas os
cinco elejiioMtos qtieassignatn a posi^fio e figu-
ra da parabola, corn a qua] a orbila se con-
funde perlo do perilielio, e a posiCj-fio do
astro eiu lun tempo dado, acliarani-se os se-
guintes, que sao os medics enlre os oblidnj
por dois calculadorci dilfercnlei, c nos quaes
Mipprimiinos os segundos d'angiilo e a qiiarta
letra decimal.
Tvonp;. lu;l. do node asc. (q) 317* 0'
Incliiiac.'io da oiljita 78.° f)2'
l.oll{,^ licl. doperiliclio J7!).°30'
Disl. |K!rili., sciido 1 a media
da terra ao sol 0, 277
'J'onipo da passagcni pelo ^
pcriliolio inar^o 23, 932.
A di-laticia do Comela a terra no le!npi>
da obsiMvay'io do dia '1 era 0;05 , e a minima
fui 0,83 no dia 1.
A Inn de I'.icililar a vciifica^fio d'e-les ole-
menlos, dainos para os tcinpo-s <la:. oUserva-
50C3 OS se^'iiinlPs resnltados , lambi-rn medio*
entre os dos <lois calculadores , f.izondo a
niesma suppressuo das docimas miUesimas •
dos seL'iindos :
-■^S. Dccl. J.oiifj. geoc. Liit.geoc. J^O'ig.licl.
35.° 8' +1G.°59' 38.''27' +2." 43' 138.° 8'
38.27 16. G 41,11 +0.57 137.18
41. 34 15. 7 43. 45 —0. 54 130. 40
Lttt. hcl. Dist. antol.
+ 5.° 3 1' 0,42fi
-f 1 . 43 0, 4 19
— 1. 39 0,471
r'ora mais cxacto repelir o calciilo desde
as longitudes c latitudes geocenlricas , corri-
gindo estas coordenadas do cli'oilo da aberra-
^•.'lo, qi\e para as longitudes anda por 1';
mas nfio juigarnos necessario fazer esta cor-
recjao, e menos ainda a da parallaxe, que
])ouco cxcede a parallaxe do sol.
Ve-se pois ()ue o astro atravesson a ecli-
plica, de norte para siil, no dia 5 quasi as
spte lioras da manli.'i, e que oseu movimcnto
e retrograde.
Pode Lalvez suspeilar-se que cste Comela
feja o de 1677, alteiidendo a concordancia
das snas distaneias perilielias e das inrlina-
joes das suas orbitas ; no enlretaulo n.'io ar-
riscareinos conjoctura a esse re-pcito.
Eui|)regon-se o circulo repeliJor, porque
nao appareceram no campo do equatorial
cslrcllas de couipara^'fio. Apenas se pode
obscrvar com elle no dia 3 uma pequena
eslrella, que a ser a 771 do cataiogo de
Jiril/is associiilion , dnria pura eoordonadas
do Cometa as se"uintes :
Tempo
5.'7.''33.'38"
AR.
35° 7'
Oecl.
+ 16.° 54.'
Cumpre porem advertir que a construcyHo
c dimcnsoes d'este instruuiento nfio perrnit-
lem mnior confian^a que 5', segundo obscr-
vafoes que em outro Icmpo se I'lzcram com
o fnn de experimeiital-o , quando se mudou
jiaia 40.° 12', 5 a primitiva iiiclma^fto de 42°
do sen cixo.
Mais mn exemplo ahi tcmos da falla que
fazem no observatorio do Coimbra inslru-
luenlos bons, e aprojiriados as observajoes
que n'elle se devcm iii:taurar. T'elizmenlc
conlamos que em breve terminnra urn lal
estado de cousas , pori|UC nos consia que,
em virlude das ordens dogoverno porluguez ,
estao comprados cm Inglaterra e encaixota-
dos , ha algum tempo, o circular meridiaao
e o equatorial para este observalorio.
S. P.
Depois de termos escriplo o arligo rol.itivn
ao Cometa , lemos na I'resse de 12 d'abrit
quo elle fura vislo em Franca no dia 23
de mar^o pelas 4 lioras da miiiih.'i ; rpie era
muito brilliante; e que os a>tr<uiomos dc
I'aris o n.'io poderam depois ver senfio ni>
dia 29.
Gomo o desnpparecimenlo podia resullar
da pequencz da clonga^'io, on de .ser o
nnseimeiito ou occa^o do astro muito proxi-
mo do do sol, apressiimos-nos n fazer os cal-
ciilos necos.-arios para cxaminar te os nossos
el ■menlos cram conl'ormes com os faclos re-
feridos.
Acliamos :
Tempo I.o„g.geoc. L''l-!J"',i,com.ao,cl
Mar5o3],"'928 357.°52' +15.°43' IG.° 8'occ.
23, 9.'8 3 50 16. 3 16 8 or.
2i, 928 10. 36 15 31 16. 23
27, 928 17. 40 13. 36 16 57
29, 928 24.53 10. 53 13 60
31, '.Ua 31. 20 7. 17 21. 10
Abril 2, 928 37. 22 3. 32 24. 15
E para differeiicas d'a?cenf,'io rccla era
lcm])o, poui'o niaii oa incnos :
23* lis 10 tlamonli/i ."53'. Cornota occM.
21. '• G'i '
26 )• 7
28 II I-") 5 CoiiR'Ui orient.
30 .) 39
Assim no dia 23 devia o Conieta appare-
cer dp maiilia precedendo em asceiisfio recla
o sol 35', e no dia 29 de tarde seguindo-o
32'; donde resulla, que seria o son nasci-
menlo anterior liora e meia ao do sol no dia
23, e o sen occaso posterior no dia 29.
Estes resultados, e a passagem pelo peri-
helio na manlia do dia 24, explicam o appa-
recimento no dia 23 de manlia, o desappare-
cimento seguinte, o reapparecimento na tarde
do dia 29, e o brillio do astro na primeira
observajao. S. P.
BREVBS IIEFI.BXOKS IIISTORICAS SOIIRB A
WAVIiGA(;\0 DOJiO.NDliGO , faCLLlUllA DOS
CAaH>OS DE COIMBUA.
CoulinuaJo de pag. 291,
Reforma do encanamento exislente.
O piano de reforma que propomos para o
actual encanamento, a fim de beneficiar a
cultiira dos campos de Coimbra , consisle em
construcjoes simplI^;i^simas , que sendoconve-
nientemente execuladas devem indispensavel-
mente produzir cousideraveis mdhoramentos.
Nfio e preciso grande esfor(;o de razao para
compreliender o systema das obras que vamos
indicar; reconliecemos que este systema posto
que nfioseja niuiloscientifico, naocarece toda-
via deensaios para confirmar os sous resulla-
dos , por serem de primeira intui(;ao; taes
meio^s teem sido, e verdade, empregados em
ponto [jeqneno, inas d'elles tem-fe ju coltiiilo
optimos elTeitos , e em ponto grande confia-
nios que tambem se obterao na devida pro-
por^ao. A experiencia e sem duvida a me-
llior mestra, porem a necessidade fertillssi-
ma inventora.
O bairro baixo de Coimbra (que e' con-
stantemente a porg'io mais povoada d'esta
cidade) eslaria desde n)uitos annos, ou se-
pultado em areas do Mondego , on convcrtido
em pantanos insaiubres, se a earnara muni-
cipal nfio tivesse sabido obslar a semelhante
calamidade ; o remedio lem sido de faoil
pxecu^fio; o effeito proficuo , c sein grandes
despesas feitas com enipregados especiaes.
Ignoramos porem se o primeiro pensamenlo
da obra se deva attribuir a conliecimentos
scientificos, se antes a inslincto dos cama-
ristas antigos ; mas e certo que o resullado
lem sido feliz, e que as camaras niodernas
nao tern feito mais do que tnlliar o caminlio
encetado por sens antepas.-ados. Tern pois a
camara municipal tido a caulela de fazer
elevar o piano da cidade baixa a proporrao
que o alvon do Mon-j.'go vai subludi) , a fim
de se conservar sempre alguns palmos snpe-
i rior a eorrenle do rio , e evitar (jiie as enclien-
te> nrdinarias al.igueni o.-, edilicios. E uui
costume secular eui Coimbra, de cuja pra-
tica, e bons resultados seria ocioso faliar
mais largamente. Citaremos todavia uui
exempio recentc.
A insua de J. G. Vianna, entre o Monde-
go e a estrada no sitio denominado da Ale-
gria , sol'fVeu uUimamente reforma, e foi
melliorada pelo systema das camaras de
Coimbra. Ha poucos annos eslava aquelle
predio quasi tolalmente esterelizado , n'umas
partes por causa das areas que o Mondi'go
para alii linha arrojado , e n'outras por causa
dosbaixos, que lieando , mesmo no verao,
nivelados com aagua do rio, nao podiam ser
cnllivados. E como reraoveu o proprietario
estes males? fez al)rir uma valla, e lanrar
iiella a area, servindo a terra da valla para
enclier os sitios baixos ; guarneceu a margeni
do rio com uma bem serrada tapagem de
salgueiros vivos ; mandoii construir um muro
ao fundo do predio, onde as aguas das eu-
clientes, n'uma repreza inomentanea , dei-
xam precipilar alguin lodo , que, alem de
iertilizar o solo, concorre em parte, para a
eleva(,-rio da insua acima do alveo do Monde-
go. Por estes meio^ conseguiu pois libertar
o sen predio d'uma ruina que parecia sem
remedio, e o converteu n'um dos melliorcs
das suas visiulian(,'as. Muito conviria que os
donos das insnas d'uma e outra margem do
rio, acima da ponle de Coimbra, seguissem
o exeuiplo d'este proprietario.
Nfio queremos dizer que nos campos <]>:
Coimbra se empreguein todos os meios de
que ^e aproveiton aquelle proprietario para
mellioramenlo da sua insua , porque nao per-
lendenios inculcar impossiveis; mas entende-
mos que e util e exequivel o pensamento
principal =elevar a snperficie do canqra coin
a^ areas do Mondego =. E a nao ser o novo
encanamento, cujo piano jd expendemos,
nao encontramos outro meio rasoavel de
ob-tar aos estragos dos campos, e ate da
melliorar a sua condigao, senao pelo fvsle-
ma das camaras de Coimbra, nao obstante
ser um systema d'obras provisorias.
(.) ]>lano proposto deve principiar pela
abertura de vallas profundas, nos sitios mais
baixos do campo , transporlando-se depois
para ellas area dos logares do alveo , em que
iiouver maior accumula^riodella. E mister que
a- vallas se deixe um vazio de palmo e meio
pelo menos , ou o que mellior parecer, que
depois sera clieio com parte da terra exlra-
biija das vallas; e a outra parte deve ser
espalliada pelos sitios baiNos conligiios as
inesmas vallas, para d'e^te mod.) ficareni
mais subidos do que antes eslavam. E eviden-
te que por estes meios se consegnem simul-
taneamcnle os fins desejados : elevar o cam-
po, e rebaixar o alveo. A pezar de ser esla
*
a idea principal do nosso pl.inn , jiilgamoi
ipie o bom resultado depende aiiida de algii-
inas obras addlcionaes, que seriam imilei«
>em o desempenbo do pensameiilo principal
do piano. E necessario :
1.* fazer restituir o alveo ao sen limito
antigo, ao raenos nas partes em que elle
U'lii adqiiirido major aiiiplitiide:
2.° defender , pelo mellior mode que a arte
indicar, as paredes internas do leito do rio,
para evitar que a corrente da agiia conlinuL-
a escavar o terrene marginal. LL-nihranioi a
eravaCjfio de eslacas de pinlio , e a planta(;rio
de arbuttos adequados ao local, e ao fun que
se lein em vista. A folia d'esta providencia
tambem tern concorrido para arniiiado cam-
po em algumas partes em que elle confina
com o rio, porque a corrente niina o lerreno
lateral, faz com que elle desabe no alveo,
e por esle mode accrescenta uin mal a outro
mal. £ mister por lanto acudir com cste
remedio aos silios onde e reclamado com
mais iirgencia e brevidade.
Nao foi nossa inten^ao, quando princi-
piamos a escrever esta memoria, emiltir opi-
niao alguma sobre a obra d'um novo ou re-
forma do actual encanamento do Monde-
go; o nosso fim era tao somente fazer uma
synopse da legislasao que Ihe diz respeito,
desde os tempos mais reconditos ale noisos
dias, por nos parecer que todos os auclores
que tern escripto u cerca d'obras hydraulicas
do rio de Coimbra, nao tiveram inleiro co-
nhecimento nem estudo especial d'essa le-
gislagao, ou porque o juigasseni superlluo ,
ou porque nao livessem opportunidade para
consultar esses monumentosescriptos. Porem ,
depois de havermos analysado attentamenle
todas as pegas legislatlvas, depois de nos
havermos convencido da inutilidade das obras
que consla terem-se praticado no Mondego ,
e finalmenle tendo vislo os diversos pianos
de canallsajiio que tem vindo a lume, pare-
ceu-nos em resultado que nenbum pode satis-
fazer os dous pontes capitaes=: melliorar a
cultura docampo, efacllitar a navega^ao^;
foi por isso que aventuran)os a nossa opiiiiao
em assumpto tao importante como diflicil.
M. DA CKLZ PERKllU COUTINHO.
P. OVIDIO NAZAO:
Dos Tristes — Livro 4.°: Elegia 10.*
o
ARGCMENTO.
Nesla elegia declara Ovidio, qual fora a
sua palria , e quaes os consules romanos do
anno do sen nascimento. Relata depois resu-
niidamenle toda a historia da sua vida, e
fimmera a final os males do seu desterro ^
a f,'randeza dos quaes o lr;ioI<) dits Muj-ms
llie toriiou niLMioa iusuppoiiavfl , n'sultando-
Ilie dat[ui iiotavfl (iuieUn;ao ao sen cspirito.
Kn , que fiJra o cantor dof amorosos
HriiaUus vt-rsui , d imslerui , (jue os lerilpB ,
UiieiD fiii , jaln-nilo fic;irri.s jii;nr;i.
— Si»lmon;t , palrid miiitci fui , ili; fi>nlei
Frias ttliuiiij;iiili?9iinn , c drz Mjtr-s
Milliiia iii.ie de Uunia seiKir;nlH.
— Do niiM'inifiito men luUcz u Iimii|>o
SrtUer lamliem queJraes. l'\»i (pMiido ^oljie
Sinnillaiieu a iluiis coiisulcs futtara
Cum snrte i-iial ila vitlu o iVAnX fio.
— So qiial a |)osi(;*ii) minim, dus v<lluis
Mtiis a\oencus Iierdada ? Fui ii et|ii«'stre
Ordcm a que occupei , nau da forluna
Peliis dadnas ft-ilu ca\alleiru:
NVm o primeiru fui ii<i eslirpe minlia ,
N'ella nijjs \eihu um irmao me prfccdcVa
iMt-ZL's duzi- ; mas d'amljos iijual dia
I'ui u natal J e aimultanea olTerla
Ous doiig o nascJiuento celebrava :
Nus de Minerva armi;;era festrjos
Era o primeiro dos que ansipnalados
Cum pelfjas soiam ser cruentas.
— Nas arU's da puerJcia eis nos adeitram ,
E o paternal desvelu a ambos envia
Logo depuis a Ruoia , ondo de msiirna
Mestrei colbcmos as lic^Oes pre&tantes.
— Desde annos rerdes ineu irmuo tcndja
Para a arte de fallar , como nascido
Para o8 combates do verboso foro.
Desde menino a mini sonieiite ui sacros
Da popsia luyiterius me a?radaTam ,
E a furto a si as musas me altrahiam :
<t Esse inuLiI eatudo (vezes muitas
" Me dizia meu pae) para que o tentas ?
u Pobre seinpre viveu , murreii Horaero »j :
Im|)res6as laes palavras dentro d'alma
De cerlu me ficaram , e baixando
Lo;:o do Helicon, em simples prosa
lnteijta\a escrever ; mas espuntnneos
Versos a penna so hia escrevcndo,
Eram so \ersos as palavrns minima.
— Surrrtleiros correndo em lantu os nDDOS ,
A niim e a meu irmao \iiil a loj,'a
De Inrga banda de purpureo c-lufo ,
Ja dos liumbros peodenles nos uniava ;
Mas d'ell'* o esludo e o men sao senipre os mosmos.
— Annos ju meu irmao vinte conlava ,
Qnando, a morle roubamlo-m'o , perdida
Uma parte senli da csacnria miuha :
As houras umbos juntos recebenius
Projinas da juventirde , elle Cuniigo
Exerceu dos triiim\iros o empre::o :
Apenas o meu pusto no senado
Me restava occiipar ; foi-me esta lionra
Cuarclada someiile , as for(;as minlias
Onus superior ; que a um tal trabalho
Era o meu corpo e esfiirito inipdlenles,
Nem da ambirao solicdo eu cura\a,
Acenando-me as musas que os dui^can^os
Seus paciUcos aides procurasse ,
Ao meu senltr tmpregu o mais mimoso.
— D'aquelle tempo os inclitos poetns
Frequentci , acolhi ; onde encuntrava
Vates , morar alii deoses julgara.
Macer muito mais velho que eu , das aves ,
Das nocivas serpentea c das planlas
Vczes muitas me lia o seu poenm :
Muitas vfzes tamliem Propercio vinha
Seus \er8os amorosus recitar-me :
Puntico nos hexanietros , e Basso
Taoibem pelos seus jambicos , illustres ,
Da minha foram convivcncia membros
Na mais doce uniao : oi meus ouvidos
O numeroso Horacio deleitava
C*os versos cultos do alaijde ausonio :
Vi apenas Virgilio : o fado eicuro
\ao a Tibiillo ileii trnipu Laslaiil**
l*ara a iniiiliii ^'uxar tenia amiaaWe:
<ialIo sell successor fui , e Prupercio
Veio logo (iepois : em siiccffler-lhcB
Na onlem dus Ieni|nja fur dVIIt-s u qiiurto.
— Bern como aos jii pus^ftdus »Iava ciiiluS ,
Dus pufiierus cu ciilloa reccl'iu :
Minba Timlia em Kuinn conlit-iida
Se fei em bre\e ; (iiiaiulo us ineiiii prirueiros
.\o povo t!f;j a I<*r jinfDJg lers"?,
Apeiias lima vcz, diias au tuiiito,
Cortudo tinlia u biiru barhiloiro.
— Por mini, cntilada com snpposto nome
Por lodd Ruiiia , a relebre Carina
Foi quem me despertuii en;:eiiliu e eslro.
Miiilo eeerevi ; mas ^endu-Ihe us defrilos ,
A's chanimas o entregiiei que o cotriiiiiscm.
CuatleoiDado ao ileslerru , cunra o eAliidu
Men valido , e mens versos iiub^nado ,
Algnns queimei , beni que uiiida me iiL'radassein.
— Poslo que iiin cor.i(;au si-iisivel tenha
£ de Cupido :'t« sfttas accessiiel ,
A quern piitiba em arrHo causa a mais Ifve ,
Com minimo valor pnimpto a ncceuder-se ;
Vefsos nunca saliricus da pt-nua
Miuha contra nrngtit;in ji'iaiais sairam.
^ Pur niinha esposa quasi iia puericia
Mnlher ijcm di^na on nlil nie fui dada ;
Mas d'nin con8orcio tal foi curio o praso :
Oulro the succedeu , bem que sem crimes ,
Que no meu thoro uupcial mui pouco
Tempo durou tambeui : tcrceira esposa,
£ ullimn a mim se tiiiiu tambem jior annos longos,
E d'um quiz desterrado ser con^iorte.
Uma fillia so live, mui juveri
Tezes duas , mas niio d'um so marido ,
Concebendo , d'avo me impoz o nomp.
— E 08 aeus destinon ja meu pai encltcra ,
Nove lu«tro8 juntando a luslros aove ,
Cijja morte chorei , qual elle a miulia
Cboraria lalvez. Em curto praso
De mioha mai solTri tambem a perda
Ditusos ambos, ambus sepultadoi
Com opportuna morte , autes que a pena
Do exlerminio do lillio o» maguasse ;
K eu ditoso tambem , puis ja nao vivos,
Sou da desgra^a victima , e ainar^'usa
Do fiJho tiles nao e a sorte dura!
Mas all ! se de quem murre , aleoi da moile
Alguma couea mais Uie res-ta ainda .
Se a tenue sombra da fugueira escapa ;
O ainias de meus paes , ie a voz da fama
Os mens crimes fizer soar na Styge,
Sabei , acrt-dilai (pura verdade)
Que nialdade nao fui , fui erro apenas
Do meu deslerro a causa verdadeira :
Basle-Ihe islo saber, quem ja nao vive ;
E a vus nje torno i)oi8 que desejosos
E«tae6 de ouvjr da miuha vida os cusof.
— Da edade os annos juvenis vulvidos,
Ja na fronle a nssomar me come^avaiu
D'aUo negro uiei^rlados us cabellus ;
Depuis do nascimenio meu , a lesl.i
Da |)alla'lia oliveira coruada,
O cavHileiro veneedor em Piaa
Por \tzet dez (jaubara o premio honroso,
Quando do priucipe ofTcndido a ira
A ir niorar me ordrnuu eulre os Tomitas ,
Do Ponlo eiixino a esquerda cullucados:
Do meu exilio a causa e bcm saliida ,
Nem a mim me compete o declaral-a,
— Dos mens guardus e famulus perversos
Para que hei de cuntar nefandui (ractos?....
yiieram-me soffrer nSo menus diiros
Dos que us do proprio exilio acerlws males;
Mas a elles succumbir nao quiz niinba alma,
Com as for^as suas resistiii-lhe invicla ;
E , dos ucios anticfos esquecido
D'armaa fiz uso , per mim nunca usadas;
Ko mor^ na terra desvenluras lantas
Cahiram lobre mim , qnaei ouuca virum
Os que o vjiiiel Pulo e o occullo habilam ;
Te que a final , depois de errores loiigos
Do Jela sai^iltifero ii« moradas
Na Sarmacia arribei , e bem que em rolla
De mim uii^a soar da cuerra os lirados ,
Como posso , a tristt-za alliviando
Vou com meus versus, nmilu embura surdos
Aqui da l^ra dos 6uU)( su ache ouwdus ;
O tempo a.^sim coiisuuimo^ assim o eii^ano.
— Se puis vivo» e aus Irabalhus meus resisto ,
Scm que udiui-a nie sij.i a \iila inqtiieta ^
A li o devu , u musa ; puis nie unlori^'ag
Duces cousula<^o'-s , e a nieiis ciiiitarlos
Dfscanco , e a mens desnptres medicina :
Minlia ;;uia tu es , lu mu acompanhas ,
Do Islru me shKus, e no sacru Piudo
Kntrc as tuns irmas \a» ilar-me assento:
Tu (o q'le e raro), a mim vivo ainda, d^*le
Sublime um nome , que depois da campa
So ;:oznr aus murines e concedido:
Nem dos prcsenles a iniqua invtja
Sens deutes impriiuiu nas obras minhas.
D'esic hcculo , em vales ^ramies ferlil ,
Jamais a fama esciircceti meu nome ;
E, bem que a mim eu muilos anteponha ,
Nilo inferior a elles me aprecoa
A vuz universal, e cm vabto espa<;o
Sei ja que lido sou do orl)e inteiro.
— Se e dado pois aos vales do futuro
Versos arcanos presagiar , 6 terra ,
Todo leu nao serei , e apus a morte
Esta poetica fama , on m'a conceda
O publico favor , cu de justiqa
Ao esiro e entrenho meu devida seja ,
O candido leilor eu t'o agradei^o.
Continua p. de CARVALHO.
IMPRENSA DA UMVERSIDADE.
Uma complela reforma eia de lia mnito
reclamada n'este estal>eiecimento , que, po-
dendo ser utn dos mclliores do reiiio rresle
geiiero, tlietj-aia com tiido ao mais deplo ra-
vel esl£jdo.
O (ilvyru de 9 de Janeiro de 1700, que
ordenara o rej^ulamcnlo por onde se devia n;ger
a impren^a da uiiiversidade , e que continli;i
uleis e salulares providencias para o adiaiita-
meiito d'esle eslabeiecimedio J que d*^via ser
uma verdadcira escliola d'arte lypographica ,
nuiica teve plena execu^ao, e d'aquella nies-
ma parl(* , tpiu aprincipio eslivera em vigor,
muilas dibposi^oes jam ficandoem esquecimen-
lo , ou cram de todo contrariadas por viciosas e
abusivas pialicas, conv^Mlidas a final ent re-
solu^oes da confcrencia , que prebidia ao go-
vtrno d'esta impiensa,
Em 1834 uma reduc^ao nos ordenados dos
empregados foi a unica providencia , que ao
tomou n'esta reparli(^ao, que continuou no
mesrno senao cm peor estado, porque cessando
a fiicalisa^ao das suas contas, pela extinc^ao
da junta da fazenda da universidade, naO se
cuidou mais nem dos inventarios das obra»
impressas , e dos typos, moveis e ulensilios
da officina, nem de eslabelecer uma conta-
bilidade regular, e legallsada com os precisos
doctimentos.
Por mais de dezoilo annos a adminislra^ao
da imprensa da universidade vendeu as obras
8
que quiz , tirando-as dos depositos , onde
existiani sem invenlario, e nao apreseutando
outru documento para coinprovar as vendas
feitas, senfio a declaraffio do proprio admi-
nibtrador, que as Tendia !
Muitas edigoes do classicos portuguezcs e
latinos forao vendidas a pezo , e outras dei-
xararu-n'as apodrecer no liindo de armazens
quasi subterraneos.
A falla detypo, a pezar de se ter compra-
do para ciina de dczasete mil cruzados de
letra desde 1834., e de bons prclos, difficui-
lava as irapressoes, e toriiava-as lao imper-
feitas e demoradas, que muitos auctores
liuscavam por isso oulras typograpliias com
piejuizo consideravel d'esla.
A litulo de aposentadoria dos empregados
da imprcnsa, as melliores casas, e as inais
proprias para os traballios typographicos,
estavam por elles occupudas; e as caixus
de coiiiposij'io , e os prelos achavain-se
ainontoados n'uin corredor, queapeiias recehe
porum lado a luz de janellas que ficani deu-
tro do ciaustro da antiga cathedral : com-
prara-se uma macliina iitliograpliica que ha
mais de seis annos estava fechada por falta
deumacasa, onde se monlasse, em quanto os
empregados desfrutavain com graves inconve-
nienles do servi5o e sem razao plausivel as
melliores salas, mais alumiadas, e liem areja-
das, condigoes essenciaes para estabelecimeatos
d'este gonero.
N'estas circumstancias e' que o cxm.° bispo
de Braganga , vice.reilor da universidade , pro-
poz ao governo de S. M. a nomeagao de uma
commissaode cincomembros, paraproceder a
um inqueritosobreoestadodaimprensa ,e pro-
p6r as medidas conducenles ao melhoram jnto ,
e reorganisagaod'aquelleestabelccimento, tan-
to na parte admin istraliva,como na mechanica.
Por porlaria do niinisteriodo reino de 7 de no-
vembro do anno proximo passado foram no-
meados para compor esta commissao , 05 snrs
Josii Ernesto deCarvalho e Rego , Prancisco
Jose Duarte Nazareth, Henrique do Couto
de Almeida Valle, Jose Maria de Abreu ,
e Florencio Mago B irreto Feio.
A comniisbao coniegou desde logo os sens
trabalhos, procedendo aoinventario gi>ral de
todas as obras, que estavam nns anuazens ,
a'sim como dos prelns , typos, e moveis das
ofl'icinas; e examiiiando ao mesmo tempo to-
dos OS regulamentos, e estylos que se obser-
vavam na imprensa , e ponderando as mais
urgentes reformas, que era mister adoptar
desde logo, em quanto se nao ordenava o
projecio do novo regimento para a mesma
imprensa, no qual a commissao e^la traba-
Ihando, dirigiu ao governo uma consnlla com
a data de 24 de dezembro, em resultado da
qual Sua Magestade foi servido mandar expe-
dir a portaria abaixo transcripla.
Esperamos que as providencias, que nella
se ordenam, os definitives regulamentos e
todas as mais reformas , ie que a imprensa
eate'a propria conferencia por venluracarega ,
e que a commissao nao deixara de propor
brevemente a rogia approvagfio , terao os
mais profieuos resullados para o aperleigoa-
ni'Mito da arte typographica n'aquelle esta-
bek'cimento , e para a sua mais regular e
zelosa administragao , tornando-o digno da
academia a que pertence, o que sera incon-
testavelmenle um grande servigo feito ao paiz,
e li universidade.
Ministerio do reino — l.'direccao — l.'rcpar-
ticao — L." ll.°n.° 48 , e 12.° n.° 121. = Tenda
sido presente a Sua Magestade El-Uci , Uegento
em Dome do Rci, com a data de 2i de dizcmbro
ultimo , o relatorio da commissao creada para
examinar 0 eslado da imprensa da universidade
de Coimbra , c propor as mi'didas de rcforma de
i|ue por Ventura carcr.i ; e verilicando-se , pelo
contexto do dilo relatorio, a neuessidade de se
inlroduzirem nella diversos melhoramcnlus, assim
na parte relativa a su 1 admiiiistracao , como na
parte technica , para que scmelhanle reparticiio
venha a prestar os uteis servioos, que pode cf.
fectivamenle prestar em beneficio das scicncias e
das letras : Ua por bem 0 mesmo Auguslo Senhor
ordcnar e declarar o seguinle :
1.° Pela demissao, que por decrcto de 8 do
corrente mcz de marco foi dada a Joao Fran-
cisco da Cruz , do logar de administrador da
imprensa da universidade , — e nomcado iulerina-
mcnte para estc emprego 0 conipnsilor da im-
prensa nacional Olympio Nicolau Itny Fernandes ,
com 0 vencimcnlo de 1:200 reis diaries, abonando-
se-lhe igualmenle as despozas de Jornada , de ida
e de volta . tudo pago pelo cofre da imprensa da
universidade.
2.° Este novo empregado . tumando Ingo
conheciiiicnto do eslaboleciinento ila officina
typographica da iniivorsldade , csi larecera a com-
missao sobre as modidns de reforina e melhora-
menlo , que coiivenlia adoptar , Innio cm rclaciio
a parte admini>lrali\a , como a nspcito da parte
technica d'aqiiella repartioan.
■J.° Em quaido a commisslio niio conclue o
novo regul.imenlo , que est.i formaiido , e pnrque
a imprensa da universidade se deva dirigir no
andamento deseuj trabalhos , excvcera 0 adminis-
trador interim) as allribuicoes , que nessa quali-
dade Ihe competem pelo regimento de 9 de
Janeiro de 1790: e hem assim is que pelo
projecio de reguhimonto da imprensa nacional ,
que cm 3t de dezemhro ultimo foi renicltido a
commissao , pertcnccm , nao so ao mcblre dos
compositores, mas tamhem ao dos imprcssores ,
na parte em que ellas forem applicaveis.
i.° 0 director da imprensa passara im-
raediatamente a residir nas casas da rua do.Norlc
contigiias ao palacio da universidade; — e serao
transferidas para as que clle actualmentc occupa ,
assim as caixas dc composicTio , como as mais
officinas . que a commissao csclarccida pelo no>o
administrador, julgar conveniente.
5.° Cessa a aposentadoria de lodos os empre-
gados dontro do cdificio da imprensa . e bem
assim qualquer gralificacao , que se costume dar
a tilulo dc aposentadoria.
6." Eslabelecer-se-ha, sem perda de tempo, a
9
machina Hlhngraphica no local que pnrcccr mais
•propriado , scm prcjuizo d'oiitra melliur cullo-
carao, que dc fiiluro possa lor liigar.
7.° Fica pmliiliida , como iiicunvcnicnle e il-
legal, a dislribiiirao das pnipinas de cxcmplarcs
dc obras imprcssas na lypngrapliia da iiiiivcrsi-
dade a lodos os cmprcgados c coinpusilorcs a
quotn ailiialmi'iile sc dao laos propinas.
Dc loilas asiibras, que alii se imprimircm ,
scrao unicanu'nlc roservailos qnalro cxemplarcs
para, cm Cdiiluimidadc das Icis , screm di'lri-
buidos a liililidllieca da soljrcdita lypograiihia ,
— a da univcrbidadc , — a de Lisboa , — e a do
Porlo.
8.« De nenhiima obra imprcssa , qiicr por
tonta da casa , qticr diis parliciilares , se txtraira
maior niiiiu'ni de cxemplarcs do que aquelle que
a confcrciuia , c us auilurcs declararcm por
cscripio assignado por elles , que sera aflixado
na porta da uflicina , sob pciia de mulcla uo Iri-
plo da i:iipiirloncia dos cxcmiilares de niais, que
o imprcs-sor cxlrair do prclu , sendonictade d'csta
mulcla para a p.irte Iczada , c a oulra melade
para quem dcclarar o abuso.
0.° I'rocediT-sc-ba ii >cnda dasobras, que
e\islirem cm dcposllo , nao sendo compendios
aclualmciilc adnplailos nas aulas publicas, com
nm abalimcnlo rasoavcl , que coniidc a concor-
rencia dc couipradorcs.
10.° JVos lermos da aiiclorisacao ja coiiccdida ,
far-se-lia ac(|uisii;ao do nccessario sortimculo de
l«lra para uso da imprciisa
11." A ciUrcga de lelra aos coinposilores
realiz-ar-sc-ha sempre por pczo , veriricaudo-se
em ludos os Irimcslres as diflerenras que houier.
12.° llaicra Ires cbaves em cada urn ilos
arraazens <la iiuprcnsa , das quaes lera uma o
director, — oulra o adrninislrador , e oulra o (ici.
13." Tddos esles tres cmprcgados assislirao
lanlo a cnlrada , como a SiihiUa das obras , lan-
i;ando-sc no lucsuio ado as compclcnlcs nolas cm
dois livros scparados , um da cnlrada e oulro da
cabida , os quaes scrao rubricados por lodos os
Ires dilos cniprcgados cm cada verba d'cntrada
c dc saliida. assim como o seriio lambcm lodas
as faclur.is dc li\rcirus, ou de quacsquer oulros
eompradoics.
14.° Abrir-sc-hao lancos para o fornecimenlo
dc lodo 0 papel que a imprensa hoover de cora-
prar para scu nso , c d'islo sc fata o coiupelenle
iiimuncio no diarin do govcnio, e no jornal que
»e publicar cui Coimbra , raireando-se o prazo
para se recebercm as proposl.is , e dccidindo a
oonferiMiiia a final subrc a que for mais \anlajosa
aos inlcri'sses d'aqoclla rcjiarlirao.
A esla decisao ila coufi'ri'ucia eslariio prcscn-
tes 0 prolado da niii\crsidadc , c o official de
conlabllidade da secrclaria da incsma univcrsi-
dadc.
15.° Todas as obras do rcparo no cdificio da
imprensa , c quaesquer oulras obras que for ne-
ccssario alii fazcr scrao sempre dadas d'emprei-
lada , cm prara , coui assistencia de loda a con-
fercncia. c do official da conlabilidadc da secrclaria
da univcrsidade.
16.° O Icsourciro da imprensa dara scmanal-
mcnle conla documciiUida a confcrcncia , assim
de lodo 0 dinbciro por die recebido , como de
loda a desjcza cffccluada com a Ucvida auclorisac.ao.
17." No fim de cada Irimcslre dar-sc-ha um
balance ao cofre c cabcdal da officina , nos ler-
mos do arligo 14.° do rcgimcnlo de 9 de Janeiro
de 1790 , assislindo sempre a csle ado o (irclado
da univcrsidade, com a confcrcncia, o official en-
carrcgado da conlabilidadc da secrclaria da uni-
vcrsidade , e 0 fid da imprensa ; — e de ludo se
lavrara o conipetenle Icrmo , que sera assignado
por lodos.
IS." A commissiio aclualmenle cncarrcgada
de propor as rcformas de que a imprensa da uni-
vcrsidade carecc, tralarii de acli^ar a conclusan
do rcgulamenlo definilivo , porquc a dila rcpar-
licao lypogra|ibica se devcr.i dirigir, eniiando-o
em lempo opportuno ao Governo , pdo miuislcrio
do reiuo , para scr previamenle approiado; —
c cm quanlo istu nao lem lugar , e auclorisada
a nicsma conimissao a lomar , d'acordo com o
prdado , as providencias ccouomicas , que o beni
da mesma reparlirao cxigir, c nao dcpcndam
dc resolucao rcgia.
O que Sua Mageslade manda parlicipar a mcn-
cionada commissiio para sua inldligcneia e Cic-
cucao na parte que Ihe loca. F'aco das Necessi-
dades em 16 de marco de ISSi. — Itodrigo da
Fmscca Magalhaes.
DOCUMEMOS I.NEDITOS.
Carta qrie o riso^rei D. Joiio de Castro esrreveo a
elrti nosso senhor o anno de 4G (15411).
Continuado de pa^'. 295.
EntracJos dom Alvaro e dotii Francisco na
f'orlaleza, rclirarfio os mouros a sua artelliu-
ria , e lizerao luoslra de querer alevantar o
campo; polo que se amotinar.^o lodos os
La^carins, requerciido a dom Joao , que sais-
fC fora a dar nas eslancias: e uao o que-
rendo elle fazcr, por conselho de dom Fran-
cisco, e d'oulras pessoas, que etitendiau
bciii a guerra, Ibe fizerao tamanbas afronlas ,
que Ibe coiiiprio, lual que Ibe pez , sair fo-
ra, e dando nos seus baluarles, e muralbas,
dom Alvaro 5 e dom Francisco passarao aleiu
com obra de quiiize homes , entre os quaes
ilia Liiiz de Mcllo, e Jorge de Alendoiiya ,
lilbos de Antonio de Mcndonja, dom Diiar-
le Pereira, Pero Lopes de Sousa , dom Jorge
de Menezes, o qual dizem que eiilrou pri-
ineiro que lodos, Francisco Guillicrn, Jam
Pires de Chaul : sendo passados alem , ar-
laiicando os mouros de suas eslancias, e le-
vando-03 todo^ de vencida : quiz o pecado,
que OS nossos Lascarins sein nenhua causa
lojrissem, deixando seus capitaes no campo.
Pello que, tornando os mouros a voltar, ma-
laram dom Francisco, que foi liuu grao
perda ; porque era hQ dos genlls cavaloiros,
que se podifio acliar em nosso lempo, e as
suas paries e virludes erao tamanbas , que
raranienle se poderao acliar lanlas nua soo
pe^soa. Dom Alvaro ficoii no campo aleiii
de suas inuralhas com ciiico ou seis pessoas,
oiide OS ajudou iiuiito Jorge dc Mendonja ,
10
e Liiiz dc lyfollo, e Pero Lopes de Soiisa ,
OS quaes se defendeifio miiilo espnyo de tem-
po de toda a genie de inouros. Nestc coinc-
nos disserfio a dom Jofio como dom Alvaro
ficava perdido. Polio que Inrnou logo com
algua gente ao favorecer. Com osta toinada
atVoxarao algu taiilo os moiiros; com o que
aprouve a iiosso Serdior do ossajvar, foia
de toda a opcnifio e rezfio ; cieiido os que
isto virao da fortaleza , que lora millagie
mui evidenle. Do?n Alvaro trouxe a calie(;a
niui mal aviada de giaiidcs cantos, que Ihe
derao sobre o capacele ao sobir das uiura-
Ihas, e as armas mui passadas de selas , e
esplnguardadas. Affirmfio todos, que, se esse
dia iifio fogirfio os Lascariis, que avifio os
nossos coniprida victoiia , e o cerco fora
alevanlado, com grande lionrra e fama dos
Pcrtuguezes. Isto assim fcito, cobiaifio os
inouros ariimo, e lornarao a assentar a sua
arlelliaria, e cerquar de novo a fortaleza.
Pelo que dom Joao e dom Alvaro logo
me inandiirfio fazer a saber os acontecimen-
tos passados, e os traballios, que liiiliao pre-
zenles , pedindo-me socorro de gente , e mo-
iii^oes. Pello que, em spa^o de dez dias
lancei sete caravellas ao mar, e as arniei, e
aparolliei de cousas necessarias ; nas quaes
embarquei Irezentos e cincoenta Lascaris, e
dozentos pcdreiros, e cavouqueiros com gran-
de canlydade de moni^oes, e as mandei ca-
minbo de Dyo, dentro nestes dez dias. Os
capilfies destas caravellas forfio : Antonio Cor-
rea, Cosmo de Paiva, Jorge de Sousa, Puyo
Kodrigucs dAraujo, 'J'rislfio de Paiva, Go-
mes Vidal, e Afonso Madeira, meslre das
obras , que levou os predeiros. De lodas
estas caravellas o prime] ro que chegou a
Dio foi Jorge de Sousa , e o seguiido Paio
Rodrigues, o qual no caminlio tomou uina
lido de Coje Cofar, que vinha do estreito
com urn capitfio sen parente, que fora fazer
gente ao Cairo. E como chegou a Dio com
clla , mandou dom Alvaro corlar a cabe(;a
ao capitao, e a todolos Turcos, que nella
vinbfio : as mercadorias que na nao vinhao,
mandou a Goa ; pera que se enlreguasteni ao
veador da fazenda. A cheguada destas cara-
vellas poz grande esfor^'o aos nossos, e C|ue-
brantou niuito aos mouros; por que os ca-
pitaes dellas crfio homens muito onrrados ,
e valenles cavaleiros, e levavao mnita , e
boa gente. Dom Alvaro, como llie pareceo,
que a fortaleza tmlia gente em abaslanga
pera sua defensao , mandou cerlas fustas e
catures d'arinada ao longo dacosla, aonde
tomar.'io muitas naos de preza , que virdiao,
do estn.'ito , das quaes, posto (jue se furlasse
muito, se tirou muito proveito dellas pera v. a.
Com todo este socorro, e gente que inandei
a fortaleza de Dio, niio deixi'irao os mouros
de levar sua petiia adiante, e combater
muitas vezes a fortaleza, fazendo muitas
niinas, com que acabarao de dcrribar os pe-
dajos dos uiuros, e baluarles, que ficavfio.
Dizer a v. a partlcularmcntc o como se
ouve dom Joiio Mascharenlias com todos estes
traballios scria nunca acabar ; porque nas
pelejas se inostrava muito valonte soldado,
e na maneira do guerrear grande capitfio,
e no cuidado, e aguazalliado de sua gente
muito virtuozo; de maneira que sens servi-
50s e merecimentos co iienliiia soficieiicia
se acabarao de louvar, que mais nfio sejao.
Deiilro ncsle tempo fiii avi^ado, que por
loda a enseuda andavao inuitos capilfies de
fustas, e calures, dos que mandei de Goa
coin dom Alvaro, roubando, e fazendo cou-
zas muito mal feitas, e contra scrvigo de
V. a., sem quererem entrar na fortaleza de
Dio. E porque erao muitos, e Iraziao muita
gente, pareceo-[ne couza mui importanie
niandar la biia pessoa soficiente ; e do muito
sizo , espericncia , e saber com grandes po-
deres pera os ajuntar, e ou por for(;a , ou
per sua vonlade os levar todos a fortaleza.
E por era Vasco da Cunlia aver lodas eslas
ealydades , o eicolhi pera isso, e o mandei
do Goa a sete de selembro, e com elle Sy-
Mifio Alvures boticario mor com muitas mci-
zinlias, e couzas de bolica , pera curar os
doeiites , e frey Paulo guardiao de Siio
Francisco; por ser liomem muito virtuoso, e
de grande autlioridade , e gerallmente bem
quisto dos bomens; a fim de emvergo-
nliar todolos reveis, que nao queriao en-
trar na fortaleza de Dio. Cliegando Vasco
da Canlia a Cliaul , eBa(;airn, ea oulros
logares da enscada , obrou lanto com seu
bom sizo, e diUigencia , e muitos poderos ,
que de iia levava, que ouve de levar diante
si todos estes descuidados de suas lionras e
servigo de v. a. ; posto que com grande tra-
ballio seu, e eotrou com elles em Dio a
vinia sete de selembro, que foi mui grande
ajuda aos cercados: comessando logo a Iraba-
lliar, e servir v. a., como delle se esperava,
e como queni levava poderos sopremos sobre
todos OS da fortaleza, pnr cauza do desarrau-
jo , que (izerao na saida, sendo contra o
ineu regiaiento.
Tanlo que live despedido Vasco da Cunha
coinecei a entender em me fazer prestes com
toda a gente, e armada, que fosse possivel.
E posto que sobre minha partida ouvesse
muitas opinioes, dizendo , que me nao de-
via alialar sem lodalas naos, galeoes, e gua-
les, que avia na India, e sem esperar toda
a Rente do reino, e a de Clioromsndel , eu
entendi o contrario, e me pareceo, que com
a maior dilligencia do rnundo me devia em-
barcar em fustas, e catures, e irme por na
fortaleza de Bagaim , pera ali ajuntar toda a
gente, e armada, que pudesse, e hir dar
batalha aos capilaes delrei de Cambaia. As
rezoes , que live para isto sam estas. Eoi
lodolos reis e senliores da India erao langa-
dos embaxadores delrei de Cambaia, fazendo
saber a todos, como tinlia tomada a forta-
leza de Dio, persuadindo-os a se alevanta-
11
rem , e me fazerera guerra.: dizendolhe quam
facil Ilies sei ia tomarem as nossas fortalezas,
que estivessem eni siias tunas; pois iios-elle
tiiilia tumado a mais forte de todas, e morta
tanta , e tflo boa genie: prometeiidolhes ajii-
da , e dinheiro pera isso. E jii em todas
coiles, e cidades dos mouros , e gentios so
faziao grandes festas , e alegrias, e davao
muitas alvloaras pola boa nova. E com iito
andava tao graiide alvoio(;o nos mouro?, que
faltava pouco pera se fazer urn alevantaiiien-
to universal : o que senao podia amansar
com oulia cousa, senfio com lomar conclii-
sao com grande presteza no dejcerquar a
fortaleza de Dio. Polo que me nao coiiipria
esperar, e guaslar tempo; posto que a dila-
Jao meaciescentasse gente , e armada ; maior-
mente sendo ja avisado, que de Cliornman-
del nie nao acodia ninguem, e de Cocliiin
se me fora toda pera Alalaqua , Paleacate, e
outras terras , porremissao, e mao cuidado
do capilao; e as naos do reino tardavao tan-
to, que se tinlia por averiguado averem den-
Ternar cm Mocambique. De maueira que
me nao ficava outra genie, em que escorar,
salvo a que se achasse nas fortalezas, que se
contem de Cananor ate Ba^aim , a qual nun-
<)ua se acabaria de ajuntar em Goa , e ajim-
tada fora mui maa darrancar: (lantas sao as
delicias e passatempos desta cidade !) E sa-
'bendo os homens , que eu estava em Ba-
ijaim, era cauza de se envergonliarem, e
acabarem de arranquar mais cedo de suas
casas ; e o tempo, que em Ba^alm ouvesse
de esperar pc^r ella, e acabar de fazer, e
ordenar, minlia armada atromentava toda
Cambaia, e guerreava a eiiseada , e tolliia
OS maiitimentos ao campo dos mouros. Polo
que me detreminei, e parti de Goa a vinta
cinco de selembro com liua armada de trinta
e cinco fuslas e caturcs, e Ires galeoes, nas
quaes fustas vinliao muilos cazados, e iijo-
radores de Goa por capilaes, e as suas pro-
prias castas, e despezas ; a saber, Aiitoiiiu
Ferrao, Juiz d'Alfandegua, Simao da Cu-
nlia , Diogo Gentil, Jam Juzarte, Jorge
Cardim , Antonio iVIarlins; e em poucos dias
clieguei ao logar de Ba^aim. E^.trondeou
lanto minlia vinda , que por toda a costa de
Camliaia se come^arao logo arrecear. Tanlo
que cheguei a Bai;'aim despedi logo doui
Manoel de Lima pera a enseada com algiTas
fustas, e catures , para tollier os manlimen-
•tos, que por mar se levavao ao campo dos
tnouros : o que elle fez com tamanlia dilli-
■gencia , e bom cuidado, que em breve espa-
50 tomou passante de trinla navios carregua-
dos de muila sorle de mantimento, passando
loda a genie delles pola espada, como leva-
va por ineu regimento. E acabado o tempo,
que Uie eu tinba ordenado, se veio ter comi-
go a Bagaim , e entrou polo porto com as
vergas das suas fustas todas clieias denforca-
dos; o que poz grande espanto, e temor nos
raouros. Isto assi feito , comcssei a eiileuder
no preparamcnto de rninha gente, e armada.
E ja cada dia entravao muitas naos, fustas,
catures , Lascariis de Goa ; e de lodalas
foilalezas d.i India me acodiilo de maneira ,
que a vinta quatro d'outubro linlia ja comigo
sessenta fustas, e catures, e doze naos, e
galeoes, e obra de mil e qualrocenlos lio-
uiens , e trezentos pioens Canaris. Polo que,
pareccndo-me, que ja me nao podia acodir
mais gente, e armada, antes fazeiido demo-
ra , me fogiria muita da que linlia, me fiz
preates, e parti de Bajaim lia vinta seis
doulubro , e fui surgir iia illia das vaquas.
Deste logar de Ba^aim se embarcdrao miji-
los liomt'S fidalgos , e creados de v, a. , a
saber, Alvaro da -Gama , o qual veio a sua
cusla nu galeao, e com liua fusta em que
trouxe rauita gente, e mui beni alaviada, e
dom Diiigo de Noronba com bua fusta sua,
e hum Anrriquede Souza, que qua lia muilos
annos , que anda servindo v. a. ; e assi JS'uno
Fernandes Peguado cim outra fusta, e Si-
mao Galego em outra , Antonio de Saa
Pereira em outra. K porque era necessario
liir toniar a ilha dos mortos ; as^i pera fazer
auguada, como pera ajuntar toda a armada ,
que no atravessar do golfao de necessidade
se avia de perder de rnf, por caso das gran-
des correnles : mandei diante dnm Manoel
de Lima com vinte fustas pera correr toda
a enseada , e queimar, e lallar loda a costa
do mar, no que moslrou bein sua cavalaria,
e ddligencia; porque fez a mor destruigfio
na costa, que nunqua jamais foi vislo , neni
esperado; destroindo todolns lugarcs, que
estao de Damao ale Baroclie sein ficar delles
memoria : e toda a gente, que tomou foi
feila em postas, sem perdoar a nenliua couza
viva. Queimou obra de vinlc naos, e cento
e cincoenta colijas ; de maneira que toda a
costa de Cambaia era hiia lavareda e viva
cliama, e as praias se virio clieias de morlos.
U que melpo grande medo , e temor em lodo
o reino de Cambaia,
Contini'ia. N.
FACULDADE DE MATHEMATICA.
O consellio da faculdade de matliemalica
nomeou uma comraiss'io composta dos snrs.
doutores Rufino Guerra Ozorio , e Jacorae
Luiz Sarmento, para colligir dos livros das
actas tudo que merega pubiicar-se no Insli-
tuto.
O mesmo conseUio desejando que tambem
se piiblicassem as demonstra(,"6es , addilamcn-
tos e rnemorias, corn que os respectivos pro-
fessores substituissem 011 ampliasscm algura.i
parte dos compendios por onde explicam ,
resolveu que se remeltesse para a redac(;ao do
sobredilo jornal , qualquer d'esses Iraballios
litterarios, que seus auclores oflerccessem
para aquelle fim.
12
OBSERVACOES METEOKOLOGICAS . FEITAS i\0 GABINETE DE PIIYSICA |
DA UMVEKSIDADE DE COIMBRA.
Anno lie
lii.n4
_1 o
a
— o
r- 5 S
Press3o otmospherica oo raeio dia
Rstadu Iiyjrroniclrico da
almosphera ao meiu dia
-D
0
^ s
Eslndo do ceo e do
tempo.
Mez lie
Mar^o
Altura ba-
ronii-trican
0.° cenlii.
Tcn»iio do
.apor aqiioso
coBtido no ar
Pressao do
ar see CO
3 n
* 4)
= 1
OS
Qiianlid. dc
vapor conliito
cm iitu DiCtro
cuLico dc ar
Dias
Gr.iiia
celltiu'.
Millimelros
Milliuielros
.Millinietros
Grammas.
1
12
76;,848
5,750
757,092
0,537G
5,857
\.
Clar. elimp. T. sereno.
o
11
701,9117
7,202
754,705
0,7149
7,354
l\.
O mesmo. O mesmo.
3
11
701,015
6,8110
754,243
0,0730
6,943
N.
O mesmo. O mesmo.
4
11,5
702,921
8,480
750,441
0,0235
6,605
N.
0 mesmo. O mesmo.
5
11
704,443
7,140
757,297
0,7094
7,2a7
N.
0 mesmo. O mesmo.
6
11
7"5,4:>7
0,713
758,744
0,6 no 4
6,855
N.
0 mcsrao. O nicsmo.
7
12
704,073
6,793
7 57, f! 80
0,0344
6.912
N.
Cl.elig. nubl.B. lemp.
8
ll,5
763,253
6 927
758,326
0,6876
7,073
S.
CI. e limpo. Bora lemp.
9
11
762,922
7,010
755,912
0,6959
7,158
N.
O mesmo. O mesmo.
10
11,5
761,907
7,492
754,415
0,7211
7,036
N.
0 mesmo. O mesmo.
11
12
757,220
7,370
749,850
0,6884
7,499
N.
0 mesmo. O mesmo.
12
12,5
754,432
7,811
746,021
0,7074
7,934
N.
Nnblado. Bom lenipo.
13
14
7o4,li:o
8,439
745,747
0,6982
8,527
S.
Encobert. Temp. vent.
14
13,6
736,528
8,!:o5
747,723
0,7505
8,912
N.
Nnblado. Bum Icmpo.
15
13
762,023
8,0118
754,015
0,7566
8,728
N.
Clar. e limp. T. sereno.
16
12
758.538
8,157
750,381
0,7619
8,300
N.
Cl.elig. nnbl.T. lent.
17
12,5
757,311
8,540
748,771
0,7735
8,675
E.
Clar. e limp. B. tempo.
18
13
755,723
6,6.17
749,091
0,5833
6,729
E.
CI. e limp. Temp. vent.
19
12,5
12
753,103
7,710
7J5.393
0.6983
7,831
N.E.
0 mesmo. O mesmo.
•iO
749,971
7,643
742,323
0,7143
7,782
N.
Nublado. Rom tempo.
21
12
747,530
7,753
739,733
0,7241
7,889
S.
O mesmo. O mesmo.
22
11,5
744,902
8,395
736,507
0,8080
8,557
s.o.
Encubert. Temp. chuv.
S3
11
750,801
7,148
743,653
0.7090
7,299
S E.
.Vnblado. Bom tempo.
ii
11,5
753,329
7,043
746,286
0,6775
7,179
E.
CI. e limp. Temp. vent.
25
11
753,895
6.8!)6
747,009
0,6836
7,031
E.
CI. elirap- Bom lemp.
S6
11,5 7iG,775
7,043
749,732
0.6773
7,179
E.
CI. eeniiev. nohor. B t.
27
12 750,713
7,900
748,813
0,7378
8,033
N.O.
Clar. elimp. B. tempo.
ia
13 757, 3U0
7,074
745,226
0,0217
7,173
E.
O mesmo. O mesmo.
S9
12,5 7G0,nUl
5,694
735,267
0.5157
5,783
E.
0 niesmo. O mesmo.
311
13
758,018
7,135
751,163
0,6532
7,559
E.
O mesmo. O mesmo.
31
14,5
738,940
0,240
752,700
0,5007
6,294
E.
0 mesmo. O mesmo.
nieiiia )
ilo niez i
12,4
737,831
0,6809
Tempcratnra
PressSo m
inosphcrica
Grdii dehu
midade doar
feiilos predomrtantes
-^
Maxima absol. 14", 5
Ma.vimaab.
ol. 705,457
Maxima al
sol. 0,808
N. e E.
E
a/
Minima 11°
Minima ..
.. 744,902
Minima . ,
... 0,5007
iS
Maxima variaij. 3", 5
Max. exciil
sao 20,555
Variar.lo m
axi. 0,3073
Coiui
bra 1." Je Abril de 18
54.
O
Dcmonslrailc
)r da Faciilil
ade de Philo
o]ihia , Joar
uim Aiiijtist
1 Siinue
* de Carvnlho.
€) Jn0titttt0^
JORNAL SCIENTinCO E LITTERARIO.
IIIVERSIDADE DE CODISRA— PROCRAMMAS,
FACL'LDADE DE SIATHEMATICA.
1853—1854.
3." AN.VO, 3.* CADHIRA.
CALCl'LO SUPERIOR — DIFFEREN);as FIMTAS — GEOMETRIA
DKSCHIPTIVA,
Lenle — Dr. Abilio Jffonso da Silva Monteiro.
CALCULO DIFFERENCIAL,
Desenvolvimento das fimc^oes tie duas e mais variaveis
indepcndenles.
Desenvolu^ao de F (x, a- , r^ , . , . . t^) em serie
nrdenada em rela^uo as potencies e productos de a ,
a^ , a^ , . , . . a„ , sendo x = (p(<-i-tts), x^ = (^ ^
C'i^«i *i) 'n=^?« ('«+«« 2^„)' e sendo
= , =,,.... :„ funcgoesdex, x^ , ^^v-'n*
Theuria dos contaclos e evolutas das curvas planas.
Asymptutas das curvas,
Puiitos sinjulares.
RecliGca^ao das cnrvas de diipla curvalura.
Cubalura dos solidos de revolu^ao e medida das suas
superficies.
Ciibatiira dos solidos e medida das superficies curvas
que niio silo de revoI\]t;ao.
ftliiiores e nienores ordenadas das superficies curvas.
Tlu'oria dos contactus das curvas de dupla curvatura
e das superficies curvas,
Anijulo de torsiio.
('iirvaliira das superficies.
Theoria das superficies envolventes, curvas caracte-
rifiticas e arestas de reversito.
CALCULO INTEGRAL.
Inlc^raes definidos.
Applicaijao a rectificaqao das curvas de dnpla curva-
tura , a determinaqao dus ^ulumes , e quadratura das
SUjierficies cu^^as.
Intetrrai;rio das eqiia^Oes differeociaes da 1,^ ordem e
do 1," grao entre duas variaveis.
Separa^So dos variaveis,
E(iua<;<5es humo;,^enea'S.
Eqiia^ues Jineares.
Delerniiiia^iio do factor que torna integravel uma ex-
pressao difiVrenrial,
Tbeorema das fnncijoes buraogeneas,
Solu(;oes sin;;ulares.
Inlegra^So das eqiia(;oes dinVrenriaeH da 1.* ordem e
d'uin pri'io qualquer t-nlre duas variaveis.
I\Ipllu)dos para inte^r.ir por approximarjio as equa^oes
difffrenciaes entre duas variaveis.
Cutislrucrao geometrica destas equa^iles.
Inle;;ra^ao dus equarues dilTerenciaes da 2.^ ordem e
das ordena snperinres eidre duas variaveis nos casos par-
ticulares, em que ella se pode efi'ccluar.
Equa^ries IJneares da '2.* ordem e d'uma ordem qual-
quer.
EIiniina(;ao entre as equa^oes diflerenciaes.
Proldfina das Imjectorias,
E'pinroes dilTerenciaes lotaes entre tres variaveis.
Cuiidiruo neressaria, para rjue uma erjua^ao enlre tres
variu\ei9^ onde as diflerenciaes nao passam do 1." grao ,
possa trr por inlegral uma so equacat* primili\'a.
Outra condi^ao, quando as ijifferenciaes sao elevadas.
Processn para inlegrar uma equa^ao differencial , quan-
do isso e possivel ; e meios de older no caso contrario ,
0 systema dVq'iai;oe9, que satisfazem a propoala.
EfjUA^UES DIFFERENCIAES PARCIAES.
Efjuaroi's lineares da 1.* ordem entre nm nuraero
qualquer de variaveis independenles.
Kqua^oes nao lineares da 1.* ordem entre Ires varia-
veis.
Equa^oes lineares e nao lineares da 2.'*' ordem entre
tres \ariaveis,
Integra(;ao por melo das series,
Delermina^ao das funci^ues arbitrarias.
CALCULO DAS TARIA^OES.
DIFFEREN^AS FINITAS , E SERIES.
Melhodo direclo das diflereD9as,
Interjiola^ao.
Integraijao das differen^as. ;
Somma das series.
1.* parte.
2.* difa
3.* dita
GEOMETRIA DESCRIPTIVA.
Linlia recta e piano.
Snperficies curvas e pianos tangenlea.
Linhas curvas e suas tangeotes.
3.° ANNO.
PTICA.
Vol. 1II>
Abril 15 — 1854.
MECHAMCA RACIONAL ;
henle — Francisco de Castro Freire.
No^oes preliminares.
Composii^ao e equilibrJo das for^as appHcadas a um
poiito material livre, ou sujeito a mover-se sobre super-
ficies ou curvas dadas.
Composic;ao e eqnilibrio das forc^as parallelas.
Composi^ao e equilibrio das for^as , que obram n'um
piano,
Composi^ao e equilibrio das forijas diriiridas no espnqo
sobre um syslema , livre ou sujc-ilo , de pontes maleriaes
ligados invarlavelmerdc.
Theoria dos niomentos. For^as conjueadas.
Appiicarjao da llieuria das fur(;as parujlelas a ind-iijai^ao
dos centros de cravidade dos corpos que se acham a
superficie da terra, — Theorcma de Guldin.
.^^y
Num. 2.
14
Applica^ao da llieoria da composi^ao das fur(;ns ao
calctilu da altrnc^iio ilos corpos — Theorema de Ivory.
Applicui;rio das ecpiaroes d'equililirio aos syslemas fle-
iiveis — polyu'uno funicular — calenaria — pontes suspen-
sas — lamina elastica,
Applica(;ilo ilas ccpiarBcs do equilibrio as maquinas —
ala\anca ; ljalani;a urdinaria ; balan<;a romann — sari-
Iho ; ruldana IJxa ; ruldana muvel — su|ierficies fixas ;
jiarafwFci ; |)lanu inclinailu — ninquinas oi)ni|iusta».
FricrOcs e littena das curdas. Frici.'.lo ncis eixos de
rola^ao ; no sarilho ; no parnfuso ; no i)lano inclmado.
Principio das velocidades \irluaes.
PRIMEIRA TiRTG DA DYNAMICA.
No^oes preliminares.
Movinifnlo rectilineo de noi ponto material. Movi-
nienlo uniforrae. Slovimenlo uuifonnemente lariado. Mo-
vimenlo \ariado em {xeral.
Movimciilo cunilineo de nin ponto material. Formulas
peraes d'este niovinicnto — conserva^ao das fori;as ^ivas
•^principio da minima aci;ao — princijiio das areas.
Calculu das (tressoes nas superGcics e nas curvas.
Fnrc;a ccnlrilu^-a.
E\em|doa do niovimento de nm ponio livre movi-
menlo clos projecteis — for^as centraes — movimento dos
corpos do syslema solar.
Exemplos do movimento de nm ponto snjeito a mo-
■»er-se sul)re nma superricie — penilulo-conico.
E\emplua do uitxiitnento de uni corpo snjeito a mover-
se sobre uma curva — pendulo simides.
SEGU.\DA PARTE DA DTNAMICA.
No^oes preliminares.
Principio geral de dynamica — e.vcmpIos de sua appli-
ca^ao ao movimenlo de dois corpos li-ados por nm fio j
— ao movimento de dois corjios snjeitos a for^as attra-
ctivas ou repulsivas;— i percussao de duas espheras lio-
nioiencas, doras on elasticas ; — ao movimento de um
fio flexiiel e inc.xtensivel.
Propriedades ireraes do movimento de lim sy.slema de
corpos — conseria^iio do movimento do ceniro de grai
dade - — conscrva<;rio das ureas ■
principio das for<;as
princi]]io da minima
Tivas; applica^ao as raaqninas
ac9rio.
Determina^ao dos mementos d'inercia e dos cixos prin-
cipaes.
Movimento de nm corpo solido livre.
Movimento de um corjio solnlo em roda de um ponto
Movimento de ura corpo solido era roda de um ei.\o
fixo. Caso era que este movinienio e devido a percussoes
iniciaes. Caso em que e devido a adj.lo de for^as acce-
leralrizes. Pendulo composto — pendulo de Robins.
HYDROSTATICA.
Equa(;ocj jeraes do equilibrio dos fluidoa.
Eqiiilibrio dos fliddus pejados.
Equilil,rio dos corpos Huctiiantes — slabilidade d'eqni-
librio dos corpos fliicluanlcs — oscillacoes de nm corpo
lluctuanle.
Equilibrio de um inixto de gazes pcjados — barometro.
lIVDRODYSfAMICA.
Equagocs do movimento dos fluidos.
Movimento d'uni liquido n'unia liypotliese particular.
Movimento permanente do um liipiido.
Movimento ilos sazps no interior de tubos.
Movimento de um ^'az indeflnido em todos o» sentidos.
Optica propriaraenlc dita.
Noi;oes seraes sobre a catoptrica e dioptrlca.
Caloptrica.
Dioplrica.
Tlieoria da visao.
Teleacopios — microscopios.
INSTRLCCAO PUBIJCA NA SUECU
E NOllUEGA.
Contiouado de pac. 118 do vol. II.
III.
ESCIIOLAS DO DOMINGO.
Na Suecia e Nonicga lia grande iiumero
d'escholas do domingo. Eslabclecidas para
servirem de cotiiplemeiUo as escliolas prima-
rias, aprcseiitam cstc raino da iiislrucyao em
gn'io iiiais suliido. A sua organisa^ao nfio
oflerece aiiida um systema uiiilbrme, e a ex-
cep(;ao das escliolas de Golheiiiburgo e de
Slocklioltno , as oiilras teem coiiservado esse
caracter accidental que as faz considerar antes
ensaio provisorio cjue inbtiliii^fio permanente.
As escliolas porein de Golliembiirgo e de Sto-
ckliolmo, de que especialmente Irataremos,
apresentam ja, uma forma mais normal ; e se
iiao dfio a conliecer piecisamente o estado
de todas as escliolas do domingo nos dous
reinosj f'azem todavia senlir a sua tendencia
para o piano geral, a que por fim nfio dei-
xarao de ser submetlidas.
Ila em Stockbolnio qiiatro especies d'est^io-
las do domingo: escliolas de catecliisnio (hxf--
IckclskolorJ; escliolas dos ofiicios (kandcerk'i-
kolorj- escliolas da classe media (borgaresko-
lor); e escliolas da socicdade d'artes e ofiicios
de Suecia (slojdfureningcnskolor).
Escliolas dc catcckismo.
Desde 1771 uma sociedade fundada em
StocUliolino com o tiuilo de Sociedade daf&
e do clirisiianismo (Sainfundet pro fide et
christianismo) propoz-se animar com premios
05 escriplores religiosos que publlcassem bons
livros, e fazcr perseverar com zclo no exer-
ticio de suas func^oes os professores e pro-
lessoras mal retribuidos; e procurou princi-
palmente eslabelecer escliolas de caLecbismo
para dilAindir pela nova geiajfio do paiz o
ensino da doutrina clni^ta. Crearam-se sue
cessivamenle de^de 177G ale 1842 em varids
parocliias da capital, doze escliolas de cate-
cliisnio frcquentadas ao niesuio tempo per
mogos eadullos. ?\ 'cslas escholas eram adinit-
tidos sem distinc^'ao todos os indlviduos que
tinliam cliegado ao uso da razao, e liavendo
enlre elles alguns que neiii Itr sabiam , fo-
ram por isso coUocados n'unia calhegoria
diversa — classe de soletragao (slofoanklas-
scn).
'i'ao louvavel dedica^fio d'uma socicdade
particular attraliiu a sollicitiide do governo.
E porque a sociedade sendo bastante rica
nao carecia de ^ubsidio, o governo estaliiiu
em favor dos niestres que por cada anno
de exercicio nas escbolas de catecbismo Ibes
seria contado anno e rasioj e ate em cerlos
15
casos, dous ahnos de servigo ecclesiastico,
vantagem preciosa e niiiito atnbicionada , sen-
do que todos os meslrcs d'estas escliolas per-
tencem a vida ecclesiaslica , onde os annos
de servifo sfio tornados em considcra^rio no
provimento das egiejas e das dignidades on
exclusivanicnle por anliguidade, on decidin-
do esta, quando se requerein oulras liabilila-
Joes, em egualdade de ciifumslancias. Os
annos de servi(;o dividem-se em simples e
duplos , e contani-se sempre do 1.° de njaio:
OS annos duplos conslituiam urn privilegio
apenas concedido por niereoimenlo fora do
commum aos professores dos gynmasios e das
universidades. Taes sfio as orerogativas con-
cedidas pelo governo aos mesLres empregados
nas pscholas de calechismo, aos quaes a so-
ciedade da de gratifica^ao annualmente 200
francos , exceplo aos das escliolas de solelra-
gao que pouco mais e de 67 fr. Os fundos
da sociedade sao de 42000 fr. , proveuientes
de legados que liie teem sido deixados , da
contribuigao annual de 4 fr. paga adiantada
por cada um de sens membros da capital , e
donatives de sens amigos e protectores que
vivem no campo.
Nas escholas de catechismo duram as 11-
goes tres lioras , da uma liora da tarde as
quatro, e srio todos os domingos e dias San-
tos; niio ha porem aula sexta feira santa,
domingo de Paschoa e de Pentecosles, no dra
de S. Jofio e de Natal. Na conform idade do
estatuto real de 1836 devem ser frequenladas
por todos OS individuos de 15 annos a quera
falta instrucgfio religiosa sufficiente, bem co-
Dio pelos meninos que nao podem seguir um
curso regular. Aprendem a ler, catecliismo
e historia da Biblia, O termo medio dos
alumnos que por anno as frcqiientam, e de
460 a 500, c nas escholas de soletragao de
100 a 120.
Escholas dos officios.
Em Stockliolmo lia iima ou mais d'estas
escholas , em cada parochia ; nao dependem
como as precedenles d'uma sociedade parti-
cular , e nao teem por isso direcgao commum.
Creadas por meio d'esforgos puramente indi-
viduaes , e independenles umas das outras,
sao dirigidas parte pela administragao dos
pobres, parte pela administragao das escho-
las das parochias em que estfio cslaljelecidas.
As que na sua origem foram solidamenle
fundadas, progridem e prosperam : as outras
tendo apenas tenues ajcursos definham, mas
raro deixam d'existir porque a administragao
dos pobres veni em seu auxilio, e appella
para a generosidade publica, donde sempre
obtem avultadas quantias, sem que interve-
nha n'esses mementos d'angustia o estado,
a quem pertence fazer os regulamentos, e
que concede aos mestres o privilegio do anno
duplo por cada anno d'exercicio.
Os salaries dos mestres chegam a 200
francos como nas escholas de catechismo.
Cada eschola e frequentada termo medio por
60 alumnos que aprendem a ler, escrever,
ealligrapliia, arithmelica, escripturag.'io,
goograpliia geral e liistoria da Suecia, e
tambem liisloria bibiica e explicagfio dos
textos sagrados.
Escholas da cla'sse media.
Sao assim chamadas estas escholas, porque
teem por fim especial inslruir os alumnos nos
conhecimentos que requerem as profissoes
exercidas pela grande classe d'individuos que
na Suecia tem o noine de borgerskapet :
obreiros , artistas, mercadores, elc. : pouco
dilTerem das escholas dos officios, de que sao
propriamente o desenvolvimenlo Km conse-
quencia do pouco tempo que u'aquellas du-
rava o estudo e nao podendo por i^so obter-
se resukados satisfacloiios , fotam estas 1831
fundadas em Stocliholmo por uma sociedade
chamada Leal allianga ( Det rcdliga fur-
bundet)- e no 1.° de niargo de 1836 abnu-st*
uma eschola, era que o ensino devia durar
quatro horas por semana , nos domingos
deide as sete as nove lioras da manha, e us
quartas feiras desde as sete as nove horas da
taide, tornando-se por estc modo eschola
tambem da tarde (of ton skola). No cstabe-
lecimento analogo em Gothemburgo tem
alem d'isso o curso lig.'io aos sabbados desde
as sete as nove horas da tarde. Em Stockliol-
mo a eschola da classe media reunlu-se com
as dos officios das parochias de S. Jacques o
S. Joao, formando um so estabelecimenlo de-
baixo da direcgiio do mesmo mestre, e resul-
tando d'aqui mais tres horas para o ensino,
e ao todo sete horas por semana.
A sociedade Leal allianga cahiu em de-
cadencia, mas nao a eschola que havia fun-
dado, por quanto para sustental-a formou-se
logo oulra sociedade com o nome de Socie-
dade para o descnvoluimento da eschola da
classe media de Stockholmo (Siillskapci till
befrdmjande of Stokholms stads borgaresko-
la). E cousa pasmosa a facilidade com que
na Suecia as sociedades succedeni umas as
outras. Em 22 de Janeiro de 1842 comegou
a sociedade a funccionar, e denlro de pou-
co tempo compunha-se dos cidad.'ios princi-
paes, com o que nielhorou a sua situagao
fmanceira, e a eschola prosperou , pois que
alem de varios donatives e d'um capital de
perto de 6000 francos tjue a sociedade possue,
cada um de sens membros contribue com
4 fr. por anno.
Uma so d'estas escholas ja nao bastava ,
pelo que fundaram-se duas novas, as quaes
reuniram, como havia feito a primeira, as
escholas dos officios que estavam na sua pro-
ximidade, e ate per serera as malerias do
ensino quasi as niesmas, a saber: ler e
escrever correctamenle , grammatica, ari-
16
tliniclica, oscripUiragao , eslylo epislolar,
lormiilas coniiiierciaes, geograpliia, liistoria,
liistoria natural elemontar e os primeiros
principios de geonictria. Tern lambein uma
vez em cada doniingo a explicacuo do texlo
da Biblia.
O anno escliolar divjde-se cm dons ciirsos ,
uni da primavera dosde o meio de Janeiro ale
o meio de jnnlio, e oulro do onlono desde o
ineio d'agoblo ale o meio de dezembro, Ila
])or scmana sele lioras d'esUido, niosmo n'a-
quellas a que nfio t'oram rennidas escholas
dos officios; cinco lioras ao dornin^'o, e diias
de tardt; n'um dia da semana. Cada escliola e
irequenlada, lermo medio, ]jor 1<20 alumnos,
cujo maior niimcro sfio impressorcs, rnarce-
iieiros, alCaiates e sapaleiros. Os piofessores
em 1842 reccbiam o salario de poiico mais
de 267 francos , boje cliegam a ter 400 fr. ,
e ijnando siio iniiilos os alumnos podem to-
mar ajudanles que teem salario proporcional.
Escholas da socicdade das arles e officios
dc Succia.
Uma socicdade mais importante e nacio-
lial que todas as preccdenles foi fundada em
1845 com o tilulo de Suciedadc siieca das
artes e officios {svcnska sldjdforeningen^
Teiido por tiui melliorar a induslria indige-
iia, um dos meios sem duvida mais efficazes
era inslituir e suslenlar escholas especiaes ,
em que a classe operatia adquirisse morali-
dade 5 sciencia e a pratica necessaria aos
diversos ramos de cada profissao. Desde o l.°
de Janeiro de 13 IG abriu-se em Slockliolmo
uma escliola da socicdade sueca das artes e
officios [svcnska slojd furcningens skola).
Poi-Uie dado nm programnia puramenle
teclinico, contendo as seguintcs malerias de
ensino: calligi'apiiia , arcliiteclura , perspe-
ctiva, meclianica, deseulio d'omato, pintura,
nioldar ein barro e em cera, escriptura-
5ao, contabilidade , aritbmetica , geoinelria
e liistoria naliiral.
O tempo d'e.-ludo divide-se em dous cur-
ses; o do outono desde o meio d'oulubro ate
o fim de dezembro, e o da primavera desde
o principio de Janeiro ale o lim de maio. Em
cada um d'elles, nao ha inlerrup(;ao no ensino
que e ao douiingo desde as oito horas da ma-
riha ate uma liora da tarde, e em cada dia
da semana das sele lis nove hor-is da tardo,
O publico R OS alumnos sfio admitlidos as
lergas e sextas feiras desde a uma hora ale
:is sete hotas da tarde a visitar as collec(;6es
da escliola que sc compoem de modelos para
cada officio, livros e joruaes teclinologicos ,
e de figuras de ge-s» segundo os modelos da
eschola das bellas artes de Pariz O numero
de aluuMins que asslslem a cada lijfio sao
ternio medio cem , pela maior parte pedrei-
ros, inarceneiros e pinlores. Havia ao prin-
cipio Ires iiieslres so, e depois cinco. Alem
d'lito ha no eitabcleciincnlo u:ii sacerdoto para
cclebrar o officio divine ao doniiiigo ; um bi-
bJiolliecario, e inestros extraordinarios , cujo
numero varia conforme o augmeiilo do nu-
mero dos alumnos.
O or^amenlo annual das despczas da es-
chola aiida por 6800 francos, a saber: ao
director 1600 francos, a cinco me-lres ordi-
narios , com egual salario cada um , 233G fi. :
ao sacerdote, ao bibliolhecario, e ao guarda
da eschola 200 francos a cada um ; o resto
para mcslres extraordinarios e di'spezas e-
ventuaes. Paia salisfazer a cstes encargos os
alumnos a principio pagavaui 4 francos por
cada curso, e depois fixou-se a reiribuiyao
em pouco mais d'um franco por mez : aos
niembros da sooiedade pertence a cota
annual que pouco excede de .3 francos. O
cstabelecimento que esta sociedade dirige,
lem afora donativos que Hie s.'io feitos , um
subsidio annual de IGOO francos pagos pelo
cofre dacidade, e deSOO francos pelo cofreda
classe media; e desde 1843 a indemnisa-
5ao de 4000 francos, dada pelo estado.
CoHliniia.
CREDITO TERR1T0RI.\L.'
C€st h/i qui aidern Vhomttie
u maitriser la matiire , a
CTploitrr le globe et it Vem-
bcUir (lonr sonpropre usage,
M. Chevalier.
1.
Se ha paiz que , pela amenidade do clima ,
fertilidade do solo e posijuo geographica , pa-
rega destinado pela Providencia a marchar
na vanguarda da civilisacao, e de certo o nosso
abengoado Portugal. E todavia , a quern esta
bella terra for descripla por suas circums-
lancias naturaes, nao se alcani^ara fazer-Ihe
acredilar o estado lastimoao em que a tern
delxado a incuria dos liomens.
Percorra quein quizer e piider algumas
leguas de nossas proviucias, e desde logo se Ihe
antolhara esse de-gragado conslrasle: atravez
d'um lerreno difficilmente transilavel , vastos
campos se enconlram solitaries e sem cultu-
* Ja por vezes o Tristiliilo se tern occnpado ilesle im-
porlanle olijecto , coiuo se pu'le \er nas paijiiias U3 ,
'i09 , 365 Jo vol. 1 , e 225 , 227 , 240 , 2-l9 do vol. 11.
Apezar do asaiimpio ser alii lral;ulo por pessoa lao
compelenle, como e o di;,'Qo lejile de ec.Miomia pulitifft d;i
universidade , itisislimos na lualeria, e pur diias razocs.
A primeira , e nos foruc-ida por aqiielle illuslr.ado ccoiio-
misla r I. "Ill dos meios de encnrlar a di»lancia que nos
separa da feliz cpodia em que haja, enlrenos, algiiin ver-
dadeiio lianco terrilorial .., dizelle, ciconsisle indiiliiiavel-
inente em fazer coiiheeer com a possivel claieza , ao meiios ,
OS principios fiindaincntaes, a essencia e as vantai;ens deslcs
estabeiecimenlos , quaes exislem , e desde miiilos annos
fiinccionam pelo norte da Euiopa. .. A seirunda, se bem
DOS lembra , e de um poela , Francisco Manoel do N;is-
cimeiito :
u T.into bale no prejo o carpintciro ,
Ale <iue 0 melle u'Jma do madeiro. »
17
ra, extensad serranias de todo despidas e
ermas d'arvoredos, miseraveis povoa(,oes de
longe em longe. Entre no defumado alber-
giie do lavrador ; observe-n em sea Iraba-
Iho; inquira que resultado lira, em fim , de
tanto traballiar e amesquinhar-se. Alii sim ,
nao ju era dourados saloes de I'olguedos
cortezfios, pode qualqiier descobrir objectos
dignoj da maior solicitude.
Debalde collocaria Dens um povo em solo
favorecido , se Ihe nao coticedesse a faciildade
de crear as circuiiistancias que coiilribuem
para o augmento da forga productiva da
sociedade. A falta de comruunicagoes —
estradas, canaes, e vias ferreas, torna en-
tre nos difficil, se nao algumas vezes impos-
sivel , o transporte dos objdctos , donde
se produzem, para onde se consumam , para
onde se vendani por bom prego ; e per i^so
muitas industrias nao nascera , muitas dei-
xani de prosperar e morrem — ninguem pro-
duz so por produzir, senfio para que t.eus
productos sejam consumidos.
A ignorancia dos principios e practicas mais
proficuasda agrononiiae lechnologia, ignoran-
cia generalisada em nosso paiz, onde se nao
encontrani estabelecimentos proprios , e em
uumero sufficiente, para diffundjr a educag-io
professional, escliolas e quintas exeraplares
verdadeiras, e nao fingidas, como isso que
cliamaram Institulo agricola, 6 ontra causa
nao menos ponderosa do atraso em que ve-
mos a agricuUura era Portugal; porqiie o
primeiro e mais efficaz meio de augmentar a
potencia da producgaoe, sem duvida, formar
productores , preparar a tempo para este
desliiio as novas gerajoes.
Um proprietario agricola, separado dos
tnercados por obstaculos invenciveis, nao
possuindo oulra soiencia, senfio a que rece-
beu, por Iradigao, deseus avos, como que se
esposoucom a terra, e nao compreliendeoutro
viver, senao junto daquella consorte que llie
pede extreiiiosos sacrificjos. Necesslta de di-
rlieirojpara comprar uraa lierdade que, unida
s'l sua, llie proporciona cultura mais lucrati-
va; necessita de dinheiro para o amanlio das
fazendas que possue; necessila de dinheiro
para comprar instrumentos aperfei^oados ,
para tudo; porque nao lem mais do que a
sua intelligencia, os sens bragos , e um solo
que, por mais fertil que seja , nao da ao ho-
mem o alimento que o nutre, senao depois
de regado por elle com o suor de sen rosto.
O proprietario dirige-se ao capitaljsta, pe-
de-llie emprestado o capital de que necessita,
offerece-Ihe em liypotheca as terras que pos-
sue, promette pagar-lhe com o rendimento
que dellas liouver. Mas o capitalista mette
em calculo a pouca seguranga do penhor
offerecido, a longa distancia da epocha em
que a divida ha de solver-se — recusa o em-
prestimo, ou exige premio superior ao que
pode pagar a industria agricola.
E o capitaliita lem razao. A nossa legisla-
5ao hypothecaria , a mais defeiliiosa, a mais
embaragada de quantas legislagoes existem ,
d'envolta com a confusao de direitos que se
cruzam sobre a propriedade, da em resultado
o que Mr Dupin attnbue a me^ma le"-isia-
5ao em Franga:— quem compra nao lem
certeza de ser proprietario, quem empresta
sobre liypotliecas , nao sabe se tornaia a ha-
ver oseu capital. Por outrolado, os capitaes
emprestados A industria agricola empregam-se
em terras, instrumentos uratorios, construc-
goes ruraes, plantagoes, etc., e esabido que
OS capitaes assim despendidos, quando nao
fleam para sempre cnlerrados no solo que
mellioraram, so volvem mui tarde a mao
do proprietario: a consequencia , e que o
capitalista nao pode ser reembolgado se nao
passados muilos annos, e no entanlo podem-
se-liie olTerecer negocios mais lucrativos , pode
a hypotheca deteriorar-se , ja por causas natu-
raes, como aluvioes , incendios, molestias
de plantas, ja pela acgfio das leis civis, jd
por negligencia do mesmo proprietario.
Alii teinos pois o proprietario collocado
neste terrivel dilemma: aceitar as condigoes
impostas pelo capitalista — sujeitar-se a um
jiiro que transcende o rendimento do capital
mutuado, e que , por isso, tem de ser pago,
a final , com a venda da hypotheca ; ou enlao
abandonar a industria agricola — vender as
terras por esse pouco que Ihe possam dar por
ellas, emigrar para os infectos pantanos de
Demerara, ou para a California. E tomando
um ou outro parlido vae caminho damiseria.
Como sahir d'este estado de tristissima
desesperanga em que vemos a primeira das
nossas industrias? Cremos, e asciencia ocon-
firma, que se chegar a organisar-se entre nos
o credito territorial , raiarao para a agricultura
dias mais felizes. O credito territorial de-
pende, t verdade, de todas as circumstan-
cias que elevara o valor das terras e de seus
productos, mas lambem e cerlo quo o me-
Ihoramento da cultura e a exislencia de
todas estas circumstancias dependem do cre-
dito territorial. Desenvolvendo este pensa-
menlo, uniremos o quadro dos males que
sotfremos ao dos bens a que podemos e devemos
aspirar.
Continia. jacintho a. de SOUZA.
AS MEZAS GYRA.VTES .
CONSIDERADAS NAS SDAS BELAQUES COII A UECAKICA
E COM A PUYSIOLOGIA.
Conliauado de pa^. 289.
Uma questao importante que conviria exa-
minar experimentalmenle, seria indagar ate
que ponto o contacto dos dedos dos diversos
operadores se torna necessario para estabe-
lecer aconcordancia das acgoes, que determi-
na o resultado final. A vontade , expressa ou
18
tacila de tim oii de muitos operadores, sera
ba&tante para inverter o sentido do movi-
menlo, on para decidir dos movimenlos con-
cordanles nosorgaos dos que cooperam para a
experiencia? Uiii ligeiro impiiho em sentido
contrario do movimento eilabelecido bastara
para alcan^ar que todosos orgfios , que assen-
taiii naiiieza, niudeni o sentido da sua acfao ?
Quando se opcram movimenlos de balan^o
para cima e para baixo, como e que a von-
lade de um pequeno numero de operadores,
ou mcsiiio a de um so, arrasla a de lodes os
oiilros? limvirUide dasindica^oes dadas pelo
movimento das mezas, tern sido reproduzi-
das lodas as hypotheses que se lem feito para
explicar as adiviuhajoes ou pretendidas advi-
nliacoes magnelicas. E com edeilo por este
modo parece que os phenomenos das influen-
cias nervosas devem prestar-se melhor, por
mais destacados, a verificajfio dos factos pos-
siveis. O proprio facto fundamental, isto e,
a grande energia dos movinientos nascenles,
quer voluntaries , quer inseiisiveis , e muito
curioso; e ao passo que parece explicar quan-
lo pode ler explica^ao no pheiiomeno geral,
serve tambem para confirinar tudo o que jii
erasabido pela mechaiiica epela physiologia.
Aiguns espiritos muito sensatos cnlendiam
que, em logar de causar admira^ao que a
imposiij'ao das mfios produzisse movimento,
o que muito deveria admirar, seriam os
casos, se por ventura existissem , em que
orgaos essencialmente nioveis communicas-
sem , por assim dizer, o repouso. A esses
responderemos , que a questfio nfio esta em
saber poique razao se prodiiz o movimento,
mas sim eui saber como esse movimento se
transmilte dos orgaos aos corpos moveis.
Dissemos acinia , que iiaviamos de exami-
nar a ctlebre queslao do movimento conside-
rado na sua producjao e na suaduragao, e
tambem a que Ihe esta ligada, do movimen-
to perpetuo. £ assim como nos nao e possi-
vel admiltir nada que conlrarie a logica no
niundo das ideas, laml)em nada admiltire-
mos que conlrarie a experiencia no mundo
material. Vejamos pois o que nos diz a scien-
cia experimental.
'lOdosoi corpos , toda a substancia material
nao pode por si so dar nem tirar a si mesma
o movimento, Os corpos so podem ganhar
ou perder velocidade, rccebendo movimento
dos corpos estranhos , ou communicando-llies
lima parte do sen. A somma total do movi-
mento que existe no mundo e invariavel, por
isso que um ser material qualquer nao pode
augmcnlar o sen movimento senao a custa
dos corpos que o rodeam , nem l.'io pouco
perdel-o sem o reslituir aos corpos sobre que
icage. Se vemos na terra , que todos os mo-
vimentos abandonados a si mesmos param
promptamenle; e porque a communica^ao
do movimento ao ar ainbiente, aosapoios, e
piincipalmcnle aos objectos que se elaboram
ou afeijoam , roubara continuamente uma
parte do movimento que exislia nocorpo,
e estas perdas fazem com que elle pare bem
dopressa. Nos espa^os celestes, em que os
astros nao encoiitram obstaculo algum e on-
de por isso n'lo lem logar estas perdas , os
movimenlos perpetuam-se indefmidamente.
Eslii lao fora do poder do homcm o crear
movimento sem for^a , como o tirar corpos
materiaes do nada. Uma velocidade de um
metro por segundo e t.'io impossivel de dar a
uma bigorna de quinhentos kilogrammas,
sem que se Ihe cliegue , como o de fazer
nascer a mesma bigorna sem ler excavado a
terra e reduzido o mineral a ferro.
D'aqui podemos conciuir que e impossivel
o movimento perpetuo, visto que ha sempre
perda de movimento para os corpos terrestres
que se movern alravez de mil obstaculos, e
que nada lem em si que Ihes restitua as per-
das que vao soffrendo.
Apprendarnos pois da experiencia a distin-
guir o possivel do impossivel , e so depois
desla apreiidizagem indispensavel poderemos
raclocinar com segurani,a sobre os factos
physicos que se nos apresentnm. A these
contraria serj'a, que, para raciocinar sobre
certa ordem d'ideas, cumpriria ser-lhes com-
plelamenle estranho. E em conforniidade com
isso tornar-se-hiam os cegos os juizes natu-
raes da pinlura, os surdos da musica, e as
liibus antropophagas da humanidade!
O que vemos nos no desenvolvjmenlo das
for(;as meclianicas? Da-se acaso um unico
exemplo de movimento produzido, sem uma
forya que obre exteriormente? O liomein ,
reduzido ao principio unicamente ao seu tra-
bailio proprio, so ii forga de bra^os oblern
algutna cousa da terra. Nao e pelo pensa-
rnento que elle domina os seres materiaes.
Majs tarde toma por auxiliares os animaes
domesticos, e lavra com o l)oi , com o caval-
lo ou com o burro. Sempre molores physicos
para os trabalhos physicos! Mais tarde ainda
a sua induslria Ihe submette as for^as da na-
tureza, a agua , o ar e o fogo. As palhelas
das lodas hydaulicas , e o emprego multi-
plicado da queda das aguas Uie permille fa-
zer Irabalnar o regalo , o ribeiro e o rin. Ar-
mazena e uliliza a ac^ao dos venlos nas azas
maravilhosas do moinlio de vento, e nas velas
mais inimeusas dos navios. Com o fogo, for-
ja , fiinde, desenlerra os melaes escondidos,
e cozinhando os alimentos os torna sadios.
Finalmente, quasi nns nossos dias, pede o
seu concurso n)eclianico aos agenles artifi-
ciaes que a sciencia lem descolierto , e dos
quaes ella lem estudado as propriedades , e
quasi que diriamos os costumes.
Vira um dia em que ha de ser jiilgado
como uma vergonha para a humanidade,
que a polvora, a primeira desroberla d'esles
agentes maravilliosos, tivesse a principal ap-
plica^ao nos campos das balallias, e que o
homem cuidasse primeiro que tudo em pedir
aos poderes arlificiaes os meios de deslruir o
19
homem. Para fixarmos as ideas do leitor,
como ale aqui temos feito, e a fini de preci-
sar OS faclos, diretnos que, para realisar o
csforjo mechanico que a explosao exerce
sobre uma bala de 12 kilogrammas n'uma
pe^a de calibre 21, carregada com 8 kilo-
grammas de polvora e pesando 2:700 kilo-
grammas, lal como 03 que se trazem para a
borda dos fossos n'uma pra^a siliada, seri'a
mister o Irabalho alurado de um cavallo por
duas horas , ou o de um homem por oito
horas. Ora este elTeito prodigioso produz-se
quasi momenlaneamente. E para fazer com-
prehender as despesas que traz comsigo a
guerra, bastara dizer, que uma pe(;a de 24,
com OS seus 2:700 kilogrammas de bronze,
nao pode dar mais de cem liros, sem que
fique incapaz de servir, e que no momeiito
em quo da o primeiro tiro, tem cuslado ao
estado 10 a 11:000 francos.
Que fazeis vos de novo , snr. Watt? per-
gunlava Jorge ill ao inventor da maquina
de vapor iiSenhor, fa^o uma cousa muilo
agradavel aos reis, um poder. u A palavra
ingleza power, que significa lanlo um poder
politico como uma forga mechanica, presta-
va-se mellior a este jogo de palavra?. Watt
poderia ler dito que o novo poder que dava
a sociedade, era ainda mais agradavel aos
povos do que o dominio aos reis. Estamos
ouvindo ja as reclamagoes dos que nos gri-
tam , que a maquina de vapor nao fora in-
ventada por VVatt. Convimos; e para satis-
fac5;1o de todos, diremos que depois de Watt
a sociedade ficou de posse de uma operaria
universal, que faz com que os navios atra-
vessem o Oceano, que lece rendas, e que,
na Inglaterra e na Belgica , exige apenas
um franco de carvao para o traballio de vin-
te dias de um operario ; mas que antes de
Watt nada disto existia para auxilio da in-
dustria, E ja que se nos appresenta a occasi.'io ,
eonviremos lainbem que antes de Chrislovam
Colombo se tinlia , no papel ou por lingua
de pliilnsophos, indicado o Novo-Mundo.
Mas so di'pois de Cliristovao Colombo e que
esse niundo foi devassado. Muitas vezes pro-
feriu Ar.Tgo na iribuna franceza o nocne de
Mr. Seguin , que fez correr as locotnolivas,
cujo bello meclianismo , entao inefficaz, ja
era devido a Stephenson. Ao sair d'uma das
sessocs, reclamava-se na minha presen^-a
contra a asserjao do sabio depulado. « Accei-
to a condemnagao , respondeu elle; mas con-
vinde commigo, que antes de Mr. Seguin se
gaslavam nilo a dez horas para andar o ca-
niinho de Versailles, ida e volta, quando se
nao gastava mais, e que depois delle se anda
indtfiniddmente um kilomeiro por minuto. «
IS'ao e por ventura devido a Ampere o tele-
grapho electrico, a pezar de todos os traba-
Jhos anteriores de Volta, d'Qilrsled, emesmo
dos ensajos de Lesage com a electricidade
ordinaria? Aquelles que querem depreciar
o merecimento dos trabalhos modernos com
injuslas recIamaQoes , lembraremos o dilo
tao espirituoso como profundo do nosso sabio
academico Mr. Biot: » Nas sciencias, nada
ha tao simples como o que se achou hontem ,
nem tfio diificil com o que ha de achar-se a
manh.i. «
Continua,
GERACOES ESPONTANEAS.
Cootinuado lie pa;. 292,
O ar que respiramos, e as substancias ali-
mentares que inlroduzimos no estoroago ja-
mais se podem considerar como vehiculos
que transporlem os enlozoarios para o inte-
rior dos individuos.
No caso contrario fora mister admitlir a
exislencia dos enlozoarios ou dos sens ger-
mes na almosphera ; porem e o que se nao
pode eonceder, porque os enlozoarios mor-
reriain logo que se achassem no lluido gazoso
que respiramos. Alem deque, devendo esles
atiimalculos, por sua propria naUireza come^ar
a exislir no interior d'um iiidividuo , nfio
podiam transmitlir-se para outro que viv(!
vida extra-ulerina , por inlerinedio do ar, se
nao fossem para este arrojados por secre^oes
e expiragfio. Mas basla retleclir no modo
porque se opera a nulri^ao, na distribui^ao
dos vasos sanguineos nos orgaos secrelores e
vesiculas pulmonares, para ver a impossibi-
lidade de invocar os actos secrelores e expi-
radores como causa da supposta exislencia
de germes na almosphera.
Vencida esla diPficuldade era necessario
que OS germes se misturassem com o san-
gue durante o processo da hemalose : mas
como fazer lal mislura, n.'io se dando conla-
clo innnedialo enlre o liquido que leva a
nutrig.'io e a vida a todos os orgaos, e o llui-
do que llie da esla propriedade vivificanle?
Como se dara este plienomeno se as ultimas
ramificajoes bronchicas que formam as vesi-
culas pulmonares, e em cujas paredes ser-
peam os capillares sanguineos nao sao per-
meaveis senao por corpos gazosos , e mui dif-
ficilmenle por corpos no estado de liquidezf
O leile de que o infante a printipio se
nulre , nao pode egualmenle ser conductor de
germes ou de animalcules, porque e o resul-
lado d'uma secrejao, e n.'io de cliylo que
veulia directamenle do canal ihoracico aos
peitos, por via dos vasos lymphaticos, como
queriam alguns, contra ludo o que a ana-
lomia nioslra. Nos orgfios deslinados as se-
crejoes, os vasos sanguineos nao se abreni
nos ductos secrelores, e apenas se distribueiii
nas suas paredes: d'aqui nasce pois a difli-
culdade de os enlozoarios ou os seus germes
se juularem ao leite, e percorrerem os con-
20
(luctos excretores conhecidos pplo nome de
lacliferos on galaclophoros.
Dejjois que o novo individuo cessa de se
alimentar com leite, a considera^fio de que
o« animaes lierbivoroa conteem entozoari-
os , e cada animal os sous proprios, seria
siifficiente para destriiir a hypolliese da in-
trodiiCQao dos cnlozoarios, on dos sens f;er-
rnes pelas vias dij^oalivas ; porque no primeiro
caso era necessario que as plantas os conti-
vessem , no segundo era preciso que rada
iinimal sg nntrisse da came do sen semellian-
te. Os vasos cliyliteros casiialmente descober-
tos em ]G22 por tiaspar de Azelli liaviam de
ser necessarinmenle os condnctores por onde
OS germes dos erilozoarios seriam levados u
corienle circulatoria , depots de ingeridos no
estomago e lerem passado ao intestino del-
j^ado ; mas as extremidades d'estes vasos sfio
fechadas , como o provani as observagoes de
Schwan, Foliman e Midler contra a opini.'io
d'Azelli, Lieberkuhn, Hewson, Cruiksliank,
Meckel e Hedwig. Ja se ve pois a grande
difficnidade que os ovos dos entozoarios te-
I'iam em penetrar para dentro d'estes vasos,
quando alguns pliysiologistas poem ate em
(liivida que os globulos cliylosos entrem ja
i'ormados , e sendo estes qiiatro vezes me-
nores que os do sangue, sfio incompara-
velniente inferiores era grandeza aos germes
dos entozoarios. O peqneno calibre dos vasos
lacteos e tanibem um obstaculo a sua intro-
ducgao pelas via" drgestivas.
lixcliiidos assim todos os meios d'origem e
conducgfio dos entozoarios, ou dos sens ger-
mes para os diversos animaes, nao nos resta
senao consideral-os como producto d'uma
geragfio espontanea , e altribuir o sen appa-
reciinento d plasticidade organica dos liqui-
dos segregados e elaborados nos tecidos , e lis
inu langas na nalureza cliimica d'estes liqui-
dos resultantus, ou d'atrecgoes moraes segundo
Brera, ou do seu estado morbido , como foi
observado por Leuwenboek, que diz nao ter
visto entozoarios no muco intestinal , senfio
no caso d'utna phlegmasia no tiibo digestivo.
Os infiisorios sao os outros animalcules
ciija existencia vem apoiar as geragoes rspon-
laneas, ou na phrase de Raspail as forma-
roes organicas resultantes da combinajao
d'influencias orgunisadoias.
Para admiltir as geragoes espontaneas dos
infusorios nao invocaremos , como alguns
teem feito , os phenomenos observados na sua
j)rodui(,'flo , durante a qual se descobrem em
primeiro logar corpusculos globulosos , hya-
iinos, niovendo-se lentamente em spiral, to-
mando depois , ja a direcyfio circular , ja a re-
eta, reunmdo-se imalmente para forrnar ani-
inalculos dotados de movimento total, listas
metamorphoses, que teem sido consideradas
como prova inconcussa das gera^oes esponta-
neas dos infusorios, nao o sa.o na realidade ,
porque ha animaes que evidentemente pro-
vcm d'ovos, e que experimenlam metamor-
phoses mui notaveis antes do seu complete
desenvolvimenlo. Oulras considera(;oes porem
nos levaram aconcluir, que o apparecimento
dos infusorios esta debai.xo do dominio da
heterogenia.
Agua, materia organica, p i:m fluido ela-
slico, sao as condigoos essenoiaes para o de-
senvolvimenlo dos infusorios.
A presenga d'um fluido elastico e uma
das condi(;oes rnais necessarias para o seu ap-
parecimento. Spallanzani fazia experiencias
no vacuo e nada ol)tinha. Wisberg cobria o
liquido com uma camada oleo.'a, e o resul.
tado era o mesmo.
A variag.io de qualquer d'estas circums-
tancias importa variedade no resultado, como
o provani as experiencias de Spallanzani e
Terechovsby ; a propria luz e o calor nao
deixani lambem de ter algunia influencia,
sendo a teinperatura mais favoravel , a de 31
a 3d grans do ihermometro centigrado.
A mulliplicidade de produclos que resul-
lam da [iiudan<,'a de coudigoes, e um argu-
menio a favor das gera<;oes espontaneas dos
infusorios; porque se elles devessem a sua
origem a ovos, a qualquer teraperatura e
com qualquer infusao se deveriam desenvol-
ver 03 mesmos animalculos, porque os ovos
eram os mesmos.
Nem so diga que as diversas circumstan«
cias favoreceni o desenvolvimento d'alguns
germes, e retardam ou impedem a evolu5rio
d'outros; porque entao era necessario admil-
tir em toda a parte a existencia d'ovos de to-
dos OS infusorios, ja que a variedade de pro-
ducto e so dependente dos tres elementos ha
pouco mencionados, e nunca do local onde
se opera.
limpregando agua distiUada, sujeitando
a infusao a uma temperalura a que os ovos
dos animaes nao podem resistir ou perdem a
faculdade de se desenvol verem , subslituin-
do , como fizeram liurdacb , Ba'T, etc., o ar
atmospherico por gazes extemporaneamente
preparados, teinos tirado a possibilidade da
existencia de germes dos infusorios , e mostra-
do que o seu desenvolvimento e devido as
geragoes espontaneas.
JIa animaes, diz Cabanis, que parecem
fdlios da arte ; os vermes proprios do vinagre,
a traja doslivros, datam da existencia d'estes
productos da indu^tria humana. Ora a sup-
por-se a preexistencia d'ovos devia tambem:
admittir-se a de entes que fossem os seus
geradores, e que se asscmelhassem aos novos
individuos, e enl.HO deveriam estes animaes
ser necessariamente conhecidos antes d'aquel-
les productos.
A resurreigao dos infusorios a que alguns
recorrem , e deslituida de todo o fundamen-
to. Que OS infusorios ja existiam seccos na
atmosphera , que eram transportados pelos
ventos a diversos logares, e que reviviam
pela sua immersao naagua, tal era a opiniao
d'alguns que combatiam as geragoes espon-
21
taneas dos infusoiios : opiniao inadmissivel
se altendermos a que a experiencia e feita
orditiarianiente em vasos tapados, que era
preciso que em lodos os logares existisiem
todos OS generos d'infusorios n'esto e.-lado
d'exsicarao , e que a agua reaniuiaudo quasi
immedialanieiUe os animaes a que a cxsica-
•jfio de seus tluidos suspendeu a vida, nfio
iaria outro tauto ao5 infusorioi, que pela
maior parte apparecem so vinle e qualro
lioras , e as vezes depois de alguns dias d'iu-
fiisilo.
As expcriencias de Gruitliuisen que do
granito posto em agua vio desenvolver enles
organisados que toinavara a forma aiiimid
ou vegetal, segundo a proporffio de liquido e
solido emprcgados; as observagops de Cross
sobre a forma^ao do acarus horridiis , e as de
Macliay sobre a metamorphose d'uma plaiila
n'um inseclo, e d'este oulra vez na mesma
plania ; vieram levantar o veo mysterioso que
cncubria as gera^oes espontaneas, e coulir-
mar mais a opiuiao, que no estado actual
nao podemos dcixar de as admillir, poslo
que limitadas a infima especie de seres.
A lieterogenia estende o seu doniinio ao
reino vegetal. Ahi vemos o dactilium desen-
volver-se n'uma gemma d ovo , cuja casca se
ooiiservava intacta; ascoufervas formarem-se
n'uma solujao de clilorureto de baryo em
agua distillada, e conservada por espago de
seis mezes em frascosesmerilados; os I'llamen-
tos confervoides tomarem origem em pouco
tempo na agua de Sedlitz artificial ; vemos
fmaimenle as materias organicas amorplias —
glerina, e bardgina, etc., contidas nas aguas
lliermaes, organisarem-se pouco tempo depois
do arrefecimento das raesmas aguas.
F. a.'alves.
MAUCAS TVPOGRAPHICAS.
As marcas typographicas sao para a biblio-
grapliia o mesmo que o brasfio para a histo-
rla; servem para discriminar e conhecer o
verdadeiio editor de certos livros, que mujtas
vezes iiao offerecem outro iudiclo a. cerca de
sua origem, e tambem para evitar a falsifi-
oac'io estrangeira. Tacs symbolos teem alem
d'isto um iiiteresse proprio para merecer a
atteny'io dos arclieologos e artistas.
O anno passado comeijou L. — C. Silvestre
a publicar em Pariz uma coUecjao de moiio-
grammas, lypos, caracteres, signaes, embie-
inas , vinlietas e tloroes dos livreiros e impres-
sores fraucezes, ou dos impressores de livros
Jiancezes em paizes e^trangeiros , desde 1470
ate o fun do seculo XVI. Esta collec^ao cujas
gravuras sao abertas em pau , deve conslar
do seis ou sctc niimeros, de que ju estuo im-
presses Ires, contendo 272 marcas differen-
tes, e terminar com diversas taboas que deem
u obra nexo e unidade.
A natureza e condi^oes d'uma obra em que
ja nao e pouco serem as figuras re|)roduzida3
com exaclidfio, faz todavia com que seja
inevilavel, sequer provisoriamente, tal ou
qual desordem. O editor limita-se por isso a
empregar uina serie contiuua de numeros
d ordem , que servira depois para dirigir na
classificagfio , e apresenta n'estes fac-similes
numerados os nomes dos impressores a quem
cada uma das marcas reproduzidas pertence,
repetiiido o numero d'ordem e ajuntando-Ihe
as datas extremas, assim como o Ingar onde
exerciam o officio de livreiro ou iiiipressor.
Vallot de Viiiville faz a semclliante pro-
posito as seguintps observajoes que nos pare-
cem opporlunas e uteis.
" A collecjao em vez de comegar em lt70
que corresponde a inlroducgfio da imprensa
em Franga, seria meUior que remontasse a
Gutemberg e lis primeiras marcas typogra-
pliicas conliecidas. E isto so nao bastaria,
por quanto segundo as no^oes coUigidas pelos
bibliograplios, o verdadeiro progresso d'este
ramo da liisloria lilteraria depende principal-
mente do estudo minucioso e coinparativo
dos caracteres, letras e outros signaes typo-
graphicos usados desde Gutemberg e talvez
antes por seus emulos, discipulos e successo-
res mais proximos.
« Uma coileccao de fac-similes pouco ex-
teiisa para cada um , mas escolliida e o mais
numerosa possivel , lirados das reliquias do
comedo da imprensa dispersas em varios poii-
tos da iiuropa, seria certamente a base'd'e-
sludoi muito instructivos, e um bom servi^o
prestado aerudiyfio. Mas a arte xyiograpliica
nao faz reproduzir os caracteres com a jjer-
leigfio necessaria , e somente a pliotograpliia
poderia reptesentar exaclaiiiente todas as de-
licadezas e circumslancias de tal geuero dim-
pressoes.
A coileccao de marcas typographicas que
esta publicando L. — C. Sdve'^tre, e obras
analogas que forem apparecendo, muito con-
viria que se mandassem vir para os nossos
ebtabelecimeritos piiucipaes, a imprensa da
uiiiversidade deCoimbra e a nacional de Lis-
bon, nao so para o fan indicado por Vallet
de Viriville', senao tambem para forinar o
bom gosto ecomplelar ainslrucgao dos respe-
ctivos artistas pelo conhecimenlo e aprecia-
fao d'obras technicas por assiin dizer clas-
sicas.
NOMES E TITLLOS MUSULMANOS.
D'uma memoria lida recentemente por
Garcin de Tassy li academia de J''ran<,'a ex-
tialiirnos as seguintcs particularidades que
22
Cite sabio orientalista rcfere a cerca dos nomes
proprios , on alamj sobrenomes , ou knni/nlj
appellidoi c tiluloj honoriticcs, lacab c khi-
tdb; nomes de rela^fio, nisbal • nomes il<'
fuiic(;oe3, mansnb • e linalmentc sobrenomes
poelicos takliaUiis.
Os primeiros ^^lo prenomcs e nomes do
Santos; n'eslo senlido empre^ara-se os nomes
de jMaliomet e dos principaos mcmbros de
sua familia, bem couio os dos proplietas do
aiitigo o novo Toslamento. Os segundos sao
sobrenotnes sjeralmerUe compostos da palavra
Abu pai , de Ibn fillios, c d'lim nome pio-
prio como ,/lbii,-Yac>ib pai de Jacob, on
Ibn-Yacuh fdlios de Jacob.
Os lacab ou appellidos sao quasi sempre
tilulos de bonra, e compostos de diias paia-
vras sendo a ultima din rellgiao, diinlat
imperio, mulk reino, islam maliometismo :
eomo rnw-uddin luz da religifio, scliujd-
uddanlat for^a do imperio , j/«/((<-u/-/;iu/;!-
esplendor do reino, iaif-id-islam espada do
islam.
Os cognomes de rela§ao indicqm origem ,
qualidade, paiz, tribii , escliola, clientela,
etc.: taes sao Ffj^iHi^' descendentes de Fatlii-
mit ou Fatliema fillia de Mahomet, Misri
egypcios, jMdliki escliola de Malik, Saadi
do Saad. Os nomes de funcgoes offereeem
uma nomenclatura assaz curiosa e digna
d'estudar-se para formar idea dos costumes e
crengas musulmanas.
Finalmente a adopjao de sobrenomes poe-
ticos provem de costumarem os musulmanos
nomear-se em suas poesias , em que por cau-
sa do riiyllimo precisam tomar sobrenomes
de pliantasia , os quaes depois os lornam co-
nliecidos no mundo lilterario.
COLORACAO DAS AGUAS DO MAR
DA CHINA.
As observagoes de Ehrenljerg e as mais re-
centes de Evenor Dupont c Montagne moslra-
ram que as aguas do mar Verineliio teem em
certas epoclias a cor rubra pelo copioso de-
senvolvimenlo d'algas microscopicas d'uma
especie que o primeiro d'estes sabios descre-
veu dando-ihe o nome de trychodesmiinn
crythrixuui.
Assim que, seriam explicadas como logo
se julgou numerosas coloragoes accidenlaes
das aguas do mar, parecendo que a obser-
vagfio e descripe'io dc semelliantes phenome-
nos tornar-se-hia mais frequente desde que
OS natural iatas demoslraram sua importancia
scientifica.
Observdra Molllen que o mar da China
estava em grande extensao Colorado d'ama-
rello e rubro, e que a coloragrio nao era
continua, mas em porgocs separadas uinas
das outras por intervallos transparcntes. A
cor rubra predomina na parte do mar mais
ospecil'icamente chamado da China (^JS[an-
Wai) , e que banlia as rostas da parte meri-
dional da China ao sul da iiha Formosa ; e a
cur amarella ao norte da iIha na parte do
njar designado pelo nome de mar Amarello
{llong-Hai.')
Como a causa do phenomeno eia incognita
para MoUien , trouxe para Franga alguma
d'esla agua tirada, donde o mar estava rubro
no mez de sotemliro ultimo , a qual foi analy-
sada por CamJIle Darestc. A agua tluha de-
positado um limo pardo, que submctlido a
ob^ervajiio microscopica reconheceu-se nfio
conler particnlas terrosas, e ser unicamcnte
formado pela agglomeraguo de pequenas algas
quasi microscopicas e jd alteradas , mas per-
tencendo a mestna especie descoberta por
Ehreiiberg no mar Vermelho , cuja identidade
foi tambem confirmada novamcnte por Mon-
tague, que poucos annos antes tiuha rcccbido
de Ceyldo a mesma alga enviada por Thwai,
tes.
O tri/chodesmium cri/lhrojum encontra-se
pois em quasi todo o mar do sul desde
Africa ale li, China, e e uma das plantas mi-
croscopicas que occupam a mais larga super-
ficie do globo.
Tal e evidentcmente a causa da colora-
gao rubra; mas por venlura serd tambera da
amarella que se ve, principalraente ao norte
da iIha Formosa? Para quem conhece a va-
riabilidade da cor das algas, o facto deve
parecer possivel.
Outro phenomeno mui nolavel fora obscr-
vado em Sliangai a 15 de margo de 1846
pelo doutor Bellott cirurgiao da marinha real
ingleza.
Pelo espago de dezasete horas liouve cUuva
de p6 , dando-se a coincidencia d'estar sobrc
o horisonte uma nuvem que pelos calculos de
Piddington director do niuseu de geologia
economica de Bengala , devia occupar a ex-
tetisao de 3825 milhas quadradas. Segiuido as
suas observagoes chymicas e microscopicas o
p6 era formado d'area quartzosa mui fina,
misturada com filamentos de natureza orga-
nica, apresentando os caracteres de confer-
vas, c impregnados de sal de soda. Em
quanto durou o phenomeno o vento soprava
de nordeste, isto e' do mar-alto, donde vi-
iiham de certo pequenas algas envolvidas
n'cste p6, como indicam o sal de soda, pro-
vavelfnente chlorureto de sodium , e a area
quartzosa que abunda tanto no fundo do
mar Amarello.
Para decidir ainda assim se as confervas
de Piddington pertencern a mesmaa especie
de algas acima referida, serao necessarias
observagoes mais complctas feitas por na-
turalislas que tenliam occasiao d'explorar os
mares da China.
23
DOCUMENTOS INEDITOS.
Carta que o viso-rei D. Joi'o de Castro escreveo a
el-rei vos90 senhor o anno de 46 (15-1(>).
Contiouado de pa;. II.
E ao tempo que levava em men regimento ,
se foi com sua armada ajuntar comigo a illia
dos mortos , onde eu ja tmlia recolliido toda
a riiinlia armada; e ao proprio dia, que clie-
gou , me fiz li vella, e t'ui surgir u visla da
fortaleza de Dio, o que deu grande alegria
aos nossos, e poz grande tristcza iios mouros.
E logo a noule seg.iinte veio tor comigo Lou-
ren^'o Pires de Tavora , capitfio mor das luios
da carreira, o qual, tanto que cliegou a Co-
cliim, e soubc do grande traballio, em que
Dio estava, e como cu caminliava para laa ,
se meteo em liu catur, e com a inaior diii-
gencia, que se nunqua vio, veio em minlia
busca; pera participar de tamanlio perigo, e
servir V. a. em Jornada lao importante. Em
grande cstrenio me lez ledo sua cheguada ,
polo muilo que cspcrava de me aproveltar de
seu consellio, eesforjo , como se vjo ao diante.
E logo ao outro dia me fiz a vclla , e fui sor-
gir de fora da barra de Dio em lugar acos-
tuinado, c comecei a mandar desembarquar
a gente, e pratiquei com o capitfio dom Joao
JMascliarenlias , e com todolos outros capitaes
de miniia armada sol^re o luguar, e modo
de minlia desembarca^ao : no que ouve tan-
tas duvidas, e tao diversos pareceres, como
nos semelliantes casos soe acontecer ; porque
a lius parecia dever eu desembarcar em liiia
praya , que eslaa no baluarte cliamado de
Diogo Lopes de Sequeira; e a outros pa-
recia, que em hija ponte de entulho , que
OS mouros fizerao, com que alravessavao o
rio; e a outros, que denlro na fortaleza.
Todavia veiicco a parte dos que tinliao o
parecerde desembarquar na fortaleza, no quai
ensistia muilo dom Jo;io JMascliarenlias.
Como isto foi ordenado, ordenei de dar a
entender aos mouros, que queria deseinbar-
car polios lugares, per onde jii linha assen-
tado de o nao fozer ; a fim de fazer acordir
a elles muita gente, e artelharia ; pera que
desla maneira me ficasse menos forja de
gente, e artelharia sobre a fortaleza, por
onde tinlia ja assentado de os cometer. Pello
que me fui com algiis capitaes a espiar, e
ver a desombarcafao do baluarte de Diogo
Lopes, sem embargo de Iraballiarem miiito
OS mouros de defendercm com sua artelliaria
a lal ouserva^-ao : e tanto que delaa fiz pres-
tes tres caravellas, pera ao outro dia pela
menli.'i irein baler as paredes , e baluartes
que OS mouros tinh.'io feitos em defensfio da
praya; para llies mais fazer crer, que por
essa parte fazia fundauienlo de pousar em
terra; e nellas mandei por capitaes Luiz de Pag. Col. Link.
Almeida, Antonio Leme, Francisco Fernan- j 3 g,» 45
des por sobrenome Moricaie; por serem boos
cavaleiros, e liomens de muita esperiencia
no mar: os quaes se forfio apeguar com os
muros, e baluartes dos mouros, e os baterao
desque amanlieceo ate noile , com grande
perigo seu; porque de terra llies liiavao mui-
ta artelharia, que Ihes passavaos navios de par-
tea parte per muitos lugares; mas aprouve a
iiosso Senhor, que nao morresse ninguem.
Acabada esta bataria, apartei cincoenla
fustas desemmasteadas, e as fiz caminliar liu
pouco para laa, e surgir de largo, que llies
acabou de fazer crer, que liia eu nellas
para desembarcar por aquelle lugar, que as
caravellas baterao. Nestas fustas nao hia
mais gente, que os marinlieiros , que as re-
maviio , e bombardeiras , que avifio de tirnr,
e niuitos estromenlos de guerra , a sab'T,
trombetas, ataballes, charainellas. Fiz capltao
desla armada a NicoU'io Gon^alves , mestre
das naos da carreira, home de grande siso ,
e experiencia do mar, e valente home, ao
qual dei por regimento, que qiiando eu saisse
da fortaleza a combater as muralhas dos mou-
ros, arremetesse elle a praia do baluarte de
Dyogo Lopes, fazendo que queria desembar-
car, com grande estrondo de langeres, e
grilas , e dartilharia, para que os mouros
acodissem a essa parte. E para que nao pu-
desse aver algum enleo a deixarmos de come-
ter no mesmo tempo aos mouros, [he dei por
sinal, que quando visse langar tres foguetes
da fortaleza, acodisse, e fosse fazer a sua
obra; porque entao sairia eu da fortaleza.
SUMMULA DE PRECEITOS HYGIE.VICOS .
Ordenada para uso dos professores , e nlmnnot de ambo»
05 sexos das escholas de instrucri'to priiiiaria , e ap~
provada para csle mesmo fun pelo consrlho de saude
publica do reinv — por Francisco Anionio Rodrigues
de (jvsmuo.
O? bons escriptos em hyuiena sao miiito raros entre
ndi. Os de liygiena da jiifaricia niio correm abtinJaoLes
aiiida por paizes, on'le aiais ciiltivada ha sido a scien-
cia. E a hy;;iena c indispeiisavcl a todos para conservar
a saude , e aaUer melliurar a condi(;ao fisica e moral d(»
iodnidiio , e da especie.
Nenliiinia das epoclias da vida carece tanlo dos pre-
ceitus hy^'ienicos cumo a infancia. Da direc^-jio fisica e
moral dada nessa epocha ao exercicio das func^oes de-
pende todo o future das gcra(;ues , e a sorle das socie-
dadel.
O srir. Rodri^ues de Gusmao , dando ao publico uiu
catliecisaio de bysiena , e fnrmiilaiido 08 preceitos da
arte um termos claros , currcclus , e concisos , fez iini
servi<;o ini[)or(atite ao seu paiz , e enriqueceu a colle(;ito
dus livros destinados a instruc<;rio priniaria comuui lios
mais preciosos , di^no de um lugar distincto nas biblio-
tbecas familiarcs. Al.
ERUATA DO N.° 1.
Erro.
Conslantes entre
Emend.
Inteffraea entre
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JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CO.VSELHO SUPERIOR DE INSTRUCCAO
PUBMCA.
Conferencia gerat de S8 d'abrit de 1854.
Abriu a ses?3o o snr vice-reilor interino e vice-presiden-
te Josi! Drneslo de Carvalho e ttego , com o seguinte
(liscursu;
Senliores! No arligo 21 do decreto regula.
menlar de 10 de novembro de 18i5 ordena-
se , que o coiisellio geral superior d'iiislnic-
^fio piiblica lenlia diias conferencias ordina-
rias por auno, uma em oiilubro, oiitra ein
abril. Para ciimprjr esla determina>;ao e que
hoje nos acliamos aqui reuuidos. Vac ler-se
oa difierentes relatorios das secgoes; por elles
conhecereis o estado em que se acha a ins-
trucQao publica entre nos; as diligencias que
este conselho lem erapregado para inellio-
ral-a ; os obstaculosque aiiida a entorpecera e
que e necessario remover; e o que ju se lem
podido conseguir.
Nfio se pode porem levar ainda a inslruc-
^ao publica, com a bruvidade que se de»eja,
ao estado de perfeijao, a que pode e deve
cliegar, e que exige o adiaiitameuto das sci-
encias e a civilisagfio actual ; e ainda que
eile consellio nao lem cessado de Ihedar pelo
rnodo, que julga niellior, impuiso coiivenien-
le, deseja soccorrer-se de lodas as illuslra-
<;oes, coiiio quer o citado regularnento no ar-
ligo 22 n.° 3 recebendo ijuaesqucr meniorias,
ou requeriinentos lendenles a proniover os
tntllioramcntos dos Cstudos, on a declarar
OS verdadeiros obstacuios contra o sen pio-
gresso , e a propOr as prnvidencias, ma is pro-
prias para se obtereni os beneficios de uina
educaCj'iio iiacioual e moral ronfoiine as ne-
cessidades do seculo. Sem reunirrnos as iios-
sas forgas, sem o auxilio de todos os sabios
do paiz, o inovimento geral e o progre^so da
instruc^fio publica necesaariamenle ha de ser
niais vagaroso e menos perfeilo.
O snr. Secretario dal." secyfio lem apaia-
vra.
RELATORIOS.
l.NSTlllCfAO PBIMARIA.
Senhores: Obedecendo u lei, vem a 1.'
secjao do consellio superior de instrucjao
publica concluir hoje o relalorio, bosquejado
Vol. III. Maio 1.'
iia ultima conferencia, sobre o movimenlo
da instruc^fio primaria no anno escholar
findo. Evitando porem repetigoes escusadas
e, por Ventura, faslidiosas, absleino-nos de
dar agora tao miuda conta, cotno a que
poriodicamente liavemos dado de lodas as
partes e circuinslancias d'este objecto alias
imporlaiitissimo. JE ja ninguem pode negar
nem desconhecer o notavel mellioramento,
que , pelo nienos de ha dez annos, vai entre
nos afornioseando o primeiro degrau do edi-
ficio litterario. Bern manifesto e quanto se
lem alargado a esphera do ensino primario ,
e quanto mcsmo se ha roelhorado seu me-
thodo. Publicada esta, e cada dia mais
copiosa , a collecjao de livros elementares,
approvadoi polo conselho superior. Ji, se
Portugal nao pode possuir ainda tanlas es-
cholas, quantas denianda a sua populajao,
o numero d'ellas vai todavia crescendo. Que
meios para taes effeitos liaja este tribunal
excogilado e proposto , bem como que pro-
videncias tenham sido dadas pelo sabio
governo de S. Magestade , lambem nao e'
mister repelir-se agora.
Necessidades ha todavia , que relardain
ainda o niaior aperfei^oamento desta parte
da iustruc^ao publica : as que mais urgem ,
e que remedies pareya deverem applicar-se-
llies , nao omittireiiios nos; offerecendo pri-
meiro o complemeiito da eslalistica do an-
no hiido, ericelada no relalorio de outubro
ultimo; bCiitindo ])orem que pelas causas,
lantas vezes aijui pondeiadas, e t.'io difficeis
de remover, nao possa ainda agora ser per-
feilo o quadro.
Temos lioje no continente e ilhas adja-
cenles — 1:18!) e-cliolas publicas; e — 57G par-
ticulares, legidas por professores habilitados:
e por conseguinle o total — 1:765. — Assim
que, depois da lonforeiicia do 31 de outubro,
lem ja sido creadas , pelos decrelos de 18
e 25 de Janeiro, 15 de fevereiro, e 15 de
niar<,'o, do correnle anno, mais 13 escholas
do 1.° grau de instrucgfio primaria; sendo
do sexo masculiiio 3 no dislriclo de Aveiro,
4 no de Beja , 2 no de Evora, 1 no de
Faro, 1 no da fiuarda; e, |)ara o sexu
feminino, 1 em Lisboa , i ein Villa-lleal.
EjScgundo OS iiiappas ate hoje recolhidos,
frequenturam noanrio leclivo findo as rscli'ija?
publicas — 50:182 nlumnos; as particulares
<■— lS5i. NiM. 3.
^Vi^H 4^-*^-^
26
forani freqnentadns por 13:811. A somnia
lolal pois e de — 63:993 — ; numero que,
a pezar da falta de alijuns iiiappas, foi su-
perior ao do anno precodunte de 18.31 para
1852, em que as cscliolas puliUcas liaviam
tido -il:255, e as particulares 12:8&4,- por
onde se ve que no anno fmdo liouvc o exces-
so de 9;88J. alumnos.
Alern das 73 escliolas sobredicla'i, que este
anno forani creadas pola auctorisa^ao do
credito supplementar , o conscllio cuida em
crear oulras , e attonder as varias requisi-
?oes que llie teem sido feilas , se aquelle
credito coiilinuar. N'lo collieu ainda, e ver-
dade, todas as inforinayoes pedidas as juntas
geraes de districlo, para devidainente egu-
alar, segundo as nccessidadcs locaes, a dis-
tribuiy-io de novas cadeiras. Assim niesmo,
passa , em vista das informa(,-oes que ja tern,
a proper ao governo de S. Magestade a crea-
Sfio das que for julgando rnais necessarias.
Desde a ultima conferoncia expediraui-se,
sobre concursos de escliolas, 21 annuncios
para o diario do governo ; 62 diplomas de
provimento temporario; 6 certidoes de capa-
cidade para o ensino particular; 273 por-
tarias e officios com editaes; e 215 para in-
formajoes, intimagoes e participa96es ; total
537, Consultas 57 sobre varios objectos ,
como — crea^nes do cadeiras , propostas para
provimentos vitalicios, transferencias , jubila-
goes, aposentagoes , demissoes, exoneragoes e
vencimentos de professores, preinios de obras
elementares; e fiiialmente 3 a cerca do nie-
tliodo de leitura repcntina.
Sobre a vantagem de similhaiite niethodo
ainda a secjfio nao pode assentar juizo segu-
ro. Na circular de 24 de margo ultiuio, em
addilamento a de 30 de juliio do anno pas-
sado , mandou o conscllio intimar todos os
professores, para, no prazo de lOdias a con-
tar da intiniacao, declararcm por escripio
se nas suas escliolas tcr.i practicado este me-
thodo; devendo, no caso affirmativo, espe-
cificar : 1.° desde quando comegou o seu
uso: 2.° se o empregam em toda a escliola
ou em classe separada: 3." que progresses lia-
jam n'elle feilo os alumnos. — E , por que
para muitos nao torn por certo fmdado ainda
o sobredito prazo, apcnas responderam ale'
hoje 102 professores; dos quaes so 19 decla-
ram haver tenlado o melliodo: mas d'estes
raesmos so o professor do Peso da Regoa diz
que ha colliido fructo; alguns ainda suspen-
dem o juizo ; muilos tern voltado ao antigo.
Todos OS outros confessam que o nao pode-
ram ensaiar ainda , uns por nao poderem ale
aqui adquirir perfeito conliecimento d'elle,
outros por falta de casa e utensilios, outros
por estorvo e repugnancia que enconlram nos
paes ou chefes de familia. E e por isso que
o consf'ho conliuua a inclinar-se a crer que
as vanlagens, quealguem tem apregoado, sao
por Ventura exaggeradas: espera porem es-
tlarecer-se mais com o tempo, e quando tc-
nha colhido todas as declaragoes, que exi-
gira.
Alem d'islo , necessidades ha, a que releva
acudir com a promplidao pnssivel. Carece-
inos de prnfessoics roMveni('ntemente habili-
lados; por onde e de reconheclda urgencia que
eiitre em exercicio a eschola normal creada
em Lisboa ; e que por e^t'arte se prepare o
pessoal para outras eschnlas norrnaes. Mui
necessario e tambern organisar um corpo de
inspecgao, que com regularidade vigie o en-
sino, e exaclamente inl'onne esle tribunal.
Outra falla em fun , e na verdade bera sen-
sivel, e a de edilicios publicos para o extr-
cicio da maior parte das escliolas. Todas es-
tas necessidades com os remedlos applicaveis
tcm o conselho superior por varias vezes le-
vado ao alio conhecimenlo de S. Mageslade;
e confia que por sabias providencias, o sen
governo contiuuara a proteger desveladamen-
te o mais iraportante ramo da inslrucgfio pu-
blica.
UXIVERSIDADE D£ COIJIBRA— PROGRAllMAS,
FACULD ADE D E MATUEHATICA*
1833—1854.
4.** ANXO. — 5.* CADEfRA.
Lenle — Vr. Rodrigo Ribciro de Souta Pinio,
ASTRO.VOMIA PRACTIC.l.
I.
Aspeclo do ceo. Redondeza da terra, e determlna^So
approvimada das suas dimensut:s, Systeinas de coorde-
nadaa dos astros. Allimos[)lifra , refrncc^ijL'S aslronooii-
cas , e crepusculos. Dcsorip^uo dns priiicipaes in?.Irnnien-
tt)S aslruiiumicos , e siias verific;i^oes. E:,'iialdade das
revtilurrn-.s diiirnas do ceo— leuipo i^ideral. DelLTUiiiia^ao
do mcriilianu. Diree^ao do ei.\o de rola^ao do ceo. Leis
do movimenio diurno. Aituias corrpspondentes. Pofos e
circulo9 terrestres. Provas du niovimeiito do rota^ao da
terra. Parallaxes.
I!.
Coordenadas anirnlareg do sol — dislanring a terra.
Eqiiinnccios e ubtiqiii'lade daecliplira. Calendario. Trans-
fnrnmrao das courdenadas poiar-^s dosa^trus. Varia^ao da
obliqiiiiiade da erliplica , precfssao d.is rquinoccios , e
niila<;iio. iMo^irnentu elliptico — leis do K-plur. Del'-'roii-
na^ao dos eJenientos do movinifnlo elliplico. Variaro'ss
seculart-s d'esles elenieiitos , e perUirhai^ui's do movimenio
elliptico. Dese^iialdade dos dias solafs , Icnipo verdadej-
ro , tempo meilio, e eqim9rio do tempo. NascimeiUos c
occasos do sol , e ^Tandeza dos dias nus dilTt-rentes loirare*
da terra, E\plica(;ao do niovimciito proprio ap pa rente
do S(d , e da precessai) dos eqoinoccios , na Iiypotlieae do
movimenio de transla(;ao da terra. Applica^iio das doulrl-
nas precedentes a algumas quesloes de chronologia.
III.
Coordmadas ancrulares da Ina , e su.ta distanciaa n
terra. Phases da Iiia. })etermma(;ao dus plumentos da
ellipse lunar. Eqiia«;ocs seculares , e dese^'imlilades perio-
dicas. Eclipses do sol e da lua , e occiillfl(;oes dos pla-
netas e estrellas pcla Ina. Determinarao das longitudes
terrestres pclas obeerva^oes dos eclipses e das distaociai
da] lua us estrellas e plauetas e ao sol.
5k^
Vv^^
27
IV.
CoorJenadaj angiilares geocenlricas dos planetas —
distancias u terra. Traiisformarrio das coordeiiailaa treo-
centricas em lieliocentricas. Dtlermina^ao dos elenienlos
das orbilas planetarias. Lois do movimeiito dus satollitoa
dos plant-las — niodo de determinar pelas observnijues os
eleuienlos das siias orbilas. Aberraruo — provas do moii-
menlo de Iransla^ao da terra. Eslaroe.s e retrograda^Ses.
Passagens de veniia e mercurio i)elo disco do 6ol.
V.
Forma^ao e iiso das taboas astrnnoniicaa do sol , da
iDa, dos j)tanetas , e dos eclipses dus satellites de jupi-
ler. Calculo das ephemerides ostronoraicas.
4.° iNNO. 6.' CADEIRA.
MECII1MC\ APPLICADl — GEODESIl.
jLente — Dr. Joajuim Gon^alves Mamede.
TOPOGRAPHIA.
Construcrao das escalas. Diversos modos de levantar
uma plaula. Inslriimentos erapreijados nas opera^oes to-
liojraphicas. Nivellamenlos. Cartas tojiograpbicas e sua
reduc^ao. Tra(;ado de estradas.
Opera5oes geodesicas ; calculo dos triangulos geodesi-
cos ; excesso espherico ; medida da meridiana terrestre
e das perpeniiictilares sobre a meridiana.
Determina(;iio da base do systeina uietrico.
Exercicios numericos deduzidos dus trabalhos publi-
cados por Delambre.
Avaliagao dos trabalhos execiilados em Portugal.
Figiira da terra ; suas dimensoes.
Calculo das longitude.*, laliluiles e azimuths dos pontes
terrestres enipregados na triangula^ao.
Nivellamentos , getxiesico e barometrico.
Deduc(;,~io de elementos geodesicos pelas observacoes
do pendujo.
MCCHAMCi APPIICAOA.
Eqnilibrio e resistencia dos inassi(;o9 forraados de ma-
Jerias adherentes , qnando a supcrGcie superior e carre-
gada por uni pezo qualquer , ou quando a resistencia se
exerce contra unia das faces laleraes.
Muros de revesliraento , que sustentam o impulso das
terras.
Estabelecimento dos alicerces, quando os muros siio
construidos sobre terrenes conipressiveis.
Condii;3es que devem verificarse no eqnilibrio das
abobadas.
Cunsidera5oes praticaa quanto a sua confitruci;5o.
Conslruc^ao das estradas.
II.
Equa^oes fnndamentaes do movimento dos fluidos, na
hypolhese do paralleliamo das camadas.
Flu.\rn) dos liquidos por crilicios de quaesquer vasoa,
que se conser\ara conslantcmente clieios, ou se es^o-
tam. °
Resultados que se obtem em|iregando os tubes condu-
ctores.
Flu.vrio por desaguadouros.
Circurasiancias do movimento das aguas conduzidas
por quaesqvier canaes. Canaes de nave™(;ao.
Correntes naluraes , tendo altencai ;',s malerias que
arrastam.
Estndos sobre as barras ; meios que se devem empre-
gar para obtcr o seu melhoramento.
Rodas hjdraulicas.
HI.
Quanlidade de ac^ao produzida pela ferca elasticn d.u
vapores a diversas temperaturas.
iVIaquinas a vapor.
5-° AXNO. 7,» CACEIR.1.
Lento — O Par do Reino Tliomaz d' Jjuino de Carvatlio.
MECHA.MCA CELESTE.
Corabina(;3o das leis de Kepler com oa principles de
mechanica , jiara deduzir a lei ila altracc;au, segundo a
qual as parliculas da materia se altrahem mutuaraente
na razao direcia das massas e ua inversa dos quadrados
das distancias.
^ Equa9oes dilTerenciaes que determinani o iBovimento
d'um svstema de cerpns sujeilos a sua attrac(;ao mutua.
Movimento de translacjao d'um svstema de corpos ,
que se movem em volla d'um d'elles' cemo centre. Me-
thodo d'lntcgra^ao das equa^Oes , que determinam estes
niovimentus , por ajiproximaqoes succcssivas , aproveitan-
do para isse as facilidades que olTerece a consliluiijao do
fiyslema do niundo.
Primeira upprozhttar/w. Theorla do movimento elli-
plico. Delerminai;.io das censlantes introiluzidas pelas
infegrat;3es j e relajoes d'ellas cum oa elementus d'este
movimento.
Segnmin approTima^no. Theorla das perturbarSes.
E.vpressoes das deiigualdades periedicas do raio vector,
da longitude e da latitude. ExpressOes das TarlaeOes
secularcs doa eixos malcres, dos medios movlment'os ,
das excenlricidades, dos pcrihellos , dos nddos , daa in-
clina^Ocs das orbilas, da longitude da epocha , etc. Con-
sldera(;oes sobre a estabilidade do syslenia planetario.
Movimento de reta(;»e dos corpos celestes. Applica9ao
ao movimento de rotac;ao da terra. Delermina^ae dos
raovimentos do seu ei.io de rola9ao , quer relativamente
a sua superOcie , quer no espa5o. Formulas da nulai;5o
e da precessiio dosequineccios.
AS MEZAS GYRANTES ,
CONSIDERADAS NAS SUAS REIACOES COM L MECiNICA
E COM A PHVSIOLOGIA.
Conlinuado de pag. 19.
Para compleinento do que deixumos dito
sobre OS agenles artificiaes de que o liomem
teiii langado mfio , accrcsccnlaremos que elle
tem feilo traballiar lainliem a electricidade
e o ma^netibrno no transporte por barcos ,
na illuiuina^fio , na inedicina , etc. E seinpre
se tem chegado <1 conclus.^o de que nSo e'
possivel obter um effeito meclianico sem uma
causa physica Mil annos antes da nossa era ,
ja Hc'siodo dizia dos Cyclopes: uTinhara a
for^a, a actividade o as inaquinas para os
sens tiaballios. j)
lo'/ji^ T r.tJe €ty] yoX (j.y,y_avai ruav etc ip'yTCiff.
Ila Ires mil anno*, cnmo ainda hoje, a
unica magia do trabalho, era a forga physi-
ca, a energia no ernprcgo d'esla Ibrfa e os
mecanisrnos para tiansmiltirem a sua acjao.
Em tempo algum se tem observado utn Ira-
28
ballu) material , que resulle da acg'io imma-
tciial da vonlado. Ha niuilo , que a fo , so
por si, nao Iransporla as moiilanlias , a nao
ser no ejlylo ("iLfiirado; e que a iiiaiilaiilia
nao se resolvendo a cainiiiliar para JMaiio-
niet, obriga Malionict a caininiiar para a
moiitanlia.
D'este qiiadro das for^as iiioloras da ma-
teria, resulla que na explica^'ao dos plieiio-
menos curiosos, niecliaiiicos e pli_v>i()ii)j;icos ,
das mezas gyranles, o nccessario por iulerdi-
oto a toda a inlorvenCj-fio da siuiplos voiUade
para produzir os moviineiilos ; c podera ac-
creditar-se que no meiado do seculo XIX
estas verdadt's pljvsicas , tfio vulgares niio so
nas escliolas, mas no mcsmo povo, teem sido
desconliecidas por giaudo nuuieio d'eapirilos,
alias esclaiecidos, arrastados porem pela ima-
gina9ao para iima esperan(;a cliimeriea ? Em
quanto porem a certns liabilidosos que pcr-
tendem passar por illudidos, mas que o nao
sao para os sens interesses, com esses nada
tern que liaver a sciencia posiliva, neni tao
poucc a boa fe.
Aluitas vezes se tern langado as academias
a arguijiio de que impedem a marclia das
ideas e estorvara os progressos scientilicos e
industriaes do espirito humano. Tal argui^ao
e' mal fundada. E se nao, conlem-se lodos
os flagellos de invengoes arriscadas que a sua
circumspecjao tern atalliado. Vede o cpie vai
na America, e porque prejo saliem os pro-
cesses de merecimento real, tendo primeiro
de se experimentar todos os outros que nao
foram contrastados! Ja vemos, que nos liao
de citar o barco a vapor do marquez de Joui-
froy. J\Iuito bem ! mas tenios a declarar que
nessa epoclia , antes dos aperteijoamenlos dos
traballios nietallurgicos sobre a fundiyao do
ferro e alizamento do corpo das bombas, a
I'abricaj'io util de urn barco a vapor era tao
impossive! como o jogo do wbist antes do
invento das cartas. Nomeados coramissarios
para receber os productos de todas as no;>sas
exposifoes, e ultimamente para a de Londres ,
temos de abundancia com que edilicar o pu-
blico sobre o alcance de numerosas inven-
9oes, que provarao ate a evidencia a utilidade
dos corpos scientificos e a necessidade indis-
pensavcl de espalhar, quanto for possivel ,
as nogoes mecaiiicas e pliysicas, cuja igiio-
rancia move tantos espiritos activos e zelosos
em procurad'impossiveis. Ainda nos liavenjos
de oceupar n'outra occasifn) de deseiivolver
esta tliese, a prnposito da navegajao aerea.
Ha certos espiritos ambiciosos, que a ma-
neira de Alexandre, parece que abafam neste
mimdo, e que desejariam por-se em rela^ao
com outra ordem de seres menos materiaes.
Tem sido esta a tendencia da imagina^fio dos
homens em lodos os seculos, mas nada de
real tem sortido de taes tenlatlvas. A cada
seculo cabe constantemente o condoer-se das
superstijoes metapiiysicas dos seculos prece-
dentes ; e dizemol-o francamenle , nao temos
esperanja alguma de que a magi'a das mezas
gyrantes consiga da posteridade mais credito
do que a da pytlionisa d'Endor, alius muito
mais poetica no motnenlo em que era consul-
tada por um rci j;i vcllio, enfraquecido rno-
rahnente pela odade e pela desgriic^a , e que
n'outro tempo tinlia proscripto a magia nos
sous estados! Para muilos espiritos fogosos ,
mas iireflectidos , nada lia impossivcl. Estfio
sempie a ponto de accusar de cega incredu-
lidade acjuelles que nao admittem, que a
natureza possa a cada inslanle desmentir as
suas leis. Mas que nos digam qual e o po-
der , superior a forja creadora, a que clles
prctendem recorrer para dominar as leis esta-
l)el<!cidas por essa i'or^a collocada tao alta a
lespeito dos homens ! Admitti o inaravdiioso ,
e para isso vos dauios venia, mas lia de ser
com a condi^ao de que o inaravdiioso nao
seja absurdo. Na verdade , custa conter o
serio ii vista da ingcnuidade dos improvisa-
doies do muudo dos espiritos. Quando a po-
licia tianceza obstou ao desenvolvimenio dos
convulsionistas de Sainl-Medard , appareceu
nas paredes do cemiterio o seguinte pasquim :
De par le roi , defense a Dieu
D'uperer miracle ea ce lieu.
Por ordem do bom senso, fiea prohibido
fazer com que as mezas fallem , e eompo-
nliani versos ou mnsica, exceplo sobre os
tlieatros dos prestigiadores !
— Um pagem meio adormecido lia a vida
de santa iVlaria Alacoque ao velho rei Sta-
nislao atormentado por uma insomnia cruel;
o rci, esse tinlia os ollios abcrtos como una
basilisco, — » Deus appareceu cm viono ;i
sancta , disse o leitor dorminlioco. — Imbecil,
grilou Stanislao , dize que Deus llie appa-
receu em sonho ! — Real senlior , se elle qui-
zesse podia-o fazer ! « Siio estas as convenien-
cias que giiardam os nossos ihaumaturgos
modernos : nao se embara^ani com o ridiciiio.
As conclusoes d'esta exposigao das leis da
natureza relalivas ao nosso objecto sao:
1.° Que tudo quanto e rasoavelmente
adinissivel nas curiosas experiencias que teem
sido feitas sobre o movimento das mezas, em
que se iinpoe as maos, se expliia perfeita-
menle pelaenergia bem conliecida dos niovi-
inentos nascentes dos nossos orgaos , executa-
dos na sua origem , principaluienle seaccresce
uma iutlueiicia nervosa, e no momeuto em
que conspirando todas as impulsoes , o effejto
produzido represenla o elTeito total das atjoes
individuaes ;
2.° Que no estudo consciencioso d'estes
plienomenos mecanico-pliysiologicos , cumpre
desviar toda e qualquer iiitervengao de for^a
mysteriosa em contradic^ao com as leis phy-
sicas bem estabelocidas pela observa^ao e pela
experiencia ;
3.° Que se torna necessario tractar de po-
pularisar, nfio pelo povo, mas pela classe
29
esclarecida da sociedade, os ])rincIpios das
sciencias. Esla classe tfio iiiiportante, cuja
aiictoridade devia dar a lei a toda a na^io ,
tem-se apresentado tmiitas vezes abaixo d'esta
nohre missao, A nota nao e nossa , mas se
lanto for necessario, nfio duvidamos adoptal-a
e defendel-a :
Si los raisons manquaient , je suis s)lr qu'eQ tout caa
Lea excmptes fatueux ne mc maiiqiieraicat pas !
como disse Moliere. Devemos tambem con-
siifiiar aqiii que a iniciativa das reclamagoes a
favor do bom senso , contra os presligios das
mezas c dos chapeos, foi tomada pelos mem-
bros esclarecidos do clero francez.
<t.° Finalniente roga-se com instancia a
todos OS uiilagreiros, que tenliam a bonda-
de, se de lodo nao poderem deixar de fazer
railagres, ao menos de os nao fazer absur-
dos. Irapor crencjas a um niilagre , ja e muito
para este seculo; mas qnerer ainda em cima
convencer-nos de uin milagre ridiculo, pare-
ce-nos demasiada exigencia !
BABINET, do Instiluto Francez.
RELLEXOES SOBRE 0 ARTIGO — MEZAS GYRAN-
TES DE MK. BABLNBT.
A explicajao do facto das mezas gyrantes
offerecida por mr. Babinet, senfio satisfaz
cabalinante ao espirito despreoccupado , col-
loca pelo menos a questfio no seu verdadeiro
ponto, despida do raaravillioso, que fasci-
nando o entendiinento embarga o poder da
reflexao.
As maravilhas, os proclamados mysterios
da magi'a, os encantanienlos, feiticerias , ma-
gnetismos, e outras crenyas pueris, e ridi-
culas nfio sao d'este seculo ; passou-lbes a
epocba.
O movimento communicado as mezas pelo
imperio tnediato da vontade nao passa de um
phenomeno natural resullante da acgao mys-
teriosa do poder nervoso posto em acgao pela
vontade.
Aos factos que refere mr. Babinet, pode-
riamos juntar outros, que passani desaperce-
bidos , seni que sejam menos maravilliosos.
Quando a vontade de um individuo delibera
mover uma perna neste ou naquelie sentido,
para se verificar o niuvimento, ha um jogo
de ac<;oes mui complicadas em que cada
musculo representa o seu papel differente. O
individuo nao faz o movimento parcial de
cada musculo; porque ate de ordinario nao
conbece a existencia delles; e o movimento
cxecuta-se; obedcce cada um a intemjao do
actor. A ac5ao nervosa e' aqui o vinculo que
liga o acto mecanico ao acto intellectual. O
cantor, que para cxecutar uma pe;a musical
precisa de por em movimentos mui compli-
cados OS musculos intrinsecos da laringe,
conbece por Ventura esses musculos? nao
sabe delles; e elles executam ficlmente a
deterrninaQao da sua vontade, sem que o
actor tenba a minima consciencia desses mo-
vimentos.
Que admira pois que o mesmo poder ner-
voso sempre obediente as ordens da vontade,
desempenhe a determinagao d'esta pondo em
movimentos mais energicos do que apparen-
tes OS pequenos musculos dos dedos , e que
a acgao d'estes communique a forga que taz
mover a meza , sem que o individuo perceba
a acgao desses musculos?
Todo o mysterio , que ba no facto, porde-
se no grande mysterio do niodo de operar
dos nerves ; das ligagoes do pbysico com o mo-
ral do homem. O mysterio nao esta na me-
canica nein no magnetismo, esti'ina Physiolo-
gia, O que obedece a vontade nfio e a meza.
Outros factos, que no mesmo proccsso a
ma fe, a superstigao , ou a especulagao teni
creado para armar a credulidade ja estao
sentenciados por Humboldt e Arago.
M.
CREDITO TERRITORIAL.
CoDtinuaJo de pag. 17.
II.
A orlgem das associagoes territoriaos re-
tnonta a 1770. Durante a guerra dos sete
annos a nobreza da Silesia contrabira em-
preslimos consideraveis, de feigao, que a
volta da paz , estava a propriedade onerada
com uma divida enorme. A nobreza ia ser
expropriada, a crise fmanceira estava a pon-
to de terminar n'uma revolugao politica,
quando Frederico o Grande, com o seu edi-
cio de indulgencia, concedeu aos devedores
a espera de tres annos para solugao das di-
vidas bypotbecarias. Esta provideucia preser-
vou , e verdade, da expropnagao os antigos
senhores das terras; mas acabou de arruinar
a agricultura, privando-a de todo o credito.
Os capitalistas conscienciosos afastaram dalli
seus capitaes, receiando novos arbitrios , e
so dos usurarios podiam os agricolas obter
algumas sommas com juros exorbitantes.
Para por um dique a. torrente de males
que dimanavam d'este estado desgrajado ,
um negociante de Berlim , Wolfgang Bii-
ring, propoz que se estabelecesse o credito
collectivo, mediante uma agenda interme-
diaria, idea que foi logo abragada por Fre-
derico II, o qual dotou a sociedade com
300:000 escudos, para o pagamento das
primeiras annuidades. Por beneficio da in-
stituigao, e pela feliz coincidencia de tres
abundantes colbeilas que se suceederam na
Silesia, baixou consideravelmcnte a taxa do
30
juro, tnrnaram-se possiveis os mcliioramen-
tos a<;ricola*, e o leito do credito, ale ent.'io
de lodo cxliausto, recuperou suas aguas fe-
ci] ndantes.
A causa do credito lerrilorial vencera aos
ollios do publico, e devia enconlrar imilado-
res no3 diversos estados da Allemaiilia. Com
elTeilo, aiiida nao I'lndura o seculo passado , c
jd se tinliam I'undado iiistituicjiies de credilo
terrilorial em Jlaiiovre, em Diiiainarca, e
nas cidades anseaticas. Termiiiadas as f,'uorras
da revolugfio IVanceza, a Austria, a Russia,
a Polonia, Baviera, e Wurtcinbergsegiiiram
aquelle exeinplo. Dopols , os pequenos duca-
dos allemaes e a Siiissa estabeleceram oai-
xas territoriues. A Belgica, finalmenle , aca-
ba de decretar a fuiida^ao de unia inslitui-
gfio analoga. Existein hoje na Europa perto
de qiinrenta bancos tcrritoriaes , que resul-
tam, na maior parte, da uniao voluntaria de
proprietaries terriloriaes.
III.
Ha diias circumstancias, diziamos, que
nbstam ao conlacto dos capitaes com as ter-
ras, fim principal do credito agricola , e vem
a ser : I ." a pouca soguranga da hypotlieca
offerecida pelo proprietario ; 2.° a iinpossibi-
lidade em que fica o capitalisla, dador do
emprotiino, .de dispor promptamenle dos
fundos eniprestados. Ora esles dons atravan-
cos sfio completamente reniovidos pelo syste-
ma de credito territorial mais geralmenle se-
guido, e cujas bises vamos apresentar na
sna maior simplicidade.
Essas bases sao : 1,° destruir o grande risco
a que se rxpne o capitalista em presenga do
cliaoi da legiilagfio bypolhecaria que vigora
enlre nos , substilnindo-ihe o systema alle-
nifio, ou qualqner outro (jtie assegure, a quern
ernprestar capitaes sobre bens de raiz, oeslado
mati'riai e jiiridico do predio off'erocido em
liypollieca : 2." atlenuar on aniquilar o risco
rcsullaiite de poder ser depreciado o predio
por qnaesquer cansas, subslituindo o credito
ppssoal e acanliado que tern tim determiuado
proprietario para com \im determiuado capi-
tali^ta, pelo credito real e vasto que enlre
as diias classes deve estabclecer uin interme-
dio, que centralise as t'orgas da amorlisag'io,
que preste garaiUias irrecnsaveis , toinando
as livpolhccas por dons tergos ou metade do
sen \alor: 3.° ler p<ir fim esle intermedio,
Associagao de proprielarios ciijas terras con-
sliluem o fundo da socii-'dade, emprestar,
a longo ternio, sol)re j-iypotliecas, nfio ja di-
nlieiro, mas titulos dc pcnJior , papeis de
credito que dao ao capitalista que os coni-
prar, o direilo de haver da Associaguo \im
cerlo juro do valor que representam esses
titulos, e ao proprietario impoem a obriga-
cao de pagar annualmente a mesma Associa-
gao tanlos por cento de juro, e tanlos para
aoiorti^ajiio da divida.
Siipponhamos que se estabelece com eslas
bases uma Associajao territorial. Alguns pro-
priethrios abastados , enlre os qnaes podenios
contar o Goveino, constituem-se em Asso-
ciagfio terrilorial, liypolliecando as snas pro-
priedades para fundo da Associagao, rece-
bendo acgoes representanles do valor desse
fundo, fazendo approvar sens estalutos pelo
Ooverno, etc. Observemos a simplicidade de
suas operagoes.
Um proprietario qnalqiier, que pode ser
um dos accionistas, precisando contraliir uni
cmprestinio , recorre a Associagao: se e ac-
cioniila, sacca sol)re iima parte do valor de
snasacgoes, se o n.'io e, olferece em hypo-
tlieca da quantia que pretende obler nraa de
suas propriedades, Como uoregistro das hy-
polhecasi), diz uma lei anslriaca, « serve
para determinar os direitos dos proprielarios
sobre os bens de raiz, assim como as dividas
e encargos sobre elles impostos ", por via do
regislro conhece a Associagao qual o credito
a que o proprietario lein direilo.
A Associagfto recelie a hypotlieca e entre-
ga ao proprietario um titulo oo porlador.,
representante de metade ou dons lergos desse
credito, titulo que dd a quem o possuir o
direilo de haver da Assotiagao tanlos por
cento de juro do seu valor. O proprietario
obrigou-se para com a Associag'io a pagar-
llie esses tanlos por cento de juro, e inais
tanlos por cento para amortisaj ,'io do capital ,
custeamento daadminislragao, elucro dosas-
sociados, se, por ventura, deve tnetler-se em
conta esle elemento.' O proprietario vae coin
o titulo a um capitalista ou caixa economi-
ca , e vendeiido-lho por mais ou inenos do
seu valor nominal, segnndo o estado da of-
ferta de capitaes ou pedido de titulos, recebe
o nurnerario de que necessila para melliorar
a sua industria.
Chegamos pois a esle resnltado : o capita-
lista poz OS sens capitaes a juro de tantos por
cento nas infios do proprietario; mas a Asso-
ciagao territorial e qiiem assegura ao primei-
ro o embolso do capital ejuros, otTerecen-
do-lhe a dnplicada garanlia dos fundos da
Associagfio e da hypolheca do proprietario:
o proprietario recebeu do capitalista um
capital a juro, mas a Associag.'io e que elle
teni de pagar um e outro , do modo mais con-
forme a natureza do rendimento das terras —
todos osannos, e sempre pouco de cada vez.
Como ha de agora o capitalista conciliaro
emprestimo a longo prazo (lei da Associagfio)
e a immobilidade da hypotlieca (natureza dos
fundos e pcnhores), com a prompla e facil
1 Em Pospn, por exemplo , o jtiro do capital muluado
(•4" ecom I ^para amorlisarrio %em aextin^juir-seactiTiii.a
era 41 aiiiios ; nu Polunia , nlem dos 4 ^ dp juro, paya-
se 2 ^ d'amuiti?;K;ao , e a di\ida e.\tin;;ue-8t; cm 28 an-
aos. Obtem-se esle residlado ptio calciilo das annuidades,
ou resol\endo o systfina de formulas (I-t-r^^
« = (r — ijjx, sendo a o rapilal , r o jurg ao diuheiro,
( 0 tempo , X a auouidade.
31
disposi^ao dos capitaes emprestacios? Como
ha de o propi ietario , liavendo-se obrigado a
pagar a divida em 28 annos , por exoiniilo,
solvel-a i)as5ados 4 on 5 aniios de collieilas
aliundantes? O credilo publico, diz Wolows-
ki , lia rauito que rc-solveu cstes irnportantes
probleinai de credilo territorial: os einpresli-
mos contiaiiidos pelo E^lado sao a ioiigo ter-
mo , e ale ajuros perpeluos, e lodavia a rca-
lisagao dns effeitos piiblicos , onde o Eatado
leiii credilo, e niais facii, que a de qiiaes-
quer oiilros valores.
Assim e. Querendo o capitalisla obter de
promplo o sea capilal, nao tein mais que
vender a outrem o seu titulo, coino Ih'o veu-
dera o proprietario ; o proprielario , podendo
solver a divida anles do lenno fixado, coin-
pra titulos na pra(;a , e com elles paga ao
banco, que os recebe pelo seu valor nominal.
Ainda niais: nao coiivindo a Associa^fio acu-
ruular dinheiro em caixa , porque delle ha-
vera de pagar jtiro aos capitalislas , o mesmo
inleresse da Associagao a Induzira. a empre-
gar as annuidades recebidas em lilulos com-
prados na praga, ou sorteados annualmente
e pagos aopar, como se pratica na Polonia.
E esle ultimo meio e de cerlo preferivel,
porque assegurando aos credores a venda dos
titulos pelo seu valor nominal, previne uma
causa de depreciajao resullante da variajao
do curso.
Eis alii o systema de credilo territorial
cujos beneficios iiicalculaveis lem gosado os
povos onde se elle fundou , sysleiua que lia
quasi umseculo se conserva incolume no meio
de guerras e revollas que derrocarara e Irans-
forrnaram instiluiyoes solidamenle eslabcleci-
das. Se a lua Introducgao em Portugal se op-
poem instilui^oes injuslas e anteconomicas ,
como a dos morgados; leis confusas e inco-
lierenles, como a das liypothecas ; que se oc-
cupe o poder polilico , a quern isso compete,
deabolir essas institui^oes , de reformar essa
legi^la(,'ao, subtituindo-a por outra mais con-
forme com a philosopbia do direilo e com
as nossas urgenles necessidades , porque em
removerom-se taes obstaculos estd o poder
t'uudar-se eiilre nos o credilo territorial, an-
(jora de salva^ao da nossa imlustria agricola.
Contiin'ia. jacintho a. de SOUZA.
COSTUMES AMERICANOS.
Cuatinuado de pag. 288.
Alem do casamento for<;ado, existe t>utra
especie que conjiste em aeliar-se um indivi-
duo casado sem o saber. A ariiiadiliia matri-
monial ten) uma verdisella tao subtil, que
basta ro^ar-se alguem por ella, para near
logo apanliado. Uma aiiedocla mui recenle
deinonstrara ao leitor o perigo que lia em
fol;>ar curii taes brinquedos.
Um bomem de quarenla e cinco aiino^ dc
idade, nieslre pedreiro e liorrivelmcntf feio,
lembrou-se um dia de ir a casa do um seu
amigo inculcador de creadas, para hi esco-
llier uma cosiuheira.
E<tando a conversar no negocio, pergunta-
llie d'alli o caixeiro da casa. — Porque se nao
casa o sfir. ? — - Vallia-me Deus! Para rao
casar e mister acliar com qiiem ; mas eu sou
lao feio que ninguem me quer. Tndas as
raparigas mofam de mim quando Ihes fallo
em tal. — E porque o s-nr. nao procura bem.
Oihe, entre solteiras e viuvas lenlio abi duas
duzias : aposlo que o caso em um (]uarlo de
hora ; lenlio aqui visinlio o juiz que se encar-
rega de fazer a operagfio. Ande dulii ! escoUia
a que llic convier, e o demo me leve se ella
recusar! O pedreiro foi facil de persuadir, e
escollieu uma irlaiideza recboncliuda e fol-
gaza, viuva do seu prinieiro marido. A mu-
Iher levando a cousa de galliofa aoeita a
proposla : o juiz puxa do len^o, assoa-se,
escarra, e pergunla com torn solemne: asenlio-
ra recebe esle cavalheiro por esposo? — Sim
senlior bi o senhor recebe csta dama por
sua mulher ? — Sim senbor. — Deem as maos,
eslSo unidos: sejam felizes.
O pedreiro conlenle por se ver em fim ca-
sado, conduz sua mulher a um Oi/slcr room
da visinlianga, para ambos sosinbos fesK'jareni
as bodas : era o que a iriandeza qiieria, co-
meu ben) e nao bebeu mal. Mas a sobreme^a,
o marido um pouco eleclrisado com as re-
petldas libagoes, tomou algumas liberdades
que Ihe pareceram a ella mais que puro gra.
cejo. O marido reclama os seus direilos, a
rnulber p6e-se a zombar; elle cnfada-se, ella
manda-o bugiar, dizendo que tal casamculo
nao era mais que uma f3ri,-a. A questao foi
levada perante o juiz que declarou o casameii-
lo valioso e legitjmo, visto que ella ja viuva
e mai de filhns devia saber o que era casar,
e por ijso nao fora surpreliendida como ru-
pariguinba ignorante.
Ebta facilidade de casar, na America, seiu
inforraajcies, sem delongas, sem con^etllimell-
lo de ambos os conjuges lem na veidade sen
altractivo para os amantes, mas tarnbcMn I'a-
vorece em demasia as Irapayas dos cavalleiros
de iiidustria.
Como correclivo existe o divorcio legal ,
que raro acouLece porque custa caro. Exige
longos proce^sos e o consentimenlo de uma
mullitiao de pessoas, que poiico se condoem
do que sotlreu) os esposos infelizes. As mais
das vezes quando um casal nao e bem unido,
o que solfre divorcia-se sem pedir li('er(;a. O
marido repula-se einigrar para a CalU'ornia,
e deixa, segundo a expressao usada , uma
viuva californiana, que la se consola o me-
Ihor que pode; outras vezes, mas isto e menos
vulgar, a mulher e que seecli|)sa executando
um pequeno elopement. Se tern queda para
a tragedia, faz como a snr.* Miller, depoe
d borda da catarata do Niagara o seu veu
32
azul, as suas luvas, e escreve iima carta
niiminciando ao imindo que seu marido,
inoiiilio de ingialidao, e caiisador de sua
desj;ta^'a; que ella vae cm fim luriiiinar uma
vida in<ii|)poitavcl.
E di-'poiilado o hillietc ao lado do veu ,
lan^a-se, precipita-se . . . . nos l)ra(,'os do sur.
Arthur, e logo em sej^uida, no (undo de uiu
caleclie de viagem. liis alii o sublime do
geiiero; mas d'ordinario a mullier desap-
parece sem esle apparato, e eutfio o marido
ot'l'endido quer ao meuos salvar o coffre.
Publica iminediatamenle nos joriiaes um an-
iiuncio coiicebido nestes termos :
a Eu abaixo assignado, teiilio a lionra de
annuiiciar ao publico que miiilia criminosa
rsposa dcsappareceu compk'tamonte do do-
iiilcilio conjugal, abandonando, sem pes nem
cabpra, a minlia meza e o meu leito, m?/
hoard and bed. Em consequencia do que
declaro que nfio pagarei qualquer divida
contraliida por essa descarada etc. »
Assim como os maridos prudentes se servem
da imprcnsa para publicar a fuga de suas
inullieres, tanibein muitas vezes celibatarios
limidos, on tao pouco de cobijar, que nfio
valem a pena d'uma armadillia, empregam
o mesmo meio paraofferecerem ao bello sexo
seus encorreados corayoes. Em um jornal do
domino-o le-se um annuncio assim concebido:
« Um honrado single gentleman, bem con-
servado, deseja unir-se a uma joven lady
com OS lagos do hymineu ; porem muito
limido e pouco experimentado em requestar
uma donzela , deseja evitar estes preliminares,
]jor via dos annuncios. Tem tiinla annos de
idade, e um mocetao com todo os seus denies
<■ cabellos; assegura que ha de fazer feliz
uma menina virluosa etc., e vende bacalhau.
A carta deve lanjar-se no correio, com
direc^ao a L. X. "
Alguns desfrutadores do mau cora9ao
tiveram acrueldade de assignar a este caval-
loiro infeliz oito casas, nos qualro cantos da
cidade, onde devia achar-seao niesmo tempo,
de mancira que o pobre do homem dava-se
a perros, nfio attinando no modo de preferir
cut re tantos corajoes intlammados.
Uina das cliagas mais crueis da economia
domcslica na America, chaga incuravel e
senlida todos os dias , sfio os criados, e prin-
cipahnenle os criados luancos, nao ja que os
negros valliam mais e fagam mais irabalho.
Pelo conlrario, uma vcz elevados ii nobre
con(ii(;ao de criados livres, manitestam o
dcsejo de desforrar-se amplainente do traba-
Iho tbri^ado do escravo. Ningucni se atreve a
veprchender uma miscravel irlandeza que em
sen paiz nao recusava fazer qualquer servi^o,
sujeitar-se a qualquer liuniilia(,':'to. Apenas
respira o ar de bberdade e egualdade ame-
Ticana, torna-se tao pretenciofa quanto antes
era liumilde. Por pouco que n.'io chega a per-
luadir-se que sua ama e quern deve servil-a,
iifto obstante reccber um salario que nao
nierece ; mas em todo o raso, nao se ensaia
em estabelecer uma espccie de communismo
de falo; serve-se dos vestidos c cbapeus da
senliora como dos seus proprios.
Continua.
V. OVIDIO NAZAO:
JDos Tristes — Livro 5.°: Elegia 6.*
ARGUMENTO.
Exorta-se Ovidio a si mesmo para celebrar
o dia natalicio da sua esposa, a favor da
qiial faz rcligiosas preccs, e louva o dia, em
que ella veio a. luz, dotada de purissimos
costumes; e hem que digua scja de mais
prospera fortuna , exorta-a com tudo a que
soffra a adversidade com espirito sereno, por
isso que na virtude so pode fazer-se brilhante
no meio da adversidade. Pede fmalmente aos
Deoses, que, com quanto n.'io queiram per-
doar-lhe a elle, perdoem ao menos a sua
innocente consorte.
Da chara esposa o dia natalicio
Exii:e as honras costumatlas ; vamos ,
O miiihas raaos , dispor-Ilie o sacrlficio :
Tahx'z o tieroe Lacrcio assim, no exlremo
Orbc , (la esposa celebrasse outr'ora
Do festivo iialal o sacro dia.
— Dos mens lonfros trabalhus deslembrada ,
Deme a Iin;;ua expressoes condi;;nas hoje,
Ella , que eu jul^o ha\er desaprendido
Ha muito ja a fallar liu;rua;;em fausta;
E a ui^ea veste , aos fados nieus adversa ,
^ue uma vez so vestir no anno eu uso ,
Ueste dia em memoria hoje se tome :
E nni ^ erde altar ile leivas se levanle ,
Tapetado de relva ; e uma i^rinatda
Os trepidantes foi^os cubra , adornc,
— Da-me , 6 rapaz , incensos productores
De oleaijinosas chammas , e o de Baccho
Precioso licor, que, derramado
Sobre o fogo sagrado , arda estalando.
— Optimo natalicio , bem que a ausencia
Ao Ionise nos separe , e meu desejo
Venhas caudido aqui dissimiltiante
Ao natalicio meu : E se a consorte
Minha ali;uma dor nova araea^a^a ,
Ja mais dos males mens a dor anceie ;
E aquella , que inda lia pouco sacudiria
Iu»i por borrjisca mais que todas , grave ;
Nos dias, que Itie reetam , sem perif^o ,
Qual nao por mar tranquillo as vai,'as curie:
Ambas, ella e a GIha sua, o i^Ctso
Lo^'rem do lar domestico e da palria.
Da patria \\va. embora eu so privado :
E , bem que do consorte charo ao lonije
Ser nao possa feliz , da vida o resto
Nuiens tristes jamais Ih'o enteuebrei^am.
Vi\a, e ao esposo auscute amor conserve,
Vislo que a isso obri.i^am , e em diuturna
Serie va os seus dias consumindo :
Outro tanto dos mens dizer quizera ,
Se nao fora o receio , que o contairio
Do meu destino corrompesse os d'ella.
— Para o homem na vida nada e certo !..,,»
Queni juliiara que os sacros natalicios
Ealre os Gelas da esposa eu cantaria !
Notai , como o fumoso incenso os ventos
Para a Italia , a direita posta , levam !
Teem sentimenlo pois do furao as nuvens ,
33
Que 0 foffo exala ; quasi vjlo fiiirindo
A* dire(;ao que eu dar-Ihes inlcnlaval
Quaiulo a comniiins exeqviias solire a pyra
Fazcr maiulava fralernal pieiiaiie
Aos duua irmaos , que a rnorle arrebatara
Em alternado duello ; a ardf.'tite flamma ,
A si mesma cniitraria , e coiuu au mando
Dos inimij,'os dous oliedietiU* ,
Dividida se erijueu em partes duas ;
Que assira podesse aconlecer , oulr'ora
(Bern me lembro) cu neg:ava, e em meu juizo
O fiatliades vale era um falsario :
Tudo hoje creio ao ^■er o lino , o instincto ,
Com que In , 6 vapor , as cuslas A«illas
Ao Arctiirio , e d'Ausonia ao riimo apontas.
— K este o dia pois que se das tre^as
Rompido nao tivesse, oulro al;^um dia
Feslivo para mira jamais hou\era;
Deu este dia /i luz moraos vjfludes,
Quaes nas Heroinas se ustentaram puraa ,
De qnem fui pal Eel ion , foi pai Icario :
De costumes pureza , houra e lealdade
N'elle I'iram a luz ; nao ja prazeres
Nasceram neste dia , antes trabalhos
E ancias , de taes costumes sorte impropria ,
Do quasi viu^o thoro justas queixas :
A bondade porem provada em lancea
Adversos da forluna , cntiio cncerra
Maior para o louvor tempo e materia:
Se ao duro Ulysses cousa ali^uma infausta
Nao tivesfle occurrido , venlurosa
Penelope vivera , mas sem jrloria :
Se victorioso os Echionios muros
De Evadne o esposo penelrado houvesse ,
D'eila talvez soasse o nonie apenas
Deotro da palria sua : tilhas tantas
Tendo Pelias gerado , como illuslre
Fama obteve uraa 86 ? Ganhou-Ihe a gloria
Do marido infellz ser a consorte :
Faze , que ouiro as illiacas areas
Primeiro com seus pes toque , e Laudamia
Nada tera , que honrada a iuimortalize.
— Tambem desconhecida ao mundo fdra
(Mais o quizera assim) lua bondade
Se prospera a forluna me ventasse.
^Deoses , com tudo, e, 6 Cesar, que alrum dia
Has de entre elles morar , mas s<5 volvidos ,
Iguaes aos de Nestor compridos annos :
Nao a mira , que o castij,'o Iiei merecido
For propria cunGssao , a rainha esposa
Perdoai , que nenliuma dor merece ,
E na dor se deGntia e se amargura.
Cmlinua F. DE CARVALHO.
ESTUDOS DE ECONOMIA POLITICA
ou
Breve explicagao dos elementos dcda sci-
encia — por A. P. Forjaz — /omo 2.° —
1.° cadcrno — (heoria da distribuigdo e
do consuiiio.
A sciencia e longa e a vida e breve, dizia
um pliilosoplio : e a espliera dos conbeci-
mentos liumanos dilala-se cada vez inais, e
a vida e cada vez inais curia. Na ordem
pliysica, e mister achar o modo de produzir
mais e melhor em menos tempo; porque
as necessidades crescem incessanlemente : na
ordem moral, a civijisagao siijeita o espirito
a uma condijao analoga de seu desenvolvi-
inento — e forsoso deseobrir como abranger
no tempo, que fiea sempre o mesmo, se nfio
dirniniie, a sciencia, que augmenla sempie
cm piofiuideza e exlensac.
Des^anios as coiisas que nos tocam mais
de perto. E^iidat em um anno uma sciencia
nos livros que a cerea dell.i teem escripto
antigos e inodcrnos, e' cotisa impoasjvel. Quem
tivesse animo de einpreiiender essa larefa ,
acliar-se-liia , por fim , com o entendimento
povoado de mil opinioes contradjctorias , de
no^oes imperfeitas, que inuito prejiidicariani
qualquer esludo ulterior. Havendo, porem , um
bom compendio que o |)rofessor ex[)lique, e
nao teniia de refutar a cada passo, aplana-
se muilo o caminho, porque lia um guia
seguro, lia um iiucieo em torno do qual se
podem engrupar as ideas adquiridas com a
leitura dos que melbor escreverani sobre a
materia. Todavia o que estuda lem ainda
de lutar coin grandes difficuldadas , mormente
liavendo de applicar-se, com egual afan e
no mesmo periodo , a oulras sciencias. Por
isso as ligues lithogrnphadas , contra que
tanto se fallou, e de que tanto se tern
abusado, satisfaziam , ainda que mal , a uma
necessidade realmenle existente em algumas
aulas da universidade.
Resumir em um livro bem elaborado o
que iia melljor e essencial em qualquer
das sciencias ensinadas nas faculdades aca-
demicas , conciliando a inevitavel concisfio
com a clareza e bom metliodo , e evidente-
rnente fazcr um relevante servi^o aos que
estudam essa sciencia, niiiiistraiido-lhes uma
base sobre que poderao edificar com se-
guranja t.^o vaslo edificio, quanto llies per-
mittir o talento e applioa(;rio; e e de certo
este o unico meio justo e convenienle de
acabar com as iiijoes litliograpliadas, e com
as consequencias de seus abusos.
O snr. A. P. Porjaz nfio so fez um excel-
lente compendio de ecoiiomia polllica, mas
esta pubiicando a explicagfio desse compen-
dio intitiilada — Esludos de Economia Po-
litica. Ve-se nesta obra reunida e posta por
ordem a doutrina mais importante que a cerca
da producgfio, distribuigfio e consumo, so
encontra em tnuitos volumes de abalisados
economistas. Se alguma vez este traballio
parece nao satisfazer ao precioso dote da
clareza, nascera porventiira esse defeilo da
difficuldade que sente uui escriptor didactico,
quando procura collocar-se bem nas circum-
slaucias do maior numero dos leitores, d'or-
dinario dcsemparados dos recursos que o au-
ctnr lem de sobejo. Alem de que, raro suc-
cede sair obra lao diflfjcil, logo do primeiro
jaclo, com o cunho da mais complela uni-
dade e perfeijao.
Podemos porem asseverar que estas quali-
dadas lifio de vir a avullar enlre as muitas
excellencias daquclle escripto, porque o A-
lem a peito aperfeigoar os seus Estudos dc
Economia Politica, e p61-os sempre ao par
do progresso desta sciencia, condigao sem a
34
t]ual nao orfereceriain todas as vanta^ensqiie
podera preslar. O que varaos dizer auotorisa-
nos a fazer este jiiizo.
O A. tratando da renda no compendio,
considera-a com a maior parle dos ecoiio-
luistas anligos e modernos, conio unia especie
de rendimento disliiicto dos outros, coino iitiia
liljeralidade da natiireza, que o proprielario
apropria ; porem Carrey e Bastial apresonla-
ram, sobre este objei'to, oiilras ideas que fo-
ram de^ellVolvidas por JMartinelli e Foiitenay.
11 Scfjuiiulo eiles escri|)lores, h diz o A. iios
seus £s<i/f/o.«, " refortnaiiios o pensameiUo in-
dicado no §. 79. do compendio, nao considc-
rando a reiida da terra, senfio como uma re-
mutiera^ao anaio^a aos outros rendiinentos,
lima paga de servic^os por servieos, unia re-
lriljui(;;'io do traliallio consiimido ou peio pro-
prielario iinmediatamenle, ou por aqiieiles
que foram antes d'elle, o a quern representa;
isto e, o iiiteresse dos capitaes fixados no
solo em ro^as, plantios, tapumes, Irabaliios
de enxMgamenlo, etc, e em regra cont'undidos
com elle ; interesses que podein ser maiores
ou rnenores, conforme as circumslancias que
deterniinam tixo variadaraente o prego dos
servigos, mas que nfio alteram, em caso al-
gum, a natureza que ilies e propria. «
Temos pois a satisfagao de annunciar este
trabalho, que o publico illustrado ja conhe-
ce, em parte, e tera devidamente apreciado :
assim desempenhamos uma das importantes
obrigagoes do Instituto, lanto mais rigornsa
quanto e urn dislinclo socio e antigo colla-
borador que a sollicita.
DOCUMEiNTOS INEDITOS.
Carta que o viso^rei I). Joilo de Castro escreveo a
el-rei uosso senhor v anno de -16 (1546).
Cootinuado de paj. 23.
Capitolo do estado, em que achou afortale%a.
lalo assi ordenado, me dosembarquei de
nolle com toda a genie; e a maneira de que
acliei a fortaleza nao e cousa para se poder
crer, nem sinto termos por que se possa
escrever a v. a. Porque os uiouros tinliao
enlulliadas as casas de maneira, que nao avia
sinal dellas, nem poderse saber onde forfio ;
e OS mures derribados ate o fundamento; os
baluartes tornados, e os mouros poslos em
sima com muitas eslancias dartilharia, com
que atiravao as casas da fortaleza : e por der-
redor donde forao os niuros, tinli.io alevan-
tado grandes , e poderosos baluartes , e cava-
leiroi , e poslas grandes monlanhas de terra ,
e pedra, donde tinbao assenlados rauitos tre-
buquos, com que tiravio muitas jarras de
polvora, o muitas pedras aas cazas. Arredado
iiu pouco da fortaleza tinliao feito liua mu-
rallia de treze palmos de largo , e vinte d'al-
to , toda de muito fermosa cantaria, com
muitos baluartes , e travezes, com a qual cin-
gi/ioii fortaleza de mar a mar. E desla mu-
rallia , para os nossos baluartes, que elles ja
tinliao ganliados , emuros, liiao tantas ruas
cobertas, trinclieiras, laberinlos do paredes ,
(]ue era couza estranlia, e muito pera notar.
Aulrelles, e os nossos nfto avia mais que liQa
estroila paredinlia de pedra emso(;'a. Desta
maneira adefendeo dom Joao Mascliarenhas ,
muito tempo per sen grande esforgo, e cava-
laria. Estas obras, que os mouros tinliao fel-
las, fizerfio ciuco engenbeiros, queCojeCjIofar
mandou bnscar a Costantinopla a soldo de
cada liu a trezenlos cruzados por mez.
Acabado de de^embarquar pratiquei codom
Jofio , e com todolos capitfics da armada a
maneira, que teria em minlia saida. E posto
(pie na pralica ouvesse muilas e diversas ope-
nioes, pareceo-me bem , que por sima de
todolos incouvenientes devia de sahir am3-
nliecendo ; porque me pareceo , que se perdia
muila repntajao saberem , que o Governador
da India estivera cercado um soo dia. Polo
que manhii clara ordenei duas balallias de
toda a gente. A da vangiiarda com toda a
geiite da fortaleza del ao capitao dom Joao
Mascliarenhas , o qual avia de levar doze esca-
das pera sobirmos as muralhas dos mures;
e en fiquei na retaguarda com a gente dar-
mada. Na fortaleza deixei por capil'io Anto-
nio Correa, liome niuilo honrado , e que tem
muito bem servido v. a. , e valente cavaleiro;
o qual fiquou inuilo contra sua vontade; mas
forceyo a isso, assi porque pera 0 cazo com-
pria pessoa de suas calidades , como por ser
aleijado dua perna por servijo de v. a. , e
por esle empediinento nao ter soficiencia pera
saltar paredes: e por me recear muito, que
tanto que saisse tora a combaler as mura-
llias, me entrassem os mouros a fortaleza;
por cazo de nos terem ganliados todolos ba-
luartes, e muros; e entre nos e elles nao
aver outro empediinento, salvo as paredi-
nlias de pedra emsosa, que ja disse a v. a.
Saindo dom Joao com sua batallia pola
ponte, desparou a arteUiaria, e arquabuzaria
nelle, e Uie matou muila gente; mas nem
por isso dcixoii de passar avanlo, e cliegiiar
ao pe das murallias, onde Iraballiaiido polas
sobir, e os mouros pelas defender, se come-
50U liua grande, e cruel peleja. A este
tempo era eu ja saido com miiilia bataiha,
em a ponte tornou outra vez desparar toda
a artelharia em mi, e me matou inuita gen-
te. Os Lascarins, que comigo lii'io, vendo a
grande grila da batallia de dom Joao, que
estava ao pe das murallias, e a gente, que
na minlia batallia cabia niorta da artelharia,
teraeo, e comessou de recuar: oade uie tive-
ram de todo ponlo derribado da ponte abaxOj
35
e quasi desesperado da victoria. Polo que me
foi necessario as cotyladas abiir caiiiiiilio pera
passar adianle com Loureu^o Pires de 'I'avo-
Ta , que minqua se de mi apartou , e assi o
secrelario Antonio Cardoso, e frey Antonio
doCazal, Custodio de Sao Fiancisco com
hu crucifixo nas niaos. E commessando de
caminhar para as muraliias, fiz bradar, di-
jendo a grandes vozes, victoria, victoria! os
mouros fogem , os nossos vao em seu alcanse,
e o Governador e passadoda outra bandados
mouros. Com esta nova falsa abalou a bata-
llia , e ciiegou ao pe do muro, e sobirrio, e
passarfio a outra banda, a pezar dos iraigos.
A este tempo tinlia eu jd comessado a peleja
com obra de vintaciuco pessoas. Antes de ini-
-nha gente sobir as muraliias carregou grfio
pezo de mouros sobre mi, e nie tiverfio de
todo desbaratado. Lourengo Pires de Tavora
foi o primeiro que deu nelles, e eu o segun-
do : digo isto, per nao tirar a gloria a cada
hu. E logo todos comessarao mui valenle-
mente a batalha, a qual durariu espa^o de
duas lioras.
Em quanto se estas cousas faziao, come-
ler.^o OS mouros a emtrar a fortaleza per
muitos logares; mas Antonio Correa Ihes
rezistio tao esforgadamente , que os fez tor-
nar atraz, e botados dos muros, se veio a
porta, e despedio muita gente; pera que me
fosse buscar , e acompanhar. Em todo o tem-
po do perigo, e que a couza esteve em duvi-
da, sempre me acompanhou Louren^o Pires
de Tavora , fazendo obras de muito esfor^a-
do cavaleiro. E assi me acompanhou o se-
cretario , e Custodio de Sfio Francisco, e
Simao Botellio veador da fazenda , sem em-
bargo de andar ferido dua freeliada. Os fidal-
gos , e capitaes andavao denivolta co os mou-
ros, e como o campo era grande , e as suas
vontades muilo uiaiores, pera se vingareiii
delles, fiao tinhfio tento em mais, que em os
roatar, e veneer; polo que a este tempo nfio
estava rodeado delles; por llies parecer, que
assi faziao mais servlgo a v. a. Ora levando
eu cada vez a mellior dos mouros, os ouve-
nios de arrimcar do cauipo ; e se foifio reco-
lliendo pera a cidade, sempre pelejando. E
seguindo apoz elles , entramos demvolla com
elles na cidade, onde se couiessou outra bra-
va , e forte pileja , da qual tfiobom nos deo
nosso Senlior inleira victoria, tomandollie
per for^a darnias a cidade. E seguindo o
alcance a pos elles , entramos polo campo
espa^o de mea legoa. Jsesla batallia nao en-
trou dom Alvaro , meu fillio, por estardoen-
te de grandes febres; mas assi como estava
se mandou levar em hu leito ao pe dos mu-
los da fortaleza , aonde esteve em quanto a
peleja durou.
Morrerfio na batalha passante de Ires mil
mouros , a milhor , e mais luzida gente do
campo , a saber; 'I'urcos, Ai)exins, Arabios,
e Reybutros; afora outra muita gente, que
se matou no alcance dos mouros, quando
fogiao , e no saco da cidade , e em loda a
illia, que foi numero infinito. Serifio cativos
mais de seibcentos, por mais que eu o defen-
desse , e tivesse mandado , que a nenhu se
desse vida. Morreo tambem nesta batalha
Ilumequao, capitao geral delrei de Cambaia:
e a bandeira real delrei foi tomada, e prezo
Juzarquao, hu dos tres maiores senhores, e
capil.'iees do reino, e tomadas trinla e cinco
peras darlilliaria , a saber, basaliscos, lioes,
esperas; salvages, e outra de muitas sortes,
entre as quaes entiarao certas pegas, que os
Guzarates tinhao tornado no tempo passado
a V. a. em hua galee, que peleijou mal com
elles. Que nao foi para mi pequena gloria
tirar de seu poder as armas reaes de v. a.
Continua. N.
Reccberam-se na Bibliotkeca do Instituto de
Coimbra as seguintes obras offerecidas por
sens rcspectivos aiiclores.
RESCMO CHRONOLOOrCO DA HISTORTA DE PORTUGAL
clesde OS primeiros povoaJores ate nussos dia3 , para uso
das escliolas de instriic^ao primaria , pur Joaquim Loppes
Carreira de I^Iello.
COMPENDIO DE CIVILIDADE RELIGtOSA E MORAL para
USO dos aUimiios das aulas de iostruc^ao primaria, pelo
niesrao auctor.
COMPE\DIO DE DOUTRIXA CHRIST* DOfi:\IATICA E MORAL
jiara uso dos aiumnos das escholas de instnic<;ao priniaria,
jielo mesrao auclor.
C0MPE.\DIO DE CHOROORAPHIA DE PORTDGAL E SEUS
DOMiNros para uso das escholas de instruci^ito primaria,
pelo raesHio auctor.
BREVE TUATADO DE CHOROGRAPHrA PORTUGUEZA Ilislo-
rica politica , offerecido amocidadeporlnguezapeiomesmo
auclur.
descrip(;ao da sessao solemse que teve lo^ar no cul-
le^ifj de uossa Senliora da Conceif^ao em Lisboa, em 8 de
dezembro de 1853. Offerecido as famil'^s dos aiumnos do
mesmo colleijio , pelo mesmo auctor,''^ '
oil-'
IS0f;O£S GERAES SOBRE O DIREITO DAS GENTES , pOC
Antonio da Roza Gama Lobo.
oRA(;5cs FUNEBREs, recitadas nas exef]nias solemnps,
que, pelo elerno descanso da excelsa Itainha de Porlu-
tiii^al a senhora D. M.iriall , celebruram , na real c.ipellii
da Universidade , os lentes, doutores e professores.
CURSO CO.IIPLETO DK MATHEMATICAS rCRAS traduzidn
correclo e aui^mentado pelos lenles calhedralicos da uni-
versidade e sucios dolustiliito de Coimbra — Francisco <le
Castro Freire e Rodriiro Uibeiro de Souza Pinlo.
ELEIMENTOS DE MECIIANICA RACIONAL DOS SOLIDOS, pof
Francisco de Castro Freire , lente calhedralico da tacul-
dade de mathemalica , vo^al do cunsellio superior lie ins-
(rucrao publica.
TAEoAs AUxrLTARES para 0 calculo dag epliemerides
astrnnomic.13 do obser\aturio dauni^ersidadc de Coimbra,
por Jacome Luiz Sarmento, lente substituto ordiuario da
faculdade de mathematica.
ELEMENTOS DO PROCESSO CRIMINAL, por FranCisCO JoSe
Duarle Nazareth, lente cathedratico da faculdade de
direilo e socio do Instituto de Coimbra.
EST0DOS DE EcoNOMiA POLITICA ou breve explica^ao
dos elementos desta sciencia, por A. P. Forjaz , lente
cathedratico da faculdade de direito , socio da A. R. das
scicuciaa de Lisboa, e do Instituto de Coimbra.
36
OBSERVACOES METEOROLOGICAS . FEITAS NO GABINETE DE PIIYSICA |
DA UNIVEUSIDADE DE COIMBRA.
Anno lie
1854
J. o
a «
a
= ?
If!
f- s s
PressSo otraosplierica no melo dia
Estado hygromelrico da
olmosphera «o meio dia
S
o
Ealado do ceo ao
meio dia.
Mez J.-
Abril
AUnra ba-
romelricft a
0.° cenli?.
TcojSo do
vapor aquo.o
coiuido no or
Pressuo do
ar secco
Quantid. de
vapor coo tido
era upi metro
cubico de ar
= 5
OS
11
1
Dias
Glaus
ivntii.
Millimelros
Millimelros
Millimelros
Grammas
1
13
734,812
6,480
728,332
0,5048
6,52 .
s.
Liinpo.
2
15
758,882
7,555
731, .^27
0,5886
7,00
s.
Limpo.
3
15
758,882
6,807
752,075
0,5303
6,83
N.E.
Limpo.
4
16,5
758,698
7,691
751,007
0,5475
7,70
E.
Lirapo.
5
16,5
757,224
8.037
749,187
0.5721
8,05
E.
Limpo.
6
16
757,489
8,434
748,055
0,6188
8,46
E,
Limpo.
7
18
756,887
7,836
749,051
0,5039
7.80
S.E.
Limpo.
8
19
755,157
9 712
745,445
0,5963
9,64
O.
Nublado.
9
19
752,719
10,688
742,031
0,6562
10,61
0.
Nublado.
10
18
754,467
9,882
744,585
0,6437
9,84
S.
Nublado.
11
10
754,721
10,610
744,111
0,6911
10,57
s.
Nublado.
12
19
754,599
10,929
743,670
0,6710
10,85
o.
Limpo.
13
19
750,027
10,606
739,421
0,6512
10,53
o.
Nublado.
14
18
748,371
10,039
738,332
0,6539
10,00
o.
Cbuva.
15
18
752,993
9,782
743,211
0,6372
9,74
o.
Chuva.
16
17
753.573
10,293
743,280
0,7115
10,29
o.
Cbuva.
17
17,5
749,719
10,957
738,762
0,7349
10,93
0.
Cbuva.
18
18
745,849
10,880
734,969
0,7087
10,84
s.
Nublado.
19
16
743,303
9,591
733,712
0,7037
9,62
s.
Cbuva.
20
15,5
739,817
10,058
729,759
0,7601
10,01
s.
Chuva.
21
15
738,607
9,851
728,756
0,7674
9,91
s.o.
Chuva.
22
J6
742,805
10,177
732,628
0,7467
10,21
N.E.
Chuva.
23
• 15'."'"-
746,770
10,498
736,272
0,0178
10,57
N.E.
Limpo.
24
15,5 '752,286
10,184
742,102
0,7696°
10,23
N.E.
Limpo.
25 .
. 15 ' 753,156
8,860
744,296
0,6902
8,92
E.
Nublado.
26
12
753,624
6,041
747,583
0,5643
6,14
E.
Limpo.
27
14
734,548
7,454
747,094
0,0167
7,53
E.
Limpo.
28
14
732,191
7,635
744,556
0,6317
7,71
E.
Limpo.
29
13
751,207
8,191
743,076
0,7199
8,30
S.
Nublado.
30
15
747,730
8,698
739,o:;b
0,0776
8,75
S.
Cbuva.
nieilia }
do mez ^
13,9
731,039
0,6562
Coiiu
bra 1.° Je Maio i!e 1834.
O Demons
rador da Fa
:nldade de P
hilosoiiliia , J
\Tanocl ilos i
antos P
creira Jfirdim.
JnstitittrJ)
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
SESSOES DAS CLASSES E DA DIRECC.AO
DO lA'STlTLTO DECOIMBRA.
Nodia 9defevereiro desleaiino, reiiniii-:-e a
classe de sciencias pliyjico-matlieinalicas para
discutir o parecer dado peia lespecliva coin-
inissfio ii cerca da niemnria offerecida pelo
sfir. Francisco Antonio Alves, que nusla scs-
sfio fuj eleilo socio effecUvo da rnesQia classe.
A 27 d'abril, por propoala do sfir Flo-
rencio M. B. Feio, decidiu a direc^iio, que
a comniiis'io redactora do Inslitiito olTicinSse
as faculdades academicas, por inlervcni,'ao do
ex."'° prelado da iiniversidade, pedindo-llies
a sua el'fecliva collaboragao, conforme o dis-
posto na porlaria do Ministerio do Reino de
d de seternbro de 1853: resolveu egualmente
que, d'accordo com os aiiclores dos artigos
que se publicassera nojornaljpodesse a redac-
cfio, quando o jul^^'asse conveniente, mandar
lambem iinprirnir, em separado por conta dos
aiictores on acusla do liistituto, esses mesmos
artigos. Nesta sessao recebeu-se parLo do fal-
lecimento do socio osfir. conselheiro Francis-
co Freire de Carvallio, e foi encarrogado do
sen elogio funebre o sfir. Francisco de Caslro
Freire. O Secrelario do Inslitnto,
Jacintho A. de Sousa.
CO.SSELHO SUPERIOR DE INSTRUCC-lO
PUBUCA. — RELATORIOS.
INSTBUC^So SECUNDARIA.
Conferencia de 28 d'abril de 1854.
Senhores. — Na conferencia ordinaria do
conselho geral que teve logar no dia 31 de
outubro do anno de 1853, relatei-vos nao so
OS trabalhos que correram mals particular-
menle pela S.^secjao, eocrescido e.xpediente
da secretaria do conselho; mas tambem o
estado bastante lisonjeiro da inslrucgao se-
cundaria, e as providencias adoptadaspor este
conselho para o seu adiantamenlo e perfei-
9ao : porem na que hoje celebramos , como
complemento d'aquelia, dir-vos-liei que o nu-
mero total das cadeiras publicas, perlencentes
a inslrucgao secundaria, e estabelecidas no
continenle e ilhas adjacentes , e de 248,
sendo nos lyceus — 12i — e annexas outras
tantas : que o numero total dos alumnos que
as frequentaram no anno lectivo de 1852 a
Vol. III. Maio 15
1853 e de — -1:209 — em 175 cadeiras : que
o numero lolal das cadeiras parliculares ate
hoje e de 48, e que o numero total do,
alumnos que as frequenlarain no referido an-
no e de 1:089: que sendo o numero total
dos alumnos que frequentaram as cadeiras
publicas e parliculares de 5:298 , abatendo
o numero total, que foi no relalorio de 29
de novembro de 1853, — 2:8G3 — , vem a ser
o accrcbcimo de 2:435.
Cumpre notar que nfio entra naquelle nu-
mero a frequencia das cadeiras do dislriclo
de Porlalegre, por nao ter o commissario dos
estudos cnviado a este conselho o seu relatorio,
iiem a das do dislriclo de Ponta-Delgada ,
por nao virem os mappas d'eslas com os da
inslrucgao primaria, que o commissario dos
estudos inlerino, por officio delSdodezembro
de 1853, tinha remeltido a este conselho.
Sendo pois o total das cadeiras nos lyceus
e annexas 243, vao incluidas neste numero as
93 propostas no piano remetlido ao governo
em consulta do 1.° de fevereiro de 1050, das
quaes ainda todas n.'io est.'io approvadas, e por
isso nfio providas. Ha porem algumas annexas
ainda existenles, por estarcm providas em
professores anlisos, e que dcvem ser supri-
midas quando vagarem , ou transferidas se.
gundo aquelle piano.
O commissario dos estudos do dislriclo
d'Aveiro parliciiia, no seu relalorio de 13 de
Janeiro do corrente anno, que no lyceu d'a-
quelia cidade houveram melhoramentos no
anno leclivo findo, nao so quanto ao material,
com o melhor arranjo interno das aulas, mas
tambem quanto ao pessoal e economico, com
o regular desempenho das obrigagoes de cada
urn dos seus empregados, maior concurrencia
e aproveitamento dos alumnos em todas as
aulas, e a creagao da cadeira de linguas
franceza e ingleza ; lastima porem o impedi-
mento, lalvcz perpeluo, do professor de 4.°'
cadeira , na qual por isso mesmo nao p6de
deixar de haver irregularidade no anno leclivo
findo, nao obstante lomarem-se conveniente-
mente as providencias para occorrer a in-
terrupgao do magisterio. F'requenlaram as
aulas 214 alumnos.
O commissario dos estudos do dislriclo de
Caslello-Branco, no seu relalorio de 14 de
Janeiro, d.i parte que o lyceu estd vantajosa-
mente collocado na antiga casa da miseri-
.1854. " NoM. 4-
^A^V^^>&^^
38
'cordia; qui- fioquenlaraiii as aula:> 79 esui-
doiiles: que respeitaveis sao por todos ostitiilo>
05 actuaes profeisores do Ivceu, que a ijrandes
hizes nas disclplmai respectivas junlam lar^a
experiencia do magUterio que exercem ha
muitos annos; mas que o de fjrainniatica
latina e o delogica, por siiaavan(;ada edade e
molestias, estao nas ciicumstancias de merecer
do goveruo de Sua Magostade a jubila^ao a
que tem direito, no que muito iuLeressaria o
servi^o publico: que 6 escliolas parliculares
de graininalica latina e latiuidadt: foram fre-
quentadas por 66 discipulos com aproveita-
niento, segundo a informa(;a.o dos respeclivos
professores que "Idas referidas escliolas foram
sustenladas pelos pacs de faniilias, e uma por
esmolasou donativos: que foram liabilitados 3
professores para regerera cadeiras de gram-
matica latina, e que 03 que nSo quizeram
habililar-se , fecliaram as suas aulas.
O comrni?sario dos estudos do districlo do
Porto, em seu relatorio de 17 defevereiro, faz
ver que as cadeiras, que consliluem o curso
do lyceu, acliam-sc todas providas, e bem as-
sim as respectivas substituijoes, e foram todas
regidas pelos respectivos professores proprie-
tarios , menos a de latinidade , que pelo im-
pedimento do professor proprietario foi regida
pelo respectivo substituto : que o numero dos
akimnos, que frequeiuarara as aula? do lyceu,
foi de 252, e o das cadeiras annexas de 133.
Do relatorio do governador civil d'Angra,
com a data de 30 de setembro do anno pas-
sado , consta que as aulas do lyceu foram
frequentadas por 192 alumnos; que fora do
mesmo lyceu existem 3 aulas de latinidade,
que todos funccioiiaram regularmente; e que
conlinua a ser mui sensivel a falta de uma
cadeira de latim na villa do Topo da illia
de S. Jorge.
A mesma aucloridade faz lionrosa mengao
do reilor do lyceu e comniissario dos estudos,
pelo muito zelo que desenvolve no exercicio
de suas func^oes, e nao menos dos profes-
sores do mesmo lyceu, que tem louvavelniente
empregado os maiores disvelos no progresso
e adiantamento dos seus discipulos.
O conimissario dos estudos do distrirto da
Horta, no seu bem acabado relatorio, per-
lenccnte ao anno lectivo de 1851 a 1852,
depois d'algiiinas judiclosas retlexoes a cerca
dalgumas cadeiras internas e externas ao lyceu,
e da necessidade de um curso de moral theo-
logica, e disciplina ecclesiaslica para ins.
trucjfio do clero, pela qual este se habilite
devidamente para o cabal desenipenho das
sagradas func(;6es do seu santo ministerio,
faz ver que, no refendo anno lectivo, tanto
as aulas do lyceu , como as das escliolas an-
nexas, foram frequentadas por 133 alumnos.
O governador civil do Funclial, no seu
relatorio de 19 de noverabro do anno findo,
diz que nenhuraa circurnstancia notavel tem
occorrido , de que deva fazer menjao, nem
na parte que respeita ao pessoal do ensino,
dois que 05 profesaores de todas as classes
continuam, em geral, a desempenhar salij-
factoriamente as obriga^oes do magisterio,
nem na parte litterarla, porque os methodos
d'ensino nao torn snffrido altera^ao alguma ;
e que forao 12T os alumnos que frequentaratn |
as aulas do lyceu. 1
O bibliotliecario de Ponla Delgada, em
seu relatorio de 30 de setembro do anno pas-
sado, da conta de que no prinieiro anno da
sua gerencia tinha conseguido jd o arrola-
mentode tres mil volumes, e que continuando
o iiie?mo Iraballio no seguinte anno, sempre
que o tempo Ih'o perniiltia, conseguira o ar-
rolamento de 7:250 volumes, faliando-Uie ,
ainda 3 estantes para inventariar; e do map- I
pa estatislico , que remetteu ao conselho, '
ve-se que desde outubro de 1852 ate setembro
de 1853 foi o numero dos leitores de 1571
o que, segundo o referido bibliothecario ,
e devido a regularidade com que funccionou
o lyceu no anno lectivo de 1852 a 1853, e as
recommenda<;oes que 03 professores fazem aos
seus discipulos de irem alii consultar algumas
obras precisas a sua maior instruc^fio.
Agora, senhores fallarei dos trabalhos da
2.* secgfio , que tiveram logar desde 17 de ou-
tubro de 1J553 ate 21 d'abril do corrente anno.
Foram elaboradas, e expedidas ao governo
de Sua Magestade 52 consullas, sendo uma
para a propriedade de cadeiras de latim ; qua-
tro para o provimento temporario de cadeiras
da mesma disciplina; seis para a propriedade
de cadeiras dos lyceus, uma para substituigoes,
e uma para o provimento temporario dos ditos;
uma para secretaries de lyceus, e quatro pa-
ra porteiros dos ditos; diias para commissarios
d'estudos ; uma para gratificagoes; nove para
jubilaQoes; duas para exoneraijoes ; duas pela
necessidade de provimentos de logares ; doze
para inforines e varios objectos ; uma para
creagao de cadeiras; duas para a juncfao daj
aulas do Ivceu de Santarem com o seminario,
ferias etc. ; uma com os orQamentos da receita
e despesa dos lyceus; uma com a rela^ao dos
lyceus, piofesso'-es, e estado das cadeiras
desde a inslalag.io ; uma com o projecto de
regulamenlo para os exames de habilitag'io a
priineira iiiatriciila da universidade.
llesta-me someiite , para conclusao deste
relatorio, dar-vos conta do expediente da
secretaria do conselho.
Concursos
Portarias e officios com editaes 96
Annuncios l*
Tnformagoes e Inlimagoes
Portarias e officios 123
Diplomas Ccriidocs e Titnlos
Diplomas de provimento temporario de
cadeiras 2
Certidoes decapacidade para ensino par-
ticular 4
Titulos d'auctorisagao para coUegios . . . 1
Total.. «40
39
CSIVEBSIDADE DE COIPRA-PROGRAMMAS.
FACULDADE DE MEDICINA,
1853— 1S54.
1.** ANNO.
ClDRIBA d'a:<;ATOMIA HUMANA E COMTAnADA.
compbindio jamain — nouvkau traitb elrmektilbs
d'anatomie descriptive.
Lente — Dr. Setastido d* Almeida e Siha.
Comei;aremos por definir o que seja Analomia , e o«
diffetenles lilulns d'esla vasUssiina sciencia. — Deinnii-
•IraremuS as alfaias e iiistiumentus anatoiuicos. — Indica-
rcmos OS reaueiites cliimicns maid iisailos era Analuinia ;
e OS Bens principaes prticessus : a tlisseci;ao , macera(;r»o ,
injeccSo , e inspeccao niirruscnpira , a Qui tie separ;ir e
di3tin::uir os lecidus do orj^anisnio; as sciencias auxilia-
fes 1 e auctares mais abalisiadus que devemus cungultar ;
e as vanta^^ens que tao bclla sciencia ^confcre aos que a
possuem. Finalmeute , faremus conhecer os varius tecidos
do ureanismo . dcmonstrandu-os , e «lefinindu-os sobre o
cadaver: e depois d'esles preliminares , pasaareuiua ao
cstudu da primeira parte d'Anatomia.
1.=^ PARTE.
OSTEOLOGIA.
Dos ossos €m geral : Esqiieleto nalnral e arliOcini :
ejqueleto interuo e externo— nervo-os(]ueloto , splanchiio-
ceqiieleto , e dermato-epquelelo — melhodu de estudar o
esqueb'to : linha e piano? verticaes e hurizontaes — re-
gioes do esqueleto, e ussos que as formam — divisao dos
osios quaiito a sua forma cm lonirns, lariros , curtcs , e
mixtos — eslructnra dos ossos : siibslancia cumpat-la ,
esponjosa e reticular — caviilades intersticiaes dos ossos —
lextura e forma das moleculas osseas nas sobredictas siib-
stancias ; caualiculos osscos , suas camadas concentricas ,
e corpuscuios inlerpostos ; direc^ao o anastomose dos ca-
caliculos dos ossos das differentes dimensoes — demonstra-
^iio microscopica de todos esles olijectos — tecidos que
concorrem para a or^aniza^ao dos ossos : cellular , vasus
e ner\os — propriedades physicas e vltnes d't-stes 6t^uus
— sua analyse cliimica — da medulla dos ossos.
Oateologia dtsrriptica r estudo analylico e synlhetico
do esqneleto — di\ isao em trunco e extremidades ; ossus
que constituem o Irunco-^columna rachidiana , formada
por 24 lertebras verdadeiras, pelo sacro e coccyx, e
dividida em cinco culuinnas , cauda! , sa^rada , lombar ,
dorsal, e cervical, sobre a qual assenta a cabera —
descripoao das vertebras que compOem eslas rcL'iOes —
ossos que concorrem para a forma(;ao da cabei^a ; sua
divislio em craneo e face^descriprao dos ossos do cra-
neo ; item dos da face — ossos wormios — poder-se-ha re-
conhecer nos ossos da cabc^a vestiirios rla forniai^ao vertebral?
•— Doutrina dos Ijomolo^os: prelt^ndidas Aertebrasocci|iilaI,
Cenlricipital, syncipital; nasal, maxillar e intermaxillar —
ans'Ulo facial de Camper ; dicto occipital de Daubentun:
inspec^ao \ertical dus crsneos , sei!undo Blumenbak , etc.
Odontologin : I.^ denti^ao ; S.'^ denti^ao — • confron-
ta^ao dos denies com os ossos — dilTerenles tecidos dos
dentes : o esmalle, a substancia cortical, o niarfim e o
cimento — ca^ idade e polpa dentaria — differentes fdrmas
de denies : incisi^os, laniares , e molares (nohomem). Na
serie animal encontram-sc denies siniplices e composlos ;
verdadeiros e falsos molares; conicos dubb'S e enva^-ina-
dos ; era forma (]e cscova , etc. — E interessante o syste-
nia dentario, porquerevelaoshabitos, ombral, eaalimen-
la^So dos animaes.
Do thorax i formado posteriormentc por 13 pares de
Costellas. presas aos lados das 12 \ertebras dorsaes . e
ftdiante pelus cartila^ens coslaes , articuladas com os lados
do slerno — descripc;"io das costellas e seus arcos cartila-
gineos ; item do sterno.
Da pelve : formada posteriormentc pelo sacro e coccyx ,
e dos lados , adiante e por baixu pelos ossos innominados.
Descripcao dos ossos innominados on coxaes,
Exlrtrnidades t/iaracicas : ossos da espadoa ou cintura
scapular — descripcao da clavicula e da omoplata — do
humero nu otsn do braco — dus oesos do antebraco : cu-
bilo e radio — dos tin iniio di\idida em carpo , melacarpo
e dedos. Dt.'scrip(;ao de todus estes ossos.
Extremidades inftriorrs on ahduminaes : <lo fem«r ou
08S0 da coxa, arliculado snperioriiientq com a cintura
pel via na na cnvidade cttlyloidea , iiireriorineiite com r
rotula e libia — dt'scri]i(;rio d'esles ossos e do perooeo
que com a liljiji corifurmam a pcrna — descripi;ao do po
dividido em tarso , metatarsu e deilos — ossus secamoiileos.
Confrc)nta(,-ao dos esqne!etus do liomcm e da niulher adul-
tos — item do fcto, considerado nos tres '"-tados , mucoso ,
cariilairineo , e osseo — nuidificarao dos esquelelos scjun-
do as principaes raras do honiem.
S.^ PARTE.
ARTJinOLOGIA.
No psqnelcto nalnral acham-se us ossos presold enlre si
[lor li^amerdos e varias ouiras disposicoes — Ires iieneroa
d'arlicula^oes : 1." a synarlhrose: n'cBte 2:enero os ossoa
s;1u articulados firmenienre enlre si por jnsta posicSu de
partes (sutura e liamionia) , sem dependencin de li^'a-
mentus — 2.^ irenero, a diarlhrose consia de ailiculacoes
uiais ou menus moveis — 3.° genero ou amphiarlhio&o
consia {]o arUcnlacocs, nas quaes os muvimentos sao ))ou-
co nppareulcs — de todos esles Ires irencros , e suas respo-
ctivas especies , faremos dumonstra^ao sobre o esquelelo
fresco.
Os apparellios dos dons ultimos g:eneros coiistam de
drgaos deslinados uns a farililar os movimenlos, outros a
liniital-os, prendendo os ossus. Taes apparellios sao mais
ou menos cumplicados, conformeo niaior oumenor nnniero
d'orgaus n'elles empregadus: Eignmeutos (rt) de tecido
fiiini-tendinoso ; (6) de tecido Obro-elaslico — breves con-
sideracocs sobre esles dous lecidus , e em ^'eral do tecido
Gbroso-^do periostfo e dura ninler— liiramentos fasci-
culados, longos e curtos ; dos capsulares — das carlilatrena
oijducentes, (pierevestem assuperQciesarticuI;ires dos ossos
— das carlilajens inlenirliculares, racnisras e discoides
(fibro-carlilai^ens) — das syno^iaes, membranas saccifor-
mes , qne revcstem as cajisulas e as superlicies articula-
res dos ossos— suas franjas , corpnsculos e pretendidas
plandulas de Cloptun Havers — cryptas ou clandulas sy-
no\'iferas de Gusseiin — obser\arues mlcroscupicas sobre
totlus esles tecidng.
Na Jrthrolofiia desniptiva segniremos a ordem do
cumpendio , fazendu ver em cada uma das arliculacues
sous moA iinenlos ; stias luxacoes ; e Dnalmente terminare-
mos este traclado, considerando synthelicameule as ditTe-
rentes regioes do esquelelo natural.
3.^ PARTE.
MTOJ-OGIA.
Dos musciilns em rjernt : defiai^'iio e elymoloria da ps-
lavra myologia — diMsao dos mustndos cm dnas grandes
sec^oes : 1.^ mnsc. da \\i\n animal ; 2.* dii-tus da vida
or^anica : os primeij"os (no liumt'in) sau massas fibrosas ,
de grande volume, adiicrenles ao esquelelo, molles , mas
muilo coulracteis durante a \ida, e de ciir ^ermelha —
c.ula um d'esles driraos , mais ou menos voUiniosos , se
diviiiem era fachus , esles em fasciculos, e estes em
fibras primilivas — us muscnios da vida animal chamam-
se ^oluntarios, porqne a ^ontride impera em seus movi-
menlos; e nao assini nos da ^ida o^L^^rlica — musculos
niixlos — musculus solidus, e ocos — niarcha parallela e
rcctilinea das Gbras dos musculos da vida animal — seu
comprimenlo nao interromjtiilo no esparo de suas in-
serrocs — fasciculos prirailivos estriados transversal e
lun;.'itudinalnienle — qual leiii a causa d'estas estrias? —
tccidus que concorrem jiara a organiza^ao d-is mnsculoa
— do tecido cellular em i^eral , e em particular do que
in\oI\e epenetra os musculos ate as fibras p^imili^■nB (snr-
culemraa) — do lecido adipuso — pannicnia adr|)osa snbcu-
latiea — e d'aquelle que penelra os interslicios muscularcs
— das arterias, veias, vasos lymphaticos e ner^os muscu-
lares — propriediides physicas e vllaes dos musculos — sua
analyse chimica.
Paries iuiegrontet d'esles orsraoB : dos tendoes , apo-
ncvruses de iniolucro ; de inser^ao — adherencia tendi-
neo-muscular — item tendineo-ossea — synoviaes dos tfn-
dues e Ixilsas serosas — difl'erentes bases da nomenclatura
40
<los miisculos tla \ ilia animal — divisSa (l'e»l« niusculuB
em lonsus , larirus , e curtos ; os priiueirui diviiliiios em
cahe^a . \enlre e cauila.
Quarttu aus nitisculus da ^i(la or::Rnica, suns ditTeroni^na
sao a58;is tiuUvcis : 8uii doUiio t* fi^'iirar na furma*;rii) dos
urEiaos inlenios , de cnjus movmienlos s5o us |)riiici|>aes
aireiiles - — fi-rma antuillur , on arcifuriuc de swas fibrns —
c'Stus sJifp chamadas lisas por nao serem Cfetriudas trans-
versalmenle, e su niui jMiucas no conipndo — tambein
nao ufrereccm ncxuosidadt's item zigzags cunio as da vida
aiiiuial — O diam-tro niedi<J dus fjisciculus c de — 0™,013 »
em cjiiHiilo n mt-dio dus da vida animal e do — 0'",0i.
FinuiiiK-Tile us iiHJSculus da vida urL;aQica nao sao sujeitos
ao iinperiit da \i'iitade.
Na myolui:ia dcsciiptiva set^uireraoi a ordeni do com-
pcndiu.
A^ PARTE.
s^LA^c^^^oLOG^\.
1" Appnrelho (ligestivo : desgripcao da bocca — plia-
Tynge — esuphagu — cstomacru e valviila do pyloro ■ —
inlcstinos delgados : <!nudeno — j'-jnnu — ileon — iiUesti-
nos gros9u3 : cetro e valvula ileucei-al — colun e rt-cto —
teciflos <pie cotistilucni cste longo canal — menibranai
nnicusas <• serosaa eni L;eral , e eiu particular das que per-
lenceisi ai> lubo dii:estiiu — tunica celhilosa — dicta mus-
cular—vasos e iier^os — r/taridnlas : divididas em in-
trinsecas e exlrinsrcr.s — das i^landulaa em peral — ;:laii*
i\uli\s ititrintecas do canal lUii^i'.si'wo ; t^Iandiilas de Liei-
berkuhuu, gl. solilarias, de Bruiiner, de Pe}er — glamlulas
exlrlnsecas : ^I. salivares — descrip^ao das parotidas,
submaxillares e sublinguaes — do pencreas, fi^ado e baco
— . demonslra^Ho de lodus estes orgaos no cadaver humano,
nos rumioantes e nas aves.
^,° Apparelho resptratorio e vocal : descrip^ao da
larvriLTe: suas carliln^^ens, liganientus e muscuios — cordaa
Tocaes falsas e verdadeiras — glolte, seus \entricuIos, e
seios de fllorsagnl — niembrana iaryngea, vasos, e nervos
— demoDstra«;ao da laryuge do huraem e das aves — da
trachea, bronchius e pulmoes — as plcuras custal, dia-
phragmalica, piiliiioiiar, emediastiuica — systeiua rcspjra-
torio das aves e cellulas aoreaa — glaodida thymus e
thyrordea (nos luanmiiferus).
3.° Jpparelho uritiurio : dosrins, sua fc'rraa, siluat^ito
e eslructura ; calices — bacineto — urcteres e bexiga —
Iccidus que coiistilueiii estes orgaos — das capsulas supra-
renacii — dos corpus de WolfT uo feto,
4.° Apparclho genital do sexo vinsculino : do penis e
seus cui pus cavernosos — da urethra (contiiiua^iio t\o collo
da bexiga) e da glande c seu lueato — dns testiculus e
sews iii\obicros , ductus deferenles , veaiculas seminaes e
ductus cjaculaturtus —da pruftata e vesicula wberiana
— das ^laiiilulas duCuwper — musculos e aponevroses da
regiiiu perineal.
S." Appartlho genital da jwdher : partes externas :
monte de Venuu — \tilvn, graiides e pequenos laliins,
clitoris, vcstibulu, meato urinario e urethra — fussa na-
vicular e fruiu — (la alierlura da vagina — da niembrana
liyinen e carunrnlas iiiyrtirurmcs — partes internas da
geracjiio— do iitero ~ trumpas de Fallopio^oxarius e
vesiculas tie GraufT — liganientos larirop e urgai'S do Uo-
senniuMer — hgamenlos ledondos — musculos da reiriuo
|)eriiieal.
5.^ PARTE.
oaoAos DOS sBNTrnos.
1.* Apparclho do tacto : da pelle, dcrme on cutis, da
epiderme e piirraenlo — papillas lai-leis — rede lympha-
lica — funiculus scbaceos , piluscs; clanduias sudorift-ras
de Stenon — das unha« e cabellos. A Uile do tarto reside
no curpo pnpillar da dermc ; porem tudos os urgSus sao
mais ou menus sensiieis us inipressuea extranhas — divi-
lau do tactu em acti^o e paesivo, etc.
2." Jppnrelhu dovlfacio: partes csqueletiras das fossas
nasaes , em que se expande n niembrana pituitaria — par-
ies d'esta membraiia que sao a especial scdo d'este
senlidu.
3." Apparelho do gosto : asede d'estesentido reside nas
papillas da membrana mucosa que revesle a iingua e era
alguos outros pontos da bucca — dos orgaos, cnjas func-
^5es sao necesgarias pora o cumprinienlo do ^osty.
■*■** Apparelho da visdo : orgSoa auxilinres d'este «enti-
do : fossas nrbitarias , sobroih.is , palpebras , eel has , con-
junctiva e t;landulas de Meibumiu — earuncula , glandula
pHiiUis e vias iacrymaes — musculos : levautador da pal-
pebra superior — orbicular das palpebral — musculos du
jlobo ocular : dos quatro muscnlos rectos , e dus .lu^^ obii-
qiios — tJescrip(;uo do giubo do ollio — suae mcmbrauas e
hiimures.
3." Apparelho da audiqiio : orelha externa — seu pavi-
Ihau e cunducto extenut — tecidos que os formam , ft
musculos inlrinsecns e exlrinsecoe — orelha media; mem-
brana e caixa dotympano — sens qualr.' ossiculos — aber-
tura* da caixa do tympano : trompa d'Eustachio, orifici'>
das celluias mastoiileas , janellus oval e redunda , etc. —
ouviifo intcrno: lubyriulliofisseo : vestibulo , canaes serai-
circulares , e caracol — labyrintho membranojto , iniitamlo
em lurmas as cavidailes osseas — lympha e perilvmpha
(Cutuimi. e Breschel). — Na nevrolugia Iraclaremo* do
niTvu auditivo e sua* ramiflca^ocs no labyriulho^ e luni
assim dos mais nervos dus senliib's.
6.» PARTE.
a.\<:eioujgia.
Do cora^tio como orgSo central da circula^ao — vasos
circuiatorius divididos em sanguineus e tymphalirot j e os
primeiros divididos em arterias e veias — systenia capillar
— descrip^Cto do cora^do — forma exterior ; suas aurjculas
e vculriculos , vaUulas e lacertus — separa(;ao rias dilTe^
rentes camadas e acerlos musculares que cunformara esle
orii^am — suas fibras transversalmente estriadas — das tuni-
cas que formam o seu pericardjo, etc.
Dat arteria$ em gerali defini^ao dVstes vases, cha-
mados tambem vasos dcftrtnles per levarem o sangue do
eora^ao para todo o orgauismo, d'onde volla pelas veias
(vasfis afferentes) paraomesnio orrani — confronta^io das
arterias c veias: quanto A forma e aspecto exterior —
divisao dendritrica, trajerto o ramiScat^ilo ale se tornarem
capillaies nos enlerslicios dos or?aos — da injec^io das
arterias, veias e vasos lymphaticos — coii\eniencia d*esta
operarao — cautelas que exii;e para obviar suas illusoes.
Do systema capillar : o que se entende |)or e^ta expres-
s3o — as jiaredes dVstes vasos, por transparentes, nao
deixam \cr n'elles doble contorno — seu lumen s<imenle
admitte um globulo de sangue, e por tanto so com o
auxilio das injec(;oes e do microscopic se ])odeiu divisor
— fimc^oes d'esta porcao ilo systrma gan2:nin'-o.
E-tudo practico das tunicas das arterias e dos veias ,
passiiiemos dep^tis a artcriologia descripUva ^ come^nndo
pelo sr/stcma iwrticu : da aorta , sua origem no ventriculo
esquerdo docoraeao — vah ulas sigmoideas — divisSo d'este
graiide laso eta aorta ascendente e descendente — seus
troncos, di\isijes e ramifica(^ocs : seus trajectos e reiaeoes
serao feguidas iia ordeni i!o Conipendio — sysUma pvlmo-
nar : da arteria pnlmonar : sua origem no \Tntriculo
dircilo do cora^'ito— valvulas sigmoideos — divisao do seu
tronco nas duas arletias direita e esqiierda pulnionares —
sua ramlDcarao ate se tornarem caj'iNaies — systema ve-
nosu pnlmonar. o sangue ievado aus pulnioes pelHS arte-
rias pulnionares Tulta pelas *eias isonynias, e embocca
na airricula rstpierda — des<Tip(^ao d'eslas ^eius — do
systema venos/j gcmi da rconomin : descrtp^aoda \eiQ cava
superior — sua eml>ucradura n'auricula dircila do cora^ao
— suas I'ivisoes, subdi\iso(>s, e ramilifaro.is dos oru'Sus
— descriprao da \eia ca\a inferior , sua uri:,'em na mesma
auricula, que a daveiacava superior — suns divisoes era-
mifiracoes, etc. Da vcia das porlas — e sua ramificai;do
aileriusa — tla ^Tande e pe(|uena azygos.
Do systema dvs vusos lymphaticos : dii ididos em vasos
serosns e cliylileros ^sua prepara<;ao e inject;ao — seu
aspedo — suas orisens , trajerto , gangUos e plexos —
snay duas termiiia^-oes nas veias subclavios : ducto Ihora-
cico , e graude vaso lympbatico direilo — tecidos de que
sao compostos.
7.* PARTE.
NEVaOLOniA.
parte centml do systema nervom : ou ei\o cphalo-
rachidiano, cuustituido pelo cerebro e spinal medulla
— descrip»;iio dos tnvolucros ou nieninires da nia-^ia ence-
phalica, cuntida na cavidade crar.iiiua — da dura mater,
arachnoidea , e pia raaler — debcr»p(;ao da uiaisa encepha-
41
lica : dos hemtsj>herio8 — pontc de Varolio — cerebello —
medulla oblongada — e das partes que liirani e relacionara
estes (irtraos mis com os onlros — das cavidades que entre
si furmam — aniphracIuosidadtT-s, \*fntricii!()S, f'tr. — ohjcclos
que se olferecem deiitru d'ellas — das dilTerPiites siiltslan-
ci«s do cereliru : meilidlar uu braiica , cinzeiita, e ama-
rellada — a fttibstancia branca em miiitas jjartes c Gbrusa,
e suns fibrns suscejitiveis de se2;uir-se i)or eiilre oulnus —
defr<mte du uTaiul'.' biiraco do uncijiital a moiiida oblon-
gada , furmando iim sitlco horizontal, ('slreita-se , e tonta
u nome de spinal medulla — esla prussa curda prutei;ida
peiou iiiMilucrus cuntinuos cum us que encerram a masi^u
enceplialica, exlemle-sepelu canal racliidiano ate a se^itMi-
da lertelira l.mjbar , aonde teroiinn di\ idiiido-se em iiiui-
tns oorvou , que, descetido \erticalinente , constiluem a
fUamada cuuda equina. — Deuiunstra(;5o de ludus esles
ufiraim.
Parle per if erica do sijatema nervoso : desiTJp^ao dos
doze pares de nerv.iscraniiuius : ildsulfacturios — 'i|iticos —
molor commnm — ■ palhetico — l^i^cmi(> — abducente —
facial — aiidiino — ^luiso pharyiigeu — puenmo^astricn-
spinal de Willis e lijpudusso — de alLfims ^aiitilins dV-eles
nervus. l)fScri/>^fio doa trintn pares d- nervos eapinaes :
priiicipaes plexus : u cer^ ical, o bracliial, lumbar e sai^rado.
Sijstema dos yraudet tympnthicos : descrips;ao dn gran-
de sjmpalhico dentro do cranco , ni> collo, iio thorax e
nu abuumeii — 8iia;> runiiexoes cum os nervos craiiianos e
»j)maes — cumo condrrem para a formarai) dos plexoa
jjidraonares , cardiacos , eso|.hai,'ianos — dos nervus sjilan
chnicoii ^ do plexo solar e gan^lios seuiiliinares — dos
plexus diiiplira^^malicus inferiores — plexos supra-renaes ,
celiaco, coruiiario slumachico ^ hepatico, sptenieo , me-
seiiterico, e reoal — aas porcOt-s lumbar e »a;:rada : o
plexo Inmbo aortico — aorlieo propriamente dielu — ple-
Jtof, misenlerico inferior, e hypo^aslrjco oude Walter,
d'oDde dimauam o plexo hemorrliuidal medio, o inferior,
lio testicnio e du diiclo deferenle (no humem). — na mil-
lUer 08 plexus va^'inacs, uleiinus e nervos do iilero.
Nenos das extremidades superiures: oriimdos do plexo
brachial, seis ner\us principaes se di^^trilmem n'esles
membros , e sao : u bracliial culaneu externa , o mediano ,
o cubital, o cutaneu iiiterno , o circunillexo , e o radial.
Nervos das cxtremidades inferiures: oiiundos dos ple«
xos lombar e sa;.'rado , uns sJlu anteriores e outrus posle-
riores ; de^icriprlio do nervo obturador , do crural, do
grande e pe<pienu scialicos.
iA. li Fareiuus cunlu-cer aos nossos aliimnos as cousas
limit) nutaveis de analumia cumparada , em referencia aus
objectus de analoinia humana j uu passo que dustes ae for
tructaiido.
CREDITO TERUITOaiAL.
Conlinuado de pa?. 31.
IV.
Km que psparn de tempo deva elTeitiiar-
fe a ariiorti~a(,';\i) ; se hade c-ome^ar de-de
Icigi'', ae pas^a■ios annos depoi-. de coiiLraliido
oemprestidin, toinn Lpier \\ olciwski; que pane
do valor das priiDriedadcs liypntliecadai (los-
sain represf alar os iJtulos de peuiior ; qiiantos
por cento haja de pag;lr o pioprielario a
Associajao; que iiiodil'ira^nes deiaai operar-
se eii) a iiotsa legislafao snhre prazos, viuL-ulos
e pnncipalmeule iiypnlli.Ta-; ^uuoulros tautn,
[jniitos cuja soluyfio depende, ja, de circums-
laiicias de tempo e logar, jii do sy^lellla de
direilo civil adoptado eulre nos ; e por isso
iios liinitamos a euuiicial-os.
E poreiii uma grave qiiestfio, diz Rossi,
se a organisagao do credito asrricola deve ser
abandonada ao inleresse particular, se col-
locada debaixo do poder, ou pelo mcnos da
alta direijf'io do (joveriio.
llelativameiile ao nosso paiz, paiece-nos
estara ((uestao resolvida. Ila lal preven^ao
contra os abusos do Governo ein materia de
credito, que fora diCficil sciiao impossivcl ins-
titulr, entre nos, iim banco territorial deiiai\o
desua immediatadirecg'io. Toruar-se-liia geral
o bern f'undado receio de que seriam os juros
mal pan'os, asamorlisa^oes illiisoriase, conse-
quencia inevitavei, os titulos de peahor de-
piefiados.
Dado porem que liouvesse bastantc con-
fianga no Governo, alem de ser estraniio ao
sen fun intervir directamente no eslabeleci-
iiieuto do credilo, de que servlria essa in-
tcivengao? Os capitalislas n.'io neoessitam da
poderosa garantia queoiistado, em geral, Hies
pode olieiecer, uma vez que o penlior de sens
capilaes seja a propriedade territorial regida
por boa- leis, penlior tfio solido c segiiro que
u.'io poJe traiisporlar-se de um para outro
logar como a nioeda. Fora ale inconveniente
a iiiterven9ao directa do Estado. Se pile se
cn[istituis>e interinedio entre os capilali^tas c
OS proprictarios, liaveria uma cenlralisagiio
absoluia, uma espeoie de monopolio, e entao
deixara desubsistira importante vantagem das
associa96e5 livres — a circulagao dos titulos
entre essas mesmas associa9oes, elemento de
uma boa organisa^ao de credito territorial.
iNa Allemanlia e na Suissa existem liancos
territoriaes fundados por associa^oes de ca-
pitalislas; mas estes estabelecimentos parecem
de;dizerda indole propria dos bancosagricolas,
e por isso Hies enxergamos desvantagens que
talvez a pratica nao confirme.
Comparando os fundos das associa^oes nos
dons syslemas, resulta que a garantia of-
ferecida pela as^ocia^ao de proprielarios con-
si^te nas propriedades dos accioni^tas, e nas
propriedades dos tomadores de emprestimos,
no entanto que a offerecida pela associarao
derapilalistas reduz-se unicamenle as proprie-
dades que OS tomadoies liypolliecarem; exrp-
plo se as ac^oes dos assoeiados liouverem de
ticar emcaixa, mas em lal caso recaliira sobre
OS tomadores o juro desses capilaes estagnados.
fi certo(]ue, jia liypolliesedese converterem
em tomadores de emprestimo todos os accio-
nisla> proprietarios , o que difticilmenle se
reiilisara, porque os suppomos proprielarios
abaslados, a garantia seria egual em qual-
quer dos syslemas. Mas ainda assini, a as.
socia(,-rio de capitalislas, pondo-se em im-
mediala rela^ao coui os proprielarios ler-
riloriae-, nao pode tornar ifiosensivel abene-
fiea intiueucia de um inlermedio, que modera
as exigencias daquelles eiatisl'az asnecessida-
des destes, que <■ o niais iiaere^sado, em tim,
na exislencia e prospcridade do banco, em-
bora delle lire pouco ou neiilium inlcresse
pecuniario.
Eiu presen^a deltas consideragoes, julgamns
prel'erivel o syslema d'associae'io livrc de pro-
prietarios territoriaes, posloque, em quanio
o noiso paiz se nao alTizesse as instituigues
42
de credito agricola , futa convenieiilc (]uc na
empresa pntrasse alf^mii capilalisla, para que
a assnciarao tivesse iiina por(;'in de luimerario
com que occorresse as despesa-i piiinarias do
eslal>i'h'cijnenlo, a oompia d'alguiis lihdos
recusados pcloa capitali-las , e a pcqiieiins
pertiiihu(jnes que pnssain provir de t'.dla de
cumprimeiilo da parte d'alsuns tomadores de
einprestimo Fmidado iolidaiiientJ o crediLo,
lodo ejse capital poder;i ser eiiiprefjado na
compra do titulos, doude lia-do resultar o
l)en«ticio <le diiiiiiiuir a taxa do jure.
As vanla^ens que da in6titui?ao do credito
territorial tiraria o nosso paiz , sao tantas e
tao trauscenderite-., que iifio roniporta este
liiuitadn traballio enunieral-as por menor.
Ao principio nao conviria ao proprietario
recorrer ao banco, senfio para ol)ter capitaes
com que inelliorasse o mal:erial d'explora-
<;ao; porque e jiecessario dibtinguir duas
cousas — o rendinienlo do fundo, e o lucro
da industria do cultivador. Quem pedir etn-
prestado a 8 i, por exenipio, para comprar ter-
ras que so rendeni 2 ou 3^ I'aru, com etTeito,
muito mau negocio; mas quem tomar de em-
prestimo, para melliorar acullura de suas pro-
priedades, devera poder pagar nm juro tao
tievadn como qualquer outra industria. Pros-
perando as associa^oes lerritoriaes , acon-
teceria o que seinpre succede, benetrcio ines-
tiuiavel do credito, descer courideravelmente
a taxa do juro. Na Silesia, por exeinplo, era
a taxa 12 ou 13 ° ; fundada a as!Ocia5rio ter-
ritorial , liaixou a 2 r j.
Uaia uiassa enornie de numerario que existe
rcparlido |)or niilliares de rraos, encerrado
em coffres, e ate no seio doscampos, correria
a empregar-se em titulos de penlior, ou a
depositar-se nas caixns eeonomicas. E e^te
capital [jerdido para a producgao, porque nao
circula, posto em nioviuiento, levaria at'ecun-
didade ate os logares inais remolos, onde suas
parcellas dissemiuadas sao de todo estereis.
As caixai eeonomicas estabeleceriam rela-
goes, conta correiite com as associajoes ter-
TJtoriaes, eutregando-lhes sens f'undos. Oiide
acliariaiii ellas maisgarautias, inais sPguranca!
As grandes sommas que se deposilain na?
caixas eeonomicas constitueui um graude
porigo para estes eslabeleeimeulos : sao como
iiuia letia de cambio de muilos millioes sacada
sobre el la?, e vencida todos os dias. Porque
as caixas eeonomicas , ,desemparada> das as-
sociagoes lerritoriaes, n.io podem satisfazer a
osta dupla condigao de sua existencia — em-
pregar os depoiilos de um modo lucrative, e
enlregal-os aos depositanles quaudo estes lli'os
pedirem. Jiui vez de abaixar o lirnite dos de-
positos, como se tern feito, o que cunipre e
regular o emprego dos fundos das caixas
eeonomicas que, com rasfio, tern sido cliama-
das escliolas pritnarias dos capitaes ; c para
i>so e condicao indispeiisavei a organisajao
do credito territorial.
As eeoiioudas que o trabalhador deposita
nas caixas eeonomicas nao sao unicamenle
uma reserva para os maus dias de sua vida ,
um dote que seaccumula para sens fillios; sao
tambeai um meio de poder estabelecer-se por
sua conta, de subir o grau niaisdifl'ieil e inveja-
do da escala social; saoum meio dceinancipar
o traballio, de ligar pelo vinculo da depen-
dencia as classes superiores coin as inferiores;
sao uma propriedade que se funda, que se ad-
quire de dia para dia , com todos os seus
resullados, todas as suas garantias, todos os
seus beneficios.
iintre um paiz, cujo solo estivessi* onerado
com dividas hypotbetarias consideraveis, que
absorvessem toda a parte do rendimento de-
stl[iado a mellioramentos lerritoriaes, e oulro
paiz que, livre de suas dividas, gozasse de
um credito territorial tloresccnte, empregado
todos OS annos eui lazer novos niellioramentos,
nfio baveria concurrencia possivel na produc-
(,':io agricola. A renda perpetua desses me-
Ihoramentos, augmenlando o bem estar de
lodas as classes sociaes , animaria prodigiosa-
mente as artes, facilitaria a cobranga dos
im[)oslos, e t'avoreceria empresas gigantes.
Dizia Colbert, lani^ando uma vista d'olhos
para os arredores de Versailles: — it quizera
que estes cauipos fossem felizes, que nelles
reinasse a abuudancia, embora , sem em-
prego, sem lionras, banido dosla terra, eu
soubesse que mas ervas crcsciain no paleo do
meu palacio. V E quem n:1o sentiia brotar-lhe
n alma esse lao grande e liuniano sentimeiito
que expressam estas meuioraveis palavras?
Os grande-, os ricos proprietarios e capita-
listas que abandonaram os campos pelas po-
pulo^as cidadci, ondevivem naopuleneia, que
se nfio esquegaiu do que devem a terra, no6sa
mina mats fecunda.
Os governanles, niandatariosda na^ao, e os
que sem uiaudato a querem goveruar, (]uando
repousarem de=se fatal afau da poiiticii , que
volva[ii OS ollios para o povo dos campo- ,
sempre tao lai)orioso e seujpre deslembrado ,
seinpre Siio util e sempre oppriniido.
JACl.NTUO A. Dli SOUZA.
UMA PERDA PAR.\ AS LETRAS.
Quando desapparece da superficie da terra,
para se escondc^r nas sondjias da sepultura,
uni^cultor ifio assiduo daslelias, como osnr.
Jose Maria cLi Costa eSilva, e dever dos que
amam a gloria do seu paiz, vir ao tribunal
da impreusa regislar as virtudes e inereci-
I mentos d'e^se boraein ; ou isso seja uni in-
43
cenlivo para os que viercm depois , ou seja
um tribiito devido ao que se finou.
Mais oil inenos assijii o leiu practicado iima
parte dojoiiialismoporUi^uez, eeii veiiliotam-
bcm hoje pedir uiiia pii^iiia ao Jnslitulo,
para, exoiieraiido-nie da divida, alii deixar
consif^nada uina peqiieiia nolicia de lao il-
liistre escriptor. Nao a toniem como biogra-
pliia acabada, que o nTio e, neni o podia ser.
Por uin lado nfio ha, que eu saiba , bas-
taiites siilibidios escriplos que consullar, por
outro lado inal coiilieci osnr. Costa eSilva , e
so live a lionra de llie i'allar iiiua voz. A esta
cnlrevibla e que en devo o pouco que vou dizer,
mas como ainda assim esle pouco e mais que
o que se tern publieado, e geralmenle se sa-
be, entPiido que o nao devo occultar.
O men eslimavel amigo .1. F. Ayres de
Gouvea liavia-me escriplo de Pariz, em abril
de 1852 pedindo-ino entre ouLras coisas,
algiins aponlainentos biograpliicos, afim de
OS oft'erecer a Mr. Ferdinand Duiiz, que pro-
seguindo na gencrosa tarefa de se occupar
das nossas cousas, queria laiilo d'esle , como
d'oulros escriptores portuguezes, dar uma
nolicia na grande l)iograpl)ia universal, que
se cstava puljlicando. Para salisfazer a este
empenlio prociirei o snr. Costa e Silva,
expuz-ilie a minlia inissfio, e com (|uantoa sua
reconliecida modeslia preleiidesse esquivar-se
a tfio jnsto pedido , consegui, quo o sen de-
dicado amigo, o ex."'° siir. Jose' Caetano de
Campos me desse no dia immedlalo alguns
apontamenlos para a sua biograpliia.
Osnr. Jose Maria da Costa e Silva nasceo em
Lisboa a 1& d'agoslo de 1788, Foi o primeiro
fillio de Francisco Antonio da Silva , llie-
soureiro, que foi, do terreiro publico d'aquel-
la cidade , e de sua miilber D. Marianna
Roza dos Prazeres. Veio ao mundo em lal
estado de debilidade, que se julgou que a
sua vida seria de muitos poucos dias; feliz-
menle este prognostico nao se verilieou, mas
u sua infancia foi sempre valetudinaria.
Estudoii latim com o celebre professor
Jose' da Costa e Silva, o grego com Manoel
Moreira de Carvallio, rhelorica com o Dr.
Maximiano Pedro d'Araiijo Ril)eiro, plii-
losopliia racional e moral, com o padre Fr.
Joao de Souza , Religioso triiio , Pliysica
no convenlo de S. Vicente, e theologia na
congregagao da oraloria de Lisboa. Sens paes o
destinavani para a medicina, sciencia da sua
predilecgao, mas circumslancias de familia e
a morte de sen pae obstaram a verifica<;rio
d'esle projecto. O sfir. J. M. da C. e Silva co-
me^ou muilo cedo a cuUivar a poesia. N'um
dos seus poemas invocando a miiza diz^lhe:
« Companheira fiel lu me tens sido
Defitie a mimosa infancia, e me Influisles
Esta ancia de saber, que me devora
E lao pouco uiedroii entre as procullas
D'uma vida agitada I >.
Companheira fiel Ihe foi desde bem cedo,
li cerlo; linha apenas 17 annos quando com-
pos o poema descriptivo intitnlado o Passcio,
que taiitos elogios Hie merereu ; e se nfio fos-
sem as procellas d'uma vida agitada muifas
mais riquezas litterarias teriain ciinobrecido a
sua juventude. (jiie cabedal <rintelligencia e
saber nao esperdigou elle vendo-sc obrigado a
escrever perto de vinle annos para o Iheatro '.
Que traballios iiiglorios nao leve para laiigar
ao minotauro da scena, por um lao longo
espago de tempo, alem de muilos elogios
drainaticos, mais de duzeutos driimas, tanlo
Iraduzidos, como iinilados de diversas linguas
e alguns originacs! Que paginas brilliantes
nao contaria boje a litteratura portugueza se
o esperan^oso auctor do I'asseio podesse con-
tinuar deaassombrado a cultivar os doles da
sua vigorosa imaginajao? Assim mesino de
lodos esses traballios, que a scena diaria-
menle Ihe pedia , e que elle a correr llie de-
dicava , alguns exislem , que lia lodo o in-
teresse em colligir, e farii um bom service
quem OS publicar.
Entre oulras pegas traduzio o siir. Costa e
Silva do inglez — The fair;/ penitent, tragerJia
de Rowe, e o Catdo d'Addison. Do italiano
a JVIi/rrlia e o Saul, tragedias d'Alfieri, e
o Sal to de Leucatc — de Pinelemonti. Do
francez Zclinire e o Cerco de Calais — ambas
de De-Belloy; — . a ylhiraea Zaira de Voltaire;
— o Macbeth e Roi Lear de Ducis.
Qualqiier liomem sufficientemente lido co-
nhece o valor d'estas pegas. Saul, pega model-
lada pelas de Sliakspeare, e d'entre as d'AI-"
fieri a que elle tinlia em maior conta , e a
que sobre a scena eneonlrou sempre os mais
constanles applansos. jl Bella Penitente de
Rowe e um dos dramas do seculo XVIII
que se conservam com merecida celebridade
no reportorio do tliealro inglez. O Cerco de
Calais de De-Bel!oy e a peja coniiecida
de toda a Fran(;a , a que valeu uma meda-
llia d'ouro e o titulo de cidadao de Calais
ao seu auctor, a que Hie troiixe os elogios de
Voltaire e de todos os liomens esclarecidos do
sen tempo. Ji'lacbeth e Le Roi Lear, imita-
tados de Sliakspeare sao duas pecas , que
fizeram a reputagfio de Ducis, e que por con-
fissao do proprio La-Harpe, que Hie nao era
alfeigoado, liveram nos llieatros de Franga
applausos eguaes aos da Zaira e da Mtrope,
Das Iragedias de Voltaire nao fallaremos,
sfio bem conliecidas. Estas obras primas per-
deriam muilo na Iraducfjao ? Nao o acredila-
mos. O snr. Costa e Silva era baslanle poeta
para as comprehender, e era bastante versado
nas linguas para as traduzir. Do poeta depoem
OS numerosos versos que nosdeixou. Dotradu-
ctor depoem a Imaginagdo e os Argonaulas,
que alii correm impre=sos.
Entre os seus escriplos para o thealro en-
contram-se lambem Irez tragedias originaes ,
e d'as<umpto portuguez — D. Sebastido,
D Jffomo Henrique$, e D. Jodo de Castro.
Em 22 de fevereiro de 1836 foi o snr.
CosU e Silva nomeado director da secrelaria
44
tl;i caniaia iiiMiiicip;il de Lishna, sem o liaver
reqiieriilo, coino coiista citis livros da iiiesma
cainura; e em 17 d'ii;,'osto de 18 U foi no-
ineado, taiiibein sein o requerer, secrelario
da mesina mmiicipalidadf, e confiirnado por
carta rejjia de 17 di- dezeinbro de I8U.
As obiiijai.oes d'eile cari;o, que elle de-
seinpenliava eoiiio lioiiiem exaclo e escriipidoso
que era, iifio o iiiipedirain de eontiimar a
litteratura e a poezia. De Il!3(! para cii data
lima jjraiide parte dos sens escripLos, e enlre
elles sohresalie pelo f^eiiero o — Ensaio
biograpkico-critico sobre o^ mcUtores poefus
porlugursts, dcsdc o principio da inonarckut
ate ao nosso tempo. Eita ol)ia se nao veio
preenclier veio dimiiuiir iim <,'rarule vacuo, que
liaviu em a nossa historia lilteraria, se acaso
tonics o que pode edevecliainar-se iinia historia
lilteraria. O Ensaio, como o sen mesiiio noun.'
estii dizeiido , iiao e iiiii traballio complecto;
para o ser era iDister que existissem niais
elementos de quo laiicjar iiiao, que o passado
iios lefrasae mais inemorias, niaior copia de
subsidies, que consiiltar. Era necessario que
o seu auclor livesse uma vida de mais
repouso e o liouvesse eiiipreliendido em edade
ineiins adiaiitada. Assim niesnio , obra de 8
bolida erudi^fio, e de consciencia a ponto de
se n.'io cilar urn uiiico poota , que se nfio
livesse lido, o Ensaio veio ocoupar um logar
distinclo enlre as nossus pouquissimas obras
<le crilica lilteraria, e enlre estas e de certo
a mais cmnploita que tenios.
Em IB.Jl diSMO-me o siir Costa e Silva que
calcidava que rata obra llie deitaria uns dox
volumes, e que se acliava quasi lerminada
A morle veio surpreliendel-o quandoa publica-
(,'10 Ilia no 7.° loino, mas e de crer que o seu
auclor lionvesse concluido eslo traballio, e
que aiiida o venlianios a possuir lodo. Alem
d'esta parte do linsaio , que ficoii por pu-
Micar, e das pec^as de tliealrn, que lia pouco
niencionoi , deixou o snr. Costa e Silva em
maniiscripto :
Um poema em 13 tanlos, em lercolos, in-
titulado a Sepidtura dc Maria. — Os qua-
tro primeiros cantos da traduct^ao da liiada
d'llomero. — Um grande numero d'Odes,
Epistolas e outras poesias liijeiras, tanto ori-
i^inaes, como traduzidas de differeiiles linguas
anlif,'as e niodernas.
Impreisas licaram-nos as segiiintes obras :
A Iriia'nnagdo — poesiade Delille traduzida
verso por verso, 3 volumes. — O Passeio —
poema descriprivo em 4 cantos, 1 volume. —
Os ^mantes Suevos — poema romanlico , 1
volume. — Izabel on a Heroina d'Aragao,
poema romantico, L volume. — O E spectra
■ — -poema romantico em 4 cantos, 1 volume.
— A traducgao em verso dos ^rgonautas —
poema d'Apollonio de lUiodes, 1 volume — .
Odes, 1 volume — fabulas, 1 volume — Epi-
stolas e Sonelos , 1 volume. — Ensaio biogra-
phico-criiico , 7 volumes.
Eis o iiiveniario das riquezas litterarias do
infali^'avel oscriptor .quo n.1o Juvidou aferir
OS sens voos pela verd.ide da riioderiia escliola,
sem com liulo rone^ar as tra<lic(;oes da clas-
sica, em que I'oi enil)allado — 17 volumes im-
pre^sos, e talvez mais de 10 por pulilicar.
E necessario ace te^ceiitar que morn-u pobre?
Os sens escriptos, uma rep\itac,'ao sem manclia
e uma escolliida livraria, ajuiitada por espa(;o
de bO annos, e adquirida com o que sobrava
da sua deceiite sustentaci'Tio — ois tudo o que
ficoii a sua viuva, a snr.' D. Rita de Cassia e
Silva, e a dois lillios menores. Eui 186-1. ainda
elle podia com verdade repetir o (jue escrevoo
em 1832:
** Til so, Miisa , so In visttnr oiisks
Du jtolire viite o solit;»riu all>er;:in? .'
Niiu te tni.«|)e(lii upiilenria apparrtlusa
VictosoH caniHrins, Iremus tlourHdns ;
PoncdS livros e ami^Mis itiila ineims
E e.xacta pruljidade — eis mens ibesouros. ••
Diz-se que a actual verea^.'io prelende dar
um testiinunlio do apre90 em que liiilia o seu
secretano, preslando-se a proleger a t'amilia
do fallecido. Se o t'lzer tera os elogios de
todos OS liomens que ainda teem n'algiima
conia a illustra^ao da patria. Nao o ouso
agora aflirmar, mas parece-me que o poetii
desceu a sepultura sem que uma unica fila
llie enfeitasse o peilo. Nao e desdouro o
trazel' as, mas a liomens como esle, eque ellas
de preterencia deviam ser dadas. Era socio
correspondente daacademia real das sciencias
de Lislioa, socio lionorario da academia
Lislionen^e das sciencias e das letras, e socio
correspontente do gabinete de leilura do Rio
de Janeiro.
Eis OS litulos lionorificos do homem que a
morle siibilamente nos roiibou , e que meia
dir^ia d'amigos fieis acompanliaram a ultima
morada faz lioje li) dias. Cou^a nolavel! Em
qiianto, tfio modestamente, se faziam entre noi
pstas lioiiras luiiebres traziam-iios os jornaes
da America a noticia de haver fallecido a
celebre bailarina Rosalia Bu^tamanle, cujo
enlerro se havia feilo em Havana com uma
pompa raras vezes visla.
a O set! saliimento, diziani , foi acompa-
nliado por arlislas , commeiciantes, ofliciaes
do exercito e da armada , escriplores pu-
blicos, poolas , medicos dislinclos , e nma
grande multidfio de pessoas iiotaveis de todas
as classes da povoaCj-ao em rigoroso lucto.
O coche fuiierario era seguido de mais de
duzentas carruagens. «
Nao trago islo para censurar os habitantes
de Havana. O parallelo vem so para dizer ,
sem receio de ser desrnentido , que entre os
povos do Novo Mundo e mais uma boa
dangarina, do que entre nus urn liomem de
letras, niesmo um hoinem de lolras como os
queria Andrietix , e como era decididamente
o sfir. Costa e Silva.
L'accord d'un beau talent et d'un bemi-
caractere.
Leiria 18Sk *. x, r. CORDEIRO,
45
PRIMEIRA EXPOSICAO
SOCICDIDE DE FL0R4 E POMONA.
O Jury noineado porSua Ma^estade El-rei
<) Si'iilior D. I'V-niyiido, iia ijiialidade de Pre-
• ideiile da Sociedade de Flora e Pomona,
para coiil'erir os preinios da exposi^fio, a que
a mesriia sociedade procedeu iios dias 12, 13
e 14 do mei! de maio, no Passeio publico,
depois de examinar coiiveiiieiiLouieiite lodos os
objectos, que concorrerain a exposi5rio, una-
idiiiemente concordou no juizo se^'ulnte.
Que so devem agradecinienloa as pessoas,
que iinmediatamente concorreram para o
mndo artislico e gracioso por(|ue as plantas
alii reunidas foram disposlas, e se otTereciain
a observa^'ao dos especLadores. Conliil)uiu
para isso o conhecido boin goslo do sfir.
Cinnati, e o do sur. Bonnard, jardineiro d' El-
rei, OS quaes forani encarregados de lodo o
arranjo do local e colloca^'ao das plantas,
pt'la coniinissfio nonieada para levar a effeilo
a prinieira exposi^:^ da sociedade.
Ouiro reconlieciineiUo lia a tributar; e o
que se deve ao publico da capital. Apesar
de ter concorrido ;jrande nuinero de pessoas
em todos os tres dias da exposijfio, e do llies
nao Laver sido vedado o aproxitnareni-te de
cada nni dos objectos, as planlas nfio sof-
frerarn o nienor prejuizo, e foratn etjtregues
todas a sens respectivos donos ein tao bom
e-lado, como aquelle em que liaviaai sido
iecebida«, p;rai;as ao extreme bom senso e
docilidade dos liabitautes desta cidade.
Neste ajunlamento de plantas, o que mais
imtncdiatamenle feria a altenyao era o nia-
<,aiifR-o t';rupo de vegetaes dos tropicos, que
guarnecia a parte mais eminente das lianta-
das centraes, tonipo^lo (pjasi lodo das nunie-
rosas e niui viatosas Palineiras, Musaceas e
Pandanaceas, pertencenles as colli'c^nes do
jardini das iNecesiidades. Doniinava o centro
tieste extenso grupo de plantas a niagcsto^a
Latania borbonica corn a sua magriilka e
brilliante i'olliagem. A imaginayao poderia
fazer-nos crer transportados a essas regioes
intertropicaes, aonde so e possivel ver e
admirar a vigorosa vegelajao, que cliega a
crear as brilhantes formas e ao niesmo tempo
as enormes propor^oas, que as diversas partes
dos vegelaes alii adquirem.
De palmeiras os nossos jardins n'lo pos-
stiiam mais do que a palmeira das igrejas
(Pba;nix dactylifera) e a muito nacional
palmeira das vassouras (Chamaerops hutnilis).
A collec^ao d'El-rei o senlior D. Fernando
veio alargar este estreito campo da observa-
5a^, e nos fez conhecer perto de mais quarenta
especies nos generos Pha;nix, Cocos, Jub;ea,
Latania, Sabal, Bactris, Cbamaidorea, Co-
ryplia , Diplothemium , Saribus, Rhapis ,
Borassus, Drymopalseus, Acrocomia , Pi-
nanga, Ceroxylon, Qualieirna, Daemonorops,
Copernicia, Astrocaryon, Caryota, Attalea e
Geonoma. Entre as especies desles generos
(igurava o coco da praia dos brazileiros
(diplothemium maritimum); o Ceroxylon an-
dicola, notavel pi4a quantidade de materia
gorda que accnmula na base das folhas ; o
tJorassus tlabelliCormis, e a Corypha gebanga,
palmeiras do maior prestimo na Asia, pelo
sueco sacliarino e licor fermentado que ibr-
nccem, jjela materia feculenla que Ilies apro-
veitam do tronco, as cordagens, tecidos e
variados utensilios, que se fabricarn com as
suas follias. Podia Igualmenle ver-se entre as
palmeiras d'El-rei urn coqueiro (Cocos nu-
cil'era) bem desinvolvido e ppgado ao coco
de qu^e nascera;era da quinta das Larangeiras
do snr. Conde de Farrobo, idonde lambein
veio un)a ouira palmeira, que se pensa ser
do genero Acrocomia.
E certo porem que esles soberbos vegetaes
adorno e riqueza das regioes que habitam,
pelos seus limites geograpliicos de 40" no
liomisplierio boreal e 36° no bemisferioaustral
limite, que diflicilmente transpoem, nunca
poderao, mesmo no nosso clima, esperar em
geral outro asylo mais do que o das estulas.
O nosso Cliamserops humilis ja paga com
sua liumildade a latitude, a que estende a
sua babitagao: o Pluenix dactylifera, trans-
portado de^de muito tempo do norte d'Africa
para a nossa cultura, desenvolve-se, e verda-
de, bem neste clima, mas nao fructificando
niostra nao acliar nelle todas as condigoes do
clima que Hie e proprio.
Nao sera comtudo impossivel, que no
menos desle mesmo modo se possa ohter a
acclimata^ao no nosso solo, e especialmente
no Algarvc, de outras palmeiras, que poslo
perten^am a latitudes tanto oil mais austraes
do que a do Plitenix dactylifera, tcnham alii
peia maior aliura que liabitam, um clima
que nao defira muito do nosso. O traballio
e diligencias dos liorticultores intelligentes e
per^eveiantea e que poderao resolver o pio-
bleuia de-sa accliuiatajao ; nao podendo com-
tudo deixar de recoiiliecer-se que na Europa
a cultura das palmeiras, ou dos muito bem
chamados princi|)os da vegetagao, lia-de ser
sempre cultura so para principes, ou para
e-,tabelecimentos publicos muito bem dotados;
e (|ue nunca se devera esperar dessa cultura
outro interesse mais, que o do esludo, e o do
orriato dos grandes jardins.
Sabemos que sua mage^ade El-rei o senhor
D Fernando conseguira ter da Abyssinia se-
mentes de palmeiras de regiao elevada da-
quella parte d'Africa, e que estas sementes
nojardim das iNecessidades poderam germinar
bem. Prosegue-se em diligencias para saber
ate que ponto se podera consegnir o sen de-
senvolvimento, e ao ar livre. E um bello
ensaio, muito bem comegado, e rujos resulta-
dos liao de por certo interessar bastante nfio
so a curiosidade, rnas a sciencia.
As Musaceas tinham os quasi unicos tres
generos que as conslituem, representados na
46
pxposi^rio. O ,i;eneio Miisa, de que so co-
iilieciainos nos jai'dins as quatro especies.
Miisa paradisiiica. M. sapicntiiiii, M. coc-
ciiiea, e ]M. Caveiidiiliii ou sinonei?, nos
inostra hoje mais seis, (pie sfio a M. macio-
carpa, M. arj,'eiUea, M. violacca, jM bra-
silicnsis, M. piimiUn, e a rniiilo engrarada
M. zelirina; lodas das collec(;oi's do jardim
das Necessidades.
IgualdtMUe se via a Ilavanala madagas-
c;ariensi6 do jardim do Liiiiiiar : e a Ilclicniiia
liirturacea, II. vaneijala, e JI l)iiiai ; todas
Ires do jardira das Necossidades.
Todas eslas Alusaceas, novas nos nossos
jardins, sao lanibcin, exceplo a ultima, de
if'cenlc inhodiic^ao iias oiiiluras da Iviropa.
As Cycadcas, alem da Cynas revoliita, e
da C. circinalis, ju conliecidas nos jardins,
cram alii rcpresonladas por Ires bons cxeni-
plares de Zaiiiia, a Zamia picla,a Z. mexicana,
<■ a Z. lanuginosa ^ lodos das collec^oes de
Jil-rei o senlior D. Fernando, os primeiros
que apparecem nos nossos jardins, e tainbem
de recenle inlroducgao nos da Europa. Enlre
OS exemplares de Cyeas fez-se notar o per-
tencente ao sTir. Santos, pelo seu bom estado
e niaior desenvolvimenlo; era do Cycas
revoluta, especie alias que a observagao tein
mostrado receber muito bem as condi^oes do
iiosso clima. Deste mesmo expositor era unia
outra planta, o Laurus cassia, uma das arvores
da canella, e que mais especialniente fornece
a da China; fazia-se notar pela excellente
vegelagao e perfeito dcsenvolvimento em que
se achava.
As Pandanaceas eram represontadas pelo
Pandanus utilis. P javaniciis, e iini exemplar
daCarloduvicasobgea; exceptuundoa primera,
todas tambeii) de recenle inlroducjfio nas
nossas culluras, e pertencenles a primeira e
terceira especies ao jardim das Necessidades,
• ■ a segunda ao do Lumiar.
Cliamava a altengao, por suas grandcs
proporjoes, uin Crinum iiisigne do jardim
das ^>ecessidades ; dois bons exemplares da
Bonapartia gracilis, e B. jiincea, e duas
outras Bromeliaceas floridas, que nfio vinliam
nomeadas, mas que devem ser do genero
Pourrhelia ou Tillandsia, das que vegelam
simplesmento suspcnsas no ar.
Contribuiam tambem para constituir o
grupo central de plantas a Dracitna nobilis,
a D. reflexa, a D. umbiaculifera, o Cal-
ladium bicolor, o Dracontnim pert.isum, e
uma nova JMaranta, a M. alro purpurea do
jardim do Lumiar.
Depois das Palmeiras e demais plantas,
que temos indicado, e que assim sobresaiam
no centro daexposigao, a alten^iio nao podia
deixar de se fixar em duas grandes collecgoes
de Coniferas, que se viam do lado esquerdo.
Uma destas collecgoes e do jardim das
Necessidades, e contava para mais de cento
e vinte exemplares, a outra do sfir. Bento
Antonio Alves linlia uns oilenta.
Alem das Araucarias maisconliecidasexislia
a Araucaria Bidwillii, c um exemplar com
a indica(;fio de A. columnaris, cuja exactid.'io
porem ficoii para nos em duvida li vista
da descrip<;rio e estampa que vimos da A-
columnaris no jornal Flore des Serves. O
exemplar pareceu-nos ser da Araucariaexcelsa.
R cerlo que as duas Araucarias aiidaram con-
fundidas, o que prova a sua siinillian^a. Se
iusistimos nesles pormenores e porque scndo
o exemplar, a que nos ret'erimos , a verda-
deira Araucaria columnaris, tornava-se uma
novidade importante, mais uma especie que
veriamos representada nos nossos jardins, per-
lencente a um genero, que nos merece o
inaior interesse pelo bem que o nosso clima tern
liospedado outras especies congeneres, e pelo
i'litiiro que promelte ii sylviciiltura do paiz.
Quasi todos os Juniperus conliecidos, grande
nuniero de Cuprcssiis, de Pinus, de Tliiiya,
de Taxiis, de Cedrus tinliam individuos neslas
collecgoes; alem disso, erain reprcsentados os
generos Libo-cedrus, 'J'axodium, Ciyptomeria,
Pliyllocladus Callilris, Biota, Dacrydium,
r'renella, Chamiecyparis, Ceplialotaxus, Wi-
dringlonia, Jletinispora, e Podocarpus. A co-
lossal Sequoia gigantea, que no seu paiz, a
California, cliega a ter tresentos pes dealtura
e trinta pes de circumferencia no [ronco, lii
tinha tambem um peqiieno representanle.
Tambem os tinliam a Saxe-gotlncaconspioua,
e a Fitz-roya patagonica, novissiinas especies
introdiizidas na liorlicultura, e Irazidas dos
Andes da Patagonia por um collector da casa
Veilcli de Exeter, o siir. Lobb. Sao tambem
arvores, que lomam grandes dimensoes, liabi-
tam regioes frias, proximas mesmo aos gelos
perpetuos, e que soffrem alem dos effeitos da
baixa lemperatura o embate de forlissimas
ventanias; dovendo por tudo csperar-se destas
arvores excellentes povoadores para as cu-
miadas de nuiitas das monlanlias da Europa.
A Saxe-golliaea rccebeu o nome do Principe
Alberto, de Inglalerra, a quern fora dc-
dicada.
A proposilo das Coniferas devem mencionar-
se dois exemplares de Araiicaria-excelsa ,
obtidos no jardim das Larangeiras por estacas
feitas com os ramos lateraes e enxerto nelles
da cabeij'a da arvore ; um dos modes porque
se tern conseguido mulliplicar a especie. Os
dois exenqilares assim obtidos eram perfeitos
nas suas lormas, e bem desenvolvidos. Mas <>
problema da verdadeira niultiplica<;ao da
Araucaria-excelsa por semente lia-de resolver-
se em poucos annos no nosso paiz : attesta-o
a Araucaria do Lumiar, que todos allipodem
ver, actualmente guarnccida de immensas
flores masculinas, e de bem formadas pinhas
na sua parte si;perior, apesar da especie ser
dioica; e promette-o principalmente o pequeno
e interessante pinlial de Araucarias, manda-
das plantar em Cintra por Sua Magestade
El-rei o Senlior D. Fernando.
O goslo pela cultura das Coniferas teni
47
augmentado muilo entre oi horticullores mais
intelligenles. Procuram-se individuos desta
ordem de plantas em lodas as regioes do
globo, e fazem-se constaiites diligeiicias para
as trazer as cuUiiras da liuropa. O motivo J
obvio ; sfio arvores pela maior parte de maxiiiia
utilidade por siias madeiras, resinas, etc. ; e
muitas dellas giiarnecern ao tnesriio tempo
agradavelmente os nossos jardins, pasaeios e
bosqiies de recieio. Pode anlever-se quanlo
ha a esperar da cultura das Coniferas em
Portugal, refleclmdo-se que nas matas con-
taaios apetias o Piuus maritima, o P. pinea,
e o Cupressiis glauca ou cedro de Goa, que
tao bem se accliniatou na serra do Bussaco ;
e pondorando-se ao mesmo tempo, que a
maior parte dos nossos terreuos moutauhosos
e do littoral estiio sem arvoredo, alias tao
indispensavel. Qiianto nao e por isso digno
de appluso e de iriiitajao o exempio de El-
rei o senhor D. Fernando, fazendo povoar,
como o tern em parte conscguido, a serra de
Cintra, deste tao valioso arvoredo !
A menos altenta observa(,'ao deixaria co-
nhecer a todos os visilantes a variada collec-
^ao de craveiros tloridos do mais agradavel et-
feito, a de muito boas variedades de Geranium
e de Fuchsia; pertenciam ao jardiin das
Necessidades. Outra coUecjao rica e visloaa
era a dos llhododendros e Azaleas do Lumiar,
alguns ainda em magnifico estado de tlores-
cencia. Era igualniente para notar-se a
variada collecj'io de Iris-germanica, de Gla-
diolus, e de Antirrhinum majus, pertcncentes
ao snr. Bonnard. Guarneciani tambem as
bancadas, em grande extensao, numerosas
petunias, parte do jardim de S. Pedro de
Alcantara, parte perteacentes ao snr. Bon-
nard. Appareceram tambem as petunias de
S. Pedro de Alcantara, devidas aos cuidados
do snr. Conselheiro Agostinho da Silva, que
apreseiitou iguahnente uma numerosa e varia-
da collecgao de amores peileitos, agradaveis
Verbenas e Fuchsias, e alem disso um exem-
plar da Swainsoiiia coccinea.
Nao faltou dexposijao a bem conhecida e
variada coUecgfio de Cactos do snr. Macha-
do, unica desta ordem que existe em Lisboa.
Os Fetos e Lycopodiaceas nfio foram
esquecidos pelos expositores. Appareceram
bons exeniplares de fetos indigena= e da
Madeira, perti^ncentes ao snr. Alves.
O snr. Alonrc'i apresentou um exemplar
vistoso de Pteris elegans, e outros da Daval-
lia pyxidala, de alguns asplenios, do Lyco-
podium scandens, e o Plalicerium grande,
feto curio^o pelas formas e niodo de vegela-
53.0, que pode obter, adherindo unicamente
a uma taboa. Outro Plalicerium muito bem
desenvolvido e curioso foi exposto pelo snr.
Schmiltaus, a queni a cxpoaigao deveu tam-
bem alguns bons geranios.
Recommendavam-se por fim a altengfio
por sen perfeito desenvolvimento, e boa cul-
tura, por sua belleza ou novidade ass^guintes
plantas, que os observadores achariam dis-
persas por toda a exposijao.
Pertcncentes ao jardim das JVecessidadcs :
Rhopala corcovadensis : proteacea de muito
recente inlroduc^-fio na Europa.
Stiptia chrysanlha; composta arborea, e por
isso menos commum entre as da sua ordem.
Simplocos limoniedia ; simplocacea tam-
bem de moderna introducgao nos jardins.
Spathodea speciosa ; bignoneacea.
Eugenia villosa ; myrtacea novamente in-
troduzida.
Stadmannia australis ; sapindacea da N.
Hollanda.
F^anciscea speciosa, e F. longifolia;«species
tambem muito novas nos jardins.
Theophrasta longifolia; myrcineade Carac-
cas.
Allanianda verticillata, e A. spec. ; apo-
cyneas.
Hexacentris mysorensis ; acanthacea.
Coleus Blumei ; vistosa labiada.
Clivia nobilis; muito mimosa Amaryllidea
do Gabo de Boa Esperanga.
iJ m Metrosideros em flor, que fora de pro-
posito arrancado da terra para vir a exposi-
Sao.
Pertcncentes ao jardim do Lumiar do
siir. Duquc de Palmella :
Tres formosas Catleyas em flor, das quaes
excitou a adniira^ao de todos por sua belleza
a Catleya mossiai.
Erica Cavendishii ; mui vistoso exemplar
cheio de llores nmarella;, que todos igual-
mente notariani.
Diosnia crenata, ^ D. ciliata ; ambos tlori-
dos.
Jpomiea.Horsfeldii;especie muito brilhanle.
Aralia quinquet'olia ; araliacea.
Sehaidophylluni pulchrum.
Ramos tloridos da Grevillea robusta, m'li
da maior parte das arvores da mesma especie
que se tern espalhado pelos outros jardins.
Outros rainos tloridos do Philadelphus
mexiianus, eda graciosaF'umariacea Diclytra
spectabilis.
E alem destas baslantes outras plantas de
recente introduc^ao nos jardins da Europa.
O snr. Marquez de Vianna, que do sen
rico jardim de Cintra nao podia mandar
vir, sem as sacnficar, maior numero de plantas
das suas ju. muito extensas e bem escolliidas
collec(;6es, remetteu para a exposigfio, conio
docunientos daquella riqueza, rainos tloridos
de muitas plantas de estima(;ao, e alguns
vasoscom plantas inteiras. Entre esles obje-
clos distiiiguiam-se boas Rosas, algumas
Calceolarias, muitas Acacias, boas varieda-
des de Azaleas, de Crataegus, a Brunia la-
nuginosa, a vi^tosa Erica linoides, al,i;un5
Ribes, a Magnolite tripetala, variadas Ver-
benas, alguns Phlomis, e cutras plantas que
attestavam o vaiiado e subido erao de cullurit.
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em que se aclia o.jardim de Cintra do mesmo
sfir. Marquez de Vianna.
O sfir. Ayros de S;i oxpoz inn exemplar
bem creado do jaboticareiro, e oulro do cam-
bocareiro ; e nao aprescMtou iiiais plaiitas,
porque o passeio publico, reoiganisado por
siias incessantes dilij;enciai , e todo elle uina
exposijao conslante , e vivo documetito da
sua aclividade e zelo que lem desiuvolvido
pela liorlicultura.
Do sfir. Bonnard, alem do que ja se re-
feriu, appareceram outras plantas, das quaes
podem indicar-se mais especialuienle as se-
guintes :
Xvlopliylla Innajifolia; cupliorbiacea.
\\ eslringia a;raiidillnra; labiada vi^t03a.
Hoteia ou Spiraea japonica; saxifragea.
]i,ueliia maculata; l)^'lla acaiiUiacea.
Concluirenins e~ta rapida eiiumera^ao men-
cionando aiuda uma pl.inta das expostas ,
Hiuito liumiide na appureiicia, e para a qual
o maior numero de pessoas de certo nao
preslou atten(;ao por falla de prevent o, mas
que a merecia debaixo do porito de vista
scientifico, e ainda aoutros respeitos. O seu
nome era o de Tavaresia angolensis, e per-
tencia ao sfir. Mom 6, a queiii a mandou de
Angola o snr. Dr. Frederic WelwiclUz. O co-
hhecimenlo da planla e fruclo das excursoes
deste naluralista no solo africano, aonde esla.
E' uma Stapeliacea, reputada forniar nao so
especie, mas genero novo. Pelo direilo que
assiste aos naturali^tas nas suas descubertas ,
o sfir. Welwiclilz escoUieu um dosseus amigos
para llie dedicar o novo genero, e eate ami-
go foi o sfir. 'I'avaies de jjacedo; ficaia por
isso sendn a planla uma 'I'iivaresia, e o bom
nome do snr. Tavares de Macedo, pnr erle mo-
livo mais, vogislado nos livros da ^cie^cia A
planla liabita nos campos de Loanda , perlo
do silio do Penedo e do Cacuaco ; o seu lia-
hiloexlerno e o das Slapelias, mas os orgaos
floraes, segundo a observa^fio do snr. Welwi-
chtz , affeclam a apparencia das Orohideas.
A exi-tencia desla Slapeiiacea no silio aonde
foi acliada, e por elle considerada tanlo niais
imporlante, quanlo e sal)ido que na Afiica
tropjcal se nao linliam ainda eneontrado es-
pecies desta ordem de vegetaes. Coinpraz-nos
ler esl.i otcasiao de recordar o nome d'nin
naturalisla, a quern o e^Uldo da Flora por-
tugueza muito deve , e que laml)eui prc^tou
bom servi^o a liortieultura em Lisboa. Quei-
ra a Providencia, que a saude e as forgas llie
nao faltem , para preslar a sciencia os muilos
servijos, que na actual situajao , elle |6Je
fazer.
Foram lainl)em expositores o snr. Pastor,
e algumas outras pessoas, cujas planlas se
nao mencionam , por serem de cultiira mais
ronliecida; nao deixando por isso de haver
motivo para agradecer a estes , como a todus
OS outros expositores, a boa vontade com que
concorreram ao cbamamento que se fez, e
conlribuiram para guarnecer a exposigao do
modo agradavel e satisfaclorio por que se
apresentou a todos.
'I'emos ainda de fallar de alguns instru-
[iieulos agrarios, que appareceram como que
consliluiudo o fundo do gracioso quadro d'esla
exposigao, a saber : um ventilador para lim-
peza de cereaes c legumes, perteiiccnle at)
snr Conde do Farrol)o, e exposlo pelo sen
jardiueiro; e oulros objectos pertencenlcs to-
dos ao Institulo agricola. Eulreellesse notava
um carro feilo por um modelo, que o snr.
Conde do Farrobo nianddra vir de llalia;
consta-nos ler todos os seus movimenlos tao
faceis, que pode conduzir, com inenos inconi-
raodo dos animaes, o dobro do peso que os
nossos carros ordinarios costumam carregar :
a charrua de Domlia^le, a de roteagao, a de
sub-solo, o arado inglez, o sacliador de Dom-
basle, o belga de llo-.t', o extirpador de
Griguon, e o rolo Kro^kul; inslrumentos
todos de reconliecida ulilidade na agricultiira
das na<;6es mais cullas, e quasi deseonlieci-
dos ciitre nos E seria uma grave falta desle
relatorio, se por ventura nelle nao agradeces-
semos ao Insliliilo agricola do Lisboa a boa
voulade e preate^a com que concorreu por
estc modo a nossa primeira exposicao; es-
perando para o fuluro da illustrada direcgao
do mesmo Insliluto, que elle concorrera com
osvariados produclos liorlicolas da suaquinta
exemplar, para tornar mais variadas e mais
complelas as expoji^oes da sociedade de
Flora e Pomona; tornando-se ignalmentc por
esle modo aquella utillissima instituic.'io mais
prnveilosa ao paiz, que tanto deve esperar
della.
Quanlo ao ventilador, e'o que os francezes
oliamam 'i'arare: oVi^ervamol-o Iralialhando,
e podemos assegurar, que pieencbe muito
bem o seu lim; extremando com a maior
faoilidade o Irigo ou cevada liinpos, a pallia
miuda, e a terra, que lem mislurada; o
expediente deste appaiellio e tal, que no
traballio regular de um dia e possivcl limpar
ciucocnla moios de trigo. Suppomos scr um
apparellio muito para r eommeudar aoj nossos
laviadores, e cnja pralica devera subsliUiir
com inuita vaiilagem o proccsso de arneirar
o trigo antes de o recollier.
O jury lendo a dispor, conforme o pro.
gramma da sociedade, de Ires medallias de
ouro, Ires de prata, e Ires de bronze, poz
primeiramente lora da competeucia as col-
lecgoes dos jardius reaes, como Ibe foi orde-
nado por sua majeslade F!l-rei o senhor D.
Fernando, presidenle da sociedade; e consi-
derando todas as outras, inlendcu conferir os
premios da maneira seguinle:
Ao snr. Bonnard, director e jardineiro dos
jardins rears, uma das medallias de ouro pelas
planlas que expoz, e alem diiso pela pericia
de que deu sempre provas no desempeulio do
seu cargo como cnltivador.
Ao sfir. Alves outra inedalha de ouro pelo
zelo e saciiticioi que Ibe tern merecido a
49
liorticultura, e pela importanle collecjao que
apresentou de Coniferas e de Fetos.
Ao snr. Weis a outra mcdallia de oiro , na
qualidade dejardineiro dosfir. Diiquo de Pal-
mella, como bom e inlelligente cullivador,
e pelas plantas que concorreu a fazerexpor,
vindas do Lumiar, principaliiieiite acollec-
Sao de Rliododendros , de Azaleas, [e Orclii-
deas.
Ao snr. Bonnard , filho, uma medallia de
prata , conio jardineiro do snr. Marquez de
Vianna, e pelai numerosas e bem cultivadas
plantas vindas do jardim de Cinlra; especial-
mente algumas Eneas, Azaleas, Coniferas,
Acacias, e um dcs vislosos exeniplares da In-
digot'era decora, que appareceram na expo-
sijao.
Ao snr. consellieiro Agoslinlio da Silva
iinia medallia de prata, pelas cnllec^oes que
apresentou do jardim de S. Pedro d'Alcan-
tara, cuja cullura e sabido Uie merece espe-
ciaes cuidado?, e como amador que e entliu-
siasmado da borticultura.
Ao snr. Pedro Maurieu uma medallia de
prata, como jardineiro do snr. conde doFar-
robo, e pelas Araucarias obtidas de enxerto
que apresentou, bem como a maquina delim-
par cereaes , cuja intioduc9rii) no paiz Ihe e
devida.
Foram considerados dignos de men^ao hon-
rosa :
O snr. Machado , como uni dos zelosos e
intelligentes amadores da horticullura, e pela
sua conhecida e estimada cnllecjao de Ca-
cteas.
O biir. Monnj, pelos curiosos exemplarcs
de Fetos, e pela interessante Tavaresia an-
golensis queexpoz; certo, alem disso, que
o snr. Monro e um dos zelosos promotores
da borticultura entre nns.
O snr. Santos , pela sua bem desinvolvida
Cycadea , e bem creado exemplar do Laurus
cassia.
Concluindo este relatorio , entende ojury
que n(is podemos felicitar pnr esle primeiro
ensaio de exposi^ao dasociedade, que corres-
pondeu a quanlo podia esperar-se, tendo para
isso concorrido principalmenle a muito deci-
dida protec^ao que a cste ol.ijecln se dignou
prestar Sua Mageslade EIrei o Senhrr D. Fer-
nando , cujos desejos e diligencias e de espe-
rar sejani correspondidas pela sociedade e
pelo publico, a fim de conseguirmos a intro-
ducjfio do niaior numero de plantas uleis , a
sua acclimalayao , o maximo aperteigoamen-
lo em lodo o genero de culturas, e a pros-
peridade e bem-estar geral, que tudo isso
necessariamente traz ao paiz.
Por toda a parte as sociedades horljculas
tern sido um poderoso meio d'alcan^ar esles
beneficios; devemos, por conseguinte, enipe-
nhar estorgos , para que a nossa. nao salisfaja
menos o seu lim.
Sua Magestade Elrei o Senhor D. Fernan-
do visitou repetidas vezes a exposi^.ao, e
acompanliado de Sua Mageslade Elrei o Se-
nhor D. Pedro, e de Sua Alleza Ileal o Se-
nhor Infante D. Lujz , dignou-se presidir o
jury encarregado da distribui^ao dos premios.
Aos mernbros do jury foi particularmente
agradavel a impressao que Ihes fez o muilo
conhecimento de causa que os jovens Monar-
cha e Principe mostraram, percorrendo os
objectos da exposi^ao; e o modo por que a
atten^iio dos Augustos Visitadores se fixava
justamente nas plantas, que por sua novida-
de on oiilro motivo de interease a deviaui
excilar.
Sua Alleza Real o Senhor Infante D. Luiz,
como quern Ihe era tudo muito familiar, es-
colheu na collec^'ao dos pinheiros do sfir.
Alves, e para niais completar a do jardim
das ISi ecessidades, todos os exemplares, que se
recommendavam pela maior novidade ou im-
portancia das especies, e que mais inleresse
proniettem por sua introduc^ao na nossa cul-
turn.
Uma tao esmerada educagao, como a que
deinonstram similhanles factos, e' da mais
liiongeira esperanja para um paiz, como o
nosso, que tanlo precisa e tern a obler do
espirito illustrado dos Soberanos, que o hao-
de continuar a governar.
As sciencias naturaes, que entre nos tern
quasi sempre sido tractadas como filhas bas-
tardas, nao obstante a dependencia em que
dellas esta, immediatamente a resolujao de
quasi todos os problemas do desenvolvimento
social, teram por lim nos chefes do Governo
zelosos protectores, porque teem ja, e terao
quern as comprehenda e estime.
Este solo fertil, e este bom clima do nosso
Portugal convidam-nos incessantemente, e
quasi ()ue nos arguem sem eessar do nosso
inqualificavel atiazo nas differentes culturas;
nos que somos dos povcs que as poderiamos
apresentar no estado mais tlorescente da
Europa. Mas se ao abrigo de uma paz im-
perturbavel, e sob a direcfao de um Rei es-
rlarccido, a Belgica pode reorganisar em
1326 a aniiga confraria de Santa Dorothea,
debaixo do nome de Sociedade de Horti-
cultura de BruxcUas, que e hoje talvez o typo
classico das sociedades d'esta ordeui, qtie n.ao
devemos nos tambem esperar da nossa Socie-
dade de Flora e Pomona abrigada sob o
manto de um Principe lao esclarecido, r>
votado cordealmente a todos os progressos
agricolas d'esta nos^a abengoada terra I N6>
esperamos sinceramente que ajudados pela
Providencia, e dirigidos pelo conselho tao
competeiite e illustrado palrioti^mo de nosso
Presidenle .Sua Mageslade Elrei o Senlior
D. Fernando, desenipenharemos fielmente o
nosso programma, e concorreremos de uui
modo mui assignalado para a ptosperidadc
de tndas as culturas em Portugal, que ^ao
a prime! ra de suas industrias.
.Mair/ue~ de Ficalho:^^. Harao do Castello
de Paiva — Cactano Fcrrrira da Silva Eciruo
— Duarle. Cnirm — Dr. Bernardino Antonio
Gomrs. (^Diario do Governo.)
50
ESTATISTICA PATIIOLOGIC.V DOS HOSPITAES DA UNIVERSIDADE.
BOUENS TRIMESTBE DE JANEIBO A MABQO DE 18oi.
SIOI.ESTIAS.
Febre F»slrica
Febre inleriiJitlenle
I
I
8
!^
I
1
1
a
1
14
21
I
1
I
3
I
I
1
7
17
Bronchite
Ascile
„ M Anasarcd
„ ,. Diarrhea
,, „ Oislriic^ao do fia^o ....
« Vermes
, JJlceras no vcH palatino pendulo
Febre intermitlcnie gastrica
Angina
Pnciiiuunia
Pleuresia Iraumalica
Gaslrile chronica
Splenilc — Anazarm
Cystile
L'retrile
Olibtalraia
Rheumatlsrao articular ....•••••
Riieumatisiuo articular clirunico
Bronchite
M Febre inlermiltenU
Rhcumalismo articular chronica . ■ ■
„ Hemorrlioidas ■
Pvstvtas nas pertias
Mania
Asma
Cephalalgia
Gastralgia
Apoplcvia
Paraplegia
Amaurose
Tisica piilmonar ■
Ascite
1, Febre inlcrmiltenle
Fehre inlermiltenle — annsnrca . . ■ ■
Febre inUrmiltenle — obslrucQuo do Ijoqo .
^ Anasarca
>^ Aniavrose
u Epistaxia
„ ObalrucQao do ba^o
Hydrothorax ■.■'''
» Ascite — ObstrucQUO do bago . . •
„ Tumpanite — Ictericia
Hy<Irocelle
Anasarca
V, Bronclute
„ Sarna
Edema na glolle
EJema nas pernas
„ ti Broncliite . . . • - • •
Hemoptysis
n Siirna
Hemerrhoidas
Diarrhea *
Ileus
Escorbuto
Ictericia
Cachexa
Congestao pulmonar
Obstruci;ao do ba^o
Cancro do estomago
Vermes
Miliare
Herpes
Elephanliaee . . ■ •
215
EDADES
.'"5,
1
2
16
13
1
„
)i
2
i>
2
»
>,
19
9
1
„
11
1
19
81
84
31
14
lai
49
3
35
1
4
2
I
34
1
1
1
1
8
1
215
51
Movime7tto
Exifltiam
Entraram
Sairam •
Falleceram •
Reiacao dos fallecidos para os entrados
para os s;iido3
para todos os tralados (existeotese entrados)
Janeiro
Movimento de to.ias as enfermarias dos hospitaes
(la itniversidade
Existiara
Eotraram
Sairam
Falleceram
Rela^rio du3 fallecidos para 03 entrados
para os saidos
— — para lojos os tratados (exislentes e en
trados)
Homens
126
85
375
251
343
194
31
23
1;12,1
1:10
1:11
1:7,7
1:19,3
67
62
56
6
1:10,3
1:9,3
1:21,5
Mttlheres
Fevereiro
65
59
67
4
1:14,7
1:16,7
1:31
MllTQO
54
08
77
5
1:17,6
1:15,4
1:28,4
1:14,4
Hotnens
18
Observarjes meteorologicas '
( Teiuperatura ataiospberica ao meio dia
Media \
C Altura barometrica a 0.° C
Venlos predominantes
Janeiro
C"? C.
mil
75:!, 759
S. e SE.
Mutheres
10
3
1
0
Fevereiro
9.° 8
757,357
E. e N.
Trimestre
209
200
15
1:13,9
1:13,3
1:18,4
Todot
239
632
538
5B
1:11,2
1:9,6
1:15,5
Marco
12.°4
757,831
N- e E.
• Inslittjto (!e Coimbra n.°" 21 e 23 do 2.*' anno e n." 1 do 3.** O gabincte de physics, onde se fazem
cstas observa^oes , apenas dista 13^° do hospital do colle^io das arleg.
Tenlio comprehendido todas as enfermarias
de homens nas estaListicas patliologicas de
1352 e 1853; mas n't-ste primeiro trimestre
de 13o-l coinego a publicar so a estatistica
das enfermarias de molestias internas, que
se acham a men cargo. Nao ha grande in-
conveniente n'esta restricgao, em qnanto nao
se publicar uma estatistica geral de todos os
hospitaes da universidade.
O doenle de febre intermitente , que appa-
rece na casa dos fallecidos, morreu da ascite
que veio coinplicar aquella febre ; e os 14,
que se acham na casa dos nao curados, sai-
ram antes da cura da abstracgao do bago ,
mas depois de curada a febre intermittente.
A cura da obstrucjao do bajo em 20 doentes
de febre intermittente, e em 2 que entraram
so com a primeira molestia, deve-se em gran-
de parte ao emplasto de iodureto de potassio
da Ph. de Lond. , juntamente com os de-
sobstruentes internos.
A um dos doentes de bydrocelle nao se fez
a operagao, por ser ainda pequeno ocuraulo
do Iiquido. O outro foi curado radicalmente
por meio de injecgoes de partes iguaes de
tintura de iodo e agna dislilada. Anterior-
raente havia-se tentado , sem proveito , a
mesma cura radical corn uma parte de tintu-
ra de iodo , e tres partes de gua distillada.
A morlalidade de 1:13,9 em relagaos aos
entrados em todo o trimestre nas minhas
enfermarias, e ainda a morlalidade de ]:11,3
52
lie loilo o liospiuil , coiuinun ollorecendn ex-
iraordinaria vaiilagem sobre a morlalidade
ilo liospilnl de S. Jose de Li>l)oa, i|ue foi
lie 1:4,9 no mi'smo trinicstre. '
Com a media de 1000 doentps frasla o
iiospital de S. Jo>e 130:000,3000 lois ininual-
tiR'tite ^ ; e lodos sabeiii ijue , loiifje de haver
tlfbperdicios iia boa admiiiislra^'io d'esta
casa , ainda als'ims niplliorainoiitos se v;"io
addiando por falla de meios Na inesrna prn-
fjor^i'io OS liospilaes da universidade, com
a media de 210 doenles, deveriam pastar
."•1:200^000 reis. Cusla acicr! O Lendiiiieri-
lo dos bens dos liospitaes eslii teduzido,
.•i:!)63jSloO rcis, qiiejunto a b 031t5'9IO reisa
<|ue dii o lliesoiiro, conslilue iiiiia dotac^ao
certa de 8:89O0'OCO ici;-. De leceita incerta
apeiias tern a imporlancia dos pugamenlos
militaio« das pra(;as une alii s;'io Iratadas ,
i]iie podciu dar 876jS)()00 leis ^ , e dns doen-
les nito pobres que andai;i ))or 80^000 reis *.
J-;sl;i pois reduzida a 9:8olgS0(>0 reis ' a re-
ceita cerla e inceiia doshospitaes da universi-
dade, qiiando estesdevenam frastar, em pro-
porsfio com o de S. Jose, 31:200^000 reis ! !
Tirem os liospitaos da universidade da mi-
seria em que se acham ; menislrem-llie uma
•lota^ao regular e rasoavel , que a boa casa
do novo hospital, no bom clima de Coim-
bra, de pressa se converterii n'um dos liospi-
laes niais concorridos eacreditadosdaEuropa.
* Jornal de Pharmacia e Sciencias Accessorias de
l.isbua n.*"^ de ftiveieiro . niar^o e abril de 1854.
^ O Hospilal de S. Jose e annexes em 1053. Opus-
cnlo por Alanoel Cesario de Arauja e Silva . pa^'. I'jJ.
■* A media da rece'tta dos nitimos 3 annos foi
12:745^540 , mas figuram nqui Aerbas exlraordiiiarias
com que nao poderaosaclnalmentecontar, como Sao — l.°
lima graode parle dos 11:589^440 reisde;vencimentos niili-
tares , que se achava em divida ao hospital antes d'estes
3 annos : 2." 914^040 reis com que a dotai;ao dos esta-
belecimentos da universidade acudiu aos aptiros do hospi-
tal: 3.° l;0005000;reis que deu a misericordia de Coim-
bra , em virtude d'uma portaria du poverno.
^ Calculando 10 pra^as diarias no bosjiilal.
^ Vm pouco niais do termo meilio dosiiltimos 3 annos.
A. A. DA COSTA SIMUES.
Hcccbo am-sc na Bibliotlieca do Institulo de
Coimbra, alcm das mtncionadas em o n.°
3 deste Jornal, as seguintes obras offereci-
das por seus respcctivos auctorcs.
poEsiAs por Antonio deSerpa, socio da A. R. das
sciencias de Lisboa e do Inslituto de Coimbra.
BOSgUEJOS BlOGRAPHicos, 0 abbade Correa daSerra e
Felix'Aveiar Brotero, por Francisco Antuuio Rodrii;;ues
de Gusmao, bacharel formado em medicina e cirurpia,
sbcio do Instituto de Coimbra e membro correspondenle
da sociedade das sciencias medicaa de Lisboa.
A ORQAMSAl^AO DOS ESTUDOS MEIllCOS EM PORTUGAL,
discurso proferido na sociedade de sciencias medicas de
Lisboa pelo socio da niesma, Antonio Joaquim Ribeiro
(ioraes d'Abreu, socio do Instituto de Coimbra.
OS viNCULOs Eiu PORTUGAL, por D. Aiitonio d* Almeida
1." e 2." folhelo.
coNsELHos TESDENTES A mETENiR, abrandar e curar
a doen<;a dag \inlias, para o anno de 3 854, escriptos por
.Antonio Jose da Silva Leitao.
co^]PE^UIO da iiistokia de poutlgal desde os pri-
meiros povoadorcs ate nossos dias, por Joaquim Lopes
Carreira de Mello.
ELEMEVTos nc -METniPHvsicA, por M. da Conceie'io
R.irros. professor de phibsopliia racional e moral e priii.
cipios dedireito natural, noseminano diocesano doBra-ra-
a' SAtDosissiMA 3IEMUKIA da serenis.sima Princeza im-
perial a scnhora U. Maria Amelia — folheto, jielo mestre
da Finada.
VAUIEDADES.
RKPi.ANTAc.to DOTRiGO. — No jardiui bo-
tanico de Cambridge fez-se uma cunosa ex-
perieucia soliie a replanlagao do trigo.
Havendo-se semeado em junlio algunsgr.HOs
de trigo, um dos pes q\ie nasceram pareceii
querer ramilicai-:-e. Arrancaram-no em agos-
to , e dividiram-no em 18 partes, cada uiuu
das quaes foi separadameiite plantada. As
novas plantas que nasceram dos. rel'.enlOi la-
leraes arrancaram-se no litii de seternbro , s(--
pararam-se e pjantararn-se novamenle. Ob-
tiveram-se assim (i/ pes de trigo que licarain
na terra todo o inverno. Em abril seguinte,
e-~tes 67 pes foram outra vez divididos e pre.
duziram 500 pes, donde se colheram 21:000
esjjigas, que deram 21 Uilogrammos degr;i05.
Segundo a qiiantidade media de graos con-
lidos em um kilogrammo, pode-se dizer que
um so pe de trigo dividido e plantado repe-
tidas vezes, produziu um niimero total dc
676:840 graos. {Cosmos )
RF.pvBLicA DK LIBERIA. — Este pequeno
estado nascente fundado na costa occidental
do continente d'Afiica, cujos cidad:'ios sao
negros arrancados a escravidao e reexportados
da America pela intluencia das sociedadcs
abolicionistas, marclia co.m passos rapidos no
caminho do progiesso. Esla sociedade negra
procura imijar, omellior que pode, a oivilisa-
jao do antigo e novo mundo. Ha pouco
comejou alii a publicar-se um jornal que
deve salisfazer u^ nccessidades inlellectuaes
politicas e commerciaes da colonia. Este jor-
nal denomina-se Liberia Herald- e escripto
em iugiez, e sens redactores, edictores, im-
pressores, etc. , todo o pessoal e exclusiva-
mente composto de negros. (^L\4thenwum).
RECTii'icAcAO. — ?so artigo — Enxofra-
gem a sccco publicado em o n.° 24 do 3.° vol.
deste jornal, conforme com o que vein no
Journal d' /Agriculture practique, vem men-
cionada a despesa que demanda a enxofra-
gem completa de um hectare de vinhas. Se-
gundo mr. Dubreuildevem recti ficar-seaquel-
les dados do modo seguinte.
Para um hectare de vinhas
60 kiiogr. de llor d'en.xofVe .... 21 I'r.
6 dias de traballiode uin homem 12 fr.
total 33 Ir.
A enxofragem a secco foi aconselhada em
Franija por uma commissao official composta
de mrs. Rendu, Bonbardat, Chatin, Du-
bieuil e Ducharlre.
i) Jiietitiit0)
JOlllNAL SClEI^iTlFlCO E LITTERAUIO.
CONSEI.HO SL'PEKIOH DK INSTRUCCAO
I'lBI.ICA. — UEI.ATORIOS.
INhTKLCl.AO SllEilOJt.
Coiifereiicia de 28 d'ahril tie li;34.
Senliorcs : — Para ciinipriineiilo Jas olirigri-
5oes impnstas pel' regulaiiicnto de 10 de
nnvembro de 1845 tern d'apiesenlar-si' pi'la
3.' sec5ao (a d'inslnicgao superior) d'osle
consellio iim relalorio soljre o cstado, e necos-
sidades da instrncf'no superior no semestrc,
que decorreu desdu ouUibro idlinio alpgora,
acornpaniiado dos iiiappas correspondenles.
Miiito imperfeito foi jii o que cm outubro
proximo passado se apreseiUou, porqiie a
maior parte dosdelep;ado=dnrnii5uliio superior
tiao tinliam reriieltido 05 que deviam pelo arli;;o
37. ^. 4.° do sobredito regulamento; porem
mais imperfeito lem de ser esf.e porque deade
outubro alcgora iieniiuiii dos deieirados reinel-
teu relalorio respectivo a esle semeslre: e
tendo o consellio superior rcprescntado ja a
S. M. em cnnsullas de 16 de jnneiro iillimo,
e 4 do corrente, agnardain-se ainda a? provj-
dencias, queS. M. iimiver porbem, para fazer
cessar tacs faltas, que tornani inipossivel ao
consellio superior o cumprimenio dos seus
deveres. Adianle vai a rela^ao dos relatorios,
que ainda faltam pertenceiUes ao anno findo
cm outubro de 185?i. '
Dos relatorios, que fallaram em outubro,
so veio posteriormente em 21 de dezemliro,
o da universidade pertencente ao anno lectivo
de 1852 a 18&3. Nelle se reiereni os melliora-
mentos, que no decurso de todo o anno tiveram
logar em cada uma das facwldades e estabe-
lecimentos annexos para aperi'ei(;oamcnlo do
ensino ; e se pedem providencias, e algiins
meios para outros mellioramenlos, que nem
o prelado, nem os conselhos das faculdacies
podem adoptar scm serem auxjliados pelo
governo de S. M. — Alguns dos niellioramen-
tos nesse tempo ainda pendentes acliam-se
ja concluidos, como a mudanga dos liospilaes
para dillerentes edificios. — Algtimas das pro-
videncias ja foram pedidas em relatorios ante-
riores, como a annexagfio da cadeira de lingua
hebraica para <i faculdade de theologia; —
Vol. 111. JiNHO 1
a uniformidade de compendios para o ensino
nos lyccus ; — reforma dos estudos na facul-
dade de philosopliia, Icndcnte a tornal-os mais
practicos, para na universidade sc crearern
nao so liomens sabios, rnas cidadfios uteis ao '
eslado pela applicagao das scicncias, e evitar
divorcio entre a tlieoria e a praclica ; —
meios pecuniarios para grandes concertos
indispensaveis na real capella da universida-
de..— Sobre outras ja pelns respectivos con-
selhos das faculdades, e reparlijoos compe-
tentes,se tern representado directaniente, como
a conveniencia de se transferir de Viseu para
Coimbra o Institute agricola ; — augrnrnlo
d'amanuenses para a secrctaria ; e mrlliora-
nientn d'ordenados a alguns empregados. —
S<ibre algnmas j;'i n consellio superior teiii
representado, e ate feito propostas em annos
auteriores, romo — a cerca d'ensino particu-
lar de disciplinas preparalorias para matricula
na unversidade, feito fora das aulas publicas;
— exame de gtego para matricula de ].°nnno
nas faculdades, em que seexige; — ensino ce
geometria n'uma cadeira especial no lyceu
d'esta cidade, e ser essa disciplma prepara-
torio obrigado para lodas as faculdades. — As
outras providencias suo de lal modo pedidas,
e exposta a necessidade e conveuieiieia dellas
no relatorio da universidade, que bastarii of-
ferecel-o, e eleval-o a soberana ronsicieragfio
de S. M. com os especiaes, em que foi fun^
dado, para se poder esperar, que serao al-
lenJidas, como a S. M. mellmr parecer cm
sua alta sabedoria : e com ellas ficara mc-
lliorado o en-ino em cada unia^das faenl-
dades, e. no lyceu, que forma uma secrao
da universidade, como os respectivos con-
selhos desejam, e e reclamado pelo. bem
puldico.
A universidade no ;inno lectivo de 1852 a
1853 foi freqiientada pnr 970 alumnos, con-
tados individuahnente, incluidos os do lyreu ;
e as matriculas na universidade, incluindo
as repetidas nas faculdades, e sciencias na-
turaes, e algumas em posilivas, foram 951.
D'estes perderam o anno 96; nao fizeram
acto, para que ficaram liabilitados, 104 ; foram
approvados nemine discrepante 687, e sim-
pliciter 60; e foram reprovados 15; forain
premiados 28, e tiveram honras d'accessit 41.
Tudo se ve circumstanciadamente pelos map-
pas da secretaria, que acompaniiaraui o
— 18S4. >"rM. 5.
'tUlS^*-^
54
relalorio. O l)'ccii loi frequentado por 316
alumnos; e fizeram-sc 1:247 exarnes prepara
lorins paia maLriciilas na iiniversidade, iios
quaes t'oram approvados neniine discrcpante
7CG, simpliciler ^2b!i, c ri-provados 226.
A receila de propiiias de niatriculns, e cartas
de formatura iiiiportou em I9;243j^l76 rcis,
0 a despesa toda da iiniversidade em pcs-
soal, material, c expediente importoii em
J3;670;^880 reisvindoa ficar solire o tliesouro
^OInenle a despesa de '6i^A^Q7:70b. Custou
cada aliimiio incliiiiido os do lyceii, ao thesou-
ro 35,^492 A'., reis.
No relatorio d'esta scc9rio d'inslrucgao su-
perior, apresentado em owlubro ultimo se dis-
se, que o conseilio superior estava cuidando
dos projcctos de regulaniento para desen-
volvimciUo e execucgfio das leis de 17 e 19
d'agosto ultimo; mas agora declara-se que
Ja ambos forarn devados a soberana presenja
do S. M., scndo uiu — sabre jubila^oes,
aposenla^oes, vencimentos dos professores em
casos de liceuga, moiestia, commissao do go-
verno, e dos substitutes pela regencia de ca-
deiras, — e oulro a cerca dos coiicursos para
provimento de substitutes extraordiiuirios na
Iiniversidade e proraogoes dos logares do
inagisterio superior. Alem d'estes regulamen-
tos expediram-se desde 17 de oulubro ultimo
ate' 2-1 do corrente por csta sccgao d'instruc-
5ao superior mais as 103 consultas, portarias e
otTicios constaiites do mappa da secretaria,
que vai junto ^ : no semcslre d'abril a outubro
de 1853 tinliam side 26 as consultas, e as
ordens para concinsos 64.
'Academia real das sciencias
Conservatorio real
Eschola Medico Cirurgica do Funchai
Dita de Liiboa
' Consultas :
Sobre propostas para cadeiras
n Iransferencias de professores ....
" aposenta(,'nes e jubilafocs com
augmento d'ordenado
>i V e continuajiio no magi-
sterio
n vencimentos
51 admissao a exarnes de Pliarmacia.
)! varies objectos e informes
Contra a rcpresentagio da Eschola
Medico Cirurgica de Lisboa propnn-
do a adop^ao dos e.tames vagos oraes.
Propendo varias providencias para ob-
star as cartas falsas no exercicio da
inedicina
Propendo a suspen^ao por 3 mazes do
Lente — Lima Leitao .
Com o regulamenlo para habilitajao
aos logares do magisterio na univer-
sidade e escholas d'ensino superior.
Com o projecto de lei para o restalie-
lecimento da cadeira de clinica cirur-
gica na taciildade de medicina(/{<;so/-
vida contra)
Com o projecto de lei para augmento
do pessoal na faculdade de medicina
" — » — para compra de maquinas,
inodelos etc, para a faculdade de
pliilosopliia
Propendo a separagao dos empiegos
de Cirurgiao ajudanle e Fiscal dos
liospitacs da iiniversidade
Portarias e officios para coiicursos, in-
formnyues e intima'goes
1
6b
T03
COMMEMORACAO.
Uma tri^te nova, atiavessando, lia pouco,
as vagas do oceano, veio envolver-nos o cora-
^iio no crepe da augustia.
Esconden-se mais uma existencia querida
no p6 do tumulo !
O astro, que scintilava com uma ku tao ,
vivaz, tocou o occaso.
Foi mais uma alma, que rasgando o seu
fragil involucro voou para o Creador. A
patria conta hoje de menos um fillio, o Ins-
titiilo, um socio.
O sr. Antonio Alves da Silva soltou o
derradeiro suspiro no fatal dia 19 de Janeiro
do corrente anno, sorrindo para a esposa que
o estremecia, e para a mae que o idolatrava.
Havia completado 31 aiinos. A sua morte
foi pungentemente sentida por lodos. A im-
prensa, tanlo do contincnte como d'liltra-
inar, esqueceu os odios politicos para tribu-
tar unisona a mernoria do distincto finado a
homenagem devida li virtude e a intelli-
gencia.
Is'os faltariamos a um dever sagrado, se
por Ventura n.'io viessemos tambem derramar
uma lagrima de sincera saudade.
Que de rccordai^oes nfio aviva aqui o nome
do sr. Alves da Silya, aqui, em Coimbra,
oiide die passou a quadra dourada da sua
curta pcregrinagfio, oiidea universidaile Ui'ex-
oruou a fronte com os laurels immarcessiveis
da sciencia, onde a anliga Revista academica
recebeu as primicias litterarjas do seu, entao,
esperan^oso lalento, onde o Institute, desejoso
d'esplendor, vendo-o ceroado pela aureola da
gloria, o cliamou para o seu gretnio, e o
considerou sempre, como um dos Ijibos mais
predilectos I ?
Jii que nao podemos ir ajoelliar sobie a
camjja, que occulta as suas cinzas, mur-
muramos uma prece fervorosa pelo eterno
repouso da sua Candida alma.
T0BBE8 B ALMEIDA.
-* v>^>:^'<w<.; ->,—
r*^
55
A CONCORRENCIA.
O elemento economico, urn dos ftindamen-
taes da ordem social, tern lido scrnpro uina
grande missfio a cumprir — a fusfio das indi-
vidiialidades, e das na^oes : aquella inani-
fesla-se mais particularrnente na iiidiislria e
no commercio inlerno; esta, no conimercio
exlerno. Desde que a indiistria sn relegoii
para uma classe despresada e oppriniida, ate
que foi emancipada pelas conqiiistas da egiial-
dade, que vasto e vaiiado quadro se nos
nao apresenta ? O escravo no eigastulo, o
servo adstriclo a terra , o operario vergado
debaixo da prepotencia do privilegio, sfio
phases de opressao que, tristes sim, mas pro-
gressivas em seus effeitos , forarn preparando
para o future a absoluta emancipajfio social,
o nivelarnento peranle a lei.
Hoje que o credilo e a industria sao uma
potencia donde se pode esperar que nasija
um dos maiores elemeutos de inelhoramenio ,
a delertnina^ao da sua marelia e uma quesliin
vital para a snciedade. j Que alrazo nao pode
resultar d'uma errada dirccgao? Ifespaulia e
Portugal alii estao a dar-nos djsto irrecusavel
e triste testimunlio.
Eslabelecida e garanlida a propriedade in-
dividual, reconhecida, jjor isso, a legitimida-
de do capital, mil questoes , tndas iuiportan-
les, se aprcbontam no campo da economia
applicada ; mas entre ellas levanla-se uma,
que as dornina todas, e a da concorrcncia,
laulo interna como externa-] queslao que so
pode ser apreciada em face dos principios
que expendemos de direito social , ns quaes
doterminam a acjao do Rstado, influiiido e
deleruiinando loda a vida da economia social.
A queslao da concorrenoia pode ser enca-
rada debaixo de Ires aspectos : em relaoao a
sua nalureza, indagacao loda subjectiva , ou
transoendente ; ao estado actual da socieda-
de ; e a sua sorte fiilura.
j A questao da concorrencia sera a queslao
da hberdade, a mellior con']uisla da epocha
actual, a ullima palavra do prngresso, o statu
qxin para todas as gera^oes fiituras ? Ou pelo
conlrario, filha do individualismo, e niae da
pobreza, sera a concorrencia nm syslema de
exterminio, uma tyrannia infaligavel para o
povo, e para o rico um ameago permauenle ?
Sera a morle da familia, pela miseria que
vai derramar em seu seio ? Iia buscar ofillio
do pobre ao bergo para bem deoressa Hie
soffocar a intelligencia , e depravar o cora^ao ,
ao passo que Hie roe ocorpo? Sera finalmente
a concorrencia uma causa niinosa para a
burguezia, logo na sua infancia; a senten^a
exterminadora do principio da egualdade?
Em nosso entender, encarar assim a que-
stao e collocal-a n'um falso campo, donde
resultarao sempre consequencias exageradas ,
se nao lalsas para ambos os partjdos. A con-
correncia nao e nem a melhor conquisla da
intelligencia, absolutamente fallando : nem,
t'lo pouco, o penr elemento das sociodades
modernas, que haja de as conduzir ao precl-
picio — in medio consistit virtus.
As epoclias provocani os elemenlos sociaes ,
e estes trazem a mudan^a das epoclias. Re-
provarabsolulamenle quaesquer daquelles ele-
meutos cm si , sem indagar as causas que os
provocaram , as circumslancias, em que pre-
dominaram, as consequencias a que condu-
ziram, e sem apreciar, em sum ma, todo o
nieio social , em cujo centro se dcsenvolve-
ram, e querer recusar a obra da humauida-
de, langar sobre ella o stygma d'uma ropro-
va^ao absoluta, e, aproveilando-nos dos seus
traballios , nao querer bemdizer a niao bene-
fica que os prodigalisou ; e legar um Iriste
exemplo as gera^oes I'uturas, que egualmente
nos poderao pedir contas dos nossos traballios,
e despresando-os, lanijar sobre sobre nos o
analliema que fulminamos contra as gerajoes
passadas.
ln^lilui5^lo alguma social, embora defei-
liiosa em si mesma, deixou de convergir para
o futuro desenvolvimento da liumauidade.
Esta nao progride senfio pela lei da serie, e
pnr isso qualquer elemento social exige que
o analysemos em liarmonia com o meio em
que se desenvolveu , e que o provocou. E o
que succedecom a concorrencia: germend'uni
grande desenvolvimento social , apresenta-se
nns como um elemenlo de transijfio que aca-
bara, logo que tenlia realisado o fim a que
se dirige.
■^ Porque ordem de successoes desde os pri-
nieiros tempos liistoricos, nao tern passado o
elemenlo que linje cliamamos burguezia'!'
Sujeilo ao duro dominio do senlior na anli-
guidade, realisava, como escravo , os mesmos
misteres cpie hoje cumpre como livre ; ffuarn
por uma parte necessaries seciilo^, e todos os
Irafialhos tlieoricos d'uma religifio de egual-
dade e amor, todas as lucubragoes da pliilo.
sopliia ; e por oulra parte , toda a importancia
resullanle do seu aiigruento parallelo com o
enfraquecimento dos sens doruinadore* , para
que elle alcangasse saeudir o p6 da abjccjao,
e respirar n'uma almospliera mais livre. Mas
esles passes ainda o nao emanciparam de lo-
de : se o escravo da antiguidade nao permaue-
ceu lao ligado ao sonhor, foi para ficar prozo
a terra pela servidao da gleba. Elemenlo
vicioso, como as prelerilas formas sociaes, n
feudalismo nSo podia aspirar a perpetuidadc
sem dar um desmentido anaUireza liumana ;
linlia de caliir aos golpes da philosophia dos
seculosXVII eXVIlI : foi o que suc-cedeu ;
e a burguezia sentiu aproximar-sc a liora da
sua emancipa(jao, com e cahir do privilegio.
Pore'm e desmoronar do principio feudal, e
do privilegio levou, coino ja niostramos, an
principio da grande centralisa^an, que, como
meio forte para fazer face as tendencias reac-
cionarias do individualismo poderoso queaca-
bava de ser derrecado, foi antes uma ncces-
sidade do que um abiiso. Com quanto porem
jO
dcilii vicisem bens relatives, porque em gran-
de parte t'oram ossas as toriiias provdcaclas
pi'las lu'CPssiiladus das epoclias, isso iifio im-
pediu tpio sirndliaiUes foruias iiivolvessein em
.-i vicios radicaes, q\ie apressarain cada vez
iDais a sua riiliia. A liiimaiiidade iiao para.
Apeiias euiaiiripada do domiiiio do privi-
le^'io excliisivisia , a biirf;iiezia ii'io nos pare-
ee haver-se acliado desde logo preparada para
I) systeiiia nidiislrial a que a iiossa epoclia se
encaiiiiiilia, o qual symbolisa o fiiliirodasocie-
dade, o triuiiipho seifuro da iiidividualidade.
l)e fiijlo, iiiio teiido cessado rapidameiile os
elomeiuos quo, decaliindo, davaiii loijar aos
iiovos , porqcie lal ea iiaturoza dascoiisas,
t'jia iiiflueacia secimdaria que os velbos ele-
nientos de t'or^'a ficam exerceiido em os no-
vos , coiiatitue a parte que priiueiro scvai,
em cerlo modo, gastando, e cedeiido li ac<;ao
do novo principio, e assim progressivamenle :
e per isso que; a queda do privde^io nao
arrastou comsigo todos os tnonopolios, que no
systema actual constituem a sua auonialia.
Aproximando estas con=idera^oes geraes da
organisa^ao inoderna da socicdade, e espe-
(.•lalmeute d'uin dns seus elementos vjlaes, a
concorrcHcia, vemos nesta, nao obstante os
alaques que so Hie teni tVilo, o elomento que
ha de provocar no futuro o systeuia da graa-
de associaijao livre.
'J'odos OS elementos que conlradizem a
constltuiy.'o moral do homera, sao, por isso
io, anom.'ilos na ordeui social, e quando lega-
lisados, tpem sido elles que, pela major parte,
derail! origem aos successlvos cataclysmos
por que a ordom social lem passado na suc-
cessao dos tempos. A liberdade e' um desses
elementos tonslitutivos do homem, que e mis-
ter respeitar sempre; d'outra sorte desceria
a personalidade da altura em que deve deseu-
volver-se: assim e one a liberdade de impreii-
sa, a liberdade de suI'lVagio, e de reprosenta-
^'ao, a liberdade de cojisciencia, a liberdade
de escollia em todos os fms liumanos, quando
nao Iranscendem os lindtes do direilo, sao
conqui^tas theoricas, que a liumanidade nun-
ca mais abandonara, mas antes procurara
alcangar-llies garaiitias reaes. liste principio,
em nosso entender, niio pode solfrer excep^'fio
abioluta e radical em qualquor dos meios,
que o homem empregue para realisar o sen
destino sobre a terra; elle e que deve servir
de guia no exterminio das anomalias, que
impedindo a sua acjfio desafrontada, causam
perturbagoes, que nao contemplaremos agora.
Se as conquistas progressivas da liberdade
se devem os passes que a liumanidade tern
dado desde o sea comejo, cada um dos quaes
e um tesljmunlio indelevel do predorninio da-
quelle |)rincipio sol>re um ou outro ramo da
activid>ide bumana na sua realisajfio exterior ;
pretender agora destruir esse elemenlo natu-
ral do homera, e do progresso, desde as pri-
meiras idades, e pretender iiuo so buscar um
meio de aperfeigoainciito liumano n'uma mu-
tilajao, mas ate despresar os Osiorjos foitos
pela liumanidade, de-de o sou berjo, para
obter a sua eniancipae^ao; d utn delirio simi-
lliaiite ao da preteudida I'olicidade d'um esla-
do de natureza i'cira da sociabilidade. Ao
nossO parecer, pois, todus os eusaios repressi-
vos da justa liberdade para nielliorarom a
soeiedade, levariain ao resultado oppoato. O
reinado da cecraviiJao ja vai tao longe que
nao iia retrogiadar para o seu principio fun-
damental; no I'uturo, nao ja uo passado, e
que esta o destino da soeiedade; o passado
eiitra na graiide evolu^ao social coma meid
organioo, e iiuuca eomo tim.
Em nosbo tempo uns exaltam a liumanida-
de ate o extremo, esqiiecendo-se das suas im-
perfeiyoes, desconliecondo ate a pujsibilidade
de novos progressos; outroa, laii(,undo mac
dessas iiiiperf'r'ier,e>, deprimem a liumanidade.
ati' o aviliauieiito. O ipie notamos na aclua-
lidade acliainol-o cgualiiieiile realisado nas
apreeia^oes do passado: Jlerder e Dunoyer
attacaiu l{nma de IVeiite, e ella parece suc-
cumbir ao5 srusgolpes; Montesquieu c Lau-
rent engrandocem as suas vittudes, e ella se
nos niostra oomo unia republica de heroes,
j Haverii tal coiitradij.io no campo da reali-
dade ? Por certo que nao : e porque uns apro-
veitam os claros, outros, as sotubras do qua-
dro.
Similliantemento, na ordetn industrial nao
tem I'allado escriplores, desde remotos tem-
pos, que teidiani atacado a iiiduairia conio
iiieoiiciliavel com oespirito de liberdade. Nas
primeiras epochas da soeiedade, a indiistria
era alacada por servir de obstaculo us pai-
xoes guerreiras sobre que se bascava a soeiedade
de entao. Alais tarde notaram-se-llie os def'ei-
tos opposlos, e a industria t'oi considerada
couio um incenlivo para a guerra : o raal
d'um estado commerciante e o ser condemna-
do a fazer a guerra, diz Bonald ; o que cousti-
tue o |)roveilo d'um, causa o dainno do ou-
tro, argue Montaigne; se uma fortuna se
augmeiila, e mister quo as outras se dimi-
nuam, condue (.ialiani ; Kousseau nao acre-
dila que na soeiedade possa haver inleresse
eommuni. Por outros a industria e accusada
de ser um principio de duprava(,ao , materia-
lisaudo o homem; de malar a )magina(,'ao e
o gosto ; de substituir o ideal por uma reali-
dado grosseira, depravando as artes da mesma
maneira que corrompe os costumes. Outros,
pelo contiario, veem na industria o mais po-
deroso elemenlo civilisaclor ; ocentroem roda
do qua! se tem desonvolvido a hiimaiiidade,
0 ate, sem se elevareni ao ideal da industria,
veem nolla a imagein da realidado, a que
julgam unicameute dever attender-se. Mas
nos ainda diremos que do anibas as maneiras
nao se I'az uma exaeta idea do eleincnto in-
dustrial. Os primeiros alliibiiem I'l industria
o que nfio podo ser coiisidorado como sua
cousequencia necessaria , mas sim o resiillado
de mil circumstancias viciosas, ipje mancliam
57
a sociedaJe: os ses^iindos dao nnia errada
idea de industria, n.'io se elevatido aos priiici-
pios siiperiores que a doniinadi, e nfio apre-
ciando as conseqiiencias civilisadoras a cpie
conddz otrabalho intellipente.
Conlirtiia. i. B. da s. f. de c. MARTENS.
A POESIA SLAVA iNO SECULO DECIMO-NONO
SEli CARACTEB E SUA OllIGEM.
O facto mais notavel da historia das litlcra-
turas slavas no seculo XIX, e o de voIuuxmii
outra vez a poesia de ra^a e us origeas po-
pu lares. O respeito pelas tradi^oes aacic-
naes, e que distingue essenciahneiitu o inovi-
meiUo actual destas litteraturas dos periodos
d'iinitafao e de teiilativas iricolieieiUes que o
precedeiain. Dcade o seculo XV ate ao seculo
XVllI pode com et'felto alfiimar-se, que a
poesia Slava, nos seus rrionuuientos escriptos,
nfio passou de unia reproduc^ao, mais ou
menos fiel, das litteraturas da Europa ger-
manica ou latina. Pelo cniitrario no secido
XIX, uina vida nova se infiltrou nesta poesia
e o gouslo ', restituido ao aprejo antigo por
grandes poetat, foi substituido, coino f'onte
d'inspirayfio, as influenciasestraiigeiras. De=de
entao. com o elemento uacioiial, a origiuali-
dade e a vida se mostraui tauto na litteratura
escripta dos Slavos como na sua poesia po-
pular.
Eate novo despertar, que ainda se esta coin-
pletando debaixo dos no^sos olhos, todo eate
moviniento contemporaneo de renascencn, e
para onde desejamos parlicularniente dirigir
OS nossos estudos.
Como e que se operou este moviniento;
como e que alcanrou triumpliar esta intliitu-
cia do goudo'^ que rela^oes se podiam esla-
Lflecer entre os novos poetas e os cantores
pcpulare= ? E esta a primeira questfio que
cumpre e.Naminar, e que nosobriga a aio^trar o
latjOque liga a poczia doa rapsodas ou gouslars,
que e lioje a base da poesia coutemporanea
dos Slavos, a vida desles povos, e as suas
crenjas mais vivas. Se conseguinnos csclare-
cer este ponto, o estudo do movimento poe-
tico actual dos Slavos deixara de ot'ferecer-
nos obscuridade. Coinpreliender-se-ha entao
como a poesia dos sabios soube aperfeigoar
OS elementos foriiecidos pela poesia cantada,
e sera facil recouliecer asobras que resullaram
desta alianga da inspirajfio natural com o
geuio disciplinado pelo estudn, enriqueoido
pela sciencia e pelas experiencias modernas.
I.
O segredo deste imperio que o gouslo esta
lioje exercendc, acha-se no proprio caracler
* Llt\a\xo deste nonie coraprehende.se a poesia nTio
esc-'iptii, cle que os rapsodas tla\u>. tocadores du gouslo
ou goiis'a, sau os depo.*Uarios.
de ra^a, cujns inetinctos elle re(lect<' pro-
fiindamente. E por issoquco genero do maravi-
llioso ou do ideal que llie e proprio se resume
n'uui culto geral da naluicza viva, e este
culto e' a feicj-ao dislincliva das popula^oes
slavas. Podem parecer extravagantca as
superstigoes que perpotua, mas li cerlo que
conservam a nacionalidade ; pelo eiicauto das
alias recordacoes, ellas relevani aos cllios dos
opprimidos as tristes vulgaridades da sua vida
actual. Lavradores, mais que ludo, os Slavos
acliam-se por mil modos ligados com os
plienornenoa do muiido pliysico, sobre os quaes
o sen genero de vida os obriga a ler os ollios
constantemente abertos. A sua poesia aclia-se
assiin compenetrada com o caracter das esla-
5oes, com a cor dos lag-os, das nuvens, das
florestas, e do proprio solo em que se radicou.
Os Slavos como que tern conservado uma re-
corcla5rio vaga daa antigas cren^as da metem-
psvcoae, e nas suas legendas dao sempre
aiiimagfio a toda a natureza.
O papel que diatribiiem as feiticeiras ou
vilas corresponde a esta lendcncia do genio
slavo. N.ao lia fonle, nem collina, que nfio
teiilia por guarda uma feiticeira ou vHa.
Eatas nymplias erase represenlam propicias,
ora inimigas; cavalgam atravcz das florestas
em animaes incantados . a noite dansam todas
em roda a borda dos ribeiros; tomam-se as
vezes de amores pelos mancebos, mas niinca
se deixam apanhar. Como as vilas, tambem
as aves sfto objeclo d'lima especie de culto.
Contam as mullieres servias como uma me-
niiia, que perdera sen irmfio, iiuncase piidera
oouaolar; e a for^a de gemer e cliorar, acabou
por ser transformada na ave lastimosa a que
lioje se da o iiome de cuco. Eata ave e o
syiiibolo dos funeraes, e muitas vezes se en-
contra represeiilada na cniz dos cemiterios.
Na Piussia, na' Polonia, por toda a parte,
o grito do cuco faz nascer presentimentos
bigubres e aniiunoia as desgra^as das familias.
Em quanto ao rouxinol, syniboliza para lodos
OS Slavos a tristeza; e quando de noite se ouve
a sua voz, e p-ira os amantes urn presagio
d'iufidelidade. E por isso que se le n'uma
krucovkika ' ; n Fallou verdade a avezinha
melodioaa que, esta noite, no bosque, me
annunciou trail i(;'io ! — Nfio, nao sera a mi-
nlia noiva, aquella que lan^ou a oulros um
olliar de meiguice. As aves apparecem muilas
vezoa feilas mcnsageiras de Deus. Os Bui-
garos conhecem nos seus Balkans uma especie
d'aguia, que dizem parte para o Jordao,
qiiandosellieapproxima a velliice. Banliando-
se no rio sagrado, recupera uma plumagem
branca, e vojia para as suas monlaulias pura
e remogada. D'alii a origem da aguia branca.
Em todas as can^oes guerreiras dos Slavos,
o cavallo faz sempre para com sen amo o
papel de conseilieiro, de sen companlieiro in-
telligente. E assim que Marko, o fillio dos
^ Canliga para dan<;a.
58
reii on krals, consuUa a 5iui cavali;adnr.T, o
I'amosn Charats, iias circumstanciaj dilUccis.
E c C/iarals que clioroso aniiuncia a Maiko
que lucve vae morrer. Quein iifio coiiliece as
apostrophes conlinuadas do giierieiro polaco
ao seu cavallo? Qiieiii igiiora que os Cosacos
do Don amain os seus cavallos quasi coino o
Arabe ama o seu. A niesma iiispirayfio que
por esla foruia idealisa os animacs, iiiulliplica
as person ificajoes da naluieza iiiaiiiinada. As
ujonlaiilias, os rios, tomam parte tauto nas
alegrias torno nas penas do liomem ; auxiliani
OS heroes com os seus consellios e combateni
a par delles como os deiises d'Homero coni-
baliajn a par dos Gregos. Assiui, no canto
bolieniio de Zabin, os rios que o exercito vi-
ctorioso vae enconUando successivamenle na
sua passagem, sepullarn nas suas ondas os
Aleinfies, e lanjam os Tcbeki)S saos e salvos
sobre a outra margcm.
O Danubio interrogado rcpelidas vezes
pelos Servios, responde quasi sempre inoroso
e aspero, em barn)onia com a lurbulencia
das suas aguas. n O'Danubio, rio proCinido,
por que assim corres tain fogoso ? l''oi o veado
com as suas pontas ou o voievoda Mirtclieta
com a sua langa, queni te ha turvado a
limpidez da tua corvente ? NTio e o veado
com as suas ponta«, nem o voievoda Miit-
ohela com a sua lan^a, quem lurva o cristal
das minlias aguas; sao essas raparigas mal-
ditas, que, todas as manhas, veni ;is niinhas
margens arrancar flores, e lavar as suas
brancas faces, ti Represenlam-nos o Danubio
como muilo amigo das dangas ; tem-no em
conla do piimeiro niestre de niiisica dus Inca-
dores do gousle j e e elle quedirige os choros
Iriuinpbantcs dos guerreiios. Esta considera-
jao dada aoseu rio pelos Illyro-Servios eslen-
deu-se ate ii Russia. Um arclieologo de Mos-
cou, jNIalsrul', no seu livro das tradigucs rus-
sas, cila uma cangfio de mvujik, que diz :
^. Danubio, Danubio nosso, os mogos te con-
vidani a que venhas presidir-ilie as dangas, e
assentar-te nns nossos Cestins. O Danubio, o
joven Danubio veio assistir as nossas festas
religiosas, assentou-se com nosco nos ban-
quetes, e tocou-nos lindas cantigas para a
danja n Cumpre porem nolar que para os Rus-
sos e' nas margens do Danubio que de ordinario
se pafsain as scenas mais lugubrcs das suas
legendas, o assasinato dos seus heroes, a der-
rota dos exercitos, ou a desesperagfio das
raparigas abandonadas pelos seus arnantes.
Para os Russos, o Dan\ibio e um rio inimigo;
ao contrario do Volga que e uma ribeira toda
amiga e benefica. Chamani-llio em todas as
cangoes a mde volga, do niesino modo que
OS Alernaes chamain pae ao Rlicno. O
Don e tambein para os Russos o objecto de
um culto snperslicioso. Um poderoso genio
preside li sua origem, nas profundezas do lago
de S. Joao, perto de Poula, na Jloscovia.
O Don, como um fdlio docil, obcdece ao
inqjulso palerno; corre tranquillamenle pelos
steppes, e entra no mar com o norac de rio
manso ( Tskhy-Don.)
FiMaimcnte na poezia do gouslo, as estrel-
las, OS ventos, as doengas eo raio fidlain, teai
paixocs como o liomem, eentram como actores
na sua vida quotidiana. Uma cangao servia
da Bosnia mostra-nos uma menina, que,
erguendo-se, sauda a eslrella d'alva e a in-
terroga sobre o seu noivo.
II Salve ! estrella Danitsa, minha irman !
Tu que passas d'oriente aooccidente por cima
do Ilerlsegovine, ves lu la o men voievoda
Stevfio ? As porlas do sea bronco Iconak.
(palacio) estilo abertas? Manda clle sellar o
seu arabe fogoso ? Estii a armar-se para vir
ter com a sua noiva? — A estrella Danilsa
Ihe responde com suavidade: — Minha linda
irmaiizinha, eu vou de oriente a occidente,
passo lodas as manhas por cima de Her-
tsegovine, e agora estou vendo o hello voievoda
Stevfio defronle do seu konak. As portas
brancas do seu palacio eslao abertas; o
seu cavallo de telizes doirados o espera todo
enfreado; o heroc arma-se para ir ter com a
sua noiva escoUiida. Mas essa 'noiva, nao es
tu. ))
Contim'ia.
VM BANHO NO TKJO.
e logo jiresa
A vontfide senti de ttil iitnncirn
Que inda nao ainio coitsn fpie mats f/ueira.
Camues,
Tt'jo , Tl'jo , oncle levas tnas onHas ,
Que as quero seiriiir, qiiero puiiil-as
IJt; inisart'in . loiicas , imprimir mil l)eiJ09,
Nas puras lares , nas donraiias tran(;aa ,
No niveo cullo, nos airosos brai;o3 ,
No peito virf;:iiial <lo Iiem que adnro.
Mais oiisarani as Iciiras ; mas nao posso ,
Nilo me qiiero lenihrar do mais qne ousaram.
Malilitas onrlas , caslijrar-voa quero,
Quero luclar comvosi'o, ou\ir o pranto.
Que, domadas por mim, em \ao sultanles,
E se tal nao purler , ondas , matae-me !
Matae-me , por piedade, qne nan quero,
Nao posso raais Tiver. Ouvi mens rogos !
No peito me opaiiae o fo^o vivo
Que mil raorles me da , sem niinca a vida
De todo me lirar. Oudas , matae-rae !
Arrojae-me depois a praia i;;nola ,
Qne dos homens, jamais, solTresse o trilho ;
Alii deixae-me, qnal gelada roctia,
Expoato ao temporal , endiora leuha
O ceo por campa , por nuTtaUia o lOdo,
Por preces , o carpir do mar profundo.
E tu , mar que me escutas , se al;::um dia
Tn gosares tambem Ventura tanta ,
Nao permillas , o mar , por este pranto
Mais amariro ipie o sal das ajruas tuas,
Nao permillas que as onrlas, que me mrdam,
Depois de Iteijrrs mil , vao sobre a praia
Cnspir a injuria vil na face fria,
E o morto cr)rai;fSo pisar fol^ando ;
Nar) permillas, prris lemo que ao senliNas,
Mornas ainrla do rol:,'ar conlinuo,
Deixe , mau erado men, a paz da campa,
P'ra de novo soiTrer , viver de novo.
Lisboa ]84. . . .
59
SECglo DE MATHEMATICA.
Principiamos a publicar na cnnfoimidade do que se dissc a paginas 1.* e?.*, um traba-
llio iililissimo que obtivemos do snr. Rufino Guerra Ozorio lente catliedratico da faculdade
de matbemalica , per quein foi feilo quando na qualidade de lenle substitute da cadeira de
hydraiilica explicou as respectivas doutrinas pelo tfalado de raeclianica de S. D. Poisson ,
onde no liydrod3'iiainica e acustica , julffou necessario para niellior intelligencia do livro,
introduzir esta importante amplia<;rio soljre intcfjraes definidos com formulas, que servetn
para determinar as circunistancias do tnovimento de uma corda ou vara elastica; e tainbem
as do calorico nos corpos liquidos ou solidos, em casos parliculares ; e as do ar nos tubes
cylindricos. Os RR.
INTEGRAES DEFINIDOS.
1. Siipponhanios que ^(x) nao e iiifinita quando x e igual a x^,'oii a a:„, ou quando
,r esta coinpreliendjdo entre estes limites.
Dividamos x„ — a?^ em n paries, em geral 5 desiguaes, e sempre mui pequenas em
coinparajao de x„ — x„. Designemos por S,, ^., 1?,, $^, . . . . , S„ a estas partes; de sorte que
seja x„ — .r,,^ J,-|-*,4-,y, + 5'„.
Ilepresenloino3 por 4i(^) uma funcjao deseonhecida de x, porem ligada a (f{x) pela
seguinle igiialdade :
(1) d. ^(a;) = ip (x)dx.
Trataremos de deduzir algumas formulas, por meio das quaes se possa calcular
•i {x„) — i^C-^o) com uma approxima(;ao indeflnida; quando for conhecida a expressao analy-
lira de <f{x), ou quando rf{x) e as suas derivadas forem quantidades dadas.
Fa^amos por brevidade ,r„+ *,^=a:,; a;,+ <?, + J^^^a;,; ^■^o + ^.+ '^i +^„=^,.
Pelo tliporenja de Taylor achareinos :
H^,) = H^.) + ^,tM + l^v'M + Y7rj'f"i^')+--
H^,) = i{^,) + ».9(^,)+^9'i^.) + j§j9"i^.)-
n^.) = ^ (^0 + ^. t C^J + {f,'e'(^,) + T^l! *" (-^'^ •
Sommando e reduzindo, obteremos:
+ etc.
60
For quanlo (a-„_,)=:a-„ — ,J„ , e ,j,(.r,_,) = ^(.t„— ^„) ; poderlaiiins ti-r procediilo
seguinte modo :
Das quaes equayoes lirariamos, como acima:
— j^[J;o'Gr,) + .j:<?'(^.) + ^>K) + K,'{x„)]
— etc.
Se fizermos j^ =^j:= .S", = . . . . =^n 5 e designarmos por cj sua commum grandeza ;
lauto a equagfio (2) como a equa^ao(3), poderao escrcver-se :
(4) <- (-r.) — * (■^o) = ^ 2 vI-J-.) + , „ 2 ¥ ' (^O + 7-^ 2 9 "Uo + etc.
(5) -K-^O — '!'('^J = *2'9C^.O — /:j29'(^.)+T^2?"(''-0-'=Lc.
Cada soinma indicada per 2 t^ni " lermos que se formam , na primeira equajfio , dando
a i todos OS valores desde r=0 ale i=n — 1 ; e e isto o que pertendemos indicar, pscrevendu
2 anles de 9; do mesino modo discorroreraos a respeilo da segunda equa(jrio.
Sotnmando (4j e (6), e reparlindo por 2, tacilmenl.e acliarfmo^ :
(G) K-^-") — 'K'^.)='^2¥(.n) — — [a(.r„)+,p(a:Jl
+ t5i S" ^'"^ ~ lit' "^''" ^ + ' "^''"^ ''
Farainos )n = a{x„') — oG^o)- »«';== o ' (j^™ ) — o'{x^): m'' := o'' {.t„) — o"(a:J: elc. :
e tanahem >^,= 29'(x.): -</,= 29"Gri) ^ y^3= 2 ? '" (^J-O ^ etc. A eqiia^ao (-1) dara as
(=afO i=»0 J=0
segiiintes ;
61
I'or liieio destai equajoes, obleremos ;
^ ^- f.1 M ?.l
iJ, = m - -m' + — m'- ,73;jy^ [m"- - ^, - cLc. + j^ ^„ + elc]
For ciinseqiieiicia , aprovciundo as sexlas potencias de i, viid:
Da eijtia^'no (7) deduzem-se as seguintes :
l.'i.S - 1.2.3 1.2.2.0 1.2.3.2.2.3 1.2.3.2.3.1.0.G
■ ^ r^ 7n" 7n"' + 771"
1.2.3.4 = 1.2.3.-1. 1.2.3.4..3 ' 1.2.3.1.2.2.3
1.2.3.1.0 ' 1.3.3.4..D 1.2.3.4.0.2 ' 1.2.3.4..i.2.2.3
1.2.3.4..X6 '"'"'" 1.2.3.4.5.G~"'' 1.2.3. l..£).(i.2
v4. =:: 771'
1.2.3.4..D.6.7 '- 1.2.3.4..3.i;.7
62
Sommaiido todas estas eqiiajoes, e representando por .S' esta soonina, acliaiemos
S=:m — — m' + m'" , — ni* -
2.2.3 2.3.10.6 2.3.2..J. 4.5.6.7
Pondo em 6' os valores dc m, m', iii,'" , etc., e escrevendo o rosultado cm (1), coii-
cliiiremos :
(«) n^")-H^.) = *'ir(W; + ^[<p(^.)-?(^„)]-|^[9'Cx„)-?'K)J
H U"'(ar„) — <p"'(a; )] — ■ ^^ [9* (.r,.) — <f' (a:„)|
2.3.4.5.6'-* V ; f ^ ,.;j 2.3.2.3.4.5.6.7 1-* ^ ' ^ ^ "'^'
Despresando iiesta eqiiagao os termos multiplicados por y', y, etc. , fjcara :
vl'^'.j— vl^o; — ^ H ;3 1 5 "^ ;^ i
i(^„) = ^ I
Se OS ^ sfto Ifio pequenos que podenios considerar, como linlias rectas, as por^oes itc
curva, comprehendidas entre duas ordenadas, separadas pelo intervallo*, leremos
y(jr,)+pG-»^.+.) _ pr,+.-r,+. p „,Q5 _o acharemoi :
Se (p (a;) niio tor dada por uma expressao analytica de forma conliecida , e somente
tivcrmos em numeros os valores della, naopoderemos acliar em (8) o valor, ^j, (jz-„) — i!/(a:J,
aproveitando os termos, em que cntra S', islo e', aproveitando -^-r [?' (-^n) — f'i'^o)]' porque
3.4
nao podemos formar as derivadas o'(,r;;), ^'(a;^). Trataremos pois de remediar esla dilTi-
culdade.
Sendo OS i pequenos podemos suppor que a curva representada por if[x) se confunde
sensivelmenle com a curva parabolica a-\-bx-irCX- em cada exlensao '2^ da abscissa.
Seja i um numero inteiro posilivo, a hypolbese precedenle reduz-se a dizer que
<p[x) ^= a -{- bx -\- cx^ para o valor de a:, desde x-\-i^ ate' a; + ;> + 2<!' incliisivamente. Os
paramelros a, 6, c, variarao com o numero i; e com elles podemos, para cada numero i
fazcr passar <f (x) = a -}- b x -\- c x'^ por os tres pontns, correspondentes as abscissas
.T -{-is : x-\-iS- -{-S : jc -\-iS-\-Q,S : isto nos permit le alcangar a, b , c para o indice getal i.
Para termos um numero exacto de arcos parabolicos, que correspondam a hypotliese
do que cada um deiles passa pelos ponlos respectivos a .r -)- z> : a? + z^ + ^ : jr + !> + 2J :
admittiremos que o numero dado de ordenadas e impar , nu que ar„ — Xo se compoe de uni
numero par 2m de paries iguaes. Ora ou o numero dado de ordenadas e impar, ou se
pode reduzir a isso pela interpolagao.
Posto isto, sejam a, 6, c, os parametros, que pertencem ao arco parabolico, que
passa pelas extremidades das ordenadas , cujas abscissas sao x + iS : x -\-iS--\- S : x-\-i^ +2^ :
teremos :
? (or.) =0 + 6 (.r„ + / S) +c (i. + tS)':
^{x,^,) = a + b{x^ + iS + S)-\-c(x,+ i&-lrrj':
logo «, (T.+,) - 9 (.r,.+.) =: 6 ^ + c [2 x„ + J (2.- + 3)] * :
'9 C^i) - (2'.) = 6 * + <^ [2 ^. + ■^ (2/ + 1 )] -J •■
ou 9 (^'0 — 2(p (cr,.).,) -[-o(.r,.).3) zsSciJ' : que eo mesmo que:
63
(10) 2[y(x,) — 29(^.+,) + t(^.+^)]=4«*'-
As derivadas de a (jr) dfio :
/(a',) = 6 + 2c(a„+i/)
(p'(a.-,-j_,)=:6 4-2c(a;„+J> +2^). Destas duas equagoes resulta :
(11) S[cf'(xi+,) — f'{xi)] = 4,cS-
Das equagoes (10) e (11) conclue-se :
(12J ,' (a:i+0-9' (A) = ?t?(xO-2o(.T.+.) + <p(.,V|.. )J.
Da equa(;ao (12) deduzem-se as' /a seguintes :
y'(,r,)-v'(i-,.)=j[9K)-29(^-,)+»(^:)]
^/(i-J-9'(,rJr=|[9(a;J_2<p(Tj + v(^.)1
» ' (■s;-;™) — ¥ ' ('7::„_j) = y [ <P (^=».-;) — 2 9 («:,„_,) ± ^ (a:^„)].
Sommando todas estas equagoes , e reduzindo, acharenios:
2 f
<?'(--^=.")— 9'(^o)=7|v(^o) — <p(>2^:i:..) — 2[v(a.-,) + 9(^.0 + 'f(^Vs)---+¥('^="-')]
+ 2[9(^J + 9G'--,,) + 9K)..- + 9(^.-)](
Mulliplicando toda a equagao por -, podetnos-Ihe dar a forma :
(13) -il[9'(a:^)-9'(^J]=23[9(.:r.^)-9(^.)]
— -3 [9 (a:,) + 9(3'.) + 9 (^ J +9(a^::<»)]
A equac'io (8) pode pois lomar uma nova forma pela substituigao do valor (13); para
o que em (8) faremos n = 2m, e deapresando 03 termos , em que S entra iia quarla
potencia, virii :
+ (-■^2^.)— +('^.) =*[?('^o) + <?('^.) + ¥(''^J + 9C'^j) +9C'y=».-.)]
+ 3-[¥('S,)+9('2^;) + 9(«3) + 9('^7) +9('2^:^.)]
— ^[?('^J + ?('^J + 9C'^\) + 9('Z^0 ■V'ik.Xz..)
, . + Y[?(-^2".)— 9(^«)]-
G4
Juiilando ao segiindo nicinbrn a quantidado nulla -f- -^t^(,r,„) — '— ,p(.i-j,„) ; junlandi;
— -., «(■?») a leiTciia liiilia , e + t?(^„) a quarta; acliaromos :
•«> * It '
— .:,[¥ K) + 9 (.2--.) + 9 (■^■.) + 9 (•^•,) +9 (.r,,) I
— tJ[9(^^)+9(^.,)]•
Iletlectindo n'csla somma, ve-sc facilmontc que:
A somma dos tennos coin iiidk-o irnpar, e:
+ J {2 [, Gr,) + a (.vj + 9 (^'J .... +;9(''-.™-.)l I :
A somma dos lerraos com indice par, e:
Finalmentc, a quarta linha podc esciever-se :
2i (I -I
Logo:
2^
-K-r.™) — 4'(^o) = y|[9(^,)+9K)+9('^-.) + 9(-^:) + 9(^-=".-.)]
+ [ 9 (■^o) + 9 ('^,) + 9 C-^:) + 9 (^-J + 9 (-Cj +0 (x,™) j
Ou tambem :
Qi c
(J'l) . . . . ^, (a-,„) _^, (^J = -|[^ (a;„)+9 (:i'.+^)+9 (^.+2'^)+9 {■^o+3S). . + 9 (a'.+ S;;)*)]
+ [ 9 (arc>+^)+ 9 (x.+Si) + 9 fx.+ &^J. . . . + , (.r„+ (2m-i;*)]
O primeiio multiplicador de — , na primeira linlia, e a somma de todas as ordcna-
o
dat : a segunda linha, contem a somma da scgimda, qiiorta, sexla,. ... , ordenadas ate d
pemdtima : em_ fim a ultima linha , e 3. scmi-somma das ordenadas cxlremas , tomada com
o signal menos.
Continua rcpino giebba OZORIO.
i) 3n0titiitir^
JOUNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
r
C.IIVERSIDADE DE COIlI!{RA-ftOGR\l!5I.lS.
FACULDAUE DE ME^CISA.
l8o3— 185'f.
2.° ANNO. _
CiDEIRA PB FHYSIoLOGlA C UVGIK.\H.
COaiPHNDIO J. J. DC M(-:LL0, PRI.IieiRAS I,IMTA3 DE
PHVSIOLO(»[\. J. r. V. gALa'aO — CUUSO ELCMUMAlt
Dij HV(;ir,.\r.
Lenle — Or. Jeronymo Josft de Mello.
PHYSIOLOGIA GEIIAL.
Defitii^^lo. Divisiio. Ente.o oriranicos, e aiiorcanJcos.
Caraclered cominuiis — tlilTerenci.ies— viila — inoprieiladns
vilnea — iirupri'-dadcs pli^sicaiS, e rhimirjts — relai^rio
(IV'stad e (Jas vilaes. ImiMinderaveis — ucruo d'esles iins
corpus vivos — Leis conslaiites do priiicijiio vital — vida
or;;.itiic.-i, e animal — Curao ciieiranios ao conhecimenlo
diis for<;a3 em i!;erdl— coiiio nos elciamos art daa vilaes.
Phi'iiouifiius coiumiins a ciilea or^anicos e aiiurganicus.
PIIYSIOLOCIA ESPECIAL.
San:;ue — qiinnlidade no homfni — qiieslSo dc homo-
geneidade — vid.i no s.Tni^rie — IransfiL^riu — furm.ir^to t\o
uanicne^compusirao physira — ronipusierio rliiuncii.
Circulanrio do sanpiif; — ireral — rt-.-pirator ia — ["-rt.d.
— CircnUi;iio nus \ejleln\idus — nos inverlehnulos — Cur i-
^iio ronsiderado como ceiilro de circnia(;rio — Acnstica
do corarao — Arierias ; sna ac^-iio na cirenla^rio — Syslc-
ma capillar rnliro — vcla-i ; aci^iio d't'stas na circuIn<;;"io —
Aci^to dus va^os no pruccsso da alisurpi^uo — caucus de
ubsorjn;.*io — dillcrenra de al;surp(;oes.
Lympha, vusos Ivuipliiiliros, curaro<^s lyniphalicos —
oritrem da lymjdia — caiisas do uiuviuienlo no systema
iympUaliro
Itespira^-fio — nos vertelirados — noa invertehrados. Pro-
priedadea do ar — Aijparolho regpiratorio — Prucesso e
lOCcliiMiismo — Hfiiialgse Theoria da rr-spirara.t — in-
finenL-ia i\va nervos na re?pirii(;riuj plienuuitu^s physici.s,
chimicos, c vil:ies ilcllx
Nulrii;rio — crescimrnlo — rt'L'pnera(;rio -:-Th(*ori,» da ntt-
lrii;ao — Processo nnlrilivu — Prurcssos re2:cneradoies.
*^'aIor animal — Analyse das diiersas theurias da caluri-
ficac^ao — DifTcrenras du ciilor nu3 entea org.inicos — Dif-
ferciK^as na especie hiiniaua, segundo idades, temperaiuen-
tos, t'stados, climas.
J^iiieslao considera'la cm (odus os animaes — No lioiuem
— Func(;oes preparalorias da di^'eslao — seiitimenlo de
fome, e scde — cunsas d'estas it-nsa^'oes — Cunsideraroes
geraes sobre alimentus — Digeslau eslomacal — duodenal
— inleatinal.
tsecre^ao — Divisao ile setTf<;ocs^ Apparelhns, ceystc-
roas vasculares secrtlores — Theoria dasecrfrao — secre-
^ao renal-culanea — cellular — mucosa —orgSos de secre-
^iu duviduSa.
YUSCr^OIZS AMJIAES.
Defini^So— Divisao— Nervos — Pbysiologia comparada
da ac^ao nervosa — Nervus or^'anicos — aaimaeB — rcsjii-
VOL. ill.
ralorios — Tliooria d'ac<;rio nervosa — Leis de ac^au dui
nervo8 — Aci^or's nc-r\osaiJ renexas— Aprccia^So da d.-u-
Iriiia de M. Hall — Dontrina de symiialhias — Vinao —
Riidii;ao — olfarlo — f^o^lo^lacto e loque — Senlidoi in-
tfrnos — Duutriiia plirenoloy^ica — exanie, ft apreciat^ilo
d'esta doulrin.'i — DilT(.'ren(;a de opinioes entre os raeta-
physrcos e plirenoltj:.'islas — Dunlrinas philosophicits de
Kant, IIp;reI,SihellJng;, Condillac — Tlieuria ]ihi8iulo^'ica dt'
sent iilus internos. —
Moviinf'nio — orgSos de niovimrnto nos flifferentes ani-
mal's— Mecljanira animal — thenria da voz e loquella.
Gera(;ilo — cunsidcrada em luda a classe animal — re-
lai^.lo d'estas com as (uilras fnncroes — Gerai^ao esponta-
nea — Processus tie gcrarrio sexual — Funrt^Oes de gera^So
sexual — Thooria da {rerarao — Influencia dus pais n.i
prole — Parlo — propnrt;ao de nascimenlos com relaijao a
sexus — cria(;jo dos recem-nascidoi.
Somno, soiihos, sonarabniismo, ma^nctismo animal. —
Alorle — sii^naes da mortc — g:eral — parcial.
Cnrso pralico de physiologia experimental (na prima-
vera).
HYGIENE INDIVIDUAL.
Defini^iio — DivisSes — Rela^ao d'esia comoutras scien-
rias — DifTerem^a de pianos nos Iratados de hys:iene —
DiiTerem^as orjanicas individnries — Modtficadorea inlernos
— Applicarao dog principios irtraes as func<;i5es do orga-
nisino — Educai;ao physica — Kdnca«;ao inlellectnal, e m(»-
ra! — Melhoraniento Je raras— rela^oes da sciencla com
a civilisacao — Influencia d*ella sobre a arte dc curar.
CADRIllA DE OPmiAroES CIRIIRGICAS,
COMPIS^DIO — IlEfilN -MiUVEAUX ELE.UENS DE CHIBUROI 11
<JV DE .MEDICINE UfERATOIRE.
Lenle — Dr. Francisco Fernandes da Costa.
CADEIRA DE PATHOLOn lA GER AL , THERAPRUTICA GERAL,
PATHULOGIA E THEK APEt/Tf CA CIRLRGICA,
^o:.IP(:^DIo — chomel — fvc-mens de pathulogib c;e-
.■\EiiAl.. — BE;IN NOUVliAUX EtE•.lE^S DE ClitRURGJE
ET DE ."IIEDICI.NE urEUATOIRE.
Lt-nte — Dr. Cciurio Auijvsto Percira d'Azevcclo
CADEIRA DE MATERIA WEDICA E PHARMACIA.
CO.MPEtSDIO BOL'CHARDAT MA^UEL DE MATIBUK
aiEDIC.
■■ ■ ■ ' '■ ALCANO COUTGO PHARMACEt TICO
LLSITASO.
I
Lenle — Dr. Florencio Peres Furtado Gahao*
PHARMACO_\OMlA THEORtCA E PRACTICA.
Definirao de Pliarmaconomia — partes em que se divide
-dffinir'fto i\-. medicament .s e sua divisao pharoiu-
JtMfo 15 — I85i.
.Ni,M G.
66
ceutica — titensilios — fornallias — vasos — inslninieiitoa
— pesos, e m«iliiJns nHcioiiaes — franceaes — iiiijlezes —
rela^So (I'lins c>.n\\ oiilros — Ijaroniclro — Iberiuumelro —
rediic^rio dus princi|)i;es (I'mis eiii oiilrt;:s — ureuiui-lius —
reiliic^iio iriiiis em oiilros — alcoulometro — opera^oes
chimicu-pliariiiiiCeulicttS — (Uvi^^n), exlriic^rio, processu
*le tleslui'in;Hu, niisliiii, Hi*(;fia cliimica — esculh^j e co-
llieilii (l;is iliu'isas paries tlus vi-^eUies, *: animues — sua
exsica^ao, const'r\»(;rii), rc[uisii;riu e (liirar'u — classiflca-
^at) pIiarmacunumicH dos inudicaiiioiilus — excipieiites, e
siias piiri(icu(;ot'S — hydrulicos, mi prepara(;Oes, cujo I'X-
cipieiile e a a:;iia •^Iiydrul.it>is, ou ai;nas dislilaJas pur
iliversus prurtssus — livdri'iiifusus, uu infiisijL'a aqiiosas ^
Ijydrusoiutgs oil slIui^Oi-s — deatclus — succus expri-ssos —
sua prepara^it'i, chissilira^ai), ilepuraeau, c ronserva^aa
por diversos pruressufi — caldus inediciiiaes — hydroleos
— exlractus a'piosus ubtidos purdecocla, iiiriisiiu, digcstao,
uiacera^jo, snccus depiiradus, e nau depiirados, e ptlo
processo da dt-slocn^riu, ffitus em divcraos ulensilius e\a-
puralurius — stiii classiric.i<;."io e consi-rva^ilu — viiiuieioii,
oil vinhits mediciiiaes — exlraclos vinosos — akuulicos, uii
preparatjues, cnjo cvcipiento e o alcoul — pur desluca^ilo
— alcuulatos purdisersLis processus ^evlraclos alcoulicus;
ou prepara(;oes, cujo cvctpi'.'ule c o viiia:.'re — aceloleos,
ou viiiagrea medii'iiiaes — cxtraclus acelosus — brjtolicos,
on prep:ira(;urs, cuju eMMpiciite ca i'er\eja — oleus Qxus—
oleos volati-is, on esseuciafS — saccoroUcos (iuipiu|iriameri-
te)oii prfparai;5es, cujo exL-ipienlesaosuslancias saci'arjnas
— 'Xaropes por sului^'ao, por ebulli^ao, e mislos — ap-
plic'i^ao d,i llieoria dos dt-cuclos, iiiludos, maceralus, e
Biiccos exprcssos aos xaropes —sua cuuserva^ao — rael-
liles — oxymclliles — Iherolicos, ou prepara(;oes5 cujo
excipiente o o olherlheoria dos elliers — tllieroleus, ou
linluras ethereas — ammuiiialcuulicus, on prepararooa,
enjo excipiente e a ammoniaca — amnionialcoolius, on
tiuluras \olaleis. Pos medicmaes por di^ersjs processos —
feculas — pulpas — conservas — elecluarius — paslas solid as
— piliilaa ciu piii:ladur — ti sem c!le — t-alajdasm-is — es-
pecies — olcoleos, ou oleus composlos — Lalsauius. ou niyro-
Jicos^liniuienlos — ceratos — pommadas — • uni,rueidos, ou
relinoleos molii-s — einplaslos ou retiuoleus durus por di-
versos processos — sparadrapos feilos em macliiiia — prepara-
(;3es chimicas — Iheoria dos saes — reat;enles cliiiuidis —
aguas luineraes, e seu eusaio — principaes nacii>iiaes —
arteficiaes — m>>do de preparar, rlui;ar, e adniinistrar v-i
medicamfnlos homa?opalIiicaiuenle.
PIIARMACOLOniA.
Defini^ao de PharmacoIi.):;ia, e de Materia Medica —
dita de medicaiiRnto — dilfereiUj'a entre allmetilo, me-
dicamenlu, veneno, e remedio — ori^eai dus medicameulos,
e alirueulos — diveisos modus de delerrainar e cuiiliecer
as \irlu(Ie3 dos uiedicament<-'S — j>eliis caracteres pliysicus,
chimicos — por unaIo;,'ias bulanicits — pur experieociits t-m
animaes mars simillianles ao Homem — dllas no Homein
enfermo — dilas no Huniem no e^itado physiulo^'ico —
ac<;ao dos mcdicauieulus, chluiico. dynauiico, chimico-
Jynauiico — cffciloa dus medicameiilos, primarl'is, ou
physiolo;iicos, sfcnndarius, curativos — locaes, distauley,
ou remotus — csles pur que vjas se Iransmiltem, coiuo se
explicaai — afliuidade tdectiva dos medicamenlus pira
delerminados orj;aos, system.is ou apparelluid — llu-oria
homoeopalhica a este respeito — iuflumcia do Ii;tbil.i
subre OS effeilos dos me<licamenlos, e a explica^-iio
Jiomuenpalhica — adminislracao dos medicamenios, e por
(|ue vias se faz — doses d'elles, e effeilos fe^undu ellas
— sua nalureza — medicamenios simples, e composlos —
luonopliarmacia — polypliarm-'icia — aprecia^iio d'auibag
— a lo de foruudar, e leis porUuMiczas, (pie a reg^ulani em
especial — clasaificaqao dos medicamenios^ a que poiilo
pdde ser con\eniLnte n'esle ramo de scieucias, c no
eslado actual — nui^oes do doulrina Iiomoeopalhica em
jjeral. Re^uiremos o tijxto iia pliarmacologia especial, por
isso estudarenios ja os medic;iiuenlos narcoticos — conside-
ra<;oes geraes li curra do seu moilo de obrar em geral, e
de cada uma sribstancia em particular — sua descrip(;ao
— suas ajjplica^oes therapeitticas geraes e especiaes —
doses — preparat^oes — siibstancias incompaliveis — o
mesmo das solnneas virosas — o mesmo das ombelliferas
lirosas — o mesmo dus elleboreas — o mesmo das cyanicaa
— o niL'imo das lelonicis— ij mesmj dus medicament. i»
emuit*ua^o;:o8, excitiiules do ulero, dus propriamenle
diclos, dus aborljvos — o mesmo dus mt-'licanientos anti-
spwsmudicus — o m<'smo dus mediraiuc^ntos eslimulantes,
ou excilauli's — o mesmo dos medicamenlus nplirodisiacon
— o mesmo dos medicamenios sudorilicus, e diaphoreticui
— Hydr(»llier.ipia -^ o mesmo dus medicamentos dlurellco*
— o niL'smo dos cliamailus cxpeclufanles — o mosuio dus
nu'dicamenlos fmelicus — o mesmn dus niedicameulos
pnr^'antfs — o mesmo dos mediramoiitog emollienles, e
analeplicos — o mesmo dos uifdicaan-nlos contra eslimii-
lanles, e teinperantes — o mesmo dus medicamcnlo*
adsli iimculfs — o mesmo dos medicaiiienlus lonicos, e
corrobur;uiU's — o mesmo doa m*"dicamen[us allerantes e
snlistituiljvos — o luesmo dos medicamentua rpvnlsivo*.
rnbcQcienles, e cpispacticos — o mesinr) dus medicamentu-
anIhelmiidici'S. — Analysf" pharuiacenlica, e pharmncolo-
yica das furmulas da Plianuacoputi porlngueza Ie;ra!. e
subsliluirao d'ellas por outras.
(POESiA SLAVA MODERNA).
Conlinuado de jiai;. Jili.
Por este papcl dislrilniido us diCfereiilo?
for^as da naLuieza, beiii se ve que a poesia
dos gouslars corresponde a luna das mais pro-
mmciadas inclina^oes do caracler slavo, que
ella liioiiijoa lanibcrn cclebrando essa anliga
crenga iios prcsagios e nos presonliinenlo?,
que exerce ainda ao preserUe tarnardio impc-
lio sobie estes paizes. Uma menina cantada
nas piesnas (balladas) servia-;, vae colhendo
cravos ao looLC" de uin ribeiro; faz com elles
Lies coioa?; poe uiija sobre a sua cabe^a para
Ihe realgar a tormosura, guarda a se^unda
paia sua irma, e alira com a terceira ao ri-
beiio, dizeiido : voga, minlia coroa, ale de-
(roiUe da porta do nicu amante. Se la clie-
gares, sem to afimdar, nao sera uma prova
de que sua infie consente que elle me despo-
se ? aO excellenle drama intitulado Gorski
rienats, obra prima do derradeiro vladika
dos Monleiiej^rinos ', apprcseiUa-nos, iTum
grande banquete comuium de todo o povo,
OS veliios, a maneira dos antigos augures
etruscos, k'udo os destiiios de cada uma das
tribus, inscriptos pela mao da nalureza, em
s!gnos ou liiihas inisleriosas, sobre as e?pa-
doas doa bois e dos caMiciros servidos no bau-
quLHe ou sacrificio nncional. " O serdar (juiz)
Jaiiko ppga iriiiiia espadoa decarneiro; Lira-
Ihe a carne coin o seu culello, e olhando-a
com admira^ao, exclama : De quetn era est**
caineiro?*; — Respondem-lhe : De Martinlio
Baitsa. — Bemaveuturado pae Baitsa, replica
o serdar, o teu carneiio traz uma inscripcao
maravilhosa sol>re o glorioso futuro da lua
familial Evi , que tenlio descarnado inilliares
de espadoas, riunca eui nenliuma dellas li urn
lao bello deslino ! — E esta coxa, em que
agora pegueij de quern era ella! Vejo que
' Pedro II. que por suas obras numcrosas se collocoii
na primlira urdcui dos poelaa iliyrico-scrvios.
67
a rara do seu doiio vnc e.\liiigiiir-se. O galo
deixa de carilar as lioias iia i-iia casa , que se
transforma n'limataveijia t'miebre, ii'iirn vasto
sepulohro, ondc upiodrccem mais de vinte
cadaveres, sahidos lodos d'uiii mesino troii-
co. » Uni MoritenegTino incrediilo zoiiiba en-
tao dos sens coinpaidieiros. a Eblaes-rtie pa-
recPiido , diz elle, as nosjas vellias avos , que
leein a sigria as creanras na palriia dasmfios,
on Hie fazeiii lirar favas a soile. tlomo e que
OS ossos cozidos e mortos podcm saber o que
tem de acoiitecer aos vivos?!! PoJe a logica
can^ar-se a fallar, mas nao alcangaia punca
destriiir os instinctoa.
Na Polonia, o povo aclia pelo niesino
llicor presagioa iioj accideiites mais fortuitos
da natiiicza, na direccfiodo venlo, |)or exein-
plo, romo prova esla can^'ao litiiuariia u Sobrc
o ramo florido de iima lillia, eslava enipo-
leirada iiiiia avczinlia. Do alio de iima co|-
liiia, lima meiiiiia examinava iuquieta de que
lado sopiava o venlo. Era por es^e lado, pen-
sava ella, que devia cliegar o seu aniado! —
Ah! o venlo sopra dos valles de Kovno. O
men joven despcisado cliega da Sainogitia:
corre apressado, o seu cavallo prelo bran-
qiiea do escuma o froio dourado. ?)
A me^ma lendencla que impelle os Slavos
a interpielar oj plienoinenos da natureza, e a
dar uma vida my^^erio^a tanto aos auimaes
como aos seros inanimados, marrou lambem
com o seu cuiiho cerlos apologos, dos quaes
oft'erecem mais que urn exempio as canligas
das muUiuier, e que tem loda a apparencia
de t'abulas, sem ler o sen senlido moral. Sao
visilas muito polidas entre os atiimaes dos
monies on as aves das capoeiras, conversas
enlrc as arvores de frucla, on e um noivado
de aveziniias carilado mm todai as miudozas,
ou n casamenlo de uma mosca viuva com um
joven mosiardo. Alguiiias vezes tambem de-
para-se no meio deales capriclios com cerla
agudeza e oiigiiialidade, conio por exempio,
na picsna moiiteuegriua iutJtulada: A mais
linda Jlor dcste. iiMiido.
«L'ma larangeiia, ciiberta de boloes de
suave perfume, galjava-se a borda do mar,
que nao liavia n'aquelia hora por lodo o
mundo nada mais lindo que ella. — Sou mais
llnda que lii, exclamou o prado esmaltado
de boninas. — Nenlium de vos pode compa-
rar-se comigo, dissc a ambos nm vaslo cam-
po cuberto de branca seara. — Uma videira,
carregada de caclios nascentes, escutou-os e
disse: — Nao vos giorifiqueis por esse rnodo,
que a lodos vos levo vanlagem. — lintao uma
menina solleira, que ouvira esta dispula, disse
lambem: — Vossa belleza c passageira, nao
val a miiiLa belleza.
Um joven que ia passando, respondeu sur-
rindo: — As laranjas, cor d'oiro, qiiando esti-
verem niadura?, Iiei-de comel-as. O prado,
quaiido acabar de tlorir, liei-de deilar-llie a
tnice. A branca seara, iiel-de ccifal-a. Do
cacho veriuellio, Lei-de cxtraliir um succo
generoso para beber em companliia dos bra-
vos. Em quanto a ti, menina, quando tc clie-
gar a edade, eu te desposarei, e tu seras mi-
nlia. — Nao ha por lanto em lodo o universo
tlor mais linda que um rapaz inda solleiro.
Um camponez siavo conheeeu todas as fa-
milias das planlas e das aves da sua terra;
tem nomes para um numero pasmoso dee^re-
las; forma um relojo particular para cada
estajao, para cada mez do anno. Em qualqner
momeiilo da nolle que Hie pergnntardes as
lioras que sao, olliara para o ceo e vos re-
spondera sem se enganar. O Cos-aco tem nos
seus olhos lima bussola natural : se o man-
darem a uma provincia djslante onde niinca
teiiha ido, parliia direilo como uma freclia,
e chegara ao seu destino no dia marcado. O
izvostchik moscovila ', perdido na steppe no
meio d'um redemoinho de neve ou de area
fina, espera que passe a lenipestade; depois,
ainda mesmo que o a^oile da lempestade
lenha apagado lodo o vesligio dos caminlios,
conseguc orientar-se, e coalinua a sua der-
rola atravez do deserto. E-la uniao intima
dos Slavos com a natureza leva-os a acredi-
tarem facilmente, se nao nos sanctos, pelo
menos nos prodigios. Em ncnhum oulro paiz,
como entre OS Slavos, se fazem em lao subida
eschala as roniarias as irnagens milagrosas de
Nossa Sen bora. Os antigos Polacos julgavam
que a sancla Virgem (a Bogarod-Jca) mar-
cliava a sua frente nos combales ; pcla mesma
forma que os Russos mndemos lem vislo,
por mai,de uma vez, apparecer-llie, no meio
do fuino da artilheria, a imagem veneranda
de S. Sergio, Nao devemos porem concluir
daqui que o mundo sobrenalural tenha um
(lajjel distiiicio na poe^ia do o-ouslo. Por
mais que se remonlc, a for^a de esludo, ate'
as primeiras origens desta poesia de ra^-a, nao
se conseguira descubrir nella, como na poesia
dos llindous, dos Scaudinavos e dos Gregos,
ocaracler sacerdolal. E-tranlia a loda a especle
de myslici.-mo, conservase coiislanlemente ou
p<ililica ou domeslica. Todas as na(;f"ies slavas
cantam os seus heroes, as suas glorias e des-
grajas terrestres ; mas preoccupam-se pouco
do mundo invislvel. A religiao dos primitivos
Slavos limitava-se aos sacrificios nos cespedes
ou Koiirgans funeraes dos sens chefes mortos
pela palria ; o sen paraizo nao se elevava
acima das nuvens dos monies Karpalhos; era
lii que pairavam os manes dos seus anlepas-
sados, em conslanle rdajao com a sua poste-
ridade. E hi, que ainda hoje vagiieam erran-
Ips as sonibras do AVu^6t;/(; ^ Marko, de
Skanderbeg, do erimila Sava, dobealo Lazaro
de Kossovo. Na Russia, Vladimiro e Olga
sao tidos pelos genios da sleppe; Sancto
Alexandre Nevski vive deilado no seu caixSo
de Pelersbourg, e Pedro Grande ve'la semprc,
no meio dos nevoeiros, pela sua crea^ao do
Neva.
' livostcbik, especle de poBlJlbSo.
■^ Filho (le Krats.
68
Nao insislireiiios ir.ais sobu' cstas provas
do inslincto ntilural dos Slavos, taos conio
nol-as odorece o nouslo. O que pertcndiamos
nioslrar per ineio il'algiini cxcinplos, eo la(;o
ejireito q\n\ liua a poesia popular dos Slavoj
com as snap iL'ndcucias iiaclouaes. Parece-
11(15 que e esle o uicio mais facil do explicar
como a iiidueru'ia dcsta poesia passou do
doriiinio da vida douieslica para o da liUera-
tura doi sabios Rcsta-uos a^'ora iiidicar a
ulliina causa do |)rostigin qui; excrec o gouslo :
a saber, a sua iuliiua uinao com a iiuisica.
Continua.
l.vstruccao pubuc\ na suecia e
norue(;a.
■ C»>tiliiiuaiIo (Je pag. If).
III.
ESCHOLAS DO DOMINGO.
A'^iu-so ja coino eslavain orsanisadas em
Slockliolmo as escliolas do dnuiiiigo. S;lo 20
•1 numcro d'ellas, lia Q-t mcstres ordiiuirios,
e o termo tned[o dos alumnos e 750. As ca-
I'liolas da classe media, e as da SncUdadc das
nrtes e ojjicios devem coiisiderar-sc lambeiri
como escliolas da larde ; porque ale'm do do-
iningo, esl.'io aberlas de tardi' cerlos dias d,.i
semaiia, pcio que devezoui leiiipo careceui df
iiie'tres supplemenlares.
As lualLM'ias do ensino nas escliolas decate-
cliismo Icem por lim priucipal n estudo da
religiao; nas do soletracdo, a leilura; nas da
classe mediae dos officios, a estripla e o cal-
culo; fiiialiiipnto iiiis e=clinla> da Socicdadc
d(ts arlcs e officios, os esludos tecliiiologicos.
TaiUo iia Suecia como na Noriiega as es-
tbolas do domiugo teem tido impugnailores.
Pcilendeu-se que a major parle d'ellas, iiao
differindo das efcliclas priuiarias propria-
inente dila?, podlam seiii iticoiiveiiieiite sup-
priniir-se. Algiuis espiritos scrios e pracllcos
encariegaram-se lodavia da di'fcza da iiisti-
tuij.'io conibalida, c pelos sens argumciilo-,
que referireiiios, iiiellior podeiii apreeiar-se o
complexo do sysleiiia.
() ejlaluto real de 18 de iiinlio dt- 13(-3
sobie a iiistruc^ao primaria, lomaiido ciii
1 ouiiderajao a Impoasihilidade que uiuilos
laeniiios linliam deseguir um curso complelo
de esUidos escliolares, obrigou-os someute ao
^nini-.rto d'inslrucj.'io, que "se reduz aos se-
guinles pouios :
1 " Leilura corrente da lingua materna ;
■2 ° Conlieeiineiito da doulriiia clirisLfi c
da liisloria biblica, no grao necessario para
>cg(iir as lieoes do catecliisino da priiiieiru
comiiiiiidiao ;
.'!.° Cuiilo da cgreja ;
4." E-cripta ;
0.° Arilliiiieliea ale as fiac^oes exelusiva-
menle.
Com elYeilo, sc das r.-eliolas priii arias
OS meninos saliiirern com estc iitinimo d'iii-
struci.'ao, de que serviiiam as escliolas di-
caleehi!mo bem como as da classe niedia (;
dos officios! Mas a e.xperieucia moslra que,
uem sequer um teredo dos meiiiuos que Ire-
qiienlam as escliolas primaria?, olilem o
Iitinimo official,
AUiibuir seuiellianle resullado a vicio na
organisat^.'io d'eslas e^cllo!as, >eria injustiea.
E a prova esta em que os meninos cpie ae-
giiiram regnlarmenle os cursos, salisfazem a
lodos osartigos do seu programuia. Se alguns
sao iuferiores, e porque tendo-se matiicula-
do, com ludo laras vezes compareciam nas
aulas. Uns foram so.uenle ciiico seinaiias, e
oiilros duraiile um periodo escliolar apenas
alguns dias. A vcrdadcira causa eslii im pobreza
0 uiiseria das familiasque careceui dolraballio
dos meninos, aiiida em tenia edade. Em Slo-
ckliolmo lia so duas escliolas que obviam Csle
iuconveiiieule : a de S. Jacques e S. Joao, e
a de S. riiilippe; poripie indepcndentcmenle
da inslrucean, dao lambem a sens alumnos
sustenlo e veslido; mas esla bem de ver que
taes o^labelecimentos nuo podem niultiplicar-
se em grande escala.
Assim que, bem longe de ser inutil ain-ti-
luiij'no das escliolas do doiningo, pelo con-
trario s.'io para as escliolas primarias como
auxiliar iiidispensavel, ou- supplemoiito na-
tural. Ainda mesmo aos que nienos aprovei-
taram nos cursos elemerlares, sao de grande
vanlagem. E ifio facil dcixar esquecer na
casa dos paes, ou nas officinas, o que os
meninos teem aprendido, que as escliolas do
domiugo lornam-se nccessarias ate para con-
servar e fortalecer n'elles os ronlieciinontns
adquiridos. Alnn d'isso, qual seria o meio do
roparar a falta d'instruc9ao nos adullos e
nas peji-oas d'edade inadura, que ou por ne-
gligeiicia, ou pela falalidade de sua posi(,'ao,
a nfio receberain na infancia 1 E observe-se
que ate' aqiii consideramos a? escliolas do do-
niingo quanto no ininimo official ; porque se
atleiidermos ao fim mais complelo e serio, a
(pie se propOHUi elevar estc ramo da iirsiruc-
(j'fio, mais evideiite sera a sua ulilidad''.
Oulra ()ue^t^lo contra as escliobis do do-
miugo, (? a cerca da sua organisa
Di
(pie do modo pnr (pie e-lfio orgauisadas em
SlocUliolmo, nao differem umas das outras,
e por isso podem considerar-sc sem fini es-
pecial, e al(; serem jndifi'erenleinenle freqiien-
ladas por qualquer e.-.pecie d'alumnos.
Uma tal appreliensao deixa d'cxistir t\
respeilo das escliolas de (atecliisnio e de so-
letrajfio. Poslo que a doulriiia elirislfi e a
leilura, cnlrcm no piogramnia de todas as
outras escliolas, nao formam lodavia espp-
cialidade exdusiva; s.'ioapuias accessorio on
iiislriimenlo. O estudante admillido aosc^tu-
dos siiperiores deve necessariamenle saber l(?r
69
econliecer cs primeiros elemenlos da rcligiao.
A queslao lorna-se mais delicada enlre as
escliolas dos officios e as da classe media. E
na verdade parece que umas e outras lendem
para o inesiiio fim ; e de tal sorte o publico de
Stocliliolmo lem-se ]jreocciipado quc,cadadia
esla lirando os meniiios das priineiras para
OS mandar as segiindas. L uiii erro. Ainda
que as cscholas dos officios se propoeii) coino
as da classe media a formar bons artislas,
OS meios que empregara para o conseguir
nao sao identicos. As escliolas dos officios
sao para as da classe media o roesnio que os
rudimenlos a respeito da sciencia, e a inicia-
5ao para o aperfei^oamento. A consideral-as
no todo, pode dizer-se que e um estabeleci-
raento unico em dous graos. Assim conio e'
necessario passar pelo grao inferior antes de
subir ao grao superior, assim tambem nos
ados dos fundadores das escliolas sobresahe
bem claramente esla necessidade, por quanlo
assignaram sete lioras d'estudo por semana as
escholas da classe media, e Ires somento as
dos officios,
O aniagonismo das escholas da Sociedade
das artcs e officios com as da classe media
ainda e mais especioso. Todavia os ha-
bitantes de Stockholmo nao teem cedido
u apparencia, de sorle que o contingenle
respective nas duas escholas tern sido, como
devia ser, superior nas da classe media. Entre
a eschola da Sociedade das artcs e officios,
e a eschola da classe media, as rela^oes sao
as mesnias que entre a ultima e a eschola
dos officios: uma e o desinvolvimento, o
aperfeigoamento daoutra. lintra-se naescliola
da classe media para adquirir conliecimentos
de redacgao e de conlabilidade que exigem
as profissoes indiistriaes, depois passa-^e a
eschola da Sociedade das artes e officios para
fazer applicagao lochnica d'estes conliecimen-
tos. O menino ou adulto que salie da eschola
da classe media e^ta habililado para vir a
ser um bom artisla, ou habil industrial; mas
ja o devp ser quando sabe da eschola da So-
ciedade das artes e officios.
Cada escliola do doiniiigo tem por lanlo
seu fun especial, e funcgao independente ;
nenhuma rivalidade existe enlre ellas, nein
e de recear que a prosperidade d'uma pro-
mova a decadencia ou exiincg.iod'outra ; mas
por mais isolada que seja a sua esphera d"ac(;ao
respectiva, ha um lagoque as line uistiucliva-
njente, e que de certo niodo as submetle a
lei d'uma solariedade commum. Donde resulla
para os fundadores a obrigagfio de as nfio
separar em seu zelo, mas antes apertal-as
cada vez mais n'uma estreita jerarcliia, e sem
diminuir a forga particular de cada uma,
fazel-as convergir todas systemalicamente para
o fim principal.
Para melhor fazer sentir esta necessidade,
diz Walander ' , e para esclarecer ao mesmo
' Om Stockholmi stalls SondagBskolor, 1851.
tempo aqnestao, conve'm estudar, como termo
de compararao, as escholas do domingo
em todos os paizes da Europa, ondc sua or-
ganisa<;rio offercce as melliores condigoes.
Por este motivo escoihe as de Munich : e
com effeito as escholas do domingo em loda
a Allemanha sfio as que mais se distinguem
pela excellencia de seus resiiltados.
Wallander apresenta um bosquejo geral
do syslema d'escholas practicas ou teclino-
logrcas estabelecidas na Baviera, coniprehen-
dendo tanto as escholas quotidianas como as
do domingo.
Desde OS ultimos annos que em toda a Al-
lemanha este genero d'escholas leve immenso
desinvolvimento. Tal devia ser o effeito das
tendencias progressivas d'este paiz para a
vida practica. ISa Baviera, o estabelecimento
das escholas technologicas data propriamente
de 1033, epocha em que o rei reorganisou
n'este sentido quasi todo o syslema d'inslruc-
5ao publica de seus estados.
O systema d'instrucgao publica da Baviera,
considerado no todo, parteseem duas grandes
divisoes, a saber: 1.° divisao scienlifica, sub-
divldida em duas secgoes, classica, e techno-
Ingica superior; 2.° divisfio popular, ousecgao
technologica inferior. O esludo da lingua
ialina e obrigatorio para todos os que seguem
OS cursos da divisao scienlifica.
A secgao technologica inferior e a que tern
relagao com o nosso objeclo, pelo que nos oc-
cuparcmos especialmenle d'clla.
A ordenanga real de 16 de fevereiro de
1833, une a esla secgao tres generos de esta-
belecimentos: lyceu , gymnasio, eschola.^
O lyceu, verdadeiro institulo polylechnico,
e o ponto culminante de loda a instrucjao
technologica popular.
Segue-se o gymnasio, que forma industriaes
e agricultores; n'elle ha tres escliolas do do-
mingo, sendo uma dellas d'lnslrucgao pri-
maria.
A eschola finalmenle, prepara para o gy-
mnasio, e occupa-se tanto dos elemenlos de
technologia, como dos principios d'instrucg.'io
popular.
Alein da universidade technologica, islo
e', da eschola superior para a instrucg'io te-
chnico-scientifica , cuja se'de e em Munich,
lem a Baviera tres escholas polytechnicas
estabelecidas em Munich, Augsburgo, e Nu-
remberg, vinte eseisgynina>ios technologicos,
e grandenumero deescholas do mesmogenero
diffundidas por todas as localldades do paiz.
O alumno e'admillido na eschola desde a
edade de seis annos, e conlinvia ate a edade
de doze ou treze annos. Passa depois, se
quer proseguir em sens estudos, ou para o
gymnasio industrial, ou para o agricola. Se
escollie o ultimo, a sua educagao lermina
desde que seguiu todos os cursos; se preferiu
o primeiro, pode ainda depois frequentar a
eschola polytechnica. No caso de sahir da
eschola para loraar um estado que Ihe faja
70
inteiTomper seus esludos , ser;i obrigado a
frequentar al^uma cscliola do domingo.
iisle rapido nshogo inostra de que niodo a
inslriiccao lechnolofjica da Baviera esUi or-
"anisada; mns para forinar ideia inleirainenle
coniplela, ciinipre examiiiar qiial e o pro-
"rainina d'e^lndos eni viguf nas escliolas do
domingo perlencenios aos gymnasios, isto e,
nas escUolas que correspondem as dos oflicios,
da classe media, on da Socicdade das artti c
officios de Slocliliolino.
Desde 1793 que na Baviera existem esclio-
las do domingo; mas em lii33 foram, como
se observou, reot-ganisadas e ligadas ao syste-
ma {^eral da inslruc^ao publica do reino. A^
tnaterias que fazem ohjecto do ensino, se-
gundo o prograrama publicado em 1837, e
em pleno vigor, sao as seguintes * :
1." Rdigido — Doiilriiia christa. Historia
resumida dareligiSoda egreja. Moral eciirso
abbreviado de jurisprudencia, comprebenden-
do as qucsloes de direitoque mais frequenles
vezes se apresenlam na vida civil.
2." Mathcmaticas. — Algebra ate as equa-
goes do segundo grilo incliisivamenle. Geo-
melrra. Geometria descripliva.
3." Historia natural. — Botanica. Zoolo-
gia. Pliysica. Techuologia cliimica. Techno-
logia mechanica. Estudo de mercadorias, isto
e, das materias mineraes, vegelaes e ani-
maes, como arligos de commercio.
O ensino d'estes diversos ramos deve set
puramente popular; nao e permittido^ aos
mestres Iratar as questoes theoricas senuo as
que fnrem absolulameiile indispensaveis para
intelligencia das questoes practicas ; pois que
o fim das escbolas teclinologicasdo domingo
nao efazer sabios, pori'jn bomeiis deapplica-
gao iliustrada, e de tralwillio ulil.
4.° Sciencia dtis vwcliinas. — Rodas. Pa-
rafuso. Emprego das cadeias, cabres, t'erro-
llios, etc. Hydrodynamica e macliinas de
vapor.
5." Mechanica practica. — Emprego das
diversas ferramentas ou instrumeritos mecha-
nicos. Fabricai^ao de modelos dos instruinen-
tos de pliysica, d'oplica e de inatliemalicas.
6.° ^rlcs ceramicas. — Moldar em cera ou
n'oiUras materias ornamentos, baixos-relevos,
bustos, capileis,candelabros, vasos, etc., ludo
segiindo OS trabalbos dos inelhores moatres.
7.* Desenho. — Desenlio d'ornato. Archi-
lectura. Macbinas.
8.° Estudos praciicos. — Calligrapliia. Or-
ihograpbia. Formulas de commercio. Conlabi-
lidade. Syslemas monetarios. Historia e geo-
grapliia, consideradas com relajfioii industria
e aos productos naturaes.
Taes sao as materias da instruc<;ao nas
escbolas do domingo da Baviera. E de adver-
lir que cada escbola particular nao compre-
* Pro^ramm. iilier die verschio de neo Unlerriclils-
Gejens stand der Ilnndlw. uad Feierlagsichulc in
Munchcii, 1037,
lionde lodas cslas materias ao me=mo tem-
po; sfio distribuidas por muitas escliolas, de
sorte que o seu ensino tern logar simiiltanea-
monle em sallas spparadas, ou nas mesmas
sallas em lioras diflerentes. Todos esles esla»
belecimenlos porem , sejam quaes forem a*
suas condi^oes d'exercicio , esl.'io ligadoS
eslreitamente, formaiido um syslema d'escho-
las donde dimana a mais perfeita unidade
d'ensino.
Comparando as escbolas bavaras corti as
de Slockliolmo, resiilla nova prova da ulili-
dade, ou antes iieccssidade de cada lima das
ultimas, e sobresalic! egualmenle um modelo
magnilico pelo qual a Sociedade das arUk i
officios, bem como as escbolas da classe me*
dia e as dos officios , nao teriarh mais do que
regular-se para estabelecer com toda a per*,
feij.'io essa unidade systematica que somente
pode a sua ac^.io assegurar cfficaz efleito.
Por fim Wallander faz longas ronsiderai
<^oes a cerca das reformas que ainda sao ne»
cessarias nas escbolas do seu paiz para cbfei
garem a maior grao de perfei^.'io, e pfopoe
OS meios para o conseguir, e que em geral
consistem em centralisar a adminrstrat;.no de
todas as escbolas do domingo, e feorganisar
o programina das doutrinas debaixo de novo
piano, intervlndo para se realizarem as refor*
mas propostas o governo, por cujo concurso,
que effectivamente teve logar, as escbolas do
domingo na Suecia dentro em pouco eguala-
rao as da Baviera.
CONCOURENCIA.
^.Continuado de pag. 57.
Mas, voltando ao ohjecto de que nos oc-
cupamos, vemos que na ordeai economica o
facto da especie bumana nao ter a, sua dis-
posig.TO um fundo de riquczas inesgotavel,
creou, em comedo, a concorrcncia, edepois a
accumulag.'io das for^as, a fim de fuzerem
convergir sompre para o interesse commum
todos OS resullados da actividade, pela vanta-
ge™ reconbecida dessa reciprocidade. A con-
corrcncia pois lem a sua origem na insuf-
ficiencia dos bens, a que se aspira, e no desejo,
bem natural, que cada um tern de obter a
mclhor parSe. .. Nascida com os homens, ella
vivera em quanto estes n.'io tiverein .^cliado
o meio de multiplicar infinitamente todos os
objeclos dos seus desejos. n diz Cb. Coque-
lin.
Que a base ou origem da concorrencia scja
a que assigna este estimavel economisla, nfio
o duvidamos; que ella porem, tal qual boje
se apresenla, haja de ser a sorte permanente
da socicdade, n.io o acredilamos. Em jliosso
entender, a concorrencia e um elemento de
transigao entre o systema de privilegio, e o
n
da livre e geral associagao a que a coticor-
rencia lia de conduzir. Com esla idea nSo
queremos proclamar a anniquilajfio da con-
correneia ; e ella a lei superior da ordem
economica, lei que sempre a lia de acompa-
nljar ; queremos sim dizer, que a concorfen-
cia teude a manifeslar-se debaixo d'uma oulra
face: a sua esseucia porem e a mesma.
Se a lei das necessidades e uuia lei neces-
sarian a lei dos meios de as salisfazer deve
sel-o ej^ualmente. Tal e a lei suprema que
subordina loda a espbera economica: desen-
volvainol-a. O principio das necessidades e
dos meios de as salisfazer, e o principio su-
premo de todas as scieiicias practicas, e ainda
Iheoricas; aquellas satisfazeudo as necessida-
des da vida praclica ; estas as da vida iiilel-
lectual, se assira pode dizer-se. Analysal-a-
hemos unieamenle na espliera economica, no-
tando todavia a liga^ao queaqui inesmo lem
a sciencia economica com lodas as sciencias
fillias da razao practioa, ate mesmo pela
idenlidade da lei que e chatnada a realisar.
As necessidades, ou reaes on ficlicias, quando
sac apreciadas nas suas manifestagoes, reves-
tem ambas um mesmo caracler ; isto e, sao
todas determinadas pela natureza liumanana
qual se contera real ou etnlnenlemente. Se
no8 elevamos a toda altura dos principios,
ahi leconhecemos que toda a sciencia eco-
nomica se refere a esphera das necessidades
humanas, pela parte ein que dizein respeito
as exigencias economicas, e aos meios egual-
mentc economicos de as satisfazer.
O lioinem carece de meios de desenvolvi-
mento: eis o typo por onde se liao de aferir
todas as sciencias, filhas da razao praclica ;
a nalureza porem desscs meios deterniina a
natureza da sciencia, a qual incumbe realisal-
os. Nesta esphera a soinma efl'ecliva das ne-
cessidades deve, em regta, determinar a som-
ma dos meios, que teem de ser empregados ;
e enlendemos por somina effectiva de neces-
sidades, aquella que resta depois de apre-
ciadas as condijoes que as embara^'am ou
modificain, porque so depois de um tal pro-
cesso de subtrac^-;'io e que ellas se apresenlam
no faro exlerno exigindo salisfagao.
jQual e porem o principio que deterniina
o iiumero e grau das necessidades? ISenhum
outro, por certo, seuao a natureza liumana
em todos os seus modos de exigir realisayao:
a natureza huniana pois e o principio supre-
mo, e a lei pela qual devern, e so podem ser
marcadas as necessidades liumanas em seu
numero e intensidade. IJclativamente aos mei-
os, e por consequencia a acyao economica, a
lei deve ser a mesma ; se so a natureza pro-
voca as necessidades, so ella prxle deterininar
a quantidade e qualidade dos meios; so pois
a natureza huraana ea lei suprema na esphe-
ra economica. Nao basia que todos os em-
pregos da industria eslejam occupados sem
solujao de contiuuidade, e sem lacunas; e
mister alem disso que elles sejani empregados
na medida conveniente, isto e, que o nut7iero
dos homens, que os preenchem, e a somma
das foryas ou dus capitaes que Ihes sao con-
sagrados, sejam sempre proporcionados a ex-
tensao real dos trabalhos que devem fazer-se.
J Quern sera porem capaz de fornecer esla
justa medida! Se a natureza, isto e, se a
evolugao livre do liomem e da sociedade, na
escala social, determinam o nurtiero e inten-
sidade das riecessidades ', o numero e inten-
sidade dos meios aclia-se por ahi, e so por
ahi deleriliinado. Mas se as necessidades sfio
um resultado da evolu^ao da aclividade livre
do liomem, na determina^ao das condi^oes
elle nao pode apartar-se desse carninho, sob
pena de faltar-Ihe a propotcionalidade : o
elemento da liberdade e pois utna condicjao
indispensavel nesse processo, em que sao de-
termjnados os meios, o seu numero e inten-
sidade. Se esta deduc^ao porem e logica,
tainbem oca sua consequencia, e por isso a
livre concorrencia apparece desde logo como
expressao ptactica ou realisada desse princi-
pio siibjectivo.
Effectivamente supponhamos a hypothese
opposta, em que a um poder social incumba
determinar essa ordem de meios em quanti-
dade e qualidade. Se os meios sao provoca-
dos pelas necessidades, e devem ser-lhes pro-
porcionaes, para sustcntar a harmonia econo-
mica seria mister, ou que esse poder social
podesse determinar, ou crear as necessidades;
ou que ao menos podesse prompta e rapida-
mente aprecial-as, e apreciar egualmente e
pela mesma forma os meios de as satisfazer,
para que deterininando-as assim, mantivesse
o equilibrio e harmonia, em que deve basear
a sociedade. Cicero dizia que os estados das
causas eram infmitos, — iiifinitam silvam ;
nos poderemos dizer o mesmo relativamente
as necessidades. Com effeilo, pertender que
o poder social determine as necessidades, e
uma aberra(;ao tan saliente do senso corn-
mum, que nao nos cansaremos em refutar
um tal syslenia.
Mas nem sequer concedemos a esse poder
a prompta e cxacta apreciajao das necessi-
dades individuaes, e por isso dos meios pro-
ximos de Ihes occorrer. Esse invenlario, por
assim nos explicarmos, das necessidades hu-
manas cm todas as suas escalas e variadas
combinacoes, seria o invenlario das forgas
todas da huinanidade. j Que forcja artificial
ha ahi que as possa apreciar a todas com exa-
ctidiio ? Haveria pois uma impossibilidade
absoluta, insuperavel, para que um tal poder
social podesse funccionar.
* Ainda as mesmas necessidades naliirat's, [tara lerein
representa^ao na esphera eeonooiica, carecem da mani-
festa^ao e ac<;?lo livre dos horoens ; e por consequencia.
quando podem ser chamadas verdadeiramenle economi-
cas, sao sempre essencialmenle dependenles da liljerdadp,
porfiue e quando se refcrem a ar<:ao ile Ihes procurar
realiaarao.
72
So a naliircza pois, que delermina ns ne-
cpssidade>, pode deterniinar o numero c qua-
lidade dos meios de as salisfazer. O facto da
offeria e do pedido , manifesta os resukados
practices dessa niysteriosa ac^ao social. A
iiiesina ac(,'ao que deterininar as necessidades
provoca os nicios : esta ac^ao e a ac^'ao da
natureza toda, e a ac^.'io da lilieidade, e por
isso, ein phrase economica, a concorrencia.
Ori^inariamenle e o pedido o que detenniiia
aofferta; esta depois inline no pedido, mas
a ordem natural e a que indicauios. O lio-
inern, sentindo necessidades, provoca a sua
satisfaij'ao, — pedido: os outros liornens, reco-
nliecendo este chamamenlo, concorrem olTe-
recendo os meios que possuem capazes de
satisfazerem essa ordem de necessidades, —
offeria. lilevemos esle processo a loda a altu-
va da llieoria , e teremos a concorrencia. Eis-
aqui a base da concorrencia, tanto individual
coino social, aquella, em que se du uma
especie de conibate entre individuo e indivi-
duo, ha de provocar esta, como meio niais
proficuo de salisfazer as exigencias indivi-
duaes, fazendo-lhes peider esse caracler todo
accidcnlal de guerra, que inostraremos nao
ser essencial a concorrencia.
Noseio de uina vasta associaQao economica
para os socios internamente nfio lia guerra ;
todavia essa associagfio, pelo facto de nao ser
forgada, conserva era si o eleniento da liber-
dade : e' elle o seu motor. E entao mesmo
que a liberdade encontra o seu triumpiio ver-
dadeiro, desprendendo-se de toda a foija ex-
tranha que a liinitasse. Generalize-so esta idea
a toda a esplipi'a social, consliluam todos os
ramos sociaes vaslas assoclagoes, diversifican-
do so pelas localidades, mas intimainente li-
gadas pelos iuteresses, e eisa gcneralisajfio
^era a solugao do grande problema social.
Mas a concorrencia e a liberdade ; consequen-
temcnte a concorrencia, como lioje a conce-
liemos, perde tanto do caracter de verdadeira
concorrencia, e por ls;0 de liberdade, quanta
o a acgao coercitiva dessa liberdade, islo e,
em proporgfio C(im a intensidade da acgao,
que liinita du reslringe a liberdade; o reiua-
do pois da concorrencia ainda nao estii che-
gado : o que existe e urn i(nperfeito preparo.
Nesta ac(,'ao da liberdade, que produz, on
tem como elfeito a concorrencia, manifesta-se
esta como o maior eslimulo da arlividade
geral. ^^ao podeinos todavia negar que pela
concorrei'cia individual, isto e, fora d'um
eslado co.npacto de associag.^o livre, ao pas-
so que muitas vczes e exaltada a aclividade,
outraSj pela nalureza da acgao da concorren-
cia, essa actividade, e extincta ou neutra-
lisada. j Como podera o pequeno industrial,
por inais habil que seja, concorrer com um
grande capitalisia, que na mesma localidade,
e na mesma induslria, pela forga dos capitaes
de que dispoe, centralisa esse ramo de in-
dustria, reduz o cmpresario inferior a dura
condisao de ou ir engrossar a empresa do
capitalista, na qualidade de operario, ou ler
de mudar de empresa? Aqui evidenlcmente
a concorrencia produz um effeito coutrario
ao que naturaln)ente se llie nota. Esse facto
reproduzido conduz a uma diminuigao do
emprego da actividade, porquo onde cessa a
liberdade, ou e reprimida, os seus effeitos o
siio tambem.
Ja as^im nao succede no regimento da as-
sociajfio livre; ahi, sem predominio de for^'as
sobre fcrjas, a actividade do houiein ha de
juanifestar-se em toda a sua extensao, por
isso que obra com loda a sua liberdade:
consequentemente o reinado da concorrencia
nao e o regimen economico actual, pois
que nelle a actividade nao se desenvolve
sempre livremente, e por isso com toda a
sua inergia. O eslado actual pois e uma
tiauH^ao para o eslabelecimento da ver-
dadeira c livre concorrencia das forgas hu-
manas, desembarajadas de qualquer coacjao
ou embarago exterior provenienle da vontade
do homem. So a associajfio livre satisfaz esta
exigencia.
J Se a concorrencia de hoje tende a destruir
por toda a parte o moiiopolio; se esse facto
e Cbsencial a concorrencia, qual sera o motivo
por que delle nao havemos de tirar as ulti-
mas consequencias ? Se a concorrencia faz
guerra aos monopolios legali^ados com o ca-
pital, com este mesmo ella a deverd fazer
aos monopolios do capital, porque os capitaes
mais diminutos, nao podendo a sos concorrer,
procurarfio na associagio a poderosa alavanca
com quepossam destruir essas de^egualdades,
que OS opprimem. Se o traballio, cotnprehen-
dendo o seu [toder, se apresenlar ein frenle
do rapilal (irabalho accunuilailo), de qual
sera a victoria! Nao duvidamos aflirmar que
o capital, sob pena de ficar improductivo,
lera de abrir suas portas ao operario, e re-
conhecendo nelle um capitalista, associar-se
para procurarem conjuntameiite o seu engran-
decimenlo, em vez da sua destruijao, a paz
em vez da guerra.
ContinUa, i. b. da s. f. de C. MARTENS.
0BIGI!)1 DOS NOMES DE MAR YERnELBO, MAS
iMARELLO, MAU BRiXCO, ETC.
A existencia de cerlos plienomenos locaes,
como algas microscopicas rubras ou amarel-
las, de que por vezes se tem occupado a
academia de Franca, nao esegundo Paravey
a causa porque os mares diversos teem sido
denominados por essas cores ou por oulras.
Ignora-se que no Mediterraneo, chamado
mar Branco no Oriente, tenliam apparecido
algas brancas ; niio se tem encontrado algas
negras no Ponto-Euxino, donde recebesse o
nome antigo de mar JVegro. O golpho Persico
chama-se mar f^crde entre os Oricntaes, e o
/ 3
Oceand, a cslo da Cliiiia, tciii e?;iialineiUi' o
nome de mar p'crde ( Tsini^-Hay) ■ n'elle
nfio tcpin sido achadas algas iiiicioicopicas
colnradas de veide.
O calendario Yue-ling com\irii\.o no tempo
d'AIPxandre, e conservado na Cliiiia, calen-
dario romliinado cm Assyria, paiz cenlral, e
n.'io na Cliina, dcsi^na : o norte^ dc negro; o
eslc, pcla cor vcrdc • o S7(/, pcla rubrdj o
(icste, do branco • e o centra pela cur amarel-
la oil iiliiranjada.
\'. aiiida liojc as cldades orienlndas do reiao
de Tong-lcing teem as portas do iiorle
|)iiit.adas de negro; a esle, de verde; do sul,
de verniellio; a oesle, de l>ranco ; em qiiaiilo
o palacin cenlral do sobcrano e', coriio tam-
liein na Cliina, coberto de lellias esinalladas
e amarcllai. 'J'al sviteiiia riinemonico e\isle
desde a iiiais reniota aiili^iiidade na A^ia, e
cnire o? anligos Arabes c Clialdeos.
Siipponlia-5c estar junto dn Palmyra, como
cenlro, e na Syria, paiz central e mnarello,
senlido cssenci.il do tiniiie de Si/ria, e que
fez chamar o Jaxaiie, Sir-Dariaou rio Aiiia-
rello, cntre noj cor de cera; ao norle fica o
Ponln-Hiixino, d'alii iionieado mar Negro j
ao sul o goI|)lin Arabico, doiide vem diicr-se
f^eriiitllioj a c's/eogolplioda Persia, cliamado
mar Fcrde enlre 03 Orienlaes; a ocdc o Me-
iliterraneo, denoiiiinado av.v: Branco (acTlia-
lissn) pelos Oiientaes.
0 syslema antigo da civilisacio liierogly-
pliica da Assyria e da Syria, e segiiido aqiii
do niesmo inodo que o Coi depois na Cliina,
quaiido OS livrns da liabylonia e do Egyplo
])ara alii foram levados para scrern feliziiiente
conservados, mas ainda nfio coriipreliendidoj.
Todavia os Scijthas qne miiito antes de nos
sabiani que os monies Paiiier eram o ponlo
enlmiriaiit.e do ginbo, applicaram os mencio-
iiados nonies dos qualro pequcnos mares aos
qiialro Oceanoi limiles da Asia, onde liabita-
vam.
O Oceano Glacial foi cliamalo mar
Tcnebroso ou Negro ; o Oceano ao sid dos
monies Pamer c dos Indos, foi nomeado
mar Erijlhreo ou yermclho, jjorcjue recebeu
tainbem o norne d'um rei que alii dominou,
e que citam os livros conservados na Cliina:
o J\hditcrranco, a oe'ste, conservou o nome
de mar Branco j e o nome de mar Kcrdc,
do golplio Persieo, dou-se como fica dilo ao
Oceano que banliaa Cliina a e=le, niar Tiins-
Hay.
O mar Caspio e ccntralj onde de-agiia o
rio Atnarello, Sir-Darin on Jcjc.nte^ era
poia o veidadeiro mar ^^hnardlo^ por i:;so que
oanlia a JMcdia^ ou o paiz do JMcio ^ c bc o
^^olpho de Peking tern sido cliamado mar
.^marelloi foi pelas me^mas causas deor;juiho
(pie depois d'AIexandre fizcram com que a
Ciiiiia por muilo tempo barbara, se chamas-
se J/npcrio do JMcio.
^Final.'iieiite como prova d'antigas migra-
qoei d*Asia para America, Paravev mortra a
5emelhan(;a de dtias palavras que significam
plnnta, uma em Guarani, e a otilra em Co-
chinchinez.
P. OVIDIO NAZAO:
Dos Tristcs — Livro 5,°: Elcgia 14.
AUGUMEMO.
E esta elegia, a ultima dos cinco livros
dos Irisles, dirigida por Ovjdio a sua esposa,
na qnal Ilie promette uma gloria immortal,
e accrescenta que muilas liaveri'i, que embora
a tenham por miseravel, liao-de assim mcsmo
mvejar-lhe a sorte, e julgal-a feliz. Diz-Ihe
mais, que nao poderia dar-Ilie um bem niaior
do que immorta!isaI-a nos seus escriptos ; e
sendo assim, exliorta-a a que Hie permane^a
sempre fi^I, a fun de que por ninguem po5-
sa jamais ser accusada : e prova-ilie coui
graude numero dc exemplos de igual fidelida-
de de diffiirentes e?posa3 para com seus ma-
ridos, que a memoria destas nunca em tempo
algum deixou de ser celebrada.
Quanta os mens versos nomeaJa posaaui
D ir-te, o ctinsurte, para mhu mais chara,
Du que a mim mesiuo o suii, bem ves, beru sabes,
Embura ao sen aiiclor roube a fnrtuna
Quanlj bom Ihe aprouver ; lu sempre iilustre,
Do men eni,'enho viveras una obras ;
E, em qiiaiito en liilo filr, a fama lua
l;,MiahnejUe sera liila comi'^o,
\em tutla poderas iH Irisle pyra
Nos ares tiesl'azer-te e e\'aporar-(e.
Do inarido infeiiz possas embora,
ParcctT com o infuiluniu niiserantia,
Algiiinas acliaras, que ser qiiizpssem
O mc^mo que tii <J3 ; e que ditosa,
Te jnk'ueni e le invejeni doa meus male^,
O ser, bem como tn, parlicipaules :
Nem, se riquezas miiitas cii te desse,
^Iiiilo mais te daria : (ii muila sly;::e
Nada It-va ij'inn rico a vacua sombra).
— Dei-le do um nome perennal o friictu ;
A dadna tens pois maJor, que cu puile
OiFejUr-te: accrcscenla-lhe o quilale,
Da honra nao exi:;iia, que te eiifeila,
Da iinica seres defensura miiilia.
De emudccida nunca em leu9 louvores.
Andar a ininha voz ; e um nobre orgulbu
Deves seiidr, ao ver que o leu consorlc
Sabe ao jiisto estimar tuas \irlndes:
Trabaltio j>or fazer, que tfmerarios
De li ninguem furiuar juizos possa.
E conjugal lambcm Odelidade,
ConsL-rva ao t-sposo Ifu misero ausentc :
Puis sem torpeza conjugal viveste,
Irreprelienshel na bondade e fama,
Em qiianto nog unio a sorte eai Roma.
E a tama propria minlia a tna a;;ora
Desbarale causou ; com mais conspicuas
Obras tiia virlude se asslgnale.
— Facil cousa e ser boa, quando ao loii;:e
A causa existe, que o cuntrario veda ;
Nem a casada lem nada que Ihe obsle,
A que aos deveres seus de cumprimenlo ;
Mas, quando sobre o esposo o cto fiihijna,
Aquella, que a borraeca nao se evade
Da do amor conju;;al cximias provas :
Sim e rara a virlude, que a lorluna
Com sobcrano imperio nao T'overna ;
74
Poreui, quando esla foge, a que eui sen poslu
Estavel se niantom, {sc al^uma e.xisle)
Do «eu porle em si mesma a j)a;:a t-ncunlra,
E DOS trances exlrenua se apreienta.
— Qiialquer o tempo seja. qire ennumeres,
Nenhum calara seculo o ten iiorae,
Todus U- admirariio, lo^'ares qiiantos
Do orlie os caminhus alirem, palenleam ;
Nao VL'S com apu9 inda exteiisa idade
De Penelope a i'c louvada exisle ?
Como d'ella perenne o nome dura ?
D'Heitor, d'Adiuelo como sao conladas
Hoje ainda as cspnzas, e a memoria
Da filha de Iphis vi\p, porque ousara
Sobre a accessa fu^iicira arremessar-fe?
Como na fama exisle a Philagea
Cooaorte, cnjo esposo o chiio Iroiano
Com sens lijrciros pes calcou primeiro ?
— ■ N.'io precisHS por mim uiorrer, so basia
O moslrar-te fiel e lerna amante,
Sem buscar lama por difficeis artes :
Nem jiilfijar deve?, purque assim iiao obras.
Que estas admneslaruL's eii te dirijo ;
Desfraldo as vt-llas, poslo que o naviu,
So dus remos levado, as ondas curia :
Quern le admocsia e exliorla a que pratiques
O niesmo que ju J'.izes, quando admoesta
Tambem ao mesmo tempo as ubras tuas
Com a sua c\burlai;rio luu\a, e approva.
F. DE CARVALHO.
DOCUMEMOS IXEDITOS.
Carta que o viso^rci D, Joao de Cnstro esrrcvco a
el-rei nosso senhor o anno dc 4G (1546)
Cunliiinado Je |)0g. 35
Taoliein llic toniamos inais lodalas monijoes
de seu canipo, c aos Laacarins coucedi o saco
da cidade. Da ruinlia gente iiiorrerao obra
de sessonta liom(~», e ficariao I'eridos trezen-
tos. Os mais dosles niortos e feridos forao ao
sair da fortalcza, e Irepar das imirallias . que
sobiinos sem escadas, iiem ouLro eslonneuLo
de gucira , salvo ajiidando liuns a outros.
Para o que nos den giande alivio ISicolao
Gon^alves, o qual com a armada das fustas,
que lliedeixei, arremeteo a praya do haluar-
le de Diogo Loprs cm amunliecendo com
grande eslrom de Uombeta?, e alabales , que
era o tempo , que eu sai'a da forlaleza , despa-
raiido toda a arlelliaria dos iiavios. E no de
luais se deo a tfio boa maidia, inoslrando
que dczembarquava , e fazeudo clieguar as
t'ustas si prava, que teve sospenso muito leiii-
po liil capilao, que com muita genLe estava
eiii deircusfio della, para registir a sayda por
aquella parte. Oqual capilao nutiqua acabou
do coiihecer a cylada, senao depois q\ie
linliamos avido grfio parte da victoria: de
maiieira que foi grande ajuda, e mui impor-
tante a desle ardil ; como qucr que constran-
gco aos mouros a tirar de sobre a fortaleza
ruuila parte de sua arlelliaria, e gente, pera
a por em del'cnsao desta praya. O numero
da gente, que estava sobre a fortaleza era
sessenta mil liomcs; a saber, Rumes, Ara-
bics, Abe.xiiis , Reisbutros vinte mil: e de
Ciuzaratcs coienta mil. Esta victoria assim
como t'oi a maior, que se vio em todo o
Orienle, assi he bem , que v. a. a festejc; e
saiba, que se iifio podia alcansar sem muitos,
e evidcntes millagres, como todos tem por
couza mui avcrlguada , e os mouros o afir-
mao, verem sobre a igreja lu'ia mollier muito
resplandeconle , que oscoguava, e nao dei-
xava tcr o ro.-lo direito aos clirisl.'ios. Polo
que lie necessarin , que v. a. mande fazer miii-
tas porci^ops, e dar muitas gramas a nosso
Senhor; pois llie fez tamanlia merce : que a
dez de novetnbro, vespora do Sfio Marlinlio
Hie deo de novo toda a India , e liua tama-
nlia victoria com obra de dous mil bomes ,
que pcra todo seinpre ficaraa della memoria
ncstas partes. V. taobem fazerrne merce da
minlia joia, como sempre foi costume dos
reis e principes, quando alguu seu capitao
vonce batallia, ou torna cidade, o que eu
tudo fiz em liii soo dia com ajuda de nosso
Senlior. Mas |)orque pode ser , que v. a. ma
fa(,'a dalgiia cousa im[)rc)pria a niiulia condi-
^fio , e maneira de vida, Ilia queronomear,
e pedir, e lie, que me fa(;a merce de lui casta-
nlial , que tem na serra de Ciiitra, onde clia-
mao a fonte delrei, que estaa a par da mi-
nlia quinta; p.lra que, lendo os mens mogos
que comer no mcu , nao vao dcslruir, e fa-
zer damno no allieio. O castanbal poderaa
valer do compra dez on doze mil reis; mas
para ml scrfio muitos mil cnizados.
llos homes nobres , e lidalgos , que nesia
balalha morrerao sao os seguintes: dom Joan
Manoel , hlho de dom Beriialdo Manoel , o
qual foi hu dos primeiros homes, que ciie-
guarao as murallias: ferido de liua espingiiar-
dada, e leiido hua mao em siuia pera snbir,
Iha cortiir.MO, e com a outra tornou a ferrar
do muro: e comessou de sobir, sem embargo
de 1 he da rem muilas feridas, e sobitido em j
^iola desparou nelle hila peca dartelharia, I
que o malou logo. Moneo mais Jorge de
Kousa , fillio dAurrique de Sousa , que taobeiu
foi dos primeiros ao sobir dos miiros, e o
matarao nessa demauda como valeute cava-
leiro. Falfceo tambem Francisco dAzevedo
na dianleira, de liua espiiiguardada que Uie
deu, e Gosruo dePaiva, alein das murallias,
e Jam H'alc.'io como valeute home que era.
Morreo mais Va.-co Fernaudes, capitflo dos J
pyoes de Goa , e Julifio F'ernandes, Duarle \
Uodrigues Mousinlio, Lucas dAbreii, Bal-
tliezar Jorge, Ayres Gomes de Quadros Os
feridos forao: Manoel de Souza de Sepiilve-
da, o qual, ao passar das murallias, Ihe
derao com bu canto ua cabcja , e oulro no
rosto, de quo o desatiiuirao; mas tornando
cm si ; tornou a emlrar na batallia. 'I'aobeni
foi ferido Jorge de Meudonga , Miguel da
Cunlia, Pero Lopes de Souza, Jam Figuei-
ra , dom Jofio dAbranches, (ilho de dom
Anlao , Garcia Rodrigues de Tavora , filho
de Christovao de Tavora , Manoel Telles ,
Alvaro da Gaina, filho de Antonio de Sequel-
75
ra , Lopo Botelho, fillio de Jam Guago,
Luis dAliiieida , que sieve em liua caravella
na balaria, Siuiao Bolellio, vcador da Fa-
zenda, e Tiislfio de Paiva-
IIo service, que este dia fiserao 03 fidalgos
a V. a., e quao bem pelejarfio lodos, e quao
bein me aeom|)aiil)arao sempie em loda a
Jornada com grandes gaslos de suas fazendas lie
couza para nunqua se acabar de <llser: asaber,
Gracia de Saa, dom Manocl de Lima, doni
Manoel da Silveira, Maiioel de Souza de
Sepulveda, Franciaco da Cuiili
Pai
llodrigues d'Araujo, caplL'io, que foi, de
Cocliiui, Jorge Cabrul, o quo!, lendo sua
mollierem Goa, nun(|uase quis ir leseacaba-
remasohras, e Irabalhosde Dio: Dyegalvares
'I'elles, Jam Juzarle, Anlouio de Saa, doui
Jnfio Lobo, dom Alvaro de Craslo, doui
Roque Tcllo, com oj quaes me acouselliava
sempre eiu lodabis cnuza<i,que avia defuzer;
por nelles aver muilo sizo, e cavalaria , e
grandes dezejos de em ludo servirem v. a.
E assi fui tauibem mui ajudado, e giiardado
de Francisco de Abneida, Muuoel Sodree,
dom Jorge de Saa , lleronimo de Souza,
Fernao Peres d'Andrade, Jam de Magalliaes.
Polo que lodos rnerecem a v. a. fazer-llies
muila lionrra; e merce. Pois os ielerados nfio
comerao.seus ordenados niuito ociojos; |)or
que o sccretario veio em liua t'usla, oouvidor
geral em oulra com mullos liomes, e arraas,
OS quaes na batallia se oiiver.'io mais coujo
valentes cavaleiros que como Ielerados mui
sesudos que piles sfio. As fuiezas, (jue lizerao
OS cazados de Goa e Chaul nunca se ler.'io
de Romauoi ; porque us suas custas, e com
muilos liomes vierao servir v. a. e nao con-
teiites com islo, me ol'ereciao dinlieiro pera
as couzas de seu servj^o. Km todo o lempo,
que durou o lerco derao de comer a muila
genie, e vigiarao a fbrlaleza, pelejando em
todoios combales mui calremadamenle, Tris-
tao de Payva, Jaui Guarces, IJomiugos Fer-
nandes, Antonio Fernar.des, Jacome do Coulo,
Domingos Pires, Paio Uodrigues d'Araujo,
Jorge de Souza, Pero Prelo, 'Irislfio d'Orla,
o qual veio couiigo em iu"i gaieiio com muila
gente, e sempre deu mcza a muilos homes, e
assi na batallia, como no fazer das obras
^ervio V. a. muilo bem. Anlonlo Marlins
laobem Irouxe muila gcnte, e llie deu bemjjre
de comer, e servio grandemenle nas obras, e
em todalas outras couzas, que se qua fizerio.
Miguel Rodrigues , cazado de Goa, me
ofereceo por muitas vezes dinlieiro pera as
necessidades, que eu linlia, e veio com doui
Alvaro em liua fnsta com muilos homes, aos
quaes deu de comer lodo o lempo, que durou
o cerco; pelejou sempre muilo bem. O dia
da balalha foi ferido ao passar das murallias;
rnas nem por isso deixou demtrar na balalha,
e peleijar como valenle home. Polos quaes
servigos v. a. me fara a merce descrever hua
carta a cidade de Goa, e oulra li de Chaul
de muilos aguardecimcnlos e contentamentos
do quo fizerao; porque sera a grande parte
para doulras vezes folgarem de guastar suas
fazendas, e pur em risco suas pessoas por
servi^o de v. a. li assi escrever particular-
niente, a todalas pessoas, que nesta carta Ihe
nomeey ; porque nenhiia couza da qua espirito
aos homes, e os avivenla lanlo como as cartas,
e f'avores de v, a.
Acabado de ine nosso Senhor dar esta vi-
ctoria, a primeira couza que fiz, foy cortar as
pontes, comque o rio eslava atravessado, e
lazello navegavel de mancira, que ficasse em
ilha como danles. E logo mandei recolher
loda a artelliaria, e moniyoes para denlro da
lorlaleza, e juntamenle mandei derribar os
muros da cidade, que correm ao longo do rio;
para que hcaase aberta da banda do mar.
Eaas ponies erfi hua obra tfio espanlosa, que
parecia esc.irecer as que Xerxes fez sobre o
Elesponto pera passar a Europa; porque com
ellas ajunlarao a ilha de Dio da oulra banda
da lerra firnie, e por esta mancira ficava a
ilha em terra ("irme. A primeira ponle, que
fizerao, a dalfaiidegna da cidade ate a villa
dos Rumes, tern de comprido cento e Irinta
bra^as, de largo seis, e dalto oulras seis, toda
de mui grandes, e poderosas pedras lavradas.
A poiite de sima he muilo mais comprida, e
larga. As obras que fizerao sobre a fortaleza
parecem mais que de luiiiianas ; porque o
proprio capitfio, e moradores d'eila me nao
sabiao dizer onde e^lavrio os baluartes, e por
onde corriao os muros, e o liiguar, onde
jazia a cava : lamanlias monlanhas de pedra
liulifio lansado cm todas eslas partes, de ma-
ncira que parecia impossivel, e hum traballio
incouiportavel poder tirar esta pedra e lerra,
e tornar a erguer a fortaleza polo luguar,
por onde primeiro eslava. Polo que me foi
Tornado fazella de novo perfora da cava; assi
porque se piidesse fazer neste verao, como
por ser por eMi parte mais forte; por caso
de hiis oiteiros altos, oiide os baluartes caem.
O que me dera irniito trabalho, senao acerta-
ra de vir do reino Francisco Pires; porque
nfio^ ha qua official, quesaiba nada. E por esta
rezao me cunipre lello qua esle verao, e nao
no iiiandar a Mogambiqne. A maneira de
que iajoa fortaleza lie polio debuxo de Ceytn.
Parece-ine, que espantaraa muito a gente desta
terra, mayormente depois que se fizer hiia
cava per fora do muro novo; porque entao
ficaraa Dyo com duas cavas, e duas raura-
Ihas, remedeando-se os muros velhos dema-
neira, que fiquem em terraplenos sobre a
cava anligua.
li posto que os modemos nao aprovem a-
ver muilos recnrsos nas fortaleza'; lodavia
para e.-les moiiros servij assi muilo, e vem
mais a preposito; maiormente, que nao era
possivcl poderse fazer doulra maneira denlro
dejte verao, por em todo elle senao poder
fazer liig-uar polos muros velhos pera comes-
sar a obra, como jd tenho dito a v. a. iiu
eslive muilo pcrto de acabar de desfazer de
76
lodo csla foitaleza, e lulla fj^er iia illia dos
inortos: porqiie rreia v. a. que Dio daa
iniiito maioi oprc5:lo ;i India, que 05 llutnci;
e cada vcz que qciizcr clrey di' Cambaia poraa
lodo o e.-ladn da Ijidia a lul tombo do dado;
iiem nos serve esla forlaleza qua peia oulra
couza, salvo pera 1104 pur de conluio as tri-
pos iia boca : o que eseuzaia de todo, se a
fizera iia ilha dos niorlos; por caso de ser
liua illia niui forte do sytio, e estar tiiais a-
pajlada da terra firtiie, e ter grande, e sin-
{;ular porto, no qual coui todolos ventos podeui
eiilrar e saliir. Polas quaes reznes a iiao ])o-
dia nunqua vir cerear elrei de Cambaia, e
M.'io iia cercando, liie puderanios fazer laiila
jjucrru por mar, que fora nosso Iribulario: o
que ate {;ora ; por nao podereui os governa-
dores levar o uiillior de Cauibaia llie sotVe-
ram tanlas injurias e ofensas-, para l!ie ufio
vir tcrcar Dio : per onde linlifio jaa os porlu-
ijuezes pcrdido todo o credito e reputa^ao
erilre to, Guzarales. Mas leiiibrando-ine que
}oi prc','oaclo em I'ortugual nos puljjilos a
totnada de Dio; e que em lloma se tizerao
iDuitas perci^oes, e de toda a clirislaiidade
iDandarfio dar os profa^as a v. a. : nHo ouzei
•de fazer lanianlia novldade. E tfiobcm estava
j;i em toda a India tao assenlado nos niouros,
o genlyos, que elrei de Cambaia linlia lomado
esta forlale/a, que, se a deixara, setn euiliar-
go da grande victoria, que ouvo, e a descer-
car com lamanha iionrra de v. a., nunqua
acabarao de cier a couza como passoii, e
icara per lodo o mundo, que elrei de Cam-
baia iios tomdra a lorlaleza de Dio. E como
quer que n'estas partes, mais que nontras
algclas se viva de credito; podera nos esta in-
tamia vir a fazer muito nial.
Tendo per esla maneira que digo a v. a ,
discercudo a forlaleza de Dio, provi logo a
tosla do Malavar, e mandei a ella Francisco
de Sequeira para a guardar; por =er iionn~
<]ue a millior salje de todo^, e llie loreni em
lodo I\]alavar grande medo. O (piai Francisco
de Sequeira veio servir v. a. a Dio com qiia-
iro fuslas suas mui bem aparelliada?, e ar-
madas, c no dia da balaliia fez Iju grande
oiquadrao de frecLeiros malavares, que pelei-
jarao iiiaito bem; pello que v. a. llie deve
i^screver muitos agardecimenlos, e fazer muilas
inercoo. E assi mandei doin Manoel de Lima
a fazer a guerra na emscada com vinte fuslas ;
c Antonio Moniz a cosla de Mangalor. Dom
JManoci queiiiiou duas cidades, a "saber Gof^a
o Gandar; e destruio-aj de demaiieira, que
quasi nao dei.xou maneira dellas : destroindo
tfiobem oulros inuitos iugares da co.la e
<|Meimando niailas nuos, e navios. Antonio
Moniz <leslroliio laobem liQ grande liiguar,
que so cliaina Poor, e fez oulros damnos^roia
coila. ' '
Continua. -^
' Parece-me qne li.i aqni huma lacuna ; porqne oqie
se segue nao tem li{;a9rio immdiala com o que fica dilo
iintes. (Nolo do conn.ilador d'esles documentos.
MATIIEMATICAS. — DISCUSSAO DE DOUS
AIETHODOS. AUABES.
O conliccimcnlo de dous melliodos arabes
para determinar urn valor approximado de
sen. l.° e, segundo \VoepcI;e, devido a Se-
dillot {Prolcgomcnos das Ttiboas aslronomi-
cas dc Olnug-Iieg , traduc^'io e commenla.
rio pag. ()!) — 83), (pie osdi^tinguiu na obra
mui extensa de Mcriem-Ai-'J'clielel>i , com-
ineiitad(;r deOloug-lieg, e que n'elles eiicon-
trou uina prova do consideravel desinvol-
vinienlo da Algebra cnlre os Arabes.
O priinciro e nin melliodo de inlerprda^'ao
semelliante ao que empregara Ploleineo para
deteriiiinar acorda de I.°, pnrem mellior eiu
teiidido e dando resuliado mais exaclo. Woe-
pcke conqjara esle melliodo com o de Plole-
ineo, deinoii5lra a sua siiperioridade, e exa-
miiiaseus ponlos de seinelliaiii,-a com as for-
mulas inodernas d'inlerpola^fio.
O segundo melliodo trala directamenlc o
problema do teix-eiro grao, de que depende
a^determina(;ao de stn. 1 °, estahelece a equa-
q'j.0 ])or que seexprime, e a resolve numerica-
inente por uni processo que se reduz no essen-
cial a desinvolvimenlo em serie, ou a fazer
applieajao do melliodo dos coeflicientes inde-
terminados. O segundo melliodo ale'm de
levar a um resultado ainda mais exaclo do
que o pnmeiro, c- eurioso nao so por diffe-
rentes particularidades que apresenla, senfio
lambem pcia engeidiosa ideia em que e fun-
dado.
Do que fica e.xposto lesulta nova prova do
iulereise que apre=entam as indaga(,-oes sobre
IrabalLos dos geomelras arabes, para escla-
recer uma das partes menos averiguada da
liistoria das sciencia? iiialliemalicas.
KfJHATA DO i\.° ').
P'lg, Col. Link.
1
Ilu tl.ijuig, 50 Honu-ns — Irime-
stre (le, etc.
51
/Nomovinietilo
lie tudas as en- j
I fermari:is-re-
' la^uo ilus fal- ]
I teciJus para I
' lodos OS tra-
I:iy.3
1:14,4
Emciul.
Moniens — ciirer-
Miarjas ile mole-
-slias interna^ —
irimcstre de, eto.
1:14.4
1:13,4
51 I* 14 abstrac^ao
5i »-*onic.mdas)j^^ 3 ^ ^^
I, 2, 5,3, 4
© JujgitittttiJ,
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
INSTRUCCAO PLBLICA.
Minislerio do reino — 1* direcg.'io — 1.*
reparli9rio — livro 12. — n ° 40 = Sua Ma-
geslade E!-Uei, Regente em noine do Rei,
sendo-llie presente a ropresentaijao do con-
selho superior de instrutgno publica, de 24
^e jineiro findo, na qiial o mesmo consellio
pede licen(;a para piiblicar no periodico de
Coimbra inlilulado — Insliluto — os seus
relatorins annuaes, enviados a este Minis-
lerio: Ha por bem conceder a pedida perniis-
sao, para que os diclos relalorios sej;iin ef-
feclivamente publicados, conforme o que o
conselho superior propoe, a coinegar do pri-
ineiro por elle elaborado, e assirn successiva-
mente os oiitros, segundo a sua ordeni chro-
nologica, ate o ultimo, que naosera, todavia,
em regra, publicado sein que liaja decor-
rido urn anno depois da sua remessa a eite
Ministerlo. O que se participa, peia secre-
taria de Kstado dos Negocios do reino ao
mesmo conselho, para seuconhecimento. Pago
das Necessidades, em 1^ de jullio de 1854.
Rodrigo da Fonsecn JMagnlhdcs.
Esta conforme.
O Secrelario Geral ,
Jose Antonio d' Amornn.
CONSELHO SUPERIOR.
RELATORIO ANNUAL DA I.XSTBICCAO PLBLICA-
18i4— 1845. ^
O conselho superior de instrucjo publica,
lendo de levar a presenga de ■pVl. o rela-
torio do estado d'aquelie ramo iWadiiiini>tia-
gao no passado atjno Icctivo, n.no pode dei-
xar de ponderar a inipossibilidade, em que
se acha de o fazer com reguiaridade eexacli-
dao, por falla dos subsidies e esclarecimentos
necessarios. Na porlaria circular de 6 do
agosto proximo passado, Foi V. M. servida
de ordenar a lodos os directores de estabele-
cimentos lilterarios , que remettcssem a este
conselho os respectivos relatorios ale o fini
de sepleinbro : porem muilos d'elles deixaram
de cumprir este dever ; e a maior parte dos
que o cumpriram, em logar de fazer uma
exposigao melhodica, e muito circumstaiicia-
da do estado material, lillerario, e moral dos
Vol. IU.
eslal)elecimentos, como Ihes foi ordenado na
citada porlaria, encheram os relalorios com
projectos v'los e chimericos, e alguns com a
renovag'io de pretensoes caprichosas, ja des-
attendidas e rejoitadas.
Nao prelende o conselho, allegando esia
falla, eximir-se do cumprimento do seu de-
ver: porem, tendo a sua obra de sair imper-
feila, espera que V. M. se digne desculpar os
defeilos, atteudendo a ser invencivel a causa
d'elles.
A instrucgao publica acha-se ctassificada
em tres graus no decreto de 20 de sepleinbro
de 1844; e por isso a exposigao do seu estado
deve seguir naturalrnente a mesma ordem.
Mas convirii dar primeiro alguma noticia do
estado da sua organizagao em geral ; e por
isso o relalorio sera distribuido nos capilulos
seguintps : — 1.° Organizagao geral de instruc-
giio publica. — 2.° Instrucgiio primaria. —
3.° Instrucgao secundaria. — 4.° Instrucgfio
superior. — Coaclusao.
CAPITULO I.
Organkagdo geral da inslrucgdo ■publica.
</■"
A inslrucgao publica forma desde muito
tempo entre noi urn ramo especial de admi-
nistragfio; porque, na verdade, o.^ seus obje-
ctos teem uma natureza tao particular, c
demandam conhecimentos tao especiaes, que
nial se podiam confundir na administragao
geral. Assim, ja em 1759, por alvard de 28
de junho, foi creado um director geral dos
estudos, cuja direcloria passou para a mesa
censoria por alvara de 4 de junho de 1771 :
d'esta paia a comniissfio geral de censura,
por carta de lei de 21 de junho de 1787:
d'esta para a juncta da direcloria geral dos
e-tudos por carta regia de 7 de dezembro de
1794: e d'ahi para o conselho geral director
pelo decreto de 15 de dezembro de 1836.
Esla direcloria, porem, coinprehendia s6-
mente os estudos chamados menores, e de
humanidades; e nao os superiores : e no en-
tretanto e certo, que todos os ramos de in-
striicgao teem entre si lal ligagfio, e sao tSo
dependentes uns dos outros, que mal se po-
dem organizar separadamenle. No desinvol-
vimento da inslrucsao deve haver variedade,
porque o genio e livre ; mas na sua direcgao
JoLHOj." — 1854. Nhm. 7.
78
deve haviT uiiidade, para cvilar a anarcliia
moral, que c origem de todas as oiitras. Foi
com estas vistas, que o deorelo de 20 de
se|)tembro de 181-t creoii um coiisidlio siipi'-
rior do iiistrucc'io piiblica, que, deliaixo da
presidencia do iiiinistro dos nej^ocios do rciiio,
servisse de centre a loda a instriicijrio pii-
blica.
Este cnn-^cllio, lendo sido instnllado cm 9
de oiitubro de 1344, tractou loffn de foniiar
as Ires seccjnes, ein quo aqiielle decreto o
maiida dislril)iiir, reparlindo por lodas ellas,
ns vo^aes ordinarioi e extraordinarios iia or-
dcm,em que vao deaigiuidos no mappa n.°4.
Assiiii or^aiiizado, e teiido a ^ecrela^ia, (|Ue
tora do cousellio geral director, na loiciia
indicada no mesiiio mappa, come^ou os seus
traballios, que teem coritiuuado ale lioje, pro-
rurando correspoiider ii alia confianc;.! que
V. M. n'elle tern depo^itada. Aleiii dos ne-
gocios do expedienle ordmario, liuha o cou-
sellio a formar os regulameulos, i[i3lruc(,oes,
e mais provideiicias necessarias, para dar au-
damento a uma Iii=lilui(,-ao nova, ou refor-
mada ; e por isso, einpregando as suas con-
t'erenciasallernadamenle u'eslesobjeclos, con-
scguindo sali>t'azer o primeiro com regulari-
dade, e levar li approva<,rio de V.M. os proje-
ctos do regulamcnlo doconsellio, dasescliolas
jiormaes, de provimenlo dos professores de iu-
struc^'io primariae secundaria, das jubilacjoes,
apo3enla(,'oes, exoneragoes dos professores , do
processo das follias, veriticayfio de lallas, e
pagamentos : inslrucyoes para os professores de
fhelorica, bisloria , geograpliia, e clironolo-
gia, e de grego dos lycens; para os comuiis-
sarios dos Cftudos, e para regular os cursos
de habililagao para a universidade : program-
mas para osexames dos professores de inslruc-
<;ao secundaria, ediversas consullas com pro-
videncias geraes e permaneules.
Bern cimliece o consellio que, a pezar d'estes
seus irabailios, ainda llie resla iiuiilo que fa-
zer, para lornar complela a execug.'to do
decrelo de 30 deseplembro de 1844: edesern-
penhar cabalmente a alia missao, que llie
foi encarregada ; mas lauibem conhece que,
se todas ns insliluigoes precisam de tempo e
experieiicia para o sen complete desinvolvi-
raento, lias de inslrucgfio publira sfio essas
duas condigoes indispensaveis, para veneer
habilos e prejuizos, sobre que nada podem os
meios maleriaes, mas somenle os moraes ; que
sao senipre lentos, e morosos ; e cu ja falla lorna
muilas vezes inelTicuzes, e ale prejudiciaes,
providencias o mais bem calculadas.
Depois do Consellio, nao lia empregados
que lenbam iuspecj.'io sobre loda a luslruc-
^•ao; mas acbam-se os diversos rau.os, em
•que esta dividida, coiifiados a diversas aucto-
ridades. Os eslabelecimentos de instrucg'io
superior estae confiados aos respeclivosclietes,
como e a universidade ao sen reilor ; a aca-
demia polyleclinica e escliojas cirurgicas
aes seus direcleres, debaixo da iiispeccao do
cotiselho; c loilos elles leem desempenliado
com ponclualidade osseus devcres. A inslruc-
gao primaria e secundaria esui debaixo da
inspecjao dos commissarios dos esludos na
[larle jilteraria; e no que nfio e litlerario,
aelia-se confiada aos governadores civj's, e
adminislradores dos concellios.
Os governadores civis teem procurado
cumprir as ordens do conseUio : pori'm entre
elles alguns, como o de Beja, Caslello-Bran-
co e Porto leem moslrado urn zelo mais fer-
voroso em promover a inslrucijNo publica,
cumprindo nao so com ponclualidade, mas
com deverjao este dever ; que e um dos mais
imporlanles, que eslii a seu cargo. Em qiian-
to aos commissarios, apeuas se aclia nomeado
o do districlo de Braga, que ainda ba poli-
ce lomou posse. O consellio lem lovado u
presenga de V. M. as proposlas da maior
parte dos outros; e lu'io se descuida de loniar
as informagoes necessarias para as comple-
tar; porque reconhece, que sein commissa-
rios, nao pode haver inspec(,:'io, e que sem
inspec<,'ao ser.'io baldados todos os esforgos,
para promover a instruc<;ao publica.
E verdade, que no decrelo de 20 de se-
plembio ainda se aclia outre meio de iiispec-
crio, pelas visitas exlraordinarias : mas e
destinado somenle para os cases iirgentcs, e
extraordinarios; e por isse nfio pode supprir
a inspec<;ao ordinaria, seguida e permanente,
que somenle pode ser feila pelos commissa-
rios e seus subdelegados, e por alguma cem-
missae, de que tiles se aiixiliem no desein-
peiilio de seus deveres. E por isso que o
consellio ainda n.'io deu providencia alguma
para dissolver e consellio d'inslrucgfio publi-
ca da provincia oriental dos Azores ; porque,
em quanlo nao estiverem as aiicloridades
deslinadas pelo decrelo de 20 de seplembro,
para a iiispeccao lilleraria, julga que nao serii
pniderite acabar com as que exislcm, post"
que sejam extranhas aquelle decreto.
CAPITULO II.
Instrucrdo primaria.
