Skip to main content

Full text of "Monumenta missionaria africana. Africa ocidental"

See other formats


FEB  8  1991 

.7 

,B6I 

*1 


Digitized  by  the  Internet  Archive 
in  2014 


https://archive.org/details/monumentamission09bras 


MONUMENTA 
MISSIONARIA  AFRICANA 

Africa  ocidental 

(1643-1646) 

COLIGIDA     E     ANOTADA  PELO 

PADRE  ANTÓNIO  BRÁSIO 

c.  s.  SP. 

VOL.  IX 


AGÊNCIA    GERAL    DO  ULTRAMAR 


LISBOA  /  MCMLX 


MONUMENTA 
MISSIONARIA  AFRICANA 


^AN   6  1991 


MONUMENTA 


MISSIONARIA  AFRICANA 


AFRICA  OCIDENTAL 

(1643  -  1646) 


COLIGIDA     E     ANOTAD  A^/P  ELO 

PADRE  ANTÓNIO  BRÁSIO 

C.  S.  Sp. 


VOL.  IX 


AGÊNCIA    GERAL    DO  ULTRAMAR 


LISBOA  /  MCMLX 


VOL  IX  —  CORRIGENDA 


Página 

Linha 

Lê-se 

Leia-se 

XXVIII 

3 

Scritture  Ricevute 

Scritture  Riferite 

9 

9 

Lisboa 

Madrid  (Trujillo) 

3» 

1 

D.  Henrique 

D.  Filipe 

40 

8 

DHRDD» 

DFRDD° 

40 

9 

(D.  Henrique) 

(D.  Fihpe) 

99 

20 

Dada  en  Madrid,  a  8  de  fe- 

brero  de  1644. 

125 

4 

chiamato  il  P.  Giuseppe  d'An- 

tichera.  Vn  Predicatore  delia 

Prouincia   di   Valenza,  per 

nome  il  P.  Fr.  Angelo... 

160 

10 

'Filipa  Carneiro 

Filippa  Carnero 

160 

lil 

da  Città 

la  Città 

232 

3 

(16^3-1645) 

(16-3-1648) 

233 

3 

16  Marzo  1645 

16  Marzo  1648 

295 

9 

fls.  114-115 

fls.  1!14-115,  108-108  v.  e  121. 

452 

10 

por  mal 

por  mar. 

NO  V  CENTENÁRIO 
DA  MORTE 
DO  INFANTE  D.  HENRIQUE 


Seu  principal  intento  em  descobrir  estas 
terras  era  atraher  as  barbaras  nações  ao 
jugo  de  Cristo,  e  desy  a  gloria  e  louuor 
destes  reynos. 

JOÃO  DE  BARROS  —  Déc.  I,  Liv.  I. 
Cap.  VII 

Partir  é  teu  destino... 

«Ida»  é  a  divisa,  o  místico  sinal, 

Com  que,  seguro, 

—  Os  olhos  levados  ao  divino  — 

Descerras  os  caminhos  ao  futuro: 

Como  aspirando,  absortamente,  o  odor 

Da  clara  lusitãnia  sempre  em  flor, 

Por  teu  sonho  tornada  universal! 


MÁRIO  BEIRÃO 


INTRODUÇÃO 


COM  intervalo  relativamente  breve  segue-se  ao  VIU  o  IX 
volume  de  «Monumental.  Assim,  mercê  de  circuns- 
tâncias favoráveis,  se  redime  o  tempo  perdido  e  se  quei- 
mam as  distâncias. 

A  preparação  e  efectivação  da  missão  do  Congo,  confiada, 
desde  a  primeira  hora,  aos  missionários  Capuchinhos  Italianos 
e  Espanhóis,  pela  sua  manifesta  e  real  importância  na  evange- 
lização dos  domínios  portugueses,  temporais  e  espirituais,  da 
África  Ocidental,  moveram-nos  a  não  desprezar  um  só  papel 
caído  em  nossas  mãos,  que  ao  facto  tenha  referência  de  aprovei- 
tar, isto  é,  com  valor  realmente  histórico.  Neste  capítulo  forne- 
ecu-nos  grande  e  bom  manancial  o  magnífico  Arquivo  da  Pro- 
paganda Vide. 

Outros  papéis,  se  bem  que  não  especificamente  de  matéria 
missiológica,  entendemos  dever  incluir  na  colectânea,  como  os 
que  tratam  do  condomínio  político  luso-holandês  de  Angola 
e  sua  peripécias  mais  marcantes,  tanto  mais  que  nelas  tomaram 
parte  activa  alguns  missionários  da  Companhia  de  Jesus.  Aliás, 
como  é  sabido,  o  estabelecimento  dos  holandeses  calvinistas  em 
Luanda  foi  um  obstáculo  positivo  à  efectivação  da  missão 
católica,  que  só  havia  de  desaparecer  com  a  restauração  portu- 
guesa de  1648.  Publicamos  alguns  dos  documentos  mais  signi- 
ficativos, conservando-se  muitos  outros,  ainda  inéditos  ou  apenas 
ligeiramente  estudados,  no  Arquivo  Histórico  Ultramarino,  em 
Lisboa. 

A  contribuição  do  Arquivo  da  Propaganda  Fide  revela-se 
particularmente  relevante  no  esclarecimento  da  política  do  rei 


XI 


Garcia- Afonso  II  para  com  Portugal,  a  princípio  dúbia  e  caute- 
losa, e  finalmente  hostil  sem  rebuços,  influenciada  pelos  Holan- 
deses ocupantes  e  também  pelos  Capuchinhos  Italianos  e  Espa- 
nhóis. É  que  ainda  vinham  longe  as  directrizes  formais  dos  três 
últimos  Papas  aos  missionários,  em  matéria  de  comportamento 
politico,  se  bem  que  a  Propaganda  já  chamasse  a  atenção  para 
o  assunto  nesta  época,  como  consta  de  documento  aqui  publi- 
cado ( n.°  8o ). 

O  epistolário  dos  missionários,  nomeadamente  o  dos  Padres 
Alessano  e  Taggia,  pelo  seu  carácter  espontâneo,  particular  e 
franco,  revela  ao  historiador  o  verdadeiro  fundo  dos  aconteci- 
mentos. Nele  se  manifesta  mais  de  uma  vez,  mesmo  com  dema- 
siada frequência,  a  política  anti-portuguesa,  de  modo  especial 
na  pena  do  Padre  Boaventura  de  Alessano,  Prefeito  da  Missão, 
que  afinava,  afinal,  pela  directriz  então  seguida  pelo  Vaticano 
para  com  Portugal,  pois  não  reconhecia  a  independência  política 
da  Nação,  realizada  em  i  de  Dezembro  de  1640.  Atitude  estra- 
nha que  se  manteve  inalterável  até  ao  tratado  de  paz  luso-espa- 
nhol,  de  /j  de  Fevereiro  de  1668.  Nem  a  supressão  da  Com- 
panhia de  Jesus  pelo  Marquês  de  Pombal,  nem  a  lei  radical  de 
Joaquim  de  Aguiar,  de  1834,  nem  a  República  anti-católica 
de  i()io,  vibraram  golpe  tão  profundo,  tão  perdurável  e  de 
tamanhas  consequências  na  vida  religiosa  do  ultramar  português 
e  suas  missões,  como  estes  lamentáveis  28  anos  de  pontes  corta- 
das ,  de  «primado  do  político»  sobre  o  ((primado  do  espírito». 

Não  se  pense  que  exageramos .  Com  efeito,  quando  se  fez 
a  paz  luso-castelhana  em  1668,  não  havia  já  um  único  bispo 


XII 


no  reino  ou  em  qualquer  das  dioceses  ultramarinas  portuguesas. 
Para  só  falarmos  da  Africa,  a  diocese  de  Angola  e  Congo  esteve 
desprovida  de  Pastor  29  anos;  Cabo  Verde  28  anos  e  S.  Tomé 
34  anos.  E  se  o  santo  Cura  d'Ars  pôde  dizer  que  uma  paróquia 
sem  pároco  durante  20  anos,  adorará  finalmente  os  animais,  que 
dizer  de  uma  diocese  vaga  não  só  20,  mas  3 o,  40  e  50  anos!? 

A  tais  extremos,  lamentavelmente  dolorosos  para  a  Igreja 
e  para  Portugal,  levou  a  política  de  achantage»  montada  em 
Roma  pela  toda  poderosa  Espanha  filipina  contra  a  indepen- 
dência de  Portugal,  na  qual  a  Santa  Sé,  mau  grado  seu,  se  viu 
enredada,  não  lhe  tendo  faltado  ameaças  claras  de  cisma  por 
parte  de  Filipe  IV,  que  amedrontaram  o  Vaticano,  impossibi- 
litando-lhe  os  movimentos  e  a  liberdade  de  acção.  E  se  Portugal 
foi  vítima  imediata  de  tais  manobras,  a  vítima  maior  foi  ainda 
a  Igreja,  tendo  saído  da  longa  refrega  luso-espanhola  grave- 
mente esfacelada,  quer  na  Europa  quer  em  terras  de  missão. 

Ao  falarem,  tão  frequentemente,  na  decadência  missionária 
do  padroado  português  no  século  XVII  e  seguintes,  não  dizem 
os  historiadores,  por  táctica  ou  ignorância  dos  factos,  a  sua 
verdadeira  razão.  Estancaram-se  e  secaram  as  fontes  normais  da 
vida  cristã  durante  28  anos  e,  consequentemente ,  as  fontes  na- 
turais do  recrutamento  sacerdotal  e  apostólico.  O  resto  veio 
por  si  com  lógica  inexorável. 

Influenciados  a  princípio  pela  política  anti-nacional,  soprada 
por  Castela,  o  tempo  e  as  lições  duras  da  experiência  haviam  de 
provar  aos  missionários  Capuchinhos,  mais  tarde,  quão  mal 
avisados  andaram  nos  entusiasmos  dos  primeiros  anos  e  de  que 


XIII 


lado  estava  a  razão.  De  qualquer  modo,  foram  os  homens  pro- 
videnciais do  momento. 

O  estudo  deste  -período  catastrófico  para  a  acção  missionária 
africana,  como  para  a  brasileira,  indiana,  chinesa  e  japonesa — se 
bem  que  só  a  primeira  aqui  nos  interesse  —  deve  preocupar 
com  seriedade  intelectual  os  historiadores  das  missões.  Se  há 
alguém  que  tenha  medo  das  revelações  «escandalosas»  dos  arqui- 
vos, esse  alguém  não  somos  nós.  Nem  sequer  as  revelações  do 
Arquivo  da  Propaganda  Vide  —  tão  numerosas  neste  volume 
— ■  estão  nesse  caso.  Muito  pelo  contrário,  mostram-nos,  com 
merediana  clareza,  que  nem  sequer  os  mestres  dos  Institutos 
Superiores  de  Missiologia  se  têm  esfalfado  a  vasculhá-lo  e  a 
aproveitar-lhe  os  vastos,  profundos  e  sérios  ensinamentos. 

* 

Já  uma  vez  trouxemos  á  colação  a  Histoire  Universelle  des 
Missions  Cathohques,  obra  que  veio  certificar-nos  de  que  a 
França  não  tem  actualmente  historiadores,  além  de  que,  mais 
ajustadamente  ao  conteúdo,  se  deveria  intitular  história  das 
missões  católicas...  Francesas. 

O  Prefácio  do  volume  II,  publicado  em  1957,  relativo  ao 
século  XVII,  revela-se-nos  supuração  hepática,  que  dá  a  direc- 
triz a  todo  o  volume.  Aliás  parece  ser,  agora,  de  fino  bom  tom 
em  determinados  meios  do  progressismo  católico,  deturpar  os 
factos,  romanceá-los  ao  sabor  do  movimento,  armar  mesmo  ao 


XIV 


trágico,  na  esteira  de  certo  herói  de  Molière,  como  quem  perdeu 
todo  o  sentido  das  conveniências  e  das  realidades  históricas. 

<(L'espnc  des  grandes  découvertes  et  les  habitudes  engen- 
drées  par  lui  ont  pese  d'un  pois  trop  lourd  sur  les  méthodes  de 
1'evangélisation».  Depois  desta  singular  apreciação  do  valor  dos 
descobrimentos  luso-espanhóis  e  do  seu  papel  na  cristianização 
do  mundo,  vem  a  acusação  fácil  de  que  pusemos  a  Cruz  ao 
serviço  da  Espada  . . .  Assim  se  faz  a  história  das  Missões! 

Os  inimigos  inveterados  do  Padroado  e  os  apóstolos  da 
«autodeterminação»  política,  das  democracias  populares  e  da 
«negritude»,  não  perdoam  a  este  pequeno-grande  País  ter  sido, 
durante  mais  de  dois  séculos,  de  parceria  com  a  Espanha,  o  único 
que  fez  cristandade  pela  cristandade  e  nunca  cristandade  pela 
política,  colocando  sempre  generosamente  a  sua  Espada  ao  ser- 
viço da  Cruz,  ou  ao  «serviço  de  Deus»,  como  então  entre  nós 
se  dizia.  Por  isso  nos  querem  mal! 

E  que  fazia  então,  nomeadamente  em  África,  a  Itália  do 
autor  do  Prefácio?  Que  fazia  então  a  França,  que  publicou  o 
livro?  E  a  própria  Propaganda  Vide,  sem  missionários  seus,  sem 
meios  materiais  para  lhes  dar  embarcação  e  viático,  não  recorria 
ela  fequentemente  aos  bons  ofícios  de  Portugal  e  Espanha, 
como  não  faltam  exemplos  neste  nosso  volume? 

É  fácil  atacar  a  acção  missionária  portuguesa  no  tempo  e 
no  espaço  —  é  obra  humana  —  mas  é  sumamente  doloroso 
que  o  faça  quem  o  faz  e  que  para  se  fazer  haja  necessidade  de 
lançar  mão  da  calúnia,  da  mentira,  da  destorção  dos  factos,  e 


XV 


que  com  semelhantes  fontes,  espírito  e  métodos  se  pretenda 
fazer  .  .  .  a  história  das  missões  católicas! 

Note-se  particularmente,  para  além  do  Prefácio,  o  espírito 
«pointilleux»,  «ombrageux»,  «argneux»  que  anima  os  capí- 
tulos VI,  Vil  e  IX  deste  volume.  Como  há  ainda,  nesta  se- 
gunda metade  do  século  XX,  tanto  quem  baralhe  e  confunda 
probidade  científica  e  má  fé,  história  e  panfleto,  objectividade 
e  fúrias  de  imaginação  romântica!  A  investigação  metódica  das 
fontes,  a  rectidão  e  clarividência  de  juízo,  o  sentido  moral  da 
justiça  que  se  deve  a  todos,  vivos  e  mortos  —  ainda  que  tenham 
sido  missionários  portugueses  —  são  bagatelas  que  só  preo- 
cupam pessoas  sérias.  Cultivar  a  calúnia  e  a  mentira  como  mé- 
todo de  crítica  histórica,  malsinar  factos,  métodos  e  intenções, 
na  consciência  de  que  este  salitre  corrosivo  algo  fará,  isto  sim 
que  é  ser  historiador!  Não  era  outro,  afinal,  o  método  de 
mestre  Voltaire. 

E  então  desde  que  a  tragédia  da  última  guerra  reduziu 
certas  nações  da  Europa  ao  seu  território  metropolitano,  ou  que 
outras,  «numa  febre  delirante  de  renúncias  e  de  penitências 
que  constitui  quase  um  exemplo  de  mazoquismo»,  se  precipi- 
taram numa  fuga  covarde  a  responsabilidades  culturais  e  edu- 
cativas, lançando  povos  inteiros,  incultos  e  semi-bárbaros,  numa 
corrida  tresloucada  de  corcéis,  na  via  larga  das  autodetermina- 
ções e  independências,  tão  temporãs  como  imerecidas;  desde 
que  se  inventou  o  mirabolante  «slogan»  do  «sim-»  ou  do 
anão»,  como  base  de  uma  comunidade  fictícia  e  falaciosa  de 
estados  semi-bárbaros,  começou  de  cultivar-se  um  «anticolonia- 

XVI 


lismo  intransigente,  sob  -pretexto  de  que  está  em  jogo,  só  agora, 
o  «futuro»  da  Igreja,  quando  no  período  precedente  se  aben- 
çoava a  presença  da  Europa,  por  injusta  que  ela  fosse,  como 
condicionalismo  necessário  da  cristianização  das  gentes  e  da 
«liberdade»  da  mesma  Igreja,  como  sucedera  outrora  á  própria 
Europa  com  a  benéfica  colonização  romana. 

Não  seremos  nós  a  rejubilar  com  os  cataclismos  políticos 
da  guerra,  de  que  só  o  comunismo  ateu  tirou  partido  concreto, 
nem  com  os  «benefícios»  coibidos  pela  França,  pela  Itália,  pelo 
Ocidente  e  pela  mesma  Cristandade,  nesta  febre  demissionária, 
de  abandonos  e  de  covardias. 

«Inévitablement  les  peuples  non  chrétiens  —  escreve  o 
Cardeal  Costantini  —  avaient  limpression  d' une  colonisation 
étrangère  sous  1'apparence  de  la  rehgion!»  Poder-se-á  aplicar  a 
doutrina  a  todos  os  casos  e  em  toda  a  parte?  De  qualquer  modo, 
o  actual  anticolonialismo  dos  progressistas  filo-comunistas  era 
simplesmente  impensável  há  uns  quinze  anos  e  tem  uma  data 
«a  quo»  gravada  no  bronze  da  história:  1945- 

As  acusações  acerbas  lançadas  contra  Portugal,  desde  o 
Prefácio,  neste  livro,  nas  suas  relações  de  Povo  civilizador  e 
missionário,  com  as  gentes  de  outros  continentes,  por  panfle- 
tárias que  sejam  não  logram  abalar  indestrutíveis  realidades: 
todos  fogem  a  responsabilidades,  numa  fuga  covarde  de  ven- 
cidos, mas  os  portugueses  ficam!  É  «escandaloso»,  é  «miste- 
rioso», é  inconcebível,  mas  ficam!  Para  defesa  das  Missões,  da 
Cristandade ,  do  Ocidente  e  da  própria  África! 


XVII 


O  oportunismo  politico,  os  malabarismos  insensatos,  reve- 
lam-se  por  essa  Europa  toda  em  publicações  mesmo  católicas, 
mesmo  de  carácter  missionário,  com  um  espírito  doentio,  der- 
rotista, de  fuga,  de  medo  abúlico,  que  fazendo  coro  com 
Moscovo,  atraiçoa  o  mundo  cristão  e  o  próprio  cristianismo.  Na 
Itália,  na  França,  na  Bélgica,  continua-se  na  imprensa  a  cam- 
panha de  subversão  da  Europa  cristã  na  África  e  na  Ásia.  Não 
estranhem  que  nós  não  vamos  na  onda.  Oito  séculos  de  nacio- 
nalidade e  quatro  longas  centúrias  de  acção  missionária  e  civili- 
zadora em  quatro  continentes,  que  só  nós  temos,  autorizam-nos 
a  termos  uma  doutrina,  a  sabermos  o  que  queremos  e  que 
caminhos  trilhamos.  E  temos  ainda  o  que  nem  todos  têm: 
direito  e  razão. 


Outros  documentos  revelam  como  se  tratava,  tanto  em 
Portugal  como  no  Brasil,  da  restauração  da  plena  soberania  por- 
tuguesa e  católica  em  Angola.  Outros  ainda  levantam  o  véu  às 
rivalidades  palacianas  das  províncias  de  Valência,  Andaluzia 
e  Castela,  dos  religiosos  Capuchinhos,  quanto  ao  seu  campo  de 
apostolado,  problema  estudado  já  pelo  Rev.  Padre  Alelchior  de 
Pobladura  em  vários  dos  seus  valiosos  trabalhos,  e  aqui  revelado 
em  toda  a  sua  luz. 

De  alguns  documentos  extrai-se  mesmo  a  lição  dos 
obstáculos  burocráticos  da  própria  Propaganda,  ou  mesmo  dos 
Superiores  religiosos,  levantados  aos  Capuchinhos  que  preten- 
diam consagrar  a  vida  ao  serviço  de  Deus  nas  missões  entre 

XVIII 


infiéis.  Acusações  levantadas,  tão  frequente  e  tão  levianamente, 
contra  os  governos  aparecem-nos,  ã  leitura  atenta  destes  papéis, 
como  cortinas  táticas  de  fumo,  para  ocultar  realidades  que  é 
doloroso  ou  desconcertante  deixar  ver. 

Longas  questiúnculas  de  irmãos  entre  os  Frades  das  pro- 
víncias da  Andaluzia  e  de  Valência,  a  propósito,  quer  da  missão 
entre  os  Negritas,  quer  das  missões  dos  rios  Amazonas  e  Mara- 
nhão, em  terras  brasileiras,  desfavoráveis  certamente  ao  rendi- 
mento apostólico,  saem  também  da  poeira  dos  arquivos  para 
a  ribalta  da  realidade  histórica. 

Interessantes  os  documentos  que  revelam  a  paternal  recep- 
ção e  acolhimento  dispensado  pelos  Reis  de  Portugal  aos  Capu- 
chinhos italianos,  bem  como  os  que  tomam  a  defesa  da  posição 
da  politica  portuguesa  quanto  ao  problema  da  confirmação  dos 
Bispos  apresentados  à  Santa  Sé  por  D.  João  IV.  Neste  ponto 
é  notável  o  desassombro  do  Padre  Boaventura  de  Taggia.  Em 
vão  pedia  o  Rei  de  Portugal  reciprocidade  de  serviços.  Roma 
mostrou-se  intransigente  até  ao  fim. 

São  já  deste  período  os  projectos  da  fundação  de  um  hospí- 
cio de  Capuchinhos  em  Lisboa,  para  serviço  de  procuradoria 
das  suas  missões  do  Congo  e  até  da  fundação  de  convento  pró- 
prio em  Luanda. 

Embora  o  Padre  Alessano  tivesse  partido  de  Sanlucar  de 
Barrameda  com  a  sua  missão,  reconhecendo  o  Rei  de  Espanha 
como  legítimo  senhor  do  Congo,  não  procedeu  assim  o  Vice- 
-Prefeito,  Padre  Boaventura  de  Taggia.  Por  isso  manda  D.  João 


XIX 


IV  ao  Governador  Sotomaior  que  o  proteja  e  mantenha  a  missão 
à  custa  da  fazenda  real. 

Particularmente  interessantes  os  três  relatórios  da  viagem 
da  missão  do  Padre  Alessano,  em  que  são  contados  os  contra- 
tempos e  peripécias  de  uma  travessia  longa  e  acidentada,  sobre- 
tudo as  dificuldades  encontradas  no  Zaire,  quando  do  desem- 
barque, da  parte  dos  calvinistas  holandeses.  Mostram  ainda  que, 
apesar  do  abandono  a  que  estava  votada  aquela  cristandade,  havia 
quatro  anos,  por  obra  e  graça  do  assalto  holandês  a  Luanda, 
a  fé  se  mantinha  viva  entre  os  congueses  e  o  apostolado  ali  exer- 
cido pelos  missionários  portugueses  tinha  operado  em  profun- 
didade. Ao  contrário  do  que  se  propalava  em  Roma  e  mesmo 
em  Lisboa,  os  habitantes  mostraram-se  invulneráveis  ao  credo 
calvinista,  notabilizando-se ,  com  espanto  dos  missionários  recém- 
-chegados,  na  devoção  consciente  e  arreigada  ao  Santíssimo  Sa- 
cramento  e  á  Santíssima  Virgem. 

* 

Cumpre-nos  agradecer  ao  R.  P.  Nicola  Kowalsky,  OMI, 
actual  Arquivista  da  Propaganda  Ride,  a  colaboração  presti- 
mosa que  quis  dar  a  este  volume,  revendo  ou  mandando  copiar 
um  que  outro  documento,  e  confessando-nos  o  seu  propósito  de 
nos  auxiliar  para  o  futuro,  o  que  ê  para  nós  penhor  da  muita 
estima  que  vota  ao  nosso  trabalho:  «je  tiens  á  vous  dire  que  je 
serai  toujours  prêt  á  vous  rendre  tous  les  services  possibles  pour 
les  «Monumenta».  Todos  os  historiadores  ficarão  gratos  a  esta 
fraternal  dedicação. 

XX 


Os  agradecimentos  do  autor  irão  sobretudo  para  Sua  Ex." 
o  Sr.  Ministro  do  Ultramar,  Almirante  Vasco  Lopes  Alves, 
que  contribuiu  fundamentalmente  para  que  esta  obra  saísse  do 
beco  sem  saída  em  que  esteve  metida  e  paralisada  durante  dois 
anos.  Os  historiadores  das  missões  africanas  serão  gratos,  com 
o  autor,  ã  esclarecida  visão  e  actuação  de  Sua  Ex.a.  Bem  haja! 

À  Agência-Geral  do  Ultramar,  cujo  empenho  pela  publi- 
cação de  «Monumenta»  até  hoje  nunca  se  desmentiu,  e  tudo 
tem  feito  para  a  plena  realização  do  projecto  iniciado  em  1952, 
as  nossas  melhores  homenagens. 

Sabemos  que  não  temos  laborado  em  vão  e  esta  ê,  certa- 
mente, a  maior  recompensa  moral  para  quem  trabalha.  Várias 
teses  universitárias,  conferencias  brilhantes  e  estudos  mono- 
gráficos, se  têm  socorrido  abundantemente  de  nMonumenta 
Missionaria  Africana».  Outros  que,  não  querendo  acompanhar 
o  progresso  da  investigação  histórica,  cristalizaram  num  passado 
de  obscuridade  e  de  incertezas,  têm  produzido  trabalho  de  baixo 
nível  científico  e  mesmo  sectário. 

Continuaremos  com  a  tenacidade  e  paciência  que  estes  tra- 
balhos requerem,  até  onde  Deus  e  os  homens  o  permitirem, 
a  bem  das  Missões  Católicas  Africanas,  da  Igreja  e  de  Portugal. 

Lisboa,  ij  de  Novembro  de  1^60. 

PADRE  ANTÓNIO  BRÁSIO 
C.  S.  SP. 


XXI 


ERRATA  &  CORRIGENDA 


Página 

Linha 

Lê-se 

Leia-se 

3 

9 

eo 

e  0 

6 

7 

veradediras 

verdadeiras 

16 

27 

dos  Possessões 

das  Possessões 

23 

6 

obviar 

■para  obviar 

33 

32 

sobras 

sobas 

120 

*9 

2  de  Abril 

27  de  Abril 

166 

»5 

Olendeses 

Olandeses 

280 

26 

inlígenas 

indígenas 

292 

12 

Sylpa 

Sylua 

333 

12 

Alquivos 

Arquivos 

359 

32 

doe.  n.°  97 

doe.  n.°  95 

387 

324 

doe.  n.°  117 

doe.  n.°  116 

443 

7 

Luibi 

Luigi 

SIGLAS  E  ABREVIATURAS 


SIGLAS  E  AREVIATURAS 


AGS    Arquivo  Geral  de  Simancas  —  Valhadolid 

AHU    Arquivo  Histórico  Ultramarino  —  Lisboa 

AOMC    Analecta    Ordinis  Minorum  Capucinorum 

APF    Arquivo  da  Propaganda  Fide  —  Roma 

APRC    Arquivo  da  Província  Romana  dos  Capu- 
chinhos —  Roma 

ARSI    Arquivo  Romano  da  Companhia  de  Jesus 

—  Roma 

ATT    Arquivo  da  Torre  do  Tombo  —  Lisboa 

AV    Arquivo  do  Vaticano  —  Roma 

BADE    Biblioteca  e  Arquivo  Distrital  —  Évora 

BAL    Biblioteca  da  Ajuda  —  Lisboa 

BNL    Biblioteca  Nacional  ■ —  Lisboa 

BNM    Biblioteca  Nacional  —  Madrid 

Cap   Capítulo 

Cfr   Confere  ou  Confira 

Cód   Códice 

C.  S.  Sp   [da]  Congregação  do  Espírito  Santo 

cx   caixa 

doe,  does   documento,  documentos 

F.  G   Fundo  Geral 

fl.,  fls   fólio,  fólios 

Fr   Frei 

Liv   Livro 

Mons   Monsenhor 

Ms.,  Mass   Manuscrito,  Manuscritos 

Obr.  cit   Obra  citada 

pág.,  págs   página,  páginas 

P.e    Padre 


XXVII 


R.  S   Real  Senhoria  e  Reverência  Sua 

s./  d./    sem  data 

SRCG    Scritture  Ricevute  nelle  Congregazioni  Ge- 

nerali  (APF) 

S.  }   fda]  Companhia  de  Jesus 

V.  Il.ma    Vossa  Ilustríssima 

V.  M   V.  Mercê,  Vossa  Majestade 

VV..  MM   Vossas  Mercês 

V.  P   Vossa  Paternidade 

V.  R   Vossa  Reverência 

V.  S.  II. ma    Vossa  Senhoria  Ilustríssima 

Vid   Vide 

/    Indica  passagem  de  fólio  ou  de  linha 

//    Indica  abertura  de  parágrafo 

[ . . .  ]    Indica  falta  de  texto  ou  texto  presumido 


XXVIII 


ÍNDICE 


N.°  Pág. 
i — AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  ao  Director  Holandês  de 
Luanda  e  sua  resposta  aos  signatários.  Luanda,  10  dc 
Janeiro  de  1643    3 

2  —  DOUTOR  IOÂO  SALGADO  DE  ARAUJO  -  Svcessos 

Àlililares:  Capitulações  com  os  Holandeses  c  ataque 

ao  arraial  do  Gango.  30  de  Janeiro  de  1634    6 

3  — ALGEMEEN    RIJKSARCHIEF    (Haia):    Carta  de 

D.  Garcia  II,  Rei  do  Congo,  ao  Governador  Holandês 

no  Brasil.  Bunte,  23  de  Fevereiro  de  1643    13 

4  —  AHU  -  Angola,  cx.  2:  Carta  dc  D.  Garcia  II,  Rei  do 

Congo,  ao  P.°  Reitor  do  Colégio  de  Luanda.  23  dc  Fe- 
vereiro dc  1643    '7 

5  —  AHU  -  Angola,  cx.  2:  Carta  do  Governador  de  Benguela 

a  el-Rei  de  Portugal.  Benguela,  1  de  Março  de  1643...  21 

6  —  AHU  -  Angola,  cx.  2:  Carta  de  Diogo  Lopes  de  Fana 

a  el-Rei  de  Portugal.  Arraial  do  Gango,  5  de  Março 

de  1643    23 

7  — Angola,  cx.  2:  Carta  do  Governador  de  Angola  a  cl-Rei 

de  Portugal.  Bengo,  9  de  Março  de  1643    28 

8  —  AHU  -  Angola,  cx.  2:  Carta  de  D.  Henrique,  Rei  do 

Dongo,  a  D.  João  IV  de  Portugal.  Mauepungo,  10 

dc  Março  de  1643    39 

9 — APF  -SRCC,  142:  Carta  do  Colector  Apostólico  ao  Se- 
cretário da  Propaganda  Fide.  Lisboa,  16  de  Maio  de 

l643   •   41 

10  —  BNL  -  Ms.  7.162:  Sucessos  do  arraial  do  Bengo  entre 

Portugueses  c  Holandeses.  17  de  Maio  de  1643    42 

1 1  —  ARSI  -  Lus.,  55.  Assalto  ao  arraial  do  Bengo  pelas  tropas 

holandesas.  17  de  Maio  de  1643    46 


XXXI 


N.°  Pág. 

12  —  ARSI  -  Brasília,  3:  Carta  de  Salvador  Correia  de  Sá  ao 

Geral  da  Companhia  de  Jesus.  Rio  de  Janeiro,  2  de 
Junho  de  1643    55 

13  —  APF  -  Memoriali,  406:  Missão  do  Reino  do  Congo.  22 

de  Junho  de  1643    56 

14  —  AHU  -  Angola,  cx.  2:  Artigos  e  condições  das  pazes 

entre  Holandeses  e  Portugueses.  1  de  Julho  de  1643...  57 

15  —  APF  -  Acta,  15:  Padres  missionários  Capuchinhos  da  pri- 

meira Missão  do  Congo.  Julho-Setembro  de  1643  ...  60 

16  —  APF  -  Lettere  Volgari,  21:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao 

Núncio  em  Madnd.  Roma,  30  de  Agosto  de  1643  ■••  ^2 

17 —  ATT-Ms.   1341:  Carta  de  Sousa  Coutinho  a  el-Rei. 

6  de  Setembro  de  1643    64 

18 —  AHU  -  Cód.  30:  Parecer  do  Conselho  Ultramarino  sobre 

o  Reino  de  Angola.  Lisboa,  19  de  Setembro  de  1643  ...  65 

19  —  BNL  -  Ms.  2.666:  Carta  de  Sousa  Coutinho  ao  Conde 

da  Vidigueira.  Haia,  5  de  Outubro  de  1643    81 

20  —  9HU  -  Rio  de  Janeiro,  cx.  1 :  Parecer  de  Salvador  Correia 

de  Sá  sobre  a  restauração  de  Angola.  Évora,  21  de 

Outubro  de   1643    82 

21 — AGS  -  Secretarias  Provinciales,  Maço  2639:  Parecer  de 
Francisco  Leitão  sobre  a  missão  dos  Capuchinhos.  Ma- 
drid, 4  de  Dezembro  de   1643    ^5 

22  —  AGS  -  Estado,  Maço  2806:  Consulta  do  Conselho  de 

Estado  sobre  a  Missão  do  Congo.  Saragoça,  6  de  De- 
zembro de  1643    96 

23  —  APF  -  SRCG,  123:  Cédula  de  Filipe  IV  de  Espanha  a  Fr. 

Boaventura  de  Alessano.  Madrid,  1  de  Janeiro  de  1644  98 

24  —  APF  -  SRCG,  108:  Carta  de  Fr.  Boaventura  de  Cerdena 

e  Fr.  João  de  Santiago  ao  Secretário  da  Propaganda 

Fide.  Madrid,  11  de  Janeiro  de  1644    100 

25 — BNL  -  Ms.  7.162:  Carta  Régia  ao  Padre  João  de  Matos. 

Lisboa,  25  de  Janeiro  de  1644    102 

26  —  ATT-Ms.  1122:  Missionários  da  Ordem  de  Cristo  para 

o  Ultramar.  Lisboa,  25  de  Fevereiro  de  1644    105 

27 — APF  -SRCG.  123:  Carta  do  Rei  de  França,  Luís  XIV, 

a  D.  João  IV  de  Portugal.  Paris,  16  de  Abril  de  1644  108 

28  —  BNL  -  Ms.  7.162:  Carta  Régia  ao  Conde  da  Vidigueira. 

Alcântara,  20  de  Abril  de  1644    1 10 

29  —  FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Resena  His- 


XXXII 


N.°  Pág. 
tórica:  Carta  do  Definitóno  da  Andaluzia  ao  Secretário 
da  Propaganda  Fidc.  Sevilha,  24  de  Abril  de  1644.  .  112 

30  —  FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  -  Resena  His- 
tórica: Carta  do  Dcfinitório  da  Andaluzia  ao  Secretário 
da  Propaganda  Fidc.  Sevilha,  24  de  Abril  de  1644...  114 

31 — APF -SRCG,  180:  Carta  do  Definitório  da  Andaluzia 
ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  [Sevilha,  24  de  Abril 
de  1644]    116 

33  —  APF  -  Acta,  16:  Missão  do  Reino  do  Congo.  25  de  Abril 

de  1644    1 18 

33 — BNL  -  Ms.  7.162:  Carta  Régia  ao  Conde  da  Vidigueira. 

Alcântara,  27  de  Abril  de  1644    120 

34  —  APF  -  SRCC,  123:  Carta  de  Frei  Boaventura  de  Alessano 

ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Abril  (?)  de  1644  121 
35 — APF  -  Lettere  Volgari,  22:  Carta  da  Propaganda  Fide 

ao  Núncio  em  Madrid.  Roma,  7  de  Maio  de  1644  ...  130 

36  —  APF  -  SRCG,  123:  Carta  dos  Padres  de  Teruel  à  Propa- 

ganda Fide.  Valência,  9  de  Maio  de  1644    132 

37  —  APF  -  Acta,  16:  Missão  do  Reino  do  Congo.  21  de-  Junho 

de  1644    135 

38  — CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ,  XII:  Carta 

de  el-Rei  D.  João  IV  ao  Embaixador  em  França. 
Alcântara,  23  de  Junho  de  1644    136 

39  —  APF  -SRCG,  123:  Carta  do  Padre  Boaventura  de  Ales- 

sano ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Sevilha,  30  de 
Junho  de   1641    138 

40  —  APF  -  Lettere  Volgari,  22:  Carta  do  Secretário  da  Propa- 

ganda Fide  ao  Padre  Boaventura  de  Alessano.  Roma,  2 

de  Julho  de  1644    144 

41  — AHU  -  Ari  gola,  cx.  3:  Carta  de  Alessano  de  Abreu  de 

Miranda.  Lisboa,  23  de  Julho  de  1644    146 

42  —  APF  -SRCG,  123:  Carta  do  Colector  Apostólico  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Lisboa,  24  de  Julho  de  1644  148 

43  —  APF  -SRCG,  123:  Carta  do  Colector  Apostólico  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Lisboa,  12  de  Agosto  de  1644  150 

44  —  AHU  -  Cód.   13:  Consulta  do  Conselho  Ultramarino. 

Lisboa,  17  de  Agosto  de  1644    152 

45  —  APF  -SRCG,  123:  Carta  de  Frei  Boaventura  de  Taggia 

à  Propaganda  Fide.  Lisboa,  30  de  Agosto  de  1644  ...  156 


XXXIII 


N.»  Pág. 
46 —  APF  -SRCG,  123:  Carta  de  Frei  Boaventura  de  Taggia 

à  Propaganda  Fide.  Lisboa,  1  de  Setembro  de  1644.  ..  158 

47  —  APF  -  SRCG,  123:  Carta  de  Frei  Boaventura  de  Taggia 

à  Propaganda  Fide.  Lisboa,  5  de  Setembro  de  1644...  160 

48  —  APF  -  SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  à  Pro- 

paganda Fide.  Madrid,  7  de  Setembro  de  1644    162 

49  —  ATT_Ms.  1017:  Carta  de  el-Rei  D.  João  IV  ao  Embai- 

xador em  França.  Lisboa,  17  de  Setembro  de  1644...  163 

50  —  BNM  -  Ms.  3818:  Carta  do  Secretário  do  Conselho  de 

índias  aos  Superiores  Capuchinhos  de  Castela.  Madrid, 

26  de  Setembro  de  1644    164 

51  —  BNM-Ms.  3818:  Carta  do  Provincial  de  Castela  ao 

Conselho  Real  das  índias.  1  de  Outubro  de  1644   165 

52  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Definitório  da  Andaluzia 

à  Propaganda  Fide.  Sevilha,  24  de  Outubro  de  1644...  172 

53  —  APF  -  SRCG,  123:  Carta  do  Definitório  da  Andaluzia  ao 

Núncio  em  Madrid.  Sevilha,  25  de  Outubro  de  1644...  175 

54  —  APF  -  SRCG,  108:  Carta  de  Frei  Boaventura  de  Alessano 

à  Propaganda  Fide.  Sevilha,  25  de  Outubro  de  1644  177 

55  —  APF  -  SRCG,  108:  Carta  do  Definitório  da  Andaluzia 

à  Propaganda  Fide.  Sevilha,  25  de  Outubro  de  1644  180 

56  —  APF  -  SRCG,  123:  Carta  de  Frei  Boaventura  de  Taggia 

a  el-Rei  dc  Portugal.  Lisboa,  29  de  Outubro  de  1644  182 

57  —  APF  -  Acta,  16:  Missionários  Capuchinhos  para  o  Congo. 

5  de  Novembro  de  1644    187 

58  —  APF  -Lettere  Volgari,  22:  Carta  do  Secretário  da  Pro- 

paganda ao  Núncio  em  Madrid.  Roma,  12  de  Novem- 
bro de  1644    188 

59  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  ao  Secre- 

tário da  Propaganda.  Madrid,   13  de  Novembro  de 

1644    190 

60 —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Padre  António  de  Terucl 

à  Propaganda  Fide.  Tortosa,  13  de  Novembro  de  1644  192 

61 —  APF  -SRCG,  123:  Decreto  régio  a  Frei  Boaventura  de 

Taggia.  Lisboa,  22  de  Novembro  de  1644    '94 

62  —  APF  -  SRCG,  123:  Carta  do  Colector  Apostólico  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Lisboa,  23  de  Novembro  de 

1644    196 

63  —  APF  -SRCG,  123:  Carta  do  Padre  Boaventura  de  Taggia 


XXXIV 


N."  Pág. 
ao  Secretário  tia  Propaganda  Fidc.  Lisboa,  23  de  No- 
vembro de  1644    198 

64  —  BAL-GSd.  51-III-39:  Nomeação  de  Bispo  para  Angola. 

Lisboa,  23  de  Novembro  de  1644    200 

65  —  APF  -SRCG,  123:  Carta  do  Padre  Boaventura  de  Taggia 

ao  Secretário  da  Propaganda  Fidc.  Lisboa,  27  de  No- 
vembro dc  1644    201 

66  —  CÂMARA  MUNICIPAL  (Sanlucar  de  Barrameda)  — 

Actas,  16:  Esmola  ao  convento  de  Sanlucar  de  Bar- 
rameda. 14  de  Dezembro  de  1644    205 

67  — LARANJO  COELHO  -  Cartas  de  El-Rei  D.  João  IV, 

I:  Carta  do  Governador  de  S.  Tomé  a  seu  irmão  D.  Fi- 
lipe de  Moura.  15  de  Dezembro  de  1644    206 

68  —  BNL  -  Ms.  7.162:  Carta  régia  ao  Padre  João  de  Matos. 

Lisboa,  2  de  Janeiro  dc  1645    209 

69 —  APF  -  SRCG,  108:  Carta  do  Padre  António  dc  Teruel  à 

Propaganda  Fide.  Tortosa,  2  de  Janeiro  de  1645    210 

70  —  APF  -  SRCG,    143:    Carta    do    Padre    Boaventura  de 

Taggia  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Lisboa,  16 

dc  Janeiro  de  1645    212 

71  — ■  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  à  Pro- 

paganda Fide.  Madrid,  18  de  Janeiro  de  1645    215 

72  —  APF  -  SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Madrid,  19  de  Janeiro  de  1645 

73  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Padre  Boaventura  de  Ales- 

sano  ao  Prefeito  da  Propaganda  Fide.  S.  Lucar,  29  de 
Janeiro  dc  1645    218 

74  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  de  Frei  Francisco  de  Jerez  ao 

Secretário  da  Propaganda  Fidc.  Sanlucar  de  Barra- 
meda, 30  de  Janeiro  de  1645    221 

74-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Parecer  sobre  o  local  do  desem- 
barque do  socorro  enviado  a  Angola.  Baía,  6  de  Feve- 
reiro de  1645    477 

75  — FRAY  AMBRÓSIO   DE  VALENCINA  —  Rcseha 

Histórica:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao  Provincial 

da  Andaluzia.  Roma,  14  de  Fevereiro  de  1645    223 

76  —  APF  -  Acta,  16:  Missão  ao  Reino  dos  Negritas.  14  de 

Fevereiro  de  1645    225 

76-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  António  Teles  da 


XXXV 


N.°  Pág. 
Silva  a  cl-Rci  acerca  do  socorro  enviado  a  Angola.  Baía, 
16  de  Fevereiro  de  1645    480 

77  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  cm  Madrid  à  Pro- 

paganda Fide.  Madrid,  18  de  Fevereiro  de  1645    227 

78  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Missão  dos  Capuchinhos  para  o 

Congo.  Lisboa,  21  de  Fevereiro  dc  1645    228 

78-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Relação  do  custo  do  socorro  dc 
Angola  enviado  por  António  Teles  da  Silva.  Baía,  23 
de  Fevereiro  de  1645    483 

79  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  à  Pro- 

paganda Fide.  Madnd,  25  de  Fevereiro  de  1645    230 

80  —  APF  -  Lettere  Volgari,  23:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao 

Provincial    da   Andaluzia.    Roma,    25   de  Fevereiro 

de  1645    231 

81  — BNM  -  Ms.  3818:  Carta  do  Cardeal  Virgílio  Capponi 

aos  Capuchinhos  de  Castela.  Roma,   16  de  Março 

de   1645    232 

82  —  BNL  -  Ms.   1-6/5:  Carta  do  Conde  da  Vidigueira  ao 

Agente  Eclesiástico  cm  Roma.  21  de  Março  de  1645  234 

83  —  APF  -SRCG,    143:    Carta    do    Padre    Boaventura  de 

Taggia  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Lisboa,  3  de 
Abril  de   1645    235 

84  —  APF  -SRCG,   108:  Carta  do  Provincial  da  Andaluzia 

ao  Secretário  da  Propaganda.  Antequera,  4  de  Abril 

de  1645  v  237 

85  —  APF  -  SRCG,   108:  Carta  do  Provincial  da  Andaluzia 

ao  Secretário  da  Propaganda.  Antequera,  4  de  Abril 

de  1645    239 

86  —  APF  -SRCG,    143:    Carta    do  Padre    Boaventura  dc 

Taggia  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Lisboa,  29 

de  Abril  de  1645    242 

87  —  APF  -SRCG,  143:  Carta  régia  ao  Governador  de  An- 

gola. Alcântara,  9  de  Maio  de  1645    244 

88  —  APF  -SRCG,    143:    Carta   do   Padre   Boaventura  de 

Taggia  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Lisboa,  15 

de  Maio  de  1645    250 

90  —  APF  -  SRCG,  143:  Carta  do  Padre  Boaventura  de 
Taggia  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Lisboa, 
16  Maio  dc  1645    252 

91 — APF  -SRCG,    143:    Carta    do    Padre    Boaventura  de 


XXXVI 


N.»  Pílg. 
Taggia   ao   Secretário   da   Propaganda   Fide.  Lisboa, 

18  de  Maio  de  1645    254 

92 —  APF  -  SRCG,  247:  Carta  do  Padre  Boaventura  de  Alcs- 

sano  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Pinda,  4  de 
Junho  de  1645    256 

93  —  BNM  -  Ms.  3818:  Relação  de  Frei  Ângelo  de  Valência 

sobre  a  Missão  do  Reino  do  Congo.  8  de  Junho 

de  1645    274 

94  —  APF  -  SRCG,  247:  Carta  de  Frei  João  de  Santiago  aos 

Capuchinhos  de  Castela.  Pinda,  11  de  Junho  de  1645  281 

95  —  APF  -  Lettere  Volgari,  23:  Carta  da  Propaganda  Fide  a 

Fr.   Boaventura    de   Alessano.   Roma,    12   de  Junho 

de  1645    291 

96  —  APF  -  SRCG,    108:   Carta  do  Provincial  de  Castela  à 

Propaganda  Fide.  Madrid,  13  de  Junho  de  1645    293 

97  —  AOMC-1887:  Carta  do  Padre  Januário  de  Nola  ao 

Padre  João  Baptista  Mastrilli.   Pinda,    16  de  Junho 

de  1645    296 

98  —  APF  _  SRCG,    143:    Carta    do    Padre    Boaventura  de 

Taggia  ao  Secretário  da   Propaganda  Fide.  Lisboa, 

16  Junho  de  1645    314 

99  —  APF  -SRCG,  143:  Carta  do  Colector  Apostólico  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Lisboa,  19  de  Junho  de  1645  316 

100  —  APF  -  Acta,  16:  Faculdades  aos  Missionários  do  Congo. 

19  de  Junho  de  1645    318 

101  —  APF -Acta,    16:   Missão   dos   Padres  Capuchinhos  na 

Velha  Guiné  Africana.  3  de  Julho  de  1645    320 

102  — FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Resena  His- 

tórica: Carta  do  Secretário  da  Propaganda  Fide  ao 
Provincial  da  Andaluzia.  Roma,  3  de  Julho  de  1645  322 

103  —  APF  -  Lettere  Volgari,  23:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao 

Núncio  em  Madrid.  Roma,  15  de  Julho  de  1645    325 

103- A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  de  Soto- 
maior  a  Pedro  César  de  Meneses.  Catumbela,  20  de 
Julho  de  1645    490 

104  — LAR  ANJO  COELHO  -  Carias  de  El-Rei  D.  João  IV, 

I:  Auto  de  António  Malhorquim  sobre  a  ocupação  de 

S.  Tomé.  Lisboa,  24  de  Julho  de  1645    327 

105 — •  BNM  -  Ms.  8.187:   Relação  da  viagem  de   socorro  a 


XXXVII 


N.o  Pág. 
Angola,  de  Teixeira  de  Mendonça  e  Lopes  de  Se- 
queira. Abril-Junho  de  1645    332 

1  —  APF  -  SRCG,  110:  Carta  dos  Missionários  Capuchinhos 

ao  Secretário  da  Propaganda  Fidc.  5  de  Agosto  de  1645  345 

07  —  BNL  -  Ms.  7.162:  Carta  régia  ao  Conde  da  Vidigueira. 

Lisboa,  6  de  Agosto  de  1645    347 

07-  A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  de  Soto- 

maior  a  Pedro  César  de  Meneses.  Quicombo,  14  de 
Agosto  de  1645    492 

08  —  FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Reúna  His. 

tórica:  Carta  do  Núncio  Apostólico  em  Madrid  ao 
Provincial  da  Andaluzia.  Madrid,  22  de  Agosto 
^  1645   349 

08-  A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Auto  dc  Pedro  César  de  Mene- 

ses. Massangano,  28  de  Agosto  de  1645    495 

08-B  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Pedro  César  de  Mene- 
ses a  Francisco  de  Sotomaior.  Massangano,  29  de  Agos- 
to de  1645    499 

09  —  AHU  -  S.  Tomé,  cx.  1 :  Carta  do  Conselho  Ultramarino 

a  e!-Rei  D.  João  IV.  Lisboa,  31  de  Agosto  de  1645  350 

10  —  AHU -Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  Sotomaior  a 

el-Rei  D.  João  IV.  Quicombo,  13  de  Setembro  de  1645  352 
10-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  dc  Soto- 
maior a  el-Rci.  Quicombo,  14  de  Setembro  de  1645  ...  401 

10-  B — -  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  dc  António  Teixeira  dc 

Mendonça  a  el-Rei  D.  João  IV.  Santa  Cruz  dc  Qui- 
combo, 14  de  Setembro  de  1645    503 

11 —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  de  Sotomaior 

a  el-Rei  D.  João  IV.  Quicombo,    17  de  Setembro 

de  1645    365 

11-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  dc  Francisco  de  Soto- 
maior a  Pedro  César  dc  Meneses.  Quicombo,  18  de 
Setembro  dc  1645    507 

11-B — •  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Auto  de  Francisco  de  Soto- 
maior. Santa  Cruz  de  Quicombo,  24  dc  Setembro  dc 
1645    510 

12  —  APF  -SRCG,  108:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  à  Pro- 
paganda Fide.  Madrid,  27  dc  Setembro  de  1645    367 

13 — BNM  -  Ms.  8.187:  Relação  da  viagem  de  Sotomaior  em 

socorro  de  Angola.  Maio-Setcmbro  de  1645    369 

XXXVIII 


N.°  PAK. 
113-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Auto  de  Francisco  de  Soto- 

maior.  Suto,  14  de  Outubro  de  1645    514 

113-  B  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Auto  de  Francisco  de  Soto- 

maior.  Suto,  16  de  Outubro  de  1645    517 

114 —  APF  -Lettere  Volgari,  23:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao 

Provincial  da  Andaluzia.  Roma,  18  de  Outubro  de  1645  382 
114-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Requerimento  da  Câmara  de 
Angola  a  Francisco  de  Sotomaior.  Suto,  20  de  Outubro 
de  1645    522 

115  —  APF  -SRCG,  110:  Carta  do  Padre  Boaventura  de  Taggia 

ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Brasil,  28  de  Outu- 
bro de   1645    384 

1 16  —  MICHAEL  A  TUGIO  -  BMarium,  VII:  Breve  de  Ino- 

cêncio X  ao  Rei  do  Congo.  Roma,  10  de  Novembro 

de   1645    386 

117  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  do  Director  dos  Holandeses 

ao  Governador  de  Angola.  Luanda,  15  de  Novembro 

de    1645    388 

1 18  —  APF  -  SRCG,  1 10:  Carta  do  Colector  Apostólico  ao  Se- 

cretário  da   Propaganda.   Lisboa,    15  de  Novembro 

de  1645    390 

119  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  de  Sotomaior 

ao  Director  dos  Holandeses.  Cuanza,  18  de  Novembro 

de  1645    392 

120  —  APF  -  SRCG,  110:  Carta  de  Fr.  Boaventura  de  Taggia  à 

Propaganda  Fide.  Baía  de  Todos  os  Santos,  30  de  No- 
vembro de  1645    394 

121  — APF  -SRCG,  110:  Carta  de  Frei  Salvador  de  Génova  ao 

Secretário  da  Propaganda  Fide.  Baía  de  Todos  os  San- 
tos, 2  de  Dezembro  de  1645    396 

121-A  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  da  Câmara  de  Angola  a 

el-Rei.  Massangano,  2  de  Dezembro  de  1645    525 

122  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  de  Francisco  de  Sotomaior 

a  D.  João  IV.  Arraial  do  Cuanza,  4  de  Dezembro  de 

l645  •■  3^ 

123  —  APF  -  SRCG,  110:  Carta  do  Deíinitório  da  Andaluzia 

aos  Cardeais  da  Propaganda  Fide.  Jaen,  8  de  Janeiro 

de  1646    421 

124  —  A  l  i'  -  Ms.  1 148:  Carta  régia  ao  Conselho  da  Fazenda. 

Lisboa,  15  de  Março  de  1646    414 


XXXIX 


N.°  Pág. 

125  —  A  l  T  -  Ms.  1 148:  Carta  régia  ao  Conselho  da  Fazenda. 

Lisboa,  4  de  Maio  de  1646    416 

126  —  APF  —  Lettere  d'halia,  46:  Carta  de  Frei  Francisco  de 

Pamplona  ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Livorno, 

9  de  Junho  de  1646      418 

128  — BIBLIOTECA  COLOMBINA  -  63-2-30:  Carta  de  Frei 

Miguel  de  Cessa  ao  Padre  Guardião  de  Sevilha.  Ren- 
teria, 12  dc  Junho  de  1646    420 

129  —  APF  -  Lettere  Volgari,  24:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao 

Núncio  em  Madrid.  Roma,  15  de  Junho  de  1646    422 

130  —  APF  -  Lettere  Volgari,  24:  Carta  da  Propaganda  Fide  ao 

Núncio  em  Madnd.  Roma,  16  de  Junho  de  1646    423 

131  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Carta  do  Padre  Gonçalo  João  a 

el-Rei.  25  de  Junho  de  1646    424 

132  —  APF  -SRCG,  110:  Carta  do  Núncio  em  Madrid  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Madrid,  4  de  Julho  dc  1646  426 

133  —  AHU  -  Angola,  cx.  3:  Consulta  do  Conselho  Ultramarino 

sobre  as  Minas  e  socorro  de  Angola.  Lisboa,  5  de  Julho 

de  1646    428 

134  —  APF  -  Memoriali,  412:  Missionação  de  Ano  Bom  e  Be- 

nim. 17  dc  Julho  de  1646    429 

135  —  APF  -  Ade moriali,  412:  Carta  dc  Frei  Ângelo  de  Farnese 

à  Propaganda  Fide.  17  de  Julho  dc  1646    431 

136  —  APF  -  Acta,  17:  Problemas  da  Missão  do  Congo  propos- 

tos pelo  Padre  Prefeito.  17  dc  Julho  de  1646    433 

137  —  APF  -  SRCG,  145:  Carta  do  Padre  José  de  Lisboa  ao  Se- 

cretário da  Propaganda.  Cadiz,  28  de  Julho  dc  1646...  437 
138 — APF  -SRCG,   110:  Carta  da  Província  de  Castela  aos 

Cardeais  da  Propaganda.  Madrid,  27  de  Agosto  de  1646  439 

139  —  APF  -  SRCG,  247:  Carta  do  Procurador  Geral  dos  Capu- 

chinhos aos  Cardeais  da  Propaganda  Fide.  Julho  de 

1646    442 

140  —  APF  -  Memoriali,  412:  Memorial  de  Frei  Francisco  de 

Pamplona  ao  Cardeal  Prefeito  da  Propaganda.  Julho 

de  1646    444 

141  — APRC,  Annali,  II:  Acção  de  Frei  Francisco  de  Pamplona 

no  regresso  do  Congo  a  Roma.  Agosto  de  1646    446 

142  —  APF  -SRCG,  247:  Carta  do  Padre  Boaventura  dc  Alcs- 

sano  aos  Cardeais  da  Propaganda  Fide.  S.  Salvador,  3 

dc  Outubro  de  1646    448 

XL 


N."  Pfifí. 

143  —  AGS  -  Secretarias  Provinciales,   Maço  2639:   Carta  dc 

D.  Garcia  II  rei  tio  Congo  a  D.  Filipe  IV  rei  de  Espa- 
nha. Congo,  5  de  Outubro  de  1646    450 

144  —  AGS  -  Secretarias  Provinciales,  Maço  2639:  Petições  de 

D.  Garcia  II  rei  do  Congo  a  D.  Filipe  IV  de  Espanha. 

5  dc  Outubro  de  1646   152 

145  —  BADE  -  Cód.  CVI/2-9:  Carta  ao  Papa  Inocêncio  X  sobre 

a  nomeação  dos  Bispos.  1646    454 

146  — GIOVANNI    FRANCESCO    ROMANO  -  Rdazione: 

Carta  credencial  do  Rei  do  Congo  aos  Embaixadores 
Capuchinhos.  Congo,  5  de  Outubro  de  1646    456 

147  —  BADE  -  Cód.  CVI/2-9:  Carta  do  Rei  do  Congo  aos  Em- 

baixadores Capuchinhos.  Congo,  5  de  Outubro  de  1646  458 

148  —  GIOVANNI    FRANCESCO  "  ROMANO  -  Rdazione: 

Carta  reverenciai  do  Rei  do  Congo  ao  Papa  Inocêncio 

X.  Congo,  5  de  Outubro  de  1646    459 

149 — BADE  -  Cód.  CVI/2-9:  Carta  reverenciai  do  Rei  do 
Congo  ao  Papa  Inocêncio  X.  Congo,  5  dc  Outubro  de 

1646    461 

150  —  APF  -SRCG,  94:  Carta  do  Padre  Boaventura  dc  Taggia 
ao  Secretário  da  Propaganda  Fidc.  Amesterdão,  9  de 
Outubro  dc  1646    463 

151 — APF  -  Lettere  Volgari,  24:  Carta  da  Propaganda  Fidc  ao 

Provincial  da  Andaluzia.  Roma,  15  de  Outubro  de  1646  466 

152  —  APF  -SRCG,  97:  Carta  do  Padre  Boaventura  dc  Taggia 

ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Lisboa,  16  de  No- 
vembro de  1646    467 

153  — ■  AHU  -  Baía,  cx.  5:  Carta  de  António  Teles  da  Silva  a 

el-Rei  D.  João  IV    470 

154  —  APF  -SRCG,  145:  Carta  de  Frei  Francisco  de  Pamplona 

ao  Secretário  da  Propaganda  Fide.  Madrid,  22  de  De- 
zembro de  1646    472 


XLI 


ÍNDICE  DAS  GRAVURAS 


i  —  Mapa  do  Golfo  da  Guiné   

2 —  O  Rei  de  Benim    112Í113 

3  —  Audiência  do  Rei  do  Congo  D.  Garcia-Afonso  II  aos 

Missionários  Capuchinhos  Italianos  (1645)    224/225 

4  — ■  Audiência  do  Rei  do  Congo  D.  Garcia-Afonso  II  aos 

Capuchinhos  Italianos  (3-9-1645)    288/289 

5  —  Fac-simi!e  das  assinaturas  dos  documentos  n.°  4,  7  ç.  143  352/353 

6  —  Mapa  dos  Reinos  de  Angola  e  Benguela  (Séc.  XVII)  416/417 

7  — ■  Demolição  do  convento  dos  Capuchinhos  em  S.  Sal- 

vador para  construção  da  igreja  protestante  Baptista 

(■¥)    44V449 

8  —  Brasão  de  Francisco  de  Sotomaior  no  seu  túmulo  na 

igreja  de  Mesão  Frio    464/465 


MONUMENTA 
MISSIONARIA  AFRICANA 


Africa  ocidental 

(1643-1646) 


1 


CARTA  AO  DIRECTOR  HOLANDÊS  DE  LUANDA 
E  SUA  RESPOSTA  AOS  SIGNATÁRIOS 

(10-1-1643) 

SUMÁRIO  —  Protesto  português  contra  a  detenção  do  Governador 
César  de  Meneses  —  O  Director  holandês  concorda  parla- 
mentar com  ele,  como  lhe  fora  proposto. 

Muito  ilustre  Senhor 

Diogo  Lopez  de  Fana,  feitor  da  fazenda  de  S.  Magestade 
eo  licenciado  Antonio  Guerreiro,  deputados  inuiados  a  V.  S.a 
pelo  Senhor  Gouernador  Pero  Cezar  de  Menezes,  pedimos  a 
V.  S.a  como  taõ  obrigados  seruidores  seus,  se  sirua  de  considerar 
attentamente  que  estando  o  senhor  Gouernador  com  os  mora- 
dores deste  Reino  no  caminho  a  uersse  cõ  V.  S.a,  pareçe  delibera- 
ção asperissima  ordenar  V.  S.a  que  se  detenhaõ  por  taõ  leuecauza, 
como  hauersse  deffendido  do  comettimento  que  os  leuantados  lhe 
fizeraÕ,  hauendo  V.  S.a  empenhado  sua  palavra  que  os  entregaria, 
ou  dana  o  fauor  de  suas  armas,  para  os  entregar,  pois  estauaõ 
amparados  do  quartel  que  V.  S.a  mandou  pôr  em  Namboa-ca- 
lombe,  e  que  impugna  a  uerdadeira  paz  e  amizade  assentada 
cõ  taõ  graues  fundamentos,  entre  elRey  nosso  Senhor  e  os  Se- 
nhores Hordens  Geraes,  querer  V.  S.a  pôr  em  igual  balança 
vassalos  negros  rebeldes,  cõ  a  pessoa  do  Capitão  Geral  e  Go- 
uernador, que  aqui  reprezenta  a  pessoa  de  S.  Magestade,  sendo 
obrigação  de  V.  S.a,  pela  reçiproca  amizade  assentada,  dar  V. 
S.a  seu  fauor  a  cauza  taõ  justa  e  clara  justiça. 

Assy  que  V.  S.a  seja  seruido,  vendo  o  dezapaixonadamente, 
naÕ  dar  lugar  a  algum  escândalo  em  fazer  deter  o  senhor  Go- 


3 


uernador  em  seu  caminho,  antes  se  venha  uer  cõ  V.  S.a  sem 
dillaçaõ,  para  que  cõ  V.  S.a  assente  amigauelmente  as  couzas 
conuenientes  ao  seruiço  dos  Senhores  Hordens  Geraes  e  de 
S.  Magestade,  e  que  os  enimigos  naõ  gozem  de  seus  intentos  e 
dezejos,  vendo  desunidos  a  V.s  S.a\  aliás  se  entenderá  nesta 
occaziaõ  que  podem  mais  as  armas  victoriozas  cõ  que  V.  S.*  se 
acha,  que  a  reciproca  e  uerdadeira  amizade,  assentada  e  esta- 
belecida em  fundamentos  justos,  a  que  V.  S.a  como  Gouernador 
e  supprema  cabeça  delias  deue  dar  beneuolamente  inteiro  cum- 
primento; isto  pedimos  a  V.  S.a  seus  mayores  seruidorcs,  tanto 
por  esta  cauza  como  pela  obrigação  que  temos.  /  / 

Loanda,  10  de  Ianeiro  de  1643.  /  / 

Diogo  Lopez  de  Fana 

O  Licençeado  Antonio  Guerreiro 

RESPOSTA   DO   DIRECTOR  HOLANDÊS 

Muy  Nobres  Senhores 

Bem  que  a  cauza  seja  justiça  que  mi  fes  pedir  ao  senhor  Go- 
uernador de  ficar  no  lugar  aonde  sua  senhoria  está  agora,  até  uir 
outra  hordem  de  minha  parte:  todauia,  para  mostrar  em  ef feito 
taõ  á  sua  como  a  V.s  S.as  que  voi  buscando  todos  os  mevos  do 
mondo,  naÕ  somente  para  entratener  as  amizades  e  pazes 
feitas  entre  a  Coroa  de  Portugal  e  o  nosso  Estado;  antes  mais, 
para  fazer  comprender  e  uer  a  tudos  (*)  os  Reis  destas  ter- 
ras e  seus  vassalos  e  sugeitos  que  hé  verdadeira  e  de  mayor  pezo 
que  naõ  estunaõ,  esta  amizade  nossa,  e  taõbem  para  naõ  dar 


(*)  Lcia-sc:  todos. 


lugar  a  hum  mínimo  suspeito  entre  a  gente  p.etta  nzoluimi  de 
largaar  de  minho  (2)  direito  até  lá,  que  de  conçintir  a  V.8  S.as  isso 
que  mi  pedirão  oje,  dando  licença  ao  senhor  Gouernador  de 
baixar  a  seu  gosto,  para  vermos  e  conçertar  [  mos  ]  as  couzas  e 
difficuldades,  se  alguás  hay,  inquanto  o  seruiço  de  Nossos  Se- 
nhores reciprocamente  requiere  a  mor  breuidade,  hade  ser  a 
melhor.  Deus  Nosso  Senhor  guarde  a  V.s  S-ttS,  como  pode.  /  / 

Loanda,  o;e  a  10  de  Ianeiro  1643. 

C.  Nieulant 

AHU  —  Angola,  cx.  2. 


(2)  Singular  masculinização  de  minha.  Leia-se:  meu. 


5 


2 


CAPITULAÇÕES  COM  OS  HOLANDESES 
E  ATAQUE  AO  ARRAIAL  DO  GANGO 

(30-1-1643) 

SUMÁRIO  —  Relação  das  capitulações  particulares  estipuladas  entre  o 
Governador  de  Angola  e  o  Director  dos  holandeses  — 
Ataque  traiçoeiro  dos  holandeses  ao  arraial  do  Gango 
—  Pretextos  e  razões  veradediras  da  façanha  —  Odisseia 
dos  prisioneiros. 

SVCCESSO  QUE  PADECERAM  OS  PORTVGUESES  DE  ANGOLA 
PELAS  ARMAS  OLANDESAS,  QUE  ASSISTEM  NA  LO  ANDA 

Inuiou  o  Gouernador  de  Pernambuco  posto  pelos  estados  de 
Olanda,  huã  carauela  à  cidade  de  S.  Paulo  de  Loanda,  Reyno 
de  Angola,  que  tabem  estaua  pelos  Olandeses,  a  Cornélio  Ni- 
colant  (1),  Director  dacjuella  gente,  cõ  as  capitulaçoens  de 
suspensão  de  armas,  &  trato  de  amizade  por  tépo  de  dez  annos, 
celebradas  entre  El  Rey  nosso  Senhor,  &  os  estados  de  Olanda, 
&  Companhia  destes  mares:  chegou  a  Angola,  em  fim  de  Se- 
tembro de  1642,  as  cjuais  o  Director  mandou  logo  publicar  na 
Loãda,  &  despachou  seu  Secretario  Gaspar  Crocem  (2)  com 
huma  tropa,  de  trinta  soldados  de  paz,  a  Pedro  Cezar  de  Me- 
neses, Gouernador  de  Angola,  que  rezedia  com  seu  arrayal  no 
sitio  chamado  Namboaquiçanda  (s),  onde  chegarão  em  tres  de 
Outubro  do  mesmo  anno. 

(')  Cornélio  Niculant,  que  sucedeu  a  James  Henderson.  A  Nieu- 
lant  sucedeu  Hans  Molt. 
(2)  Gaspar  Croacem. 

(s)  Nâmbua-Quizanzo,  na  província  do  Lumbo,  entre  os  rios 
Dande,  Zenza  e  Luínha. 

6 


Recebeo  o  Gouernador  cõ  gosto  os  tratos  de  paz,  &  os  fez 
o  publicar  cõ  as  ordes  de  S.  M.  é  todos  os  presídios  nossos 
daquele  Reyno,  &  pola  noua  deu  seis  negros  ao  mesmo  secre- 
tario, com  a  qual  inuiou  ao  Capitão  Diogo  Lopes  de  Faria,  feitor 
da  fazêda  Real,  &  Antonio  Guerreiro,  pera  trataré  de  húa  con- 
ueniencia  acerca,  de  que  o  Director  lhe  permitisse  pouoar  a  boca 
do  rio  Bengo  junto  ao  mar,  como  de  feito  (4)  depois  de  se  alha- 
narem  inconuinientes,  que  se  auiaÕ  representado,  se  concedeo 
com  as  Capitulaçoens,  &  asentos  que  se  seguem:  dizem: 

Primeiramente  o  senhor  Director  Cornélio  Nicolant  ('), 
cõcedeu,  &  outorgou  ao  Senhor  Pedro  Cesar  de  Meneses:  que 
lhe  largaua  as  terras  do  Bégo,  &  do  Gulano  (5)  da  banda  do 
Norte,  té  õde  ocupa  Manicõgo,  &  da  báda  do  Sul,  té  o  outeiro 
de  Manigango,  no  sitio  da  Igreja,  pera  que  os  moradores  deste 
Reyno  as  posaõ  cultiuar,  &  beneficiar  pera  sy.  As  quais  terras 
lhes  daua  de  empréstimo,  té  vir  ordem  dos  Senhores  Superio- 
res, &  que  dentro  de  noue  meses  não  innouana  cousa  alguma 
neste  empréstimo  desta  terra,  se  a  caso  viesse  antes  algum  auiso. 
E  depois  de  passados  os  dittos  noue  meses,  se  dana  a  excução 
as  ordens,  que  viessem  dos  Senhores  Superiores,  &  que  o  Senhor 
Gouernador  largará  as  treras,  que  o  ditto  Senhor  Director  de 
presente  lhe  presta,  saluo  o  direito,  de  cada  hum,  que  em  ellas 
tem,  assi  como  estiuerem  cultivadas,  sem  dano  algum,  nem 
se  chamaria  a  posse,  nem  por  este  préstimo  adquiria  direito 
algum,  assi  na  posse,  como  na  propriedade;  isto  se  entende  vindo 
ordem,  pera  que  o  Senhor  Gouernador  as  desocupe,  como  arriba 
hé  dito. 

E  que  o  senhor  Director  fará  com  que  El  Rey  de  Congo 
largue  os  Portugueses,  que  estaõ  em  suas  terras  retiudos,  com 
todas  suas  fazendas,  escrauos,  &  as  fazendas  dos  defuntos,  que 
matarão  em  suas  terras,  procurara  quanto  em  sua  mão  estiuer, 


(4)  No  original:  defeito. 

(5)  Deve  ser  o  Golungo. 


7 


pera  que  ás  entregue,  e  o  Senhor  Gouernador  largará  as  terras  de 
Manimotemo  (a),  que  ocupou,  em  tempo  de  guerra,  &  entre- 
gará os  Macotas  (7),  parentes  do  dito  Manimotemo,  que  tem 

prezos. 

Que  fará  com  Manicasante  (8),  que  desocupe  as  terras  de 
Ensaca,  pois  nellas  não  tem  beneficio  algum,  &  sò  as  ocupa 
para  delias  sair  arroubar,  &  não  o  fazendo  o  dito  Manicasante, 
o  dito  senhor  Director  abrira  mão  delle,  pera  o  senhor  Gouerna- 
dor o  castigar  como  lhe  parecer. 

Que  o  senhor  Gouernadro,  Pedro  Cesar  de  Meneses,  no- 
meara Comissários,  pera  assistiré  na  Loãda,  pera  por  sua  mão 
correr  o  trato,  &  comercio,  que  entre  huns  vassalos,  &  outros 
ouuer.  /  / 

Mádarão  os  ditos  senhores  fazer  este  auto  por  vias,  em  que 
se  asinarão,  pera  que  a  todo  o  tempo  conste  do  que  dito  hé,  que 
hé  feito  neste  sitio  da  Barra  do  Bengo,  aos  30  de  Janeiro  de 
1643  annos. 

Debaixo  do  qual  contrato,  &  empenho  de  palaura,  assentou 
o  Gouernador  junto  à  Barra  do  no  Bengo,  pera  onde  conuocou 
os  Portugueses  retirados  pelo  sertam  da  terra,  com  os  quais  for- 
mou huã  pouoaçaõ,  da  qual  comesou  o  contrato  com  os  Olan- 
deses,  que  rezidiaõ  na  cidade  de  Loanda:  &  o  Gouernador  na 
forma  das  capitulaçoens  lhes  inuiou  por  Commissano  a  Joaõ  de 
Sousa  Chaues,  ao  qual  auiaõ  de  ir  dirigidas  as  mercadorias,  & 
negros,  que  os  Portugueses  leuassem  a  uender,  sobre  que  o 
mesmo  Gouernador  publicou  edito,  pera  que  assi  se  obseruasse. 

Deste  edito  receberão  os  Olandeses  desconfiança,  dizendo: 
que  com  elle  se  impidia  o  contrato,  sendo  assi  que  pera  isso 

(G)  Senhor  de  Motemo  (Denibos). 

(7)  O  quimbundo  Makota,  plural  de  Dikota,  significa  os  conse- 
lheiro do  Soba. 

(8)  Manicassanje,  senhor  da  Ensaca  do  Cassanje,  entre  os  rios 
Bengo  e  Cuanza. 


8 


que  se  pidira  o  Commissario,  &  pera  o  mesmo  tmháo  elles  no- 
meado o  seu,  com  tanta  obseruancia,  que  que  vendese  cousa 
algua  por  outra  mão,  ou  por  sy  próprio,  tinha  a  mercadoria 
perdida.  Deu  o  Gouernador  ao  Director  satisfação  por  meyo 
do  Lecensiado  Antonio  Guerreiro,  que  elle  ouue  por  justificada, 
com  que  o  trato,  &  amizade  ficou  procedendo  na  mesma  forma. 

Tornou  o  Director  com  outra  nouidade:  foi  pedir  não 
ouuesse  Commissario,  por  ficar  o  trato  mais  hure,  &  assi  se  fez: 
inuiou  pedir  ao  Gouernador  quantidade  de  farinhas  pera  em- 
barcar huns  negros,  &  lhe  emprestou  seiscentos  alqueires.  Tras 
do  qual,  porque  por  esta  comunicação  hiaõ  muitos  escrauos  de 
Portugueses  à  cidade,  que  erão  là  retiudos  de  Olandeses,  &  là 
se  ficauão,  mandou  o  Gouernador  laçar  bando,  que  nenhum 
negro  fosse  a  Loanda  sem  sua  licença,  pelo  qual  o  Director 
mandou  publicar  outro  (9),  pera  que  nenhum  negro  de  Portu- 
gueses podesse  pescar.  Procurou  o  Gouernador  saber  do  Direc- 
tor a  causa,  &  que  modo  era  este  de  amisade.  Foi  a  isso  Guer- 
reiro, mostrou  o  Director,  sentirse  do  que  fizera,  &  leuantou  o 
edito.  Daua  por  causa  que  se  lhe  não  vendiaõ  goyauas,  &  limois, 
que  hé  fruta  daquella  terra. 

A  tanto  como  isto  tinha  chegado  Portugal,  temido  noutros 
tempos  por  toda  [a]  Europa,  Asia,  Africa.  Vião  [os]  Olan- 
deses ser  a  doação  nulla,  por  ser  o  domínio  do  Príncipe  a  quem 
se  fazia. 

Sucedeo  neste  tempo  chegar  a  Loanda  hum  nauio  de  Olan- 
deses da  Ilha  de  S.  Thomé:  nelle  Hans  Molt,  nouo  Director, 
pera  adjunto  de  Nicolant.  Deu  por  nouas,  que  os  Portugueses 
andauão  na  Ilha  com  elles  em  guerra.  Tumultuaraõse  os  de 
Angola  lançando  uoz,  que  o  mesmo  ah  se  pretédia;  para  isso, 
dezião,  chamar  o  Gouernador  à  noua  pouoaçaõ  do  Bengo  todos 
os  Portugueses,  que  assistiaõ  no  sertão.  Foi  a  este  reparo  Guer- 


(9)  No  original:  outra. 


9 


reiro,  com  cartas  de  Pedro  Cesar  de  Meneses,  com  o  qual  pedio 
ao  Director  se  visem.  Recusou  a  vista.  Respondeo,  que  primeiro 
faltaria  Ceo,  &  Terra,  que  no  contratado  sua  palaura:  estiuesse 
certo  o  Gouernador,  de  que  não  aueria  nouidade,  porem  que 
por  satisfazer  ao  pouo,  espedira  Comissário  ao  mesmo  Gouer- 
nador, pera  que  lhe  desse  reféns  de  segurança,  mas  que  respon- 
desse o  que  quizesse  porque  (como  dizia)  tudo  ficaua  composto. 

Primeiro  chegou  Guerreiro  ao  Bengo,  que  o  Secretario  do 
Director,  que  trazia  a  comissão  pera  reféns:  ao  qual  o  Gouer- 
nador satisfez  em  forma,  que  confessou  não  tinhão  os  Directo- 
res razão,  no  que  pediaõ. 

Tornou  com  isto  a  continuar  o  comercio,  &  cahio  Nicolant 
doente;  foi  pelo  Gouernador  muito  regalado,  &  visitado  per 
pessoas,  que  a  isso  dispidia.  As  cousas  pois  postas  nesta  forma, 
socedeu,  que  ê  quatorze  do  mes  de  Mayo  de  643,  aportou  na 
Loanda  hum  nauio  de  Pernambuco,  despedido  pelos  Holande- 
ses, que  asistem  no  Brasil,  a  tempo  que  Guerreiro  se  achaua  na 
Loanda,  pera  com  o  nouo  Director  Hõsmolt  ( sic )  confirmar 
o  assento  da  amizade,  &  trato,  que  o  Gouernador  cõ  Nicolant 
celebrara;  não  quis  Hõsmolt  resoluerse;  daua  por  escusa  estar 
Nicolant  enfermo:  nem  tam  pouco  pergunta [n] do  nouas  de 
Portugal,  as  quis  dar  (unhão  jà  deliberado  o  assalto,  que  exe- 
cutarão, &  pelo  nauio  de  Pernambuco,  parece  se  cõfirmou)./ / 

Deu  volta  Guerreiro,  chegou  ao  Bégo  Sabbado  pela  menhã, 
desaseis  do  mesmo  Mayo,  informou  ao  Gouernador  de  todo  o 
que  passara;  ficarão  os  nossos  postos  em  cuidado  sobre  que 
detriminação  tenaõ  os  Holãdeses,  os  quais  a  deraõ  breuemente 
a  conhecer,  porque  no  dia  seguinte,  Domingo  desasete  de  Mayo, 
a  horas  de  amanhecer,  entrarão  tresentos  homens  de  mosquetes, 
&  carauinas  em  seis  companhias:  e  dando  de  repente  no  quartel 
do  Gouernador,  matarão  trinta  Portugueses,  que  tratarão  de  o 
defender,  saquearão  a  pouoaçaõ  cometendo  mortes  a  sãgue  frio; 
huã  foi,  que  tendo  quartel  o  Capitão  mor  Antonio  Bruto,  che- 
gou a  preguntar  por  elle  hum  Capitão  Holandês,  a  õde  estaua 


10 


o  Gouernador,  &  mostrando  se  lhe  sua  casa,  o  foi  buscar,  &í 
o  achou  ferido,  sentado  em  huã  cadeira,  leuou  da  espada,  &  o 
matou  a  cutiladas.  A  Ioaõ  Peguado  da  Põte,  Capitão  dos  mora- 
dores, homem  rico,  porque  naõ  descalçou  huãs  meyas  de  seda 
com  presteza,  matarão.  A  hum  Ajudante,  que  estaua  fendo,  & 
caido  no  chaõ,  lhe  apontarão  huá  carauina  no  peito,  &  o  mata- 
rão: o  mesmo  fizeraó  a  outros,  sem  resistécia  dos  Portugueses, 
que  foraõ  acometidos  estando  dormindo  em  suas  camas,  sem 
receyo  de  tal  successo,  &  quando  acudirão  ao  rumor  era  jà  tudo 
rendido. 

Eraõ  os  Portugueses  cento  &  oitenta  pessoas  com  os  doentes, 
que  auia:  a  todos  os  quais  prenderão,  &  saqueraõ  pedindo  pra- 
ta, &  ouro  sem  querer  fazendas,  auendo  muitas.  Foi  posto  o 
saco  em  cem  mil  cruzados  de  sò  ouro  &  prata,  alé  dos  escrauos 
que  tomaraõ,  &  fazendas,  que  queimarão. 

Prenderão  ao  Gouernador  com  desacato,  &  o  leuaraõ  a  pé, 
a  mor  parte  do  caminho,  à  Loanda,  o  meterão  numa  casa,  com 
guardas,  deixando  lhe  hum  só  criado,  com  ordem,  que  nin- 
guém lhe  falasse:  despojaram  no  de  toda  a  sua  roupa,  &  vesti- 
dos. Os  mais  estiueraõ  prezos  no  corpo  de  guarda;  algús  repar- 
tirão por  cazas  dos  Capitaens,  passando  todos  muitas  misérias 
&  fomes  por  espaço  de  dez  dias,  no  cabo  dos  quais  lhes  deraõ 
hum  pataxo  mal  apercebido,  &  os  embarcarão  para  o  Brasil,  sem 
Piloto,  Astrolábio,  nem  carta  de  marear:  nem  azeite  pera  a 
vitacula;  foraõ  os  embarcados  cento,  &  sesenta  &  oito  pessoas, 
pera  as  quais  deraõ  somente  oitenta  alqueires  de  farinha  de 
pao,  &  tam  pouca  carne,  que  sò  quatro  veses  se  repartio  na  via- 
gem, por  õça  (10),  a  cada  pessoa,  dezanoue  barris  de  agoa,  tam 
pouca  que  foi  necessário  repartirse  a  meio  quartilho  (M)  por 


(l0)  Duodécima  parte  da  libra-peso  e  décima  sexta  parte  do  arrá- 
tel. Como  o  arrátel  tinha  459  gramas,  a  onça  correspondia  a  cerca 
de  29  gramas. 

A  quarta  parte  da  canada,  correspondente  a  meio  litro. 


/ 1 


cabeça  para  vinte  &  quatro  horas,  sem  outra  alguã  cousa  de 
mantimento,  &  apercebiméto  do  nauio;  &  com  esta  miséria, 
ao  cabo  de  trinta  dias,  que  gastarão  na  viagem,  aportarão  em 
Pernambuco.  /  / 

De  tudo  o  qual  se  deu  por  nosso  embaxador  conta  ao  Estado 
em  Holáda,  &  os  Holandeses  também  a  dariaõ,  cuja  auerigua- 
çaõ  ate  gora  não  tem  o  fim,  que  esperamos,  porque  forçado  hé 
buscassem  elles  causa  que  naõ  pode  auer  pera  tam  grande  rõpi- 
mento  de  confederação,  &  pazes,  outra  que  cu  [1]  dar  nos  naõ 
podíamos  sustentar  contra  Castela,  junto  cõ  a  cobiça  do  saco, 
que  fizeraõ. 

DOUTOR  IOÃO  SALGADO  DE  ARAUJO  (Abbade  de  Pera) 
—  Svcessos  Militares  das  Armas  Portvgvesas,  Lisboa,  1644,  Liv.  V, 
cap.  III,  fls.  233-236. 

NOTA  —  Embora  se  trate  de  um  impresso,  permitimo-nos  mo- 
dificar certas  ligações  de  vocábulos  e  um  que  outro  ponto  da  acentuação. 


1  2 


3 


CARTA  DE  D.  GARCIA  II  REI  DO  CONGO 
AO  GOVERNADOR  HOLANDÊS  NO  BRASIL 

(20-2-1643) 


SUMÁRIO  —  Proclama  o  zelo  de  Nieulant  em  executar  as  ordens  do 
sen  chefe  —  Tranquiliza-se  for  saber  que  a  faz  firmada 
entre  Portugal  e  a  Holanda  em  nada  afectaria  os  seus 
interesses  —  Situação  de  Pedro  César  de  Meneses,  desa- 
gradável fara  D.  Garcia  —  Medo  que  revela  dos  fortu- 
gneses  —  Relatório  que  envia  ao  Rei  de  Portugal  feios 
holandeses  —  Afirma  não  consentir  nenhum  comerciante 
fortuguês  nos  seus  fortos  e  territórios  —  Pede  que  os 
fortugueses  sejam  embarcados  fara  o  Brasil  ou  fara  Ben- 
guela (?) — Envia  um  fresente  de  escravos  —  Manda 
uma  carta  fara  D.  João  IV  de  Portugal  c  fede  que  lhe 
dcem  notícias  da  guerra  entre  Portugal  e  Esfanha. 

Eu,  o  Rei  do  Congo,  mando  com  esta  muitos  cumprimen- 
tos para  V.  Ex.a  e  para  os  nobres  senhores  do  Alto  Conselho 
Secreto  do  Estado  do  Brasil  e  desejo-lhes  muito  feliz  êxito  em 
todos  os  sectores  da  sua  Residência.  Recebi  a  carta  de  V.  Ex.a 
muito  bem,  fora  da  minha  corte,  e  junta  com  a  mesma  ainda 
uma  do  ilustre  Senhor  General,  e  porque  aconteceram  tantas 
coisas  não  tive  oportunidade  de  responder,  como  era  meu  desejo. 
No  entanto  sempre  pensei  que  teria  tido  resposta  de  V.  Ex.a  à 
carta  que  eu  tinha  mandado  da  minha  corte,  antes  de  partir 
para  o  campo  ('),  a  qual  carta  ia  acompanhada  com  as  minhas 
simples  homenagens;  e  assim  faz  mais  ou  menos  sete  meses  que 
estive  no  campo.  E  no  presente  estou  perto  de  Luanda,  pois  sáo 


(:)  Isto  é,  para  a  guerra. 


J3 


três  dias  de  viagem  deste  marquesado  onde  me  encontro  até  ao 
porto  de  Luanda. 

Na  dita  carta  prometi  escrever  em  extenso  a  V.  Ex.a  e  aos 
nobres  senhores,  com  o  navio  que  no  dizer  do  general  Nieulandt 
se  preparava.  E  por  isso  contarei  em  breves  palavras  o  que  inte- 
ressa a  este  reino,  isto  em  conformidade  com  a  aliança  e  ami- 
zade que  temos  feito  com  os  mui  poderosos  senhores  Estados 
Geraes  (2)  e  sua  Alteza  o  Senhor  Príncipe  de  Orange  (3) ,  não 
duvidando  de  que  o  senhor  Nieulandt  já  avisou  V.  Ex.a  e  aos 
nobres  senhores  de  tudo  o  que  se  passou,  de  modo  que  para 
mim  nada  resta,  se  não  confessar  só  o  grande  zelo  que  o  senhor 
Nieulandt  mostrou  em  executar  as  ordens  do  chefe.  Porque  se 
ele  não  me  tivesse  animado  com  as  suas  tão  vivazes  cartas,  dan- 
do-me  a  certeza  e  assegurando-me  a  paz,  feita  entre  os  portu- 
gueses e  os  nobres  senhores  Estados  Geraes  (4),  não  me  seria 
prejudicial,  sem  dúvida  tudo  seria,  a  meu  ver,  aniquilado.  Por- 
que eu  conheço  muito  bem  o  mau  génio  dos  Portugueses,  os 
quais,  quando  não  têm  poder,  se  portam  como  carneiros  e  quan- 
do chegam  a  ter  poder  se  mostram  como  leões  e  dragões. 

O  Governador  Pedro  César  (5)  encontra-se  no  presente  ao 
pé  do  rio  Bengo  a  duas  milhas  de  Luanda,  e  fez  acordo  com  os 
senhores  directores  de  ficar  lá  nove  meses  até  receber  ordens 
sobre  este  estado  de  coisas  e  entretanto  irá  cultivar  as  terras 
na  vizinhança,  sobre  o  que  eu  escrevi  ao  senhor  Nieulandt,  que 
eu  não  estou  contente  disso,  porque,  se  lhe  parecesse  duro  que 


(2)  O  «Staten  Gcneraal»  era  o  corpo  regente  das  7  Províncias 
Unidas  dos  Países  Baixos. 

(3)  Nesta  época  era  Príncipe  de  Orange  c  estatúder  das  Provín- 
cias Unidas  dos  Países  Baixos,  Frederico  Henrique  (23-4-1625  a 
14-3-1647),  filho  de  Guilherme  o  Taciturno  e  de  sua  quarta  esposa, 
Luísa  de  Coligny.  Foi  grande  general  e  estadista  como  seu  pai. 

(4)  Firmada  em  12  de  Junho  de  1641  em  Haia  e  ratificada  em  18 
de  Novembro  do  mesmo  ano. 

(5)  No  original:  Cezam. 

'4 


fosse  embarcado  c  mandado  para  o  Brasil,  seria  melhor  que  fosse 
mandado  para  Bengales  (s),  afim  de  que  fiquemos  em  paz  com 
os  outros,  o  que  de  outra  forma  não  se  realizará,  porque  a  natu- 
reza dos  portugueses  é  inquieta  e  dá  para  semear  discórdia,  e 
eles  procurarão  todos  os  meios  para  nos  meter  de  pernas  ao  ar 
(sic)  e  em  revolução,  e  fazer  com  isso  o  seu  próprio  proveito, 
porque  pouco  a  pouco  virão  a  pedir  certos  haveres  que  perderam 
quando  da  tomada  de  Luanda;  e  alguns  deles  morreram  naque- 
las terras  onde  cometeram  mil  peças  de  sodomia  (7),  e  não  fala- 
rão, nem  por  pouco,  dos  grandes  prejuízos  que  causaram  a  este 
meu  reino  e  coroa,  coisas  que  escondem  do  seu  Rei,  das  quais 
agora  se  fala  a  sua  Majestade  neste  relatório,  que  daquilo  se 
fez.  // 

Peço  que  V.  Ex.a  e  nobres  senhores  tenham  a  bondade 
de  despachar  o  mesmo,  sem  deixar  saber  aos  Portugueses  disto, 
senão  eles  saberiam  outra  vez  aniquilá-lo  como  sempre  fizeram 
e  desta  forma  Sua  Majestade,  conforme  as  informações  deles, 
tomaria  tudo  o  que  vem  de  mim  para  bem,  e  dali  advirá,  que 
me  enviarão  pessoas  espirituais  para  ensinarem  o  cristianismo. 
Eu  não  consentirei  que  em  alguns  dos  meus  lugares  ou  portos 
qualquer  português  tenha  a  sua  casa  ou  o  seu  comércio,  e  se 
nisto  alguns  seus  navios  chegarem,  podem  eles  deixá-los  con- 
tratar e  fazer  voltar;  e  se  estou  a  escrever  isto  a  Sua  Alteza  o 
Príncipe  de  Orange  e  aos  nobres  senhores  governadores  da 
Companhia  das  índias  Ocidentais,  então  o  faço  também  a  V. 
Ex-a  e  nobres  senhores,  pedindo  ao  mesmo  tempo,  que  queiram 
mandar  ordens  explícitas  que  os  senhores  directores  façam  em- 


(6)  Talvez  corrupção  por:  Benguela. 

(7)  Em  holandês  chulo  moderno  é  empregada  a  palavra  sodomi- 
ter,  no  sentido  de  qualificativo  moral  de  malandrim,  sem  relação  inten- 
cional com  o  vício  nefando.  Aqui  não  podemos  ajuizar  exactamente, 
por  falta  do  original  português,  o  sentido  verdadeiro  que  o  Rei  do  Congo 
pretendia  dar  à  frase. 


'5 


barcar  os  portugueses,  ou  os  mandem  para  o  Brasil  ou  para  Ben- 
gales  (5),  e  isto  pelas  razões  importantes  acima  expostas. 

Juntas  a  isto  envio  as  cartas  aos  nobres  senhores  Estados 
Geraes  e  também  três  jovens  nobres  da  minha  casa  real,  dos 
quais  um  voltará  do  Brasil  com  a  resposta  de  V.  Ex.a  e  dos  no- 
bres senhores. 

Sena-me  agradável  que  os  mesmos  fossem  despachados  bre- 
vemente por  V.  Ex.a  e  os  nobres  senhores,  um  para  voltar  para 
cá  e  os  outros  dois  para  a  Holanda;  e  com  estes  vai  esta  pequena 
homenagem  descravos  (8),  porque  a  oportunidade  não  o  deixou 
de  outra  forma,  o  que  eu  farei  melhor  em  outra  ocasião.  Rogo 
só  que  estes  impedimentos  sejam  removidos.  V.  Ex.a  e  nobres 
senhores  queiram  mandar  as  minhas  cartas  pela  primeira  opor- 
tunidade para  a  Europa,  e  com  honra,  uma  carta  que  vai  aqui 
junta  ao  rei  de  Portugal,  Dom  João  Quarto,  e  a  resposta  que  à 
mesma  será  dada  enviar-me  sem  demora.  V.  Ex.a  tenha  também 
a  bondade  de  me  dar  notícias  da  guerra  entre  Portugal  e  Espa- 
nha. 

Recomendando  V.  Ex-a  e  os  nobres  senhores  à  protecção 
de  Deus  com  todas  as  felicidades  e  prosperidades  e  favores  celes- 
tiais. Escrita  no  exército,  no  meu  condado  de  Búnte,  aos  23  de 
Fevereiro  de  1643,  foi  assinado. 

Rev  Dom  Garsia 

ALGEMEEN  RIJKSARCHIEF  (HAIA)  —  Raportcn  en  Bne- 
ven.  CONGO  1642- 1645  —  L"  W.  I.  C.  —  Brasilie,  n.°  59. 

NOTA  —  Esta  carta  é  dirigida  ao  Governador  e  Alto  Conselho 
dos  Possessões  Nerlandesas  no  Brasil.  Devemos  a  leitura  do  texto  holan- 
dês à  Arquivista  da  i.a  Secção  do  Arquivo  Nacional  de  Haia,  Senhora 
Meilink-Roelofsz  e  a  tradução  ao  R.  P.  Filipe  van  Esch,  C.  S.  Sp. 


(8)  Não  deixa  de  ser  curiosamente  picante  a  oferta  feita  pelo  Rei 
D.  Garcia  II  a  seus  amigos  holandeses  do  Brasil. 


Mapa  do  Golfo  da  Guiné 


(Prevoat  —  Histoire  Ginérale  des  Voyages,  VI) 


4 


CARTA  DE  D.  GARCIA  II  REI  DO  CONGO 
AO  P.«  REITOR  DO  COLÉGIO  DE  LUANDA 

(23-2-1643) 

SUMÁRIO  —  Pede  a  ida  dos  Jesuítas  para  o  Congo  —  Falecimento  do 
Bispo  Soveral  —  Afirma.se  disposto  a  receber  os  Padres 
de  braços  abertos  —  Protesta  defender  seus  direitos. 


t 

R.rt0  P."  Rector 

O  portador  desta  hé  meu  criado  Dom  Bernardo  de  Mene- 
zes, muito  conhecido  do  R.d0  P.e  Joaõ  de  Paiua.  Vay  pera  essa 
Sidade  da  Loanda  a  ter  cÕ  o  general  olandês  sobre  sertas  matérias. 
Avizeme  V.  P.  cõ  os  mais  R  dos  Padres  da  Companhia  de  Jhe- 
sus  e  os  de  S.  Francisco  da  sua  saúde  e  a  dos  mais,  que  receberei 
nisso  infinito  prazer;  a  minha  hé  boa  Deus  louuado  pera  sempre, 
cõ  animo  de  seruir,  honrrar  e  abraçar  a  toda  a  jente  Ecleziastica, 
principalmente  a  desse  Sancto  Colégio,  que  sempre  foi  fauorauuel 
ás  couzas  deste  Reino.  E  foraõ  prezos  e  embarcados  por  pregaré 
a  uerdade  aos  homens  e  moradores  dessa  Loanda,  de  que  fizeraÕ 
pouco  cazo,  athé  que  acodio  Deus  cõ  o  castigo,  que  naõ  podia 
mancar,  e  naÕ  foi  sem  mistério  do  çeo  porlongar  o  castigo,  por- 
que bem  se  podeira  ( sic )  atalhar  no  ano  passado  que  se  tomou 
essa  Sidade,  se  as  minhas  cartas  chegara  [m]  a  thempo  antes  dos 
Souuas  e  mais  jente  agrauada  e  escandalizada,  naÕ  fizera [m]  o 
que  fizeraõ,  de  que  naceraõ  mil  males.  /  / 

Naõ  há  couza  que  mais  danifique  os  homens  que  a  ambi- 
ção e  soberba.  Essa  reinou  nessa  Cidade  da  Loanda.  E  como 


3 


asim  íosse  naõ  podia  nuca  aucr  pazes  com  este  Reino,  porque 
cn  lugar  de  ouro,  prata  e  outras  couzas  que  serué  de  moeda 
em  outras  partes,  o  trato  e  moeda  saõ  pessas,  que  naõ  saõ  de  ouro 
nc  de  panos,  senão  creaturas  (').  Nossa  desgracia,  e  a  dos  meus 
antepassados  que  cõ  a  nossa  simplicidade  demos  lugar  a  que 
crececê  tantos  males  en  nossos  Reinos,  e  sobretudo  que  aia 
homés  que  afirme [m]  que  numea  fomos  Senhores  de  Angolla 
e  Matamba.  A  desigoaldade  das  armas  nos  fizeraõ  perder  tudo, 
que  ahonde  há  forssa,  direito  se  perde.  /  / 

A  desigoaldade  das  armas  nos  fizeraõ  perder  tudo,  que 
ahonde  há  forssa,  direito  se  perde.  /  / 

En  remate  deste  capitullo  ou  prologo,  naÕ  ouuera  o  que 
ouue  se  a  anbiçaõ  naõ  fora  por  diante.  E  V.  R.  creya  que  se 
elles  e  nós  naõ  pedirmos  a  Deus  mizericordia  e  refrearmos  o 
odio  e  uingança,  por  sem  duvida  me  paresse  irá  cõ  o  seu  castigo 
por  diante.  /  / 

O  P.6  Miguel  Afonso  o  tornei  a  mandar  a  Congo  porque 
naõ  conuinha  tello  ahi  tanto  tempo  porque  sua  idade  o  escuzaua; 
a  minha  detreminaçaõ  era  mandallo  ter  com  V.  PP.  pera  lhes 
dar  enformaçaõ  de  tudo,  porem  soube  cõ  a  uinda  de  Anrnque 
Cornélio,  que  hé  o  Comissário  que  mandou  o  general,  que  naõ 
era  ainda  na  Loanda  o  gouernador,  a  quê  esperauaõ,  de  que 
estou  agora  serti ficado  fica  lá  nesse  Bengo.  /  / 

Vejam  V.  PP.  se  sam  seruidos  virem  pera  Congo  cÕ  os 
mais  Padres  a  cultiuar  a  uinha  de  Deus.  E  creyame,  pello  Se- 
nhor que  cremos  e  cõfessamos,  que  o  meu  animo  naõ  hé  senaõ 
de  que  se  me  despeg[u]em  as  minhas  terras  e  esse  hé  o  meu 
intento  propozito  firme,  que  ainda  que  cayam  rayos  heide  mor- 
rer por  libertar  o  meu.  E  isso  me  naõ  [h]de  tirar  a  naõ  ser  taõ 
católico  como  ao  mesmo  Rei  Dom  Joaõ,  D.  Filipe,  e  [rei  de] 
Frãça. 


(*)  Cfr.  no  documento  precedente  a  oferta  espontânea  de  escravos 
aos  holandeses,  lamentando  que  fossem  poucos! 

18 


Mandcmc  V.  P.  largas  nouas  do  clero,  que  dias  há  que  sei 
hé  falecido  o  R.d0  Bispo  D.  Francisco  Soueral,  que  a  elle  tãbé 
cscreuera;  Deus  se  alembre  dellc  c  lhe  queira  dar  o  paraizo;  os 
incôuenientes  que  sempre  pôs  por  diante,  ou  fosse  nacido  delle 
ou  dos  inimigos  deste  Reino,  foraõ  cauza  de  tantos  males  que 
peruentura  naõ  socedera  o  que  [h]á  [a]contecido.  E  soposto  que 
nos  chamaõ  de  ipocritas  c  maos  cristãos,  en  toda  a  parte  ha 
bons  e  maos,  e  ninguém  julgue,  só  Deus  hé  que  sabe  julgar, 
pois  conhesse  nossos  interiores;  mais  depressa  acertariaõ  bem  cõ 
nos  chamare  de  paruos  e  bestas,  pois  ouue  en  nós  tanta  cõfiança, 
do  que  outros  ape  lidos.  /  / 

Concluo  cõ  tornar  a  pedir  a  V.  P.  atétem  pera  esta  Cristan- 
dade, que  estou  cõ  os  braços  abertos  pera  receber  a  toda  pessoa 
que  for  Eclesiástica.  Cuja  pessoa  N.  S.  guarde  e  dê  saúde  que 
dezeia.  Ao  R.'j0  Padre  Joaõ  de  Paiua,  bejo  o  abito  e  as  maõs.  O 
mesmo  a  V.  P.  E  [a] o  ministro  de  Sancto  Josephe. 

A  os  23  de  feuereiro  dc  1643. 

Rei  dom  Garcia 

AHU  —  Angola,  cx.  2.  [Autógrafo]. 

NOTA  ■ —  O  governador  fez  acompanhar  o  original  da  carta  do 
Rei  do  Congo  com  a  seguinte  missiva  a  el-Rei  de  Portugal: 

t 

Senhor 

Depois  que  partio  o  Capitaõ  Antonio  da  Fonseca  de  Ornellas  com 
a  rellaçaõ  do  socedido  neste  Reyno,  teue  o  P."  Rector  da  Companhia  de 
Jesus  hua  carta  de  EIRey  de  Congo  que  remeto  a  V.  Magestade  pelo 
mesmo  Rector,  que  como  me  acompanhou  todo  o  tempo  desde  a  sahida 
da  Loanda,  informará  a  V.  Magestade  mais  particularmente,  e  do  mao 
animo  que  Congo  tem  contra  nós,  que  será  fácil  castigallo,  se  as  oca- 


'9 


ciocns  em  que  V.  Magestade  está  derem  lugar,  como  espero  em  Deus, 
de  socorrer  este  Reino.  / f 

Nosso  Senhor  a  muito  alta  e  muito  poderoza  pessoa  de  V.  Ma- 
gestade guarde  muitos  annos  e  seu  Real  estado  prospere,  como  todos 
leaes  vassalos  dezejamos  ett.a  /  / 

Do  sitio  do  Bengo,  a  20  de  Março  de  1643. 

a )  Pedro  Cesar  de  Meneses 

AHU  —  Angola,  cx.  2. 


20 


5 


CARTA  DO  GOVERNADOR  DE  BENGUELA 
A  EL-REI  DE  PORTUGAL 

(1-3- 1643) 

SUMÁRIO  —  Relata  o  facto  da  tomada  de  Benguela  feios  holandeses, 
perda  das  fazendas  e  retirada  para  Caconda  —  Fica  aguar- 
dando socorro  de  gente,  armas  e  munições. 


Senhor 

Por  outra  via  tenho  dado  conta  a  V.  Magestade  do  estado 
em  que  está  este  Reino  de  Beng[u]ella,  e  porque  não  sey  se  será 
cheguada,  faço  esta  segunda;  em  21  de  dezembro  de  641  foi 
tomado  este  prezidio  por  forsa  de  armas  pelos  olandezes.  Su- 
posto que  com  perda  de  muitos,  por  se  lhes  defender  com  todo 
o  valor  posiuel.  Perdemos  todos  nossas  fazendas  por  sairemos  á 
barba  (*)  com  o  jgnimigo,  e  nos  metemos  pelo  sertaõ  dentro 
couza  de  corenta  leguoas  (2),  donde  estiuemos  noue  mezes  pa- 
sando  mil  nesesidades,  tanto  que  o  mesmo  gouernador  morreo 
á  pura  fome  (3). 

Por  seu  falesimento  fui  electo  em  seu  lugar,  que  aseytei 
pelo  grande  seruiço  que  me  pareçia  fazia  a  V.  Magestade,  que 
tudo  constará  por  papeis  a  seu  tempo.  Com  as  pazes  que  se  pre- 
goarão em  Setembro  de  642  em  este  Reino,  me  vim  para  este 


(')  Cara  a  cara,  frente  a  frente. 

(2)  Retiraram  para  Caconda,  a  cinco  jornadas  de  caminho. 

(s)  Nomeado  por  carta  patente  de  22  de  Dezembro  de  1635, 
Nicolau  de  Lemos  Landim  retirou  para  Coconda  com  os  Portugueses 
e  aqui  faleceu  em  1642. 


2  1 


prezidio  com  toda  a  gente  que  auia;  fiquo  para  húa  parte  e  os 
olandezes  a  outra,  na  comformidade  das  Capitulasoens  das  ditas 
pazes.  Elie  (4)  tem  ganhado  tres  legoas  pela  terra  dentro,  c 
dez  (s)  ou  doze  para  a  parte  do  sul;  tudo  o  demais,  que  seráo 
oitenta  pela  terra  dentro,  estão  por  V.  Magestade.  /  / 

Nesta  conformidade  fiquo  esperando  noua  ordem  de  socor- 
ro de  gente,  armas  e  monisoens  e  fazendas,  porque  tudo  o  que 
V.  Magestade  neste  Reino  tinha  se  perdeo.  Vay  em  sete  mezes 
que  gasto  a  minha  fazenda  e  alhea  em  seruiço  de  V.  Mages- 
tade. E  gastarey,  esperando  V.  Magestade  me  acuda  e  mande 
o  que  for  mais  seu  seruiço.  Cuia  Catoliqua  Magestade  guarde 
Deos.  /  / 

De  Benguella,  em  o  primeiro  de  Março  de  643. 

t 

Hijino  Roiz  Calado 

[À  margem]:  Remetida  em  lista  do  Secretário  André 
Franco,  de  4  de  cj.bro  de  643. 

AHU  —  Angola,  cx.  2. 


22 


(4)  Refere-se  ao  inimigo  holandês. 

(5)  No  original:  des. 


6 


CARTA  DE  DIOGO  LOPES  DE  FARIA 
A  EL  REI  DE  PORTUGAL 

(5"3-l643) 

SUMÁRIO  —  O  feitor  relata  a  el  rei  o  estado  em  que  se  encontram  os 
portugueses  —  Necessidade  urgente  de  modificar  a  situa- 
ção par  obviar  ao  pior. 

Senhor 

Antes  que  os  Olandezes  ocupasse  a  sidade  de  Loanda,  dei 
conta  a  V.  Magestade  do  estado  das  cousas  tocantes  a  meu 
cargo  de  feitor  de  sua  Real  Fazenda,  na  conformidade  que  tenho 
por  regimento.  Despois  de  nossa  retirada  não  o  torney  a  fazer 
porque  nos  auizos  escreueo  largamente  a  V.  Magestade  o  go- 
uernador  Pero  Sesar  de  Meneses. 

Des  do  dia  que  o  gouernador  se  retirou  até  o  prezente,  náo 
me  apartei  de  sua  pessoa,  acudindo  a  tudo  quanto  se  ofereseo 
do  ceruiso  de  V.  Magestade,  como  deuo. 

Da  sidade  não  se  saluou  cousa  algíía  da  fazenda  de  V.  Ma- 
gestade,  que  o  que  auia  só  constaua  de  munisões,  artilheria  e 
fazendas  que  estauaõ  na  casa  de  tres  chaues,  embargadas  por 
prouizão  real  (antes  de  meu  tepo)  pelos  herdeiros  de  Antonio 
Fernandez  dEluas,  contratador  que  foi  dos  escrauos  deste  Reyno. 
O  escnuaõ  de  meu  cargo  Manoel  de  Faria  e  Goes  faleseo,  e  se 
perderão  na  retirada  a  mor  parte  dos  liuros  e  papeis  de  seu  ofiçio, 
como  tãbê  faltão  quazi  todos  os  dos  outros  ofiçios. 

Durante  o  tempo  da  guerra,  o  gouernador  uendo  que  não 
auia  fazenda  de  V.  Magestade  para  remediar  as  muitas  neces- 

23 


sidades  de  soldados  doentes,  e  sustentar  os  que  estauáo  em  estado 
de  poderé  tomar  armas,  acudio  cõ  sua  fazenda,  e  por  outros 
meyos,  o  mais  suauemente  que  o  tempo  deo  lugar  e  os  que  esca- 
parão da  contagiáo  e  malignidade  da  terra  os  uão  sustentando 
e  uestindo. 

Tendo  o  gouernador,  por  uia  dos  Olandeses,  as  nouas  da 
publicasaõ  das  pazes,  me  mandou  e  nintamente  ao  Licenciado 
Antonio  Guerreiro,  profesor  de  leis,  para  que  na  Loanda  cõ  o 
director  tratasemos  todas  as  cousas  tocantes  ao  ceruiso  de  V. 
Magestade,  e  conueniensias  para  bem  da  paz,  de  que  o  gouer- 
nador deue  dar  conta  a  V.  Magestade,  e  como  asisti  ali  desde 
i  7  de  nouebro  do  anno  passado,  até  i  5  de  feuereiro  deste  anno 
e  neste  tempo  obzeruey  muitas  couzas  que  tratamos  cõ  o  Direc- 
tor delias  apontarey  algúas  para  que  V.  Magestade  se  sirua  cõ 
mais  breuidade  mandar  acudir  cõ  o  remédio,  antes  que  se  uáo 
deprauando  e  pondo  em  peor  estado. 

Consedeeo  o  Director  que  o  Gouernador  pudese  deser  cõ  os 
moradores  á  insta  da  barra  do  Bengo,  que  elle  cõ  suas  armas 
ama  senhoreado,  e  situase  o  nosso  arrayal  como  hora  o  tem, 
em  hú  outeiro  mea  légua  pela  terra  dentro,  sobelo  mesmo  Rio, 
e  que  os  moradores  e  mais  pesoas  pudesê  cultiuar  as  terras  e 
fazendas  que  nele  há,  por  tempo  somente  de  noue  mezes,  que 
comesou  nos  últimos  de  Ianeiro  deste  anno,  até  uir  rezolusaõ 
de  V.  Magestade  e  dos  Ordêis  gerais,  da  forma  em  que  este 
Reyno  ade  ficar:  antes  de  chegar  a  isto  ouue  algúas  duuidas, 
como  V.  Magestade  pode  uer  do  treslado  de  hú  papel  e  sua 
re[s] posta  que  cõ  este  uai,  cuyo  original  fica  em  meu  poder  ('), 
e  tenho  por  cousa  sertã  que  se  no  tépo  dos  noue  mezes  não  man- 
dar V.  Magestade  algúa  boa  rezolusaõ,  em  fauor  destes  seus 
uasalos,  e  nos  obngaré  a  retirar  destas  terras  (como  se  prezume 


(*)  Doe.  de  10  de  Janeiro  de  1643. 


faráo)  será  causa  de  grandes  danos,  assi  porque  o  gentio  deste 
reyno  vasalo  de  V.  Magestade,  sempre  andou  uano,  como  por- 
que os  poucos  escrauos  que  até  agora  nos  não  fugirão  o  farão, 
seguindo  os  mais.  Com  esta  considerasão  V.  Magesade  se  sirua 
de  antesipar  o  remédio. 

Chegou  segunda  ues  o  barco  em  que  trouxe  as  cartas  de 
V.  Magestade  Antonio  da  Fonseca  dOrnellas  (digo  segunda 
ues,  que  a  primeira  não  foi  admitido,  né  os  Olandezes  lhe  derão 
lugar  para  se  comunicar  cõ  o  gouernador)  a  tempo  que  eu 
estaua,  como  digo,  na  sidade  de  Loanda;  não  lhe  consedeo  o 
Director  liberdade  para  que  chegasse  á  barra  do  Bengo  cõ  barco 
á  insta  do  nosso  a[r]rayal,  antes  lhe  pôs  guardas  tão  exsecutiuos 
de  fora,  que  tudo  quanto  a  gente  do  mar  dezébarcou  sé  lisensa 
sua,  se  lhe  tomou  por  perdido;  mas  despois  vendose  na  barra  do 
Bengo  cõ  o  gouernador,  consedeo  que  se  pudesé  dezébarcar  as 
munisões  de  V.  Magestade,  que  o  gouernador  da  Bahia  mandou, 
e  as  cousas  que  não  fosé  de  mercansia,  mas  só  as  que  se  man- 
dauão  de  socorro  a  particulares.  Mas  o  barco  não  sahio  do  porto 
de  Loanda. 

Declarou  se  comigo  que  se  lhe  auia  de  pagar  a  entrada  de 
todas  as  fazendas  que  trouxesé  aqui  vasalos  de  V.  Magestade 
a  25  por  sento,  sem  admitir  que  este  porto  foi  sempre  liure  e 
franco  nas  entradas  de  tudo  o  que  a  elle  aportou:  antes  dis  que 
as  fazendas  que  vierem  se  ande  vender  a  seus  comisanos  para 
que  de  sua  mão  as  cõpré  os  vasalos  de  V.  Magestade,  pelos  pres- 
sos  que  eles  asentare. 

Prohibem  também  que  os  uasalos  de  V.  Magestade  posão 
embarcar  pessas  de  escrauos  para  fora,  mas  que  se  uendão  a  seus 
comisarios  e  que  neste  Reyno  nimguem  mais  que  a  sua  Com- 
panhia tenha  o  trato  e  saca  dos  ditos  escrauos. 

Como  despois  de  tantos  mezes  de  calamidades  e  doensas 
nos  mattos,  algús  uasalos  de  V.  Magestade  que  delas  escaparão 


25 


se  quizerao  prouer  secretamente  de  couzas  nesesanas  para  se 
guareseré  (ainda  que  o  gouernador  o  tinha  prohibido  cõ  boas 
considerações)  os  comisanos  olandezes  lhas  venderão,  o  que 
tòca  a  mantimentos,  por  altos  pre[s]os  a  dinheiro  e  prata,  e  as 
que  o  não  são  a  pessas  de  escrauos,  a  quem  tem  posto  baixisimos 
pre[s]os,  abatendo  também  o  da  prata,  tomando  a  cõ  pezos 
que  tem  cresimento  nas  onsas  e  marcos  a  que  chamão  Troya: 
asi  que  por  todas  as  uias,  como  estão  de  melhor  partido  em 
poder  e  forsas,  íntroduze  toda  a  tirania  que  podem,  e  ainda  que 
em  cada  matéria  das  apontadas,  e  muitas  outras  que  se  oferese- 
rão,  se  lhes  foi  á  mão,  manifestandolhes  cõ  claras  razões  seu 
mao  proseder,  que  encontra  (2)  as  capitulasões  asentadas  cõ 
V.  Magestade,  quando  o  Director  se  acha  atalhado  (3)  se  dis- 
culpa  cõ  que  não  pode  deixar  de  guardar  as  ordés  de  seus  mayo- 
res,  e  claramente  dis  que  quem  hé  senhor  dos  portos  de  mar 
o  hé  também  do  Reyno.  Isto  passa  nestes  princípios.  Deles  se 
pode  inferir  o  que  será  andando  o  tempo,  não  se  acudindo  com 
o  remédio. 

De  todas  estas  couzas  me  pareseo  fazer  relasão  a  V.  Mages- 
tade para  constar  delas  a  opre[s]são  em  que  ficamos  seus  vassal- 
los  e  hú  reyno  tão  importante  como  este  hé,  e  será  cousa  ímposi- 
uel  gozar  dele  V.  Magestade  cousa  algúa,  emquanto  esta  gente 
aqui  estiuer,  pois  não  trata  aos  vasalos  de  V.  Magestade  como 
amigos,  mas  cõ  a  tirania  que  se  os  ouuerão  rendido  e  tiuerão  su- 
geitos;  as  cousas  ouuerão  chegado  a  muito  pior  estado  se  o  gouer- 
nador Pero  Sesar  de  Meneses  não  as  ouuera  guiado  cõ  a  prudência 
e  bom  modo  que  para  isso  tem;  porque  o  Director  cõ  a  ocazião 
da  tardansa  de  recado  de  V.  Magestade,  quer  persuadir  aos 
moradores  que  V.  Magesatde  tem  iá  largado  aos  Estados  a  pre- 


(2)  Contraria,  vai  de  encontro  ao  estipulado. 
(8)  Interrompido,  confuso,  embaraçado. 


26 


tensáo  e  senhorio  deste  Reyno,  para  quebrantar  e  adquirir  os 
ânimos,  que  lá  estão  cansados  dos  males  passados,  mas  a  húa 
voz  (4)  todos  estio  cõ  firme  confiansa  em  que  V.  Magestade 
lhes  ade  ualer,  cuya  pessoa  nosso  Senhor  guarde  para  defensa  de 
seus  Reynos  e  vassallos. 

Do  arrayal  de  Gango,  5  de  Março  de  1643. 

Diogo  Lopes  de  Faria. 

AHU  —  Angola,  cx.  2.  —  Outro  exemplar,  também  original,  com 
a  data  de  10  de  Março. 


(4)  No  original:  vos. 


27 


7 


CARTA  DO  GOVERNADOR  DE  ANGOLA 
A  EL-REI  DE  PORTUGAL 

(9-3- '943) 

SUMÁRIO  —  Relata  os  acontecimentos  políticos  ocorridos  em  Angola. 

Senhor 

Pello  cappitáo  Antonio  da  Fonseca  de  Ornellas  (1),  e  Hay- 
cinto  de  Araujo  dei  conta  a  V.  Magestade  da  entrada  da  Loanda 
pellos  ollandezes,  que  como  seu  poder  era  tão  dezigual  ao  que 
eu  tinha,  pareceo  conuinha  ao  seruiço  de  V.  Magestade  pera 
conceruação  deste  Reino,  retirar  me  aos  matos,  e  tirar  o  comer- 
cio do  gentio  aos  inimigos;  a  occasião  prezente  em  que  me  achey, 
e  depois  o  tempo  o  tem  mostrado,  que  só  deste  modo  se  pudia 
substentar  este  Reino,  porque  como  sempre  escreuy  aos  tnbu- 
naes  de  V.  Magestade,  a  praça  da  Loanda  era  indefenciuel, 
toda  aberta,  e  com  menos  de  trezentos  homens,  os  mais  delles 
sem  nenhúa  disciplina,  e  menos  obngaçoens,  mal  se  podem 
deífender  de  dous  mil  infantes,  quatrocentos  índios,  e  trezentos 
marinheiros,  que  tantos  forao  os  que  saltarão  em  terra  e  meus 
seruiços  merecião  crer  V.  Magestade  que  se  importara  a  seu 
real  seruiço  perder  eu  a  vida,  o  fizera  mil  vezes,  como  em  outras 
occasioens  a  tenho  auenturada,  mas  por  conseruar  este  Reino,  me 
pus  a  mayores  perigos  que  são  as  doenças  de  que  poucos  esca- 

pão.  // 

E  se  a  V.  Magestade  enformarão  que  no  tempo  que  o  ini- 
migo veo  a  Loanda  estaua  guerra  em  Congo,  foi  engano;  por- 


(*)  No  original:  Ornelles. 


28 


que  em  carta  que  escreuy  a  V.  Magestadc  de  30  de  Março  dc 
1640,  lhe  pedia  licença  pera  o  castigar,  e  que  tinha  os  qui- 
lombos ('  a)dos  Iagas  obedientes  ao  que  lhes  ordenasse  do  ser- 
uiço  de  V.  Magestadc  e  que  aguardava  ordem  de  V.  Magestade 
pera  a  dar  a  execução;  e  assy  na  Loanda  não  há  gente  preta  mais 
que  a  que  os  moradores  hão  mister  pera  seu  seruiço,  que  a  outra 
tem  em  suas  fazendas,  e  nem  esta  hé  a  com  que  se  faz  guerra, 
se  não  a  dos  quilambas  (2),  e  quimbares  (3)  que  estão  tunto  aos 
prezidios  da  Embaca,  Masangano  e  Cambambe,  negros  forros, 
obrigados  a  seruir  a  V.  Magestade  com  sua  gente,  mas  a  esta 
obrigação  não  acodem  elles  se  não  quando  a  ocasião  lhes  mostra 
algum  interesse,  e  hé  isto  tanto  assy  neste  gentio  que  o  que 
hoie  nos  está  seruindo,  por  que  nos  vê  em  bom  estado,  hontem 
nos  fazia  todo  o  mal  que  podia. 

Depois  que  despachey  o  segundo  e  ultimo  auizo  me  tomou 
o  Olandês  a  barra  da  Coanza,  e  a  gente  de  El  Rey  de  Congo 
o  Dande,  matando  a  hum  homem  branco  que  estaua  em  sua 
terra  com  sete  filhos,  e  hum  pataxo  (3  a)  que  auia  de  partir  com 
terceiro  auizo,  queimarão,  matando  sete  homens  brancos  e  algúas 
molheres  filhas  da  terra,  que  estauão  em  seus  confins,  e  o  mesmo 
fizeraõ  os  souas  seus  vassallos.  /  / 

Estando  na  Quilunda  tiue  noticia  se  querião  rebellar  sette 
souas  aos  quaes  prendi,  e  parte  de  suas  morindas  (4),  com  que 
se  aquietarão  os  que  tinhão  mao  animo,  que  erão  todos,  rezer- 
uando  só  hum  que  chamaõ  Angollaquicaito,  a  quem  V.  Ma- 
gestade deue  fazer  mercês  pera  exemplo  dos  mais,  e  delle  falarey 
a  V.  Magestade  em  outra  mais  largo.  Veo  o  inimigo  a  reconhe- 
cerme  ao  dito  sitio  da  Quilunda  com  quinhentos  soldados,  e 

(1  a)  Arraiais. 

(2)  Do  quimbundo:  kilamba,  ilamba,  capitães  da  guerra  preta. 

(3)  Do  quimbundo:  kimbari,  imbari,  pretos  forros  que  se  dedica- 
vam à  agricultura 

(3a)No  original:  pataxe. 

(*)  Povoações,  banzas  ou  libatas  dos  sobas  e  vassalos. 


29 


muitos  negros  maxicongos  que  lá  lhe  tinhao  vindo,  esteue  dous 
dias  á  minha  vista,  ao  terceiro  se  retirou,  estando  eu  com  tão 
poucas  moniçoens,  que  não  tinha  mais  que  quatro  barris  de 
poluara,  e  quatro  peruleiras,  menos  de  sinco  mil  pelouros,  e 
cem  braças  de  morrão;  por  este  respeito  determiney  de  ir  ao 
prezidio  de  Masangano,  retirando  todos  os  souas,  e  suas  mortn- 
das,  e  todo  género  de  gado,  por  que  o  inimigo  se  nao  aprouei- 
tasse  de  nenhíía  couza  destas  e  tendo  mandado  os  doentes  pello 
Rio  a [r] riba  por  falta  de  carregadores,  com  o  soua  Nambua-ca- 
lombe;  elle  se  rebellou  e  matou  algúa  gente  que  em  sua  com- 
panhia hia,  roubandolhes  o  que  leuauão. 

Chegando  a  Masangano  precurey  forteficar  o  prezidio,  e 
porque  adonde  está  situado  o  lugar  não  era  possiuel  por  falta 
de  gente  pera  a  defença,  fortefiquei  o  sitio  velho,  e  posto  que 
estiue  desconfiado  dos  médicos,  sangrado  trinta  e  sete  vezes, 
com  mui  pouca  melhoria  sahi  em  campanha,  não  me  deixando 
nenhum  dia  [as]  febres,  e  mandando  o  inimigo  lui  pataxo  com 
oito  peças  de  artelhana  a  tratar  com  gente  da  Quissama,  armei 
quatro  lanchas  que  o  inuestirão  em  húa  madrugada,  e  o  rende- 
rão, matandolhes  dezanoue  soldados,  e  prendendo  onze;  e  com 
auizo  que  tiue  que  em  Namboa-calombe  se  aiuntaua  muita 
guerra  de  Congo,  mandei  ao  capitão  mor  Antonio  Bruto  (5) 
que  peleiou  em  20  de  íaneiro  de  1642  com  o  dito  soua,  matan- 
dolhe  oito  mil  peçoas,  prendendo  ao  dito  Nambuacalombe,  a 
quem  logo  mandei  cortar  a  cabeça,  com  pareçer  e  votos  dos  souas 
vassalos  de  V.  Magestade,  segundo  custume  do  Reino-  /  / 

E  marchando  na  volta  do  soua  Emgobe-a-muquiama,  tiue 
auizo  uinhão  pello  Rio  Coanza  tres  pataxos  ollandezes  com 
gente  de  guerra,  a  que  logo  mandei  reconhecer  com  gente  de 
caualo,  e  húa  companhia  dc  soldados,  pera  lhe  impedirem  toda 


(5)  Conquistador  antigo,  sargento-mor  em  1624,  capitão-mor  em 
1629,  com  valiosos  serviços  prestados  nas  lutas  contra  os  holandeses, 
morto  por  estes  no  assalto  traiçoeiro  ao  Outeiro  do  Gango,  em  17-5- 1643. 


a  passcgc  que  intentassem,  o  que  se  fez  de  maneira  que  tendo 
os  inimigos  noticia  de  que  lhe  tinhao  tomado  a  dianteira,  se 
retirarão;  ordeney  logo  andassem  sempre  quatro  lanchas  com 
cabo  e  soldados  pera  lhes  prohibir  a  entrada  de  suas  embarca- 
çoens,  como  fizerao  por  muitas  vezes. 

Porque  Engombe-a-muquiama  se  tinha  rebellado,  e  negado 
a  obediência  a  V.  Magestade  tratando  de  se  hunir  com  os  mais 
aleuantados,  amotinando  os  souas  vezinhos  contra  os  Portugue- 
zes,  mandei  ao  capitão  mor  Antonio  Bruto  com  guerra,  que  che- 
gando á  banza  e  terras  do  dito,  o  achou  fogido  pera  as  de  Nam- 
buangongo;  pus  outro  senhor  vassalo  de  V.  Magestade  nas 
terras  a  quem  pertenciáo  e  fica  com  muita  gente  de  sua  morinda, 
e  seus  macotas  contentes.  /  / 

E  depois  da  guerra  de  Engombe,  pera  reconhecer  e  saber  o 
que  ama,  mandei  ao  capitão  da  guerra  preta  athé  a  Barra  do 
Bengo  com  gente  de  guerra,  e  chegando  ao  sitio  que  chamão  de 
Diogo  de  Siqueira  (fi)  achou  muita  quantidade  de  negros  que 
ali  estauão  retirados,  com  decenho  de  se  aiuntarem,  dos  quaes 
matou  alguns  e  captivou  outros,  não  auendo  em  todo  o  Bengo 
olandês  que  lho  impedisse;  e  porque  no  Dande  nao  ouuese 
lugar  nunqua  de  se  aiuntar  guerra  de  Congo  e  de  outras  partes, 
como  se  soaua;  ordenei  fosse  o  capitão  mor  Antonio  Bruto  ao 
dito  lugar,  adonde  a  algíía  gente  que  achou  fez  fogir  pera  huas 
ilhas  que  unhão  pera  o  mesmo  effeito,  sem  canoas,  marchando 
perto  do  Lufune  (7)  e  Bumbe  (8)  da  outra  banda,  e  tornando 
pello  Dande  sem  achar  framengo  se  recolheo  ao  arraial,  tendo 
eu  sempre  espias  pello  Bengo,  Coanza,  e  mais  partes,  athé  che- 
garem á  cidade  da  Loanda,  adonde  com  emboscadas  se  toma- 
rão alguns  framengos  por  uezes.  /  / 

(6)  Ficava  a  uma  légua  de  Luanda,  no  Bengo,  e  só  até  ali  chegou 
a  ocupação  holandesa  antes  da  notícia  das  pazes  entre  Portugal  e  a 
Holanda. 

(7)  Rio  Lifune. 

(8)  Na  província  de  Bamba,  reino  do  Congo,  perto  do  Loje. 