A inslnioijao primaria, a pezar de ser a que
inline mais directamenle na felicldade dos
povos, e que por isso e denomiiiada, por
excellencia, nacional, porque dispoe o lioniem
para os uses mais
ordinaries da vida ; foi
com tude a ultima , que enlrnii no quadro
da administrav'io do e»tadn, Quando jii a
secundaria e superior se acliavaiii conlem-
pladas na universidade, fuiidada pelo sr. D.
Diniz, ainda a inslruc^rio primaria andava
abandonada aesfuidados dos parliculares, e
pelos clauslros dos cabidos e conventos, a
quern o eslado pagava, quando inuilo, algu-
ma pensao parao suslenlo de alguma cadeira.
Uecebeii poreui lal impulso no decrelo de (J
de novembro de 1772 e seguiiites, que nao
79
teve que invejar a das iia^oes civilizadas
d'aquelle tempo.
A pezar d'isso, o syslema, com quefoi pro-
niovida, resoiitia-sc, principalmenle, de dons
defeilos, que a experiencia tornoii scn^iveis.
A eicollia de boiis prot'essores e coiidi^fio
jndispensavel para o plog■re^so da iiislriic(;ao
primaria; porem nial se podera. fazer os^a
cscollia do professores, seiii provideiicias para
OS formar, e eram esta^, que fallavarn n'a-
quelle systerna. Alem disso era deficieiile
nos objcctos de ensino, porc]iie, limitando--'e
aos conlieciinentos iiiai'S elernctUares e coiii-
muns, deixava incomplela a educagfio do
povo , e iinperfeilns os coiiliecimcntos neces-
sarios para os eiiipregos uiais ordinanos da
vida. Era per laiilo Corfoso aos que os que-
riain cotiiplelar, recorrer aos estudos s-upe-
riores, era que adquiriam habitos e tcndon-
cias, que os desviavam da carreira, que as
suas circumslancias llies linliam tuarcado;
Iaii<,'ando-os ii'ouLra, ern que, a iiiaior parte,
nao linliain saida ; e por isso sobrecarrega-
vani o publico de prolelarios e parasitas.
Para refortnar esles inconvenienles e que,
no decrelo de20 de seplembro de]844, se or-
denaram as esclioias iiacionaes, e se augnieu-
taram os objectos do ensjno, accrescentarido
o 2.° grau ; porem a sua execujao ainda n-io
pode ter pleno effeito, seudo precise veneer
obstaeulos maleriaes e moraes, que somenle
o tempo pcdera aplanar. O estabelecimcn-
lo das escholas normaes Iraz comsigo despe-
sas, que o eslado da fazenda publica obriga
a economizar; e demanda directores e pro-
fessores, que, no estado actual, nao e facii
encontrar. O consellio, tendo levado a sauc-
9ao de V. M. o projecio de regulainento para
aquellas escholas , jiilga necessario eiisaial-o
primeiro n'urna ein Lisboa, sobr'estando no
tstaljeleciinenlo de oulras ate verificar o sen
resiiltado.
No entretanto talvez seria conveuiente,
ensaiar lainbem oulro syslema para a forma-
Vao de professores, que, a pezar de niais iui-
perfeilo, serd por Ventura mais acconimodado
as nossas circumslancias acluaes. A cre;i9rio
de ajudantes para as escholas do 2.° grau. que
pela frequericia e aproveilaniento dos disci-
pulos dessem provas de niaior desinvolvi-
niento, seria talvez uni meio de formar pro-
fessores com pouca de.-.|)esa; porque a grati-
licajao, que o eslado Ihes desse, era paga
com o servi^o que faziani : e csle syslema da-
ria occasiao para aproveilar algum aluiniro
4a eschola, que desse provas de voca^rio para
o magisterio.
Em quanto as escholas de 2.° grau, a falta
de professores tern retardado o sen estabele-
oimento, por quanto os oppositores as cadei-
ras acluaes, que sao consideradas de l.°grau,
apenas, com raras excep^oes , teem mostrado
aptidao sufficienle para escholas parochiaes
do campo; vendo-se o conselho na necessi-
dade de os prover teraporariamente, para
nao privar os povo? de loda a instnicc.'io ele-
menlar; e por isso mal pode ler a esperanga
de OS encontrar habilllados para o 2.° grau.
Allendendo a esta falta, ja o conselho propoz
a V. M. a conversao das cadeiras de ensino-
inuluo nas de 2.° grau ; porque, a pezar das
duvidas, quese teem levantadosobreasiia utili-
dade, sfio enlte nos as niais frequentadas ,
talvez pela maior aptid.'io dos prolesfores : e
no entretanto nao se descuida o conselho
de preparar o |)rovimento de outras, tendo
fi'ilo o regulamenlo para esse provitnento, e
remetlido aos examinadores os respectivos
programmas para se prevenirem com os co-
iihecimentos necessaries para os desempcahar,
logo que, pelo exercicio das escholas nacio-
naes, ou por outro qualquer motivo, possa
havT esperan(;a de ter professores mais qua-
lilicados.
O numero das escholas publicas no conti-
nenle, sustenladas pelo estado, nao exced'i
ainda a 1:116: aigumas teem sido Iransferi-
das para locaes mais convenienles ; e tem-se
provido outras, que de ha muito estavam
vagas. Silo 1:075 do sexo masculino; e 41
do feminino: 1058 do methodo siinulianec;
e 17 de ensino muluo; havendo 16 d'estas
em exercicio e frequentadas por 2:766 disci-
pulos. i\as Ilhas ha 73 escholas primarias,
com a que ha pouco se creou na Ilha do
Corvo: 5 de ensino mutuo; 68 de ensino si-
multaneo: 3 d'estas , 1 de ensino mutuo, sao
escholas de nieninas.
Acham-se as cadeiras distribnidas pelos
ditTerentes districtos adminislralivos na forma
que se segue :
Aveiro 68 — Beja 43 — Braga 76 — Bia-
gan^a .56 — Caslello-Branco 49 — Coimbra
70 — Evnra 28 — Faro 29 — Guarda 92 —
Leiria 41 — Lislwa 144 — Portalegre 41 —
Porto 84 — Santarem 52 — Viana 45 — Vil-
la-Ueal 69 — Viseu 129 ; = 1:116 no conti-
nente : c= Angra 30 — Funclial 14 — Horta 9
— Ponta-Delgada 20;=:73 nas ilhas.
D'estas cadeiras insulares 18 sao pagas
pelos rendiinenlos das cnnfrarias; e 2 con-
junctamenle pelas confrarias e thesouro pu-
blico.
Ha no continente 1:084 escholas particu-
lares, sustenladas, em geral, pelos alunino^,
com poucas excepjoes de algumas in-tiluidas
por legados, e outras creadas e sustenladas pela
beneficencia particular Nas ilhas, onde se
teni seguido a practica (digna de ser imilada ]
de applicar a instruc(;ao primaria os sobejos
dos rendimentos das confrarias e junctas de
parochia, ha proporcionalinenle maior nu-
mero de escholas particulares ; nao podendo
ainda designar-se o numero total, por falta-
rem alguns eiementos estadislicos.
O numero dos alumnos frequentando as
escholas publicas no continente, pode hoje
calcular-se approximadarnente em 45:500,
pelo augmento de concurrencia experimen-
tado, principalmenle, nos districtos de Beja e
80
CasU'llo-BrancOjdevidoaosefleitos da persua-
sao dos governadores civi'j respectivos. N'cste
numero entrain 1:G41 do sexo feiiiiniiio. As
fiscliolns particular's sfio freqvieiiladas por
10:776 aliimnos de ambos os sexos.
jSas illias podererno, dizer (|ue iiao e pro-
porcioiialiiieiite inferior o niiincro, sef;i"ido
as noticias va;;as, (pie leinos reccbido: I'altain
porem oinda os iiiappas esladislicos, que de-
veriam ler cliegado.
Avaliada em 3.41'-2:600 liabitantes a popu-
ia^ao total, e approxjinadaiiiente 1 para 53.
D'onde se pode iiiforir que vai progressiva-
ineiile crescendo a intclUctuolidade nacio-
Jialj porqiie lia poiicos aniios a propor(,;io
pelos calciilos estadisticos extrangeiros era a
de 1 para 83 ; e no anno findo era o nosso
oalciilo de 1 para 65. Feilo o calcuio em
reiagfio a popula^uo das provincias da em
resultadn ;
Km Triis-os-Monles, conio 1 para 43 —
Beira 1 para 60 — Minlio 1 para 43 — Alem-
tejo 1 para 76 — Algarve 1 para 92 — Estre-
uiadura 1 para 83.
Mas comparando o numero de aiuninos
com o de iiidividiios de 7 a 15 annos, em
edade ecircunistancia; de freqiieiitar as esclio-
las, desapparece a grande desproporgao, para
licar rediizida a n)ais justo valor, formaiido-
se um calcuio approxiujado, pelos poucos
esclarecimentoi, que ategora leenn cliegado a
secrelaria do consellio.
K cerlo que o sexo feminino se aelia ainda
iniiito desfavorecido ; e pode offerecer-se em
prova o concellio de Povoa do Varzim com
.'JOO meninas de 5 a 12 anrios, e deatas ape-
nas 1 10 apt>iicadas a inslruc(,aoelementar.
Traz-osMontes, Beira e Minlio sao pois
as provincias aonde a iiistrucCjfio primaria e
mais frecjuentada. Egiialmente sfio as que
tein mais liabeis professnres, e as que oflere-
cern maior concurrencia as cadeiras vagas
As provincias da E^lstremadura, Alemti'jo e
Algarve teem-se feilo nolaveis n'esle poiilo
pela difficuldade de acliar mestres , pela in-
bufficiencia dV^les em geral , e pelo pequeno
numero de discipulos.
N'esle rarno de instrnccrio somos actual-
menle inferiores aos Lstados-Unidos Aiiieri-
canos, a Prussia, Baviera, Reino Lombar-
do-Veneziano, llollanda, Ingialerra, Austria,
Franca e Suissa : e superiores por veiitura
iinicarnente a Russia e I'olonia, se accredi-
larmos os jornaes de estadislica.
O numero de professorcs de instrucfao pri-
maria e egual ao das escliolas, se exceptuar-
mos as de eiisiiio mutuo, cm que lia de mais
um €ijudaiile paia cada cschola , e alguns
substilulos creados por iiiipedimento dos pro-
prietaries. Nem o nosso systema de iiistruc-
ijiio admille a congrega^fio de avultado nu-
mero de alumnos, que exija em geral mais
de um professor por cschola; nein a frequen-
cia actual o conscnlc nas escliolas de ensino
tiinultaneo.
A despesa total da instrncjao primaria no
conlinenle, paga pelos cofres do cslado, anda
por 103 !)13g8321 rcis. Nus illias a despesa
liubrua nfio cxcede a 5:951^990 reis; sendo
uma parte da despesa paga pelas confrarias
cm numcrario, ou generos cereaes.
Comparada a despesa da instruc^.'io pri-
maiia entre nos coin a frequencia das csclio-
las, fica a despe-a de cada alunino por
2^285 reis annuaes, muilo superior a d'oii-
tros paizesj mormente da llollanda, Austria
e Franca, nfio obstante serem niaiores os
lucros dos professores n'aqiielles estados A
difl'ereiK^a recoiiliece por causa a inenor fre-
quencia das escliolas ; ee por eate inotivo que
o consellio se nan tern deliberado a propor,
por ora, a ciea^ao de roais escliolas, a pesar
das rppetidas inslancias dos povos.
Nao pode porem o consellio deixar de re-
conliecer, que o numero das cadeiras existen-
tes nao satijfaz as necessidades dos povos, e
que em quanto as nao mulliplicar de modo,
que torne facil a sua frequencia, nao pode
exigir d'aquelles a rigorosa observancia do
arligo 32.° do decrelo de 20 de seplembro de
1844
Fara satisfazer a esta necessidade, e alten-
der, ao mesmo tempo, as do lliesouro publi-
co, tomou o consellio o expediente de pro-
mover a crea^;^lO das cadeiras somente pelo
mode indicado nos artigos 9.° e 45." daquelle
decrelo, ja practicado nas illias ; porqiie as-
sim, alein da vanlagem da I'azenda publira,
livra-se de preleiisoos inlcressadas, que as
caniaras nao li.'io de querer pagar, c obriga
eslas a tomar na inspecj.io das escliolas uma
parte activa, e a nao a olliar com indifleren-
<,a, como succede qiiando sao inteirainente
pagas pelo estado. Assiin tomara a instruc^ao
primaria o verdadeiro caracler de nacional,
ou antes municipal, que mais llie convem.
N'este senlido jii o consellio encarregou a
lodos OS governadores civis o importante ser-
viro do proiiiovereni por rneio dasjiinctasde
dlstriclos, e por lodos Oi que eslivcrem ao
sell alcance, aquelle expediente : e em breve
espera poder levar a pre5en<;a de V. M., al-
guiiias propostas d'aquella iiatureza. Jiilga
porem o coiijellio, que se aquelle systema for
do agrado de V. M., iiiuito conviri.i desper-
tar o zeli) dos governadoies civis, em o pro-
mover, com especial reci)mmenda<,ao de V.
M. .
Ainda esle sy^teIna se poderia levar a ef-
feito com mais facilidade, se para a Instruc-
(j'lo primaria se estabclece^se um giau infe-
rior ao l.°, que seria sulTicienle para algumas
aldeas de pequena con»idera<,rio, e facililaria
a concurrencia dos professores com um orde-
nado mais modico, e os recursos para o pa-
gamento d'este. Alem disso, e^tabtlecida uma
escala de Ires graus, por onde os professores
podossein ir suliindo, dar-se-liia considera^'ao
a lodos, accreiceiilando a esppran(;a aos pro-
ventos reaes, e uin estimulo para estudarem
81
e fazerem esforgns por inclhorar eserem pro-
movidos. Esld geralnienle reconliecido, que
o progresso sorncnte se pode esperar, da car-
reira aberta ao talento : em quanto os ordc-
iiados, e recotnpensas, por maiores que sejam,
nao o despertam, se se llie lira a seductora
perspectiva de um fiituro mais feliz.
O conselho tem feilo todos os esfor^os por
fazer collocar todas as cscliolas etn edificios
publicos, pore'm a falla de edificios do estado
em muilos concelhos, e a de recursos dos
municipios etn oulros, ainda llie nfio perinil-
tiu Icvar a pleno effeilo esle empenlin ; de
que, com tudo, nfio desisle, convenrido de
quanto a disciplina das escliolas n'elle iiile-
ressa.
Todas as de ensino-niuluo se acliam col-
locadas em edificios publicos, e algumas das
oulras , ainda que pouoas : porein o consellio
espera do zelo dos governadores civis, que
veiicerii os obslaculds , que ale'gora se leein
opposto a coUoca^fio de lodas.
Outre enipenlio do consellio tern sido o
arranjo de livros elemeiitares; porque sem
dies n.'io lia que esperar progresso na instruc-
^fio priinaria. Tem encanegado aalgunsdos
vogaes extraordiiiarios a forma^fio ou traduc-
^ao dos que jiilgareiii mcllioros: e com esses,
alguns, que llie teem sido offerecidos, e ou-
lros, que se acliavam publicados, espera po-
der formar uma coUec^fio de todos os ramos
de inslrucj'io popular para uso das escliolas.
Por esla resuinida exposi^ao do estado
actual da inslruc^iio priinaria, se ve, que
nao e' plenamente satisfaclorio, se o compa-
ramos com o incremento progressivo, expe-
limentado em povos , que reconlieceni a
instruc9rio, como a base da organizaqao das
socledades modernas, e principio elementar
da forca dos governos ; mas confrontado com
a decadencia anterior a 1834 e innegavel-
menle um estado de mellioramento sensivel,
e abonada fianga a um fuluro elevado.
CotUinna*
MIVERSIDADE DE COIMBRA-PROGRAMMAS.
FACULDADE DE MEDICISA.
1853—1854.
4.* ANNO.
C40BIRA DB PATHOLOOIA E THERiPBL'TICl UBDICA
B APHORISMOS,
00MPB:>DI0 — HUFFELAND, MANCBL DB MBOBGINB
PRATIQDG HYPP0CI1RAT18 APUORISMI.
Lente — Dr. Joao Lopes de Moracs,
Come^a pela Pathologia e Therapeutica, definindo
o qtie e uma e oulra, consideradas em geral ou em
wpecial ; e dcpois enlra-sc Da exposirilo e explica^Sodaa
generali'ludes do livro que serve de texlo ; as quaes fazem
para nssini dizer tjoia lransi^3o da Palhologia geral, e da
Therapeutica para a Palhologia e Therapeutica medicas,
a que servem de prologo.
Enlra-se depois na Pulhologia eiipe^inl, secnindo a clai-
iiiicarjio e mclliodo iidoplhdo do compendio ; porque
leria confiioito adoplal-o, e re^eitar-Ihe o methudo: enlre-
tanto iiHs t'eneralidades se Icni addtizido coiifitleraijaea
subre OS differentes metliodog e cla-^iGcu^-Oee, apuiiUiinIo
o8 uiais Be^'uidfts no fslodo oclual ij.i sriencia ; e con-
cliiindo pela oecpssidade d'adoplar algiim ; preferindo o
do conipL-ridio pelo faclo de o ser, e tomaiido-o corao
ponlo de conipara^rio com os mats segnidos, mluplando
d'csles o que melhur parece a inedida que Be vai Iralando
da materia.
TcHlando de rada riasse, Bcc"e-se por lanto a ordeoi
adoplada no lexlo ; expondo os caracleres da classe,
tirailtjs dog syinptouias commuiig, cujo grnpo e couibina-
(;ao ci.nstitne o tlijcnusliro ph}sioj;rapUiro da nu^suia ; sem
com tudo deixar ilc curriijir de qiialqner uiaiicira <» quo
se jul^a a proposilu se^undo <> Cilado actual da seiencia ;
supjtrindo principalownle a falla dos caraeleres ariulo-
niuiicos nas classes de uiolestiaa, em ip:e elles se d3o.
l)(i mrnma mnneira se prucedc a reapfito da Palho^renia ;
sem dcsprcsara doulrina das (rt!usti.i projcinias), nduptada
pelo aiiclor ; c pondo-a em harmuni.i com o estado da
medrcin.! em Franca, aonde parece dar-se-Ihe menus at-
ten(;rio, mas qui? nem pur isgo se <lt.*.spre8a ; puis se acha
conBii^nada no Dm i!e cada capidilo J-Ob classes, i^t-neros,
ou especiea de molestias df^baixu do litulo — naturcza
— do mcsmo modo se procede a respeilo dos geiieros
e espL'cies de molestias.
Eni quanto a Therapeutica das molestias, consideradas
coiuo classes, generos, especies ou indivjduos, expoe-se
a do compendio com as modiDi.-atjSes, addi(;oea, ou sub-
stituicues qnc reclamani o esljdo da scienciaj subre tudo
em Franca; o clima e as observarOes e nieomo os usos
merliros do paiz, em que se etiaiiia ; j)rocurando em tudo
conciliar a ob8erva(;ao e a experiencia cum o quo dicta
a razflo e a pliilusuphia. Nao se re^eila systema ou
metbodo algum, cscolhc-se de todos o que melhur parece^
e a experiencia coiifirma.
Finalmente, segundo o nosso methodo d'ensino, todo
didaclico e sem apparalo, era li^Ces diarias, ("or^oso 6
que h.ija um compendio que firva de texto; porque sem
elle nao pode haver expIica9ao nem commentario ; mus
nem por i&so se jura nas palavras d'esse texlo; deixa-se
a cada nm o direito d'exaroe, d'analyse, e de critica,
que o Professor lambem gosa, substituindo, ainpliando,
corrigindo e mudificando eumo llie parece mclhor, fietrundo
o eslado da seiencia, e as suas (troprias obser\ arises.
Em quanto aos Aphori>mos consiirnadus, n'etla cadeira,
por uma especie de humenagem ao creador da seiencia,
dii-se primeiro uma breve noi^iio liistorica do eslado da
medicina na Grecia antes de Ilypocrates ; qu'il e o
espirito da sua doulrina luda fundada na observarilo, na
experiencia e na razao ; e qua! e o estado em que elle
deixou a medicina.
Depots entra-se na explicarao e interpreta^ao de alguua
dos seus Aphonsnioa, se^undo o espinto da dontrina de
HypocrateSj e comparando as suas sentenf^as com o que
offerece o estado actual da seiencia, em conQrmarao oh
reprova(;.lo das mesman.
Eis-aqui em sunima o programma, seguido oas li<;oeg
consignadas a cadeira de Pathologia e Therapeutica
medica e Aphorismos, Escusado eentrarem minudencias,
porque seria indispensavel copiar o indice do livro que
eer^e de texto, aqiiillo em que e substituido, modificado
ou alterado pelas doutrinas de Grisolle e outros Palho-
lusistas modernos ; e o que pode lirar-se de proveiluso
du8 varios dicciunarios de medicina, e que o tempo
permitte expender nas li^oes d'esta cadeira.
JERUSALEM E 0 MaR-MORTO.
ARCHEOLOGIA HEBRAICi.
A roligiao, a seiencia e a poesia, consagram
o iTierecido tributo das suas lioinenagens a
csta terra assignalada pelas *rloriosas tradif;oc^>
dos livros sagrados. A religiao comtempla
82
/illi com verdacleira eniofao o Uimiilo do
Hoiiictii»Dciis ; a scieiicia encontra nesta rc-
gino, outi6ra tain llorefcente, os mais ricos
mnnancifies da liistoria ; iim ceo lirillianle, e
,» icmiieiisidade do deserlo, rcpresentando a
iinagein do iiiGnilo, excitam no poeta as mais
sublimes inspiracoes. Nao liu paiz algiim, se
i-xccpUiarmos Meca, t]iie em seu seio lenha
conlado laiilos peregrines como a Terra san-
cla. D'esles os priineiros pertencein aquelle
seculo exlraordiiiario, apaixonado do proje-
lyiismo, cm que a religiao, depois de cnieis
persf'gui5oe3 e longo capliveiro, Irinmfihanle
oe sens iiiiinigos, lograra em fim a auclon-
dade, que por lanto tempo llie fora dispnlada.
Assegnnda? peregriiia^nes appareccm no meio
d'essa era cavalleirosa, cm que oclirislianismo,
modificado pelo primitivo tliaraclcr das nardes
occidenlacs, servia de prctexto ao e^pirito
guerreiro, e ao genio avcniuro-o, que fora a
cliaracteri^tica da socicdade curopeia nesta
epoctia. Em fun, quandn os nllimos peregri-
nes penelraram na Judea, a Kuropa lomiira
ja uma nova face pelo contacto com a anli-
guidade profana, e entnira nesle periodo, as-
signalado pelonasciinento da modcrna civilisa-
gao, e que vira desapparecer os uUimos ger-
mens da barberia. Hojc o viajante percorre
aquella terra, clicia de tantas recorda<,'6es,
nao ja braiidindo a espada, porem lomando
na niao a Bibiia, e a penna. Nesta criizada
de nova espccie, animada pilas sublimes
aspiraCj'oes a que tende a sociedade moderna,
o vinjanle nao se limita so a contemplar
n'aquelles venerandos monuuieiilos as glo-
riosas Iradigoes consagradas pela fe, e pela
religjifio ; os costumes, a geograpliia, e o clima
d'aquelles sanctos Ingares fazetn tambem um
dos principaes objectos das suaa invesliga(;oes.
Assim a fe e o amor da sciencia se ligam
admiravelmente, e sfio o verdadeiro incenlivo,
que transporta ao meio d'estas regioes essas
pacifitas cruzadus, que no volver dos annos
5u vao suceedendo umas lis outras sobre aquel-
la terra inhospita.
ISo comedo d'este seculo o illustre A. do
Itinerario de Paris a Jerusalem abriu esle
novo e ale entao quasi desconhecido caminlio,
dirigindo as suas observagoes com a exacli-
dflo, e soberana liberdadc de \im verdadeiro
sabio, e de iiin pliilosnpho tonsummado. O
exemplo do illusire viajante teve numerosos
immitadores. Desde logo os dois grandes
cenlros da religiao reformada, a Allemanlia,
ea lnglalerra,assim como a America do Norte,
que parece cuiiliecer so um nnico livro, en-
viaram successivamente sobre as costas da
Syria novos observadores para explorar este
paiz. Aquelle unico livro desla ra<;a empre-
hendedora, criada sobre nm soloainda virgem,
aquelle livro, que, desde a queda do paga-
nismo, tern, como oulr'ora Jioma, governado
o Occidente, e a liistoria da Judea. A bibiia,
abstraindo de sua divina origem, e coiiside-
rada so humanamentc, e um poema sublime.
A verdadeira liistoria dos triumphos e dos
grandes infurtunios d'aquelle povo singular,
que parece fi)ra talliado para viver inteirar
mente separado dos oulros povps, e desctipla
n'aquellas eloquenles paginas com l.'io vivo
colorido, com tanla forja de expressuo, em
estilo tf(0 conciso, e ao iiiesino passo lao
energico, quenenhum oulro livro pode ainda,
nem se quer egualar. Na imineiisa variedade
das suas descripqoes a bibiia abrangc Judo
quanio conslitue a lli^toria pliysica, moral,
e politica de um povo, que tao dislincto logar
occupa nos annaes do inundo ; os scus uzos
civis, e religiosos, suas leis, e sens costumes,
seu clima, confii;ura<;ao, e geograpliia ; o eis
a(pii porque a hiblia e o primeiro, e mellior
giiia do viajante, n'aqiielle vasto tliealro de
lao memoraveis acontecimentos.
N.^o vem ao iiosso inteiito referir aqiii os
profuiidos e imporlantes Iraballios scieulificos,
do que a bibiia lein sido objeclo sobre liido
cm Allemanlia, ondc a crilica moderna, e o
espirilo de livre exame lanlos progressos tern
feito ; o que imporla notar, e o facto singular,
e caracteristico da arclieologia lidbraica — a
completa ausencia de todos os elementos, que
constituem, o que ordinariamenle se cliama
untiguidade figurada. Kste facto mui notavel,
e attestado por todos os viajantes, e confir-
mado pelo lestemunho dos liomens mais emi-
neiites na sciencia desde Rosenmuller ale
Gesenius, e desde Micliiielis ale Ewald.
Dii-se o nome de antiguidade figurada as
obras d'arte, que tem escajiado a. destrui(,-ao.
Quando a antiguidade lilleraria parece fugir-
nos, ou perder-se na obscuridade dos seculos,
a antiguidade figurada vem, por assim dizer,
servir-nos de marco niilliario nesta longa via,
onde o viajante se perderia em mil encoi>- ,
Iradas conjecturas. As recorda^ues, a tradi-
(|-ao e OS soiilios do passado lornam-se palpa-
veis, e apresenlam-se-nos aos oHios com loda
a for^'a da realidade.
Em llerculano , e Pompeia a antiguidade
figurada revela ale os faclos mais particulares
da vida e cost.iines dos seus antigos mora-
dores. Na India, na Italia, e na Grecia os
templos, e as eslaliins sao documentos elo
qiientes das magnlficencias do paganismo.
A Judea pelo conlrario nao nos offerece um
unico monurnenlo da sua primitiva civilisa.
y.'io, ou de sua antiga religiao. A raga, que
primeiro pisou este solo, como todas as rajas
semiticas, linlia pouco goslo pelas imagens,
e ja mais so dedicou a. culliira das bellas
arles. Na Judea ii.'io se observam, como sobre
OS promontorios da Sicilia, ou junto das
margeiis do Nilo essas bellas rtiiiias, que
Inriiam a pai-;agem tfio rica e lao variada ;
nfiose veem alii nem cdificios coroandoa crista
das montanlias, nem pedeslaes sem estaluas :
falla esla bclla iiarinonia da naturcza e dos
inoniimentos. N 'aquelle paiz nao se conliece
a ligajao do Acropole com o Partlienon,
liga(;rio tarn intima, que o rochedo allie-
83
niensc seria o mais espantoso rocliedo do
mundo, se tiao tivera aquella fortnosa coroa
de alabastro. Eslas sublimes hainionias, la-
Iliadas para a pliantasia do pintor, e para a
imaginajao do poela, nao e.xistoin na Judea,
porque tao dilTicil e lioj ■ reconheoer os ves-
tigios dos primeiros domiiiadores deste paiz,
como achar as pe^adas dos arabes na area
do deserlo, que esui as siias porlas.
E de feito a iiagfio judaica leve um iinico
moiiuniento, destruido lia dois mil annos.
Deste grandioso moniimento resla apenas
a confusa dcscripgao, que se Ic nas pa-
ginas sagradas. E por isso que os auclores,
que se tern occupado da archileclura das na-
96es aiitigas sao conformes cm dizer, que
inui pouco se sabe da dos liebreus. K Mi-
chaelis, um dos mais diilinclos e abalisados
conhecedores das antiguidades biblicas, iiao
duvida susteiilar, que no tempo de Salomao
« ainda muilos annos dcpois os arcliitectos
judeus erao mui ignorantes. Copear os
plienicios parece tor sido o objecto de todos
OS seus esforjos.
Ora como os phenicios nao deixaram um
unico monumento, digno deste nome, f'acil e
de ver, quam difficil sera conhecer, e avaliar
exacta e rigorosameute a architectura dos
hebreus.
Nem era para estranliar aquella ignorancia
n'uraa ra<;a tao proxima do deserto, e no-
made por consequencia na sua origem ; que
cerlo nao poderia medir-se na arte de cons-
Iruir com as na^oes agricoias e sedentarias.
Outias circunstancias, porem, nao menos im-
porlantes, vcm confiimar o testemunlio dos
iiistoriadores no que respeita a completa aii-
■sencia dos momimentos biblicos. AJudta f'oi
por largos annos tlieatro de sanguinoleiitas
lutas, e conlinuas devajlagnes. A terra clas-
»ica dosmilagres, nao tern sido tnenos — a ter-
ra das revolugoes. A Judea era o vasto cami-
nlio para os conqui^tadores do Egypto on
da Asia. Odiosos aos outros povoa, os judeus
viviam cercados de poderosos inimigos. A
una liistoria e uma constante alternaliva de
sangrentas victorias, de crueis revezes, e de
longos capliveiros. Batalhando incessante-
mente por libertar-se do jugo estrangeiro,
livernm por fun que ceder, e sua capital ate
o nome perdeu. Jerusalem desassete vezes foi
saqueada, c um milliao de seus beroicos de-
fensores deram a vida peja iiberdade junto
de scusmuros. E no meio de tao espantosas ca-
tastrophes impossivel foradescobrir asreliquias
da architectura iiebraica, ainda que os Judeus
possuissem esta arte em tao subido grdo,
como OS Romanes. A todas estas causas, que
seriam de persi bastantes para fazerdesaparecer
de sobre a face desie paiz ate os uitimos
vestigios da primiliva civilisagao Iiebraica,
aoaso se juntara uma outra, niio menos
poderosa, se nao, talvez, mais effic.az, e dura-
dOra. O genio hellenico com todas as suas
galas, cercado de todos os primores d'artc,
cslendera sua doininajao sobre as aridas
montanhas da Judea. A sua magnificencia
ainda hojeseadmira tias magestosascolumnas
de Palmyra, e ate sobre os rochedos de
Petra. A nova Jerusalem, levanlada sobre as
ultimas ruinas da cidade de David, e um
glorioso Iropheo da grandcza e excellencin
d'aquelle genio portentoso, que cm todos os
seus monumenlos dcixara eslampado o cunho
das artes e das sciencias. A lerceira ree(li(;ca-
<;ao do tempio de Salomao fora, segundo
Herodoto, obra prima da riquosa, e ele-
gancia de Athenai on do Corinlho. Assim
do lantas grandezas restam-nos hoje ruinaa
de ruinas ; os vestigios de uma nova civilisa-
^'iio, que fizera desapparecer a da gera^ao, que
a preccdeu, e que para sempre liciira con-
fundida no p6 dessas mcsmas ruinas.
A irnpossibilidade, porlanto, de encontrar
05 nrienores vestigios da antiguidade hebraica,
e um ponto assenlado, e sobre o qual as
tradi^oes, o teslemunho dos mais eruditos
antiquaries, dos peregrines, e viajantes estam
ein pleno accordo.
Um illustre viajante, porem, n'uma recente
publica^ao ' pertende reconhecer ii'alguns
nionunientos da Judea a obra primiliva
d'antiga civilisa^ao hebraica, das suas artes,
e da sua industria. Em apoio desla theoria,
contradicta por tanlos e tao numerosos docu-
mentos, Saulcy invoca o descobrimento do
tumnlo de David, e das ruinas de Sodoma.
A aiUenthicidade, porem, destesfactose ainda
mui problematica, e nao sera porventura dif-
ficil reconhecer n'esla theoria as erradas conse-
queneias d'alguma preoccupa^ao, ou de um
false sysleuia. A questao e evidentemente uma
das mais imporlantes, que pode offerecer-se
no estudo da archeologia hebraica, e que nao
deixara por isso de merecer a atlenjao dos
erudites.
Continua.
CONCORRENCIA.
Continuado de pa^. 72.
Accusa-se geralmente a concorrencia de
arrastar comsigo a miseria d'uma classe, ao
passo que oenlralisa no dominie do capilu-
iista todas as fortunas ; que o capitalista se
torna e rci da seciedade, a btirguezia a sua
escrava ; que a miseria cresce a medida que
a civilisagao augmenta. E uma queixa simi-
lliante a. que se fa? relativamente a mo-
ralidade; em nosso entender esta accusa^ao
basea-se n'um duple erro.
A conconencia absoUita nao dotnina ainda
hoje a seciedade, porque os monopolies lega-
' Saulcy. Voyage anionr de la Mer-Morte et iaus
let Urrei bibliqiies. i vol. Paris 1853.
84
lUado5, e o monopolio do capital ainda of-
ferecem uma barreira ao livre desinvolvimen-
to da liberdade, como lenios foilo ver. Mas
se a Iciidencia geral o para a generalisa^ao
da livre associayfio ; se esta tend<Micia cada
vez niais se realiza pelo conlieciineiilo das
vantagens que dclla roiiillaiii ; e se esse pro-
gresso se apreseiila como resukado da liber-
dade, como o cnriiplerncnlo, a que tendo o
svsleina actual, pois que e o cninploiuenlo
da liberdaile de que a actualidade apresenla
iini grande ensaio ; e incxacto suslentar-se que
as tendencias acluaes se dirigein a exlreiiiar
duas classes ; uma que so procura cenlralisar,
e estabelecer o dominio exclusive para si do
capital; oulra que augtneiita proporcional-
menle na miseria. A logica poretn leva-nos a
uma coiiclnsao inteirauienle differente; por
uma parte inoslra-iios a conoorreiicia muilo
longo ainda de ser a lei da sociedade, mas
dirigindo-se todavia para esse fim; por outra
t'az-nos ver que u riqueza esld hoje melhor
repartida, que uao o estava em epochas ma is
remotas. Tudo quanto levamos dilo prova,
nos pareco, a primeira conclusao ; os Irabu-
llios esladisticos corit'irmani a segunda.
Iloje u.'io e possivel sustcnlar-se que o facto
do accrescoritaineuto da:, liquezas seja supe-
rior ao da sun diffusao. Se Mr. Blanqui diz
que a miseria publica e um grawde I'acto so-
cial, particular aos tempos modernos, inani-
festando-se cada vez niais a medida que a
civilisa^fio se diffutidc; nos respotidenios ao
estimavel e elocpierite economista, quo o que
e particular ao tempo actual e a agitii9ao de
todas as classes ; e a sua inquieta9:lo, a sua
impaciencia e a impossil^ilidade de conteutar-
se ; porque, vendo raiar a aurora da sua total
emancipa^fio, conscia do seu poder, jti nao
pode, como outr'ora, sol'frer o jugo, ainda que
niuito mais suave.
A e|)oclia actual mal podera confronlar-se
com exactidfio coui as da antiguidade em. re-
la^fio ao problema da miseria. A dilTeretic^a
cssencial que reiiia na vida inlima da socie-
dade d'lioje para a da autiga sociedade, e a
causa dessa difficuldade. Que miseria nao de-
veria haver n'uma sociedade seni commercio
e sem industria, cujos unices elementos de
producg.'io cram a guerra e a pilliageni ! Onde
as classes niedins olliavam o trabalho conio
uma obra servil, e a ociosidade como o attri-
bulo do cidadao? Mr. Moreau-Cliristoplie faz
ver que nos antigos povos, especialrnente os
romanos, entri- a lierilidade e a servidao liavia
uma classe proletaria, composta de cidadfios
pobres on d'uma fortuiia mediocre, que nao
tintiam escravos, que os nao podiam ter, e
para os quaes a sua liberdade original era
precisarnente uma origem de indigencia, de
oppressao e de miseria; liberdade que consti-
tuia para elles uma especie de titulo de no-
bresa, que nao Ihcs permittia entregarem-se
a occupa(,'oes manuaes exclusivamente reser-
vadas para os escravoj. Km Roma apresen-
lam-se frequenles cxemplos, que bem pro-
vam a existencia dessa classe proletaria vota-
da ;i pobresa : quantas revollas, fructo dessa
miseria, nfio presenciou a Cidade por excel-
lencia? Mas, quando inesmo antes da epoclia
em que comc^aram a linver libertos, nao se
(|uizes5e udmittir mais que as duas classes de
senhiires e escravos, estariam os escravos sem-
pre ao abrigo da miseria, prodigalisar-lhes-
hiarn sempre sens senliores com que sallsfi-
zessein a todas as suas necessidades? As me-
drdas severas contra os escravos fugitives; as
rebel iocs dos Ilotes em Sparta, dos escravos
em Roma, sao uma triste recorda^ao da mise-
ria d'esses inft-lizes ! Ila hoje acaso pinlura
dos males que allligem a humanidade, por
mais liabil que seja a mao que a desenhe, que
poisa eguaiar a impressao de horror, que nos
causa a so idea d'um ergastido ? !
Que idea poderemos nos fazer da sexta
classe romana, cuja denominagao de proleta-
ria 6 o mais manifesto testemunlio da miseria
que a devorava ! N'uma republica onde a
riqtieza consistia principalmente em terras,
que idea se pode fazer do proletario ci>amado
tambem inops, porque nao possuia um so pal-
mo de terra ; e capite ccnsi, porque so eram
recenciados por cabe^a ! E desta classe conta-
vam-se em Roma no Iem|)o de Cesar trezen-
tos e vinte mil, quando a massa total da po-
pula^ao n.'io excedia a quatroceiitas e cin-
coenta mil almas. Quern desconhece o —
pcincin el circenscs? Um peda^o de pao, po-
ne;/?, acompanliado de festejos e de jogos
circcnscs, e distribuido cada dia gratuitamen-
te a cada um dos trezentos e vinte mil ociosos
de que lemos fallado, oonstituia para esta
massa degradada a maior somma de felici-
darle que ella podia ambicionar.
Garnier de Cassagnac diz, que a mendici-
dade era um facto quasi desconhecido dos
antigos nos tempos da servidao primitiva,
por causa do pequeno numero de libertos,
que havia antes da eta christa : esta opiniao
hoje n.'io suslenla o rigor da analyse. Depois
da batallia de Cannas, Roma armou oito mil
dos sens escravos, a que deu a liberdade; '
desde « anno 340 a 210 antes de J. Christo,
mais de cem mil libertos haviam entrado na
sociedade romana; e acabaram por tornar-se
tao numerosos, que Scipiam Emiliano dizia,
que o povo romano nao era outra cousa.
Quando Mario ipiiz destruir em Roma a
aiistocracia da nobreza, encarregou deste ciii-
dado milhares de democratas infelizes, que
elle foi buscar d'entre os escravos; Sylla
distribuiu a cada uma das Irinta ecincot-ibus
dez mil novos cidadaos libertos, que haviam
sido escravos dos patricios proscriptos. Isto
fez com que Cicero dissesse de sen tempo,
que OS libertos piedominavam nao somente
nas quatro tribus urbanas, mas ate nas Irinta
e uma tribus ruraes. Jii se ve pois que antes
da era christa liavia grande numero de liberies;
mas se attenderraos a massa da mendicida-
I
85
(Ic, nao so acliava laiita nclles, porque traba-
lliavaiTi, codio nos cidadiios ociosos de que
f'allarnos, os <]iiaes nao tiahalhando, e nao
lendo patriinonic, deviain foffrer as Iristes
consequencias d'lini tal eslado. Alem diaso,
OS escravos eiiferiiios e inqiiissibilitados de
trabaihar aiii^mentavaiii graiidomenle o nii-
rnero das vicllnias da fonic.
Na epoclia da barbaridade o quadro ainda
e mais canegado : quasi loda a parti; penal
da lei Salica, prova Mr. Pardessus, (^ra con-
tra as rapinas e assassinates ; de trezenlos e
quarcnla e tres artigos dc direilo penal, Cjue
esta lei conlinha, diz Mr. Guizot, liaviaiii
cento e cincoeiila que se referiam a casns de
roiibos, e cento e treze que se referiam a
alaqnes contra as pessoas. Nestos tempos
calainitosos nao era possivel andar pelos
canipoj scm o perigo eniinentc de taliir, on
nas mfios dos bandos de ladrofs, on nas dos
ininiigos. Os nome? antigos das rnas de Paris
testemnnliam ocspirilo anti-social desle tempo,
e a iniseria, que era a sua consequencia. O
ter(,o ou talvez a inetade da populajfio da
Enropa, e d'nma parte da Africa e da Asia,
succumbiu pela guerra, pela peste e pela
feme! Quando Julianno passou para a Gal-
lia, qnarenta e cinco cidades acabavam de
ser destruidas pelos Allemaes. Depois da in-
vasao d'Atlila so duas cidades foram salvas
ao norte do Loire — Troyes e Pan's. Em
Metz OS Hunos degolaram toda a gentc, ale
as criari(,'as. Salvianno conia ter visto cida-
des, cujos vivenles eram unicamente as feras
e as aves, que devoravam os cadaveres em
putrefacgao. Em Hespanlia as feras em-
liarayavam olransito pelocampo, ecliegavam
a atacar as povoa^'oes. Uma muUier linlia
quatro fillios, malou-os e devoroii-os a lodos I
Na Africa os Vandalos arrancaram as vinlias,
as oliveiras e mais arvores frucliferas, para
que os povos encerrados nas cidades live^sem
de perecer a necessidade.
Ka Asia, diz Cliateaubriand, as invasiies
dos Godos produziraui unia fome e iima
peste que diirou qninzc anr)Os; cinco mil pes-
soas morreram n'nm so dia. a Roma, qnatro
vezes sitiada e. toniada dnas vezes, soffreu os
males que liavia feito soffrer a terra. As mu-
Iheres, seguiido S. Jeronymo, nao perdoaram
mesmo aos I'lllios que peudiarn de seus peitos,
e fizerain entrarde novo em sen seio o fructo
que dalii acabava de saliir. Roma lornou-se
o lumulo dos povos de que liavia sido a mie.
A luz das najoes e\tinguin-se, decepando a
cabeCj'a do imperio rnmano, abateu-se a do
mundo ! u A peste e a foine cspantosa forarn
as consequencias necessarias dcslas devasta-
^oes.
Mais adianle a liistoria nos faz ver, desde
o fim do seculn decimo ate ao principio do
duodecimo, a fome, que nos seculos prece-
dentes havia jil feito terriveis estragos, lornar
a apparecer treze ou qnalorze vezes, quasi
seinpre acompanliada da peste, durando cin-
coenta annos n'lini periodo de cento e doze
annos; a liistoria nos iiioatra uma fome tal
em Inglaterra, que tliegoii a comer-se carne
huniana.
O seculo dezesseis n.'io apresenta sigiiacs de
graiide inellioramento para o proletariato.
Fortescue, que liavia pereorrido a Franca
no tempo da Reforma, dizia, fnllando dos
colonos: u files bebeni agna, eomein pomos,
fazeni com centeio uni p'lo negro, e naci
fabem mesmo o (pie e carne. » No tempo
de Liiiz XIV contavam-se em Paris 40:000
vagabundos e mendigos, e 200:000 em toda
a Fran<;a : eja desde o seculo XII a mendici-
dade de profissfio era tHo nnmcrosa, que se
havia tornado objecto de serias inquicta9r")es.
Vauban (an. 1698) este liomem tao conlie-
cedor do estado da Fraii(;a no sen tempo, ex-
piessa->e as!ini : « E certo que o mal da
iiidigencia tern siibido em excseso, e se nao
se tratar de llie dar reniedio, o povo baixo
caliira n'unia exlreniidade de polireza, de
que nfio se tornara a levantar. As estradas
principaes do campo, e as rnas das cidades e
das villas est:lo clieias de mendigos, que a
forne, e a nndez d'alli fazem saliir. Quasi uma
decima parte do povo e,t<i rediizida d mendi-
cidade, e elTectivamenle mendiga; das outras
nove partes, cinco nao estfio en> estado de
darcni esniolla a esta, porque muito perlo se
acliarn da mesma condicgao; e das quatro
que re^tam, tres sao muito pouco abastadas. ;>
Hoje a Franga, paiz que tanto tern augmen-
tado em induatria, nao apresenta um qiiadro
de pobreza comparavel com este, e a Frani^a
lioje e povoada por 34 millioes de liabitantes,
e enlfio apenas por Mi.
Entre nos mesmo, n'lo obstante Portugal
ser uma nagao agricola, e a ferlilidade dos
nossos cainpos offerecer ahundantes recursos
contra a miseria, todos sabem de quantas leis
nao I'oi objecto a mendicidade de-,de os anti-
gos tempos. As leis de D. Fernando contra os
mendigos sao disso um testemunlio; e em
tempos mais proximos os alvaras de 9 de
Janeiro de 1604, de 25 de dezembro de 1C03,
de 2& dejunho de 1760, edital de 17 de maio
de 1780, etc.
Jii se ve pois que a razao e a liistoria
contradizem formalmenle esse augmento sem-
pre progressive da miseria, que snstenta a
opiniao que impugnamos.
j.B. DA s. P. DE c. MARTENS.
PHYSIC A DO GLOBO.
KXPOSKjIo DO SVSTEM* DOS VE>TOS.
O vento e uma parte denossa atmosplipfa
posta em movimenlo por alguma altera^ao
em sen equilibrio : esta alterafao e prodnzid.i
por dilferen^as de lemperatnra.
86
Scndo o ar inais qucnle, c por ecinscguinlc
mais rarefeilo junlo do eqiiaiior (\ne dos po-
los, eflabelecciii-sc, cm cada heiiiiaplierio,
correiilcb dar cpit se dirigeiii dos polos para
o equador. Kstas conenles cliamadas vcntos
polarcs, ordiiiariaiiionte nas zcnas lempera-
das soprani cnlre o noroeste e o norle no
licmisplierio boreal, c cnlre o sndoeste eo sul
ro austral; a direc^fio d'ellas approxiniase
de leste, ao passo que avan^ain para a zona
torrida, onde forniani os venlos alizados. As
iiuvens i'reqiienles vexes indioarn, qne as cor-
/eiites variarn niaia depressa nas cainadas in-
feriores que nas superiores, c que conservam
sua priinitiva direcyao nas regioes elevadas.
Al'^umas vczes os venlos polaies totnani
proximo dos polos a direc^iio enlre o norle o
iiordnste ou enlre o sul e sue^te, conforrne o
liemisplierioj c a conservam ale' na zona lor-
lida, e nas inais elevadas regioes da alinos-
pliera.
Os venlos polarcs occupani uma cxlonsao
limilada; mas reinain ao mesmo tempo em
muilos logarcs, e nos intervallos que os se-
param, encont^am-^e os vcntos liopicaes, i]iie
soprani enlre o sul e oesle no liemisplierio
boreal, e enlre o norte e oeste no austral.
Estes ventos sao ordinariamenle as contra-
correntes dos ventos alizados do liemisplierio
em que sopram.
Oj venlos alizados forraam diias corre:ites
distinclas, que eslao ern contaclo nos mares
livres e sobre as coslas orienlaes, a uma
distancia do equador, que depende de sua
jntensidade relaliva. Eslao as vezes afastados
uns dos ouUos a oeste dos conlinenles, nos
mares eslreilos ou semeados de numerosas
llhas; no iiilervallo que os separa, cxislem
calmarias, ou antes ventos que sopram entre
o sul e oeste no liemisplierio boreal e enlre
o norte e oeste no austral : clianiam-se venlos
variaveis da zona torrida ^ mas nos mares
da India da-se-llies o nome de mongao do
sudocsle ou mongao do noroeste.
Os ventos sao pola maior parte as contra-
correnles dos ventos ali/ados do hemisplierio
opposto aquelle, em que sopram.
Quando os venlos polares e os vcntos ali-
zados teem nnia cerla intensidade, podem
cbcar lis niais elevadas regioes da almos-
pbera; mas quando s.'io fracos, os ventos do
liemisplierio austral passam por cima dos
venlos polares e alizados do bemispherio
boreal, ou vice-versa.
Em qnalquer logar que os ventos polares
e alizados deixam de reinar a supcrficie da
terra, sao subslituidos pelos ventos superiores.
Quando os venlos alizados dos dous hemi-
spberiosesl.'io em contaclo, os venlos superiores
tocam a supcrficie fora dos limilcs cxtcriores
dos ventos alizados ; mas desde que as zonas
d'esles ventos se scparam, o intervallo e pre-
encbido pelos ventos superiores.
Estes ventos reunem-se ora aos ventos Iro-
picaes, ora aos ventos variaveis da zona tor-
rida, e ate algumas vezcs a ambos. .^uglncn-
lain de intensidade que todavia e' pouco con-
sideravcl, exccplo se 'os venlos polares ou
alizados do liemisplierio a que cliegam, Ibes
oppoem obslaculo; e apenas variarn a oeste
do sudocsle ou do noroe'stc por effeilo dos
mesnios ventos.
Os vcntos tropicacs formam inuitas vezcs
nina zona ou parte d'uma zona comprebcn-
dida enlre o parallelo de .S5 graos c o de 45
ou ()0 graos. Grande numoio de correntes
d'ar polares eslabelcceni-^e ao mesmo tempo
enlre esta zona e a dos vcntos alizados; cstas
conenles teem origem junlo doa polos, inaj
lendo menos intensidade que os ventos tro-
picacs, passani acima d'cstes, e retoinam sen
curso a supcrficie da terra perto do limile
equatorial dos venlos tropicacs.
Quando os vcntos polares sopram enlre o
norte e nordcsle ou cnlre o sul e sueste, segiindo •
o bcmispberio, tivcram origem junlo dos
polos, e doniinain a superficie do mar. Se
sao mais fortes que os venlos tropicacs, con-
linuam sen curso u superficie, e obrigam
estes a rcmonlar :is regioes elevadas; mas se
sao mais fracos, dcsviam-se de sua primiiiva
direcgao, e loniam a do le'ste ou de les-
suesle no hemispbcrio boreal, e a direc(;ao
do le'ste e de lesnordeste no cutro liemis-
pberio.
Depois de calmarias, o venio eleva-se or-
dinariamenle nas zonas temporadas do sus-
sueste, no bemespberio boreal ; 'varia depois
ao sul c ao sudoeste, e ate ao oessudoesle,
donde passa inslanlancamenle ao noroeste. No
hemiipberio austral, gj'ra cm sciilido inverso;
coinega ao nornordesle, varia depois ao norte,
ao noroeste e a oesnoroesle, donde vira ao
sudoeste.
Os ventos polares adquirem logo que co-
mcij'am a soprar, grande I'or^a que conservam
por um periodo que dura Irca dias junlo dos
tropicos ; cxlcndem-se depois para oeste, c
ate as vezcs Iraiisporlam-se n'esta nicsma
direcc^fio; poreni esta niudan^a nfio scei'feilua
com regularidadc a nao ser a grande distan-
cia das coitas e abaixo do parallelo de 35
graos. Os ventos tropicacs sabem ao mesmo
tempo dos logares em que estavam, e que
passam a ser occupados pelos venlos polares.
Nos dous bemisplierios, os ventos polares
n'uina esta^ao diiram a respeilo dos vcntos
tropicacs muilo mais tempo nas costas orienlaes
dos conlinenles que nas occidcniaes; e vice-
versa na eslai;ao npposta, em que os ventos
tropicacs sao mais frequenlcs nas costas ori-
enlaes que OS polarcs, e o conlrario a respeilo
das coslas occidcniaes.
Os ventos ali;,ados approximani-sc ou a-
fastarn-sc do equador confornie a intensidade
dos venlos polares de que s.io a conlinua-
<;rio, e conforme a intensidade dos vcntos do
bemispherio opposto; pelo que os sens limilCs
variam consideravelmentc ainda na distancia
de alguns dias.
87
Os vcntoj variaveis da zona toirida oc-
fiipain graiidc exlonsao, que nugmenla ou
(liniiniie com a inlcnsidade do5 veiilos alizados
dos dous lieiiiUplicrios ; os sens limiles oc-
cideiitaes a|jproximam-se dos coDlinenlcs an
pasio que os sens liniites jjolares se approxi-
cnam do cqiiador.
A causa principal das dififerenlcs rarefac-
loes do ar que produzem os ventos polares,
e o sol ' ; mas etn virtude da configura^-no do
tcireno, o como por outra paile este astro
aquece e rarefaz inais ou menos a alinospliera
truiii hcinlsplicrio que no outro scgundo as
f^la(,■ocs, OS venlos polares adquireiii lanibcni
dilTerenlcs inlensidadcs nos dous liemrsplierios.
Pelas dirferen<;as d'inlensidade e que os ven-
tos n'lo se dirif^em em todas as paries das
^onas leniperadas constantemente dos polos
j)ara o ecjuador.
(iV. Larligtie, da Acad, das Sc. deVranca.)
DOCUMENTOS I.NEDITOS.
Carta que o riso^rei D. Juao tte Castro escrcvro a
el-rei nosso senhor o anno de. ,-iti ^(la-iti)
Conliniiado de pag. 76.
Priuieiramenle fa^o lembranja a v. a. que
iiao devia de ter qua nenhu governador, iiij
official assf de justi^a, como de fa/euda mais
tempo, que de tres annos ; posto que llie af-
flrmassein, que saravfio cufermos, e resucila-
vao mortos ; porque a terra e de tal calvda-
de, que nao sinlo qnal seja a naturcza tao
forte, que possa resistir muilo tempo as co-
bijas, e vicios, que se nella uzao, e pratiquao:
OS quaes tein cobrado lanianlia posse, e au-
'tlioridade, que nenliiia couza se pode jii qua
lazer, por feia que seja, que dos liomens jcja
estrardiada ; iieJii pello eonlrairo algu genero
de virtude, que se aprove, e aja por beni
feita, e delles seja bein touiada, c recebida.
Ora pois, senlior, se em Portugal acaso po-
deinos com pessoa, que as priineiras palavras
nos nao Iragam a tnenioria coino lia paraiso,
e inferno, e a pouca conia, que devemos
fazer desla vida, salvo para obrar, e fazer
bem ; e hi lia lantos pregoeiros das virtudes,
e acuzadores dos vicios, e pccados ; e com
ludo isso nao deixa daver quem sirva mal v.
a., e Ihe roube a sua fazenda, a que laa, e
qua chamfio saber, e aproveitar: que fara
n estas partes da India, onde tudo sc faz polo
' Na socieilailc nieleorologica de Londres, iruma das
•rssuea do principio do correiile anno, fui lidu uma me-
inoria de C. Bulard sobre cerla lei esislenle na direci;ao
dos ventos, Duas mil oliservat^oes le^'aranl o anctor a
concluir que e direc<;3o dos ventos depende principalmen-
le da diffcreni;a de declina95o do sol. e da luo. ("Aola
rfa rsffac^ao.)
contraiio, e nao ere nenliua pessoa, que liaja
hymais de nacer; e morrer, sem terem, nao
digo por pecado, mas por cousa mal feita;
fazerem furtos, azarem mortes, vivere cm lu^
xurias, e, em conclusao, em nenliua nuldade
o, podcm coniprelicnder, de que ajam hua
piquena de vergoiilia. Eu confesso a v. a.,
que nao sou jii o que party de Porlugual, e
que cada vez me vou encliendo de ferruoem,
e apodreceiido como as armas dos sou" al'
mazeis. Mas com tudo tenlio muita esperanca
em Deus, que aid tics annos me nfio arrombe
de todo. Polo que pe^.> inujto por meree a
V. a, (jue nao queira clieguar ao cabo de
espirimentar n'crla terra minlia conslancia e
(ortaleza, e aja por sen servi(,'o mandar outro
governador: poique llie juro em vcrdade,
que os iraballios da India me tern gua-tado
as carnes, e os cuidados de lanlas, e tarn
desvairadas couzas moidos os ossos, e o mac
vivcr dos liomPs danada a alma. Demaneira,
senlior, que cnmpre niuito a v. a. nao me
ter qua uiais tempo que tres annos; e ;i mi-
nlia coMciencia rccolher-me outra vez aos
iiiatos da seria de Siiitra, pera dar algus
dias a Deus de quantos annos me tern levado
o mundo. H nao me empute v. a. a fraqueza
desejar eu em estremo de me sair dua ter-
ra; pois sao Ihome recusava (anto de o nos- '
so ben lor mandar a ella. E taobem nao he
possuel poder-se mais tempo soster hij ".q.
yernador sem mostrar o fio ; como quer que
he sobejamente perseguidodos homGs, dos qua-
es bus Ibe pedem dinheiro, outros o peitao com
die, e outros pedem officios, e viagens, e elle
ainda nao tern cinco paCs, e dous peixes pera
cinco mil homes, nem merccimento pera nos-
so benhor fazer millagres por elle.
Garcia de Saa he hu fidalgo muilo honr-
rado, e todo o tempo, que esteve em Portu-
gual servio v. a. na corte, eoque esleve fora
o servio na guerra. Quando vim a descercar
esta tortaleza de Dio estava sua mollier muilo
doente; e sem embargo disso adeixou, e veio
comigo servir v. a.: e depois de me Deus dar
victoria dos mouros Ihe trouxer'io novas, que
sua molher era falecida, da qual Ihe ficarao
duas filhas inuito fermosas, e muito virtuosas:
beijarei as mfios a v. a. favorecello no con-
tracto, que com elle fez do gingivre; pera
que coniisso que puder guanliar possa cazar
suas filhas. Elle estaa pobre, e anda rauito
desfayorecido de v. a., por nunqua Ihe escre-
ver. Se i^to e, por ter aigua maa enfoima^ao
d elle, eu Ihe juro em minlia conciencia, que
Iha derao fahainente; porque o lem tSobem
servido em Malaqua, que ii.mo sei quem che-
gasse a elle : e assivelho como he, em todalas
couzaS do servijo de v. a. lie o primeiro, que
se oferece, e que o serve per obra; e toda a
merce, que Ihe fizer, elle a nierece por sen
servijo: e em satisfajao de quanto tern gas-
tado ; e taobem com ella einpararaa v. a.
suas filhas. Vasco Fernandes, capitfio dos
pifics de Goa, que morrco na balallia, era
88
iiiuilo vuleiilG cavaleiro, e tinha i-ervido v. a.
om Africa, e qua na India se tinlia acliado
em lodalai coiizas de giierra. Era imiito po-
bre : cuido que a caiiza dislo era ser inuilo
bom lioiiii;. ricao-liie dons lillios, e muilas
filhas: beijarei as nifios a v. a. tomar-llie os
fillios por seus 1110903 da cainara ; porque
soaraa qua inuilo l)eiii nas oieihas do povo
verem, que eslaa v. a. eiiipaiando de cinco
mil le;i,'oas os filiios dos lionies, que morreni
em sou servigo.
Ho doulor SimHo Martins ouvidor geral
da India lie lu'i dos boos homes, ou o millior
que nunqua veio a esla terra de sen officio;
porque he niuito livre, e izento no fazer da
jusli^a, e tao inteiro, que nao loma hu pucaro
dagoa de nins;ucm ; e com islo e inuito bein
quisto de lodos; por verem sua bondade, e
direila justi^a. E5taa lao pobre, que se
pode aver delle muila piedade. Anda sempre
comigo, na gucrra o acho a par de mi, como
cavaleiro, na pax nie aproveito de seu conse-
Iho : porque lenlio por cerlo, que nio daa
bem, e verdadeiramente. Na balallia, que
com ajuda de nosso Scnhor vency, ganhou
muita lionrra : polas quaes couzas, receberei
em inui grao merce de v. a. mandar-Uie o
liabito com vinle mil reis de tenja. Bem sei
' que toda a outra pessoa Ihe mandtira pedir
mais peraelle; mas eu eslimo tao pouco ren-
das, e riquezas, que venho a ser mao juiz,
e mao requerenle dos inerccimenlos alheios ;
e por isso venho a pedir tain pouco a hu rei
como V. a.j sobre todolos outros liberal, c
virtuozo, o que me faz inda mais culpado,
O anno passado escrevi a v. a , pedindn-
Ihe por merce, que tomassc Duarte Pereira
por cavaleiro de sua caza ; bem creio, que
me faria essa merce; mas porque pode ser,
que com outras occupajoes llie esquecesse,
Iho torno agora a pedir outra vez ; porque
te muito bem servido v. a. n'estas parte?,
0 n'esta Jornada de Dio trabalhou grande-
mente. Elle foi o que meteo mens filhos em
Dio no tempo do iiiverno; por ser o mais
soficiente home de navios de remo, que ate
o dia doie tenho vislo. '
SELENOGRAPHIA.^
Com o lilulo de — Relevo do hemispherio
visivel da lua, executado por Th. Dickert,
guarda do museu de lii^toria natural da uni-
versidade de Bonn, na cscala de 1:()00,00()
para as dislancias, e de 1:200,000 para as
alluras, foj presente a academia de Franca
em sessao de 5 de juiiho um opuscuto, im-
presso em allemao, redigido por J. — F. Ju-
lius Schmidt astronomo do observatorio de
* Esla longa, e tarn nolarel carta no naniiscripto nSo
lem data ; ma« bem se ve, que foi escripta Jojo depois
ila ^rande Victoria de Dio nos fins do anno de 1416.
(Nota do compilador d'eeles documentos.)
-^ Eila palavra derita-eo da rai2 grega eclefU lua.
Olmulz, na Moravia, opusciilo do qual o
secretario perpetuo fez as seguintes cilajoes;
Oi diametros das a'nteras propriamente
ditas variam de seis milhas apenas alguns
centos de pes. Sao numerosas e eiicontram-se
em todas as regioes da superficie da lua. As'
paredes cjrculares teem quasi sempre conside-
raveis jirofundidades. A silua^ao de muilos
milharesdc peqi.enas crateras fez presiimir aos
observadores, que algumas sfio d'origein re-
ceiite, por isso que veem-se clarameiile os ef-
feitos produzidos por ellas nas montanlias an-
ligas em que eslao abertas.
\i fend as que teem a forma de regos ou
fossos estreitos e piofundos, sfio de grande
nuiiiero de miUias de comprimento em quasi
todas as regioes da superficie da lua, coiisti-
tuem lima formacao particular, e u, excepijao
de tres, todas as outras teem sido descobertas
nos ullimos trinta annos. A direcgrio das
mesinas parece ser inleiramente independente
dos accidentes do solo nas suas proximidades,
ou sejarn montaiihas ou |)lanicies; atravessam
em sen ciirso montanhas inleiras bem como os
elevados contornos circiilares de crateras pro-
fundas. O delirado estudo telescopieo deixa
vir n'ellas um phenomeno eslreitamenle
ligado a formaj.'io de crateras alinliadas. Nas
fendas descobre-se a forniagfio a mais moder-
na d'accidentes na superficie da lua, e talvez
actualinenle ainda outros tenliam logar.
£sta iioticia e aconipanhada d'um pro-
gramma das diversas regioes mais imporlan-
tes publicadas por Th. Dickert; a saber:
1.° A regiao de Mosenberg e o lago de
Meerfeld, junto de Mandersrhicd no Eifel;
2.° Os banlios de Berlrich e suas circum-
visinhan^aj ao jie da Moselle;
3.° O lago de Uelmen e sous arredores
no Eifel ;
4.° A ilha de Palma, no archipelago das
Canarias ;
5.° A ilhadeTeneriffe, com opico de Tcyde.
Os rclevos sao executados em folhasdelga-
das de coljre, o que os lorna de facil Iransfe-
rimenlo, resuitando assiin a grande vanlagem
de nos cuisos ser a vista patente a demostra-
5ao dos phenomenos geologicos.
SOCIEDADE GEOLOGICA DE LO.NDUES.
Na sessao de 22 de mar^o mereceu especial
men^io um traballio extenso e consciencioso
de Charles LyelL sobre a geologia de algumas
partes da Madeira e das illias visiulias, oiidc
o aiictor esleve muitos mezes na companliia
de C. Bunbiirv, que dirigiu lambeni iima
commiinicajfio sobre as plantas fosseis, urze^
e dicotvledones, descobertas por Cli, Lyell,
debaixo da camada de basalto na barroca de
Gorge, ao norte da ilha da Madeira. O natu-
raliita allemao Harlung, que estava no E'un-
clial, ciilrou n'esta ex plora<;ao com Ch. Lyell.
89
ESTATISTICA P\THOLOGIC\ DOS HOSPITAES DA UNIVERSIDADE.
HOMEKS. ENFEBHARIAS DB MOLESTIAS INTERNAS TRniESTRB DB ADBIL A JUNHO DB 185i.
UOr.ESTIi.3.
EDADES
4 Febre nervosa . . .
5 Febre gastrica
»• " j4popUxia
t> *i Anasarca
49 Febre inlertuittCDLe .
6 m pneumonia
w m Bro/tchite
m >* Ascile ,
» ■ Ana$arca
m .1 Anasarca-Obttruc^do do bti^o
n n Sarna
n n Obatriic^ao do baQO . , .
1 Febre intermitlenle gattrica
1 An::ina
1 ParutiJtte
19 pDeiiiuunia
H kheumatiimo articular ehronico ....
» Snrna
S Pletiresia
t Cjslile
1 OphUlmia — Blennorrhagia
I Er;si|iela
3 Rheumalj^mo articular
13 Rheumatisiuo articular chrunico
»» JJerpts na face
1 Pleuroilyaia
1 Li)tnba<^o
S Embarago gaatricu
8 Br<«nchile
5 Rronrhite cbronira
1 £|tjlep8ia
1 CephutaL'ia
6 Guslral^ia
1 Apoplrnia
] Hemiplci^ia
1 Paraplegia incompleta
1 Amaurosc
7 Tisica |)tiImonar
13 Ascile
t* Febre intermitlenle
M HydroloittX — pneumonia
w ()b$trur^do do bn^u . , .
H f'rrmes intestinuit
» He rpee
8 Hy<lrolli..ra.x
1 Anasarca
1 Aiias^irra — Asiite
S Henu'pl}»i8
n Anasarca — edema pvlmonar ....
I Hemorrhoi'Ias
I DialtelKd
1 Ciilarrho vesical
1 Diarrliea
3 Icleriria — Obalnic^do do fgado
" ()b$lrur^do do Jiyado e do ta^o ....
1 EscrMpImlas — Herpis
i Syphilis g^eral
2 Aiieiiriama do curai^rio — Ascilti-Ut^drolhorar ,
" •» Hydroperiairdio — Hydrotorax
1 Aneiiriiirna <l» crossa da aorta
1 ObslniC(;ao du bji^o — Ascite
1 Oiislrur^ilu do ba^o e figado — Ascile
I Coocro do esltpraago
1 Cancro do fi^'ado
1 Vermes iiileslmaea
Tlerpe
Elephanliase
Prolapso do rprlo ...
Ahcess.i do Q;^udo
_MoIesliM iiao clastiQcadag (um enlruu moribniidu)
i:«
14
tt8
4
3
1
1
19
J
3
i
1
1
1
21
1
1
I
IR
«
1
o
2
I
1
3
I
90
Sfovimeuio
E\isliani ,
Eiitraram ••^•^■-.'^ •..•■•...■. <
Falleceram « '. . .
Relarao tIo8 fallecidos para og entrados
|)ara OS saidos
para lodos os (ralados (exislenteso entrados)
Mofimento de toiftta as enfertitarias dos hoipitaes
da iinicersidttde em lodo o trhMstre.
Existiam ,
EDtraram ,^.'^...j.
Sairam , '
Falleceram
Rela^So dos fallecidos para os entrados
— — para oa saidos
para lodos os tratados (etislentel e en
trados)
Homens
128
312
332
35
1:9,7
1:9,4
1:13,4
Observa^flet meteorchgicas*
Abril
59
69
53
5
1:13,8
1:10,6
1:25,6
Mulheret
117
210
S34
23
1.9,1
1:10,1
1:14,3
( Teniperatilra altiiospherica ao meio dia .
Media <
XAICura barometrica a 0.° C L,„.,i
, r,. i
Ventos produniinantes '......
Insliliilo de Coimlira N.° 3.
Maio
70
41
57
10
1:4,1
1:5,7
1:11,1
Junho
43
46
41
11
1:4,1
1 3,7
Trimcstre
Homens
20
Abr'il
15,°9C.
mil
751,039
S.E. eE.
Miilheres
12
1
3
1
Muio
16, "8 C.
mil
751,774
N.O. E. e
S.O.
156
151
26
1:6
1:5,8
1:8,2
Tiidos
277
553
574
60
1:9,2
1:9,5
1:13,8
Junlio
18,°7 C.
oil
75i,962
N.O. N. e
S.O.
Dos IrcsdoeiiLcs de febre intertiiillenle, nao
curados, um foi despedido por conveniencias
de disciplina, e dois nfio esperarain pelo
tralainento, saiiido 2i lioras depois da enrra-
da.
Dos 5 que morreram de pneumonia, en-
traiam 2 com seis dias de inoleslia, e 1 com
oito dias; e o que apparece na casa dos nao
curados entrou com seis dias de moleslia.
O doente de cancrodo estomago, Francisco
Antonio, de 57annos deidade, casado, traba-
lliador de enxada, naUiral de Ramalliaes,
freguezia de Aviul, esteve quatro roezes no
hospital e morreu, sem que a raoiestia se
revelasse pelos syrnplomas locaes, que a
costumam caracterisar. Sobresaia grande pa-
lidez por toda a pelle e na lingoa, emma-
greciniento geral, can^asso, alguraa tosse e
faslio. O murmurio respiralorio estava quasi
sumido, o pulso tardo e linciir, e todas as
mais t'uncgoes se cxecutavam a custo. Via-se
o apparato d'uma anemia, e, se quizerem,
d'unia diatiieze caiicrosa adiantada, sem que
a percussfio, auscullar.'io, apalpagfio etc, po-
detscm descobrir lezao organica no estomago,
e em ncnlnim oulro orgao, que desse a razao
d'esla deleriora5:'o geral da economia. A
aiitopsia resoiveu o probleina, mostrando a
parede posterior do estomago toda cancrosa,
e esta degeneragfio propagada ao figado e
bajo, iios pontos de conlaclo destas visceras
com o cancro do estomago.
O que morreu de abcesso do figado tam-
bem oCferece nma parlioularidade, que deve
registar-se enlre aquelles factos patliologi-
co3, que as vezes eludom as deducjoes dia-
gnosticas. Ciiamava-se Joiio Carvaiho, de
39 annos de idade, casado, trabaliiador.
91
natural de Trouxemil. O correr dos sym-
ptomas iiioslroii com facilidade iima he-
patite aguda, e revelou ig'ualinente a sua
terniina^ao por um abcesso do figado. Neste
estado sobreveiii iirna diairliea sanguineo-
purnlenla, e depois mucoso-piiriileiita, coin-
cidindo com ella o abaixamenio do tumor
hepalico, e unia consideravel melliora no
estado geral do individiio. Passados 6 dias,
suspendeu-se a diarrhea, peoroii o e^tado geral,
e comegou a upparecer um tumor coin flu-
ctua^ao sobre as falsas costeilas do lado
direito. Com uma punc(;rio iioste ponto
dei barda a 8 libias de puz pouco mais
ou meiios ; e, passados 4 dias, reappareceu a
diarrhea purulenla, que foi acompanhaudo por
tres semauas n saida do puz pela abertura
exterior. O honiein, depois d umadeniora de
doij mezes no liospital, morreu no estado de
marasmo e consumpsao propria destas sup-
pura^oes internas.
g Tudo levava a suppor que o abcesso do
'figado, primeiro, seabrira no canal inteitmal ;
que, depois, obstruida esta coinmunica(,'ao, o
puz atravessiira os pianos muscuiarcs, para se
apresentar em tumor sobre ascoslcllas falsas;
e que, em seguida a puncrfio exleiior, a pri-
meira abertura interna se renovara, despejan-
do-se ultimamente o abceiso do t'lgado pelo
canal intestinal, e ,pela abertura externa. A
autopsia verificou tudo, a excepyao da abertura
do abcesso pelo tubo degestivo, de que nao
appareeeu o menor vestigio. A espessura
anornial das patedes intestinaes em parte do
colon e mesnio nas ultimas porgoes dos in-
testines delgados, e muilas iilceras que se
viam na sua mucosa, lizerain coahecer a ori-
gem das materias purulenlas e sanguineas,
que durante a vida pareciam ter vindo do
figado.
A morlnlldade de 1:9,2, em rela^.'io aos
enlrados nos hospilaes da universidade em
todo o trimestre, se hem <jue inais favoravel
que a do hospital de S. Jose e annexes de
Lisbon, que foi de 1 :H,3 no uiesnio ti iniestre ' e
com tudo inenos lisoiijeira que a do trirnestre
patsado ; e esta dilferenca uinda se luriia
niais sensivel, coiifrontando-se o movimunlo
das enferiiiarias de iioinens de niolesLJas in-
ternas nos dois triinestres. iN/io posso deixar
de allribuir esle augincnto de mortalidade a
resolu^ao, toniada pela direcloria dos hospitaes,
de dilficullar exlraordiiiariamenle a aceila.
9ao dos (loeiites, movida polos apiiros, nfio
dtrei exlraordinarios, por que desgraj.ida-
mente sao permanentes, mas apuros lameiita-
veis do iniseravel cofre d'um eslabclecimcnto,
que tantos beneficios poderia prestar u huina-
nidade enferma ; e que, se o nao tirarem da
penuria em que se acha, ir-se-ha converlendo
o seu futuro lao esperari<;oso n'uina perfeila
irius'iopublira, n'umadesgra5a de mais, sobre
' Jornnl .)e pharmacin e sciencias accesnorios Je
l.iskun — fullielui dc maio junlio c juliio ik 1854.
tantas que ja soffrem os deigra^ados que alii
concorrem.
Nao se diga que effect! vamente nao au-
gmentoii a mortalidade, e que o desfavoravel
da proporgao provem unicamente dadlminui-
5ao no numero das entradas. O numero ab-
soluto dos fallecidos em todo o hospital, no
trimestre de Janeiro a marjo, foi 66 ; e, haven-
do menoj doentes no trimestre de abril a
junho, o numero dos fallecidos neste trimestre
subiu a 60. E noie-se que a diireren<,a ainda
e inais salienle nas enfermarias de molestias
internas no hospital dos lioinens, que, tendo
dado no primeiro trimestre 15 fallecidos, deu
2(> no trimestre seguinte. Nem podia deixar
de ser : com a rigorosa dilftculdade na a-
ceita^ao, os doentes gastavam os melhores
dias de tratamento em applicagoes caseiras,
as mais das tezes nocivas ; e, so em ultimo
recurso, batiam as portas do hospital, ja com
a moleslia adiantada, como aconleceu aos
doentes de pneumonia, que entrarara com 6c
8 dias de niolestia ! ! Aceite quern quizer a
pesada responsabilidade destes factos, que,
u'um paiz civilisado, n'lo podera qualificar-
se. Pela minha parte acompanharei os des-
validos enfermos no seu protesto, pouco ou-
vido, mas solemne, contra a Wg-oroso diificul-
dade na aceitagjo dos doentes, e ainda mais
contra a miseria, e inesquinhez, da actual
dotayao dos hospitaes da universidade.
1. A. BA COSTA SIMOES.
Na sociedede metereotogica de Londres
leu-se em sessao de 28 de margo ulliuio uma
memoria do Dr. Moffat, sobre a inetereolo-
gia inedieal e a o~~one atmospherica. Entre
outras concliisoes d'este traballio, o Dr.
Moffat estabelece que: o maxima das
doeugas tern logar com os ventos do sul, e o
miniino de mortalidade com os ventos do
nnrte ; algumas doengas sao proprias de
certas direcgoes do vento, a apnplexia, a
epilepsia, a paralysia e as mortes subltas s'lO
uiui cotnmuns no tempo de saraiva e de
neve, e com os ventos em que estes phe-
nomenos geralincnte se produzem, isto e,
noroeste e sueste.
Ainda subsistia era 1337 no concelho ,te
Balazuc (Ardeche) um antigo uso, a que
Comarmond da o nome de taurobnlia, e
que consiitia em immolar um touro todos
OS annos em dia fixo. Uns fazem reinontar ao
paganismo a origem d'este costume, dutros
o reportam somente a epocha d'nma epi-
zootia.
92
OBSERVACOES METEOUOLOGICAS , FEITAS NO GABINETE DE PHYSICA
DA UMVERSIDADE DE COIMDRA.
Annode
Me 2 lie
Mail)
Dins
PressSo otmospherica ao meio dia
ceiUi;:.
media ,
(la niei '
5
Altiira baro-
metrica a 0."
cenli^'.
TensSo do va-
por aquoso cun-
tido no ar.
Millimelros
1
16
743,354
i
16
744,821
3
15
745,398
4
13
749,757
5
13
756,094
6
13,5
755.517
7
15
754,572
8
16
753,689
9
15
753,557
10
U
753,934
11
18
754,710
12
15
753,811
13
16.5
753,830
U
17
749,766
15
18
749,138
16
18
748,632
17
18
748.886
18
18.5
751,356
19
19
752,561
SO
18,5
753,384
21
17
754,427
83
IS
752,SI!1
23
16
751,762
21
17
753,566
23
16,5
754,083
26
17
751,539
27
18
751,164
28
17
753,566
29
17
753,06*
30
)8
751,671
31
17
751,033
16,8
751,774
Millimelros
Tciitiieratvra
Mavimu absul. . . 19."
Minima 13."
Maxima variar. . . 6/
9,299
10,449
9,752
8,159
8,247
8,656
9,624
10,317
8,161
7,998
10,384
9,745
8,992
9,381
10,883
11,029
10,931
10,239
10,121
10,766
10,153
11,534
8,697
9,202
9,220
9,684
9,655
10,154
9,575
9,298
9,575
Pressoo do ar
St'CCU
Miltiniflrus
734,055
734,372
735,645
741.598
747,847
740,861
744,948
743,372
745,396
745,936
744,302
744,066
744,838
740,445
738,255
737,603
737,955
741,117
742,440
742,616
754,274
741,047
743,065
744,36*
744,863
741,855
741,509
743,418
743,487
742.373
741,458
Estadu hygrumelricu ila
utmosphera ao meiu dia
Prcsiao atmospherica
Maxima aUsollila . . 756,094
Minima 743,354
Maxima exciirsao . . 12,740
U =
0,6879
0,7724
0,7684
0,7314
0,7309
0,7508
0,7579
0,7622
0,6*^7
0,6717
0,6762
0,7674
0,6436
0,6464
0,7087
0,7182
0,7118
0,6J62
0,619«
0,6795
0,7041
0,7511
0,6425
0,6381
0,6590
0,6715
0,6131
0,7041
0,6640
0,6055
0,0082
0.6891
Qiiantidade tie
vapor C'jutido
em urn melro
cnbico de ar.
Gramnus.
9,332
S.
10,485
S.
9,819
S.
8,273
0.
8,362
N.
8,761
N.
9,690
0.
10,355
N.
8,217
N.
8,081
N.
10,348
S.
9,812
N.
9,007
E.
9,321
0.
10,820
0.
10,991
N.
10,893
E.
10,198
E.
10,051
E.
10.710
N.
10,153
0.
11,466
0.
8,727
N.
9,S02
N.
9,235
N.
9,684
N.
9,6»1
N.
10,154
N.
9,575
N.
9,265
N.
9,575
N.
Gran de humidade do ar
Maxima abaoliila . . , 0,77S4
Minima 0,6055
Varia^iio maxima . . 0,1669
Coimbra 1." de Junho de 1854.
O Demonstrador da Facnldade de PhiloBophia, Miguel Leite Ferreira Ltao.
® Jnetitwta^
JORINAL SCIENTIUCO E LITTERAUIO.
CO.NSliLllO SL'PERIOR Dli I.NSTRUCfjAO
I'UBI.ICA.
IIEI.ATOHI0 AXNUAl..'
1811— 18iS.
Cuitliutiado de pa;;, ni.
CAPITULO in.
Inslntcrao sec undaria .
A iiisUuc^'ao secundaria foi urn dos pvinci-
paes objecloi da irl'orina do inarqiicz de
Pombal ; porque, ncliando-se alii ciilio coii-
fiada aos padieida cumpanliia de Jesus, i'oi
pieciso reparar os estragos, lalvcz oxai;gera-
dos, que llics iiiipula o auctor da Deduc^'fio
ChroDologica. Comecou aquella rel'ojina no
nlvaiii de 20 de junlio de 1759, c iristruc-
roes, queoacouipanliarain: poreiii reseiitiu-se
do inesrno defeito, que iiotauios iia da iiisUuc-
<;ao piimaria, cm quanto a eslieiteza das iiia-
lerias dc ensiiio.
A instrucr.'io secuiidana e a que I'onua o
homein, e pnr isso ineieceu o iiouie de liu-
manidadcs, porque coiHpleta o dejcnvolvi-
ineiito da sua iulelligencia, com reluffio aos
empregos ordinarios da vida, agricultura ,
comtnercio e arfes. Deve por laiilo abranger
lodos 05 coniieciincnlos iieceasarios , para sa-
lisfazer cste fim : pore'm a meiicionada refor-
ina reduziii.'a7;iiisl.ruc<;ao secundaria a pouco
mais, do que os esliidos classicos e lillcrariob ;
locando apenas nos scienliiicos. No enlre-
taolo e certo, que somente pela allian(;a d'es-
las dy^ qualidades de esludos, se desenvolve
a intelligencia humana, polindo-nos o nosso
cspirito, e elevaiido o nosso pensamcnto; e
allargando os oulros a espliera dos nossos eo-
nhecimcnlos, com rela^fio aos usos niais or-
dinarios c indispensaveis da vida. Com esle fim
foi aquella reforma adeanlada no detrelo de
17 de novembro de 1836, e mais aiuda no
de 20 de seplembro de 1844, entrando na
instruc^ao secundaria os esludos scienlificos,
prineipalmenle os ramos industriaes.
Anles pore'm de planlar e preriso dispor o
lerreno ; e por isso no arligo 49.° d'este de-
creto, se deixa a prudencia do governo o
crear algumas cadeiras d'aquelles estudos,
' 0« mappas a que se refere esle rclatorio c tc!;uin-
tes, serio publirados no Gm da collec^lo.
Vol. hi.
qunndd o julgar eoiiveiiicnle. () eonscllio,
convcncido da iiecessidade d'esla inosma cau-
lela, em quanlo an proviinenlo de alguina'-
ja creadas, procura dispor os elemenlos in-
dispensaveis para o sou exercinio ; lendodislri-
buido pelos vogaes exlraoidiuarios' a forma,
jao de conipendios, insli ue^'ocs fl'prograni-
tnas : e ijuando liver fijilo Csles preparos, nfMi
se desciiidarii de fazer a proposta d'aquellas,
que liouver espcran(;a de lerem professorcs e
nlumnos; porque a experiencia lem mostra-
do, que mesmo algumas das oulras, ja pro-
vidas, sfio pouco iVetiuenladas : e nao sera
juslo dispcnder a fazenda publica seiii provoi-
lo , como o consellio ja ponderoii na consul-
la, que levou a prcsenca de V. M. sobre esle
objeclo.
li esle urn dos uiolivos ])or que os lyceus
se acham ainda iucoinpletos , e ale' mesmo
algiins por inslallar. Apenas esliio constilui-
dos deiinilivameuLe os cinco priiicipacs, de
Lisboa, Porto, Coimbra, Evoia e Braga : e
nas oulras cajjilaes de dlslriclo, vfio-se dispon-
do OS elemenlos para elles. Assim me^mo o
de Evora e tfio pouco frequenlado, que o
consellio, em logar de proper o provimcnlo
de m^is cadeiras para elle, proporia a sup-
pressao de alguma*, que apenas sac fre-
queutadas por urn on dous disci pulos, se nao
livessc a esperan^a de ver removidos, com
o Icmpo, alguns dos embara^os, que inipedem
a frcquencia d'ellas. Pelo contrario o lyceu
de Braga leiii grande concurrencia ; e por
isso o consellio vai fazer a proposta de algu-
mas cadeiras, que nelle faltam.
Outra causa para os lyceus estarem ainda
incomplelos, e a falla de comrnissarios, por-
que apenas se aclia nomeado e em exercicio
o de Braga: e no enlretanlo, tendo elles de
ser OS reilores dos lyceus, e d'elles, que o
consellio espera informti^fio , para saber as
cadeiras, que serfio frequenladas, e mesmo
para formar o seu regulamento econoniico e
lilterario, sem o qual mal se podem consli-
luir, e inuilo menos ler andamenlo regular.
Os csludos dos lyceus ainda se nao acliam
dassificados; e por isso e livre a qualquer
alumno, depois dos de latim, applicar-se nos
que bem llie parecer ; mas entre elles lia uiis
que dao luz para os oulros: alguns prccisam
de uma intelligencia mais desenvolvida do
que outros; e per isso e indispensavel dislri-
Ji'Luo 15 — 1854.
Num. 8.
^
9i
liiii|.(.3 Pin cl.ii.-i's, para que it tiuo possa p;is-
>ar iliis infi'iioios jiara as siippriorej, seiii dnr
prova>, p.ir cxaiuf, ctn pll^5^llr os coiilicci-
meiiloj (l'ai|iii'llas. Aj'Siiii liaveiii occasi'ii) clu
leiiiovcr da iii>lriK'(;;'o i^i'iiMularia, lnj;o iia
I'liliada d'flln, os aliimno?, que sc inosliaioin
iiu'ptos c deiciiidadiis, e ii.'io llic periuiUir
iim; ontitHeiiliarii ii'dla, ictu piuvcilo, o leui-
po, que podom ciiipix'gar com vaiilagem em
Diilio mister, para i|iio leiiliam a|)lidfio.
I'ora dos Ivceiis at'liam-se cm exercii'io
aly;iiiis cursor hietinars e cadoira:. de laliui:
porem no CaUil)el<Ti(iioiil(i d'aijuelles ortlTO-
ce-s('jjrai]dedifiiriildadc iios logare.*, aoiido as
I'adeirai teem prol'essori'iaiilijjua; pori|iio niui-
Itis d'ellc?, iiao leem os coidiccimejilos picri-
-os : 0 no eiilrolajilo, iiao llie> londo sido oxi-
jjidos para o scu proviri:eiito, :-ena dure, se-
iiao iiijuslo, jirival-cs d'cllu por uma i'alla,
(■II) rjiie n'lo sao cidpados; e ijiie mukos iiao
I'slaiao om circiimslaiiciaj de podor reine-
diar. Liinitoii-bc por isso o coiisellio a retom-
ineiidar o desempenlio do curso, mas iiao
1)1112 iinpor rigorosa olirifiajfio, como jii le-
vou ao coidieciiiieiilo de V. M.
l:ni qiiaiilo as cadeirasdc latim : o coiise-
llio rccebe coMtiiiiiadameiite lepreseiilacoej
das camaras, pedindo o seu angmento; po-
rem teiii-se liniitado ao numero cstabelecido
no decreto deSO de sopleriibro de 11541^ saii,-
t'azendo alguinas d'acpiellas rcjjreseiitayoes
coin a Iransferencia das cadeiras, que ^ao
pouco freijueiiladas em alyiins lo;;ares. E
liein longc de proper o augmeiUo d'aquelle
nuinojo, allies jiilga que o eiisino do latim
se deve ir reconceiilraiido nos l^'ceus. fi ver-
dade que a miilliplica(,'fio d'aquellas cadeiras
evita aos paes de t'ainilias, que as leem :i porta;
o sacrificio da sopaiayao dos lijiios, e da
despesa, que com elles lazem em logar di-
slaiite: porem a in>triiC(j-rio secundaria e
deslinada para as classes uiedias da socieda-
de, que devem Cazcr aquelles sacrilicios, para
a lerem (lerfeita.
Quando a iuatrur^no primaria era incom-
jilela c liinilada a leilura e escripta, serviam
us cadeiras de latim de a completar , por-
quo someuto n'ellas se podiam apprender os
jiriucipios graniuialicaes ; e por isso juslo era
que se rnulliplicassem ; mas logo que na
inslruc(,'ao primaria lia o 2.° grao, que com-
jjreliendo iiao so Grammalica Porlugucza,
mas todos os conliecimentos necessarioi, para
as classes iiifenores da socicdade, o (!aludo
de uiu pouco de laliiii servo somenle para ar-
redar Cssas classes, das prolissoes propriasdas
juas circiimslancias, e ohrigal-as a despesas o
sacrificio?, com que nao podem, para susten-
tar a vaidade , que aquelles esludos Ihes des-
pertam.
No decrelo de 20 de septembro de 1844
lambern se acliam compreliendidas na inslruc-
<;ao secundaria as duas acadeiiiias de bellas
arles de Porto e Lijboa, e o coiiservalorio
real : porem a academia de Lieboa iifio en-
u.iii .lo coiK-clho o ri'lalorio ; e por isso uao
pode elle dar nnlicia a!E;iima do seu estado.
Ivm quaiilo a do Porlo : coiisla do seu rela-
loiio lerem eslado em exerclcio as suas c.i-
deiras , com IVequencia e aproveitameiito ;
c ai-iiar-se em bom estado aqiielle eslabdeci-
mcnlo, meiios no que respcila ao cdiiicio,
em que se aclia collocado ; jjorqiie e o d.i
academia polvleclmica, aoiide iiao lia accoin-
modaCjfio paia lodas as aulas: e por isso
<'5irio iilgumas em cdificio separado, rom ;^ra-
ve poijiiizo do eiisino. Seria conveiiioiiU!
ccunpU'lar uquelle edil'icio, porque n'elle, se
[loderiam accommod:.r os dous eslabeloci-
lUL'llIOS.
() eniiscrviaoiio real do Li-'lioa levc 107
abimims : porem l.'iO d'esles iVeipienlaram a
eseliola de miisica, que se aclia em grande
pingres^o, devido aos cuidados do professor
Laurel i; em quaulo as oulras tie declama-
5'io e diiLij-a, se aeliam cm grande decadeii-
cia. As provideiicias que no reluloiio d'aquel-
le e?labelecimeiilo se iiidieam, para reinc-
diar este mal, deuiandam, pcla maior parte,
siicrificios pecuiiianos , que o coiiicllio julga
inrompaliveis com os apuros da t'azendu
publica : e parecendo-llic que a frequencia
d'aipiellas escliolas, depciide principalmeutf
do cuidado e zelo dos prol'essores, e mesmo
dos capiiclios do gosto e da moda, espn'ra
ijiie com o tempo esle se forme.
Aiiida o consellio nao pode conseguir dos
governadores civis uma informacrio exncla
dos coUegios e escliolas parlieulares, a pesar
das rccommendaroe>, que para isso lem fei-
lo : apciias o do Porlo no seu rclalorio dil
alguma noticia dos do seu dislrirlo. Procede
rsle delVilo de se iiHo ler cumprido o arligo
04.° do decrelo dc 20 deseplembro de 1844;
poique deixando os direclores d'aquelles eslu-
belecimeiitos de apresenlar aos adminislrn-
dores de concellio e commissarios ou reito-
res dos lyceus as suas !)abililai;oes, mal po-
dem aquellas anctoridadcs ter noticia d'elles,
para mformarem os governadorcs civis e
ojIcs o consi'lho. Julgou por tanlo o conse-
llio que devia mandar observar aquelja dis-
posifao, expedindo circularrs com as instruc-
(j'oes necessarias para isso, e espera que os
governadores civis , con~eguindo, ])or esle
uiodo, iiiformaij-oei exactas d'atpielles esta-
belecimeiitos, nao dL-ixar.'io de dar ao conse-
llio nos seguintes lelatorios inrormacoes e
efclarecimenlos a esle re-peilo.
Aquellas providencias erarn tanlo mais
necessarias, quanlo a falta de frequencia dos
lyceus, e devida, em grande parte ;i facili-
dude, com que nas escliolas parlieulares, se
ensinam os preparatorios para a instruc5.'io
superior. E verdade que esle abuso tem o
principal corrective no rigor dos exames:
porem seria nao conliecer a fraqucza do co-
ra^fio iiumano, para confiar tudo d'aquelle
remedio ; e por isso niellior e mais seguro
sera accompanbal-o do da frequencia, c estii-
9;
do rcj^'iilar, que sao as itiais scgiiias garanliiis
do sabur.
C) inappa n " 2 ^, rnosira que n niimero
(lo!> aluiiiiios da iiislrncf'fio secundaria no <:on-
liiicnle do reino o de 3:932, e por i^>o esia
para o lolal da pripulai,'ao 3:,')91:772 na ra-
7.no do 1 para 1:1&G. I''>ta proporrfio poretu
van'a em c-ida utn dos di:.lrictos, como so vc do
niesmo inappa , simuIo os de Bt'ja e Guarda
OS menus favorecidos, c os do Lifboa c Cuiin-
I)ra aqnelles ern que a proporrfio e niaii vaii-
lajosa; mas a qnalidade do ser unia capital
do rcino e a onlra o assento da nriiversitlade
explica a raziio d'esia grando difforen<,a.
O inosmo inappa nioslra ser de reis
48:o03i3^333 toda a dospesa da iii>trnc<;.1o
seciindaiia: e por isso sendo o nuinero dos
ahiniiios 2:!}32, cusla cada uin no e.ilado reis
16f3^6t5: proporCj'fio esia, que tainbein vari'a
rm cada uni dos dislriclos, spi.;uiido a nalu-
reza dos e3lahelociment.os, quo conleeui.
Por esles calcidos esladislicos so doprebon-
ds, que a inslrucrao secundaria onUe nos
nfio e lao restricta , neiii luo cava, tonio
alguns perleiiderti inculcar; porque see in-
terior a da Prussia, aonde a piopor^fi" dos
aliimnos corn a popuiajao c de 1 para 189;
« superior a da Ilollanda, aonde esla do 1
para 3.015.
Accrcsce, que pela falta dos relatorios par-
eiaes, nfio vuo incluidos n'aquelle calculo os
alurnnos, que frequentain as e,-cliolas parli-
culares, com os quaes se podeiia lalvez du-
plicar o nninero calculudo: e enlao desu|)pa-
ceria quasi de todo a desvanlajjern para corn
a Prussia, e duplicaria a vantagom, quo le-
vanios a Ilollanda.
'lambem a Hospe-a da instrucjao secunda-
ria nao e, eiiUo nos inuito mais croscida do
que n'aquellas duas Na<;oes; por quanto ain-
da que a quantia de reis 16 JIG 15, ([ue enlre
n(Ss cusla cada aluniiui, seja superior ;i de
(J4 fr. c 51 c, que cusla na Pru?sia, e a de
(>3 fr. e G3 c, que custa na Ilollanda, como
entre nos a inslruc^fio secundaria e toda na-
tional, e paga polo oslado, nao sobrecarrcga
OS tnunicipios, como n'aquellas nagoes, em
que em parle e mimicipal ; e por isso seria
preciso levarem conta a despesa dos munici-
pios, para a compara^ao ser exacia; e talvez
desapparecesse avantagem, quenos levam por
»c comparar somente a despesa do estado
O seguinto e o resullado do calculo dos
alurnnos, que frequentarain a instruc(;ao
secundaria nos Ivceus e cadeiras dispersas ,
em rela^ao ;i populagao dos 17 districtos do
continente do remo ; a saber :
No districlo d'Aveiro, de 1 para 1:774- —
Beja, de 1 para 4:978-:- Braga, de 1 para
900 — Bragancja, de 1 para 1:083 — Caslello-
Branco, de 1 para 748 — Cninibra, de 1 para
G93 — Evora, de 1 para 1:580 — Faro, de
1 para 1:863 — Guarda, de 1 para 2:203 —
Leiria, de 1 para 2:066 — Lisboa, de 1 para
ti85 — Poilalegre, de 1 para I:7C0 — Porto,
de 1 para 2:007 — Sanlaro'm, do 1 para
2:100— Vianna, do 1 pnr.i 1:029 — Villa-
Real, do 1 para 961 — \'i-ou, <io I para
1:374.
CAPITl l.O IV.
Jnstrucrdd superior.
A iiiatrucijao superior «i do.-liiiada para as
dasjoi elevadas da sociedado, d'ondo sacm ,
pola uiaior parlo, os funccionaiios publicos :
o e por isso Lalvcz, quo tanlo enlre nos, como
nas outras na(;ocs merecou (js prir;ioiros cui-
dadiis aos governos. Ainda a instrucf;ao pri-
uiarla e secundaria andavam abandonadas aos
cuidados dos parlicularos o de alguuias cor-
pora(;oos religiosas, e jd a univor^idade, aon-
do a in>trucr,'io superior so acluiva recoucen-
Irada, linlia sido generosanionle dotada , e os
sous piot'osjores gozava;;! da niaior con-^itlo-
ragao, e nniitos linliani asseiilo nos maiores
Iribunaes do reino.
Dosla dobigualdade pore;n, com que cram
conleuiplados os diversos ranios de instruc-
(;ao |jubliea, proveiu o nial, cpio ainda lioje
so some, da doina^iada affluoncia do abiinnos
para a superior, sem os coniieciinenlos necc-..
sarios, em que esta podesse asbcntar, para
ser bolida ; e sein quo todos os que a seguom
poisaui ler emprego ; porque o sen numero c
u.\cessivo, principalmcnto nas scioncias po-
silivas. Esle mal teui Jd o principal reuicdio
na exteiisfio, que so deu aos estudos da ins-
Iruccdo primaria e secundaria ; porque com-
preliendeudo lodos os conhccimentos neccs-
=arios, para os usos ordiuarios da vida, dispensa
niuitos de os procuraroni lui in5lruC9;'io su-
pe''ior, que os desviava da carreira, que as
iuascircumslancias llios inarcavani, lentando-
03 a eulrar n'outra, em que nao achavaui
saida; e por isso oiam muilas vezes levados
pelas necessidades, e desesporacao a excessos,
a que so teriain poupado, se livessera seguido
outro desliiio.
Mas ainda a experiencia reclama outro
ren)edio, que sord por veritura, o mais elTicaz
para evitar aquello mal. Os exames de ba-
bililacjao para a instruc^.'io superior, segundu
o arligo 95.° do deereto do 5 de dezembro
de 1836, mandado observar pelo arligo 130
do do 20 de seplembro de 18 J4, sao feilos
por sec^oes em cada unia das di=ciplinas das
divorsas cadeiras : de uiodo quo sendo estas es-
ludadas em difloreiiles lempos, e descuidando-
se OS alumnos de as rccordar, depois de
feito o respeclivo exame enlram na inslruc-
^ao superior, lendo esquecido o pouco, que
dellas tinbam aprendido, para satist'azerem^u
um exame iinmediato, ao sen estudo. Nao
succederia a^sim, sendo o exame uin so sobro
todas asdisciplinas; porque para asconservar
na memoria, seria preciso estudar com in-
telligencia, e recordal-as conlinuadainente.
O exame de liabilita^ao, deve ser o reiunw
96
da in5triic(,'ao i'-'ciiiidiui.i, ijiie 50 julgar noces-
saria para o raino d<! instiiic(,';io siipeijor, a
<)ii'! o oxaiiiiiiaiido sc destiiiar. li qiieui i!0
iiiomeiUo de eiilrar para I'sta, nfio podcr dar
provas dc que pos-iii; loda> as partes eispiiciac^
daquella, nao dovo <c[ adiiiiUido; porqiip
IjretiMHierla formar lUii edificio scni alicercc.
As lial)ililai,Ties para as iiiatricidas sao
objeclo de disposic^ijes rc^ulaiiienlarcs, se.
giiiido o arligo l(io.° do decri'to do 20 de
seplcmhro de ISM; e por isso, se aqiiulia
allera^ao no sysleiiia d'ella for do a;;»rad<>
de V. M., poder;i o consellio deseiucdvel-a
rnais circiniislaiiciadainenle, no coinpelcnle
re;;iilaineiiln, para quo a sano^fio de V. jVl.
possa ser dada corn mais ronliecimento do
causa. Assirii podora a inslruc^'fio superior
as^enlar ecu nllcercos mais solidos: e serao
rcmovidos della, logo a pnria, aquclles que
nao livorem dado esperanea do lirar proveito
tlos seirs esLudos,
A maior allluencla na inslnic^'fio siipcriiir
e para os esludos jiiridicos da universidade;
porque sendo liabilit.a(,'rio essencial para a
magistratuia, dao e^peran(;a de emprego. Ei-
sa esperan^a, porein fica illudida em niuitos,
por nao cliegar para lodos os logares da ad-
niinistra(;ao judicial : e dessa illusfio segiiocn-
se as pretcnsoes, com que assallain o governo,
e a guerra que nuiitas vezes passa das se-
crelarias para a pra^a. li^la concurreiicia,
poderia talvez dividir-je, forniando urn curso
deestudos economico-polilico adiniiiislralivos,
como lialiilil.KjHo indispousavel paia oseinpre-
gos do fazeiida e adininistiaeao civil. Em vor.
dade : se e precisa uina liubditajfio para a
administra^'io judicial, que tern uma uiarclia
legal e invariavel ; rnal se jiode conceber, coiiio
na civil, dcpendente, pela maior parle, do
arbilrio e talento do adininistrador, se deixe
a escollia desle ao azar, sem d.ir provas de
esludos, econliecimentos, quo deem esperanjT,
dp quo aquelle arbilrio sera bom regulado, e
o lalctito illustrado e intelligente.
E esta talvez a unica rcforma de que
precisem os estudos da universidade, porque
a ultima feita no decrelo do 20 de scptembro
de 1814, accresccntando alguns que o pro-
gresso das sciencias loruava necessaries ilevou-
os ii perfei(;rio dos das mais bem constituidas
da Europa. Aquella reforma, lendo sido pela
maior parte, o resultado dos volos do cada
uma das t'aculdades, foi por lodas abra(;ada
com a maior voutade, c por isso, se aclia em
plena execujao ; inostrando-se todas empe-
nliadas em promoverem o acerlo d'ella, pelo
sen bom resultado.
Ha porem uma falta, que, principalmente
nas sciencias naturaes, nao deixara. collier
aquelle resultado, em quanlo nao for reme-
diada. A reducjao feita na dotagao dos
estabelecimentos indispensaveis para o des-
envolvimento practice das sciencias, nao
permitle a conservaciio delles, e rauilo menos
o- seu inelhoramentOj porque a quantia de
seis coutns de reis, sendo absorvida, na maior
[)arte, pelas necessidades do hospital, a que se
nfio pode fallar, af)enns cliega para os reparos
dos edilicios. Assim a bibliollitx-a, cstabcleci-
menlo indispcnsavel n'uma universidade,
aclia-se reduzida a nfio poder prover-se do
livroi modernos, nem mesmo dos jornaes lil-
terarios, e •■cientificos ; interrompendo as col-
I(>c(,'oosd"clle5, queassim incompletas, perdem
o seu valor: e nem mesmo pode coinplelar
o arranjo das livrarias dos convenlos, com
(pie foi flolada. O observalorio astronomico,
e <is diversos gabineles tlo museu , estabolec;-
menlo grandioso, e forinado com niao lao
lirga, nao potlem adqiiirir novos productos,
o niacliinas, nem melhorar as antigas. O
laboralono cliimico, jardim bolanico, e final-
menle lodos os eslabelecimenlos d'esia na-
lurezii, ()uc para serem uteis, dr.mandam
coutiiiuados uiolliorauientos, estao ealaciona-
rios, e mesmo em decadencia, em quanto V.
lAl. sen.-io digiiar deaugmentar aquella dola-
(,■.'10; corno foi iudicado no or(;amento da uni-
versidade, para OS mellioramentos ordinaries;
porque os eslraordiuarios precisam d'ella mais
avultada.
O iinico eslabolecimento que se acha em
lermos de prosperar e o da imprensa da uni-
vorsidatle, porque tondo satisfeilo, pelos ciii-
dados e boa economia da actual adminislra-
cfio, as dividas, com que a anterior a deixara,
sobrecarrogada, tem um saldo importante, que
poJe ser convertido no seu mellioramenlo ; c
lira de ^i mesma coulinuados recursos, que
po.Jem lornar progressivo atpielle melliora-
menlo, ale a levar a perfei(,fio, em quo se
aclia a imprensa regia de Lisboa, que, sc-
guudo o relalorio respective, se aclia no es-
lado de maior prosperidadc taiito no pes-
soal conio no material Porem esta pieciseu
para is50, de ser auxiliada com recursos do
governo; e a da universidade contenta-se com
OS proprios ; sendo a sua adininistra^ao au-
ctorisada para os empregar em melhora-
menles, de que darii conlas.
As escholas medico-cbirurgicas de Lisboa
e Porto occiipam uma boa parte dos seus
relatorios, com a repioduc(;rio da antiga
rivalidade com a faculdade de mcdicina da
universidade. A do Porto ja se conlenta com
a concessfio dos graos em chirurgia, para os
sens alumnos : porem a de Lisboa lacha de
itijustiga manifesta, tudo o que nfio for dar
a todos igual considera^ao a dos da universi-
dade, com pleno exercicio de mcdicina, seni
a restricjao do decreto de 25 do junlio de
1825.
Colierente com esle systema de cngrandc-
cimento, argue de instifficiente a quanlia de
um conto de reis para a sustenta<;rie, des es-
labelecimenlos de que a escliola dove cercar-
se : e insia pelo auginento da sua dola^ao,
n.lo so para sustentar os designados no de-
creto de 20 de septembro de 1844, senao
tambein para crear muilos oulres, que julga
97
nrceisarios tlepois que Ihe i'oi concodklaaquel-
In corisidera^uo. De modo que, scrido eslas
cschnlas, na sua orijjem dealiiwulas para o
finsino da cliirurgia, instaraiii pelos estiidos
de mediciiia coiiio auxiliares daquelle; agora
dnpois de llie seiem concedidos, substiluem
(IS meios ao fun, trocaiii o acci'ssorio pelo
principal, e qinindo o publico espcrava dims
pscliolas do chinirgia, aclia-so com tre5 facul-
dades de inedicina !
A experiencia tcin ni05trado, <)iie as sci-
rntias para prosperar, precisaiii do estar
re.inidas em grander centrosscicnlifico-, cercu-
dos de bibliotlieca5, innseus, observatories, e
oulros eslabi'leciinentos indispeiisaveis para o
sen deserivolviuicnlo, hem I'oriiecidos e dola-
dos, OS quaes por isso n;lo podem ser miilli-
piicados, ainda nas nayoes iiiais ricas, do
<)iie a no^^a ; mas qiiajido todas prociiraiii
reconcentral-os, soijierite erilre noi se forteja,
|)t-la dispersao d'elies, desmeiiibraiido a uiii-
versidade, e creando Ires I'aciildades de riie-
dicin.i, com lal apparato, que apet:ns ii'urna
bC podi! sublentar.
Algiinias oiitras providencias reclaniam
aqiiellas csclioias, que nierece.'n maii atleii-
rao : porem depende de urn regiilaiiietilo de
que o eonseilio se occupa, procurando obler
OS esdareciiueiUos uecessarios para o formar.
JiiUre elias e as commi^soes adminislralivas
dos lio^pitaes teem-je levaiuado cimllitos, que
lornaui complicadas as sua, prcleii=oes, e o
coiiselho, antes de as resolver, prerisa de
averiguar a verdade, o que iifio e inuilo facil
i\o niiio de laes torillirtos.
'J'amliem nas proviucias Jnsulares as es-
(•lirila>, dietas medico-cliiiurgicas teem cor-
rido, ale agora, sem direc^So regular. A fdlta
de regulaiueiilo, que dcienvolva a lei da
sua crea^ao lem-na^ consuiniclo exrenlricas
a admiiiistra^'ao liUeraria. O consellio, reco-
nbccendo a urgente tiecessidade de revestir
He caracler lillerario aquejlas esclinlas, coni-
Hadas, ale' agora, aaduiinistra<;ao e quasi ex-
rlusiva fi-calisajao das coniuiissoes adminis-
lralivas das ini'crieordias, vai propor em
breve nil] projecto de regidamento geral, que
as lia-(le colliicar no logar, que dedireilo liies
pertcnce no quadro da in7.truc^rio publica.
A ac.idemia pnlyteeliniea do Porto merece
ao consi'llio especial cuidado; pnrque e^la-,
belecida no raeio de uma populaf^ao nu-
iiierosa, rica e laboiiosa, nao pole deixar de
prosperar; quando a ulilidade do sen fnsino
»e for loniando sensivol. Por vezes tern ella
rpclamadoum regulumenlo para o sen governo
lillerario, e cconouiieo, de que o coiisellio se
nao deseuida : porem n'lo e obra mwi facil,
oxtrair dos pmjectos, que Ibe foram enviados
um que salisra(;a pleiiamenle a todas as ne-
fossidades daquelle fstabelecimerito.
No enlretanlo aclia o conselho mui digna
de alteiijao a rec^ui5i(,r;o, que a dirla aca-
deiiiia faz de um local para jardim biUanico,
e laboraloriocliimico, e de auguienlo de dota-
^ao para a firmac-rio d'elles e de gabincles
de liialoriu natural, pliyt-ica, niineralogia, e
o\itros accessories indi>pensaveis a um e^la-
beleciuiento daquella ordem. Para jardim e
laboraloiio lembra clla a cerca do convento
das exlinctas religio-,as Carmelitas, <|ue a
nao iiaver algum inconveuicnle seria bcm
aproveitada paia aquelle fun.
O numero dos alumnos da inctrucgfio
superior, segundo o rnappa n." 3 e de ]:7l() ;
e a sua despesa imporlaem reis 95.0.31^833 ;
e por isso esla parao da populagao na razao
de 1 para 1:976: e cusla ao eslado cada
alunino reii hb^'679.
Fallam porem naquelle numero, osaluranos
da e.-cliola polylechuica de Lisboa, que nao
estd debaixo da inspec^.w do conselho; e na
despe-.a da nniversidade nao vae descontado
o produclo das matriculas, cartas e sello, que
importa em viute e lantos conlos, e reverie
em favor do tlie^ouro: e cada uma d'estas
uddi^'oes lornaria luais vantajosas as propor-
cocs.
Assiin mcsmo nao sao inferinres as tU'i
Prussia, e Hollarida ; porque n'aquella es-
tao OS alumnos para a popula^'ao na razao
de 1 para 2:5-15, e custa cada uin ao eslado
348 fr. e 47 c ; e n'esta estao na razao de 1
para li'iOS, e cusia cada um 390 fr. e 28 c,
como se ve dos mappas, que acompanliam
a niemoria de Mr. Ciuisin sobre a instruc-
(jio publica na Hollanda.
CAPITULO V.
Conclutdo.
A falta de muitos relatorios parciaes, nao
permute fazer esle g';ral inaiscircum?lanciado,
e regular; uem dedu^ir d'elle comhinagoes e
resullados (iratlicos, em que consisle a maior
ulilidade de laes obras. Com a praclica e
natural ()ue se vd emendando aquelle defeito,
sendo e--sa a sorte de todas as in5titui56es
naseenles, comecarem imperfeitas; e quando
o conselho tiver elementos estatisticos, em
que se possa firmar com seguran^a, podera
eutao expor com maior regularidade o estado
da inslruci;ao publica, e propor as providen-
cias, que elle reilamar.
Por agora parece ao conselho que a re-
forma eniprehendida no decreto de 20 de
sepleinbro de 18t4conlem lodos os elementos
necessarios, para a prosperidade da instruc-
jao publica, e que aiguus embaragos, que
a sua execujao enrontra na praclica, sao
fdlios da natureza do objecto, e taes que o
tem()o e a mesma in6lruc9fio os hao de ir
appl.inando. J(dga por lanto o conselho que
aipielle decreto nao preci^a de altera9ao
alguma essencial: e parecendo-lhe que 4
lustruc^ao publica se promove mullior com
providencias lentas e parciaes, que o tempo
e a experiencia vao auxdiaiulo, do que com
projecto* ijiganlescos e alterai'oes radicaesj
98
que tendo, dp oi.liu/irio, m.-ii* di- .iriparatn,
do que de solidcz, procura liriiilar-se a pio-
por medidns, que cjlejam ao aliaiice do
)(overno, e iiao vfio di-sal'iar na tribiina par-
lameiilar, discuisos c>lrepitns(is, que, miiilns
vezes, servein inais de abalar a ii]slriic(;'io
publica, do que de a proniover. liL-diizem-sc
pois aqiiellas prnvidencias as se^^uiriles :
1." Recoiiimcndarao aoitfoveinadores civi,
para proniovL-rein o ejlabflociineuto de ca-
deiras pelo oxpedieiite aponlado no5 artiffos
9.° e 45.° do decreto de 20 de seplembro de
1341.
2° Estabelecer ties sfr:ios na inslriicgfio
priraaria seiido o primciro destinado para
terras de poijca coiisiderae^ao ; cxigindo-se
dos |)rofeisores mcnos conliecimoiito>, e dan-
do-se-llics nienores ordoiiados, para facilUar
a concurrencia d'aqiielles, e os recursos para
o pagamenio destes.
3 ° Conversfio da-: e^cliolas de en.ino imi-
tuo nas do 2.° grao, conservando u'elbis aqiiel-
le, em quaiilo a experieiieia nao de=inenlir o
bo2n resultado, que entre hos o aboria.
4." Creacao de ajudanles para as esclinla^i
do 2.''f,'rdo, oiais deseiivolvidas e frequenladas;
nao so para auxilio dos jjrol'essores, se nfio
tambem coino meio de os tonnar, economisaii-
do a deapesa da niulliplica(,'ao de cscliolas
iiorrnaes.
&.° Classifica^'io dos esludos de jnstrdcf'io
secundaria: e necessidaile de provas, por
exanie, para passar das inferiore*, para as
superiores.
(>.' Kxames de liabilila(;-io jjara a instriic-
<;ao superior, reduzidos a urn eo em lodas as
disciplinas, que I'orem preparatorio para o
ramo d'aquella, que se perleuder se^;;uir.
7.° borniaeao de uiii curso de scicncias
eeonomico — poMUeo — admmistrativas, como
liabiliiayao iiidespensavel |)ara ser provido
nos loyares de fazeiida e aduiiiiislrariio.
8.° Nomearfio dos coiiimis^arios dos eslu-
dos.
9.° Ainda o consellio lembraria a reuniao
periodica dos professores de instruc^ao pri-
maria e secundaria, perante os commissarios
dos respecLivos dislriclos, para fazerem o
rclatorio do estado das suas cadeiras, nictlio-
dos de ensino, escollia de compendios,e apon-
tarem e discutircm as provideneias com que
julgam poder mclliorar-se: mas no estado de
falta de couliecinieulos em que a maior parte
delles se aclia, julga que essa provideucia se
deve diiYerir para nielliores circumstancias,
ficaudo por agoia ao arbilrio dos commis-
saries, consullar somente aquclJos, de queni
possara e>perar algum bom consellio.
Eslas provideiicias sfio lodas de natureza
reo-iilamcntar, e por isso se lodas, ou alsumas
■ d'ellas, nierecereni a cousidera^ao de V. M ,
o consclho as desenvolvera nos compelenles
regulamentos, para as submelter a approvajfio
de V.M. — Coimbra, era sessfio ordinaria do
consellio de 2 de dezcmbro de 18 15. =Conde
de Tcrcna, vi(c-prt^H>4enlP — Bnulio Jlhcrto
dc Stmsa Pitilo — Mtmocl yjntimio CorJho
d(i Roc/ia — Joao Thomoz de Souao Lobo —
JcroHijino Jose dc JMclto — ^Jtiloniu Cardoso
Dorgcs de Figucircdo — Luii Ignacio Fei-
POESIA SLAV.i MODERN A.
CoDliouado lie pag. 68.
Tanlo entre os Gregos anti;,'os como eulre
OS llebreus, os sons da lyra e da liarpa
eram o acoompanliamenlo obriijado da poesia
popular. Entre os Slavos, o goudar nao pode
recitar os seus versos sern se accompanhar
de urn instrumenlo. As rapsodias lieroicas
sfio lodas caiiladas n'uni recitativo musico,
de notas faceis, e que teiii -nlguma analogia
com o cantocliao dos p>abiios. K eerto que
a inusica do goiislo lem muilo de eleinenlar
e de liinilada, reduziudo-se o sen material a
Ires ou qualro inslrumenlos. 'J'em a gousle,
a taiiibura, a duda e as differenles especies
de suira, ilaula ou pifano. A svira rnais
comuniMi (• um simples cannudn co(nprido,
com selLe buracos, que se loca com ainbasas
macs, e cujo som agudo e mavioso, produz
uma especie de nieluncolia. Nao se enconira
pastor que n.lo Iraga esla svira pendente do
ciuto, pois que se Ihe lorna quasi tfio neces-
saria como o cajado para guiar os sens reba-
nlins, que n'lo caminliam bem sem serein
accouipanliados dos sous da Ilaula. A duda
e uma especie de gaila de t'olle niuito seme-
lliante I'l dos serranos de Auvergne e do
Poilou. A duda e que preside as niais das
vezes ai ferlas aldeas, dii o primeiro signal
para a dansa, e de ordinarlo condui os ran-
clios dos cauiponezes a nioha, islo e, aos
Iraballios ruslicos i'eilos em commum. Em
quaulo a tanibura, instrumenlo mais aper-
lei^oudo, e poslo que inferior ao viol.'io,
mais nielodioso que as nossas guitarras, esse
so e locado por nj.aos de mullier.
Ejn qualquer parte que se oii(;a, ou entre
arvoredos ou nas cidades, encontra-se urn
encanto singular nesia musica primitiva, que
parece transportar-nos pelas suas melodias a
uni mundo anterior, todo de paz e d'inno-
ccncia. Enlre os Slavos oricnlaes, ordinaria-
menle c um homem so que canla em quanlo
OS outros o esculam ; entre os Slavos oc-
cidenlaes, a picsna e cantada por dous. Uni
que imita a voz de mullier, comcja n'uni
torn muilo agudo e elevado ; em quanlo o
outro o segue fazendo-llie o baixo, e demora
o final dc cada verso a espera que o primeiro
comeca o verso seguinle. Dous Illyrios dos
Alpes sao capazes de se dcixarem liear assim
immoveis, assentados ambos por mais de
doze lioras, bebendo e canlando a. borda do
Adrialico. Depois, ao calilr da noite, vecm-
99
sp saUar ambos dentro de um carro e voltar
a lodo o galope para a sua a Idea, pondo-se
iiuiilns vezes em pe, para melhor cxcilar os
KCiis covallos.
Jii oin 1829 um Serviode Smyrna, Manuel
Kolarovitj, havia publicado um centcuar de
caiitiiijas nationaes das picsnas sei vias as mais
populares iios paizos Slavos c em volla do
Daiiuhio. Oulros arlistas completarain depois
esia colloceao, ao passo que us I5olieii)ios, os
Polacos e os Rns^os rcuniani da jua bantia
todos osjiagnicntos das suas anligas melodias
locaes. E aos Tclieks a quern priiicipabneiite
cal)e o merilo de haverein revelado a Europa
o geuio inusieo slavo. Os retto? dos anLigos
ranlos pagaos , as cantigas para dari'a dos
Karpallios, os canlicos da epoclia liiissita,
lodos esses lliesouros d'liartnotiia desenter
rados das ruinasdeum mundo desapparecido,
represenlaui-nos, como por encanlo, uuia
parlo (la inagi'a da edade media. E fora de
duvida que as melodias Iclieques ja leiii
jjerdido do seu perfume original ; as dos
Russos do Sul e as proprias hrakovinh,
a pezar da sua rara simplicidade, ressenlem-se
lodavia de um cerlo arlificio, inuilo mais
sensivel nellas do que nos cantos espontaiieos
dos Servios; mas todas as melodias slavas
disli(ij;uem-se mais ou menos por um colorido
anligo, que lijes da uma nolavel semellian(;a
com OS prifTieiros fragmeiilos conliecidos da
niusica dos Ilellenos. Ate mcsmo desde tem-
pos iniinemoriaes, canlain-se enlre os Servios
um cerlo nuuiero de melodias idetilicas, nota
jjor nnia, as melodias dos Grfgos do Piudo
p da Altiea. Os Ilussos receberam tambem
evidenlemenle dos Hyzanlinos muitas das
suas (-auligas, a pezar de que uma grande
parle deilas na sua oxpressao moslram uma
origiiialidade coniplela, por que na Slavia
*sta originalidade e lao inlioreuLe a inusica
|)opular couio a propria poesia. A maior
parle das suas arias sao cautadas n'um torn
menor. significativo da melancolia e do sol-
IVimeiilo; somenle as caiitigas para dansa e
as inarclias guerreiras sao em tom maior,
expressao da alegria e dos transportcs bel-
licosos Logo desde o seu princi|)io cada
uma das arias vos arreme^sa, por assirii
dizcr, com perfeila clareza, o seu pensa-
Biculo ()ue parcce vjr directamenle das pro-
fundidades da nalureza ; cada um d'estes pen-
samenlos, tao simples na appareiicia. dcjeri-
rolam dianle da vossa imagiuagao um poema
todo inleiro e como um rio de harmotiias. O
|)restigio deslas arias nacionaes eslendc-se
Miiiito para ale'ra dos paizes em que sao can-
ladas, e poderia tahez affirniar-se sein teme-
ridadc, que siio os Slavos, pelo inlerrnedio
dos conipositores Iclieks, quern aviva jnces-
saiitemenle a musica allemfi. As collecjoes
dos conLos populares slavos tern pela maior
parte, ao iado do lexto. as notas por meio
das quaes esles textos se LransmiUem de paes
a Gllioi : e sao em numero tao subido e»tas
coUeci^oes, que baslariam ellas sos por si
para I'ormar uma pcqueua bibliotlieca.
A combinaefio do caulo cot;i a poesia,
entre os proplietas Lebrcus e os poetas gregos
aniigos, soube guardar um repouso liarmo-
nico e uma jusla niedida, jii tio meio dos
Irausporles mais sublimes da alma para Dens,
ja no meio das mais ardenles paixoes. Ksle
elemento deequilibrio pcrdeu-se no Occiden-
le, quando os poetas arremessando com a
lyra para longe, se puzeram a compor, sol)re
t'rias al)alrac(;oL-s, versos matlicmalicamenle
cadenciados. A poesia slava ninda n'lo cliegou
a esta ultima pliase. Nas regioes em que j;i
abandonou o gouslo, tern pelo menos conser-
vado ou recobrado a sua prosodia nativa, o
seu cslilo do proseguir por longas e por breves,
o que conslilue uma verdadeira musica. A
verdadeira poesia nao sera uma intuiijao das
liarmonias secrelas que prendem todos os seres
uns aosoutros? A poesia nfio sera acaso a
linguagem liumana elevada ao estado de
musica interior?
Continua.
CRISE DA PIIILOSOPFIIA ALLEMA.
Aquillo que menos conhecemos e o que
temos mais perto de no-, disse um grande
pliilosoplio do seculo passado. Poderiatnos
acresccntar, e o que esta em nos mcsmos.
A luz, que illumina, e faz visiveis todos
OS objectos, que nos cercam a mais ou menos
dislancia ; a visfio que de continuo cxercemos ;
a audi(;'ao; os muitos e variados plienoinenos
electricos, mormente os dos proces^os por in-
duc^ao, econtacto; os plienomenos admiraveis
do Daguerreotypo; as maravilliasdo Stereos-
copo apresentadas por ^V lieatstone encerram
ainda myslerios tao sublimes, tao acima da
nossa limitada comprehensfio, que apenas
permiltem por ora oexlasiar-se o pliilosoplio
diante delles, e inclinar a cabe(,'a com
reverenoia.
Acima de todos os plienomenos do niundo
exterior se elevam os da inlelleetualidade no
liomem. A sua natureza, importaricia, e su-
blirnidade parcce que deveram ler prendido
a atten(;ao do espirilo liumano em todas as
idades para se conliecer a si proprio ; o loda-
via por uma fatalidade quasi inexpiicavel a
iutelligencia tem-se dirigido mais ao conheci-
menlo do que existe fora do liomem. O
nosce te ipsum foi preceilo, a que geral-
menle se tem faltado.
iMas lia alii um molivo poderoso, que
desculpa a transgressiio, Sfio t.'io elevados,
de lao superior calhegoiia os plienomenos in-
lellectuaes, que exigcm uma intelligencia de
esphera mui superior a nossa para se ILe
revelarem. A elevagfio da empreza exige tao
profundo e aturado estudo, tao fadigosa con-
tenaao de espirilo, que cliega a descoroyoar
o espirilo mais vigoroso, esclarecido, e perse-
100
»eranle, a pczar clos capilar?, qiip no volver
ilos seciilos vao li'p;aiid() as passiidas as geta-
<;i">es fiiliiras, e das cnnqiiislas proprias da
perfet-liliilidade Ininiana.
Ha uma difl'iiMildade irresislivel, que em-
barjja o pas^o enlraniio-se iia analyse do iii-
lendimenlo Inuiiaiio. Decotnpoe sc o r.icio-
citiio ; res'ilvp-sc nos sons elfinorUos r> j lizo;
percebe-se a idea; clio;;a-5e ;i seri>il>ilidadi!
percepliva, coiiin ultiiiio do^ pheiiomonos intel-
loctiiaes. Mas iirnorando-se a parli; que toca
ao organisiiio lualeiial; a cada iiina das
reparli^nes, em que se divide anatoiiiica, e
pliisiologicaniciili'; as iiniluas rclai^oes eiUre a
materia extensiva e o principio sensieiUe im-
material ; as li^M(;oL>s e liariimnias cntre senli-
do3 externos e iiiternos ; o que e do dominio
do instinclo, e o (|iin loca a razHo, nfio e
facil descobrir o ponto de pnrtida seguro
para proceder na coDslitnigfio do uiiia scieiicia
iiilellectiia! ; e o fio de Ariadne que sirva de
giiia no labyrinto, que se ol'ferooe a nossa
oonteinplagfio.
Difl'icuIJades de lal ordeni expiicam facil-
mente, jusliticain ale, os variados svslemas
pliilosopliicos, asopiiiirics contrariai ecoiUra-
dictcrias, a marclia do espirito vagaroso,
contrastada, e iiiti^riniUeiile; a deficiencia, e
atrazo de iitna sciencia de luque inui suI)ido,
a Psycliologia.
Plat'io dotado de uin espirito transci-n-
dente que Ihe deia o noine de divino, marcoii
wma epoclia tiio notavcl na pliilosophia, que
alravez do largos seculos tern cliegado aos
nossos dias, e prestado os iilicerces a syste-
rnas pliilosopliicos elevados ;i eelebridaJe. Ad-
inittindo a eleruidade da materia, expjicou
a formaijao do iiiiiverso por uma intelligcncia
infinita; mas levou a ideologia espiritualista
a ponto que parece esqtiecer-se da rcalidade
da materia. As ideas eram cm sua opiniao o
que ha no mundo real, necossario, e absnhilo:
eram typo, e causa de tudo o que existe no
universe. A csta elevada alstracjao juntava
a escl)ola academica formas tao mysteriosa*,
pljrase lao obscura, e ncbulosa, que nao so
taz difficil a intelligencia da doutrina, senao
que frequentes vezes a figura contradictora.
Noseculo XVII Spinoza segiiiooespiritua-
Itsmo, admiltindo uma so substancia no uni-
verse, com dois atlributos, ponsamento, e
exlensfto. Segundoeslepliilosoplio tudo oque
vemos no exterior, quanto sentirnos no interior
sfio meros fenomcnos dessa unica substancia.
Nao ba contingcncia, nao lia Iiberdade,
tudo e necessario, tudo se move ao aceno
dessa unica substancia. Por esta doutrina
mereceu o nome de tanto do panteismo.
Ja por fins do seculo XVI Descartes se
havia levanlado contra o methodo systemalioo
daj esclinlas. No seu inmortdl dlscurso sobre^
o methodo ensinou a duvidar das opinioes
recebidas como dogmas: e da duvida nasceu
o principio fundamental do sea syjtema —
eu penio, lojo existo — eis o facto funda-
mental que rcsisle a l<ida a duvida. Tomando
este facto por ponto de partida a piiilosopliin
n.'io pndia deixar de tender ao espirilualis-
luo, c Doscaites foi em verdado espirilualibta.
Mas o es[)iritua!isiiio n.To absorveu o mundo
material. Se o pensameiilo era, segundo ellc,
() attril)uto do espirito, a exlensao era o da
materia. Gombalendo o sensualis.aio de Aris-
tnteles nao quiz Descartes negar o dominio
aos senlidos. Sentiu que nem lodos os conheci-
menlos nos provem dos senlidos externos;
mas li.'io admilliu ideas innatas, como typos
preexiitentes em nosso espirito: quiz unica-
menle assentar o principio inconlestavel de
haver pensamenios que nao prncediam de
ol j "ctos exiuruos, nem determina^ao de
vonlade. O syslema de Descartes purificado
de algunias dliisoes, e defeitos comnnms a
lodos OS systenias poderia ainda lioje ser a.
basf: da vcrdadeira phdosopliia racional.
Partindo do mesnio principio fundamental,
mas Inquirindo a fonle e origem do pensa-
mento chegou Locke a um resiiltado mui
diverse collocando a origem dos nossos co-
nliecimenlos na sensajiio; reproduzindo assirn
a antiga maxima estliolastica — iiiliil est in
intelUctu quod prips non fucril in sensu.
Eu penso, dizia o illustre philosoplio, mas o
espirito n:lo tern oulro ol)ji;cto de pensa-
mentos, e de raciocinios que as ideas ; e estas
outra fonte, que nfio soja os sentidos. Mas
Locke nao rouba o imperio a retlex.lo para
entregar exclusivamente aos senlidos o sceptro
da intelligencia. Ao principio da experiencia
sabe associar odaraz.'io, posto que o pheno-
meno inicial do pensamento esteja nasen-aj.'io.
Couddlac quiz biniplilicar o syslema de
Locke jjilgando a retlex.'io uma complicajao
desnecessaria. Redusiu as func^oes inlel-
lectuaes a pura simsa^iio; e esta primiliva,
ou traiisformada. E foi-Ihe facil a dtmnslra-
5,'io do sen systema imaginando uma eslatua
organi^ada, anirnada de um espirito, mas
destiluida de idea. Vai-lhe abrindo os senti-
dos por mein de impressoes feilas seguida-
mente em cada um delles : e como nos effeitos
das impressoes o ideologista fallava pela
eslatua era de esperar que em seguida a.
sensacao encontrasse o juizo, o raciocinio, o
entendimenlo, o desejo, a vontade, e quanto
mais constitue o complcxo dephenomenos iii-
lellccluaes.
A um sensualismo tfio puro, e descarnado
era infallivel seguir-se a reacgao. Os anta-
gonismos nao dominam menos o mundo
moral que o mundo piiisico.
As ideas espiritualistas de Platao e dc
Spinoza ressnscitam em um povo de pensado-
res profundos, que faciimeiite se elevam at
regioes da abstracg.^o R'ant encaslellado no
mesmo principio de Descartes, masdando ao
— cu uma direcgao bem dilferente da do
philosoplio francez, tonia assensagocs em abs-
Iracto como puras represenlagoes indepen-
dentes dos objectos, modificagoes da facul-
101
dade representativa, do — eu — differenles da
iiiUiigao empirica com refiMcncia ao innndo
«jiterior. As'im clipga ocliefe do racionaliinio
a assentnr a razfio como a priineiia fonle
dos nossos conliectmeMlos, o iiiiindo exterior
como lima appareiicia em rela^fio a iios.
CoUocando iia razao o poiilo dc partida
das fiinccjiVi iiilellectiiaes adinillo ideas a
priori, as do lempo, e do esparo: e qualro
calliegorias, on fmic^ocs logicas da razao, a
quanlidado, a quiilidade, a reia^fio, e tnoda-
lidade, a que devom ser conformes as repre-
8enta56es dos ohjoctos externos para luiver
reaiidade. Donde se dediiz logicanieiile que
a reaiidade exisle so no siilj'Clivo, a que o
obj-'ctivo fica subordinado. E na verdade
abslrahindo de liido o que iia alem de 116'
cm tudo o que senlimos Iia reaiidade; mas
Karil coiicentrado lodo 110 sen espirilo as-
sira como o eslava no sen gabincte, nfio vin
a quesUio seiiao por um iado; e a for';a do?
factos o obiigoii algiiina vez a conlradizer-
»e, concedendo aos seiitidos em segiiiida in-
slancia, o que Hies negara na priineira.
Um syslema siistenlado por geiiio lao
Iransceiideiite comoo de Kanl nao podia dei-
xar de ter grande inflnencia na pliiiosopliia.
Com as doiilrinas de Kant come^a eexlruvio
philosopliico da Alleinanliu, dividida em do-
gmatismo, escepticisiuo. A pliiiosopliia do —
cu — , a crilica da razj^o pura teve sectaries,
e antagonistas il lustres.
Ficlito levou ao extremo a donlriiia de
Kant. Nao lia nada real senao o — cu — na
opiniao do pliilosopho: ludo o mais eiUusao.
Ainda o ndo eu e o mesmo cu opposto a si
proprio. O — eu — e aljsoluto, iulniilo, il-
lirailado ; nelle se eneerra toda a reaiidade.
O — eu — • tica o rei solitario no iiniverso. A
condijao social do homeiii desappai fce diante
desla doiilrina, qiiccondemna a reaiidade de
quanlo existe; e so pode levar-nosao egoismo.
e ao allieismo.
Para combater esta extravagancia levantoii
Scliclling a sua voz rerpeitada: c luio era
necessaria tanla aiictoridade. Os nossos iii-
stinctos sfio inais iudejtrucliveis que as siibti-
lezas de um pensador abslracto ; e Ficlite of-
fendia violento os instinctos e a razfio, dando
ao idealismo iima grandeza heroica ; despre-
zando os sentidos, e reduzindo a uma illiisao
a majestade da iiatiireza. Schelling vein jusli-
ficar as iiossas criMiens; e por nma ironia
refutoii Fi<:hte adoplando o sen principio, e
elcvando-o a nin valor obioluto.
Ha um — eu — obsoliito, diz Sclielling, que
doniina o universo, quo apparece em todas
as siias. obras O — eu — subjectivo de Fichle
nao podia existir senao como dependencia
do absoluto. Manifestando-su este em lodos
plienomenos desde o cristal ale' a organisa^ao
das plantas, e a do animal, nao ha oppo-.i5rio
entre materia eespirito, entre natnieza e — eu
— subjectivo; porqiie siio dois modos de ser
do — eu — infinilo, que anima todo o uni-
Terso. Nas snas inanifestajoes esse ahsoluio
vue-se elevando de reino em reino; vae-se
espiritiialisando inais e mais ate se desenvol-
vcr no liomem, e cliegar a consciencia de
si propiio. O — tu — de Fiilite e um retlexo,
o majs perfeilo do — eu — absoluto —diujna;
particnla aura:.
Foi geral o entluisia?mo, a embrlagupz com
que »e abra5(,u uiiia pliiiosopliia, que satisfa-
zia ao bom sen^o com que se ere no mundo
exleiior, iisympatbia qucMiosliga analnreza.
Hegel teuton dar ainda major desrn-
volviiuento a llieoria de seu mestre, voltou
de novo a analyse da razao, e entroii nelln
com tal vigor de raciocinio, que a iiilelligen-
ciii tica exla-iada em prescindindo de ludo
o que vem do mundo exterior, de ludo o que
nfio lor abstracto, e universal. A logica de J
Hegel e o seu verdadeiro titulo de gloria.
£levou-se Hegel a al)5tra5rio snprema, a
idi'a inais geral, ao conceito irresislivel, a
idea do acr. O .ser ufio se pode negar; mas
ao str opp6e-se o nao ser \ e=le poJe signifi-
car o nada. e algna coiia intermedia entre
o nada e o ser. lluscou um meio lermo que
conciliasse os dois extrcmos, acliou o ser po-
tciicial que nfio e ser, nem e nada. Mas o
espirito nao socega, nfio para nas conside-
rajoes do nada, do ser poltncial, do ser sem
que cliegue li idea do ser absoluto, em que
ri'ponsa. Parlindo da certeza mais iiiabalavel
Hegel com dialectica invejavel vae filiando
lodus as opera^oes inlellectiiaes por forma
que se pode asseverar luiver feiloa phisiologia
da razao, de que lizera Kant a anatoiiiia. A
logica de Hegel e a pliiiosopliia do infiiiito, O
intinilo, segundo elle, nunca se pode inanifeslar
no linito ; e assim o absoluto nao se inani-
fosta no liomeni, mas na liuinanidade. Fal-
lundo dos attributos do ser absoluto Hegel
affe ta um tal mVsticisnio, que nfio e facil
prcocrutar o seu verdadeiro niodo de pensar,
parecc ate por vezes caliir em coiitradicgao.
Os dj>ci[)nlos do Hegel foram mais francos.
Nos annaes de Halle desenvolverain os ex-
Iremos da pliilosopbia do nieslre. jNegaram
sem rebnijo Dcos, o Ceo, e a immorlalidade ;
e estes principios snbversivos pns?arani infe-
lizmente dos baiicos da esclmla para a praga.
Scntiram algnns pliilosofos meuos preoc-
cnpados que a lodos os systemas, de que lia-
vemos fallado, fidtava o verdadeiro caracter
de sciencia. Kranse quiz remediar essa falla.
Tonion por idea fundamental a do ser, o
ser compretiende lodos 03 seres com lodos os
sens altribntos ; e assiiu representa a unidade;
e esta e a priineira catliegoria do ser. As
calliegorias iminedialas a esta iiio a subslancia-
Lidade, e a toUilidade. A primeira refere-se
ao scr siibsislente por si, e |)ara si; a segnnda
ao mulliplo na unidade. Adinilte em todas
as coisas um fundo, que cliama Cssencia : a
.-eaIisa(;ao desta dii a existeiicia; de sorle que
ba um germen que se vae desenvolvcndo, i-
inanifeslandodediversas formas, sem que baja
102
'mudanja na essencia dai cousas, As essencias
individuaes eniaiiain da essencia fiindatiiciilal
do e^piriLo universal: e eslaosscncia oflcrccc-
se em dnas maiiilesta^oc:-, espirilo e natu-
rcaa. lim ainbas as expiessocs lia commiinida-
de de essencia coino o ser ahsoluto, apezar
da ditTerenijM da materia e do espirito.
Para conibiitcr todos os syslemas do idea-
lismo transcendoiUal l)aslava exigir as provas
do que se as-evcra ; pnr que lodos se rcduzcm
a mera> iiypotlieses onloioi^icas. S'lo sy.-tcmas
subjectivos, a que nfio corresponde realidade
ohjecUva. Serfio cvidencias para sens auclores,
que vivem de sua ima;^itia(;fio ; mas evidencias
que n"io convencein ; porque evidencia in-
dividual p6:le ser urn crro de boa le. O pan-
iheismo idealista seni, quando muito, a poesia
da intelligericia.
A razao e inquestionavclrnenle uin principio ,
do3 nossos coidicciuientos. Mas lia oulro, que
e a experiencia. Setn que ainl)as se assnciein
nao ha sciencia possivel. A esla vordade clie-
goii ultimauieute Sciielling cmpenliaJn ern
combater os Hegrlianos, e fazcr a npo|n:;ia
do clirislianismo. A plidosopliia, que clle lioje
ensina em Berlim, contradiz a que de pii-
ineiro ensiruira em Municli; e de balde se:
esforga o illustre pliilosoplio por 110= persua-
dir que nao ha coulradiogfio, repulando esla
doutrina de lioje a segiitida parte do seu syste-
jna; dizeiido que na primeira se elevi'ira pela
razao ao absoluio, e pela experiencia agora
dcscera a realidade dos faclos. Uina doutrina
repelle a outra. O Dens pessoal, a que o
philosopiio chega i)elo principin da expeiien-
cia, nao e o absoluio cahotico, que se vae trans-
formando nns tres reinos da nnlureza. Aduiit-
tido o sesundo principio, abjurnu o primeiro
O que Scheiling dcmonslra nesta segumla
parte, antes phi^e, da sua philnsophia e que
<ima pliiloiopiiia puramenle logica nao poJe
sercliristii. Se houver um Pierre Ic Rnux que
Ihe neguc o clirislianismo, desaba todo o edifi-
cio que estd levnntando.
A criseda philosophia Iranscendenlal cnme-
<;ou com a plirenologia de Gall, e a cranion-o-
))ia de Carus. A psvchologia organica abriu
brecha no pantlKtiiiuo idealista, que reprcsen-
tam todds esses syslemas pliilosnphicos vdzados
no niesmo molde ; porque, couijjarados clloi,
ve-se que n'lo sao mais que evoUK;oes do
primeiro systema do pae do racionalisrno.
Kant descnliou aestalua queosoulros abriram
a seu bebprazer, dando-lhe os ronlornos,
rasgando-llie as feicoes, que mais convinliam
ao seu fiui.
A retlexao cliegou, O absoluio ou e uui
pure ente de razao; ou a diviiulade creadnra,
tora dns douiiuios da philosophia natural ; ou
esse principio auimador universal, que Hart-
ley cliamou ether.
Abaladas as crengas, vai em decadencia
ff3«a philosophia transcendental. A transi(;ao
I'sla sendo preparada por um dos seus mais
robnstob campeoes. M.
A IMITACAO DE JESUS CII/ilSTO' .
Foutenellc insigne cscrilnr do ultimo seculo.
fallando da Imitnj.'io de Cliri>lo, diz: « Ksta
obracauiais bella que tern sahidodamao do;
homens, porque o Evangclho tern oulr.i
origem. «
I'oderii por veulura haver rnaior elogio do
que este, no qu.il a data e o noine do auclor
dd tao verdadeiro, tao juslo valor ? Couio
f.izer melhor sobresahir o subido mcrilo d"um
livro, que ao inesmo tempo 1; a (!ousola(;ri<i
dos aujmos mais puros, e faz as delicias dos
cspiritos mais cultivados, c que teve a feliz
e singular sortc de ser adoplado seiri cojitro-
versia pelos catholicos, 0 pt'los protestantcs !
'I'raduzido em todos os tempos, em lodas as
tiiiguas, em verso e em pro>a, as diversa^ edi-
goesd'esle precioso livro sfio s-cmpre csgotadas
lapidamenle, e i'orraaui sospor si iima biblio-
thcca iinmensa.
Ila duas d'cntre todas ellas, mais dignns
de sercm assigiudadas. A primeira velu do
tcindo da Allemaaha, e deve-se aos exlremados
doivelos do sabio director do gymnasio catho-
lioo de Dresda, Joao llrabiela que den um
texto latino ^(ie Imilalioiie C/irisii, lexto
revisto com graiide cuidado sobre os mais
antigos manuscri|)loi (cod<.i dc ndnocatisj
e sobre as edi^oes de Desiiillon, de VVeigl e
de Geuce. O volume impresso em caracteres
claros e faceis de ler, termina pejo ordinario
»da missa e por alguns de nossns hymnos
sagradns mais bcllos.
Na Franca um novo e mode, to editor acaba
de dar a luz uma cspecie de fac-simile
delicioso d'es-es edificalivos e bons livros
d'outr'ora, onde o texto revisto com escru-
pulosa alleugfin c pnr assim dizer com verda-
deiro zelo, onde os caracteres finamente dese-
nhados, n papel bem escolhido, lorinam um
complexo lao raro de qualidades, que poucas
vezes OS bihiiophilos as encontrar.'io reiinidas.
I'allamos da reimpressfio d'uma Iraducgao
feila ha mais d'- dons scculos, e a qual o
nome do auclor o ehanceller i\1iguel de Ma-
rillac augmenta o valor. A Iraductj-ao foi
com|)osla antes da desgraja d'esle magistra-
do, e revisla por elle em s^'U duro captiveiro.
As palavras de Lauiennais, juiz compelenle
cm semelhaute mateija, sao o seu melhor
elogio : a A mais anliga das traducfoes que
merocern ser citadas, tern por auctor o chan-
celler (le Marillae e foi publicada em 1631.
Approxima-se mais do que neuiiuma outra
' Uina nova e(Ii(;lo, revisU e ciii'lailosamenle correcU
por IT. S. lie Sacy, ila Iniita^iw tie Jraus C/ir/5/0, Grl-
menti! trailuzida do l:ilimpur Mi;,'UpI li'* Marillar, cliancel-
Ut (le Franra, foi no correnle anno |iu!iltcaJa cru Paril ;
a cerra d'elta pnrcccunos di^'no de fspecial mriK-ilo o
resumido niait assaz jinpurtanle .irti^'o de Os. de W.dlevil-
le tjiie, eu» assiiniplo de Imnaidiu inleresse relis'iuso e li[-
lerario, .•ipre.-eata coin pi-rfi-Uo cutiliecimenlo Iiido o que
eilHva vm mais iniineili-ilt rolarao com este objeclo,
'■ ])e jmilalione Cliri»li. Iil>ri quaUiur atl oplima
cxcmptaria, collala cum rctu8tii..>iiinu codice qtlem nan-
cnpant de adyocaljg, accurule edilt, enra\it Jo'muiua
Urttbiclu. I. \ol. in — 12. l^eij'Zi:;.
103
rlo texlo nri(,'inal, e tern nns labios d esle
ancifio lanla j,'rai;a oomo caiuhua, sendo que
oj traductor»s subsequeiitci iiada mais Icm
leito do que a ciisto iiiiital-a. » Sacy reviu
e^la cdi^ao e ajuiilou-llio um prefacio. 'I'er-
»e-hia j ilgado que liidu c»lava dilo a ceica
da Iinila^'ao, tiias kudo o prefacio recoidiece-
se o conlrario. Ja que os estreitos liuiilos
d'uui arligo iifio /los peimiUeiii apre»eiital o
por cxleuso; s-iivira de prova o I'ragiiieiito
em que Sacy examina qual foi o auctor da
linita^rio. Nunca probleuia lilterario exci-
lou conlrovcraia niais vehemeiUe. Sera por
Ventura a S. Bernardo, a fr. Tliouiaz A
Kenipis, ao clianceller de Franga Jofio Ger-
son, ou a Ger.en abl.ade de Verceil, que
deve attritiuir-se e;ta olna prima? Centena-
res de criticos, os inais illustres, leeui pro
econlra eicrilo iiiilliarcsde voliiincs. Ducangc,
Mabilloii, Naude, Quatremaire, Hosweide,
CajeUii, o cavalbeiro de Gregory, Geuce,
O. Leroy, Faugercs, e muitos oulrcs leeiii
defeiidido calorosameule seui campcoes, e
a peiar de tao sabiab diiCiis.-oe», e ineiino ale
da resolu^ao do parlamento de Paris com a
uala de 13 de fevereiro de 1652, declarando
que o livro da Imitagfio nao seria inais im-
prcsio com o noine de Joao Gerjou, mas
com o de Tlioinaz A Kempis, a questao
Ticou ainda indccisa, e a Sacy coube apre-
jenlal'a sob forma inteiramenle nova, como
vanios ver.
- Quaiilo li queslfio de saber qiiem e o ver-
dadeiro auctor da 1 mitajao de J Esus Cituisro,
nao entrarei n'cila por iiao ter feilo o pro-
fuiido eohido que seria mister; persuado-nie
lodavia que jamais sera rcsolvida sem cou-
Irariedade.
.' Uraa das bellezas moraes do livro e no
meu entender a duvida que lia sobre o nome
de scu auctor; c uma graga especial coin que
a Deus aprouve glorificar a liumildade do
piedosoauctorqualquerqueseja. Naconsidera-
<;iio pnramente lilteraria, e admiravel que a
Imilajfio de Jesus Cuiiisxo naoteiiha auctor
' certo. Nao lia auctor para uni livro como
K eale, senao a liumanidade clirista lodainteira.
Assim rorao os poenias de Homero eram o
livro de toda a Grecia, ou antes ogenio grego
em si mesmo, assim tambem a Imilagfio de
Jesus Christo e o rcsumo de todos os senli-
inentos cbrisl|aos, a propria alma clirista.
Livros de la| xi^ilnreza U.i poucos , ab^orvem
o auctor e fazem-no esquecer ; o auctor
perde-se, a bcni dizer, no meio de lanla
;;loria, e a sua obra adoplada pcia liumani-
dade, nao e ja d'um so, mas de lodos. E de
adveitir lambem que ou pcrlenca a compooi-
(j-ao da Imilagfio de Jesus Chkisto aoseculo
XV, como qucrem os que segnem a opiniao
de 'J'liomaz A. Kempis e de Gcrson, ou ao
seculo XIII, Como qucrem os seguidores de
Gersen, os contoniporancos parcce nao tercni
conliecido senao a obra, sem preocciiparcm-
bC a terca do auctor. A coiilroveriia duraru
por lanto eternamcnte; ningucm se data por
vencido. Gersen leru senipre defensores, c
n'este seculo ainda leve urn muito sabio,
Gregory. lia alguns annos, parecia que Ger-
son ficava vencedor em virtude dos esforgos
de Onesyme Leroy, e mais recenlemenle a
causa de' 'I'ljomaz A Kempis foi sustentada
com summa liabilidade por Malou conego
lionorario da calliedral de Bruges. Como
esta obra e a ultima, diz Sacy, que eu li
sobre a Imilagao, inclino-me em favor de
Tbomaz A Kempis, mas nao se me accuse
de abandonar o interease da Franga, que
revindica a Imitagao de Jesus Christo para
Gerson, pois que, ainda outra vez o digo,
creio que a lionra de ser esquecido e uma
graga concedida por Deus ao sanclo au-
ctor. ' 51
NOTICIA SOBRE A BACIA CARBONIFEBA DO C\BO
llONDEGO.
Descripgdo do jazigo.
A bacia carbonifera do Cabo Mondego
existe no terrcno jurassico em um grupo de
roclias arenaceas e caleareas , que e pouco
descnvolvido para S S.K., lerminando proxi-
mo do casal da Serra, e apresentando-se por
eale lado com condigoes favoraveis para a
lavra na exlensfio de £',d^a 3',0 da cosla.
As camadas cnntinenles e o carvao teem
inaior de»envolviuiento para O.N.O., corre-
spondendo a maior espessura d'esle a linha
da costa na praia. Continuam alem d'esta
linlia no solo (jue forma o fundo do mar, nao
so por.pie a camada de carvao leni alii niaior
pos^auga e pureza, mas porque se acliou ef-
I'eclivaaienle no avaiiro dos traballios antigos,
que peuetram 200'" por baixo do Oceano.
N.'io se conhece o lunile d'esta bacia, no
scnlido da prufundidade ; lem-se reconliecido
que tontiiiiia iW abaixo da galeria geral
d'esgolo, e e provavel que se estcnda ale
250'" de profuEididade sobre o piano da ca-
mada a coular d'esla galeria.
A camada ein lavra apresenla dois acci-
dentes nuii iiii|)orlaulPS no senlido da sua
direcgao: — 1.° o adelgagamenlo ate -i eoiii-
plela desapparicao do carvao; esle accidenle
produz nolaveis lacunas no deposito; — 2.*
a exijteiicia de setlas de calcareo carbonoso
scliisloide, (pie dividcm a espessura da cama-
da em Ires gros^as laminas.
As camadas d'esle grupc, e o carvao que
conlem, seguem a direcgao geral O.N.O. a
E S.F>. inclinando 40° para S.S.O. O leclo
c muro sao de calcareo algilo-carhonoao con-
sistente c eslavcl, condicao impoitante para
a economia da lavra.
' Eslas palavras fazem Ieml)r.ir uraa passagfm siil.li-
me da Imilor-So ; ■■ Scnhor concedei-me a prai;a de miir-
rer par.i lod'as as rousas miindiin-u, e de por amor d»
vus Jfsi-j.ir ser rot-Qusprezado e d.^sc.jcbccidu dj munds. ..
104
O corvao e negro, brilhanlc , em laminas
grossas parallelas a stralil'ica(;'io , gordo, e da
coke muito pnioso; o sulpliiirelo de forto,
4ue abunda ni'llc, toriia-o iiiappticavel a mui-
loi usos. Os scliii'.o, cail)onosos pyrilileros,
expoilos ao ar, entrain espoiitaiieaMienle ein
comlMistfio lenta, que dura por muilo tempo
Bte se coiisiimir loda a porjao caibonosa que
conlein.
O prison appareceu uina iinica vez no anno
de ISo'i, em urn dos tallioes da mina Farro-
bo; a sua pre^en^a foi anniinciada por uina
violenla delona^ao, que apagou as Iuze5,e
feriu Ires hotnens; con^eguiu-sc por o niassi(;o
incominunicavel, e desde essa epoclia nao toi-
nou niaii a manifestar-se esle lerrivel acci-
denle.
Continua-
UMA TRAGEDIA ARABE ' .
Vivia ein Bagdad utn mancebo, Abder-
Rahinati-ben-I;niail, que por sua exlreina
bellesa, e suprriores dotes iiilellectuaes nie-
recera oappi'Uido de Brilhanlc. Enamorou-se
d'elle tio perdidamente Oumui-el-Beiiirie,
muUier do kalifa ]^1 OullJ l)en abd-ol-Melik,
que veiu a adoecer. 'I'odos os dias queria
vel-o no seu quarto, e se acaso vinliarn ler
com Vila, quando e^lava com o scu amanle,
escondia-o n'um dos seus cofres.
Certo dia fizeram ao kalila presenle d'um
rico collar d'ouro e brillianlos; tao liiido o
acliou elle, que disse " guardae-o para minha
inullioriie cliamando uin escravo o mandou
por ello a si
liana.
Quando o escravo chegou a porta do quarto
d'ella, para cumprir as ordens de seu amo,
I'icou surpreliendido, vendo-a aberta, e depnjs
de scisniar no que isto significaria, e.ilrou
pe ante pe, ouviu gargalliadas de rizn, e,
dirigiudo-se para o logar d'onde vinliaui a-
quelias rizadas, toparam seus ollios com os
rio mancebo, cujo rosto se cobriu com a pa.
jidez da moite. Mai Oumm-el-Beuine deu
por isto, logo escondeu no cofre do costume
o seu amante ; mas era tarde: o eicravo tinlia
percebido tudn, e, apresenlando o collar a
sultana, disse-llie » Senliora, pi-^o-vos urna
d'eslas joias. ii Indiguada com lamanlia ousa-
dia, Oumm-el-Benine, t'el-o sair immediata-
mente do seu quarto, dizendo-llie u afasta-te
da minlia presenga, crcatura immunda. n
O e,-cravo, ardendo em laiva, delern)inou
vin;ar-se ; foi procurar o sullao, e disse-llie u
Seidior, vi Imjc! urn liomem em familiaridade
com vossa csposa ; eucoiilrei-os auibos s6> em
tal aposento; elle ficou sobiesalteado com a
tniuln preseuga, mas a sultana escondeti-o
precipitadauieute em tal cofre. u
' E\tiaiilii I'a — Reiiie de i'l}rie»l, alifil il- ri5*,
« inili'zidi de iirabc jiara o Snincri pnr M Ch'-rliun-
Ml art.
Ouvindo cstas palavra^, o kalifa, em vez de
enfurecer-se contra sua mullier, vollou a sua
coiera conira o escravo; e ii'un) accesso de
desesperacao cxclatnou litu nientes crioinrjelu
e dirigindo-se aos guardas do palacio, gritou-
llies « cortai-liie a cabeoa ,i e alguns iuslan-
tes depois a cabe(;a do pobre escravo rolava
por terra !
Terminada a fatal execuj.^o, o kalifa le-
vantou-se, cal(,'ou as cliinelas, e dirigiu-se aos
aposeiilos de sua esposa, que se eslava ton-
cando; e seutando-se defronte d'ella., no cofre,
que llie deslguara o escravo, perguntou-jlie u
porque tens lanla predilecj.'io por esle quarlo ?»
por que tenlio acpii os mens vestldos, e as
minlias joias « respondeu Oumm-el-Beuine. >i
Queres tu, conlinuou o sult.ao, dar-me um
dos cofres, que ornani este quarto ?ii Rsco-
lliei, senlior, o que niais vos agradar, ;i
excepjao d'aquelle, em que estai-s sentadon
« pois e este exactamente o que eu tpiero, di^se
o kalifa, [Hirtpie me e necessario. u linluo
e vosio, disse el-Benine depois de uns mo-
mento de iudisivel perturbajfio. C) kalifa
fez nin signal aos negros, que fora da poria
aguardavam as suas ordens. a Levai eate
cofre, llies diz elle, para a sala do men
consellio, e esperai-me la. n lim qnanio os
escravos cumpriam e>ta dflerminarao do seu
senlior, lodas as feicoes da aullana se desfi-
guravain de um modo espantoso. u Que lens
tu Uie perguntou El-Oulid, por que (-stiis
lao desfigurada ? Acaso sera caro ao leu cora-
^■fio acpielle cofre f Nao, senlior, perdoai-me;
nao tcnho nada, que me prenJa a esse coire;
se a rainlia pliysionomia ^e altera, e porcpie
me smlo indi^po^ta a Deos te curara » di^se
o k'difa, saiiido do quaito da sultana.
Quando El-Oulid enlrou na sala da au-
diencla ja o cofre e^tava pousado no pavimen-
lo. II Levanlai a aicatifa, disse elle aos negros,
e abri uina cova da altura de um lioiiiem, "
depois, mandando clicgar o cofre a borda da
cova, e poiido-llie um pe em cima, prouun-
cion as seguiiites palavras. n Dera.ii-nie uma
uolicia; se ella e verdadeira, seja a lua inor-
talba o teu veslido, e esle cofre o ten caixao
morluario; e Deos e que le immola; se a no-
licia e falsa, nao se perdem si^nfio iiinas
poucas de laboas ; ii e fazendo com o pii um
pequeno moviuienlo, o cofre lomboii no fundo
da cova ...... " Que Deos me perdoe n dis-
se elle entao, lan5andi>-llieein'iima um punlia-
do de terra. Os negros arrasaram logo a
cova, e tornaraiu a estender por ciaia a
aicatifa.
Concluido este acto, o Kalifa senloii-se na
cadeira, em que costumava dar atidiencia, e
a liora do alinoco enlrou no sen quarto,
aonde os dois esposos (.onfundiram suas almas
n'uuia coinnium alegria, comose cousa alguma
^enialra nfio liouvera occorrido entre ellej ; e
a mail) dilosa paz nniu estas duus cxi>lencia>
ate a bora du uiorte.
105
SECC^AO DE MATHEMATICA.
INTEGRAES DEFINIDOS.
Continiiado ile pag. 64.
2. A loniuila (4) on (o) do n.° 1 e a de Francoeur Calc. int. n.° 843, edig. de
Cijinilira dc 1839. A formula (C) e a de L.Tcioix Calc. int. 3,° vol. pag. 118, edit, de Paris
(l<; I 98. A torjiiiila (8) conipreliende a de Poissoii Mecli. 1.° vol. n.° 15, edit, de Paris de
1833. De (9) sahea foniiula de Fontaine Mem, da Acad, das So. de Lisboa. A formula (14) c a
de'SimpsOii , em ciija deducCj'fio sognimos a nota ao calcido de Francoeur, que vem no f2.'
vol. nag. 273, cdic;. de Coimbra, e q\ie foi feila pelos Traductores.
3. Se na formula (6) do n.° 1 tirarmos (p(^„) para fora do signal 2) e despresarmos
depois OS lermos, em quo enlra y-, ^', etc, e na I'orniuja (8) do mesmo n.° rejeitarmos
OS lermos da mesma ordeni cm S°, ^% etc., lanto a formula (G) como (8) ficarao reduzidas
:i seguinte expressfio:
(1) / ? Gr) ./.r = nTla^i) + TTa r? (••^" ) -? K) I-
Se aoaso e pequcna a differen<;a numerica eiitrc if(:c„) e ip(a?„), e se alein disto if(x„)
1 .119 ('^n ) 9 ( ^n ) . 1
e o(a;„) tern o mesmo signal, a quantidade : -—^ sera tambem muito pequena, e
' I' Ail'
por isso quando for n extremamente grande, o que siippoe J extremamente peqiieno, pode-
mos desprezar o segundo termo do scgunclo membro de (1), e escrever siniplesmente :
(2) / ^(x)dx = S2f{Xi).
Poderii iimdar-se em integral uin somnialono , quando as fimcgijes extremas foran
pouco differcntcs, quanta ao seu valor numerico, e tivcrem alem disso o mesmo signal.
4. Pela equa<jao (2) do n.° 3 conhecemos que nos e permittido parlir urn integral
definido em tal iiumero de partes, que nos cnnvier : por exempio, seja Xr=^ a ; ■2"i=:6 ; x^^^c,
i=n — I
aonde r, k, s, sao nuineros inteiros, cada urn mcnor do que n: a somma $ 'S,<f{'''0 ptjci"^
decompor-se nas seguintes:
i^ar—l iaaA^l leaf— 1 133^.— 1
Slf{xi) +^2¥(,.-r;) +*2<p(.r,) +&2<f{x!);
cuja somma e o mesmo que
,-a /.6 ^c nx„
j a (x) dx -^ j if (x) dx ■]- I If (a:) dx -\- I if (.t) dx.
" X, "^ a "^ b ^ c
Entendemos no que fica dito : que r<,k; i<s; s < (« — 1), Em conseqiiencia disto,
se (p (x) mudar de signal , em certos valores dea;, podemos decompor (2) do n.° 3 em par-
tes, cada uma das quaes de a somma de termos positives debaixo do signal/: seja por
106
«\emplo o (i) posiliva desdci-=.r, aloa- = j-,:= (7 ; c,p(a) ne^ativa dcsdca;=: oate a-=: j-„:
podeinos escrevcr
j ^(^x)dx=j (f{x}dx — / If (a-) da; ; aonde / ,f(x)dx, p j ^ [r) dv sio i|iiantidadri
• .T, ' X, •■ a '' X, 'a
positivai.
5. Scja (J, (,r) posiliva desde x = x^ aid x=^x,, e inclusivainenle neile? limiles; e .M (>
maior, assim conio m o raenor valor, que ip(j;) lem desde x=ix„ ate x = ,r„ , cnmprelien.
dendo tambeni csles limiles : digo que
(1)....
Porque :
'M(x,~ xj> I ^ (x) dx
, (X) dx
f [M— , (.r)] dx=: Mx—f^ (a?) dx ,
f [9 (x) — ?n] dx =y 9 (x) dx — mx.
Passando aos limiles , acharemos :
(2) / fW — 9 [X)] dx = M (x,— xj — f<f'(x) dx ,
C3)
Porem considerando esles integraes, como ioinma de elementos difl'erenciaes. os pri-
ineiros membros de (2) e (3) sac esseucialmenle positives: logo as designaldades (1) 3S0
verdadeiras.
Se (j)(a;) fosse negativa, em logar de posiliva, lomariamos por M o menor valor ihega-
livo do f {x) , e por m o maior, e concluiriamos :
9 {x) dx ,
(4) ]
(.r„— xj > / ^{x)dx
Seja 9(T)daf6rma/(a-) <p| (x), posiliva nos limiles da integra^ao , e dentio d'clles, e
3eja alem disso / (.r) rfx inlegravel, de modo que //(a ) (fj: = F (j:): supponliamos tam-
bem , como acima, que Me m sac o maior e menor valor que <p, {x) pode ter : digo que
(5)
■M[F(x.)-Fix,)]>f/(x),,(x)dx,
[F (x.)-F (X.)] < f}\x) 9, (X) d^.
Porque f[Mf{^x) — f{x)^^{x-)]dx — MF{x)-ff{x),X'>')^^
/{f{x) ,, ix) — mf {«)] dx—ff{x) ,. («) rfflT — Tn F(,«).
107
DomJo, pnssando aos limites, se conclue a exactidfio das desigiialdades (51.
(). Seja a funcj.'io pioposla if(x, a), c adraiuanios em primeiro logar que a;„ e .r n-io
TJiri,-Mn com as varia^Oes de a: digo que tercmos ;
(1) • ^ = LA::±(^±^..j^.
da / da.
^.
Por quatito / <f [x , a) dx = ^{jr„, a) — i(x^, a), segue-se que, se tivermos de achar
« dcrivada oni ordmn a a, do primeiro membro da equa(,-So, devemos neile fazer somenle
variar o que no segundo nieuibro varia toui a,: mas tcmos lambem pela equagao (2) do n." 3
-Ka-n, «) — .} (.r„ , «) = * [,p (a:, , «) + <p (j-, , a) + ? G«. , a) + ] : logo
d.[^ (j-„, a) — ^ (x^ , a.)] _ ^ ^f!-f(x„^a) , d.^(.v,, ,) d.,p(x,, a)
SI ^7 'H -^ 1 -r^ \- J.
Lua O, a, da j
:*2
c-.omci tinbamoi asseverado (1).
Seja em segundo logar: Xn.^^ F [a] : a;„ = i^, (a): acbaremos
d . j ^ (_x, a)dx
J T
E na vcrdade
e lemoi
,„, d.if{3i:„, ^)^(d .;!f(xn, a)\ (d.}f(a-„, a)\ idx„\
^'^ da ~\ d^ ; + l dx, )\-dz)^
, , , '^ • 'I' (^. ■. «) _ (d.ii{x^, g) - A< j,^r„,g)\ /c?a;A
^^ da \ da )^'\ dx^ )\da)'
Pore-m a equa^'So (1) do u.' 1 dd (^ " ^j^^ '^^)^ , (x„, g); e (^ ' ^j^° ^ '^)=ry (.-., .):
. demons.rado ser (^ • ^ ^'"n, a)\ /d. ^ (^„ , .)\ T'^d ■ , (.x . .) _ ^^^ ,
\ da ) \ da ) J da ^ '
mando a difierenca do3 primeiros membros das equajues (3) e (4) obleremos
«Mj(2;., a) — K'^o ) «)1 _ / d.^ix.a)
d
equafiio (2).
=/-%^- '^^ + ^(--) (^)-'^^. -) (S)"'- '= »
7. Se na equacao (2) do n.° 3 se lornar i infmitamenle pequeno , ou se fizer-
Taoi Sz=dx, sera lambem n — 1, ou n = co, o que suppoe que naquclla equa9ao e debaixo
do signal 2 entra lambem <({x,).
108
Cliamuremos functjao par afjuella funcrfio , que coiucrva o mesmo valor , quando s«
Vlao a variavel dous valores iguaes, mas dc signal contra] io; assiiii y, em y=zx', e uma
tiincf'io par. Polo contrario y=:pa: dara para 1/ uma fiinc(;ao impar, pnr que para os
valores dea;= + o,!/ lem o mesmo valor mimerioo, mas de signal contrario.
Seja I uma quantidade easencialmente posiliva, e (lue possamos fazer dt'crescer tanto ,
quanto quizermos, do niodo que ella possa cliegar a ser monor do que qiialquer (intra
quantidade dada , por mui pequena que csta seja. Posto isto, acliaremos :
(1) / <f{x)dx-{- ^{x)dji:=dx\[,((—a) + ^((i)] + [^{—a^) + ^i<J.)]
' -a J ,
+ [9(-.)+?(0] + [¥(-O + ¥(O] \
Seja'^ uma func^ao par, ou 9 ( — a:):=:<p(a;) : resultaia
(2) / <f(.r:)dx-\-j <i{x)dx=zQ <((x)dx.
Seja (J) uma funcgfio imj)ar,ou o ( — a:) ;=i — ? ('^) roaiillara
(3) / If (^) dx-\- 1 (p {x)dx=^0.
•J ~a ' ,
Ora eorao nos podemos fazer decrescer t ate abaixo de qualquer grandeza, por mais
pequena, que esta grandeza seja, segue-se que as relajoes (2) e (3) serao aiiida realisaveis,
quando nellas fizermos t = 0. Mas neste limitc do decrescimento de t temos, polo n.° 4. ,
Por consequencia :
<({x) dx = Q i a(x)dx , quando ^ (j;) :=a ( — x) ,
■a J „
(.}) j 9 (x) J>j;=:0, quando (p (>r) = — o( — x).
J -a
8. Em hypotheses particulares c' convenienle c pennitlido extender os limites doj
integral definido. Seja, por exemplo, dado
(1) F = l ^{x)dj£.
*' -a
Supponhamos que e i,, k.,k^, , t; umaserie de valores positives, ecrescentes; el
que sabemos, de qualquer modo, que tp (a-|- i,):=0; ip (a + A,)=:0; ; (p(a+ <•,) = 0 :
e tambem que ,p ( — a — i-J = 0; (p( — a — k^) = 0; ;?( — a — A-,) = 0.
Seja tambem a differenga successiva entre dous valores de k tao pequena, quantol
quizermos. Se F pode considerar-se , como somma de elementos differenciaes, equa5ao (2)1
do n.° 2 J sera.
/>a ^a -{- k ^a-\-k^-\-k^
f2) F— <((x)dx=l ,{x)dx=. ,f{x-)dx
J. a --(a+A) ^' '{a+k,+k,)
Continua, itiFi>'o aiEiiai OZORIO.
® Jnjsititiit0)
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CONSELHO SUPERIOR DE INSTRUCCAO
PUBLICA.
BELATOaiO AMNL'At.
1816—1847.
Quando no decrclo de SOdeseptembro de
1841', confinnado por lei de 29 de novenibrn
do mesiiio anno, Vossa Mageslade lioiive
por bein ordeiiar a reforiiia da iiistnicjio
publica, e criar o conselho superior para a
superinleiider e duiifir, os vogaes ordinaries
que enlao tiverum a lionra de ser por Vossa
Magestade chamadosa coinpor este conseilio,
possuidos do seu dever nao se poupavani a
trabalbos, para levar a effeito o profundo
pensamenlo desenvolvido n'aqiiclle deeroto.
Coiifiados no seu zelo, aliiriPntavain a espe-
ranij'a do poderern em breve, fazendo-o execu-
tar, preparar entre nos^ inellioros dias para a
instruc9:'io, e para as sciencias, e offerecer a
Vossa Mageslade iim novo molivo de satisfa-
<;:io ; e assim ousaram indieal-o nos rela-
torios de 184i e 184j.
Porem a desgrartida rrise porque iiltima-
ruente passou a nafao, nao so inutilisou todas
as tnedidas, e deslruiu lodos os inelliora-
meiitos principiados ; mas vein por em tao
complela desordem este ramo de adniinislra-
<;ao, que nao teni sido possivel, ate agora,
reslUuil-Q cuiiiplclQinonIp nn spii nnrlanicnto
regular. A pezar da dispn^ic^'fio da lei, e de
repetidas instancias, ainda nfio cliegarani os
relalnrios d'alguns eslabelecimentos ; e a
niaior parte dos que se teni recebido, em
logar de e.\porem o quadro da instrtic^ao,
li[nilanri-=e a nanajfio dos estragos, que ;of-
freram, e a simples decjaiagao de que, nesle
periodo de dous annos liveram de todo, ou
quasi, interrompidos os seus traballios.
Nesles lermoj, o relatorlo que o conseilio
em observancia do sen regulamcuto, tern iioje
d.e levar a Augusta preseu9a de Vossa Ma-
gestade, nao pode ser scnao muito imper-
feito. Como o ensiiio esleve sem exereicio,
e impossivel por falls de elemenlos, salis-
fazer o ponto mais inlercssanle em docu-
mentos desta natureza; e inais imporlante
para se fazer nolar peranle as camaras legis-
lalivas; e por isso especialmenle tecommen-
Voi. III. Afiosjp 1.°-
dado na lei, que vein a sffr o juizo compara-
livo do adiantanienlo on decadencia da ins-
truc^fio e das lelras com o dos annos anle-
riores a visla do numero e aprovcitamenlo
dos alumnos, do zelo e desenvoivimenlo dos
professores, e da observancia e execugao dos
regularjientos. O conselho nfio pode fazer
uiais do que expor o eslado do ensino nos
principios do armo de 1846, e dar a nolicia
dos acontecimenlos mais imporlantcs, que
depois sobrevicram era aiguns eslabeleci-
menlos. E para proceder com clareza nesta
exposi^fio, entende o conselho dever prin-
cipiar pela organisagao ou direcgfio geral de
toda a inslrucjaoj seguindo depois pelo ensino
primario, secundario, e superior.
Direcgdo geral da Instrucgdo.
A superintendencia e direcgHo da inslruc-
gfio esld. encarregada a este conselho superior
que consla de 8 vogaes ordinarios presididos
pelo prclado da nniversidade, e dos vogaes
exlraordinarios que sao os aspirantes as ca-
deiras das faculdades, todos repartidos nas
3 secgoes da instruc^fio. Pelo decurso desle
periodo niio houve outra alleraf;ao no pes-
soal dos vogaes ordinarios, senfio a ausencia,
em commis>ao, do vogal o doulor Jose' de
Sa Fcrreira dos Sanclos Valle, o qual havia
sido substiluido pelo doutor Antonio Kibeiro
de Liz Teixeira, ha pouco fallecido, cuja
fali^ " '^'^n^pljio denloia.
.\'o decurso do anno de 1346, OTTOnselUO,
alem do expcdienle ordinario, occupou-se em
preparar os regulamentos, que ainda fallavam
para execular o decrelo de 20 de septembro ;
aiguns dos quaes estao ja depeudenles da
approvaj.io de Vossa Mageslade, como o das
escholaschirurgicas do uitramar, o da criagfio
das escholas do 2 ° grau : em outros traba-
Ihava-se com assiduidade e zelo, como o
regulamenlo para a academia polyleclinica,
o regulamenlo dos lyeeus, o regulamenlo
para os exarnes preparalorios da nniversi-
dade. As desordens da guerra vieram enlao
irilerromper esles traballios. O conselho en-
lendeu que n.'io devia abandonar o seu poslo,
mas cnllipcado no centro da lucla, liinilou-
se a algumas providencias de expediente
esperando as ordens do governo. Nem podia
nbrar d'outra maneira porque, alem da in-
— 1854. Nkm. 9-
110
terrupfSo das correspoiidencias, o pessoal da
8iia secrelana nao pode cscapar a. voragein
dos partidos, e em iiiii corpo di'libeiaiiU?
a falla do secretario, que deve estar seiilior
dc lodos (13 ncgocios, nuo pode deixar dc
prejiidicar p;ravoii]onte o sen andamcnto.
Anticipadamenle liiiliam pelas seccoes do
consellio sido eiicarro^jados aos voj;aei ex-
traordinai io?, Ual)allios de grande valor para
a instrucofio, c proprios a exercital-Oj para
o seu adiai\lamei>lo, que eram em jjrande parte
OS coinpendioi para as dilTerentes discipliiias.
Ac consellio parcce que lodos se applieavaui
a esla tarefa coir) zelo, e alguns elTi'Ctiva-
menleja linhain apreseiUado Iraballio d'algutii
merecimento. I'oreiii com a desordem a
iiiaior parle viram-se obrigados a ahandonar
esta cidade, de maneira que iia confereucia
geral que nitiinaiiieulc celebrou esle consellio
em 25 de noveiiibro do corrcnle anno, grande
parte nao apparcceram, e os que foram pre-
sentes, soniente offereceran) esrusat: allen-
diveis, e promessas de tontinuar os Iraballios
interrompidos.
Um doi olijectos que nos principios do
anno de 1316 levou ao conselho os sens prin-
cipaes cuidados, foi a noinea^ao dos com-
missaries nas capitaes dos districtos adminis-
trativos, em crntormidade do artigo 161 do
decrelo de 20 de septembro; por meio dos
quaes, alem do servi(;o de reilores dos lyceus
que Ihe incumbe, o confelho espera obter
execugao mais prompta, e inspecjao inais
csclarecida no ramo da instruc^ao, do que
dos governadores civis, que alem do pezo
d'outros negocios, dtrigcm este scrvi^o por
via dos admlnistradorcs dos contellios, or-
dinariamenle pouco habeis para interpor
juizo seguro sobre objcclos litterarios.
ElTectivamente cslfio nomeados por Vossa
Magestade, sobre proposta do consellio, os
commi-sarios dos districtos d'Aveiro, Beja
Braga, Bragan^a, CastelloBranco, Evora,
Faro, Guarda, Lisbna, Portalegre, Porto,
Sanlarem, Villa-Roal, Vizeu, Angra, Ilortn,
e Fiinclial.
<;oes do seu cargo, dirigiu-lhes as instriicgoes,
qm; conslam do documento n.° 1. Como o
seu exeroicio activo somente agora vai prin-
cipiar, o consellio espera a continua^.-io dos
seus Iraballios, e pro^as do zelo, para ajuizar
do merecimento de cada iim. O cnnselho
espera egualmente ter em breve oblido as in-
f'orma(;oes necessarias sobre os sub-delegados
que na forma do art." 161 §. 3.° do mesmo
decrelo devem coadjuvar os commissaries.
Jnstrucgdo prmaria.
No anno de 13t5, o numero das cscliolas
de ensino prima rio pagas pelo governo no
coiitinenle, entraiido 41 de meninas, era de
1116 e liavia noticia olTcial de 1081 parli-
culares frequentadas urnas e oulras, por
61:276 aliimnos, os quaes esiavam para a
popnlagiio na razio approximadanionte de 1
para 5.3; razao que nuo e inf-.Tior a d'alguns
dos paizes da curopa que p:i?.sam por cultos.
E ainda que o consellio nfio possa attestar,
que na enumera^ao dos alumnos n.~io haja
excesso, ou ao menos, que tnuitos d'elles,
que fignram na cifra da malricula, nada
aproveiteiii na instruc^fio, conludo insiste em
que iieste grau da instruccfio se notava uin
progresso sensivcl, assini na frequeiicia das
etcliolas, como no zelo e assiduidade dos
profe.-sores
O consellio se occupava entfio principal-
mente de dar nina organisar^fio regular ii
superintendencia e vigilancia dos commis-
sarios sobre esle ensino, obrigando-oj a ad-
quirir conlieciuiento especial decada eschola,
por meio de corre?pondencias reg'ulares, e
visitas periodicas, exigindo-llies eontas fre.
quentes do seu movimenlo niensal com a
nota do merecimento assim litterario e moral
como pedagogico dos professores: recom-
meiulando-llies a escellia e indicarao dos
melliores metliodos, e o estimulo dc socie-
dades que promovessern nas aldeas o gosto, c
zelo pela instrucg.'io.
A guerra civil vein cortar estes melliora-
meiitos: alguns professores, estpiecidos dos
deveres do seu ministerio, compronietteram-se
e soffreram a necessaria consequencia das
vicissitudes dos parlidos Nao foram inuilos,
mas todas as escliolas se rcsjenliram, mais ou
menos, das desordens da juota, <io abandeno
das autlioridades, e da irregularidade do pa-
g;imento dos ordenados.
A crea^-.'io das escliolas normaes, aonde os
professores fossem apprender a praclica do
ensino, e adquirir o senlimento, o o habile
d'uma moral severa, para a transmitlir aos
meninos, era um dos objectos que o governo
de Vossa Magestade tinlia, n'esse tempo,
mais a peilo, em execu^ao do art." 10 do
decreto de 20 de septembro. Ja por decrelo
de 21 de dezembro de 1815 se linha manda-
di) crear uma escliola dcsla', junto a Casa
Pin r.,r. Drlo,., i X. p.jjllcado o regiilnmento
para ella, e ainda ultimamciite por decrelo
de 17 de mar(,'o de 1816 foi para alii no-
meado iim professor.
A educa5.ao moral dos povos, que antiga-
menle cstava encarregada a ordem eccle-
siastica principnlmcnte aos parodies, esta
lioje em tal estade de desorganisatjao, que
deve caiizar mui serias appreliensoes sobre a
sorte fuUira do paiz. O clero depois da
rcvoluj.'io porque passou, n.lo p6de deseni-
penliar aquelle encargo ; perdcu a inlluencia;
e a niaior parte dos paroclio~, ale estae es-
quecidos, de que era aquelle o sen principal
dever. Longo espaco hade decorrer ate' se
formar iim,novo clero, capaz de moralizar
OS povos. E necessario por isso encarregar
esta missao aos professores, os quaes nunca
a podcrae desenipcnliar dignameiitc, se elles
-*: v.y^.
Ill
mesinoj por meio d mnci eclticatj'fio rc^^ulai,
nao estiverein posiuidos do senlimcnto da
virliide, e do habito de a praclicar ; por quo a
moral ensinasa mais com o cxemplo, do
quo com a p:ilavra. As cscliolas normaes que
tern esle fim, sfio per isso iiidispensaveis no
estado actual : e o conseliio eiitendo que
qnalquer sacrificio do tbesouro que se faga
para as eslabelecer, dari'i em resuiiado, mui
transcendcntes vanlagens que o indeinnizem
No niesmo decreto de 20 do septembro
maudavnni-se crear citliolas de en>)no pri-
niario do 2.° grau, nao differen) das do l.°
sen.'io em ensinar-se nellas o ensino priniario
em loda a sua laliuide, e com inais perfei-
5ao. A grauimalica porlugueza, o desenlio,
a geograpliia, a escriplurar-fio, a aiitlimetica
sao as disciplinas cspeciaes desto griiu. Estas
escliolas pertencem as povoagoes dadas a,
induslria, ao comiiiercio, cujos liahilantes
querem seus fil'hos liabililados, para nia-
nejarem com inlcliigencia as suas profissoes,
&em OS passar ao ensiiio socundario. Mas
para o seu eslabclecirnenlo, ali'iu do local
com grande capacidadc, e' indispensavel o
concurso de muilos professorcs , cotno se
pracllca em Frauja, e nas nayoes do norte.
O consi'llio julga possivel converter neslcs
estabeiecimentos as escliolas d'ensino-niul.io
onde se acliam jd aiguns elementos, sobrc o
que ja love a honra de fazer subir um pro-
jeclo a Augusta presea^a do Vossa Mriges-
lade. Mas coruo este piano exige augmenlo
de despesa, o coiiselho nao se attieve pro-
por Movos encargos sobrc o lliesouro; e julga
prudenle esperar occasiao opporluna, ein
<|Ue se pos:a obter das camaras municipaes
respeclivas os principaes subsidies para esles
C5labeloci;nentos ; que nao sfio de immediate
inloresse sen'io do cada urn dos municipios.
Km exccujaodo art" 5.° do decreto de I.")
de novembro tie 1836 tinliani-se creado nas
capilaes dos di^lrictos aduiinistrativos do con-
tinente escliolas primarias pclo metliodo d'en-
sino mutuo ou de Lancaater, que ainda entfio
era gcralinento applaudido: eque sendo mais
vantajoso para as escliolas mui numcrosas, e'
sem inconvenienlPS no ensino das disciplinas,
em que da parte dos ineninos senfio exige tanlo
a rellexfio, como a proaiptidao eumaespecie
de facilidade macliiiial, como na escripta, na
leitura simples, na aritliaielica : ainda que na
verdade nao pode prodiizir resultados senfio
mui lenlos, em quanlo as disciplinas em que
se exige pensamento e retlex.'io; como dou-
ctrina, historia, graminatica. Como em poucas
das nossas escbolas primarias se ensinam estas
ultimas disciplinas, o metliodo d'eiisino mutuo
|)arece ate agora ter produzido entre nos
bons cITeitos. No anno de 18t4 — 15 escbolas
por este metbodo cram frequentadas por
^-.'23') aluiiinos. Porem depois quo se vul-
garizou a viagem de Mr. Cousin a Hollanda
para observar a instruegfto, e que apparecerao
em publico as rcflexoes dos grandes profes-
sorcs J'.iquilla nai^fio. pouco favoraveis ao
metliodo d'ensino mutuo, elle ja n.'io aclia
apologiUas. No decreto de 20 de septembro
nada se diz em seu abono. li ou seja por
essa, ou por causa das nossas dissen^oes, as
escliolas por esle metbodo vao em decaden-
cia, a de Braga es!;i fecliada , e mandada
por isso converter em ensino simullaneo ; a
de Evora esta quasi sem discipulos; .a de
Bragan^a, c a de Coimbra lifio de decair
pela saida, para outros empregos, dos bons
prot'essores que ate agora as regiam. Em
taes circumstancias estas escbolas v.'io-se en-
caminliando para a conversao em escbolas do
segundo griiu , que fica indicada, logo que,
se proporcionem os subsidies indispensaveis.
Ao conseliio continuadamento cbegam re-
presentayoes dos povos a podirem a creagfio
de novas cadeiras d'este ensino : o conselho
conliece que o numero actual d'ellas e infe-
rior as necessidades da popiilagfio, mas no
estado do lliesouro nao se attreve a propor a
Oste , novos encargos: limita-se a insinuar
estes estabeiecimentos pelos rendimenlos das
juntas de parochia, ou das camaras, em
quanto por lei se Ihes nao impoem djfiniti-
vamente este encargo.
A instrucgao das meninas esta entre nos
apenas em principio; em Lisboa exislem 18
escbolas, no Porto G, e iima em cada uina
das capitaes dos outros districtos do conti-
nente, e mais uma em Lagos, e oiitra em
Lamego tola! 41 : que em 181-4 foram fre-
quentadas por 1:335 meninas.
Se do conlinonte se nao tern podido obter
lodos 03 esclareciinentos sobre o ensino, mui-
to menos se tern conseguido das ilhas. Ape-
nas se recebeu o relatorio do comtnlssario de
Angra donde consta que o numero dos me-
ninos que frequenlaram este ult'mo anno a
inslruc^fio primaria fora de 1:2G5. Do map-
pa n." 1 vera V. M. o numero das escbo-
las de ensino primario eni cada um dos
districtof, assim do contlnente, como das
ilhas e o seu estado, assim como o numero
de alurnnos, que as frequentaram, ainda no
rrieio cins dosordene Ho nllirno anriO leclivo;
a excep^ao d'aquellas de que nao cbegaram
ainda os relatorios.
No meio dos barullios da guerra, impossi-
vel seria, csperar trabalhos litterarios, ou
livros elemenlares para a instrucyfio. Entre
aiguns que apparcceiam, o conselho somente
julga dignos de ser meiicionados, os que elle
auclorisou para iizo das escliolas, cuja rela-
5ao V. M. podera ver do mappa n.°2.
A despesa d'esta parte da instruc(,'ao feila
pclo lliesouro era no anno de 1345 no con-
tinenle de 106:023:324: e nas ilhas de
5:951:906.
InstritK-cdo secundaria.
A inslruc^.'io secundaria, denominada em
outro tempo, estudos das humanidades ou
112
aulas inaiores, tinha entfio por unico fun lia-
bilitar aliimiios para a onlem ecclesiaslica,
e para oi estudos da ^lniver^idaJe ; aos quaes
servia como de degrau. Ilediizia-se por i>so
entao, aos esliidos tliainados classicos, laliiii
c grego, rlietorica e logicu ; a que nos iil-
timos tempo?, se acoresccnlou a liisloria.
Hoje porein aleiii d'aquolle, a inslruf<;ao
secundaria, seguindo a teiideiicia do nosso
seciilo, e a praclica das oulras najoes, pro-
poe-se um oiilro fun ; que vein a ser, o desen-
volvinienlo da indiislria, assiin agricola, co-
como fabril ou commercial : e e para o obler
que tanlo no decreto de 17 de novcnibro de
1837, como no oulro de 20 de septembro de
1811-, se incorporaram aos lycous os estudos
das lingiias vivas, e os de geometria applica-
da as arles, e economia industrial e agricola.
Kste ramo da instrucgao consta d'um ly-
ceu em eada uma das capilaes dos districtos
administtativos, com o nuincro de cadeiras
proporcionado a sua popula^fio e circumstan-
cias, que aqui nso vao indicadas por conslar
da lei. Assim o de l.isboa compoe-se de 3
secjoes collocadas em tres differentes poulos
da cidade, a saber: central, oriental e occi-
dental, e a elle esla tambem annexa a sec-
^ao commercial. Este o do Porto, e os de
Coimbra, Braga, e l'>ora, que podemns clia-
inar principaes, est'io jii ordenados em esla-
belecimento regular com reitor e secretario,
e apenas estfio ainda vagas algumas cadei-
ras, parte, por se presumir, que niio terao
ouvintes, e parte, por nao terem tido oppo-
sitores. O consetho jd publicou os program-
mas para differenles cadeiras, como V. M.
podera ver do inappa n.° 3. Os restantes
estao encarregados aos vogaes extraordina-
rios. Os lycens das outras capilaes ainda nao
estao iiistalados em forma regular: nem o
poderao ser tao breve; porque, ale'm das dif-
ficuldadrs do tliesouro para supprir o exees^o
da despesa, em niuitas nem casas publioas
ha accommodadas para aquolle fiiii ; e alem
disso porque, devendo supprunir-se alguns dos
districtos adminislrativos, ainda se nao sabe
quaes serao. Accresce, que na forma da lei,
csica lyucus consiain de tres professores a
saber: um que ensina latim, outro logica e
geometria em curso bieniial, e outro liistoria
e oratoria, tambem alternadamente. Aiguns
dos professores provides antigamenle estfio-sc
ainda preparando para poder ensiuar aquella
disciplina, que de novo llies eencarregada, e
em quanlo o pessoal nao estiver ainda com-
pleto, e habilitado, mal se podem dizer or-
ganisadas.
Nos quatro districtos insulares existe tam-
bem um lyceu em cada uina das capitaes,
Oconsellio nao recKbeudalii os rclatorios, se-
nao o d'Angra, redigido pelo liabil e zeloso
commissario Jeronymo Emiliano d'Andrade,
professor da 5.* e 6." cadeii-a, que da do seu
eslado uma idea vantajosa, pedindo a crea-
\'fio d'uma cadeira de theologia moral.
Do mappa n." 3 consta o numero de ca-
deiras de cada uni dos lyceus, e a disciplina
respcctiva com a indicagfio do seu estado, e o
numero dos discipulos, que o frequenlaram
no ultimo anno.
Alem das cadeiras cncorporadas nos lyceus;
existe.ui em todos os districtos um maior, ou
menor numero das de latim, collocadas nas
povod^oes centraes, e mais iinpnrlanles, que
e necessario cons°rvar , e lalvez ainda crear
mais algumas como permitle o decrelo do
20 de septembro: ou 'seja por contemplagao
ao antigo prejuizo dos nossos paes de fami-
lias , que jilgam que nada se poJe saber, se
se nao comejar pela lin^'ua latina , ou seja
por attender a necessidade das familias me-
nos necessitadas das aldeas que commununente
destinam sens fillios para o minislerio eccle-
siastico. Cadeiras fora das capilaes dos distri-
ctos que nao sejam de latim so existem duas,
em Lamego uma de logiea e outra de orato-
ria. Do mappa n.° 2. consia oiuunero d'eslas
cadeiras, o seu estado e alumnos que no
ulliino anno as frequenlaram.
O consellio nao pode deixar de observar
que, nao obstante todas cstas providencias ,
csle ramo de instrucijao nao progride : o que
facilmcnte se collige assim do |)cqiieno nu-
mero comparativo d'alumnos que frequen-
tam OS lyceus como do seu pouco aproveita-
mento. O povo ainda n'lo conliece a. vanta-
gem das disciplinas tendenles ao desonvolvi-
mento industrial e economico : nao sabe ava-
liar esta parte da instrucgao. Nos estudos
classicos encontra-se uma falta inui sensivej,
entre o grande numero d'alunuios, que todos
OS annos vein examinar-se para seguir a car-
reira da universidade , inuito poucos sabem
com perfeijao a lingua lalina : com o desap-
parecimento da eloquencia sagrada entre nos,
acabou a applica<;rto a oratoria. IIojc encon-
Ira-se nos alumnos dos lyceus, uma tinlura
do francez , e de mais algumas disciplinas
do que antigamenle, mas em geral, menos
solidez de coulieciinentos, e menos perfeicfio.
Ainda prcscindiudo dns occcurencias poli-
ticas , a causa d'este dcsniento provem do
elleito das rcformas e das circumslancias, da
nossa epoclia de traiisijao. Kntre nos, e.m to-
dos OS tem|)05, poucos paes mandavam sens
tillios u instrucj'io secundaria com o simples
fmi de saber; a maior parte soinente a consi-
deravam como liahililayao para o seu adian-
tamento fuluro. Em quanlo a ordem eccle-
siaslica offereceu a um grande numero, uma
carreira rica e brilliante, as classes das aulas
maiorcs estavam chejas de alumnos , lioje
aquella carreira esla de todo ol)slruida. Os
bispos depois de 1835, por necessidade, na
lalta de outros mais inslruidos, tem admilti-
do as ordens alumnos que apenas sabem la-
tim , e mal. Nao restam por isso lioje a fre-
quentar as csclialas dos lyceus, senao os man-
cebos que se destinam para a instrucgao supe-
rior, numero pcqueno ainda quando se nao
113
(lescontassom .iqiielles que fazem os sens eslu-
dos em casas particulares. Os professorej
vendo-se sorn oijviiUes, e inal pagos desf^os-
tara-ie, e este desgosto Iraz comsigo a falla
do apeifeiroarncTilo, e dalii a decadencia,
O nieio mais proficuo, i|ue o consellio jiilga
proprio para aniriiar eslc; ratno da iiislrucjao,
seri'aexigir pnrlci os diplomas dos ciirsns dos
lyceiis, coino liahilita<;ao indispensavel, on
ao menos como iiiolivo de prefereru'ia no
provirnento de qiiacsqiier einpregos publico:.,
cm que se necessiie d'algiiina instrucjao, ;i
excep^ao d'a<|Uclles em que ja se exige a
superior; providL-ucia que se aclia ja em al-
gumas das leis novissimas, mas que ate agora
se nao tern execnlado. Este meio, alem de
cliamar ahimnos aos Ivceus , leria a vanta-
gem do fecliar a porta dos empregos ao grau-
de numero de perteudenles indignos, que im-
por^tunam o governo.
E verdade que osla idea nfio pode ser exa-
ctamente levada a effeito, em quanlo as disci-
plinas dos lyceus nfio forem organisadas em
cursos differeules, accojiimodadas aos conlie-
cimentos, queespecialuieute se requerem para
odesetDpenljode cada urn dos empregos; por
que seria duropara osaiumnos, e laivez sem
vantagem, para a iiislruc^'fio, exigir-llies o
estudo de todas as disciplinas. O conselljo
occupa-se actualmente d'um regulamento ge-
Tal, d'este ramo de inslruo^ao, cm que se
execute este peiisainento, assim como se pro-
videnoeie sobre a [iiaiieira, porque lifio-de ser
examiiiados, e passados os diplomas aos estu-
danles, que tiverem frequenlado as escliolas
que ainda nao e^t^lo conslituidas em lyceu :
e tern esperancjas de que por e^ta forma me-
Ihorara o ensino secimdario
Os rejatorios das duas academias de bellas
arles de Lisboa e Porto, on pretengani a esle
grau da inslruc^fio, oii pertenc^am a superior,
nenlinm esciarecimento dao sobre o estado
d'estes estabelecimenloi, sen'io a noticia de
que durante a gnerra civil, cstiverain occu-
pados mditarmente, e por tanlo interrompi-
das, nao so as li(,'6e5, mas tambem todo o
outro service.
Continua.
mmmm de couiiiRA-PRociiAiniAs,
FACILDADE DE MEUICLSA,
1853—1854.
4.° ANNO.
Cuntinuadu de pa^'. 81.
C4DEIHA DE PARTOS, DAS MOLliSTlAS DE PLBKPEKAS
E DOS REC£M-> ASCIDOS.
COMPENDIO — CHAri.LV , TRAITE PRATIQUE DE l'ART
DES ACCOLCHEMENS.
Lente — Dr. Joiio Mario Baptista CalUsto*
O objeclo dii cad(?ira de parlos , das moleslias de
puerperas, e dus recem-nascidos, creada pela lei ile 5
de dezembro de 183(), e coiirirraada pela de iO de
selembro Je 1844, e mais vaslo e comprehenda maior
nuraero de coiisiderarues, e cle factua, du <|iie os que o
sen enniincindo exprirae, (pie coiisidero jiicoraplecto, e
por jsso iiie.\acto.
O olijfclo da sobredila cadeira, considerado d'lim
modo mais geral e philosophico, deve coinprelieiider todi
a sciencia dos p^rtos, ou e urn rompk-xo de todos oi
conheciiiieiitus reiativos a reprodiic*;au da especie consi-
deraila no sexo feminino, e no jirodiiclo d^i conceirjlo.
P>ste iiilercssanlu ramo da sciencia medica, que \)6de
denominnr-se — Toculoi^ia ; divide se em parte theorica,
e prarlici. — A primeira furuia-^e de lodas as no(;oes
acienliricas, que pop sua nalureza perl'Micem a ramo»
particuhires dn im^dicina, ilus qiiaus se leem Sfparado. &
fim de se reunirem em nm corjiu de doutriiia, para escia-
reciiiienlo ilus prliicipios cspeciaes. que se tliri;,'em mai»
parlicularmeule ao liui praciico d\irle i\oB pantos : taes
s.lu a Atialomia, a Physiolugia, a Hy^'iene, a l*.iUioloi:ia,
etc. A sc'j,ninda so deve ser coiisiderada na sua applica-
<;au aos casus oecorrenlcs na pracMca.
Todus OS cunbecimeiitus pois, ile cujo complexo t for-
mada e.sia sciencia sao cuus!dera(;3es, e faclos analomicos,
e pliysioluij'icos solire a eslriiclura, e ac^ao dus orgaoa
da mulher, que servem direclamenle a rcproduc(;ao, e ao
parto — subr<; a forma^'ao e desenvolvimenlo do feto, ou
a Embnjolofjia — sobre todas as mudan^as iius orfjaos da
mullier diiiaiile a prenliez, no lempo do parlo, e depois
d'ellc — e sobre as parljeularidrtdes d'estrucUira , lie
funrrot's, e modo d'existencia dos recem-nascidos, Siio
alem d'isso as considera^oes, e os farlus pli)'siolo2;ico3,
e palUulu^irus, relalivos us condict^oes, lanlo exlernas
como inlernas, que podem allerar a fuiic<;5o da reproduc-
^'au na mullier, e auiea^ar a inIeL;ridade, e a vilalidade
do felo — Siio todaa as niolestias, que tiram a sua origera
da dispusi^ao especialissima, eiu que se acham enlito as
muUieres, ou que leem rela^'io mais ou menos directa
com esla disposi<;ao. — Sao finalmente todas as coDdic(;oe»
favoraveis a sande dos recem-nascidos ; e todas ns causas
morlti Picas, e moleslias diversas de que podeiu ser af-
fecladas as crianras, duranle as primeiras rela^oes com
sua mai, ua \ida extra-uleriaa.
De ludos estcs couhecimentos, e dos do mechantsmo
do parto em particular, se deduz'-m, pela maior parte,
OS preceilos, e reyras liy^^ieiiicas, Iherapeuticas, e opera-
lorias que constiluem propriameiile a arte obstetricia.
Tal e 0 quadro jjeral e resumido de todas as noyoea
que furniam a sciencia dns partus ; e tal e pur conse^uinte
o oliji'cto da cadeira, de qtie me acho ericarrcgado, e
ciiju eijsinu publico a lei me tern commelliilo.
Para salisfazer puis ao que se me exige, e apre§enlar
o pru;,'ramma do ensino publico da refer ida cadeira,
passu a indicar mais mituJainente cada uma das partes
(I'aquelle quadro ger^l de todus as no^Oes, que conslitueiu
a sciencia dus partus, as quaes fazem o object o das
minhas prelec<;ues ; e a cxpur ao mesmo lempo a ordera,
pela <pial trato das diversas paries de lao inleressante
materia. O que farei pelo modo e maiieira se;,Miinte.
Para proceder cum a ordem, e melhudo, que mc parece
ser mais natural, divido ludo este cuisu em cinco partes.
PRIMEIRA PAUTE.
Principio n'esla primeira parte pela descripijuo — dos
orgaos da mullier, que mais direclamenle concorrem para
0 parto — da Imcia considerada em geral. e em panicu-
lar, e as modificai^oes, que as partes mulles delerminam
na sua estructura — dos or^iius ^enitaes femininos, tanlo
inlernos, como exlernos — em Qm, dus or^^aos anoexoi
do apparelho da gera^So.
SEGUNDA PARTE.
N'esta 8C?imda parte Iralo : da prenhez considerada
debaixo dos dilferenles pontoa de visla pliysioiogico,
hyijienico, e palholo^ico, desde o momento da concei^3o
ale a epocha em que principia o parlo.
Depois d'al;j:umas breves cunsiderat^fles sobre a concei-
(;ao, trato — da prenhez simples considerada no cstndo
normal — dns modificai;5es do ntero e do proiiuclo da
concei<;^o, nos diversos mezes d'ella— do sen diai^nostico
em geral, e em cada mez cm particular — do toque, da
114
patparrio al'd»n:innl, e Oa nnsctiilac^Tio, conio meloa <lf
(!iu;;n(.slifo — i\<t ovo liuin.ino tin gt-rul e ilu ft-lu a-
Itrmu em |)nTlu-iilur ; d-i sim attittiilc ifesla i>|)(M-hii ; da
tuiA jiliuiul.'L'iu nil I'limrOo ; e da sua ca)i«cida'le jMn»
viver \ida exlrn-iitLTiim. — Kin>t;::iiidji, tratu — dii pruiilifi
coaipuula, dn preiiliez unuiniMl, cxltn-itkriiiH ; da pretihei
Oilra. u das circiuublaiiciu^ aiiuniiaea que Ihc pudem dar
(jri^eni.
Pa.s!)u (lepoii a (r.itnr dos iiirouimudus, e mulcsti<i> (pie
pudem solireMr ilnriinle u ciirsu ilu prenlicj — das h-so»-«
das diviTsas fiinf(;ufs ; dos vicius da ruiifuraifi^au da
liacJH^du iisu du peltjnielru — du pnttu prfiiiatnro
iiflifloial — dus i icius da (•oiifuriiiarriu das pjirlcn niul-
les — da d<'.slitca);ao du iilefu — ilu tiinu-fdrau e durei
dus peitus — -da Iriisau das patcdes abduiiuiiues, e coin
esjifcirtlidadc da pcllf.
Pur esla uccasiao Iralo do alurlo, e ila heniorrliatria
durante a preidiez — dos lufius tin roiueiliar os acriileuk-y
(pie a puiteiii ci>D)plirar, e da sahida das pureai ii'e.^te
acciitenlL' — liu parto prfinaliiro natural — ila ruptura
tlo uleru — dos siiriiafa da iiiuitu do fclo — e da preiibej
cumi)licada d'ascil'-s.
Final nteiile, leniiiiio csta par to cum os prcccitos e
re;;ras hy^'iuiiicaj, relaljvas a prr-idieK ; e cota a iiiOuL-iicia
d'este estado sohrc as niuU*st:js.
TEIICGIU \ 1' xiiTi:.
E iresla lercoira parle (pie eu tralo — do parlo em
?;eral — dus nasrimenlus anteuij>ados, e lurdius ; du p:irlu
fspuntancQ alernio — das sujis cansas — do^ plinnunienus
plivsioloiiicos do parto, con.iideradoi nas siias dillerentfs
I'puchas; e de ali^nms dVsles em separailo — da sua dura-
t;ao.
Depoi3 d'isto Iralo das ajiresent.u'oes , .c posirufs
\ariadas du felo — da apresenla<;i(u i\o verlico ci:i par-
ticular,— das suas raiisas, e dia^iiiuslifo — du m<?cliani3-
itio do parlo esponlaiieo — e dus suas aiiunial ias — tlo
partu pelo vcrtiee ria preiilit'Z duS ^emco» — cuui Aeu
dia;:nuslici», e pronoslicu.
Os cuidados que se deve ler com a muiher, durante
o parto — OS inslrumerilo*' e mais otij»'flus, de que o par-
Ifiro deve mnriir-se — oscuidados, que se deve ler para
cm a mae, e para com o Gllio lu;;o dfpuis do |>artu ; e
a sahida natural das sei'iindiiia!!, lut-rccem a minha par-
liciilar a|icn(;no.
F^rocuro indicar, e d'-arrever com o maior empenlio :
— us accidentcs, que p-idcm apparecer duranlo o parlo,
na aprt'senta(;riu do \frlice^ os accid^'Ules propnos a
relardar, ou a impedir o parto, e os meios dc os remediar
— as moleslias ej-lranlms no partu, que necessilam os cui-
dados, ou a inler>fn(;au do partt'iro — us accnicutf/^, que
potlem compromcller a \ida da mfie, e du (iliio — e as
difflculdades resullaidfs das anumalias, no n'.ecliaitismu
du partu, sei^unilu os dilTerenles lempos d'elle.
JuIlio nniito a proposdo o tratar em sejjiiida^dus
diverges oljstuculos niechanicos ao parlo — das operaijoes
..I.Bl*.lrioifto |*ri>i.ri.io yartx iifmslar UlUltos d'elles — do
furcepji, e da sua applica(;rio Daa di\ersas circnmslaiicras
da apresfr'nla^ao do\crlii"e, e najj variadas posi(;oes d'esta
a|)reseiitaqao — das cirrunibtaiicias, que excluem o uso
d'este iiislrtimento quandu a cabet;a seacha encravada no
estreilo superior — e dos accidentes que podem resuJUr
da sua applica^So.
Cuidiiiuu amda com al3;nnia9 coiisidera^ues relalivaa ao
U90 da ala\anca — c luuito priiiciiialuiente com a des-
crip^ao da versau, e das suas especifs, e em particular
cum a da versao pelviana — com a deacriji(;aoda ceplialoto-
mia, corapreliendendo h perfora(;aodocranoo, e aapplica-
^ao do ceplialolribo, ou forci-ps compressor da calie(;a —
e Com a dus oj>era^'oes que se pralicnm na muHier, laes
corao — a synipliyseotuiiiia, c a opeia^ao cezareana.
Tcrmino era tJiii esta tcrceira parte, fazeu'lo aapplica-
cT\o das mommas corHidera(;oes, e dus niesmos prnnipios
que acabo de fazer n'esta apresenta(;5o do vertice, re^pe-
ftivaraenle a ajiresentarao da face — a apresenlat;ao
pehiana — c as di\ersas opresenlai;oes do tronco : nau
cs<piecendo por cbla occrrsiilo de tratar — do parlo ar- ,
lifiiial das secundinas — das suas causas — e accidentes.
(ji'AKT^ I'ARri:.
Fm o (tlijecto d'esia parh', somente — a ei£[)oii^ao doi
nccid'-ntes, e nioli-slias (ariailas, ron!<cciilii'a* ao parto, e
ipte poilem a'Tectar a mullicr pui;rpera : assiui como a
hi>luria das diversus molcstias, a ipie estam sujeitos u*
rccom-naicidus.
QL'INTA p. ILTrMX PAftTR.
Coucluo Oualmeiile o mi^ii curso, n'esta ullima parte,
tralandu da educacao pliysica das creaii(;as, desde o
m«pmenlo do seu iia^cimeido ale ao rim da amamentai;a.».
— Ktilao tratu tambem — da amauienlacjao malerna ■^
da amamoula^ao feila pur mullier eslr.inha, ou por ama
— e da amaiiu'nl;u;ri.i arlilicial. — fcl por nllimo leiilio
muilu em coii-iideratj-ao o Hulicar us preceilos, e re;:rraa
liy;,'i<MucaSj judijipeiisaveis a saude dos recem-nascidus,
ou a sua hij/jicne.
Eis arpii mais cirrnmsl:inciadamfrdf' os numeroaos, e
\jiriado* otiji-clos do riuidru jj:eral de tuda.- as n<it;ues, que
Cuusliluriu .1 sci'-iicia dos pafl<)3, e <pie fazem u ubjecto
das minlias lirues: e eis aipii tantbeni a urdem, pela qual
ui cxjionlio , analyso, e eusjno, cm lodo este curso.
Todas H8 considera^oes, e factus, que arabo de apre-
senlar, e todos os prim-ipios, que d'elles se deduzem, for-
mam a parte Iheurica da scieiicia dos partos, cnja utilidade
real, e immediata scria apenns recoidieci(ia, como a de
oidra qualqucr scimcia, «e o seu estiido fosse somenle
Coiisiderado d'um ui^nlo abstraclo, i; especulatlvo, e sem
a necessaria applii-arao dos seus verdudeirod principios
aos casos orcorrent-cs na practica.
A [heoria C"'m effeito nito deve ter por fim sefiao me-
Ihurar, enperfei<^oar a praclica ; porque seni esta a Iheoria
ch'^^M a Utopia, ou especularao. E nao pdde certamente
haver boa pracHca, sexn que ^fja esciareciiJa pela Iheuria,
ptprque tauibem sem e?ta a pracliea vem a deffcnerar em
rotiua. Por coiisequencia e>las duas partes da scieiicia
devem prestar ambas um muluo npuiu, c devem aml-as
caiuiubar a par, a fim de »ervirem ao seu verdadeiro
proeri'sso, e aperfei^oamenlo.
PruiMiro por Iniilo combinar quanto me e possi^'el, em
alteri^-ao aus meios de que pusso ilispor, a exprisi9ao, u
a analyse de todus us fautos, e prinripios, no ensino da
parte Iheorica d'arpiidln scit-ncia, com tudos os exercicius
pradifos, proprios para o seu e3cl;trecimenlo, e \erdadL'ira
iiilellijencia, iisandu para este Gm das di\ersas machina?, e
apparellios, e aiixiliaiido-me frc(|iient'-menle cum eslampas
npropriailas ; e com a su>i applicaijau a todos us casos
occiu reiib'S na practica do hospital, aundeexistem effect iva-
meide os e.\em|d;tres necpssarios iiu enfi-rumria de partus,
()U cum a clinu-a de ptrtus ; para que do eiiaiuo publico
d'esta siicticia, lao humana, como iideressant'', pelo aeu
fim, a luda a sociedaile, se possa tiriir atpiella utilidade,
qu<! sempre nus resulta, quaiulu depots tie dicturmos a
rc^ra, e o preceilu, apuntamns o exem|do.
Tal e o pro;jramma que siiju eni lodo o cnrso da
cadeira da ?ciencia dos partus, cujo •:nsino publico me
e commtllido.
UEL\t;oCS LITTEnAIUAS COM AS UMVERSIDA-
DES bE IIESPAMIA.
A neoiissidade de ealahelocc^i- relarocs lit-
terurias entre a iiossa iiniveisiJade e as do
reiiio visitilio era de ha mtiito rcconliecida,
quaiido, poroccasiao da viiilfi, c^ue em 1052
lez a algiimas ciHades de llesijanlia, o silr.
douclor Viceule Ferrer, aproveilaiido as boas
dispoai^iji^s dos mais diaU'tictos profcssores
d'atjucllas academias e espocialniente do niiii
digno reiLorda universidatje de Aladridj o snr.
IIT)
marqnez de Morante, propnz ao goveino de
S. M. que se adoptassi'iii alirvimaj provideii-
cias para reulisar aquulle luipoilaute pensa-
iiiento.
O que se la/.Ia mais que tudn necessaiio,
era a reciproca Iroca dus coiiipeiidioa ado-
pladoi iiai aulas, e dos jornaes e obras lil-
lerarias ou acienlificas, dadas a luz pelas
iiniversidade*, ou pelos sens iiieiiibroa em
ambos os pai/es, que, a pesar de lao estroila-
inenle uriidoj pela sua posi(,rco fjeograpliica,
e ate pela corijuHiiiidade de iutere5>es, viviaiu
mais separador, e ii^norados no que respeila
ao si'u Irato lilterario, e ao sen desiiivclvj-
iiiento iiilelletlual, que as najoes iiiais afasta-
das de v.Oi, e coin queia iiao leinos quasi
rela(^6cs alguiiias.
O governo auclorlsou logo o preiado da
uiiiversidade para eiivlar ao reilor da univer-
iidade de Madrid uiija collecgao coinplela
das obras ecDiiipendios, que serviaai de lexlo
<ui de couiriieiilario as li^oes iios mrsos de
ladas as faculdades acadeuiicas.
O snr. vice-reilor, que eutfio era da iiniver-
sidade, o ex °'° blapu de liragai!(;a, salisf'ez a-
quella deteriiiiua^'fio renielleiido a indicada
collecfiio de obras portuguezas, e da legisla-
jj'fio sobre iustruc(;fio publlea em data de 23
d'agoslo de I8o'i, de que demos eonla ncole
jorual ' .
O governo liespanliol pel i sua parte, at-
tendendo ao que llie represeuliira o iiiarquez
de Morante, cxpediu em Oil de Janeiro uuia
real ordein para que a uiiiversidade de Madrid
letr^eltesse a de Coimbra as rollt'c(,'6cs de
obras licspanbolas que aquella academia
julgasse digiias d'esie destiao. IZ et"i\'ctiva-
iiieiitelui recebida na bibliollieea de Coimbra
unia iiiui riea, e imuorlaiUe collec(;ao das
priiieipaes obras dos mais acieditados aucto-
res hespanlioes, de que ja fizemos meiu;rio
iiCsle luesmo joriKii ■"
iSa remes^a, porem, que a universidade
fez para Madiid nao se comprelieudeiam se-
iifio as obras portuguezas, quetiiiliaui u;o nas
aulas, e aiuda d'eslas alguuias fbiain omittidas.
m.: lira poilanlo mdis|jensav(;l nfio so re|)arar
Bk esta mvoluiilaria t'alta, mas couliruiar regu-
^^fc larmente a remessa das obras publicadas desde
^^■aquella data pelos diversos piot'essorcs da
^^■universidade e das outras escliolas do reino,
^^Baddlcionaiido-llie tamlK;m as obras iiiais im-
^^HpottaiUes, (|ue iiltiiuameiite se teem publicado
^^Bem porluguez por diversos au^tores estraulios
^^K ao iiiagisterio, para d'esie niodo correspoiider
^™ aos votos das universidades do reiuo visinlio
e realisar cababiienle o I'un que estas corpo-
rajoes se propozerain.
Para salisl'azi'f a esle iiiiportante traballio
o ex."" snr. vice-reilor da universidade Jos('
Ernesto de Carvallio e Rego, noineou uma
tommissuo, de que elle e presideule, e com-
' Vol. I!, pag. 82
^ Idem-
pn>ta dos sfirs. diiuctores Vicente Ferrer Nelo
Paiva, lerite de direito, Joae Ferreira de
Macedo I'into, lenle de niedicina, Florencio
Mago liarreto Feio, lenle de malliematica, e
Jose Maria de Abreii, lenle de [iliilosopliia,
e do decano do lyceii de Coindjia Antonio
Cardoso [jorges de Figueiredo, professor de
e|. quencia.
A toinmiss'io iiistallou-sc no dia 29 do
mez findo, di^lrilmiiido pelos seus meinbros
o traballio de colligir as mais importantes
obras relalivas aos diversos rarnos desciencias,
e litteralura para coin a possivel brevidade
serein enviadas a universidade de Madrid, e
se cslabelecer regularmente para o future esta
correspondencia litleraria, que ifio proveitosa
lia de ser para o progresso dos e-tiidos nos
dois paizes, e para o credito das respectivas
universidades e acadeinias. '
OS ISRAELITAS EM ROMA.
Ila em Roma um bairro separado para
OS Israelilas; eo G/iello, banliado pelo Tibre,
e siluado eiitre a poiite dos qualro Capi, e
a I'cntc-roltn; e uin dos mais iristes, e
immundos bairros da cidade ; na occasi.'io das
encliPiites ascasas ficam alagadas, eosdesgra-
^■ados habilantes veem-se obrigados arefugiar-
se nos andares superiores, aonde se ton-
servam ate que o rio tome a entrar no sen
leiln, e ha bein poucos annos ainda esle
bairro tinlia nmas portas, que se fetliavam
todas as nnules; porem a revolng.'io de IS-tS
abuliu fisle costume; mesqiiiuho progresso,
em coiiiparayfio dos que ainda carcce, para
(jue OS judeus em Roma gozem a liberdade,
que dislVuctam os de Franca; devemos com
tiuln recoiiliecer, que a sua posi<,'ao tende
sempre a nielborar-se, e (|ue estamos betn
loiige dos tempos em ipie o papa, depols de
lan(,ar a bencao ao povo catlioiico no domin-
go de pasclioa, lanc^ava o analbema s^ibre os
fillidS de Abraliao. Alas, vollaiido ao Giietlo,
o observador, <]ue para alii for passear, vera
as mullieres senladas em seus balcoes, I'lando
linlin, ou remeiidando o facto de sens maridos,
e fillioH, em (piaiilo estes se enlreteem brin-
cando pelas mas com bandos de galinlias,
que abuiidam na judiaria. l-.ste quadro pin-
tado de uuia maneiia tfio risonha pela ima-
gina(,'an, e, vistoa luz da verdade, bem desa-
gradavel. Nas faces palida-;, e niaceradas
das miiUieres traduz-se o soffi imento ; o typo
oriental, que destingue a ra(,'a licbraica t(j
alli se faz iioiavcl |)ela fealdade ; nao se en-
contra no Glielto uma so destas bellas pidias,
t.'u) communs nos'nossos paizes; a persegui-
^•fio e o soflrimenlo leui degenerado o type
priinitivodos israelilas romanos. Dcscrevemos
as orcupiicoes dunieslii-'a: da-, mulli'^r's: cum-
116
pre-nos fallar tambem dos homens. A excep-
<,'ao dealgims cordociros ou clia|)i'lciros, todos
OS niais >e dfto ao iiegocio, e nmn elles podiam
occiipar-se de oiiira cousa, poi», que mesino
adiniltiiido, que as leis urn dia llies penniUam
o accesso a lodas as carrpitas, e indiistrias,
OS numerosos piejuiznb que lia a sen respeiLo
pntre os romaiio!;, Ilies lian dc servir lorigo
tempo de obstaciilo.
(Archives isracllics.J
EDUCAgXO DOS ANIMAES NA ANTIGUIDADE. <
Os rnmanos excederam a todos os povos
da antiguidade na arte de amesLrar e do-
inesticar diversas especies de aiiimaes; mas
OS sens cuidados nos ultimos tempos da re-
publica, e durante o iinperio versarain mais
sobre as especies, que concurriain para os
prazeres dos seus espectaculoi, on para o liixo
dos sens banqiietes, do ipie sobre aqiiellas,
ciija miiltiplica^uo e aperfei^oameuto podia
contribuir para o progresso d'agricuUura, on
da industria.
N'aquelle ponto os romanos nada tern,
que invejar aos modernos. Nos iilliinoa se-
culos da republica os cousules e ediles deram
nas pragas de Roma o triste especlaculo de
immolarera muilos animaes de graude prejo
pelasua raridade. Nos jogos, quesecelebraram
no anno dc 65 por occasifio da inaugnra^uo
do tlieatro do Poinpeo, forani mortos sobre
o circo quatrocentas e seis pantlieras, sci.-
centosleoes e vinte ojefjnte?. Cansado, porem,
jd o povo deste l)arbaro divertimento, come-
garam a industriar os aniinaes nos diversos
exercicios, em que os i'aziani andar nos dois
pes, para assim excilar a attenjio pnblica.
Marco Aureiio foi o primeiro, que eni
Roma fe2 conduzir o sen coclie por iima
parelha de leoes. Heliogabalo fez outro tanto,
»)uerendo comjiarar-se a mae dos Deuses, e,
immitando Bacclio, jungiu tambem ao sen
caiio ligres, e ulgumas vezes veados, e ate
caes. Avestruzes de extraordinana grande^a
puxaram o carro do imperador Firmo com
tal destreza, que mais partciam voar do que
correr. Estes factos nfio sao seni exemplo na
epoclia actual. No tlieatro de Paris uin do-
mador de feras se aprcsenton, nao lia muito,
dentro dc nm carro tirade por dois leoes; mas
de elelantes danyando na corda, como muitas
vezej se viu em Uoma, niio ba niemoria na
epocha actual.
Germanico, diz Pouciiet, n'lim traballio
mui importante sobre estes animaes, apre-
zentou elelantes (juedansavam grosseiramente.
^os jogos instituidos por Nero em bonra de
' Extraliido Je uma obra de I. G. de S. Hilaire,
ainila nu prclo, Bobre a ediica^Ho e aoturalisa^So do»
aniDiaei utcii.
Agrippina foram vialos com geral admira-
fio alguns destes animaes dansando sobre
uma corda teza; facto est? atlestado por Cas-
sius, Plinin, Siietonio, e Alarco Aurelin.
A aite de domar os animaes, diz Cuvier,
eslava tao aperfejgoada, como a de os cagar.
No triumplio de Germanico os elelantes
dansavam em pe sobre a corda. No tempo
de Galba um destes animaes subiu n'lima
corda com um cavalleiro romano em cima
ate ao tecto do tlieatro. Cuvier assevera,
fundando-se n'uma passagom d'J'llien, que
05 eleiantes assim adestrados linliaui nascido
em Koma de individuos desta es;)ecie, que
viviam em pris.'io ; a auctoridade, porem,
d'iilien nao parece sullicieiile para firmar
um facto, inteiramente contrario a todas as
observa(;6es feitas na Europa, e ate na India.
A par d'aquella arte niaravilliosa de ensi-
nar os animaes a tao variados exi^rcicios, os
romanos cuidavam com muito esmero em
niidliplicar, eengordar ai|uelles, que sorviain
para os seus banquetes, e parlicularniente as
aves, de muitas das quaes ainda lioj • usamos.
« Clausiie pascuntur aenata:., (juerqaedu-
lae, boschides, phalcrides, similesquevolucret
quae stagna et paludes rimatitur. r>
Engordavam as lebres, arganazes, pavoes,
grous, e sustentavam em grandes lapadas
jrivalis, veados, e cabritos moiUezes, que acu-
diani ao son de uma trombeta. Tambem,
segundo Bureau de Majle, sujtenlavam cara-
coes, que llie serviam coijo eguaria tiiui es-
liu'.ada.
A plscicultiira estava levada a um grau
de perfeigao, a que ainda boje eslanios mui
longe de cliegar. O sargo fora trasido do
mar da Grecia para o da Toscaiia, onde se
naturalisara. 'I'inliam grandes viveiros d'agoa
doce, e salgada. I'ara eslabelecer um destes
viveiros, Lucullo mandou cortar uma monla-
nlia, pein (pie Pompeo o chair.ou— Xerxes
logatus. Neates viveiros cnava-se uma pro-
digiosa miiltidao das mais eslimadas, e varia-
das especies de peixes.
Ell lun a m lilt i pi icarao artificial dos peixes
estava em practica, e ja entao se obtinliani
especies iclitli^'ologicas liybridas ; e esles pro-
cesses artifi;iaes applicavam-se ateaalguma*
especies de moliiscos.
Os romanos neste ponio faziam lia vinte
seculos, mais, do que nos ainda lioje pia-
cticamos.
PHYSICA DO GLOBO.
I.NFUE.NCr.V DA LIA NOSTEUnEMOTOS.
Desde a* mais remnlas eras aciia-sc ar-
reigada na maioria da populayfio de todos os
paizes a cren^a de que a lua intlui^ poderosa-
117
meiile em imiitos dos phenoinenos pliysicos
e vilaes, que se passain na terra.
Uninens dados ao eUudo da natureza re-
geilaram por lonj,'o tempo esta crenga, na
inaii)r parte dos sens poiitos, como precon-
ceito popular; talvez porque o amor da
sciencia, por niais pure que seja, tern sempru
alguma liga d'amor proprio, que procuia
lisonjear-iios daiido por impos^ivel oqiie nao
podcmos cnmpreheiider. Mas na presen^a de
factos constantemenle repelidus parece for-
(;050 reconlieccr, que a attracgfio daUiasobre
a terra e atmospliera, e por ventiira a sua
acgao cliiiuica sobre a luz solar que nella
se rcdecte, toriiam sensive! a inthioncia d'este
satellite em muitos plienoiiienos que so pas-
sam acima, na superficie, e no interior do
nosso globo.
Entre estes plienomenos avulta o dos
terremotos, qiiC rnuito importa saber se
devem considerar-se como resultado de per-
cussoes causadas na crusta solida da terra
por mare's internas. Na verdade, se em virtude
de sua elevada lemperatura, a parte interior
do globo lerrcitro se conserva fluida, devem
a lua e o sol causar nella movimentos, se-
nielhantesas mares doOccano, qnedependam
em diree^ao e intensidade das posiroes d'estes
astros; e a rosistencia opposta pela crusta
sniida a accnmulagao de tluido, que esses
movimentos tendein a produzir na direcgao
dos raios veclores dos mesmos astros, pride
causar rnpluras e abalos nos pontos cor-
respondentcs da superficie terrestre.
Ve-se pois, que esta explica9rio, estabe-
lecendo nma mutua dependeneia entie a
lluidez da parte interior da terra e as mares
internas, manifestadas pelos terremotos, e de
summa imporlancia na primeira e mats dif-
ficil qucslao da geologia.
■ Nas sessoes da academia das sciencias de
Paris de i2l de marijo de 1353 e 2 de Janeiro
de 1864) apresenlou M. Alexis Perrey uma
inernoria, e uu)a nota, ciijo objecto e mostrar
a influencia das posijoes da lua em relagao
ao sol e ao perigeu sobre os terremotos em
geral, e das suas posigdes relativamente ao
meridiano d"um logar terrestre sobre os ter-
lemr.tos nesse logar.
Na memoria o auctor da conta de todos
OS terremotos, de que pOde obtcr noticia,
desde o anno de 1801 ate o de 1850; e
computa-os de tres tnodos differentes, enu-
nierando : no primeiro os dias em que tevc
logar algnni terremoto; no segundo todos os
terremotos que liouve, quer no mesmo dia,
quer em divcrsos dias; no terceiro todos os
abal
OS que se sentiram, quer pertencessem ao
nies[no terremoto, quer a terremotos differen-
tes. Procedendo assim, a collecgfio apresenla
um quadro de 5:338 plienomenos pelo pri-
meiro modo, e de 6:596 pelo segundo. Pirn
quanio porem ao terceiro inodo, nao pode
M. A. Perrey obter noticias que referissem
OS abalos de cada terremoto senao a respeilo
d'alguns d'elles ; e por isso apenas conscguiu
fa/er um quadro de 931 abalos scntidos na
America Meridional, que acliou consigna-
dos no 5.° volume das viagcns as partet
ccntraes da America do Sal de M. de
Caslelnau.
Formou tambem pelo primeiro modo uni
quadro de 423 dias de terremotos desde 1841
ate 181-5. E finalmente organisou quadro5
parciaes, repartindo cada quadro total em
grupos correspondentes as subdivi^oes do pe-
riodo da lunagiio media 29'', 531 em doze,
dezeseis, e oito partes.
Em todas estas combinajoes, pondo de
parte algumas anomalias, aclioii o auctor
uma preponderancia dos numeros relatives
lis syzygiai sobre os relativos as quadratnras,
a qual o levou a concluir que: ha meio se-
cido OS terremotos sdo mais frequentes nas
si/zt/g'ias do que nas quadratnras.
Examinando a mesma collecg.'io d'obser-
vajoes, e usando dos rnesmos tnodos de con-
tagem, de que se servira para formar os
quadros rcferidos, M. A. Perrey contou os
terremotos correspondentes aos dias das pas-
sagens perigea e apogea da lua, e aos dois
dias auteriores e aos dois posteriores a cada
uma d'ellas ; c subtraindo o numero respe-
ctivo a cada positj'io proxima do apogeu do
respectivo a posijao correspondente proxima
do porigeu, acliou differengas positivas, que
divididas pelas sommas davam quocientes
compreliendidos entre j^ e -~. Eslas differen-
gas indicavam pois uma preponderancia sen-
sivel dos numeros relativos ao perigeu sobre
OS relativos ao apogeu ; d'onde conclulu o
auctor, que os terremotos sao niais frequentes
na passagem da lua pelo perigeu do que na
passagem pelo apogeu.
Reconliecendo a importancia do trabalho
do sabio professor de Dijon, poderiamos
talvezdesejar que, seguindo um metliodo seme-
liiante ao que Ibe serviu na repartigao dos
quadros em partes correspondentes as sub-di-
visoes da lunajfio media, e applicando-o nao
to ao mez synodico, mas tambem ao ano-
malistico, comparasse separadamenle : os nu-
meros proximos da mesma distancia da lua,
mas correspondentes a diversas phases lunares,
para estabelecer com mais clareza a proposi-
<,'ao relaliva a influencia d'eslas phases; e os
numeros proximos da mesma phase, mas cor-
respondentes a diversas distancias da lua,
para estabelecer a proposi(;;1o rclativa a
influencia da distancia.
Finalmente o auctor da nota discutindo
OS 824 abalos sentidos em Arequipa, que
re.''ere a citada obra de M. de Castelnau, c
calculando as boras decorridas desde a pas-
sagem da lua pelo meridiano ate o instante
de cada iim d'elles, achou, quer por este
modo de comparar, quer pela rcpartij.'io do
dia medio lunar, 24'' 50' 30", em dezeseis
ou em oito partes, e dos abalos em grupos
correspondentes : que o maximo numero d'aba-
118
los teve logar na vijinlinn^a das passagens
da Ilia pelos ineriJianos superior e inferior;
e o niinimo, qiiando a lua estava proxiiiia
do !)0° de dislancia ao meridiano.
De todo este traballio resiilla a conclusao
sepuinte. O nunieio dos tcrremotos c maoclino
nas sijtygias, c minimo nas quadraluras •
maxiuio na dislancia perigni da lua, e
ntininio na apogi'a- maxuno para um logar
na pussagein da lua pclo $cu meridiano, c
minimo a 90° d'cslc.
O que concorda com o que deve aconle-
cer, se os terreuiotos siio devidos as mares
inlerioros do globo terreslre que produz a
altracjfio da lua.
Para lornar iiiais seiisiveis estes resuitados M.
A. Perrey procura repreacnlar os iiuineros de
cada um dos quadrospor expressoes da forma
■ ^ sen {I + a) + iJ sen (2 / -f p) + C sen (3 / J- ^ )-p ,
scndo HI, .'/, B, C,...., constaiUes da na-
lureza de ^ ; m p > f- • . ■ j aiigidos constantes ;
e ; adislancia angular da lua aosol, coutada
desde 0° ate 360°. E deleruilnadas as constan-
tes de modo que satlsfajam ansnuineros, acha
que na furva rehuiva a catla uin dos qiia-
dros a maxima ordenada principal correspon-
de as syzygias, ea minima lis quadraluras.
A commiss.'io da academia, que examiiiou
I'sle trabalho, daudo-llic grande inporlancia,
propoz que fos-ie approvado, e que a acade-
inia empregasse uma parte dos seus fundos
eui auxiliar a continuagfio d'elle.
(Vej. o ConipUs Rcndus de 12 de junlin
de 18.34). S. P.
NOTICIA SOBRE A DACIV CARBONIFERA DO CABO
MONDEGO.
CoDtiniiado (te pog. 104.
Hiiliirta da miiia.
Os Irabalhos comegaram n'esta mina clia-
mada de Buarcos, em 1775, por conta do
Governo, scndo dirigidos por um capitTio da
toinpanliia de mineiros da praja d'EIvas,
eliamado Jose Nunes, com dois soldados da
mesma companhia ; estes Irabalhoi duraram
• loze nnnos.
\'.m 1787 foi c^le eapitao substitiiido pelos
irmfios (Ricardo e Fraucisco) Raposos, ma-
jores engenlieiros, sobrinlios do Inspector que
•■iit.'io era do Arsenal do Kxercilo, o tenente-
general Bartliolomeu da Cosla. Abriram tres
galerias descendeutes na poula inais occiden-
tal do Cabo e mcstno ao nivel da camada
(le carv.'io, sendo a dislancia da 1.* a3.° bo-
ca do ll-,0, e a da 2." a 3." de 2f."',0 : e=tas
galerias eram abobadadas, revcstidas com en-
xilliares de canlaria ate grande dislancia das
Ijocas, e teem na secg'io d'eslas 4 metros de
altura I,°'3 e 3,"'0 nas bases, lloje esl.'in en-
lulliadas e coinpletamenle inutili?adas. Fo-
ram levadas a 100'° poiico mais ou nienos
sobre o piano da camada; abriram-se nellas
avan^os, que enlraram pclo fundo do Ocea-
no, e corlaram-se estes por oulras galerias
para relalliar o nias3i(;o em pilarcs prisma-
licos ; um sarillio movido por bois fazia a
extrac^fio pelas bocas de servigo. O carvao
de primeira qualidade era Iransporlado
para Lisboa e empregado na refmagao do
sal i Ire.
A lavra era pouco activa, pclo limilado
consumo que linlia o combuslivel, e por i-.so
durou annos este campo de minerat^ixo, e
coutinuaria por inuilo mais se nfio occorres-
se um sinislro cm 1798 ou 1800, que a in-
terrompeu completamente. Uma galeria as-
condenle cliegou muilo porlo do afllorameiilo
da camada no fundo do Oceano, a dislancia
de 23"' da Pedra da Nau ; as nguas do Ocea-
no romoerain a inossa que as separava dos
trabalhos, e precipilaram-se nelles abrin-
do uma ampla brcclia.
Em 1801 foram os Raposos subslituidos
pelo doutor Jo^e Bonifacio de Andrade, iio-
ineado eiilao iiitendenle geral das minas e
melaes doreino: inandou abrir a mina Mon-
dego a iS.li. das primeiras bocas, e a d"',0 a
8",0 acima do sen respectivo nivel ; por nieio
d'csla mina communicou com a parte dos
velhos Iraballios nao alagadn.
F]sta mina deu, com varias inlerriipjoes,
o carv.'io necessario ate' 1819,' e o doulor
Andrade fez consLruir um forno de cal, a
traballio conlinuo, e oulro de cozer tijolo
junto a miiia, nos quaes consumia o carv.'io
miudo, conliiuiando a ser conduzido para
Li.dioa o carv.'io grado, de primeira quali-
dade.
A ausencia do doulor Jo;e Bonifacio de
Andrade, que se relirou para o Brasil, a
abundancia de pyrite que o carvao encerra,
a ignorancia dos encarregados dos trabalhos,
foram as caiisas pelas quaes o Governo, sof-
frendo perda na lavra da mina, ordenou a
sua sus|jens,'io em 181!', on antes em 1822,
1 Em 1803, coin a sai'da de D. Rodrigo de Soiisa
Coutintio (to Ministerio, furam si!5pi*iisos todos os traba-
thus, e por lanto os d'osia mina jmr ordem do Presidente
do Real Erario, I.uiz di; Vascuiicejl.is ; o que causou a
mina dVsta mina, porqiie se encheii de a^na, mas re-
come(;aram oiitra ^■ez em J804; a invasao dos francezi'i
era 1807 vein de novo snsjiendct-os ale ao priiicipio de
1012. Em 1816 lizeraiu-se (ral)ulliar por conia da Admi-
nislrai;ao das minas os forno:* de cat em Alcantara para
dar coniumo ao mtiilu carv3o, mindo eiifitente nas ciras
da miua.
119
por ordem do ministeriro do leino, sobre
proposta da dircc^fio da real fabrica das sodas,
que liavia sido em 1801 eiicarregada da I'lsca-
Ijsar^'io das iniiias.
Por Alvara de 5 de Jidlio do 18'25, con-
Iratoii o goveriio a lavra das miiias decarvao
com uiiia Coinpanliia, qiiedeixou a de Buar-
ctis em Inlal abandnno.
Em 1B3!J para 1839 lentou ocessionario da
coinpanliia, Jacinllio Dias Damazio, esgolar
OS traballios da mina, e proseguir na sua la-
vra: pozerain-se em actividade os trabailios
da rnina Mondego , tirou-so algiiin carvao,
e inandoii-se dcspilar. Logo depois, abrindo-
so nma sanja depesqiiiza da linlia dc maxima
inciina(;'ao do inonte, deparou-se com a con-
linua^So da camada de carvao poucns nie-
tros a N.N.E. da mina anlecedcrilo, e em
po>i5?io mais eievada sobre o monle ; abriu-
se um novo caaipo de lavra, denominado
JMina Esperanga, que mais larde se fez com-
municar com a mina ^l/oJic/eg-o. Este campo
de^ceu poncos rnelros abaixo da actual gale-
ria de avanco, polas difficnldades de extia-
^ao e esgoto, ciija despcsa nao era compon-
sada |)clo prejo do carvao oblvdo, e ainda
mais pelo mao syslema de ataqiie, fazondo-
fo ii exlrarrno, serviijo, esgoto, e ventilaoao
por duas bocas conliguas, aliertas ao mesmo
nivel, sobre o affloramento da camada.
Osavan(;os pralicados nosta mina tocaram
a lacuna, que llie fica a E.S.E., e como re-
cearam dcscer alem dos liinitos que tocavam,
resolveram procoder ao despilanieiito da mina
lisppranja.
Passnu-se a aborlnra da mina Farroho, a
uns 300'° dc dislancia paia N.K. da preco-
denle, e em posigfio mais elovada por se ter
dcscoberto a camada nesse ponto. Execula-
ram-se os traljallios an modo ordinarin, mas
nao desceram muito com elles (aposar de se
apresentar alii a camada com melhores anspi-
cios), porque as aguas eram abcmdantes; a
lacuna aS.E. era jii conliecida ; nma jjcsqui-
za i'eila mais para N E. no Valle das Fon-
lainlias, provavelmente sobre algiima das ca-
iiiadas dolgadas, dou apcnas 0"',2 de possan-
^a ; e sobre tudo, por se ignorarem as con-
dirjoes em que a camada se aclia, e os acci-
denles que frequeniemenle interrompem a
coiitinnidade das camadas de combuslivel.
Acri'dilou-se por estas razoes, que o carvao
acabava todo nosla mina, e suspenderam-se
OS trabalhos della em 1345 a 1846.
Appareceram nesteanno de 1846 em Lisboa
Miclion e Casimir Pierre, mineiros francezes,
que visilaram as miiias de comlnistivel, e
dirigiram a companhia propostas para a sua
lavra; a companhia cnnlratou com Jliclion
a lavra da de Biiarcos.
Para renovar a lavra da mina Farrnbo, as-
senlaram-se na buca dagaleria nma macliina
de vapor da for^a de doze cavallos, e as
bombas necessarias para o esgoto: em pouco
tempo se esgotaram as aguas dos traballios,
e recome^ou a lavra. Em 1847 cresceram as
aguas siibterraneas; as bombas nao podiaui
esgolal-as, a accumula^rio era rapida e a
mina foi iniindada.
Ma presen^a destesinislro Michon e Casimir
investigaram os meios de salvar a mina pro-
cedendo aos esludos para esse fim necessarios.
Detorfiiinaram a direc(;ao e inclina^fio da
camada, fizeram o nivolamenlo do lerreno
cntre a boca da mina Farrobo e o solo onde
estuo as bocas da tnina vollia ; reconhecoram
que a linlia di; direcgao da camada que pas-
sa no lerreno conliguo as minas vellias (a
passar proximo da mina Farroho a 130'"
de profundidade, a contar da boca da refcrida
mina, e a 600"' na liorisonlal, tiradas polas
bocas das primciras minas. Projeclaram a
abertura de uma galeria de esgoto geral, se-
gnindo csia linlia, e comejaram a executal-a
em 1847. Esta galeria, avanjando sempre
sobre o muro da camada, atravessou o fundn
dos traballios das minas Mondego e Esps-
ranra, e neste segiindo ponlo eslabeleceram-se
alguns traballios descendentes, que fodavia
foram pouco profiindos. Em 18ol cbegou o
avan<;o proximo do campo inundado; os
Iraballios coiilinuaiam por meio de tres furos
de exploraijUO de sonda, ate' que chegando
ao dito campo, se operoii o esgoto, derivan-
do-se assim as aguas para os traballios ve-
Ihos.
Esla galeria e' uma obra importantissima,
porque toriia aproveitavel a mina de Bnarcos,
apesar de ter sido so destinada, no principio
ao esgoto das aguas accumuladas na mina
Farrobo : cortando a camada a mais de ISO"
dos affloramenlos, permitte a explora^ao da
camada, e a sua lavra por galerias descen-
denles mais prompta e economica, do que
pelas galerias abertas li superfioie : moslran-
do a continuidade da camada no senlido da
sua dircc(;ao, faz ver tanibem que o sen eixo
esla longe do piano da galeria ; facilita con-
sideravelmente os esgotos; torna rapido e
economico o servijo de extrac<,ao, o permit-
te fmahnenle uma mcllior ventdajfio.
Em oonsequencia d'eslas reconliecidas van-
tagens lem-se progredido com esta galeria,
que contava em Junlio d'esle anno 950" a
1000'" de coiiiprimenlo ; com o sen respeclivo
cnminho def'erro; aclia-se pois debaixo do
Valle das Fontainlias onde se devera abrir
uma galeria ascendenle de 80'", pouco mais
ou menos, ate a siiperficie, para servir a.
ventilagfio e a lavra da parte da camnda
superior a galeria geral.
Continiia.
Pag.
ERRATA DO N.
Col. Link. Erro.
1." 60 tie Hie
Emend.
de 1546.
120
OBSERVACOES METEOROLOGICAS . FEITAS NO GABINETE DE PHYSICA
DA UMVEIISIDADE DE COIMBllA.
Annode
Mez de
Juiiho
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20
21
41
21
20
20
19
19
19
18,7
PressSo atmosiiherica ao meio dia
Alturft ba-
rometrica o
0." cenli;:.
JMilliQletrus
748,752
747,370
749,006
749,008
746,095
748,500
749,137
731, 7iO
751,670
753,898
753,688
756,590
756,713
755,650
754,473
749,399
748.040
752,683
755,346
755,649
756,792
758,058
755,636
755,100
754,341
754,970
752,793
755,093
755,952
754,586
752,962
Millinietro^
Tentjicratura
Max. absol. . 21.°
Minima . . . 16.°
Max. variai;. . 5.°
7,588
9,523
10,155
10,143
9,911
10,154
11,0^9
11,175
10,374
9,655
8,794
11,281
12,802
11,250
13,094
13,754
12,517
10,883
11,655
12,018
12,857
12,261
14,117
13,904
13,904
12,801
11,368
11,517
12,020
12,331
Pressao do
ar sec CO
Millimetrus
741,164
737,847
738,851
738,860
736,784
738,346
738,108
740,545
741,290
744,343
744,894
745,309
743,911
744,400
741,379
735,045
736,023
741,800
743,691
743,631
743,935
745,797
741,489
741,196
740,437
742,169
741,424
743,575
743,932
742,255
I^slado hygromt'lrico da
atiuosphera ao iiieiodia
^5 "^
0,5262
0,7035
0,7012
0,7037
0,7322
0,7041
0,7182
0,7277
0,6755
0,6287
0,6497
0,6487
0,7832
0,7326
0,7529
0,7909
0,7719
0,7087
0,7130
0,7352
0,7393
0,7050
0,7633
0,7518
0,7518
0,7361
0,6537
0,7046
0,7354
0,7544
0,7135
Quantid. fie
vapor coDtido
cm tim metro
cubico de ar
Grammas.
7,588
9,556
10,155
10,148
9,946
10,154
10,991
11,136
10,338
9,6n
8,824
11,165
12,714
11,211
12,958
13,613
12,530
10,845
11,575
11,935
12,725
12,135
13,913
13,715
13,715
12,670
11,253
11,428
11,950
12,246
N.
S.
S.
s.
s.
o.
N.O
N.
N.
N.
N.
N.
N.
N.
N.O.
S.O.
O.N.O.
N.O.
N.O.
N.O.
N.O.
N.
N.
N.
NO.
N.O.
N.O
N.
N.
N.
Prfssuo atmospltcrica
Ma.\-. absol. 7 58,058
Minima . . 746,695
Max. excurs. 11,363
Gran lie huinidade do ar
Max. absol. . 0,7909
Minima . . . 0,5262
V.ir. max. . . 0,S647
Eatado do ceo e do
lempo.
Claro c limpo. B. temp.
Nublad. temp, chuvos.
O aiesoio. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
Enrobcrlo. B. tempo.
\iililado. O mesmo.
Clar. e limp. O mesmo.
O ivesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmu. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O u.esmo.
O mesmo. O mesmo.
Nnldado. B. tempo.
Encobert. T. clim'iscos
Encoberto. T. ventoso.
Niiblado. B. tempo.
Encoberto. B. tempo.
Nublado. B. tempo.
Encobert. T. chuvisc.
CI. c limpo. T. sereno.
O mesmo. O mestno.
O mesmo. O mesmo.
Nublado. B. tempo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
CI. e limjio. K. tem]»o.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
f'cntot predominanUt
N. e NO.
Coimbra 1.° de Julho de 1854.
O Demonslrador da Faculdade de Philosophia, Joaqtiim Augusta Simacs de Carvatho.
€) JniSititttt0^
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CONSELHO SUPERIOR DE INSTRUCCAO
PUliMCA.
BEL.ITORIO ANNUAL
1846—1847.
CuiUinuado dc p»^. 113.
Insiiucgdo superior.
A iiislruc^fio superior commollida u diroc-
rfio rlo consplho, compoe-se da uiiivcrsidadc ,
da aeadeniia polvleclinica, e das diias csclio-
las iiiedico-cliinirgicas de Lisboa e do Porto.
A iiniversidade de Coinibra, notavel pela
sua antigiiidade, e pelo credito lilteraiio, dL'
que tem gozado em todos os lempo?, princi-
palmenle no reinado de elrci D. Joao III no
seculo XVI, e no de eirei D. Jose' I no se-
ciilo passado, forma enlre nos nm centro
d'inslnicgfio ifiosolido, que nao tem podido,
ate lioje, ser abalado, ncm pelas vicissitudes
do lempo, nem peios ataque; de outros esta-
hjlecimenlos livaes. liila contem os elemen-
tos snfficientes para alii se ensinarem todas
as sciencias, com a ultima perluijao ; nfio so
em razao do grande luimero de cadeiras,
como por nieio dos graiides, e ricos estal:>ele-
cimenlos qne Hie estao reunidos.
O ensinn continiiava nelia com a rogiila-
ridade ordinaria no anno leclivo de 1815 a
184C, qnando os aconleciinontos daquclie
lempo vieram interrompcl-o : foram despedi-
dos OS estndanles sem poderem fazer os sens
ftCios. Em outiibro seguinte, por ordem do
governo, foi mandada abrir, mas apenas osla-
vain principiados os aclos, que as novas dc^or-
dens vieram, outra vez interrompel os. D'esde
entao ate agora, o en^ino esteve fecliado ; o
o edificio foi pcla maior parte occnpado nii-
litarmente. D'esta desgra^ada epoclia por
lanto, nao tern o consellio nada qne deva re-
latar a respejto d'esle estabclecimcnto, liiiii-
tar-se-ha a fazer algnmas refle.Noes sobre sen
estado actual.
O ensino na universidadc, consta de cinco
facnidades, cnjos professores de cada nma,
se podem reunir em consellio, para promove-
rem o sen andiantamento respectivo; e sfio :
Iheologia, direilo, medicina, matliemalica, e
pliilosophia. Do mappa n." 4 verti V. M. o
quadro das cadeiras, e o seu estado.
Vol. UI. Agosto 15
Ainda que a lendencia das reformas mo-
dcrnas, por toda a pntte, se dirija manifes-
lamcnte a dcsinvolver os intcresses materiaes
da Immanidadc, e que csteja lioje mui esfria-
do o zelo cspiritual, e jior isso acoUiidos, com
nienos favor, os estudos tlicologicos, com tu-
do a facnidade de theologia, colieVente com
05 nossos coslnmes, serve de cxprimir a nni-
dade da religiao clirista, proclamada na
Carta, como a religiao pul)IWa do estado;
e de protesto contra o indil'ferentismo rcli-
gioso, que com o nome mais lionesto de to-
lerancia, tem penetrado na maior parte das
nacoes, que v.'io a testa da civilisa^fio da
Einopa. Alem disto esta facnidade, depois
que admittiu as suas lii^oes, com o nome de
onvintes, uma classc d'alumnos tnodestos, que
nfio aspiram j;i aos grandes empregos eccle-
siaslicos d'outro tempo, mas somente prelen-
dem liabilitar-se para o exercicio parochial,
liojc mal rctribuido, salisfaz ale certo ponto,
uma das maioies necessidades da epoclia.
Em quasi todas as dioceses do reino acaba-
ram, por falta de meios, as cscliolas ecclo-
siasticas para a instruc^fio dos ordinandos:
a facnidade de theologia encarregando-se da
instrnccao d'esta classe, nao so snppre esta
falta na diocese de Coimbra, mas hoje que
esta. ordenado, por decrelo, o proviinento
canonico dus egrejas por meio de concurso,
habilita alumnns iiistrnidos que por este meio
em breve, se irao dispcrsar pt-las oi:tras dio-
ceses; e talvez a esta circumslancia se deve
o angmento de disripnios, que nella se nota.
A facnldide de direito, e a unica que tern
constaiilemente oblido nma notavel aflluen-
cia- de alnmnos. O seu numero annual sem-
pre lem exeedido a 500. Alguns consideram
esta aflluencia, como uma calaniidade nas
actuaes circumstancias polilicas. Ao conselho
niio compete decidir sobre este modo de pen-
sar; o que Ihe parece provavel, e, que esta
facnidade, ha de ser senipre mnito frcqiien-
tada. Mao lem outra eschola, que Hie dispu-
te a concnrrencia ; e ofl'erece o ensino a um
grande numero, como habilila(;fiO legal, para
a maior parte dos empregos do eslado, a
oulros como meio de induslria; para o exer-
cicio do foro, e a todos como instrucgfio, para
reger as suas casas, e se dirigirem nos nego-
cios quotidianos da vida civil, e domestica.
lisla mesma circumslancia, e a outra da
— 1854. Num. 10.
^^
122
conl'us'io da legisla^ao palria, tern servido
de psliinulo a algmis dos pinfessores, para
piiblicar oliras, que accredilaiido-os , con-
Iribiiem pcidL-iosamenle para o mellioramen-
lo da srieiicia.
A faciildade de medicina tem sempre go-
zado, e goza aiiida lioje, d'lirn credilo deci-
dido, que os seus rivaes se nao altrovein a
negar: proveiiieute nfio so dos prot'iindos c
vaiiados coiihccirnentosj prrparatorios coiun
projiriamenle medicos, que exigo nos sens
aliiirinos, coino do distincto nierecimenlo de
muilos profpssores que a tem illiislrado, econti-
nuatn n illustrar. A regulaiidade do ensiiio,
assim tlioorico, coino piaclico, que ii'ella se
niinislra, e igual ao rigor e severldade das
provns, porque faz passar os alumiios, antes
de llie confcrir o diploma da liabilitajao.
K'esla parte, e tao superior as academias
da maior paile das outras na^oes, que a pe-
zar da nossa, fiinl eiilcndida predilecgao por
tudo que e estrangeiro, os medicos, que nao
sao da esclioia porlugueza, nao Icm entre
nos acliado favoravel acolliimenlo. E^la fa-
culdade e frequenlada por poucos aiuinnos,
o que e devido as circuinslancias peculiarcs
da profissao medica, a penuria do paiz, e
sobre tudo a concurrencia das duas escljolas,
de Lisboa e Porto ; onde se habililain alguns
alumncs, senao perfeilamenle instruidos, ao
menos inunidos d'nm diploma, que Ihes ia-
culta o uso da medicina.
As duasfaculdades de matliemalica e plii-
losppl)ia, alias iiotaveis pcla importancia das
disciplinas, que as compoem, e pelo dislin-
clo mereciineiilo domuitos dos seus membros,
a pezar de ter poi; I'lui princi|)al, a applica-
5ao ao desinvolvimento da iiidustria, e nie-
llioramento material dos povos, que faz alen-
dencia da epoclia actual; com tudo, como
sempre aconteceu, poucos niais alumuoscoii-
lam, alem dos que se destinam a medicina.
E' faril acliar a causa d'e.te plionoraeno
no pouco valor, que no estado do atraza-
mento da nossa industria, se d;i a laes co-
nliecimentos, e na concurrencia das duas po-
lyteclmitas de Lisboa e do I'orlo; onde os
alutnnos acliam imia iuslruccao menos seve-
ra, e menos solida. Em quanlo se nao exe-
cular o artigo 116, do decreto de 20 de se-
plembroj e se nao deslinareni empregos, ex-
clusivatnenle para lacs alumiios, dobalde se
preleudera tornal-as mais frequcntadas.
Dos oulros estabelecirncnlos dependentes
do conselho, soinento se receberam os rcla-
lorios das bibliolhecas de Lisboa e de Braga,
c da imprensa nacional. A bibliotlieca de
Lisboa corresponde a. grandeza e impor-
tancia, da capital: e se se ajuizar pelo mo-
vimenlo dos que alii vuo consullar livros, a
litteratura entie nos nao decae. A de Braga
esleve fecliada e occupada, mililarmente,
durante a guerra: felizmenle nao soffreu
estragos notaveis. A imprensa nacional de
Lisboa lem chegado a lal pcrfei<,'rio, princi«
palmcnle depois que contem alguns prelos
movidos a vapor, que egunli as melliores da
Europa. Os cstalielecimentos annexos a uni-
versidade, resscntcm-?e da falla dos subsidies
do thesouro : quasi todos desfalleccm pouco e
pouco. A pezar dislo no observatorio astrono-
mico traballia-se com assiduidade naeplieme-
ride; e os sous trabalhos soljre este objccto, ja
cliegam ao anno de 1850. A imprensa da
universidade a pezar das perdas que soffreu,
por occasifio da guerra civil, ainda se suslen-
ta com lustre.
A academia polylecbnica do Porto creada
por decreto de 13 de Janeiro de 1837, lem
por objecto privative o eiisino das sciencias
industriaes ; e liabilitar pessoas que promo-
vam o desinvolvimento da industria em lodas
as suas direcgnes; engeiilieiros de minas, de
pontes, eestradas; engenlieiros conbtructores;
officiacs do marinlia, pilolos; commerciantes,
agricultores, e arlistas de todas as classes.
Para eslo fim aproveilou-se a academia real
do comraercio e marinba que jii alii existia,
augmcnlou-se com grande numero de ca-
deiras, e estabeleceram-se os cursos neces-
sarios para o fim especial, a que cada um
dos alumiios se propoem.
Esta academia esta em principle ; lucta
com vigor contra as difficuldades do comedo,
e sobre tudo contra as desgra(;adas occur-
rencias, que desde a sua creajao, ale agora,
nao lem cessado de al'lligir a naijao. A sua
principal necessidade, e a de eslalulos on
regulainenlo ; o qual este conselho lia pouco
tempo acaba de submctler a approvagao de
V. M. Esleve fecliada como todos os outros
estabelecimentos no ultimo anno. O conse-
lho nao pode remetler o mappa do quadro,
e estado das cadeiras, por que o nfio recebeu.
As aiiligas escholas chirurgicas creadas em
Lisboa e Porto, com o fim unicamente de
liabilitar cliirurgioes, foram pelo decreto de
2!) de dezembro de 1836 elevadas a calhe-
goria de escholas medico-chirurgicas, aug-
mentadas corn o ensino das disciplinas me-
dicas, e com um pessoal mui dispendioso.
O conselho nao recebeu o relatorio da de
Lisboa, i; o da do Porto contem a nolicia,.
de que tambem esteve fecliada, e a expres-
s.'io do receio de grande decadencia por falla
d'aluiTinos. No mappa n.° 5 sera pre'enle a
. V. M. o quadro dos professores. A unica
redexao que o conscHio julga poder fazec
aqui sobre estes estabelerimentos e, que nem-
as necessidades do paize.xigem, nem as forgas.
do thesouro permilLcm, Ires escholas de-;
medicina cm Portugal. Seria necessario re-i
duzir e^tas duas, ao que foram na sua origem ;
porera esta idea nao pode desde ja execu-
tar-se, talvez o tempo aplanara o caminho'
para isso.
Em resullado do exposlo o conselho nao
se lisonjea de apresenlar um quadro brillianle
do estado das letras, ou da inslruc^fio entre
nos. Permitta V. M. que o conselho accres-
-X^^
.^Vvk
123
ceiile a esle respeito uma obaervagao que
naliiralraente se oft'erece. As scioncias, e as
bellai arles, s'lo tmii tnelinJrosas : sao fidal-
gas, perinitta-se a expressao ; nfio eslabelecem
o sen domicilio nas nac^oes, senao na epoclia
da sua grandeza e prosperidade ; npcnas
estas vfiocm decadencia, asscieiicias cnmecjam
a relirai'-se;sealgumas conliniiam, vivem uma
vida valetudiiiaria, e enfezada. O liomeui
sabio iifio pode yiver no meio da anarcliia :
preciea de recursos para subsistir com decen-
cia, e procurar os livros, e meios d'instrucgao.
Os estabelecimenlos publicos em penuna,
iiao podem minislrar lis sciencias os nieios
progrcssivos do dcsinvolvimentn. Eis aqui o
eslado em que nos acliamos. Nfio e sem um
senlimeiUo delrisleza, e magoa, queocoiisellio
faz esta observa5ao; mas julgou devel-a
consignar aqui, para servir de resposta as pes-
soas menos reflectidas, que se lembram de
atlribuir a falla de zeln do governo de V. M.
on dos seus agentes suballernos a decadencia
das letras enlre nos. Provc-m de causas mais
graves, que a ninguem e possivcl direclamente
remover. Coimbra em conscliio de 21 de de-
zembro de 18-i7. Bnsilio Alberto de Souza
Pinto servindo de presidtnte — jigoslinlio
Jose Pinto d\/llmeida — Mayioel Antonio
Coclho da Rocha — Joao Tlioma% de Sousa
Lobo — Jeronymo Jose de Mello — Antonio
Cardoso Borgcs de Figueiredo — £,;«;;
Ignacio Ferreira.
(Segve 0 documenlo n.° 1 cHado rCeste relatorio.)
raiVERSlDADE DE COITOA— PROCRAMMAS.
FACULDADE DE MEDICmA.
1853—1854.
Coiiliiiuado tie pag. 1I-4
5." AS>0.
1.* CADZIKA DE CLINICA (cLINIC* DR MULHEREs).
Lfule — Dr. Joao Alberto Pcreira d" Azevti'.o
(A esta aula concorreni lambem oa csliidantes do 3.'
e 4." anno),
2 ■ CADEIEA. DE CLIMCA (CLIMCA DE UOMEKS).
Lente — Dr. Manoel Paes de Ftg'tei'redo.
(A eala aula concorrem lambem as csludanles do 4."
atinu).
CADEIRA DE MEDICINA LCUAL.
C()MPR%DIO I!RIA^D, MANUEL COMPLET DE MEDECINE
LEGALE. — .\0VISSI.M1 REFORMS JUDICIlRI\. — CODIGO
ADMISISTRATIVO PORTLGDEZ.
Lente — Dr. Antonio Joaqnim Barjona,
Por determina^^io do consellio da faculdade niedica,
lem de aer eosiaadas n'esla cadeira iiao so a Mediciiia
Inreiise, e a Hysiene pubiica, mas lambem a Historia
<l:i Mcdicina.
Come^arei pela deCnfi^ao de Juri-'pruduocia modica, e
pela divisiio d'eeta sciencia nos duiis rjinos penai t- ii'vil.
Fiillarei lugo depois da nalurcza i\ii liomeui, expondo
0% plicnomenos desims fijnc(;6e3, comespecialidade osipic
perteiicem aa fnnc^ofs aiiimaes, e fazcii-lo ver a applica-
^ilo dVsta doiilriiia a phylusophia da Jiirispriidrncia.
Do ramo penal da Jurisprudencia niedica, farei nmn
divisuo secnadaria em diias sec(;ues ; a priineira d'eslas
comprehtMide as leis criniinaes relalivas ils func^oM neces-
sarian para a conserva^'ao do iniliviiluo ; asegunda conlera
as que dizem respeilo ;is runc^'uea da conserva(;ao da
esjiecic,
Fallarci parlicniarmente, na primeira sec^ao, du3 feri-
mecdus e do veneficio : na segunda do esliipro viulenlo,
do aborto promuvido on procurado, do parto prematuro,
serolinu, simulado, e do infanticidio.
O ramo civil da Jurisprudencia niedicn, seri'i tiuiibem
di\idido em dnas sec^oes, e a diviailo sera fundinJa em
jirincipius similliunles aos que serviram de base a divisSo
do ramo pen;il.
Na primeira sec^-ao tralarei darela^ao entre ntidireitos
civis e as condi^ot.-s physicas e menlaes do Iiomem, fal-
laiido com a possivel individiia^ao do que e cuncernenle
a faciildade de teslar : e na segunda e.vpljcarei as con-
di<;oes cssenciaes ao eslado do mafrimonio.
Antes poreni de enlrar na disiMissao especial de cada
urn dus r.'imos da Jurisprudencia meuica, occiiparme-hei
do exame das di\ersas i<iades di) homcni ; muslrarei o
ueo dVsle e.vanie em varias qnesloes importantes dodirei*
lo ; e provarci a iililidade das sciencias physicas n'alijiimag
cans.is niais delicadas de identidade de pessoa.
Acabada a Medicina forense, explicate! a iLeoria da
flciencia admiiiistraliva , com referenda .a administra<;3o
medica, propriamenle dita, edarei uma breve nolicia du
pessoal d'esta admiuislrai^ao.
Dislribuirei por rinco sec^oes lodaa as dilTerenle*
malarias da Hygiene publica.
Tralarei na primeira dascondi(;oes sanilarias daspovoa-
rues em tempos ordinaries. Fallarei especialmenle das
cumidas, das bebidas, do ar, dos edificios, etc. Pur oc-
casijio da salnbridade do ar, exporei as caulelaa com que
devem ser conslruidos e conservados oa mat.idouros, as
a^oiignes, e os eemilerios,
A segiinda sec^ao perlencem ascondi^oes eanitarias das
povoa^oes nns circnmstancias em que e preciso prevenir
uu combaler uma doen^-a conlagio.sa on epiilemica.
A terceira tem por objecto a salubridade dos iogarei,
em que vive um grande numero d'iiidi^iduos pur um
tempo mais ou menos longo dentro d'uni espat;© limitado.
Esta sccf^JoccmprelicnJe ascasaa d'expostos, osliospilaes,
as cadoas, etc.
A quarla nao e mais que a iovestis'at^ao das condi^oes
physicas e muraes, que devem reunir os liumens quo at*
deslinam a certas prolissoes especiaes, como a militar e a
marilima.
A quin*a finalmcnte limita-se aos signaes de morle em'
geral, e de morte violenla em particular.
Terminada a Hygiene publica, passarei a Historia da
Medicina. Di\ idil-a-hei em antiga e moderna : aa des-
cobertas de Harveo, relatiYas a circula^ilo do sangue,
formam a epocha diviaoria.
A Hi$toria anliga divide-se em sets pcriodos :
O primeiro abra9a toda a Historia medica deade o
principio^da sciencia ate o tempo d'Hyppocrates ;
O segundo conlem oque decorre dcsdeHyppocrales ale
Galcno ;
O lerceiro o que vai de Galeuo ate a destrui^uo dai
letras pelug Barbaros ;
O quarto come^a com a Medicina dos Arabes, e finda
no priiii*ipio du decimo quinto seculo, ou n'applicaqito da
Chimica a Medicina ;
O quinto acaba na eschola de Paracelso ;
O sexto principia n'csta cschula, e tcrmina coin a
Historia anliga.
A Historia moderna t dividida em ctnco perioiloi
O prirueiro e marcado pelas obras de SyJenham ;
124
O scjMiiJo pclns cscliolas ile Stahl, Bocrhaave e Of-
finnnn ;
O iLTCf iro pelii llieoria tie Drus^n ;
O qiiiirlo pt-los priiiieirus escriptoa ile Brotissnis :
O qiiinlo rliou''T it t-pcrha presoile.
\*to (U'ixarei de nii'ltcioDnr.^ em c.iJa iim ilos rcferitlos
pcrioUos, o (pic e privalivo »i.i Medirina porluu'iipza.
A pr^rlica tiaTo\icLtlo;;ia sera cnsiiiaiia depois decon-
cliiiJo 0 tiirso theorico.
JERUSALEM E 0 MAR-MORTO.
ARCEIEOLOGIA HEDRAICA.
Conliuuado de pug. 83.
O liiniulo dos leis ' e o mais Lello e mais
iiolavel moiiuineiito, que se encontra nas vi-
sinliangas da cidade sancta. Todos os pe-
regrinos , que viiilam Jerusalem, vfio admi-
ral- sempie a<|iK"llas veiierandas reliqiiias do
nnligo jazign real; olj'cto de parlicularos
estiidos doi differenles archeologos, que teem
liiado a plania d'aqiielle moiiiimeiito , so-
lire ciijo funereo deitiiio reiiia a maior incer-
leza. A pompoia, designa^'io de tumido^
reacs , e t'lO vaga , que deixa a. imagina-
<^ao vasto campn para se espraiar em mil en-
conlradas conjecluras. Jsem e' empreza ta-
cil atinar quaes Fossem os reis, ciijo, reitos
morlacs allijazein; alguns perlendeni que
ft)ra alii o jazigo de Herodes o Telrarco, e
outios de Helena, rairdia deAdiabena; Sau-
Icy pela sua parte sustenta, seiem atpielle
OS verdadoiros lumulos dos rels de Judii;
mas esla opiniao singular tern contra si o
teslemuulio das paginas sagiadas, e o con-
senso unaniine de todos os lii>toi iadores , que
assignam o jazigo dos reis de Judii, sohre o
monle Siao; arclieologicamenlc considerado
aquelle niorniuicnlo , a sua arcliitectura se
apiesenia muito mais caractorizada peioestilo
gTego , do que polo gosto oriental.
Saiilcy, pore'ui J para susleiitar a sua opi-
'niuo, soccorre-se iinicarrienle a iiUerpreta^fio
das palavras — cidade dc David, com que
nas cscripturas liebraicas se designava o balrro
mais anligo, e mellior fortiricado de Jeru-
salem. Aquelle arclieologo pencnde, que a
cidade de David, nfio cornpreliendia exclu-
sivamente o bairro , levantado sobre o ro-
cliedo de Siao, mas loda a area sobre que
estava assentada Jerusalem, e por consequen-
cia, que assepuUuras dos reis de Juda, tan-
to |>odiam exislir deutro do recinlo da cidade
dc David proprjamente dicta, como em qual-
' A nici.a niilha de Jernsalenl , saiiido pela |>or(a de
Dair.asco , soltre iinia plmura , imde cregcein algiimag
oliteiras, enct'iilra-sc uma e\cava(;rto, cuaio de iiina j)e-
dreira abatidonada ; tini caaiiiilio larj^o e unl poiico em
declive da ser\eiUia ale ao fiindo d'esla eitra\a<;iio, onde
se enconlra iiuia arcaria , pela (jiial se enlra para iniia
sala talliada iia rocha ; esla sala le,m trinla pes de cniii-
priilo , e'doae a fjninze de atlura, Os arabes , d.'m a esla
excata^ao o nome de Qhonr-et-Mohuk, que signiflea ,
gritlas react o'j inmutos dos reis, e. vixet.
qiior outro poiito d'aquclla vasta povoag.-io.
Para apreciar dcvidainente esla liypolliese, e
mister examiiiar a topograpliia de Jerusalem.
No tempo de Flavio Jose, a cidade assen-
tava sobre duas collinas, fronleiras uma a
outra, ao iiorte e mcio dia; uma d'ellas era
mais elevada , e enlre ambas corria utii valle
prol'iindo; a cidade com|)unha-sc por tanto
de dois bairros, occiipando um a parte
mais baixa, e outro a mais elevada. A ci-
dade alta , ou a anliga Jerusalem , occupava
a collma mais meridional, que uma cstreita
garganla torneava an K, S. e 01'^. l'!ra o
pequeno valle dos fillios dellinnon. Pilo nor-
te uma grossa nuirallia circumdada de torres,
defendia o bairro alto. Esle ponto culminan-
te constituia a coiljna de Siao. A collina
do none , que so cliamava Acra , dnmiiiava
o teuipio levantado sobre o moiite Moria ao
O., q.ie era um appendix dacollina de.Si'io,
coin a qual communieava por uma ponte
laui^ada sobre a eUreita garganla , cliaiuada
'I'ljropcoii, ou valle dos q\ieijeiros. Jerusalem
occupava por lanlo um terreno coiUido por
muitos valles eslreitos , e prol'undos, que o di-
vidiam em luimerosas planuras, e llie da-
vam umaspecto, que fazia lembrar a cidade
das sete collinas, que na liistoria, e no res-
peilo do muudo llie dispulava a jirimasia.
Siao, eslando sobranceira a toda a cida-
de , devia naturalmcnte ser escolliida de pre-
fereiicia ao monle Acra por David para sua
liabilagao ; accrescera, porem , um outro
molivo, que determinou aquelle rci a fun-
dar alii o sen jjalacio, e dar a esle bairio
da cidade o seu nome. David conquislara Je-
rusalem aos Jebusenos, seus priineiros nio-
radoies, tomando-llies a fortaleza de Siao , e
ertabeleceu por isso aqui a sua residencia. Toi
eale o principio da verdadeira Jerusalem. '
Comoaudar dos tempos, e sab a prolecjao
dos reis da casa de Juda, a cidade de David
crescera em riqueza e popiilagfio, e tanspon-
do OS ECUS antigos eestreilos limitcs, cslende-
ra OS bragos sobre o monle Moria, onde edi-
(icara scu tempio, e sobre a coUina d'Arra;
mais tarde eslendera-se para o norle sobre
a cnllJna Bezclha.
R dc feilo assim devia acontecer pelo pro-
gresso da civilisacao , e pelo descnvolvimen-
to das diversas industrias, que augmentando
a riqueza e oliixo dos moradores da cidade,
creara nelles novos liabitos, o novos gosto?,
que nao podiam Ingrar, rediisidos so ao aper-
lado reciulo da priuiiliva cidadella ; era por
isso natural seguirem o pendor da collina ,
para buscar naamenidade dos valles a frescu-
ra , e commodidades , que llie nao ofl'erew
recia o rocliedo natal. Algumas vezes os oro-
^ Esla cidade fura por miiito tempo iinia aldeia , co-
nlieciila com o nome lic SalfJtt, e su deptiis de conqiiisla-
da por Da\id, e que come(;ou a ;;.izar (^e maior couside-
rai^ao. Juab, sobrinho de David, coiiliiuioii us Irabalhos
cumec;adus pelu prophcla rei , e Jerusalem lumuu entao
nova furma.
125
phetas, e os poelas, fallando eniphaticnnien-
te, e coin liberdade poetica, tomavam a parte
pelo todo, daiido a Jerusalem o titulo da ci-
dade de David; no livro, poreiii, dos Mac-
cliabeos o nome da cidade de David, e ap-
plicado exclusivamente ao nionte de Si.'io ,
(jue o hisloriador dos Jiideos chaina sempre
cidade alta, querendo miii de indiislriacallar
onoine de David, masassignando-llie os nies-
mosllmiles, que os livros san;rados,
u David , dizMr. Calien, foi sepultado em
Jerusalem, cliainada cidade de David, por-
que era a sede da sua corte , e o bergo da
sua dinastla. 55 D'esta passagem d queSaulcy
pertende deduzir, que o tumulo d'aquclle
rei podia eslar fora das porlas de Siao. A
inexactidao, porem, d'eslaasscrgno, e' de lodo
o ponto evidenle. Quaiido o j ideii Nrliemias
foi auctorizado por Artaxerces Longa-Mao,
para' reconstruir Jerusalem, dislriljuiu oslra-
ballios da reedifioa^ao pelas priucipaes pes-
soas da cidade, que parlicularmente se oc-
cuparam de levantar as raurallias, e diz a
Escriplura , que Sellum , filtio de Cliolosa
fora encarregado «de reedificar aniuralha da
piscina de Siloe ao longo do jardim do rei,
ale aos degraos que descem da cidade de Da-
vid. » Depois d'elle , Nehemias filho de Az-
boc , conlinuou a reslauragao da muraiha
da cidade de David nate a frcnle dos tumic-
los de David, ale' a piscina, e ale a casa
dos fortes de David, n Esla prova irrecusa-
vel da hisloria liebraica, nao deixa a menor
duvidasobre a exislencia dos lumulos d'aquel-
le rei na exiremidade meridional da cidade
de seu nonie. A anliga topographia, e indi-
cada aqui por uma lesteniunha muda, mas
incontestavel ; e a piscina de Siloe, que ajn-
da hoje exisle ao S. O. do rocliedo de Siao,
onde o valle dos filbos de Ilinnon vem de-
sembocar na garganla deTyropeon, no iogar
em que oulr'ora eslava o jardim do rei.
K' verdade , que eutre os povos da anli-
guidade, e parlicidarmenle enlre os jideos,
era costume coUocar os cemlterios fora das
povoa^oes ; mas nao e menos cerlo que a
respeilo dos rejs , e dos proplietas sc fazia
uma excepjao a esta regra em loda a Pa-
leslina por uma especie de homenagcm tii-
butada a aucloridade d'aquellas persona-
gens. Samuel foi sepultado em liamallia,
na sua propria casa; Ba^a, general dos exer-
cilos de Madab, que Iraiyoeiraiiiente occu-
para o llirono, etn Thersa cidade, que es-
colhera para capital. Amari, fundador da
Samaria., Joaclias, rei de Israel, e seu fi-
lho Joas, foram sepultados na cidade de
Samaria. Nao ha por lanto razao alguma
para suspeitar, que os habitantes de Jerusa-
lem praclicassem na pessoa do seu illustre
fundador urn acto, que seria offensivo a sua
niemona , e a venerag.ao, que Hie deviam.
Saulcy deixara-se dominarneste ponto pelas
ideas de Prisse d'Avesnes, que na sua hisloria
inedita da arte entre os Egypcios perlcnde,
que 03 Gregos e Hebreus aprenderam a arclil-
lectura dos Egipcios, que, inais adianlados
nacarreira da civilisa<;ao e das artes, deviam
transmittir aos outros povos siias ideas, c
estilos. Mai pode, poreai, susleiitar-se uma
till opiniao, quando s.'io completamente desco-
nliccidosos nionumenlos plienicios e liebraicos,
que podiam servir de ponto de compara<jiio
enlre as differentes arcliitecturas. Alem ditto
as relajoes entre o Egypio e a Grecia dalam
apenas de seiscenlos aiiiios antes da era clirisla,
e nao remonlam alem do reinado de Psam-
miliclius. A raja egypcia essencialmente se-
denlaria, era pouco apaixonada pelas expe-
digoes longinquas; leniiain tanlo confiar-se ao
capriclio das ondas, que os Pharaos n'lo liriham
no Medilerraneo um unico porto, e por largos
tempos as costas septemlrionaes estiveram
fecliadas aos eslrangeiros, como ainda hoje
tuccede no Jap.'io E n.'io era por cerlo com
disposigoes taes, que se podiam transmittir fa-
cilmente as ideas, os costumes, e ate o gosto
das artes, e das sciencias do Egypto aos oulros
povos, quo tao isolados viviam d'esle paiz.
Neil) por outro lado e verissimil, que a in-
comparavel delicadeza da arte grega, e sua
infenita variedade fosse o simples desenvolvi-
menlo de um germen orionlal ou egypcio.
Nem tao pouco pode suppor-se, que essa
eneanladora liberdade, que e uma das maiores
bellezas da archil^ctura liellenica, nascesse
sob o dispotismo asiaticn, ou debaixo da
rigidez egypcia. A delicadeza e sublimidade
da arlc grega cerlo n.'to podia ajustar-se com
tao rudes elemenlos, ea hisloria da sua deca-
dencia nao deixa a menor duvida sobre a
causa dessa archileclura hybrida, que se
observa em lantos monumenlos da epochs
da dominagao dos imperadores romanos, e
que provavelmente lem dado Iogar asduvidas
e escrupulos de alguns archeologislas, que,
n'lO ponderando bem eslas circumslancias,
procuram allribuir aos hebreus os vestigios
de uma archileclura, que llie e completamen-
te eslranha, e que fora obra dos seus con-
quisladores.
Osdocumcntoshisloricos provam por tanlo,
que nao pertencem a familia real de Judd os
chamadoi tumu/on-dos reis, e que por conse-
()uencia carecem de fundamento as conjeclu.
ras dos que perlendem ver n'clles um monu-
mento da pimitiva archileclura hebraica ;
pelo conlrario a construcg.'io e ornatos d'este
monumento revelam claramente una iniato
do estilo grego e romano , que caracleri-
sa esse periodo raemoravel , em que lodos os
cultos, e todas as civilisa<;oes se confun-
diam, consliluindo uma verdadeira Babel na
hisloria profana, e que fora uma epocha da
decadencia para a archileclura da Grecia,
que dominaddra no Orienle e no Egypio por
seu genio, e tuas antigas conquistas perdera
no conlaclo com estes differentes povos a
pureza de sua elegante simplicidade , seme-
Ifaante ao caudaloso rio, cujis cristalinas
126
agiias perdem sua limpidez, transboidanrlo
sdbre suns marfieiis. Kd'acjui nasccvi esta arclil-
lectuia si/ncrct/cii, que Saulcy lomoii eoiiio
ty|)o d'archilecliira liebraica.
Chateaubriand dcscreve com rara siiigpli'za
(' coiicisao as priiuipacs fei^oes do luniiilo
dos reis, neslas pnliivias: « No cr-nlro da
niurallia do iiieio dia ha utra grande porta
quadrada de fvrdetn dorica, aberla iia roclia
a grande profuudidade ; mn friso fanlazioso,
inas de esqiiesita delicadoza esta esculpido
por snbre a porta, priim-irainente o uin tri-
glypho seguido de uuia tnelopa oriinda com
urn siinpli!S anel, depors um cacho d'uvas
entre diias conins, e diias la^as. Deznito
polgadas a einia d'este frizo h.i uma foltiagetii
enterla<;ada de piiihas. »
Fallando d'este niesmo inoiiumento, o A.
do tiielhor livro, que sp conlieco sobro a Jiidon,
diz 11 esia roclia esta i-loganleinenle esciil|)lda,
porem perlence a ultima epoclia da arte eulre
OS roinarfos, in the latter Roman sti)l,e,'
Saulcy porem considera estes lumulos, (jue
Chateaubriand comparava nos banlios de
architecl'ira romana, e que evidentemenle sfio
uma amosira da decadencia da arte grega,
conioum iiiaiavilhoso especimeu da arcliilec-
tura hebraica, um edil'iGio eomlemporaneo
de Homero, que excede em antiguidade a
lodes OS iiionumentos gregos, e que data de
mil annos antes de J. C. ! Saulcy viajando
a roda do Mnr-morlo, encontrara nopaiz de
Aloarb o capi'.el de uma cobimna derrocada,
este capitel, diz olle, fiao tern com o capilel
ionicosenfio mui remota analogia, e certo fora
trabaihado per selvagen*, que provavelmente
precederam os artistas gregos, a qiiem devcmos
as bellas proporQoes da ordem ionica. « A
descoberta deste capitel sobre o solo arabe
no meio de ruiiias, que Saulcy considera como
auteriores a civdi^a^ao grcga e romana, e o
principal fundamenlo da sua nova e mui
singular tlieoria sobre a archilectura hebraica,
llifjoria que se re-ume iiestas palavras. u O ro-
chedoemqne eslaabertc o vestibulo dos tumu-
loi reaes apresenta triglyplios e ta^as, as mol-
duras da cornija tem a elegancia dasmoldu-
rasgregas; mas quem podera aflVraiar quesfio
de invcngao grega as ordens dorica, e ionica? »
is queiu podera assegurar que aqucllas
ordens foram originariainente invenladas na
Judea, oil que passaram por ella antes de
chegar a Grecia !
JARDIKS D ACCLIMATACAO ^•A MADEIRA E
ANGOLA NA AFillC^ jVy?T|»0-OCClIJBJ;ir^L.
O doscnvolvimento consider.avel que tomou,
mormenle ne^te ultimo dijcwinio, a horii-
culuira em Porliigal, e uio fiacio por lodos
\ nopjjisoa — Bibtiful Reft^rfh , v» Pff^ttiiie.
reconhecido , o quo poreui njo e menos ccrlo,
e que, a maior p.irlo on quasi todos os vcge-
laes que hoje estno ornando oi jnrdins por-
luguezes, teem sido com[)rados e introduzidos
da Belgica, Franca e Inglaterra, levando
d'esta arte cada anno sommas assaz conside-
raveis para fora di'ste paiz. Ora, ponderando
altentamentn o bonan^oso, e comtudo lao
variado clima de Portugal, e a iVliz posijfio
goograpliica das suns provincias ultrama-
riuui, que ol't'erecem uma escala complela de
todos OS ell mas, desde o temperado ate a
zona equatorial, dovemos concluir que este
reino, em logar de romprar todos os adornos
dos sens jartlins aos estrangeiros, podia e
devia ser elle mesmo o grande emporlo das
riquezas liorticolas para toda a Eurojxi : sim,
l^isboa e Porto deviam ser o mercado abun-
dante, aonde todos os paizes menos favoreci-
dos pelo clima viessem coiiiprar, tanto as
[jlanlas ornameiitacs, como todos os mais
vegetaes utHs, exigrdos cada anno em maior
niimoro e vanedade pclas culturas rural e
llorcstal dos mencionados paizes ; e conquista-
dos, cada vez eir> maior proporc^ao, ate as
mais longinquas regioes, por uma liabil e bem
enlendida acclimata5rio em estabelecimentos
creadoi para este fun nas differentes Posses-
soes ullramarinas de Portugal. Queremos
couceder c]i:e algiimas d'estas conquistas ostao
feitas ; pois ji se encontram nos jardins de
Lisboa, Coimbra e Porto, etc., varias plantas
ornamentaes alii edi>cadas de sementes vindas
das provincias ultramarinas do Portugal e
d'oiilros paizes remoloi; mas, com tudo isso,
e mister confeisar que estas isoladas curiosi-
dades nao passam das primeiras tentativas,
e o>t,io ainda inuilo longe d'aqnella grande
pert'eicj'fio e d'exten^ao a que estas culturas-
pndiam chegar n'um palz dotado d'um
clima tao variado e fovoravel, e que possuc
nas suas collinas tropicaes e sub-lropicaes
uma fonte inexhaurivel de vegetaes preciosos
a liorticnltura, agricultura eacultura Gorestal.
Era portanlo mnito para desejar que se tiras-
se mellior pioveito da fertilidade e do excel-
leute clim-a do continenle do reino, exploran-
do e aproveilando simnltaneamente as im-
mensas riquezas vegetaes das provincias ultra,
marinas. Entre os meios d'akanjar tao
desi'javel fira em maior escala e no mais
breve tempo possivel, julgo dever apontar
principalmente tres, os quaes, sem cansarein
grandes despezas ao Estado, quando conve-
nientemente applicados, nao deixarao de
conduzir ao mais prospero resullado. Sao
estes meios: — 1 °a fundaraode jardins d'ac-
climala^ao em varios pontos das Possessoes
ullramarinas; — 2° a coadjnva^ao energica
dos einpregados mais habililados nas colonias
e no servigo da marinba do Estado; e .3.*
fmoimente— persevcran(,a da parte do governo
de Sua AJageslade. Eu digo miiito de pro-
p.osito — persfverari^a da parte do governo,
pprqiic, te.ndo tornado parte acliva, desde lia
127
ddze annos, na sticcesslva metamorphose que
8e operou na liorticiiltura d'esta ctipital e sens
contornos, chegiiei a conhecer pela propria
experiencia os nuinerosos obstaciilos, que,
tanto na funda^fio cotno na gcrencia posterior
d'estabelecimeritos horticolas, se alevantain
de toda a parte; ohslaciilos f|iie, sciido jii
bastante fortes no conliiiente do reino, por-
ventiira se tornarao ainda niais embara^osos
em remotas provincias ultramarinas, e que
so poderao ser vtncidos por um desvclo
energico e perscverantemente contiiiiiado. Os
jardlns d'acclimata^fio, ciija fundac^ao desde
ja julgo dever leinbrar ao Govenio de Sua
Magestade, sao dois: lira na ciJade capital
da provincia d'Angola, em S. Paulo de
Loanda, e outro no Funclial, na illia da
Madeira. O jardim eslabelecido etn Loanda
deve-se considers r o tractar como jardint tro-
pical, sujeitando n'elle os vegetacs uleis d;is
Konas tropicaes, desde o Capricornio ati- ao
Cancro, a uina cultura regular; Ciludaiido-sf
ao inesmo tempo o tnodo mais conveniente
de propaga^'ao e mulliplica(;aod'estes vegetaes
hem como as qualidades climalicas e de ter-
rene que cada urn especialmente exige, etc.
etc. O jardim creado no Funclial fonnara
uta jardim sub-tropical, recebendo os vege-
laes tropicaes ja habituados a certa cultura
regular, naturali»ando-os alii, para depois se
poderem cuUivar com mellior rcsultado em
ciimas menos quentes ; bem como d'oulro
lado acostiimando as plantas, para ahi remet-
lidas de paizes mais frios, a vegetarem n'uma
temperatura maiselevada, adaptando-as d'este
modo a nao estranliareui tanto a sua cultura
em regioes da zona tropical, etc. etc. Oj
jardins scienlificos eni Liaboa, Coiuibra e
Porlo offerecem convenientemente o terceiro
e infimo grau d'esla cscala de successiva ac-
cliinatagao, recebendo do jardim do Funclial
OS vegetaes tropicaes e sub-lropicaes alii ac-
climatados, e reincltiuido-llie em retribui^-fio
9S plantas uleis viiidas de paizes mais frios,
para ahi se acclimatarern. Seri'a de grande
vantagem, nfio s6 para a clinuitologia gcral,
como particulariiR'ute para adiantar os conlie-
ciraentos ainda lao fragriientarios a cerca das
condi^oes cliuiatolugicas da Africa tropical,
te em cada um d'esles jardins d'accliinala-
^fio se fizessem obscrvagoes metercologicas a>
mesmas lioras e debaixo de principios ideii-
ticos previamenle fixados. Se a naturalisa-
5ao de vegetaes iiteis de todas as reguV-s
phytogeograpliicas do globo lerrestrc, e o fiin
principal dos jardins d'accliiiiaLajao, eale,
comludo, nfio e o unico destino d'elles ; pelo
conlrario, podem estes estabelecimenlos, me-
diante uma organisajao conveniente, ao
mesmo tempo vanlajo^amente servir de pas-
teios de rccreio e d'instrucgdo aos habitantes
das cidades em cujos contornos forem funda-
dos. Ora, tanto a capital da ilha da Madeira
como a d'Angola reclamam, por causa da
sua posisao isolada, e por ainda serein in-
teiramenle desprovidas de rccrcios inilruc-
tivos, desde ha ninito tempo, a crea^'ao dt
jardins publicos; e como nao e difficil orga-
nisar um jardim d'accliinataijao de modo
que possa servir igualinente de passcio publico,
alcan^ar-se podem ambos estes fins seni aiig-
tnentar muito as despesas, ornando as ditas
capitaes com estabolecinientos, que por todas
as naynes cultas sfio considerados como um
dos ineios mais poderosos d'intliiir suave c
benelicainente sobre o eslado moral e intel-
lectual da populagfio circiimvisinha. Mas
para colonias agricolas, cujo prospero futuro
depende principulmeute d'unia bem arertada
escollia e conveniente varia^'io dos generos
mais apreciados de sua* ciilluras, os mcncio-
nados i-slabeleciineiitos adquireiri ainda maior
iuiportancia, e toruam-se em inslitnlos dc
maxima ulilidade e d'inealculavol vantagem
para to<la a coloiiia. I'ois um jardim d"ac-
climatayfio orgauisado conforme os prin-
cipios de climaUdogia e phylogeographia
moderna, e modilicado complelamente para
servir de passeio, nfio so offerece aos ociosos
ntn passalempo saudavel e divertido, mas
desperla quasi involuntariamente no auimo
dos que o visitam um sem luimero de refle-
xoes proveitosas a. cerca da patria, do modo
de cultura e da applicacao dos respeclivos
vegetaes ; e conlribue deste modo efficazmente
a excitagao d'mna nobre curiosidade, e
medianle esta a diffusao de muitos e variados
couliecimenlos que era breve se tornam pro-
licuos aos colonos, e por Cfinseguinte a mesma
colonia intcira. De mais a mais, se o gover.
no de Sua Magestade pnrvenlura chegar a
eslabelecer cadeiras d'liistoria natural nas
provincias ultramarinas, o que de certo haviu
de coulribuir muito para o prospero desen-
volviinento d'ellas, por serem as sciencias na-
turaes a cbave de quasi todas as operagoes
agricolas, os competentes lenles destas cadei-
ras eiiconlravam nos jardins d'acclimatagao
jii OS priuieiros e mais necessaries clemeuLos
para a inslrucgao practica dos sens discipulos.
Se O) arguuiciilos acinia apontados, talvez
jii por si ^6 paiecem assaz valio;os (jara con-
vidar o governo de Sua Mage.-tade a crea-
(,i\o dos lembrados estabelecimentos, accres-
cem ainda, tanto em respeito a illia da Ma-
deira, como em lelagfio a provincia d'Angola
vaiios outros molivos e.-peciaes, que, seudo
compcteiitemenle pouderados, designatn a
presente epoclia como a mais opporluna para
empreliender, quanto antes, as supra indica-
diis tentativas.
Conlinua. dr. f. WELWITSCH.
ESPIRITOS PERCCSSORES.
Uma das ultimas sessoes do senado Ame-
ricano tornou-se nolavel por um incidsnteas-
sax curioso, eque deu logar a grandes rizadas.
128
Eis aqiii coino a cerca d'elle se exprimij
Sliiekls:
>t Tcnlio a honra d'aprescntnr ao seiiado
lima petirao corn 15:000 assignatiiras sobre
objecto lao sinp;iilar coiiio novo.
a 1. Oi signatarios represeiitam que algiins
plieiionienos physicos e iiioraes, de iiatun^za
toda mysleriosa, allraliein a allenCj-fio publica
no paiz, e ale na liuropa. A analyse parcial
d'esles phenomenon revcia, dizeiii dies, a
exislencia d'linia for^a occulta, que se palen-
tea por agitayao, eicorregadiira, suspensao, e
por fim inovimenin, (pie cornnmnica aos
corpos ponderaveis de niodo conlrario as leis
natiiraes.
« 2. Eta for<,a manifesla-se por claroes
oil luzes que apparecwin subilaineiUe em lo-
garesonde nenhiiiiia ac^So cbimica, neni plios-
pborescencia poderia desinvolvcr-se.
11 3. Manifejta-se lanibem por sons myste-
riosos, senielliantes ora a paiicadas batidas
por nin espirjto iiivisivel, ora ao znnido
dos ventos ou ao eslrondo do Irovao. Algumas
vezes ouve-se o soii» de vozes Imiiianas ou
d'algum instrumenlo de miistca.
It 4 As func^oes aniinaes interroinpem-se
as vczes inslanlaneamenle, e por lal agenle
mysterioso teem desapparecido allecjoes repu-
ladas incuraveis.
11 Os requerentcs discordam entre si quanto
a origem d'estes phenomenos, que uns al-
tribuem a potencia intelligjnte d'espiritos
despojados da apparencia material, e que
oulroi pretendem poder expticar-se d'u[na
maiieira racional e sati^factoria. Mas eslao
todos conformes a cerca da realidade dos
plienoiiienos, e pedera que soja nomeada uina
coniini-.sao jiara proced(!r a luadura e scien-
lifica invesligaCj'ao.
.1 Tenlio lielinente exposto o resuiiio d'e^ta
peli^ao, que, a pezar do seu objecto, e' redigida
conveuienteuientp, poij que lenlio adoplado
o syslema de nao vos apresenlar pelr^oes of-
feuiivas. iMas tendo preencbido este dever,
perniilla-se-ine agora dizer que o iiiiperio de
seineihanles aberra(,'oei eui graiide nuuiero de
nossos conleinporaneos, e n'uin seculo lao 11-
luslrado, proveni a meu ver, ou d'uin syste-
ma defeiluoso d'educa^-ao, ou d'urn de=arrunjo
parcial das faculdades inteilecluaes, produ-
zido por alguma desorgani^a^fio pbysica. Nao
posio tainl>eui crer que laes aberra^oes ejlejaiii
tao gene^ali^adas couio indica csla peti(;;io.
11 Ein ditTereules epoclias do mundo teem
bavido ilbisoes do nu-?nio genero, A aleliiuiia
por [nui;os seculos occupou a atlenjao de
lioinens eniinentcs Co(n ludo bavin, quanto
ao esseiicial, alguma cousa de sublime e real
na alcliimia ; estudava-se com aiTiiico a natu-
reza, e se os alcbimislaj nao ol)tiveram quan-
to espcravani, fcjram lodavia recotnpensados
com descoljrinieutos inuilo jiiiporlniites. »
Alem d'iito meiiciona Shields as iUusoes e
decepgoes dos Ffosa-Cruzes, e di; varios
espiritualibtas, comprelieiiderido Cagliostro,
esse celeljre profcisor que vendia a iminorta-
lidade aos vellios, e a belleza aos jovons ; e
lermina com a seguinle senlenga de Burke :
A credulidade dos parvos e tao inexgotavel
coino as artimanhas dos impostores. >i
Ueferiremos tambem, o que u cerca do
mesmo objecto se passou nlllmamen'-e n'uina
sessao da academia de Franca.
liayer commuiiicou a seguinle observajSo
e experiencia do doulor ScliiCf, de Francfort
sobre o Meno, relalivas aos espirilos percus-
iores :
11 Teni-se presenlcmenlc fallado murto de
cerlos ruidos on eslroiidos que se attribuem
a suppostos espirilos pcrcussores, e o nosso
colloga Clievreul pul)licou a cerca d'este
obji'clo uni Iraballio notavel no Jornal dos
Sabios. Mas nenliunia experiencia tinha side
feila eni Franca nerii iia Allenianha, com
o fiin de explicar laes rnidos, antes das obser-
vances do doutor Scbift'. A respoilo d'uma
joven, que teve occasiao d'observar, e em
caaa da qnal nuviani-se estrondoS attribui-
dos aos espiritos percussores, reconlieceu elle,
que a percussao tinba logar no corpo d'esla
joven e nao fora ; e demo?trou experiniental-
inenle que semelliante estrondo pode ser pro-
duzido pela desioca^ao reilerada do lendao
do longo musculo peroneu, da sua membrana
passando atras do malleolo externo. C'om
effeito Schiffchegou a produzir em si niesmo
o phenomeno absolutamente coino tinba logar
naijiiella menina sob a inlluencia do sup-
po^to tspiritu percuisor.
u Quandoa membiana fibrosa em que escor-
rega o lendao do longo peroneu, e di'licada ou
esl;i rp|a\ada, o phenomeno p inais facil de
produzir. A percussiio pode todavia efl'eituar-
se, sem que se observe no pe, iiiovimento bein
apreciavel, e soinente quando se appoia o
dedo por delias do malleolo externo no nio-
inenlo eiii que se prodiiz o eslrondo, e que
seule-se perfeila e mui distinctamente a deslo-
cagao allernaliva e reilerada do lendao,
animado d'um nioviineulo de elevagao e
abaticnenlo n>iii arrebalado. Esta experiencia
de Scbiir considerada pbysiologicamenle of-
ferece verdadeiro iiileresse. u
Por couvile do secretario perpetuo, a que
sc Junlaram lambern as initancias de inujloi
mernbros da acadeuiia, o doulor ScliilT, que
liiilia continuado a eslar presenle em quanto
se leu a sua nieuioria, repetiu perante a
acadeniia a experiencia. A percuss.'io e liio
diitincia que paJe ouvir-se a muitos melros
de dislancia, ainda que nao baja complete
sileucio; e os pes roHocados bem li visla,
nao parecem animados de niovimenlo algum.
( Atktnacum Franc.)
GEOLOGIA.
Jazigos do ouro e da prala.
M. Murehison acaba de publicar uma obra
129
com o titiilo de Siluria, em que perlende
provar por con>idera5oes geologicas, que nao
lia motivo para recear a baixa do ouro em
relajao a prata, pcla descoberta dos jazia^os
auriferoj da California, e da Australia. De
feilo o ouro e de lodos os melaes preciosos o
niaii escasso na sua distribui^ao naliva. Pelo
conlrario a prala e o cliumbo argenlifero
existem l.'io larga e profundamenlo dissemi-
nados nas roclias, que a sua exploragao nao
pode deixar de ser niui lucrativa, inormente
empregando-se ncstes traballios melliores .ip-
parellios niccanicos, e novos melliodos que
facilileni a minerayao.
Um relatorio ullimainente apresenlado pelo
encarregado de negoeios de Inglaterra na
Bolivia demonstra, ijue a prata pode actual-
niente cxtrair-se em enormes por^oes das
minas de Copiapo, e d'oulras d'America do
Sul. Em I'lm a sciencia moderna confirma ple-
uamente as palavras do prepliela Job.
"A prala tern um principio das suas veias :
e o ouro tern um proprio logar, onde se for-
ma.' !i L'Institut.
MOLESTI.\ DAS VI.MIAS.
A sociedade propagadora da iiiduslria na-
cional em Fraii<^a , destinou uma sornma para
premiar os auclores das melhores memorias,
fundadas em rigorosas observagnes , e expe-
rienciasauthenticas sobre a origem , progres-
so e natureza iiilima da mok'atia das vinlias,
e sobre os resultados obtidos pelos diversns
meios preventivos , ou curativos, applicados
para a di-lu'llar.
O concurso terminou a 31 de dezembro
ultimo. Cento e dezeseis concurrentes apre-
sentaram as suas memorias sobre este inipor-
lante assumpio ; mais de quarenlu memorias
foram dirigidas a sociedade depois de feciia-
do o concurso.
As cento e dezeseis memoria-, foram remet-
lidas a uma commissao, composla de rnem-
bros das diias set-^oes de agricultura e arles
chimicas. Em sessao de 14 de jullio ultimo
a commissao apresenloii o conipeteiile relato-
rio, de que extractamos os spguintes periodos.
»A vossa commissao, sius , jnlga que as
duas principaes questoes, que foram obje-
clo do concurso, islo e, o tratameiilo tnais
efficaz da [nolestia das vinhas , e a naliireza
d'ell.i , n.ao csl.'io ainda completamente re-
solvidas ; enlretanto reconlieceu , que muilas
das memorias, que liie foram enviadas, Ian-
gam uma nova luz sobre muitos plienome-
nos importantes , e que sens auctores s.'io por
isso dignos de alguni premio. N'estas circuni-
stancias a commissao propoe, que se al>ra
novo concurso, cujo prazo deveru terminar
no ulliuio de dezembro do corrente anno.
•I O governo , associando-se aos vossos ge-
nerosos es-forjos acaba de eslabelecer um pre-
' Cap. XXVIII, V. I.
mio de seta mil francos, para seaddicionar ao
primeiro premio, proposto por esta sociedade,
que era de Ires mil francos. E este e mais
un) motivo para se abrir de novo o concurso.
"Entre todas as substancias ale hojeernprc-
gadas para destruir o oidium nas vinlias, a
que tern produzido melliores cffeitos, foi iiicoii-
teitavelmentea flor d'enxofre. Esta subslancia
desde 1848, deu os melliores resuilados a
Keyle, liorticultor inglez deLylon. Em 1351,
foi ella empregada com vantagem nos jir-
dins de Veraailles por Ducliartre, ent.lo pro-
fessor do Instilulo agricola. Carecia-se , po-
rem, de um ineio commodo para Ian9ar a (lor
de enxofre sobre as videiras atacadas do mal.
Gontier imaginou para este fun um folle,
que pelasuaefficacia, ebarateza reuiiia todas
as condi^nes, que podiam desejar-se na pra-
ctica. Por este nieio Gontier conseguiu de-
bellar complelamenle o nial das vinlias, nos
annos de 18.31, 13oi2 e 1863, mas ti preciso
empregar este remcdio desde o momento em
que a molestia se manifesla. Primeiramen-
te regam-se as cepas com uma boinba porta-
lil, inveiilada tanibem por Gontier. A reo-a
por meio da bomba deve ser feila debaixo
para cima, para humedecer as folljasdeam-
bos OS lados, em scguida langa-se por meio
do compelonle apparellio a flor d'enxofre,
que cac sobre as videiras, como uma niivem
de p6. A rega e de^necessaria, qiiando a vi-
nlia esta liumedecida pelo orvallio.
uO nielliodo de Gontier, foi empregado
em grande nfio so nas estufas, mas laiubem
nas vinlias de Tliomery , perto de Fontaine-
bleau A enxofragcm a secco , deu tainbem
excellenles resultados. As vinlias nao tracta-
das pelo enxofre foram accomcltidas da mo-
lestia a par d'aquellas, que, tendo-se-llie em-
pregado o proeesso de Gontier, ficaram com-
plclamente livres d'llla ; de maneira (jue as
expprieni-ias comparativas n.ao deixaui a me-
nor duvida sobre este ponto. A enxofrageiu
repete-se tres vezes , e calcula-se a despesa
em cmco mil e duzentos reis , por cada he-
ctare, de:.peza nao nuiilo consideravel para
as vinlias, que dao vinlios de superior qua-
lidade , ou boas iivas de comer.
II Mas nao tera o empiego do enxofre al-
gum inconveniente ? As experiencias I'eiias
nn inuspu de liistoria natural em Paris, leui
deixado algumas apprehensoea sobre os maus
effeilos, que poderiam resullar paia as vinluia
Iractadas por este proeesso. Esta circumstaii-
cia obriga a vossa cominisaao a esperar no-
vos ensaios, nao vos [iropondo por isso,
que se de o piemio, e,tabelceido no pro-
gramma, a M. Goiilier: entre lanlo a me-
moria por elle apresentada, e digna dealgu-
rna recompeura, e vos fareis um ado de
justiija, dando-llie em remunerayao d'eatetra-
ballio, que numerosas experienuias teiii com-
I'lrmado, uma gralificayiio de mil francos.!)
(■toiirnal d'Jgicult. Pratiq. n.° 15 — de 5 de Agoslu
J'= "*j*0 Conlinua.
ISO
SEC^;A0 DE 3IATHEMATICA.
ADVERTENCU.
Annuimos a publica^'io d'estes aponlamenlos pela imprensa, por nos ler nioslrado a
f.xperiencia que d'elles pode resultar ali,'iima nlilidade no estiido eleinentar da Trigomimelria
ipheriea. a qual faz parte do curso de matheinaticas piiras na faculdadc de malhematica.
S P.
APONTAMENTOS DE TKIGONOMETRIA SPHERICA.
I. O thooreina fundamental
cos a' — cos 6' cos c'
sen 6' sen c'
(I)
costuma demonslrar-sc construindo o quadrilatero , de que sfio lados as tanfenlcs e secantej
dos dois arcos b' e c' do triangulo splierico, e de que e um dos angulos o angtilo <i do
mesmo triangulo. Mas aconstruc^fiodeixa de ser a mesrna, quando nfio s.io menorcs que 90'
ambos os lados b', c'; porque, se urn d'estes lados e >90", a secante respeoliva n'lo encontra
B taiigente , mas siin o sen prolongamenio; e se um dos mesinos lados e ^OO", a secante
respectiva e parallula a tangenle.
No entretanlo, sein fazer nova construcjao , pode mostrar-se que ainda nos casos
mencionados tern logar o tlieorenia (I).
I. Se 6'<90°, c'<90''; a construc^ao da, coroo
dissemos, no triangulo A B C a. formula (1).
II. Se i'<90°, c'>90°: produzam-se BAcBC
ate coraplelar era B' o fuso spberico BB'. No triangulo
jB'^^seran:
B'A= 180°— c', B'^C=180°— o, JB'C= 180°— o',
e a formula (1), que tem logar para o angulo B'AC
d'este triangulo, da
cos B'AC =
cosB'C— cos // U'coi^C
■■" (1)-
^en A h' sen A C
III. Se i'>90°, c' >90'': o triangulo B'AC, relativamente ao angulo B'AC esta
no caso precedente (II); e por isso ainJd tem logar a mesma demonstrac^'io.
Ou fambem : produzindo os lados BAe AC ate eneontrarem em fi' e C o arco
BC produzido, sera no Iriangido CAB':
B'ACi = a, A B' = lSO'—c', AC'=180°—b', O B' = a' ; e applicando-lhe o
liieorema vira a formula (1).
IV. Se 6' =90% c'=90°: a formula (1) da
i:
"para o angulo a,
para os angulos 6 ou c
o que concorda com as propriedades conhecidas dos polos
cos arr^cos a', aTz=a' "^
, cos 6 = o, 6 =:r 90°; cos c = o, c — 90° J
V. Se e s6mentec=i90°: produza-se, ou corte-se AC, ate que seja AD = 90°.
\.° Se B D nao e = 90°; o tlieorcma sera applicavel ao angulo D no triangulo
C BD ;e dara
cos a' — cos B D cos C D
'''" seaBDienCD '
que, per ser cos D=zo, se reduz a
cos a' = coi B D coi C D:= cos a sen 6' ;
131
« coma a formula (1), applicada ao angulo a no iriangiilo ABC, da laoabeiti
cosa=: oil cos a'=cos a sen 6', segue-se que aquella formula e ainda verdadeira
sen 6
nesle caso.
%.' Se e B D — 90° : como tambem e ^ B = 90', sera B polo de ^ C, e conspguin-
teinente a' = 90°; logo (IV) o theorema e ainda verdadeiro no caso de que se trucla.
(Veja-se a Anal. appl. a Geometria de M. Lcroy nn. 453 — t5d ; e a meinoria do sr. J.
Cordeiro Feyo nas da acadeniia das scienc. de Lisboa de 1839.)
2. A formula (1) da
^ /.,„(.i±^)..„(g3E|EF)j
Q. ' Ren b' sen c'
/ /a' + 6' + c\ ,y + c' — fl'
i / sen I 1 sen (
1 \ \ 2 ; V i^
co5-a=;V n ) /
2 sen o sen c' '
Seja t' o maior dos Ires lados. Serao o' + 6'>c', c' + 6' > a' ; e para que sen - a seia
real , teremos a' + c' > &'• Logo : a somtna de dots lados ijuaesqucr c maior que o Urceiro.
Para que seja cos -^ a real, deve ser a'+6' + c'<; 3G0°. Por tanlo a somtna dos Ires
lados esla comprebendida enlre 0° e 360°. Se esla somina fosse 0, o triangulo seria recti-
lineo; e se fosse 360°, o triangulo serin urn fuso splierito.
3. A mcsma formula (1) applicada aos tres angulos a, b, c, e eliminados depois
6', c' , da
/ /" + l' + c\ /b+c — a\
1 , \/-'°'{-^)'''"{-^—)
sen - a' = V ; .
» ' sen 6 sen c
Seja a o maior angulo. A expressao de sen - a' mostra qne , para que ella seja real
deve ser - — > 90° c < 270°, on a + b + c> 180' e < 540*. Por tanlo a somma dos
tres angulos esta comprebendida entre 180° e 640°. Se esta somma fosse 180°, o triangulo
seria rectilineo ; e se fosse 640°, o triangulo tornar-se-liia em uma semi-spbera , de sorte
que OS sens tres vertices seriam ponlos do circulo niaxinio.
No caso de n.'io ser a o maior angulo, a expressao de sen - a' moslra qne ainda deve
ser: b + c — a< 180°; e por isso esta propriedade tem logar, qnalqucr que seja o angulo o.
As propriedades relativas aos angulos, que acnbamos de referir, resullam egualmenle
como deve ser, das relativas aos lados, qnando eslas se applicam ao triangulo supplenien-
tar. Porque a' + b' + c' >0, e < 360°, e a' + b' > c', dao .540° — (a + b + c) >0,e< 360°
e360° — (a + 6)>100° — c, ou (2 + 6+c<540°, e > 180°, e a + 6 — c< 180°. '
4. Para evitar cnganos nos signaes podem os quatro tlieoremas fundamcnlaes, que
todos se encerram no ( 1) , enunciar se do seguinle modo :
1.° Cosetto d'unj lado i egual ao coseiw do angulo opposto miiltiplicado pelo prodtt-
clo dos senos dos o\ilros dots lados , jna/s o produclo dos cosenos dos luesinos lados,
2 " Senos dos an^idos sdo proporcionaes aos senos dos lados opposlos.
3.° Produclo dos costnos das paries vtedias e egual a differenga dos senos das inesniiii
partes multiplicados respeclivamenle peluf eolangenles das extremas , lado com lado e an-
gulo com angulo • sendo lyrgalivo o Icrmo em qu,e ha so angulos.
4 ° Coseno d'tim angulo i eguol ao coseno do lado opj>osto multiplicado pelo produ-
clo dos senos dos outros dois angulos-, intnos o produclo dos cosenos dos mesnios ani^ulos.
Kos tbeoremas 1.*, 3.°, e 4.° e negativo np segundo membro o termo em que entrani
so angulos. E note-se que a inicial n de negativo entra na palavra angulo, e n.vo enira na
palavra lado : observacao esla que lorna impossivel o engano nos signaes.
132
5. Adverliremos que no 3.° tliRorema tanto imporla dizer que entram Huis lados e
dois ani^iilos, sendo iini d'elles comprelicndido e o oiilro opposlo , coino dizer que ha
qualro partes conjunclas. Coutinuando o, 6, c a designar angulns , e a',b', c' os lados
op|)oslos , as partes medins serfio dims letras diirerentes , iima applicada a lado e oiitra a
angulo, e as partes exlremas ser'io a lerci-ira lelra applicada a angulo e a lado.
Por exemplo: se iorem a' e b' os lados, ec o aiigulo compreliendido , teremos
a', c, I)';
e a quarta qiianlidade seru urn dos angulos opposlos a a' e b' : de sorle que se formar;i
iiin dos systemas
h , a' , c, b' ; a' , c , b' , a;
nos quaes s.io medias as ietras dil'ferenles a' e c, on c e b' , uma angulo e oulra lado, e
extreinas a terceira letra 6 ou a , applicada a angulo e a lado.
6. Applicarido a uui d'estes svslemas, por exemplo, ao prirneiro , o etnirniado do
llieorema 3.*, aelia-se
cos a' cos c = sen a' cot b' — sen c col b.
E dividindo anibos os membros por sen a' sen c, resulla a equa5ao
cot b' col 6
cot a' cot c:
na qual so entram cotangentes e senos, e que da para o theorcnia 3.* o noro enunciado
seguinle :
Producto das cotangentes das partes medias e egud a differenga das cotangentes das
exlfemas divididas respectivamente pelos senos das mesnias medias , lado com lado e an-
giilo com angulo ; sendo ncgativa afracgdo cujo numerador tern angulo.
Esta transformajao , a. qual, como seve, corresponde tambem urn enunciado que
facilmenle se pode decorar, foi lembrada pelo dislinclo geometra portuguez o sr. Manoel
Pedro de Mello, lente de malhematica na universidade , cujo nome por niais d'uma vez
se le na Astronomia de Delainbre. [Vej. Astronom. de Delainbre, toiiio 1." cap. X n.*
194 (#)].
Lenibraremos com ludo que niuilo convein acostumar-se cada vim a enunciar os liieo-
remas d'uin so inodo , para evilar a confusao que do lialiilo conlrario resulta seiiipre,
como nos tem mostrado a experiencia,
7. Quando se quer usar dos logarilhmos no caloulo das formulas, deduzidas dos qua-
Iro theoremas fundarnentaes, ou se transformam estas formulas nas de seno ou loseno d'a-
inetade d'arco ou d'angulo (nn. 2 e 3) , ou se emprega a Iransformarfio seguinte, quando
a expressao proposla e da forma:
jM cos a.-T iVsen a.
Como esta expressao cquivale a
,. / -^ '\ »- /•''W , \
Jli f cos a + -T7 sen o ) , ou A' ( -nr cos a + sen a.) ,
as hvpotliesfs — =tangip,ou — = col ^ , Iransformam-na em um dos systemas :
M -■■°t"" AJ
}
M cos (a. a) JVCOS (oc o)
:lang »; c —, ou
cos (], sen ip -' j^'_:
cot ^, ; e LlZJLi , ou i- — IZ
sen ^ cos iji J
8. Eslas Iransforma^oes analyticas sao as mesmas que se obtem , quando se decompoe
o iriangulo proposto em dois triangulos rectangulos por meio d'um arco perpendicular
abaixado d'um dos vertices sobre o lado opposto.
133
Mas n'esia decomposi5So convein abaixar a perpendicular de modo que parta o manor
luimero d'elementos que eiiUam na qiiest'io. Se cstes elementos sfio dois lados e dois angulos
opposlos , a perpendicular aljaixada do lerceiro angulo n"io parte nenlium dos eleinentos; e
cada um dos Irianj;ulos rcclangiiloi tern entfio dois elementos , com os quaes e com a per-
pendicular comnium se forinani duas equagoes, e se elimina entre ellas a mesiiia perpen-
dicular.
No3 onlros casos o menos que se parte e um clemento, angulo ou lado , e ficam
entao dois elementos em um trianguio, e uin no outro trianguio. Com os dois elementos
do primeiro trianguio delerniinam-se os segmcntos do clemento que se partiu : depois for-
ma-se no scgundo trianguio uma equa^ao entre o clemento d'elle, o segmento acliado , e
a perpendicular; e no primeiro trianguio out'ra equagao semellianle entre as paries analogas
d'elle: e fnialmente divide-se uma d'estas equa^nes pehi outra, o que elimina a perpendi-
cular. Ficam assiin duas equagoes, a primeira das quaes da o segmento, e a segunda dli
o elemenlo que se procura.
O segmento e o angulo auxiliar, de que se fallou no n.° precedente.
9. N'cste calculo dos triangulos pode haver duas especies d'erros, que sfio: erros dos
elementos, e erros das tabnas dos logarillimos de que nos servimos. E necessario pois co-
nlieccr a influencia d'estes erros soI)re as partes que se procuram , ou para escollier as
tbrmulas, ou para apreciar o grao de confianga que se deve ter nos resultados.
Examinemos, por exempio, a expressao de sen- a (n.° 2). Se para o culculo d'ella
usarinos das taboas de logaritlimos das linlias trigonomctricas com um dado numero de
casas decimaos , por exempio, dc sete nas laboas de Callet , o limite do erro d"um loga-
ritlimo c 0,5 d'essa ultima casa, e por conseguinte o limite do erro do logaritlimo do segundo
membro e — ;^— ^::=1. Fazendo pois sen _a = Jl/, ^ log sen - a = J' log w1/< 1 , e cha-
mando m o modulo, resulta, em minutos
2 tang 1 a. (/?')
* o = i log 71/;
<inde {W) e o raio em minutos, ou , sem erro sensivel , lB}\z^ . Ve-se pois que a
' sen 1
iormula proposta pode dar erros consideraveis quando o angulo auxiliar for muito proximo
de 130°.
Semelliantemente fazendo acxpressao de cos - a= N , vem
Scot - a. (Ri)
Sa= J log N ;
ill
e a tormida e muito sujeita a erro quando o angulo a e muito pequeno.
Emfim, dividindo uma das equagoes pela outra, resulta lang-a=:P, que dii
sen a. (R')
» a = ^ — '- s log P ;
111 °
por onde se ve que a nova formula e muito vantajosa quando o angulo a e muito pequeno,
e que nunca e sujeita a grandes erros. [Vej. calc. das Eph. Astr. n." 48 (*)].
10. Em quanto aos elementos, devem escollier-se aquelles cujos erros menos intlui-
rem nas quanlidades procuradas ; mas, feita a escollia, nao iniluirao por parte d'elles no
resullado as Iransformagoes, que se fizerem.
Com effeito, qualquer que seja a forma da fimojuo/ (a?, ?/) = 0, sempre se lirara
d ella 3/ = (p(a?), sendo tp a mesma para a mesma questao ; e por isso a relagao entre os
erros de y e x sera sempre -p=f' (x).
f^O"''>"'C- RODniGO RIBEIRO DE SOUSA PINTO.
134
Conla dcmonslrativa iV applicagao ([uc Icvc ci verba de 9:5JO/ooo, rolada
no orgamenlo para o anno economico de 1053 a 1854, para despcsas dos
divcrsQS esluhelccinicnlos da Unir< rsidadr de Coimbra.
Destffnii^ao da dcspcsa.
LYCEL DI-: COIMBRA.
Desposus d'oxpodiento ,
DiUis de ii'paros feilo; pela casa das obrai
UNIVERSIDADE DE COIMBRA.
SeCBKTARI.i E GERAES.
A amanuenses extraoidinario?, einpregados na sccrctaria,
c servi^o da Vice-reiloria
An armador da salla dos capellos
Despesas d'expcdiente da secrctaria, aulas, e conscllios
das faculdades acadernicas
TUEATGO ANATOMICO.
Ao ajudante preparador, gratificagao concedida pela por-
taria do minislerio do reino de 30 de dezembro de 1852
Ao 111050 pelo sen vencimenUi de SJ'OOO pnr me/.
Aocoveiro, pela conducg.io de cadaveres para o llieatro
analomico
Pela coinpra d'uni mic-roscopio, um triloupe , e nma l^'nte
Despesas em livros e encadernagoes l^D'^O
Dilas d'expediente c reparos (i(!^'750
LABORATORIO GRIMICO.
Ao gtiarda , gralifica^'io concedida pela portaria do mini-
sterio do reino de 18 de dezembro de 18.52
A um aprendiz , de salaries
A iini niogo effeclivo
Despesas em livros e encadernagoes 4^bi-0
Ditas de oxpedienle, e manntenj.'io 71^'885
Ditas de reparos feitos pela casa das obras .... l;!oJ[455
GABINETES
DE UI9T0RI1 NATURAL.
Ao guarda, gralificajao concedida pela portaria de 30
d'abril de 18.J3
Ao mesrno guarda, gralificagao pelos preparados, qne apre-
sentou, segundo a portaria de 3 de margo de 1837....
A iim aprendiz , de sens vcncimentos
f'crlas parcines
'If) ,3:010
CljS'195
101,;S'GOO
lOj^OOO
201jS600
82J'770
109j5'600
3G,^'000
17;^'200
1G2|'700
85.5'3-IO
7I,;S'670
30.5000
43^840
43j^6l0
117/430
2141880
301^000
60/000
64|080
134/080
'J'lildUiladts.
107/205
284/370
319/710
332/360
1:043/645
135
Designa^no da despcsu.
Trunsporte
Despesns d'expediente e cosleameiilo 9jl^260
Dilas de reparos feitos pela casa das obras .... 1 jf750
I)E MINEKALOOU E CEOLOGIA.
Despesa em compra de livros para a aula
OE PHVSICl.
Despcsas d'expedionle
JARDIM BOTANICO.
A iini aprendiz, rao^os effecLivos e jornaleiros
Despesas em livros e joriiaes . 5Gj^440
Dilas de expediente, uLeiisilios e reparos.... 7djf210
OBSERVATOniO ASTIIONOMICO.
Aoi dois collaboradores temporarios para o calculo das
epliemerides aslroiinmicas, segiiiido a portaria do ministe-
rio do reino de 6 d'oiUuljro de IS-iS
Despesas d'expedienle, e condiicjfio dos iiovos
iiislriimeiilos 31,^795
Dilas de reparos feilos pela casa diis obras . .. 26Jf485
: OCTl
HOSPITAES.
Dietas dos doenles , e comedorias dos empregados
DISPENSATOBIO PHABHACEUTICO.
A pharmaceiilicos Ictnporarios 21^^440
Ac 111090 da bolica . 4j^800
26^210
Alcdinainentos c oulras despesas 170^325
BIBLIOTUECA.
A urn 1111150 elTeclivo a 200 reis por dia
Despesas em compra de livros, joniaes, e eiica-
dernaijGes 141,^120
Ditas d'expediente 21,|,330
Dilas de reparos feitos pela casa das obras .... 20831395
CAPELLA.
A03 dois mogos da capella, de sens vcncimenlos
f'erbas parciaes.
Tolalidadet.
134J'080
11^^010
146j^090
80/989
6/r>d0
397/640
131j^650
290/000
68/230
4:488/000
196^^565
73/000
370/845
91/995
91/995
1:043/645
232/729
529/290
348/280
4:684/665
443/845
7:282/354
136
Vesigiia^uo tttt tlespeaa.
'J'ruiispoi'le. .......
Aos dois inogos da capella, para becns, que voiicein de
dois em dois aiinos
Aos ditos iiara Ijarreles
FESTIVIDADES.
Saiila Isalx'l 01j:i20
Pre5li(o a Santa Clara cm 1G53 !)),580O
S. Miguel, e o jiiramcnto 1'2^-1'J..D
'I'odos OS Santos 2,|'520
Conceit-no ....„..,.,: 12^(i70
Pdrifiea^-ao . . . ^^.4 . j-.- 17a^'235
Arniiiiicia(,-fio n.J3-10
Seaiana Santa 254.j:365
Excqiiias do sfir. D. Joio III , 48 J'loO
Propinas aos lentes e mais empregados 60^800
717JG15
Divcrsas despesas : . . . . 22 J 935
CiSA DAS ODRAS,
Ao mestre das obras , a 300 reis por dia
Ac fiel apontador, de seu vencimento
Jornaes, materiaes e reparos nos edificios , e estabeleci-
mentos nfio especificados
AnCHEIBOS.
Aos 10 aiclieiros, pelas suas soldadas a 160 re'is diarios a
cada u m
Aos ditos, por compra de pannos para o fardamento annual
de policia
I'erbus parciaes.
I)l^!)!)j
24/000
IrfS'llO
117,^435
710|'.370
]09J'500
100^000
209/500
509/7'rO
584/000
C6/371
Reis ...
Tolaliilades.
7:282/354
858/005
719/270
J
C50/371
9:510/000
,f:t
RESUMO.
Despesas feitas com o lyceu
Ditas com OS estabelecimentos e reparlijoes da universidade
Ditas com os liospitaes, e dispensatorio pharmaceutico . . . .
107/205
4:718/230
4:684/565
Reis . . . ,
9:510/000
Secretaria da Universidade em 13 de Jullio de 1854.
Vicente Jose de Vmconcellos e Silva,
Eugenia Antonio Galeae.
€> 3n0titttto,
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
UN1VERS1DA.de DE COl.MBRA.
Ministerio do reino — 1.' direccao — 1.' re-
parlifao — livro 12 — n.° 293.=Sua Magesta-
de El-Rei, Regente cm noine do Rei, a quem
foi presente o officio do vice-reitor da uni-
versidade dc 7 do correntc raez, dnndo conta
do resultado dos examcs preparatorios fcitos
no lyceu nacional de Coimbra, e do modo
como neste servico se liouvcram os prcsiden-
tcs e vogaes dos divcrsos jurys qualificadores :
Manda pela secretaria d'estado dos negocios
do reino, que o mosmo vice-reitor louve em
seu real nome os ditos presidentes e vogaes
pelo zcio, que uns e outros mostraram, tanto
na assiduidade do trabalho, corao no bem
cntendido rigor e na igualdade da justica pa-
ra com todos, — e bem assim odoutor Luiz
Albano d'Andrade Moraes e Almeida, pelo
aprovcitamento com que tem cido por elle
regida graluitamente a cadeira de geometria,
em cujos exames teve grande parte. Paco de
Cintra em 18 d'agosto de 18oi. = Rodn'go
da Fonseca Magalhdes.
r;" APONTAMENTOS BIOGRAPHICOS
SOBRE 0 ^OSSO INSIGME POETA Ll'lZ DE CAMOES.
Quando abrimos o livro d'ouro, com que o
principe dos poetas portuguezes enriqueceu a
nossa lingua, e illustrou a nossa historia, ele-
vando a superiores regiOes as acfoes estrema-
das daquelles portuguezes, que tanto se des-
linguiram no Oricnte, no seculo XVI ; e lemos
aquelles versos cheios dc conceitos, e harmo-
nias poeticas, que aili sc encontram, nao sa-
bemos qual se deva mais admirar, se o genio
da poesia, em que a alma se arrebata contem-
plando tanta sublimidade, se o amor da pa-
tria, que tanto em Luiz de Camoes avulta,
nap movido do premio vil; mas daquelle fogo
d'iraaginafao, daquclla viveza, e forca d'ex-
pressao com que faz esquecer quanto ha de
sublime nas antigas e modernas Epopcas, para
levantar um padrao eterno a memoria glorio-
sa de seus compalriotas. 0 pocma de Ca-
moes ha dc ter tanta duracao, c ha de ser esti-
VoL. III. * Setembro 1.°-
mado pelo niundo litteralo em quanto durar
a lingua em que foi escripto, apezar dos de-
feitos, que unia apurada critica Ihe nota, bem
desculpaveis, certo na apoucada humanidade,
cujas obras jamais podem sair perfeitas!
Que um tao insigne poeta, um tao raro en-
genlio, um competidor nao indigno dos subli-
midades de Uomero e Virgilio, vivesse e raor-
resse na obscuridade, e um tao extraordinario
phenoraeno, que nao podemos encaral-o sem
nos subir a cor ao rosto, contemplando o pou-
co zelo, com que os seus contemporaneos dei-
xaram delinhar na miseria, e no leito da morte
tao aprimorado auclor, csquecendo logo sua
honrosa memoria !
Fluctuando em incertezas sobre a-sua filia-
cao e naturalidade, e sobre os particulares de
sua vida toda cheia de mysterios, e d'amar-
guras, apenas ousamos arriscar conjeeturas, e
firmar hypotheses para dellas tirarmos con-
sequencias sem podermos ale'gora descobrir
documentos, que nos guiem a vcrdade, e nos
dissipem as trevas, que quanto mais queremos
penetrar mais pareee se condensam. A pouca
Ventura d'este poeta, e sua natural infelicida-
de talvez se possa mais attribuir a este secreto
destino da Providencia, a esta ncgra fataMda-
de marcada por raao occulta na sua estrada da
vida, do que a outras causas, que, como con-
sequencias d'esta, prepararam seu desgracado
estado durante sua existencia, como a historia
nos mostra em rauitos casos semelhantes, ele-
vando uns e abatendo outros, segundo seus
desvairados capriehos! Alexandre Pope, bem
conhecido poeta, depois de muito estudo e
meditayao, alem de outras obras com que cn-
nobreceu a sua patria, offereceu ao publico
a sua traduccao de Uomero, e para a sua
publicacao as subscripcoes que obteve subiram
a duzentos mil cruzados, com que fez a sua
fortuna, e segurou sua subsistcncia, como
nos diz um grave escriptor. Milton compoe
um poema elegante, e original, que tanto
honra os annaes poeticos da Inglaterra, e
morre na indigencia, sem auxilio, e desco-
nhecido de seus compatriotas, e ainda hoje o
fora, e sua memoria estivera no esquecimento
se nao fosscm as annotacoes de Adisson, que o
fez conhecer ao mundo illustrado! 0 cantor da
Jerusalem, Torquato Tasso, depois de immor-
talizar a memoria das cruzadas, e perpctuar
1854. Num. U.
138
T
a k'liiliranra do rojnado do scu hcroe Godo-
frodo em fraula xonora e helicosu, atravcssa a
Calabria quasi descalco, c clicgando as portas
de Turim os {;uardas llie vcdam a cntrada
fonio se fosse um ciiiiu'stado, vciulo-o coherto
de lairapos, palido, e cnliado. 0 cantor dos
Lusiadas, (]ue laiita lionra deu ao iiome por-
luguez; 0 oslromado hisloriador das navoga-
coi's do iliustre Gama, morre pobrc, c iguo-
rado, soiii com certeza sabcriiios se no liospital
de Lishoa, se em casa sua ! Tal e o destino que
a |iro\ ideiuia tern marcado aos liomcns iia
sua breve carrcira, como clle proprio diz na
estaiuia 38 do caul. 10.
Ocniltfis o« j lizos (le Dcoa sHo
As ecritcg va.is. qnt- iiriii uN enlen-ierain,
(.'h.imain-Ihe fH<!o ni;io. forltina cscura,
Seiulu so jiro\ iilt'iicia tie Ueus puru.
Grande e ainda a duvida, que ale'qui tern
enleado os biographos sobrc a naturalidade
do nofso poeta. Manoel Correa, seu amigo, e
couteiiiporanco, como elle proprio conl'essa
iios sous commeutarios, podendo de tudo dar-
nos cabal conliecimeulo ; tao escasso, e avaro
-se mostra era demasia a tal respeito, que nada
grangeamos de sua leitura, que satisfaca
iiossa curiosidade, c nos sdte as difficuldades
cm que nos acliamos. Uesculpa neiiluima clle
merece per tao censuravcl silencio, ou antes
reprehensivel reserva! Pedro dc Mariz, que-
reudo remediar a folia do precedente, caiu em
cngauos, de que com bastantc razao o accu-
sam os criticos. Manoel Sevcrim de Faria,
chantre d'Evora, incansavel era doscobrir
com muila diligencia, e boa crltica docunicn-
los com ([ue tanlo enriqueceu a nossa littera-
tura, nada iez para nos tirar das duvidas, e
dos enleos, em (]ue nos acbamos cnredados.
ilanoel de Faria e Sousa em nada inferior ao
precedente, e talvez antes superior cm conje-
ctiiras, que faz com deuodo, nem corta os
embaracos, nem solta as duvidas, que sobre
estes pontos a cada passo se Icvaulam. 0
iliustre, e eruditissimo bispo de Viscu o snr.
D. F. k. Lobo na memoria sobre CamSes, que
ofl'ereceu a Academia, e corrc imprcssa entre
as da mesma como seu socio, tendo consulta-
do todos OS que escreveram sobre a gencalo-
gia, e vida do nosso poela, ainda que dcclara
seus paes e avos, nao produz documenlo al-
gum em prova de sua opiniilo, nao devendo
por isso ter mais credito, do quo aciuelles
donde elle tirou taes noticias, e que primei-
ro as publicaram. Nao fez por tanlo mais do
que escollier a(iuella que mais avisada ilie
pareceu cntre as difforcntes opiniOes dos que
antes delle escreveram; extromando a que
achou mais conveuicnte, fundado cm conje-
cturas c argumeutos a ccrca da sua natura-
lidade!
Tao pOHco rclevante ella se conhece, que
no programma da mesma Academia para o
anno de 18o6, que *o annunciou na sossao pu-
blica de 5 de juMio do presente anno, vfi-se
publicado para concurso = L'ma vida de Luiz
de Gamoes mais completa, e mais exacta, que
as atc'gora publicadas, fundando-sc o seu A.
quanio for i)ossivel em docuraentos, ou testc-
munhos ineditos. ' = Daqui se conhece quanto
e incerto tudo o que ate'gora se tem escripto
rclativamente ao nosso poela, e quanto c dif-
licil penetrar certos myslerios debaixo dos
quaes se csconde a bisloria da sua vida; por
que aonde os dorumenlos fallecem nada esla
pode aflirniar, sem receio dc dcgenerar em
tabula.
Uiversas sao as opiniocs, que atc'gora teera
corri<lo sobre a sua naturalidade, dizendo uns
scr de Goimbra, oulros dc Lisboa, e outros
dc Santarcm. A segunda destas se inclina a
citada memoria do erudito bispo de Viseu, e
para prova scrve-se da Elegia III do poela —
« cm que dc ccrlo modo se diz desterrado da
« patria ao mesmo tempo que e constante,
« que a escreveu andando desterrado de Lis-
« boa. Alii se compara com o terno Ouvidio
« que — de sua patria os olhos apartando —
« ia dizendo aos monies e rios as suas quei-
« xas: e fallandoem maviosos versos com as
« aguas do Tejo ihes diz que espera aquelle
« alegre dia — Que eu va onde vos ides livrc,
« c ledo. ^ — Mas mal pode concluir-se d'este
pcqucno razoado que fosse Lisboa a terra da
sua naturalidade, quando graves fundamen-
tos me induzem a pcnsar de differente modo,
como adiante direi ; e quando mesmo o pro-
prio poela, fallando das margens do .Mondego
e suburbios de Goimbra na canrao IV parece
inculcar esta cidade como terra da sua natu-
ralidade, pois dirigindo-se as aguas claras do
Mondego, e sobre cllas soltando suas queixas
por nao gozar ja daquelle riso brando, e suave
olliar sereno, que sempre n'alnia Ihc estara
pintado; assim scexprime:
Nesla floruia lerra
I^eda fiesta e scren.l
Ledo 0 contente para raim ^ivia
.... Cunk'iite tura a |iena
Que Je t.lo bellus olhus prosceclia
UlQ (lia no oiilro dia,...
LoDiro lenipo passei
CuQi a \ida fulu'uei. *
eic-.
Mngucra exprimiu ate'gora o tempo do ti^
rocinio academico por toufio tempo (|ue pas-
sasse nesla terra, antes elle mesmo parece
lastimar-sc de sua raolina sorte o fazerapartar
della, e viver iongc daquella, que tanto do
coracao amava, e a quem parece dedicar tanla
ternura, como pessoa conbecida, c rclaciona-
da ja desdc o primeiro verdor dos annos, cu-
jas impressoes mais dilliccis sao de apagar.
* Vej. o discurao on relr.torro da Acad, real dasscienc.
danilo conta da fessao de 5 di- jiilho de 1054.
^ Tom, 1.** dassuas obras, pa^. 89. '
* Camues. Uimas — Canr-io 4.*
139
Sc della pois sc nuzcnlou, como c certo, cm
idade ja adulta, lenho para mini que nella foi o
seu berco e de alguns mais dc sua familia, ate
que de todo se extinguiu, perdcndo-se com
seus bens a memoria de todos cllos na escuri-
dade dos tempos.
Foi Luiz dc Camocs filho dc Simao Vaz de
Camoes, segundo diz o citado c crudito Bispo
de Viseu' c ncto de Joao Yaz de Camoes,
c nao de Antonio Yaz, como ellc diz scm pro-
va algiima. Assim o cnconlro cm urn docu-
cumcnto scm duvida, nem suspcita alguma.
E cste documcnto uma cscriptura de renova-
cao de prazo, que o Cabido da cathedral dc
Coimbra fez cm 3 d'agosto de 1552 ao dito
Simao Vaz'' de umas casas que ja tinham sido
de seu pae Joao Yaz de Camoes (que nos
diversos documentos do Cartorio da dita
cathedral c designado com o alcunho dc Yilla
Franca), e que clle possuia na rua da Porta-
nova, que hojc conbeccmos com o nome de rua
dos Coutinhos ; as quaes tcndo sido mais tardc
alheadas, foram compradas por Manocl de
Brito Barreto c Castro, e actualmentc perten-
ccm a snr.' herdeira da casa da Portclla e Yil-
la Franca, em que ora vive o sr. D. Salvador
Manocl de Yilhena, e sua esposa, viuva que
ficou do sr. Antonio de Brito, hcrdeiro que
foi de toda a casa de seus paes.
Foi Joao Yaz Camoes (que d'alcunho chama-
vam Joao Yaz de Yilla Franca, como Ilea dito)
fidalgo e cidadao d'csta cidadc, e ja em 1302
nella vivia; porque cm 9 de Janeiro d'estc
mesmo anno elle renunciou a terceira vida quo
tiiiha em um prazo no sitio do Alvor, pcrto
d'esta cidade, e do senhorio clirecto d'este Ca-
hido, a favor de sua mulher Catalina Pires, e
para um filho oit fillta d'entr'amhos' , e n'estc
documcnto se designa o dito Joao Yaz por
cscholar cm direito e raorador ncsta cidade.
Donde podemos concluir, que ncsta data era o
dito Joiio Yaz estudante, morador ou cidadao
de Coimbra, e casado com Catharina Pires, sua
primeira mulher, a qual ainda vivia em 1508,
e seu nome se achava averbado como forcira
a esta Se no livro dos foros d'azeite daqucllc
mesmo anno*. Nao aparece d'este anno cm
diante mais o nome d'csta Catharina Pires:
talvez falecesse pouco dcpois; por isso que
cm 1328 acha-se mencionado cste mesmo
Joao Yaz de Camoes, escudeiro, cidadao, mo-
rador em a dita cidade, casado com sua sc-
gunda mulher Branca Tavares.' Mostra geral-
mente a cxpcriencia tcrcm d'ordinario os pacs
maior inclinacao e alTecto aos lilhos do se-
gundo que aos do primciro matrimouio, neste
* Tom. cit. pag. 27 e 23, e concorila com o que iliz
Moreri Dice. »rt. CamScs, fazenJo-o nelo Je Anloiiio
Tai, o que as?im nao i.
^ Vfja-se ilocuraento n." 1.
^ L. 4." dos empra7.ampnt03 da catliedral ful. 175.
•* L. do aicile de 1508 foi. 2.
* L. 7." dos cmprazamentos foi. £22.
caso SO achou Joao \'az, porque tcndo tido do
primciro Simao Yaz de Camocs, achamos o
mesmo Joao Yaz a contractar cm 1530 com
seu irmao Pero Vaz, morador na Villa de La-
gos, reino do .^Igarve, escudeiro do sr. conde
de Monsanto, a rcnuncia das casas que cste
possuia na rua dos Coutinhos, a seu favor, e
de sua mulher Branca Tavarcs, c para um
lilho ou liiha, dcntrc ambos qual o dcrradciro
nomeasse cm terceira vida, c\cluindo desta
sorte seu lilho primogenito Simao Vaz. ' Desta
arte vio clle passar a casa patcrna aos irmaos
do segundo matrimonio; cnire os quaes foi
Isabel Tavarcs a nomeada por successora do
dito prazo das sobreditas casas.
Falcccu Joao Yaz pouco mais ou menos em
1550, pois que cm 7 dc maio d'este mesmo
anno, se acha uma cscriptura de rcnovacao
de vidas a favor de sua (ilha Isabel Tavares',
moradora nesta cida<lc, em casa de sua thia
(irma de sua mae) Filippa Tavarcs, pela qual
0 Cabido a rcquerimento seu, e por ja scr
falccido seu pae Ihe cmprazou as casas na rua
da Porta-nova (rua dos Coutinhos) ja mcn-
cionadas nestcs apontamcntos, por Ihe (ica-
rem em terceira vida pela nnraeaciio que del-
las Ihe fez 0 rcferido Joao Vaz, seu pae. —
Conclue-se do cxposto que Joao Yaz de Ca-
mocs fora duas vezes casado, a primeira com
Catharina Pires, de quem teve Simao Vaz,
e a scgunda com Branca Tavarcs de quem
teve Isabel Tavares, cuja familia vivia nesta
cidade com geracao, que mostro na arvore
junta no fim d'estes apontamcntos, c que pe-
las vicissitudes dos tempos, e ma fortuna, ou
antes desgraca dos Camoes ficou confundida
sua geracao com a dos Tavarcs, e toda a sua
casa passou para os parentes collateraes (pre-
terindo a linha de successao) cujo tronco foi
Branca Tavarcs, e sua irma Filippa, que fo-
ram OS continuadores da successao, ate que
de todo se extinguiu esta linha cm 1643, e
passou algum resto ainda para outros paren-
tes e collateraes dos Tavares \ como se ve na
arvore que liz a vista dos documentos.
Coniiniia.
JIIGIEL BIBEIRO DK VASCONXELLOS.
ASTRONOMIA.
C0NJECTtR.\S SODRE 0 ESTADO PRESENTS DOS PLA-'
NETAS JCPITEn E SATURNO EM RELACAO A SUA
TEMPEBATURA. '/
M. Nasmyth aeaba de apresentar a Socie-
dade astronomica de Londres algumas mui
importantes consideracoes sobre os phcnome-
' L. 8 ° dito foi. 58. Vcj. o documcnto n." 1.
^ L. 0.° dilo foi. 167.
^ Vfj. o documenlo n.* 2 e a arvore a final em que
vai a descendencia dos Tavares.
140
DOS pspeciaes, que caracterisam a superficie
Jos dois pianolas, c Ihe dao um mui singular
aspecto.
Estas judiciosas consideracoes, que aqui
cxtractamos, foram offerccidas pelo auclorpara
excitar a atlencao dos sabios e chamar a dis-
cussao sobre cstc grave assumplo, que se liga
as mais elevadas tlicorias da cosmogonia, e
que e por isso digno do mui scrio exame.
« N'unia memoria sobre a eslructnra e es-
lado da superficie da Lua, diz M. Nasmyth,
fiz aigumas obscrvafoes a cerca do principio,
que me parcce, cxplica a marcha progressiva
do arrefecimento dos planctas; isto e, sc a
propricJade de conservar cm si o caior fosse
devida a massa do planela ; a da sua dispcr-
sao seria proporcional a sua superficie, c come
a primeira crescc como o cubo do diametro
do planeta, cm quanto a scgunda nao au-
gmenla, senao como o quadrado do raesmo
diamelro: o espaco de tempo necessario aos
planetas de tamanho volume, como Jupiter,
e Saturno para arrefecercm desde o prinii-
livo estado de fusao e incandesccncia ate uma
lemperatura, que permittisse a sua materia
oceanica condensar-se permanenteniente, c li-
xar-se a sua superficie, seria infinilaincnte
maior, que no easo de um planeta tao pequeno
comparatlvamente, como a terra.
i( Admillindo os rcsultados, que as inda-
gacoes geologicas teem claramente estabcleci-
do, quanto a primitiva fusao da terra, como
guia para reconhecer o estado de todos os
outros planetas, parece-me, que toniando esle
ponio de partida, se deve cliegar a estabelecer
alguma lei rclativa ao estado actualmente
provavcl, dos planetas de tao extraordinaria
grandeza, como Jupiter e Saturno, e que
expliquc cerlos phenomenos, que se veem a
sua superficie.
« Dando como demonstrado o estado origi-
nario da fusao da terra, e remontando ate as
epochas primitivas da bisloria geologica do
globe, podem dcscortinar-se alguns vestigios
da causa d'esses espantosos diluvios, de que
OS phenomenos goologicos nos olTerecem tantas
provas, particularmente pelas acfOes chimicas
e mcchanicas cxercidas sobre as formacoes
igneas, unicas enlao existentes, e que sos por
si deviam fornecer os materiaes da crusta da
terra. Se unicamcnte nos rcferirmos pelo
pensamenlo a esta antiga cpocha da historia
geologica do nosso planeta, em que era tao
elevada a temperatura da superficie, que a
agua so podia existir alii debaixo da forma
de vapor, e se observarmos scu estado desde
esta condicao nao oceanica ate ao periodo, era
que, ])or elTeito do arrefecimento da sua super-
ficie, comcrara a terra a ser inundada por tor-
rentes parciaes, e passageiras do occano, que
ate entao so existira sob a forma de um gran-
de involucre vaporoso em torno d'ella; taes
consideracoes sao, nao so o mais elevado as-
sumplo de importantcs reflcxoes a respeito da
primitiva condicao do nosso globo, mas tam-
bem, segundo parece, uma base Icgitima para
estabelecer as nossas conjccturas sobre o es-
tado actual dos dois grandes planetas, que
por isso eonsidero dolados ainda de uma tao
alta temperatura, que nao pcrmitlc, que a sua
materia oceanica abandone a forma vaporosa,
com que os involve, para se precipilar era
abundantcs chuvas, deixando-os por consc-
qucncia expostos a repetidas perturbacoes,
causadas pclas infructuosas tcntativas, que
esse mesmo involucre faz para descer tcmpo-
raria e parcialmenle sobre a superficie ainda
incandescente do planeta.
« Lanccmos ainda os olhos sobre esse pri-
mitive pcriedo da historia geologica da terra,
em ([ue este plaueta cstava cercado de um
dense involucre vaporoso, contendo toda a
agua, que constitue hoje o oceane. A porcao
exterior d'estc involucre vaporoso deve, cm
virtude da irradia^ao do seu calorico no es-
paco, ter caide continuamente em torrentes
de agua quentc sobre a superficie rubra da
terra. Uma accao tal devia produzir terrivcis
e extraordinarias cemnievoes atmosphericas, e
nos ultimos periedos d'este estado de cousas,
quando mui grandes quantidadcs de vapor
aqueso, que mais lardc devia constiluir o
oceano, se precipitaram em forma de torrentes
d'agua sobre a crusta ja solida, mas ainda mui
delgada da superficie da terra, a instantanea
conlraccae, que estas passageiras inundacoes
de occano deviam causar sobre essa mesma
crusta, traria em resultado espantesas des-
locacoes na sua superficie, e numeresas erup-
coes do materias cm fusao. As extraordinarias
dcslocacoes, e completa inversao das primi-
tivas camadas sedementarias, dos gneiss, schi-
stos, c micaschistes sao uma prova evidentc
do estado das cousas n'aquelle periodo, em
que e oceane, ainda suspense, queria tomar a
disputada posse da superficie da terra.
« Sc um expectador collocado por cxemplo
no planela Marie, po4esse n'csta cpocha da
historia geologica da terra, lancar d'aquella
distancia uma vista sebre o nosso planeta,
de certo se Ihe reprcsentaria com um as-
pecto pouco differcnte a lodes os respeitos,
d'aquelle, que actualmente nos apresenta
Jupilcr. Em quanto o corpo da terra esti-
vesse occulto pelo vaste involucre vaporoso,
que 0 cercava, as terrivcis eonvuIsOes, que
debaixo d'este dense veo se passavara, scgura-
mcnle scriam indicadas por fachas eu roturas a
superficie, eguaes as que ainda hoje se obser-
vam em Jupiter; c cm censcqueucia das erup-
coes dos immcnses volcOes, que u'esta cpocha
deviam ter a maxima actividade, o invelucro
vaporoso aprescntaria manchas, e cintas bran-
cas eu negras, irregularmente disseminadas,
como as que em Jupiter ternam tao oaracte-
ristica a sua regiao equatorial, e que pro-
J11
vavelmcntc sao dcvidas as cinzas, pcdra?, e
outras matcrias, ([ue cstcs volcOes oquatoriacs
arrojam dc tempos a tempos alii aos limites
cxteriorcs do involucro atmosphcrico oiide a|>-
parecem, daiido-lhe um tao singular aspecto.
Pela minlia parte diivido que jamais tenlia
podido vor-se o corpo dc Jupiter, (|ue perma-
necera occullo jjara iios por muitos seculos,
ate que teiiiia arrel'ecido a ponto dc permittir
ao seu oceauo Ihicluaiite pousar pcrmaueiite-
nicnte sohre a sua superlicie.
« Applitaiulo estas consideracoes a Saturuo
parcce-me, que pode eselarecer-se um pouco a
causa das mudan<;as, <iue sc ol)scrvam iios
seus anneis, mudancas, que tciii exeilado o
mais vivo inleresse.
« Sc 0 calor originario cm Salurno ainda
e tal, que o seu I'uturo oceano esla suspense
no cstado vaporoso em toruo d'elle, e pos-
sivel, que uma porciio d'este vapor se alasle
era virtude de condieocs clcctricas especiae.s,
que OS anneis podem ter em relarao ao corpo
do planeta, e que n'esta deslocacao o vapor,
passando ao cstado de intcnsa congelacfio, que
e 0 resultado de uma tal situacao, appareca
em diversas epothas, como acontece com o
annel phantasma, e que alem disto incrustc a
porcao interna do antigo anncl interior com
uma grande camada dc materia gelada, que
da logar a notavel alvura, que distingue par-
licularmente esla parte dos seus anneis. »
(_Edimb new p'lii. Jour., I bi, i\.° 108)
POESIA SLW.V MODERNA.
CjnliniKido fie pa;;, 99
11.
Acahamos d'imlicar rapidamcnlc (odas as
causas que devem ter attrahido para o gouslo
a attpncao dos poetas slaves contcmporaucos.
Contra semelliantc gcnero de poesia podcm
formar-se sohcjos artigos d'accusacao, pode
elle scr arguido das suas tendencias scnsuacs,
do sou cullo exagerado do passado; mas hem
longe dc concluir de tudo islo, como muitos
teem feito, a necessidade da sua completa dcs-
truicao, cousideramos pelo contrario csta
poesia primitiva como um dos vi\acissimo.s
clementos de restauracao e de renascenca,
que ainda possue o mundo civilisado. Tam
sensual, como quizerem, o gouslo e actual-
mente o unico adversario serio das doutrinas,
que tendem por toda a parte a diminuir as
influencias da fe religiosa e da nacionalidade.
Por isso, deixando por agora no silencio as
imperfciroes do gouslo, nos desejariamos mos-
trar ciaramcnte, com citacoes iittcrarias e ta-
ctos historicos, todas as vantagens que jd sc
tem alcancado, c que se alcancarao cada vcz
maiores com o cstudo intelligcute dos gouslars.
Se se prctendesse rcmoular ale as origens
da influencia exercida pelo gouslo .solire as
quairo liltcraluras slavas, scria forcoso retro-
ccder ale cssa cpocha ja hem afastada, cm
(|ue a lingua lalina dcixou de ser, entrc os
Slaves occidentacs, entrc os Boheraios, Po-
lacos c Croatas, a lingua exclusiva dos escri-
ptorcs. Assini na Bohemia, desde a cdade
media, o gouslo rcsustitou para rcpcllir o
gcrn)anismo; mas a theologia nao tardou em
vir acainial-o, (|uando, nos seculos XIV e
XV, die Ibrccjava por transformar a poesia
feudal gcrmanica, arrcigada cm Praga, na
poesia popular sJava. A raesma cvolucao, com
pequcnissima dilVerenca, se eO'ectuou na Po-
lonia; mas alii o gouslo, dcpois de algumas
fracas tentativas i)ara dcsjiertar, se extinguiu
ainda mais completamcutc do que nas outras
partes. Entrc todos, so os Slaves orientaes e
que aao pudcram nunca csquccer completa-
mente o sen qucrido gousle; mas nao Ihes
era permittido servir-sc delle nos paces reaes,
nos castcllos dos scniiorcs, nas grandcs re-
uniucs officiaes, a nao ser com a condicao de
<?antar em lingua esdavonia ou ccclesiastica,
e csta lingua, muito sancta, niuito austera,
para exprimir com fogo as paixOes da vida
terrcna, punha muitas vezes cm constrangi-
mento os gouslars, impondo-lhes formas de
convencao, I'rias imitacOcs hihlicas, que ge-
lavam nelles a espontaneidade natural.
Assira oeselavao tinha acahado por lornar-
se para os gouslars do Oricnte, o (jue o latim
era para os do Occidente. Por fim, quando ao
esclavao chegou a sua vez de ser tamhem
exduido, como o latim, das litteraturas pro-
fanas e nacionacs slavas, nao tardou o gouslo
a recupcrar o seu logar e a fazer rebcntar de
novo do seu tronco ja velho florcs cada vez
mais vicosas. 0 seu revdador fui uma na-
cao inteira, a dos Servios, nacao onde nao
na.sce, por assim dizcr, um homem que nao
seja gouslar c pocta.
A luta em que o gousle tcvc de cmpcnhar-
sc, para reconquistar de todo o sceptre da
poesia entrc os Slaves do Sul, resume-se his-
toricamente em (piatro ou cinco nomes gran-
dieses. Tcmes por uma handa os prelados
Slaves Raitch e iMuchitski, escriptores cuja
pureza toda classica advoga com uma elo-
(|uencia suhlime a causa do passado, isto c a
lingua esdavonia; tcmes por outro lado, a
favor da lingua vulgar, Dosilhco Ohradovitj,
Vuk Karadchitj e Sima Milutinovitj.
0 monge philosopho Dosithee Ohradovitj foi
0 primciro dos Servios que se attreveu a es-
crever as suas ohras numeresas e ousadas, ini-
hebidas tao admiravelmente no cspirito slave,
em lingua toda vulgar, scm nunca se soccer-
142
icr ao idioma ccclesiastico. SoflVcu por isso mil
tlcsgostos (la parte dos campcocs dos temjws
passados, e a sua liita contra os esclavoiiisa-
dores duroii ali' a sua innrti'.
0 dotinitivo Iriiimplio da pocsia nacional
sorvia nao podia CDinliido razcr-se ospcrar por
iiiais liMupo. 0 liispo .Mncliitski, com as suas
odes siihlimos, csrrlplas todas ollas om liiip;iia
csclavonia, so alcancoii rclardal-o pnr alsum
lompo. I'or lim iini pastor ohscuro, Miliili-
no\ilj apprcsciita-si^ aniiado com o sen (foush
liosnjii, para arrancar a indole do sen povo as
i,Mrras da aguia csclavonia. Por dcsgraca cste
jovcu va(|ui'iro dos IJalkairs scrvios havia
d('i\ado as suas manadas do hois para ser cs-
ludanlo cm Leipzig-; a Allcmanha tinha-o
iniciado em todos os mysterios das suas sci-
encias e da sua civilisacao, e em quanto ctle
viveu, conservoH bastanle impcrio sdhrc o seu
pspirilo t'ascinado. Miliilinovitj nao deixa pnr
isso de ser o primeiro poeta vcrdadeiramente
convertido pclo f/niish; com a dflTerenfa que a
philosopliia occidenlal disputava tLogounlo esta
alma ardeule, e liie iiiHigia um martyrio ter-
rivcl, que acabou por dcslruil-o prematura-
mente. A prova deploravel das lutas inte-
riorcs desle genio pasmoso, acha-se na sua
epopca a Serbianka, obra d'lima forea pro-
digiosa, mas aonde o ideal popular slavo e o
ideal classico greco-latino visivelmente so
combatem, e aonde as expressoes esclavonfas
se cruzam d'um modo o mais extravagante
rom as expressoes da lingua popular. Tendo
por scopo a bistoria das extrentadas facanhas
servias no tempo de Kara-George, a apotheose
dos heroes da gucrra da indopendcncia, esta
epopea, mnidada nas lormas das rapsodias
I)opulares, fez uma imin'essSo profunda sohrc
todos 06 espiritos cultivados da Jugo-Shivia.
Todo 0 mundo admiron a Serhianka, mas foi
pouca a gentfi rpie a leu, e menos amda a que
soube coni.prebendcl-a. Os olbos ]j6dem adivi-
nhar as pmporcoes ijigantescas do seu todo;
mas nas suas dilTerenlcs paries encontra-se
uma ohcuridade de lingnagcm que a tornam
inconiprehensivel ; parece, por assim dizer;
que csia escripta em caractcres hieroglylicos.
L'nia traduccao resuuiida e apjjroximada da
Serl)ianka, em lingua vulgar, seria o mais
proveitosa ensino que poderia dar-se a esses
poetas, que aiitda se b'nibraui (!e poder con-
ciliar o racionaiismo occidental e o slavismo,
e de se tornarem [loetas nacionaes sem deixar
de ser poetas cosniopolitas. A Serbianka e a
prova irrcfragavel da incompatibilidade que
existe entre a fij e o scepticismo, c entre
OS dois generos de pocsia que emanam destas
duas origens.
Milutinovitj pertencc a cssa fiimilia de ta-
ientos excepcionaes que sabeni crear mundos
e renovar as sociedades. Se clle se tivesse
deixado couservar na fe c na vida Iradicional,
ter-se-liia tornado no llomero do seu scculo.
II Aconteceu com clle, escrcvc um poeta tara-
bcm servio, Suhhotitj, com uma ingenuidade
perfeita, o mesmo (pie se passou com um aldeao
cuja inimilavcd dcstreza em curar as doenfas
d'ollios as niiiis reheldes era admirada jjor
todos OS medicos. Os doulores, |)ersuadidos de
(|ue este honiem estava destinado para realizar
trrandcs progressos na sciencia oculistica,
levarani-no comsigo para inicial-o em todos
OS segrcdos da mediciiia. Dcpois, quando se
acliou aggregado a faculdade scicnlilica, e
quattdo quiz comecar onira vez com as suas
maravilbosas operacoes da cataracla, esse
homem nao [)assava de um opcrador vulgar,
muito inferior aqiudlcs (pie dantes o tinhani
admirado e prodamado inimilavel. >' Parece-
nos, que niio (i possivel formular, de uma
maneira mais frisante, o antagonismo innato
entre a sciencia empirica c a sciencia tradi-
cional, entre a indole occidental e a indole
sbiva, entre a poesia cosiuopolita e a pocsia
do f/oualo.
E fora de duvida que foi as escholas dc Ber-
lin, de Paris e d'lnglaterra, que o regenera-
dor da Ulteratiira servia no comeco deste sc-
culo, Uosilheo Ohradovitj, veia pedir a chave
da iniciacao europC-a, por(;'in logo que esta obra
de iniciacao se completou, devia renascer o
antagonismo entre as litteraturas occidenlacs e
a poesia slava. Apenas foi iniciado na vida
iiilellectual, o povo servio achou-se, a sen
pesar, cm contradiccao ilagrantc com os sens
iniciadores curopcos. Passa de trinia annos
(iiie OS Servios tent academias modcladas pclas
nossas, e apesar disso ainda o gosto acadc-
mico pcla litteratura niio tern podido fazer o
menor progresso. A poesia do guuslo c o unico
typo do hello ideal que ainda persisle, o unico
ccntro para oude gravita a poesia dos sabios.
Coittitnta ,
BIBLIOGRAPIIIA.
COMPE>!yiO DE VliTEniNMUA, OU CURSO COMPLETO
DE ZOOIATUICA UOMESTICA, PELO SB. D.' JOSE F.
UE MACEDO PIMO, I.ENTE DA FACULDADE DE
MEIMC.1N\ N\ IMVEIISIDADE DE COlMBnA i."
EDKJAO 2 VOL. EM 8." 18ol.
I'm dos mais imporlantes mcllioramentos (fa
agricullura moderna; a(|uclle, talvez, a (lucni
clla deve o seu maior progresso e adiantamen-
to, (!■ 0 grande e extraordinario desenvolvi-
mento que se tem dado a multiplicacao e aper-
feicoamento dos animaes domesticos, e por
conse(|uencia aos estudos veterinarios. IIojc
aquella industria constitue nao so uma parte;
essencial de todas as empresas agricolas, mas
i tambein um dos priiiieiros e principaes ele-
nientos da riijucza das nacoes, c por isso os
governos c as sociedades agronomicas, teem
143
promovido por meio de prcmios as cxposiroes
piil)licas dp gados, c prociirado generalisar os
rstiidos vctcrinarios, iroando esrhnlas para o
onsino d'csta scknicia, o prrmiando os aiirto-
ros das nu'lliores obras sobre os sons divrrsos
ramos.
Ucdiizida piitro nos quasi a iini simples om-
pirismo, a Vott'iinai-ia, ou antos a alvoitaria.
(jiio a taiilo niontavam os coulicciiuentos dos
nossos poiKos vctorinarios, jazi'ra por longos
aunos cm (|iiasi comjiloto ahandono, cstraniia
ao grando impulso i|iu' diialara os limilcs da
.sciciifia, (' ([ui' t'lcvara a Yetorinaria ao poiito
0111 inio linjo a vomos nos outros paizos.
A iiilima ligaoao dos ostudos modioos o
votoiinaiios; o profundo coultocimoulo da
aiiatomia o phjsiologia comparadas; a ostreita
roiaoao das scieiioias jiliysiuas c liistorioo-ua-
tiiiaos com a zooiatiioa; os piinoipios da hy-
giono 0 da iiirispiiidoncia Votoiinaria, uram
de todo dosprosados, soiiao igiiorados nos
raros osci-iptos dos nossos auctoics de Yete-
rinaria.
O ostabolocimcnto da oschola veteriuaria
mililar, do que ja n'outra ocoasiao nos ocou-
pamos'/so alguin moliioramoulo iutroduziu
nostcs estudos, foi oxclusivamonto na alvoi-
laria. E pode oom vordade dizor-so, quo o
(^ompondio do Yotorinaria, de que o sr. Dr.
Maredo Piuto dou a primeira odioao em IHoi,
foi tambom o primoiro c mais f'oliz onsaio,
que ontro nos viu a luz publica, dossa nova
ordoni do ostudos vetoriuarios, aprosontados
polo A. em harmonia com os mais recontos
progrossos da scioncfa, c com tanta concisao,
e olaroza, que do per si rocommendavam
aqiH lie ini|iortantissimo trabalho.
0 publico illustrado acollicu desdo logo oom
0 morocido favor o compondio de Yotorinaria,
ouja avultada odicao so oxaurira conipleta-
uionlo no primoiro anno da sua publicaoaoi
0 (|ue em Portugal raro aconteee aos auotores
do obras d^' scionoias naluraes.
0 Ciirso oouiplolo do Zooialrioa, quo o sr.
Macodo Pinto acaba do publicar com o mo-
doslo titub) de « scgunda odicao " 6 uma o])ra
inloiramoute nova, ondo todos os rauios da
Yotorinaria sao concisamoute evpostos com
a maior clai-ozji, c profundo conbcoinicnto da
nuitoria.
A obra consta do dojs volumes; no jiriuioi-
ro 0 A. tracta da Palbologia goral, compro-
bcndondoa Etiologia, a Svmptomatologia, ea
I'litluigonia. ,\ segiiuda parte e consagrada a
Patbologia especial, e eoniprobende as mo-
lostias da i)olle, e dos difforentes orgaos o
systomas, indicando a par de cada molcslia
o sou Iractamento conveniente, oit a sua tbo-
rapoutica especial. X torcoira parte torn por
objeclo as molostias privativas dos din'crentos
aniniaos domesticos.
' Vul. I, pa-. 320,
0 scgundo volume comeca pcia Tliorapou-
tica goral, na qual comprobondo os agentes
pbarmacologicos, ou a Pbarniacologia — a pe-
qnona Cbirurgia — e a Hygion('.
A Zootoobnia occupa a scgunda parte d'oslo
volume. Algnns artigos oxtrabidos d'osto ini-
portante trabalho foram jii publicados polo A.
no segundo volume d'osto Jornal' , e oscusado
0 por isso recommondar a loitura d'osia parte,
talvez a mais notavol c intoressantc do loda
a obra.
Tratando do motboramonto dos animaes do-
mesticos, c da sua multiplicaoao e aperfoicoa-
monto, 0 A. nao osquoceu uma so das co'nsi-
dcraooes, que dovom ter-so em vista para con-
soguir aquello desejado lim. Expondo as dou-
trinas, e os motbodos mais acrcditados, o as
mais recontos observacoes, e experioncias fei-
tas nospaizes mais cultos da Europa, oA.
procurou fazer d'ellas util e conveniente
applicaoao ao nosso paiz. E nao sao unica-
niente os proceitos da scioncia quo lornani
digna de especial attcncao esta ])arle do com-
pondio de Yotorinaria; mas tambom a manoira
pbilosophica, e verdadeiramonfo tanscendon-
to, com que sao expostas cm resuniido quadro
as mais olovadas tbeorias, e os mais imporlan-
tos problemas das scionoias pbysicas o bisto-
rico-naturaos em rolacao ao ass'umjito.
A ultima parte da obra eoniprobende a Ju-
risprudoncia veterinaria, objocto ontre nos
(|uasi inteiramente desconbecido. 0 A. divi-
diu esta parte do seu trabalho em .lurisprii-
dencia yotorinaria propriamonle dita, <[ue
tracta dos casos rcdhibitorios; om .Modicina
legal, qtio diz respoito aos forinientos e cn-
vononamontos, c em Policia sanitaria, que
tracta dos moios do prcvonir o desenvohi-
mento c progrcsso de epizootias, e enzootias
contagiosas.
Nesta parte, uma das mais dilllceis mas
tambem das mars utois do seu trabalho, o A.
colligiu toda a legislacao patria, que rospcita
ao assiimpto, aprosentando ao mosiiio tempo
a legislacao estrangeira nos casos omissos na
nossa .
Em (im a obra terniina por urn Iiidico alplia-
betico goral, coordonado do modo, ([uo so podi?
considorar conio um diccionarin do Veterina-
ria, que muito facilita o iiso d'osto livro ate
aos monos ontcudidos om taos matorias.
Indicamos aponas mui summariamente os
principaes capitulos da nova odicao do Com-
jiendio de Yotorinaria do sr. Dr. .Macodo Pin-
to, porque nao cabe em pequono espaco fa-
zer 0 juizo critico d'este valioso e iin|ioi'tanle
trabalho scicntilico, fructo do longas boras
de profundos estudos, e assiduo trabalho do
joven professor, que, illustrando oom taos pii-
blicacOes 0 seu nome, fez ao son paiz, e espo-
cialmente a agricultura patria, um relevantis-
' Vul. II, pau'. 199 c sr;-.
1
14
.>imo M'lviro, toriiando accessivcl a lodas as
iiitelli^oncias os conhecimciitos volcrinarios,
rom tanto rigor, c clareza. e foiii tanta ame-
nidade di' rslilo, que a loitura da sua ohra c
ao mcsmo tciiiiio iitil c aprasivol.
Apesar dc vnlumoso, este compeudio pare-
ce-nos digno do spr adoplado em lodas as
escholas rcgioiiaos agrionlas, como ja o I'oi na
uuivorsidade, |ion|ue uma lioa parte da ohra
uao eareec de scr oxplieada nas respeelivas
eadciras, mas o nnieamento destinada para sc
consultar; e os ahininos que tiverem seguido
com alleiioao a leiUira desta obra, liearao por
oerlo mui liabililados para se darem a pratua
veloriuaria.
J. Ji. DE ABREU.
.lAUDlNS D ACCLIJIATA^AO NA MAOEIRA E
ANGOLA NA AFllICA Ai;srH0-OCClDENTAL.
Cijiitiiuiudo de [in^. 1-7.
Oi lialjilanles da illia da Madeira, aonde
uma desastrosa epipliylia no decurso d'este
anno lem debtriiido os preeiosos viiiliedos que
atcf agora alii furtnararn o principal e quasi
excliisivo genero d'agricullura, devem seni
deniora e mui seriamenle ejfor^ar-se de
remediar este mal, variando e viultipticando
OS gencros de suas culturas, e deste modo
tiror vioior vanlagem d'uiii cliina, que e
coijsiderado mellior e inais favoravel a certas
cuUurai do que o de toJas as inais illias
do liemispherio boreal ; mas para iniciar as
priiiieiras leiUativas, e jjara experiuientar e
csludar a cullura de novos gei;eros an-rico-
las, qual sera o iustiluto luais convenieute
a csle fim, a uao bor uui jardiui d'aecli-
rnatarfio? ! A fundac^ao de tao ulil e»Labeleci-
luento liavia desde ja occupar inuitos bra<,'os,
que pelo desarUe uas viulias ficaraui_ desoc-
lupados; o nuiiiero cada vez major de va-
pores que alli aporlaui, crusaudo o allaiitico
ern todas as dile('9oe^, offorecia frequeiiles e
opporturias occasioes d'uiiia rapida cora-
MuinieaCjiio com as mals longinquas terras,
facdilaiido assim a prouipta aequisicao de
muilfs vegetaes raros c apreciados ; e liiial-
menle, a exisleiieia d'uin bern organisado
Jardim, povoado roui as mais vislosas pro-
duc(,-6es da Flora de lodas as zonas, liavia
tbr^osameute cliaiiiar para abi urn avultado
liumero de viajajiles curiosos, e augrneiilar
cousideravelmerile a ja iiao pequena coiiccr-
reucia de doeutes, e convidar uns e outros a
mais pridongada deniora n'acjuella ilba dos
cncanlos. Ponderadas lodas eslas circiimstan-
i ias t'avoraveis, o avaliadas as vanlagens que
dellas devem rc.-idlaraos [nadeireiises, pareee
a crearao d'umjardiiri d'acclimala^fio, com
as com|)etentei niodilica(,oes, para ao niesmo
lemi)o servir de pasn-io |)ublico, uma das
mais efficazes providencias que o Govcrno
de Sua Magestade acluahnenle podia legislar
n'aquella ijlia, para mitigar alguiii tanto as
Iristesconsequeiiciasda deva^ladora epipliylia;
Ijem como para eviiar a fulura repeUc;rio
de similliantes desaslres, que mais cedo ou
mais tarde seinpre se deveria recear, se os
madeircnses conlinuassoin a basear exciusiva-
mente, como ate' agora, todas as suas espe-
ranyasagriooias sobre um so genero de cullura.
N'um igual estado de crise e de transifao,
aiiida (]ue por rnotivos bern differenles, re-
presenla-se a riquissima provineia d'Augola
na AlVica austro-occidental ; e igualmcnte
sabiJo que o extenso lerrilorio d'csla valiosa
possessao, desde ha muilo tempo, era o priii-
cipal mercado d'escravos, os quaes, junta-
mente com alguns generos acarrelados do
interior do corilinente por esses mesmos es-
cravos, formavam o limilado repertorio do
commercio colonial. O repentino acabamen-
to d'este trafico, pouco hone-to, mas sum-
mauienle liicralivo, destruiu numerosas fortu-
nas, estagnou o giro d'avidtados cajiitaes, e
paralisou por um inoniento quasi loda a vida
commercial d'aquella colonia. Poreiii, ine-
dianle este estado de geral consternayao, a
bemfazeja providencia eflectuou a successiva
transi^ao d'urn povo paramente commer-
ciante n'uma esperan^osa colonia agricola ;
e dentro em breve tempo o cafe, o a|i;odao,
o anil e muilos outros generos coloiiiaes for-
necerao abundantemenle aquelles inercados
que n'outro tempo so foram povoados pela
illicila fazenda d'um Iralico deslmmano.
Mas, para facilitar aos colonos a ijilroduc-
(;,'io e naluralisa^ao de novos generos agrico-
las ; para experimentar os methudos mais
convenientes de sua cultura, beui como para
depositar e est\idar os muilos vegelaes uteis
que sem duvida neuliuma hao-de eticonlrar-
se no immenso sertao d'aquella provjncia, atu
agora apenas superficialmeiite explorado ; em
fim, para saliafa^er a todas eslas exigeueias
urgenles d'uma naseeutu colonia agricola,
iiao ha de certo iiiTililui^rio nenhuma que
seja mais adequada e de iiiaior vantagem aos
colonos do que um hem organisado e»lal)ele-
cimento d'accliinaia^ao. Arabando de expdr,
ainda que em tragos ligeiros, as reciprocas
vanlagens que se podiam tirar da crearao
de jardins d"acclimala(jao, tanto para as co-
ionias aonde forem esJabelecidos, bem como
para o paiz materno, passo agora a apontar
algumas providencias que considero como
mais acerladas e necessarias relalivajnente a
funda^ao e boa gerencia dos dilos cstabele-
ciinentos. Km quanto ao local ou silio em
que se deviam collocar esles jardins, pouco
se podc dizer sem coidiecimenlo perfeilo da
localldade e mais eircumstancias modifica-
doras que influem no prospero desenvolvi-
menlo de similliantes institiitos; enlrelanto
julgo devor lenibrar que elles deven) ser
estabtlecidos tao proximo, quanto possivel,
145
das respeclivas cidadcs capitacs, e em silios
algiiin lanto abrigados dii» ventos reinantes
ti'aquellas rcgioes, para assirn mais facilinenle
evilar as n)udan9as ropenliiias da lempera-
lura, t.'io nocivas a todas as planla^oes ; cm
fim, o sitio escolhido |)ara fmidagfio dos dilos
rstabeleciiiienlos dove ofTerecor lodas as con-
di^ops favoravc'is da pxposi^ao e do lerreiio,
n deve ser provi'do d'agiias convenieiites a
lima ciiltiira por sua naliireza e deslino iiiiii
vaiiada. A direcySi) d'esles cslabelecimen-
los dcv(! ser i-ntrcgiie a pessoas da plena coii-
fian^a do Governo, e que leiiham os co.
iihcciincnios siifficicntcs para priiicipiar e
conliiiuar com a cidliira c mulliplica^ao dos
vegelaes que para alii forein eiiviados, bein
corno para I'azor os necessarios apontainenlos
iiielercologicos e d'oulias observa^oes pro-
vcilosas, que por for^a liaviam de rfsullar
das varias lenlativas de eullura. Probidade,
inclina(;ao para occupancies desle genero, e
coiihecimeiilo', moniienle praclicos, das dif-
f'ereiiles niatiipula^oes de jardinageni, sao
qiialidades itidispensaveis para quein dirigir
fimilliantes instiliilo-. Defmis d'eslabeb'ci-
dos OS jardins, sera eoiiveniente dar o Go-
verno de Sua Mageslade ordens aos governa-
dores das pn vincias ultiamarinas, bem conio
a todos OS consules de Portugal em paizcs
estrangeiros, para estes diligenciarem a ac-
quisi9So de seineiiles., ccbolas, luberculos,
eslncas ou pes de quaesquer planlas inipor-
tantes, rcineltendo-as com a pos-ivel brevida-
de e convenieiilemenle acondicionadas, ou
directamenle aos ditos jardins, ou a Lisboa,
para d'a<pii se remelterem. Da niesma iiia-
neira se deve animar os eoinmandanles dos
navios do eslado para alcangarcm e manda-
rcrn collier sementes, eic, etc., de qiiaesquer
planlas uleis ou ornamentaes nos paizes oiide
aporlareni, Irazendo-as ou remetlendo-as ao
supra deslgnado destino. Os ecelesiasticos e
chirurgioes cpiese dcslinain para o eiiibarque,
ou ao servico no Ullrauiar, devem receber,
antes de scguir vlagem, breves e bem con-
cerladas inslruc^oes (se for possivel im()ressas)
sobre a maneira niais conveniente de collier
e acondicionar os objectos em cima aponta-
dos. Acliaiido-se uina vezos jardins do Funclial
c de Loanda em certo estado de prosperida-
de, devia-se proceder a crea^ao d'analogos
jardhts Jilidcs iias mais provincias ultrania-
rinas, parlicularnienle nas illias de Cabo
Verde, em S. Tliome, Quilimaiiee em Cioa,
pois em todas estas terras, siiiiilliantes insli-
tulos nao deixariio d'excitar e de furnenlar
pod<"rnsaiiienle o goslo para a liorlicuilura c
agricullLira, como isso se esta cxperimentan-
1 do nos jardins d'acclimatagfio em Cayenne,
' Pondicheri/, Cuba de Boa-Esperanga, Col-
: cutd e Balavia, creados pelos francezcs, in-
I glezes c liollandezes, para fins analogos, e
em grande proveito para as respeclivas co-
lonias das na(;oe5 inencionadas.
BE. P. WELWITSCH.
SOCIEDADE ASIATICA.
O coronel inglez Rawlinson relala de
Bagdad tiovos descoljriinenlos que kz, prin-
cipalmente de cyjindros d'argila desenler-
rados das ruinas d'Um-Queer (anliga Ur dos
Clialdeos). Dons dos cyjindros examinados
por esle sabio arclieoiogo, continliam a
eniimera^ao dos Iraballios niandados exe-
cutar por Nabonidos, ultimo rei de Ba-
bilonia, na Clialdej meridional; laes eram
a reedifica^.io de templos que liavia dez
seculos linliain sido conslruidos pelou mo-
narchas Clialdeos, e a desobslruc^iio de
canaes abertos no tem|)o de Nabopolassar e
Nabucliodoiiosor. O ponto mais imporlante
esclarecido pelo descobrimento des-les cylin-
dros e que, o fillio primogenito de Nabonidos
cbamava-se Bel-sliar-ezar e governava junla-
menle com sen pai. Bel-sliar-ezar e mui
provavelmente o Ualtliazar de Daniel, e
facil agora se torna compreliender que este
principe fosse governador de Babilonia,
quando foi lomada pelas for^-as combinadas
dos Medos e dos Persas, e que morresse no
ataque, ao inesmo tempo que Nabonidos,
ehegaiido em soccorro da praya, era derrola-
do e conslrangido a refugiar-se em Borsippa.
Por fim apresenta Kawlinson, fundando-
se nos mais recentes documentos, um bosquejo
liistorico das dynastias babylonicas e assyria-
nas.
R. COLLEGIO URSUMXO DAS CHAGAS
EM COIMBRA.
PROGRAMMAS.
185i.
Por dccrelo de 21 de junbo de 1861 foi
dado o convento de S. Jose, em Coimbra,
para definitivo assenio do real Collegio Ursu-
lino, que fOra fundado na villa de Pereira ;
e no dia 13 de dezembro do niesmo anno
verificou este Colleg-io a sua Iransferencia
para acjuella sua nova casa.
O edificio de S. Jose, considerado em
quanto a sua posiguo, a mais bella, sadia e
piloresca de Coimbra, mcllior pode ser repre-
sentado por obra de pincel, do que de penna;
jiurque seiii sempre curia qualquer narrajfio,
que se pretenda fazer de suas beliezas. Hni
quanto ;i sua capacidade, nao pole fazer-se
idea d'ella pela liumildade de sua entrada,
que parece buscada de proposilo para en-
cobrir a largiieza do interior. Tern oplimas
salas para aulas e dormitorios, quartos are-
jados e bem aliimiados, corredores alegres e
desafogados, boas casas de cosinlia e refei-
torio, e outras commodidades para todas as
oflicinas. Eui um dos lados, fazendo angulo
com o mesmo edificio, corre de nascente a
poeiile lima espa^osa varanda, que, abrigada
do norte, e aberta ao meio-dia, n.'(o pode
liavel-a mais a geito para gozar o soallieiro
146
no; (lias de inverno, e o fresco cm as noutcs
lie vorriD. Soliraiiccira ao Alondego, e se-
nborcaiido snas deliciosas niargens, d'clla
pode nHo so c?praiai-se e dL'Icilar-so a vista
])elas muitas qiiiiilas, liorlas, c laraiijaos, que
liordaiii uiiia o oulra boira do no, c que na
major parte do anno inarileoin verdiira per-
petiia ; mas laiiihoiii, desfnirlar-se a foniiosa
porspecliva da cidado, que a poiica dislnucia
Jjoiisa doccmente reclinada na eiicosla de uni
motile, com a fronte ao occidciile, coroada
polos magestosos edit'icios e reaes pa(;os da
universidade.
Estende-se na frenle d'aqiiella varanda, e
ao longo de lodo o edificio, inn bcllo jnrdim,
ccrcado de muro, e dividido per miiilos ale-
gretes em ruas de murla. o qiial olTcrece as
meiiinas passeio o mats aprazivel, e di^trac-
gao a mais agradavol, para n'clle se rccrea-
rcm, sein serem devas>adas de parte alguma,
e podendo ser observadas das jjncllas do col-
legio, que quasi todas para all cacm ; riao
faltando para inaior desafogo uma extvnsa e
bom siliiada cerca, aonde, acom|)anliadas das
mestras, as meninas podem dar mais longos
passoios, lao reconimendados como liygienl-
cos, ))ara o desenvolvimenlo pliysico, e con-
fcrvacao da saude.
As Religiosas Ursulinas, querendo satis-
fazer aos encargos de sou Inslitulo, que lein
por fnn e objeclo principal a ueducagao e
jiistruc^ao do sen sexo n e desejindo cor-
responder a protec^ao regia, com que sempre
teem sido, e ultimatnente lao soberanarneiite
foram conlempladas ; bem como ao benigno
acolliiinento, que teem recebido do publico,
eslao decididas a ein|)regar os meios ao sen
alcance para aproveilarem as connnoJidades
d'esta bella casa, a fnn de n'ella eslabelece-
rem todos os ramos d'ensino necessario a
suas edueandas; e aperft'i(;oarem o dos eslu-
dos e prendas, que acUialmenle professam, e
constam do seguinte :
PROGRAIIMA DO KNSINO.
I.
ENSINO UELIGIOSU, MODAL E CIVIL.
Doulrina clirisia: catecliismn : piepara^-fio
para a primeira couimunliao: piactica dos
exercicios religiosos e cliristaos, clc.
Jixplicac^ao succinla do Evangellio : applica-
rao moral de todas as suas niaximas aos
uses da vida, etc.
Priiicipios e regras de civilidnde, compre-
hendendo os elementos do estilo eputolar,
«lc.
11.
EXSmO LITTERABIO.
SKC(,'AO I.*
Ler, escrcver, e contar ; Grammatica Por-
lugueza.
Grammalira Franceza, Italiana e Ingleza.
SECIJAO 2.*
Dcsenho linear coin applicagfio aos lavores e
bordadura.
Geogra])liia : Cliorogrnpbia I'orlugucza ; no-
^oes do Cosmogia|)liia (iralado da cs-
pliera) e de Cliroiiologia.
Historia: Sagrada do antigo e novo Tosta-
mento.
Profaiia, especinlmente a Portugupza.
ftlytliologia (elementos oscolliidos).
SliCI^AO 3 *
Principios, regras e uzos geraos de econouiia
domeslica (governo de ca-a).
Nojoes elementaros de Hygiene.
Ill
ENSINO AIITISTICO.
SEC(,"AO 1.*
roNTO DE MALiiA. I'azer meia : rendas : cro-
chet, espigar : fazer luvas, e variedade
d'obras de la, etc.
cosTuiiA. Cozer : talliar, e marcar, etc.
BORDAuunA. Bordar de branco; a CDrdotmel :
a cabello, etc. : de nializ ; a sedo : a froco:
a escomillia: a ouro e prata: ;l niis?anga:
a p6 de la: pelit point: em vidro, de vaiios
modos; em madeira, etc.
SECrio 2.*
MUsrcA. Canlar e locar piano.
FLORisTiCA. Fazer flores : c de cera.
uEziiNHO. De figura, paizagein, etc.
COXSELIIO SUPEKIOU DE LNSTRUCC-XO
PUBLICA.'
INSTniCfOES PAHA OS COMMISSABIOS DOS ESTIDOS.
Art. 1.° As atlribui^oes dos commissarios
dos esludos acliatn-se prineipalmente iiidica-
das nos artigos 78 e Ifil do dccreto de 20
de seteinbro de I844, e podeui reduzir-se
as funcjoes de reilores dos lyceiis, e u vi-
gilancia edirec^fu) dasescliolas de ensino pri-
mario e secundario com suliordinn^'ao aocon-
sellio superior de instruc(;ao publica.
Art. 2.° Como reilores dos lyceus , iii-
cunibe-llies o desempenlio das f(inc(,oes mar-
cadiis nos artigos 63 e segiiinles, do decrelo
de 17 de novembro de 1837, c em oulrosi
logares da legijlai^ao sobre a in^trile5aa, da
qunl devein obler perfeito couliecimenlo ; e
n'esle sentido perlence-llios :
^. 1.° Fazer execular as leis, regulamen-
los e mais providencias, por (|ue se gover-
naai os lyceus ; e evilar qualquer relaxa^ao,
ou abuso, que descubram nessa execurao.
§. 2.° Convocar o presidir aoi conselhos
dos lyceus seuipie que o ^ulguem convenien-
le , ou llies for requerido por algum de sens
membros, nllegando molivo juslo.
c^. .T.° Piopor ao consellio do lyceu as
providencias, yuejulgarein necessarias para
promover o melborainenlo dns esludos, ou
seja na parte lilleraria, ou seja na discipli-
nar, ou na ecouomica.
§. 4.° Fazer execular as resolucjoes do
consellio do lyceu nos objeclos de sua com-
' DuciiTenlo n.** 1 cilado a paj. 123.
147
pctencia ; e propor em nome d'clle ao con-
selho superior o que depeiider de aucloriza-
jao superior.
.' An. 3.° Na meiina riualldade compele-
llies fazer proceder, e pie^idir ans exainei doi
profesjores , que pieteiideiii liahilitar-se.asslu)
para as. cadeiras dd en^iiio publico, coiiio para
etHinar p.irticulanneale , guiando-se pelas
)M*lr!ic'c;('ie6 e prop:raiiiiiKis respcclivos. Deere-
lo de 20 de seleiiibrn dt- iJJlt, artifjo 18, e
de 15 de hoveinljrri de 133lj, ailigo 13.
.. Art. 4.' Os spcrelarir)s dos lyccus servi-
jf'io de sccrelaiios do collHlli^sarlo unicaiiieii-
fe para aqiieiles ados, (pie nao pode'rem ser
expedidos sciii secrelaiio, como sfio oi exaiiie-^.
§ wiiico.. Nas capilaoi de dijlrjcLi), otide
B.io esl.iverem aindu coiisllluidos os Ivccuj ,
para esles actos, os coininis,-ario5 rcqiiiailaruo
iun offieial do governo civil, que s rva de
SPOielario, liecn com'O a casa e uten i; neces-
saries para o inesuio tun.
Art. 5.° Em qiianlo a diiecijao do ensiiio
primaiin e sccuiidaiio, compeleni-llics as
func(,'6es, que pido arti^o 37 do decreto de
15 de iiiivemljro de 183(), liuhain sido fi\a-
das para as cornmissocs inspetloras , a salier:
guiar e dirif^ir os profe. sires , assim de pala-
vra , como por e^cripto, no que diz respeito
ao ensino; provideuciar nosrasos de sua coin-
petencia ; dar coiila ou represenlar ao con-
sellio superior ludo o que a e\ceder ; cumprir
as ordens d'esle; inforinar com exaclidao as
aucloridades; e formal izar e renietter os re-
latorios e mappas estali5licos uos lermos do
artigo 37 do repulamealo do mesuio conse-
llin de 10 de novenibro de 1815.
Art. G.° Para satislazer estes fms , e es-
pecialmenle o rclatorio , cpie devem remetlcr
ail consillio por occasiao das duas couferen-
cius ordeuadas no arligo 21 do mesmo re-
gulamentfi, dever.'io em cada semestre fazer
anlecipadaminile uma visrla a lodas as e.^clio-
las do scu iliitricto, na (pial procurarfio olitor
perfcito cordieriuienlo do estado asim pes-
joal , como mateiial e lillerario d'cljis, iio-
laiido as alieragots , (pie iios intervollos fo-
rem occorr(Uido,
' §. 1.° Em quanto ao pes:^oal : nolar'io em
fada uma o giau de meiecimeiilo dos pro-
fessores nas Ires considera^oes da sua capa-
cidade lilteraria, do zelo e aplidiio para o
eiisino, (! o do sen compoitamenlo moial e
rellgioso, indicando, ipiaiido o julguem ne-
Oessario, os faclos comprolialivos do sen juizo:
inarcando oulrosini o nunieio e aniueiicia
dos moniuoij a sua regiilaiidade e aprovei-
lamento, o iiumero d'elles, (pie aiinualriien-
le saem siilticienlcs, e o tempo, que ordina-
riamente paia iaso gastam.
'^. 2.° Em quaiito ao material : nolarao
se a escliola csla collocada na posiyuo mais
lavoravel, attentas as circumslancias para
a concorrcncia do maior numcro d'alumnos;
se em casa puldica, ou particular do profes-
sor ; a capacidado e disposi^oes deila, bem
como a mohilia c iitonsi's; com outras qoaes-
quer oliscrva^'nes.
§ 3 ° Em qiianto ao litlerario e ccono.
mico: exaininaraoo methodo de ensino nsado
na escliola, se o mutiio, se o simultaueo on
0 mixto; a mancira por que o professor o
desem|)eulia, e os sens resiiltados; as differen-
tes classes dos alumiios, e as di^ciplinas, quo
nejias se ensinam, com especialid.tde as que
dizem respeilo a moral e religiio; os livros,
labelias, improssos e maniiscriptos, de que se
usa na escliola, interpnndo o sen juizo sobre
elles, e lembrando e aconsclliando os mellio*
res; averiguarao outrosiin a djjciplina da
e-clinhi, as lioras das liijfV's, e o inodo" de as
combinar com os traballios e nocessidadcs
dos povos; c promoverSo a praclica dos exa-
mes annuaes feil(.s com a pnblicidade e im-
porlancia propria a estimular os meninos, Ci
sati-fazer os paes.
^. 4° li toda! eslas observaroes torao
uui registo c(mf6rnie o modelo junto, que os
liabilite para ministrar iiuae3(pier esclareci-
inenlos que Hies forem pedidos, e donde
extractem os mappas eslatisticos, que dcveni
remelter ao conselbo superior nos termos do
artigo 37 do regulamenlo.
Art. 7.° I'or occasiao das visitas, ou eni
outra qualquer, que llies parc(;a favoravd, e
sem inconvenienle para as li^oes, farao reunir
aquelles professores, que llies parecerera mais
zelosos e mais habeis para o fun de confe-
rirem com elles sobre a excellencia dos dif-
ferentes metliodos, sobre os nielliorcs com-
pendios, reforma da dlsciplina escliolar, e
meios de a fazer observar, e em fun sobre
quaes(]uor niellioramentos, que se possatn
effecluar, ou seja no syrloma geral do ensino,
ou no especial de algumas escliolas, beni
como sobre a mancira de propagar nos povos
o gosto da in-truc(;.'io.
Art 8." Promoverao o estabclecimento
dp a^socia5(^es de beneficeiicia, e fiindaji'cs
de escliolas e ca-as d'asylo, dando parte
ao coiisellio superior nos termos do artigo
23 do citado decroto de 20 de si^leinbro.
Art. 9.° Ivm quanlo as escliolas e col-
legios particulares, cxecularlio, na parte que
llies diz respeito, o dispo=to no artigo 83 o
scguintcs do mesmo dcerelo.
§ xtnico. Tacs escholas e colltgios s.mo
sujeitos tanibem a inspec^.'io e virita dos coin-
missarios, e dovem fazer parte da estalistica
em mappas esprciaos.
Art. 10.° O que fica dito a respeito das
escliolas de mcninos, t: lambem appiicavel as
escliolas do sexo feminine, lendo em c(^iniide-
ra^ao a parte, que perlence as prendas, que
n'ellas se devem ensinar.
Art. 11.°" Para a execu(;,'io d'estas func-
^(^es poderao, no case de impedimenlo, os
couimissarios fazer-te coadjuvar pelos sub-
delegados, de que falla o artigo 161, §.2, do
citado decreto de 20 de setembro; mas em
todo o caso sob sua propria reponsabilidade.
148
OBSERVACOES METEOROLOGICAS , FEITAS NO
GABINETE DE PJIYSICA
DA CMVERSIDADE DE COIMBRA.
Anno lie
1854
— 3
E- E B
Preasiiu atiuuspherica ao meio dia
Eiitadu lij'jfromclricg da
utiiiospbera au meio dia
Me. de
Julho
Alliira baro-
nu-lrica a 0."
centi;j.
Tensrio do va-
por almosphe-
rico.
PressHo do
ar sccco
-1-2
O S
Quaotidade (Ic va.
por a(|aoio conlidu
em Bm nielro «u-
bicu dc ar.
Dias
Grans
cenliff.
Milliuietros
Millimelros
Millimetrus
Grammas.
1
20
754,677
13,004
741,673
0,7551
12,07
N.
2
21
753,075
13,902
739,173
0,7590
13,71
N.
3
20
753,461
13,290
740,171
0,7676
13,15
N.
4
20
753,461
13,125
740,336
0,7581
12,99
N.
5
SO
750,667
13,993
736,674
0,808i
13,84
S.
6
19,5
750,738
11,678
739,060
0,6951
11,57
S.
7
19,5
754,538
10,940
743,598
0,0512
10.84
N.,
0
19
754,064
10,976
743,088
0,6739
10,90
N.
9
19
753,454
10 8S0
742,034
0,6643
10,74
N.
10
19
752,692
11,217
741,475
0,6823
11,14
N.
11
19,5
753,901
11,732
742,169
0,6933
11,63
N.
13
20
753,461
12,073
741,388
0,6973
11,94
N.
13
21
749,248
12,439
736,809
0,6791
12,«6
N.
14
20
749,776
11,835
737,841
0,6J36
11,71
N.
15
20
752,982
12,580
740,402
0,7266
11,45
E.
16
21
750,888
13,058
737, B30
0,7129
12,83
E.
17
22
755.454
13,419
742,035
0,6911
13,19
N.
18
21
750,888
11,705
739,182
0,6391
11, 6t
N.
19
21
749,248
11,971
737,277
0,6336
11,00
E.
20
19
753,302
11,282
742,020
0,6937
11,20
O.
21
24
752,892
16,789
736,103
0,7700
16,39
E
Si
24
752,892
15,291
737,601
0,7013
14,93
O.
23
24
752,133
17,350
734,780
0,7957
16,94
O.
24
22
754,206
]5,98i
738,222
0,8232
15,71
O.
25
22
754,460
15,782
738,678
0,8128
15,51
O.
26
22
753,393
15,026
738,367
0,7739
14,77
N.
2T
23
752,305
13,434
738,872
0,6529
13,16
N.
28
22
753,749
12,871
740,878
0,6629
12,65
N.
29
22
753,749
14,044
739,705
0,7233
13,80
N.
30
23
754,084
15,552
738.532
0,7558
15,23
O.
31
22,5
750,200
14,905
735,795
0,7451
14,63
N.
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752,726
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Mjiei-atnra
Prcssao almospherica
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absoluta. . 23°
Maxima absoluta . . 755,454
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. . . . 0,8232
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19"
Minima 749,248
. . . . 0 0391
•• S
bJ
Maxima
variai;. . . 4"
Maxima excursao . . 6,206
Maxima varia^itc
) . . . 0,1841
Coiui
bra 1." de
Agotio de 1854.
O Demonalrador da Faciildade de Philoaophia , Mu
noel dot Santos i
^eretra Jardim.
^<
® Jnetitiita,
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CONSEIllO SIPERIOR DE INSTULCCAO
PL'BLICA.
BELATORIO ANNUAL.
1847 — 1848.
Senliora! 0 rolatorio, que o conselho su-
perior de instrucrao publica tern a honra de
levar a Augusta Prescnca de V. Magestadeem
observancia do art." 40 do dccreto de 10 de
novembro de 1845, se nao der do estado da
instruccao publica do paiz, uma noticia tao
completa e satisfactoria, como o conseJho
sinceramente deseja, e desveladamcnte pro-
move, desdc 0 primeiro momento da sua
existencia, dara, pelo menos, um conbeci-
mento fiel, e tao exacto, d'aqueile estado, e
das necessidades do ensino, quanto se pode
exigir dos poucos elcmentos estadisticos col-
ligidos dos variados ramos da administracao
litteraria, elementos, em que, sera embargo
de incessantes esforcos, ainda nao foi pos-
sivel alcancar o grau de perleirao indispen-
savel a trabalhos positivos d'este genero.
Progrediudo lenta, mas gradual e regular-
mente, como de razao, em objecto de tal na-
tureza, os nicllioramenlos excilado.s ua in-
struccao publica pelas .sabias provisOesde 1844
e 1841), vierani subita e incsperadamcnte
OS desastrosos acontccimentos poiilicos de
1846 paralysar o andamento regular da ad-
ministracao litteraria, e nao obstante o era-
penho sincoro e assiduidade do conselho, os
effeitos d'aqueile violento abalo ainda se nao
dissiparam; o por algum tempo tornaram a
marclia dos nicllioranientos litterarios vaga-
.rosa, conlrastada, c iutcrrompida.
Wuito fizeram rccuar (e I'orca dizel-o) a in-
struccao do paiz OS movimentos politicos, por
que temos passado nos dois ultimos annos
decorridos. E que as letras fogem do estridor
das armas ; e so no remanso da paz, e a sombra
da prosperidade podem mcdrar. A machina
da instruccao publica, dizia o maior gcuio do
- nosso seculo, deve ser como a macbina do
mundo — morer-se sem se senlir — , e com
quanto parallela, scmpre distante da esphera
da polilica.
A instruccao primaria foi a que mais sentiu
OS lamentaveis clTeitos das discordias civis. As
apuradas circumstancias da fazenda publica,
YoL. III. Setembko 15—1854
nao podcndo acudir ao pagamcnto regular dos
profcssores, teem motivado o abandono d'al-
gumas cadeiras, que estao sem exercicio, por
nao ter apparecido quem a ellas se opponha
em concursos, por vczes repetidos. Era natural
este rcsultado; porque os profcssores d'instruc-
cao primaria, mais desamparados de mcios,
iiao jwdem supportar o atraso de ordenados,
de que geralmente falando, vivcm exclusiva-
mente, e suas familias.
Na secundaria tem apparecido tambem algu-
ma falta de concurrentes aos logares vagos; e
por isso ainda nao esta completa a organisacao
dos lyccus em todos os districtos : nera ainda se
achani constituidos os de Braganca, Villa-Real,
Avciro, Guarda, Castello-Branco, Leiria, Por-
talegre, Beja, Faro, Ponta-Delgada, c Dorta.
A instruccao superior mais consolidada, e
robustecida.'podemelborresistir asoscillacoes
politicas, c crises linanceiras. Os interesses
que ella offerece ainda convidam ao concurso
para os logares do magisterio, a pezar da dimi-
nuiyao e irrcgularidade de pagamentos. Mas e
nesle, mais do que nos outros ramos, que a
djsciplina das escbolas se sentiu quebrantada,
em consequencia da febre do delirio, que
costuma de preferencia invadir a mocidade
fogosa e inexperta.
Mas e de esperar que o restabelecimento
da ordem, e conscrvacao da tranquillidade
publica, ponham tcrmo a estes males; e pre-
stcm abonada tianca a um fuluro mais agra-
davcl. Cumprindo o sen dever vai o conselho
dar coBta do — estado da instruccao.
Administracao central.
No servico do conselho superior houvc na
maior parte'do anno apenas cinco vogaes. Dois
falleceram, cuja pcrda o conselho dcplora, e
um nao foi ainda sub.slituido : oulro foi empre-
gado fura de Coimbra cm commissao gratuita.
Continuando rcpartidos em tresseccocs os tra-
balhos do conselho, mal podiam os vogaes em
exercicio satisfazer as exigenciasquc o service
Ihes incumbe, sem se achar completoo numero
da lei, que nao e de sobejo para os muitos,
variados, c graves negocios de administracao;
e para a discussao necessaria d'estes, e dos
trabalhos deprojectos, que repetidas vezes tem
de offereccr a consideracao de V. Magestade.
Num. 12.
^'
^M^-^^
150
Nil secroUuia do consclho tambem faltou urn
oiHcial ordinaiio, que ainda nao consla ao lOii-
selho fosse suhslitiiido; e faltaiu, sobre liido,
OS meios para pagar a amauiK'nses, por vezcs
indispt'iisavt'is para a prompta oxpcdicao dos
ncgocins.
Ainda nao lia rommissarios d'i'stiidos nos
districtos di' I'onla-Delfjada, Funclial. Hi-ja.
r.astello-Brani'o, Coimlira, Porlalogro, Viana,
Uorta. Algiins d'eslcs ja noinoados nao toeni
loinado posso dp sens logares; oiitros nao
I'oram propostos por falta das informarOes nc-
cessarias.
A creai-ao dos sub-delogados e iudispensavel
para a regular iiispecfao das estholas. 0 cou-
selho sttperior, roconheiendo a necessidadc do
mais pcrfcito accordo enlre estcs empregados
e OS commissarios, a quein sao subordinados,
tcm recommendado a estes que Ihe indiquem
as pessoas mais capazes de hem dosempe-
uliareni o importaiile mister, que se llics ha d^
fonliar. A circuiuspeccao e madureza, que
devem presidir a oscolbas tao mclindrosas,
sorao por ventura a causa de sc nao rcalisarem
com a promplidao que o couselho deseja , e
alguns commissarios reclamam.
Os governadores civis cm gcral teem pre-
stado sinccra e efficaz coadjuvacao ao conse-
Iho ; e alguns teem ate mostrado decidido zelo,
e dedicacao a instruccao publica ; mas n'uma
instiluicao nasceate, niio e logo de esfrtrar
toda a perfeicao de service, e por essa causa
OS resullados sao per ora raenos valiosos.
Servicos geraes.
As circumstancias excepcionaes, em que o
paiz tern estado, teem estorvado as visilas de
inspeccao, que os commissarios de estudos
devem lazer em seus respeclivos districtos.
D'estas visitas, e d'ouiras prescriptas no art."
162 do decreto de 20 de septembro de ISii,
feitas nao regular e periodica, mas inespera-
damente, colbera a iustruccao copiosos fru-
ctos, (juando a ordem publica e a seguranca
individual sc achem plenami'nle consolidadas.
No districlo de Lislwa e, sobre todos, neces-
sarid essa fiscaiisacao, e inspeccao, como em
sen rclatorio conl'essa o corantissario respe-
ctivo, quandn para aqiielle imporUuite traba-
iiio se ache liabilit;ido com a coadjuvacao
dos sub-dcli'gadns.
Us negucros de e\]>edien'te do consellio nao
se acham alrasados, nao obstante a falta que
houve de alguns vogacs ordinarLos, de urn
official do quadro da secretaria, e de meios
ipecuniarios.
0 consellio tcm colligido dos livros ele-
mcntares naeionaes, os mais adaptados ao
ensino da instruccao primaria ; e annualmentc
tem communicado ao governo de V. Magesla-
do a colleccao a<lopiada. E para lamcntar que
aiuda se uao publicasse a colleccao relattva ao
corrente anno littcrario ; e que esta falta tenha
molivado as duvidas, que alguns commis-
sarios de estudos expocm sobre os livros con-
venient!^ ao ensino.
Nesta colleccao lignram alguns, cujos au-
ctorcs sao vogaes do conselho superior. E tanto
neste, como nos outros ramosdeensino publico,
tcm-se estampado obras de merecimento dis-
tinclo, adoptadas hoje por compendios nas res-
pectivas escbolas.
As Typograpbias publicas teem procurado
mclborar-se. Na Imprensa Naclonal teem pro-
gredido os melhoramentos a pouto de hoje riva-
lisar com os miiis accreditados da Europa.
Das liibliolhecas pubficas apenas pode o
consellio superior dar conta das de Evora c
Braga, unicas que cumprirara o seu dever na
remessa dos relatorios. A d'Evora, contendo
25;0()0 volumes singelos — 5;000 volumes do-
brados — 1800 codices mss. — ^6:000 e tantas
medalhas, e 300 e tantos paiueis, precise, diz
0 relatorio, de meios para a conscrvavao do
que existe, e acquisicao d'outros productos.
Requer o bibliothecario auctoridade e meios
para elTeituar compras Ibrtuitas e fugitivas, e
um escriptiirario. A de Braga acha-se em la-
stimoso estado, cstando mais de 20:000 vo-
lumes cm estantes velhas depinbo que ameacam
arruinar o deposito dos livros contido em 31
cubiculos uupropi^ios para salas de bibliothcca.
Servieo especial do comsdho.
Consta actualmente o pessoal do conselho
superior de sete vogaes ordinaries, c i'i
extraordirarios (mappa n.° 1). D'estes acham-
se ausentes 19. A secretaria tem menos um
officiaJ ordinario do que compete ao seu quadro
provisorio, por nao ter ainda sido provide o
logar (jue vagara. Crcscc de dia para dia o
numero de negocios do expediente, como era
dc espentr, a mcdida que se fosse centra-
lisando uma administracao, CHitr'ora vaga, e
(Ii.«persa ; e se creassem os novos ekiuento.s
de administracao, e inspeccao indispensaveis
a unidade c forca dc direccao.
Os vogaes extraordinarios pertenccntes ao
corpo univcrsitario, e como tacs subjeitos aa
service de suas respectivas faculdades, nera
sempre podem empregar, no service de conse-
lho, leda a assiduidade e zelo, que a voca-
cae, e o seu proprio interesse Ibcs podem in-
spirar. E nao foi por outre motive ((ue no findo
anno lilterario, nao poderam cuniprir com os
tralwilbos de organisacao de compendios, que
pelo conselho Ihes foram encarregados : acham-
se todavia afguns d'esses trabalhos muilo
adiantados, c conlia o conselho, que no decurso
d'este anno possam ser apresentados.
Nao obstante a repeticao de avisos a todos
OS dclegados do conselho, e a especial mencao,
que nos relatorios anteriores se tem feito, da
falta de cumprimento dos §§. 2, 3, e i." da
^^SkS^i."
.'.^e^'
^>N
151
aft." 37 do decreto dc 10 dc novcmbro de
18iS, ainda nao foi possivcl oblcr, com rc-
i^ularidade, os csclarccimentos e niappas esta-
disticos, que dcvem scrvir de base ao rclatorio
geral da instnirrao publica. Sao todos inconi-
Sletos OS rclatorios dos commissarios c chefes
e eslabelecimentos litlcrarios: faltam mappas
dc frequpncia c aprovcitamcnlo dc 337 pro-
fessorcs d'instnirrao primaria; do niaior nu-
liittro dos d'instiucfiio secundaria ; e dc todos
OS cstabclecimciUos scientificos dc Lisboa.
Esperava o conselbo que cm septembro ao
menos se cumpiissc rigorosamcnte o dcver,
que de todo se csquece nos outros periodos
niarcados no cilado decreto. Infelizmente assira
nao acontcce; e julgando indispensavelalgum
excmplo de scveridadc, sem o qual nao pode
ja nutrir espcrancas de eonseguir o cumpri-
ihcnto da lei, nao dissimulara a falta em que
cstao OS delcgados das Ilbas Adjacentes, que
nunca ate agora satisfizeram as citadas dis-
posicocs, e actualmente collocam o consclho na
impossibilidade de dar noticia do estado da
instrucfSo n'aquella parte da monarcbia.
klkm dos trabalhos de servico diario, e da
cxpedifao de portarias, officios, e provimentos
tcmporario? a muitos professores d'instruccao
publica c particular, tem o conselbo rcmettido
. ao governo de Y. Magestade, desde dezembro
de 1847 ate ao principio d'este mez, 103
consultas sobre objectos de intcresse geral ou
pcssoal, expedido 3 circulares aos sub-delega-
dos; e discntido 2 projectos dc regulamentos,
^ucprepara para submettcr a regia approvacao
de V. Magestade, alem do que fdra offereci-
do em consulta de 26 de maio do corrente anno
para a administracao da bibliotheca de Braga.
Contimia.
APONTAMENTOS BIOGRAPUICO^
SOBRE 0 NOSSO INSIGNE POETA LlIZ DE CAMOES.
Coiitinu-iilo de pag. 139.
Simao Yaz de Camoes, filho do dito Joao Vaz
de Villa Franca e Calharina Fires, viveu em
Coimbra, e tendo servido na guerra d'Africa
e na Marinha', esteve ausentc d'esta cidade
como era indispcnsavel a quem andava em ser-
vico do rei e da patria alguns annos, duran-
te OS quaes e natural passasse seu pae a se-
gundas nupeias com Branca Tavares, com a
qual ja em 1328 se achava casado; e devia
seu neto Luiz de Caraoes ter neste tempo
quatro annos, creando-se em casa do avo
que entao residia nesta cidade", e aqui havia
' Bispo lie Viieii, lora. 1 |ia(f. S7 c £8.
' Cit. bispo (Je VisL-u, p;ip. S9, fallando do anno tin
que o nosso poeta natceu, di2 = o anno do jeu naicimrn-
lo nao fui o de 1517 .. .. mas o de ISSi. =
de continuar ate que nuidando-se a universi-
dadc de LisbOa para Coimbra ein 1537 para
1538, nclla comcfaria os sous cstudos por
esta occasiao, pois devia conlar ja 1.4 annos,
tempo em que urn talento pcnctranle, e urn
engcnbo dotado de uma vea rica e fina, em
breve cstaria prompto para com bom aprovci-
tameiito se aperl'eicoar nos cstudos superiores,
e continuar estc longo tempo que nesta cidade
passou, como elle diz.'
Ausentando-se depois dc Coimbra, provou
todos OS contratcmpos da forluna, e os accr-
bos fructos de Marte, como elle proprio conta*,
que 0 obrigaram a sair do rcino, e a ir nas
avenluras do mar e terras estranbas buscar a
fortuna, que a sua ma sorte Ibe nao pode fazer
propicia. NSo podemos .saber o anno, cm que
saiu do rcino; mas, segundo as mais discrctas
c precatadas conjcciuras, tendo estc aconte-
cimcnto tido logar depois de 1530, foi neste
nicsmo tempo que sua tliia, mcia irma de seu
pae, Isabel Tavares, rcuovou em si o prazo
das casas na rua dos Coutinbos (/jue como ja
dissemos naquelle tempo se cbamava da Porta-
nova), vislo ter succcdido nelle pela morte de
seu pae; o qual possuiu por dois annos, findos
os quaes renunciou as vidas e dircito que nel-
las tinba , a favor de seu irmao Simao Vaz de
Camoes, fazendo-as reverter a seu irmao pri-
raogcnito, mediante uma doacao, que estelhe
fez de muita parte de sua fazenda para ella ca-
sar com Alvaro Pinto % como consta dos docu-
mcntos extraidos dos livros dos emprazamen-
los da Slide Coimbra; documcntosque mostram
a qualidade da pessoa e familia de Simao Vaz,
por nelles se dcsignarem as coudecoracoes que
tinha, e a sua rosidcncia nesta cidade; e que
por arranjos domestiios, c para casar a dita
sua irma com o dito Alvaro Pinto, bavendo-lhe
ccdido a maior parte da sua fazenda, ella Ihe
ccdeu as casas de que se lavrou escriptura em
3 d'agosto de 1552 \ para ncHas viver, po-
dcndo-as nomear a um filbo ou filha que ti-
vesse ate a bora de sua morte. Pareee que por
cste novo conlracto seabria um novo caminho
para a successao de Luiz de Camoes na casa
paterna, e nos mais bens em que devera ter
quiuhao; mas a forluna, que sempre Ihe era
avessa, em breve Ihe tornou a fugir, porque
Simao Vaz, auscntando-se para o Porto, alii
esteve residente alguns annos, em quanto o
filho vagava pela India, c com a sua prolon-
gada auscncia, a casa se arruinou, e Luiz de
Camoes, tambem ausentc, ncm tractou, uem
podia acudir ao dcsmanlelamenlo dos bens,
que a prolongada ausencia dos donos dcixa
perder, e em breve cair em ruinas', ate que
voltando outra vez do Porto com animo de
' Cani;ao IV.
■' Can^lo XI.
^ Vej. o duciimento n " 2.
* Dociim. cit. D.° S.
' Vfj. o dycum. n." 3.
152
residir nesta cidade, novamente requereu ao
Cabido senhorio direclo das ditas casus iuiio-
vaiao do lonlrai'lo omphytfutico por mais ou-
tras tres vidas, alcai das ([ui' jii tiiilia, alteii-
dendo a niuila ruiiia em quo o predio so aclia-
va, e a niiiila despcsa (luc iielle liiilia de fazer,
0 que tudo o luesiuo (".aliidii llii- concedeu por
escriptura imu 22 de seleiuhio de loTO '. Nem
uesta, nem na anteredenle escriptura lavrada
a 3 d'agoslo de lii."i2, se faz nicu(;ao da mu-
Iher de Siniao Vaz, que dcvia sor Anua de Sa
e Macedo', sigual de ser ja fallecida nesta
ultima data; nem tao pouco se falla era lillio
que detla houvesse, e este slleiicio nos faz prc-
sumir, que ou desgostoso Simao Vaz de seu
rtlho por algum verdor d'annos, (que nas suas
limas clle da a entender) o teiia feito enibar-
car para a Africa, c na votla daqui para a
India, o que teve logar cm 1553 ' ; ou que a
ma sorte do nosso pocta, seu genio fogoso c
insoffrido, o faria despresar todas as reiacOes
doiuesticas, e os lacos da propria convenien-
cia, e abandonado de sens mais proximos c
familiares parentes correr a discripcao e von-
tade de sous caprichos, exulado de todo da fa-
milia a que pertencia. Nem podemos imagi-
nar outra coisa, vendo preferidos os ramos col-
lateracs da madrasta ao proprio (ilho, verda-
deiro successor dos bens paternos, quando
voltando o poeta da India, e sendo seu pai
ainda vivo, se nao bouvesse estas anteceden-
cias, nao deixara cair na miseria o proprio
fdho, de qucm lanta honra llic vinha, com a
publicacao dos Lusiadas, que viram a luz pu-
blica em 1372, e no mesmoanno, nova edicao;
foisa original nos annaes da nossa litteratura!
Tao grande foi o entliusiasmo que com esta
produccao elle adquiriu, que todos a portia
demandavam um exemplar da sua epopea, o
que egualmente demonstra o bom gosto e aprc-
co da nossa litteratura no seculo XVI *.
Teve Joao Vaz de Camoes, d'alcunba o do
Villa Franca, outro irmao por nonie Pero Vaz,
d'alcunba deCoimbra, ambos foram cidadaos,
emoradores nesta cidade'; e Pero Vaz, como
se estabeleceu no Algarve, abi esteve por
escudeiro do conde de jMonsanto, como se diz
na escriptura de 9 d'agosto de 1330.
E por que aqui so falla no conde de Mon-
santo cm cuja valiosa proleccao se acbava
Pero Vaz de CamOes, farei uma pequena di-
gressao sobre esta familia, a quern o nosso
poeta foi devedor de mui assignalados favores.
Eram os condes de Monsanto dos princi-
paes, e mais nobres fidalgos portuguezes. A
sua ascendencia (seguindo D. Luiz Salazar no
* Docmii''nto cil. n." 3.
'■' Ri'pu lie Visi-u cil. |i.i;;. S9.
* lacm |>.i:r. -if} e se;,'uintPs.
* li. pa-'- a? .= qii.uicio C.iinues app.irccia ii.is riias
lie Lislioa [innivain as peFsoas, tjue iam pnssanilo a vel-o
e nao cuuliiiimiam mm quo priiiniro fivi'sie ilc-sai>|iarc-
ci'lo. =
* V'-j. o djciimtjily D." 1.
livro intilulado — Glorias da Casa Farnese —
ao mesmo tempo que se entronca na estirpe
real de D. Garcia, fillio de D. Fernando o
grande, rei de Castella, perde-se na escuridade
dos seculos: mas approximando-nos mais aos
leuijws modernos sabemos, que o 3.° conde de
Monsanto 1). Pedro de Castro, foi alcaide mdr
c fronteiro mor de Lisboa nos reinados de
elrei U. Manoel e D. Joao III ', e era ncto de
I). Fernando de Noronba, 1 ." marqucz de Villa
Real, |)or ter sido sua mae D. Joanna de Castro
casada com D. Joiio de Noronba, iilbo do dito
marquez.' Seu Iilbo D. Luiz de Castro 4.°
conde do mesmo titulo, casou com D. Violan-
te de Tavera, lilba do 1.° conde da Castanheira
D. Antonio d'Ataide, c de D. Anna dc Tavera
(da casa dos condes dePortalegre). ^ Sous ne-
tos com 0 senborio de Caseaes passarara a
marquezcs d'este titulo, e havendo faltado a
descendencia dirocta acba-sc boje encorpora-
da a casa e titulos na dc Niza.' Deste tracto
mais familiar e frequente dc Pero Vaz de Ca-
moes, tbio do nosso poeta, com o conde de
Monsanto nasceu senao com eerteza, prova-
velmente a eslremada amisade com que Luiz
dc Camoes foi bonrado por D. Antonio de
Noronba, Iilbo dos condes de Linbares, e dos
mais bdalgos seus parentes, grangeando com
ella 0 favor que na India Ibe deu D. Constan-
tino de Braganca, e D. Manoel de Portugal,
da casa do Vimioso'' favor que elle retribue
com agradecida correspondencia nas suas
eclogas, elogias e sonelos, cm que se nota a
amisade ou antes veneracao que tribulava ,9.
tao elevadas personagens. Voltemos porem ao
nosso assumpto.
Casou 0 sobredito Pero Vaz no Algarve
com Brites Gomes, alii deu princfpFo ao rarao
d'algumas familias nobres, que ainda boje
aparontam com a do nosso poeta pelo lado
d'este seu tbio, pois que a descendencia de seu
pai f!Om elle se perdeu, licando so a de Filip-
pa Tavaros, irina de sua madrasta Branca
Tavares'. Sabia, e discrcta provisao da Pro-
videncia, que nao querendo croar outro genTo
egual ao nosso poeta na linha desccndente de
' F.iria e Leraos. Pulil. Mor. e Civil lom. i.° pag.
.'lOl.
- Moreri Dicriitn. art. — C.islrn — ondc refere esta*
nolic'i.is que alcan(jMm niais do que as rcferidai na Hislo
ria G'Mifaio;;. da C. K , e pw is80 as vamos sejruinilft.
- Proias da Hisloria Geneal. torn 11 cap. 5 11.° 15.
paj. 9:i0.
■• MiMiiorias para a Hiat. Eccles. do Alsrarve pcio socio
da Aculemia rjilta Lopes, 18*11 p.m. 493 onde se dil
adrainislr.ir a casa de Moiisanlo o vinnila que o bispo
.\lao insliluira em Lisboa na cjreja de S. Barlholoiteir,
e hoje a casa de Niza.
> Sobrc oi fa\ore3 dost'S fldaljos veja-se e que dil o
bi«po de Viseu na s'la Memoria citada no lom. 1 dai
sriag obras pa:j. ."8. e sobre os versos aos liilul^'os leani-se
as Rimas rle Camoes mi3 lojarea ai)onlados, aonde d'clles
faj (special Icnibrant;a.
' Sua irma Isabel TavareJ, que deiio casada com
Alvaro Pinio, presume nilo ler lido g.-rarao , por que 0
resto dos bens de SimiSo Vaz, ludo passuu aos collaleraM
dctia, ate qi-,c »c cslir.^'uiu de lodo cm 1643.
153
sua familia com elle terminou toda a sua poste-
ridade. Sobre a qualidadc de sua pessoa nao so
era lidalgo d'elrei, seu pai SimaoVaz; senao
tambcni seu avo Joao Vaz, para cuja prova
basta so ver os documenlos juntos a cstes apon-
lamentos, ondc sao dcsignados por escudeiros,
e cavalieiros, sohre cuja norao diz o Elucida-
rio' — Em quanto os fidalgos sc nao armavam
cavalieiros serviam na milicia com o nome
de escudeiros. — Ora sendo Joao Yaz designa-
do por csta qualilicacao nos documenlos que
oITercccmos, lica manifesta a sua nobreza na-
quellc tempo. Da dcsccndcncia de Pero Vaz de
Camoes, que se estabeloceu no Algarve, da
testemunho com outros o citado e eruditissimo
bispo de Viseu% e porque nao e do nosso
assumpto descrcvel-a, passo-a cm silencio, ate
por nao ler visto documentos, que me podes-
sem por a salvo d'alguns cnganos, excepto o
que no seulogar apontamos, e quedemonstra
a sua existencia no reino do Algarve. Ora ten-
do seu avo vivido nesta cidade e designando-
se cidadao, assim como seu pai Simao Yaz,
tendo nella bens e propriedades, grandc pre-
sumpcao me lica (para nao dizcr certeza) de
ter sido a sua naturalidade d'esta, e nao da
cidade de Lisboa. Faria c Sousa, apurado in-
dagador d'anliguidades, tendo-o dado por
natural de Santarcm, na segunda vida que
deu do nosso pocta, muda de parecer fazen-
do-o natural de Lisboa. DomingosFernandes,
na dedicatoria das Rimas que offereceu a uni-
versidade de Coimbra, e publicou em 1607, o
declara natural d'esta cidade, dizcndo — pois
nascendo elle nessa vossa cidade de Coimbra
^expressao que denota estar certificado mais
que OS outros biographos da sua naturalidade;
0 que ludo combina muito com os documen-
tos que nestes apontamentos oderecemos, a ver
se algum mais habil indagador pode descobrir
outros que nos soltem as difficuldadcs, e escla-
rccam as trevas em que nos achamos envolvi-
dos. Em lS8i ja Simao Vaz era falccido, e as
suas casas tinham passado para urn parente
de sua madrasta, que casou com sua segunda
mulher D. Francisca, a qual tinha ficado her-
deira de seu marido Simao Vaz de Camoes, e
por esta razao encontramos uma determinacao
do Cabido concedendo a um sou conego Fran-
cisco Pessoa, 0 dircito de as revindicar da mao
do Dr. Roque Percira Tavares, que as possuia,
por sua dita mulher D. Fraheisca, viuva do
sobrcdito Simao Vaz. ^ Daqui se conclue que
tambem Simao Vaz, dcpois que voltou do Porto
em 1570, novamente casara nesta cidade com
uma D. Francisca, cujos appellidos mais se nao
podeni saber pelo apoucado do assento, e falta
noticiosa que encerra. Nao encontramos o re-
sultado e decisao da queslao que o dito conego
Francisco Pessoa intentara contra o referido
' Vilerbo. Eliici,!. arl. C.ivallciro, no Hm.
' Mem. d'CamSes nns suas ubras lorn. 1. paj. 88.
' Vcj. o (locumenio n ° 5.
doutor. A.cho porem que era 160b esle requc-
rSra ao Cabido para nao emprazar nmas casas
na rua de S. Christovao a um seu cunhado,
sera Ihe darem vista ' do requerimento e pcr-
tensao do dito cunhado, e em 1628 se encon-
tra outra pertensao de Manoel Corr6a, a quem
0 Dr. Roque Pereira tinha deixado o direito
de renovacao do referido prazo, signal de que
nesta data ja era falecido, nao se sabcndo se
tambem teria tido egual sorte sua mulher D.
Francisca, viuva do dito Camoes. Tacs sao as
noticias que encontramos nos emprazamentos
da cathedral, unicos que descobrimos, c assim
mesmo ainda minguados de csclarecimentos
maiores, que muito se desejam para poder
documentar uma hisloria, que tao cara se
torna a quem tern amor pela patria, e p«la
gloria nacional, de que o nosso poeta foi
estrcmado admirador, e sublime pregociro.
UIGLEL BIBEIRO DE VASCONCELLOS.
CoHlinua,
NOVAS TABOAS DA PARAI.LAXE DA LUA.
FOB J. C. iDtHS.
Pela comparagao da parallaxc das taboas
lunares de Burckhardt com a parallaxe que
Dainoiseaii deu em suas taboas, Adams acLou
que miiilas das peqiienas equajoes da paral-
laxe deduzidas das taboas de Biirckliardf,
difTeriain comj)letarnente de sens valores tbeo-
ricos dados por Darnoiseau. Foi enlfio que
elle soiibe Wr ja Clausen advertido (vol.
XVII doi ^stronomische Nachric/ilen) que
liavia iinja difVeren^a entre as equajoes da
parallaxe de Burckhardt c as de Biirg e
Dacnoiseau, ii'uma analyse comparalivad'eslas
taboas.
A inexaclidao dos coefficientes de quatro
das pequenas eqiia(;oes da parallaxe, explica
Adanif, suppondo que Burckhardt einpregou
por engaiio a longitude verdadeira em \ez
da lonj^itude media do sol, na formayfio dos
argumenlosda evec^ao eda variacSo. A respei-
lo d'uma outta d'eslas equagoes o seu coef-
ficlente foi lomado com signal contrario, e
finalmente n'outra equa^.io mais o arguinen-
lo c falso.
No toino X das Memorial da Sociedade
real ostronoinica de Londres apresentou Hen-
derson uma nova delerniina^ao da parallaxc
da lua por meio das observaCj'oes que tinha
feito no cabo de Boa Esperan^a, e das cor-
respondenles feilas em Greenwich e Cambridg;
para constanle da parallaxe achou 31-22",'l6,
comparando a parallaxe observada com a pa-
rallaxe calculada pelas taboas de Damoiseau.
Mas como a parallaxe das taboas e estricta-
mente o seno da parallaxe reduzido em segun-
' Documenlos n." 5 e 6.
154
ilos tl'arco, e necessario por isso lirar 0'',15
Je oi28",46, o que rtidaz ic-gmido Henderson
a 3+83'',31 a constaiUe da parallaxc. lisle
reeullado estii em ptirfeito acconlo com o valor
de 3432'', o2.> que Adams Q!)leve fundando-se
tips llieorias de Daiiioisoau c Plana,
Triipsforinando a expiessfio da parallajo
dada pela llieoria, a lun de dopendor dns
arjjnmentoi de longiliide de Udrckliaidl,
Adams cliegou u se^iiintu formula, em que os
argumenlos da evec(;iio, anomalia e varia5ao
sao expresses por E, A, V, c os argnniento5
dus pe(|iion.i6 oqua^oes por sen niimero, coino
em Uiirckliardl :
0",3t— 0'',34coi (1)
1,73 -4- 1,73 cos (2)
i.U ■+■ 1.4G cos (4)
0,87 -1-0,87 cos (5)
0.71—0,71 co» (6)
0,11 — 0,11 cos (7)
0,62 — 0,62 cos (8)
1,81—0,05 cos (9)-)-l",81 cos2 (9)
0,21 — 0,21 cos (12)
0,16 — 0,16 cos (13)
0,14 -t-0,14 cos (16)
0.12 -(-0.12 cos (23)
O.lO-f-0,10 cos (25)
36,81 -H 37.22 cos (E) -^0".41 cos 2 (E)
55'30,92 -4-187,14 cos (A)-h 10,27 cos 2 (A)-
2(»,18— 0,94 cos (V) -1-26,34 cos 2
i-0'',64 cos 3 (A)-i-0'',OV cos * (A)
(V)-+-0.t6 cos 4 (Yj.
N'esta formula desprezou-se urn pequeno
termo, menor que 0",01J.
A peqiienissima dilferenga que lia enlre a
somma 3422",29 das constantes da formula,
e a constante da parallaxe adoptada por
Adams, e uma consequencia da raudanja na
forma do desinvolvimento.
As novas taboas de Adams foram por lan-
toconstruidas pcla dila formula com os mes-
nios arsumenlos que as laboas XXXVf,
XXXVll, XXXVII!,e XXXIX de Bur-
ckliardt (edi(,ao de Coimbra). Assim que, len-
do-sc formado os argumenlos 1,2, 4, etc. c os
argumenlos da evec^ao, anomalia e varia^.'io,
dovcm procurar-se com elles nas taboas cor-
respondenlesde Adams, as equajoes da paral-
laxe liorisontal equalona.
Adams deduziu laml)em a formula por que
foram construidas as laboas da parallaxe de
Burckliardl, e acliou a mesma que vem na
edirao de Coimbra a pag. X da explica^ao.
Burckliardt diz exprc^samcnle na inlroduc^ao
das suas laboas ler seguido quanlo a. paral-
laxe a llieoria do Laplace; porem omiltiu a
forma que Ibe deu apropriada aos argumen-
los que adoptou.
O emprego da longilude verdadeira em vez
da longilude media do sol, produziu na for-
mar.^o do argumcnto da variajao, erros
nos copfCicienles das equaooes 2 e 12, e na
forma(;no do argumenlo da evec^.io, erros
nos coefficicnles das equa^oes 4 e 13. Os er-
ros da parallaxe provenientes d'aquellas equa-
^ocs, serao geralmcnle grandes em mar^o e
setembro, e pcquenos no printipio de Janeiro
c julbo, cm que se da coincidencia quasi enlre
o logar verdadeiro e o medio do sol.
A qua^.'io 6 foi tomada com signal con-
Irario, e na equa^lio da varia^'io parece Icr-se
enipregado 3 (V) por 4 (V).
O erro total das taboas da parallaxe de
Burckliardt pode cliegar a 6", independenle-
in<?nle d l",8 que n'ellas a conslanlo da pa-
rallaxe tern de menos.
Depois de liavermos dado noticia das taboas
de Adams, acrescenlareinos quo no connaii-
sance dcs temps para o anno de 1856, ontle
encoiitraraos as novas taboas copiadasj* do
JS'autical ^Ibiianac do mesmo anno, ainda
n.'io vem caloulada a parallaxe da lua por
ellas, de sorte que as nossas epbemerides para
o anno de 1857 podem saliir com mais e*le
apertelgoameiUo, alem dos que ullimamenle
foram n'ellas introduzidos; e nSo ficara par
este lado niais avanlajado o conliQcInientiQ
dos tempos de Paris.
Para acmellianle effeito acbam-se ja no prelo
as laboas de Adams que reduziinos u mesma
forma em que publicamos as de M. Bur-
ckbardt, c que servirao de complemenlo a csle
traliallio, e de subslituij.'io as taboas respecT
tivas da parallaxe, quando se pretender caU
cular ssla CQin maior grao de perfei^ao.
?. M. B. FEIO.
JERUSALEM E O MAR-MORTO.
AHCHEOLOGU BKBAIICA.
CoDllnu^Up dc p.ig. I {6.
O menos conhecido de tndos os lagos, at-
tenta a sua grande celebridade, e o Asplial-
tite. Uni ve'o mysterioso envolve sua origemj
natureza e produc^oes : collocado no meio de
um medonlio deserto, suas aguas eslagnad.is
e immoTcis, em cuja supcrficie verdenegra 9e
155
rcflt'cle o ceo, apresenlain urn lao lugiibre
aspecto, que por iiso llio deram o nouie dc
JlJnr-niorto.
Oa aiilig"s tinliain miii escassas nolicias
a cerca do Ingo Aspliallite, que so come^ara
a scr mais cstudado noi priineiros aniios d'cate
jeciiln. Fora eile laj^o, scguiido lodai as
nrol)al)iIi<la(les, lliealro dc? iitiia graiide ca-
tastroplio. O notavel aspecLo das siias agiias;
OS siiigiilarcs plienonieiins, que ellas apreaou-
lani, altestadoi por lodoi os observadores,
(ii^nos de niaior crcdilo; e a espanlosa deso-
la^ao da sua praia meridional, sao oulros
lamns vealigios de algiiina grando revolii^ao
pliysica, que tiansformiira complotameiUe
a superficie do solo n'aqiiella regiao, oiide
hoje so reina a solidao, e o silencio dos
luaiidos. Nealc mesmo logar, segiindo a tra-
difao lieliraica, exislirain outr'ora cinco ci-
dadc-j, que, lendo iiicorrido na colera divina,
foraiii fuliiiinadas, <; cornplelarneiile destrui-
das. Acaio eiilre o facto pliysieo de iima graii-
de rcvoIuQ.no, de que taiUos indicios reslain,
ea Iradi^rw liebraica liavera aiguina rela^-fio,
mas nesle ponlo os iiiais erudilos arclicologos
nfio estao de acordo.
Algutis julgain que o lago coexislira com
o Jordao, e outros rios, que nelle deserii-
bocain, regellando conio iiiadniissivcl a opi-
niao de Cellario, que o Jordfio correra ou-
tr'ora no golplio arabico, porque o Asplial-
lite recebe ao sul uiii rio, que vein em direc-
cao inver?a do Jordao, conchiiiido d'aqui
que o lago j;i existia, quando Levo logar
a destrui^-ao parcial de que faz iiieiisao o
Genesis
O cflebre Micliaelis, o sabio geographo
Buscliing e outros, suppoem pelo coiitrarjo,
que podeni facilmente couciliar-se as pagiiias
sagradas com a historia d'aquelles impor-
lanles plieiiorneiios da physica do globo.
A Ivscriptura diz, que o valle de Siddim,
ou a planicie de Sodoina, coiivertida depois
em mar de sal, ou lago Asphaltil'3 uconliiilia
sobre uma va^la exteusao po^os de bituriie,
e que era toda regada como o paraizo do So-
nhor, ccoiiio o Egyplo ued'aqui conclulram
aquelles auclores, que uma parte dasaguasdo
Jordao, depois de aljineutarem os iiumerosos
canaes, que fertilisavam aquelle paiz, se re-
uiiiam formando um lago subterraneo, e que
no momciilo em que os raios inflammaram os
po^-os de bitume espalliados ii superficie
d'esta planicio, o solo seabatera [lela violeucia
d'estc terrivcl incendio, e as ciJades se abys-
maram com elle no tundo do lago.
Ha trinta aimos eata liypotlie>e pareceria
coinpletaiiiente destiluida de fundamento.
Uui liabil oliservador, pore'm, que moderna-
iiiente visitiira o lago Asplialtite, corroborou
cm parte aquella doulrina, sustentando queo
lago cobre lioje a antiga planicie de Siddjiii.