31 


E  estando  eu  lá  em  terras  do  soua  Cazuangongo  (9)  sube 
que  os  souas  Motemo  e  Nambuagongo  tiranicamente  tinhão 
uzado  de  crueldades  com  os  Portuguezes,  clérigos,  e  mais  Reli- 
giozos  que  em  suas  terras  estauao,  matando  os,  tomando  lhes 
suas  fazendas  e  fazendo  outros  ritos  gentílicos,  e  que  Cahenda, 
e  Engombe-a-muquiama,  negando  a  obediência  a  V.  Magestade, 
como  vezynhos  que  são  das  terras  de  El  Rey  de  Congo  o  reco- 
nhecerão por  senhor,  coniurandose  todos,  de  íuntos  com  guerra 
fazemos  o  mal  que  pudessem;  e  vendo  eu  sua  má  tenção,  e 
tendo  o  quilombo  dos  íagas  perto  do  dito  Caenda  e  Mothemo, 
mandei  ao  capitão  mor  Antonio  de  Abreu  de  Miranda  (10) 
com  sessenta  soldados,  pera  que  com  o  dito  íaga  lhe  entrasse 
pellas  terras  eo  castigasse,  por  que  não  tiuesse  effeito  seu  damnado 
pensamento;  o  qual  peleiando  com  Caenda,  o  desbaratou  ma- 
tandolhe  muita  gente,  botando  o  gentio  fora  de  sua  terra,  fazen- 
do o  mesmo  ao  soua  Mothemo,  matando  o  a  elle,  e  a  mais  de 
quatro  mil  dos  seus,  catiuandolhe  hum  irmão,  e  negros  princi- 
paes,  e  souas  vassalos  seus.  /  / 

E  como  o  soua  Nambuangongo  e  os  mais  rebellados  tra- 
tauão  de  aiuntar  grande  poder  de  guerra  pera  com  o  ollandès 
fazemos  damno,  como  dezeiauão,  tudo  por  mao  animo  de  El 
Rei  de  Congo  que  os  induzia,  mandando  por  diuersas  partes  aos 
souas  vassallos  de  V.  Magestade  se  leuantassem  e  obedecessem 
ao  inimigo,  e  vendo  eu  este  damno,  e  que  pudia  rezultar  em 
grande  perda  do  Reino,  e  rebellião  entre  os  souas,  por  ser  gente 
variauel,  e  porque  não  effeituassem  o  que  determinauão,  e  je 
lhes  diuidisse  o  poder  que  tinhão,  mandey  marchar  com  guerra 
ao  capitão  mor  Antonio  Bruto,  e  ao  capitam  mor  Antonio  Abreu 


(9)  Na  província  da  liamba,  entre  os  rios  Dande  c  Bengo. 

(10)  Antigo  conquistador  que  se  encontrava  em  Angola  desde 
1603.  Capitão-mor  da  Muxima  (15  de  Março  de  16 12),  capitao-mor 
de  Ambaca  ( 1 64 1 )  c  capitão-mor  com  poderes  de  governador  depois 
da  traição  do  Gango,  de  25  de  Maio  de  1643  a  Janeiro  de  1644. 


3  2 


de  Miranda  contra  elle  [s] ,  pera  que  hum  por  húa  parte  e  outro 
por  outra,  os  desbaratassem;  os  quaes  peleiando  alguns  dias,  o 
dito  Namboangongo  lhes  fugio  largando  a  banza,  e  terras,  em- 
brenhandosse  com  os  seus  nos  matos,  aos  quaes  seguindo  os 
nossos  em  grande  espaço,  lhes  sahio  de  húa  emboscada  donde 
estauáo,  quatro  framengos,  e  com  a  uísta  delles,  se  derão  a  fugir 
os  nossos  tão  afrontozamente,  não  sendo  bastantes  seus  officiaes 
maiores  pera  os  deter  e  obrigar  a  fazer  rosto  ao  inimigo;  e  com 
esta  infame  fugida,  deixarão  morto  ao  capitão  da  guerra  preta, 
não  tomando  exemplo  do  vallor  com  que  andou,  morrerão  mais 
treze  homens  não  peleiando,  mas  de  temor,  couza  nunqua  vista 
em  Portuguezes  e  menos  sendo  vassallos  de  V.  Magestade. 
Perdoeme  V.  Magestade  esta  linguagem  que  hé  de  sentido, 
porque  se  fizerão  o  que  podião  não  tiuera  o  olandês  mais  que 
as  paredes  da  Loanda,  e  EIRey  do  Congo  estiuera  castigado 
como  merece. 

Marchando  eu  athé  terras  de  Nambuaquisanzo  (")  pera 
que  sempre  fosse  senhor  da  campanha,  e  acudir  de  mais  perto, 
a  algúas  couzas  necessárias,  me  chegou  auizo  do  ollandês  com 
carta  de  25  de  septembro  de  1642,  de  que  ficauao  as  pazes 
apregoadas,  e  as  capitulaçoens  feitas  entre  V.  Magestade  e  os 
Estados  Gerais  ,  e  com  o  manifesto  que  me  fez,  por  aliuiar  do 
trabalho,  que  os  souas  vasalos  tinhão  padesido,  mandei  alguns 
a  suas  terras  pera  que  as  semeassem  e  cultivassem,  e  ajuntassem 
a  gente  que  espalhada  tinhão;  e  estes  não  lhe  saindo  de  suas 
entranhas  o  mao  animo  que  contra  nós  têm,  e  enduzidos  de 
Nambuangongo  e  Engembe,  se  passarão  pera  elles  con  intento 
de  se  ajuntarem  pera  nos  dar  guerra,  como  de  ef feito  a  tinhão 
em  quantidade  em  terras  do  soua  Golungo;  e  forão  os  que  se 
rebellarão  Golungo,  Salaizongo  (12),  Dalandongo,  Canzelle,  e 


(n)  Na  província  do  Lumbo.  Abrangia  a  região  dos  rios  Dande, 
Zenza  e  Luínha  até  o  rio  Mucozo,  e  sobras  da  lotação  de  Cambambe. 
(12)  Sala-Zongo,  na  capitania-mor  do  Golungo. 


3 


33 


Quitalla,  aos  quaes  mandey  por  muitas  vezes  recados,  a  que  náo 
difirirao,  nem  se  quizerão  dezenganar;  e  como  se  virão  empara- 
dos  de  quatro  framengos,  que  depois  da  publicação  das  pazes 
mandarão  pôr  no  sitio  de  Nambua-calombe,  em  companhia  do 
secretario  olandês  que  me  trouxe  a  carta  e  as  capitulaçoens  das 
pazes,  entenderão  ficauão  liures,  e  que  seguramente  nos  pode- 
rião  fazer  damno  iuntos  com  o  framengo.  /  / 

E  pera  acudir  a  estas  couzas  me  sahi  com  toda  a  breuidade 
do  sitio  de  Nambuaquisanzo  pera  as  terras  do  rebellado  Golungo, 
de  donde  mandey  ao  cabo  dos  framengos  me  entregassem  os 
souas  e  as  morindas  que  se  tinhão  passado;  e  posto  que  o  cabo 
não  tinha  ordem  de  seu  mayor  pera  o  fazer,  me  ouue  com  elle 
de  modo  que  me  entregou  os  souas,  morindas,  e  gente,  assy  a 
que  se  tinha  passado  antes  da  publicação  das  pazes,  como  de- 
pois delias,  fogindo  Golungo,  e  Engombe,  que  entendendo  se 
emparauão  dos  olandeses  virão  claramente  erão  enganados, 
ficando  assy  os  rebellados  como  o  mais  gentio  contra  elles,  e  tão 
odiados  que  de  nenhúa  maneira  se  fiarão  mais  delles. 

Aos  ditos  souas  mandei  cortar  as  cabeças,  conforme  as  cul- 
pas e  custume  do  Reino,  nas  terras  pus  senhores  parentes  dos 
mesmos,  e  em  nome  de  V.  Magestade  lhes  entreguei  as  terras, 
morindas,  e  gente  adonde  ficão  quietos;  e  com  isto  se  refrearão 
os  demais,  ficando  com  tal  socesso  este  Reino  atemorizado,  pois 
virão  claramente  conseguir  seu  intento. 

Custou  ao  cabo  dos  olandezes  o  que  fez  por  my  a  cabeça; 
porque  como  seus  maiores  tratão  tudo  com  engano,  fazião  a 
duas  caras,  induzindo  aos  negros  se  rebellassem,  porque  as  pazes 
que  tinhão  feito  com  V.  Magestade  auião  de  durar  pouco,  como 
porque  descubertamente  fauorecem  a  EIRey  de  Congo,  pelo 
interesse  das  minas  que  há  em  suas  terras,  e  assy  que  muitas 
vezes  escreuey  a  V.  Magestade  que  este  trato  andauão  pera  fazer 
há  muitos  annos.  V.  Magestade  mande  que  se  ueião  as  cartas 
que  tenho  escrito  sobre  este  particular,  e  do  socorro  que  pedia, 
e  que  a  Loanda  se  não  podia  deffender,  se  não  de  poder  a  poder, 


34 


e  que  as  que  chamauao  forteficaçoens  o  não  erão,  a  nenhua  des- 
tas couzas  se  me  defino  nem  com  obras,  nem  por  escrito,  ante- 
uendo  eu  o  que  tem  socedido. 

Concluído  o  negoceo  dos  souas  rebellados,  me  pareceo  vir 
a  esta  barra  do  Bengo,  por  muitos  respeitos  importantes  ao  ser- 
uiço  de  V.  Magestade,  assy  por  que  nao  ouuese  lugar  de  os 
negros  de  El  Rei  de  Congo  ocupar,  semear,  e  cultiuar  este  sitio, 
cujos  frutos  sempre  gozariao  framengos,  como  porque  ficaua 
mais  acomodado  pera  auizar  a  V.  Magestade  e  também  porque 
posto  eu  nelle  ficao  os  vasalos  de  V.  Magestade  liures  de  todo 
o  damno,  e  as  fortalezas  do  gentio  inimigo,  e  emparado  tudo, 
por  ser  a  fronteira  deste  Reino. 

Siuado  nelle  detreminey  compor  logo  na  milhor  forma  que 
pude  e  parecer  de  todos,  com  o  ollandez,  o  que  fosse  mais  con- 
ueniente  ao  seruiço  de  V.  Magestade  e  euitar  os  grandes  incon- 
uenientes  que  pudiao  rezultar,  assy  no  comercio  deste  gentio, 
e  de  alguns  moradores  deste  Reino,  cuia  ambição  os  sega,  e  de 
tal  modo  se  deprauarião  que  (nao  auendo  precepto)  em  poucos 
dias  se  mesturanão  com  elles.  /  / 

E  por  liurar  os  Portuguezes,  clérigos  e  mais  Religiozos,  que 
habitão  em  Congo,  ainda  hoie  prezos,  e  auexados  de  EIRey  de 
Congo,  sem  nenhú  outro  remédio  mais  que  o  de  aqui;  o  dito 
Rei  fica  no  Lufune  dez  legoas  deste  sitio,  adode  veo  com  guerra, 
e  com  animo  de  fazer  por  dadiuas,  com  [que]  o  olandês  que- 
brante as  pazes  comigo,  e  de  ter  nelle  emparo,  pois  vê  quanto 
merece  ser  castigado,  pellas  tiranias  que  uzou  com  os  ditos  Por- 
tuguezes, tomandolhe  suas  fazendas  e  escravos,  e  induzir  aos 
souas  [que]  os  matassem,  dandolhes  esperanças  de  que  nos 
fanão  mal,  e  outros  aluitres  que  cada  dia  dá  a  o  Olandês,  tudo 
em  desserviço  de  V.  Magestade.  O  director  vai  auerse  hum 
dia  destes  com  EIRey  pera  me  fazer  a  entrega  dos  Portuguezes, 
clérigos,  e  mais  fazendas,  como  ficou,  e  me  prometeo,  langando 
lhe  eu  pera  isso  as  terras  de  Mothemo,  seus  yrmãos  e  macotas 
que  em  guerra  lhe  tomey;  cuido  nao  há  de  conseguir  nada,  por 


35 


que  este  gentio  hé  vanauel  e  pode  ser  que  tenhão  quebras  (13), 
porque  o  director  está  empenhado  em  que  hade  comprir  o  pro- 
metido. /  / 

V.  Magestade  crea  que  pera  conceruação  deste  Reino,  não 
há  de  auer  Rey  de  Congo,  por  que  náo  temos  outro  inimigo 
mayor,  que  tendo  recebido  tão  boas  obras  dos  vassalos  de  V. 
Magestade  que  em  suas  terras  sempre  continuarão,  leuando 
muitas  fazendas,  com  cuja  emtrada  se  fez  rico  e  oppulento,  paga 
com  o  que  tenho  dito;  e  se  a  V.  Magestade  informarão  que  em 
seu  Reino  há  Chnstandade,  hé  engano  manifesto,  porque  tanto 
o  são  agora,  como  desde  o  primeiro  dia  que  nascerão  e  viuerão 
em  sua  gentilidade,  e  depois  do  Baptismo  uzarão  de  mais 
superstiçoens  e  erronias,  matando  clérigos,  e  cometendo  outros 
sacrilégios.  Pellos  papeis  que  mando  verá  V.  Magestade  o  modo 
em  que  ficão  estas  couzas,  com  declaração  de  ser  athé  ordem  de 
V.  Magestade;  fiz  sempre  protestos,  e  requerimentos  que  me 
parecesão  necessários,  que  também  remeto  com  esta, 

Depois  que  sahi  da  Loanda  foi  necessário  acudir  com  a  pouca 
fazenda  que  tinha,  para  comprar  poluara,  e  outras  moniçoens,  e 
substento  dos  soldados,  que  como  os  effeitos  da  de  V.  Mages- 
tade faltarão  com  a  saída  dos  negros  e  o  feitor  do  contrato  não 
pode  acudir  ao  que  antes  era  obrigado,  estamos  todos  com 
grande  descomodidade,  que  represento  a  V.  Magestade,  pera 
que  seia  seruido  mandar  acodir  a  ella,  e  a  este  Reyno  com  sol- 
dados, pois  não  tenho  hoie  nelle  mais  que  gente  inútil,  que 
os  que  podem  tomar  armas  não  são  cento  e  sincoenta,  e  esses 
pera  negros,  poluara,  arcabuzes,  mosquetes  e  corda,  que  a  falta 
de  chumbo  se  pode  suprir  quá,  com  o  de  Cambambe,  que  a  ne- 
cessidade me  obrigou  a  mandar  abrir  húa  mina,  que  os  annos 
passados,  em  tempo  do  gouernador  Fernão  de  Souza  se 


(13)  Apertos,  embaraços. 

(**)  Governou  de  22  de  Junho  de  1624  a  4  de  Setembro  de  1630. 
Foi,  segundo  Cadornega,  «o  governador  perfeito». 


36 


tinha  comessado,  de  que  mando  a  V.  Magestade  a  amostra 
pera  que  com  certeza  se  saiba  se  tem  algua  prata,  que  hé  o  que 
os  antigos  deste  Reino  profiáo,  e  tem  informado  a  V.  Mages- 
tade, mas  pareceme  que  com  pouco  fundamento;  tenho  dado 
conta  a  V.  Magestade  do  socedido  dês  que  me  desaloiarao  da 
Loanda. 

Agora  direy  o  que  me  parece  conforme  a  esperiencia  que 
deste  Reino  tenho,  do  trato  do  gentio,  intento  do  ollandês,  que  hé 
tanta  sua  cobiça  que  facilmente  se  lhe  conhece,  fundada  em 
pouca  correspondência,  e  menos  verdade,  como  se  tem  mos- 
trado, em  occupar  os  postos  depois  da  vinda  do  capitão  Antonio 
da  Fonseca  de  Ornellas,  que  lhe  manifestou  o  tratado  das  pazes, 
que  elles  não  quizerão  admitir,  com  fribullas  desculpas,  repa- 
rando em  pontos  que  puderão  alhanar. 

A  Barra  do  Dande  da  parte  do  sul  hé  termo  de  terras  de 
V.  Magestade,  com  húa  barra  capax  de  pataxos  pequenos,  e 
hum  surgidouro  perto  delia  pera  nauios  de  todo  o  género;  e 
posto  que  não  hé  guardada  dos  ventos,  Oeste  e  Sudoeste,  esta 
costa  hé  capaz  de  que  em  todo  tempo  possão  estar  nella  segu- 
ros; esteue  devoluta  sem  que  o  inimigo  fizesse  forteficação  nem 
tiuesse  soldados  nella,  mais  que  hum  nauio  ao  mar,  e  depois 
que  eu  tratey  vir  me  pera  ella  mandarão  os  olandezes  hum 
comissário  que  está  aly  tratando  (sem  auer  quê)  com  os  maxi- 
congos,  como  V.  Magestade  verá  por  húa  informação  que  man- 
dey  fazer  pello  Ouuidor  geral  deste  Reino,  e  hum  protesto  ao 
olandês,  a  que  não  defirio  em  forma,  como  não  teue  que  allegar 
de  seu  direito,  mas  como  está  com  mayor  poder,  hé  força  dici- 
mular  athé  que  V.  Magestade  ordene  o  que  for  seruido;  e  tenho 
entendido  desta  gente,  que  não  hão  de  largar  o  que  tem  no 
Reino  senão  por  força  e  com  dous  mil  homens  que  V.  Mages- 
tade aqui  mande,  sendo  os  quinhentos  delles  soldados  velhos 
do  Brazil,  por  que  ocupando  nós  a  Barra  do  Dande  lhe  tiramos 
toda  a  comunicação  por  terra  com  o  Maxicongo;  e  castigando 
nós  a  El  Rey  de  Congo,  quando  o  Olandês  queira  fauorecelo, 


37 


não  terá  elle  bastante  poder  pera  isso,  com  o  que  lhe  ficamos 
prohibindo  todo  o  comercio  do  gentio,  e  nos  fica  perto  pera  con- 
duzir nauios  ao  Brazil,  e  recebellos,  sendo  a  sua  estada  na  Loan- 
da  de  nenhum  effeito,  e,  muito  gasto,  que  hé  o  que  elles  pre- 
dirão escuzar.  Pera  isto  hé  necessário  que  V.  Magestade  mande 
engenheiro  pera  que  se  faça  húa  forteíicaçao  no  Dande,  e  as  fer- 
ramentas pera  a  obra,  que  cal  e  tijolo  não  nos  falta,  algua  arte- 
lharia  grossa  pera  deffender  o  surgidouro,  e  gouernador  que 
tenha  mais  saúde  do  que  eu,  que  estes  matos  me  trazem  tão 
falto  delia,  que  me  obriga  a  pedir  a  V.  Magestade  por  particular 
mercê  me  mande  sucessor,  ficando  eu  por  soldado  athé  com- 
pnrse  o  que  aponto  a  V.  Magestade. 

O  Capitão  Antonio  da  Fonseca  de  Orneias  torna  com  este 
auizo;  hé  merecedor  de  que  V.  Magestade  lhe  faça  a  mercê 
que  for  seruido,  asegurando  a  V.  Magestade  que  [de]  tudo  o  que 
lhe  encomendar  de  seu  real  seruiço,  há  de  dar  muy  boa  conta 
e  a  vontade  com  que  se  mostrou  nesta  peregrinação  que  tem 
feito,  foi  grande,  e  as  mercês  que  V.  Magestade  for  seruido 
fazerlhe,  serão  de  exemplo  para  que  os  demais  sigão  seus  passos. 

Nosso  Senhor  a  muito  alta,  e  muito  poderoza  pessoa  de 
V.  Magestade  guarde  muitos  annos  e  seu  real  estado  prospere 
como  todos  leaes  vassalos  dezejamos. 

Do  Bengo,  a  9  dc  Março  de  1643  annos. 

a )  Pedro  Cesar  de  Meneses 
[Ã  margem]  :  Outo  mil  escrauos  de  S.  Mg.e  tem  P.°  Cesar. 
AHU  —  Angola,  cx.  2. 


3* 


8 


CARTA  DE  D.  HENRIQUE  REI  DO  DONGO 
A  D.  JOÃO  IV  DE  PORTUGAL 

(10-3-1643) 

SUMÁRIO  —  Congratulase  com  as  mercês  recebidas  for  seu  filho  — 
Proclama-se  vassalo  de  Portugal  —  Agradece  o  concurso 
do  governador  Fernão  de  Sousa  para  a  sua  elevação  ao 
trono —  Fora  baptizado  pelos  missionários  Jesuítas. 

t 

Senhor 

Causoume  tanta  enueja  a  mercê  que  meu  filho  Dom  Fran- 
cisco, Príncipe  de  Donguo,  recebeo  de  V.  Magestade,  que 
procurey  logo  solicitar  outra  carta  para  aliuio  e  consolação  minha 
e  principio  das  mercês  que  espero  receber  da  Real  maõ  de 
V.  Magestade.  E  naõ  o  faser  eu  na  occaziaõ  de  meu  filho,  foy 
por  eu  estar  metido  no  certaõ,  mas  nem  por  isso  deixei  de  fes- 
tejar nelle  a  aclamação  e  restauração  de  V.  Magestade  a  seus 
Reinos.  Este  meu  [Reino]  offereço  todo  a  V.  Magestade,  pe- 
dindolhe  me  empare  como  a  Vassalo  seu  que  sou  e  serey  ainda 
que  sobreuenhaõ  maiores  trabalhos  que  os  passados,  que  se  eu 
nao  pude  ir  ajudar  os  vassalos  de  V.  Magestade  contra  os  inimi- 
gos, por  ter  muitos  de  que  me  defender,  mandey  o  Príncipe 
meu  filho  com  a  maior  parte  da  minha  guerra  para  que  acom- 
panhasse o  Gouernador  Pedro  Cesar  de  Meneses. 

NaÕ  dou  conta  a  V.  Magestade  de  como  o  Gouernador 
Fernaõ  de  Sousa,  com  a  Camara  e  pouo  deste  Reino  julgarão  ser 
eu  o  legitimo  Rey  de  Angola,  e  das  perseguições  que  me  fas  a 
Ginga,  porque  de  tudo  dará  larga  informação  a  V.  Magestade 


39 


o  Padre  Felippe  Franco,  Reitor  da  Companhia  de  Jezús,  cujos 
religiozos  me  deraõ  a  aguoa  do  Santo  Bautismo,  e  para  fazerem 
o  mesmo  a  meus  vassalos  estiueraõ  algús  annos  neste  meu  Reino, 
donde  se  foraõ  con  grande  sentimento  meu. 

Guarde  Deos  a  catholica  e  Real  pessoa,  de  V.  Magestade 
para  aumento  da  Chnstandade;  escrita  em  a  cidade  do  Maue- 
pungo,  10  de  Março  1 6^.3 . 

a)  D  H  R  D  D° 
(D.  Henrique  Rei  do  Dongo). 

AHC  —  Angola,  cx.  2. 


40 


9 


CARTA  DO  COLECTOR  APOSTÓLICO 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(16-5- 1643) 

SUMÁRIO  —  Dificuldades  comerciais  com  o  Congo. 

Ill.mo  e  Reu.mo  Signor  mio  Padron  Osseruandissimo 

De  23  di  Noucmbre  è  la  lettera  che  ricevo  di  V.  S.  Ill.ma 
con  due  pieghi  enunciati  in  essa  per  il  Re  dei  Congo,  e  Mon- 
signor  Arcivescovo  di  Mira,  ma  essendomi  giunti  tardi  et  in 
tempo  ch'erano  già  partite  le  solite  navi  per  1'Jndie  Onentali, 
restano  presso  di  me  fino  alia  prima  e  sicura  occasione  che  mi 
si  presenterà  di  recapitarh;  essendosi  reso  difficultoso  non  poco 
il  comercio  dei  Congo  doppo  1'occupatione  fatta  da  gl'01andesi, 
delia  piazza  d  Angola.  Procurerò  con  ogni  studio  occasioni  di 
poter  servir  a  detto  Monsignor  di  Mira,  e  molto  piíi  in  cose  che 
le  apportino  qualch'utile  per  solleuamento  delle  spese  che  V.  S. 
Ill.ma  scnve  esserle  necessarie  in  cjuelle  parti,  st  per  esser  opera 
di  pietà  come  per  concorrere  in  questo  il  commandamento  di 
V.  S.  Hl.™*,  a  cui  offerendomi  prontíssimo  in  qualsivoglia  altra 
occasione  di  suo  seruizio,  bacio  per  fine  riuerentemente  le  mani. 

Lisbona  a  16  Maggio  1643. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  Reu.ma 

Deuot.mo  et  Oblig."10  Seruitore 

Girolamo  Battaglini. 

Monsig.  Francesco  Ingoli,  Roma. 

APT  —  SRCG,  vol.  142,  fl.  322. 


41 


10 


SUCESSOS  DO  ARRAIAL  DO  BENGO 
ENTRE  PORTUGUESES  E  HOLANDESES 

(17-5.1643) 


SuÁMRIO  —  Como  dois  Religiosos  da  Companhia  de  Jesus,  testemu- 
nhas oculares,  relatam  o  assalto  dos  holandeses  de  Luanda, 
feito  contra  o  arraial  português  do  Bengo,  à  traição. 


RELLAÇAõ  QUE  FIZERAõ  DO  SUÇÇESSO  DO  ARRAYAL  DOS 
NOSSOS  EM  LOANDA,  DOUS  PADRES  DA  COMPANHIA,  QUE 
DELLE  VIERAÕ 

Aos  quatro  de  outubro  do  anno  de  mil  e  seiscentos  e  qua- 
renta e  dous  chegarão  á  Çidade  de  Loanda,  por  via  de  Olanda, 
as  tregoas  feitas  entre  os  Estados  de  Fland[r]es,  e  os  Reynos  de 
Portugal,  rateficadas  e  jurídicas.  Logo  o  Gouernador  da  dita  Çi- 
dada  de  Loanda,  mandou  hum  traslado  das  ditas  tregoas  a  Pedro 
Cezar  de  Menezes,  Gouernador  da  nossa  gente  que  então  estaua 
em  Namboaquiçando;  logo  dahy  a  dous  mezes,  pouco  mais  ou 
menos,  por  razaõ  de  certas  conueniençias,  que  se  considerauaõ, 
se  veio  o  dito  Gouernador  Pedro  Cesar  de  Menezes,  com  obra 
de  duzentos  para  trezentos  homens  de  guerra,  que  comsigo 
trouxe,  e  assentou  posto  na  Barra  do  Rio  Bengo,  distante  tres 
legoas  da  Cidade  de  Loanda,  formando  ahy  hum  modo  de 
Arrayal,  do  qual  tinha  a  nossa  gente  com  os  Olandezes  algum 
género  necessário  de  comercio,  e  elles  com  nosco,  cauza  de  os 
ditos  Olandezes  tomarem  perfeita  notiçia  da  força,  disposição  e 
numero  da  gente  do  nosso  Arrayal,  e  nesta  conformidade  esti- 
ueraõ  huns  e  outros,  até  dezassete  de  Mayo  deste  anno  prezente 
de  643. 


42 


Se  não  quando  no  dia  sobredito  de  1 7  de  Mayo,  pellas  çinco 
ou  seis  horas  da  manhã,  ao  romper  da  alua,  hum  tropel  de  Olan- 
dezes,  como  couza  de  150  homens,  pouco  mais  ou  menos, 
tocando  trombeta  a  som  de  guerra,  estando  os  nossos  descuida- 
dos, fiados  em  boa  paz  e  amizade,  e  só  com  as  vigias  internas, 
que  pareçiaõ  ser  bastantes,  fez  ímpeto  ao  Arrayal,  e  entrando  o 
de  ímpeto,  se  fiseraõ  senhores  da  Praça,  entrando  pellas  cazas 
dos  pobres  desaucautelados,  roubando  os  de  tudo  o  que  tinhaõ, 
que  se  aualiou  em  soma  de  duzentos  mil  crusados  em  prata, 
ouro,  e  fazendas.  Matarão  couza  de  trinta  homens  brancos,  pouco 
mais  ou  menos,  entre  os  quais  foi  o  Capitão  mór  da  guerra 
Antonio  Bruto,  em  sangue  frio;  o  Sargento  mór  Manoel  de 
Medella,  e  o  Capitão  João  Pegado  da  Ponte,  o  Capitão  Fran- 
cisco de  Chaues;  prenderão  como  duzentas  pessoas,  os  demais 
se  puzeraõ  em  fugida  para  Maçangano.  Entre  os  dous  (*)  pri- 
zioneiros  leuaraõ  também  ao  Gouernador  Pedro  Cezar  de  Me- 
nezes, que  tem  dentro  da  Çidade  prezo  apertadamente,  e  com 
indiçios  de  o  quererem  consumir  a  puro  mao  trato. 

A  capa  (2)  que  dizem  tiueraõ,  estes  inimigos,  para  comete- 
rem hum  feito  tão  infame  e  fora  da  razaõ,  e  lealdade,  que  deuião 
guardar,  foi  dizerem  que  os  nossos  no  Maranhão  se  tinhaõ  leuan- 
tado,  com  a  sua  gente  que  lá  tinhao,  e  degolado  os,  o  que  soube- 
raõ  por  via  de  hum  nauio  que  hauia  tres  ou  quatro  dias  que 
lhe[s]  tinha  chegado  de  Pernaõbuco,  sobre  o  qual  naõ  deixou 
de  hauer  sospeitas  vehementes  que  nelle  tinha  hido  ordem  dos 
de  Pernaõbuco  para  fazerem  o  sobredito  desarranjo;  e  o  Irmão 
Antonio  do  Porto,  que  neste  se  assinará  abaixo,  o  ouuio  dizer 
assy  a  çertas  pessoas,  antes  acresçenta,  que  conforme  sua  lem- 
brança lhe  parece  ainda,  que  com  algua  duuida,  que  ouuio 
dizer,  dentro  da  mesma  Çidade  de  Loanda,  a  hum  mancebo 
criado  do  Director  da  dita  Çidade,  é  que  de  Pernaõbuco  no 


(J)  BAL  —  duzentos,  como  o  texto  o  postula,  aliás. 
(2)  Aparência,  pretexto. 


43 


sobredito  nauio  tinha  uindo  acompanhando  a  molher  do  dito 
Director,  chamado  Manoel  Perez,  que  de  Pernaõbuco  viera  or- 
dem para  a  sobredita  facção,  em  recompensa  da  do  Maranhão. 
Dauaõ  mais  por  cauza,  que  o  mesmo  fizeraõ  os  nossos  aos  seus 
na  Ilha  de  Saõ  Thomé,  e  agora  lhe  [s]  pretendiaõ  fazer  o  mesmo 
a  elles,  mandando  vir  da  Bahia  socorro. 

Destruído  assy  o  Arrayal,  dizem  que  mandarão  logo  recado 
aos  nossos  de  Maçangano,  afim  de  que  se  sogeitassem,  aliás 
lhe[s]  fanaõ  guerra,  e  os  matanão  a  todos;  responderão  lhe[s] 
os  nossos,  prendendo  lhe[s]  o  embaxador,  e  a  alguns  outros 
Olandezes,  que  poderão  apanhar  pelo  Rio  Coanza  açima,  e  lhes 
mandaraõ  certeficar,  que  naõ  queriaÕ  sogeitarse,  antes  preten- 
diaÕ  vingarse  a  fogo  e  a  sangue,  da  aleiuosia  grande,  que  contra 
os  seus  tinhaõ  cometido. 

Neste  estado  ficaõ  os  pobres  vassallos  de  S.  Magestade,  se 
bem  [que]  com  algum  animo,  impossibilitados  comtudo  a  def- 
fenderse  por  longo  tempo,  se  S.  Magestade  e  seus  Ministros,  se 
naõ  resoluerem  a  acudirlhe[s]  com  promptidão,  pello  menos 
com  seisçentos  ou  oitoçentos  homen  se  alguãs  nãos  bem  apresta- 
das, e  com  alguã  moniçaõ  e  poluora,  o  qual  socorro  se  entende 
será  bastante,  se  for  logo.  E  na  tardança  se  consideraõ  grandes 
perigos  por  respeito  da  inconstância  dos  negros,  que  já  começaõ 
a  leuantarse  muitos  daquelles  que  já  estauaÕ  çossegados,  e  pella 
desesperação  de  muitos  dos  brancos,  que  reçeão  (3)  não  pode- 
rem ser  socorridos  do  seu  Rey,  como  o  naõ  foraõ  atégora,  mos- 
trando elles  em  todas  as  occazioes  passadas,  a  lealdade  portu- 
gueza  que  deuião,  e  temem  que  esta  seja  contrastada  com  a  ne- 
cessidade vrgente. 

De  tudo  o  sobredito  podem  ser  testemunhas  çento  e  setenta 
homens  pnzioneiros,  que  largarão  (4),  e  chegarão  a  Pernaõbuco 
aos  27  de  Julho  passado,  entre  os  quais  viemos  nós,  os  dous  Reli- 


(3)  BAL  —  arrcçeaõ. 

(4)  Entenda-se:  que  partiram  embarcados. 


44 


giosos  da  Companhia  abaixo  assinados,  cjue  todo  o  sobredito  aju- 
damos a  padeçcr  e  chorar,  com  esperanças  de  que  Sua  Real  Ma- 
gestade  ponha  os  olhos  em  tanto  dezemparo.  /  / 

Gonçalo  João  /  / 
Antonio  do  Porto 


BNL  —  Ms.  7.162  (Embaxadas  do  Senhor  Marquez  de  Niza), 
f!s.  132-132  v. 

BAL  — •  Ms.  49-X-24,  f I.  404-404  v. 

OCIDENTE,  Lisboa,  1940  (IX),  págs.  273-275. 

ARQUIVOS  DE  ANGOLA,  Luanda,  1943,  2?  Série,  voL  I, 
págs.  99-101. 


45 


11 


ASSALTO  AO  ARRAIAL  DO  BENGO 
PELAS  TROPAS  HOLANDESAS 

(17-5-1643) 


SUMÁRIO  —  Descrição  do  assalto  traiçoeiro  dos  holandeses  ao  arraiial 
do  Bengo,  violando  as  capitulações  solenes  de  faz  cele- 
bradas entre  Portugal  e  a  Holanda,  bem  como  as  estipu- 
lações particulares  com  o  Governador  português  —  Odis- 
seia no  sertão  e  desterro  dos  missionários  Jesuítas. 

Tomada  a  Loanda  pollos  Olandeses,  polia  os  moradores  a 
naõ  defendere  muito,  se  retirou  o  Gouernador  (*)  cõ  elles  pello 
certao  do  Reino  de  Angola,  pellos  presídios  que  nelle  tinham  os 
Portugueses,  donde  chegada  a  noua  das  pazes,  feita  [s]  entre 
Portugal  e  Olanda  (3) ,  se  uejo  o  mesmo  Gouernador  cÕ  a  maior 
parte  dos  mesmos  moradores  sitiar  a  Barra  do  Bengo,  que  hé  hu 
rio,  e  pouoar  e  cultiuar  as  terras  que  elles  tinhaõ  dantes  por 
hua  e  outra  parte  do  mesmo  rio,  de  baixo  de  nouas  tregoas 
e  concertos,  que  sobre  as  de  Portugal  com  Olanda  fiseram,  cÕ 
os  mesmos  olandeses  (3). 


(*)  Pedro  César  de  Meneses.  Foi  nomeado  por  carta  régia  de  22 
de  Janeiro  de  1639,  por  três  anos  e  o  mais  tempo  que  el-Rei  o  houvesse 
por  bem  e  não  mandasse  o  contrário,  segundo  a  fórmula  consagrada.— 
ATT  -  Chancelaria  de  D.  Filipe  III,  liv.  36,  f  1.  74. 

(2)  Foi  assinado  em  Haia,  em  12  de  Junho  de  1641.  Cfr.  Monu- 
menta,  VIII,  pág.  509. 

(3)  Estas  capitulações  especiais  foram  feitas  no  Bengo,  entre  o 
Director  holandês  Cornélio  Niculant  e  o  Governador  português  Pedro 
César  de  Meneses,  em  30  de  Janeiro  de  1643.  Cfr.  documento  n.°  2. 


46 


Neste  sitio,  de  baixo  desta  paz  de  amisade,  tratauam  e 
comerciauao  híís  com  os  outros  mercando  e  uendendo  de  parte 
a  parte  po  respaço  quasi  de  mez  e  meyo.  Quando  pello  fim  de 
Março  deste  anno  de  43  chegou  da  Loanda  hua  nao  da  Mina 
e  hú  nouo  Gouernador  olandez,  chamado  Ioaõ  Mola  (4),  que 
nella  uinha,  o  qual  dando  por  nouas  que  passara  por  a  Ilha  de 
santo  Thomé,  que  achara  os  Portuguezes  leuantados  de  guerra 
com  os  Olandeses,  estando  dantes  todos  em  paz,  desde  que  toma- 
ram aquella  Ilha,  e  os  olandezes  metidos  e  apertados  na  fortaleza, 
fez  desconfiar,  e  amotinar  aos  da  Loanda,  temendo  que  o  mesmo 
lhes  fisessem  os  do  nouo  Arrajal,  que  estauaõ  só  seis  legoas  afas- 
tados delles,  e  nao  queriaõ  que  hay  continuassem,  sem  que  lhes 
dessem  reféns,  com  que  se  assigurassem.  /  / 

Mas  quietos  iá  com  as  rezoens,  que  o  gouernador  lhes  man- 
dou, para  lhos  naõ  dar,  e  para  naõ  dar,  e  para  nao  desconfiarem, 
chegou  aos  14  de  Mayo  outra  nao  de  Pernaõbuco:  diziaõ  os 
mesmos  Olandezes,  que  cõ  noua  que  no  Maranhão  tinham  feito 
os  nossos  aos  seus  o  mesmo,  que  os  de  santo  Thomé  lhes  fiseraõ. 
estado  também  cõ  elles  em  paz  desde  que  aly  entrarão,  dando 
de  noite  os  Portugueses  sobre  elles,  e  matando  [os]  quasi  todos: 
se  bem  [que]  os  da  Loanda  mostraram  depois  que  a  causa  da 
treiçao  que  logo  fiseram,  naõ  foi  esta,  mas  a  cobiça  da  prata 
que  cada  dia  e  a  cada  hora  viaÕ  pellas  cazas  de  palha  no  nosso 
exercito;  donde  nuca  sahiaõ  cõ  o  trato  e  mercancia  que  nelle 
fasiaõ.  /  / 

No  domingo  17,  do  mesmo  Mayo,  e  quatro  dias  depois 
da  chegada  do  nauio,  deraÕ  de  madrugada  no  nosso  ArrayaI  300 
olandeses,  repartidos  em  seis  companhias,  armados  de  mosque- 
tes e  crauinas:  e  entrando  por  uarias  partes  em  3  terços,  os  pri- 
meiros e  os  segundos  atirauaõ  par  o  ar,  disendo  bom  quartel, 
bom  quartel;  que  hé  o  mesmo  que  damouos  as  uidas;  os  3. 03 
achando  iá  os  nossos  saídos  das  cazas,  mal  uestidos,  por  que  ao 

(4)  Hans  Molt. 


47 


estrondo  dos  tiros  e  das  uoses  se  aleuantauaõ  das  camas  confusos, 
e  atónitos  a  uer  o  que  seria,  empregauaõ  nelles  os  tiros,  e  os 
matauam,  e  assim  mataram  quasi  330,  afora  outros  que  ficaram 
mal  feridos,  e  morrerão  despois  prezos  em  Loanda.  /  / 

Logo  saquearam  o  Arrayal,  pedindo  prata  aos  nossos  com 
notauel  sede,  e  cobiça  e  aualiaraõ  o  sacco  em  mais  de  cem  mil 
cruzados,  só  de  dinheiro,  e  peças  de  ouro,  e  prata,  porque  nou- 
tras fasendas  naõ  boliram,  as  quais  os  negros  que  cõ  elles  uinhaõ 
ou  tomarão  ou  queimarão,  pondo  logo  fogo  a  ellas,  e  ás  cazas 
que  á  uísta  dos  nossos  já  prezos  arderam,  e  se  consomiram.  Le- 
uaraÕ  os  olandezes  a  quantos  nossos  acharão,  que  senaõ  180 
homens,  e  entre  elles  o  Gouernador,  a  quem  cõ  saberem  que  era 
Illustre,  trataram  indecentemente,  e  hseram  graues  jniunas,  e 
a  pé  e  mal  uestido[s],  mortos  de  fome  e  de  sede,  sercados  de 
soldados  Olandeses,  caminharão  aquellas  seis  legoas,  até  Loan- 
da, aonde  estiueraõ  prezos  noue  dias  com  grandessimas  encomo- 
didades,  e  falta  de  todo  o  mais  necessário  para  a  uida. 

Ao  mesmo  tempo  e  junto  ao  mesmo  no,  pouco  afastado  do 
exercito,  estaua  o  Padre  Jcaõ  de  Payua  com  os  Irmaõs  Gançalo 
e  Antonio  do  Porto,  numa  fasenda  que  o  Collegio  aly  tinha: 
e  onde  hiaÕ  ajuntando  e  recolhendo  a  escrauana  do  mesmo 
Collegio,  que  cõ  a  tomada  da  Loanda  se  tinha  (5)  espalhado 
e  andaua  por  uanas  partes  deuidida;  comessauaõ  a  coltiuar  as 
terras  e  acodiaõ  ao  Arrayal  e  a  todas  aquellas  partes  por  onde  lá 
estaua  gente  branca,  a  confessar  e  a  repartir  as  esmolas,  e  a  diser 
missa.  /  / 

Na  manhã  do  triste  sucesso,  tuieram  em  breue  a  noua,  com 
a  qual  os  escrauos  que  consigo  tinhaõ  logo  fogiram  e  os  deixarão 
sós  e  fogindo  a  mais  gente,  que  por  aquellas  partes  estaua  para 
os  presídios,  ainda  que  com  grandíssimo  perigo,  por  estare  longe 
e  mui  afastados  e  os  caminhos  sercados,  e  inpestados  dos  negros 


(5)  No  original:  tinham. 


48 


da  terra,  aleuantados  contra  nós,  de  cujas  mãos  só  por  milagre 
escapariaõ;  alguns  doentes  que  nao  podiaõ  caminhar  e  temiaõ 
aos  mesmos  negros,  se  uieram  á  nossa  fasenda  a  confessar  e  por 
causa  destas  confissões  e  de  porem  em  seguro  a  prata  da  nossa 
samchnstia,  que  era  muita  e  grossa,  alem  do  perigo  manifesto 
dos  caminhos,  se  deixarão  os  nossos  ficar.  /  / 

E  por  que  lá  todas  aquellas  terras  estauaõ  desertas  e  desem- 
paradas  de  gente,  os  negros  perto  á  caza  dos  nossos  e  as  suas 
uidas  perdidas,  pareceo  lhe[s]  mui  necessário  ir  o  IrmaÕ  Gonçalo 
JoaÕ,  como  em  effeito  foi,  a  um  reducto  dos  olandezes,  que 
estaua  junto  do  rio,  pedir  ao  Capitam,  que  era  Todesco,  e  Cha- 
tolico,  e  seu  amigo,  dous  soldados  que  uiessem  defender  dos  ne- 
gros aquella  caza  e  as  uidas  dos  que  nellas  estauaõ:  por  que  sem 
duuida,  sem  taes  guardas  tudo  se  perderia,  como  o  tempo  mos- 
trou logo.  /  / 

Partiosse  o  Irmaõ  na  tarde  do  mesmo  dia  e  na  noite  os  dous 
nossos  que  ficaram  meteram  a  prata  em  sacos  e  bem  liada  a 
botarão  cõ  sumo  segredo  num  fundo  pego  do  no,  nao  longe  das 
nossas  cazas:  por  que  em  taõ  grande  aperto  de  tempo,  e  de 
perigo,  nem  tiueraõ  nem  foy  posiuel  terem  outra  comodidade 
melhor  para  se  asigurarem:  e  em  effeito  mal  a  tinhaõ  assi  arre- 
cadado, quando  na  mesma  noite  lhes  deram  por  30  ueses  rebate, 
que  estauaõ  sercados  dos  negros  e  lhes  mostrarão  os  sinais  do 
serco.  Pello  que  foi  forçado  o  P.  Joaõ  de  Payua,  dos  rogos  e 
lagrimas  e  requerimentos  de  muita  gente,  principalmente  mo- 
lheres  e  meninos,  que  naõ  podendo  seguir  aos  que  na  manham 
tinhaõ  fogido  (°)  para  os  presídios,  se  uieram  naquella  tarde  á 
nossa  fazenda,  pedir  aos  nossos  os  acompanhassem,  e  liurassem 
quanto  pudessem,  daquelle  perigo,  a  se  sair  com  elles  na  mesma 
noite,  cõ  animo  de  se  irem  a  Loanda  a  pedir  aos  Olandezes  bom 
quartel,  que  hé  o  mesmo  que  liberdade  e  uida  por  nam  vida 
( stc ),  por  naõ  auer  ia  outro  remédio.  /  / 

(6)  No  original:  foguido. 


4 


49 


da  (7),  foi  dar  aos  gouernadores  auiso:  os  quais  mandando  reco- 
lher os  outros  nas  casas  que  dantes  tinham  na  cidade,  ordenaram 
juntamente  que  os  nossos  ficassem  na  mesma  praça  das  armas, 
onde  despois  por  uezes  os  mandarão  uísitar  pellos  officiais  da 
milicia  mais  graues.  /  / 

Aqui  estiueraõ  dous  dias  em  companhia  dos  soldados,  os 
quaes  posto  que  hereges,  os  tratarão  com  cortezia  e  charidade. 
E  por  que  os  gouernadores  os  naõ  podiaõ  sostentar,  mandarão  ao 
segundo  dia,  que  os  passassem  para  hú  nauio  que  estaua  no  porto 
ancorado,  para  que  nelle  dessem  a  cada  hú  huã  raçaõ  enquanto 
aly  estiuessem,  como  a  que  cada  dia  dauam  aos  marinheiros. 
Naõ  sabiaõ  os  nossos  para  donde  hiaõ  e  uendosse  entre  soldados 
arcabuseiros,  que  os  leuauaõ  guiados  por  outro  demasiadamente 
grande  e  mal  feito,  cõ  hú  pique  muy  comprido  aos  hombros, 
despois  de  huã  grande  uolta  de  caminhos  desuiados,  chegaram 
a  ho  pé  de  huã  forca,  aonde  por  algú  tempo  pasaram  esperando 
outro  olandez  que  os  auia  de  leuar  ao  nauio.  Mas  naõ  sabendo 
os  nossos  a  causa  por  que  se  detinhaÕ  cõ  todo  aquelle  aparato 
ao  pé  da  forca,  começaõ  a  sospeitar  que  os  enforcariaõ  ou  tratea- 
naõ  por  que  lhe[s]  descobrissem  a  prata  do  Collegio,  por  que 
tendo  lhes  perguntado  por  ella  alguas  uezes,  elles  lha  negarão 
sempre.  E  assi  disse  o  Irmão  ao  Padre:  sem  duuida  nos  querem 
enforcar;  ao  que  o  Padre  respondeo:  pois  Irmão,  se  se  quer  conf- 
fessar,  conffesesse;  que  eu  me  entenderej  cõ  Deus:  pois  naõ 
tenho  conffessor;  mas  uindo  pouco  depois  aquelle  por  quem 
esperauaõ,  que  era  homem  de  respeito,  e  sabia  falar  portuguez, 
os  tirou  destas  sospeitas,  e  logo  os  embarcou.  /  / 

Nos  marinheiros  do  nauio  acharão  a  mesma  cortezia  e 
humanidade  que  acharão  nos  soldados  da  cidade,  e  a  cabo  de 


(7)  Diz  Cadorncga  que  o  Governador  das  armas  holandesas  fazia 
sua  morada  e  habitação  no  Colégio  da  Companhia  de  Jesus.  Os  holan- 
deses reduziram  as  igrejas  de  Luanda  ao  desbarato  enchendo-as  de 
imundícias,  estando  em  melhor  modo  a  dos  Jesuítas  por  nela  fazerem 


52 


sete  dias  foram  daly  leuados  a  hum  pataixo,  em  que  lhe  [s]  disse- 
raõ  auiaõ  de  partir  para  a  Bahia,  cõ  os  mais  prisioneiros  que  tinhaõ 
trazido  do  Arrayal.  E  já  embarcados  uiram  uir  estes  da  cidade, 
mal  uestidos,  mal  tratados,  entre  companhias  de  soldados;  e 
com  elles  o  Irmaõ  Gonçalo  Joaõ,  os  quais  por  espaço  de  noue  ou 
dez  dias,  tinhaõ  estado  todos  prezos  em  hú  pateo  descuberto 
ao  sol,  e  ao  sereno,  sem  comer  e  sem  beber  senaõ  mal  e  poucas 
uezes,  e  assim  fracos  e  mal  prouidos  deraõ  logo  á  uella  para  a 
Bahia,  aonde  os  Olandeses  os  mandauaõ. 

Durou  a  viagem  hú  mez,  na  qual  os  coitados  padecerão 
todos  os  trabalhos  e  misérias,  que  se  podem  considerar,  fome  e 
sede,  grandíssima  pellos  mandarem  faltos  de  mantimentos  e 
agoa,  e  com  grande  aperto,  sendo  quasi  duzentos  homens  em 
hú  pataixo  mui  pequeno,  que  lhes  era  necessário  irem  sempre 
assentados  ou  deitados  nas  nuas  taboas,  sem  se  poderem  uirar, 
nem  alimpar  o  pataixo,  que  era  o  que  mais  sintiaõ,  e  como  era 
embarcação  tam  pequena,  e  mal  arumada,  com  a  carga  de  tanta 
gente,  em  dous  temporaes  que  tiueraõ,  esteue  quasi  uirada;  e 
por  que  lhes  deram  hú  estrolabio  desconsertado  e  jnsp.t0  para  se 
tomar  o  sol,  numca  o  puderam  tomar  bem,  nem  entender  aonde 
estauaÕ,  nem  alcançar  a  Bahia;  nem  conheceram  a  terra  até  uer 
Pernambuco,  onde  entrarão.  /  / 

E  deseperados  lá  das  uidas,  naõ  sabendo  por  onde  hiaõ, 
uendosse  faltos  de  mantimentos  e  agoa,  tam  famintos,  taõ  fracos 
que  se  naõ  podiaõ  bolir,  nem  os  marinheiros  marear  as  uellas, 
detnminaram  de  uarar  em  terra,  onde  duas  uezes  se  uiram  per- 
didos, huã  sobre  huns  arrecifes,  nos  quais  comúmente  se  per- 
dem os  nauios,  que  acertaõ  de  lhes  dar  uísta,  por  que  a  corrente 
das  [ajgoas  os  leuam  e  sorué  para  elles,  mas  nesta  occasiaõ  ellas 


suas  assembleias  e  ajuntamentos.  Nestas  circunstâncias  de  geral  profa- 
nação não  nos  é  possível  identificar  a  igreja  que,  segundo  o  texto,  foi 
transformada  em  praça  de  armas.  Cfr.  António  de  Oliveira  Cadornega, 
História  das  Guerras  Angolanas,  Lisboa,  MCMXL,  Tomo,  II  p.  1 1  e  24. 


53 


mesmas  contra  sua  natureza,  os  desuiauaõ  e  arremessaram  dos 
arrecifes,  onde  elles  hiaõ  uarar,  ou  para  melhor  diser,  acabar  as 
uidas.  /  / 

Por  todos  estes  trabalhos  e  misérias  morrerão  no  pataixo 
algús  dez  ou  doze  homens  em  todo  o  tempo  da  viagem;  e  os 
que  ficarão  uiuos,  saíram  em  Pernambuco  tam  desfeitos,  secos 
e  mirrados,  como  huas  imagens  da  morte.  E  despois  de  sua  che- 
gada quasi  todos  adoecerão:  dos  quaes  algús  morreram,  e  outros 
estiueraõ  para  isso:  mas  já  saõs  e  conualecidos,  os  mais  se  foram 
para  a  Bahia  e  os  Irmãos  Antonio  do  Porto  e  Gonçalo  Joaõ: 
outros  se  uieraõ  para  este  Reino,  e  o  Padre  Joaõ  de  Payua,  que 
se  ueho  cõ  negócios  de  suma  importância,  e  segredo,  que  em 
Pernambuco  lhe  cometeram. 

ARSI  —  Lhs.,  Cód.  55,  fls.  151-153.  (Original). 


54 


12 


CARTA  DE  SALVADOR  CORREA  DE  SÁ 
AO  GERAL  DA  COMPANHIA  DE  JESUS 

(2-6-1643) 

SUMÁRIO  —  É  recebido  for  Irmão  da  Companhia  de  Jesus. 

Suposto  que  de  juro  devo  servir  e  amar  a  Vossa  Paternidade, 
por  ser  o  mais  honrado  titulo,  que  gozo,  o  ser  escravo  e  Irmão 
da  Companhia,  agora  novamente  me  sinto  mais  obrigado  com 
esta  de  Vossa  Paternidade,  escrita  em  Roma  a  30  de  Maio  de 
642. 

A  mercê,  que  nela  me  promete  fazer  V.  P.  em  permitir 
a  fundação  do  Colégio  que  intento  e  receber-me  por  fundador 
com  a  declaração  e  informação  que  espero  do  Reverendo  Padre 
Provincial,  estimo  por  a  maior  de  minhas  honras  e  por  ela  beijo 
a  mão  de  V.  P.,  rendendo-lhe  particulares  graças. 

O  dito  P.  Provincial,  com  quem  tenho  tratado  sobre  este 
particular,  avisará  a  V.  P.  assim  de  o  que  toca  a  elle,  como  de 
tudo  o  mais  que  me  sucedeu  na  facção  das  minas  que  intentei 
e  não  teve  efeito,  por  a  obstinação  dos  moradores  da  Vila  de 
S.  Paulo  e  nova  resolução  de  Sua  Majestade  e  seu  Governador 
Geral  neste  Estado.  Tudo  o  que  ele  assentar  com  V.  P.  farei 
com  muito  gosto.  Nao  podendo  ser  na  Vila  de  S.  Paulo,  na 
de  Santos,  perto  do  mar,  da  Capitania  de  S.  Vicente.  Porque 
nunca  me  faltará  ânimo  para  servir  a  Deus  e  a  Vossa  Paterni- 
dade, cuja  pessoa  guarde.  Rio  de  Janeiro,  2  de  Junho  de  643. 

a )  Salvador  Correa  de  Saa  j  Benevides 

ARSI — Brasília  3  (I)  fl.  223.  — Publicado  no  Jornal  do  Comér- 
cio do  Rio  de  Janeiro,  de  10  de  Setembro  de  1939,  pelo  Rev.  Padre  Sera- 
fim Leite  S.  I. 


55 


13 


MISSÃO  DO  REINO  DO  CONGO 
(22-6-1643) 

SUMÁRIO  —  Os  missionários  Capuchinhos  italianos  fedem  licença  para 
retomarem  o  caminho  do  reino  do  Congo. 

Beatíssimo  Padre 

Li  PP.  Capuccini  Missionarij  dei  Regno  dei  Congo,  essendo 
andati  à  Lisbona  per  eseguire  il  loro  uiaggio,  furono  per  uarij 
impedimenti  constretti  à  ritornare  à  Roma,  non  già  per  desistere 
dalla  loro  impresa,  ma  per  prendere  altri  partiti  per  poterst 
inuiare  à  quella  uolta;  et  hauendo,  per  grada  dei  Signore,  trouato 
un  espediente  molto  opportuno,  fanno  humilmente  instanza 
à  V.  Beatitudine  che  gli  uoglia  conceder  licenza  di  potersi  di 
nuouo  rimettersi  in  uiaggio  per  detto  Regno,  acciò  resti  eseguito 
1'intento  di  V.  Beatitudine.  Qua  Deus,  etc. 

[No  verso ] :  Aila  Santità  di  N.  Signore  Papa  Vrbano  VIII / 
Per  li  PP.  Capuccini  Missionarij  dei  Regno  dei  Congo. 

[Letra  do  Secretário  da  Propaganda]:  Die  22  Junij  1643. 
Jn  Cõsistorio  Secreto. 

APF  —  Memoriali,  vol.  406  (1643),  ^'S-  3°4  e  3°9  v- 


14 


ARTIGOS  E  CONDIÇÕES  DAS  PAZES 
ENTRE  HOLANDESES  E  PORTUGUESES 

(1.7- 1643) 

SUMÁRIO  —  Os  holandeses  e  portugueses  de  Angola  estipulam  entre 
si  determinados  artigos  e  condições  de  paz,  a  manter 
enquanto  perdurasse  o  tratado  firmado  com  Portugal. 

Primeiramente,  que  asseitaremos  as  pazes  licitamente  ou 
sem  jnterpretaçoês  alguas,  asim  e  da  maneira  que  os  nossos 
Príncipes  as  tem  assentado.  E  isto  se  entende  se  ainda  as  pazes 
que  entre  sy  assentarão  naõ  estiuerem  quebradas,  as  quais  estan- 
do quebradas  ou  quebrandosse  entre  os  Pnncepes,  ou  hauendo 
cauza  para  se  quebrarem,  entre  nossa  parte  que  quizer  romper 
guerra  o  denunciará  vinte  dias  antes,  como  hé  costume. 

[2.0]  — Alguas  naos  olandesas,  digo  Portuguezas,  que 
aqui  aparecem  de  marchantes,  naõ  poderão  ser  declaradas  por 
prezas,  saluo  se  entretanto  soubermos  as  pazes  entre  elRey  de 
Portugal  e  os  senhores  estados  geraes  estarem  quebradas;  e  se 
as  pazes  aqui  á  sua  uinda  nao  estiuerem  quebradas,  comerciarão 
com  uossas  merçês  ou  partirão  outra  uez  (*)  liures,  comforme 
sobre  isto  entonces  nos  deliberarmos. 

[3.0]  — Naõ  será  licito  ás  partes  escreuerem  Cartas  hua  á 
outra  sem  as  emuiar  ao  mandador  supremo;  o  qual  entonces  as 
mandará  entregar. 

[4.0]  — NaÕ  será  licito  ás  partes  dar  en  cara  hua  á  outra 
com  o  que  passou  no  Bengo,  pois  dahy  poderá  resultar  desin- 
quietaçaÕ. 


(*)  No  original:  ues. 


57, 


[5.0]  — Os  caminhos  serão  abertos  de  parte  a  parte  para 
o  comercio;  os  souas  que  forem  da  nossa  jurisdição  e  da  de 
uosas  mercês,  procurar  se  há  que  estejaõ  quietos  sem  fazere  guer- 
ra hum  ao  outro  e  cada  hum  ficará  dentro  de  seu  destrito  para 
cultiuar  a  terra. 

[6.°]  — Naõ  se  mandará  gente  armada  nos  lemites  hum 
do  outro,  porque  pode  dar  suspeita. 

[7.0]  — •  As  embarcações  de  parte  a  parte  se  restituirão 
totalmente  com  o  paso  da  carregação,  comforme  valer. 

[8.°]  — Cada  hum  poderá  hir  uiuer  e  comerciar,  saluo 
se  for  de  uocaçaõ  melitar;  os  Portuguezes  que  uieraõ  com  as 
embarcações,  e  os  que  [se]  tomarão  no  Bengo  e  se  detém  entre 
nós,  excepto  o  gouernador  Pero  Cezar  de  Menezes,  poderão 
partir  liures  com  a  sua  fazenda.  E  se  algum  morador  quicesse 
aqui  morar,  será  obrigado  a  fazer  juramento  de  fidelidade. 

[9.0]  — Em  cazo  que,  como  naõ  esperamos,  uiesse  algum 
socor[r]ro  de  EIRey  de  Portugal  da  Bahia  ou  de  outros  lugares 
para  nos  fazerem  guerras  com  sua  armas,  naõ  será  licito  á  gente 
de  Masangano  [e]  a  [r] redores  a  se  ajuntar  com  o  dito  socor- 
ro, ou  em  alguã  maneira  lhe  prouer  a  maõ  auxiliar  por  negros, 
ou  por  outra  uia  qualquer  que  seja,  antes  será  obrigado  a  no 
lo  denunciar  vinte  dias  antes,  et  in  uissa  (2) . 

[  io-°]  —  Os  barcos  que  uierem  e  forem  para  Masangano, 
trazendonos  a  sua  fazenda  para  ueder,  poderão  como  amigos 
pescar  dentro  do  Rio  Coanza  e  perto  da  cidade  da  Loanda  e  naõ 


ao  longo  dos  nossos  nauios. 


[  1 —  E  em  cazo  que  a  nação  Portugueza  deste  Reyno 
quizer  mandar  alguns  auisos  a  Portugal  ou  ao  Brazil,  entregarão 
as  suas  cartas  ao  senhor  director  (3),  o  qual  entonces  as  enuiará 


(2)  Entenda-sc:  e  vice-versa,  reciprocamente. 

(3)  A  censura  estabelecida  pelo  documento  —  que  tem  todas  as 
características  de  um  diktat  holandês,  com  os  vexames  inerentes  à 
ocupação  estrangeira,  como  a  Holanda  o  havia  de  experimentar  na 


58 


facilmente  (4)  e  para  mais  certeza  de  boa  entrega  delias,  se  lhe 
concede  mandar  hum  home  de  sua  naçaõ  que  as  leue.  E  porque 
assim,  para  bem  de  ambas  as  partes,  na  forma  sobredita  entre 
sy  conuieraõ  e  concordarão  para  mantimento  das  pazes  condu- 
zas entre  a  Coroa  de  Portugal  e  os  mui  poderozos  estados  geraes, 
até  nos  uir  outro  recado  e  ordem  de  nossos  superiores,  man- 
darão Suas  Senhorias  estes  Capítulos  sobreditos  se  puçessem  em 
papel,  para  que  do  asentado  constasse  sempre,  ouuesse  clareza 
e  para  mais  firmesa  sobescreueraÕ  com  seus  próprios  sinais.  / / 
Oje  o  primeiro  de  Julho  da  era  de  mil  e  seis  centos  e  qua- 
renta e  tres. 

AHU  —  Angola,  cx.  2. 


guerra  de  1939- 1945  —  a  censura  não  surtiu  efeito,  como  os  factos  o 
vieram  comprovar,  e  como  era  bem  de  ver,  dada  a  imensidade  do  ter- 
ritório. 

(4)  No  original:  fazilmente. 


59 


15 


PADRES  MISSIONÁRIOS  CAPUCHINHOS 
DA  PRIMEIRA  MISSÃO  DO  CONGO 

(Julho-Setembro  1643) 

SUMÁRIO  —  Nomeação  de  vários  missionários  para  a  Missão  do  Reino 
do  Congo,  confirmados  feia  Propaganda  Vide. 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Pamphilio, 
inter  missionários  ad  Congum  adscripsit  Patrem  Michaelem 
de  Sessa,  Capucinum  prouincix  Aragonis,  una  cum  fratre 
Francisco  de  Pamplona,  Layco  eiusdem  Ordinis,  sub  Prafectura 
Fratris  Bonauenturx  de  Alessano. 

APF  —  Acta,  vol.  15,  fl.  384  v.,  n.°  11 — Sessão  cardinalícia  de 
21  de  Julho  de  1643. 

Referente  Eminentíssimo  D.  Cardinali  S.  Honuphrij,  Sacra 
Congregatio  inter  missionários  ad  Regnum  Conghi  adscnpsit 
fratrem  Bonauenturam  de  Sorrento,  Capuccinum,  sub  Prarfe- 
ctura  Fratris  Bonauenturat  de  Alessano  eiusdem  ordinis. 

APF  —  Acta,  vol.  15,  419,  n.°  9  —  Sessão  cardinalícia  de  1  de 
Setembro  de  1643. 

Referente  Eminentíssimo  D.  Cardinali  S.  Honuphrij,  Sacra 
Congregatio  inter  missionários  ad  Regem  Congi  constituit  et 
deputauit  infrascriptos  fratres  Capucinos,  a  Prouinciali  Genuensi 
et  Procuratori  Generali  approbatos,  sub  Prarfectura  tamen  fratris 
Bonauentura:  de  Alessano,  et  donec  pradicti  fratris  iungantur, 
cum  dicto  fratre  Bonauentura  Prafecto,  fratri  Bonauentura  de 


60 


Taggice,  Concionatori,  quem  Viceprefectum  declarauit,  usum 
facultatum  pro  prxdicto  fratre  Bonauentura  expeditarum  con- 
cessit,  cum  potestate  illas  communicandi  Socijs,  usquequo  iun- 
gantur  cum  prxdicto  Pra:fecto,  et  non  ultra;  nomina  autem 
fratrum  sunt,  ut  sequitur: 

Prafatus  Bonauentura  de  Taggia,  Vice  Prsefectus,  Con- 
cionator. 

Fr.  Zaccharias  de  Finali,  Concionator. 

Fr.  Franciscus  Maria  de  Ventimiglia,  Concionator. 

Fr.  Saluator  de  Genua,  Sacerdos. 

APF  —  Acta,  vol.  15,  fls.  476-476  v.,  n.°  2 —  Sessão  cardinalícia 
de  7  de  Setembro  de  1643. 

NOTA — Acerca  do  Vice-Prefeito,  Frei  Boaventura  de  Taggia, 
pronuncia-se  ainda  o  documento  seguinte: 

Retulit  idem  Eminentissimus  D.  Cardinalis  Sancti  Honuphrij  litte- 
ras  fratris  Bonauentura;  di  Taggia,  Missionarij  et  Vice  Prarfecti  Missio- 
nis  Capuccinorum  ad  Regnum  Congi,  in  quibus  conquerebatur  de  suis 
superioribus,  qui  illi  prohibebant  questuarionê"  ab  amicis  et  pijs  uiris 
pro  tam  longo  itiuere. 

APF — Acta,  vol.  16,  fls.  23  V.-24,  n.°  15.  —  Sessão  cardinalícia 
de  28  de  Fevereiro  de  1644. 

Acerca  da  obediência  dos  missionários  e  retirada  para  a  Europa, 
determinou  a  Propaganda  Fide: 

Sacra  Congregado  censuit  Missionários  a  suis  missionibus  receden- 
tes  sine  debita  obedientia,  per  Prouinciales  et  Diffinitores  priuatione 
voeis  actiuae  et  passiuae  esse  plectendos.  /  / 

Die  30  Junij  1643. 

BNM  — Ms.  3.818,  a  78  v. 


6r 


16 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  NÚNCIO  EM  MADRID 

(30-8-1643) 

SUMÁRIO  —  Pede-se  ao  núncio  em  Madrid  que  favoreça  a  missão  dos 
Capuchinhos  italianos  para  o  reino  do  Congo. 

Al  Siçnore  Cardinale  Pancirolo.  Madrid. 

Venendo  costa  il  Padre  Buonauentura  d'Alessano,  Capu- 
ano, per  trasferirsi  alia  sua  missione  dei  Congo,  pregano  li 
Signori  Cardinali  di  questa  Sacra  Congregatione  de  Propaganda 
Fide,  V.  Eminenza  compiacersi  d'essergli  fauoreuole  di  quelli 
aiuti  ch'ella  è  solicita  compartire  sempre  prontamente  agl'altri 
operarij  euangelici,  che  ricorrono  a  lei.  /  / 

II  superare  le  dtfficoltà  che  per  auentura  s'incontreranno 
nell'essecutione  delia  santa  mente  dei  medesimo  Padre,  sarà 
opera  degna  delia  pia  mano  di  V.  Eminenza,  alia  quale  però 
caldamente  lo  raccomando  in  nome  dell'eminenze  loro,  e  mio 
próprio.  Le  ratifico  con  questa  occasione  la  mia  particolare  osser- 
uanza  uerso  di  lei,  e  le  bacio  per  fine  humilmente  le  mani. 

Roma,  30  Agosto  1643. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  21,  fl.  246. 

NOTA  —  O  Cardeal  Giovanni  Giacomo  Panzirollo,  nasceu  cm 
Roma  em  1574,  Doutor  em  direito  aos  18  anos,  advogado  da  Cúria, 
auditor  do  Núncio  G.  B.  Panfili  em  Nápoles  e  em  Madrid,  auditor 
da  Rota,  Patriarca  de  Constantinopla  (13-12-1641),  foi  nomeado  Nún- 


62 


cio  em  Espanha  cm  18-1-1642,  Cardeal  em  13-7- 1643  e  deixou  a  Nun- 
cio  cm  Espanha  em  18-1-1644. — Cfr.  Henry  Biaudet,  Les  Nonciatu- 
res  Afostoliques  Permanentes,  Helsínquia,  1910,  p.  278-279. 

Como  a  partida  dos  missionários  por  Lisboa  se  tornara  impossível, 
por  justos  e  ponderados  motivos,  desviaram  a  rota  por  Madrid,  desco- 
nhecendo o  que  muito  bem  conheciam,  isto  é:  que  Portugal  se  tornara 
independente  da  Espanha  em  1- 12- 1640,  que  Luanda  estava  ocupada 
pelos  holandeses  e  que  Angola  não  era  ultramar  espanhol,  mas  portu- 
guês. Vincam-se  estas  atitudes  para  tornar  compreensíveis  acontecimen- 
tos futuros. 


63 


17 


CARTA  DE  SOUSA  COUTINHO  A  EL-REI 
(6-9-1643) 

SUMÁRIO  —  O  Embaixador  na  Holanda  comunica  o  fedido  de  socorro 
do  Rei  do  Congo  contra  a  Rainha  Ginga  —  Desconfianças 
do  Embaixador  e  seus  conselhos  a  el-Rei. 


Nestas  naos  do  Brazil  ué  dous  embaxadores  de  El  Rej  de 
Congo  a  pedir  ajuda  a  estes  Estados  contra  a  Rajnha  Ginga, 
que  dizem  baxa  contra  elle  com  80  000  frexas,  mas  pode  acon- 
tecer que  este  socorro  se  pessa  contra  nós;  auizarey  se  se  lhe 
manda  e  quanto,  para  que  conforme  a  elle  mande  V.  Mages- 
tade  socorrer  Angola  a  titolo  também  de  ajudar  a  Ginga  contra 
o  [Rei]  de  Congo.  Também  me  dize  que  nas  mesmas  naos  ue 
quinze  ou  vinte  cazas  mudadas,  ou  porque  receaÕ  que  lhes  naõ 
poderão  durar  muito,  ou  porque  o  tratamento  que  lhes  fazé  naõ 
hé  para  se  levar,  e  ou  seta  huã  couza  ou  outra,  sempre  hé  bom 
para  nós. 

ATT  —  Ms.  1341  (Livraria),  fl.  13. 


64 


18 


PARECER  DO  CONSELHO  ULTRAMARINO 
SOBRE  O  REINO  DE  ANGOLA 

(19-9- 1643) 


SUMÁRIO  —  Resposta  às  cartas  do  Feitor  da  Fazenda  e  do  Governador 
de  Angola  —  Proposta  da  fundação  de  nova  cidade  — 
Como  e  onde  aprestar  socorro  aos  portugueses  de  Angola. 


Diogo  Lopes  de  Fana  feitor  da  fazenda  de  V.  Magestade 
no  Reino  de  Angola,  em  carta  de  10  de  Março,  deste  anno  de 
643,  que  escreue  a  V.  Magestade,  diz  que  antes  que  os  olan- 
dezes  occupassem  a  Cidade  de  Loanda,  deu  conta  a  V.  Mages- 
tade do  estado  das  cousas  tocantes  a  seu  cargo  de  feitor  de  sua 
real  fazenda,  na  cõformidade  que  tem  por  regimento.  E  depois 
da  retirada  o  não  tornou  a  fazer,  porque  nos  auizos  escreueo 
largamente  a  V.  Magestade  o  Gouernador  Pero  Cezar  de  Me- 
nezes. 

Desde  o  dia  que  o  Gouernador  se  retirou,  até  o  prezente 
naõ  se  apartou  de  sua  pessoa,  acodindo  a  tudo  quanto  se  offere 
çeo  do  seruiço  de  V.  Magestade,  como  deue. 

Da  Cidade  náo  se  saluou  couza  algúa  da  fazenda  de  V.  Ma- 
gestade, que  o  que  hauia  só  constaua  de  munições,  artelharia,  e 
fazendas  que  estauaÕ  na  casa  de  tres  chaues,  embargadas  por 
prouisao  real,  antes  do  tempo  dele  feitor,  pelos  herdeiro?  de 
Antonio  Fernandez  de  Eluas,  contratador  que  foi  dos  eso  auos 
daqueles  Reinos,  e  que  o  escriuão  de  de  seu  cargo  Manuel  de 
Faria  e  Goes  falleçeo,  e  se  perderão  na  retirada  a  mayor  parte 
dos  livros  e  papeis  de  seu  officio,  com  tão  bem  faltao  quazi  to- 
dos os  dos  outros  officios. 


5 


65 


Durante  o  tempo  da  guerra,  o  Gouernador  vendo  que  não 
hauia  fazenda  de  V.  Magestade  para  remediar  as  muitas  neçe- 
cidades  de  soldados  doentes,  e  substentar  os  que  estaváo  em 
estado  de  poderem  tomar  armas,  acodio  com  sua  fazenda.  E 
com  outros  meyos,  o  mais  suauemente  que  o  tempo  deu  lugar, 
e  os  que  escaparão  da  contagião  e  malinidade  da  terra  os  uai 
substentando  e  uistindo. 

Que  tendo  o  gouernador  por  uia  dos  olandezes  a  noua  da 
publicação  das  pazes,  mandou  a  ele  Diogo  Lopes  de  Faria,  e 
juntamente  ao  lecenceado  Antonio  Guerreiro,  profeçor  de  leis, 
para  que  na  Loanda,  com  o  director,  tratassem  todas  as  cousas 
tocantes  ao  seruiço  de  V.  Magestade,  e  conueniencias  para  bem 
da  paz,  de  que  o  gouvernador  deuia  dar  conta  a  V.  Magestade, 
e  como  assistio  aly  desde  dezassette  de  nouembro  do  anno  pas- 
sado, até  15  de  feuereiro  deste  anno,  e  neste  tempo  obseruou 
muitas  cousas  que  tratarão  com  o  director,  delias  appontará  algúas, 
para  que  V.  Magestade  se  sirua  com  mais  breuidade  mandar 
acodir  com  o  remédio,  antes  que  se  uão  deprauando,  e  pondo 
em  peor  estado. 

Conçedeo  o  director,  que  o  gouernador  pudesse  deçer  com 
os  moradores  á  vista  da  Barra  do  Rio  Bengo,  que  ele  com  suas 
armas  hauia  senhoreado,  e  cittuasse  o  nosso  Arrayal,  como  hora 
o  tem,  em  hú  oiteiro,  mea  legoa  pela  terra  dentro,  sobre 
o  mesmo  Rio;  e  que  os  moradores  e  mais  pessoas  pudessem 
cultiuar  as  terras  e  fazendas  que  nelle  há,  por  tempo  somente 
de  noue  mezes,  que  começou  nos  vltimos  de  Janeiro  deste  anno, 
até  ir  resolução  de  V.  Magestade,  e  dos  hordés  geraes,  da  forma 
em  que  aquelle  Reino  hade  ficar;  e  antes  de  chegar  a  isto,  ouue 
algúas  duuidas,  como  V.  Magestade  pode  uer  do  traslado  de 
hú  papel  e  sua  re[s] posta  que  com  esta  vay,  cujo  original  fica 
em  poder  delle  feitor.  /  / 

E  tem  por  cousa  certa,  que  se  no  tempo  dos  noue  mezes 
nao  mandar  V.  Magestade  algua  boa  resolução  em  fauor  da- 
queles seus  vassallos,  e  nos  obrigarem  a  retirar  daquellas  terras, 


66 


como  se  prezumc  farão,  será  causa  de  grandes  danos,  assy  por- 
que o  gentio  daquele  Reino,  vassallo  de  V.  Magestade,  sempre 
andou  vario,  como  porque  os  poucos  escrauos  que  até  gora  nos 
não  fugirão,  o  farão  seguindo  os  maes;  e  com  esta  consideração, 
V.  Magestade  se  sirua  antesipar  o  remédio. 

Que  chegou  2.a  vez  o  barco  em  que  Ieuou  as  Cartas  de 
V.  Magestade  Antonio  da  Fonseca  dOrnellas  (diz  segunda 
vez,  que  a  primeira  não  foi  admitido,  nem  os  olandeses  lhe 
derão  lugar  para  se  comunicar  com  o  Gouernador)  a  tempo  que 
elle  feitor  estaua,  como  diz,  na  Cidade  de  Loanda;  não  lhe 
concedeo  o  director  liberdade  para  que  chegasse  á  Barra  do 
Bengo  com  o  barco  á  vista  do  nosso  Arrayal,  antes  lhe  pôs 
guardas  tão  exceçiuos  de  fora,  que  tudo  quanto  a  gente  do  mar 
dezembarcou  sem  licença  sua,  se  lhe  tomou  por  perdido;  mas 
despois  vendosse  na  Barra  do  Bengo  com  o  Gouernador,  con- 
cedeo que  se  pudessem  dezembarcar  as  munições  de  V.  Mages- 
tade que  o  Gouernador  da  Bahia  mandou,  e  as  cousas  que  não 
fossem  de  mercancia,  mas  só  as  que  se  mandarão  de  socorro 
a  particulares;  mas  o  barco  não  sahio  do  porto  de  Loanda. 

Declarousse  com  elle  feitor,  que  se  lhe  hauia  de  pagar  a 
entrada  de  todas  as  fazendas  que  leuassem  aly  vassallos  de 
V.  Magestade,  a  uinte  e  çinco  por  çento,  sem  admittir  que 
aquelle  porto  foi  sempre  liure  e  franco  nas  entradas  de  tudo 
quanto  a  elle  aportou:  antes  diz  que  as  fazendas  que  forem  se 
hão  de  uender  a  seus  Comissários,  para  que  de  sua  mão  as  com- 
prem os  vassallos  de  V.  Magestade  pelos  preços  que  elles  assen- 
tarem; prohibem  tão  bem  que  os  vassallos  de  V.  Magestade 
possão  embarcar  peças  de  escrauos  para  fora,  mas  que  se  uendão 
a  seus  Comissários;  e  que  naquele  Reino  ninguém  mais  que  a 
sua  Companhia  tenhão  trato  e  saca  dos  dittos  escrauos. 

Como  despois  de  tantos  mezes  de  calamidades  e  doenças 
nos  mattos,  alguns  vassallos  de  V.  Magestade  que  delias  esca- 
parão, se  quizerão  prouer  secretamente  de  cousas  neçessarias 
para  se  guarnecerem,  ainda  que  o  Gouernador  o  tinha  prohibido 


67 


com  boas  considerações,  os  Comissários  olandeses  lhas  vende- 
rão, o  que  toca  a  mantimentos,  por  altos  preços,  a  dinheiro  e 
pratta,  e  as  que  o  não  são,  a  peças  de  escrauos,  a  que  se  tem 
posto  baixíssimos  preços,  abbatendo  tão  bem  o  da  pratta, 
tomando  a  com  pezos  que  tem  crecimento  nas  onças  e  marcos, 
a  que  chamão  Troya.  /  / 

Assy  que  partidas  as  vias,  como  estão  de  melhor  partido 
em  poder  e  forsas,  introduzem  toda  a  tirania  que  podem,  e 
ainda  que  em  cada  matéria  das  appontadas,  e  em  muitas  outras 
que  se  offereçerão  se  lhes  foi  á  mão,  manifestandolhes  com 
claras  razões  seu  mao  proçeder,  que  encontra  as  CappitulaçÕes 
assentadas  com  V.  Magestade;  e  quando  o  director  se  acha 
atalhado  se  desculpa,  com  que  não  pode  deixar  de  guardar  as 
hordens  de  seus  mayores;  e  claramente  diz,  que  quem  hé  se- 
nhor dos  portos  de  mar,  o  hé  tão  bem  do  Reino;  e  que  isto 
passa  nestes  pnnçipios,  delles  se  pode  inferir  o  que  será,  andando 
o  tempo,  não  se  acodindo  com  o  remédio.  /  / 

E  de  todas  estas  cousas  lhe  pareçeo  fazer  relação  a  V.  Mages- 
tade para  constar  delias  a  oppreção  em  que  ficão  seus  vassallos, 
e  hú  Reino  tão  importatne  como  aquele  hé,  e  será  couza  impos- 
sivel  gozar  delle  V.  Magestade  couza  alguã  emquanto  aquela 
gente  ali  estiuer,  pois  não  tratta  aos  vassallos  de  V.  Magestade 
como  amigos,  mas  com  a  tirania  que  se  os  ouuerão  rendido,  e 
teuerão  sogeitos.  E  que  as  couzas  ouuerão  chegado  a  muito  peor 
estado,  se  o  Gouernador  Pero  Cezar  de  Menezes  não  os  ouuera 
guiado  com  a  prudençia  e  bom  modo  que  para  isso  tem;  porque 
o  director  com  a  ocasião  da  tardança  de  recado  de  V.  Mages- 
tade, quer  persuadir  aos  moradores  que  V.  Magestade  tem  já 
largado  aos  Estados  a  pertenção  e  senhorio  daquele  Reino,  pera 
quebrantar  e  acquinr  os  ânimos  que  já  estão  cançados  dos  malles 
passados;  mas  a  huã  voz  todos  estão  com  firme  confiança,  em 
que  V.  Magestade  lhes  hade  valer. 


68 


Da  carta  rellatada  se  deu  vista  ao  Procurador  da  Fazenda  de 
V.  Magestade  e  respondeo  que  por  ella,  e  pela  coppia  incluza 
da  carta  que  escreueo  a  V.  Magestade  Pero  Cezar,  Gouernador 
daquelle  Reino,  cuja  coppia  procurou,  e  se  lhe  não  deu,  dizen- 
dosselhe  que  não  veio  remettida  ao  Concelho  da  secretaria,  e 
pellas  informações  que  tomou  das  pessoas  mais  praticas  que 
vieráo  daquelle  próprio  Reino  hora  de  próximo,  e  pela  noticia 
que  tem  do  tempo  que  nelle  esteue,  lhe  consta  do  mizeravel 
estado  delle,  e  de  quanto  neceçitta  para  sua  conservação,  de  que 
V.  Magestade  se  sirua  de  o  mandar  socorrer  com  a  mayor 
breuidade  que  ser  possa,  e  com  o  mayor  socorro  que  seja  possí- 
vel, e  sua  neceçidade  pede;  por  maneira  que  não  só  se  conserue, 
mas  que  delle  se  lançem  os  olanoeses  que  tão  injustamente 
ocupão  Loanda,  çidade  e  cabeça  do  mesmo  Reino,  ganhando 
a  imperfidos,  despois  de  V.  Magestade  restittuido  a  esta 
sua  Coroa,  e  de  hauer  com  elles  tratto  de  pazes,  ao  menos  de 
suspenção  de  armas,  por  o  tempo  em  que  se  assentou  que  a 
ouuesse. 

Hé  o  ditto  Reino  própria  conquista  deste,  descuberta  e 
acquirida  com  o  direito  que  no  mundo  se  sabe,  por  os  Senhores 
Reis  predeçessores  de  V.  Magestade,  ganhado  com  as  suas 
armas  e  despesas  de  muitas  naos  com  que  o  descubrirão  e  con- 
quistarão [h]á  muitos  annos,  estabellecendo  a  sancta  fee  catho- 
lica,  que  se  guarda  e  obserua  com  a  pureza  que  conuem,  não  só 
em  a  Cidade  de  Loanda,  e  nos  mais  lugares  e  pouoaçóes  do 
mesmo  Reino  em  que  há  fortalezas  de  V.  Magestade,  e  rezi- 
dem  Portugueses,  mas  ainda  em  partes  daquelle  çertão  habbi- 
tado  só  de  negros  vassallos  de  V.  Magestade. 

Esta  Christandade,  com  cujo  fundamento  se  tratou  desta 
e  mais  Conquistas  hé  preçisa  obrigação  se  conserue,  deffenden- 
dosse  com  todo  risco  e  forsas  possiueis  de  ser  corrompida  e  in- 
festada da  maldita  çepta  de  Lutero  e  Caluino  e  dos  mais  erros, 
com  que  hé  certo  que  haõ  de  deprauar  os  herejes  olandezes, 


69 


em  o  que  fora  do  encargo  da  conciencia  se  perde  (como  hé  no- 
tório) a  reputação  das  armas  e  poder  de  V.  Magestade. 

Alem  desta  resão  que  elle  Procurador  da  Fazenda  consi- 
dera a  principal  deste  negocio,  há  outras  de  grandíssima  impor- 
tância, para  V.  Magestade  mandar  se  tratte  da  conseruação 
deste  Reino  com  a  breuidade  e  cuidado  que  está  pedindo. 

Seja  a  primeira,  não  conuir  que  em  o  tempo  filicicimo  da 
restituição  de  V.  Magestade  a  estes  seus  Reinos  quando  nelles, 
e  ainda  nos  de  Castella  as  armas  de  V.  Magestade  estão  victo- 
nosas  e  gloriosas,  ellas  não  tornem  per  o  direito  daquella  con- 
quista de  Angola  descuberta  e  ganhada  pellos  Senhores  Reis 
passados  e  progenitores  de  V.  Magestade,  que  não  leuem  auante 
a  Chnstandade  que  nella  estabellecerão,  continuada  na  pureza 
de  sua  criação,  que  não  faça  restituir  aos  Portuguezes,  filhos  e 
naturaes  do  próprio  Reino,  e  mais  vassallos  de  V.  Magestade  que 
a  elle  forão  e  nelle  habbitão  suas  casas,  bens  e  fazendas  que  lhes 
tomarã,  e  de  que  os  lançarão  os  olandeses  a  tempo  que 
entendião  estauamos  com  eles  de  paz;  que  estes  taes  moradores 
e  vassallos  do  dito  Reino  o  não  tornem  a  ter  e  lograr  seu  como 
antes  hera,  quando  V.  Magestade  nelle  foi  aclamado,  sahindo 
da  sogeição  e  modo  de  catiueiro  em  que  hora  estão  e  que  não 
tornem  a  continuar  os  templos  sagrados  que  ocupão  e  tem  con- 
taminado estes  enimigos. 

Alem  desta  resão  e  da  reputação  que  a  tanto  obriga  aos 
Reis  e  Príncipes  suppremos,  e  poderosos,  como  V.  Magestade  o 
hé,  concorre  mais  a  da  importância  daquelle  Reino,  por  o  que 
rende  e  hé  de  proueito  aos  naturaes  deste  estado  do  Brasil,  e 
fazenda  de  V.  Magestade,  a  qual  rendia  perto  de  trinta  contos 
de  reis  só  com  direitos  da  saca  dos  negros,  e  rendeo  já  muito 
maes,  fora  o  que  importão  os  dízimos,  e  baculamentos  (*)  que 
herão  grandes  quantias  de  dinheiro,  sobre  o  que  com  os  negros 


(*)  Tributos,  do  verbo  Kubakula:  tributar. 


7o 


que  se  tirauão  todos  os  annos  se  laurauão  os  açucares  e  terras 
do  Brasil,  creçiáo  as  drogas  daquelle  estado,  e  asy  os  direitos 
que  nelle  se  pagão,  e  os  que  vem  a  pagar  ás  Alfandegas  deste, 
em  os  quaes  hé  forsa  que  haja  grande  quebra  e  deminuição  fal- 
tando a  saca  dos  negros  de  Angola,  por  ser  cousa  muito  çerta 
e  sabida,  que  sem  negros  se  não  podem  laurar  os  açucares  e  terras 
do  Brasil,  e  que  se  se  laurarem,  que  será  com  grandíssima  que- 
bra e  deminuição. 

Os  particulares  vassallos  de  V.  Magestade  destes  seus  Rei- 
nos e  do  estado  do  Brasil  perderão  muito,  como  já  perdem,  em 
lhe  faltar  o  tratto  e  comercio  de  Angola;  porque  hé  certo  e  aue- 
riguado,  que  aquele  Reino  homens  mais  ricos,  que  a  Jndia 
Oriental,  e  os  do  Brasil  sem  negros  com  que  façao  as  suas  ros- 
sas,  acudão  a  seu  seruiço,  não  hé  possiuel  que  o  continuem,  ao 
menos  que  não  seja  com  grande  quebra  nelle,  e  assy  nos  ren- 
dimentos de  sua  fazenda,  como  o  há  na  de  V.  Magestade,  por 
a  falta  dos  direitos  que  elle  Procurador  da  Fazenda  tem  con- 
ciderado;  toda  esta  falta,  toda  esta  perda  da  Fazenda  Real,  e 
da  dos  particulares,  hé  muito  mayor,  por  ser  toda  em  augmen- 
to  da  fazenda  da  companhia  dos  Estados  e  dos  particulares  del- 
les,  de  modo  que  não  só  perde  V.  Magestade,  e  perdem  seus 
vassallos  na  falta  de  Angola  de  seu  tratto  e  comerçio,  senão  que 
com  elle  se  engrossão  os  olandeses  no  publico  e  no  particular, 
com  o  que  vem  a  ser  o  negocio  de  muito  mayor  concideração. 

Tão  bem  se  hade  fazer,  de  que  sem  a  saca  dos  negros  de 
Angola,  não  podem  os  olandeses  substentar  e  conseruar  Per- 
nãobuco,  e  os  maes  lugares  que  ocupão  no  Brasil,  e  ao  menos, 
que  se  as  conseruarem,  será  com  muito  mayor  trabalho  seu, 
com  muito  mayor  despesa,  e  com  muito  menor  proueito  e  rendi- 
mento; porque  não  tendo  negros,  não  hé  possiuel  que  acudão 
ao  lauor  necessário,  e  assy  será  menos,  ou  virá  a  faltar  e  con- 
seguintemente,  o  ganho  que  delle  tirão.  

Tanto  mayor  for  o  trabalho,  que  tiuerem,  tanto  menor 


7' 


será  o  proueito  que  tiraram  (2) ,  alem  de  que  em  toda  boa  razão, 
assy  nos  conuem,  e  mais  certo  será  virem  a  largar  as  terras  do 
Brasil,  ou  por  lhe  serem  pouco  vttis,  ou  por  conueniençias  que 
comnosco  fação;  e  pelo  contrario  se  lhes  forem  rendosas  ou  as 
não  quererão  largar  nunca,  ou  se  for,  virá  a  ser  com  muito 
mayores  aproveitamentos  seus. 

Com  a  falta  deste  commercio  de  Angola  e  com  a  que  hauerá 
no  Brasil,  se  nelle  não  ouuer  negros  para  o  lauor  dos  açucares 
e  das  mais  drogas  daquelle  estado,  serão  muito  menos  os  nauios 
que  a  elles  costumão  ir,  e  em  todo  deixarão  de  ir  a  Angola.  E 
e  em  consequência,  alem  da  deminuição  do  tratto  e  direitos, 
a  hauerá  muito  grande  em  as  embarcações  que  costumão  na- 
uegar  deste  Reino  e  na  gente  do  mar,  sendo  huã  e  outra  cousa 
de  tão  grande  importância  ao  bem  e  augmento  do  Reino  e  suas 
Conquistas  e  ao  seruiço  de  V.  Magestade. 

Senhor,  as  rasões  referidas,  não  só  persuadem  a  que  se  tratte 
de  Angola,  mas  obngão  a  que  se  acuda  ao  socorro  daquelle 
Reino,  remédio,  conseruação  e  restauração  delle  muito  a  tempo, 
e  em  que  o  haja  de  se  lhe  acodir,  e  de  não  ser  a  despesa  que  se 
fizer,  e  o  socorro,  baldado. 

Para  que  asy  haja  de  parecer,  dirá  elle  Procurador  da  Fazen- 
da, por  mayor,  o  estado  [em]  que  de  prezente  está  aquelle 
Reino,  começando  por  o  como  se  achaua  em  o  tempo  que  V. 
Magestade  nelle  foi  aclamado,  hera  com  estranho  contenta- 
mento, por  a  filicissima  restituição  de  V.  Magestade  a  estes  seus 
Reinos,  estando  o  de  Angola  com  homes  muito  ricos,  todos  na 
boa  fee  das  pazes  com  os  Estados  de  Olanda,  que  hauião  por 
muito  çertas,  por  as  nouas  que  delias  lhe[s]  forão,  hauia  na 
çidade  de  Loanda,  cabeça  do  Reino,  quatro  fortalezas  nelle,  com 
pouoações  concideraueis,  nas  tres  principais,  que  são  Massan- 


(2)  No  original:  tirarem. 

72 


gano,  Cambambc,  e  Ambaca,  e  outra  hé  a  de  Mochima,  alem 
do  Rio  Cuanza,  em  [a]  Provinçia  de  Quizama,  de  negros  fero- 
zes e  não  sogeitos,  nem  conquistados,  para  o  sul  de  Loanda  doze 
oas;  hauerá  em  Angola  600  para  700  Portugueses  brancos 
entre  os  moradores  naturaes  da  terra,  do  mar  e  trattantes  que 
a  ella  forao  comerciar.  Estauão  muitos  espalhados  por  o  çertão  e 
nas  dittas  fortalezas,  e  pouoações. 

Chegou  a  armada  olandesa  com  dous  mil  homês  dos  seus, 
fora  muitos  jndios  que  leuaráo  do  Brasil;  ocuparãosse  os  nossos 
em  pôr  em  saluo  os  moveis  e  fazendas  que  tinháo.  Não  se  achou 
o  Gouernador  com  gente  necessária  e  bastante  para  se  defender; 
acordou,  tomando  bom  conselho,  retirarsse  a  hú  posto  que 
teue  por  conueniente,  çinco  legoas  da  çidade,  aonde  a  poucos 
dias  o  foi  buscar  o  enimigo  com  400  olandeses,  á  sua  vista 
esteue  tres  dias,  e  sem  o  ouzar  cometter,  se  retirou;  entendeo  o 
Gouernador  que  ia  a  reforsarsse,  e  por  ter  consigo  as  molheres, 
e  recheyo  da  çidade,  e  não  achar  em  os  seus  animo,  ouue  que  não 
hera  occazião  de  pelejar,  nem  de  esperar  o  enimigo;  e  pelo  que 
antes  que  tornasse  com  mayor  forsa,  se  foi  a  Massangano,  37 
legoas  do  cittio  que  ocupaua. 

Hé  Massangano  sobremodo  doentio;  adoeceo  o  Gouernador, 
esteue  sangrado  35  veses,  segundo  auiza,  da  sua  gente  lhe  mor- 
reo  muita;  os  negros  vassallos  de  V.  Magestade  naquele  Reino, 
por  natureza  inconstantes,  e  que  sempre  seguem  aos  que  mais 
podem,  se  começauão  a  dezinquietar,  negando  obbediencia  a 
V.  Maagestade;  mandou  por  vezes  o  Gouernador  a  os  aquietar 
e  castigar  Capitães  que  entrauão  por  as  suas  terras,  e  matarão 
muitos,  degolou  as  cabeças,  e  os  pôs  a  todos  sogeitos  na  obbe- 
diencia de  V.  Magestade,  como  de  antes  estauão. 

E  logo  porque  as  doenças,  por  a  inclemençia  do  cittio, 
continuauao  indo  creçendo  e  mornão  muitos  dos  Portugueses, 
acordou  o  gouernador,  tentando  melhorar  a  sua  gente,  e  porsse 
me  parte  aonde  pudesse  ter  auizos,  e  dallos  a  V.  Magestade, 
tratar  com  o  enimigo  per  sopportar  as  pazes  com  os  Estados, 


73 


de  que  já  elle  dizia  ter  nottiçia,  que  lhe  desse  lugar  junto  a 
Loanda,  e  ao  mar,  em  que  estiuesse  com  a  sua  gente. 

Assentousse  que  viesse  para  junto  do  Rio  Bengo  e  na 
fralda  do  monte  e  morro  das  Lagostas,  cinco  legoas  da  dita 
çidade  de  Loanda  e  que  auizasse  a  V.  Magestade  de  tudo  o 
susçedido,  e  que  asy  auizaua  aos  Estados  o  olandês,  e  que 
dentro  em  9  meses  com  a  resolução  que  ouuesse  de  V.  Ma- 
gestade e  dos  Estados,  se  resoluena  o  negocio  de  Angolla,  ou 
para  ficar  aos  olandeses  o  que  nella  tinhao  ocupado,  ou  para 
o  largarem;  os  noue  meses  se  acabao  hora  por  todo  Septem- 
bro,  se  bem  hade  uer  que  se  prorrogue  mais  tempo,  conside- 
randosse  que  hade  ser  a  uontade  do  enimigo,  mais  senhor 
da  terra  e  mais  poderoso  nella;  como  este  hé  o  que  dá  licença 
aos  nossos  para  mandarem  ao  Brasil  algú  pataxo  de  auizo,  e 
ho  que  o  despacha,  adiudicando  a  sy  os  direitos  delle  a  30  por 
çento  de  entrada,  que  nunca  ouue  neste  Reino,  e  por  sahida, 
não  querendo,  nem  conçintindo  que  os  nossos  tirem,  nem 
mandem  negros,  dizendo  que  só  os  olandeses  os  hão  de  tirar, 
e  mandar  a  Pernãobuco,  e  que  se  os  nossos  os  quizerem,  os 
comprem  naquella  sua  praça,  fora  do  qual  tratto  dos  negros, 
não  há  outro  algú  em  Angola- 

E  assy  vem  [a]  estar  os  nossos  como  sogeitos  rendidos, 
e  quazi  catiuos  ás  hordés  e  insolências  do  enimigo  poderoso, 
soberbo,  e  tirano,  que  hé  o  que  desfructa  o  Reino,  e  vay 
adquirindo  com  mayor  poder,  mayor  mando,  e  mayor  autho- 
ndade  nelle.  E  por  esta  maneira  há  negros,  se  bem  o  çertão 
está  por  nosso,  que  embarca  e  manda  a  Pernãobuco. 

Çerto  hé  que  com  o  tempo  seja  o  poder  e  a  authoridade 
mayor,  e  que  os  senhores  negros  vassallos  de  V.  Magestade 
se  lhes  pasem  aos  olandeses;  e  se  deue  reçear  e  ter  por  pro- 
uauel,  que  ainda  os  naturaes  Portugueses  o  fação,  todos  homés 
de  baixa  sorte,  que  amão  e  querem  sua  quietação,  e  as  suas  casas 
que  deixará,  e  o  ganho  do  tratto  e  mercancia  de  que  todos  viuem, 
para  tornarem  a  o  exerçitar,  e  a  seus  auanços,  e  aborreçidos  de 


74 


viuerem  no  campo  a  çeo  aberto,  com  elles  tão  inclemente,  se 
passem  aos  olandeses,  querendo  mais  o  seu  jmpeno  tirano,  que 
o  ligitimo  e  suave  de  V.  Magestade. 

Para  se  socorrer  a  este  dano,  que  será  grande,  com  a  perda 
de  aquelle  Reino,  pede  o  remédio  de  sua  conseruaçao  e  restaura- 
ção, tratarsse  delle  logo  com  toda  a  breuidade  possiuel. 

Este  pode  ser,  seruindosse  V.  Magestade  de  mandar,  que 
desfeita,  por  recolhida  a  nossa  armada  neste  anno,  vão  delia 
quatro  ou  seis  nauios  de  até  200  ou  300  tonelladas,  aos  quaes 
se  aggregarao  até  4  nauios  de  particulares,  e  nelles  podem  ir 
600  ou  800  homés  com  munições,  armas  e  apprestos 
necessários,  com  hordem  que  demandem  na  costa  de  Angola 
o  Rio  Dande,  oito  legoas  ao  norte  da  cidade  de  Loanda,  e  tres 
do  Rio  Bengo,  aonde  o  Gouernador  com  a  sua  gente  assiste,  que 
deuide  o  Reino  de  Dongo,  que  hé  o  de  Angola,  do  de  Congo, 
hora  confederado  com  o  Olandes,  que  o  leuou  e  chamou  áquel- 
las  partes,  e  enimigo  nosso,  e  que  dando  auizo  ao  Gouernador 
e  aos  seus,  se  uao  pouoar  na  boca  do  dito  Rio  Dande,  capaz  por 
mar  de  receber  aquelles  e  muitos  mais  nauios  de  V.  Magestade, 
e  por  terra  de  se  fundar  em  hú  alto  que  está  sobre  a  boca  do 
próprio  Rio,  húa  cidade  e  pouoação  melhor  por  çittio,  que  a  de 
Loanda,  e  fácil  na  pouoação;  porque  junta  a  nossa  gente,  com  os 
seus  escrauos,  que  são  muitos,  tendo  a  agoa  dosse  do  Rio,  e 
sendo  de  ordinário  as  suas  casas  de  taipa  e  adobes,  em  breues 
dias  podem  fundar  esta  noua  cidade  com  a  fortificação  da  pró- 
pria taipa  e  adobe  neçessario,  ao  menos  na  mesma  boca  do  Rio, 
com  que  fique  deffençauel,  e  fiquem  os  nossos  nauios  seguros. 

Tem  grande  comodidade  este  cittio  e  a  terá  esta  noua  pouoa- 
ção, porque  demais  de  se  enfrear  e  ainda  castigar  ao  Rey  do 
Congo,  por  chamar  os  olandeses,  a  elles  sem  acto  algú  de  hos- 
tilidade, se  lhe[s]  impede  todo  o  tratto  e  comerçiodoçertão;  por 
maneira  que  não  só  não  poderão  tirar  negros,  nem  auellos  para 
os  embarcarem,  mas  ainda  não  terão  carnes,  nem  mantimentos. 


75 


Hé  a  resão,  porque  o  ditto  Rio  Dande  traz  seu  curso  por 
o  çertão,  muito  junto  dos  Rios  Bengo  e  Quanza,  e  todos  tres 
ficão  com  suas  correntes,  cortando  o  Reino  de  Angola  muito  perto 
da  çidade  de  Loanda,  que  os  olandeses  ocupão,  sem  lhes  deixar 
espasso  largo  por  o  Norte,  por  o  Sul,  e  Oeste  da  mesma  çicade, 
para  poderem  penetrar  o  certão  do  Reino,  náo  passando  os  Rios. 
E  asy  naÕ  poderão  nsgatar  negros  nem  mantimentos,  concide- 
dandosse  que  ao  Soeste  tudo  hé  mar;  com  o  que  hé  certo,  que 
os  olandeses  não  sofrão  os  gastos  e  despesas  do  presidio  que  tem 
em  Loanda,  das  naos  e  gente  do  mar  que  lhes  assistem,  e  que 
venhão  a  largar  de  neçessidade  a  que  ocupão  com  tirania. 

Os  nossos  fora  da  sogeiçao,  que  hé  forsa  reconheção  aos 
enimigos  em  o  cittio  em  que  estão  juntos,  em  o  da  boca  do  Rio 
Dande,  aonde  farão  concorrer  os  que  andáo  espalhados  por  o 
çertão,  já  senhores  e  em  çidade  e  pouoaçao  própria,  conseruarão 
o  senhorio  e  domínio  que  V.  Magestade  tem  nos  souas  seus  vas- 
sallos,  e  os  poderão  obrigar  a  que  não  tratem,  nem  comerçeem 
com  os  olandeses,  que  lhes  não  dem  negros  de  resgatte  ou  ser- 
uiço,  e  que  lhes  não  acudão  com  mantimentos. 

Em  V.  Magestade  mandar  estes  nauios  com  a  gente,  muni- 
ções e  socorro  aos  seus,  não  contrauem  em  nada  as  pazes  e  tra- 
tado delias  assentadas  com  os  Estados,  nem  faz  contra  elles,  aos 
olandeses  de  Loanda,  acto  algú  de  hostilidade,  porque  V.  Ma- 
gestade os  não  manda  cometter,  nem  lançar  do  que  injusta- 
mente occupão,  só  manda  V.  Magestade  acodir  aos  seus,  e 
socorrer  ao  Reino  de  Angola,  que  todo  por  o  certão  está  e  se 
conserua  na  obediençia  de  V.  Magestade,  e  o  mandar  V.  Ma- 
gestade fundar  çidade  em  o  que  hé  seu,  vem  a  ser  uzar  do 
próprio  direito,  posto  que  delle  se  consigão  as  vtilidades  que  tem 
conçiderado,  e  todas  mais  em  hordem  de  V.  Magestade  man- 
dar se  continuem  o  seu  tratto  e  comercio,  de  que  não  foi  deza- 
possado,  que  a  dizenquietar  e  dezalojar  o  enimigo. 

E  quando  clle,  sentindo  de  ver  que  se  não  pode  conseruar 
em  Angola,  fizer  hostilidades,  com  o  que  dá  cauza  a  ellas,  ficará 


76 


o  culpado,  e  o  Gouernador  dc  V.  Magestade  muito  mais  supe- 
rior em  poder,  não  só  para  a  deffenção,  mas  para  o  impugnar 
e  lançar  em  todo  e  á  forsa  de  armas  daquele  Reino,  restituindo 
á  Coroa  de  V.  Magestade,  restittuindo  os  seus  naturaes  a  suas 
casas  e  fazendas,  e  restitttuindo  os  templos  sagrados  á  pureza 
e  limpeza  de  seu  Culto  Diuino. 

Esperarsse  conueniençia  ou  cortezia  dos  olandeses,  para 
largarem  Loanda,  tem  elle  Procurador  da  Fazenda  por  deffi- 
cultoso;  emquanto  oceuparem  Pernaobuco  e  praças  do  Brasil, 
não  quererão  largar  Angola;  a  mesma  defficuldade  se  lhes  offe- 
reçe  em  hauerem  de  largar  o  que  no  Brazil  ocupão,  por  melhores 
partidos  que  se  lhe[s]  offereção,  sendo  que  por  as  guerras,  que 
ouuer  naquelle  estado  e  por  as  que  há  neste  Reino,  não  hé  pro- 
uavel  que  venhao  nas  conueniençias  que  se  lhes  poderão  offere- 
çer,  se  cautelozos  e  pérfidos,  nos  ocupão  e  detém  as  nossas  pra- 
ças, como  mercadores  e  interesçados  em  o  que  ocupão,  o  lar- 
garão. 

Deixarmos  o  cittio  que  temos  em  o  Bengo,  quazi  sogeito 
aos  olandeses,  e  irmos  fundar  ao  Dande,  tres  legoas  maes  ao 
norte,  oito  da  çidade  de  Loanda,  não  entende  que  hé  renunciar 
o  direito  delia,  afastar  da  pertençao  de  a  recobrar,  e  largalla  vol- 
luntarios  ao  enimigo,  antes  acomodando  com  o  tempo,  sahindo 
da  sogeição  em  que  estamos,  buscar  modo  de  tornar  a  ganhar 
a  ditta  çidade,  de  nos  restittuirmos  a  ella,  e  fazer  em  todo  nosso 
o  Reino  de  Angola,  como  antes  hera.  Este  com  comerçio  de 
mar,  e  com  saca  de  negros,  hé  Reino  e  de  grande  conçideração. 
Sem  o  comercio  e  sem  esta  saca,  não  hé  Reino,  nem  nelle  se 
m  conseruar  os  nossos,  porque  ou  se  hão  de  morrer  e  extin- 
guir todos,  ou  hão  de  sair  do  Reino  para  o  Brasil,  Portugal  ou 
outras  partes,  ou  se  hão  de  lançar  todos  com  os  olandeses. 

E  fora  do  porto  da  cidade  de  Loanda,  e  do  Rio  Dande,  não 
há  em  toda  a  costa  do  Reino  de  Angola  outro,  por  o  qual  se 
possa  fazer  escalla,  por  que  na  boca  do  Rio  Bengo  tem  os  olan- 
deses hú  forte  fora,  de  que  hé  o  Rio  espassilado,  e  não  tem 


77 


boca  capaz  de  entrarem  nauios:  o  mesmo  passa  no  Rio  Cuanza. 
Só  o  Rio  Dande  dá  melhor  lugar  a  embarcações  na  boca,  e  costa 
do  mar,  junto  a  ella,  e  no  çittio  da  terra,  para  pouoaçôes  e  habbi- 
tação  dos  nossos,  e  para  a  saca  que  podem  fazer  de  negros. 

Temos  melhor  e  maes  claro  direito  para  ocuparmos  este  çit- 
tio, porque  se  bem  em  todo  o  Reino  de  Angola,  ainda  na  forma 
das  Cappittulações  das  pazes  com  os  Estados,  hé  o  direito  de  V. 
Magestade  muito  claro,  podem  arguir  os  olandeses,  que  no 
termo  do  tratado  das  pazes  ocuparão  Angola  e  seu  terrenho  e 
que  asy  lhe[s]  pertençe,  e  conseguintemente  a  boca  dos  Rios 
Bengo  e  Cuanza,  em  que  tem  fortes,  ou  plataformas. 

A  respeito  do  Rio  Dande,  não  tem  que  dizer,  porque  não 
fizerao  na  sua  boca  fortificação  algúa;  antes  a  terra  toda,  com 
a  do  çertão  está  por  de  V.  Magestade.  E  posto  que  os  olandeses 
mandarão  á  boca  do  ditto  Rio  hu  feitor,  a  tratar  com  os  do 
Congo,  que  os  nossos  lhe[s]  sofrem,  por  a  dependençia  que 
delles  tem,  estando  no  Bengo  tão  seus  vizinhos,  e  quazi  á  sua 
obbediencia  e  cortezia;  este  tal  feitor  está  precário,  e  como  por 
commerçio,  com  nosso  conçentimento,  e  lhes  não  dá  direito. 

Muito  melhor,  mais  açertado,  e  mais  conueniente  a  toda 
boa  razão,  será  procurarense  os  meyos  de  conueniençias  com 
os  olandeses,  se  os  há,  e  seguiremsse,  para  que  em  effeito  venhão 
a  nos  largar  Loanda,  com  o  que  ocupão  em  Angola.  E  [como] 
por  emquanto  se  não  desconfia  destes  meyos,  nao  se  fazer  a 
expedição  dos  nauios  e  gente  que  tem  por  importante. 

Neste  cazo  conuirá  hirem  logo  neste  septembro  dous,  tres, 
ou  quatro  nauios  aos  nossos,  algúas  munições,  algúa  gente  com 
que  se  alente,  e  algíi  socorro  que  sirua  ao  estado  em  que  estão, 
e  com  que  uão  entretendo  sua  fortuna,  esperando  melhoralla  com 
a  restittuição  da  sua  çidade,  de  vontade  e  por  gosto  dos  Estados, 
que  hé  bem  se  solicitte  e  procure  com  cuidado  e  a  tempo  que  o 
tenha  V.  Magestade  de  mandar  acodir  ao  que  mais  conuier  a  seu 
seruiço. 

7* 


Seruindosse  V.  Magestade  de  mandar  que  vão  os  nauios  que 
elle  Procurador  da  Fazenda  diz,  a  effeito  de  se  fundar  çidade  no 
Rio  Dande;  vendosse  e  conciderandosse  como  conuem,  em  o 
Conselho  de  Guerra  e  de  Estado,  pode  ser  de  maneira  que  os 
nauios  da  armada  que  forem,  vão  e  uenhão  a  tempo  que  não 
faltem  no  anno  e  armada  seguinte  e  se  podem  apprestar  de  man- 
timentos e  monições  com  o  que  sobejou  da  armada  deste  anno, 
e  ainda  com  a  gente,  por  maneira  que  nem  faltem  os  nauios, 
nem  o  gasto  de  se  apprestarem  seja  grande. 

Pareçeo  ao  Doctor  Francisco  de  Carualho  que  estas  cartas 
se  deuião  mandar  a  V.  Magestade,  porque  quazi  tudo  o  que 
ellas  conthem  toccão  a  matéria  de  Guerra,  e  do  Estado,  que 
V.  Magestade  deue  mandar  resoluer  pela  uia  a  que  tocca.  E  que 
em  cazo  que  se  haia  de  mandar  socorrer  ao  Reino  de  Angola, 
lhe  pareçe,  que  com  menos  dispêndio  da  fazenda  de  V.  Mages- 
taed  se  poderá  fazer  do  estado  do  Brasil,  encarregando  este 
socorro  ao  Gouernador  delle,  porque  julga  que  não  fará  falta  na- 
quelle  estado,  o  tirarsse  delle  a  quantidade  de  gente  que  pede 
o  Gouernador  de  Angola. 

E  que  será  façil  socorrersse  Angola  do  Brasil,  pela  facilidade 
com  que  se  nauega  aquela  trauessia. 

Henrique  Correa  da  Silva,  e  Dom  Miguel  de  Almeida, 
dizem,  que  resoluendo  V.  Magestade  se  será  bem  e  conue- 
mente  a  seu  seruiço  acodir  a  Angola  no  estado  prezente  como 
aquele  Gouernador  pede,  lhes  pareçe  que  do  Rio  de  Janeiro  se 
deue  mandar  parte  da  gente  com  que  se  achar,  e  munições  (que 
igualmente  em  todo  o  Brasil  neceçita  de  escrauos  para  seu  remé- 
dio) sem  que  deste  Reino  se  leue  mais  que  húa  carta  de 
V.  Magestade,  com  todo  o  segredo,  para  que  não  chegue  á 
Olanda  sospeita  algúa  antes  do  effeito.  E  pella  mesma  resão  não 
pareçe  que  se  deue  mandar  á  Bahia,  visto  a  vizinhança  de  Per- 
nãobuco,  aonde  chegará  facilmente  o  auizo. 


79 


Por  maneira  que  mandandosse  do  Rio  de  Janeiro,  e  das 
capitanias  mais  vizinhas,  o  mais  cjue  puder  ser  para  se  fundar 
aquella  çidade,  e  a  fortaleza  esteja  posta  em  deffenção,  quando 
chegar  noua  ao  enimigo,  que  segundo  o  que  o  mesmo  Gouer- 
nador  dis,  não  tem  poder  os  de  Loanda  com  que  o  estornar,  e 
despois  de  feita,  tem  V.  Magestade  resao  de  responder  aos  Es- 
tados que  a  faz  em  terra  sua,  e  de  que  está  de  posse,  sem  que 
tenhão  tomado  algúa  os  olandezes  em  aquelle  çitio,  nem  na  mais 
terra  do  Reino  que  o  Gouernador  conserua. 

E  que  emquanto  se  feser  este  apresto  no  Rio  de  Janeiro  e 
nas  Capitanias  vizinhas,  não  saya  embarcação  algúa  para  qual- 
quer parte  que  seja,  nem  pessoa  que  possa  ir  por  terra  á  Bahia. 
Escreuendo  tão  bem  áquelle  Gouernador  do  Rio,  que  tanto  que 
despedir  este  socorro  para  Angola,  lhe  mandará  V.  Magestade 
deste  Reino  artelhana,  munições  e  gente  que  suppra  ao  que  de 
aly  se  tirou,  porque  o  faça  com  mais  confiança  e  breuidade.  // 

Lisboa,  a  1 9  de  Septembro  de  643 . 

Do  Miguel  de  Almeida  J  Henrique  Correa  da  Silva 
Francisco  de  Carualho 

AHU  —  Cód.  30,  fls.  350-354  v. 


80 


19 


CARTA  DE  SOUSA  COUTINHO 
AO  CONDE  DA  VIDIGUEIRA 

(5- io- 1643) 

SUMÁRIO  —  O  embaixador  português  comunica  a  chegada  dos  em- 
baixadores do  Congo  à  Holanda,  a  fedir  auxílio  contra 
os  portugueses,  para  os  lançarem  de  Angola. 


Aqui  chegarão  huns  embaxadores  de  Congo  que  vé  a  pedir 
ao  pnnçipe  de  Orange  e  ás  Companhias  fauor  para  nos  deitaré  de 
Angola;  fui  auizado  a  que  vinhao  e  começaua  a  enfeitarme 
para  fazer  huá  pratica  aos  Estados,  mas  soube  logo  que  se  lhe 
naõ  admetia  sua  proposta;  não  sej  se  hé  tudo  vertude,  mas  sej 
que  a  Companhia  Ocçidental  está  em  tão  mizerauel  estado,  que 
nao  fará  pouco  em  conseruar  os  gastos  passados,  quanto  mais 
a  entrar  em  outros  de  nouo.  E  se  continua  como  vaj  pareçeme 
que  elles  mesmos  nolo  hão  de  vir  a  pedir  o  que  nós  agora  lhe 
pediremos,  por  o  que  convinha  mais  freima  da  que  se  quer  em 
Portugal,  que  lhe  pareçeo  a  S.  Magestade  e  a  seus  ministros 
que  era  este  negoçio  de  seis  mezes  e  desejando  eu  que  o  fora  de 
muito  menos,  suposto  que  vim  tratar  delle,  não  conforme  a 
Jnstrucção,  senaõ  conforme  ao  que  entendo  que  conué  e  assy  o 
tenho  auizado  a  S.  Magestade.  Não  uejo  outra  couza  que  dizer 
a  V.  Ex.0,a,  a  quem  Deos  guarde  muitos  annos. 

Haja,  em  5  de  Outubro  643. 

BNL  — Ms.  2.666,  fl.  39I  v. 


81 

6 


20 


PARECER  DE  SALVADOR  CORREIA  DE  SÁ 
SOBRE  A  RESTAURAÇÃO  DE  ANGOLA 

(21-10-1643) 


SUMÁRIO  —  Propõe  os  meios  e  a  maneira  como  hão-de  ser  levados 
a  bom  efeito,  para  a  restauração  do  domínio  português. 


Senhor 

Ordename  V.  Magestade  que  diga  o  que  entendo  acerca 
do  Reino  de  Angola,  e  o  modo  que  poderá  auer  no  estado  pre- 
zente  para  o  comercio,  e  que  pessoas  me  parecem  suficientes 
para  a  acção. 

Em  Angola  perseuerão  ainda  oie  na  amizade  dos  Portu- 
guezes  os  negros  que  chamão  iaguas,  temidos  dos  mais  porque 
comem  carne  humana,  e  também  muitos  dos  que  os  moradores 
tinháo  em  seu  poder;  estão  por  V.  Magestade  tres  fortalezas  (J) 
que  ainda  que  pella  terra  adentro  são  de  efeito.  As  pazes  que 
V.  Magestade  tem  feito  com  Olanda,  e  o  estado  das  prezentes 
guerras  não  dão  luguar  a  que  se  obrasse  conforme  o  que  o  olan- 
dez  tem  uzado,  e  não  auendo  de  seguirsse  o  estilo  que  elle  prin- 
cipiou, se  podia  ao  prezente  tratar  de  ir  tomar  porto,  que  será 
mui  conveniente  que  sei  a  no  mesmo  donde  o  gouernador  Pero 
Cezar  estaua  situado  (2),  porque  delle  se  fica  senhoreando 
o  Rio  por  onde  se  vai  ás  conquistas;  para  este  efecto,  por  não 
tirar  gente  deste  Reino  pode  mandar  V.  Magestade  que  do 
prezidio  da  Bahia  se  embarquem  seis  centos  ynfantes,  cuio 
gasto  para  rezeruar  também  que  deste  Reino  se  faça,  pode  ser 
o  mesmo  que  com  elles  se  faz  na  Bahia,  de  que  muita  parte  lhe 


82 


vai  das  Capitanias  de  São  Visente,  e  a  estas  se  há  de  ir  de  cami- 
nho a  prouer  de  mantimentos  e  de  alguns  moradores  de  Sao 
Paulo  com  yndios  frecheiros,  de  que  tem  muita  cantidade.  E 
mandando  V.  Magestade  sinalar  mercês,  como  sao  hábitos  de 
Santiago  e  Auis  e  alguns  foros  de  caualeiros  fidalgos  ás  pes- 
soas que  á  sua  custa  levare  tantos  índios,  será  estimulo  para  que 
se  junte  cantidade,  que  a  esperança  e  certeza  do  premio  será 
competência  a  quem  mais  leuará,  e  esta  gente  hé  de  muita  con- 
sideração para  fazer  guerra  a  EIRey  de  Congo,  que  hé  o  que 
nos  tem  feito  todo  o  dano,  e  seu  sustento  hé  débil  demais  de 
que  hé  importante  para  conduzir  as  munições  e  bastimentos. 

As  embarcações  que  hão  de  levar  esta  gente  me  parece  que 
seria  acertado  fossem  pello  menos  tres  grandes  e  tres  menores, 
porque  pode  suceder  ter  o  olandez  alli  alguns  nauios,  em 
cuio  empenho  será  forsa  que  os  nossos  vão  dispostos  a  se  defen- 
der. 

As  pessoas  que  poderão  ir  a  esta  facção  deste  Reino  sao 
tantas  quanto  eu  com  a  noticia  pouquo  prezente  para  poder 
nomear.  E  assi  seria  fazer  agrauo  a  cada  particular  tratar  deste; 
só  me  parece  que  conuem  que  seia  pessoa  que  tenha  cursado 
conquistas  e  nauegações  porquanto  a  terra  hé  doentia  e  a  jor- 
nada não  pede  descanso. 

Esta  armada  pode  ir  ao  sitio  referido  com  ordem  que  se 
manifeste  sendo  necessário,  em  que  V.  Magestade  mande  se 
tome  porto  para  o  comercio  de  seus  vassalos,  sem  moléstia  do 
olandez  ;e  em  outra  ordem  secreta  pode  V.  Magestade  ordenar 
o  que  mais  conuenha  ao  seu  seruiço,  que  a  guerra  consiste  em 
estratagemas,  e  elles  tem  uzado  muitos.  E  com  os  negros  e 
yndios  se  pode  fazer  facção  de  consideração  e  que  aos  nossos 
lhe  fique  a  disculpa  mui  clara. 

O  que  conuem  muito  ao  Real  Seruiço  de  V.  Magestade  hé 
que  logo  logo  mande  acudir  a  aquelle  Reino  de  Angola,  por- 
que a  gente  das  conquistas  não  hé  de  muitas  obrigações  e  a  tar- 
dança pode  ser  de  muito  prejuízo  ainda  para  o  credito  dos 


83 


negros  amigos,  sendo  da  mesma  maneira  de  muito  a  falta  do 
comercio  de  Angola,  porque  sem  ella  se  prejudica  muito  as 
fazendas  do  Brazil  e  se  aniquila  o  augmento  da  Real  Fazenda, 
assi  no  Brazil  como  neste  Reino.  V.  Magestade  mandará  o  de 
que  mais  for  seruido,  cuia  catholica  pessoa  Nosso  Senhor  guarde 
como  seus  vassallos  auemos  mister. 
Euora  2 1  de  outubro  1 643 . 

Saluador  Correa  de  Sáa  j  Benauides 

AHU  —  Rio  de  Janeiro,  cx.  1 ,  doe.  246. 


84 


(J)  As  fortalezas  da  Muxima,  Massangano  e  Cambambe. 
(2)  A  Barra  do  Bengo. 


21 


PARECER  DE  FRANCISCO  LEITÃO 
SOBRE  A  MISSÃO  DOS  CAPUCHINHOS 

(4-12-1643) 

SUMÁRIO  —  Informações  histórico-geográficas  —  Primeira  evangeliza- 
ção —  Estado  actual  da  cristandade  —  Necessidade  de 
missionários  —  Aprova  a  missão  proposta  para  o  Congo. 


Senor 

Fue  V.  Magestade  seruido  de  mandarme  remitir  con  decreto 
de  24  de  Nouembre  próximo  passado,  el  memorial  incluso  de 
Fray  Buenaventura  de  Alesano,  capuchino,  natural  dei  Reino 
de  Nápoles,  Prefecto  y  comissário  Apostólico,  deputado  por  la 
Congregacion  de  Propaganda  Fide  para  la  mission  dei  Reino 
de  Congo  (*) ;  y  mandame  V.  Magestade  que  reseruadamente 
y  con  todo  secreto  y  breuedad  diga  a  V.  Magestade  lo  que  tengo 
sabido  dei  estado  de  aquel  Reino  y  que  otros  missionanos  hay 
en  el  y  de  que  religiones,  y  si  al  presente  está  debaxo  dei 
Rebelde  de  Portugal  (2),  o  de  Holandeses;  y  que  tambien  diga  a 
V.  Magestade  lo  que  se  me  ofreçiere  desta  mission,  attendiendo 
a  lo  que  en  el  memorial  se  representa,  ya  que  siendo  cosa  de 
tanta  piedad  y  que  podrá  ser  muy  prouechosa  a  la  conuersion 


(*)  Os  documentos  publicados  em  Monumenta,  vol.  VIII  e  os 
que  serão  estampados  neste,  esclarecerão  a  personalidade  do  primeiro 
Prefeito  do  Congo. 

(2)  Assim  apelidavam  os  documentos  espanhóis  o  legítimo  Rei 
de  Portugal,  D.  João  IV  de  Bragança.  Vendido  a  Espanha,  Francisco 
Leitão  procede  de  igual  forma. 

85 


de  aquella  gente  y  a  la  exaltacion  de  la  te  en  aquel  Reino,  hol- 
gará  V.  Magestade  de  poderia  faboreçer  sin  embarazo.  / / 

Por  hauer  yo  seruido  a  V.  Magestade  muchos  anos,  de  Juez 
de  la  índia  Oriental,  Mina,  Brasil,  Angola  y  de  las  mas  con- 
quitas  de  Portugal,  y  en  el  consejo  de  hazienda,  por  donde 
corrian  las  cossas  de  aquellas  partes,  he  tenido  noticias  delias 
hasta  quando  se  rebelo  aquel  Reino,  y  por  las  comissiones  y  ocu- 
paciones  que  de  ordenes  de  V.  Magestade  he  tenido  despues  de 
la  rebelion,  he  entendido  lo  que  toca  a  la  matéria  contenida  en 
el  decreto  referido.  / / 

La  cabeça  dei  Reino  de  Dongo,  que  vulgarmente  se  llama 
Angola,  es  la  ciudad  de  San  Pablo  de  Loanda,  que  passada  la 
linea  equinocial,  está  situada  en  quase  ocho  grados  dela  parte 
dei  sul  (que  es  la  misma  altura  en  que  se  halla  en  el  Brasil  el 
cabo  de  San  Agustin)  serca  de  una  grande  bahia  que  alh  haçe 
el  oceano,  muy  abrigada  de  los  vientos  para  toda  suerte  de 
embarcaciones,  y  mui  abundante  de  vários  pescados  de  que  se 
proué  toda  la  gente  de  la  tierra;  en  aquella  Ciudad  residian  siem- 
pre  los  gouernadores  que  V.  Magestade  imbiaua  a  Angola  y 
por  alli  se  hacia  el  maior  rescate  y  cargacion  de  esclauos  negros 
para  las  índias  ocidentales;  de  suerte  que  en  los  últimos  anos 
antes  dei  rebelion  que  alli  estuuo  por  Gouernador  Francisco 
de  Vasconzelos  de  Acuna,  (3),  solian  cargarse  dies  mil  esclauos 
un  ano  por  otro,  y  antigamente  se  cargauan  mas,  los  quales  se 
rescatauan  de  la  tierra  adentro,  adonde  los  negros  (que  todos 
son  gentiles  y  adoran  varias  cosas  y  criaturas,  sin  conocimiento 
dei  verdadero  Dios)  pnncipalmente  los  Jagas,  los  cautiuan  en  las 


(3)  Recebeu  carta  patente  de  governador,  por  três  anos  e  o  mais 
tempo  que  el-rei  o  houvesse  por  bem  c  não  mandasse  o  contrário,  com 
data  de  23  de  Março  de  1634.  —  Ali-  Chancelaria  de  D.  Filipe  III, 
liv.  32,  fl.  149  v.  Foi  o  primeiro  que  teve  patente  por  três  anos  e  ainda 
o  primeiro  que  usou  o  rímlo  de  Governador  e  Capitão-mor  do  reino  de 
Angola. 


86 


guerras  que  hacen  con  muchos  millares  de  flecheros,  siendo  su 
crueldad  igual,  porque  ay  capitan  que  domina  y  sugeta  quinien- 
tos  mil  hombres  (4),  y  parte  de  los  cautiuos  comen,  porque 
(aunque  ay  otras  carnes  y  cosas  de  que  sustentarse)  tienen  car- 
nicenas  publicas  de  carne  humana,  y  los  otros  venden  a  nosotros, 
que  se  los  rescatamos  por  ropas  y  otros  géneros,  por  médio  de 
Negros  pumberos  de  confiança,  que  de  San  Pablo  de  Loanda 
se  imbian  a  los  pumbos  (5)  que  es  lo  mismo  que  ferias,  las 
quales  se  haçen  muy  lexos  la  tierra  adentro  y  los  rescatados  se 
baptisan  despues.  Por  la  misma  tierra  adentro,  aunque  no  tan 
lexos,  ay  algunas  poblaciones  que  los  nuestros  hicieron  antigua- 
mente,  com  presídios  de  Portugueses,  de  que  los  principales  se 
llaman  la  Assumpcion  (6),  Cambambe  (7),  Ango  (8)  y  Mas- 
sangano  (°)  todo  sugeto  al  dicho  gouernador  de  Angola,  a 
quien  aquella  gentilidad  respetaua  y  temia  mucho  como  lugar 
temente  de  V.  Magestade,  a  quien  llaman  el  Gran  Senor  hijo 
dei  Sol;  y  por  la  misma  costa  de  la  mar  hazia  el  Cabo  de  Espe- 


(4)  Exagero  evidente. 

(5)  Pumbo  significa  feira  ou  mercado  e  pumbeiro  o  comerciante 
sertanejo  que  se  internava  no  mato  em  busca  dos  escravos  e  outras  mer- 
cadorias. 

(6)  Referência  ao  presídio  de  Ambaca,  fundado  pelo  governador 
Luís  Mendes  de  Vasconcelos,  em  substituição  do  presídio  de  Ango. 
Cfr.  Monumenta,  VI,  p.  369. 

(7)  Fundado  por  D.  Manuel  Cerveira  Pereira  (1603- 1604).  As 
ruínas  da  fortaleza  e  a  capela  de  Nossa  Senhora  do  Rosário  são  monu- 
mento nacional.  Cfr.  Monumenta,  IV,  p.  144-145,  onde  por  lapso  saiu 
uma  fotogravura  com  a  legenda  errada  de  Ruínas  da  Sé  de  S.  Salvador 
do  Congo  —  Vista  geral,  devendo  ler-se:  Ruínas  da  Fortaleza  e  Capela 
de  N.  Senhora  do  Rosário  de  Cambambe  —  Vista  geral. 