Priineiramcnle, diz Robinson, a parte meri-
dional do Mar-morto dilTore complelamente,
quanto ao seu aspecto, da do norle, que llic fica
separada por uma especic de peninsula, quo
parececortar eui dois o lago. N'aquelia parte
meridional o mar e pouco profundo ; na «ua
extremidade ao sudoesle ve-se uma massa de
sal gemma na altura de duzentos pes, a que
d.'io o iiome de I'romonlorio W Usdum, oiide
Sodoma; as suas margens ao oeste e sudoesle
sao planas e escalvadas. Obiervada das nioii-
tanlias do oeste, aquella massa de sal gemma
pode comparar-se a [or. de um rio na vasante
da mare. Em segundo logar c^ta regiao e
toda volcanica e suj 'ila a repeiidos lerre-
motos, cujos vestigios estao aiuda frescos na
rogifio do lago Tiberias, que llie fica nfio
mui distante. Em terceiro logar o asphalto,
lioji muito menos abundante que antiga.
mente, so se encontra na parte meridional
do lago, apparecendo a superficie das aguas
apoz alguni abalo do terreiio; cm 1334 e
1337, por occasiao dos grandes lerremotos
que dcsolarata e^te p.iiz, os ventos arrojaram
sobre a praia grande quanlidadc d'aquelle
bilume.
Robinson admitte por tanlo a Iradi^ao
liebraica quauto a destruijao por effeito dos
raios celestes das cidades crimiuosas; mas a
e=ta causa ajunta a acs'io volcanica, concur-
rendo simullaneamente para abrasar aquel-
las cidades, inflammando os numerosos depo-
sitos de bitume accumulados lia seculos nos
P090S, de que faz men5fio a Escriptura. Aca-
so tambem estas grandes massas de bitume,
exteudendo-sc por entrc as divcrsas camadas
do terreno, segundo a sua stractificajao,
tornavam o terreno de Pentapole um im-
menso foco de inceudios subterraneos. Uma
ou outra daquellas causas baslava por tanto
para a dealrui^iio do valle de Siddim, c
immediata formagSo da bacia meridional,
resullando d'aqui o eugrandecimento do lago
Asphallite. Se e»ta catastroplie se realizasse
por aljalimenlo do terreno, as aguas se preci-
pitariam neste abysmo formando uma nova
bacia no Mar-morlo : e se o plieuomeno leve
logar por sublevajao volcanica, e natural
que as aguas, transpondo seus antlgos limites,
se espalliassem para o sul sobre os grandes
baixos, desde a peninsula de Id-Mozraa ale
a extremidade do Mar-morto.
A llieoria de Robinson esla tambem d'ac-
cordo com a maneira por cpie os geologos
consideram lioje os bilumi.-s naturaes, ou as-
pllalto^, que sao conlados entre os productos
volcanicos indircctos, do mesmo mcdo que o
sal gemma, as erupjnes gazosas, e as fontci
tliermaes, e por i^so o distincto geologo de
Buch uao duvidna confirmar em muitos
pontos a tlieoria do arclieologo inglcz, que
um insigne poela, e um alialisado orienta-
lista lao vivamenle conibateram, talvcz por
demasiado escrupulo religioso.
" A presenga iicstes logares d'aguas tlier-
m^aes, enxofre easplialto, diz Clialcaul)riand,
nao e prova suftieiente da existencia de um
volcao; por tanto reporto-me pura esimplcs-
156
nienle li Eicriplura sagrada, qiianlo as cida-
iles abisniadas, seiii recorrer aoi aiguinentoi
plivsicos. 11
Qiialreinerc admilte a liypolbeae de Mi-
cliaelis com alguinas modifica^oes, mas rc-
gcila expreisarni'iile a ac^'io volcaiiica. a A
catastrophe da planicede Sodotna, dizosabio
orioutalisla ; n'lo pode ser o resultado de urn
lerreinolo, por que eslcs iiiio deixaiii apoz de
si tanta desola^'io e lao profiindos estragos ;
sc lima erup<;ao volcanica, on inn lerreinolo
fojsem a causa uiiica da ruina de Sodonia,
e das cidades circuinvisiiilias, aquelles plieno-
inenos deviam ler-se repelido no aiidar dos
tempos, c Jerusalem teria experirnentndo
lambem graves calrastrophes. ii Som negar-
mos a for^a d'estas objecyoes, nao nos parece,
com tudo, que ellas pos^aiii refular os funda-
menlos da llieoria de Robinson
Uma Uieoria, que poderd chainar-se philo-
logica, p'-Ttcnde siistenlar com numerosascita-
joes arrasladas para o assumpto, que o lago
Aspliallite nao occupa o proprio logar de
Pentapole. Ileland, hollandez de najao, e
reputado um dos mais profundos sabedores
em antigiiidades sagradas, e o auctor d'esta
theoria, que mais tarde Malle Brun apoiara,
e de que ultimamenle Saulcy se declarara
ardente partidista.
Fora na verdade grande loucura da parte
dos fundadores de Pentapole, diz um dos
mais illuslres adversaries d'esta theoria, se
elles livessem preferido um pequeno canto
de terra, encaixada n'lim eslreito valle da
ardente moiitanha,a fertil planicede Siddim,
cortada de tantos riachos e tao aprasivel, a
pesar dos ardores do ciima, que ai^uns com-
mentadores acredilam, que tora n'esta pirle
da Oanaan, que Deos collocara o paraiso
terreal.
Nas diflerentes jiassagens de Jeremias, de
Sophonia, e d'Amos, tractando-se da destrui
•jfio das cidades criminosas, so se faz inen^ao
do enxofi-e, de snrg,is, de lilacs, e de incen-
dios, mas ningiicm igiiora que a linguagem
dos profetas, e miiilas vezes my>teriosa ; e
quasi sempre vaga, c allegorica, e (pie nao
pode por isso ser invocada, quando se tracta
deavniiar um facto physico, do niesmo inodo
que iiinguem se lembroii ainda de invooar o
Apocalypse para resolver uma questao de
geograpliia,
Osnuctores profanes ciijo testemunlio citam
OS defensorei da theoria philologica, n.io pro-
vam mellior a favor d'ella, (pie os livros
sagradoj.
A submers'io de Pentapole nao e contesta-
da pelos historiadores profanos anteriores a
Jose, se excepliiarmcs Slrabao e 'J'acilo. O
primeiro, as*ignando sessenta estadios de cir-
cumferencia as ruinas de Sodonia, parece, (]iic
nao visitdra nunca a Judea, coiifundindo at(i
o lago Asphallile com o Sirbon , situado no
Egvpto a di>lancia de mais de sessenta leguas
do Asphallito ; ncm era verosimil ijuc as rui-
nas de iiina cidade sobre a qiial pezam qua-
reiita seciilos, e Icvantada por uma pequeua
Iribu arabe no ineio de um oasi^, podessem
ainda ter, an calx) de tantos mil annos, Ires
b'guas do cJrcumfereiicia. Tacito,que faz os
Judeus oriiindoi do monte Ida, porqiie delle
lomarain o rioiiie, nao e nesle ponio teste-
niunho de maior aiicloridade.
Jos(' nas siias anligiiidndcs judaicas, di/,
11 que a Sedomlcia desapparece^T, e com ella
as fnntes, que tornavam esta re;;iao tfio fertil ;
Sodorna desapnreceu, e o lago Asphallile oc-
cupa lioje o valle tndo. "
Estevam de Bysancio, geographo, que
escrevia no seciilo V, fallcindo de Sodonia,
(llz lambem que u esta cidade era a capital
de dez oiilras, cpie jazem sepulladas no lago
Asphallile. ii
Por taiilo nein nos escriptores ])rnfanos,
nem nos sagrados se encontraui fjrnvas suffi-
cientes em abono da theoria de Ileland , que
Saulcy perlende su^tentar na sua viagem as
terras bililicas, loinando como ruinas da an-
tiga Sodouia, algiins moiitoes de pedra brii-
la, e calcinada , descriplos ja por outros
observadores ao norle da monlanha dc sal.
Nem essas suppo^tas ruinas podiam per-
tenccr a alguma das miseraveis cidades de
Pentapole, lao pouco importaiites, que uma
so noiile bastara para Abrah'io as conqiiistar,
e que, como a maior parte das cidades do
oriente ainda lioje, deviam ser corislruidas
com simples lijolos. Oi Hebreus quando con-
qiiistaram Canaan, e muilos tempos depois,
nfio einpregavain na constriici^'ao dos edificios
publicos e parliculares, seiiao madeira e
barro. Uma torre de madeira era a unica
defesa da cidade Sicliem ; e a cada passo se
le na Biblia a descrip^rlo dessas nie-quinlias
conslruc^oes , que conslltiiiain toda archile-
ctura liabraica. A lei de Moises punia com
a penna de at^oite an lalrao (]ue n'uma nolle
arroinbasse as paredes de uma casa , tal era
a solidez que ellas liiihaiii ; e Joli diz que
miiilas vezes o venio do deserto derribava
eslas pobres cabanas.
Eis aqui porqiie em toda a Palestina, e
nas regioes visinlias nan se encontra um uni-
co iiioniimeiilo, cuja exialencia remnnte a
epocha deAbrahio, on mesino li de David.'
J. u. DE ABREU.
MOLESTl.i DAS VINHAS.
Conlinuado de paj. 1S9.
11 Adnlpho Targioni e Emilio Bechi, de
Floreiiga, apreseiitarain uma memoria miii
imporlante sobre a nalureza da molestia das
vinhas, e lornam-se por issn dignos na opiniao
da coinmissao d'uma recompensa de mil
' Vej.i-se a Reeue del Detiz Uond. — Pjris 1831 —
torn. VI.
157
francos. Eslos dois sabios, junlanienle com
Cozzi e Tliomaz Funk, lem fello niiinerosaj
analyses cliiiiiicas, que iicis parecem dignas de
alteiifao. Analysarain cotDparalivaiiienle tniii-
las variedades du caclioa d'uvas atacadas
da inoleslia, e oulras inteiiameiito sfis, no
estado secco, e normal. Fizeram la[iibeni ti.na
cspecie de analyse meclianica, separando a
pnjpa, a pele, e grainlia dos diversos caches
d'livas, e procederam ii analyse chimica deslas
diflerentes paries do fniclo da videira. Ksles
auclores acliaram, qne as uvas atacadas da
niolestia conlinhain \ima porcjao muilo riiaior
de azote, dnplaj e ale Iripla da que exi^le
nas nvas sas; no moslo e que se encontrum
mais subslancias azotadas. O caclio d'uvas
eonlaminado conlem n)ai3 saes mineraes, e
menoi maleria sacharina C)s niesmos auclo-
res analysarani latiibem oulras planlas egual-
inente atacadas por diversas cryulogmas.
t! N'uma ouUa meinona Ua-parini de
Xapoles, de^ereve a rooleslia da viiilia com
grande talenio, examinando a parasita em
loclas as plla^es da sua evolu^ao, e lermina
com uma liisloria mui complela da germiua-
yno dos spores do oidium tuckeri, poslo que
OS n.'io observou nas condi^oes normaes do seu
desinvolvimenlo; por lodes esles molivos a
commissao cnlende que o A. merecia, como
prova de di.-linc5rio, uma giatificajao de
dOO francos.
u Dois outros concurrenles ilalianos sao
dignos de mencionar-se pela serie debecn diri-
gidas ex|>eriencias, que communicaram a so-
ciedade na cnnformidade do seu programma.
ii O graiide nuniero de documenlos que
nos tVirarn eiiv'uidos d'aleni dos Alpes, -e a
imporlancia das experienrias, que alii tern
sido feilas, pode avaliar-se pelos grandes Ira-
ballios de que nos occnpamos ; traballies, que
revelam bem a gravidade da molestia das
vinlias na llalia
u Vos sp.beis, senljores, que, do lodas as
experiencias, sfio as agricelas as mais diliiceis
e delicadas; raro acoMtece serem ellas com-
paralivas, e a ^ciencia agricola carece sempre
de proceder com a maior cault-l.i
li O doulor I'olli, professor de cliirnica na
esciiola leclinica de Mdk'io, e Mannet Bou-
zanini, ciigejdieiro civil n'aquell.i cidade,
dislmguiram-se pela boa direc^ao de suas
oxperiencias sobre o apj)lica^ao das dissnlugoes
de sulpliidialo de cal, clilorurelo de cat, sal
coMUnuiM, ^ul|lllalo de zmco, agua auioniacal,
proveuicnle da rerinai,fio do gaz do carvao
de pedia, do gesso em |)6, da essencia de
terelientliina di-solvida em agua, eul fiui da
Hgua de lavaj;em das follias de labaco, la-
vagi'm, que se faz em uuia dis=olii(,-rio de sal
de .'J a 4.° do areouieUo de Bi-aume. Os dois
"Ijsei vadores ensaiaram eslas diflerentes dis-
solucoos n'uma vmlia, applicando-as a algu-
uias videiias collocadas no mcio d'oulrns,
a que iienliuin lialamenlo se fizera. De todos
I ales remedios, a agua do Ubaco foi o unico
que deu um resullado satisfactorio. Seria
curioso indagar se no emprego da agua do
labaco e'a nicolina que obra, come nos julga-
mos ; por que n'este caso a nifolina podeTia
ser subsliluida por atgum dos alcolioloides,
modernamenle conliecidos, que se obleriau)
scm grande despesa, e que deveriam enipre-
gar-se no estado de saes. M. Fox tinlja ja
experimenlado com bom resullado a a^ua de
labaco.
ii Ha um faclo digno de nolar-se, posto
que d'elle se nao possa lirar uma conclusao
delinitiva. Livre o caclio d'uvas do otdium,
o fruclo corilinua a amadurecer sem diflicuf-
dade. Muitos meios tem side propostos pelos
diversos auclores de memoiias p-ira expulsar
o oidium. Um dos que maior credilo tem
lido, e o de vapor da agua a ferver. Guillot
^alvou a coliieita d'uma vinlia efilre' duas
oulras completamenle perdidas, injectando
sobre os fruclos, logo depois da llora(;ao, vapor
da agua d'liui regador quente, condusido
n'um carro de mao pelo meio das vinlias.
li Dois pliarmaceulicos Colliuel e Alalaperl
observaram, (jue barrando as uvas com um
poluie feilo com agua de sabao e argilla finu
nio OS atacava o oidium. ji
O parecer da commissao foi approvado em
lodos OS seus arligos.
(Journal U'Agricult. Praliq. n." 15, de 5 d'airoslo d.-
1854.) ^
AS MUIJIERES IIISTORICAMEME
CONSIDERADAS '.
Os annaes do mundo apresenlam uma
singular contradigao na hisloria das mulljeres.
N'(im mesmo povo, n'uma mesma cpoclia, e
sob as mcsmas leis as mulberes sao tracladas
como seres superiores, e como as mais infimas
creaturas! Poderia dizer-se que algum inson-
davel misterio occulta na mullier aos ollios
dds legi-ladores a verdadeira nalureza d'ella.
Segundo a Biblia a mullier nao podia ira-
balhar nas vestes sagradas dos sacerdoles
neu) se Ibe concedia o dlreilo de preslar inn
jurauiento, por que nao linlia palavra. n A
mullier, que jura, diz Aloises, nao e ebrigada
a sustenlar a sua palavra, se o espeso^ ou
o pailli'o nao concentem » o que equivalia a
coiifessar que ella nao tinlia alma ! E Inda-
via o mesmo legislador. Hie concedria o dom
mais eminenle da nalureza liumana, on antes
supeiior a essa natureza, o dem da profecia.
Koma condemnava a mullier a uma per-
pelua tulella, e Roma a fazia confulonle dns
designios celestes ! Os oraculos dt! (Jumas
eraui annunciados pela boca de uma mulliei.
Depobitaria dos livres sybillinos era lambeni
uma mulher; |>arece que os deoses so fal-
lavam pela boca das mulheres. Na Grecia
a contradicjao era aiiida mais flagrante. Os
' Legouve, Hist, morale Jos femnies. —Paris 10-19.
158
(Jregbs cdiileslaVam a imllher oainor, que e
a sua propria essencia. Plularco no sen tra-
clado do amor, diz que o verdadeiro amor e
iinpossivel eiilro iim liomein o iima iiiullier,
(• lodavia os Gregos pelo mais nolavel con-
Iraren50 concodiaiii-llie a sal)edoria diviiia.
Foi lima miillior que no banquelc de Platfio
iiiioioii o principe dos pliilosoplios na verda-
de, e esclarcceu a alma de Socrates, como o
proprio Plalao confessa. " Eu so comprc-
liendi a diviiidade e a vida, rcpele elle, nas
ininlias tonversagoes com a corteza Tlieo-
pompa. 11
As'iim no miindo antijjo aqiiella creatiira
lam dospresada, crasempre per iim ladocoii-
siderada superior ao liomem. A cortezfi con-
sellieira de Pricles, e amiga de Socrates e
como uni symbolo. Nos autigos povos da
Germania as mullieres nao representavam ])a-
pel algiim na carreira publica, porem 'I'acito
diz, que aquelles povos reconheciam n'ellas
al"uma cousa de divino e de profelico, e as
ropeilavam como seres, que linhaui rela^oes
coil) o ceo. Na Galia as funcyoes das dniidas
er'io superiores as dos sacerdoles desle cullo.
Na niia de Sena havia um collegio de nove
virgens, que curavam molestias repuladas
iucuraveis, e aplacavam o furor das ondas,
quando llies aprazia. Eslas virgens dictavam
seus oraculos no meio das tempeslades sobre
escarpados e agrestes rochedos. Veda iima
deslas famosas sacerdolisas, invisivel e sempre
presente, governava todas as povoayoes, que
llie ficavam em lorno, e do allodeuma lorre
dictava a paz ea guerra. Eisaqui factos quasi
incriveis, e que a nossa razao nao pode bem
cornpreliender. Como podia conciliar-se lanla
eleva^ao com tamanlia subserviencia ? Como
e\plicar-se as liomenagens de admira^ao
npar docomplelo desprezo com que o homein
traclava creaturas, que na npparencia llie sao
semelhantes e que elle colloca sempre ou
Miperiores, ou inferiores a elle? Que papel
se llie quer fazer reprcsenlar nos designios
de Deus, e nos deslinos do mundo?
Por que molivo, em quanlo se llie vedavam
OS mais simples exercicios, Hies permiltiam as
mais sublimes funcgoes do saccrdocin 1 I'oi
que em fim se llie prohibia o exercicio da
vida, e ao inesmo passo se Ihe deixava lomar
lao grande parte na formajao e no culto
dus ideas, que constituem a propria vida
— na religiao ?
Ccrto a inulher lein qualidades muilo
caracteristicas, e muilo poderosas para ter
conquislado sobre os espirilos um lao reslric-
lo, mas ao niesmo tempo tao elevado, e sin-
gular imperio.
A villa d'este resumido quadro Iiislorico
podera concluir-se, que a mulher e mais que o
liomem, e menos que elle ou que a sua na-
tureza se traduz n'estas palavras. — a Egual-
11 dade com o homemj porem »gaaldade na
u differenja, )i
NOTICIA SOBIIE A DACIA CAIIKOMt'liUA UO CADO
■ MONPEGO.
Conlinuadu de pacr. 119.
Entado actual da minii.
Sendo a galeria geral a primelra c mais
essencial obra desta niiua, eski, ern rela(;,'ii>
a sua importancia e permaneiicia, em parte
acanliada; as suas diinen^oes sao variaveis:
salislaz comludo ao servi<,'o, o em todo o seu
cumprinvnlo circulam wagons de 1'" de
largura na bota.
A Idvra da mina e feita de um modo
simples; divide-se o massi(;o em porgoes
prismalicas, que se cliainain pilares, por meio
de galerias de avango, desceiidentes on asceii-
dentcs : os pilares leni 7'",7 de lado ; as
galerias 4"',4, dos quaes se enliiUiam 2"',G, •
licam de vao l^S.
As aguas aflluem em pequena quaiilidade,
de verao, aos traballios; nias no inverno, a
sua ac-cuniula(;ao e sensivel : por em quanlo,
como todas vem dos traballios superiores, e
facil derival-as para os traballios velhos.
A renovaijao do ar faz-se por uma cor-
rente natural, determinada pels differenja de
nivel entre as b6cas da galeria geral, e a
mina Farroho, estando para este Iim inter-
rompidas lodas as outras communica^oes com
o esgoto : comludo jd se faz com difliculda-
de no fun da galeria geral, e exige a prom-
pta aberlura da galeria ascendeiile, ja indi-
cada, que communique com o exterior no
'ilio das Fonlainlias
As madeiras necessarias para as construe-
joes subierrancas faltam toniiilelamenlc nesia
localidade : tem de prover-sc do pinlial de
Foja, a duas legoas de diatancia: este pinlial,
ja luui derrotado, deixarii em breve do for-
necer madeiras, e entfio sera nccessario obtel-
as do pinlial de Lciria.
Conliniia.
R. COLLEGIO URSUr.liVO DAS CH.VGAS
EM COIMBKA.
PROGRAMMAS.
185i.
D14rOSI90ES BEGULAMENTARKS.
A educajao reiigiosa, moral e civil ; bem
como a direcjao especial, e toda a economia
particular de cada ediicanda, coniprelienden-
do a fiscalisajao do uso do dinlieiro dado as
meninas, ainda mesmo para seus diverlimen-
tos, objectos de rccrcio, etc., C3tao a cargo
das rcligiosas, mestras directoras, a qiiem as
educandas, logo que admiltidas e matricula-
159
<la5 jio cojlegio, sao eiilregiies e confiadas
(jela iiiadre supeiiora, disliilnndas em di-
versas classt'sou t'amilia?, preaidida cada iinia
d'eslas pela sua respecliva meslra diieclora.
F.sla* rcliyiosas olliam lainliern com espe-
cial ciiidadn, cada uina na sua familia, pela
cdiica^ao pliysica, pela saude das iiieiiiiias,
etc.
A iiistriic^ao lilleraria e arlislica corre sob
a iininediata iiispec^fio de uma religiosa, a
prefeila das classes: e e dada em diversas
aulas ou classes, a que correspoJidem os di-
versos esUidos on ramos do eii^ino, sendo cada
uma d'ellas regida pela sua respecliva meslra
professora, e em couformidade com os esla-
tutos e rejjulamenlos do oollegio.
As educaiidas tVequentaui as classes, que
les sao designadas pela mad re prefeila, ouvi-
las as respectivas piofessoras, e em allen^ao
ii capacidade e adiaiilameiilo de cada uuia,
seguiiido depots no curso dos eshidos a ordeiii
prescripla iios regulaiDentos reipeclivos e
programma geral do eiisino, precedeiido os
compelenles exames e approva^oes.
Oaiiiio elassico principia no l.°de outubro,
e terinina eni agoslo coin os exames, que
cada eddcaiida deve fazer iios esludoSj em
que esliver iiabilitada.
A exames publicos soniente serao adiiiit-
tidas as que forern julgadas digiias d'esla
distiiicjfio.
Para promover o adianlamento nao so
e!lf(0 adopLados os melhodos lidos por mais
convciiienles ; mas laaibetn se empregam os
meios adequados para desperlar eiilre lodas
uma nobre einula^ao e amor ao traballio,
com louvores, dislijiegoes, premios, etc.
Oi paes oil proleclores das educaiidas, de
fora de Coiiiibia, lerao regular coiiliecirnenlo
dr> eslado de aproveilamenlo das que llies
perleiio'.'m. Aleiii d'esla regular int'ormajfio,
serao escrupulosamenle avisados os paes das
educaiidas, qiiaiido alguma d'ellas se ache
do"'iile com iiiolealia de alguma gravidade.
As educaiidas to podein receber visilas de
seus paes, p-eleetorcs ou luloies, lliios ou
irmaos, e de oiilras pessoas, (pie venliaui iia
coiiipanliia d'eslas ; exceplo no caso de liceiica
de seus paes, proleclores. ou liitores, direila-
menle dechuada ou en.vjada ii madre supe.
riora, ou a respecliva meslra direcU ra,
Eslas visilas so pod.'m ler logar nos dias
sand ificados, on feriados iincollegio; euunca
e;ii ilias letlivos, aiiida iiiesmo nas lioras vagas
d.is anl.is; exceplo niiicameiile as de pessoas,
que veiiliaiii de Coia da cidade, c de Ibra dos
?nlnirbios; lis quaes purein iifio pode o col-
legio lazer tiospedagein.
N:io sfio permitlidas as. sai'das temporarias
;das educaiidas, ariida mesiuo q prelexlo de
^ferias ; exceplo em caso de moleslia com deela-
ra^ao poreseripto do facnllalivo. As que para
us6^de banlios ou remedios, salisfeila a con-
;"dii;ao poila, sai'reiii em agoslo, ou allies
;d ell'-, convern, que se recolham por todo o
mez d oulubro, para nao soffrerem atraso nos
estudos, que se leccionam nas classes, desdc
opriineiro dia da sua abertura : e cujo eiisino
nao pode lornar a principlar-se [Mr cada uma,
que se recollie (fora de lempo.
As educaiidas esU'io sujeitas nao so a eslas
dispoii^oes mais geraes, mas lambcm aos
deiuais regulampnlos e bons usos do collegio ;
qiier sejam dq discipliiia geral, na parte
respecliva; quer es^ciaes, xeJalivos a educa-
jao e in-.trucf;ao
As corresponde,n.cias |.gibr5 adojissao e en-
irada das nieninas educaiidas deveni ser diri-
gidas a superiora do C'ol(egio; e dejjois da
eiiliada, as respectivas me^lras dir.ecloras.
SOCIEDADE AZUTICA DE LOIVDRES.
O professor Wilson apresentou iima me-
moria, em que perlende mostrar, que nfio e
exaclo, o que ate aqui se tern dilo sobre o
costume singular das viuvas, no ludust-io, se
lan^'drem nas fogueiras, onde se queimavam
OS reslos de seus maridos, para serem devora-
das pelas cliammas com estes.
Segundo aq.ielle erudilo professor a ma in-
terpretas-io do lexto dos liyros dos Veda=, que'
se invocava para auclorisar aquella barbari-
dade, ordenava pelo contrario, que as viuvas
procurassem sobreviver a sens maridos, em
logar de se immorarem pom elles. O erro
estava na palavra agre, que on de proposito,
ou por inguorancia se l^ra agnhe, que quer
dizer a que ellas caminbem para o fo"-o »
em quanlo a palavra agrc diz pelo eontrario
11 que vao para sua casa. «
Aswalayana, auctor dos Grihya Sutras
obra quasi de lanta auctoridade como os Ve.
das, confirma a opinifio de Wilson, por que
designa ale a pessoa aquem compellia acom-
pauharacasa a viuva, depoisde assistir aquel-
la ultima ceremoiiia funebre de seu .naridu
Com OS annos vem a prudeiicia e a sabe-
doiia. Com elles se extiiigue a ambioao.
Ama-se aso lidao, onde o pouco parecesobe-
JO. Iranquillos em fim no porto, e volvendo
OS ollios com espirilo verdadeiramente pl.ilo.
soph ICO sobre as lempesladcs das paix5e= a
agricullura dos campos paternos, lorna-'se
nos a mais doce e aprazivel tarefa ; on ao me-
nos ve se correr placidamente o rio da vida
qnedenlro em pouco vai perder-sc no Oceniu'
da elernidade.
E. si£.
A iristeza e um dos mais poderosos meios
de seduc^ao de uma mullier formosa.
•*• D'-JJ.IS.
160
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® Jn^tittita,
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CONSELIIO SUPERIOR DE INSTRUCCAO
PUBLICA.
BELATORIO ANNUAL.
1847 — 1848.
Continuado de paj. 151.
InstruccSo primaria.
Ila 1:169 escholas d'instruccao priraaria
pagas pclo estado no conlincntc do reino e
ilhas adjaccntes (mappa n.° "2). D'estas sac
46 do sexo feminine, 20 do methodo de ensino
mutuo, e 0 resto de ensino simultaneo. Nem
todas se acham em cxercicio; havcndo actual-
mente a concurso 64, e muitas d'cllas sem
que tenham encontrado oppositores era con-
cursos repetidos; e24 reservadas.
Do numero d'escholas parliculares, nao
teve 0 consellio conhccimenlo pclos relalorios
de sens delegados. Mas e de siippor que,
tendo estado muilas escholas publicas fecha-
das porfalta de mestres, nao Icnlia diminuido,
mas antes augmentado o numero de 1084, de
que se dera conla no relatorio de 1843.
Nas ilhas e avultado o numero d'escholas
parliculares ; por(|ue nestas se contam tambera
as que ha suslentadas, exclusivamentc, pelos
rendimcntos de corpos moraes, como sao as
municipalidades c confrarias. No continente
ha 13 sustentadas por legados.
As escholas puljlicas acham-sc distribuidas
pelos dilTerentes districtos, na forma seguinte:
Angra 13 — Aveiro 08 — Beja 44 — Braga
70 — Braganca o6 — Castello-Branco 49 —
Coimbra 70 — Evora 29 — Faro 29— Guarda
92— Uorla 10 — Funchal 14— Leiria 41 —
Lisboa 143 — Portalogrc 40 — Porto 84 —
Santarcm 1)2 — Viana 43 — Villa-Real 09 —
Viseu 129 — Ponta-Dclgada 16.
Sao 744 OS mappas que se tern recebido ate
fins d'outul)ro na secretaria do conselho;
faltando 337 das cadeiras actualnicnte em
exercicio. 0 numero de alumnos que frequen-
taram as 744 escholas, e de 30:180. Calcu-
lando approximadamcnte a froquencia das
337, nao se pode reputar inferior o numero
total a 43:300, que fora a frequencia era 1843.
A frequencia das escholas particulares, de-
VOL. III. OUTUBUQ 1.
vcndo augmcntar pclas razoes expostas, p6de
com seguranca adoptar-se a eifra de 18:780,
que marcara a frequencia no relatorio do an-
no acima indicado; sendo assim 84:276 o
numero provavcl dos alumnos do ambos os
sexos, que frequentaram a instruccao pri-
ma ria.
Suppondo que a populagao do reino nao
tenlia augmentado consideravelmente, pelas
causas que a todos sao patentes, desde os
ullimos trabalhos cstadisticos ncste gcnero,
adoplando-se era consequencia a cifra de
3:412:300, sera o numero de alumnos da in-
struccao primaria para a massa total da po-
pulacao, na razao de 1:33. Mas calculando
pelos trabalhos cstadisticos d'outros paizes
era 082:300 o numero total de individuos
chamados pela lei a frequencia d'cste ramo
d'instruccao, sera o numero dos que frequen-
taram para o dos que deviara frequentar, na
razao de 1: lOf, pouco mais ou menos.
Nao segue porem razao d'egualdade aquella
frequencia cm todas as provincias; e neste sen-
tido a classificacao observara a ordem seguin-
te: tras-os-Montes — l:8i — Beira 1:10 —
Minho 1:8; — Alemtejo 1:13 — Algarve 1:18
— Estremailura 1:16^.
E porem de notar que, firmando-se este
calculo no conhecimento que o conselho tem
das escholas particulares que existem, c ha-
vendo muitas, que elle iguora, porque a pczar
das repetidas ordens e instancias, nao foi
ainda possivcl conseguir que os mestres par-
ticulares se hahilitem todos, na conformidade
do art. 84 do decreto de 20 de septembro de
1844, e possivel que ao menos nas terras
mais populosas, como Lisboa e Porto, haja
muitas escholas particulares, illegalmente in-
slituidas, c subtrahidas a inspeccao geral.
E por extreme diminuto (forca 6 dizel-o) o
numero de escholas primarias com relacao a
popularao e necessidades do paiz, se o com-
pararmos, nao diremos ja, com alguns dos
Estados Unidos da America, com a Ilollanda,
Prussia, Suissa, c Escossia, mas com a Franca
e Lorabardia, aondc o desinvolvimento da
instruccao popular data de poucos annos.
E ainda e mais para lamentar, que das poucas,
que ha, muitas se acham vagas por falta de
professores ; e outras regidas por mestres pouco
competentes, e tolerados por nao privar total-
1834. Num. 13.
4^^^*^^
162
incnle a massa peimlar de lodo o genero dc
iiisirucvao.
Seiilc-sc, entibiar o dcsejo dc nuiltiplicar o
iiumcro das cscliolas primarias, quando sc vc
a pouca fro(|iK'iicia das (|uc uxislem, c a falta
de concurrciicia iis que vaf?am. Todavia se do
genero das que exisleni nao e oiiveni augiueiitar
0 numero, eiu (luanlo nao tivcrmos professorcs
tbrmados em eseliolas normaes, sem eujo au-
xilio sera l)aldado lodo o esforco por melhorar
estc lamo da iiistruceao, oulras escliolas ha dc
graduacao inferior, accomniodadas as necessi-
dades locaes, as quaes podem e devem ser
creadas por intercsse publico, havendo para as
disciplinas, ([ue Ihes compelom, mestres con-
venientenicnle habiiilados. Falamos das es-
I'holas dc freguezias ruraes, que sc devem li-
milar ao cnsino dc ler, escrevcr, contar, e
principios de religiao, c eujo ordenado devera
ser inferior ao que actuaimentc leem as oulras
escholas do 1.° grau.
Jii esta idea foi proposla no relatorio de
18 13 : c sao estas realmeiite as escholas de que
mais bavemos niisler; c para exempio da ne-
cessidade d'cllas, apontarcmos o dislricto
(I'Evora, era que ha 29 escholas c 112 frc-
guezias.
0 consciho conhece que as circumstancias
dcsfavoraveis do thesouro offerecem resi-
stencia, quasi invencivel, a praclica d'esta
id6a, jusUlicada pcia neccssidade e cxigencias
dos povos, que diariamente pedem ao consciho
a crcacao de novas escholas. Mas a inslrucciSo
popular e digna de lodos os sacrificios; e a
base da organizacao da sociedade modcrna,
e a origem real da forca dos governos. Tal-
vez que applicando ao paiz a praclica adoptc-
da cm outras nacOes illuslradas, fazcudo in-
tervir na crcacao das novas escholas os rcn-
dimcnlos niunicipacs, coiifiando o ensiuo
d'ellas aos parochos ruraes, se podossc al-
cancar o dcsejado lira, sem gravame notavel
do thesouro.
Tamheni o consciho espera que o paga-
racnto regular dos professorcs, a medida que
0 e^slado da fazenda puhlica melhorar, fara
concorrcr opposilores as cadciras vagas,
como d'anlcs aconlecia. Nao se pode crcr
que a causa do dcsvio seja a pouquidade
dos ordenados, porque nesla parte nao somos
excedidos por muitas nacoes. Na Franca era
menor o vencimento da maior parte dos pro-
fessorcs primaries, ainda contando o estipen-
dio dos aluninos, ate o principio do corrcnle
anno. Na Escossia e na Suissa nao podem
reputar-se supcriorcs os ordenados.
0 que todavia niuito convira, e estabeleccr
categorias nas escholas existcnles, com re-
f'erencia a vcnciracntos e collocacao das ca-
deiras. Assim ira suscitar-sc cn'tre os pro-
fessorcs 0 salutar principio da emulacao;
assim se Ihcs abre uma carreira dc espcran'cas,
c aja.ostra um melhor future; e sera conse-
quciicia Icgiiima 6 empcnhar-sc cada qual
por coiiscgiiil-o. Na verdadc o professor, que
vc no prescntc o quadro de lodo o scu future,
csfria, esiuorecc, e cai na iudiffercnca.
Imporla a despesa da inslrucrao ])riniaria
no coulinentc c iUias, rcgiilando-a pela verba
votada no ultimo oreameuto, C}u 10S:823^77Jj
rs. Siiblraliindo d'csla somma o que provavel-
mcnte sc dcspcude com a parte iiwtcrial das
escholas, pouco exccde a despesa dc cada
alumno a 1^000 rs. por anno.
E superior csta cilia a de outros paizes
princi|)almeule da Uollanda, .Suissa, Escossia,
c Prussia ; portjue a maior frequencia das
escholas n'aquelles paizes diminuc o custo
dc cada um dos alumnos, ainda dado o
mesmo ordenado do professor. Mas nao e
lanta a dilTcrenca, como ji primeira vista
parcco; porque saindo da bolsa dos alumncs
uma parte dos veucimentos dos professorcs,
OS ordenados pages pelo cstado, on pelas
munieipalidadcs, sao iuferiores aos nossos.
Ncm fara allerar esles calculos o facto
de que ncm lodos os alumnos, inscriptos
nos rcspectivos mappas, frequentam lodo o
anno; sendo cerlo que nas freguezias ruraes
se cmpregam nos Irabalhos do campo, c nao
frequentam as escholas, grande parte do an-
no, OS alumnos das classes laboriosas; por
que csta mesma nota sc cncontra nos re-
la lories, c trahalhos csladisticos dc lodos os
outros paizes.
Avaliando a iiitellectualidade das differenles
provincias do reino pela frequencia e apro-
veitamenlo d'estas escholas primarias, ap-
parecc em resullado, que a(|uella csta mais
desinvolvida nas tres provincias do Miubo,
Tras-os-Monles, c Beira ; c menos nas do
Alemlcjo, e Algarvc. E acha-se estc facto
em harmonia com outro facto capital: nas
tres primciras provincias c aonde se cncon-
tram melhorcs professorcs cm geral, c aondc
OS concursos sao mais povoados dc oppo-
silores.
0 cnsino d'este ramo d'inslruccao acha-se
confiado a 1:235 jirofessores; havendo um
ajudante cm cada cscbola dc ensino mutuo,
c 40 subslitutos cm escholas de ensino si-
multanco, cujos professorcs vilalicios se
acham impedidos (mappa n.° 2). Naquelle
numero se conlam 46 mcslras de racuinas;
c estc pequcno numero indica, o quanto o
sexo fcminino ainda sc acha desfavorecido
na reparticao do ensino publico.
JnUruccao secundaria.
Rcpartido por lyceus e escholas dispersas
pelas povoacoes mais notavcis do rcino sc
acha csle ramo d'instrucciio. Ha 5 lyceus
ma lores cm Lisboa, Porto, Evora, Coimbra
e Braga : e acham-se esles completes, scexce-
ptuarmos algumas cadciras c substituijoes
-is^>»S!
C ,N"
163
que nao teem aehaJo concurrentes ; e 3 ca-
dciras uo lyceu d'Evora, uma uo do Lisboa,
C outra era Braga, que nao tecra sido postas
a concurso, por nao liavcr probabilidadc dc
sereiu frcqucniadas, segundo as informacoes
chegadas ao conselho.
Nos oiilros districlos acham-se conslituidos
OS )ycciis de Santarcm, e Yiseu, Augra, e
Funchal; e agiiardam a concessao d'edilicio,
para se constituirem, os de Leiria, Castello-
Branco, e Portalegrc. Em todas as outras
capitacs dc dislricto ha os elementos para se
constituirem; mas nao se teem ainda habili-
tado OS antigos professores, com os exames e
provas publicas das disciplinas, que o deereto
de 20 de seplembro dc 1844 incorporou nas
cadeiras, ([ue regiam, para constituirem os
cursos biennaes.
Annexas aos lyceus ha nas povoacoes mais
eoHsideraveis 79 cadeiras de grammatica e
lingua latina, e 2 de philosophia racionai e
moral (mappa n.° 3).
Sao frequenles as reprcsentacoes que os
povos dirigem a este conselho, pcdindo a
creacao dc cadeiras de latim. E natural o
dcsejo nos paes de familias de habilitarem
scus iilhos a carreira, a que os destinam, sem
o sacrilicio de dcspesas, e da ausencia. 0
conselho porcm, pesando, como deve, os in-
teresscs de todas as classes, nao julga de
convenicncia a multiplicacao demasiada d'a-
quellas cadeiras; nao so porque hoje, que a
instruccao primaria tern akancado maior
desinvolvimcnto, se nao podc justificar a
necessidade d'aquolle ramo da secundaria,
como complemcuto da primaria, outr'ora es-
eassa e defieientc, senao tambem com o pro-
posito de nao desviar, da carreira propria dc
suas circumstancias sociaes, a muitos indi-
viduos que, fascinados com a inslrucciio da
lingua latina, se julgam dcprimidos e rebaixa-
dos com 0 destiiio a cultura das artes; pro-
vindo de tao infundada vaidade a falta de
braces cm muitos ramos de industria, de que
a sociedade tirara mais uecessarias c solidas
vantagens. Accresce ainda a regularidade do
ensiuo, que nao e de csperar tanto d'uraa
cadeira -so e isolada, como dos centres lit-
terarios, estabelecidos nos lyceus. Assim que,
no intuito de conciliar os intercsses locaes
com OS geraes do estado, o conselho tem sido
cscrupuloso ate em complctar o nuraero das
120 cadeiras coneedidas ao estudo da lingua
latina.
A instruccao secundaria, Senhora, no
_estado, em que ella se acha cntre nos, c com
rela,cao aos fins a que hoje pode scr dcstina-
da, nao prccisa de ser mais diffundida. Nin-
gucm a procura so com vistas de se instruir;
.e OS que a frequentam e para sc habilitarem
aos emprcgos. 0 desiuvolvimcnto, que ella
apresenta no paiz, habilita apenas para os
estudos superiores c professiouacs, e para a
carreira ccclesiastica. A frequencia mingoada
dc alguns dos lyceus, e dcmuitas das cadeiras
annexas, hem clararaente o demonstra.
Nao satisfaz ella assira as necessidades
publicas; porque, .seiido certa a instruccao,
que completa o desinvolviraento do espirUu
humano, e o habilita para as occupajOes
mais ordinarias da vida, mal se pode con-
ceber, que o consiga com os estudos clas-
sicossomente. Aagricultura, ocoramercio, ea
industria demandam conhecimcntos de ramos
philosophicos indispensaveis. As sciencias
naturaes com applicarao as arlcs devem
ser uma parte integrante do ensino .secun-
dario. Assim o pensou e Icgislou V. Mages-
lade no deereto de 17 de novembro de 1836,
c j)rudentemcntc o regulou no de 20 dc se-
ptembro de 1844, commettendo as sabias li-
foes do tempo, e da experiencia, a creacao
das disciplinas dc sciencias industriacs nos
lyceus do reino, conforme o cxigisscm as ne-
ces.sidades locaes.
E este 0 ponto a que hoje devem convergir
as nossas attcnfoes, em vcz de mulliplicar
cadeiras dc iatinidade. Mas o ensino dos
ramos industriacs no ponto de vista practice,
que respeita a instruccao secundaria, carece
do conhecimento dos methodos, e practicas sc-
guidas nos povos illustrados, que ha niuito
nos preccdem neste genero d'instrucfao, com
que teem cnriquecido e nobilitado os seus
paizes.
Os cslahclecimentos da instruccao secun-
daria, que enviaram a este conselho os map-
pas da frequencia, foram os lyceus de Lisboa,
Evora, Santarcm, Braga, Coirabra; e 61
escholas annexas. 0 numcro de alumnos ncstes
estabelecimentos foi dc 2:098; sendo maior
a frequencia cm Braga e Lisboa, e rauito in-
signiHcante em Santarcm. A despesa do
estado com estes estabelecimentos orca por
30:833^325, regulando-a pelas verbas vota-
das no ultimo orcamento: importando assim a
despesa dc cada alumno em 17^358', e de-
vendo ainda subtrahir-se d'esta cifra 1^920
rs. que cada um paga de propinas de ma-
triculas.
Nao se achara superior esla despesa a dc
outros paizes, em que todavia a freijuencia e
muito maior; porque tambem n'elles sao
maiores os ordenados dos professores, c mais
dcspendiosa a administracae litteraria ; sendo
qua nesta despesa, nao se ha de altender so
aos encargos do tbesouro, mas aos das pro-
vincias c municipios, que para ella concor-
rcra .
Sentc profundamente o conselho nao poder
calcular a frequencia neste ramo d'instruc-
cao, com relacito a populacae em geral, e a
das provincias cm especial. Faltam-Ihe porcm
OS documentos, em quedcvcria lirmar os seus
calculos.
Qucixam-se alguns dos commissaries de
164
osluilos, da farilidade roiii quo, om ostiulns
iiiiperiores, e mormi'iitc iias liabililarOcs cc-
clcsiasticas, sao ailniittidos iiulividiios com
siniplps attcslados dr frcqiiencia cm cscliohis
particulares: fazcndo este abuso diiiiiiiiiir
muito a frcquoncia nos lyccnis, cm ([iiu so
ohsorva mais rcgularidade no ciisino, e rif^or
de disciplina. No que e do csUulos suporiorcs,
c clicgado 0 prazo de so nao admillircm a
cxamcs d« capacidadc, scnao os aliimnos
(jue mostrai'om approvacao previa nos lyccus;
Na repartieao ccclesiastioa nao deve con-
sentir-se a indulgencia, sendo que nos func-
cionaiios d'esia ordem e que se rcquer mais
solida inslrucrao, c pureza de costumes. Julga
pois 0 consellio de summa convenicncia, que
se insinue aos preiados diocesanos o es-
cruptilo, que deve obscrvar-se cm nao admlt-
lir a c\ames os ordinandos, que nao Icgi-
(imarem o seu aproveitamcnlo por docu-
raentos legaes e insuspeilos; dando-sc pre-
I'erencia aos babilitados nos lyceus.
E summamente attendivol a rcquisicSo,
que alguns delegados do consclho fazem,
(i'um rcgulamento cconomico e litterario pa-
ra os lyceus. 0 conselho, querendo i)roceder,
como ihe cumprc, em assumpto de tanta
gravidade, quiz de primeiio ouvir os votos
dos principacs lyceus do rcino, e rcsoivcr
com madureza um negocio, cm que a preci-
pitacao muito podia compromclter a instruc-
cao. Ainda nao recolhcu os votos de todos
OS lyceus eonsultados; c logo que os obtenlia,
nao se deseuidara de um objeclo, que tern
incessantemente occupado a sua altencao. E
por esta occasiao permitta Y. Magestad'e, que
0 conselho lembre a urgepcia da resolucao
do projccto das habilitacOos dos professores
de instruccao secundaria, remeltido cm con-
suUa de 4 de marco de 1813; porque deve
esse trabalho fazer uma parte csscncial do
regulamento geral dos lyceus.
Mas 0 conselho tern desejado supprir com
instruccoes rcmettidas aos dir^ctores dos ly-
ceus, a falta d'aquelle rcgulamento: e nunca
podia receiar a notavel irregularidade que o
reitor do lyceu de Santarem diz em seu
rclatorio tcr havido ncste cstabclecimenlo,
que no estado nascenle devc^ra comecar por
dar provas de mais amor iis letras. 0 conse-
lho porem espera, que podera introduzir
n'elle a devida regularidade, sustentando
com firmcza e resolucao a cxccucao das leis.
Parece digna de altender-se a rcquisicao
do commissario d'cstudos de Lisboa, d'um
secretario para a sua repartieao. A allluencia
de negocios na capital, e n'um districto de
grande extensao, parece tornar indispensavel
a creacao d'aquelle logar; que talvez, me-
diante alguma gratilicacao, possa ser des-
empenhado pelo secretario do lyceu. Tam-
bem parece convenientc, a perfeicao e cora-
modidade no cnsino, a lembranca proposla
pelo mcsmo commissario, de confiar o cnsino
do IVancez c iiiglez singularmente a eada
um dos .2 professores d'cssas linguas, ([ue ha
no lyceu de Lisboa.
A lembranca, que propoc 0 commissario
d'cstudos de Hraganca, de so conccder o edi-
licio do exiincto convcnto de S. Francisco
d'aquella ('idade para casa do lyceu, e digna
de ser tomada por Y. Magestade na mais
scria consideracao; porque, sem esse ou outro
(|iiali|uer edilicio adequado, nao sera possivel
inslaUar a(|uello lyceu.
A I'alla deeditieios publieos para collocacao
das cscholas lanto primarias, como sccunda-
rias, epontoemque locam todos os relatorios
chegados ao conselho. A parte material das
cscholas mercce de prefcrencia a mais seria
sollicilude, pela inllueucia que tem sobre a
parte intellectual e moral dacducacao. Escho-
las nas casas parliculares dos professores, nem
podem ser vigiadas tao livremente pelo publi-
co e pelas auctoridades inspcctoras, nem obri-
gam OS ])rofessores a decencia c aceio, em que
devem servir de espelho aos sens disi'ipnlos.
A reprcsentacao, que faz o commissario da
Guarda, sobre a necessidade de uma cadcira
d'instruccao primaria em Quadrazaes, e da
transferencia da cadeira de lalim deLinhares
para Manteigas, carece de mais pausada
meditacao. Em tempo ojqiortuno propora o
conselho o que mais convenha.
CoiUinua.
A POESIA SLAYA MODERNA.
Continuado de j>ag. 142.
Bem extranho nos parece ter passado ate
aqui desapercebida a enormc influencia pro-
duzida pelos gonshirs sobre os poetas sabios
da Slavia contcmporanea, nao so cm Belgrade e
Agram, mas tanibcm em Praga, cm Petersbur-
go e cm Moscou. Se muitos dclles se teem fi-
nalmente desviado da trilha cosmopolita, se
teem voltado de novo as cores locaes, a na-
tural, ao singclo, as inspiracoes nacionaes,
devcm-no ao youslo. Para mostrar como os
poetas illyrios eservios teem tomado os gous-
lars por modelo, o melhor mcio c, como ja
dissemos, citar aqui e acola alguns cantos po-
pulares, c fazer senlir como dies se relleclem
na poesia dos saloes. Limitar-nos-hemos neste
inluito a algumas indicacoes essenciaes. En-
tre OS Illyrio-Servios, tres poetas contempo-
raneos, Subbotitj, Stanko-Vraz e Ostrojinski;
— na Russia, na Polonia e na Bohemia, Ler-
montof, Visniviski cKolar, servir-nos-hao pa-
ra characterizar a rcnascenca da poesia slava,
debaixo da inlluencia do youslo, nos seus
aspcclos principacs. Como esta renasccnca Icve
165
0 scu principio cntre os lUyrio-Scrvios, i. bera
que entre clles se cstudc priinciro.
De raca pura scrvia, Subbotitj tornou-sc a
gloria da voievodia, em quanto Stanko-Vraz,
natural da Slyria, n'um solo quasi conipleta-
mente germanisado, educado nas escholas
allemas, achou cm si bastante energia para
arcar com os prejuizos de nascimento e de
cducarao, e soube por impulse proprio re-
niontar-se as origens as mais puras da iiispi-
rafao slava. Pelo que respeita a Oslrojinski,
croata da borda do mar, o scu merecimcnto
consiste em ter side o primeiro queabriuaos
contemporaneos a eslrada da nova pocsia. De
Ostronjinski cilarei apenas, eomo amostra, a
sua ode sobre a origcm do (jousle, intilulada
Uzrotsi, palavra que se nSo pode Iraduzir nas
nossas linguas racionalistas, mas que so por
si involve uma philosophia inteiraniente nova,
porque compreliende na sua signilicacao as
causas e os prodigies, — dois factos idenlicos
para todo o Sluvo verdadeiro.
« Urn bravo iunak atravessa a cavallo a
floresta montanhosa; fatigado para juncto de
uma faia carcomida, prende a sua cavalga-
dura ao tronco da arvore, e, deitando-se a
sua fresca sombra , adormece n'um somno
profundo. Do concave da faia que se entre-
abre, Ihe apparece em sonhos a vila, e, com
urn sorrir divino, Ihe diz: Heroe, filho dhe-
roes, lembra-te que la em baixo, nas planicies,
defiuham os teus irmaos, escravos de exlran-
geiros: vae-te a libertal-os. » Elle ergue-se de
urn pulo, corre armado para seus irmaos,
e conscgue despedacar-lhcs as algenias. Nao
tardou que vicsse o inverno coi)rir com o
sen manic de geada a floresta montanhosa.
0 joven vencedor torna a subir pclos atalhos
conhecidos; busca a faia idosa inspiradora,
debaixo da qual tivera a visao, derruba-a
com 0 seu machado, fabrica um goitsle, e
presentea com olla um ccgo rapsoda da sua
tribu, para Ihe ajudar a cantar os braves que
deram a liberdade ao povo. 0 gouslar co-
mefa o seu canto beroico, mas cstrea-se in-
vocando arila da floresta, sem a qual o heroc
se nao lembraria de combater pelo livramento
dosseus. Invoca a t'l/fl, joven e immortal, dos
seus avos, que alcancou o triumpho da sua
tribu, e a quem unicamente o heroe devcu
a id^a de transformar a faia idosa no sagrado
gousle que perpctiia na terra o culto dos ge-
nios superiores. »
0 Illyrio dos Alpcs Stancko-Vraz desinvol-
veu nas suas baladas mais de um pensamcn-
to, que antes delle tinha ja inspirado ot^gous-
lars. Basta comparar estas baladas com as
pecas mais ou menos analogas da coUeccao
consagrada por Vuk ao gouslo. Entre os poe-
metos de Stanko-Yraz, escolheremos um inti-
tulado 0 Cacador:
« Ja OS carvalhos perderam afolha; as nos-
sas montanhas ergucm ao ceo as suas cabe-
cas calvas, como velhos que senlem rarear-Fhcs
as ultimas cans. A buzina rctine pclos bos-
i|ues, o latir dos caes estrugc os vallcs c os
campos. Todo entrcgue ao prazer que o ar-
rasta, um joven cafador passa a galope, per-
seguindo os gamos e as lebres. — No anno .se-
guinte, ao despontar da primavera, as monta-
nhas despidas de folhagem convidam o joven
cacador a entregar-se de novo aos mesmos
prazeres; mas ja nao e a caca quem o arre-
hata. Em roda delle tudo e silencio: a sua
buzina coberta de p6 esta dependurada da
parede; os seus librcos definham presos. £
melhor caca a que persegue: suspira de amo-
res por uma donzella. »
0 canto popularcitado porYuk, que tracta
0 mesnio objecto, considera tambem a con-
quista do corafao de uma mulher como a
melhor carada (naibolii lov) que o homem po-
de fazer ca na terra.
n Parti ao romper da aurora para ir cafar
0 veado nos nossos montados; e o sol que
declinava ja comecava a lancar sobre mim a
sombra dos vcrdes pinheiros. Eis que deparo,
sozinha, deilada ao pe d'uma arvore, com
uma linda donzella, com a cabeca sobre um
feixe de trevo cortado de ha pouco, com duas
brancas rolinhas sobre o seio, e um veadozi-
nho a seus pes. Feliz com a minha preza, la
passei a noite. Dei ao meu cavallo o feixe de
trevo para cear, ao meu falcao as duas roli-
nhas, aos mens caes o veadozinho, e guar-
dei para mim a donzella formosa. »
Outra piesiia collacionada por Vuk, mostra-
nos debaixo dotitulo: Amor r-eciproco, uma
rapariga lavando a roupa da sua familia na
toTrcnte arrebatada. Seu amante que passa,
vendo desenhadas na area do ribeiro os seus
pes brancos como a neve, suspira ao vel-os, e
pergunta-Ihe se qucr ser delle. « Oh ! respon-
de ella, se cu podes.se ser tua, lavar-me-hia
nesse dia com leite para me tornar ainda mais
alva, esfregafia as faces com agua do rosas
para as tornar ainda mais vermclhas, e aper-
tar-me-hia com um cinto de seda para me
tornar ainda mais csbclta. » Uma balada de
Slranko-Vraz mostra-nos do mesmo modo a
joven Bielana, que, dcsde a aurora, ,se vai
lavar a ribeira. 0 sol nascente reflecte no
espelho do rio as suas formas encantadoras.
Nao se pode imaginar coisa mais linda. c Os
seus olhos sao duas estrellas que saem scintil-
lantcs do seio de uma nuveni, suas faces sao
duas rosas que o sol acaba de entre-abrir,
seus labios sao tenros como uma maca que
comeca de amadurecer. Ella mcsma se admi-
ra mirando-se no crystal das aguas, e entra a
dizer: — so me falta a coroa de casada, para
que a minha belleza seja completa.^ Sozinha,
julgava que ninguem a ouvia ; mas do pincaro
de um rochedo, um mancebo que a admira
e a escuta, corre para ella. Apresenta-Ihe a
coroa de desposada, e cobre-a de beijos, di-
166
zeiido-llie: Agora es minha para semprc! —
Pela pasclioa, dopois de acabada a sancta ([ua-
resma. celel)ra-se o casaraento, c Biclana di-
losa caminha da egreja para casa de scu
esposo. »
Dos tres poclas aquelle que transportou com
raais succcpso a inspiracao do ijouslo para a
poesia escripla foi Suhbotitj. Para nos con-
vencermos, liasla (.•cmiparar com os cantos do
poeta illyrio os caiitus popuhircs collacionados
por Viik. As Aoilcti d'lneerno do hem-amado
iuspiiaram aos tioiishirs duas cslrophcs de uma
perfeita naturalidade:
« 0 furacao noilurno sopra la cm baixo
na plaiiicic, ia cm cima sibilla contra a for-
taleza; mas na fortaluza uma joven despo-
sada diz surrindo: soprae, aciuiloes, durante
as compridas noitcs d'inverno. — Ouando cu
dormia em casa de meus paes, estendida sobre
novo almol'adas bem moles, tondo em cinia
de mini nove cobertas, entao as noites mais
curias me pareciam compridas. Agora dur-
. mo juncto do men voino, sobre urn so col-
chao, e com uma so cobcrta. As noites mais
compridas parccem-me curtas. »
Ve-se bem que Subbotitj se lembrava d'estas
eslrophes na sua ode intitulada Momkhe i
Grmliavina (0 Amaiite e a Tempestade) :
« 0 corisco rasga as nuvcns, o raio fendc os
ceos. Troae, trovoes, brilhae relampagos scin-
tillantcs, para illuminar o atalho que var dar
a casa da minha amada! Afiigentae os maus
olhos para que nenbum maldizente me pre-
sinla, e cu possa acak'utal-a nos meus bracos
ate a aurora. — Redobra o vento, arranca
iroso 0 colmo das choupanas, desfaz os tectos
e leva os scus deslrocos pelos ares, desarrei-
ga as arvores que me cercam; mas eu, tran-
quillo, vou cantando os meus amores. As ri-
beiras vaocheias, e cnibaracando-me o cami-
nho, ameacam de submergir-me na passagem.
Todos OS vivenles erguem ao ceo um grito de
angustia; mas no meio deste tumulo da na-
tureza que a cada passo se me abre debaixo
dos pes, 0 astro do amor me allumta, e desfaz
com sens raios os tcrrores da morte. Canto o
que mais amo, e so a terra neste momento
me engulisse nos scus abysmos, en Biorreria
cheio todo de amor. »
As lamcntacoes funebres sobre as campas
dos mortos oceiipam um logar distincto nos
cantos do gouslo,
« Desabou uma pedra da niontanha de Bu-
da; caindo no valle matou um mancebo, o
formoso Andre. Ao cliegar-lhc csla notieia, a
pobre noiva d'Andre disse comsigo: — Ai ! se
eu me puzer a grilar, se eu repetir em tristes
endeixas todas as virtudes do meu amado, as
minhas endeixas repetidas do bocca em bocca,
acabarao por passar para os labios sarcasti-
cos desses que nunca amaram. Se para eter-
nizar o scu nome, eu Ibe erguer um mausoleo
n'um longo poema impresso, o livro passara
dc mao cm mao ate chegar as dos niaus. Mais
me val o calar-rac, 6 lu que dcvias ser meti
esposo; c, longe do mundo, elevar-te dentro
do nuMi corafSo magoado um tumulo que nao
possa scr manchado. »
Parece-me diilicil encontrar cousa mais ma-
viosa e ao mesmo tempo mais slava do que »
seguinte elegia dc uma das macs bosnias:
« Unica IVlicidade de sua mile, o joven
Konda niorreu. Nao podendo apartar-se do
corpo dc sou tillio, a pobre mae entcrra-o jun-
cto da sua babitacao, n'um bosque de verdn-
ra. Debaixo de uma laranjeira de fructos dou-
rados se crgue o tumulo de Konda. Todas as
manhas, a mae desconsolada vai dcitar-se so-
bre a campa, e conversa com a alma do seu
filho. — Meu pobre (ilho, dize-me, a terra po-
sa-le muito? o tcu peilo esta opprimido pelas
taboas do tcu caixao? Um som lastimoso e
suave sai das entranhas da terra: — Nao e o-
peso da terra, 6 miuba qucrida mae, nera as
taboas do meu caixao, que me 0|)[)rimera; »
((ue me atormenta, 6a dor e a aflliccao da mi-
uba noiva. Todas as vezes que clla cbora, a
minba ahna geme nos ceos, e quando chega a
desespcrar-sc, os meus ossos qucbram-se em
batendo uns nos outros dentro do tumulo. »
Em Subbotitj encontra-se um canto fune-
bre, que por todos os motives, tcm o seu fo-
gar nmrcado a par d'esta endcixa tocante;
iulilula-se o Orvalho, e do orvalho do cora-
cao de que se tracta :
n Que ligura e aquella que, a lardo e de
manba, se ve sentada aos pes da cruz musgo-
sa? sera acaso a de uma menina que perdeu
por aqui um annel de pedras preciosas, ou
aigiima preuda rica? Ou antes a de um aman-
te que vem encontrar-se aqui com o anjo dos
seus pensamentos? — Nao e uma menina que
l)rocura um objecto perdido, nem um aman-
te procurando aquella que guarda a sua fe;
e uma pobre miie que vem chorar sobre o
tumulo dc scu lilho unico. Aqui vem todos OS
(lias desl'azer-se em pranto. Das suaslagrimas,
umas, derramadas quando nascc o sol, sao pa-
ra chorar o lilho que ja nao exisle; as outras,
derramadas quando o sol se poe, sao para
conjurar a Deus que a leve tambem para si.
As lagriraas quedcrrama, para pcdir aos ceos
que a reunam a seu biho, brilham ao luar
como as perolas mais puras; e as lagrimas que
derrama sobre a morte de seu lilho, sobem.
orvalho ardcnte, nos raios da aurora, que as
lovam para Deus. «
Conliniia.
METEOROLOGIA.
A distribuicao do calor a superficie do
globo terrestre e um dos pontos mais iFan-
scendentes da meteorologia, e o que offerece
167
talvez maiores difficuldades, era razao do
grande numcro dc factos, que abrangc, c do
pequcno nuraero de leis conhecidas, que
estabelecem as suas rclacoes. Para resolver
completamente csla queslao, seriam necessa-
rias longas series d'observaroes era lodes os
pontes do globe ; observarOes, de que a scien-
cia ainda carece, nao obstante as numerosas
viagens scientilicas, feitas por physicos distin-
ctos em todos os mares e em dillercntes pai-
zes. Creada no principio do seculo actual pelo
barao de Humboldt, a cujos interessantcs tra-
balhos devc a sua origem, esta parte da pby-
sica esta ainda longc do grau de perfeirao, a
que outras teem chegado. Teem com tudo os
physicos dado tamanba impoitancia a este
objccto, que nao ha preiaucao, que se nao
tenba tornado ua avaliacao da teraperatura
do ar, a (im de que os resultados obtidos se
possam haver por exactos. Esta consideracao
e a leitura d'uma nota de Mr. Le Yerrier na
occasiao, em que apresentiira a academia das
aciencias de Paris um resume das obscrvacoes
meteorologieas, feitas nos mezes dc Janeiro,
fevereiro, marco e abril do corrente anno,
movcram-nos a dizer alguraa cousa sobre o
assumpto.
Os thermometros liquidos, sendo de um
use faeil e commodo, sao por isso mesmo os
que se empregam geralmente nas observaeoes
meteorologieas. A regularidade das dilata-
foes do mcrcurio dentro dos limites ordina-
ries da cscala thermometrica, sobre outras
muitas vantagens, torna os thermometros
construidos com este metal preferiveis a todos
OS outros; sao com tudo indispensaveis os de
alcohol na avaliacao de temperaturas muito
baixas. Para se poder fazer use d'estes
thermometros, c necessario que sejam gra-
duados por comparacao com um bom thermo-
melro de mercurio entre 0° e 25", cm razao
da irregnlaridade das dilatacocs do alcohol em
temperaturas um pouee elevadas. Assim gra-
duados, teem estes thermometros a vantagem
de serem muito mais scnsiveis, do que os de
mercurio, c podcra ser erapregados, sem erro
sensivel, na dcterminacao de todas as tem-
peraturas inferiores a 35.°
No emprcgo dos thermometros liquidos, e
mister nao pcrder de vista que o zero da es-
cala e sujeito a deslocar-se com o tempo,
quando se tomam por pontos fixes, na gradua-
fae do inslrumente, as temperaturas do gelo
fundenle e do vapor da agua fervente ; e que
desloeafOes similhantes teem tambem logar,
quando se submette o thermometro a uma
teraperatura clevada. Nas obscrvacoes, em
que se precisa somente de certa approxima-
cao, usa-se de thermometros d'escala li\a,
graduados muilos mezes depois da sua con-
struccao, a lira de que o zero da eseala nao
possa sedrer variacoes sensiveis; nas inve-
«tigacoes, que exigem muita precisuo, em-
pregara-se thermometros d'escala movel, que
permittem verificar os pontos fixes de tempos
a tempos.
Alcm d'estas, outras precaucOcs sab ncces-
sarias, para que os resultados das observa-
cocs sejam exactos. Uma condicao indis-
pensavel 6 que o thermometro tenba pequeno
rcservatorio, para que as suas indicafoes
sejam muilo promptas. Nao e menes impor-
tante que o thermometro esteja exposto ao
norte e a sombra dos edificios, a fira de nao
ser influenciado pela irradiacao das paredes
aquccidas directamente pelo sol. Scria tam-
bem convcniente, come advcrtc um physico '
distincto, collecar o thermometro ciitrc dois
discos de madeira de grande diameiro, que
interceptassem a irradiacao da terra e deses-
pacos planetarcs; o Iherraometro indicaria
assim com maior exactidae a teraperatura
da caraada d'ar, cm que elle se acha.
No observatorio de Paris observa-se, ha
muitos annos, a teraperatura do ar cora um
therraometro de mercurio; munido d'escala
de vidro, e abrigado da chuva por um tecto
conico de metal. Este thermometro, fixado
sobre um tambor de madeira, que pode gyrar
era torno d'um ei\o de ferro, e exposto dire-
ctaraente ao norte, e nao recelie por conse-
guinte OS raios do sol senao durante alguraas
boras desde o equinoccio da priraavera ate
ao do outomno. Quando isto acontece, faz-se
gyrar o tambor, e poc-se o thermometro a
sorabra. As obscrvacoes sao feitas as 9 h. da
manha, ao meio dia, as 3 h. da larde e as
9 da noite.
Mr. Le Yerrier, receando que o thermo-
metro, dc que acabaraos de falar, fosse in-
fluenciado pela irradiacao das paredes do
observatorio, massas consideraveis, que nao
tomam immediatamente a teraperatura do ar,
tracteu d'esclareeer este ponto. Para isto, col-
lecou ao lade do thermometro fixo eutro
thermometro, comparado com e primeiro, c
ao ([ual se pode imprimir ura movimento dc
retacao alternado e assas rapide, para au-
gmentar, ([uanto c possivel, a inlluencia di-
rocta do ar sobre a teraperatura de thermo-
metro. As obscrvacoes, comecadas era niarce
d'cste anno, leera mostrado que asindicacOes
dos dois thcrmomelros nao sao cemparaveis.
No mez de marco as indicacoes do thcrmo-
nielro fixe, as 3 h. da tarde, forara quasi
constanteracnle superiorcs as do thermometro
(jtjrante, sendo de mais d'um grau as dif-
fcrencas individuacs. 0 mesmo aconteceu em
abril iis 3 h. da tarde, sendo pelo contrario
as indicacoes do thermometro (ixo as 9 h.
da uoite ura pouco inferiores as do thermo-
metro (jijrante.
Mr. Le Yerrier entendeu que devia registrar
em columna separada os resultados oblidos
' Peclel.
168
com 0 thcrmometro gyrante, cujas indicac5es
sc dcvcm considerar como mais proximas da
verdadcira temperatura do ar. Dcsde o mez
de marco os mappas das obscrvajoes melco-
rologicas, feitas no observatorio dc Paris,
trazem as temperaturas indicadas pelos dois
ihermomelros. Ycrcmos, se cstes resultados
sac conlirmados pelas obscrvacoes, que se
fazem no gabincle de physica da nossa uni-
versidade, para ondc se inandara ja vir urn
thermometro gijrante. \s dilTerencas, scndo
mnito consideraveis, mercccm por certo a at-
tencao dos physicos, c fazem crer que darao
origera a novos aperfeiooamentos, que muilo
contribuirao para.os progresses da sciencia
n'esta parte. S. G.
LIVROS SAGRADOS DOS IXDIOS.
o hig-v£da.
Passa de tres mil annos, que um pequcno
povo pastor e guerreiro, partindo das pla-
nicies enlre o mar Caspio, e o lajfo Aral,
descera das frias regioes da aita Asia, e se
encaminhara para esse forinoso paiz banhado
pelo Idus, pelo Ganjes, e pelo Dejamouna.
Os Aryenos eram esle pequeno povo.
Iinpellidos pelo inslincto da emigra5ao,
biiscavam resolutamente uma terra de prouiis-
sao, uma nova palria, onde um ou dois seculos
antes da expedijfio de Alexandre se achavani
ja eslabelecidos com o nome de Indies. Este
povo, pori'in, que a si mesmo dava o nome
de veneravel — dryas — constiluia unicamenle
um dos tres ramos da giande faniilia asiatica,
iranienna, ou aryenna, cujo Lerco t'ora a
Clialdea. Dos outros dois ramos permaneceu
um no solo natal, foram os Zcndcs d'onde
provieram os Medos, e Persr.s ; o oiitro den
origcm as na^oes, que, seguindo desde o Cau-
caso as duas margens do mar negro, occnpa-
ram a Asia nienor, e se espalliaram em toda
a Europa : foram 05 Gregos, Kouianos, Celtas,
Germanos e Slaves. Eis aqni em duas palavras
a historia da raqa japlietica, desses desccn-
dentes do fillio segundo de iNoe, dos quaes a
Escriplura diz » Kstes repartiram entre si as
ilhas das nagoes, estabelecendc-se em diversos
paizes, onde cada um teve sua lingua, as suas
f'amilias e o seu povo particular '. r
A pliilologia tern completamente confirma-
do as palavras da Escriptura sagiada, e de-
monstrado cabalmente o lago que entre si une
lodos OS anligos e modernos idiomas falados
pelos povos dos tres ramos da ra^a aryenna.
Nao e, porem, so na linguagem que existem
eslas affinidades. O estudo dalitleratura sans-
cWia ^ mostrou, que existlamas mais notaveis
' Genes, cap. X. v. 5.
2 O Sanscrit e a antiga lingua dua brahmanes, que
ticoii considerada a lingua sagrnda do Indostao ; dietin-
relajocs enlre o genio deslas nagoes asiaiicas,
e o dos povos do Occidente. Nos Aryenos da
India dd-se esla tendencia para a rellexao e
medilagao, que produz apliilosopliia e a poezia;
e a imagina(;."io briliiante que e o apanagio dos
povosjaphelicos. Os Aryenos nao conseguiram
incnos que as mais celebres na(;oes d'antigui*
dade, levando a luz da civillsagiio ao nieio
das Iribus sclvagens, e dos povos a quern
impozeram suas leis, costumes, e linguagem.
Como OS Gregos, prezarain o sentimenlo da
sua superioridade intellectual; e orgulhosos,
como OS Romanes, dilataram suas conquistas
ate aos confms do mundo enliio conhecido.
Dosgragadamenle para elles o isolamento em
que secollocaram dos grandcs povos, a quem
novolver dos seculos coube uma parte brilhan-
le nos destinos da humanidade, nfio Ibes per-
mitliu partlcipar dos novos elementos , e das
ideas regeneradoras, que complelamente re-
novaram a face do mundo. Enervados per sua
longa residencia sob um clima lao benefice,
e enlagados no andar dos tempos com as
ragas indigenas, nao souberam resistir ao po-
der invasor do islamismo. Oito seculos ha
que comegara para elles a era da sua deca-
dencia, e todavia este longo periodo nao Ihes
afrouxou o zelo peja conservajao de suas tra-
dijoes religiosas. No momento, pore(n, em
que o imperio das novas ideas penetrara por
uma forga irresistivel no seio das mais antigas
nagoes, e que aquellas tradigoes corriam risco
de perder-se, foi a propria liuropa, e particu-
larmente os sabios inglezes, a quem se deveu
a salvajao dos mais venerados monunienlos
da litteratura sanscrita, e os bralimanes de-
positaries dos textos antigos censenliram em
iniciar nos segredos do seu idioma sagrado
esses europeus, cujo character e dedicagao pelas
sciencias Ihes inspirara completa ceufianga".
O texto das leis de Manou, duas vezes
impresse em Calcula, fizera coiihecer a orga-
nisagao da sociedade aryenna dividida per
castas dez seculos antes da nossa era, quando
o brahmanismo estava no seu maior auge, a
dominava a realeza pela supreniacia da forga
espiritual sobre o poder temporal. As grandes
epopeas o Mahdbhdrata, e Rdvuiyana, verda-
deira Iliada e Odyssea destes povos adora-
dores dos heroes, mostram a allura a que
chegara o genio poetico dos Indios.
llecentemente Burnouf, e Wilson pulilica-
ram deis Pourdnas^ ma\ importantes, e que
podem considerar-se ce[no specimens d"essas
immensas miscellaneas, onde se encontratn
g:iie.se dt«s outros idiomas da Inilia p^la pprfei(;ao do seu
mechanismo graniniatiral, Os Insilexea, e particularmenle
William Jones, foram os primeiros que eicilaram a al-
ten»;ao dos sabios da Europa 6oI>re o estudo do tanscrit.
' William Jones ^ Celebrookc — Wilkins, e oulros.
^ E o nome de nniilos poemas em lingua lanscrila,
que contem alheoijonia* a cosraogonia dos Indios. Dezoito
Pouranns traclam da crea(;rio e reno\a<;So dits mundus, tia
gencalo^ia dos deuses, dos reinadus dos Manous, e dol
fcitoB de seu« dcscendentes.
Bichertlle. Diction. Tiacion.
1G9
rciinidas todas as descripgocs mytliologioas
com as legendas popularea, que vogavani eiilre
OS Indios; o dogma e a pocsia aiixdiaiido-se
muliiamente para aiiimar os ohjcctos pliysicos,
e dar as abslrac^ocs tiielapliysicas as (oiinas
corporeas. A pliilosopliia speculaliva e a
dogmatica, o drama e o apologo favorilo
dos orienlaes, em fim as siias ciironicas ma-
ravilliosas, teem sido tambcm puhlicadas em
Jnglalerra, Franja e Allemaiilia pclos ciiida-
dos e pelos esfor<;os dos sens mais eminentes
fscriptores, c com o auxilio e protecyfio dos
respecUvos governos. niassim que na primeira
metade d'cslo seculo a Kiiropa leni feito as
mais imporl.'uiles e valiosas coiiqiiislas nos
dominios da lilleraliira iridiaria. Hnlre taiilo
OS qiiatro Vedus, ou os livros sagrados jaziam
ainda mamiscriplos na mao dos brahmanes
ou nas bibljolliecas da India e da Europa,
e sera esle auxilio, difficil senao impossirel
fora coidiecer a fimdo a primeira edade dos
povos indianos. Delialde se prociirara sua
diversa origem, e as condicjoes da sua primi-
liva exislencia nos poemas e na compila^-fio
das suas iels, o passado perdia-se sempre dc
vista involvido em vaporosos myllios, c dcsap-
paiecia como as illusoes da miragcni,
Os f^edas, pore'm, acabam de ser publica-
dos, e Iraddzidos quasi na sua inlegra ', e
lirje, como diz umesiTiplor distincio, aquel-
ie magesloso e profiindo rio da Ijtteratnra
sanscrita leui sido explorado ale a sua origem. n
Conliniia,
' Rig-J'eda-Sanhila hy Mat. Miiller. Ovfonl 104'J
— 1854 = Riy-I'eila par H. A. Wilson, vol. 1.°, O.vforil
m50^= liig-Feda, ou Livre dpi Htjmnes Irailiiit en fran-
^ais par Lanfilois 4 vol. 8 ■- Paris, 1848 — 1831 = Des
f'edaa par Barlhiilemy S.' Hilaire — 1 vol. Paris, 18.54.
APONTAMENTOS BIOGRAPHICOS SOBRE 0 NOSSO INSIGNE POETA LUIZ DE CAMOES.
GONCALO VAZ DE CAMOES
TALVEZ TnONCO DOS SEGCINTEs'
Continuado de pag. 153.
Joao Vaz de Camocs, chamado nos docunicntos J. Y.
de Villa Franca, vivia em Coimbra em 1502
CASOU COM
1.' Calharina Pires f em liiOS
2." Branca Tavarcs, que cedcu um prazo que tinlia com
seu marido no sitio do Alvor, cm sua irma c cunha-
da, em frente
Pero Vaz de Cainoes que nos docu-
nicntos se chama P. V. de Coim-
bra, casou no Algarve com Brites
Gomes c. o. Alii viveu cm 1330
Philippa Tavares ficou com o pra-
zo do Alvor por nomeacao de sen
cunhado c irma c. c.
Gaspar Nicolas, escrivao das sj-
zas ncsta cidade
Siniao Vaz de Caiuues
da 1." mullier
c. c.
1 .' -Vnna de Sa e Macedo ^
2.'D. Francisca . . . . '
depois de viuva casou
com 0 Dr. Roque Pcrci-
ra Tavares'
Isabel Tavares da 2."
niullier
c. c.
Alvaro Pinto.
s. G.
Antonio Tavarcs, escrivao como
seu pae c. c.
Maria Rodrigues, e viveram nc-
sta cidade com mais parentes.
Luiz de Camocs ■[• sol-
tciro, em 157'J.
Pedro Tavarcs, o qual casou nesta
cidade com F. . . .
' Digo tahez for nao constar ilos dociimenlos qitcm verdailcira.
mentc seja pae Uos iLia irmaos. Vi-j. a memoria do cil, bispo de
Viseu.
'■ Foi a m.ic do poela, coiiforme o cilado blino de Yiseu lom. 1
par. «8.
Assc-nhorcou-se do prazo das casas da ma dos Coulinhos, por
tcr ficado herdeira de seu raarido Sim3y Vaz. Dijcumeulo n." 4.
* Ja tioha fallecido o poela.
Anna Tavares, ([ue casou com Gi-
raldo Lopes 2." marido, e teve do
1.° matrimonio
I'ina doida que f cm 1043. s. o.
e passou o prazo a um filho do pa-
drasto por nome Luiz Lopes de
Moraes. Desla sorlc terminou
nesta cidade a casa dos Camocs,
e de sens parentes.
170
DOCUMENTOS
EXTllACTAllOS DOS LIVUOS DE EMPIIAZAMENTOS DA SE
PE COIMBKA ^0S LOUAKES ABAIXO AfOMADOS.
I.
Aos 16 dias do racz d'agoslo do anno do
nascimento de IS. S. J. Ciiiiisto de IBSO annos
em a ridadc do Coimlira, doiilro na so della
em caliido cluiniados a olle os srs. Dognidadcs
e Coiu'gos ao deanio nomoados; e hem assi
cslando o iiiiiilo hoiirado Joao Vaz de Yilla
Franca, cavalli'iio cidadao da dita cidade, c
cm clla moiadi)!', logo por die I'oi aprescntado
iim instrumento de reniinciarao, e trespassa-
meuto assigna<lo em puvrieo, de que o Irasla-
do delle de verho a verbo e lal como se segue
= Saibam quantos cste estiumento de renun-
ciaoao, o tiespassamento vircm, qiie no anno
do uascimenlo de N. S. J. Chiusto de lt)30
anuos, aos 1* dias do mez de junlio do dilo
anno cm a villa de Lagos, nas casas da raora-
da de Pcro Yaz de Coimhra, escudeiro do sr.
condc de Monsanto, estando elle hi de pre-
sente c Brites Gomes, sua mulher, logo por
elles foi dito que era verdade que clles tra-
iiara por litulo dc prazo umas casas, que estao
na rua que vai para o chao de Joane Mendes,
na cidade de Coimhra, as quaes sao foreiras
a se c cabido da dita cidade, no qual prazo
tile dilo Pero Vaz era a dcrradeira pessoa, c
que consirando elle como ora vivia neste
reino do Algarve, e Joao Vaz de villa Franca,
cidadao e sen irmao; ([ue presente estava nio-
rava na dita cidade de Coimhra, disseram elles
ditos Pero Vaz, ea dita sua mulher que a elles
llies aprazia, e de facto aprouve de renunciar
a dita vida e direito que tern nas ditas casas,
nas maos delles ditos srs. Denidades, e Cone-
gos c cabido da dita se, com tanto que a dita
vida c casas, (ique c se traspasse ao dito Joao
Vaz, seu irmao, por se seguir mais utilidade
c proveito ao dilo cabido por o dito Joao Yaz
ser mais velho, aos (piaes srs. Dcnidades e
cabido pedem jior merce (jue hajam por hem
de lazer a dita trespassacao ao dito Joao Vaz,
porquanlo a elle dilo Pero Vaz, e a dita sua
uuilhcr Ihc apraz dc bojo para sempre de rc-
nuuciarem, e trespassarem a dita vida com
lodo seu direito que nas ditas casas tem no
<!ito Joiio Vaz, e por este se obrigam a terom
e a cumprirem, e a haverem por bem lodo o
que 0 dito cabido fizer ao dilo Joao Vaz, seu
irmao, sob obrigacao de seas bens moveis e
de raiz que para (die obrigarara. E em tesle-
iiuinho de verdade mandaram dello scr feito
cste estrnmento de rcnunciacao e traspassa-
menlo, Testomunhas que foram presenles \1-
varo Diz. cavalleiro, e .Mvaro Fernandes,
creado do dito Joao Vaz. e lUii Bertes, caval-
leiro, que assignou por a dita Brilcs Gomes,
c por si 0 por outros. E eu Vicente Lourenco,
pruvico tabeliao por eirci nosso senhor cm
csla villa de Lagos, que esle escrcvi, e aqui
meu pruvico sinal lizquelal e. = Segue-se o
cmprazamento u traspasse feilo enlre o cabido
e 0 dilo Joao Vaz, irmao mais velho dc Pero
Vaz, das casas da rua dos Coutiulios, a favor
delle Joao Vaz, e de sua mulber Branca Tava-
res, e para um lilho ou liiha d'entre ambos,
clc. (L. 8 dos cmprazaiiiciilos fl. 58 .j
II.
Saiham quantos cste instrumento vircm co-
mo aos 3 dias de agoslo de 1'>!J2 dcnlro na .se
cathedral dc Coimhra, eslaudo presenlc os
srs. Deguidades e Conegos, estando hi Simao
Vaz de Camoes, lidalgo da casa d'elrei nosso
senhor, por o qual foi dito em presenca de
mini tabeliao pubrico, c das teslemunhas ao
dianlc scriptas que era verdade ipie Isabel
Tavares sua irma, Irazia por lilulo dempraza-
niento em Ires vidas um assento de casas c
(|«inlal nesta cidade, que perlencem ao dilo
cabido, as quaes Ibe ficaram per falecimenlo
de Joao Vaz, seu pac, que sancla gloria haja,
cidadao desla cidade, as quaes Ihe o dito ca-
bido ennovara a dila sua irma, e ella era ora
nas ditas casas e quintal a primcira vida, e
dellas pagava de pensao em cada um anno ao
dilo cabido mil reis era dinhciro e dois capoes:
as quaes casas estao na freguezia da dila so,
e partem de um cabo com Jeronymo Salvago,
conego na dita se, e do outro com quintal do
Prolonatario lleitor Roiz de Gouvea, conego
oulro si na dila se, e por dclraz enlestain era
casas do licenciado Joao Vaz, e por deanlc
partem com rua puvrica, e com outras con-
frontacOes coin que de direito devcni partir,
dizendo elle mais Simao Yaz de Camoes, que
elle casara ora a dila sua irma c Ihc dera a
niaior parte de sua fazenda era casamcnlo, por
a qual razao ella com seu marido Alvaro Pin-
lo Ihe tizera doacao das ditas casas, pera que
elle as bouvesse e innovasse em si pera o que
Ihe lizerain procuracao, e nella Ihe derain lodo
0 seu comprido poder para que elle Simao
Vaz em seu noine delles Alvaro Pinto, c Isa-
bel Tavares, sua mulher, renunciasse as ditas
casas na niao do dito cabido e direcio seiilio-
rio dellas, para que llies innovassem a elle
Simao \'az, e Ihe lizessera novo litulo dellas,
segundo logo hi inoslrou por o dito cstromen-
lo de doacao e procuracao que anda nesic
livro de notas de mim tabeliao, etc. E \isto
lodo pelos ditos srs. Denidades, Conegos c
cabido, disseram que elles rccebiain em si a
dita rcnunciacao do dilo assento de casas c
(liiinlal, c desobrigavara aos ditos Alvaro Pinlo
e sua mulber dos encargos em que eram ao
dilo cabido etc. (L. 12 //. 31 e Pi.)
171
III.
Saibnni os que eslc piihrii'O inslriinicnto de
novo eniprazamonto em trcs vidas pola nia-
iieira adeante dcclaiada virem, que aos ti
dias do mez de sctembro de 1570 annos, em
osta cidade de Coiml)ra c easa do cabido da
?e catbedral della, ondcoslavam presentcs os
muito magnilicos srs. Denidades c Conegos e
cabido adeante nomcados, e ncsta iiota as-
signados: c oiitro si estando hi presciite o sr.
Siiiiao Vaz deCamoes, fidalgo da casa d'eirei
nosso scnbor, e era morador na cidade do
Porto, por elle foi dito que elle no cabido pas-
sado lizera iima pelirao na qual Ihc fora dado
iim despacbo de que todo o traslado de verbo
ad verbum e o seguinlc. Muito illuslres srs.
Diz Simao Vaz de Caraoes que elle possue
per titulo de eraprazaraento de vossas mcrces
umas casas, que teni a rua do Adeao em tres
vidas, cm que elle c a 1.', as quaes sac um
sitio muito grande antigo, e muito arruinado,
que quasi eslao no cbao como dirao os srs.
([uc as foram ver, e estao de maneira que sc
se nao fizerem de novo sc perderao de todo,
c por que elle supplicante se quer vir viver a
csta cidade, e fazer no dito sitio umas casas
nobres em que se obriga gastar 300^000, sem
OS quaes sc nao podem fazer, c inda com mui-
to mais, no que vossas merces recebem muito
proveito por razao dos dizimos que elle sup-
plicante ba de pagar de sua fazenda por ser
seu fregucz e vassalo. Pedc a vossas merces
havendo respcito ao sobredito Ibii deem mais
cinco vidas alem das vidas que tem, as quaes
nao pagucm mais pensilo, que a que tem, que
sao mil reis c dois capOes, quee muito grande
foro pera o dito sitio e gasto que sc ba de
fazer. Despacbo. Apraz ao cabido havendo
respcito a calidadc do supplicaiUe c vistas as
razoes cm sua peticao declaradas, quegastan-
do elle em quatro annos cem mil reis, e cm
mais dois annos os 200^ que beam nestas
casas de Ihe darem mais trcs vidas das tres
que agora tem, as quaes corrcrao acabadas as
tres que tem, com obrigacao .... que cada
unia das dilas vidas que for nomeada dentro
cm um mez se vira aprescntar em cabido com
a nomeacao que liver, sob penna dc Ihe nao
valer coisa alguma, c as ditas casas licarem
vagas, c devolutas a nos e a nossa meza ca-
pitular: como tanibem ficarao vagas e vaga-
rao falecendo a pessoa que for viva sem no-
mear .... D'esta maucira Iho faz, alias nao.
— 0 licenciado Francisco Pessoa, concgo e
escrivao do dito cabido o fez por seu maudado
aos 20 de setcmbro dc lo70 annos. Ocban-
tre Pcro Brandao. A qual peticao assi fcita e
trasladada licou em podcr do dito Simao Vaz
de Camoes, o qual dissc mais que as sobrc-
ditas casas estao na dita rua do Dcao fregue-
zia da dita se, e partem deum cabo com casas
dc Jcronyrao Salvage, conego della, c da ou-
tra com quintal que foi doprotonalario lleiior
Uodrigues de Gouvea, conego que foi nadita
se, que Deus baja, e por detraz eiitestam em
casas dos herdeiros do licenciado Joao Vaz, e
por dcante partem com rua pubrica c com
outras confrontacoes estas sao as conteu-
das no titulo ([ue Icm do dito cabido, jiorquc
e elle Simao Vaz nas ditas casas a prinicira
vida, como dclle constou por o prescular, c
que ora pedia llie fizesscm novo titulo de em-
prazamcnto conforme ao despacbo atraz. 0
que visto por dies seaborcs, disseram em pre-
scnca de mini tabelliao e tcstcmunhas adean-
te nomeadas que por todo o sobredito passar
assi c na verdade, e o cabido tcr feito vedo-
ria nas ditas casas, e sc achar que estavani
muito danilicadas, c que fazendo o suprican-
te e inclino Simiio Vaz as ditas bcmfeilorias,
seria muito em proveito e utilidade da sua
meza capitular, assi pela nobreza da proprie-
dadc, e lerradcgos e dizimos que sc aquiri-
riam por cstarcm na freguizia da dita se, e
deferindo a calidadc dc sua pessoa dclle Si-
mao Vaz, e por outros justos respeitos, quii
OS a isso nioviam e conforme ao dito despa-
cbo Ibe eniprazavam, edefcito emprazaramas
ditas casas, etc. f/,. 14 dos emprazamentoi
(I. n.)
IV.
A^Ho dada ao sr. licenciado Francisco Pessoa
nosso iniiao das casa,i que foram de Situdo
Yuz Canwcs que eslq,o defronte das suas.
Aos 7 dc novembro de 1384, scndo clia-
mados para cabido se deu ancao ao sr. licen-
ciado Francisco Pessoa, nosso irmao jx>ra po-
der tirar c dcmandar ao Dr. Roquc Pereini,
e sua mulher I). Francisea, como herdeiru e
successora de seu marido Simao Vaz Camoes,
que Deos tem, umas casas de que o cabido d
dirccto senborio que estao junto com as do
sr. Jeronymo Casco, c defronte das que die
sr. Francisco Pessoa vive, pera o que Ihc dao
todo 0 direito, que pera as podcr tirar, tem
ou por vagas, ou por qualqitcr outro direito,
que 0 cabido, ou sua meza capitular tem,
porque todo trespassam ncUe pera cslc cfl'ci-
to, por acharcm ser isso proveito da casa, c
si obrigou as custas; e die assi accilou. E
mandarao fazer estc assento c assignou conii-
go. — Antonio Moutinbo, Francisco Pessoa. —
(Accorddo do cabido. L. dp. 131. vers.)
V.
Ao derradeiro dc Janeiro de 1603 annos fez
0 Dr. Uoquc Pereira Tavarcs uma petijao ao
cabido, em que narrou que sua mac Antonia
Tavarcs o noracou em testamento em umas
casas prazo do cabido que estao a S. Christo-
vao, em as quaes casas sc meteu dc posse
172
dellas Antonio Manso, cunhatlo do dito Ro-
q\ic. Pereira, jiara que vindo o dilo Anionic
Manso on sua muliier podir innovai.ao das
ditascasas, so nao I'aca nom deliia, s<'ni man-
darem dar vista ao dito Roquc Pereira : o (juc
vislo pelo dito cabido mandaram que so nao
faca titulo algum sera sc dar vista ao dito
lloque Pereira, para ccrteza do sobredito liz
eu Vasco d'Almeida cste assento no dito dia
mcz c anno, em (|uc assinou o sr. Deao. —
Vasco d'Almeida. (L. b dosaccorduos jl. 67.J
YI.
Anno do nascimcnto dc N. S. J. Chbisto de
1C2S aos 14 dias do mez de Janeiro na se
cathedral della ondc cstavam especialmenlc
coiigregados os srs. Dignidades e Conegos,
etc. , e sendo presente Manoel Correa morador
na sua (juinla de Lordeniao por ellc foi dito
que entre os mais bens e propriedades de ([ue
0 dito cabido e sua meza capitular era senho-
rio, bem assi era uma murada de casas, que
rile tinba e possuia na rua de S. Christovao da
dita cid'ade prazo do dito cabido ([ue nelle
nomeara oDr. Ro<iue Pereira Tavares , as quaes
casas partiara da do soao com quintal das
casas de Mareal de Macedo cidadao da dita
cidadc, edabanda do sul com casas do mesmo
Mareal de Macedo, e do aguiao com rua pu-
blicii que vai de S. Christovao para a se, c
com as mais confrontacoes com que de dircito
deviam partir, e que per enteuder que as vi-
dasdodito prazo cram acabadas pedia a elles
scnhores Ibe lizesscni merce de Ihe renovar as
vidas do dito prazo bavendo elle de ser a pri-
meira com poder de nomear a segunda, c a se-
gunda a terccira ate bora da sua morte: o que
tudo assi visto, disseram ([ue por ja ter preec-
dida neste caso verdadeira informacao baviam
por bem que se Ibe lizesse novo titulo etc.
(Extrahido do L. Iddosprazosafl. V6i.)
BIBLIOGRAPIIU.
ELBHEKTOS DE DHSENDO LINEIB PABA ISO 00 BBAL
COLLEGIO CBSLLIXO DE COIUEBA, 1 VOL. £51 8
(.OU FIG. COIUUKA 1SS3,
A falla de compenclios adaptados para nso
das escbolas piimarias e uiji dos iiiaiores
obstacolos, que eiitre no; se oppoe ao adian-
tamento d'csle imporlaiitissinio raiiio da in-
stnicjao publica. Nas niaiscultas na56es leni-
se procurado com lodo o cuidado popolarisar
as difterentes sciencias, tornaiido-as acccs-
s-iveis a todas as intelligencias por meio de
nianuaes e compendios de principlos elenien-
tarissiinos d'essas sciencias, que mais util ap-
plicajao teem nos usos da vida, ou que ser-
vcm de proveitosa babilila^fio para maiores
.;»
esliidos. Mas o que sobre tudo ale boje Icm
I'lcado em mais lainenlavel esqiiecimento, nii
antes reprebensivel fuila, e a inslrucgao do
sexo feminine, ii os raros coUegios de educa-
gao de meninas, digiios d'esle notne, que entre
nos existem, careciam complelamente de
iivros proprios para o ensino das siias ediican.
das, e nao fora lacil, nem lalvez conveiiiente
supprir esta i'aila com Iivros exlranlios, que ou
por niui volumojos, ou porque suppoem
maiores conbeoimentos, do que realmenle se
podem adquirir no eslado, em que se acba a
nobsa inslrucgao uiimaria, sfio menos proprios
para o fim, que se deve ter em vista no ensino
do sexo femiuino.
Annunciamos por isso com satisfacjao os
novos Elemenlos de desenho linear orde-
nados com loda a precisuo e clareza, para
servirem de llieiiia as ii(,'6es, que sobre esLe
assumpto se explicam as meninas principian-
les no collegio ursulino de Coimbra.
O modeslo A. niui singolamenle declara
o fun, que se propozera neste seu opusculo
nas palavras, que aqui copiamos.
11 Levou-no5 a esle |)equeno Irabalbo a consi-
deraciio de que llies faltava um livro em lin-
guagem, que fosse adaptado as circumslancias
d'aquelle estabeiecimento. Como so era para
servir de introducjfio a estudos mais amplos,
de'mol-o a estampa tjio compendioso, deixan-
do para obra mais auctorisada e competente,
o raaior desinvolvimento d'estes principios, e
a sua applicagfio aos bordados e ornatos das
senlioras, na qual se devein exercitar as
meninas mais adiantadas. )?
Estes elemenlos sao divididos em duas
partes ; a primeira comprebende o desenbo
linear a ollio, elracta das linlias, superficies e
solidos : a segunda parte e dedicada ao desenho
linear grapbieo, comprebendendo a resolugao
de alguns problemas geometricos.
Era tnuilo para desejar que outros iniitas-
sem oexempk) do illustrado A. dos Elemcniot
de desenho linear, e que sobre tudo no que
respeita aos diversos ramos das sciencias
pbysicas, e bislorico-naturaes se dessem li mo-
desta, mas utilissinia tarefa de e^tampar em
iinguageni os elemenlos d'aqiiellas sciencias,
ordcnados de modo, que servisseni de recreio,
e proveitosa instrucgao li nunierosa classe dos
alumnos de ambos os sexos, que tVequentam
as escliolas, e coUegios de iiislrucgao primaria.
J. u. BE AllREU.
A observajao do coragao bumano e uin
manancial perenne para a litleratura.
U. 8TAEL.
A corrupguo e' o maior obstaculo para o
progresso dos destines bumanos.
BALANCUB.
® 3n0 titiit0^
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
MIVERSIDADE DE COUIBRA— PROGRiJIMAS.
FACULDADE DE TBEOLOGIA,
1853—1854.
1." ANNO. — 1.» CADEIRA.
HrSTORIA ECCLESIASTICA,
Lente — Dr. Joaquim Cardoso de Jraujo*
C0WPBM>IO F. A. LOBO , RRSUMO DA. HrSTORlJt DA
£GREJA DO ANTIGO TKSTAMESTO, COIMBRA 1H27.
DA.>(\R.\MAYR, IWSTITrTION ES UISTORIAB ECCLESIASTI-
CAE -NOV, TEST., CU.MMBRICAE IBSG.
A. Isag-oge da Historia. Sun no^ao — divisao — iitili-
dade — fira — objeclo. Fonlea hiBloricas — espccies — au-
ctoridnde. Hisloria litlrraria — Bil)liographia bisturioa.
B. Hisluria da Egreja do A. Teslaiiieiilo. Crca9ilu do
mundo — (]tic(la de Adao e Kvo. Dilnvio, Voca^3o de
Abrahao. Patriarchas, Moyses — in3titiii<;3o e leis do povo
jiidaico. Jiiizea — reis — divisao do reino. Reis de Israel
ate d destrui);*io do reJno per Salman^tzar. Reis de Jiid.i
Hl6 ao capli\ciro de Babylonia. R'Slilui^ao dos Judciis
— govenio dos sumraos sacerdoles — Machabeus. Ainbi<;oes
e coulendas por causa do g:()verno. Herodes rei.
C. Hisluria da Ei:reja do N. Tcstamenlo.
1. Periodo primciro desde J. C. ate Coaslanlino Majjn'j.
a. Jesus Cliristo — sua duiilrina — morte — resurrei(;ilu
— ascenstio. Api;*I'jIo9 — sens trabalhos — egrfjas apusla-
licas. Pre^a^aij do Evangelbo — causas, que a favorecem
— difficuldarles, que enconlra. Persojiii^Ses.
i. Cunsliliiii^So da Egreja — puiitifice romaiio —sua
primazia— bispus — presbyleros — ^diaconos E!ei(;3o dos
niiiiislros aagrados. Successao dos.Lispos nas pnncipaes
egrejas. Concilios. Padres. Escriplores ecrlesiasticos.
c. Doutrina Clirl^la. Discij'lina. Rites. Costumes.
Inflocncia da Heligi3o nos costumes pulilicos.
d. Controversias. Scismas. Heresias. Gnosticos, Ma-
ni cheus
S, Periodo segiindo desde Constantino al^ Carlos
Magno.
a. Oi Tmperadores protcgem a Egreja. Conversao dos
Barbaros.
b. Privjlegios e poder do clero — causa e origeiu
d'este poder. Principio do poder dos papas Sdbre os
principt's, — palriarrhas — exarchas, elf, Aucloridado do
romano pontiflce. Infliiencia dos principes nas elei^oes dus
bispos. Concilios ecumt'nicos — sua aucloridade. Padies.
Escriplores ecclesiaiticos.
c. Disciplina — ritos — mais — e maJs pomposos
Coslunif'8. Infltieiicia da Religiao sobre a sjciodade, e
especialmente sobre a legisla^rio e cosluincs. Monges —
lua ori;;eiu e especies — seu augmentu — influencia
d. Controversias — sc'smas — diverso roodo de proce-
der da Egreja contra os herejes. ArJnnos. Pelagianos.
3. P.;riodo terceiro desde Carlos Magau ale Gregorio
vn.
a. ConvprsSo (aa vezes violenta) do8 povos do Norte.
A seita de Mahomet no Oriente — na Africa— na Hespa-
nba.
6 Grande poder do clero. Os bispos senliores feiidaes.
Vol. III. OcitBBO 15—
Origem das investidiiras. Os bispos nonieados pclos prin*
cipes — inconvenientes e escandalos d'eslas nomea^ofS.
Ignoraiicia da Enropa. Traballios dos monges.
c. Ritos siipeisticiuBos, Lendws — aclaa falsag — abiiso
dns reliqiiias e das perigrinH(;uc3. Corrup<;ao dos costumes.
Simonia escandalosa. Inrontinencia do rlero.
d. Conlro\er&ia sobre o culto das imagens. Scisma
dos Gregus — seu pretexlo — verdadeira can<ia.
4. Periodo quarto dt-sde Gregorio VII. ale Luthero.
a. Cruzadas — seus bens e males. Ordens militares —
scus abusos. Tempi. irios. O Chrislianismo se propaga no
sul da Africa — na Intia — na America.
b. Puder papal. Gnerras sobre as investiduras. Jui2'>
sobre Gregorio VII. e siias reformas. Necessidade de re-
forms. Conciiio de Constanta — de Basil^a — de Ferrara
e de Florenea.
c. Scliolastica — sua inOuencia. Restaurai^Jio das letrai.
Ponlifices mais illuslres.
d. Scisma do Oriente. Clemenle V. em Arinbao.
Scisma do O.cidente — graves males, que elle causa,
e. Abachard — Albigenses — inquisi^ao.
5- Periodo qin'nlo desde Luthero at<S ao fim do eeculo
18.''
a. Eslado politico e lillerario da Enropa — corrup^So
dos custumes. Leao X. — indidgencias — Luthero.
b. Revolij^ao rcligiosa — suas verdadeiras causas —
scus effeitus quanto a Egreja e quanto ao Estado.
c. Progressoa do Protestant ismo, Dieta de Worms —
de Spira — confissao d^Ausbonrg — Zwinglio — Calvioo
— guerra dos 30 annos. Paz de Westphalia.
d Prujectos de concordia — conciljo de Trenlo —
juixo sobre die.
e. Henrique VIII — scisma anglicano,
f. JesuitdS ^ Jansenistas — Quietistas.
g. Resumo da hisloria da Egreja reformada.
2.' CADEIRA.
THEOLOGrA OOGMATICA GBRAL.
Lente — Dr. D. Viciorino da Concei^ao Teixeira Nece$
RebeUo.
COMPENDKl J. PRUNYf, SYSTEMA THEOLOOIAB DOGMA-
TICAE CHHISTtANo-CATHOLTCAB, COMISI BUICAE 1848.
A. Prolognmrnos. Noi^So — divisSo — objecto — dm
— excellenria — necessiilaite — subsidios da Theologja
Dogmatira. Sua hisloria liileraria.
B. Theoria da Reljgiao : -
1. Em geral. Sua nu^ao — divisao — possibilidade —
necessidade.
2. Em parlicular :
a. Religiao natural. Sua no^ao — possibilidade e insuOi-
ciencia.
b. Religiao re»elada. Sua no^So — divisSo— pol«
sibilidade — necessidade — criterios.
3. Das religiocs falsas.
C. Theoria das fonles, ou logares Theoiogicos.
1. Primilivot :
a. Escripliira. Sua authenticidade — Teracidade —
integridade — inspira^iio — sentido.
b. Tradit^So. Sua no^ao — divisiio — valor — regrat,
K. Denvolivos. Concilios, principalmcnie os geraes :
bispos, principalmente o romauo ponliGre: padres, prin-
1854. Num. 14.
174
ri|i;tImrnlo os dos primciroi leculos : sjmltoloi , priuci-
]'alnieiile os antijus. Lilur^ia. Prf6cri|n;rio.
3. SuUidiariui. Historiu. Philusopliia natural e racio-
nai. Direitu caituiiico e civil.
D. Theoria ila K-jfoja :
1. Sua no^uo — inslitui^So — fiui — visibilidade —
perpeliii<I.Hle.
2. Siias nolas^applicarao J*cslas as difTereotes egre-
jas
3. Sim auctoriilade objecliva e suljectiya.
4. Sens dircilos e prerofralivas.
5. Sens memltrjs c hierarchia,
2." ANNO. — 3.» CADEIRA.
THSOLOGIA D0GUATIC4 ESPEClki*.
Lente — Dr, Joae Gome* Achilles,
COMPENOIO-^J. PRUNYI, SVSTEMA THEOLOGfAE DOCMA-
TICIE CURISTIANO-C\TBOLICAE, CO.M.MfiHICAE 18-lB.
A. Nd^ocs previas. Vordadeira no^So da Tlirtilo^ia
Syml>olica. Historia especial d'esU parte da Theologia
— stia relai^ao com a I>iii;malica especial — no^rto e prin-
cipi'j d'eslit — sua historia. DeGiii^ao e coiidi(;ues du
Do;rni3. DifTerentea melhndus Sfgnidus na suaexposi^Su
— lijslorico — denioiislralivo — poicinico, Vantagens do
fjiie rcunir lodus esles elenieiiloa. Mysterios e sua possi-
l>tlidade. Artii;i)9 fiindam<--nlae$ e nao riin(lamenlar>s d<'S
Proteslanles. Exfiosi^-Jto e refutai;ao dj indilTerenlisiuo, on
tolerancia leligiusa. SymludiiS — livros symbolicos.
B. Unidade de Deus — Dualismo — Pulylheismo —
Panilieisnio. Kssencja de Dens — aUnlmtos de Dens.
C. No^ao da Tritulatic — eren^a da E^'reja n'esle
Doirnia — sua iniportancia. Denomina(;5o e divindade
.ilo Pae — do Fillio — ilu Espirilo Sanclo, Oisliiici;ao real
tins Ires Pessons. PruceasGcs e outras coiuo propriedades
do myelerio.
J). Incarna^ao.
1. Conlia OS JuJeus: promessa do Redemplor conlida
no A. Teslamenlo — analyie e exposi^ao de loJas os
-propheciiis n'elle conlidas, e (|ne dizem respeito ao Mes-
jlia^, Epoclia? ^n<'l,is cliaracterifilicas — officios on oiunns
•lo iMessias. Jesus de Nazar< tli e o verdaileiro Messias.
2. Contra os hereges ; Jesus de Nazaretli e \erda-
delro Deus P verilacleiro lioniem — diias nalureaas — von-
ladcs e opera^ocs de Clirislo. Chrislo e Qlho proprio de
Den?-. Maria iii3e dcClirJslo e mSe de Deus — sua xirgin-
ilade. Hnmauidadfi de Chrislo unida hypostaticanienle ao
Verbo — . cnllo que Ihe <5 deudo, Communica^iio ue
idion)as. Morle e sepulJnra de Chrislo — reflexoes a cerca
ita senleii^a da sua condemnac^rio — refutat^ao de J. Salva-
dor. Dt'scida ao8 Infernos — resiirrei(;ao — asrensao de
Chrislo aos Ceos — seu assento a dextra do Padre,
E. Morte imposta a todos os homeno. Juizo particular.
Deslino dos jnslos — dos condeninados — Purj:alorio —
Cuinmunhrio dos Sanclos — seu culto — cullo das Ima^ens
— das sagradas Reliquias. Resurrei^ao dos corpos — Juizo
voiversal.
IV.B. Nesle segnndo anno os alumnos de Theulogia
Irequeotam a aula de Dirrito Natural^ ou Pbilosophia de
Dircilo Da Faculdade de Direilo.
3.* ANNO. — 4.» CADEIRA.
CONTINUA^AO DA THEOLOGIA DOfJMATICA ESPECIAL.
Xente — Dr» Francisco Jntomo Rodrigues de Jzevedo.
COUPB.NDIO — J. PRONYr, SYSTBMA THBOLOGIAB DOGMATI-
CAE CHRISTIAXO-CATHOLICAE, COMMBRICAB 1848; C
simultancamenle~-F. l. b. LiEseRMANN, institutio-
JiES THEOLOGIAE, MOUUKTIAE 1U44,
A. Primeira parte.
1. Crea*;3o — do mundo — lirado do nada. Exame
das diversns opiniSes sobre a historia da crea^So referida
por Moyses — fiui — conserva^ao — goverao do mundo —
Provideocia.
2. Anjo8 — sua eiislencia — nalureza — ejcellencia
— dotes — minislerios — queda.
3. Homem — sua cren(;So — nalureza — doles — •
deslino. Decadeucia dos priineiros paes — exame crilico
da historia da queda primiliva referida por Moyses. Pec-
cado original -^ uoiversalidade da sua transfusSo — opi-
nIOes diversas a cerca da nntureza e modo da propaga^So
do peccado original — J. Chrislo, e a Virgem luiie de
Dens sao d'clle excepluados.
B, Scgnnda parte.
1. Gra(;a e suas especies — imporlancia d'esta doulri-
na, e sua difliruldade — conIro\ersias fauiosaa a cerca da
gra<;a. K a questilo philosophica enlre a liberdade e a
fatalidadc.
2. Grai;a actunl — sua necessidade para toda e qual-
qner ol)ra salntar. — gra^a etTicaz — uao iirejudica a liber-
daile. Ponlos definidos pela Egrcja — apprecia^So do8
di\ersos syslemas sobre a cITicacia da gra^a. (Iro^a suf-
ficiente — e graluita — se 6 dada a todos? Ponlos deflni*
dos pela Egreja — exame das opinuVs a cercu dos nSo
deflnidos — desegualdade das trra^as. PredeslinaQao e
reprovH^ao — a reprova^So dSo i absulula — e a predesti*
na^So ?
3. Gracja sanclificante — sua natrireza — doutrina do
coricilio deTreutu — disposi(;ues ou meios para alcan^ar
a justificaeHo — corollaries d'esta doutrina. PropriedadeB
da jnsliflcai;ao — sua incerleza — amipsilpilidaje — au;;-
mento ou dimioui^ilo. Qnestoes escholasticas scbre esta
materia.
4. Boas obras— sua npcessidade— sen merito. Espceic^
de ruerito — suas condi<;oe3 — ol>jeclo — variedade.
5." CADEIRA.
THEOLOGIA DOGMITICO-PRACTICA.
Lento — Dr. Jose Ernesto de Carvalho e Rego,
COMPENOIO A. LUBV, THEOLOGIAB MORAMS rN SYSTEM*
REDACTAB^ ETC., CONJMBRICAB 1848.
A. Parle geral de Moral Christa.
1. No<;oes preliiuinares sobre a nalureza^objeclo ^
fim — di\isao — utiiidade — excellencia — funics daTheo-
Iogi;i Doirniatieo-Practica. A sua hisloria litteraria,
2. Natureza moral do hnmem era geral — em particu-
lar sua nalureza moral, relalivamenle aos qualro estados
da innorencia primiliva — da culpa — da gra^a — e da
gloria. Seu fim — deslino — e dignidade.
3. Praxeologia moral, Natureza e indole das ac^fSes
mornes do homem em geral — norma d'eslds ar^'oes, e
sua flpplica^ao a ellas tanibem em gerrd. Leis em parti-
cular, conio norma das ac^oes moraes, e sua ajijilica^ao
a ellas como principio d*onde nasce a imputa^ao. CoDsci-
encia— nioralidade das ac^oes.
4. Arelologia geral. No(;iio, indole, divisao, ordem e
collisao d'ollicios e direilos. Theoria dos habitus em geral
— em especial dos bons — no^iio, nalureza, molivos, con*
di<;oes, nccessidade, divisao da virtude -— impedimentos
ireraes da i irlude — adminiculos tia \irtude em geral.
Theoria dos habitos raaus em especial. Vicios e peccadoa
— causas, fuutes, occasioes — grau dos vicios, e da vicio-
nidade. Emenda moral.
B. Elhica Chrisla applicada.
1. Onicius do homem Christao a respeito de Deus —
virludes, que d^elles nascem, vicios que Ihes sSoopposlos.
2. Officios do homem Christao a respeito de si raesmo
— virtudes e vicios, que se seguem da sua observancia,
ou D'lo observancia.
3. Officios tantoabsolutoa, como hypolhelicos a respei-
to do proximo — virtudes e vicios, que Ihes correspoodem.
4. Conlractos em .geral — em particular.
5. Sociedade conjugal e palerna — obriga^5es e direi«
tos, que Ihes sao annevos.
C. Theologia pastoral.
I Officios especiacs dos pastoret da Egreja de toda*
as hierarcbias* no que respcita:
fl. A prega^So da palavra de Deus.
b. A disprnsa^lo dos sacramentos.
c. A cura das almas.
> -^-^^^Vx- .^**" "^V^^-
175
d. Ao exercicio do culto externo.
S. Oflicius do povo, rclativameute ao clero em geral
^-ao8 seUB paslorcs em particular.
4.*' ANNO — 6.» CADEIRA,
THEOLOGIA LITORGICA.
lieote— Dr. Anlonio BeUarmino Carr^a da Fonseea*
COMPBNDIO J. PHUNYI, STSTEMA THEOLOOrAH DORMATI-
CAE CURISTIAISO-CATUOLLCAB, COMMBKICAB l9iB>
A. Sacramental.
1. Sacraaientus em geral: no^ao c inslltui^uo dos
cacramejilos — sens cuiistiliitivos — rcqiiisilos dt> ministro
— do subjeito. For^a^ efficacia e numt-ro dos sacramen-
tos.
2. Sacramenlos em particular:
a. Baplismo — noi^ilo — instilni(;ao, materia, furraa,
mitiistra, sulgeilo, necessidade, efTeitos do baplismo.
b. Confirmaqau, verda'lelro sacramcnto — sua materia,
fiJrma, miiiislro, suhjeiln, necessidade e effeitus.
c. Eiirhiirislia — mysterio da presen«;a real — Irans-
eubstuncia^aii. E verHadeiro sacramenlo. Sua maleiia,
forma, miuislro, necessiilade. E verdadelro saurificio da
Lei no%a — proplcialorio — ialreutico — ■ eucUaristico —
imjtelral(>rio.
d Ptiiilciicia — J. Christo deu a Egroja o poder de
reter e perdoar pi;ctailos — neccssiitade da conCssaa sai-ra-
tnenlal — da cuiitri^ao — satisfac^ao — poder da E;;reja
de conceder indnl^'encias — maleria, forma, Qiinistro,
suljeito, effcilo iK>sacrameiito da penitencia.
e. Exlrema-Unc^ao — verdadeiro sacramenlo — sua
materia, forma, roinistro, sul-jeilo, Qecessidade, effeilos.
/, Ordem, autre sacrameiito — sua maleria, forma,
minislro, suljt-ilo, ntcessidade, effeitos.
g. Matrimonio — e urn olficio da natureza instiliildo
por Dens — e lamln-m verdiidt-iro sacramenlo-^ sen mi-
nislro, miilerirt, forma e subjeilo — a E;.Teja tern j)()der
dc cstal»f;lecer iinpedinientus dirimeiiles do malrimonio —
Poly^amia simnltanea prohibida na Lei nova — iudissolu-
bilidade do matrimonio.
B. Liti:r<;id em especie:
I. Nor fin.
S. Divi.sao :
a, Historira — exposi^Ho das varia^OL'S succedidas
oa E;5rcjii a respeilo iJo cullo.
A. Techiiira — desinvoUimenlo das \eri1adt-jras caiisas
d'eslas varia(;ot'S — estjbelecimento do cullo religioso maid
accummodadu ao espirito do Chrisliaiiismo.
A. li. Nesle quarto anno us aluiuims de Theologia
frequeutam a aula ile Dlrt^ito Ecclcsiuiiticu Publico na
Faculdade de Direito.
uh
5^ ANNO. — 7.» CADEIBA.
ESCRIPTURA DO TESTAMRNTO VELHO E DO TESTAMESTO
novo PARA AS LI^OES DE EXEGETICA.
Lente — Dr. Anlonio Jose de Freilas Honoralo.
CoMPE^UIO — FR. J. DE S. CLARA, CONSPECTUS HERME-
NEUTICAE S A CRAB WOVI TESTAMENT!, CuNIMBR ICA J-:
1827, E — J. JUI/IAM. MONSI'EUOER, I.^STlTLiT10.^ES
HBRUGNEUTICAE «OV. TEST,, \I.\DOBONAE 1704.
A. Hermeneiitica s.ic;rai!a do novo e anti^^o Teslamcn-
lo : -^liermeneutica em gpral — hermeneulica saijrada cm
especial — hermeneutica sagrada do noio TistaiucnU) mois
e6|)ec(alme)ite — do anli:;u — livros apucrijjhos do Tcsla-
mcnlo novo — do autigo. Fim inlerno e exlcnio da h-r-
menenlica sa^rada — meios proximos e romolca jtroprios
para seconst-iruir csle Gm — uso d'esles meios pela analyse
e epilyse— regras Lermeneulicas a cerru do senlido da
Palavra de Deus — dos meios hcrmeneuticoa — do uso
d'esles meios.
B. Analyse hermeneiillca da hisloria harmonica dos
qimtro EvaiigelliDS. Explicada — expusi^ao de cada uma
das pericopas mais obscuras — analyse hermeneulica das
pericupas mais diOiceis do antigo Testamento,
C. Epilyae hermeneulica dfl alguns logares c)as*icoa
d*entre as pericopas da analyse — epilytc — ejtegetica —
eleoclica — porismatica,
N. B, Nesle quinto anno os aliimnos de TheoIo;n*a
frequentam a aula de Direito Ecclesiastico Particular na
Faculdade de Direito.
SEXTO ANNO.
Neste fiexto anno os atumnos de Theologia repelem
as aulas do qnlnto anno.
No lira de cada iim dos primeiros cinco annos, os
aluinnos habililados liram duis ou mais pontus sobre us
materiaa, que frequentiiram ; e n'esles sao examinadoa
jjublicamenle pur Ires ou qiiatro Lentes de Theologia e
de Diri'ilo (nas suas materias).
Aos alumiios approvados no exame, ou acto, do quarto
anno, se confere u ijrau de Bacharel.
t)s repelenlt's (ahimnos do 6.° anno) defendem publi-
camenle no fim do anno umas TlieseSj tiradas de tudas as
disciptin.is, que frequfntaram ; e nas quaes Ihe arc<:nmen-
tam oilu Lenles, ou Duiilures Theologus. DepuJs era uni
ExHtiie pritatlo seis Ltenles Tlieologos os examinam sobre
as miiteria? principaes de lodo o curso. Ao alumno ap-
provado n'f'Ste exame e conferiJo o gran de LiccnciaJo,
e p(J(le lomar o de Doulor.
RELATORIO
Dos Irahalhos do conselho da faculdade de
muthematica, no anno lectivo de 1833 para
18u4.
A pezar da alteracao que soflVcu o soccgo
publico nesta cidadc por occasiao da lesta
do Carnaval, e dos aconterimcntos cxtraor-
dinarios que d'ahi resultaram, o servico
ordinario da faculdade correu regular por
parte dos professores, que, animados do maior
zelo pelo ensino publico, poderam allenuar os
nifius effeitos d'aquelles acontecimentos, tendo
a satisCaecao de ver que este seu zelo foi coroa-
do de resultados satisfactorios para o apro-
vellamento de grande nuniero dos sous disci-
pulos.
0 tempo das aulas foi prolongado o mais
possivel, conlinuando as do 3.° e 4." anno ate
10 dejunho. e levando-se ainda mais adiante
as do 1." e i.° anno, dei\ando-se somente o
tempo quo jjareceu necessario para se fazereni
os ados dos esludantes habilitados.
Os ados lizeram-se com o rigor costumado;
e 0 conselho, depois d'elles, dccidiu que se
consignasscm no livro das adas das congrcga-
coes OS nomcs dos esludantes que se haviani
tornado distinctos pela sua frequencia e nosi
ados.
Tendo o governo de S. M., em portaria do
ministerio dos negocios do reino de i'6 de
agosto de lSb3, dcclarado que o arbitrio,
adoptado pela faculdade de mathematica em
29 dejulbo domesmoanno, satisfaz completa-
mente ao pensamento que dictou a portaria
de 3 de agosto, relativaniente a classiticacao
dos alumnos que foram approvados no 3." e
4.° anno da faculdade, a tim de serem equi-
parados em vantagens aos alumnos da eschola
176
do exercito: n'essa conformidade fez o conse-
Iho n'este anno a classificacao dos estudantes
do 3." e 4.° anno, a qual, por via do prclado
da univcrsidade, fez subir a presenja do S. M.
Nao havcndi) no anno lectivo ultimo estu-
dantes niatriculados no 5.° anno da faculda-
de, cntcndou o consclho ser niais conveniente
que OS sextanistas da faruldado, em vez dc
frequenlarem a ".' cadeira collocada no 5."
anno, frcquentassem antes a 8/ cadeira; e
tnniando esta decisao, foi ella approvada
pelo governo dc S. M. em portaria de 4 de
uovembro.
Estatistica da frequencia, e aproveitamenio dos
alumnos da faculdade de malhemalica n'esle
anno lectivo.
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74
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113
Podendo a letra dos estatutos dar logar a
duvidas sol)re quern deve piesidir ao acto das
theses, fcii, por proposta de urn dos vogacs
do fouseliio, ventilada esta questao, resul-
tando detidir o raesnio conselho, quasi por
tinaniinidade, que esta presidencia cabia ao
lento de prima da faculdade, ou, na sua falta,
a quern suas vezes lizesse.
Tendo sido presente ao conselho a portaria
de 5 dc septembro, relativa ei publicacao
gratuita do jornal do Inslituto de Coimbra,
na qual sc pcrmitte as faculdades acaderaicas
0 fazor imprimir as publicaoOes scientilicas
e litterarias, foi, por proposta do vogal
Barrcto-Feio, nomeada uma commissao, com-
posta dos vogaes Guerra Osorio e Jacome
Sarmento, para colligir das actas e archives
da congregaeao o que mereccsse ser publicado ;
e ao niesmo tempo foram convidados os pro-
fessores da faculdade para darcra por cscripto
quaesquer demonstracOes, aditamentos ou
memorias com que substiluam ou ampliem
algiima parte dos compendios por onde cx-
pliquem, a lim dc ser tiido publicado no jornal.
Tambem foram mandados alii pul)licar os
programmas, cxigidos na portaria do mini-
stcrio do rcino dc 11 de maio, depois dc com-
pctentemente approvados pelo consclho.
Durante este anno lectivo o consclho da
faculdade tomou as seguintes resolucues:
Que OS professores das respectivas cadciras
d(*cm, em oongregafao, conla dos alumnos
que deixarem dc entrcgar os exercicios que
Ihcs forem passados. — Que as dissertacoes de
partidos ou premios corram por todos os
vogaes do conselho, a fim de que todos pos-
.sani volar sohre a conccssao dos mesmos
partidos ou premios. — Que no principio de
outubro de cada anno lectivo se publiquem
por edilal todos as dccisocs do consclho sobrd
a contagem e elTcitos das faltas. — Que sejam
dois OS dias de ponto no 3.° anno.
0 conselho approvou para compendios da
faculdade :
A 1." parte dos elemcntos de astronomia,
aprcsentada pelo vogal Sousa Pinto.
A nova traduccao da algebra superior do
curso demathematicas puras de Francocur.
K decidiu, (juc, vista a demora que tem tido
a imprcssao dos ullimos volumes da nova edi-
fSo de astronomia de Biot, nao fossem os
estudantes do 4.° anno obrigados a comprar
OS prinieiros volumes na imprensa da uni-
vcrsidade.
Decidiu tambem, que no proximo anno
lectivo frcquentassem os alumnos do S.° anno
a C cadeira collocada no 4." anno, e que
n'ella comecassem por estudar a mechanica
dos iluidos, c que na 5.' cadeira se explicas-'
sc optica.
0 consclho, decidindo que se instasse pela
conccssao de lodas as verbas pedidas no seu
ultimo ortamento, quiz que n'este relatorio
se fizessc tambem sentir ao prclado da uni-
vcrsidade a urgente necessidade da acquisi-
ciio dc uma casa propria para aula de dese-
nho, visto que, tendo o governo de S. M.
cedido a faculdade de niedicina o cdilicio do
collcgio das Artcs, tica o mesmo consclho pri-
vado da casa onde primciramentc fora col-
locada aciuclla aula.
0 consclho pediu tambem ao prclado a
graja de sollicitar do nicsmo governo de S.
M. a conccssao da casa da livraria do col-
lcgio de S. Pedro, a qual, no entender do
mcsmo conselho, e a unica que mais eco-
nomicamenlc pode ser aproveitada para esse
lim, e sera o que se tornara impossivel a
exislencia d'esta cadeira, tal qual deve ser
montada.
Sendo reconhccida a necessidade de mais
uma casa d'aula para uso da faculdade, c
tendo esta requisitado da faculdade de philo-
sophia a casa , onde antigamente fora esta-
belccida no museu a aula de hydraulica : a
vista do olTcrecimento de outras casas por
parte da faculdade de philosophia, nomeou
0 consclho uma commissao composta dos
vogaes, Castro e Silva Montciro para de ac-
cordo com o prclado escolhcrum no niesmo
local do museu, e mandarem prcparar uma
aula que satisfaja as condicocs materiacs do"
cnsino.
Em consclho da faculdade foi lida uma
177
carta do digno par do rcino, director do
observatorio, dirigida ao revercndo hispo de
Braganra, na qiial participava lerem cliega-
do no paquete de 2i de abril os conhecimentos
dos instninientos para o observatorio, que
deviam cbogar nessa scmana a Lisboa no
vapor D. Maria II, sendo depois remctlidos
para a Figueira no primeiro navio do esta-
do (jue possa alii descmbareal-os. E o consc-
llio, pelo intcrosse de tao grata nolicia, dc-
tidiu que d'ellcs se lizesse mcnrao nas suas
aclas.
0 vogal Sousa Pinto, director interino do
observatorio, cxpoz a convcnicncia de sercm
propostos para ajudantt's do uicsmo observa-
torio OS actuaes calculadorcs extraordinarios,
c tanibeiu a do provimento do logar de 3."
astronomo. 0 conselbo concordando com a
nccessidade da nomeacao dos ajudantes,
foi de pareccr que a do 3.° astronomo devc
scr adiada per agora, attcnlas as circum-
stancias do se acbar incompleto o quadro
da faculdade, e da auscncia, em graude
parte do anno lectivo, de tres de seus vogaes
occnpados em servico da jXacao.
PassanJo a fazer a visila do observatorio,
tevc 0 conselbo occasiao de exaniinar oflicial-
mcnto OS instrumentos ullimamente cbcgados,
OS quaes ja baviam sido montados provisoria-
mcnlo, para se vcr se havia falta de alguma
pcca, e de cuja coilocacao dellnitiva se cstava
traclando torn a maior diligencia, tcndo cbe-
gado jii a auctorisacao para se I'azcr a des-
pesa nece'ssaria para siniiibautc elTeito. E o
conselbo resolvcu que norelatorio da faculda-
de se manifestasse a gratidao de que seacbava
possuido para com o governo de S. M. por
uma accpiisicao tao importante para o servico
e credilo da faculdade de nialbemalica.
0 director interino do mcsmo observatorio
dedarou nessa occasiao ao prelado da uni-
versidado que Ibe constava ter sido lembrado,
pela commissao encarrcgada de escolber urn
local e cdilicio proprio para cadea desta ci-
dade, a parte construida do antigo observa-
torio ao Castello: e que, a ser isto certo,
cntendia que a faculdade de matbematica
devia emprcgar todos os csforcos para que
se nao desse tal destino a um edilicio, que,
pela sua posiciio c capacidade, oflcrecc as
nielbores condicoes que se exigem n'um
estabclecimento asirononiico, e cujo acaba-
raento, para o bm a que desde o seu principio
foi deslinado, se torna ao prcseutc mujto
mais ncccssario e urgenle.
0 conselbo, conformando-se cm tudo com
as ideas do director interino a tal respeilo,
fez seutir ao prelado da universidade a ncces-
sidade de se nao dar destino aquclle edilicio,
que prejudique o que teve primitivamente;
e teve a satisfaccao de vcr (|ue o mesmo pre-
lado promettera auxiliar o conselbo n'este
cmpcnho.
A POESIA SLAVA MODERNA.
Continuado de pa^. 166.
Finalmente, para mostrar a graca perfeita
com que Subbotitj soube apropriar a indole
das piesnas a poesia cavalleirosa, nada nos
parece tanto a proposito como rcsumir acpii,
conservando-lhe o colorido, a extensa balladu
de trinta paginas que clle intitula Bcidiii-
Ichl.a Jioulu, ou 0 Voicvoda Mirko c sua
Fillm.
« 0 velho Mirko, voicvoda de Syrmia, cscrc-
ve da sua fortaleza de Berduik uiua carta a
seu irmao d'armas, vclbo como clle, o beroe
Jug Eugdan: Escuta, amigo: Tu conheces-
niinba bllia Ikonia, que exccde era altura e
belleza todas as donzellas da nossa terra;
desejava procurar um esposo para ella, e um
genro para mini, que alliviasse os mens bom-
bros, aluidos pela edade, da pesada armadu-
ra que ja mal posso sustentar. Nao tenbo j;L
niuguem era que espere vcr-rae reviver, lla
sete iuinos que meu lilbo Radovan partiu
com 0 nosso exercito: e de ba muito que o
exercito esta de volta, mas nenbumas noti-
cias de Radovan. Ikonia tinba-se babituado
a ir cacar aos monies com seu irmao, a ma-
ncjar a clava, e a atravessar a aguia com as
suas frecbas na regiao das nuvens. Tcndo
perdido seu irmao, desoja um esposo em tudo
parecido com clle, e que a mini me avive a
mejuoria do fiibo que perdi.
E por isso, meu velbo amigo, que te con-
vido para que venbas visitar-me dia de S.
Joao. £ nesse dia, que ha de soltar-se no
canipo um ligeiro veado, que minba filba apa-
nbara na carreira; atirara com a sua clava
a rail bracas de distancia; finalraentc a mil
bracas de altura se dcixara subir aos ares-
um falcao, e quando la chegar, .sera alraves-
sado por uma frecha disparada por minba
lilba. Aquclle dos nossos heroes que apanbar
0 cervo tao depressa corao ella; ou que alirar
lao longe corao ella com a sua clava ; ou que.
atravessar o I'abao a mesraa altura, esse, mi-
nba lillia 0 acccitara para esposo, e logo no
dia scguinte se festejani o noivado. Traze pois
comtigo OS Icus nove blbos, e todos os senho-
res da tua voievudiu, para que tomera parte
na fcsla. »
0 \clho cscreve scgunda carta, cm tudo
siuiilbante a priracira, a Miloch Obilitj da
serra de Potseria ; envia terceira a Branko-
vitj, da nevada Travnik; e depois quarta no
mesnio teor aos Jakcbitj de Belgrado.
Dia de S. Joao, todas as senhoras da pri-
racira jerarchia, todos os senhores dos vastos
paizes servios, se acham rcunidos nos cam-
posextensos quedomina o castello deBcrdnik.
Todos estao impacientes por ver o curioso
descniace d'esta iucta de uma donzclla com
178
OS raais valciUes heroes slavos, lucla cujo
prcmio sera a sua propria mao, quo val unia
pica voievodid. Tao longo quanlo podc c'\lou-
(ler-se, a vista uao ilescohri' si'nao cqiiipa-
geus c spiiliorcs todos coberlos d'oiro. Figu-
rem-se as tiiiias da aurora sohrc os prados,
quando clla I'az lirilliar o orvalho com as mil
cores do iris; assim brilliain os canipos de
Berdnik ao rellexo dos milhoes do podras pre-
ciosas ([uo seinlillani iios hdljiaks dos guerrei-
ros, oomo as fulgontes eslrollas da noito na
facliada do firmamonto. La estao os tres irniaos
adoptivos, Jiarivo o Kralio\ itj, Uolia de Novi-
Bazar e Milocii Obilitj, tres heroes como nuii-
ca se virara outros similhanles nos sctc rci-
nos latinos, c que val cada um delles so um
cxcrcito. La csta o velho Jug Bogdan com os
seus novo lilhos, todos frescos como novo
golas d'orvalho, todos parccidos na estatura,
nas foiroes o na valentia. J undo delles, hi so
ve 0 fulminanlo Liutilsa Bogdan, cuja vista
traspassa o inimigo primeiro quo olio chogue
a tirar o sahre da hainha, o o enformo Uoit-
thiu, quo similhando um raorto ambulante,
iiao torn sonao a pelle sobre os ossos; mas
seus ossos sao como do ferro.
0 I'oievoila Mirko desce da sua cidadolla,
seguido da encantadora Ikonia em trajos do
um joven guerroiro, com o manto tluctuando
sobre os liomhros, o prcso no poscooo por uni
diamante, que so olio val tres cidades impe-
riacs. Nunca so idoou uma t'i7rt mais I'ormosa,
nunca o pincol vonoziauo podera croar con-
lornos mais perfeitos, nem um todo de linea-
montos mais harmoniosos. Todos os heroes a
contemplam fascinados; mas atras vera pu-
lando 0 veadozinho captivo ; traz as pontas
douradas; mordc n'nm I'roio ornado de pero-
las; OS seus pes ligoirns alcanoariam uma
viJa ou uma estrolla cadonte atraves do ceo
azulado. 0 voicvoda Jlirko solta as rodeas ao
prisionoiro, e com uma cliicotada o lanca no
meio da arena. 0 animal, sentindo-sc livro,
parte veloz; mas do tres saltos Ikonia o alcan-
ca, e pondo-llie uma das niaos sobre a cabe-
ca, salia-lbo no dorso, e o reconduz como um
docil corcol a sou pao. Todos os ospectadores
ficam siloneiosos e estupofactos; nonhum se
'bole. Os vclhos olham para os mooos, c os
mocos, cheios de dospoito, olham para KriUi-
iilj \ 0 guerroiro alado de Novi-15azar; mas
Krilatilj abaixa a cabeca oncostada sobre a
rclva.
Do repenlc da handa do horizontc ouve-se
uma cancao alegre : c a de um guerroiro
dcsconhocido, montado, sera cstribos noni sol-
la, sobre um oavallo selvagem, quo pula como
um tigrc e cujas clinas varrom a relva. Esto
hcroc, do uma physiognomia oxtravagante, traz
' Kn'l/ititj na lingua servia stgnifica o que traz
nzas, e ilii-se psli- nonic aos fruerreiros, que chegam a
saltar de uma nu ve« |i"r cima Ue sete cavallus de
combate postos ao lado uns dos outros.
0 comprido manto dos bulgaros. Barbas hran-
cas desceni-Ihc a cinclura, os ollios oscoudem-
.so-lbe debaixo das bastas sobrancollias, e os
bigodcs lliu'tuantos caom onrolados para tras
das orelbas. Chogado ao moio dos hrilhantes
sonhoros, lanca-llios um olhar dosdenhoso, c
vollaudo-se para Relia Krilatilj: « I'or ipie tc
appollidas tu o guerroiro alado, se nao Ions
onorgia para rivalisar com a donzolla em ve-
locidado? — Guerroiro dcsconhocido, res[ion-
de Krilalitj, deixa-tc do injustas roprohen-
sOes. Tonho luclado om volocidado com a
andorinha, c tenho passado adiante das pom-
has, som buscar outra recompensa mais do
que 0 men divertimento. Como nao rivalisa-
ria eu agora, se podosse, aqiii com osta mc-
nina, quando ella (i o proniio da lucta, ella
que nao enoonlra egual nos sole roinos lati-
nos? Acho-mo porem coberto do dezesete fe-
ridas, ainda nao cicatrizadas; o por pouco que
eu corrosso, ellas se tornariam a ahrir no
mesmo instanto. » 0 dosconbecido, dirigin-
do-so entao para os mancebos, lanca-lhos sar-
casmos pungentes. Como e que llies faltara os
brios para esgottarom as suas Ibrcas, e arris-
carem, se tanio for mister, a vida para me-
rocorem uma tal belloza? nTalvez quizesscm,
([uo ella so tomasse ospontaneamente de amor
por olles, 0 que viosso tiuiida, na sombra dos
seus harens, enlrcgar-se as suas caricias. E
uma vergonha, liuda Ikonia, quo Kquos assim
abandonada: mas antes marido rellio, que sent
marido. » Diz, solta o veadozinho^ e de uma
SI) obicotada, que Ihe rasga a polle o Ihe faz
saltar o sangue, o lanca na arena. Excilado
pelo estimulo da dor, o animal foge rocando
a terra com o ventre, como para escapar a
mortc; mas o guerroiro descoubecido o segue.
N'um instante ja Ihe passa adoante, e toman-
do-o pela redea, vem trazel-o ao vnieeoda
Mirko, e somc-se dopois no moio damultidao.
C'ontinua.
COSTUMES AR.\.BES.
A >OBUEZ.V SO DESEllTO. '
« D'uma sarca espinhosa, » dizia Ahd-el-
Kader, « rogada todo o anno com agua de
rosas, nao se obteni souao cspinbos; d uma
palmi'ira, scni roga, sem cultura, senipre sc
colliom taraaras. » Segundo os arabos, a no-
breza 6 a palmeira ; a plehe, a sarca espi-
nhosa.
No oriente crc-sc no poder do sangue, na
virtudc das racas; considera-se a aristocracia
como uma nccessidade social, ate como lei da
nalureza. Ao contrario do que succede entre
^ Extraliido do que escreveu o geueral E. Daiimas
sol)re este olyecto.
179
OS povof do occidcnlc, ningiicm ppnsa em
revoltar-se contra esse principio alii recebido
com placida resignacao.
Af'ora a nohreza d'origcm lonpiqua e sagra-
da, que se cnmpoe dos desccndentes do pio-
pheta ((■hn-ifc.'<\ teem os arabcs outras duas
Bobrezas distinctas; a religiosa' e a iiiilitar.
Os marahoules e os djouudes sao duas classes de
nobreza que deiivam sen csplcndor ja da pic-
dade, ja do valor; cstes alcaiicam-o no coin-
bate, aquolles com a oracao. Estas duas clas-
ses pcrscguem-sc com odio implacavcl. Os
djouudes exiialam contra os muruhoutes as con-
suras que d'ordinario sc fazem, em todos os
paizes, as ordens religiosas que procuram in-
tronieller-sc nas cousas temporaes; accusam-
nos dc inlrigas, de pianos tenebrosos, de
pcrpetua cubira dos bens mundanos disfarca-
da com um falso amor de Deus. Diz um dos
sens j)roverbios: « Da zuoitia' sempre sae uma
serpente. » Por outra parte os imirahoutes ac-
cusani OS djouades de violencia, rapina e im-
piedade. Kste ultimo arligo ministra-lhes mui-
tas vezcs uma arnia terrivel; os mdrdboutes
sao paja sens rivaes, o que era o clero da
edade media para essa nobreza leiga a quern
um anathema vencia, a despeilo do formida-
vcl apparelho dc sua forca guerreira. Se os
djouudcf! arrebatam o povo recordando-lhe os
perigos arrostados, o sangue espargido, fazen-
do, emfim, valer oprestigio militar, os ?;!«;■«-
boutcs exaltam-lhe a imaginarao com a omni-
potencia das creucas religiosas. Nao e raro
ver um marabout amado on tcniido do povo
p6r em risco a dominacao c ate a vida dc
um djouad. Para sc comprebendcr o que c
um nolire do Sahara cm todo o seu esplendor,
em todo o estroudo e animacao de sua cxi-
slcncia, c mister saber o que se passa n'uma
grandc tcnda desdc as oito ate as doze boras
do dia.
A poesia anliga refcre a multidao de clicn-
tcs que em Roma inundava os porticos dc um
palacio patricio. Uma grande tenda no dcserto
e bem siniilbante ao que eram as sumptuosas
habitacoes pintadas por Uoraeio e Juvenal.
Assentado soiire uma alcatifa com o ar dc
dignidade proprio dos oriontaes, o chefe da
tribu recebe por sou turuo qucm quer que
vcnha invocar a sua auctoridade. Qual podc
justica contra um individuo ([ue procura se-
duzir sua muiiier, qual accusa um rico que
se sublrabe ao pagamento de uma divida, qual
pede auxilio para descobrir o rebanho que
Ihe roubaram, (pial implora proteccao para
uma filha maltractada por sou brutal marido.
E muitas vezes acontece ir qucixar-se uma
mulher dc scu marido, porque a nao vestc,
porquc Ihe nao da o alimento necessario, por-
* Estaliolecimentos religiosos que comprcliendem d'or-
I dinario uina mesquita, uma eschola, e os tumulos de
I seus fiindadore:,.
que Ihe recusa, o quo os arabes na energica
originalidade de sua linguagem, ehamam a
parte de Deus. Este ultimo caso e frequentc.
E cerlo ([ue a? mulheres das classes elevadas
nunca veem alii assoalhar asrcconditas mise-
rias da vida conjugal; porem a niuliier do
povo, sempre que reclama as consequencias
do malriinonio, csla convencida de que usa
de um direito, que obedcce a um dever, c
apresenfa-sc com a intrepidez que Ihe da a
coiisciencia dc tor por si a religiao e a lei.
A paciencia c a primeira virtude de \\m
chefe. Este presta ouvidos attcntos a todas
as reclamacoes que oassallam. Esmera-sc cm
curar (pialquer genero de feridas que se Ihe
patenteeni. 0 bomem que estii no poder, « diz
uma maxima oriental, » deve imitar o medico
que nao pretendc curar todos os males com
OS mesmos remedies. » Nestes tribunacs dc
juslica, (jue fazem lembrar o modo, por que
primilivamentc os reis tractavam os inleresses
jirivados de sens subditos, o chefe arabe em-
prega toda a .sabcdoria (jue Deus concedeu a
sua intelligencia, toda a forca de que dotoii
a sua vontade. A nns manda, a outros acon-
selha, a ninguem recusa suas luzcs ou pro-
teccao.
Ao chefe arabe niio basta possuir a quali-
dade que Salomao pedia ao Senhor; a sabc-
doria deve reunir geuerosidadc e bravura. 0
maior elogio que se Ihe pode fazer, e dizer-
Ihc que » traz a espada sempre desembainha-
da c a mao sempre aberla. » Esta especic dc
caridade imposta pela lei musulmana, deve
ser continuamente practicada pelo chefe. Sua
tenda deve ser o refugio dos infelizes, nin-
guem deve alli morrer de fome, porque diz o
propheta :
8 Deus nao lerd misericordia, scndo dos mi-
sericordiosos. Crentes , dae esmola, ainda que
nao scjasenao de mctade dc uma tamara. Quern
lioje fizer uma csinohi, sera farto a manlta. »
Se 0 guerreiro perde o cavallo que consti-
tue a sua forca, se uma familia lica sem o
rebaniio de quo vive, ao chefe, sempre ao
chefe e que ."^ao dirigidas estas queixas. 0
desejo de fazer lucro jamais deve preoccupar-
Ihe 0 csjtirilo. 0 arabe nobrc que, debaixo
de tautos aspcctos, se assimelha ao senhor da
edade media, dilfcre essencialmenle dos nos-
sos cavaliu'iros, na aversao que jirofcssa pelo
jogo. Nem OS dados, nem as cartas teem uso
algum no remanso da tenda. Um chefe arabe
nem joga, nem faz emprestimos usurarios. 0
unico modo, por que alguma vez faz render o
seu dinheiro, c entrando indircctamente n'uma
empresa commercial. Enipresta a um nego-
ciante certa somma, o negociante exerce o
seu trafico, e passados alguns annos divide o
interesse com o seu credor.
Nao se julgue porem que a riqueza seja
cousa desprezada pelos oriontaes; pelo con-
trario e uma condiyao indispcnsavel para al-
180
caiuar o podor. Qiiem chpga a ser pohre,
tamliciu ciic na ohsciiriiladc, e qiiem se torna
ric'o, I'afilmo.nle ailquire as honras quedcsoja;
n>as 0 anibicidso cm vez de procurar adquirir
ri((iiezas pola iiuhisiria, busca-as antes no
canipo da balallia. 0 pueireiro que faz mui-
tas razzias dondc llie provem ao iiiesmo tem-
po dinlu'iro t\ gloria, e chamado Ben-Deraou
(lillio dc sell hraeo), e iiode aspirar as pri-
meiras dignidades da sua tribu. Isso mostra
que a qualidadi! fundamental da alma de urn
nobre aiabe e a bra\iira.
<• Nao ba eousa ([ue mais realce na deshmi-
brante braucura de um albernoz, do que o
sangue « dizia Abd-el-Kader. 0 chefe arabe,
come OS capitaes d'oulr'ora dcve ser o mais
\alente dc sens homens d'armas. Sua influen-
cia licara para senipre perdida, semanifestas-
se quai(iuer vislumbre de cobardia, e e a rea-
lidade, e nao a apparcncia (jue os arabes
apreciam. Aduiiram uma alma de tempera for-
te, nao ja um exterior degigante oud'alliele-
ta. Cumpre nao crer n'uma preoccupaeao que
se apoderou de muita gente, e vcm a ser que a
grande estatura e a i'orca corporea produzem
nos arabes viva imprcssao. Nao eassim: elles
qucrem que um bomem seja robusto, insen-
sivel a sede, c a fome, apto para supportar
as mais rudes fadigas; mas e certo que nao
dao grande importaneia a altura, a forca
muscular siuiilbante a dos valentoes de feira
ou dos gallegos. 0 que elles apreciam e a
agilidade, a destrcza ea bravura; pouco Ibes
importa a grandeza ou pequenez do corpo, e
ate ao contemplar uma ligura collossal muito
gabada, frequentes vezes se Ibes ouve csta
exclamaeao sentcnciosa: « Que importa a
estatura, que importa a forea? Vejamos-lbe
0 coracao: talvez que alii nao exista mais que
uma jielle de leao sobre o dorso de uma vacca !
Conlinua.
^■OTI^IA SOBItB A BACIA CAHBONlFEaA DO CABO
MOXDEGO.
Continuado ele pa^. 159.
Fuluro que promctte a lavra.
A linporlancia da galeria geral de esgoto,
e a exlensao que per meio della pode dar-se
a lavra, nao estao em rela^ao com a procora
do combiistivel que esta inina fornece. Para
dar coniMino ao carvao quo ba annos se ex-
Iralie della, e necessario que exista a fabrica
de garrafas prctas do Bom-Successo em
Liiljoa, sou iinico cousumidor. Seis a oito
loneladas dc carvao per dia satisfazem as ne-
cessidades d'cale estabeleciinento ; e por conse-
guinlc, sern tocar nos pilares da mina Far-
robo, lem sido sufficientc lavrar algumas
por^oes a jusante da camada, sem que taes
trnhallios leidiam cxcedido ale'in de novenla
melros na inclioacrio da tnesiiia camada.
I'lsta lavra pccca por tanlo ))cln mcsquliiboz
do coosiimo; e coiiio a extracCi'io do carvao
de grandes profoodidades carcce do cmprcgo
de meios que so luna ampla lavra pode com-
portar, o resiillado sera ficar |)or lavrar a
parte destc deposito mais importanle, tanto
pela abondancia como pola qiialidadc, se o
cooiumo se nao extender, ea lavra iifio poder
tornar-se mais activa.
E pois necessario : 1.° procurar novosconsii-
oiidorcs, e eslabelecer obras on Irabalbos de
cba racier permanente, que tornein no futiiro
a lavra mais exteiisa e proveitosa, o que nao
pole coiiseguir-se sendo a conccssao feita
coMio actualiiieiite est;i, teinporariamenlc, nem
tao pouco con)o a lei anterior de niiiias pres-
crevia por prazos nunca nialoies de 30 annos,
e niediante a maior rciida que fosse olferecida
em pra^a'. Forain eslas eoutras raznes geraes,
que mnveraisi d conselbo de obras publlcas e
inioa*, a propor o projeclo do decrelo, (jue o
govcriio promulgou com data de 31 dc de-
^embro de 1852, e as curies depois sane-
cioimram.
Ji^te decrelo manda entrar as minas de
co!iibu>tivel, em que csta se comprebende,
iia regra geral das conccssoes de minas; islo
e, lornar a sua concessfio illimitada em qiiaiilo
ao tempo e subjeila nnicamciile aos impostos
uslabelecidos para as oulras minas.
2.° estabelecer as condijoes necessarias
para que no futuro possa a miiia fnrnecer-se
economicamonte das madeiras que llie forcm
necessarias. Quandoalavra da mina comegou
por coula da fazenda, ordenou o governo a
coin])ra de terras, e a sementeira de pinbae!
dos arredores da mina, o que logo foi cum-
prido, Em 18;it havia ainda um vasto pinbal
com excellentes e abundaiites madeiras, c um
empregado a qucm e^lava coinmellida a
guarda da propriedade. A companbia de en-
iMO, nao tendo feito alii Irabalbos de minera-
gao, sacrificoo a conserva^ao do pinbal e
propriedade dellc a mesqiiiidia economia do
salario de um goarda, e o governo lolerou
que o de^pedisse.
As terras, que conslituiam as perlengas da
mina, acbam-se em parte nas mfios dos parti-
culares, e o reslo sob a adrninistra^.'io e frul^ao
da juncta de parochia de Quiaios.
Devendo neeessarianientc inq^or-se aos
concessionarios da mina de Bnarcos a im-
mediata sementeira e cultura de um pinbal
nas viziuban^as da mesina mina, condi(;ao
indispensavel para lornar no futuro menos
subido o piego do carvao, e indispensavel que
a mina lenba annexa uma porgao de terreno
conliguo, que o governo pode fornecer-Uie
mediante uma certa renda, reivindieando as
terras de propriedade nacional das pessoas,
que se apossaram dellas indevidamenle.
(Dol. do Minist. das Obr. publ.J
181
LIVROS SAGRADOS DOS INDIOS.
O BIG-VtDA.
ContintmJo de png. 169.
Uma e?p("cie de sabeisnio era a religiao
doniinante dos Aryeiios enlrados no terrilorio
da India : os sens riiltos forain consagrados
a iKitiirnza divinUada. Tnl foi laniljeiii a
rcligiao dos Clialdeus, dos Persas, e da iiiaior
parle dos povos da anlignidade. O hoiiiem,
depois de tcr adoiado a Dens nas suas ma-
ravillias, psquccera o supremo creadnr, que
debalde seus ollios prclendiam descorliiiar
nos ceos ; e na sua fiaqueza invocou Os
aslros que regulam o leuipo e o cnrso das
eslafoes. Rsle obscuranlismo da intelligcncia
liurnana, e a sub-liluigao do culto das po-
teiicias naturaes a adoragao de uin supreuio
e unico Deus, foi o pnuieiro passo das na-
gnes priiuilivas, dejiois da dispersiio dos fillios
de Noe', para o polvllieisriio.
Reinoulando aos primeiros tempos da sua
exislcncia social, quando eslavani aiiida divi-
didos em familias ou tribus, quo para o diaute
seconverleran) em oulroslaiUos povos diversos,
OS Aryenos haviain povoado o seu olympo
de tnilliares de plianlastiras diviiidadcs. A
terra que produzia e alimciilava os objectos
proprios para os sacrificios;as llores:os fruclos ;
os rebanlios e eereaes: — a agua que feililisa a
terra : — os venlos que regulam as csta^oes, e
amenisam os iliinas: — o fogo einblema da
for(;a ; que devorava as oftereiidas dos deuses,
e OS aliinenluva: — o crepusculo da maiilia
e da tarde, que designa a liora sniemne da
ora^ao : — a lua praleaudo a azulada abobada :
— a aurora annunclando o despej lar da natu-
reza : em fun os manes de sens inaiores, laes
foram os primeiros objeclos da voncra^-ao
d'estas tribus.
Os cullos, que elias rendiarn a estas diviii-
dadcs, consistiam em sacrilicios, oragoes, e
liymnns canlados durante as ceremonias, que
eram reguladas pelos I edas, que se dividem
em qualro paites: o liig-Fcda ou o livro
dos bymuos; o Yadjour-Fcda (braiico e
negro), que e como iiiri ritual, e que con-
lem 03 formularios proprios para serem reci-
tadas asora^'nesdurantea cclebra^ao dossacri-
ficios ; — o Slnia-(^cda, tollec^ao de liymiios
e de invocajQCS exlrabidas do Riga do i ad-
jour; — em fim o yitfuirva-p'cda, mais mo-
derno, que os outros Ires, conlendo os formu-
larios das feiticerias, dos exorcismos, e das
imprecagoes.
Dos quatro Vcdas o ultimo e' o fructo nao
da inspirajao rcligiosa dos Aryenos, mas da
colera, do espirito de vingan^a, e da super-
slijao dos btalimanes. O tercoiro e urn cxtra-
cto dos dois prinieiios, e ])or isso, estudados
esles, tern pouca importancia. O segundo i
mui nolavel, e parece que ate o seu nome
Yadjour do radical i/adj — sacrificio) se ap.
plicava a todos os quatro Fredas.
Depois que se estabeleceu esta divisao,
cada um dos quatro Fcdas era representado
nos sacrificios por um sacerdote. Ao director
do sacrificio tocava recitar as ora^oes do
Yadjour ; o olTiciante, que aprcsentava a of-
ferta, cantava os liymiios do Rig, e der-
ramava no fogo as liba^oes; o cantor repelia
em alta voz, e em torn modulado os canticos
do Sdina; eum bralimane escoiliido na assem-
blea pronunciava as feiticerias do yllliariian.
D'estcs qualro livros sagrados o Rig-f^cda
e aquelle, que em sens mil e tantos iiymnos
patentea mais claramenle o espirito religioso
e guerreiro dos Aryenos. Ha, porem, na ultima
sec^iio d'esta collecgao de cantos sagrados
alguns Iiymnos sobre os aclos civis e polilicos,
e outros em que os principios pliilosopliicos
e a pliantasia poetica se mistulam ao senti-
mento e as inspirajoes religiosas de um modo
digno de especial attcijjfio.
Certo as odes, em que dogmaticamente se
tracla a queslao da nlma universal, e da sua
naturcza n^o sao dos primeiros tempos vedicos,
e perlencem provavclmente a epoclia cm que
foram escriptos os Oupanic/iads, que contein
o ap|)cndice tlieologico e pliilosophico dos
Fedas.
A piedade sinceia, qucdictara as fervorosas
invoca^'oes a Jgni', e Indra^, cedera o pas-
so a reliexao; e a luz da pliilosophia conie^ou
a illumiuar os liorizontes da intelligencia. A
idea religiosa nao caducara ainda, mas os
poetas comeyaram a associar aos assumplos
leligiosos outros pen-amentos puramonte liu-
nianos, e povoando sempre o olvmpo de
novas divjndades, o examc do seus attribulos
foi submetlido ao ctcalpelo da critica pliiloso-
pliica.
o Como so jocira a ccvada no crivo, diz o A.
do hjnuio a I'alavra, assirn tambem se forma a
palavra na alma dus sal)ios. £ a prova dos vcrda-
dciros amigos, porquc todo o seu valor eslii na
sanclidsdc da'palavra. »
As onze e^laiicias d'este liymno, primorosa-
mente traballjado, nfio deixam vcr se o A.
quizera tractar da palavra revelada, ou da
sinccridade liumana; mas o fiindo do seu
pensamenlo e a origem divina da palavra,
que nunca o hornem devr profanar pela men-
tira ; a idea abstracia, porem, esta aqui con-
fundida com as particularidades da vida real.
A liberalidade e a beneficencia iiispiraiani
aos cantores do l^edii odes cheias das mais
doces e formo^a5 imagens, e em que o cora-
(j.'io fala uma linguagem quasi lao sublime,
como a dos Psalmos.
<i A opulencia do liomem bemfazejo niio acabara
nunca. 0 mau nao cncontra um amigo. Na ver-
dade a abundancia do rico i cstcril — c a sua
propria morte. t um pcccador invetcrado no vlcio,
' O F,5go.
'■ O Elhcr,
182
que ludo consomc, sem deiiar rcserva alguma
]>ara o future. •>
Eii aqui preceilos do moral, e relip'mo.
() poela recorja aos l)ornen5 a exislencia de
uina outra vida, para a qiial e niisler ajniiiUir
lliesouros. A sociedadc arveniia e^lava ji
desinvolvida, e a tique/.a egdbla e avaru
tlagcllava ja oi pobres. O Uymno em toz de
ser excliisivaraeiilc iim canto sagrado, e unia
iiivocajfio para celebrar os sacn'ficios, era
lambein iima formulo por meio da qual se
apreseiitavain lodas as iiispira^oes; ea Irom-
bela, que cada poela eiiibooava para aiuiuii-
ciar a um povo iiilclligeiile, dehaixo das
subliincj harmoiiiasdas siias ealnncias, osniais
uobres e elevados peusamcjilos.
O hymno ao deus da Jogo e uma dessas
iiotaveis produc^oes, que em iieiiliiuiia outra
lingua se encoiUra egiial.
« Eu amo torn entliusiasmu cstcs filhos do
grandc AVibhaka ', cstcs dados que se agilam cntrc
OS dcdos, que se lancain, e rolaui sobre o taboleiro.
A niinba cnibriagucz c cgual a do soniuo. I'rolc-
ja-me AVibbaka sempre acordado. Toiibo uma
esposa lao bondosa, que nunca se cncolcrisa co-
migo, nem ujC dirigc nma unica palavra, que
mc seja offensiva ; scmprc lao affavcl para os
meus amigos, como carinbnsa com o seu csposo !
E eu abaudono csta extrcmusa niulhcr para me
entregar aos azares dujngo ! — Eulre taulo mniha
sogra meaborrecc — repelle-me minha esposa. —
Ao pobre rccuso a esmola. que me pedc, porque
a sorte de um jogador e como a de um vclho
cavallo d'alugueb — Oulros consolam a esposa
J'aquelle, que so ama os dados, que Ibc dao
o ganho. Seu pae, raae, e irmiios Ibe dizem;
uao 0 conbecemos - prendci-o.
<i Quando mcdilo scrbamcnte na miiiba sorte,
o men proposilo c de iiao mais ser desgrarado
com estes dados; os amigos, porcm, vccm fazcr-
me quebrar o mcu prolcsto. Os ncgros dados
Jancados sobre o taboleiro soam aos meus oiivi-
dos, e cu corro para o logar d'ondc este som
■vera, como uma mulber louca de amores. 0 jo-
gador cntra na companliia, c a priracira pa!a\ra
que Ibc s,ie dos labios c — ganliarei cu? — E os
dados seuboream-sc da abna do jogador, que Hie
enlrega a sua furtuna toda.
oOs dados sao como o conductor do elcpbanlo,
que 0 IcTa amarrado com um la^o: com a ambi-
cao doganbo. ou a desespcrarao daspartidas per-
didas, OS dados alormcnlam a abua do jogador;
alcanram triumphos, e distribucm o roubo para
felicidade ou desespcrarao dos jovcns inexpcrien-
Ics, 0 para scduzibos, cobrcmsc <lc mel
O jogador, larga por uma vcz os dados; cultiva
OS campos, c colho os doccs fruclos do teu tra-
balho e da tua sabcduria. Jiu fico com meus re-
banbos e com minha esposa . . . . — 0 dados, sedc
bons para nos, e traclac-nos como amigos; guar.
dae para os nossos inimigos a \ossa colera. Vin-
dc, mas nao com um corac.io inacccssivel a |)ic-
dadc. Das cadeias d'cslcs uegros combatcules
nos qucremos vcr libertados. u
O jogador, que assirn fala, nfio eslu scniio
meio couvertido. O deinonio do jogo, que se
^ O deus que regula a felicidade dos homens.
Hie apossura da alma, por vezos aiiuia o
acominetle; c nislo ver«a o principal iiiteresse
draiiiatico d'esta singular produc(,'rio.
E adiniravcl o medn que o pobre jogador
Irm aos 7i«n-ros dados, que elle adorara como
Ntia divindade e cuja irresislivel paixfio do-
iiiinara os proprios reis, e Ibe fizc^ra perder
n'uma so partida o reino, como ao priiicipe
Nala.
Continua.
CONSTITUICAO PllYSICA DO SOL.
Com lima nnva applicarao da )ihologra]i!iia
prclcndc M. Thomaz Wood haver pnsto em
evidencia a naturcza provavel do sol. Sera
este astro solido, gazoso, ou uma c oiilra
cousa ao mesmo tempo? E um ponlo sniire
(pic nao concordam os aslrononios. As a[)i)a-
rencias particulares das manchas, e as mu-
danras ([ue estas soilVem, induzeiii a crer, (pie
seja 0 que for em si mesmo o d'sco do sol,
por certo o cerca um involucre gazoso; e o
facto descoberto por M. Aragn, que a luz dl-
recta do sol se nao aclia polarisada, tcndc a
provar ([uc tal invohicro e uma cliamma.
Eis alii as experiencias com ijiie ,M. Wood
julga confirmar csta opiniao que c hojc a mais
gcralmentc recebida.
Em uma camara obsnira c sobre a mcsina
lamina pholographica recebe-se uma scric de
oito imagens do sol, obtcndo-se a primcira
por via de uma exposicao quasi iiistaiilanea,
a scgunda por uma exposicao maisdcniorada e
assiiii siiccessivamcnte. Exaiuinando atlcnta-
mentc estas imagens, aclia-sc: 1." que dilTe-
reiii notaveliiicnlc de grandeza, e que .seu
diametro vae constautemeute augmcntando
ale certo liniito, segiindo o tempo da exposi-
cao; 0 ccntro de cada inuigcm e muilo mais
imjiressionado, do que osbordos.
Este idliiiio facto, ([ue ja era conbecido,
prova simplcsmenle que a luz da porcao central
do sol e mais intensa ou energica (pie a do.s
bordos. Mas que signilica o augmcnto de dia-
metro da imagem? Subslituindo ii luz do sol
a de uma vela, ou de um bico de gaz, M.
Wood acliou que tamlicni ncstc caso as di-
mensOes das imagens crcscem com o tempo
da exposi(;ao. Operando da mesma maneira
sobre a luz Drunimond, isto (i, um pcdaco de
cal levado a incandescencia por um jado in-
llamiiiado d'oxigenio e hydrogcnio, observou
que, j)elo contrario, o diametro da imagem
iicava sensivelmeute o mesmo, posto que os
tempos variasscm, notando-se apenas uma au-
reola devida a atmosphera gazosa que rodOa
a cal.
A luz do sol olira pois, nao jii como a dos
corpos solidos; mas como a dos gazosos; e
daqui vem 0 ser provavel que a superficie do
sol seja um involucro gazoso.
183
CONSELIIO SUPERIOR.
Dando noticia ao publico da colIccfSo dos
livros clenienlaros, auctorisados pclo consellio
suiKM'ior de instrucrao publica para uso das
csdiolas cm cadu urn dos graus do ensiuo
publico, tenios a salisHurao do expor um
testcmunho iirecusavel do zelo, e cslorcos do
mesmo consolho, e do amor pclas b'tras e
scicncias, acordado foiizmente do longo le-
thai'go em que jazera, pelo palriotico, e mui-
to louvavel empeniio de alguns coracocs ver-
dadciramente portnguezes, em quedetodo se
nao apagara algunia faisca do saiiclo fogo, que
outr'ora innamiuara pcitos votados a illuslra-
cao e gloria do seu j)aiz.
0 consellio, comprcbendendo a sua missao,
e nao transpoiido os limites de seus direitos
c attribuirijes, segue o exeraplo de outros
povos, que boje servem de modelo em admi-
nistracao lilteraria, auctorisando, mas nao
impondo ol)rigacao de admissao cxclusiva nas
escholas para quabiuer dos livros escolbidos.
Aos professores toca a adopcao livre do uns
ou outros no mesmo gcnero, e grau de cnsino.
0 que na inslrutrao primaria e concessao
feila com disc!;rnimeuto a intelligencia, a vo-
cacao c gosto do professor, respcitadas as
sabias licOes dc experiencias, na secundaria,
c superior e entre nos dever, competiudo por
lei a escolba dos compcudios aos cousclbos
das escbolas respectivas.
Querer toear osponlos da perfeicao, apenas
se comeca a escrever ol)ras desta natiireza lao
dilliceis c trabalhosas, quanto neeessarias e
uteis; (juerer que em obras compendiosas de
sua natureza enfadonhas pclos limites que o
scu destiao Ibesmarca, pela compressao, que
die impOe no espirito obrigado a resumir
substanciahueutc, de exccncao Irabalbosa pela
necossidade de clareza, deduccao, estylo di-
dactico, e mais condicoes Indispensaveis ao
cnsino das classes em um determinado tempo;
querer, dizemos, saia de improviso obra tao
inteira e acabada, como Pallas saira da ca-
beca dc Jupiter, e cxigir deiuasiado, e aspirar
muito alem da I'orca luimana; lura afugentar
0 zelo c dedicacao, desanimando escriptores
novels, (|ue progredindo se aperfeicoam. Em
bomenagem devida a estes prineipios, tern
havido geralniente certa indulgencia, certo
favor com que miiis se accende o entjeaho em
todas as nacoes, quo procuram imprimir im-
pulso vigoroso e energico a diffusao das
luzes. Se compararmos as primicias dos nos-
sos escriptores com prodiiccoes do mesmo
gcnero de auctorcs cxtraugciros, ainda mais
vctcranos, ficamos em que nao se achara
dcsvantagcm da nossa parte, quer na cxacti-
dao da doutrina, qucr na pureza da plirasc
e clareza da cxposicao.
Sobrcsacni c ennobreccm a colleccao dos
livros clcmentarcs doiscompcndios demecba-
nica, pbysica e cbymica, composlos pelo sr. J.
J. Fcrreira La pa, offerecidos cm eoncurso ao
descmpcnho de programmas dados pclo con-
selbo superior, cpremiados. Destinados para o
cnsino da inslruccao primaria, com lal csme-
ro e I'elicidade os compoz o scu A., que sem
favor ])odcm servir tambcm ao cnsino na
instruccao secundaria. Ornados de bellissi-
mas estampas desenbadas com perfcicao, faci-
litam sobremodo o estudo, c tornam cxlrcma-
mcnte proveiloso o cnsino, lixaudo as idea.s
claras que imprimem no espirito dos alumnos.
Consta-nos que o mesmo auctor se propo-
zera ao preraio offerecido em programma de
um compendio dc agricullura com applicacao d
instruccao primaria; e muito cstimamos ouvir
que a obra offerccida cxccde ainda as outras
ja prcmiadas, podendo bavcr-sc como um pri-
mor em escriptos de tal natureza. INao so na
agricultura propriamcntc dicta apresenta todas
as nocoes indispensaveis a par da scicncia;
mas descrevc, desenba, e ensina o uso de
todos OS inslrumentos c maquinas, (jue boje
cnriqucccm a scicncia, aperfeicoam e nielho-
ram as jiracticas agricolas, economisando mui-
to da mao de obra: e para cabal descmpenbo,
liga essas doutrinas com as de scicncias au-
xiliarcs e connexas; tractando a geologia, a
bolanica, a agrimensura, a veterinaria, e a
economia rural com tal precisao, mctbodo o
clareza, que nao sera facil apontar Manual
que no scu gcnero o cgiiale.
0 sr. Lai)a, abrindo o exemplo entrc nos
a cscrijitos tao importantcs, e summamcute
neccssarios, como sao os manuacs de scien-
cias industriaes, glorilica-se prestando ao scu
paiz um scrvico, que merecc ser galardoado.
Sinceros votos fazcmos porque acbe imitado-
res, certos de que nos nao falta o genio, nem
0 amor da patria ; mas falta a resolucao, para
veneer alguma timidez e a forca da inercia
devida ao pernicioso liabito dc uacionalisar o
J.
C'oliecrao de lavr®.* cSemcBiJarei*
Que o consellio superior d'lnstruc^no publlca do reiiio
aucioriza inUrlnamcnte para uso das escholas pri-
mariaSj pultlicas e parlicvlares ; e bem assitn para
nso das escholas de ensino secundaria, e superior.
iNSTR'ccc.Ko rniM.vniA.
Oalnchismo de Doutrina Ctirista e civilidatle, para
in8truc(;.at>, e |iara exi;rcicio de leilura — ('atecili^lnl^
de Doutrina Chrisla, adiiptado pelo arcet)i?po de Brai'a —
Resiimu do mesmo Calechismo — Thesoiivo da mocidade
portii;,'ueza, por IS. J. Koqiiete — Historia de ^^iai.lo de
Naiitua — Comj>endio de Historia do antijio e novo Testa-
mento, tradiizido por Antonio Soare.s — Li(;oes de boa
moral, de virlude e urbanidaile, Iraduzidas em porluyiiex
por I'rancisco Freire de C'arvallio — Elenlento^ ileriiili-
184
Jade c da decencia, por Mr. Prevoste, tradiizidos na
liiigua iK)rlii:.Mieza — A Biblia da Itifaucia, tradiizida pi-lo
Pudn- Ariluiiio dc Castro — Mcdlta^Cics reli^iosns, por
J. J. Rodriirues de Bast. is — Arti> de apprender a Icr
letra manuscripta, por Diiarte Ventura — Kegras mctliO'
dicas jiara apprender a escrever, sejjuidas de um trijclado
de Arithraetica, p<)r Ventura da Silva — Metbi»do facil-
liuio para apprender tanto a letra redonda, conin a
manuscripta, por E. A. Montcverde— Thesnnni juvenil,
por Midosi — Expositor Portuguei, por o dicto — t'unipen-
dio de Ilistoria Portugueza, por o dido — Elementos de
Geographia, pelo Dr. B. J. da Siha Carneiro — O
Amigo dos IMeniiios, traduzido por uma st-nhora —
Itenerario da India, pi>r Fr. Gaspar de S. Bernardino
— Livraria Classica Portugueza, torn. 11." ate IB.'' —
Selecta (.'lassica Portugueza, por A. C. Borges de
Figueiredo (l.'^ parte) — Tractado de Agriinensura, por
Estevam Cabral — Manual Encyclopedico, por E. A.
Munteverde — Tabellas Geraes para o juro e desconto
de qualquer quantia, por J. J. da Costa e Silva —
O Bora Menino, traduzido do italiano, por Luiz
Francisco Ki.sso — Taliellas de Geographia, por Dr.
Adriao Pereira Forjaz de Sampaio — >iova Taboada
e Arithraetica da Infancia, por o dicto — Catechismo
de Doutrina Chrisla da Dioeese de Coimbra, por o
dicto — Synopse, ou Indice Chrouologico e Alphabetico
da Legislat;ao rcbitiva ;i Instruc^^iio Primaria — ■ No^oes
rudimentaes, por Antonio Feliciano de Castillio — Melho-
do deleitura repentina, por o dicto — ^Novo Abecedario
e nova Taboada exacta e curiosa, por J. S. Bandeira —
Nova Taboada exacta e curiosa {%r^ edi^ao), por o
dicto — Corapendio de Arittimelica para uso das escliolas
de instruc<;ao primaria, por Joaquim Maria Baptista
— Tractado dos principios de Arithmetica segundo o
raelhodo de Pestalozzi para uso dos professores e alumnos
das escholas de instruc^ao primaria, por J. 11. Paz —
Novo Mcthodo para apprender a ler, por o dicto —
Compendio de Moral, por M. A. F. Tavares — Codigo
da Civilidade de J. A. Dias — Rudimento da Leitura
Portuffueza, por M. J. Pires — No^oes primordiaes de
Moral, por J. J. da S. P. Caldas — O. Amigo dos
Meninos, traduzido pelo Dr. M. A. C. da Rocha — Cate-
chismo de Moral, por iM. A. T. Tavares — Compendio
de Chorographia, por J. L. Carreira de Mello — Com-
pendio de civilidade religiosa e moral, e de Doutrina
Christa Dogniatica e Moral, por o dicto — Summula de
preceitos hygienicos, por F. A. Rodrigues de (Jusmao —
O bora ]\Ienino, por Estevam Xavier da Cunha —
Grammatica Portugueza, por F. Andrade Junior — Novo
(■ompemlio de Historia de Portugal, por A. F. Moreira
de Sa — O Camoes e Cosmos, por J. S. Ribeiro —
Compendio de Mechanica, e Compendio de Physica e
Cln mica (premiados em concurso) por J. J. Ferreira
Lapa — Peepiena Chrestoniatia Portugueza, por A, M.
Pereira — Compendio de Grammatica Portugueza, exposta
era verso, por M. J. Pires.
ESCnOLAS NORMAES.
Principios de Grammatica Portugueza, por Andrade
.Ivinior — Methodo facil e racional |iara ensinar a ler
vi meninos, por Julio Caldas Aulete — Primeiro livro
da Infancia, pur F. J. Caldas Aulete — Grammatica
Portugueza, por Carlos Auguslo Vieira.
ISSTRCCCAO SECUNDARIA.
Compendio de Arithmetica, pelo Dr. Rufino Gnerra
Osorio — Primeiras no^oes de Algebra, i>elo Dr. Jaconle
Luiz Sarmento — Historia de Portugal, ate Elrei D.
Duarte, por J. Felix Pereira — Li^ues d'AIgebra ele-
montar, por JoHo Ferreira de Campos — Tractado de
A ersifica^ao, por Antonio Feliciano de CastilUo — Gram-
matica da Lingua Inirleza, por D. Jose Urculu —
Bosquejo historico da Litleratura Classica, por A. C.
B. de Figueiredo — Inslitui^Oes de Rhetorica, por o
dicto — Logares Selectos dos Classicos PortMpuezp5f, por
o dicto — Historia antiga e raoderna, pelo Dr. J. A.
<le S. Doria — Elementos de moral e principios de
direito natural, pelo Dr. B. J. da S. Carneiro —
Curso Grammatical da.s linguas Lalina e Portugueza,
I'.Hnposto pelo professor Joao Teixeira de Vasconcellos —
Curso de philusophia elementar — Logica — Metaphysica
— Ethica — Hi.''toriadaPhiIosopha,pur D. Jaime Balmes,
presbylero — Nova Grammatica Portugueza c Inglezn,
e Portugueza, por L. F. Midusi.
IN'STRUCCVO SUPERIOR.
Litjiies de Philosophia Chymica, pelo Dr J. A.
Sim5es de Car\ alho — Taboas de Lua reduzidas lias
de Mr. Burckhardt ao meridiano do observatorio da
Universidade de Coimbra para facilitar o trabalho das
Ephemerides Astrononiicas, pelo Dr. F. M. Barreto
Feio. — Compendio de Veterinaria ou Medicina de
Animaes Domesticos, pelo Dr. J. F. de Macedo Pinto
— Index Plantarum, pelo Dr. A. J. R. Vidal.
Coimbra, e Sccretaria iU> sobredicto Conselho Superiur ,
l.^de Septembro de H\o4. ,
O Secretario Geral do Conselho, |
Joise Antonio (C Amnriin. ^
PDYSICA.
Da electricidade que se proditz na evaporardo
da (ujua saUjada.
As expcripnrias de Gaiigain lovaram-no a
um resiillaclo a que por experiencias mui sc-
melhantes havia chcgado Heicli, de FreyluTg,
a saber, que a electricidade desiiivoli ida pela
evaporaeao da agua salgada, e o elTeito do
atlrito dos globulos da agua iirojeclados con-
tra as paredes do cadinho. Estas experiencias
foram publieadas n'uuia pequcna mcmoria
apresenlada a Sociedade das Sciencias do
Leipzig no anno de IH^C.
Em Berlin foi por Hiess verificado o mesnio
rosuhado, como se \i da nota inserida nos
Annaes de Piiysica de PoggendorlT, tomo
LXIX, pag. 101,
M. de Paravey dirigiu a Acadcmia ilas
Seiencias de Franca uma nota, em que tracla
de provar que, segundo asmedidas dos tijolos
quadrados de Baliylonia, dos antigos padroes
e do pe actual da Cbina, o pe de rei I'rancez,
e niuitas d'eslas mesmas medidas em uso na
Allcmanha, teem sido, como na Ciiina, im-
porladas da antiga Chal<!ea e do Indo-Persa.
D'aqui prclcnde deduzir uma so origem de
civilisacao depois do ullimo diluvio.
MaEsillon e o Racine do pnlpilo.
Ll UAUPK.
Os jiirainciitoh assinielliam-se ao papel-
tnoeda, qui; inulliplicando-se perdc do scu
valor. ♦ » •
185
SECglo DE BIATHEMATICA.
APONTAMENTOS DE TRIGONOMETRIA SPHERICA.
Conlinuado de pag. 133.
11. Qiiando no triangulo ABC sao dados os lados 6' e c' com o angulo c opposto a
urn d'elles, a formula
C
b:
B' B C *>'
spn 6'
sen 0 =: sen c. ■
sen c'
nioslra que, em geral, se podem formardois Iriangulos CABeCAB', nos quaes os angiilos
Ji s B' sfio supplementos uni do oiitro , e que salisfazeni aos dados; mas ha casos em que
desapparece a incerleza.
1.° S*-ja c<90% 6'<90°. Se f6r c' < 6' , os dois triangulos BAC, B' A C , terfio os
mesmos dados b' , c' , c, e salisfarao ainljos a qiiestao. Se for c' >b' , o ponlo B caira em
B^ a direila de C; e as partes do triangulo A B C, correspondentes as dadas, serao 6', c',
180° — c: por consegiiinle so otriangvilo A B' C satisfara a questfio. Em fim, se f6rc'=:6',
a poiito B cniiicidira com C, e o triangulo procnrado sera so A B' C. Por lanto o caso de
c < 90° e 6' < 90* somenle sera duvidoso , qnando for c' < b'.
2.° S<jac<90°, 6'>90". O triangulo ACB, no qnal e ^ C = 180° — &', esta no
caso precedenle. Ecomo ACB sera indetenninado ou delerminado, conforme o for A C' B ,
segue-sc que o caso de c< 90° e 6' > 90° somenle sera, duvidoso, quando for c'< 180° — b', ou
<;' + 6'< 180°.
3° Seja c — ACB/>90\ O triangulo ACB', no qnal e ^CB'=180° — c,
^B'=180° — c', esta no primeiro caso, quando e i'<90°; e no segundo caso, quando e
6'>90°. Ecomo o proposto ACB/ sera delerminado ou indeterminado , segundo o for
ACB', segue-se que o ca;0 de c > 90° sera duvidoso, quando se derem as circumstancias
seguinles:
b'<90°;eAB'<b',oabi+c'>\ 30°
b'>00°; e AB' + i'< 180°, ou t'<c'
12. Por tanlo liavera duas solugoes, quando liverem logar as condisoes seguinles:
•6'<90°, c'<b'
r6'<90°, c'<b' ")
c<90°,e^ I
[_b'>90°, 6' + c'<180°3
c>90°, e
6'<90°, 6'+c'>180°
?/'>90°, c'>6'
13. Quando sao dados dois angulos bee com o iado c' opposto a um d'elles, tambem
satisfazem em geral os dois Iriangulos CA B, C' A B' ; mas, se applicarmos os cliaracteres do
qnadro precedenle ao triangulo supplemenlar , em que entram os lados 180° — 6el80" — c
com o angulo 180° — c', acliaremos <i|ime»mo quadro, mudados respcctivamenle c, b' , c',
em c' , b , c. "
14. Quando nao se dcr algum d'esles casos duvldosos, as condisoes de serem os lados
menores que 180°, de se oppur a um Iado maior uin angulo maior, e de ser a senii?orn-
ina de dois angulos da mesina espccie que a semisomma dos lados oppostos ' , raostrarao
' Como EC ri pela expressao de „ (a + r), que da a primeira aaalogia de Neper.
18G
sempre qual dos dois angulos,, correspoadeiites a scu6, se deve loiuar, sc c a<;udo , sc o
obtuso '. Assim :
[6'<90°, c'>fni=&'
|i'>90°, t' + c'>ou:
:t'<90°, 6' + c'<ou = 180°
.c<90', e
rt I (b'>90', t' + c' > ou = 180°
6 agudo
^ j6 obtuso
S J6 a;3;iido]
Fc>90*,e^ H;
'6'>90°, c'<ou = 6' V fcobliiso^
.11
E com etTeito e facil ver, que nos casos de duvida indicados pode haver uirt'angulo
agudo e outro obtuso, que saliafajain dqiiellas condijocs; e que nos outros casos so uiii
dos angulos salisfaz a lodas ellas.
15. Seja o triangulo ABC
Produzamos os seus lados, ale se encontrarem dols a dois, e formarcm os tres fuso*
sphericos A J', B B', CO. Ocirculo A CA'C'.J sera abase da semi-spliera A C B A' C;
e esta semi-spliera compor-se-lia dos triangulos m , n, p, q.
Charaando pois .S^=2 itr^ a superficie da secni-sphera, e observando que, por serem
AB- = l&Q° — AB = A'B, C B' ^IQ0°—C D=^ BO , B=^B',
s'lo eguaes os triaugulos ^1 B'C, A' BO, teremos
S= m -f n + p + (? = (H + " + /'( + p + wi + 5 — 2 m
zziAA'+BB'+CO — am.
E COD70 OS fusos sphericos sao proporcionaes aos seus angulos, islo e,
^^'-Tk--^''BB'^^,.S,CO = ^..S,
AA'+BB'+CO= -+g +-. S,
teremos
c consegiiinteraeiile
a-t-b-f c— 180°
3GU°
. S.
Se quizermos lomar pnr unidade dc superficie aaiijaerficie do triangulo Irirectangulo, que
e a quarla parte da semi-sphera, e por unidade d'angulo o angulo recto, a expressao de m
loinara a forma
jn = a 4- 6 -f c — 2.
< O mesmo sn moslra, c acha-se o raesmo quadro, fazendo as con!truc<;3es de que se nsou no n.° II, e appli-
caml.) as condiroes de serem os lados mcnorcs que 180°, e de ec oppor a um lado maior um anjulu inaK.r.
187
16. A superficie do trianjjulo v^m assim expressa nos sens tres an^ulost mas qiiando
OS angulos nao forem dados, poderemos exprirnil-03 nas partes que forem dadas, e substituir
depois essas expressoes na da superficie, 011 d'uma funcjao trigonomelrica d'ella.
Per exemplo, se forem dados os lados a' e c' com oangulo comprehendido 6: tomando
o triangulo trireclangulo por unidade de superficie, e o angulo recto por unidade d'angulo,
tereraos
colgm) = _tang(:i+^ + |)
ad-c b
tang— ^ + tang -
a + c 6 "'
'anff-g— tang- — I
a' c'
ou , em virtude da primeira analogia de Neper , e fazendo tang — tang— =^,
cot
(H-
b a' — c' b a' + c'
cot - cos _^_ + tang- cos -^
a' — c' a' 4- c'
o' c' a' cW b b\
cos^cos^+ssn-sen-(^cos'-_sen>-j
I 7' 7' 6 6
1 + tang — tan"- -cos o
_ ^ '^•i "2 _l + t coi b
a' d . t sen 6
tang — tang -sen 6
Desinvolvendo em fim ^mtxa serie crdenada segundo as potencias de t, sera
— TO = < sen 6 -t sen 2 6 ,
3 2
oLi , se desprczarmos as quantidades da quarla ordem relativamente a a' e c',
m-=^-a d sen 6.
2
E porque e' dasegunda ordem adifferen^a entreos senos do angulo 6 dotriangulo spherico
e do angulo correspondente dotriangulo lectilineo, que tern os mesinos lados que o spherico,
ve-se que, desprezando os termos da quarta ordem, a superficie do triangulo spherico eegual
a do rectiiineo.
17. Chainando r o raio dasphera, e exprimindo as linhas trigonometricas do segundo
membro da equojao (1) nos compritnentos dos arcoa respeclivos, facilmente se mostra
(Trigon. de Legend re , appendice §. V) que os angulos a, 6, c, d'um triangulo spherico de
lados inuito pequenos teem, desprezando os termos da quarta ordem, com os correspondentes
0|, 6|, c , do triangulo rectiiineo, cujos lados sao tambem, a', 6', c', as seguinles rela^oes
Im , ,1ot ]to
''='''+3r'senl"' ' + 3r'senl"' ''—'''+ 3 r' sen 1"
sendo m a superficie do triangulo rectiiineo, que segundo o numero precedente e egual li do
spherico.
O que reduz a resolujao do triangulo spherico proposto a do triangulo rectiiineo, cujos
lados s.io a', 6', c', e cujos a^-'^iilos sao a^, 6y, c^.
O numero de segundos e o exccsso spherico, que se reparte assim egualmenle
r' sen i '
pelot tres angulos do triangulo.
188
18. Suppondo o raio da spbera iiifinilo, e os comprimentos dos arcos nnitris, on as
suas gradua<j6es infinitesimas . o triangulo splierico toriia-se rectilineo ; e por isso podemos,
fazendo aquellas hypotheses, passar dos theoremas da Irigonometria splierica para os cor-
respondentes da Irigonometria rectiiinea
Qiiando nos theoremas da trigonoiiiclria -pherica entra mais d'lim lado: passando d'el-
les para os triaugiilos roctilineos, podem ap|.iiiecer razoes entre as gradiia^oes dos lados; e
porque estas razoes podem ter iim liiiiite de graiideza finita, quando se tornam infinitesimas
as gradiiajoes entre as quaes ellas teem iogar, pode apparecer urn tlioorema correspondente
da trigonometria rectiiinea no qual entrem lados. Mas quando nos theoremas da Irigo-
nometria spherica entra so um lado, a hypothese de ser este inCniite^imo iiecessariamente o
faz desapparecer : e o theorema reduz-se para a trigonometria rectiiinea a nma rela^fio
entre angulos.
19. Appliquemos as hypotheses indicadas aos principaes theoremas da trigonometria
spherica. N ellas:
, — 2sen'-a'+2sen'-6'+2sen"-c'_4sen'^6'sen'-c'
cos a'— cos 6' cose' 2 ^ 2 ^ 2 2 2
1. cosa= r-i ; Ti ; ""
sen 0 senc' sen 6 sen c'
cos a:
2t'c'
nf
sen a sen a' , , sen a a'
2 ° =: da =: ri-
sen b sen 6' sen b 6'
cos a 4- cos b cos c , , . cos a + ens h cos c
3.' C03a'= ^ dii 1 = ^4 J
sen 6 sen c sen o sen c
ou cos a=: — cos (6 -|- c) ? ou a -\-b -\-cz=180°.
c'
4.° cose' cos 0 = senc' cot 6' — sen a cot 6 da cos a =77 — sen a col 6,
c'
ou sen (o-j- 6)=r7jsen 6 = sen c.
5.° A priineira analogia de Neper dii tang ^ (a -j- c) ^= col - 6 ,
islo e, - (a + c) = 90° — lb, ou a + b + c = l80'.
6." A segunda da o Iheorcnia da trigonometria rectiiinea
1 d—c' K
Ung-(a-c) = -;-p-;C0l-5;
7." A terceira e a quarla dao
por conseguinte
t. . cos-(a — c) sen--(a — c)
aJifC' 2 "' — c' 2^
cos-(a + c) sen-(a + c)
cos-fa— c) sen-(a — c) _ ,
2 a' 2 ^ ' , 2 ^ ' 2 sen (1 a' sen a
b- 1 , 1 , , sen 1 u + c) b> sen 6
cos^(a+c) sen-(a + c)
2 c' 2 sen c c' sen c *
^ 'b< ~"sen (" + c)' ° b'~ en 6*
Por tanlo osquatro theoremas fundamentaes da Irigonometria spherica, e asquatro ana-
lo^ias de Neper, correspondein aos qualro theoremas principaes da trigonometria rectiiinea.
BODRICO BIBEIRO DE SOUSA PINTO.
® Jn0titut0,
JOlllNAL SCIENTIFICO E LlTTEaARIO.
REL.VTORIO
Da imprenm da loiiversiJaile de Coimhrn no
anno leclivo de lSIi3 a 185i, incluiudo as
trabalhos de refurma e melhorameulo pro-
movidos pela comtnissiio creiido pnr porta-
ria do goseriw, dc 1 de nuecmbro de 1853.
A commissao <le reforma e mclhoramcnto
da imprcnsa da univcrsidade, tcndo sido cn-
carrcgada pelo prclado de concorrcr par.i o
rclatorio geral da univcrsidade de Coimbra
com 0 especial relalivo a imprcnsa da mesma
univcrsidade, vem satisfazer a esta obrigacao,
de que nao Ihe permittia cscuzar-se nem a
elevada niissao e superiiitendencia, de que
fdra incunil)ida quando mcreccu a rcgia no-
meacao do govcrno de S. M., nem a dcdica-
fao e assiduidadc com que se tern cmpregado
110 descmpeniio de tao laboriosa incumbcncia.
A commissao expora licl mas resumida-
mentc o que tern fcito a cerca da rcorgaiiisa-
jao da typograpbia da univcrsidade, e bem
assim as providencias que para esse elTcito
teem sidopropostas, ja forani approvadas pelo
govcrno ue S. M., ou cstao scndo cnsaiadas
provisoriamciite para sui)ircni depois a sanc-
fao do govcrno; todavia nao pode a commis-
sao abster^se, posto que o dcsejjjra, de rcpe-
lir aqui, coino tern I'cilo nas consultas diri-
gidas ii prcsenca de S. JI. por via do prclado
da univcrsidade, o ruinoso estado c quasi
complcta decadcncia em (]ueencontrou, quan-
do comecou a funccionar logo depois da sua
installarao cm 14 dc novcn)bro dcl8o3, uni
dos priucipacs cstabclccimejUos universita-
rios, digi)0 por ccrto da maior soliicitude e
consideracao, ja como auxiliar podcroso e
indispejisavel das scicucias e das artos, ja pelo
grande valor que esta contido nos sous arma-
zens, ou 6 diariamcijtc produzido uas suas
oQicinas.
Em consulta dirigida ao govcrno dc S- M.
com data dc "2i dc dczcnil)ro, foram apre-
sentados osprimciros trabalbos a que a com-
missao procedeu. 0 inventario de todas as
obras que se encontravam nos armazens da
imprcnsa, e bera assim o dos priilos, typos
e moveis das oHicinas, que a conferencia
que govcrna a imprcnsa da univcrsidade na
Vol. III. MovEMBiio 1.°
parte technica e litteraria, devia ter orden.!-
do na conformidadc do artigo 11.° do regi-
mento de 9 dc Janeiro de 1790, mercceu a
commissao o primeiro cuidado; porque, tendo
requisilado a conferencia da imprcnsa os
ai\tigos iuventarios, que nao deixariam de se
ter feilo, a rcsposta official, que a principio
obtevc, foi que ncnbum inventario existia,
e so passado algum tempo soubc da existen-
cia d'um, apenas principiado em 3 de dezem-
bro de 1849, e interrorapido desde 27 de
maio de 1830. Teve portanto a commissao dc
ordenar todo cste trabalbo de novo.
0 armazera principal estava na peor dispo-
sicao possivel, tanto para a classificacao como
para a conservacao das obras que alii se re-
colhiam, as quaes jaziam estendidas ao longo
do pavimcnto da casa, sera estantes, nem
rcsgnardo algum.
0 outro armazcm, onde estavam cm dcpo-
silo anligas edicoes, feitas por conta da im-
prcnsa, de varies classicos portuguezes e la-
linos, e d'outras obras, era tao humido, por
scr um claustro quasi sublerraneo, que n'elle
foram cncontradas completamente podres c
perdidas muitas obras, algumas das quaes
aiuda hoje s.to niuito cstimadas, e cuja venda
se tcria podido promover fazendo-lhes um
al)atinicnto rasoavel nos prceos.
A ofTicina onde estavam os prelos, servia
ao mcsmo tempo dc casa para os composito-
rcs; sendo, alem de escura, lao apertada, que
OS officiacs se embarafavam uns aos outros.
Os cnvalctes e as caixas dos typos, postas umas
sobre outras, mal cabiam n'um corrcdor tao
estreito, resultando d'ahi grande impcrfeicao
e difficuldade nos trabalhos typographicos.
A maquina lythographica, que ha annos se
compriira, e que era indispcnsavel n'um esta-
belecimcnto d'esla ordcm, estava ainda en-
caixotada, por nSo haver onde collocal-a.
Entrc OS graves abuses que o tempo havia
introduzido, devem principalmente citar-se as
aposentadorias que dentro do cdificio da im-
prcnsa tinham divcrsos emprcgados, quando
era nccessario alargar-se a officina typogra-
phica; o grande numero de propinas distri-
buidas d'um modo inconveniente e illegal; e
esta rem em poder d'um so dos tres clavicu-
larios, n'esse tempo administrador da impren-
sa, todas as chaves dos armazens, c do cofre,
—1854. NcM. 15.
•i -i
-^
^1 51 ;?• ;1 ^
sem inventarios, s'cra S* compeieihtcS' fiftnfris,'
permittiudo-se-ihe que elToiiuassc so por si a
venda de lodas as obras alii impressas, e nao
se obstando a que do doposito das antigas sc
vendcsse a p^so;, ■^Fmscllflcjaoalauma.^ graa'l"
poroaodepapcl, caquetao^i'co'deposrio tives-
se side, coino parccia, niuilo dcfraudado.
A falla de fiscalisacao e de zelo na admi-
nislra^'ao da imprcnsa ostontava-scrguTiimente
nao so no proprio ediiicio, pela ruina dos
teliiados, caixilhos das janellas, etc., mas
alii ;iuis ..casas.pcrtcncctttes a cste cstaheleci-
_racBlo, algainias diss quaes estavam inhabi-|
,taveis.!, , ' ". -,'-', ,,, ' '., ,' ,' ' . ' ',' ;■
', Na adnunis'tracao da jjnpreiis^i niicjiodia;
^prepciji^dJr-ger da iuais' regular ■ecstrujiuiosa
escriplui;aet)0,,. re-sullaiido de nao sc tcremj
-f*;it6,,pp|-' ■muito tqiiipo, Os asse.ntps iK^cessarrbs ^
ii ',imipo|sD)iJi.cla,J(j do verijicar.'as verbas d'e,
.ricei'taj pTOVcni^entes'4apol)ras vcrididas a df-j
.ycr^fts VjVjFeiros, eaj'as'. r.equisieoes Orit^iiiae's >
..aih|ia Ija poycoitcnj.po nao jbraiivajyrcsintada^', ]
)iiias *apenas,unia,copja,' para do'cujuentar a'si
vendas eT/eituadiis. ' ' ' ;. ' ' .'■. '
. -,.,Ii'iiialnvciitc pextran'io e estrago d(i grapde;
,piir^ao-de typo ai^tigp,' ciiao se haver realizado i
.3,r§ni}ira de fiovp, fazia coniqiie se alrazassci
niui|b,a c.omppsifa,6 typograplii'ca, e'se recu-^
?^^eiu ,olca^ 'que bs sous, auqtpr'es prcten-^
dlam alli'iiiiprrmir, sericlo que por isso per-
diata ,casi) inuitos- lucrps, e;nao nienos o's;
. t'<^njP|Ositdres.c jiuprcssores,, qiie-por faita dej
, lyijP nSo.pdtliam muitas ycz^s trabaihar.
.'^ .P9F_ieste| rapj'dp.' eslipjo s'era'.facil conipre-
h(?n.fler,'.^qijp .a'f.aii^nijssap ,|C'arecia; ile' fazer;
, rii.iiijas refpj:jOi^,.na' imprcnsa da un i versida-'
.^de../liiiHo ,i).?,'pjrte''adpiriistraliya como ria
:Bipel)a,jii|ca,; e t^ue'as .prpvidencias prdpostas:
;.a5> §oycrnO|.(Ie,S,'M, par^ 'se .alcanjarcrn dsi
■nudribramc"ntp|,de',qup,fosse.,'susc(?pliyd liao'
Docliam.deixar.d^e a-branger 6 pessoaldk
'j(up.reij.sa. '■ ' '" , ' ■ ■ ' ' ' " j
-;. I. l^or'ar'ii do 'miniiterip d,6s' ric^ocios do;
jfejrtb.'de }0;dy'maifp dVcprricnie aiino ' , ap-
.proyaiidp as';med,idas' dc' re'forma. , lir'oposfasj
peliv .comr(iiss,ao,. primeiro 'resultai}6"de 'seus
', tislbrc OS, . vei'u'^.aucforizar a, meslna c'omm'iss'aoi
Pi""? iP^fOsoguir com , maiS| eiicrgia 'e, prorapli-
, ,dSo jiips tpabflltios ; de 'que eslava cncarrega-'
;;'|a,.'pP,Jende petp art. 18.;° da ci'iada, pbr'taria!
_|lomiir,' d'accbrdo'' ^o^ii o prelaldp, \ts' provii-
'dencjas^conomica's ,que nao' dependessem'de:
1 jpsQliicap fe^ia, ,/Oem d'isto,,, cm (jonsc'qtien-i
.!*!;> 'da dcmissap dadii. 'nor dccrcto de S doi
18.0.
.'■**•• "»,
J''^f'0'P«?,dc marco a ,J[Qiib..'FranGisc'p da iCruz,!
0 - . !l^^^/,,:!^'^ a(liiiiiii,iirajQr; da imp'ren.s.a';(la;
_,t^hiyer,sid'adb,,lm',uonie;itlp uiteripainp^^^^^
-ii?'.';i''v'"!!s''*5Vi° <^''RW^ft9'" 'da'iniprepsa na-! ,
., f^'iyPi'^PlvniiJio ;Nic'oTau ,Ruy Ferliaficles; jo' '■
__ qyaljdcMii csclarccq- a' commissab'^obrc' asj '
■ uf^ll^^" ^"'^ ^^^<^^nii! ''^'''
.uit-
=^^v
> 'C^.*
'('ie'j'sc adopiit', tan to era rclarao d parte admi-
nistrativa, como a rospeilo da parte technica.
E com efleito os distinctos servifos prcstados
por este enviircgado teem sido segnra abona-
orM),.}^-,das sous QOuiiccinieu(os Icchnicos c
de admlnistracao; ia da cseolha acortada que
d'elle (izera o governo de S. M. para tao ira-
portantc (im.
-A fonimissao, convencida de que era d'ur-
genle nccessidade a promjita c\ecui-ao da so-
brcdita portaria, entcndeu que principalmen-
te dos art. 4.° e 5.° d'ella (o 4-'' transferindo
a aposcniadoi'ia do directPr, '6 o 5." fazcndo
cessar a de todos os outros empreg;idos) dc-
pendia uma boa parte das reformas»qup cram
mai's essenciaes; I > . ■' ■, ■,;■,,': ! ■, ,
■ A cPmmlssabirepresentbu ao' pwkdo a,ur-
-gcn-cia de ser .enearrcgado 0 pr.pfessor- dc
grego, Antonio -Ignacio Coeiho de Moiaes, de
fazer recoliier os diccionarios e riiais livros
que tinham .sjdo confiados ao fallecido profes-
sor jubiladb, Jose Vicciitc Gomes deSloilra,
para p acabainento ilo. dicclon'ario Grfto-la-
linb; ebehi assim todos os'pijpcLs 'manufe'crr-
ptps que periencessem ao mcsmo dici'ioB^rio,
cuja imprespao estava mliito' iidiarjiada,' 'se'-
nap qiiasi cbricluida, e qnc pcio merecimenlo
d'pl)ra (ao prirapi-osa, e pelas miii dvullhdas
despezas que a imprcnsa ja linha 'fcito para
a sua piiblicacao, rpdamava que seempre-
gassem Ipclos ps hicios e boas diligtrtcias para
que riap'iicasse fnconipleth. E foi i-mn efreito
cncarrcgadb aquclle professor nao so da coni-
missao p'roposla^ nia.stambcm da cbnclhsa'o do
diccion'ar.io Grcgo-bitlno, aoqual ainda'teiii
dp ajulitar-se nbtaveis additamchtos;' parii
ebrfespbhder'Ss melbores publicadoes riiCKier-
has que ha n'estfc geribro. ' ' '•■ ' '■''- '
A cbniralssSo passoil logo a tomar tis sS-
giiintes resol'uc'oes d'accbrdo cPni bprelado,
as quaes fpram cpmmunicadas a cbnfci'encia
da inip'rensa da iin'ivcrsidade: Qne assisfisse
a's sessues da conferencia da mcsma iiiipreii-
sa uhi dps nienibros da cnramissfioj auctori-
'sadb. para pi'omover ludo o que julgasse' cbii-
"\'ehiente a bcm das reformas que tihham de
rcalizar-se' laiito'n'a pdfte econ'omica cofflo
na lecbnica': Que fbsie jiost'o era cxecneab 'O
rCgrtlahiehto provisbrip, feito para a cOntabi-
lidiide, fiscalisiicao e escripturacSo da admi-
'pistnicao, goral da impreiisa nacionaf, para
kipprirTriterihanicntc as'omissOes; n'cssa par-
te,'dos rcgulaniehtPs 'da impi-^nsa da nuivet-
si(fade: Qiie fbssc- transfcrido para dm cofte
.especial na casa da extincla junta da fazenda
da iiniVers'jdade , b 'dinhefro que entab *xislia
ilb^ 'cdl'r'e' da imprens^; 'deixando-se n'cste
'a4]'uiiii,t'ia sbmente nceessaria para o paga-
fnbtfto 'da •fei'ia scnlanhr e d'outras mais deS-
' j|lcz'a's"df'ffiyariaii,' para o que a dita 'quantra
'■'liSo e'xiyde^iit'jSm'ai-s-a'trCTcntoi mil reis,- 'e
"fcb'ii^etVh'ii'dd-se «(a ■iuefeirta 'sprt-e a's ch&ves
'f'Mbby;b's',tf6freS''cmpoderHlps tres resnecii-
|9|
vos jclavicularios : Que o aloadpr lose da S.il- !
va Baudeira nao continuasso a.accynuttar as ;
attribuicGes do ajudante do a(^iiiio4slra)3or,
as quaes. interioameute pram comiiic^id.as a
Mauricio Jose Dias, composilor da inipfensa
nacional: Que ao fundidor de typos Jo'aquiiu
Maria da Cruz, cessasse o salario djiarlo de
2^0 reis, devendo pagar-se-lhq somenle 9 ser-
vice de que fosse encarrcgadd, e pe!6 prcfo
qiie se ajustasse.
, Todas cstas resolucocs foram appr.ovadas
ppla porta ria do ministerio dos ncgocibs do
reino de 20 de maio. , ,. , - , f
Tendo a execucao do ar^.',i:.° jda porfaria
de 16 de marjo dado logara difficuldades
inesperadas, que poralgiira tempo demoraram.
OS trabalhos da coramissao,-lbj iiecessario di-
rigir ao governo de S. M. cpiiSuIta com data
de 10 d'aliril; e j^Jcj mesmo motiyo foi pre-
seatftdcpois a conira[ssao um requerimento do
qignO.par do reino director da imprensa da
i|niyev,sidade, sobre cujo contexto se mandou
ouvir a commissao, que respondeu cm 19
do dito mcz d'abril 0 que a cerca de seme-
.lliante objecto se Ihe oirereccu. Por fim man-
te-ve^se, como era de juslica, a disposicao do
Jii^: ;4v da citada portaria em virtude d'oulra
^.exjpedida em 13,de maio. Todavia, jior causa
^"dos muitos reparos e concertos que foi mister
j'-effeituar nas casas para, onde se .transferira
.yXresidcncia do director, a lim de liie propor-
!J;;^,^io9ar,o maior numero possivel de eommodi-
,^; dadcs, e para que ficassem por uma vcz fei-
" ' tas todas as obras nccessarias, ainda teve
d'csperar-sc ate 0 fim de juiho porquc fossem
5j desoccupadas as casas onde 0. director tivcra
^"l^'a sua appsentado.ria. ' :
'-.^. .Pe.sde entao e que os trabalhos da com-
"'■missao poderam recomecar com maior activi-
^.';dade, e receber tpdo b* impulsb de qiie ca-
-"'Wciam. . . . ■■■.■;
A cofiimissao tinha man.dado ja fazer as
, . estantes para 0 armazcm principal, e collocar
' '^n'ellas todas as obras que se encontravam
.:.iii'*!^'^'''^"'^'''' '^""lo fica dito, ao longp do i)a-
»x"'-^''"®°'°- R° ""'fo armazem mandou mudar
^ ipara salas enxutas e vcnliladas as chronicas
i},'?eDamiao de Goes, e deAndrada; e as obras
^^;;de Duarte Nuncs. dc, Leao, de Rezende, de
grt-'.^^^SyPO .Psoriq, e d'dutros classicos, para
■"jeyitar a sua total ruina. E actuEiImentc tra-
^'. eta dc promoyera V^nda de grande numero
Bj,"'4'.«^emplarcs d'aqucllas obras, fazendo-lhes
4!, ^^ aiatiiiienlo rasoavel nos.precbs. \
Oil '■ i'^^-'^P ** principio do mez d'agosto ultimo
^, totoefaram todos ps trabalhos' i'ndispeiisaveis
Mb ^^ "^^'^ conyehientes para a melli.or eollbcacab
^^,,,0 outl-a ofG'cihii de composicao nas casas que'
^•^'desocciipou b director da im[irensa. A casa
^^ da impressao t6rnou-se indepehdente das casas
Soj- - <^oniposicao typograpliica; fizeram-se novos
Cos '^•^^'' ' '^"'^''* ^^ composicgo e mais uten-
V sihos typographicos segunddos modelos man-
.d?dos yir dc Lisboa ; cscoiheu-se um local
'ai)ropriad'o jpaVa 'a maqiiitia lytH'ogfapWca ,
onde foi defi'riitivament'e collbcadaifja-r'fS '{ttider
fuBccionar ; in'trbduzirain-se varitJS' aperfei-
coamentos techrlicos. ■ ' ' ' i' ;■•■,'-•', ■
■ Tiinto no edificio da intprensa' como'' nas
casas pertencentes a este estabelecimento
iiiandar<Ym-sc fazer todos- as bbrdS e f^jaros
Os mais indispensaveis. ' '•>■■- 1'
' Tem-se feito em grande pdrte 0 sortimento
de typo novb, emblemas e vinhetas, e remet-
tido enl troca avultada p0rc5o de typo in u-
tilisado, ficando ainda a sulliciente' detypo
velho para^ p'roseguirerii as • irfipressoes que
estavam em andamento, ou para as iieimpres-
soes d'algumas obras que sao propricdade da
impi-ensa. Be gothicos e cursivds e\iste Ti'este
estabelecimento tao rico e abundante sorti-
mento, que pbde dispor-se de -raetade' por
venda ou troca, 0 que a commissao espera
conseguir.
■ Eram necessarias algUhias niac^iiiiias e uten-
sili'bs piira a o(Iicfn\i de impressao; a saber,
um prelo de ferro maior do que 0 cOmmum,
tintciros de ferro pafa'oS pr6los,' iinia prensa
hydraulica, e um torculo d'estamparia, pcio
que resolveu a commissao em 7 d'agosto
encarregar 0 administrador interino Olympio
Nicolau Ruy Fcrnandes, de fr ao PortO e a
Lisboa, devendo estar de volta ate ao 1."
de setembro , a firn de comprar,- n'aqueltas
cidades,' petos menbres prefos, os sobfedilos
objectbs; e visto nao se ter offerecrdo pro-
posta alguma para 0 fornecimento, por meio
d'arreniatacao, do papel necessario para a
imprensa da universidade, tambera aucto-
risbu o'^dilo administrador interino para ajus-
tar 0 papel das fabricas nationaes d'Alem-
quer ou do Tojal, que for precise, ate a
quantia d'um con to dermis, tendo em' vista
as melborcs condicoes que se olTerecessem, e
lirmahdo os necessaries contractos eescriptu-
ras com todas as solemftidades legaefe. Esta
incumbehcia foi perfeitamente deseiiipenhada
pelo administrador interino, que nao sb.com-
prbu pelos menbi^es precos no Porto e' em
Lisboa aquellas maquinase wteusilios, mas
tambcm concluiU com a fabrica d'Alemqtier
0 mais vantajosocontraclo a cerca d* papel,
consijilindo em que; a i'miirettsa podera ter
sempre nbseu arnlazem ate 0 valor dumconto
de reis de papel, pel6s me.^mOs ' precoS' por
que Hi'o' fojneciam OS eommissarios da fabri-
ca, mas sem empate de capital, considetando-
se 0 papel como em depo'sito, psgandiS a im-
prensa no fim de cada mez sbmcnta a irapor-
tancia do consumido, e perofebendo ainda 5
por cetito de comriiissao '.'
' A respeito do papel cumpre notar que, no anno
lectivo de 1853 a 1854, se gastou nas impressoes da casa
7785800 feis'; c qne'pjJe dr(;aHse o coiripr'ado'pelos par-
ticiilareS ])ara a impressao das' sua* obras "approxiina-
damente em 1:200|1000 reis por anno.
192
Na auscncia do administrador intcrino foi
cncarrcgado de fazor assuas vezcs, e dehaixo
da sua responsahilidado para todos oselTcitos,
0 ajudanle iiilcriiio Mauricio Jose Uias.
As precedeiiles rcsoliicOcs forara todas ap-
provadas pela porlaria do ministerio dos nc-
gocios do rcino de 23 d'agosto.
As despozas que sc tcm fcito na imprrnsa
da uuivcrsidade no anno Icctivo dc 1853 a
1834, sao as seguinlcs;
Obras no cdificio da imprcnsa, incluiudo a pintura
Ditas nas casas para ondc se Iransferiu a residcncia do director
Dilas na casa denominada do lliesoureiro
Ditas na dita da rua da lilia
Caixas de coniposicao e niais utensilios typographicos
Cavaiotes e pintura dos niesmos .• .
Typo novo, '3:230 arrateis e 4 onjas' 1:307^09:$
1
:013p95
158^145
37^875
127^100
12 2^9 00
S7$4S5
Emblemas e vinhetas
17^220
I'rimeira remcssa de typo velho 1:C02 arratcis
e 4 oncas
Segunda dita 1:783 arrateis'
224^13
249^020
1:324^913
473^933
L'ra pr61o de ferro ' .
Sete tinteiros de ferro a 24^000 cada urn
Unia prcnsa liydrauliea
Urn torculo d'estamparia
859^978'
158^000
168^000
510^000
92^040
Pela portaria de 23 d'agosto, ja cilada, foi
tarabem conlirmada pelo governo de S. M. a
proposta feita pelo vicc-reilor da universida-
de para nomear interinaraente para exercer
as funccoes de director da imprensa um dos
vogaes da commissao, c na falta on impedi-
mento d'alguni d'elles o administrador interino
da raesma imprensa. Esta providencia tinha
sido reclamada pela ausencia do director
proprictario e subslituto durante o tempo das
ferias.
Ainda varias reformas sao necessarias para
(lue este cstabelecimento typographico venha
a prcstar os utcis sorvicos que pode cfTectiva-
niente prestar cm beneficio das sciencias e
das letras; porem muitas d'ellas convem que
sejara experimentadas provisoriamente antes
de serem submettidas a approvacao definitiva
do governo. Assinique a respeito da revisao
typographica a commissao coraccou por tomar
cm 3 de junho algumas providencias mais
urgentcs para que, a par ,das reformas na
parte tecbnica, se effeiluassem tambem na
parte litteraria, as quaes nao deviam merecer
menor attencao para credito e proveito d'csla
typographia.
A commissao tem eontinuado depois a pres-
tar 0 mais serio cuidado a scmelhantc objeeto :
0 pessoal da revisao havia sido quasi todo
provido rccentemente pelo governo de S. M.
era jovens de muitas csperancas, 6 verdade,
' Ainda tem de vir 1 ;000 a 1 : jOO arrateia.
^ Prepara-se outra remessa de 1:000 a 1:800 arrateis.
' Ha de ser ainda necessario outro prelo lyt!;ogra-
phico, que tmportara pouco mais ou meaos 120^000 reis.
Reis 3:322^448
mas que ainda nao podem considerar-se como
revisorcs feitos, nem mesmo como philologos
consummados: por outra parte, o servigo da
revisao tinha augmentado consideravelmente,
0 ([ue muito havia concorrido para cresccrem
cgualmentc as difficuldades a que a commissaa
tern procurado dar remedio. Para este elTcito
sc coordenou em 7 d'agosto um rcgulamenlo
provisorio para o servico da revisao, o qual
se mandou logo communicar a confcrencia da
imprensa para ser interinaincnte execiitado.
A commissao no orcamento da imprensa
para o anno cconomico de 1853 a 1856, que
dirigiu ao governo de S. M. em 4 de setcm-
bro ultimo, introduziu tambem algumas altera-
coos e propostas relativas ao pessoal da mesma
imprensa; e quanto aos revisorcs, propondo a
commissao augmento nos seus ordenados, en-
tcndeu ao mesmo tempo que nao convinha que
fossem distrahidos com qualquer outra oceu-
pacao do servico publico, e qucporisso devia
declarar-se hem expressamente — que nao po-
deriam accumularcom ocmprego de revisorcs
qualquer outro, nem scquer do magisterio.
A commissao tcm tomado oulras muitas pro-
videncias cconomicas e administrativas de
rceonhccido interesse, ja relativas a loja da
vcnda dos livros, ja sobre as attribuigoes do
ficl da officina e d'outros cmpregados, j4
linalmcnte cm relafao ao melhor arranjo da
sala da conferencia, e organisayao da biblio-
theca da imprensa, tendo sido auctorisada
pelo prclado da uuivcrsidade para escolher do
dcposito dos livros e pinturas dos conventos
cxtinctos, tanto os livros que fossem neces-
saries para a dita bibliolheca, como as pin-
193
turas que devcsscm oinar y ^ala da confc-
rencia.
Todas estas providencias e rcformas, e bem
assim as inais (]iii' lorem siigf;eridas pela
rxperioiicia c assiduas iii\u?li(2;at0c'.s da com-
inissao, scrau consignadas opportuiianu'iito no
rcgidamento geral t'lu que a cominissao esla
tiabaliiando.
A cominissao seria digna do ccnsura, se
uestn logar doixasse de fazor honrosa menrao
dos bons sorviros que Mauricio Jose Dias
piestou a imju'cnsa da universidade, per
cspaco de seis mezes ein que esteve cncar-
regado da iiispecrao da eschola lypographica
da mosma imprensa, e das attribuicOes deaju-
dante do administrador, caigos que exerceu
coin miiita inielligencia e dedicacao, ficando
assignaladas provas d'isso tanlo na separacao,
arranjo c syslemalica disposicao de typos,
vinhetas, etc., como cm muitos oulros ol)je-
ctos em que se requeriam conbecimcnios lecbni-
cos: e outro sim por haver desempenhado com
cgual zelo e com toda a regularidade as func-
cocs de administrador, cujas vezcs fez, como
ja so disse, na ansencia do actual quando
csleve occupado no service imporlante que
Ihe fdra incumbido pela cominissao.
E porqiie nao basta somente que se facam
refornias provcilosas, mas i lambem ncces-
sario que ellas se (irmem solidamente e fru-
ctiliquem, entende a commissao que muito
convem para isso serem ainda por muito
mais tempo aprovcitados os services utilis-
simos, que ja tern prestado a imprensa da
universidade o administrador intcrino Olympio
Kicolau Ruy Fernandes, ale que os mclhora-
menlos tecbnicos, administrativos e lilterarios
d'este estabelecimento typngraphico tenbam
chcgado ao grau de perleiciio e estabilidade,
que a cominissao conliadamente espera obter,
niuilo prineipaimente continnando a ser escla-
fcciija e auxiliada por uni emprcgado tao in-
tclligcnte como bencmerito.
Coimbra, 28 d'outubro de 18ai.
MOSTEIRO Dl YACCARICA..
Fundaiao do Mosteiro.
Exisliu cm outros tempos urn famoso cou-
' A Xoticia Historica do Mosteiro da Vaccari<;a, etc. ,
p>:lo sr. Dr. Miguel Ilibeiro de VascouceUus, que a
ucaJemia real das sciencias acaba de piiblicar, levar-
me-liia a relirar do prelo iima grande parte d'este nieu
traballio. se nao me vira ojmproinetlijo i sua publi-
ca^ao jiela promessa que fiz em 18j2, no Instituto de
Coimbra n." 4, nota 1." ao meu artigo — Os Banhos de
Ltiso.
Cabe aqui um testemunho do meu reconhecimcDto u
boa vontade com que o sr. Miguel Rlbeiro me patenleuu
o.s doruraentos do archive da se de Coimbra. na quah-
dade de carlorario d'este arcliivo. e do muito que Die
vento, 0 Mosteiro da Vaccarica ' ou Mosteiro
Bubulence , na anliga viUa da Vaccarica,
hoje pertenceule ao couceliio da Mcalhada,
siluada perto deBussaco, meia k'gua ao poen-
te, de LubO.
E muito obscura a bistona da fundacito
d'este mosteiro. A cpocha assignada por fr.
Leao de S. Tbomaz, a mais geralmente segui-
da, e muito conteslada por fr. Antonio da Pu-
riiieacao. Esle chronista, attribuindo a Paulo
Orosio a fundacao do Mosteiro de Lorvao no
anno de Cbristo de 4o0, quer que o mesmo
eremita, poucos annos depois, fundasse tam-
bem 0 Mosteiro da Vaccarica. Servc-Ihe de
prova um catalogo dos conventos do S.'"
Agostinho, no qual, depois de se fallar do
Mosteiro de Lorvao, se menciona outro perto
de Luso', euja fundacao tambem se atlribue
a Paulo Orosio.
Por outro lado, a Benciliclina Liisitana e os
mais cbronistas aliirmam i|ue os dous mostei-
ros foram fundados no seculo VI, pelos pri-
nieiros mongesque S. Beulo mandara do Mon-
te Cassino a llespanba, e antes da morle
d'este Santo Patriarcba.
Fr. Bernardo de Britlo encontrou no car-
coadjuvoii em 1850 n'esle meu trabalho , que pouco
depois tive de interrompor com outros de maior ur-
gencia.
Se n'aquelle tempo despertei a atten(;So do sr. Mi-
guel Ribeiro para o Mosteiro da Vnccari(;a, dar-me-
hei por bem j)ago das semanas que alii gastei so cum
a lembran(;a de ter actuado como causa, se bem <iue
remota, na publicaf^iio d'uma memoria, que a academia
real das sciencias tantu apreciou.
' Vaccarica deriva, segrindo geralmente se ere, de
— A'accaria — por se terem dado a cria^ao do gado
vaccum os antigos habitautes d'esta ^■ilhl, fa\'orecidos
peljs bons p.'istos que poderia minislrar loda a \arzea
do norte, fertilizada pela Ribeira de Luso; ou de — A'ac-
ca-rica — porque fossem bem reputadas no mercado as
vaccas alii cria<las, e ainda porcjue o talho do abaste-
cidu Mosteiro Bubulense fosse muito acreditado uos
arredores, dando sempre optima vacca ou varca-rica.
-^ A denominaf^iio de Bubulense julga-se que proviera
de se ter alatinado a mesma etyraologia — bubulus — .
Alguas cbronistas o denominaram Mesteiro Bulmlense;
mas nos documentos, que possuimos d'este mosteiro,
do seculo X em diante, vem sempre designado por
— Monasterium. Acislerium. Cenobium Vaccarize —
como diz o sr. Miguel Ribeiro na sua Noticia Histo-
rica do Mosteiro da Vaccarica ^. 13,
^ In territorio Conimbricensi unum ad Lurbanuni . . .
et aliud ad Lusum . . . ba-c etiani Orosio tribuimus.
Chronica dos Eremitas de Sancto Agostinho por fr. An-
tonio da Puriflca(;ao torn. I, li\ . 1. tit. 8. ^^. 4 e a.
N'este ultimo ^. se le tambem o seguinte : t^ Aqui per-
ti se\eramos (os Agostinhos na Vaccarica) ate a enlra-
w da dos Sarracenos em Hespanha ; os quaes com bar-
1. baro furor tirarao a \ida aos pobres Eremitas: e
" assi ficoH o Mosteiro deseniparado ate que quitdo
(I a Portugal chegou a Reformai^ao de Clune foy outra
« vez habitado de Religiosos de S. Bento. *) Poderiam
ter havido esles estragos, ou os Monges fossera Agosti-
nhos ou de S. Bento; mas a circumstancia de s.-
mencionarem n'esta chronica so por incidente, e de nao
ter encontrado aos mais historiadores o menor indicio
d'este facto, leva-me a julgar fabulo>a esla noticia, e a
suppor que seria dada para unia e\plica!;.^o plau-ivel
da pertendida transicao. da ordem de Sancto Agostinho
para ordem de S. ijcnio . no .Mosteiro da ^ ii'-cariga.
194
toi io dc Lorvao, no fim d'uin livro manuscriplo
iiuiito antigo, uma momoria, que diz tor sido
t'lindado cste mostciro ainda cm vida de S.
Bcnto'. George Cardoso ciUi um livro dos
ol)itos do carlorio de Lorvao ondc se diz que
Lucoiicio, depois Bispo deCoimhra, foi o pri-
meiro al)l)ade de Lorvao'; c estc mcsmo Lu-
«eni'io, que assignou o conciiio Bracharense
em 563 ■", foi. segundo o mesmo auctor, um
dos doze discipulos que S. Benlo mandou dc
(lassino para cdilirarcm, cm Castclla a Yelha,
0 convento de S. Pedro de Sardciilia era 537 ',
donde saio para a Lusilania, e cdilicou o con-
^cnto dc Lorvao \
0 anno d'estas fundaeocs \cm niais prcci-
samcntc dcsignado para o Mosteiro da Vacca-
riea, n'um livro memorial antigo, do carlorio
do Moslciro de S. Pedro de Pedroso, citado
por fr. Lcao de S. Thomaz, ondc sc diz que
o .Mosteiro da Vaccarica foi edilicado no anno
de 541 pouco mais ou menos, depois de fun-
dado 0 de Lorvao '.
So com ostes dados nada se pode colhcr ,
<|uc satislaca, sobre a fundacao do Mosteiro
Biibulensc. Tanto o catalogo dos conventos
<ie Santo Agostinho como o livro dos obilos
do cartorio de Lorvao, o livro manuscrijito
do mcsmo cartorio, e o livro memorial de S.
Pedro de Pedroso sao escriptos scm rcfercn-
f ia a documcntos contcniporaneos, c sem data
iiem auctores, que os auctoriscm. Mas, sc
a pezar d'isso e permillida uma opiniao de
probabilidade, sera talvez menos arriscada
a dos que se inclinam a que o Mosteiro da
Vaccarifa fora fundado no seculo VI, entre
OS annos de 537, vinda dos Monges Bcncdi-
rtinos a Ilespanha, e 543, morte de S. Bcn-
to'; nao porque os outros escriptos tcniiam
^ Domus nostra Lurbani constnicta fait viuele patre
iiosiro Benedicto. Chronica de C'ister por Fr. Bernardo
lie Brifto Part. ].» liv. 6, cap. 29.
* Eadem die (10 d'abril — niio diz o anno — > obiit
^ enerabilis Lucencius, primn.s quondam Abbas Lurbani,
postea vero ad Episcopatura Colimbri^ensis ciuitatis jis-
siimptiis, qui literis, et virtutibus clarus muHis inter-
fuit coneiliis. A;j:iuli|;io Lusitano pelo Licenciado George
.Cardoso torn. 2, Coniraentario ao 10 de .\bril
•^ Catalogo dos Bispos do Porto por Do Kodrigo da
Ciinha part. 1.', cap. 4. Fr. Antonio de Yejws torn. 1,
cent. 1. George Cardoso, referindo-se a Lo,i7sa, quer
que OS concilios Bracharenses a que a.ssistiu Lucencio,
tivessem logar em 561 e 572, torn. 8, Comcnt. ao 10
de Abril.
** Este anno tambem o aponta fr. .\ntonio de YepeA
torn. 1, Centuria 1." folh. 87.
* Agiologia Lusitano torn. 2, Comment, ao 10 de
Abril.
' Benedictina Lusitana, torn. 1, trat. 8, part. 2,
cap. 12.
■ Ainda ha mutta divergencia nog AA. sobre as
epochas do nascimento e morte de S. Bento, apeTar
il'alguns se terem referido a factos relaliros aos reina-
dos dos imperadores Anastacio Deoscoto e Justino, do
rei de Leao D. AfTcmso Magno e de Totila rei dos
(iodos. Fr. .\ntonio da Purificat^ito diz que este Sancto
Patriarcha naseeo em 527, fundou a sua ordem em
Ca'sino em 567, e que morreu em 5119. Tritencio,
que nasceii em 480. 0 cardeal Malheus Palmerio,
mais auctoridadc do que o catalogo dos con-
ventos de .Sancto Agostinho, mas por scrcm
mais cm nnmero, c muilo mais acreditados
pcia grande maioria dos nossos archcologos.
No meiod'esla divergencia, os dons adver-
sarios fr. Lcao de S. Thomaz e fr. Antonio da
Purilicacao, fr. Bernardo de Brilto na sua
Chronica de Cister, o licenciado George Car-
doso no Agcologio Lusitano, o doutor fr. An-
tonio Brandao na Monarchia Lusitana, fr. An-
tonio de \cpcs, e os mais que pudenios con-
sultar, todos concordam cm (|uc o .Mosteiro
da Vaccarica fora fundado logo depois do dc
LorviJo, que tiveram ambos o mcsmo I'unda-
dor, e que foram na primitiva da mesma or-
dem religiosa. Assentam esta ligacao dos dous
niosteiros nos mesmos cscriplos, donde forani
biiscar a sua fundacao; mas, como n'estc
ponio nao ha divcrgencias, nao e muito que
csta noticia, a pezar de muilo duvidosa, se
conceda a quern sc conlcnlar com a cpocha,
tao mal averiguada, da fundacao do Jlosteiro
da Vaccarica.
Cviilinua. \. \. da costa SIMOES.
PHYSIOLOGIA APPLICADA.
Transmissao dos sons por meio dos corpos soU-
dos; e sua applicacao ao ensino dos meni-
nos no estado de surdez incompletn.
Os methodos d'inslruccao para os surdos-
niudos ou sao completamenle desconhecidos
cntre nos, ou nao teem sido ensaiados com
proveito. Pode quasi dizer-sc que csta dcs-
gracada classe de nossos irmaos tem sido dci-
xada ao abandono. Os csforcos feilos ale aqui
para Ihes dar certa edncacao, teem sido dc
todo infructiferos neste paiz, c por loda a
parte se encontram d'cstcs infelizes, a qiiein
nenlium bcncficio tem feito o progresso de
todos OS conhccimentos humanos. 0 seu espi-
rito tem ficado scm pao no mcio do banquete
gcral dc todas as outras classes, como se dies
foram degradados da civilisacao. Tocados por
tamanho infortunio vamos dar conta n'estc
jornal d'um mcthodo ullimamentc ensaiado em
Franca para transmittir os sons e fazel-os
ouvir e aprcciar pcrfcita e distinctamcnte
pelos surdos-mudos no estado de surdez in-
complcta.
Uavendo as pessoas cmpregadas na instruc-
cao d'esta deshcrdada classe, observado que,
a maior parte dos surdos-mudos podia ouvir
em 494. Victor Capuano, alguns annos depois de 494.
O Padre Roman e fr. Luiz dos .\njoj, em 497. Mariano
Escoto c Sigeberto cm 570. E a Benedictina Lu>itin\,
o Cardeal Baronio, Herniano Conlrarto, Genebrardo,
Arnulfo, Yepes e outros afiirmam que naseeo em 480,
que fundou cm Cassino a ortlemj Benedictina em 529)
e que morreu em 543.
195
alguns sons, c'sendo ccrlo que os corpos soli-
dos Iransmittem os sons com mais energia
que OS fluidos, M.' D.'' Itard, M.' Strauss
Durckhcini, e Lc-Cot, parocho do Bolonha
sobre o Sena, que disputam entre si a prio-
ridadc d'cste descobrimcnto, approximando
estes dois factos de natureza dilTerente, con-
ceberam a idea de que os surdos-nmdos
ouviriani com mais facilidade c perfeicao os
sons que Ihes fossera transmittidos pelos cor-
pos solidos do que os que Ihes chegasscm por
intermedio do ar. Restava descobrir um meio
facil de transmissao segundo esle,pensamento,
e I'oi descoberto. Este meio tao facil como
simples consiste em articular ossonsdistincta-
mente, masscm esforco no centrodo paviihao,
ou bocca d'um porta voz ordinario, on corneta
acustica, de zinco ou lata, que o surdo-mudo
deve apertar nos denies pela extremidade
que tern o menor diametro. Do emprego d'cste
simples apparelho asseverara os sens pretcndi-
dos inventorcs Strauss e Lc-Cot, liaverem ti-
rado OS mais auspiciosos rcsultados; o que o
primeiro corrobora com as cxperiencias por
olle feitas em 1842, na prcscnca do professor
Puybonnieux, cm alguns alumnos da eschola
de surdos-mudos, e o segundo com os nomes
de tres criancas, entre mais de vinle, que
quasi todas immediataraente repetiam os sons,
([ue Ihes haviam feilo ouvir [)or csle proccs-
so. A pezar de tudo isto, como confessa o
niesmo M/ Lc-Cot na carta que escrcveu ao
Presidente da Academia das Sciencias a (im
de que esta corporacao scientiliea nomcasse
uma commissao, para se entender com elle
sobre este objecto, verilicar os rcsultados das
suas cxperiencias, e formular sobre esta inte-
ressantc questao uma opiniao sanccionada pela
authoridadc irrefragavol da Academia das Sci-
encias;nem este methodo serve para fazer ouvir
OS meninos absoliitamente surdos; nem ainda
OS sens rcsultados estao delinitivamcnte com-
provados por factos incontestaveis, e por expe-
riencias aulhenlicas. Com elTeito a idi^a de
M.' Itard era a mesma, c todavia, nao tendo
OS rcsultados oblidos segundo as suas indica-
coes, corrcspondido as suas espcrancas, foi o
sen methodo completamente abandonado. i
Mcsmo assim, no estado de inccrteza cm
que nos achamos a respeito das vantagens da
applicacao d'cste methodo, e tao importantc
0 assumpto de que nos occupamos, que nao
duvidamos chamar sobre elle as attencoes dos
homens compctentes, c pedir aos amigos e
bcmfeitores da humanidadc que continucm
as suas cxperiencias n'cste sentido, pois so
assim pode chegar-se a verdade, c obter a
somm'i de factos necessarios para o confir-
mar c seguir, ou para o abandonar.
Sobre a sua facilidade e simplicidade este
methodo tem para a surdez nao completa,
jncontestavel superioridade sobre os antigos
jucthodos cmpregados com zelo e dedicacao
pelos direclores das escholas e estabelecimen-
tos de surdos-mudos em Franca, onde dcsdc
0 abbade De L'Epee e Sycard ate hoje se tem
dado largo dcscnvolvimento a este objecto.
Comparemos para o provar os rcsultados e
vantagens d'estcs metbodos. Os geralmente
cmpregados nas escholas, ensinam 6 verdade
OS dcsgracados surdos-mudos a articular sons,
mas isso imperfcitamente ; conscguem fazel-os
fallar, mas sem que tenham consciencia dos
sons que eraittem: daqui resulta primeiro, que
OS alumnos precisam de fazer um grande
esforco d'attencao e intelligencia de que ncm
todos sao capazes; resulta ainda, que nao
comprchendendo bem o que fazem, saindo da
eschola eentrando em casa, quando mais ne-
cessidade tinham d'applicar o que haviam
aprendido, desgostam-se d'isso, nao se exerci-
tam c esqueccm-sc; e resulta em fim, que os
sons que emittcm sao muitas vczes falsos e
inexactos, sem que possam mesmo conceber o
vicio de sua pronunciacao. Mas pelo methodo,
que indicamos, niio so podc desenvolver-se
consideravclmente o sentido e orgam do ou-
vido, mas ate chcgar-se dcpois de certo lapso
de tempo a fazer ouvir, mesmo sem o concurso
d'instrumentos, frazes inteiras a meninos que
a principio parecia nao pcrceberem som al-
gum, e que nao obstante licam por fim com a
consciencia do que ouvcm e do que pronun-
ciam. Tem ainda este methodo, nas maos das
pessoas exercidas na arte dilScil deinstruir os
surdos-mudos a vantagcra de poder auxiliar
poderosamente os metbodos ainda hoje usados
c d'abbreviar consideravclmente o tempo dos
estudos. E finalmentc podc com proveito ser
applicado por as pessoas mais estranhas a
educaeao dos surdos-mudos, de sorte que as
macs podcm comecar, e o meslre de primeiras
letras continuar a sua educaeao.
E e por todas estas vantagens, que, a nosso
vcr, merecem a attencao das pes.soas que
estiverem nas circumstancias de verilicar os
rcsultados ja obtidos, e de ensaiar novas cx-
periencias; e pelo alto intercsse que ligamos
a esta questao humanitaria, que d'ella fizemos
0 presente extracto.
J. DE Q.
INFLUENCIA DA LUA NOS TERREMOTOS.
Depois que foram apresentados a Academia
das Sciencias de Paris os trabalhos de M.
.Alexis Perrey sobre a influencia da lua nos
terremotos, dos quaes se dcu conta no n."
0 do Inslituto, appareceu em sessao de 21
d'agosto uma correspondencia de M. Fr. Zan-
tedeschi dirigida a mesma Academia, que tem
por fim: tirar algumas consequencias das va-
riacoeg continuas que, segundo o auctor, a«
196
mart's inteinas dovem lazcr cxpciimcntar a
lornia do csplieroide tcnestrc; c citar aljiu-
inas jiassaftons d'esciiplores do seciiloWllI,
I'lii (u-ova di' line, desde o priiKii)io d'aqiu'l-
ie .scciilo. SI', couliocia a iuthiuiifia ilas posi-
«;ut's da lua I' do sol nos tcrromolos, hojc
coiilirmada pclos traliallios dn .M. A. Pcrrey.
Da imulaiw.a ptuiodira da forma do osplie-
roidi' lerruslrc dt'\om sc.r consoquencias as
vuriacOes da dri»re?sao do liorisonte cm cada
um dos logarcs da terra, dcvidas a elevarao
c alialiiiH'uto que as mares dao a esse logar,
segiuido as posii-Oes da lua e do sol, um a
respoito do outro, e a respeito do pcrigcu c
do moridiano; ou mais geralmciile a mudanra
de projcfcao d'um ponLo lixo sobre a abobada
celesle; e lamlxMii a retardarao do pendulo
na prcamar, c a acceleraeao na baixa mar,
as quaes M. Zantedesfhi attribue cerlos saltos
dos relogios aslroiiomicos, qua os astronoraos
ate agora iiao podcram explicar. Por isso e
que sobre csles dois pontes, o sua influcnoia
nas oliservacoes astronoraicas e na contagem
do tempo, se chama ua correspondencia a
atteneao dos ol)ser\ adores.
Para mostrar (|ue ja era coiihecida no se-
culo passado a inliueneia da lua nos terre-
motos fita M. Zantedescbi as passagens se-
guiutcs das obras de Jorge Baglivi, e de Jose
Toaldo.
« In singulis Luns aspectibus, sen qua-
« draturis, potissimum in pleniludine ejusiicm
I. seu totali opj)ositione cum Sole, certo suc-
<c cedebant terr;c motus, frequenter pauluhim
<i praicedebant ipsos aspeclus. y>{Gewijii BuijU-
ri Opera omnia; Bassuni, 1737; pay. 415. —
Editionis Veiieliurum, 17S2; pay. 326.)
« Toaldo, parlant en general de trenible-
(• ments de terre, dit:
" Feu M. Bouguer, dans la relation de son
« voyage au Perou, art. 3, parle beauooup
« des tremblements de terre qui sont iVc-
" quonts dans ce pays. II menlionne comme
« (louteuse I'asscrtion d'un savant Peruvien
<i ((ui dit que les tremblements de terr« ont
(I certaincs licures fatalcs et marquees qui sont
(' les hcures de la bas.sc maree. D'un autre
(I cote, Chanvalon, dans son voyage iila Mar-
(. tiuique, note beaucoup de tremblements de
« terre qui ont cu lieu ii I'hcure de la baute
« mer, et le treniblemcnt de terre qui ren-
<' versa Lima la 28 octobrc 1740, arriva a
(I 3 heures du matin, au moment du Hot
" (ora dcUa prima acqua). Ainsi on a remar-
« que dans d'autres pays que ces phenomenes
« eux-memes peuvent dependre de causes cos-
li miques de I'uction du Soleil et surtout de
« la Lune. » (Giuseppe Toaldo, Delia vera
influenza deyli a.ftri, ccc. Sayyio meteoroloyi-
<v; Padova. 1770; p. 190.)
A inliueneia da lua nos phenomenos ter-
restrcs ehamava lia muilo tempo a atteneao
dc M. Zaatedestbi, como provam scus estudos
publicados nos Annales de Phtjiique. 1849 —
ISiiO, pag. 129 (De I'aelion de la lumiere
lunaire sur les veyeUiux, sur les corps inorya-
niques. et de son aelion eulorijiqne) , e a Nola
communicada por M. Arago a .\cadeniia das
Sciencias em sessao de 11 d'outiibro de 18K2
[Sur les mouvemenls pr^.\-enles par plunieurs
reyetan.v e.vposes a itirlion de la luniierc lu-
naire, v.. R., tome XXV, pag. 822.)
I.IVROS SAGRADOS DOS I.NDIOS.
(I big-v£d.\.
Contimmdo de pac. 182.
Chegando on solo indianno, os Aryenos
Irocaram os babilos da vida nomade, pelos
gnsoi e comrnodidadi's da vida sedenlaria.
(Japtivados pcla lielleza d'este paiz, pela
amenidade do sen cliaia, e fertilidadc dc
Sf-us aprasiveis calnpo^, e risotihos valles,
aqiiellaj Iribns, ale alii erraiiles, virain nesta
terra do proinissao a saa verdadeira palria.
As teiulas e cabanas volanles siiccedcm as
c(Histruc<,'oes niais regulaica e permaneiiles ;
e o eslabeleciniento de peqiienas aldeas. A
popiila^ao cresce ; os traballios e occupagoes
arlisticas, e indiistiiaes miiltiplicam-se, e o
cliefe de famdia lega a sens filhos os vasos
proprios para os sacrificios, as armas, os
instriiinentoa agricolas, sens cainpos, e spus
rebanlios. A propiiedade, qiieassim comeijara
a scr reconliecida conic um direilo, parecia
tatnbem iir.por iupielles, que a berdavam, o
dever de coiitiiuiar os tiabalbos, de que na
infancialinbain adquiridoas prinieiras iiojoes,
Deste inodo o regiiuen da faiiiilia — o regimen
verdadeiramerile pairiarclial, ia gradiialmeii-
le desapparecendo, ao pasao que a sociedade
pro^eguia iia sua eiiiancipa4,ao por uinaorga-
nisagao mais couipleta.
Durante suas einigra5oes, os Aryenos ti-
nbain sido goveinados pelos deicendenles do#
antigos chei'es das Iribiis. Depositarios dos
conbecimentos e das tradic^oes religiosas,
esses boinens celebravam os sacrificioi como
sacerdoles do culto vedico, e occupavam por
isso o primeiro logar no meio d'aquellas
Iribus; todavia, uma parle da auctoridade
que o sacerdocio exercia, devia passar coino
nos juizes enlre os Ilebreus, para os mais
valeiiles giierreiros, de facto investidos ja do
mando. Foi a^sim que a raaleza se eslabele-
ceu. E tal era provavelmenle a situagao dos
Arvenos na epocba vedica.
Oi indlviduos, que podiain pegar em armais,
vigiavam pela defeza e segnranga coininum.
Os mais mojos da»am-se a cullura dos cam-
pos, e a vida pasloril, quando os cuidadns
da gnerra nao urgiam ; porem, nesta mesma
sociedade nasceiite exisliam jii classes, entre
197
as quaes todavia a Ici nao lirilia ainda levan-
lado essR iniiro de bronse das castas.
A Iradic^ao reli^iosa, a linp;iia<5ein, e o
cuko vedico s'lo os Ires poiilos futidamenlaes,
que consliliiern a nacioii.ilidado dos Aryeiios,
e a sua inconteslavel superiorldade sobrc
todos OS povos, que antes d'clles occuparain
a India. Os saeerdoles, que consliluiain um
corpo destinado para o exercicio das funcQoes
rcliu^iosas, e para o ensinn, eraui os unices
deposilarios d'aquelle lliesouro de sciencia e
religiao. Uoladoda sociodade por seu proprio
inlcrcsse, e e?collieiido exciusivaiuciite no seu
seio OS conljnuadores da sua niissfio, aquelie
corpo tornou-se uma ra(,'a privilcj^iada — a
dos braliinanes, ou prinio;;enilos de Braliina,
intimaincnle idenlil'icado, coui a pulavra divi-
na e inalleravcl, e cuja aiicloridai.le se for-
lificiira, (• cresrera por isso rapidaniojile Pur
oulro lado a del'eza dus cidades edilicadas
em diver^os pontns do lerriLorio;a prolcc^ao
das terras cullivadai eui toriio d'ella-, e que
se iam con>lituindo pui oulras tautaj pro-
vincias, ou priueipados; a manulcncfio das
relagiies, que se eslal)L'leeiani enlre as diver-.as
provincias, a necessidade em fim de rppdlir
as agfjressoes dos barbaro-, obiigaran) o, reis,
e suas fatnilias a fazer do iiiisbjr das armas
a sua principal, e por venlura quasi unica
occupajao. A posse dos feudos, e o exercicio
de um podi-r quasi illiuiilailo, constiluiram
por assim dizer os privdegios e recoui|)ensas
dos valiosos servi^os prestados peU classe
militanle, que formava o cortejo dos reis,
como nos tempos feiidaes succedia com a no-
breza. Os fCclialtri/as, ou guerroiros, a quern
tanibem cliamavam nidjas, ou lillios de rei,
erain como os brajos da jnven e podero^a
iiagfio, cuja cal)eva era o braliuiane. Os vai-
eyas, ou inercadores, e agricuUore-i, coiirlitui-
aiii uma terceira classe nao meiios utd e in-
leressante, que as duas priineiras, que lodavia
elles reconlieciain como superiores. Uedicados
ao exercicio d'aqueiias profissoes, que nem
exigiam lanla corageu) e esforijo; nem la-
inanliaelcvagaode espirilo, e lirmezade ca rac-
ier, o svaici/as respeilavam o braljinane como
mestre das ieis diviuas e humanas, e o rei, exe-
cutor d'estas inesmas leis ; em fim o^ ^owlras
formavam a classe dos servos, que <-xerciam
OS mais liumildes occupa^oes, e que n'loparli-
cipavam de direitos alguns na socied.ide ary-
enna.
A grande dislancia que separava as duas
primeiras classes ou castas das dos vaicyiis, e
goudras, coniprehende-se facilmente, se at-
lendermoi a que os Aryeno*, conquistaiido o
territorio que occupavam na India, e inipon-
do por coMsequeiicia suas leis e costumes aos
povos vencidos, deviam naturalmente evilar
com todo o escrupido, que a raja piira dos
conquisladoresse misturasse com ados eslran-
geiros no meio dos quaes vieram eslabeb cer-se.
As duas casta«, por tanin, deposilarias da
aucloridade reiigiosa e niiiitar; e exercendo
por consequencia o poder espiritual e tem-
poral, conservaram intaclo o elenicnlo aryen-
no, em quanto a terceira casta pela sua propria
condi(,rio e inleresscs n.'io duvidara aiiar-se
as familias indigenas, e admittir ate no seu
gremio aciueilas (pie liaviam abro^ado o culto
vedico. Os goiidnii pela sua parte eram ver-
dadeiros servos ou illotas, liiados dentre os
vencidos, a quern a suprema lei da neces-
sidade reduzira li dura condi^ao de servir os
vencedores, como mais tarde acontecera aos
I ridioi ^d'Auierica depois da sua conquisla.
Assim as castas, que rigorosamente podem
leduzir-se a tres, represeiitam a ra^a con-
quiitadora, os mestizos e os indigenas.
Dissemos, que o regimen das ca-tas n'lo
ejtava ainda estabelccido no tempo dos vedas,
.\'uin liynirio porem, de maia recente data
comparalivamentc, que a da maior parte dos
que se euconlrain n'aquella cojlec^'io, le-se a
propo!ito da Pouroiiclia, ou a altiia universal,
e o priuieiro scr a quern os Aryenos davani
altriljutos corporeos, o seguinte em ver^o. « O
braiimaue foi a sua boca — o rei os seus bragos
— o vaicya as pernas, e de sens pe's nasceu
o goudra. n A divisfio das castas e' aqui re-
pre^enlada aliegoricamenle. O pensamento e
a palavra sao considerados superiores a forga
e poder material. A coragem, e dedicayao
sao lidas em mais subido prego, que a induslria
e commercio ; a tiqueza intellectual sobre-
puj I a opulencia material. Esle myllio ap-
paiece lambem no codigo das leis de Manou
debaixo de uma forma sentenciosa e dogma-
lica. I'ara distinguir a primeira vista as dif-
ferentes castas o legislador fizera inscrever
no nome de cada unia dellas a caracteristica
da sua gloria, ou da sua degradagao.
A primeira das duas palivras, de que se
couipoe o nome brahmane significa — o fervor
propicio : a do nome Kckaltrya — a forja ;
a de vaicya — a riqueza, e a de ^^oudra — a
abjiTjao.
1^ certo que a partilha, que o braiima-
nisino fez entie as classes da sociedade aryen-
na foi leoniua; mas a quem senao ao brali-
niauismo deveu essa sociedade o esplendor e
prosperivlade, que por tantos seculos gosara '.
Guardas fieis e unicos interproles da lei vedica,
OS braiimanes recollieraiii com piedosa sol-
licilude estes vencrandos tnonumentos da sua
lilteratura. Foram elles, que em todas as oc-
casioes libertaram os Aryenos da tyrauia dos
seus reis, coiuluzindo sen)pre o povo oelo
camiiilio da civilisagfio. Ao brahmanismo
Qi've a India os numerosos pagodes, temples
sublerraneos, e magnificos palacios, cujas
munumeulaes reliquias ainda lioje se admiram;
e essas imme.nsas composigoes lilterarias, que
a liuropa cidla bade vir a conliecer e apreciar
como as obras primas dos pnelas da antigui-
dade classica.
De todos estes monumentos litlerarios,
porein, neniium pode comparar-se ao vidn,
iivro multiple, em que se reilectcm, como
im
n'um bellbeipellio, as credoa?, a viola pnblica, k
<■' OS' inlimos Icnlimeft-tos- dw 'ATyftnos. A.
■cxcepgSo'dd'Biblla, h ■rihlii*iikladt!-nrio of-
"'fereco umaobf.T, que'siisCtle hf> cspirito maior
'ntimerd' de^iaetis do, qtie 6 vcdu. Falta-llie v
'''vcr^adc o eleiiVeftlo liislorico, mas em IrDco
diko ftdniira-se em '«iiaS' I'leHas patinas' o
= "eneroso rmptilso de unia fta^abj qiiei^a for(:a:
Ho s6u entlmsiaimo v6acom'atdor apo« sens
'fu'turos e b ri I liantes destines,- t\ca delseivO,
-qd'aclividadb. SCAas abslrac^ees do sabfeistrto
\e-se desponlar o paiillieisulo, que eitvnlveia
como n'um lurbilhao as geraCoes fiituras.
Suas viriadas poesia^' aprescnlfim oS priflieiros
traces das lendas popiilafes, dtssb riializado
cairipo das iiiais belTas e rodoriferas fTorcs,
'com que se adorna a modcma 'liueralura,
"Mas siias'e,tancias represenla-SB'bem debiixa-
' do o qiiadrg da fo'rina^ao de uma sbciedid?
• tfieocraliea, iriaij' zclosa pfelo-'ttdlo de sens
''•deoses,' do que pelos ieiis pro^riosinteresSes ;
' sfcm'pre prompUa celebrai" os-saenhcios em
'■ horii-a •detles, despresando 'coril geri^TOsa flb.
■ negagao ' a pomposa osleniajaa das gloriap
muhdanas.' ' , '' ,
Cerlo iiao le'mbs 'nOticia exacla 'd* marcbfi
dos Arvcnos desde a sua parlidii das planicieis
da Azia, nem 'encontramOS fflemorla das
hatalhas que se pelejaVam, e dos dbslaculus
com que os Arye'nos lutaram au- vir a ^stabq-
lecer-se no Iiido,l'io; mas saberaos pelos seijs
livros sagrados o que pediara aos deosds ei(i
seus sacrlfioios ; os inimigos cija presenja qs
atemorisaVa; quaes suas armas, e seus instn(-
• nienlos agricolas, os habitos em I'lm da'sua vida
■ domestica. E esle qiiadro conipleto d'aquella
* longinqua e'pocha, que- oLivro dbs bymniis
nos apresenla em suas eloquentes paf^nnas,
'■ podebemsiippriraHeglige'ncm'dosqupdeixa-
■ ram sepultadas; ho esqilecimento memories
ditrnas dti parliCiilar h'lStbiia". ■
° • '^ . ..' ji'irf. DE ABREU.
I • , , ■ ri<r.t-J;-: « ■ ■ ' ■ -•
d'anim«os flunifsiicns. Os triadorcs.-alii iiii-
cniilrara'o.'ccrtrts prol)ltiuas ■ de^ »juja solucao
resuUnr* gra-rtdc 'proveitoa'' eHcs da- todo o
paii, ale'm da^ 'consideracao que por'isso
hSf)-dp grahgi'ar. '■• ' ■' ■■ • ' •'' ■' • ■'
A t'alta' de 'ura'^regTamma'torna^se tanto
niais soiisivcl, ([iianto'c poi'to, que o reguld-
monln iltie se' prftpue (leionvcjlver o' deu'reto
dc'lU (Iti doz(*ml)l^ do 1882 aptiia!; cbntetu
' aceroad'este Al)ji'c'f6 d aTt.' 19 que diz: '<; Os
jSrimeiros pri'tiiirts pecuniarios iiao podtrao
adjudicar-se sc' rtSo 'a'fjuc'llp* c^pbsitorfes, que
aprcsentiirehi gadoV htftaHois pelas prop'Offocs
An cm' I'o'rflllil r ' rrrn tltll^yft 'P npll/»7n rlo CI1!1s:
BREVES RBFLESOES
Que fundammldmoprogTattima^ne ofereee)n'QS
.',««;■(( as e.rposicdes d'dkimdes doMesticds ifo
''tlLtrkto de Coimbfa. '" ' '. . '
,i Creraos fazer algura serVico' a este (fislricto,
,' , dijiido publicidade a urn programma, que ao
,.,;H0S50 pareccr, deve geguirjse nas exposicocs
• ■■■,*■
•■-'■' ' 1 Vpja-se a Kevue des Heiix IfortJ.'iobi.' <;*"— Piris
'"■'' iffSi.' ' ' " -**'';'' "' i->*i4'"i..t'i'i'>''.r.
de sua' regular' gra'ndo^a'e' b'ellcza de Siias
fuinias. » E e de nolar 'qu'e' o artfgo t'ran'scripto
considerfi absohltamcVite' uma' melhoria que
pode m'uitas vezcs 'ir de' encoritro as circum-
sUincias' topographi'ca's d'asl ' localidades onde
houvereui do. dar-se as e\'posicOes.i
Cuiiipria ,attcnd(;f I'l tlHc a .grandeza" -56
pode ler tuna ipyifjrlancia i;pla,tiya,, 'po'rquc
csta , po'r sua ^ iiatui;ezp , depende das circ(im-
siaucias (Iq, clinia, doijogac, e finaInieritC|jdos
produclos.qiic. 4it(.? iuvmacs q,uerci)ios, pjjljer^. '
Tanto isto.e vcrdadej que, lallando.dq. ga,do
bovino, a rapa do Algarve (vacas anas do cabo
de S. Vicente) pode eon,?ti^,uir uma.verdadeira
riqueza, para as localidades on.ije jis citci|m-
,atancias topogcaphicas se oppqcm a .cria^ao e
propagacao .dasi racas de estajura clij.vada., A
industria pecuaria d'esle disUitto, nuo se en-
riqueceria com a imporlacao d'aquella rafa,
na maior parte das localidades da beiraiiaar'?
Nao resuUaria um aperl'eicoaraento do a cruza-
rcm com as que existem nos logares.moiiita-
nhosos? Quern possutr alguns conheciiiienitos
de zoptecbenia,, nao reeuzara, por cerloj 0
seu' Assenso -a cstas verdades. ■ .- ■ , ■
Istoquc dizemos de passag<sm e sufficientc
;para nroslrar que 0 citado- regularacnta c
inutil aoscriadores, e que 0 jury encarrega-
do de- Sdjudiear os premios aos expositores,
nao pode fazer obra por elle. 0 pragramma
que oll'ercceiiios, segundo nos parece, pode
supprir estaiaeurta, 'se a junta geral aproavcr
adopial-o. ' ■■ ■' "■ >■ : '
■ E dcsnecessario advcrtir que- devem ser
comtempladds com 'os primeiros prehlios os
expositores daquelles animats que por' suas
qualidades seaproximarem do tVpo das rajas
mencionadas tto progranima'; e com os segiin-
dos OS (jue apreseutarem auimacs immedi'ala-
iliente' iiiferiores;' e hfes'ifti Siiceefesivaraentc '.
• -Veja-se Zooiatiica dt) Pr.Dr. Mncedo'Pinfo
' ^ 'Para o cavallo veja-k- M. 'de itepiiiatrlia do sr J
iji Perreinij epara'bs'ciitfos.'anfmuesaZooiat: cil: '
•ihi *».li
s..sji?v.>i i\itw*>i,> ,,'-\*I.'i;ii^- ;■ x.^ •■
'\ . . ' s.) .'.sidi s.
: ibiJ.iiOrv
199
Ga-
dos
\
"o ■
uu
.1':'
fi <
JjOcalidadts
CaiiiboS do Moridc'go; '
Canipo? de'Sburf , Con-
deixa, de Goes,' de
Louza ,c de' Miranda
do CoH-Q. ;' ■ /'■ -
Sfonjlanlids 'd'Arganll/
de Co'ja,' de Taboa, e
dedliveira do Hospi-
tal., ' ', / " ■ ■ '
Caiiipo' d(i' Mondfgo; ,
Difos db Sou'rc, dcDon-
deixa, e de Goes, etc.
Slqrilanhas d'^Vrjanil;
Coja, etc. ' ■■ '
Campos' do Mondc^o.
pitos de So'ute', deCon-
'deixa, elie'. ",''.,'';' ', '
MoiitaiihaS ■i^Argatiil:''
' Campos'' do Moridc'goi
OitosdeSouW. deCoin-
deixa, '«tc. • '
Mdntahha's d'Argaritl)
de CQja, eic;
%
ejra-iilaf. ■
ara-mal
v.: \i\:-\.\
f.a tl),^■...
] diimpos '(4,0' Sldnd'egbi
'Ditos deSolire, 'de€oii-
dejxa, etc.
Si,o'ntarilias d'Arganil,.
' deCoja,' etc."' ' •' '"■
Ditas do resto do di-
■siM '[y "'■'"' ['■
Em toddiO'dislriclo.:
;'-:\m\
iRflca*
CavaUbs paraUiro' lig^ifo'e ppsarfd.
Cavallos de .sella proprios parajbr-
■nada; - - *i • " i'- '■■■-' ■--'-'■ -
' • - ; ■ -^ ■: •::-:'[»? '..-iy^ .ty.
■Cavallos galliliianosr' ■ ''■^■^'- ^t> «'
i '.'-■■■■ , u\:?jyjt!\ilt <;,••■".
Burfopara tfro.
Barro para sella^'"''^' '' <'.■'■■.' ?.;iMPr
• ■ -i- I J)';) :■-.[ -.■■', .'.\.'...
Burro pequerio paTa Irabalhar'nestas
' localidades. ' • 1 >-"-.i:'. j.;''3 i
Mullo para tii'd.''*"*^^ <> ««> «fi"^«':
'Mullo para s^lla.
.'■■■■ ■ ■ ■-■'•' 0 mm £r,?.'t;9 ?..',j?.o:
Mullo ' asneirbi pa>^''1ransitiir-per-
'' por 'estai lodalidades^ tanto de
sella' cOTTiode ctirga.'' ■'■'!' '-•[ f-'--i
Ra^k de ceVa', e leittirL- .?-:?-='!"1 e::
■Racasi de tra'balhe- 'e-'de 'eevs^. :- : ^'M i
■'"'■' ■■ ■ ' '■■•' • ;^:;,3 -X.t \..i\:.-}.i,vi
Racas pequorias esforcadas no tra-
Wlho, com aptWao t)ara; a' ceva'^
e produccao de leite. ' ' ."■
Racas de pecjueno talho hoks para '
trabalho, efara ceva (precisahdo -
' de pouco aiimento): asvaecasdao
kbuiidante leite. '. ' ■ -'
Racas leiteiras, ec6m aptidao-'para"
.' Nfiois&jnlguo' (nte*nl
qnakjucr das loeafidadfs
eitaTlas . se nao pode'ra
ohter cavallos' para oii-^
tros mistcrefi; pori-m de-
vead\ ertir-se que altehi
dendo as c ircumsianc las
topographicas, t6rna-*e
noce.ssitrio crial-os pelo
systema d'estabnlacad',
0 que emuito desjilen-
diosD.:^ ■; -. '■ ; .s-j I
■ li7;rd ■ ..■_'•■
;'■',
'd« la;
Racas leiteiras
cao de la.
Era itodo o'disiHcto.i ■ ,{ Racas corpulcnta^ cfljn aj>tia,ao;paiia i
a ceva.
Antes de expormos, ainda que muito supei^-
licjaliiUcnte, as medidas que conveni adoptar,
par4 .que se ,cfijeitue p melhoranicnto de cada
uni^ das especies de, qije acabamos de fallac,
dizenjos' que nag julgaraos possivel melhorar
OS gados ap^scentados nos campos do Mondc-
gp, sem que providenciifs legislativgs acabem
per uma, vez .com as pastagen? communs, e
.Vs no^sp? lavra(lqres (leixem as culluras roli-
neiras a q.ue.cstao r«duzidos, c ensaiem systp-
raas, desconhecidos entreups, ,e verdadc, mas
lia muito generalisfidps nos paizes estrangclros.
Para, que nos campg^^do Mondego possa-l
Vej.
Vej.
Zooiat. cit.
Zuuiat. cit.
:•■{ ■■■'. :X'iT,ii\ ir.ri lovir
J ei-i cl2T,\ iu'3 .S'jiiigiec.b'
..hihi iib L'i>
t:. Ill tCLjaiLO £0 ■ :r 1
'•rp', f.'o (.ila-ymzv. ,. .i
, . ' : •. i-a-thV's^ teiw)
OJeite nas localidades,
como 0 campo "do Jtov-
dego, eabiindantei'mas
a iiua qualidadei^ jfkfe-
rior,. todavia pode mo-
Iborar-seGondinientandb
alimentacao '. Ningrtem
ignora que o qneijo. da
Serra da Estrclla e ' do
Rabacal' 6 niui agrada-
vel aopaladar,:o-qiie e
devido as partagensaro-
maticas i'i>i :ii 'iii.'ii;.i
mos obter bohs cavallos de tiro,' e mister por
em plractica. 0 ('asticftmento' por scllM-cgo^ dils
racas alii criadas, porem mais vantajoso scni
iniporta? b eaVallo nprmahdo ^ e cruzal-o coin
as egiias, 'qii'e ■ mais se aproximareni d'elli;
em Gonforjiiajao, ■ • •' • ■ •■^■- ■
Nos carii^ok 'de' Soure, CondfeiSa cit:'} piodc-
mos obter p caMlla de sella, propi'ib paifa'jor-
hada, cruz'andP, as eguas escolhtdas .d'cstas
localidades cOni o briosP,"tlocil; e .corajoso
corcel da Araljia. ■ '■ ' ' .'■'' '■•'■' '■ ■ ■
' Nas riiPntanhas d'Argaiil; Coja cic^^ dcvcm
effeituar-se grandes melhorameTitos; -o ate
.;.i; -ii i.o uA. 0 ;.:e3 ii,'fi.zd
' Vij. Zooiat. cit.
^ Vej. M. de Hippiatrica cit. ,. . . ,,..,,
• a engorda.'
Bacas' leitcifEis, e-pafa 'a Jir-OdttOcaO''
de liv ■ - ■ ■ : -• ' ''■■ "1 ;■ :.':'r
Racas para a produtCao de'la e
• 'boa carne. " ' ' ■ •' .'''■■'i;i- -' 'i" ■
Racas penuehas para."i piodUetad--
de" ceva
e prqduc-
200
luesmo introduzir alii n rucn galliziana que,
cm conscquencia da sua pequciicz, e propria
para o traiisito dc sella, ou dc carga em tcr-
reiios montanhosos, que ahi abuiidara. 0
melhorameulo d'esta rara oblera-sc pelo sen
cruzamento com a rafa arabe dc marca pe-
quena e pello de rato, doiide resultara uiiia
raja que a par de rauita foroa, para suppurtar
peuosiis trabalhds, lera belieza em suas formas
c docilidade; qualidadcs dilBceis d'encoiitrar
cm as nossas facas ou garranos, que, como sa-
bemos, sao quasi lodos raal proporcionados,
traicoeiros e rifadorcs.
0 apuramcnto dos nossos jumentos e tam-
bem uma graudc nccessidadc, por isso que
teem chegado ao maximo dc degeneracao; o
scu aperfeicoamcnlo pode conseguir-se pelo
cruzaraenlo das Lossas burras com o burro
castelliano.
Pelo cruzamento das nossas cguas com o
jumento aiulaluz alcancaremos bellos mullos
para lodos os servicos.
0 mullo usneiro c o mais proprio para
viver nas localidades pouco ferteis, e terrenos
dcsiguaes, em razao de ser mais barato, muito
sobrio, e bom para ahi trabalhar de carga
ou de sella.
Poucas sao as localidades que se preslcm,
corao OS campos do Mondcgo, a criacao e
melhoramcnto das racas bovinas, tanto de ceva
como leiteiras: alcaucam-se as racas de ceva,
cruzando as vaccas cscolhidas, que ahi se
apascentara. com os touros da raca minhota,
e as leiteiras, raultiplicando e apurando a
raca turiua.
Os campos de Soure, Condcixa, etc. pelas
suas circumstancias topographicas prestam-se
muito hem a criacao de bona hois para tra-
ballio, que ubteremos pelo cruzamento das ra-
cas que ahi vivem com o Zebu ou misticns da
rafa de Mafra. Tambem podemos nestas loca-
lidades criar iofs/wco (('ly/, cruzando as racas
ahi existcntes com a do Minho.
Nas montanhas d'Arganil, Coja e algumas
oulras podemos criar pcijucnos bois para tra-
balhar em terrenos escabrosos, como sao os
d'a(iuellas localidades, esforrados no trabulho,
aplos para a ceva, e raccas abundantes em
leite, cruzando a raca que alii abunda com a
raca do Algarvc. E de grandc utilidaile a pro-
l)agacao d'esta ultima raca na maior parte da
beira-mar do nosso districto, a qual e pouco
abundaute cm pastes '.
E muito para desejar que o barbaro divcf-
tiniento das touradas termine, e seja subsli-
tuido pelas corridas dc cavallos e bois, don-
dc poderao resultar alguns benelicios para a
nossa industria pecuaria; porem em quanto
dura esta mania peninsular, podemos ohter
l)raYissimos touros, cruzando as nossas rajas
br«vas com e boi da India.
' Vej. Zouiat. cil. "; ■
Os campos do Mondego nao banhados pela
mare, nao sao muito prnprios (lara a criacao
do gado ovino, ponjuc^ a athmosphera c as
pastagcns sao alii muito huniidas, porem
observando-se o que a hygiene aconselha, po-
dem muito bem criar-se nessas localidades
bons carneiros para ceva, e boas ovelbas leitei-
ras, pelo casticamento por selleccao da raja
commum, e cruzamento d'esta com as rajas
cstrangeiras Dishlcy Southdown, etc.
As condicoes topograjjbicas c climalcricas
das planices de Soure, Condeixa, etc., fazem
com que estas localidades muito bem se prc-
stem a criacao do gado ovino, tanto para
ceva, como para Id, obtendo-se o primero pelo
cruzamento das nossas ovelhas com as rajas
cstrangeiras acima citadas, e o segundo pelo
cruzamento com os carneiros merinos; mas o
que e mais para desejar e a importacao d'esta
excellente raca: foi assim que a Franca enJ
menos d'um seculo a generalisou, eonstituin-
do hoje uma das suas principaes riquezas.
Nos logarcs montanhosos d'Arganil, Coja
etc., alcancaremos racas para prodiizirem b6a
came, pelo cruzamento das ovelhas que alii
existem, com as racas Dishjey etc., e fara
prodiizirem Id, oruzaremos as mesmas ove-
lhas com 0 carneiro merino.
No resto das montanhas ferteis do nosso
districto podem-sc criar racas pequcnas para
darem boa Id, cruzando as ovelhas d'alli com
OS carneiros merinos.
A cabra pcla sua muita sobriedade, vigor
e resistencia aos agentes morbilicos pode com
muita utilidade criar-se em todo o districto;
porem conveni melhorar a raca commum,
casticando-a por iiellecjao ou niesmo cruzan-
do-a com as das outras provincias. Muito con-
vira a importacao das cabras do Tibet e d'An-
gora.
0 atrazo da agrlcultura cm o nosso distri-
cto faz com que nao possamos criar bons por-
cos se nilo pelo systema de estabulacao, porem
sera de muito proveito (pie se oblenha uma
raca, que a par da sua aptiduo para a ceva,
tenha uma estatura elevada, e isso conse-
gue-se pelo cruzamento da raca do porco da
JJeira, ou de graiide estatura, com a do por-
co chino, ou do Alemtejo '.
Terminamos a(iui a nossa larcfa, e fazemos
vfltos para que a junta geral do districto de
Coimbra tome em considerarao esle ramo
d'industria, scguindo oexempin da do distri-
cto de Hraganca : lenibranios que muito con-
vira que a exposicao de gado lanigero nao
tenha Ingar em novembro (ainda que enliio
deva fazer-se a do gado suino); mas antes em
maio, epocha em ([ue estes animacs se osten-
tam gordos, nedios c vigorosos.
O Vetcrinario,
Francisco Marquea Cardoia.
' Vej. Zooial. cit.
JOlllNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CONSELHO SUPERIOR DE INSTRL'CCAO
PUBLIC A.
RELATORIO ANNUAL.
1847 — 1848.
Continuado de pag. 16-1.
Inslrvc^ao superior.
Tern sempre cntie nos offerecido perspe-
ctiva mais agradavel oste ramo d'instrucrao.
Destinada a formar funccionarios pubiico.s,
tem sido, era todo o tempo, luais frequonlada
proporcionalmcnte do que os oiitros ranios.
A esperanca, e a teudencia para os empregos
publicos, que dc ha muito nos characteriza,
tem produzido sempre larga coiicurrencia
(talvez hoje deniasiada) aos esludos supe-
riorcri. Se por ella I'osse licito ajuizar da in-
telleclualidade nacional, talvez poucos povos
sc nos avautajassem. Mas os ramos da in-
struccao estao entre si tao ligados, tao dc-
pendenles sac uus dos outros per sua na-
tureza e fins, (jue todos formara uma serie,
cm que nao devcria alterar-se iim termo,
sem que expeiimentem mudanea proportional
todos OS outros. 0 que nao pode com tudo
negar-se, c que as rel'ormas e meiboramentos
concedidos em varias epoelias a inslrucfao
superior, sem eonsideracao previa com a pri-
maria e secundaria, nao produziriam os bons
resultados, que temos experiraentado, e os
cxtranhos niio ousam negar, se nao foram os
excellentes metliodos de cnsino, e o zelo cf-
ficaz de professores, qufe teem illustrado e
honrado este paiz.
Dos eslal)elecimentos d'instruccao superior,
confiados a inspeccao do conselbo, recebeu
este relatorios e esclarecimentos estatisticos
I relativos a universidade, a eschola mcdic.o-
I cirurgica do Porto, a academia polytechniea,
C a de beilas artes da mesma cidade.
0 relalorio da universidade nao desabona
istc grandiose estabelecimento, a pczar da ir-
rcgularidade do anno litterario findo. Ante£
' offereti! urn testemunho incontrastavel do zelo
dos profe^rores, a noticia das obras scien-
I tificas, que teem publicado, as mudancas feitas
Vol. III.
na dislribuicao das materias do cnsino pelos
diversos annos das faeuldades, e a adopcao
de compcndios novos, elevados a altura actual
das seiencias.
Foi este estabelecimento freqnenlado por
899 alumnos no anno litterario findo: sendo
a faculdade de tlicologia por 104: a dc
direito por 'J07: a de medicina por 35: a
de matbematica por 90: c a de philosopbia
por 103.
A eschola medico-cirurgica do Porto tcvc
67 alumnos. A academia polylechuica 179.
A dc bcllas artes lo9.
A somma total dos alumnos nestes quatro
estabelecimentos e de 1:304, (mappa n.° 5).
A despesa da universidade reguiada pela
verba do orcamento, foi de 00:040^930 rs. A
da eschola medico-cirurgica de 9:860^000
rs. A da academia polytechniea de 11:934^000
rs. A de beilas artes de S:C60$000 rs. Im-
porta a despesa total d'cstes estabelecimentos
cm 94:1'204930 rs. Custou cada alumno ao
estado, approximadamente, 7'2:400rs. Dedu-
zindo porcm d'esta cifra as propinas de matri-
culas que sao de '24^000 rs. para o maior, e
19:200 rs. para o menor numero, c o que
reverte ao thesouro de custo de cartas, titulos
c diplomas, nao exccdera muito a 40|,000 rs.
a despesa paga pclo estado.
Nao e mais custosa, antes inferior a muitos
outros paizes, a despesa indicada; havendo
para os nossos alumnos a vantagem de nao
dispenderem sommas avultadas com a fre-
quencia de cursos particulares e licoes dc
apijlicavao practica; devcndo-se a([uella van-
tagem a dilTerenca nos mcthodos de ensino.
Na comparacao da frequencia das faeulda-
des universitarias sobresae o desequilibrio
causado pela consideravel aflluencia a de di-
reito. E em verdade excessiva, coniparada com
a populafao, e com a concurrencia as outras
faeuldades. E sendo certo, que nao ba em-
pregos em que se possa accommodar tanta
gente, o resultado niSo pode ser favoravel a
ordcm publica. Fora esta rellexao fecunda
era consequencias, apresentada no relaloiio
de 1845; e por essa occasiao lembrada a
creafao de uma eschola de administracao, lao
necessaria ao systema politico, (|ue actual-
mente nos rege.'Assim se rcparlira a concur-
rencia entre as duas escholas, c se dariam se-
NiM. 10.
NovEMBft^ 13 — 1834.
^
202
guras garanlias a adminislrarao civil com
habiiitaroos convonioiUos, e adeciuadan. Estc
piano adoplado cm aigiins cstados d'Allema-
nha, foi ja, no piosente anuo, iiuilado em
Franca; creando-sc jiuicto ao collcgio dc
Franca uma cscliola d'administracao, cm quo
vac a scr cducados, os ([tie ?c deslinani A
carrcira da adininislracao civil. Entrc nos
nao liira dispcndiosa essa crcacao; aprovci-
tando-sc os cirnicntos, (|ue cxislcm no gran-
«lc cciitro univcrsitario. E porqiie nococs
elcmcntarcs dc scioncias exactas, e philoso-
pbicas, sao iiidisponsavcis aqiiolics estudos, e
muitas vozes nccossartas na adminislrarao
judicial; e, ainda scm rciacfio a (ins tao im-
porlantcs, sao cllas o podcroso meio do dcs-
involvimonto o cducaciio intellectual, fora
talvez con\eniente elevar a estc ponto o grau
das habilitacOes para os cursos da faculdade
jiiridica.
As escholas do Porto medico-cirurgica, e
polytcclinica, repetem, em sous relalorios, as
represcutacOes, jii por vezes dirigidas a V.
Mageslade sohro a ncccssidade urgente de
reformas materiaes. E justas parccem ao coa-
selho as pretensOes das escholas. Os grandes
centres scienliiicos, insliluidos para a cul-
lura e engrandecimento das sciencias, nunca
podem prosperar, sem serem cercados do es-
tabelecinientos materiaes, appropriados, e an-
nexes. Nao e possivel exercer dignamente as
funccoes pedagogicas a eschola cirurgiea, sem
que tcnlia casas ^ara aulas, exames, cen-
gregacoes, tlieatro anatomico, museu ana-
temico-patbologico, e enfermarias clinicas,
com numero sullieiente de exemplares, dt; que
possa dispor, sem subordinacao a vontade,
muitas vezos capricliosa e irreflectida, d'um
corpo moral, extranhoaos interesses dascien-
cia e do ensino. Nao podera dcsinvolver-
se e prosperar a acadcmia polytechnica, sem
um museu, uni laboratorio chymico, urn
gabineto de pliysica, e um jardim botanico.
Muito teem I'eito aquelles estabelecimentos sci-
enliiicos, reduzidos a tao mesquinha estrei-
teza, em terem sustentado o ensino com zelo,
c persevcranca, digiios do elogie.
As necossidades publicas sae, eu devem
sempre ser, o ponto de partida para a crea-
cao, e conservacao dos estabelecimentos lit-
terarios. Se ellas justilicam e legitimam a crca-
cao d'a(iuelles estabelecimentos, parccc ae
conselbo indispensavel, que se attenda as
reclamacoes dos conselhes das escholas, sem
0 que desapparccea responsabilidade, quelhes
eabc.
Mas nao basta crear os estabelecimentos
scicnlifiros annexes as escholas superiores; e
misler lia!)ilital-os com meies para pederem
sustcntar-se, aperl'eicoar-se, e collecar-se a
par das sciencias uaturaes sempre em pro-
gresse. Queixa-sc a universidade, a este re-
speito, de falta de mcios; e posto que a dota-
cao, destinada para ocusloamcnto deseus es-
tabelecimentos, fosse I'avorecida no ultimo
orraniento, nao obviara ella por certe aos
inconvenicntes apontados ne rclatorio do
observalorio aslrononiico, aos do museu c
gabincle pliysico, ao dos estabelecimentos me-
dicos; pon|uo todos demandam dosj)esas ex-
traordinarias, e avultadas, ])ara se devarem
a situacao, quo de direito Hies compete. Nera
sao menos fundadas as reclamacoes a estc
rcspeito, por vezes re|ielidas, da eschola me-
dico-cirurgica, e academias polytechnicas, c
de liellas artcs de Porte. Todas desejam elc-
var-se, assumir a posicao, que Ihes toca na
escala scientilica. Para conseguir aquelle
lim, siio indispensaveis os meins: V. Ma-
gestado, pesando na sua alta sabedoria as ne-
cossidades do ensino, e conciliando-as com
as necessidailes publicas, provcra de remedio,
conio 0 julgar mais adocjuado.
A inlolligoncia do art. i:!2 do decroto dc
20 de septombro de ISii tern side objccto
de duvidas na universidade, e a faculdade dc
medicina resolveu, que se devia pedlr oxplica-
cao .sebre pederem ou nao asletras de distinc-
cae em litteratura compensar as do ,consi-
deracao em costumes. 0 conselho deseja'ouvir
nosto assumpto e veto das eutras faculd'ades;
mas inclina-so a que, polo nienos, seja indis-
pensavel redaccao mais dara no citado art.
E para lamontar, e magoa no vivo ao con-
selho, que por falta de noticias havidas dos
estabelecimentos scientilicos doLisboa, se nao
fafa d'olles mencao em um rclatorio geral da
iustruccao publica! Omissao tao notavcl,
e inesperada, colloca o conselho em ponosa
impossibilidade de comparar os diversos
estabelecimentos scientilicos do paiz; a fre-
quencia de uns e oulros; o sou aprovcila-
mento; as esperancas que cada um oll'orece
a goracao, que a custa de pesados sacriticios,
OS si'.stcnta ; as geracocs futuras, para quera
se preparam estas reformas; e ajuizar linal-
mente do estado da inteUednuliddde naeio-
nal, pela cemparacao de movimonto das
escholas, com a populacao em geral. 0 conse-
lho faz sinceros votes, porque tao irrepre-
hensiveis omissoes se nao renovom; e es-
pera que Y. Magestade previna a continna-
cao de abuses intoferaveis, com a rosolufSo
da consulta dirigida por este conselho a V.
Magestade em 3 de corrente mez.
ConclusHo.
A regularidado ne service da dircccao cen-
tral, a mulliplicacae c melhoramento das
escholas primarias, o complemeuto das se-
cundarias, e nos ostudes superiores a crea-
fao de uma eschola de adminislracao, e de
alguns cstabolocimentos annexes a eschola
medico-cirurgica, academia polytechnica, e
dc bellas artes do Porto, ^uo as neccssidades
*V««fcKkS»
^ ^^^-i^
203
da inslrurrao, a ([uc dc prompto so dove at-
tender.
Miilliplicar o niimcrn do escholas priniarias
c a primeira noccssidadp. Baslara c(iiii|iai'ar o
nilincro (inc. lonios, com as (|iio teem a IJelgiea,
Hanover, a Silezia c Lnmhardia, pani se ex-
plicar o estado de atrasameiilo em (|ue se aclia
a instniccao primai-ia no paiz. E csla a inslnic-
cao, que devc ser levada a porla do todos ; por-
fliie i a de (|iic todos prceisam. Das (]iie cxi-
stem em 1." giati nao seria nmilo facil elevar
0- numero desde ja pela dilliciildade de aehar
mestres compelentemente habilitados. Nao
podemos conlar com elles, sem que tenhamos
escliolas normaes, em -(nie elles se possani
forniar. Felizmente estii proxima a entrar em
cxercicio a nossa 1." escliola normal fiindada
em Ik'lem.
Mas lima so eschola normal nao pode dar
a linstruccao primaria todos os mestres de
que clla carece. Nao c muito possivel, attento
0 estado do tliesouro, augmentar o numero
de escliolas normaes, por sua natureza dispen-
diosas: nem as cidades ricas, c populosas sao
consideradas como os logarcs mais accommo-
dados a instituicoes d'estc gencro. 0 piano
de formar mestres pcia practica dc escliolas
accrediladas, em que os aspirantes sirvam de
ajudantes, tern produzido muito bons resuita-
dos na Uollanda, na Prussia e n'outros paizes ;
e, por menos dispendioso, seria preferivel lioje
entre nos. Ja teve o consclho a lionra de
proper esta idea a V. Magestade no relatorio
de 18ii), lembrando a conveniencia de crear
as escholas possiveis de i.° gran, c aproveital-
as principalmente para a formaeao dc futuros
mestres. 0 conselho, persuadido da utilidade
da idea, aproveita esta occasiao |)ara dc novo
a. levar ao conliecimento de V. Magestade.
Sendo porem a instruccao das classes labo-
riosas a mais minguada; e as freguezias ru-
Iracs as mais necessitadas, a instruccao ele-
jmentar propria d'aqnellas classes aclia com
Ifacilidade mestres condignos a missao, que
lilies compete. Nao deixa o conselho de re-
©mheccr as apuradas circumstancias do tlie-
souro, quo e forca respeitar; mas nao julga
limpossivel que, ainda no ca.so de licareni a
Icargo do thesouro, annualraente se va creando
Inm numero d'ellas pouco avultado, ate que a
|{azenda publica possa supportar maiorcs en-
leargos.
Na Suecia, aonde hojc se acha muito vul-
garizada e desinvolvida a instruccao prima-
ria, adoptou-se um piano muito economico
para comecar a dilhindir esta instruccao. Crea-
rani-se mestres ambulaules, que leccionavam
era cada freguezia por um espaco de tempo
determinado. A mingua de outros nioios mais
productivos, talvez podcsse ensaiar-sc este me-
thodo cntre nos.
No relatorio de 1843 nutria o conselho a
lisongcira esperanea de poder fundar escholas
com OS sobejos de rrndinnMUos miinicipae.=,
e de conlVarias. Auiiiiava-o o exemplo do que
se esta practicando iias ilhas adjacentes. Ap-
peliou para o jiatriotismo e zelo dos sens de-
legados, empenhou todas as I'orcas para eonsc-
guil-o: foi tudo baldado! Nem aiuda iias po-
voafoes, que rc(|ueriani com mais urgencia a
creacao de escholas, llic foi possivel obtcr
subsidio d'a([uelies corpos nioraes.
As echolas de asylo sao um ohjccto, que
tern nierecido a altencao c desvclos de V.
Magestade.
Merecem-no em verdade ; porque cstas
escholas sao o berco da instruccao primaria,
a educacao primordial da edade, em (|ue ania-
nliece a luz da razao, e precisa de ser guiada
por mao sabia e virluosa. Nas circulares a
todos OS sens delegados, tem o conselho re-
comniendado a creacao d'escholas d'este
genero, e a sustentacao das que existem.
Nao tem o conselho por ora alcancado resul-
tados satisfactorios; mas nao esmorece, quan-
do v6 as que existem sustentadas por elTeito
da benelicencia particular, e reflecte nas boas
propensoes d'um povo, que em todo o tempo
se tem distinguido por sentimentos de buraa-
nidade. Julga porem o conselho que alguma
condecoracao honorilica, alguma niencao hon-
rosa, para com os individuos que mais se
teem distinguido em promover a creacao e
sustentacao d'estas escholas maternacs, seria
um poderoso incentivo para animar outros,
e entreter o fervoroso zelo d'aquelles, a prol
dc estabelecimentos de tao suhido interesse.
E nao fdra menos conveniente empregar
egualmente este meio, para fundar escholas
de dias sanctilicados, destinadas ao ensino
dos adultos ; sendo que esta e uma das pri-
meiras necessidades do nosso paiz.
0 melhoramcnto da instruccao primaria
nao depende tanto da cxtensao dada as ma-
terias do ensino, como dos bons livros c
methodos de ensino. 0 conselho tem empre-
gado todos os meios ao seu alcance, para
conseguir uma colleccao de bons livros para
este ramo de instruccao; recommendado ate
a traduccao dos bons, ([ue ha em outras nacOes,
mormente na Prussia, Inglaterra, e Toscana.
Nao pode porem lisongear-sc de o haver
conseguido ate agora. Para regular os metho-
dos de eusino, teni-se lemhrado de iuslituir
conferencias cntre os commissarios dos estudos
e OS professores mais accredilados, e tcm-DO
recommendado em suas instruccoes; mas re-
conhece, que, para lacs ensaios, nao e aiuda
chegada a bora, por falta dosclementos neces-
sarios. Seria conveniente que se ensaiasscm
entre nos os methodos de Jacotot, Pcrtalozzi,
e Kiev, de que em outros povos, se diz,
haver tirado vantagens, sobre tudo para a fa-
cilidade do ensino; e nao se dcscuidar;i o
conselho de o lembrar opportuuameule ao>
sens delegados.
20 i
Mas primoiro do quo tiulo, cuiiiprc que sc
(1(5 iiiii rosiilaiiKMito ii instruccao priiiiaria;
que V. Mafjt'stailc sc (ligiie de resolvor solirc
0 projecto olTcrecidn oiu consulta de '24 do
Janeiro de ISiy, solire os das escholas dc "i."
giaii, olTerecido em eonsulta de 14 de niareo,
sol)rc 0 projecto de vciKiiiicntO!', jubilacoes
e aposcntacoes, juncto a consulla de 15 de
jullu) de 184S.
Na instruccao secundaria e tempo dc se
ircni preparando os elenicntos, para o cnsiuo
de scicncias iniluslriacs. A geoiiietria, niecha-
nica, e cliyniica com apjilicacao as artes c
a agricullnra, ensiiiados no ponlo de vista
praclieo, dcvcm (azer parte da instruccao
secundaria nos lyceus maiores ao mcnos, e
em algnuuis povoacocs induslriaes do reino;
e (luaiido a instruccao secundaria tenha,
neste scntido, alargado a sua esphera, li entao
([ue mais cunipre dilTundil-a. A civilizacao
materia! e iioje o espirito do seculo, a ten-
dencia dos povos cultos, uma necessidadc da
e))ocha. Por toda a parte se cura de ceono-
mizar bracos, de simpliticar processos, de
aperfeicoar i)roductos, de encurtar distan-
cias. A instruccao secundaria c da classe
media; e esta c a classe que costuma dar-se
as artes. Mas os productos da arte nao podem
aperCeicoar-se, scm que aos raios da sciencia,
desperte a induslria adormecida entrc nos.
Devem porcm prcparar-se de antemao os
estahelecimentos nialeriacs, e os professorcs
ipie se han de enipregar nesto novo ramo de
ensino; scndo q\ie o credito, e os progresses
de quai(|U('r instituicao nova, dependem in-
leiramcnle do aprovcitamcnto, que os pri-
meiros alumnos alcancarem.
As necessidadcs da instruccao superior
reduzem-se, j)or agora, a creacao de uma
eschola de administracao; organizacao dos
estai)elecimentos annexes a eschola medico-
cirurgica, e academia polyteclinica, o de Lei-
las artes do Porto; e melhoramento dos que
pertencem a universidade. Ainda que de
(irnmpto .so nao possani rcmediar lodos os
males, porcjuc de recursos extraordinarios
carece o melhoramento d'alguns estaheleci-
mentos scicnlilicos, algum sacrilicio e in-
dispensavel para conservar, na perfeicao de-
vida, 0 ensino practico de que jnincipalmente
depende a parte util das scicncias. As univer-
sidades, concentrando cm um ponto, em grau
transcendcuto, as scicncias, artes, e Ictras,
sao foco de luz que alimcnta a cultura e il-
liistracao dos povos; mas nunca poderao sa-
tisfiizer ao lim da sua creacao, sem (]ne estejara
cercadas de cslahelccinienlos practicos, sitna-
dos na allura, a que as scicncias se teem ele-
vado.
Tal e, Seniiora, o cstado da instruccao pu-
hlica no paiz, resumido em quadro singclo,
e nao pcrleilo. A impcrfcicao e toda involun-
taria da parte do cousclho; sol)rava-lhe o
(lesejo de podcr aprcscntar uma cstatistica
coniplcia, c c()ni|iaral-a com as de povos,
(pie, por sua illirslra(;rio, servcin lioje de nio-
delo na rcparlicjao das Ictras. V. Magestade,
scmj)re hcuevolcnte, ha de rclcvardclcitos, ipie
0 cnnsclho (piizcra ter e\ itado. E espera coniia-
danieute o con.selho, ([ue ]ior meio d'algiimas
pro\i(lencias, ja ordenadas por esta rcparti-
jao, e de outrasque a Y. Magestade pare(am
mais adequadas, hao de desccr dias mclhorcs
sohre a instnucao do paiz, se a mao da paz
hcneficcnlc nos dcr scguro amparo. Coimhra,
em consclho de 2S de novemhro de 18'i8. —
Josr Jldcliaitd d'Ahrni. riie-reitor. e vicc-presi-
deute — BiisiUo Allmiio de Sousa. I'intn —
Manuel Anluiiio (/iiellu) da Korlui — Jerdin/mo
Jose de MelU> — Fraiui.seo de Custro Freire —
Manuel Marlins Binideira — Antoniu Carduso
lioKje.s de Fiijtteiredo — Luiz Iijnuew Ferreiru.
SILVIO PELLICO E 0 SEU TEMPO.
Um escriptor piemontcz Pietro Giiiria, aca-
ha de jtuhlicar dchaixo d'cste tilulo uma hio-
graphia do A. do livro das ininhas Prisdes,
a{|iieni o evangclico espirito da Imilardo ])a-
recia ter complclamente inspirado. 0 novo
hiographo podcria ter accrescenlado nuiis
algims tracos ao sen quadro [lara lornal-o
menos indcciso , jiistilicar mais cahaimente
0 sen tilnlo; com tudo a narracao dc Giuria,
cos fragnientos ineditos, que a aconipanham,
dcixam aprcciar a suave, e sofredora natu-
rcza do Poeta de Saluces, uma das primeiras
glorias conlemporaneas de Italia.
Silvio Pelico cscrevera tragedias, hymnos
e cBucoes, que elle considerava como I'ragmen-
tos dc um grande poema sohre a Italia da
meia idade : dez anno«f*de captiveiro cm
Spielberg I'oram uma dolorosa prova , (|ue,
dando-Ihe a aureola de um longo solTrimento
na flor dos annos, cortiira as suas melhores
espera ncas, e as seus votos pela rcgencra('ao
nacionai, a (pie elle sc associara com os cscri-
plores italiauos de 18'20 — os Manzoni, os
Eerchet, os Romagnosi, os Gioia, os Viscoii-
ti e oulros!
Scm duvida Silvio Pcllico era um conspi-
rador pouco perigoso; um livrinho, porem,
s-cu causcira mais mal a.*iustria, do que uma
conjura(;ao, ponjue esse pequeno livro Wra
a singcia ex[)ressao de unui queixa sem I'el,
e de uma resignaciio scm amargor; era a
pura narnujao de uma alma, em ([uem a pie-
dade apagiira nao todas as recordacocs, po-
rcm todo 0 ressenlimeuto violeuto. Silvio Pel-
205
lico, porem, nao podera dar a luz o livro —
asminhas Prisoes, que tanto rcnome llie gran-
geara, seni quebrar quasi com sens antigos
amigos, que o accusavam de trair o lihcra-
lismo, e que sobre tudo se assustavam com
as suas tendeucias religiosas. De feito a
mais sincera e I'tTvorosa piedade absorveu os
ultimos vintc annos da sua existencia.
Saindo das prisoes de Spielberg, fora con-
vidado para ir occupar em Franca uma posi-
fjo vanlajosa. Silvio Pellico recusou. 0 longo
captiveiro tinha-lhc feito amar a solidao. A
sua mui delerioiada saude nao ilie pcrmittia
ja aturados estudos, nem o tempo, que ihe
sobrava dos exorcios religiosos , e de algu-
mas aprasivcis diversOes literarias, o podia
dar a outros cuidados mais graves. Uma vida
simples e Iranquilla era o que unicamente
Ihe convinha.
a Eu leio, dizia elle n'uma carta, penso,
amo OS meus amigos, nao aborreco pessoa
alguma, respeilo as opiniOes dos outros e
conserve as minhas; eis aqui a minha vida,
nao isenta de dores, mas tambera nao priva-
da de consolacoes. » A sua I'e mais viva; a
sua maior devocao acaso Ihe lizera esquecer
suas esperancas pela emancipacao da bella
Italia, e sua antiga dedicacao pela causa da
liberdade? Certo que nao. A illusao desapa-
rec^ra, mas a sua profunda conviccao licara
inabalavel. « A idade, dizia elle, amadure-
cendo a verdura das minbas opiniOes, mo-
dificara, mas nao mudara a essencia d'el-
las. » Uma resistencia iutima, mas pacilica,
era tudo quanto Ihc restava do seu antigo
patriotismo. Nao tratava com os revolucio-
narios, nem, em geral, com os partidos ex-
clusivos.
Em 1848 era o seu voto pela uniao de to-
dos OS pi'incipes italianos « voto seguramente
justo, dizia elle, mas inutil, como muitos
outros bons desejos. » Quando se procedeu
dsprimeiras cleicoes no Piemoilte, Silvio Pel-
lico teria acceitado, talvez, a procuracao dos
eleitores de Saluces, sua patria ; nao foi
porem entao eleito; e quando depois Ihe of-
fereceram esta candidatura, ja de todo Ihe
fallavam as forcas para o desempenho d'a-
quella missao.
Como homem, Silvio Pellico foi sempre o
typo de uma suave e terna resignacao, a que
as suas desvenluras derara a uucao religiosa.
Como poeta, nao era um genio transcendente,
porem nas suas tragedias, e sobre tudo nos
Iragmeutos liricos, brillia a graca e amenida-
de de suas inspiracoes.
As opinines e o talento poetico do illustre
A.' das minhas PrizSes pertenciam ja a uma
gerajao meia extiiucta, de que elle fora um
dos maiores luminares.
J. SI. DE ABREU.
MOSTEIRO DA VACCARigA
Duracao do Mosleiro da Vaccarica desdc a ska
fundacdo ate ao fim do seculo X. — Desde o
principio do seculo XI ate a sua extinccuu
em 1094.
C'ontinuado de pag. 94.
A obscuridade da historia do Mosteiro Bu-
bulense continiia ainda ate ao tim do seculo
X. Apenas algumas doacoes e outros docu-
mentos ' , que mostram a existencia do Mosteiro
de Lorvao do seculo VIII em diante, dariam
igual noticia do Mosteiro da Vaccarica, se a
pretendida ligacao dos dous mosteiros em eras
remotas tivera fundamentos menos duvidosos.
Assim nao tendo encontrado citacoes de ne-
nhum documento do Mosteiro da Vaccarica,
relativo a este longo periodo, em que as
invasOes, e repetidas guerras dos Suevos,
Wisigodos e Mouros, poderiam ter influido
nos destinos de todas as casas religiosas,
nem sequcr colhi a certeza de ter existido
entao o Mosteiro Bubulense, a pezar de quan-
to se tem escripto da sua historia n'este pe-
riodo.
Se n'esta epocha existiram monges na Vac-
carica, e de crer que se conservassem em
paz, durante o dominio dos Suevos, e ainda
mesmo depois de subslituidos pelos Wisigo-
dos era 38!) ', porque nao consta que n'esses
tempos fossem muito perseguidas as ordens
religiosas, principalmentc depois da conde-
mnacao da heresia prisciliana no concilio Bra-
carense de 563 ' .
Como porem os mouros. na sua entrada
pela Ilespanha, depois da batalha de Guada-
lete em 714 \ destruiram muitos conventos,
a Chronica dos Eremitas de Sancto Agosti-
' Doa^ao de Theoddo C5de dos Chrislaos em Coim-
bra feita a Aydulfo abbade de Lorvao e a seus mongess
de duas herdades em Almafala termo de Coimbra no
anao de Christo de 770. Monarchia Lusilana por Fr. Ber-
nardo de Britto — torn, apart. *,liv. 7, cap. 8.
Uma doa(;iio d'elrei D. Ramiro a D. Ju.io, abbade de
Lorvao, de herdades em Montemdr no anno de Christo
de 848. ■• In nomine ia di uiduie Sanctaeque Trinitatis,
II Donationis, at te.slamenli carta hsec est, eam facere
« eslalui ego Rex Ramirus adiulus diuina inspiratioe
u vobis Joannis Abbalis, et vestris monachis de Lurba-
■< no, " etc. Monarchia Lusilana torn, e part. 2, liv. 7,
cap. 1£.
Um privilegio do rei mouro Alboacem ou Alibosem
ao Mosleiro de Lorvao, isentando-o do trihuto que impos
aos outros mosteiros no anno de Christo de 734. Benedic-
tina Lusitana tom. 1, trat. 2, part, i, cap. 4.
^ Compendio de Historia por Joiio Antonio de Sousa
Doria — voL.4, 4.° periodo da hist. ant. de Port.
■■ Historia del Reyno de Portugal por Manoel de Faria
y Sousa part. 2, cap. 5.
•• Historia Geral de Portugal por La Clede — torn. 8,
liv 3 = Compendio de Historia por J. A. de Sousa Do-
ria— log. cit.
206
nlio fazenlrar fta ronla d'eslcs oMosleiro da
Vaccarii'a '. Mas a inaior parte dos histniia-
doresaflirmamqiic iia Lusilania jaosSerraco-
conos proeediam d'liin modo difl'e rente, dci-
\aiido tiear nosronvonlos os monies que llio,
pagassom trilmtos; e ate uni dos priniciros
reis moiiros, Alilioasou. rujo doniinio seosten-
dia desde o rio Mva e Mondcgo ate Agiieda,
isentoii OS mon};es de Lorvao ^ d'a(iuelle tri-
Imlo, so deriiios erodito a uina carta dc lei
lie 73i, arcliivada no niesmo convenlo, c
citada |)or fr. Lciio de S. Thomaz \
A Chronica dos Carniclitas descalcos quer
que 0 Mosteiro liuhulense tambeni alcancasse
OS mesmos privilegios que o de Lorvao'; mas
ainda que demos pouco peso a esta ultima
uotioia, por nao vermos citado nenhum do-
eumento em que se funde, devemos com tudo
supper que ucsta epocha se conservassem
tranquillos os monges da Vaccarica, na iiy-
potiiese da sua existencia por aquelles tempos.
No dominio suecessivo dos Mouros, e nas
alternativas que se seguiram de reis mouros
« catholicos, uao apparecerara notabiiidades,
(jae me constem, das casas religiosas. So por
uma doacao de terras, castoilos e villas, que
D. Goncalo Moniz, senhor de toda a iiisita-
uia catholica, fez, segundo La Clede, em !)S1,
ao Mosteiro de Lorvao', podemos ajuizar da
«onsideTa-fa«: em que eram tidas estas casas,
c conseguintemeiite do bom pe em que entao
poderia estar qiialijirer mosteiro na Vaccari-
ca. Mas, se El-Mausur, nas suas invasoes a
Peninsula, e ainda na tomada de Coimbra
aos christaos em 987', fazia nos templos e
nos catLolicos os estragos que referc Faria e
Sousa \ e natural que por aquelles tempos nao
ficassem em niuilo descanco os monges, que
liouvesse na Vaccaripa.
Vemos pois que ate ao fiin dt» seculo X
nada sabomos eom certeza sobre o Mosteiro
Babnlense.
Por todo 0 seculo XI temos noticias mais
positivas do .Mosteiro da Vaccarica, em escri-
pturas c outros, documentos, cujas copias se
' Chronica dos Eremilas de Sancto Asostinho — torn.
I, liv. 1, lit. 8, ^. 5, jicitadoapag. 193, not. 3.
■* Chronica dos Cariuelitas Desoal<;x)s turn. 2, livro 4,
cap, 15.
■^ Benedictina Liuitaita torn. 1, ttat. 2, part, a
cap. ■*.
La Clede aecrescenta que, n'aquelle mesmo anno de
734, o rej moaro concedeu aos catholicos o privilegio de
terem em Coiuibra um conde seu e outro em .igueda-
mas o traduclor, n'unia nf>ta, poe em duvida a veracidade
if este salvo conducto. Tom. i, livr. 4.
* Chronica dos Carmelitas Descalcos por Fr. Join do
Sacramento torn, i, \iv. 4, cap. 15, ^. 122.
' ta Clede — torn. 2, liv. 4.
' Historia de Portugal por A. Heccu]ano torn. 1,
introdiicf. n." 3.
' Faria J Sousa part. 2, c.<ip. 8 e 9, « el prrmer inceo-
" diu era en lus templos sagrados: j< el primer golpe en
.1 los ministros dellos, y en los Catholicos de viiia mas
.• inculpable. » Vej. tambem a not. 3. da pag. 193.
conservam archivadas. Das que acharaos no
Livro Preto do carlorio da Se de Coimbra, so
v6 quo 0 mosteiro evistiu por ipiasi todo esto
sTculo, por([ue as datas d'a(iuelles documen-
tos se relV'rem a amies quasi todos segiiidos,
desde 1002 ate 1004, a])parecendo apenas
: algiins intervallos de um anno, um interval-
lo de Ires annos, tres de quatro, tres de seis
e um de treze '.
Todos estes documentos inculcam a per-
manencia dos monges na Vaccarica nos annos
a (|ue se relerem, excepio o de lOiO, relati^
vo a uma demanda entre os herdeiros dc D.
Unisco e o Mosteiro da Vaccarica, sobre a
jiropriedade de Mosteiro de Vermoim, por
onde consta que Todegildo ou Todeildo, ab-
bade da Vaccarica, no tempo em que Ihe'
conlirmaram uma doacao dos mosteiros dtf
Leca e Vermoim, anteriormi'nte leila por DV
Unisco e sou tilho Oseredo ao Mosteiro da
Vaccarica, se achava longe d'esta villa, por
ler I'ugide aos Serracenos n'uma incursao'
que lizeram por estes sitios'.
Nao posse dcterminar o anno d'esta fuga,
nem e tempo que estaria sem monges o'
-Mosteiro da Vacarica, pori]uc nem ao menos'
se acba averiguada a data d'aquella escri-
ptura de conlirmacao de U. Unisco e Osere-,
do, acceite por Todegildo fdra da Vaccarifa.
Inculca ser este documcntc um, que sc
acha mal redigido no Livro Preto, datado de
lOia ' ou antes de 1014; mas esta data naw
pode conciliar-se com a de 1021 *, em que
teve lugara doacao a que poderia referir-se;
e alem d'isso, como ja notaram os sr.' Joao
Pedro Ribeiro ' e Antonio Carvalbo Velho de
* N'outro logar desta Memoria serao apontailas as data^
d'estes documentos, e as folhas do Livro Preto onde se
acham.
- et super valuernnt gentes hismaolilarum super
xpianos . . . et ipse abbas in araore de fide xpi fugivit
ante ipsas gentes. ... El tcnente ipso abbate ipsos mo-
nasterios in su<j jure in diebus serenissimo et principem
nostrum adefonsus re.x. el comitissa lota domna <iue in
ipso tenii)ore ipsum comitatnm imparabat. et post mortenii
ipsius regis et comitissa surrexil filius ipsius rex glorio-
sissimo vermudus principe et in ejus presenlia i>errexit-
ipsa domna cum ipso testamento et cum suas firmitates,
et cum ipse abba et confirmavit ipse rex et suos judlceai
et duces el ex tola palacio ,^
Post obitum de ipsa domna unisco surrexernn-
omnes propinquiores sui et inquietarerunt indo mona^tet
rium vermudi et pervenerunt inde inconciru> ante Judi*
ces menendo. vimariz. pelagium sesnandiz. suarium gaia-
diz. in presentia comite menendo nuniz. el genitricis sue
domna eldora .... octurgavit et confirmavit ipsos ju-
dices ipse prefatus el ipse dux ipsos lestamenlos et ipsos
monasterios ad ipsum abbatem ctijus Veritas erat. Livro
Preto folh. 55. v.
-* Livro Prelo folh. 74 v. (Era decies centena quin-
quies dena 1." inquoante secunda — era de 1051 entrando.
em 1052 anno de Christo de 1013 OK 1014). Pode
haver confusiio niio applicando esta advertencia ao qua
diz o sr. iVliguel Ribeiro d'este docuraento. Mem. cit.
parl.l.' n." 5.
■* Livro Preto folh. 72 v.
' Disserta(;15e3 Chronologicas, turn. 4, part. 3, pag,
138.
2o:
Barbosa ', csta descnconlrada com a epocha
do reinado dolVermudo ou Borniudo 111, que
so ve assignado no niosnio dociinipiito.
0 sr. Yellio da Burl)osa iiiclirta-se a quo
csta fuga tivera logir em 10'J2, I'undado em
documentos, quo diz e\islircm, assignados
u'a(juellc anno pido abbado Todogildo cm
Lcfa '. No Livro I'relo achamos uma doariio
da povoacao do Loi;a (como parece), fcila por
Trastina ao abbado Todoildo e sous mouges
n'este anno do 1032 ', sem mostrar so a
coraraunidade estava em Loca ou na Yacca-
rica; mas, se e este o dotumcnlo ou outros
semclhantes, a que se refere o sr. Barbosa,
no mcsmo caso se acba a doarao de Loovoiis
a Loca, leita por Didacus ao mosmo alibado
e sous monges cm 1034 \ e a doacao de
herdades em Avelenyo, Comparodella e Anta,
I'eita por Aduzinda tambom ao abbado To-
deildo e sous mongos em 1038 ', nao podendo
d'aqui inferir-so que o Mosteiro da Vaccarica
estivera desomparado em todo ostc pcriodo,
porque tambom no anno de 1034 o mcsmo
abbade Todoildo concodeu, na Vaccarica, aos
presbytoros Froila e Vormudo que babitassem
0 Mosteiro de Rocas'; e em 1030 vomos o
abbade Florito e sous monges, acceitaudo na
Vaccarica umas casas dcntro do castoUo do
Penacova, que Ihe&doaram Natalia eslia filha
Palmella ' .
E cerlo porem que esta perseglifcao dos
monges da Vaccai*ica teve I6gar entre os
annos de 1021, em <|ue Todegildo acceitou
fia Vaccarica a doacao de D. Unisco, e de
1040 com que vem datado o documento rela-
tive ii doman<la de Vormoim. E em todo este
period© tivoram os Sorracenos muitas occa-
sioes de assoberbar-se, esperancados nos ba-
rulhos e dissonsoes entre os chrislaos, occa-
sionadas pola morle do D. Afl'onso V de Leao
junto aos muros de Yisou; polo assassinate
do Conde de Castolla D. Garcia, em Leao,
quando alii fora com o intento de dosposar
D. Sancha, irma d'elrei D. Bermudo III,
successor de D. Affonso; e pela morte de D.
Sancho, rei de Navarra, ate a reuniao dos
reiaos de Leao e Castella em D. Fernando
I?.
Afora este revez, nao constant mais soffri-
mentos dos monges da Vaccarica com o do-
minie serracono; e antes se vai conhecondo
0 engrandecimonto progressivo do mosteiro,
pelas doacOes particularos, de quo tractam a
maior parte d'estes documentos; e mesmo no
«■ Memoria Historioa da Antigiiidnile do Mosleiro de
Le(;a.
^ Idem.
■■ Livro Pretofolh. 96. v.
' Livro Preto folh! 97 y.
' Livro Prelo fclh. 95 v.
' Livro Preto folh. 74.
' Livro Preto folh. 45.
' Historia de Portusal por A. Hercnlano. toill. 1, in-
I Iroducj. n.''3.
anno da tomada de Coimbra por D. Fernan-
do I, de Leao e Castella, depois do cclobrc
ccrco do seis mezos, cm 10C4 ', nos apparcce
0 Mosteiro da Vaccarica, cm grande opulen-
cia, lazcndo um invcntario de muilas \illas
e logares, do que era senhor, como vorcmos
mais adiante '.
Dos annos seguintes, vamos enconlraiido
eseripturas no Livro Preto; e ainda oni 108ti
uma doarao da Marmeloira por Arias % e ou-
tra da villa d'Orta por D. Sisnando' ao
Mosteiro da Yacarica; em 1091, outra om
que 0 prelado da Vaccarica da ao do Leca
tudo 0 quo la grangeasse '; e em 1003 mais
outra do prazo do uma vinha em Loca '.
Parecendo mostrar estas eseripturas a
prosperidade e bom concoito do Mosteiro da
Vaccarica, e nao se encontrando documentos
que possam inculear a sua decadentia,
com grande surprcza um anno depois, em
1094, vemos cair esta poderosa corpora-
racao dos monges Bubulonses, por uma doa-
fao do seu convonio e pertencas ao Bispo de
Coimbra D. Cresconio, e aos clorigos da sua
Se, foita por D. Haymundo, conde de Borgo-
nha, governador de Portugal e Galiza, casa-
do com D. Urraca, herdeira dos reinos de
Castella'.
Cora esta doacao, confirmada pelo sancto
padre Paschoal II, em 1101% e por outros
' Na Monarchia Lusitana, torn, e part. 2, li^'. 7, cap.
28, vent trasladad:! nma escriptura de doa^So por D.
Fernando ao Jlo-steiro de Lorviio, d'este mesino anno de
1064, onde se diz que esles monges caadjnvaram a tomada
de Coimbra com muitos mantimentos que ministrarara nos
ultimos dias docercti. O si". JoSo Pedro Kibeiro, na pri-
meira da.s suas Dissertai;8es Chronologicas (loDi. 1, ca]i.
3, paj. 43), inclina-se a que este forneciniento fora antes
ministrado pelos mongre!.' da Vaccarica ; mas esta opiniSfi
nao assenta em documentos, e jd o sr. Castilho a ciJnSi-
derou g:ratuita no terceiro dos seus Quadros Historicos.
^ Veja-se o art. Riquezas do Mosteiro. (n'oniro |.)gar
d'estaMemoTia.)
^ Livro Preto folh. 151* v.
* Livro Preto folh. 48 v.
' Livro Preto folh. 84 v.
^ Livro Preto folh. 65.
' . . . . Ego raimundus coraeS et uxor mea urr.ica
adefonsi tholetani imperatoris IJIia cum in civilate colim-
bTia venireraiis cognovimiis de episcopo domno cresconio
ejusdem civitalis et de suis cjericis quod poterentur
multis nece.ssitalibus et idcirco nos imanitatis
mizericordia corapulsi facimus cartam testanienti .
ecclesie sancte marie superdicte sedis episcojalis de
cenobio uocarice quod eslsitum prope ipsam colimbriam
snbtus monte buzatho Damiis ipsum supradictum ceno-
l>ium cum suis cunctis adjetronibus' . . . . Facta est hec
carta testament! et conl5rmata . . . in era C XXX'II
post M.« .... (Anno de Christo de 1094). Livro Preto
folh. 40.
' . . . . villam quoque vacariviam curts ecclesiis e(
coloniis, ac prediis suis sub jure proprio episcoporum
collimbriensium confirmaraus, sicut ab egregio coniite
raimundo coUinibrienSi ecclesie donata, el scriploruni
testimrjniis ablata est ... . Dant laleranis per nianus
johis sancte romane ecclesie diaconi cardinalis IX Kal.
april. indie. IX, dominice incarnationis anno millesimo
centesimo primo (anno de Cht'tslo de 1101^ pontilica-
tus autem Somni pascbalis secundi pape secundo.
Livro Preto. folh. SS9.
208
( liere> da Egrrja ' . liberalisou D. Raymundo
;i Sf (Ic r.oiiiibra graude parte do grosses
rcndiinentos ijue desfructou ate 1831.
Os docuiueiitos posteriores a lO'.li parecein
moflrar ((ue o bispo D. Crescimio logo to-
mou posse do mosteiro c suas pertencas, dei-
xando com tiulo licar os mouges em coiiimuni-
dade por alguns annos, se bein quo debaixo
da sua direceao. De 1095 temos uin testa-
meiito (le Bailessa e scus lilhos d'lima ermi-
.da de S. .Martiiiho ii cgreja do Salvador de
Coimhia, e ao mosteiro de S. Vicente da
Vaccarica, entao regido pelo abbadc Salo-
niao; leslamento que se fez por assentimcnto
do liispo de Coimbra D. Cresconio '. De 1098
ha um docuinento, per onde se ve que, n'este
anno, alguns frades pediram ao uiesmo D.
Cresconio, ([ue os deixasse habitar o Mostei-
ro de Tresoi, subordinado ao da Vaccarica;
o que 0 bispo Ihes concedeu, cxigindo que
primeiro pedissem conselbo ao prior do Mos-
teiro da Vaccarica, D. Salomao '. De 1099
apparece outro documento de uma dcmanda,
cm que tigura por um lado Pelagio Soares,
alcaide do conde D. llenriquc, e por outro
lado 0 abbade Zoleinia a favor do Mosteiro
da Vaccarica, dando-se a dcmanda a favor
do mesmo abbade *.
D'aqui em diante nenhum documento mos-
Ira a existencia dc monges na Vaccarica ' ; e
' Clironica dos Carmelitss Descal^os — torn. 13, livr.
4, cap. 13, (nao cita documento).
^ Ego bailessa cum filiis meis placuit nobis . . . facere
cartam testaraeoti sicut et facimus ecclesie sancti salva-
toris culimbrie. et monasterio sancti vicentii de vacca-
riza de ilia heremita quam vucitant sanctus marlinus
tic paliais. ipie est sita in territorio cullirabrie subtus
monte viminaria
.... Facta carta testamenti .... sub consensu epis-
copi domni cresconci collimbriensis. et dominante saio-
mone abbate cenobii vaccarize, Livro Preto folli. 90. v.
^ Esro arias didas et pelagius didas et vermudus
iben ildras et froiula jhoniz cum ceteris nostris soriis.
Placuit nobis . . . . ut venissemus ad episcopum dom-
niim cresconium petere monasterium quod dicitur tra-
zoi quia est testamentum sancti vincenti vocabulo vac-
carice sub monte buzaco ut ibi populassemus. et editi-
cassemus ad partes monasterii. Ille antem jussit nobis
ire et consilium petere ad priorem domniim salomo-
nem qui siib sua raiinu tunc iUud monasterium rege-
bat .... Livro Preto folli. 36 v.
* Orta fuil inlcntio inter pelagium sudarij et abba-
tera domnum zuleimam super illam ha^reditatem de ana-
zeti . . . . et ille abbas zoleima dicente sua voce qui
erat testamentum de illo monasterio de vacariza ....
Ego pelagius suariz vobis dorano abbati zoleima in hoc
placito vel dimissionem manum meam roboro. . . . Livro
Preto fulh. 51 V.
* O sr. Miguel Ribeiro, na sua Memoria Historica do
Mosteiro da Vaccarica, etc., transcreve um empraza-
mento, sem data, de herdades em Ventosa, a tres cleri-
gos, no tempo do Bispo D. Goni^alo e do governo de D.
Thereza, e por isso feito entre 1112 e 1123, ou antes,
e tarabera segundo o mesmo ,\uct., entre lioy e 112H,
<Ioude coUige que n'esla epucha ainda a Se nao estava de
]>osse de todos os bens e propriedades do convento. Esle
documento, nao considera os tres clerigns como (rades da
Vaccari<;a; e, aiuda mesmo admittindo que o tiveram
)»ido, nao p(jde colligir-se que figurassem alii como cor-
nos documentos posteriores apparece o Bispo
e a Se de Coimbra em pleno dominio do
mosteiro c suas p('rtencas, como se lora uma
casa particular ' .
Cantinua *. *. da cosxi SIMOES.
A POESIA. SLA.VA MODERN.^.
Continuado de pag. 17K
As faces d'Ikonia comefain a corar-se de
vergonha. Esperancada aiuda dc que podera
escapar a este veiho, pcga da sua buzdovana
de cabo de prata e de castao d'oiro, que pesa
com okas, e mencando-a por cima da cabefa
a arremessa as nuvens com toda a sua forca.
A massa voa como um relampago, e sibilando
vae cahir d'alli bem longe. Marko, lilho do.s
Avals, nao pode soffrear um grito de admira-
cao. 0 desconhecido torna dc novo a escarne-
cer a cobardia dos nobres espectadores, e
mormeute do Kralievitj Marko. « Principe
de I'rilip, o nosso povo nao se canca de
glorilicar nos seus cantos a tua poderosa buz-
dovana ; mas parece-me a mim Marko, que
andarias melbor se em vez da massa, pegas-
ses de uma penna delgada dc corvo, e te
puzesses com ella a dcscrever a tua paixao e
languida pelos atlractivos da I'ormosa donzel-
la, a ver se a decidias a que viesse, no teu
castcllo de Prilip, servir-le a ti de esposa, e
ii tua mae idosa de criada. » Marko dcsculpa-
sc dizendo que lizera voto a Deus de nuiica
arremessar a sua buzdovana se nao para
esmagar o pcito de um inimigo. Entao o
desconhecido, voltaudo-se para Ikonia, repe-
te-lhe rindo: « Beleza sem par, antes inarido
velho que sera marido, » e arremessa pela
sua vez aos ares a buzdovana. Parte ella lao
ligeira, que nem mesmo se ouve sibilar, e
depois de ter ultrapassado o termo marcado
por Ikonia, cae encravando-se na terra at6
ao castao. 0 velho Bogdan t'elicita o desco-
nhecido pela sua forca prodigiosa, e pcrgun-
ta-lhc por que razao tern dcmorado ate tao
porariio do mosteiro, e nao como particulares ou frades
secularisados. O emprazamento foi o desfecho d'uma dc-
manda, que se deu a favor do Bispo, por se ter provado
que as dictas propriedades perlenciam ao Mosteiro da;
Vaccari(;a : d'onde tambcm se coUige que a i\litra n'esse
tempo ja possuia todas as perten<;as do Mosteiro, que
nao eram contestatias. Livro Preto folh. 41. Acha-se
publicado na citada Memoria do sr. Miguel Ribeiro, prova
n.oil.
' Veja-se o tempo em que o Bispo de Coimbra dooa
o Mosteiro da Vaccarica ao CoUegio de NossaSenhora
da Graca. (n'outro iogar d'esta Memoria.) f
^09
(aide 0 seu casaraonto. — » A culpa, diz o
vellio, 6 de niinhas madrinhas, du minlias
fiinhadas, de minhas primas e de minhas
lias, que nao tiveram o cuidado de me casar,
e eu pohie solteiro, nao souho acliar mullier.
Mas por lim, lioje, precisamentc no inslanle
em que toco nos nieus ccm annos, eis que
chego a alcancar a bella Ikonia: aquella que
nao tern rival del)aixo do sol, sera para mini,
vellio ceiitenario, que a alcancarei para
vergonha dos heroes servios. » Disse, e vac
perder-se no meio da multidao.
Ueslava a ultima prova, a do arco e da
vista tcrlcira. A bella Ikonia, toda palida e
com as lagrimas a descercm-llie pelas faces,
pcga do seu arco d'aco doirado, que I'ora
alinado ]ior novc annos n'um logo ardente,
e que por oulros nove I'ora lemperado no gelo.
Solta-se jiara o ceo o falcao proso a um lio
de seda de mil hrafas de comiirido. A ave
iia regiao das nuvens nao apparcce ja senao
como um ]>onto negro, que uns ainda veem,
mas que ja oulros nao distiuguem; a joven
Ikonia seguc-a porem com vista scgura, e
disjiara para ella unia das suas douradas
I'reihas. A seta mortifera, tinlia voado sozinha ;
mas ve-se em breve ([ue vein descendo em
companliia do folcao todo cnsangnentado, ciijo
coracao traspassara. Vendo isto, e clieio
de enthusiasmo, Miloch Oliilitj nao p<)de
esqnivar-se a dizer a donzella: « Nao e um
simples heroe, mas sim um Isar, Ikonia,
(|iie tu niereccs para csposo. » Disse, mas nao
se medic do seu logar, e eisque do novo o
velbo desconhccido se adianta, o insulla
rndemente Miloch Obilitj pela sua falta de
coragem era enlrar na lucta para alcancar a
Ibrniosa donzi'Ua. 0 hello Milok responde qu(!
jit lem unia esposada, e que a sua alma e
assaz pura para requestar duas damas ao
niesino tempo. « Nao sera culpa minha, e.x-
dama o velho, se por (im tens de pertencer-
me. Jii que lodos reniinciam a lua mao, nao
aregeitarei eu. »Doitchin o enfcrmo, esperan-
doque faria desanimar o desconhccido, conieca
a chasqueal-o. « Escuta, men velho ccnte-
nai'io, quero dar-te um conseHio: o honicm
em (juanto vivc, teni sempre que aprcnder.
Ora pois! Sc nos tens mostrado que conservas
ainda todo o vigor dos tens membros, nao to
arrisques a passar peia vergonha de nos cer-
titicar que tens a vista perdida. E mellior
que pouhas OS teus oculos; olha que val a
pena, por ([ue lens de acertar a mil hracas
de altura. » Soltam lodos unia gargalbada, c
0 velho riudo tanibem, responde a Doitchin:
obrigado, amigo, peloconselho! mas ainda nao
eslou como aqtielles carneiros que vao perden-
do o pelo. « Faz subir o falcao aos ares, e
quaiido este ia chegando a altura convencio-
nada, o vclJio assobia: n'um inslanle o seu
cavallo selvagem corre para elle, o heroc cen-
teuario salta-lhc cm cima, o animal parte a
galopc, c na carreira'o velho despede a sua
frecha. 0 tiro inevitavcl vai Iraspassar a
cabeca do falcao, e o faz cair sem vida no
meio da<iuclla reuniao immensa.
0 desconhccido caminha em triumpho para
0 voicvoda Mirko, e Ihe diz: Meu querido
sogro, agora accredilaras, que nao sao neni
OS annos, nem a barba branca, que nos lornam
vclhos; conlia em Deus, que por fim de conlas
sal)(^ sempre tornar o mal em hem. E tu,
minha heroica bellcza, rellecte profundamenle
no que von a dizer-te: ([uanio n'este momenlo
me estiis olhando de traves, tanto me abra-
fariis amanlia de contentanienlo. Por isso ate
a nianha, e prcpara-te para o que lem dc
durar sempre.
Iletira-se, e some-sc por entre a multidao
consternada. Todos lamentam a sorte da for-
niosa Ikonia. Ella, a coitada, relirada no seu
aposento, desfaz-sc em lagrimas. « I'ara ([ue
me havia de eu retirar do men ollicio dc bordar
e das modestas prendas do meu sexo? Quiz
fazcr d'amazona, e seguindo os exemjilos das
heroinas d'outras eras, ganhar um esposo na
lica dos valentes, e agora eis ahi como acabo
dc ser punida! Mas esse velho insensato, ([uc
ja com um pe dentro da cova, pretende des-
posar-se com uma menina, nao devera elle
tambem ser punido? Deve; e eu lomo sobrc
mim 0 inlligir o castigo que anibos nos me-
recemos. Sera envencnado junclamente com-
migo. Pois ((ue a sua loucura c que nie arroja
para fora do mundo, e de jnslica, ijue tanibem
elle o abahdone. » Cheia de lao feinestos
pensamenlos, parte como um raio, e vai,
jielas montanhas verdejantes, procurar de-
iiaixo das pcdras cinzentas as aspidos vene-
nosas; e\tralie-lhe o veneno e o Iraz para
casa, onde o mistura com o mais gciieroso
vinho de Uiingria; c depois lica csperando o
seu desposado.
« Os preparatives da boda sao esplendidos.
Cliega (inalmente o pretcndido. Vcm adorna-
do como um pavilo, Iraz desponladas as
suas long.is barbas braneas, ve-se-lhe luzir
a pomada nos seus asperos bigodes, e o cen-
tenario surri para os convrdados, como um
joveri iuiuili (cavalleiro). E a pobre Ikonia,
tambem elfa chega. Todo o salao resplandece
com a sua I'ormosura. 0 seu vestido de seda,
tecido de Ihama de prata, brilha dcbaixo de
um veo purpurino, como a neve dos Karjialhos
debaixo dos rosados fogos da aurora. Todo.t
OS convivas se assentam na ordem de sua
jerarchia, e era frenle de Ikonia ^sonta-se o
seu velho noivo, o qual, radianle de alegria,
Ihe torna a repelir: « Lcmbra-te beiu do que
tc digo, minha belleza sem cgual: quanto me
olhas hoje de traves, tanto te chamaras ditosa
iimanha por me abrafares, tendo reconiiecido
na minh'alma a alma que ca na terra mais se
asscinclba a tua. » Entregue porem intciramen-
to a sua dor, a formosa Ikonia nao sabe com-
210
prohendor estas palavras. Sol)rc utiia liandeja
(I'ouro clla aiirosciita ao sou noivo os ddis
cojms quo tinlia pro|)arado, o llie diz: » Ton\a
mil dosU's, c hehe-o ii minlui liuiira, om (]iiaiito
(1110 oil l)oberoi o oulro ii tua saiido. — .Viiida
i]ilo oil M)ubosso, rospoiido o vollin, i|iio oslo
vinlin oslava oiivoiieuado. noiu jjor isso doixa-
ria lie liol)ol-o por sor olVorooido jior liias
iiiaos. >) E dospoja o coiio, som llio doivar
uma giiita. Ikonia ollia para olio doliulliada
0111 lagi'inias amargas, o toniando loiiiiniu'iito
I) sogiindo oopo, laniliom olla o dospoja. N'o
cutaiUo 0 coiUonario, vondo (luc lajjrimas
ardontos rorrom pola faoc dc sua noiva. Ilea
eutornocido. Nao (|uor lovar o frraoojo mais
adiante, o laiioando fora a oabolloira, as
harhas postioas, a mascara onrugada o o sou
manlo hiilgaro, moslra-se, como e roalmcnlo,
uiu maiuobo do trinla annos, o mais galanlc
do imporio sorvio, o proprio irmao do Ikonia,
lladovan! A esta vista, a desditosa donzolia
lioa fria de marmore. Dobalde sou irmao a
estroita em sous brafos, dobalde ella fixa sobre
elle um olhar polrilioado que parooc pedir
(liic a revoque a vida. 0 vonono subtil a gola :
0 por lim cae morta debaixo de milliares de
heijos de sou irmao, que bem deprossa die
mesmo se soute desl'allecor. » You unir-me
comtigo som pozar, minba quorida irma, ii'um
tumulo oommum. Dous nao (juor que iios
cstojamos soparados. » E solta o dorradoiro
suspire sobro o poito de sou volbo pac, que
sente, olle tambem, focharcm-se-lhe os olbos
pouco a pouoo. No dia soguiuto, numorosos
■senboros, convidados para a boda, rosliluiram
a terra tres oadavoros illustros e se disporsa-
ram silonciosos. Desde entao ate hoje, o
castollo de Bordnik fieou abaudonado. Con-
tiiiua ainda a dominar com as suas ruinas
.soinbrias as risonhas planieies de Syrmia e o
branco mostciro do Ravanilsa; mas as vitas
das nuvens vom ali muitas vezes de noite
colher novas floros, rebontadas das raizes
outr'bora somoadas por Ikonia, c que o vonto
das ruinas lorna a semoar em cada outomno
nos logaros ondo olla tornou a oncoiitrar sou
irmao. Dopois, ontranoando ostas lloros nos
sens cahollos azulados, ostas musas da nossa
palria dausam o sou kolo aos raios da lua
aniiga dos mortos.
11a mais (pie uma lioao para aprcndcr
nosta ballada. P.oconboco-se logo quo Sub-
bolilj ipiiz nolla dar as suas ooiupatriotas
preooilos de moral ospiritualisla. Demais toda
a obra se aprosonta como uma hoiuonagom
ii pnreza dos costumes da familia. Tudo isto
conrorma-se. o mais possivel, com a jjhiloso-
phia do fioii-sh. E por isso quo a exten«a
ballada do Subbotitj nao se distingue das
verdadoiras rapsodias popularcs sonao pola
degancia das t'ormas c pola pureza classica
do cstylo. E assim que nos entendemos que
0 ymi.sle dcve fornocer aos poelas slavos mais
bem inspirados o raoto, o granite bruto, com
([ue dies podorao edilioar, pda abstraccao
ideal, nioiiumoiitos immortaos.
Com ostas rapsodias puraiuonte cpicas con-
trastam oniro os poctas sorvios os i'ragmontn5
tiagioos, OS soubos sombrios de um ]iatrinli.s-
mo comprimido, os gritos I'ugazos das jiaixOos
viiiloulamenlo rocalcadas, os dillnraml)os ar-
dontos e as ologias. como a quo Slauko-Vraz
iiililula n lumlxi do Iraiilor (Grub Izihiiice),
ua ([ual se rolloctc com onorgia o liorror dos
Croatas para com aiiuollos de sens irmaos,
(pio, voiuloudo-sc ao gormanismn, vondom, no
onti'ndor dollos, a alma ao domouio.
Quo tumba maldita o ai|uolla guardada por
um corvo negro om continuo grasnado? Ave
do niiiu agouro, por que nao doixas nunca cssa
tumba solitaria? — Estou aqui para porluri)ar
0 doscanco de um rcnegado. O la, oapilao,
as taboas do teu caixao sao posadas? Tons
saudades da tua amanto, do teu sabre ou do
tou lindo cavallo dos combalos? — Das on-
tranbas da terra, uma voz gomobunda respon-
do ao corvo lugubre: Ai! nao tonho saudades
nem da minba joven amanto, nom da minha
boa espada, nom do men cavallo de guorra.
0 que me opprimo, e a maldicao com (pie
OS mous me persoguom, e a discordia que a
minha traicao somea por entre olios, e que
nosta bora anna irmaos contra irmaos. O
meu supplicio e ponsar eu (pio, a troco de
uma pouca do gloria, vendi a minha patria a
sonhoros oxtrauhos. 0 ([ue mo devora, e o
tor prol'orido ao amor dos mous algumas vans
docoracoes progadas sobre o mou jioito por
maos de gcnoraes opprossorcs da minba raca.
Estas cruzos malditas e que mc estao agora
esmagando. Esta arooJa de nm dia e o fogo
inlornal que me consome, e que obriga a
minh'alma, expulsa de todas as partes, a
voltar aqui todas as noitcs, para diligonciar
0 ontrauiiar-se de novo nos mous ossos e ver
so ao monos aqui aclio algum repouso. Oh!
nao haver mao compadecida que dosenterre
0 mou cadaver, quo o lance as avos de rapina
e (juo apagiio ludos os vostigios da minha
so[Hiltura, para que nao lique signal de mim
por toda a terra! — Assim se lamonta a alma
do iraidor, mas nao ba ouvidos que a cscutom;
OS corvos grasnadores sao os unicos que a
comprohondom, e ((uo a iusultam .... Deus
se amercoe della c ponlia lim ao seu tormen-
to! ((
Como acaba de ver-se, ontre osIllirio-Servios
0 gouxlo combinou-so facilmonte com a pocsia
oscripta; e oncontrou om Subbotitj, em Stan-
ko-Yraz e em Oslrojinski intorpretos liois que
soubcram o|)erar osta allianca dolicada sera
altorar considoravelmonte os molos populares.
As outras tres povoafOes slavas torao sido
cgualmontc fdizes? E o que nos falta ainda
examiuar.
Carilinia.
211
ESTAT.STICA PATIIOLOGICV DOS IIOSPITAES DA D.V.VEas.DADE.
nOME.NS.— ENFCRHARUS DE MOLESTUS INTEBNAS-
■TRDIESTnE DEJLLIIO A SEPTEMBllO DE I8of.
EDADES
47 I'Vhre
6 Fflire iierxo^a ....
5 Kilire g.islrica ...!!'.]
" " Aliccsst) do fifjado
" •> Alitesso n'iniiu pirnn ...'.','
" Co, 1,1, extninho iia coriua csnucrda
inlerrnilk-iilc ' " . .
" " Kheumnliimo iirlinilar chroiiic'o
** Bronchite ....
Edcmicin na> eitrcmiilaJca infe.
rierfg
" " Ohslr:,r^i'io do ba^o . '. , .
^ •• (Mslnicim do boro-Uronchile '.
" ' crmes inletthinis ....
5 Fclire inli-rnnllcnle ga.-lrica . . """""■ • •
2 Allium
13 Hiieiruiuoia *'
» Diarrhea ....
1 PricnniQnia chronica ..,'*'*"''*
6 f'lciircsia
3 G..slrile . ."
2 Gaslro-cntprite
I KiiliTu-nenluiiile .
1 Hepalile . .
2 Oplilahnia . . .
1 Ervsrpi-la na rabei;a
3 Er)M|,cla pill,.
1 I!l, , , • ''''"t'"o8'' "as ejtremidadcs
I liMciiiiiaiismo aiticnl.ir
10 Klkllnialisiiiu ,
arlicul^ir chronico
Diarrhea
2 Eheiimalismo muscnlar
5 Bruncliile
" Hirysipcla na face . . ',
. D ' , . ^'"'■as tiu trachea > . .
3 Urunrbile cbruiil.-a
E 17 1 " I'leureiia . , .
b tnibara^o gnslrjco
T n,'!,„„ 1 • " '3hatrucp1o do baco
1 Ejiilt-psia . , , ,
4 Ciaslralsia . _
1 A(iij|iloxia . . , '
1 Paralyija peral inromnlela'
1 I aralj,sia do lado esquordo d
a Faraple^'ia .
1 Ainaurose . . ,
12 Tisica jiulmonar . , '
Obilrueiao do bafo-Atcile
squordo da faco
1 Tisica loryngea
8 Asfile .
" Albuminuria
3 H^'drothorax .
" Anatarca
o Anasarca
J Heraorrhoidas
1 Ciilarrho vesical
2 Diarrhea .
1 Anemia
1U7
*« lericia yjljcesnn x//. ff »„
.'erlrophiadoi
6 Obslrucv-rlo do ba^o'VT"'"™'""'''''^"'^""""""'"
1 H
■fS30 do Jigado
bC°!:!":;:'t'?"^- - /^vr«u„... i Weu„
Cancro do eslomago
lilfplianliase ~
Mu!e..ias „ao clas-sifiiadas (nm e-iirou m^riluadoi i
15
CJ
1
1
1
32
1
1
2
1
5
2
12
1
1
6
3
2
1
1
2
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3
1
9
1
2
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1
1
2
1
5
1
1
1
4
1
I
1
5
1
43 103 40
187
212
Movimettlo
V.W^ViMW
I'jitriir;ini >
S'liram
Fnllecernm
Relac;rio Jo3 falleciclns para os elllrad.is
para OS saiiios
para toiljs os Iraladus (exi&lentfs e cnlmdos).
JlltllO
Motiniento rf« lo'tns as etiferiiia^-ias ths fiespitties
{la universiitaite em todo o tririttslre.
Evisliam
Enlrarain
Sairam «
Falleccrnm
ReIa(;.lo dos fallrcidos para 03 entrndos .
para 03 saiilos
]:ara tndtjs os (ral.idos (exis'enlcs e en-
traiKis)
Ho mens
103
393
328
50
1.7,9
1:6,5
1:10
37
72
50
9
1:8
1:5,5
1 12,1
Mnlherts
70
240
«)0
22
1:10,9
1:9,5
1:14
Observo^iles imteorologicas. '
(Temp
Media s
(Altnr,
nperatiira atmospherica at) uieio dia .
lira liaronielrica a 0.° Ceul ,
Venlus preiloaiinantes ,
luslilnlo Vol. 3, N.° U.
Jijoslo
4 9
50
43
18
1:3.1
1:2,3
1:5,11
Setembi 0
1.5,4
1 3,4
1 I!. 4
I lo melts
U
1
1
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Jl.l'lO
21" cent.
mil
75i,7i6
NO. O. e
J NNO.
Agosto]
Trhitt slr
cent.
23," 12
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751,60.1
NO. O. e
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145
42
1:5
1.3.4
1:5.8
TodoB
190
640
5.i9
72
1:8,0
1:7,4
1:11.6 1
Sep'enibro
23 64
mil
75i,773
S. SE. e
NNO.
NeslP trjmeslre ve-se maior morlaliilude dn
que a ordinaria nos lio^piiaes da uiiiverjida-
de ; e esla dift'oreiK^'a aiiida se lorna mais 110-
l.Tvel na morlalidade dos doentes de pueii-
iiioiiia. No Irimeatre passado vi ()iie a iiialor
rnorlalidade dos piiuiimonicos liiilia recaido
fill doentes que eiilrardin no hospital coin
niiiitob dias de moleslia : agora e provavol
que subsista a inesma raz.'io; mas nao o posso
a^sevorar, porque o men eslado de saude iiii-
pcdin-ine de f'azer o servi^o do liospilal em
grande parte do trimeslre. 'J'ainbeni por este
inotivo, nao posse avaliar, conio de^cjafa, as
cansas da rnaior rnorlalidade era todo o lioipi-
tal, no tnesmo trimeslre.
A. A. Di COJTA SIMOES.
ERRATAS DO VOL. 3.% N."
Png.
89
r.inh.
28. 29 e 30
47 e 47
Vento« prcdomiii
dilos de Jiiohu
de Ma
En-OS
i Snrna
I OhstrtieQi'io do Oago
(2 Eiiiliararo gaslrico
.^8 lironrliilu
(2 Hroiicliile chronicn
S Anasarca
f Anasarca Aseite
) N.O. S. e SO.
N. O.N.eS.O.
Eiitendas
OHtme^ut) do bfti^o
Stn-tuf
B Broncliilo
^ lirnucliite chronico
2 Kiiibararu irastricQ
Anasarca
f» AscUc
NO., E. 0 SO.
^•0.,N. c SO.
I
(D 3nstitttto,
JOUNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CMVERSIDADE DE COIHBRA— PROGfiAMMAS,
FACULDADE DE DIREITO.
1853—1834.
1." ANNO.— 1* CADFJRA.
HtiTOSIA niZRAl. DA JrRI^PRFDGNCIi , E A PAKTICt'LAB
DO DiaKlTO UOMANO, CANOMCO E PATHIO,
Lenle — Or, Joaquim dos Reis.
COMPBSDIO — MAHTISI , OKDU HISTORFaE JURIS CIVILIS ,
COMMBRICAR 1844; — B M. A. C. DA ROCHA , ENSAIO
KOBRB A HISTOHIA DO GOVERNO, B DA LBGISLATAO
DR FOHT^GAL, COIHBRA 1851.
Eosino primeiro a no^uo da natureza, Gm e o)>jeclo da
Historia du Direito Romano; a iitilidade d'e^ta , as 8iias
(livisdes , e o mellior melhodo de a estudar | indjcandu
OT livros necessarius para esle Om , lanto aniigos cumo
modernos ; e depois fa9o a divisao da hisloria em epo-;
chas , aegundo os diversos auclores.
Dou uma iiulieia breve dus costumes, governo e leia
das na^Ses , que prerederam us Romanos ; dL'(endo-me
niais na historia dus Hcbreus , Eiypcios e Gregos , por-
que 8uas k-is serviram de foiiUs as romanas.
Na historia romana dou , em cada uma das epochas ,
noticia do f^ovemo e suas allera^Ses ; do 2;enio , doa
Dosluities da na^-ao ; magistrados, fonles das lels, codiiros ,
e ealado da sciencia do Direilo, continuando com esta
hiatoria no imperio oriental ale ;i sua extiuc^So, e tam-
hem com a do iifcpcrio occidrntal ; — dos povos que o
conquistaram, e du legi-ila^ao propria dos Godos , Lom-
bnrdos , e outras na^oes , que n'clle se estabeleceram.
Moslro (pie no secnlo 12.° foi o eslndo do Direito Ro-
mano rcnovado por Irnerio , e continnado por Accursio ,
Barlholo , e Cujacio ; quaes os methodos, de que usaram
estas escbolas ; u finnlmente como o Direilo Romano ec
tornou conliecido em (oda a Eurupa , e eiitre u6s.
Passo depois a historia do Direito Porlui,'uez , que
divido em seple epochas com o compendio. Exponbo na
primeira o eslado da Lnsitania antes da conquista dos
Romanos, c quat era a sua furma de ^o\erno, rcligiao ,
civiliza^rio , riquezas, coslunir>s e h-ls.
Na se^unda epucha conlint'io a tiii^toria da Lnsilania ,
quando foi redwzida ;i provincia romana ; qua! foi o e>la-
do d'eela provincia no tempo dos imperadori-i ; a sua
furma de goicrno, leis , civilizn^au, prosperidade e reli-
giao ; como se introduziu a cbrislii , e os factos notaveis
da E^reja lusitana.
Na terceira epocha relalo a invas?to doa barbaros , o
CBtabelecimenlo dos Godos na Lnsitania, e a sua fueao
com OS Romanos e indigcnas, e qual foi a sua forma de
governo; a aucloridade dus concilios , dos bispos e dos
nobres ; a Uisturia das leis antiiras dos Godos ; do codigo
Wisigolhico, da rebgiao doe Godos e das egrcjas mais
anligas ; dos concilios e bispos nolaveis da Lusilanta ale
ao principio do sfculo 8.°
Na quaria epocha dou nolicia da invfisUo doa Sarrace-
no8 ; da ongeui e jirogresso do rcino de LeSo ; do eslado
da Lnsii.inia n'esle tempo; da sua forma de governo,
Vol. III. DEZEMBao 1."-
don concilioR , do anj;mento do poder do clero c rios
nobres; e Onalmpnte da legiala^Jlo e do fAro de Leao ,
do estado da Egreja lusitana e do progresso da vida mo-
nastica.
Nn quinia epocha apresenlo a historia da funda^ao da
monarchia portugneza, e da separarSo e independencia
dePurtugal; do seu governo, le^isla^So, adrainistraqSo
<ia jiK'ti^M ; do extraordinario poder ila ordem eccleaiasti-
ca , do poder da nobreza ; e Gnalmente do eatado da ia-
dustria , instruc<;iJo , e da Egreja bisitana,
Na sexla epocha refiro qual foi a forma de gOTcrno , a
snccessiio da cnrcja ; a Jnfluencia da c(Vte de Roma sobre
as Cdusas de Portugal , a adraissao indislincla do concilio
de Trenlo por D. SobasllSo, e o recnrso a cor<5a j e o
eslado da nolireza ; a hisloria das Ordena^oes AfTonsinas
e Mannelinas , das reformas seguintes da leg(sla);3o e da
coiIec(;ilo de Duarte Nunes de LeSo, da reforma dos fo-
raes por D. Manoel , e da lnslruc(;3o e juriaprudencia ;
da introduc^'io da inquisitjao em Portugal ; da separa^ao
da Egreja porlugneza da hespanhola ; do eslabelecimenlo
dos Jesuilas em Portugal ; e dos bispos porluguezes nola-
veis.
Na aeptima epocha conclno esia materia com a histo-
ria <Ia occiipa^ao de Portugal por Philippe II. deHespa-
nha , e da acclamai^ao do duqne de Bragan^a em 1640;
da forma do governo ; da ordem lio clero ; da ordem da
nobreza; da legislarao e da induslria ; da fazenda publi-
ca ; da iostruc^-So e jurisprudencia ; e finaluente da
Egreja lusitana.
Por falta de tempo limilo a Iiisloria do Direito Cano-
nico a uma nolicia breve das colU*c{;oes do mesmo direi-
to , e deixo o seu mqjor desinvolvimento para oa doit
annoB du curso de Direilo Canonicu.
•*^^
1." ANNO. — 2.» CADEIRA.
DIREITO NATURAL OU PHILOSOPHTA DB DIREITO,
B DIREITO DAS UE.NTBS.
Lenle — Dr. Vicente Ferrer Nefo Paiva,
COMPENOrO — • V. p. N. PAI7A , ELEMKNTOS DB DTREITO
NATURAL, OU DE PHILOSOPHU DE DIREITO, COIMBRA
1U50 ; — E RLEMEMTOS DE DIREITO DAS GH.-<TB8,
COIUDRA 1850.
DIREITO NATURAL.
O compendio, nproveitando a raelhor doulrina, que
86 enconira noa princlpaes escriptores de lodas as escho-
las , das quaes da conta em uma lal)ella , segue princi-
palmente a efichola allema. E dividido cm qnatro partes.
Na part, I. Iracla du.s principios geraes de philoso-
phia de direilo, e i subdividida em Ires se echoes : na
].* occupa-se da no^ao , fonles , characteres e subsidios
do Direilo Natural , na 2.* dos limites e divisao do Di-
reito Natural, e na 3.* da ulilidade e systemas do Direi-
to Natural.
Na part. II tracta do Direito Natural absolulo, ee
subdividida era Ires 8ec<;5es : na 1/ tracta dos direiloa
absolulos , na 2.* da natureza dos direitos absolutoa, e.
na 3,* das obriga^Ses absolutai.
-1854. NcM. 17
214
N.i pari. Iir. Ir.icta d<» Direllu NAlural hypothelico , e
t,- suliilivitli.Ia em sppte (iec(;ue8 : n.i 1.' tracts da acqiiisi-
V'lo imnKHliata , na 2.* (Jus dirt-itos c exliiic^to <In iluiiii-
nio , nrt 3.* das Iceues do duininio , na 4.* da ac(jiiisi(;ilo
mediata — coiilraclos em {jeral, na 5.* das diversas enpe-
cies de pactus , na 6.* da suciedade em geral , e na 7.*
da fAmilla.
Na part. IV. irarta das garanliaa do Dircilo inlernas
e e^ternaji.
Nas miiihjis preIeci;oes oraes sifro principalmenle as
durilrinas de zeilek , KU-ifsB, ihukss , jouffroy , db-
J.IME , etc.
OIREITO DIS GE.NTES.
O compendio fiinrla-se nus principios de Direito Natu-
ral do compendio anterior, t\o qiial e iima conlinn«(;5o ^
applicando o Oireito Natural puro us rela^ues interna*
cionaes. E di\ididu em cincD partes.
Na part. J. Iracta dos principios ^eraos do Direilo das
Genlf 8 , e e sididivldida em dims ser^'ue? : na 1.* farla
da noi;aOf orig^em e cliaracterea du Direilo das Gentes ,
e nft 8.* (hi soberaiiia.
Na part Jl. (racla dos direitos daei na^oes em tempo
dc paz, e « £nljdi\idi<ia em .pialro sec^-oeis : na 1.* traeta
"li> Iransilo , ita 2." do ac^lo, ua 3.°- do coiumiTcio, e ua
4^* dos exiraiiLreiros.
Na part. 111. tracia dos direitos das Da^uPt> em tempo
dc gnerra , e e snbdividida em nove s^ec*;**' » : na 1.* Ira-
cta dos principioi yeracs do dirrilo da guerra , na 8.'* doa
meius de faacf a giierra , na 3.* dos prisioneiros , na 4*
das repreaalias , oa 5.* dos Iransfugas , na 6.* dos rorsa-
rias e piratas, Dft 7.* do bloqueio e sitio , na 8." da
ncutralidade , e na 9.* da virluria.
Na part. IV. tracia dos raeitia d'eslabelecer , conser-
Tar e reslabelecer a pal , e e snlxJividida em nove sec-
^oes ; na 1." Iracta dus tractados em gera! , na S." dos
Itactados de comaiercio , na 3.* dos lrncta<Io8 de federa-
rao , na 4.* dos Iraftados d'alliari<;a, na S.** daa Irfjroas,
na C* do »a|vu-conducto e da Mlva-fruarda , na 7.* da
capilnlatjuo, na »,• dos tractados de jwz, e na 9.* dus
se^iiiranras do« tractados.
Na |>art. V. tracia das pesHoas encArrcj:adas d'eslabe-
lecer , conservar e rvstabelecer a paa , e e snbdividida
eiu ciuco sec(;dt:s : na I.* tracia dos aitentes dtplomalios ,
na S.* dos consules , na 3.* dus medianeiroi , na 4.* dus
arbilros , e na 3,* dos coiipreseog.
Tambem tem nm app^^ndix sipbre a ettquela.
Em minhas prelec(;ties oraes siso de preferencia as
iloulrinas de vtTTEL, maktuns, bigcklme, s. p, fer-
HEiKA, otr. , occommodando-as ang principios de Pliilo-
fophia de Oireilo anterioraieule ensinados.
l." e 2." ANNO — 3. » e 4.* CADEIRAS.
CURSUS BIBNNALIS iURlS ROMANI.
Profcisorea _ J O. jiat^nins Nmic* de Carvnlho.
\ D. Fridtricus de Azevedo Faro Xoronha*
COiiPBNDIUM — D, JO. P. WILDRCK, I.\STITUTI0NE3 Jl'BIS
CIVILIS HEIWECCIA.NAB, CO.NI.MBRICAE 1849.
CO-HSPECTtS PRAELECTIOSUM, QUIBt'S PRIMA ELEMB\TA
JURIS CIVILIS RO.MAMI, JLXTA UHDINE.M INSTITUTtO-
MM Jl'STIMANI IN ALMA COMMBRICENSI ACADEMIA,
PHIMO ANNO CURRICULI JURIS JUSTIMANBIS «OVIS
TRADUATtR :
Doceute
D, Antonio Nutict de Carvalho ,
Reginae Fidelissimae a Consiliis, Juris Civilig Profes-
sore Publ. Ordin.
MATERrEM SUPPBDITANT
Inslilutiones Juris Civilis Heineccianae , erawidalae
atque reformatae a d. jo. petro waldeck, jurecon-
suUo eximio, et olim facnllslis jnriilicae ffoUin-ensis
ornamento. Edilio quinta conimbriceneia , typjs academi-
cis tvulgata , anno 1849 , uno vol. 8. moj.
ti Ut omnia inslllutionit ncademicae, ila ct Imjits, tit
« qua ver-^ainnr , ta est iiulules , «l lis, (pii ea ulimtiir ,
r« tunc denium fnirtiiosa .sit , el sahititris , si pracler
(4 idnneam praeparalionem , et in undicndo dili;;entiain ,
<i domi'sticae repetitionis, el indiislriae atlflidiiitatem aiilu-
it beanl , t<im nieililiindo de rebus , qiia.>i in srholis co^no*
It verinl , tuin libn-s boiiae frii;:is liruiiibus scriptos sednlrj
« It'Si-ndii et conferendo. » H.tnbold, Inst, Jur, Rom.
Priv.y PruUg. cap. 3. ^S. 34.
PROEMIUM INSTITL'TIOM'.M.
Prneco^nita historiae liternrioe ad i^tndiiim Juris (,'i\i'
lis vnlde ni'cessaria. — N'otilia liislorica Corporis Jnria
Civilis, et mutiva rolb-itinnis. — De Jii.sliniano colle-
cliiMiis aiirture. Corporis Juris (Civilis partes, — Adpen-
dices Corporis Juris. Siibtiidla ad penitiorem Juris Ho-
m«ni intf llectnm adNequembiin niasime c<mdiicentia :
flftii instiliilionnm cominenliirii , el fniirnirnta Valicana
ncnissime reperta : paraplirasis graeca Theophili a Kei*
tzio laline redtlita.
Usus hodiernns, el anclorilas Jnriii Civilia Romani in
compleMi apud Losilanos , el sini;nlariim eju-« partium
iider se. De opiimis editionibus Corporis Juris lum glos*
sail ^ dim non glossalt ; in primis Inslitiitionnm. De
iniido alle^'andi leAliis. De Juris Civilis interprelibns nc-
ctirnlissiniis et receDtis<^iinis , nlqne de eormn scriptis.
Dfiiiqiie de optima melliodo diacendi Juris Civilis cle-
ment a.
LIBER I DE PERSONIS.
PROLEGOMENA.
T. I. De Justitia et Jure. — Vocabnli juris signifira-
liis freqitenliores. — Jnrisprndenliae nolio. — Jureconsid*
111,-! \eri nominis qiiis ? — in quo a Le^iilej.i et a Rabnla
illfTernt. Onicium jiireconsnlti , — dotea , in civitale prae-
stanlia.
De lesnm inlerpretatione , et earnm applicationc ad
facta. De Jiislitia — in'erna el externa: haec el non ilia
polios pro fine Jiirispnidenttne Iiabenda.
Tria Juris praecepla, secundum ^. 3. I. h. I. et fr.
10. ^'i. J. D. h. t,
T. 2. De Jure Natiirali, Gentium, et Civili ad men-
teni Iclurum Romanorum p.trliliones Juris : — I. LepaJi**, '
— Jus Piildirum, et Jus Privatum; Jus Privatum Iripar-
tilnni , Nalurale, Gentium, Civile. — 5!. Doclrinales,
rt-speclii oriiflnis , fundamt-nli , ol>jecli , oblipatiunis. — Ju»
ex scriplo, ant non ex scripio; sen, nt vulf,'o diciUir,
Jus scriptnm , et Jus non scriplum. Pontes Juriii Humani ,
— scripti et non scrtpti. Oi'jectum Juris tria: — perso-
nae , res el oblig^aliones ^ acttooes. Divuio Intilitntiumini
in quatuor iibros.
DE PERSOMS.
T. 3 — T. De Jure per.-'onHfnm. Persona qnis? in Jnre
Rom.ino homo ct persona dififemnl ■ — stains quid, et
quoluplex — Status naturalis— ejus potiores species. —
Slaliio citills: — pnblicus, et priv.-itus. De raidtis demi«
nntione. De servis secundum Jus Romanum Jiialorice, et
summalim, — Conditio servorum : conslitnlio servitnlis:
— nativilale , — faclo ex Jure Gentium veteri : — ex jure
JQstinianeo in poenam
De in;,'rnuis et liberlinis. De mannmissione servonim :
— modi maniimttfndi : 1. civiles : — S. naturales. Con-
ditio liliertinorum — palroni : —jura palronatus. De
nclionibns circa slaUim libertalis — el civilalis.
T. 8. De his, qui sui , vel alieni juris sunt. FamilJae
romnnac constitnli'). Personae sui juris : — paler, raa»
lerve familias: personae nlieni juris; — liberi, qui patriaor
polcsUti ; — eervi et ancillac , qui dominicae potestati
subsnnt.
Dominica poleslas — in personam, et in bona servo
rum. — Ejnsmodi poleftlatis mulHlioncs.
T. 9. De patria pnlestate. — Nolio , el ratio. Joro .
patris Tamilias in prrsonas liberornm, — et liorum in bo-
na. Dc'triplici raodo adquirendi patriam poteslalem : —
nempe , nuptiae, legitinialio , adoplio.
T. 10. De nupliis. Sponsalia : — jus et modus ea con-
trahtndi , — vis , — dissolulio. Nnpliarura , matrimowii »
et conluberuii diacrimina jure veteri — ct sub Justinianp-
215
Matrimonii forma — impedimcnla, late. Nuplioe inceslae,
— jndecnrae, — noviae. KITeclufl matrimunii : —1. reape-
clii coiijuguni : — 2. respeclu libcrormn. Dissululio rua-
trimonii. —
De ilole ct paclis dotnlibus, Dslis iiolio et species:
jura , — bona puraphernalia. — Pacta dulalia. —
De le|;ilinialioni> generaliter : — pjus origo , — modi
Irgitjamiidi — specialiler : I. |)er siil)9eqiiens malrinm-
nirnn, — 2. per curiae ilaliunem , — 3. per rescriplum
principis : — earnni etTertiis,
T. 11. De adoplionjlius. De adoptione strirle sic
dicia, — de adrogaliune. — Forma ailoplionis, — el adro-
ftationis. Jus adoplandi : — elTeclus aduptionis — el adro-
gatioiiia jure novissimo.
T. 12. Qiiiliiiii modis jiia patriae potestalis sohiliir: —
1. morle su|.j.-clurMm , — 2. .speciali ie;i.* disposilione ,
— 'i, voliinrale pafris : . — a adrufalione ipsilis palris. —
6 datione GUI in adupliuiieiii plenani , — c eraancipaliu-
ne: 1. emaocjpalio vetus , sen legiliiua , Z. anastasiana ,
3. jii.sliniaiiea.
T. 13. De lulelis. Tidelae nolio, — sul'jecli, 1.
pupillus,_2, lulor. Modi coiislilueiidae liilelae Irea ;
unde tutela le.ilanientaria , Icsilima ^ rl dativa.
T. 14. Qui leslamerdn tuloreii dari pusntinl , s\\e de
tutela testanienlaria. — I. Ejus iiuiio et origu ; — 2- jus
dandi tulureiii te.-*lanienlo : — 3. modus illud exercendi
Vis tnlelae leslaiuenlodatae : — perfeclae, — imperfeclae.
T. 15. De le:iitima atfiiaturum luteta : — ejus indoles
jure ^eleri , — jure novo.
T. 16. De capitt.s deminulione — maxima, media, et
minima. Causae capitis iJentinulionis ciijusque.
T. 17. — 19. Aliae le^iliniae lulelae sjiecies ; — patro-
norum . — parenlum ; — fidiiciaria tutela.
T. 20 De .■Vtilranu lulore, el eo , r|iii elc le^e Jidia
et Tilia ilalur, vel de lulela daliia. Principia Juri.s Ko-
mani circa huju.smodi tulclao). Jus dajidi tuiores dalivos ,
— exerciliuni liujus jtnis.
T. 21. De auclnritale tuloruni. — Nolio et ratio:
olliciiun luluris , — 1 in suscipienda intela, — et in admi-
imtranda ; — 2. modus earn interponendi ; — 3. ne^olia
quibus adhibeliir. " '
T. 22. Quibus modis lutela finilur. Causae, 1. in
pupillu posilae. —2. in lulore : — 3. in modo consti-
tiitionis.
T. 23. De curalorilMis — I. Nolio ciirae, — 2. con-
slilulio,— 3; personae, quae ei subsuiil , — 4. olTlcium
curaloris, 5. nMdus finiejidi curam.
T. 24. De .«aliidalione tulorum vel ciu'atorum Notio
et species cautiouum. — Satisdalio a future praestanda :
— ab ea iinmunes. — Vis salisdalionis.
T. 25 De Hxciisaliorie lulurum vel c uralorum. Excu-
tatiunis notio , el species. — Causae commi.nes . — ea'isae
curae propriae.
T. 26. De suspeclis liiloribus el rurnloribns. — Tulo-
ri»suspecti nolio. — Puslulalio susjiecti — suljecla,—
»i» po&tulatiunis, — exlinctio.
LIBER II. DE REBCJ.S.
T I. — 1. De reriim divisione: — 2. et adquirendo
rcrniB ilorainio. Uei , pecuniae, bonoriim nuliones in
Jure Civiii. — Rcrunj divisiones illustriores Icjaleg et
ductrinales. —
De possessione. 1. Nolio, — divisiones variae. De
•dqui^iliuue, conservalione , aiui^soue po>.sesslonis. 2.
Jura poseessionis , — remedia. Do jure rerum in sc-nnre.
— Jus in re, seu in rem;— jus ad rem, sen in perso-
nam Nuliones , — indoles —Juris in re speci.'s : 1.
doroininm stride sic dictum , 2 jus hereditarium , 3. jus
lervilutis , 4. jus pijtnoris.
T. 2. De ad.purendo rerum dominio. — \utio ilominii,
jura, quae ejus csscnlianr conslduunl. — Div isiones va.
riae. — Adquisilio: — liiulus et modus. — Tiluliis du-
lilej;: — 1. Jus Gentium, — 2. Jus Civile. — Muili duo
quoque genera:_l. naluralis, — 3. civilis. —1. Modi
iiahirales, sen. Juris Gentium: — i. ..ccupatio , — 2
adcessio, — 3. trad.lio. — 1. De occupalione in eenere :
— species: — si;;illati.n thesauri,— et rerum hoslilium.
— «. De adce,SM,ne, —notio, — divisio in naluralem ,
induslrialem , mixlam. — Variae cujnsque specie!. — 3
l>e IradiUone , — notio , — «ut.jecli., — modus. —
De aclionibug ex dominio oriunjij — I.* reiviudiialio
— 2.* actio Publiciana,
T. 3. De scrvilutihm praediorura. — Pci^'ilutis nolio,
— et genera: — 1. servitules rerura , — S. personarum :
— illarum proprielales , — duplex genus: — exempla.
— •Communia servilulnm praediorum : — I. codstitulio
2. Amissio , — causae amissionis.
T. 4 De serviliiiibiis personarum. — I. Ususfruclus
— notio — objeclum,. — moili eura consliluendi , — jus
u.(ufrucluarii — commoda, — obligaliones. — Modi Dnicn-
di iisumfructiira.
T. 5. 1. De ulll, 2. et habilalione. — De actionibils
occasione servilutum compel'eiilibua : — 1. a. coiifessoria ,
— 2. a. negflloria.
II. Modi adquirendi (ToDiinium civiles : — I. universa.
les . — 2. sinpulares ; — sj)ecii'S ulrurunique.
T. 6. De usucapionibus, et longi teuqioris pracscri-
plionibus. — Prar.scripliunis nolio : —genera, — I. exiin-
(tiva — 2. adquisiliva ; — hujus species, — 1. ordinaria ,
— extraordinaria : — illius objeclum — Icgitima posses-
sio, — legilimiim temjius, — cuutinualio jiossessionis. —
Praescriptio exhaordinaria , seu longissimi lemporis ; —
species — !.• 30 annohim , — 2.» 40 annorum , — 3.*
100 annornm. — De praescriptione iinmeniuriali.
r, 7. De donatiunibus. — Quare inter niodos civiles
adquirendi dominii a Jusliniano retails. — 1. Donatio
inter vivos, — ejus subjecla , — objeclum, — forma, —
vis. — Causae rescindendae hujusmodi donationis. — 2,
De cU.iialione propter nuplias.
T. H. Quibus alienare licel, vel non. — ■ Exempla.
T. 9. Per qiias personas cuique adquirilur: — 1. per
servos — 2. per libcros in poleslate nostra constilulos, —
3. per ex traneas personas. — De peculio fihali — nolio,
— et species. Jus peciilii mililaris, — profeclilii, —
adventilii ordinarii, — et exiraordinarii, — De adquisi-
lione per exiraneas personas jure antiqua , — jure novo.
T. 10. Delestaraenlis ordinaudis — Hereditalis nolio,
— el species — Testaraenii defiuitio , — diffi-rentia a co-
dicillis, — requisila generalia; — forma— jure aniiquo
— jure novo. — Teslamenlum publicum,' — et priialum:
— sulennilates ambobus communes , — jiropriae — J.
testaraenii script! — 2. el nimcupalivl.
T. 11. De mililari tektanicnlo. — Ejus privilegia,—
quibus compclUQl. — extinclio. — Alia teslamenta pri-
vilegiala: I' parentis iider liberos testantis, — 2. tem-
pore peslis factum, — 3. rure fuclum , — 4. Icstamentniu
poslerius imperlertum , — 5. Ad pias causas.
T. 12. Quibus non est peruiissum facrre testamentum.
T. 13. De lilieris exheredandit. — De legilima , —
quibus debelur. — De lieredibus necessariis. — el vobm-
lariis. — Exheredalionis nolio, — causae juslae a Jnsti-
uiano sanctae.
T. 14 De heredibus iustituendis. — Qui sint idonei ,
— qui iucapaces : — 1. absolute, — 2. secundum quid.
— Temfius delerminandi idom-italem — De divisioue
heredilalis, — de .Jus parlibus. — De modis instituUo-
nis: — diei adjeclio , — condilio, — elTeclus.
T. 15 De vulgari subsliluljune. — Duplex genus ;^
I. 'd)liqua , seu IJdeicomnlissaria, — 2. direcla — cujii*
species: I. vulgaris, 2. pupillaris , 3. quasi pupillaris,
4. mililaris. — Subslilutionis vulgaris nolio — forma —
jus.
T. 16. De pupilbiri subslilulione. — Nolio, forma
externa — jus pu|iilUriler subsiiluendi , — vis — extin-
clio — De subsliluli.iuibus quasi pupillati, — mililari.
T. 17. Quibus modis leslanienla inQrmaulur. — De'
testamento nullo , — rupio , — irrilo , — ■ destituto , — re-
scisso.
T. IS. De inoflicioso testamento. — De querela inofli-
ciosi I. — ejus origo , — nolio, — . fundamentum. — Qui-
bus compelal , — causae ex quibus cessat.
T. 19. De heredum qualilale, el differentia. — I.
Diiersa heredum qualilas. — 2. Adquisilio hereditalis;
— a in herede necespario ; — A in herede voluntario. —
3. Jus, el modus ndeimdi heredilalem. — Effecfus ad-
quisitae hereditalis, — BeneGcia heredi concessa: . — 1. be-
neQcium deliberandi, — 2. bencficium inientarii.
T. 20. De legalis. — Magna olim differentia inter le-
gata ac fideicommissa sirlgularia, .^ sed a Jusliniano
e.xaequata. — Notio legati. — Forma dandi legata , — jure
auliquo , . — jure ao\o. — Pcrsonae , —objeclum, acci-
216
tii'iitalift, — ndqiiisitio Ie2:ali, — ElTcolus adquisilionis
— jus ailcrescendi.
T. SI. Dtj ademplione legaloium , — Iranslatione , —
exliiiclione.
T. 22. De lege falcidia. — Qiiarta falcidin quid —
Jus i'\ liac le!;e. — Modus earn comiJUlaiidl. — Causae ,
T. !£3. l)e Gtleiromiuissariis heredilalilms, — Fidei*
commissi iiotio el s|)t'cies : — 1, qiioait formam , modiim-
•Iii« , — i. <|iioad persunus. — Jui- fldeiconinitssi.
T. 24. I)e singulis relnis per Ddeicomiuissiim relicMs.
T. 25. De codiciliis. — Eonim ori;;o , — et raliu. —
Notio, — el species: —jus — clausula cudicillaris , —
ejus vis.
LIBER III. DE REBUS ET 03LIGATI0NIBUS.
TT. 1 — 9. De hereditalihus , quae ah inlesUlo defe-
ruiiliir. — Siifcessin inlcslalorum jure veteri — summatim.
— Ejtis fiindameiilum.
T. 10. De bonunim possiessionibus. — Succepsio prae-
loria. — liuiioruin possessioiiis ratin, et noliu : — sp^-cies
— 1. contra labiilns , — 2. si-ciiiiiluni labulas , — 3. ab
inlpjslato: ejus nilquisJliii , — siircessio.
T. II. De adqiiisUioric per adrogationem, — 1. ex
jure veleri — • et iiuvo
TT 12 el. 13. Materia hislorire relata.
De successione ab iulestnlo secundvira Novellam 118.
De pelifioiie heredilatis , — qualificata , — el simplex.
De jure pij^'itoris ; — pij,'nnris nolio , — conslihiliu , —
1. quoad oljpctiim , — 2, quoad mudum, — Coubliliiti pi-
^iioris jura, — solulio.
DE OBtlCATIONIBUS.
T. 14. De obligalionibus. — Nolio, — species: — 1.
ex causa remnia , — 2, ex causa proxima.— De conve-
iitionibus. — Notio, — forma, — ubjerlum , — subjecta ,
— elTeclu!). — De conditlone , — el die coiivfiiliuiiibiis
adjertis. — Varia j;enera convenlionum : — ■ 1. pacU , -^
2, coiilractiis. — Eorum diflferenlia Jure Romano, — De
contrnclibus ; — 1. nominuiis, — iniiomiualis. — Hurum
qualuor genera, — lolidem illurum. — Nomina ulrurum-
([ue : — raliu inmiinis. — Ali^ie cunlracluum divisiones.
— De pJirhs nudis , — 1. contraciibus bonae fiilei adjf--
clis,— 2. pr:ifli.riis, — 3. le^'ilimis. — Exenipla. — De
ilatuni praestaliune, — notio , — causae ; — 1. dulus , —
2. culpa, triplex,'— 3. casus.
T. 15. Quibus modis re rontralutur obli{;;alio. -^ Con-
tractus nominali realms : — 1 muluum ; — m-lio , — for-
ma , — obli:.;^atio — aclioni^s. — Eadem de S. cummodato ,
— .S. di-pusilo , — 4, [lij^nure.
T. 1*J. De verhorum oblliij'atiuuibus. • — De slipulatio-
iie, — notio , — furma , — modus , — objectum ^ — perso-
nae , — oblijjalio , — aclioncs,
T J 7. De duubiis reis .stlpulandi , et proniillentli.
Corrci qui? — 1. crt-dendi , — 'li. debendi, — Obli^aliu-
nis correalis fiimlameiila , — effectus.
T. 18. De slipulatione servorum , hislorice.
T. 19. De di\i»ione stipulalionum : — qualuor genera.
— Exemplu,
T. '^0. Do iuutilibtis sli[iulationib(is.
T. 21, De fideijugsoribus. — Fideijnssionis notio, —
dislinctio al) aliis inttjrcessionia spt-cietius. — Furma , de-
bitum , — • persona fideijussoris qualis , — oblii^atiu , —
ejus rigor temperalus no\iori jure: — Beneficiis , 1.
ordinis, — 2. divisionis, — 3. cedendarum aclioiium. —
Fideijussionia extinctio,
T. 22. De lillerarum oblii;ationibufi. — Conlracli'is lil-
teralis nolio. ■ — S()ecialim de cuntractu chirocraphario.
T. 23. De obligationibua ex consensu. — Conlraclunm
consensuali'im indoles , — species.
T. 24. De emplione el vendiltone. — Nolio, — for-
ma. — ol'jectum— 1. res quae veneunl , — 2 prelium.
— ElTecltis : — 1. translalio periculi , et commodi , — S.
niulua obli;:nlio. — Actiones.
T. 25. De locatione et conduclione. — Nolio, et spe-
cies.— Forma ct substantia.. — Objecluui — ■ personae —
obli^aliones : — 1 . locatoris , — 2. conductoris , — com-
munes ulrique — acliuncs. — De contractu cmpliyteuseos
origo — de jure emphyteiilico, — Conclralus notio, —
modus perGcicndi , — ob igalio — actio emjdi^'teulicaria,
— duplex.
T. 26. Dc societole. — Notio , et species. — Modus
earn perficieutli , — ct iiieundi. — Obligatiu, — actio.—
Dissolutio.
T. 27. De marnlat(w — Notio — el subelantinlia , —
dUtinclio I. a negoliorum gfstione, — 2. a locatione
upfViirum , — 3, a cunsilio , — 4. a commendatiune , -^
5. a jussu.. — Mudiia conlrali'-ndi ,■ — objectum , — obit-
t^iitio. — Aclionea : — 1. directa , — 2. cunlraria. — St-
lulio.
T. 28, De obliealionibus , quae quasi ex conlraclu
nascunlur. — Quasi cuutrncti'ls nutio. — Speci'*s : — 1.*
Ne;j;<diorura gcslio: — ejus nolio, — personae .^obli^a-
tiones : — 1. gealoris, — 2. domiiii nefiotiorum ; — nctiu-
UPS — directa , — et cuntrar ia. — 2,* Tutela — indoles
uldi^alionis ; — acliones , — direcla^ , — uiiIhs, — 3.*
Hereditatis , — el 4.' rerum cummunia ; — quo sensu ad
ipiasj conlraiius rcferunlur — actiuues. — 5." Heredita-
lis aditio , — oblii^alio: — actio. — 6.* Indebili sululio ,
— obligalio , — artio , — quae differt ab aliis condiclio*
niluis , — el a quibus.
T. 29. Pnr quas prrsnnas nobis obliffalio acquiritiir.
— De adtpiisilioiie per alios, — jure \etefi , — et novo
jurt".
T. 30. Quibus nuidis tullitur obliiialio : — 1. ope ex-
ceptionis. — 2. ipso jurt; : — communes , — proprii. -^
Eorum L*numeraliu , et descriptio.
LIBER IV. DE OBLIGATIOMBUS ADHUC ,
ET ACTIONIBUS.
T. 1. De obligalionibiis, quae ex delicto nascuntiir.
— Delicti, sen nialeficri notio, ■ — ■ species, — De Jure
Criiuiuuui apud Uumenus — 1. Dclicla [uiblica , — . K,
piivala — 3. ordiuaria,— 4 extraordinnria. — Aclionea
ex dfliclis : — I. rei perseculoriae , — 2. poenae per-
seculoriae , — 3. niixlae. — Indoles obli-jalMiuis , — el
actiuuutn ex delicto, speciatira de lurto, —Nutio, —
species: — 1. ex ol'jeciu , — 2. ex modo. — Actiones ex
furto;— 1. ci\iles, — 2. criniinales.
T, 2, De \\ l)unorum raplururu. — Rapinae notio —
requisila : — I. dolosa rei abenae mobilis contreclalio ,
— 2, consilium lucri faciendi — corollaria. — Reniedia
Jure Rumatu).
T. 3 De lege Aquilia, — Darani injuria d^ili notio:
— ditTerenlia, 1. a no\ia, — 2. a pauperie. — Cajiit.i
Legis Aquiliao : — caput primum . — secundum, ex Gaji
cuuiuieulario 3." ^, 215 — lerltum. — ■ Olfserwitiones.
T, 4. De injuriis. — Species — sut'jeria — remedia :
— I. judicialia — criminalia. — Relorsio. — Remedioruni
extincttu,
T. 5. De ob!igationibus , quae quasi ex delicto nascun-
lur. — Quasi delictoruui nolio, — species.
T 6. De ai'lionibus. • — Notio, — divisrones : — 1. a
fuudauK'uto remlo, — 2. a proximo, — 3. ab ol-jecli
qiialilale , — 4, quantilale , — 5. a puteslate jttdicis,
T. 7. Quud cum eu , qui iu aliena putchlale est , nego-
tium geslum esse dicetur. — Actiunum ex conlraclu alie-
no . — I. funs, — 2. sjiecies.
T. 8. De nuxalibus aclionibus. — Obligalio ex deli-
cto : — I. servi,- — -2. fllii familias.
T, 9. Si quadrupes pauperiem fecisse dicalur. — Obli-
galio,— -actio. — D*" aedililio edicto.
T. 10. De iis, per quos agere licet: jure veleri j —
jure novo. De procuraloribus jiidicialitius,
T. 11. De s.ilisdationibus, — Canliones judiciales , —
1, ab auclore el reo , — 2. a procuratore praestandis.
T. 12. De perpetiiis el temporalibus aclionibus:. —
el quae ad lieredes , el in heredes Iranseunt. — De prae-
scriptione artionum , — 1. generatim , — 2. speciatim :
— a ci^ ilium , — b honorariarum — De transitu actionnia
iu lieredfs, — aclivo, — passive.
T. 13. De exceptionibus. — Exceplionis nolio , varia
genera.
T. 14. De replic.ilionibus.
T. 15. De inlerdictis. — Noliones — species; —1.
adipiscendae, — 2. relinendae, — 3. recuperandae pos-
sessiunis. — Oliservationes generates.
T. 16. De pfiena temere liligantiiini.
T. 17. De ofliciu judicis. — OfTicium magislratiif ,—
oflicium judicis pedanei , Jure Romano.
T. 18. De publicis judiciis opud Romanes, hislorice-
y]7
LITERATURA DRAMATICA HESPANHOLA
E SEUS UlSTOUIADORES.
I
No vasto campo da literatuia hospanhola,
0 thealro do XVI e XVII scculo, e, depois
da popsia da meia idade, o assiimpto ([uc
raereccra mais a particular attonrao dos histo-
riadores, e dos criticos. A propria Ilcspanlia,
que torn ahandonado aos estranhos o ciiidado
do explorar as suas ri(|uezas litcrarias, in-
volvidas no p6 de taiitos scculos, nao se
esqucc(^ra de hnscar cssas preciosas reliqiiias
da sua lilcralura dramatica para com cllas
alevantar uin monumento digno do gcnio,
que inspirara os seus conipalriotas. Ila quasi
vinte annos, um grande niimero de escri-
ptores tem pretcndido reslaurar o thealro de
Caldcron, e Lopes de Vega. Este generoso
inipulso dado pelos poelas, devia natiiraimen-
tc excitar os Irabalhos dos eruditos. Em
quanto D. Angelo de Saavedra, duque de
Rivas, e D. Antonio Gil y Zarale sacudiam
cm fini 0 jugo da imitacao franceza, rcsti-
tuindo a arte dramatica as suas fontes naturaes,
OS criticos nao podiam licar niudos e qiiedos
no raeio dcsia grande transformacao, que se
operava nos dominios da literatura'dramatica.
E de feito assim aconteceu. 0 duque de Rivas
fizera reprcsentar em 1833 o bello drama —
la Fuerza del sino. 0 applauso, com que fora
acolhida csta produccao dramatica, decidiu
dos deslinos do theatro hespanhol. No anno
seguinte comecou em Madrid a publicar-se o
theatro anligo e moderuo d'llespanha, que
hoje conta mais de cem volumes. Desde esta
epocha os trahalhos sobre Lopes, c Calderon,
e ate sobre oulros auctores menos conhe-
cidos, vao sucessivamente appareceifdo a luz
publica. Em 1839 D. Agostinho Duran,
publicou um excellente artigo sobre Lopes de
Vega ' ; em 1840 Joao Colon y Colon deu a
cstanipa nuii curicsas e iuterossantes noticias
sobre os auctores draraaticos anteriores a
Lopes \ Nao .'^ao menos dignos de racncio-
nar-sc neslc ponto os eruditos trabalhos de
Gil y Zarale % de Mesonero*, Moron ', Alberto
Lista', e outros, alem da mui noliciosa bl-
bliotheca dos auclores hespanhoes.
Enlretanto todos esles ensaios, que at-
testam o gosto e a tendcncia dos espirilos,
cxcitados tambem pelos brios, c pundouor na-
tional pela restauracao do seu anligo theatro,
nao eonstitucm por certo abistoria completa
da scena he.spanhola desde os seus primeiros
' Revista de Madrid.
"I jy^ticias del Teatro espanhol anterior a Lope.
Manual dc Lileratnra —2 v. Madrid 1844.
^^^^"P'de coup d'oeil historipie sur le theatre espa-
' Rcvisla de Espaiiha y del estrangero
Ensat/os lilerarios y criticus. — Madrid 1844.
e mui singclos ensaios ate as suas cai)ricliosas
transformafOes, pas.sando alternativameiile da
inspiracao ecclcsiastica a inspiracao roma-
nesca. Um trabalho tal involve lantas dif-
liculdades, e depende de lantos, e tain pro-
fundos estudos, que, para leval-o ao cabo,
fdra talvcz insufficiente a vida e os esforcos de
um so homem. E lodavia a empreza era digna
de tal sacrificio, por quo o theatro hespa-
nhol e um dos mais curiosos problemas, ([uc
pode ofl'erecer-se a resolucao dos sabios, c
uma das mais preciosas conquistas, que pode
fazer-se na historia da pocsia.
0 distinclo escriplor allemao, Adolpho
Frederico de Schack, nao duvidou loniarsohre
si tao ardua tarefa, e se elle nao logrou
resolver o problema, e assenlar um juizo
decifivo sobre esla parte tao original e tao
controverlida da literatura moderna, e pelo
menos certo, que fez ne.ste ponto mui graves
e iniportanlcs descobrimenlos, e que a sua
obra, a pezar de nao ser isenta de defcilos,
e com tudo um monumento de erudicao, um
trabalho primoroso, que honrara semprc o
seu auctor.
A obra de Schack compoe-se de tres vo-
lumes' ; 0 primeiro occupa-se do thealro hes-
panhol desde a sua origem ale Lopes de Vega ;
0 segundo e consagrado a este auctor, e aos
seus contemporaneos; o terceiro trata de Cal-
deron, e tormina cxpondo a longa decadeucia
do theatro, e os ensaios que modernamcnte se
teem f'oilo para a sua regeneracao. Schack na
primeira parte da sua obra tracou o quadro
dos dois mui imporlantes periodos da litera-
tura dramatica em Ilespanha: o primeiro
desde os primilivos tempos desta vasta mo-
narchia ale ao reinado de Fernando e Izahel,
e 0 segundo desde o governo destes principes
ale ao reinado literario de Lopes de Vega.
A Ilespanha nao possuia um unico desses
roportorios dramaticos, que a Inglaterra deve
a Collier, a Italia a Riccohoni, e a Franca
aos irinaos Parfait; e Magnin podia apenas
ministrar uma cscassa luz no meio da obscu-
ridade d'aquellas remotas eras, a pezar disto
Schack nao desrorocoou da empreza a que reso-
lutamente se corametti^ra, e esta parte da sua
obra e uma das mais inleressantes, e que mui
claramentc mostra o fio, que prende os poetas
do XVI e XVII seculo as tradiccoes, e lendas
populares, que lantos elemenlos forncceram i
poesia naquelles dois periodos, os mais bri-
Ihantes da literatura dramatica cm Ilespanha.
E sobre tudo a influencia da egreja, que
desde o principle do thealro hespanhol comeca-
ra a manifestar-se sobre a scena. Ja no XIII
seculo a egreja doniinava tao largamente no
theatro, collocado sob a sua proteccao, e ate
certo ponto dirigido por ella, que na lei das
' Geschiehte der dramaiischen Literatur vnd Kunst
in Spanien — von A. F. von Scliack — Berlia — 3 vol.
1845 — 1846.
'2 IS
sete pallidas AITouso X julgiira opporluno
regular o exercicio d'ossa auctoridade, ao
passo que no rcsto da Europa a induciuia
da eprcja no theatro ia suct'ssivamonti' do-
caindo para ser suhstituida polos dois oulros
elenienlos da liltcratura dramatica na idado
media, as truaniccs dos scnhores feudaos, e as
dos popularos, (luc no mcio do sociilo XIII lo-
luarani o logar ao drama ccclesiastico.
Na epocha cm (pie A.ITonso o Sahio, prohi-
liindo OS espcetaculos licenciosos, porniittia que
sc pozessem em scena os dramas, em (pie se
representavam diversas passagens dos livros
sagrados, L'rbano IV instiliiira a festa de
Corpm Clirisli, (|ue em llespanlia fora recebida
com a maior devoeao. A celebraeao deslas
festas, scgundo as ideas do tempo, proporcio-
nava uma nova occasiao para os especlaculos
ecclesiaslioos, em que e muito do crer, que
nao raro se transposessem os liniites, que o
respeito, e a decencia religiosa exigiam, e
que a lei ordenava; ao menos a historia de
todo este periodo nos apresenta uma continua
lucta entre o instincto dramatico, disposio
sempre a quebrar as cadeas, que sc Ihe
impunham, e o poder religiose, que tinha
por obrigacao reprimir taes excesses, que
mui naluralinente provinliam do espoiilaneo
ardor da arte, ainda na sua infancia. E com
tudo digno de notar-se, que em quanto cstes
dois elenienlos, o religiose, e o dramatico,
liaviam conipletaniente rompido em toda a
Europa os lacos, que por seculos os uuiram
cm eslreila allianca, na Ilespanba eonservaram
sempre muluas e benevolas relacOes. A egreja
nao amaldicoara a arte dramatica, mas unica-
mente procurava moraiisal-a, e convertel-a
era proveilo proprio. 0 concilio de Aranda
em 1473, renovando as proliibicoes das sele
parlidas, estabclccera provisoes a favor do
drama religioso.
Assim neste primeiro periodo, o Iheatro
hespanhol, conservando estrcitas relacoes com
a egreja, e introduzindo-se como accessorio
importante nas pompas do culto religioso,
nao abdicara com tudo a liberdade, que e a
vida da arte, e que incessantemente arrastava
OS poelas, ainda debaixo das venerandas
abobadas das calhedraes, onde scus au(os tao
applaudidos cram, para o campo das paixOes
raujidanas, proprias das obras profimas.
Tal e a feicao caracteristica do genio
bespanhol no decurso de toda a sua historia.
Calderon com os sens autos mysticos, e seus
longos dialogos romanticos, e urn documcnto
mui notavel dascontradiccoes do antigo theatro
hespanhol, que sucessivamenle se fdram repro-
duzindo nos seguinles seculos.
Ao periodo dos instinctos primitives suc-
ccdt^ra o primeiro periodo literario, que inau-
gurara Joao del Encina, que floresceu no reina-
do de Izabel e Fernando.
Encina, como Lopes de Vega, Tirso de
Molina, Calderon, e Antonio Solis, seguira o
eslado ecclesiastico ao cabo de uma vida mui
trabalhada, e morreu em Salamanca em 1334.
Na historia lileraria de llcs|)anba sao frequen-
tos cstes exemplos de poetas dramaticos, que
abracavam o estado ecclesiastico, ou tomavam
0 liabito n'alguma religiao.
Os dramas pastoris sobre assum|)tos re-
ligiosos foram as pecas, cm (|ue .loao del
Encina mais se distinguiu. 0 enredo e por via
de rcgra mui singolo, e o estilo (juasi jiueril;
pastores reunidos em volta do berco do menino
Deos, ou a porta do cstabulo, communicando
uns aos oulros a alegre nova do sou nasci-
menlo, e celebrando a gloria do milagroso
menino com a mais piedosa cmocao: eis aqui
a que se reduziam aqucllcs autos religiosos.
Algumas vezes o poela procurava animar a
scena pelo interesse, que deviam produzir os
differentes personagens, que n'clla liguravara.
Com este intento n'uma das pecas d'aquellc
A. dois ermiloes apparecem no sanclo se-
pulcro, lamenlando com prol'unda dor a morto
de Chrislo, e a Veronica vcm junctar a estas
scnlidas queixas as suas piedosas lagrimas.
Estes trcs personagens ajoelliam anie o tu-
mulo do Salvador, e um anjo Ihe apparece,
annunciando-lbe a proxima ressurreicao de
Cbristo. Em tudo isto, porem, falta a accao,
que conslilue o verdadeiro drama, e so e
(ligna de admiracao a terna candura, que .
inspirara o poeta, que por um singular con-
Iraste cscrevera a par d'aquellas religiosas
pastoris, pecas proi'anas cheias de cbocar-
rices, que mais tarde serviram de funda-
mcnto aos entremezes de Lopes e dc Calde-
ron; e romanescas aventuras, ou historias de
amorosos galanleios, de que Fileno y Zambardo
e uma boa amostra.
Em liiOO publicara-se em Salamanca a
Celesliiui. As vivas cores oom que o A. d'esta
obra pinlara as loucuras, os desvarios, e as
niiserias da paixao a ponto de fazcr muitas
vezes esquecer o cynismo do assumpto, para
se attender so ao espirito, e lina observacao
das mais inlimas parlicularidades da vida
bumana, livera uma notavel influencia neslc
periodo literario, generalisando rauilo o goslo
das pinturas profanas. sera todavia diminuir
0 numero das pecas religiosas.
Joao Rays, arcipreste de Ilita ja no seculo
XIV imitara de uma comedia latina, errada-
mente attribuida a Ovidio, e que parece antes
uma das lubricas invencues de Pctronio, aquel- ^
les lascivos quadros. Assim era quanto Encina
e outros edihcavam os fieis nas grandes so-
lemnidades do Natal, e de Corpus Chrisli
com OS scus aiitos sacramentaes, cstes mes-
raos auctores, a pezar de toda a sua de-
vocao e piedade, comccavam a por tambem
em scena todas as peripecias das mais amo-
rosas aventuras, cujos niodclos Ihes dava a
Cekslinu.
219
Nao era, porem, so nos mcsmos auctorcs, se
nao tamhem nas mrsmas obras, que se encon-
Irava csia raistura do profanocom oreligioso.
Um distincto poeta portuguez, que perlence a
historia do theatro hespaiihol pela inlluencia,
que teve em Madrid, e pelas pecas que escre-
veu em castelhano e uma prova irreeusavel
deste facto.
0 insigne Gil Vicente, que florescera pelos
lins do seculo XV, c que ao mesmo tempo
fora auctor, e actor, grangeara por suas
composicoes dramalicas tao grande credito,
e tal reputacao, que o lizera conhecido em
toda a Europa cuila : so para ler as comedias
tleste auctor, Erasmo aprendera o portuguez.
Gil Vicente foi o primeiro que deu o nome
d'autos as suas composicoes religiosas, que
cram de duas especies: as Eclogas sagradas
como as pastoris de Joao del Encina; e as
alegorias mysticas, composicoes mais complica-
das e que muitas vezes continiiam um singu-
lar amalgama do sagrado com o profano, da
inspiracao religiosa com as pinturas raunda-
nas.
A inlluencia da Celestina c evidente era
muitas comedias romanescas deste auctor. A
nova da emancipacao do theatro da tulella
ecclesiastica soara, pelos esforeos, e assiduos
trabalhos d'Encina, Torres Naharro, e Lopes
de Rueda, que podem considerar-se como os
f'undadores do theatro hespanhol.
Nas ohras de Lopes de llueda nao se acha
um unico dcsses uutos religiosos, que eram
a principal inspiracao dos seus predecessores.
E todavia as relacOes entre o theatro, e a
egreja subsistiam ainda. Em quanto o instin-
cto dramatico procurava dilatar os limites da
sua dominacao, a egreja pela sua parte tinha
particular cuidado em nao deixar quebrar os
lacos, que uniam a arte dramatica a prcgacao
das cousas sagradas.
0 concilio de Toledo de 13G5 e loCG, re-
novando as prescripeoes de Afl'onso X, e do
concilio de Aranda, ordenara mais regular-
menle o uso das representacOes sagradas.
D'alli em diante os aulos so podiam represen-
tar-se nas egrejas com lieenca da auctoridade
ecclesiastica; as representacOes nao podiam
mais ter logar durante a missa; nem em
c^rtos dias do anno, como por exenipio no
dos santos Innocentes; aos padres foi prolii-
hido 0 represenlar n'aquelles autos. Todavia
OS padres do concilio julgaram convenienle
nao proscrever o uso dos dramas, que podiam
excitar a piedade dos fieis. Dois annos depois
(li5C8) a auctoridade ecclesiastica decidira,
que todos OS annos se representassem dois
(lutos, tirades dos livros sagrados, no dia de
Corpus Christi.
Assim OS dois elementos do theatro hespa-
nhol, a inspiracao ecclesiastica, e a inspira-
cao romancsca nasceram, floresceram, e fruc-
lilicarani junctas por um mutuo instincto
nacional, que unia os poetas c a egreja nos
sentimentos de comnium interesse. Nao raro,
lambcm, os auctorcs empregavam o drama
religioso como um meio de cohonestar as
dcmasias das representacOes profanas; c foi
com esle intuilo, que na segunda metade do
seculo XVI .se introduziram nos verdadeiros
theatres os dramas religiosos, que ate enlao
so se representavam nas egrejas; e constilui-
ram uma das formas da literatura dramatica.
E talvez d'aqui proviesse a differenca enlre
as comedias divlnas, e os autos sacramenlaes,
pois que estes sao muito anteriores as comedias
divinas, que erara verdadeiros dramas re-
ligiosos de uma composicao literaria mais
elevada e mais polida, e destinados por isso
para se representarem nos theatres com aquel-
la denoniinacao.
Continua. 3. M. de ABREl'.
COIMI33IA.
(RECORDACOES.)
Coimbra! . . . Terra de incanto.
Do Mondego alcgre flor,
Venho pagar-te era meu canto
Tribute d'antigo amor;
Nao m'o engeites porque e pobre,
Porque tens o canto nobre
Do cantor da linda Ignez;
Nao ra'e engeites desdenhosa,
Nao, que esta alma saudosa
Se inflamma ao ver-te outra vez.
Sou quasi teu filho; amci-le
Da vida no alvorecer;
De Minerva o sacro leite
Por tuas maos vim beber;
Foi nestas margens virentes
Que ce'as azas incipientes
Meu estro voar tentou ;
Foi aqui que me sorria
0 mundo, a vida, a poesia ;
Sou quasi teu hlho, sou.
Andei la por longes terras,
Tantas cidades que vi ,
Outros climas, eutras serras, ,
E as vezes scisniava em ti !
De Londres vi a grandeza,
Vi 0 incanto de Veueza,
De Paris a seduccae;
Vi de Roma os monumentos,
E mesmo n'esses mementos
Foi fiel meu coracao.
220
0 Rheno com sous oaslellos,
Vienna. Milao, Bcrlim,
Da Suissa os CantOes hellos
Nao me, fallavam a mini;
Kao fallavam f(inio fallas,
Coimbra, nas liias gallas
Que eu sei, que apprendi de cor,
Nao diziam o que dizes
N'esse estendal de malizes,
Que tens do ti ao rcdor.
Se nao contas tantas glorias
Quantas per la querem ter,
Es um livro de mi'morias
Que umportiiguez sabe ler;
Eu, por mini, n'ossa tua fronto,
N'essas colli nas del'ronte,
No tcu lie de crystal,
Na tua I'oiUe dos amores ,
No ar, na terra, nas flores,
Leio em tudo — Portugal!
Aos que pedirem facanhas
D'audaz, guerreiro valor,
Tu as podes dar tamanhas
Que OS facam mudar de cor;
Se quizerem da cidade
Provas d'antiga lealdade
Apontas-llie o ten Martini;
Tens sobeja, altiva gloria,
Mas nao e, nao e tua historia
0 que so me faila a mim.
Tudo aqui me falla, tudo,
D'csse tempo que la vae,
Quando nas lides do estudo
Tive em cada nit-stre um pae;
Falla-me o si no da torre
(]oin nm soni que nunca niorre
Nos ei-lios ([ue a vida tern;
Fallam-me os dias d'outrora
Cum lolguedo era cada hora,
Com horas que mais nao vcem.
Leml)ram-nie aquelics passeios
La baixo no Sulgiieiral ,
<)u na Ldpa dos Bsleios,
Ou no fulgente Areal;
Lembram-me as idas a Cellar,
\s suaves tardes bellas,
Passadas da Ponte no ()';
E quando, ja n'essa cdado,
No Penedo da Saudade
Saudadcs geniia so.
Nem mc licaes esquecidos,
Antigos socios de entao,
Que a esses dias volvidos
Yossos nomes iionie dao;
Foi vida de irmaos a nossa,
\(iui o palacio e a cboca
Erani por dentro eguaes;
Crencas vivas, rosto puro,
Ollios litos no fuluro,
No amor da palria rivars.
Esia mesma casa ... oli ! quanta.-^
Quantas lembrancas me traz!
Palco aniigo, tu me incantas
Co'as imagens que me das;
Comi)5e-me inteiro o passado,
E d'esse viver sonliado
Deixa-me agora enganar. . .
Mas nao. . . logar ao presente.
Que cil-o se ergue nobremento
Com novos loiros sem par.
Quaes fonios, sois hoje a esp'raufa,
Mancebos, da patria a lior,
Do I'uturo segnranca.
Das nossas lettras penhor;
Entre vos o rei da lyra
Bem vedes que vos inspira,
Brandindo um faclio do luz,
Bem vedes o imnienso brilho
Com que o nome de Castillio
Em nossas glorias reluz.
Eia, mancebos, avanle,
Vcncei-nos, vencci-nos, vos;
Soja a patria triumphante.
Que e 0 que importa a todos nos
Tendes crenca, logo e vida,
Tendes a alma despida
Do lodo das vis paixocs;
Levae ao mundo essa aurora,
E sobre os brazOes d'outrora
Levantae novos brazoes.
Eia, pois, Coimbra seja
Primavera do porvir,
E n'elia, man grado a inveja,
Portugal senipre a llorir;
Ob! possa eterno este sulio,
Este augusto caiiitolio
Das ])atrias leltras. brilbar.
Que eu , tornado de respeiio,
Eu sempre, dentro do peilo,
Uei-de seu nome guardar.
Cuimbra, ga Ue Noverabro dc lllj-t.
J. DB LEMOS.
221
METEOROLOGIA.
AURORAS BOREAES.
Na tabella das auroras lioreacs observadas
em Norwcpa e Christiania desde 1837 ale
1853, per llansteen, director do ohsorvalorio
d'aqiiella cidade, iiota-se um phenomeno mui
imporlante, e que ja anteriormente fora re-
conhecido por Mairan.
As auroras boreaes soguem uma pcriodici-
dadc annual, c aprcsentam todos os annos
doismaxiraos, c dois minimos mui distinctos.
Os maximos correspondcra aos equinoccios, e
OS minimos ao soisticio.
Os minimos do soisticio sao tam nolaveis,
que durante os 16 annos das observacoes de
Hanstcen nao houvera uma unica aurora
boreal cm todo o mcz de junho.
Quetelet nota tambem, que desde 1739 ate
1762, de 783 auroras boreaes observadas em
Upsal, uma unica tivera logar no mez de junho.
Fora para desejar que estas observacoes so
gencralisassera a outros pontos, c por uma
.serie maior de annos; entre tanto aquclle
periodo de 16 annos do constantes observafoes
e ja de grande importancia.
« E mui digno de altencao, diz Quetelet,
que no tempo de Aristoteles, pelos annos de
384 e 322 antes de J. C. a luz polar fosse
visivel na Macedonia, por que n'uma obra
dedicada ao rei Alexandre, o A. menciona
rauitos pbenomenos luminosos no eco, a que
eilc da 0 nome gencrico de esplenclores.
Alguns subiam acima do horisonte com extra-
ordinaria velocidade; em quanto outros nao
passavam do mesmo logar; umas vezes dcsap-
parcciam deprompto, outraspcrmaneciam por
mais tempo, e aprcscntavam-se debaixo das
mui variadas formas, a ([ue davam differen-
tes nomes, ora na parte oriental, ora na
occidental do ceo, ora em lini n'um ponlo inter-
raedio. N'outra obra faz-se mencao de uma
luz, occupando um grande espaco no ceo
tanto em iargura como em comprimcnto, as-
semelhando-se a uma fogueira de colrao no
meio de um campo.
Seneca, que vivia em Roma no tempo de
Nero (SO annos depois de Jesu Christo) tracta
deste phenomeno, descrevendo assim aquellas
auroras boreaes, a que davam o nome de
cavernas profundus, em razao da sua appa-
I'encia.
" Cum velut corona cingente introrsus ipneus coeli
" recessus est, similis effossae in orbem speluncae ' ; >»
As aberturas, que assim ehamavam as au-
roras boreaes, que aprcsentavara uma certa
forma, sao descriptas pclo mesmo A. do
scguinte modo.
« Cum aliqnod coeli spatium desedit, et flammam
" dehiscens, velut in abdito, >t>tentat. "
' De Qtiaeslionibus nataralUm — caji. XIV.
N'outra parte acrescenta :
« (.'olores qiioque honim omnium plurimi sunt ; quidani
" rnl)oris acerrinii, quidam evanidae ac levis flammae,
« quidam candidae lucis, quidam micantes, quiduni
u aecjualiter, et sine eruptionibus aut radiis fulvi, ■'
No capitulo XV diz:
» Quidam fu]j;ores certo loco pcimanent, et tanluni
4( lucis eniittunt, ul fulijent lenebras et diem repraesen-
t( tent, dnnf'c, conisunipto alimento, primum obscuriores
.1 sint, deiude llammae modo, quae in se cadit, per as-
(* siduam diminutionem redifijantur in nihilum. »
< Dubium an inter hos (coraetas) ponantur
" trabes et pitliitae ; raro sunt visi. Multa eruni conglo-
u batione ignium indigent, cum ingens illorum orbis
" aliquando malutini ampliludinem solis exsuperet. "
Plinio, 0 novo, na sua historia naturalis,
tractando no capitulo XXV do livro 2.° de
coiiu'tis el coeleslihus prodigiis, natura et situ,
et (/eiieribits eorum, conclue:
" Omnes ferrae cernuntur sub ipso septentrione .
(c aliqua ejus parte non certa, sed maxime in Candida,
" quae lactei circuli nomen accepit. x
Quetelet cita tambem os seguintes versos
de Lucano'.
" Ignoia obscurae viderunt sidera noctes,
» Ardentemque polum flammis, coelo que volanto
« OI)liquas per inane faces, crinemque timendi ,
« Sideris, et terris mutantem regna cometen.
« Fulgura fallaci micuerunt crebra sereno.
M Et larias ignis denso dedit aere formas,
u Nunc jaculnm longo, nunc sparso luniine lam])a.>
w Emicuit coelo : tacitum sine nubibus ulUs,
" Fulraen, et Arctois rapiens de partibus ignem.
" Percussit latiale caput, etc. "
Para explicar esle facto sera necessario
suppor que a regiao magnetica mais forte, que
actualmente csta quasi no meridiano, a DO"
0. de Greenwicb, existia no tempo de Aristo-
teles em um meridiano de pcrto de 24° ao E; e
que pclo seu movimento de E. para 0. cbegara
ao logar que presentemente occupa, nos 2:200
annos decorridos desde aquella epoclia.
Esle movimento do centre da luz polar e
tambem conlirmado pelas anligas relacocs da
Norwcga, que referem, que cm remolos tempos
a luz polar apparecia mais perlo do vcrda-
deiro norte, e que successivamente fora ap-
parecendo mais alta no ceo, e desviada do
sou vcrdadeiro centre mais para o Oesle.
Consultando muitas obras e anligas cbroni-
eas, Quetelet ordenou uma tabella das ap-
paricfles da luz polar, observadas desde o
anno de 602 antes de J. C. ate ao presente,
por onde se conhece, que vinte e quatro vezes
durante este longo periodo, a luz [lolar se
manil'cstara mais ou menos frequenle, com
grandes intermitcncias, em que parecia tci-
completamente desapparecido ao menos das
regiOes do meio da Europa, sendo unicamen-
te visivel na Groclandia.
As epochas em que a luz polar apparecera
com maior intcnsidade forani a 9." de oil .i
603; a 12.' de 823 a 887 (sessenta e quatro
annos); a 22' de 1500 a 1588 (oitenta e oiio
' I'analia — Lib, I, v, 521, e segg.
222
aunos. c\v. quo n mni-iiuum fora enlrc os annos
dc Vm a i;i88); c. a 24." dc 1707 a 1788
ou 17flO (dc oitcuta c uiij annos, scndo o
ma.rimum por \l'i{)).=zVeja-st l'i>stitut. 1.'"
Seel. .Y. 1082, sepl. ISoi.
OLEO l)!i IIGADOS DE BACALHAl!.
Os osl'orros praprep;ados por todos on cliiiiros
pani ohslar aos terriveis cH'iMios das molestias
tuhcrciilosas dos pulniOcs, Ihos teem I'eito
lanc;ar niao dos dilVereiUes meios ate hojc
iiiiapiiiados para conseguir urn tal fim.
0 oieo de ligados de liacalhaii esta u'este
caso, V. julgaiiios de bastaiite interesse as
considcrai'Ocs que a cerca d'oste mcio tliera-
peutic'o 0 Dr. Williams expeiideu n'um artigo
puhlicado no jornal do mcdicina de Londres.
0 oleo de ligados dc l)a(alliau administrado
pcio Dr. AN'illiams. em mais de 400 rasos dc
molestias tuberculosas puhnonares foi seguido
dc rcsiiltados os mais lisonjeiros. De 234 casos
([ue apontou no seu diario notou que apenas
lioiive 9 em que o oleo produziu mau elTeito,
c 19 em quo a sua accao i'oi indilTerente:
nos rcstantes o seu uso foi seguido do notavel
.iprovcitamento.
A poquena por(;ao dc iodo que enira na
composirao do oleo de figados de bacalliau',
a observarao de que os docntcs iiao cxperi-
nientam com a administracao do iodo, em
varias combinacOes, mudanfas seniclhantes
as que se seguera do uso do oleo, teem levado
0 Dr. Yiilliams a negar a influencia do iodo
no curalivo , e a attribuir tal eU'eito a uma
virludc especial c privativa do oleo de ligados
dc bacalhau. '■
Propricdadcs nutritivas Ibe sao tambem
assigaadas, e reconbocidas por todos os pra-
ticos, nao sc liniitando eslas a uma simples
dcposieao de gordiira no tecido adiposo, mas
augmcnlando sciisivel c rapidamenlc a forra
c actividado museulares, o niellioraudo a cdr
das faces e labios, indicio d'um intujncscimen-
to de vasos com mais c mellior sanguc. As
analyses d'csie liquido n'um caso de plubisica,
tratado pclo oleo dc ligado dc bacalliau mos-
traram um notavel augmeuto nos princijiios
auimacs especialmenlc na albumina; a fibri-
ua, geralmcnte abuiidante nos pblbisicos loi
' Se^iiiulu Girardin e Preiwser em cad,i Iiir(» d'ulc)
entram api-ii.Ts 1.t centijjrurama.^ d'iodurcln de pofassin.
^ Eala upinirio de Williams niio <■ segiiida por todog;
al^uin ha para os quaes a grande divi.sao em t{\iK o
iodureto se eucontra, favoreceiido a sua absor]K;rio i)e|o.s
t»-cidos, e a causa efliciente duii efTeitus. uttribuidos ao
ulco.
OulroR afGrmao que o oleo noo sendu eliminado da
ecouomia com tanta facilidade como as outras prepa-
ra<;ops soliiveis d'iodo, a arrrio d'e~te etemente l'c toriia
a?^^m mais lenta e regular. —
rciluzida a ordinaria proporcao. A. gordura
nenhum augmenio solTrcu.
Se cstes rcsiiltados tbrem confirmados por
subsoqucntes observacoes nao diividaremos
altirmar que o oleo de ligado dc bacalbau .sera
ainda lentado conio nutricnte de todas as
tcxturas; pois (|ue o augmeuto do principio
albuminoso, iniporta o de um dos mais neces-
saries a uulrirao, ]ior isso (jueco ((uc sc acha
mais disseniiuado na economia animal. Nao
deixa porcm dc scr objecto de'duvida sc a um
trabalho intimo cntrc a albumina, c libi;ina,
ou a uma mcnor pcrda dc principios albunii-
nosos no acto ri-spiratorio se dcve attribuir tal
augmenio dc niitrii,'ao.
A gordura rcprcscuta um imporlante papol
no proccsso nutritivo, qucr formando as cel-
lulas pclo podcr dc coagular a albumina em
loruo de si, como suppOe Acberson de Ber-
lin, qucr originando as molceulas centracs
dos granules dcmentares das texturas, como
opinao outros. 0 oleo de figados de ba-
calbau nao suppre a gordura ondc d'ella se
carece, mas torna-a de melbor especie, mais
fluida, c divisivcl, menos sujcita a mudancas
c mais apta para scr absorvida para o intimo
dos orgaos, oH'crerendo no chylo uma delicada
base molecular, c materia para um melbor
liquido nutritivo.
A ac(;ao bcnelica do oleo torna-se assim
mais notavel nos periodos de molestias tu-
berculosas cm que os depositos abundam em
gordura. Um dos mais notaveis cITcitos do
oleo de ligados de bacalbau em certos casos
de pblbisica no scgundo ou terceiro grao, ou
em molestias cscropbulosas com grande sup-
puracao, e o prompto desapparecimento dos
suores, e outros symptomas caractcristieos da
febrc hectica.
.\iuda que csle plicnomcno seja attribuido
por alguns auctorcs ao podcr nutritivo do
oleo de ligado de bacalbau, julga o Dr. Wil-
liams que sc pode explicar por uma quebra
na insalubre sujipuracao excitada em torno
dos tubcrculos amolecidos e cscavados Esta
diminuicao de siippiiracao e devida a mcnor
oxidacao dos atoinos exsudados, a cuja ultra-
oxidacao attribuc Williams a sup|)uracao.
A prcscuca d'lima materia lao combustivel
como 0 oleo obsta a esta ultra-oxidacao. e por
conscguinte aos pbcnomcnos suppuratorios,
prevenindo d'cste raodo a degencracao dos
corpusculos no cstado plastico dos globule?
purulcntos.
Se sc provar que o oleo dc figado de ba-
calhau aparta o cxcesso de fibriua no sangue
dos pblbisicos, d'accordo vae esta explicacao
dc ^N illiams com a sua doutrina a cerca da
I'ormarao da fibriua. que clle faz provir d'uma
oxidacao da albumina, pois que o oli'O im-
pedindo esta oxidarao diminue a teudencia
para os depositos inilammatorios.
0 oleo dc ligado de bacalhau raras veze*
223
perturba o csloraago o os inlestinos, on altera
as I'unccOes hepalicas. Nisto csta cm op-
posicao com os oulros olcos e Korduras; —
porque OS olcos vcgetacs orilinariamcnte teem
avirtude piirgativa, e os d'origcm animal tor-
nam-se rancidos causando acidez nas vias di-
gcstivas, ata(Hies hiliosos, easvezesa icliricia.
is funcfocs clix iopocticas, e a acrao do figado
sao de tal modo mclhoradas, que cm algiins
CBsos aprescntados na pratica do Dr. Wil-
liams 0 appetite c o poder digestivo foram
restaurados c os docntes habilitados a tomar
maior poriao d'alimenlos do que a ordinaria.
Esta inlluenria peptica e de rerto devida
a algum principio bilioso contido no oleo ;
favorefcndo-sc d'cst'arte a divisibilidade no
processo da digestao, epromovendo-se a natu-
ral secrccao do figado.
Durante a administrarao do oleo de figado
de bacalbau tcm-se notado que a bile corre
livre e uniformemente; o volume do (igado
augmenta scm sc notar moleza alguma ou
outro signal d'alleraffio. Diz o Dr. Williams
que isto parece scr uma cspecie de hypcr-
irophia causada pcio oleo que augmenta o
volume c quantidade das cellulas hepaiicas,
e suppre ao raesmo tempo uma materia mais
apta para a seiretao biliar, por quanto ja
contem alguns elemcntos que serviram para o
mesrao uso no ligado do pcixe, ainda que a
uma tempcratura mais baixa e por conseguinte
menos lavoravcl a actividade do processo.
Estas obscrvacocs nao (icaram cstcreis. 0
Dr. Williams emprcgou o oleo de ligado de
bacalhau em varias molestias do ligado, cara-
cterisadas por diminuicao ou alteracao dos
productos segregados : notou que o scu uso
era scguido dos mais satisfactorios resultados,
principalmcnte n'um caso de formacao de
calculos hepaticos cjue tinbam resistido a todas
as formas de tratamento.
Ainda que ulteriores observacoes scjam
neccssarias para delerniinar precisflmente a
extensao que se pode dar ao uso d'este agente
therapeutico nas molestias tuberculosas pul-
monarcs, julgamos comtudo que os casos ja
cilados poderao servir d'incentivo para investi-
gacOes mais profundas.
F. A. ALVES.
GR.4VIDEZ EXTRA-UTEUIN.\ DE 16 ANNOS.
Sao pouco vulgares as gcstafoes extra-ute-
rinas, e ainda menos as que nao tocam um
termo fatal logo ao fim dos 9 mezes ou pouco
depois. Esta gravidez de 10 annos da-se
n'uma mulher casada'ba 2S annos e com Ki
de edade. Vive na Serra do Monro, concelbo
de Cbao de Couce, e chama-se Maria Fran-
cisra. Obscrvci-a a primcira \C2 cm marco de
184o, e repeti a obscrvacao em julbo passado.
D'ambas as vezes encontrei no ventre uni
corpo elliptico, ou antes com a forma d'um
rim, com cinco pollegadas no scu maior dia-
metro, dure, bolcado, c tao movel, ipie facil-
mente o liz pcrcorrer toda a cavidadc abdomi-
nal; occupando a rcgiao bypogastriea, aiguni
dos hypocondrios etc., segundo a posijao da
mulber, c obodecendo sempre ao proprio
peso.
A mulher leve um parlo regular no prr-
meiro anno do scu casamenlo; e passados
annos, em outubro de 1S38, julgou tcr con-
ccbido segiinda vez. Trez mezes depois ap-
])arcceu-lbe uma metrorrhagia, acompauhada
de violentas dores, que logo se modilicarani,
dcmorando-se a bemorrhagia por mais de,
sete scmanas. Este incidente nenhuma descon-
lianca Ihe produziu, por ver que na progres-
siva elevacao do ventre, nos movimentos do
feto, na intumesccncia dns pcitos, e em ludo
0 mais, se tinbam manifestado todos os pbc-
nomenos d'uma gravidez ordinaria. Fez o
enxoval; e, no lim do tempo, quando o c.spe-
rava, appareccram as dores em tudo semc-
Ihantes as do primeiro parto. A parteira,
surprebendida com a demora, custou-Ihe a
convencer-se de que eram frustrados os sens
trabalhos, e que d'esta vez nao teria a satisAic-
gao de aparar a crianca. Logo no 1.° dia
reappareceu a metrorrhagia; ao 3.° dia cxtra-
vasou-se o leitc, e ao 8.° scccou de todo.
As dores foram abrandando pouco e pouco ;
8 0 volume do ventre, que diminuia succes-
sivamente, ficou no lim de seis scmanas,
quando deixou de correr o sangue, conio um
ventre de mcia gravidez. Em 1845 ainda
tinha este volume, mas acbei-o menos clcvado
a ultima vez que o obscrvci. Deixou de scniir
OS movimentos do fcto desde os primciros
dias d'aquclle trabalho. Passado pouco tempo
rcgularisou-se-lhe a menstruacao, que so
dcsappareceu na edade compctcnte.
Ficou soU'rcndo babilualmcnte dores no
ventre, que pouco a incommodavam ; mas que
uma ou outra vez subiam de ponio, so com
0 bar, com uma volta na cama, e sempre que
tentava services pesados. De 1843 para cii
tcm solTrido muito menos, e ja ha annos que
se entrcga a toda a casta de services duma
mulher do campo.
Esta gravidez extra-uterina parece das
abdominaes primitivas; e tudo leva a crer
que 0 fcto, tcndo morrido no lim do tempo
da gestacao ordinaria, e involvido nas pro-
prias membranas ou n'um kysto de no\a
formacao, se conserva mumificado, ou todo
convertido em substancia ossea e cretacca.
Neste estado pode conscrvar-se indclinida-
mente, sem comproraetler a vida, nem mcsnio
prejudicar a saude da mulber.
A. A. Ds. COSTA SIMUES.
224
OUSEU\
AtOES METEOROLOGICAS. FEITAS NO GABIXETE DE I'HYSICA
DA UNIVEKSIDADE LE COIMBRA.
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22
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Clar. elimp. T. seren.
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21
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N.
O mesmo. O me.^smo.
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2i
751,600
13 015
738,051
0.0703
12,79
N.
O mcemo, O mesmo.
5
22
750,396
14,255
736,141
0,7342
14,01
N.
Cliuva. Vento.
6
21
"50,518
12,364
738,156
0 6749
12,19
N.
Nublado Bum tempo.
7
22
749,153
12,067
737,08'j
0,0215
11,86
E.
Nublado Bom tempo.
8
20
748, 6B5
12,744
735,941
0,7361
12,61
E.
CInr. e limp. B. temp.
9
21
748,614
13,343
735,271
0,7285
13,16
E.
O mesmo. O mesmo.
10
23
752,383
14 058
738,325
0 6832
13,77
N.
O mesmo. O mesmo.
11
23
753,450
14,0511
739,392
0,6832
13,77
N.
Cbuva. Temp, venloso.
12
21
751, 7aa
13,728
738,060
0,7495
13,54
O.
Nublado Bom tempo.
13
21
749,681
13,944
733,737
0,7613
13,75
N.
Claroelimp. Veutoso,
14
21
751,337
14,329
737,028
0,7823
14,13
O.
Claro elimp. Ventoso.
15
21
754,355
10,089
743,406
0,5945
10,74
N.
Claroe limp. B. temp
a ^^
21
753,083
12,277
740,1108
0,6703
12,10
N.
Encuberlo T. \entofo.
t '^
22
751.693
13,986
737,607
0,7203
13,74
O.
Nublado Bum tempo.
1 18
23
751,409
14,982
736,487
0,7281
14.67
O.
Claroelimp. T. seren.
1!)
24
751,957
13,601
738,356
0,6238
13,28
SE.
Claro e limpu B. temp.
20
25
750,230
13,909
736,321
0,6024
13,53
S.
O mesmo. O mesmo
31
25
751.323
15,941
735,382
0,6903
13,31
NO.
O mesmo. O mesmo.
2«
25
751,831
16 631
735,200
0,T2O2
16,18
NO.
Ciar. e hmp. Ventuso.
23
24
752,311
14,357
737,654
0,6CT6
14,21
NO
O mesmo. O mesmo.
S4
22
752,963
ll,l!85
741,078
0,0931
11,68
NO.
O mesmo. 0 me^mo.
23
25
754,067
13,193
740,874
0,5714
* 12,83
E.
O mesmo. O mesmo.
26
23
752,339
11,832
740,507
0,S904
11,31
E.
O mesmo, O mesmo.
27
27
751,083
15,378
T35,T05
0,5942
14,80
N.
Clar, e limj). T. seren.
28
26
751,205
14,U20
736,385
0,6061
14,37
E.
O mesmo. O mesmo.
29
26
753,743
12,243
738,502
0,6234
14,78
E.
Clar. elimp. B. temp.
30
26
752,831
14,913
73T.968
0,6099
14,46
E.
O uicsmo. O mesmu.
31
2a
752,231
10,985
741,24«
0,3939
10,58
N.
O mesmo. O mesmi.
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23,12
751 695
0,6646
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Prcssao atmospkerica
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^
Vciiloi prcdomifiauUs
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Maxima
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Maj.absol. 754,067
Maxima abicd. 0,7823
Minima .
... 20
Minimi . . 743,614
Minima . . . 0,3939
N. e E.
M.ixima\
arinr. 8
Max. excur . . 5,453
Max. varia;. . 0,3884
Coiin
bra 1." de
Setembro de
1854.
O Demuiisir
iilor da FHciil.lade de PI
iloKojthia, Manoet dos Sc
HlOS P
'rei'ra Jar dim.
&&9
itiit0,
• Uii'> iOi
■J oir«iiIIi
.lORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
aoioc, j.u- 'jhr.lAioS ?■()(] h f:oy:-jl torin. [f -.b ioif
■!■ linn ■■! ^
.\U OUi •
4ao'j Qii Klin
> 9 ,Gh>nfi{IoD/t> loYBJaaJ/'
nvnol
if Satidade ! gusto amargo de infelizes ,
w Que me estAs repassando o intimo peito
*i Com dur ^ (I'lc eg seios d'alma dilacera ! »
Gabbbtt — Camies.
O IxsTiTUTo DE CoiMBRA. acaba de perder o seu maior
omameiito — o mais illustrc e distincto dos seus SociosHo-
norarios- o Sr, Visconde d' Almeida Garrett!!!
Engenho sublime, geuio raro e portentoso, Joao Bapti-
sta d' Almeida Garrett fora como poeta, como romancista ,
e como orador politico um dos homens xnais erainentes
d'este seculo; e o primeiro, sem duvida, dos nossos poetas,
depois de Cam5es.
Vol. III.
De^kmbjio lu — 183i.
NcM. 18.
^-^A^^,^^^^^-^-
226
O theatre nacional Ihedeveu a sua regeneracao: ou antes
foi elle o creador d'esse theatro moderno, que o nosso
illustre Consocio immortalisara coni o seu Gil Vicente, e
Fr. Luiz de Sousa.
Na preciosa colleccao das suas obras poeticas^ o illustre
Cantor de Camoes legou a posteridade um perenne niouu-
mento das sublimes iuspiracoes, profundos talentos, e in-
contestavel excellencia, e elevacao de espirito, que fizera do
nosso grande Poeta o digno emulo dos maiores engenhos,
que a Europa adniirara desde Milton, e Shakspeare, at6
Byron e Lamartine.
Romancista conceituoso , do mais fino e polido gosto;
orador consi^mmado nas lides da tribuna, o Visconde d'Al-
3IEIDA Garrett terminou a sua brilhante carreira ao cabo
de longa e tornaentosa enfermidade , deixando no estadio
das letras patrias um Nome, que as maiores glorias littera-
rias nao poderao nunca eclipsar.
Nos Annaes do Instituto, que teve a fortuua de contal-o
no numero dos seus Socios, flcara elle sempre gravado em
indeleveis characteres, como o seu maior e mais glorioso
tropheo.
II Em prezaila memoiia
u Vivjra para sempre eternamenle,
a lua gloria, p
GiBBETT — Flores »em Fructo.
.oi-io8 '
r-\txun omoj .cJ'Jou of
■fi;nr srrorrmd
227
CONSELOO SUPERIOR DE INSTRUCQlO
PUBLICA..
CO.NFEBENCIA GEBAL DE 31 d'oUTCBBO DE 1854.
Abriu a sessao o snr. vice-reitor e vice-presideatc Jose
Ernesto de Carvallio e K.ego, com o seguuite dis-
oureo:
Senhores! — Em Abril passado live, pela
primeira vez, a satisfaccao de ver reunido
nestc mesmo logar o Conselho Superior d'ln-
Etrucfao Publica em confercncia geral or-
dinaria, na qual so apresentaram os relatorios
compleraentares, relatives ao anno iectivo de
1852 para 1853, e o mais que decorrera ate
cssa epocha. Iloje obedecendo a lei, ainda
me cabe a honra de vos annunciar a abertura
desta conferencia tarabem ordinaria, ordcna-
da pelo art. 21 do regulamento de 10 de
novembro de 1845, cm quo vao ler-se os
relatorios do anno Icclivo iindo.
Comparando o estado presente da Instruc-
fSo Publica entre nos com o passado, e com
0 das Nagocs mais civilisadas, se nao acom-
panhamos a estas com passo cgnal, como era
de desejar, podemos ter a satisfaccao de que
as seguimos de perto. Ninguem pode ja des-
conhecer o notavel melhoramento da Instruc-
5ao Primaria, quanto se tem alargado a
esphcra do ensino, e quanto se ha melhora-
do sen methodo. Se Portugal nao possue
ainda tantas d'estas escholas, quantas de-
manda a sua populacao, o numero d'cllas
Val todavia crescendo progressivamente.
Nao e menos lisongeiro o estado da In-
Btruccao Secundaria ; a creaf ao nos Lyceus
de Lisboa, Coinibra e Porto das cadciras de
arithmetica, algebra clementar, gcometria
synthetica elementar, principios de trigo-
Dometria plana, e geographia mathematica;
e de principios de pbysica e chymica, e in-
troducfao a historia natural dos tres reinos
augmentam e quasi completam a sua esphera.
A. sabia e salutar disposijao, que prohibe o
ensino particular a lodos os professores pu-
blicos de quaesquer escholas ou estabeleci-
mentos ha de contribuir ainda mais para o
melhoramento e perfeiyao do ensino publico.
A Instruccao Superior tem tambem me-
Ihorado consideravelmente nestes ultimos an-
Dos; 0 esmero com que os conseihos de todas
as Faculdades da Universidade tem escolhido
bons compendios, que estejam a par da sci-
encia; a preferencja que se tem dado aos
melhores methodos de ensino, provados pcla
experiencia ; a melhor distribuijao de cadeiras
e combinafao de disciplinas, tudo tem con-
tribuido para o seu aperfeijoamento. Os con-
seihos das outras escholas separadas da uni-
versidade lera empregado eguaes esforcos
para o mesmo fim. A creacao do curso ad-
ministrativo, em que se adquiram as babilita-
fSes indispensaveis para a carreira da ad-
miaistrafao geral, e que j4 se acha em
exercicio, tonia mais ample a Instruc^So Su-
perior. 0 regulamento para se por ji em
practica a ultima lei dos concursos, para o
provimento dos logares do magisterio, ha
de concorrer efficazmente para o seu progres-
sivo engrandecimento e esplendor.
0 Conselho Superior da sua parte nao
tern cessado de dar, pelo modo que Ihe
parece melhor, impulso convenientc a todos
OS raraos d'lnstrucfao; e vai dar-vos conheci-
mento d'algumas diligencias que fez nestc
pequeno periodo. Dcsejando porera soccorrer-
se a todas as illustrafoes, aproveita esta oc-
casiao de reuniao geral para convidar todos
OS sabios do Paiz, a que na forma do art.
22 do nosso regulamento aprescntem suas
memorias ou requerimentos, lendentes a
proraover os melhoramentos dos estudos, ou
a declarar os verdadeiros obstaculos contra
0 seu progresso; e a proper as providencias
mais proprias para se obterem os bcncficios
d'uma educacao nacional e moral, conforme
as necessidades do seculo.
0 snr. Secretario da 1.' Secjao tem a
palavra para ler o seu relatorio. '
miAERSIDADE DE COIMBRA-PROGRAMIIAS.
FACULDADE DE DIREITO.
18a3— ISoi.
2." ANNO. — 5.* CADEIRA.
CDRSO DE DPREITO PCBLICO CNITERSAL ; DIREITO PCBLIOO
PORTUOOEZ ; raiNciPios de potiTici ; E scie.nci,i db
LE(nSLA<;AO.
Lenle — Dr. Vicente Jose de Sei^a Almeida e Sitva.
COMPE!^DIO — I.- A MACAREL, ELEMENTS DE DROIT POLI-
TIQUE, COIMBRE I8W; — E CARTA CONSTITUCIOMAL
PORTtOUEZA DE 1026, E ACTO ADDICIO\AL, COIUBBA
18.10.
No(;5o, divisSo, fontes , e siibsidios do Direito Publico
Universal. Kaini enlre eJla sciencia e outrns , que dizem
mais particidarmenlc respeito a vida hiimann, e ao desin-
voMmenlo individunl e social do homem. Rcspeclivaj
proprieclades de todag estas «ciencia8, rasoes em que eilos
cnnvpem, e por onde diversiOcam do Direito Publico
Universal ; e islo mais amplamenle em relaijao 4 Polilica,
visto ser a sciencia inlennedia enlre o Direito Publico
Philo!iophico e o Direito Publico Posilivo.
Necessidade e insienes vaiilo^ens do estudo d'esle Di-
reito ; o muiti que d'elle depende o bem da Egreja e
do Eslado. Origem , progressos , e estado actual da
Sciencia,
Defini(;5o, origem , 'fim, effeitos da eociedade civil;
Iheorias das dilTerentes escholas aobro a materia , — juizo
critico It cerca de cada uma d'ellas.
Condi^oes d'uma boa conililuiijSo polilica em geral.
Breve nolicia hislorica da roiisliliiii;iio polilica portugue-
>a desde o principio da roonarchia ale a epocha presente.
Sobcrania, sua origem, exercicio, e allribitlos; theo.
rias das diHerentes escholas & cerca da materia.
Divisao dos governos ; dos goiernos republicanos ; do«
governos monarcbicos ; dos goiernos mixtos.
' Os relatorios de cada uma das Sec5Jle9 deiiam
de ser aqui publicados, por isso que tem de publicar-
se em tempo competent* o relatorio annual io inatru*
^0 publica.
228
BoDtlade intrinseca doi goffrnoi,
Gnraoljds iuciaes
DivtsJo du« piidere* politicos; leu fundaroento ; poder
I^iilativo, |iuUer modtrador , poder executivu , poder
Judicial.
EleniCDtos da poder le£:iclativo ; sua orj;aniin(;ito ; suns
atlnbrri^Ses Poder moderador ; suas allribiii.;5eg. Ori^a-
uiia^Ao do fiuder exfciitivo c siias altrihiii^Scs. Organi*
la^ao t\o |>od"T judicial ; etpmentus da aticturtdade jiidi-
cial. Pas caii'^as que corroiii|>t-iu e dissulvem os governo*,
Daj re\olin;5»*s ; (Ihs reaci;ft'S.
Nus prelf-crSei uraes sejjue o Professor a ordem dns
materias ado|i(;ida p<.r m. micarul, aprovcitando a con-
nexao das dontrin^iB para Iruclar do Direito Purlii;uei,
dos Priucipius de Pulilica , e Srieiicia de Lef,n»l«);Ho ,
cilando in» prjncipio de c;*du capitulo os publicishis taiito
nacionaes , como extraiigfjrus , tpic traclam uielhor a
materia.
2." ANNO. — 6.» CADEIRA.
Cl'HSO D'ECONOMrA POLITICA B DA THBORIA DA
ESTlDISTICA.
Lenle— /Jr. Adrido Pereira Forjaz de Sumpaio*
C0.MPE^DIO — A. p. FORJAZ DE S«MPAIO, RLKMEST08
D'ecoNOMIA PoLlTICA, CUIMBHA 1 8 J* ; B PRIM&IHnK
ELEMENTOS DA THBORIA D.V E:iTAbI8TICA , COIMBUA
1852.
l.» PARTE.
ECONOMIA POLITICA.
Ksia primeira parte do curso comprcbendera todas as
li^oes do snno leclivo, menus as nitiniai qniiiie, as 'iiiacs
lenlo resr-rvadas para a 2.» parte — Th«oria daEstadisii-
ca , — Jiniitando-s** o Professor aj lU'^Ses niais ^eracs e
aos prinripius mais fnndainenlaea por causa da estreiteaa
do tempo , e niclhodo do eiisino ; sfgundo o qual iim
iinico aniuj lectivo , de poiico mais de cem tn^ofi , e
deslinado para a exposi^iio e esliido de tiio vastus e im-
porlautes (pjehtoes , ecoDouiicas e ftociaes.
introdi'c<;ao.
1.° No^OfS d*utilidade , de valor , e de riqupza. — 2.
No^5o d'Eronoinia Pulitica, i»iias di\i.-«oe», sim especiali-
dade como scit-nria , sua rela(;,u) cem as outras scieiicias
juridicas e polilicas. — 3." IJlilida-ie d.» aeu ^'^^lidl< , e
rediiiiiD de sua hi«turia , nuiiiia dus kj^lvmas pi iiuipaes ,
biljlioirrnphia.
IV. IS. O professor adopta a classifica^So d')» ecouo-
mislMS allemJtea cm Ihforia da fconoiiiia na(-ion:<l, ronsi-
dera'ius us phcnoii.enos i-conouiicos eiu almlraclo das ri-la-
^OHS coin OS j:ov.Tnus ; e em llu-oria da pulicia ccononii-
ca , oil das r'-|di;u*'S do goveriio rom a ««,ihera iiidnstrial ,
compreht-ndt-ndo n'e^ta os primeiros t-lciiK'ntus da acien-
cia de Faz>-nda.
THRORFA DA ECOMHIIA DA6 nAI.UUS
Da produrqiio : — 1." N rG. s ;i;crur.*s a c^rca dus acen-
\fs e instriMiienlo* de produ»(;au ; « cm ej^penal — das
for(;.iB naluiat-s, da iiiiinstria, e d<>s c:ipilae9,
2.° Do api-rfei^oaniento da produrrau, c de sua* rau*
sas proAJmas
3." Da cirrnlaijilo , rousidfrada como ciiiulii;iio «la pro-
ducij-ao: — noroi-s tjerafs d** Mia iialureia e iuiporUBcta ;
— dos pre9o^ ; — do iiiim'Tarm , — il.t creditu Na rtpu-
si^ao da naliircza e elTciUis <lu cru'Iilt) o Prof'"M>r otxii-
par-se-lia, rom a [)uS!.ivp| e\l.*n.sao <; jniiivi.liia(;3u , dos
vi^naes rcpresenlativos , espfcialm<'nl.e ilas lelras e nflasi
do ttHucu ; dos entuntros ; do cainbiu ; e dus baticos ,
indiislrj.ips e tt-rrilnriaes.
Ufi (iistnbiii^no . — o qrie sfja ; — sua forma primiti»a
pnr a9(iooia<;ao e raleio , — sua forma aperfeitjuada por
estipulrt);ruj ; — circunistaiicias ajfra^-s (pie detfrminam o»
salarios ; — os interesseit dus c^pitats ; — a reoda das U-r-
ras ; — e os lucros das emj resas.
Do conaumo — em yerai ; — e da rela^aq eolre a pro-
dui'cau e o coiisumo improduclivo ; .— e cntre os consu-
mos produclno e imprndm Iim
Em supplemenio a Ihcorra da dislTibui(;5o, o Pro/essor
evpora as theorias {\ efxcx do principin da po\oa(jrju; —
da iuiportancia das m'irhinaSf consiileradas coni relat.'^io
a di^lribuj^lo ; — e da ii>ct'(i.>ii|aJe e alcance das assucia-
<:flei, livre* e naluraei , enlre os industriaei, para o pro-
gressivo melhorameido de sua condu^rto moral e materia!.
THEORIl DA POLICIA EdiNOMICA.
1.* Das rela^Ses do eslado com a economii da na^So;
— Do^oes fundamenlaes. de que se denva o prinripio da
liberdade industrial, e da insfiec^ao policial ; — da inter*
vein;.1.i , a que o eslado ^ ol-rifrado ; — da intervention
que a Iheona repruva: —em especial <los re:;ulameirtoa
fal>ri» ; — e das pmvidencias reli^ti^ai a cirndii^So, moe*
da*em , papel-mueda ,6 — prohibi^(>8 c restricrdcs com*
mrrciaes.
t. Da ecumjmia do entado em tjeral ; — dos rendtmen^
tos pnldicos ; — dos iiupostos , cua iiahireza e e.-pecies ;
qual a maicria colkTla\ el ; (jimcs os prinplpfos que deveui
dflerniinar a seleri^riu dos iuiposlos ; de sua cobraiicn por
adiiiitii*lrrt<;aij e arr'-iidaiiieiito ; — ii<i(;o*'s f,'fra«--s u cerca
das dfsj'e.*a8 do fst.olu ; — recursos extra. . rdmarius , c
em especial d-.s omprestimtis , sua» esppcins , miiii'ira por
que se realtzam , seus pfruiciusus effeitos , e como a«
auiorlizam.
fi.» PARTE.
TIIHORIA DA BSTADISTICA-
No(;ao , ol)jcclo edi\i»Ce* da tbeoria da Esladistiro-;
— • quaes ei'j.iiu os fartus estiiilistifos ; — quaes as opera-
^OL'S ^■l'ladl^llcas, pur cnjo mejo esses factos hao de reca-
Iher-se e BJunctar-se ; — quaes as fnnles d^s dados esta-
dislicos ; — do tuelliodo da Esladislica , ronfronl;ii;(>» «
dediiC(;oes das series dos da<los estadislicus ; — ulilidado
poljijra, admtiiidtrajiva , c phitusophica do estudu da
Esladislica.
CLAUSTRO PLENO DA UNIVERSIDADE.