(8)  O  presídio  de  S.  Bento  de  Ango  fora  fundado  por  Bento 
Banha  Cardoso  (1611-1615). 

(9)  Fundado  pelo  primeiro  conquistador  de  Angola,  Paulo  Dias 
de  Novais,  em  1583. 


rança  ay  una  villa  llamada  Beng[u]ela  (10),  con  gouernador  de 
por  sj,  poueido  por  V.  Magestade.  / / 

El  Reino  de  Congo,  de  que  trata  el  decreto  referido  de  V. 
Magestade,  aunque  viene  a  confinar  con  el  de  Dongo,  está 
mas  serca  de  la  Equinocial  y  la  ciudad  adonde  reside  El  Rey 
dista  de  la  Ciudad  de  San  Pablo  de  dicha  Loanda  cosa  de  ochenta 
léguas  al  Norte;  en  tiempo  dei  senor  Rey  Don  Juan  el  2°  de 
Portugal  se  intento  la  conuersion  de  quel  Reino  por  médio  de 
las  armas  y  se  edificaron  templos  y  El  Rey  que  entonces  era  de 
Congo  se  conuertio  a  Nuestra  fe,  cerca  de  los  anos  de  1490  ("), 
la  qual  por  la  bondad  diuina  nunca  ya  mas  se  acabo  alli,  si  bien 
tuuo  augmentos  y  diminuiciones,  por  lo  qual  los  Senores  Reyes 
antecessores  de  V.  Magestade  hiçieron  en  diuersos  tiempos  y 
ocasiones  muchas  honras  y  fauores  a  los  Reyes  Christianos  de 
aquel  Reino,  que  siempre  se  jactaron  de  hermanos  en  armas  de 
los  Senores  Reyes  de  Portugal. 

Su  Reino  es  mui  grande,  no  tanto  por  la  onlla  de  la  mar, 
quanto  por  la  tierra  adentro,  y  la  gente  mucha,  y  suele  poner  en 
campo  ochenta  y  cien  mil  negros  flecheros  desnudos  y  otros 
tambien  usan  de  escudos  o  rodelas  grandes  con  otras  armas  y 
algunos  visten  cueros  por  delante,  en  tiempo  de  guerras;  en  los 
últimos  20  anos,  antes  dei  rebelion  de  Portugal,  huuo  alh  tres 
o  quatro  Reies  successiuamente  (12),  y  el  ultimo  dellos  fue 


(10)  Fundada  por  D.  Manuel  Cerveira  Pereira. 

(n)  Nzinga  Nkuvu  tomou  o  nome  cristão  de  D.  João  I,  em  honra 
dc  D.  João  II  de  Portugal,  quando  recebeu  a  água  do  baptismo,  em  3 
de  Maio  de  1491. 

(12)  Os  reis  do  Congo  dc  1620  a  1640  foram  os  seguintes: 

D.  Álvaro  III  (fi622);  D.  Pedro  Afonso  II  (26-5-1622  a  13  de 
Abril  de  1624);  D.  Garcia  I  (27-4-1624  a  1626);  D.  Ambrósio  I 
(1626-1631);   D.   Álvaro   IV   (1631-1636);   D.  Álvaro  V  (1636); 


88 


muerto  con  veneno,  que  los  negros  de  aquellas  partes  no  son 
mui  fieles  y  entonces  se  leuantó  un  panente  dei  muerto  a  tirani- 
sar  el  Reino  con  mucha  gente  cjue  le  seguió,  y  porque  la  succes- 
sion  pertencia  legitimamente  ad  Duque  de  Bamba,  panente 
mas  sercano,  se  resoluio  en  oponerse  al  leuantado,  para  lo  qual 
imbió  a  consultar  sobre  la  matéria  al  gouernador  de  Angola  y 
a  los  Religiosos  de  la  Compania  de  Jesus  residentes  en  la  ciudad 
de  San  Paulo,  que  reconocido  su  derecho  le  aprouaron  el  intento 
(y  tambien  este  era  buen  chnstiano)  y  temendo  mas  gente  el 
leuandado,  le  dio  batalha  en  la  qual  fue  Dios  seruido  que  pre- 
ualeciese  la  justicia  de  la  causa,  quedando  victorioso  el  de  Bamba, 
que  mato  treinta  mil  hombres  en  la  refriega  e  cogiendo  en  ella 
al  leuantado  le  mando  açotar  por  el  exercito  y  despues  hacer 
quartos  y  quemarlos,  con  lo  qual  se  quedo  Rey  pacifico  de 
Congo  y  en  buena  correspondência  con  nosotros  (13).  Este  viuia 
poco  antes  de  la  rebelion  y  no  sé  si  aun  viue  (14) . 

De  muy  longos  tiempos  a  esta  parte  tienen  los  Reyes  de 
Congo  demas  de  otros  templos,  Igresia  mayor  Catredal  en 
aquella  Ciudad,  adonde  residen,  y  en  ella  canonigos  (1S)  que 
solian  ser  Sacerdotes  Portugueses  y  por  escuela  y  doctnna  de  los 
nuestros  y  constância  de  los  mismos  Reyes,  se  fueron  ensenando 
alguns  muchachos  negros  de  maior  ingenio  y  porque  llegaron 
a  saber  bien  la  lengua  latina  y  casos  de  conciencia  y  aun  mas, 
fueron  ordenados,  por  lo  qual  hauia  tambien  Sacerdotes  negros 
y  algunos  seruian  en  Ia  misma  Cathredal  adonde  se  dizian  las 


D.  Álvaro  VI  (1636-1641).  Cfr.  Francisco  Leite  de  Faria,  O.  F.  Cap., 
A  Situação  de  Angola  e  Congo  apreciada  em  Madrid  em  1634,  em 
Portugal  em  Africa,  1952  (IX),  p.  241  n.  (17). 

(13)  Assim  foi  eleito  D.  Álvaro  VI. 

(14)  Em  3  de  Julho  de  1641  era  já  falecido,  envenenado.  Os  auto- 
res estão  de  acordo  que  morrera  em  22  de  Fevereiro  do  mesmo  ano. 

(15)  Sobre  a  erecção  da  diocese  do  Congo  cfr.  Monumenta,  III, 
f  as  sim. 

89 


missas,  celebrauan  las  fiestas  y  cantauan  los  ofícios  diurnos  con 
decência,  porque  a  no  poços  de  los  mtsmos  se  ensino  la  musica, 
con  que  el  culto  diuino  llegó  a  estar  de  suerte  que  recibian 
todos  mucha  edificacion  y  consuelo.  Al  senor  Rey  don  Phe- 
lippe,  padre  de  V.  Magestade  que  está  en  gloria,  imbió  El  Rey 
que  entonces  era  de  Congo  un  embaxador  de  la  pnmera  noblesa 
de  su  Reino,  a  que  llamauan  Pedro  y  otro  por  nombre  Antonio, 
al  Summo  Pontífice  Paulo  5.  Eran  muy  bien  entendidos  y  sa- 
bian  la  lengua  latina  y  portuguesa  y  vinieron  a  procurar  entre 
otras  cosas,  predicadores  y  médios  para  la  conuersion  de  las  almas 
y  aumento  de  Nuestra  Sagrada  religion  y  fe  catholica,  con 
grande  afecto:  Muno  el  Pedro  en  Lisboa  no  bien  proueido,  y  el 
Antonio  em  Roma  en  el  mismo  Palacio  de  Su  Santidad,  que 
por  su  propia  mano  le  hacia  grandes  chandades  en  la  enferme- 
dad  (16). 

No  dexaua  de  auer  en  Congo  echicenas  a  que  la  gentilidad 
es  acostumbrada  y  otros  pecados  procedidos  de  luxuria  y  algunos 
casados  tenian  dos  mugeres,  por  ventura  mas  por  vicio  que  por 
sentir  mal  dei  sacramento  dei  matrimonio  y  hauia  clérigos  que  les 
dauan  con  su  vida  mal  exemplo;  tenia  aquella  cathredal  obispo 
Português  presentado  por  V.  Magestade,  pagauanse  las  Bulias 
Appostohcas  de  la  Real  hacienda,  como  las  de  los  demas  obispa- 
dos  ultramarinos,  y  en  sagrandose  iua  de  Lisboa  a  su  obispado; 
pero  deuiendo  residir  en  aquella  Igresia  de  Congo,  se  dexauan 
quedar  en  dicha  Ciudad  de  San  Pablo  de  Loanda  en  Angola  (17), 
o  por  miedo  dei  veneno  que  podian  temer  de  los  que  huuiesen 


(l0)  Cfr.  Monumenta,  V,  passim. 

(17)  A  afirmação  é  errónea,  embora  vulgarizadíssima.  Todos  os 
Bispos  do  Congo  até  D.  Francisco  do  Soveral  residiram,  ao  menos  por 
algum  tempo,  em  S.  Salvador,  sede  da  diocese,  e  alguns  até  ali  morreram 
e  deixaram  os  ossos. 


90 


de  reformar  y  castigar  (18),  o  dei  clima  y  incomodidades  de  la 
tierra,  o  por  tener  en  San  Pablo  mas  regalo  y  médios  de  hazer 
hacienda  por  rescates  y  negociaciones,  como  lo  hiço  el  obispo 
ímmediato  antecessor  dei  que  viuia  alli  quando  se  rebelo  Por- 
tugal, que  siendo  religioso  de  San  Francisco,  hermano  dei  Se- 
cretario Christoual  Suares,  no  dexó  poca  hacienda  y  por  se  hauer 
muerte  alia  (19),  nombró  V.  Magestade  para  obispo  a  Don 
Francisco  de  Soueral,  Canonigo  regular  de  san  Agustin  de  la 
congregacion  de  Santa  Crus  de  Coimbra,  y  despues  de  confir- 
mado y  sagrado  fue  àquellas  partes  [h]a  muchos  anos  (20) 
y  se  dexó  quedar  en  San  Pablo  de  Loanda  como  los  demas  sin 
ir  a  sua  Iglesia  de  Congo,  aunque  El  Rey  con  multiplicadas  ins- 
tancias procuraua  que  fuese  (21),  pero  no  tengo  verdadera  noti- 
cia que  tratase  de  acquirir  haçienda  por  comércios  (22),  ni  si  es 
viuo,  o  muerto  (23). 

Quando  Portugal  se  rebelo  era  gouernador  de  Angola  por 
V.  Magestade  Pedro  Cesar  de  Meneses  (24),  y  hauiendo  fal- 


(18)  D.  Frei  Simão  Mascarenhas  faleceu  envenenado,  em  S.  Sal- 
vador, crime  de  que  foram  acusados  dois  cónegos  da  sua  Sé,  pelo  que 
foram  presos  e  enviados  para  Lisboa.  Cfr.  Monttmenta,  VII,  passim. 
Os  cónegos  incriminados  chamavam-se  André  Cordeiro  e  Brás  Correia. 

(19)  O  Bispo  do  Congo,  irmão  do  secretário  Cristóvão  Soares,  foi 
D.  Frei  Manuel  Baptista  Soares.  Faleceu  em  Lisboa,  em  Abril  de  1620. 

(20)  O  Bispo  Soveral  foi  transferido  de  S.  Tomé  para  o  Congo, 
chegando  a  Luanda  em  7  de  Agosto  de  1628. 

(21)  Não  parece  que  D.  Francisco  do  Soveral  tenha  visitado  o 
Congo,  onde  tinha  um  Vigário  Geral.  É  o  que  se  depreende  dos  dois 
documentos  de  visita  ad  sacra  limina,  de  1631  e  de  1640,  publicados  em 
Monumenta,  VIII. 

(22)  Não  consta  documentalmente  que  o  Bispo  se  desse  a  activi- 
dades comerciais.  Morreu  mesmo  com  fama  de  santo. 

(23)  Faleceu  em  4  de  Janeiro  de  1642.  Cfr.  Monumenta,  VII,  p.  88. 

(24)  Teve  carta  patente  de  21  de  Janeiro  de  1639,  por  três  anos. 
—  ATT  -  Chancelaria  de  D.  Filipe  III,  liv.  36,  f  1.  74.  Chegou  a  Luanda 
em  18  de  Outubro  e  foi  preso  pelos  holandeses,  em  17  de  Maio  de 
1634,  na  traição  do  Gango. 


9l 


tado  al  homenage  y  juramento  de  fidelidad  que  hiço  a  V.  Ma- 
gestad,  porque  dio  la  obediência  al  Rebelde  de  Portugal  (25), 
fueron  allá  los  olandeses  y  se  hiçieron  duenos  de  la  misma  ciu- 
dad  de  San  Pablo  adonde  residia  y  la  saquearon  y  el  gouernador 
y  Portugueses  huieron  la  tierra  adentro,  y  si  las  ultimas  nueuas 
que  dan  de  Portugal  y  de  sus  conquistas  los  que  ha  poco  tiempo 
vinieron  de  allá  son  verdaderas  (como  es  mas  creible  que  lo  son) 
aun  estas  cossas  estauan  de  próximo  en  el  mismo  estado;  y  en 
aquella  ciudad  de  San  Pablo  de  Loanda  auian  solamente  dos 
casas  de  religiosos,  la  una  era  de  la  tercera  orden  de  San  Fran- 
cisco llamada  de  la  Penitencia,  que  no  attendia  a  mission  nin- 
guna,  si  no  a  predicar,  decir  missas  y  oir  confessiones  en  la 
ciudad  (26) :  y  la  otra  de  Religiosos  de  la  Compania  de  Jesus,  que 
con  algunas  herencias  y  tierras  que  se  les  auian  dado  para  cul- 
tiuar,  estauan  bien  acomodados,  y  de  alli  íuan  algunos  a  Congo 
adonde  tenian  una  casa  de  su  residência  y  eran  bien  vistos  dei 
Rey  que  no  tenia  otros  missionários  (2T) . 

Por  ser  muy  grande  el  Reino  de  Congo  y  la  gente  muchis- 
sima,  bien  se  dexa  ver  que  la  miez  es  mucha  y  los  obreros  poços, 
y  que  por  causa  dei  rebelion  de  Portugal,  no  iran  alia  de  nueuo 
ministros  dei  evangelio  (28),  por  lo  qual,  no  solamente  cessará 


(2S)  A  novidade  da  aclamação  de  D.  João  IV  e  restauração  polí- 
tica e  soberana  de  Portugal  foi  levada  a  Angola  por  Manuel  Carvalho 
Lopes,  com  carta  de  D.  João  IV,  datada  em  19  de  Dezembro  de  1640. 
Em  26  de  Abril  de  1641  foi  D.  João  IV  solenemente  aclamado  em 
Luanda.  Vid.  o  nosso  artigo  de  Letras  e  Artes  do  diário  «Novidades» 
de  Lisboa,  de  24  de  Novembro  de  1940  e  Monumenta,  VIII,  p.  501. 

(28)  Este  convento  foi  fundado  em  21  de  Abril  de  1606.  Cfr. 
Monumenta,  V,  p.  176. 

(27)  A  casa  dos  Jesuítas  no  Congo  foi  fundada  em  1623. 

(28)  Antes  da  revolta  de  Portugal,  de  que  fala  Leitão,  as  preo- 
cupações apostólicas  dos  reis  de  Espanha  eram  mínimas,  como  se  quei- 
xam os  Bispos  nos  seus  relatórios  à  Santa  Sé. 

92 


la  predicacion  evangélica  y  conuersion  He  las  almas,  sino  se  per- 
derá la  christiandad  que  hauia,  por  no  hauer  quien  la  cultiue  y 
arranque  los  abrojos  de  los  vícios,  está  expuesta  a  las  doctrinas 
heréticas  que  el  Appostol  San  Pablo  dixo  que  suelen  e[s] cindir 
como  câncer:  y  esto  se  puede  temer  mas  en  la  mucha  ignorân- 
cia, facilidad  de  aquellas  gentes,  estando  destituídas  de  padres 
y  maestros  que  los  ensenen  y  adiestren;  y  assi  tengo  por  cosa 
muy  digna  dei  santo  zelo  y  Cathohca  piedad  de  V.  Magestad 
admitir  la  propuesta  desta  mission,  en  que  a  mi  parecer  se  va  a 
ganar  mucho  a  poca  costa  y  que  demas  de  ser  agradable  a  la 
diuina  Magestad;  verá  el  mundo  que  agora  como  siempre  (29) 
muestra  V.  Magestad  ser  verdadero  Rey  de  Portugal,  pues 
que  en  el  mismo  tiempo  que  los  Rebeldes  le  hechan  a  perder  y 
a  sus  conquistas,  no  se  oluida  V.  Magestad,  entre  tantos  cui- 
dados y  aprietos  de  la  Monarquia,  de  lo  que  mas  importa  como 
buen  Rey,  Padre  y  Senor,  que  es  la  honra  de  Dios,  Ia  propa- 
gacion  de  la  santa  fe,  y  el  bien  y  saluacion  de  tantas  almas  de 
aquel  tan  dilatado  Reino,  que  es  lo  mismo  que  los  Senores  Reyes 
predecessores  de  V.  Magestad  tuuieron  en  sus  coraçones:  y  se 
puede  esperar  de  la  bondad  y  misericórdia  diuina  que  por  esto 
mismo  dará  a  V.  Magestad  las  victonas,  reduciones  de  sus  Rei- 
nos, y  las  felicidades  que  sus  heles  vassallos  deseamos.  / / 

Por  esto  me  parece  que  V.  Magestad  se  deue  seruir  de 
mandar  dar  a  estos  Religiosos  (30)  licencia  y  embarcacion  y  lo 
demas  necessário  par  el  viaje  y  animar  les  mucho  para  tan  santa 


(29)  Sim,  nesta  altura,  como  siempre,  mostrou  o  Rei  de  Espanha 
quem  era  a  respeito  de  Portugal.  Somente  o  seu  zelo  missionário  soava 
falso.  Leitão  bem  o  sabia. 

(30)  O  zelo  tardio  do  Rei  de  Espanha  pela  propagação  da  fé  cató- 
lica no  Congo,  na  conjuntura  em  que  ele  se  revelava,  era  mais  político 
que  autenticamente  religioso.  O  que  desejava  e  tentou  por  todos  os 
modos,  foi  colocar  os  missionários  ao  serviço  da  sua  política  anri-portu- 
guesa. 


93 


empresa,  y  siendo  (como  dicen)  (31)  vassallos  de  V.  Magestad, 
no  se  puede  temer  dano  considerable;  y  para  el  caso  fortuito  que 
arriben  a  índias,  será  V.  Magestad  seruido  de  mandarles  dar  la 
recomendacion  que  piden,  encargandose  que  se  procure  con 
todo  esfuerço  y  valor  effectuar  la  mission,  y  no  arribar,  o  ir  a  otra 
parte  con  qualquier  pretexto;  y  con  ellos  se  podrá  dar  a  entender 
al  Rey  de  Congo  que  aunque  el  de  Bragança  tenga  tiranisado 
a  Portugal,  espera  V.  Magestad  reduçir  aquel  Reino  breuemente 
a  su  obediência  y  hacer  continuar  la  nauegacion  y  comercio  de 
aquellas  partes  y  assistirle  mejor  que  de  antes,  y  que  mientras 
esto  tiene  efeto,  mantenga  la  amistad  y  buena  correspondência, 
y  que  se  imbian  estos  ministros  dei  evangelio,  para  que  no  se 
sienta  falta  en  lo  que  toca  a  la  religion,  cuio  augmento  se  espera 
por  médio  de  su  attencion  y  cuidado,  y  que  a  estos  religiosos 
mandará  haçer  el  acogimiento  y  dar  todo  el  fauor  que  merecen 
por  siervos  de  Dios  y  vassallos  de  V.  Magestad  imbiados  para 
este  efeto.  / / 

Y  porque  no  pueden  estos  missionários  ir  aportar  a  la  Baia 
de  San  Pablo  de  Loanda  como  de  antes  se  solia  hacer,  por  estar 
ocupada  de  Holandeses  y  la  tierra  adentro  de  Angola  con  rebel- 
des Portugueses,  que  tambien  se  auian  rebelado;  soi  de  parecer 
que  la  embarcacion  en  que  fueren  haçer  este  viaje  sea  pequena, 
porque  la  gente  es  poca  y  huirá  mejor  a  los  enemigos  y  assi  se 
podran  hacer  mas  breuemente  y  porque  demandará  menos  agua 
podrá  entrar  y  desembarcar  en  alguna  de  las  ensenadas  de  la 
costa  de  Congo,  aunque  suelen  hallarse  Holandeses  en  algunas, 
segun  los  tiempos,  en  raçon  dei  rescate  dei  marfil,  de  que  ay 
mucho  en  aquella  tierra,  por  la  grande  abundância  de  Elefantes 


(31)  Trata-se  dos  membros  da  primeira  missão  de  Padres  Capu- 
chinhos. Não  eram  todos  súbditos  do  Rei  de  Espanha,  embora  fossem 
todos  italianos,  com  excepção  de  Frei  Ângelo  de  Nancy.  A  descon- 
fiança dc  Leitão  tinha,  pois,  fundamento. 


94 


y  algun  âmbar,  y  no  por  plata  ni  oro,  porque  los  negros  de 
aquellas  no  le  tienen  como  en  la  Mina  (*2),  que  queda  antes 
de  la  equinocial  y  lo  mas  tractauel  de  su  dinero  a  que  llaman 
zumbo  consiste  en  unos  caramechos  (34)  muy  menudos 
que  sacan  de  la  mar  y  tienen  una  mui  grande  mina  de  cobre 
de  que  no  usan  (sobre  que  se  ha  escrito  mucho)  cerca  dei  grande 
Rio  Zaire,  que  por  sus  tierras  sale  tan  furioso  a  la  mar,  que  no 
dando  lugar  a  la  nauegacion  entra  tan  furioso  por  la  mar  que  en 
ella  se  toma  agua  dulçe  muchas  léguas  fuera  de  la  costa:  y  con 
ser  la  embarcacion  pequena  quedará  menos  ocasion  al  maestre, 
piloto  y  manneros  de  hacer  algun  considerable  rescate,  con  que 
se  quieran  haçer  derrotados  a  índias  por  sus  enteresses,  hechando 
por  ventura  a  perder  la  mission  y  seruicio  de  Dios  por  esta 
causa.  V.  Magestad  mandará  lo  que  mas  conuenga.  / / 
Madrid,  4  de  deziembre  de  1 643.  / / 

Francisco  Leiton 

AGS  —  Secretarias  Provinciales,  Maço  2639.  —  Publicado  tam- 
bém pelo  R.  P.  Leite  de  Faria  em  Portugal  em  Africa,  1952,  p.  240 
e  sgs. 


(32)  A  fortaleza  da  Mina  foi  conquistada  pelos  holandeses  em 
fins  de  Agosto  de  1637. 

(33)  Geralmente  escreve-se  «zimbo»  ou  «jimbo». 

(34)  Não  encontramos  este  vocábulo  nos  melhores  dicionários. 


95 


22 


CONSULTA  DO  CONSELHO  DE  ESTADO 
SOBRE  A  MISSÃO  DO  CONGO 

(6- 12- 1643) 


SUMÁRIO  —  Dá  o  seu  parecer  sobre  um  memorial  de  Frei  Boaventura 
de  Alessano,  pedindo  embarcação  ao  Rei  de  Espanha  para 
se  dirigir  à  nova  missão  do  reino  do  Congo. 


Senor 

Fray  Buenaventura  de  Alesano,  Prefecto  de  la  mision  de 
Congo  y  sus  Companeros,  Capuchinos,  han  representado  a  V. 
Magestad  en  vn  memorial  que  se  ha  visto  en  el  Consejo  de 
Estado,  que  ellos  con  ceio  de  caridad  y  de  la  conversion  de  Ias 
almas,  desean  pasar  a  Ia  mision  de  Congo  a  este  fin,  con  la 
licencia  que  tienen  de  su  Santidad,  hauiendo  precedido  aproba- 
cion  de  la  Congregacion  de  Propaganda  Fide  y  obediência  de 
su  General,  y  para  poder  executar  este  deseo  suphcan  a  V.  Ma- 
gestad se  sirua  de  socorrerles  con  alguna  embarcacion  de  las 
que  hagan  menos  falta  al  seruicio  de  V.  Magestad. 

Al  Consejo  pareçe  que  el  intento  destos  religiosos  merece 
ser  muj  favorecido  de  la  piedad  y  real  clemência  de  V.  Mages- 
tad, por  el  fin  a  que  se  encamina.  Y  para  esto  podna  V.  Ma- 
gestad seruirse  de  mandar  dar  a  estos  religiosos  ochocientos  o  mil 
ducados  de  limosna  por  vna  vez,  y  carta  para  el  Duque  de 
Nájera,  Capitan  General  de  la  armada  dei  mar  oceano,  dicien- 
dole  a  lo  que  van  y  encargandole  que  sin  empenar  el  nombre 
de  V.  Magestad  en  esta  mision,  les  asista  con  su  favor  y  pro- 
teccion,  para  que  puedan  executar  el  santo  intento  que  lleuan, 

96 


alentando  los  médios  que  Ie  propusiercn,  de  manera  que 
hacer  su  viage  sin  detencion.  / / 

Çaragoza,  6  de  Diziembre  1 643 . 

(Duas  rubricas) 


AGS  —  Estado,  Maço  2806. 


23 


CÉDULA  DE  FILIPE  IV  DE  ESPANHA 
A  FR.  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 

(1-1-1644) 


SUMÁRIO  —  Manda  dar  assistência  a  Fr.  Boaventura  de  Alessano  e 
seus  Confrades,  para  chegarem  ao  destino  a  que  tinham 
sido  enviados  feia  Congregação  da  Propaganda  Vide. 


EL  REY 

Duque  de  Nájara,  Primo,  de  mi  Consejo  de  Estado,  Capi- 
tán  General  de  mi  armada  dei  mar  Oceano,  de  parte  de  Fr. 
Buenaventura  de  Alesano,  Prefecto  de  la  mision  de  Congo,  y 
sus  companeros  Capuchinos,  se  me  ha  representado  que  lleuados 
dei  ceio  i  chandad  de  la  conuersion  de  las  almas,  desean  pasar 
a  la  mision  de  Congo,  para  que  tienen  licencia  de  Su  Santidad, 
auiendo  precedido  aprobacion  de  la  Congregacion  de  Propa- 
ganda Fide,  i  obediência  de  su  General.  Y  para  poner  en  eje- 
cucion  su  intento,  me  han  suplicado  fuese  seruido  de  mandarles 
dar  alguna  embarcacion  en  que  hacer  su  viage.  / / 

Y  siendo  tan  digno  de  la  piedad  christiana  fauorecer  intento 
que  se  encamina  a  conuersion  de  las  almas  i  mayor  dilatacion  de 
nuestra  sagrada  Religion  Católica,  os  encargo,  que  sin  empe- 
nar mi  nombre  en  esta  mision  (1),  asistais  a  estos  Religiosos 
con  vuestra  proteccion,   fauoreciendolos  mucho  y  dandoles 


(x)  Certamente  por  motivos  políticos.  Filipe  IV  não  duvidava 
de  que  o  Congo,  desde  1  de  Dezembro  de  1640,  não  fazia  parte  da 
soberania  espanhola. 

98 


alguna  embarcacion,  para  que  puedan  ejecutar  cl  santo  intento 
que  lleuan,  allentando  los  médios  que  os  propusieren,  de  ma- 
nera  que  puedan  hacer  su  viage  sin  detencion,  que  io  holgaré 
de  todo  lo  que  en  esto  hiciéredes.  / / 

De  Madrid,  a  pnmero  de  henero  de  1644. 

Yo  El  Rey 

APF.  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  148-148  v. 

NOTA  —  Em  8  de  Fevereiro  o  mesmo  Monarca  reforçava  com 
outra  a  Cédula  precedente,  nestes  termos: 

EL  REY 

Por  quanto  Fr.  Buenaventura  de  Alesano  y  otros  Religiosos  Capu- 
chinos  sus  Companeros,  mouidos  dei  ceio  de  la  exaltacion  de  la  Reli- 
gion  Católica,  van  por  orden  de  Su  Santidad  y  de  la  Congregacion 
de  Propaganda  Fide  a  predicar  y  ensenar  el  Santo  Euangelio  en  el 
Reyno  de  Congo,  ordeno  y  mando  a  qualesquier  mis  Gouernadores 
y  Ministros  de  qualesquier  partes  y  puertos  de  mi  dominio,  que  por 
accidentes  dei  tiempo  o  outros  llegaren,  los  reciban  benignamente  y  los 
aiuden  a  su  buena  y  breue  expedicion,  de  suerte  que  se  asista  y  acuda 
a  tan  santa  obra,  que  assi  es  mi  uoluntad,  y  seré  en  ello  seruido.  / / 

Yo  El  Rey 
Andres  de  Rosas 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  a  158. 
AGS  —  Estado,  Maço  2809. 


99 


24 


CARTA  DE  FR.  BOAVENTURA  DE  CERDE5JA 
E  FR.  JOÃO  DE  SANTIAGO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(11-1-1644) 

SUMÁRIO  —  Tendo  sido  examinados  for  confrades  doutos  e  zelosos, 
fedem  a  graça  de  serem  agregados  à  missão  chefiada  for 
Frei  Boaventura  de  Alessano,  fara  o  Reino  do  Congo. 

Ill.mo  y  R.ffi0  Sr. 

Fr.  Buenaventura  de  Cerdena,  Predicador  y  lector  de  theo- 
logía,  y  Fr.  Juan  de  Santiago,  Sacerdote,  Religiosos  Capuchinos 
de  esta  Prouincia  de  la  Encarnacion  de  Castilla,  mouidos  de  la 
honrra  y  gloria  de  Dios  nuestro  Senor  y  zelo  de  la  conuersion 
y  saluacion  de  las  almas,  desseamos  con  viuas  ânsias  correspon- 
der a  los  diuinos  impulsos,  que  su  diurna  Magestad  nos  da  de 
ponerlo  en  execucion,  acompanando  en  esta  empressa  al  R.  P. 
fr.  Buenauentura  de  Alessano,  Predicador  de  la  mesma  Orden, 
de  la  Prouincia  de  Roma,  y  Prefecto  destinado  por  la  sacra 
Congregacion  de  Propaganda  Fide  para  la  mission  de  el  Congo, 
que  al  presente  se  halla  en  esta  Corte.  / / 

Y  despues  de  hauerlo  considerado  atentamente,  encomen- 
dadolo  a  Dios  y  consultadolo  con  muchos  Religiosos  doctos, 
prudentes,  zelosos  y  virtuosos,  y  ellos  examinado  nuestros  im- 
pulsos y  motiuos,  y  las  demas  circunstancias  que  para  empressa 
tan  árdua  se  requieren,  a  todos  ha  parecido  ser  la  vocacion  de 
Dios,  y  que  su  execucion  seria  muy  dei  seruicio  de  su  diuina 
Majestad  y  fruto  de  tantas  almas,  que  por  falta  de  obreros 
euangelicos  perezen  y  se  condenan.  / / 


100 


Y  hauiendoselo  representado  al  dicho  P.  Prefecto  y  él  infor- 
mandose  de  muchos  Religiosos  graues,  doctos  y  santos,  en  orden 
a  nuestra  vida  y  costumbres  y  de  todo  lo  demas  que  para  dicho 
ministério  se  requiere,  desea  con  efhcacia  tenga  effecto  nuestra 
pretension,  ofreciendonos  informaria  de  todo  a  V.  S.  Ill.m*  y  le 
suplicaria  nos  faboreciese  con  la  licencia  de  la  sacra  Congrega- 
cion.  / / 

Por  todo  lo  qual,  desconfiando  de  nuestra  fragilidad  y  con- 
fiados en  Dios  nuestro  Senor,  que  pues  nos  da  los  desseos,  no 
nos  negará  el  caudal  y  sufficiencia,  la  fortaleza  y  auxílios,  pros- 
trados a  los  pies  de  V.  S.  Ill.ma  humildemente  le  suplicamos  por 
las  entranas  de  Dios  sea  seruido  faborecernos  en  tan  santo  inten- 
to, alcançandonos  la  dicha  licencia  de  la  sacra  Congregacion, 
para  que  acompanemos  en  la  dicha  mission  el  sobredicho  Padre 
Prefecto,  supuesto  él  lo  juzga  por  conueniente,  a  cuyo  informe 
nos  remitimos,  que  en  ello  recuaremos  singular  fabor  y  merced 
de  V.  S.  IU.ma,  cuya  vida  prospere  nuestro  Senor,  como  se  lo 
suplicamos. 

De  Madrid  y  henero  1 1  de  1644. 

A  los  pies  de  V.  S.  II.ma 

sus  humildíssimos  y  aff.mos  sieruos  en  el  Senor. 

Fr.  Buenauentura  de  Cerdena      Fr.  Juan  de  Santiago 

sacerdote  Capuchino 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  146-146  v.  —  Vol.  123,  fls.  192-193. 


101 


25 


CARTA  RÉGIA  AO  PADRE  JOÃO  DE  MATOS 
(25-1-1644) 

SUMÁRIO  —  Diligências  feitas  em  Roma  para  a  provisão  canónica  dos 
Bispados  do  Reino  após  a  restauração  —  Forma  a  adoptar 
na  redacção  das  Bulas  —  Nomeação  de  Cardeal  protector. 

Para  o  Padre  João  de  Matos 

Por  cartas,  que  ontem  se  receberão  de  Ferdinando  Brandão 
Romano,  entendi  que  em  muitos  breues  dias  se  resolueria  na 
Junta  que  Sua  Santidade  mandou  criar  para  a  expedição  das 
letras  dos  Bispados  do  Reyno,  a  forma  em  que  se  deuiaõ  con- 
ceder; e  segundo  auiza  ao  Bispo  Eleito  do  Porto,  parece  que 
querem  se  expidaõ  a  fauor  dos  nomeados  por  mym,  sem  se 
fazer  menção  da  prezentaçaõ,  que  delles  fiz,  e  pareceome  dizer- 
uos  que  por  este  modo  se  altera  o  estilo,  e  ainda  parece  se 
prejudica  ao  direito  desta  Coroa  a  que  Eu  deuia  atender  sobre 
todas  as  couzas  temporais,  principalmente  sendo  passado  o 
triénio  de  minha  posse,  e  coroação,  e  por  esta  razaõ  uos  enco- 
mendo o  mais  apertadamente  que  posso,  procureis  se  passem  na 
forma  em  que  tegora  se  costumarão  expedir,  sem  clauzulla  nem 
alteração  em  contrario,  no  que,  quando  o  possais  alcançar,  rece- 
berei de  uós  muito  particular  seruiço.  / / 

Porem  como  o  meu  primeiro  e  mais  principal  intento  hé 
acudir  á  cura  das  almas  dos  fieis,  que  na  falta  dos  prelados  pade- 
sem  o  dano  que  uos  hé  prezente,  quando  as  não  possais  alcançar 
na  forma  referida,  vos  ordeno  as  expidais  na  que  aponta  Fer- 
dinando Brandão  na  carta  do  dito  Bispo  Eleito,  com  aduertencia 
que  na  secretaria  e  officio  por  onde  se  expedirem,  fique  guar- 


102 


dada  minha  nomeação  e  cobreis  sertidaõ  de  que  ali  fica,  que 
uirá  junta  com  as  Bulias,  para  que  neça  Curia,  nesta  Corte, 
e  em  toda  a  parte,  conste  sempre  que  ainda  que  nas  Bulias  se 
naõ  fas  menção  de  nomeação  minha,  se  concederam  e  expedirão 
em  uirtude  delia;  e  aduertireis  mais  que  nas  Bulias  naõ  uenha 
clausula  alguá  de  que  declaradamente  se  sigua  prejuízo  a  meu 
direito;  e  a  expedição  se  fazer  assim  nesta  forma,  quando  naõ 
possais  alcançar  se  faça  na  primeira,  que  vos  hei  por  muito 
encomendada,  me  auerei  por  muito  bem  seruido  de  uós,  e  mos- 
trarei a  uossas  couzas  por  este  seruiço,  o  agradecimento  que 
exprimentareis,  e  ainda  que  mando  escreuer  a  Ferdinando  Bran- 
dão, lhe  agradesereis  da  minha  parte  o  cuidado,  e  bom  effeito, 
com  que  seruio  neste  particular;  em  suas  cartas  auizo  dos  créditos 
para  a  expedição  e  respondo  ao  mais  sobre  que  me  escreueo;  por 
uia  de  França  volo  tenho  mandado  fazer  a  todas  as  cartas  que 
tegora  recebi  uossas.  / / 

Também  me  auiza  Ferdinando  Brandão,  que  será  necessário 
nomear  Cardeal  protector,  assy  para  a  expedição  das  Letras  dos 
Bispados,  como  para  os  mais  negócios  deste  Reyno,  que  se  offe- 
recerem  nessa  Curia;  por  ser  falecido  o  Bispo  de  Lamego,  me 
informei  sobre  este  particular,  com  o  Doutor  Pantaliaõ  Rodri- 
gues Pacheco,  e  me  naõ  soube  apontar  couza  de  que  possa  lan- 
çar maõ.  Pareceme  fiar  de  uós  este  negosio,  com  certeza  de  que 
com  uossa  prudência,  e  zelo,  o  sabereis  encaminhar,  como  mais 
conuenha  a  meu  seruiço;  e  para  poder  ser  assy  uos  uereis,  logo 
que  receberdes  esta  carta,  com  o  Embaixador  de  El  Rey  Chris- 
tianissimo  e  lhe  communicareis  da  minha  parte  esta  matéria, 
dizendolhe  que  leuais  ordem  minha  para  lhe  dar  delia  conta,  e 
para  uos  acomodardes  á  pessoa  que  elle  apontar,  e  nesta  forma 
parecendouos  conueniente  o  que  elle  disser  o  seguireis;  e  em- 
quanto  naõ  mando  escreuer  ao  Cardeal  lhe  pedereis  da  minha 
parte,  sendo  precizamente  necessária  esta  breuidade,  queira 
aseitar  a  proteção  destes  meus  Reynos,  uzando  para  esta  serimo- 
nia  e  uizita  dos  termos  e  cortezias  que  uos  parecerem  necessa- 


io3 


rias,  segundo  o  uzo  dos  outros  Pnncepes  em  occasioés  semelhan- 
tes; e  quando  para  a  expedição  das  letras  dos  Bispados,  naõ  seya 
necessária  proteção  do  Cardeal,  escuzareis  esta  deligencia  e  me 
auizareis  da  pessoa  que  vos  parecer  deuo  escolher,  para  que 
mandando  aqui  conciderar  este  negocio  mais  seriamente,  vos 
mande  auizar  do  que  deueis  seguir.  / / 

Escrita  em  Lisboa  a  25  de  Janeiro  de  1644. 

BNL  — Ms.  7.162,  fl.  238.  — (Cartas  de  El-Rei  D.  João  IV  ao 
Conde  da  Vidigueira  (Marquês  de  Niza)  Embaixador  em  França). 


04 


26 


MISSIONÁRIOS  DA  ORDEM  DE  CRISTO 
PARA  O  ULTRAMAR  PORTUGUÊS 

(25-2-1644) 

SUMÁRIO  —  Pede  instantemente  que  sejam  enviados  para  as  fartes 
ultramarinas  os  religiosos  de  Tomar  —  Seria  maneira  de 
a  Religião  lançar  de  si  os  sujeitos  mais  irrequietos,  em 
virtude  de  ter  poucas  casas  no  Reino. 

Diz  o  Dom  Prior  do  conuento  de  Thomar  e  Geral  da  ordem 
de  nosso  senhor  Jesus  Christo  os  senhores  Reys  deste  Reino,  como 
grão  Mestres  que  saõ  da  dita  ordem  e  Milícia,  estiueraõ  sempre 
em  posse  de  mandar  para  as  partes  vltramarinas  Religiosos  da 
mesma  ordé,  a  seruir  as  Igrejas  e  benefficios  e  Cappelanias  do 
habito  e  a  pregar  a  fé,  e  Euangelho  sagrado  aos  infieys,  como 
o  dispõem,  o  motu  próprio  do  santo  Padre  Gregorio  deçimo 
terçio,  como  se  vê  do  treslado  autentico  que  aprezenta  fl.  2  v.°, 
e  em  vertude  do  qual  mandarão  os  Senhores  Reys,  predeçessores 
de  V.  Magestade,  no  ano  de  619  ao  p.6  frey  Bartolomeu  e  frey 
Duarte,  Religiosos  professos  da  dita  ordem  e  theologos  approua- 
dos,  para  a  Mina,  e  ao  p.e  frey  Marcos  no  mesmo  tempo  para 
o  Brasil.  E  no  ano  de  632,  ao  padre  frey  Juliao  dos  Santos  para 
a  mesma  Mina,  e  em  outros  tempos  por  diuersas  uezes  foraõ 
mandados  muitos  Religiosos  para  são  Thomé,  Cabo  Verde,  An- 
gola, e  Conguo,  e  pera  as  partes  da  índia,  todos  a  pregar  a  Ley 
Euangelica,  e  a  seruir  as  Igrejas  do  habito,  e  assistir  nas  forta- 
lezas, e  exerçitos  de  todas  as  conquistas,  para  administrar?  os 
sacramentos  e  fazerem  as  mais  obrigações  tocantes  ao  seruiço 
de  Deus,  por  ser  instetuyda  a  dita  Religião  para  esse  effeito, 
como  largamente  se  vê  do  dito  motu  próprio,  o  que  o  Santo  Pa- 

io5 


dre  ordenou  também  em  ordem  a  poder  a  dita  Religião  lançar  de 
sy  os  sugeitos  mais  inquietos;  e  por  ser  muito  lemitada  e  ter 
poucas  casas  do  Reyno  (como  hé  notório)  não  tem  onde  os 
mandar,  e  de  terem  esta  sahida  para  as  Conquistas  resultaõ 
grandes  proueitos,  como  hé  a  quietação  da  Religião,  que  com  este 
freo  se  ajustaõ  os  súbditos  a  fazer  suas  obrigações  e  viuerem 
com  obseruancia,  e  juntamente  serue  de  fazerem  grandes  ser- 
uiços  a  Deus,  na  administração  dos  sacramentos  e  pregação 
Euangelica,  que  hé  a  sua  profissão,  de  que  hoje  tem  grande  ne- 
cessidade as  ditas  Conquistas,  pela  communicaçaõ  da  pérfida  he- 
regia  Olandesa,  que  está  taõ  espalhada  por  aquellas  partes,  a  que 
V.  Magestade  deue  accodir  com  Seu  Catholico  Zello,  assy  por 
alimpar  a  Religião  de  sugeitos  rebeldes,  como  por  desterrar  da 
Chnstandade  taõ  péssima  heregia  com  o  mesmo  zello  com  que 
os  Senhores  Reys  antepassados  comprarão  com  tanto  sangue  as 
ditas  Conquistas,  para  traserem  ao  conhecimento  da  fé  os  ditos 
genthios.  E  não  hé  justo  que  depois  de  metidos  no  grémio  da 
Igreja  tornem  a  appostatar  por  falta  de  menistros  e  pregadores, 
quando  a  dita  Religião  foi  instetuida  para  este  fim.  / / 

E  porque  muitos  sugeitos  idóneos  para  o  serviço  de  Deus 
que  se  podem  mandar  ás  ditas  conquistas  onde  seraõ  de  muita 
vtilidade,  e  dendro  na  Religião  só  serue  de  a  inquietar  com 
perpetuas  demandas  que  traze  contra  ella  na  Legaçia,  encon- 
trando nisto  os  decrettos  e  ordens  de  V.  Magestade  passados 
em  contrario,  que  por  acharem  aly  o  fauor  çerto  despresaõ 
seus  Perlados,  com  o  que  se  vay  causando  grande  roina  na 
obseruançia  da  Religião  com  hú  dano,  que  em  breue  será 
irreparauel  se  V.  Magestade  com  Seu  Catholico  Zello  lhe  naõ 
acodir,  o  que  de  prezente  se  pode  fazer  com  grande  façilidade, 
pois  se  aprestaõ  embarcações  para  a  índia,  Brasil,  e  Angolla,  e 
de  prezente  tem  V.  Magestade  nomeado  huã  junta,  para  a  con- 
seruaçaõ  das  Religiões,  a  quem  V.  Magestade  pode  remeter  este 
requerimento,  pelo  que 


106 


Pede  a  V.  Magestade  seja  seruido  remeter  â  dita  junta  esta 
petição,  para  que  vendo  o  dito  motu  próprio  consulte  a  V.  Ma- 
gestade a  matéria.  E  para  este  effeito  nomea  elle  Suplicante  os 
sugeitos  particulares  que  V.  Magestade  pode  mandar  para  as 
ditas  Conquistas,  que  saó  o  padre  frey  Domingos  Ribeiro,  frey 
Sebastião  Gorjaõ,  frey  Baltazar  da  Silua,  frey  Mauro  Caldeira. 
E  outros  que  nomeara  sendo  V.  Magestade  seruido,  para  V.  Ma- 
gestade lhes  mandar  passar  as  ordés  necessárias  para  poderem 
hir  seruir  a  ordem  e  a  Deus  nas  ditas  Conquistas,  visto  estarem 
taõ  appressadas  as  ditas  embarcações.  E.  R.  M. 

[Despacho  à  margem]:  Vejasse  e  consultesse  na  junta  das 
Religiões.  Lisboa,  25  de  feuereiro  de  1644. 

[Rubrica  de  D.  João  IV] 

ATT  —  Ms.  1122,  fl.  225. 


lOJ 


27 


CARTA  DO  REI  DE  FRANÇA  LUIS  XIV 
A  D.  JOÃO  IV  DE  PORTUGAL 

(16.4- 1644) 

SUMÁRIO  —  Recomenda  a  missão  dos  Capuchinhos  italianos  da  pro- 
víncia de  Génova  —  Que  o  Rei  de  Portugal  os  favorecesse 
quanto  pudesse  no  seu  embarque  para  o  Reine  do  Congo. 

Tres  haut,  Tres  excellent,  e  Tres  Puissant  Prince  Nostre 
Tres  cher  Aymé  bon  frere  et  Cousin. 

Nostre  Saint  Pere  le  Pape,  enuoiant  en  Affrique  dans  le 
Royaume  de  Congo,  quatre  Capucins  Italiens  de  la  Prouince 
de  Gennes,  pour  s'emploier  a  la  conuersion  des  infidelles,  desi- 
rant  les  fauonser  et  Nostre  recommandation,  en  consideration 
de  celle  qui  nous  a  este  faite  en  leur  faveur  par  Nostre  tres  cher 
et  bien  aymé  Cousin  le  Prince  de  Mónaco,  nous  escriuons  cette 
letre  a  V.  Majesté  pour  la  prier  auec  affection  de  les  fauonser, 
et  assister  en  tout  ce  qui  dependra  d'elle  et  de  donner  ordre  quils 
soien  bien  traitez  en  leur  embarquement,  de  quoy  nous  aurons 
tout  le  ressentiment  possible,  ainsi  que  nous  le  tesmoignerons 
en  toutes  les  occasions  a  V.  Majesté.  Laquelle  nous  prions  Dieu, 
Tres  haut,  tres  excellent  et  tres  puissant  Prince,  nostre  tres  cher 
et  tres  aymé  bon  frere  et  Cousin,  auoir  en  sa  Pieté  et  digne  grace. 

Escrit  a  Paris  le  XVI  Auril  1 644. 

Vostre  Bon  frere  et  Cousin 

LOUIS. 
De  Lomenie. 

108 


Copia  delia  Lettera  scritta  dal  Rc  chrisaanissimo  al  Re  di  Portu- 
gallo  à  fauore  dei  P.  Bonauentura  de  Taggia  et  PP.  Compagni  mis- 
sionarij  dei  Regno  dei  Congo,  anno  1644.  —  fl.  48  v. 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.  39. 


709 


28 

CARTA  RÉGIA  AO  CONDE  DA  VIDIGUEIRA 
(20-4-1644) 


SUMÁRIO  —  Prontas  provisões  régias  no  modus  faciendi  da  nomeação 
e  confirmação  dos  Bispos  do  reino  de  Portugal. 

Conde  Almirante  Embaixador  Amigo.  Eu  El  Rey  Vos 
enuio  muito  saudar  como  áquelle  que  amo.  Parecerão  me  tam 
bem  as  rasoés  da  uossa  carta  de  20  do  passado,  sobre  se  nao 
hauerem  de  açeitar  as  letras  dos  Bispados  vagos,  sem  se  faser 
nellas  mençaõ,  de  que  são  passadas,  e  confirmados  os  Prelados, 
em  virtude  de  nomeações  minhas,  que  logo  no  mesmo  dia  em 
que  se  me  leo,  mandei  reuogar  aquella  ordem,  em  primeira  via 
por  húa  setia  (x)  que  daqui  partio  para  Itália,  e  a  segunda  em 
companhia  desta  vossa  carta,  para  que  assy  possa  chegar  a  Roma 
com  mayor  certeza  de  se  não  perder;  pelo  que  procurareis,  logo 
que  reçeberdes  esta  carta,  enuiar,  com  toda  a  breuidade  e  se- 
gurança, a  que  com  ella  uai  para  o  Padre  João  de  Matos.  / / 

Bem  se  vio  nesta  aduertençia  que  me  fizestes,  o  juizo  e 
açerto  com  que  as  sabeis  fazer  nos  particulares  de  meu  seruiço; 
o  que  me  fizestes  por  esta,  Vos  agradeço  muito  particularmente, 
affirmando  que  entre  todas  vossas  couzas,  foi  esta  húa  das  que 
melhor  me  pareçeraõ,  e  das  que  mais  me  obrigarão.  / / 

Também  mandei  parar  na  nomeação  do  Cardeal  Protector; 
tudo  o  que  sobre  elle  se  uos  offereçer,  de  mais  do  que  agora  me 


(')  A  seda  era  uma  pequena  embarcação  asiática. 


auisais,  me  referireis,  para  poder  com  vossa  informação  acertar 
melhor  em  elleição  tão  importante,  como  esta  hé.  / / 
Escrita  em  Alcantara  a  20  de  Abril  de  1644.  / / 

Rey 

Para  o  Conde  da  Vidigueira,  Embaixador  em  França. 

BNL  —  Ms.  7.162,  fl.  256  —  Corpo  Diplomático  Portuguez,  XII. 
Pág-  385- 


29 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(24-4-1644) 

SUMARIO  —  O  Provincial  e  Definidores  fedem  que  se  confiem  Missões 
ao  zelo  apostólico  dos  seus  Padres,  no  Congo,  no  Oriente, 
ou  entre  outros  quaisquer  povos  infiéis. 

Eminentissimi  Domini 

Minorum  hujus  Bcthicae  in  Hispaniae  Regnis  Provinciae 
Fratrum  Capuccinorum  Porvincialis,  Definittoresque  ad  ipsius 
Congregationis  Sacrae  de  Propaganda  Fide  Eminentissimorum 
DD.  Cardinalium,  atque  (*)  uniuscujusque  singulariter  (ipsius 
Provinciae  nomine,  ac  in  fideli  aliarum  Hispaniae  sororum  nos- 
trarum  Provinciarum  recordatione)  humiliter  pedes  provoluti, 
verba  proferimos,  ac  Domini  nostn  obsequii,  et  Catholicae 
Fidei  incrementi  zelo  supplicamus  quod:  Cum  dieta  Província 
haec  tam  Orientalibus,  quam  Occidentalibus  longe  aliis  sit  Indis 
proximior,  ex  cujus  quotannis  ad  eas  naves  portubus  solvuntur. 
Cumque  res  ad  superandas  difficiles  ac  in  Província  etiam  optimi 
ac  strenuissimi  sint  fratres,  ut  expenentia  in  pestium,  aliarum- 
que  communium  necessitatum  occasionibus  multoties,  praeser- 
tim  in  generali  animorum  motione  a  Sancta  Congi  Missione, 
qua  hic,  non  sine  invidia  sorum  Patrum  super  quos  sors  tam 
jucunda  cecidit,  ad  praesens  fruimur,  causata,  docuit.  Ut  W. 
Eminentiae  suam  in  granam  recipere  dignentur,  sanctam  nobis 


(*)  No  texto:  adque. 
i'2 


benedictionem  suam  elargientes,  ac  voluntatem  nostram,  fer- 
vidaque  acceptantes  desideria,  ut  ad  opera,  quae  Catholicae 
nostrae  Fidei  dilatationi  pertineant,  nos  adscribere  in  mentem 
habeant;  Provinciae  huic  aliquam  in  Indiis,  vel  ad  infideles  alios, 
prout  Eminentiis  Vestris  bene  visum  fueric,  Missionem  assi- 
gnances,  quo  gratum  beneficium  magnumque  favorem  recipie- 
mus;  entque,  si  votis  nostris  respondens  honor,  propnssimus 
etiam  magnanimitatis,  ac  pietatis  Eminentiarum  Vestrarum; 
quas  ad  suae  Sanctae  bonum,  incrementumque  Ecclesiae  muitos 
per  annos  Dominus  Noster  servet,  et  prosperet.  / / 
Hispalis  24  Aprilis  anni  1 644.  / / 

Eminentiarum  humiles  ac  obedientes  servi. 

Fr.  Gaspar  Hispalensis,  Provincialis. 

Fr.  Sylvestre  ab  Alone  (id  est  Alicante ). 

Definitor. 
Fr.  Joseph  Antiquariensis,  Definitor. 
Fr.  Leander  ab  Antiquaria,  Definitor. 

FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Resena  Histórica  de 
la  Provinda  Capuchina  de  Andalucia,  Sevilla,  1908,  V,  p.  10-11. 


"3 

8 


30 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(24-4-1644) 

SUMÁRIO  —  Pedem  à  Propaganda  Vide  que  lhes  confie  campo  de 
apostolado  entre  quaisquer  povos  infiéis. 

Illustnssime  Domine 

Congi  Missionis  Rev.  Pater  Praefectus,  qui  hac  ad  prae- 
sens  apud  nos  in  civitate  moratur,  nobis  Provinciae  huius  Fra- 
trum  Minorum  Capuccinorum  Baethicae  Provinciali,  ac  Defi- 
nttoribus,  ut  Ill.mae  Dominationis  Vescrae  protectioni  ac  arbítrio 
nostra  desideria,  omnesque  nos  subjiciamus,  quod  hbentissime 
exequimur  fiduciam  dedit.  Ideoque  Ipsum  humiliter  oramus, 
quod  zelo  sancto  suo,  suaque  utens  pietate,  nos  suam  in  gratiam 
ac  memoriam,  ut  servos  et  (*)  obedientes  filios  Ill.m&  Dominatio 
Vestra  recipiat.  Cui  affectu  omni,  possibilique  efficacia  suppli- 
citer  petimus  Provinciam  hanc  accipere  in  suam  tutelam,  ut 
non  recuset  nostrum  votum,  ac  humilem  hbellum  quem  Sacrae 
Congregatiom  omnium  nomine  Religiosorum,  huic  junctum 
mittimus,  favendo  et  patrocinando,  ac  quos  habuerit  defectus 
etiam  supplendo  eventuque  omni  Ill.ma  Vestra  Dominatio,  ut 
tantus,  tamque  magnificus  Dominus  de  nobis,  intentum  nos- 
trum praesens  habens,  ad  nutum  et  voluntatem  suam  faciat, 
ordinet,  atque  disponat.  / / 

Cum  ergo  omnium  Dominus  nobis  intra  Provinciae  nostrae 
limites,  ex  quibus  naves  ad  índias  tam  onentales  quam  occiden- 


(')  No  texto  lê-se:  ad. 


tales  solvuntur,  portus  dederit;  nostrisque  Coenobiis  (2)  Operá- 
rios, quos  Sacra  Congregado  nunc,  ac  in  posterum  ad  eas,  alios- 
que  ad  infideles  mittit,  ac  mittet,  hospitamur,  volumus  etiam 
occasionem  hanc  nobis  proficuam  esse;  quod  utique  per  Ill.ma9 
Dominationis  Vestrae  protectionem  mereri,  magnamque  per 
suam  pietatem  in  aliqua  ex  ipsis,  sicuti  Vestrae  Ill.mae  Domina- 
dora placuerit,  habere  locum,  speramus.  Quod  fidentes  pro  ves- 
tra  salute,  ac  longeva  vita,  Dominum  nostrum  ad  sanctum  suum 
obsequium  incessanter  oramus.  / / 
Hispalis  24  Aprilis  anni  1644.  / / 

jjj  mae  rj)ominationis  Vestrae  humilissimi  servi 

Fr.  Gaspar  Hispalensis,  Provincialis. 
Fr.  Sylvester  de  Alicante,  Definitor. 
Fr.  Joseph  Antiquariensis,  Definitor. 
Fr.  Leander  de  Antequera,  Definitor. 

FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Obr.  tit.,  p.  11-13. 


(2)  No  texto  lê-se:  Coenobus. 


"5 


31 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(24-4-1644) 

SUMÁRIO  —  Pedem  que  sejam  confiadas  terras  de  missão  aos  Padres 
da  sua  Província  da  Andaluzia- 

Illustrissimo  Senor 

El  R.  P.e  Prefecto  de  la  Mission  dei  Congo  que  de  presente 
se  halla  en  esta  Ciudad,  nos  a  dado  confiança  al  Prouinçial  y 
Diffinidores  desta  Prouinçia  de  Andaluçia  de  Frailes  Menores 
Capuchinos,  a  poner  nos  en  manos  de  V.  S.  Illustnssima  y 
supplicarle  humilmente  vse  de  su  gran  piedad  y  sancto  çelo 
y  nos  tenga  en  su  memoria  y  graçia  como  a  obedientes  hijos 
y  sieruos  de  V.  S.*  111.°,  a  quien  supplicamos  con  todo  el  affecto 
y  encareçimiento  possible  reçiua  en  su  protecçion  y  amparo  esta 
Prouinçia,  apadrinando  y  fauoreçiendo  nuestro  deseo,  y  la  peti- 
çion  cjue  en  nombre  de  todos  los  Religiosos  remittimos  junto 
con  esta  para  la  Sacra  Congregaçion,  y  supliendo  las  faltas  que 
tuuiere  y  haçiendo  en  todo  V.  S.  111."  como  tan  gran  Senor  dis- 
ponga  y  ordene  de  nosotros  como  fuere  seruido,  atendiendo 
a  que  el  intento  nuestro  es  lograr  la  buena  occassion  que  nuestro 
Senor  nos  a  dado  de  tener  dentro  de  la  Prouinçia  las  embarca- 
ciones,  y  possar  en  nuestros  conuentos  los  obreros  que  essa 
Sacra  Congregaçion  enuia  a  las  misiones  y  en  adelante  enuiare 
a  las  índias  Orientales  y  Occidentales,  y  a  otros  infieles,  y  mere- 
çer  por  mano  de  V.  S.a  Ill.a  y  por  su  mucha  piedad  tener  lugar 
e  insinuaçion  en  alguna  delias,  de  la  manera  que  V.  S.  111.*  fuere 


116 


seruido  de  disponerlo,  de  que  estamos  muy  confiados,  rogando 
a  nuestro  Senor  por  la  salud  y  larga  vida  de  V.  S.a  111."  para  su 
sacto  seruiçio,  &a.  / / 

[Seuilla  24  de  Abril  1644]. 

De  V.  S.a  Illustrissima 

Fr.  Gaspar  de  Seuilla,  Min.0  Proal. 
Fr.  Leandro  de  Antequera,  diff.or 
Fr.  Siluestre  de  Alicante,  diff.or 
Fr.  Joseph  de  Antequera,  diff.or 
Fr.  Francisco  de  Cordoua,  Setreta- 
rio  delia  diffiniçion  y  Prou.a 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  £1.  180.  —  Cfr.  doe.  n.°  32. 


32 

MISSÃO  DO  REINO  DO  CONGO 
(25-4-1644) 

SUMÁRIO  —  Aprovação  de  missionários  para  a  Missão  do  Congo. 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornotio 
litteras  fratris  Bonauenturae  de  Alessano,  Capuccini,  Praefecti 
Missionis  Congi,  de  fauoribus  et  gratijs  obtentis  a  Rege  Catho- 
lico  pro  sua  Missione  exequenda  et  de  quatuor  socijs  Capu- 
cinis,  cum  participatione  et  licentia  Cardinalis  Nuntij  assump- 
tis,  sub  spe  ratihabitionis  a  Sacra  Congregatione  obtinendae, 
uidelicet. 


Fr.  Josepho  de  Antiguerra  (1),  Sacerdote,  de  Málaga. 
Fr.  Angelo  de  Valentia,  Sacerdote. 
Fr.  Bonauentura  de  Sardinia,  Sacerdote  et 
Fr.  Joanne  a  Sancto  Jacobo,  Sacerdote,  cum  Fratre  Hiero- 
nymo  delia  Puebla,  Layco,  ínfirmario. 

Sacra  Congregatio  praedictos  quatuor  Fratres  cum  dicto 
Layco  inter  Congi  Missionários  adscripsit,  sub  Praefectura 
praedicti  Patris  Bonauenturae  de  Alessano,  íussitque  ad  Nun- 
tium  Hispaniarum  huiusmodi  decretum  mitti  (2),  cum  man- 
dato, ut  praedictis  patribus,  aut  alio  ab  eis,  uel  a  Praefecto  depu- 


(')  Leia-se:  Antcquera. 

(2)  Cfr.  o  doe.  de  7  de  Maio  de  1644,  p.  130. 

118 


tato,  decretum  tradat,  si  post  assumptas  informationes,  eos  ad 
praedictam  Missionem  idóneos  repererit,  sin  minus  illud  paenes 
se  retineat. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  87  V.-79,  n.°  20.  —  Sessão  cardinalícia 
de  25  de  Abril  de  1644. 


//o 


33 

CARTA  RÉGIA  AO  CONDE  DA  VIDIGUEIRA 
(27-4-1644) 


SUMÁRIO  —  Conforma-se  el-Rei  com  a  sugestão  do  Embaixador  sobre 
a  provisão  dos  Bispados  —  Difere  a  nomeação  do  Cardeal 
Protector  —  Só  se  deveriam  aceitar  confirmações  segundo 
o  antigo  e  tradicional  formulário  protocolar. 

Conde  Almirante  Embaixador  Amigo.  Eu  El  Rey  Vos 
enuio  muito  saudar  como  áquelle  que  amo.  Tendosse  sobre  as 
razões  de  uossa  carta  de  20  de  Março,  que  trata  dos  negoçeos 
de  Roma,  a  deuida  consideração;  fui  seruido  conformarme  com 
o  uosso  pareçer  no  tocante  á  expedição  dos  Bispados;  é  de  def- 
fenr  para  melhor  tempo  a  nomeação  de  Cardeal  Protector;  e 
posto  que  já  se  fez  auizo  desta  resolução  ao  Padre  João  de  Ma- 
tos para  proceder  em  conformidade  delia,  pareçeo  se  uos  deuia 
dar  também  conta,  para  que  fiqueis  entendendo,  quanto  se  def- 
ferio  ao  que  propuzestes  açerca  destes  particulares,  e  que  dos 
Bispados  se  não  deue  açeitar  se  não  na  mesma  forma,  em  que  té 
gora  se  passou  aos  Reys  meus  predeçessores.  / / 

Escrita  em  Alcantara  a  2  de  Abril  de  1 644.  // 

Rey 

Para  o  Conde  da  Vidigueira  Embaixador  em  França. 

BNL  —  Ms.  7. 1 62,  fl.  260.  —  Corpo  Diplomático  Portuguez,  XII, 
pág.  386. 


7  20 


34 


CARTA  DE  FREI  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(Abril  (?)  —  1644) 


SUMÁRIO  —  Esperanças  de  partir  em  Agosto  para  o  Congo  —  Ocupa- 
ção de  Luanda  pelos  holandeses  hereges  —  Morte  do 
Bispo  e  do  Rei  do  Congo  —  Eleição  de  D.  Garcia  — 
Diligências  de  Frei  Francisco  de  Pamplona  —  Poderes 
para  fundar  a  Missão  do  Congo  —  Mudança  do  pes- 
soal—  Cédula  concedida  por  Filipe  IV  de  Espanha. 