Em virlude da lei de It de aj^osto iiltimo, que confibN
H09 conselhoa academicos o ordfnar os necessarios regula*
menlos littcrarios, e disciplinares, sob a immediata np»
provarao do Governo, se reuniu a assomblea ireral de toilat
as Faculdades acailcinicas para traclar do re^rulamcnlo
para os exames preparatorius para a primeira admissau
nas Facuidailes; e das indi^penaaveis provjdtncias 8))bre
fall.is (te fipqueiirias dus ahininos as aulas, e ontros objec-
tos disciplinares. Resolveii-se que se nomeas^em duas
comniFsi^oes de cinco meml>ros cada uma, a primeira pari^
or^raiiisrir o pro]- cto de re^Milamenlo ilus examcit prepara-
lorio^i, e a seL'onda para prupOr ai cuUM-iiientes provi-
dencias disriplMiares e admini>-lrativas ; e ftiram nomeadoi
{>ara compor a priiiu'ira cummiksao, srodo em ambai
eleito um luembm de cada fat-uldade, us duuclores Fran*
CISCO Antonio Rodrignes, Vicenlr Ferrer Nilo, Ftorencio
Peres Fiirtailo, Joaqiiini fion(;ulves M-imt'tie, ejt.se Alaria
de Abreu ; e para a seirimila os doucliires Anluiiio Bel»
larmiiio da Foiiseca, Fridenco de Azfvedo Faro e No*
rnnha, Francisco Feniandcs Costa, Jose Teiteira de
Qiifin.z, e Hf-nrique do Coulo de Aliiieiila.
Lofju que as respecli\as conimis.'Srj. lenham prompto*
oa sens trabalhus reunir-se-ha iiovamenle o Clau.-lro rtca?
demicx para disculir e vular os coinprteulfs remilamen-
tus, a flm de serem siiumeltidus a appruvit^ao duGovetDo.
FACULDADE DE PHJLOSOPHIA.
O Cuisfllioda Frtcutdade de Pliiloi-i.pliia fez lima impi>r-
lante refornia no piano dot- sens eslodus, jmra cumerar a
ler executj.'to, parte, dcodf j.ij u parle no futuro aimo lee?
livo.
Frain ha muilo couheciilos ns crii^-s incnn^enienles de
inl.-rroniper o curso ile I'hyniira 'in 1." anno com o rtft
Physica ito 2 ", vindo a concluir no 3 ** o esludo de Cliymicat
sob a direi-c;l«» de divcrsus professores.
Pur oiilro lado a Phjsjca mal podia ensinarso com
provejtu a alumnus, que das muthem^dicHS puras pnjisui.iiU
apenns a (ieometria, e os primeiros elementos d'AlEjebra?
Por vezes o Conselliu Iraclara do prover conveuieotef
meiile subre esle importaiite objedo, tk; que uiuilo depeil*
dia o mcllior npruvrilamenit) dus alumnus ; mas sumpr^
se Ihe oppiinha a completa falla de estuilos preparatorios
dt'S principios de Pliysica e Chymica, e IntrodiiC(;So a
Hi'turia natural dos trcs reiuos, e da (jcoiik Iria, cum qitj
229
oa aliimnoB eram ndmiUidus /i nialrloula no piimsiro
anno <Io ciirsu i>Inlufii'|tliico ; preparnlorios sem os tjiiucs
■ mill podiii erilr.tr-se no pmrumlo fonlierinifiito do* di\erst»9
rnmoB das scirni'ias physicas, e parlicul»rmenle da
Chymica or^^anica e da Pljysica,
A lei de 12 de a;;ofctM iillimo, creando cadriras de
Introduci;ao a Hi^loria iialural, c lurnandu uhrii^alurio
esle prepnraliirio, e o da Gcomelria para a primoira ma-
IrJcula era (odoa os cursos de liinlruc^^io sitptrior, hrtbili-
tuii a Factddade ile Pliilosulia para dar ous seus eshidofl
itnia nova e niais oiivenifnte di8posi(,'So.
A Cliyraiia (pe ale aqui se ensina^a no I.^e 3.** anno,
BfrA lida no I,** e '2.** anno em curso hiennal reiii lo por
doii proressores ; desle modo o ensino sera niais regular,
e tiniforme. c no niesmo Ifnipu u)> Htiiniiius, li\tes do
esludo mais Iraosceink'iile e difficil da Physica, poder3o
<Jar tnetlior conia das lirues de calculo ; (_' liabililadus com
o esludo ilesia ultima disciplina, podr-iao lanibem colher
major fruclo das Itt^ues ile l*lty:sica, cnja cadeira pnssa do
8," para o 3 " anno para alij se ier conjtiuclameiile com
a de Zuolozta.
Nu8 mais annos da facnldade conlinnam n Ier ne ni
fiiesmas diaciplinas, mas provavelinente hnvcri allfra^'So
em alguQS dos cumpendius, que scrvem de leslo us lM;dea.
O HYMNO DO MEMNO AO DESPERTAK.
(Produc^So da Harmonia VII; L. I., de Laniartine)
i.; O Pae, que men pae adora
Com OS joelhos no chao ;
A cujo nome se inclina
Minha mSe com devo^So !
Do ten poder tenlio ouvido
Que e o sol uma centeiha;
Dizem que oscilla a tens peg
Como a alampada vermelha.
Kos carapos as avezinhas
Dizem fizeste nascer ;
Que DOS deste instincto e alma
P'ra te amar e conhecer.
Dizem que es tu que produzeg
Dos jardins as lindas flores,
Que o vergel sem ti seria
Avaro dos seus priraores.
A 03 dons que esparpes bondoi^o
Todo o universo e conviva,
Deste urn luj^ar ao insecto
N» tua meza fesliva.
Trepa a cabra ao medronheiro.
Roe o cordeiro o serpiio,
Na ta(;a de |eite a mosca
Vem comijo ter quinhao.
A gran que das I'lras salta,
Aprovcila a cotovia ;
Segue o pardal o ceifeiro;
O menino a mae que o crla.
E para oijter estes mimoi,
Que fazes desabruchar,
Basla so, a qualquer hora,
Teu Dome, 6 Deus, invocar!
Teu nome d'anjos temido,
Que esta bocca balbucia,
Tu distingues enlre os c(Jro»
Da celeste melodia.
Dizem que os r<5go8 da Ufaacia
lu lolgas mais de acolher
Por causa desta innocencia,
Que fids temoj sem saber.
Que nossas preceK Angelas
Vao melhur aus Icus ouvidos,
Talvez porque os ccos tera anjos,
Com quern somos parecidos.
Oh ! jA que ouves de lao longe
Preces que <is labius agitam,
Quero pedir-te incessanle
O que OS outros neceijsltam.
Du, o meu Deus, agua us fontes,
Da pennas aos passarinhos,
Da orvalho e sombra aos campof.
Da Ian aos cordeirinhos.
Aos doentes da saude,
Aos pobrezinhos o pSo,
Aos prezos a liberdade,
'Ao8 orphSlos a habita(;ao.
Ao pae que teme o Senhor,
Da familia numerusa ;
A mim da-me siso e ditas,
Torna minha mae ditosa.
Faz-me bom desde menino,
Como o anjinho do teraplo,
Que de manha, juncto ao leilo,
Sempre a surrir-me contemplo.
Pde na minh'alma a justi^a,
Nos mens la1)ios a verdade ;
Em meu peito a tua lei
Ache — amor, fldelidade,
Minha voz a ti se eleve
Como o incenso perfumado,
Que em ondas sae do thnribulo,
Por meninos embalado.
COSTUMES ARABES
A NOBBEZA NO DESERTO.
C'ontiuuado de pag. 180.
Apezar da adniiracao que os arabes tribu-
tani a coragem, para dies, todavia, o ponto
dc honra nao e como enlre nos. Nao julgani
covardia o retirar-se um homem de qualquer
numero de aggressores, ate o fugir de um
inimigo mais fraco, se nao ha interesse
em veneer. Os arabes riera muitas vezes de
nossos escrupulos eavalleirosos. Amando, a
nao podcrem mais, as desenfreadas correrias
a cavallo, e a estrepitosa linguagem do canhao,
esforram-se para que seus combates tenhara
0 mais possivel um fim de ulilidade prac-
tica. Tornados do maior ardor em quanto os
favorece a fortuna, dispcrsara-se e desappa-
recem logo que elia os atraicoa. Tambem no
modo de appreciar a bravura, em niuilos
pontes, dilTerem essencialmente de nos. Por
estimarcm a valentia, nem por isso tractam
com excessiva severidade os a quern falla esta
virlude. Nunca um covarde subira as digni-
dades da tribu, mas tambcra nao sera alii um
ente desprezivel. Dir-se-ha simplesmente, sem
a cholera que o fanatismo muita vezes produz:
« Nao quiz Deus que elle fosse bravo, e digno
230
de lastima, nao ja do consiira. » Exige-se
todavia que o pusillanime, em dcsconto da
sua fraqueza, seja de coiiselho, e raais que
tudo, de constantc generosidade.
A. fanfarrice e reeel)ida com muito raais
desprezo do (jue o m(>do. « Se dizes que o
leao e urn asno, vae-llie por um rabreslo»;
assim se expressa um proverbio oriental de
freqiitnte applicajao. Ainda (|ue possuem um
sangue ardeiile e uma linguagem hypcrboiica,
OS arabes exigem que a bravura se arme rom
a dignidade do silencio de (|ue fazem tanlo
appreco. Em relacao a esle objecto, iiada Ibes
veiu das iiacnes que combateram no tempo
do Cid, assim como no que respeila aos
combates individuacs, que entre eiles sao
desconhecidos. Uma tradicao que taivez re-
monte ale as cruzadas, diz que oulr'ora chel'es
illustres se baterani cm combate singular;
porem ninguera depara nas tribus com homem
antigo que se recorde de ouvir fallar de se-
melbante facto. Qualquer (jue e offendido,
procura vingar-se, como era costume no seculo
XVI, \)0T via do assassiuio. Encontram-se
conscieiicias largas e condescendentcs que
por modico preeo, descartam um individuo
do sen inimigo. Com tudo, quem e mais avaro
do euro que da vida, quem e prompto em
ferir e demorado era abrir a bolsa, espreita
a occasiao de se lancar sobre oque o injuriou,
e mala-o ou e morto; se perece, Icga as mais
das vezes a outrem essa divida de sangue,
porque, apezar de nao ser favorecida pelo
duello, nem por isso a vinganca e menos ef-
ficaz e llorescente nos arabes. Transmitle-se
de geracao cm geracao. La se encontram essas
pendencias de racas, que outr'ora tingiram
de sangue as ruas das cidades italianas, e
ainda hoje ensanguentam o solo de uma illia
franceza.
As causas mais geraes da vindicta arabe
sao questoes a cerca de aguas, pastes, nuircos,
0 rapto de uma joven esposa ou de uma
donzella, o assassiuato de um marido zeluso,
de um rival preferido, de uma mullu'r ipie
nao quiz dar o sim, (iuaes(iuer rivalidades
entre os cliefes, cujo parlido lomam primeiro
OS parentes, depois os amigos, os clientes, a
Iribu toda, e por lim as tribus alliadas. I'or
isso niesmo que o duello nao e conliecido
entre os arabes, sueccde que alii as conlen-
das individuaes lerminam pelo assassinio, e os
odios continuamente alimentados eternisam-
se. E de notar que pelo contrario a vindicta
tendc a desapparceer dos costumes de um
povo onde, como cm Corsega e Italia, csta
introduzido o duello. Nisto fazia o duello um
immense service a sociedade arabe, porijue
substituiria o liomicidio feito de enibuscada,
pelo combate leal, e lace a face. Se o duello
ianea em lucto algumas familias, ao menos
nao llies lega, como a vindicta, o duvidoso
ponto de honra de eternas rcpresalias.
A vindicta pois e individual ou gcral con-
forme sao individuaes ou geraes os interes-
ses lesados. Se por um motive ([ualquer
houve morte de homem em uma iribu, cau-.
sada pelo chefc, ou ainda por um subalterno
da tribu vizinha, pagando o homicida a dia.
[0 preco do sangue) aos herdeiros da vielima,
lica 0 negocio legalmente concluido. A dia e
0 Wekri/eld dos Allemaes, com a dilTercnja
que, alem do character de Icgalidade lem, entre
OS arabes, desde sua origem, um character
religiose.
Se dermos credito aos tolbas, esta pena
remonta ao avd de Mohamed, Abd-el-Metta-
leb, e loi a causa indirecta do nascimenio do
propheta. Abd-el-.Mettaleb, chel'e da tribu dos.
Koreischitos, nao tinha lilbos, e um dia des-
esperado dirigiu a Dens esta supplica. « Sc-
nhor, se me derdes dous lilhos varoes, juro
immolar-vos um delles em accao de grajaso
Ouviii-o Deus, c fel-o duas vezes pae. Abd-
el-Mettaleb, liel ao veto que (izera, lancou
sorles para ver qual havia de ser a victiraa,
e a sorte caiu em Abd-Allah; mas levan-
tando-se a tribu contra este saerilicio, foi
decidido pelos chefes que em logar de Abd-AJ-
lah, se olferecessom dez camellos, que de novo
se consultasse a sorte ate Ibe ser favoravel,
e que de cada vez que fosse advcrsa, se jun-
ctassem mais dez camellos aos primciros. So
na undecima prova foi Abd-Allah resgalado,
e em vez delle immolaram-se cem camellos.
Algum tempo depois, manifestou Deus que
acolliera bera esta substituicao, porque de
Abd-Allah feznascer Mohamed, seu propheta
e desde esta epocha licou a dia, o ])reco do
sangue de um arabe, taxada cm cem camel
los. Todavia este prcfo clevado soffre modi-
licacoes segundo as circumslancias.
Quasi que nao ha excmpio de homicida
que pagasse a diu e soffresse outro genero de
castigo: os parentes do morto, c ate sens lilhos
accommodam-se voluntariamente com tal sa-
tisfaceao; mas see criminoso nao pode pagar,
ou se 0 governo julga convenienle avocar a
si a causa, enlao e imposta a pena de laliao;
olbo por ollio, dente por deiite, vida por
vida. U segiiinte facto succedido em Mascara
no anno de 1837, mostrara como se alii
applica a pena de taliao cm todo o seu rigor.
Estavam duas criancas a bulbar no meio
da rua, cis (|ue acodem os paes, travam-se
de razoes, das injurias passam as ameacas,
animam-se pouco e pouco, e por dm um
delles arranca a faca e fere o seu adversario,
([ue logo cae morto. Tinha cinco feridas, duas
no peito, duas no venire e uma nas costas.
lima multidao de pcssoas havia corrido
para alii vindo tambem alguns ckaouclif: que
se apoderaram do criminoso, e o conduziram
a casa do hakein da cidade. Os aoulumas
reuiiiram-se logo e constiluiram-se em tri-
bunal. Em menos de meia bora forara in-
231
quiridas as Icstomunhas e o culpado condem-
nado a soffrer a pcna do taliaoexeeutada pelo
irniao da victima. A. uiii signal do cadi,
dous cliaouchs amarrarara-lhc os pulsos com uni
lajo em alfa, collocando-so um a dircila outro
a esquerda, e preeedidos do executor, con-
duziram-no a praca do mercado, onde ja
estavam amonloados dous ou tres mil arabes.
0 terruos da sentenca eram que, o lioniicida
devia morrer com tantos golpes quanlos
havia dado, e rccebel-os nos mesmos sitios
em que os havia rccohido a sua viclinia.
•Quando tiido eslava preparado, o excculor e
0 condeniiiado dcntro de um circuio, o pri-
meiro com uma faca na mfio, o srguiido lian-
quillo e como que iiidin'ereiite ao que ia suc-
ceder, um chuoiuh IcvaiUou o seu basiao:
era o signal. 0 executor lanrou-se logo ao
pacienle e feriu-o, prinieiro no iado direilo,
depois no esquerdo, mas som offender o cora-
jao scgundo parecia, porqne o desgracado
gritava: « Fere! fere! mas nao crfias que me
niatas; so Ucus pode matar! »
Comtudo 0 supplicio continuava com furor,
e 0 suppliciado, cujas entranhas saiam com
jorros de sangue das duas novas feridas que
recebera no ventre, continuava a injuriar o
algoz.
Faltava o ultimo goipe: o ferido voltou-se
ejle mesmo, e a lamina da faca mergulbou-se-
Ihe toda nos rins. Yacillou; mas nao caiu.
« Basta, basla, » gritou o povo, « die dcu so
cinco facadas, nao develuvar mais. » Deleito
a execucao estava lerminada, e o Iriste que
acabava de soffrel-a ainda pode chogar a casa
per sen pe. 0 medico do consuiado, M. Var-
nier, chegou alii quasi no mesmo instante, e
em quanto atava as feridas; a Ob! peco-te,
dizia 0 doente, que me cures! Dizcni que es
um grande medico, da provas disso, eura-me
para que eu possa matar aquelle cao! » Mas
todos OS esforcos foram inuteis, naquclla
mesma noite o desgracado expirou.
Cunlinua,
EXPOSir.OES DE ANIMAES DOiMESTICOS.
As exposicoes que ti^'eram logar nos divcrsns
districlos do reino, deveni necossarianicnlc
cliamar a attencao da Administracao pubiica
sobre o estado actual da nossa prnduccao pe-
cuaria. Em todas eilas se couheceu, quao
distantes estao os nossos animaes domeslicos
daquelie estado de perfeicao, a que teem
chegado os d'outras nacOes, em condicOes
topographicas mais desfavoraveis. Nestas ex-
posicoes nao despontou uma idea de pro-
gresso, ncm ao menos concorreram exempla-
res de todas as nossas racas; e dos animaes
cxpostos a maior parte erao vulgares e tao
inferiores, que estavam bem longe de tocarcm o
grau de perfeicao, a que devem ser elevado^.
Por tanio a experiencia mostrou, que as
exposicoes, mandadas fazer pelo decreto do
l(i de dezembro de 18o2 e respeclivo rcgula-
mento de 2 de marco do corrente ann.o,
serao ineflicazes, em quanto se nao determi-
nar o objecto que deve ser premiado, e se nao
indicarem o* meios de o produzir. Nas nossas
exposicoes nao appareceram esses modelos,
que excitam a emulacao e o zelo dos creadores,
fazendo nasccr o desejo de os imilar e re-
produzir, e dando a todos uma idea exacta
dos typos mais perfeitos e das Iransforma-
cocs, que exigem as nossas racas, para se
cons("guir o seu mciboranienlo. Estas van-
tagens das exposicoes nao as tenios colliido,
jKir(|ue nao appareceram taes modelos; e nao
appareceriim, porque um programnia os nao
pediu: pois conliamos em que alguns dos
nossos criadores, levados do estiniulo do pre-
niio. da estima dos sens concidadaos, e do amor
da |)atria, tentariam satisfazer a esse pedido,
insiruindo por esta forma os sens viziuhos, e
OS concurrcntes a exposicao do seu districto '.
Em lim, o ensino, dilTundido entre os cria-
dores por meio das exposicoes, nao dara com-
plete resultado, em quanto se nao divulgarcm
OS principios, que dominam a ]iroduccao ani-
mal, procurando coordenar os factos da expe-
riencia com estcs principios: o que so podera
conseguir-se, quando o piano, pelo ([ual se
organizarem os progranimas de cada exposi-
cao, assentar sobre doutrina verdadeira, que
possa esclarecer e dirigir a produccao animal,
proniovendo o desinvolvimento dos typos
mais perfeitos, e julgando devidamente o valor
dos mellioramentos realizados.
Ao passo que em Franca se discute porfiada-
mente sobre a mellior base dos progranimas
para as exposicoes; entre nos cone liulo it
revelia, por isso taes teem side os resultados.
Se a(|Hella nacao adoptou em grande parte
as practicas da Inglaterra, porque esta a
precedera na rcforma da sua industria pecua-
ria, por que moti\o se nao adoptarao entre
nus as practicas das nacOes civilizadas, ou os
factos julgados que estiverem mais em relacao
com as circumstancias pecuiiares dos criadores,
e com as nossas condicOes topograjibicas?
Desenganemo-nos, que nesta ejwcba, toda
de reformas e de movimento, eslucionar e.
cnrelliecer, e parcir e morrer jiara a civilisa-
rao (jue incessantemente caminba.
A proporcao que as necessidades mudam e
augmentam, os productos devem modilicar-se
e multiplicar-se; e por isso necessario que o
productor anteveja o pedido do consumidor,
por(|ue (i'tarde esperal-o, niio basta produzir,
e necessario especular.
Diversos systemas se offerecem para a orga-
nisajao dos programmas das exjiosicoes, mas
' Sobre a necessidade desles programmas ^ eja-se pag.
199 do g.° vol, deste Jornal. — Meios tte prornoi't-r a
jfiuttiplica^ao c o melhoramtnto dos animaes donttstlros.
232
Indos dies poilom rcdiizir-sc a Ire?: formnhr
n ))iogrnmma .lobie o eslailn artual da proiliic-
(I'lo iiiiinial, s("guin(lo csrniiuiliisnmciili' a sua
inaivlia, scni llic lazer a mais \c\o, corri'crai);
— ei(i)llier o Ijijio mnis perfeilo piirii cadii
especie, sem sc iinporlar com as resistnicias
i|iic a prodiicrao curDiilrar; — em liiii, (iilo-
jitiir o.s iijjins mais perfeilD.i c i/ne mi'lhor
•^iili.tl'(ii;nm (i\ >u'(rx.\idii(les da eporlui e as con-
diiiics d(i produca'tn.
, 0 piimriio xii-ilcnia siippoe, (|ue o inlnressc
iii(li\ iiliKil e 0 mclliur jriiia para se aleaiiear
II inelliiiraiiiento ilos aiiiiiiaes domesticos; (pre
I'sles sao iiecessariameiilo o que deviatii sor,
e (pie nao podcm ser senao o resullado de
lodas as condiiOcs agricolas c economicas,
u(i meio das (piaes foram criados.
A adopeao deste systenia c a gloriliearao
do v/(/<it (/HO, 0 lorna inulil o cstal)cleeinienl()
(las e\posi('ocs c dos premios: como nao lia
cslbreos dispcndiosos da parte dos criadores,
podcm eslesscr dirigidos someute pelo inlcrcs-
se da veiula dos seus ])roductos. Importa,
porem, ad\erlir que os animaos xdo necessaria-
tiiciile 0 que deviam ser, e (pie sdo o re.ndtado
dfis condiroat mjrkolas e economicas somen te
em (pianlo eslas se conservarem eonstanles c
rotineirus, mas se variarmos raeionalmente
estes factores, e seguirmos a risca os preceilos
liygioteelinicos, os animaes serao o que nos
(piizermos, parecendo mais ohra da arte do
ijiie da nahireza.
0 segundo sijstema, fazendo abstraoean das
coudieoes economicas da produeeao, e ate
dos progresses agricolas, inipOe um unico
lypo de perleieao para cada espeeie. Na
presenca das nuidancas que nos nossos habitos
devem elTeiluar os meios mais rapidos de com-
iuunicii(;ao prios cauiinhos de I'erro e pelas
dcligeiicias etc, e o aperl'eicoamcnto da me-
liianica agricoia, antolha-sc a iieeessidade de
iduer do cavaliu mais I'orca e agilidade; e
ua impaciencia do resullado, podera alguem
preferir exclusivamenle o cavaliu inglez, como
lypo unico, para a espeeie cavallar; para
rijalizar mais promptanu'nle abundante pro-
due(;ao de carne, podera desprezar os nuiitos
e variados scrvi(;os da esjiecie bovina, para
a moldar pela ra(;a de Durham, e desprcza,
egnalmente alguns iiroduetosda espeeie ovjnar
para a conl'ormar pelo earneiro de Dislilcij.
I'm programma, forniulado per e.ste exag-
gcrado systema, pede os resuitados e nao se
importa com os meios, por isso sua formula
(bgmatiea lem provocado pertinaz resistencia,
da parte dos criadores, nos paizes em que se
experimeutou. Deve porem confessar-se, que
estc systema esta mais proximo da verdadc,
do que o primeiro, e que e dirigido pelo
desejo do progresso; mas tcm o grande incon-
veniente cle nao abracar a proihucao animal
cm loda as suas partes, c nao facilitar o ca-
minho ao inlcressc e a liberdade do criador.
0 tercciro sijslema conhcce, que nao deve
conformar todos os animaes de cada es|)ecie
])or um so padrao; por i.-so ([ue sao diversas
as cnnvcniencias, que exige a produc(ao dc
(lil'fereutes typos; a agrieultura nao reune cm
toda a parte as mesmas condicues, em (im'
as nossas rneas, e as circumstancias cm que
elias vivem, nao sao na aeluaiidade o que
deviam ser, e exigem grande rd'orma. Nao
devemos proeiirar os typos perfcilos nos nitimos
graus (la escala das racas dos animaes do-
mesticos, c tambem nao devemos espcrar
da miscria e eega obstina<;ao dos pi'(pienos
lavradores tentativas. ([ue j)0ssam melliorar
OS nossos gados. Aos proprietaries abastados
e instruidos e que incumbc comecar a re-
forma da nossa ])roduccao pecuaria, collocan-
do OS typos mais pcrlcitos na altura que Ihes
convem, e apropriando-lhes as condi(;Oes em
i}ue melhor possam vivcr e prosperar.
0 i)rogramma, I'ormulado por este systema,
deve ser lal, (pie admitla todos os modi'dos de
perlcii.ao, deixando a cada criador o cuidado
de tentar o desinvoUimento d'aipielle que
julgar mais comj)ativcI com as suas circum-
stancias; limitando-se por tanto a indicar os
que mais llie conveem. Todavia deve nolar-se,
(|ue quando os premios sao dados pda Admi-
nistracao publica, tem esta o direito de cxigir
com ])referencia os typos, que julga serejii
mais uteis e mais necessarios as necessidades
do estado: assini na actualidade con\iria pro-
mover com grande sollicitude odesinvolvimen-
to das raeas do cucallo de tiro para que o
servi(;o das diligencias se podesse fazer com
cavallos criados no paiz, evilando-sc a dura
neeessidadc, em que se acFia, de os importar
pagando-os por grandes precos.
I'ara determinar os typos mais perfeitos
que se devem recommendar n'um programma, o.
nccessario nao conl'undir a perlei(-ao zo^
otecbnica com a zoologiea ou natural' ; Bau-
dement deline perfciiao — a reuniao de todas
as ipialidades que tornam o animal proprio
a um s(j gi-nero de service ou de produeeao,
e llie cbama esperializaccio dos animaes, que
nao e outra cousa mais, do (pie a applica-
('ao ii zootecbnia d'uma lei das sciencias
economicas, deduzida do estiido do desin-
volvimenlo industrial dos povos, — a dioi-
sdo do trabalho. Aiuda que a especializa'
cdo nao seja um principio tao absolute, como
pretende Baudement, e todavia por elle que
se devem escolher os modelos que um program-
ma deve rccoHimendar; por que a especializaeffn
* Art. 19 do citfido regiilamento. « Os primeiro.^
premios pent niarios udfipoda-ao adjutlicar-se, sfrwodi/uel-
Us cxpfisitures que apresefildfetn gadits tiotavcis pelas
propor^oes de sua refjulnr graiideza e perjei^iio dt
suas Jormas. »> Grandeza e Jormas est'io suborilinadM
ao df.'stino do unimal; por isso deve inlender-se que
suo mais perfeilas as que iiidioarein mais aptiduo para
saltsfazer ao peiieru d« i*ervi(;u ou de produc^ito que Kft
exige do animal.
233
e que mclhor pode modificar a organizarao
c 0 modo do viver dos animacs vm ordem
fl tornal-os mais aptos para salisfazercm as
necessidades que o progresso da civilisafao
multiplica cada vez mais.
0 estudo experimental da cconomia animal
nos ensina, que, variando os seus modilica-
dores, podemns arhitiariamente exaltar a
actividade d'unia funcrao, e augmentar o
volume do orgam que a cxeice: a maior
energia e volume dos inslrumentos piiysio-
logicos dii logar a maior (juanlidade de pro-
duclos ou rendinu'uto da maciiina animal.
Esta verdade piide liaver-se conio demonstra-
da a respeito da secrecao do leite, da produc-
fao da carne, da gordura, da Ian, da forca,
daagillidade ele. lm|)ellindo a macliina animal
para esta especiulizucw) , pelo augmenlo de
energia cm cerlos c delerminados orgaos,
rompe-sc o equilihrio physiologieo, para que
(ende o principio da vida, e nas primeiras
edades, em que elle eslii em oseillarao, dirigin-
.do-se com maior intcnsidadc ora para um ora
para outro orgam; c se lor allrahido para nm,
mais faciimente sc concentra nelle para multi-
plicar a actividade do sen crescimento e da
sua funccao, diniinuindo e suhordinando ale
a dos outros organs: assini como, diniinuindo
ou abolindo uma I'unccao, .se suspende o cre.s-
cimento do orgam (jue a cxeree, e se vai
augmentar a actividade d'outras funccoes.
Estas disposicoes physioiogicas muito concor-
rcm para o honi resultado da eapecializucun,
dando-nos aseguranea de que a macliina ani-
mal se accommoda aos dcseuhos que o cria-
dor Hie iniprinie.
Porfanio, sendo econoniicanientc vantajoso,
e physiologicamente possivcl realizar a cspe-
cializacao dos animaes, e qucrcndo por ella
determiuar a sua pcrfeicao, devemos escolher
OS generos de servico e de produccao, que
mais convem exigir de cada uma das nossas
especies de animaes domesticos; c a reuniao
das qualidades, que intiiram a maior aplidao
para tal ou la! genero de ser\ieo ou de pro-
duccao, deve cliaracterizar cada um dos ty[)Os
mais perfeilos: mas esles lypos acliam-se
descriptos nas Zooteclinias ', bem como estao
ja indicados os principaes proce'ssos de os
ohter; e tambem nao e este o logar para tiac-
(ar objectos de lao graiide ex'tensao.
. Qs programnias devem. nece.'^sariamentc ser
privatjvos.a cada um dos distrietos, e deve
aitida atlender-se as circumstancias parlicu-
lares das localidades mais notaveis, recomeii-
dando OS lypos maisperleitos e que mais facil
e economicamcntc se possam cj-iar \ ■■ - .
' Veja-.'ie Hygione e Zootcclinia Ao'Cur'so'completo
lie y.uaiatiictt damestica —i ■iro^ioi vol. em U.» Cuimtira
1854. ■■ ;i :.-. _f ■ • . ■
- O sr. Cardoso, Vcterinario nesia cidaiie, fi.i lalvez
« primeiro, que lenlou fazcr ■ o iir.)gi»i|iinji,_pai'a..a3 |
0 rriador a vista dos pedidos quo se Ihe
fazem no programma, nao liesitara em escollier
0 typo, e determiuar o genero de servico
ou de producfao para que deve preparar os
seus animaes, principaimente se elleinvestigar
0 estado das racas da locaiidade, se consultar
a sua posifao agricola e commercial, em (im
se elle conbecer as condicdes que deve fazer
realizar a macliina animal, alim de que satis-
faca ao destino que tem em vista; com estes
dados se dirige ao luluro com conlianca
nos seus recursos. Neste systema sao os e'x-
positores que classilicam os seus produetos
na calegoria em que devem eoncorrer, por
isso que sao elles ([ue mellior sabem o typo,
que escolherara para conforniarem os sens
animaes: mas as decisoes do jury Ihes fazem
conbecer ate que ponto satisiizeram ao pro-
blema, que Ibes foi prnposto.
Ojury, que devequalilicar osanimaesdignos
dc premio, sendo esclarecido pelas dcclara-
coes dos expositores a cerca dos meios que
elles empregaram, e comparando o producto
que se Ibe aprcsenta com o typo determinado
no programma, pode julgar com conbecimento
de causa.
As exposicoes, feitas por esta forma, mo-
stram a Auctoridade quaes sao as condicoes
agTicolas que sc teem melhorado e quaes as
ra^as de animaes que seaperfeieoaram ; ccom
estes dados e que ella pode diri'gir a industria
pecuaria.
Por este modo as exposicoes terao a sua
verdadeira signilicacao, sendo um nieio de
iustruccao e emulacao para o productor
dando ao jury meios de fazer inteira justicai
e sendo para a Auctoridade administiativa a
bussola por onde pode saber o rumo que
leva a produceao pecuaria.
As Sociedades reaes de Agricultura da In-
glaterra, Irlanda c Escossia recommendam
com especialidade os typos mais perfeitos, por
isso Ibes destiuam sempre grandcs premios:
assrm a Sociedadc real de Agricullura dc
Inglalerra destinou ullimamente a sonima de
1811 libr. ster. para cada uma das tres racas
mais perfeilas, e somente 70 libr. para todas
as outras racas da especie bovina ; e votou
'120 lib.-, ster. para as 2 racas — DiMeij e
SouUidown e apenas 30 para as outras racas
da especie .Oviua, etc. Nos programmas da
todas as sociedades agricolas, que teem dado
0 maior desiuvolvimcnto a produceao animal,
se manifesla grande empenbo em gcniTalizar
os typos mais perfeitos, mas sempre d'accordo
com OS dados pliysiologicos e agricolas. Em
couformidade com estes faclos (izemos as
Ijrccedeutes renevoes a cerca dos program-
mas, para as exposicoes.
Continim. j. f. m. PI.XTO.
exposi(;ups do seu dislriclo. Veja-ie paj-. J9U d« 3.«
.Volume dc-ste Jorual^
234
ADDITAMENTO A GEOBIETRIA DE LEGENDRE
POBMCIAS FC5DiMBSTAES DA TBIGONOJIETRIA tlECriUNEA.
Ainsi Us proposiliont Jondamcntales de la gt'ometrie >i
Ttduisfnty pour aiitsi dire, accUe-ci Sfu/e, que leztrianglti
e^/uiangtea out Iturs c6lc» homologues projwrtiontuh.
Lboe.mirb. I.iv. 3.° |>ru|i. 23.
Baixando do vertice yl sobre a base BC a perpendicular Ap os Iriangulos A Dp, ApC
djio pelo citado llieoreraa de Legendre, Liv. 3.° prop. 18,
a sen B = 6sen^:/: a sen C=c sen /^: c sen i? = 6 sen C ,
(0.
Neste systenia deequajoes unia dellas e cnnsequcncia necessaria das oulras duas. Resol-
veiido OS triangiilos reclaiigiilos AUp e pAC, islo e, tirando os valores de Bp, e Cpf
(t.) acha-se a^^c cos B-\-h cos C; e por i^so , procedendo semellianleiuenle, conchiimos
a =c cos B -\-b cos C; b=^ a cos C-\-c cos y} ; c=a cos Z? -{- 6 cos yl.
(&)
As cciua^oes (p) mostram que u y^s projecrocs dos dous lados de iim triaiigulo sobrc o
iercciio (produzido se necessario for) sdo eguoes no tcrceiro lado. )> Veja-se Franc. Trig. n.°
212X11.
Subslituindo em o:=6 cos C+ccos B os valores de 6 e c liradoi do a sen B;=z6 sen ^,
a sen B cos C a sen C cos B
fl sen C=^c sen .^, fica a = : H ,*
ben ./i sen .r-i
ou sen (B + C)=sen Z? cos C+sen Ccos jB (-j) ,
Se na inesma equa^ao a:=6co3 C + c cos B escrevermos por b o valor (g)
/j=:a cos C^c coiji, acliaremos
fl=j(a cos C-\-c c<x^) cos C+c cos'B; osen ' C::=c cos B + c cos /f cos C
logo
_ , . ,^^ (I sen y^
cos i? = — cos ( .^ + C) ; - = '■
^ c sen C
cos {A -^ C)z=coi A cos C — sen ►^ sen C.
(*)
Por consequencia (-j) (J') sendo a e p dous angulos posilivoi, e cada um dellc* Inenor
quo ;,, se verificara seuipre as eqiiajoes (,)
sen (a + p) = sen a cos ^■\- cos a sen p
cos (a -j- p) = cos a cos p — sen a sen p
1
(.)
Sabe-ie pela geometria que sen (i^ +x) =cos a:; e que cos (iB-f.ar)=r — stn x.
Seja pois a,=iit + a) teremos sen (a, + p) = cos (a + p); cos (o,+ pj ;:= — sen (» + 6)
logo (t) sen (a, + p) = cos » cos p — sen a sen p :
cos (a, + p) = — sen » cos p — cos ^ sen 9 : '
oliminando a dos segundos membros d'eslaa equa5oes, ficara
sen (a, -f P) = sen a, cos p + cos a, sen p
cos (a,-fP} = co» «, cos p — eeo j, sen %
235
O methodo, por que se alcangaram estas eqiiacoes, mostra que(i)$aoexacta9, quaesquer
que sejaro as grandezas de » e p , com tanto que esles arcoi (ejam posilivos.
E sabido que sendo n, e n' inteiros posilivos
*enir=sen [^nv-\-^)'< cos a?' = cos (2«'w + a;'}; ou x seja positive ou negativo: podemos
poii tomar n e n' convenieiitemente grander para que 2/i«4-,, Zrf'„ + ^ sejam arcos
pnsitivos : logo
sen (»+g)= sen (2ra „+a+ 2n' «+p) = sen {In „+«) cos (2n',+p)+cosJ(2i« ,+«) sen (2«' ,4-g)
cos {»+p) = cos (2rt „+»+2n' „4-p) = cos {J2n ,+«) cos (2re' «-^p)— sen (2n ,+,) sen (2n" ,-f p )
ou sen (a + p) = sen a ens g -J- cos „ sen p ; cos (, -)- p) =: cos a cos p — sen a sen p : pof lanto
y/j equa^oca (,) ocrijicam-se , quaesquer que sejam as grflndezas e signaes <fe a e p.
A terceira equa^'io (p) e c=:acos 5 + 6co3 ^; porein {») a*Aen* Z? = 6*8en^ ..^
ou
i2J
=V-^
sen^^; logo (c — 5 cos .4)'= a* — 6* sen' // ; e
:t'+c=' — 26c cos^-
•W
6' .•=: a' + c" — 2ac ;cos;B
c^=a^ + 6» — 2a6 cos C^
Logo: asequa55es(a), (?),(^'), ($), (•), (x) resolvem todos os problemns, que podem pro-
■por-se sobre resolugao de Iriangulos, conio pode ver-se passim em qualquer trigonomelria,
;(Bspecialinente na de Francoeur ii.° 200 a 203 ; e 211 e212. Por islo se ve com quanta
•razao diz Legendre no scbolio II da proposigao XIX do 3.° Livro da Geometria, a respeilo
.dos triangulos semelhanles:
« Les deux propositions precedentes qui n en font propi'ement quune, joiiites a
M celle du quarre dc L' hypotenuse, sont les propositions lea plus importantcs, et les
K plus fecondf.s de la geoiiiilrie • elles suffisent presque seides a toutcs les opplica-
'■: « tions, et a la resolution dc tous les problcmes.
Podiamos, [com Legendre Trig, ou Franc, nota sobre o n.°201.] lomar, como principiolan-
damenlal da Trigonomelria rcctiliiiea, as equagoes (li), as quaes, combinadas duas a duns
por somina e dil'ferenga , dfio por somma as equagoes (p) ; e por diiTerenga as segiiitiles
a^ — 6''^ c [a cos B — 6 cos y1] ; a'- — c^=6[acos C — ccoijj] ; 6* — c^=a [6 cos C — ccos B]:
e comparando eslas equajoes com (pj, tiramos (a) , (f), [S], (t).
Coin tres angulos, cuja somma seja egual a it, podeinos conUruit a vonlade urn trian-
gulo, c depois intinitos semelhanles ao primeiro; Leg. Geom. prop. 21, Liv. 3.°; e por ib>o
dados OS tres angulos de um triauguio nao podemos construir um detenninado trianguln ;
ficain porlanlo reduzidas as conslrucgoes as liypolheses dos problemos 7°, 8.*, 9.°, 10.°ell.°,
da citadu Geom. de Leg. Liv. 2°. Islo mesiiio se couclue da analyse, ou se lomern (a),
ou (?) , tou)o fundauienlo da Trigonomelria. As eqiiaijoes (a) represenlam unicamente duas
equfu;oes dislinctas enlre cmco quanlidudes ; porque nma qualquer de entre estas equagoes
resulta da nuillipliragao , e convenionlemenle ordeuada , das oulras duas; e it =./^ + i? + C
As equagoes (;) lambem se reduzem unicamente a duas equagoes dislinctas enlre ci?ico
puanlidades. E coui effeilo, tome-se (j) como principio fundamental: (a), (p), (7), {S), U),
!ao, oomo vimos , corollaries de (j;): ora a terceira equagao (;;) e
'=a''4-6'+2(i6 cos (y^+ /i) = a^ + 6^4-,2a6 co5y:/co3i? — 2a6 sen^seni?: mas (»}
a sen fi = 6 sen .//,! logo c''=a*-)- 6^-)-2a6 cos j4cos B — 26^sen*^; ou
c^^^a^ — 6^+ 2 6 cos ./^ fa cos Zi -f 6 cos ^] ou (p)t^ = a' — 6^+26ccos.^: isto <■' ,
" =6^ + c^— 26 c cos y^, que e a primeira equagdo (;;) Logo;
Tanlo as equagoes (a), com as equagoes (5), represenlam um systema de duas equa-
foci dislinctas entre c\nco quantidades , e por isso (Francoevr Algebra Elemenlir n.° 12.3)
fiao se pode resolver um trialigulo , seni que os dados sejapi tres dislinclos; islo e, sent
que, entre os dados em nuniero de tres, entre um lado pelo menos. Os ires angulos ndo
Matiffazem .
Ve-se, pelo contrario , que, dados oslres lados, aresolugao dotriangulo e'determinada ;
porque (a), ou (j;) , formam systemas de duas equajoes em que enlram os tres lades, e
dons angulos.
BCFIKO OCEBf A OSORIO.
236
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JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
IXSTITUTO DE COIMBRA.
SessifO soltmne de 17 de dezembro de 1854.
Liila e approvada a acta da sessao antecedente, o
«nr. Slicretario Jacintho Antonio de Sousa I'assou a ler
o Helatorio annual da gerencia litteraria e adminis-
trativa da Direc^ao; e apresenton tambem asrespecti-
vas conta-s, j;t vistas e approvadas pela Direc^ao, e
que eijualmente foram approvadas pelo Institiito, man-
dando-se imprimir tanto o Relatorio, como as contas;
Da conformidade do ^. 2.° do art.'' 4.'^ do Regulamento
provisorio.
Leram-se depois os nomes dos novos Socios Hono-
rarios, Effectivos, e Correspondentes, que haviam sido
eleitos em atten^ao ao seu distincto merecimento, e
aos services lilterarios, que muitos d'elles haviam pres-
tado ao Instituto.
Em se^uida procedeu-se a clei^uo da Direc9So para
o seguintc biennia.
As Classes procederam tambom a elei^ao dos respe-
cljvos Directores, Secretarios, e Vice-S»'cretarios.
O Si^cretario,
J. Alves de Sousa.
RELATORIO.
Senhorcs! — Ila dous annosouvisles o que,
na sessao solemnc d'al)crtiira, leu era vossa
presenca um digno socio ([ue occnpava este
logar. 0 Instiliilo acahava entiio d'acordar
de um d'esses pcriodos de lelliargo, cm que
tantas vezes tern caido; mas acordara com
muita vida.
Uma reforma adequada a al(a missao que
tinha de cumprir, os sollicitos esforros de mui-
tos de scus lienemeritos menibros deram vigor
e alento a esla instiluicao. E a direccao actual
viu desinvolver-se em todos os seus orgaos priii-
cipaes a vida vicejante do Instituto. As com-
missoes, as classes, o jornal, o g;il)inete de
leitura, a sociedade toda estava aiiiniada de
um movimento cnthusiaslico.
Sabcis, seniiores, ([ue sob a dirccrao que
hpje vein dai-vos eonta da sua gerencia, forani
feilos OS regulamentos do Instituto, do galiine-
te, e dos curses de leitura ; foram designados
em cada uma das classes varios assuniptos
para discussocs, mcmorias e cursos de leitura ;
foram distribuidos muitos elogios funebres dos
socios linados, dos quaes, e com pezar o dize-
mos, apenas um so foi apresentado e lido pelo
digno socio o sr. Jeronymo Jose de Mello, cm
sessao de 20 de fevcreiro de 1853.
Vol. III. Janbiho 1.°-
Sabeis que os socios, cujos nomes aqui
mencionamos com saudade, os snrs. Joao
Baptista da Silva Ferrao, Levy Maria Jordao,
e Jose Julio d'Oliveira Pinto, lizeram trcs
cursos de leitura sobre tres importantissimos
objectos — Deduccuo do priyicipio da enlidade
— JtelacOes do espirilo e do corpo — Liherdade de
cominenio; e que cstes cursos, bcm como as
discussoes publicas que tiveram as classes,
deram logar a muitas sessOes extraordinaria-
mente concorridas pclos socios, pela academia,
e ate pelas auctoridades academicas e civis.
Foi uma epocha de esplendor para o Insti-
tuto, mas que passou infelizmente. Era activa
em dcmazia; nascera do cnthusiasmo; e este
estado do espirito nao pode durar muito. Dos
socios que nutriam esta inestimavel disposifao
tao proiieua a vida interna da sociedade, uns,
coucluidos OS seus estudos, ausentaram-se de
Coimbra para scmpre, outros foram-nos se-
questrados pela politica que os chamou a
representacao nacional.
Ncstas circumstaucias compreliendeis bem,
senhores, quae grandes difliculdades tinha a
direccao que veucer. As sessoes publicas do
Instituto e das classes tornarani-se impos-
siveis, porque a maior parte dos socios que
restavani nao coucorriam a ellas — foi forcoso
deixar reinar nessas salas o silencio; mas
restava um jornal para dirigir material e
intellectualmente, restava um gabinetc de
leitura para fornecer de jornaes, uma biblio-
theca para enclicr de livros.
A direccao, auxiliada com o extremado zelo
de alguns poucos socios e pessoas cstranbas ao
Instituto, procurou melliorar estes estabelecj-
mentos. Tornoii gratuita a administracao do .
jornal, inciimbindo-a ao vosso secretario, que
a exerce ha dous annos; e desta sorte eco-
nomisou neste espaco de tempo 108^000 rs. ,
l{e(|uereu ao governo dc S. Majestade para :
que a composicao e imprcssao do jornal fosse:
por conta do Estado, e se Ihe concedessc a
casa da qual o Institute pagava renda a Aca-
demia dramaiica. A portaria de 5 de septeni-
bro de 1833 deferiu favoravelmente a esta pre-
tencao, e vein economisar annualmente mais
ISO^OOO reis na composicao e impressao do
jornal, e 24^000 reis na rcnda da casa.
Diminuidas assim as despcsas do Instituto,
era uma conscquencia olTerecer mais algumas
-18oS. Num. 19.
238
vanlagens aos seus contribuinles: foi o que
fez a direccao em sessao de oulubro de 1853.
Abaixou a quota mensal dos socios, mandou
augmeiitar de vez cm quando o numcro das
paginas do jornal, que desdc logo foi rcmot-
tido franco de porte aos assignanles; e orde-
nou consideraTcis melhorameiitos na casa que
serve de gabinele de leiliira, bom como a as-
signatura demais alguns jornacs cstrangeiros.
Quizeramos fazcr aqui distincla mencao de
todas as pessoas que leem auxiliado a direccao
em sua ardua tarefa, ja coliaborando no jornal,
ja offereccndo as suas obras a bibliotbcca, jii
enriquecendo o gabinete com o donative de
um jornal francez, e d'um cxccllcntc niappa
da guerra do oricnte; porem os nomcs destas
pessoas, afora uma a quem occulta a modcstia,
ja OS conheceis pelo jornal.
Com as obras offerecidas ao Institute, e com
as colleccoes dos jornaes mais importantcs
comeja a fundar-se a biblioiheca, estabclcci-
menlo annexe ao gabinete de leitura. A direc-
fSo tem desejado fazer no Instituto uma bi-
bliotheca como determinam os eslatutos; e
dos varies meios, por que sc isto pode eon-
seguir em Coimbra, apenas tcm podido teutar
aquelle, aguardando occasiao opportuna para
alcangar alguns livros dos extinctos conven-
tos, que teem andado por ahi a rodo, a extra-
viarem-se, a perderem-se inutilmente.
Tendes de nomear hoje uma nova direcfao,
que recebera da actual o jnrnal — Instituto
com 0 18° numcro do 3.° volume ja publicado;
um gabinete tornado assiis decente e agasa-
Ihado, e recebendo 03 jornaes nacionaes e es-
tiangiiros; um embryao de bibliotheca com 9G
volumes; um volume das memo.-ias do Instituto,
cuja impressao esta baftante adiantada; uma
dotafao do govcrno, que assim se Ihe podc cha-
mar, equivalonte a 171^000 reisannuaes, um
saldo em cofre de 55^520 rcis, como vereis
das contas que submettemos ao vosso examc.
De todos estes objectos o que certamente
mais carece da vossa sollicitude e o jnrnal,
porque delle depcnde a existoncia dos outros
estahclecinientos, a vida real da sociedade. .V
sua impressao por conta do Estado foi concc-
dida com a condicao de se reservarem quatro
paginas para objectos do conselho superior e
das facuidades acadcmicas. A direccao pro-
f'ltnla d- r.-.<v.itn e. d sprsn qtir. ii'-rth)!/ <> si
RECEITA.
Dinhi-iro rec^liiilo peln sr. Jonqnim A. Si-
mUes lie Carvalhu. i|,i ev-ailiuinislrador
Juaiiiiira Marlins ilc- Curvalbu, nm . . .
Suiiinia
7511015
curou converter esta obriga^ao n'uma verda-
deira vantagem, estreitando o mais possivel as
relajOes do Instituto com aquelles estabeleci-
mentos scienlilicos.
Por intcrvenyao do prelado da universi-
dade consoguiu que em quasi todas as facui-
dades acadcmicas fossem nomeadas commis-
soes para colligircra e reverem trabalhos ja
feitos, ou fazcrem-nos de novo, a lim de que
n'essas quatro paginas avultasse materia de
reconhecida imporlancia. Era uma especie de
compromisso demutuo auxilio que a direccao
procurava crear cntrc as Ires mais respeita-
veis corporacoes littcrarias de Coimbra. De
mutuo auxilio, dizemol-o com intencao: sc a
redaccao do Instituto pode receber das facui-
dades acadcmicas e do conselho superior um
poderoso contingcnle, e tamhcm certo que
muitos artigos que dalli recebcmos, ainda
nao teriam visto a luz publica tao dcsalTron-
tadaraente, sc o Institute nao existisse; e
ningucm pode hoje questionar quanto importa
a essas corpoiarrK's darom a maior publici-
dade aos sous trabalhos.
E mister, todavia, confessar, que embora
0 nosso jornal se tenha oecupado de objectos
importantes, embora rcceba todos esses feudos
preciosos, o maior trabalho, o fundo da redac-
fao, e toda a direcjao material teem pesado
sobre alguns poucos socios que por si sos,
ou nao teem forcas, ou nao teem tempo livre
de outras occupajoes obrigatorias, para ele-
var aquella publica^ao ao que ella pode ser.
Ila certamente uma causa geral que pro-
duz entre nos cste phcnomeno notavel — uma
immensa desproporfao enlre o nuniero d»g
jornaes litterarios e o dos jornacs politicos;
mas alcm dessa, militam em Coimbra outras
cspcciacs, que impcdcm que o Instituto pros-
pcre e seja, como devia de scr, um dos pri-
meiros jornaes litterarios e scienlilicos.
Convcm, senhores, convcm muilo que a
sociedade que se ufana de ler no sen gremio
as maiores notabilidades littcrarias do paiz,
que nasceu e vive aqui, na terra das Icttras,
0 Instituto de Coimbra, a que essas notabili-
dades se honram de pertenccr, rcconlicc.i sua
nobre missao, e se esforce pcla cumprir.
O Sccrclario,
JACINTIIO .4. DE SuliSA.
. T/icsniire }•■! J .-/ Sinins df ('nrrii'lin
DESi'IiiiA.
7,1^013
t]st<'»rina c ttzeilf jmrn sciisueii nuclurnHj ttu
JnsUltilii, rcU
Au sr. Ailriau Fui j iz |)ur viiiia^ il S|'*-s>ia
((lie fez, rt'i8 ,
P-T inn tinlfiro de melal aniar»-l|o ....
Um mez de eralificri^ao ao ex atlniiiii»ilrador
Au livreiro Moru pela wssiguttlura de j-'f-
naci franC' ze« feila pelu ^r. Forj.iz, ret*
Por duie tMiDf&lrid da rendu di> Gubincle, reis
Somnia
Ueia
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239
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DIRECCA.0 DO INSTITUTO DE COIMBRA.
I :eita em sessao solemne de 17 de hezembro
D£ 1834.
Presidente.
ifrancisco Jos6 Duarte Nazareth.
: Vice-Presidente.
Francisco de Castro Freire.
. I i I ■ " Secretarios.
Jacintho Antonio de Sousa.
Joaquim Alvcs dc Sousa.
1^1 Thesoiireiro.
Jose Ferreira de Macedo Pinto.
DIIIECTORES DO GABINETE DE LEITURA.
Nomcados em sessao da Direccao de 23 dc
dezembro.
Raymiindo Venancio Rodrigucs.
Manoel dos Santos Pereira Jardim.
D. Francisco de Sousa e Holstein.
COUMISSAO BEDACTOnA.
A Coinissao' Redactors" do Jornal do Insti-
tuto, nomeada na niesma sessao, para servir
ate se proceder a deliniliva elcicao nas Clas-
ses, ficou coraposta dos Directores, Seerctarios
e Yice-Secrelarios das tres classes, e dos dois
Secretaries do Institute.
^ COMMISS.VO REVISORA.
Francisco de Castro Freiro,
Henrique O'Neill.
Jacintho Antonio de Sousa.
RELAC.AO NOMINAL DOS SOCIOS HO.VORA-
EIOS, EFFECTIVOS E CORRESPONDEN-
TES DO INSTITUTO DE COIMBRA.
" J
SOCIOS UONORAKIOS.
Cardcal Patriarcha dc Lisboa, D. Gitilherme
Henriques dc Carvalho.
Cardcal Arcebispo Priraaz, I>. Pedro Paulo
de Fifjueiredo da C'unlia e Mello.
Duque de Saldanlm, Joao Carlos de Sal-
danha de Oliveira e Daun.
Arcebiitpo de Mytelcne, B. Domingos. Joie
de Sousa Muijulhdcs.
Condc de Lavradio, D. Francisco de Al-
meida.
Conde A. Raczynsky.
Visconde daCarreira, Luiz Antonio d'Abreu
e Lima.
Visconde de Sa da Bandcira, Bernardo de
Sd Noyueira.
Visconde dc Santarom, Manoel Francisco
de Barros e Souza de Mesquita de Macedo
Leildo e Carcalliosa.
Alexandre llerculano.
Antonio Jose d'Avila.
Antonio Feliciano de Castilho.
H. ShoelTer.
Jose Fgnacio Roquete.
Jose Joaqfiim Rudrigucs dc Bastos.
Jose da Silva Tavarcs.
Jose Freire dc Serpa Pimcntel.
SOCIOS EFFECTIVOS.
CLASSE DE SCIENCIAS MORAES E SOCIAES.
Director.
Miguel Ribeiro d'Almeida e Vasconcellos.
Secretario.
Adriano de Abreu Cardoso Machado.
Vice-Secrelario.
Manoel Bernardo de Sousa Ennes.
Adriao Pereira Forjaz de Sampaio.
Alexandre de Meyrelies do Canto e Castro.
Agoslinlio de Ornellas de Vasconcellos
Esmcraldo e Moura.
Antonio Ayres de Gouvea.
Antonio Bernardino d(! Menezes.
Antonio Corrca Caldeira.
Augusto Cesar Barjona de Freitas.
Basilic Alberto de Sousa Pinto.
Bernardino Joaquim da Silva Carniiiro.
Bernardo de Serpa Pinientel.
Duarte Gustavo Nogucira Soares.
Francisco Antonio Diniz.
Francisco Antonio Rodriguez dc .\zevedo.
Francisco Jose Duarte Nazareth.
D. Francisco de Sousa e llolstein.
Francisco Augusto Furtado de .Mesquita.
Frederico de Azevedo Faro e Noronha.
Jacinth* Antonio de Sousa.
Jciao Chrysostomo d'Aniorini Pessoa.
Joaquim Alves Pereira.
Joaquim ,\lves de Sousa.
Joaquim Maria Rodriguez de Brilo.
Jose .\dolplio Trony.
Jo.se Ernesto dc Carvalho e Rego.
-Jose Maria de Atircu.
Jose Maximo da Silva Rebello.
Justine Antonio de Freitas.
Luiz Cactano Lobe.
Manoel Eduardo da Motta Vciga.
241
Manoel de Scrpa Machado.
ManocI dos Santos Pereira jardiin.
Sebastiao Jose de Carvalho.
Vicente Ferrer Nello Paiva.
Vicente Jose d' Almeida Seica.
CLASSE DE SCIENCIAS PUVSICO-MATIIEMMIC \ S .
Director.
Uodrigo Ribeiro de Sousa Pinto.
Seaelario.
Antonio Augusto da Costa Siinoes.
Vice-Secretario.
Mathias de Carvaliio e Vasconcellos.
Albino Aiiguslo Giraldes.
Antonio de Carvaliio Coulinho.
Antonio Joafjiiini Darjona.
Antonio Joaqnini Uibeiro Gomes de Abreu.
Antonio Jose Tcixeira.
Antonio Liiiz Fcrn^ra Girao.
Callisto Ignacio d' Almeida Ferraz,
Florencio Mago Barreto Feio.
Francisco Antonio Alvcs.
Francisco de Caslro Freire.
Francisco Pereira de Torres Coelho.
Jacintho Antonio de Sousa.
Jeronymo Jose de Mello.
Joiio Alberto Perciia de Azevedo.
Joao Antonio de Sousa Doria.
Joaquim Augusto SimOes de Carvalbo.
Jose Ferreira de Macedo Pinto.
Jose Maria de Abreu.
Jose Pereira da Costa Cardoso.
Jose Teixeira de Queiroz.
Luiz Albano d'Andrade Moraes.
Manoel Maria Correa.
Manoel dos Santos Pereira Jardim,
Miguel ieite Ferreira Lcao.
Raymundo Venancio Rodrigues.
Roque J. Fernandes Thoniaz.
Thoiuaz Autonio de Oliveira Lobo.
CL.4SSE DE LITTEUATUBA, BELLAS LpTBAS
£ BELLAS AJITES,
Director.
Jose Maria de Abreu.
Secret aria.
Antonio Ayres dc Gouvea.
Vice-Secretario.
Joaquim Simoes da Silva Ferraz.
Adriano de Abrou Cardoso Machado.
Adriao Pereira Forjaz de Sanipaio.
Alexandre Meyrelles dc Canto e Castro.
Antonio Augusto da Costa Simoes.
Antonio Bernardino de Menezes.
.\nlonio de Carvaliio Coutinho.
Anionio Correa Caldeira.
Antonio Florencio Sarmento.
Antonio Joaquim Ribeiro Gomes dc .\1)rcu.
Antonio Luiz Ferreira Girao
Antonio Nunes de Carvaliio.
Antonio Xavier dc Sonsa Montciro.
Bernardino Joaquim da Silva Carneiro.
Florencio Mago Barreto Feio.
Francisio Antonio Diniz.
Francisco dc Castro Freire,
Francis£0 Jose Duarte ^Jazareth-
Henrique O'Neill.
Jacintho Antonio de Sousa.
Joao Anionio de Sousa Doria.
Joaquim Alves de Sousa.
Joaquim Augusto Simoes de Carvalho.
Jose Adolpho Trony.
Jose Maria da Silva Leal.
Jose de Menezes Parreira.
Jose Teixeira de Queiroz.
Luiz Albano d'Andrade Moraes,
Miguel Leite Ferreira Leao.
Miguel Ribeiro d'Alnieida VasconccUos.
Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto.
Vicente Ferrer Nelto Paiva.
SOCIOS CORRESPONDENTES.'
CLASSE DE SCIENCIAS MOBAES E SOCIAES.
0 Benefic'iado Francisco Raphael da Silveira
Malhao, em Ohidos.
Guilbermino Auguslo, em Villa Real.
Joao Baptista da Silva Ferrao de Carvalho
Martens, en Lisboa.
Joao da Cunha jN'eves de Carvalho, em
Lisboa.
Joaquim Januario de Sousa Torres e Al-
meida, em Braga.
Jose Julio de Oliveira Pinto.
Jose Joaquim dos Reis e Vanconcellos, em
Lisboa.
Levy Maria Jordao, em Lisboa.
Luiz Jose de VasconccUos Azevedo e Silva
Carvajal, em Lisboa.
* Sao unicamente considerados socios correspoiidentes,
OS que teem salisfeito as seguiotes disposi^oes dus Esta-
tutos.
M .4rt. 13. Ao3 correspondentes inciimbe:
1,° « Dar conta annualmente ao Ini^tituto dostrabalhos
u scientificos, litterarios e artisticus, que no decurso do
« anno tiouverera feito.
2.° " Remetter no fim de cada dois annos uma memoria
« original para ser publtcada pelo Institnto.
u ^rt. 15. Dei.\arilo de perlencer ao Institute ossocioi,
que faltarem us disposi^Ses d'estes Estatntos. n
242
CLASSli 111; SCIKNCUS PIlVSICO-MATilEMATICAS.
Aiiloriiu Fi'iTcira ilo Maccdo Piiilo, no Poiio.
Antonio .Maria Itarlinsa, em Lisbon.
Bernardino Antonio Gomes, em Lisboa.
Carlos lUlieiro.
Daniel Aiigiisto da Silva; cm Lisbon.
Francisco Antonio Rodriguez dc Gusmao,
PHI Aljiedrinha.
Franeisro Jose da Cunl)a Vianna, em Lisbon.
Joa(]uini de Sancla Clara Sousa Pinio, no
Porto.
Jose Francisco da Silva Pinto, na Louzd.
Jose Fructiioso Avres de Gouvea Osorio, no
Porto.
Jose Joaquira da Silva Pereira Caidas, em
Brtiga.
Jose Viclorino Damasio, em Lisbon.
D/ ^^■el\vicllt, em Anyoln.
CLASSE DE LiriERATURA BELUS LETllAS E AllTES.
Alexandre Magno de Casiilho, em Lisbon.
Aniandio Tnde Barrelo Feio, no Porto.
Antonio de Serpa, eia Li.ibon.
Antonio Xavier Rodrigucs Cordciro, em
Leiria.
Francisco Antonio Rodriguez de Gusmao,
(m Alpedrinlia.
Guilhermino Angiislo, em ViUa-Benl.
Joao Daptista da Silva Ferrao de Carvalho
Martens, em Lisbon.
Joao da Ciinha Neves e Carvalho, em Lisbon.
Joao de .Lcmos Sci.vas Castello-Branco, em
Lisbon.
Joaquim Januario de Sousa Torres e Al-
meida, em Brnijn.
Joaqnini Lopes Carreira de Mello, em Lisbon.
Jose Fructuoso Ayres de Gonvca 0^orio,
no Porto.
Jose Joa(|uim da Silva Pereira, em Bragn.
Jose Julio de Olivcira Pinto.
Jose Tavares de Maccdo, em. Lisbon.
Levy Maria Jordao, em Lisbon.
Luiz Aiiguslo Rebello da Silya, em Lisbon.
Luiz Bravo d'Alireu e Lima, pm Vinnnn.
Marcelliano Ribeiro de Mendonca, no Ftin-
chal.
DIRECg.iO DO INSriTUTO.
Sessau de IG ilt dtzembro de 183-1.
Foi encarregailo o Sucio Correspondente, o .snr.
.MarceMiauo llilitiro de iMeiidfiii;a, do ,elugio ;funel)re do
Socio Hunorariu fellecido, o sur. yiiicoiide. d'Almeida
tiarrett.
Foram approvadas dofiiiiliv.anieulij ai di(I(;reptes yro-
;postas para aadmusao de alsuas novo^ S«cio,'i.
Discutiram-se e |ipprovj|ra)i|-.s«.as cpola-i :da gerencia
administrativa J^ Dirccsu,(^,.,fqrftjp^«n) jifcspjiles a as-
:^emblea geral. ' i
^fanilou-.xe jitildu'ar ho Joriiai lio Iiivlitnto do I.''
de Janeiro, a Helai;iio nominal de lodos os .Sucios Ho-
norarios, K(Tecli\o8, e ("orrespondenlcs, de liiit acttial-
raenle .se couipoe o Iii^itituto.
Sessdo de 2.') de dtxemhro.
A nova Direc^ao dcpois do installada procedeu ii
nnmcai;ilo dcs tres Direetores do (iabinete de I.eiliira,
e da CunimissSo revisora do Jornal. Foi nomeada tara-
liem tinia Commiss.no provisoria | ara a reilaC(;ilo do
hislilutOy composia dos snr.' .Miitiiel Uibeiro de Al-
meida e Vasconcellos, Kodrigo Uilieiro de Sousa Pinto,
e Jose Maria ile .Vlireu, Direclore* das Ires Classes; dos
dois Secrelarios do Inslilulo, os srs. Jacinllio Antonio
de Sousa, e J«'aipiim Alves de Sousa, e dos Secrelarios
e Vice-Secretarios das Classes, os snr." .\driano de .\breil
Cardoso Macliado, .M. Bernardo de Sousa Knnes, A.
Ayres de fiouvea, J. S. da Silva Ferraz, A. A. da Costa
Sinioes, e Mathias de (^ar^alho, commissao que sob a
presidencia de um dus Directores das Classes, por lurno,
entrara logo em exercicio, e continuara os sens traba-
Ihos ate se proceder dcGnitivamenle as compelenles elei-
4;5es.
Seestio de 26 de d ezunbrn.
Foi encarregado do expedienle lillerario do Instilnio
o sccretario J. Alves de Sousa, e do do contabilidade
o sr. serretario Jacintho Antonio de Sousa.
Foi auctorisado o Tfiesoureiro j ara, de combina^?io
com o Secrelario de contabilidade, toniar as provideneias
necessarias para regular as cuntas dc receita e desjiesa,
devendo o Thesoureiro preslal-as a 0irec(;ao lodos os
trimestres.
Resolveu-se, que quanto antes se convocassem ad
differenles Classes para se designarem os competentes
pontos para assum])lo de discussijo, memorias e cursoa
lie leitura.
O Secrelario,
J. Atves de S'JllSfty
INSTITUTO DE COIMBRA.
Sessdo de 31 de dezembro de 1854.
Convocou-se extraordinariamente o Instituto e foi
presidido pelo sr. vice-presidenle Francisco de Castro
Freire, que declarou ser o objet-to daquella sessao plena
deferir ao retpierimenlo que Ihe fizeram alguns socios
das dilTerentes classes — que a Sociedade auxiliasse as
conimissops creadas com o generoso inluilo de erigir um
monumento ao fal<\»cido vitconde d'Almeida Garrett,
socio honorario do Instituto, e<iue, ajjprovada esta idea,
provesse aos meios de a realisar.
A primeira [arte da proposta foi desde logo appro-
vada pleuamenle, e ;i cerca da segunda, fallaram os srs.
A. Ayres de (jouvea , Jacintho A. de Sousa, Miguel
Ribeiro de Vasconcellos, .-Vdriao P, Forjaz de Samjaio,
Jose Maria dWbreu e Rodrigo de Sousa Pinto, e foi
votado que a Mesa auxiliada jjeliis seeretarios e vice-
secretarios das classes procurasse obter, por subscrip^oes
ou qualquer outro modo conveniente, os meios adequa-
dos ao fini que se deseja alcancar; que depois a Mesa
daria parte ao Instituto dos sens Irabalhos, e entao se
resolveria a qual das comniissijes existentes seriam offe-
recidos esses meios ; e que finalmente, no dia em (pie
fosse lido o elogio fuuebre do si.ciu tjnado, o sen busto
ou o seu retrato fosse collocado ua sala daa gessoes so-
Icmiies do luslitulo.
O Secrelario,
J. Alves, de ISeu^a.
213
CLAUSE DE SCIENCIAS MORAES E SOCIAES.
Sessao de 30 de dezembro de 1054.
Presidente — o Director da classe, o sr. Miffucl Ribeiro
d'Almeida Vasconct-lltts. — Ordeni du dia — Dfiiifriia^ao
<!os pontos para as disciissoes da classe e para as memunas
dos Socios — noniea(;ao de Comissoes na furma du art.
26 ^. 1." do Re^ulamentu,
O Secretario por ordem do sr. Presidente deii parte,
n classe, dos traballios que tiavia feito sobre os pontos,
e leu OS que , teiido sido nos annos anteriures designa-
dbs pela mesma classe, tiavlam ficado por Iractar, e apre-
fentou outros novos, que submelleu a censura da classe.
Mais pontos foram tamijem apresentados por varios socios.
Nao sendo possivei di>cutir-se de improviso tantos, e tao
diversos assuinptns; resolveu-se \.° que se elegessem
conimissSes para dos pontos existentes e de outros que
fOBsem apresentadoB pelos socios, esculherem os que mais
proprios julfiassem jara as discussoes e memorias, daiido
sobre dies os sens jarcceres; 2.^* que as commissQes se
limitassem em sens pareceres a emittir juizo a respeito
dos pontos, que houvesseui escolhido, sem fazerem men-
ffio dos outros, ficando salvo aos socios, que julgassem
Com esle silcncin prejudicados os interesses da sciencia,
o direito de provocar na classe a discussao sobre os
pontos omittidus pelas cummissijes; 3." que os socios que
houvessem de apreseutar aUuns pontos, os dirii^issem ao
secretario da classe para este o s distribuir pelas com-
missoes a que perlencerein, sem referir o nume dos socios
que OS appresenlaraiu; i.^ que as commissoes para tra-
clarem d'este objrclo, fusseni a? mesmas que na forma
do regulamento deviam de ser eleitas u'esta sessao; 5."
que eslas commissoes constassem de tres membros cada
uma.
Procedendo a nomea^ao das commissCes, foram eleilos:
Para a commissao de sciencias moraes, os snrs. Juaquim
Alves de Sousa, e .\nlonio Ayres de Gouvea, e Maaoel
Eduardo da Motta Veiga.
Para a commissao de jurisprudencla, os srs. Joaquim
Maria Rodrigues de Brito, .Alexandre Meirelles do Canto,
e Jose Adulpho Trony :
Para a commissao de sciencias economicas e adminis-
trativas, os srs. .Adriao Pereira Korjaz de Sampaio,
Bernardo deSerpa Pimentel, e Jacintho .Antonio de Sousa.
O sr. Presidente levantou a sessito, era meia hora
depois do meio dia. ilando para ordem do dia da seguinte
sessao — Pareceres das commissoes sobre os pontos.
O Secretario,
I Adriano d\ibr€u Cardoso Machado.
CLASSE DE LITTERATURA.
Sessao de 30 de dezembro 485i.
O sr. J. M. de Abreu, Director da Classe, abrindo
a sessao, motivou csta rcUniSo, moslrando a ncces-
sidadc de se aprescnlarem ponlos para memorias
e discussoes que dcssem lustre a corporaciio quer
docentc quer discenle, por issu que muito para a
^onrar cram bem claburadas memorias e brilhan-
les discussoes, como as que, dois annos ha, se
travaram crudilas e instructiras sobrcmancira para
esta mocidade que se vota a carrcira das Ictras.
— Em scguida t;on\ldou os presenlcs socios a
remcllcrcm ao Sccretaiio da classe os ponlos que
Ihes aprouvesse, para, conjunclamcntc com os ja
cxislcntcs de ha dois annos, sercm remettidos as
respccti^as romniissdcs cm quo esta dividida a
classe.
0 sr. Suusa I'into ponderou a gra\idadc e
maxima allcnrao, com que as commissoes deviant
proccdcr na revisao dos pontos ja consignados no
Instiluto.
0 sr. Castro Freire, concordando com o anlc-
cedcntc orador, disse f\uc potilos podia haver, qu*
por concurso de circumstancias, scndo nuiitfj para
apprcciar ha dois annos, se apresenlariam hoje sem
inleresse, c que por esses deviam dc cortar as
commissoes.
0 sr. Presidente c o sr. Adriano Machadn
roboraram com alguns argumentos este incidenle
cxplicalivo, e findo die passou-sc a nomcar as
duas commissoes — de Litteratura, — e de Ilellas-
letras — ficando addiada sob proposta, approvada,
do sr. Castro Freire, a eleicao da commissao de
— Bcllas-artes.
Foram nomcados para a commissao de liltera-
lura : <is srs. Adriao Pereira Forjaz Siimpaio,
Adriano d'Abreu Cardoso Machado , e Joaquim
Simoes da Silva Fcrraz. E para a dc bellas-letras:
OS srs. Francisco de Castro Freire , Henrique
O'Neill, e .Antonio Ayres de Gouvea.
O sr. Jacintho A. de Sousa, fazendo algumas
consideracoes sobre o cstado da nnssa litteratura,
mandou para a mesa uma these. O Secretario da
classe annunciou tambem algumas Ihcscs, que,
regularmenle redigidas, levaria as respcctivas com-
missoes.
Finda a ordcm do dia — pontos para memorias,
e discussoes: o sr. Castro Freire, bosquejando
quanto as Iclras patrias deviam aos esforcos do V.
d'Almeida Garrett, socio honorario do Institute,
mostrou que o Inslituto nao devia ficar indiffe-
renlc, quando no paiz se faziam esforcos para
erigir urn monumento a memoria de tao illustre
escriptor.
0 sr. Presidente ponderou que, so a assemblea
geral competia resolver sobre tal objecto ; mas
que de cerlo esia idea era bem vinda para o Insti-
luto: alguns dos socios presenlcs, logo requeram,
segundo os estalulos, a convocacao da assemblea
geral.
0 sr. Presidente, dando para ordem do dia da
sessao immcdiala — Pareceres das commissoes
sobre os ponlos para as memorias e discussoes,
levantou a sessao as 2 boras.
O Secretario, A. Ayres.
UMA LAGRYMA.
Ha existeneias privilegiadas para qucm o
termo da vida e o principio d'ellas. 0 .sr.
Almeida Garrett e uma d'essas raras existen-
eias. 0 talento do insigne escriptor, com
quanto bemquisto sempre, so agora comcca
a ser devidamente aprcciado. Nao tardara
que se faca justiga inteira aos dotes do seu
coracao como ja se faz aos da sua intclii-
gencia.
Finou-se como christao e celebrou-se isso!
244
Nao I- ijoriMii a s\ia conlricao do calliolico,
0 r[\\c I'll aclio inais (lif;iio do que so registro;
iiao me pasuici dflla; o porta nao doscrou
niiiica, nao ha de jamais dcscrer da Divin-
dado. 0 (iiie vu descjaria era que so rei'onliccos-
sem as virtudes sociaes do sr. Almeida (jar-
rett, assim como se rcconhecom os sous la-
lenlos.
Teve fraquezas d'honiem: quern ha ahi que
as nao lenha? Mas possuiu virludes, que
nuiilos, talvez d'quelles mcsnios que ellas mais
alirigavain, lingiam nao conhecer. Sabia clle
lie sous detractores; a sua bdcea porem niin-
co se ahriu jiara deprimil-os; nem suns quei-
\as foram jamais acrimoniosas. Em lodoo lein-
po ([ue gozci, (|uasi (|ue diria da sua inliiui-
dade, nunca Ihe ouvi proferir uma injuria;
ao fontrario, muitas vezes admirei vel-o ror-
rigir a salyra, se acaso era feita em sua |ire-
senca, contra os mesmos que mcnos jusiiea
Ihe liiziam. Nem sol de ncnhuma ollensa qiie
jamais praclicasse!
As paixOes mesquinhas do odio e da inve-
ja, tao communs enlre os homens, tao vui-
gares iioje enlre nos, nao as sentia o sr. Al-
meida (iarrett. Cavalheiro em sens hrios,
amenissimo em sen tracto, modesto na fanii-
liaridade; d'uma generosidade d'animo pou-
co vulgar; d'uma leaidadc provada; pae ex-
tremoso; amigo e protector sincero c por
gosto inlimo de todos os homens de lettras e
artistas, indaguem d'uiis e outros se as (|ua-
lidades inoraes que mencionei as nao tiiiha
d'aima e corarao o sr. Almeida Garrett.
Nao lecc poreni o panegyrico d'um homem ;
lamcnto a perda de um amigo; choro com o
paiz a falta de um grandc escriptor.
Yerdadeiramente grande! que nao ha em
prosa cscripto seu, (jue nao seja um modelo
d'elegancia e de slylo: nem em verso pro-
duccao sua, que nao tenha o cunho da ins-
pi racao e do hom-go.--to. Em verso e em prosa
nao deixou ohra, que nao soja exemplar gra-
cioso do genero cm que foi escripla. E em
todos elics, quasi em lodos, escreveu o sr.
Almeida Garrett: se nem sempre com ogual
felicidade, — seria impossivel, — sempre com
superioridade notavel, — nao podia dcixar de
ser.
As suas obras, que sao muitas, mais c
muitas mais poderiam ser, sc ii litteratura
houvera so consagrado, como devcra, o sou
grandc lalento, e a sua existencia. Teria en-
tao faltado a tribuna parlamentar um dos sens
mais eloquentcs ornamentos; mas a lingua e
a poesia patria tcriam tido mais alguns beilos
raodelos a seguir, e mais alguns brilhantes
monumenlos cm que glorilicar-se. Que nao
lora se nao acabando o grande numero de
raanuscriptos, quo bavia comccado; as hollas
coisas quo linha traradas. ..
.Mas foi curia a vida do sr. Almeida Gar-
roll! E a lodos OS respcitos pcna foi! que se
olla mais louga fdra, poucos auiios mais de
dosongano, o fariam por ventura volver in-
toiro para as lettras, d'onde, oxala! nunca
tivcra sabido!
Infelizmonto, porem, o sr. Almeida Garrett
foi tocado da lepra da sua epocha. Figurou-
sc-lhe que entre homens que se deixavam
deslunibrar por ouropeis e lentijolas, as ri-
quezas do espirilo so, por esploudidas que
fossem, nao bastavara para brilliar. 0 seu
espirilo elevado nao Ihe consontia ver-.se
confundido nas lurbas. Desconliou do futuro;
0 sorrindo do prosontc — ncin unia intelligen-
cia d'aquellas podia deixar do sorrir d'ollo —
conformou-sc com a moda; quiz ser do seu
tempo, c .. sacrilicou a Baal!
Nao 0 censuramos por isso: choramol-o
por nijs, e pela lingua portugueza I . . .
-Mas 0 sr. Almeida Garrett dcveria ter con-
liado mais na posteridade. . .
Eil-a abi que surge!
Do sr. Almeida Garrett ja nao lembra a
farda do ministro, nem o brazao do visconde,
nem os armiuhos de par; mas nao esquecc-
rao mais os trcchos do elegante prosador, as
strophes do mimoso poeta. 0 fauslo do fu-
hlicano la vac desfazcr-se, como o p6 do ca-
daver, nas lajes do tumulo: as gracas da
inspiracao ahi vao perpetuar-se, como a eter-
nidade do espirilo, na mcmoria dos homens.
Uma coroa de perpotuas ao poeta.
I'm ramo de saudades ao amigo.
Coimbra, 17 dc Dezembro do 1854.
t. H. s. LEAL.
MOSTEIRO DA YACCARICA.
Onlem Religiosa do Mosteiro da Vuccarica
e sua qualidade de moxleiro duplex.
Conliimado de pnjr. 208.
Sobrc a primitiva ordom religiosa do Mos-
toiroda Yaccarioa, cnconlra-se nos chronistas-
a mosma divergoncia, quo ja notci sobre a
sua fundaoao. Nao tcnios a certeza, como
disse, de qiiando se fundou este mosteiro,
nem mesmo so o fundador foi algum dos
aponlados Paulo Orozio ou Luconcio. Tendo
sido fiuulado por Paulo Orozio, teria sido
primciro da ordom de .Sanolo Agostinho, a
quo perloncia aqucllo cremita celebre; e, sc
foi fundado por Luconcio ou por outros monges
bonodictinos, a sua ordora primitiva teria sido
a dc S. Bonto.
2^
40
Na falta de bons tlociimcnlos, que siivam
(lirectamontc para csla qucslao, os chronistas
a tern suhordinaiio a (jiicslao mais poral sobre
a epocba do estabcb'finieiito dds bcnodicti-
nos na Hcsiianba. Fr. Antonio da Puriiicacao
qucr (iiic so dcpois da reforniarao dc (Iliini',
em 910, apparecessem na Ilesjianlia os pii-
mciros mongcs bcnedictinos; u Fr. Lcao deS.
Thomaz, com os mais chronislas, que Icniio
citado, pretendc ([ue ja alii os houvesse mais
de 300 annos antes d'aquella reforma.
Em favor da primcira opiniao vem uma cs-
criplura, feila no anno dcCbristo do TSl, entre
0 abbade do Mosteiro de S. Vieenle dc Ovedo
e 23 novicos ou monges que enlraram nVsle
mosteiro ' : uma cscriplura i\w. fez .Vdelgastro,
filho d'Elrei D. Silo, no anno de Cliristo de
180, ao Mosteiro de Nossa Senbora d'Oi)ona '
(Asturias): oulra escriptura ou privilegio dc
D. Ordonbo, Rci de Leao, ao Mosteiro de S.
Pedro de Monies (Galliza), no anno de Chrislo
de lOS': e uma doarao d'EIUei I). AITonso
Magno e sua mulber U. Ximena ao Convenlo
de S. Facundo (no rcino dc Leao), no anno
de Chrislo de 90o'.
Em todas estas eseripturas, doaroes c pri-
vilegios anleriores a 'JIO, os mongcs e mos-
teiros llespanbocs, a que se rel'erem, sao
tractados como mostciros e mongcs de S.
Bento. Por outro lado, para mostrar que so
dcpois de 910 se cstabeleceram os bcnedic-
tinos na Ilcspanha, aponla Fr. Antonio da
Purilicacao um privilegio dc D. Ramiro, Rci
de Leao, concedido ao Ttispo e Cabido da
mesraa cidade no anno de Christo de 946 \
' O Abbade, n'esta escriptura, declara aos novicos
que 20 annos antes linha edificado aquelle mosleiro,
recebendo a rt*j;ra de S. Bento para a piiardar, e que
na mesma cunfurmidade cts recebia. Chronica Gfii^rol
de la arden de San Jienito, Piiiriarchii de Hetir/iosos
por Frey Antuniu de Yepes — -Appendix do torn. 3."
Escript. 11.
^ N'esta escriptura, diz Adeljrastro que institue este
mosteiro — u ad jionorem Dei, et Bealae Mariae .... et
Sancti Benedict! Abbalis, cujus ordine in ipso monasterio
instituimus. . . i> Yepes. Appendix do torn. 3." Escrijil.
17:
■* t( Nos Arnnlplius Episcopus Astoricen.sis sedis ordina-
vimus pro consecralionis officio ,\bbHlem nomine Genna-
diuni, dedimns que ei Reiulam observationis sanctip
vita" et oninem doctrinam deifieam constilutam
in Regula beati Benedicti, quani eis obseruandani tra-
didimus, cum cunctis, sibi subieclis monacliis relinen-
dam initi^^iuius : lianc iure monastico ol)seniare elr^i-
mus...." — Yepes. Appendix do torn. 2." Escript. 14.
* Os doadores, depois de terera referidj a duacjao
ao alibade do mosteiro, accrescentam — » y es nuestra
voUintad. que tenfra cuydado del dicho ^lonasterio, y
le rija, y lia^a guardar la vida monastica conforme la
repla de San Benito •• — Yepes. torn 3.°cenluria 3.' cap.
S folli. 169.
11 Vidumus nanque, et ordinamus, quod Rejula Pan-
cti Benedicti qua; utique per inclytos Monachos < luuja-
censes ad nostras Ecclesias recenter adnenisse perliibetur,
in universis ncstrac dilionis finilius denote, ac benigne
prout ciivenit, hospitetur, el fanealur ....>. Chronica dos
Krera.de Sand. Agost. — torn, c part. 8.' liv. 4." til.
3."§. 12.
e outro privilegio de D. Sanebo Ramircs, llci
d'Aragao, ao Mosteiro de S. Salvador de Leire
(Navarra) no anno de Christo de 1070'.
N'cslcs privilegios, dizcndo-se que a orQem'
de S. Bento vicra do Mosteiro de Chine para
cstes silios, parcce moslrar-se que so dcpois
d'esla reforma sc estabclcceram na ilcspanha
OS monges bcnedictinos; mas, vendo-se por
outro lado a riarcza com que os outros
documentos apoutados mostram a opiniao con-
Iraria, parcce nao haver outro mcio de sair
d'esta contradiccao, talvez apparcntc, a nao
ser a lembranca de que, tendo sido a rcfor-
marao dc Chine uma reforma tao capital da
rcgra dc S. Bento, c tendo feito de certo
niodo esquecer a primitiva instituicao da
ordem bcncdictina, pclo credito e vu'lto que
toinou cm toda a Christandadc, e por tcr sido
abracada em todos os mostciros bcnedictinos,
|)ode crcr-se que, marcando csta reforma
uma nova era na ordcm dc S. Bento, o
mosteiro de Clime fosse considcrado como a
Ibute da ordem bcncdictina para todos os
mostciros que a abraearam, ainda mcsmo
para aqucllcs que antcriormcnlc ohscrvassem
a primitiva rcgra de S. Bento. Se d'cste modo
podcr salvar-se a contradiccao d'aquelles
documentos, podera admitlir-se a cxislencia
dos monges bcnedictinos na Ilcspanha antes
de 910^; mas ainda assini, mostrada a pos-
sibilidade dc tcr sido benedictina a primitiva
ordem rcligiosa do Mosteiro da Vaccarica,
nao podc alliriuar-se que o fora, por falta dc
documentos que dircctamentc o provcm, c
ainda mesmo pcla obscnridade historica da
sua fundacao e sua cxislencia ,nte ao (im do
seculo 10. Ainda na epocba do melhor conhc-
cimento do Mosteiro da Vaccarifa, dos prin-
cipios do seculo 11 em diantc, nao aclici
provas directas de ser entao de S. Bento o
-Mosteiro da Vaccarica; mas app.ircce, em
muitos documentos d'esta epocba, o chcfe da
corporarao com o traclamcnto dc abi}ade, de
prior, e de prcposito; e a rcgra do mosteiro,
' .; Nunc i,?itur ofjo liumitlimus scruurum Dei feniu
djno Dei Panclius Uex Munasterium Sanctis Saluatoris
de Leire corroboro Alibali Panctio etc. talia priuiieria,
pr.Tcepla, et decreta, et libertales, q\iai>a liabet ( lu-
niacense JNlonasterium, de cujus Sanctissimo foitle Onto
Beacti Benedicti in his parlibus prius eraana'.'it, " ■ —
Cliron. dos Erem. de Sanct. Af-'ost. — l;jnl, e j'art. 2.«
liv. 4.» tit. 3.» §. 12.
-^ I'undndo no me.srao principio de nao tercm cnlrado
OS Iienedictinos na Hespanha senilo depois dc 910, _Fr.
Herniene;?*! lo de S. Paulo diz, que o Mo.steiro dr; T..or\rio
fora da sua ordem (Monaclialo Belhelmilico ou Mo-
nachato Jeroniminiano") ate ao anno de 1000 (Chron.
dosCarm. Descal^os. torn. 2." li\'. 4.^* cap. 15.° — pair.
05). O auctor pretende que tanto este de Lor\ao, conio
todos OS mais da Ilcspanha, e por C4>nse'.:uinte o da \ :tr-
cari(;a, fossem da sua ordem afe aquella ep.icha. Etn
vista do desinvolvimento que tcnho dado a esta questiio,
e da nenhunia importancia que a citada chronica d.i n
esta asser<;ao de Fr. Hermeneirildo, poss.t a talvez repit-
tar como simples conjectura, que nao ni'^nc-' ''xuiKe
B"rio.
216
J t.,i..,,.,-ft 1]
(lenomiii.ula rcgra sancta, {I'onde inferiram os
( liioiiijitas, 0 luodcriKimciUe os srs. Ydlio dc
Barbosa, t> Mif^iicl Hiliciro', quo n'csia ii'oi'ha
i-ra do S. Bt'iili) a ordeiii roligiosa dos r.i(m|:;cs
(la Yaccai-ica; rofuroando o snr. Yollio dc
Barbosa a sua o[iiniao com uma espcoio de
profissao, conrormo a regra de S. Benlo, fcila
pclo presbytero Uaiulull'o e o mongc Tcdro,
iriui\a oscriptura de conipra c veiula ao ali-
hado Todiklo .
Nao soi ale quo poiito podoromos conliar
u'estes fundameiilos. Os tiliilos de abhade,
prior c prcposito liveram applieacao, seguiido
OS diccionarios, quo pude tonsullar, a dif-
ferontes dignidados das corporaoOes religiosas
indisliiiclamentc, c algiins a parocbos do cerlas
ogrejas, c a dilTerentes cargos civis, e ale a
poslos mililares. 0 traclamonlo de abbade,
-seguudo Fr. Aulouio da Piirilicarao, nao era
extlusivo da ordom de S. Benlo, porlenoendo
Cgualmeule na primiliva as anligas ordens
de S. Basilio e Sanclo Agosiinbo'. E, sc no
concilio de Conslanlinophi, em iiS, assigna-
ram vinlc c ires abbades, como assevera a
Bibliolheca do homem d'eslado e do cidadao',
nao foraiu de certo dos monges benedictinos,
cuja ordem u'csta epocba ainda nao era
instiluida'. 0 lilulo de prior compelia em
alguns convenlos ao primeiro director do
mosleiro, e n'oulros ao diroclor immcdialo;
mas apparecia este tractamentonas dilTeronles
ordens de S. Basilio, Sancto Agoslinbo, S.
Benlo, S. Joronymo, nas ordens mililares de
S. Tiago, Calalrava, Aicanlra, etc. compelia
cgualmenle aos cabocas dos consulados esta-
lielccidos era Andaiuzia, Lima c Mexico,
encarregados de bis Flotas ij Galcones e o
niais (lue dizia respeito ao commercio da
India'. Tamiiem se ebamavam priorcs os
primeiros magistrados de muitas cidades da
Croacia c Daiiiiacia, havondo aleni d'isso,
n'aqueiies lenipos anligos, difl'erenles cargos
civis com otiuiio do jirior '. 0 Iraclamcnlo de
preposilo, nos mosleiros de difl'erenles ordens,
dava-se anligauienle como tilulo do dignida-
de, immodialo ao de abi)ade, o era tambem
assim designada uma dignidade ecclesiaslica
nas calbodraes; mas compelia alera d'isso
cnlro OS romanos a differentas cargos civis e
* Memoriae citadas d'esles dous auclores.
'' Livro Preto — fulli. 81 v. Vem copiada na Memaria
Mir-lorica do Mo?teiru de Leqa — dociimeoto n.** 3.
* Chronica d'>s Krem. de Sanct. Agostinho — torn, e
liarl. 2.» — ad;li(;riii — J. -1.
* Dictionnairc Uiiiverscl des sciences morale, econo-
niiqiie, ])uliti<iuo ct diploinatiiiue; oti Bibliotheque de
'homme d'etat (;t dii citoveii — 1777 — v. Abbe.
^ Vfja-se o artigo — Fuuda^io do Mosleiro da Vac-
carira. — -
' Diccinnario de la Lengua Caalellana etc, compu-
f.-ito por la Real .Academia HesiianoU — 1737 — v. Prior.
" niossarium ad .'^criptore-i mediie et inOma^ latini-
tali.;. Atilore Carolti Dufresne, Domino Du Caiige —
1734. Prior Jciralorum — Prior Loci — Prior Forensis
— Prior Provincialis, etc.
mililares e ainda nicsmo a diffcrentts umprcgu.<
do servioo jiarlicular dos Iniperadores'.
Coiu uma applieacao lao commum nas
ordens religiosas, o lao exlensiva a diversos
cargos civis e mililares, ainda que mais usados
n'lima dada ordem, cstes lilulos em qualquer
mosleiro, nao jiodom domonslrar a nalureza
da sua ordem religiosa. A iatilude do suas
accepcOes de\eria ler-ibes tirado uma signili-
cacao reslricta; c, considerados esles lilulos
como synouymos de chefe ou director de
([iialquer corporacao, nao admira (juc se
adoptassem arbilrariamcnle cm dilTcrentos
convenlos, qualquer que fosse a sua ordem
religiosa.
Continua. A. a. da costa SIMUES.
AS MULIIERES DO ISLAM. E AS MLLIIEUES
CHUISTAS.
« Como 6 Formosa a niulher do Oricnle,
Haydea, Guinara, ou Medorahl formosa como
0 sonbar do poeta!
Vede-a E noito. Desceu aos jar-
dins do harem; alravessa lentamonte as Ion-
gas mas; e para, por alguns instantes, debaixo
dos limoeiros e jasmineiros lloridos. Olbou
para o ceo. Que de bumidas cbamas em .sous
grandos olbos negros, raelancolicos, brilbanles
e meigos, como os olbos da gazela do scu paiz !
Agora que ja nao teme vistas indiscretas,
doixa nas maos das odaliscas o iasmali branco
quo Hie vela o roslo, c o feredje que Ibe escondo
0 laibe nas vastas pregas. Sua veslia, dc
largas mangas roviradas, enlretecida de ilores
de prata, enlreabre-se no peilo, e deixa vcr
uma camizinlia do gaze, tao lina (pie nao solTre
0 taclo, e scinlilantc ; — um raio de luz e um
supro enlrelccidos. 0 chahutr lluctuante dosce-
llie ate aos pes, cuja ponla se ibe esconde em
terliks semeados de pcroias. Anneis de prata
sdao em sous artelhos mis. Sou braco, escul-
Uirado em marmore vivo, abandona-sc as
mordediiras d'uma scrpente desapbyra coma
cabeca de rubis. Seus dodos estao carregados
d'anncis, sobre os quaes o babil arlista gravou
as suralni ' , que fazcm amar.
Diias longas irancas nogras, entremeadas
de so(|uins d'oiro, escapam-se do lurbousch
escarlale, e perl'iimam o ar que as afaga.
Advinha-sc que basla querer para que Ihe
obedecam; e que arrastaria o mundo com um
' Blitteaii. Vocabnlario Portugiiez e Latino 1720. —
Moreri. Diccionario historico, o iMiscellanea curiosa Ac.
la historia sa.srada y profana, traducido por D. Joseph
de Miravel y C'asadevaiite. 17.53 — Pra'po.-^itus monetK
— Pra^positiis fabrica; — Prjrpositus militum — Proepo-
situs auxilioriim — Pr.'ppositiis Palatii — Pra?posilus
canianc re^jalis on cubicidarius — Pra^positus mensie —
Pra'positus fibiilip — Prxepositujs basla^'K, etc, elc.
* C'apitulos do alcoruo.
247
so cahello do seu coUo — nnn crine colli sui,
como diz tao bcm a EscripUira.
Eis ahi o rctrato d'um mod(Mo entrevisto
jjcio prisma da iningiiiarao.
Eis aqui outro que iiao c menos vcrdadeiro;
c egualmcnle tirado da natiircza viva.
Yj incio dia, c as esrravas ainda nao levan-
taram o cortinado de sMa diante das janelas
da odd. Ainda nan c dia para as cadiiuis
preguioosas. Uma dellas no enlic tanto bate
n'uma'campainlia dc cobre: as escravas cor-
rem; abrc-se a luz. Guinara osprcguica seus
brafos ociosos.
Crcio que ITaydea boicjou. Apresentaram
a Medorab o nurrjliileh da Persia, carregado
de tombalii; cnjo fumo leva as boras pesadas,
eprolonga, alravezdodia, o sonbar volupluoso
da noite. Depois do niiryliileli servir-se-bao
as conscrvas perfiiniadas, os sorveles de neve,
e OS copos de rozas liquidas.
Assim cnmora, assim acal)ara o dia. Nunca
urn livro: Medorab nao sabe ler. Nunca unia
agulba: a favorila nao Irabaliia. Emquanlo a
casa, essa vai como piide, cnlrogue as escravas
que a roubam. E para ([ue ba de occupar-seda
fortuna do senbor, cujo repudio, semappella-
cao, pode, a cada iustanie, separaral-os? Os nie-
iiinos scmi-nns (beb)s mcninos, rcalmenlelj
brincam de mislura sobre csteiras do Egypio,
e rolam-se sobre tapeles de Labore. A mae
nada tern que Ibes ensine: ella nada sabe.
' Uma amiga vcm visilal-a : nao se conversa
— 0 Oricnle conversa pouco, isso cansa ; —
mas fazem-se desdobrar as s^das de Brousse,
OS gazes d'Argcl, c os cbalcs da India ; abrem-
sc OS cofres de joias scintilantes; provam-se
oolares; ostenlam-sc perolas d'Opbir, c dia-
luanles dc Golconda. A amiga tern inveja:
isto faz passar uma on duas boras! Depois,
pela porta encobcria, introduzcm-se as almes ' ,
peritas na arte dc conimovcr, que cantam as
cancoes laseivas, e dansam os passos provo-
cantes.
A noute ohega, o senbor vcm; — on nao
vcm. Anianba sera, como hdje, como hontem,
como scniprc!
Tal e a vida dos ricos! A dos pobres nao
e melbor: tern de menos o verniz da clegan-
cia com que a riqueza adorna seus vicios;
leni de mais a borrivel miseria que piiue
seniprc a prcguica do pobre!
0 marido c auscnte, vivc pouco cm casa;
encontra-se no cafe, na mesquita, debaixo das
arvores, ou a borda das fontes; fogc da vida
interior. A mulbcr levanta-sc; o seu primeiro
cuidado 6 mandar buscar o labaco para o
dia: — o pao vira mais tarde, — se reslarcm
algumas piastras cm casa. 0 tchibouci;, uma
\!}z accc^so, nao se apagara senao a noite. A
mulbcr scnta-se, de bracos caidos, c pernas
cruzadas, no seu divan esburacado; c dcixa
passar as boras, seguindo, com urn olhar
' Bniladi.nras
dislrahido, a loura cspiral do Aimo. Os mc-
ninos esfarrapadosgritara c ciioram a uni canto.
Algumas pancadas, distril)uidas ao acaso, mas
com miio vigorosa, reslal)clecem o sib'Rcio e
a piiz. I'ma vclba escrava ncgra repartc-lbes
uma salada verde ou alguma talbada de mc-
lancia. A niai I'uma scnipre. 0 marido entra:
se nao scniir em suas ilbargas o aguilbao do
dcsejo, nao tcra para com sua mulbcr, fria c
taciturna, ncm um surriso, ncm urn lancar
d'olbos!
Eis abi tambcm um csboco vcrdadeiro da
vida oriental !
Nao screi eu todavia, que lancarei a pri-
nicira pedra a mulbcr mussulmana. Aqui,
como em outras partes, a nuilber c viclima
das leis opressivas, que o homem fez para si,
c contra clla.
Entretanto saibam-no bcm: a condicao so-
cial das mulbercs e a pedra de toque da ci-
vilisarao d'um povo; os mussulmanos sSo
punidos por ondc peccam. A mulbcr mussul-
mana nao e a companbcira dobomem, rcspei-
tada a par com die, sua amiga ao mesmo tempo
que sua amantc; nao 6 mais que o instru-
mcnto aviltado do prazer; e uma coisa; coju-
pra-se, Iroca-se, rcvende-se. Nao e jamais a
cs[)osa, scgundo o espirilo, admittida a esta
cnmmunliaodascoisas bumanase divinas, que,
na linguagem energlca e grandiosa do direito
romano, se tornara a mcsma dellnicao das
justas nupeias. E verdade que a mulbcr
mussulmana nao sente semprc o p^so de suas
cadias: ([uando joven e bclla, a cadfia e de
rosas do prazer: mais tarde adormeccr-se-hii
no torpor cmbriaganlc do opium.
Quanto a mini, scmpre me pareceram mais
para lamentar-se os que nao sabcm (jue sao
miscravcis.
Mas cste syslema egoista da segnranca ao
mais grossciro, assim como ao mais cego dos
ciiimcs aquellc que se ere sufficientcnientc pro-
Icgidopor uma grade, ou por uma cbave; que
toma por pudor a rcchisao; e que nao dis-
tingue entre a escravidao e a lidclidade!
Nos impomos menos, e pedimos mais;
bavcmos mister da ca^tidade voluntaria o
d'uma fe conjugal, que nasca do amor, ou
pelo menos do dever: quanto a segnranca
pela reclusao, ncm os grandes coracocs so
resignam a ella, nem as almas melindrosas sc
contentam com ella. Ab! comprebcndo agora,
que 0 arabe nem mesmo tenba palavra para
exprimir o sexo dcsprezado; e quo, para an-
nunciar o nascimcnto d'uma lllba, diga ans
amigos: ifasceii-me uma desijraiada !
Comparae agora a mullicr dcgradada do
islam a mullier tal como a civilisacao cbrisla
nol-a faz, egual a lodos os devores, c suiiorior
a lodas as forlunas; dubrando o prcco Ja
sua prel'erencia pela independcncia da sua
escolha; e ennobrcccndo a mcsma virtudc ppla
libcrdade que tcm para nao ser virluosa.
248
Antes do casamciito, coroada de graras,
amor dos sous, orgnllio c alcgria da I'aniilia;
d('|)ois do casamento, inspiracao, conscllio c
apoio do honuMii. Rica, c a rainlia do imiiulo,
torn tim lo()uc por sceplro, adoraiulo pela
sua so pri'seiK.-a a aspercza das coiilendas
viiis, e sancliliraudo nossos costuino.s inccilos,
tomo se coisa nciihuma d'impuro podosso
subsistir diaiite da luz de sens olhos. Adiui-
nistra a sua casa ans olhos de Dciis, partiudo
pelos mciios aforlunados o i]iic llie sobeja das
proprias necessidades. Livrc, sai alpiinias
vezes, som que uni marido susi)eiloso (pieira
saber para oiide vai:,. mas os pol)ros sa-
bem-no, e respoiideni-lhe por ella.
Uesueis vos algmis degraus iia hierarcbia
social? 0 Iii\o desapparece; ja nao vedes as
elegaiicias doiradas da \ida; mas por toda a
parte ao menos cncontrais na casa urn hrafo
active e industrioso; adviobais uma provi-
dencia araavel c familiar, um bom genio at-
tento, ao qiial nenluima cousa jamais escapa,
e que sc multiplica com as neccssidades,
corao para I'azer'SC tiido para todos.
Descei ainda, vinde a casa do pobrc: 6
aiii talvez que a mulber mais desinvolvc uma
iuflucncia fcliz. A forca d'ordcm, faz frente a
sua miseria; asprivacoes redobram, a mullier
cresce na luta ; e a esla luimible casa, aonde
I'altam tanlas coisas, ella darii ao menos a
ultima alegria dos olhos, a perfeila limpeza ;
c em quanto aos que sollrem juiH'to d'ella, so
nao Ihe e dado cural-os, ao menos consola-
OS, amando-os!
(La terre sainte, vni/afjc <hs qunrante pcle-
rins de 1^'6'i, par Louis E'nault. X. pay. 107).
Quizeramos dar uma breve noticia deste
livro curiosissimo, que por acaso nos vein a
mao, e do qaal nao tcmos ouvido falar.
Pareceu-nos que o breve trecbo, que a)ii lica
trasladado, era mais expressive que (juacs^
(juer arrazoados e encarecimenlos.
Os quarcuta peregrines cscQlbidos, per-
tencenles as primeiras classes da sociedade,
de ruja romaria, de Paris a Jerusalem, fal-
larani muilo no anno proximo os jornaes reli-
giosos; 0 que visitaram os logarcs sanctos em
uma cpocha notavel, por isso que a sua viagem
coincide com o comeco da guerra do Oriente,
tivcram um narrador digno delles.
L. Enault pinta com trafos do fogo, nao
menos rapidos do que vivos e penetrantes,
OS sitios, OS sanctuarios, e sobrctudo os cos-
fumes do arabe, do turco, do cbristao, do
scismatico, c dojudeu. Aos quadros, ora atra-
ctivos, ora medonbos e temerosos, d'um paiz
tao abundante cm rccordajoes, como original
nos uses e costumes, o auctor sabe entreniear
prudentcs reflcxOes, ((ue nao agradani menos
pela brcvidadc, tao propria d'cscriptos d'esta
ordem, do que pela scnsatcz com que sao
fcilas. ^
A. FOIUAZ.
ORIGEM DO CALOR SOLAR.
0 calor omittido pelo syslema solar, diz
M. Thomson n'uma Memoria de rccente da-
ta ', corresponde a um desinvolvimento d'c-
nergia mechanica, que no espaco de quasi
com annos cquival ao total da forca viva
necessaria para produzir o moviniento de to-
dos osplanetas. Mas(|ualea origem d'esta tao
poderosa accao? Sera por ventura dcvida a
um reservatorio de [iriniitivo calor, ou a uma
acriio chymica, ou linalmente a massas cm
movimento? Na primeira liypotiicse a irra-
diacao solar dcvia limitar-se precisamenle ao
s(d, mas um tal reservatorio de calor prinii-
live achar-se-bia exbauslo no espaco ja decor-
rido do seis njii annos; nem tao pouco a
accao chymica, ou a conibuslao entre os clc-
mentos da massa solar poderia alimeutar a
emissiio de calor durante um tao longo pe-
riodo, e por conse(juencia nao pode a irra-
diacao solar attrii)uir-se nem ao calor primi-
tive, nem a uma combuslao inlrinseca. Os
movimentos ordinaries, jiorem, da massa solar
scriam tambcm do per si insulTicientcs para
satisfazer as condicoes d'aquelle pbenomeno,
e por isso e forcoso admittir. que o movimen-
to de corpos estranbos caindosobre o sol, sao
a origem mais provavcl d'aquella enorme por-
cao de calor. Se a combuslao fosse a causa do
phcnonicno, era necessario admittir que a
materia co]nl)ustivel Ihe era fornecida por
corpos exteriores; mas nenhuma materia pode
vir dos espafos exteriores ao sol, sem produzir,
so polo facto do scu movimento. um calor mi-
lliares de vezes mais intense do que, o que
poderia resultar, quer de uma combustao en-
tre OS proprios elcmcntos, (pier de uma cora-
binacao com substancias, ([ue primilivamcnle
existissem no sol, cxccpto se ellas possuissem
aflinidades chymicas incomparavelmcnte sn-
periores as de todas as substancias terrestrcs
e nietcoricas ate boje conhecidas. Parece por
tanto que e mcteorica a origem do calor so-
lar, c que rcsulta do movimento de inelcp-
ros, que ciiem sobre o sol.
Watcrston foi o primeiro que na ultima
reuniao da associacao britannica em Hull apre-
sentou aquella idea sobre a origem do calor
solar. Porem, .so, como avancara Waterston,
caissem dos cspacos cxtraplanelarios tantos
mcteoros, que produzissem o calor actualmcn-
le emittido pelo sol, a terra no sen gyro teria
tido muilo mais frequentes enconlros com
esses meteoros, do que na reajidade tern ti-
do; e a accumulacao dc matcrias no centro
do syslema Icria, no espaco dos ultimos dois,
ou Ires mil annos, causado no movimento
terrcstre uma acceleracao, que os annaes da
astronomia nos nao permiltem admjltir.
Os meteoros, que alimcnlam o calor solar,
' Mernoire sitr I't'nTffit ntecaniqne (tu nyatime s lUtirc.
249
pelo menos dcsde o periodo historico, devcra
por consequencia achar-se no interior da orbila
terrestrc. Sao cslcs mctcoros iiluniinados pelo
sol, que se ol)servam, quando este astro esla
eravado no iiorizonte, no lurbilhao a que se
da 0 nomc de /«: zodiacal, que circnia em
lorno do sol, e em sua revolucao arrasla a
atmosphera interplanctaria, de niodo que a
forca centrifuga faz quasi equilihrio a gra-
vitaoao solar, cxcepto na proximidade da su-
perficie do sol.
Provavelmente estes meteoros vaporisam-se
a uma pequena distancia do sol cm conse-
quencia da alia temperatura d'esta parte do
espaco, mas. por iini perdcm sua velocidadcde
rotacao por causa da grande resistcncia que
experimentam, entrando na atmosphera solar;
e condensando-se no estado liquido por elTei-
to da gravitacao solar, ropousam sobre a
superlicie do sol.
A quantidade de calor assim produzida na
regiao d'esta podcrosa resislencia, pela queda
dc uma dada porcao de materias, excedeni
em metado do equivalentedo trabalho produ-
zido pela gravitacao solar sobre uma egual
massa, que caissc d'uma distancia infinita,
uma quantidade egual ao calor latente, quese
desinvolve durante a conden.sacao, augmen-
tado com o calor devido as combinacoes chy-
niicas que podeni ter logar.
A segunda metade do trabalho produzido
pela gravitacao solar sobre os corpos, que
caem de uma distancia iniinita (ou egual a
um grande numcro de vezes o raio do sol) da
pelo atrito o calor, que se espaiha nos cspacos
interplanctarios.
Suppondo que a materia mcleorica, de que
temos fallado como causa do calor solar, se
accuniula a superficie d'a(|uelle astro com
uma densidade egual a sua densidade media,
ate a espcssura dc 18 metres n'um anno,
esta accumulacao de materias nao augmenta-
ria com tudo as dimensoes apparentes do sol
mais dc um segundo em ([iiarenta mil annos,
0 que cm dois milhoes d'annos nao faria
inaior dilTerenca do que se obscrva entre os
mezes de junho e dezembro. Este augmento
se ainda continua a ter logar do mesnio
modo, qualquer que seja a densidade actual
do deposito, deve ser insensivel desde os
mais antigos periodos historicos ate as mais re-
centes observacocs: e para milhoes d'annos
futuros, as medidas do diamelro solar, ap-
parente, tomadas com a maior exactidao, nao
poderao dar prova ou argumento algum
contra a theoria da origem meteorica do
calor solar.
A temperatura quasi uniforme do sol em
todas as partes da sua superficie e provavel-
mente devida a vaporisacao dos meteoros,
que, se exisiisscm no estado solido, quando
entram na regiao da intensa resistcncia,
parece, que deviara accumular-se cm quan-
tidade muito maior nas regi5es equaloriae.*,
do ([ue nas poiarcs.
As nianchas do sol sao provavelmente n
cITeito de turliiihoes, anaiogos aos tiifoes das
regioes tro])icaos na atiiiosphera terrestrc,
posto (|ue produzidos por causas diversas,
OS quaes, em consequencia da forca cen-
trifuga, produzem durante ccrto tempo uma
grande diminuicao no deposito das materias
metcoricas sobre poryoes limitadas da super-
licie do sol, e liie permittem arrcfeccr-se pela
irradincao, a ponto de comparativaniente se
aprcscntarera como .sorabras ou manchas. ■■
0 D.' WELWICHT E 0 JARDIM BOTANICO
DA U.NIVEUSIDADE DE COIMBRA.
0 sabio e infatigavcl naturalista, o D.'
Weiwicht, aqueni oJardim Botanico da uni-
versidade de Coimbra deve algumas das suas
mais preciosas collecgocs de somentes, e plan-
tas da Flora Angolense, acaba de offerecer a
este Estabelecimento uma nova colleccao de
estacas bulbos, e sementes de vintc e quatro
especics das mais raras c estimadas d'aquella
Flora, alguma das quaes o illustre botanico
assevera, que .so nao encontram em Jardim
algum da Europa.
Os exemplarcs rcccbidos, chegaram cm bom
estado de conscrvacao, e foram logo plantados
com as neccssarias cautclas em attencao ao
exccssivo frio da presentc estacao. Em q'uanto,
pori-ra, se nao construir no Jardim Botanico
uma cstufa tal, como o pede um tao grandio-
so e importante Estabelecimento, e ineviiavcl
a perda de algnmas d'aquellas e d'oulras
especics dc plantas d'Africa e d'Asia, que
sem cstuliis, neni abrigadouros nao podem
resistir ao rigor dos nossos invernos.
Felizmentc as cortes votaram um subsidio
para so dar principio a construccao d'aquel-
la estufa; e se nos seguintes orcamentos con-
tiuuar 0 mesmo subsidio, como e dc espcrar,
dentro cm poucos annos o Jardim Botanico
da universidade se acbara habilitado para
conservar plantas de todas as partes do
mundo, e promover a aclimatacao das que
mais uteis forem para a agricultura e para
OS divcrsos ramos da industria nacional.
Entretanto a Faculdade dc Philosophia da
universidade dc Coimbra, justa avaliadora
dos eminentes services, que o sabio U.'
Welwiciit tern prestado a historia natural, e
cm particular a botanica naqucllas inhospitas
terras d'Africa, e no meio dc climas tao in-
salubrcs, nao podia deixar de dar uni so-
' L'lwliUit. I. sect. n.° 1085 — oct. 1854.
250
Icmne tcstemunho de louvor, e reconheci-
mento ao illustre nnluralista, que tanto tern
cnriquecido os annacs da sciencia com suas
importantcs descoburtas e esludos praclicos,
nao so no rcino, mas tambcm nas nofsas
possessocs ultramarinas, lao poiico conhecidas,
se nao quasi ignoradas dcltaixo do ponto de
vista scienlilico; e resoivcu por isso unanime-
mente, que se lizcssc muilo lionrosa e dis-
tincta mencao, no iivro das suas actas, do
nonie do snr. D.' Welwiclit, c que o secre-
lario do Conselho transmilisse ao Prelado da
iiniversidade uma copia auliientica da rospc
ttiva acta, para scr remcttida iiquelle insiguc
l)otanico para sua satisfaccao.
J. M. DE ABREU.
COMMISSAO PORTUGUEZA
EXPOSICAO UNIVERSAL DE PARIS.
A commisslio central portupueza, a quem Sua Ma-
jeslade el-rei, regente em nome da rei, confiou o bon-
roso encargo de orpanisar a exposi^Jio dos productos da
a::rric»Uura e da industria fabril de Portujsral, na exposi^uo
universal de Franca, por este meio se dirige ao paiz, de
ipiem essencialmente depenile u bora exito da sua missao.
A commissao espera, que st>ndo conhecidos os fins
Srandiosos do encarjro que Ihe Tii ineumbido, beni omo
as suas inten^oes a cerca dos deveres que elle Ihe impoe, o
paiz Ihe preslara o auxilio franco e decidido com que a
mesma coramissao conlou ao acceitar uma responsabilj-
iladp, superior aos meios proprioa de que poderia dispor,
a fini de corresponder a confian(;a com^ que foi honrada
pel J governo de Sua Majcstade.
.A. exposi^ao universal de Paris sera, assim como foi a
exposi^Jio universal de Londres, uma exposi^lo geral do
e-tadodacivilisarao do muudo, representado pel >s recurs.)S
que as na^oea possuem no sul i e no trabalho.
A c )mmissao, depois de ler cxaminado os docunipntos
que tp:n recebido dacommissau imperial de Franca, pode
asejurar ao paiz, que o character peculiar eimporlaiiteda
sulnnne exposi^ao para que o convida — e o de uma ver-
(ladeira represenlacjao d'csses grandes recursos, qtii- resul-
lam d J a^rupamenlo dc iiraa variedade inilnita de pr-idu-
etos naturaes, e da poderosa acr^ao das tao variadas for^as
d > trabalho. A cxpjsi(;.'io de Paris representara, por esta
firma, o? elementus essenciaes da vlda e do poder, que ao
pre-iente constituem e fi>rtalccein as nacionalidades. —
Exis^te portanti> uma difTeienra capital e palentc a todas as
intelligencias entre as cxposi<;ries universacs, a que a com-
missao se refere, e as exposi<;ues nacionaes ou locaes, que
eram conhecidas, antes da exposi^ao de Londres. Os
productos que se nito ndmittera, por communs e deuiasia-
damente conhecidos nas exposi^des de cada paiz, aquelles
para que se nao volta a allen^uo dos seus pruprios pos-
suidores ou productores, podem ser o .objecto de serio
estudo do sabio, na exposi^ao dos productos do mundo,
causando ale novidade a muitas das pessoas que ahl
concorrem para comjiarar, nao os productos de uma
mesma na^ao, mas os de quantas concorreram a expor
o e^tado da sua industria.
A commissilo julga indispensavel que o paiz, possuido
corapletamente d'estas ideas, se nao tenha por impossibili-
tado de acceitar o couvite honroso, que a Frantja Ihe diri-
giu, (xqiie a mesma commusilo tem a bonra de, por este
nieio, inais aulhenticamente levar ao seu conhecimenlo.
A corumissilo, fallando ao paiz a linfjuagem da verdade,
intende ser i^ssivel que Portugal fi^^ure honrosamenle na
expusi^So de Paris, e esta sua opiniao (• con-requencia de
um estudj previo e demorado a cerca dos meios que temos
para que assim aconte^a.
A coramissao nfto assevera, queremettera para Fran<;a
primores de goslo, ncm phantasias do geiiio; mas confia
que a industria Ihe fornecera primores de trabalho, e opti-
masapphca^oesde inventos uleis; nao pensa cm fazer de-
mnn^trar em Paris os prodigios da sciencia e do capital ap-
plicadns a ngricultura ; mas tem a cerleza de que o paiz Ihe
pmle facililar os meios de formar uma das mais valjosas e
appreciaveis collec^oes de productos agric das que se pos-
sam admirar em Paris. Nao exporemos iuventos que re-
viducituuMn a indu>tria, ou deemjuma ni.va direc(;ao ao
commercio ; mas nuo nos ser.'i diflicll pruvar, (pie emprega-
mos cjm vanlagem e discri^ao as inven<;i^es impi.)rtantes,
que o geuio das nn(;oes mais adiantadas tem posto ao servi^o
da iutelligencia e do trabalho.
A commissao intende, que, firmes na for^a danossa von-
tade, devemos serniudestos nos nossos desejos, niloqueren-
do oada exjwsitor julgar-se desde logo com direilo a um
preniio. Figurar n'aquella exposi^ao, estar habilitado para
ler um logar em que o seu nome se inscreva ao lado de um
prodiiclo, em lao majestosa reuniao dos tropheus memo-
raveisdas victorias do lalento e da vontade — eja mais do
que um preraio, e um litulo que ennobrece, porque signi-
lica que o expositor e util a humanidade, e que sabe hon-
rar o nome da na^ao a que pertence. E bastam poucos
exemplos para esclarecimento da idea fundamental de
todos OS trabalhos da commiss5o. Uma medida de trigo
portuguez sobre um apparador marchetado de compoM-
^oes, que se confundam com o metal, com a tartaruga, e
com o esmalte, ao pe das sedas maravilhosas de LySo,
cercada dos bronzes em que o gosto do desenbo se manifes-
ta em caprichos phantasticos, siguifica para o economista
um ponto serio de estudo, dizendo-lhe que Portugal produx
cereaes para o seu consumo, e que ja tem ido pur vezes
alimentar os mercados famintos da Europa, elle que ahi
levuu o ouro das minas de um imperio, jxirque nao tinha
trabalho para dar em troca do pao deque se klimentava,
e porque havia julgado que esse ouro, capital que se
consume e acaba, podia substituir o capital do trabalho,
que e indestructivel, sobrevivendo a uma gera^ao para
enriquecer a que se Ihe se^ue. Essa mesma medida e
a sua significacao economica explicaria como existindo
em Portugal, no anno de 1835, umasu mnrliina de vapor
da for^a de dezeseis cavailos ; ja ao presente existem setenta
c )ra a fjrt^a de novecentos oilenta e nove ca\ alios. Istoe,
a agricultura, augmentandj o alimento da vida, achou
cju-unijsno trabalho fabril, que ao ladu d-i seu incremento
se f ji de>inv.dvendo, e a povoaijao industrial, crescendo
apresentou o incentivo efficaz a producqao agricola, ^^jjual
foi dand > valores a terras que o nao tinham. E assim, per-
dido o Brasil pela politica, acabado o munopolio dos ge-
neris c.d»Miiae.-i pelas rev. lu^oes do coramercio, as minas
(le ouro, que haviamos perdido, foram novamenle acbadas
|>el> arad ) na terra que a inercia tinha deixado inculta,
pelo bfa<;o nj tear que se deixava apodrecer no ocio, e,
finalmente, pelagera^au em queestamos, n'essjis culumnas
de vapor que parecem destinadas a guiar o homem a uma
era, em que a intelligencia quebre na terra o ultimo annel
da cadeia que a prende a servidao. Similhantementc um
frasco de vinho do Douro sighificara, ao laib) dos primorea
do arte de Se\ res, uma proerainencia commercial de tal
ordem, um privilegio natural tao importante, que n5o pode
ser disputavel, nem disputado. E sendu a sua apparencia
bem modesta ao lado de um d'esses gigantes de ferro, que,
depois de aquecidos pelo vapor, vao, com a for^'a de qui-
nhL^tos ou setecentos cavailos, p6r em movimento uma
das tanlas povua^oes induslriaes, que se admiram era
Inglaterra; os valores produzidos por essas machinas col-
lossaes nao excede os que tem produzido em Portugal o
liquido d'esse frasco. Uma das laranjas que se produsem
nas povoa^ues que ficam nas abas de Li^boa, ou das que
enritpipcem a nnssa ilha de S. Miguel, dara idea dcavulta-
doscapitaes, aiiida que Oque mal escondida cDtre os varia*
251
dos e lindoa artefactos da bijouteria franceM. Um frasco
toZl\T: "■" ™"™'"'"J" 1«'» "egociante iZvZ-
a, a, IZclT'" ""'" """" "'■""' " **'''""".- ■'-""
cajiiiai, e prcfenra o seu cxame ao de muiti.s nr,.,i„„i
que, i primeira visla, p„s,am parecer mr^dlnn H r "'
A commi,s3o observaru, que alem dos product que sao
»R .ncavcs ,,el , caj.ilal ,,„e representam, ^ mZr consi
'.rer,::';'::'""'^'"'"'" " '■'''^' -^ "■- "-""-- p-a :
v.r ' ^ "™'" **■'" '^■^•"ra-a.;aj, o que Ihe dl um
V.1 ,r mu„o superior ao que habiu,al,ueme Ihe a b trTJ
- E e,te valor de aovidade, p„r um capricho da moda
pAe-set„r„ar em um imporlanle valor cimmcrcial Des-'
eendo^a exem,,|,s, bastani nolar, que as nossas e e"l-
que a s.mdl.an^a de laj.ete em l».laterra, sao em For
n^^in^..asseU„ados,aqueasrh;:::^a'rw!
etadmirada, qua„a„ se sabe que ella representa o traba
Iho morahsa. or da familia, e que resul.a do .^^raro com
qm,- a povoa^-ao laboriosa, das u.ais povoadas terras dePor
t^al, se eutrega ao rude, mas sanlo mister do trabalho
n„ horasem quehabitualmente se descausa ou se caminha'
Aquel es tecd.s grosseiros, que veMem os povos que "e
exlendem em volla da serra da Estrella, serL vktos com
prazer June o ao mais primoroso arlefac a, em que o "ea"
mechaa,co transforma a la de Saxouia, por'que a m d"es e
d1 err'",''' «'"'"^' """= '*" " I-Wmun.o do pob e
C evidaT "'V^'""'^' I-dend.. srf a.sim darcon-'
TltjeT'^ "' ''''""''' <"'« - '" " "" •'-Sa-'™,
A commissao iria mais 1 mw n'eslas sua.s eypm.rn-
dari../ r "»«>'l"rito de lodos muitas ideas de util"
dade e de ,a or que se ligam a lantos dos nossos ,,roduc o
que a sua vuiiar.dade nos faz j,', desconhecer. '""""='"''
A commissao charaa mui [.articularmenle a attencao do
rcctbidTT""' -"i'^""'^ d-^ "mmunica^Ses que , em
rcccbido da commissao mrerial i . ■,.,. i„™ i
conhecimenlo do paiz- ^ '—-^a, tem a levar ao
c^^^l -r " •T''"'' •'*' """ MajP-tade nomeado uma
.'-OS por.u,ue.es da a^icuur ^ri:^s;^:^n^^''-
lar^^res^oflr' ''"' ^''"''"^^*'' ^ fo^ar uma commissSo
'ude d-esir,x,„vrier '"■"'' ""'"'":^'>^ eqiie em vir- 1
<le.er„omearp El R7r ,""*"^^""^ '^ve a honra
crtar em communi a^o dir'ee?' "° "°"" "" ^"'' P"™
e com OS exposilo;"?;,!;™''' "'" " '""""'"'" *'"''"'«'
ceiia nenbuma correspondeocia com os «po37J:rou |
outros quaesquer rarticulares das nacties evlrnn^elr.o ■
ten^ e auUienlicado cou. „ se.lo I meln a c-ZrAo^f"
y^e deixam unicamenle de ser admiuidos a^^i ost^'„ .
1.^ Os aniuiaes e , lantas no es.ado de v.da ; ' ^ '
»us;ep^:rdrr;;;:^t^^ " ='"™''"' "° ^-""^ "^ f--«-
}«.^^i;::^;:m:±sxrs::----
fi"'da?;;;^t' "^ '<"" '-■" -'- <I<— "'-.le excedan. „s
-,.o^=rritSi:-:-^^^^^
je/adtrrarrt^^'urrl"""''" "f '"''■^"'' "« «- "-
convne'^e^r:^;^:^:!^^;-;;:- '"" ""'"-- -
ev^IUd-'oTprd^elr'""'' ^'^' '""■"- °-«"- "eida
c.o?,7ctdu°cS;:'rT^j»''°^ "'^"•^^ - p-'^"-
I eoXrd rrit r '," '' <"'f-ereiro proximo, a
I'orqul em 5 ie marco fl"„dr '"'''""^ ^'" '""'-•
[• em Pariz • ^ "'''' " '"•"'» ' "'' « «"a recc, ^r.o
Que a commissao .e reuneno ministerio das „l,ri, ru
A commissao conDa , leuamente no , aiz |ara „ desem
a e™ ■''^ "''*^" '■'' ''^'"■ni^^ao central pnrlu^uva , .-a
a exposijlo universal de Paris, 17 de novembro7e ?854
f«'-P'^= de Ficalho, Presidente.
^^-•-""■^ i/o«^ Jorje Loureiro.
Josi Ferreira Pinto Besto.
Ayrcs de Sd D/ogueira.
Julio Maximo de Oliveira PimitiUI 1
J'W Pedro Collares. |
tS. J. Ribeiro de Sd, Vogal, Secretario.
252
OBSEUVACOES METEOUOLOGICAS , FEITAS i\0 GAniNETE DE PIIVSICA
DA UMVEKSIDADE DE COliMBUA.
Anno <le
18ft4
Mez lie
I Seplem-
liro
DiflS
3
4
5
6
7
8
9
10
II
12
13
14
15
16
17
18
19
■iO
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
media j
o ^ i'
Grutia
r.lili?.
27
27,5
26
25,25
25,75
25
25,3
24
24,5
23
23
24
24,75
24
23
21,75
23,25
22,5
24
23,5
22,5
£1.5
21
22
23,5
22,75
22
22,75
23,5
«2,51
23,64
Piessito titmosjiherica au nicio dia
Allura la-
romt'lricii a
0." ceiili^'.
Millimetruij
751,500
75i,2T7
733,017
751,28a
752,492
752,331
750,550
751,948
751,380
751,564
751,159
753,972
755,144
753,972
755,360
751,987
753.052
754,865
750,453
754,539
756,687
753,013
754,847
736, 74J
754,033
750,702
751,686
750,335
750,599
751,622
732,773
vapor ntjuoio
CijDlido i:o or
Millimi'lru.-
Temimaltira
Maxima absol. 27°, 5
Minima ... 21°
Max. varia^. 6,°
9,889
14,316
13,308
15,949
15,122
14,420
17,283
14,504
15,109
14,066
14,935
14,479
15,989
14,695
15,524
16,012
18,219
15,691
14,515
16,645
13,308
11,666
8,005
8,324
11,597
13,502
14,229
15,067
16,051
15,734
PressAo du
ar scccu
Milliiiiftros
741, K91
737, '.16 I
739,709
735,339
737,370
737,911
733,2:17
737,444
736,191
737,498
736,224
739,493
739,155
730,277
739,036
735,975
734,833
739,174
735.938
737,894
743,381
741,347
743,842
748,419
7J2,436
737,200
737,457
735,2611
7:! 4, 5 48
735.8.8
Kslftd'i hvfTromflricii da
ali)UiS|iliera au nieiuitia
a s
0.3731
0,5215
0,5326
0,6652
0,6123
0 6123
0,7124
0,6538
0,6645
0,6734
0,7150
0,6527
0,6953
0,6624
0,7432
0 8345
0,8565
0 7743
0,6543
0,7732
0,(i566
0,6118
0,4328
0,4234
0,5387
0,6382
0,7238
0,7345
0,74.56
0,7764
0,6562
Quantid. de
vapor contido
em urn mvtru
cubico de ar
Graniiiias
VtcssSo almospherictt
Max. absol. 756,743
Minima . . 750,335
Max. excnr . , 6,403
9,359
13,815
12,907
15,507
14,678
14,033
16.791
14.162
14,806
13,781
14,632
14,137
15,573
14,348
15,209
15,734
17,034
15,399
14,174
l.'j,207
13,0.'i8
11,407
7,096
0 183
11,343
13.239
13 908
14,774
15,699
15,441
Crnit dt ItumidaiUdoor
Maxima absol. 0,8565
Minima . . , 0,4234
Max. lariaf. . 0,43J1
NE
K.
E.
NO.
NO.
NO
NO.
NO
N.
N.
N.
NO.
N.
N.
N.
N.
NE.
E.
E.
NO.
N.
NE.
E.
E.
NE.
NE.
NE.
SO.
SO.
NO.
I'lstailo do Cf'o e do
tempo.
Clarne limp. B temp
Nublado. O mesnio.
Mem. Truv. e al^'. cliuv
('lar. e limp. B. temp.
CI ate ao nl. dia; en
Cob. delard., T. ecliuv
CI. de m., ene. de tard.
Nnbl. Trov. detarde.
O mesmo.
Nev. ale as 10 h. dam.;
cl. e limp, uurcst. dod.
O mesmo.
Nubl.; T. nofim da t
Nublado. Bom tempo.
CI. e limp. O mesmo
O mesmo. O mesmo
Nev. e chuviscos de m.
O mosino.
Dens.i nev. ate ao raeio
ilia ; al;,'iins cliuviscus.
Claro e limpo.
Nubl ch. dep. dnm. d.
Nnbl.; trov.no Rmdat.
Nub.; nev. pela manh
Enc. ; truv. ealj chnv
Claro e linipo.
O nipsmo.
Nublado.
Claro e limpo.
O mesm-i.
Enc; de tard eun-<it.
trov. e al^uma chuvu
Nublado.
Niibl ; truv. e ali^uma
chuv. nu juiiic. da tard.
f cntos predominantes
N. N.O. e N.E.
Coimbra 1." de Outubro de 1834.
O Demonstradur da Faculdade de Pliilosnphia , Joaquiin Angvslo Sinti'es de CarcttVio.
® Jn0tititt0)
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
CU.NSELIIU SUPERIOR DE IP^STBUCgAO
PLBLICA..
i(jiir>
liELATORIO A>'.M'AL.
1848—1849.
Senhora: Nao obstante terem ccssado, ou
em parte diminuido, as causas principacs,
que nos ultimos annos desgrafadaniente en-
torpeceram o andamento e progresso dos dif-
ferentes lanios da piiblica administracao: nao
pode todavia estc conselho superior de ins-
trucrao publica lisongear-se ainda de que o
scu Relalorio geral, correspondente ao anno
lectivo que acaba de findar, seja tao completo
c apresentc uni quadro tao satisfactorio, couio
seria para desejar, e como por ccrto sc alcan-
caria, sc para isso bastassera uniramentc o
auxilio eflicaz do Govcrno de Vossa Majestade
e 0 zSlo e constante empenho com que o mesmo
conselho se dedica ao curaprimenlo, da alta
e dillifil missao, que Vossa Majestade, se
digHOu incumbir-lbe.
Porem, Senhora, os effeitos dessas causas
desastrosas, posto que vac felizmcnte decres-
cendo, sentcni-sc e hao-de fazer-se ainda
longamente sentir. A esses effeitos accrescem
as resistencias que enconlram serapre todas
as reformas e mclhoramentos, e que a cx-
periencia tern mostrado, que se nao vencem
nunca por uma maneira proveitosa, scni a
ajuda do tempo, e sem esforcos continuos c
ao mesmo tempo bem medilados. Finalmentc
OS auxilios, de ([ue este conselho tinha a es-
pcranca, e mesmo o direito, de se ver rodea-
do, e desajudado dos quaes pnuco e mai pode
caminhar, sao por liora muito escassos, e
teem dcixado o conselho quasi que entrcgue
aos seus liraitados rccursos.
j A pezar disso este conselho nao esraorece.
Se nao pode fazer ludo quanlo descjava, tem
p consciencia de ter feito o mais que pode;
fi aniraado com a approvacao que a Vossa
jMajestade, mereceram os seus trabalhos, e
torn OS louvorcs que foi servida dirigir-Ihe
pa portaria de 10 de agosto do corrcnte an-
no, ardendo, se e possivel, em mais zi^lo e
)erseverando sempre: tem toda a confianca
lue as faitas, alius menorcs comparativa-
Yoi. m.
mente com os annos prccedentcs, que ainda
tornam incomplete o presenle Relalorio, hao-
de em breve desapparecer ; e que os ramos
definhados da instruccao publica, onde prin-
cipalmente se nota a I'alta de progresso, —
com a protecfao valiosa do Governo de Vos-
sa Majestade, com o melhoramento progres-
sivo das nossas financas, com a continuacao
da ordem e soccgo piiblico, e com os esfor-
cos incessantes deste conselho, coadjuvado
pelos corpos scientificos e pelos sabios amantes
da patria, — hao-de robustecer e desinvolver-
se vicosamente de anno para anno.
0 Relatorio, que o conselho tem a honra
de elevar agora a presenca de Vossa Majesta-
de, em cumprimento do que determina o art.
40 do decreto de 10 de novembro de 1845,
imperfeito pelos motives mencionados, mas
elaborado tao (ielmente quanto foi possivel,
sera dividido, como os anteriores, em cinco
partes correspondentes as divisoes que mui
naturalmente se offorecera. 1." administracao
central da instruccao publica — °2." instruccao
primaria — 3.' instruccao secundaria — 4.' in-
struccao superior — S." couclusao geral.
1." PARTE.
Administracao central.
A direccao central regimento e inspccfao
geral de todo o ensino e educacao publica,
com as unicas excepfOes das escholas depen-
dentes dos ministerios da guerra e marinha,
e dos seminarios eclesiasticos, foi desde 20
de septembro de 1844 confiado por V. M. a
este conselho superior d'instruccao publica-
Sao sete actualmente os vogaes ordinarios do
conselho, em consequencia do logar que se
acha vago. 0 nuraero dos vogaes extraordi-
narios e de 40 residindo em Coimbra 24
e estando ausentes 16. V. M. foi servida ul-
limamente nomear os empregados que fal-
tavara para preencher o quadro interino da
secretaria; tendo porem uni dos agraciados
pcdido a V. M. a sua exoneracao, acha-se
ainda vago um logar, que o conselho mandou
por a concurso na forma da lei. A secretaria
tem satisfeito bem e regularmenlc o servico
que Ihe tem sido encarregado; e posto que
J.iXBlBO 11)— 18S5.
Ndm. 20.
254
so acho ainJii iiiiiito sohrecarrogada com tni-
balho.s com tiido aclia o coaselho (iiio, sciuio
provido 0 logar vago, torii o qiiadro siifli-
ciente do ompicgados para satisfazcr cm liieve
as exigoncias acliiaos.
Em coiise(|Ucncia da apinovacao ([uc Y.
M. foi servida dar para a cnllooarao dn coii-
sellio no cxtinclo collt'gio dos Paiilislas, c da
auclorisacao da ipianlia dc 2(10^ rs. para sc
t'azor a mudanra jtara aquellc rollegio, que
se acliava arreiidado a urn particular, c cujo
arrendamcnto acabou no mcz de seplenihni,
tracta o conscllio do nuidar ])ara alii quanlo
antes a sua sccretaria, tondo j.i fcito as suas
sessocs ordinarias no mesmo edilicio.
Durante o ultimo anno lectivo tiveram logar
pela primeira vez, nos mezes de aliril c ou-
lubro, as duas conferencias ordinarias do
conselho geral, na conformidade do que de-
terniina o art. 21 do Regulamento do mesmo
conselho. E a pezar da falta permanentc de
um vogal ordinario, cujo logar se aclia vago,
e que V. M. nao se dignou ainda prover, c
das faltas temporarias porem motivadas de
alguns dos outros vogaes tambem ordinarios,
fizeram-se regularmente, como consta da
copia das suas actas remettidas mensalmente
a y. M., as conferencias do conselho ordi-
nario, Jiem conio as das suas tres seccoes.
Em ambas as conferencias do conselho
geral foram lidos pelos Sccretarios das tres
seccoes OS sens respectivos Rolatorios; e cm
ambas dedararam os vogaes extraordinarios,
u queni tinlia sido encarrcgada a cnnfeccao
de programas, inslfuccocs e compondins para
0 ensino, que ja tinham prompta parte destes
seus trahalhos, e que esperavum na reuniao
seguinte a ultima dc outubro ou mesmo an-
tes, apresental-oscompletos. Precisaudo obras
dcste genero dc muita meditacao, e succe-
dendo que os vogaes, a quem foram encar-
regadas, teem sido distrahidos para outros
trahalhos litterarios, que a lei Ihes incumbe,
aclia 0 conselho que se Ihes deve relevar
esta demora, c espera que estcs vogaes pro-
turarao satisfazcr quanto antes as conunis-
socs que Ihes tem sido cncarrcgadas pelo
raesuio conselho.
E como nestas conferencias geraes sc nao
aprcsentasscm niemorias ou requerinicntos
lendenlcs a prouiovcr os mclhoranicnlos na
instruccao publica, ou para remover us obs-
taculos ([UC se fqqiocm ao sen progresso; foram
convidados, na confercncia geral de a!iril, os
vogaes cxtraordiuarios para dirigirem as suas
mcditacues para a maneira inais conveniente
de organizar um curso ccouomico-admiuis-
trativo na universidade, e para a analyse das
alteracoes c reforraas nas leis de instruccao,
propostas a Camara dos srs. Deputados' na
ultima scssao legislativa. E como tambem na
confercncia geral dc outubro nenhuns traha-
lhos apparecesscm nest? scatido, decidiu o
conselho que se nomeassc uma commissao de
vogaes cxtraordiuarios, cscolhidos na facul-
dade de. direilo e nas tres de scicncias na-
luracs, para trahalharem na confcccao do
projecto da nova faculilade dc scicncias eco-
nomicas c admiuislrativas; procurando o con-
selho obter por este meio mais eleinentos
para nicllior dcsemjienho. do (|ue a este rcs-
pcito Ihc loi dcterniinado |ior Y. .M. na por-
taria de It) dc agosto do prcsente anno.
Nas conferencias ordinarias o conselho nao
so deu sohicao prompta ao sen numcroso
(!\[)cdienlc c as — ISl — consultas cpie por
Y. M. llics foram jiroposlas, mas tambem prc-
cncheu e cumpriu os devcrcs e attribuicocs
([UC a lei Ihe impoe pela forma seguinte.
§. 1." DirecrCw central.
1." A lim de promover o aperfeicoaniento
dos cstudos disciitiu e clevou a prcsenca de
V. M. em data de 20 de junlio de ISW o
projecto de regulamento e jirogramma para
OS exames de habilitacao para a primeira
matricula na universidade.
2." Em circular dirigida a todos os com-
missarios dos cstudos e reilorcs dos lyccus
detcrminou, em cxecucao intcrina do que se
aclia disposto no art. 08 — § nnico do de-
creto de 20 de septcmbro de ISii, que sc
nao adniitta a matricula, ncm a frcquencia,
neni aos primeiros exames da instruccao se-
cundaria, alumnos alguns que se nao nio.s-
trem dcvidamente liabilitados com os conhcci-
menlos de todas as disciplinas que formam o
objccto da instruccao priniaria; para que nao
aconlcca cxporcm-se temerariamente a frc-
quentar a instruccao secundaria, e muito
mcuos a superior, sem possnirem os indis-
peusavcis conhecimcntos da primaria. Para
prova desta hahililacao, c cm quanto se nao
regula o modo por que sc hao-dc fazer os
competentcs exames nas escholas pnlilicas de
instruccao j)rimaria, exigiu que estcs exames
se lizcssem nos lyccus, pelo mesmo modo por
([ue se fazcm os exames das discijdinas que
nelles sc cnsinani, c segundo o programme
que se Ihe remcttcu para esse fim.
3." Encarregou a alguns dos seus mcrabras
e ja ap|irovou a confcccao de alguns pro-
grammas jiara o concurso aos premios esta- i
helecidos a favor de quem aprcscntar catc- |
cismos com nococs clemcntares dc chymica,
de agricullura, e dc geomctria e mechanica,
apropriados as escholas de instruccao pri-
maria do 2.° grau.
i." Approvou durante o ultimo anno para
podcrem ser adoptadas inlerinamente nas
escholas publicas as obras scguintcs, ja im-
pressas.
0 Bom Mciiino, editor Eslevam Xavicr da
Cunha.
llistoria dc Portugal ale cl-rci D. Duarte
V
I
255
por Joao Fcliz Pereira. Priineiras nor.oes
d'algobra jiara uso dos lycuiis jicld d.' Ja-
cottw Luiz Sarmc'iito — Traclado do voisilica-
fao por .\iiloiiio Fi'liciaiio du Caslillio — Novo
e facilliiiio nictliodo para cusinar a lor em
poucas licOcs ])elo lucsmo aiictor — e mandoii
imprimir dupois d(! approvado em conrormi-
dade com o art. 107 do decrelo dc 20 dc se-
plembio de 18ii o compeiidio de arillimeliia
olTcrctido pclo lento siibslitulo da I'aculdade
dc malhomatica Uulino Giierra Osorio, o ciija
confeceao lliehavia sidoencarregada, na qua-
lidade do siibstituto CNtraordinario da raesma
faculdado.
f,B.° Cniilinuou a fazer todos os esforcos
para colloear todas as oscholas em cdilicios
publicos. Em qiianlo as csehobis do cnsino
primario, das (piaes lOii!) ainda seacbam por
colloear devidamcnte, grandos enibaracos ea-
controu na falta daiiuollos cdificios em mni-
tos concelbos, e na falla de rocursos dos mu-
nici|iios em outros.
Yossa Majostade foi servida, cm rcsolucao
de consuba desto consellio superior do 3 d'al)rii
de 18i(>, mandar expedir oflicio ao ministorio
da fazenda para por a dispnsirao do nii-
uisterio do reino os edifieios publicos, que, na
mencionada cnnsulla, se julgavam nccossarios
para a coliocacao das cscbulaspublicasnosdif-
ierentes districlos do rcino, seguindo as in-
formacOcs havidas dos respeclivos govcrna-
dores civis; porcm ate agora ainda o con-
sclho nao recebeu rcsolucao alguma a esto
rospeilo. A pezar disto nao dcsiste do sou
cmpenbo, ])om certo de que e necessario que
seja completamentc satisfeito, para que so
possa obler uma inspeccao sovcra sobro o
metbodn c ]iracticas de cnsino dos mostres e
sobre a parte economica das escholas.
Em (luanlo aos lyceus, consoguiu-sc que
fosse deslinado, por docreto do 2fl de fevereiro
de 1849, 0 seminario da cidade de Faro
para a coliocacao do lyceu d'aquollc districio;
c acham-sc cxpedidas as ordens nccossarias
as respectivas anctoridades para que se vc-
ritiquc esta coliocacao. Por decreto de 10 de
Janeiro foi (ambem deslinado para a colloca-
rao do lyceu do Leiria o seminario d'aquella
cidade. Pondem consultas sobro a coliocacao
do lyceu de Portalogre, ou no edificio do se-
minario, ou no do exlincto convento dos
Agostinbos-dcscalcos.
0 conselbo reconbece, que a actual colloca-
jao das cscbolas tanto do ensino primario,
como das delalim, necessita em grando [larle
jde rcforma; c por isso tcm instado com os
1 governadores civis, para que, nas reuniOes
jgcraes das junctas dc districio, ou\ido tam-
jbcm 0 pareccr das camaras municipacs, se
|tractc cdiscula esic importanle objeclo, oqual
|s6 piidc ser bora rosolvido pelo conbecimento
das necessidades e circumstancias das respe-
ctivas localidadcs. consideradas principalmcn-
to debaixo do ponto dc \ista da sua geograpbia
jiliysica. .Vpenas pori'm o govornador civil de
Viseu no sou bcm traballiado relatorio, que
ha pouco romoitou ao conselbo, satisfez a
osta cxigencia por uma maiieira que mcreceu
a approvacao do conselbo, c (juc dou logar
a resolver-so, quo se consultasse a Y. M. a
esle respcito na forma por ellc proposta.
0." Tendo 0 commissario dos esludos de
Evora, cujns esforcos pela publica instruccao
e louvavcl descmpenho do suas obrigacoes
esto conselbo deve citar com elogio a V. M.,
— offorecido um projeclo do rcgularaento para
associacOes de bonolicencia, acbou-o o conse-
lbo tao conforme com o ospirito do art. 28
do decreto de 10 de septombro de 1843, e
tao cuidadoftamontc pensado, <]uc nao duvi-
dou jiropol-D ii soberana approvacao dc Y. M.
"." A lim de cumprir com a obrigacao do
promovor as associacOes e ostabolocimentos
das salas de asylo da infancia desvaiida, clc-
vou a presenca de Y'. M. uma roprescntacao
documontada, em que o conselbo da dircc-
cao da sociodade de benoticencia do Coimbra
para asylo da infancia sollicitou do governo
de Y. M. a concessao do um edificio do esta-
do para local jiermancnlo do cslabelecimento,
e 0 ordenado para uma mostra. 0 conselbo
pelo conbecimento que tinba das difficulda-
dcs, por que passou aquelle estabelecimento
para poder por muito tempo subsistir quasi
milagrosamonlo ate chcgar a um estado, sc
nao dc prosperidado, ao mcnos de alguma
solidez, e attendendo ao zclo das pessoas por
quern e dirigido, e ao bom mctbodo por que
alii sc da o ensino, nao besitou em inculcal-o
a Y. M. como digno do sor protegido e ani-
parado pelo governo como um nieio impor-
tanle da cducacao das classes pobrcs nao so
no interesso especial de Coimbra, mas na
goral de todo o paiz. E dc novo torna aqui
a manifestar a sua opiniao, de que sera con-
vcniente que o governo do Y. M. Ihc con-
ceda 0 modesto cdilicio pedido, fazendo con-
lirmar a concessao pelo poder legislative, se
for necessario, c cxpedindo alguma provi-
dencia para que alii so conserve o estabeleci-
mento ato se vcrilicar aquella concessao. Em
quanlo porem ao ordenado pedido para uma
das mostras, o conselbo em attciicao ii pol)reza
actual do thcsouro, nao s^anima, como eutao
se nao aniniou, a propol-(i, a pezar dos muitos
desejos quo Ihe assislem de que se Ihe con-
coda esto auxilio, para o qual alias julgue
auclorizado o governo de V. M., consideran-
do-se como uma creacao de escbola de me-
ninas.
8." Conbecendo a nccessidade que ha da
immediata publicacao de jornacs scientificos
nos tcrmos do art. 109 do decreto de 20 de
septembro de 1844, e avaliando ao mesmo
tempo as muitas difficuldades que se tcm en-
contrado em levar a effeito a sua redaccao e
256
lunnuteni'ao, fez no Cm do anno leclivo pro-
|)Ostas icndeutcs a auxiliar e inspeccionar
uma cniprcsa que se propue croar um jornal
naqiielle sontido, f que se coni[)ronietle a por
a disposjrai) do couselho iiiua parte do mosmo
jornal. Tcudo-se intorrom|)ido duranlo as
fcrias acadeiiiicas as ncgociatOes enceladas
para que osle meio se ievasse a effcito, vai
i< conselho de novo trailar do as coiicliiir. E
se por eslo niodo nao poder obter o que
tanto descja, procurara por oulro arbitrio
chi'gar a rcalizacao de uma medida tao justa-
menle reclamada.
9." Em (!\eciirao da portaria de 10 de
agoslo de 1849 examiuou com attcncao os
Relatorios, consnltas e representaroes, que a-
corapauharam a niesma portaria; e tendo re-
con>idorado tudo em vista dos csclarecimentos
c re(lamai;oes alii nieucionadas, ja consiiltnu
de novo a V. M. sobre os seguinles objectos:
Rcgulamcnlo para as escholas de instrucrao
primaria (i." grau), dicto para provimcnto
das cadeiras da instruceao secundaria; dicto
para as cscliolas medico-cirurgicas insulares e
para as viaj<nis scieulilicas; rcgulamento ge-
ral da aoademia polytechnica do Porto.
E converteu em propostas de lei, para
serem opportunamente apresentadas as cortes,
1.' para a creaoao de um logar do continue
no lyceu de Coiiubra; sobre as propinas de
malricula, c diplomas nas escholas medico-
cirurgicas insulares; accrca da maneira por
que devcm scr nomeados e mandados doutores
(la universidade visilar as escholas raais cele-
hres dos paizes cxtrangeiros; e — sohre a dis-
tribuicao dos promios na aoademia polyte-
chnica do I'orlo.
Em cxocucao do art. 5. da mencionada
portaria hem dcsejava o conscliio que este
relatorio fosse acompanhado da proposta de
lei para a ereacao de uma nova faculdade
de sciencias economicas e administralivas na
universidade de Coimbra; sendo poiem esle
um objecto que demanda profunda attcncao,
e tendo dado logar nos paizes mais adianla-
dos do que nos a serios debates sobre a me-
Jhor organizacao dc lacs esludos, (juiz o con-
selho rodear-sc de todos os elcmentos que o
podesscm ilhistrar; e por isso, alem da com-
missao dos vogaes extraordinarios a quem
cncarregou o estudo sobre estas materias c
a apresentacao de um piano baseado sobre
elle, dirigiu-se ao prelado da uui\ersidade
para que consullasse, da maneira que mais
convcnientt! Ihe parccessc, as faculdades de
cujo bcio devem sair os elcmentos i)ara a
organizacao pedida. Como todos estes traba-
Jhos comecaram dcpois da abertura das aulas
no prcsenle anno leclivo, uao foi por isso
possivel no tempo marcado satisfazer; espcra
poreni o conselho que, ate ao fim do anno
civil corrcnte, podera aprcsentar a V. M.
algum resultado a este rcspeito.
Mas se nao pode, pelo'aperlo do tempo,
apresentar ja a(piella proposta, tcm a satisfac-
cao de dirigir a Y. M. as propostas, que cm
vista das reclamacOes dos divcrsos corpos
scienlilicos, julgou nccessarias para auctoriza-
rem algumas despesas do servico litterario,
([ue se tornam de maior urgencia.
§. 2." Pro.iiuenlo de emprejos.
Neste anno leclivo o conselho coordenou
varios programmas para exames dos opposi-
lorcs as cadeiras e logares a concurso, c
enlre elles o rclativo a eadcira de desenho
na universidade. Proveu temporariamente
131 logares de professores do 1.° grau na
instruceao primaria. Consultoii a V. M. a no-
meacao de professores para '.i'i cadeiras vagas
nos dilTerentes ramos de instruceao; c a de
emprcgados para 14 logares vagos.
Encctou pela primcira vez, e concluiu j4
em parte alguns processos administrativos
sobre jubilacOes a aposenlacoes, que a lei
concede; e que (ornando-se n'uma rcalidade
hao-de ser por certo um incentive poderoso
para que os emprcgados neste ramo de ad-
ministraciio sirvam com mais zelo e perse-
veranca, conliando que no inverno de seus
dias hao-de obler o merccido galardao dos
seus arduos ainda que honrosos Irabalhos.
§. 3.° InspeccSo.
0 conselho forcejou por todos os meios
por tornar effccliva a inspeccao das escholas
e estabelccimenlos littcrarios. Porem ainda
que alguns dos seus delcgados procuraram
coadjuvar o mesmo conselho neste seu em-
penho, cumpre eonfessar que se licou muito
aquem' dos seus descjos. Esta inspeccao nao
se pode tornar regular e complela, sem que
se realizem as visitas d'inspeccao feitas pelos
commissarios, ou pelos seus subdelegados, e
por visitadores extraordinarios.
Aos commissarios, pela maior parte pro-
fessores dos lyceus, falta-lhes o tempo, e mesmo
OS meios para fazerem eslas visilas. Aos sub-
delegados c visitadores e neccssario arbitral
e tornar effectivas gratificacoes taes, que por
ellas se Ihe possam exigir bom e alurado
servico.
0 conselho, conheccndo que da boa inspec-
cao e que dcpende lodo o progresso na in-
struceao iiublica, e que e sobre clla que se
deveiii basear os successivos melhoramenlos,
lamenta eslas diffituldades; e nao se atrev.«
a iMopor ja a V. M. o rcmedio, porque,
podeiido talvez importar augmeuto nas des*
pesas publicas, e estaudo ligado com mclhor
divisao do terrilorio, rcccia o conselho que
seja inopportuno; ainda que por outra part?
257
reconhccc que aquellas dcspesas, quasi indis-
pcnsavcis, seriam compensadas com a boa
exccucao c rcgiilaridade dcstc scrviro iinpor-
lante, e que poderiam scr deduzidas de al-
gumas ecouomias foilas na propria verba da
instrucrao publica.
Ac consellio chegaram durante o anno (iu-
do algunias queixas contra jirofessores, c a
noticia dcconflictos excitados nos corpos col-
lectivos; do tudo tomou coiibecimenlo, dan-
do 0 rcmedio possivel. Acba-se porcm na
obrigagao de dizcr rcspeitosamente a V. M.,
que para a justa applicaeao das penas dis-
ciplinares se torna cada vez mais urgente a
resolucao de V. M. sobre o projccto para o
processo dosdclirlos dos professores d'instruc-
jao puhlica, remettido com a consulta de 9
do Janeiro de ISii).
§. 4." Esladistica.
Em conformidade com o que fica dicto no
principio deste relatorio, ainda eile vai ba-
stante incomplete e falho de noticias estadis-
ticas. A pezar dos esforcos do conseiho, edos
officios repetidos que dirigiu para obler os
relatorios parciacs de todos os sous delegados,
bem como os mappas dos professores tanto
publicos como particulares, nao pode conse-
guir que cuniprissem todos com este seu
dever, tanlas vezesrecommcndado. Era execu-
fao do que foi determinado no art. 7. da
portaria de 10 de agosto ultimo, o conseiho
leva ao conhecimcnto de V. M. que deixaram
de remetter os relatorios parciaes:
Os reitorcs dos lyceus de Aveiro, e Beja —
OS directores da acadcmia de bellas-artes de
Lisboa — os governadorcs civis de Beja, Braga,
Coimhra, Leiria, Ponta-Delgada , Portalogre,
Porto, Santareni, e Villa Heal — os commis-
sariosd'estudos dcBcja, Braganca ePortalegre.
Scgundo 0 disposlo no art. 35 do decreto
de 10 de novembro, ja o conseiho organizou
um livro especial para o asseutameuto dos
vogaes cxtraordinarios; e encarregou um dos
seus vogaes ordinaries para fazcr os assenta-
mentos dcstc livro, no (jual se vao lancando
OS services cffectuados por aquelles vogaes
cxtraordinarios, bem como o juizo do conse-
iho sobre estes services.
Para principio de exccucao do art. 41 do
mesmo decreto, commctteu o conseiho ao vogal
extraordinario o doutor D. Yictorino da Con-
ceicao Teixeira Neves Ilebeilo a confeccao de
uraa synopse ou indice chronologico de toda
a legislaoao providencias e regulamentos, por
ijue em Portugal se tem regido e rege o ensino
primario. Este trabalho, acompanhado de um
indice alphabetico, foi com effeito apresentado
por aquelle vogal, e mereceu a approvacao
do conseiho, que o mandou imprimir.
Conlinua.
*
LITERATURA DRAMATICA HESP.iNllOLA
E SEUS HISTOUIADOUES.
I
0 instincto e a imaginacao popular toii-
■stituira OS eiementos do thcatro hespanhol.
Por uma parte os successores de Torres Na-
harro, e Lopes de Rueda, e por outra os
ensaios dos theatres de Seviiha, Valenca, e
Madrid, que haviam sacudido o jugo da in-
fluencia ecclesiastica, proseguiam activamente
em seus trabalhos. A eschola de Seviiha em-
pcnhava-se na imitacao do antigo theatro,
em quanto a de Yalenea recorria a assum-
]itos alheios fis tradicocs nacionaes, para
attrahir com a novidade a attencao puiilica;
ambas estas escholas porem nao poderam
lograr o seu intento, a pezar dos esforcos de
algiins distinctos engenhos que procuraram
sustental-as.
A epocha da inspiracao religiosa e roma-
nesca chegara em fim ; e neste theatro, mais
polido ja, as novellas de Cervantes obtinham
a influencia, que sobre o theatro nascente
tivcra a Celestina. As comedias divinas corae-
caram a apparecer em scena fora das egrejas.
D'este chaos, em que entao se achara a li-
teratura dramatica, e que Cervantes com tanta
razao censurara, devia em fim sair a ordem.
A luz ia succeder as trevas; Lopes de Vega,
Castro, Alarcao, Molina, Moreto, Soils, e
Calderon iara enriquecer os annaes da litera-
tura dramatica.
Entre esta brilhante pleyada de poetas
distinctos, sobresae o vulto gigante de dois
charactercs eminentcs, que suecessivamente
dominaram no theatro hespanhol, e cujas
obras tem por isso mais parlicularmente oc-
cupado a attencao dos criticos.
Lopes de Vega, a quem Cervantes chamdra
0 milaf/re da naturesa, e Calderon, sao por
assim dizer os dois grandes fundadores, ou
restauradores d'aquelie theatro. Meio se-
culo (1585 — 163S) os dramas, os uclos, e
iiilremeses de Lopes de Vega occuparam a
scena hespanhola com admiracao e geral ap-
plause; nao se limitaram, porem, a isto so
OS trabalhos do grande poeta, que ao mesmo
tempo que escrevera poemas epicos, didacti-
cosecomicos, epigrammas, satyras, e tracta-
dos de mcditacao religiosa; continuara o
Ariosto, luetara com a cpopea italiana ; c es-
crevera um poema sobre Maria Stuart, oslen-
tando sempre em todos os assumpios urn
estylo nuiilas vezes demasiado colorido, mas
cheio sempre de vigor, de elegancia, de forca
e elevaeao de espirito! Tal era a prodigiosa
fertilidade d'aquella tao brilhante imagina-
cao, quando, scgundo diz Schack, creara o
theatro nacional, e pozera em scena centena-
res d'obras primas sobre os grandes feitos
da historiu patria. »
258
Talvoz do loiloj o.< liistoriadores da lilcra-
liir.i licspanliol.i uoiihura cngraiidecera mais
I) merilo dc Lmics dt; Yoga, do que aquclle
(listiiicto escrijitor allemao, que algumas vezcs
lodavia parece cxaggerar-se.
<< Existcni dois uuicos tlicatros verdadeira-
ciouto modenios, c originaes, diz Schack,
(|uc sao a gt'iuiina expressao do gciiio ua-
ciunal do ])aiz, (|ue osvira iiascer — o llieati'O
lii'spauliol, c 0 ingloz. 0 Iheatro hcspaniiol,
liorom pela sua i'i(|ueza e coinplelo desisi-
volvimrnto cm lodo o sentilo, e iiiuilti su])ei'ioi'
ao do Sliakspeare. 0 llieairo lii'spauliol 6 o
I'rimeiro de todos, e o honicui (|U(' rcjiroseuta
I'sle theatro, o esci-iplor que piTsonilica e.^la
iucomparavcl gloria, e Lopes de Vega, n
Com esta prevenrao iiao e para admii-ar
que Seiiack, a pczar da rigorosa exaelidao e
iniparcialidade das suas analyses, se dei\e
iilgunias vczes seduzir por aquella tlieoria,
que I'le represcnta o poeta de Madrid touio
0 maior geiiio da poesia moderna. E de I'eito
unia longa scric de heroicas faeanhas, sole
i^eculos ricos de gloriosas tradifoes, era o mais
Ijello assumpto que podia olTerecer-se a um
l^oeta que, elevando-se aciaia do espirito do
seculo cm que vivera, e dcsprendendo-sc do
trilho vulgar dos scus eoiitemporaneos, creas-
se 0 grande drama, a grande tragedia ao
mesmo tempo liespaiihola e liumanitaria — iia-
cional e universal. Lopes de Vega, porein,
cedeu ao espirito lilerario da sua epoelia, do-
niinada ainda pelo gosto da meia etladc, pelas
:;venturas rcmanescas, anccdotas e tasos im-
ju'evislos, que toeavam o maravilhoso, o os
emhroglios, .serviado-se apenas, como diz
Taillandier, da grande tradirao cpica, que a
historia patria Ihe oiTerecia em tantos feilos
estreniados, emtantas gentilczas cavalleirosas
para nella cncaixiiliar os sens romances.
0 theatro de Lopes de Vega comprehcude
(juasi todos os acontocimcntos memoraveis
<la historia de Hespanlia desde os mais re-
inolos tempos. As lutas dos Ceitiberos contra
oi Itomanos forara o assumpto da Ainistad
■ji/'gadd. El-rei ^\'umhu e o ((uadro das per-
turbac(5es que precederam a queda da n;u-
uarchia golhica. 0 Pruslrcr Godo de Es-
)>ma c uma peca (jue reprcsenta a iiisloria
de D. Rodrigo c Florinda, a invasao dos
inoi'.ros, e por lim a rcstauracao da monar-
(hia chrjsta debaixo do poder de Pelagio; 0
Primer reij dc Espana pinta os primeiros trium-
phos da ilespauha chrisla. As conlestacoes
entre Sanclio, o bruro, c suas irmas, o as-
■sassinato do rci, e alguns Iracos da historia
do Cid, sao o assumpto das Almciuis de Toro.
k rivalidude de Pedro, o justiceiro, e de
ricnrique de Translamara ligura no drama
— Cierlo i>or lo Diidoso. No MiUnjro por los
Celos apparece em scena a i|ueda de Alvaro
(!c Luna no tempo de .loao 11. 0 Piedoso
Aranonez e a hisieria de Carlos dc Yiaiia,
de sua; revoltas c de sua morlo, depois da
qual Fernando, o cutlwliro, licara lierdeiro
do reino de Aragao. No Mejor mozo de
Espann \(:-se preconizada a futura graudeza
de Fernando e Izabel. 0 i\iiccii Muiidn dis-
cubierlo por CItrisluhul Colon e a maravilho-
sa coiupiista do grande navegante genovcz.
Em lim a viiorin del muniucs df Simla Cruz
e consagrada a um feito d'armas, cm que
0 projirio Loj)es de Vega ligurara na sua
mocidade.
Els aqiii os iirisicipaes dramas historieos,
cm (juo esle auclor procurara (Tuar com as
I'ormas pooticas os grandcs feilos da historia
do nunulo desde o periodo romauo c guthico
ate a lucta emprehcndida para a expulsao dos
mouros para alem dos mares, c dasde esta
cpocha ale ao [irincipio da unidade moder-
na. .\. illusao e lin-il no meio dc tantos a.s-
suinptos brilhantes, de tantas aventuras ro-
manescas, dc tantas pcripecias extravagan-
tes, ([ue adultcram as vezes a singela nia-
jeslade da historia. Intrigas aniorosas, prin-
cezns lancadas em mcdonhos calaboucos, dcs-
cobertas, surprezas, tudo cm iim quauio .sc
presta ao orgulho dos scntimentos cavallei-
rcscos formam o fuado d'aquellas pccas, ein
que avultam mais as bellezas de segunda
ordeni, do que esses tragos sublimes do genio,
« que por si so formam uma Illiada. >> Lopes
de Vega sacrilicara muitas vezes ao gosto do
seu paiz e do sen seculo a grandeza do drama,
e nem sempre clevara a liistoria a altura d'i
poesia.
0 gosto favorilo do romance predomina
largamcnle em todos os pretendidos dramas
historieos desle auctor, cujo vasto e fecundo
engenho nao podia couter-se nos limites da
historia patria. Assim a lula entro I'.odolpho
de llabsUourg e Oitocar rei de Bohemia foj
0 assumpto do Imperial de Ollion. 0 rci sin
regno reprcsenta a anarchia da llungria antes
de Mathias Corviii. 0 gran dunuc de Moscovia
versa sobre um ponto de que lambem se oc-r
cnpara Scliillcr, Ponchkinc, e modernamenle
Prosper de Merime. 0 castigo sin vengama
pinta 0 tragico cpisodio da coric de Ferrara,
que Byron illustrara na Parisimiu. A PonceU
III de Orleiins, e el valiciile Jacotin, que in-
I'elizmente se pcrderam, pcrtenciam a historia
de Franca.
No meio, pnrem, de tantos c tjio transccn-
denies assumptos Lopes de Vega nao possuira
0 verdadeiro drama historico. Uespresando a
realidade dos faclos, a uatureza, o caracter,
e OS habilos das diversas nacionalidades, c
nem se quer prcscrutando o espirito, e as
inclinacoes de cada jjovo, e de cada cpocha,
Lopes de Vega so procurara ornar os seus
quadros com um ccm numero de enredos,
amorosas intrigas, e cavaleirescas aventuras,
Iransformando os grandcs feitos da historia
contcmporauca em lendas fabulosas.
259
Ob romances, as aventuras e surprcsas, nio-
Vimento nos factos, rapidez no diaiogo eis
aqui as feiroes caracleristicas dcste theatre
em que a varieiladc e o maravilhoso das pcri-
pecias cauj^a a primeira vista uma complcta
illusao. Os dramas, porera, que teem jmr
objecto a tyraniiia e barbaridadc da socieda-
de feudal sao as obras piimas deste auctor.
Lopes de Vega possuia como ninguera o in-
limo scgredo da vida. 0 grito das paixoes
arrancado do coracao e do iiindo das entra-
iilias das victiraas da bnitalidade dos senhorcs
feudaes, rcsoa admiravelraente no meio dos
inais cnmplicados enrcdos. <) honrado Iler-
inano, comparado ao Horace de Cornciile, a
jiesar da distancia que vai da tragedia ao
drama romanesco, aprcsenta ate nos mais
pequenos lances da vida intima inspirarOes
verdadeiramente sublimes. Quando a Julia
de Lopes de Vega, vciido cntrar seu ir-
mao carrcgado com os despojos ;do proprio
amante, Ihe grita no I'uror da suprema deses-
peracao «a tua victoria nao esta complcta, e
mister, que me assassines tambem — cu sou
Curiacio, eu o sou (Yo soy Curiacio, yo soyJ.>
esta expressao sublime da mais pungente dor
faz esquecer outros defeitos do auctor. Cora
Cstas tao vivas cores, com a cloquente c ar-
tebatadora linguagem da paixao e do interes-
se que Lopes de Vega com tanla lelicidade
manejava, os seus quadros nao podiam deixar
do ser admirados como urn primor d'arte. As
?uas comcdias sobre tudo sao acabados mo-
delos do mais iino gosto, e apurada elcgan-
cia, em que a phantasia de Shakspeare se
acha estreitanicnte unida com o iateressc dos
mais engenhosos enrcdos, e das mais curiosas
aventuras.
0 gcnio, porcm, de Lopes de Voga nao crea-
ra so dramas e comedias, fundara lambera
uma notavel esehola de pocsia, e este e talvez
0 niaior hrazao da sua gloria liltcraria.
Em todos OS thcatros da Europa a sua in-
fluencia fora iilimitada. Doscartcs-dizia dai-me
a materia, e o movimento, e eu vos darei urn
mundo. k materia e o movimento eis o que
Lopes de Vega deu ao drama. Aos sous suc-
cessores competia a creacao do tlieatro nio-
derno; e foi sobre a<iueilos fundamenlos que
Corueiile e Moliere, Calderoa e Aiarcao eieva-
ram ohras inimortacs, cujo briihante clarao
nao pode deixar de reQcctir-se sobre o vulto
niajcstoso d'aquclie grande genio, que fora
uin dos maiores luminarei; da moderna poesia.
Cor.Hnua. i. h- he .4BREU.
ESIADO DA INSTRUCCAO NA
INGL.UEUHA.'
De todos OS ramos de instruccao publica a
injtruccao primaria c que hoje attrahe as
I serias altenfr)es dos povos civilisados. Escen-
trica por largos annos em Ingialerra a acfao
govcrnaraeiUal, e confiada cxclusivamenle ao
jiatrocinio individual, ou collectivo de as-
sociacocs, e a especulacao de indiistria [)ar-
ticular, icm ella nestesuliimosannns merecido
attcncao tao sizuda do goveruo e do parla*-
mento, (]uo em pouco tempo tern grangoado
foros de nobreza, que a elevam acima do que
e em mnitos povos ilhislrados mais anligos nas
reformas de administracao litteraria. A aclivi-
dade do governo na crcacao de cscholas do
estado, em subsidies prestados as cscholas
particulares, e, mais que tudo, a introduccao
no ensiiio primario dos ramos de sciencias
iaduslriaes mais necessaries aos uses geraes
do vida, as artes e oSicios do seu paiz, .^ao
vcrdadeiros padroes de gloria para governos
'piu lao saliiamente se interessam na prospe-
ridade dos governados. Damos com alguma
iiiveja ao publico noticia dos rapidos progres-
ses da instruccao cm Inglaterra no scguinte:
Relalorio ao ministro da instruccao publica
c dos cultos por Milne Edwards, decano da fa-
culdade de sciencias de Paris, encarrcgado
do uma missao na Inglaterra.
Sr. minislro,
A sociedade estabelecida cm Londres em
nSi para fomento das artes, manufacturas,
c commercio, quiz celebrar a sua existencia
secular por uma solemnidade util ao desin-
volvimcnto da educacao scientifica das classes
industriaes; e nessas vistas resolvea que, para
dar ao publico meios de comnarar e ap-
preciar os diversos processos emprcgados para
a instruccao do povo, abriria este anno uma
exposicao de livros, instrumentos, cartas, mo-
delos, e outros objectos usados no ensino
elcmontar, e no das sciencias applicadas a
industria. Pcdiu o concurso de outros paizes,
onde a dilTusao das luzes da scienoia 6 objec-
to do sollicitude dos governos, nao inferior a
de Inglaterra: e um de sous membros, tendo
olitido a honra de cxpor ao imperador o
pcnsamento de que era animada a socicda<!e,
obtcve logo a cooperacao da Franca. Por
carta vossa de 30 de junho ultimo quizestes,
sr. ministro, designar-me para reprcsentar a
universidade de Franca na commissao, que,
sob a presidencia de S. A. U. o principc
Alberto, era encarregada do exame das ques-
tocs do ensino publico, e na forma das instruc-
coes, que vossa excellencia mc transmiltiu.
me parti para Londres no 1." do julbo.
.\. sociedade, juncto a qual eu era delegado,
exerce muilo ha consideravel influencia sobre
OS progresses da industria, e da instruccao
das classes laboriosas em Inglaterra; para
esse fim tem distribuido cm premios, c oulros
subsidies uma somma (pae excede a dois
milhoes e meio; tomou a iniciativa de.'sas
exposijoes de productos da industria, cuja
utilidadc ninguera hoje contesia, c tornou-.se
260
cemro i-ommum do numerosas instiluicoes para
a propagacao de conhecinieiitos uteis, com
que a Gran-Brotauha se tern cnriquecido por
virUide do patriolismo, e habitos do associa-
cao tao desinvolvidos em nossos viziiilios
d'alem mar. Conta hoje a Inglalerra IUj'V
dt'stas iiistitiiicoes dc ensino scionliiico i)0-
jiular, e doslas 3oo sao lilhas diri'clamentc
da sociodade das artos assi-nte cm Londios.
Cursos do sciencia apjdicada a iiiduslria
ahrem-se cm loda a parlo; l)il)li()tliecas para
USD dos artistas miilliplicam-st' com rapidcz
admiravcl; laboratorios, ollicinas, sallas dc
csludo para ensino practico das scicncias, e
das arlcs vem prcstar o auxilio indispensavd
ao ensino oral, de que nos costumamos pagar-
uos: c 0 Estado, que ate estes uilimos annos
linha julgado dcver licar extranho aos cuida-
dos que rcclama a educaeao de sens lilhos,
lioje intervcm de um mode activo e poderoso
na administracao da inslruc^ao puhlica.
Este ultimo facto loi o que maior impres-
sao me fez no estudo rapido que acabo de
fazer; e nao foi sera particular salisfaccao que
cu vi a Inglaterra c a Franca approximarem-
se neste, assim como cm muitos outros pontes.
Outrora dois systemas oppostos reinavam de
uni modo absolute nos dois paizes: nos nos-
sos vizinhos bavia so o ensino iivre coniiado
a industria particular, ou ao patrocinio mais
ou menos illustrado de individuos, ou corpos
municipaes; entre nos a inslruccao publica
eslava toda nas maos do Estado, ou pelo menos
subjeita a sua inspcccao, organisada por um
piano uniforme.
Mas ao mesmo tempo que a Franca quiz
al)rir o ensino a concurrcncia de todos, c
deixar desinvolver as instiluicoes privadas
ao lado dos cstabelecimcntos nacionaes, a
Inglaterra comprcbendeu o jierigo que podia
resultar da falta de rcgra, de inspeccao, c do
bom exemplo, assim como da falta de Socorro
do Estado em materia de instruccao. Enlrou
linalmente ncsle caminlio novo. Hoje apjilica-
se a desinvolver com sollicitude os ramos da
educacao do povo, cujos progressos llie nao
parecem suDTicientes, e procura cxercer por
iutervencao de sens inspectores uma fiscalisa-
cao real na direccao do ensino Iivre.
Em prova desta tendcncia a approximacao
nas ideas das duas nacoes, pclo que toca a
represcntacao do estado na administracao da
instruccao publica, bastara lembrar de um
lado todas as liberdades concedidas ha annos
em Franca a industria, e ao ensino, e do
outro alguns factos recenles, de que vossa
excellencia talvez nao tenha noticia, em ma-
teria do iutervencao do estado em Inglater-
ra nas questoes de instruccao publica.
Ila poucos annos iuda o governo inglez
era tao extranho a tudo o que perlencia a
educacao da mocidade, que nao jiossuia dado
alguni sobre numero e populacao das cicholas
publicas, ou particulares, nera da\a direcla-
mente ao povo meios de instruccao. Quando
a administracao quiz velar pclos intercsses
da educacao nacionai, um dos sens primeiros
cuidados foi saber o que havia ; e a estadistica
da instruccao publica em Inglalerra acaba de
ser feita com muito cuidado. Por ella consta
(]ue [nglaterra jiossue hoje mais de 40:000
escholas ordinarias, das quaes 1H:S00 sao
sustentadas totalmente, ou cm parte pela
fazcnda publica, c donatives voluntaries; e
Itd.'iOO pcrtcncem exclusivamente a industria
jirivada. A par dcstes estabelecimeutos em
(pie diariamente se da ensino mais ou menos
elementar a 2,l'ii:000 moninos, abriram-se
para as classes industriaes 2;5:SOO escholas
de domingo, frequentadas por 2,400:000
aliimnos, e loOO escholas nocturnas, que
reccbcm 40:000 adultos. Em 1851, que estes
ddcumcntos foram recolliidos, a populacao de
Inglaterra era de 17,'J27:00o almas. Os bel-
los trabalhos estadisticos executados por oc-
easiao do ultimo recenciamcnto mostram que
0 numero total de meninos de 3 a IS annos
constilue ] da populacao geral, e pode ser
avaliada em 4,900:000' babitantcs. \'e-.se por
tanto que o numero de criancas, completa-
mente privadas do benelicio de uma educa-
cao qualquer cscbolar, nao constituc |„ desta
l)arte do povo inglez; sendo certo que para
mais de ametade a educafao e ensino o mais
elementar sera muito incomplete, reduzido a
nm dia por semana. Se compararmos a po-
pulacao total 0 numero de meninos com fre-
qucucia nas escholas, \eremosque correspon-
de a 12 por 100 dos habitantes. Direi tambem
(jue a maior parte das escholas adraittem criau-
cas dos dois sexos, e que os meninos tigurara
na proporcao de 13 para 11 meninas.
A duracao media das classes nas escholas
(i de quatro annos e Ires quartos. E das
rescnbas rccebidas resulta que na maior parte
das csebohis o ensino e dns mais cb'mentares;
sendo que de 100 alumnos — 88 apprendcm
a ler — ■■V>i a cscrever — 50 a contar — -27
esludam grammatica ingleza — 30 gcograiihia
— 4 linguas modernas — i linguas auligas —
3 mathcmaticas — a desenho — 10 nuisica.
0 numero de escholas normaes deslinadas
a furmar mestrcs tem aiiguientado muito ha
nns annos. Coniani-se hoje 40, que recehcni
(|uasi todas subveucoes do estado, e podem
admittir uns 2:000 alumnos.
.\le poucos annos antes o governo nao
exercia accao alguma sobre as escholas fossem
particulares, ou publicas sustentadas pela fa-
zcnda, taxas locaes, fundacOes, ou cotisacoes
voluntarias: mas ha dose annos o governo
organisou um systema de fiscalisacao sobre
as que recebem subvencao do eslado, e assim
se subjeitam ajsua inspeccao. Comprehciide
hoje esse systema 4000 escholas, em que produz
rc,-ullados excellentes. Os fundos emprcgados
261
nessa dcspesa suhirara no anno antccedente a
3,750:000 francos; e foram dcstinados anie-
Ihoramento de ediiicios oscliolaros, ordcnados
de mcstres, ac(iuisicao dc livros, modtMos, fi-
guras, e outros objectos de cnsino.
E convcni saber que as contas relativas ao
cmprego dcslas sommas, c os rchUorios dos
inspectores sao siibmettidos ao parlamento,
e publica<los cada anno pcla commissao do
conselho encarregado da adminislracSo da
educacao.
Outra criacao nao mcnos importanlc e a
de uma grande escliola national para o ensino
das artes, e das sciencias uleis a industria.
A.clia-sc subordinada as attribuicOes de uma
seccao especial do ministurio do commercio:
e corapoc-se de tres estabeiecimentos distinc-
tos, mas eonnexos e coordenados; a saber:
uma escbola central de sciencias naturaes
appiicadas a lavra de minas: um collegio de
sciencias chymicas: e uma eschola de bellas-
artes.
0 1.° destes estabeiecimentos fundado em
1833 por um dos naluralistas mais distinctos
de Inglaterra, sir Henry dela Becbe, com o
titulo de museu de geologia practica, occupa
hoje um magnilico editicio construido para
esse lim em Jermyn street E uma iniilacao
da nossa eschola de minas, e de uma porcao
do nosso museu de bisloria natural. Acham-se
, nelle magnilicas coileccoes geologicas ; e cursos
de varios ramos sobre metallurgia, e mechanica
industrial.
Continua. M.
UMA ILLUSAO.
Passou... desfea-se... como sonho raj)ido !
£ng;ano lisoriKciro, em fim, rasi,'oii-se
Xo df sensiano da verdade aniarfra !
Esqtiiva luz brilhuu, atravessando
As trevas de uieus dias, por moslrar-me
O horror da escuridau ! . . . \Ji vae . , . sumiii-se !
Oa ficaraos nos su.s, no ermo da vida.
Men desgra(;ado Curasao.. . ! Que im|)urla ?
0 mundo e feito ass.im ! Quanlos surrisos
Vigte a sorle ate hoje? Quantus viram
Os felizps da terra? E lei do alto!
As lagiimas ao homeiii fnram dadas
l*ara contar por ellus cada passo
Na distancia que vae do her^o a campa !
Devia ser. Adel?a^ou-se o vulto
Da risonha fic(;ao . . . e apoz um sopro
![>s restos dissipou. . . ! Porque tao breve
So ardenle imaginar me recendeste,
Mimosa flor de menlirosa esp'ran^a?!
1 II
Ai ! flor, como eras formnsa !
Tenho saudades! — Que mal
Ha jii nisto, se eras rusa
Uue desfolhuu no rosalr!
Tambem c crime a aaudade i
Tambem a razao persuade
A tollier a liberdade
Nisto mesmo ao cora^ao ?
Do que foi, do que nao era ,
Do que eii sonliei, da chimera,
Cuidei ([Ue , ao meiios, pudera
Ter cii saudades . . . pois nao ?
Foi, bera sei, foi luz de eslrella
Nas ondas a sciiitillar,
Veiu nuvem desfazcl-a
E ficou sem biz o mar;
Mais ainda ; foi somente
Delirio d'accesa mente
Que uma sombra, de repente.
Mal desenha e ve correr ;
Mas se essa visao foi linda ,
Se, embora falsa, e ja finda,
Nao posso adoral-a ainda,
Ter pena de a ja nao ver ?
Criei tudo ! Fiz a imag:em
D'um ser sem elle existir ;
Fingi-Hie vida e lin^uagera
D'um jii supposto sentir!
Namorado da pintura,
Juntei loucura a loucura,
E aos pes da aerea %ura
Puz d'alma o riso e a dor;
Sem ver, sem ouvir, julgava
Que era vivo o que eu pintava.
Que era ella que fallava
Quando eu Ihe dizia — amor.
Como com azas no tempio
Os anjos pintados vi,
Com este anjo aquelle exem])lo ,
Enthusiasmado, segui ;
Quiz-lhe azas. , . mas per dal-a<i
Ao meu anjo, por pintal-as,
Mal sabe onde fui buscal-as,
Onde as azas Ihe estudei !
Da poesia essa aguia altiva,
Tomei-a nas maos, cajitiva
E penna a peuna, em dor viva.
As azas nuas deixei .'
Mais bella entao me par'cia,
Mais fadada para amor;
N'aquellas azas, dizia.
Ha de levar-me onde for.
Vagaremos sem desUno,
Dots sons casados n"um hymno.
Vlvendo um viver divino,
N'um mnndo... todo ideal-
Ambos iivres la seremos,
La, de encantados extremes,
Trocando as almas, teremos
Mil souhos d'amor. . . sem mal !
Engano, engano ! Nessa hora
Em que eu mais a acreditei,
Quando dos labios ajjora
Nao sei que Jlur Ihe invejei;
Quando o sangue me escaldava.
Quando a razao me deixava,
Qnaudo mais me arrebatava
Foi entao tudo passou !
Cahiu-me a venda que eu linha,
Era so illusao minha,
E por ter azas, sozinha,
Batendo as azas . . . voou !
in.
Desappar'ceu \e\nz no ethereo esjia^o
Como pomba fugida . . . ! E eu ja neni lenli.
For(;a sequer para enganar-mej ao menoi.
262
('o'« iU'.i^rio ilii illiisio! N»o .lolio n'alaia
Toiu qtie finjrir nas Iioras scismndorft^
I'm sinmlacrn vHo dft fnl.«a iniagem !
I.ovou-mft tndo ... a phnntafin . . . o.* 8(Hiho>- . . .
Que aein \io&if.o .<oDhur. . . e m* me deixa
O,- C'*]»ialios ila roiia . o doin fiii»e.*;(i»
Of* rHC'»r(^ar-n»e sempro Uessp onoaiio'
\.^o... oh! iiJlo... esqDccia AS rouxns flur"--',
Qiif* da mSo doscuidftda llie cniiam
Antes do v()o flrmcr, n que cu no ncij.
Beijando-as, reclhi ! Duas violpta^,
Ksmnla dn acaso... omtiora, ::Hardo-as,
Quo teem na triste cAr a cAr qiic veste
Mi'ii pohro cufa^iio... t foram d'ella !
1, DB KKMOS.
KXPOSICAO DOS ANIMAES DOMESTICOS.
C^'ntinuodn li- : .: ^,: t
OtMiois tie !ia venues fcito algumas coiiside-
racoes geracs acerca dos progiammas para as
expoiiroes, veni a proposiio occuparnio-nos
das particiilaridades rclativas a cada especie
dc animal; mas por agora falaremos somente
do ((uo e respeclivo a especie vaceum.
No gado i)ovino podeni explorar-se tres
grandes aptidoes, scgundo variarmos as con-
dii'ocs da sua produccao, coiiformando os ani-
maes para scrvico, para cevit, ou para secre-
rCio de kite : cada unia dcstas aptidoes con-
stituc um typo, que CM'lue qualijuer dos ou-
Iros dous, quando se pretcade levar ao seu
inaior grau de perfeicao. Os ty]ios raais per-
leitos sao representados peios animaes de maior
rcudimcnlo, e de mais t'aeil e economica pro-
(iucrao ; e estcs se podem ohter por meio da
espcciulisaam. criando e educando os ani-
maes eoni vistas de conseguir uma so apiidao.
Os nossos lavradores exigem dos animaes
irabalho c aigumas vezes leite, e depois a
engoida: a especie \accum satisfaz a todas
eslas exigi-ncias; mas os seus productos, com-
parados do que respeita a quantidade e qua-
lidade, sao muilo inferiorcs aos dos animaes
eonformados para um so genero de produc-
rao: por tanto aronselhamos, na maior parte
dos cases, a esfeciaJisucdo como o meio mais
vantajoso de cxplorar a industria bovina,
criando racas exclusivamentc kiteiras; de pas-
so ligeiro e ronformaeao apropriada para ser-
rinn, e de cngorda e creseimento precoce.
A raca holUnu'cza apurada pode cou'^ide-
rar-se como o typo das racas leiteiras, por
I'sso que exccde a todas na produccao do lei-
te; a raca iniUana pode tomar-se como o
niodelo do boi de service; em lim a raja de
JJtirliam apurada dcve julgar-se como o meilior
lYpo do boi de ceva. E para esies modelos
que convem dirigir a nossa allencao, e com
estes elemcntos e que devemos levar a cITeilo
a iransformayao das nossas raca? bovinas;
por if-o que, em qualqiior d'aqucllc; typo?, o
rendimento da macbina animal e muito su-
perior ao do nosso boi ordinario. sendo esle,
na maior parte dos cases, mais dispcndioso
no seu siistento.
Para dar compbno desenvolvimento ri nossa
industria bovina fora iieccssario importar e
aclimatar a(iuellas racas, c reformar as in-
digenas, por meio do cruzamentn com ellas
e do set! casiicamcnio por seleccao, fazendo-
sc uma rigoro^a a[ip!icacao dos preceitos zoo-'
Icciuiicos.' Felizmenlc a adimatacao seria
faoil, por quo possuinios ja as vaccax turinax
c 0 boi zebu restando-nos somente apurar
estas racas e aclimatar a de Durham.
Para satisfazer a conveniencias particula-
res, convem aigumas vezes, c principalmente
aos lavradores pouco abastados, rcunir uo
mesnio animal mais do que uma apiidao;
mns, para que a combinacao de dous ou mais
typos possa dar horn resuUado, e necessario
scr dirigida com nniita prudencia. Se com-
pararmos entre si os typos perfeitos, nota-se
grande dillerenca na conformafao dos ani-
maes, na actividadc de aigumas funcfocs, no
regimen que Ihes convem, etc.
0 boi de ceva tem ossada miuda, os mus-
culos volumosos mas tenros, o corpo bojudo
em forma dc pipa, a cerneiha iarga, as espa-
duas curtas e grossas, as pernas curtas e
delgadas etc. ; o boi de .^erviro e ossudo, os
sous musculos seccos o resistentes, o corpo
comprido, a cerneiha estreita e elevada, as
pernas altas e carnosas etc.; a vacca kiteira
e paneuda, tern as tetas grandes, flaccidas,
pouco carnosas, as (jruvuras regulares e sy-
metricas etc, .V energia da assimilajao dos
principios nutritivos, i)ropria ao boi de ceva,
e subslituida pelo vigor do systema muscu-
lar no boi do scrvico, e pela aclividade dos
orgaos secrelores do leite nas vaccas kiteiras.
0 repouso lavorece a ceva, ao passo (pie o
irabalho indiirece a fibra muscular e desin-
vfilve a sua Ibrca ; o service accelerando a
circiiiacao e a respiraciio, precipita por csta
I'brma a reiiovacao material do corpo, e obslft,
ii nutrioao e ao deposito de gordura, t)u
secrecao de icitc. Em fim a produccao d^
cada um dos referidos typos exige condicoeif
particuiares i;a sua criaciio, educaciio e regir
men rilimen'ar.
Pica por tanto manifesto, que niio 6 possi-
vcl combiner estes typos sem corlar por al-
guma de stias vantagens, diminuindo o valor
de cada unsa das aptidoes para que o animal
for destinado; devemos por isso combinar os
typos que forem mcnos oppostos , para que a
sua combinayao nao va dcstruir as condifSes
mais essenciaes de cada uma das aptidoes,
que 0 animal deve pnssuir, subordinando um
' Veja-se Ziii'lithiila no Curso C'omplcfo ile Zuoiatriu I
iloineslir;i.
$
263
lypo ao outro, conforme as circiiiiistanrias
cconomicas e as coudicoes de sua produccao
0 c\igireni.
A aptidao da producrao de Icili; liga-se
melhor com a da ccva, do que com a do scr-
vico : toda.i as vaccus leileiras enyordum facil-
nienle, depois de ter cessudo a secrecao de ki-
te: estas duas aptidOcs succcdera-se no mesmo
iadividuo, e sao favorecidas pclas mesmas
condicOes. Todavia e necessario nao abusar
das relaroes physiologicas, que e\isteni entre
a secrecao do leite e a nutricao, julgando
que da comhinacao das duas refcriJas apli-
does se pode deduzir uraa proposirao iu'. ersa
u antecedente, que uma ram apta para ceva,
0 scja eijualmenle para a j/roduceao do leiie:
esta proposicao tern sido combalida pela ex-
periencia, mas ncm esta prova fora misler:
bastaria, para conhecer sua I'alsidade, refle-
ctir que no primeiro caso, cessando a secre-
yao do leite, a aciividade desta funccao se
transporla para as funcroes iiutritivas; e no
segundu com o apparecimento da secrecao do
ieile nao cessa a lorca assimilatriz.
A f'aculdade de jironipta c antccipada en-
gorda dcpende d'uraa conforniacao organica
particular, acompanhada do predominio dos
systemas que Iransformam os principios aii-
mentares era came e gordura, como se uota
na raca de Durham. Dada esta conforniacao,
nota-se que os animaes se conservam nulri-
dos, ainda mesmo sendo mal alimentados;
por isso 0 appareciniento da secrecao do leite
nao pode annullar este habito oiganico, e a
'. aeca de ceva sera sempre pouco abundante
viu leite, principalmente quando clla estiver
nutrida.
A aptidao para a produecao de leilc pode-
ni ligar-se com a de service; mas e necessa-
rio, que a vacca deixe de trahaliiar, em quan-
ta durar a secrecao do leite, para que sc e\;i!ie
a actividode desta funccao pela cessacao do
r\ercicio muscular, podeiido aiigmen'ur-sc a
leferida secrecao por meio de apropriada ali-
mentacao.
Todas as racas, lanto de serviro como iei-
teiras, devcm ajiroximar-seda conformacao do
typo de ceva, por que o lim dos animaes bo-
■inos e 0 consumo; poreni deve imita:-se
aquellc typo somcnte, no que for compativcl
com a aplidao respecliva a cada raca, sem
alterar os caracteres essenciaes do scu typo.
A nossa raca minlwta poderia apurar-se
para engorda ou para service, por que reune
eslas duas aptidOcs, ainda que em pequeno
grau; todavia e para o trabalho que a sua j
conforniacao mais a dispoe. A raca de Mafra
deve aperfeicoar-se cxchisivaiuente para o
scrvico, porque os seus elementos a levam
para este destino: assim o boi zebu pode ser
considerado como typo do boi de servico, e a
rafa ribatejana e de todas as nossas racas a
mais apta para o servico ; por isso os mestizos
dcstas duas rayas devem ser aperfeicoados no
sentido da sua maior aptidao genelica. Do
cruzamcnto do zebu com outras racas taiiibcm
se poderao obter mestifos para reunir duas
aptidOes.
As racas gallega e trasmontana reuncm
aptidoes para servico e para producciio de
leite, por isso muito convinha mellioral-as
exclusivamente na direccao dcstas duas apti-
does. A raca turina deve ser apurada exciu-
sivamenle para produecao de leite; poreni. ;-e
fosse cruzada convenientemente com outras
racas, poderia dar mestifos com duas ajitidees.
Em lim as vaccas anas (raca do Algarvc) p6-
dem reunir duas aptidoes, a da produecao dc
leiie e a de ceva, sendo convenientemente aper-
feicoadas para satisfazerem a estes dous tins,
Devcmos porera advertir, que na combina-
cao das aptidoes, e principalmente quando so
prctende exaggerar mais uma dellas, cuiuiire
attender nao so as considcracoes de convc-
niencia, mas tambcm a conformacao dos ani-
maes que prctendemos aperfeicoar n'um (iado
sentido.'
A grandeza, a estatura, as formas, a cor,
OS cliifros etc., nao podem ter senao um va-
lor rclativo, subordinado ao typo para que
forani criados os animaes, as circumstaiicias
da localidade, e as condicoes economicas.
Cotitinua j. f, de uacbdo pimo.
.MAIS i::il RE.MEBIO PAUA A MOLESTIA
I)A5 ViMiAS.
M. Vial, cullivador em Argei, diz ter em-
pregado com bom resultado o seguiute re-
medio por elic descuberto.
Consiste cm pulverizar as uvas com ciirza
de madeira e cm seguida podar novamenle a
vinha, tres ou quatro pollegadas acima do ulti-
mo cacho. As vinhas sujeitas a este processo
sao, segundo elle, imraediala e constantemeii-
te preservadas da niolestia. As cinzas cmprc-
gadas, nao devem ter soflVido a accao do ar
para que os saes nellas contidos nao srjai!!
decoi;ii)oslos. Este remedio e simples e pou-
co dispeiidioso. 0 Akiibar que o annuncia
triis um grande numero de attestados de cc-
lonos d'Algeria que dizem ter veri'icado a
sua efEcacia.
ERR.VT.VS DO N." IS.
rag. Col. Link.
Err OS
£nteriit.
'i.32 I.' 4S desprezs lifspr-var
!i!33 " SI vida, vida:
•"= " ''■* orfain; e jc for urKiai, >■• r,.
264
APONTAMENTOS d'opTICA.
AbVERTENClA.
Ncsk's a|)onlaiiH'iilos Irnclaiiios deninpliar, on siipprir, a« (loiiirina:, da paiif J.i Optica
do Lacaille. quo ha algims anuria leiii siil" prdviioiiaim-iitc pxplicada, coino prcliiiiiiiar, iia
cadcira d'Arlronoiiiia. N.'io se ericoiilruia pnis iiollos iim tiactado complelo d'Oi)lica; mas
soinoiile o que iia ex|)osi(;rio eleinenlar d'acpiclla parlo jidgu;iios util accrosconlar, i; a cnjii
piil)licasao annuiiiios ein bcnoficio dos rospoctivos oiivintes.
CATOPTRICA.
Eipdhos csphericos.
1. Scja ' A j\I {^fig. 1) um espellio espliorico, C o seu cenlro, O o puiUo lutiiiiios!.!,
O M utn raio iiicidenle, ]\1 F o rcflectido ; e fac^amos :
OA = d, CA = r, FA=f, ACM=i, OMC=zCMF=i.
0^ liiatigulos O cm e FCM dao:
imMOC_MC senA FMMC
sen OiWC~ OC i>^nFjVlC~'FC'
sen (b — i) r sen(e4-j) r
oil ■ — = J ~ ? : — = y
sen I a — r sen > r — f
Desenvolvendo sen (9 — i) e sen (9 + ') «'" senos e cosenos de t ei • depois eliminaiido
cot i' e finalmenle resolvendo a equagao resiiltante em ordem a/; leremos, usando dos
signaes superiores, j^
•^'^'■^"2 (c/+r) cos i±r) ''^^'
D'onde rcsiilta, que lodns os raios emillidos de O, e iiicidenles nos poiilos da circum-
ferencia da base do sector e^plierico doscriplo pela revohi^ao de A CM a roda de A C, se
reunem no n)e.-nio foco F.
2. Differeiiciando a equajao (1) em ordoin a/e 0, resulta
S 9 [ii {ii + '■) CO 6 ± rj' \ r)
sen 0 (^2)
O signal desta exprossao inostra que o f.'Co se apprnxiinarii do espeliio quando M
se afastar de A. Oseu valor mostra, que a variag.'io sera <-u) geral pequeiia da ordem de i 6,
se o angulo g for considoravel ; e pcquena da segunda ord^.n , se o angulo 9 for tambem
pequeno da priineira. D'onde resulta que as iinagens f>rmada3 pelos raios, que ficam
muilo proxiinos do eixo dn espeliio, devein ser muito mais vivas e distinctas.
3. Se na formula (l)suppn7.ermos 9 uiuito peqm-no da primeira ordem, de sorte que n
superficie do espeliio seja uina pequena por5So d'espliera, toreuios cos 9 =; 1 , e
Estas eqiia^oes moslram que: para (i = o e'/nullo; desde d = oa.\.6 (ir= _r e/negatlvo
e crescente, e o seu crescimenlo cada vez mais rapido ; para d infinilamente approximado de
-r e /" negative einfinito; desde d=.—raX& d=oo ef positive e decrescente, e o seu de-
2 2 , 1 , .
crescimento cada vez mais vagaroso; e finalmente para d= 00 ef=:-r. O que diioseguiiite
quadro:
* As Ggura3 gerSo publicadas 00 Gm d'cstes apontamealoi.
265
-o /■ =0
1
neg. e cresc.
pos. e decresc.
_l
4. Se no caso de ser o espelho convexo (fig. 2 ) fizermos urn raciocinio semcllianle
acharemosas mesmas formulas, que acbamos para os espcHios eoncavos, com lantoqiie neslas
se mude r e — r: adverlindo poreni, que aciticlla mudan^a faz coutar os def positives para
a parte canvexa, de A para O; e que por isso , se quizerrnos coiilar 05/ posilivos para a
parte coiicava , como rvos espellios eoncavos, sera necossario mudar tainlx-ni o si>;iial de /.
Teremos assim, em logar das forimilas (I), (2), (3), (1) com os signaes sup?riores, as
mesmas lormulas com os signaes inferiorcs. £, para asdiversas dislancias, a f6rmula (3) daru
o quadro seguinle ;
I
<r
_ 1'
2 / "" i""
cu
1
Reduzindo aomesmo denominador, edividindo por drf, lambem sepode dar as formulas
(3J a forma symmetrica
I + l-JL '" . -g.)
J~d-l ■''
a
6. Quando os valores de / relalivos ao e^pellio concavo sao positivos, o ponto F,
onde enlao se reunem os raios reOeclidos, e' nmjbco real; mas quando aquelles valores sao
negativos, o ponto F, onde entao se reunem os prolongamentos dos raios reflectidos, no
sentido opposlo ao do seu niovimento, e nm foco virtual ou imaginario. Nos espelhos con-
ve\os OS valores positivos de /' perlencem ao foco virtual.
Blunii',/' I 'jTrinoi - ,
Portanlo nos espelhos eoncavos o foco e virtual desde d==o ale' d=-r, e rcardesde
1 , .2
d = -r ate d ^^ 00 ; nos espelhos convexos o foco e sempre virtual.
6. A equa^ao (3') fica a mesma para o signal superior, quando se muda/ em d e d
lem /; e para o signal inferior nta a niesnia que para o superior, quando se muda/ em d c
•rf em — /. Por conseguinte o foco real do espelho concavo e conjngndo com o ponto
lurainoso, isto e, estes dois pontos sao reciprocamente focos reaes utu a respeito do outro :
* o foco virtual do espelho concavo e conjugado com o fcco do espelho convexo , de sorle
lue estes dois pontes sao reciprocamente focos virtuaes uni a respeito dooutro. O que etam-
bem una resultado immediate das leis da rellexao, e se confirma pela comparajao dos valores
de/ no espelho concavo, correspondentes aos de d desde (Z=-r ate d= r, com os cor-
respondentes aos de d desde d= 00 ate d = r; e pela comparasaodos valores de / no espe-
Iho concavo, correspondenles aos de d desde d=io ate d = -^^r, com os valores de/ no espc
Iho convexo, corrcspondenles ao'; de o! desde c/ = o atec?=oo.
D'onde resuLta, que o quadro das dislancias focaes no espelho concavo, correspondenles
iis dislancias do ponto luminoso desde o ate^r, e o quadro das dislancias focaes no mesmo
espelho, correspondenles at dislancias do ponto luminoso desde -r ale r, servem tambem : o
2 GO
nrimelro para todas as dUlanci.s <lo po„l.. Imni....,, no .,peli>r. convexn , r o .y,u.]o par:t
L "li!u°das do po.uo luminoso no espelho co„cavo dcsde o luNn.lo ale rj .nudando nelles
^- ,i; nnrias focaes era dislancias do ponlo Imimio^o, e lnver^a^lentc.
" '^ S d pois da etlex^o foren. (f,g. 3, .l/.V, , M N>, JVI N," .. . . os raios lam.nosos cor-
responden es is dUlancias desde ,/ = o aie ,/= .. ; o M N, MJ^', MN"..o, so.s prolonga-
mentos vo.se que, ao passo q.c a di.la-.cia do porto lumino.o no e.p.lho cot.cavo vana
T T. I'n.nL a recla N N. sira no seiitido jV A' A'" . . .om toinn d'urn eixo perpendicular
desde o ale co , a recia iv m, ^mu m ^ Hesorlp ncie itp
em 7U ao piano da figura, lo(nando as po,i(,oes M N,,J\< A/, ^\" A/ .., ^'^ ^orie que ale
, ,o.k--.o A" A'" o prol.m-amenlo JV/ A' W do raio, e depois o mesmo raio ;17yV,(0 >encon.
tra o eixo. Percebe-se assiin clarameiite que a solu(,'ao de conlinuidade, que o valor de /
opioscnla na passagem ded<|r para c/>-r, ainda corresponde ao movimento conlinuo
da recla A' AT, a roda do ponlo Jl/. _
7 A doutrina dos numeros l." e 2.° mostra qual c a condirao necessaria para q„e
ns raio5 retlectidos se reunain em nm so ponlo do ci:;o que passa pelo ponlo luminoso. Mas
para tornar mais sensivel geometricamenlo em que consisle esla condirfio, farcmos as
considera^oes seguinles: - ,. ,, .•/-...
Seiam N Aj\ (fig- 4) o corlc crrlral d uma por(;:io d espelho espherico, Co centre da
eipliera e O um ponlo luminoso, collocado na dislancia 0^ = d da exlreuiidade do
diametr'o que por elle passa. E sejam
?
as eouacoes do circulo NAN, e d'uma ellipse de que este circulo seja osculador, e que
Icnba O por foco.
fi sabido que os raios luminosos emiltidos do ponlo O, reflectindo-se na ellipse, irfio
rcunir-se no oulro foco F. Ora as coiidigoes de ser o circulo osculador, c de ser O uin
dos focos, dao (Franc. Malh. pur. n." 775 II)
T=^—, ^F = c=2w — (?, »n'=re' + (»n— c).'
m
Eliiiiinando pois can enlre estas Ires equagoes, resulla
»n = — T , donde yf jK=c = --- ,
que concorda com a formula (3).
. Mas se dcsprezarmos a:*, isto e' , se considerarmos a pequena por(,;io de curva coui-
mura ao circulo e a ellipse, que se osculam , a equajao, que nesta parte pertenco a amhas
as curvas, sera
y'^ =.'2,rx:
logo , com lanto que se tome so uma porfHo de suporficie da espliera tHo pequena , que se
possa considerar como perteocente ao ellipsoide de revolujao osculador, os raios, que par-
tem de O, reunir-se-bao em F.
Se 05 raios luminosos forem parallelos ao eixo, isto e, se o ponlo O estiver a uma
dislancia infmila de A, a ellipse lornar-se-lia em parabola, e c reduzir-so-lia a-r. E com
effeito o que deve aconlecer; porque na parabola os raios parallelos ao eixo reunem-se no
foco, c a comparagao de ?/^ = 2ra: com y^ =p x da p = -lc=2r, e por conseguinte
1
8. £m quanlo a grandeza das imagens, seja PQP' (fig. 5) um objecto circular con-
centrico ao espelho concavo BAB': a imagem sera um arco pqp' tambem concentrico. E
cbamando O a grandeza do objeclo PQP', e I a da imagem J><]p'i sera:
o ca r—W
267
Se tV>r pqp' o objecta, o PQ,P> a. ioiagem , leremos ainda
O Cq d — r T — d'
Porta/)[o, em quanto fur 2rf>ra imdgem seril inverlicia, e teretnos:
/ f—r r
•' 8d (2a! — r)-"
(5).
ror onde se ve que, desde a distancia iiifinila do olyeclo ale amelade do semieixo, a
linagein y, foiinada ])or iim espellio concave, eresce quando diminue a distancia do objeclo
ao espellio, sondo: iiifiiiitanieiue pequena para d= oo ; egual ao objeclo para(Z = r; e in-
finila para d=-r.
Para 2 J <r a Inoagetn sera direita|(fig. 6), e tereinos
O CU
= 0.
r — d r — Qd' Sd ' {r—<idy"
(6).
Por onde se ve que neste caso a imagem diminiie quando diminue a distancia, sonde:
iiifinita para c?= -r; e igiial no objeclo para rf=:_ .
- oo
iSos espelhos convexos (fig. |7) a imagem e direita, e temos
Cq r-f
O CQ r + d iid-^r' id
U = -0.
Qr
{^d + r)'
,(7).
I
Por onde se ve que nesles espelhos a imagem eresce quando diminue a distancia , sendo :
nulla para d=. oo ; e egual ao objeclo para d=o.
I). Para comparar enlre si as imagens do mesmo objeclo, collocado a mesma distancia
de differonlos espellios , diffeienciaremos os valores de 1 dados pelas formulas (5) , (6) , (7),
em ordera a r ; o que dard :
Si 2 (/
^^"^""""'^ ('^ T7-=^-(M=^
Na formula (6) L.^_0.^j—-y^
Naformula (7) ^=0.. f ■;.
^ ' Sr {^d + r}'
Logo, noj espelhos concavos as imagens crescem quando diminue a curvalura do
espelho , no caso de ser a di-lancia maior queametade do raio; e diminuera com acurvatura
no caso de ser a distancia menor que amelade do raio: nos espelhos convexos scinpre as
imagens crescem quando diminue a curvatura do espellio.
10. As-formulas relativas aos espelhos esphericos tornam-se nas dos espelhos pianos,
fazendo nellas r =: oo.
Se OS espelhos tiverem outra figura, e esta for conhecida de modo que se possfm tirar
03 sens planns langenles, applicar se h.io as leis da retlexao nos espelhos pianos aos pianos
que locam a sup(>rficic nos ponlos d'incidencia , e que se confundem com ella nas visinhanjas
d'esses ponlos. A equai^ao do piano tangenle a superficie proposta, combiiiada com as Icis da
reflejifio nas superficies planas e com a posicao do ponlo luniiuoso, u.ira as posi^oer succc«-
sivas dos raio? refleciidos, e por conseguinle as suas intersec^ocs consti.utivas.
268
OBSEUVACOES METEOUOLOGICAS
FEITAS NO
GABl.N'ETE DE PHYSICA
DA UMVEIISIDADE DE COIMCUA.
Anno lie
1834
Pressao atmoK|>herica ao meio dia
Esrado bygroniptrico da
atuiosphera a0|mejuilitt
"^ O
Met <\e
Oiilubni
HI
t o a^
H 5 H
Altiira bnro-
niftricaaO."
Tcnffio do va-
por aqtioso con-
tuio no av.
Pressao do ar
secco
-3-3
o "s
Quaol.d.nJc Je tj.
por 3qao*o cooliiio
Km Mm metro cu-
lico dc ar.
Dias
"';'"' MNl.melros
ceiilii.'.
Millimelrus
Millinielros
Grammas.
1
22
753,349
14,449
7311,900
0,7022
14,15
NO.
2
23
752,841
15,465
737,376
0,7516
15,15
s.
3
S4
755,842
13,591
742,251
0,7
13,36
NO.
4
21
755,601
14,466
741,138
0,7898
14,26
NO.
5
20
753,918
13,073
740,845
0,7551
12,93
N.
6
21
746,552
14,049
732,503
0,7670
13,85
N.
7
19
740,667
11,714
728,953
0,7192
11.63
S.
8
19
745,982
11,869
743,113
0,7287
11,78
s.
9
19
754,243
13,406
740,837
0,8231
13,31
so.
10
17
757,374
12,144
745,230
0,8394
12,14
s.
11
18
759,783
12 428
747,355
0,8095
12,38
o.
12
17
756,096
9,823
746,273
0,6790
9,82
E.
13
16
756,219
8,218
748,001
0,6030
8,24
E.
14
15
756,343
7,893
748,449
0,6149
7,94,
E.
15
16
756,219
8,421
747,798
0,6179
8,45
SO.
16
16
756,269
8,855
747,414
0 6497
8,88
SO.
17
17
748,377
11,639
736,739
0,8041
11,63
o.
18
15
746,974
9,006
737,968
0,7016
9,06
s.
19
li
747,603
9,103
738,500
0,7532
9,19
so.
20
14
751,145
8,989
742,156
0,7437
9,03
so.
21
14,5
752,100
8,425
743,675
0,6738
81,80
N.
23
15.5
754,369
11,086
743,278
0,8378
11,14
N.
23
16,5
75i,a04
12,371
742,533
0,8808
12,39
N.
24
18
753,407
13,028
740,379
0,S4ti6
12,98
so.
25
20
750,667
12,718
737,849
0,7340
12,58
o.
26
16
757,439
11,214
746,275
0,8228
11,25
N.
27
14
754,812
9,233
735,579
0,7639
9,32
N.
28
13
753,112
8,469
749,643
0,7444
8,58
N.
29
J 3,5
736,527
7,6'12
748,845
0,6518
7,77
S.
30
15
755,087
9,9o2
745.125
0,7761
10,03
SO,
31
15
757,612
10,218
747,394
0,7960
10,28
so.
lio mez $
17,19
753,757,
0,7447
N
Teinperatiira
Prosao Hi
mospherica
Grdit de humidade do ar
-3
Maxima absol. . . 23^
Maxima absol. .
759,783
Maxima absol 0,8806
E
.... 740,667
M
El]
Maxima vari.irao . 10°
Maxima excur;
io .. 19,116
Maxima variaijao 0,2776
Coiu
bra 1.° de Novembro de 1854.
O Demonslrador da Faciildade de
Pbilosophia, iitt
noel dot Santoi Pereira Jardim.
,{OJi>AL St IKiNTISK O K J.ITTEIIA JIK).
CONSELflU SI I'KRIOR I)E INSTRlCCACl
PUBLICA.
ilKHlORKl ANM U,.
ISiS — ISilt.
Cfinliitiiad'* de jiu^'. "iol .
2.' parti:.
fiiiinician priiiidiin.
A inslnicfao priniaria iia sua ;!Olii:ii or-
ganisacao, comprcliciKh' unia pscliola nnrnial
om Lisboa, oscliolas d'cn^ino mudio o s'lnul-
taneo pagas pclo Esiadn; pscholas pagas por
corporarOes, on por lega(lo>; e oscliolas par-
ticularcs.
As cscholas uormaes, psscs \iveiios oiidc
sc criam os eihicadorcs p nipstros do povo, e
que tern iiipiccido das napops, oiidp seria-
meiite sp tuida da inslrncrao piihlita, o mais
desvolado iiit<'rcssr, sao parliculaniipntp piilrp
DOS, em c'onspqiipncia da falla de ponlipci-
mentos pedagogicos, os estabplpcinipntos dondn
deve sair a rpgpnpracao do onsiiio priinario.
quasi gpralniPiilp reduzido aos spus primoiros
e infornies rudimcntos.
K para laniciilar qiiP as iiecessidades pu-
blicas tcnliam ohiigado o governo de V. M. a
limitar por era estes pstabolpcinipntos a uma
so pschola na capital do roino, c que essa
mesma, nao tendo podido atp agora func-
tionar, seja urn niotivo para constituir o con-
sellio na nccessidade de por raais tempo
ainda admittir temporariamente ao ensiiio,
meslres sem as liahililacocs sudicipiites. e
que apenas poderiam servir em escholas de
freguezia ruracs inferiores as do l." grau.
A pschola normal de Lisboa, cujo regula-
menlo foi publicado pelo governo de Y. M.
em 24 de dezcmbro de 1818, tern um profes-
sor nonieado por decreto de 17 de marco de
1848, Francisco Julio Caldas Aulete; e a-
chando-se concluido o edilicio, juncto a casa
pia de Belem, como V. M. se dignou com-
municar ao conselho superior, em portaria
de 22 de maio de 1848, nao tem depois o
Vol. III. Fevereuio 1
coiiseliio >abido do cslado cm que .se aclia
aquella pscbola, ucm dos irabalhos que forani
cominettidos ao sen professor, juuctamentc com
0 da casa pia, Francisco Anionio de Michel-
lis; e nao tendo ainda sido resolvida a cou-
sulla do 1." de jullio de 1848, sohre o pro-
jecto do regulamento aprcsenlado pelo pro-
fessor Aulete, nao pode esto conselho dizer
cousa alguma sobre o estado d'esta eschola.
Ha no continente e llhas 1:109 escholas de
ensino primario, sendo 1:123 para meninos,
e 4(i para mcninas, as quaes cstao distribui-
das pelos dilferentes dislrictos como se v6 no
majipa.
Nas 1:110 que ha no continente, segue-sc
0 methodo de ensino simultaneo em 1:039, e
d'pstas para meninos, estao providas vitalicia-
menle 70"), temporariamente 2ol, vagas e a
concurso 89, e rcservadas 11; e para me-
niiias, estao providas, vilaliciamente 39, c 2
vagas e a concurso. Das 10, para meninos,
em que e spguido o methodo d'ensino mutuo,
estao 12 providas vitaliciamente, 1 a con-
curco e 3 reservadas. Dos 300 ma{ipas das
escholas do continente cntrados na secretaria
ate esta data ve-se, que o |numero dos a-
lumnos, que no ultimo anno lectivo frequen-
taram as escholas a que se referem, sobe a
33:113, bavendo um excesso de 2:933 sobre
0 numero apurado no anno precedente.
Das llhas, d'ondc faltam a maior parte dos
relatorios dos commissarios e dos mappas dos
profpssores, apenas consta, que as 28 cadeiras
dos dislrictos de Angra, Funchal e Horta
foram frcquentadas por 1:522 alumnos. As
escholas em exercicio pagas por legados sao
no continente 13, e acham-se providas. Por
3 mappas remettidos consta que foram frc-
quentadas por 148 alumnos. Nas llhas ha 28
escholas pagas pelas caniaras municipaes; 3
pagas pelo thesouro e junctas de paroehia, e
19 pelas junctas de paroehia e confraria.
Alumnos 2402.
0 conselho procura ir vencendo a resis-
tencia, que sens delegados tem enconlrado
em obrigar os profcssorcs das escholas par-
liculares de ensino primario a habilitarem-se
com as competentes certidoes de capacidade,
na conformidade do que determina o decreto
de 20 de septembro de 1844. No anno Cndo
habilitaram-sc legalmenle 11 individuos do
1853. NcM. 21.
270
sexo mnsciilino c 2 do fcniinino. E a ppzar de
toilas as (iiligencias, apeiias sc ohtivcram I'.!
inappas dos alumnos que fre(iucntaram simi-
IhaiUcs aulas era numero de '.MO.
E pois 0 iiumcio lolal dos alumnos, que,
segundo os mappas rcccbidos, frcquenlaram
diirantt! o ultimo anno lertivo as escholas do
ensino primario, de 37:i)8o; o numero poreni
dos individuos, que no niesmo anno sc ap-
pliearam a esle ramo do ensino, podc elevar-
se sem exapgeiarao a 70:000, que cm relarao
a populaiao actual, coniputada em :};412:oOO,
almas da cm resultado a pioporcao de l:'iS7.
A rclacSo do numero das escholas publicas
para o das frcguezias em todo o reiiio esla
na proporrao de 1:3,3.
0 ensino primario acha-sc actualmente
conliado a 1:183 professores, contando os
ajudanles das escholas de ensino niutuo, e
OS substitulos dos professores d'ensino simul-
laneo. A verba volada para os ordenados
d'estcs professores no conlinente e Ilhas, a-
balendo os impostos da lei de lOd'agosto de
1818 6 de 07:101^170 rs, c esta despesa cm
relacao a 37:i)8S alumnos das escholas cor-
rcsponde a despesa annual de 2:S8S por cada
alunino.
E, Senhora, na instruccao primaria princi-
palmente que o quadro apresentado a V. M.
por cste conselho, esta bem longe de ser a-
inda tao lisongeiro coino sc dcseja, e como o
pcde 0 estado actual da civilisacao.
N'este quadro dejiara-se logo com tres ])0-
dcrosos olistacuios ao j)rogresso e propaga-
cao d'estc pnnto fundamental de tuda a in-
struccao, esao: a insufliciencia dcgrande nu-
mero de professores, o diminuto numero de
escholas publicas, e a ponca afiluencia de
alumnos a muitas deltas.
A insufiiciencia dus professores, com a
•lual em parte tem sido necessario coudes-
ccnder, nao pode ser remediada radicalmentc,
senao pela organisacao das escholas norniaes;
e n'um future niais proximo, apcnas poderao
conceber-se algumas esperancas mais lison-
geiras a este respeito, se, melhorando o esia-
do do thesouro publico a ponto de vencer-se
0 alraso fatal cm que se acham os pagamen-
tos dos .servidores do Estado, pod6r oll'ereccr-
sfi nma [lerspectiva melhor, (jne convide aos
concursos para as cadciras d'esia parte do
ensino o|)positores mais habilitados. Da rcia-
cao, em que esla o nnmero das escholas com
0 das frcguezias, deprebende-se hem que cstc
numero nao satisfaz as necessidades do Paiz.
E na vcrdade, sendo a parte mais elementar
do ensino primario, isto e, aquelta parte que
se limila ao ensino dos principios moraes e
rcligiosos, de ler, escrever, c contar, uma das
necessidades mais geraes abs individuos de
todas as condicoes, tanto para o inleresse do
Estado, como para o .spxt projnio, em quauto
a nao virmos propagada por todas as povoa-
coes, de modo que ao lado de cada ogreja
parochial baja sempre, pelo mcnos. uma es-
chnla d'esia calcgoria, poderemas dizcr que
nos falla o alicerce mais seguro da muralisa-
cao e civilisacao do povo, e jjor conseguinle
0 fundaniento de quaesquer melhoramentcs
que se cmprchenderera para felicilar a na-
cao
Na impossibilidade em que se acha actual-
mente 0 governo de V. M. de augmcnlar o
nuHiero das escholas com os recursos do the-
souro, tem 0 conselho a salisfaccao de dizer
a V. M. (pie mui'.o se poderia, a pezar disso,
fazer n'este sentido, sc as aucloridadcs admi-
iiistrativas e os commissaries d'eslndos imitas-
seni 0 goNcrnador civil de ISraganea c o
commissario d'estndos d'Evora, nos nieios
de propagar a instruccao por elles jii ensaia-
dos com successo. 0 governador civil de Bra-
ganca, z(doso pelo progresso da instruccao
po])ular, dirigio-se aos sens adoiinistradores
e iis camaras municipaes, pedindo-liies os es-
darecinientos necessaries para se reconhecer
a possihilidade de augmcntar o numero das
escholas pelos meios apontados no art. 9.
do decreto de 20 de septembro de 1844, e
instando com aqucllas camaras, com as jun-
ctas de parochia e irmandades, obteve em re-
sultado do sen zelo, que se creassem 3S
cadciras, sendo dnas pagas pelas camaras,
4 pelas jnnctas de parochia, 0 pelas confra-
rias, e 23 regidas gratuitanuMite pelos paro-
cbos.
0\ala que este exempio seja seguido, e que
todas as aucloridadcs administralivas e os
paracbos lonicin a pcilo fazer reconhecer aos
povos a iniporiancia da instruccao, porque
reconbecida esta necessidade acontccera como
no districio de Braganca, c como e.-lii acon-
teccudo cm ((nasi todo o Reino com outra
necessidade que caminha a par da jjrimeira,
mas lioje geralmeutc reconbecida, e (]ue por
isso todos se emj)cnham em que seja satisl'eila,
a do melhoramcnto das vi.is de communica-
cao.
Ovalil que haja o maior cuidado na educa-
cao e nas habilitacoes do nosso dero, porque
eiitao OS dignos jiarocbos do dislricto de Bra-
ganca tcrao nuiilos imiladores; e na verdade
ninguem melhor do que os parochos poderia
nas frequcncias ruraes mcuiuliir-se do ensino
primario clcmciilar; elles a iiiiem esla in--
cnnihida a educacao religiosa do povo, acha-
riam na parte comidcuientar do ensino das
[irimciras Iclras uma das occupacues mais cm
harmonia com o sen sagrado minislerio, nao.
se achando felizmenle no nosso paiz, como-
aconlecc cm quasi todos os oulros, embaraca-
.dos com as collisoes, de diversas crencas:
religiosas. 0 commissario dos cstudos d'Evora
com 0 seu projeclo de associacocs do beucli-
ccncia dirigida para o ensino das cla.sse*
pobrcs, que ha pouco foi por V. M. njiprn-
•^ 5S
271
vado, al/riu um outro raniiulio, pelo (luul,
sendo di'vidanicnle coadjuvado polas atictori-
dados, devo tainlii'm coiisegiiii- o augiiicnto e
jirojiagarao da iiislriK'<;ao primaria. N'aqucllo
projccto prcndc-so o i-eiilimciito dc Iniiiiaiii-
dade e bencliceiu-ia das pussuas priiiripaes e
infliicntes com os lial)ilos rcligiosos dos povos,
I! cunvida-se o clei'o, v princi|ialiiienl(' os pa-
rochos a toniar [larte acliva iiesta ohra de
caridadu e civilisaciio. Com taos clciiicnlos
lia luolivo para espcrar ([».> esla luiitativa
jiroduzira os rosiiltados quo sou auctor Icvc
(!m vista, e que segundo jiarlicipa no seu
relalorio j.i vo oni parle coroados no concellio
do Alandroal, aonde o adiiiinistiador do con-
cellio, 0 paroclio e o prol'essor d'aquella villa
tern tornado muilo a peilo promovcr por aqucl-
Ic nicio 0 auginenlo da inslruccao primaria.
A poiica allliioncia dos alumnos a algumas
das cscliolas piiblicas o molivada em ])arle
peio estado de ignoraniia cm que ainda jaz
grande jioreau da I'amilia porliigiieza, e cm
parte pela miseria das classes operarias.
Para veneer a primeira causa, intende o
consellio que os melliores raeios sao os ja
apontados da persuasao e do exempio, nao
se devendo recorrer aos coercivos, senao de-
pois de e\liauridos os primeiros. Tambem con-
correra para este fim, c conjunctamente para
desperlar o zeio dos mestres, tornar ellectivo
0 disposto no arligo 2(J, §. unico do decreto
dc 20 de septemliro, dando a graliticaciio de
10^000 rs. aos prolessores que no espaco de
dois aunos dercm promptos nos cxaraes an-
nuaes o uumero de discipulos marcados no
mesmo g.
As associacoes de benelicencia remcdiarao,
em parte, a miseria das classes operarias; e
para que a iustruccao dos alumnos saidos
d'eslas classes po.-.sa combinar-se com o au-
xilio que OS seus paes d'elles exigeni nos sens
traballios, c principalmenic no servico de a-
gricultura, ja o conselho providenciou per-
mittindo que algaus prolessores possam esco-
Iher horas d'aula mais accommodadas a cstas
circumstancias.
Alem dos obstaculos mencionados, tornava-
se iiotavel a falta de um regulamento geral
das escliolas de ensino jirimario, principal-
niente para mcninos. Porem tendo V. M.
achado convenientc remctter ao conselho su-
perior, com a portaria de i'j d'agosto ultimo,
entre oulros, o regulamento sobre este objeclo
que 0 conselho lizera subir a preseuca de Y.
M. em consulta de 24 de Janeiro de 1843, a
fim de viir se ueccessitava de algumas raodiii-
cacoes, e addicionamcntos aconselhados pela
experiencia do tempo decorrido desde a sua
organisacao, ja o conselho se occupou, como
ua jirimeira parle d'este relatorio lica dicto,
d'este objeclo, fazendo sobre elle subir nova
consulta; e espera que, dignando-sc Y. M.
resolver o que julgar mclhor a este respello.
cessani a falta mencionada, e com clla a ir-
regularidade lao ]irejudicial no ensino publico.
Em conclusao, S(Mihora, se csta parle l5o
esseiicial da inslruccao esta ainda longe, de
adingir ao lermo desejado, e innegavel que
n'ella temos f'eilo progresses, principalmcnlc
so a compararmos com o eslado em que se
achava em periodos nao muito remotos. Co-
nliecidos os obstaculos ([ue amda a embara-
cam no seu desinvolvimcnto, c apontados
alguns remedios para vencel-os, tem o conse-
lho toda a conlianca que o governo de Y. M.
lao sollicito pela illustracao e prosperidadc
publica, dara pelos meios que a sua inlcl-
ligencia e patriotismo Ihe hao-dc suggerir um
impulso forte a inslruccao primaria, contem-
plando a sua perfeita organisacao como a
primeira necessidade do paiz, e de ciija sa-
lisfaccao scimenle poderao derivar-se os ele-
nientos rcgencradores que hao de erguer-nos
do nosso estado actual de proslracao e dc-
cadcncia.
Contim'ta.
UELArOES ENTRE AS ESCnOLAS SCPERIOIIES
DE UESPA>UA E PORTIGAI..
Os curiosos da nossa hisloria litteraria es-
la rao lembrados da correspondencia que cm
18:J2 se principiou a entabojar entre a nni-
versidade dc Coimbra c a central de Madrid ;
por(iue este acontcciraenlo, provocado pelu
zelo d'um dos nossos mais dislinclos profes-
sores, 0 sr. Yicente Ferrer, e lao importanle
para o progrcsso das nossas lelras, que mal
se desculparia aquclle que o ignorasse.
Ila, porem, hoje, quem, nao contenle com
isso, quer que se estabelecam mais eslreitas
relacoes, nao so entre as duas universidades,
senao lambem ienlrc todas as de Ilespanha c
as escholas superiores de Coimbra e Lisboa,
formando entre ellas uma nniao tal, que os
estudos comecados n'umas possam nas outras
ser conliuuados, scm differcnca d'eschola ou
de nacao.
Este peusamento, apresentado primeiro nas
cortes dc Uespanha era sessao de 14 de
dezembro do anno passado pcio sr. deputado
Bertemati, foi logo no dia seguinle reprodu-
zido pcIo Adelante, jornal politico de Madrid,
c com tal empenho, que nao so se encarrega
de propagar pela sua patria esta idea, mas
convida a imprensa de Coimbra e Lisboa a
que aconsclhe a sua adopcao em Portugal.
0 Iiislilulo nao se julgaria comprehendido
n'este convite geral, se o nao livesse recebido
parlicular da redaccao do Adelante, porquc
^)79.
0 pcriodico dc Madrid, r antes d'olle, o i-r.
ItertciiuUi coiisideraram a «nino nniversidiiia
siinplcsmt'iilc conio uni do olos. inedios dc
lima uiiuin diiradcra y inovcchosa para ani-
bos piiehlos'i, isto e, encararaui-ua >ul)oi-
dinada a iiraa (lueslao p«lilua (pie pode dar
materia para imii clociueiites discursos, mas
que nao pode ter cabida ii'um joniai exclu-
sivaraciite littorario, como este.
Julgando, porem do nos<o dever dar satis-
faccSo ao coinitc do Adelauie, sem faltarmos
as iiossas obrigacOcs dc joriialistas iittcrarios,
dosviarcmos uiii pouco a qucslao do camiiilio
per que a ievam os nossos viziniios, para u
campo sciontitico em que so iios compete
disculil-a. N'este campo os principios da pu-
blica adininistracao, c as bases em ([iic as-
scnta 0 iiosso systema de inslruccao pui)lica,
conduzem-nos a um rcsultado diverso d acpiel-
le a que chegou o Adelaiite, parliudo de dil-
lercnte ponlo, e por oulro camiuho.
Apaixonados pela liberdade d'ensino, im-
plieitamenle sanccionada no g i'i do art. I'lii
da carta const., desinvolvida uo decreto de *'J
niarco de 1S32, e ratilicada nos decretos da rc-
t'ormacao litteraria de 183C e no de 18ii,
julgamos com tudo que o Estado nao pode,
ncm deve deixar de exercer os sous dircitos
de inspeccao sobrc o exercicio do magisterio
particular c livrc, porquc assim como o Esta-
do por um |)rincipio sanitario deve probiiiir
a venda de vencnos a pessoas que nao deem
garantias do bom uso d'esta faculdade, cum-
prindo-lbe liscalisar muilu de perto o uso (pie
d'ella lazcm as pessoas a quiMu e concedida,
assim dove vigiar que os prolessores nao usem
mal da palavra, que tanto pode ser um re-
mcdio como um veneno, e deve acautelar
(|uc nao abuseni da credulidade publica, iii-
culcando-se por grandes medicos sem pas-
sarem de rudes cliarlataes. Este prineipio da
in.speccao do Estado no ensino livrc acha-se
estabelecido nos art. 83 e seguintes do uosso
decreto de H) de septembro de 184i; rcce-
beu-o a Franca na coustiluicao de 18i8 ' e
depois d'ella a Inglaterra '■ : "do maneira que
nos accusados de andarmos a tras de todas
as nacoes; ie],.cheiididos de indolentes no
promover a instruccao primaria, porque em
vintc annos nao livres de agitacOes politicas,
nao coiiseguimos derramar a luz por tres
Ma I.-i franceza dc 29 frimaire anno II., e na constit.
ilo anno III achavam-se combinailas a liberdade de ensino
com a fiscalisai;ao da aucloridade, mas nao chegaram a
eiecutar-se. A carla dc 1830 proclamava em termos abso-
lutes a liberdade d'ensino, mas o governo notando a lucla
enire o clero e a universidade de Fran(;a, que se disputa-
vara a inlluencia no ensino, nao pflde nunca lograr que se
fizessera as leis organicas para levar por dianle aquella pro-
Tidencia. A conslit. de 1848 eatabelecendo os verdadeiros
prmcipios teve e.xecu9ao desde a lei de 15 de marc;o 1850,
que e a data de que devemos comerar a contar cm Kran^a
a liberdade d'ensino e a inspeccao do governo.
V. 0 numero antcccdente do liistiluto pag. 260.
milboes e meio do babitanles acoslumado^
as trevas, c aflei^-oados a escuridao; devemos
todavia lisongear-nos de bavermos, n'este
ramo de administracao publica, tornado a
dianteira as nacoes mais cullas'.
Seiulo jiois a inspeccao no nicio da liber-
dade 0 modo de conciliar os interessps das
I'amilias com os dircitos e deveres do Estado, e
nao podendo ella cxercer-se em terrilorio
alheio, a regra e (|ue nfio se deve dar a fre-
quencia d'aiilas exirangeiras o mesmo valor
(pie a diis nacioiiaes.
E'^la regra toriia-se rigorosa a respeiio da
iiislnic(;a(i superior. .Vs oscbolas superiores
publicas sao iuslilutos polilicns, ipie liabili-
lam OS (|ue as rre(|uentani para o exercicio
ilos cargos piiblicos. Estas escbolas esiao sub-
jcitas nao someiite a iiispec('ao, mas a direc-
cao do Estado; este (■ ([iiem ediica as pessoas
(pie devcm occupar-se da governacao d'esin
graiido familia, a que cbamam na('ao. Assim
e entre nos. Temos os exames preparatorios
determinados pcio Estado, a edade para o
princijiio dos cursos superiores determinada
pelo Estado, a distribuicao das disciplinas
pelas cadciras, e um piano d'estudos igual-
mentc determinados pelo Estado.
Nao se nos csconde que este prineipio t-
muito combalido por uiuitos sabios da Al-
lemanlia. yuaiido a cainara ]iopulnr de Bade
manil'estou mui decididas tendencias para
estabelecer um piano obrigatorio d'estudos
superiores, tendencias ipie Savigiiy qualific.i-
ra "d'lima conspiracan systematica contra a
liberdade docenle e discente," appareceu a
rebatel-as uma inlinidade dc escriptos, cla-
borados na maior parte por professores. Os
de Savigny, de Midd, de Scbleiermacher,
iliierscb, .Mayendorrs e outros pretendem a
mais completa liberdade: ([uerem ([ue cada
(|ual siga o metbodo e systema que melhor
lliesparecer nos seus estudos; que priiicipiem
n'lima universidade oii em particular e acabeni
n'outra como Hies aprouver. Fundam-se em
que 0 contrario seria toHier a instruccao
universal, e limilar a liberdade pessoal. Re-
cusam-se a considerar as universidudes como
eslabelecimcntos politicos, e dizeni (pie para
OS eiupregos nao se deveni prelerir os que
teem segiiido um dado systema d'estudos aos
que possucni a verdadeira sciencia.
Estcs argumentos nao atacani a iiossa dou-
Irina. Nos nao impedimos a instruccao. nem
reslringimos a liberdade. Cada qual que. se
contentar com ser um sabio, pode estudar-
particularmente, ou nas nossas escholas su-
stentadas pelo Estado: nao sao ellas publi-
cas'? Podem, pois, ouvir os professores, tomar
apontamentos, consultar as bibliothecas. Mas
que certos emjiregos sejam providos cm qncra
nao tiver certas babililafoes previamentc de-
' V. anot. i.»
273
signadas na lei, (■ inadmissivd; e iim principio
conJc'iiinado jii'la expericiicia. Nos tcstemu-
nlias do tantas agitarOcs proniovidas por iinia
niultidao d'aspirantcs anslogaros piil)licns. nos
victimas do pcssimo despmpenho d'enipregados
anal|dial)Otos, nos que elamamos contra a in-
stiluicao dos jiiizcs ordinaries que devoni ap-
plicar a iri sem terem a ohrigafao de a sai)or.
nao |)ndemos roniprehcnder como se suhslitua
0 arltitrio do jiodor cxcciitivo as presunipioes
legaes de capacidade attestada por uma esclio-
la de])ois d'um curso regular. Nao podemos,
pois, deixar de considerar as csrholas supe-
riores, como inslitutos politieos subjeitos a
vigilaneia e direceao do eslado. E como esta
vigilancia nao pode transpor as fronteiras,
como esta direceao nao pode permiltir-se em
aiiieio lerritorio, segue-sc que a uniao entre
as escliolas de diversos paizes e contraria aos
principios administrativos, c sobre tiido a
todo 0 nosso systcma dc instruccao superior.
E (OS sabios nao tern naeao» disse um jor-
nal d'csla cidade, adberindo a idea da uniao
uni\ersitaria proposta pelo Adelantc. E ver-
dade; mas as bai)ilitaeoes para as funcfoes
publicas teem uma regra ; essas teem nacao,
assim como os enipregos para que cllas sao
preiiiuinares.
Aiem d'esla razao, ha outras deduzidas
tambem das relacoes entre as nossas escbo-
las, para as quaes nao existc essa uniao que
0 Adehinte quer ampiiar as universidades da
Peninsula; sendo para nolar que esse jornal
I'allasse nas escliolas de Lisboa, como equipa-
radas a universidadc dc Coinibra, c nao I'al-
lasse nas escliolas do Porto, que sao realmen-
te equijKiradas as de Lisboa. Nao admira (pie
0 Adehinte nao livesse conbeciiiiento do nosso
systenia de instruccao publica, jiorque mesmo
entre nos esle conliecimenlo uiio c vulgar,
nem facil de adquirir por causa do cstado
confuso em que sc acba toda a nossa legis-
lacao.
Eis 0 que pensamos n'osta materia. Nao se
pode dizer que nao coueordamos com o nos-
so collega de Madrid, porque cada um de
nos se coUocou eiu diverse campo. Mas o
resultado, a que cliegamos, parcce-nos o unico
conforme aos principios.
A INSTRUCCAO PRIMARIA NO DISTRICTO
DO FLNCUAL
A falta dc inspeccao nas cscholas prima-
rias 6 o defeilo que mais imputam ao syste-
ma da nossa instruccao publica; mas esse
defeito nao provem da lei, ([uanto a inspec-
cao que ella estabeleceu, provem principalmen-
le de serem tao mal rclribuidos os logares dc
comniissarios dc esludos, — on nao lia i\w\\\
OS queira servir, ou os que os acceitam, salvas
algumas lionrosas excepcOes, limitain-se ape-
nas ao mero expediente dos exames, a ([ue
teem de presidir por ordem do conselbo su-
perior, sem curarcm do cvitar e inspeccio-
nar as escliolas dos sens districtos, dc pro-
mover a associacfio dos professores disperses
pelas povoacees ruraes, um des meios mais
elTicazes, e mais utilmente practicades era Al-
lemanba, de aperfeieoar o ensino, corrigir
OS abuses des dilTerentes melbodos, e excilar
entre os individuos dcsta classe o amor do
cstudo, e 0 intcresse pelos melhoramentos
deste importantissime ramo da instruccao pu-
blica. Finalmentc os commissaries dc estudos
nem Iractara de esclarecer e admoeslar os pro-
fessores para o bom dcscmpenbo dos deveres
do seu magisterio, e d'aqui provem e lamen-
tavel abaiidone de nuiitas das nossas cscho-
las, e desleixo e negligencia des professores,
c a pouca, ou neuliuma censideracae de que
pcia raaior jiarte gosam, quando tiio esiimados
e respei lades deviam ser.
0 defeito, por tanlo, repetimol-o, nao esta
no systema, mas nas pessoas, e nestas prin-
cipalmentc pelos poucos estimules, e mais que
mesquinba remuneracae, que por tal servico
Ihe e concedida. Nao entendemos que devam
estabelecer-se grosses ordenados aes comniis-
sarios de estudos, mas sim que tenham e suf-
licientc para sem outros cargos, poderera mais
dctidamentc occupar-se dos deveres do seu
eHicie, que muitos e mui importantes sao dies.
Em abono de systema dc iuspeccao das
nossas cscholas, estahelecido na legislacao
actual, fallam hem alto os distinctos e rele-
vantes services d'alguns d'esses comniissarios,
cm quem o inlercsse das Ictras, e amor da
solida instruccao, c da boa educacae moral e
religiosa, e o zelo c dcdicacae por cste ramo
da administracao publica, podem mais que
outras nicscpiinhas consideracues de pessoal
convenicncia.
Destas raras e distinctas qualidades no
desempenho de tao laheriesas fuuccOes, po-
demos aprcsentar como modelo, sem elTcnsa
de outros earacteres respeitaveis, o diguissimo
commissarie des estudos no districto de Fun-
chal, 0 sr. Marcelliane Ribeiro dc Mendonea.
Eutrando no exercicio dcste cargo, um dos
sens primeiros e mais louvaveis cmpcnhos foi
0 cstabelccinienlo de uma associacao dc pro-
fessores'ique pausadamente estude e aprecie
em cenfcreiicias regulares os diversos methodos
d'cnsino; defeitos ou vanlagens, que tenha
cada um; rcferma eu mclhoramenlo que re-
clame)
Para este Iim e sr. Mendonea ordenou um
projecto de regulamento de uma — associacao
de coitfercncius sobre o ensino primario — ao
qual cenvjdou a suhscreverem todos os mestres
do seu districto n'uma circular, que Ihes
274
dirigiu, clioia dii mui jmiit'iosasc hem cscriptas
pondtTa^^oes sohre a vanlagem e ncccssidadc
de unia tal associacao ' .
Por oulra circular o commissario dos Cistudos
do Fuachal reconiniendava aos respcctivos pro-
fessorcs o cxaclo cumprinicnto do regulamcn-
lo de 20 de septeniltro do INjO, (iiiaiito a
obrigacao do ensiuo rcligioso (|uc uas uschokis
d'aquclie districto so aciiava no uiaior c mais
cscaudaloso abaudono.
O pnsino religioso, dizia o illustrc comuiissario. e a cul
tura do iiui inhtinclu lia htimuiiidade — t:1u real coiiio qual
ijuer Dtitrii — I' o innis iui|mrlanle de ti>dii!>. Se t*iii tudos os
Ifinpos trni sido uma precisao dajiivcntude aciilliirad'c^le
instincto, hoje i.^ ella, mais que minca. de absuluta indis-
peDsahilidade.
Bern sabe V. quiio puucos jjaes e niaes, nos tempos cm
que vivemos, podem r tpierem (omar subre si a inslriic-
<;ao religiosa df sons fiUios. Essa, deixam-na quasi por in-
tPiro acargo do profesj^or do ensiiio primario. Ora, se este
OS nao ensina a respeitarem a reli^iao, como nao haja no
lyccu cadeira atg^iima que llies de tal eiisino, elles stirau
da escliula para o lyccu, do Itoeu para a socicdade na mais
crassa ignurancia das ^erdades que dizem resjieito a Deos,
a fe, e as cousas da outra vida. A qnanlo?: periiros os nao
expora no mundo lao funesta iijnorancia! Que esperanra
poden'i alental-us em meio dos trabaitios da vida! Que
podera esperar do taes liomens a socicdade ! . . .
Bern sei (pie philoso]ilios de certa eschola pretendeni"
queoensino reiigioso deve scr pura e exclusivaaltribuit^ao
do clero." — Nao creia em tal, sr. Professor. Bern longe
de assentir a uma doulriua que esla cm manifesta opposi-
^ao com a lei, fa^a po^capacita^-^e de (jue em nossos costu-
mes presentes, no estado actual de nossas inslilui^oes ha
considera^oesespcciacs desobra, que requerem na eschola
uni ensino reliijioso mais succulento e profundo tpie nunca.
Quanto mais livres furem as institiii^oes de um povo, e
quanto mais adianlada a civili-^at^ao que as tenha prodiizi-
do, tantomais puros reclamam ellas os costumes; eos costu-
mes SI) sao puriis quando teem por alicerce fortes convicf^oes
religiosas. Ora con\'ic(;(jes d'eslas sao effeito — on de unia
fe espontanea, ing:euua, primitiva, que ja hoje e mui rara,
— ou de uma iustrucijao conscienciosa e completa. — O
cspirito do seculo apoiita com itreferencia para esta seguu-
da fonte.
E se, p'tr uutro lado, elle tern — para assim dizer —
^lepurado a fe em nossa uatiireza immortal, esseacialmente
moral e religiosa; se conhece ([ue na humanidade ha um
senlimento poderoso, vivacissimo, o mais sublime de todos,
que »' o scntimenio religiose; porq\ie motivo lia de a S'>pie-
dadedeixar sem cultura este sentimenlo ? Porque nao hride
amparal-o, prolegel-o, Irazel-o quanto antes ao estado de
florescencia e fructifica<;ao? Porque nao hade tirar d'elle
todas as vanLagens que contem, assim para o indiA iduo
como para o estado, nesta como na otitra vida?
A ediica^ao da e^reja por si so nao piide fazer tal. O
mmistro do allar falla em nome da fi' ; o instituidor pubb-
co, cm nome da razau. Ora as condi(;5es da vida presente
sao taes, que so em mune da razao e (jue o espirito hade
curvar-se e prestar ouvidos as palavras da fe. Por isso diz
MnL^deSlael — «Ninguera d'oravanle podera remo^ar a
ura^a humaiia, senao fazendo-a turnar u religlao pela phi-
ulusuphia, oao senlimento pela razau.^
A par do ensino religioso o sr. Ribeiro de
Mendonca reconuuendava n'outra circular o
ensino moral, expondo aos professores a ri-
gorosa olirigacao, que tcm, de auctorizar esle
eusino pelo nieio dirccto, que e o preceito^ e
peio indirecto, que e o eiemplo.
* Veja-se o Semnnario oJjtHal do Funchal, n." 23 de 7
de outubro de 1854.
<) horaem. diz o tHll^l^e commissario, e ura ^er social e
perfectivt'l. Como si-r social precisa p6r-sc em harmonia
de ideas, de sentimenlos, ilcacivies com sens semelhantos,
morniente com atpielles qui' tenha mui?- ao pi';des:, e (|ue
;;oziMn asiMis olho» de maior auctoridade, Cumo ser perfec-
tive!, e de conliniit: propellido pur um muviuiento secreto
para e^'ualar qiianlo (■■.leja acima d'elh', para rivalisar com
faculiladeseforeas cpu' Ihe parei^am snperioros assuas, uma
vezijue nansejainsupperavel adistancia (luea-fsepara. Esta
dn|)lirada teudciicia e direccjao de nossa nalureza e a (jue
sc manifesta em nos pelo instincto da iinitarao.
A auctoridade, islo<', anctoridadr mnrul {i\uv e a deque
acpii se Iracta) e a preponderancia (|ue talvez tem em nos-
sas resolu^Hespeisoa que leidiamos em conla de malsnvnn-
tajada ([ue nds, em j»rudencia, probidade, e bcnevolencia
para coninosco — iJJiiraiite os primeiros annus da \ida,'t
■uiiz Reid,.4a auctoridade i' o nosso unico director: e bom
lit- (pie assim seja. A nao ser esta dis]iosi(;;"!o natural que
'Uios faz crer implicilamente em ludi) (luantu nos diL'am a^
iipessoas com quem convivenios, seriamos absolutamente
'tiucapazes de ensino, e aperfei<;oamenlo ulterior, '>
Ja d'aqui se \^ como se prendeni e I';ram enlre si as con-
di(;ries da effieacia do e\tMU| lo, cnn^-iiierado como mi*io de
educa^ao moral. A aueloi idade accorda o des»?jo de aper-
fei(;oam<'nh» individual ; o instinclode imllaijrio reali^a esle
desejo: nem o instincto scm a auctoriilade poderia dcsin*
volver-se, nem esta sem o iiislincto cdificar.
Eis aqui como o digno commissario dos
esludos no Funchal tem sahido comprehcndcr
beni a sna missjio, aconscliiamlo e dirigindo
OS professores cm todos os objeclos de que
mais parlicularmente depende o aproveila-
uhmUo dos alumuos, o a[)crfcicoamento do
ensino, e o credito das escholas.
N'outros poutos discipliuares o sr. Ribeiro
de Mendonca tem entendido com egual zclo
e diligencia. 0 regulamento da secretaria do
commissariado dos estudos, as circularcs diri-
gidas aos professores, exigindo-lbes o cumpri-
mento das diversas obrigacocs (^ue liies sao
impostas pclos regulamentos, e que nunca
linham sido ievadas a practica, e as providen-
cias sobre livros, mohilia, c mais objectos,
que nas escholas bem policiadas se requerem,
sao um testemunho claro da superior intel-
ligencia e dedicacao d'aquelle bcneuierito com-
missario. e abonam o actual systenia de in-
speccao, quando conliado a maos habeis e sin-
ceramente dedicadas pela causa do ensino
publico, e da educa^ao nacional.
X.
FRXGMENTO.
DA TRADUrrXo DO IV LIVRO DA ENEIDA
POR
Monoel Matthias Vieiva Fialho dc Mendoncci'
Oh Ceiis! mentiram
De lonffGs dias esperan^as fautta=,
E dura^&o de ilor ttdlieu mil friictos!
BOCAGE.
Pareceu-nos que fariamos bom service d lit-
teratura nacional, c sati^fariamos os desejos
275
(le rauitos dos scus amaJores, reimprimindo
no nosso jornal cslc fragnioiilo do uma tra-
duccao da opopea do Yirgilio, a qiial, se fosse
levada ao cabo, scria per Ventura, pcia sua
(idelidade jioelicn, pfcla sua concisao quasi
laliua, e pela harmoiiia nao iiUiMronipida dos
scus versus, a prinieira cm merecimenio dc
quantas se teem publicado nao so entre nos,
mas ainda nas liiiguas cstraiilias.
Foi uo auuo do l.SH c uo niui accrcditado
jornal poituguez, iniprcsso cm Londrcs, o In-
vesliijudor, que viu a luz publica csta exccl-
lente produccao (loctica. Mas na passagom ra-
pida e iniprcvista dos grandes aconlccimcntos
de nossos dias, 1S14 e para nos como que a
data de um seculo renioto; c o Invexli/jiulor,
sumido noprimeiro alvoreecr da nossa cpoclia
jornalislica, poucos haveia lioje que o conhe-
cam. Assim esla rcinipressao no tempo pre-
scnte pode reputar-se uma publicajao verda-
dciiamente nova.
Na introduccao que no Iiioestigador prece-
dia este fragmento, e que cm scguida vae
Iranscripta, da-se uma noticia biographica do
seu auctor. Scja porem permitlido a raao da
amizade iiel o accrcscentar algumas linhas a
lao intcressante noticia.
ManocI Mattiiias deixou por sua morle,
ainda em teura edade, um lilho unico do
mesmo nome, sobre o qua! se lixarani todos
OS cuidados da mais assidua educacao por
parte da sua magoada mac, senbora icspeila-
v«;l c bem conbecida nesta cidade de Coim-
bra, 0 cujos talentos, nao vulgares no scu
sexo, sac apcnas excedidos pela sua muita
piedade o virtudcs. Abencoou Deus os desve-
los maternos, fruclilicando-os no filbo com
^entimeutos nunca desmentidos de solida e
fervcnte rcligiao, com extremos de amor filial,
p com rapido e brilhanle adiantamento nos
.estudos a que se dcdieou. Manoel Matthias
Yieira, bibo, cursou a faculdade de mathema-
tica dcsta universidade, na qual se formou e
loi repeteute, tornando-se uella distincto pe-
lo seu procedcr e pclos seus talentos, sendo
premiado cm todos os annos. Foi tambem
um estudaute distincto na faculdade de philo-
sophia.
Um novo golpe estava porem reservado
ainda para retalhar o coracao da pobre mae.
0 lilho unico morreu no dia 29 d'abril de
1834, aos 25 annos d'edade! Jaz na capella
do exlinclo collegio de Sancta Rita desta ci-
dade.
Na dupla »iuvez de um lal esposo e de urn
tal blbo, qual seria a dor da viuva fiel c da
mSe extreraosa?! Repetiremos aqui o que Ihe
diziamos n'um anniversario da morte do lilho:
A. dor que o coracao hoje te punge,
Qiicm pode avalial-a? — Tem mysterios
Ai)S coracocs de mae so revelados
Niio ha na terra balssjuo que a adoce;
Deus, Deus somente confortar-te pode:
Gralo ascinzas do aniigo, tristes lagrimas
IJoje lis tuas uni; e orei por ellc!
F.
INTRODUCClO.
«Na minha opiniao, diz Mad. de Stael na
sua bella obra da Allcmanba, failando dc
Klopstock, todos OS homens cumpririam di-
gnamcnte com os deveres da vida, se cm
(]uul(!uer goncro que fosse, procurasscm as-
sigiialar a sua passagem sobrc a terra pela
cnipresa de algum nobre objecto ou de algu-
ma grande idea. E com eficito ja uma honro^
sa prova dc character, o dirigir para um unico
lim OS raios disperses das suas faculdades,
e OS resullados de todos os seus trabalhos.»
Neste caso devemos considerar o auclor deste
Fragmento. Eraprehendondo uma obra de tanto
IraJialho e honra, nao so pessoal, mas para
a sua mesma patria, tem direito a raerecer a
gratidao nao so daquelles que o conheceram,
porem de quantos lerem esles restos dos pro-
ductos do seu iutcndimento. Ate mesmo nos
parece, que a circumstancia de haver sido
cortado em flor, e de haver como o cysae
completado a carreira da vida no meio das
harmonias do seu canto, deve concorrer nnii-
to mais para estiniarmos a sua mcmoria, t:
bonrarmos seus escriptos. Em ccnsequeucia
destes priucipios, e por sahermos quanto a
certas pessoas sera grata csta nossa publica-
cao, com muito gosto a vamos fazcr, dando
previamcnte uma breve idea do auctor, e dos
seus trabalbos littcrarios.
Manoel Matbias Vieira Fialbo de Mendon-
ca, nasceu era Cabanas de Torres, termo da
villa de Alemquer. Seu pac foi o dr. Manoel
Vieira de Mendonca, que seguiu a JJagistra-
tura, e que, sendo despachado juiz de crime
da Babia, levou comsigo seu lilho, de edade
de seis annos. Di^pois dc haver alii servido
OS logares de juiz do crime e corrcgcdor,
arnda que Ihe coubesse entao ser desembar-
gador do Porto, como se achasse ja adiantado
em annos, e nao se quizesse cxpor aos novos
incommodos de viagcra, preferiu ticar na
America, viveado como particular ale a sua
morte.
Os prinieiros estudos de ManocI Matthias
foram por consequencia na Babia, onde teve
por mestre Jose Francisco Cardoso, auctor do
Canto de Tripoli; e e muito para louvar que
nunca se esqueceu dos disvelos, com que o
educara, porque con.servou sempre por clle
mui singular aflecto e estimacao.
Nos seus primeiros annos compoz Farias
oliras, ainda incorrectas por falta dc espc-
276
rioiuia, mas que jii annunciavam lorra de
tiilenlo; estas foraiii iim drama f^alanto, com-
imsirao orif^iiial; pinlai'os do traduccOcs das
SToryicas de Virgilio, e varias outras cnii^as
tjuc luinea se imprimiram. 0 scgundo tomo
das suas Rimas, ainda <iue improsso dopois,
foi composto ncsse mcsmo tempo, on todo
oil ([nasi todo; e per isso hem indicani, que
0 seu gcnio ainda iiao ostava assas dcsinvol-
N ido.
Deliberou-se a vir a iinivcrsidade de f.oim-
l)ra foiniar-se cm leis, e cmliarcou; c lia
dellp iim idilio que compoz ao auseiitar-se da
Baliia, no qnal so devisa ja essa ospocie dc
melancliolia e sciisibilidade, que dc ordinario
cliaractcrizam o pcnio.
Clicgando a Coimlira, iiao se contciitou sim-
l)lesmentc com estiidos jiiridicos, cstudou geo-
melria, pliisica c liisloria natural. Era incan-
cavel no estudo da lingua porlugueza. saliia
muitas oulras; e na latina foi na realidadc
cniinenlc. A sua alma insaeiavcl de conlie-
limcntos, nao podia limilar-se a csle ou
aquelle ramo, queria sai)er tudo, e formando
por conseguinte uni vastissimo piano dc estii-
dos, esle Ihe custou a pcrda da saude e da
vida. Muitos dos nossos illustrcs sabios c lit-
teratos o conlicccram, e nao sera por tanto
I'ora de proposilo rcferir o que um dclles, o
sr. Jose Bonifacio de Andradc, disse fallando
da morte dc Manoel Matthias: — icxcellenle
coracao ! capaz de tudo o que era grandc, bello
c sublime ! Ja os sens taleutos llie baviani attra-
liido um grandc numero de amigos; mas foi
mui apressado em sens trabalhos, e a cxlre-
ma actividade do seu espirilo Ihc ralou a
existeneia! Eu pcrdi um amigo, c a naoao
perdeu nuiito.»
Em quanto frequentou a universidade, da-
va-se ao mcsmo tempo, nas suas boras vagas,
ao estudo da poesia e bclias Ictras; c foi
nesta cpocha que elle fez a sua bella traduc-
rao da tragedia de Alreo por Crcbilion , a
qual OS estiidantcs representaram em Coim-
bra, e dcpois se imprimiu no tomo primciro
das suas rimas. Parte do que se eontem neste
volume nao e de grande merecimento, e o
ine>mo auetor o conliecia, arrcpondido dc o
liaver lao cedo publicado. 11a com tudo nellc
cousas excellentes, c cnlrc eilas apontarem-
o.'- a traduecao do primciro canto do Heine-
(lio do Amor, de Ovidio; a carta de Sapho,
em que ba mui bcllos versos; as odes a guer-
ra, e a sua ailcza real o principe regente; c
as caiilatas de J. B. Itousscau.
A traduecao da Eneida de Virgilio deve-sc
contar como um dos mais distinctos dc lodos
OS scus traballios littcrarios; infelizmcnte se
perderam na invasao franccza os tres pri-
meiros livros com a maior parte da sua livra-
ria, e quasi toda a sua casa. Nem se qucr
podeudo, como Camoes, salvar no meio da
dcsgrafa os fructos do seu intendimento, ncm
como Bocagc reslaural-os — cow opromjito uu-
xilio (1(1 fiel viemoria, — porquc a morlc Iho
impediu, restou-lbc so cstc fragmcnto do iv
livro, quo foi acbado outre ruinas, precur-
soras ainda de outra mais fatal, — a morle
do auetor. — Vc-sc pois, que circumstancias
tao notavcis dcvem fazcr mui circiinispcctos
OS leitorcs, quando hajani de censurar ([uaes-
(|iii'r imperfcicocs que nelle so cu'^ontrcni.
Ncsli" mcsmo dcsastre so llie perderam oulras
muitas obras, tanto originaes como Iraduzi-
das, (]ue muito bonrariam a sua mcmoria ;
[inrquc neilas de ccrlo havia algiinias dc um
nuii reb'vante merecimento.
Manoel Matthias formou-se (inaimenlc em
leis no mcz de jullio de 1807, c casou-sc
no anno segiiintc. AV?o iiuercudo, como die
dizia, senuo servir o sen principe, tanto (|uc
viu Portugal occu])ado, c dominado por tro-
pas cstrangeiras, largou o seu antigo dcsignio
de scgiiir a magistralura, c foi cstabelecer-se
cm Santarem como advogado, rcgeiido ao
mcsmo tempo uina cadcira de latim.
Entrando cm uma carrcira nova, todas
as suas facuidades se voltaram para hem a
descmpeniiar. Applicou-sc absolutamcnte a le-
gislacao patria, e nisto gastou tanto cabedal
de saude, que bem se pode dizer, que foi
uma das causae da sua morte prematura. Os
sous motives cram mui nobres; pon|uc desti-
nandn-sc a dirigir os scus concidadaos em
todos OS sens embaracos e contendas civis,
julgava ter contrahido um dever sagrado de
.se constiluir capaz dc bem os aconselhar c
conduzir: e na verdade a recordacao de tao
virtuosos scntimentos deve fazer-nos mui sau-
do.sa a sua mcmoria.
0 resultado dc todos cstes trabalhos foi a
composicao dc um Diccionario Juridico, (juc
deixou quasi acabado; c que certamcnte com
mais aiguns mczcs dc vida teria deixado com-
pleto, ])orque ja mui doente nao ])odia ven-
cer-se de nao Ihc consagrar aiguns momen-
tos, chamando a esta vioienta applicacao ura
gosloso entrctcnimento.
Existe ainda do mcsmo auetor um Canto
Ileroico, dedicado aos portuguezcs na grandc
epocha da restauracao, o ([ual foi imprcsso
em Coimbra por ordem de qucm entao a go-
vernava. Outra obra tambeni de grande mo-
meiito, que cmprcbcndcu, c a traihicciio do
Saliustio, (|uc prineipiou, quando cstava refu-
giado em Lisboa na invasao de Massena; mas
della apeiias restam fragmentos, escriptos com
tudo com tanta clegancia, que tem merecido
OS louvores dos intcHigentes.
Eis aqui pois como empregou Manoel Ma-
ihias 0 curto pcriodo da vida, que na reali-
dadc abbreviou peio iiuansavel espirito que
tinha para trabalbar e instruir-se. Uma fcbre
hectica, consequencia destes dilTcrentcs cstu-
dos immodcrados o levou em Iim a sepultura
na florente edade de trinta c tres annos, aca-
277
bando OS sous Hiiis, cm Coiml)r.i.
ik uoite de li de abril Je 1813,
9 lioras
Ja cuidado morlal magoa a Dido,
Fogo devorador, fcrida occulta
Nutrc donlro de si' na menle pinta
De Eneas o \alor, nolireza, e fama;
Gravou uo coracao feicoes, palavras,
D'eilas a imagein Ihe al'ugenla o somno.
Mai c'o'a Plicbca luz aurora nova
Dos ccos al'iigpntiira liumidas sombras
Pela terra esparzindo o claro dia,
Victinia da ])ai\ao, dclirio toda,
Co'a lida irma d'esta arte desaiiafa.
«Anna, i)arbaros sonbos me borrorizani ! . .
"Que extrangeii'o pousou em nossos dimas?
«Que geslo! (pie valor! que lieroicidade!
"Crcio, cnao creio em vao, deuninumc e prole:
«As almas baixas o temor denionstra.
"Eneas arrostou perigos, fados,
iMilgiierras cnii)relieiideu, (indou mil gucrras.
"Ab! so immo\cl tencao me nao vedasse,
I'Sc laros conjugaes me fosscm gratos,
'iSe em odio nao tivesse o toro, as laxas,
"Desde que. nic; illudiu, desde que a morfc
"No men prinieiro amor Irustrou mens goslos;
"Seria esla all'eicao meu so delicto.
■ Eu t'o confesso, irma: desde que o sangue,
■ 0 sangue de Sicbeu, do infausto csposo,
'Vertido polo iniiao tingiu meus lares;
"So elle, amada irma, so pode Eneas
"Fazer doce imprcssfio em meus scntidos,
.<Fazer-me vacillar, mover minba alma.
■, Vestigios sinto em mini da antiga flamma . . .
Mas por gmgaiitas mil me sorva a terra,
■ Raios de .love ao tartaro me arrojem,
' Lii oiule e liido liorror, c sombras tudo,
Antes do que \iolar com meu perjiirio
■iTuas sagradas leis, pudor .-iagrado.
"0 primciro que a sua uniu minba alma,
Meus aniores roubou, comsigo os guarde,
■ Do sepulcro no liorror com elle liabiteiu.u
Disse: I'urvido praiilo assoma aos olhos,
Prauto que em borboloes Ibe inunda o scio.
«0h til, que cii prczo mais quo o ser, que a vida,
(Anna Ihe respoiideu i " na llor dosaiinos
«Hao de ralatar-tc a misera existencia
dTristeza e solidao? sem tu gostares
<0 prazcr de beijar mimosos lilbos,
'Delicias com que amor aos sens premcia?
"Pensas que no sepulcro cinzas, manes,
"So recordam de ti? Dos teus pezares
'lEmbora nao triumpbe em Lybia em Tyro
«Iarbas e chefes mil d'Africa adusia;
«Insensivel despreza os seus extremos:
«Mas contra a inclinafao nao lute Eliza.
dNao pensas em qual terra csta tcu reiuo?
"A Gctulia daqui, nacao valente,
• [uvcncivel nacao; daqui tc ccrcam
"Numidia iiifreue, inbabilavcis syrtcs:
«Hodeiam-te d'alli Barceos ferozcs
(cAridas regioes, desertas plagas.
iiGuerras quantas surgir cu vejo em Tyro?
iiAmeacas I'ataes do irmao nao temcs?
(lAuspicios divinaes, favor de Juno
nlmpelliu para aqui baixeis troyanos.
»Ap6s consorcio tal teonde, obDido,
"Elevar-se veriis teu grande impcrio?
■ Troyanas armas reforcando as Tyrias,
"Tc onde se ba de alcar a gloria nossa?
"Aos names so te cumprc orar piedade,
"Dar ao lieroe bospicio, e cullo as aras;
"Cumpre-te dcmoral-o, urdir pretextos,
".la c'os perigos da intractavel ([uadra,
"Ja pon[ue rotas naus reparo exigem,
"Ja porque sobre o mar derramam furias
"Cbuvoso Orion, tormentoso inverno."
Yozes taes dao mais fogo ao fogo antigo:
Fogem receios, surgem-lbe esperancas,
Os hifos do pudor pai\ao desata.
Eil-as no tempio assomam, e ante as aras
Orando auxilio estao a Baccbo, a Ceres,
Creadora das leis, a Pliebo, a Juno,
Dos lacos conjugaes propicio nume.
Ritual sacrilicio as aras tinge:
Sobre a fronte de Candida novilba
A pulcherrima Dido as lacas verle,
Gyra entre as pingues aras e ante os mimes,
Instaurando oblacoes da dia em dia ;
Rolos peitos de victimas consulta,
De palpitantes visceras no agoiro
Avida anceia ler futuro occulto.
Ob sacrilicios vaos! ignaros vatesi
Que valem contra amor o tempio, os voiosi
Lavra de veia em veia a labareda,
Vive aberto no peito o goipe occulto.
Ardc Dido infeliz, sem tino vaga:
(Jual cerva onde o pastor deixou cravada,
Sem .saber que acertou, a alada sella;
Ella discorre a selva, o monlc, o cam))o,
0 letal passador Ibe afferra o lado.
Dido a Eneas conduz por entre os munis.
Os sidonios ibesoirus, a cidade
One Ibe destina, jii Ibe patenlea:
Comeca a declarar-sc. . . e socobrada
No nieio da expressao se prcnde a falla.
Ao Iransmontar do sol festins inslaura.
Mil vezes pede, anbela ouvir trabalbos,
Ouvir Troianos feitos, c mil vezes
Dos labios do que os conta, est.i pendente.
Separados era fim, ja quando a lua
Sepulta os luraes seus no escuro occaso,
E OS aslros que se poem, couvidam somno--,
No vasio salao sosinba, triste,
.Vusente Eneas ve, ausente o cscuta;
Pousa onde elle pousou, ao peito aperia ,
Co'a mente so no pae Ascanio amima :
278
Liila por cngaiiar iiaixao teirivol.
Npiu coniefadas luncs vao suhindo,
Norn mocidade jii sr cxcrce cm annas;
Saspoiidom-so, iiUerrouipcm-si; trahallios,
l)i' amcaijadoras dc soix-rbas moles,
Ivlilii'los,' caslcllos, pni'los, muros.
Tanlo ([lie Juno viii do Eliza os males,
Que nem faiiia, mi remorso a amor obslavam,
iV'sla arte a Venus diz: ..Ampla vietoria,
. l.nuvor eiiregio, menioravel nome
.. Ganluim ViMius, o amor, se os dolus d'anilios
i.Vemineo, fragil peilo avassalaraui! . . .
„Sei ipie d'alla Carthago os altos muros
..Siispeitosos te silo, le sao temidos:
K.Mas ([ual lermo liao de haver eomiiates tanlos?
"Kia, OS lacos da paz travemos ambas,
«E OS lacos'dc hymeucu: goza oqnc anlielas.
"Arde Dido, a paixao Ihe eala o peilo:
> Dado Ihe seja unir-seao i)l)rvgiu esposo,
.. I'ju dote Ihe reeebe os T\ rios reinos,
nLin povo formcm so Trojanos, Tyrios,
(.Com podercs egnacs n'ell;; imperemos. -
Com tal simulaeao falou Saturnia:
Quer na Libia reler da Italia o rcino.
Venus prcsenlc-a, e diz: ..Quern pode insano
"Os tens dons desprezar, querer tens odios?
..Possa a forluna prosperar tens volos!
«.Mas 03 I'ados ignoro; se apraz a Jove
(.Que a mesma plaga habitcm, queseenlaccm,
(.Que reja a mesma lei Troianos, Tyrios.
(.Com preccs tenlear do esposo a menle
<-k ti so cumpre: scguirei teuspassos. »
..Tua soria hei dc ser no mesmo empeulio,
(.Saturnia Ihc lornou atteuta adverte,
,.Qual lim disponho a urn proximo successo.
(..\. miserrima Dido, o heroc troyano
...V pomposa raeada eslao dispostos,
..Apcnas de Tita'o snrgiiido a fronle
..As terras aelarar e'os seus I'ulgijrcs.
((Quando tremuhi rede orlar as selvas,
('Sobrc dies soltarei chuveiros, nevoas,
(.0 polo atroarao trovoes medonhos,
(rNos ares soltarei da noite as somhras.
(.Mai for ua escuridao di-persa a turba,
(.()s dois abrigara propieia gruta;
cUvmen alli sera, serei com dies.
(.Se teus votos sao taes, consorcio cstavd
(.Ao Troyano a dara, sera so delle.a
Cvthereia annuin de Juno as preccs,
Dos'ardis que entrev(i surri-se a Deusa.
Continua.
MOSTEIllO DA VACCARICA.
C'.jiilinuad.) de |iag. 246.
O segundo fundamento, a dcnominacao de
..Uegra Sancta" eomo exdusiva da regra de
S. llcnto, 0 uuieo de imporlancia para o sr.
Miguel Kihoiro, mereeo, e verdade, mais'
cousideravao, mas assim me.smo ainda me
deixa algunias duvidas, quo dcsejara vcr
dissipadas.
0 Dieionarifl de Du-Cange tem eonio syno-
nymos regra saucta e regra de S. Uento, I'uu-
dando-se ua auctoridade de varios auctore?,
que. por oecasiao de fallarcm ua regra de S.
lleiito, a deuouiinaram regra saneta ' ; e o
Diccionario Universal, iuipresso por ordem dc
.Miinseigncur Prince Souveraiu de Dombes,
tambem diz (juc alguns auctorcs tcmchamado
ri'f',ra saneta a regra dc S. Bento'. .Mas n(j
Dieeiouario da Aeadeniia Franecza ', no Dic-
cionario da Aeadeniia Uespanhola \ no Diccio-
nario Liniversal das scieucias ecclesiastieas ',
e u'onlros (pie pude eonsullar, a palavra-rcgra
— applicada ao regimcnto do ser\i(;o dos cun-
vciitos, tern uiua signiiieaeao comiiuim iis dif-
lereules ordcus rcligiosas, trazcudo-se para
cxem|dos a ordem de S. Uento, e indistiiieta-
uieiite as outras ordens rcligiosas, .seni nunca
se I'allar em regra saneta.
Este ultimo adjectivo, (juc, nos docunientos
jii meucionados do Livro Preto, se acba ligado
a regra do .Mosteiro da Vaccarica, tambem
alli se encontra qualilicando as localidades
d'este mosteiro e do de Leca, tratando-os
como logares sanctos'. E nos mcsnios docu-
nientos do Livro Preto uao so i'alla da regra
saucta d'um modo tao iuvariavd, ([ue possa
desigiuir a regra ou ordem do Mosteiro da
Yaecari(;a ; luas adopta-se igualmente a expres-
sao de vida sa.icta, de vida mouastica, etc.,
para se expriiuir talvez a moralidade, a linha
de condueta. ou regra dos nionges .
' GI.^.(sar"nnn ml scriplores media' el infiinrr latini-
tatis. .Viit.^r.'('ar..|.iOiifreisnc, D^'niinoDiiCarifie — Ilegiila
Saiiela, eadeni. (piu' S. BenedicU Ke;iiila Saiic-
toriini |ialriim. S S. Benedicti scilicet et C.iluiiibani.
■( Dicci.inaire Universel Fran(;ais el Latin — iinprimt'
par ordre de A. A. S. Munsei;,'neiir Prince S..iinerainde
OMinbcs — 17'il. La Uegle de Saint l^jiioit, (pie (pielipies
Aiileurs ont appdl.'e Ile^Ie Saint.
■* Nunveail D.cci.inairede I'Acadeini.' Francaise — 171H
. . . (in appelle a.o.si, Rejrle, les Slaluts (pie le> Ileli^iienx
d'lineOrdre sDiil .dili^ezd'abserver. I^a lte;;ledeS. Bazile.
ia Ile):Ie deSainl Angnstin, la Regie de S Benoisl, laRefifle
de S. I'"ran(;uis.
* Dicciuuaria de la Lensoa Castellana .... compiiesto
p.ir 1.1 R. Aca.l.'inirt Ile-ipa'ola — ITM — Re^la se llama
tainbien la le) iiuivei'^al, (pie C'.niprehende lu snbstuncial
(pie debe i^bservar iln cuerpo relifti.iso.
^ Dicciunaire Lniversel, diigmatiipie, caiioniqiie, his-
tori(iue, geo;:rali'pie, el cIir.inoK.gi.pie des sciences ec-
clesiastiinies . . . .par le R. P. Richard — ITIil — Regies
in.inasli.pies, se dit des Ijix qui sout observ(5es dans les dif-
ferents urdres R./lisjieiix.
* Ego aiicila christi vita domna coguomento trastina
.... concedo ail ijisHm I.iciim sancliiin, et fratribus qui
ibi perseveraverint medietatem integram .... Anno 103S.
Livro Pret.j fulli. (J6 v.
. . . Ego . . . didaciisdaildiz . . . teot.i et conced.iad ipsum
locum sanctum, et vobis tudeildo abbati, el fratrilms ve«-
tris, ipii ibi liabitanles fuerinl . . de villa mea nominala,
quani niincupanl leoveriz . . 1034. Livro Preto — folh. 9*
V ■■ja-se jia^'. iTJ' — not. da 8." ciA.
279
Tenilo pois d'um lado as auctoridades de
Uu-Cange e dc Souvcrain de Dombos, que
tomam como rogia sancla a rogra de S.
Bento, e tendo por oiitro lado a omissao dos
outros dii'fionarios a cste respeito, c a cnnsi-
derariio de que nos documentos do Livro Prelo
nao se enconlra so a expressao dc regra .sanc-
la, mas lamhem a de vida sancla, e ate a de
logar sancto applicado ao logar do mosteiro;
e, se altcndcrnids alera d'isso a que na pri-
niitiva OS niosteiros se regiani apenas por
iusliuceOes voiaes de seus insliluidores, co-
mecando a adoptar-se a regra escripla nas
dill'erentes ordens religiosas so dcpois da
insliluicao da regra de S. Benlo'; se alten-
dernios linalniente a que csla regra nao tinlia
nenlium lilulo que llii' conl'erisse a denoiiiina-
cao prceisa de regra saneta : podera algueni
indinar-se a que a expressao de regra sane-
la, applicada a ordeni de S. Bento, nao era
a designacao precisa da respectiva regra, mas
scrviria para cxprimir o bom comporlamcnlo
dos monges, ou a sua vida sancla, nos nios-
teiros cxcniplarcs ou n'aqueiles logares sanc-
tos; c que estas cxpressoes, por vaidade ou
imilacao, se deveriam propagar nas oulras
ordens religiosas, que. nao leriam em menor
conta 0 comportamento dos seus moiiges, a
regra que os dirigia no caminlio da sanctida-
de, ou a sua regra saneta.
0 oulro iundamento, dc que falla o sr. Vclho
de Barbosa, isto (i, a escriptura de compra c
venda, em que o prcsbytero Bandullo c o
monge Pedro, exprinieni o seu respeito ao
abbade Todeildo d'um modo semclbante a
Corniula da [irolissao recommendada na regra
lie S. Bento, tera menos importaneia, lalvez,
sc atlendermos a que forani modeiadas pela
legra de S. Benlo as regras cscriptas das
oiitras ordens anligas, e que a formula do
juramcnlo das prolissoes deveria ser urn dos
pontes mcMos allerados nas differentcs regras.
Na impossi!)ilidadc de I'oruiar opiniao segiira
a este respeito, entrego lodas estas cousidera-
eoes a judieiosa critiea das pcssoas comi)eten-
los. Mas, se ainda subsiste a forea dos fun-
danientos com que unanimemente se tern re-
pulado de .S. Bento a ordem dos monges da
Vaccariea, eneonlra-se a deiuonstracao n'unia
grandc ])arte d'aqiieiles docunieutos do Livro
I'reto de todo o seculo XI. Km ([uinze doeii-
iiientos achei o preiado da Vaccariea com o
IratanK'ntn de abbade; com o tralamenlo de
prior em dous; e com o tilulo de preposilo cm
seis. X regra do mosleiro, o comjiortamento
dos monges, ou a sanctidade da sua vida
elaustral e a sanctidade da propria localidade
do mosleiro, acbei-as meneionalas em quatorze
documentos designadas com cxpressoes— regra
' DIcciiHinHirc Viiiversnl, ilDp^maliqiio, cannniqiie.his-
luriitiie, jL'DirrspiiiqHe et chronuloffiiine <lf s scienr^ji ec-
cli'.*la.^ti(iMes . . . P.ir le II. I'. Iliciinrd (j;i cilad-j^).
sancla — vida saneta — vida monastica — e logar
sancto ' .
0 convento da Vaccariea foi dos moslciros
duplices da anliguidade, onde viviam trades
efreiras, era reparlicoes separadas; masexer-
ccndo 0 ollicio divino na mesma igrcja, em
coros dilTerentes, ou no mcsmo euro; senda
n'alguns niosteiros a oracao communi, e orando
n'oulros cm separado.
' O.'andiniKs . . . vel Sandirius Diaconus . « . plncnif
nobis lit faccrcQius .... ahhatcni anderias . . . cartiilatn
te.slainenti .... si in vita sancla perseveraverit . . . nisi
qui ill \ita saneta perseveravprit . . . Aiino de Christo dr-
do 1002 — Livro Prcto — folli. fil.
. . . abbatlhiis aiit munachis aiit fratribus. qni in \ila
sancla perseveraverint . . . 1003 — fulh. Gli.
. . . e'^o fanmlij del reseinundo ... lit faceremua vobis
eiuiliaiio abbati et colatiuni nionasterii vaccariec qui
in \ila sancla perseveraverint carliilani teslamenti do tiere-
ditato mea quam liabeo in ^ ilia ricardanes . . . lOlH —
fulh. 60.
Ei;o . . . licet indigniis zalania pbr tibi iiiiliani abliali
et ad fratres qui ibi semper in vita sancla perse\erav('riiil
. . . una— foih. 5a V.
. . . et ad ipsiim abbalcni d.jiiuiin tiuleildiilil, el fralri-
bils suis qui in victa sancla perse^eraveriot, et niunasli-
cara ^ilam deduxint . . . 1018 — fulh. (^'^.
. . . vobis todeu;riUlo abbati . . 1021 — folh. 7'i v.
. . . et vobis tudeildo abbati, et fratribus vestris qui in
vita sancla perseveraverint . . 1032 — folli. yo v. ja cilado,
. . . cenubiu vaccariza ad pbroset ad frs(pii ibi moranles
fuerint, et vitam sanctani deduxerinl . .. et vobis abball
domno (lorite . . . 1036 — folh. 45.
. . . pro tolerancia fratruni hospitiim pregrinoriim. ipii
in vita sancla perseveraverint, et monasticam dedii.veriiit
vilam . . . 10311 — folh. 95.
. . . ludeildiis abbas in cenobio vaccariec . . . ipse
abba solam cum coUeijio monactiorum et fratrum qni sub
sua re^^nla saneta dediixerint . . 1040 — folh. 55 v.
. . . habitantc {^undisalvo aiihate in cenobio vaccariza
. . . cum coUeirio inonachorum et (ratruni, qui sub sua
regnla sancla deduxerint. . . 1040 — folh. 71 v.
. . . ep:o jhones una cum fratribus meis . . . concedinius
monasterium saiirio cum jacentiis et a prestationibus siiis
vobis llorile abbaet ad fratres vestros, et ad monasteriiiui
vaccari(;a, qui in vita saneta perseverare vohleril el mo-
na4icanl dediixerint vilam . . 1043 — fulh. 41 v.
... si bonus fuerit et in vita saneta persei eraverit . . .
1045 — folh. 69.
D.miino nosiro tudeildusabba ] actum siiuul et | l.Tcifuiii
facio vobis fratribus liostris llorile preposilus, et frairibus
tuis de cenobio vaccariza . . . 1045 folh. 78 v.
. . . ad prehenderit sine benedictloneabbatis, vei sancla
commune reirule habeas potestatem supper nos{proniessa de
obediencia dos frades ao abbade) . . . . 1045 — folh. Jiii.
. . . et pairi florido abbati . . . et alvito pbro, |ireposilo
vestro. et.con!:regaiioni cenobii Aaccarice . . . 1047 — folh.
04.
. . . Vobis atvitn abbati . . . et ildras ]>reposilus ( uiii
da Vaccari<;a e ontro de Leca) . . . 1055 — foIli. 54 \ .
. . . monaclios. el ad fratres qui \ilam sanclam | erseir-
raverinl . . . 1078 — fulh, 44 v.
. . . Ejo Eseineo friirlunio prolis pariter cum umtc una
siizana . . .jubeniiis per leauiis prejosili nostri, vel (htmii.
jielro abbali . . . iinum mulinum cum sua varzena . . . pro
i,M!bernatione fratrum vel sornrum qui in ordine sitiiclo
perseveraverint .... 1079 — folh. 50 v.
. . . Hoc placitum confirmare inter se elep-ernnt zoleime
pbr cilicet prior vaccariec cenobii sancti vincenfii. et
^'uiinus presbyter .... predict! priorisde ncisterio de leya
vocabulo . . .1091 — folh. 84 v.
. . . eRO raniinis vaccarienjii |iriur c uifirinn. fjn eidi
david filiiis prior leze cesobii confirnio . . . 1(HI3 — f"lii.
C5.
280
A tibjcuridado da >ua |ii>hii'ia atf an lim
do scculo X nao iios pcrmiUc saber jp logo
iia sua instiluijao I'oi iiiosloiro d'esia iialiiic'/.a.
Dosde 1003 ale lOSIi'vem moncionados os
I'radcj c frciras da Vaccarira cm varias doa-
focs e outros dociinicnios do Livro Prclo ; domic
se podc colligir qiic lora mosloiio du[)l('\ jior
Indo esle scculo ale a sua I'xlincrao; nao so
por teioni deroirido apcnas oito anuos de
lOiST) alt' 10',)'i, M>ni apjiarcciT nouliuni docu-
iiiculo I'lu conlrario; mas aiiida ponjuc a
aholirao dos mosti'iros duplicos toni unia data
nniito posterior ' .
C'ontinua a. a. da costa SIMOES.
Cotij. etn long.
2 0 i -"lOi'SO'S
« c ; 7. IS. 11,4
Re? 7.19.39,6
Jdiivimentot hor. em long.
« + 4' 33
? + 3,12
/ + 1,97
rtiff. lie lii(.
J — /— 28'0
r_;_ 0,2
^<— 2+30,3
Mov . hor. cm lul .
+ 0'383
+ 0,000
■f 0,H)14
ASTRONO.MIA.
No dia 7 do fevcrciro ha de observar-se um
d'aqucllcs phonomenos, que Lalaude eluuna
f/randes conjunct-ucf Jos plinicliis, e que, sem
influencia alguma sobre a lerra e sous hal)i-
tantes, devc com tudo despertar a allencao
dos curiosos. Sao as conjunrcoes dos tres pla-
nelas, Mercurio, Venus, e Marie, dois a dois,
0 a pequcnas dislaneias iins dos oulros.
0 ealculo, feito por um dos collaboradorcs
da Ephemeride de Coimbra, da os seguintes
lenipos das conjunccoes verdadeiras dos Ires
astros, as respeclivas difiereneas de latiludes,
0 OS movimenlos liorarios:
' . . . . Adicimus ibidem doniine ,id*ipi^ii)s sacro snnc-
liiiu . . . et venerahilem tenipliiiii, (jui sunt pni velatiiinf
siTvorum, vel ancilaniin . . , Anno Io03 — I.i\ . Pr. I.dli.
til! (ja citado).
. . . Vobis tndengildu abbali i-l fratribus el suroribiis
habilantes in monasterio vaccariza . . . lo'il — folh. Ti v.
ya citado).
. . .damus. . . iit tolerantiaSit fralribusetsororibusibi
prcseverantes . . . 1034 — fuhl. U6 i . (j:'i eitado).
. . . qui sunt pro velaniine servoruni vel aacilarum
ilei . . . lO-H— folh. 62.
. . . utladse.'voruni\clancilarum dei . . . 1043 — folli.
till, (ji citado).
. . . .\diciraus ibidem domine ad ip.«iiis sacrosanctnin
lel vcnerabileni templum qui .sunt per volamcn nervorum
vel ancilarum deo de servitio . . . 1047 — folh. 64. (ji
eilado).
. . . E«;o unisco . . . vobis todeogildo abl)atti et fralribu
i:t Mororibushabitanle.'. in monasterio vaccariza concedimua
vubii 1032 — folh. Ti V.
. . . pro sobernatione fratrum vel sororuni qui in
nomine sancio perscveraverint 1079 — ftlh. 50 v.
. . . ut habeant et pos.sideant fratres et sorores (|ui ipsum
locum sanctum oblinucrint 1086 — folh. 40 v.
^ In nullo loco nionachos et monachas permitim uno
monasterium habitare; sed nee ea, qua' duplia vocant. El
si quod tale est ; reliftiosns episcopus mulieres quidi m in
«llo loco manere sludeal; nionachos aub' aliud monaste-
rium edificare coRat. Si autem plurima sint talia nionns-
teria : separetur in aliis monasteriis nionacha-, el in nliia
mouachi : res autem, qua* habent communes, secundum
joraeis competencia dislribuantur. — Decrctum Graliani
— Ligdviii 1584.
Itigorosamenle a observaeao em tini logar
exige a passagem das conjunccoes verdadei-
ras |)ara as a]ipareiites; mas a corrcccao e
aqui de pouca iiniiorlancia , por .serem pc-
quenas as jiarallaxes dos iros astros.
Procurando com esles elcmentos as epochas
das miiiinias dislaneias, acbam-se, com dil-
I'ereni'a de poucos minulos, as inesnias tpie
as das conjunccoes, nienos em quanlo a -. c ?.
para os quaes c proximamente
Ejioeha da min. disl. 7'' 12 ' 41' Min. disl. 29 0.
•Mlendendo pois a estcs valores; aos movi-
menlos liorarios dos tres astros; aos tempos
medios, ti''23' da tarde e 7' iJ2' da manlia, do
seu occaso no dia 7 c nascimento no dia 8;
e aos tempos, o 24' da tarde e 7''4' da ma-
nhii, do occaso e nascimento do Sol nos mesmos
dias: v6-se que, principalmenle ao anoilecer
do dia 7, e ainda ao anoilecer do dia 8, .se
poderao observar os tres astros a muito pe-
quenas dislaneias nns dos outros.
Na astroiiomia de Lalande cilam-se nniilos
desles iilieiiomeiios, como foram : a approxi-
maeao, que, scgundo os livros chins, tivera
logar entre alguns ]>lanetas iniiilo antes da
nossa era; a de Mercurio, Venus, e Marie.
i|ue se viaiu ao mesmo tempo no canipo do
lelescopio, em 17 de marco de 172o; e a de
Venus. Marie, e Jupilcr, que dislavam ape-
nas um grau uus dos oulros, em 23 de dc-
zembro de 17G0.
MAIS OBP.AS OFFEHECIDAS A IIIBLIOTHECA
PO INSTITUTO.
Memoria da vida c escriptos do rev. sr.
Jose Vicente Gomes de Moura, por F. A. Ro-
drif/ues de Giismun.
Noticias d'alguus cases da molcstia de
Bright, observados no hospital de S. Josij, c
resumo das doulrinas mais modernas a cerca
i desla doenca — trabalho apresenlado a Aca-
deniia Real dasSciencias deLisboa pelo socio
Dr. Bernuidino AnUmio Gomes.
Documentos olliciaes da commissao central
porlugueza para a exposicao universal de
IS 1)0, e systeina de elassilicacao, publicado
na conformidadc do art. IC do reguiaraenlo
geral.
JORINAL SCIENTIFICO E LlTTEllARIO.
CONSELHO SUPKRIOH DE 1NSTUI'C(>0
rUBLlCA.
IIEL.VTOUIO ANM AL.
1858 — 184!).
CoiiUiiiiiido (le j>a^. ill.
3.' PARTE.
Jnslntecao secundaria.
Coniprchcndc cslc ranio (k' instrucrao os
lyccus c escholas annexas ; c as escholas de
instruccao especial.
g. 1.° Lyreits e escholas (inncras.
Com a iinica cxccprao do lyccu de Viana
de Castello, cuja nrganisacao sc acliou, por
ora, iuopi)ortuna, acliam-se conslituidos efuiie-
cionando rnniplclamoiUe, ou em parte, lodos
OS lyeeus do contiiii'iilc do reino; e lodos t-ol-
locados em edificios pnblicos, excepio os dc
\veiro, lieja, Castello Ilraiuo, Giiarda e Vil-
la Heal.
Nas illias I'oi elevado, por carta de lei de
12 de jiinlio do corrente anno, a calegoria
dos niaiores, o lyceu do Funclial, qiii^ se acha
laniliem runccioiiando, lieni conio os oulros
das illias. 0 lyceii do Funclial esta collocado
no antigo convento dos Jesuilas, vulgiiinicn-
tc cliamado jiateo dos esliidos; ignora |)Oi-em
0 consellio se us outros lyeeus se acliani colioea-
dos em edilicios pulilicos.
Segundo se \e do majipa ''l.°), e no conti-
nente o niiniero das cadeiras dos lyeeus de
100, eslando d'estas 82 providas vitalicia-
nienle, 1 leniporariamenle, vagas a eoncurso
\i, e reservadas j. 0 numeio dos aluninos,
((uc as lre(|uenlaram no anno lectivo ultimo,
c de 1:802.
0 numero das escholas annexas e de S3,
das quaes sao deslinadas ao ensino da lingua
latina 80; 1 ao eurso biennal de |ihilosoiiliia
e aiitlimetica, c 2 ao de tlieologia moral e
dogmalica; acliando-se 7!l pro\idas vitalicia-
niente, e I lemporariamente. 0 numero dos
alumnos, ([uc as frequentaram no anno Undo,
e de 964.
Vol. III. Feneueibo 13
0 numero das cadeiras dos lyeeus e escho-
las annexas nas ilhas, e de 23. Em consc-
qncncia porem da falta dos relatorios respec-
tivos e rcmessa dos mappas, apenas se sain;
que em Angra e Funclial foi o numero, dos
ijue as frequentaram, de 196. — 0 numero
total dos alumnos, que consta tercm frequen-
lado no ultimo anno os lyeeus e escholas
publicas annexas, foi, por tanto, dc 2:962,
OS quaes se achara classilicados por districtos
no mappa.
No precedente anno lectivo de 1848 — 1849
fora este numero dc 2:098; houve por tanto
0 excesso dc 864 a favor do ultimo anno.
A pezar de repetidas instancias, nao sc tern
podido ainda conseguir que todos os profe.s-
sores parliculares do ensino sccundario se
habililem na conformidade da lei. Dos esfor-
cos empregados neste scntido por alguns dos
delegados do eonselho, notando-se, entre el-
les, OS commissarios d'esludos d'Evora e Faro,
apenas tem resultado o terem-se habilitado
com exame dc capacidade para o ensino par-
ticular 14 piofe.ssores de latim; 3 de francez;
1 de inglez; 4 de philosophia racional c mo-
ral, c 1 dc rhetorica.
E pois 0 numero total dc 29, numero in-
signilicantissimo, comparado com o d'aquellcs,
(|ue, segundo e sahido, sc encontram por todo
0 reino eil-'inaudo particularmente sem hahi-
litacOes.
6 eonselho nao cessa de exigir toda a
vigilancia neste sentida, c cspera que V. M.
se dignara coadjuval-o, rccommendando aos
governadores civis, que procurem por todos os
meios ])6r um termo a este contrabando lit-
terario, nao menos nocivo do que esse ([uc
se faz a despeito das nossas alfandegas.
Ainda ha pouco o eonselho olliciou ao go-
vernador civil de Evora para que mandasse
autuar e entregar ao poder judiciario alguns
individuos que se tem rccusado a ensinar sem
as devidas habilitacoes, estando certo que so
jior alguns cxemplos dc scveridade, preccdi-
dos de previas exhorlacoes dos governadores
civis, se podera Icvar, nesta parte, a lei a
execucao.
Nao tendo pois, por este niolivo, sido pos-
sivel obter os mappas dos alumnos, que fre-
quentaram as escholas paiticulares do ensino
sccundario, tujo numero, ha todos os dados,
_1855. Num. 22.
„ei^^ /^^'^7^'S^.a^ '^ — ■*;^'^^^i^:2gi-^
282
para fazor subir a muito mais, que o das
csiliolas puhlitas, falla a base indispeusavel
para n'clla se asscnlar a rslatisliia actual, e
couii)arativa nesta parte do iiislrurrao; c por
isso quaes(]uor rcsulladns, que |jor agora se
prctendercm lirar de I'lomontos tao esoassos,
scriam sunimaiiioulo prohloniaticos, c inuteis
por coHseguinte.
Todas as cadeiras dos lyceus e osdiolas
annexas, no I'ontinciito e illias, sac pagas pcio
cstado; oxisliudo apciias ciu pxorcicio unia
cadeira de latim em Fronteira, paga por lega-
do, e unia sem exorcicio cm Moncao.
A despesa votada para esta verba no ultimo
orcamcnto, abatidos os im])Oslos da lei de
26'd'agosto de 1848, e de !)0,017§i20 reis,
quantia donde sc dove dcsconlar a impor-
tancia das cadeiras vagas, e a das propinas
das matriculas, na iiuantia approximada de
3:(IOO$000 reis.
0 conselho tern a salisfacgao de poder dizor
a V. M. que, segundo o que ha podido cbegar
ao scu conhecimento, todos os professores
publicos enipregados uesta parte do ensino,
salvas pequenas exccpcoes, possuem as quali-
dades moraes c litterarias (pie sc tornam in-
dispensaveis para o bom descmpenho de scu
importante ministerio. Mas por outra parte
sente tambcm dizer a V. M., ([ue esta na
persuasao de que o excesso nunierico dos
alnmnos, que no anno preterito concorrerara
as aulas dos lyceus, nao pignifica um passo
niais, andado no melhoramcuto d'estes esla-
bclecimentos; c que nao de|)endcu da maior
importancia, que por ora sc llies va ligando,
porem sim de circumsiancias mcramenle ac-
cidcntaes.
Da maior parte dos relatorios dos conselhos
dos lyceus, consta que o aiirovcitameuto dos
alumnos nao corrcspondeu a este augmenlo,
e quasi todas as uoticias, que vao chcgando,
conlirmam esta opiniao, senilo Concordes em
dizer, que no anno lectivo (|ue principia, al-
Duiram muito mcnos alumnos as matriculas.
— Esta I'alta dc a])ro\citamento, e de alflucn-
cia iis aulas ]ml)licas, julga-se, e com I'unda-
mento, que sao dcvidas em grandc parte a
nullidade, cm que sao tidas por ora as habi-
litacoes dos lyceus.
E com elTeito, cm (juanto o curso regular,
e complcto das disciplinas cnsinadas n'estes
cstabelecimcntos, nao for exigido como pre-
paratorio indispensavel jtara a admissao na
univcrsidade, c em todas as escholas supe-
riorcs; em quanto este corso nao lor babili-
tacao necessaiia, para a maior parte doscargos
lucralivos do cstado; em (pianto as augustas,
c vencrandas funccOcs do sacerdocio, f'orem
coDiiadasa Individ uos igiiorantes dosprimeiros
rudimeutos das bumanidadcs; em quanto sc
consentir o tralico, cm ([ue vergonhosamente
fc mercadcja as [lortas. quasi, de todos os
lyceus para apromiilar alumnus no mcnor leiit-
po possivel; nunca poderao prosperar laes
cstabelecimcntos, antes, a nao si' acudir com
remedio i)rompto, sera a sua decadcucia pro-
gressiva, e OS reduzira cm pouco lem|)o a nul-
li(lad<', tornando-se infructuoso o cmpcnho
com (pie V. J[. tao desveladameiile piocurou
rcsuscitar o estiulo, enlrc uos amortccido, das
boas Ictras. — (lontiuna a scr reclamada, por
parte de alguns conselbos dos lyceus, a crea*
(;ao das cadeiras elcmentarcs dc sciencias na-
tural's, com as suas applicacoes as artes c a
indiistria, dcterminada no artigo 4!) do dc-
creto de iU de septembro. Este conselho re-
conlicce a necessidade de dilatar a esphcra
do ensino sccundario, c de addicionar aos
estudos classicos, por cujo progrcsso .se affcr-
rem os diirercnlcs grans da polidez das na(;oes,
OS estudos industriaes e economicos, cuja pro-
]iagacao as tornam mais intclligenles eactivas
iios sens apcrfci(;oamentos materiacs.
E se e certo, como jii o conselho tevc a
honra dc expcjr a Y. M., n'um dos sens pre-
ccdentes relatorios, que cumpre ncstas creacocs
caminliar prudcntemente, jiara nao ir edifi-
car no deserto, intende tambcm o conselho,
que esta prudencia nao se deve lornar era
inercia, agora priiicipalmente que se vai
desinvolvendo entre nos um genio cmprchen-
dcdor c aclivo; e que .sera hom comci'ar o
ensaio d'estes estudos, onde sao mais rccla-
mados. Talvez mcsmo fosse possivcl comecar
sem grandc p(5so para o thesouro, convidan-
do, ]ior racio de gratiiieacOcs, os professores
dc alguns d'esses lyceus, que se niostrasscm
habililados, a fazer cstcs cursos diias ou ires
vezcs na semana, ea boras taes que podessem
aprovcitar as classes industriaes.
Tambcm os conselhos dos lyceus dc Faro
c E\oia reprcsentam contra a uniao do ensino,
em uma so cadeira, do Iranceze ingicz, uniao
ii (|ual julgam dcvida a I'alta dc opposilores
a eslas cadeiras. Sobre estas e outras recla-
ukk.m'h's (|uer o conselho meditar, c so as
julgar alteiidiveis, levani ii presen(;a de V.
M. 0 scu pareccr snbre ellas. — Torna-si^ cada
vcz mais urgente a coufec(;ao do regulamento
dos lyceus, objccto ([ue tcm sido tornado muito
cm coiita [lelo conselho, e (pic nao tem pro-
gredido, por isso que os conselhos dos lyceus
de Lisboa c Porto, aos quaes, hem como aos
outros lyceus maiores, sc exigiu, ha muito
tempo, 0 sen pareccr sobre este negocio, ainda
nao satislizeram li cxigencia. 0 conselho insta
para ipie seja satisl'eita, e cspeia aprcsentar
a V. M. este Irabalho, por todo o anno le-
ctivo.
Innunicraveis teem sido os requcrimenlos
dc camaras niuuicipacs, pcdindo a Y. M. que
mande por a concurso niuitas das aulas de
lingua latiiia, que, se acham por proviir. 0
conselho cspera, que por parte de todos os
governadorcs civis, Ihe sejam rcmettidos os
parcecrcs das junctas de disiricto si'ibre este
283
objecto, para cm vista d'cllcs propor a V. M. o
piano gcral da collocarao d'estas esciiolas, que
naodevcm, cm casoalguni, exccdcr o luimcro
das cento e vinte, deterraiiiadas noarligo l!iO
do decrelo dc 20 dc seplembro de 18i4.
, §. 2." Escholas de imlrucrao especial.
A acadeuiia dc bellas artcs de Lisboa foi
t'requentada cm todas as suas aulas, no anno
lectivo dc 1848- — 1849 por 213 alumnos,
sendo ordinaries 48, voluntaries 89 e das
classes fabris, "8.
A acadcmia de bellas arlcs do Porto foi
frcqucnlada por 109 discipulos, sendo ordina-
rios 60, e voluntaries 49. No anno lectivo
de 1847 — 1848 tinha side frequentada por
139 alumnos.
Importam as verbas das despezas com estas
duas academias na somma de 10:908^030.
0 consclho attendeu ii justa requisicao fcita
pelo vice-inspector da academia das bellas
artcs de Lisboa fazendo acompanhar este re-
latorio d'uma proposta de lei para que o go-
verno de V. M. seja auctorisado para mandar
comprar em Roma uma colleccao dos melho-
res modelos em gesso, das estatuas, e bustos
dos antigos.
A academia do Porto, alem d'outras recla-
macoes que o conselho loniara na devida
consideracao, queixa-se de novo, de nao ter
um edilieio proprio, vendo-se obrigada a ter
as suas aulas dispersas cm dois cdilicios rauilo
distantes. 0 inconveniente de similhante esta-
do e obvio: e se e certo, como se allega, que
este inconveniente c devido a falta do cum-
primento de um contracto, feito pela camara
da cidade do Porto com o govcrno de Y. M.,
parece ao consclho que a camara deve scr
compcllida a cumprir aquelle contracto.
S.° 3." Entabelecimentos annexos.
Bibliotbeca deBraga. 0 bibliothecario par-
ticipa, em officio de 30 dc scptcmbro ultimo,
que 0 salao destinado para collocacSo da bi-
bliotbeca, e ondc de ba nuiito sao redamadas
obras indispcnsaveis, para que possa terlogar
aquella collocacao, fora visitado pelo gover-
nador civil do districto, pelo vice-presidente
da camara municipal, c por um Major d'cn-
gcnharia, rcsidente n'aquclla cidade, que alii
se dirigiram afim de dar impulse aquellas
obras, que elle espera continuar muito cm
breve.
Bibliotbeca publica da cidade do Porto —
No anno findo de 1848 — 1849 foi esta biblio-
tbeca frequentada por 2:013 Icitores, e visita-
da por 518 pessoas, sendo 401 horaens, e 117
icnhoras.
Imprensa Nacional de Lisboa. Esta of-
ficina, que pelos seus melboramentos progre,'*-
sivos, conseguiu collocar-.se a par dos melhores
estabelecimentos extrangeiros d'este genero,
e que devera servir de modiMo aos nacionaes,
continua, gracas ao zfilo do scu director, a
veneer alguns erabaracos Dnanceiros, que
linbam impedido, ale agora, a sua complcia
prosperidade.
Continua.
DSIVEBSIOADE DE COllIBRA-PROCRAMAS.
FACULDADE DE DIREITO.
1853—1854,
3." ANNO. — 7.» CADEIRA.
OIREITO lOMI.MSTRlTIVO POHTUOUEJ E PRIXCIPIUS
D^ ADMIN 16TfiA(,'Io.
Lente Siibslilulo — Dr. Bernardo de Serpa Pimentel.
C05IPE5DI0 — CODKiO IDMIMSTHATITO PORTDGUE/. ,
COIMBHI 1849.
PARTE 1.*
Conic(;»renio9 por eslio^nr rapidamenle um ligeiro T^i-
ilro lie luilas as sciencias juridicas, em que no sen com-
p<flenle logar colloqiiemus o ramo do Direilo Adminislra-
livo ; e Icnlaremoa demnrcar o campo de loda a sciencia .
H.liiiiuislrativa , lrH<;ando as linlias divis<jri»s, que o sepa-
ram das demais scicncias. Ciiidareraos depois em assignar
11 AdDiini>lr»sSo Publira, instiluic;5o indispensavel para a
rralizai;i5o do Direilo Adrainislrf livo, u logi-r que llie per-
lince e'litre as divetsas insliliii(;5es sociaes. Com este in-
luilu se ha delraclar dos dinVrenles pndi-res do Eslado ,
se^'iMido a nossa orpranizai^ao politica fundada na Carta
Coiisliliicional de S9 d'Abril de 1U26: do poder lejjisla-
li\o, Jdo nii'derador , do judicial e do execnlivo; e esle
iillimo srindil-o-hemos , separando as duas paries de que
se conipije, Pohlica e Adminislra^So ; e deixando de
parte acpi.lla, d'esla espccialuienle nos havcmus do occu-
par, moslrando a pobi<;iio que llic cimpcle. ja era lela-
qao aqueH'oulra parte do poder exerutivo , ja em rclai;ao
ao poder le^'islalivo , ja ao nioderador , ji ao judicial ,
lendo era vista o salutar principio da separai;5o e inde-
pcndi-ncia dos poderes polilicos , e mi nrionaudo ta mbem
a diversa maneira, por que se achavara confusamente or-
sanizados i.s r.feridos poderes, duranle o retrinieii politico
anterior a Caria Conslitucional. Notaremos ainda , que
exi»le na sociedade civil, alem dos poderes polilicos,
oMlro poder, d'aquelles srparado e indeprndeule , o po-
der espirilual, da compelencia das respeclivas auclorida-
dcs ecclcsiasticas, ao qiial lodavia andani annexas allri-
buii;oes, que, Iranspondo as raias do que e meramenle
espirilual , enlram mais on nienos pelo dominio temporal ;
que ninnetosas e importanles relai;Si-s se d'lo por lanto
enire o Eslado e a Ejreja , provenienles ja da diversa
nalureia dos dous poderes, ja <la posi(;ao cspe.ial em que
a C-irla Consliliicional, e muilas leis do reino , tern col-
locado a Esreja Calholica , com evclusao de todaj as
mais egrejas ou conOssoes religiosas , ccnlemplando comi>
religiiio do Eslado somenle a Calholic»-Apo»tol.<a-Roma-
na e proloRendo a sua doutrina , o seu culto , e os seus
uiinislros , pelos muitoi e variados meios que sao da sua
284
cotupelencia ; c que em fim uran l>ua, [larle d'eshis rela-
coes exltriures dii K|;r<ja ^Tiu pren«ler com a Atlniiiiislra-
rao Ptihiica , o que nuA lf^.1^il n marcar taailiem a posi-
riio (I'eslii em relm;uo nu podrr ecclekiaslicu.
Fixada a»$in\ a posii;i'iu <la A<lintiiistrn(;5n entre oa
pi>dtrre> que a ceffiuii ou ineio tin suriedailc ciul, deniar-
rodo poi tudus OS lados u catupo da ^ciencia ndmiiiivtra-
liwi , e coiirruiiladu nun os lerrcooi lt'inilrc»ph«*s dss oti»
tras sciKDci'-s , laiic;arenioi a viala para u interior, para
firmannui os ptinci|ii.iii de Adminislra<;iio que rutislilin-m
a lm?c ilV'stu ^ciencia , (raclannuji da ri'ntriilii:t(;au adnir-
nislralita, c pvpIiiMriiU'S cm fim a or^rnnitHrao il'aqut'll»s
jioderes, <pie na numarclua pnrlnjiifii* cnsliliUMU o cii-
tro dc UmIu a Admini>lrai;iVu piihtica, aatim activa , conm
runiulliva . dfliln-rativa e conlfneiu>a ; e espfrifiliuenle
Uaclaremus dos luinislerios e serreUriiis iTI^lailn, do
conselho de niinislros e sen presideiilej e do consellio
d'K^tadu, e beu aaeim do Rfi.
PARTE S.»
Or2;anizftdo o puder cenlral , era quern resjile o pen?a-
niento , que dniuina loda a adiainislrarao publica , pas-
saremos a dcBrnvolver os mais impoitantfs assuiuplus
ada]ini>trativu9 , a que se din^'e aqut-lle pensaiuenlo , e a
examlnar a ori;iiniza<;:"So de *arias repaftl<;6(*s pnldii-as ,
que lecm a sen. cargo al^nm ramo especial de ser\i^o
adininistralivo, que pur dcmandar fouhecimenlos U'cliui-
cos, ou por outros resju-'ilus , carece de ser ilesempeuha-
do por rerta ordeiu de funccionarioH , que conslilue iiuia
classe a parte dus deniai* funccionarios adiuinislraljvns.
D'cstes assiimpio* ircmoslruclando succ-ssivamenle , bem
como d-is respeclivas repurli<;oeii publicas ; porem, coiuo
alguns d'elles eetiloeiilre 8i iuliuiauieate ligadus e uoiJos,
e a rcppeilo de outros appareceui mais deslij,'ados, oii
inleirameiite descomiexo*, fareinus diversas sec(;ocs, pelas
quaes osiremos distribaiudo , segundo as indiou(;ot:s aimu-
tadas.
Na 1.* scci;ao se ha de Irac'ar do* bens publicos: sua
naUireza; diffrreules especies ; characleree que os diblia-
ptiem dos bens do douiiuiu do Estado , e de todus us bens
dislrictaes, municipals e parui hues ; maneira por (pie
divcrsos beiia adquirem ou perdeni a nalureza de bens
publicos ; attribuit;oes das auituridades em rela<;ao a sua
conservaq^o e melhorauunto ; e eui ^'cral das oi-ras pu-
blicas ; da or-;»niza(;ao das reparti^-oes do Ksludo espe-
cialmenlc iucumlndiifl d'cste rauio de servii^o , e em lim
da e\propriii(;ao por molivo .le utilidade puidica.
A set-^ilo 2.* coinpreheiidt-ra tres di\eri'os lapilulos ,
relativos aos bens do douiiuio do Kslatlo , sens rendimen-
los , e reparli<;oes pNldicas , que IJie ilizem re>peilo.
No 1." capiluhi s^ ha de rxpor a iiatureza ilos referi-
dos liens, sua cliissiGca<;ao e \ariadas d'li.iuiluaroc-s , e
modos d*adqnisi(;ao c alituacjao ; apresciitaiidu iiau so o
jiystema da lei;isUH;ao actual, mas lauiliem aa muil.is difie-
reu^as da anlijra Iej;i^la(;i'tu.
No 2." capilulo destinamos Iractar dos rendimenlua
publico?, que fazendo parte do th^souro publico nai iu-
un! , constttiicm a receita do IC-itado . nieucionaremoa as
diversas fuiiL^ d'e^les r«-ndimento3 , com- (;ando p^-la mais
im|)urtante d.- tudas, os iiupu.sl..s e cont(ibuii;oes pul.lii-as;
Iractaremus <Ias suas variuda-* opocies, e d-js dilT-rentes
proccssos pclos quaes se realizam as sunnuiii!, que diuia-
nam dVsIa caudal corrt-ale. Passarrmos a 'i * f.,ule uidl-
naria da rc-ceila piiblica , os prcdu.s do duuiinio do E>la-
do, df ciija aJmiuistra(;A'» trurtujemos u'ote loi,'ar, bt-m
como do ipiaesriuer capilais prodiitlivos , ipie pertt-nram
tambcm ao dominio do Estado. Mencionarenios ainda uma
3.*fonle, poslo que extraordinaria da receita putilica ,
OS empreslimos e suppriuieidos teitos oo Govcruo ; e vi^lo
que toda a abundauria d'esta nsfcenle depeude iio credi-
to publico, tambpin d'este nos b«\emos de uccupar , bi-m
como dus cstat^elccimenlos respecti\os , r^peci.ilmenle da
junrla do credito publico, e didiauco de Portugal.
O capilulo 3.° e det-tinado para as diveraas iiucti'rida-
dcs e r(*parlii;oe3 fisi-aes , (pie tern a scu carj,^o a perce-
p^ao , L^uarda e ap[dica<;ao dos diuheiros puldicos , sua
cscri pIura(;!io, couUl)ilidade e fiscalizn^ao. E.>;pecialmenle
Iractareipos d^i or^'aniza^So e atlribui";oes do Iribunal do
thesoiiro publico e tribunal de coiitas ; Ijem cumo das re-
parlicoe? de rizenda lii-s di>(ricIo8 admini.'lratlMif , f-icri-
\i1e3 de faze n 'I a , rerebedorcs dos roncelhos c alfaiidf^at
maiorrs e menures.
A st-rrao 3.* rouipreliendera as allribui<;ofa da Adinl-
ni<[rar'io cm rela);rio an dnminio cidteclivo , *■ no d'»nii«
ni'i particular, e as inslitiMi;5t-s Icndenlrs a deKiiiV'dier
us ipi(fress<-8 nial'*riais do paiz . (••ipecialmcnU' ipitido u
a^ricullnra, commi-rcio • iutluslria ; Im-ui como a b-gjrilii-
i;riu r duulrina relativari a propri'-dadr litloraria , propne-
dad'" indiiN rial , aos p»-sos ,e mcdidas , e a moeda.
I*ara a sccrao 4 '"^ resrr\.imns uiitrw dnt-rso e iuiportan-
t'ssillio oliji't In : alii l--liciou iRlos Iractar da educarao, e
da liour(ici-iii-ia publica: das ei»cliolas, cidlc^rios , asylos,
0 main cstabt-liTimeiitos publicus c parliciilarcs rebdivos
a cada iim d'csses ol'jcclos ; das iep»i ticoi-s piddicas
fiipicialiu'iiio incuiiibidas da direci;ao de (piahpiir ircntes
raiuos de scriiro; e cm i^'eial das pri'\ idcncias e in.-tilni-
<;ocs ronsaf:radas ao proi;fe>so inli Ilcctunl e ui'iral (U
suri''d,ide, e da^ Hllribtiirorg, que, soiire taes assumptos,
^erabnenle compctem a AdmiiiiHlracau publica.
A seci;a.i 5 " cabc a l*olicia eiu :;eral , e em n.ipecial
a cpie e rclaiiva ;'i S'^'uranra '\o E>taili) , a pntlectjao do«
ridadilos , e ii snude publica; e se::uidauieut>' Iraclaremos
da r<in;a armada, t mlo de mar cunm de terra ^ da sua
orj,'ariiza(;.lo nos tempos nnlcriurrs, da urjraniaa);rio aclual,
da rela(;ao eiUrc o s)>tema d"e>ta nri:auiZ!i(;So e a furiim
de iiownut do Esiadi>, e em fim das iiarautias que Psta
or^anizaciio admilt**, ja em favor da ordi-m e da liber-
dade publica , ja d"S cidadilos sul-jeitos ao s-rviijo mill-
tar, ja dos (pie ef^ccti^aulcute professam a carrcira daa
arm as.
PARTE 3.»
R'-slum-nos para a 3* parte alg^iins poutos de Admi-
nisira(;ao ^eral, q-ie nao carecem de Iuhl^o desinvohimen-
lo , e at(!'ai d'tsito loda a Adintnistrai;ao local, e ain<la n
Aihnini>lra(;iio conlenciosa. Para mais facihupnle nos dc-
sempenharmos d*estu ultima parte da nos.ia tarofn , (oma-
remos put gnia o Codi;'o Administralivo de 18 de Mar^o
de IH4'j!; e lomando na mao o Oo das doutrlnas , que
elle uosa|>reseuta , segiiil-o hemus ale o fim, mas de modo
que \amos ao niesino lenipo, ora coiiftontaudo as suas dl-
sposi^'Ofs com OS \erdaiIeiros priucipi.is da scieiicia Admi-
nislraliva ; ota encliendo as lacunas qu** eucuntrnrn»os ,
ja ajundando-lhe as prondencias da Icjrislac.'ao ulterior,
ja em lim fazi-ndo brev<.-8 dii.'re9s5es, aqiii e ali^m, jxlos
as^unqilos admiuistrativos de que em varios arljgos do
Codigo se faz expffssa men^ao , para assim liiiarn os a
parte otjcctivada .■\dmlui^t^a^:^o com a purle subjiTtiva ,
de qiie efi])(;cialiuente se occupuu o referido Codiiro, que
nada mais com|ireliende do que a orgaiMza(;ao e indicii-
^ao das allribiii(;("»f*H daa auctoridades e corjius ad'miiiislra-
tivdS locaes. E-ise fio de doutriii.is , (pie, ^.ll^a a uiodifi-
ca(;ao c exciirsoes indicadan , ha\cmus dc scjL'uir , e o se-
t:ointe : Ci>nie(,M o titulu l.^pela iugaiiiza<;ao adminislni*
Ina , ciMnprelieiidcndo a divjt>ao do leriiloriu e o pessual
da AtI(inui»lra(;ao. O 2.' tracla da forma(;rio e altriliui-
^oes d.ts corpus atlmis rativ..s: das camaras muiiicipaes ,
sua urgaiit/ji,-au , eleiiures e (de?i\eis, recen»eanieuto ,
elei(;ao , reunioe« e deli^erai^ocji ; altril>hi(;ufs (jue llic
(tompclcm , despcsa , receita. ursamt-nto e conlaI)ilidade
do niunicjjiio; do coiicelho municipal, do escrivilu da
camaia, e do llu>ourerro i!o conselho; e pur ullimo ttan
jimctas geraes de| ili>Iriclo , sua ori;aniza(;ao , eIei(;Ho,
reirnioes, deliberiM.'ot-g , e MUribui«;o'-s r> speclivas. U n»-
siimpto do titulo 3." srio OS ma.'istrailog ailinliiistrutivos :
no ca})ilido 1.", governadnr civil e secretario geral ; no
'2.**, adiitinislradur i\ij concidlio e seus olTiciaes. O tihilo
4.** sob a inscrip(;ao — Oua Triijiinacs Adniinistrativos , —
occupase operias ciuu a orcaTiiz.i(;ao e alt(itiui(;oe9 do
conselho de dislricto, mencionando , alt-m das allribui-
(;o''s contenciosas , as d(diberativa8 e as nit^ramenle con-
sullivas, ao que (emos de nccrescentar ludo o que per*
tcuce ao contenrioso administralivo, e roiiniclos de juriii*
dic^ao das aiicloridades adminislrativns enlre si , e com
as (io poilf-r judicial. O titulo 5. J lem pur olijelo a Admi-
nistracao parocliiiil, e Iracla especialmente das jimclaf
de parochia e sen pscri\So e Ihesoureiro, e do regcdof
de parochia e seus odiciaes. O tilulo 6.' estabelcce algu-
mas prov idcnciaa espcciaea |»ara as ilbas ailj icentes. O
285
litiilo 7/ contem iliversa* ilisiJOba.uns ^craos. O tilulo
8. , (li3|K>sir5e8 penfin.-!, E u litii!o U." em fim Iracla dos
r-niQlumenlos tlus fiinccionarJui ailiiiiiiiblrulivus.
INSTRLCgA.0 PIUMAHIA.
Os progresses da rivilisarao teem fcito con-
vergir em toda a parte as main serias attcn-
coes para uiu ramo de instrucfao publica
fao pouco atleiidido nos seculos passados.
A instrucrao primaria e a vcrdadeira instruc-
(•<To nacional. Conquistados pclos povos os
governos do povo era impossivel doivar em
abandono a intelleciualidadc popular. Che-
gou-lhe a hora da sua emancipacao.
Gasla-so niuito lenipo no appreadizado da
instruccao primaria. E opiniao asscnle. 0
leni])0 teni um grandc valor: quatro annos
da iiifancia coiprogados iiaquellc estudo e seni
duvida deniasiado para queni precisa coiiti-
nuar a sua educaeao com cstudos secunda-
rios, hoje muito aceresceiUados; e para os
que precisam do traballio de seus iilhos, para
acudirem as primeiras necessidades da vida.
Era fousa natural allribuir ao defeito dos
methodos de ensino o pouco adiantamento
dos alumnos; e tentar novos metliodos, que
facilitasscm o estudo. Julgou-sc ([ue o defeito
estaria na pronuncia das letras do aiphaheto.
Mudou-se. Comccou a cnsinar-se, — fe — em
vez de — efe; me, ne — cm logar de — cnie,
cne. A cxperiencia tem mostrado que nada
se adiantou.
Espiritos pbilosophicos era indispensavel
acudirem cm auxilio a rcsolucao de um pro-
Llcma mal comprcbendido. Era preciso ana-
iisar attenta e maduramcnle a constituicao das
linguas, e a relacao natural e legilima da liu-
guagem pbonica e gra))liica. Foi depois de
aturado estudo (jue nos paizes mais illustrados
se cbegou a conbecer (|ue o defeito dos me-
thodos de ensino estava era considerar as
letras com egual valor, tanto na leitura como
na escrijita; e na ])retencao do ensino da
palavra pelo conhccimeiito dos uomes das
Jelras isoladas, sem attencao ao scu valor
syllahico.
Entao a cxperiencia veiu asscUar csta opi-
niao; porque realmenle a cxperiencia mostra
que 0 mais tempo gasto no eusino primario
se emprega no cxercicio de soletrar.
Infclizmente a pouca gente tern lembrado,
0 que a cada momcnto esta vendo, (jue o
valor syllabico das letras nao e o valor no-
minal dellas, mas o de suas combinacoos na
linguagcm jilionica; e que ua linguagem j^ra-
pliica a letia ligura com o \alor do seu uomc.
Querer poisque da pronuncia singular da lelra
saisse a pronuncia da palavra, era querer o
impossivel. So com niuito uso, tempo, e estu-
do se podera conseguir. E ntlo se creia que
a difficuldadc e so para o discipulo. Os pro-
prios niestres, pronunciando-se singularmen-
te cada uma das letras, elementos da pala-
vra, sera reHexao niio dirao a palavra, que
ellas exprimem. Ainda ha pouco o observa-
mos em uma liyao da eschola normal do en-
sino repcntino, em ([ue os mestres-aluninos
pediram ao professor que declarasse primeiro
a palavra que ia compor.
Forcosamente assim devia succeder. Se
estivessemos em eschola grega, e nos quizessem
ensinar a palavra — biblos — dizendo — beta,
iota (hi), beta, lambda, omicron, sigma (bios)
diria alguem que destes sons reunidos resul-
tava — biblosl Pois nao vae dilTercnca niuito
grande a pronnncia da palavra portugueza.
Pronunciando — c, h, a, p, e, o, — ninguem
dira de repente — cliupeo. Mas se ensinarera
a um nienino — x, a, p, eu, sera facil conbe-
cer 0 valor da palavra. Se em vez de ensinar
a soletrar — c, h, a, r, 1, a, t, a, o — Ihe en-
sinarem pelo soletrar phonico — x, ar, la, lao —
dira sem difficuldadc a palavra que os seus
elementos combinados r^presentam.
Depois de repetidas e estudadas tcntativas
feitas em paizes adiantados nos methodos de
ensino, tera-se dado a prcferencia ao systema
dicto phonctico, em que as letras no soletrar
cntram pelas suas conibinacoes, e nao pelo
valor nominal. E e muito para notar que pes
muitos estudos feitos para criar um niethodo,
que abreviasse o apprendizado do ensino ele-
menlar, a ninguera lembrasse o methodo re-r
pentiiio conhecidu de mais em Franca, Ingla-
terra, e na Belgica!
Foi era resnitado de reconliecidas, e pro-
vadas vantagens do soletrar syllabico aprecia-
do por inspectores, e directores de escholas
normaes em Franca que Mr. M. C. Michel
reduziu a regras o novo methodo. 0 primeiro
livro de leitura de Mr. Michel vcm acompa-
nhado de uma obra destinada a servir de
guia ao mestre, ministrando-lhe todas as ex-
plicacOes convenientes sobre o eniprego do
methodo, e o ensino de cada licao. A parte
do livro destinada ao exercicio da leitura
divide-se em ties seccoes. A primeira com-
prehende o estudo dos elementos; a segun-
da cxercicios para a reuuiao de syllabas; a
terceira excrcicios sobre difliculdades, e a no-;
malias. :
Divide 0 auctor as vogaes em simples —
a, c, i, 0, u, — notando os diversos sons que
cabem a cada uma; e compostas — eu, ou, an,
in, on, un, — jior cntrar na sua composicao
mais de umclemento, scndo todavia o som um
so, insopaiavel no soletrar da syllaba. Tam-
bem um grupo de letras forma por vczes si)-
meute ura som, como — ia, — em diacre, t —
28C>
ien — cm bien. Chamam-sc diphthongos ossps
grupos; c 0 som nao se divide no solelrar
phonico.
As consoantes divide-as em simples, rom-
postas. e consoantes diphtliongos. Chama rom-
postas — ch, gn, ill — (mouehc, montagno,
iille). Consoantes diphthongos sao — hi, el, fl,
gl, — elo. A letra x 6 iima consoante diphtongn
equivalenle a — rs, on — gz.
Fallando das syllahas diz; no conhccimen-
10 dellas esta a sciencia da leitura. Lemos por
syllabas, assim como |)0r syllabas fallamos. A
syllaba e I'ormada de um ou dois elementos;
qiiando de uni, e este sempre vogal; de dois
e um vogal, outro consoante. Tanto o clemen-
10 vogal como o consoante podem ser simples,
compostos. ou diphtiiiingos. 0 elemento con-
soante pode preeeder, ou seguir a vogal.
0 1." curso do methodo de leitura compre-
hcnde doze licoes repartidas por Ires classes.
A 1.° licao da 1.' classe contem exercicios
siobre vogaes e consoantes simples, compre-
hendendo quatro letras somente: a, e, i, p.
As syllabas pa, pe, pi, sao formadas destas
h?tras: e dellas as palavras: papa, pape, pipe,
etc. Assim se poupa ao alumno o enfado de
apprender o alphabcto inteiro sem Ihe ligar
idea. Mas licoes seguintes segue-se a mesma
.<implicidade variando vogaes e consoantes.
E (juando chega ao fim da 12.' licao tem o
Bienino ja lido algiins centos de palavras for-
fiiadas exclusivamente de vogaes e consoantes
simples.
Na 2.' classe comeca o estudo das syllabas
formadas de vogaes, e consoantes comjiostas.
Acham-se a frente de cada licao os elementos
das syllabas, que a essa licao competem.
Comeca o mestre por se assegurar do conhe-
cimento cxaclo, que o alumno tem daquelles
signaes, Vao-se graduando os exercicios sobre
aquelles elementos; e so depois da S.' licao
se faz entrar os diphthongos na composieao
das palavras para ir habituando o meuino a
rencer essas dfficuldades, E na composieao
das palavras tambem so tem evitado a intro-
duccao de letras, que nao conservem o seu
som primitivo.
Na 3.' classe cstudam-se as diHiculdades
da lingua. Nem sempre cada som tem ura
signal permanente por character proprio : nem
0 mesmo character tem um valor constante, e
nnifornie. 0 som— o— acha-se representado
por — 0, au, eau — o som — -s — por s, ss, c
etc. Ha pois signaes equivalentes: o conheci-
menlo delles constitue a grande difficuldade
da leitura, e da orthographia. 0 auctor divi-
de em 3 partes o estudo desta classe:
Equivalentes de consoantes: — equivalentes
de vogaes — letras mudas.
Sobre lodas estas difEcuIdades contem o
manual do alumno exercicios graduados com
toda a simplicidade, e methodo. Cada exer-
cicio thcorico e seguido de uma serie de pe-
quenas phrases hem escolhidas com um senti-
do completo, c inteliigivel para o discipulo,
condirao imporlante, que ordinariamenle falla
nos mctliodos de leitura.
0 primeiro livro de leitura de Mr. Michel
e seguido de um curso de orthographia, in-
dicando ])rocessos ingenliosos, em que vac
levaudo, como pela mao, o mestre para al-
cancar dos alumnos o aproveilamento descja-
do.'
Se a experiencia nao houvera ja sancciona-
do este methodo de ensiiio, podera a priori
julgar-se a sua utilidade. 0 piano c vcrda-
deiramenle philosophico, deduzido da con-
stituicao da lingua, e desinvolvjinenlo iiitel-
leclual dos que desejam apprendel-a. 0 sys-
tema analytico preside a todos os processos
na niarcha do ensino, dirigindo o estudo, e
conduzindo sempre os alumnos do simples ao
coniposto.
Nutrimos csperancas pelos resultados vanta-
josos deste methodo. Fazemos sinceros c ar-
denles votos porque alguma intelligencia dis-
tincta, e cnlti\oda nas lides do ensino pri-
mario se lembre de applicar o methodo ad
ensino da nossa lingua nas aulas elementares,
certos de que entre nos sera niais I'acil, i
vantajoso; porque nao ha na 3.' classe d(»
curso de leitura tantas difficuldades, e ano-
malias, como na lingua franceza se encou-
tram. M.
LIBERDADE EM POESIA.
Os anligos poetas creavam difficuldades
para depois as resolvereni, e .sacrilicando por
vezes a essencia a forma, punham peias ao
genio. Muitas destas difficuldades forani ar-
voradas em arte pelos mestres que. ora dan-
do, ora tirando mais ou menos liherdade aos
que escreviani, conservaram, ate a nossa epo-
cha litteraria, a pocsia subjeila a tyrannia das
regras.
As artes poeticas, esses codigos infloxiveis,
que por tanto tempo regeram o niundo litte-
rario, passaram de moda, e assim devia acon-
tecer; por(|ue os sous preceitos ou eram inu-
teis como quando proiiihiam disparates op-
postos, jii nao digo ao bom gosto, mas ao
senso commum, ou eram prejudiciaes quando
prendiam o auctor. E certo que ninguem le-
varia a liherdade tiio longe, que puzessC
golphinhos na terra e javalis nos mares; nem
quern narrasse, contaria ao mesmo tempo a«
aventuras egualmente interessantes de dois he-
roes diversos; ninguem scria tao immodes'.o que
287
cmpregasse o amlabo do vclho Cyclico, sem
llie pdr a restriirao sr a tanlo me ajiidar tn-
genho e arte dc Luiz do Canioes. As unidadcs
de tempo e logar eiam prcjudiciaes, porque
liravam a liberdadc ao pocla sem darem niais
verosiniilhanca ao j)oema. Sc nos concedem
que Bruto e Catao lalleiu as lingiias moder-
nas, para que nos dao so uni palacio, c algu-
mas horas para a acrao? — 0 nao querer Boi-
leau que no soncto entrc a mesnia palavra
rcpclida, e unia extravagancia, a nao ser-
como clle mesmo confcssa, para pousser a bout
tons les rimeurs franrais. Tinham as artes, e
verdade, prcreitos utcis que dirigiam o poe-
ta, nao couio prisioneiro, mas conio aniigo;
esses poreni colhem-so principalmente da lei,
tura dos l)ons auctores, auxiliada por urn
tacto (ino, e uni gosto beni formado.
Mas nao forani so estas regras que deram
tractos as cabecas dos classicos. Ilouve
epocbas, de decadencia e verdade, era que
cada urn rapriibava em forjar cadeias com
que se prendesse. Vieram os acrosticos, vie-
ram os sonetos era latini e portnguez, vieram
OS anpbiguris ja olTereeendo dois sentidos, ja
podendo ler-se de duas nianeiras diversas, e
outras subtilezas de cgual jaez. Houve auetor,
que levou o amor da diffieuldade a ponto de
comecar todos os versos, e mesmo todas as
palavras de urn poema pela mesnia letra.
liubaud dedicou a Carlos-o-Caivo ura poema
de trezentos versos, em que todas as palavras
principiavam por — C — Eis aqui o priraeiro:
Carmina clarisona cahis cantate catnena.
No museu em Lisboa existe um soneto im-
presso em circuio, no qual todos os versos
acabara cm — A. — e alem disso as primeiras
letras de cada verso, junelas com nao sabemos
I que mais, c com o A. final, dizem:
Soberano Congresio dot Lusos gloria.
Nesta poesia de gymnastica, ha sonetos
i-cujos versos terminam cm syllabas pela or-
'dem das vogaes, e outros em que toda a
♦ima e formada de duas palavras tomadas
era accepcoes diversas. Agora perguntarcmos,
sc com taes embaracos, o pensaraento se po-
'dia traduzir em palavras?
Felizmente a libcrdade litteraria seguiu de
perto a liberdade social, e engenbos superio-
res crcaram novas escbolas onde se dcu quasi
completa liberdade a poesia, mas nao tao
anipla que a libertasse dos fortes, posto que
doirados, grilbOes da rima.
0 costume tyrannico de rimar as palavras
faz pcrder a lingua a sua pureza, e prende
0 poeta com prejuizo da boa poesia,
Se quem escreve em prosa, para se exprimir
com fluencia, precisa abslrair completamcnte
do trabalho material da escripta, pensando
so nas ideias que quer representar, o que
sera na poesia? — 0 prosador babiiua-se a
nao repartir a attencao, e adquirindo um
mode de sc exprimir, que se chama cstylo,
segue sem iiiterrupcao o fio das ideias. Na
poesia nao acontece assira; o habito nada
pode contra a rima, e o poeta 6 forcado a
interroraper-se, nao para acbar palavras pro-
prias, mas que tenham uma terminacao dada.
Esta interrupcao, mais incommoda do que
pode parecer a primeira vista, altera a forca
do pensamento, que dcve ser representado
brilliante como foi concebido, e sem ([ue no
csforco, que exige a eopia, se pcrcam alguns
tracos do original. A cada passo, c ainda
nos melhores auctores, vemos a um verso
exccllente, que saiu livre e de um jacto, suc-
ceder um verso frouxo ou forcado pela sul)-
jeicao em que esla ao priraeiro; a um epitheto
apropriado outro epitheto iniproprio, e a poe-
sia nao pode deixar de se resentir destas
intermittencias, que a prejudicam. Nem sera-
pre pode haver uma palavra obrigada, que
rcpresente uma ideia tambera obrigada, e em
caso de collisao sacrifica-se esta aquclla.
Muitos poctas, hoje principalmente, olliam a
rima como parte integrante da poesia, quan-
do esta lei, ou antes moda, nao pode tornar
sensivel se nao o trabalho da arte, que para
ser perfcito deveria eonfundir-se com a na-
tureza.
Verdade e que entre nos os bons modelos
tern escripto em versos rimados. Caraoes e
Ferreira riraaram, e no reinado de D. Jose I,
seguada edade de ouro para a poesia portu-
gueza, vemos brilhar Diniz e Garcao. Entre
os contemporaneos um dos nossos poetas mais
fluentes, ea quem a rima parece obedecer, e,
no nosso entender, o sr. Joao de Lcraos; os
seus versos sao cheios de naturalidade, e
parece que as palavras Ihe vera de iuvolta
com OS pensamentos. Mas isto nao prova que
a rima seja necessaria nera ao menos util.
Que nao teriamos nos a esperar destes talen-
tos ferteis, se, guiados so pelo genio e enthu-
siasmo de verdadeiros poetas escrevessera livre-
mente?
Temos exemplos a milhares para provar
que a nossa lingua, e o nosso genio se pre-
stam maravilhosamente, e era todos os generos,
a poesia livre. 0 Hijssope, a Castro, o Ca-
mOes, OS Ciumes do Bardo, e poesias mais
pequenas de Bocage, do sr. llerculano, e do
auetor da Lua de Londres parece-nos que
satisfarao os mais exigcntes. E nem se diga
que sem a rima os versos nao tem barraonia,
e que neste caso e mellior escrever era prosa.
Ura verso bem feito tornado isoladamente e
senipre harmonioso, c para o acharmos tal,
nao necessilamos ouvir aquelle, que a ma-
neira de echo Ibe responde na rima. Entre a
288
prosa e o verso ha ainda outras (lilTeren-
cas. A prosa iiao coiupele certo fogo tic ex-
pressao, certo arrojo de imagcns, c certo hri-
Ihantismo dc cores ([iio sao apaiiagio do ver-
so. Ninf;uem diria cm prosa, fallando do iima
niullier Icvada por uiii toiro,
Na cstrada inccrlo, polos rcdores volve
Por qii,iiilo siliii a laiva o \nc Icvunilo,
Roja a uiulhcr comsigo, o troiico, c a rocha.
Nenhum toiro ate hoje, por muita raiva
(|iic tivcssc, rojou coiusigo Ironros c roclias,
mas 0 poeta I'az scntir por csta exaprgeraiao a
liiria do animal, ociiie nao era permittido ao
jjrosador.
Na mrsma pocsia composta de versos octo-
sjllabos e dalii para baixo, oiide parecc scr
iadispensavel a rima, se podc prescindir del-
la, 0 poiito csla cm que o poeta seja pocla. '
Cabe aqui indicar outro iiuonvcnicnte e
nao peqiieno, que dcvemos attribuir a rima,
e e, parcce-iios, por a poesia ao akance de
todos OS que se lembrani de fazer versos, sem
tcrem para isso os conhecimeutos suUicientcs,
0 um certo tacio natural tao ucccssario. To-
<los OS dias as I'olhas periodicas e as publica-
i'oes separadas uos pOe diante dos olbos cen-
tos de versos, cuja leitura nos leva a julgar
que, entre nos, a poesia estii na razao in-
\ ersa dos poetas. E nao se ache contradic-
cao nisto que dizemos: coucebe-se que o
mesmo que serve de obslaculo aos bons poe-
tas, seja caminlio facil para aquellcs que,
Icvados pela harmonioso das palavras, cousc-
guindo tiizer versos certos, licam por ahi,
sem curarem do mais importante que e a poc-
sia. Se as palavra.s sao o meio pelo i[ual se
Iransniitle a poesia. e claro que devem scr
proprias c accoinmodadas ao assunipto, mas
' romo taes exemplos uao sao miiilo commuii.s,
seja-nos permitUdo eitar os seguintes logares, onde
ninguem sentira de certo a falta dos .copspant^s.
"i '
Quereis, oli amadores '■'*''■■ '*''
Amadores ditosus,
Ir de Jornada? — As margcns
De \6s visinhas ide.
Um miindo senipre bello,
' Sempre variado, e novo
Vm .10 ootro vos sede,
Tende por nada o resto.
Eu tambem vos confesso
Que amei
Ai ! momentos tao meigos
Quando vireis de volta?!
Taes, tantos, tjlo donosos
Ot>jectos, tcDi, a arbitrio
Do im|)io dessoce^o
Desaiui'arar esta alma? !
Mais de sentir nao tenho
Esse encanto que enleva ? .'
Transpuz d'amar a quadra?!
FbaKCKCO MlNOEL.
nao Ihe devemos dar tanta importancia que
se tornem 0 unico alvo do poeta. \ poesia
ntio Icni SI) por lim impressionar mais ou menos
agradavehnente 0 ouvido, mas deve insinuar-
se na alma, 0 inspirar nos que ouvem as
paixt-jcs c OS sentimentos do poeta, isto e,
acordar cm nos scnsacOcs, ((uc, ou por Icr-
mos lima imaginatao menos brilliante, ou
um sentimcnto menos delicado, ou linalmente
por nao estarmos nas circumslancias t|ue
0 poeta dcscrcvo, nao tinliamos scnlido. Para
i.'-lo t! ucccssario que a poesia csciipla seja
livre e llcxivel para se amoldar a poesia
sentida.
A pczar disto a rima tern sido de todos os
tempos; mas parcce indicar quasi sempri:
uma epocha de diMadencia na lilleratura. —
uQuaiuio 0 goslo e a dclicadeza (juc resullava
de ouvir, c de I'allar a lingua lalina, diz M.
Canlu, comecou a embotar-se, nao se atten-
dcu scn.io aos sons, como se \v em certos
auctores e nos hymnos da egrcja, faccis para
0 canto, mas rebeldes A prosodia.u — Estc
llagello. porem, vcni de mais longc; nao so
era conhccido dos classicos grcgos c latinos,
que ainda assim punham todo 0 cuidado em
evilal-o, mas tambem dos arabes, e ate so
aflirma ([ue 0 livro dc Job no stni original
era uma poesia rimada. Seja porcm como
for, e certo que os grandes niodclos da anti-
guidade seguiram so a naturcza, c nao se
prenderam com palavras lerminadas no mesmo
som.
Nao sabenios so todas as linguas se pndera
libertar da rima. A franceza, a pezar de M.
de Voltaire dizer na sua arte poetica que os
versos precisam, para tercm harmonia, tla que
llic I! dada pela repelicao dos mesmos sons, tcni
por si e contra a rima, cntre outros, Feneloa
c Mercicr. Nas dcmais, onde a transposicao
e mais facil, pode e tem-se dispensado a rima.
Muitos dos bons poetas ingiezes cscreverani,
e cscrevem em verso solto, e nem conheciam
a rima antes de li/iO, epocha em ipie foi in-
troduzida por LijJfjate. Os hespanhoes e italia-
nos escrcveni cm verso solto, e nos podemos
prescindir inteiramenle dos consoantcs. Ncsta
opiniao podemos eiiganar-nos, mas engana-
mo-nos cm muito boa comi)anbia; t'ilinlo, 0
campeao da lingua portugueza, dclcstava a
rima, eacbava que era uma cousa prejudicial.
Os seus onze volumes estiio clicios de excel-
lentcs versos, c so uma ou outra poesia de
menos vulto t; rimada, e elle mesmo diz, que
as escrev^ra para contentar a todos.
A. GIRAO.
289
MEC'K-OIiOC^IOc
Mais urn anjo vooii da terra a corle celes-
tial! Grande c sui)iinie ideia e esta,
com que a religiao sancia vein niitif,'ar as an-
gustias da faniilia cntregiie ao iuto e a dor;
e um balsainn divino, que Deos, por sua iuli-
iiita liondade, derrama snl)re as I'eridas aher-
tas pela saudade consuniidora. 0 pranto e a
conslcrnarao exlinguiriani a vida, se a reli-
giao, no nieio de tanla amargura, nao prc-
slassc conlorlo dc esperanca e eonsolaeao.
Mais um anjo voou da terra ii corte celes-
tial! Esle acontecimenlo giorioso nos faslos
da etcrnidade, mas deploravcl na lusloria
d'unia fumilia, teve logar no dia IS do mez
passado, pelas scis horas de tarde. A morte,
por insondaveis designios do Allissimo, des-
c^rregou o goipe, e a E\m.' Sr." D. Maria da
Victoria Osorio Cahral Pereira de Menezes
deixou de existir entrc nos.
Era uma planta de grandcs csperancas, que
foi cortada pela fouec do segador, no verdor
dc scus dias ; viu o niundo mas nao o conheccu ;
seu espirifo revcstiu-se das formas humanas,
so para sc fazer admirar.
Nem a elevada intelligencia dos facullativos,
ncm a assiduidade e esmero no tratameuto,
nem mcios alguns dc salvacao poderam debcl-
iar agravidade eprogresso do nial; nesta luta
cntre a vida e a morte, a medicina sentiu a
f'raqueza dc scus rccursos, c a filiia mais nova
do Exm.° sr. Antonio Maria Osorio Cabral e
da Exra." sr.° D. Maria da Conceieao Pereira
de Menezes, cxlialou o ultimo suspiro na
vespera do seu decimo quarto natalicio.
Sua alma pura. . . pura. . . como um anjo,
pubiu gloriosa ao seio do Eteruo: sini, como
um anjo.... d'outras pcssoas seria tenierida-
de dizel-o, mas da Senliora D. Maria da Victo-
ria seria tcmcridade duvidal-o. Suas facul-
dades intellectuaes haviam manit'estado um
desenvolvimento admiravcl e preraaturo; suas
virtudes rcligiosas e moraes faziam-se notar
pela perfcicao e (irmesa, que so por muitos
annos de provas se pode adquirir. 0 juiso,
a prudencia, a caridade, e todos os mais
dotes que, no mcio das procellas da vida,
podem fazer um ente feliz, e util aos outros,
revestiam este anjo.
A morte roubou-nos este thesouro, onde
se achavam encerradas tao prcciosas virtudes.
Sua alma Candida. . . . essa faisca da divin-
dadc, subiu radiante ao centre donde tinha
dimanado. « •
VICTORIA LIADA.
AEXM.^SR.^D. MtRiA DA CONCEH, \o PERFTRA DE MENEZES.
I.
S('pro de morte, ein Itia aurora aiuda.
Victoria linda, desbotuu-tp a cor;
Voz do Senhor a ontra vida infinda,
Victoria linda, te chamuu em flur !
Xascida ;i sombra de forraoso rodro ,
Onde Dom Pedro mciga Ig:nezaniou,
Como choroii a morl.i If^iiez Dora Pedro .
Ao pe do cedro tua niae chorou.
Fonte de lag:rimas e amor chamada
Viu-te embalada na liia infancia ahi ;
Do Ceu aqui lii vinhas ja fadada
A ser chorada neste amor por ti.
Vento da tarde te levou sem cnsto,
Qual tenro arbu^to sem raiz no jn' ;
Mas vacs co'a fi' enraizar sem suslo,
Do throno augusto do teu Deiis ao pe.
Como arribada d'oulra praia a beira,
Ave estrangeira que por ca gemeu,
Do patrio ceu a suspirar fagueira
N'aza ligeira remontaste ao Ceii.
Anjo da morte a derradeira hora
Na torre agora <iue soou ja diz,
O bronze quiz alii chorar . , . nao chora,
Nem prece implora ... so bradoii — Idiz !
II.
Feliz! de certo, e nao chores
Dira tudo k triste mae;
Porque a filha, sens amorps,
Mclhor nuindo agora tern :
Nao chores Ihe jiersuade
A christa conformidade,
Nao chores , . . mas a saudade
Rebeivta do cora^ao ;
Se curva a fronte ao tormento,
Se obedece o pensamonto,
Vem rebelde o senfimenlo
E as faces regadas sao.
Nem ha crime nes.'e pranto,
Da Dens prantos para a dor ;
Na amargura teem encanto,
Que autre maguado amor;
As lagrimas sao do horaem.
Por j)rivilegin Ih'as lomem,
* Estes versos foram feitos por occasiao da iiiuilu
da Exm/ Sr." D. Maria da Victoria Osorio Pernira de
Menezes, que nasceu na Quinta das Lagrimas, junto a
Coimbra, em 16 de Janeiro de li;41, e falleceu na mesma
Quinta em 15 de Janeiro de 1U3.), sendo enterrada no
dia 16 em que completa^a 14 annos de edade. Sua
extremosa miie, a quem os versus sao offerecidus, costu-
mava charmar-lhe flctoria liitda, e d'esta terna expre-
sao do afTt'Clu maternal se tomou o litulo da composiijSo.
290
Quo -te A lui dos olfaoa somelOt
Tambera nellas briiha luz;
<juanilo da Cruz ja pendta
O Fillm, que Ihe morria,
Tamhem a Virgem Alaria
Fui chornr aos pes da Cdiz!
Chora, poiSf 6 mSe saiulot^a,
Chora a filha que morreu.
Koiha a folha dossa rosa
Hecarda n que ja foi leu :
Pinta as gramas na memoria ,
Kssas Kra(^as, docp gloria
Que da formosa Victoria,
N'alma e corpo, podes ter;
Beija o nome — prophecia
Ua victoria que a devia
\a vida, c na morte um dia,
C'roada sempre trazer.
Sp ves triste o esposo ao lado.
Sc OS raais fiUios tristes ves,
Se o teu anjo e tao chorado,
Tu mais na dor te reves;
Mais lembra enlao que voarn,
Na falta mais se repara,
Mats viva se retratitra
A pomba que andava alii;
Kra a alegria de tiulo,
\a meza, no brinco e estudo,
K tudo agora ves mudo,
E a saudade cresce em tl.
Oh ! n^o ha, nao ha na terra
Outra dor corao essa dor.
Que longe ca nos desterra
Da vida do nosso amor;
E das i>enas negra pena,
Toda a outra e mais pequena,
K se Deus nao a condemna
Deixem a pena (>enar;
Se nos leva todo o riso ,
Se is vezes leva o juiao,
Do gosado paraizo
Vossa a satidade Gear.
Chora, chora, alma pungida,
Pobre miie, se alivio e teu;
Intendo-te a dor sentida
Que l>era perto a vi ja eu;
TambfUi do filha formosa
Vi na face meliiidrosa
Desbotar nascenle rosa,
K a raurle em torno a rugir;
Da sepuitura aos regelos
Vi-lhe OS pes ir a descel-os,
Quando Deus pelos cabeUoS
A suspendeu de cahir.
Tu foste mais desgra^da,
Rola viuva, bem sei ;
Choras na campa fechada,
\a campa aberta eu chorei;
Mas nessa magoa que eu tluhs
A Ina bem se adevinha,
K por isso acceita a minha
Que comtigo chorar vera !
Ah! dize , como eu dissera,
Se e anjo do Ceu . . . podera ,
Vivendo como vivera,
Sqt anjo depois tambem.
HI.
Mu< lii ^■ac . . , oh ! la jaz . . . inda fumegam
Mai extinctos brandSes! . . .
A^ora em voUa os crepes se despregam . , .
E das sanclas can^oes
yo8 ja desertos muros da capella,
So re-;ta o echo a suspirar por ella!
Quatorio primavera^ .' .... Falta um dia . . .
Dia do aeu nalal I . .
Ai 1 mas nesse . . . infeliz! ... a mtie fazirt
Da filha o funeral !
E em vez de fesla em honra da donzella.
So resta o echo a suspirar por ella!
Senhor! Senhor ! Xao linhas lu mais anjos?
Tao de pressa, Senhor? !
P<ii,s rallam-te no Ceu coros d'archanjos
A cantar teu louvor? . . .
Koubando ca da terra essa vox bella.
So resta o echo a .suspirar por ella I
Eterna roagoa nunca interronipida
Ksta, ao menos, sera;
Entrc a morte e a memoria, espai^o a vida
Alegre nao tera.
Que da alegria da apagada estrella
Sii resta u echo a suspirar por ella!
i. DE LEMO^.
POESl.V SLAYA CONTEMPORANEA.
Continuado dc pag. tlO.
III.
Se folliearmos as obras dos poetas russos
Derjavin, Pouchkine e Lermontof, com o
iiiluito do dt'scobrir os iiovos horizonles, as
fonles iguoradas que Ihes abriu o gouslo,
acliaremos que para cllcs o sentiniento da
poesia popular, e de um ideal propriamcnle
sou, aiiida agora comora a grrniinar; mas,
pcio mcnos, ja se ve que vae apontando; c
se na Russia desabroclia com vagares que
fazera descorfoar, deve isso laucar-se cm conta
a causas pet iiliares. Em priniciro logar o gouslo
russianno, debaixo do embrutecimento devido
a oppresMio dos moujiks, caiu n'um estado
niuilo viziiiho da salvajaria. As piesnas col-
lacionadas pelo cosaco Jakubovitcb, mais co-
niiecido pelo pseudonymo de Kircha Bauilor,
abundam em treebos de fazer arripiar. Re-
seiUem-se do lataro c do mongol. As ran-
cOes amorosas denuneiani um deploravel aba-
timento moral. Os eantos beroicos sao os
unicos (jue conservam aiuda, scnao toda a
pureza jirimiliva, pelo menos a sua energia.
E por isso coneebe-se bem o soberano desprezo,
a que OS poetas acadeniiios de S. Petersburgo
votam 0 fpiisle. Jukovski e Baliucbkov, apezar
do seu talento inconteslavel, apenas sabem
traduzir no russo as ideas eslrangciras. Der-
javin possuc, na verdadc, mais alguma cousa
da jwesia local; mas as suas principaes inspi-
rafocs sao colhidas nos velbos monumentos
i da literalura sagrada.
0 rosmopolita Poucbkine parece ter sido o
primeiro que na Russia comprebcndeu o go-
uslo, mas foi para o repellir, pois intendeu
de prompto que encontraria nolle um rival
temivel. Assim nao perde nunca a occasiao de
moltcr a ridiculo os rapsodas enfadonhos que
ellc conipara com os auctores asialicos dos
£91
Contos da Mil e Uma Noiles. Pouchkino compoz
unia ininicnsidadc do contos, porcni vcidadci-
ras piesiia.s iicm iinia so. Acontoce-llie porciii
as vezes o aliiiar pelo loin dos youslars, como
em alguns dos sens vi-rsos iiUiliiiados o Giro
eoSabre. «() oiro gahava-se ccrlo dia dizeiulo:
0 nuindo intciro e nicu; mas o sabre respon-
dcu-lhe: Enganas-le, so a inim e quu o muiulo
pertcncc. — Eu posso comprar liido! cxilamou
0 oiro. — E cii, ri'plicoii o sabre, posso coii-
(|uistar ludo pela lorra.i) Nao parece esta
setiteiifa extrahida das collecc'Oes dc Yak?
Apossando-sc. jjorem da allegoria popular,
Poiichkine nao dcixa dc Ihe misliirar seiupre
0 I'el c 0 puiigente sarcasmo byronico, que o
impede de eomprehonder a belleza primitiva
iia sua simplicidade graudiosa. E assini que
0 cnconlramos na sua allegoria dos Dois Vor-
tos: <(Um corvo, passando no seu v6o per
pcrto d'oulro corvo, grila-Ihe: Onde leremos
hojc que janlar? — La em baixo vi que jazia
0 corpo de um heroe assassinado — Por quern,
e por que I'oi elle morto? So tres cnles o
sahem: o seu falcao que fugiu voando do
bo.sque; a sua egua prela, na qua! monlou
o seu inimigo; e a sua joven esposa, que
parece que espera por quern ama, nao pelo
assassinado, mas pelo vivo.» Nada por certo
menos digno do youslar do que o riso cruel,
com que termina esle rasgo poetico.
Ve-sc porem que Pouchkine fazia tao pouca
idea dos thesouros sotterados na poesia popu-
lar russiana, que intitulou Cunlo sercio uraa
das slias poesias ligeiras, que parece o resumo
literal da piesna: Na litooskom rubijie (na
Fronleira lilhuania), da colleccao de Kircha.
E um corsel, que sentindo approximar-se a sua
morle e a de seu amo, abaixa a cabeca na
vcspera da balaiha, c dcixa cair sobre a
rclva as suas criuas compridas, scm querer
heber nem comer. Ao seu cavalleiro, que llie
pergunta a causa dos sens pezares, responde
cxactamcntc como o cavallo do joven boiar
moscovila na poesia de Kircha; e e a isto
que Pouchkine cliama um canlo servio.
Para os herdeiros deste Goethe moscovita,
a scena muda d'aspeeto. Lcrmontof e ainda
ura pocla byronico, e um admirador de Sa-
tanaz c dos sens triumphos, celebra os heroes
da epoclia, e divinisa o inferno com tanta
paixao como qualquer dos romancislas actu-
aes; percebc-se porem que nelle a veia sa-
lanica esla para seccar-sc Sem o prcsenlir e
doniado por um fdrca mysteriosa, cujos segre-
dos ignora. Apczar do seu desdcra orgulhoso
para com a poesia primitiva, e forcado a
admiral-a, e n'um lorn meio chocarreiro, meio
impio, procura inspirar-se deila, coran se pode
\h na sua cxtcnsa piesna sobre o tsar Ivan
I nsilierilch, o seu joven pagem e o audaz gost
Kaldchnikov.
•■X ti, terrivel tsar Ivan Vasilicvitch, ao teu
pagem mais estimado; e ao atrevido raerca-
dor Kalachnikov, dedicn eu esta cancao! Foi
composia por un\a nioda cstrangeira, nos a
cantamos pela toada do gotisle! Ao ouvil-a, o
povo ortliodoxo sc rcgosijou ; o bniar Mathias
nos apresentou uma laca a iransbordar dc med
cspumoso; a sua nobre e alva esposa nos fez
assentar a sua mesa, c nos poz dianle, sobre
um service de prata, um guardanapo orlado de
soda, e por tres dias e tres noites nos rega-
lou, seni se cansar de ouvir a nossa cancao.
Jii nos ceos s'esconde o sol, e as nuvens
azuladas nao o podcni adorar, porque li su-
perlicie da terra esta assentado no seu palacio
do Kremle', coroado de um diadema brilhan-
to, 0 terrivel Ivan Vasilicvitch; os sens escu-
deiros trinchantes esiao em pe por dc tras
delle; ao lado (icam-liie os sens guardas, e
cm frente estao os boiars e os kniazes. 0 l)an-
(jucte esta animado: o tsar bcbe a gloria de
Dcus, a sua propria gloria e a satisfaccao dos
sens prazeres; dcpois, tomando do snupiiisoir
doirado cheio do niais gcneroso vinho do ullra-
mar, envia-o aos sens guardas, os quaes, todos
cm Ilia, bebem a gloria do tsar. Um so dentre
dies, um beroe ainda joven c audaz, nao
quer beber; mas, 'silcncioso, inclina a sua
frente altiva e triste sobre o largo peilo onde
bate um coracao robusto. Apenas repara na
attitude do mancebo, o tsar lixa sobre elle
um olhar agastado, como o abutre que do
alto de uma nuvem espia a innocente pom-
binha ; dcpois, batendo violentamcnte com o
seu bastao sobre a mesa, grita com uma voz
terrivel: Kiribiecvitch, meu pagem, em ([ue
pcnsas tu com esse ar sombrio? Acaso eslas
cansado dc me servir, ou invejas a minha
gloria? Quando a lua sobe pelo ceo, as estrel-
las regosijam-se dc a ver, e as nuvens mais
tencbrosas tornam-se claras a sua approxima-
cao; nao te acontece o mesmo, Kiribieevitch.
A alegria do teu tsar te assombra. 0 mancebo
pro.stcrna-se diante do terrivel tsar: Sciiboi-,
se por Ventura o leu indigno escravo irrilou
a tua alma, faz-lhe cortar a cabeca dc promptu,
elle mesmo ira olTcrcccl-a ao algoz. ! — Que
e pois 0 que te falta? replica o tsar. 0 ti'u
caftan de tela d'oiro ja esta usado? a caso
enxovalbaste o ten Katpak de zibclina? o leu
cavallo esta manco? ou tu mesmo, filbo de
gosl, deste algum niau geito no assalto em
que pelejaste as punhadas .sobre as margens
da Moskva?
Continua.
ASTRONOMIA.
Dcpois que se publicou em o N.° 11 do 2." v.
do Instituto a relafao dos pequcnos plauetas
descobertos ate o fim do anno de 1852, desco-
hriram-se os seguintes, de que temos noti' ia :
' O Kremlin.
292
N.-'
24
;N.'^
2j
N."'
20
IS',"
27
N,^
2S
■Phocea — por Cliacornac em C de
abril de 18o3.
-Tliomis — por Gasparis em C de
ahiil do 1853.
• Proserpina — por Luther era !> de
Maio de 1853.
-Euterpe — por Uiiid em 8 de iio-
vemliro de 1833.
• Amphitrite — por Marlli em I, e por
(lliacornae em 3, de
Marro de 18oi.
• Bcllona — por Luther em 1 de mar-
fo de ISj'i.
■ Urania — por Hind em 22 de jiilho
de 1834.
■ Euphrosina — por Ferguson em 2 de
setembro de 1834.
■Pomona — por Goidschmidt em 20
d'oulubro de 183i.
■Polymnia — por Cbacornac em 28
d'oulubro de 1834.
Ve-se pois que, neste ramo, os trabalhos
4o.< aslronomos em Italia, Franca, Ailema-
uha. Inglaterra e Estados-Unidos, nao foram
letribuidos com menos absndante colheita nos
annos de 1833 e 1834, do que o haviam sido
iia maior parte dosannos precedenles.
N.'
20
N."
30
^r
31
K."
32
IN.'
33
BIBLIOGRAPHIA.
O Aniiiro dosMeninos, parte 1.", extrahida principal-
juoiile do Der Deutscher Kinderfreiind de Mr. Wilinsen,
ordenada pelos cuidadus do ill."'*' sr. M. A. Coelho da
Rocha, Lente calhedralico da faculdade dedireitoda Cni-
versidade, menibro do Conselho superior d'inslruc^ao pu-
biica, etc, eapprovadapelo mesmo Conselho superior para
iizo das eschulas, — segiinda edicao — Coimbra, 1853,
J. ina.°
O Aniigo dos JMeninos, parte sepunda, ou Manual de
principios elementarissimos de;;enp:raphia,2:eral, ctioro;jra-
phiac historiade Portugal, !^rammatica,arithmetica, dou-
Irinachrista, hisloria sagrada, e moral practica e reli^'iosa,
coordenailo e publicadt* para uzo das escholas e exanies
d'instruc^aojjrimaria, por A. Forjaz, eapprovadopelo Con-
selho superior. Coiinbra 1H54, 1 in H.*^
O Ami?o dos meninos, introduc^ao, comprehendentM
uni ahcedario de loilura e numera^ao, e uns primeirus
exercicios de leilura; e ne^tes o pequeno catecismo das
dioeeses de Colmbra. Vizcu, Lamego, Bragaut^a, etc., e
tudo em raracteres variados, por A. Forjaz. Primeira e
sppinda edi^ao, 1854, 1 in 8."
(.'alecisrao de doulriiia christit da diocese de Coimbra,
adoplado pelu Excell.™" e Revd.""*" senhor Arcebispo Bispo
Conde (eposteriormente pelos Kx.™"* eRevd."'"*' srs. Bispos
de Hragan^a, Bfja, Vizeu e Lamego), Iff54, 1 in 12; e —
«» rt'zumo do mesmo, primeira esegundaedi^ao, 1854, 1 in
:vi. -
Em lodos OS pafzes encomenda-se a amizade, lizongeira
f benevola, o dar noticia das no^as publicaf^Ces, com ipie
n liomem de lelras enlendeu dever concorrer para a il-
lii.-lra^rio deseus conlerraueos, senaodomundo. Em muit"s
b:l lambem jornae?, que,pelo interesse geral, tnmam sobre
^i » mui util, mas melindroza tarefa, da critica literaria,
iulnuetendo, com pausada leitura e reflexao, a um exame
rlgurozo essas me»ma« publira^ocs.
A criltca literaria. verdadciramente fal, vae atrazada
cutre n-ji. \ao temesjornaes bibliojrraphicos. Alcum tti-
eiUificoapeoas vegeta. Epor von turn que as^im sefiimclhor
p.»r emquanto. Sao tao poucos, absolutnuuMiti' falaudn,
Iportpif em relaratj a tempos passadits s'lo ja muitus"), os
escriptos que saem dos nossos prelos. qnr fura para recear
d'uma crilica severa oaugmciitar mais um estiVAo a tnntos
ipiefazem descoro^oar enire nos a lodo ocscriptur, que nao
sfjii jMiro romancista, ou antes, bom ou nuin. traduetor de
novelas.
O editor d'umas da-<! jmblicat/Bes ncima aununciadas,
autor d'outras', traduclor d'algnmas; e por cujas mSos cor-
reram todan com grande traballio. dezejoso df (pic a hislo-
ria delbis, e a noticia de seu couleudo ficass<'ni consignadaa
nas paginas do Iiislituto, poderia rogar a paciencia e il-
Instra^ao d'amigos para que se dignasseni tomar sobre si
c-sf <'»carreg'> '• entendeii |iort^m (pie, a nao obfcr lima cir-
cumstanciada cpnsura, era mellior eserever elle, .suscitan-
do taU i-z por isso mesmo a occasiao da critica, que dezeja
para m*-lhorar o.> sens trabalhos.
O nonie do princi|'al colaborador do primeiri), as appro-
vatM^i's de todos peb> t'onsi-Iho superior; e naipieiles, que,
por sua materia, mais irapor tarn ao beiueiiillustrat^ao geral,
OS catecismos, a adop<;ao, que dos uiesmos teui sido feita
por alguus dos prelados da egreja porluguf-za, manifestam
haver ncstas pul)Iicai;oes um inlert'sst- vcrdadeiro e solido,
cuji* conceit** galar(b'jaa todos os que tomaram parte nellas;
e em especial nus anima a nos a darmos conta ao publico
do seu ctHileudo.
O nonie do sr. Coelho da Rocha sera sempre saudoso na
Cniversidade, Era um sabio. Era maisainda. um phijoso-
pho chri-stao, exemplar como sacfrdote. modcsto, d'vim
tracio singelo e facil, despido de toda a fatuidadc e pedan*
laria, (|ue lanlas vezesassombra e escuruce os mais profun-
dos conbecimentos nas artes ou nas sciencias.
Membro do Conselho superior, foi naturalmeatc con-
duzido, no meioeapezar de seus profundos e incessantes
trabalhos juridicos e historicos, ain\esligar de ipie modo
a inslruc^ao ]>rimaria. fiindaniento de toda a oulra, cresce
e vigora uos pai'zes mais cuUos da Europa. O grande juris-
consullo nliif se dedignava de ter na sua bibliotheca e de
constiltar e ler algnns e muilos dos lirn'nhos, pueris na
Torma, mas adultos na sa moral e variados conbecimentos,
(|ue por M se publicam e consomem com profuzao para U30
dos mcninos.
D*-animailo da poUtica, por que conhecera a fundo o
vao dos parlido.*, e a immoralidade de sens combates am*
biciosos, soubede-jprender-se jiara sempre da rede, em que
um inslante se embara^ara ; e, t.»do entregue ao desem-
peidio de suas ardua'i func^Oes, reparlia o tempo entre a
jurisprudencia e oscuidados j)ela inslruc^iio publica, qimn-
do a inPvoravL'l inorle. precedida por umadas mais terriveis
enf(Tmidade.s, veio cortar ofio d'uma exislencia tao util as
letras e a humanidade.
Uuem (piizcr ffrmar exacla Idea da dedica<;ao e pacien-
cia, a toda a |'rova, dosr. Coelho da Roclia, nos trabalhos,
a que se pn>j)tNiha, saiba o como era feitaa primeira parte
do amigo dos meninos.
Lf'ra elle ein V. Cousin, que o livro Kinderfreund de
Mr. Wilm.sen eia um dos mais uzailos nas cscludas |>ri-
mariasda Allomanha; eque por toda a parte seencontrava
debaixo do bra(;o dos alumnus, que caminharam para a
eschola. Moven-lhe a curiosidade de ver esse livro a boa
infornia^iio, (pie por este modo alcan^ara delle. Masosr.
C. da Rocha ign^rava a lingua allema ; e jmra traduzil-o
nao tinffa oiitro meio senao o auxillo de pes.soa. cujo por-
tnguez careria as ^ezes de nova lradiici;fio em linguagelii
corrente para que podesse bem cinnprehender-se.
Todavin o livro veio, leu-se, e a traduc(;iio l«'ve principio.
Com que jaciencia! Que enfado para qualquer outrol
enfado, qnajquer (pie fosse o livro, embora o mais primo-
roso escripto d'iim Savigny, inapreciavel para um Jcto! E
(1 livn* (»ra dt." meninos, pueril na forma, singelo na substan-
cia; qual cunvintia [ara as escholas', mas qual em regra
afasta os homens costumados a ler e meditar Hvros de sci-
encias !
Passaram-nos pelas maoe os cadernos em borrao. Conhe'
C'-uios por vezes (pie o sr. C. da Rocha havia sido mais que
tradurtor; liam-se nelles murtos periodos. todos .wus.
\aopodcuios recordar-nossenj comnioi^aodolegado.quc
293
recebemos dc vivn voz, qiiarulu a inorte jii era |»ru\imn ;
legado llie cliain^mos, por que n era para uos, anU'S coino
iireceito, a que nao deviamos faitar. Tudavia a sua dcliea-
deza limitara-se auma recuniendarao. a urn dczrjn, deque
nl^uem nproveitasse esses sens trahallins priiicipiadus.
Do extenso livro de Mr. Wilmsen apenas cslava Irasla-
dada lima parte, c es.<a mesnia carecendu de niadura re-
\isriu. O sr. ('. Uoclia assim o conlieeia: c iia inipn'SMao,
que comr^ara a fa/er, ;'i niediila qu«' as pruvas rosseiu cor-
rendo, iria apiirandn <> trahalho.
Sens liL-rdeirns, sabednres da sua ^ontaib-, ofTerorcram-
nns n manuseripto. Aceeitamos com a condif^rm dt- ht para
o As)Io da infancia, (pie tivt^ra a liorira df onlar em o
numero de seus fundadures, e diiraiiti- <» efpat;") dc ] 1{ annos
n<jd<' sou socio, a<» Itemfazeju t.- illuslri- linado. () li\ ro, que
o ])ubIico hoje [hjssup, conti'm a maiur e UK-Hior parte do
queencontrain()snomanuseriptu, accr*'>centail'>eoiii:il;riins
coQtos de Schmid, e cum iimas imii breves nn(;ues de dese-
nho linear freometrico, faceis decunipndiemler-se, e uteisa
todas as classes.
No manuseripto ha\iau us ])rincipios, niiocoiiclnidos. dc
doutrina clirista e de jrrammalica. Knleudemos qui- era tan
conveiiiente realisar o lu-usamento do sr. ('. da K<jcha,
tornarido este livro o mais ciunpleto |n»s>ivel. e d<- modo
i|ue OS pais, conipratulu urn su. ahi eucontrasseni | ara seus
lilhos lodo o quadrn do que deve aprender->e na esciiola;
enmo iadispensa\el fazel-ocoma mator reflexiio. mormeiite
na parte reb^'iosa. IC por isso reserv.mios para ou1r<i tempo,
que uao tarduu, o ciiidar deste grave nej^ociu ; para o qua!
jtt, deha muito, couver^iam os nossos peusamcntos, eal^ruus
(rul)alho.s haviamos pucetado,
Ficou ]iois redtizido o que juidemos apru\ritar do ina-
nuscritodo sr. C. da lloclia, e s.eeoulem na primeira parte
do Atnigo dos meninns a 4 sec^-oes: — a 1." (pie tern por
objeclo: Breves liqoes, propriaa para exritnr a altem;do t
a rejJexao dos iitenifum : a 2.* Li^urs proprias para avivar
a intiUitjencia e exc'ttar us boiis senti/iient'JS .a .1.^ Canfos
moraes t religiosas: a 4." Historia natural ; e uma 5/
addieional. que, como ja dissenios, Ihe accrescenlamus :
Algumas iia^ots de deatnho linear.
Nada mais curioso do que a maneira, por que Mr. ^Vil-
nisen, na primeira see(;ao, occupandu-se de noroes di>s
phenomenos os mais vul;:ares, e da natureza, sensivel e
patpavel, dos otyectos que nos cercao, attrae aattent^Tio dos
meninos, e sem esfor^o os ol>rii.'a a retlectir. e como a advi-
nharem o que de couzas elb-s pro|irios sal)em, sem o pensar.
Destes objectos materlaes o alitor sobe, na mesma sec-
ijiio, aos moraes e intellecluaes, sem alterar a mesnia
constante singeleza d'cst^lo, e clareza d'ideas, occeshivel
aos ahimnos.
Qiier, por expmpl->, fazer sentir. se nos e licito dizel-o
»v>ini. a existencia em nilsd'um esjiirito, do ipial o c.irpo
nrio r senao um instruniento; enliioo A. , depoisde uioslrar,
em bre\es linhas, ronio os S4'nliib)S nos dao conlu'cinienlo
das cinisas externas, accrescenla b)go : jMas obser^o.
que nao <■ su nos mens menibros que exihte a eauza destes
movimentos. Os ouvidos nruiouvom por si so; por <pie no
iiomem morto, e ainda quando se durme, nada diiituacon-
Icce.
Deve por tanlo exislir era mini uma causa diversa, que
produz nos meml)ros estes en'eil(»s. Dcmais, eu descubro
em miin outras for(;as, e outra rapacidade, que nao pode
provir dos menibros, nem dos senti4l.iSj Tosso leml>rar-me
do ipieapreiidi honleni naeschobi, do que comi anlehon-
tem. e do btgar. aoude estive, h;t muilns dias. I'o.sso re-
preientar-rae a ft.^iira d'uma arvore, <pie eu vi d'aqiii niuito
longe. c a jaqueta que romp! antes desla. 'I'eniio pre>enle.
como se a esUvesse vendo, a fjgura de men pai, de minha
iniie, lie meus irmaos, api'zar de os nao ver a^ora. Posso
lembrar-me, e imaj^inar ludo isto, sem empregar nem a
cabeea, nem as maos, nem os pes, ncra o.^ oin idos, nem os
(tlhos, nem outro allium membro.
Queni e pois que me lembra e representa estas couzas ?
jfe a minha alma; nao a vejo, mas ella existe em mini:
percebo-a pela memoria, pela iniagina<;ao, pelos sentidus."
Se o A. pretende inslruir ns nieninos a cerca das ideas
abstractas do inipossirel ^ do nercssarif), »b» indiff'ere/ite,
i\ufim. eis ahi como elle sefaz eiilender facil esua\emente.
— •'• rhama-se impossivel aquilln que nao se pddi: fiizi-r.
A^sim <■ irnji<»ssi\ri ipie uin meiiino apreuda, se nao e.-ti\er
atteuto, E iuipuvsivil que o lume nao rpieime, (pn- u
un^rto lonie a viver, que uma pessoa de um salto para a
lua."
No fini desta belbi seceao, iIel)aixo do tilulo de — ptr-
gunlan rariadaa, o meslre e condiizido a in\estij:ar. eon-
versando, se as sini^elas no(;oes aniecedentes peui-lrarao no
entertdimento e na memoria dos jo\ens leitores. Por exmi-
plo : — 'lOas eousas, que conheceis, aponlai-meas que '■h't
feilas de b-rro. — (b' la, — d'altrodao clc."
Mais adiante : - — ut^uando si- diz ijue e dia r Onde rsl.i
n stil. (piaudo o c«'o esta coberto cb* nuvensr K onde cstil
file de noiti;.'" Muis adiante: Kemulai agora asseguintes
I)roposiroes.
Uiieni niio esta na eschola enm altenrao. naibi , . . e lieu
11 m . . .
Na agua vi\em os . . . Xoar vivem os .... A tinin »■ as
pennas servem para . . , as agulhas para .... etc. clc-
Se o eiisino da leitura devc apenas consislir em inslririr
OS meninos np processo, mais ou menos mecanico. (b* lit'ar
OS elcmentos f-^criplos da pnlavra, sem fazer retlectir rm
seutido dessa palavra, toda esta primoro>a sec^'io e inilil-
fereute,e lanto valadoplal-a para leitura cor rente na-se-^clm-
las, cnmo um qiiabpier outro allarraljio. Mas ye a irislriic-
rao priuiaria tem de dirigir-se principalmento ai* enteiidi-
mento, e somente dejiois a memoria, como entendemos ; si-
Ihe perti-nce, d'obriga<;ao ngorosa, de pb-na responsabili-
dade perante Deos e perante o niundo. fazer sua^eiiu-nle
de^envolver as mats nobres faculdades da alma, e allrair a
infancia a reflexao eaoestudo, sem constrangimento. pur
gosto, jKtr emulaijao eporhaluto, ah! nesse enso nenliiini
mestre jias^e de corrida a 1 .'^ sec(;aodo Amigo dos meninos,
Lei-a. e relei-a muitns vezes, pausadamente. eenlremeada
de perguntas e resposlas, naturnes, como em coiner>a, nTio
obrigatorias, c impostas pebi auetoridade,
Temos que e>le primeiro capitulo da ohra de l\Ir A\ ihn-
sen, so por si, justifica a acertada escolha do sr. ('. il;r
Rocha.
Os ot)jectos das sec^oes segunda e lerceira, e a maneiiu
por que saodesempenhados, attrae naturalniente a curiosj-
dade dos meninos; e satisfazendo-a, deixa-llie na ;ilma a<
mais puras c Airtuosas impres>-oes. No manuscrilo lia\ ia
alguns excerptos das niiiitas, e niui \ariadas, e edificaliwi"'
scenas, (pie se eneontram na leitura ibi Biblia, e tpie laiil-i
instruem e e-^clarecem, como dtleiliio a quein as b'. Ttula-
via pareceram-nos incoinpletus, e ipie preeisa\am d'uiii
trabaiho mais d'espa^o. que por entao nos era im])ossi\»I
enijireheneb^r ; e do tpial nos desvia^a a considerarao Ue
(pie. neste ptinto. j.'i as e>chula> po>>viiiani iini Ii\ n* d'oitn..
iuiiuila\el, fi'ito ciTlameiile por qiu-ni nrm m'> niuito >abi;i
(bi-i c lusas .sairrada-*, mas taiiibem nada menus do uiodo d.-
falbir cjm aserian(;as, e interessabas, — a Ilibii/i da in-
fancia de Ntiirlieux.
O^a/ftnrft.' pcrdido, o — innrangvriro, o — i)i i/s rshi
em toda a parte, o — nienino esnialfr^ que iiiscrimos, \cr-
leiido-os de Schmi'It e outros, tem (amanlia naturabd;!-
de e iTio lina niorabdade. (pie tius parece juslilicada suhej;i.
niente a sua adniissao neste excellente li\ ro.
A s(:-c<;ao 4.^ — hislorin natural — ('■ e.^cripla com n
mesmo gosto apurado, e segura experiencia do genio .!..>
meninos. STio breves uo(;oes a cerca dos Ires reiiios. nui-
cluirubi com oulras — da terra e dc sens /lalfitantes : .■
todas ellas enlremeadas com al-^iimaa miii a]>r' prlada-
hi>torietas. agrada\eis e inslructnas.
Na sfC(;ao j.^ procuramos imilar o eslibi de Mr. A\ jhu-
sen ; e as no(;oes geraes. actuupanhada-i das conqieteiilo
figiiras, accrescenlanios uma C(dle(;ao de pc(iuen<is j»rob|.--
mas, (_' a maneira mais simi)les e clara di* os resul\ cr.
A primeira edi(;ao esgotuu-se breve, nem foi pii-.-.i^i!
einiiil-a a todos os assignantes. A segunda vai sendo pm-
ciirada, mormente em Lisboa, signal certo de que os jim-
fessores fazem justi<;a a este livro, jielo (jiial o sr. ('. (bi
Kocha mi>slrou I^em, (pianlo e apreciaiel a gloria, tpie n^t .
engeilou em Hespanba .Martinez de la lloza, e na ilaha
Cesar Cantu. a d'escrc\er |m.Ta o? meninos.
Cnutinna.
A. FOKJAZ.
294
ESTATISTICA PATHOLOGICA. DOS HOSPITAES
DA UMVERSIDADF.
1
nOMENS. EKFERSUBIAS DE MCILESTIAS INTEBNA9 — THIllESTBK DE OUTIBRO A DRZEMBRODK 1831. 1
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Siirampo . .
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Jrleririn •*.
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Hypfrlrophi;! iln cdraijHu , •■ .
Olislrurrrm <li> li.iro .,.,.....,.
C'tiirro do fsli'Hia^'t)
Alliijininitria — Typl^o
'I'ifira
Mutt'AtJus nau cUffSiricaJiis (cincu cr.trarani moribunJuti)
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Motiineiito
Exi-itiam
Rntruram
S'liram
Falleccraiu
lieh(;ai) dog fallt'cidus para 06 eiilrados
I |>ara us saidos
jiara tudus os Iratadus (cxUlciites e fntradus).
Morimenlo de toflas at euffrmarias ths fiospitiies
fla iinivertitiade em totlo o trinuslre.
Kxibliaiu
Eiilraratn
Sairam
FalteCL-ratu
[tclac^'au dos fatlccidus para us t-idradus
para os gajdus
para Indus ds Iratadus (exislenlns e i
Iradus)
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Oulubro !\ovembro Dezemliru Trinuslre
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1:10 9
1:7,5
1:15,9
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1:5,7
1:9,3
88
119
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1:5,1
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1:6,3
1:9,2
Tudoi
Ohsertaruet tin Itoroliigicat.
Medin
(TemperuUira aliuospherica ao Dicio dia ,
C-VItiira Imrometrica a 0.° Ccnl ,
Vcrdus preduminantos .
763
640
104
1:7,3
1 6,1
1.9,5
Oiituhio
17,19 cent.
mil
753, 757
E. SSE. e
SE.
Instilulo Vul. 3, N." iO.
296
Ainila n'cste trimostic iifio aiipam-pu urn so
ciiso de fehre intiMniillcnU', cm (jiie licasse
(lomonstrada a iiioflicacia do sullato dc (|ui-
iiini). Quatro dos dooiiles iiCio airaih-i iiao so
(Icnioraram no hospital o toiiipo iiccfssaiio
para so a\aliar o cllcito do aiiU'poiiodico. o
todos OS niais so ciiiaram da I'ebro inlonnit-
loiilo, apparoooiido aiiida alguns d'oslcs na
casa dos nao ouiados, per nao so lor ooniplo-
lado a fiira das moloslias t\w' vioiam ooni-
plicar a fohro. I'oi viiliiiia dostas ooniplica-
(■("ios 0 dooiito (|M0 ajipaiToo na oasa dos I'al-
looidos.
\ niorlaliilado nas piiounionias foi piando,
o nao adniiiaxa ipio fosso niaior ainda, por-
(pio, dos 17 pnoiunonioos ontrados no liispi-
lal. "lu oiilioii oom 3 dias dc molostia, olnoo
com i dias, (|ualio com ii, uui com 7, tics
coin 8. 0 urn coi\i I 0!
\ Dii'ccloria dos hospilacs n\inca dci\mi dc
vocollicr OS doontos dc pneumonia, por muila
ponuria que > isso no ostahclccimonto; mas
0 ccilo ([uc, levada por osta pcnuria a fechar
a porta a muilos doontos, e conhoclda por
loda jiarto osta diliculdado nascntradas, mui-
tos dcs^racados, (|uc alias tiriani procnrado os
rocnrsos do hospital no principio dc suas nio-
lostias, so alii apparcccm (piando jii nao tem
rcniodio. No nicu onlcnder a rigorosa ditlicul-
dado na acccitacao dos doontos 6 um desscr-
\ico na Uiroctoria dos hospitaos, (|uo alguoni
]iodcra juflilicar com os apnros da casa, mas
(|uo tom a posada rosponsahilidadc dc nuiilas
viclimas da tlassc mais dcsgracada, quo nao
]iodo nom sahe quoixar-sc.
Xao continiio a puiilicacao desta osUUisti-
ca. porqno doi\ci do scr ciinico dos liospilacs.
A. \. DA COST.k SIMOES.
dirocfao da classe dentro de 15 dias, e quo
em egual espaco de tempo as commissoes da-
riam a cerca dessos pontos o sou parccor.
0 socrctario da classp,
Antunio A. (hi C. SimOea.
ci.AssE i)i:sr.i£>riAS piiysico-matiie.maticas.
Pri'siilriilc II sr. Roilrign RtOvlro de Sottsa Ptnlo.
\ 18 do Janeiro dc 1 800 reunir-sc osta
classe e na forma do rcgulamento nomcou:
P.ira a commissao do scicncias malho-
maticas. os srs. Florencio Mago Barrolo
I'cio, Francisco Pereira Torres Coelho 0
\iiLonio Jose Toixcira.
Para a commissao de scicncias physicas,
OS srs. lloque Joaquim Fcrnandcs Thoniaz,
.loa(iuim Auguslo Simoes de Carvalho c
Antonio de Carvalho Coutinho.
Para a commissao de scicncias mcdicas,
(IS srs. Jcronymo Jose de Mollo, Joao Antonio
do Sousa Uoria, e Francisco Antonio Alves.
l)ptorminou-se que os pontos jjara cursos,
mcmorias c discussoc? fosscm rcmetlidos a
(;O.M.MISSAO CK.NTR.VI.
EXPOSIC.VO IMVFUSAL DE PAltlS.
U ISO.
A cinilmUsiiii renlrjil parii a <'xposi(;iii> iiiiiMT.siil de
Paris, (li-?,fjti.su (11* [ircstnr ticis srs. t'xposi tores lodus us
esclarecillU'lltiis, lellilrntes a fazer represetltar dr\ idanU'U-
tc n^aqiirlla granite rciiiii.HO o riosso paiz, lem a Ii(U\ra tie
advlrtir a todos a'luelles senIiori;s, ipie liu" teem diri^Ido
alfiumas diividas snlirr os prodnclos a;;rlculas, (jiie podem
ser adinittidos a niesina expo.si^.ao, e sobre o modo por
que deM'm ser feltjis as remessas, o segiiinte;
1.** Uiie entre todos os prodiietos a^ricola.^. teriin
nuilor aecei lai;.'io os que fazem ja, ou podem vir a fazer
ohjecto do conimerclo, sem com ludo excluir os que teem
na pro|)rIa localldade uma a|)plIca^iio restricta.
m." Que as remessas de cereaes, ou deoutras ([uaesqiier
sementes miudas, devem ser feltas a commissao central,
ou as commissoes dos distrlelos, cm >oIumes que nao
excedam a uma quarta de cada <{ualidade dilTerente em
saccos, cai\as, ou Trascos, com as competentes desijrua-
(;ues de nome, pre(;o, e mais indIca(;oes convenientes.
.1." Que das er\itluts, fa^as, feijoes, jrr.'ios de l)ico. r
mais lef,'unii's, ainetuloas. avel.'is, castanhas. etc., etc.,
remettam Milinnrs ipie n,no sejam siiperiores a UQia qtiar-
ta, para cada (ptalidade diversa.
4.° Que, pel(>,ipie loca aos tulierculoSj raizes, cebolas,
etc., etc., a remessa nao iteve'exceder aquairo arraleis
de cadaespecie, seudo acondiclonados de modo (pie ctie-
puem sem alterac.Vi ao sen destiiuj.
5.° Que as azeilonas e oulra>^ qiiaesquer conservjts de-
vem ser remeltiilas e(n fraseos devidro, on potes de loii-
(;a, tieni arrolliados e tac(ados, u.ho df\eudo jiesar cada
volume mais de quatro arraleis.
G ° *iue o \ inlio deve ser remellulo em jrarrafas ordl-
narias do eommercio. e cada remessa ni*io de\e conter
mais de sets ^'arrata- da inesma qualldade. nem menus de
ipiatro.
7." Que II azeite diM e ser taniliem remeltido em ^ar-
ralas brancas de mela caiuida, poiK-o mais ou menus, «
cada remessa niio (Ic*c c. inter mais de duas irarrafas (In
me ma (pi.itidftde.
W." Que as remessas de met, de assucar. de eera. de
commas, rezina*. feculas, litiras. cascas e outros prodii-
ctiis varios. n.io di-vem evceder em peso a (piairo arraleis.
e devem \\v liem (te ludicionadas.
9." Flnatineiite. que a commissao deseja e pede (pie
todi»s OS srs. evposilores ra(;am acompanliar as suas re-
ines.-as do inal>.r nuinero de e^etareelnienlos que Ities for
jHissivet atiaiiijir. relatiMis a>is sens pniiiitetos. inencio-
nando, com e>|<eeiatidade. a nalureza do solu. em ipn^ o
priiduclo se ciilli\a. as cireunslaiicias especlaes do ctima.
o metliodo lie eiillura, os pn.cessos de extrac^ao, prepa-
ra(;ao e conser\a(;riii, as (jiianlidade's ipie dos mesmos se
pi'ide older na localldade. o pre(;o por que se podem lan(;ar
no commercio, e Indus os onlros esclarecimenlos ten-
dentes a dar uina notleia compteta do otijecto exposto.
Sala da commiss.'io. ;U de Janeiro de U\3^^.^= Marqurz
df t'icalhn. presidente ^= Jfy.ve Jorge I.ourtiro =:= Julio
Mfixinio df Olirrira Piiiientel ^=Carln!t lionnt-t=.4yrrs
dc Sfi .\ogufira^^Jf/tit Ptdra C'dlani — SrbnMido Jti^f
Uihcir't df ,SV(. s(erelarlii.
® 3u0tituta,
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
I
IIVSTITUTO DE COIMBRA.
CLASSE DE SCIE.NCIAS MORAES E SOCIAES.
Spfisllu (le lo de feVLTeiro de 1^55.
Prosidcntc — o dircclor daclasse — o sr. Miguel
Uibeiid d' Almeida e Vasconcellos.
Ao mcio (Jia Ueclarou o sr. yresidente aberla
a sessSri, cstantlo prescntes 13 socios da classe.
Ijida e approvada a acla da sessao antecedenle,
passuu-se a ordcm do dia: I'arcceres das commis-
soes sobre os pnntos para memaiias dos socios e
discussOcs na classe. I.ido o parccer da commis-
sao de scieiicias ccoiiomicas e administrativassolirc
OS vinto e dois ponlos que Ihe haviain sido dislri-
biiidos, OS quaes todos, merios tres, approvaia,
salva a redaccau, decidiu-se, depois d'alguma dis-
cussao: que sc disculisse snmente sobre a materia
dos ponlos, deixando a sua redaccao a cargo da
mesa cum a obrigacao de dar conta d'cUa a classe.
Scguiu-se a discussao e votacao dos 14 pri-
mciros pontes, dos quaes foram approvados oilo,
julgando-sc que os outros seis podiam ser refuii-
diJos n'aquelles, mediatite leves modificaeocs na
redaccao dos approvados.
0 sr. presidcntfi, dando para ordem do dia da
sessao seguinle a continuacao do mesmo objecto,
l£\antou a sessao cram duas horas da tarde.
O Secretario,
Adriano ilachado.
Sesflao de 18 (Ic fevereiro i\f. 1855.
Presidcnte — o director da classe — o sr. Miguel
Ribeiro d' Almeida e Vasconcellos.
As 11 ' horas da manhan foi aberta a sessao,
estando reunidos doze socios. Lida e approvada a
acta da antccedcntc sessao ])assou-se logo a ordem
do dia: Coiilinuacao da discussao dos parecercs
das commissocs sobre os ponlos para memorias
dos locios e discussOcs na classe.
Foram votados os oito ullimos pontes, perlen-
centes a commissiio de sciencias economicas e
administrativas, approvando-se cinco, e julgando-
se prejudicados dois, e regeitado um. Passou-
se a leitura e disciissiio do parecer da commis-
sao do sciencias nioraes, versando sobre quatorze
pontos, OS quaes, menos tres, ha\iam sido ap-
provados, saha a rcdacrao, pela refi-rida comrais-
sao. D'estes pontos foram pela classe approvados,
salva a redaccao, setc, e suppriniidos quatro,
ficando tres adiados para que a sua discussao
podesse assistir o socio que os propoz. Passou-se
depois a dcsignar um dos pontos approvados
para ohjecto de discussao na classe, c decidiu-se
Vol. III. M.uico 1."
que na proxima sessao de 3 de maico polas fi
horas da tarde comecaria a discussao do seguinle
ponlo: (1,1 carta de lei de 29 de jullio de ISo'i,
iirelntiva d moeda, eslard cm harmonia com ns
fiprincipios da sciencia c com o eslado actual e
110 futuro prorarel du commercio dos metaes prc-
aciosos? t)
Nao havendo mais nada a Iractar, o sr. pre-
sidcnte levantou a sessao pelas duas horas da
tarde. 0 Secretario,
Adriano Machado.
LNSTRUCCAO PUBLICA.
A um ponlo de grande interesse publico,
syniholisando overdadeiro progresso das scien-
cias physicas o naturaes, convergeni hoje os
esforcos dos sabios mais dislinclos. Populari-
sar as sciencias, difl'undir pela massa da ge-
racao presente a parte util dos maravilhosos
desinvolvimentos, que neste seculo ellas teem
grangeado, tiral-as das regiOes especulativas
da abstraccao para o mundo posilivo e pra-
ctico, e hoje o singular, proficuo, e desvelado
empenlio das niaiores reputacoes scientificas.
A sciencia nao perdc a sua dignidade quan-
do desce da elevacao do pensaiuenlo, do cam-
po ontologico a realidade dos factos, ao fim
verdadeiro para que fora creada; quando me-
Ihora a cxislencia da especie humana, aug-
menlando os commodos da vida domestica e
accrcscentando as I'aculdades nos trabalhos
industriaes.
Compenetrados desta verdade, vao hoje os
gigantcs scientilicos dirigindo o ensino no
ponto de vista praclico. Nao e .so na instruccao
primaria cm que a insliucciio scicnlilica elc-
mentar se acha inoculada ha niuilo entre as
nacOes mais cultas, e que tao rapidos e agi-
gantados progresses ha IVilo ultimamente na
Inglaterra e na Franca, que as sciencias indu-
striaes tomam, como de razao, o aspeclo de
ensino puramente praclico. Nao e somenle na
inslruccao secundaria, cm que as sciencias
nao podem, nem devem elevar-se ao gniu de
transcendencia reservado as Faculdades, de-
vendo restringir-se a um ensino classico, que
transmitte a massa da nacao as nocoes mais
geraes, e mais uteis, que hoje se encontra o
cunho praclico do ensino. K na instruccao
superior, no seio das Faculdades, no centro
-1853. Num. 23.
^2v — ,;:*''Sigfcr^
;9S
(1.1 Eiiiopa civilisada que vemos, o admiiamos
as tfii'lciicias ao iMisiiio ila pailc ulil das
sciciu-ias ; podo estc dizer-sc o liaiilismo da
fivilisarao nioderna, a verdadoiia icjioiioia-
cao do onsiiio puhliio,
Talvez niii(;ui'ni iciilia coiUiiiiuido laiilo
para esia utilissima reloima coiiio Justus Lie-
big, e Dumas. Liebig com a piildicarao (,'rt.v
iiocas curias sobre a chijinica dedicadas a Mr.
Dumas, fuiidou, pode dizer-sc, uma sciencia
nova. Dumas ao melliodo do eusino, que Icm
adoptado, deu a sciencia a evoiucao, que re-
quciia 0 cspiiito do seculo, cm que vivc.
OlTiTccemos ao publico um siiecimeii dcsse,
inelUodo, cscoliicMdo uma das licoes dc Mr.
Dumas, c resumindo-a em breve, mas substan-
cioso c\lracto.
Carbonio.
E diCiicil dar uma delinicao boa do carbo-
nic. Umas vezes e i)rauco, oulras negro:
umas opaco, oulras luzeiile; ja e exccHente
conductor do calorico, ou da clectrieidade,
ja mau con<luctor de ambos. 0 diamante,
a pioniliagiua, a grapiiile, o carvao das re-
torlas do gaz, o car\ao animal, o eoia>, os pos
de sapatos sao outros tautos typos incluidos
ua dcnominacao geral de carbonio. A madei-
ra contera em geral !i2 por cento de carbo-
nio: durante a sua carbonisacao abandona
cm formas diversas o bydrogenio, o oxygenic,
que entraai na sua composicao e, se a ope-
racao lor bem feita, com 100 Kilogrammas de
madeira teremos Hi de carvao. Nas artes nao
produz mais (jue IG a 17 ^ por cento de car-
vao; por que a teraperatura e levada ao ru-
bro, c assim os produclos gazosos explicam a
perda enorme. Seni preciso elevar ao rubro o
pau para o carbonisar? ^iio; e a expcriencla
0 pro\a. Iviucaudo mercurio eui uma retorla,
e pondo sobie ellc um pedaeo dc madeira,
levado 0 mercurio a ebulliciio, que aconlece
ua temperalura de 3oO graus, a madeira sera
car])ouisada. Logo nao e necessaria a tempe-
ralura a rubro. Este facto e de alia impor-
tancia para a bygiene, e scgurauca publica :
OS arcbitctos devem ter delle coubecimenlo
para a disposicao das traves, e emmadeira-
mento dos edilicios: a eslabilidade dcstes , o
a vida dos individuos podem ser ameafadas
pelo desenvol'. imento de gazes deleterios re-
sultantes da escandecencia, distillacao ou car-
bonisacao da madeira.
O diamante acba-se nos lerrenos de allu-
viao produzidos pela dccomposicao das roclias
scliisto-argilb)sas. Apresentam-se em formas di-
versas, verdiis, azues, amarellos, negros c
rozas. Os iiicoiorcs sao, como se sabe, os mais
estimados. Davy foi o primeiro que mostrou
pida com])ustao directa svr o diamentc o typo
cbimieo do car!)onio. Newton o havia pre-
visto estudaudo as propriedades opticas delle.
Trausl'ormar o caxvao em diam;i;^ie c ciues^ao
fn.
que muiio ha preoeupado os pbysicos e cbi-
micos. Alguns julgaram (|ue baslaria fazel-o
supporlar uma tem|)eratura mui elevada, e
uma pressao consideravei para oilier o dia-
nuiiite. Foi sempre iliiulida a sua esperanca.
I llimameiiie ba |)i)Uco* mezes .Mr. Despretz
alcancou nm resullado notavel submetleudi)
aos polos de uma bateria forte o carvao puro
do assucar candi. Pela inlluencia da accao
lenta da electricidade depositou-sc nos lies
conduclores um [i.') negro e branco, em que
reconbeceram phy^icos e mineralogistas, lodas
as propriedades do diamante. Eis ahi resol-
vida nuia parte do prohlema.
Juncio ao diamante secollocam a graphite,
e a plonihagina. A graphite e o producio arti-
licial de alia I'usao. Nas labricas de liindicao
mistura-se o carvao com o I'erro, estando este
eiu I'usao, e na rel'rigcracao abandona este al-
giinia i)orc5o de carvao, que se condeusa cm
laminas negras, e brillianles: e a graphite. A
lilombagina, chamada pelovulgo injustament(!
mina de chumbo, e empregada na confeicao
dos lapis por causa da propriedade que tern,
como oulros carvoes, de dar Iracos no papel.
Desde que se fabrica em grande escala o
gaz de illumiuacao, os pbysicos e os chymicos
estao dc posse de um dos produdos dcsta
industria: 6 um carvao puro, mui compacto,
sonoro e brilbante. Elevado a alta tempera-
tura, e como todo o carvao, mui bom condu-
ctor da electricidade; e por isso se cmprega
na composicao das pilhas. Encontra-se mais
depois da distillacao nas retortas do gaz o
coke; c mui consideravel se tern tornado o sen
consumo. Curapre lodavia dizer que nem lodo
0 coke do commercio vem das ofticinas de
gaz; em algumas localidades se opera a car-
bonisacao do carvao, como a da knha. 0
coke ardcndo produz mais calor que a lonlia
mais dura, dado o mesmo volume. Apaga-se
facilmente, nao scndo alimentado por uma
corrcnte de ar; porque menos poroso que a
lenha olTerete menos superlicic ao ar. Assim n
seu podor conductor para o calorico exige ar
constantemente renovado para poder arder. 0
mesmo acontecc ao carvao da lenha, (juando
muilo calcinado tern perdido a sua porosida-
dc; nao podc arder sem rapida corrcnte dear.
Os pos dc sapatos sao o resullado da com-
buslao incomplela dos gazes carbonados. Basta
\er uma luz, que arde mal, e recollier uum
corpo IVio 0 fumo, que lanca, jiara ohier um
residue negro coniposto dc carvao muilo divi-
dido. Todo o mundo conhccc os uses dos p;is de
sapatos : servem para a tiiila da China ; a da
iniprensa ; para I'azer os lapis de desenho, etc.
0 carvao animal provcm da calcinacao dos
ossos cm vasos fechados. E uma mislura de
carvao muilo lino e de saes calcareos. Deste
carvao iaz boje grande uso a industria. Um
exemplo provara a sua ulilidade. Eni I'SVi c
ISll uao .podia produzir-se assucar por lue-
! o;.;.,,','.
•200
■Hos lie 10 franros a libra: sn enipiTgassem
n carvao animal para dcsombai-arar o succo
(la l)c(aiTal)a das suhstanrias cslranlias, ou
roloianlps, podrriam prodiizil-o, (.•omo lioji',
2o on 30 fentesinios a lihra.
Alguns dos carvfK's, que tenios nicnciona-
do gozara da prerogativa de descorar, e
desinreilar as substancias, com que so
poem em contaclo. Onira prnpiiedadc muito
nolavol consisie na absorprao dos gazes.
Tomc-se um rarvao em braza, apague-se na
tina de mcrrnrio, c faca-se depois passar
por um vaso de ammoniaco, vcr-se-ha o nier-
curio da tina subir pouco e pouco no vaso
do ammoniaro; o que prova quo o gaz sc
condensou no carvao; e com effeito dclle sc
p(ide cxlialiir. Ncsta expcricncia um volume
de cai'van absorve 00 volumes de ammoniaco.
EsiP mesmn ^olume podia condensar cm sens
poi'os So volumes de gaz cblorliydrico, 'iU de
gaz sulphui'oso. 'Mi de acido carbnnico, 0 de
oNvgonio, 7 { de azote, 1 \ de bydrngcnio. Po-
deria ainda mostrar que quanto mais csohivel
ii'agua uiu gaz, mais e absorvido pelo carvao.
Em lodos estes cases nao e uma conibinacao,
e condcnsacao o que se opera. 0 gaz carbo-
nico tern siJo assim condensado a ponto de
se tornar parte liquido.
Esta proprii'dade de condensacao nos con-
duz naturalmenle as applicacocs, que a pra-
ctica pode aproveilar para descorar liquidos.
0 poder desinfectancte do carvao csta em
relacao com a sua propriedade descoloraiitc.
As aguas mcnos potaveis, nauseosas ate pelo
seu man clieiro, como sao as dos pantanos,
serao conipletamente desinfcctadas depois de
repetidas liltracoes. Pode tirar-se as substan-
cias amargas o seu caracler especial, fazen-
do-as passar porum liltro de carvao animal: o
abfinlbo, a quina, nao resistem a csta prova.
Finalmentc quando o carvao e muito com-
bustivel, e rcduzido a pulverisacao tal que o
po toma 0 nivel de um li(]uido, nao se dei-
xara som perigo em contacto com o ar. Nal-
gumas fabricas de polvora para piilverisar o
carvao aquelle ponto emprcga-se um processo
que algumas vezes tern compromettido a vida
dosobrciros. Mctte-se ocarvao c balas do bronze
num tonel, imprimc-se-Ihe um movimento de
rotacao rapida; e pouco a pouco o carvao sc
reduz a um p6 impalpavel. Se neste estado se
J- abre o tonci, e espaiha o conteudo no cbao
eleva-se a temperatura a fiO, 100, 300 graus,
e 0 carvao espontaneamente se inflama. Pode
todavia cvitar-se o perigo misturando o en-
xofrc com o carvao era quanto este se pul-
verisa.
0 carvao muito fino, que se lira das torcidas
das luzes, pode tambem indamar-se ao con-
taclo do ar; assim aconteccu muitas vezes,
quando se usava de luzes de azeite nos thea-
tros, deixando juntos os raorroes por dcscuido.
M.
EXPOSICAO DE AN1M.\ES DOMESTICOS.
Continn.-ulo (If paj;. 2(i2.
0 apuraniento das dilTi'rentes racas caval-
larcs tem avtiltada imporlancia em o nosso
paiz, que se presta com ^anlagem a criacao
dellas, vista a variedade de suas condifoes to-
pograptiicas; mas a indusiria do gado caval-
lar nao pode progredir sem que o criadoraprecic
dcvidamente ascircumstancias, (jue deven\ rea-
lisar-se ua criacao e ediicacao de cada raca'.
A especie cavallar olTerece um so genero
de produccao, o scrvico; lodavia e lao variado
este service, e sao lao diversos os individuos
dessa especie, que se torna diflicil determinar
OS typos mais perfeilos que ella coniprebcn-
de "actualmenle. Analysando as condicoes
geraes em que se emprega o cavallo, uola-sc
que todas exigem um esforco mecbanico maior
ou menor, e durante mais ou nienos espaco
de tempo, esforco mulliplo, por que e diverso
0 servico para (juc o cavallo e destinado: a
forca e a velocidade pelo hulo dynamico, e a
corpiilenria e a energia pelo -lado organico,
conslituem as principaes qualidades do caval-
lo.
A corpulencia e a forca no seu maior des-
involvimento conslituem a aptidao do ca-
Kcillo de tiro pesado; a energia e a velocidade
no mais elevado grau conslituem a aptidao
do cavallo corredor; lodavia entre esles lypos
exlrcmos encontram-se outros muilos, lanto
de liro, como de sella, cbaraclcrizados pelo
maior ou menor grau de corpulencia, de esta-
lura, de forca, de agilidade, de coragera, de
docilidade, de belleza, etc. '
Cacallo de tiro. Este lypo pode subdividir-
se em cavallo de tiro pesado, de tiro ligeiro,
e de tiro de liixo. Scndo constanle em lodos
elles a aptidao para o servico de tiro, a con-
formacao e qualidades da macbina equestre
podem variar por forma que, na escolba do
primeiro, deslinado a arrastar pesados fardos,
se procure a corpulencia e a forca, embora
sua andadura seja lenla: na do segundo, de-
stinado ao servico das diligencias, dos cor-
reiosclc, mereca preferencia a forca e agili-
dade para que a sua andadura seja rapida, sem
com ludo deixar de ter conformacao robusla:
na do lerceiro em lim, se evija belleza, agili-
dade, brio e regularidade nos movimentos,
por(|uc 0 servico dos trens de luxo nem e
pesado nem continuado.
Cavallo de sella. Este typo pode subdivi-
dir-se nos seguiules: cavallo de Jornada ou de
.iervico militar, que exigc conformacao ro-
busla, mais forca do que agilidade, mais ro-
bustez do que belleza, fazendo a Iransicao do
cavallo de sella para o de liro; cavallo de
' Veja-se a de.-cripruo dos tUfferentes typits na Zou-
Icchnia tlo cavallo ^Curs» comjilelu de Zuoialrica du-
mcbtica. Vfel. 2.")
300
pa.tieio. que dcve ser de todos o mais hollo,
iigil, docil, c hrioso; carallo corredor. qui'
drve liT a confonnacao c as qualidades i(iie
iiiais I'acililaiii a carrcira, emboia vao d'cn-
coiilro a hidk'/.,! c roliuslez; ciivallo de cnrya, .
outra variedadi", cm quo a helleza v a agilida-
(le se doviMU siil)joitar a forca c roliustci!, e\i-
j;iiido por issii uuia (■onroriunc'ao especial, (iiic
0 dispoe |)ai'a suppoi'tar ^raiides ])esos solii'c
0 dorso, c ti'anspiirlal-os a i^raiide di^laiicia.
A dilYereiiia iia l'^laUl^a pode tamheiii dar
loijai' a varii'dados nuiito esliiuadas, e ate
ualpumas localidades as /■,((•(/< o os (jairanos
sao pri'leriveis aus ia\ alios de marca.
0 cavallo de dous deslinos, isto c, com
a|ilidao |)ara servico de sella e dc tiro, e lueiios
pioprio para (juahiuer delles, do quo sondo
exclusivamoulo cuiiroimado para urn so goiioro
de servieo.
Cada gonero de servieo exige unia certa
conrorniacao organica, que o eriador procura
conseguir por iiieio da especializacao da ma-
chiua cquestro, (azendo coneorrcr na produe-
cao do cavallo o complexo das condicoes, que
mcllior satisfazom a esse iutuito; so por este
meio se conscguem animaes que Iraballii'm
nuiito sem se arruinar: quando as suas (|ua-
lidades estao cm opposicao com o genero do
servieo para que sao destinados, trahalliam
sempre coutrafoitos, doiulo rezulla arriiiua-
rem-se em pouco tempo, fazondo niais sor\ ieo.
Os typos mencionados coniproliemlem todos
OS servicos para que a especie cavallar pode
ser destinada, e todas as condicoes de sua
produecao; mas iniiiorta quo o eriador esco-
Iha, para conlormar os sous animaes, o typo
quo for de mais ecounmica produecao e mais
rendoso ; loudo sempre em vista, que as bestas
darao tanto maior rendimonlo, quanlo mais
aporfeicoadas cstiverem cm relacao ao sou
destino.
As condicoes peculiares das variadas loca-
calidadcs do nosso paiz pormitlem a criacao
dc todos estes typos do cavallo, e nao so em
quantidade sudicionte para satisf'azer as nossas
nocessidadcs, nuis ate para os exportarmos,
tiraudo grando interesse deste geuero de in-
dustria, e deixando de gastar as avultadas
sommas que annualmonte pagamos aos ex-
trangeiros pela compra de cavallos. Todavia
para se conseguir cste resultado, e necessario
que cada eriador conhoea as cireumstancias
especiaes da sua localidado, o estado em que
estao as nossas racas, e os meios que dcve
cmpregar para as melhorar: e tambeni neces-
sario que 0 governo dosvie alguns tropocos,
([ue embaracam o melboramenlo da gadaria,
abolindo os paslos communs, mandando caslrar
todos OS cavallos que nao lorem escolhidos
para cobricao, e I'acultando aos lavradores
garanhoes de boa raca.
No estado actual seria um processo demo-
rado 0 rcgencrar todas as nossas racas caval-
lares por meio do cavallo arabe, transmiitin-
do-llios docilidade, energia c outras qualidades
de que tanto careceni, e apnq)rial-as aos dil-
ferontes goneros de servieo: lora talvoz mais
jiromplo rogonorar somenlc as molbores ra(,'as
por meio de garanbOos extrangoiros ja aper-
/'eicoados, ou acclinuitar as ravas que boje se
conlieconi mais pcrloilas.
So lizessomos a devida applicacao dos pre-
ceitos zootccbnicos, poderiamos criar nos
valles c planices, abundantes em agua, lao
bons cavallos de tiro, como os (|ue actualmcn-
te se oble(!m cm Franca, Inglaterra e Alle-
manlia; nas planicois onxulas leriaiuos caval-
los de sella e de tiro ligeiro; nas localidades
pouio moutaiibosas e forleis em pastos, cria-
riamos cavallos corrodores, tao bons como os
iiiglezos, c dc jiassoio, tao Ixdios coiuo os an-
daluzos; nas localidades montanliosas alcan-
cariamos bons garranos c facas para servico
dc sella ou de albarda; em lim polo systenia
de estabulacao podiamos obler bons cavallos
em ([ual(|uer localidado e para qualijuor desti-
no. sem dopendencia das condicoes do clima.
As racas do cavallo corrcdor e de pas-
seio douuindam condicoes particulares na sua
produecao: cada um destes typos lem exigen-
cias privalivas no seu desinvolvimento, e
carece d'uma criacao e oducaeao jjarticular,
para se obterom com as qualidades quo os dis-
linguem.
A produecao do cavallo de tiro e mais fa-
eil 0 economica, e nao exigo tantos cuidados;
todavia dcmanda tambem um processo par-
ticular.
0 cavallo dc sella, tanto juira Jornada, co-
mo para servico militar, app-oxima-se, na sua
priiduccao, do cavallo do tiro, c pode criar-se
dcbaixo das mosmas condicoes, varinndo-lbe
um ])ouco a educacao e o regimen alimentar,
depois dc eerla cdade.
A escollia dc eguas I'antis e dc licllos gara-
nbOos, possuindo em elevado grau as quali-
dades 0 aptidiio que se pretcndcm obtor n'u-
ma raca, e um dos objectos a que muito dove
attcnder o eriador que descja ter bons potros;
mas estes nao podem dar bons cavallos, so
nao foroni criados conveniontemento polo rc-
giiueu alimentar que Ibcs couvcm, e niio li-
verem a educacao quo requer o seu dosiino.
A espocie asinina pode ser empregada no
servico do sella c no de tiro, e por isso se
distribue nos lypos que rd'erinios a respcito
da especie cavallar; todavia no servico de
carga e de sella e que mais se emprega em
0 nosso paiz. 0 gado muar e mais espocial-
mento destinado para servieo de tiro ou de
carga, mas pode egualmcntc conlormar-se
para (jualquer dos outros servicos referidos.
Tanto as muares eymiricas como as asueiras
dependcm da juncciSo de duas especies — a
cavallar e a asinina, c por isso o seu dosia-
volvimcnlo esta subordinado a pcrfcicao d'es-
301
las; sciii bons progeiiitores iiao e possivcl
obler boas nuiarcs, postoque as ciiem e edu-
qucm scgundo os prcccitos da ZootL-chnia.
Os programinas para as exposiroos devem
exigir cm cada localidadc os typos mais pcr-
I'eitos, e de mais cconomica producriio. St^ a
Auotoridade dostiiiar os ]iremios dL- maior
valor para os cavailos melhor coiiCormados e
cducados para o scrviro dc tiro ligciro, e
maiular garaniiocs das melhores raras de tiro
para o campo de Coimbra, \lemtcjo, Miran-
della CMa\os, etc., passados ([uatro on (/inco
aniios, pndcia escolher, iicstas localidades,
bons fa\ alios de tiro, para o serviro das
dcligentias, sujieriorcs aos cxtrangeiros; por-
que, em estando aeeiiuiatados, sao mais diira-
veis, fazem mellior servico, e nao exigem tall-
ies cuidados no sou regimen.
CoiltilHia 1. K. DE MACEDO PINTO.
0 DUQUE DE COIMBRA
ESegentc tl© rojno.
Enire os liomcns illustres que no seculo
XV engrandeceram o nosso reino, e ilhislra-
ram a nossa historia, devcrcmos rontar sem
diivida alguma o infante D. Pedro, diiquc de
Coimbra e regenle do reino na menoridade
dc sen solirinlio D. Afl'onso V. Foi este prin-
cipe lilbo do esclarec-ido rei D. Joao I, e ir-
mao do infante I). lienri([ue, cuja memoria
pcrnunu'cera nos I'astos portnguezes em quanto
(lurar esta naeao. 0 seu caraeler Ibano, e
lioas quaiidades revelam-se elaramente em
lodos OS docunientos, que de tao eselareeido
priufipe eneontramos eoni frequeneia, e de
que mais adiaiite nos bavemos de oceupar.
As gncrras que por tantos annos suslenta-
raos sempre victoriosos contra os Almubades,
tcrminadas na Peninsula com o seu aniquilla-
mento passaram-se para Africa, tbeatro de nao
nienor gloria para o nome portuguez. Tanger,
Ceuta, Arziia c Tetuao foram o comeco das
fonquistas que maistardo unidas a coroa por-
tugueza lizeram depois conhecer o nuindo,
dcsde 0 Tejo ale alem do Ganges, e dacjui ao
Amaznnas e Rio da Praia, passando ainda
ate ao estreito, que com sen nome nos rccor-
da 0 seu primeiro descubridor Fernao de Ma-
galliaes.
Difl'erentes nacoes, divcrsas cidades e va-
riadas linguas obcdcciani ans pnrtuguezes , e
ao nome so de um AR'onso d'Albuqui'r(jue
tremiara os idolos dosPagodes cabindo desmo-
ronados, e submeltiam-se Iribatarios os reinos
do Indostao, Goa, Malaca e Ormuz.
0 Filbo de Deus era adorado, c junto a
Cruz dohravam o joelho lantas nacoes, e povos
barbaros. Cumpriam-se agora as promessas,
(pie tantos annos antes havia o Eterno revela-
do ao primeiro Affouso nos ca,nipos d Ouriquc.
Cercado de sabios, e sabio elle mesmo,
institue o infante I). IIenri([ue, uuia cschola
cm Sagres, e com as luzes que esta cspaiha
ii beira-mar enxcrga ao largo aquellas terras
d'Africa, que depois faz unir a coroa portu-
gueza. 0 seciilo XY sc por uni lado cngran-
dece 0 nome portuguez, servindo d'assombro
as mais poderosas nacoes, que actualmente
teni na niao o tiel da balanca europea; nao o
engrandece menos pelo lado da civilisacao,
cultura das lelras c instruccao, que o fez
eleiar a gloria a (pie era possivel subir, com
0 esmerado ensino das mais precisas e neces-
sarias scjencias, que eomportava o cspirito
iiinnano naquellas eras.
Escassos, e apoucados cram ainda na<[nelle
tempo OS coniiecimenlos da navegacao, e nao
podiam ospilotos afastar-sc das costas, guian-
do por cllas o rumo das suas viagens. .\per-
feii'o.ido nesta escliola, e com a descoberta
do (innel (jniduado, (|ue dizem superior ao
astrolabio, o nosso celei)re luatbematico Pe-
dro Nunes faz-nos conhecer todas as eostas
occidentacs d'Africa, e mais larde dobrar o
cabo tormentoso: raas antes deste, e com me-
nores conhecimentos nauticos, e mais imper-
feitos instrumentos, passam os nossos nave-^
ganles aquelle temivel cabo, que por ninguem
ate- atiueiie tempo o podcr transpor Ihc poze-
ram o nome de — Nam — parecendo com elle
indicar-se aos navegantes, que dalli nao sur-
dissem mais avanle: com os mesmos meios, e
com as mesnias imperfeicGes dobra Gil Eanes,
natural de Lagos, em li30 o cabo Bojador,
fa(;anlia tao grande e maravilbosa naquelles
rudes scculos, que os anligos escriptores nos-
sos tiveram para si, como egual aos trabalhos
d'llerculcs, expressao, que se hoje achamos
exagcrada, nao o era certo naquelle tempo' !
Em liiO, Nuno Trislao, e Anlao Goncai-
vcs cliegam ao cabo branco, descobrindo novas
terras e clinias ate aos 14" c 48' de latit. N.
As viagens sc continuam c proseguem com
denodo, e quando o Yeneziano Luiz Cada-
mosto se embarcou. para ir, com licenca do
infante regente D. Pedro, ua carevela de qne
era patrao Vicente Dias de Lagos, ja os por-
tnguezes tinbam devassado a([uelles mares
([w. elle agora sulcava em '14io pcia primeira
vez! gloria, que alguns invejosos nos ((uizc-
ram tirar no seculo actual, e que com discre-
ta, e mui judiciosa critica reivindicou o sr.
visconde de Santarem na memoria sobre a
prioridadc das descobertas portuguezas na
Africa occidental.
Finalmente Bartholomeu Dias cm 148C sa-
bindo do Tejo com outro companheiro do-
bram o cabo das Tormentas, onde mais tarde
Vasco da Gama ouvira aquelle terrivel pro-
' jSiav(>s:acHO tSo temero.«a. tSo clieia de jierit'os. . . .
rjur tie dc^atinada e luiicfi Ihe fui poslo o iiunie jiL-i«'S
estran^iifos.
SyiB. J'id. do .trceh. lir. 4. ™;a :i.
302-
gnostico das desvciUuras, cjue havia do tor
a = liriiiuir(i armada qiir fizesse paxsut/cin jxtr
tdo in.si)f(ridus oh(/((,s', =tiido isto dmido ao
di>sv('llado ciiipfulio com que os illuslri's iillios
di'Irei L). Joao 1 pioiuovcram a I'dicidadi' o
iiislruccao em lodo o reiiio.
Ao mesmo passo [lorciii, que por loda a
cosla afiicana e illias adjaceiiles era coiihe-
eida a liui;na, c lespeitado o uome portuguez,
e se iaui alonganiio as coiKiuislas por um
iiKido mara\ illioso, o eslado inlerior do reino
iiao era iiuictivo; a vida iulelloclual, eoulor-
lada com o amor da patria e iiohro gloria do
seu iioiue, llorescia em todo o gonero depreii-
ilas, dando-nos um dos nossos filulos mais
lionrados com iiue haviam de ennobrocer-se
as I'uluras geraeoes.
D. Diiiiz tiiilia I'uiulado a univerjidade cm
Lisboa, chauiando a clla prolessores os mais
habilitados para o magislerio, c scmprc pro-
vidcnciaudo sobrc os mcios do obler deHa
melliores recursos, mudou-a para Coimbra.
Tinba-a au\iliado com muitos privilcgios e
dotacoes, que sens successores ampliaram, c
Coram coiilirmando. D. Joao I desassonilirado
das giicrras de Caslclla e das afanosas lidas
cm que com cllas se acbava cinolto, augmeu-
tou quauto podia o esplendor da reiigiao, e
protcgou as lelras como foale da moral dos
povos, e da prosperidade da iiacao. 0 mcsmo
I'avor ambas experiuientaram nos reinados sc-
guiutes; e desde o seculo XIV por diaule as
letras e bellas artes llorescoram abrigadas a
sombra dos reis e principes portuguczes, o mais
que era possi\ el em seculo de tanla ignorancia.
Molivos que iiao podemos descortinar alravez
do silcncio que guardam as cbroiiicas, e dos
mysterios de taiitos seculos, lizcram reverter a
Li'sboa a universidadc no reiuado de- D. Af-
I'onso IV, e no niesmo rcinado tornar a voltar
a Coimbra, como que com este faeto se iu-
dicasse a todos ser Coimbra o logar, e terra
propria para este cstabelecimeiUo. Yemol-a
dopois tornar para Lisboa no rcinado d'eirei
D. Fernando, para commodidade dos lentes que
de fora do reino mandara vir para o magisle-
rio publico, e naquella cidade conlinuar ate
([ue D. ,loao III a mudou, e delinitivamenle
cslabelcceu nesta cidade oadc ora exisle'.
Destc sinifdes e singelo esboco clararaento se
moslra o desveio com ([ue os reis conlcmpla-
ram sempre uma corporacao <[ue tanio lustre
deu ao reino, e em ((ue a gloria portugueza
subiu ao cumc; sendo sens profcssores uao
so nellc conhecidos, mas em todas as iini-
versidades da Europa onde exerceram o ma-
gisterio publico muitos de sous digaos mes-
tres. Salamanca, Montpelier, Padua e Turin
ainda lioje podem attestar a celebridade dos
doulorcs portuguczes, e darcm um claro leste-
munlio do progresso da civilisacao, da pros-
' Vej. ollviil. du Inslit. mem. hist, da univ.;j>elo sr.
Dr. J. JI. d'Abrcu.
pcridade das scioncias no nosso reino, c do
conceilo em que Portugal era tido ])or toda
a parte'. Eu niio couhoco neubuma outra
nacao ((ue nos curtos limiles do seu territo-
rio teulia podidn encerrar tao grande gloria,
e emparelliar com as mais poderosas!
Acliava-se, como jii vimos, a universtdado
estabelecida em Lisboa, e esta cidade, (jue
linlia sido destinada para os esludos superio-
res, acbando-se situada longe do centre do
reino toruava dillicultoso o esludo aos alumnos
das provincias, pela distancia em que dcll.i
se acbavam, alem do inconveniente das despe-
sas, que era indispeHsa\el I'azer para nella
manter os cscbolares com tresdobrado custo
do que Idra mister em outra parte do reino
mais central. Niio podiam tao grandes descon-
veniencias escapar a penetracao do infante
regente U. Pedro, e querendo remediar este
mal, e cspalbar quanto possivel as luzes por
todo 0 reino, traclou de procurar os meios
(jue mais ade(iuados Ibe pareceram para nesta
cidade fundar uma universidade de estudos
geraes de tbeologia, bistoria, direito, etc. : e
])orque nao podia so com suas rendas Icvar
ao complemeuto tao luminoso pensamento.s
escreveu as corporacnes ecclesiasticas e bispos
do reino, para o auxiliarem em tao brilbante
cmpresa. Era neste tempo (liiC) bispo de
Coimbra I). Luiz Coulinbo, irmao de D. Fer-
nando Coulinlio, tamliem bispo, que della
linlia sido anteriormente, e ambos tillios dft
2." marecbal do reino D. Goncalo Vasqnes
Coutiulio.
Este bispo D. Luiz, amigo intimo do regente.
e seu iiel companbeiro ate a morle, na infeliz
Jornada d'Allarrobeira, promoveu com todo
o desveio, e auxiliou quanto poude as vistas
do regente, aleancando uma dotacSo para esla
nova I'undacao da universidade em Coimbra;
e 0 cabido da mesma cidade junto com a
collegiada de S. Pedro, padrociros da egreja
d'Almelaguez, duas leguas ao sul desta cida-
de, cederam do padroado e rendas da mesma
egreja para (icar unida e encorporada na
universidade, e dos seus rendinientos se pa-
gar aos lentes e mais ofliciaes d'ella, com a
condicao porem de nesles estudos se cnsinar
direito canonico e civil, e a universidade per-
manecer nesta cidade; por (jue laltando-sc
iiquella condicao, ou mudando-sea universida-
de, 0 contracto seria de nenbum elTcito. No
que tudo convieram. — «Consirando (|uanto a
storia das lelras be necessaria, e proveilosa
coisa a todos e singularmente as pessoas eccle-
siasticas"— e acbando-se certos tambem da
— ((grande vontade que ba o muito illustre,
e mui virtuoso principe o sr. inl'ante D. Pe-
dro titer, e curador d'eirei nosso senlior
c rregcdor por ell destes rregnos. » — Tudo
isto loi ordenado, e passado a escriptura pu-
' Vej. ol vul. du Inslit. J'ag. 178,
303
hlica cm 24 de main dc HiG, e no mcsmo
<lia, eno mcsmo documento coiilirmou o bispo
D. Luiz Coutinho, c uniii a niosiiia univcnii-
(ladc as rendas e o padioado da rel'eiida
cgreja, reservaiulo uma congnia para o viga-
lio ou cura que nclla admiiiistrassc os sacra-
nieiitos ', como pode vcr-se nas ro[iias que no
(im dcsla nolicia aprcsentamos para prova.
Uo que temos dito se pode notar o desvcio
coin ([ue cstc magiuiiiimo |)rincipe pretcndia
eiigraiulccer o reiiio, adiaiitar as scieucias,
promover a ciillura das letras e abrir as
tonics da prospcridadc e jii-ogrcsso nacional,
doiide havia depois sobrcvir a foitiina, e ri-
(|iioza de Portugal com a al)erlura da estra-
da das Indias! Conio li porcm variae capri-
chosa a I'ortuna! E como sao d'ordinario
contrariados por clla os bomens ainda mcsmo
no meueio de seus mais jiistos devercs! 0
conde de Barccllos, irmao do regente, conti-
nuando acinte suas iutrigas e vergonbosa
opjiosicao ao scu govcrno, sacrilicando loda a
iiacao a sua desmcsurada ambicao, comecou
a lecer as iiUrigas ba muito urdidas, e a
atear o fogo da discordia a tal ponto, que o
rci se declarou maior, tomou a si o gover-
110 do rcino c formou uma barreira ao rcgcn-
Ic quo nao I'oi possivel transpor. Os odios fo-
ram crescendo de uma e outra parte, c o
figro da discordia cbcgou a ponto tal, que
desenganado o infante de nao sobrepujar seus
iuimigos, tomou o parlido mais arriscado e
perigoso nas circumstancias, ])rctendendo
jusliiicar-se contra eUes na companbia do gen-
tc armada, com que saiu dcsla cidade eslrada
de Lisboa ate ao silio d'AII'arrobeira, onde
com cllc se pcrdeu, pode dizcr-sc, a flor e espe-
ranca da nacao com tao calamitoso desastre, e o
reino licou privado de um tao poderoso auxi-
lio, como tinba cm tao magnanimo principe.
Este aconlecimcnto reduziu a nada a nova
I'undacao da universidade nesta terra em
liiti, e as nascentes csi.erancas .(le tantas
prosperidades seriam de lodo aniquiiadas, se
a Providcncia nao vigiasse des\eladamcnte
sobre Portugal, continuandn por outro lado
a olVerccer o Jialsamo para curar tantas feri-
das e sanar tantas caiamidadcs.
Nas memorias liisloricas sobre a universi-
dade que com grande trabaliio coligio, c pu-
blicou 0 sr. Dr. J. M. d'Abreu, e que correm
impressas em varios numcros deste periodiio,
que compoem os seus dois primciros volumes, e
cuja vaiia todos sabem apreciar pdas boas noti-
cias que cncerram, nao se I'az mcncao de uma
carta de privilegio que a mesma conccdeu
D. Diniz, em o 1." dedezcmbro de 1312, para
' Dpste mcsmo contracto se pdilc ver qnanlo e mal
cabida a consiira. que geralraente se faz ao estado eccle-
siaslico na oppasi(;uo constanle que fazia an deserivolvi-
mento da universidade. Esle documento diz mais, do
que as vasas declama^oes sem prova, c sem pouaerai;ao
lias razoes da opposi^ao I
OS cscholares podercm cm Coiml)ra comprar
casas, uma vez que fosse para dies habita-
rcin, e por sua morte dei\arcm a pessoas
ieigas. Seu filbo eirci D. Alfonso IV confir-
niou este mesmo privilegio por carta de 22
de maio d' 1325. Estes dois documentos,
(pie encontrei no arcbivo da catbedral, nao
se acliam talvcz no cartorio da universida-
de, OH pelo desarraujo, em (|ue as mudancas
deviam collocar os papcis delle, o que lao'fti-
cil (i de acontecer, ou por se nao terem com
cITeito nelle guardado sendo documentos de
albcio interesse aos da universidade, ])ois
eslao trasladados em uma cscriplura de coin-
lira d'umas casas que fez no bairro alio desla
cidade o arcediago de Cervcira no bispado
d(^ Tui, D. Pedro Annes, mestre ou doutor
nesta universidade em 1320, c que se verao
nas copias que se juntara no lim deste artigo.
Como OS escholares neste tempo se acha-
vani debaixo da proleccao ponlilicia, e eram
isenlos da jurisdiccao civil, tinba eirei probi-
bido a acquisicao de casas pela difficuldade,
que baveria de Ihe pagarem os foros e mais
direitos senboriaes, e para evitar o inconve-
niente que havia da falta e escassez de mo-
radas [lara viverem as pessoas da univerdade,
dispensou na lei a seu favor com as ja decla-
radas condicoes, para que os direitos doniiui-
eaes podesscm nielbor ser recebidos: signal
evidente do fdro que em todas ellas geralmenle
carregava. Ainda (juc a aposentadoria a favor
dos escholares tivesse sido concedida por carta
de 2u de maio do dilo anno 1312 ', ainda
esia providcncia nao bastava para supprir a
lalta ([ue liavia, sendo por isso concedido mais
aquelle privilegio. Tudo isto revela bem qual
era o patrocinio dos reis, e o favor que a
hem dos estudos recebia a universidade, para
meihor caminhar na niarcba progressiva das
scieucias e das artes, em seculos de tanta
ignorancia.
Cantiuua. M. H. d'almeida e VASCQNCELLOS,
FRAGMENTO
DA TUADUC^lO DO IV LIVRO DA ENEIDA
Mnnocl Matthias Vieira Fialho de Mcndoina.
Continuado de pa^. 231.
Em tanto a aurora surge, edeixa os mares
Juvenil esquadrao poslado as portas
E sidonios magnates Dido aguardam:
Yem redes, vein farpoes de estranhas formas,
Bravos monteiros nos massilios polros,
E destros animacs de subtil faro;
I ' InslU. vol. I, pag. 388, not. 8.
301
D'oiro c purpura ornado cspunia c inordo
()s doirados liocars frizao soberho:
Ellin' aiifiiislo lorli'jo assoiua Eliza.
Ilopia tianiide a cdlirc, orlada cm torno
Do hordauo galao, no inatiz \ario;
I'cnde-llic aureo carcaz, aurca livi-lla
Tonia-Ihe as dohras da purpurea \csle;
Aurco no llio aiavia, ciilaca a coma.
Eis Ascanio lou(,'ao, ois plirygios .<ocios;
L"nc-sc Eneas a luzida turba,
Piilclu-rrimo cnlrc os mais: (|ual deixa .Vpnilo
As corrciites do Xanlo, a Inbcrna L\iia,
Voa ii niaterna cslancia, a grala Dclos
Onde Agalliyrsos, Dryopes crolcnscs,
llonrando o nome sou cm sens allares,
Em (laiicas, em can^'Oes iiislaiiram cluiros;
Trcpado ao cyntliio ccrro, assollas coma*-
Com hraiulo louro as croa, cm oiro as ata,
Aos liombros no carcaz rclincm ilexas.
rs'ao menos do que Apollo assoina Eneas:
Tal roniiosura llic alirillianla as faces!
Por sciidas nao triliiadas e alios monies
Bravios aniinacs se vao halendo;
Salla do cume alpesfre o veioz cervo,
E cnlrc nuvens do |io travessa os campos.
No vallo OS acommelle o bravo Iiilo,
Folga acossal-os no fogo.so briito;
Agora estes alcanca, agora aqucllos,
Por cntre os bandos do mcdrosas Icras
Anhela quo se arrosle em caiiipo abcrto
Loao solierbo, javali sanhudo.
Em Innlo ja so vao loldandoos arcs,
.la medonlio trovao ressoa ao longc,
Ja sobre a terra cae granizo e cliuva,
Plu'iiosa torrontc cscorrc o nicnte.
Ue Cylborca o nolo, 0 Tciicro, o Tyrio,
Aqui, alii disperses, se guareoeni
Aos l;os(|ucs, sis cavernas: ia sc abrigam
A mesnia grula Dido, a inesma Eneas.
A Terra e Juno do consorcio luimes
Dao signal: eis relamptigos l'ii;'iliiiu.
Quaes lavos de hymeneu; robom!>a o ])olo,
Coiiscios de tanjo nial os ecus trovojam,
E no cume do monte as nympbas gcmem.
Oil momcnto de borror! (u so lu'foste
r.ausa dos males sous, da morle sua!
Ncm decoro^ nem fania abalam Dido,
ISao qucr liirlivo aiuor; ([uor so consorcjo,
O noiiic do bymencu paleia a culpa.
Por iflda a e.vtensa Lyl)ia a fania \6a :
Monsiro nao vaga mais veIoz do (jue ella.
Da-llio forcas e vida, o movimenlo,
Alguin tanlo ao nascer a acanlia o medo;
Cresco . . . ale que ncs ecus suiiiiiido a fronle,
Firma a I'ronle uos cons, na terra as plaulas.
Dizem quo a Terra dove o nascimenlo
(Juando dos numcs quiz vingar-so a Terra,
Porquc Cico, porque Encclado abismarara:
Ajuda-se das jizas o das plantas,
iSos gyros sens o monslro ingonle c borrondo:
QuanUts plumas a veslem iqiie portcnto!;
Tantas as linguas, tanlos os ouvidos,
Taiitas as boccas s5o, e os olbos tantos,
Quo velam scni cossar, quo se nao ccrram
Do socegadi) sonnio ao doco peso.
Em quanlo a nolle reina, croiiiam sombras,
Vda enlre a terra e ecus rangeudo asazas;
Em (|uanto o sol da luz, alerla pousa
Em sublime algoroz, em torre allisa,
Espalliando o terror de povo cm povo.
.VITorrada a liccao, ((uanto a verdado,
.^ssoallia liccoos, verdados, crros.
'•"olgava 0 monstro de cspalliar nas terras
0 Icilo e por I'azer, com rumor vario;
Quo Eneas aporloii, quo e (eucro sanguc.
Quo anceia a bclla Dido uuir-so ao Toucro.
Quo 0 longobyuverno os viu luilrindoamorcs,
No lu\o, na paixao, no es([ucciniento
Dos scus ostados. Vozes lacs derrama
0 niimou malfeilor de bocca em bocca.
Ja do larbas ao rcino cstonde os voos,
Exacerba-lbo o ardor, Hie dobra a raiva.
U'iianion, da (Jaramanlido Ibi jirolo
Esio roi; crigiu no vaslo imporio
Allares cento a Jove, em tomjtlos cento;
Nas aras niyica cxpiram sacrus lumes,
Aos cullos da Dcidade oternos velam ;
Yictimas scnipre em sangue a terra ensopam,
E lloridos festocs das portas pondcm.
Som lino, e no furor da aiuarga nova,
E I'ama que ante as aras e auto os numcs
Alcando aos ecus as raaos, dest'arte orara :
»0!i jove omnipolente, que rocebes
"As que cntre os loros, e os foslins te olTerla
"Leneas libacoes a maura goule,
uNao vi^ isto? nao vos? ob jiadre! oh nume!
«Teus raios medos vaos aomundo inspiram?
«Tu vibras som destino acrios logos
"Nas azas do trovao? Temor-to e sonho?
<• Mnlbor, quo deslorrada em meus ostados
I'Couiprou tenue porcao de praia e campos,
"Que me dove a cidade, o dove as terras
"Glide iavra, oude impera, onde legisla,
I'Kojcila a ffluilm mao? e aoollie Eneas?
«E oTeucron; senhor sou? roubou-ma oToiic ro?
"Urn Paris, uui cobarde, a ipie nao peja
"0 Meonio galero atar na barba,
"Trazer de essoncias rescendcnle a coma!
"Aquem scmiviril cortejo adula! . . .
»Eeu, por que cm Icmplos teu'; cmnulo offrend;is,
"Do prole lua em vao me illusira a lama?"
larbas desla arte orou co'as uiaos nas aras ;
0 omnipoteiito ouviu do lillio as preecs.
Os ollios vol\o 0 deus aos rogios pacos.
Alii do mcliior lama desluiubrados
Os dois amaiitos vo; Slercurio cbanio,
E desla arte Hie falla : <((;6rre, voa
"Sobre as azas dos zephyros, 6 lilbo;
" Vcioz por entro os arcs to desliza :
"Dizo ao troyauo chefo, (|uc so anlollic
«A.s cidades que o lado llic destina,
"Longe de repousar nas tyrias plagas:
■ Tal me nao [iroiuetleu, nem tal o intouto
■ Da bella Venus I'oi, quando cnire os Grcgo*
305
(il'ma voz, e outra vpz, da niortc o salva.
nQiic da gucrreira Italia orcupft o llirono,
"Terra de heroes, de reis feciiiula palria;
«Que da troiana eslirpc o Iroiico seja,
«A quern o iimnde iiileiro as leis aeatc,
<(0s seus destinos sao. Dc gloria tanta
oSe abrazal-o nao podc o qiiadro illustre,
«Sc sen proprio esi)lendor nao vale as lidas,
oTenta ao liliio rouliar da Itiilia o reino?
'(Entre imiga nacao que h''} que espera?
"Nao v6 lavinio campo? ausonia prole?
«Navegue. Eismcu querer; nieu niandoeeste.n
Disse. Obedece o Deus de Jove ao niaudo;
Aureos talares aecommoda as plantas,
Semprc em rapido voo as azas d'elles
0 levam sobre o mar, ou sobrc as terras:
Empolga 0 caduceu, com elle as almas
Ao tarlaro conduz, ou d'elle as lira;
Com elle os somuos da, e\pelle os somnos,
Dos oliios dos mortaes; no ponto extremo
Com elle extingue a luz, com elle alToito
As nevoas alravessa, acoita os mares.
CoiUinua.
COSTUMES ARABES.
A NOBREZA NO DESEKTO.
ContinuaJo de pag. 231.
Falliivamos da vindicta. Se o homicida e
algum maioral da tenda, tao poderoso que
infunda respeilo a trihn, e se nega o prcco do
sangue, cedo ou tarde o paga com a \ ida
(|ue, em se nao t'azendo justica, e reelamada
pela vindicta ; mas tambem dalii nasce a
guerra, como dissenios. Numerosos exemplos
de vindicta podcriamos citar: o que se vae
ler, tirade dos costumes de uma tribu do
Sahara, os chamba, e de uma povoacao do
grande deserlo, ostouareg, separados uns dos
OLilros pelo espaco de duzentas Icguas, dara
idea exacta desse odio obstinado, dessa sede
dc vinganca ([ue se traduz sempre pelos mesmos
actos de violencia.
Um troeo dos chamba, capitaneado por
Ben-.Mansour, cbefe d'Ouergla, surprehendeu,
junclo do Djebcl-Batcn, alguns touareg que
vinham ao Oiied-Mia dar de beber aos seus
camellos, e commandava-os Kheddache, chele
do Djebel-Hoggar. Odio implacavel, cuja ori-
gem e desconbecida, tao antigo e elle, traz
OS chamba em guerra com os touareg, alcni
de que estes andam em perpetua vindicta com
as tribus do Sahara, ou porque sao berberes e
niSo arabes, ou porcjue impoem as caravanas
do Soudan um dircito de passagem.
Travou-»e enlrc riles, e sem preliminares,
um combale encarnicado: os touareg I'oram
postos em fuga, deixando dez dos seus, mortos
no campo, um dos quaes era o seu cbefe cujo
coi'po decapitado cncoutraram passados dias:
a cabeca levara-a c expozera-a Ben-Mansour,
como tropheo, era unia das portas do Ouergla.
A nova dostc successo cobriu de luto os habi-
lantes de Djebel-Uoggar, e os levou a fazereiu
etc juramento solemne: »A minha tenda sejas
destrnida, se kheddache nao lor vingado."
Kheddache deixara uma viuva f-ormosissima
por nome Fetoum, e um lilbo aiiida infante.
Segundo 0 costume, Fetoura licava governando
com 0 conselho dos grandes, em ([uanto seu
lilho nao chegasse a edade do poder. Um dia
cstavam os grandes reunidos em sua tenda;
(iMeus irmaos, Ibes diz ella, acjuelle de vos
que me trouxer a cabeca de Ben-JLinsoup,
ter-me-ha por esposa», e em a noite desse
mesmo dia todos os jovens da montaiiha, ar-
mados em guerra, vieram dizer-lhe: «Amauha
partiremos com nossos servos em procura do
teu presente de nupcias.» E de feit«>, ao al-
vorecer da madrugada, trezentos tauareg,
commandados por Ould-Biska, primo de Khed-
dache, marcbavam na direccao do norte. Ao
cabir do sol, quando ja tomavam posicao para
fazer alto, viram correr sabre a sua retaguarda
dez camellos montados, entre os quaes se
distinguia um mais ligeiro e rieaniente ajaeza-
do ; era o de Fetoum ; e Fetoum vinha reunir-se
a este pequeno exercito que a recebeu com
acclamacoes de regozijo, porque, e ccrto era
a intencao della, pareeia querer aconipa-
nbal-o para mais promptamente cumprir a sua
promessa.
Era no mez de niaio: estavam as barrocas
cheias d'agna, as areas juncadas de relva; a
estaciio fa\ orccia : ao I'azer alto no oitavo dia
de marcha, aununciaram os Ijatedores que
um forte troco dos chamba, commandado por
Ben-Mansour, dirigia seus rebanhos para as
pastagens do Oued-Nessa; porem os chamba
logo percebftram a aproximacao dos touareg
e cortaram rapidamente para o norte, procu-
rando alcancar o Oued-Mezab. Descoberto
este movimento, com marcha forfada de um
dia e uma nolle foram os touareg embuscar-
se em barrocas e brenhas a poucas leguas
de seus iniraigos que de tat nao deram fe.
Alii passaram o dia. Ao anoitocer desceram
a planicie, e seria meia noite ipiando o latido
dos caes descobriu o aduar que procura\am.
Em um memento Ould-Biska da o signal, e
OS cavalleiros, levantando o grito de guerra,
cahcm sobre os chamba, dos quaes apenas es-
capam cinco ou seis. Um destes e perseguido
por Ould-Biska que o fere nos rius com um
golpe da sua comprida laufa. Levado por seu
camello, o desgraeado chamba, vacillante,
forcejando por segurar-se na sella, ainda
da alguns passos, mas em breve se abate
306
(• vai rolav sol>rc a area, dosprcndendo de si
uma criaiira do sete a oito annos quo trazia
ofi'ulta (lehaiNO do alhcrnoz.
— »Ben-^lansour! BiMi-Maiisniir! (^onhocps
Bcn->!ansoiir?» P(M-i;iiiilon Onlil-liiska acriaii-
ra, que poniuuiecia traiuiuilia jiinclo do cada-
ver. ((Era nuni pae, cit-o-ahi!
Cliegava entao Fctoiiin segnida, cercada,
comprimida por urn grupo do touarog.
— Malei-o ou! exrlaniou Ould-Biska. — A
iniiiha palavra sera cimipiida — re^pondeu
Potoum — mas laiioa mao desse punhal, n
vae acalmr do rasgar o corpo do maldicto;
arranca-lhe o corarao v dcita-o aos caos.
Em qiianto Ould-Biska, joclho cm terra,
curvado sohre o cadaver, cxecutava est a
ordom, Feloum. cujos labios sc viam contra-
liidos e aiiitados por um tremor nervoso,
cevava-sc avidameitte iiesle horrivel espe-
rtaculo. Torminado a atroz refeicao dos sloii-
(jui (caes g;algos), Feloum, sntisfeita a vin-
ganra, nao curaiido dos despojos que os seus
amontoavam, nem dos rebauhos que dies
andavam a reunir, moulou lo^o em seu ma-
liari, e deu o signal para a relirada. 0 lillio
do Ben-Mansour nao o mataram, mas aban-
donaram-no, c alii estove o infeliz dous dias
a chorar com fome, sede, e calor, ate que
deram com eilc alguns pastores e o condu-
ziram a Oucrgla onde existia ainda em 1845.
Assim([ue os caes dos touareg comeram o
coracao do chcfe dos chami)a, mas lambem
entre e^tes dous povos havera sempre guarra
implacavel.
Coiitinua.
BIBUOGRAPHIA.
Cunlinuado ile pa^. 293.
INIiiii p:ra(io \ainos contimiar o arti^o que com aqiieUe
tilulo principiitmos em o n." 'i'i do In^slituto; porque, ha-
venJo agora ili; falar de trabalhos inteiraniente proprjos,
avullam-nus ao pen.sameiilo todas as dlfficuldades da eni-
presa; e pur que tambein, para satisfazer ao promeitidu, t*
fnrra que uma onlra vez levautemos a voz neste jornal a
favur do inethodo portuguez, coinbatido per um dos nossos
niais iUut-ires e assidaos collaboradflres,
Ahi esl.i, no mesruo n." a pas?. '2iio, debaixo do titiilo —
Instrifr^fio piimaria, — o niesmo campeao fuhninando
iiovnmentn a[in'il:i invcnrao on introdiic^ao (que importa
Ijso?). que iius prL'zamos de recdihecer por excellenle; e
I'm favor da qiial, e em harmonia cjm eUa havemos publi-
cado primeira, segumla, e terceira edi^oesd'um — I^ovo
fibcedario ^ indicio este, com o das tres ou quatro que se
tern feito do mesmo mctliodo portuiruez, de que a reforma
|jroirride, e^nriha terreno, apezar de sens anta^onistas.
'i'emos por coiisa decidida, que nao ha seiiao venta,:^ens
na ilii-cussao d'um quabjiier ponto literario, porque, na
Incta, estuda->e mais profundamenle a materia, palpam-se
rnelhor as diffirublades, e esclarece-se em Dm a verdado.
Mas esta quebtao tern tornado uma forma tao singular ; a
paixao, e o caj)richo, parecem ter nsurpado com lamanho
azedume o Ios;ar. que nao e dado seniio a rellexao impar-
cial ; que, au locar ainda levemente nest«s pontos, ficilmus
jiressenlirlo o subreiBlt'e do leitor. e o seu justo receio pela
con^erva^ao da honeslidade d'um jornal l3lo Hizmenle cx-
clusivo das scieucias e da lileratura, como e o Instiluto. A
b- pon'm d'lioniem de bom, e com o trstimunho anterior de
ludo (pianio, subre quabpier assuuipio, liavenios e,-;cript.>.
ousamos prometler, que nao seremos nos ipn- a manchare-
mos por via desta, ou de qualquer oiitra quentrio.
Como o que ib;ixanuw dicto, prende diredamente com
a — Intro(hir(;ih) an .tiitign dos Mininns — , u'.na da-^
pul)lioa(;oes de que ums propozcmn-; dar nt>lii'ia. vamit*^ a
principiar purelbi, embora, nn ordein dos traballiosaponta-
dus em prineipio, tivesse o primeiro lofrar o Manual.
K*la Intriuhic^no conteni quatro lartcs: — i^ 1." e um
abcednrio t\r ttititra ; — a ii " pudcremos chainar tambem
aliccdari'j de niiineraQao ; — a .'i." sao uns pn'mdros e.vcr-
rict'js dr fefhtra; — e a 4.", conlinua(;So desta, eo p^que-
no catecisiuo da di.icese.
A 1." e a *.' parte, I)em como aliiumas pajrinas da ii."
cont*?m a reproduci^-ao dos Abcedaiins novos para uao do
a.fj/io da iiiffinria, publicados em 11)51.
Esta nrt preio, mui reiormada, uma ■3.''' ediriio da ftilro'
durriio, que vem a ser a 'i.^ dos releridos abeetUirios.
J.
Rstds nao conlem mais de novo numeros, em dezaseto
pairinajide letras,— palavras, — e phrases. A di.sposii;HO das
b'tras, a elassilica^ao das mesmas, tudo o sin^elissimo cou-
lexto desle alu'edario e baseado no s) sterna (b) sr. Castilh'i :
o qual, apenas approvado ptio Cmistlho Superi')}'^ e antes
mesmo que mis o lessemos, nos ha\ ia siib) mui inculcado
pur um dos mats bvnemeritos e consrrririnsos ivjyac! de.'isf
Cansflhoj para o fazermus. expcrimentar ua eschola do
as} b:).
O 1.^ numero contem as seis vogaes, com os seus nomes
na phraseologia muemouica do sr. Caslilho, a qual por
experiencia ja sabemos que se grava admiravelmeiite na
mcmoria ; e que serve tanto, senao melhor. do (pie as an-
tigas denoraina^-oes, para, no dictado do escrevcr, se ma-
nifestarem, au que escreve, os characteres de que ha de
usar.
Todas as vofjaes, majusculas e minusculas, vao em cha-
racteres redondos e inglezes, repetidos, afim de que os
meniaos possam, desde logo, ir apprendendo uma e o\itra
leitura, imj)ressa e manuscripta. E esse piano conlinuamos
inalteravelmente em os numeros seguintes, compo^tos de
letras, palavras, e phrases, em ambos os characteres.
As vogaes seguem-seo que chamamos, comosr. Castilho,
sons oraes on puros ; e contem as modifica^-5es dos val6res
das vogaes, que podem sii^'nificar-se pclos accentos, e pelas
mesmas vogaes nao accentuadas. Conclue o primeiro nu-
mero com as poucas palavras ja susceptiveis de se fornia-
rein somenle de vogaes, como ai! ui! cu, o tiio e a aiu^
tu ia ao aio, etc.
Debaixo do titulo — Exercirios^ ao cabo deste numero,
ou primeira li(;iio, iiidicamos o processo que nos parecen
deverseguir o professor, quando intenda convlr-lhe mais
emjiregar o abcedario, do que o puro melhodo portuguez,
ou combinar um e outro.
O 1 ." diz : — ■" De])ois d'algum exercicio de divisao de
wpalavras em syllibas, e de^^las em rlementns phtmicos, e
ittamhem de leitura auricular, — repetir o val»ir das vogaes.
O 2.° — » Dizer o valor de cada vogal, de que se com-
«poem as palavras. e Ugar esse valor em s) Uaba^i naturaes.
tiCome^ar a cantar ou recitar as regras dos valores, e a
conhecer como se a])[ Jicam.
Ve-se pois que persistimos na eminente conveniencia do
grande trabalho, rigorosamente analytico, do melhodo jwr-
luguez, da decomposi^-ilo da palavra, feita em coro e a
compasso, jtelos meninos; cousa, a ipial, como a leilura
auricular, podera ser reputada por incomprehenslvel, ou
nimiaraente penosa e moedora para os meninos, por quem
(pier que OS conhe^a tao somente de longe, ou haja preten-
(lido estudar a eschtda no silencio e rccolhimento do gabi-
ncte, enlre as grandes e Iranscendenles cdvras dossabios;
mas *pie, para os que forem vlsitar uma e rauilasvezes
a<|uella, se moslrara claramente ser tao facil de compfc-
hender e exercitar, como a)irazivd egraciosa, e, em sens
ctTeitos ultenores, averdadeira — viaftrrta — daUitura,
com') Ihe cUamou com toda a razao o sr. Castilho.
307
NVsta parte permitta-se-nos observar. que o A. do art.,
a qiiL' em priiicipio alliiiJiraos, nos caiisou a iiiaior lias sur-
prczas 111) cjuo e.^crt-veu a pa^. 2H5. — uQiicrer pois-qne
.( tia (iroimncia singular ilit lulra Suisse a proiiuncia da jia-
.* !avra, era tiuerer o impossivel ! !
E todavia esse impossivel faz-se constante. prompta, e
facilimamente nas escholas dv> methudo purtiiguez, cmiio
temos obscrvado e pxperhuuiilado muitas vezes no asylo da
infancia; e nao so a respeitu de nojiies d'objectos cominuns,
mas d'oiilfos inleiramejite desconhecidos dos alumnos,
conio OS de cidades e paizes estran^'eirus.
E se o ilhislre A. ilo arligose tiveiisediidoaoincommodo
do bem observar practieaiiiente o comose devem fazer soar,
se^nndo o melhudu, cada uma das cons-iautcs (o qtie nau e
siisceptivol de se eserev^r), e taiilu melhur qiianto mais se
di-'r de mao a todaa (:'Xao;^era(;a(j; temosque llieacuiitecena
o mesiiio, que iia nieUior boa le asseveiaiuus nos acontecera
a ]irincipio.
Lendo e relondo o melhodo, e ajipHcando, com elle, a
palavra — porta — , coiuiuimos, com o nossa collejiia, por
aqut;l!a inipos.-iliilidade; mas desde que ouvinios p(jr em
obra a theoria, e fazer soar devidamentc as consoatites,
segundo o ensino do sr, Casfilho, iiin conio veo, que nos
toUiia a \ista, rasjou-se diante de nussosolhos, e adiHicui-
dadedesapparecen para se.mpre.
Eiu contraposi^ao ao que airirnia, e nos accreditamos. o
A. do arl. ha\ cr ubservado nos mehtres assisleutesao curso
normal.] odeni OS asseverar-llie, que, nos examesdosmesmos
nieslres dilficiluiente appareccu algum, dos mais rudes,
(alguus. I oucos em verdade, niai^que rudes), que nao Ira-
duzisseeni palavra, prom pta e imnn-'diata men te,os sons que
se Jhe enviavum, por differenles pe.ssoas, sem a mais peque-
na indica^-rio anterior. E que muilo, se os meninos fazem
esse mi la ire !
Sentimosserraosfor^ados pelo A. adizer-Iheque as suas
mesmas palavras provam contraproducentemente. Quern
duvida deque, assimcomo Wraimpossivel extrahir, por via
dos sons ouv'idos, a palavra biblos^ expressando pelo nome
proprio cada urn de sens elomentos, na lingua grega; da
mesma (urma e absolutaraente superior as humanas lor^as
lirar a palavra — chajit'ii — dijs elemeiitus c, li, a, p, e, u,
como sp inculca que pretenda o melhudo portuguez, se|ia-
rando o (pie elle ajuucta, eJfazendo soar a aniiga o que elle
transforma em cimo s5pros e quasi sons indiziveis ! ?
Qaando, em ieiliica auricular, (na qual e evidenteque
figuram somente os \alores usuaes dos caracteres, e nao
a fi5r-nia destes), quizernios que os alumnos nos digam —
ifjiapifu., certaraenle niuguem llies dira — c, h, a, p, e, u,
— mas sim — .r {\alor da articuIa(;ao cumposla f/(,).
B, /;, in {on — (',«*• Da mesma sorte em chfirlnlno: e
^ntao o alumno — dij a sent difjlcvldadc a palavra^ fjue
OS sens elc/ncnt^)S combiiiadus representani (palavras do
Qiesmo art.) ! !
'_, Se em seguida o professor mandar, como deve. deconi-
bor em syllabas, e estas nos sous elementps; o alumno
respondefa talvez que o primeiro elemento e a ^ — tisoirti,
9 X, a s'egunda a arvore etc.; e aquelle Uie eiisiiiara
que, segundu o raodo dVscrcver, nao e o x, mas e o rh
o primeirp eleniento da palavra chapi'v, com o mesnio
Valor, conjo ja aprendpra.
Mas, se com elVcito o aUimno nuo pude ligar ele-
m.entos, mas unicamente syllubas, ou •) suletrar sillabiro
da velha eseluda; que s\llabas ha (perguntaremos nos)
nas palavras chapeu e chaitaliio, parlidas, como . quer
0 art. em
X, fl, pj ('«;
e X, -ar, la, tao. ? !
A id^a de apprender a ler palavras, quazi desde a I.^
li^ao, (Tolgamos de o ler ahi), e approvada por M. Michi-l,
ciija obra nao vimos. Seus svllabarios, inculcados no art.",
tenio-los por autiquados e inuteis cm nossa terra, aunde
nao ha carlilha ou abc, velho on novo, que nao condemne
OS pobres meninos a fazerem uma longa e asjjerissinia
fiajem desde o 6 e a — bd, e o b-r-d-o — bnlo ale as eSti-
rndas palavras — constitudonalidade e, misericordiosis-
isniamente^ etc.
Os nossos abcedarios continuam, dasf vogaes em diante,
eom as consoanles — M. N. L. R. o n.** ti.": — B. P. D.
tv.f. y. o n.o 3.0: — Q. K. C. C. S. o n.« 4.°: -Z.
\". J. G. 11. n a." 5.": — sons nazaladoe 8imi)lices ecom-
postos, o n.« 6.": — Ch. Lii. NU. Ph. no n." 7.*: — al-
gous, mui poucos,:exemplos de consoantes dobradas, no
n." H.": — e como parte coniplementar uma variada col-
lec(;a(j d'abcedario.s, pcia aiUiga ordem, em o n." y.'*
Em todos OS n."*, menos no ultimo, »fgue-se o piano do
1 .^ 0-* characteres sao variados. Nenhumas syllabas <pie nao
exprimam consas, e estas, quanto possivel, vulijares e por
isso conhk-cidas dos meninos. Phrases curtas, pequenos
periodiis; e ludo composto de elementos ja sabidos. em
conslanle appIica(;ilo, e recapitula^ao dasauteriores li^oes,
— procesio tao simples, coniu eflicaz para apprender, em
means tempo, e com su)>error facilidade, a l^r uns e ou-
tros characteres, redundos e manuscriptos.
Em assumptosde3taordemcr^mosqueomol!iorargumen-
toeudaexperienciu.osfactos bem verificadose apreciados,
e repetidus por um tempo bastante jiara devidamentc se
julgarem.
Portanto, se estes abcedarios valem alguma cousa, so
supprem bem us longos syllabarios, se se amoldam a todos
OS methudos, e se sao susceptiveis do fructlGcar, sAb a
intelligente apjilica^ao d'um professor cuidaduso, nao a
devomus dizer nm a priori; que o digam esses. mesmoa
professores pelos laclos.
Pela nossa parte, limitamo-nos a asse:verar, que desdo
1^5] nao ha syllabarios na eschola do asylo; — que as
camadas de meninot desse edosseguintes annos teemappren-
dido a i^r em menor tempo, as meninas ^ratutfassem mais
ensino que o oral do methodo portiiguez; e os meninos gra-
luitos, e OS pensiunistas, ]relo me.smo melhodo, auxiliadgi
com o uso de tabellas inteiramente conformes aos abceda-
rios, l.^e2.''edi(;ao. Tres para quatro annos d'experiencia
tem Jilguma importancia; e 6 por isso tpie aguardaremos
razoes mais fortes, ejuizos menos apaixunados, para mo-
dilicar ou abaudunar inteiramente, se for possivel, a nossa
intima cnnvic(;ao da excellencia do methodo porluguez, »
da absolula desnccessidade e inconvenlencia das li^Oes de
syllabarios.
Nem o puro methodo portuguejs, com todos os seus suc-
cessivos aperfei^oamentos, nemos nossos abcedarios, nem
outro qualquer jirocesso pude produzir o milagre, segundo
inlendemos, de habjlitar os alumnos para lerera prompta e
correnlemenle, apenas conliecidos tw characteres. l^^a e
serds mestre e em ludo a pura verdade. A excellencia do
methodo esta em fazer veneer, no menor tempo possivel e
com facilidade e gosto, a primeira Jornada. No termo delJa
p alumno sabera conhecer asletras, seusvalOres, combinal-
os, e extrahir delles, por assim dizer, a palavra formada e
significante.
O (pie se segue, -(^ obra do tempo. ^
E as liguras, e d canto, e as historietas, e o rithmo, e a
analyse da palavra formada, e o movimento das palmas e
dopasseio, els o grande e fecundameio por que se obtem
orimdealiaixareaiilanarocaminho,c.7Tivertendo-od'arida,
pedregoza, e alcantilada encosta, era alegre e vistosa ala^
tiK^da, tapizada derverde relva, e animada pelo gorgeio dos
pas.'arinhos.
E^tas conquistas do genio, bemfazejo da humanidade,
temos para nos, que ahisluria as regislrara, perdoando por
ellas a fraqueza do homcm o ((ue e do bomera; e discrinii-
iiandiiaexaggera^uoajiaixonadadoqueeoiropurodesolida
e permanente utiUdade.
Uma ultima palavra a ci:rca dos Abcedarios. Publieamos
OS primeiros tao ^mcnte com o intuito no melhor ensino
do asylo. O public6 acceitoii-ns. Quando, no anno proximo,
demos a Inz a primeira edi^ao<la Introdur^ati^ nao liganius
a e^ie trabalho, a menor esperan(;a d'uiiia boa sahida.
Entrava no piano lulal de nossos escriplos; cedianios quazi
a uma jiaijao, senXo a uma mania, d'escrevinhar. Eoanno
nao era findo, e ja estava no prelo uma nova edi^ao, desti-
nada a salisfazer ao pedido d'exemplares d'uma casa consi-
deravel de negocio de livrus !
O publico pois dispensa os syllabarios de Mr. Michel;
aco<_'iUi as emana<;oes do methodo portugnez; muitos dos
que r, iri'la vacillam.em o seguir, coucordam em aproveilar
0 que nao ^ mais que uma sumbra delle ; e nds recebemos
a duce satisfac^ao ^e havermos feito alguma cousa ulil.
f
Continm, ' a. FORJAZ.
:. %^^XK^>^:cuwMC!;:v%*.«9^' "v^-^a *-^mlc _
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308
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Morrernm. i
Eviilem.
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Murreram.
Exislem.
Exiiitiam.
Entraram.
Murreram.
Exislfm.
Existiam.
Enlrarani.
Sairam.
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Morreram.
Exislem.
Existiam.
Eolraram.
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JOKINAL StIE^TIl ICO E LITTERARIO.
CONSELHO SUPERIOH DE INSTRUCCA.0
PUBLIC A.
REI.ATOniO ANNLAL.
1848 — 18i!).
Conliniiado de pag. 283.
4.' PARTE.
Instruccao superior.
Os estabelecimentos dc instruccSo superior,
que se acham debaixo da inspeccao do con-
selho superior de instruccao publica sao: a uni-
versidade deCoimbra, aacadomia polytechnica
do Porto, e as escbolas medico-cirurgicas de
Lisboa, Porto, e Funchal.
§.° 1.° Universidade.
No anno lectivo de 1848 para 1849 foi
frequentada a universidade per 828 estu-
dantes dos quaes 116 cursaram a faculdade
de theolof^ia, 1)42 a de direito, 33 a de me-
dicina, 111 a dc mathematica, e 122 a de
philosopbia. A despesa votada no orcaniento
ultimo para a universidade imporla cm
61:902^750 reis, de cuja quantia deduzindo
OS ordenados de cadeiras e outros logares
rvagos, bera como o iraporte de matriculas,
'cartas de formalura, actos grandes, iniposto.s
addicionaes c seilo de cartas, tudo no valor
muito approximado de 26:000^000, resta a
quantia que effeciivamente tinha a desem-
bolsar o thesouro, se pagasse em dia, de
35:902^730 rcis, que repartida pelos 828
esludantes da a despesa annual de 43^360
reis a cada esludante. Da inspeccao do
numero de estudantes, que no ultimo anno
frequentaram as diversas faculdades univer-
sitarias, reconhece-se, que continua ainda a
«er frequentada em maior concurrencia a
faculdade de direito, como aquella que ainda
sejulgaolTerecermaisexpectativadecmprcgos,
ou dar mais proveito aos filhos das familias
abastadas que pretendem adquirir juncta-
mente com um grau mais subido de instruc-
cao, OS conheciraentos necessaries para me-
Ihor dirigirem os negoeios de suas casas.
Vol. III. Mabco 13
Nota-se porem ao mesrao tempo, que esta
afHuencia comeca, era parte, a ser distrahida
para os estudos theologicos, ainda ba poucos
annos quasi de todo abandonados; sendo
isto principalmente dcvido a practica hoje
felizmente seguida de se provercm todas as
egrejas vagas por meio de concursos. E esta
mais uma prova de que para animar os dif-
ferentes ramos das artes e das siencias, c.
forcoso ou tornar sensiveis os recursos pra-
ctices que se adquirem no sen estudo, ou a-
presental-os, proporcional e convenicnteraen-
te, como babilitacoes indispensaveis nas di-
versas escalas doscargos publicos. Alias suc-
cedera como nas faculdades de matbematica
e pbilosophia, onde, por uma parte o pouco
desinvolvimento que tem tido, por ora, o
ensino practice e util d'estas sciencias, e por
outra parte as poucas babilitacoes, que actual-
mente oilerecem, reduzidas quasi unieamente
as do magisterio, fazem com que o numero
dos sens alumnos seja assas diminuto.
A faculdade de mcdicina, apezar do mais
subido credito, de que gozam os alumnos,
que n'ella se formani, nao so em compara-
cao com OS alumnos das escbolas medico-
cirurgicas do reino, mas mesmo com os das
escbolas estrangeiras, e tambcm muito pouco
frequentada, em conscquencia da brevidade
e facilidade com que se estao babilitando
alumnos n'aquellas nossas escbolas cirur-
gicas; os quaes pelo demasiado desinvolvi-
mento, que as mesmas se tem dado, pre-
tendem competir com os da universidade.
Este conselbo superior, reconhccendo que
ja tem decorrido um espaco de tempo suf-
liciente, durante o qual se podera ter ava-
liado OS effeitos practices da novissima re-
forma litteraria, decidiu dirigir a tedos os
cerpos scientilicos uma portaria circular, com
data de 20 de julbo de corrente anno, re-
commendando-lhes que nes .seus relatorios
do anno findo indicassem o que a experiencia
Ibes tivesse suggerido sebre a execucao da
mesma reforma, e sobre os meios de a mo-
difiear na parte que intendessem precisava
de ser altcrada. E come a maior parte d'estes
cerpos nao podesscm satisfazer no prazo in-
dicado a([uella recommendacao, por falta de
tempo sufficiente para tractarcm madura-
mente de negocio tao ponderese, e declaras-
-1855. Num. 24.
^-^^^^^^^^^^"^^^^-^^^^^
310
sera, a6 raesmo leiapo.que prorarariam faz^l-
0 c com a possivcl l)re\ iciadc ; por isso o
conselho aguanla a rcmcssa de todos os
Irabnilios, sohre esle objecto, para os toiitar
na devida conta.
Dos relalorios enviados pelas dilTcrcntcs
faculdades, conlu'tcu o conselho qiic todas
ellas se dcdicam com o maior zcMo ao apcr-
I'eicoanuMito do cnsino, c a coiiservarao e
cngraiideciiiiento dos cstalu'lccimcntos scicn-
tilicos (|iie llu's sao conllados.
A. faculdade dc Iheologia iifana-se, com
razao, da regiilaiidade e desinvolvjnieiilo
que tiverani os estiidos iheiilngicos, e da cou-
correucia e aproveitauieulo dos aluiiinos no
ultimo anuo leclivo, sendo este, em ludo
superior a lodos os dccorridos desde IS'.ti.
Ensaiaiido, pela primeira vez, os novos coin-
pendios que ha\ia adoptado no anno leclivo
de ISio para ISiG, reconlieceu ijuc inuito se
lucrara no cnsino fcito per olles.
0 coDseliio da faculdade dc medicina da
conta de que adoplara para compendio na
cadeira dc partes c nioleslias de pucrpcras c
reccranascidos, o trmtado •praclico da arte
de partos de Mr. Chaily.
ExpOe a ncccssidade urgcnte de completar'
0 quadro do seu pessoal com os logares de
um demonstrador e trcs ajudaules de cliuica
— dii parte dc que cuidando em dar o pos-
sivcl desinvolvimcuto as applicacoes da sci-
encia, nomeara em 3 de novcmbro de 1848
um dos scus membros para t'azer parte da
commissao creada para organisajao das ins-
Iruccoes afim de prevenir o cholera mwbus c
seus desinvolvlmentos n'esta cidade, e que
em conselho de 3 de novcmbro do mesmo
anno nomeara oulra commissao composta dc
trcs membros, a qual dcpois addicionara mais
dois, a fim dc eusaiarem o as,^(icu no Iracta-
mento dos doentes do hospital dos lazaros.
Lamonta a falta de subsidies de que se
rcsentem os hospitacs e mais cslabelcci-
mentos annexos ii laculdade, bem como a
sua pequena capacidadc nao so era rclacao
ao numcro e di\isao dos doentes nos hospi-
laes, raas ate a maior CYlensao do ensino,
sendo causa de que nao so podesse ainda
obter um gabinctc proprio e com luz suf-
liciente cm que o demonstrador de analomia
pos5a I'azer as demonstraroes de analomia
transcciidentc. — Finalmente em conselho dc
-\i de julho d'cste anno nomeou uraa com-
missao para dar o scu parccer sobre a con-
veniencia da mudanca dc todos os seus cs-
tabelecimentos para os collegios de S. Bcnlo
V, S. Jcronymo.
0 conselho da faculdade de mathematica
rcelama lambem como ncccssidade urgcnte
0 provimento das cadciras vagas na lacul-
dade. Da conta de que Ihe lora oflerecido
pdo opposilor da faculdade o D/ Jacomc
Luiz Sarmeuio um manuscriplo intilulado —
niethodo do cakulo das distancia.i hinares, do
qual sc lez mencao no livro dos asscnta-
mcntos da faculdade, e que se mandou cor-
rcr por todos os vogaes para d'ellc se fazcr
0 devido juizo. Incumbiu a unia commissao
0 examc de uma obra manuscripla, que de-
bai\o do titulo de — romjilenieiilo de rjeometria
(le.'irrl plica de I'^ourcij — Idra feita e olTerccida
pclo lenle da laculdade o D/ llodrigo Hibeiro
de Sousa Piulo.- — -Tanlo no rclatorio, como
em resposta a uma reciuisicao do jirelado da
uuivcrsidade, cxpoe ([ue e de ncccssidade
absolula, para que o observatorio deCoirabta
possa ser util a sciencia, e n'elle sc cooperar
l)ara o apcrfcicoanicnto da astrononiia com
OS observatorios mais accrcditados, ([ue elle
soja pro\ido dos seguinles inslrumenlos —
um circulo mural — um instrnmcnlo de pas-
sagem de maior forca e dimcnsocs que o
actual=um telescopio de forca=um ocnlo
niunido de compctcnlc micromclro.
0 conselho superior reconhecendo que
todos esles inslrumenlos sao indispensaveis
para se podcrem I'azer as observacocs com
exactidao c com a neccssaria rcgularidade,
c que e neccssario eollocar este cstabcleci-
mento cm cslado dc grangcar pelas suas
observacocs a mesma celebridadc que Ihe
grangeou no muudo scienlilico a organisa-
cao das suas cphemerides, nao duvida em
execucao com o detcrmiuado na portaria do
minislerio do reino de fazcr acompanhar cste
rclatorio dc um projcclo de lei para que o
govcrno de Y. M. seja auctorisado a mandar
eomprar os inslruraentos pedidos. Torna-se
tambem urgentissimo, nao so para o aper-
fcicoamcnto dos estudos mathcmalicos, como
tambem para os philosopbicos c medicos,
que se organise dclinilivamenle a aula de
desenho dc mode que possa prccnchcr OS
lins para que fora creada nos estatutos dc
1772, c para isso cspera o conselho que o
governo dc V. M. se dignara dc rcsolver
com a brevidade possivcl sobre o prograra-
ma que o mesmo conselho submetleu a regia
approvacao de V. M. na consulta para o
provimento d'aquelia cadeira cm um profes-
sor que possa salisfazcr a todas as cxigencias
dos cstalulos e da lei de '20 dc septcmbro
dc 18i4.
0 couselbo da faculdade dc philosophia
da conta, dc que procurando remover os inr
convcnienles que a experiencia dos aflBOiS
precedenlcs havia dcmouslrado cxistirem na
distribuicao das materias do cnsino, c usan-
do da permissao ([uc a lei Ihe offerece, fizera
antes da abcrtura das aulas, as seguialos
alleracocs: Que no primeiro anno se Idsse
toda a chymica inorganica, para no segundo
se dar maior desinvolvimento ao cstudo da
philosophia chymica e da pbysica : Que a
cadeira de zoologia fosse lida no 3.° anno,
coniuuctamcnte com a do chvmica organica,
^^5^^^^
311
c que a do mincralogia passassc para o 1.°,
a lira de <|ue sc nao coIlfclis^(! o grau de
baeharel, sem o estudo coinplclo du toda a
historia iialiiral, v. (|ue [Jura toriiar coiiipleto
o curso di; applicaroes, so jiiuctasso a cadcira
de agricultura c oconomia rural o eiisino do
technologia quo ale agora so lia no 'i.°
Para liarmonisar o (.'iisino das diversas
discipliuas, cncarrcgou ao ionle subslituto,
D/ Pedro Noilicrto Corroa a coTifecvao do
um cloiitlio de liolaiiica, o qiial a((uelle lento
apprescntou o corre iniprcsso.
Tends acecitado o olToroeinionto dos lentcs
substitutos Honri(iuu do Couto e Almeida
Valle, c Jose Maria de Abreu para proee-
derem ao novo arranjamenlo e classilioaeao
do gabinete zoologico, e havendo-se-llie de-
signado para base o uilinio metbodo de Mr.
Cuvier, lem o eonselbo da faculdade a satis-
J'accao de ver ua congregaeao de \isita, que
a 1." parte de tao iniportanle lrat)allio liavia
side satislaetoriamente desempenbada pelos
referidos lentes. Nomeou nma comniissao
para examinar um compendio de bolunica
offerecido pelo lento suhstituto o D.' Pedro
Norberto Correa. Discutiu e approvou o novo
piano que deve segiiir-se na adniinislracao
ccononiica e scicnlilica das cercas destinadas
para o esliido da agricultura practiea. A lim
do enriqueeer o jardim botauico e o sou res-
pectivo gabinete, sollieitou directaniente do
governo de V. M. na sua represenlacao de
26 d'abril ultimo o Uerbario Portuguez, ar-
ranjado por um distiucto botanicoestrangciro,
para cuja conipra ja o niesmo governo de
V. M. fora auctorisado por lei; pediu por
intcrvencao do prelado da universidade, que
0 cclebrc bolanico o D.' Welwetseb, a ([uem
0 jardim botanico deve muitas c importantes
acquisieoes de scnientes, I'osse commissiona-
do para remetter os produelos botanicos, que
obtivesse na sua proxima viagem as eostas
orientaes da Africa; e linalmente redigiu as
instruccdes que pelo governo de V. M. devem
ser enviadas as anctoridades do ullramar,
afira de remettercm tanto para o jardim como
para o muscu da universidade produelos dos
tres reiiios da natureza. N'este seu relatorio
eniitte lambera os sens votos para que se
realise o [lensamento de se converterein em
hospitaes os collegios de S. Bento e S.
Jerouymo, augmenlando-se o museu com parte
do actual da conceicao, onde poderiam col-
locar sc as colleccoes de historia natural, ja
muilo apertadas nas salas do museu. Final-
mente faz sentir a necessidade de se provercm
OS logares vagos de demonstradores.
Dos relatorios dos directores do outros es-
tabeleeimentos annexes a universidade, ve-se
que se tracla com zelo da sua consorvacao c
augmento. E para desejar que, logo que as
forcas do thcsouro o pcrmittam, se destine
alguma quantia, maior ou menor, para a
compra das obras novas para a biblioibeca,
aonde por agora apenas sc vao compraudo
alguns |)0ucfis jornaes litterarius. em resultado
de uma pequena econoniia.
Na typograpliia da universidade vao-se
substituiiido alguns prelos de jiau, loscos e
imperleilos, por outros de ferro de uso mo-
derno ; coniprou-se uma prensa litliograpbica,
(|ue uao liavia, e espcra-sc que no corrente
anuo lectivo .se exerca na oilicina esta arte
preciosa. Vai cncommendar-se, u cntra no
I'liluro orcamento, uma prensa bydraulica,
de cuja macliina, alias dispendiosa, muito
depende a perl'eicao typographica. Sollicita-se
a auctorisaoao do governo de V. M. jiara
que da oilicina nacioual de Lishoa sc niande
um ollicial de rcconbecido mcrilo, para in-
Iroduzir n'esta typograpliia os bous usos c
aperieicoanientos, de que realmente ainda
carece.
i?." 2.° Acadcmia polytbechnica do Porto.
Pelo relatorio enviado pelo director da mesma
academia, ve-se que foi o anno lccti\o ultimo
muito regular e de aproveitamento.
Frequentaram a academia nas 11 cadeiras
do que se compoe 145 cstudantes contados
pelas matriculas, e 72 contados individual-
meute. Alera d'estes frequentaram mais a
academia 48 cstudantes ouvinles.
A despesa com este estabclecimenlo e de
0:51)0^970, da qual dcduzindo o importe das
matriculas no valor de 348^000 rs. resta a
quantia de 9:242^070 rs. que dividida pelos
72 cstudantes eleva a despesa, que cada um
d'elles casta ao tbesouro, a 128^374.
0 consellio da academia torna a instar
jicla concessao do extincto couvcuto dos
Carmelitas do Porto, para a qual j.i o governo
de V. M. foi auctorisado, alim de alii se es-
tabelecer o jardim botanico para uso da a-
cademia ; e este eonselbo superior iutcndc
que muito conviria que a dicta concessao se
verilicasse quanto antes.
Aponta alem disso como causas que ob-
stam ao progresso e mcllioramento da mesma
academia a falta nao so de execucao de muitos
arligos da lei de 20 de septembro, mas tam-
bem de algumas refornias que se tornam ur-
gentes. 0 eonselbo superior, desejando me-
dilar pausadamente sobre as exigencias do
eonselbo da academia, nao se dcscuidara de
as altender convenienleuiente, elevando a
prcsenca de V. .M. o seu juizo sobre ellas.
g." 3.° Escbola mcdico-cirurgica do Porto.
0 service aiademico do anno lectivo bndo
Ibi feito' lambera com bastanle regularidadc
nas 9 cadeiras, de que se compoe aquella
escbola.
Matricularam-se 31 estudantes dos quaes
um perdeu o anno. Na escbola de pbarmacia
bouve um so malricuiado, e no eurso de par-
teiras terminaram o curso biennal c lecbaram
matricula 3.
312
Era virtude da iiidicafao feita na circular
do con^^clho superior d'inslruccao publica a-
preseutou o eonsolho da osciioia alguuias
medidas, que julga se devem adoptar na
actual organisacao; as quaes tarabcm cste
conselho lomani na dovida conta.
§." 4." Esetiolas medico-cirurgicas de Lisboa
e Funchal.
Nao foi prescnte ainda a este conscliio,
por parte das escholas medico-cirurgicas de
Lisboa e Funchal, o seu relatorio do anno
lindo.
Cuntinua.
INSTRUCCA.0 PRIMARIA.
Reuniu-se a 2o de setembro de 18iii urn
coii'^resso pedagogico cm Altenbourg, com o
dcsignado lim do apreciar os rcsultados de
varios mcliiodos c processes de ensino, livros
elemenlares e objectos materiaes das escholas
da instrucrao primaria.
Ilouve no mesmo anno cm Londres uma
cxposicao pedagogica no mesmo genero. Na
proxinia exposicao universal de Paris, la ha
logar reservado' para os raeios da propagacao
da instruccao primaria.
Animados por exemplos, tao dignos de se-
rem imitados, resolvemos dar noticia ao pu-
blico de um novo methodo de leitura eitscri-
pta de L. C. Michel, eusaiado com felicissimos
resultados cm niuitas escholas de Franca, e
ja adoptado para ensino era ires escholas nor-
maes.
Quanlo o permillia a estreiteza das eolumnas
de um jornal resumiraos os pontos cardeaes
do melbodo. Julgiimol-o philosophico pordiri-
gir 0 estudo do simples ao composto; por se-
parar o normal da lingua das suas aberra-
coes, e anonialias; e mais que tudo pela dc-
duccao rigorosa tendo o seu ponto de jiarti-
da na eslruclura da lingua, e rclacoes de
expressao phonica, e graphica. Exprimimos
um desejo ajienas do que esse novo methodo
fosse cnsaiado entre nos, sem deprimir, re-
baixar, nem ao menos avaliar neuhum dos
methodos hoje niilitantcs no paiz.
Foi era on. ° de I I'l de levereiro, e neste jornal
a pag. 283, que foram lancadas essas poucas
linhas, tendo para nos que na imitacao do
exemplo dado por naroes mui esclarecidas
alfuni servico larianios as lelras patrias, em
especial ao r'amo de instruccao, para que hoje
convergera as attencoes do mundo civilisado.
E logo no seguinte n.° do 1.° de marco ap-
parece estampado um artigo dizendo mui
rasgadamente o seu A. que vue Iceuntar a voz
(fortunam Priami cantabo. .) em favor do me-
thodo portuguez comlmlido por nos, e novamen-
le fulminiido em o n." desle jornal a pay. 28i).'
e remain protestundo que nao ahandona as suas
coneiecoes sem que veja razoes mais fortes, e
juizos menos apaijronados! Pareceu-nos tudo
um sonho. Se nao Ibra a nossa boa fe accre-
ditavamns que sc quiz imaginar um crime,
e arrojal-o sobre nos. Yenba a publico o pe-
riodo, a phrazc, a palavra que possa ministrar
0 i'undamenio jirovado as asscrcOes infunda-
das do A. do arlign alludido. E certo que
acostumados a respeitar a inlclligencia, e
nao a vonlade; c ameslrados ])ela experien-
cia cm nao crer Icvianos cm milagres dos ho-
mens, c do seculo, em que a ])czar da illustra-
cao, e do ])rogresso ainda ap])arecem Caglio-
stros do magnetismo, bonieopalhia, e outras
novas magias de igual jaez, nao ousamos por
ora clogiar um methodo problematico, sujcito
ainda as |(rovas publicas. Alguns fiictos tere-
mos apoutado dos muilos que ha, c oflicial-
mentc coustam, em dcsabono do methodo dicto
porlufjuez. Talvez mesmo tenhamos combatido
(nao nos recordamo.'i) algum principio da sua
parte philosophica ; e |ior este lado olTerece
elle grande preza aos seus adversaries. Sera
este procediniento sempre usado entre homens
de lelras, (piando se trata de sanccionar al-
gum descobrimento, prova do juizo apaixona-
do? Recommondar outro descobrimento no
mesnu) genero para se ensaiar, e devidamen-
te appreciar, sera fulminar os que o preccdc-
ram? Sera; mas nao invejanios a logiea em
que asseuta o raciocinio.
Creia o illustre A. do art." no seu perfilhado
methodo: nao abandone, robusteca as suas
conviccOes: veja se pode grangear factos que
destruara as opinioes dos homens compelentes ;
veja sc a Franca o galardoa na proxima ex-
posicao, e seremos o priraeiro a render-lhc
Iributo de horaenagem.
Mas pedindo venia a sua musa que tarn
bella e radiosa sabe converter akanliladas
encostus em alegres vistosas alamedas, tapica-
da.s de relva, animadas do yorfjein dos pas-
sarinlios, permitta o A. do art." que descendo
dessas elcvadas rcgioes da poeaia, tao accom-
modada a instruccao da infancia, ao prosaico,
positive, e real, Ihe digamos que nao cora-
jirehcndeu o methodo (juc desadora. Seria
nossa a culpa por brevidade, ou vicio ds
exposicao; mas devera inlcirar-so do objecto
antes de Ihe fulminar tremendo anathema,
consultando o original, ou exigiudo explica-
cocs. 0 juiz imparcial assim precede: nem
sombras de paixao deve abrigar.
Come se achava auctorisado e illustre A. do
art." para ter jior antiquados e inuteis em nosm
terra os syllaliarios de Michel? 0 autor do
systema pjionico nao recorre, e verdade, .is
cxtravagaiites denominacoes de tesoira, arvoro,
mandriae, ferneiro nas denominacoes das
letras, e seus variados sons: nao precisa de
mncmouicas tao excentricas: vae mais ao
natural. Estabclece a dislinccao entre vogacs
simidi's cvegaes compostas, sonde ISaotodo;
313
divide as consoanles em >imi)li'c, compostas,
c consoantcs diphtongos. Figurando ua leitura
as letras [lor grupos, e nao isoladamcnte, os
sons vocaes e oraes sao expi-imidos por giupos,
c nao por letras; eslas figuram singulisrmenle
na iinguagcni graphiea; assim que os elemen-
tos na linguagem phonica sao as syllahas, na
graphiea as letras. Faz parte cssencial do
mesmo nietliodo o ronlieeiniento dos eqiiiva-
!entes na leilura, oousa que imiilo cselarece,
e abrevia o estudo de ler, e escrever.
A.S letras teem um nome, e um valor; duas
cousas perfeitamente distinclas. Ler e fallar
palavras cscriptas; e n6s> fallanios per syl-
labas, e nao por letras. Eis ahi os dois prin-
cipios fundamenlaes em que assenta o edifi-
cio do novo niethodo. Fundando-se ncstas
bases, o sen abecedario, ou syllabario, que
tera com todos os syllabarios de outros mc-
thodos absolutamente diversos? E quem nos
auctorisara a dizer que o publico dispcnsa o
syllabario tie Mr. Michel, e accita as emana-
(oes do melhodo portuguez? .\onde esta esse
publico? Esle sim que se podera dizer juizo
apaixonado.
Uma voz da consciencia escapou ao A., do
art." e essa acceitamos nos. Em assumplos
desta ordem o mellior anjiimento ^ a expe-
riencia. Nao o dignmos nos, que o digam os
professores pelos factos. Teem muito poderio
estas phrases: representam a verdade era
toda a singelleza; nao martellemos o nosso
juizo; deixeraos fallar a experiencia. Nao de-
cida 0 illustre A. do artigo laudativo com sacu-
dido ademan do methodo de Michel sera que
dclle tenha conheciraento perfeito; e ouca o
que delle esta dizendo a iraprensa litteraria
da Franca. Do melhodo dido portuguez pode,
querendo, saber os resultados obtidos era
quasi lodo o paiz. Os professores teem ja
fallado delle afouta, e miudamente. E pos-
sivel que a boa execueao desse methodo es-
teja reservada somente a algum espirito pri-
vilegiado. Se assira e, nao serve. Mas creia
firmissimamente que, aguardando as sabias
lifoes da experiencia, nao prescrcveriamos ja
a adopcao de ura nem de oulro.
M.
LITTEIIATUR.^ DRAMATICA HESPANHOIA
E SELS HISTORIADORES ' .
Continiiadu dc pay. S5fl.
I.
A nova geracao que succedera a Lopes de
Vcga,|e a frente da qual se achava Calderon,
seu pfimeiro representante, aspirava visivel-
raente a um ideal mais perfeito. Calderon e
0 complete epilogo da meia edade hespanhola :
' Km o.< X.'» 17 e SO deete jornal.
possuiudo 0 espirito romaucsco e religioso lui
mais elevada expressSo, rcvela em .>;uas obras
maior vigor, mais arte e siibliniidade, do que
Lopes de Vega, e lodavia Calderon nao ehegara
a transpor os liraites, cm (jue se circumscrc-
vera Joao del Ensina.
Os dramas de Lopes sao muitas vezes de-
raasiado superlici;:es; os de Calderon pelo
contrario tecra o cunho dc ura pcnsamenlo
mais grave e profundo. Os cuius de Lopes
sao rapsodias escholasticas, as vezes sem goslo,
sera critica; os de Calderon, ainda que re-
cheados de extravagancias, deshinibravam os
expectadores pelas suas maravilhosas visoes. ,
Apesar, porem, desta inconlestavel superiori-
dade, Calderon nao soubera inaugurar, conio
Shakspeare, um theatre verdadeiramentc novo,
que representasse a epocha era que vivera.
Shakspeare e raoderno como Corneille
Racine, Pascal, e Bossuet. Calderon foi o
ultimo, e, como Dante, o mais raaravilhoso
dos poelas da meia edade. E todavia entre o
poeta florentiuo e o hespanhol medearam
quatro seculos, e que seculos! que movimen-
to nos espiritos! que transformacao na huma-
nidadel Assim esta decidida piedileccao de
Calderon pela meia edade, sincera, como era,
passiira a ser um systema, de cuja poderosa
influencia elle nao podia ja isentar-se.
Sismondi cbamava ao auctor do principe
Constant — «o poeta da iuquisicao. » Taillandier
diz, talvez com mais propriedade, que elle
era — «o typo da meia edade arlificialmente
reproduzida.i) E de feito nos autos de Calderon
nao ba aquella ingenua e encantadora expres-
sao do catholicismo, que sobresae grave e
solemne ate nas mais supersliciosas Icndas
populares; pelo contrario transluz alii, a cada
passo, a inspirafao contrafeita, o pensamento
reservado da polemica no poeta dominado
pelas ideas do seculo XIII, e escrevendo os
sous dramas sob a impressao da reforma que
iizera o concilio de Trento.
A meia edade, diz Jose de Maistre, tinha
uma mythologia christa propria e cbeia de
encantos ainda em sua singeleza: em Calde-
ron esta mythologia 6 ficticia. A devocao do
seculo XIII cliegava alguma vez a ser pa-
ganisrao; mas a candura dos espiritos com-
pensava aquelle involuntario defeito : no
grande poeta hespanhol, pelo contrario, o pa-
ganismo nascia da profunda rellexao. Quando
a par do drama singular da devocao a cruz,
e das tenebrosas aventuras do purgatorio de
S. Patricio se le uma pagina de Bossuet,
Bourdaloue, Fenelon, ou Malebranche, facil-
mente se aprecia, quanto o cbrislianjsmo do
pensamento moderno dista dessa meia edade de
pura phantasia. N'aquelles e n'outros drama**
do poeta hespanhol sobresae um fundo de
grosseiro materialismo, raal disfarcado sob o
brilhante mysticismo de linguagera e d'imagi-
nacao; c lodavia Calderoij escrevcu tanibem
314
0 ■primife Constant, uoia das mais sublimes
i'rcaj,'Ocs (la poesia rcligiosa, alein d'outras
peras, autos sacramentues, c eomedias dioinas,
cm que a exaltarao da fc parecc Iransligurar
a humanidade, envolvcr o ecu c a terra, o
diviuo 0 0 profano! Esta lula involuulariu entre
0 verdadciro e o falso, entrc as supcrstii-Oes
da mcia edado arlilieial, c as siiiceras inspira-
eoes do ihrislianismo espiritualista, de quo ha
tantos exemplos uo tliealro de Caldcroii, era,
l)or certo. esludo diguo de urn historiador
pliilosoplio
Ao passo, porem, (jue o auctor do principe
CoHslant so deixava dominar por aciuellas
arrojadas inspirafucs, Tirso de Molina, Moreto,
Hojas, e priiuipalmeule Alarcao, seguindo os
progresses da civilisarao nioderiia, coniecavam
a brilhar pela superior illustraeao e beni euteu-
dida liberdade de seus escriptos, presagio I'eiiz
de mellior cdadc '. Esles sym()tomas, porem,
de vida e niovimeulo intellectual erani pas-
sagciros. 0 despotismo e a inquisiiao de-
^iam em breve de produzir seus Iruetos. Os
uiestres da arte nao acbavam eutao na cou-
scicneia gerai o apoio do que o poeta dra-
matico havia mister, c ale no momcnto em
que a primeira aurora do rcuascimcnto as-
soniava no liorisoute, uni pcriodo de uiorte
eomcfiiva ja a reinar.
E todavia quantos germes de vida nao
possuia a Ilespanlui uo scculo XYl e XYll?
Poruiu ladn a esehola dos pensadores mysticos,
a cscbola de S." Thereza, Fr. Luiz de Leao,
e Fr. Luiz de Granada, urn dos mais notaveis
griiposqueapresenta a liistoria litteraria d'este
paiz'. Por outro lado o cspirilo vigoroso e
'■ O 3." volume (la olira dc Scliack, consa^rado
pnuci|ialnienle a analyse dus trabalhus de t'alderon,
e:,cede todas a< memorias (lublicadas sobre este auclur.
Antes desta publica^rio o Irabalho mais digno de coa-
s:iUar-se a esle respeito fura dado, i luz em lU'i'i pur
\ alei^tiu Schmidl luis Aimules de I'ienne, e reproduzidf)
quasi na sua intejra por llosenkranz na interessante
hisloire de In pnesie (IlaUe 103;!). Os autos sacramen-
tn^s^ e an eomedim; dieinna raai'; inijiorlantes, forani
tradiizidas com o maiur inimur pelo liarao d'Eicliendorf.
!M. Harlzenbnsch publicmi tambem na bibliulkeca de
eutores espamlea a mais complela edi<;rio, tpie hoje
possiiimos das eomedias de Calderon. O raesmo aiictor
p.iiblica n'ai|Mella Jlibliulhera iiraa e\cellente edii;ao
dm oliras de Alarcao, que Ferdinand Deniz fizera co-
nhecido nas suas ckroni^ues rhcriileresqiies )iela mni
en;;enhosa traduci;ao do Tisserand de Sigoi-ie. Alarcao.
Jloreto. Tirso de I\I(dina, llojas, Soils, e Cliristoval
s.lo lambem devidamente apreciados na historia do
li'.eatro he.spanliol de Frederic de Schaclc.
I'r. Luiz de Leao fora jireso e perseguido pela
inqnisi(;ao, lalvez porque em suas obraa se manifestava
o espiritualismo, (pie aos olhos d'aipielle tribunal i as-
sava como urn crime contra a auctoridade relisiosa!
Tal era a oppressao, sob a q.ial no reinado de Filippe
U jaziam as letras, e o.s seus cultores., oppres.iao que
i:ievitavelincute devia dar em resultado a destruiy-io de
1. dos OS cljnienlos de vida e desenvolvimento intel-
lectual n'aquella epochn de vcrdadelra decadencia para
a litteratura Hespaliholn.
Os liymnoa de Luiz de Leao forani tradusidos com
rauito primor jior Scliliiler eStorck.
encantador do aurlor do D. Qui.xote, (|ue,
uiiiudo 0 mais fino bom senso ao sentimento
das mais uobres Iradii.oes uacioiiaes, dura o
primeiro passo para a trausformavao doespirita
publico, que devia operar-se n'aquelle paiz.
Cervantes e inconlestavelmeute o mais cmi-
nentc cscriptor hespanhol uo seculo XVH:
conscrvando illesas as tradii.'oes nacionaes
jiossuia verdadeiramente o espirito moderno,
e sabia desatar os lacos da infancia, comc-
fando nova vida. Ninguem como elle julgara
0 tbeatro conlemporaneo com lanla inipar-
cialidade e clevaeao de pensaiuenlo. ludican-
do a lei da unidadc a Lopes de Yega, acon-
selhava-o a meditar mais largamejite as suas
]ief as ; e, como se previra os erros de Calderon^
condemuiira as invencoes dc niilagrcs, que
sobre a scena desliguravam a religiao. Cervantes
forma va uuia elevada idea da poesia e conhecia
perfeitamcnte o caracter varouil que Ibe cum-
pria tomar, o ministerio sagrado, ([ue ella devia
dcscmpenbar. ((Apoesia, dizia aquelledistinclo
escriptor, e, na minlia opiniao, similbaule a
uma joven dc tenra edade, dotada de pcrcgrina.
I'oruiosura, a quem outras muilas jovens ata-
viam com todo o primor e riqueza ; estas jovens
sao todas as outras sciencias, de que a poesia
deve aprovcitar-se, e todas devcm ser por clla
engrandecidas. »
E corto a litterratura hespanhola podia ter
produzido, depois de Calderon, outras obras
dc mais siibido preco, se, seguindo as inspi-
rafOes dc Cervantes, se associasse a verdade,
a philosopbia e a scicncia, donde devia
rccebcr todo o brilho e esplendor.
Inl'elizmentc nao aconteceu assira. A meia
edade ficticia, que o genio de Calderon susten-
tiira, desapparecera com este grande poeta, e
coin elle tambem succumbira essa litteratura.
hespanhola, que, ate enlao, gozara de racre.cida
celebridadc.
Continua.
J. M. DP. .\BREU.
FllAGMENTO
DA TRADUCg.iO DO IV LIVRO DA ENFJDA
pou
ifanocl Matthias Vicira Fialho de Mendonia.
Continuado de pag. 231.
Ja voa, enxerga ja o oxcelso pico.
Do duro Atlante as ingrenies eucoslas,
D'Allanle, oni cuja fronte os ecus cscoram,,
De dcusa mala, e corracoes croada,
Sempre df.s clnivas, c aqui'.oes batida.
Escarchas sobre os hombros se amonloam,
liios das fauces com fragoi: dcspeiiho,
31
TofeiJa cm polos pernio a liorrivc-1 balrba.
Cyllenio aqiii, libra iidn-sc iias azas,
Uiii jrDiico sc (Ictciii: d'alli d'um seillo
Sobre as ondas o Dens so prccipila :
Qual are, que girando escolbos, praias,
Voa rente do mar, buscaiido a presa;
Tal cntre a terra e ecus voara o Nume,
Quando do mnnte avito ao mar swltando
Voa ao longo das lybicas areias.
Ondc Carthago foi mal lirma as plantas,
\o Tciicro T(^ I'liiulando ini[>erio novo:
Pendente ao ladn tern brilhante espada
Dc jaspides coberla ; aos bombros jiende
De purpura de Tyro o regio manto,
Dc espleudido Aiigor da c(5r das chnmmas.
De Dido uiimo foi, de Dido a dextra
Os Iwrdados subtis trafou na tella.
0 nunie o interrompeu: «Cidadc eNcolsa
ttlnteulas construir? fundar Carthago?
(cPrC'so cm femineo amor de ti nao ciiras,
nDe ten reino e tens fados esquecido?
It A. ti me envia o Deus que os deuzes rege,
ciQue a um leve aceno abata os ecus e a terra ;
uNuncio da sua voz eumpri seu niando.
»Que fazes? com que intenio, e que esperancas,
frConsoraes o ocio ten na lybia terra?
oSe nao te abraza ja da gloria o quadro,
«Se tcu proprio cxplendor nao vale as lidas;
«Nao, nao prives lulo e a prole d'elle
eDa esperanra de alcar da Italia o throne
TiNo proniettido imperio.» Assim fallava:
^0 fallar foi perdeudo a humana forma,
E cm tenue virarSo desfez-se aos olhos.
Eneas co'a visao pasmou, ralou-sc,
Pegou-sc a vnz na I'auce, hirtou-se a coma:
Artie jii por fugir da plaga amiga,
Mionito co'a voz do Deus que o manda.
Desgracado amador! com que rodeios,
Com que expressoes diras a anciosa amante,
Que be forjoso o partir? De tal discurso
Qual ha de o exordio ser? Tacs pensamentos
Seu agitado cspiriio dividem;
Agora este Ihe apraz, aquelle agora,
De projecto cm i>rojecto a mente o leva,
Scm nenbnm prcfcrir por todos vaga :
Em tal pcrplexidndc assim resolve.
Chama Sergesto, Mcnesiheu, Cloantho,
Manda a frota esquipar, manda que os socios
Em armas sobre as praias sc apresentem,
Que do impcrado a presto a causa occultcm.
Em quanto ignora Dido os seus projeclos,
Em tanto elle tentcia, cm tanto cspreita
Suave occasiao, subtis maneiras,
Que de Eliza no peito Ihe disponham
Ao iacrimoso adeus bcnigno acccsso.
Subito a voz do chefe os socios correm,
E todos a porfia o mando exerc^m.
Tcrnos amantes illudir quem pode!
Dido 0 apreslo prcve, presente os dolo*,
Temot''eii nao Ihe alTasta a scguranca:
I'mpia fama Ihe diz (jue a? naus sq aprestam,
5
Exacerltando o amor Ihe diz ([uc pafleiii : ',
Arde Dido, scm tino cirante vaga,
Qual a bachanle cm tricnnaes orgias,
Meno.indo a Lieu, Lieu bradando,
Do Cytheron nocturno acode aos brados;
E desfa arte primciro o amante Incrcpa.
"Crime tao negro, o pcriido, csperavas
sOccultar? . . . c fugir-nic? c nao le prendc
uNosso amor, fe jura da e minha morte?
"Moric cruel, que a iufausla Dido aguarda ! . . .
"As naus aprcslas na bybcrnosa ([uadra?
uYiiis arrostar c'os aquilloes, co'as ondas?
«0h cruel! que farias nao buscando
"Ignotos lares, estrangciras terras:
iiTroia loras buscar cnlre as procellas?
iTu fugiras de mim? . . . por cstes prantos
nPela dextra te rogo que me has dado
«(Ja que por nada raais rogar-te posso)
«Pelo nosso hymeneu tao malogrado;
«Se amor to mereci, sc liz tens gostos,
«Se inda em teu coraeao me valem prcces,
<iDa ruina fatal de meus estados,
«E de Eliza infcliz te compadece.
iiTao barbara tencao de ti dcsterra.
«Tu da Numidia e Lybia c meus vassalos
«Me atrahiste o rancor: tu so, tu mesmo
tiMe cxiinguiste o pudor, murchaste a fama,
II Que d'anles de te ver doirou mea nomc:
uEm que raaos, a que morte mc abandonas,
oEstrangeiro? E assim s6chamar-tc cumpre?..,
«Que espero? Ver tornar men tbrono em cinzas
«Pclo barbaro irmao? ou mancatada
<(Ornar triunfos do getulo Jarbas?
oSc antes da fuga ao mcnos me deixasscs,
'(Qual teu retrato, pequenino Eneas,
«Que ante os meus olhos nossaloes brincassc,
('0 engano, a solidao, sentira meiios.u
0 beroe d'olhos no chao, co'a racntc cm JoVe;''
No resoluto peito a dor suffoca,
E breve respondeu: «Negar nSo posso,
«Rainha, quanto devo, c quanto has dito,
<iE grata me sera tua mcmoria,
«Em quanto era mim bouvcr mcmoria e vida.
I'Ouve, attende, nao penses, nao me arguas
(iDe tentar fugas, de deixar-te a furto:
((Nem faxas conjugacs ante nos vimos, .
uNem laco conjugal nos ha ligado.
0 Ah ! se meus fados dirigir podesse,
«Dado me fora terminar meus males,
('Doces reslos dos meus e a patria minha
('Me houveram junto asi! e d'entre as cinzas
(I Do Priamo o palacto, os teucros muros ''
cFizera renascer. Mas lycias sortes
"Mandam que so procure a Italia terra:
«Eis a patria, eis o amor que so me outorgam.
<(Se foram fados tcus nas lybias plagas
"Vir tao longe de Tyro alcar Carthago,
«Deixa os Teucros pousar na ausonia terra.
"Quantas vezcs a noite enluta o mundo,
oQuantas os igncos astros se levantani,
kVera d'Anchiscs a sombra horrorizar-me:
316
I'Repri'liousOes de um pae escuio cm sonhos;
c'\ injuria, o roubo feito ao filho araado
"Do Ihrouo, que o dcstino llie promette,
I PuDgcm meu corajao; ncste momenlo
«Vi baixando dos ecus de Jove o nuncio.
'■\ nossa mutua dor com teas qucixumes
• Nao pxacerbcj mais ... A custo cu parlo.»
0 DUQUE DE COIMBRA
Bcgenic do reino.
Continuodo de pag. 898.
Por I'allccimcnto do duque de Coimbra de-
sa.^sombrado elrci do peso que ate cntao Ihe
fazia 0 rcgente sou thio, mais pelas malevo-
volas intrigas do conde de Barcellos, irmao
do raesmo duque rcgente, do que por ma
vontade do rci, foi eontinuando o mesmo
favor e proteccao a universidade que os seus
anteccssores liic tinham liiieralisado, e pro-
seguindo nos assisados pensamentos do thio
tentou elrei D. Ail'onso V. levar ao cabo a
sua dcrradcira idea, instituindo nesta cida-
de outra universidade (provavelmente a que
0 regente mcdilara primciro): mas uma outra
vez abortou cste piano, e as cousas licaram
no mesmo estado so com a dillcrenca de ter
elrei nomeado para ella reitor antes de se
achar fundada e dotada. ' Nao poderia lalvez
D. Affonso Y. cumprir o seu desejo, embara-
cado com os negocios do seu governo; pois
e certo que nenbuni documento acbamos, que
nos descubra suas uiteriores resolujoes, alem
do que temos relerido, e detlara o sr. J. M.
d'Abreu na citada memoria. Mas se desejos
tao assisados, e ainda mesmo nao comi>ietos
merecem ser elogiados, quando se dirigem a
fins honestos, c ao eugrandecimeuto da uacao,
certo que muita gloria cabe a elrei D. Alfon-
so V proscguindo no pensamcnto civilisador
do duque de Coimbra, digno de ser lastimado
por tao desgracado lim, lendo sido viclima
do desvario de ruins ambicOes, e mal cabidos
caprichos, que terminaram com a sua apolo-
gia, dando-.se o louvor devido a suas virtu-
des e abrandando o anirao d'elrei com a re-
vogacao das sevcras proscripcOes, que com
estas occorrencias tiveram logar infelizmente
neste reino, com tao desastrada guerra civil.
A sua memoria sera lembrada sempre por
todos OS qucsouberem o desvelo que tinha, e
0 apreco que fazia do augmenlo do reino, e da
sua prosperidade, e quanta era a araabilidade
' Vej. a memoria cit. vol. 2 do Instit. n." 15.
com que tractava os proprios subditos, ainda
dentro dos limites de suas altribuicoes e prero-
gativas de regente. Ao cabido desta cidade de
Coimbra tractou sempre com demonstracoes da
maior urbanidade. Em carta de 3 dedezembro
de 1413, cscripta da cidade d'Evora, e em que
elle se dedara — regedot com a ajiida de Deus
Defensor por sen Sr. Elrei de seus regnos, e
senliorios — felicitando o cabido llie diz — que
lite envia muito suudar como dquelles cujo r«-
gimento virluosamenle queria rer aecrescen-
tado — e eontinuando sobre o objecto da sua
rccommendayao accresccnta — quanta ao que
me escrevestes sobre a coonesia de Gil Este-
ves, capelldo d'elrei meu senhor de que o ora
proveu a sr.' ruiiiha minha filha por podei- do
indullo que Ihe o Padre sunlo nosso senhor
outorgou pedindo-me que vos enviasse o dito
indullo, ou traslado delle, por vos ser neces-
sario, por algumus razOes que me escrevestes,
eu vol-o envio pelo dito Gil Esteves, etc. —
acba-se assignada pelo rcgente mas so com
0 titulo — infante 1). Pedro.
Em outra carta passada na mesma cidade
cm 21 de marfo de 1444, depois do mesrao
formulario acima diz esle principe: — Faco-
vos saber que a sr.' infanta minha muito
presnda, e amada mulher me escreveu como
vos falldra sobre a egreja de Castelldos para
Pero Goncalves meu creado e capelldo, e que
vos Ihe respondestes que me tinheis outorga-
da esta egreja para quern me prouves.9e, e que
se vos eu escrevesse que a desseis ao dito
Pero Goncalves, que vos prazia dello. E rf-e
vos tao boa vontade lerdes a cerca desto eu
vol-o agradeco muito e tenho em servico, e
por que do dito Pero Goncalves tenho grande
carrego como he razom assim por ser men
creado como por o iervico que me faz eu vos
rogo e encommendo que por minha comtem-
plucom vos prazu pois tao bom desejo em esta
tendes que o pouhaes em f\m dando a dita
egreja ao dito Pero Goncahes o qual delta he
bem mcrecedor e proccdenle. Finalmente certos
que muito vol-o gradecerei. Escripla em a
cidade d'Evora etc. Infante D. Pedro — Aos
bonrados, e Onestos Dayilo e Cabido da Se de
Coimbra.
As expressOes tao cheias d'aCfabilidade e
delicadeza, como se leem neste documento te-
riam a magia de nao so grangear uma agra-
detida eorrespondencia para com a vontade
do principe, se nao tambem a de se Ihe votar
uma constante dedicacao, sacrificando-se por
die a propria I'azenda e vida !
Mas como e varia e cambiante a aura bran^
da da corte; ordem do muudo, e como sao
debeis e apoucados os lacos com que a poli-
tica nos prende! Este Pero Goncalves tatO
cstremado do principe, seu tao tiel scrvidor,
e companheiro ainda na bataiha d'Alfarrobei-
ra, decahido da privanca daquelle, que tan-
to 0 protegia nao poude veneer os effcitos da
317
icacfao politica, que cm seguida comejou, c
por isso foi posto fora da egreja, em que
tinlia sido apresenlado, dando-se por vaga,
e apresentando-se de novo em Martim Gon-
jalves valido c apaniguado d'elrei D. Affonso
V, julgada vaga por ter o outro seguido o
parlido do infante agora aioimado reo de
losa-magestade !
Assim se conhece da carta regia de 8 de
julho de 1449 em queD. AEfonso diz — « Con-
i<stando-nos que a egreja de Castellaos da
« qual a aprezentarao pcrtence a vos he ora
(I vaga pela privacom que della fizestes a Pero
'I Goncalves que della foi postumeiro rector
0 por vir a bataiha com o infante D. Pedro
u contra nossa pessoa e rrcal estado . . . vos
<( rogamos e eucomendamos que vos praza
« aprczenlardes a dita Igreja Martim Gonfal-
« ves ou quem vos elle disser scendo ccrtos
(1 que polo grande enearrcgo que nos dclle
.« temos vol-o gradeoeremos muito e teremos
« em servifos, etc , com a assignatura d eirei,
ne por fora — por elrei ao Cliantre e Cabido
c< da See Coimbra e o seilo grande a fechar a
u carta. ' »
Destas e d'outras mais cartas que deste
principc podia offcreccr, todos conhcceram o
tacto fino e as delicadas maneiras com que
0 regente tractava os subditos e mais pessoas
deile dependentes, podendo desta correspon-
cia apreciar-se quanto raaior valia tern as
expressoes cheias de grajas, affecto e urbani-
dade que naquelles tempos se usavam, do pae
as de reserva e severidade que mais adiante se
adoptaram a proporcao que a auctoridade real
I'oi crescendo, com o descahimento da inlluen-
cia aristocratica, e do contrapeso do terceiro
estado.
CARTA DE PRIVILEGIO \ FAVOR DA CNIVERSIDADE.
f, D. Deniz pela grafa de Deos rei de Portu-
gal, e do Algarve. A vos TabelliOes de Coim-
bra saude. Sahede que a L'niversidade do
raeu stado dcssa villa mi disse que alguns
scholares nao podiao by aver casas em que
raorassem por seus alugeres e que tinhao que
alguns ihas pilhavam e embargavam de guisa
que nom podiao em ellas morar. E pedirao-
me por merce que eu ihes leixasse by com-
parar casas em que morassem. E eu quereudo
fazer grara e merce a dita Universidadc te-
nho por bcm e raando que aqucllcs scoiares
que estiverem no dito studo, e by Icereni que
comprem em essa vila casas em que morera
so tal condicom que a sa morte de cada
huDs dciles ffiquera essas casas a pessoas Ici-
gas segundo he contendo na minba postura
I ' Todos estes documcnto3 se encontrara na gav. do
A Padroado de Calallaos n.<" 5, 6 e 20.
(Archieo ifa Cathedral.)
que eu sobrc esto for que facao o foro a
mini, que eu de cada uma dessas casas ouvor
daver. Por que vos mando que vos facades
ende as cartas das comparas segundo sabedcs
que be conteudo na minba postura. E mando
a minba justifa dessa vila que Ibes leixeni
hy as ditas comparas fazer c Ihc ponbao cm
essas cartas o sello do concelbo se mcslcr
por. E vos fazede de guisa que em essas com-
paras nom (ique hy enganado e que nem urn
scolar nom compre by por csta carta onlias
casas salvo aquellas em que houver de morar
c cada uma dessas comparas que by algiini
scolar fezcr resgistadea logo em vossos livros,
de guisa que nem um dclles nem possa hy
dcpois dessa compara autras casas comparar
senom aquellas em que ouver de morar assi
como dilo be. Un al non facades senom pei-
tarmades quinhentos, quinhentos soldos, c
denials tornarmei eu porcm a vos. Dante em
Coimbra primeiro dia de Dezembro. Elrei o
mandou pelo bispo de Lisboa. Martim Fernan-
dcs a fez Era de mil trezentos e cincocnta
annos. Episcopus I'lixbonensis vidit — Elrei
a vio. (anno do 1312).
CARTA DE CONFIRMAfAO DA PRECEDENTE A MESMA
UNIVERSIDADE.
D. Affonso por graca de Deos Rei de Portu-
gal e do Algarve. A quantos esta carta vircm
faco saber que eu querendo fazer graca c mcrc(;
aa Univcrsidade do meu studo de Coimbra
outorgolbcs e confirmo as cartas e privilcgio.^
que tern das grafas merccs e libcrdades que
Ihes dcu ElUei D. Deniz meu padre a que Deos
perdoe. Oulrosi Ihes outorgo as gracas cartas e
privilegios que am do papa e mando que Ibes
sejam compridas e aguardadas todalas sobre-
ditas cartas e previlegios cm todo assim como
em ellas be conteudo e que nengun nom llics
vaa contra ellas so pena dos meus cncoutos.
Em testemuinho dcsto del aa dita Univcrsi-
dade esta minba carta. Dante cm Coimbra
22 dias de Maio ElRei o mandou por niiguel
vivas seu clcrigo veedor de sa chanccllaria.
martim sieves a fez Era de 1363. (anno de
Vii'i) miguel vivas.
Acham-se em buma esc);iptura dc compra
que fez D. Pedro anncs de umas Casas forci-
ras a Se, sendo die Arcediago de Ccrvcira no
Bispado dc Tui, e vendidas por Pero Soavcs
Alvasil de Coimbra, em lo de julbo Era de
1364 (anno dc 1326).
^ . JG. 4R. 1 m. 2 n. 6o.
•'3>: OVl';=i »i'j
CARTA DE DOACAO A CNIVERSIDADE.
In Tiomine domini amen.
A quantos esta carta dc perpetua doaconi
e outorgamento virem. Nos dignidades e Ca-
bido da See de Coimbra cbamados singular-
318
nu'nte para o ado soguinlc a Cabido c Cahi-
(lo lazcudo scfjiindc) nosso costume, e nos prior
0 cliantre c hcncliiiados da Igrcja dc sam
podro d'almcdiiia lazcmot; sal)er, que tousi-
rando nos iiuanto a storia das Inlras hi' iiti-
(cssaria e provi'ilosa (H)usa a todos c siiif,Mi-
larmente aas pi'ssoas cdesiasticas (pic liao
dc rrcger c encaniinhar si mcsmos e outros
a salxT guardar os maiidainenlos dc Dcos c
Hsnr dc virUidos, sendo nos cerlos da f,'rande
voiitade que ha o mui ilhistre o mui virtuoso
Principe 0 sr. Inl'anlc D. Pedro dcsta niccsma
cidadc tutor c curador d'EIRci nosso sr. e
ciirador c rrcgcdor por ell dcstcs rrcgnos dc
a ennohrcccr dccorar c acrrcsccntar c mc-
Ihorar mandando aas suas proprias dospcsas
lazor cstrcuiadas e sclentes scolas e cstudo
jiceral dc todas as artcs scicuciaacs para so-
porlaniento e govcrnanca das quaaes som
ncccssarias rrcndas certas suhlicicntes para
salariar os doulorcs e luais Lcntcs e os outros
ofliciacs e para soportar os carrcgos do studo
V. univcrsidadc dos studantes para a ([ual
fousa 0 dito sr. rrcgcntc logo primciro que
outrem conicfou dc o dotar assignando-Ihe
para scmprc hunia hoa c grande canlidadc
dc renda das suas proprias terras mandando-
nos alincadamcnte e graciosa rrogar c rre-
querer que nos outrosi que do dito studo, e
Iructo das scienpias aviamos seer quinhociros
quizesscnios fazer para esto alguma ajuda de
rrcnda perpetua, c depois dos rrazoaraentosque
sohrello ouYcmos todos acordadanicntc sem
contradicora sentimos e ouvenios por hem dc
outorg-ar' a apropriar e dar ao dito studo
(|uanto dc dircito podemos o padroado da
Igreja de Santiago d'almahigucz. 0 qual pa-
droado c dcrcito dc aprcsenlar pcrtcnce a
nos c ao prior chantre e eolegio da Igreja
dc sam pedro dc almedina dc conccnsu c de
pernieo c assim cstamos dc posse pacilica
scu quasi dc aprescnUir. E dc feito por aque-
sta prczcntc nos todos apreciamos c damos
ao dito studo todo o nosso dircito do dito
padroado c o tiramos e demetimos de nos de
lal mancira que qnando quer que acontccer
il' a dita Egreja vagar por morte ou rrcnun-
ciacom d'alvaro paacz que ora della he
prior ao qua! nora entendemos por aquesta
doarom c outorgamcnto fazer algum prejuizo
que' as rrcndas todas della que ora ao prior
pertcncem ferao e pcrtcnccrao ao dito studo
c Ihc scrao ancxas por virtude desse nosso
outorgamcnto o qual fazenios afora a tcrea
(|ue hy lia o cabidoo a qual o dito cahidoo
.<emprc hy hade aver cni salvo sem algiimas
rustas nem censos salvo em apanhar ou ar-
rendar sua rrcnda. E afora esto nicesmo tres
moios pcla vclha de pao meado convcra saher
nicio trigo c mcio milho ou segunda que a
dita egreja dc S. Pedro d'almcdina ha davcr
cm cada hum anno do rrcilor da dita Igreja
d<' -antiagn segundo qnc scmprc ouvc c agora
ha dc alvaro paacz prior c scgiindo sc contcm
cm ronijiromisso c cscriptura desto que antrc
as dilas Igrejas ha e tao hem a dita Igreja
de S. Pedro lia dc dar aa dita Igreja dc San-
tiago em cada hum anno tres nieos dazcilc
por a vellia pnia lamjicda scgnudo se con-
tem em o dito coinpromisso, c a(|iiesto outor-
gamcnto e doaeom fazenios com as oondi-
rocs segumtes convem a saber que das rrcn-
das dcsta Igrcja siiso ditas (|ue ao prior agora
pertcncem seja rcscrvada c assignada ou ta-
xada tal parte por o bispo para sustcntamento
do vigairo c vigairos perpcluos poeddiros em
ella per tempus por que honcstamcntc possao
viver e soport;ir os carrcgos da dita Igrcja
que agora ao dito |)rior pertcncem a aprc-
zcntacao do qual ou dos quaes vigairos para
scmprc poedoiros scja ou pcrleiica para scm-
prc anos e ao prior c bcncliciados suso ditos
dc S. Pedro dc con.scnsu c dc permco assim
como nos agora pcrtcnce a aprcsenlaeom dos
Priorcs. Item se por vcntiira acouteccsse as
ditas escolas e ftudo nom virem a apcrfeicao
para que sc fazcm convem a saber de se
leerem cm elle e aprendcrcm sciencias artes
geralmcnte segundo se cspera, e segundo se
acostuma de se leerem cm os cstudos geeracs
ou depois cessassc por tempo, ou tempos ou
se mudasse para outra comarca, ou lugar
fora dc^ta cidade (pie em tal caso todas c
quaaes ([uer que o dito studo ouvessc daquesta
Igreja dalmaiagucz e Ihc fosse como dito he
unidas, e apricadas que logo ficassem ou li-
quem esse facto apricadas por aipiella mecsma
guisa aa dita see c a sam pedro dalmcdinc*i
para as fithrieas e ohras dellas segundo que a
cada huma pcrtcnce o dircito do padroado
c que as ditas see e Igrcja de sam pedro da
almedina sem outra autoridade Judicial possa
aver c filhar por si as ditas rrcnd<as como
cousas dcvolutas a elles que Ihcs pertcncem
tanto que for certo ou nolorio que o dito
sludo cessa de se leer me ell dircito canonico
c civil ou se mudar como dito he c que qual-
quer que por forca ou contra razom e Justica
estas rrcndas Ihc torvar ou embargar por si
ou por outrem seja maldito e cscomnngado e
sacrilcgo epedimos de niercce ao nosso prcla-
do e sr. D. Luiz Coutinho bispo dcsta cida-
de que com estas condicoes eclausolas tcnha
pur hem dc fazer a dita anexacom em forma
suso dita c acoslumada c esto niccsmo pedi»
mos de mercee ao hem aventurado papa En-
genio nosso sr. quo esla doafom e outorga-
mcnto e anexafom que se della fara do com-
primento do scu podcrio qucira aprovar rrati-
iicar e confirmar a peticom de nos todos
sens humildosos servidorcs deara c cabidoo
da see de Goimbra c prior c bcncliciados da
Igrcja de sam pedro dcssa cidadc em teste-
munho das quaaes cousas maudamos todos
scr fcita csta carta scclada dos seellos dji
dita Igreja cathedral c da Igreja collcgiada
319
de sara pedro feila cm a dita ciJadc a i'l
dias do mcz do mayo Era do nascimento de
iioi-so Sr. Jlic«u xpo dc 1440 a,'
APPBOVASAO E CO>FIBMACAO DO li.° DE COIMBBA.
D. Luiz Coulinlio por raercAe de Deos c da
Sania Igrcja de rroma bispo de Coiml)ra con-
liraiido as cousas e razOoes conllieudas cm a
suso dita doat'om screm verdadeiras e legiti-
nias Inclinado aos justos rcqrymcnlos do suso
nomcado niuy yllustrc principc e Sr- Infante
dom pcdro, c dos padroeiros fazcmos a doafom
C outorgamento com dczcjo esse lucesino que
CY do tlicsouro Iiicomparavcl da scicncia scr
acicsccutado cm esta cidade e rregno rralili-
comos aprovamos e avemos por boa a dila
doacom e de conscntimcnlo e hencplacito de
nosso Cabido quanto com dircito podcmos
ancxamos unimos c ajuntamos as rrciidas da
dita Igrcja de Santiago dalmalagiiez que ao
prior ou priorcs pertecnciao e agora ainda
pcrtcncem aa L'niversidadc do dito studo com
as condicoocs c clausulas contbeudas e cxprcs-
sas em a suso dita carta dc-doacom e outur-
gamcnto c per outra guisa nom rescrvando
mais e taxaudo para convinbavel e onesto
soportamento do Vigairo ou vigairos que por
tempo siam era a dita Igrcja de Santiago
perpctuos e para ellcs tcreni dc que pagucm
as procuracocs c conlirmacora e suportc todol-
los ciicarrcgos da dita egrcja de Santiago a
que 0 prior ou priorcs dc dircito erao Ihcudos
E esso mcesrao a pagar aquelle pao mcado
aa Igrcja de sara pedro segundo o prior ora
paga a Icrca parte de todo o que rrendcr a
dita Igrcja ou rendcria ao prior se by ouves-
se como ora ba e mais todo pec do altar. E as
outras duas partes da renda I'azcndo tres partes
daquello que ao prior pcrtence (iijucm c sejao
uuidas e apricadas ao studo o qual as aja
yscntas e livres e as possa mandar arrcndar
ou apaniiar como sua propia rrenda. Em tes-
Icraunbo das quaacs cousas niandamos scr
i'cita esta carta seciada do nosso sccio pen-
dente dada cu na cidade de coimbra a vinte
c quatro dias do mcz de maio era do nasci-
mento dc nosso Snr. Jesu xp.° dc mil qualro
centcs quarenta e scis annos.
Acham-se e^tes ducumeiitos na pav. 1. R. 1. m. 2.
n.» 2y. (Archirn da Callindral.)
M. R. u'lLMEIDA 1! VASCONt'EIXOS.
EXPOSICAO DE ANUIAES DO.MESTICOS.
C'uniiiiiiaMo tie pag. 209.
k especie ovdhum, scndo a que mcihor sc
jircsta as moditicacocs que se ibe iniprimcm,
1 (.imprcliciide por isso maior numcro dc racas,
(|ue 0 capric.ho do bomeni niultipiica e dcs\ia
cada vez mais do sen typo primitive.
A. producfao de la c a de caruc constitucm
as principacs aplidoes para as quaes se devcm
conformar os animaes ovinos, por que a pro-
duccao do leitc c secundaria: todavia sao
tao imporlantcs aquellas duas aptidocs, ([ue
nao convcra conformar uma raca exclusiva-
mcnlc para uma dellas.
Qualqucr que seja a cspeculacao que sc
qucira fazcr a respeito dcstcs animaes, e for-
coso consideral-os como productores dc la e
dc carnc, cmbora se attenda particularnicntc
a ([uantidade ou qualidade dura so dcstcs
objectos: assim se os animaes ovinos forcm
destinados para produzir boa la, devcpromo-
ver-se que o crescimcnto scja precoce e a cn-
gorda facil, sem prejudicar a natureza da la
(jue se prclcnde obtcr: e do mcsmo nindo,
se forcm destinados para consummo convcm
altcnder tambcm A qualidade da la, no (|uc
for compativcl com o principal destine do
animal.
importa porcm advcrlir, que, cntre a pro-
duccao de la fina e a dc boa came, existc
alguma incorapalibilidade physiologica e eco-
nomiea ; por isso e necessario distinguir bem
cstes dous gencros de produccao, que depen-
dcm de difYcrentes condicocs dc organizacao,
c que cxigem diversas circumstancias na cria-
cao dos animaes. N'um caso o criador dcve
cuidar da aplidao lanigcra, ainda que a carne
scja de inferior qualidade, e no outro dcve
cmprcgar os meios de obtcr animaes que pro-
duzam boa carne, ainda que a la seja me-
dia na.
Por tanto 6 necessario conformar dous typos
oppostos para satisfazcrcm cada um a sua
aptidao; todavia cntrc estes dous typos sc
cncontram outros muitos, em que predo-
mina mais oa menos a produccao da la ou a
da carnc ou algunias qualidadcs dcstcs obje-
ctos, nao se podcndo ainda ol)ler constante
n'uma raca o cquilibrio dcstas duas aplidoes.
Podcmns toniar para typo de produccao dc
13 fina c carnc mediocre a raca merina; dc
boa carnc c la mediocre a raca de Sotillt-Down :
dc la comprida, carne soffrivcl e crescimcnto
[irccocc a raca dc Pislileij; dc la lina c facil
cngorda a raca dc Mumhamp; dc boa carne,
crescimcnto precoce e la solfrivel, a raca
aperfeiroada de Glocester; Ac boa carnc e
muila la dc linura mcdiana a raca de Uol-
lunda etc. '
E pouco c de inferior qualidade o nosso
gado ovino: os rcbanb.os dc Tras-os-nion!es,
da scrra da Estrclla, do Alenitejn etc., pcr-
tcncem todos a raca conimum de la curta e
grosscira, e carne de inferior qualidade; as
pcqucnas varicdades que se encontram no
* Vpj.n-so Zontectmia dos animafs oviiio^. (Cui.-o r.iii;-
I leto lie Zooiatria vol. S.*")
320
iios.<o f!iido miudo ?ao iiiius iiiii cITcito da
influeiuia das locaiidados do que do homem.
Na nossa industria agrirula a ciiafilo do
{jadoniiudo podia iiumar uina fonte principal
lie riqueza, lanto para opeiiueuo, como para
0 graiidc laNrador, e lornecer odemeiito iii-
dispoiisavel para o desiuvolviiiu'nto dos lani-
(icios: mas, para que o paiz se toruasse ar-
mculoso, era necessario que os nossos agri-
cullores se decidissem a soguir os preccitos
da Zoolcetinia da cspecie ovina, eoulirmados
pela experieiifia, e cuidassem seriamenlc ua
reforma da produceao peeuaria.
Para nielliorar o nosso gado c necessario cs-
lollier as oveliias inais beni eonl'ormadas e
de melliores qnalidades, reunil-as com car-
iieiros de scmeiile d'outra localidade e egual-
mente escolliidos, c criar e educar convcni-
cnlemente ascordeiraseoscordeiros. Poremo
nosso gado o\ino csta por tal forma abaslar-
dado, que nao podera devidamcnte apcrfei-
coar-se senao pelo cruzanieuto com bons
carueiros de racas extrangeiras: assim, para
conseguirmos las linas, fora necessario cru-
zar as nossas ovelhas com carneiros me-
rinos de raea pura; para obtermos la com-
prida, cruzal-as com os carneiros da raca de
Glocestcr; para conseguirmos gado que pro-
duzisse nuiita c boa carue, era forcoso cruzar
as nossas ovelbas com Of carneiros da raca
de South-Down etc., escolhendo sempre as
o\cllias mais bem eonl'ormadas em relacao ao
typo que se pretende dosinvolver.
Mas tudo islo nao e bastanle para nos
dispensar de importar as meihores racas ex-
trangeiras a fim de acdimatal-as nas locaii-
dades em ([ue nieliior possam prosperar.
Das variedades da raja raerina a leorieza
6 a que mais nos convem acdimatar nas loca-
lidades pouco montauhosas e enxutas; a raca
dcMauchamp, podo acclimatar-senas niesmas
locaiidades; a raca de Soutii-Down pode accli-
matar-se em todas as locaiidades era que vive
0 nosso gado ovino, ate mcsmo nos terrenos
raoutanhosos; a ra^a de Dishley e a de Glo-
ccster apcrfcicoada sgo ruuito propriiis para
as locaiidades baixas e pantanosas, porque
resistem melhor a influencia da humidade,
c ate prosperam em pascjgos humidos, onde
nao podera viver as outras racas; por isso
muito conviria acclimatal-as nos carapos do
l^londego e do Tejo; em fim, a raga Uollan-
(Icza podia acdimatar-se nas locaiidades pouco
humidas e abundantcs em pastes.
Importa porem adverlir, que lanlo o me-
llioramenlo das nossas rayas ovinas, como a
importacao das extrangeiras, nao pode dar
bons resultados sem que oi lavradores refor-
inem suas practicas em harmonia com o cstado
actual das nacocs civilisadas, empregando o
.ivstema dc cslabularao, dtipastuycin oa mixto,
lonformc as circumstancias o exigirem, e es-
lalieierendo bons prados arlificiaes.
Nos progranimas para as exposicoe? dos anr-
niacs ovinos a \uctoridade pode proinover o
desinvolvimenlo das racas que julgar mais
uteis era rela(,-ao ao nosso estado, daudo pre-
lercncia as mais prnduclivas de carnc, ou de
la, e deslas, aqucllas de que mais carecerem
as nossas I'rabricas d(! lanilirios.
0 decreto de l(i do dezombro de 1882 nao
cliama as exi)0sic6es o gado ca])rino, e parece
tcr justo t'undamento para nao promover a
niulti|iliracao desles aniniaes; por que sao
tao danininlios que se podem considerar como
0 principal inimigo da arboricultura, e lara-
bem sao pouco rendosos: todavia, sendo niuilo
rusticos e vivazes, prosperam em locaiidades
montanhosas, onde se nao pode apasccntar
oulro gado; por isso convem promover o seu
aperl'eicoamento ncsses logarcs, e tambem se
podem criar pelo systema da eslabula^ao sem
causarem prcjuizo.
As aptidoes (|ue devem dirigir o melhora-
mento das nossas eabras sao a da producfao
de came e a de leite; mas esta ultima merece
preferencia, porque a cabra, eonsi.ierada como
produclora de came, e muito inferior ao car-
neiro.
Alem destes motives tambera o rcferido
decreto nao devia esquecer o gado caprino,
por ser de grande utilidadc a importacao
da cabra do Tibet c de Angora, e podiamos
ate comecar pelas acdimatar no Algarve c na
Estrcmadura. Estes animaes sao muito su-
periores a cabra commum, nao so ua quan-
tidade do leite, na qualidade da carne e em
terera cresciraento precoce, mas tambem era
produzirera nm tosao muito fino e proveitoso
para tecidos.
A especie snina offerece urn s6 genero do
produccao, c em toda a parte o porco e dcs-
tinado para consummo; por isso o melhor
porco sera o que produzir muior quanlidade
de carne, de melhor qualidade, em menns
temjK) e com alimentacdo mais economica.
Todavia e forcoso confessar, que, a divisao
dos animaes suinos cm trcs racas — de grande,
mcdianu e fcquena cstalura, nao merece tanto
desprezo como inculca Baudemenl; por que
esta em relacao com a diversidade das cou-
dicoes ijue ofl'erecc cada localidade para a
criacao do gado suino, com a diversa ap-
plicacao da came, e com as exigencias do
mercado deste genero.
Ainda que o destine do porco seja unico,
pode todavia variar-se, predominando a pro-
daccao da came muscular ou do toucinhe,
e ()ualquer destes objectos pode ter mais valor
n'uma localidade do que n'outra.
0 porco da bcira pode considerar-se como
0 typo de grande estutura em que predomina
a parte muscular; porem esta raca exige
grande reforma, que a torne menss ossuda,
de prompto crcfciinento e facil engorda ; tudo
isto se pode censeguir por meio do seu cru-
321
zamento com o porco chino do \lemlejo.
Se estc cruzamento for coulinuado, os nics-
lifos, criados convenienlemenlP, fonnaraociii
breve unia rar-a perfeita do porco dc grandc
eslatura.
0 porco chino conslitiic uma rara perfeita
de fieqnena eslatura, prompto crescimento e
facil engorda, e com aplidao particular para
a produccao do toucinho.
Em lim nos possuimos os elcmentos para o
aperfeicoamento das racas suinas, mas e iie-
cessario aproveitar convcnioiitementc as boas
qualidades do porco da Beira, eas do chino do
Alemtejo, escolhendo a porca ou o varrao
n'uma d'estas racas, conformc as qualidades
que quizermos representar nos mesticos; e es-
colhendo egualmente ambos os pro^enitores
com a conformaciio e qualidades que meihor
reprcsentem o typo que sc pretende obter.
E necessario fazer rigorosa applicacao dos
preceitos zootechnicos, nao so no que respeita
ao cruzamento, mas tambem no regimen ali-
mentar: por esta forma poderemos consoguir
rafas suinas perfeitas, c talvez superiores as
((ueactualmente possuc a Inglaterra ca Fran-
fa.
0 programma para a exposicao do gado
suino deveria cxigir os lypos mais perfeitos,
daudo prelerenci^i em cada localidade as racas
degrande, mediana ou pequena estalura, con-
forme as conveniencias relativas a produccao
dos animaes e ao sen deslino, exigindo porcm
fossem constantes em todas ellas, a boa qua-
iidade da carne, o crescimento precocc, e
pronipta e cconomica engorda.
J. F. DE MACEDO PIMO.
BIBLIOGRAPHIA.
Otntinnado de pajj^. '21)3.
II.
O 2." ubjecfo da Inirodncriii) ao amign dos ineuitiDs
*.rtt( as primeiras no^oes da nuinera^-au, e a h^itura e
couhecimciilo <los numcroa, d'lmidadea ati' milhou's, d"in-
leiros e qiiebrados, e decimaes, comprehfndendo as iio-
Mm medidas do systema in(:'trico, e cuiichiindo com as
laboadas dadii;au e diniinuii^iio.
Tiido (pianlo d'ahi transeende, nnteiidf^nios que pcr-
tf^nce a iima outra ordem superior de conhecimentos, e
a difftirpnte classe d'aluninos nas escholas.
Esta sec^ao se;^ue-se ao abcedario, e antecede aos
prhneiros exercicios da Ifitura pela razao de que, se-
icnndo o nosso juiz.i, ao passo <pie os ineninos entram
no aboedario, nao so e possivtd, nia^ miii cinvenieiile
(pie principiem i^ualmente com a numera^ao,
Xada luais fastidioso para o homem. e muilt> mais
para a crian^;a, do que a inalteravel repeti^iio da mesma
cou:!'a por largo tempo.
Duvidamos de <pie as mesmas li^oes de le'itura, In-
tenneadas de cantos, e continuados mnvimentus, ani-
muda peloscontos, e s(^Ua d'um rii,'oroso coustratiirimont •
c terrOr do velho tntifjhter, nao cheguem a piiJec-r
por monotonia ; sc a escripta e a mimers^ao nSo loma-
rem uma parte das horas da eschola.
-/ escripta, dtzemos; embora, por um man, mas
mui inveterado costume, ainda d'exccHentes profesBorcs
Oque ordinariamenlc reservada para depois de ser co-
nhecidu pelos aiumnos ao menos o alphabeto : nao S(J
nao reconlieceiiios impossibilidade em come^ar os en-
saios do tra(;ado de letras ao par com o .ibcedario"
mas cremos que sera esse um meio nao s6 do variar
OS exercicios, mas de fazer corihecer os caracteres do
manuscrijito, e ;;ravar na meraoria as suas Cruras. Nesta
parte as rccoiueuda^-oes do melliodo portuguez, a cerca
dos ensaios oas ardozias, em accordo com o que se le
nos directorios das casas d'as} io de Franca, parecem-
nos de pouco , ou nenhura effeito, quando os aiumnos
forem muito novos.
Esses ensaios serao, conforme se observa naquelles
estabelecimeulos, apenas um meirt de variar os exercicios
sem esperan^a de resultado; porque nem a imafrma^ao,
nem a mao e o bra(;,o, em tao teiiras idades, podem pre-
star-se a tra(;ar, sera direc(;So, nem exemplo anterior
lima quahpier imaijem toleravel dos caracteres pedJdos.
RIeUior nos parece o alvitre de — ciiamar a taboa
preta turmas de cinco ou seis aiumnos, e de Uies trarar
ahi o professor, ou algum dos monitores, mais adiaula-
dos em escripla, os caracteres ordinarios, a principlar
pelos mais singelos, como o — i — , o — / — , o — u
etc., apagando-os depois, e volvendo a tra^al-os uma e
mais vezes, de mudo que vejam beni , como se fez essa
opera);ao ; e so depois ir chamando, um a um, aos meninos
da turma, para que imilera os tra^os que se Uies ensina-
ram, em compelencia uns com outros.
Por experiencia sabemos, que um bom professor en-
con trara neste singelissimo processo tan to a occaziao
d'iustruir a sens aiumnos, como a de os entreter, e me-
Ihor de os encher de brios, nao se descuidando de excitar
OS de uns, que conseguiram acertar, com os merecidos
elogios, e de animar, com os bons modos e palavras affa-
veis, os que forem infeUzes na tentaliva.
Desde que os aiumnos souberem suITicientemente fi-
gurar, na taboa preta e era ponlu graude, oa caracteres,
e so entao, e que deverao ser admittidos a li^ao d'escri-
pta, sentados, com a niao e bra^o em divi'da posi^ao, e
sobre ardozias, ou papel. A primeira difficuldade venceu-
se, brincando. Cremos que as segundas se vencerao
igualraente com facilidade e gosto , dando ao tempo o
que e do tempo; por que neste ponto a brevidade pode
conseguir-se no ensino dos primeiros passos, nunca no
desenvolvimento d'escrever, que depende do uso e da
idade.
"O tra^ado de riscos, e por Ventura ate mesmo de
curvas, entendemos igualraente que e tao desnecessario
como o Zi e a — ba dos syllabarios para a li-ilura. Assini
como, com todo esse longo e fastidiosissimo aprendizado
o maximo numero das pessoas ficava escreveiido nial, a
muilos boje succedera o mesmo sem elle; mas outros
como entao, aproveiiarao. Com boa vontade, geito natu-
ral , e bons traslados que niio faltain, e mestre liabil,
sem diJTiculdade se apura a forma da lelra ; e os que
nao podem aspirar a tanto, conseguem escrever intelligi-
velraente na metade ou ter9o do tempo, que anlecedcn-
temente se requeria.
A numera^ao e incomparavelmente mais facil, e ac-
cessivel aos nit-uinos, ja porque se applica a um sem-nu-
mero d'objeclos visi^eis e do uso quotidiano, ja porque.
para ler e combluar os caracteres numericos, nao e mister
escrevel-os.
Os singelissimos processos da contagein pelos dedos,
pelos individuos presentes, pelos vidros da jancla. pela>:
bolinhas do contador raechanico, e muitos outros analogos.
(pie OS directorios das casas d'asylo da Franca e da Belgica
ensinam, abrem ocaminho prompta e siiaveraente para a
intelligencia e conhecimento dos caracteres numericos,
dependendo todo o proveito da execurao da boa vontade,
engenho e cuidado do professor, sem o que nao ha mellio-
do, nem regtilamento que valba.
Nos nossos elementos de numera(;ao damos cnmo pri-
raeiro exercicio : — u ensinafj com auxilio dos dedos, uu
322
u por qimlqii^r oulrft f<5nnft jtiBgela, a fazer itU^a das |
(i unidades : ?> e o 2." — « ensinar a If^r e conbcccr os rui-
(i mcros, por sua ordora, jiela invorsa, e saUeados : •' r
<i 3.° : — ■" cnsinar a eserever iimdndes. «
\a Intiira d«s imidades dcscjamos que o proIV'ssor
.desde Utp* \k cncamiiiliando os mciiinos para o Iralmlho
d'addi»;r(0 ; a.«siu) aputitandn-Ihcs o primeiro mnncr>t na
nrdem — 1, S, 3, 4, 5, 0, 7, 8,0, 0 — dirA ^ wm ; .-
lofi;n — e mai-t um — suo rfyt'.v, c apoiilarA o se^uiidn,
A I'Mlura das dezonas simples, e compostas ; a dn^
rnntiMias, inilharos, otc, r diri^ida pela raais ripirosu
aDalysp dns clenifntos ; e a exp'jrif acta tins t^m mostrado
qnao faril i- a qiial'pier monitor, ou monitora, o desem-
prahnr c-sa dirrc^'ao.
(Jiiaiid.i, por cxemplo, no 3." nmnero — dezenns com-
fiostas^-. o monilor apontar n nuraero — 11, e o ler,
cm sesuida n 10 com a addi<;ao da imidadc ; dever/i repe-
til-o d'oiitra forma, toniatido individualineutc us cara-
etc'res, da dircila para ae^ipn-rda; a saher, — uma tiiii-
dade — uni^ v uma dfzeiia ~-dvz, \o^o sao — onzt\
Xuo tiifL'mos mais .vobre esta parte da Inirodnr^do,
>e nao quf. desde 1849, o fiisino da niim<'rac;i"io, no
asvio da iiifancia , i? feito, ao par com o da leitura, sobre
tabfias analojras a eslas brevissimas no{;oes, e com excel-
h'liU's resultadus.
As imiicatNles do melhodo portiifinez sobre a mnemo-
•siiic das fiiruras numericas iiilo nos n?radam j>or nbscn-
ra^, e al;;iimas ate por ioconvcnientes. O ensino da nii-
mera^ao arabica parece-nos escusado. Quando se faz
jnister conhectd-o, na idade mais crescida, e facilimo o
aprendtl-a, scm que se haja tomado um qualquer cspa-
Qo, na julancia, para esse aprcndizado.
III.
\o pequcuo proloj^o a — Introdncrdo dixemos a cer-
ca dos — Priiiuiros Ererririos : t^Os primeiros exercl-
ii cios dizem de si. Sao formulas doutrinaes, contendo
u a Santa o pura moral do Evan^jplho; jiequf^nas e deli-
•i cadas histnrietas, extraidas d'al-Tuns optimos escripto-
(- res eslranfri;iros. ^»
Bastara pelo cpie respeita as primeiras folha-; desta
.secrao. Quern qner que for accostumavio a lidar e pra-
rticar com os meninos, facilniente rcctmlieccru quantos
atraclivos, e boas lii;oes de prompta compreht-nsao abi en-
contrarao os jtcfpienos leitores nos sing:elos e tocantes
<[uadrosinlio^ do amor maternal, dos ciiidados paternos,
<Ia amizadf d'irmaos, etc.
Da parte de S. M. I., a Scnhora Duqueza \iuva de
Bra<raii^a, tivpmos a honra de receber as mais lison^ei-
ra-i e honrosas fflicila(;6es por esse nosso trabalhn; que a
mcsma auausla brMnfeilora da infancia jal:i:i)ii mui adapta-
du para derramar mais aljiunia escolbida semeiile de boa
moral ni>s innocentes coratjoe^; dos sens num^rosos bene-
ficiados. Assim como o abcedario, todos estes exercicios
sao variados nos caracteres; al^iimas linhas nos redon-
dos, outros nos italicos, muitas uos cursivos, e aljriimas
no gothico.
Contiivia. \. FORJAZ.
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DESCRip<;Io DA SESSAO soLEMNE qiic tcvc logar
110 collogio de N. Senhora ila Conccicao em 8 de
tlczembro de 1854 por Joaquim Lopes Carreira
(h Mello, (lirecLor do dilu collegio e socio cor-
respondeute do Snstituto dcCoimi)ra.
COMPENDIO DK GEOGBAPHIA E ( HRO.NOLOGIA para
uso das oscholas. 1 \ol. pelo mesmo auctor.
BREVE BESUMO DOS PBIVILEGIOS DA >OBREZA : 1 .°
dos profcssores publicos: 2," dos mestres dos
principes: 3.** dos aios dos mesmos scniiores, dc-
dicadu a S. M. F. Elrci o Sr. D. Pedro V. par
Francisco An(o7iio iyartins Bastos.
ELKMFNTOS DO PitocEsso CIVIL 2." odiijiio' cor-
rrcta e muito auf^iiu'nl.ula por Francisco Jose
Duartc Muzarcth, Icule cathcdralico ila faculda-
dv do dirt'ito, dcpulado as cortcs, c socio do Insli-
tiito do ('nimi)ra. -"^-'S
QUADUATruA DO ciBCULo por Ilcnviqucs Martins
Pcrcira, coronel de engenheiros.
DissEKTATio i.NAiGruALis do pcrfoct iiino ( hrist 13-
na rclif^'iosus, quaui rt'ciLal)at ac pniinigiiabal £m-
manucl EduarUus da Motta Vciga,
>ogoES tiKRAES ni-ciiiMicA PRACTicA, traduzidos
0 cuordcnados por Joaquitn de Sancta Clara
Sniisa Pinto
ERRATAS.— N." 19.
Lin/i .
Col. Pag.
Erros.
Eiiieiidas
245
I.' 12
primnira
ultima.
»
14
vj veilo
Ovitil...
„
.. lU
1110
7110
n
" a
19lt
898
246
£2 a 2ft — Este arpumento perde a forra,
sabendo-se que os Abbades, ou Ohefes de
Mosteiro, assit;naram este concilio com a
denomina^ao de Archymandritas, como
pode ver-se na coUec(;ao de concilioSj de
Labbei.
N." 20.
Ptig. Cal. Lin ft. Emendas.
257 ^^ 3 lea-se — (Conlinuado de pair. S19.)
267 n«i fim |ea-se — Continua. r. r. i»e sois\ pinto.
N." 21.
E men das.
Pfif}. Col. Linh. J^rros.
£7.1 2.* fi evilar visilar.
2liO 1.* 8 — da palavra — extinc^ao — por diantp,
dere /f/'-se ^ exlinc^ao, por terem decor-
rido apenas oito annos de 10J16 a 1094, c
nao apparecer nenhuni ducuinento em con-
trari<». E verdade que os mosleiros duplices
j<i tinliam sido prohibidns por (irejrorio 11
em 546 ' , e dejtois no Concilit* de Nicea
em 7!{7 ' ; mas, e certo <pie, apt-zar disso,
continuaram siibsistindo em Portugal e*j)or
toda a parte, como nos dizem VitcrbQ •* -e
B.tehuiero ■*.
' Deer. Grac. caus. lU. quest. 2, c. 22. (a not. 2
da mesma pa','. 21i(t).
'■ Cone. 2 de TSicea caus. 20 do Deer. Grac. caue.
lit quest. 2. c. 21. — DilTinimus minime duplex monas-
tiTium fieri : quia scnndaliim id, et ofTi-ndicnlum multis
edicilur. Si ^i-rn aliqui cum Ciiinalis muudo alirenuntia-
re, et monasticaui vitam sectari vulueriut, debent qui-
dcm viri virornm adire coenobium, foeminae vero mu-
lierum inpredi monastcrium. . . .
■* Kliicidario por Viterbo — palav. .Mosteiro,
^JJoelimero not. 99 ao Deer. Grac. caus. 18. que.'t. S.
c. 22.
303 «.'
N." 23.
ete
este
sejas
seja.
I
323
ADDITAMFCNTOS AO CALCULO DIFFERI^NCIAL
DE FKANCOEUR — N.° 7fin, i .' EDI^IO.
PUINCIPIO DOS UMITES , E APPI.ICACAO DELLE.
I
1. Sejnm A , B, C, f(inc<;."es cojitinuas de x, e J> n>Cj (a) deiitro dos limilcs »
p dc X, sendopo valor dex, que faz ^ = 1} =. C. 'roiiiiuuio uiii valor a do a;, coinpreliendido
«utre ot, p, e depoii oulros, que gradual e succeibivametile se vao approximaiido de p,
V, acliareiiioi
yl B ^ ^< B' ^" B"
^ -r;>f-,> i ', TV ^Jv > ' '• -flu '* 7^ > 1 ' Se for 6 W urn valor de x , niul proxiuin
, de p, a reliirao sera poiico dilTorenle da uiiidade, e— 7— -ainda menos differente o sera
(tf) : de sorte que, loinando esle poiito de parlida, podomos eserever
^4+' (')
■ieiido S uma quanlidade positiva epequena, que ira diminuindo, sem nunca seloniar nulla,
ao passo que x se for approxitnandn de p. Teinos pois (b) que duas quanlidades variaveis
passando por lodoa os estados successivos de grandeza, se conservaui constanlemeiile en-uaes :
logo ellas tern o mesmo liinite j porquc a mesma grandeza nao pode approxiiiiar-se ao
(H \ n
■T7 + ^ ) e TT, logo, se nos soubeimos
que o litmlc rft — = 1 , concluiremos Inn : — =^ i. = lim : ■— : M
g. Sejam AJO, e M' O langenles a ruiva PM M', em JMeMi; MO — m, .\J<Or-
(', MO jH'z=a, J\l M' , uiji pecpieno arco dacurva, e egual a p M' — PM=^l = isti'
0-s'
+ -—■;-...: 8 , pequeno aiigulo, egual a M C M' : O MM' = ^; OjM'M=^'; CM=r;
C.i;' = r, =r + 6 ,•■ -t-illl + . . : a superficie CP Bl M'— CP M:=z^ 0 ,'+ Jl," + . . . .
i.a 1.2
e a corda MM' =c; m + in' ='M.
O triangiilo MM'O da
);i sen p' m' sens M senp + senp' sen p(l + co5a)
= ; — = ; e — = = i-fcosp, porseiR+ s'+a='ir:
<- sen a c sen a c sen a, sen n ' 1 1 r ■
324
do que liranios-^=:coi p-p sciipcot-a = l +-^fi4- 5p' + C'p' -|-Plc. : e se « nuiica for
zero, iicm exceder a ^j a scrie prccedonte so pode fazer tao convergenle , quaiito so quizcr,
fazendo ^ convenipntemenle peqiiono. Consideraiido pois invariavel o systema CMO M\ e
fazendo d«crescer gradiialnieuio p ale zero, acliareinos neste liiiiile
1/
innttc d<.\ — —l (I)
I'uri'iii [Logciidre. Geoin. Liv. 4." prop. 9|. .17 > / > e por coiijoipieiicia (I. c )
I
liwiU de-= I (2)
t)ra o tiiangulo J\IM' C dd
on c' =r j' (r' + J"'') + termot com poloicias tie e superiores d scgunda : logo
■; c com Ulo acliainos limilc Jc-=^ — -• c
si
-____, = 1, oil s'z:r J/-7-— rr-
3. A superfieie CMOM' e egual a^rr^ ^eii 6 + -c in sen p= /^ (Francocur Trigmi
n.' 364. V. 2,'')5 e a do iriangulo CMM = a~-rr^ sen « r mas /'>i>Q;
P r?i sen pi 1/ r= +)•" + , 0 p
f>ra — =l-j — de donde limite det- — 1
rr,{l — ~ + m) «
6
2 2 2
Logo limttcdc-^=l mas — ■=: ^ , por consegnlrile
O u 1 ,, s' ,
^iW<« rfe — = -I— =: 1 ; oil e' =- »•'
U 1 , 3
— 3
3
(D aug^a^iu^©
9
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
QUARTO VOLUME.
COiniBRA
niPRENSA DX UNIVERSID/VDE.
1836.
INDICE ALPHABETICO
DO
QUARTO V0LU3IE DO IIVSTITUTO*
A ^""^
x\chromatismo 179
A^ricultura (A) ilos Carthag:inezes 285
Annuncios em Inglaterra 220
Arredores de Coimbra 157
Banhos de Luso 61 , 70, 102
Bibliofcraphia 23,98, 100, 135, 169,201, 226, 238,274
Biologia(estudos preliminares) 21, 35, 50
Bussaco (O) 139
Carla do Sr. A. Herculaao 195
» do Sr. M. R. de Vasconcellos 247
Cerca do Bussaco 32, 45
Chimica Lecal 10, 55, 69, 81, 120, 188, 258, 267
Cidade de Deos 109
Collegio de S. Bento 1 33
Conselho superior de I. P. (f. Relatorios.) ....
Costumes academicos nas universidades Alleraas 260
Curso commercial 146
Despachos de inslruc^uo publica 12, 24, 63, 85, 99
124,147. 159, 171, 177,203,226,239, 251,275,288
Dioptrica (lentes esphericas.) 25
Ensaio sobre os principios de mecbanica(J. A. da
Cunha) 212, 222, 236
Ensino industrial na eschola primaria 209
Epochas do nascimento e morte de J. C 96
Estabelecimento pecuario em Coimbra 57
Estatistica do hospital dos Arcos de Val de VeZ 37
" da Universidade de Coimbra*. .. 107, 190
Estudos philologicos 95, 48
Ferimento por arma de fogo 284
Harem (O) 83
Indices de refrac^uo 167
Instituto de Coimbra 173
Introduc^ilo 1
Instruc^ao primaria 53
)' O passado e o future 256
w Resposta ao sr. A. F. de Castilho . . . 279
Juizo sobre a Eneida Brasileira 231
Lexicon Grego-Ialino 142
Lusiadas (Os) traduc^ao franceza do Duque de
Palniella 116, 127, 250
Luz (A) artiGcial 287
Lyceu de Coimbra 201
Mappas dos hospitaes da universidade de Coim-
bra 40, 1 48, 227
Pag.
Marmier (X) 214, 272
Memorias do Instituto de Coimbra 275
Memoria sobre a revolu^iio que tirou a corfia a
D. Sancho II ... 153, 185, 198, 208, 218, 232
Methodo do ensino parallelo, 243, 253, 26«
Mosteiro de Santa Clara de Coimbra .^0
" da Vacari^a 15
Musiea(A) 122
Neerlandia (A) e a vida Holandeza 287
Nolicias litterarias e scientificas 159, 170, 177, 191,
202, 215, 225, 238, 251, 263
Nova escala thermometrica 129, 156
Obras de Longchamps 80
" offerecidas ao Instituto 12, 171
Observa^oes meteorologicas 64, 76, 136, 160, 172.
178, 192, 204, 216, 228, 240, 252, 264, 276
Observations sur la decuuverte d'un lac dans I'Afriqur
(V. de Santarem) 234
Optica 25, 72, 167, 179, 203
Poesia Slava moderna 5, 18
Primeiras linhas d'hermeneulica juridica 11
Programmas das Faculdades 3, 13, 29
Relatorio do administrador de Mangiialde .... 241
" du conimissario dos estudos do Funcbal 91,
101, 113, 125
» » » em Lisboa 137, 149, 161, 173
It t> » do mesmo sobre a Mnemonica 265
277
» " » do Conselho Superior de I. P. 2,
41, 65, 77, 89, 193, 206, 217, 229
)j M » nas sec^oes 181, 205
n » » dafaculdadede mathematica 163
Rima (A) na poesia moderna 8, 19
Salsugem do mar 94
Selectasinha classica 4
Sinos (Os) 68, 165, 223, 271
Telegraphia electrica 44, 110, 118, 141
Theoria das parallelas 86
Tribunaes Inglezes 176
Tumulo do bispo D. Tiburcio 31
Universidade de Coimbra 107, 19(t
)> de Finlandia 131, 144
Vestigios da vida nas Gtleiras 262
Visila a Serra da Estrella.. 95, 104, 128, 145, 158
COLLABORADORES DO IV VOLUME DO LXSTITUTO.
Adriao Pereira Forjaz.
Agostinho de Ornellas de Vasconcellos.
Alexandre Herculano.
Antonio Alves Pereira.
Antonio Augusto da Costa Sitnoes.
Antonio Cardoso Borgcs de Figuciredo.
Antonio Ignacio Coelho de Moraes.
Francisco Antonio Alves.
Francisco A. Rodrigues de Gusmao.
Francisco de Castro Freire.
(iaspar Uibciro de Vasconcellos.
Henrique O'Neill.
Ignacio Rodrigues da Costa Duarte.
Jacintho Antonio de Sousa.
Jeronymo Jose de Mello.
Jos6 Ferreira de Macedo Pinto.
Jos6 Maria de Abreu.
Marcelliano Ribeiro de Mendonca
Marquez de Sousa Ilolstein.
Miguel Ribeiro de Vasconcellos.
Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto
Rufino Guerra Ozorio.
€) JnotittttiJ,
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
INTRODUCE VO.
Comeca o quarto anno da publicafao do
INSTITUTO, jornal, que, ha tres annos, tem
resistido ao mau fado de todos os jornaes lil-
tcrarios dc Coimbra, atii aqui publicados —
o de nao passarem do primeiro anno. E
com ludo parece, que, em Coimbra, melhor
do que em outra qualqunr cidadc de Portu-
gal, podia c devia (lorescor ura jornal d'este
genero; Coimbra, que possue o Conselho
superior de instrucfao piiblica, uma univer-
sidade, que consta de cinco faculdades, com-
prehendendo, ao menos em programma, o
ensino universal, e uns mil e tantos mofos
na flor dos annos, e isto tudo n'uma epocha,
em que, seja dicta a verdade, parece que as
letras querem renascer de veras entre n6s.
Qual sera a causa d'esta, d primeira vista,
inexplicavel contradiccao? Longe de nos o
acceitarmos a pouco airosa comparafao que
se fez das universidades com as fabricas de
loufa, que, sempre rodeadas deinutilrefugo,
enviam para longe as primorosas obras que
decontinuo produzem. Vejamos se podemos
descobrir alguma causa a este mal, porque o
i', e grande, e se haverS algum remedio pos-
sivel, que possamos indicar.
Comecaremos pelo fim. Porque 6 que
n'uma cidade, onde ha mil e tantos raofos, a
fldr da mocidade portugueza, frequentando,
muitos ' com aproveitamento, e alguns com
distincfao, asdifferentes aulas d'umauniver-
sidade, porque nao ha de ahi prosperar um, e
at6 muitos jornaes scientificos e litterarios?
A causa nao est& na falta de vontade; nem
na carencia de talentos, nem mesmo na
escacez de meios pecuniarios : pois os jor-
naes litterarios de Coimbra nao teem mor-
rido k mingua de assignantes; alguns talen-
tos n'elles se estrearam, e nunca houve em
Coimbra tanta apparifao e desapparifuo
de jornaes litterarios, como nestes ultimos
tempos. Ha pois a forca e a vontade ; falta
a boa direcrao. Expliquemo-nos. Julgamos
Vol. lY. AbriiI-
que jornaes como o institcto, s5o sobre
tudo chamados a espalhar conhecimentos.
Quem diz espalhar, diz dividir; diz tambem
dar uma f6rma adequada a essas verdades, a
esses raios da sciencia, para que cheguem a
todas as intelligencias e illuminem todos os
olhos; porque um jornal d'este genero, nao
deve ser uma collecfao de monographias. Para
esse fim 6 necessario certamente sciencia,
por6m ainda com uma sciencia limitada s«^
pode fazer grandes services, possuindo a fir-
ma, isto 6, 0 estjlo, o habito de escrever, a
ordem e clareza de expressao.
Esta forma 6 que falta ,1 maior parte dos
mofos, ainda os mais estudiosos, e falta-lhes,
porque os nao ensiharam, quando cumpria ;
porque nao ha nem nos collegios, nem nos
lyceus, nem em parte alguma de Portugal,
que se saiba, uma aula de litteratura portu-
gueza, que mercfa tal nome. Por isso se
perde tanta forfa, tanta seiva de mocidade,
que se pode assim comparar, obrigada a
mostrar a vida, que a anima, por meio d'es-
sas pubiicafoes informes e sempre epheme-
ras, de que fallSmos, a uma terra fertil, que
por nao cultivada, produz magnificas urti-
gas esuberbos cardos, servindo s6 para aba-
far alguma planta mais util, que, por acaso,
entre elles germine.
Em quanlo ks cinco faculdades da univer-
sidade, cujos lentes em grande parte sao so-
cios do LNSTiTUTO de Coimbra; a de mathe-
matica bastante tem ajudado a publicafao
d'este jornal ; a de direito tambem o tem
auxiliado, assim como a de philosophia; a
de medicina menos; a de theologia nada.
Avaliamos o grande onus, que pesa sobre os
hombros dos sabios professores da universi-
dade, com tudo tambem aqui os quizeramos
ver a todos h frente da mocidade, dirigindo-a
n'estas lides scientificas, e nao s6n'um jornal
senao em cinco.
Do Conselho superior de instruccSo pii-
blica nadadiremos: os leitores do institito
teem sem duvida apreciado as immensas
vantagens, que o jornal e o publico teem
18'J3. Nca. 1.
tirado da publicafio de relatorios, que, fican-
do ineditos, davam raotivo a infundadas ac-
cusacoes contra aquella respeitavel corpora-
rao. Somos progressistas na alma, e accredi-
tamos firmeraente no future. De cousas pe-
quenas nascem grandes cousas , havendo
aptidao e boa vontade. Esperamos, que cssa
boa vontade, esse amor pelo verdadeiro pro-
gresso, que nao p6de existir sem a sciencia,
juncte, em torno do institdto de Coimbra,
todos esses talentosos mofos, que, ajudados
pelos conselhos e exemplos de sens sabios
inestrcs, alcancem pela sua perseveranja as
habilitafoes, que Ihes faltavam, quandoentra-
ram nos cstudos superiores; tornando assim
0 UfSTiTUTO ura jornal modelo, digno do
nome, que tern, e da sociedade, a que per-
CONSELUO SUPERIOR DE INSTRUCClO
PUBLIC A.
KELATOBIO ANNUAL.
1848—1849.
C'untiDuado Je pag 314 do 3." Tol.
B.' PARTE.
Concltisao geral.
A administracao central incumbida ao Con-
selho superior niSo se fez com a rcgularidade,
que 0 mesmo Cousclho desejava, per nao ter
sido geralinente coadjuvado pelos seus delega-
dos; porem o Conselho, contando com as ef-
licazcs reconimendacoes do governo de V. M.
a este respeito, e com a reileracao dos seus
proprios esforcos, e&pera, que este estado ha
de melhorar progressivamente. Em quanto a
inspeccao e necessario procurar meios de
tornar effeclivas as visilas regulares dos com-
missarios, e dos seus sub-delegados, recom-
mendadas no art. 101 do decreto de 20 de
septembro de 1844.
A instruccao priraaria e o ramo do ensino
puhJico, que mais definhado se acha, e que
mais exige a contemplacao do ffoverno de
V. M.
Insta a creacao das eschoias normaes; a
regularidade dos pagamenlos dos diminutos
ordcnados dos professores ; e o augmento das
eschoias, quando nfio seja pelos rccursos do
lliesnuro, ao menos pelos das camaras mu-
nicipaes, junctas de parochia, misericordias,
confrarias, e oulras associafoes de benefi-
cencia.
A instTaccao sccondaria n5o precisa de
maior numero dc esludos classicos, porem
sim de se tornarem monos superliciaes. E
necessario alem disso dilalar a espliera desta
parte de ensino, no sentido das disciplinas,
e sciencias induslriaes.
A instruccao superior, cm quanto a au-
gmento de esludos, apeiias carece na Uni-
versidade da faculdade de sciencias economico-
administrativas, para os elemcnlos de cuja
organisafao ja se estii trabalhando na Facul-
dade de direito, e nas de sciencias naturaes.
Talvcz para maior apcrfeicoamento e utilidade
das sciencias, e mesmo para economia do
thesouro publico, conviesse rcduzir todos
OS estabck'cimentos de instruccao superior a
um so, a Universidade, concentrando-se em
Coimbra todos os esludos theoricos no seu
maior grau de dcsinvolvimento, e annexan-
do-llic aqui, na capital e nas outras terras
populosas, scgundo melhor conviesse, os es-
tudos de applicacSo com os seus estabeleci-
raentos devidamente organisados para a maior
perfeicao do ensino practico eulil dasmesmas
sciencias.
Esta idea e a sua opportunidade submette
0 Conselho respeitosamente, bcm como todas
as outras lanyadas neste relatorio, a sobcrana
consideracao de V. M., bcm certo, de que o
animo maternal de Y. M. sollicito pelo pro-
gresso da instruccao publica dos seus sub-
ditos, resolvera o que for mais justo sobre
tao importante objccto.
Coimbra em conselho de 30 de novembro
de 1849. Jose Machado d Abreu, vice-rcilor,
viee-presidente — e assignado por todos o-s
vogaes.
Proposta de lei.
E 0 governo auctorisado a dispcnder a
quantia necessaria a lim dc mandar comprar
para uso do observatorio da Universidade de
Coimbra os seguintes inslrumentos: Um in-
slrumeuto de passagera de maior forca c
maiores diraensoes do que o que existe actual-
mcnte no observatorio — um Circular mural
— um Telescopio de forca — ura oculo muni-
do do compelente micrometro.
E 0 governo auctorisado a dispender ate
a quantia de seis centos mil rs. para por a
disposicao do ministro portuguez na corte de
Roma, a iim de comprar uma collccfao dos
melhores modclos em gesso, das estatuas e
bustos antigos para uso da academia da«
bcllas artes de Lisboa.
$
CmERSIDADE M COIHBRJ— PROCRABMilS.
FACVLDADE DE DIREITO.
18S3— 1854.
3." e 4.» ANNO — 8 ' e 10.» CADEIRAS.
l!iSTlTt;l(;oB« DC niHEITCl ECCLESIASTICO, riELlCO, PAR-
TiciLAK I. i>oaiU(iUEz (curso liltnnalj.
r-cn
ft
L-nles } '^•■- Fraiiciiro Furreira dt Cajvaltio.
( Dr. Joiiode Sande (Ic Maijalliiiis Alexia Salema
tOMPEXDIO 7— GMEINEllt, INSTlTlTroStS JDRrs ECCLE-
• IISTICI, CONI.MBHrCAE 1 850 i — K CiVlLLA H ] I , I^ST1•
TITIONES JURIS CA^O.^ICI, CU.VIMBHICAB J81C.
As li(;8es s5o ordenaclas e ss materias explicadns pelo
niellioilo •ynlhelico — ilsmonslralivo r(jin|)emliano, nian-
«IaJo oLfervar pelos Eslaliilus da Uiiiveisidade de 1772,
■B que <al)inraeiile «e acha rr^iilado por elies niesmoi no
J"-. «. til. 3. cap 1. desJe w J. 13 a i'i.
Coini'^ara as li(;o<i» por noc.oes elemenlarrs do Dircilo
■ccdesiaslii-o, pulilico uu canoiiico comiiium e universal:
faiem-«e con»idora(;ops a cerca da iniporlancij d'esle
•Direilo, e do di»tinclo io'.-ar, cpie elle occiipa enlre us
clemais scieiirias , que rompoem o qiiadru da Faculdade
We Uireilo: tio exposlos os priniipjus geraes do Dircitu
canoDico, dando-sc a ronheCL-r a sua naliireza pela deli-
oitao do mesiiio Dircilu ; pelns dilTercnles acwp^Ses, em
(Jlie «e loma, c especies (pie lia dVlle; pelas verdadeiras
fonles, de (jue se deriva ; pela urigeni., pro-iessos , e
Bllera^oes a cerca d'elle ; e jielo sen uao e auiloridade
cm lodas as «ccepi,oes , em que po.le ser considerado
Km segiiida Iracla-se , em geral , do loieriio da socie-
dade liumana pelos dois poderes , espiriluol, e temporal ;
era geral tamliein, da cialnreza e indepeodencia do sneer-
docio e do ioiperio ; do objecio das suas allribuici5es e
.dos »eiis IJmiles ; da iiecr-ssidade de eslarem em har'monia
e de »e ausiharein reriprocamente , bem como do« metos,
que dciem ser empre^^dos para e(se fira.
Da-.ehiima ndaia liisfonea das diircrentes collec(;3c8 ,
de que se coiiipoe o corpo de Direilo canonico: do direi-
lo nonssimo do i-oiu-ilio de Trenio , assim como do uso e
•uucloridade legal dVslas colleci;oes , sem se oraillir o que
lia a re>peilo da collrr^o de Isidoio Mcrcador , ea. ra-
Eao das jio\a« luasimns, coui que veiu allerar o Direilo
canoiiico primili\o ; l.em como uma nolicia litteraria, e
liibliographiia do Hireito ranonico, assim commura,
Cunio parlu-iilar da E^rreja liisitana
Trada-se, em singular , da cunsliluii-ao e organisarao
da .ociedade ecclesiaslica ; das qoalidailes especiaei , que
a dHliurtiera das outras sociedades ; das faculdades , que
Ihe comprl-m ; d.s raembros, de que ella se coni|iOe ; das
pessons.que form.im a hirrarctiia erclesia.lica, e dos
«eus direilos eobrig;i,;o..s, scgiindo o gran, que cada uma
na raesma oc<ii|ia ; da fdrma da sua eleiqilo em geral ; e
por quem sao lioje eleilos na Egrejn porlugueza, e por
que molivo ; jior quem sao conOrmados : a quaes o» irre-
^uiart-e.
Finalmenle rersam as li^Bes a cerca das cousas cspiri-
toaes, d'enlre as quaes le escoihe com preferencia a
maleria de sacrameulos para d'elles se Iraclar ; a cerca
das cousas sagradas , religiosas, e leniporaes , e, dVnIre
«las, se csrollie a maleria, em geral, dos bens eccle-
siasticos e da sua admini8lra.;ao segundo a disciplina anti-
fe'a, dos reddUos acluaes d.is egrejas , e da dota^So, em
especial, do clero e cullo ; a cerca da nalureia e origem
Uos benelicios ecclesiaslicos , e da sua colla^ao ; das pes-
«ons a quem devem ser conferidos , e da obriga^ao de
■resiilirem, bem como , por essa occasiao , do direilo de
padroado, e do que ha a respeilo d'esle na Egreja por-
Como n3o cabe mi tempo lecliro dos dois nnnos seguir
odo o syslema do Direilo canonico , on publico on par-
ticular , em cada urn dos seus arligos , sem excep.;ao de
•Igum, 08 prof.ssor.s escolhem ai materia! , que julgam
mais impntlanles para a cerca d'ellas lercionarem : e,
pur ticcasiSo das lii;opt, adduzeni a proposito os prin-
cipios philosopUicos das scienciai auxiliares, bem como
OS da hisloria sagrada. e da ecclesiaslica , assim universal
como parlirular da Egreja porliigueza , apreseolando o
eslado publico da Eirreja a lodos ih respeilos ; ebem como
opporliinaroenle vSo Iraclanuo d'o que se acha eompeten-
teraente estaluido a cerca das liberdades da Egreja por-
liigueza.
.■!." e 4.'' ANNO — 9.' e 11." CADEIRA.
DiHEiTo cim roRTiuuRz. (Curso bitnnal).
!lJr. Jnlonio da Cunha Pireira Bnndiira dt
Xeivn.
Or, Joat: Matioel Rnas,
COMPE>niO — M. A. C. DAROCMA, IXSTITUII.OES DB
DIRBITO CIVIL PORTl'GUEZ , COI.MBRA 1852.
NVsIas Institui^fies se propi^n o digno professor irailar
o svslema , e piano geral do accredilado il/anuri de Droit
Roiitain de v. .mackeldei , professor da Uiiiversidade de
Bonn : comr<;ando a sua obra por uma breve introduc^ao
ao estudo do Direito civil porluguez, onde se conl^m
as no^oes geraes e hisloricas sobre as leis e fonles do
Direilo; e que corresponde aos litulos do Digeslo — de
jtistilia et jure — , e — de legibui.
Depois divide, como aquelle , as suas Insliluijoes em
iliias paries, uma geral , c outra especial : na parte geral
colloca o que se pdde chamar a technologia da Sciencia,
islo e , as deGnii;oes coramiins , e principios mait geraes ,
lie que continiiadamenle tera de se fazer uso , e applica-
i;io na parte especial:— e esla divide-a em tres livros ,
com atten(;ao aos tres elementos do direito, —petsoas,
cousas, e aclos Jiiridicos.
No li\ro 1." Iracla dos direitos, e obriga^Ses , que
derivam dos diversus eslados das pessoas ; toniando por^m
so em considera^ao os jirincipaes d'esses etlados ; « sub-
divide 0 livro em seis sec^'Ses.
Na 1.^, considera as pessoas. em quanlo ao estado de
cidade; — porliiguezes, e etttangeiros.
Na 2.', e 3.*, em quanto ao eslado de familia ; —
conjuges , paes, c fllhos.
Na 4.*, em quanto ao estado de parentesco
Na 5,*, em quanto ao eslado de incajtacidade para se
reger ; — meiiores e iiiterdictos.
E (inalniente na 6.*, Jem quanto ao estado de ausenles.
No livro 2." tracla dos direitos cousiderailos com rela^ao
ao objecio , sobre que versam , — as cousas : e debaixo
d'esle poiilo de visla , tracla principalmenle dos direitos,
que se exercera sobre o uso, disposiijao, e posse de uma
cousa ; OS qiiais os JCtos. romanos enumeravam nas diffe-
rent<-8 especies de ^u* in re, e que oaiictor, seguindo os
raodcriios , comprehende na expressito geral de proprieda*
de ; accrescentando ahi os modos dendquirir, quando pro-
vcm immediatamente da disposii;ao da lei ; e reservando
para o livro 3.'^ fallar da sua oulra causa elDciente e im-
medinla, os actus juriditios.
Subdivide o livro 2.° era nove sec^oes. Na 1.*, tracla
da propriedade em geral. Na 2.*, dos modos de a adqui-
rir em virtiide da mrsma, Na 3.*, da posse e prescrip93o.
Na 4.*, da propriedade coinmum. Na 5.*, tracla da pri-
nieira especie de propriedaile limilada, os vinculos. Na
6.*, da empbyteuse. Na 7.*, das servidoes. Na 8.', do
usofriiclo, Na 9 *, do penhor e hypolheca.
No livro 3.° Iracla dos direitos e obriga^oes , em
quanto aos aclos juridicos, reduzindo estes a diias clas-
ses principaes : 1.' dos aclos ou dis|iosii;Ses de ultima
vonlade, ou cau»n mortis: 2.* dos aclos inter vivos; a
que principalmenle pertencem os contraclos.
Subdivide o livro 3.° em seis secijoes. Na I,*, tracla
das dis|iosii;5es de ultima vonlade. Na 2.", dos contraclos
em geral. Na 3.*, dos cunlractos gratuitos, Na 4.^, dos
onerosos. Na 5.*, dos alcatoiios. Na 6.% Onalmente dot
accesiorioc.
E esiR a base , que o aiirlor aJo|itou p.ira a diitribui-
Vuo 1,'oral lias iloiitiinns do Direilo Ciiil Porluguez ; com
vxcIiui\o (lorum dug que duein respeilo au Proceito^ <]\k:
|"ir l-'i perlenccra a caileirn de Jiiris|iriidt;iicia Kurninlaria
e Eiiremalii-a : e e tarulttfin se^iindo csla mesmn liase , e
por Mia mesma ordcnl , i|ue , com aliriimas altcia^ors ,
coslumamus por ora re);ular as |ireleri;ocs a nosius ouvin-
le», pelo mi'lliodo S)nlh«'lico dcmunslralivu, oa coufor-
luidade dos Etlallilos dVsU Unheraidade.
4.» ANNO. — li ' CADEIRA.
DtKItlTO COMMBRCI.IL & M4HITIMO.
COMPENDIO — CODIGO COMMERCIAL POHTl'GCEa,
CUIMBRA U151.
Lcnie — B«riw de Sanct' lago de Lordelh.
Do COMMBRCIO l>B TBRRA,
I.
Inlroduc(;3o. Noqoei i,'erafs de Commercio, considi-ra-
do dctiaixo de diversas rela(;Bes, especialinenle em rpianlo
:'i8 leis , que regem as siius tiansac^aes , e a Jurispruden-
rja commercial.
Breve notlcia hislorica da legislB<;aa porlustipia sohrp
Commercio, aalerior an Codigo do Senior D. Pedro 4°
— Id^a geral d'esle Codijo.
Ados commerciaes — mercados — feiras — praijas de
Commercio.
Comniercianles em geral , e siias diversas especies Dos
commissarios — consiiiiialarios — canibislas , e banqueiros
— empresarioi, es|iecialmente de Iransportes ; rr'coveirus
Empreirados commerciaes ; feilores , jiiardalivrus , cai-
xeiros — cofretorcs de prai-a , e iiiterprelcs de naiios
Obrigacjoes e ileveres commons a lodos os que jirufes-
tam Commercio em gtral — escriplnra(;3o, e correspon-
dencia niercantil — re-i,lo pul)l]co do Commercio
prcEta^iio de contas.
U.
Naliircza , forraacjSo , e elTeilos das obrigai;oes enire
coramprci»nle — muluo mercanlil, e jiiros commerciaes.
Commodato — depositor penlior.
Mandalo mercanlil — commissao — consigna^iio.
Fiant^as commerciaes.
Compra e venda mercanlil — escombio on Iroca mer-
canlil— loca^Soe condiic<;,1o mercanlil — empreiladas
Conlracio, e lelras de camliio — bilheles a domicilio
e ordem — lelras .le terra — ordeiis — livrancas — cheques'
Cartas de credilo.
AssocinijSes commerciaes. Socied.-\des mercanlis.
Modos, por que «e dissolvem , e se dislingiem as
obrigaijOes commerciaes.
Indemniza^Oes por inexecujao dos eonlractos e obri-
gai;3e8 mercanlis
III.
Quebras — rehabilila^Bcs dos fallidos — raoralorias.
Do COMniEHCIO IHIRIT7MO.
Breviesima nolicia Inslorica das rollccijOes d'usos, costu-
mes, e leis sobre Commercio Maritim o dos povos mais
commerciaes aniigos , e modernos.
Das embarca<;5e8. Dos douos de navies — parceria ma-
ritima, e compart, s — caixas. Capitr.o , contra-mestre —
pilolo. Ajusle esoldadas dos oHiciaps, e geiiles de Iripll-
la^Bo, sens direitos e obriga,;6es. Frelamenlos — conhe-
cimcntos.
Principaes accidenles , antes e depois de comecada a
viagem, de que resullem direitos e obriga(;oes. — \lm\.
joav'So — encalhc, c vara(;ao — naufra?io, e fragmcntos
naufrasos — alijaraenlos — a rrestus — prezas
Arribadas^ Cunlracio, de risco , i grossa avenlura,
tollomri/i. Seguros. Avarias,
Extioc^ao das obrigavSes em materia de Direito Ma-
ritimo.
A'. B. Sobre pontes raais iroporlanlcs de cada uma
destaa nialerias , especialmenle u cerca d'aclos , que
sejom pracllcados no nosio paii para terem execiirSo era
paizes exirangeiros , ou vice versa, »e dara nolicia da
legislat^ilo exirangeira dos psizes priunpaes, com cpiem
o iiossu tern mais freqiientes reiaroes cuminerciaeSf quan*
do a legi<lai;ilo d'clles for differeulo da no.sn.
.S'e 0 tempo permitlir, te tracliira.
Da organiza^ao do foro commercial , e eompetencia do
juii.
Dos tribiinaes de 1.*, e 8.* iuslaiicia.
Dat ac^Ses commerciaes.
Das provNS
D.IS decisOes judiciaeg e A^m recursos.
INSTRUCg.VO PRIMARU.
Nclccfasinha Clanslca pnrn uito dai*
eNcIioIa« do diNtricIo dc .ln|;ra.
Dislinguem-se entre todas as nossas escho-
las primarias as das IHias adjaccntes pelas
mclhores habilitacOes dos seus profcssores,
regular frequencia dos alumnos, capacidade,
siluacao e mobilia das casas, no que niuito
se deve ao zelo e esforfos das camaras niuni-
cipaes respectivas; c, o que a tudo sobreleva,
a sustentacao das escholas e a meiios gravosa
ao thesouro; porque o palrioiismn, amor das
letras, e espirito geral de bonelicencia dos
liabitantes insularcs tern applicado ao cnsino
popular OS sobejos dos reiHliiiiciitds das ir-
mandades, confrarias, junctas de parochia, c
niuiiicipios, afora avultados legados, esubscri-
pcoes espoiitaneas, que a virludc de nacionaes,
e estrangeiros esla diariameule promovendo.
Oxala tao bons exemplos fossem iniilados no
continentel
Os bons livros elementares siio ainda hoje
uma das prrmeiras necessidades para o nosso
cnsino priniario a pezar da collecrao valiosa,
que ja possuinios, devida ao palriolko cm-
empenho de alguns bons escriiilores. Sentin-
do cssa neccssidade o sr. Moniz Barreto Corte
Real, commis.sario dos cstudos na llha Ter-
ceira coraraettera aelevada, bein que ingrata,
empreza de colligir, c coordenar excerptos
escolliidos nos Hvros dos mais dislinctos escri-
ptores portuguezes, princiiialiiuMile nas obras
do nosso doutissimo Vieira, formaudo desta
arte colleecao rica em volume poqueno, accoi-
raodado as foreas, gosto, e poucos haveres
da maior parte, dos alumnos d'aquclle ramo
d'instruccao.
As excellentes maximas moracs, bons exem-
plos, OS dictos sentenciosos, e espirituosQS
acbam-se reunidos, e disposlos methodica-
niente n'aquelle livrinbo, conslituindo assim
uni codigo de moral da infancia. Nem teem
mcnos valor as encyclicas dirigidas aos chefes
de familia a bem da frequencia das escholas,
e as allocucoes feitas pelo mesnio comraissario
aos seus discipulos, que, impressas no princi-
pio da obra, Ihe servera de valiosa intro-
ducfao.
Quizeramos para dar alguma idea do ma-
nual transcrever dclle alguns trcchos. Nao
soiihenios acliar a preferencia. Fora mister
copial-o. So nao resistiremos a teiitacao de
repetir uma seiitenca, que parece talhada de
nioide para o cstado actual das transforma-
foes sociaes.
<c Facam o que i/uizerem: em qtianlo se nao
cuidar e/fectivamciile na educacdo da plebe,
assim politica coino rcligiosa, verao sempre
perpetuada a cadi'a das desordens, que desa-
fiam a nossa magoa : porque em fim e grande
ioucura esperar, que venha a ser melhor a ge-
racao futura, se Ihe nao fornecermos outros
recursos, que nao teve a nossa. » (d. fr. caet.
BBANDAO.)
Cremos, que muito aproveitou ao auctor da
Selectasinha a cxcellente produccao do sr.
Antonio Cardoso Borges de Figueiredo, vogal
do Conselho su])erior d'instruccao piiblica, pu-
blicada sob o titiilo de — Logares Selectos —
e hoje adoptada era todas as escholas do con-
tinente: mas na boa escolha de alguns fra-
gmentos, que Ihe addicionou, deu prova in-
contestavel de inteliigencia distincta, e de
apurado gosto. Se ja possuiaraos a Selecta
Classica do sr. Cardoso, nem por isso se havera
por superflua ou inutil a do sr. commissario
dos estudos de Angra.
Obras destas nao se avaliam pelo vulto,
que apparcce: antes o contrario se requer
para a facil propagacao do ensino popular.
Os livrinhos de pouco preco, e facil conduo-
jao, se elles encerram as boas doutrinas, e
sacs preceitos em phrase pura, clara e concisa,
sao verdadeiros thesouros de meninos, e titu-
Jos de gloria para seus auctores.
Assim conceituamos o livrinho, que pren-
deu a nossa attencao; assim queremos render
culto siucero a virtude, que muito desejamos
ver imitada pelos funccionarios da administra-
fao iitteraria. Modesto escra pretencoes, o sr.
Moniz Barreto tem merecido mais que outros
apregoando por toda a parte as suas obras,
Jevados talvez de ambicao ou arareza.
E porque sejamos em tudo francos e sincc-
ros nao occultaremos o desejo, que sentimos
dc ver a 2.' edicao da obrinha tirada em
typographia mais aperfeif oada ; e supprimido
0 exemplo da ingratiddo dos portuguezes, por
aao «xp6r a luz meridiana o que devSra nao
sahir das trevas. M.
POESIA SLAVA MODERNA.
Cootinuado de p»g. 890 3.° vol.
0 principio d'esta poesia de Lermontof 6
perfeitamenle russiano, mas ao cabo de qualro
paginas ja die se mostra afadigado com ella.
Seainda parece, queforceja porvibrarojfotuk',
OS sons, que tira, sao falsos. 0 joven fciribie-
vithc responde ao tsar, que o seu fogoso caval-
lo pula de contente debaixo delle; que o seu
kaftan ainda esta cm bom uso ; que o seu
kalpak briiha como sempre; mas que tem o
cora^-ao ferido mortalmente por causa de um
amor mal correspondido. Persuade o tsar, de
que a sua amada e uma menina, e que nao
podcndo enternecel-a e veneer os seus desdens,
tudo no mundo se Ihe torna amargo. E por
isso, que elle conjura o tsar para que o deixe
partir para a companhia dos Cosacos livre.s
do Volga, onde possa encontrar debaixo de
alguma lanca musulmana a morte suspirada
combatendo os Tartaros, inimigos da cruz e
da patria. Els aqui na verdade um comejo
de amor spiritualista no gosto popular siavo;
mas em breve se rcconhece, que nao c mais
do que uma negaca do poeta para engodar
as almas simplices, e impregnal-as depois mais
facilmente no seu sceplicisrao gelado. 0 tsar,
condoido, decidiu-se a dotar ricamenle o seu
pagem e a casal-o com aquella, que tanto ama.
E neste ponto termina o auctor a primeira
parte do seu canto, excitando-se a si mesmo
nestes termos: «Eia, goiislar, nao cances no
teu cantar. Despeja a saiide dos teushospedes
um copo de vinbo espumoso, e afina o teu
(jousle.
Ja a noite se approxima, o sol esconde-se
por dctraz dos sanctuaries do Kremle. Sen-
tado em frente da sua loja, depois de haver,
durante todo o dia, convidado com boas pa-
lavras os passagciros para Ihe comprarem
algumas das suas ricas pecas de seda, o joven
gost Estevam Kalachnikov fecha o seu armazem
com uma fechadura allcma. Deixa de guarda
um cao de presas ameajadoras, e vae para
casa reunir-se com a sua joven esposa, Alena
Dmitrevna; mas nao a encontra e acha os
seus filhinhos, ainda por deitar, chorando e
amofinando-se sem sabeyem porque, como se
estivessem para morrer. Esta ausencia de sua
mulher, n'uma hora tao adiantada, aterra
a alma de Kalachnikov. OIha inquieto da
janellaparaa rua, que tolda uma noite sombria,
e onde os flocos da neve apagam todos os
signaes de pegada humana. Finalmente sente
uns passos precipitados, e a porta da sua
habitacao se abre. 0 poder da cruz! Diante
delle apresenla-se a joven esposa, com os
cabellos desgrenhados, cuberta de gfilo, olhan-
do com olhos de louca e murmurando pa-
lavras imcomprehensiveis. Por dm cahe de
joelhos aos pes de seu marido indignado:
oMeu senhor, sol de meu coracao, mata-
me, se assim queres ; nao receio a morte nem
0 escarneo dos homens: do mundo so receio a
perda do teu amor I » E conta-lhe por fim,
como fora assaltada na rua, debaixo da neve,
pelo pagem tsariano Kiribievithc, no meio
das gargalhadas dos visinhos, que espreitavam
6
das'jancllas, c fomo tivora de deixar-lhc uma
parte dos vostidos para escapar a sua violcncia.
0 esposo iiltrajado decidc-sc a ir provocar
0 joven ])agcm a urn duello as punhadas. I'cde
a sens iniiaos niais novos, (|uc Ihe sirvam de
padrinlios, e (|ue o vinguein, sc aeaso suc-
cunihir. Seus irniaos, (|ue scmpre foram de-
dicados a sen irniao mais velho, Ihe respon-
dem: K^uaiido. apromptando-se para iinia
carnilicina eminente, a aguia eslende nos
ceos as suas garras, logo os lilhos acodeiu ao
sou reclaiuo. Tu es o nosso segundo pae: por
toda a parte te scguiremos, ao turaulo mesmo
se tanto for iiccessario.»
A aurora comeca a despontar; do alto dos
ceos sorri para a terra; c mira-se como uma
Venus nas cupulas lustrosas c doiradas do
Krcnile. 0 tsar no mcio da sua drujina, ou
cdrte, sahe do seu palacio, e caminlia, seguido
dos guardas, para a vasta praca de Moscou,
toda branea de neve. Manda alii formar ura
grande circulo com uma cadea de prata, pas-
sando de poste a poste n'um comprinicnto de
vintc e cinco toezas. Apenas formado o circulo,
e quando uraa multidao compacta se tinha |
apinhado em volta, o tsar grita aos seus
guardas: uQue e dellc o athleta que se proni-
ptifica a cncelar a lucta com um rival? Esse,
([ueentre no circulo. Diverti o yosio buUuchka ' ,
mcus lillios! Aquelle (]ue malar o outro, cu o
recompensarei ; em quanto ao que for morto
assini,para divertimento do seu tsar, essecuida-
ra Deusde o rcconipensar.» Ninguera se apre-
senta. Por fim o joven Kiribievitch, para com-
prazer a seu senhor, salta na arena, e pro-
voea OS mais atrevidos dos concidadaos. De
repente abre-se a multidao dos curiosos, o
gost Kalachnikov adianta-se, prosterna-se ante
0 terrivel tsar, pede-lhe licenca para luctar
contra o seu pagem, e tendo-a ohtido, entra
no circulo fatal. 0 marido ullrajado lixa sobre
0 seu inimigo uma vista, em que se pinta
todo 0 seu furor. 0 joven pagem inipassivel
diz-lhe: «Valente athlela, quererias tu favore-
ccr-me com o teu nome e o da lua familia,
para que no fim do combale eu soubesse por
quem deveria mandar dizer o oflicio dos de-
functos?))
Eu sou, Ihe responde o adversario, Estevam
Kalachnikov, de boa e honrada familia. Tenho
vivido na lei do Senhor. Nunea requestei a
mulher do proximo; nem, como tu, medeslizei
atraz dos seus passos com o fim de a deshon-
rar nas trevas, longe da claridade do dia.
Assim, fallaste a verdade, nada mais certo, a
nianha cantar-se-ha por um de nos a missa
dos defunctos.
Perturbado com estas exprobracoes, o provo-
cador desniaia, seus olhos se obscurecem, um
tremor gelado Ihe coa pelos ossos; mas em
' Baliuchka, papdzinho, nome familiar, que se diao
tsar.
breve tornando a si, .salta sobre o sou rival,
e com uma punhada no peilo Ihe I'az voraitar
sangue. 0 gost responde-Ihe coui oulra pu-
nhada sobre a fonte esquerda. 0 pagem solta
um ligeiro suspiro, c rola ja morto sobre a
neve. — Que fizestc? grita furibundo o tsar a
semelhante vista. Foi de jjioposito, ou seiu
querer, que assim me mataste o melhor do?
nieus athletas? — Tsar orthodoxo, responde o
gost Kalachnikov, foi com toda a minha boa
vonladequeeu malci o teu pagem Kiribievitch.
Agora podes torturar-me, fazcr-iiie raorrer
como quizeres, mas nao abandones os meus
dois orfaoszinhos e a minha joven viuva —
Pois hem! por me fallares com taiita franqueza,
eu mandarei educar a minha cusla os teus
dois hlhos, e darei uma pensao a tua viuva.
Em quanto a ti, meu lilho, sobe aqui a este
cadafalso, para offereceres a tua cabeja em
holocauslo ao cutelo imperial ....
0 sino funebre do sobor (cathedral) dobra
OS signacs da agonia. 0 joven gost envia a
Deus as suas ultimas oracOes, e cohre de beijos
um relicario dc Kiocv, (pic trazia pendente
ao pescoco; recommenda a seus irmaos a sua
triste viuva e os seus (ilhos ; depois cncaminha-
-se subindo para o algoz, que o espera para
Ihe decepar a cabeca.
Eis aqui a forca hiula a mais iniqua de-
capilando, em nome de uma perlendida justica
imperial, um nobre defensor da moral, um
martyr do dever domeslico! E o poela nera
ura suspiro solta a favor desla vlctima. No
tim da poesia, exclaraa: oEia, meus que-
ridos hospedes, molhae de novo a garganta
do gouslar. Nos comecamos beni, e bem nos
cumpre tambcm acahar. Uonra e justifa a
quem sao devidas. Ao senhor hospitaleiro
slaoal a sua linda esposa, slaval e a todo o
povo orthodoxo, slaval «
De todos OS poemas de Lermontof, de que
temos nolicia, este e o unico em que mostra
manil'esta intencao de se inspirar do goiislo,
mas Lermontof ri-se evidcnlcmente desta poesia
primitiva. Para esle cosmopolila embriagado
com as suas experiencias, eulastiado de tudo
por ter de tudo abusado, voltar a simplicida-
de ruslica e inlanlil dos cantos do govslo, era
humilhar-se muilo. Preferiu escarnecer della;
e isso era-lhe mais facil.
Se da Slavia oriental pass;imos para os sla-
ves do occidente, vamos dar ahi com o slavis-
mo ainda mais mutilado, e com o gouslo em
maior degradacao. Na Bohemia e na Polonia
0 proprio nome do gouslo e pouco conhecido.
Pode assevcrar-se an'oitamente, que, quanto
mais um paiz slavo se approxima da actual
civilisacao germanica, lanto mais insensivel
se torna a poesia popular e ao hello ideal dos
gouslars. E por (|ue de todas as farailias sla-
vas do occidente, aquella, que mais viva
guardou a lembranca do gousle, foram os
Slovaks da llungria, como aquelles que pela
I
forfa da sua posirao gcographica e das suas
relafoes commerciaes, forara arremcssados
para o Danubio i> para o Orientc. Os roman-
ces e idyllios popularcs slovacos sao aiuda
Ijoje de imiito niimo, e as vezes chegam a
rivalisar com os dos Servios. Kolar pubiicou
uma colleccao d'ellcs em dois grosses volumes.
Citaremos aqui, para e\cmplo, urn d'estes ro-
mances slovacos: os Amanles pobres; que ti-
ramos das Melndius sliiras (iSlnwische Mclo-
dien), traduzidas por Sicglricd Kapper.
(t Nada possuo debaixo do sol. Nao tenho
prados, cm que me assente, nem casas que
me abrigucm. E lii tambcm, i's um pobre or-
phao abandonado, sem pacs, sem familia;
mas eu te aperto nos mcus braces; nieus
olhos lecm nos tens olbos; meu coracao pul-
sa juncto ao tea coracao, interroga-le, e rece-
be uraa resposta de amor. Os mens brafos to
cingem — ob! os meus olbos, os mens labios,
0 meu coracao te dizem: Alegra-te que na
llungria ha ainda quem seja mais pobre do
que nos. »
0 canto bohemio ja niio tern esta frescura
dos idyllios slovacos; nao queremos com tudo
dizer com isto que lallc aos poetas bohemios
conteniporaneos o desejo de avivar o seu estro
ao sopro dofjoii.slo. Um graiide numero d'clles
procurara inspirar-se do (jouslo naeional, mas
e um goHslo de mais reccnle data e ja alterado.
E assira, que a todas as poesias tcheques nio-
dernas, tunlo popularcs come academicas,
falta virilidade e hcroisnio. Nao tern re-
lacao alguma com as rapsodias historicas e
nacionaes d'outros tempos. Essencialmente
lyrica, ainda mesnio nas epopeas, como a
Slavy Dcera, logo que pretende tomar o torn
serio das rapsodias slavas, a poegia Icbeque
lorna-se erapolada, da saltos, sem gradacao nos
pensaraentos, por maneira que al'adiga o Icl-a.
Em parte alguma da Europa se v6 como em
Praga tao dcsinvolvido o espirito do negocio
e da industria, as especulacoes da bolsa e
dos eaminlios de ferro, os calculos commer-
ciaes. Nao admira por isso que a inspiracao
natural nao se encontre tambem em parte al-
guma em tanta decadencia como na Bohemia.
Adorador da sua nacionalidade por systema,
0 Tchekh ja nao sente em si os anligos trans-
portes da sua raca. 0 rjoiislo e para elle um
monumento do passado; contenta-se com ro-
deal-o de respeito, e se Ihe acontece tirar
ainda sons melodiosos e sentidos, como os
sons, que os antigos sacerdotes sabiam tirar
dos seus idolos de pedra, e sempre debaixo
da condicao de resumir algumas estrophes, e
de apanhar no voo, para assim dizer, uma
inspiracao fugitiva.
Sera um pouco arriscado asseverar, que as
populacoes polacas vivem n'uma athmosphera
poetica mais pura do que essa, que respiram
OS Bohemios. 0 lidalgo polaco e um latino,
um Irancez do Yistula, mas a plebe conser-
vou-se slava. E e por isso que clla canla
muito mais do que o Bohemio. A. Polonia
conhece duas espccics diversas de cancoes
popularcs: as krakoviakas e as koloniyikas. A.
krokui'idka compoe-se (|uando muilo de duas
ou trcs estrophes, c ordinariameute nao con-
teem mais do que trcs ou ([uatro versos. E
um sini])los capricho, um iniproviso, que o
camponcz de Mazovia atira de passagcm ao
echo das Horcstas para manifestar a sua alc-
gria, ou para se distrahir d'algum accesso de
tristeza. Eis aqui alguns exemplos que nos
fornece o sahio Visznievski:
« 0 prado esta triste sem o rouxinol, c eu
entrisiei_o-me longe de meus paes. k arvore
desl'olliada secca-se, o peixc fora d'agua mor-
re, e o meu coracao mirra-se no meio d'eslra-
nhos.
« Por que e que ja nao lavraes, 6 meus
bois, braneos da pocira? 0 minha mocidade,
por que assim caminhas triste? Meus boif
cinzentos, de mais ja tendes lavrado, e tu,
minha mocidade, tempo de mais j;i tens per-
dido.
Ao longo da estrada, rebentou uma enfia-
da de tortulhos. As raparigas, que passam
pela estrada, zombam de Janek. Janek nao
sabe lavrar; Janek nem sabe cavar, ncm
brincar com as raparigas.
A pobre orpha, ccilando o linho alheio,
conta ao hosque verdcjante o seu triste desti-
ne. Nao tenho familia; mas tu, Deus do ecu!
tu me serves ainda de pae, e tu me recolhe-
ras na tua morada celeste; c tu, 6 terra ne-
gra, tu me serves ainda de mae, e tu me
abriras o leu seio. — A dura terra enterne-
ceu-se, e respende-Ihe: Animo, minha filha,
ve se 0 munde te consola, porque cstas mi-
nhas enlranhas sao muito I'rias, e os tens
cncantos dentro dcllas depressa se murcha-
riani. »
Os aldeoes ruthenios da Galicia compoe,
com 0 nome de kolomyiko, cancoes de um
cunlio dili'erente, mais extensas, mais livres,
mais synibolicas, e ende respira uma imagi-
nacao mais florida, mais oriental. Asscmc-
Iham-se por isso muito mais as piesiuis cosa-
cas e servias. Nellas se v6 transparccer com
mais forca a vida do municipio, a vida da
familia :
« Ao pe de uma choupana alvcjantc ha tres
jardins de vcrdura: n'um d'ellos trina o rou-
xinol meigas cancoes; no outro, e cueo solta
gritos lastimosos; no terceire, uma carinhosa
mae diz baixinho ao seu tilho casado de ha
pouco: — Meu filho qual das cousas ca no
mundo e mais grata ao ten coracao. E a tua
nova esposa, a tua sogra, ou a tua propria
mae? — A minha esposa entorna docura na
minh'alma quando estamos em cemjileta har-
monia. .V minha sogra agrada-me, quando
me nao importuna; mas tu, o mae que me
trouxestc uas tuas entranhas, c que me deste
8
a Iii7. no nioio dp dores para depois me ali-
luenlarcs com o ten k'itc de dia c dt' nolle,
tu so, 0 minlia qiiprida niae, es em todo o
tempo 0 suave attractive do meu corarao.
Continua.
A. RIMA NA. POESIA MODERNA.
Dcstinada a sensibilisar, a commover, a
pocsia so conspguira o seu flm dando as phrases,
de que reveslc as paixoes e seutiiueutos, que
exprime, toda a harmonia, toda a melodia pos-
siveis na linguagera fallada. Poesia coniplela,
vcrdadeira poesia, como arte, so o e aquella,
era que o som das palavras, o elemcnto sen-
sivel, longe dc Hear iuforme, apparece re-
gulado e dirigido pelos principios da har-
monia. A sensaeao agradavel, que provcra da
regularidade e ordem inlroduzidas pela arte
nos sons disperses da linguagem, para d'clles
I'ormar urn todo melodioso, e, sem questao
aiguma, um elemento essencial da poesia. Se
a prosa versitieada se hade chaniar verso
c nao poesia, a expressao dideas, de pen-
samentos poeticos n'uma linguagem prosaica,
nao e niais do que prosa poetica.
Harmonia e melodia, eis as duas quaiida-
des que deve possuir o verso para actuar
agradavelmente sobrc os senlidos, nao a har-
monia propriamente dicta, a sensacao produ-
zida por sons coexislentes, porque esses sons
nao podcm dar-se na linguagem fallada; mas
a harmonia imilativa, que tem por base uma
relayao d'egualdadc, entrc a impressao feila
pelo objecto que a palavra signilica, c os sons
articulados, de que ella se compOe.
0 mais iniportanle elemento musical da
versificarao c a melodia, c a impressao pro-
duzida por sons, que se succedem guardando
entre si taes relacOes, que conciliem a unida-
de com a variedade. Dous sao os svstemas
principaes que ornara a aiccao poetica com
esta qualidade musical, systemas intimamente
ligados com a pro.sodia, qucr ella se basee
sobre a variabiiidade da duracao das syl-
labas, qucr tenha o seu principio no accento,
que manifesta a signilicacao d'ellas. Quando
a prosodia d'uma lingua se fundamenta na
quantidade das syllabas, o systema mais ac-
commodado a indole d'essa lingua, o unico pro-
prio para tornar melodiosa a forma material
da sua poesia, e a versificacSo rythmica, que
se funda no principio prosodico da quantida-
de, e faz consistir toda a melodia do verso na
disposifao harmonica das syllabas longas e
breves, e dos pes por ellas formados. Mas
aas linguas, em que fallece esse elemento,
nas linguas, cujas syllabas nao tem relafocs
lixas de quantidade, e impossivel deixar de
fundamcntar sobre outros principios a bel-
leza material da expressao poetica.
« Quando o scnlido espiriluhl, diz Hegel,
se apodera das syllabas radicaes e se com-
bina com ellas, a ponto de formar uma uni-
dadc compacta tem outro desinvoivimento
organico, o unico elemento material e sen-
si\cl, que se pode manter livrc e indepen-
dcnle, ao mesmo tempo, da niedida do tempo
e da accentuacao dos radicaes e o som mesmo
das syllabas.)) Mas para haver melodia nos
sons diversos das syllabas e mister, que, d'in-
volta com sons diflTerentes, se reproduza um
som sujeito a lei d'uma repetiiao unil'orme, o
qual se torne preponderante por meio dessa
repeticao e assim introduza unidade na va-
riedade. Esta reproducrao ([uer das mesmas
letras, quer das mesmas syllabas, e ate as
vczes das mesmas palavras, e que constitue
0 segundo systema de melodia, cujos modes
sao a alliteracao, a assonancia e a rima.
A lingua grega e a latina, principal-
mente aquella, possuiam uma prosodia ba-
seada na quantidade das syllabas: a esta
prosodia devia necessariamente corresponder
0 systema de versificafao rythmica, e foi a
que sem excepeao empregaram os poetas ne-
taveis das epochas mais brilhautes da littera-
tura d'a(iuelles povos. A indole ditferente das
linguas niodernas, nas quaes es elementos
que constituiram a melodia dos versos an-
tigos nao tem a mesma forca, exige outro sys-
tema de versilicacao. Como nellas e accento
estii ligado com o scntido principal, estacom-
binacao dos dous elementos espiritual c ma-
terial torna niui pouco sensiveis as differen-
cas da duracao das syllabas, as variacOes da
sua quantidade. Daqui o nao cxistirem nas
linguas niodernas syllabas breves nem syl-
labas longas, salva a pcquena raodilicacao,
que Ihes advem da maior ou menor velocida-
de da pronuncia, niodificacao tao leve, que
sobre ella se nao pode fundar um systema de
metrilicacao. A prosodia das linguas nioder-
nas tem e seu principio, nile na quantidade,
mas no accento, e por isso o som das syllabas
e 0 unico elemento de melodia que, sujeito
a lei d'uma repeticao uniformc, pode nestes
idiomas servir para dar as concepcoes e ideas
peeticas a belleza sensivel, que Ihes 6 indis-
pensavel.
« Nos verses gregos, diz Benloew, nao era
0 tode, que determinava as partes, eram as
partes, que, tendoum valor absolute pela sua
quantidade prosodica, se combinavam n'um
todo harmonico. Nao sendo o rythmo do
verso outra cousa mais que esta corabinapao,
terminar o verso era interromper a serie das
syllabas, dos valores prosodicos absolutes,
para dar ao ultimo um valor relative (syllabu
anceps hiatus). Nas linguas modernas, em que
I
as syllabas, que compdcm o verso, teem quasi
lodas um valor relativo e variavel, terminar
0 verso 6 dar a ultima syllaba um valor ab-
soluto c invariavcl. » 0 verso antigo composto
d'elemenlos materialmente appreciavcis, me-
lodiosos por si mesmos, tinha meiodia em
cada uraa de suas partes; o verso moderno,
eoraposlo d'elementos, cujo principal valor
vem da idea que representam, e quasi sem
raelodia sensivel, que Ibe seja inherente, lera
o seu principio de meiodia, a sua unidade
na rima, na repetirao do som das syllabas.
A. historia da lilteratura da edade media
confirma o principio, que deixo eslabelecido.
A rima nasceu, quando a decadencia da lin-
gua latina fez perder o uso de medir exacta-
mente as syllabas, e deslruiu a meiodia dos
versos antigos. Fez-se entao sentir a necessi-
didade d'outra combinacao, que desse em re-
sultado tornar harnioniosa a forma material
da poesia, e a rima, principio d'unidade
necessario no meio da variedado dos sons,
que compunbam o verso, meiodia mais ap-
propriada a accentuacao das novas linguas,
comecou a ser empregada pelos poetas.
Percorrendo os escriptos dos numerosos
poetas dos primeiros seculos da edade media,
logo apos a queda do imperio do occidente,
cncontram-se provas irrecusaveis de que o
uso da rima fni devido a necessidade de dar
meiodia a versilicacao. A. transioao do systema
rythmico para a consonancia foi gradual, a
medida exacta das syllabas perdcu-se pouco
e pouco, ale desapparecer totalmente, dando
logar a rima. Pode seguir-se a desorganisa-
fao gradual do rytbmo antigo nas composi-
coes poeticas do tempo. Um exemplo bem
sensivel da pcrda dos verdadeiros principles
da meiodia do verso antigo sao os seguintes
versos do poeta Commodiano, autor que viveu
no seculo HI.
Saturniig que senex pi dens quando senescit
Nee diviniis erat sed deum sese dicebat.
0 dislico seguinle e tambem curioso:
Tot reum criminibus parricidam quoquc futurum
Ex aiictorilate vestra contulibtis in altum
Breve se esqueceram de todo as regras da
medicao das syllabas, e se destruiu a versi-
ficacao rythmica, cuja meiodia se nao ac-
comodava, nem com a accentuacao das novas
linguas, nem com a accentuacao corrupta do
latim, vindo a rima coordcnar o cbaos des-
harraonioso, que formavam as syllabas sem
principio algum de meiodia, que as ligasse.
Comtudo 0 uso da consonancia final dos
versos, como elementos de raelodia, nao foi
uma creacao da littcratura da edade media.
Os llebreos rimaram, e rimam em geral os
povos orientaes. As priraeiras composijoes
poeticas dos gregos e dos latinos offerccem
exemplos do uso da rima, uso depois aban-
donajo, ((iiando estes povos, conhecendo mc-
Ihor a prosodia das saas linguas e a raelodiij
mais propria da sua versificafao, a basearam
na quantidade das syllabas. Esla innovafao
originaria da Grecia introduziu-se na littera-
tura latina pelos fins do sexto seculo de Ro-
ma, e substituiu a rima, ate entao geralmente
usada, e de que ainda nos texlos das doze ta-
boas seencontram vestigios, bem eorao em al-
guns versos do poeta Ennio. Mas nas obras dos
seculos mais florescentcs das letras latinas a
rima desappareceu de todo, substituida pela
vcrsificacao rytbmica, e, se por accidente, a-
chamos nas obras d'Ovidio c d'Horacio con-
sonancia final cntre alguns versos, 6 tao
rara, quo so ao acaso pode ser attribuida;
al6m de que, a meiodia da versificacao latina
era, depois da introduccao do systema grego,
fundada sobre o principio da quantidade e
nunca sobre a consonancia.
Depois da invasao dos barbaros e da cor-
rupcao das linguas antigas cuja accentuacao
foi mudada, a rima reappareceu, tanto nas
poesias latinas, como nas das novas linguas
das nacOes d'origem germanica, em cuja lit-
teratura ja existia o germen do novo systema
de versificacao, e se notava, como o attesta
Hegel, lima tendencia manifesta para regula-
risar o som das syllabas, submettendo-o a
lei duma repelicao uniforme. Estas foram as
causas da introduc^'ao da rima na poesia
moderna da Europa. A opiniao, que attribuc
a litteratura dos arabes o ter importado na
Europa este novo systema de meiodia nao
tem I'undamenlo algum. Os escriptores arabes,
que florcsceram antes da invasao da Peninsula
pelos Mabometanos, foram inteiramente estra-
nhos ao movimenlo litterario do Occidente,
e OS que se tornaram celebres depois da con-
quisla sarracena foram muito posteriores a ap-
parifao da rima, quer nas poesias latinas, quer
nas composicoes escriptas nas linguas das
nacoes, que se estabeleceram sobre as ruinas
do imperio Romano. Os primeiros escriptos
da meia idade em que se dcscobrem vestigios
da rima , sao as obras dos auctores ecclesiasticos
dos primeiros seculos do christianismo. No
hymno de Santo Ambrosio, diz Hegel, ja a
prosodia e regulada pelo accento da pro-
nuncia e deixa apparecer a rima. A priineira
obra de Santo Agostinho contra os donatistas
e quasi um canto rimado. £ tambeni rimado
um epigramma do papa Damaso, escripto nos
fins do seculo IV. Muratori nas Antigui-
dadcs Italicas faz mengao d'uma poesia do
6.° seculo era disticos rimados. Todos estes
exemplos do uso da rima sao anteriores a
invasao serracena na Hespanha, e ao conheci-
mento das letras arabes na Europa.
Este uso de rimar tornou-se geral na lit-
teratura dos povos do Occidente, e apparcce
10
em lodo"; os poetas notaveis ate o scoulo XV,
que cscrovpram cm latim, ou n'alguma das
lingua? inodernas. No pcriodo da renasren-
ra, cpoctia, cm que a arte antiga tornando-
sr conhccida na Europa atlrahiu a attencan
dc todas as inielligoncias do tempo, e exer-
cPTi sobre o desinvolvimento artistiro do
Occidente lao podeiosa inlluencia, a leitnra
dos versos sublimes dos gregos c dos latinos,
tornando mais couherida a prosodia d'aquel-
las antigas linguas, fez proscrcver a rima
das poesias latinas, e empregar de novo a
TersiticavSo rythmica, de que fizerani um uso
tao feliz Vida o Sannazaro. Mas na poesia
das linguas modernas a rima, elemenlo im-
portantc da melodia do verso, unidade prin-
cipal do lodo que cile forma, conservou-se e
foi usada pelos grandes poetas, que entao
lloresceram.
Mais tarde, quando a adrairafao pela arte
antiga chegou ao sou apogcu, algumas ten-
lativas se lizeram, ja para introduzir na versi-
■ficafSo moderna o systema antigo dos pes e
das syllabas longas c breves, lentativas, que
nuuca forara coroadas de bom resultado, pois
desconheccram a ligacao intiraa, que exisle
entre a prosodia c a versilicafao d'uma
lingua, ja para libertar os versos da rima
sujeitando-os, era quanto ao mais, as regras
da prosodia moderna. Estes versos, ordina-
•riaraenlc denominados versos soltos, come-
faram entao a apparecer na poesia de algu-
mas nacoes da Europa, sendo ainda hoje
cmpregados por muitos escriptores. E porem
ctrto, que so cm certos generos de poesia
so pode fazer uso do verso solto, acrescendo,
que nem todas as linguas sao proprias para
.sc emanciparem da rima.
A grande variedadc dos sons diflicilmente
dcixara de produzir durcza e dissonancia no
verso, se nolle nao introduzir um eiemento
d'unidade, que, sem cahir na monotonia, dfia
phrase toda a melodia possivel, conciiiando
a unidade com a variedade. Esse eiemento
d'unidade 6 a consonancia final d'um ou mais
versos, e a rima.
Por mais suave que seja um som, por si
so, nao pode produzir melodia, mas quando
'dc periodo em periodo se reproduz, d'invol-
ta com outros sons differentes, combina-se
Com a variedade d'estes uma cerla unidade,
que contribue, para que seja mais grata ao
ouvido a impressao feita por todos. Nas lin-
guas modernas, o principal eiemento sensivel,
a que p6de rccorrer a arte, para tornar me-
lodiosa a versificafao, eo som das syllabas, e
esse som, para sobrcsahir, para cbamar a at-
tencao, dcve estar sujeito a ki d'uma repeti-
f3o uniformc. Daqui a importancia da rima
■para a melodia do verso, para o augraento
da belleza material da dicjao poetica.
Conlinua.
1. Dii 0RNE1.LAS.
CIIIMICA LEGAL.
Analyse cl'uns rrn^-menloi de .«ubslancia liranea achados
no I'stoinaito; analyse Jci luesnio estomaj;o e d'um
liiiuido !■ mai* subslanrias que se linliam enrontrado
nVsta viscera, mandadas de Villa Cova, jiilgado de
Fragoas.
Acredita-sc geralmente, que as analyses
toxicologicas cxigcm sempre tantos apparc-
Ihos e reagentcs, e que sao tao complicados
os sens processes, que nao e possivel fazel-as
sem OS recursosd'um i)om iaboratorio chimico.
N'aiguns cases cverdade tudo isto, e e pouco
tndo 0 que se disser da exlrema dil'liculdade,
<jue ha no reconhecimonto d'um vencno, que se
procura; mas n'outros casos, e de cerlo no
maior numero, o vencno e rcconhecido com
niuita facilidade, e por meios tao simples, que
OS pode fornecer qualquer botica d'aldea. Entre
nos quasi que nao se propina senao o arsenico,
e 0 seu reconbecimento por meio do appare-
Iho de Marsh e facilimo em muitos casos.
Tendo trabalhado n'cstas analyses, com outros
collegas em commissao de peritos, lembrei-me
de publicar os processes cmpregados, apezar
de nao darem novidades scienlilicas; nao sd
pcio proveito, que posso tirar d'alguma re-
flexaoaiheia; mas ainda porque alguns d'estes
exames, pela simplicidade dos sens proces-
ses, poderao mostrar a possibilidade de se
fazcrem em toda a parte, logo em seguida
ae primeiro exarae no cadaver ou nas sub-
stancias, que se julgam envenenadas. Se aos
laboratories de Coimbra, Porto e Lisboa fos-
sem incumbidos so os exames, que offereces-
sem duvidas nos processes analyticos dos
primeiros peritos, evitava-se a accumulafao
d'estes exames, que aqui se tern visto, e o
estorvo dos peritos, que .sao professeres, e a
quem o tempo falta para o desempenho dos
seus deveres: evitavam-se, alem d'isso, os
graves incenvenientes, que as vezes traz con-
sige a demora no andamento d'um processo
crime.
N'csta publicaoao comefarei pelos exames
de processes mais simpliccs, deixando para
ultimo logar os mais complicados, e que of-
fcreceram maiores difliculdades.
Friiijmentos de svbstancia branca: — uma
porfao d'estes fragmentos de substancia branca
i'oram sujeitos a ebuilicao per mais de duas
horas em agua distillada; es fragmentos dis-
solveram-se, e esta dissolucao, depois de fil-
trada, destinou-se ao omiirego dos rcagenles.
Tractada pelo azetate de prata, aprcsentou
no momento da experiencia a cor amarella
do arsenito de prata.
0 sulfate de cobre ammoniacal deu um
precipitado com a cor verde do arsenito de
cobre.
Com a agua de cal appareceu um precipita-
do branco proprio do arsenito dc cal.
Ik
0 aeido sidphydrieo olTereceu oo gcto da
experiencia o araarello proprio do sulfureto
de arsenioo.
Para sujeitarnios o mesnio liquido ao ap-
parelbo de Marsh, montamos este apparelho
com as modilifafoes adoptadas pela commis-
sao do Inslituto de Franca, e tizemol-o Ira-
baljliar em braiico por mais de meia hora, sera
que apparecesse, no tuho ou na porcellana, o
menor indicio de impiircza do zinco ou do
acido sullurico. Lanrauios no apparelho o
liquido suspcilo, e logo em seguida appare-
ceram na porcellana miiitas manchas. Pouco
c pouco foi diminuindo a grandeza d'estas
inanchas ate desupparecerera, apezar das dif-
ferenles diraensoes, que so dcu a chamma.
Neste estado laiicamos-llic niais liquido sus-
peilo, e as manchas appareeerara segunda
vez, repetindo-sc o mesmo resullado todas as
vezes que juntiinios novas porcoes de liquido,
quando o apparelho linha deixado de produzir
inajjcbas. Os anneis, que procuramos no tubo
.'lunca se mostraram hem earacteristicos, o
que altribuinios a impureza do vidro.
Collocando horisontalmente sobre a charama
do apparelho, a dislancia de meia polegada,
uni bocado de porcellana huracdccida com
«ima dissolucao de azotato de prata ammonia-
cn\, appareceu, na orla da dissolujao, a cor
amarella do arsenito de prata.
Aniesma ciiamma, dirigida a uma dissolufio
de sulfate de cobre amraoniacal, deu n'alguns
pontos a cor verde do arsenito de cobre.
Todas as manchas da porcellana offereciam
a c6r aloirada e o brilho nietalico das manchas
arsenicaes; e, expostas as dilTerentes reacjOes,
.deram os resultados seguintes.
1.° Desappareceram instanlaneamente com
9 chapia do bydrogeno.
2.° 0 mesino desapparecimento prompto
com os vapores do chloro.
3." Os vapores do phosphoro, em bocados
Buma capsula, as lizeram desappareccr pas-
sadasduas boras pouco mais ou raenos.
4.° Os vapores do iodo tizerara-lhe tomar
a cor de cidra do iodureto de arsenico, e,
expostas depois a um calor brando, desappare-
ceram com proniptidao.
{).°Dissolverani-se com o acido iodhydrico,
deixando pela evapora^ao um residue amarel-
lado.
6.° Com 0 hypochlorite decai, dissolveram-se
passada meia bora.
7." Dissolveram-se ou desappareceram com
0 .acido azotico a frio.
8.° A evaporagao azotica das manchas
^ey^da ale a scccura, a um calor brando^
c 0 residue tractado por um pequeuo cristal
■de azotato de prata ammoaiacal, e uma gota
de agua distillada, tomou uma cor amarel-
•lada; e depois, com um calor brando, mais cor
de tijolo, senielhante a do arseniato de prata.
9.° 0 mesmo residue da dissolujao azotica
das manchas levada a seccura, sendo Iratado
pelo acido sulphydrico, mudou a cor para
amarello sujo, fazcndo lembrar a cof do
sulfureto de arsenico.
10.° Produziu-se o mesmo phonoipeno com
0 emprogo do sulphydrato ammonico cm logar
do acido sulphydrico.
Eslomaijo — . Dividimos uma parte das pa-
rodes do eslomago cm pcqucnps bocados;
siijeilamol-os a ebullicao pur mais de duas
boras em agua distillada, filtramos o liquido,
e destinamol-o aos ensaios analyticos.
Sujeitando este liquido ao apparelho dc
Marsh, depois de o termos feito trabalhar eni
branco com as cautcllas jd indicadas, aican-
fiimos 0 mesmo resultado, que nos tinham dado
OS fragmenlos de substancia branca; so com
a dilTerenca de serem as manchas mais pe-
quenas, e em numero muito nienor. Podemps
regular a dcsinvolucao do hydrogeuo para
uma chamma de 3 a fi milliraetros, sem que a
espuma do apparelho subissc a ponto de jhe
perturbarotrabalbo. A analyse d'esta chamma,
e das suas manchas, deu o mesmo resultado,
que tinha apparecido nos mesmos processes
da analyse dos fragmentps de substancia
branca.
Lij^mdo e mais substancias encontradas no
eslomago — . Sujeitiimos a ebullicao em agua,
distillada por mais dc duas horas, uma porgao
dos liquidos e mais substancias contidas no
estomago; filtramos; e .sujeitamos o liquido
ao apparelho de Marsh. Com este liquido
alcanfamos as manchas, conio as que tinham
dado OS fragmenlos de subtancia branca e
as parcdes do eslomago ; e tambem deu resul-
tados scmelhantes a analyse d'estas manchas e
da charama, que as produziu.
De todos OS processes, que temos descripto,
e do resultado negativp d'outros, que nao men-
cionamos, tiramos as conclusoes seguintes —
1.° Que eram de arsenico (acido arscnioso)
OS fragmenlos de substancia branca encon-
trados no eslomago.
2.° Que se achavam enveuenadas con) ar-
senico as paredcs do eslomago, e os liqui«los
e mais substancias contidas nesla viscera.
3." Que a quanlidade de arsenico encon-
irado nesta analyse era mais que suJBciente
para ter produzido a morle por envenena-
menlo.
Conlinua. k. a. da costa SIMOES.
PRIMEIRAS LINHAS DE HERMENEDTICA
JURIDICA E DIPLOMATICA,
poa
Bernardino Joaqum da Sitva Carneiro.
Coimbra 1835.
Com este titulo acaba de ser publicada
uma obra, cujo fim e servir de texlo as ex-
12
plicafOo? do professor de hcrmeneulica ju-
ridica c diplomatica na faculdade de direito.
0 sen auctor deilara, que a fez para sen uzo,
durante o tempo, que foi subslituir o proprie-
tario d'aquella cadeira. Mas deixando a mo-
destia do auctor, que vale para ser apreciada
fomo uma virtude, mas nao para ser em tudo
acreditada, diremos, que rauito conviria ao
ensino d'aquellas disciplinas, que esta obra
fosse adoptada para compendio. Nao ha nada
lao funcsto para o ensiuo como a falta d'um
livro elementar, que recorde aos discipulos
OS pontes eapitacs, sobre que rccahira a ex-
plicafao do professor. D'onde se \i, que a
obra, de que fallamos, procurou salisfazer a
uma necessidade urgente do ensino. E nao
sd 0 procurou, senaoquetambemo conseguiu;
porque com quanto nao seja urn d'estes livros
de theorias novas e elevadas, e urn livro
elementar, claro, e methodico. Quern liver
estudado bem hermeneulica e diplomatica,
excusa d'abrir o livro, que nada encontra
n'elle que aprender. Mas quem quizer estudar
cstas disciplinas, procure-o, que d'clle sabera
cm pouco tempo, o que sem elle teria de
huscar per muitos volumes, com muito tra-
balho, a custa de muito tempo.
0 auctor d'esta obra, como de varias ou-
tras, em que tem mostrado a sua pioliciencia
assim nas letras como na sciencia do direito,
lem jus ao nosso rcconhecimento pelo muito,
que se esmera em dotar o ensino publico
com livros elementares.
REL\CAO
Dos individuos nnmcaios por despachns do conse-
Iho superior d'insfrKffao publica, e decretos do
governo, desde o dia IS ale ao fim de Marco
ultimo.
Inntriirono prlmarla.
Por despachos do Conselho superior foram
nomeados Icmporariameiite para as scguintes ca-
deiras d'mstruccao prlmarla (1.° grau) — ^ Jose
Narciso Pereira da Cunha, para a cadeira de Villa
Cha, districto de Braga — Alexandre Jose Xavier,
para a d'Evora-Monle, districto d'Evora — Joao
■aianoel Nunes, para a do Valle, districto de Via-
,ij — Joaquim Maria Mortc, para a do Alandroal,
districto d'Evora — Manoel da Cunha Lima, para
a de Coura (a 2.'), districto de Viana — Manoel
Joaquim de Mira Escalro, para a dc Santo Isi-
doro, districto de Lisboa — Victorino Joaquim
Dias, para a de Candedo, districto de Villa Real
— Antonio Alexandre da Silva Franco, para a da
Moita dos Ferreiros, districto de Lisboa — Joao
Pedro Cf'rrea, para a de Pomballnho, districto de
Coimbra — Jose Aniceto Boroa Condestavel Ju-
nior, para a de Cascacs, districto de Lisboa —
Severino Gonsalves Guerreiro Chaves, para a de
MertoU, districto de Bcja.
Instruccao aecondaria.
Por decreto de 7 — Agostinho Marinho Alvcs
da Cruz, para professor da 4." cadeira da secrao
occidental do lyceu nacional dc Lisboa.
de 21 — Andre Diogo Martins Pam-
plona, para professor de latim da Villa da Kibeira
Grande.
de 7 — Antonio da Uocha d'Antas
de Mendonca, para 1.° official da bibliothcca da
Cniversidade.
de 14 — Antonio dos Sanctos Dias,
para professor de latim e francez da Villa de
Moura.
Por decreto de 14, Jose Joaquim Rodrigues
dc Bastos, para commissario dos estudos do di-
stricto do Porto.
de 21 — Antonio Pereira da Silva,
para professor dc latim de Sctubal.
de 7 — Joaquim Eduardo Manso
Preto, para a cadeira de latim de Torres Novas
por transfercncia d'a d'igual discipllna deTavira.
dc 17 — 0 Dr. Manoel Eduardo
da Motta Vciga, para revisor da imprensa da
Universidadc.
InMrurrao nuporior.
de 14 — Jose .\lvcs Moreira de Bar-
ros, para o logar de dcmonslrador de cirurgia
da eschola medico-cirurgica do Porto.
de 14 — O Dr. Jose Ferrcira de
Macedo Pinto, para lente cathedratico da facul-
dade de medicina.
de 21 — Os Drs. Luiz Albano d'An-
dradc Moracs c Almeida, e Francisco Pereira de
Torres Coelho, para substitutos exlraordinarios
da faculdade de matbematica da Univcrsidade.
OBBAS OFKEItECtDAS AO GABINETE DO INSTITUTO
DE COIMBRA.
PRIMEIRAS LINUAS DE HERHENEUTICA JURIDICA E
DIPLOMATICA, por Bernardino Joaquim da Silva
Carnciro, ca\allelro da ordem de Christo, lente
substitulo ordinario da faculdade de direito, e
socio effcctivo do Institute de Coimbra.
MEMORIA SOBIIE OS ILTIMOS TEMPOS DA DOMINA-
VAO ROMANA EH UESPANHA E n'uhA PARTE DO TEB-
RiTORio, QUE iiojE £ PORTUGAL, por JoHo da Cunha
Neves Carvalho e Portugal, socio da academia
real das sclencias de Lisboa.
MEMORIA DA VIDA £ ESCRIPTOS DE ESTEViO DIAS
CABRAi, por F. .1. Rodrigues de Gustnao, bacbarcl
formado em medicina e cirurgia pcla L'niversidade
de Coimbra, socio do Instituto da mesma cidade,
mcmbro correspundenle da sociedade de sclencias
medicasde Lisboa, commissario dos estudos, ereitor
do lyceu nacional dc Castello Branco, etc.
BREVE TRATADO DE MCSICOGRAPHIA, pOr Jote
Thcodoro Ilygino da Silva, approvado pelo con-
servalorio real de Lisbua.
NOTICIA ARCHEOLOCICA DAS CALDAS DE VISELtA,
por Joaquim da Silva Pereira Catdas, lente de
mathcmatica do lyceu nacional do Braga, e socio
correspondentc du Instituto deC' imbra.
NOTICIA TOPOGKAPHICA DAS CALDAS DAS TAIPAS,
pelo mesnio auctor.
I.NDICULO GENERICO DAS VIRTLDES DAS CALDAS DK
visELLA, pelo mcsmo auctor.
VERSAO INTERLINEAR DA IIISTOIUA BOMANA, pelO
mcsmo auctor.
€> Jn^tittttxr^
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
IISIVEBSIDADE DE COIMBRA-PROGBAMMAS.
FACUtDADE DE DIREITO.
1853—1854.
S." ANNO — I.i.» CADEIRA.
DFREITO CRr.yiNAL POKTCfiUEK.
Lciile — Dr. Basilio Alberto de Soma Pinto.
CnMPE.\Dro — ►PASCHAI.IS .1. MELLri , LIB SING, DE JURE
CKI.^ItWLI, CONIMBRICAE 1853;— E CODIGO PENAI,
PUltTUtiL'BZ , COllIBRV 1853.
As iloiilriiias do Cora|)endln seiao acconimodailas as
disi)osi(^Oes du nolo Codijio penal jmrtui^'uez , ' e colli;,'i-
das e exj)licadas pelo niellioiio synthelico-deaionstralivo.
foiupen-liario , ordenado iios Eslalulos da Uiii\ersidade
L. S, Til. 3, C8|]. 1, ^S^V 18 — is!.
Em desenipenlio dVste methiido , comcrarilo as ii^ues
jielas no^oos preliminares do esliido do Direito criminal ,
dando-se nnia idea d'cste Direito, ilo lojar , qne occupa
na arvore !;eoealogica do Direilo, da ena importancia ,
e da sua historia , lanto anli^a. como moderna ; lanlo
geral , como particular de Porlnjal.
Depois d'estas noi;oes preliminares, segnir-selia a
exposi(;5o dos principios geraes do Dirt-ilo criminal ,
comprellen'lidos no 1." litnlo do referido com[)endio , e
Da pane geral do niencionado cutligo , relativos aoa cri-
mes , delictos , e cunlraven(;oes , sua nalureza . gra\ iila-
de, e moralidade: — aos prcparalorios , e lentaliias do
crime, e crime fruslrado : — aos delinqoenles , auclores,
c complices do delicto: — as circumstancias allcnuantes,
ajsravantes, ejnstiDcativas: — as penas, suns qnalidatica ,
effeitos, propor^So, applica<;iio e execucau : — ;i tespon-
sabilldade civil , extincrao dos crimes e penas.
Passando depois a parte especial do conipendio, e do
codigo, serao applicados aquelles principios a cada ura
dos crimes, delictos e contravencoes , classifioados pela
sua nalureza, gravidade, e moralidade : assignando a
rada um a pena correspondenle tanto na aniiga l-u'isla-
i;ao , como em o novo codigo penal , r«zendo-se a com-
j)ara9ao d'essas penas com as que so aclium estabelecidas
nas Iegisla(;oes d'outras na^oes , e inlerpondu um Jnizo
jnodesto sobre as suas vanlagens e defcitus.
No estudo das noijBes preliminares , em i|imnlo u liislo-
ria antiga , servir-nos-bemos das nulicias, que d'ellas no
da ALBERT DU BOYS , Hisloire du IJroil Crimincl <ks
Peuptet Anctpyis : — em quanto a mudeina, ilas de m.
ORT0LA.\ 5 Cottrs de Legislation comparce , httroduction
Ifistoriqiie ; — e em quanto a particular ile Portugal,
d'as do academiro a. r, do ajiaral n.is Memories /mrii
a Historia da leij^tta^do, e costumei de Portugal; e
PEREIRA E SOUSA naa Ctastes dos Crimes.
Na exposieao dos principius, e na sua applica(;ao,
seguiremos, ptincipalmente , rossi , Traite de Droit Pe-
nal; boiard, iffoiis sur Us Codes Penal el d' Instru-
ction Criminel; cheauveau, Theorie du Code Pinal:
PACHEco, Codigo Penal concordado e commentado. Mas
Vol. IV. AbkilIK
nem por isso desprezaremos as doulrinas de bi^ccirii,
FIL.\Nr,IRHr J imiSSOT, P^XTORET, BENTH4M, C OUtroS ,
que, a pezar de sesuiretn differenle sy»tema , furain o8
fundadures da Sciencia, e podem ser lidos com proveito.
5.» ANNO-14.' CADEIRA.
JtRISPRL'DCNCrA FORMl'I-iRU E EUR EM \TfC.V ; PKACTrC.i
DO PROCESSU CIVIL , CRi:kII.\A.L, COMMERCIAL EMILITAR.
Lente SubstUulo — Dr. Joaquiin] Jose Paes da Silva,
COMTENDIO — F4SCHALIS, LIB. IT. DE OBLIG. ET ACTION,
CONIMBRICAE J853 ; E F. J. D. NAZARETH , ELEME.V-
TUS DO PROCESSO CRIMINAL, — E ELEME.NTOS DO PRO-
CESSO CIVIL, COIMBKA 1853.
Come^a por se dar uma idea de Jiirlsprudencia prn-
ctica, e do sen inleressc, e du histuria d'ella. Tracla-se
depois <la divisao da raesuia Jurispriidencia em Formuia-
ria e Eiiremalica , fazendo-se ver, qual o objecto de cada
uma dVstas paries da Jurisprudencia pructica. E conui
o primeiro ohjecto da JiiriBprudencia formidaria e a
materia das ac^Oes , eiisJria-se a doutrina das actjoes : e ,
dfpois de se ler feito ver o que sao ac^ues e a sua iitili-
dade e Iransrendeticia para a appIica^So do Direito , se
tracta da divisao das aci^oes era prejudiriacs , reaes , pes-
aoacs e raixlaa, e depois da oiilra liivisuo em rci persecu-
torias , penaes e niixtas ; e purqiie as ac^»jfs pcrlence a
materia dos interdictus possessdrios , retintndne , reciipe-
randae ^ e atlipiscetidae , se tracta d'esles, bem como <Ia
materia d'accuiiiula(;iio das ac^oes, Scfri;e-se no ensino
d'estas maleri.is a ordem do rompendio t^obrpilirto ., e\ur-
iiaiidose raais a materia com o importante Trnc'-ado dn.t
Ac^ites do sr, cokrea trllks. No exame da doulrioa das
aci;6es se fala lambem na materia das excep^Ses , segun-
do o metliodo, que seguiu o sr. paschoal.
Pelo que respeila a Jurisprudeucia euremalica nao ha
compeudio, e pnr isso o Lente vai applicando a cada uma
das doulrinas tanto das ac^oes, como depois no processo ,
as rej:ras cumpetentes. Dada a materia das arroes , pas-
sa-se depois a materia do pruccsso ; e como os Elemeiitos
do Processo Civil somente contem a materia do prucesso
tanto na primeira instancia, como na se^unda inslancia ,
e a matffia doi* rccnrsos, faltandu aiiida a materii dad
execu(;oes (ciijo Trartado o A. tern entre maos) , ensina-
se esta pelo Manual do Processo Civil do sr. cokrea
TRLLbS.
Nos Elemenlos do Processo Civil , antes de se tractar
das formas relalivas ao processo , se tracta primeiro da
crea^So , competencia , e altiibnn;ues das diflerenles au-
ctoridades , ipie com|iot*m a hierarchia judicial ; e segun-
do esta ordem se tracta do supremo tribunal de justi^-a
e procurador geral da cur6a ; secretarios e empregados
snbatternos do mesmo IribuiiHt ; das rclaroes e dos pro-
curadores regius e seus ejuilantes; dos gnardas-mores ,
menores, e ofliciacs das rela^oes , bem como dos coo-
tadores , revedores , e escrivaes das mesmas ; dos tribu-
naes de policia corrorcional ; dus jnizcs de direito de
Lisboa e Porto; dos juizes suhstitulos , delegados , cura-
dorcs geraes dos orphaos , e roai^ empregados de justi^a ;
dos juizes de direito das comarras ; dos detet'ados do
I prncfirador regio ; dos e»cri\aes , contadnres, e mais e»i-
— 1855. Num. 2.
14
prpjftilos ilo jiisti^n : dus ji.izcs onlinarios e doa siib-
(iele;;a(!us , e ilos csciivfirs e onicincs (tt? dilii;enfias ; dns
jiiizes dt' paz , dos jiiizt'S "•Icilos , e dos nrl)itrus, e ilo
jury. I)(.'|njis irarta-se dfs triltunaes, quo exercem jiiris-
«iict;So cuinmiTcial , muHi cjV) o supremo triluiiial de
jii!>ti(;ii, a rel«rao coinincrrinl deLislmtt, us triliniines
comiuerriuea ilu |iriineira ii)slunci« , e arbilrus comiiiiT-
ckics.
Dada assim a inaleria da urc^niiisarito judicinria , pHs-
.«a-se loi:o a Iraclnr do |irort>so Pin :;eral , e fiia divijao
cm ({irnntn a forma, em ordinario , .^ummario , snmtiiaris-
*irao , e CYecutivo , fjizeiuio-se ^er <|uiihs pSi* as causae ,
<|iie suo siijf-ilas a cada utnn d'esliis di»ersns furmas de
I'focesso, e a razau d'isto. I'alla-Sf tnn.ltom da divisSo do
jirocesso , (luanlo an s^ii fim, nm (•i\tl , e criminal , lazeti-
du<se \er o que e cada inn d'ellt-s ; c lambem da dt\isao
do pntcesso , eni qirantu a tiiia causa elluMenle em secular
e ecclesiaslico. Dejiuis trarln-se das [icfsoas , que cousli-
tuem II j«iiz(> , tynlo das prinripaes , romo jniz , aulur ,
reu e escii\iio. cumo das ffcuudarins , como accet-sur,
advoirado, procurador , tlufeiistir , e excusadur, faaendo-pe
ver, quaes as lialiilila<;t)es. cpiacs os direiloSj e quaes us
deveres-de cada uma d'c-ilus pcssoa;!. Em sepuido se expTte
a importaute lu.'ihTia <la rouqietiiicia , (anlo i,'eral como
cspfcial , c a pri\ ih'j:iaiia. Djdas estas ideas yeraes ,
foine(;a a fallar-se dus arlos do prucesso civil em primeira
ii)>lancia desde a ritn^ao ate a senlen^a. £xpoe-se a
dculriua da cila);HO, dus mo'lns, por cpie se faz, dos sens
elVfitos jinidicus, e da inslaiicia : f.izpudo-se \er cumo
ella Cume^a , se snspeiide, e acaba ; Item como se Iracta
(las inlrma^ops. t'alla-se depnis das andiencias , mosfran-
do-se adiflpHMi^a, qire iia das ordinarias as geraos , e
Has ordinarias, a dilTeren^a il'audiencia de expodicale , e
de julgameiilo , e os oIijl'cIus perteucenles a raila uma
d'ellas: da dislriliuic^'au (I;is aci^wes pflos escri\iies ; e
depois e\poe-se a duiitrina das ferias. Come^n-se de[pois
a I'ailar do processo poraute os juizes arliitros, do prurcs-
so peraute os juizes de paz , fazcudo-se ver ao mesmo
tempo, quaes sao as causas sujeilas io juiao da concilia-
i;So , e quaes oxceptuaclas^ e quaes os oifeilus da cilacao
para a concilia^ao, e quaes tis da coiiciliaqao ; do pro-
cesso peranle os juizes elrjdis, lanlo uas causas , qrje
cabem na fiiia al^ada , como nas causas sobre coimas e
IransLTCs^opii, que sao excedeul'-* a sua alcada, e recnrsos
qiiM lia ; do processo [)eranlo u jiiJz ordluaiio , nas causas ,
que cabem na sua ul(;ada. Acabadas eshis malerias. p;is-a
a fallarse do processo civil orduiario , o qual lem libellu,
contrariedade , replica e treplica ; ensinando-se o luodo
de formar estes arlicubidos , e o que de\e)n conler , bem
como as formulas res])ecli\as a rada um d'ldles . e e^'oal-
meute os termos , que ha a s'-t.Miir ui) proC'sso para o ofTe-
recimculo c recebimeulo tb^s mesuios aiiicnlados ; e an
niesnu> lempo a maneira e uiudo de ftirmar as excepcoes
em geral, e parliciilarmento a excepcao declinaloria /or/ ,
e a de suspei^iio , e o processo especial de cada uma
d'eslas: ensiua-se a maleria da auluria e reconven(;iio ,
fazenilo-se ver os casos em que lem lo:::nr, e qua! o sen
jirocesso. Depois cumeca a inqiorlanle materia das pru\as
eni ireral e em especial, falbindose da pruva por conQs-
sao da porle . por juramenio , por Inslrumeatos , por
Icslemuuhas, por presumpcfies , arbilrameutos , exames ,
e visturias ; em seirujda se ensiua a doiitrina da coriclu-
SHO c do jidi^amenlo com inter\en<;rin lio jury , o seni
elle, e as formulas rpspecti\a8 a ludo o sobrediclo; p
itepuis se Irarla da maleria da spulen^a , buas dilTerenles
espcries, definili\a e interlocutoria, e esta niera e mixla ,
e OS elTeilos de cada uma d'ellas; bem como se expoe a
doolrina das ciistag e uudrta.
Exjmslo isto , Iracta-se depois dos recursos em geral ,
tanlu ordinaries, como extraordinarK'S. Come»;a-se pelo
pecurso de embargos as seulen^as , que cabem na a!(;8da ,
t* so exp<5e a forma do processo il'esle recurso : o meaiiio
hp faz a reppeilo do recurso da appellacao e d'o da revisia ,
OS quaes todos Sao recursos coiilra as seBten(;as deliiiili-
^as. Falla-se depois dus recursos contra as setilcn^as inter-
locutorias, como sao o airgravo de pe(i(;ao , iuslrumcnio,
e no ante do processo : e por fim tracta-se da maleria dos
recursos extraordinarios, que s3o os recursos a cor<^a y
lonlliclos dc jnrisdic(;ao , e queixa immediata ao sobe-
taiio.
AcabaUa aesim a doiilriiia do processo civil ordinasio,
expoe-se em ;;cral a doUlrina ilo prccfsso >i.mmario . V
do aunimaii'simo , e execulivo, leudo em vi.-la a leirisla-
rlSo da Itejorma, e o Manital do Proctsso Civil do Sh.
coniKA TiiM.ES, no fiiiv, ohde falla de ililTerentes proceo-
pt'8 dVsla nathreza: e e foreosn se^^uir esle piano, porque
uao ha compcndin ndnpladn pela Cnu?re:.'aran para isto.
K\poe-sp ot lornns <rid^uus dos principaes d'esles pro-
cissos , pois nao e pos!-neI, iiu cspatjo d'umauno, per-
correr os brmos de lodus os processus dVsIn naturezn :
mas indicani-se aos eetudanles os Iiatos, por oudc os hiin
de istudar, Se^ue-se, em romplemenlo do jimcesso civil ,
Irailar das execuroes, para u que us Mestrcs lijlo adopla-
do o Manual do Processo Civil do Sa. cohuka tllles ,
e eulao pe expoe a diiutrina do processo compelenle para
a execii^ao, c dns Urnios li.dos da exeriir^o, desde a
ci(a),TiO do de\edur, para em dez dins pa;:ar, on dar
bens a penliora , ale final arrcmatai^an de bens, ou adjii-
dicacan no credor , qunndo iiao ha lanvadnr ; ensina-fie
an nipsmo tem|)o a doulrina dos iruideiites das execu-
eups, fi.mo 5S0 tjs cmbar^'ofi du cxeculado, os embargos
dc lerceiro , e do concurso dos credores no juizo das
preferencias , quaudo cs bens do devedor nSo chegam para
lodos.
Kxplicada a llieuria da prarlica , vao lopo , a propor-
(;5o que ec \iio explichudo dinerentrs doultinas, a dar*sc
cspecics practicas j)ara formar procesnos , como os foreii-
ses , a fim de que oa esludanles vejam prac licamento
na aula , o que se faz uo foro ; e se faz audiencia na
aula , havendo juiz , escrivao , adx'ogadtis , antor , reo ,
e official de dili::<'ncias : e assim lopo que o Lente acaba
de explirar a doulrina do processo peranle os arbilros ,
jierante o juiz eleilo, perante o juiz de paz, e pernnte o
juiz ordinariu , nas causas <p)e cabem na sua aleadn, d/i
logo especies praclicas para cada um d'esle* prcjcessos,
dislribuidos de lal maneira , (jue Indus os esturjanle*
leuham trabiijjios , em que se occupem ; e fazendo-se nos
(lias da audiencia peiguidas a outrns esludanles da aula
fora <raquelles , que eslFio cnlrelidos na audiencia. Simi-
Ihnnlemeiite , quaiulo acalia a doulrina do processo civil
ordinario , se diio lojro especies pr;'.ctiras para esle; e n
inp.-mo se faz a respeito d*algumas especies para alguns
prut'fssos suriimnrjos , e sunimarissimns, e executivos.
Acabada a doulrina du processo ci\il pelo piano indi*
cado , comera-se a do prucesso criminal ; e se^nindo o
rompendiu, enslnn-se qual e a organisn^rio judicial crimi-
nal , fazendo se »er (ci'nio acima se dtssr a respeilo do
processo civil) tptaes s.To as din'erenlps aucloridades, que
exercem jurisdir^ao criminal , e suas altribui^oes ; e
assim se fala niis allril ui^oes do supremo Iribnnal de
juslica, do procuradnr grral da coroa , das relacoes e
prucuradur refjio , dos jnizes de diroito e delegudos , dos
juizes ordinaries e snbdelegados , dos juizes crimiiiaes de
Lisboa e Porto , e do jury ; bera como das aucloridades
admintslralivns.
Depois tracla-se do processo criminal em geral , mostran-
do , que e ordinario e sumraario , e fazendo ver o que e
um e outro ; o que e aceao criminal , qual o sen fiin y.
e como se exlingue ; bem como da materia da rompeten-
cia criminal, enainando-se os dilTerentes principios e regras
d'esla importanle maleria. Em seguida come*;a a doulri-
na do processo criminal ordinario, que se ilhide em pro-
cesso d'inslrnccSo ou preparalorio , e processo d'accusa-
(j-jiu. Nn processo d'instruccSo se ensina a materia do.
corpo de delicto , da querela, do summario de vinte lesle-
mnnhas, da prondncia ; e depois se falla da prisSo , da
fiani-a , das pergunlas ao reo , e da ratificaeao da pronun-
cia. Seguc-se depois o processo ordinario da accusatjiio
do reo; e ahi se expoe a maleria do libello, das excep-
(;ues e conlea(af;ao do reo, da inqurri^ao dag leslemunhas
perante o jurj' de senleni;a , discussjio pulilica da causa ,
deeisao do jury sobre o faclo, e senlenea do juiz de
direito. Segue-se de])ois a maleria de recursos criminaes,
que sao appellacao, revisla , aggravo de pelifjao, inslrn-
raento , e no auto do prucesso. Ultimamenle explica-se a
doulrina do processo criminal summario , que vem a ser
o de policia correccional , o militar, processo contra os
ansentes , e de cuntrabando e descaminho de direitos ;
expundn-se a doulrina relativa a cada um , e as furmas-
differentes, que Ihes respeilara: e se ensaiam larabem
em exercicios pricUcos na aula uignns d'esles processos
ate onde cbega 0 lempo.
15
MOSTEIRO D\ VACC\RIC\.
Riquezas do Mostelnt da Vutrarini.
Cuutinuado de pair. liilO '^." vol.
Naila consta dos teres do (lonvento da Vac-
carica ate ao liiu do seculo X. ()s docuiiR'n-
tos Jmpoi'laiUos, qui' iiinslraiii as iiiinii'iisas
doarOi's, iiue o lioiii coiiccito espiritiial d'esle
mosteiro Iho I'ez alUuir de miiita parte, todos
sao do seculo XI. desde 1 0(12 ate Ul'.l'.f.
De 1002, aclianios uiiia dnaeao de (iiiiiitinax
e ^(indiiiu-s, das poNoaeoes de Borax c Pensu,
e do .Mosteiro de Hoaix com todas as suas
])erleneas, cntrando caliees, crazes e imiitos
paraineiitos ' . Km lOii;}. Ilu; dooii (jodo as
povoacoi's de Pedroso. Jliiuiusi', Srapaeiis, e
Cide '. Em lOO.'J, temos a doacao do Mosteiro
de Sever com todos os sens hciis '. Km lOOG,
a doacao de Villa Nova jior D. Friiela Goii-
salvcs, lilha de Goiisalo Mouiz '. Em lOiS,
a doacao das povoacOcs do Paradella, Aholiui,
.S'o/«.v e S. .Martinlio, c o Mosteiro di^ Sever
com todas as suas pertcncas '. Em 1020, uma
doacao importante das povoacoes de Lcoiru
Jjizari) (; oulras, com as respectivas proprie-
da(ies uuma ^'raude e\tensao entre Villarinlio
e .Mamarrosa pur (jaudio, Elias, etc.'. Em
' i^mtildiiius .... \f'I .-iatidiiius diiu'uiius . , . jilacuit
liohis lit faceremiis . . . altbatem anderias . . . cartiilani
t<•slam^Mlti ... id e.sl siibhi-s monle zebrabrio in \'iila qtiam
VDi'itant roi;as inonasterio ipiod vocitant saiu-ti .salvatoris
.saiicli . . . sant'li pelafrii, ciijiis basilica esl t'lindata in ipso
loco, dim dooms inlrinsecii.s domorum, lilieros, capsas.
4'alices, (;ruces, coronas, vela, vol vcstinuinta ei, it I estorna-
menta ecclesie, cinn omnibus adjnncttonibns siiis .'t
adicimiis ad ipsiim Incnm ipiod lestamils villa <pie diceiit
penso ]>or siios lermiuos cum omnibus preslatiiinibus suis —
Liv. Pr. — lolii. (11.
■'-... e<^u domiiie ancila tua ffodo . . . adicimiis ....
mcdicanu-nta de ecclesia que sila est in \ illas prenemina-
las. hie sunt pedi'oso, et maniose, et scajianes, et villa
cidi . . . Liv. Pr. — folh. fi8.
•* . , . damns vobis ipsilm monaslenum cum domiis
domorum. vel in corcis suis [lomares per areaiieum euares,
saltos. terras riiptas vel inruptas petras mobiles ved iino-
biles, aquis aipiorum, exitus vel regressus . . . Li\ . Pr. —
lolh. B? v.».
"• . . . E^o froiula prols fliindisalvi miinionis
eiro supra nominatils .... facimus seriem testamenti ad
mouasterium di* \accariza villa nominata
que vocilant A'illa nova siiburliio cidiiultrie jiixia monteni
buzacho ad rio de .\ii^'arna . . . concedimus illam per siios
lerrainos antiipios cum omnibus suis prestationibus ipian-
tum iu villa potueritis invenirc pomares Hectares arbores
fruetuo-sas Ael infructuosas terras ruplas vel inniplas . . .
Livro Prelo — fglh. 35 v.".
"... Ob inde ejio tula domna (diz ipie faz doacao ao
RIo8teiro da Vaccarii-a do M?i:iiirite. ) ... Id sunt mediela-
tem de parabdla ad mtesrrum. et medietalem de aboimi.
medietatein de salas, vel villa de sancto martino ipianto
iliidem potuerint invenire. et ilud monaslerinm de severi
iute^'ro cum cnnctis ajunctioniliiis. et peslalionibus suis . .
l.i>. I'r. — folli. Do.
' Et'o saudiuct liel.a" pariler cum uxore mea sratiosa
1021, a doacao do Mosteiro de Leca com
todas as suas pertencas do varias povoacoes,
e miiitas herdades, cjirejas, paramentos, etc..
por 1). Unisco Mendes e sen lillio Oseredo
Tritilcsindes '. Em 1017, outra doacao muito
avtiltada de ogrejas, jiropriedades e muitas
povoacoes, que lez Hc.sfinondiis prolix Mniifi'hr
el Ba.sidinw '. Em lOSO, a doacao ([ue Fez o
Duque U. Sisiiando da povoacao d'ilorta''; e
. . . placiiit nobis . . . iit faceremiis vobis andrias abliali et
fratrilius vestris in monasterio ipiod vocitant vaccariza . . .
I'acimusvobis le.vlum scripture lirmitatis de villa nostraiine
vocitant livira in territorio colimbriensi , et de alia villa que
clicunt lazaro . . . cum cpiantum preslilum hominisest . . .
Et ipsa liereditas dividit ab orienlale parte cum viUarino
el ad meridiem per ipsiim montem usque vertit ad ilium
ro;;io quem vocitant saniia, ab aquilone parte ubi vertit se
ilia livira in lliimen certome, ad occidentalem partem per
iilii dicimt mamoa rasa ubi est ilia heremita que vocitant
.sancli rumani et dividit per ipsam serram ad portiiiii
auruo et vertit in lliiraine certome per ubi concludent no-
stras hereditates et ipsas liereditates desii|ier taxatas fir-
miler habeatis et possidiatis in perpetiium . . . Liv. Pr.
— lolh. 44.
"... Ejro unisoo |irolis menendi el palrina . . . vobis
todeojrildo aldiati et fratribus et sororibus habitantes in
inonaslerio vaccariza concedimus voljis .... raonaste-
riiim de leza cum cnnctis adjeQlionibus suis et prestatio-
nibus . . . et eso unisco cum filio meo oseredo villa de
aeprelanes ab inlefjra cum sua varzena . . . hereditates
que jaceut in patrocello et in saltarios tarn de audeiigo
ipiam etiam in nostras cartas resonat el de villa necarie-
de medietalem integram et de ilia alia media II actaba*
una de recemondo et alia de afffivido hereditate de mala
ilu ill i|isa villa idem in ipsa villa hereditate que fuit de
donino vllifons<i at) iiitefjro hereditate de froraosiudo ab
integro hereditate de romano V integra de hereditate de
fromarifio Y" Integra, et in villa kaeiros nos hereditate
quam hie habiiit frater savarigo comparata, villa manualdi
cum omne adjunclionibus suis villa paiisalella . . . ^illa
suuiltanes cum omnibus adjuuctioniliiis suis mitoiiaeli et
canderedi villarciim omuiluis adjunclionibus suis caitorelo
et alius villar cora diirio alduari cum omnibus adjunclioni-
bus suis et una ecclesia vocabiilo sancli martini idem in
manualdi diias partes de ecclesia sancli mamelia (consta
ainda de livros d'egreja, caliees, e muilos paramentos).
Livro Prelo — folhas 7^ v.°
^ Ego domine famulus tmis resemondiis prolix iiiau-
rele el Imselise .... Adicimus iliidem domine ad ipsiils
sacrosauctum et ^'enerabilem templum qui sunt jicr vela-
men servorum vel ancilarum deo de servicio, medietalem
de ecclesia que sila esl in villa foramoutanos \ocaluilo
-sancte marie cum medietate de mea hereditate de ^'illa
volpeliares, sicul illam liabeo pro prelio et cartas et di-
iiiliano quantum obtinuil per me.as cartas, et in villar
quantum in meas cartas continet, in villa nigrelos fpiailtum
obtinuil per meas cartas medielatem inteirram in ripa
vauga in marnel ubi dicent arravalde riuantum in meas
cartas resonat, et in villa iliavo quantum in meas cartas
resonat .... in villa ricardanes sanctus michael cum
ajunctioniliiis suis ipie fiiit de iniliira ptiro, liereditas que
full de lanioi et in villa carvaliales ecclesiam
vocabulo sancli martini . . . Et in villa antoUni et
nesperaria . . . el in villa ferreirolos et castro . . . Ibi in
recardanes lariaset cortinas . . . et damns de villa seixozelo
(seguidamenle nomeiam-se caliees, paramentos, etc.) . . .
Livr. Pret. folh. (i4.
-'.... Ob inde ego domnus sisnandus ciii dominus sal-
vetiir placui milii pro hone pacis voluntale ut facerem
lextura scripture firmitatis . . . . de ipsa villa quos^ocitaiit
Orta Dunn adipie concedo ipsam villani iam
superius nomilatam ad ipsum locum sancli vincenti (da
Aacc:iri(;ai cum omnes suas prestatioues .... Liv. Pr.
— folh. W\.
IC
nutra da Marmeleira, por Arias Mendcs c sua
niulher Ticili ' .
Aleni (I'estas, enconlram-se no Livro Prclo
iiinas iriuta doaoOes d'egrejas, povoacOes, pro-
priedades, etc., nao contandd imiitas escri-
pluias do emprasameiUo, do lierdades, etc, o
line dou ao Mosti'iro da Vaccarira uiiia opii-
leiicia tao subida, c tao vasta jurisdiq-ao solirc
egrejas e mosloiros, de ([iie so pode ajuizai-
(|iiein liver lido no Li\ro Prclo ostes mimcrosos
V iiilcrcssaiitcs dociiniciilos '■ . So eritre o Voiiga
I' .Moiidi'go, o Moslciro da Vaccarira era sonlior
dc nuiilas povoacucs, as iiiais iiii|iortanles d'a-
(juellc tempo, cnnio consla d'uiii inveutario que
I'ez cm 1004 '.
A doaciio dc todos os l)ens do mosteiro, em
lU9i, devia a Su de Coiinbra, coino ja disse,
' F.;;o nrios nirnendis el uxor niea livili
facimiis lestaraenlum de nostra villa quam vocitant raar-
ineleira, et liahet has terminationes per cacumen mons tri-
lici .... .Mandamus iil si onus ex nobis morieril sit istuni
teslamentum oonfirmatum in honorp sancti vincenti
et ipsud testanlentuni quod siir.sum resonat fiat per maniis
eujus fuerit monasterium vacarice Liv. I'relo
— folh. 137 v.»
•" Os anrios a que se referem as datas dos documentos
c|ue achei no Livro Preto. relativos ao Mosteiro da \ ac-
oaric;a, alii vao apontados por ordeni nunierica, com as
folhas do livro em que se achara transcriplas — anno 1002
full,. 61 — 1003, fia — 10(1.-,, 67 v.°— loof), 3.) v "^
1008, 81 v.° — 1014. 74 v.«— 1015, 35 v."— 1016 60
— 1018, 57, 58, 59, 59 v.°, 63, 85 — 1019, 58 V °
66 v. 0— 1020, 44—1021, 72 v.»— 1025, 153 — io32
96,v.»— 1034, 74, 97 v.» — 1036. 45. 74—1038, H.i
— 1040, 55 v.", 71 v.»— 1041 . 6i— 1043, 41 v.»— 104i
69, 77, 7K v.", 80 — 1046. T2 — 1047. 42 v.», 64 65
v.o— 1052, 72 v.°— 1053, 70 v."— 1055, 54v.°. 80 v."
— 1057, 43, 52 v.«— 1064, 36 — 1078, 44 v.° — lOT'l
50v.°— 1084, 49 v.»— 1086, 48 v.», 157 v." — 1091'
84 v.«— 1093, 65 — 1094, 40—1095, 90 — 1098 36
v.°— 1099, 51 v.», 60 v."— 1101, 229.
Notitia de villis vaccarice — inventarium inter
voucam et raondecura — era dc 1102 (anno de Christo de
1064). Nolum facimus de villas que sunt de monasterio
de vaccariza inter vouca. et raondeco territorio collimbrie.
id sunt villa nova que liiit de gundi.salvo moniz et testa-
Mt earn filius suns fr.ijula gunsalvis ad vacarizam. Villa
de musarros cum sua ecclesia que fuil de abbate love-
glldo ab integro per suis lerminis. Eccbziam vocabulo
sancti cucuvati cum adjecioniblls suis. Villar de correi.xe
cum sua ecclesia vocabulo .sancti martini. Et in sanyalios,
villa que fuit de elias exalaba, ubi se avelanas infundit
in certuma. Villa barriolo cum ecclesia vocabulo .sancti
mametis cum adjectionibus suis. Villa moronitauos ad in-
le^rum. Villa lamen^'os cura sua ecclesia vocabulo sancti
patri, que fuil de abba gaudio. Villa orta ad intej;rum. Vil-
la arinlos. Villa ventosa integra. Vinea deabba lodemiro
hic in ventosa villa de cepiis intesra. Villa eilantes inte-
Sra cum sua ecclesia vocabulo sancti felicis. In villa al-
favara. Ecclesia vocabulo sancti chrislufori. In villa
mortede ecclesia vocabulo sancta maria. cum adjectioni-
bus suis. Et in villa de majistro montajueirae monasterio
vocabulo sancti petri. Villa freixenedo ad inlefrrum ec-
clesiam vocabulo sancta eolalia in ripa cerlome. Villa
vimeneira ad inteirum. Monasterium de lauredo ad inte-
i;rum. Sancia xpri cum adjectionibus suis. Villa ca-
ncllas ad intesrura. Villa de luzo, que fuit de abba no-
Ruram cum sua ecclesia vocabulo sancti tome. Ecclesia
voccabulo sancto pelaRio de varzenas. Monasterium de
irazoi, quod luit de abba Irazoi. Sancta xpri de morlalogo
Monasterium de sourio ad inlcjirura. Ecclesia sancti salva-
toris decollimbria — Livr. Prcl. — folh. 36.
grande parte da opulencia, que Ihe vimos osten-
lar ale IS'.Ji.
Neste anno, pela execurao do decreto dos
foraes, promulgado na lilia Terceira cm 1832,
loram abolidos, cm hcnclicio dos lavradores,
miiitos I'oros, que laziam hoa parte dos anligos
rciidinii'iilos do .Mosteiro da Vaccarica.
Dc.stinos po.^tcriore.s' da Ei/rrja do Mosteiro
da Vaccarica.
Na Yaccarifa nao ha pcca d'architeclura
nem monuiiiento, que possa marcar com pre-
cisilo 0 sitio do aiitigo mosteiro. Apenas sohre
0 topo 0. da egreja, a corrcr com a fafe .N.,
na antiga casa da residcacia, que liie esla
conligua, se cncontra uma parede de iini
mclro de grosstira, com as pcdras do quinal
muito carcomidas. Esta parede, que, ha pouco,
se demoliu cm grande parte, e niuitas moedas
posteriorcs a 1). Diniz', que tcm apparccido
cin aliccrces ahertos nas vizinhancas da egreja,
inculcando a succcssao de construccoes neste
local, poderao servir d'ura leve iudieio da
transii,-ao do antigo mosteiro para a egreja e
casas, que hoje cxistem, e que sao de archi-
tectura muito mais moderna. Transicao, que
mcllior se pode presumir por vermos ainda
na egreja actual a mesnia invocacao de S.
Vicente, que linlia a egreja dos nionges, e
que scnipre se tem conservado, como se dcprc-
hende dos documentos do Livro Preto, que
lenho citado, e dos escriptos e tradicao, em
que sc funda a ultima parte d'esta memoria,
de que me resta I'allar. Accreseendo ainda,
que 0 sitio amcno e um pouco retirado da
actual egreja, casas e propricdades, que Ihe
sao contiguas, me parece muito apropriado
ao eslabclecimcnto dos monges da Vaccarica.
I'nia demarcacao sein data, que se encontra
no Livro Preto, com medidas de extensao a
contar do mosteiro em dill'erentes direccoes^,
' N'estas moedas, que mostrei o anno passado ao sr.
Alexandre Herculano, ao sr. Bastos que o acomjianhava,
e ao sr. Leiy Maria Jordiio, npenas se descobrem as armas
de D. Diniz.
^ Aflirmatio passalium — nos fratres de cenobio sancti
vincenti (pii sua veritate juraturi siimus nos nominatos
xpophorus frater face bona pbr, Ihons pbr, sinilla frater
lirmamus perdeiim viviim creator omnium reriim qiiiaipsos
passalessedecim qui jacent directo foute miras. Ex utraque
parte de rio usque in monte sunt in veritate sunt de cenobio
sancti vincenti per cartas et directo pretio comparatos et
non de testamento de laurbano. Et similiter firmamiis ipsos
qiiatuordecim passales de ilia retorta ubi colli};it se ipsa
aqua et stat in compenso pro divertere ad jtartede mauros,
et inde plicat in illo rio ajratha a parte aciuilonis, ubi se
applicat ill ipsofluminead ipsiim montem. Et similiter fir-
niamus viginti Irez passales recto ipsa fonte de laj;ina de rit>
in rejro, qui discurrit in ecclesia sancti michaelis, sicut
illos partimus et demarcamils cum nostras heredes. Sic
firmamiis istos, qiiomodo illos alios cum suos cazales
(|iios in nostras cartas et in nostros invenlarios referiinl
iibique illos potiierimiis inveuire cum nostros sapitores,
et sicuti ecclesia firmamus ipsam sancti michaelis quia
est testata Integra ad sanctum ^■icenlem pro directo testa-
17
podcia ainda csclarcccr cste jionlo duvidoso
a queni, com o estudo no propn'o local, poder
tradiizir os nonies ja perdidos das Ibntes,
rilieiros c monies, que alll se mencionnm. 0
toiu mysleiioso, com que fallam os hahilantes
da Vaccarica n'um sitio chamado os Fieis de
Dcus, ja I'ora da villa a IS E.. I'aria Icmlirar,
(|uc algtim convento n'aquellc ponlo Icria sido
0 logar do marlyrio dos Eremitas, do que falla
a chronica de Sanclo Agostinho, se alguni
itredilo merecesse aquella noticia'. A aridez
do teneno faz lepellir a idea da construccao
d'um mosteiro nesl(; local, como ja notou o
sr. Miguel Uibeiro; e os inJicios tendem a
raoslrar, que houvc alii apenas uni simples
cruzeiro, ou cousa similhante, juncto do qual
OS tieis, que passavam, tivessem accumulado
OS monies de pedras, que por alii se tern en-
contrado, segundo a usanca das devocOcs
antigas. E do mesmo parecer o sr. Descmhar-
gador .loao da Cunha Neves de Caivalho,
com quern f'allei em Lisboa a cste respeito em
1851 ; e a sua opiuiao e de muito peso, pclos
sous conhecimentos archeologicos, e pelo es-
tudo, que fez nesta localidade, em todo o
tempo que alli residiu, na quinta de Boufcl-
la ou Gesteira '.
Qualquer que Tosse o local do antigo Mosteiro
da Vaccarica, a sua egreja de S. Vicente, de-
])ois da extinccao do mosteiro, diz Fr. Antonio
da Purilicacao, que licou sendo a egreja pa-
rochial da freguezia da Vaccarica, e a matriz
de mais duas parochias, que nesta epocha
lamheni se levantaram naquelles sitios, uma
cm Luso c oulra na Panipilhosa. Todas tres
licaram parochiadas por clcrigos seculares,
cada um dos quaes tinlia por congrua os
raeios dizimos da sua freguezia.
Assim se conservou por nuiitos annos a
egreja da Vaccarica; e em 1j37, com auclo-
rjsacao d'um Breve de Paulo 4.", de 22 de
njento, et non invenimus in eo, quod aliquam partem
liabeat laurbanum ad hereditandum. Liv, Pr. fulh. 43 v.
' Vej. pag. 193 nut. 3.
^ Na verga d'ura portao de pateo, juncto ao adro da
Ks;reja, ve-se um letreiro tosco, aberto a sinzel, parecendo
Jizer — 475 annos. Esta ultima palavra esta escripla com
um sd-n-,- e entre ella e os al^arismos tia um cora^ao atra-
vessado por uma setta. A primeira letra d'algarismo fiirma
com OS dous raraos um angulo recto, sendo o horizontal um
pouco mais curto ; e por cima do ramo vertical v^-se uma
tispecie de accento a^nido. Este accento podera ptlr em
duvida se a inscrip^ao e 475, 175 ou 1475. Em qualquer
dos casos parece-me sem valor esta inscrip^ao, porque a
epocha de 175 e inteiramente alheia as noticias que ha do
Mosteiro da Vaccari(;a ; a de 1475 cae entre a extinccao
do convento e a sua doa^ao feita aos Eremitas de Nossa
Sr.* da Gra^a; e, se a de 475 poderia approximar-se
da epocha em que alpuem juli;ou ter-se fundado o mos-
teiro (vej. pajr. 193) a pcrfeita conserva^ao da pedra
(calcareo das pedreiras de Ilhastro ou An<;a), assim
exposta a ac^ao do tempo, nao permitte a suspeita de que
esta inscrip9ao fora contemporanea do facto que represeo-
taria , nem mesmo dos primeiros seculos depois d'este facto.
Ainda podera julgarse, que esta inscrip9ao teria sido copiada
d'outra pedra ; mas nSo vejo fundamento nem indicios, que
posjjo dar alguqia probabilidade a eeta simples conjeclura.
ahril do mesmo anno, foi doada, com as duas
filiaes e os respectivos mcios dizimos, aos
eremitas de Nossa Scnhora da Graca deCoim-
bra, pelo IJispo D. .loao Soares, como reconhe-
cimento de ter rccchido d'esla ordem a sua
educacao religiosa ' .
0 reitor do collegio da Graca llcou sendo
0 prior collado da egreja da Vaccarica, e as
ftinccoes parochiaes exercidas por um encom-
mendado com a denominacao de vigario,
nomeado em cajjitulo entre os mesmos regula-
tes e conlirmado pelo ordinario. Tinha um
coadjuctor secular nomeado pelo reitor, e
lamhem conlirmado pelo ordinario. A mesma
noraeacao tinha logar a respeito dos curas
seculares, que parochiavam as egrejas liliacs
de Luso e Panipilhosa '.
0 vigario da Vaccarica tinha alem do pe
d'altar, a casa e o rendimenlo dos bons pas-
saes, oitenta mil reis do collegio; e o coadjuc-
tor unicamente casa de residencia e setenta
mil reis.
0 cura de Luso tinha quarcnta mil reis;
e 0 da Panipilhosa oitenta mil reis; tudo cm
melal '.
Em 1831, pela abolicao dos dizimos e ex-
tinccao das casas religiosas, desligaram-se
aqucllas tres egrejas, e a boa vivenda, casas
e quinta, que constiluiam os passaes da Vac-
rarica, foram incorporados nos bens nacio-
naes, e vendidos ao sr. Manoel Ferreira
d'Azevedo, da Mealhada, em 11 de feverciro
de ISii, por dous contos oitocenlos e um
mil reis, entrando nesta quantia novecentos
trinta e tres mil e setecentos reis em metal,
e 0 mais em papeis de credito.
0 ultimo vigario regular da Vaccarica, que
eslava na egreja cm 1834, e que alli se con-
servou, como secular encommendado, ate ju-
nho de 1833, foi o sr. Fr. Jose de Menezes.
Seguirara-se parochos, que a.ssignavam os as-
sentos da egreja como parochos interinos, o
sr. P." Constantino Joa([uim de Oliveira ate
2 de fevereiro de 1830, o sr. P.' Jose Vieira
de Mello desde cste dia ate 13 de abril do
mesmo anno, e depois, o sr. V.' Joaquim
Duarte de Mattos atti 3 de julho de 1837.
Seguiu-se um intervallo de mais de 3 annos,
em que esta egreja esteve sem parocho. Nesta
epocha os freguezes da Vaccarica quasi todos
' Chronica dos Eremitas de Sanclo Agoslinho — torn.
e part. I." livro 1." titulo 8." v^.° 5.° — Diz, que este
breve se acha no Cartorio da Graqa; mas quern o quizer
ver, so por casualidade o podera encontrar. Procurando
no governo civil de Coimbra aquelle breve e outras no-
ticias, achei, em logar do interessante Cartorio da Gra^a
de 1834, uns poucos de masses de papeis sem ordem. que
apenas occupavam tres ou quatro palmos ao canto d'uma
estante.
* Chronica dos Eremitas de Sancto Agostinho — logar
citado.
- Os documentos d'estas noticias deveriam estar em
outro tempo no cartorio da Gra^a. Ainda bem queja sao
noticias contemporanea^.
18
se confessavam e desobrigavani nas egrejas
\izinhas; c ulgiins servicos demaior urgencia
eraiii leilos allemadamcnle jior dilTeieiitcs
clerigos da Ircguozia ; iiriiuipaliiu'iiU' pcio
sr. P." Victoiiiio Vioira de Mi'llo, (|iic fez a
inaior parte dcslo scrvico, o sr. P.' Conslaii-
lino Joa(iiiiiM do Olivcira, e o sr. P." Joa-
iiuim Diiarte de Matlos. Em 22 de novenil)ro
de 18'i0 acal)ou esta irregularidade, loinaii-
do posse de vigariu eneoiniiieiidado o sr. P."
.Vntouio Correa da Foiiseea, ([iie seiviu ate
1847. Neste aniio, a 23 de iiovembro, foi
collado nesta egreja o actual paroclio o sr.
P.' Yit'toriiio Vieira de Mello, (prirao d'aqiiel-
le), que tciu de congrua duzeutos mil reis,
enlrando nesta quaiitia sesscnta uiil reis que
llie arbitraram de pe d'ailar'. No processo
da collaeao ainda veni considerado como
\igario; mas da-sc-lhe gcrnlmeute a denonii-
uacao de prior, que ja conipetia ao reitor da
• iraea na qualidade dc paroclio collado na
mesma egreja.
A. .*. DA COSTA SIMOES.
POESIA SLA.YA -MODERNA.
Continuado de pag. U.
ElemeiUarcs e aranbadas, como sao, estas
duas especies de cancoes populares coiisti-
tuem as unicas ruinas, que ainda restam do
antigo genio uacioiial poetico. Tudo quanio
nao for krakoHnka ou koloiiujiku nao tern eii-
trada na cboupana do povo, nem Iraz o cunbo
espontaneo do genio pobuo. Poesia, que lor
exclusivamente privativa dos pacos dos senbo-
res, em paiz algum pode intitular-se popular;
sera talvez muito bella, porem a sua accao
decisiva sobre as massas e quasi nulla. E
0 I'ructo d'esl'orros individuaes, de talentos
isolados, e a poesia cosmopolita. Por muito
sublimes que sejam, e em virtude mesmo da
sua sublimidade, Krasiiiski, Mickievicz, Slo-
\acki, nao podem scr seguidos nos seus voos
scuiio por urn numero diminuto d'espirilos
escolbidos. 0 povo, esse nao os corapreben-
de, por que naquellas lyras nao ha uma so
corda, que Ihe vibre ossons dogouslo. Quasi
sempre impalpaveis para o vulgo, andam
pairando nas abstraccoes, no absoluto. Em-
balam-se nos sonbos do occidente.
Nao queremos dizer com islo, que o espirilo
da Polonia nao possua instinctos maravilbosa-
niente slavos e conf'ormes com as crcncas do
ijouslo. 0 latinismo so conseguiu desnaciona-
lisar as classes elevadas. 0 povo baixo ficou
0 que era, c melhor (|uc os seus proprios
' O Parocho de Liiso tem 125^000 reis, rontan4lo de
pe d'altar 50^000 reis; e o da Pampilhosa JOO^OOO reis,
eiitrando 14!$000 reisdep^ d'altar.
magnates comprehcnderia as rbapsodias ser-
vias, se Ib'as traduzissem ; porem o mesmo
turbilbao d'iunovaeoes e cosmopolitisnio, que
revolveu a llussia , arrasta tambcm a Polo-
nia. E eis a razao jioniue, ate hoje, apeaas
produziu dnis bomeus, (|ue souberam desen-
Iranluir do I'undo das velbas llorestas lekbitas
I) (/ousle de seus avos, e dar-lb(! a forma de
uma poesia nova, admiravel rellexo da vida
slava. Estes dois homens sao Kasimiro Brn-
dzinski e Uohdan Zaieski. 0 primeiro, lilho
das provincias exclusivamente latinas da Po-
lonia, apenas tem podido, e verdade, ideali-
sar a krakoviaca. Mas ao mcnos elevou-a a uuia
perl'eican de forma, a uma graca d'cstilo, a
uma candura de pensamentos, a que nem
ainda de leve poderam attingir os nebulosos
romantii'os, (|ue Ibe succederam, scm exceptuar
0 proprio Michiovicz. Em (pianto a Bohdan
ZaIeski, naseido cm mais favoraveis condi-
cocs de desinvolvimento poetico, caminhando
livre, como o lilho da naturcza, por meio dos
steppes illimitados da sua querida Ukrania,
pikle encontrar alii toda a frescura d'inspi-
racao e toda a independencia slava. Reuno
a transpareucia, a lim[iidez de forma dos
antigos lyricos gregos a originalidade da sua
raca. E um digno rival de Subbotitj, de Sta-
nko-Vraz e dos classicos servios mais puros.
Desgracadamente um e\ilio muito prolougado,
uma sequestracao comideta doambienle e dos
costumes slavos ondo embalava a sua vida,
acabaram por lancar Zaieski na poesia oc-
cidental, que elle, por tim alliou aos extasis
niessianicos, mas as suas duiiikus ukranias e
OS seus cantos galicios, licam sendo pelo menos
um tbcRouro rcservado para o futuro da Po-
lonia. Em vao prelende a chusma dos imita-
dores desligurar o modclo, desnatural-o, ac-
carretar-lbe o ridiculo; a obra do meslre
persiste, e como o germc fecundo cscondido
debaixo da neve, espera para produzir o fru-
cto, dias mais quentes, mais creadores que os
nossos.
Em summa, a influencia ate agora exercida
pelo yoitslo sobre cada uma das quatro litte-
raturas slavas e muito diversa. Os Polacos
fazem todos os esforcos para reanimal-a, mas
OS seus maiores poctas ainda nao a souberam
comprehender. E certo, que elles reanimam
com um raro amor filial o culto das tradi-
coes da mae patria, mas param nas tradicocs
ja corrompidas, sem se alToitarem a rcmontar
ate as origens slavas, ate as verdadeiras
dziady da Polonia; e assim nada mais fazem
do que girar num circulo vicioso. Pelo que
respeita aos Bobemios, estes rcconbecendo-se
incapazes de ressuscitar o yuuslo, cmbalsa-
mani-no piedosamente como iima mumia. Mais
diloso, 0 povo moscovita ainda escuta com
paixao o sen yousle, embora as musas aristo-
craticas de Pelersburgo se obstmcm em
desdenhal-o; mas entre as suas maos sarca-
19
I
stii'as nao passa dc iinia bonccn, ilr* (|iio so
servcm para diverlir as creaiiras c caplar a
gcnte do povo. Em toda a Slavia somcnte os
poetas illyrios servios tomarain o yoiislo a
scrio. Em quanto que as outras lilicraluras
slavas comcraram pelo lim, pcio cosmopoli-
tismo, j)ara vollarcm mais lardc, coxcaiido
e jii fatigados, as suas origens c ii infaiuia
(!a poesia ; a lilteratura illyrio-servia line o
1)0111 senso de comerar pelo principio. toiiiaii-
do por ponto de partida o espirito de raea,
e iniitando os antigos Gregos, os quaes ao
passo que se iam desinvolvendo, iiunca dci-
xaiam perdcr de vista o (jue era o sen (jouslo
d'clles, — a poesia liomeriia.
D'tste despertar de raca enlre os Slaves,
do que nos parece tcr indicado suflicientcs
testoniunlios, queremos por agora lirar unica-
mente unia conclusao: voni a ser, que uma
litteralura liassica e viva emanada dos ijonf;-
lars, que se constiluisse num povo podcroso
nos limites da Europa e da Asia, c que tives-
sc urn largo desinvolvimeuto, invoslida de res-
peilo no interior, forte pela propaganda no ex-
terior, tornar-se-hia o vehiculo o mais agrada-
vei e ao niesmo tempo o mais poderoso d'um
progresso pacifioo eutre povos todos (illios do
Oriente. Basta com elTeito a compararao mais
superficial para patenlear a singular scme-
liianca, que tem as picsnas dos gonslnrs com
as poesias persicas, indias, tataras, e ate
com OS poemas dos mandarins chinczes; so
com a dilforenca que as pie.tnas slavas teem
urn sopro d'lieroismo e d'abnegacao chrisla,
que faita as poesias asiaticas; e dcliaixo deste
aspecto, sao o ponto de passagem entre as
velhas litteraturas panteisticas do Orien-
Ic, e as litteraturas christas moderiias. 0
ijoiisli) niio alcancaria cxercer mais do que
uma inllucncia muitc secundaria sobre as
sociedades occidcntacs; mas, lornamos a re-
petil-o, pode servir para auxiliar as povoa-
coes do Oriente nas suas tendeucias para as
reformas prudeutes, que podem sos assegu-
rar a sua emancipacao. Tal e o fito para
onde convem hoje, que se dirijam as littera-
turas slavas inspirando-sc do (jouslo; e se
ellas 0 conseguem, muito bem mcreccrao tan-
lo da Eurojia como do Oriente.
\^r. ROBERT, ua Revista dos dots mundos.)
A RIM A NA POEZIA MODERN A.
Continiiado de jiaj. 23B.
A scnsacao agradavel, que causa o verso
quando 0 adorna a rima, nao e a unica van-
tagoni, que d'esta provem a vcrsificacao. Em
linguas tao fracamente accentuadas, como as
modernas, a repeticao dos mesmos sons torna
mais saliente a terminacao do rylhmo, pouco
sensivel pela ijicerleza das suas longas e
breves; laz-nos mais lacilraente conliccer, que
0 verso acabou. A riina produz no verso o
mesmo cITcito, que a repeticao do rythnio
causa no poema : da-lbe unidade, cstreita os
lacos, que prendem as suas differentes partes.
A reuniiio de sons similhantes excita o sen-
(imeiito musical, dispoe o ouvido a perceher
a relacfio das outras syllabas e o cspirito, a
comprehender o encadeamento das ideas. A
rima auxilia lambem a memoria, a conso-
nancia, que a conslilue, da a intelligencia urn
meio facil de recobrar o lio das ideas, e e
uma vantagem incontestavel facilitar o traba-
Iho da rcminiscencia, e para os bons versos,
mais uma boa qualidade o nao ser difficil
rc<ordal-os. Rimar e difficil; mas venci-
da felizmcnte essa difficuldade, d'ahi resulta
prazer para o espirito e belleza para o ver-
so, que assim adquire mais um ornamenlo. E
realmentc consideravcl a graja, a energia, a
vivacidade, que a rima da, ao pensamento e
a expressao, pela forma elegante dc que re-
veste a phrase, com quanto para o conse-
guir .scja necessario, que clla appareca com
tal uaturalidade, ([ue encubra o trabalho de
procural-a.
A pczar das incontcstaveis vantagens, que
da rima provem a exprcsao dos sentimentos
e paixoes do poeta, muitos e.scriptorcs, entre
OS ([uaes avultam Fenelon e La Motte, rejeitam-
na, como um defcito so capaz de produzir
inconvenientes. Negar que a rima seja um
clemento de melodia de summa importancia
jiara o verso seria difficil, nem e esse o
caminho, que scguem os sens antagonistas.
0 defcito, sobre que mais insistcm, o maior
inconveniente, que na rima encontram, e o
obslaculo, que d'ella dizem resultar para a
expressilo forte e energica do pensamento
poelico: accusam-na de prender a imaginacao,
de aUerur as ideas concebidas pelo poeta.
inipedindo-o de as apresentar taes, quaes as
creou.
Esta objeccao, posto que especiosa, nao
tem muita importancia. Que scja mais dif-
licultoso ao poeta exprimir-se com uaturalida-
de e energia, tendo de submetter as palavras.
que emprega a uma eon^onancia obrigada,
e uma verdade; mas que d'ahi se deduza
a ulilidade da obliteracao da rima em todos
OS generos de poesia, e inadmissivel. Admit-
tida clla, reprovada a rima como obstaculo a
belleza da expressao, e logico proscrever tam-
bera 0 verso, que sujeita a uma cadencia e a
um rylhmo forcado as palavras, que enun-
ciam a concepcao do poeta: de mais, a rima
longe de difficultar a expressao, ajuda-a as
vezes e cnriquece-a sempre com os ornamen-
tos materiaes, de que a rcveste. Rimar bcni e
uma difficuldade; mas vencida ella, a belleza
do verso, e portanto da poesia, augmenta,
e augmenta consideravelmente. Os versos ri-
20
mados, pela molodia, que Ihese propria, actuam
>iiiiullunoaiiii'iilc sobre a iiiuifjiiiacao e os sen-
tidos, possucm no mais elevado grao o podiT
de commoM'r, de scnsiliilisar, lim priiuipal
da ])0esia. E a dilliciildade veiu'ida e mais
iim luorecimcnto para o vorso, e jjara o jioela.
0 cscravo, quo a cuslo arrasta as cadoas, quo
o algomam, nao surprolioiido iiinguoni, mas
adniirara a todos, so com tal arto dislaroar o
incommodo o poiui ([ue llio cnusam, (]uo mais
parocam ornal-o ([uo prondol-o. Que a rima
nao sulToca iiom tyraiiiza o pensamenio, at-
teslam-no os magnilicos vorsos de Ariosto,
lie tamOos, de Tasso, de Violor Hugo, e de
niuitos grandes poolas (jue limaram, som ([uc
d'alii provicssem defeitos, senao maiores bel-
lezas as suas poesias.
Daqui nao pode deduzii-se que a lima, que
a forma scja o principal e a idea o accessorio;
peio contrario. Veneer a difliculdade da rima
0 0 que 0 poeta dove ter em vista, mas sem
nunca liie sacrificar um grande scntimenlo
ou uma bella imagom. A idea dove dirigir,
a rima, como diz Boiloau, ol)edecor conic
escrava. Conseguir conciiiar o ornamcnto da
forma com a magestade eenergia da idea, niio
e lao diflicil como parcce. Os inconvenientes
da rima, diz o abbadc d'Olivet, tao sensiveis
nas obras d'um mau poeta, convcrtem-sc em
bellezas nas maos d'um bomem do genio.
Alem de que e de summa difliculdade evitar
nos versos soltos dureza e desbarmonia. Nos
versos do CamOes, e da D. Branca sente-se
que as gracas e enfeitcs da rima nao venbani
realcar o bello do pensamenio as vezes dimi-
nuido pela dureza da forma, ao passo que so
adniira nos versos do sr. Joao de Lenios a
felicidade com que a suave mclodia da versi-
ficacao sc casa com a expressao forte e e\a-
cta da idea.
Neni se pode imputar a rima o pur a pocsia
ao alcance dos maus poetas. Rimar bera, il-
ludir a difliculdade, Irazer os consoanles
com tal naturalidade, que pareca que a(iuelle
e 0 unico modn porque se poderia exprimir o
pensamenio do poeta, e urn trabalbo superior
as forcas de quem nao Icni talento natural,
habilidade para a poesia. 0 abbade Dubos,
nas suas Reflexoes triticas sobre a poesia,
sustenta que e impossivel deixar de consi-
derar o trabalho de rimar como a mais baixa
das funccoes da raecbanica poetica. Outro
tanto se deve entao dizer da syllaba, e dos
pes dos versos d'Uomero e de Yirgilio, e das
construcocs, lao cuidadosamente elaboradas,
([ue OS antigos scriptores julgaram tao impor-
tantes nos sens discursos, como a ligacao c
ordera das ideas.
Nao concluirei d'o que levo dito, que os
versos soltos da lilleratura de todos os povos
modernos sejam, como quer Voltaire, prosa
sem medida alguma, so dislincla da prosa
ordinaria per certo numero de syllabas eguaes
c monotonas, que, por convencao, se denomi-
nani verso X consonancia, a repeticiio uni-
forme dos sous nao e semprees.sencial a poesia.
Quanto mais graudeza, iuteresse, e vigor
tcm um pensamenio, mais diminue d im-
portancia o roalce, que a rima da ao verso;
ijuanto mais energicas e tocanles sao as ideas
I'xprimidas, menos valor se da a forma ma-
terial, (jue as revesle: o interesse que a nar-
racao inspira nao consenle roparar na liar-
monia da pbrase, ou na melodia dos sous.
Por isso e que em algumas linguas, cuja ac-
cenluacao, mais pronuuciada, mais dislincla
do sentido, introduz no verso alguma melodia,
se bem quo pouco sensivel, a poesia se tern
[>or vezes liberlado dos grilboes dourados da
rima. Mas os versos soltos das linguas mo-
deruas, da allema mesma que, pela sua indole,
forma, para assim dizer, a Iransicao enlre
as linguas antigas e as modernas, estao longe
d'imilar a melodia da versiticacao antiga;
antes diHicilmente cvitam cabir na desliar-
monia e na dureza.
Segundo Benloew as tentativas ale boje
feilas, para liberlar da rima as poesias be.s-
panholas e ilalianas, teem sido infelizes. Na
poesia franceza a rima e indispensavel. Ver-
dade e que Scoppa c Mablin sustcntaram,
que a lingua franceza se piestava como as
outras a imitar os versos antigos, e quo, so
ate entao se nao tinliiio feito versos sollos
cm francez, isso devia ser altribuido. on a
falta d'inlelligencia dos poetas, ou a sua pre-
guica, que recuava diante d'algumas dillicul-
(iades. Mas esta opiniao, alem deconlraria ao
pensar de crilicos laes como Boileau e Voltaire,
nao se funda sobre um so exempio de bons
versos francezcs niio rimados. 0 tretho se-
guinte traduzido por Voltaire, da Merope de
Maflei e, a meu ver, prova sufficiente de quao
pouco propria e para se liberlar da rima a
versilicacao franceza.
Je me souviens encore de celte pompe aiigusle
Qui jadis en ces lieiix marqua les premiers jours
Dm regne de Ctiresphonte. Ah le prand appareil !
II n'est pas aujourd'hui de semblables spectacles :
Plus de cent animaux y furent immol^s;
Tons les pretres brillaient, et les gens ^Mollis
Voyaient Tor e I'argent partout etinceler.
Nao foi mais feliz o celebrc ministro Turgot
na sua tenlativa de traduccao da Encida em
versos hexametros regulados pelos principios
da versilicacao latina.
E como imaginar, que uma nacao, que pos-
sue, tanto como outra qualquer, o senlimento
do bello, se enganasse por tanto tempo sobre
0 genio da sua lingua, a ponto de rimar
sempre, podendo, sem esse constrangimenio
ter versos harmoniosos?
Naquellas linguas cuja accenluacao mais
sensivel, menos confundida com a significa-
cao, perraitte, para cxprimir affectos fortes,
21
(I uso do verso «olto, essa libcrdadc so pode
oxtfiidcr-se ao vcrsoi ile mais do nove syl-
labas; porque so nesses versos, que reunem
uni mnior niimero de pausas e d'accentos,
podc iiaver uma tal on qiial mclodia, que nao
seja a provenieiite da rima; melodia pouco
sensivel na verdade, mas que nao e urn de-
feilo, quando a idea e hastanle forte por si
mesnia para prender a attencao. Nao acon-
leco porem assim nos versos mcnores, onde o
pequeno numero dos accenlos c pausas torna
indispensavel a rima para cvitar que os
versos se confundam com a prosa. Esta regra
de goslo seguiram-na todos os bons poetas.
E lacil accunuiiar os exenipios. Milton, que
I'screvcu em verso soito o seu niagnilico poe-
ma 0 Paraiso fjerdido, rimou il Ponseroso
escripto em verso menor. Pope c Byron so dei-
xaram as vezes de rimar versos d'onze syi-
labas. Na nnssa litteratura, Garrao inimigo
declarado da rima, quando, na sua bclla ran-
tata de Dido, passa do verso maior para o dc
quatro syilabas, rima, por que scni isso olTen-
(ieria o ouvido. E inutil insislir sobre este
ponto: pode assegurar-se que a universalida-
de dos poetas, salva uma ou outra infeliz
lentativa de Francisco Manoel, seguiram, como
regra invariavel, o liberlar da rima tao s6-
mente o verso maior de novo syilabas, quan-
do neile se exprimem assumptos tao grandcs,
que podem prescindir do ornato loucao e de-
licado das consonancias.
A. deORNELLAS.
ESTLUOS PRELIMINARES DE BIOLOGU.
I.= PARTE.
Definicdo de phijsioloyia: hisloria e impnr-
tancia d'esla sciencia.
I.
0 estudo do organismo e dos seus dif-
I'erentes actos e um dos mais iranscen-
dentes e necessarios ao homem, que no mun-
do se encarrega da missao mais nobre de-
pois do servico dos altares, ao homem que,
como diz Huiland, se pode chamar o sacer-
dote do fogo sagrado da vida, o seubor das
forcas occultas da natureza. Todo o medico,
dizia Hippocrates, deve estudar a natureza
humana.
0 medico nao pode conhecer o estado anor-
mal do ser organisado, objecto dos seus es-
tudos e cuidados, sem que tenha um perfeito
c cabal conhecimento d'este individuo no
«stado normal ou physiologico.
0 cnle vivo consta de diversas partes;
estas sao dotadas dc dilTerentes propriedades;
entram em exercicio ou funccionam segundo
certas e determinadas leis. A sciencia, que se
occupa do conbecimento d'estas proprieda-
des, d'cstas I'uncOes c das suas leis regula-
doras, tonia o nomc de physiologia.
Algiins auctorcs teem procurado subsliluir
a palavra pinj.siolrxjia o termo biolorjia como
•mais proprio. Physiologia indica estudo da
natureza, e sendo esla o complexo dos seres
que conipoem o universe ou natura naturata,
ou por outra o complexo de corpos que Deus
creoH, concluem que a expressao physiologia
comprehende mais do que o dctinido.
Assim devia ser, se a palavra natureza ti-
vcsse uiiicamente esta significacao.
0 vocabulo natureza deriva d'uma pahnra
chaldaica que signilica — fogo: era o cati-
dum innatum considerado pelos antigos como
origem da vida, e causa de todas as cousas.
Nos Gregos a palavra natureza deriva de
tfjoi; do verbo grego ipuo, eu produzo. D'cstc
modo a natureza era para elles uma causa
activa, e productora e o objecto continuo
d'um culto especial.
A palavra natureza tambem se emprega
para exprimir a ordem pcrpetua, que preside
ao mo\iiiiento do universo. A idea, que os
Gregos Ihc ligavam. d'uma causa activa e pro-
ductora, fez com que Hippocrates designasse
pelo termo natureza tpuci? a causa, que pre-
side a todos OS movimentos organicos e vi-
laes, — 0 principio animador do ente vivo.
Com 0 mesnio lim imaginou Crollio o seu
astrum internum; Miguel Alherli o principium
energoumenon; Van Ilclmont o arclieo. Estas
consideracues, signilicar a expressao natureza
tamhcm a esscncia intima d'uma cousa, fazeni
adoplar como exacta a palavra physiologia
para designar a sciencia, que se occupa da
causa, que preside aos phenomenos da vida,
e que estuda a essencia intima dos corpos
organisados.
Pelo que acabamos de dizer se pode ado-
plar nao so 0 termo physiologia, mas tam-
bem a idea de a delinir sciencia da natureza
como se exprime Burdach, um dos mais
celebres physiologislas dos tempos moder-
nos.
0 ente vivo pode achar-se em dois estados
mui distinctos, saudc c doenca: a ambos se
estende o dominio da physiologia : e d'ahi
vem a divisao de physiologia em normal ou
hijcjienica, e anormal ou patholoyica. A phv-
siologia tambem se divide cm (jeral e es-
pecial. A primeira e aquella que, sem fazer
applicacao a especie alguma determinada de
seres, tracta d'um modo phylosophico e ahs-
tracto dos phenomenos da vida. 0 contrario
d'isto e a physiologia especial.
Relativamente ao mesmo individuo a phy-
siologia tambem se pode dividir em geral c
9Q
especial, boguudo sc occupa <los plicnonirnos
do ser vivo em globe, on liatla de cada iima
das fuiicriies em especial.
A pliysologia pode ser theorica ou experi-
menlul, segiindo o seu esludo se limitar a
exposirao lie doutrinas, c ao raclocinio; ou
sc esclarecur com observacOes leitas no boiiicm
ou nos animaes: dividindo-se iieslc ultiiiio
caso em i)bysiologia liiimdiia e compuimla.
II.
A pbysiologia como seienria luio data de
lemotas eras. A sua hisloria pode ser di-
\idida em dois periodos mui distinctos, rom-
prchcndendo o primciro a liisloria da jiliy-
siologia antiga, e o seguiido a hisloria da
pbysiologia moderna, que data do rciiasei-
lueuto das lelras ua Europa, (piaudo o estudo
da aualomia deu um impulso particular a esla
.sciencia. Escusado nos ])an'ce demonslrar a
conncxao, que exisle eiitrc csles dois ranos
da arte de curar. Todos os factos ua pby-
siologia resultam da oiiiaiiisiiruo, o do dyna-
mismo; o conhecimento d'a(|uella ninguem
o pode dar scuao a analomia.
A mcdicina dos tempos anligos, bascada
lias observafoes, na cxpericiicia e na aiia-
logia, oecupava-sc so c uiiicainente da cura
das molestias. Eram os padres ijue se dedica-
vam a estc sancto mister, e isso eslava em
iiarmouia com as ideas religiosas eulao do-
minantes, julgaudo-se as molestias castigos
da ira diviua. As obras mais aiitigas da me-
diciua parccem devidas aos Cbins; attri-
biie-se ao imperador Cbin-Nong, raorlo 2700
aimos antes ilc J. C. a publicacao do jirimciro
livro medico.
Naquelles tempos dc superstiiao julgava-
se sacrilegio a abertura dos cadaveres; nao
podia por eoiiseguinte haver ideas cxactas
sobre a anatomia e ainda mesmo sobre a
pbysiologia. As epochas antigas contain com
orgulho trez homens cminentes no aperfei-
coamento, que depois leve a medicina. Foram
Melampo, Chiron, e Esculapio. Este ultimo
prestou tantos services a bumanidade, (jtie
mereceu ser contado entrc os dcuses, e era
sua honra se erigiram trez templos, cm cujas
parcdes so depositavam as relacoes das mo-
lestias e a applicacao dos reracdios, que ti-
iihara aproveilado, c ruja administraeao era
semprc acompanhada de practicas religiosas.
Nada indieava com tudo que em tal epocha
a pbysiologia fosse estudada.
Esla sciencia tomou origcm nos antigos
(ircgos. Posto que as suas ideas ainda fossem
por exiremo vagas. com ludo ellcs procura-
ram ligar os phenomenos physiologicos ao
principio particular, a que cada um procurava
referir todos os phenomenos [da natureza.
Foi a eschola philcsophica de Pythagoras
a priiueiia que sc entregou ao esludo da ana-
lomia, e procurou raciocinar a cerca das
luncoucs animaes. Mui incerlas e obscuras
sao as opinioes attribiiidas a Pythagoras e a
todos os antigos philosojihos. Parece que
aijuelle procurou determinar a formacao suc-
ccssi\a do euibryao; todos os animaes nasciam
d'um germe, c iuadmissel era a doutriiia das
gcracoes esponlaneas. Notou o encadeamento
de todos OS ados da economia animal.
Alcmeon, de Crotone, Empedode d'Agri-
gento, e principalmcnle Di'inocrito entrega-
ram-se a disseecao dos animaes, e procurarani
resolvcr divcrsas qncstocs phjsiologicas.
Alcmeon colloca o loco da alma no ccrebro:
scgundo elle o pae e a mae lornecem egual-
mente a semente na geracao ; o sexo do feto
segue 0 do individuo que mais parte activa
tomou no acto de copula. A cabeca e a pri-
meira parte que sc I'oriua : o feto nulre-se
l>ela pelle. 0 moviraento do sangue e o prin-
cipio essencial da vida : a sua cslagnacao
nas veias determina o somno, e sua expan-
sao acliva cutretem a vigilia. A saude con-
sislc no eciuilibrio das qualidades primarias
taes como o calor, o frio, o sccco, o humido, o
amargo, o ddce; o predominio de uma d'estas
qualidades produz a doenca. Empedode rc-
conhece uma grande analogia entre o ovo
dos animaes, e as scmentes das planlas. Ad-
miltia ja que o feto tirava a sua nutriccao
do cordao umbilical. A inspiracao e expira-
cao Ibe parecem depcndcr d'um fluxo e re-
lluxo alternado do ar nos vasos. que van as
diversas partes do corpo.
Democrito explicou pela diversidade de or-
ganisacao a variedade de costumes e haliilos
dos animaes. Conheceu a importancia da bile
na digeslao. Os orgaos dos sentidos sao como
espelhos, onde se pintara os objeetos. Todas
as sensacocs, cujo numero se nao pode iixar
rcduzem-se a do tacto.
Anaxagoras sustenlava, que o corpo do in-
dividuo era composto de partes homogeneas,
que se reparam, apropriando-se i)or uma es-
pecie d'allinidade das substancias idcniicas,
que cncoutram nos alimeutos. Os corpos do-
tados de sentimento sao compostos d'elemcn-
tos sensiveis. A perfeicao das maos e a causa
da superioridade do homem sobre os outros
animaes.
Diogenes d'Apollonia julgava, que o ar era
0 principio da intelligcncia do homem. e
necessario ii cxistencia de todos os animaes:
0 ventriculo esquerdo do eoracao leva-o por
meio dos \asos a toda a parte do corpo onde
se mistura com o sangue.
Foi Hippocrates obomem, que prestou gran-
dcs servicos a arte de curar. A pbysiologia
Ihe deve tambem niuitos principios, que con-
correram para o seu aperfeicoamento.
Hippocrates admittia um principio simples
nu ^ua cssencia, nuiltipio nos seus elTeitos,
23
e que presidia aos phenomcnns vitacs, o, Ihes
iJava origcm. Era cste principio, que die chu-
mava ?uii; (natureza); e esse agenlc que nos
i;liaiiianios hoje principio vital.
Condiiua. ALVES.
I
TR\CTADO PRA.CTICO DE P.VRTOS
POn U. PEDRO GO^ZALES VELASCO, V D. JOSE DIAS
BEMTO.
Mtt.seii Dupnijircn de Paris por D. Pedro
Benito.
Impressas cm Madrid, c publicadas cm
18o4 as duas excellentes obras, que annun-
ciamos, derani eiilrada iia livraiia da univer-
sidade de Coimbia um exemplar de cada uma
d'eilas em cdieao nilidissima e luxosas eiica-
deruai'Oes, rcmetlidos polo nosso Govenio, a
quern scus auclores generosamente os oU'er-
taram.
Fez 0 sr. Velasco um serviro importante a
arte nhstetrioia na fom[)i!acao das vordades
doutriiiaes, ((uc liie respeitam, nvligidas em
eslylo aphoristico com a ciareza e concisao,
que liie competem; exemplilicandn-as na par-
te practiea com bellas estampas illuminadas,
em quo se acliam representadas as pbases da
evolucao do germc, dcsde o dia 18 da fecun-
darao ate an parlo; e as variadas posicoes do
leto no parlo natural, nao natural, e diflicil :
e dcu niais realce a sua obra, juiictando-llie
em appendice uma colleccao de objcrvacocs
de partos difliceis colhidas no sou paiz e no
estrangeiro.
E summamente inleressantc o atlas de
estampas, que enriijuece a obra. Nesta parte
a sciencia colhcu grandcs auxilios da arte;
e da sciencia bem mereccu o sr. Velasco.
Do rico Museu Dupuytren, que a Mr. Or-
(ila dcve (|uasi toda a sua existencia, faltava
0 conbecimento exacto, e circumstanciado a
quem nao lem visitado aquelle eslabelecimen-
10 grandioso. Teve o sr. Velasco um pensa-
mento feliz, quando cmprebendeu a descri-
pcao bistorica dos objectos, que encerra cada
uma das reparticOes d'aquelle conservalorio
de anatomia patbologica ; e pelo conbecimen-
to, que d'clle temos, parece-nos dignamente
desempenbada a idea do sr. Velasco. E bera
soube aproveilar ensejo o auctor da obra,
dando por essa occasiao conbecimento ao
publico de alguns museus publicos e particu-
lares mais notavcis da Franca, Inglaterra e
Hespanba.
Qualqucr das obras do sr. Velasco mcrece
ser lida. e csliidada. Cremos que escrevendo
assim e que sc lazcm servicos reaes as scicn-
cias, e as arles. 0 sr. Velasco comprebendeu
porfeitamenle o caracter da epocba em que
vive, e respira o ar do seu seculo.
M.
BIBL10GRAPIII.\.
Conlinu.-ido dc pai:. 307 do 3.° vol.
Os Catecismos.
A 1." edicjiio da IntroducrJio ao AmiKo dos Menino*.
terminava pelt) peqiteno catecismo de doutriiia chrisljl
da diocese. A ^.'', ja concluida, contem, depois do
catecismo, al;runs apologos escolhidos de Bticafre e Ma-
Ihao, conservando-se a mesma alterna(;ao de caracteres,
redondos, ilalicos e cursives.
D'estes ijriraeiros exercicios dp leitura a parte princi-
pal e certameute, nao tanto por sua exlensao, como pelii
materia e forma, o petjueno catecismo; do (pml se teni
feito desde o anno proximo, em que saiu a luz, quatro
edicjoes, duas como numero 1." dos LiiYinhos itof/ovo,
a 20 reis, e duas como parte da lntroduc(;ao.
Adoplaram-no, como mui excellente para o ensint) <los
meninos, e por venlura ate inesmo dos adultos, a (pieni
nao possa distrihuir-se um pao mais abundante de dou-
trina evangelica, os Ex.'°"* e Revd."'™ Arcebi.spo Bispo
t.'onde, e Bispos de Viseu. Lamefro, Bra;^anca. e Beja ;
e a ap]irova(;ao mui explicila e motivada do Eminentissi-
mo Cardeal .\rcebispo Primaz le-se nas ])rimeiras papina*
do Catecismo maior, assim como as auctorisacjoes ana-
loKas do Eraineutissimo Cardeal Patriarcha, e do Ex.'""
Bispo de Leiria.
Em olijectos d'esta natureza e este o unico solido e
inconlroverso testemunho . aquelle que a Egreja exige, e
a razao appro\ a. Os priuieiros prelados de Portugal appro-
varam, muitos ado|daram para nso de sens diocesanos,
estes catecismos. O mais escrupuloso catholico niio tern
(pie dovidar da piireza de suas doutriuas. Para nos pu-
r(;m, que, na presen(;a de tantos resumos da doutrina
christa, como jior ahi correm, e fallalldo-nos as necessa-
rias habilitac5es tlieologicas, empreendemos um Iraba-
Iho tao grave, parece-nos indispensavel accrescentar mais
alguma cou.-a, que possa explicar e mesmo absolver-no»
do arrojo.
Defeito, ou nimio escrupulo nosso, tendo feito nso
d'alguns d'aquelles resumos, e procurado ensinar e fazer
ensinar por elles, desagradava-nos em uns a escassez e
pouca ciareza da materia, n'outros a linguagem, ou a
forma pouco adaptada a tomar de memoria as respostas;
e neste nosso conceito haviamos encootrado companhei-
ros incomparavelmente mais intelligentes e melhor habi-
lilados que nos.
Por acaso, nestas circumstancias, livemos noticia de
que o sabio Arcebispo de Paris Mgr. Sibour, prelado tao
iUustrado como apostolico, tinha publicado uns catecis-
mos para uso da sua diocese em 183'i.
Apenas os tivemos a mao, niio so nos pareceu teruio.s
encontrado o raodelo desejado, mas que a mesma neces-
sidade sentida em Portugal liavia sido a causa da con-
fec^ao e publicaijao dos catecismos de Pans.
Na provisao de 15 d'agosto de 1852, que os auctori-
sa , e vem estampada na edi^ao d'esse anno, depois de
se ponderarem os inconvenientes de tocar — '■ nestes ma-
il nuaes da infancia christri, que contem definii;oes e ex-
" plica^tjes gravadas na memoria das gera(;6es, '> — ac-
crescenta-se, que a experiencia havia mostrado ser diflicil
24
til- ili'corar r unteniler o mciimo ultimo catecismo tie
MiT. Afrc ; •' qiif, h iiiataucia? do cIt;ro, e dt'|)uis dc
li.iiis annos d'i*!-ludos c consnltas, se piiblicavam t' adota-
vam OS novos catocismos. coino — x texto mais breve,
-siti^t'lo e claro do tpu' n antecL-dfiite. »
Na tradiior.ru), ([Ui* emprecndcmos, d'cstes cathecis-
mos livfino.-i a luaiur cautela em evitar imo so on jialicis-
mo--i, luas t(j<l;i a ex|)rL'Ssao menos CMiirornn* com o pfii-
samt'iilo da Ki^rnja. Para esse Dm, sriu|ni- quf liv<-mos
diivida, nos snccorriMiins am a li'tra do auli^o v niiii
acreditado Catrcismo do Palrinrchado.
A sin;;»'lfza do texlo IraiiCL'Z Ifiilamoa accrcscentar
um aperf«.'ii;oampnto. NcMe as respostas contL-m sompre
as perfrunlas. irpeliiido-as; o que aujrmenta cansidfra-
velmenlf i» miiiicro das palavra*. que Into dc entrejrar-se
a memoria. N«>s omitUmos a ri'iR-Urao. Quern qucr (pic
rulcjar o mosmo tevlo fraiicez com o portu{;uez, facil-
meutr descubrira, qui- fizeuiQS mais alj^uma cousa, com-
plelaiido-o com aljruns arlij^os, que faltam nos calecis-
mos de Paris, r se encontram em todus os portujjuczes ;
a saber a explica<;ao do — persiirnar, — a Ictra dos^
arti^os da fe — das obras de misericordia, etc.
O catecismo maior faz parte do — Manual de piin-
I ipio.-i e!emtntarissi/tf)s. — Segue-se-Ihe outro — d'Histrj-
ria sagrada, cnncebido no mesmo peusamento de clare-
za, simplicidade, doulrina subsitancial, e facil de tomar
dem emoria. Miiu ou bom, como obra purameute nossa, a
respoiisabihdade iiao recaliira em mais niiiiruom. Ti'mol-o
por iiiteiramentL- orlodovo, exaclo nos factos, e facilimo
d'aprender. Knrarecer a suma cunveniencia de ser liiio
e estiidado nas escholas parece-nos escusado ; por que
nin^uem ha (pie possa nej?ar em boa fe a liga^-ao lao
necessaria, coma admiravel, da historia da religmo com
a sua doutrina.
O Manual comjireende mais as primeiras no^oes de
fjtographia. quaes um menino piide e deve ajirender
xobre os mappas, escriptas a maneira dos trabalhos ana-
logos francezes, isto e, com bre^ es inlerrofiatorios, d'esjia-
(;o a esparo, (pie o mestre deve fazer, subre us mesmos
mappas.
Kste piano <■ o mesmo que se?iitmos. em mais araida
escala, na — Geographia da infaucia^ publicada em
1B50, e cuja 2." edi^ao, muito meltiorada. esta no prclo.
\au so e possivel, e facilimo, e mais ainda i? soljre-
moilo deleilavel e instructi\o para os meninos, este estu-
(in sobre OS mappas ; o qual, diricrido como indicaraos,
p'jde ate ser tornado como desenfadu e rccrea^ao.
A jeosraphia se^ue-se uma brevissima — Hi.-^t'jn'n de
Portugal, entretecida dos factos mats notaveis , aponta-
i\os em proza , e feitos mais salientes, sempre que e pos-
sivel, com a divina poezia do nosso CamOes. Com espe-
cial cuidado entregamos ao pequeno leitor o fio de nossas
?;loriosas descobertas, dos quaes os rezuminhos anteriur-
mente conhecidos nao se occupavam siifTicientemente.
Fizeinos rani saliente, em cada ^rande cjiocha, o facto
ou factos principaes. que a di tinguem, ora pela gloria
e en;:randecimento, ora jiela desgra^a e pelo abatimento.
Estas mesmas notas fundamentaes com 09 nomes, ape-
lidos, e tempo de g:overno de cada rei, ou reg'ente, con-
jitituem no fim do compendio, um mappa ; o qual muito
pode ajudar a memoria , e recordai^ao do encadeamento
drts successos.
Curamos, na gramatica que se segue a historia,
d'amoldar ao genio e ao gosto dos meninos as mais ari-
das nocoes da gramatica geral, e em especial da por-
tu!^ueza, sendo o nosso grande desideratum ^ que os que
apreudessera por ella. e conforme o melhodu da ci>n-
versa^ao amena entre o mestre e o disci])ulo, nao ficas-
si*m com o ledio e ate rancor a estes estudos, que nos
tleixaram os nossos primeiros annos litterarios.
De duas immensas vantagens, que resuUam do estu-
do do nosso compendiosinho, podemos dar o mais seguro
tostemunho, fundado em experiencia; — 1.** que e possivel
aprender 0 maii essencial da gramatica a conversar, e
passear, sem impor tarefa, nem sujeitar os meninos a nia-
caquearem os grander, sentando-se grave e fastidiosamente
a uma raezapara introduzirem, coraoamartelo, na«caheras
om-a-. que Dio comprehendera; "2. "que Ihes e facilimo en-
trar no estudo do francez e do lalim, e dt- qualquer outra
lingua, aualvzando pnunptameiite quabpicr plirazc, <pie se
IIu-s ofTercra. logo (|ue o meslrc os instrua do que ipiereui
dizer OB ternuis. O nosso alumno leiido — miindua a do-
mino cotistilutus tst, era principin de todo o ensino lati-
no, e ajudado do mestre, como d'um diccionario vivo,
annliza gramatica e logicamenle; e pode comp(;ar a
tra(hizir >;enao desde hora «', an menos desde (pie com-
plelou o estudo dos vurbos regulare-.. As regras princi-
pals da sintaxe adipiirio-as briucaiido ; as esjiCciaes da
linsna tomal-as-ha pouco a pouco.
As no<;5es d'arithmeljca, que nuo sao senile a repro-
thi^ao melhtirada da -- ArUhmrtica da injancia^ publi-
cada em 1H50 pfla 1.* vez, e ao presente no prelo em 3."
edi(;ao, silo escriptas debaixo do mesmo sistema, levando
o meaino desde o cinliecimenlo dos numeros ate as pro-
]ior^*oes.
A — Moral practica e rfUgiosa — , (pie fecI:H 0 vo-
lume, e <? a traduc^iio d'um bom livrlnho seguido e apro-
vado em Franca, foi destinado a completar us conheci-
meutos que devem exigir-so d'um meiiino, ao lerminar
a eschola : e procede no mesmo espirilo de singeleza e
clareza, avullando sobre as regras os exemplos, main
fortes do que ellas.
Em tndos OS nossos traballios, feitos de mistura com
(Oitros indispensaveis, e muitas vezes a longos inlervalos.
pela mesma causa, encontram-se muitas iraperfei^ues e
defeitos, que nao e possivel emendar seiiao nas seguintes
edi^'ijes. O mesmo succedeu no iManual. Os principaes
porem sao faceis de conliecer, e corrigir jielo proprio
meslre sobre o e.xerajdar, deque se servirem os alumnus
A. FOR.! A'/.
PiEL\CAO
Dos iudtiHiluris iiomeados por (tvcielr.s dv Gofernn
communicadus ao Consrlho superior cl'inslnic-
Can ptiblira, desde o dia I." air no dia la dn
presenir mc: d'Abril.
I.NSIHUCgiO PRlMABIi.
Por dccrelo do Goveino de 4 d'abril uUimn
foi nomeado Joaqiiim da Costa Assumprao, para
professor ^italicio da cadeira da Villa do Cralo,
districtu do Portalegrc, por Iransfercnela da de
Alcafuzes.
IXSTRlICpiO SECB.NDARIA.
Jose Joaquim Borges Cardoso, para professor
vitalicio da 3.° e 4 " cadeiras do lyceu nacional
da Giiarda, por dccrelo de :28 de marro ultimo.
— Jose Joaquim Fernandes Vaz. para o lo^ar de
porteiro do lyceu nacional de Viaiia do Caslello,
por dccrelo de 4 do corrente.
INSTBCC(AO SUPERIOR.
Jose de .\ndradc Gramacho, para o logar de
demonstrador de medicina da eschola medico-ci-
rurgica do Porto, por dccreto de 29 de marco
iil'iuio.
25
DIOPTRICA.
I.E.NTES ESPHERICAS.
(Conliuuado da pag. 267 do 3.** volume).
11. LenUs conoexjs. Sejam ^ M (fig. 8) iim coKe central d'linia siiperficie esplierica ;
C o cenlro da espliera ; O 31 o raio incidente ; M F o ret'raclo ; FA^=f; O /I — rf ;
srnOjV/iV . , , ,,,..,.
»i = = — r-^a razao cnnstante do sono do ansido d incideiicia nara o doantrulo de retra.
sen F M C ° 1 o
c';:'io na passageni domeio exterior (P) para o interior (Q). 0= triangidos O jl/Ce C.l/ Fdao
03f^ = (c? + r)' + r'- — 2r(d + r) cos e,
FJ/ = =r/— rf + »-^ + 2>-(/— r)cos6,
0.1/ sen e
OM OC OC sen O JJ i\ d + r d -{■ r
FM FM' FC sen 6 ' f~r n(f—r)'
FC ienCMf'
c por consegninle
^d + r)'' + r' — 2r (d + r) coi»_ (d + ry
(/— rj^+r' 4- 2r (/—;■) cos 6 ri^(/— r)=' '^ ^'
12. No c.Tso de ser 6 iniiilo peqiieno de prinieira ordem , esta equaj/io reduz-se a
n dr
•/ = (n — l)d — /■ ■••■(-)/
;i (]ii;il se pode tainliem dar a forma mais symmetrica
7,+/ = "-^ »
1.3. Como a le! de refracf-ao dii somente unia relajHo enlre os senos dos angulos d'in.
cidencia e de refrac^iio , I'lca duvjdoso se o raio, depois de incidir na superlicie AM, deve
todiar a direcgao J\I F , se a J\J F' j e por isso a eqiiaj.'io (1) e do segundo gran. Devendo
porem o raio, no caso de iiaver refrac^ao , penetrar no mcio (Q), e necessario, que, em
virlude das ac^oes dos dois meios, elle encontre o eixo OF, on para ca docentro, ou para
ide'in do ponlo T, oiide a tangente ao circnlo cm Al encontra o mesnio eixo. Logo deve ser
f
f pobitivo , e f — )■ >o; ou / negalivo, e — /+ r > . Foi por isso, que nao aproveitamos
COs 0
o outre signal do radical, quando deduzimos a equa^fio (2): e com effeito este signal daria
ndi-
]= r— , que e senipre posUivo e < r.
•' (n + l)a(-f »■' ' ^ '
14. Se dit'l'erenciarmos a equagao (1) em ordem a/e 5, acliaremos , attendendo -X
inesn)a equajfio ,
*/_ if—rf sen e [ry- (/— ?-) + rf+r]
F6~ {.d +/■) [{f—r)co% 9 + »-J
Por onde se ve, que, em geral, para angulos a infinitesimos as variagoes cJ/serito in-
finilameule mais peqiienas do <iue para angulos 6 finitos.
Para 6< 90°, — e' negalivo quando/-^ re posilivo ; conseguintemente , quando o foco
o ft
e real, o ponlo F approxima-se de A ao passo que 6 cresee.
15. Lentes concavas. Iim logar de I'azer nova construcgao, e novos calculos, para as
leiiles concavas, podemos applicar-llies as expressoes, que achamos para as lentes convexas,
mudando nella^ r em — r. A concavidade I'icara voltada para O, e as linbas positivas ainda
(_se contarao na figura de O e ^ de cima para baixo : pelo que, se quizessemos conlar os f
26
posilivns de bai\o paracima, islo e, para o lado da concavidade, seria iiecessaiicj miidar/
era — f; o que lambeni se obleria, como deve ser, mudando somenle d em — </.
Fazeiido pois r negativo Das eqiia^Oes (1) c (2j, (;i), terenios
((/ — ,■) ^J^r^' + ^r jd — r) cos 0 ('/ — r) '
(/+'')^ + '-' — 2r (/+r) cose """"(/+'•)■'
•(•1),
■(^). i-^7 = -^--(«)-
(« — 1) d + r ' ' ' •" a! '/
16. Se nas equajoes (4) e (6) suppozermos fa distancia do nbjecto , c luiidariiio? n
om^^', achaieinos, chamando/' a distaiicia focal,
(/'+>•)' + >■' — g>-(;' + r) COS 6^ (/' + '■)"
(/— '■) ^ + r " + 2 ,• {f— r) COS 9 " « ' (/— /•)" '
1 n 71 — 1
equajoes , que coinparadas coin (1) e (3) d.^o d=f. Dondc rejiilla, que o raio biiniiioso
refracto O M F, se relrocedesse pela direcj'io FJJ, iria cnconlrar o eixo no poiilo O, isto
<■' , que o foco e o objecto sfio leciprocaiiierite objccto e foco urn do outro, ou que os poiitos
O e F sac /ocos conjugados.
17. Lcntes compostas. Snpponhamos ajjora a lenle bi-convexa (fig. 9)]; en, — , , as
razues dos senos dos angulos de incidencia e de refrac5ao na entrada e saliida da leiile em
M c ^1 (fig. 9). Os raios refrattados pela leute na entrada viriani reuiiir-se no poiilo P ,
que, fazendo AP-=.x, e suppondo o infiiiitesirno, se acliaria pela formula (.3)
1 n n — 1
d+'^- -•
" X r
Mas a face Q ^M' Q,' da lente faz experimentar ao raio na saliida uma refrac(;'io , em
virlude da qual elle corta o eixo no foco F ; logo, se o raio relrocedesse pela direc<,"ao F M',
toniaria a direc(,\'io AI' J]/, e per conseguiiite seria /' o seu foco. Applicando pois aequajfio
(3), e altendendo a que nella se deve toinar enlao como negaliva a recla ^' P , que na
equajao preccdenle se lomou como positiva, teremos, fazendo A' F = x', e cliamando e a
espessura da lente,
1 „' ,i' _ 1
ic' X — c r'
Fiiialnieuie cliininando x entre eslas duas equacoes, teremos a distancia focal
r' ^ 7ir'd — (n — l)ed-\-r(>
n'— 1) ^nr,l — {n — l)(:(/ + r(\ + n' r' ^ (n — 1) d — rl
Se o raio passa do ar para a lente, e da lente para o inesmo ar, e k =rn' ; e ■ic nesse
caso se despreza a espessura da lente, e se chama/ a distancia focal principal.
tenit
1 1 1 ?j— 1 n-
x'^d~f~ r +' .
18. l']m geral supponliamos um ponto collocado no eixo cominum de muitas limtes
convexo — concavas (fig. 10), ciijos raios sao r , i\ , ?■.,•■..-. ; separadas as siiperficiei
iinias das onlras pelas espessiiras c , e,, ; e taes que nas passageiis successivas <lo
uieio d emiss.'io para a primeira, e d iitnas para as oiitras, as razoes dos senos d(js angulos
d'incidencia para os senos dos angulos de lefracgao sejarn w, : I , n.: 1 , "^ : 1 , ^ '"
cllamenios z^, %,, %.-,..,. as distancias dos sens vertices aos pontes, nos quaes o raio refra-
ctado por ellas, coino se cada uina fosse a ultima, enconlraria o eixo.
S7
Poslo isto, 36 pela incidencia na superficie da oideni («' — 1) (fig. 11) a dislancia do
vertice d'ella ao foco deveria ser %,_, , a distancia do verticc da scguinle da ordem (i) ao
inesmo ponto seria S(_i — «,_,=;:;';_,. Mas se o raio, depois d'incidir na superficie seguinte
da ordem (i), e tor zi por dislancia focal ao vertice da mesma superficie, retrocedease , o
sen foco estaria a distancia ::',_,, sendo 1 : mJ a razao do seno do angulo d'incidencia para
o de refrac^fio nessa volta. Conseguintemenle, applicando a formula (6), e fazendo nella
'.' i_i negativa, lerianins
1-1
1 1 n, .. _, „ .
",
I eremos assim a serie d"Fqua9oes :
d -^n. r, ^
1
v„
n. — l
^3
>-..
_'!« —
11^ — \
(7),
H. — 1
-f-i— c,_, s, J-,-
entre as quaes eliminando as a — 1 quantidades z, , %,, ~-.^, ■ ■ ■ ^i-i j acbaremos iima
equaCj'ao final em zi, que fara conliecer a distancia da ultima jente ao foco.
Por exeinpio, fazendo i = 2, ?ij = — ^, e suppondo r, negativo, estas ecjuagoes dao
1 ?l, ?!, — 1
•— 1
que s/io , como devcm ser, as dadas no n." 17 para uma lenle biconvexa. %
]9. Podemos nas equagoes (7) usar dos indices de refrac^'ao »«, , '"^ , '"3 ? • • • de
lodas as lentes na passageiii do ar para ellas , isto e, substituiv em logar do n^ , n^ , n^ , . .
;is expressoes n^^^m^, n^=z^, n^ = — 5 , . . . n;= -; o que transforma aqiiellas
equa(;nes cm
•m.
TO,
m, — 1
• — —^^~—
^1
»".
TO^
_ m^ — m^
*2
»".
'"?
?»3 — 'W,
»/!. r_^ , ™ ■— I TO ;— I »" i— 3
Sj-. — e._.
:l_ + - =
(8),
(9).
28
que sommadas, e tomando o indice , desde o limite inferior ale o superior, dao
Tcrenios pois, usando das cqiiagoes (7) on (0), a distancia focal para um numero i de
lenles dc faces convcxas para o objecro ; e qiiando al^iimas das faces se lornarein concavas
ou planas, fare.uos negalivos ou infinilos os raios respeclivos. Qiiando se desprezarem as
espessuras das ientes, desappareceru o sornmatorio, que entra no priraeiro meinbro da equa-
?ao (9) ; e esta equa^ao dani immediatameiite a dislancia focal z, .
Siipponlianios, por exeiiiplo, (pie o sysleiiia se coinpoe de dois vidros, um biconvexo, e
o oulro concavo-convexo, ajiislaiido-se a segunda face do primeiro com a primeira face do
segjiiiido (fifr. 12). Nesle caso sac r, , r^ , uegativos, ew, = l. Desprezando pois aespessura
da lente, a formida (!)) dara
1 1^,„,„1 ,„,-,n m,-l
d ^s ■>-, ■>■, »-.
E no caso de ser plana a uUima supcrficie, ou r^ infinilo,
1 1 TO , — 1 TO I — ?;i .
Adianle verenios, que esle systema e o, que se emprega na construcgfio das lenles
acliromaticas ; e por isso mencionamos aqui a formula respecUva.
20. Se o angulo do raio incidente com o eixo nao fosse muilo pequeno, applicariarnos
successivamente a cada Icnte, em logar da equa^ao (3), a equa^ao (1), semelliantemenle ao
que fizemos nos numeros 17 e 18 ; mas em cada uma dellas subsliluiriainos por o o sen valor,
ou ajuntariatnos ao systema d'equa^cies assim formado as reIai,'oes, que na figura ligam os re-
speclivos 6 com as oulias quantidades.
Por exeniplo na lenle biconvexa (fig. 9), fazendo C M P—C P M=i/, leriamos o systema
d'equagoes (1) applicadas ds duas laces, e as relagoes deduzidas dos Iriangulos MC P,
AVC'P,
(d + r)^ + r^ — 2»- (d + r)cos ^ _ {d^r)''
{z — r)'^4- r^ -f 2r (^i; — r) cos 9 n'- \% — r)'-'
1 >
•="'.^'0.'/ ,_2r 11 sen(0'+P) -. + r' _ e .
r^^'^^-a-^^-^' sen/> =—F~' > ^"^
(:.' + 7-') ^ + ,■' ^ — 2 r' (::' + r') cos 9' (i' + r')
{—:. + « — »■') ■= + r' ^ + 2 r' (— ^ -f t — r' ; cos e' n' ^ (— x + e — r') ^/
as quaes dai iain conseculivamenle ti, y, P, e', ::'. No caso de ser e muilo pequeno de primeira
ordem , as ei|ua<,'6es segunda, lerceiia e quanta, moslram, que s.'io da mesma ordeni y, P , 0' '•
conseguinlemente a primeira e quinla das niesmas equagoes reduzir-se-lifio as duas do 11. ° 17.
21. Differenciaiido as equayoes (11) em ordem a 6, teriamos cinco equagoes, que dariam
»-. Sti SP S6' S%'
consecut;vameme _ , _£ , . — ., — .
*6 * a J 6 .J 6 Si
i ■'
A expressao de _J1 e a medida da ahtrra(-ao d' csphericidade , islo e, da dispers.'io dos
pontos, onde os raios huiiinosos, depois de refractos, encontram o eixo; e por isso, quaiido
se construem as lenles coinpostas, deve determinar-sc ao menos um dos raios, por exempio r' ,
pela condirao de ser — 1 minimo , islo e, deve satisfazer-se a condicfio 1- = o. As
Ientes, cujos raios e dimensoes sfio delerminadas, de modo que nellas nfio seja sensjvel a
al>erra(;iio d'espliericidade , chamam-se aplanaticas.
Ha oulro defeito , deque adiante Iractaremos , proveniente da dispersuo das cores, de
que se compoe o raio branco, devida a diversa refrangibilidade d'eslas. As lenles, nas quaes
elle e corrigido, cliamarn-se acliromaticas.
© Jnstitiitit)
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
lJJilVERSIDADEDEC0IllB8A-PR0GR4HMAS.
FACULDADE DE DIREITO.
1853—1854.
5." ANNO. — 15.* CADEIRA.
DF PlUELECTIOMBt'S HERME.NEUTTCIS , AKALITICIS, ET
DIPLOMATICIS.
ProTessor — D- Emmanuel de Serpa Macha'io.
Suae ni:ijedlutis a coiisiliis, dignusqtic regui jiar.
Triplex est oI)jecliim sindii e! diisciplinae h"jiis cathe-
drae, quod m IribiiB partibus recte dislrtbiiilur ; qiiariim
in prima de Herraeneiilica aiit polins de re Hernieneulica
agiliir ; in SfCiiiiJa de e\ercitaliune ipsitis artis el scien-
tiae, et applicatione siilisiilionini , senlenliiirnin , et rrgu-
larmn ipsiiis artis ad leges ob\eiiienles , qiiibus regitiir
Lmilaiiia nostra, el corpus Juris Lusitani conslituur.l ;
nc it) terlia et poslrema parte de re diploniatira , tarn
penerali (piam speriali el domeslira apiid nus rognila ,
Liisitaiiiaeqne \ iiidicala : et in tribns irs parliixis sen
tilulis omne islius aunl stiidium , nd nostrum onTiciuni
attin-Tis . al'sohilur.
Duchina aulem uninscujueque liluli in varia dislriluii-
Itir capita; ii«m [irini/i pars, si\'e Iituliis, octo conliiiet
capita ; quornm in primo Iradere opurtel Aeras iiuliones
aitis, vel scientine Hermenenlicae , lam generalis, (piam
Bpecirtlis , el juris, el quaedam adjtciam de illius vuca-
buli elyniolo^ia, usu et dcrivaiione. Caput secundum sil)i
tjndical defiiiitionem inlerpretJilioiiis , ipsinsque divisio-
iiem (am a veleribus, quain a rerenlioribus si-riploribiis
lactura. ][) caplte lertio liisloria artis el scienliae Herine-
neuticae Iradititr. Quarto in rajiile ralinnem dabimus
de libris el scriplnrilms, qui rem hermeneiiticam , vel
generaliler, rel prout arleni etscietilium Iractavere. Dein-
de quinto In capile snlisidja Hermcrieulicae brevitpr, sed
sigillatim exponentur, et singuli parraphi sunm quodque
eubsidiiim sibi vindicabuut , prout ampliludo doclrinae
puslulet. In sexto canones et sentenliae Hfrmeneulicae
tradentur, et quamquani alii et aliae promiscue, et minus
accurate usurpabuntur, altanien de allerutris pro re nala
loquar, servata eoruni diO'- reulia el dislinctione. Sequi-
Inr in capile septimo solutio dnliiorum el cuntro\ersia-
min J quae oriri possiint in aliqua doctuna anleccdentium
fapitum, quae gpecialem explanalionfiu requirunl. Ac
landem in octa\o capite iliaui milhoiju'u , quam adlii-
bere opo^l^'t in unaquaque parte Imjus durlrina**. Sed
sin!*nla capita aljquas adiiolaljuues tl obsenatiunes de^t-
deranl, quas el dottniia t-l exemplis pro re nala exor-
nabjmus.
Ecce pro2:ramnia eliodfx (uimacopusmli parti?. Nunc
venianius in secunitani , qua, nt niiper fxpn.suinius , excr-
fiUnlur siibsidia , senleiiliae, el regulae llerniencuticac
Juris , et appbcantur singulis le^ibus ob\enienlilui9 , qui-
bns resimur. Qnum aiileui Lusitanae leges vel ?int inter-
Vol. IY. Maio 1 -
nae el dumeslirae, vel adventiliae, in illis anle eas exer-
cilaliones iucipi'-mus. Jus Aero inlernum el dooieslicnm
est tarn scriplum quam non sciplum et consueludiiiarium,
et illud anteire debet. Sed jus scriplum aul invenilur
collectuin put>lira aurlor title, ^eluti Cudex Philippinus,
Codex Coinmercii, Codex Judicialis, Code\ leguui lunda-
menlalium, vel sollicitudiue pfivala elaboraluin , veluli
colleclio legum edila in offi'ina Viccnlina , alia siibse-
qiu-ns al) enierito nia;;istr»tu I'omposila Delaado , et Ipsa
le;;un) mililarium rolleclii) , jampridem a Vicenlio Jose-
plio Ferreira Cardnso editta, sed alii el aliae, codices.
et collertiones , c<-nlinenl jus publicum et jus priv.itum ;
et hoc jus privalum compleclitur el jus civile el crimi-
iiale , quurum illud ^eI aif jutlifiuni , vel ad officium nia-
eistraluuni , lel ad cummerciuni et jiuliciam relpublicae,
et eliam ad jura clvium et oblisatitmes , quae oriunlur ex
conventiuiiibus , ex quasi conlractibus , ex legibus , vel
sub nomine jiirinm rcaliuni \enire ?olent . spectanl. At
vero in sin2;uli9 pro^inriis tanlne jurispnidenliae adpare-
bunt exercilalion'-s Hermeneulicae , quae viam aperiant
tiruriibue. ut pus^int , drtla opera et occasione paribus
Icgibus scifnliaiu exe^eticam cl hermcneuticam suis \iri-
bits et studio ft-liciliT exerrtre. Elenrhus aulem to tins
hujiis doclrinae non aniecedit , sed subsequitur illara
secundam hujus opnsculi partem ; nam numerus legum
interprtlandanim maxime a ralione lemporum pendet.
Siibjicere aulcm opurlet , tliio es-e media eniirleandi
juris exegeticc ; aliud |pre\'e , arclum , el corapendiosiim ,
aliud acroamaticum anq)lissimum , et \eluti in niodum
disseilatiouis, De hoc parce , de illo uberrime uleraur,
Maleriam praebcl lertiae hujus opusculi parti , el hnjus
cathedrae studii . secundum Arademiae in^tituta, res di-
plomalit-a, maxime Lusilana quae nos rationcm cognos-
ct*ndi genuilalem publicomm dociimenlorum veleruni, et
disliniliunem inter verus el suppusilos, dubiae incertae-
que vocis. Qrnim aniem varia el di^prsa sinl media rt
arfiriimciila ad oblinendani intaiila re\eritalem, (piodcum-
que medium singuliim caput const il nit, Priniiini liuruni
capihim Paleolugiam continebit , scilicet metliodum judi-
caiidi de geuuitale documenlorum secundum liuguani ,
qua scripla fuere , tl capite in hoc cadit investigatio
iiliomaiis, dicendi et seribendi generis, et orlhograpliia
documenlorum. Caput secundum ad Paleographlam alii-
net, nam lilterae, eorumiiue furma liocnmentorum verila-
lem leslanliir. Caput tertium refertur ad exainen maleriae
subjecli^ae documenlorum, vclnli Ii;;ni , lapidis, melallo-
rum , eburis, buxi, mall liau)niae , quercus , papyri,
membranae , nee non attramenli , sive roniniunis, sivp
a?iri , ac aliorum coiorum, ac denique quod nttinel ad
scripturae instrumenta, scilicet caelum, calamiim , pini-
cillum. Caput quartum ad documenlorum formam me-
chanicam maxime special , id esl , ad versiim , marginem,
verborum divisiuneni, parrapbum , inlerpimctionem , ac-
cenlum.
Capite in qtiinio de formulis asilur , quae pertinenl ad
notarios , at! Ifstes , ad dies adscriplns , ad sigillum \el
signum, ar ad divisionem documenlorum per litleras A
B C. Capul sexlum ad chirographa , snl)Scriplion<s ( t
rubricas labulariortim refertiir
Dijctrina sigillomm el signurum in septimo capile con-
tinelur, quae a Diplomalicis tlirilur — Ars Sphragislira.
Denique hi.-toria arlis vel scieiiliae Diplomalicae , illius
librornm el scriptornm notilia in caput octivum relega-
lur. Eoqne ordino doclrina et argumenlum rei Diploma-
licae absolvilur,
1855. Num. 3.
30
MOSTEIRO on SANCT\ CUBA
DE COIMBB.V.
Qucm diria, que os vicosos sinceiraos, que
orlam liojo as aprasiveis mar^^eiis do Momloso
cerca de Coimbia, se elevani subre deslrocos
dc columnas sccubires, iiras sagradas, e re-
liquias dc mortos?
Quein, ao ver em noites d'agoslo os fol-
guedos e caiUares dos canipouezcs nos areaos
do rio, poderia scquer imaginar, que, onde
cntao vibram as cordas da viola, ja resoaram
harnionias de orgaos saudosos, e caulicos de
virgeiis consagiadas ao Senlior?
Um mosleiro real, e trez conventos se exten-
diam niajestofos pela beira do rio, que ainda
cntao corria I'undo e euroihido ; d'estes resta
apenas a memoria nas iliionicas das oidons
rcligiosas, cujos eraui; d'a(]uelle soniente e\is-
tcni as valenU's paredes do toniplo, cobcrlas
de musgo, e bera, os portaes e canipanario ;
e, atravez das eslreitas frcstas ol)scrvani-^(^
as naves clicias de agua e lodo, as columnas
quasi submergidas, uns longes dc arabescos,
e algumas iararias esboroando-se.
Neste seu presadissimo lempio, cm com-
panbia das virluosas lilbas de Sancla Clara,
crera a Rainba Sancla Isabel, teria mansao
perpclua o seu cadaver: assim o detcrminara
em testamento, e ate lizera collocar em sitio
de sua escolba o moimento, que, aiiida cm
vida, e sob sua direcciio, mandara construir '.
Contra riou porcm o Mondcgo tao piedoso
proposito; I'ez-se, dc bumilde ([ue era, sobcrbo
e arrogantc, elevou o alvco, transpoz as mar-
gens, e dcpois de submcrgir a freijuezia de
S. Cucufate, e os cniiventos de Sancla Anna,
S. Uominijns, e S. Francisco' , invesliu o
Mosleiro de Saneta Clara, cujos dormitorios,
<; officinas, foi de anno cm anno demolindo,
e convertendo eui cbarcos insalubrcs.
A principio solTreram as freiras paeiente-
mente as descortczias e olVensas de tao ruim
visinbo, por conta do amor que tiniiam ii
casa, c respeito que tributavam a Saneta, sua
bemfeitora, que receavam desagasalbar ^ ; re-
dobraram pori'ui as furias do rio, e seria
tenlar a providencia qucrer-lbes resistir.
' O padre Jose Pereira Bayam descreve este moimeD-
li> no seu Portugal glnriitso e iilvstrado — \A\. 4.° —
pag. 309; vimol-o muitas vezes no euro debaixo da
egreia do novo mosteiro, ao lado direito, cercado ile
lazes e (lures nos dias feslivos da Rainlia Saneta.
■^ A freguezia de S. Cucufate, confinava com a de
S. Barlholomeu, e exiendia-se ate ao rio da parte do
nascente; boje nem apparecem vesti}rios da epreja, nem
das casas dos freguezes. — A infanta D. Branca fiindnii
em 12'£7 o coJiveiHo de S. Damingos, que ficava nesta
fi'e(;uezia. O roiweftto de Sanrta .tuna fui fundado em
1174; ode .S. Franchfo fui fnndadn pelo infante D.
Pedro, Dlho de D. Sancho I, em 1247 para 1248, segun-
do a melhor opiniao.
^ Ja era tempo da Hainha Saneta amea(;arao mosteiro
o rio com uma esi'antusa enclienle, que foi causa de
mandar fazer iima tribuna alta, e collocar nella o seu
tu nulo, El-Rei D. Manoel curoi'adecido d'aquelies des-
Requereram a I). Joiio IV, qtie, assim como
liavia reslaurado o reino do doniinio de Cas-
lella, Ibcs restaurasse tambcin a babilarao,
livraiuio-as da tyrannia do Mondego.
Dcreriu-llies el-rei, niandou edilicar novo
mosteiro, eucommcudando o cuidado da obra
a 1). Antonio Luiz de Menezcs, Conde de
Canlanbedc, depois Marquez de JIarialva, e
a planta do edilicio ao engenbeiro mor do
Reino, Fr. Joao Turriauo, monge bencdic-
tino ' .
No monte da esperanea, a 3 de julho dc
1049, se lancou a primeira pedra; e com
quanio, dcsde esse dia, se trabalhasse con-
tiniiadamente na obra, so ao cabo de 2S
aniios se concluiu o mosteiro^.
Real por tao cximio fuiidador, iifio o c
men OS pela traca, e grandcza.
Tcm dois vislosos mirantes, cada um em
seu extremo, olbaiido ambos para a cidadc.
Um portico sumptuoso corresponde ao d'lim
e\lenso paleo, onde se conserva ainda, li\a
no solo, uma grande cadca de ferro, inulil
monumcnto do anligo privilegio dc Coulo \
0 lempio e magnilico, de arebileclura ro-
niana ; os retabolos dos altares rcprescutani,
cm nu'io relcvo, os factos principaes da vida
da Rainba Sancla. Em 2(i de junbo de Ifl'.Ki
0 sagrou com grande solomnidade o bispo d((
Coimlira, D. Joao de Mello*.
Com quanto so acbasse ainda por coucluir
em 11)77, i)orque o estava ja a esse tempo
0 mosteiro, accordoii-se, se tizesse a transla-
dacao da Saucta, e das freiras no dia 29 d'ou-
tubro d'aquelle anno '.
EIrei D. Pedro II., cnlao prineipe regente,
tomou singularmente a peito o celebrar esta
I'unccao com toda a pompa e majestado.
commodos, intentou mudar d'alli o mosteiro; mas comu
ainda enlao u damno, que se padecia, era menor do
que ao dejjois se seguin, nau qiiizeram as religiosas deixar
o ber^o, em que a Rainha Sancla as creara. — Vid.
Portugal gloriQSO — pag. 317.
' Fr. Joao Turriano, filho do Arcliilecto Leonardo
Turrianu, entrou na ordem dos benedictinos era 1629,
na edade de la annos; foi nomeado professor de mathe-
matica na universidatle de Coimbra por El-liei D. Joao
IV', e, alem da conslruc(;ao do !Musteiru de Sancla
Clara, dirigin a das capellas jirincipaes das Ses de V izeu,
e de Leiria, e os trabalhu^ das furtifica^o<'S do reino,
etc. — Morreu em 1679 — vide dictiuniiaire tiistoricO'
ttrtiatique du Portugal — Par le Comte A. Raczynskj.
^ Foi Manoel de Saldanha, reitur da L'niveriidade, e
que morreu bispo eleitode Coimbra, que lanijou a primeira
pedra. ajudado pelu Duutor Fr. Manuel da Ascensao»
abbade do cullegio de S. Benlo.
' Os mostciros, que se denominavam coutos, alem
d'outros privilegios e exemp(;oes, erani cumu azylos, onde
podiam acolher-se os criniinosos, na certeza de nao po-
derera ser ahi perseguidos ])or quaesquer justifjas.
"* Vid. Port, glorioso e illuslradtt.
"• Preveniu-se uma casa grande, que servisse d'egreja,
e euro, dividida pel»> meio. O bispo de Coimbra, D. Vr.
Alvaro de S. Buaventura, julguu u mosteiro em forma de
clausura, e obrigado das legitimas queixas, e supplicas
das freiras, permittiu a lraslada(;ao. O templo, so pas-
sados 19 annos, ^ que recebeu o corpo da Saneta, proce-
dendu-se a segunda traslada<;rio com tanla pumpa, e
majniDcencia, conio na primeira.
31
Mandou a Coimhra a Iraclar de sens aprcstos
0 consellieiro d'Estado, Marquez d'Ariouchcs,
c 0 Yisconde D. Diogo de Lima, com o se-
cretario Roqiie Monteiro Paim; e cm scguida
OS titulares necessarios para levar as varas
do Pallio c borlas do giuao, que com outras
iill'aias preciosas offerewra para servico da
Sancta '.
Oito Bispos', a Clerczia regular e secular,
selenla e duas Freiras, todas as Irmandades,
c, Conl'rarias, a Corporacao da Universidade,
as Auctoridadcs civis, a Camara, etc. com-
pozeram este solemnissimo Prestilo\ e para o
ver, evenerar a Sancta, concorreram das va-
rias provincias do rcino innuraeraveispessoas.
For trez dias se abrazou a cidade cm lu-
minarias, e o ecu com fogo de varias vistas;
por mais tempo duraram as justas, os concer-
tos dc musica, as dancas, e outros generos
(le divertimentos, usados naquellas eras, e
line seria loiigo memorar.
Bous tempos cram a(]uelles, em que os Por-
liiguezes, por tao dill'erentes modes, tesle-
iiuinhavam sua veneracao a Piainha Sancta.
Ao presente, apenas meia duzia de clerigos
(a quem por escarneo denominam o cabido
' Foram estes titulares o Marquez das Minas, Conde
lie Fi;;i]eird, Conde da Feira, Conde Barao, Conde de
Sjure, Conde de Sancta Cruz, Conde de Aveiras, e Vis-
conde D. Diof;o de Lima, que levarara as oito varas do
fiallio, vestidoscom osniantos, cada mn de sua cavallaria.
O Marquez d'Arronelies levou o Guiao, sen fliho, Antonio
Uozendo de Soiiza o eordiio da parte esquerda, e o Conde
da Ponte o outro cordao da parte direita.
■* O Bispo Conde, os de Pernambuco, Lamego, Vizeu,
Porto, Portalcgre, e Miranda foram os avisados; compa-
rcceram ])orcm alem d'estes., os bispos de Tarf,^a, e S.
Tliome. — Estas, e muitas outras particularidadcs podem
M:r-se na Rtlarito histnrica da seguiidajrasladardo de
S. Izafiel, Rainha de Purtugal^ — J677- — jiutdicada na
rcvisla litteraria dt Parlif — -vtd. VII.
■' Determinara a Rainha Sancta em sen tcstamento.
que OS ossos da Infanta D. Izabel, sua Neta, filha d'El-ltei
1). Affonso 1\' e da Haiiilia I). Beatriz, descan^assf.'m
juncto dos sens. Por isso no dia 30 d'outubro, ininiediato
ao da trasladac^iio da Sancta, se procedeu a da Infanta.
Abriu-seo t\imnlode pedra,em quese acbava, na presen(;a
de Roque Monteiro Paim, e dos Bispos de Coinibra,
Rliranda, Targa, Lamego, Pernambuco, e S. Ttionie;
este ultimo tirou d'um cai\ito de madeira, que se aclia^a
dentro, os ossos da Infiinta; limpou-os, e envolveu-os
em uma toaiha de tiolanda ; e depots de os metter em um
caixao forrado de tela de jasmin) encarnada, com ferrajie,
c pregaria dourada, pegaram nelle, e o conduziram ao
novo niosteiro o Marquez de Arronches, e o das Minas,
sejuindo-se diante a religiao de S. F'rancisco, e acom-
panliando-o os bispos com toclias accesas, e os condes,
que vieram assistir a trasladai^.lo da Hainlia Sancta. A
luadre ,\l>badeca, escri^a, e discretas, e a mais com-
inunidade o esperavam com cruz al^ada e toctias accesas,
e o levaram. depois das declarai;oes do costume, para o
coro do mosteiro, onde Ihe fizerara o officio da Egreja
com loda a soleranidade. — E d'esta princeza o tnmnlo,
do lado direito, que, ao presente, se acha no fundo do
templo. — Os AA., {[ue descrevem esta solemnidade,
nao fazem men^ao da traslada(;rio da outra princeza,
que occupa o tumulo correspondente ao da infanta D.
Izabel, no lado esquerdo do templo; cremos, (pie e da
Infanta D. Maria, fillia d'El-Rei D. Pedro 1.°, casada
com D. Fernando, Infante de Aragiio. — Vide mappa dt
Portugal — por Joao Baptista de Castro — jag. 390.
da Se Cathedral de Coimbra) vao todos os
annos proccssioiialmente ao Mosleirn de Sanclii
Clara ceiebrar uma missa no altar da Bainha
Sancta, no dia 2!) d'outubro.
A camara municipal coslumava acompa-
nhar o cabido; porem desde 1834 tem deixado
de cumprir este picdoso dever '.
R. DE GUSMAO.
TUMULO DO BISPO DE COIMBRA
D. TIBURCIO.
yuus vous arrHez devani cc
lomtieau poudreux, sur le
/jufl est eouchee lafigure
(ji)tkique de cet Evt^que, rf-
v^tu de ses habits poiitifi-
eauxy les viaiiis jointes,
les yenx ftrmes.
chateaubria:vd.
Embebido na parcde, juncto da sacbristia
da vcllia calbedral', esta o majestoso vulto
do prelado conimbricense, rcvestido de habi-
tos ponlilicaes e mitrado, na devota poslura,
que dcscrcve o A. do yenio do chrislianismo ' .
Inspira religioso respeilo a estatua collossal
de ]iedra amarellada, debaixo d'um arco
simples, cavado no muro antigo; convida
porem a mais seria meditaciio a jazida d'este
bispo na calbedral, que regera, ao pe de seus
predecessores, com todas as insignias do pon-
tilicado.
Acbarani suas cinzas decoroso agazalho sob
as abobedas do templo, em que exercera as
funccOes do sacerdocio, em toda a plenitude
do poder, e rodeado dos esplendores da pom-
pa religiosa.
Em paiz estranho, na Se de Toledo, repousa
ao contrario, sob uma campa rasa, sem em-
blema que denuucie a majestade, nem epita-
pliio que rccorde o nomc \ o monarcba por-
tuguez, a quem, subdito desleal, ajudara a
privar da coroa, e impellira para o exilio\
Cerrando os olhos longe da patria, Sancbo
volvia-os para ella com saudade, e pedia
alguns palmos de terra no reino de que fora
senbor, para dormir o loogo sonuio da morte
' Tem resa propria no breviario romano a traslada^ao
da Rainha Sancta, e no seu dia, 29 d'Out\ibro, ainda
costumam le\ar-lhe uma gallinhabranca algumas piedosas
aldeas, em reconhecimento de recuperarem pela sua in-
tercessao o leite ja secco. Na vespera, e dia 4 de julho,
em que se cidebra a sua fesla, vai a Cori)ora<;rio da Uni-
versidade em Prestito ao mosteiro assistir a esta functjrio.
^ O P. Antonio Carvalho da Costa, fallando d'este
bispo na sua ehorographia pnrtugueza — Tomo segundo —
cap. 1. — pag. 8, diz, que estti sepiiltado na capella niiir
na parede earn um arco da parte di evangelho. Enganou-
se; nem na capella mor existe al^um tumulo, nem ha
vestigios de que uella estivesse.
^ Genie du chrislianisme — Tome VII , pag. 10.i
(Sixieme edition).
■" Elogios historicos dos senhores reis de Portugal,
escriplos por Fr. Bernardo de Brito, pag. 35.
■' No concilio celel)rado em Leao de Frani;a no anno
de 1245 sob Innocencio IV, requereu o bispo D. Tiburcio,
e D. Joao Egas, por parte do estado ecclesiaslico, fosse
32
juncto das cinzas palernas; a verba poreni de
seu testamento, pela qual semandava sepultar
em Alcobara, nao se cunipriu, como devdra.
Delialdi! preliMiderani os nionges, que se
Ihes cnlrefjassc o cadaver do Principe por-
luguez; dohaldc o ordcnoii o proprio liinocen-
cio IV ao prelado Toledaiio. Nem vivo, neni
morto Sanclio II dcvia toriiar a traiispdr as
fronleiras dc Portugal '.
Lamenlemos a fatal ignorancia d'aqucllas
rudes cdades, era (jue unia politica desar-
razoada auctorisava tao escandalosos proce-
■ dimeiitos; e vejaraos o conlraste suldinic, (jue
lies olTerecc o Hispo e o Alcaide de Coimltra,
naquella famosa cjiociia.
D. Tiburcio, uiiuistro d'uma religiiio de
paz e caridade, corre a Leao a accusar seu
legitimo sobcrano perante uni juiz eslrau-
gciro'': pede ao Papa lunocencio IV deponlia
o principe, que consumira os mais belios dias
da mocidade em combatcr os ininiigos da Fe.
D. Martini dc Freitas, creado entrc os
rancores das batalhas, consultando sonientc
OS brios de cavalteiro, e os dictamcs dc liel
vassallo, defende o castcllo, que Ihe conliara
0 seu rei, e so o enlrega ao irmao, dcpois
de ccrlificar-se, com os proprios oihos, na
antiga capital da Ilespanba. que era linado
0 senlior, a qiiem tizera preito, e mcnagem.
Parando em frcnte do tumulo dc D. Tiburcio,
apcrla-sc-nos o coracao, ao recordarmo-nos
das anguslias, com que amargurara os dias
d'aquelle desditoso monarcha; divisando as
venerandas reliquias do vetusto castcllo^,
dilata-se-nos suavenicnte o jieilo, na comlcm-
placao das mudas testemunhas do prodigio
de lealdade de Martini dc Freitas.
Que interessante licao iiosolTerece a bistoria
dos dous personagens!
B. DE GUSMAO.
CEKCA DE BLSSACO. '
Mata e edificios.
A conbccida mata de Bussaco, com o extin-
cto conveiilo dos Carmelitas descalcos, occupa,
iia cxtreniidade N. da scrra do mesnio nome,
Sua Sauclidade servida de privar da administra<;uo do reino
a el-rei D. Sanctio, e 8ubstttuir-lhe no governo d'elle a
s!'u irmrto D. AfTonso, conde de Bolonha, a cnja peti^uo
aimuiu o sunimo ])onti(ice,
' Hisloria de Portugal por A. Herculano. — Tomo
segundo — paj. 430.
-* PorlugueEe8nosconciliosg:eraes. Por Antonio Pereira
lie Figiieiredo — pag. .'13.
■• Veja-se a descrip^'iio d'este monumento, que publi-
ci'tmos na revista universal f^sbonense — Tom. I.
■* Tem-se querido achar a etymologia de Bussaco na
I alavra — Boral — cnui que (ienominavam um negro
malvado, que se diz ter vivido nesta mata; na inversao
das palavras — saco-bus — cum ipie respondia umdevolo,
lias vizinhanras de Bussaco. a (piem Ihe pergiintava o
provelto lias suas visitas a niata, como inciilcando o silen-
cio — bus — que '■aca^a ou ajirendia a giiardar naquella
a parte mais elevada da sua cncosta occi-
dental. 0 niuro, que a circunda, pcrcorre
uma nxtensao dc 17:i'J0 palnios, e acha-se
dividida em duas partes quasi cguacs pela rua,
([ue vai da Portaria a Porta de Sula, tendo
0 muro da parte iuierior 8:030 palnios e o
da parte superior 8:300 '. Assente no conce-
llio da .Mealliada, foi prinieiro do districio de
C.oinibra; mas, pela nova divisao territorial
de HI de dezcmbro de 18o'.{, licou pertcucendo
ao districto d'Avciro.
Nao acbci nolicias do principio d'csta mala ;
e do crcr, ([ue osprimeiros ermitacsd'a(|uclle
dcscrlo ja para alii I'osscm attrabidos ])ela soli-
dao d'aipicllas sombrias brcnhas, i)iirciu nem
ap|iro\iniadaiuentc Ihe posso marcar o sen
coiiieco, i]cla inccrteza, (|iic vejo em liido oquo
diziMu OS clironistas d'esses antigos ermitaes.
Sabemos (juc os frades carmelitas, poucos
annos dcpois da I'undacao do seu convcnto",
levantaram os muros da cerca no terreno, ([ik^
acliaram coberlo dc arvoredo; e ja enlao alli
avullavam nunierosos e grandes carvallios,
como se collige d'uni interessante poema de
103i, que dcvemos a nossa illustre poetiza
D. licruarda Fcrreira de Lacerda '. Mas e de
crcr, que a mata estivcssc n'csta epoclia iiiui-
to menos I'ccbada, porquc a nle.•^ma pcuna
achou assumpto, para uma elegante ipiadra
lalina, em rocbedos cscalvados', (lue lioje se
acliam cobertos dc arbustos c raniagem.
sididao; e tanibom se tern querido derivar do nome —
siiblaco, que os primeiros Monges Benedictim.s da V^ac-
carli;a teriam dado aquella serra, jii entito sitio de peni-
tencia, por analogia com o deserto de sublaco na Italia,
onde S. Bento, na conhecida cova de sublaco, vivera tres
annos fora do muudo em penitencia austera. Tendo na
de\ida conta estes arbitrios etymologicos, achei mais
razoavel guiar-me pelos escriptos antigos subrea orthogra-
pliia da palavra; e tendo acliado — liuzaco — no Livro
I*rcto, em documentos do seculo 11.'*; — Bussaco — na
Benedicliua Liisitana escripta em 1644, e — Bussaco —
na Chronica dos Carmelitas Descali^os de 1721, prefcri
— Bussaco — a Bu^aco, seguindo neste arbitrio a ortho-
graphia geralmente adoptada nas correspondencias parti-
culares, na imprensa periodica, e nas pe^-as ulliciaes; sem
com tudo desconhecer que poderia escrevcr — Bu^aco —
com o bom fundamento da auctoridade de D. Bernarda
I'Vrreira de Lacerda, e do Sr. Adriao Pereira Korjaj de
Sam[iaio,
' Estas medidas foram liradas em 1853 pelo sr. JoSo
Bajitista Kerreira. da Mealhada.
-* Vej. noiitro logar dVsla mem.
■* Con ni'^ras sombras de roliles
Que alli son grandes, y mitchos
Llenos de barbas por viejos,
Y en las cabe^as tan juntos
Que no sufren los traspasse
Kl planeta rubicundo.
Ell liigar de grama siemUran
El sui-lo giiijarros duros,
Pardos, azuk's, y negrus
Que el tiepo cubrio de musgo.
Sihdattes tie Bi/t^aco por Uotiu Btritantd Fn-rnra
de Lacerda — 1G34.
^ Siijier riipes tiias
(iarrulantes aves
Cantitant suaves
Cantilenas suas.
(Idem.)
33
Os ccdros fiigantcs , ja sobrancciros aos
carvallios anligos, conta Fr. Joao do Sacra-
mento', que toram niaiidados vir dos Azo-
res ' , c priim'irainenle ))laiitados jiiiiclo a
orniida do S. Jose, pelo lleilor da I'niversi-
(la'lc Maiioel de Saldanlia, que fundou aquel-
la ermida cm Itiili.
Ao priiuciro cedro dc Bussaco, ao proge-
nitor de quantos alii se teem criado, consa-
grou 0 sr. Jose Frcire uni Ireclio poetico de
muito merccimento, que o sr. Adriao Forjaz
applicou ao respeitavel cedro, que se encon-
ira pouco adiaute da ermida de Sancta Tlie-
reza"', ua rua que vai do convcnlo a Porta
de Sula. Aiguem se teni lemhrado de trihular
csta homenagem ao cedro, que se ve na rua
do Ilorto com ii palmos de circumferencia.
Mas Fr. Lcao dc S. Tliomaz, e Fr. Joao do
Sacramento, parcce tcrcm rcsolvido a questao,
dizendo ([ue os |)rimeiros ccdros dc Bussaco
I'orani plantadus juncto a capcila de .S. Josc';
e 0 primeiro aiictor, tendo escripto cm IGol,
deve juigar-se coutemporaneo do facto.
0 souto de ca.'-tanliciros, que se ve pcrto
<ia lonte IVia, foi cortado em 18j3, c reudeu,
apjiroximadamcntc, 3dl)§000 reis com appli-
cacao a reparos no convento e ermidas.
Os carvallios c alguns arbustos, que se
veem na mata, encontram-se tambem fura dos
muros na encosta occidental da serra, vcge-
fando espontaneamente, e tendendoa fechar-se
em brenha, a pezar do machado e dos incen-
dios, que rrequenlenicnte os vao devastando:
o ([ue parece iuculcar que a mata, antes de
resguardada, nao tivera outro arvoredo; e
que dcpois, a curiosidade dos religiosos a
iizera povoar da variada vegetafao, que alii
se enconlra. E ccrto, que os frades tinham
todo 0 cuidado na conscrvacao da mata, e
pariicuiarmente dos ccdros, que o prelado,
j)or obrigacao ou costume anligo, maudava
semear e plantar todos os annos.
A Chronica dos Carmclitas Dcscalcos falla
' Chronica dos Carmelitas Descal<;os — torn. 2.", livr.
4.°, cap. 20.°
"* Cedro de G6a ou Cedro de Bussaco — Cupressus
Glaiica, Cupressus Lusitana.
Os Botanicos sao Concordes em que estes cedros sao
ori^inarios dc Goa ; e Le Bon Jardiiiier, de 185-1, diz
que foi aclimalado entre nos nas visinhan^as de Lisboa.
\os .\(;ores dizem-me que nao ha memoria d'estes cedros;
r que so ha poucos annos sao ciiUivados, corao novidade,
n'al juns jardins das Ilhas do Pico e S. Miguel.
K possivel que se aclimatasse primeiro nos Azores, e
que se perdesse n'estas Ilhas pouco depois de ter passado
H Portugal.
■* Memorias de Bussaco e Uma Viagem aSerradaLouza,
ptjr Adriao Percira L'orjaz de Sampaio — part. 1." — ^.°
5." N'este li^'ar vem transcripta a poesia do sr. Jose
Freire. Encontra-se a descripc^rio da mala e do c>;.ivento
n'esta memoria do sr. Forjaz, de IBTiO; na Chronica dos
CarraelitasDescalqus.de 1721; e nas SoUdadesde Bussaco
de U. Bernarda Ferreira de Lacerda, de 1634.
■* Benedictina Lusitana — torn. 2.° — trat. 1. — parte
*.' — cap. 17. Chronica dus Carmelitat Descil^oa — (logar
cil.)
de ermidas no Bussaco, ja dos primeiros tem-
pos da era clirista, onde diz, ([ucvivcram cm
pcnitencia os eremitas carmelitanos, que n'e.'--
sa epocha tinbam vindo das visinbancas de
Toledo', e menciona tambem outras ermidas
como depcndencias do Mostciro da Yaccarifa
entre os seculos VI c XI'; mas esta noticia
tciu apenas o valor d'uiua simples asscrcao ,
scni documcnlos nem auctoridade contcmpo-
ranca, cm que se funde. Fr. Leao de S. Tlio-
maz da noticia d'um pequeno mosteiro uo
cimo da montanlia, perto da chamada Cruz
Alta, filial do .Mosteiro daVaccarica, com in-
vocacao de Sancta Eufemia, cujas ruinas
aproveitou o Heitor da l'ni\crsidade Maitoel
de .Saldanha, para mandar construir em l(i48
0 baluarte e amcias sobre que assenta aqucl-
la cruz \ Podem (icar algumas duvidas sobre
a existcncia d'csle mosteiro no tempo dos
monges da Vaccarica, c como filial do scu
convento; mas nao devcmos duvidar, ([ue, an-
tes d'esia obra de .Manoel de Saldanlia, havia
alii perto um mosteiro em ruinas, jiorque o
venios noliciado por um auctor contempora-
neo'. .V Chronica dos Carmclitas Descalcos
nao falla d'cste mosteiro; mas, referiudo-sc as
ermidas d'aquelle tempo, menciona os vcsli-
gios d'uma ermida de Sancta Eufemia (resto
do mosteiro, provavelmente), e d'outra de S.
Silvestre ; accrescentando, que as suas inia-
gens, ja de ha muito tinham side traslada-
das para as povoacOes vizinhas: a da Sancta
para unia ermida da Lamcira de Sancta Eu-
femia, e a de S. Silvestre para Luso, onde
por muito tempo se venerou por scu orago'.
A historia do convento carmelita, c das
ermidas, que vemos na mata, satisfaz muito
mais pcia sua minuciosidade e maior exaclidao.
Fr. Thomaz de S. Cyrillo, cscolbido pelo
provincial dos carmclitas dcscalcos para fun-
dador e prelado d'este convento, partiu d'A-
veiro para Bussaco a 2'J de junho de 1G2S,
junctamente com Fr. Jofio Baptista e Alberto
da Yirgem. Chegaram a Luso no mesmo dia ;
e a 2o de julbo Ihe apparcceram para o
coadjuvar Fr. Antonio do Espirito Sancto,
Fr. Bcnto dos Martyres, e o pedreiro Antonio
das Chagas \
Comccaram a edificacao a 7 d'Agoslo. Ve-
neraram pela primeira vez o Sanctissinio a
' Vej. n'oulro lojj. d'esia mem.
^ Chronica dos Carmclitas Descalcos — torn. 2.", livr.
4.°, cap. 15.
■* Benediclina Lusitana — (lo;?ar citado").
' F.' Leiio de S. Thomaz (^Bened. Lus. ) da esta noticia
em 1651.
'' Chronica dos Carmclitas DeBCal<;os — torn. 2.". livr.
4.°, cap. 15.
A invoca<jrio da epreja de Lnso era S. Thome em 1064
(Liv. Preto, fulh. 36); S. Silvestre em 1721 (Chronica
cilada); e actualmente e Nossa Senhora da Natividade.
^ Chronica dos Carmclitas Dcscalcos —liv. 4.°, cap.
IS." e 16."
34
28 de fevereiro de 1629, e a 19 de marco
de 1630 poderam jii priiuipiar a completa
obscrvancia do sen institiito '.
Os novo passes da prisao do Cliristo, desilc
0 Horlo de Gelliesmiani alo ao Prelorio do
Pilalos; e os scis da I'aixao, dosdc o Prelo-
rio ato ao r.alvario, forain piimeiro assigiia-
lados com criizes polo Heilor da Uiiivoisiiladc
Manool do Saldanha, (luo a imiito custo con-
scguiii abrir, nos rochedos da encosta, com-
moda eslrada para tnda a via-sacra. 0 bispo
oonde, D. Joao do Mcllo, localisou com niais
precisao osses passos, por modidas que maii-
dou vir da propria Joruzalom ; c os oncer-
rou nas ormidas. Ultimainente D. Antonio do
Vasconceilos o Soiisa, taniboin Bispo doCoim-
bra, subsliluiu as piiihiras das capcilas por
imagcns em vulto ', que successivamenle se
forani apprloicoando.
Nao encontramos as datas de todas estas
obras; mas podeajiiizar-se d'ollas, pouco mais
ou menos, sabendo-so (juo Manoel do Salda-
nha promovcu em Biissaco oulros traiialhos
dcsdo IGii ato Ki'iS, quo I). Joao do Molio
construiu algiimas ca|)ollas em 1094% o (lue
D. Antonio do Vasconccilos e Sousa possuiu
a raitra desde 170G ate 1717 '.
As capellas, em quo os religiosos iam pas-
sar a vida ermitica da sua regra, chamadas
' Memorias de Bussaco — pari, 'i." ^ 7.
^ Esta-s medidas sao uma tic(;ao, seffundo al;;uns via-
jantes. A furija das tradi^ucs tern feilo respeitar em Je-
rusalem certos lo^ares conio ns proprios. em que se pas-
xiram as differentes seenas da Redeinpt^rio : mas nem a
posi^ao d'estes lopares se liarinoniaa com a sua descripi^ao
uo Evanjelho , uem a |>osse tao duradoura d'esta cidade
pelos Infieis deixaria de apa^ar os vestijrios d'estes mo-
numentos da christandade. Chatea'.ibriand e Laniartine
dizem o seguinte — .. J<Tusalem a ete prise et sacagee dix
sept fois; des millions d'hurames out ete e^jorges dans son
enceinte, et ce massacre dure pour ainsi dire encore; nuUe
autre ville n'a eprouve ua pareil sort " — Itiueraire de
Paris a Jerusalem par Mr. le Vicomte de Chateaubriand
torn. 2."°
(* Le Calvairc, le tombcau et plusieurs autres sites du
drame de la Redemption, se trouvent ainsi accumules sous
le toil d'nn seul edifice d'luie mediocre etendue; cela
semiile peu cnnfi»rnie aux reeits des evangiles
Au sortir de I'e^^'li^e du Saint Sepulcre, nous suivtmes la
voie Duuloureuse, dont JNI. de Chateaubriand a donne un
si poetique itineraire. Rien de frappant, rien de constate,
rien de vraisemblable; des masures de construction mo-
derne, donnees partout, par les moines aux pelerins,
})our des vestiges incontestes des diverses stations du
(.'hrist. L'oeil ne pent avoir meme un doute, el toule confi-
ance dans ces traditions locales est detrnite d'avance par
I'histoire des premieres annees du cbristianisme, oii Je-
rusalem ne ctmserva pas pierre sur pierre, oil les Chre-
tiens fnrenl ensuile haiinis de la ville pendant de nom-
breuses anneef, :> — Souvenirs, Impressions, Pensees et
Paysa^es penilant un voyage en Orient . . . par A. De
T.amartine — tuui. 'i.""=
- Chronica dos Carmelilas Descalt;os — torn. 2." —
liv. 4.» — cap. 21
* Nas paredes da primeira erniida da paixao le-se o
yefruinte ^=i< Estas dez ermidas nuindou fazer o III.""* Sr,
1. I). Joao de iVIelio, Bispo Conde, na era de 1694. '»
Meniorias de Bussaco — part, 'i.^ — ^.° i."
^ Catal'igo manuscripto dos Bispos de Coinibra.
ermida.^ d'habilacao ou de penitencia, veni
mcncionadas com os seas fundadores na Chro-
nica dos Carmelilas Descalros, mas so a quatro
se dcsigna data da sua fuiidacao.
A eniiiila do S. Jose, Itiudada cm Itiii
polo lli'ilor Manoel do Saldanha. '
A ormida do Sanrto Siqutlchro, fundada em
101(1 polo luosmo Heilor, em memoria delluy
b'ertiandos de Saldanha.
h. erniida de Nossa Senhora da Expecta-
cao, fundada em 1047 por D. Joanne .Mendcs
de Tavora, Bispo do Coimbra, e lilho dos Coii-
dos do S. Joao.
A ormida de S. Joao Baplisla em 165il
jior .\ntonio de Saldanha do Conseiho de g
(iiierra de El-Itei D. Joao 4.°, Governador da
Torre de Bolem, c .\loaiilo Mor do Villa-Ueal.
,V ormida do Snncla Thoroza, fundada por
Bonlo Percira do Mello, Deao da Se de
Coimbra.
A ormida doS.EIias, porAntonioPiutoBnllo.
.\ ermida do Nossa Souhora da Coiu'oir.ui,
por D. Uodrigo de Mello, irniao do Marquoz
de Forroira.
A ermida de S. Miguel, fundada polo li-
cenciadn .\ntonio YazProlo, priordo Eroyxodo.
A ormida do S.inotissimo Sacramoulo por 1).
Marianna Cardeues, Duqueza do Torres Novas.
A ermida do Nossa Senhora d'Assumpcao,
fundada por Diogo Lopes de Sonsa.
.V ermida do Calvario, pelo bispo D. Joao
do Mello.
Tamhem afjui se pode menctonar a ermi-
da do Sanoto Aniao, que nao e de hahitacao
nom do passos, e quo foi fundada pelo Ueitor
da Univorsidade, Manool de Saldanha. "'
No sitio da Cruz Alia, quo so vi? na parte
mais olovada da mala, coroando o cunio da
montanha, diz-se que um piloto levantara
primeiro, cm tempos anligos, uma grando
crnz do madeira em memoria de ter avistado
de luui longc esta parte da terra, andando
pordido no Oceano.
Dostrtiida com o andar dos tempos, foi
esta cruz suhstituida j)or outra, quo d'uni
alto cyproslo mandou fazor Francisco For-
roira (li? Miranda, morador ua Graciosa.
Esto grando Icnho foi derribado por nni
raio em lUliJ; e a 14 do Soptembro do 1G48
foi erogida cm sou logar, pelo ja referido
Heilor da Univcrsidadi' Manoel de Saldanha,
a primeira cruz de pi'dra com 10 a 20 palmos
d'altura, sobro um baluarto ccrcado de ameias,
' No interior da capella de S. Jose, ve-se uma lapida
que diz o sefjuinle : it IVIanoel de Saldanha . . . mandoii
ti fazer esta erniida com os Passos da Paixilo que d'cila
" come<;am. " . . l(>-t4.
i\Ia: se pdde conciliar esta inscripcjao com a noticia que
da a Chronica de terein sido encerrados em ermidaji
todos OS Passos pelo Bispo D. Joao de Mello . . . Pel »
menos pode colliKir-se que estes dous Bispos furam tui
fundadores das cajjellas dos Passos.
■^ Chronica dos Carmelilas L)escal9os torn. S.° — H^'-
4." — cap. 19. » e ao.
35
que mandou constiuir das ruinas do Mosteiro
de Sancla Eufcmia, de que ja fallei. '
Urn outro raio, ou acfuo do Icnipo, pouco
antes de 18'M, tinlia feito rachar os biafos
d'esta primeira cruz de rantaria; c, acaba-
da de quebrar, foi depois rcconslruida pclo
govcrno civil de Coimbra cm IS'il.
A ultima obra, que tizcram os rdigiosos no
Bussaco, foi a rei'dilicacao da portaria da
mata, cm 18H1, n'a(|uclle gosto singular de
(juinaes toscos c grossciros cmbreciiados, que
sc ve tcr guindo toda a construccao do con-
vento e erniidas; c linliam cm couslruccao a
fonte de Sancla Tiiereza.
Contiutia. A. A. DA COSTA SIftlOES.
ESTUDOS PRELIMINAHES DE BIOLOGIA.
!.■ PARTE.
JJefiniedo de pliijsiolo(/ia: historia e impnr-
lanaa d esia sciencia.
I.
Continuado de pag. 23.
A. nalureza era formadora, conservadora,
0!i meditatriz. 0 principio vital e tambcm
forniador, couservador, e a forca mcdicatriz
e um dos seus modes d'accao.
Hippocrates conbecia jii osinconvcnicntcs da
suppressao de Iranspiracao ; ja antevia aiguns
phenomenos da circulacao sanguinea. Segun-
do elle todas as veias commuiiicam entre si,
e 0 sangue e alternadamente levado do ccntro
para a circunil'crencia, e vice-versa; o calor
animal e enlrctido unicamente pelas Icis da
vida. Reconlieccu qual o encadeamento que
existe entre as nossas funccoes, considcrando
cada uma d'ellas corao o liin c principio dos
actos, cuja rcuniao constitue a vida. Hippo-
crates conjecturava, que o chylo era absorvi-
do pelas porosidadcs das carnes ou pelo tecido
cellular.
D'este resumo das principaes ideas de Hip-
pocrates sobre a sciencia da vida, se ve que
muitos principios estao em harmonia com as
opinioes actualmentc dominantes, fcitas algu-
raas pequenas modilicacOes.
Todos concordam boje na vida indepcnden-
te de cada um dos orgaos concorrendo para
uma vida geral: o pae da medicina ja assim
0 julgava. 0 calor animal e produzido se nao
unicamente pelas leis da vida, como julgava
0 divino vclbo de Cos, comtudo o [irincipio
vital muito concorre para a lempcratura, ale
ccrto modo independente, dos seres vivos.
Hippocrates tinalmentc conheccu que ba nos
' Benedictina Lusitana — torn. 2.° — Irat. l." — part.
4."— cap. 17."
Chronica dos Carmelitas Descal(;o3 torn. 2.°, liv. 2.°,
cap. 22.
A Benedictina da-lhe 20 palmos d'nltura, e a Chronica
16.
SKrcs organisados uma causa desconUetidu,
que preside, e que nada tern de conijauni
com as lorcas gcraes da materia. JSSo Itu
senan uin aliinenlo, mas ha muitas espen-es
d'alimeiilos, dizia Hipjmcrales. As tendeucia.s
da |)bysiologia moderna para abi se dirigeni :
a piotcina e talvez a unica base alimentar.
Isto porem nao quer dizer, que todas as ideas
physiologicas d'llippocrales tinbam o cunbo
da cxactidao. Scgundo elle o espirito babita
nas arterias; o semen vem da cabeca a cspi-
nbal medulla e d'abi aos rins. 0 espirito e
levado pelas nariuas ao cerehro, d'abi ao cs-
touiago, e depois aos jjulmoes.
Aristoteles preslou grandes servicos a pliy-
siologia, creou a sciencia mais jiropria para o
seuprogresso — a anatomia com|iarada. Entre
OS resultados dos seus trabalbos devemos nolar
OS seguiutes. A materia alimentar sabe dos
poros, edosvasos, solidilica-se, e transforma-
se em came. A parte essencial de todo o
animal e o orgao encarregado da digestao. 0
coracao forma-se antes do cerebro, e naquclle,
reside um calor essencial que faz ferver o san-
gue e produz o seu movimento. 0 numerodas
pulsacoes nao e egual ao das expiracOes.
Erasistrato pretendeu, que as arterias nao
conk-m scnao espiritos, e que a inllamma-
cao e produzida pela peuetracao do saugiif
nos vasos dos espiritos. Os nervos nascem do
cerebro e da medulla. Conbeceu as valvulas
do coracao c seu uso. As arterias pulsani por-
que 0 coracao se esvasia, e leva o espirito.
Altribue a digestao a conlraccao do estomago.
Finalmcnte recoubece a retaxacao e contrac-
cao dos musculos em accao.
Heropbilo fez muitas indagacoes sobre o
pulso, quefazia de|ien'ier d'uma forca, que se
communica do coracao as tunicas das arterias.
Galcno, medico de Marco Aurelio, que vi^
vcu pelos annos 13 depois de J. C. con.si-
derava os corpos constituidos por eleraentos
tao delicados e tao simples, que esca])am aos
sentidos, e a razao. Oselementos secundarios,
unicos que podemos apreciar sao o logo, a
agua, 0 ar e a terra. A cada um d'elles cor-
responde sua qualidade propria: o logo e
quente; o ar frio; a agua liumida; a terra
secca. Da combinacao dos elemenlos, das suas
qualidades resullam productos em virlude dos
quaes cada ser tem seu temperaniento e cada
particula sua accao propria.
Ha quatro luimores, como ja tinba admilidn
Hippocrates, o sangue, a piluita, a bile, a
atrabile. No figado fabrica-se o sangue; abi
sejiaram-se d'este fluido vapores subtis {es-
piritos naturacs). Estes transportados ao
coracao misturam-se com o sangue e tornam-se
espiritos vitacs: levados ao cerebro tornam-se
espiritos animaes. 0 ligado e pois a sede das
fucuhlades naturaes; o coracao, das vitaes; e
0 cerebro, das animaes. 0 cerebro e o orgao
da intelligeacia: nervos especiacs sao des-
36
liufidos ao scnlimento, c ao movimpnlo, Ga-
leno conlieccii granilo parte dos phennnionns
da circularao. Sabia que as aiterias sao olioias
de sangiie; que o corarao imiu'lle o saiigiie
para todas as partes do corpo, ondo e levado
pelas arte^ia^:, e d'oiule e trazido pelas veias:
que exisle uma comiminieaeao entre as e\-
treniidades d'estas diias ordeiis de vasos. \l-
Iriliiiia ao ligado a I'linerao da formariio do
sangue, e supimnha, que d'alii tomavaiu ori-
gcm as veias.
I'oi scm diivida esle niodo de pensar, que
(> impediu de reeonheicr a eireiilarao pul-
iiionar. (ialeno julgava, que o ventrieulo es-
querdo nao reeehia dos pulmoes, senao ar,
era depois com o sangue levado a todas as
partes do eorpo. Galeno de^eobriu nos mus-
eulos uma propriedade tonica, c uma cou-
tractilidade : o pulmao segue o movimento
ilo peito, e nao e a causa desse movimento.
I'rovou que a ourina nao ciiega a beviga se-
nao por meio dos ureteres, pois que ligando
estes, aquella nao se encbe.
Depois de (iaieno a mcdicina cahiu num
profundo csqueeimento e com eila a physio-
logia. So no seculo XYI e que se sentiu a
importaucia dos conhecimenlos anatoniicos;
loi so entao que a pbysiologia pode ser cui-
tivada. Nasceu n'esla epocba a pbysiologia
modcrna. No seculo XVI a pbysiologia fez
poucos progressos, mas prepararam-se enlao
as grandes descuberlas do seculo seguinte. Os
medicos occidenlaes acabavani de sacudir o
jugo litterario dos Arabes. A pbysiologia e
a auatomia de Galeno foram abracadas com
enlbnsiasmo, ate (jue apparcceu Paracclso a
combater o gdlenismo.
Fabricio d'Aquapendente dedicou-sc ao es-
ludo anatomieo dos animaes, com o lim de
comparar cada orgao com o sou corrcspon-
ilente na especie luimana. As vantagens, que
islo trouxe a pbysiologia I'oram por extrcmo
grandes. 0 seculo XVII c mui notavel. 0
sen principio foi illustrado por duas descu-
lierlas, que bastani para o tornar niemoravel.
Eustachio linba descripto o canal tboracico,
que descubriu no cavallo: esta descuherla
bavia lieado esleril, porque nao se conhcciam
OS vasos cbylil'eros. Em 1022 Gaspar d'Azelli
l)rofessor de Pavia, encontrou esles vasos.
ICm 1C28 Harvey publicou uma ibeoria com-
]>leta da cireuhicao, que elle ja tinba conccbi-
do em I()lfi ou 1018. A iirimeira descuberia
t'oi deviila an acaso; a segiinda foi resultado
da induccao directa, a que Harvey foi levado,
rellcctindo sobre o uso das val\ ula das veias.
Em lOi" Pecquet descobre o reservatorio do
chylo, cujo trajeelo foi depois cnnbecido. Em
1052 Van Horn mostrou que uma Jigadura
feita no canal tboracico obstava ii subida dos
li(]uidos brancos, e a sua chegada as veias.
Os lymphaticos i'oram depois descubertos por
Bartholin, e Olaiis Rudbecke.
Nestc mesmo seculo Kepler mostrou, que o
ebrislallino e uma lente, cujo loco se acha
na retina: que para ver a dilTerentes dislan-
cias 0 olbo sollVe uma mudanca interior cujo
agente c o corpo ciliar. Jacques Muller fez
notar, que durante a contraccao, os musculos
augiuentam em cspessura. Schneider fez um
trabalbo importante sobre os nervos do ol-
fato, c a mucosa nasal, que tomou o sen
nome. (ilisson reconhecia ja a irritabilidade,
e collocava os niovinientos musculares na de-
peiidencia d'esta ])ropriedadi'. Willis elas-
silicava OS nervos encepbalicos. Bohn indi-
cava 0 trajecto da bilis.
Wissong de|)arando com o canal panerea-
tieo fez descobrir um novo li(|uido. 0 acto
da geracao foi estudado com cuidado. 0 nii-
croscopio veiu neste seculo enri(|ueccr a ob-
servacao com um nieio precioso. 0 empregn
d'este instrumento fez conbeccr a existencia
dos globulos sanguineos nas correnles capil-
lares, a existencia dos animalculos sperma-
ticos, facto curioso na bistoria da geracao.
Duverney deu algumas luzes sobre a forma-
cao e nutricao dos ossos. Foi entao que
nasceu a idea da transfusao do sangue, idea
de curta duracao.
As doutrinas physiologieas mais notaveis
d'este seculo foram diversas e variadas. Van
Ilelmont adniittia uma anheo, especie de
principio intelligente, que tern a sua scde no
orilicio cardiaco do eslomago, cncarregado da
direccao suprema da raachina animal. Infe-
riores a este baviam arc/if'os secundarias, pre-
sidindo ii accilo de cada orgiio, e produzindo
por meio de fermentos ou certas operacOes
cbimicas, todos os phenomenos vitacs. Sylvio
reduziu todos os phenomenos da vida a actos
purameule cbimicos. Foi entao que nasceu a
escbola mecanica com a pretencao deexplicar
OS actos vitacs por accoes puramente phy-
sicas.
Bernard suslenia que o figado e encarrcga-
do d'unia secreeao sacharina. Experiencias
tercssantes teem mostrado a induencia do
pneumo-gastrico sobre a digestao, e a forma-
cao do succo gaslricn. Os diversos niovinien-
tos do conducto digeslivo e o mccanismo do
vomito. teem cbamado a attencao dos pliy-
siologistas. A absorpcao tcni sido objecto de
miiitos trabalhos, em (|ue tomaram parte Ma-
gendie e outros .V nutricao foi eselarecida
por trabalhos microscopicos, quanto a circu-
larao caiiiilar. A respiracao teni sido consi-
derada na sua parte mecbanica e na sua parte
chimica. Tem-se demonstrado a dependencia,
em que o calor animal esta do systema nervo-
so. Savart e Muller teem estudado a andicao.
No nosso seculo appareceu Burdach, da
escbola allema, renovando as ideas subtis
da aniiga pbilosopbia grcga, e procurando
penetrar ate a rssencia das coiisas. iSup-
pOe elle que 'a forca universal, a alma do
37
mundo ou Deus, prodiiz manifestando-se, on
realisandose todos os corpos da naturcza. 0
horaem e a realisa^ao mais perfeila d'esta
Ibrca. A forra universal c a idea, ou o infi-
nilo; a materia e o finito. Toda a existencia
resulta da aocao da idea sohrc a materia. 0
homem seria a imatrcm ou arealisacao com-
pleta d'este infiuito, que e Deus, ou natura
nainrans.
Do pequeno esboco historico que acabamos
de traear, ve-se, qual tern sido o progresso
d'uma sciencia quasi ignorada nos tempos
aiUigos a pezar da sua extrema importaucia.
Continiia. ALVES.
ESTATISTICA DO HOSPITAL DOS ARCOS DE VAL-DE-VEZ EM 1854.
Mohsiina
AliCfSSU (1« co.\:i ....
A'lcnilfs
Alioiiarjio iiH nl.i] . , . .
Amenorrlica
Anasarca
Apeilo aurtico
A(M.|.Iexia pnlnionar . . .
AscilfS — Hiiasitrca .^eiifisu-
niii piiininii.ir ....
Asriles — ci^ro^e tlu G^;ntu(r)
Asnia ...
Asnia svpliiliiicii (?)
l!e\i:ia!. n.nflijprili s
Rlr-imrrhpa Miliil.Ju'a
Bruii. hjks airiida .
•> « iirunira
Cl.Ior.se ....
" [lur t'xre^sna mens-
liiia^;M)
Coiijiiiiiii iles
<Jitn(u>5('.s
JJiarrhta clirHijica . . . .
" »» anafatca .
» " tracheitis
— pstomaliles ulcerosa . .
Dures (.s(eur()p;is , . . .
Kmliataru inl'slinal . .
Krysipela ila fHce . . . .
Escrufiilas
Kspinha \etilosa ( no fcinn)
Ksli'niatiles iilctrusa nu-rcurial
Ffhre ejilieinfra . . . ,
'• intetuiiUiRle sinipl' s
" " aMile.-- — e
(Jpniacia das exlrtrmida
Jcs iuf.-riures . . , .
» iiiterniitenle — sjileniles^
»• » pnfiiiininia
» remittenle — gaslro-
spleniles — ascites ,
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Kefi'las Ct-ntusas ....
F'Timenlo por arma tie fugu
Fleim'to
rractiira das custellas . . .
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Transporte .
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Gaslralgia ...
Gaslrites ocuda .
(Jasirites fhrouica .
IIeiiiij>l'*;;ia inconiplela
He|i;diles chronica —
— anasarca
HiM.ria
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H)dr..lliurax
iiiipttiiro
Inlerjit's ai;nifa
KTalilcs — ccIr<»|non .
Keralit'S ulciroza — htruM
da i-is
Li)iii)io^o
Liipia
Mi-lrorrliagia
Nerrtisf syphilitica du isrhiun
PiiiiHritio
Ptiiuiosid
Plcitrodinia ......
Pnetmionites agnda
') jiii^iida — intermit-
lelites — splenites.
Piirpiira
Qiieiniailnra ( 4." gran de
Depiiylren")
Rheiiuiidisnio airiiilo
»i chr-inico . .
Serain|ielo
S|>leNdfs — ascites ....
Triiia
Treimira nervo:?a ( larlo di-
reito)
Tmha
Tisica
'• cscrofiilas . . . ,
Tynipanilrs
L'lcera atunica
M esfrofiiK.8a ....
'» herpelira ....
Vuniilo nefvoso ....
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II
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154
Foram tractados 15i
Existiam 12
Entraram 142
Sahiram 138
Morreram 9
Ficaram 7
■Proporrao dos faliecidoscom osque
I'oram tractados 1:17, 11
Alguns dos doentes, que morreram, vieram
d'um Hospital vizinho em estado muito proximo
a mortc. Se isto nao fosse, mais I'avoravcl seria
a proporcao dos raorlos com os tractados. 0
regulameuto d'este Hospital limita o numero
de camas a nove ; com tudo poucos sao os dias,
em que ha so os nove doentes; e muito menos
aquelles, em que ha menos. Segundo o regu-
lameuto nao sao admittidas ccrtas molestias.
38
Aindd que iiSo houvc n'estc Hospital ne-
nhum caso cxlraordinario, lodavia farci al-
gumas reflcxoes a c^rca do que houve dv
mais notavol.
Apojjle.ria pulmonar. A viclima d'csia mo-
lestia foi uma mullicr, que por vozes linlia lidn
congostOcs pulmonaros. Oiiaiido cntrou uo
Hospital aprcseutava, alem dos symptomas
caraclcristicos da apoplexia do pulmao, uma
anasarca. Com Sangrias ercvulsivos live a fc-
llcidadc do ver nudhorar a docnlc d'uma
mok'slia tao morlifcra. Passados dias, jul-
gando-sc a doenlc curada, me pediu para
llie daralta; poriim, como a nao considorava
restai)cllofi(la, naoconsenti. Continuou a prs-
sar todo esle dia som mais aigum incomniodo:
;i noite ecoii rom ai)pclite. I'olas tres horas da
madrugada do dia spguinle a doente visinha
a viu sentar na cama, e sorvir-se do urinol,
t'azcndo lodos os niovimcntos necessarios scm
I) raenor indicio dc cstar mais incommoda-
da; conlinuou a dormir; e, scriam cinco c
meia da maniia, a nipsma visinha scntiu,
que ella tinha como wnti dilJinddade em expec-
torar; cliamou, e, como liie uao respoudeu,
avisou OS iiifermeiros, que acudiram im-
mediatamente, e acharam a doente sem falla,
com OS olhos fecliados e beioos um jjouco
lividos; applicaram-liio alguns rcrulsivos,
poriim apenas durou alguns minutos.
A.ttcndcndo aos seus padecimentos, e a ra-
pidez da morte, parece-me, que clla foi victima
d'tim novo atacjuc d'a[ioplexia do pulmao.
A autopsia me seria de hastante utilidade
para verilicar o diagnostico; infelizmcnte,
porem, nao me e possive! na actualidadc fa-
zer aiitopsias nos cadaveres do Hospital.
Asma sijpliiliticn. A liistoria do doente me
Icvou a diognosticar — asma syphilitica; e, se
OS resultados da Iherapoutica servcm para
tonfirmar o diagnostico, n'csle doente foi clle
fonfirmado pela therapeutica eniprcgada. Ti-
nha a voz tao altcrada, que quasi eslava
aphouico, o quo de certo era uma consequencia
d'ulceras, que tivera na glotis. Estc caso
lavorece as ideas do D.'Lagneau, fdho docc-
lehre syphijiografo do mcsmo nome. Com tiido
fiquei ainda duvidoso a cerca do diagnostico.
Bexitjas conjlnenles. Um dos doentes de
liexigas foi iractado so com dicta. E na ver-
dade, que outra cousa mais dove fazer o
medico nas febres eruptivas simples e regiila-
res do que vigiar a marcha da molestia para
tie prompio rcmcdiar alguma complicacao,
rcgularizar a successao dos symptomas, em-
pregaudo entao os niedicamcutos conveuien-
tes? Por isso, certo de que nao podia alterar
a marcha da molestia, pois que os phenome-
nos morbosos deviam neccssariamente seguir-
.se, limitei o tractaniento so ii diela. 0 oulro
doente foi tractado apenas com uma infusao
de llores de l)orragem.
Cwrose do figado. Senti nao fazer autopsia,
que n'este caso era nccessaria para veri-
licar 0 diagnostico ainda tao obscuro, apczar
dos trabalhos, que ultimamentc se tern feito
sobre esta molestia.
I'ebre iiUeniiiltente. Tive occasiao de con-
tinuar a observar os bons cfl'eitos dos vomi-
tories nas intermittentes; mcsmo nas que li-
nham levcs indicios de saburras gaslricas.
Tive cases de nao ser ncccssario empregar
0 sulplialo dequinino; oquallenho empregado
cm dissolucao, bastando-me sctc a nove graos,
dados no intervallo, em dozes fraccionadas,
segundo aconseiha Bricpiet. '
Fcbre tijplioidc. Tive uoanno dc ISoi muito
poucos casos de fchrc typhoide. No primeiro
periodo d'esta grave molestia emprego na
maioria dos casos os cvacuantos iutestinaes,
para que as fezes domoradas nos intestinos
nao aggravera a situacao do doente, qucr pela
sua accao local em orgaos, (jue em taes mo-
Icstias solTrem; quer pela sua accao geral no
sangue, cm consequencia da obsorpcao, que
tcm logar nos iutestinos, introduziudo no
sangue principios, que concorrerao a mais o
alterar, scndu talvcz a alteracao do sangue
a causa da febrc typhoide. Quando ha len-
dcncia para a adynamia, ou esta se esta-
belece, nao tenho duvida na applicaciio cau-
tcloza dos tonicos; mcsmo nos cases, em que
supponho alguma iullamacao intestinal; guian-
do-me ai[ui pelos mcsmos principios que
nos levam a iguaes applicacOes n'uma in-
flamacao externa, em doentes enfraquecidos
pela idade, ou por longos padecimentos.
Se para dilTerencar o typho da febre ty-
phoide, fosse para nos sufliciente nao existi-
reni dores abdominaes, exhalar o doente o
cheiro a ratos, a que Landousy da rauita im-
portancia, etc. diriamos, que o doente, que
nos morreu de febre typhoide, fora victima
d'um typho. Eraumidiota; os symptomas-
que mais prcdorainaram, foram os ataxicos;
cxisiia 0 cheiro a ratos era um grau in-
suportavel I
Graslrtilfjia. Empreguei cm alguns casos
0 carvao vegetal (carvao de choupo), segundo
0 conselho de Bellvo; e obtive bons resul-
tados. Ha 0 inconveniente de ser de dillicil
admiuistracao pela repugnancia, que tem os
doentes em tomarem uma tao grandc doze,
como a aconsclhada por Bellvo; nao bastante,
rontinuarei a fazer uzo d'elle em casos simi-
Ihantes. Tem a vantagem, na medicina dos
pobres, de ser um medicamenlo barato, e por
tanto digno de toda a attencao dos nossos
practices. Aproveito esta occasiao para dizer,
que em um caso de vomito nervozo, que
houve no Hospital no anno de 18o3, o carvao
foi eflicacissimo.
Gaslriles. Nos casos, que ohservei no Hos-
I N'este anno de 1R55 principiei ja com os ensaios da
santonin:i na« intermittentes. e esjjero dar na eslatiilica,
que fizer ci'c^te anno, os restiUado-* que obtiif r.
39
pital. eontinuci a vcrificar o que por muitos
practifos tem sido nolado — lingua humida, cor
natural ou com cnduilo esbranquirado, cs-
palniada. A lingua nem scmpre e o cspelho
do esloinago; poniue, em casos d'inllamacao,
appresenta-se como acabo de dizer; e, em
casos de febres conlinuas graves scm irrita-
fao no estomago, muilas vczes se encontra
secca, vermeiha, grossa e eslreila etc.
Hepatites. Nas iiepatites e splenites chro-
nicas, o cniplaslo mercurial teve uma iuflueu-
cia muilo saliitar.
Aperlo aortico. Attenilondo a naturcza do
som, que pcla auscuitaeao se ouvia no cora-
cao; ao tempo e ao iogar, era que se lornava
raais intenso, diagnostiquei, aperto aortico.
Alem desta iezao, havia alguma hypartro-
phia excentrica no ventricuio esquordo, o
que estii em liarraonia com a opiniao de
Beau, e estatislica de Gairdncr. N'este caso,
a hypertropliia, longe de scr uma Iezao, que
augmenlava a gravidade do padecimento, era
polo contrario uma modilicaiao providencial
nas paredes musculares do ventricuio, ([ue
diminuia o emiiaraco, (pic na circulacao devia
prodiizir o aiicrto aortico. E digna de toda
a attencao dos [iracticos esta coincidencia da
iiypertropliia do ventricuio esqucrdo com as
afteracoes das suas aberturas e das valvulas,
que as guarnecem.
Pneumonites. Tenbo notado os bons resul-
tados do metbodo de Gendrin no tratamento
d'esta grave molestia. Nao posso com tudo
deixar de notar, que estava um pouco pre-
venido contra os causticos, visto que Luis,
practice de tanla auctoridade, os niio consi-
derava proveitosos. Todavia a observacao
me tem raostrado os bons resultados da sua
applicacao. Tenho egualmente empregado o
emetico desde o principio da molestia nos
individuos, (jue, pela edade ou outros pa-
decimentos, nao estavam nas circumstancias
de serem abundantemente sangrados. Nunca
porem empreguei o emetico em alias dozes,
e nem por isso os resultados deixaram de
corresponder aos mens desejos. Nao ob-
stante saber, que a pneumonia e uma das
molestias, em que mais abundantemente se
pode sangrar o doente, com tudo nao sou
muito prodigo nas sangrias. E tal porem o
seu elTeito, que por ora nao tenho o valdr
de seguir o conselho d'alguns medicos Al-
lemaes, quo pretendem mostrar por meio de
estatislicas o pouco clleito das sangrias, acon-
selbando a cxpectacao como o methodo mais
proficuo. Em Franca mesmo se esta dando
importancia as provas, que se vao colhendo
para mostrar a vantagem da expectacao como
methodo de tractamento na pneumonites. Nao
me admirarei por tanto se souber de alguraas
pneumonites tracladas pelo methodo expectan-
te, methodo que em algumas molestias da
grandes resultados.
Blieumalismo agtido. 0 doente foi tractado
unicamcntc pelo nitro em alias dozes. Este
tractamento tem-me sido muito proveitoso. 0
rheumatismo foi polyarticular; porem o estado
local das articulacOes nao correspondia as
dorcs, havia pouca inchacao e pouco rubor.
Existiria em maior grau o elemcnto rheu-
matico, do que o inflamatorio?
I'isica. Dus remedies emprrgados na tisica
e 0 oleo dos ligados de bacalliau aquolle, em
que mais conlianca tenho tido para conheccr
OS seus bons resultados, basta ver a maior
nutrirao, que adquirem os doentes, quo d'elle
lazem uzo ; diz Hiot'rey que ha um verdadeiro
autagonismo entre a gordura e o tuberculo.
Nao seni porem, esta appurencia de mili-iecld
uma conse(iuencia do excesso das subslancias
gordas superior a quantidadc, que pode entdo
ser ([ueimada pelo oxigenio inspirado? Todos
OS practices conhecem a repugnancia da maior
parte dos doentes em tomarem o oleo: a sua
adminislracae em capsulas, ainda que dimi-
nue 0 seu mau cheiro quando u tomado, nao
e diminue nos arrotos, que sc tornam insup-
portaveis aos doentes. De mais esta maneira
de administrar o oleo so conviria nos casos,
em que fosse sufliciente pequena quantidade
d'elle. Estes inconvenientes clinices me leva-
ram mais dcprcssa a eiisaiar o tratamento,
aconselhado per alguns medicos, mas pre-
cenizado principalraente por Briciieteau, que
entre todos os methodos de tractamento cm-
pregados ate hoje na tisica, aciiicllc que Ihe
mcrece maior cenfianca pelos, resultados que
d'elle tem ebtide, e e tractamento pelo emetico.
Deis dos tisices cm 1.° grau, foram tracta-
dos pelo emetico em pequenas dozes; e os
resultados feram taes, que me animam a con-
tinuar este methodo de tractamento.
Voiiiito nervozo. 0 doente quando se me
appresentou vinha em tal magreza, e com a
physionemia tao altcrada, que a primeira
vista julguei, que teria a tractar um cancro
do estomago. Depois de exame, que liz, o men
diagnostico foi, vemito nervoso, causadepela
ma c insufficientc alimentacao. Julguei, poi.s,
que, alimentando convenientemente o doente,
a molestia devia cessar; e que o doente se res-
tabeleceria mesmo da tal ou qual alteracae
intellectual, que as vezestinha, ainda que em
grau muito diminuto, c notada pelo mesmo
doente.
0 doente curou-se e nutrio sem tomar
mcdicamente. Era este um caso, que, talvez,
ucredilasse qualquer tractamento, que se Ihe
lizesse.' A simples dieta, sem medicamcnlos,
cura muitos doentes.
A. A PEBEIRA.
' As atten^oes estao a^ora voUadas para a Heliciiia.
Df-'iis queira que nao tenha a sorte d'outros medicamen-
tos, que se tem inculcado com egual ou maior entiisias-
mo para o tractamento d'esta molestia.
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Morrerara.
Exisleni.
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Enlraram.
Sahiram.
Mofrerani.
Exislem.
Evisliam.
Enlraram.
Sahiram.
Morroram-
Exislem.
Existiam.
Entraram.
Sal.iram.
Morreram,
Exislem.
Exisham.
Ealraram.
Sahiram.
Murreram.
Exislem.
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.50R1NAL SCIENTII HO l] UTTERARIO.
C0.\SEl!10 Sl^PERlOR BE llTRlXCiO PL'BliCA.
REL.VTORIO A.\iM AL.
1849—1830.
Ao conselho superior d'instruccao piiblica
incunibe, na conformidade do artigo 40 do
decreto de 10 de novcmbro de 1845, Icvar a
augusta prescnca de Y. M. o relatorio geral
da insiruccao piiblica, durante o anno lecti-
vo findo de 1849 a 18S0. 0 conselbo na ex-
posicao do estado da instruceao, e das pro-
videncias condurentes ao seu progresso, e
melhoramento, sera franco e leal; e conscio,
de que, nestc trabalho, nao pode deixar de
haver faltas e imperfcicoes, respeitosamente
supplica a V. M. a graca de benignamente
releval-as.
Este relatorio, em observancia da portaria
circular do 1.° d'oulubro do corrente anno,
sera dividido em cinco partes; 1/ direccao
e inspeccao; 2.' insiruccao primaria; 3."
instrucfao secundaria; 4/ instruceao especial;
S." instruceao superior.
PARTE 1.'
Direccao e inspeccao.
A intendencia e direccao da instruceao ,
nao comprehendeudo a acaderaia polytechni-
ca, e a eschola naval de Lisboa, e os semi-
narios episcopaes, esta commettida a este
conselho superior, que se compOe de oito vo-
gaes ordinaries, presididos pelo prelado da
universidadc, e dos vogaes extraordinarios
todos distribuidos nas trez seccOcs — primaria
— secundaria — e superior.
Nao houvc outra alteracao no pessoal do
conselho, senao a ausencia d'um dos vogaes
em commissao gratuita, o Dr. Jose de Sa
Ferreira dos Sanctos Valle; — o provimento
d'outro, cujo logar estava vago, na pessoa do
Dr. Jose Manoel de Lemos; e o falleciraento
d'outro, 0 Dr. Manoel Antonio Coelho da
Rocha, cuja perda o conselho deplora; o qual
existe ainda vago.
Vol. IY.
0 pcssoal provisorio da secretaria compoe-
se do secrelario geral, do official maior, e de
quatro oQiciaes ordinarios, sondo. por decre-
to de 14 de maio ultimo, provido um, cujo
logar se acbava vago, e d'um continuo e d'um
porteiro.
A secretaria tern desempenhado com intel-
ligencia, rcgularidade e zelo lodo o service,
que pelo conselho Ihe tern sido ordenado.
No mez d'abril do anno lectivo lindo nao
pode ter logar, na conformidade do art. '21
do regiilamento d'este conselho, a conferencia
ordinaria do conselho geral, por falta de re-
latorios e mappas estatisticos, e d'alguns vo-
gaes ordinarios, com causa justiticaJa, como
tudo foi prc'-ente a V. M.
A pezar d'isso lizeram-se regularmente as
conferencias do conselho ordinario, e nao me-
nos as das suas respectivas seccoes, como
consta da copia das aclas, enviadas mensal-
mente a V. M.
Em 31 d'outubro ultimo, celebrou-se a con-
ferencia ordinaria do conselho geral, lendo
cada um dos secretaries o relatorio da sua
respectiva seccao; antes porem de se fechar
a sessgo, e vice-presidcnte do conselho con-
vidou todos OS vogaes extraordinarios, e os
sabios, que estavam presentes, a coadjuvar e
conselho, apresentande momorias, projectos,
ou qiiaesquer outras pecas litterarias, que
tivessem ehiborade, para serem lidas, e toma-
das em consideracao : nenhuma memoria, ou
qualquer outra produccao foi apresentada ae
conselho.
Os vogaes extraordinarios, encarregados de
pregrammas, compendios e regulamentos para
0 ensino, nem todos pederam ainda apre-
scntar os Irabalbos, que Ihes foram distribui-
dos, por estarem ligados a obrigacoes acade-
micas, que exigem loda a sua attencao. E
carecendo obras d'esta natureza de rauita
meditacSo e reflexae, entende o conselho que
merece ser desculpada a demora de sens au-
ctores, na cenclusao e entrega dos referidos
trabalhos.
A commissao dos vogaes extraordinarios,
nomeada per este conselho, na conferencia
ordinaria do conselho geral d'outubro do
anno passado, para confeceionar o projecto
da nova faculdade, oa curso de scicncias
. ecenomicas e administrativas, na cenformi-
Maio 13 — 18oj. Ndm. 4.
V-d
(lade da poilaria do minislorio do rcinn de
10 d'agoslo do anno lindo, satisfoz poiilual-
menle o Iraballio, dc (]uc Ibi incumbida.
Ak'm d'uni numoroso expcdientc da sccrc-
laria para aliertiira de coiu'iirsos, inl'orma-
('oes, partii'ipaioes officiaes, e cerliddes para
0 eiisino particular, o conselbo iias suas ron-
fereiu'ias ordiiiarias, nao so resolvcii, e c\-
ppdiu uma imiltiplicidade de ncgocios, mas
lanibom olovoii a real prcscnca de V. M.
riMiio e oitPiila e quatro cousultas, sohre
olijcetos de interesse ijeral e particular; e
lizongea-se de ter e»i dia os sous niuitos e
variados trahallios.
Durante o ultimo anno lectivo, o consellio
approvou para serein inseridas na colleccao
dos livros elenientares, que niais accomnio-
dados teni parecido a capacidade dos nicni-
nos, alguinas oliras, lanto na inslrucciio pri-
maria, como na secundaria, constantes do
luappan." 3, avultando entrecllas a — Icitura
repentina — d' Antonio Feliciano de Castillio.
Por iuforniaeOes sobre o ensaio d'este metbo-
do, procura o conselbo averiguar, se o elTeito
responde, ao que proraette o seu auctor; c
acredila, que algunias pessoas zelosas do pro-
gresso da instrucrao, llie hao de comiuunicar,
0 que acbarcm sobre esse ractbodo ; a fim de
que se cure de o generalisar, verificado (pie
seja 0 seu proveito. INao contente ainda com
tantos livros, por desejar eseolber os mclbo-
res, 0 conselbo approvou e levou a real pre-
senca de Y. M., programmas para compen-
dios sobre agricnitura, mecbanica, pbisica e
chimica com appllca(;ao ;is artes, propondo
premios a ((uem os lizer com mais erudicao,
clareza e prccisao.
0 conselbo na conforraidade da portaria do
ministerio do reino de 10 d'agosto do anno
preterite, rcconsiderou, c quasi refundiu os
projectos sobre as jubilaeoes de lodos os pro-
I'essores, c sobre os descontos e os ordenados,
e OS fez depois subir a augusta presenca de
V. M., para serem tornados na consideracao,
([uc merecercm. Ofliciou a todos os corpos
scientificos exigindo o cumpriniento dos arti-
gos 2, 3, 6 4, do §. a da rel'erida portaria,
para que expozessera os tnclboramentos e nc-
cessidades dos sens cstabclctimentos.
0 mesmo conselbo modilicou e considera
como seu, o projecto discutido no claustro
pleuo da universidade, a cerca da creacao e
organisacao d'um curso de sciencias economi-
cas e administrativas, (jue teni a bonra de
submctter a approvacao de V. M., e vai ap-
penso a este relatorio.
0 projecto, Senbora, modificado quanto ao
numero das disciplinas, e a duracao do tempo,
em que deveni ser apprendidas, lia deattrabir
muita gente <io esludo do curso Economico-
administrativo, e como prova desta asscrcao,
ja alguns cstudantes de diversos annos da
faculdade de direito, se matricularam no pri-
meiro anno da faculdade de iibilo>opbia, a fim
de se ircm babilitando [lara as siibseqnentes
disciplinas.
Tambem o conselbo orgaiiisou, discutiu,
0 approvou o projecto para regular a lei de
25 do juHio ultimo, bem como o jirogramnia,
(jue 0 aconipanba.
Sendo indispensavel para uma boa inspec-
(.■ao sobre o metbodo e practica do ensin(»
dos professores, que as escbolas publicas
sejam collocadas em edilicios do Estado, tcni
este conselbo o desgosto de I'azer saber a Y.
M., que, a pezar de todos os sens esforcos,
ainda nao p(jde conseguir a collocacao de
todos. Todavia o conselbo nao desiste do seu
emiienbo, e instara, quanto em si couber,
para ([ue se execute a resolui;ao, (|ue Y. M.
i'oi servida dar a consulta do mesmo conselbo
de ;{ d'abril de 18i0, mandando ao ministe-
rio da fazenda, que pozesse a disposicao do
ministerio do reino, os edilicios pulilicos, para
collocar as escbolas publicas nos differentes
districtos do reino, segundo as inromiacoes
obtidas dos respectivos governadores civis.
Para que a inspeccao das escbolas e esta-
belecimentos litterariosseja regular e completa,
deve ser feita pelo commissario dos esludos,
e, nao podendoestes, por sub-delegados, esco-
Ibidos d'entre pessoas doladas de virtudcs,
intelligeucia, e zcdo pelo bem publico. Por
esles s(Jmcnte q. que os comnussarios podem
ser bem informados dos servi(;os dos profes-
sores respectivos, do numero dos discipulos,
que verdadeiramentc fre(iuentam as escbolas,
dos que de cada uma d'ellas sabeni promplos,
em cada um dos annos, de (juaes sejara as-
povoacOes, que podem commodamente fazer
concorrer ahrmnos as escbolas estabelccidas,
e mnitas outras particularidades, que devem
encber os mappas, que annualmente biiode
ser apresentados a este conselbo superior.
Sem esles sub-delegados, nao e moralmentc
possivel, que a laes miudezas possam dar
satisfac(;ao oscoramissarios. Os services d'estes
sub-delegados deverao ser tomados na devida
considera(;ao, quando forem feitos de perfeito
acci'irdo com os dos commissarios dos estudos,
a quern sao subordinados; e para que o con-
selbo possa exigir d'clles bom c constanle
desempenbo.
Pediram-se informacoes aos commissarios
dos estudos sobre as pessoas idoneas, que
bouvessemos nos sens dislriclos, para o desem-
penbo d'este cargo: d'alguns ja o conselbo as
tem recebido; mas como ainda nao cbegaram
de todos, reserva-se para proper a V. M. a
nomeacao dos que julgar, que podem desem-
peuliar a(iuelle euqirego.
Nem todos os delegados d'este conselho
satisfizeram ao que sao legalmente obrigados,
enviando no tempo marcado, os sens relato-
rios e os mappas dos professores publicos e
particulares; e por isso na conformidade do
43
art. 7, da portaria do ministerio do rcino do
10 d'agoslo de 1848, o consclho leva ao
conhecimento de V. M., quo dcixarani dc
remetter os relatorios parciaos os romniis-
sarios dos estudos de Aveiro — Portalpi,'re —
Santarem — Aiigra do Heroismo — Fiinchal —
Uorta — Ponta Uclgada: — o reitor do lyceu
iiacional do Porlo: — os govcrnadores civis
dos districtos de Aveiro — Beja — Itraga —
Coimbra — Evora — Guarda — Leiria — Lishoa
— Portalogre — Porto — Sanlarem — Villa Keal
— Yizeu — Angra do Ueroismo — Ponta Del-
gada.
PARTE 2/
fnstriicmo frimariu.
Este raeio de ci\ilisapao, inteiramente 11-
gado iis prinu'iras nccessidades do paiz, e ao
desinvolvimcnto de todos os interesses so-
cjaes, merece ser dilTiindido per loda a par-
te; sem elle nao pode haver moral piiblica,
base da seguranca dos Estados; c a mais lir-
nie escora da lei ; e unia necessidadc por to-
dos sentida.
Na sua actual organisacijo, comprehcndc:
tima eschola normal em Lisboa ; — escholas
d'ensino muluo e simultaneo, pagas pela na-
cao; — escholas pagas por corporacOes, ou
legados; — e escholas particulares.
Escholas d'ensino simultaneo pagas pelo
ihesouro sao no continente 1:116, pertencen-
do ao sexo feminino 41; pagas por legados
13; d'ensino muluo 13; e uma eschola nor-
jnal em Liehoa, que ainda nao funcciona : os
professores hahiliiados pelo conselho para
ensino particular sao 71.
Nas llhas ha 32, das quaes sao S de me-
ninas, com mais 3 de eusjno mutuo, alem
das pagas pelascamaras municipaes. Sommam
todas 1:168. Achani-sc vagas 64, reservadas
la.
Segundo os mappas entrados na secretaria
do conselho foram as escholas, a que o thc-
souro paga, frequentadas por meninos 37:890,
por meninas 1:911. As pagas por legados
tiveram meninos 137, e pelas camaras —
meninos 834, e meninas 961. As particulares
concorreram meninos 724, e meninas 352.
D'onde resulta o numero total d'alumnos
37:890. e d'aluranas 1:911 nas pagas pelo
thesouro (Mappas n." 4 c 5).
Por faltarem ainda outros mappas nao pode
0 conselho dar, agora, por inteiro o numero,
nem por conseguinte comparal-o exactamente
com OS dos annos anteriores. Com tudo por um
calculo approximado a vista dos mappas, que
faltam ainda, parece subir o numero d'est€
ultimo anno a mais de 70:000 alumnos, a que
haviam chegado no anno anterior, o qual
em relacao a populacao actual de 3:622:964
— da em resultado a proporcao de 1 : 52.
(Mappa n." 6V A relacao do numero das
escholas ])iiblicas para o das freguozias em
todo 0 rcino cstii na proporcao de 1 : 3,B-
Eslao siippcnsoj: 3 prol'essores; vigiados
41: advertidos 41. Sao de provimciilo vita-
licio 722; tcmporarios ;i37; com substitute
por inipcdimcnlo 44; r('(|ucrcni jubilacfin 12.
.Se 0 conselho quizesse, pelo numero das
escholas publicas, apreciar o estado da insiruc-
cao priniaria, achal-a-ia por cerlo niuito
ahaixo do grau de perteicao, a que a teni
clevado as nacOes mais ilUistradas e adianta-
das na civilisacao, nas sciencias, e nas artes;
con.sola-o poreni a consideracao do quanto
ha crescido o numero das escholas primarias,
nos setenta e oito annos decorrides desde
1772, que, sendo enlao dc 400 foram dopois
successivanicnte subindo de modo, que o
thesouro paga hoje no continente do reino a
1:116 escholas d'ensino simultaneo, e nas
ilhas a 52, alem das que siio alii sustentadas
pelas camaras municipaes. Escasso e todavia
este numero comparado com a populacao por-
tugueza. Muitas freguezias estao ainda priva-
das d'estc genero d'instruccao, e para o
alcancarem e forcoso confessar, que o conse-
lho (em fcito convidar confrarias, junctas de
parochia, c camaras municipaes a contribuir
com os sobejos de suas rendas, para a mauu-
tencao de professores ; visto que sao hoje tao
minguadas as posses do thesouro. Prestando
aquellas eorporacoes uma parte, outra o the-
souro, com este reciproco auxilio, viriam a
formar-se umas como escholas mixtas, quaes
ja se tem constituido nas ilhas. No continen-
te, posto que nao tenha sido tao feliz o resul-
tado dos esforcos do conselho, com tudo ja
alii conseguiu o crearem-se no districto de
Bragaiica, niedianle o zelo e patriotismo do
governador civil, cadeiras pagas pelas cama-
ras, junctas de parochia c confrarias: sendo
23 regidas gratuitamente pelos parochos.
Espera o conselho, que outros govcrnadores
civis imitem este nobre exemplo, e nao cessa
de investigar outros meios de augmentar o
numero de cadeiras, sem gravame do thesou-
ro. Mas ainda mesmo das escholas existentes
muitas estao vagas, a pezar de reiterados
concursos, derivando-se assim d'uma mesma
fonte, todos os males, que padece a instruccao
piiblica. Tao pequenos e mal pages sao os
ordenados dos professores d'instruccao pri-
niaria, pelas circumstancias dos tempos, que
nao e de admirar, que elles abandonem as
suas cadeiras, e nao queirara outros concorrer
a ellas. D'alli nasce tambem, ordinariamente,
0 pouco zelo d'alguns professores no ensino;
a necessidade de prover outros menos ido-
neos, de maneira que, se em um e outro
ponto 0 conselho usasse do rigor devido,
fechada estaria a maior parte das escholas.
D'alli vem ainda em parte um novo mal para
a instruccao; porque sendo o exercicio dos
44
professores cm suas proprias casas, mais dif-
ficil ?e torna a inspcccao nao so sobre o
desempenlio do servico, e o methodo do on-
sino, mas tambem sobre os costumes e exem-
plos, que em alguns nao serao, os que dcvem
adornar os eduradores, principalmente os das
primeiras edades. 0 conscllio para veneer
este (litlicil estorvo, nao se tern poupado ao
trabalbo; e com (luanto nao baja podido re-
movel-o inleiramente, csforca-se em o ir pnu-
co a poiieo desviando. Tambem o consi'Hio
lamenta que, nos mcsmos logarcs onde ha
escholas, alguns paes |)rivem seus lilbos do
ensino, tcndo-os sempre occupados nos tra-
balhos campestres; que outros por desleixu,
ou miscria, nao os mandem ii eschola; e que
alguns para exeniptal-os dos cargos publicos,
queiram conserval-os em perpetua e crassa
ignoraneia.
A lim de remodiar estes males, tern egual-
raente o conselho permitlido a alguns profes-
sores 0 exercicio das aulas cm boras compa-
tiveis com o servico da agricultura, reconi-
mendando aos parochos que facara ver ao
povo as vantagens da instrucciio; e procu-
rado conslituir associarOes do beneficencia,
que preslem soccorro aos meninos, que por
sua niuita pohreza nao podem concorrer as
escholas.
Pelo que respeita a este ultimo recurso,
ja foi approvado o regulamento para a asso-
eiacao de beneliccncia no districto administra-
tivo d'Evora, e tendo subido cm consulta dc
21 de dezembro de 1849 o mesmo regula-
mento com ascmendas, que julgou necessario
I'azerem-se, espera o conselho a approvacao
do governo de V. M. para o generalisar aos
outros distrlctos do reino.
Alem d'estas, e de muitas outras providen-
eias, dadas ou propostas ao illustrado governo
de V. M., lendentes a propagar e nielhorar
a instruccao primaria, prompto foi o conse-
lho em organisar o regulamento d'estas escho-
las, suhmettendo-o a approvacao de V. M.
em Janeiro de JS'io. E sendo devolvido ao
conselho cm agosto de 1840, a lim dc sof-
I'rer as modilicacoes ou additamentos, que a
experiencia tivesse niostrado convenientes,
muito ha jii, que elle o fez novamente subir
a consideracao de V. JI. com as alteracoes,
que pareceram uteis ou necessarias.
Com a mesma promptidao, logo que che-
gou 0 praso prescriplo na lei, para as jubi-
lacoes e aposentacoes dos professores de todas
as classes, o conselho fez subir a approvacao
do governo de V. M. o competenle regula-
mento, no qual procurou conciliar as neces-
sidades do ensino com as individuaes de cada
professor.
0 estado moral c litlerario vai era pro-
gresso era alguns districtos; esta estacionario
em outros, e em quasi lodos o estado mate-
rial das escholas e pouco satisfaetorio.
Os coramissarios dos estudos, e alguns
governadores civis, era seps relatorios lera-
bram: 1.° o prompto e regular pagamento
dos ordenados dos professores, afim de cum-
prirem as suas obrigacoes com mais zelo e
vontade, e concorrerem as cadeiras vagas:
2.° a creacao das escholas normaes, afora a
At'. Lisboa, juncto dos grandes lyceus, onde,
coino em outros tanlos viveiros se criem os
educadorcs e mestrcs do povo, que um dia
deveni occupar dignaniente as cadeiras de
instruccao: 3." a multiplicacao de cadeiras
de ensino primario tanio para meninos, co-
mo para meninas, principniniente para estas,
que se acham assaz desfavorecidas: 4.° em
lim a transferencia d'algumas escholas para
niaiores e mais commodas povoacocs.
As escholas d'inslruccao primaria, pagas
pelo thesouro, achara-se di^tribuidas pelas
provincias do reino na conformidade do
mappa n.° 0. Por elle se mostra que ellas nao
estao na prnporcao da sua populacao, por
isso que ha muitas freguezias que se acham
privadas d'este ensino; e tomando por exem-
plo 0 districto d'Evora que consta de 112
freguezias, separadas entre si, por duas e
mais ieguas, sabe-se que ha para cima de 82
sem este ramo d'instrucrao; e pois de urgen-
tissima necessidade crear mais cadeiras; e
sendo estas, com as actuaes, bem distribui-
das, e collocadas, ter-se-ha egualraente sa-
tisfeito as exigencias que de todos os pontes
do reino se tem feito a este conselho.
A instruccao primaria custou ao thesou-
ro !)7:l(i'i^r70 reis.
Em conclusao, Senhora ! tal e o estado
actual da instruccao primaria, que com a
proteccao do sabio governo de V. M., com a
serenidade dos tempos, e com os esforcos das
auctoridades, espera este conselho, que ira
progressiva mcnte melhorando.
CoiUini'ta,
TELEGRAPIIIA ELECTRICA.
Origem da lcle(jra^hia cleclrica.
I.
Os jiriniciros cnsaios de telegraphia ele-
ctrica datani de 1774. Vinte e quatro fios
metallicos correspondentes as vinte e quatro
letras do alphabeto, e uma raachina electrica
ordinaria, collocada em cada uma das extre-
midades da liuha, consLituiam unicamente o
apparelho do todo este processo. Para indicar
na cxtremidade opposia a letra, com que se
queria fornuir uma palavra qualquer, punha-
sc cm communicacao a machina, carregada,
com 0 fio correspondenle a essa letra; a com-
45
mocao, que o fio experiraentava reproduzia-se
na outra extremidade, e iadicava por conse-
(juencia tal ou tal letra.
Vinte aniios depois Reiser aperfeiroou este
longo e dispendioso proccsso, subsliluindo
pela faisca a commocao electrica. As letras
eram abertas em cobre, c collocadas sobrc
uma mesa de vidro nas duas eslacoes extre-
raas, e a descarga d'uma niachina electrica,
correndo toda a linba, produsia uma faisca
sobre a Ictra locada. Estas tentativas, porem,
que nao haviara escapado ii ingenhosa per-
spicacia do celebre Franiilin, nao tiveram se-
guimento, ate que Oersted demonstrou a ac-
fao directriz, que uma corrente fixa exercc,
a distancia, sobrc uma agulba magnetisada
movel.
Em 1811 Soemmering inventou um lelegra-
pho, servindo-se da decomposigao da agua
pela pilha.
Em 1820 Ampere lancou mao d'outro pro-
cesso, dirigindo uma corrente electrica sobre
tantas agulhas magnctisadas, e tantos lios,
quantas eram as letras do alpbabcto. « Pondo
successivamente em coramunicacao com a pi-
lha estes conductores, dizia Ampere, podia
estabelecer-se uma correspondencia lelegra-
phica entre dois pontos distantes lao prompta
como a palavra ou a escripta. » Enlretanto a
telegrapbia electrica licara estacionaria por
vinte annos, sem que d'ella se fizesse applica-
cao alguma importante, ale que em 1837
Steinheil em Munich, e Wbeatstone em Lon-
dres construiram telegraphos electricos com
um pequeno numero de lios raetallicos obran-
do cada um sobre uma aguiha magnetisada,
e fazendo-a mover sobre um quadrante por
meio d'um apparelho electro-magnetico.
Morse em 1838 simpiilicou este apparelho
empregando os electro-imans por urn systema
mui ingenhoso, porem o apparelho mais
geralmente usado hoje e o de Wbeatstone,
que Breguet e Froment tem aperfeicoado
mui to.
Assira a telegrapbia electrica vai geral-
mente substituindo a telegrapbia aeria, a quern
leva ineontestavel vantagem, tanto pela regu-
laridade das coramunicacoes quer de dia,
quer de noite, e independentemente do estado
da atmosphera, como pela espantosa oelerida-
de com que no espaco d'alguns segundos se
transmittem as noticias de um a outro polo
do mundo. A velocidade das correntcs elec-
tricas, empregando como conductor um tio
de ferro, e de 2o:000 Icguas per scgundo, e
com um fio de cobre 45:000 leguas! Esta
velocidade pode comparar-se a da luz que
chega do sol a terra era oito minutos e trcze
segundos, correndo no espaco 80:000 leguas
por segundo.
Uma bala d'artilheria corre 900 metros
' per segundo, de maneira que, continuando
sempre com a niesma velocidade gastaria
trinta boras em pereorrer o osparo, que a
electricidade corre u'um si'gundo.
E verdade que a telegrapbia electrica esta
suJL'ifa a alguns inconvenienlrs, c|ue toda-
via nao e diflicil rcmediar. Os (ios metallicos,
que scrvem para a transmissao das noticias,
sao muito bons conductores da electricidade,
c OS bus que se emprcgam nos para-raios sao
por isso similhantes iiquclles, e nao seria
rare acontecer, que os einpregados no scrvico
dos telegraphos, iios dois i)ontos extremes da
linba, fossem victimas de alguma descarga
electrica na occasiao de grandes trovoadas.
Para evitar, porem, este perigo Froment csta-
beleceu, que na casa onde se reccbem e
transmittem as noticias deve entrar so um fio
de meio millimctro de diametro, e nao o de
qnatro millimetros e meio, que reina em toda
a linba; alcra d'isto, como a electricidade
alniosplierica e attrabida pelas pontas, e a
mngnctica, de que se laz uso no telegrapbo,
so etUi siijcita a influencia do conlacto, basta
para afasiar completaniente a electricidade
atmospherica collocar adiante de cada estaciio
d'um e outro lado uma serie de conductores.
que nao tocjuem no lio, mas que se aproximem
d'clle ale a distancia d'um milliraetro, e
communicando com o lerreno, porque d'este
modo a electricidade atmospherica, se fosse
conduzida pelos lios, passaria toda para os
conductores, e a electricidade do elcctro-iman
continuaria a circular ale ao apparelho da
respectiva eslacao, por isso que ficava iscnta
do conlacto. Tomadas estas precaucoes, ainda
que uma pcquena parte de iluido electrico
chcgue ale ao apparelho da eslacao, ja nao
pode dar logar a alguma explosao perigosa,
e apenas interrompcra momenlaneamente a
cxpedicao das noticias; e a este mcsmo in-
convenienle se pode obviar, augmentando a
corrente da pilha ate lornal-a superior a cor-
rente perturbadora.
Nao ha por consequencia hoje perigo nem
inconveniente algum na adopcao da telegra-
pbia electrica, cujo uso se vai por isso genera-
lisando em toda a Europa, e na America.
Conliniia.
CEKCA DE BUSS AGO.
Ermitaes, Hospedes, e Desterrados,
Tem-se fallado de ermitaes em Bussaco
antes da era de Christo; e ate se tem dicto,
que alguns obreiros da Torre de Babel vie-
ram acabar penitentes neste retire, c que
seguiram o sen exemplo alguns Essenos e
Recabitos do Instituto Prophetico ou do Car-
nielo. vindos com os Hebreos que Nabucbo-
donosor tinha feito passar da Babilonia para
16
a Hespanlia. Tem-.«r clicin fpinlmenle, <]iic,
loiio (lepois de Christo, piocuraram o dcscrto
<k' Bussaco algiuis ermitao? do scmiiiario
larniLditano, I'uiidado nos airahaldcs dc To-
ledo pcio carnielita Eljjidio, oiUao bispo n'a-
iiut'lla Cidadc. ' Mas aiiula prescindindo
d'estas fal)ulas, iiao aihfi senao prohahilida-
di's no ma is (luc sc Icni dito dos ermilacs de
iBussaeo.
Em (|iianlo cxisliii o Mnsleiro da Yaccarira,
i()iila-si' line iiin on oiiiro iiiongc suliia de
((iiando cm iiiiaiulo aciuidla Sorra, para alii
irocar a vida <ciiol)ilii-a pela vida anaclio-
rc'tica em erniidas isoladas ' ; c quo por
iiiuitos auiios tambein alguns d'estes monges,
que so linliam vo'.ado a uma vida mais coq-
teutiada, alii viveiam cm communidadc no
pequeno mosleiro de Saneta Eufemia, dc que
jii fallei; noticia que podcra tor algum funda-
mento, sc a Mata de Uussaco foi pcrtcnra
do convento da Yaccarica, e, se foi annexo
a esle convcnlo o pequeno mosteiro de San-
eta Eufemia \
Conta-sc lambem, so com o fundaraenlo
de simples tradicao, que entre os ermitacs
de Bussaco fdra muito colebrado urn sancto
varao de Luso ou visinhancas, que por mui-
tos annos frequenlou a(iuclla mata com edi-
ficante dcvocao ; e, por conlraste, cgualmente
se lem fallado d'um negro malvado, que reco-
lliia as suas pilliagens, naquella gruta, ain- .
da hoje chamada Cova do Negro, que se V(>
na ermida do Sancto Sepulchro, logo acima
do Calvario ' ; tradicao, cuja imporlancia
nao se pode medir, poniue nao sabemos a
epocha do facto a (jue se refcrc.
Uesde que acabou o Mosleiro da Yaccari(;a
em 1094 ' ate a doacao da sua Egreja ao
Coilegio da Graea cm loo7 *, nao ha noticia
dos ermitacs, que substituiram cm Bussaco os
bubuleuces; mas logo depois urn graciano,
i|ue foi viver n'a(iuel!a Yilla, e cujo nome
se pcrdeu, tornon-se muito salicnte, segiindo
conta Fr. Joao do Sacramento, pela devocao,
com que subia a serra todas as sextas fei'ras,
para commcmorar a paixao do redamptor,
licando uas erniidas noutes inteiras, absorto
na contemplacao das tragicas scenas de Je-
ruzalcm ■. Seguiram-se outros devotos scm
nolabilidadc, (|ue foram snecessivamente con-
servando o prestigio religioso naquellc rctiro,
ate a fundacao do convento dos carmclitas
descalcos.
Era quanto durou cstc convento desde 1030
ate 1834, ' sempre os religiosos cumpriram
' Chronica Jos CarmelUas Descalras tomo 2 ' liv
4.° — cap. 15. »
-• rhronkii do* rarmelitas Descalcos (logar citado.)
^ Vej. paE. 80 e 81.
' Vej. a nola l^pa;;. 73.
• Vej. pag. a I.
' Vej. pa;. Gfi.
' Chronica dos Carmclitas Descalcos — (lopar citado.)
' Vpja-se pag. 104.
OS deveri's da wda ermitica da sua I'fgra,
nas capellas de pcnitencia ja mencionadas.
Depois da exlinccao das cor|)nrai;oes reiigiosas,
nao ,sei de ningueni, que alii se tenha dado
aquelles sanclos exercicios.
Em todo 0 tempo dos religiosos carmclitas,
por vezcs se rccolheram ao sen deserlo, entre
outros, OS Bispos deCnimbra D. JoaoManoel,
I). Joanne Mendes de Tavora, D. Joao de
.Mi'llo, 1). .Vntonio de Snusa e Yasconccllos; c
0 I'.ispo Eleito de Yizeu e Beitor da Universi-
dade .Maiioel de Saldanlia, etc.
Jii antes de 1S34 visitavam Bussaco
ninitas pessoas dc notabilidade, uacionaes e
esirangeiras, que passavam na sua visinhan-
ca ; mas, depois de aberta a clausura, torna-
lani-se mais frequcntes estas visitas; e a 28
d'abril de 1832 almocaram no convento
de Bussaco a Sr*. D. Maria II, e o Sr. D-
Fernando com os dous lillios mais vcllios, o
Sr. D. Pedro V., enlao I'rincipe Uegente, c o
Sr. Infante D. Luiz.
Bussaco e visitado em todo o anno, e.
principalmenle no verao, por numerosas fa-
inilias e ranchos de camponezes; mas o dia
de Nossa Senhora d'Assumpciio, tem-se con-
vertido, ha poucos annos, em dia de folgue-
do p romaria. A concurrencia neste dia tem
augmentado successivamente; e o anno pas-
sado jii se calculon em loOO pessoas.
Tambem este dcscrto serviu de desterro
aos Infantes D. Antonio c D. Jose, (Meninos
de Palhava), lilbos naturaes d'el-rei D.
Joao v., desde 1760 ate a morte de cl-rei
U. Jose cm 1777, por dissidencias que li-
veram com o Marquez de Pombal; cm 1794
e 1701), a alguns padres penitenciados pelo
Sancto Oflicio; ao Bispo de Braganca D.
Antonio Luiz da Yeiga, por ordem da Begen-
cia do Beino, desde 1814 ate 1818; pelas
nossas dissensocs politicas, ao Cardeal Pa-
triarcha D. Carlos, era 18*21 ; ao Arcebispo
de Braga D. Fr. Miguel da Madre de Dens,
e ao Bispo de Pinhcl U. Bernardo, cm 1823 ';
e nltimamente, desde outubro dc 1820 ate
fevereiro de 1832, ao Prior de Monsarras,
Joaquim Placido Galvao Palma.
Devo aqui mencionar o dia 27 de scptem-
bro de 1810, que den notabilidade a Serra de
Bussaco por todo o niundo politico, pela conhe-
cida bataiha cnire os Francczes e o exercito
Luso-Anglo, de que se acha uma descripcao
curiosa nas Mcmorias de Bussaco do sr. Forjaz,
e noutra memoria transcripla era ISlti na
Bedaccao Patriotica n.° SO. E nao e menos
glorioso para o nome dc Bussaco o anno de
1853, eni que esta serra ficou sendo conheci-
da no mundo scientifico pela publicacao, que
fez a Sociedade Geologica de Londres, de uma
intercssante memoria sobre os Irabalhos geo-
logicos do sr. Carlos Biheiro, quando diripia
' Mcmorias de Bussuco — pari, 'i J. 10.
47
as pesquizas da haeia carbonifera no sope
occidental da serra ' ; memoria, que se acha
ornada com niuitas gravuras de fosseis do
Bussaco, e entie estes alguns gcneros e muitas
cspci ies dedicadas ao sr. Carlos Ribpiro, como
seu descobridor, incrocendo particular niencao
0 novo gonero — Ribciria plinladiformis —
em cuja denominacao a Sociedadc Gcologica
de Londres quiz dar urn testemunbo da eleva-
da consideracao, que Ibe niercceu o geologo
portuguez '. Tambom se podem archivar como
lactos historicos da scrra de Bussaco o corte
cm ziguizagnes, que ha dous annos sc fez na
montanha, para a estrada entre aMealliada e
Vizou, cujos trabalhos I'oram dirigidos pelo
sr. Vasconcellos, e o edilicio dos banhos de
Luso, que se acha em construccao por uma
soeiedade, que toniou a obra por cmpreza a
camara municipal da Mealhada.
Possuidores de Bussaco.
K mesma obscuridade, que aehei sobrc os
principios da mata de Bussaco, encontra-se
tarabem sobre os sens priniitivos possuidores;
' Em Sancta Christina abriram-se dous po(;ns, sendo
uiii obliqiiu de 170 palmos e outro vertical de 50 palmos.
Eii\ Sazes urn vertical de '200 palmos. E em Valluiigo
urn tambem vertical de 200 palmos ; e do fundo para
baixo mais 420 jialmos de furo de sonda. Come^aram
on trabalhos em Janeiro de 1850, e suspenderam-se em
Novembro de 1852.
^ Fosseis descouhecidos em geologia, e descobertos
pcio sr. Carlos Ribeiro na Serra de Bussaco, com a in-
dicacito dos auctores que os classificaram.
Dithyrocaris? longicauda Sharpe; especie nova.
Ogygia? glabrala Salter; esp. n.
Beyrichia Biisacenssis Jones; esp. n.
Simplex Jones; esp. n.
Disteichia reticulata Sharpe; genero
novo e esp. n.
Synocladia Lu-sitanica Sharpe; esp. n.
11} pnoides Sharpe; esp. n.
Pecopteris leptophylla Hunburj ;esp. n.
Ostis Ribeiro Sharpe; e.sp. n.
Exornata Sharpe; esp. n.
BussacensisSharpe; esp. n.
Mundoe Sharpe; esp. n.
Porambonites lima Sharpe; esp. n.
Ribeiro Sharpe; esp. n.
Leptasna Beirensis Sharpe ; esp. n.
Ignava Sharjje ; esp. a.
Dolabra Lusitanica Sharpe; esp. n.
Xucula Costai Sharpe; esp. n.
Ciae Sharpe; esp. n.
Ribeiro Sharpe; esp. n.
Ezquerra: Sharpe; esp. n.
Leda Escossura: Sharpe; esp. n.
Nucula Maestri Sharpe; es]). n.
Eschvvegii Sharpe; esp. n.
Beirensis Sharpe ; esp. n.
Bussacensis Sharpe; esp. n.
Modiolopsiseleganlulus Sharpe ; esp. n.
Cypricardia Beirensis Sharpe; esp. n.
Ribeiria pholadiformis Sharpe; gen. n. e esj'. n.
Pleurotomaria Bussacensis Sharpe; esp. n.
Theca Beiren.sis Sharpe; esp. n.
On the Carboniferous and Silurian Formations of the
neighbourhood of Bussaco in Portugal. By Senhor Carlos
Ribeiro. With Notes and a Description of the animal
remains, by Daniel Charpe. etc.
no entanlo aqui pode apanhar-.=;e o iio das
probabilidades em cpocha muilo maisreniola.
Num inViSii'tario dos iiens e iogares do con-
vento da Vaccarica, feilo cm 106i ', encon-
trei mcncionados trcz Iogares do sope da ser-
ra— Luso, Sancta Christina e Varzeas — o
que parece inculcar, que esle sitio da mata
cntao Ihe pertencia, por se achar nas mesmas
vertentcs.
Se cste inventario, e o que nos diz Fr.
Leao de S. Tboraaz do Mosteiro de Sancta
Eufcmia de Bussaco, como filial do Convcnlo
da Vaccarica'', podcm mostrar, que a mata
perlenccu aos Monges Bubulences, 6 de crer
que a sua actjuisifao fosse anterior ao seculo
XI, por nao constar das escripturas do Livro
Preto, de conipras, trocas e doacOcs das pro-
priedadcs d'cstes monges, cujas datas alcan-
fam a 1002.
Como pcrtenca do Mosteiro da Vaccarica,
passou a mata de Bussaco a Se do Coimbra
em 109i, pela doacao fcita por D. Raimundo,
de todos OS bens d'este mosteiro ao Bispo D.
Cresconio". Depois em 11 de maio de 1028,
foi doada pelo Bispo D. Joao Manoel aos
carmelitas dcscalcos, que cntao procuravam
0 local apropriado para uma casa de solidao
e penitencia, que devia ter a sua provincia de
Portugal, ja desmembrada da de Castella. Esta
doacao foi conlirmada por breve do Papa
Urbano VIII de 8 de fevereiro de 1629, que
auctorisou a permutacao d'esta mata, avaliada
em (cnto e oitenta mil reis, por outros bens
([ue 0 Bispo comprou para a Mitra no valnr
de cento e oitenta e sete mil reis''.
Os carmelitas descalcos construiram o scu
convento na mata, como vimos, e alii vivcram
ate 1834. Neste anno, pela extinccao das
ordens religiosas, passou a mata de Bussaco
a fazenda nacional, onde se conserva actual-
mentc. Abertas as portas da clausura, foi
immensa a concurrencia dos visitadores, que
alii afHuiram de toda a parte; e o dcsleixo da.s
aucloridadcs, nos primeiros an'nos, deu iogar
a grandes estragos na mata e ermidas.
0 ultimo prior do convento, Fr. Antonio
dc Sancta Luzia, e mais quatro religiosos (|ui;
alii ficaram, Fr. Antonio dc S. Tbomaz d'.\(iui-
no, Fr. Joao da Cruz, Fr. Bernardo de Sancto
Antonio, e Fr. Antonio da Expectacao, ar-
rcndaram depois os pcquenos pedacos de ter-
ra culta, que ba juncto do convento; c em
julho de 1837, por uma portaria do .Vdminis-'
' Livro Preto— foi. 36."
^ V.'j. pag. 80 e 81.
^ Veja-se pag. 21 e 22.
* Chronica dos Carmelitas Descal(;.os — lomo 2." — tiv.
4." — cap. 11." Nas Memorias de Bu^aco do ^r. Forja'i
attribue-se esta doa^3o, por equivoco, ao Bispo D. Joao
de Mello ; mas nas differentes pe^as do processo, copiadas
na chronica, vem claramente designado o nome de D.
Joao Manuel, Bispo de Coimbra, e Arcebispo Eleito de
Lisboa.
48
irador a,cra\ o sr. Manoel Joaquim Fernandcs
Thomaz, foi o P.' Prior cucarrcgado da giiarda
especial do coBveiito e luata, f9;|4i^'^'<'J'' 1"^'^
Admiiiislrador do Coucelho. Eiu 1838, por
sollicitacoes do \alioso prol.ctor d'estc monu-
mcnto nacional, o sr. Mauo''! de Si-rpa iMa-
fhado, baixou do governo a Portaria do pri-
meiro do dozembro, que alliviou os padres
d'aquella rcnda, como reeompensa da vigilaiuia
da mala, e do cncargo d'aiguiis reparos no
muro da cerea. Ultimamcnte o Go\eriuidor
Civil 0 sr. Tliomaz d'Atiuiuo Martins da Cruz,
visitando aquelle sitio no verao de ISiiO, pro-
videneiou sobre a policia da mala, nuuulan-
do para alii uma guarda permaueiite de ve-
terauos d'A.veiro, e sujeitando a approvaeao
do goveruo urn regulamento a eslc respeito
com daUi de 12 de septembro de ISiJO. Dos
religiosos, que alii liearam em 183i, apcnas
so couserva o sr. Fr. Antonio de S. Thomaz
d'AquiuQ.
A. A. D* COSTA SIM6ES.
ESTUDOS PHILOLOGICOS.
I.
Glotsario das palavras « phrases da lingua fran-
ceza, que por detcuido, ignnrancia, ou neccssi-
dade »e tern introduzido na locucan portugucza
moderna. com n juizo critico das que sao ado-
ptaveis nella. Pur D. Fr. Francisco dc S. Liiiz.
0 cardeal Saraiva, tomando parte nos ac-
contecimentos mais notaveis da epocha, gran-
geou um logar distincto em iiossos fastos con-
temporantos; publieando as obras inimorlaes,
que attestam a vastidao de seus conheeimen-
tos, aleancou mais honrosa nomeada, c direilo
indisputavel a gratidao de todos os amigos
das iettras portuguezas.
Sob a triplice consideracao de estadista,
pontitjce, e litterato, pode ser olhado, a luz
da historia, o magestoso vulto d'este respeita-
vcl personagem ; importante materia para
sisudo examc presta ao estudioso qual(|uer
das tres phazes d'uma vida tao longa, e bem
lograda; deixando a outras pennas a avalia-
cao das duas primeiras, tocaremos na ultima,
que, se, aos olhos do vulgo, e de somenos
monta, aos do phjlologo e de mor valia.
Desesejs annos haviam decorrido apos a
primeira metade do seculo dezoito, quando
em Ponte de Lima abriu os olhos a luz do
dia Francisco Justiniano Saraiva.
Pelos patrioticos esforcos dos incansaveis
arcades principiava entao a levantar-se nossa
decadenle littcratura do abalimento deplora-
vel, era que jazia ha annos.
Pedro Antonio Correa Garcao, Francisco
Dias Gomes, Domingos dos Reis Quita, Antonio
Diniz da Cruz, Francisco Jose Freire, prece-
didos pelo abbade Luiz Antonio Verney, haviam
ja lan^'ado bases solidas a rcstauracao do bom
gosto [lelo profundo e aturado estudo dos
dassicos naciouaes.
Este poderoso impulso dado as nossas Iet-
tras eontiuuou-o lervorosa a aeademia real
das sciencias, que nao so herdara os brios
da arcadia, mas recebera em .sen gremio os
mais distinctos membros d'esta sociedade.
Quando o joven Saraiva, guiado pela pieda-
de, ou iiioviilo pelo inslincto, (|ue leva para
a solidau os espiritos meditativos, vesliu a
cogula bencdictina, coutava a aeademia dous
annos d'existencia, e doze apenas haviam
decorrido, ((ue, de|)ois de o ter por trabalhos
litlerarios premiado, a si mesma se honrou.
inscrevendo-o no catalogo dos seus socios.
Em 1794 comeca para Fr. Francisco de
S. Luiz a sua vida de litterato. As distinccoes,
que grangeara na ordem, os triumphos, que
obtivera na Universidadc, I'oram apenas sim-
plices pro\ancas, por que devia passar o nobre
donzel, antes de ser admittido a prolissao de
eavalleiro nesta inclita railicia.
Se a aeademia acudiu diligenle a aproveitar
0 prestimo do Doutor S. Luiz, nao Ihe em-
bargando o passo a consideracao de seus poucos
annos, que ainda niio chegavam aos trinta,
0 novo socio correspondeu plenamcnte a tama-
nha confianca, desempenhando com zelo os
novos encargos, que coutrahira.
Fora por esta corporacao proposto no pro-
gramma de 1810, na classe de littcratura
portugueza, como primeiro assumpto, a com-
posicao de um glo-ssurio ou catalogo de palavras
e pliruses, em que 6e mostrasse com locla a
individuacuo as que eram proprias da lingua
[runceza, e ([tie por descuido ou ignorancia se
linltain introduzido na locucdo portugueza mo-
derna, contra o antigo e bom uso, e principal-
mente as que fossem contra o genio da tiossa
lingua, e como taes inadoptaveis nella.
De tanlos acadeniicos insignes, que entao
compunham esta conspicua sociedade, nenhum
ousou occupar-se de tam cspinhosa empreza ;
commetteu-a S. Luiz.
Em 1817 apresentou a sua raemoria com
0 titulo, que serve de epigraphe a este trabalho,
ol/ru por certo de muito estudo. e critica, como,
ainda antes de publicada, a couceituou o
eximio secretario da aeademia, Jose Bonifacio
de Andrade.
Com grande sisudeza e precato impoz a
aeademia no programma a obrigacao de trac-
tar somente dos gallicismos, que na locucao
portugueza moderna se houvessem introduzido;
porque avultado numero de vocabulos pura-
raente francezes se haviam incorporado na
locucao antiga, achando-se naturalizados e
legitimados pela veneranda auctoridade de
escriptores de grande tomo.
0 conde D. Henrique, e os cavalleiros fran-
cezes, que successivamente vieram estabele-
cer-se cm Portugal, nao so augmentaram o
i9
patrimonio de nossa lingua, mas alteraram e
adocaram a sua proniincia, expcllindo as gut-
turaes, e aspiracoes, que as linguas golhica
e arabica tinham introduzido nos idiomas
d'llespanha.
Para se mostrar quam vulgar era o uso da
lingua franccza na corlc do scnhor D. Joao
I, e seus fdhos, basta ver as divisas de cada
urn d'elics, que se acbara no convcnlo da
Latalha: sao todas cm fiancez. A do sonhor
Rci D. Joao e: 11 me plait pour bien ; a de
D. Pedro: Desir ; a dc D. Henrique: Taknl
dc bien [aire; a dc D. Joao: J'ai bien raison;
a dc D. Fernando: Le bien me plait.
Circunifcripto pois o catalcgo a exposirao
s6mcntc das palavras, e phrazes I'rancczas, que
so liuham ir.troduzido na nossa linguagim
moderna, era lorcoso li\ar a epoclia, donde
devia coniecar o cxame; com loda a razao a
principiou a conlar o A. da Mcmoria do prin-
cipio do scculo Will ctm o reinado do scnhor
D. Joao V. Foi, cm verdade, neslc tempo
que fomccou a reslauracao da nossa litlera-
tura, e consequcutenienle o csludo, efrequente
licao dos livros francczcs. Scguiu-se depois
essa cspantosa ailuviao dc escriptos bastardos,
em que se acha desligurada a nativa formosura
da lingua de Camties, e Yieira.
Scndo porcni lac gcral, por desgraca, a
adopcao de palavras novas, sem reconhecida
neccssidade, uem gencro algum dc convc-
niencia, que a juslitiquc, ha todavia escrupu-
losos, que, pcccando pelo excesso opposto,
sentenccam por vozcs novas, algumas, que
tern ja scculos de antiguidade.
Seriamos scbrcmancira diffusos, se nien-
cionassemos todas as palavras, que, logrando
ja ha muilo os foros de portuguczas, sao
todavia taxadas dc mcnos casticas.
Nao e porem maraviiha, que pessoas pouco
versadas na leitura dc nossos elassicos rojeitcm,
por cstranhas, tacs palavras, quando o pro-
prio S. Luiz, com profundo conhccimento de
nossos bonissinioscscriptores, condcmna, como
novas e desauctorisadas, algumas, (|ue havc-
mos por antigas, e dignas de reconimcndacao,
deixando alias de inscrever no glossario outras,
que, cm nosso conceilo, alii tinham mui digno
cahimento.
Notar a discordancia entre a opiniao d'este
insignissimo critico, e a nossa, expondo os
reparos, que nos icm suggerido o nosso cstudo,
e 0 principal proposito, que tenios em vista
iieste escripto.
Bern conhecemos uosso pouco valor, para
querer hombrear com o primeiro littcralo por-
lugucz de nossos dias, e ainda nuiito menus
para ampliar um trabalho, que so elle ouzou
emprehender; afl'oulamo-nos todavia a puLiirir
estas lucubracOcs, porque podcm, por \enti:ra,
suscitar em qucm possua mor cabcdal de conhe-
cimentos vontade de perfazer lao proficua
obra, e, quando raais nao seja, damos, por
cste niodo, um teslimunho solemnc do fcrvoroso
dczcjo, que nos anima, de que a nossa lingua
se restitua sua natural bclleza e formosura,
desempccando-a dos alavios, e modes cstran-
gciros, corn que, pretendendo arreial-a, lanto
a tcm dcsligurado.
A — Abstracao : Alstracao feita e gallicismo
de construccao ; deve dizer-se : fazeiulo abslrac-
cao, prescindivdo, ou abstrahindo de, etc.
Adiado {Ajonrne): signilica rigorosamente
(dia) pref.io, (dia) aprazado; no senlido de
espaeado, Iransferido, e gallicismo desneces-
sario, na opiniao d'um escriptor moderno; nao
nos parcce todavia rasoavel a cxclusao de adia-
do, nesta ultima accepcao, admittindo-se o
verbo udiar, aprazar dia para ahjiima accBo,
cuja Icgitimidade ningucm conlesla ; admittido
0 verho, e lorcoso adniittir o participio.
Al'cres (A/f'aires) : vcm no Cancioneiro dc
Rcscndc, scgundo Moracs. Fazeres, plural de
fazer substantivado, acha-se cm Gil Vicente
— Barca 1." « Porque cm todos teus fazeres
per malicia nao arraste. » Affazeres ii vocabulo
mui vulgar nao so na provincia de Entre
Douro e Minho, mas nas duas Beiras.
Argcm [Argent): no sentido de dinheiro
(no nosso povo e usual a phrase chula de I'ar-
gem) vcm no Cancioneiro fol. 158 v., e em
Gil Vicente — Serra de Estrella: oArrenego
cu do argem, que me vcm dar tormento.x
Asccndente (Ascendant): no sentido de pre-
dominio, superioridude, imperio, influenciu,
e condcmnado pelo A. da Mcmoria, e per-
mittido por um critico moderno, por se usar
na lingua castclhana.
Avalancba (Aealanche): «0 que seria, se
a cruz redcmptora, rcunindo as rcliquias da
ci\ilisafao roniana, nao apparecesse mais
tarde, como unico dique possi\el, para suster
essas avalanclias do harbaros, que dcspren-
dcndo-se do norte, cahiram sobre o mundo
romano ja cm ruinas?" Condcmnamos o uso
d'este vocabulo, que na lingua Iranccza, d'onde
um escriptor moderno o pretcndcu trazer a
nossa, significa massa de neve, que rola das
montanhas. Nada perderia a expressao da sua
energia metapborica, e fallava com propric-
dade se dicesse: » 0 que seria, se a cruz
rederaptora, rcunindo as rcliquias da civilisa-
cao roniana, nao apparecesse mais tarde, como
unico dique possivel, para suster essas torren-
tes de harbaros, que precipitando-se do norte,
alagarum o mundo romano ja cm ruinas? »
B — Blusa (Blouse) : E vocabulo muito usado
nas traduccOes dos romances; rcputamol-o
desnecessario.
C — Carnagem (Carnage): no sentido de
malanea e vocabulo reprovado pelo A. da
Mcmoria ; achamol-o porem em Garcao — obras
poeticas — Soneto XXXIV:
Entao OS encalmados scgadores
Lancam por terra os esquadroes vijosos :
Da carnagem cruel nenhum se salva.
50
HoiTorosa carnmjem disse tami)cta Joao
Pedro Riboiro nas siias rejlrroes historicax —
parte 1. pag. I3i.
Por carniraria exprimom pommiiniciilo os
nossos classicos a idoa de matam-a, moitan-
dade. Yioira — sennOes — torn. 2." — pag. 17;>
diz: "Noincio dodestroro, ou carniruriii, ([iic
ia fazendo a pcstc de David no iiial rontado
povo de Israel. « De carnira, no mesmo .';en-
tido deraatanra, iisnu Francisco de Sa de Me-
nezes na eleijiu a morle do principe D. Joao :
Fez Moyses, fez Samuel justa carnica.
Em nossos antigos escriptores (arnagem
signilicava provisao de carnes: « leita aguada,
c carnai/em," diz Castanheda — kistoria do
descobrimenlo, e conquisla da India — liv. 1.
cap. III. Barrcs^rffc. Liv. 1. cap. II tarabem
diz; « te tornar a Ilha das gracas pera I'azer
sua carnagem. «
Chanibre {Rohe de chambre\ : vestido caseiro,
t'raldado ate abaixo dos joeibos. Ja vem em
Moraes, e e vocabulo mui usado de Tolentino
— ohras poelicas — torn. 1. — Soneto LIII. :
Com bengala na mao, chambre tracado.
E no memorial ao excellentissimo senhor
D. Diogo de Noronba — pag. 117:
Que cm longo chambre cmbrulhado.
Antonio Diniz da Cruz e Silva tambem diz
no seu poema — 0 Hijssope — Canto 1:
A tempo, que de chambre, e de chinellas
Pela comprida sala passeava.
Cocar (Cocarde): E reprovado pelo A. da
Meraoria o uso d'cstc vocabulo; porem Bernar-
des emprcga-o na nova floresta — torn. 1. pag.
177 :
«Da Africa as pennas dos Avestruz para
OS cocares de piumas . . . » — -Diniz tambem
usad'este vocabulo na Odea. Ileitor da Silveira
— Anilistropbe 2:
Ante OS muros de Pergamo guerreira
Hcitor se aprcsentava:
Treme o crespo cAcar sobre a viseira,
Que OS ventos acoitava.
Contintia. ' r. de GUSMAO.
ESTUDOS PRELIMINARES DE BIOLOGIA.
III.
A Medicina it a physiolopia dos
corpos organisados applicada a
conserva^ao e restabelecimenlo
da saude. (reil.)
Sans Physioloffie, pas de
iVledecine. giktrac.
Grandes e mui vaiiosos sao os auxilios, que
a pbysiologia presta a arte de curar. Depois
que tomou o caracter de verdadeira seieucia,
as ideas physiologicas dominanles nas divcrsas
epochas teem servido de base aos diflercntes
systenias patbologicos.
Dando lli])[iocrates grande iniportancia a
nnlurczn inedicutriz, a sua tiii'nipeutica era
expecianle. on tcmlente a dirigir esta forca.
Boe Syhio, sustenlando que lodos os aclos
vitaes se roduzem a oporacoes cbimicas; que
a efl'ervescencia dos bumores e sua fermenta-
cao explicani as diversas funccoes; que os aii-
mentos lermentam no estomago debaixo da
inlluencia do sucro gastrico; que o succo pan-
ireatico e a iiilis dao Ingar a uni novo trabalbo,
a nni desinvolvimento de gazes, que niuito con-
tribue para aperfeicoara digestao; quco movi-
meiilo do sangue no coracao e devido a unia ef-
f'ervescencia ahi produzida pelo enconlro d'um
.sal volatil da bilis com um acido temperante
da lympba; lancou as bases de um novo
systenia pathologico c tberapeutico. Todas as
molestias erao entao occasionadas pelos pro-
ductos anormaes das divcrsas combinacoes,
e OS preparados chimicos mais cnergicos
admnistravam-se temerariamente com o lim
de curar.
A idea de explicar pela chimica os phe-
nomenos dos seres organicos succedeu o iatro
mechanismo, assim chamado porque se basea
no principio de que o corpo e nma macbina
animal. Para o seu estabelecimenio concorreu
Descartes que explicava as secrecoes pelas di-
versas formas de moleculas, e as funccoes de re-
lacao por um movimento vibralorio, ([ue, susci-
tado em os nervos pelas impressOes evteriores,
c propagado a glandula pineal, se dirigia as
(ibras do cerebro, onde deixava vestigios ma-
teriaes.
Nesta theoria physiologica os alimenlos
introduzidos no estomago experimentani uma
trituracao, que os reduz a particulas tenuis-
simas; o apparelbo circniatorio c, conside-
rado conio uma macbina bydraulica, reprcsen-
tando 0 coracao uma bomba aspirante e pre-
mente; o calor animal foi attribuido exclu-
sivamcnle ao altrito dos globulos sanguineos
entre si e contra as paredcs dos vasos que
OS contem, e cbegou-se ate a calcular em
180:000 libras a forca contract!! do cora-
cao 1 !
No tempo em que dominivam estas ideas
0 celebre Boerhaave explicava (|uasi fodos os
symptomas das molestias si-gundo os prin-
cipios da mechanica. Alteracao de cohesao da
libra elementar, perturbacoes no movimento
e ([ualidades dos liquidos, assim como a oblite-
racao dos vasos, eis as unicas causas das
molestias. Eraissoes sanguineas, e evacuantes
de todas as especies eram empregadas como
para diminuir a rigidez da libra, ou des-
obstruir os vasos.
StabI reconhecendo os abusos das oscholas
cbimicas e mecanicas, deu grande impor-
tancia ao ostudo dos phenomenos vitaes. Os
51
aelos vitaos tinham por causa um principio
inU'lligenle c dolado J'uiiias inlluoncia seniprc
bi'iielica. Este priiuipio era a alma. As doencas
erani rcac<;oes salutares, e a niedicina ri'du-
zia-se ao simples papel d'expectarao, papel
algumas \ czcs hem ]>ernieioso, ]ioslo que noii-
Iras scja o qiie se deve seguir.
A csta seita segiiiu-se o solidismo, suslen-
laudo que as molestias se davam unicamente
nos solidos. Brown era uni graiide del'ensor
d'estc systema: admittia no organisnio uma
luiica propricdade a excilabilidade, em vir-
tudc da ((ual os nossos orgaos respondeni aos
esiimulos. A aecao dos incitanles snbrc a
ONtilabilidade dos orgaos produz a vida. A
propriedade da exeitabilidade era susceptivel
so d'augmenlo e diniinuieao: o cxcesso de
forea era a sthenia, o de fraqueza, ustlie-
nia. As molestias per fraqueza eram as niais
numerosas; e d'abi se seguia o abuse dos
estimulanles. Brown nao dava imporlantia
ao eslado local. Toda a afl'eccao era uma
alteracao geral.
Broussais em 1810 Janca as bases d'uma
nova doutrina que denomina physiologica. Dii
toda a iniportancia as lesOes materiaes, porque
scgundo elle o principio vital jamais pode ser
all'cctado ou alterado primarianiente. Esta
doutriua mereceria mais o noma de anatomica
ou organica. Broussais julga que todos os
pbcnoraenos da vida depcndcm principalmente
da irritabiiidade, que tern sua sede nos orgaos
dos sentidos e nos tecidos. A existencia desse
phenomeno, nao se manifesta senao debaixo
da influencia dos irritantcs, e d'abi resulta
a irrilacao. E necessario porem que os ir-
rilantes acluem numa medida conveniente. Se
I'orem mui fortes na sua accao determinam
uni estado especial que Broussais chama par-
ticularmente irritacau; So actuani mui I'raca-
niente produzem a JebilidaJe, asthenia oit subir-
ritacuo. Broussais partindo da idea de maior
frequencia das molestias stbenicas dirigia a
sua therapeutica seguudo eslcs principios.
A doutrina de Broussais prestou grandes
servieos a arte de curar; deu origem material
a muitas molestias, e desviou a medicina do
caminho puramente vitalista, que havia toma-
do.
0 objecto, que deve prcnder todas as atten-
cocs d'um medico practico, e a sciencia do
diagnostico. Este e uma sciencia, que, como
muito bem dizia Lnuiz, occupa o primeiro logar
entre todas as paries da arte de curar, e e
ao mcsmo tempo a mais util e a mais dif-
ficil. Sem um diagnostico exacto e precise
a practica e muitas vezes inliel. Medkus suf-
ficiem ad morbum cognoscendum, sufficiens ad
curaiidum, diz Baglivi. E a physiologia 6 que
devemos recorrer para fazer um bom diagnos-
tico.
Os nossos orgaos podem manifestar os seus
soffrimentos, por uma dor, por uma alteracao
nas suas funccocs, ou em conscquencia das
relacoes suiipalliicas com outros orgaos. A dor
e uma modilicacao da seusibilidade; e neces-
sario conbecer esta propriedade no estado do
saude para avaliarmos as modilicacoes, que
constiliiem o eslado morbido. Os nossos or-
gaos nao sentem tcdos do niesmo modo, e
necessario reconhecer o Ivpo, que Ibes e na-
tural.
Para avaliarmos cm queconsistem as altera-
cOes d'uma qualquer lunccao e necessario
conbecer o modo, por que o orgao entra em
exercicio no estado de saude.
Nem sempre as alteraeOes funccionaes se
manifestam por phenomenos diretlos; e ne-
cessario recorrer a observajao dos produ-
ctos d'estas funccoes, ou a algum symptoma
especial, que a perturbaijao da lunccao possa
produzir.
A pbysiologia leva-nos ao conhecimento da
scnsibilidade propria de cada orgao, fornece-
nos i'sclarecimentos sobre o exercicio dos
orgaos e seus resultados, mostra-nos a sym-
pathia que os liga, e por isso e mui util para
0 diagnostico.
Se a agricultura considerada como sciencia.
tern por base o conhecimento das condicoes
da vida dos vcgetaes, da origem dos seus
elementos, das fontes da sua alimentacao, os
principios da physiologia vegetal serao sem
duvida da maxima importancia, porque nos
forneccrao os meios de obter n'uma certa e
determinada area de terreno a maior somma
de substancias alimentares destinadas ao ho-
mem e aos animaes.
A economia animal necessita de cerla por-
cao de chlorureto de sodio, e isto tem dado
logar a considerar como beneiica a influ-
encia do sal marinho na alimentacao dos
gados. As experiencias de Boussigault sao
concludendes, e conlirmam as indicacoos theo-
ricas.
A physiologia presta tanibcm valiosos ser-
vices a zoothechnia. Immensa e sem duvida
alguma a importancia de boas racas d'animaes
dcstinados aos nuiitos e variados uses da vida.