Ill.mo  e  Rev.™°  Signor  e  Padrone 

La  moltitudine  e  uanetà  degli  auuenimenti  fin  hora  soc- 
cessi  intorno  alia  nostra  missione  mi  confondono  Ia  mente,  donde 
mi  conuenga  cominciare  per  darne  qualche  contezza  à  V.  S. 
Ill.ms  ed  à  cotesta  Sagra  et  Eminentíssima  Congregatione,  acciò 
esposta  la  uerità  dei  fatto,  si  prouegga  con  quei  rimedij,  quali 
piíi  efficaci,  et  opportuni  per  íl  fine  saranno  stimati.  Dico  dun- 
que  colla  breuità  possibile,  che  dopo  la  Relatione  data  à  V.  S. 
Ill.ma  e  da  Saragoza  et  da  Madrid  dello  stato  dei  negotio,  dopo 
ottenute  de  S.  M.  Cattohca  tutte  le  speditioni  bramate,  e  tanto 
felicemente  quanto  dalla  pietà  de  si  Religioso  Monarca  poteua 
sperarsi,  condotto  finalmente  in  Siuiglia,  radunati  tutti  li  cõpa- 
gni,  e  trattando  con  i  mezzi  possibili  1'essecutione  dei  uiagio  al 
nostro  Congo,  quantúque  da  un  canto  s'è  rauuiuata  la  speranza 
di  poter  col  diuin  fauore  cola  penetrare  con  un  vascello  spagnolo, 
quale  per  il  mese  d'Agosto  uiagierà  à  quella  uolta,  per  negotiare 
mercantie  in  quei  paesi,  et  trattare  col  medesimo  Rè  dei  Congo, 
conforme  dal  padrone  s'è  hauuta  informatione,  quale  con  moita 


12 1 


prontezza  s'è  offerto  condurci  mediante  però  quella  limosina 
che  dal  Rè  per  questo  effetto  n'è  stata  assegnata.  / / 

Nulladimeno  s'è  radoppiato  il  timore  per  le  difficultà  immi- 
nenti,  poco  meno  che  impossibilicati  1'opera  dei  Signore.  Men- 
tre  cosa  certíssima  è,  che  1'Eretico  Olandese  di  già  impossessato 
d'Angola,  tiene  occupato  e  posti  e  porti  conuicini,  onde  ueruno 
può  colà  traghettare,  senza  dargli  nelle  mani,  le  scorrerie  de  cor- 
sari  ch'il  medesimo  fà  per  il  mare,  sono  continue,  il  traffico  e 
commercio  contratto  con  quei  infehci  negri  Conghesi,  è  senza 
impedimento,  anzi  stretissimo  e  finalmente  quello  che  deue 
piangersi  con  lagrime  di  sangue  da  zelanti  deIl'honor  de  Dio 
e  delia  nostra  santa  fede  siè,  che  secondo  qui  habbiamo  inteso 
da  persone  che  di  uísta  si  trouorno  à  si  horrendo  spettacolo,  in 
una  delle  Prouincie  di  quel  Regno,  con  publica  nbelhone  alia 
Chiesa,  et  à  Sua  Santità,  dispreggiando  1  nostn  Santi  Riti,  e 
detestando  la  uerace  professione  delia  nostra  puríssima  fede,  si 
diedero  in  preda  a  Sette  Ereticali,  beuédo  di  quel  Cálice  infame, 
et  auuelenato,  che  dal  sudetto  olandese  le  fu  communicato.  / / 

II  Vescouo  di  quella  Chiesa,  che  dimoraua  in  Loanda,  è  già 
morto.  II  Rè  D.  Aluaro,  qual  con  tanta  pietà  e  premura  mani- 
festo il  suo  religioso  desio  à  cotesta  santa  Sede,  hà  terminato 
panmente  la  uita,  essendole  soccesso  un  tale  D.  Garzia,  di  cui 
è  fama  tenga  solaméte  il  nome  di  cattolico;  dei  rimanente  solo 
Dio  benedetto;  i  Religiosi  ch'in  Angola  e  nei  confini  habitauano 
sono  stati  maltratti,  e  cacciati  uia;  alcuni  pochi  Preti  ui  sono 
nmasti;  come  si  portino  nelle  cose  concernenti  alia  difesa  delia 
Cattolica  Religione  è  noto  à  colui  ch'il  tutto  uede.  Sia  cosi  bre- 
uemente  rappresentato  lo  stato  miserabile  di  quella  pouera  gente, 
che  pnui  affatto  d'aiuti  d'operarij  Apostolici,  e  dall'aItro  canto 
infestata  da  predicanti  eretici,  et  eretici  Olandesi,  li  pm  crudeh 
e  capittal  nemici  di  santa  Chiesa,  faccisi  pur  chiara  la  conse- 
quenza  d'una  infinita  di  mali  da  forze  creata  ínnmediabili,  se 
lo  braccio  diuino  retira  il  suo  celeste  aiuto,  nel  quale  totalmente 


1 22 


conhdando,  non  ci  spauentiamo  altamente  daH'aspetto  de  pati- 
menti,  benche  atrocissimi,  e  dell'istessa  morte,  che  quasi  al  sicuro 
dail'auuersario  ne  soprastà,  anzi  da  ciaschun  di  noi  per  1'honor 
di  S.  D.  Maestà  e  zello  dell'anime,  è  sòméte  bramata,  quello 
ne  deue  crucciar  in  estremo,  siè  la  moltitudine  delle  malageuo- 
lezze,  che  per  1'astutia  dei  commun  nemico,  e  per  ministério 
de  suoi  seguaci  di  nuouo  insorgendo,  rendono  impenetrabile 
1'ingresso,  alia  sospirata  corona;  sicut  fuerit  uoluntas  Dei  in 
coelo,  sic  fiat,  dal  cui  rettissimo  et  giustissimo  beneplácito,  cõ 
uerace  annegatione,  e  sincera  rassegnatione  di  noi  stessi,  ci  sfor- 
ziamo  dependere;  non  escludendo  pêro  1'ocultata  inuestigatione 
di  tutti  quei  repieghi  che  prudentemente  si  giudicano  conue- 
neuoli,  nelche  principalmente  riluce  la  diligenza  e  ualore  di 
frà  Francesco  da  Pamplona,  nostro  compagno,  da  cui  edifica- 
tione  può  tanto  nei  petti  di  questi  Signon  di  Spagna,  e  dei 
medesimo  Rè,  ch'è  uno  stupore,  et  à  sua  cõtemplatione  con- 
ceduto  il  primo  luogo  alia  Religiosa  pietà,  non  è  cosa  da  sudetti, 
e  Rè  e  Signori  se  nieghi,  egli  s'affatica  fedelissimamente :  tut- 
tauia  dar  cõpimento  aH'impresa  dei  Signore  à  lui  solamente  stà 
nserbato,  e  dalla  sua  misericordiosa  clemenza  deue  sperarsi. 

Hor  discendendo  à  rimedij,  che  senza  dilatione  deuero  apli- 
carsi,  aff inche  le  cominciate  piaghe  inchancherischino  e  diuen- 
gano  incurabili:  Primeramente  si  douerebbe  hauer  occhio  à 
prouedere  di  Pastore  quelle  smarnte  et  orfane  pecorelle,  e  di 
Pastore  talle  che  animam  suam  det  fro  ouibus  suis,  auido  non 
di  rendite  abondanti  d'oro  et  argento,  mà  di  saluar  anime  per 
mezzo  de  patimeti  e  dell'istessa  morte,  ch'abbia  spirito  di  Mis- 
sionário, non  talento  di  star  à  bel  agio;  sia  fautore  e  defensore 
de  Religiosi  e  massime  de  noi  altri  pouerelli,  nel  ministério, 
ch'abbiamo  hora  per  le  mani,  e  non  emulatore;  la  giurisdittione 
poi,  com'ella  sà  è  amplíssima,  racchiudendo  Regni  interi,  nõ 
solamente  dei  Congo  e  d'Angola,  mà  e  di  S.  Tomaso  e  Brasile, 

I23 


e  di  tuti  quei  confim;  rappresentisi  uiuamento  cjuesto  bisogno, 
acciò  quanto  prima  se  gli  prouegga  (*) . 

Con  rephcate  preghiere  per  carta  hò  supphcato  V.  S.  Ill.m* 
che  delia  secuntà  à  noi  conceduta  in  foro  conscientiae,  di  poter 
altroue  fondar  la  missione,  in  euento  non  si  potesse  al  Congo, 
s'adoprasse  impetrarne  Decreto  autentico,  acciò  parimente  nel 
foro  esterno  potessimo  auualercene,  mi  persuado  n'habbia  di 
vantaggio  fauonto,  ladoue,  se  forse  cotesti  Eminentissimi  in 
dimanda  cotanto  giusta  si  fussero  mostrati  ntrosi,  dignisi  rin- 
forzar  il  suo  patrocínio,  et  in  tutti  i  modi  far  che  siamo  consolati 
per  amor  de  quel  Signore  per  la  cui  gloria  desideriamo  dar  il 
sangue  e  la  uita.  Già  S.  M.  Católica  si  contenta,  che  sicuramente 
possiamo  andare  per  tutto  il  Domínio  à  lui  sogetto,  e  n'hà  spe- 
dito  cõpetissimo  passaporto,  conforme  ne  l'inuiò  la  congionta 
copia,  non  uorrei  che  per  mancaméto  d'autentica  ecclesiastica, 
essendo  costretti  diuertir  ad  altri  paesi,  fossimo  tenuti  gironi  et 
apostati;  sincome  ad  altri  Missionarij  s'intende  essere  auuenuto, 
con  poca  nputatione  delia  Chiesa  e  delia  nostra  Religione. 

Perche  dalle  speditioni  hauute  dal  Rè  sperauamo  in  questo 
tempo  hauer  fatto  uela,  et  essere  uicini  à  porti  dei  Congo,  per 
auualerci  di  si  buona  e  sicura  comodità,  fondare  maggiormente 
la  missione,  et  nõ  applicare  limosina  cotato  abondante  à  si  poco 
numero  de  sogetti,  poiche  per  un  vascello  à  posta,  secondo 
1'ordine  data  da  S.  Maestà,  almeno  si  richiedonno  sei  ò  8  mila 
scudi,  si  procuro  coH'Eminentissimo  Signor  Nuntio  (2)  aggiun- 


(*)  Com  o  falecimento  do  santo  Bispo  D.  Francisco  do  Soveral, 
em  4  de  Janeiro  de  1642,  estava  vaga  a  sé,  mas  não  por  culpa  e  res- 
ponsabilidade do  Rei  padroeiro.  A  Santa  Sé  negava-se  a  confirmar 
os  Prelados  apresentados  pelo  legítimo  Rei  de  Portugal,  D.  João  IV, 
política  que  seguiu  até  à  paz  entre  Portugal  e  a  Espanha. 

(2)  Giovanni  Giacomo  Panzirolo,  núncio  dc  18-1-1642  a  14-7-1644. 
Criado  cardeal  em  13-7- 1643. 


124 


gere  alcuni  pochi  de  nostri  Religiosi  Spagnoli,  e  frà  la  moltitu- 
dine  numerosa  che  s'offeriua,  furno  solamente  determinati  3.  Vn 
sacerdote  secondo  Diffinitore  in  atto  di  questa  Prouincia  d'An- 
dalucia,  chiamato  il  P.  F.  Angelo  de  Valenza,  et  un  Laico  delia 
Prouincia  d'Aragona,  detto  F.  Geronimo  delia  Puebla,  li  nomi 
de  quali  furno  da  me  significati  à  V.  S.  Ill.m*  acciò  alli  due 
sacerdoti  facesse  spedire  Decreto  de  Missionarij  e  dal  Laico 
vbedienza  di  copagno,  frà  questo  mentre  caminando  coll'ordine 
dei  sudeto  Signor  Nuntio.  / / 

Mà  douendosi  adesso,  per  diuina  dispositione  differire  la 
nostra  partenza  fin  ad  Agosto,  e  per  li  uenti  contrarij  e  per  altri 
insuperabili  impedimenti,  et  hauendo  inteso  1'aggiunta  de  4 
Padri  Genuesi  alia  nostra  Missione,  à  me  ed  à  cõpagni  di 
straordinaria  consolatione,  e  delche  ringratiamo  con  uiuo  affetto 
à  V.  S.  Ill.ma,  1'assicuro  che  si  tal  cosa  hauesse  saputo,  nã  haue- 
rei  tentata  1'accenata  prouissione  de  Spagnoli,  non  perche  li 
sugetti  nõ  siano  rari  ea  dotati  di  sante  virtudi,  ma  per  non  mis- 
chiare  diuersità  di  nationi,  le  cui  inclinationi  saltem  in  acciden- 
talibus,  sono  sempre  diuerse,  ed  à  lungo  andare  potrebbe  peri- 
colare  il  ministério  apostólico,  quale  rechiede  somma  vniformi- 
tá.// 

Deuo  però  notificarle  schietamente  che  restiamo  grande- 
mente edificati,  e  per  la  religiosa  accoglienza  colla  quale  ci  trat- 
tano  indiferentemente,  e  per  la  straordinaria  ardenza  che  di- 
mostrano  d'accõpagnarsi  con  noi,  ò  almeno  seguitarci,  ed  espor- 
si  à  qualsisia  atroce  martírio  per  dilatatione  delia  nostra  santa 
Fede.  Dal  bel  principio  dei  nostro  arriuo  in  queste  parti,  tal- 
mente  si  commossero  et  infiammorno  gli  animi  de  nostri  Capuc- 
cini  di  tutte  le  4  Prouincie  delia  Spagna,  ed  in  particolar  di 
questa  d'Andalucia,  doue  adesso  ci  ritrouiamo,  che  bisogna  attri- 
buirlo  à  particolar  inspiratione  dello  Spirito  Santo;  alia  giornata 
riceuo  lettere  in  quantità,  mi  s'offenscono  talentati  sogetti,  vor- 
rebbono  essere  da  me  consolati,  ammessi  alia  nostra  compagnia, 


I25 


trauagliare  e  monre  con  noi;  rispondo  à  tutti  con  buone  parole, 
che  Nostro  Signore  nÕ  mancará  consolarli,  e  ch'hauendole  dato 
il  seme  dei  buon  desideno,  à  tempo  suo  ne  racorranno  íl  frutto 
maturo,  etc;  e  perche  à  cjuesta  Prouincia  d'Andalucia  si  deue 
correspondere  con  partial  affeto  di  gratitudine  per  la  moita 
cantà  che  da  essa  riceuiamo,  e  per  1'ordinarij  pesi  che  porterà 
douendo  li  missionarij  da  mandarsi  dTtalia  di  quà  incaminarsi 
al  Congo,  m'è  parso  cõueniente  in  una  santa  pretensione  che 
tiene  il  Padre  Prouinciale  con  tutti  i  Padri  Difhnitori,  aiutarla 
con  ogni  sforzo  appresso  V.  S.  Ill.ma,  acciò  sia  honorata,  e  con- 
solati  coloro,  che  da  special  impulso  dei  Signore  saranno  eccitati 
à  procurar  la  sua  gloria  cõ  patimenti  e  colla  morte  stessa.  / / 
Mi  ncordo,  che  tante  uolte  confidentemente  si  dignò  V.  S. 
Ill.ma  communicarme  il  desio  tenea,  ch'i  nostri  Capuccini  s'im- 
piegassero  nelle  Missioni,  che  senza  fallo  si  sarebbe  per  essi 
nportato  grandíssimo  frutto,  et  in  uero  nõ  senza  fondamento 
ella  concepiua  quanta  speranza  etc.  Adesso  è  il  tempo,  Ill.mo 
Signore  di  sodisfare,  et  à  quanto  ella  bramaua,  et  all'ardente 
feruore  di  tanto  serui  di  Dio,  fratelli  nostri,  figli  dei  Seráfico 
Patriarca,  quali  sponteneaméte  s'essibiscono  à  qualsisia  penoso 
martírio  per  la  gloria  di  Dio  e  salute  dei  prossimo.  II  mezzo  di 
condurre  à  fine  cioèche  si  spera  è  facilissimo,  poiche  partendo 
infalibilmente  per  ciaschedun'anno  la  flotta  de  galeoni,  naui 
e  altri  vascelli  dal  porto  di  Santa  Maria  in  Cadix,  que  nostri 
Religiosi  tengono  cõuento,  per  la  uolta  delia  Nuoua  Spagna 
al  Períi,  Messico,  uerso  le  terre  dei  Giappone  e  delia  China, 
essendoli  concessa  faculta  da  chi  può,  senza  punto  di  difficultà, 
sincome  noi  sperimentiamo  per  lo  Congo,  potrebbe  imbarcarsi 
buon  numero  di  quelli  fussero  stimati  piíi  sufficienti,  e  1'assicuro 
per  quanto  probabilmente  può  congetturarse,  che  penetrando 
1  nostri  frati  colà,  il  frutto  nell'anime  sarebbe  infalibile  ed  abon- 
dante;  cosi  è  publica  opinione  de  chiunque  senza  passione  uà 
ponderando  le  qualità  dell'euangelici  disseminatori.  / / 


Ò  quanto  può  osseruantissimo  Signore,  il  dissenteressameto 
e  1'amor  delia  pouertà  nei  petti  humani,  non  posso  piú  oltre, 
silentio.  Supphcano  dunque  il  Padre  Prouinciale  e  PP.  Diffini- 
tori  di  questa  Prouincia  gli  Eminentissimi  de  cotesta  Sagra  Con- 
gregatione,  si  côpiacciano  condescendere  à  loro  pietosi  prieghi, 
concededoli  de  poter  destinar  ogn'anno  coll'occasione  delia  flotta 
che  parte,  un  cõueniente  numero  de  nostn  Religiosi  piíi  feruo- 
rosi,  ed  atti,  i  quah  mandati  ín  quei  paesi  delia  Nuova  Spagna, 
possano  penetrare  pariméte  alia  China,  al  Giappone,  etc,  et 
esercitare  iui  le  faculta  de  Missionanj  tra  fedeli  et  infedeli,  trà 
heretici  e  cattolici  oue  piu  conosceranno  il  bisogno;  1'autorità  di 
mandare  si  potrebbe  compromettere  al  P.  Prouinciale  et  à  tutta 
la  Diffinitione  de  Supplicanti,  cosi  da  questa  come  dall'altre 
Prouincie  delia  Spagna,  con  approbatione  però  de  loro  Supenon 
gli  sia  lecito  in  nome  dei  Santo  Padre  inuiare  operarij  alia  bion- 
degiante  messe,  ch'aspetta  1'euangelica  falce.  Efficacissimo  sarà 
il  ualor  di  V.  S.  111."™  per  1'effetto  bramato,  quando  se  degnarà 
cõ  occhio  fauoreuole  mirare  chi  tanto  in  lei  confida,  ed  io  con 
tutti  li  Padn  Compagni  coll'humiltà  et  affetto  posibile,  pros- 
trato  à  suoi  piedi  colle  uiscere  dei  cuore,  no  potendo  di  presenza, 
la  priego  pigli  à  petto  questo  particolare,  perche  oltre  1' honor 
diuino,  qual  deue  preferirse  ad  ogni  altro  fine,  certaméte  se 
ne  spera,  uerrà  insieme  à  liberare  la  nostra  Missione  dei  Congo 
da  qualque  satã  emulatione  di  questi  buoni  Padri,  e  starà  asso- 
lutamente  per  l'Italiani. 

II  Padre  Gioseppe  d'Antechera  sopra  nominato,  sogetto 
attepato,  sperimentato,  e  di  particolari  talenti  dotato,  è  stimato 
attissimo  dal  P.  Prouinciale  per  Capo  delia  nuoua  Missione, 
per  la  quale  si  supplica;  per  tanto  hauendo  effetto,  come  dei 
certo  si  spera,  quantúque  dei  Sgnore  Nuntio  à  mia  instanza  sia 
stato  ammesso  alia  nostra  cõpagnia,  e  pregato  V.  S.  Ill.ma  le  sia 
ito  Decreto,  ad  ogni  modo  douendo  preferirse  il  ben  com- 
mune  al  particolare,  non  me  curerò  priuarmene,  acciò  sia  appli- 


cato  al  maggior  bisogno,  et  in  suo  luogo  uerrà  meco  il  Padre 
Luigi  Antonio  da  Málaga,  lettor  in  atto  in  questa  Prouincia, 
uersatissimo  nelle  controuersie,  giouane,  forte  alie  fatiche,  et 
humillissimo,  sopramodo  bramoso  accopagnarsi  con  noi,  e  per 
lo  nostro  uiaggio  assai  piu  a  propósito  dall'altro.  / / 

Non  posso  far  dimeno  espormi  à  questo  cambio,  resti  semita 
spedirle  Decreto  conditionale,  cioè  che  non  uenendo  il  predetto 
Padre  Gioseppe,  uenghi  lui,  et  io  riceuédo  à  tempo  di  colà  auiso 
et  ordine  me  diporterò  secondo  mi  sarà  imposto,  caso  di  nõ,  in 
omnem  euentum  mi  adoprarò  col  Signor  Nuntio  di  far  riuocare 
e  sostituire,  come  sarà  piu  necessário,  in  ordine  però  à  questi 
due  sogeti  solamente;  degli  altri  Spagnoli  penitus  1'escludo,  e 
se  bene  in  mio  nome  scriuessero  à  V.  S.  Ill.ma  et  io  colle  loro 
suppliche  accõpagnasse  mia  carta,  mi  dicluaro  far  ciò  per  sodis- 
fare  alie  loro  pietose  importunità,  non  perche  habbia  uolontà 
d'hauerli  in  mia  cõpagnia,  e  questo  per  quei  santi  fini  à  Sua 
Diuina  Maestà  manifesti;  dei  medesimo  parere  sono  anche 
1'altri  Padri  Missionarij. 

Quelli  che  doueuanno  seguitarci  dalle  Prouincie  delia  nostra 
Itália,  sarà  bene  mortificarsi  per  un'altro  poco  di  tempo,  finche 
si  uegga  1'esito  di  noi  altri,  tanto  pm  quanto  ch'il  vascello  nel 
quale  speriamo  d'andare,  douendo  poscia  far  rittorno,  per  il 
medesimo  si  dará  minuta  relatione  di  qualche  soccederà,  e  si 
mandará  nota  à  V.  S.  Ill.m*  di  quanti,  e  quali  saranno  neces- 
sarij.  // 

Con  intimo  et  replicato  inculcamento,  in  nome  di  tutta 
1'humil  nostra  cõpagnia,  la  supplico  di  quanto  di  sopra  gli  sia 
à  cuore  1'honor  dei  Sourano  Signore,  à  cui  ella  cotanto  ansiosa- 
mente anhela,  il  zelo  delia  salute  d'innumerabili  anime  sfortu- 
nate,  e  la  consolatione  de  suoi  humilissimi  serui  e  figliuoli,  1 
quali  duotamente  facendo  nuerenza  à  V.  S.  Ill.ma,  com'à  Supe- 
riore,  Padre  e  Protettore,  gli  bramamo  dal  Cielo  migliaia  d'anni 

1 28 


di  prospera  uita,  colma  d'ogni  uera  essaltatione,  e  poi  la  sú 
1'eterna  et  immarcessibile  felicita. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  R.m* 
Humiliss.0  Seruo  nel  Signore 

Fra  Buonauentura  d'Alessano  / / 
Capuccino,  e  Prefetto  delia  Missione  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  163-165.  —  Idem,  fls.  156-157  v.  e 
160-160  v. 

[P.  5.]:Mando  à  V.  S.  Ill.ma  la  copia  dei  Passaporto  dei 
Re  per  vedere  quanto  ch  'ha  favoriti.  II  P.  Gio.  Francesco  Ro- 
mano mio  Compagno  mi  fà  istanza  che  scrivi  à  V.  S.  Ill.m*  di 
far  venire  il  P.  F.  Francesco  Maria  da  Velletri,  Predicatore,  et 
íl  P.  F.  Marcelo  da  Paliano,  Sacerdote,  Capuccini  di  cotesta 
Província  di  Roma;  se  ella  li  manda  10  1'havrei  di  sommo  gusto, 
e  sarebbono  molto  à  propósito  mandarli  quanto  prima  per  poter 
venir  con  noi  al  Congo,  perche  credo  non  partiremo  sino  à 
Settembre. 

Mandando  V.  S.  Ill.ma  questi  due  delia  Província  di  Roma, 
mi  mandi  anco  con  loro  il  P.  F.  Giacinto  da  Foligno,  Predica- 
tore  Capuccino  delia  Província  di  S.  Francesco,  che  fu  missio- 
nário nella  missione  delia  Província  di  Milano. 

NOTA  —  Não  está  datada  a  carta  do  Prefeito  da  Missão  do  Con- 
go. Foi  escrita  de  Sevilha.  Em  fins  de  Abril  de  1641  estava  Frei  Boa- 
ventura em  Lisboa,  partindo  daqui  para  a  Itália.  Luanda  estava  já  em 
poder  dos  holandeses  (25-26  de  Agosto  de  1641) .  Tinha  falecido  o 
Bispo  D.  Frei  Francisco  do  Soveral  (4-1- 1642).  Deve  ter  sido  escrita 
ao  regressar  de  Itália,  em  Abril  de  1644. 


9 


/2Q 


35 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  NÚNCIO  EM  MADRID 

(7-5'l644) 


SUMÁRIO  —  Decreto  da  fundação  da  Missão  do  Congo  —  É  enviado 
ao  Núncio  em  Espanha  para  sua  instrução  pessoal. 

Dal  decreto  che  si  manda  qui  incluso  uedrà  V.  S.  quanto 
è  piacciutto  alh  Signon  Cardinali  di  questa  Sacra  Congregatione 
de  Propaganda  Fide,  ordinare  intorno  alia  Missione  delli  Capu- 
cini,  che  il  Padre  Bonauentura  d'Alessano,  dell'istesso  ordine, 
hà  hauuto  per  bene  aggiungere  al  numero  di  quelli  che  di  quà 
si  sono  assegnati  alia  sua  Prefectura  nel  Congo.  Si  raccomanda 
alia  prudenza  di  lei  1'esecutione  delia  mente  di  questa  Sacra 
Congregatione,  con  che  per  fine  me  1'offero  e  raccomando.  / / 

Roma,  7  Maggio  1644. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  22,  fls.  78-78  v. 

NOTA  —  Tratando  do  mesmo  assunto,  a  Propaganda  escreve 
ainda  ao  representante  da  Santa  Sé  na  capital  espanhola,  meses  depois: 

Jl  decreto  di  questa  Sacra  Congregatione  de  Propaganda  Fide,  che 
se  le  manda  qui  incluso,  sarà  per  istruttione  di  V.  S.,  e  non  solo  acciò- 
che  essendo  lei  ricercata  dal  Padre  Prouincialc  de  Capuzini  d' Andaluzia, 
e  d'altri  per  parte  di  lui,  delia  Missione  alli  Negriti  per  li  Padri  di 
quella  Prouintia,  ella  sia  informata  di  quello  ch  è  piacciuto  alia  suddeta 
Sacra  Congregatione  ordinare  in  tale  propósito,  ma  ancora  affinche 
communicando  ella  medessima  il  decreto  istesso  al  Padre  Prouinciale 
suddeto,  o  al  Padre  Bonauentura  d  Alessano  in  Siuiglia,  prenda  occa- 
sione  d  istabilire  Ia  sopraccenata  missione  nelli  Negriti,  e  porti  quanto 


'3° 


prima  à  noritia  delia  Sacra  Congregarione  il  sucesso  che  si  spcra  di  par- 
ricolare  seruirio  dei  Signor  Jddio,  e  dell  anime,  mediante  la  diligenza 
di  V.  S.,  alia  quale  per  fine  moffero  e  raccomando.  / / 
Roma,  2  Luglio  1644. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  22,  fls.  135  V.-136. 


z3' 


36 


CARTA  DOS  PADRES  DE  TERUEL 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(9-5-1644) 


SUMÁRIO  —  Os  Padres  António  e  Luis  de  Teruel,  irmãos  de  sangue 
e  de  religião,  teólogos  e  pregadores,  solicitam  a  graça  de 
serem  incorporados  na  missão  do  Congo  —  Caso  seja 
impossível,  que  partam  para  ali  na  primeira  missão. 


Eminentíssimos  Senores 
Jhs 

El  P.e  Buenaventura  Alessano,  Prefeto  de  las  missiones  dei 
reino  dei  Congo,  traxo  comission  para  lleuar  algunos  religiosos 
que  fuessen  en  su  compania  a  conuertir  los  infieles,  y  instruir- 
les  en  nuestra  santa  fe.  / / 

Entendido  esto  nos  dio  el  Senor  grandes  deseos  de  acompa- 
ííarlos  en  tan  santo  ministério,  y  escribimos  al  sobredicho  Padre, 
el  qual  nos  respondio  que  con  mucho  gusto  nos  admitiera,  si 
huuieramos  escrito  antes,  porque  ya  no  tenia  mas  poder  para 
lleuar  otros  de  los  seííalados;  pero  que  escriuiessemos  a  VV. 
Eminências  para  otra  mission,  porque  en  esta,  por  auerse  de 
partir  luego  con  los  galeones  de  las  índias,  no  auia  lugar.  // 

Agora  nos  ha  escrito  un  companero  suyo  que  no  se  partirán 
hasta  el  Agosto,  y  sera  possible  que  sea  el  Setiembrc,  con  que 
hemos  cobrado  algunas  esperanças  de  que  se  logren  nucstios 
deseos  para  gloria  de  Dios,  y  saluacion  de  aquellas  almas  enga- 
nadas y  assi  suplicamos  a  VV.  Eminências,  en  quien  sabemos 
ai  tanto  zelo  de  la  honrra  dei  Senor,  y  de  la  dilatacion  de  nues- 


r3- 


tra  santa  fe,  nos  conceda  esta  licencia,  y  embte  la  obediência  por 
amor  de  nuestro  Seííor  Jesu  Christo  y  de  su  bendita  Madre.  / / 

Los  intentos  que  nos  mueuen  a  esto,  Senores  Eminentís- 
simos, es  solo  la  gloria  de  Dios  y  reduccion  de  aquellas  almas, 
con  viuos  deseos  de  emplearnos  en  esto,  sin  reparar  en  peligros, 
trabajos  ni  muertes,  antes  con  el  fauor  de  Dios  deseamos  pade- 
cerlos  hasta  derramar  la  sangre  por  amor  suyo:  y  para  nosotros 
sera  la  cosa  mas  agradable  deste  mundo.  Bien  pudieramos, 
Senores  Eminentíssimos,  dilatarlo  para  otra  mission,  pero  segun 
nos  escnben,  los  herejes  Olandeses  han  peruertido  aquella 
miserable  gente  en  todo  el  reino,  como  lo  han  contado  merca- 
deres  que  han  venido  de  alia,  e  assi  ai  mucha  necessidad  de 
obreros.  Y  por  tanto  rogamos  humilmente  a  W.  Eminên- 
cias, se  siruan  de  embiarnos  luego  la  obediência,  antes  que  se 
embarquen,  si  ai  ocasion.  Y  si  bien  de  nosotros  no  confiamos 
nada,  todas  nuestras  esperanças  las  ponemos  en  Dios,  que  pues 
nos  hizo  hermanos  segun  la  carne,  hijos  de  vnos  mismos  Padres, 
y  hermanos  en  el  espiritu  hijos  de  vna  misma  Religion,  donde 
estudiamos  la  Sagrada  Theologia  con  bastante  inteligência  para 
predicar  su  diuina  palabra,  en  que  nos  exercitamos,  y  aun 
confundir  con  la  gracia  de  Dios  a  los  herejes,  y  nos  dio  deseos 
de  dar  la  vida  por  el  en  este  ministério,  tambien  nos  dara  su 
fauor  para  seruirle  en  el  para  gloria  suya.  / / 

Al  P.*  Prouincial  y  Padres  de  esta  Prouincia  de  Valencia 
no  osamos  dezirles  nada,  porque  sabemos  lo  han  de  impedir, 
por  el  affecto  que  nos  tienen.  Pero  porque  W.  Eminências  no 
nos  conocen,  si  gustan  pueden  embiar  la  obediência  con  condi- 
cion  que  no  la  impidan,  sino  es  que  ayan  visto  en  nosotros 
cosa  que  desdiga  de  religion.  Nuestra  edad  es  dei  vno  40  anos, 
y  de  religion  23,  y  dei  otro  34,  y  de  religion  15,  con  fuerças 
para  passar  por  los  trabajos,  y  quando  las  perdamos  en  seruicio 
de  Dios,  lo  tendremos  por  grande  ganância.  Confiados,  supli- 


'33 


camos  a  nuestro  Senor  guarde  a  VV.  Eminências,  como  desea- 
mos,  muchos  anos.  / / 

De  Valencia  y  Mayo  9,  de  1644. 

De  VV.  Eminências  humildes  hijos 

Fr.  Antonio  de  Teruel,  letor  antes  de  Teologia,  y  agora 
Guardian  dei  conuento  de  Tortosa,  de  Capuchinos. 

Fr.  Luis  de  Teruel,  Predicador  Capuchino. 

[P.  S.]  Si  VV.  Eminências  tienen  por  bien  de  embiarnos 
la  obediência,  les  suplicamos  se  siruan  de  mandar  se  remita  a  la 
Ciudad  de  Valencia  a  Lazaro  Delmor,  Rector  dei  Santo  Officio 
de  la  Inquisicion. 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls,  189-189  v. 


l34 


37 


MISSÃO  DO  REINO  DO  CONGO 
(2 1-6- 1644) 

SUMÁRIO  —  Dá  licença  ao  Padre  Alessano  para  fundar  missão  nou- 
tra farte,  na  África  ou  nas  índias,  se  não  pudesse  entrar 
no  Congo,  com  as  mesmas  faculdades  já  concedidas 
—  Concede  ã  Província  da  Andaluzia  fundar  missão  pró- 
pria entre  os  Negritas,  tratado  o  caso  com  o  Núncio. 

Referente  Eminentissimo  D.  Cardinali  Pamphylio  litteras 
Patns  Bonauentura:  de  Alessano,  Prafecti  Missionis  in  Congi 
Regnum,  Sacra  Congregatio  primo  praedicto  fratri  Bonauenturae 
ac  Socijs  eius  concessit  Missionem  ad  alia  loca  Affrica:,  uel 
Indiarum,  casu  quo  non  possint  habere  ingressum  in  Congum, 
cun  eisdem  facultatibus  dicto  fratri  Bonauenturae  [in]  praedicto 
Regno  Congi  concessis. 

2.0  Eidem  fratri  Bonauenturae  concessit  facultatem  acci- 
piendi  in  Socium  Fratrem  Antonium  de  Málaga,  Capuccinum, 
si  Pater  Josephus  de  Antichera,  ob  eius  aetatem,  non  possit  cum 
eo  proficisci. 

3.0  Censuit  Prouinciae  Capuccinorum  Andalusiae  concedi 
posse  Missionem  ad  Regna  Nigritarum,  et  commoueri  íllius 
Prouincialem,  ut  si  uult  cum  deffinitorio  suscipere  dieta  Regna 
excolenda,  agat  cum  Nuntio  Hispaniarum,  et  cum  eo  de  Pra> 
fecto  et  Socijs  pro  dieta  Missione  ad  dieta  Regna  destinandis 
conferat,  et  quod  decreuerit  cum  dicti  Nuntij,  participatione 
Sacra:  Congregationi  significet,  ut  littera:  Patentes  et  facultates 
necessária:  expediri  possint  ad  eum  transmittendae. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  127-127  v.  n.°  27 —  Sessão  cardinalícia 
de  21  de  Junho  de  1644. 


'35 


38 


CARTA  DE  EL-REI  D.  JOÃO  IV 
AO  EMBAIXADOR  EM  FRANÇA 

(23-6-1644) 


SUMÁRIO  —  A  questão  da  confirmação  dos  Bispos  —  Dezassete  Dio- 
ceses sem  Prelado  —  O  Estado  Eclesiástico  manda  a 
Roma  Nicolau  Monteiro,  prior  da  Cedofeita. 


Conde  da  Vidigueira,  Embaixador  Amigo. Eu  El  Rey  vos 
enuio  muito  saudar  como  aquele  que  amo.  A  Junta  que  mandey 
formar  sobre  os  negócios  de  Roma,  se  compõem  de  tantos,  e 
taes  Ministros,  como  vireis  pello  decreto  delia,  cuja  copia  uos 
mandei  remeter;  e  comfessouos  quepor  mais  que  dezejo  seguir 
nosso  pareçer,  assy  pela  authoridade  de  vosso,  como  por  me 
pareçerem  muito  poderosas  as  razoes  em  que  se  funda,  não  está 
em  minha  mão  em  matérias  de  direito,  apartarme  daquillo  que 
me  dizem  hé  conforme  á  justiça.  Estay  çerto  que  neste  par- 
ticullar  se  tem  feito  o  que  pareçeo  que  mais  conuinha  ao  ser- 
uiço  de  Deos  e  meu,  e  utilidade  do  Reino;  ainda  a  Junta  dura, 
mas  não  sey  se  poderá  ser  por  muito  tempo,  por  algúas  razões, 
que  por  hora  se  offereçem  para  se  acabar;  o  Estado  Ecclesiastico 
me  tem  pedido  licença  para  mandar  á  Corte  de  Roma,  húa 
pessoa  que  possa  reprezentar  a  Sua  Sanctidade,  os  graues  danos 
que  no  espiritual  padeçem  os  christãos  desta  Monarchia,  com 
a  resolução  que  segue  tégora,  de  não  querer  admitir  meus  Em- 
baixadores, confirmando  as  nomeações  que  fiz  dos  Bispados 
vagos,  que  chegão  já  [a]  dezassete  e  tratandome  em  tudo, 
como  aos  Reys  da  chnstandade;  e  tem  nomeado  para  esta  Missão 
hum  Ecclesiastico  de  grandes  partes,  letras  e  vertude,  Prior  ou 


r36 


Prelado  da  Collegiada  de  Sadofeita,  Bispado  do  Porto,  que 
chamao  Nicolao  Monteiro.  / / 

Prazerá  a  Deos  que  seja  sua  hida  de  algúa  utilidade;  nao 
leua  carta,  nem  algúa  ordem  minha,  nem  Eu  sofri  que  para  esta 
diligencia  se  nomeasse  Ministro  meu,  como  a  principio  se 
tentou. 

Folguey  muito  de  o  Cardeal  Masarini  se  pagar  do  offereçi- 
mento  de  frey  Fernando  de  Menezes  e  frey  Gonçalo  da 
Gama  (')  e  pode[is]  isto  certificar  nas  occasiôes  que  se  uos 
offereçerem,  que  estimarey  que  haja  muitas,  em  que  se  lhe  possa 
dar  gosto.  / / 

Escrita  em  Alcantara  a  23  de  Junho  de  1644.  / / 

Rey 

Para  o  Conde  da  Vidigueira  Embaxador  em  França. 
CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ,  XII,  pág.  392. 


(*)  Religiosos  Dominicanos  enviados  a  Roma  ao  Capítulo  Geral 
da  Ordem. 


'37 


39 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(30-6-1644) 


SUMÁIRO  —  Dificuldades  de  embarque  em  Sevilha  —  Espera  largar 
em  Setembro  —  Projectos  para  o  futuro  —  Notícias  do 
estado  religioso  do  Congo  —  Fervor  missionário  da  Pro- 
víncia dos  Padres  Capuchinhos  da  Andaluzia. 


Ill.mo  e  Rev.mo  Signor  in  Chnsto  Osseruandissimo 

Partendo  di  Cadix  per  la  uolta  di  Genua  un  Capittano  con 
ben  fornita  naue,  e  nostro  amoreuolissimo,  hauendo  e  fratello 
e  zio  Capuccini,  et  essendo  appunto  quello  che  di  Portugallo 
due  anni  già  passati,  ne  ncondusse  in  Itália,  haueuo  in  pensiero, 
dal  quale  non  dissentiuano  i  nostri  cÕpagni,  destinar  due  di  loro 
con  si  buon'occasione  costa  da  V.  S.  Ill.ma  ed  à  cotesti  Eminen- 
tissimi  acciò  uiuamente  rappresentando  le  necessita  delia  nostra 
Missione,  e  lo  stato  miserabile  dei  Reçno  dei  Congo,  in  ordine 
al  concernimento  delia  Cattolica  Fede  e  Christiana  Reli- 
gione  si  nportasse  quella  prouisione,  che  dal  feruente  zelo 
dell'honor  di  Sua  Diuina  Maestà  e  salute  deH'anime,  fusse 
statta  giudicata  pm  spediente.  / / 

Tutta  uia  per  nõ  porre  in  contingenza  la  sicuntà  dell'esser 
qui  radunati,  ed  auuenturare  alia  discretione  dei  mare  il  ntorno 
à  tempo  opportuno  per  il  nostro  uiaggio  dei  Congo,  son  cos- 
tretto  mortificarmi  e  mutar  parere,  non  mancando  però  cõ 
questa  carta  di  ricorrere  da  V.  S.  Ill.,na  e  con  la  breue  relatione 
de  quanto  qui  passa  in  nguardo  aH'imbarcarci,  e  de  quei  paesi, 
quasi  dei  certo  s'intende  in  ordine  alia  speranza  ò  timore,  dc 
poter  traghetarui  ò  no,  d'esser  ammessi  ò  no  ammessi,  d'im- 

I38 


piergarue  con  frutto  le  nostre  fatiche,  ò  rimaner  defraudati  di 
questo  fine,  colpir  al  segno  de  suoi  ardenti  desij,  notificandole 
oue  possa  col  suo  ualore  fauonre  l  impresa  dei  Signore. 

L'ukim'auisi  diedi  à  V.  S.  Ill.ma  di  qui  di  Siuigha,  e  per 
assicurare  maggiormente  il  recapito  le  replicai  per  doppia  Strada, 
acciò  sbagliandosi  per  Tuna,  1'acertasse  per  1'altra;  molte  e  uarie 
nuoue  in  quei  le  daua,  diuersi  fauori  e  gratie  chiedeuo,  ordinati 
non  à  próprio  commodo,  ma  bensi  à  gloria  di  Dio  e  ben  uni- 
uersale;  de  quali  mi  persuado  infallibilmente  1'impetratione. 
Adesso  le  soggiongo  che  auuicinandosi  il  tempo  di  douer  partir 
alia  nostra  nauigatione,  Nostro  Signore  dispone  ci  siamo  abat- 
tutti  con  un  Capitan  di  naue  prattichissimo  in  quelle  parti,  il 
quale,  se  bene  le  sue  mercantie  non  porta  propriamente  ai 
Congo,  ma  al  Regno  di  Benin,  assai  di  quello  disiosto,  nondi- 
meno  s'offerisce  condurce,  mediante  però  quella  merecede  che 
si  lungo  e  trauaglioso  uiaggio  richiede,  e  la  nostra  pouertà  souue- 
nuta  da  S.  M.  Cattolica  e  da  altri  deuoti  Signori  può  offerire; 
la  partenza  si  spera  sarà  per  Settembre,  si  altro  impedimento  frà 
questo  mentre  non  auuerrà,  per  declinare  1'inuasione  d'01andesi 
nemici,  bisogna  andar  destreggiando  in  modo  che  senza  parti- 
colar  aiuto  dei  Signore  sarà  impossibile  non  incontrar  con  essi, 
giouarà  non  poco  1'esperienza  dei  piloto.  / / 

Supposto  1'arnuo  colà  conuerrà  entrar  colla  naue  per  la  bocca 
dei  fiume  Pinda  (1),  presso  al  quale  se  ritroua  la  prima  pro- 
uincia  dei  Congo,  oue  resiede  un  Duca  tale  quale  è  fama  che 
sia  intrínseco  d'01andesi,  e  che  sia  stato  corrotto  et  infetto  dalla 
peste  delle  loro  eresie.  La  città  regia  stà  lontano  dal  suddetto 
porto  cento  uenti  miglia,  mi  dimorando  il  Rè  adesso  regnante, 
qual  (secondo  afferma  il  medesimo  nostro  Capitano,  ritrouan- 
dosi  collà  gl'anni  passati)  per  alcune  sue  pretensiom  uccise  il 
suo  predecessore,  s'impossessò,  non  sò  si  legitima  ò  tirannica- 

(*)  Referência  ao  rio  Zaire  ou  Congo.  Pinda  era  porto  na  foz  do 
mesmo  rio. 


I39 


mente  dei  Regno;  íl  Rè  morto  probabilmente  se  tiene  fusse  Don 
Aluaro.  // 

II  che  essendo  cosi,  argomentesi  la  beneuolenza  colla  quale 
costui,  ch'al  presente  regna,  riceuerà  i  poueri  di  Dio,  tato  piu, 
quanto  che  si  teme  stia  inuiluppato  in  errori  hereticali;  li  Cano- 
nici  poi  delia  Chiesa  Conghese,  s'intende  uiuano  tanto  hcen- 
tiosamente  per  nó  dire  uitiosamente,  ch'il  Vescouo  passato  (2) 
non  confidandosi  dimorare  nella  sua  Catedrale,  temendo  d'es- 
sere  ammazzato,  s'elesse  alontanarsi  da  quella,  et  habitare  in 
Loanda,  uicino  ad  Angola;  cosi  uiene  referito  da  chi  può  saper- 
lo,  lasciando  alia  uerità  il  suo  luogo;  onde  stante  la  lor  uita  dis- 
soluta, eghno  saranno  i  pnmi  nostri  contrarij,  ne  permetteranno 
ch'habbiamo  da  opporci  alia  lor  liberta,  massime  douendo  dipen- 
dere  nell'administratione  d'alcuni  Sagramêti  dalla  lor  licenza, 
conforme  nelle  nostre  faculta  hà  disposto  la  Sagra  Congrega- 
zione,  cioè,  quantum  ad  Sacrameta  Parochialia. 

Confesso  il  uero,  Ill.mo  Signore,  che  ponderando  da  una 
parte  l'estrema  necessita  di  queH'anime,  uorria  per  auitarle 
espormi  colli  nostri  côpagni  à  qualsiouglia  tormento,  perloche, 
non  si  tralasciarà  mezzo  che  non  si  ponga  in  effetto,  quato 
coportano  le  nostre  deboli  forze;  dall'altro  canto  poi  guardando 
le  difficultà,  quali  di  nuouo  discoprendosi,  ci  si  faranno  auanti, 
mi  fà  temere  d'una  total  impossibilita,  qual  supposta  la  partial 
assistenza  di  S.  R.  M.,  el  fauore  de  cotesto  Sagro  Concistoro, 
no  toglie  affatto  Ia  speranza  ch'habbia  à  diuenir  possibile. 

In  primis  se  desiderarebbe,  ch'essendo  morto  il  Rè  D. 
Aluaro,  ai  quale  uà  diretta  la  carta  di  S.  Santità  (3),  ne  man- 
dasse un'altra  in  bianco,  acciò  secondo  il  nome  di  colui  ch'al  pre- 
sete  regna,  potesse  parimente  aggiustarse  il  tittolo  dei  nominato. 


(2)  D.  Frei  Francisco  do  Soveral. 

(3)  Referência  ao  Breve  Praeclarae  pietatis  de  Urbano  VIII,  de  16 
de  Julho  de  1640. 


Secondanamente  acciò  il  progresso  nell'aiuto  desanime  non 
sia  impedito  dal  Clero,  essentarne  affatto  da  ogni  lor  depen- 
denza  e  subordinazione,  anzi  dar  autorità  sopra  di  essi  ín  ogni 
abuso  e  disordine  si  uedesse  contro  la  Christiana  Rehgione. 

3.0  Si  replicano  calidissime  preghiere  à  V.  S.  111.™*  e  à  tutti 
cotesti  Eminentissimi  Padri  e  Signori  ci  fauoriscano  d'esplicita 
et  autentica  licenza  di  poterci  affaticar  altroue  nella  uigna  dei 
Signore  quando  no  si  potesse  al  Congo,  per  amor  di  quel  sourano 
Padre,  ch'è  1'istessa  carita  et  amore,  si  côpiacciano  consolarei 
ín  questa  giusta  dimanda,  già  in  foro  conscientice  si  cõpiacque 
V.  S.  assicurarci  delia  uolontà  delia  Congregazione,  bramiano 
ancora  in  foro  fori  autentico  manifesto  di  quella,  acciò  con  mag- 
gior  quiete  interna,  riputatione,  e  delia  Chiesa,  delia  Sagra 
Congregazione  e  nostra  Rehgione  ci  sia  lecito  di  quella  auua- 
lerci;  alia  giornata  si  discuopreno  popoli  nuoui  et  innumerabili, 
bisognosi  d'esser  ílluminati;  le  commodità  d'andarui  sono  oppor- 
tunissime,  le  perdiamo  tutte  per  vbedire  esattamente  à  gl'ordini 
prescrittici  ne'  paesi  dei  Congo,  e  quanto  piú  si  uà  attendendo 
il  termine  de  nostri  desidenj,  tanto  piu  si  uà  dilongado  et  im- 
possibilitando il  principio  de  ueri  mezzi.  / / 

Parti  li  mesi  passati  Ia  flotta  per  Ia  Nuoua  Spagna,  adesso 
parteno  galeoni  per  il  Períi,  ambe  le  parti  sospirano  operarij 
euãgehci;  le  commodità  per  passarui  sono  ottime,  mentre  li 
ufficiah  pnncipah,  com'il  Generale,  Almirante,  Capitani,  etc, 
sí  terrebbeno  felicissimi  codurci  con  essi,  e  pure  si  tralascia  il  tutto 
per  indnzzarci  al  Congo.  Compatisca  dunque  V.  S.  Ill.ma  l'hu- 
mih  e  confidenti  querele  de  suoi  deuoti  serui,  e  si  degni  impe- 
trara in  tutti  i  modi,  e  quanto  prima,  questa  espressa  faculta, 
che  perseuerando  le  difficultà  dei  Congo,  possiamo  andar  ò  nel 
Giappone  e  nella  China,  ò  all'Isole  Fihppine  ,  ò  al  Peru,  ò 
à  Benin,  ò  finalmente  ouúque  per  maggior  gloria  sua  conspi- 
rará il  Signore;  non  me  restringo  à  natione  parti colare  per  non 
artare  la  gratia  dello  Spirito  Santo,  qual  tal'hora  dispone  assai 


differentemente  dal  pensiero  deH'huomini,  mentre  Spiritus  ubi 
uul  sprat.  / / 

Confido  nella  pietà  diuina  ch'à  questo  punto  sara  stata  feli- 
cemente  spacciata  la  nostra  giusta  dimanda,  e  no  tardará  à  capi- 
tarme  apostólico  testimonio  di  quella,  cÕ  lettere  consolatorie 
di  V.  S.  Illu.ma  in  risposta  à  tante  mie,  che  nel  porne  íl  piede 
nella  Spagna  soccessiuamente  li  hò  inuiate. 

II  P.  Prouinciale,  e  Padri  Diffinitori  di  questa  Prouincia 
d'Andalucia  supplicorno  V.  S.  Ill.ma  e  gli  Eminentissimi  se  gli 
cõcedesse  autontà  Apostólica  d'inuiar  Missionarij  de  nostri  Re- 
ligiosi  Capuccini  al  Giappone,  al  Peru,  Mesico,  China,  Bra- 
sile,  etc,  per  il  frutto  abondante  cola  si  spera;  à  lungo  gli  ne 
scnssi  per  doppia  Strada,  ratifico  adesso  1'istessa  petitione,  e  da 
parte  di  tutti  li  suddetti  Padri  cÕ  nuoua  efficacia  1'inculco  la 
concessione  delia  suddetta  gratia,  qual  uenendo  ad  effetto,  si 
cõpiaccia  far  nominar  per  Prefetto  de  missionarij  da  destinarsi 
nella  prima  Missione,  il  P.  Gioseppe  d'Antichera,  Religioso  di 
moita  uirtu,  esperimentato  nella  perfettione,  2.0  Diffinitore  in 
atto  di  questa  Prouincia,  riconosciuto  da  tutti  per  Padre  e  Supe- 
nore.  Onde  sotto  il  suo  indrizzo  e  gouerno  in  quei  paesi  remoti, 
mi  dò  à  credere  le  cose  andarebbono  assai  bene;  il  che  ancora 
è  sommamente  desiderato  dal  P.  Prouinciale.  / / 

Già  questo  Padre  cõ  vbedienza  dei  Signor  Nuntio  à  mia 
nchiesta,  presumendo  la  voluntà  delia  Sagra  Congregazione,  fíi 
ammesso  alia  nostra  cõpagnia,  e  da  me  se  diede  auiso  dei  tutto 
à  V.  S.  Ill.ma  pregando  per  il  Degreto,  etc.  Mà  stimandosi 
maggior  gloria  de  Dio  sia  destinato  per  capo  di  questa  nuoua 
Missione  de  Padri  Spagnoli,  in  suo  luogo  mi  contentauo  dei 
Padre  Luigi  Antonio  da  Málaga,  lettore  in  atto,  giouane  spin- 
toso,  uersato  nelle  cotrouersie,  et  bramatissimo  di  dar  il  sangue 
per  la  nostra  santa  fede.  Proposi  questo  cambio  nella  passata 
diretta  à  V.  S.  111."1*,  la  supplicauo  facesse  cõfermarlo  con  De- 
creto, et  in  cuanto  nõ  fusse  capitata  à  tempo  la  risolutione  di 


742 


costa,  mi  sarei  auuoluto  in  constituire  e  reuocare  deH'autorità  dei 
medesimo  Signor  Nuntio,  ò  soccessor  di  lui;  mentre  s'intende 
tuttauia  s'acanga  per  lo  ritorno.  Replico  adesso  la  medesima 
capacita,  quantúque  piu  grato  à  me  sarebbe  in  quanto  soccede 
alia  nostra  Missione,  hauer  la  mente  espressa  delia  Sagra  Con- 
gregazione,  la  doue  mancando  questa,  bisogna  accommodarsi  al 
meglio  si  può.  / / 

II  Capitano  Genuese  nel  principio  accennato  per  setébre, 
fará  quà  ritorno  affrettando  ella  collo  spaccio  fauorebole  grata 
risposta;  disporrà  Nostro  Signor  che  prima  di  partire  siamo 
consolati  colla  riceuutta,  e  potrà  raccommandar  íl  recapito  al 
nostro  Padre  Procuratore. 

In  quanto  à  missionanj  da  mandarsi  da  Itália,  mi  remetto  alia 
sua  prudenza;  io  per  me  stimerei  ch'eccetto  i  4  Padn  Genuesi, 
quah  hanno  hauuto  íl  Decreto,  nõ  si  destinassero  altri  acciò  nó 
perdino  il  tempo  in  girar  e  regirar  senza  frutto,  fin  tato  che  nõ 
si  uedrà  1'esito  delle  nostre  diligenze,  nelle  quah  sopratutti  oue 
santissimamente  s'impiega  frà  Frãcesco  da  Pamplona,  huomo 
ueramente  eletto  da  Dio  per  le  molte  qualità  ch'in  lui  cõcorrono 
à  soleuar  le  quasi  estinte  speranze  de  missionarij  pouerelli,  quah 
indifferentemente  Italiani,  Spagnoli,  ed  io  frà  essi  come  piíi 
obligato  à  V.  S.  Ill.ma  le  facciamo  humilissima  reuerenza,  e  le 
preghiamo  quella  abondãza  de  bem  et  eterni  e  têporali  ch'i  suoi 
giustissimi  desij  magiormente  sospirano. 

Siuiglia  li  30  di  Giugno  1644. 

Di  V.  S.  111.™ 

Humilissimo  Seruo  nel  Signore 

Fra  Buonauentura  d'Alessano,  Capuccino 
e  Prefetto  dela  Missione  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  169-170  v. 


H3 


40 


CARTA  DO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  PADRE  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 

(2-7-1644) 

SUMÁRIO  —  Faculdade  de  missionar  em  qualquer  lugar  da  África  ou 
nas  índias,  no  caso  de  não  poder  penetrar  no  Congo  — 
Concede  à  Província  da  Andaluzia  missão  própria  entre 
os  Negritas  —  O  Provincial  deveria  tratar  de  arranjar 
Prefeito  e  missionários  a  ela  destinados. 

Alie  instanze  di  V.  R.  è  piacciuto  alh  Signori  Cardinali  di 
questa  Sacra  Congregatione  de  Propaganda  Fide,  non  solo  con- 
cedere  à  lei  et  alli  suoi  Compagni  con  le  facoltà  per  íl  Congo  la 
Missione  agl'altri  luoghi  deirAfrica,  o  dell'Jndie,  in  euento 
però,  che  non  possono  hauere  ingresso  nel  Congo,  ma  hanno 
I'EE.  loro  uoluto  oltre  di  cio,  compiacerla  delia  licenza  di 
pigliarsi  per  Compagno  íl  Padre  Antonio  di  Málaga,  caso  che 
íl  Padre  Gioseffe  di  Antichera  non  si  senta  per  qualche  impedi- 
mento di  proseguire  il  suo  uiaggio,  et  hanno  di  piíi  ordinato 
à  Monsignore  Nuntio  di  Nostro  Signore  in  Jspagna,  che  di 
canco  al  Padre  Prouinciale  e  Diffinitono  de  Capucini  di  Anda- 
luzia, la  Missione  per  li  suoi  Padri  alli  Regni  delli  Negriti, 
ò  intenda  con  essi  loro  dei  Prefecto  e  Missionarij,  che  haue- 
ranno  per  bene  inuiarsi  colà  per  aiuto  deH'anime,  e  faceia  che 
sia  auuisata  de  i  nomi  loro  dal  Padre  Prouinciale  medessimo 
la  detta  Sacra  Congregatione.  / / 

Resta  che  V.  R.  raccomandi  il  negotio  al  Signore  Jddio  per 
1'essito  che  si  desidera  di  sua  gloria,  e  cooperi  nella  parte  che 

'44 


può  all'essecutione  dal  canto  suo,  e  íl  Signore  Jddio  la  pros- 
peri.  // 

Roma,  2  luglio  1644. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  22,  fls.  136-136  v. 

NOTA  —  O  Padre  Boaventura  de  Alessano  encontrava-se  no 
convento  dos  Capucinhos,  em  Sevilha.  Cfr.  doe.  n.°  39,  p.  138. 


H5 

10 


41 


CARTA  DE  ANTÔNIO  DE  ABREU  DE  MIRANDA 
(23-7-1644) 

SUMÁRIO  — ■  Ordenações  realizadas  feio  Bispo  Soveral  —  Desordens  do 
clero  nativo  do  Congo  e  seus  escandalosos  costumes. 


21.  Que  o  Bispo  daquelle  Reyno,  que  Deus  tem,  com  seu 
bom  zello  ordenou  muitos  clérigos  moços  e  filhos  pardos  da  terra, 
de  maneira  que  estes,  por  falecimento  do  Bispo,  e  Vigário  geral, 
e  impedimento  da  Sé  de  Congo,  se  fizera  tao  desabsolutos,  e  cõ 
tantas  parcialidades  hús  entre  outros  de  elegerem  Vigário,  que 
lhe  deraõ  a  elle  Antonio  dAbreu  muito  trabalho  em  os  aquietar, 
e  depois  de  elegerem  Juiz  e  Vigário,  quiz  tomar  tanta  jurisdição 
como  se  tiuera  poderes  de  Bispo,  querendo  prouer  os  officios  de 
defuntos,  contra  o  Regimento  de  V.  Magestade,  e  ainda  em 
clérigos,  e  daly  em  outras  couzas;  que  como  mancebos  e  sem 
pastor  saõ  desabsolutos,  escandalozos  e  como  saõ  clérigos,  naõ 
há  quem  lhe[s]  uá  á  maõ;  que  V.  Magestade  mandaria  prouer 
nisto  o  que  se  deuia  fazer. 


E  discorrendo  o  conselho  por  cada  híi  dos  capitolos  da  carta 
referida,  e  sobbre  o  capitolo  vinte  hú,  que  trata  dos  procedi- 
mentos do  Vigário  geral  e  do  clero.  Pareçe  que  deue  V.  Mages- 

146 


tade  mandar  uer  este  capitolo  pello  tribunal  da  meza  da  coms- 
ciençia,  para  tomar  a  rezoluçaõ  que  ouuer  por  seu  seruiço. 


Lisboa,  23  de  Iulho  de  1644. 

aa )  Jorge  de  Castylho  / /  Jorge  de  Albuquerque  / / 
João  Delgado  Figueira. 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


H7\ 


42 


CARTA  DO  COLECTOR  APOSTÓLICO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(24-7-1644) 

SUMÁRIO  —  Anuncia  a  chegada  do  Padre  Taggia  a  Lisboa  —  Dificul- 
dades da  partida  para  o  Congo  —  Acolhimento  caritativo 
na  Colectoria  —  Obstáculo  à  partida  para  o  Congo. 

Ill.mo  e  R.mo  Signor  mio  Padrone  Osseruandissimo 

I  giorni  passati  mi  fíi  inuiata  da  questo  Segretano  di  Stato 
la  gratíssima  di  V.  S.  Ill.ma  aperta,  col  piego  per  monsignor 
Arciuescouo  di  Mira  (J)  panmente  aperto,  mandandomi  dire 
che  dette  lettere  gl'erano  state  consegnate  di  quella  maniera; 
auiso  di  ciò  V.  S.  Hl.ma  perche  sapi  quanto  poco  sicura  sia  la  uia 
perche  son  uenute;  con  la  prima  occasione  di  naui  per  Goa,  non 
mancarò  inuiar  detto  piego  con  ogni  sicurezza. 

Ar[r]iuò  qui,  due  settimane  sono,  ti  P.  fr.  Bonauentura 
di  Taggia,  genouese,  Viceprefetto  delia  missione  dei  Congo, 
con  tre  altn  suoi  Compagni,  e  se  bene  non  mi  hanno  portata 
lettera  di  V.  S.  111."1*,  ne  di  cotesta  S-  Congregatione,  con  tutto 
ciò  in  riguardo  d'esser  mandati  dalla  medesima,  glhò  raccolti 
qui  in  Casa,  come  feci  gl'altri,  facendoli  quel  poco  di  canta  che 


(l)  Parece  tratar-se  de  D.  Francisco  António  Fasella  de  S.  Felice, 
da  Ordem  dos  Menores  Conventuais,  nomeado  por  breve  apostólico  de 
14- 11- 1637,  tendo  sido  consagrado  em  30  do  referido  mês,  em  Roma, 
na  igreja  de  Santa  Maria  degli  Angeli,  e  deputado  administrador  apos- 
tólico no  Japão,  por  breve  de  26-2-1638.  Cfr.  P.  Gauchat,  Hierarchia 
Catholica  Medii  et  Recentioris  Aevi,  Monasterii,  MCMXXXV.  IV, 
p.  521. 

'48 


li  possono  soministrare  Ie  mie  deboli  forze,  e  non  mancarò  cTaiu- 
tarli  in  tutto  quello  che  potro  in  ordine  dei  suo  dispaccio,  se 
bene  con  1'impedimento  degl'olandesi,  che  tuttauia  occupano 
quella  piazza  (2),  si  rendará  molto  difficile  íl  potersi  transferir 
cola;  perche  íl  detto  Padre  fr.  Bonauentura  scnuerà  a  V.  S. 
lU.™"  piu  difusamente,  finisco  con  baciar  a  V.  S.  Ill.ma  le  mani. 
Lisbona,  a  24  luglio  1644. 


Aff.mo  e  oblig.mo  Seruitore 

Girolamo  Battaglini 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.  49. 


(2)  O  Colector  dá  como  razão  única  do  impedimento  da  partida 
dos  missionários  de  Lisboa  par  o  Congo,  a  ocupação  hodandesa  de 
Luanda.  Era,  efectivamente,  a  boa  e  única  razão. 


'49 


43 


CARTA  DO  COLECTOR  APOSTÓLICO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(12-8- 1644) 

SUMÁRIO  —  Os  missionários  esperam  largar  para  o  Congo  —  Excelente 
disposição  da  Rainha  e  do  Rei  para  com  eles  —  Benefícios 
de  um  hospício  em  Lisboa  para  os  Capuchinhos. 

Ill.m0  e  R.mo  Signor  mio  Padrone  Osseruandissimo 

Dopo  hauer  scritta  un'  altra  mia  i  giorni  indietro  a  V.  S. 
IU.ma,  mi  è  parso  bcnc  per  quest'altre  due  nghc  sopra  i  religiosi 
Capuccini  missionarij  dei  Congo,  con  dirle  che  discorrendo  col 
P.  Bonauentura,  Viceprefetto,  dei  suo  negotio,  ch'essendo  ínca- 
minato  ín  modo  che  ci  dà  speranza,  sia  per  hauer  felice  successo 
col  fauore  particularmente  delia  maestà  delia  Regina,  che  con 
molto  zelo  li  protege,  oltre  1'elemosine  che  li  fà,  et  anco  parlan- 
done  10  al  Rè  sia  a  su  egh  molto  inchinato  à  concederli  íl  pas- 
saporto,  paremi  che  saria  stato  acertato  mandar  al  P.  Prefetto  ò 
Vice  Prefetto  autontà  di  poter,  quando  fossero  nel  Congo, 
riceuer  qualche  nouitio  al  meno  in  questo  principio,  fin  tanto 
che  la  missione  stasse  corrente,  perche  alhora  stimarei  anco  bene 
che  qui  hauessero  un  poco  d'hospitio  per  la  commodità  delia 
corrispondentia  de  Religiosi  missionarij,  che  si  trouassero  nel 
Congo  con  questa  S.  Congregatione,  alia  quale,  parendo  à  V.  S. 
Ill.ma  potra  comunicarli  questi  punti,  per  risoluere  quello  fosse 

/50 


piíi  conueniente  al  seruitio  di  Dio,  conche  a  V.  S.  Jll. 
bacio  affettuosamente  le  mani. 
Lisbona,  a  12  di  Agosto  1644. 