Estas obteem-se pele crusamento d'individuos
d'especies diflerentes; — id<j verdadeira obra
do homem como diz St. Ililaire. 0 facie obser-
vade em physiologia que o pae e a mae
transmitteni ao fillie as qualidadcs physicas e
ate meracs, deu origem a idea tao feiiz do
cruzamento das especies para e aperfeicoa-
mento de novas racas, que depois se per-
petuam. Com muila razao diz Magne: •• a
geracuo e para o creador o que a yravura e a
typotjraphia sdo para o escriplor. » A iulluencia
de cada um dos repreducteres sobre o producto
da concepcao varia conforme as edades, os
sexes, e o estado dos individuos. Determinar
qual seja o grau d'csta influencia e objecto
especial da veterinaria. 0 nosso fim lei unica-
mente indicar a grando vantagem, que se
52
pode conseguir do seguintc principio physio-
logico: — a copula fecnndanle de dois iiidivi-
duos de differente especie da oriqcm a um
novo p'oduilo, que pnde affectav dinersos ca-
racleres segnndo o predomiiilo do uiiirlto ou
da feinea.
.Vleni drts rondiroes intemiis lU'c-ssarias
para a manireslacao da vida, oiUras lia, (luc
se ac'liaiii I'ora dc nos o sao di^sliiuulas a^) iii.'smo
(im. Coino obrani esles agentes cxtornos ou
cosmicos. se a sua arrao e estimulaute como
ijueria Brown, se o sini tim c cntreter a
tonicidado dos orgSos, segundo a opiniao df
Thcmison, se o seu papel c irritaute? Alii estao
outras tantas (luesloes, em que uao cntrare-
raos por as suppormos deslocadas.
Todo 0 ser vivo pode ser considerado de-
baixo de dois pontos de vista mui distinclns;
staiico c dijnamico. A hygiene, ou iiygioleciinia,
como Ihe cliama Fleury, tratando de manter,
collocar, ou restabelecer o liomeni nas condi-
eoes raais lavoraveis ao desinvolvimenlo regu-
lar da sua organisacao physica, intellectual c
moral, comprehende cste dupio estudo, c os
modifieadores, de que se occupa pcrtencem
ou ao mundo exterior, ou ao ser vivo consi-
derado em si mesmo.
0 conhecimento de taes modifieadores e
dado pela pliysiologia, e sem esta nunca po-
deremos collocar urn individuo nas condicoes
mais favoraveis a manil'estacao da vida. A
hygiene pois e dependente da physiologia, e cm
tao elevado grau, que Augusto Conite nao ihe
quer conceder a catcgoria de sciencia, chama-
Ihe arte, applicacao de principios physiolo-
gicos , physicos, ehimicos, e ate astrono-
micos.
A base talvez mais racional da classilicacao
dos medicamentos e a determinarao da sua
accao prima ria no homem no estado physio-
logico, ou as mudancas, ([ue no organismo se
succcdcm a introducrao d'cstas substancias
por qualqucr via. Se nao conhecermos o modo,
por que as funccOes do organismo seexecutam
no estado normal, nunca poderemos julgar das
mudancas nellas produzidas pelos medica-
mentos.
A medirina operatoria, ultimo recurso da
therapeutica, tambem repousa sobre principios
physiologicos. Estes, ensinando ao operador
0 grau d'utilidade de cada orgao, mostram-Ihe,
quaes sac os que pode impunemente cortar,
e OS que deve respeitar; patenteando-lhe os
iraraensos recursos, que a natureza tem para
cntreter a circulacao por nieio das anas-
tomoses, tornam-no mcnos timido na ligadura
das arterias; indicando-lhe o modo de forma-
oao das partes osseas, e as mudancas que
experimentam os fragmentos resullanles d'uma
Iraciura, I'azem-lhe ver quaes os meios, ([ue
a arte deve empregar para facilitar a con-
solidaeao, e o tempo necessario para que a
ossificacao se operc.
Temos procuradomostraras vaulagens, (|ue
a physiologia presta a arte de curar; porem a
medicinn hyppocratica e por cxtremo perrcita
relativamcnte aos poucos conheciuicntos phy-
siologicos, que entao havia. A iulhicncia, que
OS nossos orgaos exercem uns snbre os oulros,
e a maneira regular, pela (jual concorreni
para cntreter a vida, ja nao era estranlia ao
fundadnr daModicina. Consensus unus, compi-
ratio una, con^entientia omnia. Ja nao ignorava
as rclacOes sympathicas, de que soube tirar
tao grande proveito na sua clinica. Muilos
oiitros pontos da physiologia Ihe eram I'amili-
ares, c se cm alguns niostrava deficiencia
relativamcnte ao apuro, a que esta sciencia
tem chegado, era esta falla completamentc
supprida pclo espirito d'observacao, que tanto
di-linguiu 0 illustrc desccndeutc dos Asde-
piades.
A physiologia geral e a parte mais impor-
tanle da sciencia da vida. Tractar d'um modo
philosophico e abstracto dos pbenomenos vi-
taes, e sem duvida um trabalho por cxtremo
vasto.
Nas ideas, (|ue os diversos auctores teem
ii ccrca do principio da vida, se baseam
OS dilTerentes systeraas pathologicos c thera-
peuticos. Estas ideas reccbem-sc particular-
mcnte da physiologia geral, assim como o
conheciinento das incitacoes, que cliamamos
inlegranlcs, e communs aos vegetacs e ani-
maes. E a physiologia quern nos diz, que nos
corpos organicos ha continuo movimento de
composicao c decomposicilo; que a materia e
continuamente susceptivcl de niorte durante a
vida d'um ser organisado, e (|ue necessita de
ser substituida por nova materia organica.
Este aeto, que .se da em muito maior escala
nos animaes, tem merecido [larlicular atten-
cao de Sniadechi, Schwan e Goodsir, porem
ainda carece d'explicacao satisfacloria. Poslo
que nao expliquemos o facto, temos d'elle
conhecimento, e e quanto nos basta para
avaliar a extrcma necessidade d'inlroduzir
na economia substancias, que possam servir
para nutricao dos orgaos, substancias vivili-
cantes, como Ihe chama .Sniadechi.
.\ physiologia geral cnsina-nos, que o prin-
cipio vital diminue, extingue-se, accumula-
se, repara-se, e soffre desvios. 0 conheci-
mento d'estas leis e da maxima importancia
na cura das molestias. De saber que o prin-
cipio vital solTre desvios, nasce a medicacao
revulsiva, que chama a um ponto o excesso
da vitalidade existente na parte morbida. Na
physiologia geral, e que esludamos a dilTe-
renca entre corpos organicos e anorganicos,
tornamos bem sensivel a distinccao entre leis
physicas, chimicas e vitaes, e encontranios a
enumcrajao dos caracteres dos animaes e
vegetacs.
F. i. AI.VES.
€) jujsititttta^
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
A INSTRUCCAO PRIMARIA.
Ha vinte annos que estc paiz sentc, c sem
equivoco exprime, a conviccao sincera c pro-
funda da necessidade de melhorar, c vulga-
risar a instrucrao primaria.
Ha vinte annos que a questao se debate,
e por vezes com ardor; e a solucao d'cste
grande problema social ainda nao chegou a
hora marcada pela sabedoria.
E delicada a questao. NSo somos nos so os
que andamos apalpando os meios da melhor
organisacao, e administrarao do mais irapor-
tante ramo d'ensino publico. Na Inglaterra,
na Franca, na Espanba achamos cxemplos de
versatilidade ainda maior que a nossa neste
ponto.
Nao maravilha que a forca isolada d'um
ou outro individuo, movido do amor das
letras, e do bem pOblico, seja insufficiente
para levar ao cabo aquella solucao. Nao e
raesmo censuravel aquelle, que em resultado
do estudo, e meditacao profunda e pausada,
tem mudado algiima vez d'opiniao; porque
ninguem sc deve envergonhar dc raciocinar,
e d'apprender; e nesse assumpto, compara-
dos os systemas, c os resultados de povos
diversos, e muito illustrados, nao e facil
assentar opiniao inconcussa.
0 que porem e digno de reparo e quedc-
pois de vinte annos d'estudos, d'inquiricoes,
d'esclarecimentos officiaes, d'experiencias, fei-
tas sobre imitasoes, traduccoes, e transpjan-
tacoes, as vezes irreflectidas, do cstrangeiro,
cm que tenjos tide uma abundancia. verda-
deiramente esteril, apparecesse ultimaniente
urn projecto do governo muito estendido, e
confuso, que por vezes tem vindo a discus-
sSo, eoutras tantas tornado a commissao, sem
que nada se tenha adiantado em um objecto,
que todos dizem, e cremos que sinceramente,
de primeira necessidade nacional.
Mas, seja o projecto disculldo e approvado,
ficamos em que de nada serve; porque nao
comprehendeu (julgamos nos) a causa do
atraso da instruccao primaria.
A primeira e maxima difficuldade, que a
hostilisa, 6 a falta dc meios no thesouro para
multiplicar as escholas. Este mal nao o re-
medeia o novo projecto; porque nao lira os
encargos ao thesouro.
Vol. IV. Ju.NHol."
A scgunda difficuldade e a falta de mestrc
bem babililados. Esla so com augmento d'or-
dcnados se pode remover em parte. Nao ((ue
em outros paizes, geralmcnte fallando, os or-
deuados sejam superiores; mas em um paiz
tao pouco illustrado como o nosso esla, os
poucos homcns, competenles para o raagiste-
rio primario, acham facilmenle empregosmais
lucrativos; e soo interesse pode attrabir ao
ensino publico os homens de merecimento.
Outra causa retarda ainda o progresso no
magistcrio primario, e a nenhuma esperanga
de meiborar a condicao aos professores. Sera
essa carrcira d'esperancas abcrtas diante do
funccionario publico ninguem espere que elle
trabalhe por se aperfeicoar.
A questao dos mctbodos d'ensino tambera
vein coniplicar a solucao do problema. E
muito importante essa questao ; mas e secun-
daria. Os mctbodos cnsaiam-sc ; e approva-
dos ensinam-se; e nao se impoem. Em ne-
nlium ramo d'administracao publica e tao
insupportavel e perigoso o despotismo como
no saccrdocio do ensino. A obrigacao d'um
determinado methodo imposta ao professor
nao serve scnao para Ihe tirar a responsabi-
lidade, quando esse methodo contraria a sua
vocacao; e o ensino assim e prejudicado.
E quem pode assegurar a exccllencia d'um
methodo exclusivo? Em 1835 todas as len-
dencias cram para o methodo de ensino mu-
tuo. Decrctou-se; deu-se-lbe o exclusivo; ea
forca da inercia resistiu-lbe, e venceu-o. Em
1830 ainda duravam as tendencias; mas ja
se respeitaram os inleresses creados, e as ne-
cessidades e faculdades locacs. Em 1844 ja sc
nao fallou cm methodo d'ensino. Uoje perdeu
todo 0 prestigio o methodo mutuo: o mixto
simultaneo-mutuo e o mais seguido : o simulta-
neo pelo processo dictorepeiitino disputa-lhe o
logar. Se a esta nossa historia contemporanea
ajunctarmos a cousideracao de que ainda nao
houve inventor de methodo que o nao apre-
goasse por unico verdadeiro, ameno, facil, e
civilisador, fonte exclusiva de luz, acabare-
mos por nos capacitar, que a questao do me-
thodo nao deve occupar o primeiro logar na
resolucao do delicado problema da organisa-
rao do ensino primario.
Sem embargo da errada direcjao, que em
nossa humilde, mas sincera opiniao, tem le-
_18b5. Num. 5.
54
vado a reforma do oiisiiio pnmario. mais
alguma vantascm se podia tor oblido d'osfoi-
fos, (juc stip|)omo5 enipregados em boa I'e
para o melliorar, se die nao livessc cxislido
desacompanliado do sen piincipio de vida e
d'acrao. A iiispeccao e a alma da inslrinrao.
Que inspccrao lizeram commissoes gratuitas,
crcadas em 1830, vivondo vida isolada e iiidc-
pendeiile? Que inspecrao tom feito, on ])odem
fazer commissarios d'cstiidos com l»2(lj^(IO((
ri'is dordenado, c presidiiido aos iycous?
Desengaiiemo-nos : se queremos dilTiindir a
instrucfao primaria, iiuillipli(iuomos as esolin-
las por mcios dcpcudentes do tiiesouro, alar-
guemos-lhc a base, e nao esperemos tiido
da bolra, e fiscalisarao commum do Eslailo:
cuidemos mais seriamenlc das escbolas do
belle sexo. Cada menina, que se ensina, c
uraa oscliola de faniilia, (|uc se fuiida. Se a
queremos melhorada, e mister buscar profes-
sores mais babeis, c abrir-Uie uma carreira
d'interesses c d'esperancas para eiles cuida-
rem de se aperfeiooar. E mais (jue tudo e
indispcnsavel urn eorpo d'inspcceao regular,
que vizite e examine o cstado das escbolas,
e do cnsiuo, e lealinente o participc a au-
ctoridadc central. Sem que na instruccao
primaria figure o olemcnto religiose taml)em
nao cremos que elia prospere. A religiao e
a base da instruccao primaria; porquc c a
pedra angular do estado social. Cumprc for-
mar o coracao da int'ancia antes de Ibe de-
sinvolver a intelligencia. Sem boa cducaeao
a instruccao pode ate scr mui perigosa. Mo-
desta, moral, e solida como dove de ser a
instruccao primaria , nao agradece creacoes
fastosas, programmas gloriosos.
Convencidos profunda e sinceraracntc
d'estes principios, ousamosavenlurar uni pro-
jecto de reforma, que acaso tera alguma idea
util nas circumstancias do ])aiz; e submet-
tido ao cstudo e meditacao d'espiritos mais
elevados, e esclarecidos por expcriencia e
practica, 6 de crer resolva, se nao todos, mui-
tos dos estorvos, que cmbargam o passo a
instruccao popular.
I'rojecio de reforma da in.ilrncfuo primaria.
Art. 1.° A instruccao primaria dividc-se
em trcz graus.
1." Comprebende ler, escrever, contar,
principios de religiao, de moral, e dc civili-
dade.
2.° Comprebende, alem d'estes objcctos,
principios de grammatica geral e portugueza,
historia c geograpbia do paiz.
3." Alem dos antecedcntes comprebende
desenho linear, geograpbia, e historia geral,
historia sagrada.
§. unico. Podcra o ensino ainda compre-
hender a arithmetica e gcometria com appli-
cacao a induslria, pbysira, mcchanica, e chi-
mica industrial, agricultura, e escripturaciio,
conio, c aondc o exigirein as necessidadcs
locaes.
Art. i." No 1." griiu licam comprehcndi-
das todas as escbolas niraes. No 2." as dc
cabecas de concclho. No 3." as de capitaes
de districto, cidades, c villas que cxcedara a
1:200 fogos.
,\rt. 3." Os profcssores no 1 ." grau venccm
d'ordenado annual (iO^OOO rs. ; sao obrigados
a riina so licao diaria na bora em que a cscbola
possa scr mais fretiueulada ; podem admittir
na aula mcninas ate a edade de 9 annos e em
classc separada. Serao prcfeiidos para a re-
gencia d'estas eaileiras parocbos, ou ecde-
siasticos de reconbecida, c provada Nirtude,
independentc d'examcs.
No 2.° grau vencem osprofessorcs 120^000
rs. soudo vilalicios; e no 3." grau os \ italicios
vencem Ia0|l000 rs. em Lisboa, Porto, e Fuu-
ehal, 130^^000 rs. nas outras cidades, e villas.
Seudo temporaries, vencem 00^000 rs. no
2.°: 130^000 rs. no 3." em Lisboa, Porto, e
Funchal; 110^000 rs. nas outras povoacocs.
Art. 4.° Os professores serao promovidos
d'uns para outres graus na razao dc sens
services, e merccimento, ouvido e conselbo
superior d'instruccae piiblica.
Art. S.° Sao creadas escbolas de meuinas
em todas as terras, cabecas de coucelbo, (]ue
as nao liverem. As mcstras vencem d'ordenado
80|,000 rs. aunuaes.
g. untco.
Alem dos erdenades reccberae
OS professores e professoras d'os que pagarem
de decima e impostos annexes acima de 400
rs. a quota semanal arbitrada pclas camaras
de 20 a 80 rs. por alunmo para despezas do
material da escbola.
Art. 6.° Pica a cargo das camaras muni-
cipacs a sustentaeao das escholas primarias.
Para esse effeito sao destinados na falta de
rcndimenlos preprios directos c indircctos
dos municipios:
1." Os sobejos dos reudimentos das irman-
dades, c confrarias depois de satisfeitos os
encargos pios:
2." Uma quota addicional a decima, ([ue
nao exceda a 3 por|], votada annualmcnte
pelo podcr legislative:
3.° Um subsidie do tbeseure para cumu-
lar e deficit, havendo-o.
§. nnico. .\s camaras reeeberao dos thesou-
rciros das irmandades e confrarias es sobejos
julgades cm conselbo de districto, por que
ficam responsaveis para com as dictas cama-
ras, nao podcude ser abenada verba de des-
peza, que nao fosse approvada em ercaniento
pelo mesmo conselbo dc districto.
Art. 7.° Ilavera uma eschela primaria em
cada parochia rural, que exceda a SO fogos.
As dc mcner numcre serao annexadas a outras
para o cffeilo do ensino.
55
Inspeccao.
Art. 8.° Em ciiiia dislricto administrativo
e crcado um inspector dinstiufouo primaria
com 0 ordenado animal de 000^000 rs. Em
Lisboa, e Porto venccrao 800^000 rs.
Art. 9.° Os inspcctores licani suliordina-
do.s ao eonsellio superior d'instrucfao; o com
lodos OS direilos, c attribuicocs conl'oridas
aos commissarios dos estudos; cxcepto a de
serem reitorcs dos iyceus.
Art. 10." Sao creadas, juncto ascscholas,
commissOes d'iuspeccao permanentc, subor-
dinadas aos inspcctores rcspcctivos. Eslas
commissoes scrao coinpostas do parocbo, au-
ctoridade administrativa local, juiz de paz, e
um cbefe de famiiia, escolbido pola caniara.
As fiinccoes d'eslas commissoes sao gratuitas.
Os sens servicos serao tornados cm considera-
cao pelo governo.
Art. 11." Ficara abolidos os logares de
commissarios dos cstiidos. Os reitorcs dos
Iyceus serao de nomeacao do governo sobrc
proposta do conscibo superior: e terao de
gratilicacao annual 100^000 rs.
Art. 12.° As escbolas de casas religiosas
serao visitadas, c inspeccionadas por ecclc-
siasticos escolbidos pelo prelado diocesano,
a quera darao conta do estado do cnsino na-
quellas escbolas. 0 conselho superior bavera
dos prelados as informacocs iieccssarias a di-
rcccao do ensino.
Art. 13.° 0 governo fara os regulamentos
para a execueao da lei.
Art. 14.° Ficara cm vigor as disposicoes
legislativas, e r^gulamentares na parte nao
alterada pela presente lei.
Se parecercm raodestas de ma is essas es-
cbolas ruraes, que abi deixamos em projecto;
se mesquinbos, e insuficientes alguem cbaniar
aos ordenados; advirta priraciro que um cura
d'almas em povoacao rural, dicta a sua missa
diaria, nao tem d'ordinario em que empregue
tempo util. 0 servico, que se Ihe encarrega,
sera nao nienos proveitoso a elle do que ao
publico : c 60^ rs. em addieao a sua congrua
sera para elle gratilicacao condigna.
As necessidadcs das povoacOes ruraes nao
vao alem dos ramos de instruccao designados
para o 1.° grau. Mais do que isso fora im-
proficuo; porque as familias preferem a mais
instruccao o lucro do trabalho de seus tilbos;
ou ainda nocivo, creando vaidosas e falsas
posicoes que desviam os bomeus dos seus des-
tines sociaes, que sacrilicam as arles ao luxo
das letras. As necessidadcs sao em regra o
ponto de partida para as instituicoes litterarias.
Se as escbolas ruraes forem grangeadas com
0 escrupulo c desvelo, que se requer, temos
que grande impulso darao a civilisacao moral
e intellectual do paiz; e lirme estabilidade as
instituicoes liberaes.
E modica, e nao reputaraos illegal a re-
tribuirao mcnsal dosaluiiiiios mais abastados.
Mas sera ella o lucio mais poderoso c efficaz
para difl'iindir e mclliorar a instruccao po-
pular. Os mcstrcs larao [lOr augmcnlar a fre-
quencia dassuas escbolas: e os paes de fami-
lias serao os primciros liscacs dos professores.
Ouando tiulo e gratuito, desapparcce o in-
teresse pelo rcsultado do ensino; cai-se na
iudilTereiiea.
Diremos por lim (|uc nas apcrtadas cir-
cumstancias da fazenda publica, e pouco sa-
tislactorio estado do paiz, niio fora cxci|uivel
piano mais gigantesco. Vamos melborando,
como e possivel; e nao desesperemos do I'uturo.
M.
CIIIMICA LEGAL.
Continuado de pajr. 10.
Analyse d'uma porcao dearrobc ilc amoras eoxy~
mcl simples, mandados do Mangualdc.
Antes de proceder a analyse, procuramos
0 peso da materia suspeita, que deu apenas
oitava e mcia. Eram restos de arrobe de amo-
ras e oxymel simples, applicados a um adulto,
que padecia uma angina. Dcsgostou-se o doente
com 0 sabor da primeira dose ; e sua mulber,
para o resolver a continuar, tomou tambem
algumas colberes do medicamento; e ambos
morreram nessa noute, com symptomas de
envenenamento.
Diluimos a materia suspeita em agua distil-
lada, e lavamos o copo com a mesma agua,
fervendo tudo em seguida, por mais de uma
bora, numa retorta, cujo collo niergulbava
noutra porcao de agua. Este liquido, depois
de liltrado, foi sujeito aoapparellio de Marsb,
c logo deu pequenas manchas de cor acbum-
bada, muito brilbantcs; mostrando assim o
brilbo das mancbas arsenieaes, mas sem a
cur aloirada, que as costuma caraclerisar ; e
deu no tubo pequenos anneis, um pouco aloi-
rados, e ligciramente brilbantes.
Para confrontacao, preparamos pelo mesmo
processo mais dois liquidos provenientes de
eguaes quanlidades de arrobe de amoras e
oxymel simples insuspeito, tendo lancado aci-
do arsenioso em uma das porcocs, e tartarato de
antimonio e de potassa noutra porcao. Entre
as manchas, que appareceram com estes liqui-
dos, algumas mostravam o aloirado e os mais
caracteres pbysicos das manchas arsenieaes,
e outras se oll'ereciam com a cor denegrida e
mais caracteres das mancbas de antimonio;
mas lanto o liquido arsenical, como o que tinha
antimonio, deram algumas mancbas, tao si-
milhantes as que tinha dado a materia suspei-
ta, que nao era facil distinguil-as pelos seus
56
caracteres physicos. Os anncis da experieiuia
melhor se dislinguiam, ofl'ereceudo os de ai-
senico urn hrillio hem caracterislioo e a cor
aloirada, em quanlo que os d'aiUimonio sc
aprcsentavam sein brillio c d uiii bianco lei-
toso minzenlado.
Passando a analyse chimica dc todas estas
nianchas, e dos anneis, acluinios o si'i^iiiiilc :
0 acido azotico a frio dissolveu as nian-
chas da materia siispcila, e as do liqiiido
arsenical, com nuiita promplidiio. .Vcluarido
sobre as manclias de anlimonio, dissolveu-as
^Jo mesnio modo.
A dissolucao azotica das manchas da ma-
teria suspeila, e tamhem a mesma dissolucao
das manchas arscnicaes, lendo-se-lhc laiicado
nma gota de acido suU'uroso, e tractada dejiois
pelo acido sulpliy<lrico, deram o precipilado
amarello canario. U mcsmo procosso nas man-
chas de antimonio deu a mesma cor amarella
um pouco mais baca.
Os vapores do iodo sobrc as manchas da
materia suspeila, e sobre as manchas do li-
quido arsenical, fizeram-lhe toraar a cur ama-
rella carregada. 0 iodureto ia-se dissipando
so com a accao do ar, e exposto a um calor
brando desappareceu com promptidao. 0
mcsmo processo nas manchas de antimonio
nao deu dilTerencas appreciaveis, a nao ser a
cor mais alaranjada do iodureto.
Os vapores do phosphoro (izeram desappa-
recer, passadas trez ou quatro boras, as man-
chas da materia suspeila, c as do li([uido
arsenical; e, actuando soJ)re as manchas dc
antimonio deixaram apenas iima sombra de-
pois de tcrem passado mais de vinto e (|uatro
horas.
0 chloro gazoso fez desapparecer com
promptidao as manchas da materia suspeita
e as do liquido arsenical. As manchas do
antimonio desapparccerani com egual prom-
ptidao.
Fazendo passar uraa corrcntc de acido sul-
phydrico atraves dos tubos, em que se tinham
iormado os anneis, e aquccendo estes anneis
com a lampada d'alcool, do lado opposto a
direccao da corrente, t'ormou-se o sulfureto
adiante da chama, com a cor amarello cana-
rio f um pouco brilbante, nos anneis prove-
nientes da materia suspeita e do acido arse-
nioso; e o mesmo sull'ureto, nos anncis de an-
timonio. toniou a cor denegrida e um pouco
amarellada no sitio dos anneis, deixando ver
mais adiante um |)0 d'uHi branco leitoso acin-
zentado.
Fazendo passar atraves d'cstcs tubos uma
corrente de gaz acido chlorhydrico, desappa-
receu tudo 0 que havia nos tubos da cxpe-
riencia do antimonio, menos uraa grande
parte ou todo o p6 branco; e nao houve a
menor alteracao nos tubos da materia suspei-
ta e do acido arsenioso.
Lancando ammouiaco liquido noutros tu-
bos, em que se tinha formado o sulfureto com
0 gaz acido sulphydrico, mas (pie ainda nao
tinham soll'rido a accao do gaz acido chlorhy-
drico. dissolvcram-se com promptidao os sul-
furctos dos tubos da materia suspeita e do
acido arsenioso, ticando inalterado o do tubo,
que serviu a cxpericncia do anlimonio.
Nao sujeitamos as manchas e anncis a maior
nunicro de provas. porcpic o nao permiltiu a
pequena quantidadc de materia suspeita, que
nos foi cnlregue. Pola mesma razao nao sujei-
tamos 0 liipiido aos reagentes. e ajienas podi'-
nios dispor d'unia i>equcna porcao, em que
lancamos acido sulphydrico. Segiiiiido com
estc reagente o mesmo systema de compara-
cao, vimos appareccr immedialanii'iile a cor
amarello canario, e exaclamente similhante,
itos dois liquidos da materia suspeita e do
acido arsenioso; apparccendo tambcm imme-
dialamente no liquido do tartarato de anti-
monio e de potassa, uma cor avinhada ou
antes d'um amarello avinliado. Estes li(]uidos,
deixando sobrc o liltro nodoas amarelladas,
sujeitiimol-as ao ammoniaco c acido chlorhy-
drico; e, nao permiltindo a pequena porjao
dc materia uma apreciacao hem dara dos
caracteres dilTerenciaes enlre o arsenico e o
antimonio, apenas podemos notar, que os trez
residues, tratados separadamcnie por a(inelles
dois rcagcntes, desappareciam do liltro; mas
que este desapparecimcnto linha sido mais
prompto com o ammoniaco no rcsiduo proce-
dente da materia suspeita e do arsenico, e
mais dcmorado com o acido chlorhydricO';
acontecendo o inverso ao residuo proveniente
do tarlaro emetico.
Os caracteres physicos das manchas, e ain-
da as reaccoes chimicas, a que as sujeitamos,
deixam diividas, se estas manchas seriam de
arsenico ou de antimonio. E certo que nou-
tras experiencias, que temos fcito com acido
arsenioso e tartaro emetico, so eHi agua
distillada, ou de mistura com materias ani-
maes, nunca aehamos tanta confusao nos ca-
racteres physicos das manchas, c no resulta-
do das reaccoes, a que as sujeitamos nesta
analyse, e isto nos fez lembrar, se nesta con-
fusao, ou distinccao menos caractoristica, cn-
tre as manchas do arsenico e as do antimo-
nio, possa figurar o acido acetico do oxymel,
OH algum ouiro principio de todo o medica-
mento, d'um modo que a sciencia ainda nao
tcnha determinado.
A pezar de tudo isto, a distinccao physi-
ca cntrc os anneis proveniontes da materia
suspeita c os do antimonio, a par da simi-
Ihanca dos primciros com os obtidos por
ineio do acido arsenioso; a coherencia, que
tambem se achou nas reaccoes chimicas, a
que podemcs sujeitar os mesraos anncis; o
rcsultado, que nos deu o unico reagente, que
podemos empregar no liquido; e a ponderosa
consideracao de que alguraas colheres da ma-
57
leria suspeita loram suflicienles para malar
uin adulto, apena?; afl'eclado d'unia lii,'eira
c'sqiiinencia, o l.ambi'in a sua mullicr, que se
achava de perfeila saude: tudo isto iios Icvou
a concluir que a nialoria suspeita se achava
enveneiiada com arscnico, c em quaiUidade
l)astante para produzir a morte por envene-
iiameiUo, na dose de algumas collieres. Nao
dei\aremos com ludo esla conclusao com toda
a forca, (|ue Ihe dariamos. se as provas, cm
que sc funda podessem reforcar-se com outros
processos, a que nao podemos sujeitar a ma-
teria suspeita, por se ter consumido toda,
sem ao nienos Ihe podcrmos f,'uardar uma pe-
(|uena porcao para scfiuuda analyse, que os
triJHinacs ))oderiani cxigir.
Coriliiiua. A. A. DA COSTA SIIVIOES.
0RGAM5ACA0 D IM ESTADELECIMENTO PE-
CLAIUO NO DISTRICTO DE COIMBRA.
«HIcins que dcrem cmpregar-se para o progressivn
■melliiiramcnlo da indvstria pcctiaria.n (Pro-
prumma ila Assoc. Agric. 1." sercSo, 1." parte,
2.° quesito.)
0 meio, que mais efGcazmentc pode reali-
sar 0 progressiva melhoramerUo da indnstria
pecuaria, consiste em olferocer aos iavrado-
res para a cohricao das femeas cruadciras os
typos das raeihores racas d'aniniaes domcsti-
cos. A cullura de prados artiliciaes, que I'or-
necam ahundantc c variada base aiiuien-
ticia, e neccssaria para a creacao dos ani-
maes; porcm, em quanto a sua reproduccao
nao (or convenientcmente aperfeicoada por
meio do cruzamento e do caslicamento por
seieccao, a produccao pecuaria nao podc
prosperar.
A utilidade d'um cstabelecimento pecuario,
que reuuisse os typos das raeihores racas dos
animacs domesticos, nao carece de ser de-
monstrada ; porque e geraimente sabido, que
sem pcrmanencia no cniprego dos modifica-
dorcs, lanlo externos, conio inherentes aos
animaes, nao e possivel niclhorar as suas dif-
fercntes racas, c que a multiplicacao e mc-
Ihoramentos dos animaes domesticos consti-
tuem 0 elemento mais productive da riqueza
agricola.
Tambem nao sera precise inculcar a neces-
sidade do rel'erido estabclecimeuto, por isso
que de solicjo a nianil'esta o estado actual da
nossa produccao pecuaria, que, dirigida ainda
pelo systema pustorit, carece de com|)lcta re-
forraa; e, ainda que o paiz olTereca excellcn-
tes condicOes topographicas para a levar a
effeito, todavia a accpiisicao dos animaes ne-
eessarios para padreacao e niuito dispendiosa,
e. nao cstii ao alcance da maior parte dos
nossos lavradores.
Bern conhcccmos que os apoucados reudi-
mpntos dos municipios nao sao conipaliveis
com a organisacao d'uma vasta e couiplctu
pecuaria ; por isso, altendendo as exigen-
cias da scicncia e as condicOes economi-
cas, propomos somente a conipra d'aniniaes
do sexo niasculino os mais necessaries para
a reproduccao das raeihores racas: e preleri-
mos ate distribuil-os por divcrsos lavradores,
por ser raenos dispendioso, do que pensai-os
li custa do cstabelecimento ' . Tambcra em
attcncao a consideracoes cconoraicas julga-
raos, que nao sera possivel fazer acquisicao
dos typos respectivos a cada uraa das dilTe-
rcntes especics d'animaesdomcsticos, e por issn
recommendamos que se coraprcm em primeiro
logar OS animaes monodactylos, que o lavra-
dor tem maior difllculdade em obler.
Todos cstes niotivos nos conduziram a ela-
borar o seguinte projecto ])ara a organisacao
d'um estabelecimento pecuario, que compre-
hendesse uma eoUcccao d'aniniaes domesticos
do sexo niasculino, e em numero sullicicnte
para cohrirem as femeas creadeiras, pcrten-
centes a este districto, com o lira de que os
melhoramentos obtidos por este meio fosscm
progressives.
Projecto para a orrjanisacdo d'um estabeleci-
mento pecuario no districto de Coimbra''-.
Art. 1.° Crcar-sc-ha no districto dc Coim-
bra um estabelecimento pecuario, destinado
a aperfeicoar os animaes domesticos, e sera
denomiuado pecuaria de Coimbra.
§. 1.° Este estabelecimento deve possuir
OS raeihores typos de todas as boas racas
d'aniniaes domesticos, que tenham mais per-
manencia na sua conformacao e qualidadcs.
§. 2." A caudelaria, que coniprebende a
parte da pecuaria relativa aos animaes mo-
nodactylos, sera coniposta de trez garanhoes
de tiro, dous normandos, e um hanovcriano;
trez dc sella, urn arabe, ouiro anduluz e um
outro inijlez (corredor) ; e dous jumentos, ura
arabe, e outro, ou toscano ou castelltano,
sendo alguni delles de mediana e o outro de
grande estatura.
§. 3.° Quando as circumstancias economi-
cas 0 permittirem, o director do estabeleci-
mento I'ara a proposta para a escolha dos ani-
maes das outras especies doinesticas.
§. 4.° Podeni augmentar-se o numero dos
animaes de qualqucr das especies doniesticas,
' Na cntulelaria tie Bragan(;a sao os animaes pensadus
pur coiila do estabek'Cimeulo, arrematando ella ou com-
prando o pensn.
^ Tendo confeccionado este projecto por me haver sido
encarregado em conferencia da 1.^ secrtlo da Associariio
Agricola, e Dao tendo havido outra reuniao da referida
seci;5o, residvi publieal-o por este modo. com o fira de
chaniar a attenrao da Jiincla geral deste districto sobre
ol>jeclo de tanta iraporlancia.
58
quando as nocossidadcs da reprodncyao pe-
cuiiria do dislricto assim o exigircm.
Art. i.° Hiivoni um director encarrogado
de dirigir oste estahcU'ciraouto, de fazer aii-
nualmcnte o sou orramcnto, e um relatorio
do cslado de dcsiuvolvimcnto da industria
pccuaria do dislricto, e de propor as medidas,
que convcni adoptar para o seu progressivo
sporfeiroamcnto.
Art. 3." llaver;i um carlorario encarroga-
do de toda a oscrii)luracao administrativa do
cstiilielccimento c dos assentos genealogicos
dos animaes, e de (luacsquor oulros que liic
forcm ordenados polo director.
g. unico. 0 carlorario sera o substituto do
director nos sous impedimentos.
Art. 4.° llavcra um thesoureiro encarro-
gado de guardar, recebcr e dispendcr os I'un-
dos do estabelecimento na conformidade das
ordeus processadas i>clo cartorario, e assigna-
das pclo director, e nos impedimentos d'estc,
pelo presidcnte da camara de Coirabra.
§. 1.° 0 tbesoureiro fara todos os annos
uma conta corrente da receita e despeza do
estabelecimento, que lemetlera ao director
para .'•er presente ii Juncta geral do districto
ate ao fim de_dczcml)ro.
§. 2.° Prestara lianca legal d'uma quantia
correspondcnte ao numcrario por que tern de
ser responsavel.
§. 3.° 0 seu livro de receita e despeza sera
rubricado pelo director.
Art. Ei." Ilavera os alumadores necessaries
para o service do estabelecimento, os quaes,
alem das obrigacoes que Ibcs sao proprias,
farao todo o mais servico que Ihes for ordenado
pelo director.
Art. 6.° A Juncta geral do districto, de-
pois de approvar o orcamento das despezas
do estabelecimento pecuario, fara uma dcr-
rama da importancia d'estas por todas as ca-
niaras, na razao do niaior proveito, que cada
municipio possa tirar da industria pecuaria,
e fara cntrar oste rcndiraento no cofre do
estabelecimento ate ao 1." de Janeiro de cada
anno '.
Art. 7.° Eda competencia da Jancta geral
do districto: 1.° nomear o director, o carto-
rario e o tbesoureiro da pecuaria de Coimbra:
2.° tomar contas a este ultimo: 3.° approvar
OS regulamenlos propostos pelo director: 4.°
rstabelecor as posturas, que julgar conveni-
entes para o desinvolviniento da industria
pecuaria, tomando em consideracao as re-
flexoes. que o director apresenlar nos seus
rclatorios: 8.° auctorizar e niandar fazer as
compras dos animaes, ouvindo o pareeer do
director.
Art. 8.° Ascamarasmunieipaes, cadauma
no seu municipio, incumbe: 1.° fiscalisar o
l)om tractamento dos animaes e a inteira
' A juncta peral do districto tie Bra^antja, arbitrou
.tOOj^OOO reie annuaes jiara despezas da sua caudclaria.
exccucao do regularacnto da pecuaria : 2."
propor a Juncta geral do dislricto as pro-
vidcncias que julgarem necessarias para pro-
mover 0 mcHioramento dos animaes domesti-
cos.
Art. 9.° Os animaes serao distribuidos pe-
las localidades, que Ihes forem mais apropria-
das, c em que liouverem de ser empregados
no servico da cobricao.
Art. 10.° Aspessoas, quequizcremsuslen-
tar (lualquerdos animaes, nao tendo bens de
raiz, darao uma lianca cgual ao vator dos
animaes.
S. 1.° Serao preferidos OS lavradores, que
tiverem de sua lavra forragens e cercaes para
OS sustentar.
§. 2.° Por proposta do director, approvada
no conselho de districto, se poderii dar uma
gratilicacao a quem sustentar qualquer animal,
(piando nao bouver quem o pense pelo servico
ou rendimento que elle produzir.
Art. 11." A camara da localidade, em que
houverem dc residir um ou mais animaes da
pecuaria, fara uma lista triplice dos pcrten-
dentes que os querem ter, c iuformara o direc-
tor, cm carta conlidencial, a cerca das van-
lagens e iuconvenientes dc cada um dos prc-
tendcntes.
Art. 12.° 0 director delerminara o local,
em (lue deve residir cada animal, e nomeara
d'entre as pessoas designadas pela camara
a que 0 deve ter.
§. unico. Esta pessoa nao jiodera ser mcra-
bro da camara, nem empregado da pecuaria,
nem o administrador do concelbo.
Art. 13.° As pessoas, a quem fur conllado
quahiuer animal, sao obrigadas: 1." a pen-
sal-o e educal-o conforme as determinacoes
do regulamento da pecuaria: 2." a ter os
animaes cm disponibilidade para o servico,
que elles houverem de fazer nas epochas da
cobricao: 3." a leval-os a inspeccao do director
dc trez cm trez mezes, ou quando cxtraor-
dinariamente cllc o ordenar.
Art. 14." As pessoas, a quem for confiado
um animal, poderao empregal-o no seu servico
e ulilisar-se do seu rendimento, no que for
compalivel com as disposicoes dos regulamen-
los do estabelecimento pecuario.
§. unico. Nao sao obrigados a sustentar o
animal, (juando elle, por niotivo de servico
da cobricao, estiver fora da sua localidade
na distancia de mais de 2 leguas. Entao fica
a sua snstcntacao a cargo do municipio onde
elle residir.
Art. lii.° Todo e qualquer individuo, que
pagar contribuicoes neste districto, tern direito
a exigir gratuitamente cobricao para as femeas
creadeiras, que elle possuir '.
* Na caudclaria de Bragant^a paga-se j>or cada femea
1^920, e 2i0 rei.* ao alumador.
Sao rejeitadas as egiias que tcm menos dc 51 pol-
legadas.
§. 1.° Todo 0 individuo, qao nao estiver
nas circurastancias d'este arligo, pagara por
rada fcmea a quantia determinada no regula-
mento; e se illudir esla disposicao, obtendo
indevidainente que as suas femcas creadeiras
sejam cobcrtas gratuitamente, pagara o dobro,
sendo nittade para queni o denuiiciar .
§. 2.° Todo cstc rendimento entrara no
col're da pecuaria.
Coinibra 9 d'abril de ISSa.
M. P.
ESTUDOS PIIILOLOGICOS.
I.
Glossario das palavras e phrases da lingua fran-
ceza, que por deacuido, ignorancia, ou necessi-
dade se tern introduzidu na locucao purtugucza
modcrna, com o juizo crilico das que sao ado-
plareis nella. Por D. Fr. Francisco de S. Luiz.
Continuado de pag. 50'.
Compor(ar-se (.?e comporler). Na accepcao
de nunleriir-se, ser so/frido, occorre cm Gil
Vicente na tragicomedia — Serra da Eslrella:»
E cada um se eomporte, dando gracas infiuitas
a Deus. » Na accepcao de proceder nao tem
auctoridade classica cm nosso idioma, segundo
observa o A. da Memoria; neste sentido o
emprega todavia o capitao Manoe! dc Sousa
na sua traduccao da Ilistoria de Theodosio o
yrande (hisloire de Tbcodose le grand — Par
Monsieur Fliichier) — Liv. 1, n.° 63: " ultima-
mente se comportava com tanta prudencia e
moderacao, que parecia, que Fritigorne era
um principe romano, eValente um barbaro.D
0 crudito A. da traduccao da Biblia em i.°
— torn. 3.° pag. lOo, tarabem usou d'este
vocabulo no mesmo sentido.
Confeccao — Coufeccionar [Confection — con-
fectioner). E frequente o uso d'cstas palavras
no sentido de composicdo, organisacdo, fazer,
compdr. Em documento cxpedido por urn
tribunal respeitavel se le: «Torna-se cada
vez mais urgente a confeccao do rcgnlamento
dos lyceus. » E galiicismo desnecessario, e
inadmissivel.
Consignar [Consigner). No sentido de contar
referir, mencionar, registrar, determinar, d
galiicismo imperdoavel, e todavia nuii fre-
([uente.
Conlra-senso [Contre-sens). Isto c, par-
voice, necedade, desarresoamento, desproposito,
etc. e galiicismo desnecessario.
Costume [Costume). No sentido de vestido,
habito, ou traje, e reprovado pelo A. da
Memoria; usou porem d'este vocabulo, nesta
accepcao, Antonio de Souza de Macedo na
sua obra — Eva e Ace — parte primeira — cap.
XIII — n.° 7.
oHeliogabalos querem hoje ser quasi todos
OS homens, gastam mais que elle a proporjam
da possibilidade de cada um; muitos mais
gastam so em vestidos do que tem de renda,
no mais se sustentam com tracas, que nao
sao para envpjar. Ninguem accitara hoje a
merce, que Deus fez aos Israelitas nos qua-
renta annos que andaram no deserlo, e aos
sete niocos sanctos, que chamanios dormentes
nos 373 annos (ou perto de 200 segundo
outros authores), que estiveram em unia cova,
nao se rompendo a uns, nem a outros o
vestido, e caicado cm todos aquelles tempos.
Todos querem costumes novos, peto menos
cada anno. >i
0 Chantre d'Evora, 3fanoel Sererim de
Faria, tambem usou d'este vocabulo no sen-
tido de trnjo, hahito, no seu discuno lY. sobre
a origem, e grande antiguidade das vestes,
que vsa por habito ecclesiastico o clero de Por-
tugal [varios discursos politicos — Tom. Ill,
pag. 103 niih.):
cEste grande zelo, que boje resplandece
no senhor Cardeal Infante D. Fernando, e
mui justo, que seja imitado de todos os pre-
lados de Portugal; pois lloreceu tanto em seus
antecessores, que nunca permittiram aos seus
clerigos alterarem alguma cousa nos costumes
ecclesrasticos antigos. E sendo notados todos
OS Portugnezes de mudarera com facilidade
0 trajo, e de serem mais affeicoados ao es-
trangeiro, que ao proprio, comtudo a vigi-
lancia, e sancto zelo dos Bispos fez perraanecer
sempre nos clerigos Portuguezes um mesmo
costume, des da primitiva Igreja ate gora,
conservando por tanlos seculos o habito que
rccebcram da Egreja Itomana. »
Cotisar [Cotiser). Repartir o que a cada
um corresponde ; entrar por cabeca cm gasto
voluntario; e galiicismo admissivel na opiniao
d'um critico moderno, por nao haver palavra,
que exprima esta idea, e por ter analogia em
quota.
A nos parece-nos desnecessario; porque
temos fintar e fintar-se, contribuir de raotu
proprio, cspontaneamente; v. gr. « alguns
patriotas sc lintaram para desafroutareni a na-
cao, crigindo-Ihe um monumento (Moraes). »
E tenios, alem d'esta palavra, uma e.xpres-
sao classica: entrar ao escote, dc que, entrc
outros, usou Sa de Miranda — Yilhalpandos —
acto 3.", scena 3." « pois havemos de entrar
ao escote. »
D — Debutar [Debuter): e frequente o uso
d'este verbo, para desigoar a primeira re-
presentacao d'um actor no theatre; acha-
niol-o desnecessario, e inadmissivel; porque
tcmos estrear-se; e podemos por outros modos
cxpor esta idea, v. gr. encetar a vida de actor,
appurecer pela primeira ff: na scena, etc.
Desapontado [Desappointe) : com a signi-
ficacao de cnganado, logrado, frustrado em
suas vistas ou dezejos, surprehendido, e gal-
iicismo injustiticavel.
60
Diogo Bcrnardes
Descspcro {Dcsespoir): eslar ao, ou em
desespero (rlre au dexespoir), em vez dc cstar
incomolavd, (i gallirismo frrosseiro.
£ — Eiitrelcnimunlo {£iilre[enement): com
n siguiticavrio Jo cuidado, dcspeza, para con-
servar algiima cousa cm ])Oiii eslado; de con-
versarau, ivnfcrenciu, (i gallicisnio esciisado.
F — Faiiado {Fane): fum a sigiiilicacao de
inurcfiaJo, munlio, que pcrdeu a fnwcura, e
gallicibino desiicccssario.
Favorilo [Fuiiori): iiao condemua o A. da
Memori'a esle vocabiilo, visto que torn a seu
favor a aiuloridade de Jorge Ferrcira na Com.
Ulisip. (Moracs); acoiisellia porem, que nos
nao esquecaraos absohitamenlc dos iiossos
hons vocabulos miinoso, favorecido, aceito,
valido, etc. E sendo os excmplos o luais
adequado mcio de conlirmar esta doiilrina,
porqiie os oiuiltiu o A. da Meinoria, titarc-
mos algiins, que vem mui a proposito, c seja
0 primeiro de Fr. Luiz de Sousa — Vida do
Arcebispo — Liv. lY. cap. XXX: « Por(iue
quantos mais feitios fazia o muiulo polo ale-
vanlar em liouras, rendas, e eslado, lazeiido-
0 mimoso dos Papas, facorecido dos Ilcis e
Priiicipes, estimado c reverenciado do j)ovo ;
tanto mais, etc. » — E Doulra parte — Liv.
V. cap. U: ic Entrando pola cella foi logo
conliecido do Arcebispo, que era dos seus
nceilos, c disse-lhc, etc. »-
— Lima — pag. 242 disse:
Dc Lusitania as miisas mais formosas
Vos dcvoni, a la! eonia, eteriio canto:
Que sera, so ile vos forem mimosas?
Caraocs, fallando de D. Sancho II, disse:
Dc govcrnar o rcino, que oulro pedc,
Per causa dos privados foi piivado.
(Lus. I.I. 91\
E Bocage — Aren^o e Argira — ;
So c(uniielc cssa gloria aos meus mimosas,
So all, meu vatido, a ti somenle.
Fraque {Fruc ou Fraque): nao se acha este
vocabulo no diccionario de Moraes (Terceira
cdicao), usa porem d'elle Tolentino — Obrus
pneticas — Siityra — os amantes :
Busca alpum novel basbaque,
Que ])or pohro nao sahia,
Mas ja niellc o bairro a saquc,
Dcpois que engenhosa tia
Lhe armou dc uma saia um fraque.
Fuzil {Fu.sil): E vocabulo jiistamenle re-
provado jielo A. da Mcmoria no sentido de
cspinfjurdu; usou porem d'elle Tolentino —
Obras poelieas — Soneto XXVIII:
Que tcm que ver fuzil, que nao mala.
G — Gaiopim (Galopiii). Nao vem no dic-
cionario de Moraes (terceira cdicao) este vo-
cabulo, dc que usa Tolentino — Obras poetieas
— memorial a Sua Altcza:
Antes que cntre vis scquazts,
Sendo viclima irrisoria
De mil galupins xorazes,
Em Idgnrde palmatcjria,
Dc co'bordao nos rapazcs.
L — Languir {Laiujuir): nao sc aclia no
diccionario de .Moraes (terceira cdicao), que
traz Inntjne derivado dc languir, que nao se
usa (dizcllel); vem do I'rancez /(»ir/iu>, ou
primitivamente de lanf/ncrc: umore lanyueo,
(liz a esposa dos cantores. Tcm boas auclori-
dades cm pocsia; alem da citada pelo A. da
mcmoria, ha a de El|)ino Nanacriense — Tom.
Ill, pag. 203:
Ti'isle languia
O dcus d'amor.
AH'euo Cyntiiio iDomir.sos Maxiniiano Tor-
res) lambem diz no i;oneto LX:
Languc a Uislc em esleril rocha alpina.
E Francisco Manocl — Tom. XI — pag. 8S:
Deita a vista sagaz c carraneuda
Aos ermos, ondc lanijuc o pal.'idina.
J\I — -.Merccer: Merccer bem do paiz em lo-
gar de ser, fuzer-se bcnemerilo da putria, e
gallicismo desnecessario.
Mobilisar [Mobiliser): Mobilisar o exercito
e exjiressao, hoje cm dia, mui usada; nao
nos parece porem necessaria; pode dizer-se:
por 0 exercito cm pe de ijuerra, chumar as
armas a reserva, reunir os soldados licencia-
dos, completar a exercito, etc.
Montar {Monler): Montado (Monte): Em
escripto mui conliecido achamos a seguinte
[)lirase: «Aeschola nao esta, ncm nuncaesteve
montada para esludos Iranscendentes. » E um
gallicismo intoleravel; deveria dizer: «A es-
cliola nao foi constituida para estudos Irans-
cendentes, nem hoje cm dia, por falta de
organisacao adequada, pode entregar-se a
dies. „
0 — Obsoleto i Obsolete : Antiquado, des-
ii.vr/(/o. Este vocabulo falla no diccionario de
Moraes ^ terceira cdicao i, tern comtudo boa
origcm no latim obsoletus, e pode admittir-se
na lingua.
P — Palpitante {Palpitant): Palpilante de
inlcresse, em logar de muito intere.ssante, de
f/raiidc momento, de (jrande tomo, de snmma
iinporlancia, c gallicismo grossciro.
Partido: Tirar parlido em vcz de tirar
proveito, aproveitar-se, 6 gallicismo inadimis-
sivcl.
Pedante (Pedant): Moraes niio abona o uso
d'estc vocabulo com a devida auctoridade;
emprcgou-o porem Garcao na sua bem conhe-
cida salyra II :
Vejo Pedantes
Trepados cm cadeiras, dcscompondo etc.
CI
Percorrer. Bern que se nao ache no dic-
cionario de Moraes (terceira edicao), tern com-
tudo a seu favor uma auctoridado respoitavel.
Leonel da Costa iia vida dc Tcrentio, que
verteu emportuguez, c poz a frentc dequatro
comedias d'csteauctor, diz: « scndo (Terencio)
convidado, que se sentasse a ella (meza),
ceou juntamente com elle : e, acabada a cea,
foi percorrcndu pclas niais (comedias) nao sem
grande admiracao de Cerio. »
Precoee [Prkoce). Fructo precoce, cresci-
mento precoce, prazeres precoces, se escrevc
por ahi commumente. Posto que muito usada,
achamos desnecessaria csta palavra, porque
temos prematuro, tempordo, antecipado. Sousa
— Anays de D. JoCio III — Liv. III. cap. YII.
pag. 14'J diz: « Foy se o cativo mais rico de
baiTCtes que dc companiieyros, mas alegrc
polla liberdade que lao tempordo alcancara. "
E noutro logar da mesma obra — Liv. 1. cap.
III. <c Mostrava em tudo o que fazia tauto
assento, e entendimenlo, que claramente ven-
cia e aiitecipava a edade. »
Prejuizo [Prejudice): N'a signilicacao de
juizo antecipado, preocciipacdo por informacdo
previa, e gallicismo reprovado pelo A. da
Memoria, e desculpavel na opiniao d'um
crilico moderno.
Jt — Recidiva (Recidioe): Nem no diccio-
nario de Moraes (terceira edicao), nem na
Memoria de S. Luiz vem este vocabulo, que
temos ouvido condemnar per innovado; usou
porem d'clle Bernardes — armas da caslidade
— pag. 1C7 mih.: «E coratudo sempre da-
qui vera o Icitor, quam terrivel, e damnoso
mal c 0 d'estas recidivas.a E mais adiante pag.
173 mih. : " 0 doutissimo GersiSo em um Ira-
liado seu dos remedies contra as recidivas
noste mal, etc. »
Recidivar [Recidiver) : Tambem falta nas
duas obras, que citamos, este verbo, de que
iisou 0 grande Bispo de Silves, D. Jeronymo
0^orio — Obrcts ineditas — pag. 149: «Eainda
com csta l)randura nao Ihes contando as cul-
pas nos que recidivaram depois de perdoados,
etc. »
Remontar {Remonter) : No sentido de suhir
I em dignidade nao temos achado este verbo
em nossos classicos, usa porem d'clle, em fal
atcepcao, Manoel de Sousa — Uisloria de Tlieo-
dozio 0 grande — Liv. I. n." II. pag. 15:
'iRcmontou ao imperio em um tempo etc. » E
mais adiante — Liv. I. n.° 3. pag. 18: «Ti-
nha remontado aos primeiros emprcgos. . u
— Sousa — Vida do Arcebispo — Liv. I. cap.
IX disse : « Quanto havia de montar na ordem
etc. »
Retrogradar {Retrograder). E abonado o
• juso d'este vocabulo pelo A. da Memoria com
|a auctoridade de Bluteau; tern porem a seu
ifavor outra de maior monta; vem em Gil
Vicente — Auto da Feira: « Quando Venus
declina, e retrogrdda em seu curse. »
S — Saltar aos olhos {Saillir aux yeux): E
cxpressao franceza, que nao convent ao nosso
idioma, segundo a opiniao do A. da Memoria ;
achamol-a porem na Memoria Bistorica e
crilica dcerca de Fr. Luiz de Sousa, e das
sitas obras, do sabio Bispo de Vizeu, D.
Francisco Alexandre Lobo: <A cerca do estylo,
salla aos olhos do Icitor etc. » E que nao
desdiz tal expressao da indole do nosso idioma,
prova-se pela equivalente empregada por
Sousa — Yida do Arcebispo — Liv. VI. cap.
VI: « He a Igreja grande e alterosa, e tem
muyta luz; com. ella sabiam as miudezas, e
rcalcavao as ceres, e de maneira se vinha
tudo aos ollios, que etc. »
Sarcasmo [Sarcasme). Nao vem no diccio-
nario de Moraes (terceira edicao) este vo-
cabulo, de que ja em 1706 usou Francisco de
Pina de Sa de Mello no seu Thealro da elo-
qnencia, ou arte de rhetortca, onde diz: « 0
sarcasmo e outra especie de ironia, e so com
a dilTerenca de center maior acerbidade, c
desprezo. » Deriva-se da palavra latina sar-
casmus, e esta da grega (iofxmi(i.l;, irrisio
amnrulenta; nao desdiz da indole da lingua,
tem boas derivacoes, e por isso o julgamos
adniissivel e necessario.
Subvencao [Subvention): Pareceu-nos in-
novada, e desnecessaria esta palavra, porque
temos subsidio, paga, soccorro, etc. ; achamol-
a porem no dictionarie de Moraes auctorisa-
da com a citacao d'um A. classico.
R. DE GUSMAO.
BAMIOS DE LISO.
Os artiges sobre os banhos de Luso, publi-
cados no primeiro volume d'este Jornal, exi-
gem uma noticia do plane de cdificacao
ultimamente escolhido, para o niclhoraniento
d'aquelles, e do andamento dos trabalhos ate
ii sua conclusao. Damos csta noticia em tera-
j)0 competente. Agora so publicamos o regu-
lamcnto do service dos banhos, que ja este
anno se ha de exccutar, menos o que diz
rcspeito a taxa dos banhos, que tica reduzida
a raetadc, por se acharem ainda atrazados
OS trabalhos do estabeleniento. Das vinte ba-
nhciras que tem o plane, abrem-se quatro
no dia 24 de junho; e conta a direccao ir
dande mais duas em cada semana, ate a sua
conclusao. A direccao tambem espera muito
breve a machina de vapor para o aqueci-
mento dos banhos dc temperatura artiiicial,
cuja abertura La dc annunciar nos jornaes
de Coirabra.
62
REGLIL\MENT0 DOS BA.M10S DE I.ISO.
Administrardo dos banlios.
Art. 1.° A administracao econnmica dos
Banhos do Luso, e todo o snrviro do cstalic-
Iccimciilo, (■ iiu'iinibida \wia Diiecrao da Socic-
dadc a urn Director, a um Fid, c a uiii Banliei-
ro, com OS Scrxentos prccisos.
Art. 2." Os Baniiistas pafjarfio 20 rcis
por cada banho du tcmpcratura natural, (luc
nao exccdcr meia liora, a contar dc.sdc a
entrada ate a saliida do quarto do banho; e
40 reis por cada banho do tcmperatura arti-
ficial, tambcm do meia hora.
Art. 3." Alem das banheiras jiara banhos
de meia hora com as taxas designadas no
art. antcccdcntc, havera ontras para banhos
de trcz quartos d'hora com a taxa de iO reis
para os banhos de tcmperatura natural, c de
CO reis para os de tcmperatura artiliciai.
Art. 4.° SeoBanhista se demorar no quar-
to do hanbo alem do tempo dcsignado para
um banho, pagara sogunda taxa; e demoran-
do-se ainda alem do tempo marcado para
dois banhos, pagara terceira taxa, e assim
progressivamcnte.
§. unico. Nos dias de menos afluencia de
banhistas, podera o Director permitlir mais
algum tempo, para cada banho, do que o dc-
signado neste Kegulamento, uma vez que nao
se prolonguem os banhos para boras incom-
modas, e que os Banhistas tenham side avi-
sados d'esta medida.
Art. 5.° Como ha em cada quarto de ba-
nho duas banheiras, estas serao occupadas
ao mesmo tempo por duas pessoas ; e se al-
gum Baubista, porqual(|uer motivo, quizcrter
a oulra baniieira desoccupada durante o seu
banho, pagara taxa dobrada, como se foram
dois Banhistas.
Art. C.° Os Banhistas, durante o tempo
do seu banho, podcrao ser acorapanbados no
respective quarto por todas as pessoas do
mesmo sexo, que elles quizerem ; e ate podc-
rao mclter comsigo, no seu banho, criancas
ou mesmo adultos. sem que por isso seja
alterada a taxa estabelecida nos art. 2.°, 3."
e 4.°
§. unico. E proiiibida a entrada simulta-
nea de pessoas de sexo difl'erente no mesmo
quarto de banho, sem expressa licenca do
Director, que so a concedera em casos ex-
cepcionaes e muito urgentes.
Art. 7.° Sao gratuitos os banhos de tcm-
peratura natural e artiHcial, para todos os
pobres.
Art. 8.° Sao considerados como pobres,
para os elToitos do art. antecedente, todas as
pessoas que se apresentarem ao Fiel com at-
testado de pobreza, passado pelo Parocho da
?ua frcguezia, e rubricado pelo Administra-
dor do Concelho; e alem disso com outro
alleslado d'um Facultalivo, legalmente babiii-
iado, e tanibem rubricado pelo Adminisirador
do Concelho, por onde constc que llies sao
indicados os banhos de temperatura natural
ou artiliciai.
§. 1." Pode supprir a(|uellcs dois attcsta-
dos uma guia de ([ualquer hospital ou mi-
sericordia, tamhem rubricada pelo .Vdministra-
dor do Concelho, por onde conste a pobreza
da individuo e a indicacao dos banhos.
§. 2." As guias e attestados de pobreza
serao arcbivados pelo Fiel, e no fim da qua-
dra dos banhos, pelo Secretario da Direccao,
para servirem de base aos processes judiciaes,
que houverem de se intentar sobre a sua
vcracidade.
S. 3.° Se nos atlestados dos pobres nao
vier designada a qualidade e o tempo dos
sens banhos, ou se o medico do estabeleci-
menlo nao os indicar d'outro modo, terao
senbas para banhos de meia hora e de tempe-
ratura natural ; e, cm todo o case, nas banhei-
ras que Ihes forem destinadas pelo Director.
Art. 0.° 0 pagamento das taxas dos ba-
nhos teni logar por meio de senbas de cartao
ou metal, compradas em casa do Fiel, c entre-
gucs ao Banheiro ii entrada do banho. Os
Banhistas, que, pela sua demora no quarto do
banho, houverem de pagar mais do (pie uma
taxa, conformeodisposto noart. 4.°, entrega-
rao as rcspeclivas senbas a sahida do banho.
Art. 10." Nas senbas dos banhos havera
a designacao dos banhos de meia hora ou de
trcz quartos d'hora, de tcmperatura natural
ou ariiticial, e da respectiva taxa paga ou
gratuita.
Art. 11." As senbas dos banhos serao
recebidas pelo Banheiro cm uma caixa com trez
chaves, uma do mesmo Banheiro, outra do
Fiel, e oulra do Director. Esta caixa sera aber-
ta de oito em oito dias por estcs empregados;
as senhas conladas com a sua importancia;
e tudo se lancara cm um termo em livro apro-
priado, lavrado pelo Fiel, e assignado por
todos trez.
Art. 12." As senhas serao enlregues ao
Fiel pelo Director, que o fara responsavel pela
importancia respectiva.
Art. 13." Uma lista de todos os Banhistas,
pela ordem da sua inscripcao no livro do
registo, indicara a ordem ou vez do banho
aos Banhistas, que se acharem ao mesmo lem- j
po no estabelecimento, na occasiao em que |
se forem desoccupando os quartos de banho. j
§. 1." 0 Director, cm casos de concorren-
cia cxtraordinaria, ou quando o julgar con- ;
veniente, fara substituir estas listas por ta-
bellas, em que se marque aos Banhistas a sua
hora de banho, servindo-lhe tarabem de base ,
a mesma inscripcao no livro do registo.
§. 2.° E pcrmittido aos Banhistas a tro-
ca das boras cnlre si.
63
Art. 14.° Achando-se impossibilidade de
bcm se liscalisar o tempo de cada banho
a dilTerenles Banliislas, sep:undo o disposto
no art. antccedente, o Director ordenara o
serviro de banlios as turmas de Banbistas,
com boras detcrminadas da entrada e sabida
dos quartcs de banlio; abriudo-se d'este mo-
do, ao mesmo tempo, certo numero de quartos
de banhos da mesma iiaturcza. Nesle caso as
senbas podcrao indicar a respectiva lurma
ou bora do banbo.
Art. 1!).° Nas listas ou tabellas de que
tractam os arlt. i;i.° e 14.°, o Banbeiro ira
pondo signaes de convenrao, que indiquem os
banbos, (|ue for toniando cada Banbista e a
sua iraporlancia.
Continua.
RELACAO
Dos individuos nomcados por despachos do Conse-
Iho superior d'instruc(ao pitblica, desde o dia
1o ale ao fim d'Abtil ttUimo nomeados tempo-
rariamente.
INSTRUC(40 PBIUASIA.
Antonio Joaquim da Silveira, para a cadeira
da Villa da Lagoa, districto de Faro.
Antonio Scares, para a de S. Joao da Pesquci-
ra, districto da Guarda.
Antonio de Sousa Soares, para a substituicao da
dc dc S. Thiago da Capella, districto do Porto.
Joao Ignacio dos Sanctos Madail, para a ca-
deira d'Ovar, districto d'Aveiro.
Joaquim Antonio Pinto, para a de Moura,
districto d'Evora.
Jose Ignacio Marques da Silva, para a de
Pardilho, districto d'Aveiro.
Manoel Fernandcs de Carvalho, para a de S.
Miguel d'Acha, districto de Castello Branco.
Maria Jose Olympia, para a cadeira de meni-
nas de BemCca, districto de Lisboa.
Caspar Rei Machado, para a cadeira de Sei-
xas, districto de Viana do Castello.
Joaquim Cardoso, para a substituicao da do
Poco do Canto, districto da Guarda.
Joaquim Morcira c Silva, para a cadeira da
Villa do Torrao, districto de Beja.
Jose Guedes, para a dc Mezaofrio, districto
dc Villa Real.
Jose Martins da Silva, para o do extincto
Couto de Fragoso, districto de Braga.
Paulo Maria Lcitao, para a de Pavia, distri-
tricto d'Evora.
Dietos desde o dia 1° ate 1'6 do corrente Maio.
INSTRCCfAO PRIUABIA.
Antonio Jose Marques da Trindadc, para pro-
fessor temporario da cadeira de Barcos, districto
dc Viscu.
Joaquim Gonsalves, para Aldea de Saboia,
districto dc Bcjo.
Joaquim Pedro Marreiros de Sousa Benles,
para Aniardlcja, districto de Beja.
Jose Auguslo da Ponte, para Ponta Delgada.
Jose Medciros Rcgo, para Ribeira Sccca, distri-
cto de Ponta Delgada.
Luiz Pedro da Silva Oliveira, para Tancos
com assento em Palo de Pelle, districto de San-
tartm.
Manoel Emygdio Teixeira, para Agua doPau,
dislriclo de Ponta Delgada.
Manoel Vicente do Sancto Cordeiro, para
A'illa Boim, districto de Portalegre.
Maria Gertrudes Soares, para mcstra de me-
ninas da freguezia de Sancta Izabel de Lisboa.
Jose Joaquim Mendes , para Villa-Alcosa,
dislriclo d'Evora.
Jose Maria Varella, para Oriolas, districto
d'Evora.
Manoel Jose Ogando, para Via-Longa, distri-
cto de Lisboa.
Miguel Xavier Mercier Almeida, para Castello-
Viegas, districto de Coimbra.
INSTRnC(iO SECUNDARIA.
Joaquim Antonio da Fonseca, para professor
vitalicio da cadeira de latim da Villa d'Estrcmoz,
por decreto de 25 d'abril, proximo findo.
Jose Maria da Silva, para professor das ca-
deiras 3." c 4.', em curso biennal do lyceu na-
cional de Santarem, por decreto de 9 do corrente
mez.
INSTRDCfAO SUPERIOR.
0 Dr. Jose Maria d'Abrcu, para lentc cathe-
dratico da faculdade de Philosophia, por decreto
de 2 do corrente mez.
ERRATAS
DAS MEMORIAS DA YACCAKICA E BLSSACO.
N."^ 2, 3 e 4 DO INSTITL'TO.
Pag. CoL Link. Erros
15 1." 19 lilha
" 2." 7 e 8 Jicseiitondiis
Maurtla
BraselintE
Enteltd .
lilbo
Resemondus
Maurele
Baselise
16 » 41 u anno passado em 1853
33 " 62 livro 4." torn. S.», liv. 4."
35 1." 55 liv. 2.° liv. 4.°
46 2.^ 26 de Nossa Senhora da Ascen^ilo
d'Assumpqao
46 Nas notas 3, 4, 5 e 6 da 1." col., e pag. 47 notas
2 e 3 da 3." col. estSo referidas a pag, do ma-
nuscripto. Para nao confundir mais, reservam-se
estas emendas para os exem]ilares d'esta Memo-
ria que se tiram em separado.
47 1.* 13 se fez se concluiu
35 %." 41 pelo3 aaaos 13
pelos annus 130
64
OBSEUVACOES METEOROLOGICAS , FEITAS NO
GABINETE DE PHYSICA
DA
UNIVEIISIDADE DE COIMBRA.
Anno lie
1851
H E 5
PreasSo
atmosjiherica au meio dia
E.<itado hygromelrico da
atmosphera ao meio dia
3
c
o
c '3
= 3
Mez (le
No\t>m-
br,i
Allnra barome-
trica 0 0." da fs-
cata cenligrada
TenFao do va-
por contido no
ar.
Pressiio do ar
SfCCO
(irull d'linnii-
dade doar, r<-'-
presenUndo por
1 o ealadi) de
salurai^iio
QuimiJadc Je va-
por coDtiJo em Mm
metro cubico d'ar.
Dias
Gfiius
IMillimetros
Millinietros
Millimelros
Grammas.
1
15,3
759,623
11,407
748,216
0,87
11,466
s.
2
16
756,331
10,159
746,179
0,75
10,187
s.
3
16,5
758,428
10,339
748,089
0,74
10,356
o.
4
15,5
758,352
9,173
749,174
0,70
9,225
SE.
5
15
757,377
8,254
749,123
0,65
8,311
E.
6
15,5
756,920
7,998
748,922
0,61
8,039
E.
7
14
756,823
6,668
750,155
0,56
7.047
E.
8
14,5
756,745
6,395
750,350
0,52
6,451
E.
9
14
754,375
6,787
747,588
0,57
6,847
S.
10
13,5
758,123
5,880
752,243
0,51
5,952
E.
11
12,5
760,488
5,294
755,194
0,49
5,377
E.
12
12,5
760,125
6,050
754,075
0,36
6,145
S.
13
12,5
758,382
7,779
750,603
0,72
7,901
S.
14
12
755,456
8,679
746,777
0,83
8,831
s.
15
12
754,875
8,888
745,907
0,85
9,043
s.
16
12,5
740,412
9,183
731,229
0,85
9,327
o.
17
12,5
746,753
9,832
736,921
0,91
9,985
o.
18
12
750,571
9,097
741,474
0,87
9,240
N.
19
11,5
743,436
9,007
739,429
0,89
9,181
s.
SO
10,5
749,046
7,295
741,751
0,77
7,456
N.
21
8,5
749,808
5,887
743,921
0,71
6,065
E.
22
8,5
750,316
6,052
744,264
0,73
6,235
S.
23
10,5
736,600
8,432
728,108
0,89
8,618
o.
21
9,5
748,257
7,978
740,279
0,90
8,189
s.
25
9
744,728
7,802
730,926
0,91
8,023
s.
26
9
750,062
7,545
742,517
0,U8
7,758
o.
27
8
748,792
7,376
741,416
0,92
7,612
N.
28
9,5
759,324
7,535
751,789
0,85
7,735
N.
29
8°
763,270
6,975
756.295
0,87
7,198
S.
30
9°
761,572
7,802
753,770
0,91
8,023
S.
media >
do mez \
12"
753,679
7,918
0,76
B
Te
uperatura
PressSo almospherica
Gran d^humidade do ar
o
n
E
Ma lima
absol. . 16°, 5
. . 8°
mm
Maxima absol. . , . 763,270
Minima - . 736 600
Maxima absol 0 92
Minima 0 49
Maxima
variaruo 8°, 5
Maxima excuri;ao . . 26,670
Maxima raria^So .... 0,43
2«
Coiin
bra 1." de
Dezembro de 18.
•4.
Antonio Sanche$ GoulSo, Direct
or do Gabinete de Physica.
® Jnj0ititttt0)
JORNAL SCIENTIIICO E LITTERARIO.
mmm superior de mimM PisufA.
RELATORIO AN\IAL.
1849—1850.
Continuado dc pag. 44.
PARTE 3."
Fnstrucrao secundaria.
E.sita instruccao, de que nao podeni dispen-
sar-se os horaens, que oocupam os priraeiros
logares da sociedade, ou que abraram profis-
soes livres d'uma ordem mais elevada, com-
poe-sc dos principios da razao , e do gosto,
do conheciraento das linguas sabias, da histo-
rra, da litteratura nacional, e das sciencias
exactas c naturacs, applicadas asartes; o seu
cstudo varia neccssariamente, segundo o pro-
gresso da civilisacao.
Na sua actual organisarao, comprcliondc os
lycous e cscholas annexas; as cscholas parti-
culares, e as eschoias d'instrucrao e.special.
Nao contando o lyceu de Viana do Castcl-
lo, cuja organisacao o conselho entende ser,
por ora, desnecessaria, fiinccionaram no anno
Icclivo iindo, conipletamentc, ou em parte,
lodos OS lyceus do continente, collocados em
edilicios publinos, a cxcepcao dos d'Aveiro,
)!eja, Castello-Branco, Guarda c Villa-Real.
Estao vagas nos mesnios lyceus as cadciras :
a.' c 6.' no d'Aveiro; 1.' e 2.' no de Beja ; a
de grego no de Braga ; 3.' e 4." do de Bra-
ganca ; 3.' no de Casteilo-Bianco: 3."nosde
Santarem e Villa Real. Acham-se a concurso
a subslituirao de francez e inglez, no de
Coirabra ; a 1 .' c francez c inglez no d'Evora ;
3." e 4." nos da Guarda, Faro, Leiria, e
Portalegre; e as substituicoes das 4.", e das
5." e 6.", no de Lisboa. Estao reservadas as
5." e 6." de Beja, e a 6.* da Guarda.
0 numero das eschoias annexas aos lyceus
e actualraente no continente 81, das quaes
74 sao destinadas ao ensino da lingua latina ;
8." ao de theologia moral e dogmatica; e 1.'
ao de philosophia racional e moral, arithme-
lica e geometria.
0 numero das eschoias anne.xas nas ilhas
e de 11. No anno leclivo de 1848 a 1849
forara frequentadas por 2:886 alumnos.
Vol. IV. Jw:^no 15
Os lyceus c eschoias annexas do continente
foram frequentadas por 2:780 alumnos se-
gundo consla dos relatorios c mappas entra-
(los na secretaria d'este conselho superior
(Mappa n ° 7 e 8).
A ppzar das cnnlinuadas diligeneias do
conselho, c das suas representacoes ao govcr-
no de V. M. sobre este objecto, nao tem
sido possivel conseguir-se, que todos os' pro-
fessores particulares d'instruccao secundaria,
se habilitem na conformidade das leis; nem
mesmo que os poucos habilitados d^cm con-
tas do numero e approveitamenlo dos seus
discipulos. Os unices delegados do conselho,
que teni empregado louvaveis esforcos ncste
sentido, sao os commissarios dos estudos
d'Evora, e Faro, e o governador civil do
districto do Porto.
Em quanto se nao obtiverem os mappas
dos alumnos, que frequentaram as eschoias
particulares, cujo numero e sem duvida mui-
to superior ao dos que frequentam as piibli-
cas, faltam os dados necessarios, para nelles
asscntar a eslatistica actual, e comparativa
d'esta parte da instruccio.
Todas as cadeiras dos lyceus e eschola>
annexas no continente e ilhas, sao pagas pelo
the.'iouro; existe apenas em exercicio uma
cadeira de latim em Fronteira paga por Ifga-
do, e uma sera exercicio em Moncao.
Quanto ao merito dos prol'essores empre-
gados nesta parte do cnsino, pode o conse-
lho, pelas informacoes que tem chegado a(v
seu conhecinienlo, annunciar a V. M., que
sao todos, salvas pequeuas excepcoes, dotados
de quaiidades raoraes e litterarias, que se
exigem para o desenipenho de tao importan-
tes cargos procurando satisfazer a honrosa
missao, que na sociedade Ihe csta conGada.
Dos relatorios, que ao conselho tem chega-
gado, deprehende-se porem, que o approvei-
tamenlo dos alumnos nao corresponde ao
zelo dos professores, e que diminue a frequen-
cia dos lyceus.
No relatorio geral d'este conselho, dirigido
a Y. M. no anno preterito, teve o mesmo
conselho a honra de expor a V. M., as prin-
cipaes causas, a que julga devido este estado
pouco .satisfactorio ; e d'apontar, ao mesmo
tempo, alguns remedies que muito concorre-
rao para mclhoral-o. E foi por isso que o
-1853. NtM. 6.
()«
racsmo fonsi'Ih;) \i.u. am a mtrior .sartJisfw-
rao, altendidus, mi portaiia circular 3o nii-
iii'>lerio dos ncgocios crclcsiasticos edcjiistica
de io dv septcmbro uUimo, as suas rcllexOcs
sobre as habilitacoes lilli'rarias, que devem
exigir-se aos sujcitos que so dcsliuam as I'unc-
coes sacerdotaes; dcterminando-se na cilada
porlaria que cm nonhunia das dioceses do
coiitincnte c ilbas scja admittido a ordcns
sacras ordinaiido algum, scm nioslrar liabili-
tafao nos esludos de lalini, rhcloiica, e pbi-
losophia racional c moral, por exame c appro-
va);ao nos lyceus.
K instruccao secundaria nao precisa dc
niais estudos classicos, do que actualnionte
tern ; e nccessario porem que cstes se loruem
mcnos superliciaes. Tenciona o conselho in-
troduzir no regulaniento dos lyceus, ((ue bre-
vemcnle espcra levar a approvacao de V, M.,
practicas saudaveis que reguleni a ordcm
nesles estudos; os quaes lioje se fazem, pela
raaior parte com ^jrecipitacao. Todavia c de
conveniencia crcar-se, no lyceu nacional de
Coinibra, a cadeira d'arithmetica c geometria,
e priraeiras Nocoes d'Algebra ate as cqiiarfies
do 2." grau, nao so para complemenlo do
curso d'aquelle lyceu, mas tambcm para sercra
obrigados a sua frequencia, e exames, todos
OS aJuninos que sc destinarem a froquentar
05 estudos superiorcs da universidade.
As razoes que se allegam na consulta, que
este consellio faz subir ii presenca de V. M..
com 0 projecto de lei para a creacao d'um
curso de scienc'as economicas c adniinistra-
livas, parecem attendiveis, e com a creacao
da referida cadeira, se satisfara as conve-
niencias do ensino, que tem sido por tantas
vezes levadas ao conhecimeulo do governo
de V. M., pelo prelado da universidade, (|ue
c tarabem o rcitor d'aquelle estabcleciracnto.
0 conselho conhece lanibem a necessidade
dc ir dilatando a csphcra do ensino secun-
dario, e ensaiando, onde mais reclamados
foreni, os estudos economicos e industriaes.
iSeste sentido, tenciona f;izer algumas pro-
postas ao governo de V. M., a (im de ir
■cncetando esle caminho, seni grande despeza
do Ihesouro, em benelicio das classes opera-
rias, conforme a idfia suscitada no rclatorio
do anno passado.
Como 0 governo dc V. M., p6dc, pelo art.
06 do decreto de 20 de septembro do 1844,
cstabelccer cadeiras de latim nas 120 povoa-
cOes raaiores, distantes das capilaes dos dislri-
ctos; 0 conselho para salisfazer a um grande
numero de rcquerimentos de diversas cama-
ras niunicipaes pedindo aquellas cadeiras,
forniou sobre as informacoes que pode obter
dos sous delcgados, o piano da sua dislri-
huicao, que ja subnietteu .-i consideracao dc
V. M. Neste piano porem nao comprchendeu
todas as 120, de que tracta o citado art. do
decrelo de 20 dc septpmbro de 1844, porque
a disptisicuo d'elle t permissiva, e nao obri-
galoria ; e a concenlrafSo dos estudos do ensi-
no secundario nos lyceus, e mais provcitosa,
do (juc a miilliplicavao de cadeiras fora do";
iiiesnuis lyceus; principalnii'nte nao havcndo
esperanca de serem freiiu(tntadas, c exigindo
0 estado do thesouro a nvaior cconomia.
Ainda que o conselho ja declarou a V. M.,
(Hie julgava por conveniente sobre-estar na
organisacao do lyceu de Yiana do Castello,
com lodas as cadeiras, (pie cxigc no seu
rclatorio o govcrnador civil d'aquelle distri-
cto ; com tudo nao duvida instar para que,
resiiiuindo a fazenda piibliea os bons que
portenceram aos exlinctos Nerys, bens que se
acham onerados cum um legado, que os obri-
gava a sustentar aulas de latim, e outras
disciplinas, possa o mesmo conselho fazcr
prover as cadeiras dc grammatica latina e
de logica da villa de Moncao, dando d'esta
forma a cste districto, mais instrucciXo secun-
daria, do que actualmente tem.
Tendo a camara municipal do districto
d'Angra do Ileroismo supplicado a V. M. a
graca'da creacao d'uraa cadeira de nautica,
foi 0 conselho superior encarregado de for-
mar um projecto de lei auctorisando aquella
creacao, a fim de ser apresentado as came-
ras legislatives; c tendo o niesmo conselho
ouvido sobre este objecto a seccao de malhe-
matica da academia polytechnica do Porto,
organisou sobre o programma cnviado pela
mesma seccao, o referido projecto de lei, que
acompanliou a sua consulta de 19 de feve-
reiro do corrcnte anno.
Finalmente o conselho tem feito quanto.
cahe nas suas forcas, para que a instrucfao
secundaria chegue ao estado de dilTusao e
perfeicao, a que deseja vel-a elevada.
A instruccao secundaria custou ao thesoura
62:221^10.
PARTE 4.'
Instruccao especial.
A academia de bellas artes de Lisboa I'oi
frequentada em todas as suas aulas no anno
lectivo de 1848 — 1849 por21S alumnos, c no
1849—1850 somente por 250 (Mappa n." 9),
0 governo de V. M., cm consequencia d'uma
consulta d'estc conselho superior, ja .se acha
auctorisado para mandar comprar em Roma,
uraa colleccao dos melhores modclos em gesso,
das estatuas e bustos antigos, a qual bavia
sido pela academia justamente requisitada.
A mesuia academia pedc no seu rclatorio
de 24 de septembro do anno preterito, ela-
borado sobre os artigos 2, 3 c 4, §. 5 da
portaria de 10 d'agoslo do mesmo anno, que,
na conformidade da portaria de 21 d'agosto
de 1847, Ihe scja restituida a parte do esla-
belecimento, que se acha ainda occupada por
67
dous corpos railitarcs, a Oni de. que possa
cumprir o que deve, na parte que respeita a
scssao e a cxposiflo piiblica, que, ha dois
triennios, tern deixado de celohrar, e para a
qual tern preparado, e continua a elahoiar
varias producfOes. Expoe a falla d'um rc-
gulamenlo especial para os artistas a;;{;rcga-
dos, conio meio de atalhar coiitliclos, c pro-
curar o soccgo, e regularidado que dove rci-
nar cm cstabelecimoiito d'esta naturcza; sen-
do necessario delinir as abrigacoes d'aquclles
cmpregados.
Propoe varias providoncias que vinliam,
pela maior jiarfe iiicluidas no projeclo de
reforma dos estatutos, sobre tuja utilidadc o
neccssidade V. M. foi scrvida mandar, por
portaria do ministerio doreino, de 13 d'abril
de 1849, que o conselbo superior consultasse
0 que se Ihe on'erecesse; c o mesnio conselbo
em consulta do 1.° de marco, que levou a
augusta presenca de V. M., eniitliu a sua
opiniao, que agora confirma.
0 orjaraento d'esta academia no anno eco-
nomico de 18i9 a 1850 importou era reis
12:163^530.
A academia Portuense de bellas artes em
1848 a 1849 tevc 109 aluninos, e no anno
lectivo (indo 90 (Mappa n." 9). A mesma aca-
demia em officio de 13 de novembro de 1849,
baseado sobre os arlt- 2, 3 e 4, §. 5 da portaria
de 10 d'agosto do referido anno, pondera:
1.° Que nao tendo a caniara municipal do
Porto satisfcilo a,o conlratlo, que lizcra com
o governo de V. M., de construir urn ediii-
cio em parte da cSrca do extincto convento
de Sanclo Antonio da mesma eidade, com a
capacidade sufficiente para todas as aulas da
referida academia, e mostrando depois a ex-
perieneia os grandes inconvenientes, que
occasionaria aquelle local, por sua excentrici-
dade e humidade, Ihe seja concedida a cerca
do extincto convento dos Carmelitas descal-
50S, cujo local saUsfaria a todas as condifoes
essenciaes a um estabelecimenlo d'esta na-
tureza: 2.° que quando nao seja possivel
levar a effeito um tal projecto, e d'absoluta
neccssidade a construccao das sallas precisas
para as aulas noclurnas, ordenadas pela lei
da academia; visto ser um dos objectos prin-
cipaes da mesma lei, appJicar 0 estudo das
bellas artes a practica das artes fabris ; assini
como a construccao d'uma aula do mi: 3."
que e precise prover a academia de estampas
historiadas, de bons gAssos, de livros classicos
de bellas artes, e de quanto com ellas tem
relacao immediata: 4." que para occorrer
a estas precisoes bastaria a quanlia de
l:000p00: 5.° finalmente que sendo as au-
las a grandes distancias umas de manha,
outras de larde, e algumas de noito, e neces-
sario mais um guarda.
0 conselbo superior confia era que 0 go-
Tcrno de V. M., nao perdera de vista 0
auginento c pro>pcridade do estabeiecimento
de bellas artes da segunda eidade do reino,
mas nao se confornia com a indicafao da
ccrca dos extinctos Carmelitas descalcos para
a constriKcfio do cdilicio da referida acade-
mia, no caso de a camara municipal haver
de reulisar 0 seu contratto; porque V. M.
ja se dignou destiuar aquclla cerca, para o
horto bolanico da acadcuiia polytrclinica , que
d'clle tanto carece, e lao perto Ihe lira.
Jit foram presenles a esto cousclho os rela-
torios da bii)liothcca nacional de Lisboa, e
das bibliothecas de Braga, Evora e Porto.
A hihiiolhi'ca nacional de Lisboa vai au-
gmcnlaudo o nuniero dos seus volumes, nao
so com OS subsidies do governo, mas tambeni
com ofl'crtas particulares. Tem actualmenlc
95:149 volumes. Foram adquirida.s no anno
de 1849 — obras 345, volumes 483. Os catalo-
gos sao manuscriptos; so 0 das Biblias e 0
das obras paleolypicas das collecfocs Bodo-
niana, Elzeveriana, c d'outras obras magi-
straes, foram inipressos no rclatorio da refe-
rida bibliotbcca de 1844.
Alcm dos volumes classificados , possue tam-
bem a mesma bibliolbeca 9G0 volumes d'obras
paleotypicas, e490 descicnciasarcheologicas.
Em todos OS raezes do anno de 1849 bou-
ve grande concorrencia de leitores em todos
OS ramos d'inslruccao.
Na bibliotbeca de Braga continuara as
obras, que se lornam indispensavcis para a
collocacao dos livros.
A bibliotiieca d'Evora possue 26:000 volu-
mes, dos quaes ainda tem por classificar os
que pertenccram aos extinclos conventos, e
que ainda se acham amontoados cm salas da
bibliothcca, por nao haver espa^o onde se
collo(iuem.
Na bibliotbeca Portuense progridoni roui
grande actividade os trabalhos por part-
da caniara municipal, conio admiiiistradnra
d'aquelle estabeiecimento, de niaueira qiir
em pouco tempo serao collocadas as obras,
(|iie inda estao por separar, nos corrcdores
superiores do edilicio, corredores em que a
cstreitcza e falla de luz estorvam um dcsin-
volvimento mais rapido.
A mesma camara, alem da applicacao d,"
fundos para os refcridos trabalhos de augmen-
to local, tem apjilicado lambem algumas
quantias para compra de livros do litleratura
moderna franccza, de que inteiramenle havia
carencia na bibliotbeca, e que fazia com que
a frequencia dos leilores que os procuravam
restrictamente, fosse por isso como que afu-
gentada.
Alum d'isto, tem a camara formado 0 pro-
jecto d'cstabelecer uma colleccao d'obras c'e-
mentares d'arles, officios c industria, para
que OS artislas c operarios possam approve!-
tar-se dos conheciraculos difTur.didos naqucl-
las obras.
68
No ultimo (iimestrc tic 1849, e nos Iroz
prinieiros do ISoO, foi a bibliotlieca frcqiien-
tada por 2:S74 leilores, e durante o mesmo
periodo visitada por oi2 pessoas d'amhos os
sexes.
Do rclatorio do administrador gcral da
irapreusa uacional de Lishoa, ve-se que aqucl-
le importante estabelecimento, ja muito acrc-
ditado, continiia cm progressives mclhora-
mentos econoraicos e raateriaes. Esta-se cons-
truiiido pelos operarios da casa uiu [irelo
lithograpiiito de grande dimensao, segunilo
0 systema modernissimo, a imitaeao d'um
que veiu de Franca, e que se espera licara
ainda mais bem acabado do que o inodolo.
Foi cscriplurado por diminuto preco urn lial)il
artista francez para dirigir os trabalhos da
fundicao dos typos nos quaes tern introduzido
cousideraveis mclhoramentos; c que mais se
obrigou a ensinar trcz fundidores portnguczcs,
ainda mocos e que apresentam as melhores
(lisposiciies para aquella arte.
0 zelo do administrador, a traves de grandes
difficuldades financeiras, e digno de elogios,
e raerece ser apontado para servir d'exempio
e incentivo a lodos os directores dos estabe-
lecimentos piiblicos.
0 conselho superior nada pode dizer, este
anno, a cerca do conservatorio real de Lisboa,
e das escholas nelle creadas, nem mesnio da
inspeccao dos theatres, porque nao Ihe foram
remettides os cempetentes relatorios.
A instruccao especial custou ao thesouro
21:9ia^450'reis.
Continua.
OS SINOS.
A origera dos sines, os sens diverses uses,
censtituem uma Listeria que varias vezes
despertou a allencae dos erudites.
Desde 1495 ate ao secule actual escreve-
ram-se quasi quarenta tractades sebre este
objecto: o mais conhecide c e de Magio, De
Tintinnabulis. 0 auctor, d'origem italiana,
era juiz civil ae service dos Venczianes em
Candia, quando esta cidade foi sitiada pelos
turces era 1571. Tendo side feito prisio-
neiro temou come passatempo, escrever este
livro, que nos conserveu o scu nome. Os
estudes a que teve de entregar-se, nao erani
OS mais proprios para caplar as sympathias
dos habitantes d'um paiz, em que os sines
sao censiderados come e symbolo d'unia re-
ligiao inipia, e por isse recebeu em recom-
pensa ser decapilado por ordem d'um pacha.
As preduccoes da litteratura brilannica re-
lativamenle aes sines reduzem-se, pela mjiier
parte, a arte de sineiro, arte que os in-
glezes sempre eultivaram com predileccae.
Era tal o enthusiasme das classes, ainda das
mais elevadas, a este rc-peito, que o Dr. Tres-
ham, no tempo da rainha Maria, dizia que o
unico meio que havia para attraliir os estudan-
tes d'Oxferd a missa, era prometter-lhes que
trabailuiria o carrilhao da universidade, o
meihor de tedes d'lnglalerra.
Estamos acestumades desde a iufancia a
ouvir 0 sine fallar per si mesmo. A sua voz
retinc por entre o lumultuar das nossas po-
pulosas cidades, ou paira melodiosamente
sebre os nossos tranquillos campos. 0 sine
6 a Jinguagem do tempo, que sem isse pas-
saria desaiicrceliido por sobre nos, silencieso
come as nuvcns, e sem que cuidasseraos no
seu perpeluo I'ugir.
E 0 sine, que alegremente nos annuncia as
festas, OS casamentos, os baptizades, e e tam-
bom clle, que nes notitica a passagem d'unia
alma do mundo para a clernidadc. Do alto
dos campanarios cliama a casa de Deus os
habitantes dos campes, que ainda depois da
niorte dermem o somno cterno nao longe do
silie aonde vibra a sua voz bem conhecida.
0 som do sine desperta em nos mil ideas
associadas, rail recordacoes do passado. 0
seu use entre as nacoes civilisadas, data da
mais reniota antiguidade. 11a quasi 14 secules
que sao cmpregados pela Egreja, e ja eram
conhecides pelos antigos, antes da era christa.
Applicados ao service do christianismo, acom-
panharara cora o sera a luz que e\clareceu
OS pagaos; e hoje que o christianismo tern
penetrado ate as mais remotas regioes da
terra, pode dizer-se que nao ha dia nem
minute era que a melodia dos sines se nao
eleve ate os ceus, como homenagem que a
terra tributa ao seu Creader.
Secules antes que o sine annunciassc do
alto do vencrando campanario gothice, que
tambem toraava parte nos accontecimentos
d'este mundo, usarani-se pequenos sinos e
campainhas. lira patriarcha oriental do seculo
XII cita um escritor, que seriamente attri-
bue a Tubal-Cain, fameso ferreiro, a primeira
transformacao de metal sonoro em uma espe-
cie de sineta, de que Nee se servia para cha-
mar ao trabalho es ebreires occupados na
construccae da area. Os bisteriaderes de
imaginacao menos viva, contentam-sc em ce-
mecar per aquelles guisos d'ouro, (|ue, diz o
E.xodo, havia nas vestes do summe sacerdete.
a imitacao do que era usado nas vestimentas
des antigos reis da Persia; eu por aquellas
campainhas de bronze, cuja apparencia indica
serem destinadas a servir d'ernates aos car-
res e aes arnezes des cavalles, e de que M.
Layard achou tae grande quantidade numa
das sallas do palacio de Nemrod. A analyse
d'estas campainhas mostra, que conlinham dez
partes de cobre c uma d'estanho que, se pro-
vinha, cemo e prevavel, da Phenicia, e muito
possivel que teuha side exportado da Gran-
Bretanha, ha trez mil annos.
As campainhas, cntro os gregos, eram em-
69
pregadas nos acamparaentos e nas guarni-
5oes ; suspendiam-se aos carros iriumpliaes;
usavam-se no mercado do peixe cm Atlicnas;
chamavam os convidados aos banqucles, pie-
cediam os prestitos funebres, e seiviam para
algunias cerimonias rcligiosas. Quando os
malfcitores iam para o supplicio Icvavam unia
campainha pendurada ao pcscoco, « para
evitar, diz Zonaras, que as pessoas lionradas
fossem manchadas pelo seu contacto. » E inais
verosimil que este aso tivesse por fim altrahir
a attencao do povo sohre o criminoso c ag-
gravar assim o seu supplicio. Daqui vein pro-
vavelmcnte o costume, que existia entre os
Romanes, de collocar no carro do imperador
unia campainha e um mangoal, aviso tacilo
das miserias da humanidade e antidote do
orguiiio.
E inutil recapilular todos os uses, que
tinham os sinos cm Roma. Annunciavara nos
logares publicos as boras do banho e as
dos negocios, e attendendo a insufficiencia
dos recursos de que dispunbam os antigos
para mcdir o tempo, e de suppor que os sinos
tivessem entaomuito maioriniportancia do que
hoje. Os Romanes opulentos empregaram-nos
para convocar a sua familia « cxactamente
como hoje, diz Magio, que escrevia cerca
de 1B70; a criadagera dos nobres e dos Car-
deaes de Roma c ehamada para o jantar e
para a cea por um sino suspense na parte
mais elevada do edilicio, em ordera a ser
ouvido nao so do interior da casa, mas tam-
bem do exterior. »
A. seguinte expressao de Macbeth « vae
dizer a tua senhora que de uma martelada
no sino quando a minha i)ebida estiver prom-
pta » indica, que os sinos, cntao empregados
na Inglaterra, deviam ser maiores, que as
campainhas de mao, usadas peios gregos. Mas
no tempo d'Izabel, a trompa ainda existia
.suspensa por fora da porta principal e exercia
uma grande parte das funccoes, que mais tarde
se corametteram ao sino. Existe no paleo do
Castelio de Penhurst um sino de grandes
dimensoes suspense a um caixilho de madeira
e com esta inscripcao, « Roberto, conde de
Leicester — 1649. » A trompa jd entao estava
completamente abandonada.
0 desuso das campainhas de mao foi um dos
signaes visiveis da decadencia do antigo syste-
ma aristocratico. A moda actual de collocar
campainhas nos quartos e muito moderna em
Inglaterra, porque nao ha d'ella vestigios
alguDs nos antigos castellos da nobreza ingleza,
ainda na epocha, tao recente, da Rainha Anna.
0 defuncto Duque de Northumberland foi o
primeiro que permittiu que se furassem as pa-
redes do seu castelio de Alnioick para la se
porem campainhas. Cada quarto tinha o seu
criado em vez de uma campainha. 0 castelio
de Holkham, comejado em 1734 e acabado
cm 1760, nao as tinha, e foi o conde que,
ha alguns annos, as mandou por. Forani
necessaries niuitos seculos, como se ve, para
levar os homens a rcalisar a idea tao simples
de fazer soar uma campainha na direccao
horizontal por meio d'uraa mola e d'ura arame.
Continiia,
CHIMICA LEGAL.
Analyse do eslomugo c figado de Theresa de Jesus,
criada do sr. Jlento Kodrigues Cvrr/a, d'esta
cidade de Cuimbra, e duns fragmenlos de sul-
stancia branca encontrados no mesmo estomago.
Os fragmenlos de subslancia branca foram
fervidos por mais d'uma bora cm agua distil-
lada, e o liquido, depois de liJtrado, guar-
dou-sc com a designacao — a.
Uma porcao do estomago foi carbonisado
com acido sulphurico.'ocarvao foi humcdccido
com acido azotico; depois d'evaporado ate
4 seccura, foi fervido em agua dislijiada por
mais d'uma bora; e, depois defiltrado, guar-
dou-se com a designafao — b.
Outra porfao do estomago foi fervida em
agua distillada, c o liquido filtrado, e guar-
dou-se com a designacao — -c.
Uma porcao de figado carbonisou-se como
a primeira porjao do estomago, e p6z-se ao
liquido a designacao — d.
Outra porcao do figado foi fervida em agua
distillada, eo liquido, depois de filtrado, ficou
com a designacao — e.
0 alcool evaporou-se; ferveu-se o residuo
em agua distil!f.da; liltrou-se, e guardou-se
com a designacao — f.
Sujeitando cstes seis liquidos ao apparelho
dc Marsh, e comeeando pclo liquido — f —
conhecemos que o alcool cmprcgado nos fras-
cos nao tinha arsenico, por nao ter moslrado,
na porcellana, nem no tubo do apparelho, o
menor indicio d'este veneno. Os outros cinco
liquidos mostraram no tubo os anneis arseni-
caes, ainda que pouco caracteristicos, e pro-
duzirara na porcellana numcrosas e grandes
manchas com brilho ractallico.
A chanima do apparelho, cahindo em uma
dissolucao de sulphate dc cebre ammoniacal
produziu a cor verde — arsenito de cobre.
0 gaz do apparelho, raergulbado cm uma
dissolucao alcoolica de potassa caustica, nao
a turvou.
Recebida a chamma do apparelho em um tu-
bo aberto nas duas cxtremidades e inclinado,
produziu um annel arsenical muito caracte-
ristico.
Um bocado de porcellana humedecida com
uma dissolucao de azotato de prata ammonia-
cal, e collocada cousa d'uma pollegada aclma
70
da rhaninia do apparelho, mostrou a c6r ama-
rella do arseuito de prata.
Etposla uma golla d'agua dislillada em unia
vara de vidro aciraa do appart'llio, e niislii-
rando-a depois com um crystal de azolalo de
prata ammoiiiacal, mostrou no crystal a cor
amarella do arsenito de prata.
As mandias da porcellana desappareceram
com a chamma do hydrogenco, com os vapo-
res doeliloro, c com osvapores do pliosplioro.
Dissolveraiii-sc com o acido azotico a frio,
com 0 hypoclilorito polassico, e com o chlo-
rurelo de soda.
A dissoiucao azotica evaporada ate a sec-
cura a um calor brando, e Iractada pelo azo-
tato de prata ammoniacal, deu o rubro cor de
tijolo do arseiiiato do prata.
0 residue da dissnhirao azolica das man-
chas, tractado pelo sulpliydrato aramoninco,
deu a cor do araarello canario do sulpbureto
de arsenico.
A dissoiucao azotica das manehas com ai-
gumas goltas de acido suiphuroso, sujeita a
accao do acido sulphydrico, deu um preci-
pitado amareiio.
0 residuo da dissoiucao azotica das man-
ehas, tractado poragua distillada ligeiramcnte
aciduiada com acido chiorhydrico, c sujeito
depois a uma corrente de acido sulphydrico,
deu um prccipitado amareiio abundaiite.
As manehas sujeitas aos vapores do iodo
tomaram a cor do cidra do iodurelo de ar-
senico, que se volalilisou a um calor brando.
Sujeitando os se.is liquidos a varios rea-
gentes appropriados para dcscobrir o arseni-
co, apenas o mostraram no liijuido — a — o
sulphato de cobre ammoniacal com um prcci-
pitado verde de arsenito de cobre; a agua
de cal com um precipitad^t branco do arse-
nito de cal ; e o acido sulphydrico com o
precipitado amareiio de sulpbureto de ar-
senico.
De todos estes processes, o em vista dos
symptomas, que precedcram a morte e das
lezOes, que se encontrarara no cadaver, con-
rluimos, que cram de arsenico os fragraentos
de substancia branca enconlrados no esto-
mago; que o niesmo veneno, encontrado no
cstomago e no figado, moslrava que tinha
entrado em circulacao com o sangue; c a
quanlidade d'este veueno mostrava, tambcm,
que tinba sido bastante, para produzira nior-
te por envenenamenlo.
Esta conclusao toruou desnecessaria a ana-
lyse dos rins c dos inlestinos delgados e
grosses, que se achavam nos outros ires fras-
cos.
Uma parte, da substancia branca e visccras
analysadas, beam guardadas em frascos ciii-
tados e lacrados com o sinele do presidentc
da commissao, c rubricado pelo mesmo pre-
sidentc.
i. A. Dl COSTA SIMOES.
REGULAMENTO DOS BANIIOS DE LUSO.
Coolinuado dc puR. 63.
Director.
Art. 16.° 0 Director dos banbos sera no-
meado peia Direccao da Sociedade d'entre os
sous vogaes. Este Director podcra dclegar os
sens poderes cm um Banhista de sua conlian^a,
que 0 subslituira na sua ausencia; e csla
nomeacao sera conlirmada pela Uireccao da
Sociedade.
Art. 17.° Compete ao Director dos banhos
lazer cumprircsteRegulamento, e em especial :
1.° Fiscalisar a adniinistrat:ao econoraica
do (>stabelecimento, evitando o desleixo e pre-
varicacoes no pagamenlo da taxa dos bunhos'.
2." Evitar ou reprimir as irrcgularidades
do service do Banheiro e Servcnles.
3.° Designar as banheiras destinadas a
molestias conlagiusas c ascorosas, c as que
forem destinadas a banhos de pobres e de
precos dillerentes.
4. " Designar o servico dos banhos segun-
do a inscriju-ao dos Banhistas, por meio de
lislas ou tabelias, conforme e disposto nos artt.
13.° e li.»
S." Providenciar de prompto sobrc quai-
quer precisiio ou occurreneia no estabeleci-
mento, daudo parte a Direccao da Sociedade
das niedidas adoptadas.
0." Mandar ao Sccrelario da Direccao, ate
0 dia 20 de Dezembro, um relaiorio do servi-
ce do estabelecimento, em que se mcncioncm
as difliculdades, que se encontrarara na exe-
cucao d'este Regulamcnto, os meies de as
remediar, etc. ; mencionando em seguida n
movimcnto des Banhistas, com o rendimento
dos banbos, ministrado pelo Fiel, e a esta-
tistiea patholcgica des Cliuices do estabeleci-
mento, de que tracla o art. 28.°
§. unko. Estes relateries do Director se-
rao copiados todos os annos pelo Secrelario
cm um livro apropriado.
Fiel.
Art. 18.° 0 Fiel dos banhos sera nomea-
do pela Direccao da Sociedade.
Art. l'J.° Ao Fiel dos banhos compete :
1." Dar aos Banhistas asseiibascorrespon-
dciiles aos banhos, que quizerem tomar, co-
brando d'ellcs a importaneia respectiva.
3." Inscrever no livre do registo, segun-
do 0 medelo n.° 1, o nomc, sexo, residen-
cia, edade, estado e prolissao de todos os
Banhistas, nao so dos chefes de familia, mas
ainda de todos os lilhos e mais familiares;
declarando-se tambem, se tomam banhos com
lins hygienicos, ou a molestia que padeccm,
e 0 sen resultado depois dos banhos, quando
seja possivcl; e declarando linalmeute o na-
mcro de scnhas, que forem compradas, e a
sua iniportaiuia. 0 rcgisto dos pobres sera
fcilo I'll! urn livro separado, c cm ludo seme-
Ihaiito ao regislo dos Banliistas nao pobres,
incluindo o numero das sentias, ^110 se Ihes
forcni dando, c a sua iniporlancia como se
fosseni pagas.
3.* Orgaiiisar com 0 Banheiro as listas
ou labellas da vez 011 bora do baiiho, confor-
me 0 disposto iios artt. 111." e l'i.°
4.' Dar contas ao Direclor, dc oito era
oito dias, do nuraero de scubas rccebidas e
vendidas, e cm relacao com as cnconlradas
dentro da caixa, no acto da sua abertura,
conforrae os art. 11.' e 12."
B.* Dar ao Director dos banlios, ate lii
de Dezcmbro, um mappa do movimento dos
Banhistas com 0 rciidimento dos l)anhos.
6." Mandar ao Tbesourciro da Soeiedade,
ate 15 de Dezcmbro de cada anno, 0 livro do
registo e contas, com 0 scu relalorio e conia
geral. Estes livros serao arcbivados naSecre-
taria da Soeiedade.
7.* Patentear cm sua casa, durante a
•luadra dos banhos, 0 livro do rcgisto e con-
tas, a todos OS Vogaes da Camara Municipal
da Mealhada, e a todos os Accionistas da
Soeiedade, dando-iiies, verbaluiente ou por
escripto, os csclarecimentos dc que precisarcm.
8." Patentear aos Medicos do estabcleci-
raento 0 livro do rcgisto, e minislrar-lhcs to-
dos os esclarecimentos ao seu alcance, de que
precisarem para a estatistica palbologica, que
tern defazer, sogundo 0 disposto no art. 28.°
£anheiro.
Art. 20.' 0 Banheiro sera nomcado pela
Direccao; e a Assemblf'a Geral dos Accioni'stas
marcara 0 maximo do seu ordenado, delc-
gando na Direccao 0 seu ajusle delinitivo
(Estatutos da Soeiedade art. 8.°).
Art. 21." E da obrigaciio do Banheiro:
1." Organisar com 0 fiel as listas ou la-
bellas, de quo tractam 03 artt. 13.° e 14.°,
affixal-as no cstabclccimeato, e regular por
ellas 0 service dos banhos.
2.° Recebcr dos Banhistas as compelen-
tes senhas, conforme 0 disposto no art. 11.°
3." Despejar e lavar cada banhcira que
acaisa de servir, guardando a chavc <la tor-
neira inferior.
4." Enxugar os cstrados e moveis dos
quartos de banho a sahida de cada Banhista;
lavar mesmo alguma parte, que se ache pre-
cisada; raspar e caiar immodiatamcnte algum
ponto das paredes ([ue se veja sujo ; e con-
servar em boa ordem e accio (oda a mobilia
dos quartos e mais casas do edificio.
5." Venlilar as casas de banho, dcsde a
sahida de cada Banhista ate a entrada do
immcdiato, e sempre que cstiverem desoccu-
pados OS mesmos banhos.
6." Fazer lavar todos os dias 0 pavimenlo
de todas as casas dc banho, no intervailo
desoccupado entre os banhos da manha c os
banhos da tarde.
7." Fazer lavar, todos os sabbados, 0 pa-
vimenlo dos corredores, e de todas as casas
do edificio; incluindo as da sua habitacao.
8.° Mandar varrer lodo 0 edilicio," duas
vezes por dia, antes dos banhos da manha c
antes dos banhos da tarde.
9." Fazer caiar, nos primeiros trez dias
de cada mez, 0 interior das casas de banho
que nao tivercm pintura; e alguma parte das
outras casas do edilicio que se achar mais
precisado.
10.° Aquecer a agua das banhoiras de
tcniperatura artificial por meio do fogao, fa-
zendo tomar a agua a tcniperatura de ',','i
graus do thermomctro centigrado, para os
Banhistas que nao dcsignarem os graus de
tcniperatura que Ihes I'oram indicados.
11." Aquecer os lencoes dos Banhistas
para 0 servico dos banhos de temperatura
artificial.
12.° Lavar com cinza, todos os dias a
Route e ao meio dia, todos os copos em servico
do cstabelecimento; e, alcm d'estas, as vezes
que for preciso, para (|ue se achem sempre
no maioraceio; e conservar tambcm na maior
limpeza as duas fontes de agua mineral c
agua communi.
13.° Conservar em limpeza os terreiros
cm volta do estabelecimenio; fazer regar as
arvorcs e flores, conservar 0 buxo na altura
conveniente, etc.
14.° Dar jiarte ao Director, para cste 0
communicar a Direcc3o, das faltas que achar
nos moveis e utensilios do cstabelecimento;
assim como das difficuldades que cncontrar
na exeeuciSo d'este Regulamento.
Art. 2:2.° 0 Banheiro e obrigado a resi-
dir no estabelecimenio cm toda a quadra do
banhos, que tcm priiicipio no primeiro de
Junho c acaba no fim de Novembro; podenrio
alii vivor 0 rcsto do anno, se (]uizer.
§. iniico. Se 0 Banheiro nao viver no
cstabelecimento desde Dezcmbro ate Maio,
sera incumbida a sua guarda ao Regedor da
Parochia, com instruccoes particulares do
Adminislrador do Conccllio.
Art. 23.° 0 Banheiro pride cozinhar lodo
0 anno no fogao do eslabelecimento; mas so
Ihe sera abonado 0 combustivel durante a
quadra dos banhos.
Art. 24.° 0 Banheiro fara cumprir as
disposicOes d'este Regulamento dentro do
edificio dos banhos, cmpregando meios dc
boa cducacao e urbanidade; e, quando nao
seja attendido, dara parte ao Director, que so
em casos cxlremos recorrera ao poder admi-
nistrativo.
Cant/'iua .
72
AMPLlFICAr.AO, E CAMPO VISUAL, NOS INSTRUMENT05 0PTIC03.
Conlinuado ile pag. S5.
22. O que se cliama amplificasao era urn telescopic c a razao do angnlo oplico, pelo
oual se ve a iniagem do objecto, desenliada no foco, com aqiielle pelo qiial je veria dire-
cUmenle o niesino objeclo. E campo visual c o angulo optico pelo qiial se veria directa-
mente o maior objeclo que pode ver-se pelo ocular.
22. Telescopios dc Newton e d' Herschel (IGCG, e 1780). Seja BO o olijeclo, Co
ccnlro do espeliio F,ob a iniagem que se forniaria no foco, o' b' a imagem que se forma
pela retlexao no espeliio piano, e A" o cenlro da lente ocular. Como o comprimenlo do oculo
e insensivcl rclalivameiite a distancia do objecto oliservado com o lelescopio, o angulo,
pelo qual esle objeclo serin vislo directamenle, e OCB^zocb; e o angulo, pelo qual c
vislo com o telescopio, e b' K o' : ora, cliamando F, m, as dislancias focaes do grande espeliio
r., ob ,,,. , o' b' ob
V, e da lente ocular, e tang oLbz=—,, tang 6 li o'= := — ; conseguinlemenle, sup.
pondo as tangenlcs de o C6 c b' K o' proporcionaes aos arcos, a arpplifica^ao e
C 9
O mesrao dlremos a respeito do lelescopio d'llerscliel , que so differe do de Newlon
em nao ter o espeliio piano, e ser o eixo do cspelho esplierico iiiclinado ao do lubo,
podendo o observador rcceber com um ocular a imagem do objeclo, sem que a sua cabe^a
intercepte grande numero de raios luminosos emillldos por elle.
Em quanto ao campo visual, como se pode formar uma imagem egual a sccg.'io focal
do tubo, se cliamarmos s o diamelro d'esla scc^ao, sera — — ; -r-o angulo o Cb=zBOC;
' 2 r sen 1"
mas como os raios refleolidos, que vem aos bordos d'esla imagem, nao podem caliir todos, on
a maior parle, no espeliio piano, ve-se que no telescopio de Newton o campo visual e
menor que e que a sua grandeza depende da grandeza do espeliio piano.
^ jPsenl" '
24. Telescopio de Gregory (166."?). Sejam OBo objeclo; Co cenlro, eoo foco
principal, do grande espeliio F ; c o cenlro, e/ o foco principal, do pequeno espelbo
r ; o' o ponlo onde se reunem , pela reflexao em v, os raios einillidos de o ; e finalmenle
A" o cenlro da lenle ocular, cujo foco e o'.
Sejam Fo = Coz^F, vf=cf==f, lCo'=,, fo = », c F = ci = .F4-/+ *. Sup.
pondo proporcionaes aos arcos as laiigenles dos angulos C, c, K , oi Iriangulos da figura
darao
fC_co'_co^ c _Co_F
c o'A" 9 ' C oc oc'
logo
K _F.co'
C m.CO
Como OS raios, que partem de o, incidem no espeliio v na di.-iancia (jc:^f-\-i, c se
reiincm no foco o', temos
vo'
3f/-l-*)-2/
73
eonsegtiintemente co' = ro' —<« = «'<>' — 2/-=:i — L :
eem quanto a co, <ico=c f — of^=f — i, Subslituindo pohestas expressoe«<lcc» ec o' na de — ,
resulla em fim a amplificacao
K_FJ
C~ *.<,'
seiido i= D—F—f.
F f
Para que a imagem se forme dentro do lubo, deve ser uo' < 73 , ou — < 1 —
n " D—f
J •- b'oi co' f . , .
r,m quanto ao campo da visao, temos— — = ^- ; e por isso, occupando a iinasem
^ '^ bo CO S '^ '^
,.,, , .... , bo S.i
a secgao local do tiibo, o limile do campo e
f'scnl" F.f^i^nV
' Ve-5e pois" (nie o campo e lanto mais pequeno, quanto raaisse, encuita a distancia
(]os focos para augmenlar a amplifica9ao.
26. Tdescopio de Cassegrain (1672). Usando das mesmas letras neste telescopio,
lemos ainda
K __F.co'
C f .00
Como OS raios, que partem de O, reflectindo-se no jjrande espelho f^, tendem a reuiiii-se
no poiilo o , mas relleclmdo-se ainda no pequeno espellio convexo v antes da sua reuniao,
vao ajunclar-se em o', segue-se que, se voltatsem de o' , lenderiam a reunir-se em o, ou
que o seria o foco virtual, quando o' fosse o ponto d'emissao: por tanto lemos
""'•2/ . , , .f(f-^)'
OV = -—— =: f & , ou VO = ■ ,
2!Jo' + 2/ -^ * '
e co' := cu-r t; o'=2/'4- t!o'= — — — ^t — :.
Em quanto a co, e co^:^f-\- S.
. , . ... - K F.f
.Sera pois a amplitica9ao — = ,
tendo Z) = F+*— /.
Por onde se v4, que a amplificacao e' a mesma nos teiescopios de Gregory e de
Cassegrain, mas que, para as mesmas dislancias focaes , o comprimento do segundo teni
de Qienos 2/" que o do prinieiro.
. , o'fi' c6> f
Em quanto ao campo , temos ainda — - = — = r; e consegumiemenle o limite do
ob CO &
. «.*
campo e -p— — .
97. Nos teiescopios catadioptricos ha, como nos dioptricos, o inconveniente da aber-
ragao d'esphericidade ; mas nao lia o da aberracao de refrangibilidade. Com effeilo o raio
luminoso , logo que chega a t.io pequena dislancia do espelbo que entre nos limites da
actividade d'esle, refrange-se, e decompoe-se; mas como depois da retlexfio des( rcve uma
trajecloria similhanle a primeira, ate passar os limites da actividade, recompoe-sc, e sahe
branco como linha entrado.
Por este motivo principalmenle tiveram grande uso aquelles teiescopios, em quanto os
dioptricos nno se fizeram acliromalicos, a pezar do seu pequeno campo, da difficuldade de
observar com elles, e da facilidade com que se embaciam e eslragam.
74
2!?. Lunetci de GcdiUu. Nesto. lunela, cliainanda Fe^ as dislaiicias focae5 da Icnli"
objcctiva e da ocular, a acnplificajao t;
h~ 9'
Km qiianlo ao campo : como elle depcnde da abertiira da pupilla, cliatiiaiido « r>
diametto d'esta, e D a dislancia das duas leiites, e o campo = -7^ -r.
J J sen r
2!). Lunela astronomica. Nesta luneta c evidcnlemenle a amplifica^rio
K_ F
V. chamando i o diamctro da secjao focal, o liniilc do campo o
^'si-n I'
36. J\'Iicroscopio simples. Sendo O A' = 8 poll, a meiior dislancia ti que se pode ver
dislinctamente um objecto com a vista desarmada; c A'o^y a dislancia focal, em que s«'
colloca oobjccto para se ver peialente, cujo centro e /iT: lemos evidcntemeiite a amplifica^rio
b ICo a 3 f"
BKO~ BKO
;-il. Microscopio composto. Seja D a di>lancia A' Ldas duas Icnlcs; O L~i a disl-mcia
ao objeclo, na qiial e necessario collocar o microscopio, para que a imaf^em de O se forme
no foco principal o da lento ocular K ; e/, ip, as dislancias focacs das duas leiites. A figura
BKO i L p BKO SP""
logo a amplifica(;ao c
L n + i' bKo D—,f' a. D^t'
IKo {D — ,). 8p»i'
Se qiiizermos expriuiir D iias dialancias focaes das duas Icntus , tereriio? iis cqiia5ac*
^ T III
33. Quando nas lunelas ou microscopios se usa de oculares composlos , o problema
de conhccer a amplificagao resolve-se ainda peH combina^ao de triangulos, em que entram
as posigoes dos focos do objective, e dos componenles do ocular.
Siipponhamos por exempio, que o ocular e nefjalivo, composto de duas lenlcs con.
vexo-planas cujas convexidades eslao voltadas para o objecto; que o' e o foco da lenle A";
75
e qoe o olijccto O B, que pela refrac^ao no objeclivo L se pinlaria em 06, vein pinUr-se
em o' li' pela seyunda refracgao. na lenle /. Os Iriangulos da figiira dao
hJo Lo
BLO Jo'
b'tC
b'J
0'
Jo'
Ko
b'Ko'
Lo
Jo
BLO
Jo.
Ko<
logo a amplifica^rio e
Rejam F=Lo, f a distancia focal da lenle J, 9 — Ko' a da lenle A', (-• D a
dislancia KJ das lenles do ocular. Conio os raios emiuidos de 0' iriani reuriir-se oni
o; dando a oJ o signal nt-galivo, por considerarmos na formula dos focos conio posiliva
a mesma recla para o lado esquerdo da lenle /, sera -=: — — —j. rercmos pois
Lo=.F,Jo'=D-„Jo=I^=£^2^ Ko'=,
f— O'J J + If— IJ
o <ine siibstiliiKio ua expressao de dara a ainpliiica^.-io
b' r< o< _ F.{f+,( — D)
BLO~' 9/
33. O rnesmo procojso se pode applicar no microscopio composlo de M. Chevalier,
C)UP Mao differe essencialmente d'aquelle, a que nos referiinos no n.° 31, senao em ser o
ocular composlo , e em se reflectircni os raios refractados pelo objeclivo ein nm espelho
inclinado de 4&° ao cixo d'etle, o que Ihes faz tomar ama direcgfio perpendicular li primoira,
para se usar do inslriiineulo commodauienle.
DA VI SAO.
34. Soljre a visao coslumam os pliysicos e os pbysiologiilas apresentar as seguinles
quesloes principaes.
1.' ConiOj pinlando-se as avessas a iinagem na retina, nos vemos os objeclos as direilas?
2.* Como com os dois ollios se ve de inodo que percebemos tuna sd imagem ?
3.' Como sc consegiio o acliromalismo no olho ?
4.' Como se apreciaui as distancias dos objectos , sem que a rcspeilo d'ellas nos il-
liidam 05 angulos oplicos pelos quaes os vemos?
5.* Como se accommoda o oliio a visao disliacla , sem que a perturbem as variajocs
(le distancia dos objeclos ?
35. Para resolver a prinieiia, basta lembrar que no; referimos os objectos ;i direc^Ho
final dos raios luminosos, quaesquer que lenliam sido as trajectorias pelas quaes elles
clieguem a essa direc^'ao.
A segunda pertence especialmente a pliyslologia.
A solugao da terceira coinpreliende-se , logo quo se conbece a exislencia do aclironia-
tismo nos instrumentos options.
Em quanto a quarta, parece que o habile, a clareza da imageai, e a maior ou menor in-
clinagaoque e necessario daraos eixos opticos para os dirigir ao objeclo, constiUiem a parte
principal dasua solugao.
36. A quinta queslTio o realmenle a que offorece maior difiiculdade phisica.
A mudan<;a das di^tannas respertivas da cornea, do crystallino, e da retina, devida
ii translag.'to da cornea ou do crystallino; a mudaii(;a de convexidade d'estes corpos refran-
gentes, devida u dilata^rio ou contracQ.'io de musculos proprios; a mudanga d'abertura da
pupilla, devida a dilatagao ou conlracgao da iris, em virludeda qual a aberragao d'espheri-
cidade torna maior ou menor o iutervallo que no eixo occupam os focos provenientes das re-
.fracgoesdos raios que atravessam as differentes zonas coneentricas da pupilla; a exislencia d'uni
'(interoallo focal, devido a refracgoes em superficies, que ncm sfio espliericas, uuai homo-
f!jfeneas , nem d'eixo commum ; e fmalmenle a coiifigurag.'to e densidade das diversas partes do
jhumor vitrco arranjadas de modo que tornem sensivelmente constante a distancia local :
ytacs sijo as explicaroes , niais ou menos plausiveis, qne se teai dado do phenomcno.
Contmva. S. i*.
76
OBSERVACOES METEOROI.OGICAS . FEITAS NO GABINETE DE PHYSICA
DA UNIVEKSIDADE DE COIMBKA.
Anno lie
18.->4
Mel dc
Deiem-
bro
Dias
.■)
4
5
6
7
8
9
10
U
12
13
14
15
16
17
18
1<J
'iO
21
22
23
34
25
26
27
28
29
30
31
meilias j
i]u mez '
a- i "3
c —
if!
H s s
(Jl.,M»
cenlii:.
a
10°
10
10
11
10
10,5
9
8,5
8
8
7
7
8
8
a
7
8
8
10
10
9
9
8
9
8
7
6,5
6,5
6
6
6
8,29
Presslto atmospherica ao meio
,. i EstaJo hyjrromelricu da
dia 1 . . ^^ ■ ,
atino^pbcra au Dieiu dia
AUitra ba-
romctrica a
O." cenliir.
Mdliiuelros
Milliuielro.
757,7i0
756,503
738,228
759, 6i5
755,181
757,506
758,351
754,608
757,206
754,069
755,553
759,866
767,352
767,352
763,801
763,671
762,025
759,235
754,886
755,724
760,887
705,199
71)4,562
760,120
759,993
759,511
75U,405
758,913
763,542
764,049
764,557
759,961
Temperatura
Maiimaabsol. . 11°
Minima .... 6"
Maxima variai;. 5'
8,017
6,097
5,687
6,534
5,491
5,687
5,687
5,491
5,302
5,948
5,598
5,598
5,607
5,687
5,491
6,064
5,491
5,491
5,491
5,687
5,45J
5,530
5,303
5,637
5,407
5,127
5,107
5,491
5,535
4,793
4,179
Pressuo do
ar tccco
Graud'liii-
niidade du
Millimelros
749,703
750,406
752,541
753,091
749,693
751,819
75i,664
749,117
751,904
748,721
749,955
754,26:1
761,065
761,665
738,310
757,607
756,534
753,741
749,395
750,037
755,433
759,669
759,260
754,439
754,589
754,384
753,298
753,422
758,007
759,253
760,378
Prcssao atmoipherica
mm
Max. absol. 767,352
Minima . . 754,608
Max. exc. 12,744
0,8747
0,6652
0,6205
0,6672
0,5991
0,6002
0,6532
0,6822
0,6613
0,7419
0,7472
0,7472
0,7093
0,7093
0,6349
0,8094
0,6849
0,6849
0,5991
0,6205
0,0361
0,0449
0,6613
0,6632
0,6745
0,6844
0,7052
0,75a2
0,7909
0,6854
0,5973
0,6856
Quantid. d«
»aj)or conlido
fm uiu mctru
cubicu d'ar
Grammas
8,215
6,248
5,828
6,673
5,754
5,817
5.848
5,657
5,472
6,138
5,798
5,798
5,069
5,869
5,667
6,281
5,667
5,667
5.6 n
5,8i7
5,001
5,679
5,471
5,848
5,580
5,310
5,298
5,697
5,753
4,9115
4,344
(irau d'humidade do ar
Maximo . . 0.8747
.Minimo . . 0,5973
Max. variai;. 0,2771
S.
S.
s.
E.
N.
N.
N.
S.
S.
N.
S.
s.
SE.
s.
SE.
N.
NO.
N.
N.
NE.
N.
SO.
s.
SE.
SE.
E.
SE.
SE
SE,
SE.
SE.
Media annual. ^^
Tempernlura 15°,59cenlij. — Pressiio almospherica . . . 754,018
Estado do f'« c do
tempo.
Nitbladu. Bom tempo.
O mesmo. O mesmo.
Encuberto. O meimo.
O mesmo. T. chuvoso.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
Nublado. Bom tempo.
Clar, e limp. B, temp.
O mesmo. Bom tempo.
O mesmo. O nienmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo, O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
Ntiblado. Bom tempo.
Enniberto. T. cliuvoso
Clar. e limp. B. temp.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O inoiino.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
i) mesmo, O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesnio.
O mesmo. O mesmo
O mesmo. O mesmo.
I'oitloi dominanUt
S., N. e SE.
Coimbra, 1.° de Janeiro de 1855.
O Deulonslrador da Faculdade de PUilosojjhia, Joaquim AuguKo Simots de Carsalhc.
€> Justitwta,
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
mum SUPERIOR de mmm mm.
RELATORIO AXIVIAL.
1849— 1830.
Continiiado de pag. G*).
PARTE o.'
Instruceao superior.
Esta instruceao chamada professional, di-
vcrsilica eonforme as dilTerentes iirolissues; c
lera por objecto fazer profundar aos alumnos,
que as abracara, todos os estudos, que com
clla tern relacao. Suppoem ja ura fundo de
eonhecimenlos, dado tanto pela instruceao
primaria, como pela instruceao secundaria.
A instruceao superior pertence, na confor-
ipidadc do decreto de 20 de septerabro de
1844, auniversidade, a academia polytcchni-
ca do Porto, e as eseliolas Medieo-Chirurgicas
de Lisboa, Porto e Funchai.
Segundo o relatorio da univcrsidade, o
lyeeu nacional de Coimbra (seccao da uni-
vcrsidade) custou ao thesouro somente no anno
economico de 184'J a 1830 reis 3:322^008,
com OS quaes o thesouro proven de raeios do
subsistencia a 13 professores e substitutes,
incluindo um jubilado, que ainda faz servico
especial, e um bedel; e deu instruceao a 131
alumnos, cada um dos quaes custou ao the-
souro 23^323 reis e pagou por livros e ma-
trieulas 2^833 reis, sommando as duas ver-
bas 26^180 reis.
Dos 131 alumnos que frequentaram o lyceu,
d'alguns repetcntes, e d'annos anteriores, e
de muitos que vieram de fora, lizeram-se em
outubro de 1849, e julho de 1830 — 1223
exames preparatories perante os jurys uni-
versitarios, nos quaes foram approvados ne-
mine discrepante 649 — simpUciter 312 —
reprovados 264.
Tao grande numero de reprovados e meio
reprovados, nao significa rigor demasiado nos
exames; significa, que fiados na approvacao
simpUciter, animam-se aos exames, muito mal
preparados.
Para ebrigar os alumnos, que se destinam
Vol. IY. Jllho 1
as sciencias superiores, a hem estudar os
preparatories, e conveniente vollar ii appro-
vacao por unanimidade, revogando-se nesla
|ia'rte o art. 69, §. nnico do decreto de 20
de septcmbro de 1844.
Para prevenir os funestissiraos prejuizos,
que resullam aos alumnos, aos paes, e ao
publico, do ensino particular, feito, muitas
vezes, por raestres pouco habilitados, e in-
dispensavel que se tonne a obscrvancia rigo-
rosa dos cstatutos de 1772 liv. 2, tit. 1, cap.
2 ; que se obriguem todas as auctoridades
administrativas, e de policia a fazer cumprir
OS artt. 83 e seguintes do decreto de 20 de
septerabro de 1844, e que finalmente se pro-
hiba expressa e rigorosamente a todos os pro-
fessores publicos, e proprietaries ou substi-
tutos, que houvcrem de ser examinadores
d'algumas disciplinas, quacsquer que forem,
ensinar particularmente essa, ou qualquer
outra disciplina preparatoria ; sob pena de
ser logo privado da cadeira ou subslituicao.
Assini como pelos cstatutos liv. 1, tit. 4,
cap. 3, §. 37, e liv. 3, p. 2." tit. 2. cap. 4,
§. 3, OS esludantes reprovados trez vezes na
univcrsidade nao sao mais admittidos a outro
exame d'a(iuellas disciplinas, da mesma sorle
se deve fazer exlensiva a todos os exames
d'instruccao secundaria, e preparatories,
aquella disposicao dos cstatutos.
Sendo a instruceao primaria a base da se-
cundaria, e esta base da superior, e devendo
quanto se ensina na precedente estar em har-
nionia com a que ha de ensinar-se na seguin-
te, e de absoluta necessidade que os coni-
pendios, pelos quaes devem Icr-se as disci-
plinas do ensino publico, sejam, como esta
determinado pelo art. 1G7 do decreto de 20
de septembro de 1844, propostos pelos pro-
fessores, c approvados pelos conselhos das
respectivas escholas; mas que estcs nao pos-
sam fazer uso d'elles, sem participar ao con-
selho superior d'instruccao piiblica, a Cm de
regular as laxas e mais condicoes, a que os
auctores dos compendios deverao ficar sujei-
tos, na forma do §. 2, art. 3, §. unico, art.
137 do mesmo decreto; (icando todavia livre
aos mestres, e aos discipulos usar de quaes-
quer outros approvados pelo conselho supe-
rior, ou pelos conselhos das escholas, com
tanto que nos exames publicos, hajara de dar
—1833. Num. 7.
'8
louta (Jos compendios legacs, e moslrar que
us sabeni.
Pelo que pertence a universidade c escho-
las do ensiiio superior, dcvem todos os eon-
selhos das faculdadcs e das escliolas regular-
se, quanlo possivel seja, pclos estalutos liv. 1,
tit. 6, cap. 1, §. 8 e seguintes, liv. 2, lit. 3,
cap. 1, §. 20, e liv. 3, p. 1, tit. 2, cap. 2,
§. 3, quando iiouverera do dcliberar sobrc a
adopcao de compendios ; iiao tciido as suas
resolucoes execucao, em quaiito nao I'orcm
tontirmadas pelo conselho superior, a ([uem
serao logo eiiviadas para se execHitar o disposlo
no reguianiento de 10 de novembro dc 1845
art. 27, n.° i e 6, c decrcto de iO de septem-
bro de 18i'(,.art. 3, §. unico, e art. 1G7,
tj. tinico.
Nao dependendo o ensino na instruccao
secundaria somentc de nielhoraraentos matc-
riaes, pelos quaes incessantemente se clama,
mas d'outras causas, c entre ellas, avultando
como principal, o methodo do ensino, con-
vem que se facam reconsiderar as respectivas
instruccoes, horas, e metliodos d'ensino, e
se trade de aperfeicoal-os, e lazcl-os geraes
e communs a todas as escholas do reino.
Exigindo a boa ordem no estudo das disci-
plinas, que os aiumnos nao frequenlem as
posteriores, sem se mostrarem habiiitados
com sulTiciente conhecimento das prccedentes,
deve ser inteiramente abolida a ciasse de
estudanles voluntaries, revogando-se o que,
a respeito de tal ciasse, se diz nos artt. CO,
07 e 68 do decreto dc 20 de septembro dc
1844; mas conservada somentc uas faculda-
dcs de mathcmatica e de philosophia para o
lira indicado nos eslatutos liv. 3, p. 2, tit. 2,
cap. §. 8, e para o efl'eito de nao serem obri-
gados a fazer acto no (im do anno, e pode-
rem, quando tenham sido babililados para o
fazer, espacal-o para quando liajam prol'un-
dado, e esludado melhor as materias; nao
Ihes sendo permittido niatricular-se nos annos
seguintes, sem terem feito ado das discipli-
nas dos annos anteriorcs ; e apprescntado
certidao dc todos os preparatorios indispen-
saveig a respectiva facublade.
Sendo os estudos encadeados pela ordem
natural, e dependentes niuitas vezes uns dos
outros, e sendo o conhecimento das discipli-
nas preparatorias precise para o estudo das
sciencias superiores, sem excluir mesmo as
iinguas grega e hebraica naqucllasfaculdades,
para que se exige, nao dcvem os aiumnos ser
admittidos a esludar as disciplinas dos annos
posteriores, sem exame dos annos preceden-
les, e a cursar as faculdades, sem dar conta,
antes d'entrar nesses estudos, de todos aqucl-
les que sao considerados como preparatorios.
Tendo apparecido em julho do anno passa-
do urn exame falso em latinidade, sem que
se podesse descobrir o seu auctor, e devendo
prevenir-se laes falsidades, seria muiio con-
vfniente que todos os aiumnos, que vierem
fazer exaraes preparatorios no lyceu de Coim-
bra, e frcquental-o, ou a universidade, sejam
obrigados na conforraidade dos cstatutos liv.
2, tit. 1, cap. 2, §. 2, a appresentar certidao
passada por cada um dos mestres que os
instruiram em cada uma das disciplinas, de
que pretendem fazer exame, e alem d'este
documento, e d'identidade na forma das clau-
sulas exigidas pelo prclado da universidade
no seu relatorio.
0 conselho superior era vista de tao salu-
tares, justas e acerladas providencias, espera
que V. M. nao so se dignara acolhel-as bene-
volamente, mas tambem dar-lhes a sua real
approvacao.
No anno lectivo de 1S48 a 1849 fre-
quentaram a universidade de Coira-
bra, aiumnos 828
No anno lectivo de 1849 a 1850 frcq. 884
Diffcrenfa para mais ... 56
Fizeram acto 881; foram approvados ne-
mine discreimnte 793, simpliciter 01, repro-
vados 27.
Custou toda a despesa da universidade
ol:93i)|l699 reis liquidos de tudo ; mas aba-
tendo-se 23:309^904 reis, que os aiumnos
pagaram por livros, matriculas, c cartas de
formaturas, custou ao thesouro em todo o
anno lectivo 26:SCS|i693 reis. Com essa
quantia proveu de raeios de subsistencia a
08 mestres, e a 49 empregados, c deu instruc-
cao superior a 884 aiumnos, e mais lo de
musica. Soccorrcu nos hospitaes a 2:532
doentes; alem de varies jornaleiros, serven-
tes, e operarios, que forani pages pelos diver-
sos estabelecimentos, c cntraram na verba do
expediente.
Custou cada um dos 884 aiumnos da uni-
versidade a sous pacs, por livros, matricu-
las, e cartas de formatura 28^099 reis, e aa
the.^ouro 29^798 reis: total 58^497 reis.
Cada alumno de musica custou ao thesouro
14^910 reis.
Coraparando agora o que cusla ao thesouro
a instruccao de cada alumno das escholas d'ins-
truccao superior de Lisboa e Porto com o que
custa a da universidade, ve-se que a da uni-
versidade custa menos d'ametadc.
Frcqucntarani a academia poiytechnica do
Porto 103 aiumnos, custando cada um ao
tiicsouro 93^115, contados individuaimente.
A. eschola medico-chirurgica de Lisboa foi
frequculada por 40 aiumnos, cada um dos
quaes custou ao thesouro 188^075 reis con-
tados individuaimente.
A eschola medico-chirurgica do Porto foi
frequentada por 35 aiumnos, cada um dos
quaes custou ao thesouro 223^670 reis, con-
tados individuaimente.
Os relatorios das diversas faculdades e escho-
las superiores fizeram couhecer a este conselho
79
que OS sous membi'os se esincrara no apei feiroa-
mento do ensino dos dilTercnles ramos das
scieiicias, que Ihe estao confiados, c a con-
scrvacao e o engrandecimento dos seus esta-
belecimenlos.
Na faculdade dc theologia o numcro dos
alumnos tern augmcntado, c niaior seria, su
•iquelle era cujas dioceses nao ha seminaries,
fossem obrigados a estudar a theologia, ou
na universidade, ou nos outros seminarios
niais proxiraos, o que muito conviria.
0 quadro dos lentes cathedraticos effectives
esta rcduzido a quatro, um dos quaes nao
faz servifo ha muitos annos por doente c
avancada edade; e a quatro substitutes ordi-
naries, que tern feito todo o serviro, come
effectives sem gratilicacao alguma. E por esta
causa que e conselho da mesma faculdade se
lisengea de ler cuniprido os scus dcveres,
promovido o progresso da sciencia theologica,
com grande approveitaraento dos alumnos, e
banido a dialectica escholastica, conio o re-
commenda o estatuto.
A. faculdade de direito no seu relatorio,
da conta de que a commissao, nomeada pelo
conselho da mesma faculdade, elaborara o pro-
jecto para a erganisacao d'uma faculdade ou
curso de sciencias economicas e administrati-
vas, 0 qual foi depois discutido em claustro pie-
no, come ja fica raencionado neste relatorio,
que outra commissao se encarregara de con-
feccionar o projeclo da reforma littcraria de
1844 c 1845, que tambem ja comecou a ser
discutido em claustro pleno; e que linalmente
a erganisacao do cadastre topographico fora
addiada por uma resolucao do conselho, era
consequencia d'haver adoecido gravemente
um des membros da respectiva commissao.
0 conselho da faculdade de medicina, no
seu relatorio, lamenta a falta d'um demon-
strader dc materia medica, e d'um ajudan-
te no hospital de molestias de pelle ; faz scn-
tir a urgente necessidade de se transferir e
hospital da Conceicao para o edificio des ex-
tinctos Benedictines, ende se podem accora-
modar os muitos doentes que diariamente
affluem aos hospitaes da universidade, sem
que per falta d'espaco estejam os corredores
cheios de camas, e as enfermarias tenham
mais doentes do que os que nellas devem
permanecer segundo os preceitos hygienicos,
come succede actualmente no hospital da
Conceicao: pondera que o cirurgiae nao pode
Iractar da parte cirurgica, e da parte fiscal
ao mesme tempo, por que as boras do cura-
tive em todos os dias se encontram com ou-
tras, era que a fiscalisacao e indispensavel :
queixa-se de que sao pouces os empregados
acluaes no servico das enfermarias, e com
pequcnos ordenados, e que apenas habilita-
dos na cirurgia ministranle, deixam os seus
empregos, para irem a outra parte tentar me-
Jhor fortuna.
Para que as enfermarias dos hospitaes se-
jam bcm scrvidas, e os povos ruraes tenham.
por modico preco, quem Ihes prcstc os pri-
meiros soccorros em suas molestias; cntende
0 conselho superior, que se deve tomar em
consideracae, se convira restabelecer os ri-
rurgiocs niinislrantes.
Lembra o conselho da mesma faculdade,
que nao e possivel com a dotacao estabeleci-
da para 120 doentes, curar e suslentar 237
come na actualidade.
Tendo attencao a administracao dos bens
dos hospitaes, c aos recursos que d'elles se
podem tirar em proveito de tao uteis eslabe-
lecimentos; parece ao conselho, que devera
ser tomada na consideracae, (jue merecer, a
preposta do prelado da universidade, sebre
a creacae d'uma commissao mixta, formada
d'um lente da faculdade da medicina no-
meado pelo conselho da mesma faculdade,
d'um cidadae probo e intelligente, nomeado
pela camara municipal de Coimbra, e d'eu-
tro nas mesmas circumstancias, cleito pela
mesa administradora da sancta casa da mi-
sericordia da mesma cidade.
Tambem o conselho da faculdade de medi-
cina representa que o dispensatorio pharma-
ceutico neccssita d'alguns utcnsilios, e bem
assim de varies instrumentos os gabineles de
anatomia, de medicina operatoria, e arte
obstetricia.
Do relatorio da faculdade de matheraatiea
ve-se, que o govcrno de V. M. foi auctorisa-
de, per carta de lei de 23 d'abril de corrente
anno, a mandar comprar para o observatorio
da mesma faculdade, os instrumentos de que
mais carecia, e ja este conselho superior, em
consulta de 17 de septembro ultimo, indicou
ao governo de V. M. o modo come se pode-
riam adquirir com proveito da fazenda piibli-
ca. 0 conselho da referida faculdade deu as
providencias necessarias para os exames de
practiea, que devem tor logar no 4.° anno,
e que foram aprovados pelo governo de V.
M. era portaria de 24 d'abril do sobrediclo
anno, cm quanto a experiencia nao mestrar
as alteracoes que conviriam fazer-se.
0 professor intcrino da aula de desenho
annexa a mesma faculdade, no seu relatorio
da conta do aproveitamento, e hem compor-
tamente dos seus di^cipulos, e requisita alguns
objectos indispensaveis ao ensino d'aquclia
arte.
0 provimento definitive d'esta cadeira
acha-se a concurse perante a academia das
bellas artes de Lisboa, cenfornie as regias
erdens de V. M. ; e e conselho espera que a
vista dos programmas publicados no Diario
do Governo possam haver concorrentes, entre
os quaes se escoiha o mais habilitado, para
desempenhar com dignidade a referida ca-
deira.
A faculdade de philosophia tern curado cam
80
zelo Ja scienc'ia, e Jos estabelecimontos a scu
cargo. Nao sc limitou ao rigoroso desempe-
nlio das funccOcs do magislerio, raas para
maior aperl'eiroamenlo da scieiicia formou
Elenchos das malerias d'ensino; naquelles
ramos porcni, luja extensao e doraasiadaracn-
te longa para ser lida em uiu anno leclivo,
discutiu a imporlaiuia rclaliva das materias,
e conteci'ionou programmas. Insta pelo despa-
cho dos dciuoiislradiiri's para as demonslra-
cOes das respoilivas cadi'iras, c para os pxa-
mcs d« practica, que liao do ter logar no
bimestre do correnle anno lectivo, depois que
OS alunmos livorem satislVito as provas oraes.
Os sous estabolocimcntos, leiu sido objecto
dos maiores disvolos; e o por isso que o
consolho da mesma i'aculdade, no sen relato-
rio lundado nos artt. 2, 3 o 4, g. 3 da por-
taria do 10 d'agosto de 1349, propoe:
1." Que se complete no lalioratorio chi-
mico a collecrao dos corpos simplices, e que
se proveja esle estabeiecimento, d'alguns
inslrumentos, macbiuas e utcnsilios, que ain-
da Ihes fallam, para se podcrem fazer alguns
ensaios e processes, espocialiuenle do cbimi-
ca organica :
2.° Que 0 gabinele dc pbysica,. abundan-
do em niachinas antigas e modcrnas, neces-
sila ainda de alguns aparelbos, e instrumcn-
los de modernissima invoneao; que inuito
contribuirao para o collocar a par do estado
actual da sciencia, e fazer prosperar na uni-
versidade o ensino da pbysica experiinenlah
3.° Que 0 gabinete de zoologia seja enrl-
quecido de exomplaros da maior parte das
especies exoticas; de nuiitos gcneros e I'ami-
lias inteiras dos vertebrados, c inverlebrados,
(; da Fauna da Nova Holianda, tao rica e
variada, eomo singularmente interessante:
i." Que se crie para o referido gabinete
ura iogar deproparador, que se dediquecxclu-
sivamente ao servico das prepararoes, e nao
seja ao incsrao tempo })reparador e guarda,
corao actualmenle accontece, do que rosulta
nao poder desempenliar eabalmente ambos
OS encargos, com manifesto perjuizo do esta-
belociraonlo; c que alom do preparador e do
guarda, e tambom nccessario ([ue baja, pelo
nieiios, um ajudantc que, amestrado com as
licues da exporiencia, possa, na sua falta,
substituil-os com dignidade:
5.° Que se amplie o museu, annexando
Ihe algumas casas do bospital contiguo, alim
de haver espaco necessario para a collocarao
regular e metbodica das especies, que ac-
creseerem; o que se pode conseguir facilnien-
tc, ordenando V. M. que o referido hospital
se raude para o vasto e magnilico edificio dos
extinctos Benedictinos:
C.° Que 0 meio mais proprio, e conve-
niente de enriquecer cste e os mais estabe-
lecimentos d'hisloria natural, e, scm duvi-
da, 0 melhodo de fazer viagens scicntificas
dentro e fora do reino; pois so assim sc po-
derao obtcr, c recolbor ao museu coUeccocs
conipletas dos troz reinos da natureza, tao
necessarias as dcmonstracoes:
7.° Que a colloccao dc mincralogia, sen-
do, d'enlre todas, as colleccOes do museu de
historia natural, a molhor c mais corapleta,
e careccndo aponas d'alguns corpos simpli-
ces, e d'alguns generos c especies, pode, com
])equona dospesa, complelar-se inleiramente ;
0 bom assini a colloccao do geognosia, que
ja e de grando valor:
8/' Quo para a|>orroicoar o cstudo dc geo-
logia, e indispensavel uma colloccao de fos-
seis caractcristicos dos divorsos tcrrenos,
assim como na parte monlanliislica, uma
outra coUeccao de todos os inodolos dc nia-
cliiMas, e instrumonlos [lara auxiliar a intei-
ligoncia dos ahimnos, e para a porfcicao dos
methodos dc exploracao :
9.° Quo 0 jardim botanico, alom da estufa
tompcrada, que ba rauito tempo possue, ne-
cossita d'outras duas, uma quenlc e outra fria ;
de colleccOes de llerbrarios, e de estampas
coloridas, e bora ao vivo desenhadas, e da
conclusao d'algumas obras comecadas naquel-
le estabeiecimento:
10.° Que 0 estabeiecimento d'agricultura
torn precisao d'um guarda, d'algumas obras,
d'instrumentos e macliinas apropriadas para
as oporacoes, e procossos agronomicos, e
principalmcnte dc modelos, que sirvam, nao
somontc para as demonslracocs na aula, mas
tambom jiara vulgarisar o seu uso ontrc os
proprietaries e os artistas:
11.° Que fiualmento, ostando o ensino
technologico annexe a cadeira d'agricultura,
e do grande importancia a acquisicao de
modolos e macbinas para instruccao dos
alumnos.
0 conselho superior cspera quo o governo
de V. M., tomani em consideracao todas as
cxigencias feitas polo consolho da faculdade
de pbilosopbia, quo nao se propoe se nao o
auginonto, crcdito, e prosperidade dos esta-
belecimentos, que Ibe estao confiados.
Conti'ti'ta.
OBR.VS DE M. LONGCH.\.MPS
OFrEKECIDAS PELO A. A IMVERSIDADE DE COIMBBA.
0 sabio naturalista M. Edm. do Selys Lon-
gchamps, um dos mais distinctos Membros
d'Acadomia real das scieucias de Bruxellas,
acaba dc olTerocer a universidade de Coimbra,
por intervencao do Ex."'° sr. Conselheiro
d'Estado Antonio Jose d'Avila, uma coUeccao
das suas obras sobre divorsos assumptos zoo-
logicos, que M. Longchanips teni tractado
81
Luin a superior inlelligencia, que o distingue,
« que da aos scus escriptos mereeida cele-
bridadc; a universidade de Coiml)ra iiao
podia portanlo deixar de recebcr com espe-
cial reconliecimento a lionrosa offcrta do il-
lustrc uaturalista, niandando coilocar na sua
bibliotlieca aquella importante collcccao, para
ser alii consuitada pcias pessoas conipctentes.
A colleccao de Mr. Longchamps comprc-
liciide as obras seguintes:
Monoyraphic des Libdlulidees d' Europe. 1
vol. 8." com cstampas. 1840.
Uevue des Odonales, on LibeUuks d' Europe.
1 vol. 8.° com cstampas. ISiJO.
Esta scgunda obra e o compleraenio da
primeira, e contera as correccocs c addicocs,
que dez annos de successivas obscivacoes
tornavam indispen.savcis pan completar os
primeiros estudos, que o A. lizcra sobrc esta
importante parte da entomologia.
A monographia das Libellinlias couipre-
beude os caractcres e a synonimia dos geiicros;
as observacoes sobre os caracleres especificos
de cada grupo ; a exacta descripcao das
cspecies de cada seccao; suas variedades, e
costumes, e uma sijnopsis em latim com uma
tabella analytica dos generos e das piirases
cspecilicas; de maneira que de todas as me-
niorias publicadas sobre a familia das Libel-
linbas (Odonatadc Fabr.) a de M. Longchamps
(i a unica, que pbde considerar-se conio a
mais completa, c que comprehende a concor-
dancia e synonimia de todas as outras.
Na Revista das Libellinhas o A. reuniu aos
seus proprios traballios e observacoes as do
Dr. Hagen de Koenigsberg sobre dilTerentes
pontes da anatomia e physiologia dos in-
dividuos d'esta familia, e sobre as Libellinhas
fosseis.
Faune Beige \." parlie. 1 vol. 8." 18i2
com estampas, comprebcndendo a indicacao
methodica de todas as especies de Yertebra-
dos ate af|ui observados na Belgica ; os logares
era que ordinariamenle ellas babitam ; a epocha
do anno, era que aparecera as especies de ar-
ribacao; algumas observacoes eriticas sobre
pontes duvidosos da sciencia; as variedades
iocaes, ea synonimia; era lira as especies
observadas nos paizes mais visinhos alera da
fronteira.
Esta obra teni portanlo a duplicada van-
tagem de fazer conhecer aos naturaes d'aquel-
le paiz a riqueza animal que possuem, e de
au.\iliar o estudo da geographia zoologica em
geral.
Observations sur les phenomenes periodiques
du regne animal et partindierment sut les
migrations des oiseaux en Belgique, 1 vol.
fol. 1848.
Esta memoria contem importantes observa-
coes sobre as diversas causas e circumstancias
d'aquellas emigracoes, e sobre o estabeleci-
jneDto de um calendario zootogico.
Sur le C'alendrier de Faune en Belgique. I
fol. I8o2.
Birapitulalion des hijhrides observes dans la
famille des Anatidees. 1 fol.
Enumeration des Insectes Lepidopteres de
la Belgique. 1 fol. 1844.
Sur les oiseuux nmericains admis dans In
Faune Enropeenne. 1 fol. 1846.
Essai Monografique sur les campaqnols. I
fol. 1830.
Eludes de M icromammulogie , Remie des
Musaraignes, des Bats, et des Cumpagnnls.
siiirie d'un Jnde.v methodique des Mummiferes
d'Europe. 1 vol. 8.° com estampas 1830.
Debaixo do nome de micromammulogia o
A. eoiuprehenile o estudo das trez ordcns Ao>
mamraaes os cheiropteros, insectiveros, c roc-
dores, que contem as es(iecies mais pequenas
d'a(|uella classe. Os antigos naturalislas oc-
cupavam-se principalniente dos grandes qua-
drupcdcs. Das trez ordcns dos pequenos mam-
niaes, de que o k. tracta n'esta obra, apenas
vinte especies sao mcncionadas nas primeira.s
edicoes de Bull'on e Linneo; e hoje Long-
champs cita cento e tantas cspecies; assim e
este um trabalho novo e mui importante que
raerece ser lido com niuita attencao.
0 Index methodicus europaeorum mamma-
Hum, com que o A. tcrmiua aquella mono-
graphia, e tambem niui util, porque satisfaz
a uma necessidade da sciencia, reunindo, do
mesnio niodo, que Temminch lizera em rela-
cao as .\ves, lodos os niamaes da Europa
n'uma so obra.
Distribuilion Geographique des campagnoi;
en Europe 1847.
Memoria publicada na Beinie Zoologique.
Note sur quelques petits mammi feres du midi
de France.
Memoria publicada na Bevue Zoologique de
maio de 1843.
Todas estas obras, cuja leitura recomenda-
mos, se podem consultar hoje na Bibliotlieca
da universidade.
J. M. DE ABREU.
CHIMICA LEGAL.
Anabjse de pao, fermento, e farinha, manda-
dos de Travanca de S. Thomi, julgado do
Carregal.
AN.\LYSE DO PAO.
Fizemos ferver por mais de uma bora um
pouco de pao era agua dislillada, e deixamos
outra porjao a maeerar em agua fria por mais
de oito dias. Estes liquidos, depois de filtra-
dos, foram postos de parte com as designacww
a para o primeiro e b para o segutido.
82
Ouira pant do pSo foi sujeita a ebullirao
cm agiia distillada, com potassa caustica, na
razao de ccni partes dc materia suspeita para
uma parte de polassa. Estaiido a agiia quasi
evaporada, junctamos-lhe viiite e qualro par-
tes de acido suirurico conceiitrado. 0 pao
foi-se carbouisaiido poiico e pouco ate se re-
duzir a iim rarvao (riavel; que, depois de
pulverisado, foi sujeito a ebuiiicao em agua
distillada por mais d'uma liora. Este liquido
lillrou-se, e p6z-se dc parte com a designa-
i.ao c.
Uma outra parte do pao, com uui sexto do
seu peso d'acido sulfurico, foi aquccido pouco
e pouco, e pouio e pouco a subslancia orga-
iiica se foi carbonisando. I'or cima d'estc
car\ao depois de frio, deitamos muitas got-
tas d'acido azotico, evaporamol-o ate a sec-
cura, e o carvao secco depois de pulverisado
loi sujeito a ebuiiicao em agua distillada por
uiais de uiua bora. Este liquido, lillrado, foi
posto de parte com a designacao d.
Empreyo doi reayeiites sem o aparellio dc
Marsli. De todos os reagcntes empregados,
so 0 azotato de prata e o acido sullhydrico
poderam mostrar, cm alguus dos quatro li(|ui-
dos guardados, pequenos indicios da existen-
cia do arsenico; uias tao leves, e tao pouco
accessiveis a sua verilicacao por outros rca-
gentes, que tivemos por mais seguro despre-
7.al-os. Nas outras aualyses, do fermento e
lariuha, que havemos de descrever, uao nien-
cionamos este emprego de reagentes, porque
la iiem ao meiios derani estes fracos indi-
cios.
Analyse no apparelho de 3larsh. Todos
OS liquidos com as designacoes a, b, c, e d
foram sajeilos ao aparelbo de Marsh. Este
apparelho, montado scgundo as modificacoes
adoptadas pda commissao do iustituto de
Franca, trabalhou em branco por mais dc
meia hora, sem (|ue apparecesse, no tubo ou
na porcellana, o menor indicio de impurcza
do zinco ou do acido sulfurico. Eusaiaraos
cada uni d'estes liquidos em separado, veri-
ficando scmpre em cada ensaio a pureza
dos reagentes. Comcrando pelo liquido a,
lancamol-o no apparelho, e logo em seguida
appareceram na porcellana muitas mancbas
que foram guardadas. Pouco c pouco foi dirai-
uuindo a grandcza d'estas mancbas ale nao
apparecerem mais, a pezar das differentes di-
mensOes que lizemos dar a chamma. JS'este
estado, lancamos-lhe mais liquido suspeito,
e as mancbas appareceram segunda vez. 0
mesmo phenomeno se repetiu todas as vezes
que juuctamos novas porcoes dc liquidos quan-
do 0 apparelho tinha dcixado dc produzir
manchas. Os anneis, que procunimos no
tubo com a lampada de alcool, umas vezes
nao appareciam , e outras vezes manifesta-
vam-se apenas por uma ligeira sombra, e
nunca bem caraclehsticos; nao deixando dc
eslorvar os anneis dc churabn, a que da; a
logar a inipureza do vidro. Por estes moti-
vos assentamos emdesprezar este meio d'ana-
lyse.
Analii.ie da chamma do apparelho dc Marsh
e das manchas da porcellana. Collocando ho-
risontalmente sobre a chama do apparelho de
.Marsh, a dislancia de meia polegada, urn
bocado de ])orcellana bumcdecida com uma
dissolucao de azotato dc prata ammoniacal,
appareccu, na orla da dissolucao, a cor ama-
rella do arsenito de prata, ainda ([ue pouco
pronunciada. Ik-cebida a chamma em uma dis-
solucao de sull'ato de cobrc ammoniacal, ap-
pareceu em alguns pontos o verde proprio do
arsenito de cobre. Dirigido o gaz do appiv-
rclho a uma dissolucao alcoolica dc potassa,
nao houve turvacao do liciuido. Todas as
mancbas da i)orccilana olfereciam a cur aloi-
rada c o brilho mctalico das manchas arseni-
cacs ; e, expostas as dill'erentes reaccocs, deram
OS resullados seguintes.
1." Desapparcceram instautancamente com
a chamma do dydrogcneo.
i.° 0 mesmo desapparecimcnto prompto
com OS vapores do chloro.
3.° Os vapores do phosphoro, em bocados
em uma capsula, as lizeram desapparecer pas-
sadas duas boras pouco mais ou menos ; e.
expostas depois ao acido sulphydrico, deixou-
se vcr, ainda que a custo, a cor amarella do
sulfurcto de ar.senico.
4." Os vapores do iodo fizeram-Ihe tomar
a cor de cidra ^iodureto darsenico . Expostas
depois a urn calor brando, desapparcceram
com promptidao; e tornaram a apparecer,
ainda ligeiramente, pcla accao do acido sull-
hydrico.
ii." Dissolveram-se com o acido iodbydri-
co, deixando pela evaporacao um residue
amarellado.
ti.° 0 hypochlorito dc cal, actuando sobre
as manchas por dez minutos, dissolveu-as
em grande parte.
7." A dissolucao ou desaparecimento das
manchas foi prompto c completo com o acido
azotico a frio.
8." A dissolucao azotica, evaporada ate ii
seccura a um calor brando. e o residue tra-
ctado ])or um pcqucno crista! de azotato de
prata ammoniacal e uma gotta d'agua distil-
lada, tomou a cor atijolada do arsenito de
prata.
0.° 0 mesmo residue da dissolucao azoti-
ca, sendo tractado pelo acido sullhydrico, deu
uma sombra amarellada de sulfureto de ar-
senico.
Concluida a analyse d'estc liquido a, e da
chamma e manchas respectivas, passamos a
ensaiar o liquido b, e cm seguida os liqui-
dos c e d. Todos produzirara manchas
na porcellana, siniilhantes as do liquido d;
apparccendo os phenoraeuos no trabaliio do
83
apparclho de Marsh do modo como foram
notados no primciro ensaio. As reaccocs, a
que sujeitamos a charama do appari'lho e as
manchas, nos ensaios dos ultimos trez liquidos,
tambem derain resultados similliantcs aos da
chamma c manchas provenic.ntcs do liquido
que primeiro tinha side analysado.
ANALYSE BO FERMENTO.
Preparamos, com o fermento, quatro liqui-
dos pelos mesmos processes empregados na
preparacao dos liquidos a, b, c c d na analyse
do pao, e designamol-os com as mesmas qua-
tro letras.
Analyse no appurelho de Marsh. Os qua-
tro liquidos, ensaiados scparadamente no ap-
pareiho de Marsh, nao produziram anncis no
lubo nem manchas na porceliana; a exccprao
do liquido c, que apenas fez appareccr duas
manchas muito pequenas e mal caracterisa-
das.
As suspeitas, que cstas duas manchas lize-
zeram crear, levaram-nos a repctir noutra
porcao de fermento os dois processos para
ohtermos novas porcOes dos liquidos bee; e,
sujeitando estcs liquidos ao apparelho dc
Marsh, ohtivemos com o liquido b muitas man-
chas em tudo similhantcs as que tinha dado
a analyse do pao; e, com o liquido c, outras
manchas, ainda que menos numerosas, tam-
hem similhanles as primeiras. A analyse de
todas estas manchas deu resultados similhan-
les aos que tinham dado as manchas do
pao.
ANALYSE DA FARINUA.
Repetimos na farinha os mesmos processos
empregados no pao c fermento, para a pre-
paracao dos quatro liquidos a, b, c G d.
Analyse no apparelhu de Marsh. — Ensaia-
mos OS quatro liquidos no apparelho de Marsh ;
e, a pezar de ternios variado as condicoes
da chamma cm cada ura d'estes quatro en-
saios, que fizcraos em separado, nunca nos
appareceu o menor indicio de anneis arseni-
caes nos tubes nem manchas na porceliana.
Repetimos noutra porciio de farinha o proces-
so empregado para se obter o liquido c; e,
repetindo o ensaio d'este novo liquido no
apparelho de Marsh, assim como d'outras por-
cOes dos liquidos a, b a d, que ainda resta-
vara, sempre tivemos o mesmo resultado. Ape-
nas 0 liquido c, ultimamente preparado, deu
por uma so vez na porceliana uma pequena
sombra sobre o pardo e seni brilho.
Esta mancha que, pela sua pequenez e por
ser unica, nao sc prestou a uma analyse
minuciosa, nao tendo os caracteres physicos
das manchas arsenicaes, nao se tendo dis-
solvido no acido azotico, no acido chlorhydrico,
nem no ammoniaco, g tendo-se volalilizado,
ainda que lentamcnte, com a chamma do hydro-
genco, deixou-nos inclinados a que fosse pro-
duzida para materias organicas, ou por estas
subslancias e cnxofrc.
0 apparecimento d'esta sombra ou pequena
mancha aiuda nos levou a ensaiar outra por-
cao de farinha. Preparamos com ella, segunda
vez, 0 liquido a, e pcla terceira vez o liquido
f, mas promovendo a carbonisacao dentro
d'uma retorta com o collo mergulhado emagua
distillada, e aprovcitando esta agua para cima
do lillro. Sujeitfimol-os nova mente ao appa-
relho de Marsh, mas nada appareceu que
(izesse lembrar aquella sombra, manchas, on
cousa similhante.
CONCLUSOES.
De todos OS processos d'analysc que temos
descripto, concluimos :
1.° Que todo 0 pao analysado sc achava
cnvenenado com arsenico.
2.° Que havia arsenico cm parte do fer-
mento analysado, e que outra parte o nao
continba, achando-se d'este modo descgual-
mente distribuido por todo o fermento que
nos foi cntregue
3.° Que a porcao de farinha analysada
nao tinha arsenico.
A. A. DA COSTA SIMOES.
0 HAREM '
A palavra harem significa um logar reser-
vado, e consagrado a algum objecto digno de
especial veneracao. Assim os arabes chamam
a cidade sancta de Medina liaremi nebevi (o
sanctuario do propheta). Na linguagem corren-
te dii-se aquelle nome as casas, em que habitam
as mulberes inteiramcnte separadas do resto
da familia, como no antigo gyneceu dos Gregos;
as ideas religiosas, porem, que no Oriente se
ligani as relacoes do homem com a mulher,
dao ao harem um caracter especial.
0 harem do sullao faz parte do seu palacio,
com 0 qual communica por duas porlas de
bronze dourado. Escravos negros cstao dia e
noute de guarda a estas portas, por onde nin-
gucm pode entrar sem ordem expressa do
soberano.
' ExtrahiJo da iiiteressante obra — La Turqiiir actuel-
le, que M. Ubicini acaba dedar i Inz.
Si
De lados os Uaruaiiliiis o sulirio c o unico
i|iic pode com razao ((iu'i\ar-so da dcscgual-
(iade das coiidiijoes. Ao luesino tempo o pri-
lueiro e o ullinio do todo!;, sucllf esta pii\ad()
do diieilo di' coiUrahir uni casaiiH'iito Irgal.
A lei que lonicdc (nuitio imilliorL's Icgitimas
a todo 0 iioiilP, qui! as |indcr sustciitar, coii-
deuiua o sullilo a ler coiuuliiiias cm vez do
csposas; per isso o povo lallando do sultao
desigiia-o sompro com o liliilu u do lillio da
escrava. "
Este I'osliinio, recel)ido coiiio maxima do
Eslado, romoula ao tompo dopiimoiro lliiaim
(1047). Ate osta epoolia os siiltoos ottoiiiaiios
podiam oonlraliir logitimo malrimonio. Algiins
d'ollos esposaram luulhores chrislas. E tradic-
(.•ao coustantc que a mac do conquistador de
Constanlinopla I'oia uma princcza francoza,
que cstivora justa para casar com o impcra-
dor grego Joao Paloologo, quaiido o navio, que
a transportava, cahira em podor do aimiranlo
Saroudji-pacha, a quern Mourard II cedera as
joias e thesouros, que constituiam o dote
d'aquella princcza, ficando em troco com a
l)eila captiva.
Seduzido pelos (Micantos do scu espirito
Mourard vciu a esposar a priucoza, de quern
houve Mahomet II. Affirma-so tfiiiil)om, que a
mae de Mahmoud, a qual morrera em 181G,
era I'ranceza.
As mullieres que occupam o liarem sao
di\ididas em cinco categorias, segundo a
sua jcrarcliia e a naturoza das suas I'unccoes.
As primeiras em dignidade tern o titulo de
Cddinas por corrupcao do vocuIjuIo Khatoun,
que 6 0 titulo proprio das mullicros perten-
centes a nobreza na Turquia. 0 numero legal
das Cadiuas e de sete, c gozam das mesmas
prerogalivas das antigas sultanas.
Tauto as cadinas corao as outras mullieres
do harem perdom os nomes, c sao dosignadas
numericamcnte, primoira dania, segunda, tor-
ceira, quarla dama etc. (KItaloun birindji,
Khatoun ikindji etc.) A cadiua primeira tern,
segundo dizeni, vinte oito annos, o d'alta
pstatura, mas feicoos vulgares; o sultao houve
d'eila 0 seu primeiro lillio, e, segundo as Icis,
compete-lhc por isso a eatcgoria de iniperatriz.
A cadina segunda 6 de pec|ucna cstatura,
cabcllos louros, mui viva e interessanle: a
Icrceira e uma Ibrmosa circassiana, que so dcu
a luz uma princcza: a qmrta c de uma rara
helleza, mas infecunda: a (]uinta c trigueira
com olhos azues : a sexla foi comprada em
Salonica; e loura, e mui encantadora: a
seplima e uma helleza circassianna, hem apes-
soada; o seu rosto c radioso corao o da
lua, e OS sous olhos sao similhantes aos das
houris.
A esta brilhante pleiada segue-se lim grope
de cincoenta a sessenta pequenos planetas.
Sao as odaliscas [odalytj). Eslas tfiem a seu
cargo todo o scrvico domestieo do sultao; sao
as suas giiarda-roupas, servem-no a mcza.
lavam-uo, vestom-no, e licam de vigia a ca-
liecoira do leito em (|uanto elle repou.sa.
Algumas das odaliscas c\crccm I'unccoes mais
in\ojadas. e gozam dos favores do .seu senhor
como as cadinas; mas noui por isso a escrava
lioiirada com o titulo de I'avorita [ikfiil] dcixa
do viver com as suas com]ianlieiras, e so
[lassa a categoria de cadina, quando csia
gravida.
0 titulo de sultana so e concedido as lilhas
nu irmas do Grao senhor. .V mac d'oste tern o
tiliilo de Vulidi'-Sultnn (sultana mae) e oc-
ou])a 0 primeiro logar no imperio a baixo do
Grilo senhor.
0 numero das odaliscas e illimilado, e
dopende do gosto ou capricho dos sultoes.
Mourard IV teve mais de trezcntas, de ([uem
houve cento e trinta lilhos; porem, desdc
Mahmoud I os sultoes estabeleceram nestc
ponto certos limites, nao so por economia,
mas tambem em attencao a opiniao piiblica,
que na Tur([uia e mais poderosa, do que
geralmentc se acredita.
As Oustas sao inferiores as odaliscas, c
fazem o servico particular da sultana mae,
das cadinas e dos lilhos do sultao.
Estas dilTerontes classes conslituem um pes-
soal de trezentas a quatrocentas mulheres
pela maior parte da Circassia, e d'outros
pnnlos do Caucaso; quasi todas ellas ignoram
a familia e a patria, que as vira nascer. As
que nao sao designadas polo titulo do servico
que Ihcs esta destinado no harem, teem urn
sobrenome allusivo as suas qualidades moraes,
ou aos sens dotes physicos. Hayati (que da a
vida) ; Safaiji (que busca o prazer) : Nourisabak
(aurora): Gxdbahar (rosa da primavera) etc.
A excepcao das cadinas, as outras mulheres
do harem obedeccm todas a uma governante
designada pelo sultao d'entre as antigas fa-
voritas, que, em signal de auctoridade, usa de
um bastao guarnecido com laminas de prata.
E esta de certo uma auctoridade bem difficil
d'exercer. As odaliscas nao gozam, como as
cadinas, de privilegios legaes, mas supprem
esta falta pelos mais astuciosos meios, e com
intrigas, e enredos que a sua imaginacao Ihe
suggere para obterem o favor do sultao, que
e 0 unico objecto de todas as suas ambicoes.
0 proprio sultao, « este poderoso Assuero , »
cuja afToioao disputam mil bellezas, c involvido
naqucllas intrigas e torn muitas vezes d'oc-
cultar OS alTectos do seu coracao, e cons-
pirar em segredo para nao traliir o objecto
das suas mais intimas inclinacoes; taes sao
as regras ou os costumes do harem, onde um
d'esses myslerios amorosos revelado produz
uma completa revolueao, que nao raro ler-
mina tragicaraente, e mais d'uma favorita
tem cxpiado pela sna indiscripcao, victima
do vcneno, ou amargurada por outros lor-
mentos, a passageira felicidade d€ que gozava.
85
Juiz sera appellarao nestcs raelindrosos con-
flictos, a governante proniincia a sentenca,
que 0 Kislar-aga faz executar.
Contam-si; muitos casos de odaliscas que
morreram victimas do ciiime das cadinas.
0 sultao Mahnioud tinha no seu harem
uma jovcn cscrava, que Ihe inspirara uma
violenta paixao. Cliamava-se clla Zcineb. Per
seu rps[)eilo o sultao desprcza\a lodas as ca-
dinas, posto que olle tinha a cautella de so
Ihe fallar as esiondidas, ou pelo receio de
exp61-a ao ciunie das suas rivaes, ou por que
se queria iivrar das qucixas e accusacOes
das cadinas. Zcinch pcia sua parte occultava
tarahcm a sua felicidade, o que nao era vulgar
entre as da sua chisse. Uma cadina, porem,
que por muito tempo vivera na illusao de
raerecer exclusivamente as afl'eicOes do sultao,
pode descobrir o segredo dos dois amantes.
OITendida raais no seu orgulho do que na
sua ternura, rompeu cm violentas injurias
contra a pobrc escrava, e no furor do seu
despeito ordcnou aos eunuchos que a aroitas-
sem. Zeiueb recuando um passo, e levantando
a cabera com nohre altivez, diz aos eunuchos:
« Suspendei: no meu seio trago um sultao. »
Immediatamente todos se prostraram diante
d'elhi beijando respoitosamenle a fimbria do
seu vestido. A cadina no auge da sua colera
toma um vaso cheio d'agua a ferver para ar-
remecal-o aos olhos da sua rival no momento
em que o sultao, ouvindo este alarido, entrava
no aposento, onde csta scena se passava.
Zeineb tremula, e lavada em lagrimas lanca-
se-lhe aos pes; e o sultao tomou-a em sens
bracos.
A profunda commocao que Zeincb experi-
menlara fdra-llie fatal; algunias semanas de-
pois cxpirava ella, dando a luz uma menina,
que seu pae idolatrava, e que na edade de
onze annos loi desgracadaraente victima do in-
cendio, que em 1810 consumiu uma parte do
harem.
As cadinas teem, cada uma, um aposento
e um banho separado. As odaliscas hahitam
pequenas cellas, ornadas com pcrfeita unilbr-
midade e cujas portas dao todas para uma
grande sala redonda com magnilicos espelhos
nos intcrvallos das janellas. Este salao e a
ponto de reuniao, a assemblea e o forum
d'este povo feminino. Os cuidados do touca-
dor absorvem todas as attencoes nesta as-
semblea durante o dia. A. noule a cadina ou
a favorita, que o sultao deslina recolhe-se
com clle aos sens aposentos.
Na primavera o sultao deixa o seu palacio
d'inverno, e todo o harem o acompanha para
a nova resideneia.
As cadinas quasi nunca fallam com mulhe-
res estranhas ao harem, excepto com algumas
antigas escravas do harem, que estao forras,
e se acham casadas na cidade, ou com algu-
mas mulheres velhas, que vao vender objectos
de luxo com recomendacao d'uma sultana,
ou d'alguma dama nobre.
J. M. DE ABREU.
RELACAO
Dos individuos nomeados para os seguintes logarcs
d'instrnci'ao piiblica, por despachos do Conse-
Iho superior d'instruci-uo publica desde o 1 .°
ate 0 dia IS do mez de jiinho, e Item assim por
decrelos e portarias do Governo, communicadas
an mesmo Conselho superior no indicado pe-
riodo.
INSTIinC(XO PBIHARIA.
Antonio Jose Alvcs Teixeira de Magalhaes,
para professor temporario da cadeira de Athey,
districto de Villa-Real.
Antonio Percira de Carvalho, para a dc Villa
Ruiva, districlo de Beja.
Candido Maximiano Xavier de Noronha, para
a de Formoselhe, districlo de Coimbra.
Jose Bcnto da Gama Lameira , para a de
Assumar, districto de Sanlarem.
Jose Maria Xavier Malheiro, para a de San-
fins, districto de Villa-Real.
Jose da Rosa Themudo, para a de Alpalhao,
districto de Porlalcgre.
Sebastiao Jose Teixeira Pinto, para a de Val-
Passos, districto de Villa-Real.
Caelano Antonio Fernandes, para a de Rcbor-
does, districto de Viana.
Francisco dos Rcis Oliveira, para a de Villa
do Bispo, districto de Faro.
Joaquim Avelino Barbosa, para a de Monte
de Caparica, districto de Lisboa.
Joaquim Elysiario Ferrcira, para a de Ericei-
ra, districto de Lisboa.
Luiz Jacintho Percira, para a de Villa-Franca
do Campo, districto de Ponta Delgada.
Maria Libania Fagundes, para mcstra tcmpo-
raria da eschola dc meninas da Villa da Praia
da Victoria.
INSTHUCgiO SECDNDABIA.
Bento Alvcs Pereira de Moura, para Profes-
sor temporario da cadeira de latim de Villa-No-
va de Famalicao, districto de Beja, por portaria
de 12 d'abril proximo passado.
Joaquim ManocI Fernandes Braga, professor
da quarta cadeira do lyceu nacional de Ponta
Delgada, para professor da terceira cadeira, para
as reger cm curso biennal, por decrcto de 36 de
maio ultimo.
INSTRCCfAO SUPER lOR.
Thomaz dc Carvalbo, para lentc proprietario
da primeira cadeira da eschola medico-chirurgica
de Lisboa, por decreto de 30 dc maio ultimo.
86
APONTAMENTOS SOBRE A THEORIA DAS PARALLELAS.
ADVERTENCIA.
Usamos dos Elenieiitos de Geoiiictria d'Eiiclides, piiUlicadob pela iuiprensa da uiii-
versidade em 1846: na definijiio porem de parallelas suhenteiidemos suppriiiiida a phrase on
cquidt$tante$, (vid. def. 3d do 1.° Liv.), porque iiao t; d'Eiiclides. Dcvciii U'r-se as rcfc.
rencias ao Legendre na duodecimo edigdo da sua gcometria, impressa em Paris, em 182."!.
Lemma I.
ji recta, que une as extremidades de duas rectus eguaes c perpendicnlares a uma i/uarla
recta , fa% angxdos eguaes com as dictas perpendicnlares.
Fig. I.
\ ^ n Sejam (Fig. 1) BC e AD eguaes e perpendiculares a CD ,
tire-se AB: digo que os angulos DAB e ABC sao eguaes.
Pelo ponto G raeio de DC, esleja tirada a recta GE perpen-
'^ dicular a DC, e as rectas BG e AG. A perpeudicular EG esla
denlro do angulo AGB (Leg. liv. 1 prop. 21).
n f. r. Nos triangulos ADG e GBC temos AD=BC; DG = GC,
e 05 angulos em D e C eguaes: logo (Leg. liv. 1, prop. 6), os triangulos ADG e BCG
sao eguaes, e por isso e DAG:=CBG, e DGA = CGB, sendo tambem AG=sBG: ora
como AG = BG, «egue-se (Leg. liv. 1, prop. 12) que e GAE:?=GBE : por conseguinle as
duas egualdades GAB = GBA, ej DAG = CBG, dao GAB + DAG = GBA + CBG ; ou
DAB = ABC.
coROL. Sendo DGE = CGE, DGA;:;=CGB, sera AGEsssEGB: ora os triangulos
AGE e EGB tern AG = GB, GE coramum, e os angulos AGE e EGB eguaes: logo
AEss EB, o 03 angulos AEG e BEG sao rectos.
scHOi.io. Construidas as rectas DC, DA, BC, debaixo das condigoes do presenle
lemma, se quizermos baixar de B ou de A uma perpendicular sobre GE, produrida, em
logar de procedermos na conformidade do que se le em Leg. (liv. 2.° probl. 3), bastard
unir OS pontos B e A por uma linlia recta. Sabe-se (Leg. liv. I, prop. 16), que d um
ponto dado, fora d'uma recta, se nao pode tirar aenao uma perpendicular a recta.
1^
Lemma IL
As rectas (Fig. I) AD , EG , BC sdo eguaes.
Porque se assim nSo fora, verificar-se-hia uroa das desegualdades
Fig. II.
seCH =
l.» EG>BC:2.' EG<BC.
Seja em prinicrro lugar EG > BC. Snp-
ponha-se AEBCGD (Fig. II) construida,como
Fig. I : produzam-se em direitura do si nies-
mas as rectas DC e CB; tome-se CC'=sDC;
m C estpja C'B' perpendicular a CC, e
egual a BC; tire-se BB', e G'E' perpendicu-
lar ao ineio de CC'. fi facil de ver que E'G'
= EG, e BC em tudo egual a AC.
r: f< Qi '(f Por quanto admitlimos que EG>BC, tome;
EG = E'G'. Designe-se um ponto I acima de H , e lirem-se EH, EI, E'H, E'l.
87
Oi quadriialeros EGCH e HCG'E' sao eguaes por construcgao ; e a tambem (Lem. I)
GEH=EHU, CriE'=G'E'H, e pela egualdade dos quadrilateros, EHC = CHE', e
KH=E'H: logo EHI=:E'HI, comosupplemenlos d'angulos eguaes. Sendo pois EH=E'H,
HI commiim aos triangulos EHI e E'HI, e o angiilo EHI = E'HI serao os triangulos
liHl e E'lll eguaes: era EI + E'l > EH + HE' (Leg. liv. 4, prop. 9); logo EI > EH.
Por conse(iuencia o pe da perpendicular haixada de E sobre CL iiao pode estar para cima
de H (Leg. liv. 1 prop. 16): o dicto pe tambem n.io pode estar eni H, porque EHC=HEG,
e HEG e obluso : tambem nao pode eslar o pe da perpendicular para baixo de H, por
exempio, em I', alias o iriangulo HEl' teria dous angulos maiores que dous rectos, o
que e impossivel (Eucl. liv. l." prop. 17). Por lanto , se EG > BC , do ponto E nao se
pode tirar uma perpendicular a CL ; o que e falso (Lem, 1 scholio,ou Eucl. liv, I, probl.
12). Logo
BC nao e menor do que EG.
Supponlia-se BC>EG. Feita a precedenle construc^ao (Fig. II), tome-se CH'r^EG;
para baixo de H' tome-se um ponto T ; tirem-se EH'jEI', E'H', E'l'. Demonstra-se come
acima fizemos , que EI'>EH': logo a perpendicular, baixada de E sobre CL , nao passa
para baixo de H'; e como GEH' e agudo, sera EH'C agudo , logo a perpendicular, de
que faliamoi, iifio passa por H'; mas, sendo EII'C agudo, EU'L e obtuso , por isso (Eucl.
liv. I, pnip. 17) a dicta perpendicular nao corta CL para cima de H'. Logo sendo BC maior
do que EG nfio se podera tirar por E uma perpendicular a CL, o que e falso : (Lem. I. scholio) :
e por isso
BC nao e maior do que EG.
Concluiuios pois que nfio e BC maior ncm menor que EG; logo BC:=EG.
CoKOL. I. Os angulos (Fig. I) em A e B sdo rectos.
Os triangulos GEB e BGC s.'io rectangulos um em E outro em C; lem a raesma
liypotlienuse BG : e EG := BC : logo sao eguaes (Leg. liv. 1, prop. 18); e por conseguinte
EBG=BGC; EGB=GBC; e por isso EGB + BGC = GBC + GBE = EGC = a um
recto.
CouoL. II. Os irez angulos do Iriangulo reetangitlo eguivalem a dous rectos.
Porque EBG=BGC : logo BEG+EGB + EBG=BEG-|- EGB+BGC=BEG + EGC=
a dous rectos.
CoROL. III. Os trez angulos d'um Iriangulo qnalquer eguivalem a dous rectos.
lug. III.
Seja o Iriangulo ABC (Fig. Ill) oblusangulo, e B o angulo
obtuso: a perpendicular baixada de B sobre AC caLira (Eucl. liv.
1 prop. 17) dentro dos ponlos AeC: tire-se, e seja BP. Os seis
angulos do3 triangulos ABP e BPC valem quatro rectos: tirando
OS angulos P, ficara A+B + Ci^ia dous rectos.
Se o triangulo (Fig. IV) e acutangulo a perpendicular, baixada
de A sobre BC, cahira em BC, e concluiremos , como preeedente-
mente A + B-fC = a dous rectos.
CoROL. IV. Os quatro angulos do quadrilalero equivalem a
quatro rectos. Porque o quadrilatero se divide em dous triangulos,
C por meio da diagonal.
CouoL. V. EB (Fig. 1) e metade de DC.
CoROL. VI. j1 diagonal (Fig. 1) DB e dividida ao meio por EG.
Porque EB=:DG: DOG — EOB; DGO = OEB; logo (corol. II) EBO = OpG
e porlanto (Leg. liv. I, prop. 7) DO = OB ; e tambem OG = OE. E assim a perpendicu-
lar MN ao meio de AD passa tambem pelo ponto O. E como per um ponto se nao pode
tirar mais do que uma perpendicular a uma recta, segue-se que a perpendicular baixada do
meio da diagonal sobre o lado do reclangulo divide esse lado ao meio. (Leg. liv. I prop. lo).
Advertiremos mais que por ser OG=:OE, e 2 OG = AD, e por isso MO = DG.
88
Thcorcma .
Ou axioina duodecimo do priineiro livro dn Geniiictria d' Eudidca.
LI se uma liaha recta, encoiitrwido-se cotii oulr<is duns rectus ,Jizcr os aiigutos intcruas
__ incsma jiartc iiienorcs, que do^ts I'cctos , cstas duas rectus pradirJdds ao infinilo concur-
rcrao para ii mcsina parte dos diclos angulos ijUcrnos.
da
A
P
Q P' P'
I,
""---^
n
H G
B
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1 11
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M'^^~---,,__^^
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Scjam AB e CT) (Fi;;. V.) diiaa roctas, que cortaclas por EC!
fazeiii OS aiij,'ulos BliG e E(iD iiioiiores i|ue dons reL-lns: si-iido
^ islo assini , iitii do^ an^'iilos, por cxpiMpIo , EGD e necessaria-
ineiile agiido ; de E haixe-se Ell perpendicular a CD. Por
J) hypothese IIGE4- GEM + HEB sao ineiioros que dous rectos;
G H mas (Lciii. II corol. II) IICiE-|-GEH vaiem uni recto; logo
IlEB e apudo : por couseguiute o estaliplecer (|ue BEG-j-J'^GD sao meuores, que dous
rectos, equivdl a supper que , scndo EIID recto, e IIEB agudo. Posto isto :
Fis. 11.
^ Seja (Fig \ I) ACD um angulo recto e CAB uin
angulo agudo, digo que as reclas AB e CD, seiido
^ prodiizidaS; liao de cortar-se paia a parte BD.
Ao ponto A da recla AC levaiite-so AX , perpen-
dicular a AC: do ponto B baixe-sc BP, perpendicu-
lar a AX , e em urn ponto X de AX levante-se KX ,
. Y perpendicular a AX, e egual a BP: tome-se AL=BP,
e tirem-se BL e BR, que estfio em direitura uma
^ da outra, porque sao rectos (Lem. II corol. I) os
angulos PBL c PBR. A recta AB, produzida para o Udo DX, passa por baixo de BR,
porque ABP e agudo, e por isso PBM' e obtuso. Produza-so pois AB ate um ponto M':
de M' baixe-se M'P' perpendicular a AX: fa^a-se P'n = PB: o ponto II esta na recta
BR: porque o quadrMatero, que se formar com PP', PB, P'H , e uma recla BH lem os
angulos em H e B rectos (Lem. II corol. I), logo (Leg. liv. I prop. 15 corol.) a recla
BH do quadrilatero e uma parte de BK. Sendo PUB recto BUM' tambem o e. Seja [ o
nieio de IIM', lire se IM perpendicular a HM', sera M o meio de BJM' (Lem. II corol.
VI); lire-se jMQ perpendicular a AX; e porque PBG e recto, QGB tambem o e (Lem.
II corol. IV): logo o triangulo BGM e rectangulo em G, como MIM' o e em I: por
oulra parte e BG = GH, e Gll = MI e HI = MG (Lem. II corol. VI), e PQz=QP.
(Lem. II corol. V). Logo M'il = 2. WG.
Produza-se AM' em direitura de si mesma ate ser M'M" = MM': de M" baixe-se
sobre AX a perpendicular M"P": fa9a-5e P''h = P'l : tire-se 1h: por esta conslrucgao
OS angulos P'ln e P"iil sao rectos, e por isso MIh e uma recla; e o angulo MhM"
e redo: divida-se hM" ao meio no ponto I': a perpendicular a P"M" no ponto I' passara
necessariamente pelo ponto M' (Lem. II corol. VI); e por ser M'l perpendicular a Mil
sera I o meio de Mm (No mesnio corol ) : e nI'=M'I = rM''=MG. Logo M"h=2. MG :
e como PBG' e recto, P"G'B tambem o e: logo (Leg. liv. I prop. 15) P"G' = PB,
porque, se assim nfio fosse, do mesmo ponlo B se poderiam baixar duas perpendiculares a
P''M'' (Lem. II corol. J): do mesmo inodo se ve que QG^PB: e por isso G'M'':=3. MG.
Podemos continuar indefmidamente a conslrucgao precedeute : e por isso podemos con-
struir uma recta GC" — =) M^"~')::=n. MG , aonde M^''~'i designa um ponto de AB ,
produzida.
De L para C lomem-se Lx = xy=y%=^~tz=tu = MG : se MG e LC s.'io com-
mensuraveis um dospontosa;, ou y , s. . . . caliira em C , que representa a divis;'io n ; con-
tando 1 em x; 2 em ?/ ; .S em %;....: produza-se AB, e de B para Y tome-se uma recla egual
a n. BM , a extremidade de AB , estara em CD , egualmente produzida , se necessario for;
porque a perpendicular baixada sobre AX da extremidade de <i AB + '"- BM n e eguil a
AL-\-n. L.V.
Se MG e LC n.'io sfio commensiiraveis , a ("""^ divisHo x, ou »/■■•• cahira entre L e
C : a divisilo n estara para baixo de C. Tomando em AB produzida a recta , de comprimento
AB + n. BM , e baixando da extremidade uma perpendicular sobre AX, essa perpendicu-
lar e egual a AL + n. MG. Logo AB, produzida, corta CD.
E. G. OZORIO.
Abril de 18SS.
i) Jn^stittttn^
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
GOXSELHO SUPERIOR DE ISSTRDCClO PIJBLICA.
RELATORIO ANNUAL.
1849—1850.
PARTE S."
Instruccdo superior.
Continuado de pag. 69.
0 director da bibliothcca da univcr.sidade,
no seu relatorio, da conta da regularidade
no service d'este estal)eiecimcnto da parte
dos seus emprcgados; e de nao ter havido
occurrencia alguma desagradavcl da parte de
todos, OS que alii I'requentaram a Icitura dos
divcrsos ramos scicntiticos. Pondera que o
conlingente destinado para compra de livros,
e jornaes litterarios, tanto de sciencias positi-
vas, como naturaes e tao limitado, que prc-
cisa ser augmentado para poder satisfazer as
neeessidades c curiosidades dos homens de
Ictras. Pede providcncias, nao so para que se
conclua o trabaiho, ja tao adianlado, da cata-
logacao de mais de cem mil volumes, das ex-
tinclas corporacoes rcligiosas, depositados no
andar superior do edilicio do lyceu de Coim-
bra; mas tambem para que scmandem reformar
algumas eslantes, que alii se acliam em gran-
de estado de ruina; e f'azer alguns reparos
indispensavcis naquelle deposito.
A bibliotheca contcm obras 14:330, volu-
mes. classiQcados e encadernados 42:230, em
brochura 430, volumes nao classificados e en-
cadernados 8:700, em broxura 600. Foram
adquiridas no anno lectivo findo obras 28,
volumes 50.
0 prelado da universidade, no seu relato-
rio, pondera, que o tempo, em que a livraria
da universidade csta aberta, nao e, nera o
sufficiente, nem o mais opportune para ser
concorrida de lentcs e estudantcs; e ao con-
selho superior parece, que no rcgulamento
de que a bibliotheca carece, se devem tomar
na considecao, que merecerem, aquellas pon-
deracoes.
Na real capella da universidade, cclebra-
ram-se os oiEcios divinos com todo o esplen-
VOL. lY. JlLHO 15.
dor. Os capellaes, e mais empregados, cum-
priram os seus deveres, e foram coadjuvados
por cinco estudantes ecclesiasticos, que pelo
decurso do anno, se matricularam como addi-
dos a real capella, e prcstaram service vo-
liintariamentc nos termos do §. 2, art. 4 de
dccreto de 13 d'abril de 1845. Foi provida
em 2 de marco do correnle anno, pele cen-
sellio dos decanos, uma capcllania vaga, ten-
do precedido o rcspectivo concurso. Fizeram-
sc alguns pequenos reparos nos ornamentos
da capella. Finalmeute e urgcnle e concerto
do estuque de tecto, e o do orgao da mesma
capella.
0 director da typograpliia da universida-
de, no seu relatorio pondera, que os novos
typos, e machinas d'imprirair, e es prelos
de metal com outros utensilios, tern concor-
rido para a perfeicao typographica, que vai
appareccndo nas ultimas edicoes, elaboradas
na mesma oflkina. Pede a continuacao da
auctorisacao, que Ihe foi concedida no orca-
mento do" 1845 a 1840, para empregar as
sobras dos seus rendimcntos annuaes na re-
forma dos typos, e prelos, que devem subsli-
tuir OS de madeira, de que ainda alii se ser-
veni ; e bem assim d'um torculo de metal
fundido, d'invencao moderna, para cstam-
par; e d'uma machina para moer tintas; o
que tanto concorre para a belleza da imprcf-
sao. Pede tambem auctorisacao para obras
no edilicio, a fim de que se possam collocar
as novas machinas, e a lithographia cem que
se vai enriqueccnde a oflicina ; e ordeni de
credito para pagamento d'aquella, e outras
quantias do material e pessoal, insertas no
orcamenlo da mesma iniprensa. Conclue tinal-
mente, assegurando que o service c traba-
Ihos da typographia, centinuam com a pos-
sivel regularidade, e que tem side reforraa-
niades os abuses introduzidos pele tempo.
0 director da academia polytheclmica de
Porto, no seu relatorio, represcnla a falta
d'um jardim belanieo c experimental, da sexta
cadeira, que foi supprimida, para o ensino
do curse de construccoes ; d'um gabinete de
physica e mechanica industrial ; d'um gabincle
mineralogico e zoologice; e d'um gabinete de
chimica; o augmente de seu laboratorio; e
d'instrumentos physicos e mathematicos; a
denegacao de licenca aos alumuos militares,
-1853. ' ' Num. 8.
90
para cstudarem na acaJcmia os prepaialorios
para a cschola do cxcrcito ; o al)Uso de se
jiassarein, na inlendcncia da maiinlia, cartas
de pilolagem a iiidividiios scni hahilitiirOes
academical ; e tinalmente a necess^idadc de
fimplilicar n curso de pilotagom para facililar
a sua fri'i]uoncia.
Dos l(i;{ aliimiios, ([iie frcqiieiilaram a aca-
demia polylcchnica, tizeraiii I'xamo 'Jii; Ibraiu
approvados plt'iiaiiK'Ute 'JU, simpliciter '6.
0 coiisoilio superior julga ([ue deve ser atten-
dida a reprcsoiitacao do director da acaileinia
polytechiiica do Porto, por quanto os oiijectos
rcqiiisitados acham-se ordenados pela legisla-
cao vigeiUe, e iioiueadaineiUe pclo art. IGj
do decreto de 13 de Janeiro de 1S37, e peio
art. 13S do decreto de 20 de fepteml)ro de
18ii.
0 conseliio da escliola inedico-cliirurgica
de Lisboa, no sea relatorio, diz que o cstado
material da cscliola nao e tao satisfactorio,
como 0 conselho deseja ; que o estado litte-
rario, pode considerar-se completo, com res-
peito as necessidadcs ordinarias da practi-
ca; que o estado moral foi bom, iiavendo em
todo 0 anno lectivo a maior rcgularidade, e
nao occorrendo uni unico caso dc perturba-
cao, ou de menor rcspeito da parte dos alu-
mnos; e (pie cstcve fechada a aula de clinica
chirurgica drsde 2i de dezembro de 18i9,
ate 20 de junbo de ISoO.
As providencias que o governo de Y. M.
tomou, c OS concursos abcrlos ultiraamenle
para o provimcnto das substiluicOcs, e de-
nionstracOes vagas uaquellas escbolas, bao-de
fazcr cessar csta irregularidade.
0 mesmo conselho cscbolar pondcra, que
jiara satisfazer aos iins da portaria de 10
d'agosto do anno prcterito, e necessario que
a dotaciio da escbola, na importancia de reis
1:000$000 seja elevada a 2:3GS^i00, verba
cm que se comprelicudc o orcamento da despe-
za para o anno economico dc 18a0 a ISol.
0 conselbo superior, com ([uanto acbe justa
a ponderacao do conselbo da rcferida escbo-
la, no estado actual de sua organisacao, dei-
xa a sabedoria do govcruo de V. M. tomal-a
na c'jusideracao (jue nierecer.
Frequcntaram a escbola 8j alumnos. No
rurso de parteiras matricularam-se S; per-
deu 0 anno 1 ; lizoram oxamc, e foram ap-
provados pionamcnte 7.
0 conselho da escbola medico-cbirurgica
do Porto, no sen relatorio, ([ueixa-se da lalta
d'espnro, ([ue ba no edilicio onde csta col-
locada, para cstabelecer os gabinetes, que o
eiisino practice exigc; a pezar d'isto cspera o
conselho cscbolar, poder crear habeis chirur-
gioes. Queixa-sc egualmente, dc que os phar-
niaceuticos approvados, e com botica aberla,
nao cnmpram a lei, deixando d'enviar a
cschola impreterivelmcnte, todos os annos,
no mez d'oulubro, os registos dos praclirantes
dc pbarmacia, que practicam na.s suas ollici-
nas; e (|uc sem oito annos complelos de re-
gular c boa priictica, nao podcm scr admit-
lidos a fazer examc d'acpiella disciplina.
0 conselbo superior julga digna de ser
attendida a rcclamajao da escbola, para que
se torne olTertiva a cxecucao do art. 131 do
decreto de 21) de dezembro dc 1831) acerca
dos pbarmaceuticos.
0 nu'smo conselho cscbolar convencido de
(]no para a cxecucao de (jual(|iier operacao
cbirurgica, cnja practica demanda grande
destreza anatomica, niio era bastanle o eslu-
do d'um anno d'anatomia, impoz aos ainmnos
do 2." anno a o))rigacao de repelir a anato-
mia, c pcde que dc novo se mande vigorar
0 rcgulamento de 2d de junbo de 182ij, re-
vogado pelos decrctos dc 29 de dezembro de
lS3(i. e 20 de scplembro de 18ii.
Da conta dc ter adoptado na cschola o
nictbodo jirescripto nos cstatntos da univer-
sidadc, para os exanies da clinica medico-
cbirurgica, com a dilTcrcnca dc ser liniitada
a sua duracao a 10 dias uteis.
Alcm d'isto pcde ainda varias outras pro-
videncias, nmas regulamcntares, outras Icgis-
lativas, que esto conselbo cspera levar a
presenca de V. M., quando cstiver concluida
a (liscussao principiada no clanstro [deno da
universidade, sobre a reforma litteraria.
A clinica medica da cschola no anno lecti-
vo dc 1819 a ISjO tern 18i docntes; a chi-
rurgica 91; lizcram-se 19 operacoes cbirur-
gicas donde rcsultou uma unica morte.
A cschola medico-cbirurgica do Funcbai,
desde a sua creacao ale hoje, nao remetteu
um so relatorio ou niappa; de maneira ijue
0 conselbo superior ignora absolutamente o
cstado d'aquella escbola; a qual, no sentir
do mesmo conselbo, dcvc ser supprimida,
pori[ue a julga inutil ao cnsiuo; ou ser or-
ganisada sobrc oulra base, fazendo os pro-
fessorcs dcpcndcntcs dc concursos, cm que,
por provas piil)licas, se moslrem a V. M., por
este conselbo superior, dignos do magisterio;
quando V. M. nao entenda o contrario em
sua alta sabedoria.
A instruccao superior cusion ao tbe^uro
8S:028^5920"reis.
S- •'•'
liexiilinilds.
Em qiiaulo as escbolas do cnsino primario
nao forcm insjicccionadas pelos commissaries
dos esludos, ou por sens sub-delegados ; em
quanto os professores actuacs nao reccberem
promptamcntc os sens pequenos ordenados;
cm quanto liualmente nao se crcarem escbo-
las normaes, onde sc eduquem e formem bons
raestrcs; nao pode progreJir com vantagem
e perfeicao a instinccao primaria; a qual
91
precisn ser mais ililTuiidida do que ihoslmi-
teraeiite esta, creando-se novas cadciras. laii-
to para OS meninos, como para as meniiias.
Dilalada a csphera do ciisiiio seuiiiidaiio
no scntido das disciplinas e sciencias in-
dustriaes; adoplados coiiipondios legaes; fi.\a-
da a ordcm dos cstudos, c aperfeii'oados os
metliodos; proliibido o cusino parlicular a (|ucm
seja prolcssor publico, e a (]imm uao teniia
titulo dv capacidadc, ol)tido do cohsl'IIio su-
perior: e olirigados os mestres parlifularej
a dar no principio e fim dos cursos a rolarao
dos seus alumnos na forma dos cslalulos da
universidadc; nao rarecc a inslrucrao secun-
daria de mais estudos classicos.
Creado o curso cconomico administrativo,
completa fica na universidadc a inslruccao
superior.
Coinil)ra, em conseiho de 20 de novcmbro
de ISoU. — Jo6e Muchmh d'Abreu, reilor,
vice-presidcnle — liasilio Alberto de Souza
Pinto — Jeronijmo Jose de Mello — Francisco
de Castro Freire — Manoel Martins Bandeira
— Jose Manoel de Lemos — Antonio Cardoso
Barges — Lni: Ir/nacio J'erreira.
RELATORIO
NoI>i'o o oslado proNoiite da insli-iiocao
pi'iblira e pai-li<'9ilar <lo niMricIo sid-
luiiiiKiractivo ilo Vunclial osn marro
d(> 1 S55.
SECCAO 1.'
Eslado presenle das Escholas.
k ordeni e dareza da materia pcdcm que
esta seccao, a subdivida cu em tanlos capi-
tulos, quantos forera os ramos de inslruccao,
«iue aqui se cultivam. Tacs sao:
1," Inslruccao elcmentar.
%." Inslruccao primaria.
li." Inslruccao secundaria.
•i.' Inslruccao especial ou superior.
CAPITUIO I.
Instruciao elemenlar.
Debaixo d'esta rubrica tractarei de varies
«stabcleciuienlos que aqui lia ; dos quaes uns
sao manlidos pebi caridade piiblica, oulros
pela phiiantrophia particular, e oulros pelos
paes dos alumnos que os fre(|uentani.
Tern iogar entre os primeiros a Escholu da
infancia desvalida. fundacao do illuslre Luiz
da Silva Mousinho d'Albuquerque, quando
aqui foi prefeilo, e governador militar da pro-
vincia.
Durante a adminislracao d'cste cavaiheiro,
ainstituicao, que elle creara, medrou e llore-
ceu consideravelmente; porque as subscri-
pcOes c donativos d uma associacao, por elic
fundada para a prolege(, davam de ssbejo
para alimcnlacao e ensino do avullado nume-
ro de creani.-as. A escbola cliegou a contar
180 alumnos de anibos os pe\os.
Logo poi'cra ([ue Mousinbo dei\ou o gover-
no da ijlia, a escbola da inl'ancia comccou a
dccaliir, a associacao que a protegia a enfra-
quecer, as subscripcoes a diniinuir, o zcio
das seuboras inspecloras a arrcl'ccer : cm iim
a escbola loi progressivanicnte delinbando,
ale 0 ponto em que ora se acba, reduzida,
([uando muito, a (|uarenta alumnos de ambos
OS sexos.
Eulram csles no ostabelecimenlo as 10 lio-
ras da nianba; apprcndem ale ao meio dia
OS primeiros elemenlos de icitura e doulrina
cbrisla; a csla bora teem uma mesquinba
refeicao; e as quatro da tarde voltam para
suas casas.
0 elTectivo das subscripcoes esla reduzido
a mensalidade de reis IbSOOO. A despesa
com salarios dos empregados c alimentacao
das creancas monta de rcis2j^000 a SO^frOO
por mcz. Se nao fossem alguns donativos,
principalraente decxtrangeiros, jadeba mui-
to leriu perecido a fundacao do illuslre Mou-
sinbo.
Pelo molde d'esta. ba aqui outra escbola
mantida pela mensalidade de reis !J0O. que
pagani a mestra os paes dos alumnos.
Sao csles creancas de trez a seis annos de
edade, e de ambos os sexos, que alii vao
apprenderos primeiros rudimenlos de escripla,
leilura e doulrina cbrisla ; mas apenas teem
adquirido babitos de sujcicao, e levc tinctura
de lacs materias, logo os paes as tiram d'esta
escbola, e as mandam para outras, onde so
Ibes de mais a fundo um curso de ensino
primario.
A mestra d'esta escbola e uma pobrc mu-
Iber de meia edade, solieira, extremaracntc
nervosa , mas d'unia paciencia seni egual
para levar com certo geito as creancas. Ne-
nliuma outra cousa tern de (|ue viva, senao
OS proventos da sua escbola; e porem de
animo lao despondenle, ((ue prefere despedir
OS alumnos e morrer de fome, a fazer uni
exame publico. Espero todavia que ha (]'■■
resignar-se a exigencia da lei, uma vez que
0 exame nao passe alem das materias que
cusina.
Ha nos suburbios d'esta cidadc crescido
numero de escbolas clemenlares, mantidas
pela pbilanthropia de exlrangeiros de diver-
sas communhoes. No sitio da Pontinba, fre-
guezia de S. Pedro, ha uma escbola de mcni-
nas. sustcntada por uma senhora ingleza
(M."nope) da communhao catholica romana.
Nas freguezias de Sancto Antonio e S. Mar-
tinbo ha nove escholas, subsidiadas por va-
ries exlrangeiros proteslantes, cujos nomes
ignoro.
92
•0 pnsiiio em toilas eslas cscholas c miiitis-
simo elementar; nao. passa das disciplinas dc
ler, escreoer, contiir, dotttrimi, e moral cliristd.
Ha ])Orem qiicm diga que cllas sao pcrnirio-
sas a mocidade, por serem mantidas por apa-
nig;uados do 1)."' Kalley, com o iiUuito do
dar voga as doulriiias hereticas que clle acjui
andou pregando ale 1840.
Nao posso asseverar sc tal informarao e
bpHi fiindada. 0 que sei e que tenlio visilado
alsnnias d'estas eseholas; e tanto pelo que
\i, I'ouio pelo (jue lue declararam nieslres e
discipuios medianle rigoroso interrogatorio
([ue llies liz, iiao posso alliruiar que seja con-
traria aos dogmas de nossa sancta religiao a
doulrina que nellas se ensina.
Isto nao oljstanle, liz saber aos mestrcs e
uieslias que nao podiam conlinuar a exercer
o magislerio, se nao tivessem titulo do capa-
lidade; e para ifso era indispensavel (jue se
liabililassera peranle a auctoridade comi>cten-
le, provando sua capacidade moral por docu-
menlos, e a litteraria por examc. A pedido
d'elles dei-lhes o praso de CO dias para se
apromptarem.
CAPITUf.O II.
Instrucfao primaria.
Dehaixo d'este litulo tenlio de coniprehen-
der trez especies de escholas:
1." Escholas parlicularcs;
2.° Escholas municipaes;
■J." Escholas piihlicas.
ARTKJO 1."
Escholas parlicidures.
Ha neste districto escholas primarias par-
ticulares, algumas das quaes estao cm niejhor
pe que as piihlicas. A eschola de meninos de
Auguslo Francisco Correa, e Julio da Silva
Carvalho, a deEleziario Joaquim de Sousa, c
a eschola de meninas de Adelaide Amelia
Pereira, pouco deixam que desejar era ponlos
de perleicao.
Cousa notavel! 0 ensino particular neste
districto e, em geral, mais concorrido que o
publico. Os prol'essores partieulares nao sao
raais habeis, que os das escholas do cstado;
mas eslas, pelo menos na cidade, sao menos
irequentadas, que as partieulares. Todo o
pae de familias, que pode dispor de quaes-
quer meios, prefere pagar mensalmente reis
SOO a 1^000 pela educacao do seu lilho, a
inandal-o para a eschola piiblica, onde nao
paga nada.
A razao d'isto, cm alguns e vaidade, Nao
querem misturar na eschola piiblica os sens
com OS filhos dos pobres, temendo que os
maus babitos d'estes viio pcrigosamenle inlluir
na educacao d'a(iuelles. Mas o que em todos
mais contribuc para este resultado, e a falsa
persuasao em que estao, de (iiie o mestre
particular ha de ser neccssariamcnte raais
zeloso pelo adiantamento dos alumnos, por
isso que os seus interesses estao na razaa
di recta da repulacao da sua eschola.
Entendo que ii inspeccao superior das
escholas incumhe fazer (juanto possa jiara
destruir este preconceilo; e para isto e mister
elevar as escholas piihlicas a tal ponto de
regularidade e perleicao, (jue fwra todas as
classes da sociedade sejani estas as preferi-
veis. 0 ensino publico e o que jxide recehcr
mais directamente o impulse da auctoridade;
por elle e que esta ha de inlluir nas O|)ini0es,
habitos, e caracter moral do povo. Oxalii que
elle chegue a tal grau de excellencia entre
nos, que era breve tenhara de lechar-se, per
I'alta de atumnos, todas as escholas partieu-
lares !
Os professores e mestras das escholas d'csta
classe, illudem, o mais que podem, a neces-
sidade de I'azer exame; e para que a auctori-
dade inspectora haja do I'echar os olhos a esta
falta, ou recusam enviar-lhc os mappas de
frequencia, ou fazem n contrario do ([ue pra-
cticam OS professores piihlicas : — ao passo que
estes exaggeram a fre([uencia das respectivas
escholas, — aquclles minguam exccssivaniente
a frequencia das suas. Comeco a persuadir-
me que os meios de suasiio, que tcnho em-
pregado, nao sao sudicicntes ])ara conipellir
OS professores partieulares a se hahililarcm
para o magisterio na forma da lei.
Continita.
OS SINOS.
Conliniiado de pag. 69.
Ainda nao acahamos, porem, de fallar da
antiga Roma, onde era uso pcndurar cam-
painhas ao pescoco dos cavallos, costume que
ainda subsiste em algumas partes do conti-
nente, e (jue, nao ha muito, era quasi uni-
versal em Inglaterra. Em noites escuras e nos
caminhos estreitos tinha este uso um tim prac-
tice rauilo importaute — avisar os cavalleiros
ou OS carreiros da sua mutua approximaeao,
e evitar uma collisao onde nao havia bastante
espaco para passarem a par dous cavallos ou
dous carros. 0 mellioramento das estradas
acabou com este costume. Os Romanes tarabem
punham campainhas ou chocalhos nos seus
rebanhos, com o fini, diz Strabao, d'afugentar
as feras. « Se alguem, diz Justiniano, nas
suas leis ruraes, tirar o chocalho a um boi
ou a um carneiro, seja, depois de convicto
93
do crime, aooitado como um ladrao; c sc o
animal se pcrder, spja oi)rigado a indcmnisar
0 proprietario. » Magio diz-nos que os pasto-
res do seu tempo observavam ainda esto
costume, « nao tanto, » contimia eile, « para
afugentaranimaesdamninhos, como para achar
0 gado extraviado. » Ahi esta, com effeito, a
principal utilidadedas campainhas, ainda hojc
empregadas principairaentc na Escossia, onde
cada rebanho tem um indicador d'esle genero,
com a ajuda do qual o pastor pode procurar
OS animaes que se Ihe perderam na neve.
0 Os pastores tambcm acreditam, diz Magio,
que aos rebanhos apraz o sora das campai-
nhas, assim como o da flauta, e que o prazer,
que d'ahi derivam, os faz engordar. » Esta idea
e ate certo ponto confirmada por Southey,
que diz, fallando dos rebanhos dos Aipes,
que tinha visto na sua mocidade: — caminham
com visivel orgulho e satisfaccao quando fa-
zem resoar as campainhas. Se privam a vac-
ca principal da campainha grande que traz,
mostra-se logo mui sensivel a esta humiliarao,
entra a mugir, nao come e delinha-se; a feliz
rival que a substituiu em tal distinccao torna-sc
0 objecto do sou odio e da sua vinganca.
As campainhas conhecidas de ha tanto
tempo na antiguidade paga erani niais or-
dinariamente de bronze, mas as vezes tambem
de prata e ate d'ouro. Aos ehristaos e que
e devido o augmento de volume que depois
se llies deu e que hoje teem os sinos. Quando
0 cullo do verdadeiro Deus havia mister de
se esconder nas cavernas soJitarias, e nos
covis das feras, no tempo das proscripcoes
dos pagaos, mais crueis que as proprias feras,
som algum revelava aos perseguidores do
christianismo os logares onde se eelebravam
OS mysterios d'este culto; logo, porcm, que
cessaram as perseguicoes, e os louvorcs do
Omnipotente se elevaram com o incenso em
lemplos majestosos, adornados de todos os ac-
cessories que podia imaginar a devocao dos
fieis, OS sinos appareceram e tomaram parte
nas solemnidades da religiao. Alguns autores
attribuem a sua introduccao (an. Dom. 400)
a Paulino, bispo de Nola na Campania, e con-
temporaneo de S. Jeronymo ; mas o silencio
d'este prelado acerca das campainhas e do
campanario, em uma carta em que faz uraa
descripcao minuciosa da sua egreja, e um
argumenlo forte contra esta opiniao, e ainda
mais porque se nao acha allusao alguma a
este respeito nos escriptores contemporaneos
ou pouco postcriores. So depois do anno SOO,
segundo Hospianus, e que os sinos, que elle
chama campanae, foram empregados pela
egreja. « Os sinos maiores, diz Magio, cha-
mam-se campanae, porque na Campania e que
OS fundidores exercem esta tao util industria ; »
d'aqui provem egualmcnte o nome de cam-
panario que se da as torres onde elles se sus-
pendem. A cidade de Nola e tambem prova-
velmente a origem da palavra iwlae, que
designava certas campainhas pequenas sus-
pensas a um caixilho, e (juc se locavam du-
rante 0 officio.
Os ecdesiasticos nomades nao podiam
deixar de trazer para Inglaterra algumas
amostras d'estas ultimas campainhas, pouco
depois do comecarem a ser applicadas em
Italia as cerimonias do culto; por isso parece
que as campainhas portateis d'altar foram
as que primciro se conhoceram nas Ilhas Bri-
tannicas. Mas o sino pesado, de sous graves,
foi iiitroduzido pclos Anglo-SaxOes em epocha
assaz remola. Foi este um dos objectos que.
no reinado d'Egfrid, Benedicto, abbade de
Weremouth e de Jarrow, trouxe d'ltalia para
adornar a sua egreja ; e pela mesma epocha
(an. Dom. 680) era o que, confornie diz Bedo,
chamava ao coro as monjas do convento dc
Sancla Hilda. Pensam alguns antiquaries que
a idea do campanario foi originada pela de col-
locar 0 sino a maior altura, para ser ouvido
mais longe.
Durante muitos seculos as fundicoes dos
sinos eram nos conventos e casas religiosas,
e as operacOes cram alii dirigidas pelos ab-
hades, priorcs, e muitas vezes pelos proprios
bispos. Todo o tempo que a fundicao teve logar
nos mosteiros acompanhavam-na de cerimo-
nias, que Ihe imprimiam um character reli-
giose. Os monjes infileirados em redor da
fornalha entoavam o psalmo CL, e rogavam
a Deus que dcrramasse as suas bencaos sobre
0 metal fundido, cm honra do Sancto a qucra
a obra era dodicada ' .
Em uma vida de Carlos Magno, citada por
Magio, menciona-fe pela primeira vez a fun-
dicao dos sinos nos mosteiros. Diz o auctor
d'esta obra, que um frade do mosteiro de
Sao Gall, insigne nesta arte, fez um sino,
cujo som foi muilo admirado do Iraperador.
« Senhor, Ihe disse entao o frade, ordenai
que se me traga uma grande quantidade de
cobre, que cu purifiearei no fogo ; e mandai-
me tambem dar prata em vez d'estanbo —
pouco mais ou menos 100 libras — e fundir-
vos-hei um sino ao pe do qual este parecera
mudo. » Magio queixa-se de que os principes
do seu tempo eram mais avarentos do que
OS d'outrora, nao querendo fornecer o metal
necessario para dar aos sinos um som argen-
tine. Com tudo parece que a idea, geralmente
espalhada das vantagens de introduzir prata
nos sinos nao e senao um erro vulgar. « Ha
pessoas,!) dizumescriptorbeminformado, nque
asseveram que, para lornar o som do metal do
sino mais harmonioso, e mister ligal-o com
uma pouca de prata, como se vos dissessem
que um pouco de assucar adoca uma chicara
* Ninguem ignora que Schilier fez sobre esle as*
sumpto um bello poema lyriroinlilulado: A Fundi^uo Ja
iino.
94
de fhd oil um copo Jo \iiilio (luoiilo. E uiii
eugano. A intrddui'rao da piata, scndo oiu
grandi' (luanlidadc. prodiiz o pfleito opiioslo,
porqiu^ a ])iala, pcla sua naluroza, nao pode
produzir com o cobre uina liga dura, quebra-
dica, deiisa c vibraiile que se cliaiua metal j
de sine. ExistBiii sem duvida diversos ingrc-
dientes que um iiabil fundidor emprcga para !
melhorar a sua composioao; mas sao segredfls
do oflii'io, e oada lundidor torn os seus. >
Alem d'islo nada nos auctorisa asuppor que,
a nao scr o coslunn; de lanrar no ladinho,
como Iributo, algumas moedas, os nossos an-
lepassados lizessem mais uso da piala, do que
nos fiizemos, na fundicao dos sinos. O rol
das maleriasentiegues, no anno 3(i do reinado
de Henrique 111 (li52), para o lahrico de
Irez sinos destinados a egreja do casteilo de
Dover mostra-nos qua! era cm Inglalerra, ba
000 annos, a eomposieao d'esia Hga: um sino
veibo, l,OuO libras de cobre e jOO d'estanlio.
A mistura nao secompunba, por lanto senao
d'uni ponco mais de duas partes de cobre e
lima d'estanho; o sysiema moderno so diiTere
do antigo em admitlir trez paries de cobre.
Continua.
SALSUGEiM DA AGUA DO MAR.
iNiima das ultimas reuniOes do Inslituto
Canadense M. Ciiapnian, i)roressor da univer-
jidade de Toronto, apresentou uina impor-
tante memoria sobre « a salsugem da agua
do mar. » 0 A. suppOe, (|uc o mar Idra
salgado desde a sua origem, e analysa depois
as opiniOes eniitlidas ale ao presente para
explicar a utilidade, que d'esta condicao da
agua do mar pode rcsullar.
A opiniao dos que pretendem que a salsu-
gem do mar tern por lim evitar a corrupciio
(I'aquella agua, parece insustentavel por mui-
tas razoes, mas principalmente porque as
imniundicias organicas numa imniensa por-
cao d'agua em movimento, quer scja doce,
<|uer salgada desappareceui completaraenle p se
dissolvem com tal rapidcz, que parece seria
necessario um agente especial para suspender
a total aniquilarao da materia organisada em
sua oscilacao linal eutre o muudo organico
e inorganico. Chapman recorda as myriades
de legiues de seres microscopicos, que existem
cm grande abundancia na maior parte das
aguas, c que parecem particularmente desti-
nados, segundo Owen, para alimentar-se da
materia i|uasi nao organica espalhada nas
diversas zonas de habitacao, e lazel-a entrar
novamente na cadea animal. Esles seres de-
voram-se uns aos outros, e mantem assim a
lirculacao da materia organica, fazendo-lhe
percorrcr as diversas cscalas da animalidade.
Dado porem que nao se julguem admissivcis
cstas explica^oes, dcvemos pelo mcnos consi-
derar os infasorios, os foraminiferos, e mui-
los lypos mais elevados como destinados para
absorver a materia cm esiado de decomposi-
cao, e opp6r-se a sua accumulaciio cm gran-
des porcocs.
0 A. d'aquella memoria demonstra tam-
bem, que em muitas circumstancias a (juan-
tidade de materia salina, que exisle no mar,
nao e sufficiente para suspender a decompo-
sicao.
Oulros pretendem que a .salsugem do mar
tem por lim toruar as suas aguas mais den-
sas, e, abaixando o scu ponlo de congelacao,
oppur-se a que ellas se gelem, excepto nas pro-
ximidades dos polos. Esta opiniao pode adrait-
tir-se ate cerlo ponto; mas nao resolve o
imporlanle problema da salsugem do mar. 0
ponlo de congelacao da agua do mar e uni-
camente inl'erior dois graus ao da agua doce;
e com a actual distribnicao das terras e das
aguas, e raenos ainda com a das precedenles
epocbas geologicas, certo nao teria occorrido
pbenomeno alguni importante, se a agua do
mar fosse, em vez de salgada, doce. Quanto
as partes habitaveis do globo tal diflerenca
nao tern quasi valor.
M. Chapman considera esta questao de um
modo novo, e diverso dos outros jihysicos. E
opiniao sua que a salsugem do mar tern por
fim principal « regular a evaporaciio >■ e op-
p(jr-se a ([ue csle pbenomeno se de>involva
em grande escala sob a intluencia de causas
perturbadoras, que poderiam manifestar-seem
diversas epocbas. Us diirerenles liquidos de-
baixo da mesma pressao almospherica teem
pontos de ebullicao mui diversos; as dissolu-
cOes Salinas evaporam-se mais Icntamente,
que as dissolucoes fracas, e estas mais lenta-
mente que a agua pura. A agua do mar con-
tem, termo medio, 'i j por 100 de materias
solidas, das quaes "2,0 por 100 consistem em
cblorureto de sodio. Chapman fazendo diver-
sas ohservacocs .sobre a evaporacao de eguaes.
porcOes, em peso d'agua da chuva, c d'agua
contendo i,0 por 100 de sal, achou que a
agua pura perdera em relacao a dissolucao
salina no espajo de 24 boras 0,54 por 100;
ao caho de 48 boras 1,05 por 100, e depois
de 02 boras 1,40 por 100, e assim por dian-
le, proseguindo por 0 dias consecutivos nas
suas experiencias.
A salsugem do mar entra portanto na ordem
dos phenomenos d'equilibrio, e e uma d'estas
admiraveis disposicOes d'barmonia das forras,
(jue a natureza nos patentea em todas as suas
partes.
Assim, dadas as mesmas circumstancias,
se por qualquer causa accidental e terapora-
ria a proporcao da materia salina na agua
do mar for superior ao seu valor normal, a
95
e\apora5ao tera enlao logar cm ciuantidadcs
huccessivamentc mais pcquenas. Se pelo con-
Irario a porcao da materia salina diminue
pelo accrcseimo de agua pura em grande
quantidade, o poder evaporalorio augmenlara
progressivamente ate se restabeleecr o equili-
brio em ambos os casos.
0 A. termina a sua memoria ponderando,
que esle principio poderia la near alguma no-
va luz sobre a distribuicao geographica dos
lagos d'agua doce, e d'agua salgada, que
actualmente existem a supcrlicie do globo.
A.
L'MA VISITA A SERRA DA ESTRELLA.
Manoel de Faria e Sousa, fallando desta
elevada moutanha, e do seu encadeamenlo
secundario com as principaes do contincnte,
diz: « que a natureza formara ocorpo da ter-
ra com um espinhaco de monies, que teem a
sua origem no monte Tauro, dividindo este
o mundo com os seus bracos, que deixa para
todas as partes, os quaes tomam difl'erentes
nomes segundo as linguas das gentes aonde
caheni. Chama-se Tauro aonde mais sccleva,
aonde divide a Pamphilia e Silicia, provin-
cias da Armenia menor; Caucaso e Parapo-
neso em diversas rcgiOes da India. Dos seus
ramos uns se chaniam Caspios, outros Rifeos,
Iperboreos outros. Na Africa toma o nome
de monte Atlante; aonde divide a Germania
da Italia tcm o nome de Alpes; o de Apeni-
nos entrando na Italia, e entre a Franca e
Hespanha toma o nome de Pyrenees. D'estes
ultinios sahem por toda a Hespanha muitos
bracos com varies uomes; em uma parte Idu-
bedas, cm outra Orospedas, os quaes cingem
e cortara estes reinos tortuosamente. Em Por-
tugal entram alguns raraos pela villa de Cha-
ves na provincia de Tras-os-montes e alguns
dividem a de Entre-Douro-e-Minho entrando
para alii do reino de Leao. Em fim outro
ramo que precede das montanhas de Idube-
lia, c que passa por Bonilla e Bejar faz pouco
adiante a sua entrada pela cidade da Guarda,
donde em (im resulta entre outros a serra de
Estrclla a que antigamenle se dava o nome
de Erminio maior. »
Segundo Antillon as montanhas da penin-
sula, que comecam para oeste do rio Ebro, e
a que por esta sua opiniao propoz que se Ihes
dessc 0 nome de cordilheira Iberica, desta-
cam uma das suas cadeas secundarias, que
atravessando a peninsula de oriente a occi-
dente forma a separacao das bacias dos rios
Tejo e Douro. A serra da Estrella formada
pela mesma cadea secundaria, estende-se
desde a cidade da Guarda ate a extremidade
do cabo da Roca ao norte da foz do rio Tejo,
aonde tcm o nome de serra de Cintra.
A serra de Estrella, composla principal-
mente derochas graniticas, apparece denovo
ligurada dc granito juncto de Cintra. Em al-
guns logares o granito acha-sc niisturado era
algumas caraadas comschisto, cuja mistura se
assemelha ao mica-schisto. 0 grez-scbistoso
e de diversas cores cobre o granito e as rochas
schistosas. Humboldt suppSe que as mon-
tanhas de basalto das ilhas Canarias sao uma
continuacSo de algumas das nossas, porque
ainda que no continente se nao encontram
vestigios alguns de vulcoes extinctos, toda-
via as fontes thermaes de alia tcmperalura
apparecem nas rochas graniticas.
A vista de muitos logares elevados, que da
serra se disfructa, varia segundo as diversas
estacoes do anno. Ate marco esta quasi sempre
coberta de neve, a qual ainda que por esse
tempo comeca a derreter-se, assim mesmo em
alguns sitios em agosto ainda apparece gelada
e compacla. Isto mesmo refere Manoel de Fa-
ria. A serra cm alguns pontos culminantcs e
tao elevada, c alii a tcmperalura athmospherica
e tao baixa me; mo na cpoca dos mais intensos
calores do esiio, que Link supp5e-lhes 7000
a 8000 pes de altura acima do nivel do mar.
Masestaavaliacaoeexagerada. Biol, suppondo
que a monlanha de Mongo na Hespanha pcr-
to do mar mediterraneo, e que se avisla dc
"20 leguas de distancia, para a parte do mar
lem so 727 metres de altura, da para a serra
de Estrella umu elevacao menor que 7000 ou
8000 pes, porque, se, comodizem, dos logares
mais alios da serra se avistam as cercanias da
Figueira, ou talvez a foz do rio Mondego, a
distancia nae e maior que 20 leguas e ainda
que as nessas sae maiores que as francezas,
essa differenca nao compensa a que vai de
727 metres a' 7000 ou8000 pes; e suppondo
para conciliar a opiniao de Link que com
oculos de grande alcance sc chegasse a desco-
brir parte de mar da Figueira, nao seria por
isso menos destituide de fundamento o cakulo
d'este .\..
No Mappamundi de Dul'our de ISi'J vein
dcsignada a serra do Malliae (ou do Mara-o
provavelmente) com 1800 metres de eleva-
cao: ora 7000 pes equivalc a 2300 metres,
per tanlo a altura da serra de Estrella segundo
Link, ainda e muite maior que a do Malhao,
segundo Dufour, que nem ao menos menciona
a serra de Estrella no sobredicto mappa.
Segundo Urculu e Balbi a altura maior da
serra de Estrella nao e inferior a 1077 tocsas.
A obra Um milhao de factos, e M. Julia de
Fontcnelle no seu manual de physica divcr-
lida dao para a me.sma altura 1700 melro^,
medida metade menor que a anlecedenle.
Talvez que a falta de exactidao na cstima-
tiva de Link, a respeilo dos logares mais ele-
vados da serra, nascesse dc se haver perdido
96
cm uma das siias cxcursoes pela serra, e em
que, scgundo clle mcsmo miudamenle referc,
passou grande;; pcrigos e Irabalhos no tempo
da estarao invernosa por se aiastar casual-
mente do sen guia, e pelos despenhadciros
de que inscienlemente se aproximou, nao po-
dcndo distinguir os mcsmos logares porque
uoutro tempo ja liavia passado por se acha-
rem robertos de neve de muita allura. Mas
0 fundamento da sua cstimativa e tao pouco
digno de attencao, que decidiu-se a dar-lhe
a referida altura attendendo a sua posieao
geographica e a baixa temperatura, que alii
experimentou era dilTerentes vezes e compa-
rativaraente cmdiversos tempos do anno. Com
elTeito esla mesma altura nao differe muito
da que da o auetor do artigo — racleorologia
e physica do globo — do livro — urn milhdo
de factos na latitude de 47 " em os Pyreneos
para limite inferior das neves perpetuas. Este
iimite e de 2730 metros.
Por consequencia em quanto se nao lize-
rem medidas geodesicas e observacoes baro-
metricas que merecam maior coniianra nao
pode emittir-se a este respeito uma opiniao
segura.
Contitiua.
EPOCAS DO NASCIMENTO E
DE JESUS CHRISTQ.
MQRTE
Acritiea, que, ha dois seculos, tao rapidos
progresses tern feito no estadio das letras, era
ainda na primeira deoada d'este seculo quasi
complclaniente cstranha ao estudo dos mo^
numentos. Os antiquaries, cmpenhados mais
em colligir essas antigas reliquias, do que apu-
rados em interprelal-as, nao as examinavam
em relarao ao espirito da cpoca, ou do povo
a que pertencerara; nem procuravam tirar da
observacao da sua cdadc, estilo c disposirao
as naturaes rclacoes desses monumentos com
0 grau de civilisarao, e aperfeicoamento mo-
ral e industrial das nacpcs, que os possuiam;
da arte que ps vira nascer; dos habitos em
tim e das tendencias das geraooes que no
voiver dos tempos se foram succedendo.
Felizmenle hoje os antiquaries nao seguem
OS preceitos da critica com raenos rigor dos
que OS historiadores e litteratos. De todos os
ranios, porem, da archeologia, a numismatica
c a que roaiores progresses tem feito nesta
Dova via, que tantos resultades utejs tem ja
produzide.
Uma obra recentemente publicada por M.
Saulcy sobre a « numismatica judaica ' » escla-
* M. F. de Saulcy. Recherches sur la numismatiqne
jniiaiguc. Paris 1854. 4.'*
rcccndo niuilas qucstocs imporlantesacerca do
cstado de adiantamcnto das artes entre os
liebreus cm epecas muito anteriores as que
Mayer e eutros antiquaries Ihes assignavam ';
oflerecc tambem sobre outros pontes de maior
memento relatives aqueila nacao, documentos
que lanram muita luz sobre a sua historia po-
litica e religiesa, e que pareciam inteiramentc
alhcies dos cstudos numismaticos: e com tudo
e nas proprias meedas cunhadas em diversas
epecas, e nas suas Icgendas que um profundo
c sabie investigador cemo Saulcy pode aehar
0 tio e as prevas d'essas grandes lulas, que o
amor da libcrdade e o espirito de nacionali-
dadc lizera nascer 'naquelle povo guerreiro,
era vencide ora venceder; e verificar a data
e duracao do cada reinado.
Algumas observacoes criticas de Alfredo
Maury sobre esta ultima parte dos trabalhos
de Saulcy deram logar as judiciosas reflexoes,
que este A. desenvolveu 'numa carta que
ultimanente publiciira ■" sobre as datas do
naseimento e merte de i. C, da qual resu-
raidamentc damos aqui nelicia.
Sobre este mesme ponto, sempre muito
controvertide, publicou-se tambem ja no de-
curse do corrente anno uma outra obra ■" era
que 0 A., fundando-se 'numa interpretacao
de uma passagem do Exedo, contraria as
opinioes de Saulcy sobre e dia da merte de
J. C, mas as provas, em que Saulcy se aue-
lorisa, refutam a hypolbese de Luttereth, de
que 'neutra occasiao nos eccoparcmos.
A paixao de Jesus Chrisle tevc logar, se-
gundo S. Marcos', n» sexta feira, em cuja
noite comecava a paschea dos judeus, que
sempre cahia a 14 do mez de nisan. Nos an-
nes proximos a epocha em que, segnndo todas
as probabilidades devia ter tide logar aquelle
accontecimento, ba um anno so, cm que o
dia 14 do nisan cabiu 'nama sexta feira: foi
0 anno de 33 da nossa era; 6 a sexta feira
14 de nisan correspende ao dia 3 d'abril do
nosse cailendario.
Por esta censideracae o naseimento de J.
C. devia preceder e primeiro anno da nossa
era, o que esta de accordo com a tradicao
christa que diz, que J. C. vivera 33 annos
e trez mezes, e por consequencia o se« nas-
eimento devia ter logar a 2S de dezembro
do anno immedialamente anterior ao primeiro
da nossa era. E os Evangelhes contirmam
esta tradicao.
' Sefundo Bayer as moedas mai.s antigamenle cunha-
das entre os Judeos datavam do anno 140 antes da era
chrisla, cm que Aniiocho VII concedera este privilegio
a Simao irmao de Judas Machabeo. Saulcy encontrou
'nalgumas moedas os nomes de Jonathan antecessor de
Simao e Judas Machabeo, o que ju antes observara
B^rtheleniy.
-■ L' Athenaeum Fran^. juin 1855.
' Henri Lutteroth. Le jour de la preparation: Let-
ire sur la chronologie pascale. Paris 1855. 8.°
* S. Marc. XV, 44.
97
Quando J. C. foi baptizado por S. Joao,
entrava no seu trigesimo anno ' ; e S. Joao
comerara a sua missao no decimo quinlo
anno de Tiberio^. Ora Augusto morreu no
niez d'agosto do anno decimo quarto da era
christa, e o primeiro anno de liberie comera
nesta niesnia data, por conseguintc o seu de-
cimo (juinto anno comeiava em agosto do
anno de 28 e aeabava em egual mez do anno
de 29; o baptismo de J. C. tevc por tanto
logar posteriormente a agosto de 28, pois
que elle conieeava entao o seu trigesimo
anno; eontando por tanto de 29 para traz,
cbega-se ate um anno antes da nossa era para
prefazer os 30 annos de idade de Christo
quando fora baptisado.
Por outro lado S. Joao no seu Evangelho
diz, que entre o baptismo de J. C. e a sua
pai\ao so medearam quatro paschoas, de que
a quarta comecara no dia da sua morte; por- |
tanto tendo elle expirado na sexta feira 3 de
abril de 33, as quatro paschoas sao as dos an-
nos de 33, 32, 31 e 30; por consequencia
posteriormente a paschoa de 29, e antes da
de 30 e que teve logar o baptismo, que segundo
a tradicao fora celebrado a 6 de Janeiro do
anno de 30.
A tradicao, e os factos historicos estao por
tanto de accordo sobre a epoeha do nascimento
e morte de Jesus Cbristo.
Nao pode, porem dizer-se outro tanto a
respeito da existencia de Herodes o grande
na epoca do nascimento de J. C. A Herodes
succeddra seu tiiho Archelau, que ficou scnbor
de Jerusalem, com a promessa do titulo de
rei, em quanto que llerodes Antipas era te-
trarca de Galilea. Ora existem medalhas deste
principe cunhadas em Teberiade no quadrage-,
simo terceiro anno do seu reinado com o titulo
de Caius Caligula, t. provavel a priori que
0 tetrarca por lisonja tisesse cunhar estas
moedas, quando Caligula subio ao throno; e
como liberie morreu no fini de marco de 38,
6 Caligula foi assassinado a 24 de Janeiro de
41, eontando 43 annos atraz de 38, a data
da morte de llerodes o grande corresponde ao
quinto anno antes do comeco da era christa.
Se, considerando a questao pelo lado raenos
favoravel, cm logar de suppormos que as
medalhas foram cunhadas, quando Caligula
subira ao throno, admittirmos que tivessem
sido cunhadas no ultimo anno do seu reinado,
isto e no anno 40 da era chrisla, o primeiro
anno do reinado do tetrarca Herodes viria
ainda acoincidir com o 3." antes da era christa.
Porem, segundo Jose na sua historia judaica,
Herodes Antipas fora deposto pouco depois
da elevacao ao throno de Caligula; e portan-
to forcoso, recorrer a primeira hypothese de
que 0 quadragesimo terceiro anno do tetrarca
' S. Luc. Ill, 23.
'■' S. Luc. III. 1.
fora 0 primeiro de Caligula, e em caso alguni
J. C. podia ter nascido durante o reinado
de Herodes o grande, mas sim durante o go-
verno do ethnarca Archelau, o que se con-
lirma pelas moedas cunhadas no tempo d'este
principe, que todas sem excepcan tern o nome
de Herodes, mas seguido do titulo de Ethnar-
ca, de que so usou este priucipe da familia
idumea, por conseijuencia o Herodes mencio-
nado nos Evangellios e Herodes Archelau,
e nao Herodes o grande.
Fundada, como parece, esta opiniao nos
testemunbos historicos e nos monumentos nu-
mismaticos, ofl'erece todavia uma grave dif-
liculdade: S. Matbeus diz expressaraente que
Jose e Maria com seu Filho se conservaram
no Egypto ate a morte de Herodes, e referin-
do como um Anjo annunciara a Jose a morte
d'aquelle principe, acrescenta as seguintes
palavras, « que sabendo o esposo de Maria
que Archelau succedera a seu pae Herodes
no throno de Juda, se retirara para a Gallilea,
receoso de voltar a Israel ' . » E porem certo que
0 nome de Herodes e applicado nos livros
sagrados 'numa accepcao vaga, e gcral, e
Archelau foi como seu pae designado com o
nome de Herodes; e por outro lado e digno
de notar-se que S. Lucas, S. Joao e S. Marcos
nao fazem mencao da residencia de Jose e de
Maria com seu Filbo no Egypto.
Outra difliculdade que se encontra na re-
solucao d'este ponto e relativaraente ao re-
censeamento feito por Quirinio por ordem dos
romanos.
« Por causa deste primeiro recenseamento,
diz S. Lucas, Jose e Maria, ([ue estava pejada,
foram obrigados a ir de Nazareth a Belem
para serem inscriptos na propria cidade
d'onde eram naturaes*. « Segundo o texto sa-
grado Quirinio era prefeito da Syria ; por
outro lado Jose, historiador dos judeus, diz
que 0 recenseamento se verificara somente
depois que Archalau fora deposto, na oc-
casiao em que a Judea, reduzida a provin-
cia romana, fora reunida a prefeitura da Syria.
Um procurador da Judea fora mandado por
Augusto com Quirinio: cliamava-se elle Copo-
nio, e era membro da ordem equestre. Qui-
rinio era senador.
Este recenseamento, que dera logar a se-
dicoes e graves extorsoes entre o povo hebreu,
verilicou-se, diz o mesmo historiador, no tri-
gesimo septimo anno da era acciaca, que cor-
responde ao 7.° anno da era christa; ha por-
tanto uma completa discordancia entre a nar-
racao de Jose, e o que refere S. Lucas no
seu Evangelho.
Acaso no texto do escriptor sagrado fora
posteriormente accrescentada a narracao d'a-
' S. Math. II. 14 e segg.
2 S. Luc. II. 1 e segf.
98
ijiiclle liUal rtHcnseanu'iito? Nuo ousanuis
dizcl-o. E poreiu evidcnto, que se J. C.
nasceu em Bclera por occasiao do referido
lecenscamoiilo no "." anno da era christa. e
tendo padorido a sua paixao e morte no
anno de 'i'.i, como esla malliemalicamente
provado, tinha apenas 2(1 aniios qiiando mor-
rcu, c nao era cutrado no trif;esimo anno
(jiiando rcoelieu o baptismo. Mem d» que sc
-■■e admitlir aijuella data para o nasrimento do
Christo 1^0 anno 7.°), c se, de accordo com a
tradieao ijeralmente receliida, .1. C. tinha,
quando niorreu. mais de 'A'i annos, viria este
i-ucresso a ter logarcm 40, o(iiie e manifesla-
raente incxaelo. pois que ja a esse tempo havia
mais de dois annos que Pilatos tinha sido dimit-
tidoe desterrado. Tiberio tinha lambem mor-
rido no tim de marco de ;)S ; c Maryllus, se-
gundo successor de Pihitus, era procurador da
Judea por Caligula. Em lim seJ. C. tivesse
nascido durante o recenscamento de Quirinio,
que so teve principio dcpois da expulsao de
Ilerodes \rchelau, todos os factos positivos
acerca do scu nascimento seriam, historica-
mente faliando, impossiveis.
0 recenscamento que Augusto mandara
fazer era das propriedades, segundo ret'ere o
liistoriador Jose, e parece niio haver motivo
para que Jose e Maria, pobres dos bens da
Ibrtuna, fossem ohrigados a ir recensear-se
a Belem, onde nada possuiam. E mais pro-
vavel que urn recenscamento de pcssoas por
tribus ou familias, e ao ([ual por consequen-
ria Jose e Maria deviam sujoilar-se, tivesse
logar pclo tempo do nascimento de Christo,
e que este acto de administracao puramente
judaica, e proprio para excitar a nacionali-
dade do povo hehreu e cstrcitar os lacos de
farailia, fosse dill'erente do de Quirinio, que
devia ter um lim politico mui diverso, por-
que se tractava de incorporar no imperio dos
Cesares um paiz, cujos habitantes eram sohre-
raaneira hoslis ao jugo da dominacao roinana.
Cumpre tambem obscrvar, que o Evangcllio
de S. Lucas aprescnta vestigios de uma pri-
initi\a redaccao seiuitica, que hoje nao jios-
suinios, e era possivel que o traductor grego
nioditicasse o texto original, introduzindo
nelio, sem mclhores fundainentos factos, <|ue
nao estao em barmonia com o theor dos
outros Eviingelhos, c que clle achara talvcz
lonsignados nalguma glosa marginal.
Parece ]iortanto provado. que J. C. nas-
cera a 2u de dezembro do anno que pre-
cedeu o primeiro da era christa, reinando
cntao 0 ethnarca Herodes Archelau; que sof-
frera a sagrada paixao a 3 d'abril do anno de
33, e que e respeitavel atradicao de([ueJ. C.
vivera 33 annos e trez mezes, pois que entre
So de dezembro, dia do sen nascimento ate
3 d'abril de 33, em que expirara, vao exacta-
mente trinta e trez annos, trez mezes e oito
dias. J. M. DE ABREU.
IMDLIOGUAPUIA.
Gcuchkhtc (lev Piidagnfiil,.
Historia da Peda;;os:ia. <lf'sdc o renasciiiienlo (Io^•
estiidi^,s classicos ati- ao prcspiite. por Karl von Raiinior,
4 vol., K." Slutlsarl 1846—1834.
A pedagogiaso na Allemanha rcuni' todas as
condicoes esscnciaes d'uma verdadeira scien-
cia, ponjue so alii ella assenta em principios
philosopliicos gcralmcnte admittidos, 'num
melhodo rigorosnmente logico, c na perraa-
nenl(! c progressiva applicaciio das theorias
elaboradas no meio da sociedade viva. Nesto
paiz a descentralisafSo politica e administra-
tiva tern mui principalmentc concorrido para
0 progresso, e pode dizer-se para os trium-
pbos da sciencia pedagogica.
0 grande numero de universidades, gy-
mnasios, e escholas de applieacao, que exisiera
na Allemanha, devia naturalmente crear entre
todas estas instiluicoes uma salutar concur-
rencia, e uma rivalidadc tao proveitosa a
sciencia na sua mais elevada accepcao, como
ii instruccao popular na sua mais humilde
esphcra.
0 maior c de eerto o principal mcrecimen-
to da pcdagogia allcma consiste em ter sabi-
do manter a barmonia entre osdiversos graus
do ensino, sem dcixar abrir entre a sciencia,
que e 0 apanagio do poucos, c a instruccao
popular, 0 abismo, que 'noutros estados da
■ Europa existe. Diversas sao as causas desta
especial siluacao daquclle paiz no que toca
ii instruccao publica, c 6 por isso summa-
mente intercssante estudar a sua organisa-
cao, e a historia das causas, que successiva-
mente prepararam e fundaram essa mesma
organisacao.
Dcpois dos excellentes trabalhos de Cousin
acerca da instruccao piihlica na Prussia,
nenhuma outra ohra importantc sobre este
grave assumpto havia visto a luz publica ate
ao momento em que o distincto escriptor
Karl de P.aumer dcu ii cstampa a Historia da
Pc(lago(jia comecada ha doze annos, e cujo
ultimo volume acaba do puhlicar-se.
Esta ohra, a pezar de carecer do espirilo
philosophico, que tiio essencial e em assumpto
tal, eescripta com profundo conhecimento da
materia e verdadeira sciencia ; e e a mais com-
pleta de quantas sobre esta materia se tern
publicado em Allemanha ate boje.
0 primeiro volume, dcpois d'uma introduc-
rao sobre os raelhodos do ensino usados na
meia edade, e especialmente em Italia desde
0 nascimento do Dante, cxpOe a influencia
dos gregns que escaparam de Constantinopla
99
sobre a sciencia c instrucoao na Italia; os
progressos das letras e da instruccao littera-
ria cm Florenca na epoclia dos Medicis, cm
Roma, e em toda a Italia no tempo de Lcao
X. 0 A. tracta depois da historia do cnsino
na Allenianiia e nos Paizcs-Baixos desde Ger-
hard 0 grande ate Luthero (1340 — 1483),
desiuvolvendo a iiilUiencia, que sohre o en-
sino e as letras tiveram Krasmo de Rotter-
dam, Platter, Reuchliueoutros. A ultima par-
te deste volume tontem a historia das altera-
cocs introduzidas no ensino publico pcla re-
t'orma, pclos Jezuitas, c pelo realismo verbal,
f[ue eutao comerava a dominar nas escholas.
0 segundo volume occupa-se dos novos
metbodos de oducacao depois da niorte de
Bacon ate a de Pestalloni; suas lutas com os
antigos systcmas e suas transformacoes. 0 A.
consagrou a eada um dos relormadores do
seculo 18.°, reformadores da educacao, e do
ensino, como foram Locke, Francke, Gerner,
Rousseau, llaman. Herder, Wolff e outros,
capitulos mui interessantes.
0 terceiro volume e dividido cm duas par-
tes; a primeira descreve minueiosamente a
educacao da primeira inl'aucia na casa pater-
na, e lora d'ella. Apresenta cm seguida a
historia dos metbodos empregados no ensino
da latinidade; apborismos sobre o ensino da
historia, geograpbia, scicncias naturaes e
matbematicas, e linalmente consideracOes so-
bre a educacao pbysica, a gymnastica etc.
Na segunda parte deste volume tracta pri-
meiro das cscbolas de applicacao, onde se
ensinam ao mcsmo tempo as scicncias, as
artes e a industria; segue-se a historia dos
metbodos d'cnsino da lingua allema desde o
fim do seculo 1S.° ate ao presente nas cscbo-
las primarias, secundarias e superiorcs por
Rodolpbo de Raumer. Esta segunda parte
termina com observacocs sobre a educacao
do sexo feminino, e sobre as relaeoes da
egreja com o estado.
0 quarto volume e o mais iuteressante para
a maioria dos leitores, porque contem uma
historia conipleta das universidades allcmas
desde o seculo 14.", comprehendendo todas
as particularidades da sua organisacao, os
costumes mui originaes dosescbolares, e con-
sideracOes mui transcendentes sobre a rela-
cao das diversas faculdades acadeniicas entre
si, e dos professores e estudantes.
Seria muito para desejar que uma tao im-
portante obra podesse ser lida por todos
aquelles, que enlre nos se occupam das que-
stOes do ensino e da educacao piiblica, o que
ao menos se traduzisse ou extractasse a im-
portante historia das universidades de Alle-
manha, que fora deste paiz tao pouco conhe-
cida e, e dos diversos metbodos d'ensino. 0
que emprehender esta publicacao lara por
certo um relevante service a nossa instruccao
piiblica. A.
RELACAO
Dos individuos nomeados para os seguinle$ logares
d'histnicciiu piiblica, por despachos do Conse-
Iltii superior d'instrucido piiblica desde o dia 4'i
ate ao fim de jtnilw, e bem assim por decrctos c
portarias do Gorcrno, communicadas ao mcsmo
Consclho superior no indicado pcriodo.
INSTRUCtJiO PRIMARIA.
Anlonio Joso Correa, para professor por Irez
annus da Cadeira de Cabecudos, districto de Braga.
Juao Baplista Marlins, jtara a de Eiia Vodra.
districto de Braga.
Jose Anlonio Mendes, para a de Cevcr, distri-
cto de Yiseu,
Jose Peixolo Montciro, para a de Villa-Boa,
districto do Porto.
Juslino Kodrigues da Cruz, para a de Villa
Fernandes, districto da Guarda.
Antonio Joaqiiim Gonralves, para a de Metres,
districto do Porto.
Francisco Machado de Miranda, para a de Passu
de Sousa, districto do Porto.
Mathias de Sancta Izabel Godinhu, para a de
SahalerradcMagos.
Joao Burgcs d'Andradc, para a dc S. Sebastiau
de Darqiie, districto de Viana.
Joaquim Gualdim Pinhciro, para a de Alvor,
districto de Faro.
Joaquim Rodriguos Loureiro, para a de Col-
lares, districto de Lisboa.
Jose Joaquim do Coracao de Jesus, para a dc
Caparica, districto de Lisboa.
Victorino Joaquim Dias, para a de Co\as,
districto de A'illa-Real.
Joao da Costa Monteiro, translerido para a
cadeira de Sanfins, districto de Braga, da de
Pcndurada, districto do Porlo; por decreto de C.
de jnnhu findo.
INSTRL'Cf.VO SfPERIOlt.
Dr. Joaquim Augusto Simocs de Carvalhu, para
subslituto ordinario da faculdade de philusophia
da universidade, por decreto de 12 de junho fnido.
Domingos Martins da Costa, para subslituto
das cadeiras da seccao de philosuphia da acade-
mia polytechnica do' Porto, por ilecrelo dc 12 dc
junho findo.
Despachos diclos desde n 1 ." ate o dia /.i
de julho.
INSTHDCgiO PRIM.vniA.
Antonio Goiicalves Pereira Leal, para profes-
sor Icmporario da Cadeira dc Sao Sebastiiin de
Darque, districto de Viana.
Joaquim Gualdino Pinheiro, para a dc .\lvur.
districto de Faro.
Joaquim Rodrigues Loureiro, para a de Col-
lares, districto lie Lisboa.
100
Jose Joaquim do Corai;ao de Jesus, para a do
Caparica.
Vklorino Joaquim Dias, para a do Covas,
dislricto de Villa Ileal.
Antonio Gonealvps Pereira Lenl, para a de
Salvada. dislricto de Beja.
Augusto Cczar Pinto Reimao, para a de Fer-
rciros, dislricto de Vizeu.
Francisco Candido Ferreira, para a dePodencc,
districto de Braganca.
Francisco Igiiacio Xavicr Salgado, para a dc
Lamarosa em Ak-anhoes, dislricto de Sanlarcm.
Joaquim Ferreira da Siha Ramalho, para a
d'Alaliiia, dislricto de Sanlarcm.
Antonio Fillipe de Souza Carvalho, para dc
Aljubarrola, dislricto de Leiria.
Augusto Taveira Neves, para a dc Goujoim,
dislricto dc Vizeu.
Jono Jose dc Brilo Figueiroa, para a dc Ponta
Dclgada, dislricto do Funclial.
Jose Antonio Gomes, para a de Rabo de Peixc,
dislricto dc Ponta Dclgada.
Jose Antonio Lopes Goncalvcs, para a dc
Treiriz, dislricto dc Braga.
Jiisc Bernardino de Brilo, para a de Porto
Moniz, dislricto do Funchal.
Miguel Luiz Valcrio, para a da Ponta do Sol,
dislricto do Funchal.
Antonio dc Lima Barrelo, para professor vita-
licio da cadeira da Cur\cira, dislricto do Porto.
I>STnuC(iO SECU.NDiRIA.
Jose Joaquim Manso Prcto, para professor da
Cadeira de Arillimctica, Algebra elemcntar, Geu-
mctria Synthclica elemcntar c principios dcTrigo-
nometria plana, c Geographia Mathematica no
Lyccu de Coimbra por decrelo de 4 do prescnlc
mez.
IIVIPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA.
Lcgislnriio Porlii$;aoza. quo «e veiiilo na mcNma InipreiiNa, cujosi precos
roram reiluzirtOK cm II d'Abril tie 1855.
PRECO
Assentos das Casas da Supplicacao e do Civel, 4.°
Colleccao dc Cartas dc Lei, Dccretos, etc., das Cortes Geraes, Extraordinarias e
Constituintes, dc 26 de Janeiro dc 1821 ate 20 de Novembro de 1822, 4." ..
Colleccao chronologica de Leis Exlravagantes, posteriores a nova Compilacao das
Ordenacocs do Reino, publicadas em 1603, desde cstc anno ale o de 1761,
conformc as CoUcccoes Yiccntinas e seu Appendix, as quaes accrcsceram as
compiladas por F. da C. Franca em suas Addifoes e Appendix, 4.°, 6 vol.,
com 0 index ;
Colleccao chronologica de Leis, Alvaras, Dccretos, etc. de Junho de 1823 ate
Junho dc 1828, 5 vol. 4.°
Colleccao chronologica de Leis, Alvaras, Dccretos, etc. de Julho de 1828 a
Junho dc 1831, S vol. 4."
Correa (Francisco) — Colleccao de Leis e Provisoes d'ElRci D. Scbasliao, reimprcs-
sas porordem chronologica, e com a numeracao de §§, que em algumas faltava;
seguidas de mais algumas Leis, Rcgimentos e Provisoes do mesmo Reinado,
etc., c com a Lei da Rcformacao da Juslica por Philippe II. de 27 de Julho
de 1582, 2 vol. 4.°, com o l.» e 2." Appendix'
Eslatutos da Universidade de Coimbra, 3 vol. 8."
Eslatutos da Universidade de Coimbra, 3 vol. 4.°. . . , ,
Leao — Leis Ejtravagantes, 4.°
Ordenacoes do Senhor Rei D. Affonso V., S vol. 4.°
Ordenacocs do Senhor Rei D. Manoel, 4 vol. 4.°, com o Repertorio
And go
Actual
1^580
1^200
1^440
700
6^660
2^400
2^260
800
1^230
400
1^20
600
ipoo
600
ipoo
900
1^100
SOO
4$000
1^500
3^000
1^200
€) Jnotitttta^
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
BELATORIO
fttolirc o rNtnilo prewonlr da iciMlrurrfio
pi'iltlirn o parliriilnr <lo niHiricIo a<l-
niiniMti-aclivo <lo Func-Iial eu> luarro
do 1 »55.
Continuj^do de pag. 92.
ABTIGO 2.°
Esiholai municipaes.
Poslo que aos olhos da lei as escholas mu-
nicipaes sejam parliculares, d«i-lhes lodavia
aquclia denoniinacao, para assim as dislin-
guir das que sao niantidas pelos paes dos
alumnos, ou pelos subsidies da philanthropia
individual.
Quasi todas as raniaras municipaes d'cste
districlo, a inslancias do govcrnador civil Jose
Silvestre llibeiio, tjnham creado eseholas de
ua\e outro sexo nas mais populosas freguezias
dos respectivos concellios. Mas taes eschoks
iiunca tiveram uma organisacao regular. A
ireacao d'ellas I'oi mais urn acto de condcscen-
(lencia da parte dos vereadores para com os
desejos, alias louvaveis, d'aquclla auctoridade,
do que resultado de con\icrao que tivcssera
da necessidadc e conveniencia de taes insti-
tuicoes.
Que resultou d'aqui? Apenas saliira da go-
vernanca aquellc cavallieiro, como jii, por
outro lado, comecassem de escasscar os ren-
dinientos das Tiuinicipalidades, logo se foram
esberoando ecaliindo taes eseholas. Acaraara
da villa de Sancta Cruz, que tinha uma eschola
priniaria uoCaniro, outra em Gaula, outra na
(Jamacha, supprimiu-as todas. A da Calheta,
que mantinlia uma eschola no Arco da Calhe-
ta, e outra aa l-"aja da Ovelha, supprimi«-as
ambas. Outras ha, queainda nao supprimiram
t'scbolas que houvessera creado; mas ha muitos
mczos que nao pagam aos respectivos mestres
e mestras. A caniara do Funchal, por exemplo,
ainda conserva onze eseholas de mcninas e
cinco de rapazes; mas deve a cada um dos
profossores e mestras dez raezes de ordenado.
Posso assegurar a V. Excellencia que as
mestras das eseholas de meninas d'este con-
celho s»o, era gcral, de rcconhecida aptidao,
YoL. lY. Agosto 1 -
e a perder de vista mais habeis, que 'os pro-:.
fessores da sua classe.
Taes eseholas tern consideravclmente con-
tribuido para o melhoramento da condifao
physica e moral das povoacoes ruraes. Em
freguezias, onde ha dez annos atraz so as-
sistiam com livro a missa pessoas cxtranhas
a cllas, hoje e rara a donzelinha que nao lea
pelo scu (I Manua! de missa » as rezas do
servico divino. Os trabalhos d'agulha que se
ensinam nestas eseholas, e que sao aqui bem
pagos pelos extrangeiros, tem deparado as
cducandas uma industria Incraliva e civilisa-
dora, cujo exercicio as obriga a viverem
com mor limpeza e reealo. E as que ehegam
a casar, sao, era geral, melhores esposas e
maes de familias, cuidara niais do arranjo da
casa, c educam os filhos com mais esmfiro e
vanta^em para elles e para ellas.
E de lamentar que o mau estado das finan-
cas da camara d'esta cidade Ihe tenha inspi-
rado a idt^a de ir supprimindo as eseholas de
meninas, cujas cadeiras forem vagando.
ABTIGO 3."
Eseholas publicas.
Das quatorze eseholas publicas que aqui
ha, as que eslao em melhor pe, sao — a de
meninas, de Alaria Emilia Cunha, — a de
nieninos de Egidio Francisco de Sequeira, —
e a de Luiz Correa da Silva Aeciaioli. Todas
as mais, segundo informacoesque tenho, estao
no mais deploravel estado de frequencia e
disciplina.
A falta d'uma auctoridade superior e espe-
cial que vigiasse, sem distraccao, pelo desin-
volvimento d'este ranio de servico, fez com
que OS professores primarios, 'deixados a si,
tenham contrahido o habito de tomarem por
unico regulamento o sen arbitrio, e nao pro-
moverem com a devida pontualidade o zelo
e adianlamento dos discipulos. Da prova da
verdade d'esta assercao o estado, em que achei
as eseholas piiblicas, quando tomei conta da
inspeccao immediata d'ellas.
0 regulamento geral d'estasescholas,achei-o
bem guardado na carteira de cada profes-
sor; mas em quasi nenhuma vi executadas as
prescripeo^s do regulamento.
-ISbS. ' NoM. 9.
•^t.
102
uma so sespao por
Em lal eschola bavia
(Jia. ao passo que cm oulras liavia duas.
\s horas lectivas da sessao da maiilia iiao
cram as do regulamento; variavani diima
para outra eschola, ao arbilrio do iirol'cssor.
Todo 0 professor, que tivesse tine I'azer
lora da sede da sua escliida, enleiidia-se talvez
com 0 respectivo adminislrador do coiicclho,
lecliava a eschola, e ia para oiide o cliama-
vam OS scus negocios.
0 ensino religioso, principalmente, estava
om completo abandono em quasi todas as
escholas. Os prol'essores mais pontuaes limi-
tavam-se a ensinar de cor alguiiias das rezas
e oracOes, que a egreja tcui adniitlido para
uso dos Ceis; mas, a mingua dc explicacOcs,
pouco ou nada ciiteudiam os discipiilos. Por
falla dc livros, nenhum e\])licava, na vespe-
ra de duniingo ou dia saiu'lilieado, a epislola
e cvaugclho da missa do dia soguiiile; ne-
nhum abria e encerrava os irabalhos escho-
lares peia retilacao das oracOes indicadas no
regulamento; nenhum aconip:inha\a os alu-
mnos a missa.
0 ensino theorico dos prineipios da moral
nao estava era melhor estado. Achei-o redu-
zido a mero exercicio de memoria, cm que a
intelligencia dos alumnos tomava pequena
parte, nenhuraa o coracao. Todo o trabaliio
do professor consistia cm marcar no « Manual»
com dois signaes de lapis urn trecho, e dizer
ao aiumno: « Traga d'mjui ate aqui. » Ao dia
seguinte voltava o alui>jno, c repetia o Irccho
decorado, as raais das vezes sem enlender a
signiticacao das palavras que proferia !
Quanto a divisao da eschola em classes, ne-
nhum professor a tinha feito em harinonia
com 0 disposto no arligo 30 do dccr<Ho de
20 de dezembro de ISoO.
Uns nao ensinavam todas as materias; oulros
ensinavam mais uraas que outras. A divisao
das materias pelo tempo lectivo era lao irre-
gularmente feita, que — unias vezes era o
professor que so entrelinha em trabalhos
estranhos a eschola, em quanto esla fuuccio-
nava sob direccao dos decurioes: — outras ve-
zes era a maior parte da eschola, (lue estava
a nao fazcr nada, em quanto o professor to-
mava licao aos decurioes.
Pede a justica que eu diga uma cousa, e e
— que tal desorganisacao, pela maior parte
provinha da falta de livros elementares, pro-
prios e uniformes para os trabalhos de cada
classe.
Depois que foi prohibido usar-se nas escho-
las dos livros do Novo Teslamento, de edicao
ingleza, que os filhos dos pobres podiam aqui
obter de graca, nunca mais liveram estes,
para aprenderera a ler, os livros de que ea-
reciam. Este frequentava a eschola sem livro;
aquelle lia pelo livro que o acaso Ihe depa-
rara. 'Numa eschola d'esta cidade vi eu —
um l^r pcio Panorama, — outro por urn volu-
me do yiajmie nnirersal, — outro pela Ilisto-
I Id (h Ciirlnit Mdi/no, — e outro ale pclas .li(M-
ciiis de lirrlholilinho! . . . A classe de leilura
nesia eschola, niio era uma classe; era uma
pcqui'na eschola de rmiiio indii'iiliuil cujos
alumnos, as mais das vezes, dcixavam de dar
licao por falla de tempo.
Assim a falla de livros proprios e unifor-
mes para OS trabalhos de cada < lasse, tomava
impossivel a divisao da eschola em classes;
e a falla d'estas obslava a que e ]irofcs.sor
seguisse quabpier oulro methodo, que nao
fosse 0 iiulii'Idiial. Embora digam os profes-
sores, nos mappas de frequencia reuicllidos
para o conselho superior, « que o nielhodo
seguido nas respeclivas escholas e o uiuluo,
on o simultaneo, ou o mi\to de miituo e si-
multaneo: <> nao os acredile o conselho supe-
rior. A falla dc livnis condemnava-os a seguir,
com rarissimas excep^Oes, o nielho Jo indivi-
dual.
Eis a(iui. Ex."" Senhor, o eslado pouco sa-
lisfaloiio eai (pie achci as escholas ([ue tenho
visilado, isto e, as melhores do districto. As
das frcguezias ruraes. tenciono visital-as no
niez d'agosto, unica epoca do aauo, chi que
posso sahir da cidade, sem jirejuizo de mi-
nhas ohrigacocs de professor. Mas nao e pre-
ciiO que eu laca esla visita para saber que
as escholas do campo eslao em peior estado,
que as urbanas; ponpie a lodas as incoitve-
niencias, de que eslas solfreni, accresce para
aqucllas a falla de mobtlia propria, vislo que
nenhuaia canwra municipal at« hoje tem dadd
cuoiprimenlo a disposicao dos arligos l."ei."
do decrelo de 20 de dezembro de ISoO, rela-
livamenle ao cusleanienlo da.* escholas piibli-
cas dos respeclivos concc4hos.
CAPITUI.O HI.
Inslruccuo scrundaria.
Neste capilulo tenho de hosquejar a histo>-
ria de varios estabelecimentos (pie tenho visi-
tado; — uns puhlicos, — outros particulares.
Isso me aconselha subdivtdil-o nos subse-
quentes artigos.
AKTKiO 1.°
Eschutas partieulares.
Ha nesta cidade i]ualro escholas particula-
res de ensino secundario: - — duas da lingua
iugleza, — uma da lingua franceza, — e outra
de varios ramos de instrucfao secundaria,
que adiante especihcarei.
A priineira (J'eslas escholas e ura pequeno
cslabclecimenlo, empresa de um ce/to John
Olivier Small, que a troco da mensalidade de
rCis 1^000 ensina practieamente a lingaa
103
ingleza a scte ahiinnos, que nao qiiprcm frc-
qiienlar a aula imhlica, nem podcm pagar
ouira particular niellior. 0 ensino liniita-se a
— ler, traduzir, e I'azer exercicios sobre as re-
gras da etymologia e syntaxe lodos os dias, —
e verier do portuguez para o inglez, e pra-
clicar conversarao iim dia sim outro nao.
Era breve I'arei habilitar o professor.
A scgunda d'estas escholas e de mais al-
guma forca, que a primeira. Frequenlani-a
vinte e seis alumnos, quasi todos porlugue-
zes, cujos paes alii os mandam procurar o
coiiliecinieulo praclico da lingua ingleza, a
troco d'unia niensalidade de reis 2§>000. 0
professor, que e Mr. George Williams, tern
muito zelo [)elo adiantamento dos alumnos;
da-lhes, afora o conlieeimento da lingua in-
gleza, boas noeOes da geograpbia e da csphe-
ra ; tem exames piiblieus lodos os annos; e o
dia da dislribuieao dos premios e uma ver-
dadeira fesla para os alumnos esuas familias.
M. Alex. Maurice Duval e o professor da
tcrceira eschola — mode- to estabeleeimento,
frequentado por quinze alumnos, que, das trez
as cinco da tarde em dias alternado.s, alii
vao aprender a lingua franceza. Duval, que
e 0 unico mestre, e bom niestre, e goza, co-
nio liomem, dos melhores creditos. 0 sen rae-
tbodo e mais practico, do que tlieorico; co-
nliece melhor o Diccionario, que a gramma-
tica da lingua; nao leva o ensino d'ella ate
a parte litteraria. Assim mesmo salisfaz os
desejos dos alumnos, que, cstudando com elle,
tudo 0 que buscam e o conhecimento practice
c familiar da lingua.
A ultima d'estas escholas, dcnominadas
CoUerje at schoul, eorresponde perfeitameute
a denomiuacao que tem-, Nao e um collegio;
mas e uma escliola, onde se ensinam — as
linguas ingleza, franceza, latina e grega, —
arilhmetica, geonietria e algebra, — hisloria,
geograpbia e descnbo. O mestre de desenbo
e um inglez (M.' Cree); o de francez e M.
Duval; e lodos os mais ramos de instruccao
siio perfeitaraenle ensinados peloR."'" Alexander
J. D. Dorsey, antigo professor de eschola su-
perior de Gla.'^gow, que veiu residir ncsie
paiz por amor de sua saude. Esta traclando
de Lal)iliiar-se para haver o competcnte titulo
de auctorisacao. £ pcssoa tao qualilicada, e
de tao recoubecida aptidao e talenio para o
cnsiuo, que tenho em conla de nao pequena
vantagem para a instruccao piiblica d'este
paiz a boa vonlade, com que se ha prestado
a ser membro da associacao de conferencias
s6bre o eiisino primario. cujos eslatutos pen-
dem da approvacao do governo dc S. Mage.s-
Jade. A eschola collegiul e presentemente fre-
quentada por deze.seis alumnos, quinze in-
glezes, e so um portuguez. Dao a razao de
tao escassa frequencia— o alto preco do hono-
rario do professor, — e o ajuste que com elle
lizeram os paes dos alumnos inglezes, cora-
{irometlendo-se a llie .segurarem cerla somma
de libras com a condicao de elle nao acceitar
maior numero de discipulos.
ARTIGO 2.°
E-ichulas publicas.
(Lyceu.)
As unicas escholas publicas de ensino sr-
cundario que a qui ha, siio as que formam o
Ii/ceu nacioiial d'esta cidade, a .saber: — nma
aula das linguas porlugueza e latina, — outra
das linguas ingleza e franceza, — outra de
arilhmetica, georaetria e algebra, — outra de
pbilosopbia racional e moral e principles de
direito natural, — outra de oratoria, poetica
e lilleratura, — outra tlnalmente de hisloria,
geograpbia e chronologia.
E professor da primeira d'estas aulas o
sr. Francisco d'Andrade, cujo zelo pelo adian-
tamento dos alumnos c superior a todo o
elogio. Tendo iraduzido, e accommodado a
lingua vernacula o eximio e bcm conbecido
mellmlo de Arnold para o ensino da latina,
tenia introduzil-o na sua aula. Contemplo
nesla innovacao um grande melboramento;
porque so ella podera remover um inconve-
niente que ate agora tfim sempre apresen-
tado OS exames. Os alumnos que concorriam
a exame, posto demonstrassem assaz de pro-
liciencia na parte Iheorica das duas linguas,
posto vertessem com facilidade e elegancia o
latim em portuguez; em se Ibes dando um
treclio portuguez para o porem em latim,
gaslavam muito tempo na versao, e a final
sahia uma cousa que nao era latim nem portu-
guez. Guiados porem pelo melhodo d'Arnold,
e pelo consciencioso esludo, que tem d'elle feito
0 professor, ja comecam de compor em lalira
com facilidade e correccao. Quanlo ao mais
que conviria dizer a respeito d'esta aula,
reliro-me ao que live a bonra de expender
no meu relalorio de 1832
CAPITULO IV.
Instruccao especial ou superior.
Neste capitulo vou tractar de dois estabele-
cimentos que, posto nao estarem comprehen-
didos na esphera de minhas attribuicoes, co-
mo vao mencionados na estadistica litteraria
(mappa junto sob n.° 1) devem ter neste re-
lalorio a sua hisloria: taes sao o seminario
ecclesiaslico, e a eschola medico-cirurgica.
ARTIGO 1.°
Seminario ecclesiaslico.
0 seminario de Nossa Senhora do Bom
Despacho, que 'noutro tempo foi um rico esia-
104
helccimenlo Je educacSo i> iiislriici-iio ccclo-
siaslica, acha-so hojc, quasi reiluzido a mise-
ravcl condioao do hospedaria do,-; educandos
que se destinam ao serviro egreja.
\s unicas aulas que netle ha, sao — uma
de musica, frequenlada por treze alumnos,
cujo professor tem o ordenado de reis (iO|,OOfl
per annum; — outra de caiilo-cliao, fre(iULMi-
tada por vinle e quatro alumnos, cujo profes-
sor e 0 padre vice-reitor, que porcste serviro
tern uma graliticavao de reis oO^OOO au-
nuaes; — outra de theologia moral, frequen-
lada por dez alumnos, cujo professor pereehe
uma gratifieaeao de reis iOU^OOO, paga pelo
cofre do rendiniento da bulla. A.s liunianida-
des, vao aprendel-as ao lyceu os educandos;
OS quaes sao so treze, doze cliamados do nn-
mero, e urn pensionista, que paga ao estabe-
lecimento uma raensalidade de reis C^OOO.
As fontes da receita d'este estabelecimento
sao — uma prestacao de reis lO'.miO liqui-
dos, que niensalmente Ihe paga a fazeada
piibliea, — e o rendimento de varias proprie-
dades que possue por tilulo de doacao. Em
quanto a administracao d'estiis rendas foi
severa, sempre deram de sobejo para suslen-
tacao e ensino dos alumnos, e sempre lica-
ra'm crescidas alcas de urn para oiUro anno.
A.ctualmente porem, ja em razao de mas
administracoes, ja por effeito da dimlnuicao
do rendimento das propriedadcs, o estado
economico do estabelecimento nao e prospero.
Estou persuadido que os recursos de que
ainda dispoe esta casa, scriam sudicientes.
quando bem administrados, para collocal-a
em melhor pc, e niais em liarnvonia com os
fins de sua inslituicao.
ARTIUO i."
Eschola medieo-cirurgica.
Este estabelecimento foi aqiii inslafado no
hospital da misericordia d'csta cidade, no
dia 2 de maio de 1837, em virtude das dispo-
sicoes do decreto de 29 de dczenibro de 183G.
Compoe-se de duas cadciras: — uma de
analomia, operacoes cirurgicas, arte obstrc-
licia e clinica cirurgica, cujo professor c o
D." Antonio da Luz Pitta; e outra de patho-
logia, materia medica, therapeutica e clinica
medica, cujo professor e o D.°' Juvenal Ho-
norio d'Ornellas. A primeira cadeira tem urn
ajudante deraonstrador, cujo logar csla vago
por obito do D." Antonio Alves da Silva, e
interinamente o exerce Francisco de Paula
Drolha. 0 boticario do hospital tambem e
deraonstrador de pharmacia. Estes quatro
funccionarios formam um conselho, que tem
0 govcrno da eschola, c confere aos alumnos
que completarem o curso, cartas de licencia-
dos meuores, em virtude das quaes podem
exercer a mcdicina e cirnrgia onde nao hou-
ver professor mais graduado.
(> curso da eschola e de (juatro annos. Os
alumnos sao ohrigados a frequentar todas as
aulas; mas no finx do anno leclivo so fazeni
exame nas disciplinas designadas |iara o estu-
do ol)rigado d'clle. Matricularam-se este anno
septe alumnos.
UMA VISITA A SERRA D ESTRELLA.
Continuado de jiag. 96.
Quando a neve da serra acaba de der-
reter-se, coineca esta a apresentar, a quern a
observa de mais perlo, uma vista mui encan-
tadora nas graiides [danicies e encostas quo
a rodeam, cobortas de veccjantes pastagens e
dc algumas arvorcs, separadas niuitas vezcs
umas das outras por escarpadas rochas e
passos diflSceis. Caniinhan<to uma legua ao
sul da villa dc Cea paralellamenle ii serra, a
montanha deprime-se niuito seusivelmente, e
da Lugar a estrada que a atravessa para
Castello-Branco no sitio dcnoniinado o Cai^
valhal de S. Dniiiingds, a qual em tempo de
n^'ve c a unica viavel para os povos do sul
da niesma villa.
0 Cantaro Magro o o Cimadouro do Caes
sao OS pontos ni.iis culminantes da serra, for-
nmdos cada um por giaudes massas de ro-
chedos e separados eutre si por um cstreito
valle. No Cimadouro do Caes. sao as rochas
espessas e formam muilas agullias ou pontas;
o llantaro Magro e um cone ronibo no vertice
que assim mesnio uingucm pode galgar, e
que e por tanto inaccessivel.
Pi!rto do Cjntaro Magro esta. outro sitio
denominado Cantaro Gordo, accessivel emcnos
elevads. Ambos estes lugares nao dislara dc
um terceiro, em que cm IS 10 foi construida
a torre do signal, cuja longitude oriental do
meridiano de Coimbra sabe-se ser Oi, 00:8518
e 0i,4i80oB a sua latitude boreal.
Talvez que a villa de Cea pouco mais diste
que uma legua em linha recta para oeste da
dicta torre do signal, tlcaudo assim pouco
raais ou nienos determinada a posicito geogra-
pbica da mesma villa.
A antiga villa de S. Romao, que hoje faz
parte doconcclho de Cea, esta affastada d'esta
um quarto de legua de distancia, pouco mais
ou nienos, em linha recta para o sul paral-
lelaraente a serra.
Sahindo de S. Romao para lestc e subindo
quasi um quarto de legua obliquamente pela
serra, vai-se passar o rio Alva sobre uma
pontQ dc pedra comcjada a conslruir nos
lOi
primciros annos do seculo 19, e sobrc cujas
margens estao a crraida, hospicio e capcllas
denorainadas da Siir.' do Ueslcrro, que sao
muito frequentadas cm diversas tpochas do
auiio.
Tanto a rapella principal, que psta na
margom direila do rio Alva e que turn Irez
altares, coro e sacrislia, como as oilo secunda-
rias, que estan a esta circumvisiiihas, sao ri-
caniente ornadas, conio nao era de I'sperar
'uum lugar lao agreste ejii afaslado do Irausito
e conimerrio ordinario.
A capella principal leni da parte dc dentro
as suas paredcs cobertas de grande variedade
de quadros com legendas, cm que se designam
e mencionam abreviadamenlc c de muitos
modos e allcgorias, muitos milagres e gracas
obtidas por intercessao e invocacao da sancta
Yirgem sob o titulo, que dissemos, do Dcsterro.
Muitas das capcllas se fecham com boas grades
de ferro, o que permitle aos devotes e cu-
riosos invocar e adrairar as bellas e grandes
imagens, que dentro eslao eneerradas. Os
titulos das capcllas secundarias assignalam
abreviadamente os diversos objectos de culto
a que estao dcdicadas e sao estes; a Expecta-
£ao; OS Doulores no Tempio; Jesus no Uorlo
e- OS scus Passos com a cruz as costas; a S.
Veronica; e oCalvario; as quaes cinco estao
na margem direila do rio Alva : as trcz da
outra margem sao a dos Dcsposorios de S.
Jose; do Nasciniento dc Christo; e da sua
manifestacao aos Reis Magos.
A construccao de umas e outras 6 deyida
as numerosas e ricas esmolas dos devotos
c pelo scu acabamento e perfeicao algumas
sao ainda superiores as da Via-Sacra do Bom
Jesus do Monte nos suburbios de Braga.
As imagens da capella dos doutores nao
*;endo talvez as de mais merecimento, nem a
capella maior, sao todavia muilo admira-
das e visitadas.
Esias imagens representam homens dc gran-
des proporcoes; a aceao cm cada um e diversa
c completamcnle apropriada; um meditando e
folheando, outro eulevado na mais cscrupulosa
admiracao, cslao extaticamcnte arrcbatados,
ouvindo ailonitos os oraculos da suprema
Sabedoria, para quern olham attentamente.
Proximo a ponte separa-se da conllucnte
do rio uma grande levada de agua que vai
por em movimento a leste de S. Romao um
engenho de cardar e (iar las, que, ha poucos
mezes, comecou a trabalhar, perlencente a
um ri,G0 proprictario do mesmo povo, e era
cuja construccao e acabamento nao se tem
gasto raenos de 13:000^000 de reis. E o
unico que ha dentro de um raio de duas ou
trcz leguas; e carda e fla cinco arrobas de la
em 24 horas. Bem se pode avaliar a utilida-
de d'este engenho fabril em sitio tao abun-
dante de gado lanigero, que acha na serra
grandes pastes em muitos mezes do anno; e
as vantagens da venda certa das las, que of-
ferece aos proprietarios do mesmo gado, aldm
do benelicio que presta a agricultura pelo ar-
roteamento e irrigacao de terras ate agora de
pousio, e totalniente incultas por falta de
bracos, que andavam emprcgados em cardar e
bar as las e por preco muito mais subido.
No curto declivio que lica entre aquelle en-
genho fabril ale que se cntra no povo de S.
Romao, ha diversos moinhos de piio que a
mesma levada de agua pOe cm movimento.
Um pouco antes (|ue so cbegue a armida
da Snr.' do Dcsterro, esla para o sul uma
caverna nolavel pela antiga tradicao popular
d'uma moura encantada que nella vivcra c
que por isso se chama a Cova da Moura.
Ainda que a estrada para alii e cgualmcnte
trabalhosa e difficil, algumas pessoas, que alii
tem entrado, dizera que a caverna e escura
sim, mas muito espacosa. 0 rio Alva, cujas
aguas provem de uma das lagoas, que se
achara em logares muito elevados da serra,
corre com grande rapidez, e e muito abun-
dante de peixcs.
Parallelaniente a serra, e com largura em
algumas partes de meia legua, esta o valle da
Jagunda proximo a Ci^a e S. Romao, o qual
tera no seu maior comprimenlo cerca de duas
leguas. Este valle proximamente a S. Romao
aonde se chama Assamassa e muito productivo
e ferlilisado pelas aguas do Alva, que vem
aqui dar ao engenho fabril e aos moinhos
sitos a leste de S. Romao. 'Num cruzeiro
dentro d'esta povoacao 16-se a seguinte in
scripcao: — « Em 1760 veiu o rjo Alva a pri-
meira vcz a esta villa. »
Caminhando a leste da ermida da Sr.* do
Dcsterro, segue-sc uma estrada, frequentada,
excepto no iuverno, para a Covilha, a qual
nao passa longe da lagoa comprida. Nesta
estrada ingreme e cheia de torcicollos, ha
alguns alalbos verdadeiramente difficcis e
pcrigosDs.
Tomando o primeiro, que se encontra um
pouco acima da Sr.' do Dcsterro, ponto de
parlida aonde os viajantes cacadores e visitan-
tes da serra costumam ir pernoitar, encon-
tra-se em distancia de um pequeno quarto
de legua uma extensa planicie cbamada Chao
das Eiras, em muilas partes cullivada de
centeio, e ao noroeste da qual, em distancia
de meia legua, tica uma outra ermida deno-
minada a Sr.' do Espinheiro.
Alguns tapetes de verdura formados por
uma planta a que os pastores chamam ser^-
vum, e que c muito propria para alimeatar
0 gado lanigero, suavisam a aspereza do ca-
minho, e facilitara o transito 'nalguns logares
mais escabrosos.
Parece incrivel a distancia e elevacao em
que as lagoas principaes da serra se acham
acima da Sr.* do Desterro.
Contam-se com effeilo duas leguas e n5o pe-
106
((ucnas desde este logar ale a lagda eomprida.
Depois de se atravessarem diversas planicics,
sohe-se seraprc passando d'unias para as oiitras,
e OS carreiros c passageiis para quern vai a pi;
sao muilas vezes arduos e penosos cm exlro-
mo, sendo necessario a miudo subir e desccr
toscos dcgraus de niuilos palnios de altura
^'uns a outros, as vezes robertos de iirzes
espessas; caminhar em lini snbre lageas escor-
regadias ou a borda de desponhadeiros me-
donhos.
Assim mesmo pode cbegar-se quasi ate as
iagdas a cavallo, scguindo com cuidado a
Estrada dc que f llaraos, que rai para a Co-
vilha. Esta em muilas partes so se dilTerenea
do caminbo nao trilbado por pecjuenos monies
de pedras, algumas poslas sobre oulra maior.
iMuitas vezes eslas balisas distam umas das
ioulras um liro de fuiida c consislem em
quatro pedras assentes em quadro sobre um
pedestal Iosco. Sao esles os unicos marcos
miliarios, que servem de guia aos viandantes
para acertarem com as veredas que os devcm
conduzir iiqueiies pontos, mas cm tempo de
inevoa espessa ou de muila neve uao e pos-
sivel descobril-os.
A communicaeao de que acima fallamos e a
iBiais direcla entre os povos do sui do districlo
'administralivo de Yiseu e do nortc dc Coinibra,
'6 OS da commarca da Coviiha, mas no in-
Terno, e depois das neves torna-se inlranzi-
ftavel.
Causa admiraeSo aos homens sexagenarios
do paiz esta passagera boje nuii frequentada
•entre logares lao ermos e inhospitos. Os
caradorcs sao muilas vezes detidos nas suas
excursOcs c monterias em manhas de nevoa
eerrada, que nesses sitios e lao densa, que
com difliculdade apenas pode enxergar-se o
sitio aonde se poc os pes, succcdendo por isso
extraviarem-se por niuilo tempo.
D'aqui se ve que a agrtcuilura em algumas
grandes planuras que ha ua serra, como o
Cliao das Eguas e a Coulada Rasa, que lira
ao norte da do Cbao das Eiras nao pode
fazer-sc ao arado, mesmo aonde o lerreno
promelte vanlajosa recompensa ao lavrador,
porqui' 0 Irabaiho com enchadas e o unico
compativel, com as ingremes ladeiras, (|ue
ba a alravessar, e so accessiveis a homens de
pe.
A queimada de mates, muito frequente nos
mezes de eslio, e o meio de que se servem
ospaslores para afugentar os lobos para longe
dos campos cm que pastam os sens gados.
Se algum veto se pode emitlir dc incon-
teslavcl justica, e em prol dos interesses in-
dustriaes e agrieolas destes povos, ainda um
pouco nossos visinhos de oeste da serra,
seria o de uma eslrada commoda, que, facili-
tando-lhcs o commercio e abaixando-lhcs os
precos dos Iransportes, Ibcs Iraria innume-
^aveise iacalculaveis vautageus pelo mclho- ,
ramento da sua agricullura, ainda hoje tao
abandonada.
Nao longc do silio que arima mencioniimos
n Carvalhal de S. Domingos lica o povo da
Vide, pcrlo do qual consta por |i('ssoa conhe-
cida c inslruida haver uma abundante veia
dc mercurio (|ue .sabe a (lor da terra.
Na dislancia de b'gua e meia da Sr.* do
Desterro, e em caminbo |iara as lagoas, cncon-
Ira-se um dcclivio de I'acii accesso forniado
de loscos dcgraus dc pcdra solta a semelbanfa
dc uma cscada coustruida com mui grande lar-
gura, c cujns dcgraus arrninados estao fora do
seu logar e em posicfics oppostas uns aos
outros. Entre cstas pedras as urzcs ou torgas
que 'noulras partes formam malas que cn-
cobrem o viajante e que cnslani a alravessar
{Erix, Erica, Ulex) aqiii sao dc mediana al-
tura, e tornam esla passagcni mui pitoresca.
Sobre uma d'estas pedras ou dcgraus corre um
rcgo de agua que em breve desapparece espa-
Ibando-se em diversas dircccocs, mas que da
ao passageiro ciinsado e sequioso um Icnilivo
ilelicioso para apag-ar a sede e minorar o calor
e cansaco do caminlio. A cstc fio dc agua
chamam a I'nnlc dos Canaris. A sua agua e
mui crislalina e de optimn sabor, mas a sua
temperatura extremamcntc Iria, e por isso
perigosa. Dizem que do peixe mergulhadfrnesta
agua por cspaco de 'ii boras sh apparcce a
cspinlia. A veracidade e exaelidao da obser-
vacao e lirniada por varins pessnas e cacadores
que tcni visitado aquclla Ionic; e ainda que
para mim niio scja fora de duvida, auclorisarei
0 conto com outros a que anligamenle se da-
va tanlo credito, que mereceram a attenfao
dc Manocl dc Faria e Sousa, e provavetmcmte
dc outros hjstoriadores e gcogniphas do sen
tem|)o; mas que a boa crilica bnje repclle.
« E a serra de Estrelia, diz aquelie elegante
escritor, agradavel aos pastores com seus
fertilissimos postos em dillcrcnlcs varzeas e
plainos que iorma cm a capacidade de sua
grandcza. Em a extrcmidade ha duas ala-
goas dc monstruosa largura e profundidade,
e uma tao grande que uunca se Ihe achou
fundo. Em ambas se vecm tabuas dc navios
do que se infere communicar-se o mar com
ellas, c mais havendo-sc obscrvado que estao
em quielacao se o mar o esta, c se esta allerado
ellas 0 esiao da mesnia sorle. As suas aguas
sao tristes e nao Irazcm cousa viva.
« A serra e fertil de muitas arvores fruclife-
ras, e de exccllenlissimas fonles nas CraWas.
Em lim sao todo o lustre e honra da, com-
marca da Beira. 0 rio Mondego nasce na
serra d'Estrella, caminbando ao poente ale o
Oceano em Buarcos. Na sua foz e navegavel
e durante o curso de onto leguas 6 sulcado
por dill'ercntes barcos. 0 rio Zezcre tarabem
nasce na serra d'Estrella, e enlra furioso com
sua copiosa torrentc no Tejo. a
Continua.
107
ESTtDISTICl LITTERARIA DA UNIVERSIDADE
DE COIMBRA.
IS'o anno Icclivo dc IS54 — 1855.
'Neste anno lectivo raalricularam-se na Uni-
versidade de Coimbra e no Lyceu mil e qua-
troeenlos e sete estudanles contados indivi-
dualmente, porque o numcro das matriculas
foi de mil q,uinhenlas c qiiarenta e duas, por
frequentarem alguns estudantes as aulas de
diversas faculdades siniultaneamenle.
Em ri'lacao ao numero individual dos ma-
triculados 'neslo anno houve quarenta e nove
mais, que no anno lectivo anteccdente.
E«lndiHlirn do movimcnlo dot cstudantoN da nnivcrNidado <lc Coimbra
nvste anno lerlivo.
Faculdades.
Matriru-
lados.
Perderam
0 anno
A pp. Nem.
discrepant.
App. Sim-
pliciter.
Reprova-
dos.
Deixaramde
fazer Ado.
Theologia
Direito
Medicina
113
471
S7
131
264
16
4
22
1
36
71
S
84
386
49
38
110
6
13
32
4
8
13
1
6
13
\
8
«
4
16
2
46
62
4
Mathematica
Philosophia
Curso administralivo
Totaes
1052
139
073
71
31
134
Nas cinco faculdades da universidade fize-
ram fonnalura cento e sete bachareis; rece-
beram o grau de doutor sete candidalos, e
um 0 de licenciado. Forcm qualillcados de
distinctos nas informacOes finaes trinta e trez
enlre doutores e hachareis formados; vinte e
nove foram julgados hons por unanimidade;
trinta por maioria; dezoito foram julgados
sufDcientes por maioria, o que equivale a re-
provacao em litteratura ; na votacao sobre
procedimento e costumes ficaram reprovados
cinco.
0 mappa seguinte apresenta o resultado
das informacoes por faculdades:
Inforniac'doM fin*^ ohliveram o« dontoi-os e Iiacliarpis fornindos na nnivcr-
Nida«lc do C'oimlii'a no anico IiH-liio de 1S5I — I !>t55.
Faculdades,
Distinctas.
de bom pnr
unanimid.
de bom por
maioria.
rff sufficient.
por maior.
rfpteprovai;.
em proced.
Totaes.
Theologia
Direito
6
16
5
4
2
4
19
4
«
2
3
19
«
K
8
1
14
«
«
3
«
s
«
ft
«
14
73
9
4
13
Medicina
Matheniatica
'Philosophia
Totaes
33
29
30
18
5
llo
As faculdades de theologia, direito, mathe-
matica e philosophia conlirmaram os seguintes
premios pecuniarios, e as honras do acce.mt
aos estudantes mais distinctos por seu talento
e applicacao. A faculdade de medicina ainda
nao conferiu os premios aos seus aluranos no
anno lectivo findo.
Premios e accessit conferidos pclas facul
dades academicas.
Faculdades.
Accessit.
Premios.
Theologia
Direito
8
7
9
8
9
13
7
8
Mathematica
Philosophia
Total
32
37
108
'Nestc lectivo (k'fenrteram ronclusSes ma-
gnas novc caiulidalos ao (trail de doutor, e
tiverani para ohjecto das siias DisscrlarOes
inaugtiraes os scguintes assuinptos;
TUEOLOGIA.
S. Mallhaeus rap. XXVIII, vv. 10^20.
Magislerium aiilhcnlicum. a Christo Domino
in ecdosia inslilutuin, infaliliilitalis pracrogaliva
gaudct.
2.°
Epistola S. Pauli ad Roraanos cap. II, vv.
12 — 16.
Traditionalismi syslcma rcjicicndun}.
3.°
S. Pauli ad Thessalonicenses. Ep. II, cap.
II, V. 14.
Traditionis Divinae dogmalicae, a Sacra Scri-
plura dislinctae, e^istunt, ct necessariae sunt.
Epistola S. Pauli ad Galatas. Cap. I, vv,
(j — 12.
Christiana Rcligio ita perfecta, ut tcmporis
successu pcrfcctior fieri nequoat,
FACILDADE DE DIREITO.
1."
Da liniilac5o da propriedadc pcla constituicao
da cmphyteiise; c dos mcios adcquados para a
reformar em Portugal scm lesao dos dircitos
adquiridns.
2.°
Por diroito portuguez o erro sera causa dc
nuUidadc do acto cm que intcr\eiu?
3.°
Sera nocessaria o conscrvar,ao dos c\orcilos
pcrmanontes? E ncsle caso convira cmpregal-os
nas obras publicas?
MATHEMATICV.
De allractione sphocroidiim a spboera parum
aberrantium.
Quaonam melhodus ad telliiris magnilu(1incm.
figuramque detegeHdam caclcris pracferenda sit?
Em niodicina e phiiosophia niio se defende-
ram theses 'iieste anno lectivo, o iiao houvc
por isso dissertacoi's inaiif^uraes. Eslas impri-
incm-se nas I'acukladcs detheologia e dircilo,
e ultimameiitc resoheu a laculdado de phiio-
sophia , que sc iinprimisseiii em portuguez
as suas disscrlaoOes inauguraes. Seria muito
convenientc (]ue em niedicinu c matiiematica
Be lizcsse outro tanto.
Na conformidade da lei de 19 do agosto de
18o3, que restabelcceu na Universidadc o
systema dos cnncursos para o provinienlo dos
jogarcs do magisterio, teve logar durante o
anno lectivo a habilitacao de doze candidatos,
sendo dois cm Iheologia; cinco cm direito;
dois cm incdicina; dois cm matheniatica e
um cm Phiiosophia. Ficaram excluidos dois
candidatos, e prctcridos dois.
A dcspesa com n pessoal da nniversidado
c Lyceu foi 40:()0S^3i;). Nosostahclecinientos
annexos a Universidadc, nao cntrando a im«
prensa, dispcndcii-se a quantia dc ■):S 'i3^063;
no Lyceu 13i|,000; cnos hospitaes 4:"',)o§3iiJ.
A importancia dos rendimentos da Univer-
sidadc provenienle das matriculas e niais pro-
pinas foi a scguinte;
loiO Matriculas da Universidado 18:6o9^o92
383 Dictas do Lyceu 430^60t>
08 Cartas de formatura e dou-
toramenlo I;i28§8i()
5 do Ivceu 6^6i;i
0 que da a somma de .. .. 20:oio^063
Foi 0 rendimenlo da imprensa da universi-
dadc'ncsteanuocconoinico de rs. 10:o73|iS31 .
Nos ullimos cinco annos antcriores o ren-
dimento d'este estabelecimento foi o scguinte:
lSi9— 1830 0:890^998
18o0— 1831 G:it)'499r)
1831—1832....... 7:286^383
1832—1833 6:"87$632
1833— 18o'i 8:183^991'
0 rcndimcuto por tanto da imprensa no
anno economico lindo teve o augmenlo em
relacao ao termo medio dos ultimos cinco
annos ; 7: 122^844) da quantia de 3:430^987 ;
e comiiarado com os annos da 1849, 1830,
e 1852 sobe esse augnicnto a 3:785^179.
^ Em nuvembro d'este anno come(;ou a funccionar
a commissSo de rcfurma e nielhorainento) da im|ireDM,
adoplaiido-se desde logo um novo sjslema de contabilc-
dade t; li:iCaliba^ao.
109
E:Knntc« prepnrnloi io<i foUon poanfe o Jury arndomiro na ITnlverMidatle
de t'oinibrn. no nnno leeliio tU' l»»."il — 1^55.
DisfiplifLa-t,
■■fpp. Nera.l -4pp. Sim-
discrepant, pliciter
Rf prove
dos.
Tntacs.
Latinidade
Ilobraico
G rcgo
Franccz
Allemao
Pliilosophia racional e Bioral, e dtrcito natural. .
Oratoria i; Poolica e liUeratura
Ilistoria, Clironologia, e Geographia
.Vritliiiietica, Algebra c Geoiiiolria
Introduccao a llisloria natural
Tolaes
131
9
28
223
4
112
1i:i
10 i
81
37
03
"2
CI
23
!»
47
4
80 4
219
04
318
«
11
2
32
46
270
«
3
37
210
4
142
8
121
39
167
4
43
•i'l'i
1327
J. M. DE ABREU.
t CIOADE DE DEUS DE SANCTO AG0ST1KHO. '
k transicao enlrc o mundo antigo e a mo-
derna sociedade conslitue uma epoclia para
scrapre raenioravel, epoclia a ([110 perteuceu S.
Agosliiiho. Na sua mocidade assistira elle as
ultimas festas do paganismo meio vencido;
e quaudo niorrcu, jii 0 clirislianismo domiuava
todo 0 inipcrio roiuano.
Na sua vida e em seus eseriplos esta impres-
so em indeleveis characteres 0 cunlio d'esla
suprema luta, que tao longa e sanguinolenla
se travara entre as duas religioes. Natural
dc Tagasta na Numidia, onde vira a luz do
mundo, no anno de 334 da nossa era, e
educado nos principios da rcligiao chrislii,
por S. Monica, sua mat, .\goslinlio passitra
em Cartliago as primeiros arinos da sua mo-
cidade, e t'ora alii testonuinlia dos espectii-
culos e prazeres, que Ihe oll'erecia aquclla
cidade, uma das mais dissolutas do imperio;
0 gosto porem do estudo e 0 amor das lelras
vencera 'nellea inclinacao pelas ruins paixOes,
que 0 cercavaro. A leilura do llortencio dc
Cicero produziu em Agostinho uma completa
methaniorphose. Niio 0 enlevava so a purcza
e elegancia da diccao, moditava tambem nos
conceitos da obra que lia- Entretanta muitos
annos se passaram antes que elle assentasse
uma opiniao segura entre os diversos syste-
mas dos pliilosoplvos, que mais voga tinham
entao. D'estas inccrtezas, era que lahorava 0
seu espirilo se livrou elle, lendo com profunda
attencao as obras de Platao, e escutando as
' />rt Citt de Dteit de Saint Juguxtin, nouvelle tra-
duction avec une introduction et des notes, jiar Emile
Saisset. Paris 1853, 4 vol. in Iti.
licoes de S. Ambrosio. As doutrinas spiri-
liialistas do pliilosopbo grcgo, a Escriptura sa-
grada interpretada por Ambrosio dominaram
comploiumente a sua alma, avida serapre dc
conhecer a verdado.
Agostinho contava trinta annos quando foi
baptisado; abrarou depois o estado ecclesias-
lico, e I'oi eleito bispo de llippona. Um con-
stante e assiduo estudo, de (jue tantos raonu-
mentos nos deixou era seus prcviasos escriptos,
era 0 objccto de todas as suas occnpacoes no
tempo, que Ihe sobrava dos cuidados e obriga-
cOes do seu ministerio pastoral.
Scmpre incansavel em sustentar a pureza
da religiao, comlialoii \ igorosami'nte os ma-
nicheos, que ncgavam a e\istencia dc Decs;
OS pciagiaiios, inimigos da Graca; e os dona-
listas d'Africa, que anieaoavam a egieja dc
um scisma nacional e religioso. 'Noulras obras
desitivolveu 0 sabio bispo de llippona os
dogmas da religiao, procurando sempre con-
vencer os philasophos, e conl'undir os idola-
tras.
A Cidade de Deus e por assim dizcr 0 cpilogo
d'csles longos e variados trabalhos: 0 supre-
mo e mais elevado esforco do genio sublime
de S. Agostinho.
Apos trez seculos de terriveis perscguicoes
0 triiimpho de Constantino loi tambem 0 trium-
pbo do Christianismo. A verdade vencera,
em fim, gracas a palavra divinamente inspi-
rada dos apostolos, ao zelo dos bispos, e ao
sangue dos martyres: os proprios barbaros
comecavam a converter-se, porem os templos
dos falsos deuses ainda se conservavam em
todo 0 imperio, e eram frequentados pela
niullidao, ([ue alii concorria para assistir aos
sacrificios; e 0 paganismo, nao scndo ja,
como nao era, a religiao dominante, gozava
comtudo uma parte do seu antigo presligio
aos olhos do povo rude e iguorantc. As cala-
no
midadcs publicas imputavam-sc muitas vczos
aos christaos. Os (Icusos vollavam-sc. spyiindn
<o dizia, contra os Itoniano--, dosde que cstos
deixaram de llu'.s render eiillo. A deriola das
legioes, as iuvasoes iias provincias do iiii|ieriii
Oram oiitros tantos castigns do eeu irrilado
eoiitra os liomeiis. \ no\a inespciada de (jiie
Hoiiia eahira em poder d'Alarico, resoara em
todo 0 imjierio eomo um longo gemido de
inlima e ijrofunda dor, e os parlidarios dos
idolos iiao perderam a orcasiao de aeeusar a
nova religiao de tao <alaiuiloso successo. Foi
'neslas dilliceis ein-iimstaiieias que S. Agos-
liiilio se propoz eonibater os seus crros, e re-
pellir as siias blaspliemias, escreveiido a
« Cidade de Deos. »
Esia obra e dividida em duas paries miii
dislinelas. Nos dez priraeiros livros tracla S.
Agoslinlio de reliitar os idnlatras e de con-
verter OS pliilosojdios a sua doulrina ; as doze
ultimas partes eompreliendeni uma verdadeira
pliilosophia da liisloria I'uudada no dogma
christao. Os argumentos, que o A. emprega
contra os pagaos podem parecer hoje um
lanto pueris, ou vollerienos. como dizia Sals-
set, mas esse deleito era proprio da epoclia
em que S. Agostinlio eserevera, alera de que
fora 0 sen principal intento veneer a rudcza
do povo, a quem se dirigia, iisando por isso
de uma linguagem, que llie fosse mais acces-
sivel; peio contrario dirigindo-se aos grandes
llieologos do polytiieismo, aos Scev.olas, aos
Yari3es, e aos Antistios Lalu'ous, o bispo de
Hippona emprega os mais solidos e luminosos
argumentos para combater vietoriosamente
o verdadciro prinei|)io do paganismo, que e
o pantlieismo niaterialista, isto e, a adoracao
da natureza e a idohitria da carne. A concliisao
de S. Agostinho e a alianea necessaria da
jibilosopbia espiritualista com cbristianisnio.
E esta uniao constilue o cbaracter essencial,
a grandeza, e origiualidade da Cidade de
Deos, de que Emiiio de Saisset acaba de dar
a cstampa uma nova traduccao primorosa-
mente acai)ada , I'azendo-a preceder de uma
notavel iutroduccao sobre o verdadeiro espirito
philosopbico d'aquellc grandiose monumento
do genio de S. Agostinbo, que nao podera
deixar dc ser lido sem jusla e merecida admira-
<ao. A.
TELEGRAPHIA ELECTRICA.
Conlinuadu de pa^. 43.
II.
Apparelhos.
A electricidade, que passa a (raves os (los
metalicos. que ligam os teiegrapbos cleciri-
cos de um a outro ponto exlremo, differe
essencialmcnte da electricidade dasnuvcns, e
e condnzida jior aquelles lios ii vonlade dos
operadnres, que podem instantaneamente fa-
zel-a correr por elles, ou suspendel-a, seguu-
dos llie convem. Para por em commuiiicacao
duasestacOes jior um teli'graplio eleclricn, sao
|irecisos em cada uma d'ellas dois a|i|iar(dbos
eguaes, ])or meio dos quaes possam Irausmit-
tir-se e receber-se as perguntas e respostas.
Em cada estacao deve iiaver portanto um
reservatorio d'electricidade, um cylindro ele-
ctro-magnetico, uma alavanca, que alterna-
dameute se pOe em contacto com o eiectru-
magnete, um ponleiro, cujos niovimentos de-
])eudem d'alavanea, e um quadrante conten-
do as vinte c quatro letras do alpliabeto. Taes
sao OS unicos apparellins usados na maior
parte das estacoes dos teiegrapbos electricos.
Eutre OS dois pontes extremos de unui linlia
telegrapbica electrica corrcm dois fios de
I'erro ou de cobre, sustentados de espaco em
espaco i)or postes fincados a prumo. Se os
tios sao de I'erro deveni ter de diametro (|ua-
tro millimelros e meio, e sendo dc cobre dois
millimelros e meio. Com os primeiros a velo-
cidadc (la electricidade e, em cil'ras redoudas,
de I til "UtI kilometros |.'or seguudo ; com os
ullimos de 177 70U kilometros. Em so lio pode
bastar para as communicacoes entre dois ap-
parelhos collocados nos dois pontos extremos,
porque a terra, que e um bom conductor,
dispeusa o segundo lio, usado ainda 'nalgu-
mas linbas para eslabelecer a corrente electri-
ca. que deve ser coulinua.
Ouerendo estabelecer as communicacoes
entre Lisboa e Cintra, por e\em|)lo, faz-se
desiuvolvcr ])or meio de uma pilha de Itun-
sen, ou Uaniell a electriiidade, con>tituindo
assim 0 reservatorio d'este Ihiido; pelos lios
de I'erro a electricidade corre 'num segundo
) 01 7(111 kilom. e chega portanto a Cintra no
mesmo memento em que se estabelece a cor-
rente na estacao central de Li^boa. Na esta-
cao para onde e dirigida a corrente deve ha-
ver nm receptor d'electricidade, quo e um
cylindro electro-magnetico coberlo por nm
lio metalico envolvido em seda : em quanto
a electricidade passa atraves os lios d'aijuelle
cylindro receptor, adquire elle a propriedade
de attrabir o lerro. e a alavanca d'aco, de que
jii I'allamos, adbere a extremidade do mesmo
receptor; quando porem a corrente cessa,
0 receptor nao atlrabe o ferro, e a alavanca
volla ii sua primlliva posicao em virtude da
mola, que tern; se se renova a corrente ele-
ctrica a alavanca torna a adberir ii extremi-
dade do receptor, e assim continuarii succes-
sivamente 'num movimento de eaivem, eomo
um dedo que o operador move para a direita,
ou para a esquerda, segundo deixa pa.ssar
a corrente, ou a interrompe. Se este movi-
mento de vaivem se transforma em movimen-
to circular, o que e muito simples, a cada
Ill
niovimcnto da alavanca, um ponteiro eollo-
cado sobrc um quadrantc marcara 'iicllo a di-
rcita, ou a csquerda uma das lelras do aljiha-
Lcto alii pscriplas.
A. correutu luagnetica pode alternativamen-
te passar, ou suspender-so a cada instante ;
a alavanca jior consequcncia sera tambcni
I altiTiiativa e instanlaneaniente atlraliida pelo
' receptor, ou rcpcllida, c o jionlciro, que ella
move, ex[ieriiiieiUara as mesnias alternalivas,
e se fixara sohre unia letra do (luadrante em
quanto a correute nilo for iuterronipida, ou
passara successivamente sohre oulras letras
pela allernaliva da correute a vontade do
operador, ate se fixar 'naquella que elle (|upr
designar na cslacao, para oiide transmitte uui
despaclio.
Quer per exemplo transniittir-se a letra A
dc Lishoa para as Necessidades, estaudo os
jionteiros no signal de repouso, que e indi-
cado sohre o quadrante por uma cruz, o em-
prcgado 'neste servico na estacao da capital
dirige o ponteiro que tem uma pequena ma-
nivcla, sohre a letra .1, deixando passar a
corrente clectrica do reservatorio, e interrom-
pendo-a logo depois, a petiuena alavanca do
apparelho da estacao das Necessidades e
instantaneamente attraliida pelo respective
receptor, e por este movimento, que se cora-
munica ao ponteiro este passa uma divisao
do (|uadraute e vai lixar-se a vista do ohser-
vador sohre a letra A. Se, cm vez da primei-
ra, quer transmittir-se a tereeira letra do
alpliahelo, o empregado, ([ue transmitte o
despacho marca sohre o seu (juadrante a letra
Ccom 0 ponteiro, e deixa allernadamenic pas-
sar trcz vezes a corrente clectrica, e outias
lantas a suspende. A cada impulse da corrente
0 ponteiro do quadrante da estacao opposta
passa de uma letra para a seguinte ate quo
se fixa ua letra C, que era a tereeira, que se
queria Iransmittir. Para communicar a letra
// seria preciso imprirair a alavanca um mo-
vimento tantas vezes interiompido quantas
sao as letras que o ponteiro deve corrcr suc-
cessivamente ate se lixar 'naquella letra, e
portanto a corrente clectrica teria de iuter-
romper-se vinte e trez vezes.
Se 0 ponteiro do aparelho da eslacao de
Lishoa, por exemplo, em logar de partir do
signal de repouso, partir de uma letra qual-
quer, o uumero das pancadas que elle ha de
dar sera egual ao numero de divisoes, que
separam esta letra da seguinte, girando sem-
prc no mesmo sentido. Se de Lishoa para as
Necessidades se quizer transmillir pelo tele-
grapho electrico a palavra VE.\/iZA, o pon-
teiro do apparelho de Lishoa hatera successi-
vamente vinte e duas pancadas, partindo do
ponto de repouso para indicar o V, em cuja
I tra primeiro se fixa; depois, partindo de V
para E, nove, d'ii' para A', nove; de A' para
0 segundo E, dezasele pancadas, etc. Todo
0 machinismo per tanto sc reduz a deixar
passar a corrente magnetica pelos fios e a
sus[ieiidel-a alternalivamente ate que em vir-
tude d'essa allernativa de movimento e re-
pouso, que a alavanca por tal molivo experi-
menla, e (]ue faz passar o ponteiro de uma
para outra letra do quadrante, elle se suspen-
de na letra que se quer transmittir por tanto
tcm[io, quanto necessario for para ella ser
notada na respectiva estacao, ([ue e ordina-
riamente a quiula jiarte d'um segundo.
Eis-a(iui eui summa eomo se I'az uso do
telegraplio electrico. 0 modo por que estes
phenomenos sao produzidos e tamhem digno
de attencao.
Todos OS telegraphos electricos de qua-
drante, a excepcilo dos de Froment, e Sie-
mens, tern um machinismo de relojo que da
impulso ao ponteiro que reccbe, ou transmit-
te um signal ou uma letra. 0 ponteiro e so-
licitado scmpre para mover-se; a electricidade
produz um unico ellcito interrompendo o mo-
vimento do apparelho, ou deixando-o livre.
Nos Iclcgraplios de Froment e a electricidade
que I'az mover o ponteiro, ou que o suspen-
de, s(m recorrer aquclle mechanismo muito
mais complicado, e so quando a distancia das
linlias telegraphicas emui grandc, e que elle
lanca mao de uma roda auxiliar.
A corrente e eslahelecida entre os dois fios
mctalicos por uma pilha: pelo fio a a cor-
rente vai de Lishoa a Cinlra, e pelo fio h
volta de Cintra a Lishoa; porem, antes de se
por em communicacao com estes dois pontos,
0 machinismo do apparelho exige, que o fluido
passe por duas hastes metalicas entre as quaes
gira uma roda dentada, que faz mover o pon-
teiro indicador das letras do quadrante, a fim
de poder alternativamente pol-a em movimen-
to, ou fazcl-a parar; aquellas hastes metalicas,
terminam superioiuienle em forma de concha,
de modn que podem tocar um dente da roda,
ou achar-se entre dois sem contacto com
eltes.
Em quanto extstir o contacto entre a haste
metalica e um denle da roda, o fluido passara
de Lishoa para Ciutra por exemplo; quando,
porem, a concha da haste metalica esta entre
dois dentes da roda, nao ha contacto nem por
consequencia commuuicacao da electricidade
com ella, e a corrente lica interrompida,
como se cortasse o lio conductor, e entao o
ponteiro nao passa da letra (|ue se quer in-
dicar ate novamente se por em movimento a
roda.
Nas communicacoes usuaes desnecessario e
indicar todas as letras, c ha eertos signaes de
convencao para exprimir uma phrase comple-
la. Nas eslacoes dos caminhos de ferro faz-se
aviso do momento da chegiida, ou partida
dos wagons por uma badalada de uma sineta
posta em communicacao com os fios do appa-
relho eiectra-magnetico, c tambcm se usa d'cste
112
sifjnal para chamar a attenfiio dos oniprpga-
dos do lima cslarao, (|iiaiido se llies qiicr
transiuillir i|iial(|uer iioticia, cvitando-so as-
sini, que dies se vcjani forrados a I'star oni
conslanto observarao a loda a liora do dia,
oil da iioite ii espcia do movimoiUo do rospi'-
ili\o ponleiro. A sinota lonliiiiia a torar ale
que 0 rospeclivo einpregado a faz ])arar,
subtrahindo-a a iiilluoiuia da corrente, mas
ao mesiiio tempo diiige a corrente para a
siiieta da estarao opposta, fazendo-a assim
tocar para advertir aos rcspcctivos eiiiprcga-
dos qiie estii prcvenido para reccber a cam-
niiinicaeao.
Os telegrapbos dc quadrantc com roda den-
lada spgundo o machinismo de relojoaria, c
(jue sao mo\ idos pi'lo electro uiagnelismo iiao
li^m tanta rapidcz nas communicacoes, coiiio
OS dc simples vaivem. por(iiie iios de movimen-
to dc rotacao o pontciro para passar d'unia
letra a outra tem dc iiercorrcr, termo medio,
lima semicircumfrciicia, e c este uni incon-
vcnicnte, que ale hoje se nao tern podido
evitar.
Continua,
REGUL\MENTO DOS BANHOS PE LUSO.
Conthlu^do de paj. 71.
Serveiites.
Art. 23. ° 0 numcro dos Serventes dc
ambos os scxos, a sua iiomencao, e o scu
ajustc, serao conliados a Direccao, e propostos
pcio Director dos banhos.
Art. 20.° Os Servciitcs dos banhos fazem
0 servico de lavagein c lini])cza do cstaiieic-
ciniento. eo niais scrviro <iuc Ibcs jndicarem
o Director c o Banhciro.
Medicos.
Art. 27.° Com o fini de se ol)lerpm dados
r>|atisticos dos ciTeitos niedicinaes das aguas
dc Liiso, e em qnaiito a Sociedade nao podcr
gralilicar urn Medico do estabeiecimento, a
Diri'crao acccjta com rceonbecimento o ser-
vico graliiiio offerecido por ciiico Medicos da
vizinbanca, que distribuirjio cntre si e.ste
.•^ervico dc modo, que durante a quadra dos
banbos, o estabebHimento seja vizitado j)or
uni d'cllcs, pelo nienos, uma vez por semana.
Art. 28.° Os Medicos, durante a vizita
do estabeiecimento de que tracta o art. ante-
cedeute, irao tiraudo apontamcnlos do livro
do rcgislo, das inforniacries do Fid c Ba-
nhciro, e do cName dos proprios doentes.
Com estes apontamcnlos formarao em confc-
rcncia uma cstatistica mcdica de todos os
Banbistas, que usarem de banbos e aguas
ncsta ([uadra, acoinpanbada de lodas as
reflexoes que julgarcm convenienlcs, e remct-
terao esta cstatistica ao Director dos banbos
ate ao dia 15 de Dezembro. para ((ue cslc a
(iossa iiicorporar no sou rdatorio.
Pirccr.So da Sociedade.
Art. 29," 0 Sccrclario da Direccao da
Sociedade lancara todos annos em um livro
apropriado, o invcntario de todos os nioveis
e utcnsilios do cstabek'ciniento; e mandara
ao Baiibeiro uma ciipia d'este invcntario, que
0 tome responsavcl por aquelles oi)ject,os.
Art. 30.° Finda a quadra (his banhos,
0 Tbesourciro com a Direccao da Sociedade
organisarSo as contas do estai)e1ecimento, c
as sujeitarao a approvacao da Assemblca
Geral dos Accionistas no 1.° de Janeiro, e
scguidamente da Camara Municipal; c logo
que sejam approvadas, abrir-su-ha o paga-
mento das juros dc ii por cento dc todo o
capital empregado; e tambem o pagamento
de parte do mcsnio capital, ua proporcao da
([uantia que sobrar de todas as despezas do
estabeiecimento.
§. uiiico. Este pagnmento tera logar cm
Coimbra, na Mealhada, e cm Anadia, para os
.Accionistas dos Concelhos respectivos.
Art. 31." 0 primciro anno de juros de
todo 0 fiindo da Sociedade deve considcrar-
se vencido no 1." de Janeiro de 1S30, caicu-
lando-se que o prcjuizo das primciras quotas
licara pouco mais ou menos compensado com
0 benelieio das ultimas. Nos annos scguinte.s
continuani, scndo o 1.° de Janeiro o dia do
vcBcimcnto dos juros, que serao pagos pcIo
rendimcnto dos baniio^ da quadra anterior.
Art. 32." Scrii reservado, na Tbcsouraria
da Sociedade, a (|uantia que for orcada jiara
as despezas indispensavcis no estabeiecimento
ate ao principio da seguinle (piadra de banbos.
Art. 33.° A Direccao da Sociedade soli-
citaia das Auctoridadcs Adniinistrarivas e
Ecclesiasticas dos Districtos e Bispados de
Coimbra, Aveiro, Yiseu e Leiria, a publica-
cao ii missa conventual, e nos logares mais
publicos de todas as Parochias, d'uma Circu-
lar em que a Direccao aunuucic a aberlura
do novo cstabecimenlo, dando conbccimenlo
dosartt. 2.°, 3.°, 7.° e 8." d'este Rcgulamento.
Approvado em Scssao da Assemblea Geral
dos Accionistas da Sociedade para o mellin-
ramento dos Banhos dc Luso, de C de Maio
de ISJiiJ.
O Vice-Presidcntc, Francisco de Castro Freire.
O Sccretario, Antoniv Auguslo da Cusia Simoes.
® JuiStittttir,
.lOllISAL SCIEINTIFICO E LTTTERARIO.
RELATORIO
I>t'ibli!-a «> sKiatia-iilai* <9o nislriclu a<l-
niiiaiNla'artiio do a'^uiiclial oni ncarro
<le 1S55.
Conlinuado de pag. 104.
SECCAO 2."
Synapse das medidas adoptadus em piol
das escholas do cnsino primurio.
0 que ate agora tcnho feilo para melhorar
0 estado da instrucrao primaria 'neste distri-
cto pouco e na vordade; mas, conio d'esse
pouco nada fiz, dc que nao I'ossc dando miu-
da conta ao consellio superior, agora so apoii-
larei, nosseguintpsparagraphos, asprincipaes
das medidas adoptadas.
§. 1." Para inl'ormar-me do eslado mate-
rial das escholas, dirigi aos professores as
circuiares n." 7 e 24, publicadas nos n."
24 e 28 do « Semanario Oflicial, » pcdindo-
liies que hoiivesscm de dizer-me — se tinliani
OS livros de registo que dcviam ter, — qual
a capacidade da rcspectiva esclioia em reia-
rao a frequcncia, — qual o estado da inoliilia
cseholar.
E como pelas respostas cliegassc eu a sa-
ber, que debaixo d osle poalo de vista tudo
estava mal, porque as camaras mnnicipaes
nunca tinham curado de rumprir a oLrigaeao
que Ihes impoe no art. 2.° o decrelo de 20
de dezcnibro de 1850, ofliciei aos presidentes
das diversas munieipalidadcs, dando-lhes ro-
nhecimenlo da despesa que tiuliam dc fiizer
com a moliilia e registos, de que careciam as
escholas dos rcspectivos concelhos, e pedin-
do-lhes que para este lim meltessem no orea-
mento municipal verhas de dcspesa obriga-
loria na iniportancia da dcspesa requisitada.
Aguardo resposta ; e quando esta seja ne-
gativa, lenciono hvar da caniara, que a dor,
0 competcnte recurso, para que o consclho
de districto haja de fazer cITectivo o cumpri-
mento dc uma ohrigacao, que e imposta as
camaras pur lei.
Vol. IV. Agosto 1j
§. 2.° A irregularidade em ([ue achei to-
das as escholas relativamenle a horas lecli-
vas, csta removida. Poz cobro a ella a circu-
lar n.° 20, publicada no n." 2" do « Semana-
rio Oiricial; « pela qual fiz ver aos professo-
res quanto urgia harmonizarem a abertura e
cnccrramenlo das sessoes escholareS com ;i
prescripcao do art. 7.° do decreto de 20 de
dezembro de 18o0.
Releva porem nao omittir aqui o que jii
tive a honra de ponderar ao conselho supe-
rior por officio n.° 32 de S de dezembro ulti-
mo. As horas lectivas indicadas no regula-
mcnto prejudicani a frequcncia das escholas,
c regularidade dos trabalhos d'ellas. Ila sum-
ma conveniencia em fazcr-se extensiva as
escholas urbanas, a faculdade que pelo §. 1."
do citado artigo tem os commissarios dos
esludos, relativamente as escholas ruraes.
§. 3.° Os professores, que sob qualquer
prctexto fechavam as escholas, e acudiam
aonde qucr que os chamassem negocios sens,
agora ja o niio fazcm com tanto descmbargo.
Atalhou cste abuse a circular n.° 23, publi-
cada no n.° 28 do « Semanario Official. »
Em harmonia com o pensamcnto d'ella,
.odo 0 professor que precisar de licenca por
um, dois, ou trez dias pede-a com antecipa-
cao ao commissario; e se o estado de sua
.saude o obriga a mais prolongada ausencia,
propoe pcssoa que intcrinamcnte o substitua
na cadcira,— proposta que o co'iimissarin
conlirma ou manda reforniar scgnndo inlbr-
macOes que tenha da capacidade do proposlo
Actualmenle csta com licenca, Iractaudo
da sua saude, o professor da eschola da villa
de Sancta Cruz, cujas vczes esta fazendo Pe-
dro da Cunha Dultra Stockier, raoco de habi-
lidade, tilho do proprielario impedido.
§. 4.° Para suscitar a observancia do que
dctcrmina no capitulo quarto o decreto de 20
dc dezembro de ISoO. dirigi aos professores
a circular n." 8, publicada no n." 24 do
" Semanario Official. <>
E como viesse eu no conhccimento, pelas
respostas que obiive, de que o desinvolvi-
mento d'este ramo de cnsino carecia princi-
palmente de uniformidade na practica, e
coadjuvaeao dos cbcfes de familias, cuja ne-
gligencia era parte para que os alumnos dei-
xassera de acompanhar a missa o respectivo
— 1853. NiM. 10.
114
professor, rcdigi — para os prol'essores o pro-
vimento de IS de dozembro ultimo, pul)licado
no n." 33 do « Semanario Official, » — e para
OS paes dos alumnos a allocurnn publicada
no mcsmo niiniero do « Semanario, » e depois
impressa cm separado para llies ser cnviada
officialmenle.
g. 0. Tendo eu porem muito cm vista o
que dispoe oart. 21.° do cilado decrelo, rcla-
tivamcntc a clausula da approvacao de que
carece a traduccao da Bihlia, por oiidc liaja
de fazer-se na escliola a leitura e explicacao
do cvangclho, nao tractei de dar execucao
ao mencionado provimento, sera primeiro
obler do prelado diocesano, approvacao ii
tradiu-rao do Novo Teslamenlo pclo Padre
Antonio Pereira de Figueiredo, publicada cm
Londrcs em 18i7, da qual ja eu tinha para
as escholas BOO exeraplares.
Mas, como sua Exccllencia reverendissima
se nao dignasse acceder ao meu requerimen-
lo, vi-me na precisao de reservar para nielhor
ensejo a execucao da referida providencia.
De ludo 0 que se ba passado a este respeito,
dei conta era separado ao conselho superior
d'instruccao piiblica.
§. 0.° Com 0 intuito de melhorar o me-
Ihodo que seguiam os professores no cnsino
dos principios da moral, dirigi-lbes as circu-
res n." 10, 11, 20 e 33, publicadas nos n.°'
25, 27, 29 e 32 do « Semanario Official, » as
quaes formam uraa especie de comraentario
a doutrina dos artigos 17 e 33 do decreto
regulamentar de 20 de dezcmbro de 1830.
Tenho a satisfaccao de dizer a V. Exc.' que
esse nao foi trabalho de todo pcrdido. Pro-
fessores ha que, poslo nao tcnham ainda pres-
cindindo do auxilio da memoria no ensino
da moral, ja comecara de robustccel-o com
explicacoes c anedoctas, que sobreraodo faci-
litara a inteliigencia dos trechos decorados.
§. 7. Afim de poder devidamente aprc-
ciar, em face do art. 30." do decreto de 20
dezcmbro de 1830, o arranjo economico das
escholas pelo que toca a divisao d'ellas em
classes, dirigi aos professores a circular n.°
46 publicada no n." 39 do « Semanario Offi-
cial. «
E como pelas respostas tivessc cu o desgosto
lie saber que so duas escholas tinham regu-
lamento interno, e que a divisao de todas as
outras em classes era, sobre arbitraria , tao
irregular, que nao estendia o ensiuo a todas
as materias, nera economisava o tempo lecti-
vo a bem d'elle; de piano recoiibeci a in-
dispensabilidade de prevalecer-me da facul-
dade conferida pelo art. 31.° do citado decre-
to, para dar a todas as escholas piiblicas do
districto uma organisacao uniforme e em har-
monia com as condicoes da regra do supra
ritado art. 30.°
§. 8.° Mas para dividir uma eschola em
classes scgundo o methodu nuituo, simulla-
neo, on mixto, a primeira de todas as condi-
coes e ter livros uniformes e adequados aos
exercicios de cada uma ; porque, se cada
alumno tivcr um livro dilTereiite, ou nao liver
nenhum, como podera o decuriao ou profes-
sor dar a todos a niesma licao? Impossivel.
Ora sendo este o cstado de quasi todas as
escholas piiblicas, qua.>-i exclusivamente frc-
(jucntadas por lilbos de pobres , facil era de
verque oque mais urgia era dar aos alumnos
livros e os denials utensilios escholares in-
dispensaveis para a organizacao economica
d'ellas.
Para isto recorri a caridade piiblica. E
tendo dirigido a nacionacs e txtrangciros o
appello publicado no n." 27 do « Semanario
Official, » live a satisfaccao de vercoroada esta
providencia pela sympatliia de todas as clas-
ses da sociedade. 0 producto da subscripcao
ja passa de riiis 200^000. Uma senbora in-
gleza (Lady Balfour) teve a benignidade de
tomar a sua conta o fornecimento de mappas
geographicos e outros utensilios escholares,
que eu tivesse de mandar vir de Inglaterra.
Outra senbora natural d'este paiz (a ex.'°°D.
Julia de Franca Netto) dando um concerto
a beneticio dos pobres, do producto d'elle
reservou para as escholas a quantia de reis
40^000. Com taes adjutorios, dentro em pou-
co terei a satisfaccao de ver todas as escholas
piiblicas fornecidas dos livros e utensilios
necessarios para sua melbor organisagao.
§. 9." Em quanto este anhelado momen-
lo nao chega, ja so, ja em conferencia com os
professores que tenho em conta de mais en-
tendidos, vou emprcgando o tempo na redac-
cao e coordenacao de um manual ou direcio-
rio para as escholas, feito — para assim dizer —
com lal elasticidade, que, seni prejuizo da
unidadc que deve reiuar era todas, possa fa-
cilmentc accommodar-se as circumstancias
especiaes de cada uma.
A esta condifao ha de satisfazer o directo-
rio, espero eu, fazendo lixo o numero das
classes, mas variando o das subdivisoes de
cada uma d'estas, ao sabor da fie([uencia da
rcspcctiva eschola. Logo que esteja concliiido
este trabalho, dar-lhe-hei a forma do provi-
mento, e suhmettel-o-hei a sanccao do conse-
lho superior.
§. 10." Pela confrontacao dos mappas de
frc([uencia das escholas com a esladistica da
povoacao de cada frcgiiezia, pude logo presu-
mir (|ue, ainda adniittidas como rigorosa-
mente exactas as indicacoes dos primeiros.
tal frequencia eslava muito aquem do que
devia ser em uma povoacao do cento e tantas
mil almas.
Pelo mappa juncto sob n.° 1 vera V. Exc'
demoustrada a verdade d'esta assercao. 'Num '
districto, onde ao presenle ha 17,836 crean-
cas em edade de aprender (dos seis aos qua-
torze annos;, apenas 2:313 frequentam cstho-
115
las piiblicas, municipaes e particulares! Todas
as mais vegetani na ignoraneia vm que nascc-
ram, estranhas e inaccessiveis aos benelicios
da civilisarao!
Isto faz piesentir a neccssidade que have-
ra do recorrer-se a meios conipulsoiios, (de-
pois de exhauslos os de persiiasao) para obri-
gar OS paes de I'amilia a darem eduiarao a
seus lillios. E visto que para a prolicuidade
d'aquelles meios, releva que a auctoridade
inspectora das cscholas sailia quaes sao, era
cada localidade, os cliefes de familia que
cuniprcm ou deixara de cumprir com a obri-
garao que a cste respeilo llies impoe a iiatu-
reza e a sociedade, traitei imniediatamente
de colligir os clemcntos de que prccisava para
a confeccao do rccenseamenlo da populacao
educanda.
Este trabalho ja esta feito era grande par-
te; ja estao consignados 'nam livro especial
0 nome, profissdo e moradia de cada chefe de
lamilia educanda, o nome e edade do filho ou
filha que tenha, com designagao da eschola
que frcquenta. 0 niappa junto sob n.° 2 e a
synlbese do livro do recenseamento, rccensea-
mento que ja estaria de todo concluido, se
eu tivesse alguem que me coadjuvassc em
trabalhos d'esta natureza.
SECCAO 3."
Synapse das medidas que requerem a inter-
vencdo de auctoridade superior.
Tenho de apontar 'nesta seocao divcrsas
providencias, a cada uraa das (juaes consa-
grarei um dos seguintes capilulos.
CAPITCLO I.
Tempo leciivo.
Kespondendo a circular n.° yo publicada no
n.° 42 do « Seraanario Official," todos os
professores das cscholas ruraes toncordam na
conveniencia de se reduzirem, 'nestas cscho-
las, as duas sessoes diarias a unia so.
II Se bem que o decrcto de '20 de septcm-
bro de 1844," dizem os professores, ((per-
il raitte, no artigo 42, que os paes de farailia
(( mandera a eschola unia so vcz por dia aquel-
(( les de seus lilbos de cujo trabalho carecam,
(( com tudo do exercicio d'esta faculdade so
(( podera resultar atrazo para esles, e desor-
<( dem para o resto da eschola. Alumnos que
« so tenham uraa licao diaria, nao podem
« seguir de par com outros que tfim duas.
(( Mas, como sempre hao de fazer parte de
(( aigunia classc (caso se nao queira que in-
« teiramente percam a licao a que faltarani)
« todos OS dias terao de descer de uma para
(( outra classe inferior, o que forcosamente
(( ha de oecasionar confusao nos trabalhos
(( das classes. »
Fundados 'nestas ponderacoes, entendem os
professores, que para as cscholas ruraes, o
melhor e que tenham uma so sessao diaria,
de cinco horas consecutivas, havendo cntre
cada duas uma bora de recreio. E confesso a
V. Exc' que, para me eu conformar com esta
opiniao, basta reflectir como esta derramada
nos campos d'esta ilba a populacao. Para os
educandos confluirem a um ponto de cada
frcguczia, por mais central que seja, tem de
fazer grandes jornadas por maus e perigosos
eaminbos; gastam muito tempo em idas e
voltas de casa para a escbola, e da eschola
para casa; tempo que e inteiramente pcrdido
para elles e para os paes, cujos trabalhos por
Ventura nao dispcnsem a sua coadjuvacao.
Por todas estas razoes parece-me que, para
se conciliarem melhor os interesses da agri-
cultura com os da instruccao das povoacoes
ruraes, e conveniente alterar a disposicao
do art. 7.° do decreto de 20 de dezerabro
de 1850, e commetter ao prudente arbitrio
dos commissarios dos estudos a reducgao das
duas sessoes a uma so, 'naquellas localidades,
onde a dispersao da povoacao, e os interes-
ses agricolas dos paes dos alumnos assim o
requeiram.
capitulo II.
Ordenado dos professores.
0 maior de todos os obstaculos ao desin-
volvimento da instruccao primaria, nas cscho-
las ruraes d'este districto, e a incapacidadc
dos professores; e — seja qual for a inspec-
eao que se Ibes ponba, e a disciplina que
'nellas se estabeleja, — cssa capacidade con-
linuara a ser a mesma, emquanto forem ,
como ao presente, tao escassos e mesquinbos
OS ordenados de taes professores.
Quem ha ahi, que sentindo-se com quai-
quer prestimo natural ou adquirido, queira,
a troco da mensalidade de reis 6 a 8^000,
votar-se ao improbo mister da regencia de
uma eschola rural? So busca esta carreira,
quem nao tem fe em si, nem melhorcs espe-
rancas em qualquer outra. E confesso a V.
Exc." que quando contempio a exiguidade
dos ordenados d'esta classe de professores,
quasi que tenho remorses de exigir d'elles
accrto, pontualidade e zcio no desempenho
de suas obrigacoes.
'Numa terra cara, como esta e, e cujos
lavradores, de pobres que sao, mal podem ter
generosidade alguma para com os mestres de
seus filbos, dar reis 8^030 por mez a um pro-
fessor d'ensino primario, mais e querer entre-
ter e illudir, que educar os filhos do povo;
porque OS professores, sobre nao terem a
116
necessaria aptidao para o ensino, por forra
liao (le lanrar mao dc qualquer oiitro sorviro,
que llie> di'parc os meins de sul)sisteiu'ia, que
0 niagislerio per si so Ihes nao da.
Parece-me porta n to que, em alteneao as
circumstancias d'esia Incalidade, fdra de suni-
ina couvonienria dislinguir a lei trez espccies
de escliolas priuiarias: — as da cidade, — as
das villas ou raberas de concelhos, — c as das
freguezias ruraes.
Os prol'essnres das primeiras cstao suflieien-
temeiue retrilniiilos, percebendo eada uni
d'ellcs rcis 18|,a'.IO por mez. So o nao csta
a mestra da escbola de meninas, que, regen-
do a luais frequeiUada de todas as escliolas
piiblicas, so percebe a mensalidade de ri-is
(i^llt;; com a gralilicarao de reis 20^000 per
annum.
Os das eseholas das villas devem, a meu
ver, tcr um ordenado polo Ibcsouro na inipor-
tancia liipiida de reis 'J^OOO por raez, e niais
uma gratilica(,'ao municipal de reis 10 a
yO^OOU per annum, segundo a frequencia
efi'ectiva da escbola. Se esia tiver ma is de
:!0 aluninos, o professor tera direito ao mi-
nimo da gralilicarao. Se porem tiver mais
dc cem, tera direito ao maximo. A camara
que tem interessc em pagar o menos possi-
vel, sera o melhor fiscal da elTectiva frequen-
cia da cschola.
Os professores das eseholas ruraes nao de-
vem ler mcnos de 9^000 reis liquidos, sem
gratificacao municipal. A dilTerenca dos orde-
nados dos professores d'estas duas classes e
analoga a dilTerenca das habilitacijcs e traba-
Ihos de cada um.
Os das eseholas ruraes so terao de enst-
nar, 'numa unica sessao diaria, ler, escrever,
contar e doutrina christa. Os das escliolas das
villas terao obrigacao de cnsinar, em dnas
sessoes, afora aquellas materias maisdesinvol-
vidas, gramatica, geograpbia e historia por-
tugueza, e principias de moral o ci\ilidade.
Contimia.
OS LUSIADAS,
Traducrao franccza.
Meu aniigo. — Apezar de me aehar aqui
no remanso das ferias, que tao liem sabe aos
estudantcs, nao me esqueco do meu amigo e
do nosso Instituto, ideas para mini associa-
das.
Revolvendo oiitro dia antigos papcis de
meu Pae, deparei com o inanuscriplo origi-
nal da traduccao dos Lusiadas, que julgava
perdida. Fiquei contentissinio, como pode
imaginar. A maior parte d'esta traduccao e
inedita, e no que foi publicado, restava fazer
alguinas corrcccoes que do aulograplio se ve
tcrem sido aconselhadas por M.""" de Stael
Ksta descoberta foi um liom acbado para mini,
e creio (]ue para o Inslilulo. principaliuenle
iiesia opocha, em (]He seiupre foi dillicil aciuir
materia para um jornal scientilico c litlerarin,
publicado em (loimbra.
Parcco-me ((ue iaco um scrvico a esse jor-
nal e lambeiu a niemoria de meu Pae, publi-
caudo estes fragmeutos, (jue podcm fazer con-
siderar o seu auctor debaivo de um aspeclo
em (|iie e pouco conbecido. Foi o Visconde
d Almeida Garrett quem me suscilou cste
pensamento, cscrevendo o que segue:
« 0 leitor folgara, creio eu, de acbar aqui
uma nota dfis traduccOes (dos Lusiadasj de
que pude acliar memoria, ou examinei eu
proprio
« A traduccao era verso francez do sr. Dii-
qne (le Palmella, ipie os particiilares amigos
do illustre auctor sabcni eslar nniito mais
adiantada, posto que d'ella so apparecessom
amostras no Invest igailDr purlui/nez em Lon-
dres de 1813. — Posso dar teslemuulio do
muito que admirei algumas das mais bellas
e mais dilliceis passagens dos Lusiadas, quan-
do 0 nobre poeta (espero que se nao offeiida
do nome) me fez a honra de m'as ler, ha
onze para doze annos em Londres. »
Esla traduccao foi cscripta nos primeiros
annos d'este seculo. Preparava-se cntao o
que chaniamos a invasao dos Francezes: esta-
vamos em vesperas de perder a nossa nacio-
nalidade, e ameacados de constiluir mais um
departamento daquelle inimenso iniperio que
aspirava a egualar o dos Cesares. 'Nestas cir-
cunstancias emprehendeu meu Pae o penoso
e dillicil trabalho de traduzir os Lusiadas em
verso francez, trabalho que por ykta- era ani- /;"
mado pelo nobre desejo de tornar conbecido
dos nossos futuros dominadores os altos fei-
tos do povo que pretendiam avassalar.
Acerca do merecimento da obra nada direi:
lillio do auctor, fora suspcito o meu juizo;
allieio ii poesia, julgo-me inbabil para o fazer.
.V publicacao de parte d'este trabalho no
Invcalifjador porluijiiez, com a carta quo a
precede, escripta [lor meu Pae; o nome do
auctor, c o testemunbo de Garrett, serao as
unicas rcconimendacoes que a accompanbem.
Adeus, meu amigo, continuarci a ver se
posso prestar mais algum service a redacrao
d'csse jornal. |
Lisboa, 27 de junho de ISiio.
D. Franei^o de Soitsa e Holstem.
Carta ao«» re^lacloi-ew ilo Invo»«iarad«r
pordigiiex eiia Iimlalcrta.
Sr.' redactores do Investigador. Ja que Y.
assim o querem, tenho a honra dc Ihes lemet-
ter alguns fragmentos d'unia traduccao fran-
117
ccza dos Luziadas ; lisongeando-rae que o il-
lustre nome de Camoes seja um passaporte
sufTiciente para fazer perdoar a sua insercao
nura periodico porluguez.
Ha perto de oito annos que esta traduccao
foi principiada, e lendo-me as circunistancias
pouco depois obrigado a interromper o nicu
Irabalho, assenlo que ja agora nao terei ani- '
mo para o conlinuar e levar ao iim.
Nao e necessario muito conlieciniento da
lingua e da poezia franceza, para avaliar, nao
digo a difficuldade, mas a tcmeridade ,d'uma
empreza tal como a da Iraduccao de lode o
poema de CaniOos. Traduzir o mais harnio-
nioso dos poetas niodernos, e traduzil-o de
uma lingua rica esonora, para outra infinita-
menle niais pobrc, secca e aperriada per pre-
ceilos miudos e rigorosos; e intentar o copiar
com urn lapis preto uma pintura adornada das
mais vivas cores; ou querer seguir a I'orra de
remos um navio que corre a toda a vella. D'essa
verdade me persuadi ainda mais, agora que
tornei a 14r de sangue frio o nianuscripto que
ha annos jtinlia esquecido, e abandonando a
idea de o proseguir, resolvo-me a expor (nao
sem um justo receio) ao juizo do publico estes
primeiros cnsaios.
A lama d'um poema tal como o de Camoes
nao podia ficar encerrada na sua patria; e
com elleito nao ha lingua culta, em que nao
esteja traduzido, nem pessoa medeanamente
instruida na Europa que o nao tenha lido.
Porem desgraoadamente poucos cstrangeiros
se aeham no caso de o ter lido no original; c
certamente Camoes d'eiitre os grandes poetas
e um dos que raais pcrdcnj em ser traduzidos.
P6de-se, sem faltar ao rcspeito que llie e devido,
nera participar da heresia litteraria d'alguns
nossos comtemporaneos, asseverar que o pri-
raeiro merecimeuto de Camoes e o da diccao ou
do cstyio, e por confoquencia aquelle que me-
nos se pode atlingir na traduccao. A melodia
natural de que sao dotados os scus versos, a
>umma abundancia e lluidez, com que elles
Ihe corriam, dcrani logar a que se precalasse
menos dos det'eilos inseparaveis d'aquellas
qualidades; quero dizer, as negligencias no
piano, eas vezes a repelicao dasmesmas ideas,
variadas porem sempre, e verdade, com uma
inexbaurivel riqueza de expressOes. Finalmen-
le essa raesma lacilidade que so se pode com-
parar a de Ovidio e Ariosto, o induz a pas-
sar conlinuadamente do estylo mais sublime
da epopea, para o d'uma narracao raais sin-
geli e quasi familiar, e ate mcsmo para o
torn jocoso a que mais d'uma vez se entre-
ga. A nada se Ihe nega a musa, e Camoes
mais inspirado do que qualquer outro poeta
nao recusa nenhum dos seus dons. D'ahi
nascem as maiores bellezas, d'ahi se originam
lambem alguns defeilos. Mas os defeitos ap-
parecem lodos na traduccao era quanto muilas
das bellezas nao pndoni traduzir-se; e o leitor
estrangeiro prevenido pela justa admiracao
que Ihe inspiraram, nao se lembra que esta
lendo na traduccao a raesraa rausica, porem
que nao pode ouvir o som do mesrao inslru-
mento.
Se e diflicil o traduzir os Luziadas em qual-
quer lingua, a maior difliculdade e talvez o
Iraduzil-a em francez; porquo a poesia fran-
ceza e a mais limitada e a menos ousada de
todas. Por isso nao se presta ao genio das
poesias estrangeiras : e todos sabeni que De-
lille foi 0 primeiro que conseguiu traduzir,
com applauso, em verso francez alguns dos
poetas epicos das outras nacoes. Estas relle-
xOes e muitas outras dcviam ter-me acobar-
dado. Porem deixei-me levar do desejo de
contribuir, por quanto as minhas forcas ra'o
permittirem, a elevar mais um monumento a
racmoria do nosso grande Yate; do unico
poeta portuguez, cuja gloria, como disse um
auctor illustre do nosso tempo, nao e so na-
cional mas europAa.
Dar-me-hia por summamente satisfeito se
estes ensaios de traduccao, posto que debeis
e imperfeitos, podessem dar a conhecer aos
cstrangeiros, que os lerem, alguma d'entre as
immensas bellezas de que abunda o nosso
poema; o qual ate agora tem servido, e ver-
dade, d'assurapto a rauilos elogios, porem
tarabera a outras tantas calumnias, para os
([ue 0 nao conhecem.
Nao e este o logar de entrar numa disser-
tacao, ((ue prolongaria cxtreraamenle esta car-
ta, sobre as numerosas criticas que tern en-
contrado os Luziadas. Porem nao posso deixar
de observar que a principal d'entre ellas,
tem recahido sempre sobre a mistura do chri-
stianismo com a mythologia paga, e nao se
pode negar que esta eritica seja muito funda-
da. Coraludo, lendo com attencao os Luzia-
das, observa-sc facilmente que nao nasce d'ahi
uma verdadeira discordancia; o espirito do
poema como o do poeta e todo cbristao, e o
uso que elle faz das liccocs mythologicas nao e
senao um mero ornato, um jogo da phanlazia.
de que Camoes, cbeio da licao classica dos
poetas antigos, e nao achando ainda modelo
por onde se guiar na poesia chrisla e nioder-
na, julgou nao poder prescindir. Mas v6-se
para assim dizer, que toda essa parte do poema
nao e seria ; e que serve como duma especie
de moldura, em que se julgou obrigado a en-
cerrar o seu formoso painel. A unidade do
interesse dos Luziadas consiste principalmente
no sentimento patriotico que anima ludo. O
titulo mesmo o prova. A gloria nacional dos
Portuguezes e o espirito cavalleiroso d'aquel-
les tempos, reproduzem-se debaixo de todas
as formas que pode inventar a imaginacao do
poeta. Talvez em nenhum poema desde os
de Homero, se ache um colorido historico e
nacional tao forte como no de Camoes.
Resta-me so agora a accrescentar que me
118
julguei obrigado, nos fragmenlos mesraos que
traduzi, a oniittir niuitas oilavas, que ou por
sereni mais fracas ou por conterem alguma
repeticao d'idCas, desesperei de poder tradu-
zir loleravelnicnle. Pela mesma razao procu-
re!, alguraa vez, extraliir d'uma so oitava o
sentido de duas ou trez, Obscrvarei tanibeiu
que 0 metro que adoplei, e que e o do origi-
nal, sendo inteiraracnte novo iia pocsia fran-
ceza augmenta sobre mancira a dillieuidade ;
porque e preciso, na lingua em que ha mais
pobreza de cousoantcs acbar Irez rimas agu-
das, e trez graves era cada oitava. Porem
estas observacues pouco devem importar aos
leitores, pois o mereciraenlo do poeta nao con-
siste em ter vencido dilliculdades, mas em
ter produzido bellezas. S.
Continiia,
TELEGRAPHIA ELECTRICA.
Continuado de paj. 112.
III.
Telegraphos electrkos francezes.
ToIeKi'apbos rtc Brrt;net. Os telegraphos
electricos primeiro e mais geralmente empre-
gados em Franca foram os de Breguct. A sua
construccao diversifica um pouco, segundo
elles sao destinados para o seryico do estado,
ou para os caminhos de ferro; ambos porem
tern de commum o serem de quadrante, e
seguirem em geral o processo que indicamos
precedcntemente. 0 principio e o raesnio:
tem todos um receptor electro magnetico, que
adquire a propriedade de attrahir o lerro,
quando a corrente eiectrica passa pelos lios
d'elle; e iima alavanca d'aco, que em virttide
da molla que tora, torna a sua posifao iiiicial,
logo que a corrente eiectrica e interrompida;
0 apparelho porem traballia com rndas de
relogiaria, e os signaes sao did'erentes.
Telcs>'a|>ho«> parn o Men iro do cnI n<lo.
Nos telegrapbos do estado, construidos por
Breguet, emprega-se a pilha de Bunsen para
produzir a eleclricidade, as comraunicacoes
nao sao feitas por letras indicadas por um pon-
teiro sobre o quadrante, mas por duas alida-
das, que transniittem os signaes adoptados nos
antigos telegrapbos aercos. Cada uma d'eslas
alidadas mo\e-se parallelamente por um maclii-
nismo de relogiaria, collocado por detraz do
quadrante receptor, de raodo que as duas
alidadas podem girar scm nunca se cncontra-
rem. Estas duas partes do ajiparelho sao in-
teiramente eguaes, e por uma se pode cxac-
tamenie comprehender a outra. As duas ali-
dadas sao constantemente solicitadas para
mover-se, e a corrente clectro-magnetica e
que deterraina 'num dado memento esse mo-
vimento. A alidada indicadora dos signaes
esta collocada sobre o eixo da roda de esca-
pamento. Um tambor com uma mola, como
nos rclojos ordinarios, serve de forca motriz
e transraitte o seu movimento ao eixo da
roda de escapamento, e por consequencia a
alidada indicadora dos signaes. A introduc-
cao, c inlerrupcao successiva da corrente eiec-
trica imprime a alavanca um movimento de
vaivem, como anteriormente notamos, e cste
movimento alternado faz andar a roda, cujo
eixo sustenta a alidada, um meio dente a
cada impulso ou suspensao da corrente electro-
raagnetica, de raaneira que, prolongando-se
esta accao alternada da corrente eiectrica, a
roda pode dar uma ou muitas voltas coraplc-
tas. A roda tem quatro dentes, e como a cada
movimento d'alavanca a roda anda um meio
dente, segue-sc (lue 'numa volta completa a
alidada toma oito diversas posifoes. Como
porem sao duas as rodas postas simultanea-
mente em movimento dehaixo da influencia
da corrente eiectrica, e duas tambem as ali-
dadas, e como cada uma d'ellas pode tomar
oito diversas posicoes independentes umas das
outras, com aquellas duas alidadas se podem
representar sessenta e quatro signaes coni-
binando os oito raovimentos de cada roda, c
ate duplicar este numero com um signal de
convencao.
Tal e 0 apparelho receptor. 0 apparelho
que transmitte as respostas, c que Breguet
chama wrtJiipii/drfore formado, como o receptor,
de duas partes independentes e similhantes
cada uma d'ellas posta em relacao com um
dos lados do receptor por um fio especial,
de manetra que estes telegrapbos exigem dois
lios, duas alidadas, e dois movimentos de
relogiaria, e o respective eropregado tem de > "
operar com ambas as niaos. A manivela, de
que se serve o operador, entra 'num disco ^_
dividido em oito partes eguaes, o qual trans- , flj
mille OS sous oito movimentos ao receptor ■''™'
por meio d'um jogo de alavanca^: quando a
manivela passa d'uma a outra divisao, o lio j
do receptor e posto em conimunicacao com I
a pilha, c logo se transmitte a extremidade
da linha o signal dado. Percorrendo com a
manivela as oito divisoes do disco o encar-
regado d'lima conimunicacao telegraphica faz
tomar a alidada do receptor oito diffcrentes
posicoes, que, combinadas com as oito posiroes
da outra alidada, da sessenta e qimtro signaes,
como ja dissemos. Cada movimento da roda
produz por tanio um signal. Quando a ala-
vanca toca o lio que comnuinica com a pilha
a roda passa um meio dente e faz um signal,
quando a corrente ccssa a alavanca volta a
sua posicao ordinaria pela mola que tem, a
roda pass^a ainda um meio dcnle, e a alidada
119
marca urn novo signal, de modo que neste
apparelho aproveitam-se lodos os niovimen-
tos.
« Este telegrapho, diz o seu A., tern a
vantagem de fazer signaes raui distinctos, e
miii segiiro, e pode mover-se eon) grande
rapidez. Empregados ha, que 'num ininuto
fazem duzentos e quarenta signaes, o que
corresponde a cineoenla palavras. Para se
obter este resultado e preciso que os appare-
Ihos sejara capazes de fazer trez mil signaes
por niinuto movcndo a manivela continua-
mentc. »
Apezar d'eslas vantagens lao incuieadas
pelo A., OS telcgraphos electricos segundo
esle syslenia estao lioje gcralmente abando-
nados. Em Franca, onde elies tinbani sido
adoptados «m lodas as reparli{oes piiblicas,
porqae, reproduzindo os signaes usados nos
telegraphos aereos, nao alteravam o antigo
expediente d'este ramo do servico adminislra-
livo, e conservavam o segredo das noticias,
esta reconhecido, que o systema de Breguet
nos telegraphos do eslado e mais dispendioso
porque necessita de dois tics e dum ap-
parelho dobrado; e raais trabalhoso para os
empregados, que tem de operar com ambas
as maos ao mesmo tempo para transraitlir o
mais simples signal, e aleni disso pode dar
logar a graves enganos pela troca de quai-
quer signal, o que e mui facil de accontecer
na rapidez com que elles devem serfeitos.
E por estas razoes a administracao dos te-
legraphos em Franca tracta de substituir estes
telegraphos pelos de teclado de Froment de
que adiante fallaremos.
TelCKi'npIios pnra os catntnltos de
fcrro. Nos telegraphos construidos para o
servico dos earainhos deferro, Breguet eniprega
a pilha de Daniell de vinte oito pares, ainda
que so com quatorze pode transmiltir um
despacho a trinta ou quarenta leguas de
distancia. Sao estes telegraphos de letras, e
nao de signaes.
0 apparelho receptor nao differe do que
descrievemos no §. 11, unieamente alem das
letras gravadas na circunilerencia exterior
do quadrante, teni este vinlu ciuco algarismos
abertos na circuraferencia interior. 0 mecha-
nismo interior consta d'um tanilior com moias,
que fazem andar unia roda de relogiaria.
Todo 0 mais processo e como no telegrapho
de signaes.
0 quadrante do apparelho manipulador
tern letras e algarismos gravados na sua cir-
curaferencia conio no apparelho receptor. A
manivela pode correr todos os pontes da cir-
curaferencia pondo em movimento uma roda
regularmente sinuosa, que, tocando n'alavan-
ca, faz allernativamente passar a corrente
electrica, e suspendel-a, eem cada movimento
d'alavanca o ponteiro passa d'uraa para outra
letra.
Os fios que transmittem a corrente electrica
nos telegraphos de Fran?a e d'outros paizes
sao collocados sobre postes a prumo de altura
de seis a nove metres acima da superficie
do terrene e a distancia de BO a 60 metres, e
cravados na terra pelo menos dois metres.
Os postes sao injectados com sulfate do cobre,
para durarem mais tempo, e que Ihes da a
cor verde, que apresentam. Sobre cada prumo
ha um pcqueno apparelho de porcellana em
forma de sine para segurar o (io e o isolar;
eniprega-se a porcellana por serraau conductor
da eleclricidade: uma pequcna forquiiha de
ferro soldado no apparelho de porcellana
sustenta o fio.
Os lies gcralmente usados sao de ferro
galvanisado de 4 melimetros de diametro;
quando elles passam debaixo d'algura subter-
raneo, cobrem-se com uma camada de gulta
percha, ou introduzem-se 'num tubo de chumbo
para evitar a humidade, que ataca o ferro.
Nos paizes era que os postes sao substituidos
por canos subterraneos os fios devem ser
duplioados ou triplicados e cada um de per
si involvido em gutta-percha.
Telegrapho <Ie lec-lado. Este telegrapho
elcctrico, de que M. Froment e o inventor,
substitue com grande vantagem os telegraphos
de quadrante, que temos descripto summaria-
mente. 0 seu machinismo interior nao pode
descrever-se sem entrarmos em particularida-
des technicas, que nao vera ao nosso intenlo
expor aqui, mas a maneira porque este ap-
parelho funcciona pode facilmente comprehen-
der-se.
Compoe-se este telegrapho d'um teclado
rectilineo com vinte e cinco teclas, como o
d'um piano de quatro oitavas. Sobre cada
uma das lecla.s esta gravada uma das vinte e
cinco letras do alphabeto, e por baixo da
letra A ate a letra J estao gravados seguida-
menle os numeros de 1 a 9 ; debaixo da
letra A esta o numero 1 e debaixo da letra
J a cifra ; na exiremidade do teclado eslao
dois signaes um para indicar quando se falla
com as letras, e nutro com os numeros ; assim
por exempio pode transmit(ir-se a seguinte
conimunicacao: sao 4 horas menos 11 miimtos,
sem escrever todas as letras d'aquelles nu-
meros, mas exprimindo-os por cifras.
0 que transmitte o despacho carrega com
0 dcdo na tecla, que representa a lelra, que
elle quer exprimir, e o ponteiro lixa-se im-
mediatamente no quadrante sobre a letra cor-
respondente. 0 que recebe o despacho, olhando
para o seu quadrante, vai escrevendo no
papel as letras, que o ponteiro Ihe vai suc-
cessivanienle indicando, e so toca no teclado,
quando quer responder. Por este processo
um despacho transraitte-se como quem toca
no piano uma peea de rausica. 0 operador
deve porem, ter cuidado de nao levantar o
dedo d'uma tecla sera ([ue o ponteiro esteja
120
tino na letra corrcspondentc no quadranlt',
do me?mo modo, que tocando-se 'num orjiao,
ou 'iiiim harmonium so nao dove levanlar a
mac das lechis simu quc^ cllas tcmham expri-
mido tim som prolongado.
EstP ingenhnso apparellio nao e susceptivcl
dc desarranjar-se, e a rapidcz da communica-
<ao (' tal, que para cscrcver um despailio
iransmiltido com presteza, c prociso muita
practira, c expudicao da parte do ((ue o
re(:el)e.
Na ordem dos lelegraplios nao escrevenles
o de Fronient teni incoulcstavel superioridade
a todos OS rcspeilos, e nao p6de com hons
fundanientos justilicar-se a conservacao em
Franra dos tclograplios dc Breguet, no servico
da telegrapliia do eslado.
Por isso 0 governo francez conievou ja
a cstabelecer 'nalgumas linhas telegraphicas
o lelegrapho de teclatlo de Froment, que em
breve substituira completamenlo os de Breguet,
niachinista alias mui habil e distincto.
Coiitiiina.
CniMICA LEGAL.
Continuado de pag. 83.
Analyse do eslomago, inlestinos c outras aubstan-
cias, mandadas do concellio de Ovar cm cinco
fiascos.
k materia suspeita, mandada de Ovar para
esta comarca de Coimbra, viuiia acondiciona-
da era 4 frascos de vidro, com a numeraoao
seguida de 1 a 4, e n'um frasco de barro
sem numero. No frasco n.° 1, vinlia uma
jiorcao de intestines dclgados; no frasco n.°
*, todo 0 estomago; no frasco n." 3, um
liquido avermclhado e turvo, composto das
materias que havia dentro do estomago; no
frasco n." 4. uma porciio de caldo com larinha
ou pao de miilio.
As sul)stancias d'estes 4 frascos vinhani
conservados eni alcool.
0 frasco de barro cnnlinba bocados de
substancia dura, em secco, quefnziam k^mbrar
codoas de pao, misturadas com lixo, terra,
e ate com espinbas de peixc.
L'raa parte dos intestinos delgados do frasco
n." 1 foi carbonisada com acido sulfurico; o
carvao humedecido com acido azotico; c, depois
de evaporado ate a seccura, foi fcrvido em
agua distiilada por mais d'uma bora. Filtrou-
se e p6z-se-lbe a designacao a.
Uma porcao do estomago do frasco d.° 2
sujeitou-se ao mesmo processo e poz-se ao
liquido a designacao b.
Uma parte do li([uido c mais substancias
do frasco n.° 3, depois dc cvaporada ate
quasi a seccura, sujeitou-se ao mesmo pro-
cesso de carl)onisacao, licando o liquido iinal
com a designacao c.
Ainda scguimos o mesmo processo para
carbonisar parte do pao contido no frasco
n." 4; c pozemos ao li(|uido a designacao d.
As substancias coutidas no frasco de barro
foram fcrvidas em agua distiilada por mais
d'uma hora ; e o liquido, depois de liltrado,
guardou-se com a designacao e.
Estes cinco liquidos, sujcitos ao apparclho
de Marsh, deram anucis no tubo e manchas
na pnrcellana, cxcepio o liquido d, prove-
nientc do ]iao contido no frasco n." 4, que
nao mostrou o menor indicio d'estes anneis
ou manchas.
As manchas dos liquidos n, h offereceram
a cor aloirada e o brilho metalico caracle-
ristico das manchas do arsenico ; e nas
manchas dos liquidos c, e, apparecia a cor
acinsentada e uma porcao sem brilho, como
defumada, que se ve nas manchas de antimo-
nio, deixando-se ver, na parte inferior das
manchas e aos lados, a cor e o brilho proprios
das manchas arsenicaes.
Uecebida a chama dos liquidos a, b, c, e
na extremidade d'um tubo aberto, formou-se
logo adiante um annel aloirado e brilhante.
Este annel, a([uecido a lampada de alcool,
desapparect'U, e foi depositar-se cm forma de
p6 branco na outra extremidade do tubo,
sahindo ao mesmo tempo vapores brancos,
sem cheiro, ou com um cheiro aleacco (juasi
imperceplivel.
Collocado, por cinia da chania dos liquidos
a, b, c, e, um bocado de porcellana humedecida
com azotato de prata ammoniacal, tomou
logo a cor amarella do arsenito de prata.
Exposta sobre a chama dos liquidos a, b, c, e
uma gota d'agua distiilada 'numa vara de
vidrs, e levada depois a uma uissolucao de
azotato de prata ammoniacal, prodnziu a
mcsma cor do arsenito de prata.
A chamma do apparelbo, proveniente dos
liquidos rt, b, c. e, cahindo 'numa dissohicao
de sulfato de cobre ammoniacal, produziu o
verde proprio do arsenito de cobre.
A chama do hydrogcneo, acluaudo sobre
as manchas dos li((uidos a, b, fel-as desap-
parecercom promptidao; e, sobre as dos liquidos
c, c, fez tambem desapparecer com promptidao
0 que era aloirado e brilhante, levando mais
tempo a desapparecer a parte defumada, c
mesmo alguma parte brilhante mas denegrida.
Tanto umas como outras desapparccerani
cgualmente com os vapores do chloro.
Os vapores do phosphoro lizeram desap-
parecer totalmcnte as manchas dos liquidos
a, b, e so em parte as dos liquidos c, e.
Os vapores do iodo deram a todas a c6r
amarella avermelhada ; mas esta cor desap-
pareceu com promptidao, e a um calor brando,
nos dois licjuidos n. b, levando muito mais
121
tempo a dcsapparecer; e so com um calor forte,
as dos liiiiiidos c, e.
0 acido azotico a frio dissolveu logo as
manehas dos liquidos a, b; mas as dos liquidos
c, e so se dissolveram na parte niais aloirada
e brilliante, indo-se dissolveiido o resto do
vagar e ao passo que se aqiieciam ; e assim
mesiiio ainda licou por dissolver uma parte do
que parecia defumado.
Adissoliiraoazotica das manehas evapnrada
ate a seccura, e tractada pcloazotato de prata
ammoniacal, antes de ter arrcl'eiido total-
mente o hoeado de poreellana, mostrou logo a
cor amarella. TeniJo laneado na dissolueao
azotiea das nianelias algumas gotas d'aeido
sulfuroso, e traclando-a depots pelo aeido
sulphydrico, appaieceu inimediatamente a
mesnia edr amarella.
O.residuo da evaporaeao da dissolucao
azotiea das manclias dos liquidos a. b, c, e
dissolvido em agua dislillada, ligeiramente
acidulada com aeido cidorydrico, e exposto
a uma correnle do acido sulphydrico, deu,
passadas 24 horas, um precipitado amarcilo
cauario. Uma parte d'este precipitado, sujeito
a accao do amoniaco, pareceu dissolver-se
completamente ; e a outra parte, tratada pelo
acido chlorhydiico e sujeito a um calor hrandu,
cao sofl'rcu alteracao sensivel.
Os anneis dos liquidos a, b eram brilhantes
e amarcllados; em quanto que os proven ien-
tes dos liquidos c, c cram d'uraa edr de
cbumbo denegrida, quasi sem brilho, e muito
raaiorcs que os primeiros.
Sujeitos a uma corrente de gaz acido sul-
phydrico e a([uecidos com a lampada d'alcool
do lado opposlo a direccao do gaz, formou-se
adiante da chama o aunel do sulfureto, d'um
amarello cauario muilo desvanecido nos anneis
dos liquidos n, b, c um pouco mais tostado
nos anneis dos liquidos c, e; e notando-sc
'nesies uliimos uma zona menos intensa, que
separava dois anneis mais carregados de sul-
fureto, sendo o menos dislante um pouco
mais tostado do que o outro.
Fazendo depois atravessar pelos mesmos
luhos uma corrente de gaz acido chlorhydrico,
nao sollreram alteracao os anneis do sull'iirelo,
ou apenas diminuiram um pouco de intensi-
dade; mas, empregando o mesmo acido liquido,
dissolveu-se uma parte muito mais sensivel
de todos OS anneis era todos os tuhos. Lavados
com agua distillada, e sujeitando-os depois
a amnioniaeo liquido, dissolveu-se com promp-
tidao a parte dos anneis que tinha resistido
ao acido chlorhydrico. Em lodos estes ensaios
se notou (|ue a parte dissolvida pelo acido
chlorhydrico, nos anneis dos liquidos c, e,
era proporcionalmente maior que a dos li-
quidos a, b.
Corao reagentes sobre os liquidos suspeitos,
erapregiimos o sulfato de cobre ammoniacal, o
azotato de prata, o azolalo de chumho, o
sulphydrato ammonico, o acido sulphydrico,
a agua de cal, a potassa, e o amraoniaco. De
todos estes reagentes, so derani resultados
coherentes com os do apparelho de Marsh
0 suH'ato de cobre ammoniacal, que produziu
um precipitado com a cor verde do arsenito
de cohre no liquido b, e\ a sulphydrato am-
monico, que deu no liquido c um precipitado
com a cor amarella do sulfureto de arsenieo;
e 0 acido sulphydrico, que, nos li(|uidos6, c, e,
deu grande precipitado amarello cauario,
solnvel no animoniaco, e iujoluvel no acido
chlorhydrico, e, se alguma porcao deixou de
ser dissohida no 1." reagente e o foi no
1.°, era relativamcnle tao pequena, que nao
se tornou apreciavel. No li(|uido a era mais
desvanecida a cor amarella com o acido
sulphydrico eo precipitado muito menor; mas
lamhem se pode conheccr a sua prompta
soluliilidade no ammoniaco.
Como 0 liquido rf, da substancia conlida no
frasco n.° 4, nao tinha mostrado os indicios
de veneoo que apparcceram em todos os mais
liquidos, repetimos o mesmo processo de
destruicao d'esta substancia, operando 'numa
retorta com o collo mergulhado em agua.
Sujeilamos ouira porcao da mesma substancia
a ehulicao em agua dislillada por mais de
2 horas, e tamhem dentro d'uraa retorta
com 0 collo mergulhado era agua. Ainda a
sujeilamos ao processo de destruicao por
meio da agua regia, mettendo uraa porcao
de materia suspeita, com egual pezo de agua
regia nascente, 'numa retorta coramunicada
com um frasco vasio e constanteraenle rel'ri-
gerado cora agua, e este frasco coramunicado
com uma pequena camada d'agua dislillada
no fundo d'um segundo frasco, que termi-
nava superiormente por um tubo de \\'elter,
em cuja curvaUira tamheni se achava agua
distillada. A lampada de alcool, favorecendo
primeiro a destruicao das materias organicas
na agua regia, fez depois distillar o li(|Hido
da relorta ale o deixar reduzido a vigesima
parle pouco mais ou menos, aproveitando-se
a linal o liquido distillado, que se raisturou
cora a agua do segundo frasco e do tubo de
Welter.
Todos OS liquidos ohlidos por estes trez
processos preparatorios forani sujeitos ao ap-
parelho de Marsh e aos reagentes que ti-
nhara indicado o veneno nos liquidos a. b,
c, e, sem que niostrassem o raenor indicio,
d'aquelle veneno. Alera d'isso ainda o liquido
que resullou do processo de destruicao por
meio de agua regia, foi sujeito a uma cor-
rente de acido sulphydrico, que deu e verda-
de um precipitado amarello, raas que se reco-
nheceu ser so de enxofre, e niJo de sulfureto
de arsenieo ou de antinionio, por que o ani-
moniaco nao Ihe dissolveu porcao nenhuma,
nem o acido chlorhydrico.
De todos estes processos conduiraos ([ue
122
sc achavam cnvenenadas com arsenico as
substancias contidas nos frascos 1, i, 3, e no
fiasco de barro, isto e, os intestinos delga-
ilos, 0 eslomago, uni liquido avermelhado
com substancias parecidas com alimentos en-
contrados 'iicsla viscera, e iima mistura de
pao de milho muilo secco, espinlias de jieixe,
lixo, e outras substancias desconhecidas.
Que juntamente com o arsenico bavia tarn-
hem 0 tartaro emetico on outro composto de
antimonio, e em grande qiiantidade nas ma-
terias dos frascos H e o, c provavelmcnte em
l)cquena quantidade nas materias do 1 e 2
irasco. E que a quantidade do veneno en-
contrado no eslomago e intestinos, era em
proporcao sufticienle para tcr produzido a
iiiorte por envenenamenlo. Concluimos tam-
iiem que o pao fermeiUo, ou farinba com cal-
do, que se acbava no frasco n." 4, nao con-
linha arsenico nem antimonio, nem os seus
rompostos.
Uma parte das substancias analysadas ficou
guardada em frascos cintados e lacrados com
0 sinete do presidenle da commissao, e rubri-
cados pelo mesmo presidente.
Coritiniia.
A MUSICA.
0 gosto e 0 cnsino da musica tern feito na
primeira metade d'esle seculo grandes e in-
contestaveis progresses em Franca. A crea-
ciio do conservalorio, e da eschola de Cho-
ron ; o ensino dos elementos da musica pelo
methodo de Wilhem e de seus emulos, que,
se tern generalisado entre as classes opera-
rias; 0 grande movimento da musica drama-
tica, que dotou a opera dos Sponlini, dos
Rossini, e dos Meyerbeer; a opera comica
dos Cberubini, dos Mebul, Boieldieu, llerold,
e Auber; o theatre italiano dos Rossini, Bel-
lini, e Donizetti; os concertos da sociedade
do conservatorio, fundado i>or Ilabeneck, que
lizeram conliecido o talento de Beethoven,
e as obras primas da musica instrumental,
tern lancado no publico unia variedade de
conbcrimenlos e de formas divorsas, que
apnrando-Ilie o gosto, o tem tornado mais
severo, e cxigente na apreciacao dos talentos
e produccoes musicaes; e cis aqui porque os
curiosos da arte encontram hnje menos favor
nos concertos, que vao sendo cada anno
menos frequentados, ao mesmo passo que o
estudo da arte progridc, c que o numero e
(jualidade cos artistas distinctos em todos os
ramos de musica vocal c instrumental attesta
0 subido grau de perfeirao que ella lem alcan-
cado era Franca e noutros paizes. Podera
cilar-se entre os cantores francezcs Garat,
Martin. Ponchard, Nourrit, Levasseur e Du-
prcz; na ordem das cantoras Branchu, Damo-
reau, Falcon; no thcatro italiano Crivelli,
Garcia, David, Rubini, Mario, Pellegrini,
Galli, Zucchclli, Lablache; entre as cantoras
Barilli, Catalani, Pasta, Sontag, Malibran,
Grisi, Persiani, e Alboni.
Os violonistas, que tantas relacoes de pa-
rentesco ligam aos cantores, nao tiim sido
menos numerosos: Viotti, Bode, Lafont, Bail-
lot, e Paganini s3o £rtistas de primeira or-
dem, a que so podera comparar-se como pia-
nistas Sleibeit, Dussek, llerz, Listz e Thai-
be rg.
0 estudo do pcqueno rabecao, e dos diffe-
rentes instrumentos de sopro tem feito as-
signalados progresses. A tbeoria e a historia
da musica tem sido tractada magistralmente
por Choron, Perne, e principaimente por
Fetis, distinctos e eruditos escriptores, que,
cstudando os raonumentos das epochas ante-
riores, t6m mostrado a relacao das formas
contemporaneas com esses antigos modclos.
No meio porem d'este brilhante concurso
de intelligencias superiores, de artistas de
relevantc merilo, de talentos raros, cujas
sublimes produccoes e primorosa execujao
enlevam o espirito e arrebatam a attencao ,
uni grande numero de curiosos, sera gosto,
nem arte, tera invadido os dominios da mu-
sica, e, animados pelos mal entendidos ap-
plausos da imprensa periodica, tem querido
impdr ao publico como obras primas da arte
as suas mesquinhas composicoes, nao sendo
mais felizes na execucao das pecas dos me-
Ihores auctores, de sorte que nao raro accon-
tece nos grandes concertos ouvir ou raas com-
posicoes, ou excellentes rausicas mal desem-
penhadas por simples curiosos, que uma
ephemera reputacao apregoa como artistas
consummados, e por ventura corao genios
transcendentes.
Tal e 0 resultado da falsa aprcciac.io das
obras artisticas feita por escriptores ou estra-
nhos a arte, e que exprimem so a sensafiio que
experimenlaram, ou a do publico, tao pouco
entendido como elles; ou dos que, tendo al-
guns conhecimentos da musica, fallam dos
auctores e das suas composicoes, como se
foram grandes sabedores, exaltando-os, ou
deprimindo-os segundo a sua ])hantasia, ou
OS seus interesses. E este abuse, de que desde
1830 a imprensa periodica em geral lem dado
0 pernicioso exemplo, conduz inevitavelraen-
te a decadencia da arte. Entretanio d'estas
duas classes de pseudo-criticos a menos peri-
gosa, e de certo a raais conscienciosa, e a
d'aquelles, que se limitam a exprimir as sen-
sacoes que Ihes causara a execucao de uma
peca de musica, ou o elfeito que produzira
na maioria dos expecladores.
A sensacao e um facto, cujo valor e mister
averiguar, e cuja causa e neeessario desco-
brir ; mas para achar a causa e assignar o
valor do efl'eito que produz uma peca de mu-
123
sica, nao basta saber musica, e precise co-
nhecer o « passado da arte » porque elle in-
flue, e prepondera sobre as nossas aegOes
como uma atmosphera moral, que nos cerca
desde que abrimos os ollios a luz da razao ;
e se, como diz Leibnitz, o conbecimento das
obras priraas reconbccidas taes, e a sua tra-
dicao « sao os ciemenlos de que se compOe
0 progresso do future era todas as cousas, »
esta tradicao e absolutaraciUc necessaria para
julgar as obras da arte musical.
A musica e de todas as artcs a que mais
profundaraente nos toca, dirigiudo-se primei-
ro a nossa sensibilidade physica antes de
transformar-se 'num senlimento d'aluia; so
ella tem o condao de penetrar ate ao niais
intimo da vida; e aquelle que nao csliver
bem ao facto dos termos de comparacao e dos
principios, (jue explicam o seu valor, podera
ficar arrebalado pela primeira nota nova, que
ouvir; mas scm aquellas disposicoes, dilficil,
se nao impossivel, e ciassilicar as nossas sen-
sacoes era relacao a musica, e assignar-lbes
0 compctente logar na ordem dos conbeci-
mentos, ponpie de todas as sensaeoes as raais
difficeis de ciassilicar sao as que em nos ex-
cita a musica.
Vaga em seu objecto, quasi tao rapida co-
mo a luz, a musica nao deixa apos de si no
espirito ligacao alguraa que Ibe permitta medir
a sua prolundeza e verdade. L'm antigo escri-
plor notara, que se dizia « que os olhos me-
reciam mais conlianca, que os ouvidos, no
que nao punha duvida, mas que sobre ludo
era mais dillicil de os persuadir, e que para
convencel-os era necessario um maior grau
de evidcncia. Os olhos beam litos sobre um
objecto; mas as palavras que soam aos ouvi-
dos cadentes e barmoniosas podem scduzii-os
e desvairal-os. »
Estas palavras resumem precisamente a
questao, que em sens problemas Aristotelcs
propozera. "Porque, dizia elle, so as sensa-
eoes do ouvido produzem uma impressao mo-
ral, era quanto a vista, oolfato, e ogosto nao
produzem um Lai efl'eilo? n Esta questao pby-
siologica e psycbologica foi o assumpto da
notavel obra de Lessing, o Liiocoon.
Todavia a musica, como todas as outras ar-
tes, tem seus principios, e suas leis tanto na
ordem mcllodiosa, ou da successao, como na
da simultaneidade ou d'barmonia. Mas onde
poderao cncontrar-se estes prijicipios de uraa
arte tao fugitiva, eque tao niysteriosa parece?
Duas sao as fontes que Hies dao origem: pri-
meiramente a tradicao, a bistoria dos proces-
ses e das formas, que nos tern prccedido, e o
estudo dos monuraentos: depois a natureza
humana, invariavel na sua essencia. A litte-
ratura, a poesia e todas as outras arles nao
foram buscar 'noulras fontes a sua filiacao, e
OS tiliilos que as nobilitam. A psycbologia e a
historia, isto e, o estudo das nossas faculda-
des, e dos factos externos, que sao o resulta-
do do seu desinvolvimento no tempo, e no
espaco, sao os verdadeiros mananciaes dos
conhecimentos, onde a arte musical foi tam-
bem buscar os principios per onde se rege.
Onde existem, porera esses monumentos da
arte musical, (jue e indispensavel tonhecer
para avaiiarmos com exactidao as composi-
coes conteraporaneas? Os muzeus, as biblio-
thecas, e as eseliolas possueni os mais pre-
ciosos e admiraveis monumentos, as obras
priraas da piniura, da escullura e da poesia.
lla curses piiblicos consagrados ao ensino
dos diversos ranios da litteratura e das bellas
artes, da sua bistoria, e dos seus monumen-
tos; e a comparacao cntre as raodernas pro-
duccOes, e esses primores d'arte, que a antigui-
dade nos legara, corrige os erros gro.sseiros
de uma critica ignorante ou parcial, que ora
condenina, ora exaica as obras dos auctores
conteraporaneos,
A tradiciSo da musica moderna compoe-se
da reuniao de duas grandes escholas, que sao
a expressao de duas racas de genios muito
dilTerentes: a eschola italiana, e a alleraa. Por
Cimarosa, Rossini, Jomelli, Scarlatti e Caris-
simi sobe-se ate ao Ihrono de Palestrina, que
termina a meia edade; por Gumpeltzbeimer,
Ilasler, Keyser, Sebastiao Bacb, Ilaendel,
Haydn, Mozart, Beethoven, Weber, Schulbert
e Mendelssohn desce-se ate Meyerbeer, que
domina o confluente d'estes dois grandes rios.
Anteriormente a Palestrina, desde o fim do
seculo XIV ate a segunda metade do seculo
XVI uma numerosa familia de contrapontistas
belgas, de que o mais celebre fdra Jozquin
Despres , occupa um logar importante na
historia da musica, durante esta cpocha;
pbenomeno notavel ainda nao sulScientemen-
te explicado. Entre a eschola allema e a ita-
liana, as unicas que sao autochthonas, e ver-
dadeiraraente originaes, tem logar a de Fran-
ca, cujo genio cssencialmente dramatico so
tem procurado 'naciuellas duas grandes escho-
las as inspiracots rausicaes, que serviam aos
seus instinctos; e e por isto que a eschola
franceza se aproxima raais da italiana que
d'allenia, e os seus trabalhos sao uni syncre-
lismo um tanto parcial do genio do Norte e
do Mcio dia.
Se estas ideas, que apenas enunciamos
aqui, fossem professadas em curses publicos,
cuja necessidade e de todo o ponto reconhe-
ci(ia, uma falsa critica nao faria publicar
diariamente os mais grosseiros erros sobre
as diversas composicoes da arte musical.
A intervencao dos compositores de rausicu
na imprensa jornalistica tem concorrido tam-
bem, era nao peguena escala, para desauclo-
risar a critica moderna. L'm musico dotado
dos conhecimentos e da instruccao necessa-
ria para expressar convenientemente o seu
juizo sobre (jualquer coraposicao, ou acerca
124:
da sua oxecuvao. (iiflicilmcnlc o podcria fazer
coin a imparcialidadc, (iiie iima sevora critka
exige. porqiie pola mcsma natuieza das toii-
sas 0 artisla creador k soiiipie cxclusivo, c
iiao da valor senao a forma, que e a cxprcs-
siio da sua individualidade. « Eu nao goslo
sciiao da minlia nuisica, dizia ingciiuaincnU'
GiTtry, porquc e obra miiiha. » 0 inlinio
pensamcnto do todos os compositores e cstc;
(' (]uanto maior lor o si'u talcnlo, em mais
suhido prcro hao de tor n I'rurlo das suas
liicubraroes. \ hisloria a cada passo apresen-
la cxi'inplos de injuslissiiuas i-riticas dos mais
distiiictos arlistas contra os contemporaiieos
seus emulos, \ prnposito de iiin quadro de
Ticic-no dizia Miguel Aiigelo: « E grando ]jena
quo niio liouvcsse cm Veneza quern soiiliesse
desenliar. » Com egiial iiijustiea lieellmvon
Iralou Rossini; e Maendol dissi- .< cjuc (lIuiU
nao saliia mais musira, que oseu cosinlieiro. »
« 0 verdadeiro artista apaixonado pela sua
arte, dizia Stendhal na hixtoria ihi finturu
italiana , e essencialmente intoleranle e se
tivesse na sua mao a aucloridade, scria um
despota. » h. qualidado opposta e a que preci-
fiamonte constilue a verdadeira critica. A im-
pcrsonalidade, a aplidao para compreheader
e admirar as obras diversas dos divcrsos ge-
nios, assignando-llie o logar que Hies compete
no grande livro da vida, tal (i o verdadeiro
caracter da critica, como a exercerara Schle-
gel, Grimm e Diderot; e sem estes elementos
a critica da musira moderna longe do apcr-
feicoar a arte, ecorrigir as suas impeneieocs,'
concorreni para a sua decadencia.
A.
RELACAO
Uos individuos nomrados para os se(]>iliiti's Ingarrs
il'instruccaa publica. por drspaclws do Coitsr-
Ihn superior d'inslrucfuo piiblicn dcsde o dia 13
all' an fun de jiilho, e bem asiiin por decrelos e
portarias do Ooverno, communicadas ao mesmo
Consdho superior no indicado periudo.
i.\sTniir.(;AO pnuiiiiiA.
Joaqiiim Lourciro ScrraiKi, para profossiir
ti-mporario da cadeira d'Olhalvo, dislricto de
l,isboa.
Antonio dc Gouvea c Silva, para a de Vclla,
(lisiricto (la Guarda.
Jd.ao Caelano Percira de Sousa Pinto, para a
de I.oures, dislricto de Lisboa.
Joao JIamiel da Conceirao, para a de Alfun-
d.To, dislricto de Beja.
.loaqiiira Pedro Teixcira, para a d'AIdea de
(iiiies, dislricto de Faro.
Jose Joaquim Ferroira, para a de Canas de
Sabugosa, districio do Viseu.
Manuel Maria do Conto Albuquerque eCunha,
para a ilc Gradil, dislricto de Lisboa.
I.uiz Gaudcncio d'Almeida Benevides, para
professor snbslitiito da de Boucas em quanto du-
rar o inipedimenlo do proprielario.
Jose Uiiherlo dos Reis, para professor vitali-
cio da de Contevel, dislricto de Saiitarcm, por
decrclu dc 11 dejulho.
I.NSTRDCt.iO SECUNDARIA.
Jose Joaquim Fcrrcira Guimaraos, para pro-
fess'.r vilalicio da eadeira dc Arithmelica. Alge-
bra F.l( inenlar, Georaetria .Syiilbelica Klementar
0 Principios de Trigonomctria Plana e Geographia
Matbemnlica do Lyceu nacional do Porto, por de-
creto de IH de jnlho.
Antonio Auguslo de Figueircdo Andrade e
Silva, para professor temporario da cadeira de
I.atim d'Idanha a Nova, dislricto dc Castello-Bran-
co, por porluria de '2'.i de julho.
Bcspachos dictos desde o 4.° ate o dia fS
d'Ai/osto.
INSTRCC(AO PRIMARIA.
Domlngos do Carmo e Rego, para professor
temporario da cadeira dc Colmcas, distrieto dc
Leiria.
Jose Bernardo de .\yres, para a da Villa de
Terrcira, districio de Beja.
Jose Dias de Mesquita, para a de S. Joao do
Brito, dislricto de Braga.
Luiz Manuel dc Sa Vilhegas, para a dc Chaves,
districio de Villa Real.
Rodrigo Teixcira Pinto de Sonza, para a de
,\lvacoes do Corgo.
Jose Pircs das Neves, para a de Silvares,
distrieto de Caslellu-Branco.
Jose Candido da Silva, para professor vilalicio
da cadeira de S. Marliiiho do Porto, districio de
Leiria,
Klorcncio de Sonza Sanlos, para a de Gallcgos,
dislriclo do Porto.
Fernando Maria Percira Machado, para a dc
.Sandomil, distrieto da Guarda.
Alaria Emilia da Cunha, para mcsira de mc-
nin^ do Fiuichal.
IXSTBCCflO seccndahia.
Joaquim Freire de Macedo, para subslilulo das
cadeiras S.^ c 6." do lyceu nacional de Lisboa.
ALMANACK DE I'ORTL'GAL.
Para o anno dc 1855 pelo sr. Luiz Tr/ivnssos f'aldez.
O Alniiinack de Portug:al que o sr. Yaldez den a luz
ne presente anno, e sf;};uramente a obra mais cumjdeta
(|ue neste genero se tern publicado entre nos.
Os antiijus Almanacks, de que o ultimo foi o de 1825,
I'^ta^am mui lonj^e de abraiifjer as muitas ciiriosas noli-
cias que se encontram no do sr. Valdez.
E um livro mui util e interessante, e de que repeti-
das vezes «' necessario fazer uso; e seru muito para dese-
jai" (pie 0 A. nao desanime , proseguindo n«ts aiinos se-
jjuinles csta irajjortante publicarao.
Orf poucnse\<'mplares (jue restam d'este edicV acham-
se a venda na loja da im|trensa da uiiiversidade por 50O
reis.
?
njstititta)
.lORISAL SCIElNTinCO E LITTERARIO.
RELATORIO
Solti'c o cMtailo prcMcnip (la insiSi'iccrsio
pi^blira o partiJ-iiEai- do (>if>lD->c-)o u<l-
miiniNU-actDvo do FigiicSinl ciis iiaai'io
do I S55.
Conliniiado tie )'ag. 116.
CAPITXILO III.
Crtapao de novas escholas, c mcilior cotloea(ao
das cxistentes.
Segundo o men niodo de ver entendo que,
em regra geral, este dislriclo careee de trez
especies de escholas de ensino primario, —
urbanas, concelliias e ruraes.
Na capital do districto liavera — iinia escho-
la do 1." grau para meiiinas, oulra noctunia
para aduttos, e outia do "2.° grau para meiii-
nos. Os ordenados dos professores e mcstra
d'estas escholas, segundo as indicacoes do ca-
pitulo antecedente imporlaiao na somma 11-
quida de reis 352^100 per annum.
Em cada uma das villas ou cahccas de
toncelho, havera uma eschola do 1.° grau
para meninos, e uma eschola elementar para
meninas. E como, fura do concelho do Fun-
chal, ha so oito cnncelhos, as dczeseis escho-
las que tenho a honra de proporj custarfam
annuaimente ao ihesoifro-a 4uau'ti»;i..Ji!^Rida
de reis 1:728^000. -«•>-— '■^*^.- .-^ii"-*'
Em toda a freguezia rural, que reunir mais
de 200 creancas em edade de appreiider, ha-
vera uma eschola elementar para meninos,
cujo professor so lera ohrigacao de ensinar,
'numa sessao diaria, a ler, escrevcr, contar,
doutrina e moral christa. Ora as unicas fre-
guezias ruraes , que fora do concelho do
Funchal, estao 'nestas condicoes, sao, como
se ve do mappa n.° 2, dezoito. A despeza, que
tera de fazer o Ihesouro com as respectivas
escholas, sera a de reis l:94i^000 per an-
num.
A despeza, que presentemente faz o thcsou-
ro com as quatorze mas escholas que existem,
orca pela quantia liquida de reis l:66o^3i0.
Subtrahida que seja esla quanlia, da impor-
tancia total de reis 4:224^160, que tera de
Vol. IV. Setembro 1.°
custar 0 systenia d'escholas priniarias, (jiie
tenho a honra dc propdr; segue-se que urn
modico augmento de despeza, na importancia
de reis 2:bS8^820, seria sutliciente para do-
tar este paiz com um mais perfeito systema
de escholas, a saber:
Uma do 2." grau para meninos,
que fara tambcm as vezes de
eschola modelo ou normal . . 222|i080
Uma nocturna para adultos . . 222^080
Uma do 1.° grau para meninas 1(
Oito escholas do 1.° grau para
meninos
Oito dictas elementares para me-
ninas 864^000
Dezoito dictas elementares para
as freguezias ruraes, que reuni-
rem mais de 200 educandos . 1:944^000
Sao, ao todo, 37 escholas, que
custam ao thesouro 4:224^160
Case porem os apuros do thesouro nao
permittam realisar desde ja oste accrescimo de
despeza, sera forca supprimir as oito escholas
elementares de meninas, ou por a cargo das
respectivas municipalidades a despeza com os
ordenados das mestras. Em todo o caso, sao
864^000 reis, que deduzidos da importancia
de reis 2:ao8^820, reduzem o accrescimo de
despeza para o estado a insignificante quan-
tia de reis 1:694^820.
Afora a insignificancia do angmento de
despeza para o systema de escholas priniarias
que tenho a honra de proper, ainda outra
razao ha para que o governo de Sua Majesta-
de nao denegue a este paiz a creacao de
mais 23 escholas: — essa razao e a cquidade,
que 0 governo como pae commum deve ter
para com todas as povoacOes do reino, segun-
do a grandeza e importancia politica e eco-
nomica de cada uma.
No continente do reino nao ha nenhum
dislricto administrativo, por mais pequeno e
obscuro que seja, que nao tenha mais de
quarenta escholas priniarias. E ao passo que
0 districto de Yiseu conta 120, o populoso
districto do Funchal, cuja capital e a tercei-
ra cidade do reino, nao tern mais que 14
escholas priniarias — apenas cinco escholas
— 1853. Num. 11.
126
mais, que o obscure districlo da Ilorta! . . .
A injustica salta aos olhos.
No coiitinenle do reino, para unia povoa-
eao de 3.412;500 almas, ha 1;11G escliolas
priniarias. No dislricto do Funchal, jiara
uma povoariio dc 10i);000 almas, ha so 14
escholas piihlicas! Sc o quo a justica |)odc
e que 0 governo cuide eyuidmenle da institic-
cao primaria de todas as povoacoes, a relarao
que ha enlre a povoarao do (•ontinente do
reino, e a d'este dislricto administralivo,
exige que nelle haja nada menos que V.)
escholas — numero superior ao do syslenia de
escholas que proponho.
CAPITULO IV.
Custeamento das escholas.
Em vao teria o estado I'eito um esforro
para crear 37 escholas onde ate agora so
havia 11', se por outro lado nao provcsse
acerca dos meios requeridos pelo custeamento
d'ellas. Crear uma eschoJa nao e so pagar o
ordenado do professor; e alem disso, estabe-
lecer um local proprio para ella; 6 fornecer
este local da raobilia e utensilios indispcnsa-
veis para os diversos exercicios escholares.
Eis-acjui uma nova verba de despeza ; se o
estado a nao pode tomar a sua conta, releva
que a ponha, de um modo elBcaz, a cargo
das respectivas municipalidades,
Ja a este respcito alguma cousa fizera, no
capitulo 1.°, 0 decreto regulamentar de 20
de dezembro de 1830; mas fizera-o d'um mo-
do tao equivoco, e — para assim dizer — meti-
ruloso, que nenhuma municipalidade tem lo-
mado taes provisoes cm conta de preceptivas;
nenhuma tem d'ellas induzido obrigacao, em
que esteja, de fornecer as escholas piihlicas
do respectivo concelho, casa, mobilia, e mais
utensilios de que carecam para o servico
escholar.
Entendo portanlo, que a doutrina do ci-
lado capitulo, cumpre enuncial-a de um mo-
do mais positivo, elaro, e terminante, para
que d'uma vez se ni|ue entoudendo <iue e
essencialmente obrigatoria toda a despeza que
hajam de fazer as municipalidades, com a
casa, mobilia, utensilios, e mais custeamento
das escholas piihlicas. E por isso rogo ao
conselho superior que no decreto, com que
houvcr de, a este respeilo, omendar o que
vigora, faca inlroduzir, do modo que mais
convenha, as seguintes prescripcoes;
1." 0 commissario dos estudos enviara,
todos OS annos, antes do mez de mar^'o, ao
presidente de cada uma das camaras munici-
paes do sen districto, orcamento documenta-
do da despeza que haja de fazer-se com o
custeamento das escholas do respectivo con-
celho.
2.' 0 presidente recebera o orcamento, c
consignara o montanlc da despeza d'elle na
classe de despezas obrirjatorias do projeclo de
orcamento municipal, que tivcr de appresen-
tar a camara no devido praso.
3.' Approvado que seja pcia camara e pelo
concelho de districto o orcamento municipal,
lica auctorisado o presidente para niandar
I)roceder ii despeza requisitada, salva qual-
quer economia (jue possa fazer-se scm prejui-
zo da integridade da requisicao do commis-
sario.
CAPITULO V.
Frci/uenrid das escholas.
Fora ahsurdo que o estado creasse escho-
las, que provessem ao custeamento d'ellas as
municipalidades; e que a mingua de frequen-
cia deixem de realisar-se as vantagens, que
por Ventura aconselharam o sen cstabelecimen-
to. Para que tal uao acconteca, e mister col-
locar ao pii das escholas creadas, taes meios
de proteccao e amparo, que promovam e cau-
cionem a sua maior frequencia.
Varies sao os meios estabelecidos para este
fim pelo decreto de 20 de septemhro de 1844.
Aqui porem so apontarei dois, — um directo,
— e outro indirecto, que eu desejara ver mais
fortalecidos, para obrarem mais eflicazmente
na frequencia das escholas piihlicas.
0 meio indirecto a que alludo, esta no
artigo 33.° do citado decreto. Se a lei deda-
rar, e o poder executive licar entendendo por
uma vez, « que e exemple do recrutaniento
para o exercito e armada tedo o individuo
([ue souber ler e escrever, em quanto houver
outros que o nao saibam, » cstou certo que
a frequencia dc nossas escholas ha de melho-
rar consideravelmente.
0 pove dos campos d'esla ilha tem tal asco
a vida militar, que tendo noticia d'aquella
j)romessa da lei, e chegando a convencer-se
da veracidade d'ella, cortara por todas as
dilTiculdades para mandar os filhos a eschola.
E necessarie pois que se de a maior puhlici-
dade possivel aquella disposicao da lei; e
necessarie que se intinie a todas as aucteri-
dades, que hajam de intervir no recrutanien-
to, tenliaui nuiile respcito a exenipcao decre-
tada em benelicio da instruccao de povo.
0 meio directo a que me reliro, e o que
se acha censignado nos artigos 32.°, 36.° c
37 do supracitado decreto. A lei moral im-
poe a cada chefe de familia a obrigacao de
educar ou fazar educar os sens lilhos. E,
come nao e indilTerente para a sociedade que
OS individuos que a cempoem, sejara bem ou
mal educados ; nao fara o estado um acte de
justica pondo ao servico d'aquella lei a sua
forca para a tornar effecliva? Faz certamente.
Ja se vi pois que eu qucro os meios com-
]27
pulsorios, que cslao na lei, para olirigar os
paes de familias a niandarom os filhos para
a eschola ; ma? qiiero esses meios com duas
condifoes: — a primeira (i que, so depois dc
exhaustos os meios de suasao, a elles so re-
corra; — a segunda e que, recorrendo-se a
laes meios, haja toda a liimeza c lenacidade
no seu empix'go. E para isso, parceo-me con-
venionte que a lei estaliia o seguinte:
1." Todo 0 cliele de familias (iiic, tendo
lilhos, OS nao mandar a eseliola piihlica, sera
obrigado a provar, peranle a aucloridade
competente, per que meios, e em que eslabc-
beleeimento particular laz dar a seus filhos a
convcnienle educacao.
2." I'ma vez uiatrieulado em esrliola pii-
hlica 0 lillio de qualquer eliefc de I'amilias,
incumbe a este justilicar as faltas dc I'requen-
cia que liver o educando; e, quando o nao
faca, podcra ser avisado pclo professor, re-
prehcndido pelo commissario dos estudos, e
ate posto em custodia pelo administrador do
concelho, a requisieao do commissario.
3.° Logo que um pae tiver matriculado era
eschola piiblica um hlbo scu, ja o nao podcra
tirar d'ella seni ter concliiido o seu curso de
instrucrao primaria. 0 que o fizcr, incorre
na mesraa pena em que iucorrera, se nao
maudassc o lilho a eschola.
4." Nenhum pae podera matricular o seu
filho cm eschola piiblica que nao seja a do
circulo de sua rcsidencia- — salvo se para isso
se dcr alguma razao, de cuja validade conhc-
cera o commissario dos estudos, ou algum
sub-delegado scu.
S." Para dar execucao ao artigo antece-
dente, sera mister dividir o districto em cir-
nilos de instruccao primaria. Ncnluim profes-
.sor publico podera matricular na sua eschola
educando cstranho ao circulo d'ella, sc nao
cm virtude de despacho do commissario dos
estudos.
Coiidusao.
Eis-aqui, Ex."" sr., o raal csborado rcla-
torio assim do que tenbo feito, como do mais
que, cm minha humilde opiniao, c preciso
fazer-se, para melhorar a instruccao piiblica
d'este districto, para a fazer emergir do estado
pouco satisfatorio em que se acha presente-
mente.
A pouca experiencia que ainda tenbo do
cargo que exercilo, de I'eito sera parte para
que este meu trabalho cbegue a presenca do
tonselho superior, nao cabal e completo, como
eu desejara. Mas se, nao obstante os senoes
que 0 maculam, houver 'nellc cousa que mc-
reca aapprovacao do conselho, equemcdiante
esta venha dar vigoroso impulso a cducacao
I e instruccao do povo da minha terra; eis-abi,
Ex."° Seuhor, a verdadeira paga e recom-
pensa a que aspiram os meus esforcos; por-
que hi quanto a gratificacao pecuniaria que
percebo, essa, far-me-ha V. Excellencia a
justica de acreditar que apenas cobre o mon-
tante das despezas de expedientc d'esta repar-
ticao; nao me babilita para pagar o servico
de quern me coadjuvc cm trabalhos de escrip-
ta; c niuito menos para fazer a visila annual
das cscbolas do districto, dc qualquer modo
que nao seja a niinba custa.
Deus guarde a V. Excellencia. Funcbal, 31
de Marco de ISiJS.
lll.°'"'e Ex."'° Sr. Y. Reitor da Universidade
e vice-presidente do conselho superior d'lns-
truccao Piiblica.
0 commissario dos estmlos.
M.ARCELLl.VNO RIBEIRO DE MENDOM:.^.
OS LUSIADAS.
Trnflucctio franceza.
Coutinuailo Je pag. 118.
LES LUSIADES.
Lues Dieux sont rassembles dans la cour Etheree,
lis reglent les destins des Enfants de Lusus.
Le redoutable Mars, la belle Cytheree,
Prot^pent oes puerriers detestes par Bacchus.
A travers les dangers d'une mer ignorce,
A Wossambique enfin ces beros parvenus,
Par de sanglanls combats signalenl leur audace
Et partaut de ces bords arrivent 4 Mombace.
CHANT PREMIER.
1.
Jc chante ces Heros fameux dans I'univers,
Qui dos bords eloignes de la Lusitanie,
Par de nouveaux chemins, sur denouvelles mers,
Porterent leur drapcaux jusqu'au lond del'Asic;
Qui bravant les dangers, surmontant les revers,
Aux plus nobles ttavaux consacrerent leur vie,
Et fonderent bicnlot, guides par les destins.
Un empire eclalaut dans ces climats lointains.
2.
Je vous evoquc aussi, memoires glorieusos,
Dc nos antiques Chefs, de nos valeureux Kois,
Qui domplant d'Ismael les hordes odieuses.
Rendilcs triomphants votre sceptre et la croix !
A jamais dans mes chanls que vos oeuvres fameuses
Survivent a la mort qui vous lient sous ses lois;
Et puisse le genie et le Dieu qui minspire
Rendrc dignes de vous les accords de ma lyre'.
Qu'on cesse de vanter les perilleux hasards
Des navigations et d'Ulysse et d'Enee
Que Ton n'admire plus les exploits des Cesars,
Ni du fameux vainqueur de la Perse etonnee ;
Je chante ces Heros de qui Neptune et Mars
Ont couronne I'audace a jamais fortanee!
Rentrcz dans le neant prodiges fabuleux,
Ma muse annoncera des fails plus merveilleux.
128
O vous qui m'inspirez, vous qui des moii jcuiie .ige
Remplites mon esprit des plus sublimes fcux,
Si jadis dans mcs vers, o Nayadcs du Tagc,
J'ai chaiile vos attraits, voire fleuvc el vos jeux;
Nc m'ahandonnez pas, animez iikju courage,
Dictez-moi des accents plus graves plus pompi'ux,
Alin qu'applaudissant a lanleur qui in'eulraino
On prefere voire onile .i celle d'liippcjcrenc.
All daigiiez m'iMsplrer uno divine ardenr,
Que ma cadence soil ct sonore el nombreuse,
Et laissanl a jamais le chalumeau reveur.
Je vais sur la trompelle cjiique ct lielliqueuse,
Qui fait p.'ilir le front en enflammant le C(eur,
Celebrer dignemeni ma nation fameusc,
El faire de son nom retentir I'univers;
Heureux si taut dc gloire apparllent a raos vers!
6, 7, et 8.
El vous donl le Soleil vient eelaircr I'empire
Aussltdt qn'il parail aux porles du malln,
Vous, qui sur vos filats le voyez toujours hiire,
Et que eel Astre cncor saluc ii son declin ■
O vous dont la vertn, dont le pouvoir inspire
line terreur fatale an barbare Africain,
Et qui par voire nom, glacez deja de crainte
Les vils profanateurs de la riviere sainle,
9.
Daign
?nez lourncr vers moi ce regard de bonte,
Cc regard si touchant que I'univers conlemple,
Jcune encore il est vrai, mais plein dc la lierle.
Qui de la gloire un jour doit vous ouvrir Ic temple
Souriez a mes vers, a ma temcritc;
D'unc sublime ardeur j'ose donner I'exemple
En consacrant ma muse ainsi que mes travaux
A chanter mon pays, sa gloire et ses Heros.
10.
Ce n'est pas un vil prix que ma muse reclame,
J'as[iire a meriter des bonneurs etcrnels;
L'amour de la patric est le seul qui rn'onllamme,
A mes concitoycns j'eleve des aulels.
GrandRoi, lisezmesvers; pnissent-ilsdansvolreame
Graver de vos sujets les travaux immorlels,
Et vous prefererez, si le ciel me seconde,
L'empire d'un tel peuple a I'empire du monde!
11.
Je n'irai pas, cberchant des vaines fictions,
Imiler Ics efforts des muses etrangeres.
Qui voulant exalter leurs propres nations
Composent un tissi. de fables mensongeres;
Pourquoi mes chants, voues aux grandes actions,
Iraieut-ils inventer des fails imaginaires?
Le recit des exploits que ma muse enlreprend
Surpasse les hauls fails, que Ion prcte a Roland !
12, I.'), et 14.
P\iisse-je dignement celebrer sur ma lyre
Du premier de nos Rois I'heroiqne valeur,
La vertn de Moniz, que Dieu lui meme inspire,
Du fidele Fuas I'imperlnrbable cipur,
Et tant d'aulres heros que la patrie admire:
Nuno, du Portugal le fier liberateur,
Albuquerque I'effroi des peuples de I'aurore,
Les vaillanls Almeidas que le Tagc deplore !
IS.
Tandis que celebrant les fails de vos Aieux,
Ma muse h vous chanter et s'exerce et s'anime,
0 Prince, commenccz ce regne glorieux,
Qu'annonce au Portugal voire C(rur magnanimc.
Pour vous mes vers scront sans doule plus heureux.
Par vous delHelicon je trouvprai la cime;
Et la terre il'Afrique et la mer d'Orient
Piomel a voire nom un dcstin eclalanl.
16.
Ma muse voit deja la mine as.suree
El du Mahometan et du Maure pcrvers;
Deja le I'aicn tremble, et sa vue egarce
Sur voire jcune front croil lire ses revers.
Tlielis abandonnant sa demeure azuree
Permet a vos vaisscaux de regncr sur Ics mers ;
Et sensible a eel air et si jcune el si tendre,
■V'ous cede son empire el vouschoisit pour gendre!
17.
Ah je crois voir au sein de la Celeste Cour
De deux de vos Aieux les ames bienheureuses:
Vous inspirant dej.'i de leur brillant sejour
Un liesoiu devorant d'aclions glorieuses ;
Chacon d'enx, voit en vous revivre tour-a-tour
Son amiuir ]jour la paix, ses ardeurs helliqueuses,
lis V(ms gardenl Ions deux pour prix de vos verlus ,
I'ne place immortelle au temple des £lus !
18.
Mais landis que le temps av ance, ct qu'il s'apprcle
A remetlre en vos mains les renes de I'fitat;
Daignez, o jcune Prince, accueillir le pol'te.
Qui de ce peuple heureux veut celebrer I'eclat;
Chanter le Portugais qui brave la tempete
Intrepide niarin, intrepide soldal.
El qui, fier de servir son Prince el sa Patrie,
Fait resonner leurs iM>ras jusqu'aux rives d'Asie.
19.
Deja Gama, sui\i de ses fiers compagnons,
Du paisibic Ocean parcourt I'immense espace,
Le Zephyr, succudant aux fougueux Aquilons,
Des voiles mollement arrondit la surface;
La mer au ilevant d'eux entr'ouvrant ses sillons
Par ses notsecumants prolonge au loin leur trace;
Le nouvel Ocean n'avait jusqnes alors
Vu, que les seuls Tritons errer pres de ses bords.
Cantinua,
UMA YISITA A SERRA DA ESTRELLA.
Coutinuado tie paj. 10(5.
Como e possivc! que as liigoas, que estao
quasi nos pontes mais altos da scrra e esta
em tao prandc altura arima do nivel do mar
se commuiiiquem com ellc?
A higoa comprida e um vasto rcscrvalorio
Av agua, formado pola neve que se vai dorre- |
tendo, e que para alii conflue de muitos pon-
tos ; por alguns iiascentes que lalvez borbulhera
do fundo da lagoa ; por uma poquena correntc
d'agua que eperenne aleem tempo dceslio, e
129
pelas abundantissimas cliuvas, era que muitas
vezes se resolvem as trovoadas cm lodo o
anuo, e que alii sao medonlias e muito IVe-
quentes.
0 liigar e a perspectiva d'este grande lago
e verdadeirani(.'nte magustosa e CDcantadora.
Ca]iiinlia-sc para ellu de k'ste, desceiido
ura declivio jiouco oliliqiio, mas de mau iiiso,
por ser todo furmado por uma pedieira gra-
iiitica apertada e quasi como urn couliiiuo
lagedo. Esta ladeira, quu em muitas partes
so termina jiinclo as aguas do lago, tem cm
algiins sitios pequciios degraus e outras pas-
sageus difliceis, mesmo na primavera, pela
graiidc qiianlidadc de gelos, que se consoli-
dam com as pcdras, c poi- onde assim raesmo e
necessario aliiir caminho. Aiuda no mcz d a-
gosto apaiecciu cm mais de um sitio alguns
restos dos gelos do invcrno. D'aqui se ve que
por estc iado de oesle loda a agua que sai da
neve cm toda a extensao do mesmo declivio
e directamcnle trans[iortada para a lagoa
coniprida. Esta, porem nao comeca a ser
visivel dcsde o principio da ladeira, porque
fica um pouco jiara o sul. A. lagoa podera
ter em todo o scu ecmprimcnto meia legua de
extensao, e a sua niaior largura em algiimas
partes equivale a um tiro de lunda Jjcm I'eito.
Do Iado do norte a margera e montanhosa
e summameiite escabrosa, e os sens contornos
desonhados sobre a superlicie das aguas tran-
quillas do lago deixam vcr lambem muitas
rochas de diflicii accesso. Passando poicm
paraamargem es(]uerda da pequena corrente,
que disscmos conllue para a lagoa cumprida,
e subindo pela mesma margem, depois de
passar alguns degraus cavados na rocba,
tendo-se andado meio quarto de legua pouco
mais ou iiienos, clicga-se as bordas da lagoa
escura. Esta e de I'orma conica, e de lodas
as paries formada de lagedo conpacto, tendo
tambem em toda a sua cireuml'erencia a
mesma curvatiira e o mesmo declivio para
dentro, posto nao tenba a mesma altiira.
0 nive! das suas aguas sera 'numas partes
de duas varas e 'noutras de trcz, mas num
sitio principalmcnte, que e o mais proximo
da lagoa coniprida, ])ode d'alli lirar-se agua
commodamente com o braco, e como se sabe
que as aguas d'esta lagoa se descarregam
na lagoa coniprida, e tambem certo, que e
por esse mesmo sitio que este segundo lago
se lanca no primciro, quaudo as suas aguas
tem crescido pelas cbuvas e neves a ponto de
subircm o nivel na parte mais baixa da sua
margem. Como porem nao lica dominada por
elevacao alguma de terreno, nem a agua das
cbuvas para alii pode concorrerdc muito longe;
nem tambem esta poderia conservar-se em
tanta allura, qual a que pelo declivio das
suas margcns ou paredes interiores, e pelo
diametro na sua maior base, este lago prova-
velmente tem, e de crer que algum nascente
pequeno alii borbnlhara do fundo, concorrendo
com 0 seu cabedal para rompensar a evapo-
racao diaria da superlicie do mesmo lago.
Ainda que attravessaraos o caminbo que
da lagiia coniprida vai ate esta por um cal-
moso dia de agosto do anno lindo, a bora
mui adiantada da manba, gozavamos um
Iresco delicioso, como 'numa formosa manba
de primavera; 'ualgumas encostas, porem,
a calma incomodava-uos bastante, por que
ccssava alii a viracao da serra.
Em muilos logares ha ecbos multiplos muito
notaveis, que repetem depois de quatro ou
cinco segundos uma detonacao de t'uzil, e de
entao por diante ouvc-se um som de tal sorte
prolongado e repetido sem intervallo, que se
assemelba pcrfeitamente ao estampido ipie
acompanba o raio quando nao e esperado,
e a sua tal ou qual proxiniidade nos assusta.
Ve-se pois que o nivel das aguas da lagoa
escura esta mais alto que o da lagoa com-
prida; quanto ao nivel das aguas correntes
d'uma pequena ribeira, e dominado por uma
margem montanbosa.
A lag6a coniprida tambem se descarrega
por um despenbadciro que fica a oeste, e que
dii origem ao rio Alva.
Ua outra lagoa ainda menos notavel que a
escura, mas que a tradicao consagrou, sup-
pondo que 'nella fora albgada S. Antonina,
e que por isso conserva o nonie de lagoa da
piuxao, que com tudo se mudou no noma de
lagoa do Pachao. D'esta nasce o ribeiro da
Candieira que nao longe da villa de Manteigas
se preci|iita d'um elevado rocbedo lormando
uma vistosa cascata.
A lagoa do Pachao tem a mesma extensao,
pouco mais ou menos, que a lagoa escura que
pode ser attravessada diametralmente por um
tiro de pedra; e menos elevada, e estii cercada
por um prado para onde corre um pequeno
regato de agua.
Alencionaremos tambem outro sitio conhe-
cido pelo nome de Covao das Vaccas nao
longe das lagoas que descrevenios; eumvaslo
plaino, que se termina 'numa escarpada mon-
tanha, da base da ((ual sai o rio de L'nbaes,
que corre na direccao de sul, tomando desde
logo 0 nome da villa por onde vai passar.
Ciinlinuu. u. R. DE VASCONC'ELLOS.
NOVA ESCALA THERKIOMETRICA.
Na sessao d'academia das sciencias de Paris
de 23 de julho ultimo, M. Walferdin apre-
sentou a seguinte memoria sobre as difl'eren-
tes escalas thermometricas, hoje adoptadas,
na qual propOe uma nova escala, a que
deu 0 nome de ietrucentigruda, por ser di-
vidida em 400 graus.
130
« Das numerosas escalas thermonietricas
inventadas pclos physicos ha cento e eincociita
annos, trez unicamente estao hoje em uso.
A de Faliroiiheit, geralmente emprcgada cm
Inglalerra c nos Eslados-Unidos: a de Hcaii-
niur, ainda actualmenle usada na parte me-
ridional d'Allemanha, na Uusia, Hesjiaiilia,
em aigumas partes da Italia, e na America
meridional; e a cscala de Celsius modiliiada
por Stroemer, ou antes de Christin, chamada
cenligrada, e adoptada era Franea e no norte
d'Allemanha.
A temperatnra do gelo fundente, e a do
vapor da agua a ferver debaixo da pressao
normal dc 700°"° de mereurio sao os rfois-
pontos fixos adoptados cm cada uma d'a(]ii('l-
las tres escalas, c o espaco comprehendido
entre estes dois pontos fij-oa, dividido em 101)
e em 8U partes nas escalas centigrada c de
Reaumur, e em 180 na de Fahrenheit. I'm
d'estes pontos fixos, a temperatnra do gelo
fundente, serve ao mesmo tempo de ponin dc
partida, isto e de zero, nas escalas centigra-
da e de Reaumur. Na escala de Fahrenheit
0 ponto fij'o c 0 niesnio, mas em vez d'este
Ihe servir de ponto de purtida, como 'na([Hel-
las, a teniperatura do gelo fundente cor-
responde 'nella a 32.°, de modo que o zero
de Fahrenheit desce muito mais abaixo que
nas outras duas escallas, e e egual a — 17,78
C. e — 14,17 R.
A discordancia d'estas trez escalas, discor-
dancia tal, que a teniperatura media de
Paris 10", 8 C. se traduz por 8", 04 R. e !)1°,4
F. ; e 0 calor do sangue humano de 37° a
38° C.e = 29°,6 a 30", 4 R. e'JS-.G a !00",4
F., traz comsigo na practica graves incon-
venientes, geralmente reconhecidos quando
se tracta de comparar as indicacoos das diversas
escalas, usadas pelos dilTerentes auctores. A
uniao portanto das escalas de Fahrenheit,
Reaumur, e centigrada 'num dado ponto,
que permittisse comparar direclamente as in-
dicacoes actuaes de cada uma d'ellas, e o
desideratum da sciencia.
Examinemos resumidamcnte as vantagens
e inconvenicntes d'estas trez pscalas thermo-
metricas.
Desde que o espaco comprehendido entre
a teniperatura do gelo fundente e a da agua
a ferver foi dividida em 100 partes, a escala
de Reaumur, onde este espaco esta dividido
em 80 partes, tende evidentemenle a trans-
formar-se pouco a pouco em centigrada. As
inslantes reclaniacoes de Arago a este respeito,
e 0 exempio de Ilumhold c Berselius, hao de
eoncorrer poderosamente para que a Allenia-
nha c outros paizes abandonem aquella escala,
que ja nao ha razao sufliciente para se con-
servar.
Outro tanto nao pode dizer-se da escala
Fahrenheit. Ainda que ha mais de um scculo
se comecou a usar em Franca e no norte
d'Allemanha a escala centesimal; era Inglaler-
ra e ella systematicaraentc repellida. 'Neste
paiz 0 Iherniometro de Farhenheit continua
cxdusivamente em uso, nao sem lundamento.
Os physicos inglezes reconhecem que a divisao
do espaco comprehendido entre os dois pontos
fixos do gelo fundente e da agua a ferver cm
180 paries, em logar de 100 nao teni a menor
vanlagem; este nuniero e muito suhido, e
nao se presta por isso facilmente ao dcsin-
volvimcnto especial dos valores, (|ue ropresen-
ta ; e principalmcnto cm relacao as tempera-
luras acima da agua a ferver tern graves in-
convenicntes, pois que :200° C. = 3'.)2." F. e
300" C.=.'i7"2" F.; ncm se conserva tamhem
aciuclla escala, poripie, sendo o gniu de F. mais
|ici[ueno que 0 centesimal, hastaria dividil-o
por metade para ohter uma fracciio sutliciente
de gniu ; jiois que a facilidade com (pie se
fraccioua (|uer sim[ilesnient(' li vista, quer com
oauxilio d uma lente o espaco comprehendido
entre cada divisao d'uma cscala arhitraria,
ou entre cada gran centesimal, em decimos,
dii ordinariamente um resultado mais exacto.
0 verdadeiro motivo da preferencia, que
ainda hoje goza em Inglaterra a escala Fahren-
heit, e a jjosicao do sen zero. Este. achando-
se collocado a 32° abaixo da teniperatura do
gelo fundente, a — 17,°78 C, dispensa nas
ohservacoes meteorologicas, por exempio, os
signaes positivos e negativos nos seis nieses
do anno, em que a temperatnra do ar alnios-
pherico pode oscillar acima ou abaixo do
zero (gelo fundente.)
A posiciio por tanto do zero na escala F.
ten) uma incontestavel vantagem, que ainda
nao foi devidamento apreciada pelos parti-
dislas das escalas de Reaumur, e Centigrada.
Esta vantagem e tal, (jue em Inglaterra as
ohservacoes meteorologicas sao niuitas vezes
feitas sem scr nescessario recorrer aos signaes
negativos, e sem nunca enipregar os positi-
vos. Nas outras escalas, em ([ue o zero cor-
responde a teniperatura do gelo fundente, nao
se da aquella vantagem.
A nccessidade de recorrer aos signaes ne-
gativos e positivos na applicacao dos instru-
mentos thermometricos centigrados ou de Re-
aumur olTerece muito maiorcs inconvenicntes,
do que geralmente se julga. Os practices no
trahalho das ohservacoes meteorologicas co-
nhecem por experiencia com que facilidade,
quando a temperatnra atmosplierica oscilla
proximo do zero, se le c escreve o signal + em
logar do signal — , e vice versa. Na aprecia-
cao das fraccoes decimaes dc grau em serie
ascendente acima do zero, e de.scendente a
haixo de zero outros muitos erros se podem
facilmente introduzir. Os observadores, ainda
OS mais exercitados, tomam niuitas vezes
inadvertidamente uns signaes por outros nas
oscillacoes de teniperatura proxima ao zero de
gelo fundente; e quando estes erros tem sido
131
(
corrigidos nas observacoes, facilmente se re-
produzera, quando ellas se transcrcvem nos
quadros nieleorologieos. Para obtcr as medias
thermoraetricas e necessario separar, para as
sommar, as indicacoes que teiu o signal +
das quo tern o — , mas na escala F. nuii raras
vezes (i necessario empregar este processo. E
por conseguinle evidentc a vista dos quadros
meleorologicos, que durante o semestre, em
que a leniperatura da atmospiiera pode oscil-
lar baixo, ou a rima do zero centigrade, o
uso da escala F. evita muitos erros que lacil-
meute podem dar nas outras escalas. A sup-
pressao do signal -r, ultiniameute adoptada
nas taboas das observacoes mcteoroiogicas,
feitas segundo a escala ceiitigrada, a iniita-
cao das (|ue sao ordenadas pela escala F.,
nao evita os erros que pelo systema opposto
sao niui frequentes nas escalas centigrada, ou
de Reaumur, porque 'naquolle caso a ommissao
involuntaria, mas napractica muitolrequente,
do signal — ,cquivale aindicacao dosignal-)-,
e induz por isso nos mesmos enganos.
Assim 0 que e 'neste caso sem inconve-
nientes para a escala F., em que o zero csta
mais abaixo do que a temperatura do gelo
fuudente, tem-nos niui graves para a escala
centigrada, e tanto que, se nos servirmos de
uma escala, em que o zero estiver a tempera-
tura do gelo fundente, sera necessario con-
servar pelo menos em seis mezes do anno,
alem dos signacs — , os signaes -)- ate perto
de 12 ou 15 graus.
A temperatura porem do gelo fundente,
toraada como ponto de partida d'uma escala
tlierraonictrica, c a necessidade de empregar
signacs posilivos e negatives, apresenta um
inconvenientc ainda maior. Alinguagem scicn-
tifica, que tern consagrado o signal + e —
a distinccao das temperaturas inleriores ou
superiorcs a do gelo fuudente, tornado como
zero, tem introduzido na liuguagem vulgar
um dado completamemte falso. Os graus cen-
tigrados por exemplo inferiores a temperatura
do gelo fundente sao ordinariamente designa-
dos como graus de frio, e os superiores como
graus de calor. No inverno, quando a tem-
peratura estii a '6°C. abaixo de zero, diz-se
geralmente que o frio esta a o° corao se —
5° ou 5° C. de frio per exemplo nao fossem
mais quentes que — G°C., ou para fallar a
mesma linguagem, que 0° de frio. Objecta-sc,
e verdade, a falla d'um zero absoluto, que
e impossivcl fi\ar. 0 zero, que eguala a tem-
peratura do gelo fundente, e puramente eon-
vencional, mas nem por isso clle apresenta
menos inconvenientes na applicacao das escalas
centigrada e de Reaumur, inconvenientes de
que ale certo ponto esti exempta a escala de
Fahrenheit.
Da comparacao das escalas de Fahrenheit
e centigrada, e da posicao do zero em ambas
ellas resulta uma anomalia ainda mais sin-
gular, porque se chega a resultados nao so
dillerentes, mas directamente oppostos; de-
baixo d'uma mesma temperatura os graus
centigrados de frio correspondem cxactamen-
te a graus de calor de F. Por exemplo:
— 3.° C. ou 5 graus de frio C. = + 23' F.
ou i'i graus de calor de Fahrenheit.
— ire. ou lO" dictos = +14"ou li" id.
— IS'C. ou l!j" dictos = +E)" ou li" id.
Termino aqui a critica das escalas thernio-
metricas hoje usadas, acrescentando todavia,
que se a escala F. e preferivel a centigrada
unicamente quanto a designacao das tempe-
raturas inferiores ao zero (gelo fundente), e
todavia hoje insufficienle para a indicaeao
das haixas temperaturas atmosphericas ; alem
disso 0 sen zero nao e um ponio lixo, como
0 do gelo fundente, ou da agua a ferver.
Foi elle originariamente adoptado, porque
era o minimo da temperatura atiiiospherica
observada em ITOU, que Fahrenheit repro-
duziu artiiicialmente por meio d'uma mistura
frigorifera ; e o proprio Fahrenheit reconhecia
a incerteza d'aqutlle zero, declarando que
nao era o mesmo no verao, que no inverno.
Assim 0 zero Fahrenheit e um ponto cal-
culado, mas nao observado. »
Continua.
UNIVERSIDADE DE FINLANDIA.
As condicoes para a admissao dos escho-
lares na universidade de Finlandia nao sao
niui rigorosas. Os candidates sao obrigados a
apresentar um attestado de moralidade e ca-
pacidade passado pelo chefe da eschola, onde
ciirsaram os seus estudos preparatorios; e a
fazer um exanie oral perante uma commissao
composta do decano da faculdade de theolo-
gia e dois adjunctos, nomeados annualmente
|iclo consistorio. Oexame versa sobre a histo-
ria da egreja, principios do christianismo ,
logica, moral, arithmetica, geometria, histo-
ria, geographia e litteratura. Findos os exa-
mes, proccde-se a votacao, e so sao admitti-
dos OS candidalos, que obtcm uma das trez
seguintes qualilicacoes : approbatur, approba-
lur rum taude, ou lamhitur. A propina pelo
exame e matricula importa em vinte e dous
rublos, quasi quatro mil reis.
Os candidates, que tem frequentado os seus
estudos nos gymnasios e universidades da
Russia, siio dispensados d'cste exame, e para
a sua admissao basta apresentar os respectivos
diplomas; poucos candidates, porem, 'nestas
circumstancias concorrem a llelsingfors.
Em tempos antigos os candidates que pre-
tendiam matricular-se na universidade de
Finlandia tinham de passar por certas provas
mais comicas e burlescas, do que difliceis.
« No dia destinado para a matricula todos
OS aspirantes ao titulo de estudantes reuniam-
132
se 'iiiima sala com urn dos cmpregados da
univcrsidade, que era o dcpnsitario, no raeio
dc lima multidao dc expectadores, que os in-
vest i a in.
Enfiiscavam-lhi's os rostos, prendiani-llies
nos cliapeos dcsabados niniprulas orollias, c
thifrcs; punhani-llics dois grandes iiigodcs
retrocidos, ou dois denies de cocliino, (|iie
elles seguravam nos cantos da bocca, conio
iim cacliiinbo, e vesliam-llies cumpridas la-
pas pretas: niascarados assim os candidalos,
0 deposilarin, tcndo ua niao iini cumpridi)
l)aslao com uma liaclia na ponta lazia-os sabir
da sala, levaiido-os deantc de si couio uma
maiiada de bois nu uma recua do juukmiIos
ate fi sala principal da univcrsidade, onde
iim numeroso concurso os esperava para as-
sislir a esle acto snlemne. 0 depositai'io
dispuuha-os em ciiculo, depnis de os tcr mo-
dido e alinliado com o sen bastao, como urn
sarjento com a sua alabarda mode os solda-
dospara os mcUer ualileira; I'azia-ibes enlao
muitas caranlonbas, c prolundas rovorencias,
sera liies dizer palavra; passava depois a
chasqueal-os pelomodo ridicubi edescomposto
com que se aprcsenUivani trajados, e, toraando
um torn serio, comecava a disscrtar sobre os
vicios e defeitos da mocidade, mosirando
quanlo era necessario dar-lhe corroccao, e
castigo, e limal-a pelo eslndo das bellas le-
tras. Trocando outra vez o serio pelo bur-
lesco, ou antes polo tragicomico, o deposita-
rio acadomico propunha aos candidates diver-
sas queslOes, a que deviam resiionder; poiem
OS denies posticos, que tinbam ua bocca , os
cmbaracavam do fallar dara e inlelligivel-
monlo, fazendo-os gruuliir como os porcos, o
que elleaproveitava. para Ihos pdr as aleunlias,
que hem Hie pareeia, dando-llies nas costas
ao do love com o baslao, e esbofeleando-os
com as luvas, ao mcsmo tempo que Ibes diri-
gia uma scvera adraoostacao; os denies dizia
eile, siguiiicavam a intcniporanca, e a devas-
sidao dos mancobos, a quom os excessos das
comidas e bebidas, tornavam obtuso o enlon-
(limenlo. Tirava depois d'nm saco, uma esjje-
cie de bolsa, a maneira das dos poliliquoi-
ros, e de denlro d'ella umas tonazcs de ma-
deira, que se estendiam ou cncurtavam a von-
tade, era forma de ziguozague, com que Hies
aiiorlava o poscoco, sacudindo-ilies a caboca
ate que os denies poslicos Hies sajlavam fora
da bocca, e ao mesmo passo Ibes dizia, que se
cllcs fossem doceis, e pozessem diligoncia em
seguir com proveito as licOcs da universida-
dc, abandonariam a inclinacao, que linbam
para a inlcmperanca eglolonaria, assim como
agora deixavam cahir aquolles denies: ar-
rancava-Ihes depois as grandes orelbas, que
cstavam prezas ao cbapoo, declarando-llios,
<liic deviam applicar-se aos csludos com lodas
as forcas para nao se licaicra parecendo com
o animal que as tern: em scguida, arranca-
va-lhes OS chifres, signal de ferocidade o
brutalidadc. Em Iim o doposilario tirava do
sou sacco um rcbolo, I'azia deilar os candi-
dalos uns apos OS outros com o vonlre cosi-
do a lorra, e os burnia por todo o corpo,
dizondo-lbos, qne do mesnio modo as bellas
tolras e as bellas a-rtcs poliriam o sou espiri-
to. Depois de alguns outros ados d'esla bur-
lesca ceremonia, encliia ello um vaso grande
d'agiia, e a lancava sobre a caboca desco-
borta de cada candidato, e por todo o corpo,
c llies limpava o roslo com um grosseiro
osfregao. Terminada esla I'arca podantesca
com esle lavalorio, o doposilario academico
oxiiorlava os candidalos a soguirom vida no-
va, e conibaterem os maus cosiumcs, que
Ibes depravavani o espirilo, assim oomo os
trages, com que se liaviam mascarado Ihes
lornavani o coipo disfonne; proclamava-os
enlao esludanles da univcrsidade para usa-
rom livremonle d'esle lilulo, com a condi-
cao, (juo ]>or seis mozos usariam dc capas
prelas cumpridas, como as que 'neste dia de
provacao trajavam; e que todos os dias iriam
olTerecer, cada um aos esludaules da nacCto
onde fossem reccbidos, os sous services, obe-
decendo em tudo submissamenle ao que por
elles llics fosse ordenado, e que solfreriam
resignadameule os motejos e zombarias que
elles Ibes lizessem, o que se cliamava as pe-
nnies. »
A maior parte dos estudanles da universi-
dade do Holsingfors sao pobres, mas passam
vida bonosta e folgaza. Us mantimontos e as
casas de alugucl sao baralas na capital da
Finlandia, e as morcadorias vendeni-se por
niodico proco, de maneira que os escholares
suslonlam-^e com po(|ucnas mesadas; e ver-
dade (jue nao campcam nas grandes festas
como OS esludanles de Paris, ou dc llepanba,
nom IVe(|uonlani os brilbanles saraus ou os
laulos fostins; mas no sen bairro /rtirno vivera
alogromonle, e nao raro as doces affcicoes do
amor voni amenisar a aridez dos estudos, e
os amargorcs da vida cm muilos d'aquelles
corarOes de mancel-.os, embaliidos polos dou-
rados sonhos de um luluro mais esporancoso,
0 typo do estudanle linlandez e nuiilo pare-
cido com o do esludanlc allemao; indilierente
e desloixado; como elle, desinvollo e impre-
vidente. iSo fim de cada Irinieslre, quando
recebem as corapelontos mezadas, c um dia de
fosla para cada escbolar; os amigos e con-
disoipulos sao logo convidados: os cliarutos, o
cbii, o poncbe, e cbampagne siio servidos com
profusao, e 'nislo se vao os rubles da mesa-
da , mas 0 prazer de um dia de folguedos c
de boa camaradagcm compensa-os dos apuros
dos dias seguinlos. Enlrcgam-se novamente
aos sous estudos som pesar nom cuidado al-
gum, esperando resignadamenle que a forlu-
ua OS torno a favorocer para repelir aquelle pas-
salenipo com os sens collogas, e gozar d'aquel-
133
his horas de oompleta dissipacao. E 'nesta
eontinua alternativa de dias ora laboriosos,
TOelanchoiicos e solitarios, ora de perfeila ale-
gria, complcla cxemprao, e d'lim farniente, que
causaria inveja ao syl»aritismo do inais dcsal-
mado lazzaroni, passam a vida os estudantes
de Hclsiiigfors!
Oscstudaffltcs (inlandezes frwiuontam poiico
as sociedades, mas nas feslas e divertimentos
pubiicos sao sempre os primeiros. Desde o
principio de tnaJopcrconeiu clicsosarrabaldes
dacidadc, celehrando abella estacao dasflores
com diversos folguedos, descantes, e saiulcs.
Nos passeios, iios tbeatros, e nos concertos
sao ciies os que mais applaiulem os adores,
que dao vida e cnlluisiasmo a todas essas
reunioes. Algumas vezes accontece dar-se en-
tre ellcs alguma rixa, que perlurba a boa
■ordem publica, mas lofjo que alguni dos prn-
fessores, por. qui'm elies tern niais sym])alliia,
OS adverte, sciii difliculdade vnltam aos seus
pacilicos babitos com admiravel doeilidade.
Os esludant^s de Uelsiiigfors eslao dividi-
dos, como OS de Upsal e de Lund, em niuilas
classes, ou naroes. Cada iwrm tem uni local
proprio para a sua bibliotheca, musicas, e
instrunientos; onde os respectivos membros
vao ler, tocar, ou discutir algumas questOes
iitterarias ou scientificas de maior iiiteresse,
para se habituarem a argumentar e fallar em
publico. Cada nacao elege entre os professo-
rcs da universidade um inspector, que a toma
sob sua proteccao, c a esclarece e aconsellia
com as suas luzes. Ura decidido espirito de
corpo reina entre eslas nncoes a ponto, que
dcgenera as vezes em rivalidadc, mas nunca
cbega a romper em desagradaveis coiillictos.
Todas as nutOei coiebrara 'num determinado
dia a sua testa annual com «m grande ban-
quete, a que assiste o reitor da universida-
de, 0 processor inspector, e todos os mem-
bros da nacao. Lera-se poesias, recitam-se
composicoes em prosa, e i'azem-se brindes ii
universidade, aos sens cheles, e aos lacos de
sympathia e de honra que unem entre si to-
dos OS membros da namo.
Estas naroes tem privilegios inviolnveis.
Um dos principaes e o poderem admittir ou
recusar livreniente os estudantes, que se
pretendom incorporar no seu seio, sem te-
reni obrigacao de dar os motivos da admis-
sao ou recusa. Resulta d'aqui que um can-
didate, que, dirigindo-se successivamente a
cada nacao, fosse por todas recusado, nao
poderia ser recebido na universidade, ou ao
menos seria nella um verdadeiro parasita,
que nao dependendo senao das auctoridades
superiores, por cuja ordeni, a despeito das
naroes, fora admittido, ver-se-bia na trisle
necessidade de passar uma vida isolada, sem-
pre exposto as perseguicoes e aos odios dos
outros escholares, o que mais cedo ou mais
larde o forcaria a abandonar a universidade.
Para obviar a cstes fnconvenientes, os chefes
da universidade, ou approvam e confirmam
as recusas das naroes, ou procuram amiga-
velmente resolver a nacao a revogar a sua
primeira decisao. Um caso d'estcs teve logar
em ISi'i com um estudante, que fora da uni-
versidade de S. Petersbourg.
Ccnitinua.
COLLEGIO DE S. BENTO.
No dia 23 de agosto celebrou-se 'nestc col-
legio a primeira dislribuicao solemne dos
premios conferiilos aos alumnos, que no de-
curso do anno leclivo Undo se distinguirara
mais por seu talento e superior aproveita-
mento nas diversas aulas.