Di  V.  S.  111."» 

Deuotisimo  et  Obligatissimo  Seruitore 

Girolamo  Battaglini 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.  50. 


44 


CONSULTA  DO  CONSELHO  ULTRAMARINO 
(17-8-1644) 

SUMÁRIO  — ■  Recompensas  ao  Rei  de  Angola  e  ao  Soba  Cabaço  pela  sua 
cooperação  na  guerra  e  ao  Soba  Angola  o  mais  confidente 
de  todos  —  Cargo  de  capitao-mor  da  guerra  preta  a  Hen- 
rique Dias  —  Recompensa  a  António  de  Miranda. 

Sobre  hú  papel  que  deu  Antonio  Teixeira 
de  Mendonça  acerca  de  algús  particulares  do 
Rey  no  de  Angola 

Viose  neste  Conselho  hú  papel  que  nelle  deu  o  capitão 
Antonio  Teixeira  de  Mendonça,  no  qual  diz  que  deve  V.  Ma- 
gestade  mandar  que  na  Bahia  se  lhes  dê  algú  fato  de  resgate,  para 
com  elle  franquearem  o  caminho  e  comprar  algú  bastimento  se 
lhes  for  necessário,  que  importará  setenta  ou  oitenta  mil  reis. 

{Resolução  régia,  à  margem]:  Como  parece.  Com  decla- 
ração que  se  parta  Antonio  Teixeira  e  á  Bahia  se  lhe  enuiraõ 
as  cartas.  / / 

Lisboa,  2  1  de  Outubro  de  644. 

Rey 

Que  deve  V.  Magestade  ordenar  que  das  fazendas  que 
naquelle  Reyno  saõ  confiscadas  per  ordem  de  V.  Magestade  aos 
castelhanos,  e  da  mais  que  se  achar  pertencente  a  V.  Mages- 
tade se  socorra  a  jnfantana. 

>52 


[Ã  margem]:  A  fl.  129  deste  huro  uay  registada  a  con- 
sulta de  recordo  em  que  S.  Magestade  tomou  a  resolução  assima. 

Que  a  El  Rey  de  Angola,  pello  bem  que  seruio  nesta 
ocaziao,  trazendo  o  Pnncepe  seu  filho  no  nosso  arrayal  com  sua 
guerra,  por  cuio  respeito  e  fedelidade  se  lhe  leuantarao  algús 
vassalos  poderozos  fogindo  para  a  Ginga  e  fazendose  de  sua 
parçealidade,  lhe  pareçe  lhe  deue  V.  Magestade  mandar  o 
abito  de  Christo  em  híía  capa  que  pareça  ser  de  V.  Magestade, 
escreuendolhe  V.  Magestade  em  que  lhe  agardeça  o  bem  que 
se  ouue. 

[Â  margem]:  Assentou  o  Conselho  que  nao  cabia  a  reso- 
lução asima  nesta  consulta  e  assy  que  se  naõ  auia  de  usar 
delia  mais  que  só  no  escreuer  as  cartas  e  hir  Annque  Dias  por 
capitão  mor  da  guerra  preta. 

Que  também  lhe  pareçe  deue  V.  Magestade  escreuer  ao 
jaga  Cabuco,  que  foi  o  que  nos  asestio,  mandando  lhe  húa 
roupeta  e  uabuzeira  com  hú  dos  abitos. 

[Ã  margem]:  Resolução  que  S-  Magestade  tomou  nesta 
consulta,  que  baixou  em  7  de  Novembro  de  644. 

Que  ao  soua  Emgola  Quiato,  que  hé  o  mais  poderoso  que 
há  entre  os  vassalos  de  V.  Magestade  e  foi  o  mais  confidente 
de  todos,  deue  V.  Magestade  mandar  outra  roupeta  com  outro 
abito,  e  escreuerlhe,  confirmando  o  no  mesmo  cargo  em  que 
os  governadores  o  tem  prouido. 

[Resolução  régia,  à  margem]:  Não  tem  já  lugar.  Lisboa, 
a  2  de  dezembro  de  644. 

Rey 


'53 


A  Henrique  Diaz,  para  que  uá  cÕ  mais  uontade  neste 
socorro,  deue  V.  Magestade  fazer  lhe  merçê  do  cargo  de  capi- 
tão mor  de  toda  a  guerra  preta  daquelle  Reyno. 

Que  deue  V.  Magestade  lembrarse  de  Antonio  dAbreu 
de  Miranda,  a  cuio  cargo,  por  eleição  do  pouo,  está  o  gouerno 
das  Armas  daquelle  Reyno»  pondo  os  olhos  em  seus  seruiços 
e  na  vontade  com  que  despende  sua  fazenda  no  Real  Serviço 
de  V.  Magestade,  escrevendose  à  Camara  e  pouo  daquelle 
Reyno. 

E  uisto  o  dito  papel,  pareceo  dizer  a  V.  Magestade,  quanto 
ao  primeiro  ponto,  que  o  Marquês  Prezidente  refeno  neste 
Conselho  que  buscaria  os  setenta  até  oitenta  mil  reis  para  com- 
pra das  roupas  de  resgate  de  que  se  trata. 

E  quanto  ao  segundo,  pareçe  o  mesmo  que  nelle  se  aponta 
e  já  Antonio  dAbreu  Miranda  auisou  que  hia  tratando  destas 
arecadações,  posto  que  com  dificuldade,  para  sustento  da  gente- 

E  sobre  o  terceiro,  parece  que  V.  Magestade  deue  ser- 
uirse  de  mandar  a  El  Rey  de  Angola,  pellas  rezoês  que  Antonio 
Teixeira  refere,  o  abito  de  Chnsto  com  húa  capa  que  ualha  até 
20$  reis. 

E  sobre  o  quarto  ponto,  que  deue  V.  Magestade  mandar 
escreuer  ao  Jaga  Cabuco  e  mandarlhe  hua  saltimbarca  (1),  com 
o  abito  de  Santiago. 

E  sobre  o  quinto,  que  deue  V.  Magestade  fazer  merçê  a 
Henrnque  Dias,  a  quem  V.  Magestade  tem  também  man- 
dado passar  a  Angola  neste  socorro,  do  cargo  de  capitão  mor 
de  toda  a  guerra  preta  daquelle  Reyno,  que  hé  o  mesmo  cargo 
que  tinha  no  Brazil,  e  que  pello  bem  que  tem  seruido  na 
guerra  daquelle  Estado,  lhe  deue  V.  Magestade  mandar  o  abito 
de  Santiago. 


(*)  Espécie  de  balandrau,  usado  pelos  antigos  guardas  de  segu- 
rança. 

'54 


E  sobre  o  sétimo,  acerca  dos  mouimentos  e  seruiços  de 
Antonio  dAbreu  de  Miranda,  pareceo  dizer  a  V.  Magestade 
que  pella  imformaçaõ  que  há  neste  Conselho  de  que  tem 
seruido  a  V.  Magestade  muitos  anos  naquella  Conquista  com 
grande  satisfação  e  despeza  de  fazenda,  principalmente  nesta 
rota  (2)  que  ouue  em  Angola,  em  que  aiuntou  a  gente  espa- 
lhada para  rezestir  ao  enemigo,  cazo  que  o  cometese,  susten- 
tando aquelles  pnzidios  com  grande  cuidado,  acodindo  a  tudo 
com  sua  fazenda  por  ser  muito  rico,  porque  hé  merecedor  de 
grandes  mercês  de  V.  Magestade,  aprezentando  seus  papeis, 
que  por  ora,  emquanto  os  não  aprezenta,  tendose  consideração 
á  necessidade  que  há  de  sua  pessoa  para  a  conseruaçao  daquelle 
Reino  e  prezidios,  lha  deue  V.  Magestade  fazer  do  abito  de 
Christo,  e  que  recuperandose  o  Reyno  de  Angola  com  sua 
assistência,  lha  faça  V.  Magestade  também  do  foro  de  fidalgo, 
e  huã  Comenda  da  mesma  Ordem  de  dusentos  mil  reis,  para 
que  com  isto  se  anime  os  mais  que  o  acompanhaõ  a  seruir  a 
V.  Magestade  com  ualor  e  despesa  de  suas  fazahdas.  / / 

Lisboa,  17  de  Agosto  de  644. 

O  Marquês  /  Jorge  dAlbuquerque  / 
João  Delgado  Figueira 

AHU  —  Conselho  Ultramarino.  Cód.  13,  fls.  108-108  v. 


(2)  Peleja 


'55 


45 


CARTA  DE  FREI  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(30-8-1644) 

SUMÁRIO  —  Comunica  ao  Cardeal  Prefeito  ter  alcançado  de  D.  João  IV 
para  passar  ao  Congo  —  Refere-se  à  doação  da  condessa 
D.  Filipa  Carneiro  para  construção  do  hospício  de  Lisboa. 

Eminentíssimo  et  Reu.mo  Signor 

Facio  sapere  à  V.  E.  come  doppo  molte  difficoltà  hauute, 
intendiamo,  tanto  dal  Signor  Secretario  Maggior  di  Stato, 
quanto  da  Signon  dei  Consegho,  hauer  recanzata  la  gratia  di 
poter  passare  al  Regno  dei  Congo  per  compire  alia  nostra  mis- 
sione, tanto  piíi  da  stimarsi,  quanto  che  da  periti  mercadanti 
si  stima,  che  non  è  possibile  possa  íl  P.  Bonauenturra  d'Ales- 
sano  passare  di  Cádis  al  Congo  ín  questi  tempi;  pertanto  non 
sana  se  non  bene  mandarmi  alli  Patn  nominati  al  M.  R.  P. 
Procuratore  Generale  religiosi  ottimi,  essendo  noi  molto  pocchi 
per  una  missione  di  tanta  conseguenza  et  recanzata  cÕ  tanta 
difficoltà,  et  lettere  di  fauore  di  Regi,  nmetendomi  à  quanto 
parerà  giusto  à  V.  Em.\ 

Panmente  da  una  Signora  Contessa  di  Lisbona  mi  uienc 
offerto  sito  et  ogni  altro  per  la  fabrica  d'un  Conuento  nostro, 
cõ  quale  occasione  si  potria  prender  hospitio,  per  tenere  ín  Lis- 
bona la  porta  aperta  alia  missione  et  per  íl  rinfresco  de  frati 
quando  acadesse  1'occasione  s'en'hauesse  di  bisogno,  non  bi- 
sognando  farli  uenire  d'Jtalia. 

II  Vescouo  d  Eluas,  Capellano  Maggior  di  Sua  Maestà, 
al  quale  fu  nmessa  la  causa,  giouò  molto  piamente  alTimpiego 

,56 


nostro;  1'istesso  feccero  assai  caldamente  íl  Signor  Vicecolletore, 
homo  ueramente  honorato  et  stimato  da  bom;  listesso  fece 
íl  Signor  Auditore  delia  Colletona.  Ne  scriuo  à  V.  E.  per  non 
esser  ingrato-  Le  bacio  le  sacri  vestimenti  et  pnego  dal  Cielo 
à  V.  E.  íl  colmo  d  ogni  bene. 
Lisbona,  li  30  Agosto  1644. 

Di  V.  E. 

Seruo  humilissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino  / / 
et  Vice  Prefetto  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.  52-53  v. 

Eminentíssimo  et  Reuerendissimo  Signor 

POSCRI  I TO.  Ci  uiene  offerto  il  vascelo  fra  pocco  tempo  per  il 
Congo,  da  sua  maestà,  per  il  Signor  Segretario  maggiore  suo,  il  che  sara 
fra  due  o  3  mesi  et  non  sò  quando  ui  sara  altra  occasione,  mercê  che 
occupano  Angola  TOlandesi;  pertanto  sono  instato  etiamdio  da  gesuiti 
religiosi,  procurare  altri  Padri  quanto  prima,  dicendo  loro  che  per 
1'ordinario  si  moiono  alcuni  per  il  lungo  uiaggio  di  mare  et  arie  cattiue 
uerso  la  linea  equinotiale;  però  sia  pregata  V.  Eminenza  cõ  prima 
occasione  spedirme  alcuni  altri  Padri,  saltem  al  numero  di  10,  et  uen- 
gano  quanto  prima  à  Liuorno,  douc  saranno  presto  due  naui  di  partenza 
per  Lisbona:  et  si  mandi  specialmente  un  bono  infermiero. 

Di  V.  Eminenza 
Seruo  Vmilissimo 

1'istesso  f.  Bonauentura 
Viceprefetto. 

Dico  à  V.  Eminenza  al  numero  di  dieci  cõ  noi  altri  4  salte;  si 
mandino  tre  altri  fra  Predicatori  et  Sacerdoti  cõ  un  laico  infermiero. 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.  33. 


'57 


46 


CARTA  DE  FREI  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(1-9-1644) 

SUMÁRIO  —  Dentro  de  três  ou  quatro  meses  contava  partir  para  o 
Congo  —  Boa  recepção  das  autoridades  portuguesas  — 
Que  não  mandasse  frades  espanhóis,  por  dignos  respeitos. 

lllmo  Signore  Padrone  mio  Colendissimo 

Hoggi  sono  auisato  dal  Segretano  Maggior  di  Stato  di  Sua 
Maestà,  et  dali  Signori  di  Conseglio,  che  è  passata  la  gratia  di 
passare  al  Congo,  et  S.  Maestà  questa  mattina  ci  fece  chiamare 
per  trattenerci  cõ  noi,  et  darei  di  sua  mano  li  spacci,  godendo 
molto  siamo  consolati;  fu  rimessa  la  causa  al  Vescouo  d'Eluas, 
Capellano  Maggior  di  Sua  Maestà,  et  fauori  ottimamente  la  nos- 
tra  causa.  Giouò  il  signore  Vicecolletore,  et  signor  Auditore, 
quali  ambedue  si  gustano  (?)  ottimamente  nel  carriço  loro,  et 
certo  che  il  signor  Vicecolletore  ci  fece  sempre  gran  carità,  ci 
accolse  súbito  ín  sua  casa  et  gouernò  per  molti  giorni  dei  suo; 
finalmente  si  prese  di  noi  cura  la  Regina.  È  però  uero  che  saria 
bene  in  altre  occasioni  dare  ordine  al  signor  Vicecolletore,  si 
prendese  la  cancã  de  missionarij  che  uerrano  in  Lisbona,  quando 
non  habbino  conuenti  in  questa  Città. 

Ricordo  à  V.  S.  che  sana  bene  mandarmi  altn  Padn  Mis- 
sionanj,  ma  però  non  sijno  sogetti  à  Spagna,  per  degni  rispetti; 
ne  nomino  ali  al  Signor  Veruzio  et  M.  R.  P.  Procuratore  Ge- 
nerale  nostro,  facio  però  instanza  grande  d'un  laico  jnfermiero. 

La  nostra  partenza  sarà  frà  tre  ò  quatro  mesi,  ut  aiunt,  po- 
tranno  arrmare  à  tempo.  Non  altro  per  hora.  Le  bacio  le  mani 

I58 


prego  à  V.  S.  Ill.ma  il  complimento  de  sua  esaltatione-  / / 
Lisbona,  il  primo  ybre  [settembre]  1644. 

Di  V.  S.  m.m 

Seruo  deuotissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
Vice  Prefetto  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.  34. 


'59 


47 


CARTA  DE  FREI  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(5-9-1644) 


SUMÁRIO  —  Oferta  de  casa  para  convento  de  Capuchinhos  na  cidade 
de  Lisboa,  pela  condessa  D.  Filipa  Carneiro. 

111.'"0  et  Reu.mo  Signore  Padrone  mio  Colendissimo 

Per  altra  hò  scntto  à  V.  S.  Ill.ma  di  quanto  si  recanzò  dal  Rè 
di  Portugalo  per  passare  alia  nostra  Missione  dei  Congo;  resta 
hora  dire  à  V.  S.  che  hauendomi  una  Signora  Contessa,  detta 
per  nome  la  signora  Filipa  Carneiro,  offerto  et  sito  et  ogni  altro 
per  fabricare  un  Conuento  à  nostri  Padn,  dentro  da  Città  di 
Lisbona,  non  facio  instanza  à  nostri  Padri  per  íl  Conuento,  per 
hora  lasciando  che  matunno  questo  negotio  cõ  la  loro  prudenza; 
dico  bene  à  V.  S.  IIl.m*  che  sarà  bene  seruirsi  di  questa  occasione 
per  prendere  hospitio  per  il  recetto  et  prouisione  delia  missione, 
il  che  aportena  grandíssimo  aiuto  à  quanto  si  desidera;  quando 
V.  S.  IIl.ma  stimi  cio  conueniente,  anzi  necessário,  operi  efhca- 
cemente  col'Eminentissimo  Sig-nor  Protettore  nostro  S.  Hono- 
frio  (1),  si  dij  tal'ordine,  quale  potranno  portare  li  Padn  [chi] 
si  manderanno,  et  quando  questi  Padn  non  potessero  súbito 


(*)  Cardeal  António  Barberini,  Sénior,  O.  F.  M.  Cap.,  feito  Car- 
deal por  Urbano  VIII,  em  13  de  Novembro  de  1624,  com  o  tínilo 
de  Santo  Onofrio.  Passou  para  o  título  de  S.  Pedro  ad  Vincula  em  7 
de  Setembro  de  1637,  para  o  de  Santa  Mana  in  Trastcvere  em  26  de 
Maio  de  1642,  falecendo  em  Roma  em  11  de  Setembro  de  1646.  Guar- 
dou o  nome  de  Cardeal  de  Sto.  Onofrio.  Jaz  na  igreja  de  Nossa  Se- 

J  60 


imbarcarsi  per  il  Congo,  si  tratteranno  all'hospitio;  sarà  pêro 
bene  mandarne  due  di  piu,  Padn  qualificati  per  tenere  l'hospi- 
tio  alie  mani.  / / 

Pnego  V.  S.  Ill.ma  instantemente  per  la  consecutione  delia 
gratia  d'un  altare  Priuilegiato  per  la  Città  di  Massangan [o] , 
di  che  mi  fà  instanza  un  Canónico  di  quella  Chiesa  instan- 
tesse  quà  presente;  item  un  Jndulgenza  Plenária  per  la  festa 
delia  Beata  Vergine  di  febraro,  cioè  Punficatione.  Le  bacio 
nuerente  le  mani  et  pnego  à  V.  S.  111."*  il  colmo  delli  suoi 
desidenj.  / / 

Lisbona,  li  5  Settembre  1644. 

Di  V.  S.  Ill.ma 


Seruo  humilissimo 


Bonauentura  di  Taggia,  Capuccino 
et  Vice  Prefetto  dei  Congo 


APF  —  SRCC,  vol.  123,  fl.  35. 


nhora  da  Conceição,  dos  Capuchinhos,  que  ele  mesmo  fundara,  com 
a  inscrição  sepulcral:  Hic  jacet  pulvis  et  cinis  et  nihil.  Cfr.  P.  Patrício 
Gauchat,  Hierarchia  Catholica  Medii  et  Recentioris  Aevi,  Monasterii, 
MCMXXXV,  tom.  IV,  p.  19. 

161 

u 


48 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(7-9-1644) 

Sumário  —  Composição  da  Missão  do  Congo  —  Escreve-se  ao  Pro- 
vincial de  Aragão  sobre  o  mesmo  assunto. 

Em.™  e  Reu."10  Signor  Padrone  Colendissimo 

Mt  giunsero  con  una  lettera  di  V.  Eminenza  i  Decreti  di 
cotesta  S-  Congregatione  per  h  quattro  PP.  Capuccini,  che  uni- 
tamente  con  un  laico  jnfermiero  hanno  a  trasfenrsi  nella  Mis- 
sione di  Congo;  et  hauendone  parlato  con  questo  Padre  Prouin- 
ciale  di  Castiglia,  mi  uengono  da  lui  approuati  li  Padn  frà  Bona- 
uentura  di  Sardegna,  et  frà  Giouanni  di  S.  Giacomo,  i  quali  sono 
stati  chiamati  quà,  conforme  all'instanze  che  se  ne  faceuano,  per- 
che possano  unirsi  con  gl'altn  Missionanj,  essendosi  anche  data 
la  licenza  al  frate  laico,  come  dalla  medesima  S.  Congregatione 
mi  ueniua  imposto.  / / 

Per  gl'altri  due  si  è  scntto  al  Padre  Prouinciale  d'Aragona, 
e  giunta  che  sia  l'informatione  d'essi  si  rimetterà  panmente 
loro  íl  Decreto,  et  intanto  fò  all'Eminenza  Vostra  humillissima 
nuerenza.  / / 

Di  Madrid,  li  7  Settembre  1 644. 

Di  V.  Eminenza 
[Autógrafo]:  Humil."10  et  Obl.mo  Seruittore 

Giulio,  Arciu.0  di  Tarso 

Em.rao  S.  Card.1  S.t0  Honofrio 
APF  —  SRCG,  vol.  108,  fl.  65. 


162 


49 


CARTA  DE  EL-REI  D.  JOÃO  IV 
AO  EMBAIXADOR  EM  FRANÇA 

(17-9-1644) 

SUMÁRIO  —  Tendo  recebido  recomendação  do  Rei  de  França  para 
os  missionários  Capuchinhos  que  passavam  ao  Reino  do 
Congo,  el-Rei  avisará  o  seu  Embaixador  logo  que  as  con- 
veniências do  reino  permitam  deixá-los  embarcar. 

Conde  Almirante,  Embaixador,  Amigo.  Eu  EIRei  vos  en- 
vio muito  saudar  como  aquele  que  amo.  / / 

Aqui  ficaõ  os  Religiosos  Capuchinhos  barbados,  de  cuja 
vinda  me  avizaes  em  carta  vossa  de  12  de  Abril  passado:  e 
posto  que  desejo  muito  favorecelos,  asy  pelo  negocio  a  que  vaÕ, 
como  pela  recomendação  que  delles  me  fes  EIRei  Christianis- 
simo.  Temse  offereçido  alguns  inconvenientes,  que  até  agora 
impedirão  tomarse  rezoluçaõ  no  seu  negocio.  Folgarei  muito 
que  as  conveniências  do  Reino  permitaõ  deixálos  passar  ao  de 
Congo,  e  do  que  nisto  se  rezolver  vos  mandarei  fazer  avizo.  // 

Escrita  em  Lisboa,  a  1 7  de  Setembro  de  1 6^4. 

ATT  —  Ms.  1017,  págs.  145-146.  —  Cofr,  doe.  n.°  27,  p.  108. 


163 


50 


CARTA  DO  SECRETÁRIO  DO  CONSELHO  DE  ÍNDIAS 
AOS  SUPERIORES  CAPUCHINHOS  DE  CASTELA 

(26-9-1644) 

SUMÁRIO  —  Pede  informação  sobre  a  pretensão  de  Frei  Francisco  de 
Pamplona  e  outros  missionários  Capuchinhos,  de  passa- 
rem ao  Japão,  caso  não  pudessem  entrar  no  Congo. 

Fray  Francisco  de  Pamplona  en  nombre  He  los  missionários 
de  Congo,  ha  dado  vn  memorial  en  el  consejo  de  Camara  de 
índias  en  que  rehere  hauia  llegado  a  su  notiçia  que  algunos 
olandeses  y  ingleses  hauian  introduçido  y  sembrado  la  eregia 
en  aquel  Reyno  de  Congo,  y  porque  seria  posible  que  sabiendo 
que  los  dichos  Religiosos  yban  a  instruirlos  y  dilatar  el  Santo 
Euangelio,  no  los  dejasen  desenvarcar,  supplican  a  Su  Ma- 
jestad  que  para  en  este  caso  se  sirua  de  darles  liçençia  para  que 
puedan  desde  alli  pasar  al  Japon,  o  alas  Filipinas,  en  cum- 
plimiento  dei  mandato  de  Su  Santidad.  / / 

Y  por  que  el  consejo  quiere  saber  quantos  Religiosos  son 
estos,  y  si  el  intento  que  lleuan  es  el  referido,  y  que  conue- 
niençias  o  inconuenientes  podran  resultar  de  darles  la  dicha 
liçençia,  y  de  que  naçion  son,  ha  acordado  que  de  su  parte 
diga  a  V.  P.  R.a  (como  lo  hago)  se  sirua  de  informar  lo  que 
sobre  esto  se  le  ofreçe,  juntamente  con  su  parecer,  para  que 
visto  se  prouea  lo  que  conuenga.  Guarde  Dios  a  V-  P.  R.a 
como  deseo. 

Madrid,  a  26  de  Septembre  1645. 

a)  D.  Gabriel  de  Ocaíía  y  Alarcon 
BNM  —  Ms.  38x8,  fls.  57-57  v.  —  Cfr.  doe.  n.°  51,  p.  165. 

164 


51 


CARTA  DO  PROVINCIAL  DE  CASTELA 
AO  CONSELHO  REAL  DAS  ÍNDIAS 

(1-10-1644) 

SUMÁRIO  —  Dá  o  seu  parecer  sobre  a  conveniência  ou  inconveniência 
da  missão  dos  Capuchinhos  às  Filipinas  e  Japão  —  Difi- 
culdades insuperáveis  quanto  à  missão  do  Congo. 

Muy  Poderoso  Senor 

El  Secretario  Don  Gabriel  de  Alarcon  me  ha  dado  auiso 
de  como  V.  A.  me  manda  le  informe  dei  numero  de  los  Reli- 
giosos que  por  orden  de  su  Santidad  y  sacra  Congregacion  de 
Propaganda  Fide  van  a  la  mission  dei  Reyno  de  Congo»  dei 
intento  que  lleban,  de  que  naçion  son  y  que  conueniençias  o 
inconueniençias  podran  resultar  de  darles  liçençia  para  yr  ai 
Japon  o  Philipinas,  dando  juntamente  mi  parecer.  Y  así  en 
cumplimiento  de  la  orden  de  V.  A.  responderé  a  cada  punto, 
por  orden,  como  se  me  ordena. 

El  numero  de  los  que  van  es  de  doze  Religiosos,  de  los 
quales  vno  es  Castellano,  otro  Andaluz,  otro  Nauarro,  otro 
Sardo,  otros  tres  hay  de  la  Corona  de  Aragon,  y  todos  los  de- 
más  son  Ytalianos.  Y  el  Prefecto  desta  mission  lo  es  y  se  llama 
Fray  Buenauentura  de  Alessano. 

El  intento  destos  Religiosos  es  sanctissimo  y  de  mucha 
edihcaçion  y  prouecho  de  las  almas,  porque  es  de  predicar  el 
Sancto  Euangeho  a  los  infieles  y  de  instruirlos  en  nuestra 
Sancta  Fee  y  de  propagaria,  si  pudiesen,  en  todas  aquellas  re- 
giones.  Y  los  Religiosos  dellos  que  por  acá  conoçemos  son  hom- 
bres  de  aprobada  vida  y  sanctas  costumbres.  y  estos  y  todos  los 

,6$ 


demás  Missionários  están  aprobados  de  sus  Prelados  para  este 
intento,  y  como  tales  propuestos  a  la  Sacra  Congregacion  de 
Propaganda  Fide- 

En  quanto  a  las  conueniençias  o  desconueniençias  que  en  la 
yda  de  los  Religiosos  puede  auer,  se  puede  hazer  consideraçion  de 
dos  viajes  diferentes:  o  dei  que  lleban  por  orden  de  su  Santidad 
para  el  Reyno  de  Congo,  o  dei  que  pretenden  llebar  con  hçencia 
de  V.  A.  para  las  Philipinas  o  Japon.  En  quanto  al  pnmero,  aun- 
que  el  fin  como  he  dicho,  y  el  intento  es  sanctissimo,  los  mé- 
dios son  dificultosissimos  y  casi  imposibles,  así  por  parte  de  la 
nauegaçion  como  dei  termino.  Por  parte  de  la  nauegaçion 
porque  segun  la  relaçion  que  hasta  aora  tenemos,  es  con  vn  mal 
nabichuelo  de  çiento  y  çinquenta  toneladas,  para  vn  viaje  tan 
largo  y  yendo  expuestos  a  ser  cautibos,  presos  o  muertos  de 
moros  y  hereges,  particularmente  Olendeses  y  de  Françeses, 
o  de  outros  qualesquier  enemigos  desta  Corona,  y  lo  que  más 
es  las  funas  dei  mar  Oçeano  con  vna  tan  flaca  defensa  como 
es  la  dei  nabio  que  lleban.  Cosas  todas  que  pareçieran  empren- 
didas  con  desesperaçion  y  aborreçimiento  de  la  vida,  si  no  su- 
piéramos  el  sancto  zelo  que  les  muebe.  / / 

Por  parte  dei  termino,  porque  van  a  vn  Reyno  de  infieles 
ya  instruídos  enl  a  heregía  por  los  Olandeses  y  ensenados  por 
los  ministros  hereges  a  aborreçer  a  los  catholicos  y  a  la  doctrina 
Catholica,  como  sumamente  perniciosa  para  las  republicas  y 
para  las  almas,  y  con  esta  consideraçion  y  horror  han  quemado 
las  vestiduras  saçerdotales  que  tenian  y  los  misales  y  lanzado 
de  si  los  saçerdotes  catholicos  que  les  auian  empezado  a  enseííar 
nuestra  Sancta  Fee,  y  por  el  mismo  caso  no  pareçe  que  daran 
lugar  a  que  entren  los  dichos  Religiosos  en  sus  tierras,  porque 
si  han  echado  los  saçerdotes  catholicos  que  tenian.  como  admi- 
tiran  los  que  bienen  de  nuebo,  y  más  estando  oy  (como  se  dize) 
poseyda  de  los  Olandeses  Angola,  que  era  el  puerto  adonde 
podian  desenbarcar  en  el  Congo  [  ?  ] . 


166 


En  quanto  al  segundo  viaje  que  pretenden  hazer  con  liçen- 
çia  de  V.  A.,  que  es  yr  a  las  Phihpinas  o  Japon,  suponiendo 
tambien  que  quieren  hazer  [lo]  en  cumplimiento  dei  orden 
y  comission  de  su  Santidad,  como  sin  duda,  con  el  gran  zelo 
y  feruor  que  les  muebe  lo  piensan,  no  solo  no  es  con  orden  suya 
m  de  la  Sacra  Congregaçion  de  Propaganda  Fide,  pero  es  total- 
mente contrario  a  la  intençion  de  su  Santidad,  y  de  la  misma 
Sacra  Congregaçion,  que  precisamente  les  da  authondad  para 
yr  al  Reyno  dei  Congo  y  no  para  yr  a  otra  parte,  en  caso  que 
alli  no  sean  admitidos,  ni  nuestro  Padre  General  les  da  obe- 
diência más  que  para  que  yr  ( sic )  al  dicho  Congo,  y  otras 
facultades  y  graçias  que  les  conçede  su  Santidad  en  orden  a  la 
misma  mission,  tambien  estan  coartadas  y  reduzidas  solamente 
al  dicho  Reyno  dei  Congo,  como  lo  podrá  ver  V.  A.  por  ese 
traslado  autentico  que  le  remito  dei  Buleto  (*)  en  que  se  le  da 
la  Comission  al  P.  Fr.  Buenaventura  de  Alessano,  Prefeto  de 
la  dicha  mission,  como  dei  de  la  obediência  que  le  dió  N.  P. 
General.  Y  por  el  Buleto  podrá  veer  V.  A.  que  solo  se  les  dió 
comission  y  liçençia  a  tres  Companeros  y  despues  con  nuebas 
y  repetidas  diligencias  y  instançias  han  sacado  liçençia  para  que 
se  estiendan  a  doze. 

De  todo  lo  qual  se  colige  que  si  los  dichos  Padres  desta 
mission  miraran  bien  en  ello,  conoçieran  no  pueden  en  manera 
alguna  pasar  a  las  Philipinas  ni  al  Japon,  porque  no  tienen 
authondad  ni  de  su  Santidad  ni  de  los  Prelados  de  la  Orden 
para  yr  allá,  y  si  tienen  alguna  facultad,  la  tienen  muy  guar- 
dada, porque  asta  aora  no  la  han  manifestado,  y  no  siendo  cosa 
guiada  por  la  obediência  y  authondad  de  los  Superiores,  en  el 
Religioso  no  pareçe  que  puede  ser  azertada,  por  muy  buena 
que  parezca. 

Del  ser  tan  dificultoso  y  casi  imposible  el  conseguir  el  ín- 


(*)  Cfr.  doe.  de  25  de  Junho  de  1640,  em  Monumenta,  VIII. 

167, 


tento  de  la  mission  dei  Congo,  se  puede  temer  con  gran  funda- 
mento que  lleban  estos  Padres  intençion,  a  lo  menos  secundaria, 
no  solo  de  tomar  puerto,  como  dizen  en  la  liçençia  que  piden 
a  su  Magestad,  sino  de  fundar  en  las  Philipinas,  en  donde  les 
pareçe  que  han  de  conseguir  su  intento,  ensenando  la  doctrina 
catholica  a  los  índias  q  exerçitandose  en  administrar  los  Sacra- 
mentos a  aquella  gente,  y  si  se  les  offreciere  ocassion  pasar  al 
Japon  a  conuertir  aquellos  infieles;  pero  este  intento  y  resolu- 
çion  jamás  la  ha  aprobado  ni  aprobará  la  Religion,  que  aunque 
ha  fundado  conuentos  en  todas  las  partes  de  Europa,  siempre 
ha  resuelto  de  apartarse  de  fundar  en  las  índias,  porque  en  ellas 
es  muy  difficultoso  y  casi  imposible  el  guardar  nuestra  Regia 
Seraphica  y  nuestro  Instituto,  porque  los  lugares  estan  distan- 
tíssimos, y  así  es  fuerça  yr  a  caballo  y  lebar  gran  prouision  para 
el  camino  y  dineros  para  compraria  en  faltandoles,  que  lo  vno 
y  lo  otro  es  contra  nuestra  Regia  y  profession,  y  de  la  misma 
manera  es  forzoso  el  relaxar  muchas  de  las  obseruançias  y  obri- 
gaçiones  de  la  dicha  Regia  en  otras  diferentes  matérias.  / / 
Y  aunque  es  verdad  que  los  que  se  hallan  allá  o  [h]an  ydo 
con  orden  de  sus  Prelados,  pueden  con  buena  conçiençia  pasar 
por  estas  cosas,  por  la  forzosa  necessidad  que  ay  de  ellas  y  liçençia 
que  les  da  el  mismo  derecho  natural;  pero  nuestra  Religion 
ha  tenido  y  tine  siempre  por  más  seguro,  pudiendolo  euitar,  el 
no  ponerse  en  ocasiones  de  la  misma  necessidad  ni  obhgaçion 
de  hauerse  de  valer  de  la  dispensaçion  y  liçençia  que  da  el  dere- 
cho natural.  Y  así  la  Religion  no  halla  conueniençia  ninguna 
en  la  yda  destos  Padres  a  las  Philipinas  y  Japon  por  parte  suya; 
y  por  parte  de  su  Magestad  reconoçe  que  quando  conuiniera  el 
fundar  en  ellas,  fuera  tambien  fuerza  el  orden  que  su  Magestad 
tiene  dado  de  que  no  pasen  a  aquellas  Prouinçias  Religiosos 
estrangeros,  sino  Espanoles;  y  siendo  el  P.  Prefectto  de  aquella 
mision  y  los  prinçipales  delia  Ytalianos,  conoçe  que  no  fueran 
a  propósito  para  fundar  en  las  dichas  Prouinçias.  Las  quales  por 
hauer  tantas  tantas  Religiones  en  ellas,  antes  se  sienten  agraua- 


168 


das  con  la  muchedumbre  de  Religiosos,  que  neçessitados  de 
que  vayan  otros  nuebos  a  ellas.  / / 

Y  si  estos  Religiosos  quedasen  frustrados  dei  intento  que 
lleban  y  de  executar  las  ordenes  de  su  Santidad,  mexor  será 
que  se  buelban  a  sus  Prouinçias,  adonde  los  más  de  ellos  se 
aprouecharan  a  si  y  a  los  fieles  con  vida  y  doctnna,  o  con  sanctas 
ocupaçiones  seruiran  a  nuestro  Senor.  que  no  que  anden  en 
otras  Prouinçias  estranas,  en  donde  no  pueden  aprouechar  a 
nadie  o  solo  a  poços.  // 

Jten  porque  los  tales  Religiosos  non  son  a  propósito  para 
ensenar  a  los  índios  en  Philipinas  ni  a  los  dei  Japon,  porque 
no  saben  la  lengua  destas  naçiones,  y  quando  la  supieran,  mexor 
conoçen  los  índios  los  Religiosos  de  otras  Religiones  que  estan 
alia  y  el  modo  que  hande  tener  en  doctnnarlos,  porque  saben  sus 
costumbres  y  estan  exerçitados  en  ello.  Y  los  Capuchinos  que 
llegaren  de  nuebo  ignoran  todas  estas  cosas,  porque  les  falta 
la  expenençia.  / / 

Ansi  mismo  la  yda  de  los  dichos  Padres  a  las  Philipinas 
hade  ocasionar  muchos  pleytos  con  las  demás  Religiones  que 
estan  hallá,  que  tienen  expenençia,  que  los  Religiosos  que  ay 
en  aquellas  Prouinçias  no  solo  son  vastantes,  sino  que  la  mu- 
chedumbre dellos  antes  dana  que  aprouecha,  es  fuerza  que  resis- 
tan  fuertemente  a  la  entrada  destos  Religiosos  y  que  de  ay 
se  sigan  los  dichos  pleytos,  oposiçiones  y  contradicçiones,  de 
que  de  ordinário  resultan  muchos  inconuenientes,  y  más  entre 
Religiosos- 

Por  todo  lo  qual  me  pareçe  que,  siguiendo  los  dichos  Reli- 
giosos missionários  el  orden  de  su  Santidad  y  tratando  de  yr  ai 
Reyno  dei  Congo  a  predicar  y  ensenar  nuestra  Sancta  Fee.  sin 
tomar  otros  médios  fuera  deste  intento,  como  es  de  yr  a  las 
Philipinas  o  Japon,  que  será  bien  que  V.  A.  les  haga  merçed 
de  darles  todo  fauor  y  ayuda  para  cumplir  la  obediência  de  su 
Santidad.  fomentando  tan  sancta  obra  y  intentos  con  todos 
los  médios  y  fauores  posibles,  para  que  aquellos  infieles  vengan 

169 


a  la  luz  d  nuestra  Sancta  Fee  y  obediência  dei  Santo  Evangelio, 
y  no  se  pierdan  tantas  almas  redimidas  con  la  sangre  de  Chnsto. 
Y  aunque  es  verdad  que  es  dificultosissima  la  empresa  por  la 
dificultad  grande  de  los  médios,  pero  se  debe  confiar  de  nuestro 
Senor,  que  pues  el  la  mando  emprender  por  médio  de  su  Vicario 
y  con  fin  tan  alto  y  tan  de  su  seruiçio  y  gloria,  ayudará  y 
fomentará  tan  sanctos  intentos,  facilitando  los  médios  que  aora 
pareçen  tan  difiçiles,  y  aun  haziendo  milagros,  si  fuere  menes- 
ter  para  ello,  como  ha  acostumbrado  su  Magestad  hazerlo  siem- 
pre  que  de  nuebo  se  ha  plantado  la  fee  en  algunas  Prouinçias 
y  Rey  nos. 

Pero  en  orden  al  yr  a  las  Phihpinas  o  Japon,  aunque  sea 
con  titulo  de  tomarlo  por  médio  de  yr  al  Congo,  me  pareçe 
que  no  conuiene  que  V.  A.  les  dé  liçençia,  porque  será  ponerles 
en  ocasion  de  afloxar  en  la  empresa  que  con  orden  de  su  San- 
tidad  han  acometido  y  que  es  tan  dei  seruiçio  y  gloria  de  Dios 
y  prouecho  de  las  almas.  Porque  si  van  antes  a  las  Phihpinas 
que  al  Congo,  pareçiendoles  que  alli  podran  hazer  algun  por- 
uecho  (2).  viendo  las  grandes  dificultades  de  la  jornada  dei 
Congo  y  auiendolas  ya  empezado  a  experimentar  en  tan  larga 
nauegaçion  como  ay  desde  aqui  a  las  Phihpinas,  no  se  hande 
poder  conortar  (3)  en  pasar  adelante;  y  si  van  despues  de  yr  al 
Congo,  o  tienen  liçençia  de  V.  A.  para  yr  a  las  Phihpinas  si  no 
tienen  entrada  en  el  Congo,  con  esta  esperança  a  las  primeras 
dificultades  que  se  hallaren  en  la  entrada  o  en  la  prosecuçion 
de  tan  árdua  empresa,  la  hande  dexar  y  venir  a  las  Phihpinas.  // 


(2)  O  autor  da  carta  parece-nos  ter  saído  do  âmbito  da  consulta, 
pois  os  Frades  da  sua  Ordem  só  pretendiam  encaminhar.se  para  as  Fili- 
pinas ou  para  o  Japão,  no  caso  de  falhar  a  missão  do  Congo.  O  tomar 
o  rumo  das  Filipinas  ou  do  Japão  como  rota  para  o  Congo,  denota  um 
conhecimento  menos  que  primário  da  Geografia. 

(3)  Assim  se  lê  no  original.  Talvez  seja  lapsus  calami  por  concertar 
(acordar,  ajustar). 


IJO 


Y  así  para  que  se  consiga  tan  gran  intento,  es  neçessano 
que  vayan  desesperados  de  boluer  atrás,  pues  se  han  offreçido 
al  sumo  Pontífice  y  a  la  Rehgion  de  proseguirlo  asta  derramar 
la  sangre  y  perder  la  vida,  como  se  lo  manda  el  mismo  Papa 
en  la  Bula  que  remitió  a  V.  A.  (4).  Y  asi  por  esto  como  porque 
no  se  puede  esperar  ningun  buen  efecto  de  jornada  hecha  por 
los  Religiosos  sin  el  orden  y  mento  de  la  Sancta  Obediência, 
y  por  los  demás  inconuenientes  que  arriba  he  representado  a 
V-  A.,  me  pareçe  que  no  conuiene  darles  la  liçençia  que  piden 
para  yr  al  Japon  o  Phihpinas,  remitiendome  en  todo  al  mexor 
juizio  de  V.  A.,  que  con  el  gran  zelo  que  tiene  dei  seruiçio 
de  nuestro  Senor  y  dei  de  su  Magestad,  resoluerá  en  todo  lo  que 
más  conuenga.  / / 

Deste  Convento  de  S.  Antonio,  a  pnmero  de  octubre  de 
1644. 

[Em  outra  letra]:  Zertificamos  los  infra  escritos,  Prouinçial 
V  Diffinidores,  que  este  es  vn  traslado  fiel  sacado  de  la  respuesta 
que  el  P.  Prouinçial  dio  al  Consejo  Real  de  las  índias  en  el 
caso  que  por  el  mismo  papel  consta  que  preguntó,  con  acuerdo 
y  parezer  de  los  P.es  Diffinidores.  Y  para  que  dello  conste,  lo 
firmamos  de  nuestros  nombres,  oy  a  diez  y  siete  de  octubre 
de  mil  y  seiscientos  y  quarenta  y  quatro. 

aa)  Fr.  Xpoal  de  Morentin,  M.°  Pr.al 
Fr.  Joan  de  Ocana,  Diff.or 
Fr.  Leandro  de  Murcia,  Diff.r 
Fr.  Buen.ra  de  T.do  [Toledo],  Diff.or 
Fr.  Alesandro  de  V.a  [Valencia],  D.or 

BNM  —  Ms.  3.818,  £ls.  56-59  v. 

(4)  Desconhecemos  este  importante  documento.  No  Breve  enviado 
ao  Rei  do  Congo,  de  19  de  Março  de  1621,  Gregório  XV  explicitava  já 
a  mesma  ideia.  Cfr.  Monumenta,  VI,  pág.  574. 

'7* 


52 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(24-10-1644) 

SUMÁRIO  —  São  nomeados  os  capuchinhos  que  constituíram  a  missão 
do  Congo  —  Faculdades  especiais  para  o  Provincial  da 
Andaluzia  —  Poderia  receber  padres  de  outras  Províncias. 

Eminentíssimos  Senores 

Esta  Prouinçia  de  Capuchinos  de  Andaluçia  se  halla  muy 
reconoçida  ala  honrra  grande  que  V.8  Eminençias  le  an  hecho 
de  admitir  sus  buenos  deseos,  y  senaladole  Mission  in  Regnum 
N  e  gritar  um;  y  haçiendo  la  estimaçion  que  deue  nos  auemos 
juntado  en  diffinitono  el  Prouinçial  y  diffinidores  y  admitimos 
la  dicha  Mission  rindiendo  a  V  s  Eminençias  infinitas  graçias 
por  tan  gran  beneficio  y  fauor;  y  en  cumplimiento  dei  decreto 
de  essa  Sacra  Congregaçion  auemos  nombrado  doçe  Religiosos 
de  vida  aprobada,  que  presentamos  aios  pies  de  V.s  Eminençias, 
con  otros  muchos  que  lo  desean  desta  Prouinçia:  y  damos  cuenta 
al  Senor  Nunçio  de  Espana  ('),  para  que  con  su  partiçipaçion 


(')  Mons.  Giulio  Rospigliosi,  natural  de  Pistoia,  doutorado  cm 
direito  e  filosofia  na  universidade  de  Pisa,  secretário  do  Cardeal  Barbc- 
rini,  cónego  da  Basílica  Liberiana,  secretário  dos  Breves  aos  Príncipes, 
arcebispo  timlar  de  Tarso  em  1644,  foi  nomeado  Núncio  em  Espanha 
em  17  de  Julho  de  1644,  cargo  que  ocupou  até  1653.  Foi  depois  Go- 
vernador de  Roma,  criado  cardeal  em  9  de  Abril  de  1657,  Secretário  de 
Estado  de  Alexandre  VII,  eleito  Papa  com  o  nome  de  Clemente  IX 
em  20  de  Junho  de  1667  c  coroado  em  27.  Faleceu  em  9  de  Dezembro 
de  1669.  —  Cfr.  H.  Biaudet,  Obr.  cit.,  p.  282. 


IJ2 


y  amparo  merezcamos  que  V.8  Eminençias  sean  seruidos  de 
admitidos,  y  enuiar  los  despachos  y  facultades,  como  lo  manda 
el  decreto  de  V.s  Eminências.  / / 

Los  Religiosos  nombrados  son  los  siguientes:  El  P.  Fr.  Ma- 
nuel de  Granada,  Predicador  y  Guardian  de  Cabra,  que  a  sido 
dos  veçes  difnidor,  y  es  Religioso  de  mucha  virtud,  y  buena 
edad.  por  Prefecto.  Missionários:  El  P.  Fr.  Antonio  de  Gimena, 
Predicador.  El  P.  Fr.  Françisco  de  Araualle,  Predicador,  que 
a  sido  Guardian.  El  P.  Fr-  Francisco  de  Iznajar,  Predicador  y 
Guardian  de  Cordoua.  El  P.  Fr.  Sebastian  de  Sancta  Fe,  Predi- 
cador. El  P.  Fr.  Diego  de  Guadalcanal,  Predicador.  El  P.  Fr. 
Juan  de  Seuilla.  El  P.  Fr.  Luis  de  Priego-  El  P.  Fr.  Joseph  de 
Lisboa.  El  P.  Fr.  Juan  de  Vergara,  todos  Saçerdotes.  El  Her- 
mano Fr.  Miguel  de  Granada,  lego.  El  Hermano  Fr.  Blas  de 
Hardales,  lego,  todos  muy  buenos  y  verdaderos  hijos  de  nuestro 
P.  S.  Francisco. 

Y  por  si  alguno  muriere,  o  se  hallare  impedido  dela  embar- 
caçion,  supplicamos  humildemente  a  V.s  Eminençias  se  siruan 
de  darmnos  facultad  para  poder  subrrogar  otro,  porque  vaya  el 
numero  de  doçe  cumplido;  y  assi  mesmo  que  si  no  se  pudiere 
penetrar  el  dicho  Reyno,  haçiendo  todalas  diligencias  posibles, 
por  el  impedimento  de  Olandeses,  e  Portugueses,  que  tienen 
los  puertos  ocupados,  se  puedan  conduçir  los  dichos  Religiosos 
Missionários  a  otra  parte  delas  índias  onentales,  y  ocidentales; 
y  que  pues  el  Prouinçial  desta  Prouinçia  ade  acudir  con  todo  lo 
neçessano  a  esta  dicha  Mission  y  ade  ayudar  y  seruir,  tenga  en 
ella  supenntendençia;  tambien  que  si  algunos  Religiosos  destas 
Prouinçias  de  Espana  desearen  ir  a  esta  Mission,  los  pueda  admi- 
tir el  Prouinçial  de  Andaluçia  y  presentarlos  ala  Sacra  Congre- 
gaçion  para  alcançar  los  despachos,  lo  qual  se  ade  entender  siem- 
pre  que  ayan  de  ir  Religiosos- 

Esto  a  pareçido  conueniente  representar  a  V.8  Eminençias 
para  la  buena  expediçion  desta  Sancta  Mission  con  que  nos  ha 
honrrado  y  fauoreçido  essa  Sacra  Congregaçion,  que  nuestro 

*73 


Senor  prospere  muy  largos  anos  para  bien  y  augmento  de  su 
Sancta  Fe  Cahtolica.  / / 

Seuilla  y  octubre  24  (2)  de  1644. 


De  V.  Eminências 

Humildes  Capellanes  y  Sieruos 

aa )  Fr.  Gaspar  de  Seuilla,  Min.0  Proal.  de  Andaluzia 

Fr.  Jgnacio  de  Granada,  diff.or 

Fr.  Joseph  de  Antequera,  deff.or 

Fr.  Leandro  de  Antequera,  diffinidor 

Fr.  Siluestre  de  Alicante,  dif.or 


APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  76-76  v. 


(-)  O  P.B  Melchior  de  Pobladura  cita  este  documento  no  seu 
estudo  Algunos  aspectos  dei  movimiento  misionero  de  las  provindas 
capuchinas  espanolas  en  su  fase  inicial  ( 1618-1650 ),  separata  de  «Collec- 
tanea  Franciscana»,  tom.  XX  (1950),  fase.  1-2,  p.  (71)  23,  com  a  data 
errada  de  4  de  Outubro,  nota  (2),  embora  na  página  precedente  dê  a 
data  de  24  de  Outubro,  que  deve  considerar-se  a  verdadeira. 


1 74 


53 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
AO  NÚNCIO  EM  MADRID 

(25-10-1644) 

SUMÁRIO  —  Comunica  a  criação  e  aceitação  da  missão  in  Regnum 
Negntarum  —  Indica  os  Religiosos  nomeados  —  Pede  o 
patrocínio  de  Sua  Ilustríssima  para  os  Missionários. 

Illustrissimo  Seííor 

En  cumphmiento  dei  decreto  de  Ia  Sacra  Congregaaon 
de  Propaganda  Fide  y  ordenes  de  V-  S.  Illustrissima,  nos  jun- 
tamos en  diffinitorio  el  Prouinçial  y  diffinidores  desta  prouinçia 
de  frades  menores  Capuchinos  de  Andaluçia,  en  este  convento 
de  Sivilla,  a  20  deste  mes  de  octubre  y  con  gran  estimazion 
admitimos  la  santa  mision  in  Regnum  Negritarum,  que  la  Sacra 
Congregacion  a  hecho  merced  y  honrra  de  dar  a  esta  Prouinçia 
y  nos  hallamos  enrnquezidos  y  fauoreçidos  con  tan  singular 
venehçio  y  damos  a  nuestro  Seííor  infinitas  grazias  y  para  la 
deuida  execuzion  hiçimos  eleçion  de  doçe  sugetos  entre  muchos 
que  lo  an  pedido,  que  son  los  seguientes:  / / 

El  P.  Fr.  Manuel  de  Granada,  predicador  y  guardian  dei 
convento  de  Cabra,  que  a  sido  dos  veçes  difinidor  y  es  religioso 
de  mucha  birtud  y  buena  edad,  por  Prefecto.  Missionários: 
El  P.  Fr.  Antonio  de  Guimena,  Predicador  y  Guardian  de  Mo- 
tril:  El  P.  Fr.  Francisco  de  Araualle,  Predicador  y  a  sido  Guar- 
dian. El  P.  Fr.  Francisco  de  Iznajar,  Predicador  y  Guardian  de 
Cordoua.  El  P.  Fr-  Seuastian  de  Santa  Fee,  Predicador.  El  P. 
Fr.  Diego  de  Guadal  Canal,  Predicador.  El  P.  Fr.  Juan  de  Snu- 

'75 


11a.  El  P.  Fr.  Luis  de  Priego.  El  P.  [Fr.]  Joseph  de  Lisboa.  El 
P.  Fr-  Juan  de  Bergara,  todos  sacerdotes.  El  Hermano  Fr.  Mi- 
guel de  Granada,  lego.  El  Hermano  Frai  Blas  de  Ardales,  lego, 
todos  muy  buenos  religiosos  y  mui  hijos  de  nuestro  P.  S.  Fran- 
cisco, de  mucho  feruor  y  espintu,  como  se  requiere  para  el  de- 
senpeno  desta  gran  obligazion. 

Suplicamos  a  V.  S.  Illustrisima  sea  seruido  de  presentarlos 
a  la  sacra  Congregaçion,  amparandolos  con  su  proteccion,  para 
que  sean  admitidos  y  fauoreçidos  con  los  fauores  y  facultades 
y  licencias  nezesarias. 

Tambien  supplicamos  a  V.  S.  Illustnssima  nos  dé  facultad 
para  imbiar  dos  Religiosos  a  tratar  los  negozios  de  esta  mission 
a  esa  corte,  en  el  tribunal  de  V.  S.  Illustnssima  y  Consejos  de  Su 
Magestad,  quando  sea  nezesario  y  que  en  todo  fauoresca  y  am- 
pare esta  caussa,  por  ser  tan  dei  seruiçio  de  nuestro  Seííor  y  de 
su  santa  Yglesia.  / / 

Su  Magestad  guarde  a  V.  S.  Illustnssima  largos  anos,  como 
sus  Capellanes  deseamos.  / / 

Deste  Convento  de  Capuchinos  de  Seuilla,  25  de  octubre 
de  1644  anos. 

De  V.  S.  Illustrisima  Capellanes  y  Seruidores 

aa)  Fr.  Gaspar  de  Seuilla,  Min.0  Proal 
Fr.  Jgnacio  de  Granada,  diffinidor 
Fr.  Joseph  de  Antequera,  diffinidor 
Fr.  Leandro  de  Antequera,  diffinidor 
Fr.  Siluestre  de  Alicante,  diffinidor 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  130-130  v.  — Cfr.  doe.  n.°  52. 


iy6 


54 


CARTA  DE  FREI  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 
A  PROPAGANDA  FIDE 


(25-10-1644) 


SUMÁRIO  —  Recomenda  a  missão  do  Congo  ao  Secretário  da  Propa- 
ganda —  Largada  para  a  missão  —  Dificuldades  no  hori- 
zonte —  Faculdades  a  dar  aos  Capuchinhos  espanhóis. 


IU.mo  e  R.mo  Signor 

Li  giorni  passati  scrissi  à  V.  S.  Ill.ma  delia  riceuuta  delli 
Decreti  per  li  Compagni  Missionanj,  e  di  poter  andare  ín  altra 
parte,  dato  che  al  Congo  no  si  potrebbe  andare,  ò  esser  nceuuti, 
come  tutti  dicono,  dei  che  noi  no  lasciaremo  di  usar  tutte  le 
diligenze  per  poterci  andare,  e  già  per  gratia  dei  Signore  stà 
qui  ín  Seuiglia  íl  naudio  e  capitano  che  ci  deue  condurre  al 
Congo,  cõ  hauer  fatto  1'accordo  per  condurcici;  no  resta  altro 
per  far  il  uiagio  per  detto  Congo  il  dar  carena  al  naudio,  et 
alcune  mercantie  dei  capitano,  che  se  fanno  qui,  quanto  piu 
presto,  per  menarle  in  quei  paesi;  siche  giudichiamo  che  la  nos- 
tra  partenza  sara  circa  la  metà  dei  mese  che  etra.  / / 

Ringratio  poi  tanto  V.  S.  Ill.ma  dei  dispaccio  fatto  à  questa 
Prouintia  circa  la  Missione  dei  Regno  dei  Negriti,  e  già  si  è 
determinato  da  Padri  di  questa  Prouintia,  e  1'hanno  accettata 
cõ  grandíssimo  feruore,  e  mandono  carta  à  V.  S.  Ill.ma  et  alia 
Sacra  Congregatione  delia  denominatione,  e  dei  Prefetto  e  Mis- 
sionari)  compagni;  il  medesimo  hanno  scntto  aH'Ill.mo  Signor 
Nuntio  à  Madrid,  e  restano  molto  obligati  al  fauore  fatto  à 
questa  Prouintia  delia  Missione  concessali,  e  credami  V.  S.  Ill.ma 


12 


77 


che  sara,  piacendo  al  Signore,  di  molto  profitto,  et  utile  alia 
Chiesa  dl  Dio.  / / 

Scrissi  li  giorni  passati  ancora  à  V.  S.  Ill.ma  per  relatione  di 
huomim  che  nõ  sapeuano  onde  staua  questo  Regno  Nigritta- 
rum,  che  stando  detto  Regno  all'Indie  onentali,  e  fuora  delia 
communicacione  dei  Dominio  di  Spagna,  che  l'era  impossibile 
à  detta  Prouintia  poterui  andare,  che  però  li  facesse  assegnare 
la  Missione  nella  Nuoua  Spagna  alFAmazone.  Regno  molto 
uasto,  e  da  farui  grandíssimo  frutto;  ma  dopo  meglio  informato, 
e  che  stà  uicino,  e  di  nauigatione  di  15  giorni,  n'hò  hauuto  un 
conteto  grandíssimo,  come  anco  1'istessi  Padn,  e  à  tutta  questa 
Prouintia,  e  restano  obligatissimi  à  V.  S.  Ill.ma  di  tanto  fauore; 
nõ  resta  altro  che  dicono  tutti  che  sarà  piu  difficultoso  il  pene- 
trarui  à  detto  Regno,  per  li  Olandesi  e  Portughesi,  che  per  niun 
modo  li  lasciarano  entrare,  essendo  occupati  tutti  quei  Porti 
dalli  sopradetti;  nõ  per  questo  i  Padn  lasciaranno  d'usar  tutti 
quei  mezzi  possibili  per  poterui  entrare,  e  fundare  detta  Mis- 
sione, stando  molto  inferuorizzati  all  acquisto  di  quelle  pouere 
anime:  ma  stante  le  grandissime  difficoltà  di  poterui  penetrare, 
e  dato  per  impossibile,  che  nõ  ui  possino  entrare,  nõ  per  questo 
eglino  desistiranno  di  nõ  usar  tutte  le  diligêze  possibili  per  poter 
effectuar  tal  Missione;  pregano  V.  S.  Ill-ma  e  la  Sacra  Congre- 
gatione,  che  li  dilati  la  facoltà,  che  caso  nõ  possino  entrare  nel 
Regno  de  Negritti,  possino  andare  all'Indie,  e  fondare  la  Mis- 
sione, che  li  tornará  commodo.  V-  S.  Ill.ma  faceia  questa  dila- 
tatione,  perche  sarà  di  grandíssima  utilità  alia  Chiesa,  com'hò 
detto,  per  esser  1  sogetti  che  uanno,  et  per  1'auuenire,  che  anda- 
ranno,  molto  idonei  per  tal'effetto.  / / 

Prego  V.  S.  Ill.ma  che  il  Dispaccio  sia  il  piu  presto  che  si 
può,  et  conceder  tutte  quelle  petitioni  che  domandano  questi 
Padri  nella  lettera  che  le  scriuono,  giudicando  esser  honeste,  e 
concedibili,  che  le  ne  restatò  obligatissimo,  oltre  il  seruitio  che  si 
fará  à  Dio.  Non  m'ocorre  altro,  che  farle  humilissima  riuerenza, 


iy8 


con  pregarle  dal  Signore  esaltatione  ín  questo  mondo,  e 
nell'altro.  / / 

Seuiglia,  25  Ottobre  1644. 

Di  V.  S.  ffl.""  e  R.mi 

Humilissimo  Senão  nel  Signore 

Fra  Buonauentura  de  Alessano,  Capuchino, 
e  Prefetto  delia  Missione  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  143-143  v. 


1 79 


55 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(25-10-1644) 

SUMÁRIO  —  Agradece  ter-lhe  confiado  a  Missão  dos  Negritas  —  Pede 
quatro  privilégios  —  Que  os  Capuchinhos  das  outras  Pro- 
víncias sejam  aceites  pelo  Provincial  da  Andaluzia. 

Illustnssimo  Senor 

Con  toda  estimaçion  al  fauor  grande  que  la  Sacra  Congre- 
gaçion  a  echo  a  esta  Prouinçia  de  Andaluçia,  de  expedir  decreto 
tan  en  fauor  de  nuesta  humilde  petiçion,  auemos  juntado  el  dif- 
finitorio  en  este  conuento  de  Seuilla  y  admitimos  la  Mission  ín 
num  Nigritarum  con  singular  Consuelo  espiritual,  dando  a 
nuestro  Senor  infinitas  graçias,  y  a  V.  S.a  Illustrissima,  por  cuia 
mano  auemos  alcançado  tan  singular  beneficio,  fiando  de  Su 
diuina  Magestad  que  ade  resultar  gran  seruiçio  suyo  y  de  Su 
Sancta  Iglesia  y  por  partiçipaçion  ade  tener  V.  S.a  Illustrissima 
muchos  y  muy  gloriosos  grados  de  gloria.  / / 

A  la  Sacra  Congregaçion  escnuimos  la  carta  que  va  con 
esta  y  presentamos  los  Religiosos  nombrados;  a  parecido  no  alar- 
gar el  numero  por  imitar  en  todo  la  Santa  Mission  dei  Congo, 
que  otros  muchos  Io  desean,  y  supplicamos  quatro  cosas  que  Sus 
Eminençias  se  siruan  concedemos:  / / 

La  pnmera  que  se  pueda  subrrogar  en  otro  o  en  otros,  en 
casso  que  sobreuenga  algun  accidente  de  achaque,  o  muerte, 
de  quai  ala  embarcaçion,  porque  vaia  el  numero  de  doçe  cum- 
plido.  La  segunda,  que  no  pudiendo  penetrar  los  puertos  de 

180 


dicho  Reyno,  por  estar  ocupados  con  Olandeses  y  Portugueses, 
pueda  conduçirse  la  Mission  a  otro  lugar,  o  Reyno  delas  índias 
onentales  y  ocçidentales.  La  terçera,  que  tenga  superintendência 
el  Prouincial  desta  Prouinçia  en  la  dicha  Mission,  pues  la  ade 
ayudar  y  socorrer,  y  seruir,  dela  manera  que  esto  se  suele  con- 
ceder. La  quarta,  que  se  algunos  Religiosos  destas  Prouinçias 
de  Espana  desearen  ir  a  esta  Mission  los  pueda  admitir  el  Pro- 
uincial desta  Prouinçia,  y  presentarlos  ala  Sacra  Congregaçion 
para  alcançar  los  despachos.  Lo  qual  se  ade  entender  siempre 
que  aya  de  ir  Religiosos.  / / 

Y  a  V.  S.&  I Ilustríssima  supplicamos  nos  enuie  los  demas 
despachos  y  facultades  ordinários,  que  comendo  por  mano  de 
V-  S.a  Illustrissima,  a  quien  siempre  reconoçemos  por  Seííor 
nuestro,  confiamos  que  todo  tendrá  buen  sucesso,  por  la  mucha 
piedad  y  çelo  sancto  de  V.  S.a  Illustrissima,  que  Nuestro  Senor 
guarde  muchos  anos  para  augmento  de  Su  Sancta  Iglesia-  / / 

Desta  Prouinçia  de  Capuchinos  de  Andaluçia,  y  Seuilla,  25 
de  octubre  de  1 644. 

De  V.  S.a  Illustrissima 

Sieruos  y  Capellanes 

aa )  Fr.  Gaspar  de  Seuilla,  Min.0  Proãl. 
Fr.  Jgnacio  de  Granada,  diffí.or 
Fr-  Joseph  de  Antiquera,  diff.or 
Fr.  Leandro  de  Antequera,  diffinidor 
Fr.  Siluestre  de  Alicante,  dif£.or 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  142. 