0 digno director d'este respeitavel estabe-
lecimento litterario celebrou missa no ma-
gnilico lemplo do collegio, que ellc tem restau-
rado, assim como todo o edificio, do ruinoso
estado em que se achava, assistindo aqueile
acto religiose todos os collegiaes com o seu
uniforme, os professores do collegio, lentes
doulores, e outras muitas pessoas, que tendo
sido prevenidas d'esta funccao, quizeram
tornal-a mais luzida com a sua assistencia.
Da egreja se dirigiram todos para uma
espacosa sala do collegio, a qual so achava
ornada com ricas armacoes e festoes de flores,
havendo logares reservados para o director, e
professores do collegio, para os alumnos pre-
miandos, e para os hospedes; uma banda de
muzica tocava dentro da sala diversas pecas.
0 sr. Dr. Joao Antonio de Sousa Doria, profes-
sor de Ilistoria no lyceu d'esta cidade, subiu
entao a cadeira, (|ue estava preparada ao topo
da sala, e leu o discurso, que publicamos
aqui, eque menciona com o merecido louvor
OS importantissimos services, que na funda-
cao e bom governo d'este mui util estabele-
cimento tem prestado o seu beuemerito fun-
dador e director, o sr. Manuel Xavier Pinto
llomem.
Collocado 'numa das mais bellas e piio-
rescas situncOes da cidade ; desl'ructando de
um lado o magnilico passeio do jardini e
eschola botanica ; e gozando de outio lado a
deliciosa vista do Mondcgo com suas apra-
siveis e encanladoras margens, a ponte, e o
montc da Esjjeranca com o grandiose con-
vento de Santa Clara, que Hie Ilea fronteiro
0 collegio de S. Benio e uma das mais sau-
daveis e lindas babitacoes de Coimbra. 0
edificio, ainda que nao acabado, e um dos
melliores, e mais grandiosos da cidade, e as
obras que 'nelle tem feito o seu digno dire-
rector a custa de avultadissimas despezas tor-
nam-o o mais commodo e asado para habita-
cao, e exercicios litterarios dos collegiaes que
alii siio tractados com lodo o desvelamento e
exemplar cuidado.
134
A >educa^o moral, religiosa. e litteraria
(los collegiaes nao pudc scr niais apurada e
proveitosa. Uma perfoita rogulariJado em in-
dos OS exercioios, austiMa vigilaucia, e assi-
(liiidade uas aulas t'azoiii, (|ue aluinuos d'este
colli'gio sejaui cnulu'fidos por sua boa nio-
ligerafSo, exemplar jiroceiiiimnito, e soiida
iiistniceao nos esludos preparatoi'ios, que sao
alii eiisinado!; por lialjeis professores.
0 furso (ie Ilumanidudes 'neste eollegio
eomprehende lalim, francez, iiiglez, logica,
rliclorica e geographia, iiilroduecao a liislo-
ria iialural dos trez rciiios, arillimeliea e
geoinetria. Para os alumuos ainda nao iial)i-
litados para frequentar as clas^ses dc lalim,
ou fraiuez lia uma aula de insUuccilo prima-
ria eorrcspoiideule as do 2." grau cstabele-
cidas na lei de lSi4, e na qual sc habililam
competentemcnte os collegiaes.
Tudo concorre portanlo para este eollegio
de Ilumauidades ser um dos melhores do
leino, e que mais rclevaules servicos presta
a educacao moral e litlcraria da mocidade estu-
diosa. e que por isso muito contribue para o
progresso dos estudos superiores, que so po-
derao apert'eicoar-se, quando os alumuos, que
OS cursarem, possuirem os solidos conheci-
nientos de todos os ramos das lelras huma-
nas, e os elemeiitos das scieucias physicas e
naturaes, e que a estas indispensaveis habili-
tacoes junctarem o habito, e o amor, que
d'elle nasce, ao csludo, a composlura de
costumes, e as boas disposicOes moraes, que
inspiram os mais uobres e geuerosos senli-
mentos.
E taes sao as condieoes que o eollegio de
S. Bento, em Coimbra, realisa com grande
proveilo das lelras, e lionra dos scus cuilores.
J. M. DE ABREU.
DISCURSO
nec'llado no rollesio dc H. Bpnio no
ncio do sc ronrrrirem ttolcmnenien-
te ON promioK ao» Nen** alisninoM no
dia 33 de aeoMlo lic I S55, pelo Dr. •).
A. de ISouKa Uoria.
Cheio de regozijo e verdadciro prazer venbo
iinnunciar-\os, jovcus aiumnos do eollegio
de S Benlo, (|uc o dignissimo direclor d'este
estabelecimenlo sob o consciencioso voto de
\osso3 meslres, resolvcugalardoar as faJigas,
premiar o merito, e recoubecer por um modo
tao poraposo a assiduidade e distinclo apro-
veitanienlo d'alguns de vossos corapaubeiros.
Quando as lionras assentam sobre o reeo-
nhecido merecimeulo, quando os louvores sao
a expressao da \erdeira lionra, dislinguir o
nicrilo onde ella existe, e uma ac(;ao sempre
agradavel; ouvir nao mcnlidos louvores, e
sempre gosloso a uma alma bem formada.
Sim, jovens aiumnos, este dia festival para
vbs outros, dia em que vao ser preraiados e
distinclos alguus de vossos collegas, offerecc
uma prova inequivoca, do que acabo de di-
zcr. Com etleilo como nao ha de irasbordar
d alegria o mui digno director deste Collegio
ao eonlerir dislincyOes aos sens aiumnos?!
Como podereis vos todos, jovens collegiaes e
mais Senhores, que meouvis, deixarde lomar
paiie ni'slas lionras, que iao euijiiuilicamente
se e\]iriiuem com a distribuicao de preniios e
diplomas dc merito?!
Vai por seis annos ([ue existe esle collegio sob
a direccao litteraria e economica do illuslris-
simo sr. Manuel Xavier Pinto Ilomem ; os cinco
annos primeiros 'num local dilVerenle do d'ho-
je. Mais acanbado, e cm posicao menos liygie-
nica, 0 edilicio de S. Francisco da Ponle nao
oll'erecia as commodidades necessarias a um
bom eollegio d'educacao. Mas o sr. Manuel
Xavier Pinto Homem com uma vontade firme
su])erou obstaculos, que fariam socobrar (|ual-
(|uer outro, e mudou o sen collegio para csla
I'ormosa casa. Vos todos bem o vedes, desdc
agoslo passado o digno direclor nao se tern
poupado a sacrilJcios, a cuidados e despezas
])ara levar ao cabo o seu piano. Senhores,
pelo lado litterario nada falla j)ara o ensino
da instruceao primaria c secundaria; pelo
lado material', pouco resta para o editleio
ticar com lodas as commodidades para os
collegiaes; pelo lado regulamentar e policial
0 collegio de S. Bento pbde servir dc niodelo
para um bom collegio d'educacao.
A estatistica geral dos exames dos aiumnos
do aniigo collegio de S. Francisco, c hoje de
S. Bento, falla mais expressiva do que eu o
podia fazer; e o elogio mais complete da boa
direccao, que tern presidido aos seus estudos.
E crescido o numero das approvacoes plenas,
incomparavclmente menor o das simples apro-
vacoes, e uiiii diminuto o das reprovacoes.
Contam-sc na 1.' ordem 40a exames; na 2.'
70; e na 3.' 40. Bem simples e a explicacao
de tao satisfactorio resultado, resullado tao
honroso para o collegio; achal-a-heis, Senho-
res, no bom regimen intcrno, na assidua ap-
plicacao dos aiumnos, que a(iui tem cursado
OS seus estudos, e na boa escoiha dos seus
professores, I'eita nos annos iindos.
Nao desista pois o digno direclor da em-
preza, que comecou, e a patria Ihe rendera
louvores jiela boca dos paes e lutores, que
para aqui mandarem seus lilhos ou pupillos.
Perdoai-me, jovens aiumnos, por me ter
desviado um pouco do meu proposilo : se o
liz, foi so porque esles louvores prendem com
OS vossos. Vos ides ouvir os nomes dos que
mais se distinguiram pelo seu bom eomporla-
mento denlro do collegio e pelo seu aprovei-
taraento no csludo. .lovens aiumnos, deveis
lixar bem esles nomes na vossa niemoria, por-
que a dies viriio associar-se ideas, que de-
vem desperlar cm vos desejos d'imitar vossos
companheiros. (Foram lidos os nomes dos
ulimnos premiados.)
135
S5o estes os alumnos premiados em virtude
da confcrencia que leve logar cntrc o vosso
benenierito director e os professores respccli-
vo. Nao sao premies Tilhos do patronato, sao
premios bcm merecidos. Assim cumpriu o
dignissinio director com o art. 50." do Novo
Regulamenlo.
Bern scnsivel e a falla d'alguns dos pre-
miados e distinctos; auscntes nesta occasiao,
ser-lhes-iia iransmittida a notieia das honras
que hojc reccbem.
Approximai-vos agora, vos outros, para
quem esta festa foi deslinada: vindc receber
da mao do vosso director as insignias e di-
plomas lionoriticos, que tao hem merecestcs.
{Seguiu-se a dislrihuirao dos premios e diplo-
mas.)
Agora 'so me resta propor-vos a vos todos,
jovens alumnos, como exempio dignos d'imi-
tar estes mancebos. Sirvam as honras, (|ue
elles acabam de receber, de estimulo e incen-
tivo, que vos obrigue a ostudar. Oxala que
no fuluro anno lectivo os alumnos internos,
que cursarem as aulas d'este collegio, nao
desiizem da senda dos noventa e oito que este
Jassado o frequcntarani. Se forem dignos das
onras, que vos hoje recebeis, como vos igual-
mente as receberao. Disse.
BELACAO DOS ALUMNOS DO COLLEGIO DE S. BENTO
PREMIADOS NO ANNO LECTIVO DE 1834 ISEiS.
Latim.
Antonio Fialho Machado — 2." premio — medalha de
prata. Latinidade.
Paulo de Mendon^a Falcao — 1.° premio — medalha
de ouro.
JoSo Pacheco Alves de Resende — 2.° premio — meda-
lha de prata.
Julio Auguato Heiiriques — 1." accessit.
Manuel Pires Marques — 2.* acccessit.
Casimiro Antonio Fernandes — 3.° accessit.
Jos^ de Sa Coutinho — 1.' distinci^ilo.
Paulo de Mendoni;a Falc3o — 1." premio — medalha
de ouro.
Antonio Julio Queiroz — 2.° premio — medalha de prata.
Pedro Ignacio Lopes — 1," accessit.
Julio Augusto Henriques — 2.® accessit.
Jose de Sa Coutinho — 1." distinc(;ao.
Casimiro Antonio Fernandes — 2." distinc^ao.
Luiz Antonio Vellez Andresson— 3.' distinccao.
Rhetorica.
Jose Luiz Champalimaud DulTe — 2." premio — me-
dalha de prata.
Manuel NicoIaud'.\brcuCastello Branco — 1. "accessit.
Geornetria,
Pedro Ignacio Lopes — 1." premio — medalha de ouro.
Joaquim dWlmeida Peres — 2," premio — medalha de
prata.
Inlrodur^iio a. Historia A'atural.
Julio Augusto Henriques — I.° preraio — medalha de
ouro.
Franeez.
Jos(* de Campos Paes — 1.° accessit.
Augusto de Carvalho Vasques de Mesquita — 2.° ac-
cessit.
Julio Augusto Henriques — 3.° acce.ssit.
Instruc^do primaria.
Pedro Maria d'Alcantara Hennah — 2. "premio — me-
dalha de prata.
ALfMNOS EXTERNOS.
L.tiiim.
David Nicolau de Sousa Leitao — 1.° accessit.
Latinidade.
Luiz Guedes Coutinho Garrido — 1.° accessit.
Antonio ftlanuel Taborda — 2.° accessit.
Geornetria e Introduc^do.
Joaquim Machado Cabral e Castro — 1.' distinccao.
Logica.
Antonio Maria d'Almeida — 1.' distinccao.
IMPRENSA DA UNiVERSIDADE DE COIMBRA.
Obras, cujos preroH foraui ullimameiite retluzirtos.
CompendioHistoricodoestadoda Universid. deCoimbra no tempo dos Jesuitas, Lisboa 1 77 1, 4."
A me.^ma obra em 8.° 1772
Andrada — Chronica d'ElRei D. Joao IH, Coimb. 1796, 4.°, 4 vol
Damiaode Goes — Chronicasd'ElRei D. Manoel edo principe D. Joao, Coimbra 1790, 3 vol. 4."
Opuscula quae in Hisjiania illustrata continentur, Conimbr. 1791,8."
Garcia de Resende — Chrouica d'ElRei D. Joao II, Coimb. 1798 4."
Qfiorii Hieronymi — Opera, Conimbr. 10 vol. 8."
De rebus Emmanuelis, Conimbr. 1791, 3 vol. 8."
— — De gloria et nobilitate civili et christianae 1792, 2 vol. 8."
De Justitia, Conimb. 1793, 2 vol. 8."
— — •- De regis institutione et disciplina, 1794, 2 vol. 8."
^ De vera sapieatia, 1794, 2 vol. 8."
Legislaciio Academica desde os Estatutos de 1772 ate 1830 inclusive, pelo Dr. Jose Maria
de Abreu, Coimb. 1851, 4."
desde 1851 ate ao fim de 1854 pelo mesmo, 1854, 4."
sobre Instruccao primaria, secundaria e superior, ordenada pelo Conselho Superior
desde 1836 ate 1851. Coimb. 1851, 4."
PRECO
.iiitigo I .Ictual
1^000
500
1 11800
400
500
2,11930
l|i200
500
500
480
250
600
300
1^200
960
160
400
1^80(1
80(1
300
300
300
lOO
36(1
180
480
136
OBSERVaCOES METKOUOUXJICAS. IKITAS \0 (iAIil.XUTE 1)E I'UVSICA
DA LMVEllSIDADE 1)E COlMliKA.
Anno'le
J, o 1
n 1
= e 1
si g s 1
Piessilu t
tmo*|'I»erica ao
ueio di.i
Estudo liy^runielrieo da almos-
phi^ra ao ineio dia
§ =
X 5
Janeiro
Alltira linniiui'-
Cilia cenli^THila
pur aqnusii cun-
liilo iij ar
Pies.s.1., do ar
SMCU
(irau iriinnii-
daile do ar, re-
|ireiifnl undo pur
1 o e,lado de
salnrarfiK
Qi,iinti,]nfli, dc va-
por coDlkdo cm mm
metro cubico d'ar.
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0,67
6,096
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HO . . 21,725
■3 ^
Maxima varia(;5o .*. . . 0,29
1^
Cuimbrn, I." de Fevereiro tJe 1855.
Antonio Sanches CouIitOj Director do GaLiuele de Phjsica.
i) JuiSititttt^)
.lORlNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
RELATORIO
itoliro o CNlado fin iiiNlnirrrin prinia-
ria e Npctindaria. pi'iblica t- parlirii-
lar. <lo Dislrirlo nfliniiii»traliio de
I^iskboa, om niarro dc I 855.
Frequtncia das escholas de instruccao primaria
e secundaria.
Nao padecc dilvida, que nao pode deixar
de notar-se a pouca frequencia das escholas
gratiiitas, da instruccao primaria e secunda-
ria, coraparativamenle com as escholas par-
ticuiarcs, pagas, dasmesmasdisciplinas. Com-
tudo pcio que respeita aquelia parece obser-
var-se variacao favoravel na opiniao das clas-
ses ate hoje mais renitentes, o que por Ventu-
ra sera fruclo das providencias tomadas desde
algum tempo, e da persuasao, que, de vagar
sini, mas progressivamente vai medrando da
vantagem, que proporcionam com maior lar-
gueza a essas classes os meios obtidos pela
raelhor cuitura da intelligencia.
Pelo que respeita a instrucyao secundaria
cumpre-me advertir, que, com quanto o con-
selho d'este lyceu, segundo cabe nas suas
attribuicoes legaes, se tenha dcsvelado com
infatigavel zelo para remover as causas, que
assustavam rauitos paes dc familia, incutin-
do-lbes receios de mandarem seus filhos as
aulas 'nelle estabelecidas pelo perigo de se
Ihes contaniinarem os costumes; e, posto que
a exacta observancia das bem combinadas
provisoes do seu regulamento policial, tenha
feito affastar individuos, que so serviam de
dar raau exempio, e por isso prometta attra-
hir OS de quem o paiz tern a esperar; com-
tudo de outras providencias superiores se
precisa ainda, para que a auctoridade, e vi-
gilancia paterna se considere cabalmente re-
presentada 'nestas escholas. Aguarda-se com
impaciencia o regulamento geral dos lijceus ,
que, deferindo preeisamente a natureza d'estes
cstabelecimentos de instruccao e educa^ao
piibiica, OS converta como succede cm outras
nacoes (com inveja o digo) em seminarios
permanentes de letras e de virtudes.
Porem estes meios, na verdade indispcnsa-
YoL. IV. Setembbo IE)
vcis, nao serao so de si suiTicientes para que
a frequencia das escholas publicas se tome a
que deve desejar-se, e e necessario que seja.
Ua de haver sem diivida paes de familia ,
que, apezar de tudo, prefiram mandar os fi-
lhos as escholas parliculares, emquanlo po-
derem dictar e variar alii a seu talante as
condifoes da frequencia ; condicoes as quaes
OS emprezarios d'aquelles estabelecimentos
t^m de sujeitar-se pelo amor do proveito
pecuniario, que, em regra, e a causa que
principalmente os obriga; ao passo que nas
escholas publicas tiim de submetter-se ao re-
gimen disciplinar.
Para occorrer a esle gravissimo inconve-
niente, que faz crear habitos de orgulho, e
insubordinajao, 'numa edade em que se ha
mister que tudo coopere a a(Teicoal-a de modo
inteiramente aquelle opposto, e de absoluta
precisao requerer dos emprezarios provas de
maior excepcao, de todo o ponto competen-
tes, nao direi so de bom comportamenlo mo-
ral, civil, e religioso, no quasi esteril senti-
do, em que infelizmente se tomam em geral
estas palavras, mas de virtudes solidas e
exempiares, de intelligencia esclarecida, de ,
zelo, e de vocacao dedicada, que de certo
nada menos pode a sociedade pedir a ho-
mens, que aspiram ao titulo tao respeitavel,
e ao sacerdocio tao raomentoso de directores
da mocidade. Abonacoes officiosas, por desgra-
ca tao faceis de obler, e que ninguem tcria
em conta para confiar negocio seu particular
de alguma monta, nao sao de nenhuma sortc
documentos bastantcs para conferir-se a qual-
quer aventureiro o mais transeendente en-
cargo social.
Alem d'isso um regulamento, que prescre-
va as condicoes physicas e moracs, religiosas,
civis e litterarias, de que se nao pode, nem
deve prescindir em taes emprezas ; que deter-
mine as obrigacOes disciplinares, que l4m de
cumprir educadores e educandos, e providencia
indispensavelmente necessaria, e reclamada
com tanta maior urgencia, quanto e certo que
vai crescendo de modo espanloso o numero
dos especuladores, que preferem a outros este
commercio, ate talvez por ser o unico a que
a auctoridade piibiica nao tem dado regimen-
lo! E quem nao v6 que, estando como ainda
esta enlre nos, a liberdade tao raal compre-
—1855. NcM. 12.
138
hcndula por lalla do suffiiiente conliecimento
das verdadpiras doiitrinas, as caiisas quo
dcixo ponderadas lem pxercido e cxerccm per-
nicioso infliivo, o dan azo a que as cscholas
piiblicas, espei'ialnieiUe 'iicsta capital, mule
tanto avulla o numero das ciuprezas parlicu-
lares, sejam pouio fiequenladas?
Mas ainda outia causa, e, eomo a lenlio,
gravissiiua, tern concorrido, e coucorie de
niodo muito cflicaz, para ([ue as aulas do Ijcou
sojani |iouco frc(]uontadas, c e a falla de uni-
Ibrmidade Iciral nos compendios por onde se
Icem as disciplinas. Nos cstabclccimentos de
ensiuo particular prefcroni-se geralmeutc para
tudas as disciplinas. de i|ue se fazcm cxames
na uuiversidade, os compendios adoptados no
lyceu de Coimhra, isto e, na mesnia uuiver-
sidade; cmquanto que no lyceu de Lisboa
cxplicam-se os compendios, que forani esco-
Ihidos pelo conselho catliedralico do mesnio
lyceu, cscoiha, que nuiitas vezes tem logar
iintcs por nial cabidas contcmplacOes, e por
condescendencias indevidas, do que pdos mo-
tives, qne sds deviam fundameutal-a. E facil
de vcr que os alunmos, ou seus paes, ou sous
educadorcs hao dc prelerir aqiiella a esta
praelica. Conlento-me 'ncste momento de s6-
mentc aqui apontar a causa do facto, que
era preciso explicar, deixando para oulro lo-
gar nao so a investigacao luais direcla do
mal tao grave, que provem de modo inevita-
vel da fulta da uuirorniidade do eusino, mas
tambem indicar o remedio, que julgo unico
a pouto, e 0 so decisive.
Entretanto do Mappa juncto com satisfac-
cao V. M. pode tomar conbecimento seguro
de que uiio foi tao minguado, como acaso
houvera de parecer, tida conta as considera-
' coes notadas, e a outras muito obvias, o mo-
vimeuto lilterario da iiixirucrao primaria e
secundaria d'estc dislricto. E digne-sc Y. M.
notar, que o movimento litterario progrediu
nao so em geral, com respeito ao ensino pu-
blico e particular, mas tambem, e dcsigna-
damcnte, com respeito ao eusino publico.
Frequeutaram as escholas piiblicas e par-
ticulares de inslruccao primaria alumnos sete
mil e cincoenta e otto (7:038), sendo do se.xo
masculine cinco iiul oiiocenlos e sete (S:8U7),
e do feminino mil duzentos e cincoenta e um
(1:231). As escholas piiblicas pertencem trez
mil e cincoenta e um (3:U31) do sexo mascu-
line, e oiiocenlos e um (801) do feminino.
As cscholas particulares cabem dois mil sele-
centos e cincoenta e seis (2:730) alumnos do
se.xo niasculino, c quatroccntos e cincoenta
\450) do feminiuo. D'onde resultaque, apezar
do ensino parlii'ular em Lisboa ter tido gran-
de incremenio, e liavcr-se tornado, com ver-
gonba 0 digo, mero trafego industrial, com-
mercial, ou mercantil, ainda assim o numero
(las escholas piiblicas na inslruccao primm-ia
excede cm seiscentos e qnarenia e seis (640)
0 numero dos alumnos da.5 cscholas parti-
culares.
No tocante a inslrucrSo secundaria tenho
da mcsma sorte a salisl'accao de levar ao
conliecimento de Y. M. como foi consignado
ja no relatorio annnal, que o conselho do
lyceu fez subir a presenca dc V. M. pelo
conselho superior, que abriram matricula nas
dilTerentcs cadeiras trezentos e vinle e nove
(329) alumnos, fcchando-a cento e oitenta e
dois (182); dos quaes, lendo-se apresentado
a exame cento e quarenta e noce (149), lica-
rani approvados cento e dezoilo (118").
Da instruccao secundaria nos estabeleci-
mcntos jiarticulares nao inc e possivel inl'or-
mar com exaclidao a Y. M., jiorque os map-
pas, que sao obrigados a apreseular os dire-
ctores d'estes estabelecimenlos, uns nao sao J
feitos com a necessaria clareza, e cxactidao, \
outros sao apresentados fnra de tempo, alguns
nao sao rcmctlidos dircctamente a esta com*
missao dos estudos, c muitos cm ncnhuma
parte sao ajiroscntados. Neni cstcs niappas,
alias utilissimos, sao nunca feitos como de-
vem scr, emiiuanto nao liouver modellos mais
adaptados ao lim que sedezeja; nem serao
apresentados em tempo compelente, emquan-
to OS directores dos estabelecimentos littera-
rios particulares uiio forcm obrigados a apre-
sental-os em epochas impreteriveis, nas respe-
clivas commis.socs dos estudos, licando sujci-
tos a pagar uma multa prelixa que seja co-
brada administrativamcnie por ordem dos
administradores dos bairros de Lisboa, ou
dos eonselhos, logo que Ihes for assim reque-
rido pelo commissario dos estudos, o qual de
tudo devera dar parte a Y. M. pelo conselho
superior. A experiencia prova dc lufldo in-
veucivcl, que cm objcctos de similhante na-
lureza, so as medidas coercitivas produzem
0 elleito (|ue se iiretende. E por estc motivo
que lenlio a hnnra de aprcseutar a V. M. uma
proposla dc lei.
Comtudo poderei informar a Y. M., que,
dos alumnos da instruccao secundaria nos
estabelecimentos particulares, concorreram,
no anno lectivo findo, a exame no lyceu cin- \
coenta e um (3!), dos quaes licaram appro-
vados quarenta e cinco (43).
Por ultimo obscrvarei que os alumnos de
instruccao primaria, que ficaram habilitados
no anno lectivo de 1833 — 1854 foram duzen-
las e doze (212), por screm, de cntrc duzen-
tos e sctcnta e sete (277), os que obtiverara
approvacao no exame, a que se sujeitaram.
Visita as escholas de instruccao primaria
e secundaria de Lisboa e seu districto.
A visita das escholas piiblicas, e dos esta-
belecimentos particulares litterarios, e sem
duvida meio adequado e por ventura o mais
139
effcctivo para prevenir dcsvios, para atalhar
abusos, e para promover melhoramentos va-
liotfos no cnsino piiblico, jii corripindo a in-
furia, ja exr,itan(lu o zclo dos professores, e
dos educadores da mocidade. Com razao estas
visilas Silo ordenadas jielo dccrelo de 20 de
setembro de 1844, art. 161, §. 1, c recom-
niendadas tanto a niiiido pelo consclho supe-
rior: a experiencia tem-mi' evidcnciado o
provcito que pode lirar-se d'ellas.
EiUrchiiito e t'orra conressal-o, nao c pos-
sivel ao coniniissario dns csliidos do districto
dc Lisl)oa prccncbcr iura da capital este sen
devcr, alias de tao graiide iitiiidadc |)iil)lica,
sem que seja auxiiiado para esse lim com urn
subsidio pecuniario. E tao dimiuuta, melhor
direi tao mesquinha, e csta tao abaixo do (|ue
requcr o muito trabailio e a Iranseendencia
das obrigarOes, ipie pesam sobre o commis-
sario dos cstudos, a gratiiicacao, que Ihe foi
arbitrada, que toda fora eonsumida, e ainda
nem a custo Ihe cbegara para fazer a visita
lilteraria do districto, a nao ser visita de
mera utilidade. Porem nao e isto o que V. M.
C'uer: e outro neccssariaraente o tim da lei.
l\Ias sendo assim, como devom corresponder
aos fins OS meios, julgo de absohita necessi-
dade, que o commissario dos cstudos seja
provide dos que ihe sao indispensaveis para
I'azer a visita de todo o districto quando c
como haja de julgal-o mais proficuo.
Entao, e so entao se podera requerer do
commissario dos estudos de Lisboa, que faoa
periodicamenle a visita litteraria do districto
a seu cargo. Antes d'isso, pedir-lhe o que
nao pode dar, tomar-lhe contas do que nao
estava ao seu aleancc satislazer, cquivale a
obrigal-o ao impossivel.
E ha-de o Commissario dos cstudos apre-
sentar-sc so, e menos decorosamente em acto
de visita? Nao ha de acompanhar-se de um
empregado da commissao, a i|uem incumba os
autos da visita, e o desempenho do demais
sorvico, que possa ser nccessario? Nao pode-
rao seguir-se cm muitos casos gravissimos
inconvenientes de so achar a sos com o pro-
fessor visitado? Pelo menos e logo certo o da
desconsideraeao do commissario, (|ue, dadas
circumstancias muito provavcis, lera de (igu-
rar nao raras vezes tristementc.
Desciilpe-me V. M. a Iranqueza d'esta lin-
^agera; se nao e enfeilada, tao pouco liavera
ftindamento para a taxar de desrespeitosa : e
a da verdadc. Sei qual e o meu derer, nao
careco de vontade para cumpril-o, e precise
piorem que estejam a mao os meios de preen-
cbel-o: estes os pcco e pedirei dcsassombra-
damente a quem deve prestal-os, c tenho di-
reito a pedil-os.
Cantinua.
0 BUgACO.
Uneni ha que nao tcuba visitado iiojc o
Bunico, e que a sombra d'aquelies annosos
cedros, oujuncto das suas devotissimas ermi-
das nao tenha gozado moraentos dc ineffavel
prazer, profunda emocao, e intimo recolhi-
mento? (Jucm juucto de suas fonles nao tern
passado boras de suave e terna melancolia?
yuem do « Calvario, » ou da « Cruz alta '•
nao tern coutemplado o grandioso espcrtacu-
lo d'a(|uelle vasto horisonte, ([ue vai perder-
se na oria das espumantes aguas do Occano?
quem da « portaria )■ nao tern assistido ao
saudoso por do sol 'nuraa dessas I'ormosas
tardes do calmoso estio, quando a doce brisa
voni deeipar os ardores do astro radioso?
Depois 0 c.onvento higubre e siiencioso, rpie
admiravelniente contrasta na sua austera po-
breza com as poniposas galas d'aquella mata
frondosissima.
Um ar sempre puro; aguas deliciosa.s, pas-
seios magnilicos, tudo eoncorre para tornar
este Jogar, vcrdadeiramente monumental no
seu genero, a mais bella e deJiciosa habita-
cao durante os raezes do estio c outono.
Juucto dos muros da mata existera excellentes
aguas ferreas, na falda do monte os banhos
de Luso, bem coniiecidos por sens admiravcis
effeitos medecinacs, c ([ue segundo o piano e
obra, por que se andam restaurando, nao tcm
enveja aos melhores cstabelecimentos, que
neste genero possuimos, se nao que a quasi
todos levam ventagem.
Assim 0 Bucaco reune hoje todas as condi-
cOes para ser cada vcz mais frequcntado, c
para se tornar esta halutacao mais procurada
de muitas leguas em torno, e ate de grandes
distancias, desde o mcado da primavera nle.
aos tins do outono.
Yimos aqui miiitas vezes cstrangeiros, (|ue
tern percorrido os bellos vallcs da Suissa, e
suas pittorescas montanhas, contemplar com
admiracao e surpreza, no meio das e.scalva-
das serranias, que cercam o Bucaco, esta ma-
gniliea mata, cujos soberbos cedros disputani
a ])rimasia aos mais eievados do Libano. )■]
todavia o Bucaco com todas estas J>elleza>
naturaes, com todas estas favoraveis disposi-
coes, que em nenhum outro ponto do reino
se encontram, e que muitos paizi's nao tem
a fortuna de possuir, o Bucaco, dizemos, ahi
esta em compieto abaudono, e ainda mal,
que fora so o abandono, que ao menos tivera
aiguns an-jios mais de existencia; c talvez
apos de nos viesse uma geracao, que, para
salvar a vergonha da que a precedera, inlen-
tentasse restaurar este vencraudo mohumen-
to, levantado em mais rudes tempos, pela
picdade dos fdhos do Carmello, que n'esta
aprasivel solidiio vinham refugiar-.se do buli-
cio do seculo, para a sos se entregarem a
140
IJiaolu'a doj raais austeros excrcicios religio-
^os, c que cuidadosamcnto se csmeravam na
conservarao e augmcnto d'este scu tao qiie-
rido ermo, como se foram grandes e cxperi-
raentados agronoraos d'alguma dessas gran-
jas raodclos, ou dessos pomposos iustitulos
agricolas, que por ahi vemos tao inculcados.
0 Buraco, porem, nao esta so em abaiido-
no; esia entregue a um conipleto vandalismo,
que em pouios annos ameara de ronverter
cm searas de milho os plainos e encostas,
que 0 niaeliado deslruidor vai desassombraudo
das fiondosas arvores, que erani a sua me-
liior riqueza, e o sen mais bello ornato. Os
autigos possuidores do Bucaco cultivavam ape-
nas juiu'to ao edilitio do convenlo uma peque-
iia horla. Nao havia acjui nem abcgoaria, iiem
service de lavoura, (|uc exeusado era elle, on-
de 0 terreno era todo de copado arvoredo.
Ilojc ao contrario o casciro ou fcitor, que de
[ado aqui govcrna, susteiUa uma juncta de
liois " para t'azer as suas lavouras noBu(;aco,»
I' vai arroteando o terreno, tomo se fora um
liaidio, sem niiiguem Ihe pedir eonlas desse
desbarato! Os mais copados eedros, carva-
llios magnilicos, sobreiros e outras das melho-
rcs arvores vao lodos os dias desapparccendo.
Com algunias topamos nos, esle anno, roladas
no chao, e d'outras vimos os pes, que moslra-
\Am ter sido corlados recentemente, ao passo
que se nao tem posto o machado nos grandes
pinheiros e 'noutras arvores, ja seccas ecarco-
juidas, que em sua queda cminente amearam
derribar as que ihe ficara cm torno; porque
eilas 50 dao trai)alho para se cortarcm, e nao
rendem. Aigumas dessas arvores seculares,
derribadas pelos vendavacs, ou fulminadas
jielo raio, la jazem, ha annos, por terra, ar-
rastando comsigo na sua queda muitas deze-
nas d'arvores, com que tem augmenlado as
fiarczas da mata, c inlerrompido a fresca e
aprasivel sombra dos mais belles passeios.
0 interior da mata esta reduzido a um
cerrado matagal. Nunca mais se tornou a
plantar alii uma so arvore, nera se quer
a limpar as que existiam, ou tem nascido ao
acaso. As melbores ruas da mata, a exccpcao
da que vai da portaria ao convento, e d'ahi
a porta de Sula, estao quasi de todo obstrui-
das, 'nalgumas o transito e j.i impossivel; e
d'outras ate os vestigios se perdcram! As
cbuvas tem-lhes cavado o pavimento, desmo-
ronado os socalcos, e derribado as escada-
rias pelo indesculpavel dejmazelo, de Ihes
nao abrir os desaguadouros.
As fontes, que tao bellas corriam em diffe-
rentes pontos, c que tao amenos e aprasiveis
laziam os sitios, onde o suave mermurio de suas
aguas Vonvidava a meditaoao e ao mais intimo
rccolbimento d'alma, jade todo desapaceram,
restando apenas nos destruidos canos, por on-
de cram encaminbadas com engenhosa traya,
escBfos vestigios da sua existencia. Das capel-
linhas e cremiterios c.icusado e fallar. Aigu-
mas dellas sao ja um montao de ruinas; 'nou-
tras as silvas tocam ale a ventana do antigo
campanario, que, nas boras mortas esilencio-
sas da noite, correspondia, grave e solemnc,
ao dobre do sino, que no convenlo chamava
OS religiosos a oracao matinal. Em todas os
estragos e ruinas, que a mao do tempo e a
niao ainda mais barbara dos reformadores de
machado tem causado, sao cada vez raaiores.
Apenas os telbados do convento e da porta-
ria foram ha pouco rcparados ii custa de
madeira, que da mata se vcndeu com aucto-
risacao do governo, mas sem as devidas pre-
caucoes para evitar o destroco da mata!
Nao exageramos o quadro, nem carrcga-
mos 0 pincel : exprimimos sinecramente a dolo-
rosa impressao, (jue nos causoii ver em lasti-
moso abandono, e traclado com tanto desprezo
um dos nossos mais bellos monumcntos, tao
rico em primores c galas da natureza, que
nem loda a arte e riqueza, por mui subida que
seja, pode se quer rastejar. Custa ver em
poucos annos destruir uma obra monumental
de seculos, que de maos piedosas tao aprirao-
rada recebemos, nos « os filbos queridos da
civilisacao » para vel-a acabar tao barbara e
brutalmente.
De feito o Bugaco esta hoje como um dos-
ses antigos sola res d'alguma familia nobre,
cujo solarengo so cura de grangear a terra
para lucrar em seus fructos, deixando cahir
em ruina ou desbaratando os jardins, vergeis
e arvoredos, para correr por dies livremente
a rclba do arado. 0 solarengo, |)oreni, rendia
vassagem, e pagava ccrtos direitos ao scnhor
do solar : o caseiro do Bucaco grangeia so para
si; poe e dispoc como proprietario de tudo,
aluga as hospedarias, e casas do convento as
faniilias, que para aqui vem passar o verao;
collie OS fructos; vende as madeiras, como e
quando Ihe apraz; e nem renda nem tributes
paga desta propriedade, que so para este fira
se considera como « monumcnto nacional!»
0 governo oonliara primeiro a administra-
fao do Bucaco ao seu ultimo prior, conce-
dendo-lhe, como unica retribuifao deste nao
pequeno service, os fructos que alii celhesse,
para sua parca sustentacao. Falleceu elle,
passados alguns annos, e a adminislracao do
Bucaco passou as maos menos vigorosas de
um outro respeitavel aneiao, antigo morador
d'esta casa. 0 amor d'aquelle ermo, onde elle
passara em austeros exercicios alguns dos mais
formosos dias da sua mocidade; o sentimento
intimo da sua consciencia, que Ihe dizia, que
um lilho do Bucaco nao devia recusar a mae
querida os seus derradeiros services; esse
entranhavel affecto que invencivelmente nos
liga as pessoas e aos logares, onde primeiro
abrimos es olhos a luz da razao, tudo venceu
no animo de bom religiose a natural e jusla
repugnancia de tomar sobre seus hombros.
141
vergados ja pelo peso dos annos, um encargo,
<iuc elle mal podia desempenhar, isolado 'ncstc
crmo, e como que abandonado dos homens e
das cousas do niundo!
Um creado do antigo prior, souhc desdc
logo tirar panlido d'eslas disposifocs do novo
adniinistrador, para se senhorear de ludo, e
converler em sou pessoai interesse o lucro,
que 'naquella admiiiistracao podia haver. A
mala so Ihe inlercssava pclas madeiras, que
delia podia tirar com o duplicado lim de ga-
nhar o prcro da venda, e de desafrontar o ter-
rene para estender a sua lavoura, e gran-
gear melliorcs e mais largos tractos de terre-
ne. Da linipeza das ruas, piantacao de novas
arvores, e lioa direcrao das aguas nao leve
nunca o menor cuidado, per que disto so
tirava despesa sem fructo algum para die!
E contra estes escandaiosissimos abuses
que vale, ou que podem os bons dcsejos e a
sincera vonlade dcsse anciao, quasi nonage-
rio, sem auxiiio nem forra para fazer respei-
tar a sua auctoridade? Deus sabe quantas
vczes 0 vencrando sacerdote de])rucado junto
do altar sancto; ou sentado, solitario a desho-
ras da noite, no coro, onde tantas vczes en-
toara, cercado de nuraerosa communidade de
irmaos religiosos, a divina psalmodia, tera
clle agora, unico de tantos, que alii forani,
lamentado a desventura de Ihes sobreviver,
para ser testemunha silenciosa da destruicao
do seu ermo, que elle tambcm com suas
raaos ajudara a cultivar, e que tao beilo e
formoso vira ncsses, para elle dourados tem-
pos, da sua mocidade !
0 governo mandou para o Bucaco scis
veleranos, que aqui vimos paciHcamente entrc-
lidos nos lavores e trabalhos de costura e de
nieia, para nao alimentar, talvez, a ociosida-
de, estranba aos babitos da sua prolissao.
Acbamos acertada a lembranca, mas insufli-
ciente, ou inelicaz ja pelo escasso numero
d'homens, de que se compoe aquella " veiha
guarda, » ja por nao tercm um official, que os
commando, e que, residindo aqui com o padre
adniinistrador, o auxiliasse, e Ihe prestasse a
forca, de que sobre tudo earece. Actnalmente
OS veteranos vivom aqui como acastellados na
portaria do convento, e nem servem para a
policia da mata, nem se empregam na linipeza
d'clla, como conviuha, so fossem mais em nu-
mero, e tivcssem por estc servico uraa pe-
quena gratificacao; 'nisto aproveitariam elles
melhor o tempo, eo publico ganharia mais do
que nas suas obras de meia ou costura.
Acabar com os escandalosos abuses da admi-
nistracao do Bufaco, e prover a sua restau-
racao e conservacao, e obra tao instante e
tao digna, que nao cremos haja 'nesta nossa
terra governo, que por ella se nao interesse,
e que nao procure desvelladaraente remediar
OS passados descuidos com novas e acertadas
providencias. Cada mez, cada semana, e atd
cada dia de abandono para o Bucaco cor-
respondc a longos annos de completa rui-
na. 0 machado destruidor nao poupa o nia-
gcstoso cedro do Libano, o soberbo carvalho,
e 0 annoso sobreiro. Uma hora basta para
aniquilar esta obra de seculos. E quando a
mao destruiddra do vandalismo tiver rareado
cssa espessa e frondosa mata; quando as suas
hollas ermidas estivereni rcduzidas a montoes
de ruinas, quando os escalvados penhascos
do Bucaco campearem a descoberto no pen-
dor da montanha; quando, no volver dos tem-
pos, da "Cruz alta » ate o emblema se per-
der, 0 navegante juncto as praias do Oeeano,
e 0 viajantc avistando de longe cstas sandas
ruinas, se curvara reverente ante cllas, e
amaldicoara a memoria da gcracao ignara
e barbara, que assim deixara perder aquelle
venerando monumcnto, tao rico de singula-
res dons da natureza, e tao cbeio das mais
piedosas e sublimes recordacoes, dos mais
ternos e caros affectos d'alma!
Bucaco, setembro 1855.
J. M. DB ABREi:.
TELEGRAPHIA ELECTRICA.
Contlnuadu de pag. 120.
IV.
Telegrapho inglez.
Em Inglaterra e 'nalguns estados dc Alle-
manha os telegraphos geralmente usados tcm
muita analogia com os de Breguet destinadns
para o servico do estado. Tem dois ponteiros,
e as letras sao indicadas pelo numero de
oscillacoes dc um dos ponteiros de jier si, ou
d'ambos simultaneamente. Assim por exem-
plo, estando fixo o ponteiro da direita, se
0 da esquerda (izer um movimento para a
esquerda, este signal indicara o ponto de
suspensao; se o mesmo ponteiro (izer dois
movimentos no mesmo sentido exprimira A,
se fizer tres, B: um movimento a esquerda
do ponteiro d'este lado, e outro a direita de-
signara a letra C, e assim successivamente,
combinando os movimentos dos dois pontei-
ros. Os pequenos arcos descriptos pelos dois
ponteiros sao limitados por caravelhas nas
quaes elles vao topar. Para os fazer mover
ora para a direita, ora para a esquerda mu-
da-se por meio de commutadores a direccao
das correntes.
0 desvio da agulha magnetisada, que
Oersted descobrira em 18^0, eoprincipio, em
que particularmente assenta o machinismo do
telegrapho inglez.
142
Oersted obserr.ira, que. approximando um
conductor, que rouiio os dois polos da pillia,
<lu lima apuiha collorada hoiisontalmcnte so-
lirc uraa haste vertical, aaguiha era desviada
da sua dircerao 'nuni sentido quando o con-
ductor |)assava por bnixo d'ella, e 'iioulro pas-
sando por rima ; c quando a direccao da
corrente mudava, Uimbcm a aguiha cxperi-
nienlava cjjiial imidanca na sua direccao.
Se por cxenipio unia ajjuiha inagnetisada
lor coiocada oiilrc dois tins, nos quaes a cor-
rcnte segue duas dircccOcs opposlas, a cor-
rente elcctrica tendera a lazer desviar a aguiha
no mesmo .senlido com unia intensidade du-
pla ; e se era vez de um fio sc empregam dois,
quatro, seis ou mais; ou, o que iniporta o
mesmo, se um mesmo tio sc faz girar um
certo iiumcro de vezcs ahai\o e acima da
aguiha inagnetisada, augmentara tamhom a
tendcncia d'esia aguiha a dcsviar-sc, 'num ou
'noutro sentido, com o luimero de giros que
o lio lizer ate a um luaximo, que sera o limile
d'esse movimcnto.
Quanlo maior lor a intensidade da corren-
te, maiores serao as oscillacOes da aguiha ou
dos ponteiros, que tomando assim diveisas
posicocs designarao diversos signaes. Para
tornar maior a scnsibilidade do apparelho,
Mohili emproga dois ponteiros um interior,
outro exterior, e pOe o polo de um em oppo-
sicao ao do outro para dcstruir em parte a
accao da terra.
Tal c 0 processo adoptado em Inglaterra.
Os dois ponteiros sao fixados sohre um eixo
horisontal na parte interior c extorinr do
quadranle: sobre este eixo esta collocado um
multiplicador de 300 nietros, i|ue e de lio de
cobre involvido em seda. Os lios estao enlea-
dos em doisquadros, que deixara entre si um
espaco, oude se poe um dos ponteiros, e o
outro sobre oquadrante; ambos dies sao nia-
gnetisados e sollicitados no mesmo sentido. 0
ponteiro exterior e que indica os signaes. Na
parte inferior do instrumento cstiio collocadas
manivellas de marlim. Para transmittir um
signal faz-se passar por meio d'estas mani-
vellas a correnle elcctrica 'num ou 'noutro
sentido, segundo a raanivella e movida da
direita para a esquerda, ou vice versa, e por
consequencia o ponteiro e tambem desviado
para a direita ou para a esquerda.
Este telegrapho tem a vantagem da simpli-
cidade da sua construcrao, em que nem uma
roda se eraprega : quanto a velocidade na
transmissao dos signaes ou letras niio e ella
maior i|ue nos tolegraphos francezes de Bre-
guet, ondc todavia os signaes sao mais distin-
ftos, e mais I'aceis de comprehender; porque
OS signaes inglezes resultam de pequenas osci-
lacocs de uin ponteiro, os signaes francezes
sao coraposlos do angulo formado por uma
linha invariavel e uma linha raovel. 0 tele-
grapho inglez e dc feito mais sensivel que 0
francez, mas csta sujeito a dcsarranjar-se
pclas correntes accidentaes da eleelricidade
atniospherica.
Vonliniitt.
LEXICON GREGO-LATINO.
Motivos, que delrrmintiram a iinpifssiio do Lexi-
C(in OrtHju- Latino dc Urnjamhn llederico em
I'orluijdt im R. Impreiisa da L'nivirsidade de
Coiml/ia, e cstado, em que se acham os iraba-
lltos, (/uc llie dizem respello.
Pelo alvara dc 28 de junlio dc 17j9 ' foi
determinado, que houvcsscm (pialro profes-
sores de grego na corte de Lisboa, dois nas
cidadcs de Coimbra, Evora, e Porto, e um
nas outras cidadcs e villas, (|ue fossera cabe-
cas de coraarca. Os estatulos da Universi-
dade de Coimbra ordenaram, que todos os
estudantcs naturaes das cidadcs, ondc hou-
vesse cadcira de grego, nao podessera matri-
cular-se em (jualquer Faculdadc sem o seu
exame, e permittiram aos naturaes das outras
cidadcs e villas, ondc a nao houvesse, e que
se destinasscra as faculdades de theologia e
mediciua, darem conta d'este exame durante
0 curso das faculdades, os theologos antes do
acto do 4.° anuo, e os medicos antes da raa-
tricula do 3.°"
Pelo alvara de 17 dc julho dc 1772 foi
determinado, que para uso das cscholas de
grego sc imprimissem Logares cscolhidos dos
rcs|icclivos classicos em prosa, c em verso,
conformc a tabella aprescntada jiclo professor
dc Lisboa, Cuslodio Jose d'Oliveira. Foi com
effeito coniecada na dicta cidade, cm 1773,
c concluida em 1776, a Selecta em prosa. A
dos poetas, porem, so em 1830 e que foi im-
pres.sa em Coimbra na real imprensa da Uni-
versidade.
Concluido este trabalho restava ainda o
d'um Lexicon Grego-Latino, impresso tam-
bem em Portugal. Porem uma cmpreza d'csta
ordem era de certo niuito ardua e dispen-
diosa; carecia dc professores babeis, aos quaes
fosse cucarregada, e convinha que a edicao,
dejiois de rematada, tivesse um consumo nao
duvidoso, que a indemnizasse das despezas.
Corria o anno de 1830, e um aggrcgado de
circumstancias favoravcis (acilitou entao a
cmpreza. A Lusa Athenas contava no seu
gremio professores insignes, os quaes, tendo
cnsinado por muilos anuos a lingua grega
uo real collegio das Artcs tiuham adquirido
com 0 sen aturado estudo um giande cahe-
dal de conhccimentos nao vulgares 'nestc
• i^. 13 e 14.
^ Vejam-se os Estatutos Ijv. 1.", tit. 1, cap. 3, ^. 6:
Liv. 2.°, cap. 2, ^^. 1 : Liv. 3.», cap. S, \S^. 4 6 3.
143
ramo. Taos eram os srs. Jose Yicente Gomes
de Moura, Fr. Forlunalo de S. Boaventura,
doutor em Iheologia, c niongc da ordeni de
Cislcr, e o Dr. Antonio Jose Lopes de Moraos,
lente de Excgetira do Novo Testaraenlo, na
Universidade de Coimbra, e que antcccdcnte-
raente linha sido tanibcm professor de grcgo.
Tinha-sc acabado com o ensino particular,
determinando-sc, que nenlium cstudante fos-
se admittido a fazer exame de qiial(iuer disti-
plina preparatoria, cxcepto de latim, sem a
ter estudado nas aulas regias, e pela ordem,
que cnlao foi eslabclecida. Tinha-se poslo
era vigor a determinarao dos estatiilos, acima
dicta, a respeilo do exame de grcgo; donde
resultou matricularem-se no real collcgio das
Artes cm Coimbra no anno de 18'2y na 1/
aula de grego 101 estudanles, e na 2." lu;
e em 1830 na 1." 49, e na 2." 29. Ora con-
tinuando assim o estudo da lingua grega, ja
nao era duvidosa a indemnisacao da despc-
za, que a Imprensa fazia com a cdicao do
Lexicon, porque a venda era ccrta.
A. vista pois de tao favoraveis circumstan-
cias accometteu-se a emprcza. Dos Dicciona-
rios Gregos-Latinos, culao mais usados nas
escholas cstrangeiras, que eram o dc Scbre-
velio e o d'Hederico, escolbcu-se o d'este por
scr mais copiosoem vocabulos, signilicacoes, e
idiotismos; e das differenles edicOes do niesmo
escolheu-se a de Lcipsitk de 1790, por ser
entao a mais copiosa, que era conbecida. E
dividida esta edicao em trez partes, que sao,
1.', llerraeneutica, e coraprehcnde os voca-
bulos com as suas dilTercntes signilicacoes;
2." Analytica, e comprebende os vocabulos
corao sao usados nos difTerentcs dialectos,
reduzindo os nomes an nominative, c os ver-
bos ao thema ; 3.' Synthetica, que e um
Diccionario Latino-Grcgo, c serve para verier
0 latim cm grego.
Foi encarrcgadn d'esia laboriosa tarcfa o
Dr. Antonio Jose Lopes dc Moraes, lente
mencionado de Exegetica do Novo Tcstamen-
to, e sendo dispensado do exercicio da sua
cadcira ; e foram designados para o coadju-
varcm os dous professores d'Humanidades
tambcra ja diclos, Jose Vicente Gomes de
Moura, e Fr. Fortunato de S. Boaventura;
porera, sendo estes cbaniados para oiitro ser-
vice, em breve acabou a sua coadjuvacao, e
foi necessario recorrer a oulro professor alias
insignc no ramo de i(iie cstava encarrcgado,
mas albeio ao estudo do grego, qual era Fr.
Jose de Sacra F'amilia, da ordem dos Eremi-
tas descaicos de Sancto Agostinlio, professor
d'arilhraelica, geonictria, cbronologia, e geo-
grapbia, e de ]>liilosopliia racional e moral,
no real collcgio das Artes; mas a coadjuva-
cao d'este mesnio foi de poiica duracao, por-
que 0 cbamou para Lisboa o exercicio da
cadeira, que elle tinlia escolbido: foi entao
convidado para coadjuvar naqucllc trabalbo
oulro eremila da mesma ordem, que nao era
professor, qual foi Fr. Joao do Carmo.
Ainda que dcstituido do auxilio dos dois
professores mais habcis, o lente de Exegetica
nao afrouxou na emprcza, e no anno dc 183i,
apezar das interrupcoes motivadas pela guer-
ra linha Icvado a impressao do Lexicon Gre-
go-Latino ao fim da Ictra k, e principio
do A, formando ja ura volume de 13o folhas
de impressao com 539 paginas. Por motivo.s,
que 0 publico nao ignora, o Diccionario (icon
'nestes termos desde o anno de 1834 ate o
de 1839. Foi cm 14 d'agosto d'este anno
que a Augusta Kainha a Sr.° D. Maria II de
saudosa mcmoria, concedcu a jubilacao ao
sr. Jose Vicente Gomes de Moura, e deler-
minou, que elle continuassc a edicao do Dic-
cionario. Conlava ja cste veneravel anciSo
mais de 70 annos d'edade, mas a Divina
Providencia extendeu-lbe ainda os dias da
vida por tanlo cspaco, quanto foi bastante
para elle concluir a parte Uermeneutica do
Diccionario, levando-a desde a foiha 136 ate
a folba 295, desde pag. 540 ate 1181, desde
0 A ale 0 n.
No 1.° de marco de 1854 apagou-se eslc
brilhante luminar das sciencias; as letras
perdcram um dos seus maiores cultivadores;
as humanidades um dos seus mais ingigne.s
professores; c ate as musas perdcram um
vale, que sabia cantar em verso latino e
portuguez. Falleceu na sua casa d'Abraveia,
da freguezia de Sancto Andre de Poiarcs, do
bispado de Coimbra, contando mais de 80
annos d'edade, o sabio varao, que foi a bon-
ra da sua patria, e ura dos insignes orna-
nienlos da Lusa Atbenas, a qual na longa
carreira do sen magisterio, por espaco de
mais de 40 annos prestou services de grande
valor, ensinando e cscrevcndo.
0 digno prelado da Universidade Icvou en-
tao ao soberano conbecimento d'Elltei Re-
gente em nome d'ElUei, o Sr. D. Pedro Y, i»
fallecimento d'aquelle dislincto professor, e a
necessidade que bavia de continuar, c levar
ao bm a edicao do Lexicon Grcgo-Latino, c
porque fallavam ainda intciras as duas par-
tes, Analytica e Syntbetica.
Foi tao benignamenlc acolhida esta repre-
sentacao, que por uma porlaria de 17 de
junlio do mesmo anno dctcrminou Elllci Rc-
genle, que o actual professor de grego do
lyccu nacional de Coimbra Anlonio Ignacio
Coellio de Moraes fosse encarrcgado da con-
linuacao do Diccionario. Em virlude d'esln
sabia detcrminacao logo no mez de jullio do
dido anno sc deu principio na imprensa da
Universidade a impressao da parte Analytica,
c continuando-se sem interrupcao iioiavel,
acba-se hoje no fim da lelra a com 24 follias
d'iniprensa, e 9G paginas.
Com quanto a parte Uermeneutica sabis.se
jii mclborada com alguns addilanicntos, im-
144
porta ciiliclanto a(l\c'ilii. que dcidc o anno
IS30, cm que a edirao foi tomerada , ale o
prcsente dc 18ilo lem corrido 2o annos, e
que ncste esparn dc tempo nao so sahiram a
Ihz edieOes d'llfdcriro mais aciescPiUadas,
como a dc Piiiger, e I'assov em l.('i[)sitk em
182S, repetida em Roma cm is:i2, senao
tamhem os sabios Helleiiistas da Franca, co-
mo J. Planclic, c C. Alexandre, insjicctor
geral da univcrsidade dc Paris, pul>licarani
])ara uso das cscliolas novos Diccionarios
Grcgos-Francczcs, manuacs niuito acrcsccn-
lados com urn grande numero de vocahulos.
Comparada pois com elle a nossa cdicao d'a-
quclla parte, e evidcnle (jue nao pode corrcr
parclhas, c que o zelo pelo adiantamcnlo do
estudo dogregocntreuos, demauda iiucsellie
faca urn Ajjpcndix para nao licar iiilcrior.
Bem conlicceu csla nccessidade o fallecido
professor Jose Vicente Gomes de Moura, o
qual tendo a vista as edicoes d'Uederico de
1832, e a de Planche de I8'39, deixou come-
cado este Irabalho, que levou ate a letra a, c
palavra ^r.f.Mvreo, contando ate aqui 'o-.d'i'-i
vocabulos. 0 actual professor encarrcgado da
continuafSo auxiliado pelo Diccionario de C.
Alexandre de 1848, da ultima cdicao dc
Planche de 1852, e d'outros mais, comecou
dc novo aquelle traballio, e tendo chegado
com elle ao iim da letra E conta ja l'J:00O
vocabulos.
Eis aqui o estado, em que se acham os
irabalhos rclalivos, edicao do Lexicon Grego-
Latino.
Setembro dc 1855 C. JI.
UNIVERSIDADE DE FINLANDIA.
Conlinuado de pag. 133.
Os magisterios e doutoramenlos sao uma
das maiores solemnidades, ([ue a Univcrsidade
de Finlandia celebra de trez em trez annos.
Antigamente os cscholarcs rcpresentavam
'neste dia uma comedia moral, analoga as
circumstancias ; e o rcitor era obrigado pelos
estatulos a dar um grande jantar, que unica-
mente devia conslar dc seis pratos, alem da
manteiga e presunto; a sobremeza scrvia-sc
somente queijo, cerveja de Finlandia, e vinhos
dc Franca. 0 rcitor podia, quercndo, convi-
dar OS impressores e encadcrnadores da cida-
de ; porem pessoa alguma do sexo feniinino,
nem niesmo as esposas dos professores, eram
admittidas a este jantar, que nao devia passar
da meia noite. Esta clausula faria suspeitar
da sobriedade dos cscholarcs 'nestes festins,
mas de feito parece, que sempre 'nclles sc
guardava a melhor ordem.
D'estas antigas practicas boje somente se
conserva o primitivo ceremonial dos magiste-
rios c doutoramenlos. 0 professor Grot relerc
do modo seguinlc uma d'eslas solemnidades,
(pic I'ui celelirada cm 18i0:
« Foram deslinados ([uatro dins para os
doutoramenlos nas quatro f;iculdad('S. Todo
0 corpo acadcmico se dirigiu proccssional-
mcnte, indo dois a dois, para a cgrcja de S.
Nicolau. Durante o transito tocavam as mu-
sicas, davam-se vivas, e salvavam as lorres.
(;iicgado 0 prcstito a cgrcja, os candidatos
collucaram-se em torno do pulpito, no ([ual
0 i]rofcssor, ([ue bavia de cotifcrir os graus,
rccilou um discurso apropriado ao objeclo.
Findo elle um dos membros da Univcrsidade
pro|)6z uma queslao sciculilica ao primeiro
candidato, que rcspondcu sobre ella, e o
mcsmo se practicou com os outros candida-
tos. Concluida esta parte d'esle acto solcmne,
leu-se em latim a formula do juramento, que
lodos OS candidatos prcstaram, pondo a mao
sobre 0 sceplro ou massa, que os bcdcis Ihc
aprcsentavam. Entao comecou a ccremonia
da promocao dos doutorcs. 0 professor, que
coulcria o grau, cobriu-se com o sen barrele
doutoral, dcpois poz o mesmo barrele na ca-
bcca de cada um dos candidates, e no mesmo
inslanle lodos os doutorcs, que se achavam
preseules, cobriram-se com os scus barretes
pretos, azues ou encarnados, conforme as
faculdades. 0 mesmo professor metteu um
annel d'ouro no dcdo a cada um dos novos
elcitos, como symbolo da sua uniao com a
sciencia; deu depois aos doutorcs thcologos
um exemplar da biblia, e aos oulros uma
espada, e iinalmenle enlregou-lhes os sens
diplomas universitarios. Durante a distribui-
fgo das insignias doutoracs tocavfi a rausica
denlro da egreja, e a artilheria salvava nas
lorres da cidade. Acabada esta ccremonia, o
ultimo candidalo recilon um discurso, agra-
dccendo a lodos os circumslanles, c em par-
ticular as senhoras, a honra ([uc Ibes fizeram
de assistir a esle acto. »
A collacao dos mesircs, ou os magisterios,
ainda c mais solcmne que os doutoramenlos,
ou pelo menos 6 festejada com mais enlhu-
siasmo pela circumslancia de ser esle o pri-
meiro premio dos Irabalhos c fadigas littcra-
rias de mancebos no verdor dos annos, c que
por isso sao objeclo de lerno amor, e das
mais caras esperancas das suas familias, que
OS veem elevados aquelle primeiro grau aca-
dcmico a cusla de graves sacrilicios e inces-
sanles cuidados. 0 ceremonial dos magiste-
rios e 0 mesmo que o dos doutoramenlos, so
com a differenca, que em logar do barrele
doutoral Ihes poem na cabeca uma coroa de
louro, que os novos meslres Irazem lodo este
dia passeando pela ruas com o chapeu na
mao. k nolle a cidade da-lhes um baile
muito lusido, onde elles apparecem com as
suas coroas na cabeca, recebendo alii novos
applauses.
145
Antes da funcrao dos magistcrios os raa-
gislrandos costuraam desde tempos antigos
convidar a mais nobre e mais foiniosa don-
zela da cidade, para Ihcs tecer com suas ni-
veas raaos as coroas, com que hao do ser
laureados. No dia da collafao dos magistcrios
OS novos mestres offerecem-ihe cm nome de
todos um rico presente. E tambem costume
aprescntar-se clia no baile com uma grinalda
de louro no vestido.
Em 1C43 celcbrou a universidade de Fin-
landia pela primeira vez a funccao dos ma-
gistcrios. Seguindo o espirito de austera mo-
ral, que distinguia o scu ensino, o consisto-
rio academico admittiu as provas, mas nao
quiz conferir o grau a muitos candidatos de
lelevante raeiito litterario, porque os nao
achara correntes in vita el moribus. Urn estu-
dante, que, por desgraca sua, fazia versos,
foi intimado para abandonar esta « lingua-
gem inutil » e prohibido de andar recitando
pela cidade estancias e rimas, que acrcdita-
vam pouco a academia. 0 crime de feiticeria
era punido nos escholares com muito maior
severidade! Em 1601 foi accusado de feiti-
ceria um. As provas da accusacao faltavam;
nunca o tinhara visto practicar um maleli-
cio; nem no seu aposento se Ihe encontrara
livro algum de magia, ou cifra cabalistica ;
mas cram tantos os progresses, que elle tinha
feito nas sciencias orientaes, e ensinara em
tao curto espaco o latim a um seu condisci-
pulo, que se suppunha, que laes maravilhas
eram obra de algum pacto, que o pobre escho-
lar fizera com o diabo, e por isso o consisto-
rio, presidido pelo bispo dioccsano, sem
escrupulo o condemnou a morte.jde que, nao
sem grande difficuldade, o salvou a valiosa
proteccao do conde de Brahe, dando-se-lhe
por expiada a culpa com o tempo, que sof-
frfira de prisao, e a vergonha da sentenca,
que 0 condemnara. Nove annos dcpois outro
escholar, accusado do raesmo crime, foi so-
mente riscado para sempre da universidade-
Estes antigos prejuizos acabaram; e oscur-
sos e habilitacoes scientificas que 'nesta uni-
versidade se exigem para obter o grau de
magisler sao rigorosissimas. Eis-aqui o pro-
gramma das materias que fazem objecto dos
exames para aquelle grau.
Geometria, arithmetica, algebra, trigonome-
tria plana e sphcrica, .seccOes conicas, theo-
ria das curvas, calculo diflerencial e integral;
physica de Neumann, astronomia, chiniica
organica e inorganica, e analyse; mineralo-
gia ; a encyclopedia d'Hegel ; bistoria natural,
liistoria universal de Beker, e uma historia
particular; latinidade; os pocmas de Iloraero,
um livro d'Herodoto, um de Tliucydides, duas
tragedias de Sophocles, os versos de Ana-
creonte, as odes de Pindaro, o Anabasis de
Xenophonte; os principios das linguas hebrai-
ca, arabe, e pcrsiana ; e para explicacao os
dez pequenos prophetas, quarenta psalmos,
Genesis; oAlcorao, as fabulas de Loeman ; o
Scbah-Naraek ; a historia da Russia, e a lin-
gua russa; a historia e litteratura antiga e
moderna.
0 exame sobre estes diversos ramos da fa-
culdade de philosophia dura mez e meio ate
dois mezes, durante os quaes os estudanles
fazem dois ou trez exames por semana: para
ser admittido ao grau de mestre 6 necessa-
rio obter em cada um dos diversos assumptos
do programma uma das trez qualilicacoes
seguintes approbatur, approbatur cum la'ude,
ou laudatur: a reprovacao em qualquer das
materias de um exame exclue o candidato do
magisterio. 0 exame escripto precede o exa-
me oral, e consiste em dois exercicios lati-
nos ; 0 primeiro tem por fim fazer conhecer
0 estilo do candidato, e o segundo o desin-
volvimento que elle sabe dar aos sens pensa-
mentos, e a ordem e raethodo com que tracta
0 assumpto: sobre este exame recaem as
raesmas votacoes que nos exames oraes. Nao
se concede dispensa alguma das disciplinas
d'estes exames, excepto das linguas erientaes
que nao 6 difficil d'obter, principalmente
mostrando-se os candidatos muito habilitados
na lingua russa. '
J, M. DB ABREU.
UMA YISITA A SERRA DESTRELLA.
Continuado de pag. 129,
VEGETAES MAIS NOTAVEIS DA SERBA d'eSTRELLA.
0 conde' de Hoffomansegg na viagem que
fez a Portugal, redigida por Link, impressa
em Paris em 1805, refere ter encontrado
'neste reino 1832 especies de plantas ordina-
rias, 572 especies de plantas cryptogamicas.
0 douctor Friderico Arth. Wehvitsch, vindo
depois a Cfia em 1848, notou as seguintes
especies, indigenas dos arredores da serra.
Saxifraga.
(Califraga de Bento Pereira?)
S. spalhularis de Brolcro; (Saxifraga alba de
Valmont?)
nSaxifraga.segundoCalcpino: Adianlum nigrum
aut lierba bipincllae similis, folio tantum minore
ac magis scrrato, et minime piloso, quam vulgus
Parvum Acus Pasloris vocal; Graeci Empetron.
Ita dictum est quod calculos in corpore frangat,
vel quia in locis saxosis, cum cnascatur, saxa ipsa
frangit, dumcrescit. » Plin. 1.22,C.21. Calculos
e corpore mire pcUit, frangilque, utique nigrum;
qua de causa potius quam quod in saxis nasce-
relur, a nostris saxifragus, a, um.
' V. a obra L'empereiir Aleianire II, por JI. Li'oii-
son le Due. Pari*. I!j55. m 18."
1
16
PtANT.i«o: Artioglonum , PlaiUam. Tanfliageiii.
rimuee cm uiaiii, dissomiM.i em agoslo. a Sic
ilicia i/uia ptantac pedum similis est. As siias
lolhiis sao amargas ailstringeiitcs, vuliiL'rarins e
I'l'brifugas. A gentc dc tampci iisa ila scmenle
'Irjla plaiUa coiilra as dianlieas, c as miilhcrcs
I'ligiilcm-a n)m iiiii civo para proM'iiir o alxirto.
/'. siibulata ik' l.iii. lincnnlra-sc no M.illiaii da
soria.
Auknahu.
A, laricifolia dc Brot. Encoulra-sc no Malliao
da siTra.
A- letraguclra. Eiicoiilra-sc no Sabuguciro,
|)i>\oacii() da sena.
A. montanii dv I. in. EiU'ontia-se cm Aldca da
scrra.
Cakdajiijje.
Canliiminc: Crcssnii rles prh. Mbstrari) aquati-
<"o ; Agriles ; Aj^riucs.
C. Uerminii dc Ilnlj'munscgg. Eiiconlra-se nos
Canlnros.
JiNCis. Jortr, Jinii'o.
J. si/uavrosus d«l,in, muilo vulgar. Encontra-
sc no Malhao da serra.
-^ar. p c/«(ms. Encuutra-sc no Sabu-
guciri).
J. uUginosus, Ilolh. Encontra-se na lagoa com-
prida.
Nardis, Nari, Nardo.
N- stricta dc Lin., muilo vulgar. Encontra-se
no Malliao <la scrra.
Betdla, Bnulcan, Vidociro.
Ji. alba. Vidociro. Enconlra-sc no Sabuguciro.
HiERACiiM. Hcrhc a Vcpcrvicr.
II. pilosclla. Pilosclla dasBolicas; cncontra-sc
na lagoa rcdunda.
H. sabaudum. Encontra-sc cm Cca.
Droseba.
Drosium, Akhijmilla. Pied de lion. Sanicula
maggiorc
I), rotundifolia dcLin. Uorclla ou Orvalhinha.
Enconlra-sc na lagoa rcdonda.
Vioi.A, Violclle, Violela.
T'. jialustiis de Lin Enconlra-se na lagoa do
Cantaro Gordo.
Ali.'i:m, Ail, Albo.
A- ticinrialis do Lin. Ail serpenlain, faxnard.
EncontTa-se no S.ilmguciro.
LiLicM, Lirio.
L. jnajfnjnit dc Lin., lilium aurciini Lis oran-
ge- Maslagao. Enconlra-sc no Sabuguciro.
Jasione, Couve brava.
J. vndutata. Encontra-sc no Cantaro Magro.
-\lloscu.ns, Fcto.
.1. crispus. (Pleris crispa de Lin.?) Encon-
lra-se no Cantaro Magro
JuMPERis, Oenevrier, Zinibro.
,/. communi.i de Lineu, g. Knconlra-sc dcsilc
a fonle dos Canaris ale as lagoas, aond* o tcr-
rcno niio c ccdjcrto de rochas. Nao loma mais
de quatro palmos de altura. Tem a casca a\or-
raelhada; o Icnbo c leve c nao mui rijo. 0 cbeiro
d'estc vegetal, quando scco, e scmelhante ao da
resina. .\s suas I'olhas de cor verde carregada,
saoestrcitas rijas, bicudas edispostas quasi sempre
cm numero de Ircz cm volta de cada no. Eslc
arbusto cbcga a tomar no tcrreno nma superficie
de trcz metros quadrados, lormando um pcqueno
bosquc verde, scmelhante ao do buxo do norle
tosquiado.
Campa.mla.
Oantcleii : Ganis de noire Dame; JUiroir de Ve-
nus Cauipainhas.
C. /icrmi/uide I.ink. Enconlra-sc nos Cantaros.
('. hederacea- Encontra-se no valle da Can-
dicira.
C. lOBFUNOii. Brot. EncoiUra-se cm Cca.
(lENTiANA, Oentiane, (icnriana
G. liilraAvl.m Encontra-se no Cantaro (iordo.
G pneumnnunlhe de Lin. Encontra-se no Ma-
lliao da scrra.
Armeria; Museipula; Lychnis. Attrape-mouche.
A . ■ . Encontra-sc nos Cantaros.
Teucriim; (Salriastrum Sf.hieb?) Sange amere ;
Gcrntandiee en aibic. Lingua Ccrvina ; Pimpi-
nella.
T Enconlra-sc nos Cantaros.
SiLENE.
A", clcgans, HofTmansegg. Enconlra-sc nos Can.«
laros.
S. species a/f. Sini.i Elisabethae }^n. Enconlra-
sc no Covao das Vaccas.
Senecio; Uerba pappa Scnefoyi Herva loira ;
Cardo Morto; Espinafrc
S. ccspitntus. Encontra-se no Covao das Vaccas
C Cima<louro do caes.
SoLiUAGo; liellis. I'aquerctte. Solda; Consolda.
S". minor, Brot. Encontra-sc no Cantaro Gordo.
Cetraria.
C. islandica. Enconlra-se no Canlaro Gordo.
C. irislis. Encontra-sc no Valle do Conde na
scrra.
CuRYSANTUEBiCM. Pampilho ; Pamposto; Bemme-
qucrcs dc llor amarcla.
C. oppositifolium. Encontra-se nos Cantaros.
CentiHua. n. a. db VASCONCELLOS.
CURSO COMMERCIAL
Os homens nunca cslao .satisfeitos com o
presente, as vezes tem saudades do passado,
c qnasi sempre tem grandes espcrancas no
futuro. Nos somos dos que tudo esperam do
fuluro, nada acrcdilamos no presente, e do
passado admiramos muitas accoes heroicas
so para nos servirem de incenlivo para coii-
sas futuras.
Esta sociedade esia vellia, caduca, e reia-
xada; e tj por isso, que so a devemos consi-
<lerar corao a d'uni cslado transilorio, do lim
d'um pcriodo de degradarao para a d'ura
e.stado melhor, I'uiidado na moralidade, na
inslrucrao solida, que sao a base para um
verdadeiro progresso, e para se aicancar a
solida civilisacao d'um estado.
D'entre os diversos ramos, que dao vida as
narocs, e certamenle o do comraercio um dos
mais importanles. Seria ocioso o querel-o
demonstrar com a hisloria. Mas a sciencia
commercial de pouco e conhecida no nosso
paiz, porque a maioria do corpo commer-
ciante porluguez apenas tcni a eschola da
147
rittina, faltando-Ihc os conhecimenlos iheori-
cos do comnicri'io elovado a sciencia, para
podercni desemliaiajadamente cucelar em-
prezas calculadas segundo toda a regra, e
assim levar o commercio de especulacao, e
com die a civilisaiao, aos pontos mais remo-
tos do globo.
Em regra gcral, algum ncgociante, ou cai-
xeiro, que no nosso paiz apparece com mais
algum desinvolvimenlo commercial , tcm-lhe
sido precise ir estudar a sciencia na Ingiater-
ra, Franca, Belgica, Allemanha, etc., e ainda
que por via de regra, um tal estudo tenha
sido obtido na practica das principaes casas
de commercio d'anuelles paizes, elle e adqui-
rido debaixo da direccao de liomens graiule-
raente instruidos na sciencia, e podemos af-
foutanienlc assegurar, que casas ha que sac
verdadeiros iuslilutof commerciaes. Entre nos
0 que lia? A practica de caixeiro simples-
mente, e d'esta e diflicil sahir um commcr-
ciante, na verdadcira aceepcao em ([ue se
(leve tomar esta palavra.
Entre nos nao lia um insliluto complete,
para a classe commerciante. Na universida-
de, ou nas Polytechnicas poder-se-hia isso
conseguir, mas nao convem por muitas ra-
zOes. lia, e verdade, ahi unia flute chamada de
commercio, que em cousa alguma corresponde
ao titulo que tem: ainda alii se da o secular
fjuarda lioros moderno, e tem-sedicto tudo. Se-
ria, e mesmo concedemos que foi cousa muito
boa para o tempo da sua creacao, mas para
hoje e um anaclironismo complelo. 0 cstado
de civilisacao de muilos povos que commer-
ceiam comnosco, deve obrigar-uos a creacao
d'uma classe educada debaixo d'outro ponto
de vista, d'outras regras mui divcrsas d'aquel-
las que satisfaziam, lia cem ou cincoenta an-
nos, porque os tempos sao outros.
Nos que no desejo de servir o nosso paiz
nao redemos a ninguem, creamos o anno pas-
sado, no collegio que dirigimos, um curso
especial de commercio; foi porem elle um
ensaio, ou a base para um desinvolvimento
mainr, que hoje Ihe damos, como se vera do
scguiute programma para o
Curso commercial no collegio de Nossa Senhora
da Conceicao, cm Lisboa.
0 ctirso commercial organisado 'neste col-
Jegio, sera de rjuatro annos. Nao podera 'nelle
matricular-se alumno algum, scm que tenha
Icito como preparatorio o exame de todas as
disciplinas, que completam o curso d'instruc-
cao primaria.
0 curso fica distribuido por onze cadeiras,
a saber:
1.' Francez.
2/ Inglez.
■i' Allemao.
■4.' Desenho.
5.' Arithmetica superior, e principios d'AI-
gebra.
C." Escripturacao commercial per partidas
simplices, e por partidas dobradas.
7.' Gcographia, e historia agricola, com-
mercial, e industrial.
8.° Elementos de economia politica.
!)." Commercio propriament(! diclo.
10." Philosophia racional e moral, e prin-
cipios de direito natural.
11." Direito commercial, c nocoes geraes
sobrc 0 direito das gentcs.
J. L. CARRKIRA DE MELLO.
.-/ Instruc^ao PiiOlica.
RELACAO
J)os individuos nomeados para as seguintes cadei-
ras d'ensiiio primario (I." yrau) cm rirlude de
dcspaclws do Conselho superior d'instruccao pu-
blica desde o dia IS aU ao fun d'agosto, e bem
assim por decretos e pnrtarias do Govcrno, com-
municadas ao mesmo Conscllio superior noindi'
cado periodo.
Antonio Andre Maciel, para a cadeira da Frer
guczia de S. Jorge de Lisboa.
Carlos Angusto de Norunha e Brito Milne,
para a de Azambuja, districto de Lisboa.
Gualbcrto Julio da Costa, para a do Rabacal,
districto dc Coimbra.
Jacintho Bernardo d'Almcida, para a de S.
Lcurcnco dos Trances, districto de Lisboa.
Joaquim Alvares Cardoso, para a de Travas-
sos, districto de Braga.
Joaquim Fernandes, para a dc Castanheira lUi
Vouga, districto d'Aveiru.
Joaquim Jorge Callado, para a de Payalvo,
district!) dc Santarem.
Joaquina Emilia da Silva, para a eschola dc
meninas de Miragaia da cidadc do Porto.
Jose Manuel Paes de Souza, para a de Villar
Secco, districto de Viseu.
Luiz Lourenco Marques 4c Vasconcellos, para
a de Sabugosa, districto de Viseu.
Antcinid dos Reis Bondoso, ])ara a de Figuei-
ro dos Vinhos, districto dc Lciria.
Antonio da Soledade Frcire, jiara a da Bata-
Iha, districto de Leiria.
Jo.io Gomes Ferreira, para a de Almofalla.
districto da Guarda.
Jose Antonio Barbosa Junior, para a de Ros-
sas, districto de Braga.
Jose Ferreira d'Abreu, para a de Fornos d'AI-
godres, dislricto da Guarda.
Antonio Correa de Mcsqnita, para a dc Sobral
de Monte Agraco, districto de Lishoa.
Antonio Gomes Duque Junior, para a deJirci-
ra, districto de Santarem.
Antonio Jose da Cruz, para a de Valle dc
Ladroes, districto da Guarda.
Antonio Rodrigues dos Sanctos, para a dc
Lavradio, districto de Lisboa.
Jose Luiz de Matlos, para a de Sortelha,
districto da Guarda.
Manuel N'ogueira da Silva, para a de Talha-
das, districto d'Aveiro.
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JORTNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
RELATORIO
ijolirc o eslado da instrucc-fio prima-
ria c secundaria, piiblica e parlie-u-
lar. do Districlo adininiNlrativo de
Kiisboa. em marco dc 1 S55.
Continuado de j>ag. 139.
Ordenados dos professores.
Sao sem diivida de muila vantagem as vi-
sitas as escholas publicas d'instnicrao priraa-
ria e secundaria, porem este nicio, e quaes-
quer outros, de que se lance mao, nunca pro-
duzirao rcsultados estaveis e do alcance que
devem prelender-se, emqoianto os ordenados
dos professores forcni) os'qiic sao. E 'precise
que 0 professor obtenhapelo' seu officio raeios
sufficientes de decentc sustentacao. Nao sen-
do assim ver-se-ha exposto de conlinuo a ter-
rivel tentacao de prevaricar; e niuitas vezes
ver-se-ha obrigado pela necessidade, corao in-
felizraente todos os dias esta accontecendo, a
faltar ao seu dever, roubando aos discipulos
0 tempo e cuidado, que do direito Ihes per-
tence, ou exigindo remuneracOes, que nao
estao estes obrigados a pagar, para haver
aquelle d'esta sorte a subsistencia que o
estado Ihe deve, mas Ihe nega. E aonde o
fiscal da lei lao barbaro, que fosse com pro-
fessores de tao triste condicao nimiamente
rigoroso? Teria coragem de vel-os, para as-
sim nao ser, extenuados de fadiga, e, sobre
tao laborioso viver, delinhando na miseria,
acabar a fome? Por honra da humanidade, e
ainda bem, nao se encontrara. Mas padece
0 service, a lei nao se curapre, a mocidade
perde, e os paes de familia sao prejudica-
dos.
Senhor, de nada aproveita multiplicar disci-
plinas litterarias, crear estabeiecinientos aon-
de se ensine, aperfeicoar os methodos, e
exhortar e persuadir a mocidade a (|ue se
applique, se os respectivos professores nao
forem postos era circumstancias de se dedica-
rem exclusivamente com desvelo e esctrupulo
ao desempenho do seu ministerio tao transceii-
dente. Dc que serve fazer tao cstrondoso ar-
ruido com a instruccao piiblica, se falleceni
OS professores com as condicoes indispensa-
veis para a transmillir? E nao sera a princi-
pal d'essas condifoes o haverem elles pela
propria proUssao o precise com algunia, cm-
bora minima, commodidade? E uma irouia
atroz.
E islo verdade a respeito dc todos os pro-
fessores de instrucgao priraaria e secundaria,
porem ainda e raais rigorosamente verdade,
se posso assim explicar-me, a respeito d'a-
quelles que tem de residir nas cidades de
Lisboa ou Porto, onde ludo e incorapara-
velmente mais caro que nas outras terras do
rcino.
As observacoes, que apenas indico,- e as
infinitas e ponderosissimas considcracoes, a
que dao logar, tern sido reQectidas por mais
de uma vez, e em epochas dilTerentes; e fo-
ram ellas que moveram a caniara dos senho-
res deputados na sessao Icgislativa de 1843,
a elevar o ordenado dos professores dos lyceus
nacionaes de Lisboa e Porto a quinhentos mil
reis (500^000); assim como foram ellas que
fizeram sanccionar as disposicoes do capitulo
4.", art. i'i do decreto de 20 de setembro de
1S44, que estabelece aos professores d'instruc-
cao primaria de Lisboa, Porto e Funchal, o
ordenado annual de cento e cincoenta mil reis
(130^000), e 0 de cem mil reis (100|,nOO)
nas outras terras do reino. Porem raau fado
nosso quiz, que nem a primeira provisao fosse
convertida em lei, nem a lei, que prescreve
a scgunda, fosse ate hoje executada! E com-
tudo e certo, que nao sao ainda aquelles
meios os indispensaveis para a subsistencia
dos professores que sao obrigados a residir
em Lisboa, porque na realidade em Lisboa e
impossivel que so com taes ordenados os pro-
fessores possam viver, sequer, com modesto
decoro. Pretende-se melhorar a instruccao pii-
blica, generalisando-a, e aperfeicoando-a? Pois
bcm comece-se pelo principio, e chame de
modo especial a attencao de V. M. a instruccao
primaria e secundaria. 0 meio, que proponho
concorrera quanto e possivel para que se tor-
nem ambas practicamente, o que para pro-
veito da causa piiblica, e precise que seja
uma e outra.
Vol. IV.
OliTUBRO 1." — 1853.
Nlm. 13.
150
Edificios piiblicos para as excliolas pMica"
de inslruccao primaria e secundaria.
Soja-nii' iH'i-mitlido agora ponderar imiito
rcspeitosameiite a V. M. a cjiaude conreitieii-
cia, on antes direi molhor, a inslunte ncces-
sidade di' que seja dada immediata e inleira
e\cciK;ao ao art. I, g. unico, e ao art. 2, do
dccroto dc 20 de dezcmltro de 18;j(). Foram
providcntemcnte ordonadas as disposicOes alii
])rescriptas confornie a doiitrina consignada
no decri'to dc 20 de selembro de ISii art. 0.
Com vao |)rete\to de que nao ha em algumas
partes ediiieios puhlieos em disponibilidade a
lei nao leni sido eumprida, como se, a nao
e\istireni disponiveis taes ediiieios, nao de-
vessc entender-se, que impendia a auctori-
dadc local a ohrigaeiio de promplilieal-os! E
com i|ue motivo justilicado lerao deixado as
camaras raunicipaes de cumprir o que no
citado art. 2 sc Ihes dctermina? Nenhum se
allega ; porcm e verdade que nao tern sido
cuniprido.
Comtudo so d'esta sorlc se podera acabar
com a praclica abusiva de receberem os pro-
fcssorcs d'iustruccao primaria algum subsidio
pecuniario dos sens discipulos, seja qual lor
0 pretexto. Esla ma practica deixa incomplete
0 pensamento, ou antes frauda o dever, que
obriga o estado, de dar gratuitamente a
inslruccao indispensavel, a primaria, a todas
as classes da sociedade, e a todos os indivi-
duos por mais pobrcs e desvalidos, que pos-
sao considerar-se. Mas nao e possivel impdr
elTectivamGnte aos professores pena efficaz,
por nao observarem a este respeito com rigor
a disposicao legal, quando se rellecte, quao
diminuto, coraparado com o difficil e laborioso
trabalho, a que os sujeita o tiel deserapenho
dos seus dcveres, e o ordenado dos professo-
res da inslruccao primaria. Esta reflexao ga-
nha forca incoutestavel, (juando se considera
i|ue OS professores tao miseravelmente retri-
buidos lem de ahigar, a sua custa, casa assas
espacosa para a propria residencia, e para
admittir consideravel numero de aluranos,
aos quaes deve proporcionar coramodidades
para mellior aproveitameuto do ensino, para
boa policia, e para tudo quanto e necessario
nao so a primeira inslruccao mas tambera a
primeira educacao moral da mocidade, a qual,
por isso que nos primciros annos da vida, e
na cpocha em que as impressoes de toda a
casta se Ihe gravam de modo indelevel, pre-
cisa de ser dirigida com cantelas, prudencia
e vigilancia de lodo o ponlo impracticaveis
nos locaes onde agora geralmente einstruida.
Accrescc que se deve atlender a que os
professores estSo a todo a instantc na neces-
sidade de cercear os sens tao mesquinhos
ordenados para coniprar tinla, papcl, pennas,
taboadas, compcudio de doutrina christa, e
ale oulros livros a grandc uumero de discipu-
los. A nao 0 fazerem assini, veriam as cseholas
quasi desertas, sendo certo (|ue os lillios das
lamilias mais polin;s dos infclizes ,operarios,
e de outros muilos desfavorecidos da forluna,
olilendo a cuslo licenca dos paes para fre-
(|uenlar as cseholas declaram carecer de to-
dos e quaesquer meios pecuniarios por onde
possam haver aquelles objeclos, alias absolu-
tamente precisos para adquirirem a inslruc-
cao que procuraui. E todavia, Senhor, tenho
a satisfaccao de poder allirmar a V. M., ([ue,
na maxima ])arte, os professores piiblicos de
inslruccao primaria assim oeslao practicando,
mais ou mcnos extensamente scgundo os ex-
Iremos da sua caridade, mas de modo, que
dexem a clla muilos alumnos nao licarem pri-
vados lolalmenle de ensino e educacao.
Mas sobre as razoes acima ponderadas para
juslilicar a necessidadc da collocacao das
escholas em ediiieios eslranbos a habilacao
do professor; ainda accresce oulra, que deve
segundo entendo, merecer grande allencao;
e e, que nao e possivel lisealisar a rigorosa
observancia das boras deslinadas para o en-
sino, sendo as escholas no mesmo edilicio,
onde 0 professor habila.
Se nao me engano, achara V. M., que to-
das estas consideracocs dao mais que sobejo
fundamento ao projeeto de decrelo, que tenho
a honra de elevar a presenca de V. M. Estou
convencido inlimamenle de que da sua ado-
pcao deve provir grande vantagem para a
inslruccao, educacao, e mais largo aprovei-
tamcnto dos alumnos de todas as classes, e
especialmenle das menos abastadas, por Ven-
tura as mais dignas de contemplacao, ate por
serera as que mais avultam na sociedade.
Entao ser-mc-ha obrigacao impreterivel ser
inexoravel na liscalisacao da Lei: boje o ex-
cesso de rigor produziria resullados contra-,
rios aos que pretende^a raesma lei.
Mndanca da 3." seccao do lijceu para dentro
do concelho e das portas da capital.
Cumpre-me chamar a allencao de V. M.
para o local onde se acha estabelecida uma
das quatro seccoes do lyceu d'esle districto,
a secfao occidental, pois rcquer o melhor
service publico, e o aproveilamento lilterario
e moral de maior numero de alumnos, que
seja removida d'onde csta para ponto mais
apropriado dentro das portas da capital .
Nao me deterei disserlaudo com largueza
acerca d'esse objecto, porque nao sao corri-
dos muilos dias, depois (|ue live a honra de
elevar ao conheeimento de V. M. a repre-
sentacao dos professores proprietarios e substi-
tutos da referida seccao, cm quo pedem a
lembrada mudanca. Fiz e faco niinha inleira-
mentc, como live cnlao a honra de dizer a
V. M. pelo conselho superior, aquella repre-
151
sentarao, porquc ?ao cabaes c inconteslaveis
as razors, (|ue Ihc servom <lc f'lindamento.
Comludo nao duvidarei accrescentar, que,
se a cxpcricncia evidenccia dc modo indiihi-
tavel a ([iiasi inutilidade da relerida secrao,
continuando a cstar estabclecido 'num local
tao pouco hahitado, e no tercciro andar de
um odilicio conio o da casa pia, c por isso
(juasi sera puhlicidade; pcio contrarin atiira-
da ohservarao persuade, que se tornara de
grandc vanlagcm, logo que seja transferida
para dcntro das portas de Lislioa, e colloca-
(la em algum dos edilicios (nao diHicullosos
de ciironlrar muito acooniodados ao fini, que
so deve procurar-se) das ininiediarOcs d'AI-
cantara ; sendo para ter cm muita conta que
nao eslii o local indicado tao distante do
concclho de Bclem, ([ue lique I'ora do alcanec
(ios raros alumnos, que rrc([uentam alii algu-
mas das aulas d'aquella seccao. Esta provi-
dencia, que nao cessarci de reclamar, deve
produzir cm breve Iructos copiosos.
Por todos estes motives rogo instantcmente
a Y. M., se sirva de dar quanlo antes as
suas rcaes ordens para ser levada a effeilo a
dicta reraocao.
Remuneracuo aos membros do jtirij de exames
de htthiUtacao para o mui/isterio.
0 ensino particular lia mister sem diivida
de ser vigiado muito de perto. 0 estabeleci-
mento de collegios de instruccao litteraria e
educacao moral tornou-se materia de combi-
nacoes commerciacs, e affigurou-se a muitos
fonte inexgolavel dc laceisproveitos. A legisla-
cao providenciou ate certo ponto, e pode talvez
dizer-se que suflicientemenle, mas na praclica
0 abuso tem ido tao longc, que reputo de
indispensavel necessidade lazer vigorar com
escrupulo as provisoes dcspresadas.
E verdade que, depois de inveterado o
mal, torna-se o remedio mais arduo, porem
a firmeza tcmperada com a prudencia, e
dirigida por indefesa perseveranca, ha de
Iriumphar a final de todos os obstaculos.
Entretanto urn dos mcios, de que, segundo
a lei, ha a lanfar niao, e nao consentir em
exercicio estabelecimento algum de tal natu-
reza, cujos directorcs, provada a ca|)acidadc
moral, nao tenham obtido a respectiva pcr-
missao pelos raeios competentes ; e ao mesmo
passo obrigar a exames os professores, que,
nao devidamente habilitados, usurpam quali-
ficacoes e direitos, que Ihes nao pertencem.
Pela minha parte conto satisfazer ao que me
cumpre, e espero que nao me falte, antes
comigo coopere, e me aplane estorvos a au-
ctoridade administrativa. Porem a necessi-
dade indispensavel de siijeitar as provas lit-
terarias os individuos, que se occupam no
ensino particular em taes estabelecimentos.
tem de trazer grande augmento ile trabalho,
c dispendio de tempo, aos Membros dos respe-
ctivos jurys de habilitacao |iara o magislerio
assim da instruccao primaria conio da secun-
daria: trabalho d'estes e ja muito grande pelo
onus que sobre clles pesa de examinareui os
candidates ao niagisterio publico nao so do
dislricto de Lisboa, mas tambem de grandc
parte do reino, e agora se Ihcs aggravani cxces-
sivamente com a execucao rigoiosa da lei,
com 0 respeilo .is habilitacoes dos candidates
ao ensino particular. E portanto de justi(;a,
que Ihes seja aquclle servico remunerado por
uns e por outros. Este servico Ihes accresce
cm proveito inimcdiato dos examinandos, pa-
gucm-no estes pois; e a sua vez, muitos d'el-
les gozarao no futuro de egual vantagem.
Em nenhuma das reparlicoes piiblicas, a ijuis
elles tem de recorrer para obterera o diploma
que pretendem, onde alias os empregados sao
melhor remunerados pelo estado, sao servidos
de graca, so 'uesta reparticao, onde os orde-
nados sao tao mes(|uinhos, e da qual depen-
dc 0 servico mais importante, e que se ha de
exigir um trabalho tao iraprobo, gratuita-
meute?!
Creacao de dous lorjares de suhstituto no lycett
nacional de Lisboa.
Ouso clevar de novo a prcsenca de V. M.
muito resuraidamente a exposicao ja feita pe-
lo men antecessor em representacao de 30 de
setembro de 18S3, que demonstra a necessi-
dade de se crear 'ncste lyeeu um logar de
professor substituto para as seis cadeiras de
grammatica e lingua latina, que eslao repar-
tidas pelas trez seccoes central, oriental, e
occidental do mesmo lyceu. Nao e so convenien-
cia, 6 necessidade: porque nao ha hoje outro
meio por onde se possa esperar vir a ter
habeis professores. Para se chegar a ser pro-
fessor babil e precise alem de vocacao espe-
cial, aturado estudo, e fervorosa dedieacao, e
nao se podcm esperar taes esforcos, que re-
querem a ([uasi total reniincia dos gozos matc-
riaesda vida, de bomens, que nao tenham ja
a sua sorte, a sua reputacao, e o .seu futuro
vinculado a proHssao do magislerio. Nao irei
mais longe, mas permitta-me V. M. obser-
var, que nao e possivel (e a practica o tem
provado) a so um substituto supprir as faltas
de seis professores, c as vacaluras de seis
cadeiras, algumas das quaes estao collocadas
a mais de uma legua de distancia das outras.
Esta necessidade foi conhecida desde longo
tempo, e de tal sorte que nos estabelecimen-
tos puhlicos, a que succederam as seccoes
d'este lyceu, havia ja primeira e segunda
substituicao das cadeiras de latim. E o que
proponho agora novamente , como de grande
urgencia.
15'2
Por idontiJailc de razao julgo dc muita
iicrcssidade a iTParao do mais urn logar (W
prolcssor siihstilulo para as cadeiras o.' e (>.'
lias Irez primt'iras seccOes d'estc lyceu. Sera
esla op[iortuiia occasiao di' inlroduzir uma
iniiovariio de vaiUagem eerta para o ensiiio.
As niatprias da 5.' e ti." cadeiras sao de
iiiuito dixersa iiatureza, c cada uma d'ellas
(onlem grande miniero de especialidadei;,
d'oiide i)rocede, nao ser facil aehar linmem
assas proluiido eui todas ellas. E d'acjui (|ue
lem provindo a dilliculdade de apresentar-se
caiulidato a esta subslituicao, c a conscquen-
te precisao de aproveitar o que apparecer,
einbora nao seja qual se carecia. Creando-se
o logar que propoulio, poderao ser discrimi-
nadas estas cadeiras, e dos dous profc&sores
>im fiear subslilulo da o." e oulro da 0." ca-
deira, e amijos com exercicio nas trez primci-
ras seccoes do lyceu, optando o substilulo
actual por aquella das duas cadeiras, ([uc
inais Hie convier. Esta resolucao ba de ser de
prompta vantageni para o ensino, e cada urn
dos professores substitutes licara com trez ca-
deiras a seu cargo como succede ao da i.'
Creacdo d'uma cadeira de religido.
De grandc estranheza, Senhor, deve ser
para todo o homera sisudo, que, sendo a ne-
cessidade da religiao uma verdade axiomati-
ca, pois que nao pode dcixar de considerar-
se a religiao corao base essencial da socieda-
de bem ordenada, por isso que sem religiao
nao ha costumes, e sem costumes as leis
civis nada valem, que, dizia cu, tendo nos
tao grande numero de aulas, onde sao ensi-
nados objectos sem conto, nao tenharaos nera
sequer uma so, em que seja ensinada de mo-
do proveitoso a mocidade a sancta Religiao
que prol'essaraos.
E ccrto que o ensino da doutrina christa
esta consignado nas materias obrigatorias da
inslruccaoprimaria; que se tracta alguma cousa
com refercneia a tao alto assumpto ua aula de
philosophia racional e moral; e que tambem
na Universidade de Coimbra ba um curso
complcto da sagrada tbeologia. Entretanto,
Senhor, serao de sobejo brevissimas conside-
racoes para cvidenciar, que nao cstasupprida
a cadeira que proponlio, cuja necessidade
reputo indisputavel.
0 ensino da doutrina christa nas escholas
primarias, e as explicacOes que o acompa-
nham, e feito em tempo, no qual a mocidade,
por falta de habilitacOes, por carecer ainda
de sufljciente desinvolvimento intellectual, e
pela multiplicidade das materias de que se
oecupa a.instrucra())irimiiria, nada aproveila.
Este ensino reduz-se enlao para a mocidade
a um acto puramcnte mechanico, a tomar de
cor algumas formulas, cujo seulido ignora, c
algumas cbamadas cxplicacocs, que nao com-
jireliendc.
Na aula de pliilosojihia riiciondl e moral i-
pouco 0 tempo destiuado aos assumptos que
Ibe silo ])roprios ; tracta-se, e nao ])ode dcixar
de Iractar-se, superlicialissimamente do que
respeita a Religiao. Carcce-se de muito mais,
como para V. M. nao podc deixar de ser
cvidcnte. E tauto assim, (jue nos gymnasios
da Prussia, onde tambem ba cadeiras de
jibilosopbia racional e moral, nem jior isso
se prescinde da cadeira de Iteliijido Christa.
Antes pelo conlrario os alumnos do gymna-
sio, seja qual for a aula cm que loram matri-
culados, tern de I'requenlar a de Religiao
Cbrista, que por tal motivo esta distribuida
pelos dias da semana, tomando o professor
dilfercntes assumptos em harmouia com o
grau de capacidade e alcance dos alumnos,
quo 0 escutam.
Os estudos Iheologicos da Universidade,
pela sua transcendencia requerem applicacac,
que nao podem dar-lbes geralmente os indi-
viduos, que nao se dedicam a vida cccle-
siastica.
Assim que, o grande numero, a maxima
parte dos cidadaos iguoram completamente a
Religiao que professam. Custa, mas nao ha
senao assim confessal-o, porquc a verdade e
esta. Ignorada a tal ponto a Religiao, dcsco-
nhecidas as razoes que nos obrigam na cons-
ciencia ao fiel desempenbo dos deveres so-
ciaes, sera maravilha que tao mal se cor^
responda ao titulo de que todavia se prcten-
defazergala; e que de tantos crimes, tor-
pezas, e miserias, se veja icado o pobre
Portugal? Eouve em passados tempos outros
meios de obviar, ao menos em parte, a mal
tao perigoso : hoje nao pode haver senao o
do ensino. E por tanto de absoluta necessi-
dade crcar uma cadeira, que devera ser con-
siderada habilitacao indispensavel para a
instruccao superior, na qual se expliquem
methodica, breve, e solidamente os funda-
mentos da Religiao Catholica Apostolica Ro-
mana, (jue felizmente professamos; se estahe-
Iccam OS sens dogmas; se explanem as suas
doutriuas; se deduzam as obrigacOes sociaes,
a que sujeita todos os cidadaos; e se dcmonstre
a vantagem practica da cxacta observancia
da sua moral divina.
Senhor! a creacao da cadeira que proponho
sera um novo padrao de gloria para V. M.,
e as geracoes por vir, saboreando os fructos,
que sem I'alta bao de rccolber, bem dirao a
memoria de V. M.!
Convencido de que^ fazendo esta proposta
cumpro um dever sagrado, que me e imposto
niio menos pelas razoes especiaes do estado
ecclesiastico, do qual me bonro, do que pelas
da sincera devocao, que dedico ao nieu paiz;
e, julgando desnecessaria, por facil, mai.s
larga demonstracao dos motivos da conve-
153
niencia, ou antes nrrossidadc dc sc adnplar a
providcncia que tenho arabadn de suf^serir,
supplico, pelo hem da rausa piihlica, a V. M.,
que se digne dar-lhe a sua real approvarao.
Continua.
MEMORIA HISTORICA E CRITICA
Sobre a i-cvolucao <iibo cm I SIC liroii
n t'orua n It. ^niic-Dio it iiat-a n 4lai- no
t'OiaUe <lc Uoloiilia kcii irinao.
I.
A revolucao que em 1240 quelirou o sce[itro,
e tirou a coroa da cabeca a U. Saneho 11,
para a collocar na de seu irmao, o conde de
Bolonha, e urn dos factos niais nolavcis da
nossa historia, cuja averiguaeao lem dado
rauilo que cnlender a difl'ercntes cscriptores.
Uns a attribuem ao mau governo, e dissolu-
fao progressiva da soc-iedadc com a imbecili-
dade do rei ; outros a querem somente impu-
tar a demasiada inlluencia do clero, e ;is
surdas intrigas com que cste minara os ali-
cerces do tbrono para f'azer bom o partido do
seu protcgido conde dc Bolonha !
Paschoal Jose de Mello no principio da
sua historia de Dircito civil, composta em
espirito dc malqucrenca contra o clero em
geral, que sempre invectiva com a pena mo-
Ihada em fel, attribue esta catastrophe ii dema-
siada insolencia dos ecclesiaslicos, e a ambicao
que 0.1 devoraca. Occultando as causas, e nao
consultando, talvez, os escassos documentos
d'aquella epocha, para com mais seguranca
formar o seu juizo, e interpor o seu parecer;
aquclle mui douto escriptor declama apaixo-
nadamente contra o clero em termos desa-
bridos, nao se lembrando que as revolucOes
tern sempre uma causa, embora haja quem a
fecunde e faca amplamente desinvolver, como
havemos ver no decurso d'esta raemoria.
Mais proximo a nos, e ainda ha pouco, o
sr. Alexandre Herculano na sua historia de
Portugal, cscrevcndo a vida do mesmo rei,
com a critica e discerniniento que ninguem llic
pode negar, seguindo as niesraas ideas impu-
ta aquelle attentado ao clero e as intrigas da
corte de Roma, como o principal nucleo don-
de sahiu tamanba catastrophe. Reflectindo so-
Lre as circumstancias cm que o reino se
achava ao tempo do fallecimento de D. Af-
fonso II, pae d'cste infeliz monarcha; na de-
sinvoltura em que se achavam os raembros das
diversas jerarchias do estado; na fraqueza e
imbecilidade governativa do novo rei, exami-
narei resumidamente osaccontecimentos poli-
ticos d'estes dois reinados, para sobre elles
fazer o meu juizo critico, pesando imparcial-
menlc as provas, que tirarei d'alguns docu-
mentos, ate'gora ineditos, (jue me parececon-
vencerao o leitor da paixao, com que tern sido
acoimado o clero como motor e agente de tao
terrivel drama, discordando da opiniao de
tiio (liscretos e judiciosos AA.
Terei entcndido hem, ou terei entendido
mal estesaccontecimentos? Se osentendi hem,
nao terei de (|ue dar desculpas; se os enten-
di mal, taxe-se embora o entendimento; mas
nao se condemnc a vontade. Pensar, fallar, e
esrrever sem offensa de terceiro, eisaqui um
direito provenicnte de uma justa e discreta
liherdade, que o dever e a religiao nos estao
inculcando continuamcnte: respeitar as opi-
niocs alheias e outro dever, que cumpre a
todo 0 homeni, qualquer que seja sua posicao
social, e ([ue I'arei por cumprir fielmenle.
II.
Atacado de molestia grave e ascorosa, tinha
a clla succunibido elrei D. Affonso II, deixan-
do seu lilho D. Saneho era menor idade'.
Malquistado com o clero, e envolvido em por-
liadas discordias com os principaes prelados
do reino, com quem teve de sustentar luclas
de.sagradaveis, por se intrometter na jurisdic-
cao espiritual, tinha D. AlTonso II attrahido
sobre si os raios do Yaticano: e as excomu-
nhoes e^ccnsuras, contra elle fulminadas, se o
nao iizeram desistir de depor e destituir benefi-
eiados collados, sem para isto ter jurisdiecao,
e atacar as iramunidades ecclesiasticas, contra
as prcrogativas do clero, que seu genio vio-
lento, e fogoso olhava com sobrecenho, fize-
ram comtudo, que mais tardc tractasse de
com todos se compor; e nos ultimos mezes
de sua vida, com todos congracado, rogava
ao mesmo Pontitice, que tao severas admoesta-
coes Ihe havia feito, de tomar sob sua protec-
cao como pae e senhor, sens filhos e reino ■'.
Era 'ncste tempo bispo de Coimbra D. Pedro
Soeiro, ou Soares, (que d'uma e outra forma
se acha escripto nos instrumentos d'aquella
era), com o qual teve sempre Allonso II gran-
des questoes, alem das que sustentou com seu
temivel adversario D. Estevam Soares da Sil-
va, arcebispo primaz de Braga. 0 interessante
papel, que estes prelados desempcnbaram du-
rante 0 governo d'este rei e de seu lilbo, me
chama a dizer ja alguma eoisa sobre as desa-
vencas, que se atearam na corte do rei, que
entao residia em Coimbra, com o seu prelado,
movidas pelo favor com que D. Affonso pro-
tegia 0 mosteiro de Sancta Cruz, de ([uem
'naquelle tempo era o bispo adversario. 0
animo insoffrido do rei mal tolerava a inlluen-
cia d'este prelado; e, ou porque notara abusos,
que quizera reraedear, ou porque taes se Ihe
' A. Herculano. HUt. dePort. torn. II, not. 14.
" Id. ibid. liv. *.", pag. 854, not., 1.' edi?.
15
autolhavam ao seu ardor os proicdimenlos do
bispo, declarou-se contra elle com muita de-
teriuiiiacao; e a tal ponlo subiram aquellas
desavenyas, e por tal forma foram crescendo,
aggravaiido-se de parte a parte osagastamcn-
tos, que para cvitar os perigos, que de perto
0 ameacavam, se viu o bispo D. I'edro algiun
tempo depois iia collisao de se volar a iima
reclusao voluiitaria em sua casa, nao ousando
d'ella saliir com receio de ser preso, nem se
alrevcndo secular algum servil-o com medo
do rei; apenas os ecclesiasticos a elle tinham
aecesso, como exemptos da jurisdiccao real '.
Em lao critica siluarao se acbava o bispo D.
Pedro, que i)ara se ver livre do vexame e op-
pressao em ([ue cstava, resolveu ausentar-se
do rciiio para Camera, e depois para lloma,
deixando em sequeslro todos os seu bens, e
rendimculos '; e, demorando-sc por setc a oito
annos fora do seu bispado, teve tempo, ou de
esfriar a animosidade do rei, ou, depois de
aplacada a violencia, que caracterisou quasi
todo 0 seu reinado, de voltar ao reino, c
coutinuar no governo do bispado nao sem
continues desgostos, ate- se ver ua neces-
sidade de renunciar o episcopado, e tornar
a vida privada, como fizeram alguns de sens
antecessores. D'onde me parece baverem-se
equivocado alguns AA. attribuindo estes fac-
los, e antecipando-os ao reinado deSancboI,
quaudo dos depoimentos rel'eridos se mostra
tereni elles tido logar no de All'onso II.
Com eQ'eito na bistoria citada do sr. A. Der-
culano estes aggravos, mencionados em uma
das notas antecedentes, sao autecipados ao
reinado de Sancho I e suppOe-se por elle pra-
cticados mezes antes do seu fallecimento: mas
a Bulla d'Innocencio III nos tira de duvidas,
mostrando-nos clarameute o anno, e marcan-
do a epocba do acontecimunto '.
0 doutor Pedralvarcs Nogueira, na sua
biograpbia dos bispos de Coimbra, feita em
l!i80, e que se couserva manuscripta no
cartorio da catbedral Conimbricense, priniei-
' E oque se sabe por uma inquiri^iio de testimunhas
tiradas em 1252, e que 'jxiste no cartorio da cathedral
de Coimbra G. 13, R. 2, m. 1, n.« 43, e, aiuda que nao
tcm data, conliece-se esta pelo seu conteudo. 'Neila pois
jurando o deiio e mestre eschola da cathedral, e outros
mais, todos sao Concordes era allirmar ^. quod fiiit inclu-
" sus .... domibus suis timore regis, et non erat ausus
" exire de domo sua et laici non erant ausi eum servire
" quia rex minatus fuerat eos. Inlerrog. per qiiem regem
.. minatus erat ? Dixit quod per regem domnum Alfonsum
u patrem istius qui nunc est. >) Tudo isto e relativo ao
bispo D. Pedro, e tudo pelas dictas testimunhas presen-
ciado.
■■ " Et bona ipsius (episcopi) erant occupala per re-
gem i- ibid, et fuit tunc exul ab ecclesia sua per 7"° no
annos. » Jura o mestre escbola ibid.
' A Bulla d'Innoc. i! datada 7. Kal. mart. Ponlificat.
XIV, t2'2 de fev. de 1'2I2). Nao podia por tanto ser
dirigida a Sancho I que ju era fallecido. CouQra-se a not.
V ao torn. 2, da Hist, de Port. 1." edi^.. etc. A Integra
desta Bulla acha-se no nieu Catalago dos bispos de
Coimbra, ainda ua Acad. R.
ro imputou a D. Sancbo os desaguizados, de
que 0 bispo D. Pedro se queixava a este Papa;
mas, alem da pouca conliaufa, que merece
este A. que se cngana com muita iVcquencia,
e tem I'eito enganar outros ', a ItuUa em que
Innocencio 111 admoesta o rei, sendo datada
oiize mezes depois da morte de 1). Sancho',
a nenluim outro podia ser dirigida senao a
.MlVmso II, que entao ja era rcconbecido rei,
e successor de seu pae Sancbo I. E por isso
i|ue 0 citado A. se equivocara, acreditando
ter sido esta de.savenca com este rei, e nao
com All'onso II. A inqiiiricao porem nos tirara
loila a duvida, se ainda alguma restasse, ma-
nifi'slandii-nos de um niodo mais claro, que
estes aggravos foram practicados por Alfonso
II, logo nos principios do seu reinado, e nao
por seu pae com o qual, pondo de parte al-
gumas insignilicanles discordias e contesta-
coes, tenlio para mini, a vista dos documentos,
se dera bem este prelado; nasccndo aquella
confusao da falta cbronologica dos documen-
tos, por se acliar a maior parte d'elles sem
datas, como notou o referido A. ; e outros,
ate'gora ineditos, como o da ini|uiricao, ([ue
me tem servido de guia.
III.
Tinham finalmente calmado um pouco as
dissensoes cntre o rei e o bispo ; e dobre ou
sinceramente AHonso II liavia-se deelarado
amigo e protector d'elle, c dos mais prclados
do reino, para o que no 1." de dezembro de
1217, concedeu por carta patente, sellada
com 0 sello de chumbo^, a se de Coimbra e
ao seu bispo a sua proteccao e amparo, de-
clarando-se por muito seu amigo e bemleitor
com tal extremo d'affecto, que nunca a ambos
tivera seu pae e avo, para defender, amparar
e beneficiar a egreja Conimbricense, por cujo
motivo nao so os tomava dcbaixo da sua pro-
teccSo individualmente, senao tambem todos
OS sens coutos, bens e herdades, reputando
por seus inimigos todos os que coutraviessem
esta sua disposicao, assini como impondo-lhes
uma muita de rail maravedis, se por qual-
([uer forma contrariassem esta sua determi-
nacao*. Pela outra carta patente egualmentc
' Vejam-se os capp. 1.° e 2." do men Calal. dos bispos
de Coimbra, impr. nas Mem. d'Acad. R. das Scienc. Lui-
boa 1854.
^ D. Sancho falleceu em 26 de mar^o de 1211. A
bulla de Innocencio, sendo dalada de 22 de fevereiro de
1212, (anno 14° do seu pontif. ) censurando o procedi-
mento do rei, nao podia ser dirigida seniio a D. Affonso
II. como jil disse.
^ Este documento original, e o outro abaixo citado,
foram remettidos para a Academia real por portaria do
governo, com os outros pertenceutes aos seculos XII e
XIII, e o cartorio da cathedral ficoua.<isimprivado da sua
propriedade.
■• •! Sciatis quod ego sum multum debitor ecclesie san-
cte marie de Colimbria et nunquam avus meus vel pater
1
155
sellada com o seu sello dc chumbo, ilada era
Santarem em scxla feira dc I'aixao do 1218,
concede-lhes uma avultada, e muito valiosa
reuda, com a doacao que a mesnia Seebispo
faz dos dizimos dos reguengos, queate'hi nao
se pagavam.
Mas scria sincera esta sua rcionciliafao,
ou scria acaso liiha de alguma podcrosa in-
tervencao, que a tanto o ohrigou? Eis o que
parece nao poder descobrir-se a piimeira
vista. Fflra esta conciiiacao talvez semelban-
te ao fogo, que, coberlo de cinza, permancce
algum tempo occulto, ate que iiovameute
ateado rompc com cxcesso, produzindo fuiiestos
estragos: lal se me ligura D. Afl'onso, que
pouco depois rompeu novamenle com o bispo,
easdiscordias continuaram, senao com maior,
ao menos com cgual vcbemencia. Levado d'cl-
las, depois do encerramenlo em que viveu no
seu paco por alguns mezes, como ja vimos,
teve 0 bispo de sc retirar para Camera, e de-
pois para a curia Romana, onde andara por
sete a oito annos, ate que voitou ao bispado.
Esle facto, accontecido depois do concilio La-
tcranense, cciebrado em 121 B, eaonde aquel-
)e prelado se achou, ticaria ignorado, se nao
fdra a inquiricao dc que ja dei noticia ' ; e de-
veria eiie ter tido logar depois do anno dc
1215 ^ Com effeito em 1216 se achava o
bispo D. Pedro auzcnte do reino, e por elle
governava o bispado, mestre Martira, chantre
da scj. A sinceridade da amizadc que o rei
mostrava ao bispo, posta acima ja em diivida,
mais nos devera parecer agora lilha de cir-
cumstancias e influeneia de validos, do que da
boa vonlade do monarcha. Na doacao dos
dizimos dos reguengos, feita quatro mezes
depois da primeira, nota-se dizer 'nelia eirei,
que attendendo a amizade que conservava a
mestre Juliao, seu cbanceller, ao deao da Se
de Coimbra, seu fdho, e do mesrao nome,
e a mestre Silvestre, bem como a Feruao
meug majorem habuit volimlatera bene judicandi et am-
farandi ipsam .... quapropter recipio in mea comen-
da . . . et protectione episcopum et capitulura .... et
bona ipsorum .... qui ibi malefecerit pectabit mihi
mile morabitinos .... et insuper habebitur pro meo
ininiico. » — Gav. 4, R. 2, m. 2, n.'^^ ^ e 14. no Carturio
do cabido de Coimbra. (Estes originaes toram para a
Acad. R.).
' V. not. l,pag:. 154, col. l.«
■^ Inquiricao citada, onde as testimunhas que presen-
ciaram estes accontecimentos, nao so os referem acconte-
cidos com este rei, senao tambem 'nella jura o mestre
eschola que tiveram logar «. post concilium Laleranen-
«e " e a 4.* testemunha jura, que este exilio accontecera
30 annos ou 35 antes do dia do inquerito, e sendo este
em 1252, vem a deitar de 1216 por diante.
^ Em urn dncuraeuto da collegiadade S. Joao d'Alme-
dina, d'esta cidade, masse 2.°, dos que foram remettidos
para a Academia, s» acha expressado o que diz o texto.
Em 1217 parece achar-se ausente o bispo, pois na carta
patente d'este anno nao se nota a assignatura d'elle entre
OS contirmantes, sendo datada de Coimbra, signal de que
ae achava ausente, nem na outra feita em mar(;o de
1219 pelo mesmo rei ao bispo do Porto 1>. Martinho. —
Cunha. Hist. Eccl. de Braga p. i. cnji. 22.
Peres, e outros mais que 'nella nomea, doava
a referida Se estes dizimos para ler parte nas
suas oracfles, e sua menioria 'nella ser lem-
brada. Estas palavras parece indicarem mais
influeneia e pedido estranho, do que resulta-
do da boa vontade, que para tal lim Ihe
dispozcsse o animo. Mas, ou fosse que elrei,
cedendo a intercessao dc sous validos, lizesse
tal concessao, ou fosse que astutamentc qui-
zesse attrahir ao seu parlido os bispos, que
'neste tempo se achavam com elle divorcia-
dos, D. Pedro Soares nao recoiheu ao reino,
e continuou a desavenca, em que estava, as-
sim como a de outros prclados.
0 primaz dc Braga, que por este tempo se
tinha retirado do reino, e procurava na cdrte
dc lloma rcmedio aos aggravos, que elrei Ihe
fazia, e com que o ave.\ava, achava-se sera
rendas por causa do scquestro que era todos
OS sens rendimenlos se havia feito pela sua
ausencia, e desavenca com o rei; e por esta
causa obteve Estevam Soares, que pela Data-
ria sc expedisse Bulla aos prelados do reino
para por dies ser soccorrido '. 'Nesta se com-
prebendia tambem D. Pedro Soares, ([ue na
mesiua conlribuicao dcvia ser quinhoeiro,
mas como 'neste tempo elle tinha as suas
rendas em egual sequestro, mal podia acudir
as suas ordinarias despezas, e nem por conse-
quencia soccorrer o primaz, failecendo-lhe os
meios: nada por tanto deu % e por csle mo-
livo solfreu uma reprehensao do Papa, alem
das censuras do primaz '.
Na Ilistoria dc Portugal diz-se, que entre
05 cortezaos mais odiosos ao primaz era mestre
Vicente (deao de Lisboa, e depois bispo da
Guarda), e o bispo de Coimbra, que na sua
adhesao a parcialidade do rei nao so se esqui-
vara a contribuir para a siisleiitacuo do urce-
bispo, mas ate desprezara as censuras do me-
tropolitano *, dcixando de concorrer para a
pretensao do arccbispo. Para isto provar se
serve o sr. Ilerculano da Bulla de 10 de junho
de 1222, remettida aos abbades de Cella Nova
e Osseira, encarregando-os de se dirigirem ii
presenca d'AITonso II, c Ihe intimarem que
affastasse de si o bispo de Coimbra, o chan-
tre do Porto, e 0 deao de Lisboa. Quanto ao
bispo dc Coimbra nao mc parece exacta esta
narrajao. 0 rei tinha-Ihe feito sequestro; e
amurado por estemotivo, procurava D. Pedro
obter regresso ao reino, achando-se ainda
dentro do tempo dos sete a oito annos em
que csteve d'elle ausente, e que referem as
testemunhas da inquiricao ja mencionadas \
6 por tanto nao podia die ser mandado ex-
' A.Hercul. Hist, de Port, vida de D. AJfonso.
' Vej. acima a pas. 154, col. 1.", not. I."
' A. Hercul. Hist. dePort. torn. II, liv. 4.° pag. 249,
attribne este facto a outras causas, que me nao parecein
exacfas.
' Id ibid.
' Vej. a pag. 154, col. l.», not. 2.
1
56
pulsar (la corlo, por 'nella se nao achar, ncm
tao pouco receher rensura por nao contribuir
para a sustentarao do nietropolila, iiaila Icn-
do, nem recohcndo das roadas do bispado
(1 quia episcojms fere nil percipiehnt de episeo-
palu, » coiiio sc 111 iia citada iiiqiiirirao, e
jurani as siias tcstimiiiihas. Sc ellc pois sc
achava nesta siluaran, como liavia (le con-
corrcr com sua (juola para o nietropolila?
Cotttiniia. «. r. de VASCONC'ELLOS.
NOVA ESCALA THERfflOMETRICA.
Continuailo de pa^. 131.
" Tomiimos para pxrnipio da discordancia
das actuaes cscalas Ihermomctriias a applioa-
rao d'cUas a alguns factos mcieorologicos,
onde se \i, que o priucipal c lalvez unico obsta-
culo para scr adoptada gcralmente a escaia
ccntigrada' e a posirao do seu zero.
Uma modificaoao portanto 'nesta escaia
e Instantemcntc rcclamada pclos niclrorolo-
gistas, alini de cvitar as nunierosas causas
d'crro, que temos referido. Cumpre-nos cxa-
minar agora se sera possivel fazer csla mo-
dificacao, conservando rigorosamente ao grao
centesimal o seu actual valor, eiiao alterando
as numerosas applicaf ocs do calculo e da obser-
vacao, cuja base e o mesrao grau centesimal.
Dulong e Petit demonstraram, que de '3()°
a + 100° 0 thermometro de mcrcurio ca-
minhava de accordo com o thermometro d'ar, o
que e confirmado pclas recentes observai-oes
de Regnault. Os dois primeiros physicos de-
monstraram tambem, que o ponto do ebui-
licao do mercurio e a 360° da sua propria
escaia, ou segundo Regnault, a 300°, a. Por
outro lado Pouiilet reconheceu que este metal
se eongela a — 40°, S C, ou a — 41° segundo
Person. Diversas series de observacoes, que
todavia nao podem considerar-se absolula-
mente rigorosas, porque a maneira, por que se
contrae o mercurio no momcnto da sua con-
gelajao, dilliciimente deixa determinar com
precisao a sua temperalura, me derara em
resultado — 40,°o — 40,"0 — 40,°7 C.
Por tanto, assim como pode admitlir-se com
Dulong, Petit, e Regnault, que 360° c o
ponto de ebullicao do mercurio, tambem pode
cgualmente admiltir-se que a sua completa
fusao tem logar a — 40.°
E por conseguinte, como o tinha previslo
Dulong, e no limite de 400° da sua propria
escaia, que o mercurio, unico metal fusivcl
a temperatura ordinaria; o melhor liquido
Ihermometrico, mais geralmente usado; e que
se emprega na construccao dos nossos llier-
niometros mais perfcitos, passa do estado de
completa fusao ao sou ponto de ebullicao.
Levando por consequencia cm conta a dif-
t'erenca, que vai entre o thermometro de
mercurio, e o d'ar desde + lOO", segundo as
observacoes de Dulong, Petit, e Regnault, as
indicacOes do thermometro dc mercurio, que
ri'presentam por scus vaioros numericos o
augmento real da energia c (juantidade de
calor, podem, posto queosponlos extremes dc
fusao e ebullicao deste nu'tal nao scjam consi-
dcrados como ponlus fixux, servir dc |)onlo de
partida c divisao a uma escaia de 400", que
abrange lodas as temperaluras, que o mercu-
rio pode experimentar no estado li(|uido.
E por consequencia possivel cslabeleccr uma
escaia tetra-ccntigrada, ou de 400", cujo zero
scja collocado a tenii)eratura da completa fusao
do mercurio, e na qual, conscrvados rigorosa-
mente OS dois ponlos fixos, a temperatura do
gelo fundente corresponda a 40" T C. e a do
vapor da agua a ferver debaixo de 700 mili-
metros de mcrcurio a 140° T C, e linalraente
0 ponto de ebullicao do mercurio a 400° TC.
A introduccao da palavra Utra-cenli(jrada
niio indica mudanca alguma no valor dos
graus da escaia centesimal, porque hii sempre
100° entre a temperatura do gelo fundente e
a da agua a ferver. Esta nova denominafao,
porem, era indispensavel para fazer ver, que
a notacao das temperaturas parte de um ponto
40° mais baixo, (pic o zero do gelo fundente.
Por consequencia, a excepcao da mudanca do
seu zero, a escaia ccntigrada conserva-se exac-
tamentc a mesma em todos os pontes, e a unica
alteraciio, quee mister introduzir 'nella, limita-
se ao addicionamento da cifra 40, sem fracfao
alguma, em lodas as indicacOes superiores ao
zero da escaia centesimal. A simples mudanca
do zero desta escaia permitle nolar todas as
indicacOes de temperatura abaixo do gelo fun-
dente, que 0 mercurio pode apresentar antes
de congelar-se, sem que seja necessario usar
algum dos signaes positives, ou negatives,
que actualmeute sao indispensaveis.
Deve notar-se, que os primeiros 100 graus
da escaia tetra-centiyrada comprchendem, com
excepcao d'um pequcno nuiuero de casos,
em que o thermometro dc mcrcurio deixa de
apresentar as suas indicacOes, os limitcs extre-
mes da temperatura da atmosphera a superficie
da terra nos nossos climas di' — 10° C a mais
60 C, ou de 40° a 140° F., e que assim consti-
tuem 0 thermometro meteorologico propria-
mente dicto, sem ser necessario, tanto quanto
pode empregar-se o thermometro de mercurio,
recorrer aos signaes + e — , que diio logar
aos erros, que jii notamos.
Por meio da escaia telra-cenligroda os
signaes negativos devem empregar unicamente
nos casos mui raros, em que, nao podendo
usar-se o thermometro de mercurio, e preciso
recorrer ao de alcool, (|ue principia a dar as
indicacOes da temperatura abaixo do zero da
escaia de mercurio. »
157
Concluindo a leitura d'esia memoria, M.
Walfcrdia apresriUou a acadcniia uni thcrmo-
iiietro de iiaTCurio dividido nos 400 graos,
<]ue tonstiluom a oscala lelra-centiyrada, com
uma lamina de metal, onde se via a relacao
entre esla c as outras Irez escalas tliermo-
metricas; e iim outro tlierniomctro lelra-cen-
tifjrado ou de 400 graus. Apresentou tanibem
mais dois tliermometios de mcriurio, um
dividido desdc zero Hte 140 graos telra-cen-
tigrados, ((ue eo ponio dechullicao daagua;
c outro desde zero ate 100 graos, (jue e
o tliermometro iiieteorologico [iropriamenle
diclo.
Walferdin declaroii a academia, que por
mui longa experiencia havia conhccido as
vantageiis da mndilicarfio, i|ue introduzira na
escala eentigrada, e ([ue o rcsultado das suas
nao interrorapidas observacOes o conlirmara
picnamente na superioridade deste tliermo-
metro sobre os fundados 'noutras escalas.
Alem de que para verilkar quaesquer casos
duvidosos nas observacoes meleorologicas, e
indispensavel usar d'uma escala tliermometrica
ao niesmo tempo ascendeute e descendente,
e por isso Babinel collocava sempre a par do
thcrmomelro cenligrado o de Fahrenheit para
confrontar as nolacoes de temperaturas in-
feriores ao zero (gelo fundente); processo
este que ofl'ereec graves incouvenientes, como
aquclle pbysico reconhecera, e que se evita-
vam completamente por meio da escala telra-
centigrada, que dispensa o iiso dos dois instru-
menlos e evita quaesquer erros, que por aqucl-
le meio podiam cscapar.
Desde o primeiro de dezcmbro do corrente
anno a escala telra-centigrada foi adoptada
com a conbecida vanlagem pelos distinclos
meteorologistas Berigny e Rycbard de Sedan
no observatorio de Versailles. A.
ARREDORES DE COIMBRA.
Valle fie CozcIIias.
Kis desro no f'alle . . , .
Que sce/ta encantad'ira !
Alfeso Cynthiu.
Depois de contemplar de Monte-Arroio '
a formosa Quinta da ItiheUa, e os majestosos
cyprestes, que a circumdam, tao celebrados
' Mons rtthens, Monte ruivo^ e (corruptoo vocabiilo)
Monte'roio, ou Montt^Arrait^ se denomina cm uma
tluat^au dc D. I\Iendo a D. JoeIo Theolonio, Prior segundo
do mosteiro de Sancta Cniz de Coimbra, fallecido a '29
ii'outiibro de 1181. — Chron. dos conegos regr. de S.
Agostinho. Liv. IX. cap. VII. pag. 206.
pelo cximio botanico Heinrich Link ' ; dp
admirar o sumptuoso aqueducto de S. Sebas-
tiao, 0 magnilico zimhorio da cathedral, e 0
real collegio das Artes, dirigem-se nalural-
mente os olhos ao bosque dos jesuitas, povoado
de annosos cedros e loureiros-", e descancani
depois, com inell'avel complacencia, no ve-
nerando mosleiro de Sancta Cruz, nas vizinhas
hortas e pomares ' .
Que multidao de idias nao affluia ao nosso
cspirito a vista d'estes monumentos famosos!
Parecia-nos divisar, alem, alguns dos suc-
eessorcs de Francisco Xavier, passeando em
silencio; figurava-sc-nos ver aqui o padre
Theotonio, e Affonso Henriques em conversa-
cao animada ■".
E logo nos occorriam as sanguinosas, c
hem feridas batalbas contra a mourisma,
ganhas pela valentia do Principe, e piedosas
preces do bom Prior'; lembravam-nos tani-
bem as gloriosas conquistas do Oriente, fa-
vorecidas pelos trabalhos sobre humanos do
grande Apostolo das Indias'.
E d'estas cogitafoes nos dispertaram, muitas
vezes, OS longinquos aceentos de uma suave
psalmodia.
Tarn grato iraaginar nao ha hoje suscital-o
0 aspecto das frondosas allamedas, a vista do
cenobio antigo. A proscripcao dos filhos de
Loyola seguiu-se a expulsao dos filhos de
Agostinho. Calarani-se as harraonias saudosas
dos orgaos dc Sancta Cruz de Coimbra; ja
se nao ouvem os canticos maviosos dos seus
conegos regrantes!
Esquecamo-nos poreni dos erros dos homcns,
perdoemos-lhes as demasias e injusticas, con-
templando as ponipas de uma paisagemesplen-
dida'. Descamos do monte, penetreraos em
Cozelhas.
' Voyage en Portugal. Tom. 1. pag. 401. Tom. i.
pag. 98.
-' « Si I'on desire voir les lauriers des Indes, de G5a
(Laiirus Iiiilica) dans toute leur magniflcence, c'est ici
qu'on doit se rendre. » Link — Tom. 1. pag. 379.
' Poucas cidades lia, que offereram, aos ollios tarn
variados e formosos qiiadros, como Coinil)ra ; por qual-
quer lado, que seja olliada exteriormente, apresenta um
panorama encantador.
* No profundo vaUe de Monlarroyo muilas vezes pas-
seavam esles dois varoes, o rei, e o frade, mcditando, e
conversando do ceu e da terra! — A. Port.
' 1' Tinha El-rei D. AfTonso Henriques tanta fe, e
confian^a nas oraijiies do Prior S. Theotonio, que jamais
commetleu empreza alguma, sem primeiro llie dar conta
da fac^ao, que delerminava fazer, pedindo-llie roga.s.5e a
Deos por elle e sen exercito. "
Chron. citada Liv. I.\. cap. 11. pag. 177.
' Viil. Histun'a (la riiia dc Francisco de Xavier, e
do que fizeram na India os mais rdigiosos da compniihia
de Jesus. — Pelo P. Jouo de Lucena.
'■ Les vallees pres de Cofrabre, qui se dirigerit en
parlie vers la valine principale, sont arros(!es par le
Mondego, et portent de noms particuliers; par exemple
I'nl de Cuzel/ias. La vegetation y est tres-riche, el le
Mondego embellit la belle flore de ce pays, par beancoup
de plantes, qui proviennent des mont-igncs elevees. ■' —
Link, obra cit. Tom., pag. 91.
158
oil! como surge majcslosa, e bella
(loiii viro (la creacao, a iiatureza
No solilario valle ' I
Qucra iiodoiii (lescrever a formosUra d'estes
prados, d'oslas iol\as tarn mimosas, csnial-
tadas do varius floros, iias (|iuu's nao sahercis,
que mais vos dcleile, se a vivcza da sua ror.
sc a lindcza do sua ligura ou a suavidado
do sou clieiro?
Vcreis com
sincera
Adrairajao
0 fruclo, a flor, o aroma, o sol que os gera,
E esla vivaz, vehemento natureza,
Toda do logo e luz,
Que ama iucessante, de amor nao canca,
E conlinua produz
Nos fructos 0 prazer, na flor a csp'ranra '.
Tudo quanlo pode cnlcvar a alma, arrcba-
lar a imaglnacao, encender o cntliuziasmo,
se encontra 'nestc amcno e fertii sitio '.
R. DE gusmAo.
UMA VISITA. A SERILV D'ESTRELLA.
VEGETAES MAIS NOTAVEIS DA SERRA DESTRELLA.
Continuailo de jiag. 146.
Thlaspi. Atysson. Mostardeira brava, crva scmc-
Ihanle a Bulsa de pastor.
T [Montanum de Brol. ?) EncouUa-se
nos Cantaros.
Deanthos. Alecrim.
D. Itisitanus? Encoiitra-se nos Cantaros.
Blnil'M. yavet. Nabo sdvestrc.
B. jlexuosnm de Brot. Encontra-se na rua dos
Mercadorcs.
POTAMOCETON. t,pi U'eau. Erva, que naseedeiUro
il'agua, de folhas scmelhantes a selga brava. Selga
brava.
P. natans p. Encontra-se na lagoa comprida.
Narcissus. Narrisse. Lirio Vcrmclho; Junquilho.
N. pseudo-narcissus. Encontra-se no valle da
Candieira. Link afTirma ter visto trez cspecies de
lirio em flornrao na serra cm 31 de maio, alguns
dos quaes tinham aberto passagem atra\(;s da
neve.
N. minor. Encontra-se no Malhao da serra.
Pedicciarjs. Pedicttlaire. Erva Piolhcira.
I', lusitanica. Encontra-se na lagoa do Paehao.
' A. Herculano. Poesias.
^ Garrett.
■■ A Ribeira de Cozelhas e urn dos sitios mais ferteis
que ha na redondeza da cidade; parte d'a-suafeoundidade
nasce das enchenles que o Monde^^o faz para ella. e cada
alqueire de miUio, que se Ihe semea, prodiiz ordinaria-
mente cincoenla. — Ensaio d'uma discripr/io physica e
economica de Cninibra e sens arredores (iMem. Econ.
da Acad. R. das Scienc. de LisbOa. Tom. 1;.
Crocis. Carlhame; Siifran. Acafrao.
C. serotinus. Encimlra-se no Malhao da serra.
Genista. Giesla.
G. tusiliinira'.' Genet du I'lirtuijal de Linn.
Encontra-se no Canlaru Gordo.
G. polygalaefolia de Brot. Encontra-se no
Canlaro (iordo.
SoRRis. Sorhin- ; Oirni/cr. .Sorvcira.
S (lueuparias. Traniascira. Enconlra-sc no
Cantaro (iordo.
Alchimiiia; Psadum; LeimtnpoUium \ Planla leo-
his. Pied de lion ; Peree perre.
A. alpina de Linn.? Encontra-se no Cantaro
Gordo.
Avia; Senccio.
A. cacspitosa. Encontra-se na lagoa redonda.
Digitalis. l)i<jittile.
D. thapsi Encontia-se na Aldea da serra.
Pbum'S i'cKntcr ; /'ninc?/)Vr. Ameixicira ; Abru-
nlieiro; Azcreiro.
/'. lusitanica de Linn. Encontra-se no Pomar
dc Judas.
CiiicAKA. Ifcrbe deS.' Etiene; Circee. Mandrngnra.
C. lutctiana de Linn. Encontra-se no Pomar
de Judas.
Fl'mahia; Fumus tcrruc. Fume terre. Erva mo-
larinba.
F. claviculata?
Ervsemum. Grfio Inrco; Saraniago rinchiio.
E. virgutum de Linn. Encontra-se em Cea.
Sophia.
5. chencrgornm. Tlialitron.
Ckbysosple.vicm, Saji/rnjcrforc'c; Ucpaliqucdordc.
C. oppositifolium. Encontra-se em Cea.
ToRDiLiBM; ileum. Scsele; Seseli; fileo, semelhantc
ii Erva doce.
r. magnum de Brot. Encontra-se em Sancta
Marinha.
Ilex. Honx; Asevinho.
/. tiquifolium de Linn. Encontra-se no Pomar
de Judas.
Anduosaemum. Fontc secinc. Erva de S. Juao ;
Milfurada.
,1. o/JicinaUe. Encontra-se no Pomar de Judas.
Erynoiim. Chardon Holland. Cardo corredor.
E. tenue de Linn. ? Encontra-se em Cea.
CvTiMS. Cglise. Codeco.
C. complicalus . Encontra-se em Cea.
Echil'm; Buglossum. Buglose, Cbupamel ; Lingua
de A'acca.
E. italicum, Z.? Encontra-se em Manteigas.
Malva. Malva.
M- alcea; Alcca vulgaris. Alcoe. Malva de
Ilungria. Encontra-sc em Manteigas.
M. laciniala Encontra-se cm Manteigas.
LiNARiA. Linaire.
L. IriornilhopJtora. Encontra-se cm Manteigas.
L. rirgatula'! Enconlra-se em Cea.
L. ajjinis saphinnae de Brot. Encontra-se em
Cea.
Gallil'ra. Petit mugct ; Caille hit. Erva que
coalha o Icite ; flor dc Cardo.
G. rubioides? G. lUilicola ; Ilerbe a I'esqumance.
Encontra-se em Manteigas.
Asplemim. Cetcrach. Ceterac. Hcrva douradinha;
seu name i-cm de splen.
A. lanceolatum Encontra-se em Cea.
A. scolopendrion Encontra-se em Cea.
Angiliccm. Angelique. Angelica,
159
A. silvestris. Encontra-se no Pnmar ile Jiidas
Ol'.TEGIA.
0. Idspanica. Enccintra-se cm Mantcigas.
Sedum; Semper rivum majits; Uiytlettus. Semprc
niiiva. Saiao jjiao.
S. prumaliim'! Eiiconlia-se no Salniguciiii.
S. species alliuis albu. Scilum minus tercli,
folium all);iin. Trique madame. Encuntra-se no
Sahugiieiro.
5. Dscaym Kii wila. Encontra-so no Salju-
gueiro.
Lasebpitii'u. Beijoim.
L. peucedanoides. Enconlra-se em Cea.
CcciBALis. Espiee de Mnnjriiiie. Erva moura.
C. baccifcras. Alcine liaccifcra scandcns ilc
Linn. Encontra-sc cm Sancta Aiarinha.
Achillea.
A. millefidium do Linn; JIyriii|il)ylliim. Mcl-
lefcneUe. Milfulhas; ospccic de I'imiiinella. En-
contra-sc cm Akica da scira.
OssiDNDi. Usmonde ; fougere fleurie ; fougere
aquttliquc.
0. regnlis. Encontia-sc cm Cea.
Centaisea. Cenlauree. Iluiponto.
C. paniculaia de lirot.?
QlEllCLS.
Q. pubcsccnsdehtol.'! Ilouvre. Encoutra-se em
Manteigas e Cea.
Selebanthcs.
5. annuus de Linn. Enconlra-sc cm Cea.
Lepidu'm.
L. latifolium dc Linn. I'asserage. Enconlra-
sc na quinta das Obras.
CvpEBis. Junca clicirosa.
C. longus de Linn. Enconlra-se cm Cea.
fi. R. DE VASCO.XCELLOS.
NOTICIAS LITTERARIAS E SCIENTIFICAS.
Esta(i«i;««-a cSai* lL'B.i?.<'!i'Si«Ba«i!os .4IIc-
niaas. No scmestre do invcrno ultimo frcquen-
laram as 17 Universidadcs d'Allcmanlia, nao con-
tando as d'Auslria e Siiissa, os scguintcs esludan-
les: Munich, 1,731; Borlim, 1,484; Uieslan 823 ;
Wurzljurg, 818; Leipzig, 813: Bonna, 765;
Guellingue, 713; Heidelberg, 695; Tubinge,
693, Halle, 629; Eilangen, 521; Giesscn, 378;
lena quasi oulros lanlos ; Fribourg, 344; Marburg,
251; Greilswald, 222; Uoslock, 92; o que dii
nm total dc onze mil e tresentos cstudanles.
No scmestre do estio o numero dos cscholares
tinha diminuido nuiilo. Calculava-seesta diminui-
rao approximadamente em scteccntos cstudantes.
Em Munich houve 'ncslc scmestre 235, c em
Borlim 149 cstudantes de raenos, que no scmestre
antecedenle.
Atinursiios e.«B SBSKtaU-tTn. A Quatcrly
UeviciK', 'num dos sens ultimos numeros contcm
nma interessante c euriosa noticia dos aiiminrins
rm Inglaterra dcsde os do lliercurius I'olilirus
cm 1652 ate 1855.
0 auclor d'esto artigo colheu informaeijcs das
despezas fcilas com a publicac."io-dos annunciosnos
divcrsos jornacs por alguns industriacs inglczes:
Hollnway pclos annuncios das suas pillulas laxantcs
paga por anno 75U;000 francos; Mosy e filho (cle-
ctuarios c confeicijcs) 2S0:000; Rowland c filho
(oico dc Macassar) , 250:000 francos ; o doutor
Jongh (oleo dc figado de bacalhao), 250:000
Iraucos; Heal e filho (leitos e camas). 150:000
francos; Nicoll, alfaialc, 1)2:500 francos. Na
cpoeha da mania dos caminhos dc ferro so 'numa
semana o Times reeeben 167:175 francos. Actual-
mente a Icrmo medio da reecita dos annuncios
'neste jornal passa dc 75:000 francos por semana.
RELACAO
Dos iiKliridiios nomeados para os scgitintes logares
d'instnicriio publico, dcsde o dia l.« ate \b de setem-
bio cm virtndc de despachos do Coiistlho superior
d'instrucrdn pi'/bUca, c pnrtarias e decrclus do Cover-
no communicadas oo mesnio Consel/io superior noin-
dicado periodo.
l?iSTRUCf;A(J rniMARlA.
Antonio Baplisla d'Oliveira, para professor tempora-
rio da cadeira da Carnota, di.stricto de Lisboa.
Juao Juse d'Andrade, para a de Alcafozes^ districto
de Castello Branco.
Joaquim Antero da Costa e Oliveira, para a de
Peniche, districlo de Lisboa.
Jose GuerreiroColta, para a deMartimlongo, districto
de Faro.
Jose Paulino Carneiro Tavares de Vasconcellos Junior,
para a do Oliveira, districto de Viseu.
Jos^ RodrifruesBarlholo, para a deTondella, districto
de Viseu.
Gon^alo Caldeira, ])ara professor proprietario da
cadeira da Villa do Cartaxo, districto de Santarem, por
decreto de 18 d'agosto ultimo.
Miguel Luiz Valerio, para a de PontadoSol, districto
do Funchal, (>or decreto de IB d'agoslo ultimo.
JIalhias Pereira d'Oliveira, para a de Lobelhe
districto de Viseu, por decreto dt- 22 d'a^osto ultimo,
Jose Maria d'Andrade, para a de Maceira-Dao, per
decreto de 22 d'agusto ultimo.
Antonio Albino, para a de Mangualde, por decreto
de 22 d'agosto ultimo.
INSTRCC^'AO SECDXDARIA.
Annibal Achiies Martins, para o officio de Perilo
Palet^grapho, por decreto de IfJ d'agosto ultimo.
Eleulerio ('olla(;o Mimoso, para professor da 1.* e
2.^ radeiras de Liceu Nacional de Faro, por decreto de
22 d'agosto ultimo.
rNSTRUC(;AO SUPERIOR.
Oi doutores Antonio Jose Marques Corr^a Caldeira
para 1." substituto ordinario. — Antonio J^uiz de Souza
Henriques Secco, para 2." substituto ordinario,— Joaqnim
Maria Rodrigues de Brito, para 3." substituto ordinariu, —
e Adriano d'Abreu Cardoso Machado, para 4.^ substitute
ordinario da faculdade dp direilo da Universidade, por
decreto de 22 d'agosto uUJino.
PUBLlCAgOES LITTERflRias.
S.iliiu a luz o nicriiinnrio Grrgn-Lntino ile Benja-
min Heilerico, pars uso dos que se dedicam ao esliiilii
Ja Linirna Grega, l.» edi^So de Coimhra, jjelo Dr.
Antonio Sosi Lopes de Aloraes, e .lose Vicente Gomes
de Jloura: Parte Hermenentica, 2 vol. 4."' — :^5aou.
F.stHo no prelo as Partes Analytica e Sjnilielica,
por Antonio I^'n.-ioio Coellio de Moraes, professor lie
GreRo no lyceu de Coimbra, e .V. do com|icnilio ile
Grammatica Grefra.
\ [larle Analytica arha-se ja no fim do K.
160
OBSERVACOES METEOROLOGICAS . FEITAS NO
GABINETE DE PHYSICA
DA
UMVEIISIDADE DE COIMBRA.
AnDoile
1833
= a
H = 1
PressSo e
Imospherica ao mi-io dia
l^stadu hycrijiin-lrrco da atinos-
pht-ru ao iiieio ilia
3
c
0 w
Met de
Feve-
reiro
Alliira barome-
trica n 0° da es-
calacenlisrada
Tensjio (lu ML-
por aquosi) con-
tido no ar
Pre^sSn do ar
sccco
(irau d'hilmi-
da<lc <Io ar, re-
jiresenlando por
1 o pstado de
(lui.nl.H.,de d. .«-
l>or cooinio i-oiuoi
metro cubico d'ar.
Dias
ccnliR.
Mitlimelros
Millioietros
Millinielros
saliira(;ao
Gnimmas
d g
1
13
749,748
10,157
739,591
0 91
10,29!1
s.
2
12
747,081
9,097
737,934
0,87
9,256
s.
3
11,5
746,634
8,197
738,437
0,81
8,355
s.
4
10,5
742,952
7,484
735,468
0,79
7,635
s.
5
10
741,085
7,332
734,653
0,80
7,513
s.
6
10
740,984
7,882
733,102
0,86
8,077
o.
7
10
740,477
7,240
733,237
0,79
7.419
so.
8
10
738,703
7,790
730,913
0 85
7,982
s.
9
9
744,866
7,459
737,407
087
7,670
s.
10
10
737,164
7,973
729,191
0,87
8,170
s.
11
10
735,506
7,973
727,543
0,87
8,170
s.
12
9,5
734,197
7,712
726,485
0,87
7,910
s.
13
10
729,055
7,607
721,458
0,83
7,795
s.
14
9,5
743,073
7,269
735,804
0,82
7,462
E.
15
8
745,791
6,173
739,618
0,77
6,370
s.
16
9
743,133
7,717
735,416
0,90
7,935
0.
17
10,5
742,922
8,432
734,490
0,89
8.625
0.
18
11
746,695
8,323
738,372
0,85
8,498
o.
19
12
745,813
8,679
737,134
0,83
8,831
o.
20
12,5
745,247
8,859
736,388
0,82
8,998
s.
21
a
745,931
8,323
737,608
0,85
8,479
E.
£2
11
746,695
6,854
739,841
0,70
6,999
N.
23
10
753,410
6,874
746,536
0,75
7,044
N.
24
11,5
757,538
7,590
749,948
0,75
7,736
O.
25
12
756,208
9,411
746,797
0,90
9.576
N.
26
11
759,828
8,519
751,309
0,87
8,693
N.
27
12
760,516
8,888
751,628
0,K5
9 043
N.
28
11
755,570
8,734
746,836
0,U0
8,918
N.
inedirt )
do mez ^
10°, 613
7447^62
0,83
5
s
Temperattira
Pressfio atmospherica
Cran d'humidade do ar
o
mm
■~ •
Maximo 0 91
Minima 729 065
Minirao 0.70
a.
Maximii lariarao . , 5°
Maxima excuraao . . 31,451
IVEaxima varia^uo .... 0,21
>4.
Coin
bra, 1.° lie Marro de 1855
Antonio Sttnchcs Goultto^ Direc
tor do Gabiiiele de Physica.
^^
® Jn0titttt0,
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
RELATORIO
Sioltro o c»(a<lo fla iiiNtrurrao prima-
i-ia o Mccundarsa, itBiblicn e particu-
lar, do Districlo ailininintrativo dc
Liisbua, em marro de 1 855.
Continuado de pag. 153.
Eschola normal de instruccao primaria
de Lisbda.
A utilidade das cscholas nonnaes para o
ensino da instruccao primaria, sendo aquellas
escholas o que devcm ser, acha-se demonstra-
da tao exuberantemenle, que seria por dcmais
quanto a este respeito pertendesse accrescen-
tar; mas, so assim c, cousinta-me Y. M., que
eu diga muito rcspeitosamcnte pcrante V. M.,
que e muito para laslimar, que tendo seguido
a eschola normal de instrucrao primaria de
Lisboa, creada por decrcto de 20 de setembro
de 1844, as phases, que se deprehcndcm da
larga serie de dccretos e portarias, que se ex-
pedirara de anno a anno a conlar d'aquella
data ate a de 23 de setembro de 1833 inclu-
sivameute; estando leita a desjjeza, ha tan-
tos anuos, de mais de nove contos de reis
(9:000^000), que tanto se dispendeu para
levantar o edilicio, que Ihe foi dcstinado;
otando dous professores, e iim d'elles dire-
ctor, recebendo ordcnado ha muitos annos,
sem fazerem servieo ; e achando-se hojc na
mera dependeneia dc se Ihe tornar effectivo
0 orcamento de dous contos e quinhentos mil
reis (2:300^000), para costear a sua despeza
ordinaria; e muito para lastimar, dizia eu,
que, por lao leve causa, esteja o paiz privado
de meio tao valioso para o progressivo me-
Ihoramento da instruccao primaria, a qual,
todavia, nao pode ja hoje deixar de considc-
rar-se primeira necessidade piiblica. Demais,
da effectividade do pagamento da quantia re-
ferida, sao poucas e de facil resolucao as
providencias a tomar.
'Nestes termos, pois, e convencido das van-
tagens que devem provir de encetar, e pro-
YOL. lY. OUTIBBO 13
gredir em sous rcgularcs cxercicios a eschola
normal de instruccao primaria de Lisboa para
habilitacao dos respectivos professores, atre-
vo-me a rogar instantemente a V. M., que,
bavendo por hem acabar com as pequenas
difficuldades ainda existentes, ordenc. que de
promplo esta eschola entre no cxercicio de
suas funccoes, e se desvele por preencher os
fins para que foi creada.
Uniformidade do ensino.
Senhor! o objecto que tenho 'neste mo-
mento a honra de por na presenca de V. M.,
e sobremaneira grave, e requer de V. M.
particular attencao, e prompta e eQicaz pro-
videncia.
Senbor, foi dom funestissimo o que fez o
decreto de 20 de setembro de 1844 aos con-
selhos dos lyceus, outorgando-lbes a faculda-
de de escol'herem, e adoptarem os compen-
dios, pelos quaes hao de ser lidas nos mesmos
lyceus as dilTerentes disciplinas.
Os gravissimos inconvenientes da conces-
sao feita pelo citado decreto no art. 167 aos
conselhos catbedraticos dos'lytreus vem a lu-
me, logo que .se considere: 1." que favorece
as disposieees menos louvaveis (e das quaes
todavia esta excmpto raui diminuto numero
de individuos), de lorpecobica, de jactanciosa
vangloria, e de abjecta veniaga: 2.° ([ue se-
mea a discordia entre os membros do corpo
cathedratico, se os debates para approvacao
dos compendios tem logar conscienciosaraen-
te; e se os pareceres das commissoes respe-
ctivas, que examinam os compendios offere-
cidos, nao sao dados de pure obsequio, e sem
attencao a maior vantagem publica: 3." que
da occasiao a serem preferidos compendios
menos perfeitos a compendios mais perfeitos
com manifesto prejuizo da mocidade: .4.° que
a muito grande variedade de compendios que
d'ahi precede diCBculta o approveitamento dos
alumnos, porque Ihes embaraca as habilita-
coes; porquanto nas idades tenras, ainda
pouco desinvolvidas as faculdades intelle-
ctuaes, OS alumnos, embora conhecedores da
materia do exame, sendo interrogados de
modo dlverso do que o costumara ser nas
1833. NcM. 14.
—1833
162
aulas que frequentaram, e sendo-lhes aprc-
senladas as qucslOes por mothoilo c sob for-
ma alheia da ([ue Ihes cnsina o compendio
por onde li'-m csludado, desatinam, coiiio que
se llies ailisura assuinpto pi'regiino, e e a
consequeuiia iiao satisl'azeicin coiuo dcvcm, c
por Ventura sabir.ni, acharcni-se rcprovados
sem injuslica, fallando ri^orosamcnto, eni-
quanto que por outro kulo parecia tercm di-
reito a approvarao, (pie oliteriaui, s* o c\ame
llies fosse I'eito polos conipendios, por oiidc
aprenderam as malerias, de ipic sao exaiui-
nados.
E portanlo de al)soluta uoccssidade acabar
com ohstaculos de taiUa monta para a inslruc-
('50 publica; e nao ba outro meio para cbc-
gar a esle (im, sc uao restabelecer cm priu-
cipio a uniformidadc do cnsiiio. Ri-clama-o
assim, eomo liia manifesto, nao menos a mo-
ralidadc dos professores, do que o aproveita-
mcnlo dos alumnos esludiosos.
Obrigado de razoes lao pondcrosas, que a
experiencia confirma de dia a dia, venbo
supplicar com a maior instancia a V. M., que
se digne fazer apresentar ao corpo Icgisbiiivo
um projecto do lei, em virtude do (|ual fique
pertencendo ao conselho superior a escniha
dos compcndios; e que por conipcndios iden-
ticos hajam de ser lidas as dill'ercnles disci-
piinas, de quo se compoe a iustruccao prima-
ria c a secundaria, nao so em todos os lyceus,
mas tambcm em todas as aulas doreino, assim
puiiiicas como partioularcs. Com esla unica
providencia evitar-se-bao os gravissimos in-
convenientes ponderados, e a ninguem se
prejudicara. E obvia a razao do ninguem ser
prcjudicado, porque perante o conselho supe-
rior de instruecao piiblioa poderao disputar
prefcrencias, simultanea ou successivamente,
OS anetores ou introductores dos novo;; com-
pcndios, e, para que nao corram iienhuin
risco uos sous interesses os auctor£s, ou intro-
ductores dos corapendios que I'orem approva-
dos, pela evcntualidade de Ihes ser prclorido
em breve algum outro compendio, podoria
provcr-se a que a approvacao do conselho
superior uao vigore por menos de dois aunos.
Creayo de iima secoao exclusiva de commissao
dos cstudos do districto, annexa a sfecrctiiria
do re-qiectivo lyceu nacional.
Ao tomar conta da reparticao, que, na
qualidade de commissario dos cstudos do
districto de Lis'uoa, me foi incumbida, nao
ju.lguei sobremaucira difficultosa a tarefa a
qiie me sujeitava, rcputando o seu desem-
penho dependcnte so do meu zelo na execu-
cao do que me compete por dever. Enganci-
me. 0 commissario dos cstudos, cmprego tao
laborioso 'neste districto, acha-sc desajudado
dos mcios indispensaveis para desobrigar-se
do (|ue Ihe cumpre. Attenda-mc V. M.
0 commissario dos estudos de Lisboa, so-
brc quem peza trabalho tao conlinuo, tao
variado, tao penoso, o por vozes tao arduo,
para ser satisteito como cnnvem, o Ihe e re-
(|uerido, nao tem secrctario, ni'm amanuen-
ses, nem soquer um unico cmprogado, seja
(|ual for a donominacao que se llio ([uoira
dar, (pie dc algum modo, por dever, o ajude,
e nem ao menos Ihe presle o servico do ievar
um oilicio ao corroio !
E verdadc, (jue o commissario dos estudos
e ao mcsmo tempo reitor do lyceu, e que
'nessa qualidade tem secretario, c socretaria;
porem o tao grande, para esla, a alTluencia
de trabalho, mormente cm alguns mazes do
anno, e esla tao pobre de empregados a secre-
taria do lyceu, que nem para so esse traba-
lho sao as vezes sullicientes, por poucos, esses
empregados, tornando-se inevitavol requerer-
Ihes maior numero de boras do servico, c
que fa(.'am mais obra do que dc justifa podeni
ser obrigados. Tao pouco ha nieios dc os
auxiliar extraordinariamento. E todavia Di-
gne-se V. M. advertir, que sao excellentes
empregados os actuacs da secrelaria do lyceu ;
e quo 0 zolo, a intelligencia do digno secrc-
tario d'c^ta reparticao com dilliculdade pode-
ra ser egualado, tendo eu para mini que nao
pode ser cxcedido. Comprazo-mo de honrar
0 verdadeiro nierccimento.
Em conse(jucncia, c apesar dos eslorvos
nao raro diliicois de veneer, a reparticao da
rcitoria, ou do lyceu, nada dcixa a dcsejar;
tudo oslii alii bem ordejiado; e os trabalhos,
que Ibe sao peculiares, camiubam com appro-
vada regularidade.
Nao succede por(?m assira com a reparticao
propriamentc exclusiva do commissario dos
estudos ; repartif ao que, longc de ser menos,
(i mais laboriosa, do que a'da rcitoria do lyceu
como facilraentc sc dcprehcudc das obrigacoes,
que por lei Ihe sao imposlas, e como a praclica
poe na ultima evidencia. 'Nesta reparticao a
despeilo da minba cflicaz diligencia, c da
valiosissima cooperafao do djgno secrctario
do Jyceu, quasi que tudo csta para I'azer-se.
E nao por culpa do meu antecessor, que .fez
muito, e bem, dando seniprc de si a mclhoj'
conta; mas porque, em quanto as cousas fo-
rem como sao, nao e possivel que seja d'ou-
tra sorte.
Devo dizer tudo , a nao ser a cfficacia (alias
lao mesquinhamcnte rcmuncrada) do actual
secretario do lyceu, que, scm reservar um so
dia para o repouso, se presla scmpre de bom
grade a quanto esla 'neile, nao se faria com
alguma regularidade nem se qucr o expedien-
te da reparticilo do commissario dos estudos,,
por muito que seja o zelo d'este. E quaes sao
OS cstimulos, que podem aguilboar o zelo do
commissario dos cstudos? Se nao fossem os •
I
103
do pundonor, V. M. hem sabn, ijue nao po-
diam scr os do interesse. EnlretniUo a([uelles
cansam e cmbotam-se, gastos por inccssante,
excessiva, c mat avaliada fadiga : e estc c de
lao love niomento, que nao mcrecc lufneio-
nar-sc. Senlior, o serviro mal ijalardoado, so
per exccpoao rarissima, tide vanlagem aquem
cprestado: prova-o assini a exi)orieiK-ia, con-
tra a qiial nada podeiii oslenlosos, mas vaos
discursos.
E qual (3 0 rcstiltado do nao cstar a com-
missao dos cstudos eslabclecida, conio se ha
mister, com sufficicnlc niimero do emprega-
dos, e com os nicios prccisos para occorrcr a
quaesquer evenlualidades, originadas cm ser-
vifo cxtraordinario, on de mais demorado e
dilTu-il dcscmpcnho? Ucsulla, que I'altam na
commissao dos estudos os elementos ate mais
communs, c menos dispensaveis, para os tra-
balhos proprios e especiaes da commissao.
Rosulta, que nao existem os escbirecimeiitos,
que a k^i quer que existam, e seni os quaes
nao podem scr satisfeitas muitas disposicoes
da mesma lei. Resulta, que o govcrno de V.
M., e 0 consclho superior frc(iuentemente nao
podem obter o auxilio, a que teni direito, da
parte do comniissario dos estudos, por carecer
usle de todos os meios de prestar-lb'o. Resul-
ta, 'nunia palavra, que para o comniissario
dos estudos se torna litteralmentc impossivel
preencher cumpridamcnte os seus deveres.
E como nao scria assim, se o triste do
comniissario dos estudos ha de fazer tudo,
tudo inteiramcnie, de si proprio, e nao tem
pessoa a qual baja nem de copiar-Ihe, ao
menos, urn ollicio, ou de entregal-o, a nao
Ibe pagar da sua algibeira, ou a nao pedir-
Ihe por favor 1? Tal e o estado das cousas.
Nao culpo a ningueni, lamcnto a deficiencia
da Icgislacao rcspecliva; e maravilho-me de
que tendo-se lanio a peito, como se diz, e eu
creio, o aperfeicamento da instruccao publica,
0 das letras, se descurem ate tal ponto os
meios essenciaes de poder veritical-o.
Senhor! E precise acabar com estado tao
digno de lastima ; se, dopois de conhecido, com
e*ie nao se acabasse, baveria entiio motive
mais que sobejo para justifirado queixume.
Senhor! Sem inslrucrao primaria e secun-
daria a superior nao c possivel, c nao e pos-
sivcl tao pouco o aperfeicoamento intellectual,
da socicdade. Sos de per si, sao aquellas ja
para muito, e sem ellas, nao adiantaremos
nunca um so passo para este fim tao descja-
do. Mas, para que a instruccao primaria e
secundaria caminhcm, se melhorem, e obte-
nham a desinvolujao, que conveni dar-lbes,
e de ahsoluta necessidade, que as duas rcparti-
coes, a cujo cargo esta quanto Ihes respeita,
estejam constituidas, e ordenadas de niodo,
que possam satisfazcr cabalmente o que Ihes
cumpre.
Coiilinua.
RELATORIO
Etas tva.lial2n>% <lo <onNCIl90 <3a riifiil-
slssdf «tc? git»l!ioiinaIi<-n «3a Uiiivcu'wi-
<Ia<Ei' 93(^ CoiiuEts-a. cso nnsetu Ict'Ci^o
<3c BSdl I9iu-a 1S55.
Apezar de que este anno lectivo loi prece-
dido d'outro bastantc agitado, correu clle
lelizmento sobremaueira regular, devendo-se
ao zelo dos professores o conservar-se nas
aulas a ordcm e a disciplina em todo o rigor.
Para esse fim, alem das medidas ordinarias,
adoptou 0 conselho da faculdade outras que
Ibe parecerani convenientes, sendo uma d'el-
las a disposicao de mandar lancar nas actas
das congrcgacOes os nomes dos estudantes,
que OS respectivos professores declarassem que,
sendo cbaraados as licocs, diziam repetidas
vczes que as n5o tinham visto.
0 movimento dos estudantes durante este
anno lectivo ve-se no mappa seguinte:
2;
o
S
S o
O B
ll
Q
Approiadus
o
o
K
i
<
'o
a *^
1.°
84
32
37
13
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"
"
4.»
4
>i
ij
a
"
"
5.°
Total
3
)i
„
3
"
"
131
36
46
3a
8
3 1
Teve 0 conselho a satislacao de distribuir,
cm resultado da boa frequencia das aulas e
dos actos distinctos, partidos, premios, acces-
sit e distinccOes, cm todos os annos do curso
mathemalico aos estudantes scguintes:
1.° AKNO.
Jose Christiano A^ill . . Ipgrtidos.
Alvaro Kopcke de Barbosa Ayalla j
Fernando Maria Garcia da Silva l.°Accessit.
Antonio Eugenie Ribeiro d'Al-
meida 2.° dicto.
Joao Ignacio do Palrocinio Costa
eSitra 3." dicto.
Jose Ferreira de Lacerda . . . Distinccao.
2.° ANNO.
Antonio dos Sanctos Viegas Ju-")
nior '-Partidos.
Eduardo Augusto d'Oliveira Lobo )
Jose Carlos Lopes Junior . . . l.°Premio
Lourenco Antonio de Carvalho 2.° dicto
Fernando Augusto d'Andrade
Pimentel e Mello Accessit.
Miguel Archanjo Marques Lobo].jjjgj,jjj.ggg_
Barao de Pomheiro )
164
Adolfo Ferreira cie Lourciro .
Aiilouio Joaquim de Cainpi
Majtalbaes
OS >• i
Accessit.
Antonio Pinto dc Magalhaes
Aguiar l.°Premio.
Eduardo Pinto da Cuniia ... 2.° dicto.
b.° ANNO.
.lose Percira da Costa Cardosol „
T,, . . ■ ,■,.,• ■ , I f'Prcmios.
Thom.iz Antonio u Oliveira Loho )
Liiiz Pinto de .Mcsquita Carvallio Accessit.
Foraiu dcfcndidas conclusoes magnas pelos
repetentes Manoel Maria Corrca, e Antonio
.lose Teixeira, sendo estes aclos presididos
pelo scgundo lente da faculdadc Francisco de
Castro Freire, na auzencia, cm cortes, do
lente de prima, par do reiuo.
0 repctcnte Antonio Jose Teixeira tomou
snbsequontemente o grau de licenceado, c
tendo exposto a congregarao da facuWade''S
sua falta de meios para tomar o grau de
doutor, decidiu a facuidade unanimemente
levar a presenca de Sua Magestade a pcrten-
rao do suppiicante para se Ihe conccder ca-
pello gratuito, do qnai a I'aculdade o achou
digno pelo sen distincto mcrilo litterario, e
era attencao nao so a allegada falta de meios,
mas ainda pcia necessidade da ac(|uisicao de
doutores, que possam concorrer aos logares
que vagarcm na I'aculdade.
0 conselho, em execucao da carta de lei de
19 de agosto de 1833, e decreto regulamen-
tar de 27 de setembro de 18Si, pdz a con-
curso as duas substituicoes extraordinarias
da facuidade, e em resultado d'este concurso
foram propostos a S. M., e por S. M. despa-
cbados, OS doutores Luiz Albano 4'Andrade
Moraes, para a 1.°, e Francisco Pcreira do
Torres Coelbo, para a 2."
Tendo sido presente ao conselho a portaria
do governo de S. M. de 1833 de 2(i de ju-
nho ultimo, que cliama a altencao das I'acul-
dadcs universitarias sobre as disposicues da
carta de lei de 12 do niesnio mcz, relativas
a passagem dos Icntes substitutos extraordi-
narios* a classe de ordinarios, etlWrideu o
mesmo conselho que devia consullar a S. M.
mostrando a urgencia que ha de sc dispensar
0 tyrocinio dos dois annos de servico aos
acluaes substitutos extraordinarios, a fim de
poder serprovida a i." substituirao vaga, de
iia muito, no quadro da facuidade. Tendo
S. M. rcsolvido favoravelmcnte esta consul-
ta, propoz 0 conselho a S. M. para 4.° lente
fuhstituto da facuidade o 1.° subtituto extraor-
dinario Luiz Albano d'Andrade Moraes.
Os progranimas do ensino nos dilTerentes
annos da facuidade foram descmpeuhados
pcla forma por que haviam sido approvados.
Na 6.° cadeira cm que os alumnos tiveram
de estudar a Mechanica dos /liiidos, que no
no anno anterior, se niio explicara na respe-
ctiva cadeira pelas causas gcraes de que se
deu conta nos precedentes relalorios, deram-
se todavia as seguintcs doutriuas do scu pro-
gramma nas duas ultimas epochas do anno
lectivo, a saber;
Topoijraphia e geodoiin — e de mechanica
applicada as partes seguintcs:
1.' Hesistencia dos corpos solidos aos es-
forcos que tcndem a produzir o esmagamen-
lo, e aos esforcos dirigidos no sentido longi-
tudinal que tendem a produzir extensoes e
ruptura : — resistencia de um corpo prisma-
tico a llexao e a fractura produzida por esfor-
cos dirigidos perpendicularmcnle ao compri-
niento do corpo: — nocOes sobre as thcorias
de resistencia a fractura prnposlas por Gali-
leu, e por Mariotte e Leibnitz; e advertencia
no caso de ser o solido prismatico de pequeno
comprimento: — resistencia de um corpo pris-
matico a torsao e a fractura causada pela
torsao: — experiencias relativas aos materiaes
empregados nas construccOes, e maximos
esforcos a que podem ser exposlos com se-
guranca.
2." Equilibrio e resistencia dos massicos
forraados de malerias adherentes, quando a
superlicie superior e carregada jjor um peso
qualqucr, ou quando a resistencia se exerce
contra uma das faces lateracs: casos em que
a ruptura se opera por escorregamento ou
por derribamenlo, e em que as pressocs exer-
cidas sobre o massico tendem a causar o esma-
garaento: — ligura do massico d'egual resisten-
cia a fractura por esmagamento: — muros de
revestimentos vulgo succalcos ou cortinas, que
sustentam o impulse das terras e das aguas:
— estabelecimento dos alicerces, quando os
muros sao construidos sobre terrenes com-
pressiveis: — avaliacao do peso especilico, do
attrilo e da cohesao: — experiencias sobre a
resistencia dos massicos; e com relacao a
diversa ipialidade de terras, ou no estado
natural, ou reccm-bulidas, ou ensopaveis.
3." Equilibrio e estabelecimento das abo-
badas: — condicocs que devem verilicar-se
no equilibrio d'uma reuniiio de aduellas, se-
gundo OS dilTerentes casos de applicacao das
forcas: — principacs experiencias e observa-
yoes rclatiTas ao equilibrio das abobadas: —
equilibrio das abobadas cylindricas, das de
zimborio, de arco de dauslro e de arcsta: —
uso dos tirantes e cintas de ferro para con-
solidar esta especie do construccoes : — cal-
culos rolativos ao estabelecimento das abo-
badas.
A maior parte das sobredictas doutrinas de
Mechanica applicada foram explicadas a pri-
nu'ira vez 'naquella cadeira e na universida-
dc. Pcla ausencia em cortes do lente proprie-
165
lario de cadcira, foi regida pelo lente subsli-
tuto 0 Dr. Florencio Ma^o Barreto Feio.
Tendo sido olTerccida ao conselho a segun-
da parte da Astronomia Phi/sica romposta pelo
vogal 0 Dr. R. R. de Sousa Piiilo, foi esta
segunda parte approvada, como ja o tinlia
sido a primeira, decidindo o conselho que
per conveniencia do ensino deviani ser desde
Jii mandadas imprimir c adoptadas para com-
pendio as duas partes assim approvadas da
dicta obra.
Durante o anno lectivo ficou prompla no
edilicio do nuiseu unia aula privativa da fa-
culdade de niatlieniatica, onde tiveram exer-
cicio as aulas do 3." anno da mesraa fiuul-
dade. Alii, e na sala contigua loram colloca-
das as antigas machinas pertencentes ii ra-
deira de hydraulica, que se niandaram pdr
cm arranjo e pintar.
Tambem ficaram promptas e arranjadas
duas salas no edilicio do antigo hospital da
Conceicao, para uso da aula de desenho, ha-
vendo-se construido 'numa d'ellas unia gran-
tie claraboia, d'onde dimana a luz neccssaria
e conveniente para os exercicios practices do
desenho.
Decidiu-se tambem que a aula da faculda-
de, existente nos geraes da universidade se
arranjasse em amphitheatro pela forma das
aulas do museu.
Em eongregacao de 14 de junho resolveu
0 conselho elevar a presenja de S. M. uma
consuita, na qual, expondo o quanto e aca-
nhado o actual edilicio do observalorio para
satisfazer a todas as exigencias, a que as
observacOes, que alii vao encetar-se com os
novos instrumentos, podem dar logar, pede
a S. M. se digne conceder-lhe apenas a parte
do 1." andar e lojas correspondentes do colle-
g'o de S. Pedro, que sirvam para casa de
habitacao do porteiro, para quarto de descan-
SO e estudo dos observadores, e para estabe-
lecimento de mais uma aula para o servico
da faculdade.
Tendo o exm.° Prelado da universidade
declarado em uma reuniao da maioria dos
membros da faculdade, que teve logar em 20
d'agosto ultimo, que o Dr. Antonino Jose
Rodrigues Vidal estava resolvido a entrar
'numa composicao relativamente a obra que
anda fazendo nas casas fronteiras a das obser-
vacoes, sobre a qual eslava pendente questao
por parte da fazenda piiblica e da Universi-
dade; e que por isso julgava conveniente ouvir
a faculdade sobre cste objecto: decidiu a
faculdade responder a S. Ex.% que nada
tinha a dizer sobre o objecto da composicao
a que se julgava completamente estranha, e
que unicamente nao duvidaria, na qualidade
de perito, declarar ate que ponto as obras do
Dr. Antonino prejudieavam as observacOes.
Com 0 assentimento de S. Ex.", e so para o
fim d'aquella declaracao, a Faculdade nomeou
uma commissao, coniposta dos Drs. Raymun-
do Vcnancio Rodrigues, Rufino (iucrra Osoriu
e Francisco Pereira Torres Coellio. os quaes
na reuniao seguinte, do dia il, doram o seu
parecer, que foi unanimeniente approvado, e
(|ue consistia em declarar, que licando o 2."
andar das casas de que se Iracta, pertencen-
tes ao Dr. Antonino, com 12 painios de pe
(lireito, e com a allura de 7 palnios coiitados
da cama do forro do dicto 2." andar ate ao
espigao do telhado, e o telhado com 4 verten-
tes, a casa do Dr. Antonino nao prejudica
as observacOes astronomicas.
OS SINOS.
Conlinuadu de pag. 94.
Ha quern attrihua a superioridadc, que as
antigas carapainhas e os sinos tinham sobre
os de fabrica mais recente, a influencia da
atmospbera durante os seculos (pie passaram;
ha porem quem julgue isso devido ao lume
de lenlia que, como se sabe, e melhor que o
do carvao para fundir o metal. Mas outra e
talvez a causa. Se a quantidade de metal nao
estiver na proporcao conveniente com o calibre
do sino, esle perderii o seu poder de soar,
que sera duro e scraelhante ao de ferro.
Se por exempio se quizesse obter a nota mi
de uma (piantidade de metal so propria para
dar fa, 'nesle easo o fa scria prcferivel ao
mi. Ora nos sinos antigos emprcgava-se para
qualquer nota maior quantidade de metal do
(|uelloj(^ quese procura harmonisaracconomia
com a bondade dos productos. 0 sino tenor
da cathedral de Rochester peza 28 quinlaes;
mas hoje alcancar-se-hia o seu fa com muito
menos metal, sacrificando porem a qualidade
do som. Os fabricantes actuaes sao incontesta-
velmente superiores tanto era habilidade corao
em pericia aos d'outrora.
Este ramo de industria era exercido em
Inglaterra no principio do seculo XIY por
uma classe especial de artistas. Tendo-se
partido em 1313 o sino da Abbadia de Crokes-
dan, no Staffordshire, mestre Henrique Miguel
de Lichfit'ld com os seus officiaes trahalhou
em 0 rclundir desde a oitava da Trindade
ate ii testa da Nalividade de N. S. A opera-
cao nao teve bora resultado, apezar do tempo
que com ella se erapregara: foi mister comeral-a
de novo, o que levou mais dois raezcs de tra-
balho'.
Um dos sinos destinados para o carrilhao
da Egreja do Vendome, foi fundido com lania
felicidade, que produziu precisamente a uota
I £ de crer que mestre H. Miguel tives.«e rauito que
apr^nder com os nossos fundidores modernos.
166
tjiie sedcsejava obtcr. Este l)om resultado, diz
(liiom prcsenciou aqiiella 0])era<;ao, foi al-
trilniiilo a uuia moeda de prata lanrada pelo
bispo na lifja cm cl)iilirao; mas um lundidor,
a (jiicm se ri'foriu osli- laclo. insist;' em que
as mocdas do prata, (luaesquer que sejam, so
sei'vcm paia onrii|ue('cr os ixilsos do mesire
e dos seus ollioiaes, porque a prata precipita-se
no lundo do tadinlio, e nao pode toniar-se
parte integranle do instrumento sonoro.
NSo depende so da i)6a qualidade das ma-
terias emprei;adas no I'alirico d'um sino a sua
sonoridadc, tainbem da sua forma c da pro-
porcao entrc as suas dilVcrentes partes. Ligeiros
dcloitos de som podem scr corrigidos depois
da l'undii;ao. Se succeder, |)or exenipio, que
a nota seja niuilo aguda, adeigaca-se o sino
com 0 lorno; sc for demasiado grave, diminue-
se.-lbe proporeionaimrnte o diametro rercean-
do-se-lhe o bordo. Nao podemos ailirmar que
estes meios fosscm conhecidos dos antigos
fundidores, que talvez tivessem de se conten-
tar com o resultado da primeira fundieao.
Em liG3 era tal a iraporlaneia, (|ue em
Jngiaterra tinha adquirido a fabriraeao dos
sinos pequenos, que se prohibiu que fosscm
importados 'neste paiz, porque os I'abricantes
(]uei\aram-se ao rei em pleno parlamento
do prejuizo que essa importacao Ihes causava.
Os sinos grandes estavam inais desimpedidos
da coucurrencia estrangeira, porque o sen
enornu> pezo augmentava eonsideravelmente
as despezas do iransporte. E de crer que os
fundidores de Bristol fossem celebres no
seculo XV. Anteriormcnte a 10S4, Abraham
Rudall, de Gloucester, tinlia clevado a arte
a um alto grau do perfeicao. Os seus descen-
deulcs continuaram a cxcrccro niesmo mister,
I', em 177i, a familia Rudall tinlia fundido
0 grandissimo numero de 3o'.)4 sinos. 'Nesla
fundicao e que se fabricaram alguns dos mais
affamados carrilliOes do oeste da Inglaterra,
alcm de muitos outros para diversas partes
do mesmo paiz. Taes sao os de Alle SainU,
de ruUiiim, e em Londres os de .S'. Dumian,
S. Bride e de S. Murlinho dus Campos. Os
sinos da egreja da Universidade de Cambridge,
(|ue Handel tanto adrairou, foram fundidos em
S. Ncot, cerca de 17:J0. Mess, Mears, suc-
cessores de Kudall, em Gloucester, e que
tamhera tern um immenso estabelecim^uto em
Londres, labricam cada anno muitos centena-
res de sinos e e frequente ver ao mesmo tempo
nas suas olVicinas 'M) tonelladas em I'usao.
0 grandc numero de egrejas que se tern
construido 'ncstes ultimos tempos, e o louvavel
impulso que se \ae dando a restauracao com-
pleta dos antigos edificios rcligiosos, elevaram
este ramo de industria a um grau de prospe-
ridade d'antes dcsconliecido.
Muitos dos campanarios de construccao mo-
derna tem todavia um defeito, e nao pe([ueno,
0 serem de unia construccao tao Jigeira que
nao podem supporlar o jogo de um carrilhao
completo. Em 1810, o cam|)anario da egreja
de S. Nicolau em Liverpool abateu na oc-
casiao cm que os licis se reuniram para o
servico divino. Esta catastrophe, que causou
a morie de i'i pessoas, foi era parte motivada
pela vibracao dos sinos.
Acabada a fundicao do sino, seguia-se
0 sen liaptisado, em que se observavam as
mesmas ceremonias, quo no baiitismo das
creancas. Era Icvado a pia baptismal, davam-
se-lhe padrinhos e madrinhas, era aspergiilo
com a agua bcnta, ungido com os sagrados
oleos, e linalmente reveslido com a facha
i)ranca, que oscatholicos davam as creancas no
lim da ccrcnionia. como symbolo da innocencia.
As gallas que 'nestas ceremonias se eniprc-
gavam eram sumjituosas. Faziam-se festas
magnilicas, e nuii pc([uenas aldeas gasta-
vam mais do 100 escudos de ouro, para soleni-
nisar o baptismo dos seus sinos. Esta usanoa
e ate de uma remota antiguidade: Alcoin
ja dizia que nao se deve achar cstranho, que
OS sinos sejam bcntos c ungidos e que se Ihe
de um nome. Poderiaaios citar aqui numo-
rosos exeniplos, mas pouparcmos aos nossos
leitores uma enumeracao que nao agradaria
provavelmente senao a algum antiquario: so
diremos que este costume subsistiu em Ingla-
terra ate a reforma.
(' Quando se emprega a palavra baptismo,
diz Magio, nao se quer dizer quo os sinos
sao baptisados com aquelie baptismo que traz
comsigo remissao dos peccados; mas simples-
raente pretende-se indicar, que na bencao
dos sinos sao usadas as mesmas cerimonias
que no baptismo das creancas. » Esta obser-
vacao, superflua como explicacao, e insuf-
liciente como justilicaoao. « Nao se baptisam
OS sinos para os remir dos seus peccados, diz
Southey, porque o peccado original d'um sino
nao pode ser se nao alguma racha, ou defeito
de torn, e nao e o jwdre que se encarrega de
ihe dar o remedio. « 0 que na verdade sc pode
considerar profano c indecoroso 'nesta ce-
remonia e ap[)licacao das forraas d'um Sacra-
mento a um objecto, era quo se nao podia
dar relacao alguma entre o signal externo e
visivel e o elVeito interno e invisivel. Os
protestantes, quando se suppriraiu esta ceri-
monia catholica, comecaram a praticar os
excesses contrarios; c uma practica supersti-
ciosa foi substituida por indecentes orgias.
White, de Selborne, falhndo da festa que
teve logar na sua villa, era 173S, por oc-
casiao da inauguracao d'ura novo carrilhao,
diz que um dos sinos foi virado com a bocca
para cima e cheio de punch. NiSo podemos
deixar de lamentar esta practica, ainda hoje
usada, que associa na mcnte dos parochianos
duas ideas tao heterogencas — siuos do servifo
divino, e embriaguez.
Coiitinuo.
I
167
INDICES DE REFRACCAO.
Continuado de pag. 75.
37. Seja SjM mil raio luiiiinoso, existeiUe em uni piano perpendicular ao eixo do
prisma B^ C, que se refraiige em J\J e AV na enlrada e saliida do niesmo prisma. Chamemos
i,x,x',e, OS angulos que as partes d'esle raio refraclo fazem com as normaes M N, M' JS' ;
e S o desvio do rair luniinoso, isto e, o angulo L K S que a sua ultima direc^ao J\V O faz
eonj a prlmeira S.M.
A figura da
i=k-MR—x + KM'R — x'=i + c — x — x',x + x'=l80°—R=^a.
Teremos pois as seguintes equa5oes
(f = i + e — a,x-\- x' = 0, n sen x = sen i, n sen a;' = sen e (1 )
38. O angulo ?' deve ser conliecido pela posi9ao do prisma ; os angulos fC O S e K SO,
de que se compoeni i= K O S-\- fi' SO, podem determinar-se, o primeiro observando-o
com o circulo repetidor ou com outro inslrumenlo de medir angulos, e o segundo, que nao
sera sensivel quando for So sol ou outro objec'to m'uilo dislante, deduzindo-o das posijoes
dadas de S, j\l, O ; e o angulo diodro a, que se cliama refrangente, pode medir-se com um
goniomatro. Por conseguinle as eqiiagoes (1), nas quaes ficam sendo incognitas x,x',e,n,
podem servir para delerminar os indices de refrac^ao dos solidos, com os quaes se tizerem os
prismas, e dos tluidos e gazes contidos em caixas prismaticas, feitas com solidos, cujos indices
sfio coiiliecidos, applicando-as na passagem por cada um dos prismas do involucro e da
substancia, sujeita a experiencia, que o raio luminoso alravessa.
Em quanio porem ans gazes cumpre adverlir que e necessario atlender a sua densidade
no tempo da experiencia; e por isso costunia adaptar-se ao tubo um barometro, cujo ramo
aberto communica com o interior d'eiie ; e um thermometro, que, para nao occiipar a capacida-
de do tubo, se poe em conlacto com as suas paredes.
39. As equagoes (1) dao
ji sen x = sen i, n sen [a — a;) = sen (^ + a — i), das quaes se tira
sen X ■\- sen {a — x) sen i + sen (J + a — «')
sen X — sea (a — x) sent — seii(J'-l- a — ?')'
1 ' 1 ,
tang -a tang 5(0 + *)
lang(a;_-a) tang [i— 5(0 + *)]
Teremos pois n pelas equajoes '
sen I
1 tang-alang[; — - (a + *)]
tang (x — - a) = , n = (2).
tang -(a + J)
' Quando t:=o, as formulas (2) nao sao applicareis j porque enlSo e i = o, e » vem debaixo da (o'rma „•
Mas , coma e z = a — x' , serve o systema
tang
Ung j(a + ,J)
168
Ou tambem, eliminando logo x entre as diias primeiras eqiiagoes (I), iransfor-
inando em soninias e dilTeren^as de cosenos d'arcos ou seiiiiarcos as exprcssoos de
sen »(^+a — ;■) — cos^( e 2 sen i sen (*+a — i), e decompondo em faclores, resulla immo-
diatamente
,j2 _ -^ _ [(cos (I— COS ($ + „)] [(cos a + cm f^ +a — 2 i)]
4 sen - J sen (a + - j.) cos ( - ,f — 2);cos (- ^ + „ _ i)
(Vej. Biot Pl)is. Math, lomo 3." ).
40. Pode determinar-se n seiii inedir o angido i , procurando a expressno do niiiiiino
valor de S em funcgao de n ; porque, fazcndo volver o prisma etn torno d'uma recta paral-
lela ao seu ei.xo, sera facil acliar a posi^ao em que o desvio e ininimo, e observal-o.
Oraa ultima expressao differenciada porlogarilhmos dii, em virludeda condicao— :=o,
U I
tang(i.-,) + .ang(l, + ._0^ ^-" (^ -"^^ + "^ ^„^
cos (^* — »■) cos {-S +a—i)
logo * — 2!-f 0 = 0, ou t = £,
c ,,» , _[coia — cos(^ + a)](I+rosa) ^_ (1 + cos n) [1 — cos (J + «)]
sen - (S + a)
q"e da „ — — ::: ^3^_
sen — a
a
41. Tambem se pode observar o angulo S correspondenlo a incidcncia, para a qua! d
raio luminoso comeja a deixar de tefrangir-se, e se retlecte todo.
Entfio e ei=S-{-a—i — 90%
e por conseguinte
4 sen^ (- S +o) sen ^ -i
"* — 1 = ^ — (4).
sen 'a '
42. Mostra a e.xperiencia, e resulta da tlieoria da refrac^ao, que a expressao it ^ — 1
\ ^a 1
e, paracadacorpo, proporcional asuadensidadej, ou que econstante ^ aexpressfio =;P.
, .,, ■■■ !
D'onde resulta que, deterniinado o indice Ji de refracjao d'um corpo elasticu em cerlo
grau de densidade j, immediatamente se acliarii o seu indice n', correspondcnle ao grau de
densidade c'j pela formula
J
nl^-
1 + L(„-_|).
E portanto, se conseguirmos reduzir um corpo elastico a tal estado de densidade ; que re-
fracte tanto como a atmosphera, entao, chamando n o indice actual da almospliera, esta
formula dara o indice n' do mesnio corpo, quando a sua densidade fdr {'.
n^ 1
* Os FrancCTes chamam fuUunct rtfriogmU a sxprcMSo n*^l, e pmivoir rtfringent a expressSo .
Talvez possamos chamar sem improprieilade e primeira fodtr refrangente ; e a segunila tirtude refrangtnte , ou
capacidade re/rangtntt. Co'Uiiiiia.
1G9
BIBLIOGRAPHIA.
Pro fiiloIiSNinio Rrso, Pofro qiifnlo in
l^utiilniiiini Noliiiin ^alnlilio cJiin <lie
.Wl KnI. ocloh. anno igl>C('t'L.V fcli-
riler evot-lo, el |>i'0 .%iiuii!i>ln ipNiuK
Elligie in niaximo C'oniiuItrirenNiM
Acaflcniiae Uyinna#>io lum raiiNto
■ naugurala Oi-nlio alt A. t'ardosio
Itorses <Io FiKU<'ii'0<Io. Coninibrscao,
lypiN Acadeui. 1 S5S.
'Nesta epoca, era que o estudo das lettras
grcgas e latinas tern chegado cnlre nos ao
mais laraentavel abandoiio, e serapre com
grandc satisfacao, que rcgistaraos as raias
produccOes de AA.. iiossos, que vemos saliir
a luz 'nalguma d'aquellas linguas, tao culli-
vadas aiuda hoje nas mais illustradas nacOos,
e que scrao serapre o primeiro e raais precio-
so raanancial da verdadeira e solida liltera-
tura.
No escasso numero d'essas raras produccocs,
tem logar mui distincto os escriptos latinos
do sr. A. Cardoso Borges de Figueiredo, pro-
fessor de eloquencia e litteratura no lyccu
d'esta cidade. Pureza e eleyacao de estilo,
seleccao nos termos, goslo e apurada escoliia
nas frazes, que eniprega cora tanta propric-
dade, que a leilura das suas obras faz recor-
dar OS meslres da cdade aurea, sao dotes, que
dao aos escriptos latinos do sr., Cardoso incx-
timavel preoo.
Ninguem melhor do que die possue a fun-
do as difliculdades e excellencias da boa hUi-
nidade, e ninguera sabe tao bem, como elle,
fazer applicaoao dos vastos conhecimentos e
variada licao, que tern, do» classicos latinos;
de raaneira que os scus escriptos sao sempre
acabados modelos do mais apurado esliio.
A oracao latina que annunciamos aqui, e
que 0 sr. A. Cardoso recitou na sala grande
dos actos, pcrantc lodo o corpo academico,
por occasiao do feliz anniversario e faustissi-
ma acclamacao de S. M. ElRei o Sr. D. Pe-
dro V, nao desdiz da merecida reputafSo de
tao douto professor; e a Universidade nao
podia por certo escollier mais digno interpre-
te para celebrar, cm tiio solemno occasiao, na
linguagem dos Livios, Yirgilios c Uoracios,
tao elcvado assumpto.
Bem ([uizcramos reproduzir aqui alguns
trechos de obra Irabalhada com lanto enge-
nho e arte; mas sobre a difficuidade de eseo-
Iher as mais bellas entre tantas e tao mimo-
sas (lores, semeadas com mao de mcstre;
receavamos tambem fazer-lbe perder o vico
e fragrancia, colhendo-as separadamente. Nao
podemos comtudo acabar com nosco de calar
alguns d'esses trechos mais conceiluosos, c
onde mais brilha a pura e elegante locurao
dos escriptores do seculo d'Augusto.
0 illustrc professor nao se recusara ao
desempenho d'aquelle tao grato, mas tao dif-
ficil encargo, que Ihe fdra commettido; expri-
mio, porem, ingonua e clcgantemcnteo modesto
reccio de que, cansado ja pelos annos e pelas
fadigas littcrarias de tantos annos de atura-
do estudo, a sua oracao carecesse d'aquella
varonil elo(|uencia, que o assumpto pedia, ea
vontade e reconhecimento inspirava.
u Sed tamcn, jam scnili meo corporc animoque
frigcscentc, nun immerito vercor, nc frigida quo-
quc evadat oratiu mea ; timeo ne iiiopia dicendi
laudcs delcram Regis adolescentis. »
Discorrcndo pelas egregias qualidades, soli-
da instruccao e vastos conhecimentos do jo-
ven Monarcha, o orador commomora a regia
visita, que S. M. (izera a Universidade em
mais verdes annos, e a admiracao quo ja entao
causara a consumraada prudencia, lino tacto,
e singulares disposifoes do moco principe:
<i Cum his autem plene consenliunt reliquae re-
gii animi et corporis etiam dotes. Monim gravi-
tatem illam, cum dulci comitate conjunctam, quae
omnibus quidem spectaculo sunt, nosmclipsi hac
in urlie, in hoc ipso loco, summo gaudio simul
et admirationc nimium fortunati vidimus. Vidi-
mus candidam illam in tanta dignilato modestiam.
Vidimus curam, sludium, adtentionem, quihus
ille omncs administrationis pnblicae staliones
inspiciebat. Vidimus eximiam illam non oris mo-
do ac Tultus, sed totins corporis, pulchritudinem
ac Tenustatem ; quibus illecebris ipse omnes ad
sesc Tertit; sic tamcn, ut ex ipso adspectu imago
quacdam ingenitae virtutis atque honestalis vidca-
tur emicare. »
0 illustre orador dcscreve com singela,
mas elegante concisao os applausos e admi-
racao que 0 joven Monarcha souhcra gran-
gear nas mais eultas nacOes da Europa, que
visitarajara completar a sua primorosa cdu-
cacao :
« Quocumque vero nobilissimus perveniebat
adolesccns, ita ejus advcntus celebrabatur, ut ipsius
famara cxspcctalio, cxspectationom admiratio su-
peraret. Mirali eum fuere Brilanni, mirati Galli,
mirati Neapcditani et Ilali, mirali Belgae, mirali
Ilehetii, ctcum aliisGermani quoquc mirati. Qui
omnes enm ingenti plaiisu atque gratulalione, et
quasi triumphanlem, excipiebant, paencque in-
credibili benevolentia complcctebantur. Qnumqne
ilium, deiis, quae vcl in academiis, vel in museis
Tcl in gymnasiis, vel in oOicinis caeterisque publicis
nbiquaque slationilius, ipse conspiciebat, acri ju-
dicio allaque intelligenlia dissercnlem, doclissimi
quique audirent, obstupehant. Hinc singularis ille
coitus inauditaque observantia, quibus cum maxi-
marum gentium reges velut ccrtalim proseque-
bantur. Adeo Regem magnum magni reges sibi
aestimabant parcm ! »
A oracao latina do sr. Cardoso nao pode
avaliar-sc por simples e.xtractos; nem cahe
170
nos istrcilos limited d'unia siiccinta noticia
a dcvida apreciarao d'ai|iiL'lie di.*i'iirso, a to-
dos OS rospoitos digiio do assuiiipto, c nao
iiu'iios di^'DO do A., que, disrorreiido pelos
priiu'ipars fartos, i\up taracterisam c illtistrani
lima jiivonil exisk'iicia de ■( di'zoito annos »
!iOul)e cm l)rcves, mas prnriindns trai;os, pdr
em ii'Icvo as alias e brilliantcs iiualidades,
que cllc coin taiita veidadc c singelcza cii-
nunciara no comero da sua orajao :
« Ecce Princcps, gencrosa rcj;iim suholcs, ma-
f,'mmi Bri{,'arUiiiae Slirpis iiuicmcnliim:- Ecco
Ko\ ille lelsissimus, ciii reipnlilicae liignilas, cui
Icgiim custodia, cui civium lihcrlas, cui lusitaiii
populi salus, commissac crcdilaeque sunt. Ecce
PETRI'S V, grata patriae spcs, fidumquc pacis
«c prosperitatis pignus. ><
J. M. DE ABREU.
XOTICIAS LITTERARIAS E SCIENTIFICAS.
ILJ»iisll«<«. Scgundo o ullimu receusoamonto foilo
nos Eslados Liiidus, cxisliam alii mil duzentas c
dczesete liiljliulhccas. coiitendo uni milhao quatro-
centus c quarcnta e suis mil c quinze \olumes.
Este numero, ainda que ja mui avultadu, torn
duplicado iluranle o anno decorrido dcpois d'aquel-
Ic recenseamento.
«;ovBlS3(^» t:i5E»^3:<?™> O numero das folhas
dos (livcrsos pcriodicos que sao selladas diaria-
mcnte para screm distriliuidas aos sous assignan-
tcs, e de 89:879. So do Times sao selladas diaria-
mente S8:80G folhas; do Morning Ad\ertiser
6:632; os outros jornaes regulam dc 500 ale mil
folhas por dia.
Nos semanarios ha a mesma dcspropor^ao que
nos jcirnaes quotidianos-
Da Illustralcd London iYerisao selladas 130:305
folhas de cada numero ; do AVirs of tiie iPorW
110:999; do Lht/ifs Wcckh/ News , 96:826;
do Wcckbj Times 76:686; do WceMy Dispatch
40:09}.; do Exnmincr 4:88t; do Economist
4:173; G«orrfi«H 4:000; CrjVic 3. -750; Atlicnacum
3:119; SpcctiUor ■2:93o ; Leader 1:396; Juhn
Bull 1:667; Literary Gazette 500.
Cunipre observar que muitas d'cstas publica-
coes litlerarias e scientificas, eomo o Atlicnueum,
u Critic, a Literary Gazette e outros tem grandes
edieoes nao selladas. 0 Athenaeum por cxcmplo
tira perto dc 15:000 excmplares.
CojugeEaTiSo «8o tSjia- Xpsro. Desde o anno
de 401 ate hojc esle mar tem gelado 18 vezcs,
scndo as duas ultimas em 1823, e 1849.
^'ovo C'oTneln.
dc Florcnca a 3,
junho ultimo.
Foi observado no observatorio
e em Bcrlim e Paris a 4 de
Estalistira <lo<i jornaen Americnnos.
Publicam-se aetualmente nos Eslados Unldos dois
mil quinheutos c vinle e seis jornaes. So nos
eslados da Nova York sc publicam quatrocentos
e \inle oil"; trezentos e dez na Pensylvania ;
(luzcnlcis e sessenla e urn cm Ohio, etc.
I)'estcsjornaescxlraem-sepornumero5:183;017:
e o numero de folhas dc tudos csles jornaes sobe
por anno » 426:409;978.
Na cidade dc Nova York passam dc 120 us
jornaes e publicaciics periodicas, (|ne saem a luz,
o que da 'num anno nada meuos dc 80 milhocs
dc folhas dc papel. Ora aquclla cidade nao 1cm
mais dc 830:0110 habitanles ; e Loiuires, que tem
quasi o triplo d'esla populacao, conla apcnas 94
publicaeocs periodicas, com que se distribucm ptir
auuo 33 milhocs de folhas dc ])apel. E em lodo
0 reino unido cxislem somcnlc 516 publicaeocs
periodicas, que fazcm circular por anno 90
niilhucs dc folhas dc papel.
Em Paris os jornaes politicos csliio prescntc-
menlc rcduzidos a 30; e dos jornaes 0 re\istas
nao politicas lanto em francez cumo cm divcrsas
linguas contam-se 426.
"Xovo plnmela. Na nolle dc 5 do eorrenle
mcz de onlubro descobriu M. Goldschmit em
Paris um novo planela da 11.' a 12. » grandeza
enlre o Aquarius, c o Viscis. No mesmo mcz dc
oulubro do anno proximo passado descobrfra
aquellc aslronomo o planela de Pomona. .\s se-
guintes sao as posieocs do novo plancta iudicadas
pelo seu dcscobridor.
Ascencho recta. Dcclinafao.
1855 outubro. 3. 8''0"' 23''1"'19»— 7"49'
» » 6 755 23 0 26 —740
» » 7 730 23 59 34 — 733
8 713 22 58 42—7 28
Este planela era pela ordem chronologica o
trigcsimo sexto na scrie dos pcquenos planctas.
Pcla sua posieao a 8 do eorrenle foi comparado
a cstrcUa n." 43120 do catalogo de Lalande.
Ainda nao csld dccidido o nome que lera aquellc
astro.
t9:or93lie«-n» cljs fc'ljrc nnaaroHa. 0
douetor Ilumbuldt, sobrinho do sabio e dislincto
naluralista do mesmo nome, cstabcleceu ullima-
mentc na Havana um hospital com o fim de se
experimcnlar 'nellc a theoria da inoculacao da
febre amarella, scgundo o principio da vaccina
das bcxigas. A inoculacao causa alguns aeccssos
febris, e nm cerlo incommodo, que dura uma
semana.
Soldados inglezes e amcricanos tem sido tracla-
dos por aquellc novo proccsso.
TEsescs na I'nivci'sitSailc dc Coambra.
Por portaria de 23 de Julho resolveu o govcrno,
sob proposta do consclho da faculdadc de direito,
que lanto 'ncsla como nas mais faculdades o
ado dc Conclusoes Magnas, on theses, que na
forma dos estatnlos os candidatos ao gran de
licenciado eram obrigados a defender 'num dia
de manha e de larde, peranle a Universidade,
podessem dcfender-se em dois dias consceutivos
de manha, Icndo em cada um quatro argumentos.
e sem prcjuizo dos actos a que os lentes hajam
de assistir 'nesses dias.
171
YmpronMn em Connlati1inoi>ln. Publi-
cpm-se actiialmenle em Cons tan tiriupla os scg;uiiiles
jornaes :
O Taqvim-i-voqiia'i (Jornal dos Factos) 6 o jioriodico
official, em lingua lurca: publica-se extraordinariamenle.
O Djf-idfi-i'Iiat'adis (Resumo de J\'oticins) em lin-
gua turca ; publica-se duas vezes por semana.
Dois jornaes francezes, o Jnurunl de Constanttnnple,
e a I*resse d'Orit/it, que sc puhlicam ks scgundas l-
0e\tas foiras.
Um Jornal grego, o Telcgraphns tmt Bosphnrou (Te-
iegrapho do Jiasphuro); publica-se aos sabljados.
O Medjmoua-i-Hacadis (A C^'llecgao de IWtirias)^
jornal turco, impresso em caracteres armenios, publica-
se aos sabbados.
Urn diario armenio o Macis (Mrinte Ararat)^ que sai
is quuittts Teiras.
O Anadalu (O On'ente), jornal turco, impresso em
^laracteres jrregos, publica-se aos sabbados.
O Akbhar-i-Co/istanti/iiiic (As iVovidftdcs de C'/iis-
tantiiiop'la)^ jornal hebdomadario em caraclcresarmenios.
O Avtdaper (O Mensageiro)^ jornal armenio, que se
.publica de 15 em 15 dias, as quartas feiras.
O Asdjid. Arevt'lian (A Peqiiena Estrella do Orien-
ie), Revista raensal armenia, litteraria e scientifica.
O DJen'da-i-Dtone (Resumo Universal), c uma Re-
vista turca moral, religiosa e litteraria, que se publica
todas as quinzenas.
Ardzui-f'asbmiragan {A Agnin de J'nshoitr, anti^a
provincia de Van) ; Revista mensal armenia de moral e
litteraltira.
Tzarigradski-festnik (O Mensageiro de Consta/iti-
nopla^ semanario bulgaro.
Esta, annunciada a pnblica(;ao de urn jornal arabe
'Com o titulo de Ddjeridet-iil-hnvadis, que sera uma
traducqao do jornal turco o Djeridc-i-havad is .
Um semanario hispano-judaico, o Hor-IsraH {A L.uz
de Israel), impresso em caracteres hebraicos, publica-se
fis sexlas feiras.
El Maladero, la Fuente de scieucia, Revista illustra-
da hespanhola, que se publica mensalmente.
De todos estes jornaes o Taqcim-i-faqual ^ o nnico
official. Todos os outros estao sujeitos a censura ])revla,
que i por extremo indulgente com a imprensa periodica,
e nem o governo inlervem na direc^iio politica ou admi-
nistrativa dos diversos jornaes, que gozam de mui aui-
pla Itberdade.
REUCAO
Dos indhiduos vomeados para di/ferenfes logares
d'instruCQao publica por despachos do Consclho
superior d'inslruc(ao publica desde o dia 1'6
aU ao fim de setembro, e bem assim por decrc-
tos e porlarias do Governo, communicados ao
mesmo Consclho superior no indicado pcriodo.
IiNSTROC{AO PRUUARU.
Anlonio Joaquim d'Oliveira, para professor
per trez annosda cadeira d'Abbadim, districto de
Braga.
Jose Francisco Carreira, para a de Maiorga,
districto de Leiria.
Thomaz Antonio de Sequeira, para a de Sancta
Maria dos Anjos, districto de Braja.
tI<STRCC(iO SECUNDARIA.
Caspar Ahes dc Frias, para sul)stituto da 1.'
e 2.» cadciras do lyccu de Coimbra, por decreto
de 5 de setembro.
Jose Joaquim Borges Cardoso, para secretario
do lyceii da Guarda, por decreto de 7 diclo.
Jeronymo Namorado, para substitoto da 3.' e
4." cadciras do lyccu d'E\ora, por decreto de 7
dicto.
Manoel Joaquim Fernandcs Braga, para secre-
tario do lyccu de Ponta Delgada, por decreto de
10 dicto.
Jacintho Antonio de Sousa, para professor de
phUnica e physica, e de historia natural do lyccu
de Coimbra, por decreto de 7 dicto.
i.\sTKccc.io suPEnion.
0 Dr. Luiz Altiano d'Andrado Moraes e
Almeida, para 4.° lente substituto ordinario da
faculdade de malhematica na Universidade dc
Coimbra, por decreto dc 5 dicto.
Os Drs. Joao Chrysostomo d'Amorim Pessoa, e
Conslancio Floriano de Faria, estc para 3.°, e aquel-
le para 4.° substituto ordinario da faculdade de
thcologia, por decreto de 5 dicto.
O Dr. Mathias de Carvalho de Vasconcellos,
para 4.° substituto ordinario da faculdade dc
philosophia, por decreto de 6 dicto.
Os Drs. Antonio Joaquim Uibciro Gomes
d'Abreu, eCallisto Ignacio d'Almeida Fcrraz, este
para 5.°, e aquelle para 4.° substituto ordinario da
faculdade de medicina, por decreto de 7 dicto.
O licenciado Antonio Jose Teixeira, e os ba-
chareis Jose Pereira da Costa, e Thomaz Antonio
d'Oliveira Lobo, todos da faculdade dc Mathe-
matica para ajudantes do observatorio aslronomico
da Universidade, por decrelo dc 8 dicto.
OBRflS OFFERECIDAS PARA fl BIBLiOTHECA
00 INSTITUTO.
• Ora<;«o fumeljre, que nas exequias do sr. D.
Jorio III recitou na real capella da Universidade o Dr.
Francisco Antonio Rodrigues de Azevedo, lente catlu-.
dratico de theologia, e socio do inslituto. Lishoa 1855
8."
Sormao em aci;ao de gramas pela defini^ao dogma-
tica da Imniaciilada Concei^So, pregado na egreja de S.
Domingos era Lisboa no dia 19 d'agosto de 1855 pelo
'Oiesmo. 8."
REVISTA DAS OBRAS PUBLICAS.
Agradecemos a illustre Redaccao d'cste e\-
ccllente Jornal a remessa que nos fez dos
n." desde o 1.° d'abril ate lioje, e a que
temos correspondido, enviando-lhe regular-
mente o Instituto. Recommendamos a loitura
d'aquella mui importante Revislu, de que
iremos dando uoticia. Os RR.
172
OBSERVACOES METEOKOLOGICAS . FEITAS NO GABIXETE DE PHYSICA
DA
UMVERSIDADE DE COIMBUA.
Annode
- - 1-
r- 5 5
Pre&sSo
itiuospherica ao meio dia
Fsladu hygruinelrico da atmus-
ptleru ao ilieiu dia
M.-7. lie
Man;u
Altura Imroiiip-
Irica a 0" dw ts-
calact;ilti;:radA
Teii?ru) du va-
por nquosocun-
tido uu ar
PreKSao du ar
secco
(jraii d'liiiiiii-
da,k* du ai, ri.'-
Iiresriilaiidopur
1 o estad" de
salnra(;ilo
Qa»nl„l,i,ie at M-
por cootiilo cm uiii
raelro cubico il'ur.
Dins
I'L-Illl^'.
Millimelros
Milliiiu-tros
Milhmclrus
Graiuilias
1
10,j
756,525
7,105
749,420
0 81
7,263
N.
si
11
755,569
8,519
747,050
0,87
8,699
(J.
3
11
753,033
8,333
754,710
0,85
8,499
o.
4
10
755,692
7,607
748,083
0,83
7,795
o.
5
lU
753,049
7,790
744,859
0,85
7,982
o.
6
10
755,641
7,515
748,126
082
7,701
o.
7
11
754,303
8,029
746,274
0,82
8.198
o.
tt
10
748,184
7,333
740,852
0,80
7,513
N.
9
il
754,048
8,225
745,823
0,84
8,398
0.
10
10
750,265
6,690
743,575
0,73
6,853
N.
11
9,3
753,288
6,169
749,119
0,63
6,332
N.
12
11
754,321
6,267
748,034
0,6*
6,399
N.
13
11,5
755,628
7,185
748,443
0,71
7,324
N.
14
12
755,735
7,843
747,892
0,75
7,980
N.
15
11
755,690
7,638
748,058
0,78
7,799
N.
16
12
749,844
8,888
740,356
0,85
9,043
0.
17
12
753, IhO
9,307
743,853
0,89
9,470
O.
18
11,5
732,338
8,501
743,837
0,84
8,665
N.
19
11,5
753,142
8,400
743,743
0,83
8,562
N.
20
,3 743,935
8,818
735,107
0,79
8,940
S.
21
13
740,743
8,888
731,855
0.85
9,043
s.
23
11,3
735,245
7,792
737,453
0,77
7,942
s.
23
U
734,036
7,931
736,105
0,81
8,098
o.
21
11
734,257
8,039
726,228
0,83
8,198
o.
25
10
7i7,957
7,7 90
730,167
0,85
7,9112
o.
26
11
744,938
7,442
737,496
0,75
7,599
N.
27
10
:jO,U91
7,149
743,742
0,78
7,325
N.
28
9,5
753,432
7,003
746,429
0,79
7,188
N.
29
11
753,563
6,365
747,198
0,65
6,499
E
30
11
754,320
5,973
748,347
0,61
6,099
E.
31
10,5 i 757,892
5,493
752,397
0,58
5,621
E.
do Inez ^
10,9 1 750,343
0,78
a
Tent/jeralura
PretaSo atmotpherica
Gran d^ Itumidade do or
•;
Maxima altsuhita , 13°
Miaima 9", 5
Maxima \ariai^)to , 3", 5
Maxima absolula . . 757, B92
Minima 734,036
Maxima eicursilo . . 23,856
Maximo 0 89
a O
E
111
Coim
■g "
Maxima variajao .... 0,31
.5
bra, 1." lie Abril de 1855.
Antonio Sanches Goulao, Direc
tor do Gabinete de Pbysica.
® Jn0titttt0,
JOlllNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
INSTITUTO DE COIIKIBRA.
DIRECgAO.
Stiss^o de 17 de unliibro.
Foi eleilo Socio Correspondcnte do Inslitulo,
na Classe de sciencias Physico-Mulhemalkas,
0 sr. Caspar Ribeiro de Vasconcellos.
Foi encarregado da direcrao do Gahincle
e Bibliotlicca do Inslitulo o sr. Malhias de
Carvalho e Yasconi-ellos.
O Secretariii do Jnitituto^
J. ALVES DE SOUSA.
RELATORIO
Soltrc o entado da iiistrurrao prlma-
ria e Hccundaria, pi'iblioa e p rlirii-
lar. do Districto adniiiiiHlranvo de
liisboa. cm mai'ro de 1 855.
Continuado de pag. 163.
Methodo portuguez, ou de leitura repentina.
Ordeuou-me V. M. cm porlaria de 22 de
agosio ultimo, cxpedida pelo Conselho Supe-
rior de inslruccao piibiica, que, procedendo
iis convcnientes averiguapoes, havidas soLre
(juesitos delerminados, informasse com o meu
parecer, em capitulo, a parte, d'este relutorio
acerca das vantagens do methodo portuguez,
ou de leitura repentina. Esla no meu caracler
nao proceder de leve no locanle ao meu de-
ver, porem, com respeilo ao objeelo indicado
concorrem circumstancias, faceis de presumir,
que dobradamente, se posso explicar-me d'esla
sorte, me obrigani a ser, sobre circumspeclo,
cscrupuioso. Tcndo a peito antes de ludo a
causa piibiica, eu devia ler ao mesmo tempo
era muita considerafao o nonie respeitavel
do apostoio do methodo alludido, e as razoes,
que raoveram a auctoridade a tomar d'jelle
especial conhecimento.
Para desempenhar-me do que julguei cum-
prir-me rigorosamente, foi meu priraeiro pas-
VOL. lY. NOVEMBBO 1.°
so dirigir-me a todos os prol'essores, iiiibiicos
e parliculares. Responderam-me iiocenia e
seis, incluindo 'nesla conta dezoito mestras
de mcninas. Li, e examinei por mim proprio
altcntamenlc todos e cada um d'cstcs docu-
mentos, que iiram arcbivados 'nesta rommis —
sao dos estudos. Dos referidos documentos
dcduz-se o rcsultado seguinte;
Reprovam o metbodo setenta e urn: appro-
vam-no seis, dos quaes o practicam sem alte-
racoes quatro, com modificafoes um, c appro-
va-o sein o practicar um. Ignoram inleira-
mente o methodo dezenove.
Importa porem advertir, que, de entre os
prolessores que reprovam o methodo portu-
guez dezesseis o ensaiaram, e ao depois o
rejeitaram obrigados de differenles razoes,
que apontam. Os demais com quanto o nao
ensaiasscra, mostram, na exposirao dos moti-
ves de nao o adoptarera, que o conhecem.
Tambem me cumpre observar, que, no
numero acima declarado dos professores que
ajiprovam, se incluera duas mestras de meni-
nas, assim como entre os que rejeitam se
contam oito mestras, que o reprovam sem o
ignorarem.
Mas, Senhor, para que V. M. possa formar
juizo do fundamento, com que os professores,
e as mestras, a que me refiro, rejeitam o
methodo portuguez, eonvera ouvir as suas ra-
zoes, e por isso agora as resumirei substaii-
cialmente.
1." Porque se da grandissima difficuldadc
em Lisboa, e impossibilidade fora de Lisboa,
de conseguir, que os alumnos das cscholas
de instruccao primaria comecem curso regu-
lar de estudo em epocha lixa, e continuem
com pontualidade, e se demorem reunidos
nas escbolas por tao longo espaco de tempo,
quanto e necessario para se practicarem os
differentes cxercicios indispcnsaveis, a fim
de se obterem os resullados, que se pretcn-
dgm. 0 methodo portuguez para produzir as
vantagens, que prometle, requer essencial-
mente, que o ensino seja commum; mas como
pcla razao dada, nao o pode ser, torna-se
impracticavcl ou inutil. Os arbitrios enipre-
gados diversamente por diversos professores
para attenuar os inconvenientes da irregu-
laridade das matriculas, e da frequcncia (ir-
regularidade, alias invencivel, porquanto a
-Ibou. Ndu. 13.
174
nao se pcrniitlir, licariam de proniplo dcsoN
tas as cscliolas, mormoiile fora das giaiides
i-idades) seiulo de facil e de provoitota
adopcao, qiiando os professores empregam o
molliodo simiillaneo individual, coiiirariani
diri'clanii'iili' o da leiluru repentiiia, ponnie o
loriiam mais iiioroso e iirmios eflicaz.
Cimjlnmim a sua obscrvacao com o argu-
incnlo deduzido das csciiolas dos usylos da
inftiuclu dcxKulida, our ntgnhs dos quaes pa-
rece tei'iMU-se tirado vanlagens dn inethoilo
porhuiuez. Alii da-se uni conjuncto de cir-
cunisiancias, que nao se diio em alguma ou-
lia parte, iiem e possivel que se deem; e
comtudo, (|uando falta superior iiUelligeucia,
e evtremado disvello da |)arle dc quern ensi-
na, as vantagcns do metliodo sao nullas,
c'omo estao provando as escliolas dc alguns
dos mcsmos asylos.
2." Por(|ue deseonsidera os professores, por-
quanto obrigando-os a cantar, a bater as
l)aimas, e como (jue a I'azer esgarcs para hem
exprimirem, eanlando, os dilVerentes valores
de algumas letras etc., quando aeconteoe que
0 professor e de ligura desastrada, ou defor-
me de rosto, ou tem dcfeilo na bocca, ou na
toada desafina, o expoe a mofa, c ao riso dos
disci|mlos. E certo, em todo o caso, que a
pouca edade ousa, dcseuvoita, o que nao deve,
e, como vulgarmente se diz, loma confianca
demasiada e inconveniente com quem com
clla como que se desenfada; e e certo egual-
mente que nao fica facil ao professor, que
necessariamente ha de usar de taes meios
para clicgar ao seu fim, manter-se com a
gravidade propria e indispensavel de quem
ensina, e cdnca. Observam que d'aqui nasceu
certo ridiculo, lancado por ventura injusta-
niente sobre o metliodo porluf/uez, mas que
muito oprejudica, porque d'aqui vem as iras
contra elle erguidas de grande numero de
educadores, e dc paes de familia.
3/ Porque sao menos promptas de gra-
var-se na mcmoria, c menos eslaveis as im-
pressoes ohtidas por este metliodo. Menos
promptas, porque a duplicacao dos signacs,
e a apreciacao dos sens valores, a comhina-
fao dos elemcntos, e a sua decomposicao,
operacOcs indispensaveis 'nestc methodo de
leitura, dependem de processos niultiplicados,
que sao raras vezes apprelicndidos devida-
mcnte pclas criancas, na idade em que se
dedicani a leitura; ou, ([uaudo mesnio, sc
tenha so attencao a toada, ([ue mechanica-
mente ih'os imprimc na menioria, nao cahc
na diligencia, i|ue costuma empiegar-se geral-
mcnle, conseguir que, dada eiiual cjjicacia da
parte do professor, c egual intellif/encia e bda
voiitade da parte do discipulo, csta venca em
menos tempo niaior trahalho. Menos estaveis,
porque a atlencao mais dividida, e quasi que
so arrastada por mero desejo de cntreleni-
mento, nao pode tomar senao nocoes niuilo
supcrficiaes dos objeclos. Conchiem que d'aqui
rcsulta. que as criancas, ensinadas por este
metliodo, iropccam a cada jiasso, (piando,
aiiida nao insiruidas coiii|deiameiite, e cm
taiito tempo quanto fora necessario para as
ensinadas pelo moihodo actual, sao constran-
gidas a ler, desajiidadas do canto a que sc
avezaram, c que Ihes serve conio de anda-
dciras.
4." Porque e nimia a facilidade, com ijue
por este methodo as crianfas adiiuirem ile-
I'eitos, ao depois difliceis de extirpar. Advcr-
tem, ipie para assim o convencer bastani ler
coiita aos dcfeitos de proniinciu, de cadencia,
e de gestos com o rosto. Os primeiios, por
que niuitas vezes o professor niio da com
exactidao aos signacs os valores ipie Ihes per-
lencem, o que. succede quasi inevilavelmenle
por vicio palrio, por impcrfeita construccao
do orgao da voz, por menos cuidada cduca-
cao. Os segundos, porque as criancas, habi-
luadas a cadenciar o que lecra ou repetem
de cor, conservam por largo tempo, e so a
custo pcrdem, como ensina quotidiana cxpe-
riencia, o sestro de cadenciar toda a sorte
de leitura mais ou menos fortemente. Em
fun OS gestos com o rosto, por quanto, ou por
neccssidade, ou por hrinquedo, tao natural
'naquellas edades, observa-se, que as criancas
raraniente deixam de os fazer ou iraitar,
quando, ohrigados pelos exercicios proprios
do methodo, estao entoando ou cantando.
Taes geitos ou esgares tornam-se com fre-
quencia, apezar de quanto o professor possa
opp6r-se, inveneiveis, e para lastimar na
maior edade Notam que no methodo actual
so 0 primeiro d'estcs dcfeitos piide vingar,
porem so ale certo ponto, e por isso menos
pcrigosamante.
3/ Por([ue destroe a orthographia etymo-
logica, geralmcnte adoptada por todos os lit-
teratos, e rccebida com leves alteraroes no use
conimum. Ponderam ser esta uma conscquen-
cia necessaria do methodo, c que, com quan-
to 0 seu illustre auctor diga que a sua ortho-
graphia e natural e logica, e ohvio com ludo
i|uao grande Iraustorno litterario viria tra-
zer-nos, por quanto ou nos impOe como re-
gras OS vicios, a ignorancia, e o capricho dc
quem escreve, ou para cvitar anarchia tao
absurda, seni preciso crear rcgras de muito
maior difliculdade do que as da orthogra-
phia etymologica. Ponderam alein d'isso, que
e facil de dcmonstrar com evidcncia a repu-
gnancia da nova orthographia com a indole
da lingua portugueza, que nao jiode renegar
as do que descende sem que se transforme
'numa algaravia inintelligivel. Ponderam ain-
da que a nova orthographia difliculta o estu-
do das linguas eslranhas, antigas e moder-
nas, com as quaes a orthographia etymolo-
gica tern cvidente afTiuidadc. E ponderam
linalmente, que nao c possivel que deixem de
175
fazer foroa ao homem dcsprcocupado os peri-
gosos resnltados, no futiiio, de tao infundada
iiinovaoao, scndo que, dcniro era pouco se
haveria mister trasladar todos os livros ate
liojc escriptos para podi'rem ser iiitendidos.
()/ Porque nao ensina a cserevor. Itrfle-
i-tem, que estc defeito do iiietliodo portuguez
e irremediavel, porque nao I'azendo, como
nao faz. uso alguni, para I'orraar as syllahas
senao das letras que fallani, deixa os aluranos,
que por elle aprendeni, eui eompleta ignoran-
lia das origens ; dc sorte que tendo por
elle aprendido a ler, precisani de por oulro
aprcnder a escrever; ou os expOe a coramet-
ler grosseiros crros, corao teni accontecido a
aluninos ensinados pelo proprio auctor, e
nao e possivel que deixe de accontecer goral-
nientc.
7.' Porque nao tern dado o methodo portu-
guezdiscipulos, que se extremem por sua avan-
lajada perleieao. Notam que se evidencea este
I'aeto pelo resgisto dos exaines fcitos nolyceu,
e pelo que largamente consta das escliolas,
onde por elle se esta ensinando. E lembram
(\ue nem o collegio, que foi dirigido pessoal-
mente pelo auclor do methodo inculcado, al-
oancara acredilar-se 'nesle conceito, pois que,
pelo contrario, nao pode manter-se, e cessou
de lunceiouar desapercebido.
8." Porque, solire as razoes apontadas,
augmenta as despezas do eslado, c dos parti-
lares, e d'este raodo difficulta a instruccao
geral, que, alias, cm proveito commum, deve
I'acilitar-sc quanto lor possivel. Os exercicios,
a que este methodo ohriga os professores e
alumnos, tornara indispensaveis para as escho-
las varios utensilios, que devem ser pronipti-
(icados pelo estado, pois que seria injusto
impor este onus aos professores tao mesqui-
nhamente reniunerados; e traz a necessida-
de, para os alumnos, de conipendios unifor-
mes, por quanto, se o nao forem, nao pode
o mctliudo practicar-se. Mas quem ha de pa-
gar estes conipendios, que todavia nao dispen-
sao OS de doutrina ehrista e outros? 11a de
o estado mandar distrilmil-os graluitamente
em todo 0 reino, ou hao de os alumnos com-
pral-os a sua custa? Na primcira hypotheso,
ipiao nuiilo suhira a despeza com a instruc-
cao primaria, sem comtudo ficarem suppridas
suas mais urgentes necessidades! Na segun-
da, grande, muitissimo grande nuniero dc
alumnos licarao sem aprender cousa alguma.
porque nao possueni os meios de haver esses
conipendios.
Oniitto oulras objeccOes de dilTerentes pro-
fessores contra a adopcao do methodo portu-
guez, por consideral-as de menos monta com
quanto nao sejam de nenhuma sorte para
que totalniente se desattendani. As que deixo
substanciadas julgo-as dignas de sereni tidas
em conta. Confesso que algumas d'ellas me
fazem pezo, porque, supposlo possam por Ven-
tura altenuar-sc, nao foram com tudo ale
hoje cabalmente destruidas.
Por ultimo convirii fazer mtiilo reparo em
(|ue 0 di'sleixo dos jirofessores, quaiido adopta-
do 0 methodo poliii/uez, ha de tornar-se mais
prejudicial a niocidade, do que proseguiiidn-
se no methodo actual, nao so |iorqu(; re(|ucr
aquclle muilo grande zelo e diligencia, a lim
de (|ue se nao convertam as que seu auclor
(|uer que sejanr vantagpns em tropeco c re-
niora, mas tamhem para evitar que nascani c.
medrcm vicios ao depois talvez iuexlirpaveis.
E acaso c este grave senao do inculcado me-
thodo, pois que, em geral, de professores tao
nial galardoados, quaes sao os da instruccao
primaria, ha antes a temer a incuria, do que
pode contar-se com o desvelo.
Agora porera cumpre-me declarar, que,
rigorosamentc imparcial, assim como nao
passei em silencio, nem enliaqueci as ohjec-
coes, com que vejo conibatido o methodo por-
tuguez, assim tamhem nao dcvo hesitar cm
por patenle o juizo, que lenho assentado nas
ponderacOes dos professores, que o defendem,
c na minha propria ohservacao. Direi pois,
que no methodo portuguez, considerado cm
si mesmo, se me affigura desdc logo achar-se
quanto pode ser essencialmentc necessario
para se satisfazer ao que parcce dever-se
mais descjar, a fim de se obterera nas escho-
las primarias resultados vantajosos no ensino
da leitura, principalmente com respeito ii
condicao, muito para ter-se em conta, da
economia do tempo. Accrescenlarei tamhem,
que descendo do conceito theorico a applica-
cao ellectiva, tenho para mini que a divisao
do alpliabeto, a distinccao das artieulacoes,
as regras para os sons variantes das letras,
e por ventura alguns outros meios adoptados
pelo methodo portuguez, sao melhoramentos
reaes, e de vantagein incontestavel para os
sens alumnos. 0 scrio exanie, a que lenho
procedido nas escholas, onde se esta ensi-
nando com maior proliciencia por este metho-
do assim mo tem evidenciado; e assim tam-
hem 0 hao rccoiihecido alguns professores
'que todavia prefcrem o methodo actual) os
ijuaes nao duvidaram acceitar estes nielhora-
nienlos, c os estao praclicando, e recolhendo
jii, scgundo me iuformam, excellente fructo.
Uo que lica exposto julgo que posso concliiir
i|ue n3o se apresentam razoes bastantes, nas
ipiaes baja de fundamentar-se a coudemna-
ciio do methodo portuguez, como ha quem
pretenda ; mas que tao pouco por ora se dao
as que se precisam para haver de ser adopta-
do exclusivameiUe, corao seu illustre auctor
parece desdc jii desejar.
E por tanto minha opiniao, que convem
que OS ensaios continueni, a lira de (|ue, me-
Ihorado progressivamente quanto o possa ser
0 methodo portuguez, e aperfeicoados com a
reflexao e a practica os professores, que to-
176
mareni a si ensinar conformc a die, se tnrne
geral a conviccao da sua maior vantajjom
sobre 0 metlioilo actual, e, deslriiidas proN en-
roes, c liradas diividas, veiilia formal doscii-
gaiio ou assogurar-llie o liiuniplio, (|ue sen
ilhistre aiiolor Hie vaticina. on de coiivencel-o
de mcnos util. e por ionsef,'uinte inado|)lavcl.
Seiilior, tcriDina aqui o mcu rolalorio. Niio
disiursei ao som dn lapriclio, conio sem dii-
\Uh\ era niais osieiiloso. e lambem de cerlo
niuilo luais I'acil. Oecupei-mc, cm coiironiii-
(lade da lei, do (iiic julgo scr de mellior pro-
veito, de maior iirgeneia, e de niio dillicil
execurao. Tomei por este caininlio, porqiic
leiilio para miin que val mais cmciular, do
i[ue deslruir sem certeza de poder reedilicar.
Se as propostas de lei e projeclo de decreto,
que tenho a lionra de apresentar a V. M.
t'orcm adopladas, serao grandes, e indisputa-
veis as vaiilagens para a iustruccao primaria,
0 para a instruceao secundaria; se o nao fo-
rem, restar-nie-lia a consolacao de ler cum-
prido 0 meu dever, e desencarregado a mi-
nlia fonsciencia.
OCommissario dosEstudos,
[). JOSE M. DA. A. COllREA HE LACEHIIA.
TRIBUNAES INGLEZES.
Os Irihunaes inglezes podem dividir-se cm
quatro cathegorias: 1.° os tribunacs de lei,
c OS d'equidade: 2." os ecclesiafticos, milita-
res, e maritimos; 3.° os criminaes: 4.° os
que tern jurisdiccao especial.
Os tribunacs de lei, ou de direito munici-
jjal julgam, como o sen nome indica, scgundo
as praclicas e arestos, conservados na lem-
branca dos juizes; e nos casos duvidosos recor-
rem as decisOes judiciarias, que cm circum-
stancias analogas tem sido proferidas peios
nutros tribunaes, e que existcm arcliivadas.
\ este respcito a Inglaterra esta ainda no
ponto em que se acbava a Franca ba quatro
seculos, c nos ba mais de dois scculos, antes
da publieacao oflicial dos arestos e assentos
dos tribunaes. Esta phrase, ba muito banida
cm Portugal e Franca " que eu me lembre
como juiz, nao vi nunca caso similliante; »
e nuii I'requente ainda bnje no foro inglez.
Os tribunaes de direito municipal sao os
mais importantes de Inglaterra, e conbccem
dos mais graves ncgocios civis. Dividem-se
dies em duas intrancias, superior e iul'erior;
a jurisdiccao d'esta e local; sao as junctas ou
tribunaes de coiulado. A. aucloridade dos tri-
bunacs de intrancia superior estendc-se a todo
0 rcino; sao os Ivilmiuies do banco da rainha,
o tribunal des plaids commuiis^ e o tribunal de
cant as.
0 baiiro da rainha e um tribunal supremo
de direito municipal, e cxercila nma acrao
liscal sobre todas as jurisdiccOes iid'eriores;
vela pela liberdade dos cidadaos, e conhecu
de todos OS negocios civis c criminaes.
0 tribunal des plaids communs conhece dos
ncgocios civis, e particularmcnte das accoes
sobre posse dc bens c contractos.
A. jurisdiccao do tribunal de contas nao
se cstendia alem dos ncgocios relatives as
rendas piiblicas, porem, boje conbece tambem
dos mesmos negocios que o tribunal des plaids
comniiins. Das decisoes ou scnlencas d'estcs
tribunaes superiores ha rccurso de revista
para o Iribnnai da uteza da fazenda, compnsto
dc juizes de todos os quatro tribunaes supe-
riores.
Nos negocios levados perante os tribunaes,
ou relacOes de condado a intervencao do jury
e facultaliva; mas perante os tribunaes supe-
riores todas as causas civeis devcm ser jul-
gadas por um jury de doze jurados, prcsidido
por um magistrado dos ditos tribunaes.
0 direito municipal da lugar algunias vczes
a graves diHiculdades de intcrpretacao, c
outras questoes, cm que e completamente
ommisso. 'Ncstes casos a dccisao e commct-
tida aos tribunaes d'eijuidade.
Estes sao compostos do lord Chanccller, dos
lords juizes d'appellacao, e dos trcz vice-
cbancellercs. Emiim a caniara dos pares e o
tribunal supremo para onde se pode, cm
ultima instancia, recorrer das decisOes de
todos OS outros tribunacs.
Em cada diocese ba uma relacdo ecclesiaslica
que leni especial jurisdiccao sobre o clero;
mas conhece lambem das causas sobre an-
nullacao de matrimonios c veribcacao de testa-
nientos. Das sentencas d'estas relacocs ha ap-
pellacao para o tribunal dos delerjudos. As
relacoes dos arcebispados de Cantorbery e de
York tem o titulo de tribunaes dc prcroi/atira.
Dos tribunaes da niarinha o mais inipor-
tante e o conselho do almirantadu, que ro-
nbece dos delictos commcttidos no mar, dos
naufragios e da rcjiarticao das [)rezas ma-
ritimas.
Das relacocs ecclesiasticas e do conselho
do almirantado pode recorrer-sc para a com-
niissdo judicial do conselho pricado da rainha,
composta de lord-chanceller, dos presidcntcs
dos tribunaes de direito municipal, dos lords
juizes d'appellacao, dos juizes do conselho do
almirantado, e dos tribunaes dc preroga-
tiva.
Nos negocios criminaes, o tribunal do juiz
de paz e a primeira intrancia; a este seguem-
se OS tribunaes, que todos os trez mezes
celebram as suas sessOes em cada condado;
e OS que as tem pelo menos duas vczes no
anno; eslas relacoes ou juntas siio em Franca
designadas com o nome de tribunaes d' as-
sises. 0 tribunal central criminal, conbece dos
£w 1*
LiiU. cia Irppr <id liriiv
Esti*
Ksl. I'f
177
crimes e dolidos commetlidos cm Londrcs e
nos sens suburbios, e faz as suas sessoes uma
vcz mcnsalmente. Todos os negocios sao «iib-
mellidos a um jury de doze jurados, ciijas
dccisoes, para serem validas, devem ser to-
madas por unanimidade em Inglaterra e
Ii'landa, e por maioiia na Escocia.
Entre os tribunaes que tcni jiirisdicTao espe-
cial deve mencionar-se o da bauca-rOtu, que
conhece das falienoias.
Ua viiUe annos que a legislaeao ingleza
tern tido grandes relormas. As leis sobrc a
admissao dosestrangeiros aogozo dos direitos
tivjs e poiilii'os, a legislarfio das palentes de
nova invencao, das sociedades industriaes e
commerciaes, das rallcncias, dos naufragios,
das successOes testameiUarias e outias, leni
sido ulliraamente revistas e alteradas cm
diversos ponlos. Fora dc Inglaterra eram
porem quasi desconhecidas estas novas pro-
visoes, porque a ultima edirao I'ranceza dos
Commenlarios de Blakstone, que e o livro
onde se acbara meliior compillados os prin-
tipios do direito inglez, foi publicada em 1822.
0 Vroil anglais de Laja, cxtraido da obra
de Blalkslone, e do The Cabinet Lawyer, li
mui superficial, e nem sempre muito exacto.
0 Code des etrangers en Angleterre por Baron,
e OS Droits, privileges et obligations des etran-
gers por Okey, sao mais exactos, mas nao
Iractam das leis commerciaes.
Era portanto muito para desejar uma obra,
que resumisse os principios mais importantes,
e as regras mais usuacs da legislaoao ingleza
no seu eslado actual. Fclizmente M. We.sloby
acaba de pubiicar um resume da Icgislacao
ingleza para uso dos estrangeiros ', ao par
das suas ultimas relormas, e que se recom-
menda pela clareza e exactidao com que Iracta
todas as materias.
NOTICIAS LITTERARIAS E SCIENTIFICAS.
TelCKrnpliia oleoli-ica. Dcsde 1844, om
que se eslaleleceram cm Franoa os telegraphos
t'leclricos, ale ao (im do anno de 1854, esta\am
em exercicio 9:180 kilometnis dc fios, dos quaes
4:500 seguem a direcrrio das liiihas de caminlio
de fcrro, e os reslantcs as estradas ordinarias.
.\iirornN IiorcacM. Toda a mudanra dc estado
dos corpos da logar ao dcsciuolvimciUo ou troca
das clectricidades. A coiiversao da agua das nuvcns
em neve, sendo uma mudanra de eslado, poderia
lalvez altribuir-se-lhes a |iliuspliiiresccncia das nu-
vens no memento em que enlram nas regioes frias,
quando as vesiculas aquosas abandonam o seu
calor latcnte, para pas.sar ao estado de palhetas
de gelo cristalisado. E lalvez a reunifio d'eslas
sintillas debaixo da forma de raios ou traros
' Reiume de l<-j,'islalion aii^la^e en maliere civile el
commerciiile, a I'lisage des elrdiigcis; par W. X. S.
Westoby, 1 vol. ».» Paris.
luminosos, de logar a esses fulgores silenciososi
a esses aaos luminosos, queconslituem as auroras
boreacs. 'Nesle caso nao scria difficil cxplicar a
ligacSo d'esles phcnomenos electricos com os
desvios da bussola, e a perturbarao dos eleelro-
niclros. \ verifica^ao de um so facto baslaria
para lornar incontestavcl esta hypothesc de M.
Jobard. Era preciso verificar, se as auroras boreacs
apparecem quando o venlo leva as nuvens para
OS polos, c se dcsappareccm quando os ventos
sopram em direccao opposta.
:\"ovo pinnetn. No mesmo dia c quasi a
mesma bora cm que Goldschmidt obscrvara em
Pans um plancla, de que ja demos nolicia no
numero antecedcnte, descobria M. Lulhero cm
Bilk outro planeta, cuja posicao differe muito da
do planeta obscrvado por Goldschmidl, porque a
dcclinacao d'um e austral, e boreal a do outro-
assim como sao diversas as suas asceneoes rectas'
O planeta observado por Lulhero fica sendo o .37 »
dos pequcnos planetas com o nome dc Fides ■ o
dc Goldschmidt leve o nome de Alalante.
Camlnl.o«« de Co,ro own exploiacao
em diverNON paixcN:
Estados-Unidos 34:640 kilometro.
Inglaterra 12:460 „
AUcmanha 8:712 »
^""ta '..'.'.'.'.' 4^500
America Ingleza . ..T. .. . 2200 »
1"^^'"^ '. 2^000
}^"f*"> 679
i"^""-: 578 .
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Sardcnba 3gY
i'"^'\ .■.■:.■:.■.:.■: lei i
fsyp'" 144 „
auecia jgi
America do Sul gg
Panama gg
Binamarca g^
Portugal .',,' 72 "
A''™^ 40
RELACAO
Dosmilanduos nomeados para differentes logarc
d instrucrao piiblica por dvspachos do Comelhn
superior dinstrucfao publica dcsde o dia I '
ale 1o d'outubro.
INSTRDCglO PBIMAHIA.
Antonio da Cruz Araujo e Moura, para pro-
fessor temporario da cadcira de Sobrcposla dislri-
oto de Braga.
Aiilonio dos Santos Ferreira, para a do Bar-
reiro, dislricto do Lisboa.
Joiio Gomes Barroquinho, para a de S. Braz
da Granja, districto dc Lisboa.
Francisco Pereira Soares da Motta. para a de
Villa-Boa de Quires, dislricto do Porto.
Maria Angelica da Cosla Soulo-Maior, para
mcstra temporaria da eschola de meninas de Villa
Franca de Xira.
irs
1
OBSERVACOES METEOROLOGICAS . FEITAS NO GABIXETE DE I'UVSICA |
DA L'MVEKSIDADE DE COIMBUA.
Anno tie
1835
= «
_ o
H 5 S
Pressao atmospherica ao ineio dia
Kstddu hy^Toiiielricu da
alniospliera ho nieio din
■^ 'o
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= c
ICslado rio cfn e do
tempo 00 meio dia.
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Altura bBio>
melrica * o"
tliciciliceii-
ligradt.
Tfn.io do
«apot nqugio
c^dtidouo ar
Press5o do
ar seccu
Gnu J'humi-
il<d,. do ;ir,
rrpri-acnUndo
por \ o Vila,
do dc salura-
t..o.
Quantid, de
vapor conlido
i.|ii mil niciro
rubico d'ar
DIas
Oralis
rentin.
Millimelros
Millimelros
Millimflrus
(iraniilias
1
11
756,856
7,076
748, 9ao
0 00
8,042
NO.
Niiblailo. Itom teutpo.
2
12
757,242
0,405
748,757
0,01
8,663
NO.
En.iibtrlo. T.chuioso.
3
11
757,861
8,072
749,789
0,82
0,242
NO.
Ntilil. T. cliuvisi'080.
4
U
759,391
8,111
751,200
0,03
8,282
NO.
O inesmo. Ruj. de NO.
5
U
758,230
7,081
750,349
0,80
8,017
NE.
O nieanio. Vi-nlorijo e
6
11
757,614
7,484
750,1. -J)
0,76
7,642
NE.
i-luna por iiilervallos
Claro e limpo B. lemp.
7
1 1 ,5
756,795
7,215
749,500
0,71
7.354
E.
O niesmo. O mesmo.
8
12
758,002
7,288
750,714
0,69
7,415
SE.
O uiesino. O mesmo.
9
13
758,441
7,691
760,750
0,69
7,798
NE.
Lig. uiibl. B. tempo.
10
13,5
756,806
8,871
747,935
0,77
8,979
NO.
Clar. e limp. B. lemp.
U
14
753,957
9,255
744,502
0,78
9,351
NO.
O raesnio. O mesmo.
12
14,5
749,694
10,686
738,398
0,87
10,778
O.
Nublad. T. chiiviscos.
13
14
749,144
9,136
740,008
0,78
9,231
o.
Eiicoberto T. cbiivoso.
14
13,5
749,055
8,071
740,984
0,77
8,979
NO.
O mesmo. O mesmo.
15
12
751,644
8,763
742,801
0,84
8,916
NO.
Nubl. Ch. por inlerv.
Trov. no Giii da larde.
16
13
750,609
8,729
741,880
0,78
8,850
E.
Niibl. Ch. por inlerv.
17
13,5
749,7118
8,469
741,319
0,73
8,572
E.
O mesmo. O mesmo.
18
14
748,866
8,990
739,876
0,75
9,083
E.
Nubl. ('Ii. por iiiterv.
Trov. no princ. da n.
19
14
748,207
9,493
738,714
0,79
9,591
E.
Encob. Temp, cliuvos.
20
14,5
748,803
9,963
730,810
0,81
10,049
S.
O mesmo. O mesmo.
21
15
746,971
9,843
737,148
0,77
9,911
E.
Niiblado. Bom tempo.
S'2
15,5
748,430
10,501
737,929
0,00
10,555
SE.
O niesmo. Al^um Uq-
to cliuviseoso.
23
15,5
750,457
10,669
739,708
0,01
10,721
E.
Nubl. Ch. delrovoad.
24
15
753,812
10,625
743,107
0,03
10,698
E.
O mesmo. O mesmo.
25
15
754,006
9,949
744,117
0,78
10017
NE.
Clar. elirap. B. temp.
26
15
752,545
9,482
743,063
0,75
9,547
N.
O mesmo. O mesmo.
27
15
751,531
8,305
743,226
0,55
8,362
NE.
O niesmo. O mesmo.
28
15
751,479
8,640
742,1133
0,6:l
8,705
NE.
0 mesmo. O mesmo.
29
15
752,545
9,150
743,:i95
0,72
9,213
N.
O mesmo. O mesmo.
30
15
751,025
9,618
741,407
0,76
9,684
NO.
O inesinu. Tro> . de t
do niea \
13,5 753,008
0,77
s
TeinperaUn-a
Pressao at
inospherifa
(iriiu (ritttii
ida.-le eh tir
^
oim
I'tiilos dominant.
s
Max. absol. 15", 5
.Max. absu
1. 759,391
Maximo . .
. . 0,83
n
Min. aLsol. 11"
Minima. .
. 746,971
.Minimo . .
. . 0,63
NO e E.
Max. var. 4",5
Max. excur
s. 12,420
Maxim.i ta
ia;. 0, IH
Coitu
bra, 1." de Maio de 18
55.
Jnio
110 Sanches
Goultio, Dir(
dor do Oal
inele dt
Pliysica.
DO ACIIUOMATISMO.
Cunlinuadu de pag. 16S.
43. Vcjamiis =e e possivel corrijfir a dispersao dos eleiiientos do raio liitninojo, resti-
luindo-llies o parallflisriio, por iiieio de doii prisma;.
Se considcrariiios ansnios d'incideiicia lao peqiienos, que sen!, sen x, sen (a — a?), sene,
scjam seiisivoliiienle pioporcioiiaes aos aicos, as equajoes (1) darao i'=(n — Ija. E se o
raio luniMioso, di'pois de saliir do priaieiro prisma, encontrar outro, cujo vertice e^teja col-
locadfi iiiversameiile do priiiic-iro, leremos o desvio final D :=(n — l)(i — (n' — I) a' (5).
Cliamaiido pnis v„ e n, ni indices de rcl'iac^ao de dois elemeiUos luininosos, por exempio
do vjolelc e di> encarnado, para que esles elcmentos se tornem parulleios, deverao ser eguaes
OS seus desvios
/>„ = ;«. — l)a — (7,', — l) a, D.^[n',— l)a~(n',— l)a<;
n' V, — V,
o que da
a n\, — « ,
O acliromalismo so poderta ser perfeilo, se as subslancias dos dois prismas fos-
n no
sem taes que a rclagio ^ entre as dispersoes dellas fosse a mesma para todos os
elementos do raio luminoso. Nao sendo isso possivel, procura-se ao menos recoiTip6r os ele-
menlos exlreinos.
44. Newlon, em resultado das experiencias que fez, suppunha que, se o achromalismo
linlia logar, o raio branco emergenle saliia parallelo ao immergente, isto ^, que nao podia
liaver achromalismo sein que o desvio fosse nullo.
A expcriencia de Newton equival a suppor que, se for Lf^^D,, tambem sera
D, = Dt^^o , e por conseguinte '
V, — 1 TJj — 1 Vy — n'„ w„ — 1 n', — 1
ii', — 1 n', — l' J). — n', 71. — 1 n', — 1'
No enlretanto este resultado, que Dollond apresentou a Euler ccmo objecgao contra a
ulilidade das suas formulas do acliromatismo, foi depois reconliecido como erroneo pelo
rnesmo Dnilnnd. [•', consultando uma tal)ella moderna de indices de refracjao dos elementos
do raio luminoso para as diversas subslancias, ve-se que ha differentes combinagoes d'ellas
propria? para dar o achromalismo.
As primeiras d'estas subslancias, de que usou Dollond, foram o flint-glass e o crown-glass.
45. Passemos ao achromalismo nas lentes, em virlude do qual os elementos luminosos;
se devem reunir no mesmo foco.
Em duas lenles de faces convexas para o objecto, supposlo o objecto inljnitamente
distante, e chamando x a dislancia focal, teriamos (n.° 19)
Por tanlo o achromalisino de dois elementos, por exempio do violele e do encarnado,
da J- = J-
(r>. -r.) (i - ^) + in'. - .' ) (2. _ 2_) = „,
* Corao, na mesiua hypolhese de peqiienos anffiilos d'incidenciaf e chamando r an^ulo de refrac^So, a refrac^ao
d'ura raio (piahpter e * — r = (« — 1) r, a codcIusSo de Newlon equival a suppur
t — t' r, i' — r'„ r'f
i — r/ rl~~ i' — t\ • r7'
Por tantu jiiigBoios inexacio suppor, como fazem al^uns auctorea de phjrsica, que o resultado da ejperieticia de
Newton equi\ul a
I — ry I — 1' V r V — ■ rv « — ?>
1 =^ —, r , ou a — =
« — r, 1— r' ' r-— r, t — r.
(la qiial se lira II =
ISO
liic ^/.; — /,',!- li" ^R — h' J ^>., -«/./
Se as duas lenles t'oniiaiciii uma de ijii.itio \iJros, dos (jiiues o [iriiru'lro >fja convexo ,
e OS oiitroi ^ejam concavos; teiido os dois do iikIo raids e;,'iiai-s para sl- iijii^lari'in : a formula
precedenle sera
— ( li -'r k' I (,'■. — I'ti -.- li I'
46. Ve-se pois, que o problema do acliromalismo e indeterminado ; mas, como nas
cqua^oes dos feces se suppoz oconciirsodos raios no mestno ponto doeixi, isiiip, se siippozerain
as superficies das lenles infiiiilesiinas a respeito das espheras respeclivas, resulla da iiiexaclidao
d'esta hypotliese umadupla intluencia d'eila no resullado final: poripie o n.'io ser iurtnilesitna
a superficio d'uma lente produz urn erro no calculo dos focos por formulas que a suppoe tal;
eo erro dofoco d'uma leiile intlue^no da seguinle. Doiide resulla que,'para desUuir ou atenuara
aberracaod'espbericidade, seria necessario substiluir succossivamenleasexpressoes de 7- e r;-^
liradas da equa^ao (1) do n.° 11, e egualar a zero, ou ao menos fazer minima, a variagiio
final que d'essaa Variagoes parliculares resullaria para o foco.
Alem d'isso, quaiido as lenles se applicam aos oculos, ba limites, eiitre os quaes conrem
que se escolba a grandeza focal x; e, escolbida ella, aexpressao de ar e mais uma condigao,
a que os raios devem salisfazer.
Assira, querendo que os raios dos trez priineiros vidros da lenle sejarii eguaes, e que a
distancia focal lenba uma grandeza a, as formulas
„ -, {n\~7,'.\ R 1 _ %i, — r><,— \ v',— \
~ /-. — »'. -2 (>», — ,/./ u~ It '*' R'"
deterrainarao i?'" e R.
Por exempio, em uma lenle decrown n.° 9 e tliiit n.° 13, se quizermos que a distancia
focal soja 2™, 22, teremos, comparando os elementos primeiro e septimn,
n, = 1,646660 n'. = 1,671062
n, = 1,535332 «', = 1,627749,
47. Cumpre nolar que as suppostas equa(;oes
I v' — 1
. - I n,— i
= .1
do 11.° 44 dariam (u.° 45)
1 f 1 I /I \ \}
_ = l„.- 1). |- _ - + ./ (^^ _ —y. :
exptessoes que so poderiam ser eguaes quando o (ossem v, en,, o que nfio pode ser; ou
quando fossem nuUos — e — , islo e, quando a direegao final de cada uni dos elementos
fosse parallela a primitiva.
'Nesla bypolhese serla pois o acbromatismo incompativcl com o desvio dos raios; o
que concorda com oque se disse no n.° 44. E assim devia acconlecer, porque as leutes podeiii
considerar-se como prismas de faces infinilamenle pcquenas.
R. B. DE SOlZi PINTO.
® Jn0tituta,
.lORlNAL SCIENTIFICO E TJTTERAIIIO.
EXPEDIENTE.
A.ssigna-se cstc Jornal em Coimbia no Ga-
Ijinetc do fnslilulo; em Lishoa na livraria Jo
sr. Cobellos, rua Augusta n." 2 ; no Porto na
do sr. Jacintho A.. Pinlo da Silva, rua das
Hortas n." 14i; em Evora na do sr. V. J. da
Gama, collegio de S. Paulo; no Pezo da Re-
gua na do sr. M. Mendcs Osorio.
Toda a corrcspondencia franca de porte sera
dirigida — A' liedamio do tnsliiiiio. Coimbra.
Prcco, adiantado, por anno, ou 24
nuraoros, francos de porte 1^440
Por semestre, ou 12 numeros, dictos 800
Avulso 100
Para os srs. Assignantes os numeros,
que Ihes faltarera d'este 4.° volume se-
rao pcio mcsmo prcco d'assignalura an-
nual, ou cada um CO
Os exemplares que restara dos volu-
mes I, II elll d'este Jornal vendem-se,
cada um, por 1$200
tmim SUPERIOR DE ICTRUCCAO PljBLlCA.
CONFERENCIA ORDINARIA DO CONSELHO
GERAL EM 30 DE OUTUBRO DE 1865.
Relalorio ila 1.* scceuo.
Senhores: Para encher a obrigacao que
Ihe irapoe a lei, vem a primeira seccao do
conselho superior de instrucrao piiblica dar
conta do estado da nossa instrucfao primaria
no anno escholar findo. Sem descermos, po-
rem, a particularidadcs alheas da occasiao;
e sem nos deterraos no desenho d'um quadro,
ja de ha muito, aos olhos de todos hem pa-
tente; sera este relalorio quasi somenic cir-
cumscriplo na substancia do movimento da
nossa administrarao litteraria, desde a ultima
conferencia geral ate hoje. Assim pelo pro-
prio conhecimento de toda a gente, como
pelas miudas eontas, que haveraos dado or-
dinariamente, duas vezes por anno, ningucm
pode ignorar ja as phases, que esta parte
Vol. IV. NovEMBBO 18-
da piihlica instruccao tem suciessivamcntc
apresentado ; ninguem de boa I'ti nogar o
incremento que cm nossos dias ella tem fon-
seguido. E, de feito, quer se olhc a multi-
plicarao das escholas, quer ao alargamcnlii
da esphera do ensino, ([uer a posse de -fon-
vcnionics livros elementares, quer ainda a
facilidade do methodo — fuudanicntos princi-
paes sobre que releva assentar o grande edi-
ticio da instrucrao; em tudo isto se vai ma-
nifestando um progresso real; scndo cvidentc
que, 'nesta parte, o estado da instrucrao d
hoje muito maisagradavel, do que outr'ora foi.
Mas tambera e certo, que este tao precio-
so ramo nao tem ainda 'nesta nossa terra
florecido e fructiticado, quanto descjamos, e
quanto e mister, para que a civilisaeao por-
tugueza se eleve ao devido grau, e para que
possa hem emparelhar-se com a das outras
nacoes cultas. Se, apostado a aplainar a in-
fancia o caminho para a sua cultura intelle-
ctual e moral, tem este conselho para isso
empregado todos os raeios, todos os esforcos,
todas as providencias, que em si cabem; se
se nao ba poupado, nolle e dia, a pcsadas
fadigas, que umas as outras se akancam sem-
pre: innegavel e, todavia, que nniitas e gra-
ves difficuldades embargam ainda o passo ao
melhoramento desejado; nem elle, todos o sa-
hem, podera jamais conseguir-se, sem o con-
curso harraonico de varias eircumstancias,
sobremodo difliceis de reunir.
Tendo percorrido mui rapidanicnte, no
curto espaco de tempo que nos fora dado, os
relalorios parciaes, que alguns commissarios
dos esludos ate hoje enviaram a sccretaria,
achamos que, no anno findo, o estado geral
da instruccao primaria, com quanlo nao fos-
se menos hem assomhrado, ([ue nos annos
anlcriores, sentiu ainda muitas d'aqucllas ne-
cessidades, que nos relalorios anlccedenlcs
bavcmos indicado ; e cujos remcdios nao po-
deram produzir, ainda, um I'ructo plenamente
salutar. Senle-se, e por muito tempo se sen-
tira, apcsar de cada dia se irem creando no-
vas cadeiras, a necessidade, sem diivida a
maior de todas, de diffundir mais a instruc-
cao, pelo menos em alguns districtos, onde
muitas freguezias acham fechada ainda esta
primeira porta para a civilisaeao dos povos.
(Onde por ventura a falta d'escbolas e maij
1855. Nua. 10.
182
scnsivel, como rcpresenta o commissario, e no I
populoso districto do Funchal, que so possue
14 escholas priniarias; quando elle pierisa,
ao menos, de 37). Para aiiulir a csta pri-
nioira necessidade, que mcios o conscllio tp-
iilia eiiiprc'gado e proposto ao Uovprno dc
S. M. em lodos os relatorios o inniimcravcis
consullas, superfluo li ropelil-o agora, depnis
dc lantas vezes o liavernios aqui relaUulo.
\ssim deixaremos agora eiu sileiieio o ciiiila-
ddso em])eiilio, com que o eonsellio lia couvi-
dado OS municipios, c as parocliias e as con-
I'rarias, a contriliuireni com o que possain
para ajudar o tliesouro na susteiilaeao dos
professores. Nao diremos 'neste rclalorio os
esforcos, que elle tern t'eito para promover
associacoes de beneficencia, que prestom soc-
corro as criancas, que por sua pobreza nao
podem cursar as escliolas piiblicas. E, se
d'este segundo nieio se ha colbido muilo cscas-
so I'ructo, pelo primeiro varias freguezias lo-
gram ja o benelicio da inslruccao. lias, para
que 0 resultado podesse responder conipleia-
mente aos nossos descjos e cuidados, fora
necessario que alguns d'aquelles corpos ti-
vessem maiorcs posses, e que outros fossem
animados de maior zcio e palriotismo.
A par d'esla primeira necessidade, lamen-
ta-se a falta de professores idoneos; 'numa
grande parte dos exislentes se conhece a in-
tapacidade, 'noutra a negligencia — dois gra-
ves estorvos, que encontra o desinvolvinieiito
da instruccao primaria. Poderia romover-se
0 primeiro obstacuio com o estabeiecimento
das escholas normaes, que ainda nao pdde
levar-se a cabo; e dando-se aos professores
ordenados mais avultados, o que tambom e
de manifcsta difliculdade. Pode, como tcmos
varias vezes dido, diminuir-se aqueile segun-
do mal por meio d'unia inspeccao regular,
continuada e vigilante, a qua! nao podem
bem desempenhar os commissarios. Fora tam-
bem de summa conveniencia, (como lembra
0 sobrediclo commissario do Funchal) que a
lei distinguisse trcz classes d'cscholas — de
(•idade, de concelho, e ruraes; — variando a
habilitacao, o trabalho, e, por conseguinte, o
ordenado dos professores; havendo porem uni-
forniidade d'cnsino em cada classe.
Outra necessidade, que nao pode remediar-
se ainda, c a de cdilicios jmblicos para as
escholas, cujo exercicio se faz, pela maior
parte, nas proprias casas dos professores: fal-
ta esta, que as camaras municipaes nao tern
querido desviar; havendo muitas, que uem
sequer fornecem aos professores os moveis e
utensilios indispensaveis. Notam mais alguns
relatorios a falta de frequencia, ainda em
escholas regidas por bons professores; e nasce
ella ja do desleixamento, ja da repugnancia
dos paes ou chefes de familia, maiormente dos
que nao querem arredar os filhos dos traba-
Ihos campestres e d'outros servicos raechani-
cos. — Nao lendo ousado ainda lanjar mao
dos mcios compulsorios prescriptos na lei,
tem 0 couselho reconinicndado aos parochos
OS meios suasorios, e por outra jiarle aucto-
risado os commissarios a variar as boras dos
exercicios cscholares, sogundo as necessida-
des e conveniencias locaes. Sendo mui copiosa
a colleccao de livros elementares, approvados
por este tribunal, e cuja lisla vni crescendo
cada anno, escaceam aos meninos pobres os
meios de haver esses livros; d'ondc resulta o
aicazamenlo do ensino, ate mesmo por(|ue a
falla de unidade nos compendios cmpcce a
simullaneidade do ensino. Tainbem esta ne-
cessidade deveria achar remcdio nos munici-
pios, nas parochias, e na caridade piiblica.
Finalmente acha-.se ainda a falta d'um
syslema d'cnsino mais perfeito, mais regular
e uniforme; porque, se qualqucr dos melho-
dos ate hoje seguidos — o simullaneo, o rau-
tuo, e 0 mixto, — leva muita vantagem aos
d'oulras eras; nao ha duvida que muito se
pude melborar e aperfeicoar o systema. E c
isto 0 em que tambem os cuidados do conselho
tem posto a mira. E porque digamos ludo em
resumo, quatro sao as necessidades urgentes,
a que de prompto convem acudir — crear escho-
las normaes para formar mestres; melborar
OS vencimentos dos professores; organisar um
systema de inspeccao regular; uniformar nas
classes OS livros d'estudo. Feita esta conquista,
e collocada uma eschola juncto ao campana-
rio de cada parocbia, maior desinvolvimento
se podera dar a este ramo de instruccao, in-
troduzindo-lhe o ensino practice elementar
em sciencias industriaes, niormente da agri-
cultura, a exempio dos povos mais illustrados
da Europa.
Do methodo repentino, dicfo portuguez,
nao pode o conselho ainda formar juizo cabal
e seguro. Com (|uanto a maioria dos factos o
condemne, e os cnsaios feitos era trcz escho-
las do concelho de Coimbra Ihe sejam desfa-
voraveis todos; quer o conselho ainda conce-
der ao tempo o que razoavelmente Ihe nao
pude negar; tendo em attencao o imperio do
liabito dos metliodos antigos, a reluctancia do
povo contra tudo o que e innovacao; e, mais
que tudo, a animadversao que stiscitaria a
indiscricao dc quercr fundar a fortuna do
novo methodo sobrc a ruina total dos outros.
0 resumo historico dos factos e resultado
d'ensaios por dilTerentes pontes do paiz, ele-
vado ullimamente ao soberano conhccimen-
to de S. M., por si falla; e mais alto, do
que 0 podera I'azer este relalorio. Apparece
agora oulro methodo novo de cnsinar a ler
e escrever, proposto pelo ja mencionado
commissario dos estudos do Funchal; que
parecc muito ingcnhoso, filbo de muito estu-
do e seria observacao, assim da marcha no
desinvolvimento do espirito humano, como
dos methodos de ensino ate agora seguidos.
183
0 conselho aguarda as tabellas practicas d'este
methodo, para o fazcr cnsaiar convcnienlc-
nienle, e apreciar sens resultados.
Daremos agora o resumo dos trabalhos da
sccfao 'neste anno. Di'[iois da rclarao dos
livros elementares, publkada em outuhro de
1864, e estanipada no Diario do Governo de
4 de Janeiro do correiite anno, loram por csle
tribunal approvados os seguinles: — Florilei/io
Ctassico, por Pedro Diniz; — 0 Amiga dos
Meninos (parte 2.°), por Adriao Forjaz; —
Calhecismo da Diocese de Coimbra, pelo mesmo
auctor; — Selectazinlia Classica, pelo GOffiiiiiiJ-'
sario d'Angra; — Resumn da Doutrina Chrislu,
pelo professor de instruccao primaria, Joaquim
Rodrigues Loureiro.
Foram creadas, 'neste anno, niais 67 escho-
las, sendo para o sexo masculino 89, para o
feminino 8. Por onde o numero das cadeiras
piiblicas no contincnte e ilhas e hoje de —
1:266; das quaes, segundo os niappas re-
cebidos, foram 1:029 frequentadas por 30:501
aluninos ; sendo do sexo masculino, pelo ensino
simultaneo 46: 2 IS, e [lelo mutuo 1:660; do
feminino 2:626. Faltando-nos porem ainda
rauitos mappas estatistieos ; e, tendo recebido
sbmentelOrclatorios, d'entreos21, quedCTOnv
entrar na sccretaria, nao e possivel apresentar
exactamente o numero dos alumnos. Ja se ve
comtudo que excede muito a 60:000, e que e
superior ao do anno antecedente. Dasescbolas
particulares, denominadas — de academias,
asijlos, collegios, instilutos, lyceus, mmiicipios,
de juncta de parochias, de confrarias, de le-
gados, aiem das pagas pelos chefes de fami-
lias, foram no anno passado, segundo os map-
pas cnlao recebidos, frequentadas 737 por
19:989 alumnos; pertenoendo ao sexo feminino
7:797 : pelos mappas rccolhidos no eorrente
anno, teraos ainda so 430 escholas, frequen-
tadas por 16:879 alumnos, sendo do sexo
feminino 3.448.
Expediram-se pela secretaria, sobre varios
objectos, como — crearao e transfereneia de
cadeiras; transferencias, jubilacoes, aposenta-
coes, continuacoes com o terco raais do ordena-
do, reintegracoes, exonerac oes e demissSes de
professores ; sobre methodo d'ensino ; sobre edi-
(icios piiblicos para as escholas, e outros raais
objectos, 119 consultas. Despachos para pro-
vimentos temporarios e para titulos de capa-
cidade 203 ; ordens cm portarias, officios c
editaes 2:143 ; em cujo numero entram duas
portarias circulares, uma aos governadores
civis, para intimar todos os professores publicos
e particulares, para enviarem os mappas da
frequencia dos alumnos, sob pena de suspcnsao
de vencimentos : outra aos commissarios dos
estudos, sobre a formacao do jury nos exames
de instruccao primaria, como preparatorio
para a secundaria, feitos perante os mesmos
commissarios , segundo o art." IS, §. unico,
do decreto de 20 de dezembro de 18S0. E,
por csta substancia do pxpcdientc se podera
i'ormar alguma idi^a das ladigas do conselho,
que continiia a desvelar-sc no mclhoramento
da instruccao piiblica, sob a protcccao do il-
lustrado govcrno de S. M.
UeDatorio <la S." Morriio.
Senhores: 0 diminuto numero que havia
no principio d'este anno lectivo de vogaes
extraordinarios, os concursos em que a maior
parte d'elles tivcram dc entrar, c a passagem
subsequente de quasi todos os substitutes ex-
traordinarios a substitutns ordinarios, fizeram
com que nao podessem tcr logar 'neste anno
as conferencias extraordinarias da 2.' seccao
por forma regular, e com que se paralysassem
por isso OS sens trabalhos.
Fizeram-se porem sempre, duas vezes por
semana, segundo prescreve a lei, as conferen-
cias de seccao, e por ellas foram preparadas
ol propostas para creacoos e estabelecimentos
de cadeiras, — para proviraenlos do logares
de commissarios, de professores, e emprega-
dos na instruccao secundaria, — para jubila-
coes, continuacao no servico com augmento
de ordenado, transferencias, exoneracoes, etc.
Alem d'estas propostas, foram feitas e dirigidas
pela 2 .° seccao 27 consultas sobre varios objec-
tos e informes, e com remessas de program-
mas e regulamentos.
Creadas pela carta de lei de 12 de agosto
de 1834 a cadcira de arithmetica, algebra
geometria e trigonometria elementar, e de
geographia mathematica, e a de prineipios de
physica e chimica e introduccao a historia
natural dos trez reinos, nos lyceus de Lisboa,
Coimbra e Porto, tractou o conselho pela sua
2." seccao de occorrer com a possivel brevi-
dade'^ao sen provimento. Para isso propoz
logo a S. M. que o professor da 8.' cadeira,
que fora suppriniida no lyccu de Lisboa, pas-
sasse a reger a cadeira analoga das novamente
creadas, o que S. M. houve por bem approvar.
Em seguida preparou os programmas de con-
curso para o provimento das cadeiras acima
niencionadas cm Coimbra e no Porto, pelos
quaes, depois de approvados pelo governo de
S. M., se abriram logo os respectivos con-
cursos. Em resultado d'elle, ja foram providas
as novas cadeiras do lyccu de Coimbra, e
tambem o foi a de arithmetica, algebra, geo-
metria e geographia, no do Porto; pendendo
ainda resolucao de S. M. sobre a consult;i
d'este conselho para o provimento alii da
outra cadeira.
0 conselho fez uma consulta a S. M. sobre
a conveniencia da creacao da cadeira de prin-
eipios de physica e chimica e de introducjao
a historia natural dos trez reinos no lyceu
nacional de Ponta Delgada. S. M. dignou-se
approvar aquella creacao, ordenando que, para
184
satisfazpr a uina iiidicacao do conselho, cste
lizessc lima rclacao ilos objectos e iiistiumcn-
tos, ciija (iruvia ac(niisii;ao o consellio julgava
upccssaria para quo d'a(|iiello estiido jxissam
OS aliuuiios lirar conlicciiiiciilos de. iililidade
jinictica. Ksta relarao ja I'oi reiiieltida ao go-
veriio do S. M. para a dirigir ao nosso eiivia-
do 0111 I'ai'is, a (luoiii o mosiiio govcnio oiioar-
rcgoii a oonipra dos iiioiicionados olijootos.
Por vozo^- loin o\poslo o ooiisollio do luou
iiacional do Lisboa a iiocossidadc iirgoiito da
roiiiooao da sua socoao oooidoiilal, de IJoleiii
para oulro odilicio luais appropriado. 0 ooii-
solbo superior d'insliucoao piiblica, convonoido
d'csta Iiocossidadc, o dopois de toiuadas as
averiguacOos iiecessarias, ordenou ullimaiiieiilc
que 0 rospeclivo eommissario d'estudos, de
combinarao com o govcniador civil de Lisiioa,
indicasse aigum cditicio piiblico, para oude
podesse scr coiiimodameiito Iraiisforida a(|ii('l-
la sccciio. Em resullado d'oslas ordcus doraiii
estas aucloridados uiu inlorme em quo aiiibas
coiubiiiaram, c em virtudo do qiial propoz
estc conselho a S. M. (jue fosse cedida para o
mcncionado liiu a parte do odilicio do (juarlel
do cxtiiiclo batalliao naval, oni que se acliam
umas salas, que o eommissario d'estudos julga
accommodadas e suflicientos para collooacao
d'esta sccoao do lyceu, e para a qual se obri-
gou 0 conselho do lyceu a fazcr a mudanca
ii sua casta.
Tendo o prelado da diocese Portuense of-
liciado ao reilor do lyceu do Porto, expoudo a
necessidade da creacao de um logar de substi-
tuto para as duas cadeiras de tboologia moral
c dogmatica annexas ao mosmo lyceu ; e
julgando 0 mesnio reitor attendiveis as razoes
do excellentissimo bispo, c a prolondida creacao
em hanuonia com as providoncias do art. ij8
do cap. 2.° da loi de iO de seteiiibro de ISH,
(jue eslabolecem que nos lyceus maiore!<-hflja
uni siibstitulo correspondonte a duas do suas
cadeiras : dirigiii-se para este lira o menciona-
do reitor, ao conselho superior d'instriiccao
ptiblica. Este, achando tanibom de convenion-
cia a relerida creacao, fez subir este sou
parecer a presenca de S. M., acnmpanbado de
um projocto de loi, por enlender (|iie para esta
creaci'io era necessaria a sanccao legislaliva.
S. .M. diguou-se rosolvor quo, se o conselho
julgasse osta creacao do necessidade iirgente,
lizesse acompanhar o seu relatorio geral do
referido projocto.
Passando agora a dar-vos conta do movi-
mento lilterario e material nos estabeleciraen-
tos quo na instrucoao secundaria se acbam
debaixo da inspccao do consellio superior, cum-
pre-me participar-vos, cm (|uanto aos lyceus,
que por ora so tem entrado na secretaria
(I'este consflho os relatorios dos reilores dos
lyceus nacionaos de Braga, Coimbra, Evora,
Guarda, Leiria, Lisboa, Porto, Viana, Villa-
Ueal, c Yizeu. I'allaiido-Ilie ainda os dos
reilores dos lyceus d'Angra, Avoiro, Beja,
Braganca, Castollo Branco, Funcbal, Horla,
Ponia Dolgada, Portalogrc e Santareni.
Dos mappas alii agora recobidos vo-se, i|ue
0 nuinoi'o dos alumnos, (pie este anno fro(iuen-
laraiii Ki" aulas dos lyceus c cadeiras an-
nexas, loi do 'i;017. No anno antocodenlo,
em 171 cadeiras forani os alumnos i:Ol)(i.
As aulas dos professores parliculares, (]ue
onviaraui mappas, foraiii fro(]uoiitadas 'neste
mesmo anm por '2:1(12 alumnos do .sexo
masculino, e por 248 do feminino.
toneorreram a fazer exanios, nos lyceus,
738 alumnos de inslruqdo prinuiria, dos (juaes
foram approvados lioi, c reprovados 8i. Nas
disciplinas da inxtrucrdo secundaria foram cxa-
minados SiiilD alumnos, sahiudo approvados
2:001), e reprovados 430.
Polo relatorio do conselho do lyceu nacional
dc Braga ve-se que a freciuoncia dos alumnos
a esto lyceu lom dimiiiuido, o que o niosnio
conselho atlribue princi|ialmenle a I'alta de
exocucao das lois na parte em que torna obriga-
torio 0 curso coiiipleto dos lyceus para o pro-
vimenlo dos ompregos. 0 maior nuiiiero de
alumnos sao dos quo se doslinam ao estado
T!Cclesra.stico, e nas aulas cujas disciplinas sao
preparatorios obrigados para a(|uolle estado.
No lyceu de Coimbra o numero dos alumnos
que I'requenlaram as aulas foi superior em 72
ao do anno passado. Da conta o conselho,
que por falla dc mcios pecuniarios, e princi-
palmcnte por so nao tcr podido remover ainda
a aula dc anatomia para o odilicio do novo
hospital, nao foi possivel estabelecer ainda a
mosmo lyceu nas casas occupadas pela facul-
dade do modicina no odilicio do musou, c em
parte do abandonado hospital da Conceicao.
A mobilia do ostabelocimonto tern augmontado,
careeendo-se porom ainda de utensilios e ma-
chinas para o servico da nova aula de ele-
montos de physica e cliimiea, e inlroduccao a
bistoria natural dos trez reinos.
No lyceu d'Evora, posto que o numero dos
alumnos foi um pouco inferior ao do anno
antecedonte, foram comtudo cursadas todas
as suas aulas, c com aprovoitamcnlo, conio
so manifoslou nos exames (inaes, os quaes
pela maior parte foram fcitos Qom bom resul-
lado. No seu relatorio pode o conselho d'estc
lyceu a creacao de unia cadeira dc grogo,
podido a que ja o consellio superior tinha
satisfeilo, mandando abrir concurso para esta
cadeira pola authorisacao que a lei Ihe con-
cede. Pede tarn bom a creacao de um curso
d'economia industrial e d'escripturacao.
No seu relatorio expOe o conselho do lyceu
nacional dc Lisboa, que a eslatistica dos alu-
mnos que froquentaram as trez seccoes do lyceu
nao elisongeira, nom corresponde a grandeza
da populajao da capital. Julga que esta falta
de coucorrcncia e devida cm parte a prefe-
rencia, que os pacs dao gcralmente aos col-
\u
legios particulares, onde julgam mais vigiada
a ediiracao o moialidadc dos fillios, e em
parte a ma collocarao dos estabeleeimentos
das sccpoes do lyreu, no lado da cidade (|ue
oiha ao sul, nas proximidades do mar. Para
occorrer a primeira causa julga o coiisellio
do lycea, que a execurao do regulamonto
policial, approvado por cste conseiho superior,
0 que 0 mesmo conseiho do lyceu esta resol-
vido a manter fielmcnte, hade com o teuipo
convencer os chel'es de I'amilias, que o meio
mais solido e proveitoso para promoverem a
instruccao e ao mesmo tempo a boa cdtfcaiao
dosseussuhordinados, ematriculal-os no lyceu.
Para occorrer a segunda causa entende, que
devem ser transferidas as trez seccoes do lyceu
para localidades mais ccnlraes; e por isso,
alem da mudanca da seccao occidental, de
que ja vos demos conta, propoe agora a
mudanca das outras duas seccoes para os
extinctos mosteiros de S. Vicente e dos Pau-
iistas. Insta por uma providencia que unil'or-
mise OS compondios em todos os lyceus, esco-
Ihendo-sc para esse lim os melhores, debaixo
da api)rovacao do governo de S. M.
As aulas do lyceu do Porto foram frequen-
tadas por crescido numero de alumnos, e os
irabalhos correram com toda a regularidade.
Queixa-se porem novamente o conseiho do
lyceu do aperto em que se acha aquelle esta-
belecimento, e das poucas espcrancas de poder
em breve obtcr local mais adequado, pareccn-
do-lhe pouco proprio aquelle em que o reve-
rcndo bispo do Porto se propoe edilicar uma
casa para esse fim.
Julga que o unico remedio consisle na
rcalisajao da id^a aqui suscitada, e ja pro-
posta a consideracao das cdrles por um digno
vogal d'este conseiho, de reunir todos os esta-
belecimenlos scientiticos e industriaes da cida-
de do Porlo no cdilicio da Graca, que foi da
antiga acadcmia de marinha c commercio da
mesma cidade. No entretanto pode obler do
director da academia polytechnica a ccdencia
de duas aulas da academia, c da casa onde
linha a sua secretaria a academia portuense
das Bellas Aries.
So tivemos presenles os relatorios dos dire-
ctores das bibliothecas do Braga e do Porto,
faltando-nos das bibliothecas de Coimbra,
Evora c Lisboa.
Na de Braga torna-se necessaria a conclusao
das obras exigidas para que possa tornar-se
piiblica aquella bibliotheca. 0 director vai
procedendo a cathalogacao dos livros.
0 bibliothecario da bibliotheca piiblica do
Porto da parte, que a camara muniiipal
d'aquella cidade resolvera concluir a obra do
accrescentamento da bibliotheca para formar
trez espacosos salOes, que muito concorreram
para a mclhor collocacao dos livros. 0 numero
dos leitores que a frequentaram foi de 2:1 CI,
e as obras consulladas foram 2:967.
Dos estabelccimentos d'instruccao especial
s6 recebemos os relatorios dos directores da
academia de Bellas Artes de Lisboa, e da
academia portuense.
Na 1.' foram frequentadas as aulas de dia
por ;)!() alumnos, e as de noite por 141.
Na segunda foram frequentadas as aulas
por 112 alumnos.
Ambas estas academias fazem pedidos, que
este conseiho tera na consideracao que mere-
cerem.
Senhores: Na sessao geral do mez d'abril
do anno seguinle, esperamos poder completar
este relatorio, ajipresentando-vos todas as no-
licias que tivermos colbido dos relatorios que
ainda nos faltam, bem como o quadro esta-
tislico complelo da instruccao secundaria du-
rante 0 anno lectivo Undo.
MEMORIA HISTORICA E CRITICA
KoUb-o a rcvolursio qiieeiii 1316 tirou
a eoi-oa a n. Kamrlio II, itara a clai- ao
coiidc <Iv ISoIonlsa, seu irraiau.
Contiuuada de pag. l^ti.
IV.
E ja que tocamos agora um ponto, que
envolve grande escuridade pela falta de docu-
raentos ategora produzidos, que illustrem a
chronologia, relativa a factos mal aprecia-
dos, faremos uma pequena digressao sobre a
ausencia d'este bispo U. Pedro, desde que
foi cbamado a Roma por Innocencio III para
assislir ao concilio Lateranense, ate a morte
d'AITonso 11; espaco de oito annos com pouca
dilTerenca. Importa muito estremar estes factos
|»elo interesse historico que conlem; e pelo
papel importante, que com os reis 'neste tempo
OS bispos representavam. Guiado pelo depoi-
mento de onze testemunhas, que, 'nestes cou-
flictos dramaticos, ou Coram protogonistas,
on assistiram ao seu desenlace, seguirei sens
dictos acostado a sua autenticidade, como se
fora ao fio d'.Vriadne, para me por a salvo de
tao tenebroso labyrintbo.
Descontiado e temeroso da espada, que o
determinado ardor do rei vibrava com mao
pesada; recluso em sua casa; e servido somen-
te po.r ecclesiasticos, por nao ousar secular
algum entrar no seu paco : tal era a posicao,
a que as desavencas com o rei tinham knaiio
0 antigo bispo de Coimbra, como jii vimos
acima ' ; e se por ventura tentara sahir de
seus aposentos, certa seria sua prisao, porque
para o assim fazer sobrara ao rei a vontade,
mas, para a execiicao, carecia d'opportunida-
de, que d'esta forma se Ihe offerecia. Fora o
' V. paj. 154, col. 1.', not. 1.
186
proprio rei, qucni, conversando com o chantre
no seu palacio, c tractando dc o fazer tcrrar
ua composifao, que inlentava arranjar com
0 hispo, para aoabarem as desavenfas, em que
ambos sc acliavam envolvidos, virado para
a residencia episcopal, Ihe disscra « acold esta
a (jalinha, se sae font, o (alcCto vae sobre ella e
a apanlia ' . » D'ondc claramente clle cnlcndi^ra
0 perigo em que estava o hispo, se por vcu-
tura saliisse dc sua casa. Nao sera facil as-
sentar precisamentc o tempo d'estc succes-
so. Acconteceria, o (pie deixamos referido,
antes ou depois dc 121!), cpocha do eoiicilio
Latcraiieiise? Eis o prolilema diflicil de rcsol-
ver. A iiiiiuiricrio ja citada nao iios ajuda a
sua rcsolui.ao, e as mesmas tcslemunlias, per-
gutiladas sohrc a sua data, umas dizcm sc
nao recordam, outras depoem vasameiUe e por
iucideiUe, nada mais acorescenlando. Incli-
namo-nos couitudo a crcr, que estcs successes
se passariam antes d'aquelie anno, por sc nao
ajustar tao hem esta epoclia nos annos subse-
(picntes, em que novas vicissitudes marcaram
0 governo sempre agitado d'estc prelado ; por-
que em quanto a ausencia que elle fez do
reino para Camora, e depois para a curia
Romana, as mesmas testemunhas dizem, que
elle alii estivera por sete a oito annos para
evitar os aggravos, c desabrimento do rei, o
que acconteeera depois do referido concilio:
e d'esta declaracao lira a minha conjectura
niaior forca. Seja porem , que lal successo
tivesse logar antes ou depois do tempo referido,
parece que nos fins de 1217 ja D. Pedro se
achava novamente fbra do reino, depois do
seu rcgresso a esta cidade do concilio dc
Laterao. Na carta de proleccao ja mencionada,
dada pelo rei a Se de Coimbra com a data
do 1." de dezembro d'este mesmo anno, se nao
cnconira sua assignatura entre os confirman-
tes, como era costume, e muito mais a'ihda
sendo passada 'nesta raesma cidade, em que
0 bispo residia, e onde clrei sc achava 'nesta
occasiao.
Na merce dos dizimos dos reguengos, que
aos bispos do reino lizera All'onso II no seguin-
te anno (1218) e que jii acima mencionamos,
nota-sc a assignatura d'este prelado, na carta
dirigida a cathedral Conimbricense ; mas
veem-se ao mesmo tempo, como se forani
presentes, as dos outros bispos, que cgual-
mente estavam ausentcs do reino, como era
0 primaz Estevao Soares, e o bispo do Porto ',
confundidos com os mais bispos das oulras
Ses, 0 que nada obsta a nossa opiniao, que
0 da por ausente 'nesta conjunctura ; porque,
alem de nao provar lal assignatura mais do
' Aiidivit regem ista dicentem cum rex rogaret istum
testem de compositioDe facienda inter ipsum etepiscupum
rex dixit ista verba — hie est fatco ct ibi ardea^ vertendo
>e ad doinura episcopi, si se movent falco capiet earn —
(Jur. o Chantre de Coimbra ibid).
•■ Sr. A. Herculano. Hist.|de Port, na vida de D.
Affonso.
que acharem-se eslas cathedraes providas dc
pastor, como ja advertiu Joao Pedro Ribciro,
sabemos, que Eslevao Soares se achava 'neste
tempo ausenle, e em grande opposicao com o
inonarcha, apparecendo nao obstante, seu nomc
entre os conlirnianles, signal cvidcnte dc (|ue
'nesle documento se nao podc offerecer a as-
signatura de U. Pedro Soeiro como prova da
sua CNistencia 'neste reino. Accresce ainda a
cste argumenlo outro de nao menor iinpor-
lancia; por(|ue sendo aquclla carta patenle pas-
sada cm Santarcni em se\ta fcira da paixao
do a-nno-ja referido, e lendo-se 'nella o signal
de todos OS bispos do reino, conlirniando a
mesma doacao, nao e possivel imaginar que
todos se achassem 'naquella cdrte em um lal
dia, aiiandonando suas cgrejas, e as ohrigacoes
da celehracao dos oflicios divinos na semana
sancta, jiara fazerem eorte ao rei, com quem
muitos se acliavam divorciados, sendo um
d'cstes 0 bispo de Coimbra!
Em 121ft ua carta de confirmacao do coilo
de Gondomar ao hispo do Porto, D. Martinho,
nao appareee a assignatura de D. Pedro, no
documenlo que offerece Cunha na sua histo-
ria ' , 0, que me conlirma a ausenci;' delle ;
e nos differenles instrumentos existentes no
cartorio da mesma cathedral nao se encontra
algum em que elle (igura como hispo e pre-
lado d'esta cgreja senao depois do fallecimcnto
do rei, d'ondc parece poder concluir-se, quesd
depois d'esta cpocha clle se lecolhera ao reino,
achando-se ja 'nolle serenada a tempestade
com as pazes e concordia feita por esta oc-
casiao com OS prelados do reino; depois de cujo
tempo elle do novo comeca a enlrar em scena,
e de adversario pertinaz, que ate alii fora ao
rei e seus ministros, passara a cntrar na pri-
vanca do novo inonarcha, e a tomar quinhao
em suas leviandades, que Ihe grangearam
serios desgostos, que tiveram lim com a re-
nuncia da luitra, e pouco depois com a morte ~.
Ratificaremos ainda um facto, que escapou
a analyse critica do Sr. Herculano na citada
hisloria. "Diz este A. que fora provavelmente
« Joao de Abbeville (cardeal bispo, Sabinense)
« quem jiersuadiu o relho hispo de Coimbra
0 1). Pedro, que irocara o espirito de revolta
II contra o podcr civil 'numa subscrviencia
« cega a vonlade de Afl'onso II, a ir depor o
(I baculo pastoral aos pes de Gregorio IX, of-
I. ferecendo-se assim ao castigo por haver
« trahido a causa da cgreja deixando
(I a curia Roniana o prazer de levar mais
' Cunha — Calalogo dos bispos do Porto, p. 8. cap. 8,
pag. 52. .
^ Illudido. talvez, com esta mudan;a, e submissHo ao
novo rei, entendera o sr. Herculano, esta subserviencia
do bispo nao a Sancho 11, mas ao pai. V. o cil. A. no
logar abaixo mencionadu.
^87
n longe sua tardia vinganca, porque depois de
« 1229, nao encontrara (o A..) diploma algum,
" em que D. Pedro figure. ' » Esta critica, um
pouco severa para aquoilcs, contra quem e
dirigida, se por um lado indica maiquerenra
aos censurados, patenlea-nos por oulro o
enganoque 'ncsta historia tivera o A., engano,
porcm, atlenuado pcia falta de documentos
que eile coiilessa nao enconlrara, c dos quaes
nao era possivci ler nolicia antes da sua
visita aos cartorios do reino.
Nao I'oi pois a Irairao a cgroja, que fez
renunciar o episcopado oo ve!lio"T)l\j)o dc
Coimbva, como aflirma graeiosainenle a(nieile
A. ; ao contrario D. Pedro, senipre adversa-
rio d'AITonso II, nao sc ligou nunca a sua
politica, e por esta causa se saiiiu do reino,
receando as cousequencias da sua pouca con-
descendencia com a vontade do rei. " Nao
I'oi 0 bispo Sahincnse quem o aconselliou a
ir ilepdr iias maos de Gregorio IX o annci
pastoral; porque, tendo este bispo lerniinado
a sua Icgacao em Portugal o ma is tarde em
1230, e tendo logo saliido do reino, nao podia
dar-lhe tal alvitre em 1233 para 'ncste anno
renunciar, acliando-se o cardeal Joao d'Ablio-
ville ja fora d'elle trez annos antes • : nem
I'oi lao pouco 0 prazer dc levar a curia Romana
mats longe sua tardia vinganca, quem fez com
que 0 pontilice corrigisse, como devia, os ex-
cesses d'este prelado.
D. Pedro mereccu o castigo, que recebeu,
pelos desatinos com que perseguiu todo o sen
clero, e attentou contra a jurisdicfao do papa;
obrigando por todos os modos e nieios a sua
disposicao, e ate mesmo recomendando a seus
apaniguados nao fazerem cabedal da seatenfa
de interdicto, em que o reino se achava poslo
pelos juizes delcgndos, que entao conheciani
da questao, que corria entre o rci c o bispo de
Lisboa ; cbogando ao excesso de ameafaruns,
e privar oulros de seus beneficios; mandando
sequestrar seus bens, e fazendo-os andar por
esta causa amurados, e ausentes de suas casas.
Assira sc le com elTeito na carta de Gregorio
IX, dirigida ao arcebispo de Braga, de que
se fez um capitulo nas decrctaes do mesmo
papa, cujas cuipas lodas o proprio bispo con-
fessara na presenca de Gregorio IX'.
Estas pois foram as causus pelas quaes o
bispo, sendo cliamado a Roma, para d'ellas
dar coma ao ponlilice, se vio obrigado a re-
nunciar logo a milra, victima dos e\cessos.a_
' Sr. A. Ilerculalio. Hist. cit. pag. 296 e not. IV.
^ Propter titnorem regis. — Dizem as testemuubas da
ia(luirirno cit. ibid.
" O cit. A. torn. 2. not. XX. sobre a lega^ao do bispo
Sabinense.
* « . . inducere monitis et flectere minis ac terroribus ad
violandam interdicti sententiam niiUa potuit ralione, jiost
atroces injurias aniissionem bunoruin, spoliationem paren-
tiim . . . coejrit miserabililer exulare .... quoe omnia
idem Episcopus in nostra et tratrum nostrorum presentia
publico cognovit. " — Cap. Tanta fin '1^ de excessib.
praelator.
que 0 inicitara a privanfa com Sancho II, dc
quem aquelle prelado se tornara valido, para
com sua ajuda practicar todos esses desaguisa-
dos, que Ihe grangearani tantos desgoslos,
e pouco tempo depois a morte (meio anno, com
pouca diflerenca). Nao andou tambem melhor
informado o citado A., suppondo auscnle de
Coimbia o bispo desde 12211, pois que em
1231 e nos dois scguintes annos ainda clle
permanecia 'nesla cidade ', cpocba cm que os
desvios das regras canonicas o lizeram caliir
no desagrado da Curia, levando-oii correccao
devida. Isto pois previamente nolado, conti-
nuaremos o nosso trabalbo, e seguircmos a
interrompida cadea d'estes successos.
VI.
0 premature fallecimento d'AfPonso II ^os
37 annos d'idadc, com a nienoridade dos
principes, deixava o reino em uma crise ter-
rivel ! As discordias com o estado ccclesiastico ;
as desavencas c.u os barOes c ricos-lioniens
do reino; as contestacocs por causa dos direi-
tos, e prerogalivas d'uns e oulros, que em
breve deviam clevar-se a ponto mais alto;
com a ausencia c se(|ucstro dos bispos, que
na corte de Roma procnravam remedio aos
aggravos que o rei Ihcs lizera, e que se tor-
navam agora mais publicos com as rcpetidas
quoixas em uma cdrtc, que cm tal tempo
tinlia na mao o liel da balanea politica, deixa-
vam 0 tbrono do grande AlTonso cercado
d'espinhos, que so um niui discreto consclho,
e precatado governo podia cviiar. Mancebo
inexperiente e fcm tocar a idade de revora,
tinha o principe de soffrer o governo da re-
gencia ate ser dedarado maior ; e como AH'onso
II bavia dciiado o governo do reino durante
todo este tempo aos ricos homcns e mais
magnates, de (|uem se lembrara na sua ultima
vontade, a mesma politica I'oi conlinuando o
mesmo estado d'agitacao interior em que o
reino estava, ate (jue o novo rei tomou sobre
si a direccao dos negocios, e o governo do
reino '.
L'ma no\a ejiocba comecava a marcar o
reinado do novo rei ; e a uma cnergica e
' Do primeiro e testeniunho a carta de transac<;iio que
emjiillio di' 1S31 eile fiiz com a rainlia D. Thercza c
sua irm.'i I). Saiiciia, aliijadet^a ile I^urvao, sobre as ejrrejas
de Holao, Serpins e ontras(G. B. R. I. M. 2. n." lu.) Do
sesuiido e testemunho a cit. inqiiiri<;iio, que o di'i por
presente em H de se|>tembro de 12.'i2, dia em que veiu
fazer iiontilicHl a Se, sem embargo do interdicto. U'onde
se deixa ciaramente ver, que nao foi a snbserviencia cega
k vontade dWHonso 11 quem Ihe |>roduzni tamanliu
desgosto, mas sim a viola(;ao do interdicto, e os faclos
acima notados.
- « Sem ctiefe supremo, que os contivesse, cada um
dos Prelados, dos Cortezaos, e dos Baroes das Pru\ incias
era levado naturalmente a jiretender para ki a summa pre-
ponderancia, e a lan<;ar mao dos variados elementos de
desordem .... Suscitaram-se rivalidades entre os mais
notaveisricos-homens.ii — Hist. cit. dePort. torn. 2, pag.
272.
IS8
scvpra administrai-iio seguira-se outra niais
hiaiida e coiiciliadora. As nuvoiis temerosas,
(|ue tinham ate alii assumhrado o horizoule,
liaviani-se dissipado; c a tempesladc, parocora
Micceder a bonanra ' . 0 hispo de Coiml)ra, (lue
lia pouco viranios avcxado, c pcrscf^uido coiiio
advorsario do AITonso II, c sens ininistros, iro-
cando odios antigos polo favor da corto, o
adhosao aos sonlinieiitos do roi ; de iiiinilgo
qui" lura, liiilia ontiado ua sua |)iivaiii;a o
\alimciilo: os oiilros prolados o liaroos, era
mais alagadns, esiiuociaiu sous agiislauionlos ;
0 a guorra coiilra os moiros prnscguia dila-
tando mais os all'ozes do roino. Esta siluariio
oiiti'otanto iiao dcvia infoliznieute olTorooor
longa durarao: as nuvons om lirove loldarani
0 liorizanto. a tonipcstado roiii[iini; a anihioao
0 OS capriclios proprios da barlnuidado d'aquol-
la era, invidaram o rosto. 0 socego e a [kiz, ipio
])aroc(;ra caractoiisar o principio do roinado de
Sancho, loi sul)stituido por uma desciilVoada
soltura, e omnimoda licciifa. A guerra civil,
OS roubos, c as moites esteiidiam-se por loda
a parte; a justica nao se adminisirava! I)c-
balde os queixosos representavam ao rei,
pcdindo remedio a sous aggravos: em vao se
rociainava dos ministros sorcorro coiilra a
prepotoncia e soberba dos validos, para ata-
Ihar a taiUos males ; lodes vollavam som
(lererimcnto, e cada qua! se prooatava oomo
podia em meio de tamanba desordem, se
linba por ventura de fazer Jornada, ou de
alravcssar algumas terras, ou proviiu'ias do
rcino'. Foi o que accontoceu a varias pes-
soas, cuja posicao os devera affianoar de tao
graves accontecimcntos, se o rei ou sous
ministros dol'orisscm as queixas, c represon-
tacocs que muilos llies faziam scm iiuo, se Ibes
desse remedio algum • : c assim foi progrc-
dindo cste estado quasi por iii annos.
' Em toda esta noticia seguirenios com confianc^a a
Hi>loria do A. cil., se^nros cum os dociinientos em ijue
se fliuda, e supposii;oes que faz, nao devendo desprczar
.supposii;.Ho de sugeito. em qiicm reconht^cemos saber e
Kravidade.
-' Assim 0 acliainos consignado na cit. mqniri^ao (G.
I'i. R. 2- M. 2. n.° 431 — quod erat lai;s turliatio el
giiera iti regno (piod interflcirliantor clerici et laici ahltates
et alii religiosi : et [aiici aiit [iiiUi erant aiisi ire tiiliiis
per regniira . . . . et midte treuge fracle (sic.') et niiilti
spoliati bonis siiis, et scit hoc quia per predictum ten/pus
f'liit /irest^iis et absens paiicis vicibus ad civitalem roderici
et ad ilnaium infantissarum et ad franciam et quando
ledibat ad regnum invrnit in deterius. .=-Jura assim o
deao C'iV'lati'nse (Cidade Rodrigo) e com elle sjio miani-
mes o resto das testemuidias toilas coevas, e todas teste-
iniinUasde \ ista. Outras, cspccificaiido niais estes factos,
dizeni (pie entre os rotiltados e presos fiira o dianceller
d'AfTon^o II, ftleslre Vicente, depois bis)io da Ciiiarda,
o deao do Porto, o chantre de Coimbra, Fernao Gomes,
eonego ua mesma Se, Uarcia Fernandes, Templario, e
outros que foram captivos, e que dej.ois se reiuJram com
dinheiro seu, e outros que foram mortos ; o que diirou
))i)r espaijo de 15 a 20 alinos, ciijos tlictos nao refiro por
evitar o latim barbaro, em que se acUa escripto o docu-
mento, em que tudo isto se refere.
^ :<Quia vidit multos conquerentes regi et sinejustitia
recedentes. " (Jura o cliaiitrc de Coimbra, fallaiido du
Sao conformes 'neste depoimento todas as
lestoinunhas da ja oitada inquiricao ' e d'esti;
mosino depoimento pnderomos tirar o oorol-
lario, que Idra todo o roinado de Sambo II
uma continua anarcbia, uma oompleta dcsor-
ganisaoao dos vinculos sooiaes, som que o
roi piidosse, nom sous ministros, atalbar tao
graiide mal, e evitar o porigo (juc de porto os
.inioacava ooni a dosonvoitura que lavrava
por todo 0 reino.
Continua. m. n. de VASCONCELLOS.
CHIMICA LEGAL
Continuado de pag. 122.
Anahise, feila no laboratnrin chimicn da unirer-
sidafle de Coimbra, do eslomago e intcslinos
inandadoK do concelhu de S. Lourcnco de liairro.
As materias suspcitas vinbam coutidas om
([uatro frascos. 'Num dos frascos vinba uma
poroao de aloool, irniao do que se tiiiba cm-
pregado na oonservaoao do ostomago, intes-
tinos" dolgados, e intostiuos grosses, que se
achavam soparados nos outros frascos.
Tomamos uma porcao do estomago, dos
intestinos dolgados, c dos intestines grosses, e
procedonios a destruicao da materia organica
d'estos orgaos soparadaniente cm trcz capsulas
do porcclana, omprogando o acido sulfurico e
e acido azutico, segundo o precesso de Vlondin
e Danger.
Outra porcao dos nicsmos orgaos foi fervida
em agua dislillai'a jior mais d'unia bora, e
tambom separadamente em trcz capsulas de
porcfilana.
Estos trez liquidos, depois de filtrados e
OS trez prinioiros quo resultaram das trez car-
boiiisacoos com o acide sulfurico e acido azotico,
foram sujoiles ao apparelbo de Marsb, cada
um per sua vez. 0 ajiparolbo fnncoienou com
toda a rogularidado. fazondo-se-liie \ariar as
dimensOos da cbama, e it pozar de so ropoiir
por nuiitas vezescstc trabalbo, nunca apparo-
ceu no tube do apparelbo nom na porcelana
0 mcnor signal de annel ou niancbas.
llocoando que alguma porcao de arsenico
cm poqiienissima quautidade se podosse tor
perdido durante a carbonisafiio ao ar livre,
ropetimos o mesme procosse de carbonisacao
'num vaso fecbado; mas rounimos uma porcao
de estomago, intestines dolgados, o intestinos
grosses 'numa so rotorta, om logar de os car-
bonisarmos om scparado. 0 cello da retorta
mergulbava em agua distillada, e esta agua
desmantelamento em que se achava o reino 'neste tempo)
" ma.vime a qiiindecim annis citra » como jura o mestre
escula. Ibid.
' Et hoc duravit in regno ut credit per XX annos
usque ad tcmpus, quo incepit regnare iste rex, qui nunc
est — (D. AITonso III) Id. ibid.
189
sciviu (li'pois para fcrver o carvao, c durante
esta fervura aiiida o collo da retorta mcrgu-
lliava 'iioiitra pnrrao da apua, ([ue se junctou
dcpois ii prinieira, antes dc so lillrar. Este
ultimo liquido giiardou-sR com a dcsignarao a.
Oporando taraliem cm retorta, e scgiiindo
as mesmas cautcllas do processo antccedcnle,
carbonisou-sc oiitra porcao dos mesnios orgaos
icunidos, cmprcgando primeiro, de potassa
caustica, a ccntesima parte, cm peso, da
suhstancia organica; c, dcpois de (|uasi eva-
porada a ngua cm (|iic sc dissolvcii a potassa,
cmprcgando i'i ])or cento de acido siilfiirico,
continuando a accao do fogo ale a coniplcta
carbonisacao, e lervendo este carvao cm agiia
distiliada, que dcpois de liltrada se guardou
com a designaciio b.
Os dois liqiiidos o e b I'orani lancados, cada
um por sua vcz, no apparelbo de Marsli, e
rcpetiu-se por muitas vczcs o tnibalho d'cste
apparelbo, sem (|iie apparecesscm os anneis ou
manciias no tulio ou na porcciana. Apcnas o
liquido b deu, 'nuni bocado de porcelana,
duas pe(|uenas sombras dc cor parda c sem
brilbo, que Ibram postas de parte.
Com 0 lim de obtermos maior nunicro d'cslas
sombras, repetinios o mesmo processo que
tinha dado o liquido ft; e, fazendo de novo
trabalhar o mesmo apparelbo de Marsh, appa-
reccram ainda, 'noutro bocado de porcciana,
mais duas sombras, niuito menos carregadas
e mais pequenas, mas com o mesmo aspecto
das primeiras.
Estcls qualro sombras sujeitas aos rcagen-
tes dcram o segiiinte :
lima dissolvcu-sc com promptidao no acido
azolico a trio, c outra desappareccu com os
vapores do cbloro dcntro cm dois minutes;
outra, exposta a cbamnia do bydrogcnio, so
desappareccu cm parte; e a quarta, Iractada
tanibcm pelo acido azotico a I'rio, uao se dis-
solveu, conservou-se insoluvel ainda depois
de aijuecido o acido, e depois de lavada com
agua distilada c tratada pelo acido cblorhy-
drico, jjrinieiro a trio, c depois a quente, ainda
se conservou insoluvel; mas, acbando-se ja pe-
qucnissima pclas parccllas que estes liquidos
Ibe tinliam feito destacar, nao era ja suscej)!!-
vcl de sujeitar-se a novos reagcntes.
A leve suspeita de que 'nestas sombras
liouvesse alguma iiarcclhi de arscnico, levou-
lios a tcntar outro processo. muito rcconimcn-
dado por Malaguti, c que iios parcccu rasoa-
\el, para sc lirar partido da lacilidadc com que
0 arsenico na presenca do cbloro passa ao
<!slado dc chlorureto, e da grande volatilidadc
d'este clilorurclo dc arsenico. Lancanios 'numa
retorta com o collo mergulhado cm agua distil-
iada, uma porcao do estomago, dos inteslinos
delgados, c dos intestines grosses, com outro
tanto em pezo de agua rcgia nascente. Com
o auxilio da larapada de alcool, desapparecc-
ram no liquido todas as substancias organicas^
ii exccpcao da gordura, que, depois dc coagu-
lada pelo arrefecimcnto, foi fervida com a agua
em que niergulliava o collo da retorta, c esta
fervura tambeni se I'cz cm retorta com o collo
mergulbado 'noutra porcao de agua. Estas
aguas, depois de torem lavado a retorta, o
depois de liltradas, reuniram-se a agua rcgia
que linba destruido as materias organicas.
Esta mistura dividiu-se em duas])arlcs. I'ma
d'ellas poz-se de lado com a dcsignacao c ; c a
outra ])arlc sujcitou-sc a distillacao 'numa re-
torta communicada com um recipientc consiaii-
temeute rcl'rigerado, e scguidamcnte com uni
Irasco contendo uma pc([ucna camada d'agua,
cm que niergulhava o tubo de conimiiuicacao,
e da tubulura do qual sabia um tubo dc \\ cllcr
com agua na sua curvatura. Applicado o logo
a retorta por muito tcm[)o, ale se rcduzir
0 sen liquido a vigesima parte pouco mais
ou nicnos, demos por concluida a distillacao,
e rcunimos com a dcsignacao d o liquido distil-
iado no rccipiente, a agua do Irasco e a do
tubo de Welter.
Este li(iuido d, sujeito a uma corrcnte do
acido sulpbydrico, que deveria moslrar o arse-
nico se 0 houvesse, no ostado de sulfureto,
nao deu, passados trez dias, o menor signal
d'este veneno.
Ainda com o (im de procurarnios o arsenico,
escolbcmo;. de todos os liquidos guardados os
mais apropriados aos differenles reagentes; c
tendo emprcgado o azotato dc prata, o azotato
de prata ammoniaeal, o azotato de chumbo,
0 sulphato de cobre, o sulphate de cobrc am-
moniaeal, a agua de cal, o acido sulpbydrico
e 0 sulpbydrato ammoniaco, nao dcscobrimos
0 menor indicio d'este veneno.
Ainda rccorremos a accao d'unia pillia du
corrcnte continua, a pilha de Daniel, com duas
placas de plalina nos dois polos, mcrgulliadas
no liquido c, e ainda assini nao appareccu lui
platina o mais leve signal de arscnico.
Todos estes processes, tendo dado resulla-
dos oppostos as suspeitas da existencia do
arsenico; suspeitas nascidas da solubilidado
d'uma das mancbas ou sombras no acido
azotico a frio, e da volatilidadc d'oulra maiKha
com os vapores do cbloro; e, estando ainda
contra estas suspeitas a insolubilidade d'outra
mancha no mesmo acido azolico a frio e a
quente, e a impcrfcita volatilidadc d'outra
mancba pcia chamma do hydrugcnio, fazendo
assim Icmbrar os caractcres das mancbas (i(>
zinco ou das que as vezcs produz a materia
organica dentro do apparelbo, pozemos de
lado as suspeitas do cnvenonanicnto pelo ar-
scnico, e iraUinios de procurar outros venenns
com 0 mesmo resultado. Com estas vistas cni-
pregiimos, para odcscohrimenlo dos compostos
deantimonio, apotassa, oammoniaco, a agua
de cal, 0 chlorureto de platina, o acido sul-
pbydrico e 0 sulpbydrato ammoniaco.
Para os compostos de chumbo empregamos
190
a polassa, 0 iodurclo dc potassio, o acido sul-
|)liydrico c 0 sul|iliydiato ammoniaco. Para
lis compostos dc cobrc eiiiprcganios o arseiiico,
a potassa, o acido siilplijdrico, o siilpliydrato
aniiiioiiiaco, o cyaiiurelo amarello dc polassa
c I'ei'i'O, e 0 arseniato dc potassa, uma lamina
dc lerro, e uina agullia siispeiisa num cahcio,
segiindo a lecomiiicndacao dc Boiitigny.
Para os composlos dc nicrcurio emprcgamos
a potassa, o iodurclo dc potassio, cyamireto
amarello dc polassa c dc fcrro (I'crro cjaiiurelo
potassico), carboiiato potassico, carbonato am-
uioiiiaro, ammoniaco, acido sulpliydrico, sul-
|iliydrato ammoniaco e azotato de prata. Em-
prcgamos as laminas de cobrc e de zinco, e
lizemos acinar sobrc o liquido uma pilha de
Smilluon, composla de euro e cobrc segiindo
a rccommcndacao dc Briand, e outra composla
dc ouro c ziuco, aconselhada pcio sr. Candido
Albino.
Tivemos niais uma prova de que nao existia
na materia suspeita nenhum dos vencnos mcia-
licDs; rccordando-nos deque 0 li(|nidof, qnan-
do sujeilo a accao da pillui de Daniel com as
vistas no descobrinicnlo do arscnico, nao tinlia
mostrado ncnbnm dos metacs rcduzidos na
supcrlicie da platina; c aleni d'isso, sujcilando
0 nicsmo liquido a uma correnlc dc acido
sulpliydrico, como se linlia feito ao liquido
d. tamlicm nao appareceu nenlium metal no
estado dc sulpliurclo, como leria accontccido
se bouvosse na materia suspeita algum vcneno
mctalico.
'Di' lodos estes |)rocessos concluimos, (pie
no estomago e intestinos analysados, n;io bavia
arscnico, nein algum outro vcneno da classe
dos vencnos mctalicos.
Por esta conclusao julgiimos desnecessaria
a analyse do alcool cmpregado ua conserva-
ciio d'aquellas visceras.
Colmbra, 4 d'abril de 1855.
Continua.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA.
EslatliNlica dos eKtndaniCN niatririaladoV nat* cineo Faruldadcs,
e no cui-NO artmiiiiNli-ativo <Ia I'laivorKidailc dc Coimbra,
no anno Icrlivo <3o 1 H55 — B S5S.
Annos.
Theulugia.
Direilo.
Medicina.
Mathema-
tica.
Philosophia.
Ciirso Admi-
ni.strativo.
Total por
annos.
1.°
IG
90
11
!i5
54
0
231
2.°
37
102
2
27
27
3
198
■6."
14
92
7
5
18
))
130
4.°
13
91
14
4
26
»
150
0."
6
51
8
2
12
))
79
6.°
1
3
2
2
2
»
10
Tolaes
89
429
44
95
139
8
804
K^ladiNlira dOM OKanics preparatorio^i foitos no niox fic oiilubro do correnle
anno pciantc o jniry >iniv<'i'N>lario |>ai'a a luatricula
■laM Facultlndes acaflciuit-aN.
Disciplinas.
Apprt
Nem. disc.
vados [
Simpliciter. j
Totaes.
Latinidadc
drego
60
7
5
72
3
44
50
36
31
6
17
1
»
H
23
G
11
34
2
CO
))
IJ
38
14
3
7
23
»
137
7
6
110
5
81
39
54
88
8
llebraico
Franccz
ln""lez
Pbilosophia racional e moral, etc
Oratoria poetica e litteralura
Hisloria, chronologia e geographia
Airilbmetica, gcomctria, etc
Inlroduccao a hisloria natural
Totaes
316
94
143
553
191
NOTICIAS LITTERURIftS E SCIENTIFICAS.
Imprenwa pei'io<lirn cm Allctnanlia.
Em 1854 0 numcro das iniblicacocs poriodicas em
Allcmanha era de 2:025, das quaes 403 jornaes
[joliticiis, e 1:622 scientilicos, litlerarios e arlisli-
cos. 'Naquella lutalidade comprchendiam-sc 208
joniacs p(dilicos c 478 nao pi)liticiis. piil)licadiis
n'Allemaiiha mcriditinal (Austria, Ba\iera, Wur-
temberg e Bade) ; c n'AUemanlia do uorto (Prussia,
Hanuvcr, Brunswich etc.) lliO piiliticos, c 695
sohrc oulrus assumptos.
A Saxonia e outros cstados do CfiRlrp (liAI-
lemanha contavam na mcsma cpocha 65 publica-
coes polilicas, e 449 iitlerarias, scienlificas ou
artisticas.
'Ncsto mesmo anno cxistiam cm toda a Al-
lcmanha pcrto de duas mil livrarias, entrando
'neste numero 400 eslabclecimentos de musicas c
gravuras : 1:679 typiif;raphias com 3:405 prelos
ordinarios e 971 movidos per vapor: 1:119 csta-
bck'cimenlos de liLhographia com 3:119 prelos
lilhographicos.
O termo medio das obras, que sc publicam
annualmente, exccde a dez mil. A fabricaeao do
Iiapel tern tido tambcm um cxtraordiuario incre-
mcnlo cm Zcdiverein. Em 1832 ainda se impor-
tavam 12:000 quintaes, c pelo contrario cm 1852
cxporlaram-se mais de 40:000.
CaiiNa <Ia pernianonria do nivol iIom
niarfste Nua innueiiciasoS>rc o fului-o
do s;lobo.
M Jobard, csludando a causa d'cste phcnomeno
e a sua inDucncia sobre o futuro do globo, apresen-
la as scguiutcs consideraroes:
« Laneando area ou oulro corpo solido 'num
vaso cheio d'agua, o liquido cleva-se ate trans-
bordar. E todavia — cousa singular — o mar, para
onde lantos rios accarrclam conlinuamente muitos
milhues de metros cubicos dc areas, calhaos, e
terras, nao transborda nunca do scu leito. Uiz-se,
e verdade, que as aguas a superficie dos mares
se estao continuamcntetrausformando em vapores,
OS quaes condensando-se vem a cair sobre os con-
tineutcs em chuvas ou lorrcutes, que cngrossando
OS rios voltam ao reservatorio commum d'onde
sahiram; mas e sem duvida ncccssario, para que
as aguas do mar nao transbordem, que se perca
uma porr,"io cgualaoesparooccupado pelas materias
solidas, que as arterias lluviacs arrojam ao mar,
dcsdc que existcm essas corrcntes, alias o nivcl
dos mares sc clevaria constantemente c acabaria
por submcrgir os continentes. Aquella hypothese,
portanlo, de que o mar perde por um ladu, oquc
pcio outro ganha, c tao insuniciente para explicar
0 phenomeno da permancucia do nivcl dos mares,
que ate se tem prelcndido, que as madrepuras e
divcrsas conchas concorriam para a climinarao da
agua diis mares, como sea parte liquida, quecllas
podiam alojar no scu organismo, nao oceupasse
quasi tauto logar d'uma. como d'outra forma.
« 0 continuo augmento dos gclos polares parcce
antes ser a vcrdadeira causa da Iciita desnivela-
cao dos marcs; porque uma parte dos vapores,
que se levantam da terra, e transportada pelos
ventos para as regioes frias, ondc se dcpositam
em gclos elernos, que so nas epocas diluvianas
entram em circulacao, destruindo entao a hydro-
graphia do globo, e submcrgindo os scus habi-
tantes.
« Os calores do estio podem dcrretcr os frocos
dos clevados crucheus dos gclos polares, mas csta
acciio e lao poucu jiodcrosa, que esses mesmos gclos
vao sempre ganliando lerreno, como observou
Dumont d'Urvillc, que du\ida\a que os primciros
navcgantcs tivessem podido aproximar-sc tanto
dos pidos, como indica o scu itincrario, pois que
OS in(]ntes de gelo tem avancado hoje para o
cquador mais de duzcntas leguas.
" A incessante accumulacao das neves nas re-
gioes polares vira a prceneher iis achatamcntos do
globo, rcstiluindo-lhc a sua forma geomelrica, v
muilando as rclaeoes de gravidadc, c por conse-
qiicncia o scu piano dc rotacao. Nao e por tanto
I'ura dc proposito ]irever, que o cquador Icnla ou
subitamentc tomar.i o logar dc mcridiano ; e que
o sol derrelcra os gclos eternos dos polos, tornando
cultivavcis aquellcs vastos tractos de terra.
Este futuro calaclysmo nao seria de cerlo o
primeiro, pois que o Iransportc das rochas cr-
raticas, as frequentes mudaneas nos Icitos dos
mares, e a ausencia dc fosseis humanos nas nos-
sas latitudes, sao notaveis indicios da existencia
de taes phenomenos em epocas anteriores.u
PUBLICAQOES LITTERARIAS.
ILLUSTRAgAo
Luso-Braxileira.
Jornal universal, collaborado por muitos littera-
tos distinctos, e publicado pelo editor do Pano-
rama, A. J. F. Lopes.
O piano da Illustraciio Luso-Brazileira e egual
ao das publicacoes similhantcs, que actualmente
saem na Europa, guardadas as dcvidas proporcoes.
A lllustraQUO Luso-Urazilcira sahira todos os
sabl^ados. Cada numero contera 8 pagiuas ou 24
columnas cm formato egual ao das outras similhan-
tcs Illustracoes, c sera ornado dc grandc numcro
de gravuras exccutadas sob a direccao do nosso
exccllente gravador o sr. Jose Maria Baplista
Coelho.
Tomam-seassignaturas por trimestrcs, scmcstres
c annos :
Precos cm Lisboa .
( Anno 3^600
, ■' Scmestre. . 1^920
(_Trimcstrc . 1^000
IVas Provincias
(Recebcudo os n.°* em casa f Anno .... 3|^800
dos srs. corrcspondentes) (_Semestre. . 2^^000
(Recebcudo /'raHfo pelo cor- | Anno .... 4|,00()
rcUTj IScmestre. . 2^100
Todas as assignaturas sao pagas adiantadas.
Todas as pcssoas das provincias, que desejarcm
subscrcver paracstc semanario, podcrao dirigir-sc
aos corrcspondentes do Panorama, ou ao editor
cm Lisboa, remettcndo pelo seguro do corrcio
uma ordcm da importancia da assignalura.
Em consequencia dos prcparativos a que tcmos
de procedcr para assegurar a rcgularidadc d'uma
publicacao tao imporlantc, o primeiro numcro
sahira no primeiro sabbado do mcz dc Janeiro
I proximo.
192
OBSERVACOES XIIiTEOllOI.OGICAS, FEU AS NO GABI.NETE DE PllVSICA
DA UMVEKSIDADE VE COIMBUA.
Anno lie
18S5
.M^» lie
On,
3
4
5
S
7
8
9
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11
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15 5
15
15,5
15,5
14,5
14
15
Pfe:>»ilu ntmo.iiilierica ao iiifiu dia
Altutn baio*
raetiica a o'
.14 cicala cca-
tigrada.
U,°78
7<8,744
741,144
738,3^3
739,135
747, 7iU
75li,.'>9l
759,886
759,003
759,509
757, aCB
757,551
755,778
757,613!
756,944
754,765
755,141
756,9(6
755,534
753,lili
7.i!i,544
75i,U39
753,304
75i,3i4
750.2o3
745,85'i
7 49,3«i
750,141
745,1174
744,94+
741,3'Jj
749,504
Millimeli
Pressrio tlu
ar atjcco
Esldtlii hy^riiiiM-lrii-i. (Im
aln)u>[>lii-rH iiu mt-iuilia
751,603°
Tfmjieratura
M;i\. altsul. . 16"
Mill. iiLsul. . 13"
Mux. var. . . 3°
9,'2;0
9,778
9,407
9,!:88
8,371
7,9i5
8,595
8,li93
8,455
8,762
9,178
9,441
9,397
9,834
9,834
8,731
8,693
9,905
9,524
9,397
9,143
9,010
9,016
9,524
9,524
10,2i;7
10,423
10 558
9,778
8,381
8,127
739,474
731,366
729,576.
729 847
739,349
7+8,666
751,291
750,310
751,054
749.104
748,373
746,337
748,215
747,110
744,931
746,410
748, iU3
745,629
744,288
743,117
742.896
744,21)8
743,528
740,739
73(i,332
739,095
739,718
734,516
735,106
733,014
741,317
Grau d'bumi-
iladt do .,r,
rc)imenlandQ
por 1 ,1 eJla-
do de satura-
fjii,
Pressuo aimospherira
mm
•Max. ahsol. 759,88';
Minima absol. 738,983
Max. excurs. 20,903
0,73
0,77
0,79
0,78
0.7,j
0,71
0,77
0,73
0,71
0 69
0^70
0,72
0,74
0,75
0,75
0,71
0,73
0,78
0,75
0,74
0,72
0,71
0,71
0,75
0,75
0,76
0,77
0.711
0,77
0 66
0,64
QuanliJ. de
*apor coiilido
cm um mclru
iiibicu d'ar
0,73
9, .•'34
9,845
9,305
9,384
8,487
8,035
8.714
8.783
8.513
8,822
9,226
9,490
9,462
9,885
9,885
8,1107
8,783
9,973
9.590
9,-162
9,206
9,078
9 078
9 590
9 590
10,32'S
10,458
10,594
9,845
8,439
8,183
(iraii d'humiiiade do or
Maximo .... 0,79
.Miniiuo .... 0,64
ftlaxima variai;. 0,15
N.
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N.
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S.
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S.
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N.
N.
i'Hiado do ri^u r ilo
U'liijio no meio din.
Kncnkiertu. B. teni|io.
Nulilado. Bum leni|)u.
Knriilierto. T. clitivost,
Niilitailii. B'l.n lempu.
b^nculiiTi. Bum lempo.
Claruelimjio B. U-mfi.
Nnlij.ulj, Bum t^mpo.
Li<c. mililad. B. lf>ni|i.
Cl.ir. e limp. B. Irmp.
O mesmo. O mpsnio.
Encnbert. Bum temp.
Nilbl.idu. Buralempii.
O niesmn. O mesmo.
Encnbert. Bora tempo.
O mesmu. O me.<mo.
^fublHdlt. Bum lempo.
O nie#mu. O me»mo.
Ciar. e limp. B. temp.
O mesino. O mesmo.
Nnhladn. Bom lempo.
O mesmo. O nieiimo.
Q mesmo. O mesmo.
O me.<mo. O mesmo.
Knrnbrrlo T. veiitono.
Encobeilo T.ehinoso.
O mesmo. O meginii.
O mesmu. O mesmo.
O mesniu. O mesmo.
Noblado, B.'in lempo
Niiblad. T. rhiiviocos.
Nnlilado. B im lempo.
I'cntoa domhtnnt,
NO eS.
Coimbra, I.° de Junho de 1835.
Antonio Sanches Gouliio, Director do Gabinele de Physica.
® JuiStitttta^
JORISAL SCIENTIFICO E LITTERAIUO.
EXPEDIENTE.
Assigna-se este Jornal em Coimbra no Ga-
binete do Insliluto; em Lisboa na livraiia do
sr. Cobellos, rua Augusta n.° 2; po Porto na
do sr. Jacintho A. Pinto da Silva, rua das
Hortas n." 144; em Evora na do sr. V. J. da
Gama, collegio de S. Paulo; no Pezo da Re-
gua na do sr. M. Mendes Osorio.
Toda a correspondencia franca de parte sera
dirigida — A' Bedacrao do InsiitiUo. Coimbra.
Preco, adiantado, por anno, ou 24
numeros, francos de parte 1^440
Por semeslre, ou 12 numeros, dictos 800
Avulso 100
Para os srs. Assignantes os numeros,
que Ihes faltarem d'este 4.° volume se-
rao pelo mesmo prej o d'assignalura an-
nual, ou cada um GO
Os exemplares que restam dos volu-
mes I, II elll d'este Jornal vendem-se,
cada um, por l^iOO
mmm superior de nsiRuctto piblica.
RELATORIO ANNUAL.
1850—1831.
Senhora ! Entrc os importantes deveres,
que ao cousclho superior d'instruccao piibli-
ca impoe o seu regulaniento, esta o de levar
a soberana picsenca de V. M. a conta an-
nual do estado de toda a instrurcao piiblica
do paiz; e e o que o mesmo conscllio agora
lem a honra de fazer, em relacao ao anno
escholar findo. A conta nao sera per ventura
tao miuda e inteira, quanto o conselbo deseja,
e qual a pede materia tao complicada ; nao
sera mesmo tao agradavel, quanto V. M. com
a Nacao poderia esperar; sera porem dada
com aquella verdade singela, que muito rele-
va chegue sempre aos ouvidos da Magestade.
Nao se tendo ale aqui podido superar a diffi-
culdade de (ollier a tempo os precisos escla-
reciraentos estatisticos, fallecem os doeumen-
tos para um relatorio copioso; e nao pode
levantar edilicio sem fundamento. Por outra
Vol. IY. Dezembbo 1.°
parte, nao foge a sublime considcracao de V.
M., que e, nem pode dcixar de ser, sempre
lenta a marclia das relbrmas litterarias, ainda
quando Ihes nao embarguem o passo as vicis-
situdes do tempo. Mas, quando os ventos c
as tempestades abalam a planta, certo que
nao pode o cuidado do jardineiro evitar quo
ella padeca ; maiorniente escaceando os nieios
de conserval-a. Assim, para que esta formosa
arvore da instruccao ostente seu donaire,
para que floreca e fructifique, nao bastam a
sollicitude e sabedoria de quem ordena a sua
cultura, nem o afao e disvello dos que a diri-
gem e administrara. Por isso e que aos esfor-
cos do conselbo nao tern plenamenle respon-
dido 0 cfieito; e, no estado actual, a instruc-
cao, com quanto se nao ache descahida ou
degenerada, antes, aos olhos dos que a sa-
bem apreciar, offerece uma face menos desa-
gradavel do que era de recear ; soffre com-
tudo ainda algumas necessidades, que por
ora nao podem remediar-se completamente.
E 0 que ha-de ver-se por este relatorio; o
qual, tomando pela rota e piano, por V. M.
sabiaraeute desenhado, na portaria circular
do I." de outubro de 18S0, constara de cinco
pontes capilaes. Dar-lhc-ha entrada uma
succinta noticia dos trabalhos da direccaa e
inspeccao, I.' parte: scguira depois o que
respeita a instrnccdo primaria, i.' parte:
d'ahi percorrer;; o quadro da instruccao se-
cundaria, 'i.' parte: entao vira em seguida
ao que pertenee a instruccao especial, k.'
parte: subirao d'alli a instritccdo superior, S."
parte: o remate dara em substancia os resul-
tadas.
PRIMEIRA PARTE.
Direccao e inspeccao.
Encarregado da direccao geral da educa-
cao e instruccao piiblica, o conselho, conti-
nuando com o seu zelo (permitta-lhe V. M.
que 0 diga), com o zelo e desvelo pelo tempo
ja provados, proseguindo por todo o anno
escholar de 1850 — 1851 sens arduos traba-
lhos sobre os meios de propagar os estudos,
e promover seu progresso e aperfeicoamento.
Apezar de nao ser, para a multidao e gravi-
dade dos negocios, sobejo o numero de oito
vogaes ordinaries, de que a lei compoz o
—1853. Num. 17.
194
conselho: apezar de se nao ter ainda substi-
tuido a falta, que elfe ainda hojc diora, d'um
vogal, que no aniio anterior passara a mclhor
vida; apezar' de que, jior alf^uns niezes, ([ue
outro vogal passou no parlamento, o nuniero
flcasse reduzido a seis: o conseliio todavia
se esforrou ])or euniprir, a todo seu poder.
sua elevada missao; seni (|ue pareea tercm
sens liomi)ros fraqiieado sol) tao pesado sor\ j-
co. Al)nndantcmenlc o testilieam as copias
das actas, que em lodos os niezes sac levadas
a augusta presenea de V. M.
Entre os innumcraveis lral)aliios da direcrao
geral no anno lindo avullaiu os que se vao
a referir. Approvados por V. M. esles reguia-
mcnlos — 1." sobre a administraeao littera-
ria, moral e diseiplinar das escbolas d'instruc-
cao priniaria: — 2." para o provimento das
cadeiras do niesmo ranio no primeiro e se-
gundo grau: — '.l." para o provimento das
cadeiras d'instruccao secundaria (decrctados
em 20 e 30 de dezembro de 1850, e 10 de
Janeiro ultimo), o conselho fez transmiltir
estes regulamentos, e outras ordeus supe-
riores aos sens delegados, dando-lhes as
instruccocs que mais convenientes parcceram
para a sua facil execucao. Novas medidas
regulamentares foram 'neste anno pelo Con-
seliio submettidas ii approvacao real; como —
um projecto de regulaniento para a admissao
d'alumnos internos no lyceu nacional de Bra-
ga, na forma do art. 09 do decreto de 17
de uovembro de 1830; por haver parecido
ao conselho d'aqtielle lyceu, que tal medida
poderia ser parte pant ievantar, sem gravame
do thosouro, a instruccao elementar do aba-
timento, em que se suppunha 'naquelle distri-
cto. Assim procurou o conselho superior nao
perdcr esta primeira occasiao d'ensaio da
disposiciio do citado artigo; que grande van-
tagem podera trazer, se por est'arte se conse-
guir que a mocidade receba, simultaneamen-
te com 0 ensino litterario, a educacao moral,
que 0 deve sempre acompanhar. — Outro pro-
jecto de regulamento para a aula de tachi-
graphia, anne\a a seccao occidental do lyceu
nacional de Lisboa, regulamento em que se
propoe 0 modo de ser provida a cadeira, de
geito que com o proveito do ensino se com-
padeca a cconomia do thesouro. Fez egual-
niente o conselho colligir, coordenar e impri-
mir toda a legislacao sobre a instruccao pii-
blica, primaria, secundaria e superior, desde
a reforma de 1830, ate 10 de Janeiro do cor-
renle anno. Porque, havendo reeonhecido a
uecessidade de promover a publicidade da
mesma legislacao, entendeu o conselho que,
unindo-a em um so corpo, se havia de faci-
litar mais o conhecimento d'ella, a lim de
poder ser devidaraente executada pelos respe-
ctivos erapregados. E como para o uso de
cada um dos professores, e oulros funcciona-
rios dos divcrsos ramos d'instruccao piiblica,
nao era mister a colIccfSo inteira ; houve o
cuidado de fazer imprimir scparadaniente, ou
sobre si, cada um dos diversos artigos que a
conipoe; de modo ijue para os dill'erentcs
dcstinos possam desmerabrar-se os artigos que
Ihcs foreni applicaveis.
0 cuidado que ha sempre tido o conselho,
em promover a composicao e introduccao de
livros elcmentares, tambem o occupou no
anno lectivo lindo; revendo e approvando os
que julgou mais dignos de adoptar-se para o
uso escholar, rejeitando com tiido os defei-
tuosos. Para com alguns, poreni, enibora
'nelles topasse com alguns descuidos ou raan-
clias, a que nem sempre eseapa a condicao
hiimana. sobre pensado nao ousou o conse-
lho de rigorosa censura; imitando assini o
que se o observa em outras nacoes. liilendeu
que unia critica niniianiente severa, matando
0 cspirito, e comprimindo sentimenlos no-
bres, sufl'oca muitas vezes, a nascenca, ger-
mes, que deixados desinvolver, poderiam um
dia vir a dar bom I'ructo. Intendeu que rele-
va muito favorecer os enganos, para que se
multipliquem os escriptos, e d'est'arte se fran-
quea 0 logar a escolha. Numerosa (i ja a lista
d'esses livros elemcntares, ([ue o conselho ha
mandado publicar annualmente; lendo uns
sido espontaneamente offerecidos, outros cn-
carregados aos vogaes extraordiuarios. Os
nomes de sens auctores tern sido honrosa-
mente raemorados nos relatorios anteriores:
'neste anno foram revistos e approvados para
entrar no catalogo dos livros elcmentares em
instruccao primaria — Novo Abcedurio e Nova
Taboada para ii.fo das esclwlas, por J. S. Ban-
deira: — Compeirdio de Aritlinielica por Joa-
quim Maria Baptista : — Tractado dos princi-
pios d'Arillimettca serjundo o melhodo de Pesta-
lozzi, por M. Tate, traduzido por*««: —
Compeiidio de moral para uso das escholas
primarias, por M. A. F. Tavares: — Uudi-
menlos de leitura portiiijueza, por M. J. Pires:
— Na instruccao secundaria: — Elemenlos de
moral e princijnos de Direilo Natural, por
B. J. da Silva Carneiro: — Cnrso (jrammuli-
cal das liiir/uas latinn e porltifjueza, por Joao
Teixeira de Vasconcellos: — na instruccao
superior, — Liroes de I'hilosophia Chimica,
por Joaquim Auguslo SimOes de Garvalho: —
Taboas da Lua, por Florencio Mago Barreto
Feio. Alem d'estas, outras obras ha, de cuja
revisao se occupa o conselho. Publicados fo-
ram tambem ja os programnias, approvados
por Y. M. , para conipendios sobre arjricul-
lura, mechanica, phijsica c chimica com appli-
cacao iis artes; propondo-se premios a qucni
OS fizer com a devida elegancia e perspicaci-
dade. Alguns vogaes extraordinarios, que ain-
da nao satisfizeram a composicao dos livros,
que Ihes fora encarregada, tt^m declarado nas
conferencias parciaes, que proseguem com a
necessaria reflexao e madureza em suas traba-
195
Ihosas lucubrafoes. Estcs vogaes, que actual-
racnle sao vinte e quatro, e dos quaes se acham
ausentessete, como pertencentes aocorpouni-
vcrsitario, e por isso mcsmo sujeilos ao ser-
vico de suas respectivas Faculdades, iiem scm-
pre podom cmprcgar no servifo do conselho
aquella assiduidade c zelo, ([ue o seu genio
ou 0 sou propiio interesse Ihes podcni inspi-
rar, como em outros relatorios se levou ja ao
alio conhecimenlo de V. M. (Mappi n.° 1).
Pelo que respeila a inspeccao de toda a
administracao das eschnlas e estalielecimentos
d'inslruccao, egualniente se nao ha descui-
dado 0 conselho em dar impulse ao cumpri-
racnto das leis, legulamentos e inslrucfoes por
intervencao de scus delegados, a qui-iu com-
pete a inspeccao especial e ininicdiata das
mesmas escliolas. Por nieio de frequcnles in-
formacOes, havidas dos govcrnadores civis e
dos commissarios dos csUidos, vela constante-
mente o conselho, para que se nao introdu-
zam ahusos ou relavacoes na observancia das
disposifoes legislativas e regulamcntares; e
de feito tern reprimido, quanto em si e, o
desleiM d'alguns professores applicando-lhcs
penas diseiplinarcs; e reprehcndendo os ne-
gligentes, ou propondo a demissao dos mais
indignos: assim como lambem puhlicando os
louvorcs pelos heuemeritos.
Mas para a inspeccao das escholas produ-
zir OS eiVeitos que se dcsejam, forca e dizel-o,
muito nos falta ainda: nao bastam os com-
missarios dos estudos, ainda sendo, como
alguns sao, zelosos da instruccao piiblica ;
nao bastam os governadores civis e os admi-
nistradores dos concelhos. Sobre raodo ne-
cessaria se torna a nomeacao dos suhdelega-
dos, que auxiliem os commissarios; sao in-
dispensaveis as visitas das escholas, e I'eitas
amiudadamentc, e cm fim preciso collocar
todas as escliolas em edilicios piiblicos. Islo
poreni e o que, apezar das lidas e esforcos
do conselho, so nao pode ate agora, nem
f'acilmenle podera, levar ao cabo. Para a
escoiha dos subdelegados, tern o conselho
exigido dos commissarios as informacoes pre-
cisas sobre as pessoas mais idoneas para tao
imporlante servico; mas porquc mui poucos
tern satislcito, aguarda-se o cumprimento de
lodos, para dcpois serem propostos a appro-
vacao de V. M. os mais dignos. Nao e menos
difficil 0 achar casa piiblica para os profes-
sores de instruccao primaria, tendo 'nesta
parte sido muito infructuosos os eslbrcos do
conselho, que nao cessa todavia de invesligar
OS meios de rcmediar tanianha necessidade.
Tamhem, como tica indicado, nao tern sido
possivel ainda conseguir na epocha, prescripta
pela lei, os relatorios parciaes, e mappas
estatisticos, que os commissarios devem re-
metter ao conselho, para servirem de base a
pstatistica geral. Esses mesmos relatorios,
alem de serein tardios, sao sempre incom-
pletes, nao obstante os repetidos avisos do
conselho, c a dcspcito das penas de suspen-
sao, que alguns commis!*;^rios ja tern solrido.
E por isso que do anuo lectivip lindo somenle
ate aqui chegaram a secretaria relatorios
parciaes, e mappas 904: faltaudo os denials.
Uonde forcosamente resulta a impcrl'eicao do
relatorio geral, como nos annos anteriorcs
se levou ao conbecimento de V. M. ; sendo
assim, que nao pode saber-se ao certo, nem
0 numero d'aliimnos, que I'requentam as
escholas, nem o aproveitamento ou atraso
dos mesmos alumnos; nem por conseguinte
comparar bem o estado da instruccao porlu-
gueza com o das outras nacoes cultas. 0 con-
selho porem, qucrendo remediar esta i'alta,
aprcsenta a estatistica do anno anterior, poslo
que ainda iniperfeita pela oramissao dos dele-
gados. Nao seria assim se os delegados imi-
tasscm a sollicitude da secretaria d'este con-
selho, a qual com perl'elta intelligencia, zelo,
e ponctualidade, descmpenha suas funccoes;
achando-se todos os trabalhos da secretaria
em inteira regularidade. Do desempenho das
obrigacoes da secretaria, assim como das fa-
digas do conselho da irrefragavel testemunho
0 numeroso expediente ordinario e extraordi-
nario. D'esde os lins de novembro do anno
passado ate 25 de novembro corrente expe-
diram-se 185 consultas a V. M. sobre varies
objectos, relatives aos trez ramos d'instruc-
cae; como transferenclas de cadeiras, creacao
d'outras, provinientos vitalicios, jubilacoes,
aposentafoes, reprehensoes, exoneracoes de
professores, e louvores dos benemeritos. Per-
tarias e officios 1:405 — editaes para concur-
sos 1:230 — annuncies para o Diario do Go-
verno 85 — provimenlos temporaries 123 —
titulos de auctorisacao para collegies de en-
sino primario, e secundario 2 — certidoes de
capacidade para mestres parliculares 12 — ■
projectos de regulanientos 4.
Contiiiua.
CARTA DO SR. A. HERCULANO.'
Srs. Redactores. Em o n.° 13 do seu apre-
ciavel jornal, que YY. tem tido sempre a
benevolencia de me remetter, acabe de ler
urn artigo de sr. M. R. de Yasconcellos
iicerca da revolucao de 1246, no qual Mello
Freire e eu somos accusados de termos escripto
sobre esse accentecimento dominados pelo es-
pirito de malquerenca contra o clero, impu-
tando eu em especial a este e as intrigas da
corte de Roma a queda do inl'eliz Sanche 11.
Estou tao habituado a accusacoes de sirai-
* l£staTa ju p&ra entrar no prelo ^e oumero, quandu
recebemos esta carta, com que nos honrou o sr. A. Her-
culano, e, para nao demorar a sua pubIica(jJio, reliramoi
outros artigos. que se acharam compostos. Os RU.
196
Ihante Mlurcza, tao resolvido a nao defender
o men pobre livro, que nao hade valer nem
deixar de valer no. future mais ou menos por
cssas aggressoes c dflbsas, raas pelo que tivcr
bom ou man, e em lim aclio-nic reu em tao
honrada com|)anliia, que de certo nao os tcria
inc'ommodado com esla carta, se aquclle artigo
nao fosse de quern e, e se alii nao se cncon-
trasse uma nota, que iniporta a Academia Heal
das Si'lenrias de Lishoa, a qua! parece ligurar
'ncssa nota romo cumplice 'numa espoliarao.
Pelo cargo que occupo na Academia teniio,
mais (|ue ninguom, o dcver dc pugnar pela
dignidade d'ella; e e esse o principal motivo,
por que importune a YV.; mas a])roveilarei
conjunctamente a occasiao de fazer algumas
observacoes ao auctor do artigo, cxceilente
pessoa, por quern tenlio sympathia c estima ;
mas que, novel 'ncstas iidas iiisloricas, corre
apezar da sua edade, com urn ardor dejuvcn-
tude, que pode precipita-lo muitas vezcs, e
que ja 'neste artigo o precipilou. Yamos,
porem, ao principal objecto da minha carta.
'Nessa nota, a que alludo, reforindo-se a
urn documcnto do archivo da se de Coimhra,
0 sr. Vasconcellos diz que este documento com
outros dos scculos XII e XllI foram remet-
tidos por ordem do Governo a Academia das
Seiencias, ficando asxim o cartorio da cathedral
privado da sua propriedade. Independente de
nao poder o cartorio da se de Coimbra, 'nem
ncnhum cartorio d'este mundo ser proprietario
de cousa nenbuma, parece deduzir-se d'csta
singular phrase, que o Governo cnlrogou a
Academia os documentos do seculo XII e XIII
existentes no archivo do cabido de Coimbra.
Podia faze-lo, porquo nao exorbitava do seu
direito. A Academia 6 uma estacao piiblica,
e esses documentos pode o Governo collo-
cal-os onde melhor julgar qne se prove a sua
conservacao, ou onde entender que sao mais
uteis. Entretanto o facto nao e esse. A Acade-
mia pcdiu ao Governo que os raandasse vir a
Lisboa, para se |)uhiicarcm, os que o raereces-
scm, na colieccao dos monumentos historicos
de Portugal, trabalho comprehcndido jjela se-
gunda classe da Academia e subsidiado especi-
almente pelas Cortes. No seu zelo pcia salva-
cao dos restos dos nossos antigos monumen-
tos, desbaratados no meio das luctas poiiticas
d'esta epocha, mas nao menos desbaratados
pela ignorancia ou dcsleixo das corporacoes de
niao niorta, que ate abi os possuiam, ou ainda
possuem, a Academia nao os quiz em seu poder,
e sollicitou que fossem depositados no Archivo
Geral do reino, para abi ser feito o exanie e
escolba d'elles e ahi mesmo sercm transcriptos.
I'tili.sados por tal modo, sera dcpois o Governo
quem resolva sobre o seu ulterior destino; e
esteja o sr. Vasconcellos certo de que a Acade-
mia das Seiencias nao se inquinara na hor-
rorosa espoliacao da propriedade do cartorio
da se de Coirabra. Agora pelo que respeila a
minha opiniao particular, e ella, que esses c
todos OS outros documentos analogos, que per-
lencem ao Estado, se recolbam e guardcm na
Torre do Tombo. Tendo sido eommissario da
Academia, para examinar os archives do norte
do reino, tenciono ])ublicar um dia a noticia
do estado, cm que achei os documentos dos
cabidos, das collegiadas, dos mosleiros, ex-
tinctos e nao cxtinctos, e das camaras. '.Nessa
Iriste narrativa, apparecerao os fundamentos
da minha o])iniao. Os factos relalivos aos
cartorios de (loimbra nao sao dos menos cu-
riosos; e o testemunbo insuspcito de muitos
dos mais res|)cita\eis caractercs da Universi-
dade podcra abonar 'nessa parte a exaccao
da mesma narrativa.
Agora que o sr. Vasconcellos me permilla
dar-Ihe alguns bons conselhos, apezar dos
sens cabellos brancos. Os mens ja vao sendo
gnsalhos, e em tractar materias Iiisloricas sou
um pouco mais vclho do que elle. As obser-
vacoes, quelhe dirijo, sao uma prova da con-
sideracao em que o lenho. Ua aggressores a
quem nao respondo, nem faco reflexnes, nem
dou conselhos. Ganhamos todos 'nisso. Elles
ficam contcntes de si por me havercm fulrai-
nado, e nao falta quem os applauda. 0 ap-
plaudir, scja o que for, e sempre delcitoso ;
dcsopprime o coracao. Eu divirto-me, e poupo
tempo. Tiro assim duas vantagens de guardar
silencio no meio do ruido que fazcm todos
esses talentos e toda essa sciencia historica,
que andavam sumidos 'nesta boa terra de
Portugal, e que se nao fossem os meus erros
e desvios nao teriam illuminado os horizontes
da patria.
0 sr. Vasconcellos accusa a Mello Freire
e a mim de espirito de ma fe, e de pouco
conhecimento da materia na exposicao das
causas, que trouxeram a queda do desgracado
Sancho II.
Sou um pouco falto de entendimento, e
qualquer icha-corvos ou jcsuita pode dar teste-
munbo de que tambem sou giande poccador.
Achando-nie de ma fe e ignorante, o sr. Vas-
concellos podia, sem inconveniente, dize-lo. 0
nome, porem, de Mello Freire, requcria maior
circumspcccao. 0 illustre lente da Iniversi-
dade foi homem de genio e de saber, e tide
sempre como respcitavcl cscriplor. Quando
cremos encontrar erros ou menos sinceridade
nos livros de auctores taes, o meio melhor
de accrtar e comecarmos por duvidar da nos-
sa propria intelligencia. Este conselho nao e
meu ; e de Quinctiliano. Nao perde por ser
velho. Pelo (jue me toca, o sr. Vasconcellos
aflirma, que eu iniputei a (lueda de Sancho
II ao clero e as intrigas da ccirte de Roma.
Nada mais inexacto ; attribuo-a a diversas
causas; aos odios das parcialidades, em que
OS grandes .se dividiram na mcnoridade da-
quelle principe, a frouxidao d'este nos ados
de administracao, a lucta das facfoes, em que
197
como era natural, figuravam principalmenle
OS turbulcntos prclados, e a ambii;ao c dcsleal-
dade do Conde de Bolonha. E isso o que esla
no nicu livro, c terei o gosto de ver como o
sr. Vasconcellos prova o tontrario. As iutrigas
da corte de Roma eque uao podia atlriliuil-a.
A corte de Uoma intrigava pouco cntao :
tinha as virtudes e os vicios dos fortes: era
cubicosa e violenta, mas era franca; eneanii-
nhava-se aos seus (ins com a fronte erguida
e a luz do sol. Foi depois, quando graduai-
monte enlraquecida pelo cxcesso dos seus
abuses e crros, nao pode conlinuar a man-
ter-se na altura politica, em que Iliidebrando
acoiiocara, que a astucia, os menoios occul-
tos, as corrupcoes pequenas e vergonhosas, a
duplicidadc, reduzida asystema, substituirani
na curia romana a energia do seu anterior
predominio. Se o sr. Vasconcellos mc quer
accusar por descrevel-a com esses caracteres,
nao faca corpo de delicto do livro V da historia
de Portugal ; teni-nie reu confesso, e mais
que confesso: no II volume da historia do
eslabelccimento da Inquisirao, que se acaba
de publicar , ahi vera deduzido de documen-
tos incontroversos, o quadro repugnante da
dobrez, das baixas corrupcoes, das intrigas,
da avidez, e da dissimulacao da curia, na
epocha a que esse quadro e verdadeiraraente
applicavel.
Como 0 sr. Vasconcellos encetou urn pouco
tarde, ao menos como escriptor ptihlico, os
seus trabalhos historicos, e natural faltar-lhe
certa destreza na averiguacao e reduccao das
datas, dote indispensavel em quera escreve a
vista dos docuraentos da edade media. Quando
estamos pouco habituados aos calculos cbrono-
logicos, nada mais facil do que iiludirmo-nos,
e, transtoruando datas, conl'undir ludo. Se o
sr. Vasconcellos, soguindo o i)receito de Quin-
ctiliano, duvidasse mais do si, nao comecaria
por assentar, como base do seu trabalbo, a
rectilicacao de um supposto erro meu. Dcscre-
vi ccrtas contendas do bispo de Coimbra D.
Pedro com a roroa, como occorridas nos tins
do reinado de Sancho I. Descubriu o sr.
Vasconcellos que isto era um erro, e, para o
provar, estriba-se na bulla si te diligenter de
7 das calendas deniarco do anno XIV do pon-
tificado de Innocencio III, original no archive
da se de Coimbra. Na sua opiniao desloquei
conipletamente os successes, e attribui o que
pertencia a epocha de Affonso II a deseu pae.
Se assini fosse, a cquivocacao era nao so gros-
^ seira, mas tambem importantc. A bulla porem
I si te diliyenler tern na edicao de Baluzio, de
que eu me servi, a mesma data que no original
de Coimbra. 0 sr. Vasconcellos e que nao
{ soube reduzir essa data ao compute corrente.
Diz elle que sendo VII kal. maitii pontific.
XIV equivalente a 22 de fevereiro de 1212,
aquella bulla, era que se ponderam as queixas
do bispo de Coimba e as violencias do rei, e
dirigida a Affonso II e nao a Sancho I. Infe-
lizmente nem VIl kalAinardi eorresponde a
22, mas sini a 2'.{ de fevereiro, nem o XIV
anno de Innocencio III a 1212, mas sim a
1211, que sao as datas que eu escrevi. 0
poutilicado de Innocencio 111 comejou a 8
do Janeiro de 1198, e o VII dia das calendas
de niarco I'oi, e, esera sempre (salvo nos annos
intercalares) a 23 de fevereiro, em quanto o
cardeal Antonelli, on o Geral dosjesuitas nao
mandarcm o I'ontrario. Nao so essa bulla,
escripta quando Sancho I se inclinava para
0 tumulo, e expedida provavelmente um pouco
mais tarde, e dirigida a estc principe; mas
tambem o e cxpressamente [Suiicio illuslri
recji poiiuyalensi) outra de 26 de maio de
1211 (Vll kal junii ann. XIV) datada dous
mezes depois da sua raorte. E que na curia
se ignorava o facto, porque ainda nao havia
nem telegraplios eleclricos, nem sequer os
ordinaries, e as communicavoes entre Por-
tugal e Roma eram dilliceis e tardias. 0 sr.
Vaseonsellos pode ler essa ultima bulla no
Registo de Innocencio 111, publicado por Ba-
luzio, ou na colleccao de Aguirre e Catalan!,
onde tambem vem trauscripta.
0 auctor do arligo enthusiasmou-se com
um inquerito de 1232, que achara, equal me
mostrou, quando comccci o exame docartorio
da sii de Coimbra, e que pertence a um vo-
lunioso processo, cujas diversas pecas encon-
trei depois espalhadas entre os feixes de per-
gaminbos, cubertos de p6 secular, e assigna-
lados com o ferrete de inuieis, que povoavam
uns armarios do mesmb archive. Aquelle in-
querito e interessanle, mas insuCBciente, ain-
da compulsando tambem as outras pecas do
processo, para fazer a revolucao bistorica
aci;rca do reinado de Sancho II, que o auctor
do artigo nos promette. Cabem aqui algumas
rellexoes que Ihe podem ser uteis. Uma das
cousas, que rc(|ucrem maior tino historico,
e 0 estudar um inquerito d'aquellas eras com
0 inluito de illuslrar successes politicos. As
testcmunhas, em rcgra, variam nos acci-
dentes, e, nao rare na essencia dos factos,
contradizem-se frequentemente, e os seus de-
poimentos, quanto a datas, sao quasi sempre
ilucluantes e incertos, sobretudo tractando-se
de averiguar accontecimeutos anteriores de
20, 30 ou mais annos, como succedia quan-
do se fez a inquiricao de 12o2. Para tirar
algum fructo de similhantes documentos e
necessario, alem de muita experiencia e
perspicacia, afleril-os por outros mais preci-
ses, directaraente relatives ao facto, que se
pretende illustrar, e subordinal-os a estes ulti-
mos. Por desconheeec, taes doulrinas e que o
sr. Vasconcellos preteiide que seja inexaclo.
que 0 bispo de Coimbra DV Pedro se achasse
do lado de Affonso II nas luctas d'este prin-
cipe com 0 metropolita Estevam Soarcs, lu-
ctas, que se proirahiram desde 1219 quasi
198
ate a morte do rei, reconhecendo alias que
me fiindo, para assim o referir, 'nura docu-
meiito incontroyerso, a bulla de 16 de jimlio
de liii. Niio me ostriliei so 'nella, eslribei-
me na bulla Sperubamiis hactemis de i'i de
dezembro dc 12i0, dirigida exprcssamcnte
ao bispo de Coimbra, em (|uc o pa[)a Hie e\-
probra a sua submlssan ao rei, irabindo o
arcebispo, a queiu pronietlera scrvir, iiegan-
do-llie por subservieiiria ao monarcba, todo o
soccorro, e despresando as censuras de Esie-
vam Soares. Entcnde o aiictor do artigo (|iie
esta uarracao nao e exacta; por(]iie, segiiiulo
a chronologia, que elle accreditou cncoiUnir
no iM(iuerito de liol, os aniios de 12211 a
1222 caem deiitro dns oilo, em que o bispo
de Coimbra audou foragido. Nao admira que
acbasse tal chronologia, quando acliou que o
anno XIV de Innocencio III correspondia a
1212. Se a narraeao que liz nao e exarta,
queixe-se o sr. Vasconcellos nao de niini|
mas de Estevam Soares e de llonorio 111'
que alias nao reputamos tao gratiiitamente
mentirosos como o sr. Vasconcellos os sup-
poe. Porque bavia o arcebispo de ir ca-
lumniar o seu sulTraganeo, se, como qucr o
auctor do artigo, cste andava perscguido e
foragido como elle? Ou estava Honorio 111
doido a tal ponto, que invectivasse e amea-
casse 0 bispo D. Pedro, do niodo que o I'az na
bulla Sperabatnui- liaclenus, vendo-o desterra-
do, pobre, e por lauto inbabilitado para .soc-
eorrer o sou raetropolitano? E acaso possivel
que Estevam Soarea e o papa ignorassem
complctamente se o bispo de Coimbra so con-
servava ou nao na cdrte de AITonso II, e que
Honorio III ordenasse cm 1222 aos abbades
de Cella-nova c de Osseira, que inlimassem o
rei de Portugal para o alTastar de si? Nao e
absurdo despresar o testcmunbo das pessoas
que intervieram na questao, que 'nesta parte
nao tinbam interesse em alterar os I'actos, e
que daolestemunho official d'ellcs, paraseg'uir
0 de individiios, que trinta annos depois.
se referiam confiisamente a esses factos? Fi-
nalmenle esta o sr. Vasconcellos eerto de
que cntendeu o inquerito de 1232, e de que
deduziii bem o resiillado dos diverse, depoi-
mentos 'nelle contidos, e assignalou a cada
urn dos successes, ahi referidos, a sua verda-
deira data?
Eu tambem li c cxtractei em Coimbra o
inquerito de 1252, ealemd'isso os [lergami-
nbos mais importantes da demanda, a que
elle portence, e que o sr. Vasconcellos nao
tinha lido nem extractado; porque o p6 de
trezaltns (por me servir de uma expressao
de FilintoElysio), com queestavam cubertos,
repousava de certo sbhre elles, sem ser per-
turbado desde tempos muito anteriores ao
nascimento do sr. Vasconcellos, que sincera-
mente mostrou desconhecel-os quando Ib'os
indiquei. As notas, que entao liz, nas horas,
em que nao podia occupar-me no deserape-
nbo da minba commissao academica, servi-
ram-me para ampliar e melborar alguns lo-
garcs do H volume da Historia dc Portugal,
de que 'nessa conjunctura se preparava uma
nova edicao. Aproveitei esses documentos
com a sobriedade que cumpria 'numa histo-
ria geral, ijue nao pnde desccr a certas par-
ticularidndes. Nao refuguei, todavia, por isso
OS documentos incontroversos sobre que as-
sentava a minba narrativa ; nem, se bem rae
recordo, enionlrci no inipierito as novidades
clironologicas, (jue obrigam o auctor do arti-
go a tractar-mc tao asperamente
Permiltam srs. Hedactores, (|ue eu termine
esta carta, ja demasiado longa, por uin ulti-
mo conselbo amigavel ao sr. Vasconcellos.
E que nao jirelenda nunca anlecipadamenle
provar cousa nenhuma em liistotia. Depois
de ler e meditar os documentos e memorias, e
de deduzir, sem tencao I'eita, as conscquencias
d'elles, I'orme entao o seu juizo, c exprima-o
sem reserva. Nao accredite na prcvenvao dc
Mello Freire, ou na minha contra a curia
romana e contra o clero do seeulo XIII. Dis-
semos que eram maus porque os acbamos
taes; ou antes nao o dissemos nos: dizem-no
factos incontroversos, e bao de continuar a
dizel-o por mais que tentem transligural-os.
Deixe isso a uns Bentos Jose Labre redivivos,
que por abi andam a crear uma edade media
que nunca exisliu, e uma historia ecdesiasti-
ca de convenciSo, e que cuidam supprir a
falta de intelligencia, de critica e de saber
solido com a accuniulacao de citacoes de mo-
numentos, que nao podem aproveitar; porque
nao OS move o amor da sciencia. nem tern capa-
cidade para os entonder. Ila 'nesses esforcos
interesses que nao e possivel qualilicar aqui ;
mas que uma pessoa, tao estimavel como o
sr. Vasconcellos, nao deve servir. Eu e que
devo confessar-me, srs. Redactores,
De VV.
Att.° V.'" e C.
A. UEliClILANO.
Ajuda, 7 de outubro dc 1835.
MEimORIA HISTORICA E CRITICA
Sobrc a rcvolmrao que cm 1346 liroa
a roroa a n. !>»aiicUo II. i>ai-a a ilar ao
roncle dc Bolontaa, ttca Iriuiio.
Contmuado de pag;. 188.
VII.
Nao era so nos prelados c no clero, que
tamanhas malfeitorias secommettiara. Os ricos
homens, governadores de districtos, templa-
rios, eordenspoderosasarmavam-se unscontra
OS outros: as classes todas do reino mais ou
199
menos solTriara os inconvenientes, e males de
tao lastimoso eslado. Os passageiros, se nao se
precatavam contra sirailhantes excesses, erara
sem piedade mortos ou desvalijados, como ac-
conteceu ao mestre Yicenle, bispo da Guarda,
ao chantre de Braga, que dcpois foi arcebispo
da mesma cidadc, c oiitros, como ja vimos;
0 horizoute politico mostrava-se tao temeroso
e carregado, que am('a(;ava temporal dcsfeito,
tudo quereiulo destruir: a desordcm, ea coii-
fusao cspaliiava-se por todos os angulos do
reino'. Alguns, descjando fuzer justica, e ac-
cudir aos oppriraidos, moviaiii-sc com a gente,
que podiam, contra os cavalleiros, ateando
d'um modoindelinidoa dcsordera, alimentando
as querellas, e dando occasiao a que outros
tomassem sua deleza, e multiplicassem os ag-
gravos a ponto, de serem os proprios estranlios,
OS que, usando da lorca, se intromettiani as
vezes nas discordias particulares, usurpando
bens, queliies nao pertunciam . Se ajunctarmos
a tao Idbrego quadro uiiia particular circum-
stancia, pela qual ia D. Sancbo descaliindo da
graca e estima de toda a sua nobreza, teremos
pintado, ou descripto o estado interior do reino
era tao desventurada epoclia ! Fora do costume,
e antigos estilos do reino ua concessao das
gracas, que o rei fazia, serem sempre coulir-
madas pelos ricos homens, e prelados do reino
as cartas de taes merces, como se se quizesse
com esta assignatura dar a entender, que,
ainda que a vontade do rei 'nellas tinha a
preponderancia, nao era clla com tudo tao ef-
licaz, que nao podessc ser contrariada por
seus barOes e prelados. Novos usos, porem, se
comecavam a iutroduzir, acrescentando-se no
fim d'estas cartas patentes a formula «de con-
sentimenlo e auctoridade de metis proceres e mag-
nates ' . (« Este novo formulario fazia descon-
tentar a aristocracia, tornando-a avessa aos
inleresses do rei, que pouco a pouco perdia
* "Se^iiros da impunidade os senhores de Honras adqui-
ridas bem ou mat . . . quaudo os exactores da fazenda pre-
tendiani enlrar 'nesses logares defesos .... e.s)jancavam-
nos, mutilavam os pes ou as maos, e cheffavara a arrasta-los
a Cauda dos cavaUos em roda do silio vedado. Bastava
que um villao da herdade .... oude quaUpier nobre }tre-
tendia apoderar-.se das coutribuii,'oes, recusasse paga-las,
invocando o seuhorio real, |iara ser morto. » Ilisl de
Portng. Tom. II. ]ia|?. .344. Assioi descreve o A. o estado
interior do reino; estado (pie desde ja notamos ao leitor,
para dVlle nos servimos mais adiante.
•^ " As vezes os governadores de districto, os ricos
homens irritados com os espancamentos dos exactores,
moviam-se para punir os cavalleiros, masestes compravam
com euro a impunidade . . . chefrou o excesso a ponto de
se apoderar o infante de Molina, irmiio de Fernando III,
do Castello d'Alva, d'accordo com seus habitantes. •> Id.
ibid. pag. .345.
^ De consensu et auctorilate raeorum procerum et ma-
gnatum, como se le na doa^ilo de Cacella em 1240, e
na de Tavira em 1244. (Id. pag. 368 e not. XXIII.)
" Estes estilos de chancellaria guardados desde que Por-
tugal existia . . . pelo que tocava a merces de terras . . .
foram completamente alterados logo que Sancho so rodeou
da sua turbuleala cdrte de m09O8 cavalleiros. » (O mesmo
no logar cit.).
0 apoio, que encontrava 'naquelle brafo; que
agora via com desprazer os novos usos, que
se queriam introduSir na concessao de taes
mercte. Se ainda acrescenlarmos a este mesmo
(|uadro os escrupulos de eonsciencia, origina-
dos dos interdictos, era que por varias vezes
incorrcu o reino por causa das desintelligen-
cias, que por diversas occasiops tiveram logar
enlrc os prelados d'elle, desde o tempo das
discordias do bispo de Lisboa, Soeiro, com D.
.Sancho, por este se apossar das cgrejas e des-
prezar a.s immunidades ecclcsiasticas, teremos
bem desenhado as phases de todo o reinado
d'este infeliz monarcha , que, mostrando-se
forte, e energico na guerra, era brando, e
indolente na paz, e apoucado d'animo para
center desordens, c fazer respeitar as leis, e
estilos do reino , que todos (]uebi-antavara ,
coiuo queriam, seguros da impunidade.
VIII.
Ja acima mostriimos, quaes (uram os molivos
rasoados, por queGregorio IX, tendo chaniado
a curia o vellto bispo de Coimbra D. Pedro, o
obrigara a renunciar a mitra, e submetter-se
voluntario ao castigo, que o papa Ihe quizesse
dar; sera que em tudo isto interviesse com
seu couselho , ou preponderancia o legado
Joao d'Abbeville, bispo Sabinense. Pelo menos
e 0 que se deprehende claramente dos docu-
raenlos, ate'gora ineditos, que nos vao servindo
de guia no decurso d'e;ta narrativa. Com ef-
feito tao desasisado procedimento fora sempre
censuravel em toda e'qualquer occasiao, que
se olTerecesse; mas muilo mais ainda 'numa
epocha, cm que a curia Romana, eutendendo
ser-lhe conveniente usar da plenitude do poder
jiapal, nao so estendiasua correccao ao clero,
senao tamhem coarctava, e ameacava ainda
a corte e poder dos Cesares.
Foi por tanto em 1233 que, renunciada por
elle a niitra episcopal, e resignado ao castigo
merecido por tantos desatinos ; no descahi-
mento de animo, e abatimento de espirito,
que por isto devia experinientar, D. Pedro
Soeiro falleccu, deixando campo aberlo aos
dcscontentes, para reagirem contra a ordcm
estabelecida, que, como addido ao rei, e seu
privado, com denodo sustentara '. Por seu fal-
lecimento (dezembro de 1'233) novas discor-
dias se suscitaram na diocese. 0 cabido da
cathedral, a quem 'naquelle tempo pertencia a
eleicao dos bispos, levado da intriga, ou par-
cialidade, separou-se cm dois bandos, e cada
um nomcou seu bispo, dando era resultado
' Isto mesmo conijrraam as lestemnohas da cit. io-
quiri^ao que 'neste particular dizem >< quod dicta guerra
erat inter regem et barones^ et inter alios de regno
et inter barones ad invicem et audivit quod magister
Vincentius, . . . fuit spoliatus, el vidit duci captos can-
torem coliml)riensem et Suerium geraldi canonicum per
Martinum dictum bonafe. n (Ibid. Testemunha 7.').
200
qucbra da disciplina eeclcsiaslica, cxcmplo dc
amhicocs scnipro funcslOs e occasioos de le-
tigios e dissenrr)psonlr(\ cnrporaffto, quo dovora
sempre estar uiiida' cm lapos do tVaternidadc.
Nao podemos ajudar-nos dc docunu'rilos,
por ([ue conste o nouie dos novos oleitos, ni'ni
nicsmo fora prcriso ao nosso inlonto. Basta
so nolar, i\w, quacsquer quo dies fossoni, a
sua oloioao I'oi iiuii disputada, o ambos os
fonlendores soguiram sous procossos, e acniu-
panharam o negocio da cloicao a ouria Melro-
politana ', para onde I'dra levado, ate quo,
avocada a causa para a corlo do Roma por
Gregorio IX, ambos foram mandados pessoal-
mente romparoccr 'nella (lara rcnunciarem
ao diroito, quo por vonUira tivosscm a mitra
Conimbrioonso, dando om rosultado a nomea-
lao ponlilicia do successor de D. Pedro para
a roferida catbedral na pessoa de mestre
Tiburcio, tbesoureiro na se de Palencia.
Este prolado, om quern nao podemos doixar
de suppor sciencia, pela designacao de mestre,
que Ibe da Gregorio IX, era homem austero
de costumes e tempera rija ; severo talvez em
demasia : e ou fossem estas qualidades pes-
soaes, ou fossem outras manhas e partes mais
que 'nolle concorriam, foi o escolbido pcio
papa em lao apuradas circumslancias. Sabia
mestre Tiburcio as dilliculdades que tinlia
a sobrcpujar; os abusos que cstavam intro-
duzidos na adrainistracao da justica ; os po-
rigos que tinha a veneer, e os trabalbos em
que se vira sou antecessor pohi nimia condes-
cendencia, ou antes 3«bscrviencia a vontade
do rei, que o obrigara a'"practicar exccssos,
e demasias, que Ibc I'orani tao I'uncstas! A vista
de taos precodontes , bem podemos conjoc-
turar, que D. Tiburcio, ja d'antes havido por
homem de timorata conscioncia, e de quali-
dades que 0 faziam digno de recommendacao ,
nao deixaria de participar dos dissabores c
desenganos do principe; e que, ainda sem
incitaniento, se determinaria a trocar tao alto
emprcgo e tao grande bonra por estado mais
socegado, e vida mais livre de tao agras amo-
finacoes, c por isso na intjuiricao dizem as
tcstemunbas, que olio ronunciara a oleicao
Ijontificia, e ate jurara nao vir tomar conta
do govorno episcopal ' ; sonde forcoso ao pon-
tifice absolvo-lo do juramento, e, conslrangido
sob pena d'obediencia, oliriga-lo a accoitar tao
' Bull. deGrej.IX. Cum super dtinbvs. 8.° Id. Sept.
Pont, anno 8." (Setembro fi de 1235) . . . personaliler
ad sedem aposlolicam ipsi electi accessissent . . . taniiem
post concertatiunem diutiiiam jus ,si quod habebant libere
resignarunl (Gav. dos papeis do bis|ado a." 227).
' . . . Undo dileclum filiura masislrum Tiburcium
Palentinum sacristam de quo multa comendatione di^iiia
muUis referentibus . . . qiiibus ^'fidem potuimus merjto
adhibere. Id. ibid.
" Assim o juram iiniformemente as testemunhas na cit.
inquiricjao. Entre ellss o clianlre diz i.audivil quod
domnus Tiburcius renunciavit provision! de se facte et
juravit quod non veniret ad ecclesiam suam » (G. 13,
R. 2. M. 1.).
pesado cargo ' em tao arduas circumslancias.
Ao caractcr penetrante, e procatado de D.
Tiburcio niuito menos baslara ainda para evitar
as ondas e tompostade d'este novo omprego,
contentando-se com o do sogunda ordem, em
que ja se acbava ; nao ousando, porom, con-
trariar a vontade do ponlilice, loi dissimti-
ladamente rotardando sua vinda para o bis-
pado , para nao ser 'nolle coiilirniado , de
modo que, desde a sua nomoacao om 123o, o
acbamos semiTo dosignado por oleito ate 1243,
de cuja e|ioolia om diante se conieca a intitu-
lar bispo Conimbricense ' . Na verdade quem
se escusa d'eniprego, pelo qual tanta parte se
diz tomara na rcvolucao contra Sanobo II, c
se ve obrigado a aceital-o renitente e conxtran-
gido, segundo o toslomunbo de Gregorio IX,
parece-me estar bem longe de jiremeditar os
accontecimentos, que, alguns annos dopois,
tiveram logar com a deposicao d'aquelle rci !
Parece-me egualmente estar bem longe de
pensar, (|uo bavia ser um dos juizes, que mais
adiante bavia de vir executar a bulla Grandi
non imnierilo, se os successos o nao fossem
chamando pouco a pouco a ser instrumento
auxiliar do dosfecho d'aquelle drama , que,
por sua niarcba progressiva, se ia tornando
inovitavol. Fdra com ed'eito estranba mara-
vilba, que um reinado tao tempestuoso, e tao
clioio de crimes; um govorno tao farto de
attentadns, e coalhado de injusticas, podesse
consorvar-se (irme sobre a diuturna paciencia
de subditos voxados, e oppriinidos com tao
extraordinarias violencias, e com as calami-
dades piihlicas, que dilaceravam o reino, e
quobravam os elos da cadoia social ! Lisboa,
Coimbra, Porto e Braga ardiam com as discor-
dias, que lavravam por todo o seu districto.
Os sens prelados, se por vcntura dofendiam
sous direitos e prerogativas, malquistavam-se
com 0 rei: se ao conlrario se uniam a sua
politica, sou procedimento era estranbado pela
corte de Roma, como accontecera ao bispo D.
Pedro. K A vordade porem e (diz o sr. A.
« Ilorculano) (pie esto novo aspecto do inter-
« minavel combate entre o sacerdocio e o poder
(( civil .... provinha do conjunoto de circum-
« stancias, quo facilitava aos bispos os meios
" de ganhar contra a coroa unia decisiva bata-
Iha ' » Nao sei como, do (|uc atogora tomos
exposto, se possa tirar tal conclusao ! Molhor
dissera, (|iie esle conjtincto de circunistuncias
'naquclle tempo facililam. nao aos bispos, mas
as classes todas do reino, aquillo, que seis
seculos depois, e em tempos que se dizem de
^ «... licet renitenlem non modicum et invitum in
episcopum providimiis assumeudum firmam tiabentes
fiduciam quod sub ejus re^imine resurffere debeat . , .
ecclesia memorata. " Bulla cit. de Greg. IX. ibid.
■^ "No catalo^o dos bispos de Coimbra impresso, e nao
publicado ainda pela Acad. R. das sciencias de Lisboa,
par docuraentos se acha provado o que refere o textu.
■■ Sr. A. Herculano. Hist. cit. pap. 378.
201
civilisajao, se charaa demonstracao popular, e
de que infelizmenle temos visto tantos exem-
plos, e observado tantas phases nas revolu-
coes que com assorabro temos presenciado em
toda a Europa ! . ...
Podera alguem pcnsar no seculo XIX, que
tao desinvolla anarchia podesse subsislir ; e
qualquer governo manter-se cm meio de tao
procclosa tormenta? A bistoria contemporanea
respondora facilmente a esta pergiinla !
Continua. M. b. de VASCONCELLOS.
LYCEU NACIONAL DE COIHIBRA.
EslacIiHlira <Ion aliiiiiiio^ inalririilndos
no anno le<'li^o de 1^53 — lH5i%.
Discipliiias.
Onlin.
Volunt.
Totaes,
Grammalica latina .
Latinidade
Grego
Uebraico
Francez
13
i
2
3
6
6
(C
i
15
21
36
20
IS
2
4
16
2
1
8
11
34
11
33
19
4
7
22
8
1
12
26
5S
47
Inglez
Allemao
Logiea
Oratoria, e Historia
Geometria
Introduccao a Histo-
ria Natural
Totaes.. ..
110
124
234
BIBLIOGRAPHIA.
Grammatica da Infancia — Geographia da In-
fancia — Arithmetica da Infancia para usn das
escholas por Adriao Forjaz — 2.' edii:ao. Coimbra
1855, 8.° 3 vol.
Vai longe a epoca, em que os cstudos classicos
absorviam quasi exclusivamenle a attenrSo d'aquel-
les, a quern incumbia a educacao e inslrucoao da
mocidade ; e em que. Kra da carlilha, o livro
mais elcmcntar, que se dava aos mancebos, ao
entrar nas escolas, era uma volumosa grammatica
latina, fertil cm repetidos cxemplos e compridas
regras, que a dura palmaloria do mestre, ainda mais
duro, fazia pelo terror decorar aos pobres rapazes,
que assim comccavam a olhar com enfado o tiro-
cinio, que so deviaservir para instruil-os, crcando
'nelles o gosto pelo estudo, o amor das letras, e
0 descjo de alcancar novos e mais uteis conheci-
mentos.
Da grammatica e lingua patria nao se curava.
O latim era tudo, e tudo suppria. As sciencias,
graves e severas, nao desciam das academias ate
a liumilde escola. Vulgarisal-as, era degradal-as.
E a instruccao primaria, mesquinha e incornpleta,
era ainda tao restricta^ e limitada pelo escasso
numcro de escolas piiblicas, e pelos poucos alumnos,
que as frcquentavam, que uma boa parte da po-
pulacao, sobre tudo nas aldeas, ncm ler sabia?
Njio era enlao muito para estranhar a falta de
livros de auctores nossos, que se occupasscm d'essa
parte imporlantissima, mas tao desprcsada, senao
quasi ignorada da iiossa instruccao primaria, que
lem por objecto o ensino elemcntarissimo das
diversas sciencias, e das suas mais ulcis e variadas
applicacoes; ensino que devia estender-se obriga-
toriamente a todas as escolas dc ambos os sexos.
Nao sSo porcm hoje menos raros esses livros ele-
mentares, onde a infancia possa colhcr sem enfado
nem violcncia uma instruccao tao ulil e provcilosa,
como recrealiva ; mas por isso tanto mais dignos
sao de louvor os auctores que tao csmeradamente se
dao ao improbo Irabalho de compendiar os elementos
das diversas sciencias, tornando-as acccssiveis a in-
fancia, e fazendo-lne adquirir nocoes claras sobre
as suas mais imporlanles applicacoes.
No numero dos liyros que se recomendam por
tiio valiosos tilulos, contamos a Grammalica,
Geographia e Arithmetica da Infancia, de que o
sr. Adriao Forjaz acaba de dar-nos a segunda
ediciTo.
A Grammatica e Geographia sao escriptas com
summa clareza, em eslilo corrente e com muito
methodo e boa deduccao. A Geographia da infan-
cia comprehende a geographia geral , algumas
nocoes de comosgraphia a chorographia dos prin-
cipaes estadas do mundo, e particularmenle de
Portugal, contendo em resumo, mas com muita
exactidao, tudo quanto respeita a chorographia do
reino e possessoes ultramarinas ; sua situacao,
divisiio territorial, judiciaria, administrativa,'ec-
clcsiaslica e mililar; npeocs historicas; nolicia dos
diversos reinados, e successos mais notavcis de
cada um d'elles.
A Arithmetica da Infancia, e um livrinho de
grande utilidade nao so para as escolas mais ele-
nuntares, mas tambem para outras classes mais
ailiantadas.
Alem das operacoes fundamentaes d'arithmelica,
conlem a operacao de quebrados, complexos, pro-
por(6es e regra de tres, regra de companhia, juros,
e descnntos ; tudo exemplificado demodoquc torna
facil e mui curioso este estudo.
0 A. termina a sua arithmetica com a exposi-
cao do syslema metrico e sua applicacao em relacao
as mcdidas , ainda usadas no reino , o que nos
parece mui intercssante para irgcneralisando aquel-
lesystema, jadecretado entre nos, masqueencon-
tra grande repugnancia niio so nos antigos habitos,
mas tambem na difficuldade, que para muitos
parecia talvez invencivcl, de tornal-o intelligivel
para as classes menos illustradas da sociedade.
A Arithmetica da Infancia , familiarisando os
alumnos das escolas mais elcmentares com aquel-
le systema, hade concorrer mui cflicazmente para
desvanecer as reluclancias, que esta neccssaria
reforma tcm encontrado na practica ; e as pessoas,
ainda nao habituadasaquella nomenclatura, ncm
a avaliar a relacao entre as antigas mcdidas e as
do novo systema, poderao tambem consultar com
grande vantagem aquella obra.
Modesto e singelo como e este trabalho, cremos.
'202
que com a publica^Ho d'estes lirrinhos o sr. Adriao
Korjaz fez iim T.ilioso serrici) em bencficio da nossa
inslrucrac) primaria, disno por ccrUi dc ser imi-
lado subre liido 'noulros ramos ilas scioncias na-
turacs, d'affn'ciilUira n economia rural, da hygiene
0 crnncimia indnufhial, cujas nnrocs mnis elomcn-
larcs sao indispcnsavcl complemcnlo dc um vcr-
dadciro syslcma dc inslnic^ao jirimaria.
J. M. DE ABREU.
NOTICIflS LITTERARiaS E SCIENTIFICAS.
ENla<1i«lica <In inipB-ciiKa allonia. No
primciro scmeslre do corrcntc anno imprimiram-
sc nos divcrsos csladus d'Allcmaiilia 3,87!) (djras
divcrsas, das quaes I.IGO foram cslanipadas cm
Leipzig e Bcrlim, sciido d'estas 598 cm Lcipzi;;
e 571 em Bcrlim, de mancira que csta cidailc so
foi exccdida pcla ])rimeira. que passa, com razao
pcla capital das livrarias allcmas, cm 25 obras. Em
Stutlfjard imprimiram-sc 197obras;em Ilambnrgo
96; Munich 93; Ualisbouna, I'raucfort sobrc o
Wcno, e Halle, 62 cm cada uma d'cslas cidadcs;
Brcslau 56; e finalmcntc em Drcsda, Brunswich
Erlangen e Weimar o numero das obras impres-
sas foi menor que cm Brcslau. 'Neslas treze
cidades \ieram por lanlo a pnblicar-se 2,018
obras ou quasi dois tcrcos do numero total das
publicaeocs littcrarias ou scicnliricas d'Allcmanha.
Comparando o nnmcro de obras publicadas cm
cada um dos cstados d'Allcmanha, nola-se que a
Prussia leva consideravel vantagem aos outros
cstados.
Imprimiram-sc -na Prussia no s.emestre Undo
1,242 obras; na Saxonia somcute 724; na .\ustria
713; na Bavicra 397; c'ifl Wurlcmberg 270, no
Hano\cr 109. A cidade de l.ubeck , o grao du-
cado dc Luxemburgo, e o principado de Waldcck
cada um 3 obras somente. Lippc-Dclwold duas,
c Hcsse-Hamburgo uma unica.
Muitas obras allcmas se publicaramera divcrsos
paizcsda Europa; 155naSuissa; 31 na Russia; 16
na Hungiia; 12 em Franca; 10 na Bclgica; 6 na
Dinamarca; 3 na Ilollanda, e uma era Inglalerra;
ao lodo 235, o que elcva a 4,114 o numero das
obras allcmas, quese publicaram nos primeiros scis
mczcs do correute anno.
RouiiiooN liHorarias o srientifiras
dMllcnsanlia. Ooulono e 'ncslc paiz a cstaiao
propria para cstas reunioes; no presentc anno, jio-
rcm, nao foram cllas tao brilhantes, ncm tao niimc-
rosasromoera costume, I'ma dasprimciras foi ados
composilorcs e musicos de Gotha, que traclaram
da organisacao d'uma sociedadc semclhante a que
exisle em Franca: para os primeiros fundos d'clla
rcsolveram publicar um album, em que tomarilo
parte os niais insigncs composilorcs. Esta sociedadc
denominar-se-ha associacao mozartienna. A com-
missao fundadora conta enlre os sens membros
Lizst, Spohr, c outros "tompositores de grande
lama.
A reuniao dos medicos c naluralistas, que dcvia
Icr logar em Vienna, no fim dc scptembro, foi
adiada por causa da cholera, assim como o con-
cilio da cgreja evangclica, que devia celebrar-sc
em Halle.
O Veutches h'unstblall, jornal de Berlim, con-
scguiu formarumaassuciac.iodassociedadesarlisli-
cas allcmas para se occup'arem da arte historica.
A iirimcira reuniao geral foi em Drcsda a 29 dc
scptembro. Pcla mcsma cpoeha se rcuniu cm
llamburgo o congresso dos philologos e profcs-
sorcs.
A reuniao dos historiadcjrcs e aniiquarios ter-
minou as suas sessocs cm lllmc a 22 dc scptembro.
Esia reuniao scjbresaiu a todas as outras pelos
brilhantes feslejos, que aquella cidade prepariira
em honra da sciencia. A parte mais curiosa d'estas
festas foi um toineio sobre o Danubio, cclcbrado
com toda a pompa da meia edadc pcla corporacao
do< Pescadores, que ainda conservam sens privi-
Icgios e antigos costumes, c lem o titulo de der
Wasseradel (a nobreza aquatica).
CaniinliOK tic foiTO cm Franra. Dcsde
0 cstabclecimcnto dos caminhos de fcrro cm Franca
ate 24 de fevcreiro de 1848, islo e, no espaco dc
vinte annos, o total das linhas conlractadas'com
companhias particularcs era aproximadamente de
3:600 kilomctros. Durante os annos de 1848 at4
1850 n,io se fez contracto algum novo, epclocon-
trario foram rcscindidos muitos pcla impossibili-
dadc, em que se acharam os emprczarios, de os
coulinuar. Em 1851. ou antes cm 1852, tornou a
rcanimar-se esta industria, c a rede das linhas de
cominho de fcrro augmcntou 3:300 kilomctros.
Em 1833 divcrsas companhias tomaram mais 2,134
kilomctros; ecm 1854 abriram-se aoservico publico
600 kilomctros. .\'o anno que vai corrcndo espera-sc,
que fiquem concluldos mais de 1:000 kilom.
Examinando a carta dos caminhos dc fcrro,
vc-se que em breve todo o territorio franccz cslara
sulcado por estas maravilliosas vias decommunica-
cao, c que com raras excepcoes, que proMJm das
extraordinarias dilTiculdadcs do tcrrcuo, todas as
povnacocs d'alguma iniportancia teriio um caminho
de f rro.
O'total da exploracao das linhas de caminho
dc fcrro durante o anno de 1854 foi dc 4:676 kilo-
mctros, que renderam, tcrmo medio, pur kilome-
tro 45:025 francos, c total 196:334:803 francos.
Segundo cstes dados, que conslam de uma infor-
macao e mappa publicado pclo ministcrio das
obras piiblicas, hoove nt)S pcriudos corresponilen-
tcs um augmcnlo de mais de trinia milhocs. O
produelo por kilometro, que cm 1853 fora dc
41:712, cm 1834 subiu a 45:025, ha por tanto
a favor d'este ultimo anno sobre o anteccdcnte a
vantagem de 3:313 francos por kilom. Scndo
]iara notar, que 'nesta conta nao vao incluidos
OS intercsses de certos fundos, que nao pertcncem
ii exploracao propriamente dicta, e que cm 1853
renderam cerca de scis milhiJcs.
No memento da revolucao dc fevcreiro as linhas
conccdidas poremprezacomprchcndiam uma exten-
sao de 3:600 kilom. ; hojc comprchendem uma
extensao de mais de 10:000. Dois mil kilometres
cslavam concluidos ate aquella cpoeha, e no fim
do anno de 1854 ficaram promptos 6:000. Mais
dc dois milhocs lem sido empregados 'nesta
cmpreza gigantcsca.
BEY. DE GBR. PCBL.
1
203
ADVERTENCIA
SOBRB OS
APONTAMENTOS DOPTICA.'
Seguindo na deduccao das formulas dos
focos das lentes c do achromatisnio o caminho
que a propria reQexao nos indicou, nao lunios
dctidameute o processo que para chcgar a
ellas se empreRa era algiins tractados de phy-
sica, que tinliamos a mac, como cram os de
MM. Peclet c Pouillet.
Accontecendo, porem, que, dopois d'imprcs-
sos OS artigos que compOem os upontaineiitos
(('optica, comparassemos as lespeclivas formu-
las e resultados nuraeriros com os correspou-
dentes da Gcodesia de M. Salneuve , e com
OS nossos, acluimos lal discordancia, que re-
cearaos algum cngano da nossa parte ; e por
isso corre-nos a obrigacao d'expor franca-
niente as diividas, que se nos ofl'ereccram,
a lim de cliamar sobre ellas a atlencao das
pessoas, cujo voto pode corrigir o erro, se
'nelle laboramos, ou confirmar a exactidao,
se a conseguimos.
Nao concordamos com a deduccao da for-
mula dos focos de MM. Pouillet e Peclet (Phys.
de Pouillet pag. 218 210, e Phys. de Peclet
pag. 397), parecendo-nos que o primeiro usa
de /', e 0 segundo de a', com signaes trocados.
M. Pouillet serve-sc depois d'uma expres-
1 1
sao de j -tt, que nao pode ter logar na
lente biconcava (vej. pag. 184), e que para
pertencer ao mcnisco convergente deveria ter
signal contrario. D'onde resulta uma com-
pensacao com a troca do signal de f , que
lorna a expressao de r' verdadeira para a
lente composta d'uma biconvexa e d'outra
concavo-convexa.
1111
A equacao , ^ p de M. Peclet
« a a, a I
nao da o valor de R'' do fim da pagina 397,
mas sim csle valor com signal contrario no
segundo termo do denominador. Porem, cor-
rigindo o erro de signal de a', isto e, usando
-1,111
da equacao - J- -, = 1 — ,- , aehar-se-ia
^ ■ a a a, a \
para R" aquelle valor com signaes contrarios
em todos os termos do denominador, que a
0 que realmenle convcm a lente composta
d'uma biconvexa e d'outra biconcava.
Emquanto a (ormula de M. Salneuve (Geodes.
de Salneuve pag. 314), que dilfere nos signaes
da de M. Pouillet, acliamol-a exacta ; mas,
quando o auctor a quiz applicar (pag. 316)
a uma lente composta dos dois elementos bi-
fonvexo e biconcavo formados, inversamente,
' \. pag. 264 do vol. Ill, e pagg. 25, 72, 167 e 179
do presente vol. d'este Jornai.
As Estampas d'esta Memoria bram distribuidas
cam o n.<* 15.
das mesmas substancias que suppfie o exerapio
de M. Pouillet, parecc-nos que um equivoco
na resolucao da ultima equaoap da pagina 316
em ordera a r" transtornou o resultado, e quo
sem esse transtorno viria F negative.
Concluimos pois que julgamos incompati-
vel com 0 achromatisnio a forma que nos trcs
auctores citados se atlribue a lente composta,
quando se suppoe eguacs os tres primeiros
rains, e se pretendem achromalisar os elemen-
tos luminosos 1.° e 7.° com o crown-glass
n.° 9 c lliut-glass n.° 13. Nao queremos
porem dizer (jne para outros elementos lu-
minosos, ou usando d'outras substancias, nao
se possa conseguir o achromatisnio com lentes
d'aquella eonslruccao; antes alTirniamos o con-
trario, e 0 verilicamos, por exempio, na achro-
nia(isacao dos elementos luminosos 1.° e 4."
Advertindo que tiido o que dizemos e sempro
na bypotbese adniillida do ser nuiito pcquena
de primeira ordem a grandeza angular das
lentes, e insensivel a sua espessura.
K. B. DE SOUSA PI.NTO.
RELACAO
Dos individuos nomeados para as seguintcs cadei-
ras d'instruc(ao primaria, desde IS ate ao fim
d'outubro ultimo.
Antonio Ilenriqiies d'Albuqucrque, para pro-
fessor temporario da cadeira do JJrvedal, districto
da Guarda.
Antonio Jose dos Reif,,de Carvalho, para a do
Sobral d'Abclhcira, districto de Lisboa.
Antonio Morcira Dias Alves, para a de 'Valle
de Refojos, districto dn Porto.
Bento Guedes d'Oliveira Leile, para a de S.
Felix da Maiinha, districto do Porto.
Joaquim Jose Ferrcira. para a de S. Thome
de Ncgrollos, districto do Porto.
Joaquim da Silva Franco, para a da Marinha
Grande, districto de Leiria.
Jose Pinto Monteiro, para a de Pendurada,
districto do Porto
Jose dns SanctosDiniz, para a de S. Quinlino,
districto de Lisboa.
Jose Francisco da Costa Torres, para a das
Pias, districto de Beja.
Jose Marques Amador, para a d'Aldca de
Monle do Trifjo, districto d'Evora.
Manuel Jose Dias, para a da Corte do Pinto,
districto de Beja.
Manuel Lopes, para a do Espirito Sanclo,
districto de Beja.
Vicente Jose da Moita, para a do Pedrogao,
districto de Beja.
Antonio Pinto d'Azevedo, para professor
subsliluto, por dous annos, da cadeira da Ribeira
de Pena, districto de Villa Real.
Jose Maria Bartholomeu, para professor vitali-
cio da cadeira de Cacarellos, districto de Braganca.
ERRATA DO N.° 15.
Fag, 179 no fim oade 8e le >', leia-se — )'.
204
OBSERVACOES METEOnOLOGICAS, FEU AS NO GABINETE I)E PllVSICA
DA LiiMVEllSIDADE I)E COIMBRA.
Anno lie
1H55
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3
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PressSo iitmotijilierica ao nicia dia
AIt[ira bafo>
nietrica a o*^
da eiceln cca-
tigrada,
Milliiuelrus
17,°7
7,)i,413
752, i59
755,325
757,674
751,413
751), 396
753,567
754,957
752,421
753,059
751, 9i3
751,9115
753,944
752,U08
752,300
754, H34
75S,217
761,746
759,138
754,983
751,801
753, Sia
755,730
754,848
755,007
755,481
755,608
755,738
755,484
755,789
TeniSo do
vapor aqooio
on Lido uo ar
iMillinic(ru>
754,492"
Temperatvra
Maxiai. absol. 22°
Miaima absol.' 13"
Max. Vflria^ao 9°
9,201
9,430
9,050
9,690
10,627
10,934
10,354
10,fi56
10,196
10,795
11,156
10,1163
10,498
10,658
10,795
10,557
10,017
9,659
9,595
10,311
9,218
9,259
9,685
10,679
11,253
11,104
10,799
1I,3!I0
11,437
12,164
ar seccu
\lillimi'lr<
743,209
742. 8i9
746,275
747, 98t
740,785
739,462
743,213
744,301
742,225
742,264
740,767
741,122
743,446
742,150
741,505
744,277
748,200
752,087
749.543
744,652
742,583
744,063
716,045
711,169
744.351
744,380
744 809
744,358
744,037
743,625
Estrtdit h)'gruinrlrici> du
ahllospliera «o iilt-iudia
Crau d'bumi-
dede do ar,
repmi-ntando
por 1 o esla-
do de satiira-
fao.
Pressao atmospherica
mm
Max. absol. 761,746
Min.absolut. 750,396
Max. excurs. 11,350
0 77
0,79
0.81
0,79
0,78
0,81
0,72
0,79
0,75
0,75
0,73
0,73
0,77
0,74
0,75
0,73
0,71
0,71
0,66
0,67
0,56
0,57
0,56
0,58
0,61
0,56
0,511
0,61
0,58
0,62
0,69
9,300
9,528
9,176
9,774
10,663
10.97 1
10.354
10.692
10,231
10,795
11,136
10,843
10,531
10,658
10,795
10,557
10,051
9 692
9,595
10,276
9,154
9.195
9,585
10,533
11,099
10,915
10, 6n
11,186
11,242
11,957
GTaii d' tiumidade do ar
Maximo .... 0,81
.Minimo .... 0,56
Maxima varia^. 0,25
N.
N.
N.
O
NO.
SO.
N.
NO.
N.
O.
E.
E.
O.
O.
O.
N.
N.
E.
E.
E.
E.
E
N.
E.
E.
E.
E.
N.
N.
N.
KsiOffn do CPU f do
tcntj/o uo mt'io dia.
Nnblado. Bom tempo.
O inesuio. O mr>.snio.
O nirsiiio O mfsnlo.
Clar. e limp. B, lump.
O mesnio. O mesino.
Eiiritlierlo. T. chuvuso
Li^. niitdad. B. temp.
O mesnio. O niesmo.
Claro e lirapo B. temp.
Nublado. O rat-smo.
Eiiciiberlo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesaio.
Nublado. T. variavcl.
Encuberto. O mesmo.
Lig. nul)lad. B. temp.
O mesmo. O mesmo.
Cl.ir. elirap. B. temp.
O mesmo, O mesmo.
O mesmo. O mesiuo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
LiJ,^ nuhl. B. tempo.
(^1. e limp. B. tempo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo O mesmu.
O mesmo. O mesmo.
Niitdado. Bom tempo.
O mesmo. O m'-smo.
O me.'iiio. O mesmo.
Vcntoi dominant.
E. 8 N.
Coimbra, 1.° de Julho de 1855.
Antonio Sancli£s Goulao, Director do Gabinele de Physica.
i) Jnstittttu,
■'.1
JORISAL SCIENTIFICO E LITTER ARIO.
EXPEDIENTE.
A.ssigna-?e este Jornal cm Coimbra no Ga-
binete do Instituto; em Lisboa na livraria do
sr. Cobellos, rua Augusta n.° 2; no Porto na
do sr. Jacintho \. Pinto da Silva, rua das
Hortas n.° 144; em Evora na do sr. V. J. da
Gama, collegio de S. Paulo; no Pezo da Re-
gua na do sr. M. Mendes Osorio.
Toda a correspondencia franca de parte sera
dirigida — A' Redacrdo do Institulo. Coimbra.
Preoo, adiantado, per anno, ou 24
numeros, francos de parte 1^440
Porsemestre, oul2 numeros, dictos 800
Avulso 100
Para os srs. Assignantes os numeros,
que Ihes faltarem d'este 4.° volume se-
rao pelo mesmo pref o d'assignatura an-
nual, ou cada um 60
Os exemplarcs que restam dos volu-
mes 1, H elll d'este Jornal vendem-se,
cada um, por 1^200
CONSELllO SliP..Rli)ll DE MUm PCBLICI.
CONFERENCI.i GERAL DE 30 H'ot'Tl'BRO DE 1855.
Di«rurNO do o.vni,° *>r. ron««eII>cii'0
vice-i'eilor e vi<e-i>2'e<«i<(cule.
Senhores! — Pela tercelra vez me fabe a
distiucta honra de vos declarar aherta a sessao
ordinaria da presente Conl'erencia geral, em
que vao apresentar-se os relatorios do anno
lectivo de 1834 a 1853.
0 exame e apreciacio dos relatorios, que
ides ouvir, vos deixara convencidos de que
0 Conselho superior emprcga com desvelo c
assiduidade os meios, de que pode dispor,
para que todos os ramos de instruccao piiblica
melhorcm progressivamentc, e se aproximem
pelo caminho mais breve, ensinado peia expe-
VoL. lY. Dezembro 13
riencia, que em tudo e a verdadeira mcstra,
do grau de desinvolvimento e pcrfeicao, a
que teni chegado entre as nacoes mais cultas
da Europa.
Para conseguir tao iraportante fim, e por
vcnlura tao desejado de quem seriamentc preza
a sabcdoria como gloria e grandeza a mais
solida e bem fundada, o Conselbo superior
tern aprovcitado as occasioes, que se Ihe offe-
recem, de lornar accessivel a todas as clas-
ses,quanto c possivel, a parte utii das scien-
cias, tornando-as mcnos especulativas e
abslractas, e fazendo convergir o ensino para
as applicacoes mais frcquentes e proveitosas
nos usos da vida industrial. D'cst'arte nao
cessa de fazer as convcnientes rccommenda-
foes aos commissarios dos cstudos, e a todos
OS quo tern a direccao do ensino debaixo
da supreraa inspeccao do mesmo Conselho.
Com similhante intuito foram ordonados os
programraas ullimamente publicados para o
proviraento definitive das cadeiras de Geo-
metria, e Principios do Physica e Chimica,
e Introduccao a Ilistoria natural de novo
creadas.
Ainda assim o ensino publico ma! podera
acompanhar enire nos a civilizarao moderna,
e obter proficua rcgeneracao cncctada tao
sabiamcnte e proseguida com tanlas vanta-
gens nas duas grandes nacoes — a Franca e a
Inglalerra. Sim, e mister confessal-o, o movi-
mento geral e o progresso da nossa inslruccao
piiblica neccssariamente ba de ser vagaroso
sem 0 mutuo auxilio de todos ossabios do paiz.
que 0 Conselbo tantas vezes tern convidado
cm vao, para apresentarem memorias ou
quaesquer trabalhos, lendentes a promover os
nielhoramentos dos estudos, ou a declarar os
vcrdadeiros obstaculos que diHicultam o seu
progresso; e a propor profidencias efficazes
ou mais proprias para se jconseguirem os
bencficos effeitos d'uma educacao esclarccida
e morigerada.
Oxala que todos por uma vez se desenga-
ncm, de que assim prestarao valiosos servi-
ces a patria, concorrcndo por aquelle modo,
conforme as suas forcas e talentos, para a
grandiosa empreza da reformarao e aperfei-
foamento do ensino publico.
Tem a palavra o sr. Secrctario da 1."
seccao.
— 1853. Num. 18.
206
RELATORIO ANJfUAI,.
1850—1851.
Continuado de pas. 195.
PARTE SEGUNDA.
Inslruccao primaria.
Verdade 6, Senhora, que o ranio da instruc-
(■ao primaria apparcce hojc entre nos mais
desiiivolvido e mais vicoso, que nas passa-
das eras. Afugeiitadas as trevas, e regene-
rada a litteratura palria, Y. M. o sabe, cor-
ria 0 anno de 1772; resoavam os cantos da
nova arcadia; na lingua d'acjuelies nolires
socios resurgia a phrase casta e o bom gosto
quinhcntista ; e comtudo, 'numa epoclia de
tania gloria para as nossas letras, e no pla-
cido remanso da paz, nao possuia Portugal
mais que 400 cadeiras d'instrucrao primaria.
Foi dopois, c em tempos menos claros, que
0 numero d'cllas foi, pouco a pouco, crescen-
do, de gcito, que temos hoje a fortuna de
contar no continente 1:116 cadeiras piiblicas;
as quaes, com 52 insulares, sobem a 1168,
sem fallarmos nas escholas e collegios parti-
culares. D'aquelle numero, s5o d'ensino si-
multanco para o sexo masculino 1:064, para
0 femiuino 41; d'ensino mutuo 11; aleni
d'estas esta creada, posto quo ainda nao em
exercicio, uma eschola normal cm Lisboa. Sao
14 no continente as cadeiras pagas por legados,
das quaes unia e de meninas: 23 as pagas
pelas camaras municipaes, sendo de meninas
4; 19 as pagas pelas junctas de parochia e
confrarias: collegios de educacao 2: escholas
particulares regidas por professores hahilita-
dos 82, seudo para meninos 02, para meni-
nas 20. Das 52 cadeiras das iliias sao d'en-
sino simultaneo para meninos 4i, para me-
ninas 5; d'ensino mutuo 3; alem das pagas
pelas camaras municipaes. Assira que as
cadeiras piiblicas, pagas pelo cofre do esta-
do, com as particulares, regidas por proles-
sores auctorisados, fazem o total de 1:250.
Acham-sc vagas no continente e nas ilhas
62; a concurso 46; reservadas 16 (mappa
n.° 2).
E, se por este quadro se ve que a inslruc-
cao primaria se ha jii projiagado tanto, que
nao estii por ventura mui longe do poder
proporcionar-se com a das outras nacoes cul-
tas, tambem e certo, que ao raesmo tempo
se tern alargado nuiito mais a esphera do
ensino e melhorado seu methodo. Yerdadei-
ramente que, pondo em parallelo a sorte
hodicrna d'este ramo com a que Ihe coube
nos tempos antigos, e ainda em annos que
de nds nao vao mui longe, vemos que entao
eslava este ensino reduzido a simples leitura
d'alguns manuscriptos, d'uma carliiha ou
d'uni catbecisrao; aos grosseiros Iracos d'uma
rude e informe escriplura e aos primeiros
elementos da numerajao. Hoje tem-se feito
entrar nas escholas do 1.° grau os jirincipios
da grammalica, a historia sagrada , a ari-
tbmetica mais desinvolvida , a caliigraphia
apuraja; e nas do 2.° grau, rudimentos
de theologia natural, de pliilosopbia moral,
a geographia, a historia, a escripturacao, o
desenbo linear. Entao bavia so umas breves
iustrucyoes ])ara guia dos professores; hoje
ha urn desinvolvido regulamento para estas
escholas.
Aposar d'isto, muitas necessidadcs 'nesta
inslruccao scnte ainda hem \ivamenle o con-
selho, sem que com os sens constanles csforcos
tenha ate hoje podido dar-lhes eflicaz rcme-
dio. 0 numero das cadeiras niio corre pare-
llias com a populacao portugueza ; muitas
freguezias acham fechada ainda esta primeira
porta da civilizacao; nao a deixani franquear
as minguadas forcas do Ihesouro; e d'esta
fonte se derivam quasi todos os males, que
solire a inslruccao em lodos os sens ramos.
Muitas cadeiras primarias permanecera por
nuiilo tempo vagas, a despeito de reiterados
concursos; muitas sao abandonadas pelos pro-
fessores, nao tanlo por serem tcnues, quanlo
por virem lardios e desfalcados sens ordena-
dos. Esfria-se o zelo em muitos professores:
sao providos muitos menos idoneos; porquc
mais habeis preferem empregos, deque tiram
mais proveilo; tolerando-se os fracos, para
([ue a infancia nao fique tolalmente privada
d'instruccao. Freguezias ha, onde a natural
rudeza dos paes se vai perpetuaudo nos lilhos
e netos; nao os mandando iis escbohis, uns
por miseria, outros por dcslcixo; aquelles por
quererem antes occup.il-os nos trabalhos cam-
pestres; estes para por raeio da ignorancia
OS exemplar dos encargos piiblicos. D'onde
resulta o ser por uma parte muilo escaco o
numero dosalumuos, por outra o nao chegar
esse mesmo numero a collier o fructo dese-
jado.
Por isso e que, com quanlo por approxima-
cao se calcule o numero dos alumnos em cerca
de 70:000, muilo desemparclhado Ilea die com
a niassa total da populacao. A esta longa ca-
dea de necessidadcs tem |)rocurado acudir o
conselho ; mas ha males que so os pode curar
0 tempo. Yalendo-se da disposicao do art. 3."
do decreto de 20 de setembro de 1844, tem
0 conselho eonvidado muitos niunicipios, fre-
guezias e confrarias, a contrihuir com os
sobejos do que gastam com o culto e encar-
gos pios, para crear cadeiras; dando aquel-
les corpos uma parte, outra o ihesouro. Mas
apenas ha podido conseguir por este meio
urn pequeno numero d'ellas. Contiuiia na
207
investigacao d'outros meios; e na ultima con-
ferencia geral designou uma extraordinaria,
na qual os vogaes extraordinarios e outros
individuos do corpo acadumico indiquem as
medidas e providencias, que tiverem excogi-
tado, para, sem gravar o thesouro, se aciidir
aqiiella nccessidade. Tem promovido associa-
foes de benelicencia para a prestacao de soc-
corros aos ahininos, (|ue por sua pohreza
deixam de frcquenlar as escholas piiblicas;
mas so lima pode acliar, que fosse proposla
a approvacao de V. M. Tem feito recommen-
dar aos paroclios, que I'acam ver aos povos
a necessidadc do cnsino e educacao da in-
I'ancia. Tem perniitlido a mndanca das horas
do exercicio escliolar nas terras, em que os
meninos se dediiam mais aos servicos ruraes
e mechanicos. Tem-se esforcado por que as
camaras deem casa piiblica aos professores,
para se facilitar a iuspeccao sobre o desem-
penho do servigo e sobre os costumes que
devem adornar os educadores, maiormente
OS das tenras edades. Mas, com magua o
confessa, pouco 'nesta parte lem conseguido.
Alem da ja mencionada colleccao de livros
elemcntares para cstas escbolas, tem o con-
selho, como ja dissc, promovido a composi-
cao d'oiitras; e, seudo um dos submcttidos
ao seu juizo o novissimo metbodo da Leilxtra
Repenlina do Dr. Castilho, niio quiz o conse-
Iho iuterpor esse juizo, sem esperar o resul-
lado da experiencia, que e a melbor prova
da bondade de taes obras; e per isso encar-
regou 0 commissario dos esludos de Lisboa,
em 12 de outubro do anno passado, de obser-
var e seguir em todo o seu desinvolvimenlo
0 ensaio, que o proprio auctor hia fazer d'esse
metbodo, no collegio que abriu na capital;
e ao voga! exlraordinario o Dr. Manuel Mar-
ques Pires, para o lazer ensaiar na eschola
primaria de Estarreja. 0 primeiro nao deu
ainda conla, apesar de ser instado em officio
de 15 d'outubro d'cste anno para dar as in-
formacoes sobre o resultado practico d'aquel-
le metbodo: eo segundo inlorma, que nao
responde o proveito a pronicssa do auctor,
que parece tamboni ja por si mesmo desen-
ganado. Se poiem este livro parece inutil,
muitos lenios ja, que assim na parte moral,
como na litteraria, bem accommodados sao
para o uso escbolar. Assim tivessemos nos
bons professores! Mas e este o ramo da
instruccao, que mais carece d'clles: rarissi-
mos sao os idoneos ; nao so pela razao aciraa
indicada, senao tambcm porfallarem as escbo-
las normaes, em que elles se formera; e raui-
e de lamentar que a unica, creada na capi-
tal, nao tenha ainda podido funccionar.
Acham-se substituidos por impedimentos 41
professores ; suspenses 2 ; advertidos, vigia-
dos ou debaixo d'investigacao 48 ; foram jubi-
lados 2 ; requerem a jubilacao 9 (mappa n.°
2). Importa a despeza da instruccao primaria
no continenle e ilhas, segundo a verba vo-
tada no ultimo orcamento em 99:777^280
reis.
PARTE TERCEIHA.
Instruccao secundaria.
Mais agradavel apparece, Senhora, o qua-
dro da instruccao secundaria, ou complemen-
tar do desinvolvimento do espirito bumano;
coniprebende ella nao so os estudos das hu-
manidades e boas letras, babilitacao para as
scieneias superiores; senao tambcm os co-
nbecimentos philosophicos com applicacao as
artes, para o desinvolvimenlo da industria
nas suas diversas relacoes: dous objcctos, em
verdade, importantissimos. Reconbecido e
hoje 0 progresso e melboramento do primei-
ro objecto, as humanidades e a litteratirra
bella, assim no metbodo do ensino, que hoje
e incoraparavelmente muito mais breve e lu-
minoso, que o dos antigos, como no uso dos
novos compendios, que todos os dias vem
aflluindo era grande numero, e entrc os quaes
varies ha de provado merecimento. Assim
que, se nas escbolas seajunctasse aosprecei-
tos tbeoricos mais alguma practica, veriamos
subir era breve este ensino ao mais vivo
esplendor. Observam-se os effeitos nas pro-
duccoes do genio; e abi vemos a prova 'nessa
mullidao d'escriptos, que nao so era tracta-
dos didacticos, mas na eloquencia, na bisto-
ria, e cm quasi todos os generos de discur-
sos vao 'neste periodo illustrando a literattii-
ra patria. Somente a poesia e que algunia
cousa se resente do desfavor das Musas: ja
se nao estarapa uma epopea ; quando no
mesrao seculo XVII floreceram ainda cinco
epicos. So apparecem curtas coniposicoos no
genero epigramraatico, e no lyrico e drama-
lico; escasso reflexo da luz antiga; falta or-
dinariamente a inspiracao, e quasi que so
para a realidade lende o seculo.
No segundo objecto, porem, isto e, nos
conhecimentos philosophicos indispensaveis
jiara as scieneias naturaes, com applicacao
as artes, corao a agricultura, ao conimercio,
e em geral a industria, atrazada se acha ain-
da cntre nos a instruccao secundaria. Para
estes ramos industriaes, por certo que nos
fallece ainda o desinvolvimento dos metho-
dos e practicas, niuito ha seguidos nos povos
illustrados, que nos antecedera 'neste genero
d'instruccao; a qual ennobrecendo-os, ao
mesrao tempo os ha enriquecido. Carccemos
cgualmente de professores assaz bahilitados
para este ensino, os quaes muito conviria que
lossem receher d'outras nacoes os elementos
de sua babilitacao.
Culliva-se o ramo da instrucfSo secunda-
ria nos lyceus, que devem considerar-se co-
mo outros tantos centros litterarios; e em
208
tadeiras estabelecidas em localidades diver-
sas, fora dos lyceus, mas a elles annexas c
subordinadas. As cadeiras dentro e fora dos
lyceus sobcm ao numero de 210, distribuidas
nos conrelhos e districlos pelo modo constan-
le do niappa n.° 3. Os lyceus, ja constituiilos,
acham-se todos eollocados cm edilicios publi-
cos, cxccptiiando somcnte os dc Avoiro o
Villa Real; e nao so os cinco lyceus maiorcs
do contincnte, que sao os de Lisboa, Coim-
bra, Porlo, Brajta e Evoia, tein em exercicio
regular lodas as cadeiras de que a lei os
compoz; mas lanibem em todos os demais
poucas restam a prover-se. Nas illias esla ja
lanibem funccionando em todas as cadeiras
0 lyceu do Funclial, equiparado aos lyceus
maiores pela lei de 12 de junho 1849: os
outros lyceus vao conslituindo-se pouco a
pouco (mappa n." 4).
Os prolessores, encarregados do ensino se-
cundario, salvas poucas exeepcoes, possuem
as qualidades moraes e litterarias, indispen-
saveis para o bom desempeiilio de seu im-
porlante ministerio. Os poucos, que se tern
desviado dos seus deveres, tem o conselho
procurado chamal-os a direilura, per mcio
de advertencias e roprehcnsOes salutares, nos
termos que a lei prescrcve. Mas apesar do
zelo e ponctualidade da maior parte dos
professorcs, observa-se todavia que nem a
affluencia dos alumnos, nem o seu aproveita-
mento e notavel. Fogem os alumnos da poli-
cia e regularidade d'estes estabelecimentos
publicos para a indulgencia das aulas parlicu-
lares; contra o que ja no relatorio anterior,
este tribunal propoz a sabia consideracao de
V. M. alguraas providencias que julgou in-
dispensaveis, c que niuito dcseja ver realisa-
das. Os lyceus niais frequentados siSo ordina-
riamente os de Lisboa, Coimbra e Braga. No
continente cursaram as 100 escbolas dos
lyceus no anno lectivo anlcriormente findo
l:Ho(). E nas 82 escholas annexas aos lyceus
1:078. Nas ilbas 340 (mappa n." 4 eo). Do
ultimo anno lectivo pela ja niencionada falta
de mappas e relatorios pareiaes, nao pode
neste relatorio dar-se o numero exacto de
alumnos. Muitos, como dicto lica, entregam-
se a professores particulares; a maior parte
dos quaes carecc de titulo de cnpnciilade,
apesar de rcpctidas circulares, expedidas a
todos OS governadores civis (sendo a ultima
em 30 de setembro ultimoj, ordenando-lhes
dc novo que procedani as niais c\actas avc-
riguacoes a tal respeito, e (|ue intimem, com
pena de suspcnstio, os ainda nao hahilitados,
para que se liabilitem moral e litterariamen-
le. E esta uraa das necessidades, que tanibcm
solTre a instrucciio priraaria, e que tarde se
podera remediar perfeitamentc.
Tendo ouvido os consellios dos cinco ly-
ceus maiores, o conselbo superior occupa-se
actualmente do projecto do rcgulamenlo dos
lyceus, para o submetter em breve a appro-
vayao de V. M. 'Neste regulamenlo espera o
conselho introduzir algumas practicas sauda-
veis, que regulem a ordem dos esludos, c que
OS lornora proveitosos, por arte os alumnos
se demorem 'nclles; sendo que nao se ganlia
tanto em extender a superlicie dos cstudos,
quanto em dar-llies forca e prol'undeza. 0
conselho em lim, meditando nas providencias
de poder banir a anarcliia, que, ha muito,
dcsune este ramo d'ensino, excogita os meios
de estabelecer a uniformidade de doutrina e
methodo nas escholas piihlicas e particula-
res. Importa a despeza da Instruccao secun-
daria, segundo oorcamento, em 63:221^310.
CoiUitiua.
MEMORIA HISTORICA E CRITICA
Sobrc a rovoluruo que cm lS4e lirou
a coroa a n. Kanrlio 11. para a dar ao
contlc dc Boloiiha. sea irniao.
Continuado de pag. SOI.
IX.
Ja acima notamos como nao era so entre
a coroa e os prelados, que se continuavam as
desavencas : os seculares achavam-sc na mesma
situacao, e as lides suscitadas entre os baroes,
0 povo, e as classes poderosas cspalhavam o
terror e a desolacao [lor toda a parte. Se o
govcrno attcndesse entao ao seu devcr, c pro-
curasse atalhar tao grande calaraidade, certo
que a tempeslade se espalhara, e nao lora de
recear; porcm a imbecilidade govcrnaliva,
a falta de energia do rei, ou sous niinistros,
a seguranca d'impunidade que linham os mal-
fcitores, foram accumulando mais e mais as
causas da revolucao, ate seu rom|)imento. A.
um estado tao alllictivo, a uma tao angus-
liada posicao, remedio nenhuni se dava, ou
por(|ue nao havia lorca sudicientc para obstar
ao mal, ou porque nao havia vontade, nem
resolucao para cohihir os excessos dos prin-
cipaes nobres e poderosos, que 'nelles tao
determinadamente hguravam; parece, que o
unico inslincto do governo, em tao agitada
epocha, se limitava apenas a conservacao dos
logares e empregos no conselho do rei! Raras
vezes mostra a experiencia nos homens d'estado
prudencia tal, que os leve a emendar aquillo
que uma vez entenderam dever jiracticar no
exercicio de suas funcvoes, e no mencio de seus
empregos. Foi exactamente o (|ue acconteccu
'nesta occasiao. Malquistado com os prelados
e baroes do reino, em vcz de atalhar a desuniao
e congracar os bandos, em que o reino es
achava, D. Sancho deixou correr a causa a
209
revelia; os aggravos foram conlinuando e as
qiieixas ii r6rlc de Roma, segundo o uso d'a-
quelle tempo, invidarani o restante'. Tao
cheias do jiistica cram as pcrlenrOes dos bispos
'nesta occnsiao, c cspocialmente as do bispo
do Porlo, que os proprios corlezaos, aquelles
mcsmos qnc mais avOssos llie dcviam ser, cram
OS primoirus a dcsapprovar as dcsinlclligcncias
do rei com os prelados, pclo rcccio (]uetinliam
de taps coiitendas. Assim veiiins o alferes-niof
Martim Amies, o clianeelltT Duraudo Froyaz,
0 senhor de Sovcrosa, e sous lillios, entre os
•[uacs ligiiia o proprio Mailim Gil, a qiicm a[)-
])ellidaram Boa-fe e quo, como intiiuamente
ligado a politica do rci, jamais o dcsamparou,
tendo sido o general de siias tropa? ale a sua
saida do rcino, assim vemos, digo, interviiem
todos a favor do dicto hispo do Porlo para
terminar csta conlcnda.
Nao era menos justa a pertencao do bispo
de Coimbra D. Tiburcio. Deixara Afl'onso II
a sua Se sole mil maravedis, para com csta
quanlia so fazcr o elauslro, que ainda hoje se
ve, iiiiido ii Iniprensa da Universidade, e con-
tiguo a mesma catbedral, para depois de con-
cluida a obra, com o resto se comprarera
propriedades para fundos.
Este dinlieiro tinha sido enlrcgue ou depo-
sitado na mao do prior do Hospital. Demorado
alii ou pela ausencia do bispo Soeiro, de que
ja dei nolicia, ou pclas desintelligencias que
este nicsmo bispo teve depois com o sou cabido
e clero da diocese, nao tinha sido cntregue
ainda, e ficara ao successor o dircito de o
reclamar da ordera Jerosolimitana. 0 rei, que
pouco alTeicoado se mostrava a D. Tiburcio,
que scmpre traclou com severidade'', cmbargou
na mao do dicto prior a rel'erida somma, e nao
consentiu que Ihe I'osse entregue. Foi por
esta occasiao, que, nao jiodendo nada obter
do rei, o bispo recorreu a Homa, e Innocencio
IV, que liavia pouco tempo tinba sido elevado
a cadeira pontilicia, expediu ao bispo eleito de
Samora eao abbade do convenlo de Pelleis, da
ordem de Cister, na mesma diocese a bulla, Sua
nobis datada V. Id. .lul. Pont. an. I (1243),
pela qual os mandava conbecer d'esta causa,
achando tao extraordinario o procedimeuto
do rei em impedir a entrega do diubeiro, e
parecendo-Ihe cousa tao improvavel, que mal
se poderia acrcditar de principe catliolico ; c
Ihes mandava alem d'isto que o obrigsssem
com censuras ate que ievantasse o embargo
' «0s instigadorea d'essa politioa deploravel, o que
fazem e condiisir oa iirincipes a uma sitiia9ao tremenda,
em que ou hao de ef,niaf:ai , ou ser esma^Mdos. " Hist, de
Portug. loin. H, paj;. 353.
* Martinum dictum bona-fe^ diz o chantre de Coim-
bra na cit. inquiri^ao. Ibid. Os outros factos sao referidos
na cit. Hist, de Portug.
^ Sao as testemunlias da citada inquirii^ao, as que
provam esla sua ma vontade, porque o chantre jura, sendo
perguntado se o rei o estimava — que ai5 uma vez presen-
cidra tratal-o bem. Ibid.
e fosse entregue ao bispo este dinheiro'.
Mas assim mesmo o nao foi, e S() se vcrilicou
a entrega alguns annos depois, sendo bispo
D. Egas Fafes.
Injusticas tao ni.mifestas, e tiio mal enton-
didos caprichos esfiiavam de lodo os aninios. e
alfastavaiu longe do liirouo acjuclb's, que niaior
interessc tinbam em eslar ligados com ellc, e
eram os piccursores da rcvolucao que breve
devia rcbonlar auxiliada por tantos e tao
graves dcscomedimentos. — « Os erros dos que
« governam, diz o cilado A., influem quasi
<' semprc mais ou menos nas revolucoes, que
« dcrribam os tbronos e nuidam as dynaslias:
« cnibora essas revolucoes parecani ter nascido
« de causas puranicnte fortuitas, das intrigas
« d'arabiciosos, das innovacoes ou da violcncia
" das paixOesi)-. Estes erros, pois, crcaram os
doscontcntes; estes a rcvolucao, <[ue nao podcra
sem grande injuslica ser impulada sonicnte
ao clero, quando nos virmos toniarem 'nella
parte os secularcs, pelo conjuncto das circum-
stancias referidas jii, no bm do n.° Y d'esta
mcmoria, e que continuaremos a dcsinvolver.
Se pois OS erros dos ijoveriumles influem nas
revolurSes que derriham os tlironos e mudum
as dynaslias, quem podcra admirar-sc da
prcsente rcvolucao, seguindo a marcha pro-
gressiva dos accontecimentos e o desinvolvi-
mento rapido que agora Ihe davam os clcmen-
tos que breve a dcviam constituir? Que estra-
nheza podera causar a commocao no reino em
taes circumstancias?
Conlinita. m. n. de VASCONCELLOS.
ENSINO INDUSTRIAL NA ESCHOLA PRIiARIA.
No seculo, era que vivcmos, tudo vae to-
mando um caracter positivo e practico. Ma-
terialisar ideas parcce ser o tim de todo o
cstudo, 0 cunbo da perl'ectibilidadc do cspi-
rito bumano. Acabou de todo a rschola pcri-
patctica. A abstraccao, a idealidade pura fo-
ram subslituidas pela realidade objectiva.
A tendencia cm todos os raraos de ensino
e para a applicaciio practica. Tempo inutil
outr'ora consummido em questoes cspeculati-
vas emprega-se hoje na parte util das scien-
cias.
* Bulla Sua iinbis — dada Agnanie V. Id. Jul. Ponlif.
aa. I. — quod vix credere possumus. — ibid.
^ .4. cit. pag. 337. — Como este A. attribue so ao
estado ecclesiastico esta revolu^ao, que considero d'outro
modo ; muito de preposito me tenho servido dos seu*
argumentos para d'elles tirar differente concliisiio: e
como as suas rasOes nao podem ser suspeitas ao leitor.
que as hade julgar iraparcialmente, ficara d'esta sorte
habilitado a apreciar sua valia, podendo d'ellas tirar u
conclusiia, que Ihe parecer mais proxima da verdade.
210
Nenlium paiz teni 'neste gcnero conscguido
tanlo, como a liiglaterra uos ullimos irez
aiinos. Por imiito tempo iiilcrior nos meios
publicos de eiisiiio a outras iiacOes, (|ue em
materia de organisacao social a imitaram.
eoiila lioje uni iiuiiiero cspaiUoso de cseiioias
pdinilares iiulusiriaes.
A Franea ainda privada d'csse genero de
iiistituieOes populares, que mais (|ue tiidu
toiieorrc para viilgarisar os coiilietiiiieiilos
iilcis, eslbrea-se por dilTuiidil-os por meio de
periodicos de i'acil cireiilaefio, e liaixo proco,
e pelo cnsino uas escholas primarias elemeii-
tares.
Daremos uma amostra d'essas lirocs, por
que !-e faca idea do espirilo e do methodo
de ensino: e oxala que eiitre nos se ache
qucm deseje imitar aqueila practical
M. Miguel, teu pae e rendeiro: poderas
dizer-me quantos hectares semeou elle este
auno?
D. Semeou trez de ccnteio e scis de aveia.
— E quantos hectares de terra aravei tcm
a fazcnda de teu pae?
— Tern trinla.
— -Restam pois vinte cm pousio, e que
servem so para pastagem: nao e isso dema-
siado?
— Para podermos cultivar maior porcao de
terreno, precisavamos de maior quantidade
de estrame; para fazer mais estrumc era
preciso mais gado; e os nossos prados nao
dao forragem para mais gado do que o que
tcmos.
— Que gado tendes vos?
— Quatro hois, duas vaccas, duas vitellas,
uma egua com scu poldro, cem carneiros, duas
eabras, e duas porcas.
— Pois, Miguel, eu conheco 'noutros de-
partamcnlos fazendas de trinta hectares, que
tem dohrado gado, e cultivam terra dohrada.
— Sera porque estejam essas iazendas em
bom paiz, em terras de trigo. Aqui teraos
haldios, terras frias, que necessitam muito
estrume, e que retem a agua, como uma
hilha.
— As plantas, que nascem naluralmente
em qualquer terra iudicam com certeza a na-
tureza d'ella, mcu auiigo; ora as terras, de
([ue vos fallo, produzem naturalmcnte, como
as vossas , juncos, giestas e urzes: a agua
licava oulr'ora 'iiellas cm todos os baixios;
e OS habitantes tinham as fehres, que nuiitas
vezes ha 'neste concelho: alii nao havia mar-
ne; em fim cram terras cxactamente como
as vossas, ate que urn estrangeiro veiu com-
prar uma fazenda 'neste paiz, e por em pra-
ctice trez ou quatro processes, que os outros
visinhos adoptaram depois que com sens olhos
viram experimental-os; trez ou quatro pro-
cessos que te faremos conhecer, se o deseja-
res.
— Fazieis-nos ricos, senhor, se nos ensi-
nasseis meio de produzir amelade d'esses
resultados, sem correr o risco de nos arrui-
narmos, como aceontece com os que os livros
eusinam. Dizem os nossos vellios que os li-
vros de agricullura foram I'eitos para liomens,
quo se tcm arruinado querendo cultivar por
forma dilTercnle da nossa.
— Podcm conhecer-se os meios de lertili-
zar a terra, mens mcninos, e nao haver todas
as (lualidades, toda a experiencia necessaria
a uiu cultivador. Os homcns, de (lucm me
I'allaes, nao tinham sido crcados no cam|)o;
nao podiam levar a todas as suas explora-
coes OS meios economicos, que vos aprcudeis,
sem 0 sabcrdes, de o vcr fazer todos os dias.
Alii esta a razao da perda de muitos culti-
vadores que seguiram methodos alias excel-
lentcs. 0 primciro meio, de que vou fallar,
niio tem feito, que eu saiba, a ruina de uin-
gucm, e tem feito de cbarnecas terras tao
productivas como as de trigo. Vou conlar-vos
a bistoria de um liomem que o iutroduziu
'num paiz semelhante ao vosso.
Era um jornaleiro pobre , porque apenas
possuia dois pequenos lerrenos de um liectar
cada um, e outro de terra inculta de cineo
hectares. Iloje e proprictario de bens (|ue nao
tem menos de t'i hectares e de feracidade
em primeira ordem. Nao era mais inlelligen-
te que a nior parte de sens visinhos que tanto
como elle desejavam augmenlar sens lucres
e procurar a felicidade de suas faniilias; com
a differcnca que em vez de se preoccupar de
todos OS meios de ganhar, em vez de consi-
derar na perda de uma especulacao, que ar-
ruinou alguem, o que de ordinario so I'az
perder tempo e causar ailliccOes, Boudin (tal
era 0 seu nome) linha como rcgra invariavel
nada emprchender que nao fosse justo, e
Deus nao podesse approvar; e assim jioupava
tempo era refle.xoes iuuteis. Fazci como elle;
no lim de cada dia tereis feito mais ohserva-
cOes proveitosas que outros 'num mcz. E uma
so observacao boa pode ser a origcm de
grandes hens.
Bo\i(lin irahalhava algumas vezes com nm
dono de furno de cal feito na extrcmidade
da charneca a trez Uilometros da terra de
trigo. Era 'ncsta ultima terra que se tirava
a pedra para a cal. Tinha elle notado que
era roda do forno, nos sitios ondc o acaso
tinha levado alguns pedacos de cal, a herva
era de cor mais carregada, e o centeio e
aveia tinham um vigor extraordinario; e que
alguns pes de trigo lilhos de graos misturados
com a oulra semente eram vigorosos, e da-
vam bellas espigas. Pensou 'nisto algum tem-
po ; e foi depois ter com o dono do forno a
pedir-Ihe os restos da cal, que ficavam era
redor do forno. Leva-os, respondeu o dono;
arabos lucramos. Boudin foi logo entender-
se com 0 lavrador, que Ihe lavrava as terras;
seis metres cubicos d'aquelles restos calcareos
211
foram espalhados em caniada sobre amelade
de um terreno dc Boudin. Depois mandou
dar uma lavra a lodo o lorreno, fel-o estru-
luar; e ao raodo usual semeou cenleio na
terra nao adubada com cal, e na outra adu-
bada luetade cenleio, e melade Irigo.
Decididamente Boudin li forca de pcnsar
crrou 0 cakulo, diziam os visinhos. Esla la-
zendo despezas para nao colber niais do (jiie
nos; taivez menos; porque o Irigo acjui niin-
ca se deu. A iinguagem poreni nuidou em
breve: na terra caleada o cenleio I'oi o niais
beilo do paiz; e o trigo como o das nielhores
terras da visiniianca.
Deu islo niuilo que fallar. Aigiins asseula-
ram desde logo imilar Boudin: depois espan-
taram-se das despezas de cal, que o dono ao
depois queria vender, e do Iransportc; alem
de que as niigallias da cal niio podiam cliegar
para lodos. E seria a cal a que I'ez o milagre,
on teria Boudin algum segredo? 'Neste esla-
do de duvida resolveram esperar.
Quanto a Boudin fez a conla das despezas,
e dos sens lucres, metlendo cm conla as
migalhas de cal, que o dono vendia dgpois
a 10 francos o metro eubico, acliou que o
oitavo de iiectar caleado, e semeado de Irigo
Ibe rendera 30 francos liquidos , e assira
0 rendimento de todo o terreno foi clevado a
240 francos. 'Nesse tempo vendia-se o bectar
de terra 'naquelle paiz por 320 francos.
E nao se limilava a eslc todo o proveito:
a aveia semeada produziu muitomeihor; e
depois a erva foi mais forte e de mellior
qualidade, que quando o lerreno andava em
pousio. 0 professor d'aqueila povoacao era
mofo estudioso e amigo de fazer bem. Miiitas
vezes a tarde voltando Boudin do seu tra-
balho 0 encontrava so passeando com urn
livro na mao: algumas vezes o bavia inler-
rogado para saber o por que de algumas cou-
sas; e elle Ibe bavia respondido logo, ou
trasido a resposla dias depois, sc algum estu-
do a pergunta exigia. Assiin se eslabelecera
entre os dous unia alfectuosa conlianca. Foi
pois consullar o professor sobre a causa d'a-
(|ue!les bons resullados.
Nao meadmiro d'elles, respondeu o profcs-
fessor. Da niuilo que em algiins silios de
Inglaterra, onde a terra c muilo fria, usam
OS cultivadores cobrir de cal os seus alquci-
ves, e acbam-se bem com isso.
Mas qual e a causa? como produz a cal
esse elleito? poderia eu supprir esses residuos
de cal com ella pura em menor quanlidade?
e poderia dispensar o eslrume a operacao da
cal?
Nao vanios tao apressados, repeliu o pro-
fessor; eu vou tractar de vos dizer como os
sabios explicam a acjao da cal: e depois vos
direi, ou antes vos comprcbendcrcis que a
cal nao dispensa o estrumc.
Nao vos direi, meus meninos, palavra por
palavra o que o professor disse a Boudin para
Ibe fazer comprebender como a cal dispoe a
terra a produzir colheitas mais abundantes.
Mas vos mesmos o advinbareis nas reflexoes
(|ue vou fazer.
Todos vos Icreis por divertimento semeado
alguns graos de trigo em terra bem prepara-
da. Nasce; comeca a crescer; e se enlao o
arrancaes e levaes a balanca , peza niuilo
menos do ipie no tempo da collieita clieio de
espigas. D'onde vem pois esle pezo? d'onde
veiu essa materia, quo.tanto o augmenta em
alguns mezes?
0 trigo, disse um alumno, lira da terra
0 estruine que Ibe lancamos.
E estaes bem cerlo, disse o meslre, i|ue
nao pode vir dc outra origem: nao tendes
ouvido dizer que em terra muito estrumada
0 trigo tern caules tam fracos, que ([uebrain
ao menor sopro de vento? 0 eslrume nao da
pois ao trigo tudo o que precLsa para bem
produzir: oulras causas ba mister, que se
nao acbam no eslrume. Mas o que? e como
0 havemos de saber?
Se algum d'esses sabios, que fazem livros
de agricullura, nos ensinar que subslancias
sao essas que o trigo precisa ; e em que quan-
lidade devem exislir na terra, nao julgas,
Miguel, que nos faria um bom service?
De cerlo, senbor; porque assim (icavamos
sabendo o que baviamos de ajunctar ao terre-
no pobre e esteril.
Todos OS homens precisam uns dos outros,
meu amigo: o jornaleiro do sabio; o sabio
do jornaleiro. Assim quiz Deus que fosse,
para haver razao dc nos amar-raos mutua-
mcnte. M.
SEC^.iO DE MATHE3IATICA.
Proseguindo no empenho de reimprimir no
Instilulo OS escriplos de rcconliecido mereci-
niento, quo a incuria dos bomcns ou a vi-
cissitude dos tempos tem tornado raros ,
apressamo-nos a publicar em seguida os
opu.sculos de dois sabios porluguezes, que.
pelo seu subido engenho, deixaram nonic
illustre nao so na palria, mas ainda enlre os
estranbos. E sao: um Ensaio sobre os princi-
pios lie Meclianica do insigne nialbemalico,
e lente 'ncsta nossa Universidade de Coini-
bra 0 sr. Jose Anastacio da Cunlia ; e Notax
(10 ensaio sobre os priiicipios de Mechanlca
do nosso illustre e bem conhecido compatrio-
la, ha poucos annos fallecido, Silvestre Pi-
nbeiro Ferreira.
0 Ensaio sobre os priiicipios de Mechanica,
obra posthuraa do seu auclor, era apenas um
esboco de um iractado complelo de Mecha-
212
iiica, que o sr. Jose Anastacio projectava
eserever; o que (lesgiaradamonle iiao pode
realisar cm cdiiscciiicmia da sua morte pre-
matura. Foi puljlicada em Lnndres, em ISOT.
pclo eondc do Funcliiil, I). Doniingos, pos-
suidor do manuscri[)to autliof;rapho, iia im-
jireiisa de Cox, son, and Itaylis.
As iSolas «f) A'h.s'hio foram iniprossas em
Amsterdam , na offieina dc Belinfantc c
eomp., no anno de 1808.
I'ara esta reimpressao tivcmos dc scrvir-
nos dc dnas copias nianuscriptas , porque ,
apesar das dilifjencias, nao pudemos alcancar
OS opuscules impressos. Estamos poreni se-
guros da (idclidadc das mesnias copias.
I'. C. K.
ENSAIO SOBRE PRINCIPIOS DE MECHAHICA,
poll
J. ANASTACIO DA CUNHA.
Na maior parte dos innumeraveis livros,
que se tcm escripto sohre a mechanica, tudo
parccc facil ; c as chamadas demonstracOes
dos mesmos poulos, que per fim se tern acliado
escurissimos c mui ditlicultosos, principiam
constanteracnte pelas costumadas lornuilas,
il est clair ; il est evident ; il est visible ; il
est palpable, etc. Mas vieram grandcs geome-
tras, e grandcs philosophos, e quasi todos os
principios fundamcntaes d'esta sciencia ap-
parccerara ccreados de dilliculdades, d'onde
rcbentaram muitas, mui rcniiidas, c ainda
nao dccididas controvcrsias.
Desde que os philosophos principiaram a co-
nheeer os danuios (|uc resultam do abuso da
metaphysica, c a desconfiar d'eila; desengana-
dos, (|ue de cem dispulas, quem gera, mantem
e propaga as nnventa e nnvc, e a cscurida-
de e a equivoracao annexa a certos ternios
al)stractos, eujos olijettos sao puramcnte inia-
ginarios, meros cntes de raztio ; nu para f'al-
lar mais ehiro, uns termos, que, a nao sc
lomarem unicamenle eomo abhreviaroes das
descripcOesprolixasdealgunsphenonu'nos, nao
tern objeeto real : entraram a clamar, (]ue o
erro esta em altribuir existencia, ou physica,
ou mathematica , e analogias gcometricas a
essas cntidades fantaslicas, vulgarmcnlc dcsi-
gnadas pelas palavras, velocidade, movimento,
forra, etc.
Outra equivoracao, que me nao Icmbro de
ter ainda acliado sufficientemente exposta ,
ainda que mui principal (talvez a mais prin-
cipal) cntre as que tem dividido cm bandos
e seilas OS mathematicos e cscandalisado cs
prolanos; e a que precede de se nao dislin-
guir, se o tractado de mechanica, a cfirca do
qual se disputa, e puramcnte mathematico,
ou sc tambem e physico. A Dynamica de Mr.
d'Alembert, v. g., e puramcnte mathematica:
a obra dos principios 6 physico-mathematica.
0 auctor de um tractado puramcnte mathe-
matico, podc-se dizer que e um legislador,
um creador; o auctor dc um traclado mathe-
matico dc physica, e mere iiitcrpcirc c com-
iiiciitador da nalureza A vcrdadc malhema-
lica nao consislc senao na legiliiiiidade com
que OS theoremas c as solucocs dos prolili'mas
se dcrivam das deliiiicoes, pustuhidos e axio-
mas; porem as delinicocs, [losiulados c axio-
mas, podc-sc dizer que a nenhiima lei sao
sujeitos. D'aqui vein (jue muitas coisas, que
na ]iliysica sao c devcm ser objcctos de de-
monslracao experimental, na mathematica nem
devcm, ncm ordinariamente podcm scr de-
nionstradas. E de qucrerem por nos tractados
mathematicos como theoremas, o i|ue deviam
por como delinicocs ou axiomas, e de teima-
rem nos tractados physicos em demonstrar ma-
thematicamenle o que so a expericncia pode
provar , tcm resultado muito principalmcnte
tantas altcrcacoes.
Yerei sc exponho mais claramcnte o meu
pensamcnto, cxemplilicando-o. Nos principios
malhemiiticos de philosnphia natural nao ha
dclinifdcs senao de nomes: nao ha axiomas ',
nem postulados , nem xa,u.ga»!)fA£va ; ha leges
mollis ensinadas pcla naturcza ; islo e, inda-
gadas e conhrmadas pcla expericncia : o que
a isto se segue, c que e tudo mathematico.
£m lim o auctor dc um tractado mathematico
de physica cum geomctra que resolve problemas
propostos pcla naturcza: se omitte algum dos
dados, sc os altera, se Ihcs subslitue outros,
ja 0 problcnia que resolve, nao e o que se
Ihe propoz ; ja o geomctra nao e, se nao o
auctor de uma novella.
Como auctor de uma novella se pode, por
outra parte, considerar quem compoe um
traclado puramcnte mathematico. Goza dos
mesmos privilegios que se concedem pictori-
bus ulqne poetis. Posso, v. g., inventar uma
nova curva e dcmonstrar varias das suas
propriedades. Posso escrcvcr um tractado
d'optica, em que tome como hypothese, que
a luz .se propaga nao em liiiha recta, mas
cm linlia circular, ou cm qualquer outra
linha. Posso compor uma mechanica, sup-
pondo as leis do movimento que eu muito
quizer. E se os mens theoremas c as minhas
solucOes dos problemas forem Icgilimamen-
te dcrivadas dos principios que cstabeleci,
ninguem me podcra arguir de erro.
Poderao sim ccnsurar-me dc ter indigna-
mente abusado do precioso tempo, se essas
bem ajustadas c talvez elegantes theorias se
nao podcrcm applicar ii philosophia natural;
se d'cllas nao podcr tirar o gcnero liumano
ulilidade: e esta so consideracao e que pode
e devc por limites ii imaginaciio do inventor.
For isso 0 geomctra, que nao quizer incor-
' Tdmo esta polavra no sentido nail vulgar, isto e,
propoiifSo em si mesmo eridente.
213
rer na censura de inutil, deve tomar, por
principios ou hypotheses, nofoes conirauns,
verdadcs de facto, que a natureza, que a
experiencia ensinam: entao o physico mostran-
do que os corpos naturaes sao (ou exacta ou
proximamentc) dotados d'aqucllas mesnias pro-
priedades, que o gcometra suppoz nos corpos
ruathematicos, podera I'azcr uiua feliz applica-
cao da theorica puramente niathoniatica a
alguns assumptos pliysicos.
Assim no livro dos principios as leis intitu-
ladas do movimento, nao veni denionstradas
geometricamcnte ; mas de serem reahnenle
as leis que a natureza segue, da sir Isaac
por liadora a mosma natureza : quero dizer,
que as aljona com a expcriencia. Os auclores
que depois teni eseripto sohre o niesmo as-
sumpto (c alguns d'elles grandes geometras)
tem-se cmpenhado era aciiar denionstracoes
malhematicas d'aquellas leis , — porcm de-
balde.
Debaide ; e para fallar com propriedade,
nem parallogisnios inathematicos se podera
chaniar os que ofl'erecera conio denionstracoes;
pois se fundani em principios ou subtilezas,
que antes pertenoem ao qua chamam ontologia
e cosmologia.
A. inercia dos corpos, e a composicao e
resolucao do movimento, teni sido principai-
nicnte objecto das fadigas de alguns dos
maiores geometras. Mas, se o tractado que
escreveis e puramente mathematico, a inercia
vae sempre incluida na hypothese. Todas as
vezcs que era um theorema ou problema
suppuzerdes o corpo quieto, quieto o tereis,
porque assim o suppuzestes ; porque oulra
coisa seria contra a supposicao. Se tendcs
estabelecido algumas leis, segundo as quaes
alguiua causa em certas circumstancias altera
0 estado de um corpo quieto ; e se na hypothese
se indue a presenca d'essa causa e d'essas
circumstancias, para algum determinado in-
stante ; 'uesse instante se executara a mu-
danca conforme as leis suppostas ; e nao por
outra razao, senao porque qualquer outra
coisa seria contra a supposicao. Similliante-
mcnte se pode discorrer a cerca do corpo que
se move. Assim, qucrer provar eiu um tra-
ctado puramente mathematico a inercia dos
cor[)Os, e querer provar o mesrao que se sup-
poz ; e que denionstracoes se podem esperar
de tao aijeometrica pertencao, que nao sejam
illusorias ?
A composicao do movimento nao pode
entrar em um tractado puramente mathema-
tico, se nao como hypothese, ou Xajigavojievov.
Ha uma causa, 4 B
razao ou motive,
que , por si so ,
faria que um mo-
vel , actualmente . —
em A, descreves- ''•
se uniformementc a recta AB, no tempo em
que oulra causa, por si s6, Ihe faria descrever
a recta AC: que ha de resultar d'eslas duas
causas junctas ? Todos principiam inferindo,
ou expressa ou tacitamente, que dc haver uma
razao para que 0 movel descreva a recta AB,
c no mesrao tempo outra razao para que
descreva a recta AC; e de nao poder 0 movel
descrever ambas as rectas a um tempo : se
segue, que ha de descrever uma recta no
piano BAC dentro do angulo BAC. E depois
de dizerem, conlorme 0 costume, que isto e
evidente, ou paljmcel , vae cada um, como
pode, edilicando sobre este alicerce a sua
demonstracao. — Que 0 movel nao ha de des-
crever as rectas AB e AC no niesmo tempo,
evidente e: mas 0 que deve resultar do con-
flicto das duas causas contradictorias: se ha de
descrever uma recta depois da outra ; se
ha de descrever alguma outra linha ; e que
linha ; e em que direccao ; se ha de hear
parado; se se ha-de aniquilar ' ; translormar ;
etc. etc. etc. ; quem 0 pode mostrar a priori?
Ilallucina-nos, por uma parte aphisica, mos-
trando-nos 0 que 'nestes casos succede nos
corpos naturaes ; e por outra, a ambicao de
dar
a razao de tudo a todos ' ;
ambicao, que nos leva a suppdr uma serie
de denionstracoes inlinita, e por conseguinte
inipossivel c absurda ; ou nos faz caliir no
circulo logico.
Facanios abstraccao do que achamos na
natureza a cerca da composicao do movimen-
to e comparemos 0 argumento acima com 0
seguinte. « 0 movel deve por uma razao
acbar-se na recta AB ; por outra na recta
AC: logo nao sahira do ponto A, que e 0
unico ponto conimum as duas notas. » Qual
parecera mais evidente, ou mais hem fundado
a um entendimento livre de preoccupacao ?
0 ultimo ao nienos assemelha-se niuilo a
demonstracao da proposicao IX do 3." Liv.
dos Elem. de Euclides. Mas vos (me dini ([uem
propOe 0 outrij) nao mclteis na conta uma cir-
cumstancia das mais essenciaes da hypothese;
nao fallaes no movimento. — Isso remedea-se
facilmente: dirci pois assim: « Deve mover-se
na recta AB; tamheni na recta AC; logo mo-
ver-se-ha no ponto A; e soniente no ponto A,
pois so elle e comnium as duas rectas. » Se
vos espanta um movimento sera mudanca de
logar; dir-vos-liei que o movel se move no
ponto A com 11 ma velocidade infinitamciile pe-
(/HcHfl. Seainda esta resposla vos nao satisfaz,
cont'esso, que nao sei como vos possa obrigar
a adiniltil-a; nias reineter-vos-hei aos moder-
nos analystas methaphysicos, os quaes profes-
* O prande Euler nao acha outro meio de explicar
a solu^ao de cerlo problema de mechanica, senao dizendu
que o movel 'naquelle caso se aniquila.
■' O qtte tieu a raziio^ de tudo a todos. Verso assaz
conhecido 'neste tempo. E de um soneto feito a morte do
celebre conde de Ericeira.
214
sani explicnr similhanles noroos com a maiof
facHidade. dareza e efidencia — Oh! Meta-
physica ! Metaphysira ! sp todus bein ponde-
rasseni quanlo es versatil !
Nao ; nem da inorcia dos I'orpos, neiii da
tomposi^'ao, nem da comnuinic?i(;So do mo\i-
racnlo, podem os homeiis dar oulra prova
senao a evpericncia ; nem oulra razao, sonao
a livre escollia do crcador.
Em mil tractadn puranieiile iiialliemalit'o
j;i ohscrvamos que e (reader o mesmo gco-
melra que o conipoe. Em um trartado matlie-
matit'o de pliysica, nada podera dizcr fom
verdade, que nao seja legitiinamenle deriva-
do das leis, a que o Ser Supremo sujeitou a
nalureza.
Pergunlcmos pois a nalurcza mosma quaes
sao estas leis: perguntcmos-lho por via da
expefiencia : mas com sinceridade, com docili-
dade. Se clla mesnia nol-o nao ensinar; se
clla mosma nos nao disser o seu segredo ;
dehaldc martyrisaremos a imaginacao para
que nol-o descubra. Deseiigancm-nos as IVe-
neticas e fruslradas tcntativas de tanlos presu-
niidos (e alguns na realidade grandes) enge-
nhos, que aspirando a luua indcpendcncia
alisurda, desprezando-se de aprender, cuida-
ram (|ue tudo podiam adivinliar.
Nao rac dcmorarei com outras questoes ;
lacs como a Iheorica melhapliysica da com-
niunicacao do movimenlo; a razao porque e,
fdt=ih\ as forcas vivas de Leibnitz; etc.
porque me parecem (e digo-o com toda a
humildadequeposso) tolalmenteinuteis. Todas
nasccm, e se niantem de altribuirem os au-
clores sujcito rcalmcnte existenle aos nomes,
velocidade , movimenlo, forca , etc. ([ue na
realidade carccem de sujeito.
Nns principles que proponho, denote com
alguns d'esles nomes cerlaslinhas on numeros;
— nao como realmente cxistcntes, nem aiiula
come propercienacs a alguns entes realmente
existentes, pois taes entes nao ha. — Eslas
linhas ou numeros (mesmo na applicacao da
mechanica mathematica ii pbiosophia natural)
sao meros symbolos (e symbolos arbitrnrios),
que depois de combinadns, ou desinvolvidos
secundum urtem, denotam ou deterniinani, que
relacao ha cntre os espacos descriplos em certos
tempos, ou entre os tempos em que se dcscre-
veram certos espacos. Escolhi estas linhas eu
numeros e os sous nomes , de sorte , que
mesmo com a signilicacao assim allerada ,
possam quadrar as excellentes lucubracoes
geometricas c analylicas, com que grandes
geonielras tem enriquecidoo mundo. — Assim
(se 0 desejo me nao engana) (icara a mecha-
nica mathematica , verdadciramente mathe-
matica sem mistura ; c podera ajudar a pliilo-
sophia natural a desviar-se da perigosa cora-
panliia da melaphysica.
Continua.
X. MARMIER.
1' Ha dose annos, que eu alravessava pela
seguiida vez a Laponia, parando em cada
povo de Lapoes pescadores, em cada acampa-
nienlo de Lapoes nomadas , e observando a
jiliysionomia, e os costumes d'essas antigas
povoacees, repellidas por uma raca con(|uista-
dura para as scrras do norle, como os Indies
para o dezerto.
Ma quatro annos que, no caminho de Je-
rusalem ao Mar-morto, eu tinha outio objecto
dVstudo na pessoa d'um honesto salleador
lU'diiino, que, mediante nm cento de francos,
nie escoltava com doze homeiis do seu clan
vagabundo.
Ha trez annos que, no El-Arisch, nas pla-
nices do Egypto, e alguns niezes depois na
Argelia, para alem dos mures de Constanlina,
eu assistia aos cxercicios ei|ueslres , as bri-
Ihantes fantasias dos arabes , e>tes valentes
lilhos do islamismo, vencidos algumas vezes,
mas semprc indoniaveis. »
Assim diz o erudite conservador da biblio-
thcca de Sancta Genoveva cm Paris, iraduc-
tor de Schiller e Goethe, delicieso narrador
de suas incessantes e extensas viajens, proximo
a enlrar em uma povoacao d'lroquczes no
Canada. E nos, que temos a jjcito fazel-o
mais conhecido da mocidade, curiosa de lei-
luras amcnas e instruclivas, entendemos dever
dar principle por aquelle pequeno trcclio, por
isso que lacilnicnte se deprchende por elle
quao rica messe de nolicias hao de encontrar
nas suas — Lellres svr le Nord, Ihlande, la
Ilollnnde, la liussie, I'Algerie, du Rliiii au!\'il,
sur l'Aiiieri(pie, du Danube ou Caucase, etc.,
em poucos e pequcnos volumes, de preco com-
mode.
Nao e dado a nossa fraca e mui cancada
penna o poder analysar e expor dignamente
as bellezas do csiylo, o fundo de scntimento,
a elevacae do pensamento, o complexo d'har-
nionias, a curiosidade e viveza das imagens,
0 incanto das carlas de Mr. Marmier, cujas
ultimas se aventajam sobre as jirinieiras d'um
mode surprebendcnte. Extrahiremos uma ou
oulra passageni, quanlo baste ao nosso iiituite;
e nao sorao mister niuitas para juslilicar o
nosso juizo.
As cartas sobre a America ', sao endereca-
das a uma senbora ; e por ventura esta ahi
a explicacao do singular mime e delicadeza
com que sao escriptas, mais poeticas que as
anteriores, mas nao menos noticiosas, positi-
vas e circumstanciadas, como se vera do
seguinle primeiro trecho, que Irasladamos.
« Formosa cousa sao todavia as descubertas
da industria ! (Assim comeca a carta VII).
Se alguma vez, na minha ignorancia, ouzei
' Paris laSl, 8 vol. io 18 (Bertrand).
215
fallar d'ellas em torn menos reverencioso,
resolvi emendar-me; e d'ora em dianle in-
clinar-me-hei com legitimo respeilo na pre-
senca d'esta nova manifestafao do espirito
humano.
E se estaes curiosa de saber, qual raio de
luz me descprrou os olhos ; como chcfjuei a
fazer um serin exame de conscieiicia, e a
reconhccer a minlia iiijustica, vou dizer-vo-lo.
Esperava eu umas cartas da cara pallia,
que um amigo liavia d'ir procurar para mini
ao correio da New-Yorck, e mandar-me a
Montreal. Cada manha via luzir estas cartas
na minha esperanca ; e, apenas chegava o
vapor, corria ao encontro do carteiro : mas
o carteiro nao respoiidia a minha pergunta
senao por um signal ncgativo com a cabeca,
e continuava seu caminho sem fazer caso
da minha decepcao. Tcndes esperado , no
curso da vossa vida, algumas cartas deseja-
das, e sabcis quao longo cntao parece o tempo
d'um ao outro correio ; e como imaginamos
toda a sortc de chimeras raais ou menos allli-
ctivas.
Dcpois de ter inutilmente imporlunado com
as minhas perguntas quotidianas os honrados
empregados do correio d'esta cidade, suspei-
tado sua exactidao, creio ate que a sua pro-
bidade, o melhor meio de por fim aos meus
cuidados era evidentemenie escrever para
New-Yorck, a saber se a minha recommcnda-
cao tinha sido cxecutada. Mas d'aqui hi, iia
perto de duzentas leguas, trez dias para ir,
trez dias para voltar : em seis dias, facilmente
se pode morrer scis vezes d'impaciencia. Um
honrado cidadao de Montreal, tocado du minha
aflliccao, e mostrando-me com o dedo um lio
d'arame que me bahincava sobre a cabeca,
ensinou-me um meio de correspondencia mais
rapida. Dirigi-me ao escriptorio do teiegrapho
electrico, aberto aos particulares como aos
agentes do governo: pela somma d'um dollar
expedi a minha peticao por este postilhao
aerio, que uma crianca fazia mover diante
de mini, pondo a mao era uma niola magica.
0 maraviliioso teiegrapho foi procurar o mcu
amigo ao centro d'unia hospedaria de New-
Yorck ; e trez horas depois voltava com a
mesma intclligencia a procurar-me para me
fazer saber, que as niinhas cartas me tinham
sido expedidas ; mas que, teudo havido o
esquecimento de as franquear, tinham pro-
vavelniente licado na fronteira. Um novo
signal do teiegrapho bastou para as reclamar
era Burlington; e no seguinte dia pela manha
chegavam-me pelo vapor.
Eisaqui unsinventos, pelos quaes a physica
realisa os sdnhos da poesia, umas niaravilhas
que teriam conservado desperto o difficil suitao
dos contos arabes, c salvado certamente, a
milesinia segunda noite, a cabeca da enge-
nhosa Scheherazad !
Continua. A. F.
NOTICIAS UnERlRHS E SCIENTIFICAS.
EflTeiloN flo raio. 0 doutor Boudin apresen-
tou. a acadcmia de Paris, uma inlcressante me-
moria siibre o raio. Diz cste medico francez ha-
ver observado alguns individuos fulminados, que
tinham iiu ciirpo imagcris exaclas de objeitus pro-
ximos d'ellcs, na occasiao da descarga eleclrica.
Ja Franklin rcl'crc, que estando nm hcimcm
a porta de casa, em dia de Irovoada, se Ihe atliuii
no peito o desenho da arvore fronteira, ondc ca-
hira o raio, que o fulminou. Orioli falla de uma
senhora, que apoz uma tempeslade, vira no pe
debuchada a (lor, que tinha ii janclla, cm um
vazo. Em 1825, succedou que no berganliin
Uuen Serro, fuudiado na mar Adriatico. foi feri-
do de raio um marinheiro, que se tinha senla-
do juncto de um maslro : estava alii pendurada
de um prego uma ferradnra de cavallo : exami-
nado 0 cadaver, nao se Ihe encontrou feiimcnlo
algum, senao a impressao exacta da ferradura.
Quasi pelo mesmo tempo, foi fulminado, cm
Zante, um marinheiro, em cujo peito se vio dcse-
nhado o n.° 4i, que estava fixado no appardho
do seu navio. 'Naquella mesma ilha, examinado
0 corpo de um rapaz morto de raio, descobri-
ram-se-lhe, no hombro, varies circulos de diffc-
renles diametros, conformes com os das moedas
que trazia 'num embrulho, que ficou intacto.
Eis ahi uma serie de factos immensamcnte
curiosos. Alguns sabios prelendem ver 'nesle phe-
nomeno uma cspecic de daguerreotipia ou pho-
tographia natural. Nos' consideramol-os como
amosira escassa dos riquissimos thesouros, rescr-
vados pela natureza aos novos talentos, que hao
de enriquecer a sciencia do homem.
DeKapparccinienlodapopiiIarstonns
iSlBa<« rtf ^atidiTicli. A populacao 'nestas
ilhas tem diminuido 'numa progressao espantosa.
Els 0 que se le a este respcito 'numa carta de
um missionario, publicada no ultimo numero dos
Aimaes da propagaj-tio da Fe.
« Poderia dizer-se que os missionarios estiio
aqui para assistir aos funeraes d'esta narao. \
proxima desapparicao do povo havano parece imi-
nenle. i\o tempo de Cook exisliam 'nestas ilhas
300:000 habilaules: na cpocha da regenle Kahu-
manu 150:00!); em 1836 108:000; em 1830
78:000; era 1854 somenle 71:000 habitantes!!
Na historia do mundo uma deslruicao , como a
que 1cm tido logar 'nesle archipelago, e sem exem-
plo; e, se a desproporc.5o annual enlre a cifra
dos obitos e dos nascimentos conlinuar na mesma
escala, os nossos successores no apostolado, e
lalvez mesmo alguns dos nossos contemporaneos
tcrao de pregar o e>angeIho a novos coIonos.i>
CORRESPONDENCIA.
Recebcmos uma carta do nosso collega o sr.
Miguel Ribeiro de Vasconcellos , em resposta a
outra do sr. .\lcxandre Hcrculano, que publicii-
mos no numero anteccdenle.
Sera tambem publicada 'num dos proximos
numeros. Os RR.
216
OBSERVACOIiS SlETIiOUOLOGlCAS, FEITAS !\Q GABl.NETE DE PIIYSICA
DA LMVEllSIDAOE l)E COIMBUA.
Anno <!(!
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PfpisSo nlmojjihericH ao meio dia
Altuia baio-
mctiica ■ 0"
daetcali cea-
ligradi.
MilliuK-lro,-
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755,989
734,217
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750,361
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749,662
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755.102
752,193
747,7:ig
748,016
749,793
751,748
732,193
751,311
750,805
752,829
755,736
754,601
756,142
755,483
732,952
752,193
750,624
Tensao do
vapor aquoio
conlido no ar
Mllllilli'ln,
22,»26 I 751.531
Teuij/eratiira
Maxim, absoj. 25**
Minima aLsol. 21**
Max. varin^Jiu 4"*
12, 11.17
13,230
12, 8.17
12,632
12,738
12,341
13,230
12,833
12,889
12.833
12,146
12,833
12,638
12,933
12,519
12 146
12.307
13,414
13,231
13 109
13,018
13,870
13, '■.61
12,720
11,577
11,4119
13,326
12.833
13,129
13,522
12,323
PresSiio ilu
ar st'cco
Miihiiu'lt..
744,161
742,739
741,380
739,875
739,455
714,542
739,723
737,531
734,923
736,829
742,071
739,106
737,907
738,753
742,583
740,047
735,282
734,602
736,542
738,639
739,175
737,441
737, 14t
740,109
744,159
743,112
742,816
743,650
739,823
738,671
7311,299
KiiUilu liygruinetricu ijii
ahno.split-Tii HO iiu-iimIih
Crau d'htimi.
dade do ar,
rcprcicHlando
por 1 o c»la-
do de laLura-
fio.
Prcssao atiiiospherica
mm
Max. absol. 737,001
Min.absollil. 726,88.1
Max. excvirs. 31,118
0,652
0,673
0,1152
0.ri62
0,647
0.627
0,673
0,652
0,096
0,652
0,617
0,652
0,61)3
0,6.^7
0,677
0,617
0,531
0,569
0,634
0,687
0,662
0 664
0,653
0,609
0,588
0.350
0,677
0,652
0,667
0,687
0,590
0,642
Quantid. de
vapor rontidc
12,619
13.005
12.619
1 2,-4:19
1^,251
12,13!
13.005
12,615
12,712
12,615
11,940
12,615
ll!,-46J
12,713
12,347
11,940
12,171
13,053
12,9ti2
12,90y
12,797
13,688
13.38*
12,462
11,380
11,250
13,099
12,615
1 2 906
12,292
12,075
Gran d'' humidade do ar
Maximo .... 0,696
Minimo .... 0,531
Maxima varla^. 0,165
F.slado do chi r do
tem/to 00 tneio dia.
Clar. t' ]im| . B. tcm|i.
O nnsmo O niesnio.
O ine-iiiiin O niL'sniu.
O niesuio. O mesmo
O mcrtniu. O mesmo.
O niesmo. O mesmo.
NiiLiladu. Bom leinjio.
O mesmo, O mesmo.
Enruberto. T.cliuvoso.
Nublado. Bum tempo.
O mc«mo. O racsmi).
Clar. e lintp. O mesmo.
Nublado. O mesmo.
O mesmo. () raosmo.
O mecmo. O mCHmu.
O mesmo. O mesmo.
Clar. e limp. O mesmo.
O mesmo. O mesmo,
Nubladu. O mesmo.
O mesmii. O mi'smo.
O mesmo. O mesmo,
O mesmo. O mesmo.
O mesmo, O mesmo.
O menmo. O m-'smo.
Clar. e limp. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O [ii'-siiui. O mesmo.
O mesmo O meiiinu.
Nublado. O im-smo.
O racsmo. O mt'.-imn.
O me&mu. O mesmo.
f'cntos dominant
N. e O.
Coiuibra, I.** de Agosto de 1855.
Mat/iiat de Carcalho de f'asconcellos , Lenle Snbstituto dePhysica.
® Jn0titttt0)
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
EXPEDIENTE.
\ssigna-se cste Jornal cm Coimbra no Ga-
hiaete do Instituto; em Lishoa na livraria do
sr. Cobellos, rua Augusla ii.° 2; no Porto na
do sr. Jacintho A. Pinto da Silva, rua das
Hortas n.° 144; em Evorn na do sr. V. J. da
Garaa, collegio do S. Paulo; no Pezo da Re-
gua na do sr. M. Mendes Osorio.
Toda a correspondencia franca de parte sera
dirigida — A' Redaccao do InsliMo. Coimbra.
Preco, adiantado, por anno, ou 2i
numeros, francos de porte 1^440
Porsemestre, oul2 numeros, dictos 800
Avulso 100
Para os srs. Assignantes os numeros,
que llies faltareni d'este 4.° volume se-
rao pelo mesmo prefo da assignatura
annual, ou cada um 60
Os exemplares que restam dos volu-
mes 1, II e III d'este Jornal vendem-se,
cada um, por 1^200
CONSEIHO SliPERlOR DE IKTOUCCAO PtBlICl.
RELATOniO ANNUAL.
1850—1831.
Continuado de pag. 208.
PARTE QUART A.
Instruccao especial.
Assim como nas disciplinas dos conheci-
mentos industriacs, tomo se disse, estamos
ainda atraz d'outras nacoes, Senhora, assim
tambem nao podemos por ora hombrear com
ellas na instruccao especial das Bellas Aries;
as quaes, destinadas ao ensino de desenho,
pintura, architectura e gravura, unem o util
como deleitoso. Todavia as obras emprehen-
didas e acabadas nos ultimos tempos, por
alguns artistas, nao deixam diivida de que a
feliz applicajao das regras do bom gosto aos
artefaclos ha concorrido para o nosso adiaq-
lanicnto nas arles I'abris ; e claro teslemunho
Vol. IV. Janeiro 1.°
dao dc que as Bellas Artes em Portugal po-
dem ser com distinccao cultivadas. As acadc-
mias de Lishoa e Porto constituem, entre nos,
0 ceiitro de todos os conhccimentos artisticos,
offerecendo auxilios e meios de raelhoramento
aos officios e artes industriacs.
As aulas da academia de Lishoa, que no
anno anterior haviam sido frequentadas por
250 alumnos deram ensino a 266 no anno
lectivo findo, sendo, d'aquelle numero, 186
OS que concorreram as aulas nocturnas; a
dilTerenca para mais e por conseguinte de
16 alumnos. Com esta academia faz o estado
a despeza de 12:163^530 reis, liquidos de
impostos. A academia Portuense, que no anno
prelerito tivera 90 alumnos, teve 'neste ulti-
mo 103; sendo para mais a dilTerenca de 13
alumnos. Tern esta sido custeada com a quan-
tia de 4:744^500. Mas em arabos os estabe-
lecimenlos, embora va crescendo o numero'
dos alumnos, que, segundo os relatorios, tfim
aproveitado, sendo alguns distinctos, e ha-
vendo outros merecido, alem da approvacao
plena, elogios na conferencia, embora tenha
liavido regularidade nas aulas, e em quasi
todos OS professores pontual desempenho de
suas ohrigacoes: ha todavia inconvenientes,
que importa remover. Uma e outra academia
carcce de meios de desinvolvimento; e a le-
gislacao e regularaentos da sua administra-
cao demandam modificacSes, que o sabio
governo de V. M. se dignara de promover
opportunamente.
Entre os inconvenientes, dous sao os prin-
cipaes : 1.° a falta de capacidade nos edifi-
cios; sendo que o de Lisboa se acha muito
circumscripto, pela occupacao de dous corpos
militares, que Ihe tomam muitas casas neces-
sarias: e no do Porto faltam egualmenle salas
para as aulas, maiormente para as nocturnas
de desenho e architectura, que de muita
vantagera seriao para o aperfeicoamento da
industria nacional. 0 2.° inconveniente e a
falta de gessos, estampas e livros. Ja a con-
sideracao das cortes foi pelo governo de V.
M. ofTerecida uma proposta de lei para ser
auctorizada a despeza de 600^000 reis na
compra de uma colleccao de modelos, em
gesso, das estatuas e bustos antigos para os
exercicios escholares da academia de Lisboa:
as passadas cortes Ih'o concederam, e V. M.
-1836. Ndm. 19.
218
o sanccionou pcla carta dc lei dc i3 d'abril I
de 1850. Egual coacessao pediu a acadeniia
Poitut'iise a V. M., que em portaria de 3
d'outubro ultimo ordena ao coiisclho superior
de instrurrao piiblica propouha o que a tal
respeito julgar convenienle, quando ao mi-
nisterio dos ncgocios do reino cnviar o re-
latorio annual do cstilo. Tor onde o consellio
tern a honra de levar a alta considerafao de
V. M. a proposla de lei, para que a acade-
mia Porliiciise das Bellas Aries se fafa a
inesma concessao, que se fez a de Lishoa.
Uo estado do eonservalorio real dc Lisboa,
em relaeao as trez escliolas eom elle juncta-
lueute creadas para cullura da musica, de-
flamaciio e dansa, nada piJde este anno dizer
0 couselbo, por Ihes nao ler sido presente o
respeclivo relatorio, como ja no anno ante-
rior accouteeeu, e se levou ao conhecimeulo
de Y. M. Conlia porcm o conselho no provi-
dente governo de V. M., que eonbecedor
da grande inlluencia da musica e d'outras
arles do gosto sobrc a educacao civil e moral
dos povos, promovera com solidos fundamen-
tos as reformas, que cm geral forem mais
convenientes a todas as escholas do couser-
vatoiio.
Tomando aqui logar para referir o estado
actual assim das bibliothecas, como das typo-
grapbias piiblicas, o conselbo pouco tern que
levar ao conbecimento de V. M., havendo so
colhido OS relatorios das bibliotbecas de Bra-
ga, do Porto e da Universidade. 'Nesta ultima
se fez 0 service por todo o anno lectivo com
regularidade; observando-se a disciplina nao
so da parte dos empregados, scnao lanibem
dos que frequentaram o estabelecimento; sem
que occorresse cousa digna de notar-se. Com-
praram-se algumas obras de diversas facul-
dades na-importancia de 320^110 reis, ten-
do ([uc mencionar-se entre estas uma Biblia
manuscripla — in membranis, e Ibrmato I'olio.
Mas ba ainda grande necessidade de com-
prar livros modernos, maiormente portugue-
zes, era sciencias e litteratura. Foi frequenta-
da por 2:633 individuos: a leilura em diver-
ges raraos de letras e sciencias, foi de 4:834
obras. Na bibliotbeca do Porto achando-se
quasi lindos os trabalhos, que se baviam em-
prebendido para maior exteusao dos saloes:
0 numero dos leitores foi de 3:504; as obras
consultadas 4:307. Na de Braga continuara
OS trabalhos materiaes do editicio, e vai-se
preparando a saia de leilura.
A imprcnsa nacional de Lisboa lem pro-
gredido tanto no aperfeifoamento do syslema
da fundicao dos typos, e era todo o aparelho
typographico, que, se nao eguala ainda a per-
feicao das typographias d'outras naeOes mais
adianladas, pode todavia dizer-se que as se-
gue bcm de perto na nitidcz das irapressoes.
Pelo que respeita a imprensa da Universidade,
niio pode ser duvidoso o empenho, com que se
ba procurado fazcr sabir este e-itabelecimento
da condirao abatida canliquada em que jazia,
e cleval-o ao estado, menos desagradavel, em
(jue se acba ; o que se reconbece pclas im-
pressoes alii feilas 'nesles ultimos aunos, que
demonslram ja notavel melhoramcnto. Nao
e este porem sufllcicnle ainda ; e por isso e
que se lem requcrido ao governo de V. M.
as competentes ordens d'auclorisacao para a
conipra de typos, prelos e outros objeclos ty-
pograpbicos, de que ainda muito se carece.
.\. administracao d'esla imprensa aguarda
a(iuellas ordens do governo dc Y. M., bem
como a conlinuacao do apoio, que Ihe ba
prestado.
Contitiua.
MEIVIORIA HISTORICA E CRITICA
fliobrc a rcvoluriio que pm I SIC (Iron
a corda a D. Kanclio If, parn a dar ao
ronde dc Bolonlia. seu iriuiio.
ContinuBilo de pa;. W9.
X.
Lugubre e melancolico surgia o anno de
1245. Podera elle ter lalvez mais raacio e
risonbo porvir, se ao cancado e trabalhoso
padecimenlo do reino, pelo governo d'aquelle
tempo se desse discreta e assizada providen-
cia! Infelizmenle porcm a sua administracao
corria descuidada e menos segura, cheia de
embaracos e ate contradiccoes ' , porque, sa-
bedores das discordias e desinlelligencias, que
lavravam entre os baroes, prelados e mais
pessoas do reino, na geral perlurbacao e
deslocamento dos elos da cadca social, nenbum
melboramentoprocuravamosministrosa admi-
nistracao da justica , nenbum castigo aos
crimes, e nenliuma reparacao aos aggravos,
que tanlo reclamavam os olTendidos. Esta
incuria, ou antes negligencia, era uma per-
feila antithese ao precato , que o governo
devia tomar, se intentava atravessar illeso mo-
mentos e tempo de tanla erise. E para que
nao deixeraos sera prova esta assercao, seja o
mesmo A. da Ilisloria de Portugal, o que falle
agora. « Similbante ignorancia das coisas, e
« dos bomcnsJ(diz;elle) seria indcsculpavel. . .
« Sancho II facilitou na verdade com a sua
« brandura a propria ruina ; mas essa frouxi-
adaocoraeca, quando vemos desapparecer da
« scena politica os individuos a quem parece
« ter-se devido em 1227 e 1228 a restau-
« racao da ordem piibiica Conbece-se
« que novas personagens obtem o valimento,
' Para se avaliarem estas, bastara ler o que dii o sr.
A. Herculano, cit. Hist. torn. II, not. XXIV no fim Jo vol.-
alii se verao as phases de quasi todo o tempo do reinadof
de Sancbo il.
219
« c disputam o passo dos antigos validos. E
« uma corte, que se vai sobrepondo a outra. . .
« ohtem elevur-sc a custa d'oulras '.»
Eis-aqui 0 piincipio da rovoluoao ; eis-aqui
0 principio de discorrer, aonde devemos pro-
furar a oiigeni do drama, cujo desenlace foi
a deposifao do rei , e cujos protogonistas
I'oram os l)aro('s, preiados, e oiilras dosses do
reiiio. Altriliuir este altentado ao cicio, com
cxclusao dos outros, que 'nelle tiveram egual
parte, parecc-me ser so lilho da prevenrao.
Se D. Sanclio facililou com sua brandura a
propria ruina , certo nao foi esta liiha de
])lanos lenebrosos, ncm do premeditada con-
juracao: os erros d'aquelle governo crearam
a revolucao, da mesma forma que a hisloria
comtemporanea iios mostra as revolucOes, (|ue
tern abalado a Europa inteira nos seeulos
niodernos, e nos desinvolve as suas causas,
e erros dos governantes, que as tern feito
produzir! Comccada acliamos nos a revolucao
pela nova corle, que venios elevar-se a cusla
de outras , disputando o fasso aos antujos
validos. Continuamos a ver-ihe os comecos
no desmantelamento do reino, no desmazelo
adminislrativo, e em todas as cousas, que
trazem c torn trazido comsigo as revolucoes,
e mudancas polilicas dos imperios. Levadas
as coisas ao extremo, e collocados os negocios
politicos no ponto, cm (|ue se achavam pelo
crro do'- governantes, fora nuiitode recear a
sublevacao d'alguiis mais insofl'ridos , aqueni
ou a ambicao, ou o desejo de raeiiiorar a
situacao politics desse azo a experimentar
a sorle das armas. Foi o que acconteceu.
Na priniavera de 1245 o descontentamento
cntre a principal nobreza d'alem-Douro susci-
tou renliida huta eiitre a coroa e os baroes.
Rodrigo Sancbes. thio do rei, e Abril Peres'
Coram os campeoes, que por parte da nobreza
cnrestaram as lancas, e sabiram a publico com
a gente, que poderam por em campo; Martim
Gil, 0 Boufe, esse liel servidor de Sancho, foi
o que se oppoz e comprimiu a sublevacao.
Nao teve esta o desenlace, que esperavam
seus auclores ; o combate travado com os
sublevados trouxe em resultado a morte dos
seus dois campeoes, c a dispersao de seus
apaniguados; e viu Sancbo II ainda sobre
sua cabeca a corda vaciiante e quasi aniqui-
lada ^ ; mas se esta victoria foi sobeja, para
d'esla vcz Ihe segurar o throno jii cambiante,
nao 0 foi com tudo para o I'azer sahir do rc-
pouso, e indolencia, a que se entregara nos
ultimos annos do sen reinado.
Perdida como estava a lide dos nobres na
Jornada de Gaia, e pacilicado este tumulto
' Sr. A. Herciilano. cil. pagf. 339 e 3-tl ibid.
' O cit. A. pafi. 3U5, nomea os baroes mais adversos
*» D. Sancho II , de tal sorte, que bem se pude da sua lei-
tnra avaliar. qual era a opposi«;3o de seculares, que con-
tra si tiDha liio infeliz luunareha.
■* Id. ibid. pag. 394 — «< os dois chefes Rodrigo
Ranches e Abril Peres, mortos Juncio de Uaia. '>
com a morte c dispersao d'os que a tinham
tentado, buscaram-se outros meios, que pare-
ceram mais adequados, para conseguiro resul-
tado ([ue se pretcndia. A allianca do clero
com a nobreza, ambos queixosos, e ambos,
ha muito, cm contestayoes porliadas com a
corda, ligava agora naturalmente ura c outro
em mais estrcilo laeo para reparar os ag-
gravos, e desfazer as sem-razoes, que o governo
nao queria, ou nao podia remediar. 'Neste
estado as cousas caminliavam com passo mais
accelerado , approxiraando o dcsenico do no
d'este tcrrivcl dramma. Todos sabem corao
'na(|uella epocba a cdrlc de Iloma intervinha,
d'ordinario, nas questoes nacionaes dos povos
catliolicos, e como a piedade c veneracao ao
pae commum dos iieis, fazia cntregar a decisao
dos negocios mais difliceis e cmbaracados a
curia Homana ' . Se este direito, ou prerogativa
era justa, ou injusta, devida ou indevida, e
objecto absolulamente albeio ao meu intento:
seja-nos com tudo licito dizer, que era o
direito publico geralmente admitlido enlre as
nacoes da cbristandade. Se com effeito com-
templarmos 'neste caso o pae commum dos
Iieis, como um juiz de paz universal, charaando
ao juizo concilialorio os conlendores, e pro-
curando todos os meios pacilicos para termi-
narem semestrepito as contendas, que se tern
por Ventura suscilado entre os povos, certo
que as lides luctuosas, que tern ensanguentado
as paginas da bistoria nos seeulos modernos,
teriam raaior nobreza, e seriam mais dignas
do bomem, sendo decididas pelo raciocinio,
e pela moral, do que pela forja das armas, e
por meio de guerras assoladoras, em que milba-
res d'horaens sao viclimas sacrificadas no altar
dos caprichos, e vingancas parliculares, e as
vezes no da inveja e ambicao ^ !
' AffonsoII emseu lestamenlo encommendava ao poii..
tiDce o reino c Dittos como ao pae commum. A maior
parte das doa^oes feitas a e^rejas e mosleiros, aiada pelos
reis, eram todas conflrmadas por buUas, que se requeriam :
e parece que nenhuma se considerava valida, nem livre
da violencia, e usurpafjao dos poderosos, se na confirma-
i^ao ponlificia se nao fulminasse excommunhao ao teme-
rario, que leulasse ousadamente lan(;ar-lhe as milos. Isto
e tao trivial que nao carece de provas.
^ Nao se juli^ue que intento i)ersuadir a renova^jlo de
um tribunal, cuja existencia lioje e impossivel; mas elle
serviria de remedio aos costumes descompostos, a unida-
de de o|)inir»es, e a paa dos povos.
O padre Francisco \axier, que como sancto venera a
egreja, com o bordao de peregrine na man, e o breviario
debaixo do bra(;o, fea mais serviijos a cort5a portugueza,
do que um exercito; e porque os nao faria a c6rte de
Koma ? Mas, se aquelle era o direito 'oaquellas eras, para
que investir com tanta acrimonia a doutrina entaq re-
cebida e professada em todas as escholas ? E para que in-
vestil-a com tSo vagas e acerbas declama^oes ? Todos os
reformadores dcsde Lutliero ate nos, presumem de nao
ter corrompido, masapurado amoral; e, seguindo as ideas
do seculo, declamam sem prova algum^ contra o dominio
€ arrogancia do rlero; contra o odioso jugo de Roma,
cheio de superstiijSes e fanatismo, e iinalmente contra os
dictaines da mais verdadeira e sublime philusophia. conio
se fossem errados ou antes ridicuios prejuizos ! A bisto-
ria poreni Ihes prova benj o contrario.
220
Similhantc- ronloiidas, decididas a fon.a
das arraas, podcm provar maior dexteridadc,
niclhor e niais alialisado talento no vencedor,
mas nuiica a justica da causa, neni a scm-
razao do veucido. Scja poreni conio for; nao
tendo podido os prclados e barOcs do rcino
levar ao cabo scu intcnto, neni obter por estes
nieios a reparacao dos aggravos, que com
dies enlendiam grangear, rcstava-lhes o re-
curso a curia Romana segundo a disciplina
do tempo. Foi o (|ue arconteceu.
Dois annos quasi liavia ja, que ao solio pon-
tilicio linha sido elevado o cardeal Sinibaldo,
(|ue tomou o nome dc Iniiocencio IV. Esie
pontilice, que podemos dizer ter succedido a
Gregorio IX, por que Ccleslino IV apenas
viveu dezoito dias depois de eleito, seguiii a
politica de Gregorio IX, continuando a guer-
ra com o imperador Frederico II, que aquelle
tinha comefado. E por que ja desde HiO
premeditara Gregorio IX ceiebrar um conci-
iio em Roma, cuja convocacao se malograra
por causa da guerra, que coraeciira em 1211,
Innocencio IV tinha agora occasiao de iiitiniar
0 desejado inlento d'este pontifice. Foi exa-
ctamenle o que fez; e cm Janeiro de 12ii)
expediu Innocencio IV a bulla convocaloria
para o concilio de Lyao. Mas em quanto isto
passava em Roma, vejamos os successes de
Portugal, quanto se podem saber em meio da
grande falta, que temos, de documenlos nos
trez annos antecedcntes.
Continua. m. r. pe VASCONCELLOS.
OS ANNUNCIOS EM INGLATERRA.
0 jornalismo d'esta nacao, que e hoje um
dos mais importantes da Europa, data apenas
de 1622. Houvera antes, e verdade, o jornal
English Mercury, mas esta gazetta, que nao
apparecia regularmcnte, acabou, apenas ces-
sara a causa, que Ihe dera origem, tendo visto
a luz piiblica em lbS8, quando a armada
hespanhola entrara o canal inglcz. Medida
de policia, Ihe chama D'Israeli ', tendenle a
prevcnir o perigo, que 'naquella cpocha de
anxiedade e de inquietacao geral, poderiam
causar as falsas noticias. Tambem em Veneza
houve, no principio do scculo XYII, um jornal
ou cousa similhantc, mandado publicar pelo
governo, o qual continha os actos ofBciaes da
serenissima republica \ Porcm o primciro jor-
' Curiosities of lilerature. 1." serie. l."vul,
^ Da pequena nioeda lie prala chamada gazetta, custo
do jornal veneziano, deriva Menage e com elle L. Du
Bois e D'Israelli a etjmologia de gazetta; aCTaslando-se
assira da opiiliSu dos que a faaem derivar ilo catingaza
(lliezouro); ou do italiano yaiso (pi^ga); elymologias que
Du Bois rejeila, a primeira por deniasiado polida, ea
•egunda por deinafiaUo insoleute.
nal regular c periodico foi sem duvida o
W'cekeUj News'. Nao obstante limitar-sc a
algumas noticias estrangeiras. dcstiluido din-
lerese conic era, foi todavia o precursor do
Times, do Illustrated London News, do Mor-
ninij Chronicle, e de tantos outros, em que
hoje abunda a imprcnsa periodica ingleza.
Nao continha annuncios alguns.
Trinta annos depois apparcce o que abaixo
transcrevemos, e ([ue tai\ez se possa dizer o
primciro annuncio « Irenotlia Grnlulatoria :
« pocma heroico e panegyrico a ccrca da rc-
« cente chegada dc niylord (icueral. Londres,
10u2. » Desde entao conicfa a geni'ralizar-se
0 uzo de annunciar publicacOcs lilterarias,
que pareciam pleitear entre si qual se aprescn-
taria com litulo mais ridiculo «A medulla do
Bvangelho- Altjuni suspiros dn inferno- Gemi-
dos d um precito etc. etc. » Rcclaniam-sc pretos
e pretas fugidos a sens senbores, com a cir-
cumstancia aggravante de Ihcs terem roubado
alguraa cousa; c e de notar que, entre os
signaes que se davam dos lugitivos, apparecc
quasi senipre o de terem o rosto crivado de
bexigas. Instrue-se o publico da introduccao
do cha em Inglalerra, como se \i no Mercurius
polilicus de 30 de septerahro de lOliS. « Aquel-
« la excellente bebida chineza approvada por
« todos OS medicos e que os chinos denomi-
« nam Tcha , e outros povos Tay ou Tee ,
« vende-se no cafe da cabeia da Sultana. »
A restauracao, porem, fez iutroiluzir novo
geuero d'annuncios. Carlos II, voltando ao
throno dos seus maiores, transportou para o
seu paiz as idias (quasi que ia dizer os vicios)
da eurte do seu illustre hospede Luiz XIV.
Viu-se entao em Inglaterra o que ate alii
nunca se vira ; o mais explendido fausto, o
mais frenetico luxo; acabara a simplicida-
de, que Cromwell introduzira, e de que elle
era o proprio, que dava o exemplo; nao se
cuidara seuao em festas, banquetes, e galas;
banira-se aquella rigidez de costumes, que
fora um dos characteres dislinctivos da epocha
do protectorado, e adoptara-se a etiqueta e
cerimonial da curte franceza. Os annuncios
d'aquelle tempo sao outros tantos fieis thermo-
metros, que marcam a mudanca dos costumes.
Enchem-se as columnas dos Mercurius publicus,
d'antes Mercurius polilicus, d'annuncios de
caes perdidos, de objcctos de luxo extraviados,
de novas invcnjoes de bijoutarias e perfuma-
rias, de que entao se fazia um uso desregrado
em Inglalerra. Por exemplo em o News de 4
de fevereiro de 1663 certo Jorje Grey, bar-
beiro e fabricante dc cabelleiras , otferece 10
* Nao se pode mencionnr como jornal as Acta diurnia,
que Junio Ruslico redigia no reinado de Nero. Eslas acta
naoexistem; taosunieutesabemospurTacito, ipie as liavia.
E natural que nao fo.>isem, senio unia chronica escripla
por Jiinio Ruslico, paraagradarao imperador. Xacauhada
liberdade d'iinprensa concedida pelo t'ezar, justifica a
nussa opiniuo.
221
iJicllings por cada onja de cabello louro, e
fi a 7 por egual quanlia dos de diflerente
< or. No nicsmo jornal de 4 de agosto de 1684 :
« Perdeu-se perto de Drury Lane um retrato
0 dc senhora encasloado era ouro, trez chavcs,
<t e outros diversos pequenos objectos, tudo
« contido 'num sacco perfumado. A. pessoa
<• que OS enlrcgar em recebera de
« alviraras (jualro vezcs o valor do ouro. »
Foi tamhem poreste tempo, que comcfaram
a appareccr cm Londres , aquellas collecrOes
de curiosidades, de raridadcs, e de remedios
para todas as molestias, que hoje alii se osten-
lara cm tamanha quantidade. Um annuncio,
entre outros, tern a honra de apresenlar ao
respeitavel publico uma mumia do Egijpto, um
enorme femur de giyante, um peixe da ha, e
muitas outras curiosidades, qual d'elias mais
exquisita c maravilhosa. Em 1664 e que os
Inglezes viram pela primcira vez um rhino-
ceronte e um cicphante pintados. Na
London Gazette do 22 de junho d'aquelle
anno annunciava-se a chogada d'aquellas ma-
ravilhas, e convidavam-se os habitantes da il-
lustre cidade de Londres a comprar os retrac-
tos de magnificos animaes ate alii desconhe-
cidos ; 0 que prova que a historia natural
entre os inglezes, nao tinha feito grandes
progressos.
Um curioso specimen dos annuncios d'aquel-
la epocha e o seguinte: « White Hall, 14 dc
« maio del604. S. M. Sagrada, tendo decla-
« rado que a sua vontade e real intencao era
<i continuar a locar nas alporcas, durante o
a niez de maio, e dcixar de o fazer depois ate
<i 0 dia de S. Miguel, manda annuncial-o
n para que os seus subditos nao venham inutil-
" mente a cidade. » 0 costume de locar as
alporcas reputava-se privilegio dos reis de
Franca, como directos successores de S. Luiz,
e ungidos do Senhor ; mas os reis de Ingla-
tcrra, que se diziam legilimos herdeiros do
tbrono de Franca, tambem julgaram seu este
privilegio, ed'eile usaram ate a rainha Anna.
Quando ccssou a sagracao dos reis de Franca,
cessou tambem o uso d'esta prcrogativa.
Em 1605 desinvolveu-se em Londres uma
grande peste. 0 estado de agitacao dos espiritos
conhece-.«e nos jornaes da epocha. Ja se nao
I'alla em perfumarias e bijouterias, ja se nao
annunciam relratos de rliinoccrontes, e de ele-
phantes, a epidcmia e o unico objecto de que
tratam os jornaes da epocha, cujas columnas
se enchera de remedios e reJatorios de curas
celebres. E notavel, porcm, que os jornaes
d'entao nao tallcm do grande incendio, que
rebentou em Londres no dia 2 de septembro
de 1665, e que, causando a morte de cem
rail pessoas so na capital, trouxe comsigo o
desapparecimento da epidemia '. No reinado
' O Quartely Revic%§, d'onde extrahimos em grande
■")iJ!rle este artipit, rppnta principal causa do desappareci-
mento da epidemia. este incendio.
de Carlos II n3o it rare fazerem Os jornaes
offerecimcntos de premios pecuniarios a quern
capturar um celebre assassino, ou fizcr revc-
lacoes a cfirca d'um crime, cujos auctores sao
desconhecidos. Na London Gazette de 22 de
dezembro de 1679, promette-se BO librasester-
linas, a quem der alguns indicios d'uns in-
dividuos, que tinham krido John Dryden esq,
na segunda, feira 18 d'aquelle mez, em Rose
street. Em 1683 annunciou-se pela primeira
vez uma companhia de seguros de incendios,
denoniinada sociedade amigavel. As cazas de
Londres, quasi todas construidas de madeira,
eram frequentes vezes sujeitas a taes sinistros.
Fora aquella companhia fundada por alguns
proprietaries, com o tim d'indemnizar a qual-
qucr socio o damno que sofTresse por csta
causa, dividindo entre si egualmente a tota-
lidade da perda.
De 1688 por diante e que se tornam mui
sensiveis os progressos, que fazia o jornalismo.
Augmenta-se o formato dos jornaes, publicam-
se cm periodos mais curtos ; criam-se ate
muitos novos, alguns dos quaes duram pouco,
em quanto que outros prosperam, enrique-
cendo os seus proprictarios. Tambem d'esta
epocha e que data o aperfeifoamento d'um
novo gencro de jornaes, meio manuscripios,
como se vft do seguinte annuncio. nQualquer
« pessoa que pretenda mandar, a um amigo
(' ou correspondente, a rescnha dos negocios
« piiblicos, achal-a-ha, pelo precede 2 pence
« em caza de S. Salisbury, ao sol nascente,
« Cornhill. 'Neste jornal impresso 'numa folha
" de papcl fino, metade da qual se deixa era
«branco, podem escrever-se quaesquer no-
« ticias particulares ou publicas. » [Flying
Post. 1694). A necessidade que tiniiam os
Jacobitas de se transmiltir noticias d'uns pon-
tes para outros, sera comprometter ninguera,
fez com que se generalizasse este nicthodo
de correspondencia. Ainda hoje se vcem no
British Museum muitas d'estas folhas , meio
manuscriptas, meio impressas, algumas das
quaes conservam signaes do encarnicamento
com que foram defendidas. Um editor d'aquel-
les tempos, que naturalmente sentia penuria
de materia para o seu jornal, molestia de que
muitos ainda hoje se queixam, convidiira oas
« senhoras que desejassem dar publicidade,
« sob 0 vcu do anonymo, a quacsquer anecdo-
(I tas occullas de pessoas do seu conhecimen-
« to. a enderccal-as pela pequena posia a
« Isaac Bickerstaff e.sq, etc. » Nao sabemos se
0 convite foi acccite, mas 6 natural, que nao
faltasse, principalmente do sexo para quem
era o annuncio, quem se aproveitasse d'este
meio, tao commode, de fazer conhecidasmyste-
riosas aveuturas, que 'naquclle tempo eram
aos centos.
Continua.
S. H.
222
mm SOBRE OS PRINCIPICS DE HECHANICA,
POB
J. ANASTACIO DA CUNHA.
Continuado de pag. £14.
DoQnicocM.
I. 0 exlrcmo (principio, ou fim) de qual-
quer porciio de tempo, cliaiua-sc inslante.
II. 0 poiilo que muda conlinuamente de
logar, isto e, que nao persisle tempo algum
no mesmo logar, nem occupa no mesrao iu-
stanle dois logares ; diz-se, que se move, e
sc cliama ponlo movel, ou somente movel.
Axiomn.
I. 0 ponto movel descreve uma linha.
Dcflniriio.
III. Esta linha cliame-se espaco.
Poslolndo.
llaja uma linha que seja como o tempo,
que 0 movel gasta em descrever o espajo.
Dcniiicdo.
IV. Essa linha chame-se tempo.
Uypotliese.
I. Entre o espaco c o tempo haja relarao
dcterminada.
DeflnlrOcs.
V. Velocidade de urn movel em qualquer
ponto do espaco que descreve, e o e.xpoente
da razao que tern ultimamenle o espajo intini-
tesimo, que alii prineipia a descrever, para
0 tempo era que o ha-de descrever.
■yi. Direccao do movel, ou tambem da
sua velocidade, ou tambem da sua accelera-
cao no principio do espaco, e a recta lirada
por esse ponto de sorte que nao faca angulo
com 0 espaco.
VII. Velocidades, cujas direccoes sao con-
trarias, sao contrarias.
VIII. Acceleraciio de um movel em qual-
quer instante, e o expoente da razao que tem
vHimamente para o tempo infinitesimo, que
alii nasce, a velocidade que alii nasce com
esse tempo, e com clle cresce.
IX. Acceleracoes, cujas direcjoes sao con-
trarias, sao contrarias.
PropoKicfies.
I. Seja e um espaco descripto no tempo
< ; e « a velocidade do movel no lim d'csse
„ . de
tempo. Sera «=t--
Di^riva-sc facilmentc da definicSo V, e da
natureza das fluxoes.
e
II. Se « e conslanle, sera »==;; e logo
t
e como t.
de
Porque « = — da » (/<=rf''; c logo, por ser
til
V constante, vt = e.
III. Seja £ outro espaco descripto no
tempo T ; e V a velocidade do movel no tim
d'esse tempo. Se » e F forem constantes,
serao directaraente como e, E; e iuversamen-
te como t, T.
e E
Porque sera « = . , ^ = y (P"""?- ^)-
IV. Seja a a acceleracao do movel no fim
do espajo e. Sera « = — .
Seja V 0 tempo infinitesimo, que prineipia
no fim do tempo ( ; e u' a velocidade que
nasce e cresce com (' ; sera a o expoente da
razao que tem ultimamente v' para t' (Def.
8). Mas as velocidades nos fins dos tempos
■ . ■ dv
t c t + t sao c e u + »' ; logo e ^ o expoen-
te da razao que tem ultimamente v' para t
dp
(Defin. das flux.) E logo '2 = tt-
CoROL. Logo e adt = dv, e fadl = v.
V. Tambem ade = vdv, ou 'ifade=.v'^.
Porque expulsando dt das equacoes adt=dv,
e v^~, sahe ade = vdv.
dt
VI. Se « 6 como t' t a constante ; e se
a e constante, e e como t\
Porque se « e como (', seja b a linha con-
«' de It de
stante = -; sera T, = -r'- mas e t! = j-;
edit) "f
2rf<
logo dD=— -. Esta equacao, c a equacao
2
adt = di) dao 0= -.
b
Sendo a constante , sera at = v. Mas 6
de 1
t) = — , logo atdt = de; e logo -• at' = e.
dt Z
CoROL. 'Nestes casos e v como t ; e vice
versa.
Hjitolbcscs.
II. Se ha alguma razao ou motivo para
que um movel descreva acceleradamente um
espaco, outro motivo ao mesmo tempo para
que descreva outro espaco, e outro motivo ao
mesrao tempo para que descreva outro espaco ;
posto 0 movel em um ponto, que seja principio
comraum dos trez cspacos, e ao redor do qual
elles formem trez angulos, cujos senos sejam
entre si como as acceleracoes correspondentes
aos espacos oppostos; nao resultara dos dictos
trez motives movimento algum.
223
III. Se OS motivos o forein, niio de ac-
cclerarOes, mas de vclocidades, as quaes sejam
entrc si conio os dictos senos ; lanibcm nao
rcsultara inovimento algum.
D'estas duas hypotheses se deriva facil e
geometricanientc o niais, que se sabe sobre o
que ehaniaiii composicao e rcsolucao do mo-
vinienlo ; a dilTerenca entre o movimento
conslrangido quando o espaco e anguloso, ou
quando e eonlinuamcnle eurvo ; a thcorica
do equilibrio quando o raovel e um so, e os
motivos do movimento diversos ; ou quando
OS nioveis sao dois, ou Irez, ou mais e (ixos
em alguma linha inflexivei, etc. etc.
A iheorica chamada das forcas centraes, e
a do movimento que resulta de haver em
cada instante algum motivo de acceleracao
dirigida a algum ponto dado, e ao niesmo
tempo oulro motivo, ou de velocidade consl;in-
te, ou de acceleracao dirigida para outra parte.
Resolvem-sc similhantes problemas substituin-
do ao motivo de acceleracao successivos mo-
tivos de velocidades constantes, e buscando
0 que deve sahir ullimamente, sendo inlinito o
numero d'estes motivos, e infinitesimas as
velocidades; assim como o practicou Sir Isaac
Nev\ton, e outros depois d'elle.
As leis fundamentaes da percussao, e col-
lisao devcm ser hypotheses, precedidas d'um
postulado, era que se estabelefa relacao de
quantidade, ou o que chamara massa, nos
moveis.
Seguem-se as theoricas dos centres de gra-
vidade, de oscillarao, de percussao, momen-
tos de inercia, etc. etc.
Na bydrostalica e hydraulica, apezar de
lantas e tao sublimes lucubracocs dos maiorcs
geometras, devcnios conlessar que tem a ma-
thematica bem pouco que fazcr. Ahi tarabem
quasi todos os principios fundamentaes nao
podem ser senao hypotheses. Um geomelra
deve ter por dcsdoiro vender por demonstra-
cao geometrica o que o nao e.
Ou podem-se approveitar os excellentes
escriptos dos grandes geometras mudando a
signilicacao a certos terraos que usani. Por
exempio , suppondo que forca accelerairiz
signilica um motivo de acceleracao, seja esse
motivo qual for, patente ou occulto, real ou
imaginado. Quantidade de forca accelerairiz,
seja 0 que delini acceleracao. Potencia, signi-
fique um motivo qualquer, ou de acceleracao
ou de velocidade constante, conforme as oc-
casioes, etc. etc.
Podem-se assim desterrar da mathemaliea
OS entes chimericos, que na realidade a tem
deslustrado, fazendo-a tao contenciosa , tao
incerta corao a mais aerea methaphysica.
Prezo-rae de seguir 'nisto os passes d'um
geometra e philosopho tao grande como se
sabe que e M. d'Alembert. oTout ce que nous
voyons, » diz clle, « bien distinctement dans
le mouvement d'un corps, c'est qu'il parcourt
un certain espace, et qu'il employe un certain
temps ii le parcourir. C'est done de cette seule
idee qu'on doit tirer tous les principes de la
mechanique, quand on veut les demontrcr'
dune manifere nette et precise ; ainsi on ne
sera point surpris qu'en consequence de cette
reflexion. . . .jaie entiercment proscrit les
forces inherentes au corps en mouvement,
fitres obscurs et metaphysiquos, qui ne sont
capables que de repandre des tenebres sur
une science claire par elle m(5me. «
Comtudo em varias cousas desvio-me de
M. d'Alembert ; e pois me prczo tanto de o
seguir, devo dar a razao porquc entao me
desvio d'elle. Direi pois, que so o faro quando
elle recorre a argumentos methapliysicos para
introduzir como theorcmas na mathnmatica o
que clle nao pode admiltir senao como hypo-
theses, ou Xau.giivou.j77.. Nao direi sobre este
ponto mais nada, senao que me parcce claro
que mesmo M. d'Alembert rcconhcce loda a
dilTerenca que vai de taes demonstracoes a
todas as mais, cujo rigor geometrico, e superior
elcgancia resplandece no seu aureo tractado
de Dynamica. Em abono d'este pensamento
ponderem-se estas palavras, que vera no fim
do theorema do capitulo segundo. « C'est a,
quoi je crois etre parvenu, etc. » Je crois,
diz d'Alembert. Assim no que tenho dicto,
nao critico ; justilico-me ; ou antes posso ter
0 gosto de crer, que ale 'nesses mesraos pontos
na realidade me nao desvio de tao grande
mestre.
Continua.
OS SINOS.
Continuado de pag. 166.
Poucos ja sao os sinos baptizados, cxisten
tes no tempo da reforma, que ainda hoje se
acham suspenses nos sens antigos campana-
rios ; e a maior parte das suas inscriprOcs,
antigas e meio apagadas, eslao actualmente
tao illegiveis, que e difficil perceber o nome
outr'ora venerado, que se Ihes dcra. E de
crer, que bem dirigidas pesquizas fizessem
descobrir la no fundo das provincias alguns
sinos, de que a historia nao falla; posto que
e provavel, que nenhum se achasse tao anti-
go, como um que havia 'numa egreja de
Cornwall com a inscripcao « Alfredus Bex » I
Suppoe-se que fora dadiva d'este soberano, e
que funccionara durante 1000 annos. Gran-
de numero de sinos celebres pelas suas di-
mensoes e pela qualidade do som, muilos dos
quaes tinham sido offerecidos por particulares
224
ricos, e para ciijo l.ihrico so nao linhani poii-
pado, nem dcsvclos iicm dcspozas, foram
roubados, quando se supprimiram os convcn-
los, e ale mosmo os das oatlicdraps e das
parochiacs lUMii scniprc foram respcitados.
Le-se em Stowc que Henrique Vlll apostou
lima vez com sir Mils Partridge, e contra
uiua entrada de 100 lihras, iiiii campanario,
([uc havia no coniilerio de S. Paulo, e em
que exisliam quatro sinos dos maiores de
Londres. Sir .Niils, leiidn ganlio a aiiosta,
mandou espedacar os sinos, c derrubar o
campanario. Bulkeley, bispo de Bangor, ven-
deu era liiil os sinos da sua cathedral; sir
Henry Spelmau conta que na sua infancia,
(cerca de lo'.t2) ouvia fallar muito nos sinos,
que tinliam sido arrebalados em todos os
sitios do seu condado (Norfolk). Foi quando
0 estado se asseuboreou das propriedades
ccclesiasticas, e as deu a b'igos, que comccou
esle deslroco. Os puritano.s, apezar de con-
irarios a niusica de egreja, e em geral a ludo
quanto servia para fomcntar a supersticao,
nao declararara comtudo guerra aberta aos
.sinos; succedeu, poreni, que no meio da asso-
lacao geral, na epoca da repubiica parlamen-
tar, nuiitos sinos foram tirados dos sens
campanarios. Os habitantes de Yarmouth,
enderessaram, em lOoO, uma peticao ao par-
lameulo, para que se Ihes desse « parte do
chumbo e dos maleriaes da cathedral de
Norwich, vasto e inuiil edipcio, para com
elles construirem na sua cidade urn hospicio
para os pobres e concertar o seu dique.u
Ouando pois os habitantes de uma cidade
propuubam , conio cousa muito natural , a
destruicao do telhado de urn editicio nobre,
c conspquentemenle a sua complela ruina,
nao se pode estranhar, que enliio se nao desse
aos sinos, senao o valor do metal. No meio
da indilTerenca, que geralmente grassava de-
pois da revolucao, succedeu muitds vezes
venderem-se os 'sinos para accudir aos repa-
ros da egreja; e nao raro uma parocbia, que
possuia cinco sinos. vendia quatro para sal-
dar as contas da fabrica. Muitos mesmo d'a-
quellos, que escaparam a tantos perigos, foram
pelo andar dos tempos arruinados e refundi-
dos, de modo que actualmente o numero dos
antii^os sinos e muito diminulo.
A^Escossia, debaixo d'este ponlo de vista,
ainda sofl'reu mais, que a Inglalerra. Abbot,
arcebispo de Cantorbery, contava a Spelman
em 1032, que, visjlando a egreja de Dunbar,
))crguntara ao respective ministro, individuo
de ma catadiira, que Ihe servia de guia, quan-
los sinos havia na egreja, a que cste respondeu:
c nenhum. » Mostrando-.se o arcebispo adnii-
rado d'esta falta, o ministro respondeu-lhe,
([ue era uma das cgrejas reformadas. Em
Edimburgo nao achou Abbot senao urn .sino,
todos OS uutros tinham sido Icvados para os
P.tizes-Baixos. Em Franca a utilidade que se
podia tirar do metal dos sinos, convertendo-o
em canhoes, ou cm moedas de cobre, causou
a sua quasi completa destruifao. 0 famoso
sino Georijcs d'Amboise de Kouen, teve o
primeiro d'cstes destinos 'naquella epocha
lormentosa, cm que a rcligiao do estado era
a guerra.
Alguns antigos escriptores inglezes apra-
zem-se em contar, como a justica Divina se
encarregara de punir os auctores d'estes at'
tentados contra os sinos. Spelmcn, dcpois dc
referir aquella aposta de Henrique VIII com
sir Mils Partridge, que acima mencionamos,
accrescenta, que sir Mils foi enforcado alguns
annos dejiois em Cowerliill; diz-nos tanibem,
que 0 bispo de Bangor perdt^ra repentina-
niente a vista na occasiao em que assislia ao
embarque dos sinos que vendAra ; estes sinos
nao foram felizes na sua viagem; a maior
parte dos navios que os conduziam naufra-
garam. Os dignos escriptores que mencionara
estes factos, nao se lembraram provavclmen-
te, que os sinos nao foram os unicos ohjectos
perdidos nestes naufragios, e que era, pelo
menos, inutil o fazer inlervir a Providencia
na destruifao de uns sinos.
Apezar de tudo, ainda exislem alguns
sinos notaveis, nao so pela sua antiguidade,
mas tambcra pelas suas dimensoes e pela
qualidade do som. 0 carrilhao da cathedral
d'Exelcr, o mais pcsado de todos os da In-
glaterra, pode servir de exenipio para mostrar
a supcrioridade, que tern, quanto ao som,
alguns sinos antigos sobre os modernos. Estc
carrilhao compOe-se de dez sinos; o da egre-
ja de S. Salvador em Soulhwark (Londres)
que, em quanto ao peso, se apresenta logo
em scgundo logar, tern doze, entre os quaes
ha nove, que tern mais de quatrocentos annos
de existencia. Outro carrilhao de doze sinos,
a da egreja de S. Leonardo em Shoredilch na
mesma cidade, era muito admirado pela rainha
Isabel; esta princcza quando vinha de Hat-
lield para Londres, occasioes em que tocavam
estes sinos, raras vezes deixava de parar a
certa distancia e de fazer notar as pessoas,
que a acompanhavam, a barmonia dos scus
sons. Os carrilhoes de dez sinos das egrejas
de Sancta Margarida em Leicester, de Sancta
Maria em Nottingham, e torre de Fulham,
sao lidos por uns dos mais hollos da Ingla-
lerra. Os sinos de Dervsburg sao igualmenle
afamados pela belleza dos sous sons. Urn
d'estes sinos, conhecido pelo nome popular
de «Bhick-Fnm» de Sothill, e, segundo di-
zom, uma olTerta feila em expiacao de uma
morte. Na vespera de Natal fazem-no dohrar
como se fora para um enlerro; e o que se
chama o « dobre do Diabo, » costume, que
provem de ter o Diabo morrido no dia em
que Christo nasceu.
225
KOTICIAS LITTERARIAS E SCIENTIFiCAS.
Abcrlnrntln ITnlvornidnilo <le Coim-
bra. As aulas da Uni\crsidaile e dos mais cslabc-
Iccimcntos piiblicos de iiistruccSo 'nesta cidadc,
que por decrclo de 9 de outubro haviam sido
adiadas, em consequcncia do reccio da itivasao da
cholera morbus cpidemica, foram mandadas abrir
por decreto dc 21 de dezembro ultimo no dia 7
do corrcnte, devendo lermiiiar as das faculdades
<le Iheologia , dircito e medicina a 20 de junho,
c as de malhematica e philosophia a 10 de jiilho,
afim de por cste modo sc supprir a iiitorrupcao dos
cstudos na primcira cpocha do anno Icctivo.
Tambem pcio raesmo fundamento se ordenou,
que nas ferias da Paschoa cessasscm as licijcs sii-
mente desdedomingo dc Ramos ale ao de Paschoa,
c que OS ados, que nao podcssem cxpcdir-se cm
junho c julho, ficasstm rescrvados para us pri-
meiros quinzc dias dc outubro proximo futuro.
Cnminlio-4 <lc ferro nox E'Xnclos I^iiii-
dON. Os caminhos de fcrro hojc concluidos nos
Estados I'nidos Icni um comprimento total de
1,7146 ; milhas. Os que cstao cm actividade
podcm-se dividir cntre os diversos Estados da
maneira soguinle : Massachussetts, numero total
de milhas 1197,53 comprehendendo 42 seccoes,
a mais comprida das quaes, a de Western, lem
153,40 m. e a mais curta, a de Wests Stockbridge,
2,73. Os caminhos dc fcrro terminados na Nova
Inglatcrra tem um comprimento total de 1703,05
a saber : no Maine 10 seccoes 364,75 m ; no
New Hamphisre 9 sec. 271,30; no Vermout 10
sec. 494 m.; no Rode Island 1 sec. 50; no Con-
necticut 8 sec. 523. A mais comprida d'cstas
linhas e a de Great Trunk Railivay, que tem de
extcnsao 119 m., e a mais curta a dc Calais •
Barling, que tem 6. O eslado de New York tem 23
caminhos de ferro em exploracao, representando
um comprimento de milhas 2224,41 : a mais
comprida d'cstas linhas, a de New York central,
percorre 534,23 m. c a mais curta a de Troy-
Union somcnie 2.
As outras linhas dos Estados Unidos dividem-se
do seguinte modo : Estado de Now Jersey : 10
seccijcs, a mais comprida, a de Camden eAmboy,
tem 65 milhas, e a mais curta Camden e W'oodhury
9 m. Na Pcnsylvania 39 sec, a mais comprida,
Pensylvania, 232 m.; a mais curta, PineGroTe, 4 1.
No Delaware 2 sec. 22 m. No Maryland 7 sec.
a mais comprida Baltimore c Ohio 380 m., a
mais curta Frederic Branch 3 m.
Na Virginia 15 sec. , a mais comprida , a
central, 138 m.; a mais curta Appomatox 10 m.
Na Carolina do Norte 3 sec., 430 m. Na Carolina
do Sul 8 sec. 537 m. Na Georgia 13 sec. a mais
comprida, a central, 192 m., a mais curta Miledg-
villc e Gordon 17 m. No Alabama 3 sec. 222 m.
Na Florida 1 sec. 26 m. No Mississipe 2 sec. 67
m. Na Luisiana 6 sec. 151 m. No Tcnescce 4
sec. No Kentucky 3 sec. 90 m. No Ohio 24 sec.
a mais comprida Clevedand, Calumbus eCincinalti
135 m., a mais curta Hanover Branch 1 [ m. Na
, Indiana 15 sec. a mais comprida 150 m , a mais
curta Shelbyville Branch 16 m. No Illinois 7
sec., a mais comprida Chicasso e Mississipi 195
m. , a mais curta S. Charles Branch 8. No
Michigan 5 sec. a mais comprida Central 278
m., a mais curta Tecumsch Branch 10 ni. .\o
Wisconsin, finalmente, 2 sec. 115 milhas.
{American Repoiiiory of useful Knowledge far
4S55)
Cnmlnho* <to ferro n'AnNlrin. Em 12
de scptembro de 1834 inaugurou-se n'Australia o
primeiro caminho de ferro, que alii cxiste, c que
liga Melbourne com a bahia dc Hobson. A luco-
moliva, que conduziu os passagciros, foi tambem
a primcira, que se fabricara 'naquella ilha. Era
de seis rodas, e forca de trinta cavallos : trans-
portou 130 toneladas com a velocidadc de 25
milhas por bora.
Kniisrncslo para a tmprira. No anno
de 1854 desembarcaram cm Quebec 53:183 emi-
grados, numero que excedcu ao de todos osannos
antccedenlcs, a exccpr.io dode 1847, e em relacio
a 1833 houve para mais no de 1834 dczescis
mil individuos. D'aquelles 33:183 emigraJos ,
35:132 erao oriundos de Inglalerra. £ tambem
notavcl , que a emigracao irlanclcza foi mais
numerosa em mulhcres do que em homcns; no
anno proximo passado o numero d'aqucllas exce-
dcu em duas mil duzcntas e nove o dos homens.
Em Nowa York desembarcaram 313:748 emi-
grados, isto c mais 30:000 do que no anno dc
1853. O numero, porcm, dos emigrados da Gra-
Bretanha e Irlanda foi mcnor 32:721 individos
em 1854 do que no anno antecedenle. A Allcmanha
deu um numero extraordinario de emigrados, o
que foi causa de nao baixar a cifra da emigra-
cao 'naqucllc anno.
0 augmento da emigracao irlandpza tem trazido
adiminui(;rio successiva do paupeiismo 'neste paiz.
Assim por exempio a associacrio Emits Utiinn, que
em 1851 soccorria S:677 pubrcs, tinha em 1853
sdmente 1:793, e, na ultima semana do mcz de
julho proximo passado, os pobres a seu cargo
estaram rcduiidos a 82S, e esperava-se que este
numero iria diininuindo progressivamenle. No
eondado d« Gallcs o pauperismo ia egualmente
em diminuicno.
.%IiI?ll<'aoaodo sazextracdo daa:;uaiV
■ lliiininaciioe a<}U«'<'ln>(>n(o <la>« < aKan.
Acombustao do gaz hydrogenio puro prodiiz so a
humidade prccisa para o ar rcspiravel, e n,io sao
por isso necessariss chamines; pelo contrario o
gaz carburetado produz uma fuligcm, quecobre os
moTcis, e as paredes; e vaporcs sulfurosos, que
atacam a respira^ao, e embaciam os metacs pre-
ciosos, e por isso torna-se indispensavcl o uso dc
chamines para evilar csles inconvcnientcs.
O gaz hydrogenio puro dcsinvolve mais calor
queo hydrogenio carburetado, eepor consequcncia
tambem preferivel nas cosinhas ; mas nao e tao
brilhante para a illuminacao como este ultimo ;
para Ihe fazer porem adquirir aqiiella proprie-
dade, basta fazer passar uma parte do hydrogenio
puro atravez uma caixa de carburetos. Nas expe-
riencias fcitas por Jobard perante a acadcmia das
sciencias de Bruxellas reconheccu-se, que um
mcsmo bico de gaz puro, cuja luz corrcspondia .i
de 7 bugias, passando pelos carburetos augmen-
tava a ponto de corresponder a luz de 36 bugias.
Empregando por tanto este gaz economisa-sc
a despesa dos fogoes, da lenha, carvao, e azeite,
que nao sao necessaries para aquecer ncm illumi-
226
luir <) iiUerior das casas, o quo, rcunido a vanta-
gem de nao ser nocivo .i sntide, o lorna muito
prcl'erivcl ao gaz cxtrahido do carvao mineral.
.treirolillin. Mr. Chaudron-Junot, de sele
annos dc iKTse\cran(p trahalho, tirou cm resul-
tado unia inipdrlantissima applicacao da eloctri-
lidadc — exliahiii das Kansas, ale agora conside-
radas cstcreis e irreductiveis, ractacs novos, cujas
propriedadcs os collocam enlre os denominados
nohrcs. Esses corpos que mal conheciamos no
ostado de purcza, nao tinliam, nem podiam ler
uso Da induslria ou nas artes liberaes: a desco-
berla de Mr. Ch. Junot, proporcionou-lhes csle
dupio emprego. Conscguiu roduzir oito espccies
diffcrcntes, qucsiio: o chromo, o tungsteno. o
molybdeno.^o litann, o urano, o silicio, o magne-
sioeoahimiiiio, que dotodos 6 o menos prceioso.
As ligas que fez com os seis primeiros cha-
mou argirolilha {a prata de pedra); e ^ de notar
que na sua prepararan enlra como parte princi-
pal 0 silicio, que Mr. Ch. Junot extrai do quar-
Izo, da area, c ate das pedras das caleadas. Nao
Ihc falta pois materia prima. X argirolitha pode
servir ja para os dcpositos galvanicos, ja para
OS differenlcs artefactos que fabricam os ourives.
A obra feita com csta liga c innocente, aprcsenla
um brilho superior ao da prata, c custa infii i-
tamente menos do que esta.
A imaginacao confundc-se a vista dc tacs re-
sultados, cuja novidade vein surprehender o espi-
nlo. Renectindo porera que todas essas divcrsas
gangas, como que cspnihadas com tanta profusao
sobre o globo, para indicar a sua utilidade, sao
composlas dcoxigenio e de metaes, podia prevcr-
sc quo OS haviamos de chegar a separar do oxi-
geno, com que estavam combinados. A electrici-
dade applicada resoheu o problema. Assim e
que lima dcscoberla da o scu conligente para
novas descobertas, que antes cram impossiveis.
REL.i^CA.0
JJos individuns nnmrados para os scguinles logarex
d'instrucfao publico, dcsde o dia 4.° ate to de
noveinbro, par dcspachos do Conselho superior
d'instrucfat pithlicii, e dreretos do Governo com-
miinicados ao mesmo Conselho superior no indi-
cado periodo.
INSTBDC(iO PRIUIRIA.
Andre Barata, para professor lemporario da
cadeira dc Margeni, districto de Porlalegre-
Antonio Rodriguos Silva, para dicto de Sel-
lir de Maltos, districto dc Leiria.
Joao Goijies Ferreira, para dicto de Carmoes,
districto dc l.isbiia,
Joaquini l.ii[ics da Cruz Correa Pimentel, para
dicto de Sao Miguel dcMachede, districto d'Evora.
Manuel Josp Ferreira, para dicto de Caran-
gucjeira, districto de i.ciria.
Mainiol Vaz Rczio, para dicto de Pontc de
Siir, districto de Portalegre.
Fernando Maria Percira deMacedo, para dicto
dc Vera Cruz, districto d'Evora,
Francisco dc Paula Sarmento, para dicto de
Avciras de Cima, districto dc Lisboa,
Henrique Jose Aniuncs, para dicto dc Para-
nhos de Baixo, districto da Guarda.
Manuel Dias da Silva, para dicto de Fcrmcn-
lellos, districto d'Avciro.
Jos(5 da Costa Nogucira, para professor subsli-
tuto da dc dc Santar, districto de Viscu.
Manuel Nunes da Gucrra, para a dicta dc
Cedavim, districto da Guarda.
INSTRUCCAO SUPERIOR.
Manuel Maria da Costa Leile, para sccrclario
da Eschola Medico Cirurgica do Porto.
Luiz Antonio Pereira da Silva, para lente
catliedratico da 2.* cadeira da mesma Eschola.
0 Dr. Jacomc Luiz Sarmento dc Vasconccl-
los, para o logar dc 3.° astronomo do Obscrva-
lorio da Univcrsidadc.
BIBLIOGRAPHIA.
Ewlndos Kobre oh Prinioiron Kle-
mcnloit an Tliooria <ln R<«ln<linlira.
por Adriao Pereira Forjaz, I.cnte de Economia
Polilica c Estadistica na faculdade de direito,
na Univcrsidadc de Coimbra, Socio efleclivo do
Institute, e correspondenle d'Academia Real das
Sciencias de Lisboa, A. dos Elementos d Econo-
mia Politica ed' Estadistica. Coimbra 1855, 1 vol.
8.°, preco 340 reis.
KIcmonloN <lc Cieomrtria cl'Ruclide*.
Nova edic.io corrccta, e cuidadosamente emen-
dada tanto no texto como nas estarapas, por Luiz
Atbano d'Andrade Moraes, Lente substituto da
faculdade de Mathcmatica na Univcrsidadc, c So-
cio effectivo do Instituto de Coimbra, e Antonio
Jose Tcixeira, Ajudante do Oliservatorio Astro-
nomico dc Coimbra, e Socio do mesmo Institute.
Coimbra 1855, 1 vol. 8.° grande, com estampas :
preco 800 reis.
ti^'oBosJo ap|ili<in<^o. Traitc du gisemcnt
ct de Sexploitation des mineraux utiles par Amcdce
Burat. 3." ediciio dividida em duas partes. Na
primeira tracta da Geologia practica; c na segunda
da Exploracao. A 1.= parte, 1 vol. 8.° com figuras
ja sahiu a luz. 0 preco dos 2 vol. e do 15 francos.
Trailt^ irElprtricilo ct <lii SlaKnclis-
mo et des applications de ees sciences a la chitnie,
a la physiologic et aux arts, |ior Becqucrel. e
Edmond Becqucrel. 8." Paris 1855. Esta obra ha
de constar de 3 volumes: publicaram-se ja o 1."
c 2.° volume: este comprchende a Elcctro-chimia,
Ilumholill (Ales.) Talilonci <lo la 7%'a-
liirc* tradiizido da segunda e ultima eclii;ao pelo Dr.
Hoefer. 2 vol. 8.° com estamjja:^ e cartas — 9 fr.
Cnvirr (Fred.') DsttroiirH »ur lew R<^vo-
Iiilionn tlu dobc. com iiolas e appendices,
flegnndij as mais recentes observaroes de Humlwldt,
Flourcns, Lyell, Lindlej etc.. redigido pelo Dr. //tff/ir,
1 vol. 18 com estampas — 3 fr.
Prontnarlo d'Arrhitertara por D. Ma-
riano Carrillo de Albornua. 1 t. 4.*^ y alias. Madrid
1BJ5. — 60 reales.
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Morreram.
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FEITAS NO GABIXETE DE PIIYSICA 1
DA LMVEUSIDAOE DE COIMUKA.
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tr[>rcicn(ando
em um metro
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teiUjio
ao ineio dia.
H = =
lie'«l'-
por i o cila-
rubico (i'ar
do de laliira.
Jio.
Dias
dMihir.
iMilliinetros
Milllm<'lri»
Millim-lrus
Grammaii
1
24
752,707
14,343
738,364
0,646
14,005
N.
Niihlailu. BuQilemiiu.
2
22
752,294
13,190
739,104
0,671
12,966
N.
O iiipsmo. O mcsino.
3
23
752,172
13,270
738,902
0,635
13,001
N.
O mesino. O mesrao.
4
2J
752,576
13,623
738,933
0,652
13,346
N.
O niesino. O iiic»rao
5
24
752,960
14,084
738,876
0,635
13,752
N.
O mciDio. O mestno.
6
24
752,960
13,691
739,269
0,617
13,388
N.
O inesmo. O mesmo.
7
23
753,487
13,764
739, :«3
0,659
13,485
N.
O mesiuo. O luesmo.
8
22
753,711
13,230
740,481
0,673
13,005
N.
O meamo. O mesmo.
9
25
751,824
13,532
738,292
0,575
13,168
E.
O mc*nio. O meiiiio.
10
29
754,621
16 596
738,025
0,557
15,935
E.
Clar.elinip. O raesino.
11
27
7.i2,592
15 324
737,068
0,586
13,005
N.
O m' snio. O mesmo.
12
28
753,480
14,563
738,917
0,518
14,030
N.
O nie»iuo. O meaino.
13
28
748,929
14,985
733,944
0,533
14,437
E.
0 mearao. O mestno.
U
28
751,609
15.906
735,703
0,566
15,324
N.
O mesmo. O meimo.
15
29
733.357
16.762
7.16,593
0,563
16,095
N.
O mesmo. O mesmo.
16
28
753,733
16,109
737,624
0,573
13,519
N.
O mesmo. O mesmo.
i:
27
754,302
16,332
738,030
0,616
15,787
N.
O mesmo. O mesmo.
18
27
75^,349
14,995
737,351
0,566
14,494
N.
O mesmo. O mesmo.
19
27
752 844
15,392
737,432
0,5B1
14,878
N.
O meimo. O inesmo.
20
27
754,(16'!
15,162
739,706
0,572
14,656
N.
O mesmo. O niesroo.
21
28
753,4 0
16,249
737,231
0,578
15,654
N.
O rafsmo. O mesmo
22
29
751,139
16,524
735,215
0,535
15,866
N.
Nublado. O mesmo.
23
24
749,948
14,975
734,973
0,675
14,622
N.
O mesmo. O m»<imo
2*
23
751,631
14,312
737,319
0,685
14,021
X.
O mesmo. O mesmo.
23
22
752,517
13,1194
7.38,653
0,707
13,638
N.
O mc*mo. O mesmo.
26
23
751,868
14,521
737,347
0,695
14.226
.v.
O mesQio. O mesmo.
27
22
751,6 "6
13,963
737,7>!1
0,710
13,728
N.
O mesmo. O mesmo.
28
22
754,217
13,943
740,274
0,709
13,706
N.
() mesmo. O mesmo.
2 'J
23
7.^,348
14,521
739,827
0,695
\i,*i6
N.
Clor.elimp Omwmo.
30
22
754,97 7
14 161
740,816
0,720
13,920
O.
Nuljlailo. O mesmo.
31
23
752. 8i9
14,401
738,428
0,689
14,109
O.
O mesmo. O mesmo.
iiifiliit ;
tin mfH ^
25,»03 '
732,796
0,626
i
To:
iftfralura
l*re$spo atmospherica
iiran d'humidaile do or
Fentot dominant
Maxim
>l.,iul. 29°
Max. iil'sol. 754,977
Maiimo .... 0,720
n
N. e E.
s
MIniiiia
alsol. 22°
Min.nlnulijt. 7-18, 9i<)
.Minimo .... 0,518
a
M.iV. va
iac;S.) 7°
Max. exriirs. 6,048
Maxima varia^. 0,202
Culm
jra, 1." il
i St^pleuibru
de 1835.
\« di f'ateOTt
Mat III (
t$ de Carral
cellos. I.enI
e Subsl
Into d.- Pli
ysica. 1
® Jnjsititttt0,
.lOKNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
co\SELiio si'PERioa DE mm[U
RELATORIO AXNl'AL.
1850—1851.
Cuntinuadu de pog. 218.
PARTE QUINTA.
Instrucrao superior.
Resta agora, Senhora, levar esle relatorio
a exposifao do que pertence ao eslado do
ultimo degrau na cscala dos conheciraentos
humanos, e que e corao o mais alto andar no
amplo edificio litlerario. A elle servem de
base a instruccao priniaria e secundaria; to-
cando estas os diversos pontos da superficie
das sciencias, cujos arcanos penetra ou pro-
funda a instrucfao superior. E, se pela soii-
dez do fundamento se ha de apreciar a fir-
nieza do edificio; se entre a litteratura e as
sciencias existe uma intima allianca, um
estreito parentesco; claro e que as phases ou
naturaes revolucoes de abjeccao, ou esplen-
dor, que olTerecerem as letras, essas mesmas
na generalidade sentirao forfosamente as
sciencias. Assim se ohserva, que o progressi-
vo melhoraniento, que entre nos, como dicto
e, tem, 'nestes ultimos, adquirido os dous pri-
meiros raraos d'instruceao, e acorapanhado do
aperfeifoamento da instruccao superior. Mas
no niesmo aperfeiroaraento ha graus, ha va-
riacoes, em que mil circumstancias a cada
passo induem. Isto se vera lancando os olhos
pelos diversos centros seientiHcos, em que
superintende o tribunal do Conselho superior
d'instruceao piiblica; os quaes sao — a Uni-
versidade, a Academia polytechnica do Porto,
e as trez escholas raedico-cirurgicas de Lis-
boa, Porto e Funchal.
Entre estes estabelecimentos scientiflcos
brilha, como a lua entre os menores astros,
0 luminoso centro da Universidade; a qual,
tendo sempre desde a sua inslituicao, por
Vol. IV. Janeiro 15
acertadas reformas, engrandccido cada vez
mais sen lustre, hoje, apesar da pouca sere-
nidade dos tempos, clar^a com mui vivo
esplendor. Scgundo o respectivo relatorio,
em todas as funcfoes acadcmicas correu com
a devida regularidade o anno lectivo lindo ;
sendo todavia um pouco mais curto, por
aquellas circumstancias piiblicas, que move-
ram 0 real animo de V. M., assim a ordenar
que as aulas terminassem mais cedo, como a
dispensar dos actos os alumnos. Todas as
faculdades deram provas de que com o maior
zclo e ponctualidade se dedicam a aperfei-
foar 0 ensino, e a conservar e engrandecer
este nobiiissimo estabelecimento. Istoattestam
0 aproveitamcnto dos alumnos; a vantagem
do ensino, regulado por compendios, que de
novo se tem adoptado em harmonia com o
cstado actual das sciencias, a composicao
d'outros, que 'ncste mesmo anno vieram a
lume, e ja 'neste relatorio foram menciona-
dos, alera d'aquelles de que nos reiatorios
anteriores se fez honrosa memoria; as mu-
dancas feitas na distribuicao das materias
pelos diversos annos de cada Faculdade, e
outros muilos servijos louvavelmente desem-
penhados. Entre estes trabalhos lustram os
que vao a indicar-se; c sao elles — a discus-
sao em claustro pleno sobre a reforma dos
estudos superiores, cujo projeclo subiu ja ao
governo de V. M.; — o projecto de reforma
da Icgislacao academica ; — parecer sobre o
modo de julgar os servicos dos substitutos,
oppositores e addidos — sobre as taxas dos
livros das aulas, etc.
Mas, se pela rapida c simples relafao d'a-
quelles servicos, alem d'outros muitos que
seria mui longo enumerar, se raanifesta o zelo
e diligencia de todas as faculdades, epor con-
seguinte a florescencia do corpo universitario ;
por aili se conhecem ao mesrao tempo algu-
raas necessidades geraes, que pelas projecta-
das reformas importa remediar. Ha porem
ainda outras necessidades peculiares a cada
uma das Faculdades. Na de Theoiogia se reco-
nhece necessario que a bibliothcca seja for-
necida de mais algumas obras theologicas,
recentemente publicadas, cuja leilura se tor-
na indispensavel aos alumnos da Faculdade.
Na de Dircito muito releva organizar-se o
curso de sciencias economico-administrativas,
-1856. Num. 20.
230
sobro que ja este CoDselho superior fez subir
;i real presen^a dc V. M. o prujecto iniu a
coiisulta de S de noveml)ro do ISiiO. Na de
Mcdieiiia alein do que nos relatorios anlerio-
rcs se I'ez jireseiite a V. M., earece odispeii-
satorio pharniaceutico d'aiguiis uteiisilios;
Iieiii conio de varki> instrunientos os gabiiielcs
d'anatomia, de luedii-ina operaloria e d'arle
olisli'tricia. Na de Mathematiea sao laiuliem
iieeessarios diversos instrunientos para o
oljservatorio astronomieo, cuja compra eon-
viria que fosse feita por uni ou dous lentcs,
aeomj)anliados d'lini iiabil artista. Ma dc Piii-
lojopliia rcsta eompletar-se, no iaboratoiio
cliimieo, a eolleeeao dos corpos sinipliees,
supprir a falta das niachinas e utensiiios:
assim conio no gabinete de zoologia a falta
d'exenipiares de muitas espeeies exotieas :
resla em liin, er.nio meio mais geitoso para
cnrii|uecer cstc e os demais cslaiielecinieutos
de bistoria natural, o por em practiea o me-
tbodo das \iageus sciciitilieas, dentro c fora
do reino, afim de se obter colleceoes eomple-
t;is dos trez reinos da natureza ; couio ja
este Conselho superior teve a iionra de pro-
por a Y. M. nas cousultas dc 20 de fevereiro
dc 1840, e 0 de novembro de 1819.
Foi frequeiUada a Universidade, no anno
eseliolar iindo, por 890 alumnos, contados
pelas matricuias; havendo sido no anno an-
terior 88i: dilTerenea para niais 15. Indivi-
dualmcnle foram 7()0. Toda a despeza da
Universidade e estabeleeimentos annexes foi
de aG:2G5^185 reis liquidos de impostos.
Deduzida porem a importancia das matiicu-
las, cartas de formatura, compendios e nuiis
propinas pagas pclos alumnos, liea a despeza
eiVectiva do thesouro reduzida a 20:097^738
reis.
Vindo agora aos outros estabeleeimentos
scientificos, cuja inspeccao esta egualmente
conliada ao Conselbo, menos agradavel appa-
rece 'nelles o estado da instruccao. Na Aca-
dcmia polytechnica do Porto, segundo se ve
do scu relatorio foi irregular a frequencia;
abrindo-se mais tarde as aulas por causa dos
contursos as substituifoes das seccoes de
Matbematica c Philosophia, e terminando
mais cedo o anno pelo perdao d'acto. Aflirma
comtudo a .Vcademia o aproveitaraento lit-
terario dos alumnos ; os quaes, contados in-
dividualmcnte foram sonicntc 9.2, cnlrando
ueste numero 38 ouvintes. Continnam as
causas do atrazo d'este estabelecimento, pon-
deradas jii 'noutros relatorios. E no sentir
da Academia eutre outras necessidades, a
falta d'um jardim botanico e experimental ;
a falta de simplicidade no curso de pilota-
gem; a falta de instrunientos physicos; a
falta dc cadeira para o ensino do curso de
construccoes: tudo isto necessariamente con-
cone para que d'esta Academia sc nao co-
Iham OS fructos, que poderiam esperar-se. A
sua despeza annnal, deduzidos os impostos,
anda pela (piantia de 9:i3S^8I0 reis.
Da escbola medico-eirurgica de Lisboa,
pela falta do competenle relatorio, nao sabe
0 Conscllio ainda (jual foi no anno Undo n
estado da instruccao. No anno anterior havia
ella sido frequentada per 40 alumnos; per-
tencendo a escbola de pliarmacia unicamen-
te ^; e a de parleiras 8. Na parte material
do estabelecimento, earece elle, na opiniao
da escbola, de se melliorarem os seus difle-
rentes estabeleeimentos parliculares, para que
se possa obter o progresso tbeorico e pra-
ctice das sciencias. A despeza ell'ectiva d'esta
eschola, no anno anterior ao ultimo, imporla
na (piantia de 0:008^090 reis. A escbola
medieo-cirurgica do Porlo foi no anno findo
frequentada por il.'i ahimnos. Teve a escliola
inedica li8 doentes; a cirurgica 97: lize-
ram-se 16 opcracoes cirnrgicas mais nolaveis,
com a perda de so dous iiidividuos. Teni o
conselbo da escbola exigido dos alumnos a
repeticao da frequencia das cadeiras d'ana-
tomia no 2." anno preseri[ita no regulamento
de io de junbo de 182o, mas omittida na
lei de 20 de septembro de 1844. Os exanies
dos alumnos tem sido regulados pelos esta-
tutos da Universidade. Estas niedidas extra-
legaes, que a escbola julga vantajosas para
0 adiantamento <los alunino.s, pede ella que
sejani eonvertidas em lei; assim como |)ro-
poeni outras providencias de melboramento,
j-i indicadas nos relatorios anteriores; e uo-
meadamenle para a cadeira de phariiKicia,
pouco frequentada. A despeza elTecti.a da
escbola, no penultimo anno, foi de 6:927^^300
reis.
Sobre o estado da escbola medico-eirurgi-
ca do Fnncbal nada tem chegado ao conhe-
cimento do Conselbo, porque nunca ella Ihe
envion, conio Ibe cuinpre, o sen relatorio ; e
jii este Conselho no relatorio anterior julgon
por conveniente indicar para utilidade do
ensiuo e do publico, ou a suppressao, ou a
refornia d'esta escbola (raappa n." 6).
Resullados.
De tudo 0 que exposto lica se deprehendc,
Senhora, que, seapesar dosnublados tempos,
por que a nacao tem passado, nao e tao desa-
gradavel, como poderia recear-se, o estado
actual da piiblica instruccao portugueza ; solTre
ella comtudo em todos os seus ramos varias
necessidaikis. E subslanciando estas, reconhe-
ceu-se que — a instruccao primaria e elemen-
tar ba mister de ser ampliada pela multipli-
cacao dos escholas d'um e oulro sexo ; que
estas sejam pagas com exactidao e regulari-
dade, collocadas em edilicios publicos, e visi-
tadas pelos commissarios dos estudos, ou
pelos seus sub-delegados: e que se escolham
231
lions professorcs habilitados em escholas nor-
maes.
A iustrurcao secumlaria e complementar
carece de dilatar a osjiliera do eiisino, na
parle relaliva as discipliiias iiulustiiaes:
adiantar os conhecimiiiilos practicos v, do
applicarao, tao necessaries para o progresso
d'agnculUira, e para o desinvolvimento de
todas as artcs e officios. E preciso vcdar o
ensino particular aos professorcs publicos, c
aos particulares iiiio lia'uilitados com o com-
petente liliiio do capacidade litleraria.
A inslriiccao superior e professional pre-
fisa d'ura curso economico-admiiiistrativo na
Universidade: c tanto ueste como nos de-
mais centres scientilicos, tarece-se d'instru-
nientos, macliinas c utensilios; sem os quaes
nao podcm ter andaraento as scicncias, que
mais induencia exercem na prosperidade
dos povos. Muito conviria em tim ao maior
aperfeicoamcnto c utilidade das scicncias,
e mesmo (i economia do thesouro publico
reduzir todos os estabelecimcntos d'instruc-
cao superior a urn so — a Universidade; como
este Conselbo ja submetteu a alta considcra-
fao de V. M. no seu rclatorio annual do 30
de novembro de 1849. Mas para tudo isto
se elTectuar siio nccessarias grandes despezas.
Passou, e verdade, a nossa opulencia e gran-
deza antiga : perraanecera porem os elevados
sentiiuentos do povo portugucz, e o seu natu-
ral amor de tudo o que e nobre, grande e
glorioso. Esta consideracao alenta as espe-
rancas, que o Conselbo nulre de ver um dia
tloreseer mais a instruccao, conllando na alta
0 poderosa proteccao, com que V. M. desve-
ladaniente aniraa as letras, as artes e as
scicncias. Coimbra, era Conselbo de 2S de
novembro de 1851.
JUIZO SQBRE A ElEiDA BRASiLEIRA.
Quiz 0 exm." sr. conselheiro Vice-Reitor
da Universidade, que eu lesse e avaliasse a
Eneida BrasUeira, ou Traduccao da EpopSa
de Virgilio, por Manuel Odorico Mendes. Obe-
deci com a costumada promptidao ; e a mi-
nba obediencia foi compensada com a leitura
aprazivel d'csta nova traduccao. Alii achei
fielmente trasladados era a nossa lingua e
idioma os conceitos, as paixoes e os senti-
nientos do grande epico Latino; e, sem di-
minuicao nem accrescimo, repostas as suas
niesmas imagens, e ainda muitas das suas
flguras. Bem sabia o sr. Mendes que o vcr-
dadeiro traductor nao deve ser paraphrasta,
senao fielcopiador e retratista, pdus interpret.
Alii apparccera postos em luz clara varies
passes da Eneida onde illustres commentado-
rcs nao haviam atinado com o genuino sen-
lido virgiliano, mas que o cximio traductor
pede alcangar. Isto licara cvidente a qucm
consullar as cxccllcntes notas, que seguem
cada um dos cantos do poema, c era que o
mesmo ostenta vasta erudicao, e eritica judi-
ciosa e csclarecida.
Elegante, limada e polida 0 a sua plirase;
e seus versos correm quasi scmpre com faci-
lidade, sao de ordinario cadeutes e numero-
sos. A perspicuidade, a precisao, e ainda a
concisao bem inlcndida, a propriedade dos
termos, o gosto delicado: todas estas virtu-
des la olTerecem seu agradavel donaire. Esse
grande .segredo dos meslres, a barmonia
imitaliva, que era pinta pela onomatopea as
qualidades scnsiveis dos objectos, ora cmpre-
ga a analogia dos nuineros ou rbythmos com
as ideas ou com os sentimenios; essa bella
barmonia, a que neubuma das linguas mo-
deruas sc presta por ventura tanto, corao a
nossa, em innumeraveis phrases e versos a
descobrira o leitor de tacto fine. Se fora pro-
posito meu dar aqui toda a analyse da tra-
duccao, mui longe me levaria a simples indi-
cacao dos verses onomatopaicos, que 'n-ella
brilham : bastera para exemplo os que vou a
citar. Nao pintam ao vivo o arquejo d'ura
cansado estes biatos:
<c Crebro o anhcio abala os mcmbros todos ?»
Nao se figura bem a queda do touro, der-
ribado por Dares, 'na queda d'este verso :
« Prostra-se, area e no chaoseestira o boi?»
Onde quasi se repoe o hemistichio latino,
procuiiibit humi bos. Nao representa o uivo
dos lobes aquelle verso :
<i Enormes viMtos ulular dc lobos?))
bem sirailhante ao original — formae magnorum
ululare luporum; o que tambem laz lembrar
0 — lupi-s idulanlibus vrbes. 0 .som dos maru-
Ihos, ferindo os rochedos, nao parece elle
ouvir-se aqui:
a Roucas do salso cheque as rochas soam?»
Nao parece ver-se a hydra do Tartaro abrir
suas boccas, 'neste passe:
(( Cincoenta atras guelas hydra enormc
« Dcntro arreganha?"
E 'nest'outro, o rangido das porlas sobre os
gonzos, e o sopro terrivel da trombeta guer-
reira :
CI Os umbraes dcscerrando rangedores,
« Priiclama a gucrra; guerra os mooos bradam,
n Roucas ereas trombetas resonando?u
E polo contrario, que docura 'na repeticao
da euphonica letra — / — 'neste logar?
«0 collo inclina a laoguida papoila!»
232
0 que nos traz a memoria aquell'outras ono-
malop6as do terno Mantiiaiio; — est mollis
flumma medullas; c — Mollia luteola pimjil
vaccinia caliha — .
De mancira que, assim como 'uesta hri-
Ihante virtude I'oi a todos os poetas latinos
niui superior Viri;ilio, assini vejo sobresaliir
na niesnia aos nossos o sr. Mendes.
Malta graca dao tanibeni a sua dirrao
cstes neologismos, — circumvoar, empubescer,
rechamar, alifurjo, leyifero , saxisoiiante ; e
outros multos. Mas, em I'orjar palavras novas,
algneni quizcra que tao bom traduitor fosse
mais sobrlo: dahitur licentia sumtu pudenler.
Quern souber todavia que, so n'os Lusiadas,
Camues introduzira duzcntas palavras latinas;
e que depois d'elle em todas as eras quasi
todos OS bons poetas Coram innovando pala-
vras; nao estranliara tanto a sobejidao dos
neologismos em todas as paginas d'esta tra-
duccao. Para cstas innovaeoes tinha o tra-
ductor pedido venia; e tem elle sua principal
descarga na necessidade; sendo que, como
elle em suas notas mostra, so pnr aquell'ar-
te podia elle guardar a preeisao, que tao
justamente ama, e copiar a justeza das idi)as
e forfa dos pensamentos do seu prototypo.
Neni esta liberdade , inventada no e.xempio
c no raciocinio, se ncgou jamais, nem ha-
de negar, em quanto as boas letras tivercm
preeo, maiormente aos poetas. Assim o pre-
disse 0 mais judicioso critico latino : —
Licuit semperque licehil
Signatum praesente nota procudere notnen.
E a poesia uma creacao inspirada ; e crea-
das ideas novas, I'orfa ecrear palavras que as
signifiqueni. Mas quern traduz, acha as ideas
creadas? assim e: mas quando o traductor
niio descobre na lingua palavras que cxpri-
mam toda a forea das ideas do auetor, que
ha de fazer? eis a necessidade. Nao e poreni
0 uso dos eruditos oarbitro, ojuiz eo rei da
linguagem? sim: mas eu anlevejo ([ue a au-
ctoridade de tao grande philologo, qual o sr.
Mendes, que cu ja estimo, amo e respeito,
ha de achar quem abrace os sens neologi.s-
mos ; ver-se-bao elles, correndo o tempo, en-
trar no dominio do uso. Assim se ba seguido
0 exempio d'outros ; assim se tem enriqueeido
e hao de curiquecer as linguas. Puristas ha-
vera de sentir menos conforme ao meu: em-
bora : outros sentirao commigo. Grande e o
service, que a nossa litteratura fez o tradu-
ctor. Longe de mim o rebaixar as traduccoes,
que ja possuimos, das obras de Yirgilio, in-
teiras, e em fragmentos, como o do quarto
canto da Eneida, admiravelmente tradusido
por Manuel Matbias. Mas, das traduccoes
e opiniao minba, e nao so minba, senao a de
dous respeitaveis litteratos, que esta traduc-
jao a todas leva a palma.
A. c. B. DB FIGUEIREDO.
MEMORIA HISTORICA E CRITICA
Kolire n rovolsirno Q-.icorsi ISa« lii-oii
a cor<in a n. Kanrito II. [»ara a <Ii«r ko
<-oii(le flo Boloalin, ;>oii irinno.
Cuntiuuado de pa;^. 2^0.
XI.
Jii vimos (pjal era o cstado deploravel do
reiiio principalmente na ultima decada do
reinado de Sancbo II. Aos motives de des-
goslo que causava a imbecilidade e indolencia
do rei, outro novo se levaiitava com o casa-
menlo, (jue elle lizera com D. Mecia Lopes de
Ilaro, sua parcnta. Este casameuto dava oc-
casiao a nova perturbacao e novos procedi-
menlos da curia de Uoma c dos prelados do
reino para a separacao dos conjuges, por causa
do parentesco que entre ambos liavia, e t'alta
de dispensa matrimonial. Uepresentando a
fabiila do Edipo, condemnado a uma negra
fatalidade, parece ter sido Saucho fascinado
a um ponto tal, ijue, desprczando adraocsta-
coes, e nao I'azendo cabedal do parerer de
sens mais inlimos conselliciros, deixou lavrar
0 incendio para depois mais o nao poder apa-
gar.
Os prelados do reino, entre os quaes devemos
contar o bispo de Lisboa, que, ja ao tempo do
chamamento para o concilio de Roma por
Gregorio IX se achava rcsidente na curia,
0 bispo do Porto , o arcebispo de Braga , e
mestre Tiburcio bispo eleito de Coimbra, todos
partiram , conforme a carta de convocacflo ,
para assistirem ao concilio, que em Uoma devia I
celebrar-se ; mas, como por causa da gucrra
com Frederico II se nao podesse ajunctar este
concilio, alguns dos prelados nao chegaram a
Roma. Assim acconteceu a U. Tiburcio, eleito
de Coimbra, que, tendo para alii partido a ID
de novembro de 12i0, cbegou a Palencia,
sua patria, e, constando-liie do desbarato da
armada e prisao dos prelados, que 'nella lam,
nao passou mais avanle, e voltou nos fins de
julbo para a sua egreja '. Aqui se conservou
D. Tiburcio, e foi durante este tempo que
teve logar a intimacao do eleito de Camora,
' O prior do S. Bartholomeu que depois foi thesou-
reiro d'esta se. e vifiario do bispo, jura na citada inque-
ri(;.^o, que D. Tiburcio Bra charaado a Roiua por Gregorio
IX, e partira para alii a 10 de novembro de 1*240, vol-
tando nos fins de jiillio do anno seguinte sem chegar ao
destino para que tinha sallido.
<* Dixit quod T. episcopus prima vice fuit Tocatus a
" domino (Jregorio ad curiam Romanam (juando prelati
u fuerunt capti et tunc ivit usque ad Palentinam civita-
u tem, et ibi and ito quod erant prelati capti, non ivit ultra,
« stetit in Castella toto tempore, <iuo rediit ad ecclesiam
I* suam in finemensis julii. Interrog. qua die arrei>uit iter?
11 dixit quod in vigilia beali Martini, et hoc vidit et
11 publice dicebatur. "
233
para que o rci fizesse entrogar a s6 de Coimbra
o dinheiro, que a ella deixara seu pae Affonso
II, de que ja dei notiiia.
Ja a este tempo a corte de Roma estava
sabedora do que se passava. Nao so os comis-
sarios, que Iniiocencio IV mandara, o haviam
ja inforniado, se nao tambem os prelados, (jue
'naquelle tomiio passavam a curia, e alii con-
corriam com liequencia, haviam de ter dado
parte de tudo ao ponlilice, que precalado
toraava entao a seu cuidado melliorar a sorle
do reino. Em maio de 1245 niandava lu-
noccncio expedir bulla aos bispos do Porlo,
c Coiuibra, e ao prior dos Domiiiicos para
admoeslarem Saucbo II, para se abster do com-
portanieiUo, ([ue ate alii tinba tido; por cobro
nos abusosque havia deixado correr com tan-
ta soltura, e remediar os males, que allligiam
a uacao, e\horlando-o a emenda e reparacao
de tantos aggravos. Que raeios elles empre-
garam i)ara conseguir este iim, que resposta
tivcram do rei, e ouUas mais circumstancias
accessorias, nao sabemos, nem mesmo importa
ao nosso objocto, que todo se dirige a mostrar,
que tal revolucao nao fora so feita peia insolen-
cia dos ecclcciasticos e sua extraordinaria pre-
potencia, mas que 'nella tomaram parte todas
as mais classes da socicdade, como temos visto
nas revolucoes, que tao I'requenles tern sido
ha meio seculo para ca '.
Em maio (1245) partiram os prelados, que
no reino ainda estavam ; entre os quaes
conto D. Tiburcio, para assistir ao coucilio,
a que tinhani sido chamados por Innocencio
IV , e , chegados a Lyao , deram parte do
que haviam passado com Sancho II, e do
nenhum resultado, que delle tinham obtido,
continuando tudo no mesmo estado deplora-
vel, em que o reino se acbava na parte adnii-
nistrativa e judicial. Era a ultima tentativa ,
que a corte de Ilonia fazia, para evitar que
Sancho se precipitasse no fojo em que dcfgra-
cadamente cabiu. Se alguem ([uer ver 'nestc
desenlace revolucao d'ante mao preparada,
nao comprehendo , como tal se possa inCerir
do que temos exposto. Em todo este acconte-
cimento, nao podemos deixar de notar esta
cega fatalidade, que muitas vezes nos acompa-
nha ; este destinn da providencia que nos nao
deixa ver o prccipicio, a cuja borda estamos,
ale que finalmente iielle cabimos. Foi exac-
' MelloFreire no vj, XLVII da siiaHistoria dedireito,
(" era outrcis iogares paralleios diz, fallando d'esla catas-
trophe « fnisse in priiiiis nimiam ecclesiasticurura poteii-
« tiam, et superstilionum . . . quod rex . . . eorum vio-
«i lentias reprimeret cnrri/ptissimos mores emendaret "
etc. Isto diz de todos os eccle.«iasticos, e falando dos
seculares diz ti (piorundara nubiliuni. " Comparem-se
com esta outras similhautes tiradas parallelas. e veremos
qual sera o espirito de partido, com que este X. escreve.
NaHistoria de Portugalosr. A. Herculano. naosdchama
prelados turljulentos a todos os d'este reino ; sen3o ainda
conspiradores etc. pag. 394 not. 3, 1." edi^. Mas estas
sao as ideas do seculo, que so no clero quer ver os con-
spiradores. e so 'nelle os crimes .'
tamcnte o que accontcceu a este rei ! Despre-
zando as admoestacoes, nao daudo ouvido as
queixas, nao reparando os aggravos ; confir-
mava U. Sancho as informacues, (|iie ja na
curia constavam ; e agora de novo inforniado
pidos prelados, pormuitos dos nobres e mag-
nates do reino, que alii concorreram, levando
cartas e representafoes por parte de nobreza,
e pela de diversas corporacOes, e militares ',
Innocencio IV pela bulla Grandi, non im-
merito enviava o conde de Bolonba a Portu-
gal, como governador, e pessoa a quem com-
petia a administracao do reino, sendo succes-
sor de seu irmao, se este morresse s(mu lilhos;
nao sendo de sua intencao prival-o da coroa,
nem tirar a successao a seu lilho legitimo, se
0 tivesse, mas somenle para atalhar os males,
que corriam com grande soltura, pclo reino;
administrar a justica e punir os delin(|uentes,
restabelecendo a ordem, e tranquillidade em
todo elle '.
Pelos lins d'este anno cntrou D. Tiburcio
com 0 conde de Bolonba, desenburcando em
Lisboa, sem resistencia : e cm 4 d'abril do
seguinte anno um e outro entraram em Leiria
onde foram festejados, recebendo de todos bom
gasalbado \ Algum tempo se demorou nesta
villa 0 conde de Bolonha com seu companheiro
D. Tiburcio, em cujo tempo coraecou este bispo
as graves questoes com os padres Cruzios, que
0 tolhiam de exercitar as ordeus episcopaes
'nesta villa de Leiria, que entao era do seu
bispado. Desta epoca em diante acho este pre-
lado enipregado no governo da diocese, tendo-
se passado a Monte-Mor, onde se acbava a
raiuha D. Thereza; e onde assistira i'alto de
meios, pelo sequestro em que tinha as rendas.
0 arcebispo de Braga D. Joao Egas achava-se
em Ohidos\ lalvez nao quercndo desamparar
0 conde, em cujo service viera; e d'esta villa
data elle uma sentenca, conlirmaudo certa de-
cisao dada a D. Tiburcio sobre a qucslao que
teve em Leiria com os padres de Sancta Cruz •.
Tanlo que D. Sancho soube que o bispo
de Coimbra vinha executor do mandado apos-
tolico, fez-lhe sequestrar todas as rendas, tomar
celleiro e casas de residencia, assim como as
de todo 0 cabido, que egualmeute se recolheu
foragido a Monte-Mor. D'estes reudimentos
dispunha Gomes Eanes Portocarreiro, a quem
por mofa chamavara o bispo de Coimbra, se-
' . . . Communitalum baronum , militum ac etiam
noljilium dommorum. Cap. Grand. Deer, de suplenda
neu'l. pral. in 6.°
- ]d. ibid.
^ Doc. mandado fazer por D. Tiburcio em Leiria
IV. Non. April. Era 1284.—" T. dei gratia Collimbrien-
sis episcopus cum domino comite Bolonie de
mandato apostolico incedentes ad villam de Leirena ve-
nioius . . . et cum idem comes ... a toto populo ejusdem
loci fuisset receptus — etc. Gav. do bispado n.° 227.
* Ibid.
> Dat. apud. Obidos IV. Kal. Jul. E. 1284. J. pro-
missione divina arcbiepiscopus Bracar. Assim se intitula
'nesta data. Ibid.
234
gundo ilepSem as tcsteniunluis , c por elle
foram adminlslrados ate a saliida dc Sanclio
para Toledo. 'Ncsta ultima villa fallecou depois
D. Tiburcio a 21 de novembro de 124(), e
poucos dias depois tcve iogar 'iiella a eleioao
de mestre Domingos, e nao Durando, como
cm alguus catalogos se lt\, que em Leiria I'oi
(Onlirmado pelo primaz' , que ou tinha mudado
de Ohidos para aquclia \illa, ou linha para
l.-i ido por alguni outro motivo, que se ignora.
Se pois segiiirmos os passos dados por D.
Tihuriio durante esta revohirao, vcromos 'nei-
le deterniiiiado ajmlogista do governo do conde,
e ainda deeidido parlidario do seu Iriunipho
sobre o irniao ; luas nao poderemos taxal-o
de turlmlfiilo e conxjiirador, nem de lautor de
pianos tenel)rosos para destruir o governo de
Saucho, como i)or alguem tern sido acoiniado.
Venios OS prelados e baroes do reino irritados
contra os aggravos, que entendiam deverem
ser reparados, procurarem todos os meios de
sahir da situarao, em que se aehavam, scm o
poderem conseguir, e na presenca de tantos
males, e de tantas calamidades, ser so a mu-
danca da administracao do reino o unico re-
raed'io. que poderia dar-se a descompostura,
era que se acbava, c o unico modo de sabir
facilmente dc lerreno tao minado pelos dcscon-
certos da sua govcrnacao, e tao mal seguro.
Como 0 desprezo monstruoso de toda a boa
ordem foi senipre a divisa de Saiicho II, ao
menos nos ultimos annos do sen reinado, e o
breve apostclico, nao o privando do reino,
nem a elle nem a seu legilimo bcrdeiro, se
por Ventura o tivesse, fora 'ueste caso o recurso
aos tres cslados do reino o unico interprete
de tao criticos momentos, e talvcz o unico
mcio de salvacao, mas nem ainda assim se
fez, e sera embargo dos adherentcs e dos auxi-
iiares que a favor de Sancho tercavam para
0 salvar, a sua cauza foi-lhe avessa, e a forca
das circuraslancias a decidiu nao sem con-
testacoes.
D.' Sancho com sua irabecilidadc, repouso
' Por morledeD. Tiburcio foi eleito mestre Domingos,
liispo desta se, pelo cabido, que entao estava reunido 'na-
quella villa. Na Historia de Portugal citada liv. V. pag.
413 chama-se-lhe Durando: isto por^m foi engaiio ; por
c|ue em toda a serie chronob)gica dos bispos de Coimbra
nao aparece um so com tal nome, ao menos que por
documeiitos se pussa provar, posto que assim se fa(;a
men(;i;o em alguns cattialogos menos exactos. Que fora
mestre Domingos o eleito, consta claramenle da citada
inquiri^ao em que as proprias testemunhas que oelegeram
assim o juram — magister dominicus electiis P'st mortem
domni Tibmcii. — Se elle port'm seguiu a politica de
seu antecessor, [larece natural, porque as mesmas teste-
munhas juram que elle nao podia vir a Coimbra com receio
do rei — sine periciilo caiitionis.—O arcebispo primaz
o confirmou logo em Leiria, para onde |)artira depois da
eleioao capitular, como afirmam as mesraas testemunhas.
Parece-me ser este bispo, aquelle conego que assigna
com esta disignagao na doa(;ao, e divisao das rendas do
bispado pelo bispo D. Pedro Soeiro , e cabido em 1210.
Documento na Gav. 12, R. 2, m. 1, n.» 35, em que se
vi a assignatura — magister dominicus — immediata ao
arcediago.
e candura facilitou sua ruina, e dcu causa a
revolucao, (|ue terminou o eslado lamentavel
do reino, cobrindo-se com a loisa sepulchral,
longc da patria, novohinlario asylo que csco-
Ihcra Lameiitaremos a fatalidade ou antes
cegueira, com que foi fascinado, para o coii-
duzir a tao deploravcl situacao ; mas nao
imputemos a coiijuracao nera a faccOes o que
fora lilho do erro, e imprevideiicia com que
governou, ou deixou goveruar ministros am-
liiciosos, e mal avisados conselheiros, ou va-
lidos, ([ue Ihe prepararam tao terrivcl catas-
trophe.
Do (;j'> tenlio exposto, lanto no (jue respeila
a historia, como no que respeita a critica,
ver-se-ha que o nieu tim era ser francamente
imparcial. Serito as minhas obscrvacoes justas?
l)e('idain-o os outros a vista do ipie (ica
pondcrado. Nenhum proveito, ncnhnma gloria
prociu'o niais, do <|ue levar a mais alto, mas
devido ponto, a estima do nosso clero, sempre
docslado por sens apostados antagonistas : e
por isso concluirei com os seguintes versos
de Ovidio.
Caniiiiiilnis qitnero miserant/n altliein renim :
Preiiiii, si studi'i cmseqttur istii , sat est.
M. R. DE VASCO.N CELLOS.
P. S.
J a a presento memoria estava escripta ,
(|uando ao .seu A. constou, que na redaccao
do Instituto se achava uma carta do sr.
Herculano contra os tres primeiros capitulos
d'esta memoria.
Nao se reputa seu A. nem se lisongea de
ser infalivel no apurado exame que fez dos
documenlos, de que se serviu; na diligencia
que empregou, e nos juizos que inlcrpoz a cerca
dos factos que rcferiu ; e 'neste caso vera
tranquillo a sua censura, se for arguido de
diligencia menos esmerada, ou de mal forniatlo
discurso.
Sua intencao foi so o amor da verdade, c
0 csclarecimento de succcssos menos hem .iprc-
ciados atcgora. Se os enlendeu hem ou se os
entendcu mal o leitor imparcial e sem pre-
venjao o decidira. Nao deixara com tudo de
responder iiquella missiva depois de publicada
nas paginas d'este jornal.
OBSERVATIONS SUR LA DECOUVERTE D'UN LAC DANS
L'AFRIQUE AU SUD DE L'EQUATEUR.
L'Athenwtm du 6 octobre a public un article
sur la decouverte d'une mer interieure dans
I'Afrique equatoriale. On y lit que M. Reb-
mann, missionnaire a Mombas, venait d'en-
voyer a M. le docteur Pelerraann une carte
represcntant cette mer comrae occupant le
235
vastc espace situe entre I'equateur et le 10°
de latilutle sud en longueur, et entre Ic 23"
et le 30" Jc longitude est de Greenwich en
largeiir, de nianiere que le lac Xijassa Ibrnie
son evtremile sud-est. La decouverle s'ap])iiie
sur les teraoignages concordants d'un grand
nonibre de nalureU vivant dans le \oisinagc
de la nier inlerieiire ou sur ses bonis."
Jusqu'ii present la decouverle de .M. Reh-
manii parait au docleur Petennann n'etre
etahlie ijne dans ce sens qu'il n'y a qu'un seul
grand lac dans rArri(iue meridionale : telle
est la nouvclle qui nous est donnee. Mais
depuis que nous eludions les cartes anciennes,
et(iuun grand nonibre de ces prccieux monu-
ments de la geographic sont sous nos ycu\,
11 est I'ort curieux au point de vue de I hi-<toire,
des progres de la science geopraphique, et
dans I'liiteret des exploratcurs niodcrnes ,
lorsqu'il s'agit de nouvelles decouverlcs ,
d'examiner si les anciens ont cu ou non la
connaissance des points dont il s'agit , ct
s'ils les ont marques sur leurs carles.
L'etudo de la cartographie des w" et \vi'
siecles, etait encore dans I'enfance en 1807.
Cependant deja a cetle cpoque', au nioven
soil des cartes inedites dressees a Dieppe, en
lb47, par Nicolas Valard, d'apres les cartes
des navigateurs portugais, soil d'une autre
carte de la meme epociue, et qui a appartenu
a lord Oxforde (qui existe au .Musee britanni-
que), Barbie du Bocage prouvait que la Nou-
velle-Hollande avait ete decouverle par les ■
Portugais bien avaut I'arrivee des llollandais
daus ces parages, opinion qui avail ete ega-
lenient adoptee par Dalrimple, Pinckerton, de
la Kochette, Coqueberl el d'autres.
Uudson, en lOlO, entra dans un detroil oil
11 trouva plusieurs iles, et qui condui^ait dans
un grand goll'; on a donne son noin ii ce de-
troit ou bale, taudis que plus d'un siecle avant
lui(loOO), les deux freres Cortes Heals, et d'au-
tres marins portugais apres eux, avaiont ex-
plore ces parages, le inenie goile parsenie
d'iles se trouvant tigure dans les cartes de
Jean Freire, dressees en lo86, et dans d'au-
tres du xvi' siecle, oil Ton remarque aussi
la cote de I'Amerique septentrionale, recon-
nue jusqu'au 72" de latitude boreale, et les
cotes couvertes de nonis portugais, jusqu'au
Cabo-Brunco , situe par le 72' de latitude
boreale, par consequent dans les latitudes
elevees de la mer de BalTins.
Pasco Aligo , ambassadeur de Yenise a
Lisbonne en 1500, avait ete temoin de I'arri-
vee de Corte-Keal et des Indiens que ce na-
vigalcur conduisit a Lisbonne. II inlornia son
gouvernement de cet 6veneinent dans une
leltre qui constata cetle decouverle.
Le fait ineme de la catastrophe dont cet
inlrepide niarin, lors de son second voyage
' V. M'nilcur universcl de 1807. \\ 761.
aux regions arctiques, fut victime, ainsi qi e
son frere, qui etait alle a sa recherche, parait
deniontrer ((u'lls avaienl pi'uetrc dans la mer
Pohiire; car le capitaine Mac-Clure, (|Hi est
uno si grande autorite (juand il s'agit des voya-
ges arcli(iues, dit « ipie qiiiconque a ete en-
traine dans la pleine nier [lolaire, serait inu-
lilemont socouru, car aiicun navire entre
dans eel abime n'en pourrait sortir. » Nean-
nioins les nonis que ce niarin imposa, lo.s
de son premier voyage, a ces regions par lui
decouverlcs, sont restes consignes dans les
cartes anciennes, coninie ceux de Terre du
Labrador, Terre des Corles-Iteals, et surtout,
il une latitude plus elevee, ceux de Terra-
Verde, et de Cabo-Branco, qui sc trouve in-
dique aussi avec ce nom (d'apres le recit de
Corte-Real , transmis a Yenise par Pasco
Aligo), dans un portulan tres-rare, dresse
par Pietro Capo de Insula en 1528, vingt-
sept ans apr6s le voyage de Corte-Real.
Ce ne fut done pas Hudson qui decouvrit,
on IGIO, le detroit qui fait communiquer cet-
te mer avec r.\.tlantiqne.
Une autre pretendue decouverte modcrne
a etc produite en 1848.
Un celehre voyageur russc, explorant le
lac ou mer d'Aral, a cru decouvrir le pre-
mier trois iles inconniies, et leur a impose
les noms de : Nicolas T', Bapla-Kilmes et
Konyone-Aral, tandis que ces iles se trouvent
dejii marquees dans les cartes venitienncs du
commencement du xiv" siecle; ce qui ne doit
pas elonner ceux qui savent que les Italiens
etablis a Tana et dans la Tauride possedaieni
des connaissances tr^s-detaillees sur les con-
tiees de I'Asie Superieure. La decouverte der-
niferemcnt annoncee de roxistencc d'une mer
intericure, siluee dans I'Afrique, au sud de
I'equateur, nous semble ctre dans le meuie
cas : lorsqne Ton examine les cartes du xvi'
sifecle, on voit dejii marquee cetle grande mer
intericure ; elle s'y trouve placee des le S°
latitude sud, jusqu'au 12" s, comme on le
voit dans la carte inedite de Jean Frcirc,
dressee en 1540. A cette epoque, un grand
nombre de voyageurs portugais avaient pe-
nctre dans I'interieur de TAIrique auslrale,
par les ports de la cote orientale. Et en elTei.
en examinant les cartes d'Afriquc dc Juan de
Cosa (IBi)')), de Ruych (1508), la carte
espagnole conservee a Weimar (1520). enlin
celle du fameux cosmographe Diego Ribero
(1529), on remarque les progres successil's
do la geopraphie de cette grande partie du
globe ; niais jusqu'a cette annee ces cosmo-
graphes n'ont pas eu connaissance de cette
mer ou lac interieur. II parait done certain
que ce fut apies I'annce 1529 que les cxplo-
ratcurs portugais en ont connu I'existence.
Cela ne diminue eu rien Ic merite des ex-
ploratcurs modernes ; il revient a ceux-ci
I'honneur de I'aire inieux connaitre, d'apres
236
los piosri's (le la scienrc actuelle, ce que les
ancioiis avaicnt sou\ent sigiiale iniparfaite-
IllCllt.
Toutefdis il nc fawt pas oulilier que nous
ilevons de la {jraliuule a ces liomnies inlr6pi-
(les du wT siecle qui, les premiers, out ou-
\ert la route aux niodernes.
V" DE SANTAREM.
i L\tthentteHm Fraitr, 0 iteceiii-bre. lH5-t.)
ENsmo sosaE os paiNCiPios de biechunica,
POH
J. ANASTACIO DA CUNHA.
Continuailo de pag. '2'23.
De uma racchauica tal coiuo a quo lenlio
delineado, se podc apoderar a pliysica, de-
moustrando que nos eorpos naluraes sc ohser-
vam (ao menos proximamente) as mesmas
leis £\ que se supposeram sujoitos os eorpos
malhematicos. Porem , ainda que se tern
escriplo e trabalhadu tanlo em pliysiea expe-
rimental, nao sei que liaja ainda tudo o que
para isto se requer. Falta a deraonslracao da
li\ potliese tcrceira. (As licues do abhade iS'ollet
sobre esta materia sao impcrleitissimas.) Na
obra do sabio s Gravesande vcm uma machina
eomposta de tres pendulos, com que a pre-
lende demonstrar ; porem funda-se em urn
principio, do qual da uma demoiistracao ma-
lliematica errada; principio, cuja demonstra-
cao mathematica depcndc da dicia bypothoe
lerccira. — 0 principio de que lallo e, que
urn corpo grave ciiliindo de equucs alturan.
■\eja qual (or a linha que descrece, com luiito
'jue nOo seja aiujulosa, adquire eijuaes veloci-
dades. Diz elle, ([ue islo succede assim, por
(|ue tambem assim succede na queda dns
^'ra\es por cima de pianos diversamente incli-
iiados; no que bcm se sabe, que se enganou,
e cuido que depois d'eile o nao menos estinia-
\el Muscbembroeek. Esta falta, porem, facil-
mente se pode remediar, deixando cahir de
■•Ituras eguaes sobre substancias molles, liora
verticalmente, bora em arco de cir.^ilo, como
pendnio, um mesmo corpo espherico, procuran-
ili) semprc , que lira perpendicularmente a
superlicie da substancia mole; pois I'ara eguaes
cavidades. Seria bom que nao restassem mais
ilifliculdades; mas ainda, cuido, que reslam.
Eu nunca \i a macbina de M. 's Gravesande
senao estampada ; mas reccio (|ue 'nella nao
seriam as experiencias sufluienlemente exac-
tas ; ))elo muito que me parcce difficultoso
napraxe, que as duas cspberas tiram a terceira
em um mesmo instanto, pois que a I'erir mais
tarde ja Ihe communica niovimento diverse
do que devera; e parece-me que de simiihaii-
tes dilTerencas nao podem deixar de resultar
grandes irregularidades. Estimarei muito cu-
ganar-me.
Nao seria nielbor subsliluir as duas primei-
ras espheras dois martellos, nilo eyiindricos,
como OS do abbade Nollel, mas parallelipipc-
dos, para mais seguraufa , para I'erirera a
terceira espbcra senipre (ou mais tarde ou
mais ciido) quasi da mesma sorte ? Sendo
antes pe(|uenas do que grandes as velocida-
des conimunicadas, e o pendulo bem com-
prido , poderao medir-se com I'acilidade os
arcos que descreve ferido, ora |ior um mar-
tello, ora pelo outro, ora pelos dois a um
tempo.
A maior parte dos auctores inclueni a segun-
da bypothese e a terceira em uma so prcqjosi-
cao. Serve-lbes para isto a palavra, puleiicia,
com a qual (conlusissimamente entendida)
designam indifTerentemente a acceleracao e a
velocidade constante; conl'undindo assim dois
casos tao diversos.
So 0 catalogo dos erros que tem introduzido
nas sciencias, a que chaniam por excellencia
exactas, a metapbysica poetica, encberia vo-
lumes.— 0 costume, digo, de subslancializar
as palavras velocidade, movimento, forea ,
accao, resistencia, pressao, percussiio, poten-
cia, etc., da mesma sorte que os poetas perso-
nalizam a virtude, o vicio, oamor, a inveja,
0 somno, etc. — Por isso nao serao talvez
desnecessarias algumas rcHexoes mais sobro
OS principios que proponbo.
1." Chamo a - - velocidade; a , accele-
at dt
racao. Yulgarmenle dizem que a velocidade
de
e como ; e que a forfa acceleratriz e como
— . Explicando-se d'este mode, ou suppoem,
ou induzem o leitor a suppdr a existencia de
uns entes t'autasticos; de uns entes, i|ue ainda
a sereni reaes, nao somente seria dillicultosis-
simo 0 concebel-os mas totalmente inutil na
mechanica o consideral-os. Totalmente inutil,
pois sem OS considerar se resolvem todos os
problemas que e dado ao homem poder resol-
ver.
2." Excusam-se assim as ordinarias iiiter-
de . do
pretacoes das expressoes, t; = — ,/ = --;
inlerpretacoes nao menos difficeis aos auctores
que aos principiantes.
''e , .,
'i.° Assim como se chamou -r- velocida-
dt
de, podia-se-lhe chamar outro qualquer nome:
.. . de
E assim como se chamou velocidade a --,
dt
podia-se chamar velocidade a qualquer outra
funccao de dee dl. Tudo isto, nao por outra
237
razao, senao porqiie o mesmo homera que se
ehama Pedro, podia cliamar-se Mannaduk.
Talvez sera necessario expur isto niais per
e\tenso aos principianles.
Descreva um move! A a linha infinita AB,
c outro C a linha infinita CD. Sejam os pontos
A e C dados , e gastem ambos os moveis o
tempo EF em descrover , um o espajo AG,
outro 0 eppaco CU \ e seja AG > CH. Dizem
todos, e 0 mesrao vulgo , que o move! A
correu maisy ou que andou niais de pressa,
ou que e niais vcioz, ou que tem maior veloci-
dade. Assim conforme a linsuagcm vulgar,
tem maior vclocidade aqueile movel , que
descrcve maior espafo em egual tempo. Sc-
nielliantoraente se aeha, que segundo a lin-
guagem vulgar, e mais veioz, aquolle movel
que descieve egual esparo em menos tempo
E em (im, chaniam vulgarmente mais veIoz
aquelle movel, que descreve maior espato em
menos tempo.
Porem o mechanico reflectindo um pouco
'nestas expressoes nao pode dcixar de as achar
vagas, e insullicientes para o que elle pre-
lende. 0 que elle pretende e estaheler metliodos
seguros e geraes para determinar as relaeoos,
que ha entre espajos descriptos em certos
tempos ; ou entre os tempos, em que se des-
creveram certos espacos, e qualquer daquel-
las expressoes, por quadrar a uma inlinidade
de cases diversos, deixaria os problemas in-
determinados. E isto por duas razoes: 1." por
()ue ainda que seja AG > CH, pode o movel
A ter descripto algiima porcao de AG menor
((ue a porcao que no mesmo tempo descreve
6' em CI); e 'nesses logares seria C o mais
veIoz ; e isto por infinitos modos: 2." poiqiie
tambem sao inlinitos os modos (lorque ]jode
ser A G > CU.
Remedea-se tudo isto com a definicao V :
mas esla detinijao podia ser diversa, e ter o
mesmo prestimo, pelo que toca a precisao do
dt
calculo. Ponhamos v. g. v = --^ -. expressao
de
hem diversa que offerece a definicao V, e hem
diversa da da linguagem vulgar ; pois con-
forme esta expressao seria necessario dizex
que quanto maior e o tempo cm que um movel
descreve um espaco dado, maior e a sua velo-
eidade. Porem que imporla? Quando, confor-
mando-me a nova delinicao, digo que a veloci-
dade de um movel e dupla da do outro ,
denoto o mesmo, que denotaria conformando-
niea definicao V, quando dicesse, que a velo-
cidade do primeiro e metade da do segundo ;
de . . dt n , .
por ser — o mverso de -r-. Para denolar a
dt de
propricdade dos corpos graves, em vez de
dizer que a velocidade e directamente como
0 tempo, teria de dizer, que e inversamente
como 0 tempo. Da mesraa sorte podiamos por
d'"e d"e , dPe
d'"e d'"e
«' = asen. -— , ouc = log. -r-, etc. etc. Ua
d"t " d"t
mesma sorte que podiamos inventar novos
nomes para as cores, para os vestidos, etc. etc.
E 0 mesmo diseurso convem as definifoes
da accelerajao, da quantidade de movimento,
etc. etc.
4.° Pica desnccessaria a trabalhosa e
escholastica distincjao entre velocidade ac-
tual , e velocidade potencial. — E terdade
que velocidade variavel, quantidade variavel,
tomando-se estas palavras no sentido litteral,
e absurdo : porem nao e assim que se devem
entender: devem entender-se como vcm expli-
cadas na delinifao I do Ensnio ' sohre os
Principios do calculo jluxionario.
5.° Nao menos desnccessaria fica a indaga-
fao, e a consideracao dos valores, ou das pro-
porcoes do que chamam causas. Nas hypo-
theses 11 e III muito de proposito evito a
palavra causa, e digo antes molivo ou razao:
por me parecer que estas ainda conservam
intacta a sua vulgar significacao, que 'neste
caso e so a segura : pois a da outra, adulte-
rada pelos philosophos, tem-se feito um dos
mais I'ecundos mananciaes de conl'usao, equi-
vocos e contendas.
Eu tomo sempre as palavras motivo, razao,
ou causa no sentido niais popular. 0 homem
geralmente depois de observar sufficientes
vezes (isto e, tantas quantas a sua natureza
competeni) que a repeticao de certo phenomeno
(i sempre acompanhada da repetic5o de outro
certo phenomeno, chama ao primeiro, causa
do segundo; e ao segundo, elTcilo do primeiro;
e e de facto, que fica persuadido de que sempre
ao primeiro ha de aeompanhar o segundo,
excepto no conflicto de outro phenomeno, que
seja incompativel com aquella causa, ou coui
aquelle elTeito. Nada mais necessita iiem pode
saber o mechanico sobre este ponto. Se aquel-
la conjuncrao (tanto a passada, que observou,
como a futura que admitte) precede de con-
nexdo, ou se succede, como a harmonia presta-
bilita de Leibnitz ? se se deriva necessaria-
mente da natureza dos phenoraenos conjun-
clos, ou se poderia haver outras conjunccues
diversas? — Que homem o sabe? Porem tam-
bem, que necessidade tem o mechanico dc
0 saber? — E nao so o mechanico puramen-
le mathematico , mas tambem o physico. A
' Esta ohra njlu existe. A definicao I do livra XV dn.s
Princ. Mtith. do mesmo auetor e a seguinte. " Se uma
expressau admittir mais de nra valor , quando outra
expressSo admitte iim s6, chamar-se-ha esla constante. e
aqudia variavel. » (Not. do E.)
238
sun natureza c a cxperiencia o forfam a
crer, v. g., que ijuaUiuer fori)0, como os que
(■onliecc, desce, (|uain)o nao aiha cnibaravo,
descrevtMulo lo pes no primeiro I" purto da
>uperlii-ie da terra ; e que na distancia, em
queesUi a lu;i, desereveria 15 pes no primeiro
1
Isto nu'siiii) denota. coiiroriiie a iinguageni
mais vulgar; dizeiido, v. g. ([ue a viziuliaiita
da superlieie da terra e a eausa, motivo, mi
razao, por (jue uin eorpo grave desereve Iti
pes em o primeiro 1' ; que a distaiieia de (10
semidianietros da terra e a causa, motivo ou
razao, por que urn eorpo grave desereve IK
pes no primeiro 1 . Cr£ da mesnia sorle que
ao plienomeno denotado pela palavra impulso,
nu goipe, se segue moviinenlo unil'ormc :
ensiiia-Ihe tamhem a expcrieneia (jue ao plie-
nomeno denotado pela palavra prcssao se
segue movimento similhanto ao dos corpos
graves. Que mais llie 6 neeessario? Se urn
eorpo reeehe dois golpes ao mesmo tempo
diversamentc dirigidos , c motivo de duas
velocidades constantes em direeeoes diversas:
se um eorpo grave recebe ou no prineipio, ou
em qualquer oulro instante da sua queda, um
goIpe cm direcciio nao vertical, lia nm motivo
para que o eorpo descreva accelleradamente
wma recta, e outro motivo para que desereva
oulra unirormemente : em (jualquer d'estes
cases, ou cm rjualqiier outro semelhanle pode
derivar das hypotheses II c III confirmadas
. pela experiencia , o que deve succeder : e
esfusa de martyrisar o cerehro (e martyrisal-o
dehalde) com a indagacao, comtemplacao, etc,
do (|ue chamani causas ejfidentes, ])roducentes,
»fffl,jion«f!, etc. etc.
(>." D'este modo nao poderao achar logar
na verdadeira e sa mechanica , ou pura-
mcnte mathemalica , ou tamhem physica , a
queslao Leibnitziana sobre as forcas vivas e
morlas; a queslan BernouiUiana sobre a equa-
cao fdl = (h\ etc. etc. Ficani naturalmcnte
de lora.
fiOTIClAS LITTERflRiJS E SClENTIFICaS.
4 ia^ricsiDtiim ens Iitelnloi-s-n. 'Niira
meeting agricola, ultimanienle celcbrado em In-
glaterra, lord Stanlty (leclarmi, que cm todo o
Rciiio UniJo ha\ia 77 milhots d'acrcs [geiras) de
terra, dos quaes 47 milhues bem on mal cultivados;
15 milhfies, quo nSo eram susctpti\cis de cultura;
(■ IS niilhoes, quo [jodiam cul[i\ar-se, mas que
lie facto cstavam incultos ; ile maneira que cm
Inglaterra so se agrieulta a qiiinta parte do ter-
rono, e essa mesma niio e loda bem culti\ada.
0 mesmo agronomo disse, que o tcrrcno cul-
ti\;ulo 'naquelle paiz poderia dar n triplo da sua
produccao actual, se na cultura d'cUc se seguissem
us principios o as praclicas da modcrna agricul-
tura.
E:Ntatll<ilirn do Caiiatlai. Os numcro total
d'cgrcjas dcdicadas aos divcrsos cultos no Alto-
Canada em 1831 era dc 1,747, e 6t)() no llaixo-
Canad.i. <) rulto anglicano possuia 344 egrejas,
(■ conlava 2tl8,S9'2 sectarins : o euUo catholico
ruuiano 460 egrejas, e 914,501 almas ; os melho-
dislas 453 egrejas, e '228,839 diclas; os presl)yte-
riauos "243 egrejas, c 176,118 dictas : os haplistas
166. e 49,846 diclas : c us congrcssionalisla.i 63, e
ll,67i almas.
No Baixo-Canadii ha 1.156 rasas de eschola :
2,532 escbolas em excreieio com 108,285 alumnos.
.\ provincia toda tern 5,479 estabelcciinenlos de
instruec.ao frequenlados por 303,020 esludanles.
0 numero das cazas no Canada occidental que
em 1823 era de 8,876 subira ate 1848 a 42,957.
Nos Eslados-Unidos, segundo o ultimo recen-
scameuto, nos scis annus proximos passados tiuham-
sc conslruido 663,000 casas de novo, e avaliando
cada uma d'estas casas i>or termo medio em 100
dolars, scm nieneionar as nioljilias, e todos os
mais olijerlos do servieo domcstico, a riqueza d'este
paiz linha augmentado 'naquelle curto cspaco 668
milboes de dolars.
(The Land and liuilding News.)
BIBLIOGRAPHIA.
Elcvliitn <!e OltraM I*iiiBiIicn«i. Estu mui
imporlante jornal, publica-se cm Madrid duas
vezcs por mcz nos dias 1." e 15, foimato em 4."
de 12 paginas cada numero, e acompanhado dc
gravuras intercaladas no texto, e de numerosa.'
estampas , bem lithographadas , represenlando
diversas eonslruccoes, machinas, instrumentos e
outros objcclos relalhos a architectura, caminhos
de ferro, pontes, telegrapbia eleclrica, obras
hjdraulicas etc.
Comecou a sahir a luz cm maio de 1833. Os
trez primeiios volumes d'estaeollecciio estam com-
pletos, e do 4." ja se publicou o 1." numero no
1." do correnle. Preco por trimcstre para Madrid
seis reales. e para as provincias, franco dc porte,
rinte reales.
Em Coimlira assigna-se no Gabinetc do Institutn.
A Herista de Obrus Puhlieas comprehende a
parte oiTicial d'este ramo da administra^'ao piiblica;
arligos donlrinaes ; o estado das obras em construc-
jito, e as que se projectam do novo, as mais
recentes descoberlas, e invencoes, e a bibliogra-
pbia das obras scientificas que se publicani nos
diversos paizes.
Este jornal tracta tambem com muita profi-
ciencia das importantes questoes econoniicas e
sociaes, que se ligam ao estabelecimcnto ilas obras
piiblicas, e aus differentes syslemas, que podem
adoplar-se para leval-as ao cabo.
A Kevista das Obras PubUcas merece ser lida
nao so pelas pcssoas da profissao, mas tambem
por todas as que desejarem adquirir cuuhecimen-
tos sobre esses variados assumptos, que hoje
principalmentc tanto nos interessam, c que entre
nos sao ainda pouco vulgares.
t alem disso de reconhecida utilidade ver o esla-
do, e seguir o progresso dos nossos visiuhos 'nesta
importantissima parte da sua adminislracrio inter-
na, que nalguDS pontos nos leva vantagem pelos
reeursos proprios dc que a Hespanba pode dispor.
239
REL.VCAO
Dos individuos nomeados para os seguiiile.i Ingarcs
d'inslrucfao publica, dcsde o dia /3 atv an fim
dc novcmhro, por despachos do Consellio superior
d'instruciHo publica, c decrelos do Guverno rom-
muiiicados an mrsmo Conxetko superior no iridi-
radii periodo.
i.ssTiiL'cg.io pniMAnrt.
Antonio Maria Conde Palma, para professor
fpmpnrarii) da cadeira de Villu Alva, dislricto dc
Bcnlo do Oliveira I'ercira, para dicto dc Siiu
Salvador d'Eiro, cum assciiio eni Bolicas, districto
dc Villa Real.
Francisco Goncalves RiUa, para dicto do Er-
\idel, districto de Beja.
Joao Af;ostinho Alberto, para dicto do Santa
Eulalia, districto de Portalegrc.
Joao Mauricio Fernandes, para dicto da IVe-
giiozia do Faial, districto do Fiinchal.
Antonio Feliciano Ahares, para dicto dc Sao
Malliias, liislricto de Beja.
.\ntonio Jose Goncal-. I's, para ditto de Covas
do Douro. districto de A'illa Real.
Antonio da Silvcira Pcrcira d'Aiidradc, para
dicto de Orca, districto de Castcllo-Branco
Angusto Leitiio Xavier, para dicto d>^ Oledo.
Joso Antonio d'Oliveira , para dicto de Bein-
querencas.
im.u .\ugusto Ferrcira Bemfeito, para dicto
d'.XImcirim, districto de Sanlarem.
Joiio Maria Ucliello I'ercira da Silva, para
dido de Lordello, districto de Villa Keal.
Thiago da Encarnacio Ferrcira, para dicto
dc Azaruja, districto d'Evora
Antonio RodriKues Fernandes, para dicto dc
Dorncllas dc Caliril. districto de Viseu.
Joaquim .\ntonio de Monra, para dicto da
Varf;ea, districto de Castello-Branco.
Manuel Ricardo da Siha Lamego, para dicto
d'Obidos, districto de Lciria.
Jose (^orrea Pinto Campos, para ajudantc da
eschola d'ensino mulno de Coinibra.
Maria Oililia Mendonca da Silvcira , para
mcsnij teniporaria da eschola de mcninas de Villa
Franca do Campo, districto de Poiita Dclgada.
Elena .\ntonia Ferreira, para dicta de llhavo,
district!) d'Aveiro.
Antonio Pires da Costa, para professor vila-
licio da cadeira dc Sopins por transfcrencia ila
de Taveiro (ilccrcto de 20 dc novembro ultimo).
Justino .\iitonio Soarcs da Costa, para dicto
de Taveiro, por transfcrencia da de Mmite-Mor
o Velho, districto dc Coimbra (decreto de 20
de novembro ultimo).
Joaquim Jose l)ias Antunes, para dicto de
Tortozcndo, districto de Castcllo-Branco.
I.uiz Jose AnnesBaganha, para dicto dc .ilc.iccr
do Sal, districto de Lisboa (decreto de 14 ite
novembro ultimo).
Francisco Duarte Ramos, para dicto dc Tina-
Ihas.
Joao Ferreira Callado, para dicto dc .\mirjes
dc Baixo, districto de Santarem.
Scliasti.ao d'.\lmeida Siniocs, para dicto das
Fehres, districto de C<iimbra.
.\lvaro Jose dos Sintos Claro, para dicto dc
Sapi.ncs, districto de Villa Real.
(jnalberto Julio daCusta, [lara dictodoRabacal,
districto de Coimbra.
Jose Bento Taveira e Costa, para dido dc
.ilfarella de Jalles, districto de Villa Real.
Manuel Jose N'eutel, para dicto da Carapinheira,
districto de Coimbra.
Manncl das Dores Rozado, para professor vita-
licio da cadeira de Cuba, districto de Beja, por
decreto de 5 do corrente.
IKSTnt'CgvO SECnNDiBIA.
Jacintho Coclho de Oliveira, para o logar dc
porteiro do Lyceu Nacional da Guarda (decreto
dc 28 de novembro ultimo).
Antonio Jose Lcbre, para professor vitalicio
da cadeira de latini da Villa d'Arouca, districto
d'.4veiro (decreto de 28 de novembro ultimo).
Antonio Augusto de Almeida Pinto, para pro-
fessor da cadeira de physica e chimica , e dc
historia natural dos tres reinos do lyceu nacional
do Porto (decreto dc 28 de noveudno ultimo).
INSTRDCIjXo SUPEBICn.
Jose Antonio d'Andrade Pedroso, para Icnte
ill 4.^ cadeira da eschola medico-clrurgica dc
Lisboa (decreto de 5 do corrente).
Dkta do I ." at6 lb dc Dczcmbro.
1N»<TUIIC(A0 PBIMARIA.
Domingos Goncalves do Couto, para professor
lemporario da cadeira de Almaceda, districto da
Guarda.
PUBLICAgOES LITTERflBIAS.
O ]E:irE>olia!<te-int<'<IIsco.
I'ubticado sob os ampicios da reparti{:an de saii-
de do eu-enito, pclos facuUaliros militares.
A. G. do Valle, ,/. A. Marques, J. C. Meiides.
Esla pnblicacao bimcnsal vai enlrar no scu,
13." anno dc cxistencia. Para corrcs[iondcr mais
cabalmente aos fins da sua institwicao, incepta
porem o anno de 1836 com um augmcnto o'c
192 columnas, sem alterar o prcro da snbscri-
])cfio, e abre novas seccocs scicntificas, quo re-
presentarao como convcm o eslado da mcdicina
no estrangeiro. Estcs mclhoramcnlos c aquelles,
por que tern passado ultiniamcntc, fazem com que
0 Esclioliastc scja o jornal medico de mais mo-
dico preco que a\.k hoje sc tern pnblicado, ao
passo que pelas suas relacoes scicntificas esi.i
intciramenic no caso de aprcscntnr em dia todos
OS adiantamcntos e faclos notavcis da sciencia.
Assigna-se e vende-se cm Lisboa na gcrcncia.
rua das Flores n." 30, 3." andar, on na loja ilo
sr. Lavado, rna Augusta n.° 8; no Porto na
pharmacia do hospital militar pcrmanentc da
mesma cidade.
Anno com cstampiiha 1^120
Dicto sem cstampiiha l^OOO
Avulso 50
210
OBSERVACOES METEOUOLOr.lCAS. FEITAS NO GABI.NETE DE PHYSICA
DA UMVEKSIDADE PE COIMlillA.
Anno de
1855
Met (ie
Seplem-
Dias
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
82
23
24
25
26
27
£8
29
30
31
c •- a
22
22
21
21
19
20
20
20
20
19,5
20
20
19
19,5
20
22
20
22
20
19
20
19
20
20
20
20
19
20
19
19
Presxilo iitiDopjihtrica ao meio dia
Altara luiro-
ruetrica a 0^
da eicaU c«0-
ttgrada.
Ciraiis
Millimetros
media 't
do niez 1
e
754,977
750,421
745,734
748,012
752,054
750,665
749,653
749,653
749,400
750,878
754,261
753,197
750,788
750,473
752,691
751,939
755,0i0
754,723
752,488
754,079
749,400
749,015
751,172
752,944
752,691
749,653
749,522
748,134
746,989
746,483
Milliinctrus
14,779
14,582
13,246
13,703
12,574
13,219
11,867
12,475
13,219
13,684
13,714
13,540
13,064
13,347
13,567
12,764
12,262
13,525
14,080
13,715
13,637
12,768
13,914
13,540
13,740
13,171
12,247
13,171
12,410
12,769
Press'io du
ar aeccu
R!«tNdi> hyjjroujf iricii di*
alinuspberu au lueio dia
Mllliuu-trua
20,°0[0]{ 750,904
Tfinpfrattira
Masim absol. 22°
Minima aLsuI. 19"
Max. \uria);rio 3"
740,190
735,839
732,408
734,309
739,480
737,446
737,786
737,170
736,181
737,194
740,547
739,657
737,724
737,126
739,124
739,175
742,7511
741,198
733,.108
740,364
735,763
736,247
737,258
739,404
738,951
736, 4H2
737,275
734,963
734,579
733,714
Gtau d'huiui-
ilade do ar,
repreienlando
pur 1 o e,la-
ilo de aatura-
fio.
Prcssao atmospherica
Max. absol. 755,020
Min.absolut. 745,734
Max. excurs. 9,286
0,7 5-,:
0,742
0,716
0 741
0,709
0,760
0,6Bi
0,717
0,760
0,812
0,789
0,779
0,799
0,792
0,780
0,649
0.705
0,li8J
0,»10
0,1139
0,784
0,781
0,800
0,779
0,790
0,757
0,749
0,757
0,759
0,781
Quantid. de
*a|}or contido
em uni mctru
cubico u'ar
GraiuniHs
0,761
14,547
14,334
13,065
13,515
12,487
13,082
11.735
12,346
13,082
13,566
13,573
13,400
12,974
13,232
13,427
12,547
12,136
13,295
13,935
13,020
13,496
12,680
13,771
13,400
13,598
13,035
12,162
13,035
12,324
12,681
O.
S.
s.
s.
N.
N.
E.
E.
S.
S.
N.
O.
s.
s.
o.
o.
E.
N.
O.
N.
O.
O.
o.
o.
o.
s.
s.
o.
o.
o.
Grail d'hvmidade door
Maximo .... 0,839
Minimo .... 0,649
Maxima variai;. 0,190
Kstado de cen r do
tempo BO meto din.
NnUladu. Hum lt.-H)|>o.
O mesniu () nifsmo.
O meaniu. () mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O meamo. O uiesoiu.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
Gncubert. T. chuvoso.
Nubtado. Bom tempo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O^mesmo ^.O mesmu.
O mesmo. O mesmo.
Encnbert. T. cbuvoso.
Clar. eUin|). B. temp.
Nubladu. O mesmo.
O mesmo O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
O mesmo. O mesmo.
Encubert. T. chuvoso.
Nubladu. Bom tempo.
Encubert. T. chuvoso.
Nubladu. Bum tempo.
Encubert. T. chuvoso.
yentoa dominant
O. e S.
Cuiinbra, 1." de Oulubro ile 1855.
ilathia) de Carcalho de fatconcellos , Lenle Subsliluto de PhjsicB.
(D 3n0titttt(r,
JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
COXSELHO MPERlOa DE IXSTRlCCiO PllBlICi
Rclatorio do admini^iirndor <Eo ron-
rollio (Ic IHnnKnaUIn »o dtNliricto
aduiintHfrattio dc VImcu.
Senhor! Em execiicao das disposicoes do
decreto de 2S dc fevereiro dc 1841, e de
diversas portarias do ministerio do reino,
e nomeadamente da de 10 de agosto ultimo,
cumpre-me apresentar o relalorio do estado
d'adiuinistrafao litteraria d'esle concelho, o
que fafo pela forma seguiute:
Numero e estado das escholas publicas
no cGdcelho.
Ha 'nesta villa, cabera de comarca, e uma
das mais importantes da Beira-\lta, uma ca-
deira de latim, outra de ensino primario, e
cinco d'estas nas freguezias de Fornos, de
Maceira-Dao, Lobelhe, S. Thiago de Cassur-
racs, Chas de Tavares (concelho extincto), e
Abrunhosa Velha.
Na primeira (a dc latim) corre regular- ,
mente o ensino: e frequcntada cITectivamen-
te por 30 alumnos, termo 'nveflio, sahindo
em todos os annos alguns prom'ptos'para exa-
roe. Nao ha ediiicio -piihlico para se cstabe-
cer, e por isso d;i aula o professor era -sua
propria ca«a.
Na segunda (a de ensino primario d'esta
villa) houve no anno lectivd, proxiniaraente
(indo, um melhoramcnto'con"sideravel'. Esta-
•bcleccu-se em uma cas|i^,ijjw?bttca, pagii pela
camara, fornecou-seue pedras (arSdsias) e
de todos OS mais materiacs c u le'risfTTbs ne-
cessaries a custa da raosma Vam'ai'a-^ e.; por
esforcos que fiz , putle' pbter-que ■foss.e fre-
■quentada efl'ectivamente por um considcravel
numero de alumnos-, chegando as vezes a
100; numero cste de que nao ha mcmoria
no curso das escholas d'estc concelho.
Afiluirara muitos, que por falla de iiieios
nao iani aeschola; forneceram-se-lhes abece-.
darios, livros, e os mais objectos necessaries,
a expensas das irmaudades e confrarias, por
con'ile que Ihes !iz. •■ ■
Vol. IV. Fevereiro 1
Ilouve muilo adiantamento nos alumnos,
para, o que concorrcu fazer-lhes eu amiuda-
das visitas, e assistir as suas licoes e exer-
cicios.
Adoptou-se um systema de ensino muito
approximado do — mituo — porque nao era
possivt'l ensinar numero tao avultado pelo
simultaneo. Para isto mandei vir porcao de
abeccdarios, livrinhos d'ouro, e outros sinii-
Ihanles compendios de civilidade, c cathecis-
mos pcquenos da Diocese de Coimbra, Ma-
nuaes Encyclopedicos, e Arithmeticas de A.
Forjaz.
Se 'neste anno houver professor habili-
tado, maior desinvolvimento espero dar a esta
aula, e com bom resultado; porque ha muita
mocidade que a ella afflue, e com vontade,
para o que tern concorrido muito o ter-se
acabado com os castigos corporaes, e ter-sc
inlroduzido o uso de cantar certos exercicios
dc taboada, e arithmetica, de que os rapa-
zes muito gostam, e apprendemcantando, imi-
tando 'nesta parte o methodo Castilho.
D'esta boa vontade, e feme, e sede, de
instruecao me certifiquei eu, quando annun-
ciei que daria abecedaries e livrinhos aos
meninoE pobres, que quizessem ir a eschola,
pois que vi ii porta a pedil-os muitos dos que
andam pelas portas, niis, e cheios de fomc,
e OS vi depois diligentes e applicados.
0 professor, que regeu a aula neste anno
foi 0 de Fornos, Antonio Albino, porque o
rcspcctivo, Mathias Pereira de Oliveira, por
sua edade, padecimentos, e circumstancias,
podera reger uma cadeira rural de pequena
concorrencia, mas dc modo nenhum a d'esta
villa.
Por esse motivo se propoz, a transferencia
do de Fornos pafa esta villa, do dc Lobelhe
para Forno^, e do d'esta villa para Lobelhe,
transferencia, que se fez por conveniencia,
ou antes necessidade urgentissima (quanta
ao d'esta villa) do ensino .publico, e por
amigavel combinacSo entre elles.
Na aula de Fornos, regida. pelo professor
temporario de Lobelhe, Jose Maria d'Andrade,
houve bt^stante concorrencia, estudo e ap-
plicacao'. E dada em casa particular, por a nao
haver piibliea. Nao se Ihe deram ainda utensj-
lios alguns para o ensino, e somente abece-
darios, e livros para os pobrds. 0 profess6r,
il85G. ■, NiM. 21.
■/
242
leni zelo actividade e qualidadcs para poder
regi'r i-oiu proveilo unia escliola rural.
Na (le Lobellie, regida polo professor vita-
licio da cadcira d'csta villa, Matliias Pcroira
de Olivcira, liouvc niui pequpiia coiitorrcn-
(ia, e quasi nenlium aproveitameiilo. Este
professor nao pode conUnuar a fazer servijo
'iiesle concellio, por muilo conlieeido, e
inesino porque os discipulos nao llie tern
respeilo algum. Elle mesmo, convencido do
que tenho dicto, vai requerer transferencia
para fora do concelho, o que e de necessl-
dade.
Na de S. Thiago de Cassurracs, freguezia
jjopulosa, que podia trazer 100 discipulos cf-
fcclivos nao trouxe certamcnlc 10, nao por-
(|ue fa Item ao professor conliecimentos, e
iiUelligencia para bem reger a cadeira, mas
porque a indolencia e deslcixo, (jue os paes
lem em mandar os filhos ;i escliola, accresce
a indolencia e desleixo do professor cm os
ensiuar, e accresce tambem certa prcveuciio,
que a freguezia tem contra elle. Este profes-
sor e 0 padre Simao do Aniaral Chaves. Ten-
ciuno 'ncste anno dar grande impulso a esta
aula, e para isso oiliciei ja a juncta de parc-
chia, que lem hoje um presidente zeloso e
intelligeute, pedindo-lhe uma relacao de to-
dos OS rapazes uas circumstancias de irem a
eschola, para os fazer concorrer, pedindo-llie
tambem a sua cooperacao.
A das Chas de Tavares esta regida por uni
substituto de nomeacao minha devidamente
conlirmada, porque tendo o professor effectivo,
Antonio da Fonseca Real, obtido um substi-
tuto para poder ir viver com a mulher nos
Couttos, concelho deViseu, com a qual casou
'nesse tempo, e tendo estado a concurso por
duas vezes para provimento da substituicao,
nao tem appareeido eandidato, nem appa-
rece. Esta actualmente regida por Francisco
Franco Vellozo, que tem as habilitacoes e
qualidades neccssarias, para bem servir;
nao quer porem ser substituto. 'Nesta locali-
dade ha uma casa da camara, onde pode
cstabelecer-se a aula com regularidade, o
que somente se fara depois de provida a ca-
deira.
A d'Abrunhosa Velha, finalmente, e regida
pelo professor vitalicio Jose da Costa Paes,
homcm de poucos conhecimentos e expediente;
no entanto vai tirando mais algum fructo
do que outros mais habilitados.
A aula e em casa d'elle, e somente se Ihe
tem fornecido alguns abecedaries elivros: ha
de tambem melhorar-sc o seu estado logo que
se possa.
Em todas estas escholas o systema do en-
sino e o sitinillanco; icnho porem rccommen-
dado, que se aproveite do — mutuo — quanto
se possa.
Nao se ensaiou o de — Ca^a/Ao — por nao
haver professor habililado.
Escholas da camara, junctas de parocliia,
confrarias, e de parttculares.
Nao ha nenhuma, que mereca este nome.
As junctas e confrarias d'algumas fregue-
zias nao tim meios para o cstabelecimcnto
d'ellas; e aquellas, que os t6ri nao o fazem,
dizendo, que as suas freguezias pagam a con-
tribuicao do subsidio litterario, e as mais do
estado, na niesnia proporcao, que as fregue-
zias conlempladas com cadeiras: que as con-
tribuicOcs devem ser geraes: e que o ensino
tambem se deve dar gratuito as suas fregue-
zias como se da as outras.
Tem 'nisto muita repugnancia, que ha de
cuslar a veneer.
Escholas de particularcs ha algumas, niui-
to pouco concorridas, e muito irregulares, sem
professores habilitados, e que assim mesmo
vao ensinando muilo mal pelas freguezias.
Se se Ihes exigir a habilitacao, deixarao de
ensinar, e nao sei qual sera maior mal, at-
tendendo a que ha povos, em ((ue nao ha
quasi ninguem, que saiba ler uma carta, ou
uma ordem, que se raande.
Providencias, e necessidades, que reclamam
medidas supcriores.
Para se ver quanto e impcrfeito o actual
systema de escholas de ensino primario,
bastard allender ao numero d'cstas em cada
concelho, e ao raio da circumferencia de po-
vos, que se obrigam a concorrer a ellas. 0
dccreto de 20 de setembro de 1844 reconhe-
ceu a necessidade de obrigar os paes, e tuto-
res, a mandarem os lilhos, pupilos, e subor-
dinados as escholas ; mas obrigou so os que
cstivessem dentro de um quarto de legua em
circumferencia d'cstas.
'Nesle conselho ha 18 freguezias, e 6 escho-
las, ficam por tanlo 12 freguezias sem ensi-
no, e das e ainda parte das povoacoes d'el-
las ficam sem a obrigacao do ensino por cx-
cederem a esse quarto de legua.
E merecerao estes seis lao limitados cir-
culos de ensino a despeza de CCO^GOO reis,
que 0 estado e a camara fazem somente com
OS ordenados, e gratificacoes dos professores
para ensinarem 200 rapazes, quando muito,
e mal? Nao por certo. — Este estado nao deve
continuar. E necessario uma aula em cada fre-
guezia, se se quer levar a instruccao a todas
as aldeias. Reconheco, que nem o estado,
nem as camaras (ja muilo sobrecarrcgadas)
podem com tanla despeza: ba comludo o
meio, que me parece poderia adoptar-se como
provisorio, e em quanto as circumstancias
linanceiras nao raclhorassem.
Estabelecer uma aula muito regular, com
professor bem habililado na cabeca do con-
I
243
celho, e bem remunerado; e ainda lanibem
em algumas freguezias, que tivessem povoa-
cSes mais imporlantcs e illustradas.
A estas aulas podiam concorrei- lodns os
rapazes do concelho, que desejasM iu mais
esmerado ensino. Nas de mais freguezias ru-
raes seria baslante, nas circurastancias em
que nos achamos, repito, estabelecer escho-
las, com meuos habllitacoes e despezas para
OS professores, e que nao fossem obrigados
a ir examinar-se nos lyceus, e sempre tem-
porarios, para trabalharera com mais zelo, e
applicacao ; pois que a expericncia mostra,
que logo que ol)tem a propriedade das cadei-
ras, dimiiiue muito o seu zelo e cuidado.
Dando-se a cstes professores ruraes uma gra-
lificacao do ihesouro e da camara, com algum
auxilio das junctas, irmandades e confrarias,
e mesmo taivez dos pae.s que tivessem mcios,
achar-se-hiani pe'.as freguezias parochos, onde
coaviesse, e vizinbos, que sc encarregariam
d'este servico por esta menor retribuicao, e
que todavia se nao propoe a cadeiras fora de
sua casa com maiores interesses, nem se
sujeitam a concursos em lyceus; promplili-
cando-se todavia a babilitarem-se nos seus
concelhos.
Uir-se-ha, que este systema tem inconve-
tes, e e rauito imperfeito: reconbeco; mas o
actual lambem os tem, e nao preenche as ne-
cessidades do ensino, e muito tarde se podera
levar por elle a instruccao a todas as fregue-
zias, 0 que e de absoluta necessidade. A. ex-
pericncia de todos OS dias, e de todas as
cidades, villas e aldeas, nos moslra, que ain-
da mesmo onde ha professores publicos vita-
licios, e por isso considerados como muito
habilitados, os paes de familia recorrem mui-
tas vezes a professores particulares com pou-
ras habilitacoes, para Ihes ensinarcm os filbos,
com muito mais provcito do que os das gran-
des habilitacoes e formalidades. Eu por mim,
sem se receber nada mais do thesouro nem
da camara, do que os referidos 660^000 reis,
montaria escholas em todas as freguezias
d'este concelho, em que poderiam cstudar mil
rapazes effectivanionte, em quanto que pelo
systema actual nao fretiuentam as escholas
publicas elfeclivamente mais de duzentos. A
differenca e muito consideravel.
Conviria tambem muito, que se ordenasse
a administracao da impreasa da L'niversidade,
que estahelecesse nos pontos mais imporlantes
dos districtos depositos de abecedaries, livros,
arithmeticas, e traslados que fossem designa-
dos pelo conselho superior, como mais pro-
prios para o ensino, porque d'este modo se
proporcionaria aos paes de familia oecasiao
para os comprarem, e se evitaria a desculpa
de OS nao terem, acabando-se assim com uma
diversidade de livros, que apparecem nas
escholas, que os rapazes nao entendera, e em
que por isso nao podem ler com gosto, alem
de concorrcr muito para a economia do tempo
na eschola, e utilidade do ensino, a unifor-
midade dos abecedaries e livros.
Os professores e paes, por si, em geral na-
da fazem: para 'neste concelho haver esta
uniformidade, foi preciso, que eu mandasse
vir todos esses objectos. 0 mesmo e provavel,
que acconteca nos mais concelhos.
Os professores, pela maior parte, princi-
palmente sendo vitalieios, curaprem seus de-
veres com muita indolencia; nao se aflligeai
com trazerem poucos discipulos, porque se
desculpani com o desleixo dos paes.
0 meio mais proticuo para cumprirem e o
das visitas amiudadas do administrador do
concelho, ou de alguem da camara.
Algumas sc tem feito 'neste concelho, e
'neste anno se hao de fazer; no entanto os
administradores de concelho nao podem viver
so de patriotismo, e por isso em quanto nao
apparecer uma reforma, que Ihes de uma
retribuicao razoavel, consideracao e garan-
tias, mat podem tambem cumprir com este,
e outros importantes deveres, porque preci-
sam de ter outro modo de vida, que Ihes de
de comer, ticando por isso prejudicado o ser-
vice da administracao.
E quanto por agora se me olTerece dizcr a
Vossa Magestade, a quem Deus guarde por
muitos annos.
Mangualde, 20 de outubro de ISoS.
0 Administrador do concelho,
FUANCisco d'albuquebqije couto.
Exiraoto <Io mappa <lo movimonto dan
encholas de inHtrurrilo publica no
ronrellio de Uansuaide no anno de
1854 a 1855.
.\lumnos
Frequentaram as seis cadeiras d'ensi-
no simultaneo no concelho de Man-
gualde 224
D'estes sahiram para occupacoes . . 41
Para estudos superiores .... 10
Perderara o anno 3
Ficaram existindo em agosto de 1835 2b6
A cadeira de grammatica latina de
Mangualde foi frequentada por . 25
Destes sahiram para estudos superiores 3
Para occupacoes 2
METHODO DO ENSINO PARALELLO
DA
ESCRIPTA E LEITIRA.
0 opuscule, de que damos conhecimcnto
ao publico, comeca e continuara a ser im-
presso 'neste jornal. Auctorisada a publica-
244
rao polo sen auctor, jiilgamos fazcr com ella
valioso servifo a instnuTao priniaria.
0 iiotiio do auctor e o elofiio da sua obra.
0 sr. Marcclliano Itihciro de Mcndonca,
coniniissario dos csludos na Madeira, e niuilo
foiilieiido e esliiuado de lodos os cullores das
l)oas Ictras. A ol)ra, que elle dedica ao pro-
gvesso da instruerao priniaria, revela nuiito
saber, muito scria oliservarao, c niuito dcse-
jo de facilitar o esludo aos ahimnos, o abi)re-
viar 0 tempo do aprendizado, que em verda-
de e longo, e cnradonho.
Comprehcndcndo perfeitamente a causa do
lonijo tirocinio, olTerece um novo nielhodn de
eusino, nioldado por outro ja ensaiado, c
provado num dos mais iliustrados paizes da
Europa, do qual este jornal tern dado noli-
cia. Se 0 sr. Uiheiro de Mendonca desconlie-
cia, come c possivel, o novo methodo de
Mr. L. C. Miciu'l, e maravilhosa a coinciden-
tia dos dois proteclores da inslruccao popu-
lar; se llie nao era cslranho, nem por isso
fez .servico menos rolevanle as letras palrias,
transplantando-o e melliorando-o, para a lin-
gua portugueza.
Pondo de lado a parte scienlifica, transcen-
dente, e puramenle philosophica da formacao
da voz e loqueia, cm que poderiamos I'azer
•alguns reparos, na parte praclica do metho-
do parece-nos encontrar muito ingenho, mui-
ta psychoiogia, e muita logica para desejar-
mos ver as tabellas de leilura e escripta, que
elle indica, e os resultados practices de sua
applieacao, em que temos fe.
ISTRODUCCJO.
Pero licenca aos senhores professores de
ensino primario para od'erececer-lhes, e a nio-
cidado educanda do meu paiz, um pequeno
traballio: e mais uma soluoao a este impor-
tanle problema — « qual o melhor methodo para
cnsinar uma creanca a ler e a escrever?»
Investigando qual o melhor methodo, 6
meu intento dcscobrir um, que seja facil.
Mas, como — tal so podera ser o que for ver-
dadeiro, — e verdadeiro o que effectivamente
se conformar, tanto com as leis logicas do
espirilo humano, como com os factos funda-
mentaes da liuguagcm; daro esta que do
estudo e e.xame d'estes factos 6 que ha de
sahir a theoria, que devc dar-nos o methodo
procurado.
Este modesto opusculo tem pois de divi-
dir-se em duas partes: — uma theorica, cujo
conhecimento pertcncera exclusivamente ao
professor, — e outra puramente praclica, ten-
dentc a (ixar a attencao, e facilitar o tiroci-
nio do discipulo.
A primeira parte, forca me sera subdivi-
dil-a cm trez seccOcs — Na primeira farei a
crilica dos raethodos, que ora andam mais
em voga no ensino d'aquellas disciplinas. —
Na segunda farei a cxposicao dos factos fun-
damcntaes da linguagem, no seu ponto de
vista [ihonico e orthographico ; e, mediante
as relacoes naturaes d'clles. coordenarei esses
factos de niodo, que fornieni uma especie de
theoria. — Na terceira sollarei d'essa thwria
as ref/ras pnicliiiis que nclla se contiverera,
e cuja deduci.ao dara, es()ero eu , o mais
facil e verdadeiro methodo que pode seguir
um professor para ensinar a \h e escrever
hem, e em pouco temjio.
A segunda parte so contera modelos para
escripta, o promiiluario de palavras deconi-
ponendas, labuas de si/llahas naturaes e arti-
ficiaes, alphalicto manuscripto, so e compara-
do com 0 de teltra redonda, trechos para cxer-
cicios, tudo escripto cm lettra de mao; por
que, segundo as condifoes d'este methodo, e
esse 0 unico caracter de lettra. ([uc devc co-
uhccer o discipulo, em qaanto nao souber
escrever e ier correntemeute.
Tenlio a esperanca, quasi infallivel, de
que este methodo, quando conscienciosamen-
te applicado, ha de poujiar a puericia muito
dissabor e angustia de corpo e de espirito;
ha de consideravelmente facilitar-Ihe o co-
nhecimento das materias, que por elle se
tracta de ensinar. Oh! se assim fur, se esta
minha esperanca for uma rcalidade . . . . esta
conseguido o meu dexideratum, e eu soheja-
mente pago do trabalho (jue me haja custado
a solu^iSo a que cheguei.
SEC^AO I.
Crilica dos methodos mais em voga
presentemenle.
Depois do ensino moral e religioso, o mais
importante de todos os ramos do ensino pri-
mario e, inquestionavelmente, o das disci-
plinas de ler e escrever.
Com referencia a este ramo de ensino,
tem apparecido e estao diariamente appa-
recendo novos methodos , todos inspirados pelo
louvavel desejo de communicar ao alumno,
no menor prazo de tempo possivel, o cabal
conhecimento d'aquelles prelimiuares para
toda a especie de instruccao.
0 tempo, que nao e riqueza para despre-
sar em quadra alguma da vida, muito menos
0 deve ser 'naquclla de cujo aproveitamento
depende o bem estar de todas as outras.
Mas acima da economia do tempo, acima da
brevidade do tirocinio estao, em meu enten-
der, a perfeicao e proficuidade d'elle. Que
monta, com elfeito, ensinar mal, posto que
em pouco tempo, o que so, sabendo-se bem,
pode aproveitar?
ll
245
'Neste presiipposto, cxcusado c diz'T 'pi."
me iiiio cnibcllcsa esse tao priTOiiiziiilo i:ii'-
tliodo (!a leilura rejmnlinu; o qual, auiiaiido
ao niaravillioso, pronieltu cnsinar a Irr em
dois mezi's; mas, para cnsinar a esciever,
cxige como condirao sine (/»» non, a Nagalcla
do sanilicio de todas as Iradirocs e liliaroes
elymologicas da lingua. I'olji-e Camocs! Sc
tiveras lido a fortuna de adevinliar cstc nie-
Ihodo . . . . oiitio gnllo tc eanl.ira. Kis aipii
comn escrevciias a piiineira eslancla dos tens
Lusiadas immortaes:
Az armaz, i ux ro)(5i; r.siiirilitilux
(Je da osiilcnlftl prdia Litzitiina
J'ur mnrcd- vuga diilrx iiavei/ailux
I'n^nrc.t' 'itfci ulai da 'Jaiinthanu;
Qr ai jimUjux i qciaz rxfuisodvx
Jtl'ii.r du qe jirrmitUi a fmsii %imanQ,
Eire jrtc icmtita idi/ir/ardii
A'lM'u ruiiia cjr. ITilu siiblimur'iu.'
Tanil)em me nao desvelo pnr ess'oiUro me-
llindo, que, ao eaves do primeiro, so ciira
rie en^iiiar a piiUar iHlrus, pionuilgando iima
inlinidade de leis para cada uni dos actos
da escripta, desdc o aparo da pcnna, poslii-
ra do corpo c collocaeao dn pnpel, ate ;is
Dials rccondilas e niiudas suhlilezas do Ira-
rado das miiisciilaa e niiniiscula-^, itoliciis, tjo-
tliicas. saxnnifas, ruicas, Icntoniciis, etc.
Escrever lioiiito, pinlar bem os caractcres
itipliahcticos podera scr — se o qiiercm — nma
laeiida ; mas oscrever limpo, rapido e eerto,
e Ulna neccssidadc.
Ambos estes nietbodos sao, a men ver,
viciosos por lima razao analoga — ambos se-
param coiisas qne a natiircza creara para
aiidarcni jnnctas, e que so jiinctas andani
hem; porque so assim se aii\iliam c com-
pb'tam unia a oiitra. Qucmqiier (jue, sem
jircvenrao, oxaminar o que sao em si as
operai'Oes de ler e escrever, de prompto rcco-
nlieeera que o vcrdadciro methodo de eiisi-
iial-as consisic " em niio separar o estudo de
lima do estudo da outra, comeeando todavia
pelo da eseiipla. "
Assim coiiiii 0 homem so depois dp pensar
falbf. e de I'aflar esereve ; assim tamhem so
depois de eserever le. Niio escrcve porfpie
le, mas le porqiie escrcve. .\. escripta c iim
liabito mechanico. ao qual teni de respoiider
oiitro haliito ii)tcli(M-lnni, que e o ler. K se
estes dois babilos dependem iini do oiitro ])or
nianeira tal, que o corpo nao pnde coiitra-
hir 0 primeiro, sem que o espirilo \(i, ao
mesmo tempo, ndqiiiiiiido o scguiido, e evi-
dent*', (|iic 0 liiellior meio de lixar iia memo-
ria OS valorcs plionicos da leitura, e dar a
rada um d'clles um sijmliolo . e adqiiirir o
ha!)ito de tracar com facilidade as figuros
que symljoiisani, e (scrcvel-os.
' V. MolhoJuCaslilli.) p. 146.
De feito: a escriptura e para a leilura uma
especie demnemonica. So ensinaiido a escre-
ver uma creanca, e que se liie bade ensinar
a ler — com facilidade, c nao ao contrario;
por(|ue a lorca de attencao, de (|iie e capaz,
nao Ihe pcrmitte exercer a operariio da lei-
tura, sem 0 adminiculo de signaes graphicos,
que llie sirvam de meio mneniotecbiiico para
estaiiipar na memoria os sous clementares
da palavra.
Logo [lorem que a creanca loni assaz il;'
lino c forca para tomar nos dedos uma |ien-
na e tracar com ella linhas rectas c curvas.
que sao elemeiitos de loda a lettra, enlao ja
esia no caso de aprcnder a escrever, e a Irr
consi'guinlenienle; por([ue tndos os esforcoJ
([lie (izer para imilar os signaes graphicos,
que leni diante dos ollios, quasi a nao sabi-
(ias d'ella, a irao nieltcndo de posse do vabir
plionico de cada um. Este valor por lal mo-
do sellie associaiii no espirilo com osymbolo
(|ue 0 representa, que a vista d'esle logo
llie suscitaid a lenibranca d'aquelle, e vice
ver<,n.
I'onto cssencial para a exequibilidade d'este
melbndo, e nao conslrangcr o educando a
I'azer o que nao com])rehende, o que absoln-
tamciilc nao jicide cnmiirebcndcr, scja qual
for 0 grau de intclligencia que liic liaji
lilieralisado a niao de Deus: — ponto esscii-
cial li nao exigir d'elle, que dccoiiiponha a
syllaba em leltras, ncm com estas recoinpo-
nlia aqiii'lla; ponjue lanio uma conio outra
operacao e impossivel para elle, no esiado (]:■
embriao intellcclual em que se acba, nior-
mente por efi'eito do mctbodo que preside ao
ensino da leilura.
Todos OS syilabarios que conbcco, cKiiidi-
cam 'neste ponto — lodos seguein uma mar-
clia contraria ii do espirilo hiimano; todos
|iartcm do simples para o composio, doabstra-
cto para o concrelo, do mais diliicil para o
mais facil ; todos comecam por ensinar a In-
leltras para cnsinarem depois a ler sijllabcis,
([uando nao ha lettra, que nao seja o signal
arbitiiirio de uma cousa, que per si so iiao
teni, nem pode ler valor algum, em pontes
de realiilade exterior.
Todos sabeni (pie as lettras do nosso alpba-
beto so designam dois dos quatro elcuienlos
que enlram na composiciio de todo o som
articiibulo — a voz e a arliniliiran. .Mas, co-
mo na natiireza niio ba som ariiculado qii.'.
nao rciina tndos aqiiclles clenieiilos sinuilla-
neamente, e obvio que cada lettra dc per si,
com qiianto assignab^ o producto de nma
nhstriirrun, nao signiiica cousa algiima rcai.
— cousa algiima C|Ue uma creanca possa scntir
e coiiliccer. — cousa alguma, [.or conscqiien-
cia, de que ellB possa temhriir-xe, qiiando
acerle de alTronlar com o signal ([ue llie serve
de symbolo.
Ora, assim conio na ordem real niio pode
246
Iiaver articulafao sem toi, nera voz sem arti-
culaiao, tambem ao orgiio da falla nao e dado
proferir o valor dc cousoaiite alguma sem vo-
ijal, nem o de vogal sem consuunle. Que I'az
•jualquer de nos, quaudo acaso ve escriplos
estes signaes « a « « fc »? Para li^r o primei-
ro, juucta-lhe mentalmcnte a consoante « h »
iigual da arliculafao d'aqiiella voz; para lor
0 seguudo, junla-llie taml)em a vogal '■ i^d fc-
chado, signal da voz d'aquclla articulaoao;
e assim diz t ha » » be. » E isto que cada
urn de nos faz, uao pode deixar de fazel-o
qiialqticr; doulro inodo lora irapossivel ler
taps signacs.
Pois 0 que a iiciiiium de nos e dauo fazcr,
o que alisoiutanii'ule nao pode reallzar nc-
nhum sabio d'esic nuindo, querem os bons
dos nossos syllabaries que saiba e possa I'a-
zel-o uma creanoa! Querem que a triste de-
lOmponba a syllaba em leltras, e que, vendo
no alphahelo letlras voi/aes elellras eonsoaiitex
isoladamtnle escriplas, va de piano tradu-
zindo cstas, por artlcularOes sem voz; aquol-
las, por vozes sem articularao! Querem o
irapossivel.
Mas, como contra esta impossibilidade for-
cosamente haviam de quebrar-se todas as
velleidades e orgullio da ignorancia pedago-
gica, que I'azem os syllabarios? Mettcni no
espirito da pobrc creanca um primeiro crro,
que incvitavelmeutc ha de creseer com ella,
e ha de ser germen de muitos outros. Abys-
sus abyssum invocat. Consiste o erro a que
allude, em fazerem cntender ao educando
que " cada lettra do alphahelo e signal de
um som perfeilo » ; porque, o que invariavel-
menle se Ihe tem cnsinado desde o primeiro
dia de eschola, e — que a val ka, b val be,
c val c^, m val emme, e assim por diante.
Depois de Ihe terem arreigado bem no
espirito esle erro, vao mais longe os sylla-
barios; impOem a pobrc creanca a nccessl-
dade de fazer absteufao do senso comnnim,
de comprehender o absurdo, de realizar o
irapossivel. Agora exigem d'clla que, solle-
tramlo, tire de cada duas ou tres d'aquellas
lettras um som simples, quando cada uma de
per si ja era signal de um som com|)leto. Bar-
baros! Ensinareis ao credulo discipulo que
esta unica lettra b val be, que esl'outra a val
ha, e quercis agora que a amhas juntas so
elle de este valor ba? . . Corao! . . . Pois se
elle livesse um tostao 'nuraa niao, e mais um
losiao na outra, junctando-os arabos 'numa
so, uao teria 'nesta dois tostoes?
Ja uma vcz em niinha vida live de ensi-
nar a kV um aduUo; e como seguisse o me-
ibodo, que seguiam lodos, live occasiao de
observar um lacto, (pie me surprehendeu e
rauito maravilhou a principio; porem depois
metteu-me a caminho da descoberta da falsi-
dade, que jazia no amngo d'csse raetbodo.
Ladino e licl as rainhas licoes, o bora do
adulto, quando solletrava, contava sempre
mm 0 valor que Ibe eu ensinara ter cada
lettra; e assim dava a cada palavra tantas
syllabas pelo menos, quanlas batras 'nella
bavin. « Fama, n por cxeniplo valia para o
martyr do meu cnsino este palavrao — effeaem-
mea. Voqo encarecidamente ao leitor que .<ie
nao ria .... Dc t'eito, bavia mais logica na
pnictica do meu pobrc discipulo, do que do
melliodo com que o ensinava ou.
Para remediar a este e similbantes incon-
vonieiUes, viera a leitura repenlina com o seu
plagiato do melhodo rocal ou plioKelico; e ten-
do cm virtude d'cstc metbodo, <lenominado
todas as consoantes de um modo analogo,
I)ela simples adjunccao do « e >' niudo a cada
uma, poz-sc a rir, como uma douda, por en-
tondor que tinha com isso foiln tudn: m, por
exompio, que sempre se donomiuara emme,
tove depois do novo baptismo o nome de me.
Egual sorte tiveram as oulias con>oantes f, I,
n, r, s, X, etc., que os latinos diziam semivo-
ijaes, e nos appellidavanios com os disyllabos
e/fe, elle, (nne, erre, esse, chiz, etc. Rerao-
vcu por6m esta innovacao a difficuldade?
Nao ; addicionou-lhe outra niaior.
Quando mais se empavonava a leitura re-
penlina para requerer alvicaras pela desco-
berta, veio a enconlrar 'nella as mais atrozes
gonionias. Ja live o gosto de ouvir a um
aposlolo d'estc metbodo snilctrar a palavra
htma d'este modo — le-a-mc-a. E quanto mais
ardia por que Ihe respondesscm os discipu-
los « luma,» mais recalcitravam os . . . perros
em ier sleamea, leamea.u 'Neste affogo, o
apostolo era um martyr. A. dilliciildadc da
solletrayao das consoantes continuou quasi
precisaraente como era 'd'autes da innova-
cao; tudo oque esta fez, foi crcar outra diffi-
culdade.
0 iustincto philologico do povo, dando a
ccrtas consoantes nomes dissyllabos, ([uizera
signilicar com isso « que cada uma d'cstas
tinha dill'erente valor, seguudo vicsse antes
ou depois de vogal. » Assim chamando hiune,
eime, elle, erre, esse, etc., a estes signaes
m, n, I, r, s, etc. o pensamento do povo era
indicar, que to antes de vogal val me, de-
jiois val em; n antes de vogal val ne, depoi.'?
val (n; I antes de vogal val lu, depois val el;
r antes de vogal val re, depois val er; e assim
a rcspeilo das mais.
A leitura rcpentina, porem, reduzindo os
noracs de taes consoantes a puros raonosylla-
bos, como que supprimiu metade do valor
de cada uma ; c quando acaso encontrou al-
guma, posposta a vogal respectiva, ficou lon-
ta, aparvalhada, d'olhos em alvo, sem saber
como quadrar o valor que ora tinba a con-
soante, com 0 novo nome que Ihe impozera.
E na verdade: se I, por exemplo, so tem dc
valor le, alto deve ler-se aleto; se in so val
me, como se ha de Ier cm umbos, senao
247
Amebos? 0 que cstava, Dao cstava de todo
mau. Quiz a leitura repenlina fazcl-o melhor:
creou taes diiliculdades .... que a deveiu
ter desengauado do erro em que cahira.
Eis aqui inuito ao de leve dissecados os
principacs erros que maculam e estcrilisam
tanlo 0 mctliodo de solletracdo geralmcnte
adoptado, como o da leitura repenlina, que
coDspira contra elle. Estes erros sao :
1." Eusinar a ler, antes de ensinar a escrc-
ver;
2.° Ensinar a 16r lettras, antes de o alumno
saber l^r as syliabas;
3." Ensinar a \h syliabas por mcio da
uniao das lettras, quando o erroneo valor
d'estas jamais podera Icvar ao d'aquollas;
4.° Dar as semicogaes nonies analogos aos
das outras consoantos, quando estas tem um
valor unico, e aqucllas dois.
5." Dar as semivoqaes, quando pospostas
a vogaes, vaiores arbitrarios, de que absolu-
tamente nao dao idi^a algunia os novos no-
nies que se Ihes deram.
Cada um d'estes erros e um espectro de
feia catadura, que se levanta diaute do espi-
rito de uma creanra, e que, bem longe de
abbreviar-lhe o tempo do tirocinio, eonsidera-
velmente ihe protrahe o do martyrio; porque
a intiniida, porque Ihe espanca a curiosidade
e 0 amor proprio, ofl'usca-ihe o lume da ra-
zao, contradiz-Ihe o senso commum, e assim
Ihe toihe progredir no conhecimento das
disciplinas, que cstao de guarda ao vestibulo
do tempio da scicncia.
Pobre e encantadora puericia! ... A que
de penas e tormeutos te nao condcmna o or-
guiho de ignorantes pedagogos! Dera-te Dcus
uma razao para veres claro e direito, para
discernircs o erro, eevital-o; ensiuam-te o
absurdo! E nao contentes com te baverem
entrevado o espirito mais do que o tinhas,
atterram-te, magoam-te e martyrizam-te o
corpo — para que!... para que pagues pelos
erros de empiricos, que se mettem a guiar o
que nao conhecem, por atalhos e viellas que
nao sahem! Tamanha iniquidade revolta.
0 bem-estar da mocidade educanda vale
hem a pena de pedirmos ao consciencioso
estudo dos factosfundamentaes da linguagem,
algum mclhodo mcuos irracional, mais algu-
ma restea de luz, que haja de guial-a com
facilidade e seguranca no conbecimento das
disciplinas da escripta e leitura. Tambem
queremos um methodo facil; mas como facil
so pode ser o que for verdadeiro, e vcrdadei-
ro 0 que se conformar com as Icis que regu-
1am 0 desinvolvimento da linguagem no seu
ponto de vista mechanico, iuterrogucmos os
factos fundamentacs d'ella ; facamos o estudo,
analyse, e exposicao de taes factos ; e de-
pois a deducyao fara o resto.
Contintta.
M. B. DE MENDONgA.
CORRESPONDENCIA.
AntiKOH Uotlaoloi'ost c Colleen*)- —
Em 0 numero 17 do IV vol. do nosso periodi-
co, do 1." do corrente, cncontra-se uma carta
do sr. Alexandre Hercuiano, rcspondendo ao
principioda minha Slemoria sobre a revolufSo
de 1240. Naoesperava taoccdoesta correspon-
dencia, mas como clla saiiiu a luz tao acelcra-
damente, nao posso Hear indillerente depois
de sua leitura. Se a sobredicta Memoria teve a
dcsgi'iifa de atravessar dois reiuados tcmpes-
tuosos, e de grande agilacao; tera eguaimente
a desdita de sofi'rer sevcra e rigorosa critica ; e
a pobre recem-nascida ver-se-ha conslrangida
a defender-se, tao apoucada e desvalida, dos
ataques de tao terrivel adversario. Paciencia!
Quando d'ella nao tiraramos outro proveito,
fora este bastante para nao darnios por balda-
dos nossos trabalbos, vendo nas paginas do nos-
so Institute estampado o nomc do sr. A. Her-
cuiano. Nao deixarei com tudo de uotarja pre-
viamcnte, que, dando-me o A. da corrcspon-
dencia um tao salutar conseliio, extrahido do
seu velho Quinliliano, se deixasse levar do
ardor juveiiil para arguir logo a nascenca a
Memoria, cuja publicacao apenas priiicipiava!
Isto me faz crer, que, apezar de vcllio nas afa-
uosas lidas littcrarias, nao conserva o sr. A
Hercuiano o sangue frio, que deve ter, e qne
Ihe recoraenda o seu ct/Ao rhetorico! Deixemos
porem palavras ociosas, porque o tempo nao
me sohra ; e ate mesmo para responder ao auc-
tor da correspondencia, sobre os dois objcctos,
que elle diz, Ihe tizerara imprcssao, precise re-
tardar outros, em que estou mais fortemente
cnlcado.
Que possa o govcrno apossar-se dos titulos,
e documentos do archive d'esta, c d'outras
cathedraes do reino, mandados escrever para
seu grangeio, ou uso particular, pagos com
seu dinheiro para seu interesse , ou adrainis-
trayao ecopomica de suas cathedraes; que
possa tirar-lh'os involuntariamente, mandal-os
arcbivar, e guardar a -seu livre arbitrio, por
isso que nem ellas, nem cartorio nenhum do
inv.ndo d'elles podem ser proprietarios e uma
tao singular opiuiao, e de tao apostada realez;i,
que, fura dos estados do SullaoBadur, rei de
Cambaia, do Grao Chan, ou do Grao Senhor
de Coustantiuopla, duvido haja A. que sustentc
sirailhante paradoxo. Acostados a forja, c as
revolufoes, que ha ja quasi um seculo tem
abalado a Europa inteira, alguns escriplores
modernos turhulentos, e facciosos t^m pro-
pagado esta doutrina, para sens tins particu-
lares, e para d'ella se ajudarem em occasiao
opportuna. Mas que direito Ihes pode dar a
forca, e que conscqucncias Ihes podem lorne-
cer as revolucOes com que elles canonizam
sua doutrina ? Sao outros tantos Bentos Jose
248
Lnhres, outrns tantnn apnstado.^ jexuitax cm
st'utido inviTso do (jue diz o sr. llcrculano.
Essa Alomanlia, ondi; primeiro corrcram tacs
doiilrinas, e dondc so torn dcpois propajiado
para dc.^.^raca da liiiniaiiidadc, IIk's da hojc
0 dosmi'iitido solciniu! com o dccrelo de '6 (lo
noicmhio d'cslc anno, approvando, p (•onv(M-
trndo cm lei a coiicordata da coitc do lioma
com a de Vienna d'Auslria No goveruo
al)soliito dc clrci D. Joao V. quiz a \cadeniia
real d'llisloria vcr ccrlos docunicnlos dVstccar-
lorio, e por um corrcio especial da secrctaria
mandon clici pcdil-os para alii scrcm vision,
c depoii rcvcrtcrcm ao scu loj^ar. No poverno
dc sua neta a sr/ D. Maria I, ontro concin
I'ni expcdido para Icvar do niesmo carlorio o
livro dos accordaos do cabido, jiara na secrc-
taria scr ra^pado o rcgisto da carta rejiia, pcia
ijiial (lira suspeiiso o l)ispo D. .Miiiuel da An-
nuMciacao, pcias desavcncas que cirei I). Jose
1 com ellc li\cra, e aclia-se este rcf^isto riscado,
c ii margem resalvado com a assignatura do
\isconde do Villa Nova da Cerveira , cntao
minislro, e sccrctario d'estado. Islo faziam
'naquelle tempo os govcrnos, que liojc se
chamani dcspoticos, e que I'azcm agora cs
liberaes?
Pode 0 auclor da corrcspondencia sustentar
a opiniao que quizer a este respeito ; e so
-sc acosta a opiniao de alguns lentes, c douto-
resd'esta Universidade, que 'nella concordam,
tambcm me posso acostar a de muitos outros,
qued'clla discordam, e sustentam a contraria.
Pode 0 sr. Ilercuiano dizer o ([ue quizer do
pii secular, ou antes (para me scrvir da expres-
sao de Walter Scott) do «p6 classico» dos docu-
mentos d'esto cartorio, sc elles o nao tivcs-
scni, e se bcm limpos fossem conduzidos para
casa daigum dos meml)ros da niesma corpo-
racao, certo nao teria o sr. Ilercuiano oc-
casiao de notar a sua iaulilidade (para a
fazcnda do cabido), ncm a sua boa ou ma
conservacao apezar d'esto mcsmo po , que
no^ proprios arcbivos de Lisboa e na sua
jiropria livraria ba de encontrar sobre sens
livros, como ainda aos mais prccatados accon-
tece.
'< 0 govcrno, (diz o A. da correspnnden-
« cia ;) no seu zelo pcIa salvacao dos nossos
" aminos moiiumentos , desbaratados no meio
(' das luctas politicas, e nao menos pela i{jiio-
« raiiria das corporaruM de mCio moria, entcn-
« dcii que os dcvia niandar ir para Lislioa
(os documcntos) a fim de serem salvos por
este modo dc tao crassa ignorancia, e da sua
imminenle dcstruicao : n mas a conservacao
d'cstps mcsmos documcntos^ que excedcni o
numcro dc scis centos, contando alguns mais
de sele secuios dc duracao, de muilo I'acil lei-
lura para os entcndi'dorcs, posto que cobcrtos
dc po classico, parecc-nic dar solcmnc desmen-
lido a tao sincjulur phrase . mostrando ji evi-
ilcncia a scm-razao de tao apostada e ma!
cabida censura a corporaciio de man morta,
(|ue d'cllcs tcni sido scnbora ate a(iu(dla cpoclia !
Tera agora logar fazer aipii uma pccpiena
obscrvacao accrca do zcio do sr. Ilercuiano,
pela Acadcmia real, (piando no pcriodico a
Scmana, dcclamava com tania dcterminacao
contra a mesma Acadcmia por occasiao de
certu coulestacao suscitada cnlre die e outro
socio ' ! .V Acadcmia « (escrevia ellc) a dizer
n a vcrdade e o arcopago mais inolVcnsivo
" mais divcrtido (jue ba em todo o niundo.
« Collectivas on individuaes, as censnras (|uc
n sabem dalli uem sccpicr arranhan as-vic-
« tinias etc. II Isto moslra-nos bcm o apou-
cado da nossa condican, e a volubilidadc, e
incunstancia dos juizos, qne t'azcmos ainda
no centro do galiinctc, longe do bulicio do
mundo !
()uaiito ao scgundo ponto, o A. da Mcmoria
quiz ser I'rancameiite imparcial, lanio no que
rcspeiia ii liisloria, como no ipie rcspciia ;i
critica, cicvando a maisallo, mas dc\ iilo ponto,
as causas, (|uc prodiiziram a rcvolurao , que
cncbcu de terror c lucto a patria no anno
de 12'i(i. Tocando por incidcntc alguns factos
ac'.'ontecidos alguns annos antes cnlrc o bispo
dc Coimbra 1). Pedro, e os reis sens contcni-
poraneos, entendcra o sr. Ilercuiano gravis-
simo erro 7." Kal. Mart. 22, e niio 2:i do
fevereiro como vem nas tabuas cbrnnologicas
impressas cm Antuerpia Hlo, que tivc prcsen-
tcs, quando porcngano escrevi 22, em vez dc
23. Nao me ser;i preciso para csta menlira
cbronologica pedir a absoKicao do cardcal
Antonelli, on do geral dos jesuitas! Aonde.
elles a nao dcveriam dar, scria o cbamnr ao
annoXIV, do pontilicado d'Innoc. Ill 1212,
dcvendo ser 1211..! Posso, porem, consolar-
me 'neste engauo com o proprio A. da cor-
rcspondencia, que dos niesmos sc nao mosira
excniplo, escrevendo cm principios dc novcm-
bro, a carta a que respondo, edatando-a de 7
d'outubro, dia em que ainda nao cstava im-
presso 0 n.° 13 do Instituto, (pio continha o
principio da niinlia Mcmoria, por lor sahido
com algum atrazo, muito depois d'esto dia.
D'esta I'alta nao sei como o possa livrar o pro-
pr 0 cardeal! Eis aqui como sao falivcis os
nossos mais prccatados juizos!
Concordo ; e convenho mcsmo (com fran-
queza o digo) (pic os factos relVridos na bulla
(ie Innoccncio III, dc 23 de leverciro de 1211,
scjani altribuidos a Sancbo I; nao concordarci
com tudo, cm que o bis|)0 D. Pedro sc tivessi;
ligado a polilica de AH'onso 11 sujcitando-se
a lima fC7« suh.serriencia a vonlade d'estc rci,
a ponto lie o obrigar a ir dcpor nas maos ili-
Gregorio IX o baculo pastoral, guiado pclos
consclbos do cardcal .loao d'.Vbbcville. Uma
e outra couza \ercis bcm rerulada na niinlia
Mcmoria pelo dcpoimento de tcstemunbas
cocvas, que pr(M'iiccaram. e com o bispo sof-
I'reram os niaus trades d'Aflonso 11 (^conio
I
1
249
ellas juram), escusando agora de reproduzir
seus diclos 'nesta carta. Nao podemos deixar
de reconhecer 'ncste dcpoimeiUo prohidado,
e adequados coiiliocimcnlos iias suas teste-
niunhas, sendo pessoas de saber, e que dao
razao do seu dito, l)em difl'erenles dos outros
em que o sr. llcrculano nao confia, por Ihes
Bao reconhecer characleres de verdade, mas
antes conlradiccoes. Na bulla de Ilonorio, que
refereD. Rodrigo da Cunha, na Ilistoria ec-
clesiastica de Braga, cm data de 10 de junbo
de 122'2 , dirigida aos abbadcs de Osseira e
Cella Nova, mandando e\pulsar da corte do rei
0 de3o de Lisboa, o do Porto, e o de Coimbra,
nao se falla no liispo D. Pedro ou ao nienos
nao 0 refere o citado Cunha, que chama D.
Joao ao deao de Coiml)ra, sendo die entao
D. Juliao, lilho do chancciler do mesmo rei,
mestre Juliao, pessoa de muito valimento, e
niui protegida de AITonso 11; o que faz preva-
lecer a minha opiniao, e conlirma o depol-
mento das tesleiuunhas na iuquiricao de que
me servi. Alem de que as bullas, com que o
sr. A. Herculano seajudouna sua correspon-
dencia, carecem de rigorosa analyse, devendo
ser vistas na sua Integra, c nao por extractos,
para sobre ellas se poder formar juizo niais
seguro. Nao me admira porem (seja-me licito
retorquira forma do argumento que elle con-
tra mim emprega) : nao me admira , digo ,
que 0 sr. llcrculano veja no bispo D. Pedro
cega subserviencia a vontade do rei, quando
viu tambem ser a sua reniincia resultado dos
conselhos do cardeal, bispo Sabinense; assim
corao viu na sua Ilistoria um D. Durando,
bispo de Coimbra, que nunca houve 'nesta
cathedral.
Tendo lido com bastante reQexao o L.° V,
da Ilistoria de Portugal, pareceu-me dcscobrir
'nelle aquelle espirilo de malquerenca contra
0 clero, que mencionei no n.° 1." da minha
Memoria , incluindo tambem Mello Freire ,
como escriptor prevenido , e dominado do
mesmo espirito, que pinta o clero 'naquelle
seculo como devasso, immoral, insolcnte e
turbulento; e, como tal, pareceu-me querer o
sr. Herculano fazer-lhe tomar a parte mais
activa e principal na catastrophe da deposi-
cao do infeliz Saucho 11. Na verdade as ex-
pressoes'scveras, e cheias d'amargor e ironia,
de que se serve a paginas, 384, 383 e 388, do
Tom. II, dareferida Ilistoria e outras paralel-
las, em que Jemos — que a corte de Roma estava
sempre prompta a sustentar o rigor da disci-
plina, quando para fins politicos alguem in-
teressava em promovcr diwrcios (entre os reis) :
— parecendo cvidente que na deposicao do
principe portuguez se daria um documento
estrondoso da superioridade do poder ecclesi-
astico sobre o civil, as conveniencias politicas
dos conspiradores (prelados portuguezes) neces-
.sariamente dcviam mover o coracao do pon-
tifice para se apiedar dos males padecidos
'num reino que se reputa censual da se apos-
tolica : — onde ate na propria eleicao do primaz
D. Joao Egas, ja (o A.) via d'antemao o dedo
di)s conspiradores — estasexpressoes, digo cheias
de rancor, e severidade, davam-me um claro
descngano d'essa mesma malquerenca, e pre-
vencao (|ue Ihe attribui; mas o estimavel A. da
correspondencia declarando agora o contra-
rio na sua carta, e explicando o sentido em
que escrevera aquelle livro, cujo pensaniento
iiinguem melhor pode interpretar, faz com que
desvie da sua responsabilidade as palavras,
de que me servi na introduccao da minha me-
moria, carregando so com ellas o doutor jMello
Freire, a quem , reconhecendo scus vastos
conhccimentos, e superior talenlo, nao posso
deixar de taxar de espirito prevenido, e de
ma vontade contra o clero , que ataca em
deniasia.
Nao posso ser taxado de fanatico, nem
apaixonado do clero. Conheco tao hem, como
0 sr. Herculano, rauitos erros que elle tern
comettido, e excessos em que tern cabido por-
quea (|ualidadede ecclesiasticos nao os exem-
pta dos defeitos e fragilidades hunianas ; mas
conheco, egualmente, que para os apreciar e
levantar ao ponlo devido, carecc o espirito de
estar livre de prevencoes, e nossa alma de
vivas emocoes em tal occasiao , para nao
julgarmos seus actos por outros lantos crimes,
e imnioralidadcs , e seu procedimento como
lilho da ignorancia, e fanatismo; e, para os
avaliarmos bem, devemos attender ao seculo
em que viverani, e nao ao presente em que
a moda tem feito prevalecer a dcclaniacao
contra o clero, nao se Ihe relevando o mais
levedefeito, como se nao fosse quinhoeiro no
da fragilidade, e fraqueza humana !
Nao tive o menor incitamento para escrever
a minha Memoria de que nem gloria, nem
proveito espero. Foi meu principal inlcnto
esclarecer, quanto minhas fracas forfas com-
portam, a historia, fundado cm documcntos,
que olTerecem algum interessc ao publico.
Nao foi tambem meu animo atacar, nem ainda
levemente o sr. Herculano, cujo merecimento
sei muito bem apreciar. Se o Icilor se nao
convencer do que 'nella disse, anibos ficare-
mos satisfeitos, elle em formar sua opiniao a
este respcito; eu era ter enipregado com todo
0 esmero desvelada diligencia , publicando
algumas particularidades historicas, o que
ninguem ate'gora (que eu saiba) tem feito.
Publicando, amigos Redactores, esta carta
no nosso periodico, I'areis um muito apreciavcl
favor ao vosso
Collega e araigo,
M. B. DE VASCONCELLOS.
Coimbra, 13 de dezcmbro de 1855.
250
OS LUSIADAS.
Tradurcao franccin.
Cuulinuailu dc paj. Via.
LES LUSIADES.
20
Ainsi Ic PorUigais vogiiail sur I'oiidc amcrc,
Tandis qu'obeissaiil au moiiarquc immortcl
Mercure fond Ics airs de son aile Icgere,
Et parcourt ct les mors, el la tcrre ct Ic ciel :
Aussitot par ses soins dans la lirillanle sphere
Se rassemble des Dioux Ic Senat elerncl;
(I va pescr le sort de la Liisitanic,
Et Oxer le dcstin des peiiples de I'Asic.
21
On les voit accourir du Icniple du Soleil,
Et du palais brillant de la iiaissanle Aurore;
Des rivagcs glaces qu'a son Iristc reveil
L'astre pale du nord pour pen d'instants colore;
Des bords occidenlaux oil d'lin rayon vermeil,
Tout pres de son dcclin, Pbcbus se pare encore:
Toutes les deites de la tcrre ct des cieux
Remplissent en ce jour TOlympc radieux.
22
On distingue le Dieu qui lance le tonnerre
A son front, a ses ycux si plcius dc majeste ;
Si les mortels pouvaient en fixer la lumiere,
lis deviendraient egaux a la divinite !
Son trune etincclant qu'un feu brillant eclaire
Semble etre dans les cieux par Ics astres porte;
La foudre est en ses mains, et I'Dlympc s'clonne
De la vive splcndeur que jette sa couronne.
23
A peine dans ce jour les celestes parvis
Peuvent-ils contenir cctte assemblee immense.
Deja, scion Icurs rangs, tons Ics Dieux sont assis.
Sur leurs trones, formes d'une pure substance,
Brillent Ics diamants, les pcrlcs, les rubis.
Tout parait en suspens, tout garde le silence;
Lorsque la voix du Dieu qui rcgne dans Ic ciel
Prononce ce discours auguste ct solemnel.
24
Immortels habitants de la vovile eloilce,
Vous, dont la volonte sert dc regie aux humains.
Pour vous, dc I'avenir, I'histuire est dcvoilee,
Vous connaisscz du sort Ics dccrels souverains :
La terre de Lusus est un jour appelee,
Vous le savcz, ainsi I'ont voulu Ics destins,
A surpasser en tout les grandeurs qu'on renomme
D'Assyrie et de Perse, et de Grece, ct de Rome.
25
Deja vous avcz vu ses valcurcux soldats,
Contre les Musulmans signalant Icur courage,
Les vaincre, et les chasser, aprcs mille combats
De tout I'heurcux jiays arrose par lo Tagc.
Pendant longlcuips aiissi defendant leurs etats,
Pes Caslillans j.iloux ils ont bra\e la rage,
Kt trioniphanl du luimbrc, on \i( Ic Portugal
Sortir toujours vainqueur dun combat inegal.
26
Je nc parlerai pas de leur antique gloirc,
Lorsque Viriatus, vcngeur de I'univers.
Sut a I'aigle de Home enlcver la vicloire
Aux ycuxdumondcenlicr, qu'clleaccablail defers.
Je tairai Ics exploits ct rillustre niemoirc
l)u Komain qui chcz eux, aprcs la[it de revcrs,
Fuyanl dc son pays les discordcs publiques,
De la vcrtu de Hume apporta les rcliques.
27
Vous voyez aujourd'hui ce peuple dc hcros,
Opposant aux dangers un courage intrtpidc.
En des lieux inconnus, sur de frclcs vaisseaux,
AITriinler les hasards de lOcean perfidc.
Errant depuis longtemps sur ces irumenscs eaux,
De climats enclimats, sanssecours et sans guide.
Par de nouveaux clfjrts, sur le vasle clement
II cbcrche les chemius des mers de I'Orient.
28
Dc ces hcros sortis de la Lusitanie
Dans le Livrc fitcrncl les destins sont ccrits,
Les rivagcs de I'lnde et la mer d'Arabie
Longtemps a leur pouvoir doivcnt etre soumis.
Dejii, pendant I'hivcr, la fortune ennemie
Vicnt de leur susciter des travaux inlinis:
II est juste qu'enfin cctte terrc inconnuc,
But de taut de travaux, soit offerte a leur vue.
29
Ah! sans douleilest temps, que ses braves marins
Trouvent dansquclque port un refuge tranquille,
lis ont asscz lutle dans ces climats lointains
Contre les fifs d'fiole et la mer indocile.
Je veux que sans retard sur les bords Africains
Leurs vaisseaux fatigues obtienncnt un asilc,
Qu ils y puissent trouver du repos, du secours,
Et de Icur long trajet ils repreudront le cours.
30, 31, et 32
Ainsi paria le Dieu ; mais les feux de I'envie
Dans le ca>ur de Bacchus s'allument a I'inslant;
De I'lnde, que son bras a jadis asservie,
II se vantait encor d'etre scul conqucrant;
A I'aspect des enfanls dc la Lusitanie
Sun cceur, deja trouble, redoute en fremissant
(Jue du triste Lethe I'ondc noire et fatalc
Ne condamne a I'oubli sa marche triomphale.
33
Cependant en faveur des enfants de Lusus
Un secret sentiment attcndrit Cytherec,
Elle retrouve eu eux les antiques vertus
De cctte nation, qu'cUc avait prcferee.
Ileritiers des Romains, I'.Xfrique les a vus
tgaler sur ses bords leur valeur cclebrce,
Ils ont dc ces hcros le langngc et l.'S mtcurs,
Et Venus des Latins croit voir les succcsseurs.
34
D'autres pressentiments, d'autrcs desirs encore
Ont decide pour eux la mere dc I'Amour ;
Que d'enccns elle attend d'un people qui I'adore!
Quels triomphes nouNcaux dccorcront sa cour !
Et tandis que Bacchus, que la furcur dcvore,
Craint de vcjir ses himncuis s'cclipicr en ce jour,
Un espoir oppose dans Venus sc declare,
Et du ciel agile la discorde s'empare.
251
3S
C'esl ainsi que Boree cl Ics fiers aquilons
Au sein de la fordt apporlcnt le ravage;
Les arbres, arraches par d'affreux lourbillons,
Ne peuvent rcsister a leur puissanle rage;
Les torrents 6cumeiix traccnt de noirs sillons.
On croit voir s'cbranler la monlagnc saiivage:
Tout se rompt, lout mugil, tout s'ecroule, et Icscicux
Derobent et leur vue et le jour h nos yeux.
36
De meme entre les Dicun Icdesordre s'augmentc;
Mais bientot de Venus le formidaltle amant
Se Icvc, son air sombre inspire I'epouvante,
II lance sur les Dicux un regard mcnacant ;
II aima de tout temps et I'audace cclalante
Des enfants de Lusus et leur esprit vaillant ;
La furcur de Bacchus le revolte et I'irrile,
Et SOD glaive est I'appui de la belle Aphrodite.
37
II s'avance, on le voit relever d'un air fier
De son casque pesant la brillante visiere;
On tremble au seul aspect du bouclier de fer
Que dun bras vigoureux il rejette en arriere :
11 marche d'un pas ferme, et fixant Jupiter,
II adresse ces mots au maitre du tonnerre :
L'Olyrape s'en ebranle, et Ton voit d'Apollon
Palir pour un moment le celeste rayon.
Continua.
NOTICIAS LITTERARIAS.
Appliraraoda eloctro-chlmla & sra-
TUra e InipreNsuo. M. Becquerel apresentou
a academia real das sciencias de Paris em 5 de
novcmbro ultimo algumas amostras de gravuras
feitas por Guiseppe Devincesvei, por meio d'um
processo electro-chimico, que ellc, ha annos, lem
ensaiado sobre a arte typographica, reproduzindo
OS desenhos e characteres typographicos pela gra-
vura em relevo.
0 zinco e o metal mais proprio para csta
especie de gravura. Para este fim tomam-se laminas
d'aquelle metal, granuladas com area pcneirada ;
desenha-se sobre ellas com tinta e lapis lilho-
grapbico. Feito o desenho, prepara-se a lamina,
como se tivesse de servir para uma tiragem litho-
graphica ; mette-se a lamina por um minuto
'numa dissolucao de noz de gaiha, lava-se depois
em agua pura, e da-se-lhe uma demao com uma
dissolucao pouco carregada de gomma arabica.
Molha-se a lamina com uma esponja, e cobre-se
o desenho com essencia de terebenlina ; e pas-
sa-se-lhe por cima um cylindro lithographico
com verniz , que cobre completamente todos os
traces do desenho.
Este verniz deve ter as qualidades seguintes:
nao alterar o desenho ; adherir muito a lamina ,
e nao ser attacado pelos agentes chimicos, empre-
gados na gravura. 0 verniz, a que chamam em,
Inglaterra Brunswicl: black, misturado com essen-
cia d'alfazema, c o melhor'. Estando secco o
verniz, p6e-se a lamina de zinco cm communica-
cao com outra de cobre a distancia de O^.OOS,
'numa dissolucao de sulfato de cobre a 15°, for-
' Este verniz e composlo de asphalto, oleo de linha9a
fervldo, e terebenlina.
mando d'este modo nm par voUaico. 0 acido
sulfurico, que resulla da decomposirao do sulfato
de cobre, dissolve todas as partes do zinco, que
nao estao cobertas, isto e, os desenhos; e,segundo
a qualidade d'elles, assim se da maior ou menor
profundidade a gravura. Em geral a gravura dos
desenhos a lapis opera-se em i ou 5 minutos, e
a dos depena, em 7 ou 10. 0 sulfato de cobre nao
ataca os mais delirados desenhos.
A todos OS outros prorcssos, pelos quaes se
reproduzem os desenhos, se pode applicar este
methodo. Os desenhos feilos 'num papel , ou as
impressoes das pcdras lilhogra|)hicas, e das laminas
d'aco e cobre podem Irasladar-se para as laminas
de zinco. As machinas de gravar produzem as
cores uniformes tanto sobre o zinco como sobre
as pcdras lilhographicas. Este processo e tambem
applicavel aos characteres d'imprensa, de modo
que, trasladando uma pngina d'um livro para
uma lamina de zinco, obtem-se um verdadeiro
slereotypo. Esle methodo de gravura dispensa
por tanto a stereolypia ordinaria, porquc .1 medida
que se vao imprimindo as paginas d'um livro,
pudem trasladar-se logo sobre folhas mui delgadas
de zinco, e d'estas sobre laminas mais grossas,
para graval-as todas as vezes que se quizer fazer
uma reimpressao, com grande cconomia de com-
posicao e papel; pois que por este meio e desne-
cessario lirar de qualquer obra grande numero
de exemplarcs. Uma copia em folhas mui delgadas
de zinco nao fica mais cara, que um exemplar
impresso em papel de superior qualidade.
Por este processo podem tambem trasladar-se
para laminas metalicas as antigas impressoes no-
taveis por alguma oircumstancia litteraria ou ar-
tistica.
RELACAO
Dos individuos notneados para os seguintes logares
d'inslruccao publica, por despachos do Conselhn
superior d'instruccao publica, edecrctos do Go-
verno desde o dia 16 ale ao fim de dezembro.
INSTRDCflO PBIMiBIA.
Joao Maria da Costa, para professor tempo-
rario da cadeira de Carrazedo de Monte-Negro,
districto de Villa Real.
Luiz Candido Augusto de Mello, para dicio
de Alijo.
Manuel Maria Alves Motta, para dicto de
Envendos, districto de Santarem.
Manuel Maximo Teixeira Vaz, para dicto do
Pezo da Regua, districto de Villa Real.
Saturnino Antonio Abrantes, para dicto d'AI-
dea Velha, districto da Guarda.
Maria Jus6 Olympia, para mestra da eschola
de meninas de Seple Rios, districto de Lisboa,
por transferencia da de BemPica.
Maria Silveria Pinto Rego, para dicta de
Bemfica, por transferencia da de Septe Rios.
I>STnUC?AO SECUNDABI*.
Manuel de Azevedo Franco, para professor dc
latinidade (2.*) da seccao occidental do lyceu na-
cional de Lisboa.
INSTBDCCXO SUPERIOR.
Joao Mendes Arnaut, para substitute orilina-
rio da seccao da eschola medico cirurgica do
Porto.
252
OBSERVACOES METEOROLOGICAS , FEITAS NO GABINETE DE PHYSICA |
DA UNIVEUSIDADE DE COIMBRA.
Anno lie
11)35
a ■- a
If!
Pressiio atmtiapherica ao meio (lis
Eslado hysroDielrico il»
almospbera ao meio dia
3
» 2
-5 '
o
I'i
Eslado dt' eht s dt
tempo ao'jneiQ dia.
Mez .le
Oulubro
Altura hkiO'
iii«tiica a Qo
(ia cicala cen-
ligrada.
Trniao do
vapor atjuoao
cjQItdo no or
PrcMJao do
ar secco
Grao d'kuisL.
dado do a,,
Tc^rcicoiaridu
por I o efta-
do dc latuts-
fdo.
Qnantid. de
*.ipor conlido
cut uin nictfo
Dias
liraiis
t-entiir.
MiUimelros
Millimelros
.Milliniftrus
GrMmma!*
1
It}
749,137
13,361
735,776
0,870
13,316
o.
Niiblado. Bom lemjm.
2
19
750,788
13,894
736 894
0,850
13,798
o.
Eiicuberl. T. cimvoso.
3
19
751,647
14,548
737,099
0,1)90
14,448
o.
Niiblado. Bora tempo.
4
19
749,263
14,221
735,047
0 870
14,322
o.
O mesmo O mesmo.
5
18
744,578
13,668
730,910
0,890
13,622
s.
Encnbert. T. chuvoso.
6
17,5
743,374
13,245
730,129
0890
13,221
s.
O mesmo. 0 mesmo.
7
17
743,433
11,938
731,495
0,828
11,938
s.
O nieumo. O mesmo.
8
17,5
743,473
12,947
730,526
0,870
12,924
s.
O mesmo. O mesmo.
9
18
749,137
12,523
736 615
0,815
12,479
s.
O mesmo. O mesmo.
10
16
750,496
12,373
738,123
0,914
12,415
s.
Nublado. Horn tem^.
11
18
734,709
12,569
742,140
0,1118
12,526
s.
Eitcubert. T. cimvoso.
12
18
752,176
13,602
738,574
0,885
13,556
s.
O mesmo. O mesmo.
13
17
75^,539
12,835
738,704
0,890
12,835
s.
O mesmo. O mesmo.
14
17
747,233
11,681
735,552
0,810
11,681
s.
O mesmo. O mesmo.
15
18
752,175
10,443
741,733
0,679
10,407
o.
O mesmo. O mesmo.
16
16
751,914
11,571
740,343
0,835
11,610
.N.
O mesmo. O mesmo.
17
15
752,138
11,478
740,660
0,904
11,557
N.
Nublrtdo. Bom tempo.
13
17
752,299
10,239
742,060
0,714
10,239
o.
O mesmo. O mesmo.
19
15
755,077
10,794
744,283
0,850
10,867
E.
Clar. eliiiip. B. temp.
20
15
757,107
8,635
748,472
0,079
9,230
E.
O mesmo. O mesmo.
21
15
751,735
11,048
740,737
0,870
11,124
N.
NuUIado. O mesmo.
22
16
750,801
12,318
738,483
0,912
12,360
N.
O mesmo. O mesmo.
23
15,5
754,005
11,284
742,721
0,861
11,342
E.
CI. e limp. O mesmo.
24
15
755,991
11,416
744,575
0,899
11,494
E.
O mesnio. O inesmo.
25
14
753,782
10,360
743,422
0,870
10,468
S.
Encubert. T, chuioBo.
26
13
751,521
9,264
742,257
0,850
9,392
S.
O mesmo. O mesmo.
27
12,5
747,781
9,379
738,402
0,868
9,526
s.
Nubladu.. Bom tempo.
28
13
748,095
9,813
738,283
0,908
9,983
NO.
O mesmo, O mesmo.
29
12
747,841
9,307
738,534
0,890
9,470
NO
O mcsmu. O mesmo.
30
12
746,827
9,236
737,591
0,883
9,897
NO.
Encubert. T. chuvoso.
31
12
750,377
9,236
741,141
0,883
9,397
NO.
O mesmo. O mesmo.
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750,339
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Maximo .... 0,914
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Min. absol
Jl. 743,374
Minimo .... 0,879
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Max. excii
rs. 12,617
Maxima Faria^. 0,235
Cuia
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e Nuvembro
lie 1855.
Math
'at de Carva
the de f'niconcellos, Le
nle Sub
Iilutn d.- Phjslca.
® Jnsititttt^r^
JOllNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
METHODO DO ENSIJiO PARflLELLO
ESCRIPT.V E LEITl'RA.
Continuado dc pa^. 247.
HEC^'AO 11.
Analyse dos (ados fitndumenlaes da lingtiar-
geni no sen ponto de visla plionico e ortlio-
graphico.
A lingua que fallanios, mecha&icaniente
considerada, e um systcnia de sons articula-
dos, cada um dos quaes e o produclo com-
plexo e indissoluvel de qnalro elemcntos, a
saber — voz, articularuo, turn e quuntidade.
Yoz e qualquer volume de ar aspirado ,
que, cm quanto jiassa dos pulmoes a bocca,
e feito sonoro pcio orgao vocal.
Esta passagem nao podc elVectuar-se ?em
que 0 orgao se aclie 'numa posicao qualquer:
0 resultado d'esta posicao casual e ua voz
uma modificacao inslantanca que a articiila,
e uma articuhicuo.
Quando o ar sahe dos pulmoes, faz vibrar
ad libitum as cordas vocaes, que coroam os
labios da giote : e segundo for maior ou rae-
nor 0 grau de lensao d'estas cordas, assim o
som sera um torn — alto ou agudo no primei-
ro caso — baixo ou grave no segundo.
Mas 0 ar nao pode fazer-se sonoro nem ser
modificado pclas cordas vocaes ou qualquer
outra parte do orgao, se nao dura, sc em sua
emissao niio gasta mais ou menos tempo:
gastando mais tempo, o som e longo — me-
nos, e breve; — ora mais e ora menos, e
commum ou racional: e 'nisto consiste a du-
ragao ou quaniidade do som.
Ora, como nao pode haver som articula-
do — que nao trausite pelo orgao vocal, —
que nao seja modilicado por este — que nao
ponha em movimento de vibracao as cordas
vocaes — e (|ue em tudo isto nao gasle uma
parcella de tempo (jualquer, segue-se que lo-
de 0 som articulado ha de necessariamentc
reunir todos estes clementos — uma I'o:, uma
articulacdo, certo torn, e certa quaniidade.
Estes elemcntos sao tao essenciaes para a
Vol. IY. Feveeeiro 13
formaeao de qualquer som, que o espirito,
pcla aclividade de que e dotado, pode pensar
em algum sem pensar nos oulros, — pode ale
appropriar a cada um d'elles um sijmbolo,
um signal de convenrCio; mas tudo isto e uma
abstraccao do espirito. Em se passando da
ordem ideal para a real, logo se topa com
a impossibilidade de isolar qualquer d'estes
elemcntos do concurso de todos os outros.
Isto nao obstante; nao obstante o no cego
que OS prende na individualidade de cada
som, ha dois d'estes elcmentos que sao mais
conspicuos no canto, e oulros dois que o sao
mais na linguagem. Os prinieiros sao o lorn
e quaniidade, que a musica designa por no-
las; OS segundos sao a arliculacao e a voz,
que a escriplura signiHca por Ultras.
Mas tao iiidispensavel e a uniao dos qua-
tro clementos em qualquer som articulado,
que — nem o caulo pode lev nolas sem Ihes
addicionar vozes e articulacoes, taes como do,
re, mi, fa, sol. Id, si, em cujo logar vem
collocar-se as syllabas da palavra canlada, —
nem a linguagem pode /cV lettras , sem Ihes
addir um torn e quaniidade qualquer.
Ora, visto que o tom e quaniidade sao
I clementos — para assim dizer — arbilrarios,
e de mui secundaria imporlancia na lingua-
gem, a escriplura nao os assignala. Os unices
clementos para que ella tem lettras, sao as
vozes e as articulacoes: — eslas, escreve-as
com consoanles; — aquellas com vogaes. E
assim como a indissoluvel uniao da arliculacao
com a voz forma o som elementar da pala-
vra, assim tambem a inlima combinagao da
consoanle com a vogal forma a svllaba natu-
ral, que e 0 syrabolo ou signal graphico
d'aquelle som.
Enlre os sons elemcntares que pode formar
0 orgao da falla, e o do ouvido perceber, o
mais ligeiro e tenue de todos, o que — para
assim dizer — resulla da inicial determinacao
do orgao e o represenlado pcla syllaba natu-
ral n he », composla da consoanle » h » signal
da simples aspiracao, e da vogal «<!", que
sigoifica a voz muda i.
0 valor phonico d'estes dois clementos e
tao pouce aprcciavel, que a escriplura pode
fazcr a rcspeito d'elles e que faz a respeito
do lom e quaniidade — pode ommiltir-lhcs os
siguaes. E quande faz iste; quando 'numa
— 1856. Ndm. 22.
254
syllaba natural supprime, quer a consoaniw
«hn, quer a vo^al •■^ e mudo », o rosiiltailn
lia suppressao e reiluzir duas syllabus natu-
raes a uma so artificial, v. g. lla-mo-re qiic
tern trez syilalias naluraes, escrcve-sc artili-
cialmente toui duas — amor; pa-he, que tein
duas natuiMcs, pddn escrcver-se com iiiiia
artitiiial, d'cslo uiodo — pde.
Quando ua escTi|itura do uma syilaha sc
ommilto 0 signal da simples aspirafao ■ A ",
que era a consoanlc d'eila, a vogai rospcctiva
passa a comblnar-se, na mesma emissao do
som com a da syllaba aulecedonle; e esta
licani couslando de uma consoanle com duas
vogaes, sera mwdiphtonfjo. v. g. Pd-he, ma-he,
que artiticialmeule se escrcvcm — fde, mae.
Nole-se que ncm todas as vogaes, suppri-
mido 0 (I /( I) que as articule, tern de ligar-se
a vogal anlecedenlc para formarem com ella
uma so syllaba arlilicial, um diijlilongo. Para
uma vogal tor esta capaeidade, o mister ((uc
a anteccdentc seja signal de voz main forte
que a d'eila ; so assim a vogal prepositiva
absorvera a pospoiitiva; so assim haverii
diphtongo. Na hypotbese contraria porem,
sendo esta mais forte que aquclla, cada uma
das syllabas eonservara a sua individualida-
de: nao podera ojiittir-se 0((/i». v. g. Ba-
hia, bahii, sahir.
QiUHido porem o signal ommitlido for — -nao
a consoanle " k «, — mas a vogal « e mudo ",
succede o contrario; — a syllaba artificial
constara de uma so togal com duas consoaH-
tes, ou ambas antes d'eila, ou uma antes e
outra depois, v. g. Pe-lo-ea, ha-ie-ma, que
artilicialmente se escrevem d'este modo —
placa, alma.
Nem lodas as consoaules ommiltido o « e
mudo " que com ellas eoncorra, podeni en-
costar-se a vogal anteccdcnte, e mod i Ilea 1-a.
As unicas que em nossa lingua tern este pri-
vilegio, sao as que os latinos iniproprianiente
appellidavam semivoyaen , c nos designamos
pelos disyllabos — ell'e,eUe, enuite, enm , trre ,
esse, hagd, e tambem chiz, e :/. E com razao
se dao a essas consoaates taes nomes, porque
esles sao o producto dos dois valores que
cada uma tem, — um quando vem antes, —
outro quando depois da vogal respectiva. v.
g. / era lama val U , em alma val el; m em
mono val me, em umbos val em; n em nece
val ne, em antra val en; r em patarata val
re, em amor er; a> em deixo val che, em ejem-
plo val iz, etc.
Ate aqui, ainda nao sahimos do sensivel,
do real, do concrete, porque ainda nao sahi-
mos dos sons elementares, que o orgiio vocal
pode formar, e o ouvido perceber. Se cITecti-
vamente produzirmos um d'estes signaes que
fallam ao ouvidn, ainda o alumno podera
txaduzil-o por outro que falle aos olhos, e
vice versa. Tanto 6 certo que todos elles sao
cousas reaes.
Mas 0 espirito humano, com quanto eslreie
pelo eoncrclo, niin para 'nelle. Nao lia ver-
dadeira scieneia para o espirito, em (pianlo
nao sahe do conereto para o abstraeto, do
niundo das realidades para o das ideas, do
composlo para o simples; — em quanto, a
lorca de comparar, decompor e generalisar
[ados , nao chega ii posse dos priiicipius ,
isto e, ii Huidade da variedade de nuiilas pcr-
cepfijes, ao typo commum de muilas indivi-
(lualidades, ao quid iiicuncussum de loda a
seieneia.
Debaixo do peso dc tantos sigiiacs — uns
([ue fallam ao ouvido, c sao sons articulados,
— outros (jue fallam aos olbos, e sao sylla-
bas— a memoria do alumno pareee vergar
e gemer. Nao sera possivel alivial-a de lama-
nba carga? Nao sera possivel, confrontando
todos esses signaes uns com outros, achar
entre elles aigum elemenlo commum, algum
prineipio dassilicador, que Ihes reduza con-
sideravclmente o numero, sem notavel pre-
juizo da verdade? Vejamol-o.
Quanto aos sons elementares em si, cscu-
sado e fazer a tentativa; porque niuguem
pode dividil-os. Em se tractaudo de reduzir
um som articulado a cada um dos seus ele-
mentos integrantes, na ordem real toda a
separacao e inipossivel. Mas na ideal, mas
na abstrutta, sera a mesma cousa? Pareee-me
que nao.
Quem se der ao Irabalbo de inventariar os
sons elementares de nossa lingua, para logo
topara com um facto bem digno de reparo:
— e que pode haver sons inteiramentc simi-
lares, mas nao ha dois inteiramente differen-
tes. 'Nesla, corao em todas as creaeOes da
uatureza, vti-se observada a grandc lei da
unidade na rariedade. Os sons elementares siio
mnitos, sao variados; mas, por graude que
seja a variedade d'ellcs, nao ha um so, que
por um ou outro aspecto nao tenha sua tal
ou qual sirailhanca com outro som elemenlar.
Pode dizcr-se d'elles, o que das artes diz
Uvidio:
Fades non omnibus una.
Nee diversa tamen, guiilem dccel esse sororum.
Tomemos, por cxemplo, as palavras caso ,
casa. Compoe-se cada uma de dois sous ele-
mentares. 0 primeiro d'ambas e inteiramente
similar; podemos represental-o pelo mesmo
signal, pela syllaba « ca». Mas o segundo da
primeira, com quanto nao seja identico com
0 segundo da outra, nao e inteiramente dif-
ferente. Se houvessemos de represental-os por
um signal so, sacrilicariamos a differcuca que
OS e.xtrcma ; se por dois signaes difl'erenles,
estava sacrificada a similhanca. Que fazer
pois? — E rcpresentar cada um d'aquelles
sons — nao por um signal imico, como faria
a escriptura syllahica, — senao por dois signaes
255
ao menos, os quaes variem em siias combina-
eOes, como variam em seus olementos cada um
d'aquellcs sons elemeiitarcs: e para isto —
ponto csscncial — 6 decompor a sjjilaba em
Icttras, (i suhslituir a csciiplura syltabka a
escriptiira alpliiibetica.
Para rcalisar csta decomposifao, tudo o
que temos dc I'azer, e — redigir unia labua
das syllabus naluraes de nnssa liiifiua, exarai-
iiar atlonliimoiile os signacs quo 'nulla figu-
ram, coiiiparal-os cntrc si; e onde qiier que
encontrarnios dnis, trcz, q-salro ou mais per-
feitamenle similares, e rcdiizil-os todos a um
signal unico; mas, quanio aos diU'crentes, e
conserval-os laes quaes. Assim lercmns redu-
zido a talma d:\s syllabus natunies da lingua
a dos eleiiienlos d'eslas syllabas ; assim lere-
mos chogado ao alpliabcto.
Ainda jjor outro piocesso poderemos chcgar
ao mesnio rosullado.
Ja saliemos que a syllaba muda « he » se
compoe de elementos lao insignilicantes para
0 ouvido, que lalvez pode supprimil-os a
esoriptura, scm alterofao sensivol da palavra
fallada. Tomemos jiois a labua das syllabas
naturaes; e onde (|ucr que acharmos um dos
elementos d'aquella syllaba, imaginemos que
elle la nao csta, supprimamol-o. Assim tere-
mos feito unia abstracrno, c verdadc, mas
uma abstracf-ao, que affastando-se o menos
possivel das condicoes da realidade, dar-nos-
ha 0 que procuramos — a decomposirao das
syllabas em lettras. ou, niais exactamente,
OS elementos de todas cllas. I'or quanto:
Na primeira linha horisontal da labua aeba-
mos eombinada com diversos signaes a con-
soante « h ». Suppriraida que seja esla, o que
fica em todas aquellas syllabas sao diversos
signaes de vozes sem artkulwoes, sao as let-
tras vogaes de nossa escriptura.
Na segunda columna vertical deparamos
■ com diversos signaes em comliinacao com a
vogal e. Supponliamos que esta e o »e mudo »,
e suppriuianiol-a. — 0 que fica? Ficam di-
versos signaes de articuhuOes sem voz, ficam
as comoanles sosinbas.
Eis-aqui pois as duas classes de lettras —
vogaes e consnantes — , de que forma o abece-
dario ou alpluibetn mamtscri pto de que usa-
mos. Este alpbabeto e o producto de uma
abstraccao ; e um arlifiiio commodo, pelo qual
substituimos a uma inimensa recua de signaes
de sons elementares, o mui limitado numero
de trinta e trez lettras; as quaes per si so
nao signilicam cousa alguma real ou sensi-
vel ; mas combinadas umas com outras repre-
scmtam, com maior commodidade e percisao,
atquellcs sons.
Baslarao os trinta e trez signaes alphabe-
ticos para symbolisarem os elementos de todas
as syllabas, as vozes c articulacoes de todos
OS sons elementares de nossa lingua? Por
ouiros tcrmos — sera perfeito e cabal o nosso
alphabeto? — Estii bem longe d'isso. E du-
plicadamente imperfeito, — imperfeito por fal-
ta-;~e imperfeito por excesso.
E imperfeito por excesso, porque talvez
tem mais de um signal para representar o
mesmo elemcnto syllabico, a mesma voz ou
articulacao. V. g. : ]iara significar a voz « i »
tem dois signaes, um grego, outro latino.
Para representar a articulajao « tj » nao tem
menos dc quatro signaes q, c, k, ch ii grega
Isto, por cerlo, lia de causar coulusao ; mas
a quem? a quem nao eonbecer as analogias
e etymologias da lingua, a (juem nao souber
a ortograpbia d'ella.
E imperl'eilo por falta, porque aleni de
nao ter signaes para as articulacoes nli, Ih,
para crescido numero de vozes so tem seis
signaes distinctos. Temos seis vozes ubertas,
quatro fechadas, seis mudas, e seis nasaes :
mas para signaes de todas ellas, so nos da o
alphabeto seis vogaes; as quaes podem toda-
via distinguir-se entre si pelos accentos —
cimimjlexo, agudo, e nasal, designando abso-
luta falta de accento a voz muda. v. g. AmA-
mos, aindinos, umuin.
Mas, sem embargo de todas estas iniper-
I'cicoes, 0 systema da escriptura alpbabetiea
e, a perder de vista, superior ao da escriptura
syllaliica, — ja em razao do admiravel artifi-
cio com que designa, por limitado numero
de signaes, a maxima parte das vozes e arti-
culacoes de que se formam os sons elementa-
res da lingua; ja pela rigorosa percisao com
que assignaia os varies matizes de dilTerenca
ou simiihanca, que acaso tenliam entre si
aquelles sons: — o que a escriptura syllabica
so poderia conseguir a custa de indelinido
augmento no numero dos signaes.
Esta feita a resenha dos factos fundamen-
taes da linguagem: e fazendo-a, temos —
para assim dizer — assistido a formacao, de-
composicao e inearnacao do som arliculado:
— temos visto como este se resolve em qua-
tro elementos que sao voz, articulacao, lorn
e (juanlidade: como os dois primeiros vera
reunir-se na individualidade do som elementar,
que a escriptura traduz na syllaba natural;
e como esta se transforma em syllaba artifi-
ciul, medianle a supjiressao dos elementos da
mais fraca e tenue de todas as syllabas nalu-
raes:— temos visto finalmente como, sahindo
da ordem real para a ideal, o espirito chega
a decompdr a syllaba em seus elementos,
despresando as similhancas, fazendo so conta
com as differencas, que acaso tenham entre
si OS symbolos dos sons elementares; e estas
differencas sao o que represenlam as lettras
vogaes e consoantes, de que se compoe o nos-
so alphabeto manuscripto — unico alphabeto,
que deve conhecer o educando, em quanto
nao souber 16r torrenlemente.
Cwnd'nila.
u. a. DE MEItDONCA^.
256
0 fmm 1 0 FnuRO u mimM nmm,
Como que acordada do lethargo diulurno
cm qiiL' tern jazido, csquocida do seculo, fora
do niDvimcnto animado e progiessivo, inipri-
niido [iida revolucao mais adniiravi'l do cspi-
rilo da cpoclia, a nossa inslniccao priinaiia
comcra allim a dar si^naes dc vida.
(iiaiidfi niiiueio de cadeiras loi creado para
wm e outro scxo no anno, que lindou : c,
com (luanto inferior ainda as necessidadcs
da ]inpnlai;rio, alarpou cm fim a esplicra da
inslrnccao popnlar, e dcu-nos a espcranca
liindada de mciliorampnlo progrcssivo, que
lalvoz de prompto sc aicancas-ii; sem grava-
nic da lazcnda puliiira, se fora licm acoliiido
um pciisamcnio c\posto iia tempo 'neslo pe-
riodico. 0 tempo, a reflexao, c mais ([iie ludo
a cscasscz de recursos do estado , iiao dc
por lim realisar aciuelia idea, unica possivcl,
e conforme a nossa situacao. Couliadamente
0 espcramos.
Mas nao basta crear escholas. Para isso
nao se requer mais (|ue verbas no orcameulo.
Realisar a instruccao do povo, como o exi-
gem as condicoes da cpocha, c a nossa orga-
nisacao poiilica e obra de mais elemcntos:
carecc de bons professores, e concurrcncia de
ahimnos.
Bons professores 'num paiz, ondo a iilustra-
cao (cm conqiiistado pouio, e o merccimenlo
e procurado para emprcgos mcnos penosos,
e mais lutralivos nao se podcm csperar sc-
nao dc cscholas norma es. Ua unia apcnas
organisada cm Bciem, (jue csla i)or estrear
apesar de (igurar nos orcamentos desdc 184(i.
Nao e por certo aquelle genero de eschoias
normaes, o que mais nos agrada. Eschoias
menos dispcndicsas, e mais produclivas, cm
localidades, que inspircm e alcntem o cspi-
rito modesto do ensino priniario, e nao o traus-
viem com a fruirao de commodos e praieres,
que mais nao apparccem na pequena e pobre
aldea, sao realmcnie as que convera : mas,
pois se organisou a dc Belem, e 'nella se po-
dem aproveitar elemcntos, que offerece a casa
pia, laslimamos que tanta seja a sua orfan-
dade, que nem um alumno-mestre baja pro-
duzido cm dez annos.
A frcquencia das cscholas piiblicas cm nos-
sa terra e tambem niuilo inferior a de outros
paizcs. Cincoenta mil aiumnos, tcrmo medio,
cm mil e duzcntas eschoias e cifra niuilo
diminuta comparada a de outros paizes. K
crivcl que a dislancia resultante do numero
pcqucno das eschoias seja a causa principal da
difliculdade na concurrcncia ; mas tambem se
nao pode negar que o desleixo, a indifl'ereu-
ca, e culposa avareza dos paes, c tutores, que
prefereni utilisar o service da infancia em
provcito seu, e prejuizo dos educandos con-
corra mui podcrosameute para aquelle de-
sastroso rcsultado.
A lei, provendo de remedio contra esse
abuse, prcscrcvc disposii'Ocs penacs, por ora
intactas. K ohjecto mui grave e arriscado o
eniprcgo dc medidas obrigalorias na frcquen-
cia das cscholas. Dcsadoran\ taes nicdidas
povos muito illustrados; combatc-as um di-
reito sagrado da familia ; nao as fortilica a
expericucia. Ainda nos paizcs, que as t()m
Icgislado, recorre-sc a ellas como ultimo re-
medio , depois de esgotados todos os outros
meios. Mcios suaves, suasorios, e medidas
coercivas iudircctas produziram scnipre ell'ci-
to mais seguro; ponpic nao afugenlam, susci-
tando horror a escbola.
Tacs sao as considcraeOcs ([ue dcvcm occu-
par a mente do Icgislador, do govcruo, e de
quantos jindcm e devem intcressar-se pela
sorte da instruccao primaria, a ([uc csta
cstreilamentc ligada a libcrdade, a ordem, a
scguranca c prospcridadc do ])aiz.
Sao d'csta ordem os esludos (jue vcmos no
cstrangciro , em quanto nos estamos csperdi-
cando precioso tempo com disputas pura-
mente escholaslicas. A larga e ja faslidiosa
queslao entrc methodo simultaneo-mutuo, e
simullanco collectivo, ou rcpentino, boje po-
de reputar-se a queslao do — i — grcgo, e — i —
romano. Fcliz a nacao se a resolver! Com
I quo se alimenta boje essa famosa questao?
a que nos pode ella conduzir? 0 methodo
Ctisiillio ja csta conhccido; tem side experi-
nientado; ba muitos professores Icgalmente
hLibiliiados a practicarcm-no; sejam todos os
aspirautcs ao magistcrio obrigados a dar pro-
vas dc 0 cntcnderem; que mais (juerem delle?
Dccrctal-o obrigatorio? Fora uma insania cm
nossa bumilde opiniao; uma disposieiio Ibra
da lei do sense commum; contraria as rcgras
pi-dagogicas mais triviacs; embora seja elle
mais pbilosophico, mais ameno, mais facil,
mais perfeito, questao que nao inllue nos
resultados practices. 0 conbecimento cabal
dos metbodos e indispensavel ao professor; o
uso delles no ensino e livre: cada qual usa
do que mclhor Ihe parece; porque oonstran-
gido 0 professor tornaria peer o melhor me-
thodo.
0 progresso da instruccao primaria 6 boje
avaliado por modo mui diverse. Esluda-se a
facilidade nos processes para abreviar o ap-
prendisado; cura-se do ensino intuitive no
cxcrcicio de todas as disciplinas; recommcnda-
se a abstencao de ideas abstraclas por impro-
prias da edade; cultiva-se a instruccao das
scicncias industriaes, niormente da agricul-
tura priictica, preparando assim a gerafao,
que nos sucecde, para as cxigencias do secu-
lo, cm que vive; e mais que tudo se altende
a cducacao moral para formar o corajao da
infancia, e inocular-lhe os germes da virtu-
de, e da vida social, a que se destina.
E 'neste inluilo que nos comprazemos de
trasladar os dous documcnlos, que seguem,
257
e esperamos nao sejara perdidos para a nossa
hisloria litteraria conlemporanca.
Circular aos srs. reilores a respeilo dn en.sino
practico da agrkullura na.s e.icholas nor-
naes primarias.
St. reitor : o imperador, solicilo pelo bem
estar das classes laboriosas, ppnsoii ([ue o
cnsino practico de nococs agricolas e da lior-
ticultura scria o complonieiilo necessario a
iustruccao das cscliolas primarias.
S. M. nao quiz lodavia que se adoptassem
medidas geraes antes de verilicar por expe-
nencias parciaes os resultados que liavia a
esperar do ensino de tal nalureza. Nao quiz
por isso que o orcamento do estado suppor-
tasse as dcspezas das primeiras tentativas, e
em 1832 dignou-se S. M. conceder do seu
bolsinlio OS meios necessaries para aniniar al-
guns mestres a darem a sens discipuios licOes
practicas de agric\illura.
Os ensaios executados por ordem de S. M.
tiveram logar em varias eschoias de pontos
dillerentes do imperio. No departamento da
Mancha {canisy) cullivaram os alumnos com
successo em um terreno de dez ares os legu-
mes ordinarios do paiz. Na correze, trinta
da eschola de Seilhac appiicaram-se a tralia-
Ihos de horticullura, e o jiroducto da cultura
em oito mezes cxcedeu vinte Irancos o pro-
ducto de um anno de terreno siiniiliante. A
eschola normal de Macon apresentou resulta-
dos ainda mais signilicalivos: um terreno
plantado de vinlia I'oi comprado era 1852-33,
e posto a disposicao dos alumnos-niestres.
Foi este terreno arroteado e semeado : itrinta
e seis ares de terra deram 180 francos de
producto liquido, approximadamente 300 fran-
cos 0 hectare. Os relatorios que recebeu do
anno de 33 — 34 attestam que os resultados
foram superiores aos do anno antecedente.
Estes factos, e outros que fora longo enu-
merar, provam com loda a cvidencia a alta
sabedoria do pensamento do imperador, e
attestam e seu earacter eminentemente pra-
ctico.
Nao tenho precisao sr. reitor, de insislir
para comvosco no que encerra de fecundo
para o fuluro a idea do ensino das nocOes de
agricultura nas eschoias primarias. Por ura
lado este ensino deve ter por effeito propagar
OS bons methodos de cultura, e levar algumas
eschoias a estado de se sustenlarem de sens
propfios recursos: por outro, que llie sobre-
lev-a; o governo deve esperar o resultado im-
portante de conservar enlre os mestres gostos
simples e modeslos, e ligal-os por inleresses
pesitivos ao solo das povoacoes, que Ihcs con-
fiaram as eschoias. Seria pois do niaior inte-
resse, sr. reitor, que os ensaios tentados em
cilguBias loealidades se extendessem a lode o
territorio. Ora c\\ sou levado a crer que o
verdadeiro meio de alcancar um dia o resul-
tado, que se deseja, e o substituir a tentativas
locaes, e a esforcos puramente individuaes,
um systema geral de ensino agricola nas
eschoias normaes primarias. Oonstituido este
ensino, os alumnos-mestres difl'undiriam pelos
povos boas nocOes do agriciiltiira ; poderiam
dar conselhos uteis aos paes de sous discipu-
ios. D'este modo os mestres, eu o creio, en-
trando mais na esphera que Ihes foi marcada,
attraliiriarii mais consideracoes, e junctariam
novos tilulos ans que ja Ihes deram a estima
e rccoubecimento do paiz.
De raais, e 'noutro ponto de vista, nao e
natural pensar que a jovens habituados ao
service do campo seria conveniente achar na'
eschola normal as condicoes de uma vida
activa; e consideracoes de ordera moral naff
vi^m apoiar razoes tiradas de irtteresses de
outro character? Convido-vos, sr. reitor, a-
conimunicar-me as vossas observacoes sobre o
projecto de organisacao do ensino regular da'
agricultura nas eschoias normaes primarias
da vo^sa reparticao, ministrando-me quanto
julgardes proprio a esclarecer a questao.
Niio vos limiteis ao exame no ponto de'
vista tbeorico d'esta questao. Direis como o
novo ensino se pode conciliar como o das
outras disciplinas: e atlendereis a todas as
circumstancias materiaes, que tornariam mais
facil a projectada organisacao nas eschoias
da vossa academia.
As eschoias normaes da vossa jurisdicao
tem todas algum campo ou jardim? no caso
contrario, o aluguel ou acquisicao encontra-
ria grandes obstaculos? tal, ou qual director
estaria em termos de dirigir o novo ensino?
Podcria o ensino confiar-se a um dos mestres
adjunctos? Ou julgareis necessario buscar fora
das eschoias o mestre em estado de applicar
na sua simplicidade practica o pensamento da
administracao, e nao seria necessario em tal
caso provocar a derogacao do art. 8 do decreto
de 24 de marco de 1831? Os conselhos ge-
raes estarao dispostos a concorrer para as
despezas, que resultam da creacao projectada?
Todas estas questoes exigera o mais serio exa-
me da vossa jiarte, e rogo-vos que o mais
breve possivel me dels sobre ellas respostas
precisas e practicas.
Recebei. sr. reitor, a seguraiica da niinhai
distincta consideracao.
0 ministro da instruccao piiblica, e dos
cultos, U. Portoul.
Eis-ahi o progresso, que invejamos para a'
nossa instruccao primaria, vul'garisadas poi"
raeio de um jornal especial as n'ocoes de agri-
cultura practica, ac<;iomodadas a capacidade
dos alumnos.
Entre os protfessOS' digiios de elogio por
facilitarera o ensino da instrtccao primaria
merece muito honrosa menfS*
258
0 LMo-leitor, novo jogo para ensinar a ler
rapidumente, e se>n trabalho, de Th. Le-
brun, in,speclor de instruccdo primaria da
academia de Paris.
E composto 0 jogo de trez series, ou jogos
distinctos, um para Icltras, oulro para sylla-
l)as, e outro para phrazos, meltida eada serie
'mima caixa.
Mr. Lehrun tendo notado a facilidade que
OS meuinos tein cm apprender a ler por meio
do jogo OS noveiita priim-iros numi^ros, apro-
\eitou a observarjio ])ara applicar o jogo: 1."
a leilura de lettras ; 2." a do palavras. Para
islo prcparou os cartoes de lornia (]ue re-
presentasseni lodas as leltras maiusculas e
minusculas, outros syllabas, e os ullimos pe-
qiienas plirazes.
0 meiiino brineando com este jogo de Idto
appreude a ler dopois de estudada sem cuslo
toda a seric de cartoes, e pode logo passar a
leitura de livro.
Ha 0 quer que seja no manejo dos cartoes,
e no pronunclar alto das lettras, e palavras,
que agrada a mobilidade da infancia, e ex-
plica OS progressos d'este jogo que pode
substituir nas famiiias o jogo ordinario do
loto.
D'estas innovacoes gostaraos nos. As maes
de familia nao deixarao de utilisar o desco-
brimento. Este sim, que merece o nome de
ensino repenlino. M.
CHIMICA LEGAL.
Continuailo de pag. 190.
Analyse das risceras do esludante Lazaro Tavares
Alfonso e Cunhu; d'uma porcao de terra do
silio em que se achou o eadarer; e d'umas tiras
da balina do mesmo estudante.
0 estoraago e intestinos estavam conserva-
dos em alcool, separados em i frascos com
OS liquidos e outras materias, que estas visceras
continham ; e achava-sc 'noutro I'rasco uma
porcao de alcool, irmao do que .so tiuha eni-
pregado nos dois primeiros. 'Noutro frasco
estavam tiras da baliiia, em agua distillada;
e 'noutro , mais tiras 'numa dissolucao de
sulfato de soda. Ainda outra porciio de tiras
da batiua foi guardada 'num embrulho de
papel ; e 'noutro embrulho achava-se uma
porcao de terra do Choupal, onde o cadaver
tinha sido cncontrado.
A commissao de periios foi encarregada de
proeurar venenos nas visceras, e vestigios de
sangue na terra e tiras da batina.
Analyse do estomago e intestinos com as substan-
cias encontradas nestes orgdos.
Sujeitamos a ebullicao em agua distillada,
pOr mais de uma bora, uma porcao das pa-
redes do estomago e dos intestinos, com uma
parte das substaucias (|ue conlinliaui ; lillra-
mos, e guardiimos o li(|uido com a designa-
fao a, para o sujcilarmos aos rcagenles.
Outra pori;ao das mesmas subsiancias foi car-
bouisada numa capsula de porccjana com
acido suH'urico, bumcdccida com acidoazoiico,
e toruada a soccar pciu cvaporacao, rcduzida
a p6, e sujeito a ebullicao em agua dislillada
por mais d'uma bora. Este liquido, lilliado,
guardou-se com a desiguacao b. Outra jiorcao
das mesmas subsiancias foi carbonisada pelo
mesmo processo; so com a din'cronca de se
ter operado 'numa rolorla com a cxlrcmidade
do collo mergulbada em agua dislillada, que
depois serviu para a ebullicao do carvao. Este
liquido guardou-se com a dosignacao c. Mais
duas porcoes das mesmas subsiancias I'oram
carbonisadas com o mesmo acido sulfurico,
tendo sido prcviamcnte tracladas o aquccidas
com uma dissolucao conccnirada de jjotassa
caustica. L'ma d'esias porcoes foi carbonisada
em capsula de porcelar.a, e a outra em relorla ;
e dos dois liquidos, que resultaram da ebulli-
cao e liltracao das materias carbonisadas, o
1.° licou guardado com a designaciio d, e o
2." com a designacao e.
Prcparados os cinco liquidos, passamos a
sujeilal-os aos reagentcs.
No apparelhc de Marsh nenhum dos cinco
liquidos deu, na porcelana ou no tubo de
\idro, 0 menor indicio de arsenico, nem
mancbas ou anneis d'oulra natureza. So o
liquido c fez appareccr na porcelana umas
mancbas amarelladas, sem brilho e que desap-
pareciam em grande parte s6 com o calor
(jue bcava na porcellana, Jeixando perceber
0 cbeiro do enxofre. Estas mancbas, que desap-
pareciam totalmenle quando exposlas a um
calor brando, insoluveis pelo acido azolico a
frio e pelo ammoniacc, c nao oM'croccudo os
charactercsphysicos nem cliimicosdasnianchas
de arsenico ou do sull'ureto de arsenico, re-
conhecemos serem mancbas de enxofre, como
as que se costumam formar, quando lem logar
denlro do apparclho a formacao do acido sul-
furoso, e seguidamente do acido sulpbydrico.
Ainda com o lim de descobrirmos o arsenico,
sujeitamos estes liquidos aos seguintes reagen-
tes, sera que nos apparecesse o menor indicio
d'este vcneno. — Azolalo de prala, azolato
de prata ammoniacal, azolalo de cluimbo,
sulfato de cobre, sulfato de cobre ammoniacal,
agua de cal, acido sulpbydrico, e sulphydrato
ammonico.
Empregamos, alem disso, parte d'estes e
259
outros reagenles para o descobrimento dos
venenos de antimonio, de chumbo, de cobre,
e de mercurio.
Para os venenos de antimonio, empregaraos
a polassa, o ammoniaco, a agua de cal, o
chiororeto de platina, o acido sulphydrico, e
0 sulpliydrato animonico.
Para os venenos de chanibo empreganios
a potassa, o iodiiroto de polassio, o atido
sulpliydrico, e o sulphydrato animonico.
Para os venenos de cobre empreganios o
ammoniaco, a potassa, o acido sulpbydrico,
0 sulpliydrato amraonico, ocyanureto amarcl-
lo de polassa e lerro, e o arseniato de potas-
sa. Tambem empreganios nos liquidos previa-
mente acidulados com acido sulfurico, unia
lamina de lerro, e nma agulba suspensa 'num
cabello, segundo o processo de Boutigny.
Para os venenos de mercurio empregamos
a potassa, iodureto de potassio, cyanureto
amarcllo de polassa e ferro, carbonato po-
tassico , carbonato ammonico, ammoniaco,
acido sulphydrico, sulphydrato ammonico, e
azotato de prata. Mergulhamos nos liiiuidos
as laminas de cobre e de zinco; e empreganios
tambem a pilha de Smithson lormada por ura
annel d'ouro com uma lamina de cobre enro-
lada em espira.
Nenluim d'estcs reagenles e processes desco-
brirani indicios dos venenos, que se procura-
vam.
Progredindo na mesma investigacao, recor-
rcmos ainda ao processo de Malaguti e
Sarzeaud, applicando-o nao so a investigacao
do arsenico, a que o destinani estes auctores,
mas lornando-o extensivo a todos os venenos
melalicos. Para cste llni, aproveitamos o quo
podia considerar-se communi entre este pro-
cesso de Malaguti, e o processo aconselhado
por Briand, paia a investigacao simullanea
de todos OS venenos melalicos, do niodo se-
guinte.
Lanciinios uma porcao do estomago e in-
testinos nunia retorta com egual peso de
agua regia nascente, e favorecemos a destrui-
cao da materia orgauica por mcio da himpada
de alcool. A retorla communicava com um
frasco vasio, constantemente refrigerado com
agua; e em scguida havia oulro I'rasco com
0 I'undo coberto de agua distillada, onde mer-
gulhava 0 lubo de communicaiao com o pri-
nieiro. Do segundo frasco saliia um lubo de
Welter, em cuja curvalura se achava agua
distillada. Conipletada a destruicao de todas
as niaterias organicas, menos as gorduras,
estas se deixaram coagular pelo arrelecimenlo;
separaram-se do liquido, que se poz de lado ;
lavaram-se com a agua do apparelho, e tizeram-
sefundirna mesma retorta, tendo-se montado
0 apparelho com outra agua. Coaguladas de
novo , separaram-se da agua por mcio do
titro e despresaram-se. Esta agua, com a agua
rlegia que tinha destruido as substancias or-
ganicas , misluraram-se e dividiram-se era
duas partes , guardando-se uma d'ellas com
a designacao a. k outra parte lancou-se na
retorta do mesnio apparelho, e distillou-se ale
se reduzir a vigesima parte, pouco niais ou
menos.
Despresado o residuo da distillacao, guar-
dou-se, com a designacao 6, o liquido dislil-
lado no prinieiro frasco, reunido com a agua
do segundo e do lubo de Welter.
Este liquido h sujeitou-se a uma corrente
de acido sulphydrico durante niuilas boras, e
dei\ou-se em repouso por mais de 48 boras,
seni que aparecesse turvacao do liciuido, pe-
licula , llocos, ou precipitado aniarello, que
podcsse indicar a formacao do sull'ureto de
arsenico a custa do chlorureto de arsenico,
que deveria existir 'neste liquido, se houvesse
arsenico na materia suspeita.
0 liquido «, depois de se Ihe ler junctado
um pouco d'acido chlorliydrico, para o desem-
baracar d'alguni composto nitroso que podes-
se ainda ter ; e depois se ter aquecido, para
Ihoexpellir algum chloro que ainda houvesse,
sujeitou-se tambem a uma corrente de acido
sulphydrico, sem que apparecesse nenhum
sull'ureto metalico, conio deveria apparecer se
houvesse na materia suspeita algum dos ve-
nenos melalicos.
0 mesmo liquido, assim preparado, sujeitou-
se a accao da Pilha de Daniel, com 2 placas
de platina nos dois polos , e nao mostrou
nenhum metal reduzido na superlicie da pla-
tina.
Para a investigacao d'alguns venenos orga-
nicos mais estudados na dasse dos alcaloides,
seguimos o processo de Stas, fundado na solu-
bilidade, em alcool e agua, dos sacs acidos
d'esles alcaloides, e na faciiidade de reliraros
mesmos alcaloides d'estas dissolucues , tendo
decomposlo os saes por meio de bicarbonatos
alcalinos.
Lavamos uma porcao de estomago e intes-
linos no dobro do sen peso de alcool absoluto,
junctamos-llie acido tartarico, lanramos tudo
'nura niatraz , e aquecemol-o a 73° centigra-
dos. Depois de frio llltramos, lavamos o residuo
com alcool concentrado, iizemos evaporar o
liquido 'nuiiia temperalura de A'J". 0 residuo
d'esta evaporacao foi tractado pela agua distil-
lada e evaporado.
0 novo residuo foi de outra vez tractado
com alcool, e evaporado, c ainda outra vez
tractado por agua distillada.
A este ultimo liquido jnnclou-se, 'num lubo
de ensaios, o bicarbonato de palassa ate nao
produzir efervescencia; misturou-se-lhe cinco
Tezes 0 sen volume de ether; agitnu-se niuito;
e deixou-se bear em repouso. No dia seguinte,
decantou-se uma pequena porcao do ether ,
e deixou-se evaporar espontaneamenle 'numa
capsula. Appareccu um residuo amarellado,
sciu a forma de strias oleosas , nem chciro
260
aprrciavel com o calor da luiio. Esle residuo
nao restituiu a cur azul ao papel do touraesol,
iiem rcspondcii aos rcagiMites eiiipiepulos no
descohrimunlo da slrycliniiui, da iiiorphiiia e
d'outros alcaloidcs. I'or oiitro lado lomos irac-
taiulo a dissohirao cllicrea, (jue so acliava no
Uil)0 dc eusaio, poi' dissolucocs de potassa,
altci'uadas com diluicOcs de acido sulfuiico,
sogiindo as indicacoi's de Briand ; e. procii-
raiido OS alcaloidcs no ullimo residuo, livemos
0 mesmo resuilado.
Devenios porcra advcrlir (jue nao dauios
per infalivel o rvstillado d'esle processo, por
-ser esla a prinicira vez que o enipregamos, e
por ([uo a cxperiencia que liwnios, a par do
mesmo processo, com a slrichnina em visceras
de hoi, nao conrcspondeu em tudo ao que
tiiiliamos de esperar.
De todo cslc traballio concluimos que nas
malerias analysadas nao iiavia arsenico nem
veucnos mclalicos, |)riiicij)aimcnle os de an-
limonio, chumlio, cobre, emeicuiio: etambera
concluimos, mas so com probabilidade, que
nao tinham venenos organicos dos mais cstu-
dados na classe dos alcaloidcs.
Conlinua. a. a. da costa SIMOES.
COSTUftlES nCADtrrtlCOS NAS UfJIVERSIDADES
ALLEWfiS NOS SECULOS XVI E XVII.
I.
Nao vae longe o tempo, em quo a fama
das cajoadas fazia entiar mais de um concur-
rentc aos estudos de Coimbra, e choverem car-
tas de recommendacao, e os caloiros entrarem
na cidade, de noite, e tao encapotados como
cousa de contrabando. Dizem que muitos se
deixaram inipressionar d'csse terror, e regres-
saram a terra natal, sem ao raenos transporem
OS umbraes da porta ferrea.
Um janiar ou cea paga aos veteranos, em
(jue 0 caloiro servia a mesa ; a defcsa de
umas theses improvisadas, sobre que o pa-
decente era forcado a dizer uma multidao de
parvoices ; a iguominiosa imposicao da avillau-
te e sordida borla de barro ; ah! esiao, pouco
mais ou menos, as penas que Ihe eram im-
postas.
Se 'nestas provas o caloiro dava algum
signal de chiste e sagacidade, recebia o bur-
lesco diploma do r/ruduni cnluuri, mas aiuda
licava sujcito a ouvir muitos insultos, a res-
ponder a quaesquer p-Tgnnlas. que Ihe fizes-
sem OS veterarios, e a ser de.sapiedadamenta
apupado, cm apparecendo nn Cukada ou na
Ponie de Cui:nbra.
Esse tempo de provarao nao se estendia.
alcm do nalal, para os cstudaiiles malricula^
dos no prime iro anno, (jue se chamam notalos.
e que, passada essa epocha , adquiriam o direito
de oaf oar os matriculados no lyceu. Coucluido
0 primciroanno, licava o estud'ante, ipso facto,
cacoador de caloiros, cabides ' , e novatos.
em (|uanto que os de annos mais adiantados
rcservavam para si o mais elevado mister de
proti'ger, isto e, de livrar o corpo do caloiro
de ijuaesquer maus trades, como canueloes c
qnejandas gentilezas .
K lora de duvida que similliantes usos
revelam ci\ilisacao pouco adiantada ; mas
tambem .se pode dizer que essa perseguicao
tenqjoraria muitas vezes aproveitou ao caloiro
ine.\|)eriente e neecssitado de tutela, (juando
se abriam dianle d'elle tantas veredas coudu-
centes a ruina physica e moral. Quantas vezes
ao mancebo novamente chcgado a Coimbra
nao assaltou o desejo de I'azer e\[iloracoes
perniciosas, e pouco e pouco ir convertcndo em
desordenada licenca a liberdade, que ad(|uiriu
ao saliir da casa patcrna? Quantos d'esses que
trajam o vestuario academico, mas que licam
perpetuamente em preparatorios, ou no mesmo
anno de uma faculdadc, nao foram, com fal-
laz amizade , insinuar-lho os mysteries da
espelunca, do lupanar e de todo o genero de
perversao ?
Porem o mancehn, conscio da sorte que o
csperava, se os veteranos o encontrassem, so
e transviado, prendia-se em casa com os seus
livros, entregava-se ao pensaraento dos seu.s
deveres e do seu fuluro, e, por gosto, ou por
nao acliar outra cousa que I'azer, ia esiudan-
do. Passado o tempo do noviciado, sentia-se
possuido do amor a vida e prazeres intellec-
tuaes. Era entiio menos facil perverler-se.
II.
Esses costumes academicos, di' que ainda
lioje apparecem em Coimbra vestigios quasi
apagados, derivam, mais ou menos, dos que
existiam cm quasi todas as Ihiiversidadcs,
nos seculos XVI e XVI!, nao obstante a op-
posicao, que llies faziam as authoridades e as
leis. As cacoadas nas Universidades a'llemas
d'esse periodo, das quaes vamos dar breve
noticia, consistiam em excessivas vexacoes,
excrcidas sobre os estudantes que vinham
cursar as aulas snperiores ; mas nao Hies des-
cobrimos princi|)io que as authorise, a niio
ser a barbaridade do tempo.
Comecavam pela famosa deposicdo. Em
1071 , publicou-se em Slrasbnrgo um livro
intitulado — Itilus deposilionis , ornado de
varias gravuras, e contendo os promenores
d'esla travessura escholastica. 0 caloiro de-
nominado heanus , de liec-jaune , bico ama-
< Intlividtius que trajam batina, mas que nao eslua
matriculailus.
■* A ([uem desejar conliecer, por mimlo, o que eram as
ca(;oada9 em Coimbra , recomraendamos-lhe o Palilo
Mi^tricor
261
rollo, (termo Irazido de Pariz, e que signi-
licava 0 niesmo que raposa), era considerado
conio peeiis campi, alimaria que devia depur
OS cornos. Dalii vcm a deposirdo adoptada
cm lodas as Univcrsidades d'aquelle tempo,
e d'alii paiece dcrivar o nome (|ue ainda lioje
tfim OS estudantes do lyceu de Coimhra.
Os caluii'os, que no aclo da deposirao erani
chiimados bacclianlos, dirigiam-se em rehanho
ao depositor , que os recebia com este cum-
primento : — « Yenham , bacchantes, quero
depor-vos os cornos, do modo niais sim[iles. »
E logo llies ia cortando o cabello com uma
cnorme tesoura , dizendo : — « Faco-te a
honra de te desbastar o pello que trazes mui
compri'Jo. » Seguia-se arrancar um denlc a
cada um, o dente da malediccncia, para que
I'ugissem da ealumnia, como do proprio de-
monio ; linuu-llie as unhas Com uma grosa
monstiuosa, para que fossem limpos de maos;
lapar-llie os ouvidos com iiistrunientos pro-
prios para isso {Kolben), alim de que os cer-
rassem a discursos fatuos ; e destapar-lh'os,
para que podessem ouvir as licoes de scus
meslres, e instruir-se.
Tcrminadas eftas ridiculas e brutas cere-
nionias, dava o depositor beijaraao aos bac-
chantes, e aspcrgindo-os com vi.ilio, dizia-
Ihes: — « Descjc-vos a todos boa entrada em
vosso novo estado. » Era entao o caioiro as-
saitado de perguiitas buriescas, precedidas e
seguidas do bofetoes a valer. I'or exemplo, o
depositor, dando um bofctao no caioiro: —
Tens mae? — Sim, senhor. — Outro bofetao. —
Nao, senhor. — Animal ! Qucm te pariu? Pcr-
guntava depois um veterano — Quantas pulgas
tern um alqueire? — A. mim nao me ensinaram
isso. — Outro, bofetao. — Nao sabes, lolo, que
um alqueire nao tern pulgas? Assim apoquen-
tavam o tiiste do caioiro, que ia d'alii matri-
cular-se na faculdade das artes, em casa do
decaiio, e prostar um solenine juramento, em
prcsenca do reitor.
E natural pensar que o caioiro tosquiado,
desdentado, esbofeleado terminava o sen fa-
dario, passando a classe de novalo, Fcder-
burschen ou escrevenle, como llie chaniam os
allemaes ; mas nao e assim. 0 peor tern elle
de snilror ainda, no anno de sorvifo, dono-
jniuado Pennaljahr, anno de escrevente.
Verilicada a matricula , ol)rigavam-no a
festejar a sua admissao na faculdade, com
um brodio offerecido a todos os estudantes, e
'ncste mesmo feslim era o mesquinho entregue
a qualquer vctorano, que o quizes«e tomar
por famulo. Ahi licava pois o novate reduzido
a condicao de criado, e com a obrigacao de
tractar o vcierano de senhor, de o servir
a mesa, de Ihe escovar o fato, de limpar o
calcado, e o mais e, que veiu a generalisar-se
0 uso de exigirem dos novates, assim aban-
donados, roupa branca, livros, dinheiro, e
ate pesados e humilhantes services, nas orgias
e divertimentos, que os veteranos tinhara na
cidade e no campo.
Eram tao notaveis essas vexafoes, que os
professores, com o fim de as atenuar, muitas
vezes assistiam as orgias academicas; e tor-
nou-se objecto de diseussao entre a policia de
Jena, quanio conviria aos novates que os len-
tes admittissem , em suas proprias casas , as
reuniocs dos estudantes.
Acabado o anno de service , que uma
requintada maldade lizera constar de um anno,
seis mezes, seis seraanas, seis dias, seis boras
e seis minutes , havia de e novato visitar
todos OS estudantes, e a cada um, por sua
vez, pedir absolvicao. Mas era mister mimo-
seal-os com um novo brodio, em que se in-
vestigava se o novato cumprira todas as suas
obrigacoes : so entao Ihe era dada solemne-
mente a absolvicao, em nome da SS. Trin-
dade, e conferido o direito de trazer espada
(jus gladii), ate alii absolutamente uegado.
Soara era lim a hora, tao susjiirada, da.
emancipacao do novato. Esta ultima cacoada
elevara-o a classe de velerano: niuguem pode
ja violentar a sua vontade, antes, pelo con-
trario, e elle que, lembrado do que Ihe lizeram
sofi'rer , comeca desde logo a exercer , sobre
OS que vem de novo, injustas represalias.
III.
Diziamos que as authorid?des e as leis
lizeram nao pequenos esforcos para desterrar
estcs barbaros costumes; ce vcrdade. Frederico
Guilherme de Brandenburgo ordenou expre'--
sami.'nte ao reitor e ao senado da Univcrsida-
de de Koenigsberg, que usassem da maior
severidade contra similiiantes abuses. A Uni-
versidade de Heidelberg, annos depois, pro-
mulgeu varies decretos sebre e mesmo objecto.
Em 1GS4, 0 principe de Palalinado, Carlos
Ludevico prehibiu, por lei, aos estudantes
0 contcndercm com os novates , secreta ou
publicamente, nas ruas, nos botequins, ou
nas aulas; mas so em 1072 fei declarada-
menle banida a deposicao, licando salva aes
novates a liberdade de prcferirem, se quizes-
sem, e serem tractados more antiijuo, cousa
sebre maneira curiosa.
Todas essas providencias , pereni , pouco
ou nenhum resultade tiveram. No lim do
seculo XVIl. as Universidades de Jena, Wit-
tenberg e Leipzig, em virtude de uma con-
cerdata que lizeram, decretarara que os estu-
dantes riscades, em qualquer academia, por
causa de cacoadas, niio pederiara ser admit-
tidos em nenhuma d'aquellas. Este exemplo
fei seguido, pouco depois, j)elas Universidades
de llelmstaedt, Gicssen, Altorf, Rostock, e
Frankfort do Oder. Entao e que as Universi-
dades da Allemanha deixaram de solTrer a
eppressao d'esse hediondo pesadelo, debaixo
262
dc cuja inQueucia sc debateiara ])or lantos
auiios.
0 rcmedio foi cHicaz, e o scu cIVeilo fcste-
jaraui-iKi todos os prot'essores e aullioridadcs
aeademiras. Itasta dizer quo o ndlor dc N\ it-
tenboig proiuimioii em pultlico urn cloqucnti'
discurso. em (iiu' dava graras a Providi'ucia
por teroni acahado as cacoadas.
Sc em aitij^o mais curioso do que cnulilo
livesse cahimeiito a aprociaeao geral das leis
univeisitarias da Allemanlia . haviamos de
mostrar que as dos seiulus XVI o XVll poiieo
dilVeiem das piomiilgadas anteriormente, nos
seculos XIV e XV. Lmas o oulias prolii-
biam orgias luis tabernas, pasquins, lumultos,
indecencias de varies geiieros, jogos de dados,
furtos elc. elc. Por consegiiinte os eoslumes
dos estudantes permaueeeram quasi os mesiiios
jior espaco de quatro seculos, seni que mcdi-
das logislalivas akanrassem rerorniai-os. Islo
I)rovinha, em parte, de que essas leis luuica
erain executadas com rigor, aleiu de que as
penas por ellas impostas, as mais das vezes,
commutavara-se era insignilicaiUcs muiUis pe-
cuniarias.
As I'aiversidades de Leipzig, Straslnirgo,
Rostock, Genelira, Basel, e Heidelberg eraiu
as que, na manutencao dc uma diseiplina
raais severa , levavam a palma as outras,
acerca das quaes, de ha muito, se dizia que
0 estudants vindo rfe Tubiiirien sem mullier ;
de Jena, sem que os ossos llie partissem ; de
Uelmstaedt, sem que o corpo Ihe ferissem ; de
Marburgo, mnntendo a stincla creueu; de ne-
nhuma traz sciencia.
iNiio se deve, porera, concluir do que lica
dicto, que OS estudantes d'este tempo sahiam
dos estudos totalmente pervertidos. A per-
versidade dos maus teve seus annaes nos
processes crimes ; mas era parte alguma
estao registradas as virtudes e regular pro-
ccder dos bons academicos. E se attendcr-
mos ao graiide numero que entao I'requentava
as Uiiiversidades ' , suppondo que ealre dez
bons apenasse eucontraiiam Irez desalmados,
nao faremos conjeotura niui di>taiite da ver-
dade.
Por outro lado esses costumes dos estudan-
tes erara urn corollario fatal da barbaridade
do tempo. A vida do estudante divide-so
enlre o prazer e o estudo. Que dislraccao of-
ferecia aquella sociedade uimiamente gros-
seira e material? A rausica , apenas, e os
autos dramaticos. Ora o estudante que ne-
cessitava de recrcar o seu espirito cancado
de longas lucubracOes, em taes circumstancias,
era, digamol-o assim, convidado a esquadri-
nhar gozos brulaes no tremedal da sensuali-
dade.
' A rniversiilade ile Pmsa, rimOBtla em 1348, Jielu
uiiperador Oarloa IV, n mais anliga ilas vinle e taotas
i|wc hoje exislem na AUemanha, era, em 1409, fre^iiien-
lada por A iiile mil eslmlanle«.
E com tudo no meio d'essa rudcz c barba-
ridade revelava-se, cm geral, nos cliaractcres,
a natureza ingcnua e rcpassada de poesia.
Nao I'oram |)oucos os vellins douloros, e os
iiiucos dotados de exoellente coracao , que
com|)arando o que havia de bom nos antigos
costumes, com o relinado cyiiismo (|ue os
vein substiluir, no lini do seculo XVII,' e
princi|):ilmente no seculo XVIU, suspirarani
com saudade pclos tempos, que passarara, e
ja nao podiam voltar. Assim sac as cousas,
assim sao os honiens. J.
VESTIGIOS DA VIDA ANIIVIAL E VEGETAL
NAS GELEIRflS '.
A nere vcrmelha 6 uma das mais singulares
provasda existencia de seres organicos uo meio
dasestereis, edesoladas regioes cobertas pelas
geleiras [ylaciers). Ha duas ospecies de neve
rennelha ; uma, segundo a 'analyse d'Ehren-
bcrg , compoe-se de matcrias inorganicas ,
taes como a massa de p6 vermelho, q'le durante
a noite de 17 de feverciro de I80O cabira no
monte S. Gothard, e sobre as cercanias pro-
ximas, que era composta de espeeies divcrsas
de terra misturadascom materias ferruginosas,
e cinzas volcanicas: e provavel que 0 Vcsuvio,
que estava entao era actividade, lancasse esta
massa dez mil -pes acima do nivel do mar,
e que 'nesta altura fosse arrastada pela grande
corrente almospherica ate aos Alpes. Pela
quantidade que alii cabira, pode calcular-se,
quco ar transportara muilos milboes de quin-
taes d'aquelle p6. Outra cspecie de i>eve ver-
melha consisle em materias organicas, vegctaes
e aniniacs. Primeiramente so sc linham desco-
berto nella plantas microscopicase po vegetal;
mas as ulliuias, e mais recenles observacoes de
Shultlevvorth e de Lament, prior do grande S.
Bernardo, provaram, que a massa d'aquella
pretendida neve era composta de infusorios
microscopicos. Karl Vogt, c Rougemonl con-
lirmarim aquellas observacoes por uma scrie
d'expericncias sobre a gcleira de Unteraar.
Segundo Vogt, esta massa, que da as geleiras
a cor rosada ou vermelbo-alaranjada, e que
se transforma em cor de sangue, quando ca-
minbamos sobre ella, e, pela niaior parte,
composta de iul'usorios do gi'Doro—disceraea.
A disceraea nieiilis no seu estado perfeito
tem a forma de um ovo, coberta por um en-
volucro transpa rente de materia siliciosa, e na
parte agucada do corpo lem dous labios ala-
ranjados, e lixados 'nelles trombas por meio
' Dfis ThicrU'btn der Alptnwdl. F. Tsecliuili. 1 vol.
8.** Leipzig.
263
das quaes este pequeno animal se move. Quaii-
do elle esUi em repouso, estao ellas oncolhidas
e invisiveis. Os imlividuos, que tern (orailo o
seu completo (lesinvolviiiu'iilo, sao quasi opa-
cos, de cor vernieliio-escuro : niultiplicam-se
por divisao, gommos, e ovos. Segiiindo o pri-
nieiro d'eslcs mcios, o aiiimalculo, couio lodos
OS outi'os iiifusorios inreriores, diviJe-se em
2, i, iS partes, que se fornuuu no iavolucro
foniinuiu. e que, ronipendo-o, se lornam in-
dividuos p.'rl'eitos da sua especie. Na segun-
da luaneira de mulliplicaeao, apparecem sohre
dilTereiiles partes do cor|jo pcquciias boliias
transparentes, que vao crescendo alesedesta-
carem d'eilc. 0 gnnnuo deslncado e ao principio
rcdondo ou oval , trausparente e sem movi-
mento ; pouco a pouco fornia-sc 'nelle urn no,
e comeca a apresentar a cor amarclla, que
passa depois para vermelha : chegado a este
estado, o novo animalculo nao dilVere do in-
fusorio d'onde se deslacara. A geracao por
ovos ainda nao esta bem vcrilicada ; Vogl,
poreni, jnlga que os Protococcus do Slmltle-
worlh sao verdadciros ovos de disceraca ni-
valis. Ontros infusorios em menor quanti-
dade, e vegetaes microscopicos I'azem parte
da neve vermelha, que se produz ordinaria-
mente sobre o nevado, que na Suissa ehaniam
/tin, e que cobre algumas vczes as niontanhas
por espaco de niuitas leguas.
Nas geleiras de Unteraar, e do monte Bran-
co da-se oulro pbcnomeuo ainda mais rayste-
rioso.
Na primavera rebcnla sobre as antigas
geleiras, e abaixo da caraada de neve, que
alii tern cahido durante o anno, uraa especie
do cogumelo amarello, brilbante, interior-
mente oco, e que, quando as neves se uer-
retem, apparece mui vicoso. Pouco tempo de-
pois dissolve-se esponlnneamcnte , transfor-
niando-se em materia terrosa amarella, que
rouba o oxygeno do gelo e o I'az lundir, de
modo que no logar do cogumelo se forma um
buraco de trez a vintc linlias de profundidade.
Suppoe-se que este pbenomeno e organico ;
0 seu character porem nao e ainda bem ave-
riguado.
A.piilf/a das (jeleiras (Gletscherfloh, desoria
(jlactaUs) que Desor descobriu sobre o monte
Rosa, e que mais tarde Nicolet observara
minuciosamcnte, e uma prova muito mais
dccisiva da existencia de seres organicos nas
geleiras. Aquelle pequeno insecto pertcnce a
familia das poducellac : o seu tamanho nao
excede dous millimetros, mas tem um grandc
apparelbo para a mastigacao, e e por conse-
queneia muito voraz, e por isso mais admira-
Tcl e como elle pode viver no meio das gelei-
ras, sem se saber de que se sustenta. A pulga
das geleiras supporta o frio tao bem, (|ue pode
scr uma e muitas vezes gelada, e desgelada
sem perigo; pelo contrario um calor de 38.°
centigrados mata este insecto.
NOTICIAS LinERARIAS.
O^ ('amintaOK <lo focro nil Rn>>>'in. Os
caminlios dc ferru, cxplorados na Russia, ciinipre-
heiiilcm aclualmi'iUe uma cxtcnsrio de 1,030 kilo-
molros ; estao em conslrucrTio 1,1)00 Idlomdros ;
c em pnijectu 3,670 a maiiir parte d'estes ultimus
lem sido esliidados somenle anno linhas cstra-
tcgicas.
A cxploracao dos i ,030 kilom. ja promptos
f(ji feila ao principio por companhias , e aclia-sc
hiije a cargo do Estado; e o estiido c exccucao dos
Ira bathos est;i confiado a comraissao especial dos
caminlios de ferro, nomcada pelo governo.
Apczar da Russia ser um pai?, pela maior
parte piano, ofTcrcce com ludo grandes ondula-
cocs, prol'undos vales e um grande numcro dc
pequeiios lagos, o que jiincto a inclinaeao dc
meio por cento, ou 0,'"005 adoptada para os
declivcs, e os grandes raios das curvas, tem dif-
Ocullado muito os estudos, e cxccucao d'cstas
'linhas.
As obras ja cxecutadas nao tern grandc impor-
lancia. As pontes siio quasi todas de ladrilho,
algumas de madeira, e muito poucas de fcrro fun-
dido. As grandes ponies, que dao passagem sobre
OS rios, tem pegoes de pedra, e sao fcitos de
madeira, segiindo o systema americano de celosia.
Estas obras foram feilas com muita impcrleicao,
c acham-sc por isso lioje em man estado.
So a linha de .S. I'etersbourgo a Zarslioe-Scio,
na cxtencao de 30 l>ilom., c que ha dois carris.
0 material movol e do systema imericano, a
cxceprSo da linha de Varsovia a Cracovia, que
lem machinas belgas e allcmas, porem os coches
e tvagons sao articulados.
[Nouvelles Annal. de la construftiini.)
CoTEEPcSia rrr«!»<»«:-o. Em 1409, os ccde-
siaslicos pobres representaram, cm Londrts, uma
comedia denominada — A Crea;uo do Miindn.
Durou oito dias complelos o espcctaculo. Princi-
piava por um prologo que, scgundo o gosto do
tempo, era destinado a dar idea da peca. Conti-
nha quarenta actos, e o dialogo compnnha-se dc
discursos, que levavam, pelo menos, um quarto
d'hora a rccitar.
ERRATAS DO N." 111.
7*0*7. C,.l. Link. Erros. Emend as.
2:20 J.^not.2 4 Catingaza latim gaza
2'il id. 20 Rhinoctrontf' R/htn /serous
Jd. id. 51 Rhinocerontes Rhonoserr.us
224 2 II Spelmen Speiman
Id. id. 15 Cowerhill Tuwerhill
Id. id. 41 Shoredilch Shoredilch
Id. id. 52 Derwsbiirt? Dpwsbiiry
Id. id.
55 M Black Fom » n Black Tom »
264
OBSERV.\COES METEOKOLOGIC.\S . FEITAS .NO GABI.VETE DE PHYSICA |
DA UMVERSIDADE DE COIMIIUA.
Anno lie
lil.-.S
Pit'ssao aliuo!'[therica »o nieio dia
Ksl.ul.) hy;;romi-lrJci. da
atniuKphera no nieiu di.i
OS
"c
■6 -
.2
z "S
i S
h5 a
ICstfi/'o do cnt r {^o
Uinjio uo meio diii.
M.7. ,1c
Noveiii-
liro
Alluiii biio-
metrica a o"*
da cicali cca-
tigrada.
TtDlio do
vapor nquo.o
coDlido uo ar
Press.'io »lu
ar seCLu
Gran d'humi-
dade do ar,
rcprescnlaiido
por 1 o eila.
do dc aatura-
C.\o.
Quantid. de
vapor coQlido
em nm metro
cubico d'ar
DiHS
Uia..,
Miilinu'lros
Mlllinu'tru.-
MilUm.lr.i."
GrailHll.ls
1
12
752,853
9,997
742,256
0,966
10,172
NO.
NiiUluilu. T. rhuvusu.
2
12
752,912
9,307
743,1,06
0,890
9,470
O.
Nuliludu. Boiii leiiipvi.
3
11
755,062
8,644
746,418
0,11112
8,8i7
S.
O nusmo O mfsmo.
4
10
766,301
8,4ti6
747,835
0,924
11,075
s.
CI. e limp. Omesniu
5
10
7j6,<J6ii
7,790
749,170
0,860
7,982
s.
O mesmu. O iiiesmo.
6
10
10
757,722
7,973
749,749
0,870
«,i;o
s.
O niesino. O iiiesmo
7
7411,201
8,182
741,019
0-8U2
8.384
s.
Nubhido. O jufsmu
8
10
74il,084
8,466
739,618
0,924
K.675
s.
O luesmu. O nifsiiio.
9
11
749,231
8,157
741,074
0,833
8,329
E.
Eiiunberl. T. ctiuvusii.
10
11
748,723
9,146
739,577
0,934
9,.!39
E
U ui'-s.iiu. O moiimi*.
11
12
760,376
9,307
74l,l;6;l
0,1190
9,470
E.
Cl.ir.elimp. li letup.
12
14
751.096
9,645
741,4.")0
0,810
9,745
O
O mesiii". O rfiesiuo.
13
IS
747 841
9,767
7:!8,07i
0,934
9,938
o.
O inciiino. O lU'-snio.
U
14
7411,408
9.645
738, 7. ;3
0,1110
9,745
s.
O I)lt^Dll>. O luesiiio.
15
14
746,01.3
9,181
735,882
0,771
9 2'6
s.
Nublado, O nifsniu.
16
14
743,49i
9, -107
734,0115
0,790
9,505
s
O nifsmo. O nie>mu.
17
15
748,743
10,2:16
7311,457
0,810
10,356
o
CI. e limp. O intsnio.
18
13
749,747
9,711
740,036
0,810
9,846
o.
Nui litlu. O mesmu
19
13
749,747
10,180
739,567
0,912
10,3*1
%
CI. e litiip. O luesiiio
SO
12
753,164
9,307
743,1167
0,890
9,479
NO.
Niiblailti. O mesmo.
21
13
749,341
10,793
7.:8,54li
0,967
111,942
O.
Encuherl. T. cluivusu.
■ii
12
7^7,841
10,164
737,677
0,972
10,342
s.
O luesm-i. O uit'siiiu.
23
12
74rt,5!3
111,2/7
736,346
0,978
10.405
s.
O me.siiio O mesm.i.
24
12
746,573
9,937
7:'6,576
0,956
10 172
E.
Niibladu. Bum l«-mpo.
1 ^^
11
742,891
8,liT
734,764
0,8,0
8,298
N.
O iu<*siiio. O nic-sDio.
26
10
747,272
7,240
740,032
0,790
7,419
s.
CI. e liinj>. O uitsuio.
27
8
746,2'J8
6,333
739,9ii5
0,7M0
6, .■.36
S.
NitMailo. O ntt-siiio.
28
9
749,879
7,631
742,248
0,890
7,848
s.
U uiL-Biuo. O luesiuo.
2'.)
9
746,937
6,915
739,992
0,810
7,142
s.
Eiiciibr-rt- T. .Iinvosu.
30
9
748,510
7,';;88
741,222
0,850
7,394
s.
Niiblado. Kt>n]_,U-inpu.
n»pili;i ^
do mi-z $
h lUlU
11»,5 g 74a, 641
0,876
1
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Ttnijieroltira
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firait d'lnimiiluile do ar
1
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•3
Maxim ul'So). 15°
^Ii^liIll.l atsul. 7"
.Max. alis
Min. ahiuli
A. 757,722
I. 712,891
Maximo .... 0,978
.Minirao .... 0,771
S. e O.
1 :2
Mux \ariat;-ti, j;"
Mix. pxcu
s, 14,831
Maxima variai;. 0,207
)
1 Cuiu
lira, I ." d»_- liizembtu
lie 1865.
1
Math
at de Cnri-oVio lie fasconcetlos , Le
nle Sub
sliliilu de Pliysica.
® Jn0tittitir^
JORINAL SCIEIVTIFICO E LITTERARIO.
RELATORIO
Do comniiMfiario <Ion cstisdoa do distrl-
c(o adminiMlB'nlivo flo LiMboa* cm
II de Janeiro dc 1$5C
Senhor : — Ordenou-me V. M. , pelo con-
selho superior d'instrucrao piiblica, corao nie
loi communicado cm ollicio do secrctario geral
do mesmo eonselho do 12 de junho do anno
proximo passado, ([uc, chamando ii minlia
prcsenca Antonio Pereira Ferrea Aragiio, con-
forme ao que elle supplicara a V. M., peran-
te OS prolessores niais competentes, que eu
para esse fim convocaria, recehesse as provas
dadas pelo requerenle ; e depois, ouvido o
jury , inforniasse com o meu parecer acerca
do merecimento e convenieucia de ser adop-
tado nas escholas piiblicas o processo c for-
mulas mnemonicas, empregadas pelo mencio-
nado Antonio Pereira Ferrea Aragao no en-
sino dos principios elementares das linguas
latina, grega e ingleza, e da botanica e geo-
graphia , segundo as quaes promettera levar
a evidencia, em menos de quinzc minutos, a
verdade dos grandes resullados por elle obii-
dos, verdade que fdra ja pronunciada e at-
testada por pessoas de reconliecido saber 'uuma
sessao , que diz tivera logar na Casa Pia de
Belem.
Tenho a honra de elevar a real presenca
dc V. M. a informacao, que me foi ordenada;
c cumprirei o mini dever com a leaklade que
devo ii eommissao que me i'oi imposta, e com
a minha habitual franqueza ; j)orem permit-
ta-me V. M. que antes de entrar cm materia,
diga a V. M., que o acto publico, a que se
refcre o citado officio, so pdde tcr logar no
dia 6 de dezcmbro preterito , porque os tra-
balhos escholares do tim do anno lectivo, os
examcs de julbo, as lerias, as matriculas, os
exames de outubro, e outras occupacoes gra-
ves , e improteriveis minbas , e dos professo-
res, quo baviam de compor o jury, nao con-
sentiram de ncnbum modo que mais cedo
podesse este reunir-sc.
E todavia , Senhor, para se reunir ainda
'naquelle dia, foi nocessario que dcixasseni de
funccionar sete dillerentes aulas, o quo muito
lamentei ; porque bcra sabia cu que bavia de
Vol. IV. Mauco 1.°-
scr incomparavelmcnte maior o prejuizo, (jue
linba de resultar aos alumnos da falta de
uma licao das disciplinas respcctivas, do que
0 proveito, que, para a ropublica litteraria,
bavia dc provir do acto a que ia proceder-se.
Entrclantojulgucicumprir-meassimpracticar;
porquanto, d'outra sorle, so nos fins do cor-
rente Janeiro , ou antes nos principios dc fo-
vereiro futuro podoria ter logar o referido
acto, sem tao grave inconvonicnte.
Senbor : em observancia das ordens de V.
M. , nomeei , para comporom comigo o jury,
oito professores do Lyceu, distinctos nao so
cada urn na sua especialidade , mas tambem
d'excellente nome, ganho a custa de trabalbo
louvavcl, em estudos e applicacao varia ; e
foramestes: o professor da 2/ cadeira da
seccao oriental, secretario d'cste Lyceu, Jose
Maiia da Silveira Almendro ; o professor da
0/ cadeira da seccao central, Antonio Ferreira
de Simas; o professor da 1/ cadeira da mesma
seccao, Joao Luiz de Sousa Falcao; o profes-
sor'da lingua grega addido ao Lyceu nacio-
nal, com o exercicio na seccao oriental, An-
tonio Carlos da Silva Vieira ; o professor das
linguas franceza c ingleza, com exercicio na
seccao central, Carlos Luiz do Montaigut Pe-
reira de Sousa; o professor da ti/ cadeira da
referida seccao , o bacharel Henrique Carlos
Midosi ; o professor da 3." cadeira da mesma
seccao, o bacharel Joao Evangclista d'Abreu;
e o'da 4/ cadeira tambem d'esta seccao, o
bacharel Antonio Maria de Lcmos.
Constituido 0 jury, com toda a publicidade,
na sala das sessoes'do eonselho cathedratico,
concedi a palavra ao examinando, tendo con-
vidado OS membros do jury a fazerem todas
as perguutas, e observacoes que julgassem
convenientes ; do que dei o exemplo , a fun
de que tanto os cxpectadores , que eram nu-
merosos , como os membros do jury , e eu ,
podesscmos todos formar cabal conceito das
vantagens do processo, c formulas mnemoni-
cas, segundo o methodo e applicacao por aquel-
le annunciada. Teve elle todo o tempo, c liber-
dadc para fallar, e explicar-se; porque, tendo
comecado a sessao antes das 10 i boras da
manha, se prolongou ate depois das 4 da tarde;
e, em quanto a liberdade concedida ao exami-
nando, nao so usou d'ella com largueza, porem
abusou lalvez. N5o me csqucci do meu dever;
■ ISoti. NoM. 23.
266
mas julguei que dcvia sor antes indulgente,
do ((ue rigorosQ: atU'iidi a dolorosa situacao,
a que, mal aconselliado, o examiuaiulo se via
reduzido.
Agora dirci, por ordem, o rosultado das
investigacocs feitas cm observancia do oflicio,
que me transmilliu as determiuaeOes do V.
M. ; c, sem antieijiar, iiotarei eomtudo d'esde
ja, que vi eonipletameiite eoutirmado o de
i|ue nw conveui'cia dcsde muilo tempo a
ohservaeao, e a expeiiencia ; isto e, que as
formulas mnemonicas, podendo ser de alguma
utilidade para o homem leito em bons e hirgos
cstudos, que se aproveita d'ellas, como au-
xiliares da memoria, engenhando-as para seu
uso particular, sao inuteis para as criauras,
e impossiveis para os fins, a que o exami-
nando promettcra applieal-as com vantagem.
No emprego das formulas mnemonicas, em
relacao ao estudo da lingua latina, tornou-se
evidente que, as formulas indicadas pelo exa-
rainando sao insuflicicntes para o discipulo
aprender as declinacOes dos uomes substanti-
vos com as suas respectivas excepcoes ; e
inais ainda , se c possivel , a declinacao dos
pronomes, e dos adjectives de qualquer especie
com as suas numerosas variantes.
Na conjwjarao dos verbos, egual incerteza ;
ou antes a certcza de nao se poderem sujei-
tar a nenhumas formulas os verbos irregula-
res, tantos, e tSo importantes.
Sabc-se quao muito necessario e, para a
proficiencia dos alumnos da lingua latina, o
cxacto conhecimento dos preterilos e dos su-
pinos dos differentes verbos , e dos varies
(jcneros dos diversos nomes com as suas mul-
tiplicadas excepcoes ; mas , para o adquirir ,
nao appresentou o exaniinando nenhuma for-
mula : nem as podia apprcsentar, como confes-
sou, porque sao impossiveis.
E que direi da prosodia? AfHicto o exa-
niinando por ver esvaeccr-se , como o fumo ,
0 Olympo glorioso, que Icvcmcnte iniaginara,
deu azo a inferir-sc que nao a considerava
parte elementar da grammatioa, pois que fez
consislir toda a sciencia da pronunciacao no
exclufivo conhecimento da quantidade das
ultimas syllabas ! Seria ignorancia ? Talvez ;
porquanto e certo que as ultimas syllabas
pouco, ou nada influem na pronunciacao ; e
comtudo 0 exaniinando , que repetiu uma e
niuitas vezes, que applicava a mnemonica as
partes diiliceis das linguas e das sciencias, a
nao applicou a esta parte elementar da lin-
gua latina, confessando que, para as syllabas
madias essenciaes na prosodia, nao tinlia for-
mulas.
Em fim no tocante a synlaxe de concor-
dancia e de regeneia declarou o exaniinando,
que nao era possivel sujeitar-lhe as regras as
formulas. A.ssim havia de ser necessariaraen-
te ; porquanto a causa da existencia das
formulas, e o mcthodo, por que sao ordenadas
e coinpo.sias, tudo puramente material, poem
na maior clareza , que por meio do processo
muemoiiico nao se pode coniprcjiender de
ncniiuma mancira a razao da dilVcrenca das
variacoes dos verbos, assim como nao pode
alcancar-se a applicacao das modilicacocs dos
nomes. E d'aqui resulla que , ainda quando
mediante um sem conlo de formulas, com que
se opprimiria vamente a cabeca de uma cri-
anca , podesse conseguir-se que ella tomasse
de cor, com alguma facilidade, grande numcro
de torminacocs, quer de nomes, ipier de ver-
bos, etc. etc. etc., nao teria adiautado nem
sequer uni so passo no conheciiueulo da nia-
neira substancial , das furmas essenciaes , e
accideutaes, da indole genuina da lingua la-
tina, ou de qualquer outra lingua, que se
propozesse aprender. Poderia sem duvida re-
petir sons mecanicamcnte ; mas, senao dcpois
d'oulro mais longo, mas arduo, e inteiramen-
te especial estudo , nao poderia comprehen-
der-lhes o valor, nem dar-lhes applicacao.
Demorei-me (deixando de parte comtudo
outras observacoes de nao Icve memento)
algum tanto com as investigacocs acerca do
emprego das formulas mnemonicas do exanii-
nando ao estudo da lingua latina , a fim de
evitar ulteriores repetieoes, a que, d'outra
sorte, me veria forcado na apreciacao das
provas dadas pelo exaniinando com respeito
iis linguas grega e franceza. Tudo o que fica
observado tem inteira ajiplicacao ao estudo
das linguas niencionadas, e de outras quacs-
quer. Entrelanto nao devo omittir alguma
observacao, posto que breve, relativameute
a cada uma d'estas duas linguas.
As provas , dadas pelo exaniinando com
respeito a lingua grega, serviram sdmente
para demonstrar que elle ignora completa-
raente esta lingua ; e , com quanto o niesmo
examinando nao pozesse nenhuma hesitacao
em asscverar que, por via do sen methodo
mnemonico, se pode ensinar o que se ignora,
0 facto devia convencel-o a elle proprio de
([uao pouco ajustado andara com a razao. 0
exaniinando appresentou, para se decorar o
artigo , uma formula pelo menos tao difScil ,
como 0 mesmo artigo ; e comtudo compre-
hendia so o singular , deixando dependentes
d'outras formulas o Dual e o Plural : e pro-
clamou, como grande aperfeicoamento, que
pelas suas formulas , se podia aprender o
artigo em 24 horas ; sendo sabido que qual-
quer alumno da aula de grego o aprende,
sem taes formulas, em menos de dez niinutos.
Persuadido de que o examinando se equivo-
cara , dirigi-lhe immedialamente esta mesnia
observacao ; porem elle ratificou a assercao ,
c balbuciou algumas phrases , que tornaram
patcnte (jue, nao por equivoco, mas por igno-
rancia da lingua assim sc explicara.
Conliniia.
267
CHIMICA LEGAL.
Continuadu de pag. '^60.
Analyse das risceras do estudantc I.azarn Taraics
Alfonso e Cunha : d'uma porfuo de terra do
sitio em que se achou o cadaver; c d'umas liras
da batina do mesino esludante.
II.
Passando depois a piocurar o sangue na
terra e nas tiras da batina, I'omos avaliando
successivamentc os earacteres physicos, mi-
croscopicos e chimicos, que o sangue nos podc-
ria offerecer 'nestes objectos.
Characteres physicos. — A terra appresenla-
va a cor e consistencia de terra vegetal sccca,
em tudo sirailhante a da localidade, em que
se achou o cadaver, sem deixar ver a cor do
sangue nem d'outras materias animacs. So o
cheiro d'estas materias em putrefacao e que
indicava a sua presenfa 'nesta porcao de
terra.
Nas tiras seccas da batina, viam-se manchas
cobertas de terra, como se foram manchas
gordurentas, sem mostrarem outra cor que
nao podesse attribuir-se a terra ou poeira,
(jue Ihes estava adherente ; mas o cheiro, de
materias animaes em putrefaccao, que achamos
na terra, tambeni se notava 'n-estas manchas
da batina.
Characteres microscopicos. — Lancamos a
terra em tubos de ensaio com uraa dissolu-
cao de suifato de soda ; e , passadas 24
horas , observamos ao microscopio algumas
gotas d'este liquido , apparecendo constan-
temente a forma irregular e arrendada, que
as materias fibrinosas c albuminosas costu-
mam dar no campo do microscopio, vendo-
se algumas vezes uns corpos de forma arre-
dondada, mas sempre irregulares e franja-
dos, que, apezar de tercm alguma similhanca
com OS giobulos rubros do sangue ja allerados,
nos deixaram mais inclinados a que fossem
da natureza da outra materia organica.
Nas manchas da batina, seguimos o mesmo
processo , suspendendo dill'erentes tiras do
pane, em quatro vidros de ensaio com a
mesma dissolucao de suifato de soda; e. era-
pregando cada urn d'estes vidros nas obser-
vacoes de cada dia, repetimos estas observa-
coes no primeiro dia depois da immersao, no
2.°, no 3.° e no 6.° dia. Sempre tiramos o
mesmo resultado, que ja notamos nas obser-
vacoes , feitas sobre a terra. Apenas por
uma so vez, e empregando a lente Slanhop,
vimos um corpo arredondado, com a forma e
grandeza dos globules rubros do sangue ;
mas que nos pareceu mais provavel que fosse
antes alguma bolha de ar na dissolucao albu-
minosa.
Nao aproveitamos para estas observacoes
0 liquido salino do frasco, em que os primeiros
perilos tinham mcrgulhado as tiras da batina,
por que o muito tempo que tinha dccorrido
deveria tcr inutilisado aquelle proces.so pre-
paratorio.
Analyse chimica. — Lancamos cousa de
meia libra de terra em mais de uma libra
de agua distillada; fomos mexendo aniiudadas
vezes com uma vara de vidro por mais de
hora e meia; e deixanios em repouso ate ao
dia seguinte. 'Neste dia decantiimos uma
porcao d'esta agua ainda muito denegrida; e
sujeitiimol-a a ebullicao 'numa cap.sula de
porcelana. 0 liquido niio se tornou mais turvo,
nem appareceram coagulos albuminosos; mas
formou-se na superlicie uma espuma, quo fazia
lembrar a do caldo de came. Esta espuma,
que adheriu em parte as paredes da capsula,
dissolveu-se 'numa dissolucao de potassa caii-
stica ; mas nao deu a cor verde k rellexao,
nera a cor de rosa a rcfraccao, que os llocos da
albumina do sangue costuniam offerecer. Este
liquido , sendo depois tractado pcio acido
azotico, deu um prccipitado gclatinoso, que
tornou a dissolver-se com a potassa caustica.
Uma outra porcao da agua, em que se tinha
lancado a terra, foi evaporada ate quasi a
seccura, sem offerecer a consistencia de xarope;
e, acabada de seccar, deixou toda a capsula
(orrada dos residuos da muila espuma, que se
tinha levantado em todo o tempo da cvapora-
cao. Lavou-se a capsula com a dissolucao de
potassa, que dissolveu todo aquelle residuo ;
e, tractada depois pelo acido azotico, e em
seguida outra vez pela potassa, deu o mesmo
resultado, que tinha apparecido antecedenle-
mente.
0 pano da batina , cortado em pequenas
tiras, suspendeu-se em tubos de ensaio com
agua distillada. Passada meia hora, ja se viam
muitas cstrias dcscendo das tiras ate ao fundo
dos tubos, mas nao se Ihes podia bem marcar
a cor avermelhada , parecendo antes d'um
amarello escuro. Quatorze horas depois via-se
um deposito mais escuro ; e o liquido, sendo
agitado, depois de relirado o pano, tomou a
cor do deposito. Levado depois a ebullicao no
mesmo tubo, nao produziu flocos nem coagulos,
deixando apenas ver a superlicie muitas bolhas
similhantes as queproduz o sopro por um tubo
'num liquido albuminoso ; mas esta espuma
desappareceu pelo arrefecimento, sem deixar
vestigios nas paredes do tubo. Arrefecido o
liquido em repouso, deixou ver o mesmo prc-
cipitado terroso e escuro, que nao se alterou
com a dissolucao de potassa. Variamos de
processo, lancando gotas da dissolucao das
manchas sobre uma placa de platina incan-
descente, segundo as indicagoes de Boutigny,
esperando que estas gotas esphericas se tur-
vassem, para Ihes restituir a transparencia
com uma gota da dissolucao de potassa 'numa
268
vara de vidro, e a segunda lurvarao com uma
gola de acido azoliro ; mas nao vimos aquel-
les caracleres da alhuiiiina cm ncnhuma das
golas (jue sujeitiimos a experiencia , apcsar
das dilVereutcs dimcnsOes que llzemos tomar
as espheras do liquido.
Tamhem cmpregamos o acido liypocliloroso
de Balard e o clilorurclo de cstaiiho, que
deveiiani destruir iiuuiediatameute as cores
de todas as malerias orgauicas, jwupando a
materia colorante do sangue, ([ue so niais
tarde se doveria deslruir ; mas a inalteracao
da ciir do liquido, desde o uuimcnto da expe-
riencia ale muitas horas depois, lizeram-nos
acrcditar (jue a linta preta do pano, pclas
malerias inorganicas de que se couipuuha, di
logar a ineflicacia d'esle processo cm casos
simiilianles. Nao applicants csles reagenles
iuimedialamenle sobre as manchas, por que
nao oll'ereciam senao a cor da lerra, como jii
dissemos ; e, depois de lavada a terra com agua
dislillada, apenas se deixava ver a cor preta
do pano.
Conduimos que havia malerias animaes
das chamadas albuminosas iia terra e nos
hocados da balina sujeilos ao nosso exame,
seni podermos determinar, se proviriam do
sangue ou d'outros bumores do cadaver, ou
se duns c d'outros ao mcsmo tempo. A. falta
de globulos rubros nao se oppoe a que cstas
materias organicas proviessem do sangue,
porquc a exposicao do cadaver por 9 dias de
calor, 'num silio bumido, foi sufliciente para
tor produzido a putrefaccao dos mesmos globu-
los, a ponto de nao poderem ser rcconbecidos
com 0 microscopio.
Em vista d'esic resullado, julgiimos desnc-
cessaria a analyse do alcool, que linba sido
guardado em frasco separado.
A. A. DA COSTA SIMOES.
METHODO DO ENSINO PARALELLO
DA
ESCRIPTA E LEITIRA.
Continuado de pag. '255.
SEC^;.\0 III.
Ileijras prdctkas do metlwdo ijuc tern de pre-
■tidir ao ensino parallelo da escripta e leit-
lura.
Depois de termos inquirido e acuradamen-
te medilado os factos, cuja theoria ficou ex-
posta no capitulo aniecedente, vimos agora
deduzir d'essa Uieoria as illagoes que por Ven-
tura conlenha, cada uma das quaes sera uma
regra prddica para o melbodo, por que tem
de regular-se o ensino parallelo da escripta e
Icitura. Quanto bouvcrraos de dizcr 'nesle
capitulo, tcl-o-ha vislo o leilor conlido no
aniecedente, como contem urn ])edaco de
marmore a eslatua, que d'elle cxlrahe o cin-
zel do arlista.
Yislo (jue 0 desinvolvimcnto intellectual de
uma crianca ainda Ihe nao permilte compre-
heiidcr o tilplnibcto, uein fazcr us (ibslraccOes
que a sollclracao presup|)ni', ([uaudo clla li
ja capaz de, excrevendo, iiiiiiar as liguras que
se Ibe appresentem aos ollios; ponto csscncial
para inicial-a no conliccimenlo da leitura e
da escripla e ensinar-llie a escrever c \&r syl-
labas, antes de llie ensiuar a Icr lettras.
Em obediencia a este principio, a primeira
cousa que tem de I'azer o aiiimuo, apenas
possa pegar 'numa penna ou lapis de pedra,
e apreuder a tracar hastes maiusculas e mi-
nusculas, curvas, titjarOes singellas e dobra-
das, circulos, ellipses, e, 'numa palavra,
quaesquer tiguras, (|ue mais se assemelbein
aos cliaraclores de leltia de mdo — unica espe-
cie de lellra — torno a dizer — de que devera
servir-se, era quanto nao soubcr escrever e
ler correntemente.
Versado que esteja o alumno 'ncstes cxer-
cicios, durante os quaes se Ibe ensinani a as-
senlar bem a mao, pegar na penna e mover
OS dcdos convenicntemente, sua principal
tarda deve ser decompor palavras oralmen-
te, c reduzil-as aos sons eiemenlares que as
formem. Para este lim deve o professor ler
de sobremao um pronipluario de vocabulos
— monosijllabos, disyllabos, tri.syllabos e poly-
syllabos, compostos exclusivameute de sylla-
bas naturaes.
Logo que 0 alumno souber decompor e re-
duzir aos respectivos sons eiemenlares cada
um d'estes vocabulos, ensinar-lhe-ba o pro-
lessor a traduzir aquelles sons nas syllabas
naturaes que os symbolizem: para o que pro-
cedera do seguinle raodo :
Em primeiro logar escreveni na tabua preta
qualquer palavra que o alumno ja lenha
oralmeute decomposto, e cbamarii a altencao
d'elle sobre a correspondencia dos sons eie-
menlares da palavra fallada, com as sijllabas
da mesma palavra escripta.
Depois, escreverii por baixo da referida
palavra a primeira syllaba d'ella e mandara
ao alumno que a imite, escrevendo na lousa
0 respeclivo signal, ao qual so dara o profes-
sor 0 valor que tenha como syllaba.
Copiada pelo alumno, mais ou menos bem,
a primeira syllaba, escrevera o professor a
segunda ; e procedendo a rcspeito d'ella co-
mo a respeito da primeira, mandara ao alumno
que a lea e eopie na lousa, repetindo frcquen-
lemente o valor phonico d'ella.
Escriptas que sejam assim todas as syllabas
da primeira palavra, fara o professor pergun-
las ao discipulo sobre o valor individual de
cada syllaba, e o collectivo de todas junctas.
269
E depois dc lida esla palavra, escrevcrii na
tiibua outra, que em algunia syllaba se pare-
ca com a primeira; e a respeito d'ella procc-
dera de modo analogo.
Em 0 discipulo sabendo escrevcr e ler pa-
lavras compostas de syllabas iiaturaes, ap-
presentar-lhe-ha o professor uma tal)ua de
todas as syllabas naluraes, confeocionada com
columnas transversaes e vcrticaes por manei-
ra tal, que 'nestas as vogaes sejam as mesmas
c variem as consoantes; 'iiaquellas, ao con-
trario, sejara as mesmas as consoantes, e va-
riem as vogaes. Eis aqui como devera usar-
se d'csta tabua.
Le 0 professor a primeira sylial)a da pri-
meira colurana transversal ; c depois de a ter
cscripto na tiibua, manda ao discipulo (juc
tambem a lea e copie na lousa.
Escripta a primeira, continiia o professor
a escrevcr e ler as outras syllabas, e o disci-
pulo a copial-as e a repelir iuccssantcmeute
0 valor pbonico de cada uma.
Logo que o discipulo tiver cscripto c lido
todas as syllabas da primeira linba, lar-lbe-
ha iiotar o professor como 'naquelles signaes,
de par com alguma cousa similhanle, ha
tambem uma outra cousa differeute. 0 pri-
meiro character de cada syllaba e o mesnio;
0 segundo e que differc de uma para outra.
Notado isto, escreve o professor a primeira
syllaba da scgunda linba ; e mostra ao disci-
pulo como esta nova syllaba e em parte si-
milhante, e em parte differente da primeira
da liuha superior. A.ssim, em sabendo clle
imitar o signal era que dill'erem estas duas
syllabas, sabera escrevcr todas as outras da
niesma linba ; povquc, para isso, basta substi-
tuir 0 primeiro signal da segunda ao primei-
10 da primeira. E assim a respeito de todas
as linhas transversaes.
Logo que o discipulo tiver lido e trasladado
d'este modo todas as syllabas da tabua, en-
trara de fazer exercicios para fixar bem na
memoria a fir/ura e valor phonico de cada
uma. 'Nestes exercicios proceder-se-ha do
seguinte modo:
Retirada a tabua das syllabas, — tal vez
escreve o professor uma syllaba, e pede ao
discipulo 0 valor phonico d'ella — tal outra
profere um sum elementar, e manda ao disci-
pulo que alii Ib'o escreva na lousa. Por cste
meio verificara o professor se o discipulo esta,
ou nao, de posse da tabua das syllabas natu-
raes; e caso reconheca que esta, ensinar-llie-
ha a cscrever e ler syllabas arlificiaes: para
0 que usara do seguinte processo.
Pela tabua das syllabas naturaes fara o
professor ver ao alumno como nas linhas
transversaes 0 primeiro character de cada syl-
laba e 0 mesmo, variando so o segundo; e
como nas verticaes e o contrario — o primei-
ro e que varia, ficando o segundo o mesmo.
Pois 0 que varia nas linhas transversaes sao
OS signaes das vozes, s5o as vogaes; — o que
varia nas verticaes sao os signaes das arti-
culacoes, sao as consoantes.
Em seguida far-lhe-ha notar que assim co-
mo nao ha articulaciio sem voz, ncm voz scm
arlioulacao na linguagem, tambem nao pode
haver na escripta, isto e, nao pode ler-se
vogal sem consoante, ncm consoantc sem vo-
(j'll: a intima uniao d'estas duas leltras for-
ma a syllaba natural, que e o symbolo do
som elementar da palavra.
Mostrar-lhe-ha depois como o mais sumido
de todos OS sons elemcntares, que o orgao
da falla pode formar, e o representado pela
syllaba muda nhev, composta da consoante
<( h » e da vogal « e » mudo. E visto que cstes
elemcnlos sao quasi impcrceptiveis para o
ouvido, pode a escriptura supprimil-os, c,
d'e.sta suppressao resultarao duas especies de
syllabas artificiues.
Quando se ommitte a consoante uh>i, a
vogal respectiva passa a combiuar-se com a
da syllaba anlecedente, na mesma emissao
de som; e assim se forma de duas syllabas
naturaes uma artificial, que e um dipbtongo.
V. g. : Pd-hu, pa-ho, le-hi, que se escrevem
artilicialmente pau, pao,'lei.
Quando se ommitte o « e mudo, >i a con-
soante que 0 modificava, passa a modilicar a
vogal da syllaba antecedeute, a qual tica por
isso composta de duas ou mais consoantes.
V. g. : Hi-em-pe-la-ca-ve-le , tern sete syllabas
naturaes, que a escriptura reduz a ([uatro
d'este modo — implacavel.
Feita esta explicacao previa, cumpre ap-
presentar ao alumno diversas tabuas de syl-
labas artificiaes, tanto as que resultam da
suppressao da consoante «/(», como as pro-
venientes da ommissao do « e mudo », que
concorra com alguma das consoantes f, I, m,
n, s, r, X, i: e em seguida, e o professor
ensinar-lhe a escrever, apreciar e \er cada
uma d'estas syllabas ; para o que procedera
de modo analogo ao com que procediira a
respeito das syllabas naturaes.
So depois de o alumno saber escrever e ler
todas as tabuas das syllabas naturaes e arti-
litiaes, so entao e que se Ihe ha de ensinar
a decompor a syllaba em lettras : para o que
observar-se-ha o seguinte processo.
Toma 0 professor na tabua das syllabas
naturaes a primeira linba transversal, e a
segunda vertical. Eliminaudo da primeira a
consoante «hi>, fara ver ao alumno o que
siio as vogues por si so ; e supprimindo na
segunda o «e mudo», assim Ihe fara sentir
0 que sao as consoantes.
Depois, com estas duas classes de lettras
conslruira o abecedario ou alphabeto de lettra
de mao, cujos signaes so representam os ele-
mentos dos sons elementares da palavra, isto
e, as differencas por que estes sons se exlre-
mam uns dos outros.
270
Far-lhe-ha ver tambem como o alphabeto
e imperfoito por falta; porque, havendo em
nossa lingua dozoilo vozes cntre abertas, fe-
chadas, vuidas e nasaes, para as representar
so tem 0 alphabeto seis signaes disliiiclos; os
quaes so poderao extreraar-sc uns dos outros
por nicio dos accentos agudo , circumUcxo e
nasal, designando absolula falta d'ellc a voz
muda.
Mostrar-lhe-ha egualmente como 6 imper-
feito ])or excesso o alphabeto; porque para
designar certo e determiiiado clomento de
um som, tern mais de um signal. V. g. : para
significar a voz «»'», tem o " t » latino e o
(I y )i grego ; para significar a articulacao « q »
tem as consoanto q, c, k, e cit a grega.
Rematara cstas observacOes, fazendo-Ihe
comprehender por que razao, apesar de tantas
imperfeicOes, 6 a escriptura alphabetica tao
superior a syllabica.
Entao appresentar-lhe-ha uma rigorosa clas-
sificacao de todos os character es alphabeticos :
— primciro, a tiibua das vogaes com todos os
seus valores pcrmanentes c aocidentaes em
virtude dos accentos agudo, circumflexo e na-
sal etc.; — depois a tiibua de todas as con-
soantes, classiticadas em relacao a parte do
orgao que actiia na produccao de cada uma,
d'onde Ihes advem as denominacOes de la-
biaes, denlaes, guturaes etc.
Preparado o alumno com o conhecimento
d'estes principles, dar-se-lhe-ha entao o pri-
meiro livro (que ha de ser em lettra manus-
cripla), para que o lea, e lendo-o adquira o
hablto de applicar, com desembaraco e ac^r-
to, aquelles principios ao acto da leitura.
Acabada que seja em cada dia a licao de
leitura, mandara o professor fechar o livro;
e lendo elle mcsmo successivamente as pala-
vras de cada sentenra, fara com que o alumno
va oralmente decompondo — primeiro a sen-
lenca em palavrcts, — depois a palavra em
syllabas, — e por fim a syllaba em Ultras.
Este sera o principal exercicio para ensinar-
Ihe practicamente a orthographia da lingua.
Quando o alumno souber escrever e Wr
com tal proticiencia, que possa Ur qualquer
trecho que se Ihe appresentar escripto, ou
escrever qualquer outro que se Ihe dictar, so
entao ciimpre dar-lhe conhecimento do alpha-
beto de leltra redonda — conhecimento que
facilmente conseguira pela simples confronta-
cao de uns com outros characteres. Assim, o
alumno vai depressa, porque vai do que co-
nhece, para o que ignora, vai do mais facil,
para o diflTieil.
Logo que estiver tao familiarisado com a
lettra redonda, que possa copiar em manus-
cripto qualquer trecho que se Ihe appresentar
impresso, passara a ler em livro de lettra
redonda, como d'antes lia em livro de lettra
de mao; e este facto niarcara a epocha em
que a leitura tem de separar-se da escripta,
cm que 0 primeiro tyrocinio do educando esta
feito.
D'aqui em diante continuara a ler e a
escrever « separadamente » ; — a escrever,
para fazer estudos de caUigraphia, e de redac-
rdo, — a ler, para aprender a recitar prosa e
verso, e a declamar conveuientemente.
COIVCIiUSAO.
A idea fundamental d'este methodo e ensi-
sinar a ler ensinando a escrever, para apro-
veitar, em benelicio da leitura, todo o esfor-
co da intelligencia e attcncao que faca o
educando, com o intuito de imitar os signaes
graphicos que se Ihe apprcsentem.
Por consequencia, sao condicoes essenciaes
d'elle, as seguintes.
1.° — 0 unico abecedario de que deve usar
0 alumno, em quanto nao souber ifir corren-
temcnte, e o do lettra de mao.
2.° — Usando d'este abecedario, deve apren-
der, primeiro que tudo, a escrever e ler syl-
labas naluraes, por serem estas os symbolos
de sons elementares, que elle podeni desco-
brir por si mesmo, fazendo a decomposicao
da respectiva palavra.
3." — So depois de saber escrever e Idr syl-
labas naturaes, e que ha de aprender a escre-
ver e ler syllabas artificiaes; — o que facil-
mente conseguira, raediante o conhecimento
da origem e propriedades das duas especies
d'ellas.
4.° — So quando souber escrever e ler toda
a casta de syllabas de uso em nossa lingua,
so entao e que se Ihe deve dar conhecimento
das Ultras do alphabeto manuscripto pela de-
composicao— nao dos sons elementares — se-
nao das syllabas que os significam.
S.° — Em sabendo escrever bem o que Ihe
dictarem, e ler com desembaraco o que Ihe
appresentarem escripto em leltra de mao, so
entao e que deve estudar o abecedario de
lettra redonda (ou qualquer outro que tenha
gosto de saber) pelo simples exercicio de con-
frontar os characteres do que conhece, com os
do abecedario que ignora.
6.° — Uma vcz familiarisado com o abece-
dario de lettra redonda, metta-se-lhe entao
na mao o primeiro livro impresso, e por elle
se exercite na leitura, jii lendo, ja copiando
da lettra redonda para a manuscripta, ja
iffiitando a lettra redonda.
7.° — So d'este ponto em diante e que de-
vem separar-se, e ser para elle como distin-
ctas, individualidades a parte, as disciplinas
de ler e escrever.
M. R. DE MENDONCA.
271
OS SINOS.
Continuadu de pag. 224.
Calcula-se ter havido em Inglaterra 80
carrilhoes de 10 sinos, 300 dc 8, aOO de 6,
e 2o0 de 5 ; mas este caleulo e uma simples
approximarao; os dados em que se basea sao
muito indetorminados. Para lormar urn car-
rilhao completo sao precisos 8 sinos, (|ue con-
stituam a oilava ou escaila diatonica. Os ama-
dores tem como ponto de capiiciio o executar
grande variedade de mudunras ou variacoes,
que augmentam em rapida progressao com o
numero dos sinos. 0 quadro que segue mos-
trara de que modo com Irez sinos se podem
executar seis mudancas:
1 _ 2 _ 3
1 — 3 — 2
2 — 1 — 3
2 — 3 — 1
3 — 1 — 2
3 — 2 — 1
Com quatro sinos executar-se-hao quatro vezes
seis ou 24; com cinco, cinco vezes vinte e qua-
tro ou 120, etc. e com doze sinos, executam-
se 479:001,600 combinafOes! Soutiiey, que
muito se occupava das curiosidades d'esta arte,
calculou que, dando-se duas badaladas por
segundo ou 120 por minuto, eram precisos
91 annos para executar as variacoes de um
carrilhao de 12 sinos ; 16,873 se o carrilhao
fosse de 14 sinos; e 117,000 trillioes d'annos
se fosse de 24 sinos.
Na practica , porem , o movimento que se
da a um carrilhao e duas vezes mais veloz do
que 0 que serviu de base ao caleulo de
Southey. Refere tambem este grande poeta
que 8 mancebos de Birmingham executaram
14,224 variacoes em 8 horas e 43 minutos.
Em 1618 appareceu um enlhusiasta, que de-
dicou 473 paginas de uma obra a provar
que a principal occupacao dos bemaventura-
dos e tocar sinos; tanto podem as mysteriosas
fascinacoes d'esta arte ! Posto que luenos
enthusiasta , Southey pretende que o meio
mais innocente de um homem fazer bulha no
mundo, e tocar sinos.
Esta observacao, todavia, nao e das mais
exactas. D'ordinario os sinciros nao gozam
de boa fama. As amizades contrahidas no cam-
panario arrastam-os para a laverna, onde
consomem os sens ganhos , e, facto niuitas
vezes observado , o sineiro elimina-se da
egreja, logo que para la tem chamado os fieis.
Deixemos agora os carrilhoes para darmos
uma lista dos maiores sinos que boje existem,
ou que ainda ha pouco existiam.
0 sino grande de Moscow, cuja
altura e6°50, diametro 6'°,80; cir-
curaferencia 20°, 46 e sua maior Kil. d.
espessura 0'",57, pesa . . . 201:266,40
Outrofundidoeml819p6sa . 81:273,60
0 sino da torre da egreja de
Santo Ivo em Moscow (altura
6°, 38, diametro 8", 47 ; peso do Kil. d.
badalo 1:911 Kil.) pesa . . . 87:978,20
Outro sino da mesnia egreja . 18:083,10
0 sino grande dc Pekim (altura
4"°, 40, diametro 3°', 93), pesa . 84:424,10
Outro em Nankim .... 22:676,70
Outro em Olmutz 18:184,70
0 sino grande da cathedral de
Ruao, destruido em 1793 (altura
a", 93, diametro 3", 33, pesa . . 18:141,20
Um sino de Vienna mandado
fundir, em 1711, pcio Imperador
Jose, com os canhOes abandona-
dos pclos Turcos, quando levan-
taram o cerco d'aquolla cidade
(altura 3°", 04 , circumferencia
9"°, 42, peso do badalo 300 Kilos.) 17:981,83
0 Bordao de Nossa Senhora de
Paris, alii collocado em 1680,
(circumferencia 7", 60,) pesa . . 17:270,63
Um sino de Erfurth, ([ue se
reputa composto do melhor me-
tal de sinos boje existcntes (altura
3°', 10, diametro 2°, 80) . . . 13:968,63
Um dos sinos da Cathedral catho-
lica de Montreal, fundido em 1847 13:714,78
0 « Great Peter » collocado na
Se de York em 1843 .... 10:920,90
0 « Great Tom » de Oxford
(diametro 2", 15, altura 2"°, 08) . 7:709,90
0 « Great Tom » de Lincoln re-
fundido em 1833, com mais uma
lonelada de metal 8:483,83.
0 bordao de S. Paulo (diame-
tro 2", 73, peso do badalo 81 Kil.
90) 3:203,83.
0 mesmo antes de refundido . 3:740,40.
0 uBunstano de Cantorbery . 3:385, 33.
Observa-se 'neste quadro quo o « Great
Peter « de York, fundido depois do incendio
de 1840, que destruiu o bello carrilhao da
Cathedral, e o maior de todos os sinos do
Reino Unido. Um sino e pago ordinariamente
na razao de 6 guiucos por quintal, mas de
certo este preco augmenta com as dimensoes,
visto que o « Great Peter •> chegou a custar
2:000 libras pagas pclos bahilantes de York.
0 « Great Peter >i excedc muito cm tamanho
0 mais alto granadeiro da rainha de Inglater-
ra, e sao precisos quinze homens para o por
em movimento.
Dizem que os dous « Toms » d'Oxford e de
Lincoln, sao assim cbamados por onomatopea.
0 sino primitivo d'Oxford , que estava como
0 u Tom» actual, na torre do alpendre de
Christcliurch, foi para alii trazido da Abbadia
de Oseney, e baptisado com o nome de Maria,
no principio do reinado de Maria Tudor.
Presidiu a esta ceremonia o vice chanceller
Tresham. «0h! doce harmonia ! » exclamou o
enthusiasmado chanceller, a primeira vez que
272
estcsino o thamou para a missii, o Oh incan-
tadora Maria qiiaiito me enlevam os tens
mclodiosos sons! » Poreni esla iiiesiiia Maria,
cujos sons cram lao mcloiliosos, foi rolunilida
cm 1G8U, e agora tern nnia voz tao niascuiina
conic 0 nome ' ; nom snns nulas sao I'xactas,
nem o sou timl)ri! o musical. Todas as noitos,
as 9 horas, da 101 badaladas, |)on|iic taiilos
sao OS ponsionistas gratuitos do tolicgio.
0 sino grande ou bonh'io dc S. Paulo, uma
das curiosiiladcs mais popularcs da calliodral,
estil collocado na torre do moio dia ou do
rologio, por cima dos dois siuos que dao os
([uartos. Tern a seguinte inscripeao. « Foz-mo
liicardo Pliclp em ITlfi. » D'liora cm liora o
uiartello do relogio bate alii as competentes
pancadas ; mas o hadalo nao o toca senao
l)ela morte ou funeral de pcssoa real , do
hispo de Londres, do Dcao de S. Paulo, ou
do Lord-Maire em exereicio. E inlundada a
opiniiio dos que pretendem que este sino lora
lundido com metal proveniente d'um « Great
Tom « de Westminster, que estava collocado
'auma torre de relogio, outr'ora juncta da
porta da grande salla , onde por cspacn de
400 anuos indicou as horas aos juizes d'ln-
glaterra. Esse « Great Tom » de veneranda
mcmoria, foi dado ou vcndido por Guilherme
III ao Dcao e Capilulo de S. Paulo, e refiin-
dido por um certo Wightman. Aos que \isita-
vam a cathedral, era permittido, mcdiante
unia pequciia retrihuicao, tocar 'naquelle sino
com um martello de fcrro para Ihe ouvir o
som. D'eslas esperiencias repetidas, resullou,
cm hreve quebrar-se o sino, c Sir Christopher
Wren encarregar Phelp de o substituir por
um novo, com a condicao porem de se nao
tirar o antigo, eniquanto se nao collocasse o
(jue elle estava fazendo ; por.isso se pode
dizer que este nao contem nem uma onca
de metal do « Great Tom. » Com tudo o
K Great Tom » vai agora ter quem faca as
suasvezes; o relogio exterior do novo palacio
de Westminster marcara as horas com um
sino de quinze toneladas, que deixara a per-
dcr dc vista o « Great Peter » do York.
Continufr.
X. MARPfllER.
Continuado de pag. 315.
« f<ao, nao tentarei descrcvcr-vos o quadro,
que cu acabei de ver. Qucbraria inutilmcntc,
'neste ensaio, as pennas d'ouro inventadas
pelos americanos. Somcnte Lamartine, com a
sua melodiosa linguagem, ou Byron, com a
' Tom t' abrevia^iio ingleza de Thomaz. Tanibem
serve para desiRnar os machos d'algumas especies d'ani-
uiaes ; Tomcat — gato.
sua sobcrana poesia, podcriam pintar csta
sccna; que exaltaria o sen genio, c'esmaga o
men fraco pensamento.
Ua logarcs ([ue se cmhellezam pela distan-
cia: as narrativas dos viajantcs, as gravuras,
OS paiucis dao-lhc uni asjiecto scm egual.
OuL'reuios vel-os, corrcnios a dies com a
idea exaggcrada, ([ue lormanios; eacliamo-nos
cngnnados em nossa cxpeciacao. Tive medo
d'e\|)crimcnlar iiiua cgiial dccepcao, indo ao
Niagara; pouco me faltou jiara que nao renun-
ciassc a I'azer (e por me poupar a um arrepeu-
dimcnto) o longo rodeio, que haviade levar-mu
alcm do lago Erie.
Mas ([uando, a alguns centos de passes da
hospcdaria da aguia, na oria d'um bosque
sombrio, me vi repcntinamente defronte da
cascata, scnti-mc penetrado d'uma tal sur-
prcza, d'um tal arrebatamento, que fiquei
como prcgado no chao, nao podendo mais
que soltar um grito de adniiracao. Depois a
commocao paralysou-me a voz, e cncheu-mu
de lagrimas os olhos.
Pessoas sensatas dirao, que (i fraqueza de
nervos. Scja! Entretanto nunca experimentei
uma commocao similhante, senao em lace das
obras da natureza. Foi quando, das ultimas
praias de Spitzberg, contemplava os extremos
marcos do mundo, as etcrnas barreiras dos
gelos do polo. Alii era a idiia do apartamenlo
humano, neste lim do globo, que me pertur-
bava ate aos seios d'alma ; e aqui o cspecta-
culo mais grandiose, mais deslumbrante, que
(i possivel concebcr-se, um espectaculo unico
debaixo do ceu.
Fiquei alii, nao sei que tempo, so, iramo-
vel e calado. Cliovia a cantaros; mas eu nao
sentia nem a chuva que me corria pelos hom-
bros, nem o vento que se me enlranhava na
capa, Nao ouvia senao o estrondo da cascata,
este trovan das aguas, como Ihe chailiam os
indios; nao via senao estas largas ondas, que
caliiam do alto de sua bacia no precipicio.
E (juando em lini tornei a cntrar na hospcda-
ria, fui como por instincto asscntarme diante
do logo ; nao distinguia cousa alguma do que
se passava deantc de mini. Mens olhos, e meu
pensamento estavam lixados no Niagara; toda
a tarde a estive vendo, e toda a uoite sonhei
com ella.
Na seguinte nianha tornei la. Esia vez,
foi-me possivel ser senhor de mini, e contem-
plar com maior socego o que tanto me agi-
tara na vespcra. Esta vez, poderei dar-vos
por Ventura um csbofo lopographico d'esta
maraviiha da crcacao. Em quanto a revelar-
vos a sua bclleza sublime, niio! . . . para mim
i' nm impossivel!
0 Niagara e formado pela massa d'aguas,
que do lago Erie, apcrtando-se em um estrei-
to canal, vera arrojar-se, a 30 milhas de
distancia, no lago Ontario. Do escarpado ci-
mo d'um plaiuo de 165 pes d'altura, preci-
273
pita-se 'num leito de rocha, por duas vastas
cascatas scparadas pela illia d'liis, uma clia-
mada a cascala americuna (anierkan fall), a
outra a ferradura. Este notnc 6 perfeilamcnlc
adaplado a imagcni que reprcsenta. Quizera-
llie outro niais poetico.
A cascala aniericana seria per si so uni dos
bcllos paineis, na siiperliric do glolio ; o to-
davia ninguem a considera senao conic um
phcnomeno secuiidario, depois de ver-se, cm
toda a sua exlensao, o circiilo imnicnso da
lerradura.
Os americanos, que em geral dao pouca
imporlancia as scenas da nalurcza, mas que
nao desprezam cousa alguma do (jue possa
favoreccr a sua industiia, tern feito tudo para
tornar o ospectaculo do Niagara o mais I'acil
e atractivo para os viajantes.
Barcos a vapor, c caminlios do fcrro vao
buscal-os a Lewislon, a BulTallo, c os trazcm
ate a villa. Carruageus, e mocos estao posla-
dos na sua passagom; elegantes hospedarias
sorriem-se para ellos por suas nunierosas ja-
iiellas. Do alto da montanlia desccm ate ao
rio por um declive rapido, cm uma cadeira
assente em carris, e sustentada por calalires.
A horda do rio espera-os uma barca, e con-
dul-os para defronle da (errudura. E este o
ponto de vista por excellencia; e alii que uma
pessoa quer dcmorar-se longo tempo, e vollar
outras vezes. De la contcmpla-se, cm toda a
sua largura, em toda a sua elevacao, a esquer-
da, a cascata americana, e a iiha d'Iris; e
em frente o circo da cascata canadense com
suas profundas aguas, mais verdes que a
esmeralda, e suas toalhas d'espuma mais bran-
cas que a neve.
0 seu impulso e tao impetuoso, que a agua,
caliindo no abysmo, resalta, c torna a subir
cm redemoinlios de vapor acima da bacia
que a conlinha. A mais de ccm niilhas de
distancia, pode distinguir-se esse redemoinbo
fluctuante como uma nuvem de prata no cimo
da montanba. De dia esta poeira de perolas
irradia-se com os raios do sol, e forma um
arco iris. Ate de noite, algnmas vezes, a
cinta vaporosa toma cor com os raios da lua;
e, qual ponle luminosa, a ponte da mytbologia
Scandinavia, reluz nas sombras.
De cada lado das cascatas, cxtcndem-se
muralhas de rocbas, e matas silvestres, cujas
sombrias cores augmentam ainda mais o cllei-
to do retabulo, que molduram.
Posto que se saiba que estes sitios sao
habitados, todavia experimenla-se ahi o sen-
timento d'uma solidao majestosa, d'uma so-
lemne Tbcbaida. 'Neste profundo rccinto fe-
cbado pela aguas , coroado pelos bos([ucs ,
nao se vfiem outros seres animados alem dos
goelanos, que giram por cima da voragem, e
cujas brancas azas desapparecem nas dobras
de sua branca espuma. Se acreditasse na me-
tempsycose, (o que, por parenthesis, me agra-
daria 'muito), pensaria que estes passaros
cucerrara almas de poetas, a (|uem foi dado
0 gozar, em sua nova existencia, d'um dos
explendores de Deus nos explendores du crca-
cao.
Alem do rio, na costa do Canada, csla a
Mcza de rocha, meza redonda e plana, i|uc
sae sobre o abysmo uns 00 pes. Os que nao
tcmem ser atacados de vertigcm, podem cbe-
gar-se ate a oria d'este promoutorio, c d'abi
mcrgulbar com a vista no precipicio, sibilan-
le, mugente, fervente como uma caldcira.
D'esta ponia maravilhosa desce-sc por um
cstreito carreiro, ate ao pe da torrente. Mas
parece que uma divindade invejosa defendo
a approximacao por meio das vagas que arre-
messa ao curioso profano, que avanca para
0 seu sanctuario. Entrctanto nenhum perigo
real o ameaca; e nao corre outro, seniio o de
voltar ensopado ate aos ossos. Arrostando este
vulgar inconveniente, cliega debaixo d'um dos
corlinados da cascata, sob uma prisao de lim-
pidas aguas. E que prisao! Jamais as ladas
e as naiades construiram outra igual para o
cavalleiro, que retinham captive em seus pa-
lacios de cristal. Para passar alii alguns
instantcs, para gozar o encanto fabuloso de
uma tal aventura , nao e de mais atravessar
0 oceano, e andar GOO milhas, de wagon
em wagon, no meio dos carrancudos ameri-
canos.
De volta ao cimo do rochedo, encontrei um
paizano canadense com uma rustica carroca,
lorrada de pelle de bufalo, que me conduziu,
ao longo da margem, pelo meio de copados bos-
ques, a uma legua de distancia, a ponte de
iio d'arame, que foi lancada a outra das bor-
das do rio. Depois de ter admirado a obra
da natureza, tinha que admirar tambem a do
genio bumano. Nao conheco outra mais ousa-
da ; e ainda que, na descripcao d'uma ]iaiza-
gem, as cifras me apparccam com hcdionda
lace, e indispensavel, para vos dar uma idea
d'ella, rccorrer as cifras.
Esta ponte, d'um so lanco, tern ".'iO pes
d'cxlensao, e eleva-se 230 pes acima do pre-
cipicio! As mais pesadas carrocas podem pas-
sar por ella com toda a seguranca: e todavia
estremece debaixo dos pes d'um mcnino, c
vacilla, como uma barca, ao sopro do vento.
Foi-nie necessario segurar com anibas as niaos
uma de suas pilastras para conlemplar, do
meio d'este cdilicio aerio, a cascata distante,
e a voragem aberta ; porque a carroca, que
'neste memento a atravessava, fazia-a oscil-
lar, como um leve forro, e parccia-nie ir a
desabar no abismo.
Do outro lado d'esta ponte esta o caminho
do fcrro de Levviston, o qual, intrepido, passu
rente do cume da serra, a horda do preeii)i-
cio ; e, a alguns passos d'alli, apparece uma
risonha campina, ferteis sulcos, serrados
cheios d'arvores fructiferas, novilhas vagan-
274
tes nos prados, casas cujo acccio annuncia a
ordem e a abastanra, uma doce sccua com-
pleta de viila liaiKiuilla jmuto das terrivois
scenas, pelas quaes se acal)a de passar, uma
verde aciuarclla liollandcza ao pi' do I'ragor
da tcmpesladc. »
Que deliciosas paginas nao vein depois
d'esla arrel)aladora descripcao ! Marmioi- e
nao so poela, mas lustoriador; e nenluiui
I'rantez podeia ler soni aperto de coracao as
noticias tanto dos hourosos I'eitos de suas
arnias no Canada e ua Luiziania, como do
vergonlioso abandono, em que os deixou o
iudolente e devasso goveino de Luiz XV.
0 divino cantor dos martyres, d'Atala, e
de Uene, visitou tambem o Niagara. As pou-
cas linhas, que se leem no lim da Alala, tern
0 cuulio da sua penna. Cremos que Marniier,
mais extenso e circumstanciado, nao llie licou
inferior no poetico da deseripcao. 0 que po-
reni cspecialnienle intercssa ao pensador, e a
revolucao immensa porque tern passado esses
sitios, t'ecuudados pelo geuio do bomem, ani-
mados pcia sua induslria. 0 viajante ja nao
precisa . como Cbateaubriand , d'uma fra-
gil escada I'eita por mao dos indios, ou na
I'alta d'clia, de se pendurar de rocha era ro-
cha, arriscaudo-se como elle a despedacar-se
na vorageni. A riqueza e a civilisacao, que
afugentara os indios, e as serpentes dc casca-
vel, multiplicaram, em torno da grande ma-
raviliua, os apuros da conimoda conimunica-
cao.
E nao lia nuiitos annos que a imprcnsa pe-
riodica dos Estados-Unidos, zombando da cre-
duiidade buniana, nos mentia, que o Niagara
desaparecera 'num tremor de terra!
A. F.
CARTA 00 8R. CASTILHO.
AV. Redactor. — Para nao subtra<liir pa-
ginas vossas aos iraportantes artigos, a que
Icndes por uso consagral-as, deixo de respon-
der na vossa Folba ao juizo, que ahi publi-
caslcs da leitura repentina, assignado pelo
comraissario dos estudos na ilha da Madeira,
0 sr. Marcclliano Ribeiro de Mendonca. 0
exame, a completa refutacao dos erros e fal-
sidades, que recheam aquelle notavel docu-
niento, esta no Diariodo Governode lo, 10,
20, 21, 22 e 23 do corrente.
Para os que interessam em iiquidar a ver-
dade 'nestes assumptos, de rauito mais fundo
e consequencia do que se representam a su-
peficie, basta, que tenhaes a bondade de
mandar inserir no vosso proximo numero
estas poucas linbas.
Sou com a devida consideracao, illm." sr.
Redactor do Institnto, vosso muito respeitoso
e obrigado .servo — A. ¥. Custilho.
Ljsboa, '23 de fevereiro dc 1836.
BIBLIOGRAPHIA.
.\ns curidsos da lioa litlcratura classica de
Grecia c dc Kiinia, e nao muiios .ids srs. profes-
snres, totnamcis a lihordade dc rccommcndar as
cxccllciues, c baratissimas cdiroes do classicos
latiniKS e giegos, com lircvos notas explicativas,
imldiiadas em Paris pcla caza Hachctle o C."
I>isliii(,'uem-sc cUas, como annuneiam, e cum-
prom, — pcla correccao dos tcxlos, — uniformi-
dade d'ortographia, — systema das aiiolarocs, —
l)clla cxccuciio typographica, — scguranca d'in-
cadoriiacoes, — c modicidade (quasi incrivel) dc
prccos.
E como sc isto nao fosse sufficiente, c ainda
diiplicada a publicacao, sahindo uma seric com
as aiinotacocs cm franccz, c outra com ellas em
latim.
.4s ohras pur exempio dc Virgilio cnstam
apcnas 2 fr., Tacito 3 fr., Sallustio 90 cent.,
Horacio 1 fr. 50 cent. ! Tamanha e a extraccao,
o que qucr dizer, tanto sc cstuda 'naqiiellc paiz.
dassico da civilisac,io c das Icttras, a lingua do
Lacio, que os nossos pscudo-litteratos quasi sc
lirezam d'ignorarl
0 conhccimcnto d'estas tao commodas cdicoes
nos fez pcnsar na snmma conveniencia, que havcria
em substiluir por ell.-s, com maior cconomia para
OS aUimnos, os livros elcmentarcs que sc dao nos
lyccus, nas aulas de lalinidade, c alguns nas de
logica e dc rcthorica. Sao cstes cm geral pcssima-
mentc impressos, e cheios d'crros typographicos ;
c 0 que mais e, cxcluem do cnsino alguns dos melho-
rcs auctorcs, dos quaes ncm ao menos ahi se cncon-
tram alguns cxtractos.
O maior, e por ccrto mui real mclhoramento
da imprcnsa da Univcrsidadc nao podc jamais
obter o resultado, de se poderem dar tao baratas
as obras, ahi publicadas. Uepende isto da extcn-
s.io do consumo, impossivcl d'allingir, em Portugal
so, ao immenso dc Franca e paizes estrangeiros.
Calculando sobrc os prccos notados no mappa
da mcsma imprcnsa para os livros de que fal-
lamos, c 0 das primeiras e principacs obras das
collccciies d'Hachette c C.°, c manifesto, que com
a cconomia d'nm tcrco os alumnos sc provcrao
dc mclhorcs e mais variados exemplares da mais
pura e gcnuina litteratura ; dc cujas obras os
profcssores cscolhcriam a vontadc os melhores
trcchos, passando d'uns a outros, como entcndes-
sem , uma vcz que discorrcssem por todos ; e
que OS alumnos, nos cxamcs, houvcsscm de ser
mandados traduzir em qualqucr d'cllcs, Livio,
Sallustio , Tacito , Cicero , Virgilio , Horacio,
Ovidio, clc, c niio exclusivamcnte, como agora
somcnte cm Livio c Virgilio.
Entregamos cslas nossas lembrancas a pruden-
Ic rellcxao d'aquclles a qucm cumprc tomar a
primcira parte na restauracao dos bons estudos.
Possuimos cxccllentcs professorcs; carcccmos,
porcm, de grandes mclhoramentos nos mclhodos,
e, cm harmonia com cstes, nos livros elementares.
Qualqucr que comparar, por exempio, as gra-
raalicasdcL'horaond, Dutrey etc., coma nossa tao
volumosa e indigesta, que so por si e sufficiente
para dcsgostar do cstudo do latim, far-nos-hia a
justica dc acredilar que nao nos move ii ccnsura
qualquer preconccito. Nao menos carecemos de
dicciooarios capazes. Qua! ha ahi que possa mui
275
de longe comparar-se com o exccUcntissimo de
Quicheral — Dictionnaire latin franfais?
Se erramos em desejo de ver inelhor cultivada
a lingua do Virgilio ; se u seiilimento que expe-
rimeulamos pela comtemplar lao csquecida c
dcsamparada, pode scr taxadu de fossil, gloria-
mo-uos d'isso niesmo, porque fazemos causa com
OS liUcratos dos paizcs mais cultus da Europa,
onde nao so o lalira , mas o grego conliiiuam a
merecer os mais profundos estudos. A. F.
RELACAO
Dos individuos nomeados para os seguintes logarcs
d^instruc^ito pt'ihUca desde o dia I." ate 15 de jnneiro
corre/ite cm vtrtude de despachos do Conselho superior
d^instri/rrao publtca^ e decretos do (ioverno cominuni'
cados ao mesino C.j?isel/iu no indicado periodu.
INSTRrCt;AU FItlMARIA..
Antonio ile Sanipaio Marinho, para professor terapu-
rario da cadeira de Cejiaes, districto de Braira.
Guilherme Antonio da Costa, i)ara dicto de Villa
Verde dos Francos, districto de Lisboa.
Jose Thendoro Pacheco, para dicto das Capellas,
districto de Ponta Del;;ada.
Luiz Nunes Rudriijues, para professor vitalicio da
cadeira da Villa de Oliveira de Frades, districto de
Vizeu. (decreto de 26 de dezembro ultimo).
INSTHUC^AO SECONDARIA.
Francisco Martins d'Andrade, para professor da ca-
deira de Numismatica da bibliotheca nacional de Lisboa,
decreto de 26 de dezembro ultimo.
Dicto de Janeiro ate ao fim.
INSTROC^AO PRIMARIA.
Adriano Rodri^ues Pereira, para professor por tempo
de trez annos da cadeira de Avelans de Caminho, districto
d'Aveiro.
Antonio Dlas de Carvalho, para dicto de Santa Comba,
districto da Guarda.
Francisco Maximo de Souza, para dicto de Guiaes,
districto de Villa Real.
Gregorio Antonio da Silva, para dicta de Sancta
Barbara, districto d'Anyra.
Joaquim Antonio Ferraz Fontoura, para dicto de
Seixal, districto de Lisboa.
Jose Maria de Carvalhal Azevedo, para dicto de
Villa da Calhela, districto d'Anj^ra.
Thomaz Pereira Luiz, para dicto de Flamengos, dis-
tricto da Horta.
Agostinho Dias d'Amaral, para dicto de Pera de
Mo^o, districto da Guarda.
Carlos Aujfiisto Pinlo, para dicto de Moncliique,
districto de Faro.
Joao Cardozo de Figueiredo, para dicto de Matta de
Lobos, districto da Guarda.
Jos^ Joaquim da Silva, para dicto de Ribaldeira,
districto de Lisboa.
Jose Leocadiod'Oliveira, para dicto deArgea, distric-
to de Santarem.
Jose Maria de Gouvea Ozorio, para dicto de Mus-
samedes, districto de Viseu.
Manuel Antonio Durao, para dicto de Urros, distric-
to de Brap:an9a.
Miguel Joao Mestre, para dicto de Barrancos, distric-
to de Beja.
Anna Magna Moreira, para mestra por tempo de trez
annos da eschola de nieninas de Guiniaraes.
Maria Jose Pires, para dicto da Villa do Cartaxo.
Pedro Baptista Gon^alves Macide, para professor
Titalicio da cadeira da Fregueaia d'Ajuda de Lisboa,
decreto de !S1 de Janeiro.
IMSTRUC^AO SECUNDARIA.
Ayres de Sa Pereira, para professor vitalicio da ca-
deira de latira da villa de Cantanhede, districto de
Coimbra, decreto de 15 de Janeiro.
\ictorinu da Silva Araujo, para professor vitalicio
da l.-" e 2." cadeiras do lyceu nacional de Leiria, decreto
de '£3 de Janeiro.
Dainazio Jacintho Fragozo, para professor vitalicio
da cadeira de grego do lyceu nacional de Evora, decreto
de 23 de Janeiro.
Francisco Augusto Metrass, para substituto da cadeira
de Pintura Historica da academia das bellas artes de
Lisboa, decreto de 15 de Janeiro.
Dicto ate 15 de fevereiro.
IMSTKUC^'AO PRIMARIA
Joaquim Manuel da Trindade, para professor tempo-
rario da cadeira de Belmonte , districto de Castello-
Branco.
Jose Lopes Barbosa, para dicto de Silvalde, districto
d'Aveiro.
Jost: Pereira Lopes, para dicto dc Sancta Catharina,
districto de Leiria.
Severiano Jose Tavares, para dicto de Covilha.
Antonio Juse Capello, para dicto de Castanheira,
districto da Guarda.
Jose Albino dos Reis Sabugal, para dicto de Bnri)a.
districto d'Evora.
Jose Antonio Pegado d'OIiveira, para dicto de Alpor-
tel, districto de Faro.
Jose Victorino de Souza Vilella, para dicto de Caii-
dedo, districto de Villa-Real
Alexandre Jose d'Almeida, para dicto de Vidigueira,
districto de Beja.
Manuel Joao d'OIiveira, para dicto de Marrancos,
districto de Braga.
INSTRUC^AO SECTJNDARIA
Nuno Jose da Cruz, para professor vitalicio da cadeira
de grammatica portugueza e latina do lyceu nacional de
Coimbra. decreto de 29 de Janeiro ultimo.
Joao Pinto da Silva, para continuo do Ijceu nacional
do Porto, decreto de 30 de Janeiro ultimo.
MEhiORIAS DO INSTITUTO DE COIiYIBRA.
f'endein-se no gabinete do Iiistituto^ R. Largo — un loja
de Mesquifa^ R. das Covas — na Ivja de Posseiiiis^ R,
da Cal^ada, as seguintes:
Apontamentos de trigonometria spherica por Rt»driiro
de Sousa Pinto, lente de malhematica.
Apontamentos d'optica pelo uiesmo auclor.
i\Iemoria sobre integraes deOnidos ]»ur Rufino tiuona
Ozoriu. lente de mathematica.
Ajtontamentos sobre a theoria das parallelas jtrlu
mesmo auctor.
Fragmento da traduc^ao do 4." livro da Eneida jior
Manuel Mathias Vieira Fiallio de Mendoiu;a.
Estudos philologicos: glossario das palavras e phrase.«
da lingua franceza, que por descuido, ignorancia. ou ne-
cessidade se tem introduzido na locui^ao portugueza nio-
derna, com o jiiizo criticu das que sao adujita\eis 'nella
pelo cardial D. Francisco de S. Luiz, por Krancij^co
Antonio de Gusmao.
Apontamentos biographicos sobre o nosso insigne jioeta
Luiz de Camoes, por Miguel Ribeiro de Vasconcellos.
Memoria historica e critica. sobre a revolu^ao que em
1246 tirou a corda a D. Sancho IL pelo mesmo auctor.
276
OBSERVACOES METEOROLOGICAS , FEITAS i\0 GABI.XETE DE PHYSICA
DA UiMVEKSlDADE DE COIMBllA.
Anno (le
1335
»
S i-.2
file
PressISo Htmosphorica ao meio liin
Kslfldo Ii}i,'roinelrico da
atnio.<i|)tiera au iiieiodia
a, 3
Is
Iisto/fo rft) rru r iIq
Uiiijio ao meio dia.
IMez lie
IJeiem-
bro
Allara Ijaio-
nielrica B 0"
da cicala CCD-.
lijiaila.
Tcnsao do
rajior aquoso
coulidoiio ar
Press.Ho do
ar secco
r.rau d'Lurai.
dadc do ar,
ri'iireicnlando
}ior 1 o esla.
do de taliira-
tio.
Quanlid. dc
Tajinr conlido
cm um niclro
Bias
(i rails
cenliu^
Millimetros
Millinietrnt
Milliiiir'lro..i
Graimuus
1
11
748,62i!
8,144
740,471)
0,832
8,316
s.
NnbUtlu, Bom leinpo.
2
10
746,816
5,607
741,209
0,612
5,745
o.
O mfsmo. 0 mtsmo.
3
9
744,705
5,822
738,883
0,679
5,987
o.
CI. c limp. Oraesmo.
4
H
753,499
4,666
748,633
0,5112
4,815
E.
O niesmo. O mesmo.
5
8
752,995
5,035
747,960
0,628
5,190
s.
O mesmu. O mesmo,
6
7
752,234
5.919
746,335
0.790
6,130
s.
O mesmo. O mesmo.
7
7
745,912
6,069
739,843
0,810
6.286
s.
O mesmo. O mesmo.
8
6
746033
4,633
741,400
0,662
4,016
s.
O mesmo. O mesmo.
9
6
746,287
3,667
742,620
0,524
3,011
E.
O mesmo. O mesmo.
10
6
744,764
4,283
740,481
0,618
4,452
E.
O mesmo. O lucsmo.
11
6
740,958
5,130
735,828
0,733
5,332
S.
Enciihert. T. rhiivoso.
12
6
746,033
4,S83
741,750
0,612
4,432
E.
Nubhuio, Bom tempo.
13
6
745,525
5,366
740,159
0,771
5,577
S.
O meamo. O raeemo.
14
6
753,645
5,668
747,977
0,810
5,891
E.
CI. e limp. O mesmo.
15
7
753,828
5,919
747,909
0,790
6,130
E.
O mrsmo. O mesmo.
16
9,5
754,485
7,181
747,304
0,810
7,371
S.
Nublado. O mesmo.
1 '^
10,3
752,587
9,057
743,530
0,956
9,264
s.
Eiicubert. T. cliuvoso.
1 18
11
751,766
9,577
742,189
0,978
9,779
s.
0 mesmo. O mesmo.
1 '^
10,5
748,023
8,640
739,3113
0,912
8,033
s.
O mesmo. O mesmo.
1 -°
10
746,816
8,560
738,2.'i6
0,934
8,771
s.
O mesmo. O mesmo.
1 '^^
10
747,030
8,560
739,270
0,934
8,771
s.
O mesmo. O mesmo.
2 '2
10
751,888
8,389
743,499
0,915
8,590
s.
O ai.-smo. O mesmo.
23
10,5
759,434
9,266
750,161)
0.978
9,478
s.
O mesmo. O mesmo.
24
10
753,156
8,5i6
744,630
0,973
8,737
s.
O mesmo. O raesrao.
25
11
751,766
9,146
7-42,620
0,934
9,339
s.
O incsmo. O mesmo.
26
12
750,376
10,342
740,034
0,989
10,323
s.
O nie-smo 0 mesmo.
27
12
751,644
10,342
741,303
0,989
10,523
s.
O mesmo. O mesmo.
28
11
753,948
9,361
744,587
0,936
9,539
s.
O mesmo. O mesmo.
29
11
1 758,104
9,146
748,958
0,934
9,339
N.
Nubliidu. Bom tempo.
30
10
1 760,256
8,365
751,891
0,913
8,372
N.
O mesmo. O mesmo.
31
11
1 753,033
9,146
743,887
0,934
9,339
NO.
Encuberl. T. chuvoso.
meilia )
^\o luez S
9°
1 750,542
0,822
N
o
1
T
Maxim.
1 Minima
emperaturn
absol. 12°
aLsol. 6"
Piesiiio t
Max. :ibs
Min. abso
tmospfterira
ol. 760,236
lit. 740,958
(iraii d'hii
Maximo .
.Mininio .
midatle do or
. . . 0,989
. . . 0,524
fcntoa dominant
S. e E.
\±
1 Max. \
aria^lo. 6°
Max. exci
rs. 19,298
Maxima v
ariai;. 0,405
Coimbra. 1.*" de Janeiro de 1856.
Mathiaa de Carvalho de f'asconccllosy Lente Subsliluto dePhjsica.
€> Jn^titttta^
J ,i,pj..
JORINAL SCIENTIFICO E LITTERARIO.
RELATORIO
Do commissario dos estodoM do distri-
cto administratjvo dc IiiNboa< eui
1 1 dc Janeiro de I S5«.
Continuado de paj. 266.
Passou-se a applicacao das formulas a con-
jugacao dos vcrhos , e enlao acabou de ma-
nifestar-sc o (lue para bem poucos poderia
ainda admitlir duvida, isto e, que nao pode
ensinar-se o que se ignora. 0 examinando
apresentou unia formula para os verbos cm
o, e fez applicacao as terminacoes da voz ou
differenca activa d'alguns tempos do verbo
Tm ; porem tornou-se cvidente que ignorava
do modo mais complelo as varias classes dos
verbos banjtonos, cireumflexos, cm (lu, e con-
tractos ; e que nenhuma idea formava das
di/ferencas d'esles verbos , pois que , mencio-
nando a formula da activa, nao se fez cargo
da passiva, e menos ainda da media, a qua!
nem se quer fez allusao.
Nao irei mais longe, que nao e necessario;
e so accrescentarei, que, se o examinando
tivesse algum conhecimento da lingua grega,
. nao tentaria applicar ao seu estudo as formu-
las mnemonicas. Estas siio bascadas em ana-
lgias phonicas (permilta-so-me o grecismo);
porem taes formulas, serapre difficultosas, tor-
nam-se impossiveis cm relacao a lingua grega,
que tern muitas terminacoes extensas, e muitos
sons sem corrcspondencia na lingua portu-
gueza. Alcm de ([ue. como e sabido, nao basta
conheccr a terminarSo, mas tambcm, dc mais
a mais, e prcciso cstar ao alcancc da fignra-
tiva em todos os tempos para podcr conjugar
OS verbos com exactidao e seguranca; e como
mnemonisal-as? Omitto as difficuldades nas-
cidas da varicdade dos dialeclos, e outras,
todas inaccessiveis as formulas mnemonicas ; e
ponho ponto aqui as observacoes relativas a
esta parte do exame.
Nao dirsi nuiilo pelo que respeita as provas
apresentadas cm relacao a lingua franccza :
e digo cm relacao a lingua franceza, porqiie,
supposto 0 officio mencione a lingua ingleza,
0 examinando affirmou ser engano, pois que
ignorava esta lingua, e nao Ihe fizera applica-
cao das formulas mnemonicas.
Vol.. lY. MarsoIB
0 examinando liraiton-se ii indicacao c ap-
plicacao d'algumas formulas as conjugacoes
dos verbos regularcs ; sem se occupar das
prinu'iras regras da [ormacan dos pluraes nos
nomes ; do feminino nos adjectivos ; do uso
dos artigos ; das anomalias dc cada uma
d'cstas regras : em fini nao se fez cargo do
que pertence aos conhecimcntos rudimcntaes,
por Gude e indispensavel , que, para progre-
dircm com aproveitamento, principiem a ser
iniciados os ([ue se dao ao estudo das linguas
vivas.
Alcm disto , as formulas do examinando
sao insufBcientissimas para sc obter o lim per
elle indicado ; porque sc refcrcm somente a
alguns tempos dos verbos regulares , e de
ncnbuma sorte aos irrcgulares ; sendo toda-
via ccrto , como se sabe , que nascem d'estes
grandes difficuldades, 'nesta c em todas as
linguas, ate para os proprios nacionaes.
E verdadc que o examinando offcrcceu
uma cspecie de quadro mncmonico para se
aprenderera os gencros dos substantivos com-
muns ; porem sao tantas as exccpeocs (e nao
foram tidas por clle cm nenhuma conta), e
OS valores dados as terminacoes dos vocabulos
francczes, comparado? com os equivalcntes
da lingua portugueza, sao tao oppostos a recta
pronunciacao, qne, longe dc ser util, seria
muito nociva ao ensino d'esta lingua a adop-
cao de lal melliodo.
Sobre cstas brevissimas observacoes espe-
ciaes, tenlio que nada mais e prcciso notar,
porque para aqui tem cabal applicacao tudo
quanto tica observado relativamente ao uso
das formulas mnemonicas no ensino da lingua
latina.
Resulta do exposto que nem o examinando
possue nenhuma das linguas, a'que prctendeu
applicar as suas formulas mnemonicas ; nem
e possivel, por via d'ellas, aprcnder nenhuma
lingua, por mais sabida que seja dc (juem
pretender dar-lhes similhante applicacao.
Vejamos agora se o examinando no ensino
mncmonico da geographia , e da botanica foi
mais feliz, satisfazendo d'algum modo ao que
se obrigara.
Em quanto a geographia, e a historia espe-
rava eu, e esperavam todos os membros do
jury, que o examinando mostrasse que 'nestas
disciplinas pode ser, ate certo ponto, d'alguma
—1856. NcM. 24.
278
^^^
ulilidade a applicafao das formulas mnemo-
nicas. Nao succedeu assim. E porque , para
que assim acontera, e precise ter d'ellas cabal
conhecimento.
Eis-ahi , resumida mas fielmeiitc , como o
examinando coraprehende a sua imporlancia,
0 modo de a estudar, c por conseguintu o
como convcm appiicar-ilie as formulas mne-
monicas. Seguiulo o examinando; u 0 objeclo
sobre todos diiliculloso e importanlc da geo-
graphia , e marcar a posicao dos iogares ; e
portanto tinha asscntado (o examinando) que
devia empregar as suas formulas do modo
que sc houvessem de decorar facilmeute noraes
de cidades, promontories, rios, etc., com as
suas respectivas latitudes e longitudes ; por
quanto , conhecidas estas , logo no mappa se
encontra o logar , que se procura ; sabc-se a
zona , a que pertence etc. E islo o essencial
em geographia , a qual vai a pouco mais ;
porque a parte matliematica aprende-se (na
opiniao do examinando!) em 24 horas, ten-
do-se alguns conhccimentos de geometria » ! !
Extractei coA escrupulo a exposicao do
examinando , e tenho como desnecessario
observar que nao carece de commentario.
Quem nao ve a inutilidade da geograpliia
estudada mnemonicamente conforme as ideas
do examinando ? E improbo o trabalho de
tomar de cor as latitudes e longitudes de
grande numero de Iogares ; mas , depois de
vencido, iica-se na incerteza, e nao se obtem
assignar de prompto a posijao do logar ,
que pretende achar-se, por isso que variam
as longitudes conforme ao meridiano adoptado.
E, alem d'isto, como salvar as imperfeicoes,
e a discordancia dos diccionarios, e dos map-
pas ? Em quanto porem a aflirmar o exami-
nando, que 0 principal objecto da geographia
e marcar as longitudes e as latitudes, des-
presada inteiramente a parte politica e com-
mercial ; e que se aprende em 24 horas a
geographia mathematica, inclnindo a solucao
dos respectivos problemas, e nao querer deixar
duvidoso 0 juizo, que desde logo devera for-
mar-se , de que verdadeiramente ignora a
geographia.
A liistoria ninguem dira que se comprehen-
de 'num catalogo de nomes e de dalas, mais
ou nienos extenso ; porque as datas e os nomes
estao ligados a factos , e sem cstes nao pode
haver signilicacao historica. Entretanto pelas
formulas do examinando nao se pode conse-
guir senao somente saber nomes e datas, e
por tanto nao se pode aprender historia.
Dizer mais sobre este assumpto, seria desper-
dicar o tempo.
Vamos a bolanica. 0 examinando faz con-
sistir principalmente o estudo da botanica em
saber-se de cor nma classilicacao inteira, com
OS caracteres geraes de cada familia : apresen-
ta, por exemplo, um discipulo exercitado a
repetir os nomes de 194 familias, declarando
a que classe c secjao perlcnecm ; mas esse
discipulo nao diz, nem sabe quaes sao as
partes de que se compOe uma planta , quaes
as diversidades de cada uma d'essas paries ,
como se opera o sen successive desinvolvi-
menlo, a que funccoes sao deslinadas, quando
c come as exercem etc. etc.
Um adulto consumiria mezcs d'estudo abor-
recido para aprender de cor, mediante o me-
thodo mncmonico, uma tal classilicacao ; a
qual tedavia, apesar da Icnacidade da rae-
moria das criancas, estas nao aprcndem sem
muito tempo e trabalho. E que maier vanta-
gcm tiraria esse adulto? Quando s'cstuda com
seriedade algum ramo das sciencias naturaes,
por mulliplicados que sejam os sens indivi-
duos, a medida que s'invesliga a natureza e
propriedades d'estes , vao-se fixando na me-
meria os nomes, que es designam por maneira
que, apresentado o indiyiduo, occorre logo
necessariamente o nome. E claro pois que nao
so nao vem proveito de sobrecarregar a me-
moria com grande numero de palavras, a que
nao se liga nenhuma idea, mas tambem que,
posta em cxercicio exclusive a memoria, sem
intervencao do raciocinio, dar-se-ia azo as
pessoas menos reflectidas de sc contentarem
de mcros nomes, como se podessem estes sup-
prir a sciencia, da qua! nao ficariam pos-
suindo nem se quer os rudimentos. Pode por
Ventura conseguir-se, por via das formulas
mnemonicas, o conhecimento apparatoso de
variadas applicacoes, sem o qual com tudo
existiram , e existem excellentes botanicos,
geographos e astronomos ; porem nada mais
pode conseguir-se: sendo fora de duvida que,
so com aquelle vao conhecimento, a ninguem
se podem conceder estas denominacocs, como
succede ao examinando e aos sens discipulos.
A respeito da astronomia, a qual o exami-
nando tambem diz ter feito applicacao das
suas formulas , e em que se tocou incidente-
mente, so direi que pode elle, e podem os
sens dis<:ipulos repetir os nomes de muitas
constellafOes, e contar o numero das suas
estrellas ; mas nao podem ir avante ; e isto
de certo esta muito longe de poder chamar-se
astronomia. 0 defeito vem da origem, e e
inevitavel; porque, segundo desde o principio
observei, na razao da existcncia e mechanismo
das formulas , esta a de que , por ellas , nao
podem senao repetir-se materialmen to certos
sons, sem comprehender-lhes o valor, nem
por conseguinte , saber dar-lhes propria ap-
plicayao. Talvez e isto que o examinando,
movido da evidencia confessou, asseverando:
« Que 0 sen methodo niio se applicava as
theorias , e que para cUas nao tinha formu-
las». E verdade que accrescentou: « Que
essas theorias pouco valem, e com duos ou
tres licoes se explicam pelo methodo ordina-
rio » : porem tenho para mim que o exami-
nando, obrigadopelaconsciencia, quiz, 'neslas
279
ultimas palavras, dar justo fundamenlo, ate
aos raais desraaliciados, para concluirem, sem
tenior d'errar, que o seu mctliodo csta jul-
gado.
Tenho concluido, senhor, e do exposto V.
M. pode inferir, ou cm que conta deve ser
tida a assercao do examinando, mencionada
no citado officio de 18 de junho, de que a
utilidade do seu mctliodo e formulas esta pro-
iiuiifiada, c altestada por pessoas de reconhe-
cido saber, ou como podera ser avaliada a
pioticicncia litteraria e scientifica d'essas al-
ludidas pessoas. Entretanto e de razao adver-
tir, que mera condescendencia leva algumas
vezes homens superiores a serem indulgentes
em demasia, sem preverem o abuso que se
fara de palavras benevoias, que profcridas ou
escriptas sera intencao, ou com intencao muito
diversa, nao podem ser tomadas, sem desaire
seu, com a que Ibes liga immodestamente a
vaidade.
Keraatarei declarando ser minha opiniao e
do jury unanime comigo , que nao deve ser
adoptado nas escholas piiblicas o processo e
formulas mnemonicas, enipregadas por Antonio
Pcreira Ferrea Aragao. Y. M. mandara o que
for servido.
Deos guarde a Y. M. Lyceu nacional de
Lisboa, 11 de Janeiro de 1850. — Reitor, o
conselheiro D. Jose Maria d' Almeida e Araiijo
Corr^a de Lacerda.
iNSTRUcgiio primaria.
Besposta no sr. A. F. de Catttilho, ftcer-
ra do niotbodo portognez, pela Asso-
ciaruo dos professores do reino c
ilbat),
Julgamos d'interesse publico o conheci-
raento do volo da Associacao dos professores,
inslallada na capital acerca do merecimento
do novo methodo de ensino em instruccao
primaria denominado — methodo portuguez.
A competencia dos juizes, o couhecimento
practice dos resultados do methodo no ensino
por espaco de mais cinco annos, a observa-
cao pessoal do processo na practica do me-
thodo, exercida pelo proprio auctor d'elle, a
singeleza e naturalidade, que sobresaem na
resposta escripta, abonam a imparcialidade
de seus auctores, dao suprema auctoridade a
sua voz, e resolvem uma qucstao enfadonha,
de que teni vindo grandes males a instruc-
cao mais necessaria.
Prenotacao.
Yamos publicar o officio dirigido pelo ex.""
conselheiro A. Feliciano de Castilbo a Asso-
ciacao dos professores, afim de os consultar
acOrca de varies quesitos, em cuja solucao sc
comprehende tudo que de mais importante
rcspeita ao methodo, que primeiro seu A.
chamou de leitura repenlina, e ao depois por-
tui/urz. A razao d'osta publicacao e princi-
palnicnte o desejo de satisfazer a certa an-
xiedade que manifestou 'grande numero de
pessoas, que se interessam sinceramenlc pela
instruccao primaria; e em segundo logar,
destniir a falsa opiniao que alguem adrede
ba prctendido crear, de que os professores
d'inslruecao primaria da capital carecem da
necessaria aptidao, e desconfiam tanto de si
e dajusta causa que sustentam, que se veera
na neccssidade de soccorrer-se a injurias e
doestos, em vez de empregar, com a pruden-
cia e decoro proprio das funccoes tao graves
do raagisterio e educacao da priraeira moci-
dade, as armas do raciocinio.
A qucstao esta tractada pelos merecimentos
da ])ropria qucstao: a razao e a experiencia
sao OS promptuarios, a que unicamente os
professores houveram rccurso: a verdade esta
pois com elles. A verdade triumphara.
Srs. Professores. — 0 encargo, que a lei e
0 governo me impozeram, de propagar o en-
sino priraario pelo methodo portuguez, obriga-
me, assim como a propria consciencia, a em-
pregar todos OS meios directos e indirectos,
conduccntes a esse fim. De todos os imagi-
naveis nenhum mais proprio, pela sua effica-
cia, do que a publica manifestacao do juizo
dos homens competentes na materia; e esses
sois vbs, inquestionavelmente, srs. Professores
associados na capital. Rogo-vos pois, em no-
me do melhor servico de el-rei e do reino,
pelos interesses grandes da civilisacao, com-
prehendidos na instrucfao primaria, para
realce da vossa, ainda nao bem avaliada pro-
fissao, e para credito mesmo dos vossos no-
raes, deputeis, desde ja, do vosso gremio,
uraa commissao, escolhida e numerosa, para
examinar e comparar, nos seus trabalhos, c
nos seus productos, as escholas do methodo
portuguez e as do anterior, a lira de que,
sobre essa base positiva, e com os mais co-
nhecimentos, queja por ventura hajaes adqui-
rido, ou poderdes ainda adquirir, no assum-
pto, formuleis, sera contemplacoes, a vossa
sentenca honrada e imparcial, veneranda e
inappellavel, segundo creio.
Permitti-me srs. professores, suscitar-vos
aqui alguns dos quesitos, sobre que me pare-
ce indispensavel que a vossa commissao par-
ticularise, muito attentamente, o seu exame
e juizo:
1.° Qual dos dous ensinos e mais attraetivo"?
2.° Qual se perfaz em raenos tempo?
3.° Qual da fructo mais abundante e me-
lhor?
4." Qual dos dous combina, mais efficaz-
mente, a correccao da pronuncia e a refor-
280
ma da teriuinologia barbara da plebe? o ler
expedilo, cntoado o intelligeiUe; e o escrever
legivel, correilo o ponluado?
5." Qual dos dous sc accoinraoda luelhor
iis exigencias pliysicas e inslinclivas da pue-
ricia, ii sua natural iPiideucia para o movi-
incnto, para o canlo, para o rillinio, para as
\isualidadcs e imageus, para as narraeOes
Claras e amenas, para as mueniouisajOes siu-
gelas e ellicazes?
()." Qual dos dous nierece a palma, coiisi-
derado sob o poiilo de vista moral: qual em-
prega meuos rigor c mais amor? (Jual alVol-
rda, em raaior grau, os discipulos ao mestre,
0 inostre aos discipulos, c todos ao traballio?
(|ual dt've doi\ar nos aninios da niocidade
maior tendencia, ou maior repugnaucia para
OS livros, e para os estudos subsi'i[uciUes?
7.° Qual dos dous emprcga verdadeirameii-
le 0 modo simultaneo, era lodo o rigor do
tcrnio? e por lonseguinte, qual dos dous pro-
mette melbor sal'ra para a cultura popular em
grande? se as priuieiras impressoes exerccm
algum iufluxo ao longo da vida, qual, pela
mauifesta logica e patenle cncadeacao dos
sens processos, educa raclbor os espiritos no-
vels, para que depois nas sciencias, nas artos
e no proprio regimen do viver practico, dis-
corram com mais acerto; c nao deem, neiu
acceitem palavras por ideas, e nuvens por
castellos?
8.° Em qual dos dous sc poderao enxertar,
com maior probabilidade de bom e\ito, os
outros ramos do priraario ensino, que o esla-
do tern razao para espcrar das escholas, alem
do ler, escrever e contar, a saber: gramma-
tica analytica, grammatica do entcndimento,
e nao da memoria; logica practica; rheto-
rica usual; dedaraacao elegante; nocoes, mas
nocoes raciocinadas e intelligivcis, de religiao
e de civilidade, de bygiene particular, de
gymnastica; tiuturas iuiciaes de hisloria, e
antegostos, pelo menos, dc encyclopedismo?
9.° Qual dos dous allianca mais policia,
attencao e decencia as escbolas?
10.° Finalmonte, em qual dos dous se aper-
feijoara melbor e crescera mais o professor
primario aos olbos dos sous aluninos, no
respeito das populacoes, na estima da sua
propria consciencia, e no juizo da providen-
cia, cujo e delegado sobre a terra?
Srs. professorcs, para que estes quesitos,
e OS mais que por venlura bajaes de fazer,
possam ser respondidos com a sisuda gravi-
dade, que tao momentosa questao nos esia
pedindo a todos quantos sonios, releva, que
as invetigacoes da commissao, honrada com
a vossa escolba, recaiam para o melhodo por-
turjuez em escbolas, em (|ue este se professe
genuinamenle; e nao era escbolas, onde, ou
0 influxo de causas estranhas, ou a impericia
do ensinante, bajam abastardado a pureza da
doutrina. Para isso lendes, quasi as vossas
portas, a eschola do Asylo da Infancia des-
valida da rua dos Calafates. Para que e citar
outras, se o que n'uma se consegue, evidente
e que em todas se pode egualniente fazer e
conseguir? cabendo porem advertir, que 'nesta
mesma eschola ([uc vos aponto, e que a ne-
nbuma outra cede vantagem, os resultados
que se obteem, com sereni absolutameute mui
notaveis, pouco sao, ou nada, comparados
com 0 que seriani, se nas aulas dos asylos,
como em todas as do rcino, nao bouvessc o
deploravel e tcrribilissimo vicio organico e
fundamental dc continuas missocs d'alumnos
em todos osdias do anno; o que faz das nos-
sas classes primarias outros tantos teares tie
Penelope, ou cousa aiuda maisabsurda, e em
todo 0 caso, niuito menos dcsculpavel.
Por ultimo, OS trez opusculos, que lenho a
bonra de vos cnviar, se a commissao os con-
sultar, antes do delicado exanie (|uc solicito,
alginua luz poderao por vontura dar-lhe para
melbor se dirigir 'nesse trabalbo que, por novo,
nao deixara de Ihe apresentar dilliculdades.
Sao estes opusculos: Direclorio para os smho-
res professores das escholas primarias pelo
Methodo Porlngiiez; Ajiiste de contas com os
adversarios do Melhodo Portuguez; e Felici-
dade pelu instrticcdo.
Depois de tudo isto, fico esperando da vossa
sabedoria, do vosso amor patrio, e da vossa
religiosidade, o veredicto de maior momento,
e de mais largo alcance, que jamais bavereis
pronunciado.
Deus vos guarde, vos alumie, e vos ajude
em vossos utilissimos trabalhos, srs. profes-
sorcs associados. Lisboa, l!i dc oulubro de
1853. — 0 commissario geral de inslruccao
primaria pelo melbodo portuguez no reino c
ilbas, A. F. dc Caslillto.
lllm." e Exm.° Sr. — k commissao eleita pe-
la associacao dos professores d'cste reino, a
pedido de V. ex.°. tem a bonra de dirigir-se
a V. ex." era resposta a sua missiva de 15
d'outubro do anno preterito, com que v. ex."
considera a pedagogia.
A commissao cumpre o seu dever obedecen-
do ao raandato da sua asscmblea geral, e ten-
do na dcvida attencao o illustrado niodo, com
que V. ex." procura esta comraissao, a raa-
neira esclarecida, com que em seu muito sa-
ber avalia o magisterio, a franqucza, com
que espera nos juizos d'elle as allegacoes de
compelcncia, que v. ex." reconliece 'nesta
comraissao, e o ardente desejo, que a mesma
comraissao tera de concorrer, por todos os
modes, para o melboramento da educacao e
instruccao piiblica.
0 que esta comraissao tem a dizer do me-
thodo portiiijuez c fructo de sous estudos e
experiencias, produzindo razoes, que vac sub-
metter a consideracao de v. cx.°
E iraparcial esta commissao. Nem raesmo
281
a nierecida dcforencia para com v. ex.' move
a sua intcgi'idade, consciencia c juslica, que
a dirigem.
Nao e a scntenca inappellavcl, que v. ex."
Ilio pede, (|uc clla apresenla, por llie pare-
ccr inconvenienle, pois que v. ex.* consuUou
.sobre a api'eciaeao do methodo porluyuez cor-
poracoes respeitaveis, que e.stao para rcspon-
der; c sini urn juizo, que olTerece a v. e.v."
e ao publico, que a observa para tambem
julgal-a sobre o transcendente objecto, que se
discute nas familias raais respeitaveis da
Litteratura.
Avaliado na generalidade e na espccialida-
de 0 methodo portiiguez, julga a commissao
que nao convem ao publico por ser contra-
rio a educacao, e as disposicoes da boa logica
no objecto de que tractamos; nao pcrmittin-
do policia possivel, nem descrevendo a ma-
teria, motivo e tim da arte dc ler, pelos di-
vcrsos e precisos oQicios das vozes e artieu-
lacoes no emprogo da palavra, o que provara
tractando da especialidade do niesmo methodo.
K commissao pois, rel'oreada das razoes e
das provas, que a propria experiencia Ihe tem
subministrado, deduziu imparcialmente a se-
guinte resposta aos 10 quesitos, que v. ex."
otl'ereccu a sua altcncao.
QUESITO I.
Qiial dos dois eiisinos e mais attradivo.
Parcce a primeira vista que o canto, os
movimentos de marchar e palmcar, bcm como
a variedadc da leitura, ou da posicao do
corpo, deveriam ser um forte iacentivo para
attrahir os discipulos a eschola, ao estudo, e
a ura facil progresso; a razao lodavia, e a
propria experiencia mostram evidenteniente o
contrario. Todos sabcm que a monotonia, a
I'requenle repeticao das mesmas accoes e sem-
pre aborrecivel e fastidiosa, ate as pessoas
adultas, por isso que a vontade no horaem e
varia e de pouca duracao, independente-
mente de quaesquer circumstancias de con-
veniencia, ou desconvenicncia, quo possa
haver. E se esta aversao ao I'requente costu-
me de practicar as mesmas accoes, se esta
mobilidade da vontade sao tao triviaes e tao
inevitaveis nos adultos, com muita mais ra-
zao se devem temer nas criancas, visto existir
'iiellas mais fraqueza de juizo. A experien-
cia, que e o ficl espelho, onde, muitas vezes,
se veera as illusoes de ostentosas theorias, e
a experiencia, que nos prova a verdade d'esta
proposicao. Ye-se que as criancas no meio
dos brincos, dos folgucdos e divertimentos,
que Ihes sao mais attractivos e agradavcis,
mostram sempre certa volubilidade, que, pas-
sados poucos dias, ou antes poucas boras,
Ihes torna esses divertimentos enfadonhos e
aborrccido.i. Ve-seegualmenle nosadullos, que
0 continuado hai)ito de practicar as mesmas
accoes laz ([ue estas, de ordinario, scjam I'ei-
tas mechaiiicamente, sem llics prestarem a
mcnor attencao, nem sentirem por isso o
mais Icve ]>razer; e se isto, iiiqucstionavel-
mcnte, se da nas pessoas crescidas, e ainda
mais natural aconlecer nas criancas, pois
(juc ellas, como ja se disse, teem mais fra-
queza de juizo. Segue-se d'aqui que as crian-
cas, avesadas ao quotidiano palmear c canti-
lena, muitas vezes dc necessidadc hao de
cantar iiivoluntaria e mechanicamente, sem
que esta cantilena liies inspire a menor im-
pressao agradavel. Alem de que, se no cauto
do methodo moderno se encontra attractive,
muito mais se devc encontrar na cntoacao
do antigo soletrar, pois que esta nao obriga
as criancas a tao grande sujeicao, a qual
sempre e rcpuguante a pucricia.
E se 0 atlractivo do methodo niodcrno con-
siste egualmente nas pinturas, deve notar-se
que ellas, apezar de serem enlre nos, ha mui-
to, conbecidas, por pouco tempo prendem a
attencao das criancas; c que, segundo a pra-
ctica e a opiniao dc pessoas insusj)eitas, com-
petentes e emprcgadas no ensino pelo dicto
methodo, confundem mais as criancas, e Ihes
trazeni maior embaraco do que esclarecimen-
to. (Yede a nota 1.") Alem d'isso, sendo fora
de toda a diivida que os objectos, mesmo os
que mais attrahem e satisfazem os olhos do
espectador adulto, quando se Ihe ofl'erecem
mui repelidas vezes sempre debaixo da mesma
forma, hem ionge de Ihe serem apraziveis,
tornam-se-lhe ([uasi constantemcnte indiffe-
rentes, e ate importunes : o mesmo effeito
devera produzir nas creancas a continuada
vista das pinturas.
Accresce tambem que o ensino pelo me-
thodo moderno, alem de nao ser mais attra-
ctive que 0 do methodo antigo, torna-se egual-
mente insahibre aos discipulos, e insupporta-
vel aos visinhos da eschola onde se cnsinar
por tal methodo. E iusalubre, porque as crian-
cas, quo sempre aproveitam a occasiao de se
entregarem a turbulencia, tao propria da sua
edade, nao se limitarao somenle a cantar;
mas necessariamente hao de gritar, e a con-
tinuacao d'esta gritaria, repetida todos os
dias, sem diivida Ihes deve ser prejudicial,
inhabilitando-as de certo modo, no future,
para uma vida acliva e laboriosa. No caso
porem de nao se dar tal gritaria, e se por
Ventura o canto for suave, nao deixara com-
tudo dc as tornar efl'euiinadas, e predispostas
ao ocio e a molleza, o que muito se oppSe a
robustez tao necessaria na puericia, como em
qualqucr outra edade. E insupportavel aos
visinhos, porque o canto, ou quotidiana gri-
taria, infallivelmente, ha de ser muito incom-
modativa, resuitando d'aqui o gravissimo in-
conveniente, particularmente nas grandes ci-
282
(lades, (le nao ser facil encontrar-se casa para
("stabelecor a eschola, salvo so o governo a
proniptilicar cm algiim ediiicio sou, o que por
iiiuitas razOes nao podera levar-sc a elVeito.
Em vista poitanlo do ((iio Ilea cxposto e
demonslrado, a eommissao 6 do (larocer qiio
o ensiiio polo methodo portur/ucz iiom li mais
attrai'livo do (jue pciii antigo. ncm olVfrece
meiios ohslaculos e dilliculdadcs iia pnictica
do que elle.
Continua.
A LUZ ARTiFICiAL
Fiiit lux.
Que dilTerenca cnire as hollas descobertas
de Fresne! e o trabalho nislico do homom de
Virgilio, quo nos longos sade.i d'iiiveniij pro-
lurava no amcujo de resinoso Icniii) com que se
ahaniur !
Et quidani scros frftrtitrni ntl liniiifih ignes
PeringUat,ferriiqiie facfs insiiicai actifj.
Quanlo nao distam as arlias de pinhciro,
com que ainda lioje se alumiam miseravois
cabanas na Islandia e na Siiioria, do pbarol
de pi'imeira ordom, collocado, sob a dircccao
deMr. Keynaud, em torredegrnndoza natural,
cntrc todas as maravilhas da cxposicao! Tudo
prova, cumpre dizei-o, que o cstado piiysico
domundo actual dacta de epoclia mui reconto.
Da pequena quantidade de materiaes, que
OS rios teem arrastado para o mar, c da que
elles de la reccbem todos os annos, concluc-se
que nao ha nuiitos soculos coniccou o sou
curso a ser qual boje o vomos. As planlas
e OS insectos nao tiveram ainda tempo para
se dissemiaarem por todas as regioes, que
devem occupar mais tardc. Todos os dias a
natureza c a arte, sua rival, consoguem at-
climatar novas especies , dcsconbecidas nos
paizes ([ue, para o diante, liao-de povoar e
enriqueccr. Porem as conquistas do ente, que
se diz indc'liuidamcnte pcrfeclivol , e quo
mostram, do modo mais frisante, que so po-
demos chaniar vcllio o mundo, comparando-o
com a curta duracao da uossa vida.
Se considerarmos a existencia da terra em
relacao as epoehas geologicas, poderernos dizer
qucoperiodo hislorico apenas dacta dchontem.
Ponderemos quao atrazadas cstavam , antes
do seculo actual, as artes, e principalmcnte
a da ilhiminacao, e tornar-se-ba evidente que
0 genero liumano nao tcvc tempo para fazer
mais avanlajados progresses. E nao e mister
metter em linba de conla as industrias excep-
cionaes, que so aprovoitam a limitado numcro
de pessoas, e nao possuem nenbum dos carac-
leres que tornam a luz e o lunie quasi indis-
pensaveis ao genero humane.
Represenla-nos a mythologia Ceres a pro-
curar sua lilba Proserpina a luz de dous
pinhoiros inllauimados ; mas ninguem nos
diz i|ual fosse a opocha, em que a combusiao
das materias gnrdas e dos oleos sulistituiu a
da madeira rosiuosa. Um grande passo na
arte de alumiar foi, de certo, a invencao da
nieclia ou torcida do lios, que ardem no mcio
de um resorvalorio do substancia combusti-
vel, aliniento da cbamma. X serra e o com-
passo, instrumontos da indusiria e da scien-
cia , atlribuem-se ao sobrinlio de Dedalo ,
Perdix, que, dizem, foi convortido em pcrdiz,
cm tempos d'uma anliguidade pouco ro-
uiota ; mas a quem devcaios a invoneiio da
mocha, esse a[)parelho tao simples como util,
agente cbimiio e pbysico ao mesmo tempo?
Tambom ignoramos quem fosse o inventor
da mocha iuvolvida em materia solida coni-
bustivel, como a das tocbas c vclas de cera,
de ceho ou do resina.
0 uso da resina na ilhuuinacao jiareoe
muilo antigo. Virgilio descrcve-nos o traba-
Ibador Irazcndo da cidado um bolo do resina,
com (|ue de certo se la alumiar, e oin muitas
cboupanas, cm vcz de cera ou sebo, ainda
hoje se cmproga csta materia, muito menos
cara, mas so capaz de produzir luz nuii fraca,
e acompanbada de um coutiuuo cropitar, aloni
do cbeiro desagradavel e infecto (|uo oxbala,
quando nao ardo dcbaixo de uma chamino.
Ao clarao dessa luminaria trabalbam as lian-
deiras aldeas , que fazem entre si a despeza
da tristc luz, (|ue , no dizer de um jjocta
hospanbol, apenas serve para tornar a escu-
riddo visivel.
Como em todas as reuniocs sociaes, porem,
a imaginacao tern alii o sou logar. Umas vezes
passam-se os seroos a cantar cantigas popula-
res , outras , uma vclha conla historias de
ladroes. d'almas vindas do outro mundo, ou
d'amantes inCelizos. 0 local presta-sc bem
ao terror provocado por esses contos que, do
forca, involvem apparicoes, scenas de ceniite-
rio, ou manbas do dcnionio contrariadas por
algum sancto bomem. Asantigas londas, sobre
que a imaginacao activa dos nossos maiores
se exercitou, tao pocamcnto, por espaco de
alguns seculos, resam d'almas condemnadas,
que vinbam rccomniendar aos sous amigos
molhor proredor, (pie o deltas 'neste mundo,
c que nao fossem seroar com as liaudeiras.
A lamparina do cabcca redonda, apoiada
sobre iima cspecie I'e castical, e nianida da
conipetente torcida, ainda csta muilo em nso,
e alumia tao mal como a vela de resina. Em
compensacao e muito economica. " Porque
rasao pergunta o velbo Slroposiades ao sen
escravo na comedia das Nuvens, jiorquo acen-
deste essa alampada, que bebe tanio azoito? »
Eisahi uma censura, que se nao ]iode fazer iis
nossas lamparinas d'estanbo ; mas tamhem
que luz! Quantas d'ellas nao seriam uoces-
283
«itiias para produzir a luz d'um candieiro
Cavcel !
E uin facto, hem vcrificado pcia expcricncia,
que para ohtcr muita luz de iiiu coml)u.slivel
(lualquer, r unipre lazel-o arder vivamciite. Jii
iiao e 0 nicsmo cm relarao ao ralor, porquc
a somina total de calor c sempre a mesma,
(-■mljora o comlmstivel se consuma IciUa ou
rajjidameiUe. Assim que , a vela que liver
a mecha demasiado delgada , nao sera a
(|ue ollereca mais vaiitagem. Durara mais
tempo, e vcrdade, mas dara uma luz, cuja
I'ruqueza nao sera compensada pela duracao.
Siipponliamos que uma vela a arder dura
nictade do tempo que outra : para haver
c\acta compensacao hastaria quo aquella dessc
uma luz duasvczes mais intensa do que esta.
Mas 0 facto e que a intensidade da primeira
aiuda e raaior que o dohro da seguuda, e por
isso e melhor.
Nao e mister dizer quantos milhoes custa
hoje a illuminacao a gaz das priiicipacs cida-
des da Europa. Os estahelecimentos de Cincin-
nati destillam , por anno, quatro centos a
i|uiiihentos mil porcos, cogazquedahi resulta
V conhecido pelo cxquisilo nonie — /«: deporco,
■porkliijlit. Um kilogrumnia de velas de estea-
rina ordinaria custa seis ou settc vezes o preco
de um kilogramma de pao, c nao representa
em valor venal, senao a luz que pode produzir.
Concehc-se pois quanto importa achar uma
medida, uma halanca, iim instruraento, que
sirva para fazer a compiracao da intensidade
real do duas luzes dadas.
Lcmhrou-se algueni do coniparar a luz ar-
lilicial com o hrilho da lua chcia, procurando,
a que distancia de um papel hranco, devia
(ollocar-se a luz d'uma vela, para que
ahii!iiass(^ a papel como a lua. k luz do sol
r.ao podia servir, porque e oitocentas mil
vezes mais forte que a da lua, demasiado
(Icslumhranle , e niui dillicil de fraccionar,
I'm razao da excessiva pe([iiCDCZ dos oriticios,
por onde fora necessario fazel-a passar. Sup-
pondo a luz da lua cheia invariavel, que nao
e assim, esperava-se podel-a tomar como lermo
do com[)aracao, para avaliar as outras luzes
tiradas dc materias gordas, dos hicos de gaz,
ou da electricidade. Jnfelizmente a luz da lua
e branca, a das velas e do gaz avernielhada,
c a da cbamnia electrica, sensivelmente verde:
ora OS olhos nao podem comparar duas luzes
de cor diversa.
(Js varies apparelhos photomelricos inven-
lados com este intuito teem tido mais reputa-
cao do que u>^o. por(|uc depenJem da existen-
cia d'uma luz invariavel, (pie sirva de termo
de comparacao, c e mui diflicil ohtel-a. Sir
John llerschel, tao sabio oplico, como habil
astronomo, ate cbogou a allirmar que nao
podia achar-se essa luz bilola. Mr. liabinel,
donde, na maior parte, extrabimos este arligo,
propoc 0 seguinte processo. Fundindo, cm
um cadinho ordinario , um quarto ou um
oitavo de kilogramma de prata (ina, de sorte
que lique sempre uma porcao de metal pop
fundir, a fim de que a temperatura nao .se
clevc acima do calor da prata em fusao ; a
superficie do metal erradiara uma luz branca
brilbante: cobrindo o cadinho de uma lamina
de ])l;atina, com um orilicio circular de dez
millimetres de diametro, teremos uma especic
de disco, ((ue alumiara sempre com o mesmo
brilho, dadas as mesraas circumstancias pbysi-
cas. Esta idea, poreni, ainda nao foi realLsada
experimentalniente. E tao notavel a desigual-
dade das luzes vendidas pelo mesmo preco,
que 0 uso de uma medida, posto que inexac'ta,
olTerecera iraportantes vantagens aos consu-
m id ores.
AH'astarao-nos um pouco dos progressos da
arte de produzir a luz. Corrcspondera esta
digressao, se o leitor quizcr, a longa serie de
sccnios em que esta arte licou cstacionaria.
Ate 0 Iim do seculo passado nao havia il-
luminacao brilhante, senao a dos lustres, dc
grande numero de velas, que illuminavam as
salas dos palacios, e custavam sommas ini-
mcnsas. As placas ou serpentinas de duas a
cinco velas tambem cram de uso universal.
Mas nenhuma d'estas illumiuacoes de luxo
era eflScaz. Os hurguezes, reduzidos a vela de
cera ou de seho, desprezavara o azeite e os
ignoheis e mal cheirosos caudieiros, quando
0 candieiro de corrente d'ar, de mecha eylin-
drica e occa, e de diamine de vidro, deu a
luz de azeite a superioridade que ainda agora
eonserva.
0 inventor d'este candieiro foi Argant, e
a e[)ocha da sua invencao, o anno de 1800.
Algum tempo dcpois, certo Quinipict chamou
seu o candieiro de Argant, e deu-lhe o seu
nome ; foi o Americo Vespucio do Christovao
Colombo da illuminacao. A assidua limpcza
que exigiam os candieiros d'Argant, ([uasi
ia compromettcndo a sua adopcao; mas o
brilho admiravel da chamma venccu tudo, c
quando depois Carcel, por um mecbanismo de
relojoaria, regulou a quantidade de azeite.
que deve ir banhando a mecha, pode dizer-sc
que foi attingida a complcta perfeicao d'este
mngnihco invento. Fdra injusto uao lazer
mencao do candieiro , dito de modcrador ,
inventado por Franchot, c que sendo mais
simples, produz, comtudo, clleito quasi egual
ao do mecbanismo Carcel; mas uao entra em
nosso proposilo demorarmo-nos com minuden-
cias.
Lucrecio pinta-nos, em versos pomposos,
as douradas estatuas que empunham na mao
direita lampadas ardentes, com que se alu-
miam nocturnos festins :
.... Aurea sunt jm-enum sitmilarhra per lutlfs
T.fimpadas ignifeins mnnibus rctinentia dcxtih^
Lumina nocturms epulis ut snppediteutvr.
284
Taiubem nos tcmos elegantes cslaluas porta-
liizes, que sustentani fatidiciros de corrente
d'ar, tao brilhanles, conio os anligos nao po-
diam imagiiiar. Ilomcro tern por incomparavel
0 rlaro logo flamejanle
dos signaes telegraphicos, inandados fazer por
ClyliMuiicstra ao longo da cosla , para que a
preveuissem da chegada dc Agauicmuon; mas
cram Ibgueiras, nao jii lanipadas ou tochas,
que davam o signal. 0 nicsino se pode dizcr
dos signaes de fogo, por via de que os sobera-
iios da Persia tiubam, em poucas lioras, no-
licias das extremidades de sou vasto impcrio.
Erani verdadeiros telographos de noite, cuja
descripoao liel, dada por Aristotelcs, moslra
liem que os anligos conheciam c empregavani
este mcthodo de correspondencias rapidas ,
com que, ordinariamenle, se bonra a Franca
e 0 inventor Cbappe. De todos os fachos dc
luz adoptados na antiguidade, o archotc de
tics, euvolvidos era resina, e dos mais bri-
lhanles ; mas a sua chamma nao e tao forte,
como a de uma fogueira de lenha, e nao
lembrara reunir muitos archotes, a fim de
obtcr chamma de grande alcance lurainoso.
Ciyntiiiuu.
FERIMENTO POR ftRMA DE FOGO, COM PERDA
DE DOIS TERgOS DO OSSO WAXILAR INFERIOR.
.loaquim d'Almeida, filho dc Conceicao
d'Almeida , natural de Labarrabos , creado
rural, edade 13 annos , temperamento lym-
phalico-nervoso, desenvohicao regular.
No dia 29 de jullio ultimo, uma arma car-
regada com chumbo de caca, disparou-se-Ihe
nas maos e levou-lhe os dois tereos anterior
e lateral esquerdo do osso maxillar inferior.
Yimos 0 doente no dia 31 ja soccorrido
pelosr. Pedro Jose Coelho Ferreira, cirurgiao,
residente em S. Martinlio do Bispo, que tiuha
conseguido limpar a fcrida de corpos extra-
nlios, e sustar a heraorrhagia.
0 labio inferior achava-se quasi lodo des-
iruido, restando apenas dois petjuenos re-
talhos juncto as commissuras. Este estrago
extendia-se inferiormeute ate ao osso ioide,
tinha de largura trez pollegadas, e compre-
bendia quasi todos os musculos das regioes
sub-lingual, e supra-ioidea. Na regiao cor-
rcspondcnte ao bordo inferior da metade es-
querda da maxilla bavia uma solucao de cou-
tinuidade, que parecia ter dado saida, a este
lado da maxilla. D'esta apenas reslava o terco
lateral direito com quatro denies molares, e
do lado esquerdo o condilo e a apophyse co-
ronoidea. 0 labio superior a lingua e os ma-
xillarcs superiorcs nao tinham .<!olTrido na sua
integridade. Os tecidos viziiihos a ferida
apresentavam bastante tumclaccao, attraves-
sados , como estavam , pelo chumbo cm
niuitas partes. 0 doente nao podia articular a
palavra.
Em vista da lesao que se nos apresentava,
cnlcndomos que a indicacao era restaurar o
lahio inferior ; e reconheiendo, que nao po-
diamos seguir a risca nenhum dos melhodos
italiano, ou indiano, e nem sc(|uer os proces-
ses de Cbopart , ou Raux , decidimo-nos a
practicar urn processo ad hoc.
0 eslado geral do doente era animador ;
apenas havia alguma frequencia de pulso , e
constipacao de ventre. Foi poslo no uso de be-
bidasacidiiladas, clystercs com oleo de ricino,
caldos de frango etc. Passamos dois pontos
verdadeiros, aos retalhos formados pelos reslos
do labio e tecidos vizinhos, com a intencao
de os aproximar, visto que por este meio .se
nao podiam tocar. Tractauios a ferida com
camphora em po , planchctas de lios com
pomada campborada, compressas c o gualapo
da barba.
No dia 2 do seguinte mez, achamos o do-
ente com mcnos frequencia de pulso ; tinha
0 ventre desembaracado; a ferida com muito
pouca suppuracao ; e nos tecidos vizinhos
havia mcnos lumefaccao : o que nos resolven
a practicar a costura de oito de conta.
Processo operatorio.
Separamos os tecidos molles do terco que
restava da maxilla ale ao bordo anterior do
masseter corrcspondente, poupando a arteria
facial , que nao tocamos ; ampliamos com
incisOes a solucao de conlinuidade do lado
esquerdo; e vimos que ja se tocavam as ex-
tremidades anteriorcs dos retalhos, que aviva-
mos com tezoura ; e, dcpois de termos foleado
a exlrcmidadc do osso com tenaz incisiva, e
sustado a pequena hemorrhagia (pie houve,
lizcmos a uniao dos hordes anteriorcs dos
retalhos na iinha mcdiana, passando-Ihe trez
allinetes de prata , a cada um dos quaes , se
applicou 0 competente lio ; e eoadjuvamos
esla costura com duas tiras agglutinativas.
Ve-se que o labio inferior iicou com muito
pouca extensao, por ser apenas fornuulo pelas
pequenas porcoes que restavam juncto as
commissuras; enlretanto nao quizemos dilatar
eslas, por nao complicar o curative e alimen-
tacao , e principalmente por entendermos
que, no easo de se reconhecer d'isso neces-
sidade , a todo o tempo se podia proceder a
essas dilatacOes com menos inconvenicnte.
A solucao de conlinuidade do lado esquerdo
que descrevemos, e as incisoes que abi tizeraos,
foram unidas com tiras agglutinativas. 0 resto
do apparelho, como do primeiro curativo.
285
0 doente llcou sendo alimentado com caldos
dojgalinha, de vacca, de (arinlia de S. Bento,
de revalenla arabica, e geleas diluidas era
agua, que se Ihe faziam engulir por meio d'um
funil de construccao appropriada ; e alem d'isto
DO uso de clystcres com caldo degalinlia, ou
vacea.
No dia 5 tiramos o priraeiro alfinetc, no
dia 8 0 segundo, e o terceiro no dia 12 ;
havia-se eslabelecido a uniao ; eslava quasi
tudo cicatrizado ; so existia uma ulceia ar-
redondada juncto ao ioide, com o diameiro
de pollegada e raeia, a qual comniunicava
com a cavidade boccal, por onde se escoava
abundantemeute a saliva.
Tractamos a ulcera com camphora cm p6,
planchctas de lios seccos, compressas, e gua-
la])(i da barba.
0 doente pronunciava sofTrivelmente a maior
pane das palavras, notando-se maior del'eito
na pronuneia das syllabas labiaes.
I'assados 5 ou 6 dias, aclianios a ulcera
muilo diminuida de extensao, com pouca sup-
puracao, como ja notamos. Seria efl'eito da
camphora? E o que temos visto era todas as
feridas e ulceras tractadas por este meio, e
isto na nossa praclica, e na dos prol'essores que
temos seguido. Mas receando ler de luctar
com a rebeldia, que costumam apresentar
as ulceras fistulosas como esta, emprcgamos a
cauterizacao por meio do nitrato de prata e
compressas graduadas. 0 doente principiou
a fazcr ensaios na mastigacao d'alimentos de
pouca consistencia. Insistindo 'neste tracta-
menlo por lo a 20 dias, a ulcera cicatrisou.
E de notar que nos dias intermedios aquel-
les que aqui vao apontados , o doente foi
tractado pelo sr. Pedro Jose Coeibo Ferreira.
Actualmeule existe alguma delomiidade ,
porque se nota a ausencia da proeminencia
da barba e uma depressao no lado direito
d'ella, occasionada pelo desvio, que o terco
existcnte da maxilla toma para a parte in-
terna. A mastigacao faz-se de alimentos de
mediana consistencia, corao sao piio de trigo,
de milho, carnes, frutas etc. a favor dos 4
dentes inferiores que restam contra os supe-
riores.
Entende-se muito bera a pronuneia ; mas
existe ainda algum defeito na das syllabas la-
bio-dcntaes, que deve ser causado pcia falta
da arcada dentaria, e difliculdade, que ha em
unir 0 labio superior ao inferior, por este
ultimo ser pequeno, e achar-se rctrahido para
baixo ; o que tambem da causa a alguma
perda de saliva.
Com vista de remediarestes defeitos, mostra-
mos 0 doente aos melhores peritos d'esta
cidade : concordaram unanimemente em que
nao se deviam dilatar as commissuras dos
labios para dar niais amplitude ao inferior ;
porque isso poderia dar logar a maior perda
tie saliva; e que o melhoramenlo de taes
funcfoes se devia esperar do tempo, c da
exlensibilidade que os tecidos viessem a ad-
quirir.
0 sr. dr. Jose Ferreira de Macedo Pinto
foi d'opiniao que se (izesse a extraccao dos
dois dentes incisivos medios superiores ; pois
com a falta d'elles a depressao, que o labio
superior soffria, facilitava a funcyao ao infe-
rior. Pareceu-nos que se poderia tirar bom
resultados desta idea ; mas o doente recu-
sou-se.
llesolvemos publicar csla observacao , por
nos Icmbrar que poderia aniniar operadores
e dcentes a extraccao de parte ou loda a
maxilla inferior , como e aconselliado cm
ccrtos cases ; pois nos parece , que em idcn-
tidade de circumstancias individuaes se dcv(;
esperar melbor resultado d'uma operacao me-
tbodicamente practicada com as regras da ar-
te, do que d'uma mutilacao, como no prezenlr
caso.
Cumprc-nos porem declarar, que em epoclia
alguma do tractamento notamos tendeucia
para a deslocacao violenta, ou reviramento
da lingua, como os auctores apontam, apezar
d'ella se achar solta. das ligacOes anleriores
e de lodo o lado csquerdo.
Fazemos tencao de nao perder de vista o
doente, para avaliar alguns accidentes conse-
cutivos ou tardios, que se possam dar.
Faltariamos a urn dever, se nao lizessemos
mencao do disvello e caridade, que o sr. Padre,
Jose Antonio de Campos Vieira empregou no
tractamento do doente, que era, e continua a
ser seu creado
Coimbra, 12 de Janeiro de 1856.
IGNACIO RODllIUUES DA COSTA DUARTE.
rri'V-) fiOP/jiil
fl AGRICULTURA DOS CSRTHAGINEZES.
A agricultura, enire os carthaginezes, con-
stituia uma verdadeira sciencia fundada em
regras deduzidas da experiencia, e exempta
de todo 0 empirismo. Uavia mestres que a
ensinavam, e cujas escholas cram muito fre-
quentadas.
A prosperidade agricola do tcrritorio de.
Carthago, e principalmente de Bysancio, at-
testada por muitos escriptores da anliguidade,
e uma prova de que as theorias dos seus
mais celebres agronomos tinham a sanccao
d'uma priictica universal e secular. As obras
de Magon, Ilamilcar, e outros, sao commenio-
radas por Columella, Plinio e Varrao, com
grande louvor; de maneira que os romanos,
quando occuparam a Africa septentrional,
encontraram nos campos proximos de Carthago
um completo systema de agricultura racional.
Os habitantes de Numidia, a excepcao do
286
liloral onic os carthapinezps possuiam co-
lonias, que pcia sua induencia eslavam ma is
adianlailas, cram os unicos, cuja educa^-ao
apronomica estava atrazada.
E porcm facto avori^aiado que a agricul-
lura africana foi o typo da a^ricultura ita-
liana, c que Mapon tcve a honra do servir
de guia aos agronomos romanos. Depois da
tomada de Cartliagn , o tractado d'aquelle
escriplor foi achado na bihliotheca d'esta ca-
pital. 0 vcnccdor niandara distribuir pelos
rcizulos d'Africa tndas as obras d'esta biblio-
theca, queiendo inciilcar o despreso, em que
eram tidas as produrcoes litterarias dos ven-
cidos. As obras porem de Magoa foram as
unicas exceptuadas d'esta proseripcao," e o
senado roniano, apesar de Catao ter ja escrip-
plo 0 seu celebre tractado, mandou vertel-as
em latim '.
Magnn tinha reunido em vinte oito livros
as doutrinas c tradiooes agrouomicas, que
entao vogavara, e que elle havia iliustrado
por seus trabalhos, longa experieucia, e
esludo dos escriplores gregos , que o pre-
cederam. Diiiiz d'Utica deu uma traduccao
grega d'esta obra em vinte livros, na qual,
apesar de Ibe supprimir oito livros, compilou
muitos trechos dos melhores auctores gregos.
Diophane da Bethynia reduziu a seis os vinte
livros de Diniz ^ .
Magon gozava entao da mais elevada repu-
tacao e era tido, diz Columella, como pae
da economia rural'. Dos auctores gregos
c latinos foi elle o verdadeiro modello \ A
agricultura racional e os seus progresses na
Italia foram por tanto importados d'Africa.
A antiga Lybia cnsinou aos seus conquista-
dores os melhores processos e as practicas
mais pbilosophicas para a cultura, e proprie-
dade do seu solo.
As obras de Magon comprehendiam as
tlieoriasagronomicas, que'naquella epocha ha-
viara recebido a sanccao da practica, e tinham
por consequencia um character geral, mas nao
deixavam por isso de ter interesse local ,
e de se referir em particular ao clima e espe-
ciaes circumstancias do solo africano.
Este character especial doniina egualmente
* « Et Poeous etiam Mago : cui qiiideni tantiim ho-
iiurem senatus uoster habuit Carthagine capta. tit quum
regulis Africae bibliolhecas dunaret, unius ejus duode-
triginia voliimina censeret in latinam linguam traosfe-
rftida, quum jam M. Cato praecepta coadidisset •
Plin. Lib. XVIII, C. V, 1.
(I Nam hujus octo et viginti memorabilia volumina ex
senatus consulto in latinum sermoaem conversa suat. •>
Colum. Lib, I, C. I.
■■ Varron, De re rustica, L. I, C. I, 10.
* <^ Verumtamen ul Cartha[;:inensem Magonera rusti-
cutionis parentem maxime veneremur. » Colum. L. 1,
C. I, 13.
* « Nam el Mago Carlhaginensis et Hamilcar, quos
secuti videnturgraecae gentis non obscuri scriptores Mna-
ses atque Paxamus, turn demum nostri generis , . . . v
Colum. L. XII, C. IV, S.
nas obras dos outros agronomos carthaginezes.
Por isto c que, recomendando Columella os
diversos traclados d'economia rural dos auc-
tores punicos, diz que elles devem ser cunhe-
cidos dos cultivadores romanos, poslo que
ahi se encontrem prineipios inapplicaveis.
Tremellio, qiiei\audo-se dos niesnios crros,
desculpa-os todavia pela difl'erenra que ha
entre o solo e clima d'ltalia e d'Africa, cujas
produccoes sao diversas.
Reconhecido por tanto este character especial
nas obras dos agronomos carthaginezes, facil-
mente se compreliende, que os preceitos d'cstcs
escriplores, que foram adoptados pelos aucto-
res gregos e latinos em seus traclados d'agri-
cultura eram egualmente applicaveis a Africa,
0 que, na falta do outros documentos, lanca
algunia luz sobre a agricultura d'cste paiz.
'Naqnelles mesmos escriplores gregos c latinos
se encontram lambem alguns processos agro-
nomicos particularcs a Africa.
E porem nuiilo para lamenlar, que se
perdesse a versao latina de Magon ; porque
esta importante obra nos daria pleno conhe-
cimento da agricultura d'Africa e das practicas
e processos usados, nao so na epoca da re-
publica carthagineza, eposteriormentedebaixo
da dominafao romana, mas tambem nos se-
culos seguintes, pois que os arabes conserva-
ram em todos os ramos muitas das practicas
de sous antecessores e particularmente no
qne toca a economia rural !
Se pelo menos se tivessem conservado as
traduccoes, posto que em resumo, de Diniz
d'Utica, e Diophane de Bithynia, encontrar-
se-hia 'nellas a substaneia dos escriptos de
Magon. 'Num tractado porem de agricultura
eseripto, noseculoXll, pelo arabe Jahia-ebn-
cl-A\vam , que foi traduzido em 1802 por
D. Antonio Banqueri , e que 6 uma compi-
lacao feita em relacao as condicOes do solo
hespanhol, o A. cita um Cassio que, sem
duvida, e o Cassius Dionysius Ulkensis tra-
ductor de Magon ; e e mui provavel que
Jabia-ebn-el-Awam, quando escreveu a sua
obra em Sevilha, tivesse a mao o manuscripto
de Cassius, que sera lalvez possivcl desco-
' A maior parte dos tractados de economia rural
arabe sao compila^oes dos tractados de agricultura dos
agronomos gre,:;os e latinos.
Na Hespanha. onde a civilisatjao arabe chegou ao mais
alto grau de esplendor, sao frequentes os vestigius da in-
fluencia das ideas romanas, das suas leis, e da sua in*
dustria. Pelo que respeita a agricultura, entre oritras
obras, merece particular men^no um almanak arabe com-
posto em Cordova no anno de 961 da nossa era, pelo bis])o
Harib, filho de Zeyd, e dedicado ao Kalifa de Cordova
Hakem, cognominado Alinostanser-Billah (que busca
apoio em Deos). Para couhecer a dura^ao do anno solar,
a fim de regular a ordem das esta(;oes e os trabalhos agri-
colas, OS arabes serviam-se do anno solar e dos mezes
syriacos ou copies ; na epoca, porem, dos ultimos Kalifas
linham adoptado os mezes latinos , e 'neste almanak ,
que contem muitos preceitos e observa^Oes agricolas, faa-
se sempre men^Ho dos mezes latinos, e das festas chrislas
— Beynaud, Geograph. d'Jlioul/rda, T. I.
287
brir-3e ainda cntre os manuscriptos gregos
d'alguraa das antigas bibliotliocas de Ilespa-
nha , como no convento de S. Paulo, na
corinthia, o doutor Fredegar Mone acaba de
descobrir a setima parte da historia natural
de Plinio o velho, desde o livro XI ate ao
livro XV.
A descoberta d'aquelle raanuscripto faria
nao so conhecida a sciencia agricola 'naqucl-
la epoca, mas apresentaria tambem a parte
essencial das obras de Magon, em que se
coniprehendia a summa dos conhecinientos
agronomieos taes como entao eram practieados
em Carthago, e como depois o foram nas
provincias vizinhas, e ate em parte do con-
tinente europeo.
A NEERLANDIA E A VIDA HOLLANDEZA-
1.
Formafao do territorio. — Inundacoes antigas e
rccentes. — Enxugamento do logo de Harlem.
Exists urn paiz, onde os rios correm, por
assini dizer, suspensos sobre as cabecas dos
seus habilantes ; onde cidades poderosas se
erguem por baixo do nivel do mar, que as
domina e comprime; onde porcoes de campos
cultivados teem sido alternadamente invadidas,
abandonadas, e tornadas a conquistar pelas
aguas ; onde o curso natural dos rios tern
prendido de novo illias antigas ao continente
por um laco de area ; e onde (inalmente
algumas partes do anligo continente, destrui-
das e naufragadas, forraaram illias recentes :
este paiz e a Hollanda. Em presenca de uma
constituicao geographica tao singular, nao e
motivo unico d'admiracao o ver que a Hol-
landa , com um punhado de gente , podesse
ganhar e manter a sua indepcndencia ; que
sem pedreiras conseguisse levantar cidades e
edificios magestosos ; e que construisse, quasi
desprovida de matas, navios que disputaram
OS mares a frotas respeitaveis : nem causa
tao pouco 0 principal espanto observar que
ella, desaliando a relha do arado para terras
estereis e inundadas, fizesse das suas cidades
grandes feiras de gado e celleiros abundantes.
Nao por certo ; o que sobre tudo faz pasmar,
e que um tal paiz cxista. 0 que interessa
aqui ao viajante ainda mais que os acciden-
tes do terreno , o caracler dos habitantes , a
extensao e a prosperidade do territorio , e o
mysterio de uma formacao e de um destino
singular, que em parte se explicam pela na-
tureza, e cm parte pela industria liumana.
Liso e unido como um mar perfeitamente
socegado, chamfrado por golfos e babias, en-
trecortado de lagos interiores, banliado de
rios, que se ramiticam era infinitos ribeiros, o
solo de Hollanda parece ter sido o theatro
de uma lucta entre a terrS t 5^ aguas. 0
actual estado d'estc paiz, especie de [ransac-
cao entre os dois elementos, e uma conse-
quencia evidente de causas particulares, e
d'aconteeimentos curiosos, d'acontecimentos
que alias nao sao tao antigos, como se poderia
presumir. Quando a sciencia pretende remon-
tar ao berco geologico das outras partes da
Europa, ve-se obrigada a ir estudar niouu-
mentos, sobre cuja interpretacao e muda a
historia. 0 engenho do homem vae seguindo,
atravcz dastrevas e dasruinas, olio dos acou-
tecinientos que dcviani succeder-se sobre a
terra nessas epochas em que o homem, se-
gundo tudo nos leva a crer, estava ainda
lora da ereajao. Aqui, na Hollanda, o espe-
ctaeulo que se nos oflerece e mais singular,
apresenta raaior novidade : esles golfos , os
lagos, OS grupos d'ilhas, estes terrenos d'al-
luviao que constituem provincias inteiras ,
tudo isto OS honiens virara nascer ; viram ja
depois dos tempos historicos fecharem-se as
bocas dos rios com os depositos senipre crcs-
centes das areas ; viram as terras converter-
se em aguas, e seccarem-se os mares inte-
riores. Muitas das causas physicas por onde
OS naturalistas querem explicar as antiquis-
simas mudancas effectuadas na econoniia do
gloho terrestre , — taes como os diluvios , os
ventos, as mares, os movimentos do nivcl da
terra e do mar, — eontinuaram em plena acti-
vidade sobre o solo dos Paizes-Baixos ainda
depois do estabelecimento das suas cidades.
Muito tempo depois de ter ficado mais ou
menos estacionaria a estructura do continen-
te europeu , tern a Hollanda comecado , teiu
seguido, e segue ainda hoje o curso das suas
formacoes geographicas. E e por isso que a
historia natural das variacoes do solo e re-
vestida aqui d'uni interesse muito particular.
Liga-se esta historia aos deslinos sociaes do
povo que habita os Paizes-Baixos ; e a geolo-
gia d'hontem e d'hoje, a geologia militante,
e mesmo, ate certo ponto, a geologia politica.
Ate hoje os viajantes e moralistas teem dado
pouquissima importancia a reconstruccao do
theatro physico onde vieram estabelecer-se
as diversas civilisacoes da Europa. A data e
a|natureza deste theatro, as condicOes, no meio
das quaes elle se iorraou, nao sao todavia
estranhas aos factos essenciaes das naciona-
lidades. Os povos sao aquillo, que as inlluen-
cias exteriores do paiz que habitam, deter-
minam que elles sejam , aquillo que os fa-
zcm |a agua, o|ceu ,6 a .terra. 0 valor d'estas
causas topographicas sobe de ponto, quando
uma nacao se acha coUocada em condicoes
unicas de posicao entre o continente e o mar.
A geographia d'este povo e entao o prefacio
da sua historia, a raiz dos seus costumes,
das suas instituicoes e do seu gcnio.
Por documentos irrefragaveis , 6 possivel
saber-se, o que foi a Hollanda originaria-
288
mente ; as »\ViJaancas por que tern passado
cni vir'ude da acijao (los rios e do mar ; o
cm que Ma se tornou outre as maos do honiPin,
c 'ruima palavra, conio sc fez a llollanda.
Quanto a arcao dns lios e poderosa e imiitas
\ezes terrivci , ainda lia poiico tempo acalia
de ser revclado pelas iiuindacOes que ariui-
^aram muitas das provincias neeriaiulezas ;
e'ncste tlieatro de desastrcs recentes e que
havemos de estudal-a.
A acoao do mar podcrcmos obscrval-a iia
regiao das dunas ; a do homcm, sobre todos
OS pontos do territorid, c mais particulamien-
te nos arredores da Harlem. I'or esta lurma,
quern nos fnnierera os elementos da historia
geograpliica da Hollanda , serao os proprios
monumontos da natureza, aos quaes servirao
de complemcnto outros documentos eompila-
dos dc colleci-Oes scientificas, muito pouco
conhecidas, que existem nos Paizes-Baixos.
I.
Em 18S1 foi nomeada unia commissao para
cxplorar scientiticamente o solo da Neerlan-
dia '. Esta commissao estabeleeeu a sua re-
sidoncia em Barlem , celebrada pelos sous
orgaos, pelo cerco sustentado em 1572 rontra
OS hespanhocs, e pela bonra de ter dado o
naseimento a Lourenco Coster, que e tido
em llollanda como inventor da imprensa.
Outro titulo havia para que Harlem mereces-
se a prcferenoia da commissao : era a abun-
dancia de documentos scientilicos que possue
esta cidade, cujos habilantes tiveram sempre
decidido gosto pelas colleccoes. E sabido que
Harlem e a cidade das (lores. Alii vivem os
dcscendentes d'esses I'amosos amadores de tu-
lipas, que de uma cebola faziam dependcr
toda a sua fortuua e o seu amor proprio.
Hoje ja nao e urn furor, uma mania, mas
0 ainda um gosto, c dos mais delicados. Teem
\ima arte conipleta de crear novas variedades,
dc reunir as cores, de produzir ornatos arti-
ficiaos , 'numa palavra d'inventar llores que
a natureza nao tinha prcvisto. Ainda mesnio
OS que nao sao cntendedores, e impossivel,
no mez de maio, que deixem de ver seni in-
teresse as ricas culturas de jacinthos e de
lulipas lancadas por todo o terreno, e ate
mesmo algunias vezes pela area das dunas,
como um chaile da Persia ou de Cacbemira.
Das colleccoes de flores nasccu ultimamente
0 gosto pelas colleccoes d'objectos artislicos e
<lhistoria natural. A maior parte porem dos
viajantes, que atravessam a cidade de Harlem
de fugida , nem sequer sonham a existencia
d'estas riquezas. Em Franca os thesouros
scientilicos saltam aos olbos ; na Hollanda e
' Adoptamos a palavra Nterlandia (terra baixa) com
|jri'fereiicia a de Hollanda para desipnar a reuni.lo das
provincias constituidas, depois da separa^ao da Belgica
debaixn do titulo de " Reino dos Paijes-Baixos. •■ A
TTollanda propriamente dicta nao forma effectivamcnte
mnis que diias provincias d'este reino.
precise procural-os. Estes depositos , obras
primas da paciencia e do estudo, sao ignora-
dos pela maior parte dos habilantes, nos livros
nao se falla d'elles, e uma sollicitude modesta
OS guarda religiosamente debaixo de cbaves.
Aqui a sciencia sabe ser rica com discrijiio,
mas sem passar a ser avara. Uma vcrdadeira
urbanidade bollandeza, sem fausto nem pre-
tcncoes, abre com toda a boa vonlade a porta
aos amadores.
Continiia.
RELACAO
Dns indiriduos nomeados para os scgtdntes togarcs
d'ini,irucr/to j/iiblicn^ desde o d'ta 15 ai^ ao fim de ft-
vereiro^ em viitiide de despnchos do Conselho superior
d'instntcrno publico, e decret-'s do (ioverno commnni-
cados ao mesnio Conselho no indicado periodo.
lNSTRlCf;AO PRIMARIA..
Alexandre T.uiz Soaree da Silva, para |)rofessor tern-
porario da cadeira de C&stello Viegas, district*) de Coim-
bra.
Antonio da Cruz Victorino, para dicto de Aragos,
districlo de \ iseii.
Antonio Joaquim Gomes Soeiro, para dicto de Cha-
ves.
Antonio Rodrigues e Silva, para dicto de Tornada,
dislricto de Leiria, por transferencia de Selir de Maltos.
Antonio Jost"- Freire d'Andrade, para dicto de Pa-
dreiro, dislricto de Vianna.
Luiz Accioly Noronha, para dicto de Sant'Anna do
Campo, districto de Beja.
Pedro Jose de Mendon^a, para dicto de Alvorninha,
districto de Leiria.
Francisco Anlonio de Paula e Almeida, para profes-
sor vitalicio da cadeira de Sancta Marinha, districlo da
Guarda. (Decreto de 8 defevereiro.)
INSTRUC^'AO SECtlNDAtllA.
Joao Emilio d'Azevedo Guedes, para professor tem-
porario da cadeira de latim da Villa de Sabrosa. (Por-
laria de 9.'i de fevereiro.)
O Jornal da Snciedade Agricola do Porto puWica-se
no fim de cada mez, formando cada numero um folheto
de nao menos de :i2 paginas.
Assigna-se, no Porto — na livraria de More, Pra^a de
D. Pedro n." 59 e 60.
Em casa de Cruz Coutinho, livreiro aos CalJeireiros
n.« 14.
No escriptorio commercial, rua de Bello-Monte n.**
74.
Em Coimbra, cm casa de More e companhia.
Em Lisboa, n:i livraria de Lavado, rua Augusta n." 8.
Pre9u da assignatura — por anno . . . 1^440 rei»,
» M — semestre 720 »>
IS'ao se recebera assignaturas por menos de um semes-
tre, pago a entrega do 1.° numero sendo no Purto, ou
pago adiantado sendo fora do Porto. Para estas ultimas
assignaturas, o junial sera enviado franco pelo pre^o
acima marcado
A correspondencia deve ser dirigida ao redactor do
Jornal da Sociedade Agricola do Purto, franca de porte.
Os annuncios relalivos a agricnltura recebem-se no
escriptorio da typographia commercial, rua do Bello-
monte n." 74, sendo previamenle pagos na razao de 40
reis per Iinha.
Todos o& artigos extranhos a redac^So, que forem pu-
blicadus no jornal, scrao asstgnados por sens auclores.
V