181 


56 


CARTA  DE  FREI  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
A  EL-REI  DE  PORTUGAL 

(29-10-1644) 


SUMÁRIO  —  Apresenta  a  D.  João  IV  motivos  de  ordem  política  e  mo- 
ral para  que  el-Rei  dê  passaporte  aos  Capuchinhos  para 
irem  missionar  nas  conquistas  de  Portugal  —  Estado 
religioso  do  Congo  e  necessidade  extrema  de  missionários. 


Sinhor 

Prostrados  aos  pees  de  Vosa  Real  Magestade,  os  quatro 
Capuchinhos  mandados  por  Sua  Santidade  á  missam  dei  Reyno 
dei  Congo,  e  incomendados  dal  Rey  Christianissimo,  lhe  pedem 
pello  zello  que  tem  da  Santa  Fee  Cahtohca,  e  Reuerencia  que 
há  mostrado  á  Igreja  Romana,  se  sirua  (*)  mandarlhe[s]  dar 
passo  liure  pera  poderem  ir  por  suas  Conquistas  á  missam  Apos- 
tólica daquelle  pobre  Regno,  já  atropelado  dos  pees  de  monstros 
Caluenistas,  com  manifesto  perigo  de  corrupsam  e  perda;  tra- 
tandose  da  tottal  condenaçam  de  infinitas  almas,  tanto  preciosas 
á  uísta  de  Deos  e  jactura  de  um  Reyno  inteiro,  que  quando 
tiuesse  effeito  (o  que  Deos  naõ  permitta)  seria  couza  digna  de 
lagrimas  e  de  sentimento  de  toda  a  Republica  Christam,  e  culpa 
irreparauel  de  quem  naõ  procurasse  impedir  tam  grande  mal 
spintual  das  almas,  e  pera  mais  claresa  deste  negoseo  se  apontaõ 
as  seguintes  rezões  politicas  e  de  consicnsia. 


(*)  No  original:  scrua. 

182 


RESÕIS  POLITICAS 


i .°  —  Nam  hé  resam  ter  sospeita  em  modo  algum  de  falta 
ou  outro  incuberto  engano  destes  Religiosos,  mandados  por  Sua 
Santidade,  com  Suas  Patentes  e  Decretos  Apostólicos,  tanto 
encomédados  dal  Rey  Christianissimo  a  Vosa  Magestade,  para 
as  missões  Apostólicas,  sem  graue  iniuria  de  Sua  Santidade, 
e  de  Sua  Magestade  Christianissima,  nos  quais  também  se  não 
deue  considerar  falta  ou  sospeita  (cousa  muito  longe  da  santa 
mente  de  V.  Magestade). 

2.0  —  Estes  Padres  Capuchinhos  seram  (2)  indubitauel- 
mente  de  grandíssimo  proueito  a  este  Reyno  de  Portugal  (a 
quem  Deos  guarde  e  asista  sempre)  attento  que  pedidos  com 
grande  instansia  daquelle  Rey  de  Congo,  os  receberam  com 
grande  gosto,  e  confiansa.  E  quem  poderá  com  mais  audasia 
persuadir  a  el  Rey  de  Congo  que  se  aparte  dos  olandezes  (de 
quem  poderiam  nascer  a  este  Reyno  grandes  danos)  senaõ  estes 
Padres,  aos  quaes  per  intrínseca  obrigasaõ  de  sua  Missam,  e 
Comissam  Apostólica,  incumbe  trabalhar  atee  suar,  e  suar  atee 
de[r]ramar  sangue,  do  que  com  seguransa  se  pode  collegir  o 
certo  e  seguro  proueito  que  pode  uir  a  este  Estado. 


RESÕIS  DE  CONSIENSIA 


Naõ  se  deue  comportar,  nem  se  aiusta  com  a  consiensia, 
que  se  impida  o  passo  aos  Missionários  Apostólicos  que  sam 
inuiados  per  Sua  Santidade  (em  primeiro  lugar  áquelles  do 
no  de  Congo)  para  apagar  o  incêndio  nouamente  leuan- 
tado  da  heresia  Caluenista  (3) ;  a  resaõ  hé  que  resultaria  grandís- 
sima perda  da  Fee  Católica  e  tnbullasaõ  grandíssima  da  Repu- 


(2)  No  original:  saram. 

(3)  No  original:  heregia  Caluenista. 


83 


blica  Christam,  tratandose  do  perigo  e  perda  de  hum  Reyno 
inteiro,  e  parese  msto  que  aduirta  Vossa  Magestade  que  aquelle 
Reyno,  alumiado  por  Deos,  e  com  a  obra  e  zello  dos  Sereníssi- 
mos Senhores  Reis  de  Portugal,  e  conuertido  á  Santa  Fee  Catho- 
lica,  com  tantos  sinais  e  prodígios  çelestes  (cousa  para  chorar) 
e  por  falta  de  obreiros,  nelle  se  alse  o  estandarte  (4)  e  bandeira 
enimiga  contra  a  Igreja  Apostólica,  Catholica,  Romana. 

Do  que  pode  nascer  grande  perigo  e  hé  cousa  mui  proua- 
uel  (5)  que  tal  incêndio  de  heresia,  o  qual  ( sicut  ignis  et  câncer 
ser p et )  naõ  uenha  em  qualquer  tempo  a  infestar  as  consiensias 
dos  Pouos  de  Suas  Conquistas,  maiormente  uendose  os  dous 
cazos  que  sahiraõ  a  publico  no  auto  da  fee  que  ultimamente  se 
fez  (G)  dos  dous  hereies  Caluenistas,  cá  mais  uístos  nem  ouuidos, 
sendo  certos  que  os  erros  de  herezia  trazem  comsigo  certa 
força  (7)  diabólica  pera  peruerter  ainda  aos  mais  deuotos  da  (8) 
Igreja  (quando  nos  naõ  asistise  (9)  o  Diurno  poder,  quia  qui 
tangit  picem  inquinabitur  ab  ea)-  // 

Que  aflisam  de  consiensia  e  bicho  ímmortal  roeria  sempre 
aquelle  Príncipe  (10)  e  aquelle  pnuado  que  impedise  nos  maio- 
res perigos  da  fee  a  medicina  deuida,  e  remédio  necessário  com 
que  a  fee  apostólica  prouê  com  tanto  zello,  e  uendose  des- 
pois  (")  pello  discurso  de  tempo  (o  que  Deos  naõ  permitta) 
que  leuanta  Caluino  com  seus  ministros  falsos  bandeira  de  erro- 
res nos  muros  da  Jgreja  Romana  e  rouba  hum  Reyno  de  Chnsto, 
com  a  condenasaÕ  detantas  almas  que  oie  há  nelle,  e  ao  diante 


(4)  No  original:  estcndartc. 
(s)  No  original:  prouauil. 
(°)  No  original:  fes. 

(7)  No  original:  forza. 

(8)  No  original:  de. 

(9)  No  original:  asistese. 

(10)  No  original:  Prencipc. 
(")  No  original:  dospois. 


ouuer;  que  exemplos  (12)  das  almas,  e  inquietasoés  perpetuas  da 
consiensia  (alem  dos  diurnos  castigos  que  justamente  se  poderão 
temer) . 

He  Faz  (13)  V.  Sacra  Magestade  trazer  ao  rebanho  da  Igreja 
Catholica  Romana  o  pouo  idolatra  antes  ( quasi  pisces  capiuntur 
in  rete ),  mas  infestado  da  heresia  há  mister  annos  e  annos  a 
reduzir  hum  soo,  que  seria  (14)  de  tantos  milhares  de  almas,  que 
dano  acarretaria  (I5),  o[u]  que  queixas  (lC),  que  lamentasoés 
poderia  sempre  fazer  toda  a  Republica  Chnstam  contra  aquelles 
que  naõ  quisesem  dar  ajuda  ás  obras  de  Deos. 

Hé  certo,  Sacra  Magestade,  que  os  Reynos  uem  de  (17) 
Deos  e  do  mesmo  Senhor  depende  sua  existência  e  conseruasam 
e  que  naõ  podem  durar  as  creaturas  nem  conseruarse  os  Poten- 
tados e  Dominaçõis  Diuinos  sem  reflexo  de  Deos  bendito  (18) 
e  quando  lhe  falte  necessariamente  lhe  faltará  a  conseruasam  e 
ser.  Portanto,  Sacra  Magestade,  o  uosso  Regno  entaõ  será  mais 
seguro  e  firme  quando  será  dirigido  a  Deos  e  a  suas  cousas,  entre 
as  quais  a  fee  hé  a  pnncipale. 

Per  cuia  cauza  V.  Magestade  reconhesa  estasua  feliz  (19) 
aclamasaõ  ser  ímmediatamente  de  Deos  a  effeito  de  continuar 
na  defensa  da  Santa  Fee  Catholica  e  conuersam  das  almas,  como 
fizeram  seus  antepasados;  proua  clara  seia  que  logo  que  V.  Ma- 
gestade foi  assumpto  ao  Gouerno  deste  Reyno  mandou  Sua  San- 
tidade os  nossos  Padres  Capuchinhos,  Missionários  Apostólicos, 
como  recebedores  do  fruto  da  Sancta  Fee,  e  portanto  segundo  a 


(12)  No  original:  esempolos. 

(13)  No  original:  fas. 

(14)  No  original:  saria. 

(15)  No  original:  queretariã. 

(16)  No  original:  quexias. 

(17)  No  original:  do. 

(18)  No  original:  benedito. 

(19)  No  original:  felice. 

,*5 


profecia  (20)  euangehca,  mandados  os  primeiros,  eis  que  manda 
logo  outros,  que  somos  nós,  por  cuiarezaõ  com  toda  a  sobmissam 
e  instansia  pedimos  se  abra  a  porta  de  se  alcansar  este  fruto, 
para  que  naõ  faltando  a  cultiuasaõ  daquellas  almas  desempa- 
radas,  naõ  largue  Deus  sua  mão  da  cultiuasaõ  deste  [s]  seus 
pouos  e  se  naõ  siguam  (21)  piores  successos  que  os  primeiros. 

Pello  que  pedimos  a  V.  Magestade  com  todo  o  affecto  de 
corasam,  e  pellas  entranhas  de  Jesu  Chnsto  se  lembre  deste  [s] 
pobres  Missionários  Apostólicos  e  que  como  Pimpolho  Real 
(conseruado  por  Deos  e  descendente  daquelles  antigos  Reis  de 
Portugal  tam  zelladores  e  defensores  da  Santa  Fee  Catholica) 
fasa  conheser  em  nossos  tempos  a  toda  a  Christandade  e  a  todo 
o  mundo,  ser  uosa  Magestade  gérmen  antiquce  propaginis  Re- 
gum,  que  como  tal  com  toda  [a]  justisa  humana  e  diuina  foi 
restituído  por  Deos  a  seus  Reynos  para  defensa  da  Igreia  e  pro- 
pagasaõ  da  fee,  e  extirpasam  das  heresias. 

[Lisboa,  29  de  Outubro  de  1644]. 

[F.  Bonauentura  di  Taggia,  Capuccino 
et  Vice  Prefetto  dei  Congo] 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  42-44. 


186 


(20)  No  original:  profcscia. 

(21)  No  original:  seguam. 


57 


MISSIONÁRIOS  CAPUCHINHOS  PARA  O  CONGO 
(5-1 1- 1644) 

SUMÁRIO  —  São  aceites  vários  missionários  espanhóis  para  a  missão 
do  Congo  —  Deveriam  entretanto  esperar  notícias  da 
chegada  a  destino  da  missão  já  enviada  e  cartas  do  Padre 
Prefeito,  nas  quais  pedisse  reforço  de  pessoal. 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornotio 
litteras  quinque  Capuccinorum  Hispanorum,  instantiam  ut 
adscriberentur  inter  Missionários  ad  Congum  destinatos,  uide- 
licet: 

Fratris  Francisci  delia  Salzadella, 

Fr-  Nicolai  de  S.  Matheo,  ín  Valentia  Hispaniae  existen- 
tium. 

Fratris  Francisci  de  Cauen,  in  Pamplona. 

Fratris  Bonauenturae  de  Cardena,  et 

Fratris  Joannis  de  Sancto  Jago,  Prouinciae  Castellae. 

Sacra  Congregado  dixit,  monendos  esse  praedictos  patres, 
ut  expectarent  ingressum  et  receptionem  Praefecti  praedictae 
Missionis,  ac  eius  Sociorum,  et  litteras  eiusdem  Praefecti  de 
necessitate  augendi  eamdem  Missionem. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  165-165  v.,  n.°  15.  —  Sessão  cardina- 
lícia de  5  de  Novembro  de  1644. 


i8y 


58 


CARTA  DO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 
AO  NÚNCIO  APOSTÓLICO  EM  MADRID 

(12-11-1644) 

SUMÁRIO  —  A  Propaganda  manda  agradecer  ao  Rei  de  Espanha  os 
prometidos  auxílios  e  protecção  da  sua  armada  aos  mis- 
sionários de  partida  para  o  Reino  do  Congo. 

Riputando  questa  Sacra  Congregatione  de  Propaganda  Fide 
fatti  à  se  stessa  i  fauon  che  la  pietà  singolare  dei  Re  Cattolico 
s'è  degnata  prestare  al  Padre  Bonauentura  d'AIessano,  Prefecto 
delia  Missione  de  PP.  Capucini  nel  Congo  (1),  con  dare  ordine 
al  Duca  di  Najara  (2),  generale  delia  sua  Armata  nel  Mare 
Oceano,  di  prouederlo  esso  e  tutti  li  Compagni  d'imbarco,  mi 
hanno  li  Signon  Cardinali  delia  medessima  Sacra  Congrega- 
tione ordinato  d'ingiongere  à  V.  S.  che  in  nome  dell'Eminenze 
loro,  ne   renda   le  piu  affectuose  gratie  alia  Maestà  Sua.  / / 

Doura  essa  per  tanto  passare  costi  1'ufficio  di  nngratia- 
mento,  che  si  desidera,  e  dare  qui  auuiso  dell'essecutione 
dell'ordine  che  se  le  dà,  per  mezzo  delia  presente,  quando  sarà 
da  lei  stato  adempito,  e  per  fine  me  le  offero,  e  raccomando.  / / 

Roma,  1 2  Nouembre  1 644. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  22,  fls.  166  V.-167. 


(J)  A  política  levou  o  Rei  de  Espanha  a  mostrar-se  zeloso  nesta 
oportunidade,  quando  no  tempo  em  que  era  soberano  de  Portugal  tão 
pouca  importância  efectiva  deu  sempre  ao  provimento  missionário. 
Certo  é  que,  como  os  factos  o  provaram,  os  auxílios  marítimos  pro- 
metidos de  nada  aproveitaram  à  Missão. 

(2)  No  original:  Nazara. 


188 


NOTA  —  Na  mesma  data  escrevia  também  Mons.  Ingoli  ao 
Padre  Boaventura  de  Alessano,  então  em  Sevilha,  sobre  o  mesmo 
assunto,  nos  termos  que  seguem: 

Si  sono  riferite  in  questa  Sacra  Congregatione  di  Propaganda  Fide, 
le  lettere  di  V.  R.  delli  18  febraro,  dalle  quali,  e  dalla  copia  aggiunta 
dellaltre  scritte  dal  Re  Cattolico  al  Signore  Duca  di  Najara  (2), 
essendosi  intesi  gl'ordini  dati  da  S.  Maestà  al  suo  Generale  d'Armata 
dei  Mare  Oceano  à  fauore  delia  Missione  dei  Congo,  si  è  incarito  à 
Monsignore  Nuntio  di  Nostro  Signor  in  Ispagna,  di  passare  uffici 
di  ringratiamenti  particolari  à  nome  de  Signori  Cardinali  delia  suddetta 
Sacra  Congregatione  con  quella  Corona.  /  / 

Si  rallegrano  1'Eminencie  loro  degl'aiuti  che  il  Signore  Jddio  som- 
ministra  à  V.  R.  per  facilitarli  1'essecutione  dellopera  chella  hà  intra- 
presa  di  pietà  singolare,  e  confidano  che  faácando  lei  per  la  gloria  di 
Sua  Diuina  Maestà,  1'hauerà  altresi  fauoreuole  in  ogni  occorenza.  Alie 
sue  orationi  per  fine  mi  raccomando.  /  / 

Roma,  12  Nouembre  1644. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  22,  fls.  167-167  v. 

Antes  de  escrever  ao  Núncio  e  ao  Padre  Boaventura  de  Alessano 
a  Propaganda  Fide  tratara  do  assunto,  na  sua  sessão  de  5  de  Novem. 
bro  do  mesmo  ano,  nos  termos  seguintes: 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornotio  litteras 
fratris  Bonauenturae  de  Alessano,  Capuccini,  Praefecti  Missionis 
Conghi,  et  simul  litteras  Régis  Catholici  ad  Ducem  Nazarae  ( sic ),  ut 
íllum  et  Sócios  de  necessanjs  pro  itinere  ad  Congum  prouident.  Sacra 
Congregatio  iussit  scribi  Nuntio  Hispaniarum,  ut  gratias  agat  eius 
Maiestati  de  mandatis  datis  dicto  Duci  Nazarae  pro  Missione  Capucci- 
norum  ad  Congum. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  165V.-166,  n.°  16. 


189 


59 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(13-11-1644) 

SUMARIO  —  Sobre  o  pedido  dos  Capuchinhos  respeitante  à  missão  do 
do  Congo,  que  lhes  não  podia  despachar. 

111.™  e  Rev.mo  Signor  mio  Osservandissimo 

Da  due  PP.  Cappuccini  uengo  richiesto  à  deputare  uno 
di  loro  alia  Missione  dei  Congo,  inuece  di  uno,  ch'essendo  stato 
destinato  à  trasferinusi,  suppongono,  che  non  sia  per  andarui, 
come  anche  fanno  istanza  d'elegger  1'altro  tra  quelli  che  s'im- 
piegheranno  nella  Missione  al  Regno  de  Negriti,  ond'io  per 
non  defraudare  degl'Officij  miej  d  pio  desiderio  loro,  inuio  à 
V.  S-  Ill.ma  le  lettere  scnttemi  sopra  di  ciò,  non  hauendo  io  fa- 
coltà,  come  essi  stimano,  d'ingenrmi  ín  tali  dechiarationi. 
Attenderò  ch'ella  mi  fauorisca  di  significarmi  ciò  che  da  cotesta 
Sacra  Congregatione  uerrà  reputato  espediente  circa  1'istanze 
loro,  e  ricordando  à  V.  S.  Ill.ma  la  mia  solita  osseruanza,  le 
bacio  affetuosamente  le  mani.  / / 

Di  Madrid,  li  13  Nouembre  1644. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  Rev.ma  alia  quale  soggiungo  che  li  due 
sopradetti  Padri  che  fanno  1'istanza  con  grandíssima  caldezza, 
sono  íl  Padre  F.  Antonio  de  Teruel,  Guardiano  di  Tortosa,  e 
íl  P.  F.  Luis  de  Teruel  sua  Fratello  che  stà  in  Valenza,  desi- 
dcrando  essi  grandemente  d'esser  impiegati  nella  missione  al 

/90 


Regno  de  Nigriti,  quando  non  si  possa  in  quella  dei  Congo-  Le 
loro  lettere  sono  state  inuiate  a  V.  S.  Ill.ma  con  altre  mie. 

Devot."10  et  Obl.mo  Servitore 

Giulio,  Arciuescouo  di  Tarso 

Monsig.  Ingoli. 

APF  —  SRCG,  vol.  io8,  fl.  77.  —  Ibid,  vol.  108,  fl.  16. 


i9i 


60 


CARTA  DO  PADRE  ANTÓNIO  DE  TERUEL 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(13-11-1644) 

SUMÁRIO  —  Pede  instantemente  ao  Secretário  da  Propaganda  licença 
e  obediência  para  partir  com  um  irmão  seu  para  a  missão 
do  Congo  —  Que  o  Provincial  lhe  não  dilate  a  partida. 

Ill.mo  y  Reur.mo  Senor 

Ya  veo  que  es  cansar  a  V.  111."1"  el  escribirle  tantas  cartas, 
pero  los  hijos  no  podemos  dexar  de  ínportunar  aios  Padres  vna 
y  muchas  vezes  hasta  alcançar,  si  quiera  por  ruegos  inportunos, 
lo  que  no  se  puede  por  falta  de  merecimientos-  / / 

Los  dias  passados  escribí  a  V.  S.  Ill.raa  suplicandole  por  las 
entrarias  de  Jesu  Chnsto  y  por  el  amor  de  su  bendita  Madre, 
fuesse  seruido  de  agregarme  aios  Missionários  dei  Congo,  y 
también  a  vn  hermano  mio,  sobre  lo  qual  han  escrito  nuestro 
Prouincial  dela  Prouincia  de  Valencia  v  mi  hermano  a  V.  S. 
Ill.ma,  y  quando  no  fuesse  possible  en  essa  Mission,  en  la  que 
ha  concedido  la  Sacra  Congregación  aios  Padres  de  Andaluzia. 
Lo  mismo  bueluo  a  suplicar  agora,  porque  no  se  passe  el 
tiempo.  / / 

Ya  mi  hermano  me  auisa  ha  escrito  a  V.  S.  Ill.ma  tenga  por 
bién,  que  alo  menos  vamos  el  vno  en  la  vna  Missión  y  el  otro 
en  la  otra;  no  tenemos  en  tiempo  tan  apretado  otro  recurso, 
ni  en  quien  poder  confiar,  sino  en  la  piedad  de  V.  Hl."**.  Y  sé, 
por  auisos  de  los  Padres  de  Andaluzia,  que  V-  Ill.ma  es  quien  lo 
ha  de  resoluer  todo.  Y  assí  por  amor  de  nuestro  Senor  Jesu 
Christo  nos  conceda  V.  Ill.ma  este  fauor,  pues  nuestros  intentos 
son  enplearnos  en  la  conuersion  de  aquellos  infieles  hasta  der- 


192 


ramar  la  sangre  y  perder  la  vida  si  es  menester.  Con  la  qual 
quedaré  con  obligacion  perpetua  de  tan  grande  beneficio.  / / 

Nuestro  Senor  guarde  a  V.  Ill.ma  muchos  anos,  como  de- 
seo  y  se  lo  suplico.  / / 

De  Tortosa  y  Nouiembre  1 3 ,  de  1 644. 

De  V.  Ill.ma  humilde  hijo  que  sus  pies  veja. 

Fr.  Antonio  de  Teruel 
Guardian  de  los  Capuchinos  desta  Ciudad 

[Ã  margem  J:  Ill.mo  Senor-  Suplico  a  V.  Ill.ma,  si  nos  haze 
tan  grande  fauor  en  embiarnos  la  obediência,  que  mande  a 
nuestro  Padre  Prouincial  no  la  detenga,  sino  que  luego  nos  la 
dé,  porque  lleguemos  a  tiempo.  Alfín  todo  lo  dexo  en  manos 
de  V.  Ill.ma,  de  quien  confio  hemos  de  lograr  esta  dicha  para 
gloria  de  nuestro  Senor. 

APF  —  SRCC,  vol.  108,  a  80. 


13 


*93 


61 


DECRETO  RÉGIO  A  FREI  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
(22-11-1644) 

SUMÁRIO  —  El-Rei  manda  que  a  partida  dos  missionários  Capuchi- 
nhos para  o  Congo  se  protele  até  que  de  Roma  venha 
a  confirmação  de  Bispo  para  a  diocese  —  Entretanto 
manda  dar  assistência  aos  missionários. 

Joam  de  Moraes,  Presbytero,  Notário  e  Secretario  da  Re- 
uerenda  Camera  Apostólica.  Certefico,  e  faço  fee  que  o  Padre 
Frei  Boa  Ventura,  Perfeito  dos  Padres  Capuchinhos  que  pella 
Sagrada  Congregação  de  Propaganda  Fide  saÕ  mandados  ao 
o  de  Congo,  me  aprezentou  um  Decreto  de  Sua  Mages- 
tade  (que  Deos  guarde)  feito  e  assinado  de  mao  própria  do 
Doutor  Pero  Vieira  da  Silua,  seu  Secretario  de  Estado,  que  eu 
reconheço  em  forma,  para  effeito  de  o  tresladar  em  forma  au- 
thentica,  do  qual  a  copia  de  verbo  ad  verbum  é  a  seguinte.  / / 

Sua  Magestade  que  Deus  guarde,  tendo  respeito  a  que  a 
jornada  de  Vossa  Paternidade  ao  Reyno  de  Congo,  naõ  será 
de  effeito  em  quanto  naquelle  Reyno  naõ  ouuer  Bispo,  pellas 
razões  que  de  sua  parte  se  referirão  a  Vossa  Paternidade.  Ha 
Sua  Magestade  por  bem,  pello  grande  dezejo  que  tem  da  sal- 
uaçaõ  das  almas  e  de  que  se  continuem  as  Chnstandades  que 
à  custa  da  fazenda  desta  Coroa,  e  do  sangue  dos  vassallos  delia 
se  plantarão  (')  em  partes  taõ  remotas,  que  Vossa  Paternidade 


(*)  Vcrifica-se  que  a  fórmula  encontrada  tão  laboriosamente  pela 
Missiologia  moderna  para  exprimir  com  propriedade  a  finalidade 
específica  da  acção  missionária  da  Igreja,  era  já  corrente  em  Portugal, 
ate  na  linguagem  oficial  da  Secretaria  de  Estado. 

1 94 


escolha  neste  Reyno  habitação  em  que  espere  venha  de  Roma 
confirmação  de  Perlado,  para  com  elle  poderem  Vossas  Pa- 
ternidades passar  áquellas  partes,  e  para  a  jornada,  quando  haja 
de  ser,  e  para  a  assistência  em  quanto  aqui  durar,  mandará 
Sua  Magestade  prouer  a  Vossas  Paternidades  de  todo  o  neces- 
sário, com  a  boa  vontade  que  sempre  acharão  nelle  quaesquer 
Missionários  da  Sancta  See  Apostólica.  / / 

Deos  guarde  a  Vossa  Paternidade  muitos  annos.  // 
Do  Paço,  a  vinte  dous  de  Nouembro  de  mil  seis  centos 
quarenta  e   quatro.  Secretario  Pedro  Vieira  da  Silva.  Senhor 
Frei  Boa  Ventura.  / / 

E  naõ  diz  mais  o  ditto  Decreto,  a  que  em  todo  e  por  todo 
me  reporto.  E  por  me  ser  pedida  a  prezente  a  passey,  que  vay 
por  mim  sobescritta,  collacionada  com  o  Notário  infra  scnpto, 
e  corroborada  de  meus  sinaes  publico  e  razo,  e  o  próprio  original 
torney  a  entregar  ao  ditto  Reuerendo  Padre-  E  assinou  aqui  de 
como  o  tornou  a  leuar.  / / 

Em  Lisboa,  a  vinte  e  quatro  dias  do  mez  de  Nouembro  de 
mil  seis  centos  quarenta  e  quatro  annos.  Joam  de  Moraes  o  so- 
bescreui  e  assinei. 

a)  Joam  de  Moraes 
Collacionado  comigo  Notário  Apostólico 
a )  Alexandre  Lopez 

( Lugar  -f"  do  Selo ) 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  60-60  v. 


'95 


62 


CARTA  DO  COLECTOR  APOSTÓLICO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(23-11-1644) 

SUMÁRIO  —  Os  missionários  estão  com  o  negócio  da  partida  em  bom 
andamento  —  Que  se  resolva  o  negócio  da  provisão  dos 
bispados,  que  está  na  base  do  problema  missionário. 

Signor  e  Padrone  mio  Osseruandissimo 

Se  bene  il  negotio  delia  missione  dei  Congo  de  Padri  Ca- 
puccini  che  si  trattengono  tuttauia  qui  in  mia  Casa,  hà  patito 
molti  incontri  e  difficoltà,  doppochè  ne  scrisse  a  V.  S.  Ill.ma, 
particolarmente  da  alcuni  di  quelle  Religioni,  hora  mi  pare  che 
stia  in  buona  altura,  come  V.  S.  111.™*  largamente  intenderá 
da  medesimi  Padri,  e  perche  la  total  spedizione  di  questo  ne- 
gotio depende  dalla  ressolutione  che  costi  si  pigliarà  nella  pro- 
uisione  de*  Vescouati  vacanti  di  questo  Regno,  che  ne  stà  in 
grandíssima  necessita,  come  panmente  Angola  (*),  son[o] 
però  a  pregar  V.  S.  Ill.m*  instantemente,  per  seruitio  di  Dio, 
che  sarà  molto  grande  quello  V-  S.  Ill.ma  le  fará  se  si  compia- 
cerà  cooperare  al  possibile  con  persuadere  a  Signori  Padroni, 
che  condescendano  a  tal  prouisione  con  ogni  breuità,  perche 


(*)  Sobre  este  problema,  o  mais  trágico  e  nefasto  da  história 
eclesiástica  de  Portugal  de  todos  os  tempos,  cfr.  o  nosso  estudo  Tri- 
centenário da  «Missão))  do  Congo,  em  Portugal  em  Africa,  Maio-Ju- 
nho  de  1945,  p.  166-175  e  Antunes  Borges,  Provisão  dos  Bispados  e 
Concilio  Nacional  no  reinado  de  D.  João  IV,  em  Lusitânia  Sacra, 
Lisboa,  1957,  tomo  II  e  1958,  tomo  III. 

196 


dalla  dilatatione  ne  possono  succedere  mille  inconuenienti,  e 
sara  opera  degna  delia  pietà  di  V.  S.  Ill.ma  1'adoprarsi  in  questo 
negotio  (2). 


Lisbona,  a  23  nouembre  1644. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  R.ma 
Deuotissimo  Servitore  Vero 
Girolamo  Battaglini 
APF  —  SRCG,  vol.  123,  fl.51. 

NOTA  —  No  £1.  54  v.  está  escrito  que  esta  carta  foi  recebida  em 
Roma  no  dia  21  de  Janeiro  de  1645. 


(2)  A  parte  que  não  transcrevemos  diz  respeito  ao  Arcebispo 
de  Mira,  não  interessando  à  África. 


!97i 


63 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(23-11-1644) 

SUMARIO  —  Excelente  andamento  do  problema  da  partida  para  o 
Congo  —  Decreto  régio  a  favor  dos  missionários  —  Pede 
lhe  mandem  reforços  de  pessoal  —  A  questão  da  provi- 
são dos  Bispados  e  a  acção  missionária. 

Ill.mo  Signor  mio  Osseruandissimo 

Mando  à  V.  S.  Ill.ma  Ia  copia  dei  decreto  fatto  da  sua 
maescà  à  fauor  nostro  ('),  per  li  quale  intenderá  íl  bisogno  di 
che  fà  instanza  à  sua  Santità  per  sue  lettere  et  íl  stato  delia 
missione  nostra,  quale  à  parere  di  tutti  è  molto  bono,  hauendo 
sua  maestà  risoluto  dover  noi  hauer  1'abitatione  particolare  sino 
al  negotio  finito,  che  potrà  facilmente  seguire  in  ogni  tempo 
opportuno,  nmetendomi  à  quanto  scriuo  nell'altra  mia  à  S. 
Signona  Illustnssima  qui  annexa- 

Replico  con  pregare  mi  sijno  mandati  altn  Padn,  se  cosi 
giudicaranno  bene,  maxime  íl  Laico  infermiero  col  P.  Lorenzo 
da  Surio,  delia  prouincia  nostra,  per  degni  et  necessanj  rispetti, 
et  quando  non  pensino  mandarne  altn,  saltem  per  cantà  questi 
due  nominati,  hauendomi  à  lungo  discorso  il  secretario  di  S. 
Maestà,  da  parte  dei  medesimo  Rè,  che  desidera  uengano 
altri,  essendo  noi  molto  pocchi  per  1'intento  preteso.  Supplico 


(')  Â  margem:  autenticato  dal  publico  notaro  delia  colletoria 
apostólica.  —  Cfr.  doe.  n.°  61,  p.  194. 

198 


V.  S.  quanto  posso,  far  nflexione  nel  negotio  che  stimo  debba 
per  il  suo  tempo  riuscire  molto  prospero. 

Et  quando  la  S.  Sede  non  potesse  prouedere  cosi  presto 
di  Vescouo  Angola,  se  la  risposta  pêro  di  S.  Santità  sara  di 
bona  speranza,  intendo  à  tanto  à  tanto  delia  s.maestà  inuiarci 
per  la  prima  imbarcatione  se  di  ciò  sarà  pregato  delia  Congre- 
gatione  de  propaganda  fide  (2) . 

Altro  non  me  resta  che  baciare  le  mani  et  pregare  a  S.  S. 
Ill.ma  ogni  sua  uera  exaltatione. 

Lisbona,  li  23  Nouembre  1644. 

Di  V.  S.  111.™  et  Reu.ma 
Seruo  Vmilissimo  et  deuotissimo 

f.  Bonauentura  di  Taggia,  Capuccino 
V.  Prefeto  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  57-57  v.  e  64. 


(2)  É  manifesto  quanto  a  política  da  Santa  Sé  na  questão  da  no- 
meação dos  Bispos  prejudicou  a  acção  missionária  e  quanto  a  atitude 
contrária,  no  pensamento  expresso  dos  próprios  missionários  da  Pro- 
paganda Fide,  a  teria  facilitado... 


I99 


64 

NOMEAÇÃO  DE  BISPO  PARA  ANGOLA 


(23-11-1644) 


SUMÁRIO  —  D.  João  IV  procura  seriamente  prover  de  Prelado  o  Bis- 
pado do  Congo  e  Angola,  pedindo  que  lhe  apresentem 
pessoas  idóneas,  que  por  sua  vez  apresentaria  ao  Papa 
para  a  devida  confirmação  canónica. 


S.  Magestade  que  Deus  guarde  hé  seruido  que  V.  S.  lhe 
apponte  as  pessoas  que  lhe  parecem  mais  a  preposito  para  delias 
escolher  Bispo  para  Angola.  Deus  guarde  a  V.  S.  muitos  annos. 

Do  Paço,  a  23  de  Nouembro  de  1644. 

a)  }■  Pereira  da  Sylua. 

Sr.  Visconde 

BAL  —  Cód.  51-IH-39,  fl.  2. 


200 


65 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(27-  n- 1644) 


SUMÁRIO  —  Excelentes  sentimentos  do  Rei  de  Portugal  para  com  os 
Capuchinhos  —  Desastrada  situação  das  dioceses  portu- 
guesas por  falta  de  Bispos  —  A  nomeação  e  confirmação 
do  Bispo  de  Angola  condição  indispensável  para  a  acei- 
tação dos  missionários  da  Propaganda  Fide. 

Ill.mo  et  Reu.mo  Signor  mio  Osseruandissimo 

(*)  Seruirà  la  presente  per  far  parte  à  V.  S.  Ill.ma  d'un 
morto  nsuocato;  fú  digià  íl  nostro  negotio  spedito  et  gratiato 
da  sua  maestà,  quando  apena  inteso  da  cjualche  Riligiosi  susci- 
torono  tal  turbatione  in  Palazzo,  che  non  so[lo]  resto  íl  negotio 
intorbidato  et  inchiodato,  ma  quasi  disperato,  et  reso  ímpossi- 
bile.  Et  cio  s'intesi  da  piu  parti,  maxime  delia  Signora  Regina 
et  dal  Signor  Secretario  di  stato,  ambedue  ben  affeti  al  ne- 
gotio. Anzi  che  un  certo  Religioso  di  quelli  che  piu  possono 
et  piu  s'interessano  in  questo  nostro  negotio,  che  ardi  trouare 
la  Signora  Regina,  protestandoli  che  nuscendo  il  nostro  negotio 
non  1'hauerebbero  d'ascnuerlo  che  alia  sua  reale  protettione; 
risposeli  sua  Maestà:  Padre  mi  leuo  la  maschera,  poiche  andaua 
pure  copertamente  il  negotiato;  a  me  tocca  piíi  il  regno  et  a 
mio  marito  e  figlioli,  che  à  Voi,  però  temo  Dio  non  ci  debba 


(l)  À  margem:  Lega  V.  S.  Ill.ma  la  presente  posatamente,  im- 
portando molto  il  contenuto. 


201 


castigare  secretamente,  se  detto  negotio  non  sortisce  il  suo 
santo  fine.  / / 

Però  per  disgratia,  armatisi  noi  ín  tal  periculoso  confhtto 
jejunijs,  flagellis  et  oratione,  tanto  miraculosamente  mutosi  la 
ruota,  che  non  lo  poteuamo  credere,  tratandosi  digià  di  tornare 
in  Itália,  non  sapendo  piu  che  viaggio  intraprendere,  per  li 
rigorost  ordini  delia  Congregatione  de  propaganda  fide,  fu  in- 
timaria dal  M.  R.  P.  Procurator  di  corte  nostro,  che  non  ci 
potesimo  preualere  di  denan  ne  di  pecunia  in  tal  uiaggio,  et 
che  doueuamo  pensarei  prima,  ma  incaminarci  come  ueri  poueri 
di  S.  Francesco,  &a- 

Si  mutorono  1'animi  contrarij  repentinamente  à  nostro  fa- 
uore,  sebene  il  negotio  non  nportò  quel  sucesso  cosi  libero  come 
prima,  pure  pò  essere  che  sarà  piu  fructuoso. 

Decreto  dunque  hieri  Sua  Maestà  che  hauesimo  a  fermarci 
nel  suo  Regno,  et  che  douesimo  esser  contentati  di  qualúque 
casa,  oratório,  conuento,  fosse  piu  à  gusto  nostro,  sino  aH'em- 
barcatione,  che  non  doueua  essere  prima  dell'approuatione 
delia  nomina  dei  Vescouo  di  Angola,  che  in  questo  mentre  si 
fà  à  sua  Santità,  non  parendo  bene  à  sua  Maestà  uadino  Padn 
Italiani  in  parti  tanto  remote  et  barbare  (maxime  in  tempo  che 
da  olandesi  s'inferma  la  santa  fede  ne  Cattolici  stessi)  senza 
Capo  et  Vescouo,  oltre  il  pregiuditio  di  tant'anime  di  quelle 
conquiste  senza  pastore  (2) .  // 


(2)  Devido  à  questão  política  entre  a  Santa  Sé  e  Portugal  sobre 
a  nomeação  dos  Bispos,  resultou  o  seguinte  quadro:  Diocese  de  Angola 
e  Congo  vaga  29  anos,  Cabo  Verde  28  anos,  S.  Tomé  e  Príncipe  34 
anos,  Cochim  42  anos,  Goa  19  anos,  Macau  48  anos,  Malaca  34  anos, 
Mcliapor  54  anos,  Baía  20  anos.  Na  metrópole,  idêntica  política:  Coim- 
bra vaga  22  anos,  Porto  32  anos,  Braga  30  anos,  Évora  28  anos,  Lisboa 
27  anos,  Elvas  13  anos.  Cfr.  o  nosso  estudo  Tricentenário  da  «Missão» 
do  Congo,  em  Portugal  em  Africa,  1945  (II),  p.  169. 

«Quando,  em  3  de  Junho  de  1669,  foram  preconizados  os  cinco 
primeiros  Bispos,  não  havia  um  único  Prelado,  quer  no  Reino,  quer 


202 


La  ragione  è  boníssima,  ma  forsa  non  totale,  pure  V.  S. 
fará  reflexione  in  questo,  perche  in  uentà  per  moltissime  ragioni 
pare  conueniente  su  concesso  tal  Vescouo.  Grandissimi  sono 
1'inconuenienti  tanto  di  Portugal,  quanto  delle  conquiste,  per 
il  diffeto  de  Vescoui,  che  mancano,  et  tanto  Secolari,  quanto 
Religiosi  d'ogni  professione  exclamano  usqtte  ad  uerba  incon- 
grua,  parendo  loro  que  non  deuono  li  rispetti  diuini  et  eccle- 
siastici  cedere  alli  temporali,  maxime  quando  è  foro  differente, 
et  si  possino  concedere  li  Vescoui  cã  hac  condictione  sine  prae- 
iudicio  tertii,  o  uero  a  richiesta  delia  corona  di  Portugalo,  senza 
nominare  D.  Giovanni  ne  altro. 

Non  deuo  10  por  (3)  bocca  in  negotij  tanto  eccedente  la  mia 
sfera,  solo  come  religioso  et  figlio  di  S.  Chiesa,  auiso  V.  S. 
IU.ma  et  pregola  per  quanto  posso  coopen  alia  confirmatione  de 
Vescoui  nominati,  salte  d'Angola,  poiche  altremente  possono 
seguire  graui  preiudicij  nell'anime,  et  nascere  germogli  di  pocco 
nspetto  alia  S.  Sede  Apostólica.  Non  si  possono  cosi  facilmente 
credere  le  cose  tanto  di  lontano,  ma  faci  V-  S.  conto  vij  auiso 
dei  Cielo  et  da  Dio,  oltre  che  mai  passaranno  missionanj  apos- 
tohci  al  Congo  per  Portugalo  senza  Vescouo.  Ne  è  possibile 
passare  per  altre  uie,  cosi  intendo  da  tutti,  salte  in  questi  tempi, 
et  approuandosi  il  Vescouo  d'Angola,  ci  dichiara  sua  Maestà, 
che  mandi  Sua  Santità  et  la  Sacra  Congregatione  de  propaganda 
fide,  quanti  capuccini  voglino,  che  a  tutti  dará  ricetto  et  l'im- 
barcatione,  conoscendo  benissimo  in  che  grande  periculo  stà  il 
Regno  dei  Congo  per  1'olandesi  vicini,  dubitandosi  fortemente 
di  grandi  mali. 


em  qualquer  das  dioceses  das  conquistas  espalhadas  pelas  quatro  partes 
do  mundo».  A.  Antunes  Borges,  in  Lusitânia  Sacra,  Lisboa,  1957, 
tomo  II,  p.  113. 

(3)  Sic.  O  auttor  da  carta,  já  influenciado  pela  língua  portuguesa, 
emprega  pôr  em  vez  dc  f  onere. 


203 


Mando  à  V.  S.  Ill.ma  la  copia  autentica  dei  decreto  di  sua 
Maestà  per  maggior  sodisfattione;  fra  tanto  fermaremo  in  uno 
qualche  oratório  religioso  per  riposare,  sino  al  destinato  tempo 
d'entrare  in  nauate  (?)  per  Dio. 

(4)  Supplico  poi  V.  S.  far  nnfrescare  le  facoltà  che  de  10 
anni  sono  uenute  in  6  et  quando  entraremo  nel  Regno  [di 
Congo]  Dio  sà  che  tempo  ui  restare.  Scnuendomi  V.  S.  mi 
faci  sapere  come  il  Rè  dei  Congo  dimanda  questi  Padri  Ca- 
puccini,  per  degni  rispetti.  Mi  faci  hauere  per  carita  mille  be- 
neditioni  dei  P.  Giacinto  da  Casale,  Capuccino  nostro,  da 
questo  nuouo  Pontífice  (5). 

Di  piíi  c  inuij  qualche  lettere  comendatitie  al  Rè  dei  Congo, 
cõ  alcune  reliquie  che  pur  no  sara  tempo:  cõ  altre  instruttioni 
che  parere  a  V-  S.,  et  mandi  pure  altn  Padri  che  saranno  in 
gusto  di  sua  Maestà  certissimamente,  che  cosi  hanno  rysoluto 
in  Conseglio,  come  mi  dice  il  Secretario. 

Ne  altro  che  baciare  le  mani  et  pregare  a  V.  S.  Ill.m*  ogni 
uera  exaltatione. 

Lisbona,  27  Nouembre  1644. 

Di  V.  S.  Ill.ma 
Seruo  deuotissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Capuccino 
et  Vice  Prefetto 

APF  —  SRCG,  vol.  123,  fls.  58-58  v.  c  63-63  v. 


(4)  Â  margem:  Notcsi  per  carita. 

(s)  Inocêncio  X,  eleito  em  15  de  Setembro  e  coroado  cm  4  de 
Outubro  de  1644. 


66 


ESMOLA  AO  CONVENTO  DE  SANLÚCAR 
DE  BARRAMEDA 

(14-12-1644) 

SUMÁRIO  —  Acordo  da  Câmara  de  Sanltícar  de  Barrameda  concedendo 
ao  convento  dos  Capuchinhos  da  mesma  cidade  a  esmola 
de  cinquenta  reais  para  sustento  dos  padres  do  Congo. 

En  este  Cabildo  se  acordo,  que  porquanto  por  parte  de  los 
Relijiosos  dei  Combento  Capuchino  dei  sr.  San  Francisco  desta 
Ciudad  se  [h]a  hecho  sauer  vienen  a  ella  cantidad  de  Reh- 
giossos  delia  dicha  horden  para  passar  en  mission  a  combertir 
los  bárbaros  de  Congo,  se  le  acorde  (*)  al  Combento  con  al- 
guna  hmosna  para  el  sustento  de  los  Relijiossos.  Se  acordo  que 
se  le  socorra  con  sento  y  cinquenta  reales  de  limosna  y  se 
dé  hbranza  en  quallquier  convento  (?)  de  la  Çiudad  y  se 
pongan  en  poder  dei  sr.  Don  Jose  P...  (?)  Mossilla,  Regedor, 
que  por  su  mano  se  distrebuya. 

CÂMARA  MUNICIPAL  (Ayuntamiento)  de  Sanlucar 
de  Barrameda  (Secretaria) — Actas,  Liv.  Capitular  n-°  16 
(1643- 1645),  fls.  193  v-194. —  Acta  de  14  de  Dezembro 
de  1644. 


(*)  O  sentido  parece  exigir  acuda,  se  bem  que  a  leitura  não  ofe- 
reça dúvida. 


67 


CARTA  DO  GOVERNADOR  DE  S.  TOMÉ 
A  SEU  IRMÃO  D.  FILIPE  DE  MOURA 

(15-12-1644) 

SUMÁRIO  —  Descreve  o  ultimato  do  General  holandês,  a  indigna  reac- 
ção da  população  e  o  estado  de  alarme  em  que  ficava. 

Estando  fazendo  esta  chegou  ao  porto  desta  Ilha  hum  pataxo 
em  9  de  Dezembro  com  jnfantaria  e  hum  Sargento  mór,  que 
ueo  da  Costa  da  Mina,  e  tanto  que  dezembarcou  a  gente  e 
offiçial,  logo  o  General  da  fortaleza  me  mandou  húa  carta,  na 
qual  me  fazia  a  saber,  em  como  aquelle  pataxo  uinha  da  Mina, 
e  com  auiso  em  como  erao  chegadas  á  ditta  Costa,  de  Olanda, 
sette  náos  com  jnfantaria,  e  petrechos  de  guerra,  e  juntamente, 
que  me  auisaua,  de  como  seus  mayores  hauiao  por  boas  [as] 
pazes  que  entre  os  moradores  tinhao  feito,  com  condição  que 
derrubássemos  o  forte  que  tínhamos  feito,  e  que  quando  não 
qui [sejssemos  nos  denunciaua  a  guerra,  e  que  logo  mandanão 
chamar  a  sua  armada  que  estaua  na  Mina,  e  que  esperaua  logo 
pella  re[s] posta,  e  querendo  nós  desfazer  o  ditto  forte,  que 
senão  nossos  amigos,  e  mandaria  recado  á  Mina,  pello  próprio 
pataxo,  que  fosse  a  prouer  as  fortalezas  e  praças  da  Costa,  e  que 
a  de  mais  fosse  para  Angola.  / / 

Tanto  que  reçeby  a  ditta  carta  conuoquey  os  moradores,  e 
lilhe[s]  a  ditta  carta  de  uerbo  ad  uerbum,  e  pedilhefs]  que 
me  quisessem  dar  seu  pareçer,  e  que  juntamente  lhes  lembraua 
que  esta  era  ocazião  em  que  hauiao  de  mostrar  o  serem  elles  leaes 
vassallos  de  EIRey;  me  responderão  a  letera  descatola,  que  elles 
se  não  querião  fechar  neste  arrayal  e  deixarem  seus  filhos  e 
molhercs  nos  mattos,  e  que  também  me  desenganauão,  que 

206 


elles  nao  tinhão  couza  com  que  poder  sustentar  esta  fortaleza, 
no  que  tocaua  a  mantimentos,  nem  menos  nenhum  dinheiro 
para  hauerem  de  se  pagarem  soldados,  que  se  eu  o  tinha  de 
EIRey  que  o  gastasse,  e  que  já  que  o  olandês  daua  as  monições 
de  EIRey,  que  bom  fora  lançarlhe  mão  da  palaura,  e  segurallas 
em  algúa  parte  onde  se  enterrasse  a  artilharia,  e  o  de  mais  se 
puzesse  pella  terra  dentro,  e  que  depois  se  arrasasse  este  forte, 
e  que  me  dezenganasse,  que  com  o  olandês  nao  querião  guerra 
nenhúa.  / / 

Quando  uy  e  ouuy  esta  rezolução,  lhes  respondi,  que  lhes 
lembraua,  que  este  olandês  nao  podia  inouar  couza  [algua] 
contra  o  capitulado,  pois  em  hum  dos  capitullos  se  continha, 
que  de  parte  a  parte  se  hauia  de  esperar  por  resolução  dos  mayo- 
res,  e  que  [se]  já  elles  a  tinhão  do[s]  seu  [s] ,  que  inda  da  nossa 
parte  nos  não  tinha  chegado,  que  antes  de  outro  acordo  e  reso- 
lução, que  me  pareçia  acertado  que  lhe  fizéssemos  esta  aduer- 
tençia;  vierão  nisso,  e  escreuy  então  hua  carta  ao  General,  que 
lhe  mandey  por  dous  moradores,  e  lida  que  a  teue,  lhes  disse: 
dizey  de  palaura  ao  uosso  Gouernador  que  eu  bem  lhe  entendo 
seu  desígnio,  mas  que  eu  não  tenho  outra  ordem,  se  não  fazer 
o  que  lhe  tenho  auisado,  e  dailhe  esta  carta,  e  que  me  responda 
amanhã  por  todo  o  dia,  e  quando  não  queira,  que  lhe  alembro, 
que  já  tenho  satisfeito  ao  que  tenho  de  obrigação.  / / 

Tornarão  com  esta  re[s]  posta  e  carta,  que  se  leo  em  pu- 
blico; e  como  forão  inteirados  da  rezolução  do  olandês,  entrou 
nelles  tamanho  pauor  e  espanto,  que  todos  estiuerão  rezolutos 
a  deixarem  me  só,  e  hirem  auizar  ao  olandês,  que  eu  á  força 
os  queria  compelir  a  que  fossem  seus  inimigos.  Quando  lhes 
alcançey  este  animo,  lhes  disse  que  fizessem  o  que  quizessem; 
assentarão  o  que  melhor  lhes  conuinha,  mas  que  pello  habito 
de  Chnsto,  que  se  eu  tiuera  fazenda  bastante  de  EIRey  para 
me  poder  sustentar  nesta  fortaleza,  que  antes  que  sahissem  suas 
merçês  delia,  hauia  de  enforcar  pnmeiro  húa  dúzia  delles,  mas 
que  Sua  Magestade  a  não  tinha,  pelo  que  me  conuinha  armas 

207 


de  passiençia  até  que  Deos  fosse  seruido  de  me  tirar  desta 
Illha.  // 

Assentou-se  que  a  fortaleza  se  desmantelasse;  não  quiz 
consentir  nisso,  e  que  não  hauia  de  [o]  fazer  sem  primeiro  se 
contratar  com  o  olandez  a  segurança  da  artilharia  e  monições  de 
EIRey;  fizerão  huns  appontamentos,  e  mandarão  quatro  mora- 
dores ao  general  olandês,  hum  dos  quais  hia  sobre  as  monições, 
e  todos  os  conçedeo  o  ditto  general  a  bel  prazer.  Com  esta  rezo- 
lução  se  tomou  assento  a  que  se  desmanchasse  a  fortaleza,  e  que 
cada  hum  se  fosse  a  sua  roça,  e  assy  o  fizerão  e  me  deixarão 
com  a  artelhana,  poluora,  bailas  e  arcabuzaria,  que  com  os 
escrauos  das  minhas  fazendas  estou  enterrando,  e  o  demais 
escondido  até  que  os  olandezes  tenhão  uontade  de  os  pedir,  e 
prasa  a  Deos  que  me  não  leuantem  que  me  quero  fortificar 
algures,  e  que  me  não  coste  [a]  uida  e  fazenda  a  mym  e  a  toda 
minha  caza.  / / 

Esta  são,  meu  Irmão,  as  nouas  e  estado  em  que  este  uosso 
Irmão  fica  e  quando  não  sirua  de  mais  esta  carta  e  auizo,  pre- 
miando Deos  que  uos  uá  á  mao,  e  será  para  saberdes  o  fim 
que  tiuerão  minhas  desgraças  e  cançada  uida  neste  gouerno. 

LARANJO  COELHO  —  Cartas  de  El-Rei  D.  João  IV  ao  Conde 
da  Vidigueira  (Marquês  de  Niza)  Embaixador  em  França,  Lisboa, 
1940,  vol.  I,  págs.  260-262 


208 


68 


CARTA  RÉGIA  AO  PADRE  JOÃO  DE  MATOS 
(2-1- 1645) 

SUMÁRIO  —  Trata  das  relações  diplomáticas  com  a  Santa  Sé,  espe- 
rando que  Inocêncio  X  se  adapte  com  realismo  às  cir- 
cunstâncias políticas  do  momento  presente. 

Por  alguas  cartas  vossas,  e  pella  copia  de  outras  que  escre- 
uestes  ao  Conde  Almirante  e  elle  me  remeteo,  entendy  que  se 
não  comformauão  os  procedimentos  que  aqui  se  tem  sobre  os 
particulares  da  Santa  See  appostohca  com  os  descursos,  que  ahy 
fazeis  e  auizais  fazem  os  outros,  sobre  os  meyos,  que  nelles 
deuião  mandar  seguir,  e  obrigao  me  as  multiplicadas  e  apertadas 
aduertençias  que  sobre  isto  fazeis,  a  dizeruos,  que  a  minha  pie- 
dade nao  se  gouerna  pellas  leys  da  pulitica  de  Itália,  se  não 
pellas  da  Chnstandade  de  Portugal,  com  que  se  gouernarão  e 
reçeberão  de  Deos  Nosso  Senhor  grandes  merçês,  os  Senhores 
Reis  meus  predecessores,  que  eu  experimento  iguaes,  e  auen- 
tejadas,  e  por  esta  razão  esperey  tégora,  sem  passar  a  mayores 
demonstrasões;  verey  o  termo  que  comigo  tem  a  santidade  de 
Inocêncio  deçimo  que  hoye  gouerna,  e  conforme  a  elle,  porque 
yá  os  tempos  uão  sendo  outros,  mandarei  se  proçeda  na  forma 
que  aqui  pareçer  mais  conueniente  a  meu  seruiço;  agradeçouos 
muito  o  zello  com  que  me  reprezentais  estas  matérias,  e  uos 
encomendo  me  façaes  sobre  ellas  todas  as  aduertencias  que  uos 
pareçerem  conuenientes-  / / 

Escrita  em  Lisboa  a  2  de  Janeiro  de  1645. 

Rey 

BNL  —  Ms.  7.162,  fl.  465  —  Corpo  Diplomático  Portuguez, 
XIII,  págs.  6. 

20  Cf 

14 


69 


CARTA  DO  PADRE  ANTÓNIO  DE  TERUEL 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(2-1-1645) 


SUMÁRIO  —  Pede  a  interferência  do  Secretário  da  Propaganda,  para 
ser  alistado  com  seu  irmão  na  segunda  missão  de  Capu- 
chinhos a  enviar  para  o  reino  do  Congo. 


Ill.mo  Senor 

Quando  vino  a  Espana  el  P.e  F.  Buenauentura  de  Alessano, 
hecho  Prefeto  dela  Mission  dei  Congo  por  la  Sacra  Congrega- 
cion  de  propaganda  fide,  fué  el  Senor  seruído  de  auiuar  en  mi 
los  deseos  de  seruirle  en  aquel  ministério,  hasta  derramar  la 
sangre  y  dar  la  vida  siendo  menester.  Los  mismos  deseos  tuuo 
el  P.e  Fr.  Luis  de  Teruel,  hermano  mio,  que  me  escnbio  para 
que  tratasse  por  los  dos  nos  admitiessen  en  la  dicha  mission. 
No  fué  Dios  seruido,  y  porque  ya  estaua  el  numero  complido, 
pero  alento  nuestas  esperanças  el  auernos  escrito  algunas  vezes 
el  P.e  Prefeto  que  para  la  otra  mission,  que  se  hará  el  ano  que 
viene,  auria  lugar,  y  escribiria  por  nosotros.  Nuestro  P.e  Pro- 
uincial,  que  lo  es  dela  Prouincia  de  Valencia,  nos  ha  dado  apro- 
uacion  para  los  Eminentíssimos  Sefíores  Cardenales  de  la  Sacra 
Congregacion,  la  qual  creo  recebirá  V.  Ill.ma  con  esta-  / / 

Suplico  humilmente  nos  fauorezca  V.  Illma  al  complimiento 
destos  deseos  para  gloria  dei  Senor,  pues  nuestro  intento  es  solo 
de  seruirle  en  la  conuersion  de  aquellos  infieles,  y  padecer  por 
su  amor  en  el  empleo,  si  es  menester,  la  muerte.  / / 

Tambien  nos  hará  fauor  V.  Ill.ma  de  que  vengan  los  des- 
pachos duplicados,  el  vno  por  lo  menos  a  Valencia;  aunque  yo 


2/0 


estoi  de  presente  Guardian  en  la  Ciudad  de  Tortosa,  mi  hermano 
en  Valencia  predicador,  confiado  de  la  merced  que  nos  hará 
V.  Ill.ma  ruego  al  Senor  Ie  dé  muchos  anos  de  vida  para  gloria 
suya.  / / 

De  Tortosa  y  Enero  2,  de  1645. 

De  V.  Ill.ma  que  S.  M  V. 
Humilde  hijo  y  Sieruo 

Fr.  Antonio  de  Teruel 


APF  —  SRCG,  vol.  108,  fl.  95-95  v. 


70 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(16-1-1645) 

SUMÁRIO  —  O  Rei  de  Portugal  faz  defender  a  licença  a  conceder  aos 
missionários  da  Propaganda  Vide  para  embarcarem  para 
o  Congo,  da  confirmação  do  Bispo  apresentado  por  ele 
—  O  missionário  compreende  a  justa  posição  do  Rei  de 
Portugal  e  insta  pela  satisfação  pronta  de  seus  desejos. 

Ill.mo  &t  R.mo  S.T  et  Padrone  mio  Osseruandissimo 

Cun  gusto  non  ordinário  nceuei,  sono  due  giorni,  una  di 
V.  S.  IlI.TOa  dello  18  ottobre,  per  contenere  qualche  verso  per 
sodisfatione  di  S-  Maestà,  attesa  la  conditione  et  dúbio  de  tempi, 
ogni  cosa  che  si  scriue  di  sua  persona  ín  bene  pare  assai;  che 
sebene  come  dalle  suseguenti  lettere  scntte  á  V.  S.  Ill.ma  sara 
saputa  la  tempesta  seguita  ai  pouero  vascello  delia  missione  nos- 
tra,  pure  rednzar  íl  negotio  á  segno  di  hauer  decreto  delia  forma 
haurà  ueduto,  fu  stimato  assai.  Dalla  risolutione  di  S.  Santità 
circa  li  vescoui  o  vescouo  d'Angola,  dipende  il  tutto,  et  noi 
stiamo  ben  acasati  in  un  deuotissimo  romitono  religiosamente 
á  spese  di  S.  Maestà,  sin  che  habbiamo  nsposta  fauoreuole  et 
di  quanto  deueremo  nsoluere. 

Non  manco  di  seriamente  replicare  á  V.  S.  Ill.ma  che  per 
quanto  uediamo  dalla  sua,  tengono  ferma  speranza  debba  passare 
il  P.  Bonauentura  d'Alessano  per  il  Congo;  temo  cõ  tutti  1'altrt 
mercadanti  Italiani  che  sono  in  Lisbona,  che  tal  speranza  possa 
esser  d'oggetto  difficilissimo  et  di  molto  pregiuditio  al  nostro 
uiaggio  quando  segua,  atteso  che  aprendosi  la  porta  delia  mis- 


212 


sione  in  Lisbona,  il  numero  de  frati  è  impare  ai  bisogno,  et 
quando  altro  non  ui  fusse,  non  hauer  un  laico  che  possa  curare 
un  pouero  religioso  quando  fusse  amalato  è  molto,  et  pare  molto 
strano  á  tutti,  possiamo  imaginarsi  la  causa;  pure  V.  S.  Ill.ma  sie 
pregata,  quando  il  negotio  segua  prosperamente  in  Roma  per 
Portugalo,  farmi  mandare  il  P.  Lorenzo  Suno,  delia  prouincia 
di  Genoua,  cõ  un  infermiero  che  non  mancaranno,  maxime 
uenendo  il  P.  Giannuano,  non  mancaranno  infermieri,  hauen- 
done  molti  per  le  muni  (?).  Non  hò  altro  che  scriuere  che  rime- 
termi  à  quanto  hò  scntto  per  il  nauiglio  passato  che  parti  li  2 
Genaro  dt  quest'anno. 

Stiamo  ancor  cõ  summo  desiderio  ueder  adempiuto  quanto 
significa  V.  S.  Ill.ma  douer  considerare  circa  le  cose  spetanti 
alia  missione.  Certo  Ill.m0  Signor,  testor  cora  Deo  et  Christo  Jesu 
che  quando  fusse  di  tal  mérito,  sapendo  li  bisogni  grandi  di 
quell'anime,  che  ogni  di  piu  pericolano  di  moltiplicare  (?), 
m'imbarcarei  sopra  il  mio  manto. 

La  sua  moita  prudenza  et  zelo  delia  saluatione  dell'anime 
et  propagatione  delia  santa  fede  m'obhga  á  supplicarla  di  nuouo, 
che  quando  le  cose  di  Portugalo  in  Roma  non  sortissero 
quell'effeti  prosperosi  et  pretesi,  assicurato,  che  S.  Santità  in  tal 
caso  ogni  cosa  nsoluerà  cõ  prudenza  apostólica,  procuri  qualche 
lettera  per  S.  Maestà  delia  Congregatione,  scritta  ai  Signor  Col- 
letore  che  eorum  nomine  faci  1'istanza,  perche  le  cose  paiono 
benissime  disposte  ex  parte  Régis:  questa  missione  è  di  maggior 
consideratione  di  quello  la  considerano  in  Jtalia,  eh'  s'iui  sarà 
da  patire,  ne  sarà  anco  da  mettere,  che  Dio  ci  conceda  Masan- 
gano,  poi  è  delia  diocese  d' Angola;  messe  sono  molte,  ma  non 
posso  sapere  il  numero  certo,  in  tali  nuoui  mondi  non  si  deue 
stare  in  tali  rigori  per  aiuto  di  tali  populi.  Non  hò  che  di  nuouo 
dare  á  V.  S.  Ill.ma  saluo  che  il  Rè  di  Maldiua  doppo  alquanti 
mesi  habbe  audienza  da  S.  Maestà,  cõ  sua  moita  consolatione 
et  sodisfatione  et  si  stà  in  pace  mque  modo.  Facio  fine  cõ 


2/3 


baciare  le  mani  et  pregare  á  V.  S.  Ill.ma  dal  Cielo,  ogni  sua  uera 
exaltatione- 

Lisbona,  li  1 6  Genaro  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ffia  et  Reu.™ 

Seruo  deuotissimo  et  obhgatissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Capuccino 
V.  Pref.  dei  Congo 

Si  stà  aspetando  1'ambasciatore  di  Francia  giorno  per  giorno; 
non  è  uenuto  prima  per  li  cattiui  tempi,  essendo  una  volta  dal 
cauo  di  finibus  terrae  tornato  in  dietro  sino  á  S.1  Maio  (?). 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  220-220  v. 


2 14 


71 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(18-1-1645) 

SUMRÁIO  —  Comunica  ter  agradecido  ao  Rei  de  Espanha  o  auxílio 
dado  para  o  embarque  dos  Missionários  para  o  Congo 
—  Inexcedível  zelo  manifestado  pelo  mesmo  Rei. 

Emin.mi  e  Reu.mi  SS.ri  e  Padroni  Colendissimi 

Hò  rappresentato  alia  Maestà  dei  Rè  1'ordine  ch'io  teneua 
da  cotesta  Sacra  Congregatione,  di  rendere  in  nome  di  lei 
affettuose  gracie  alia  Maestà  Sua  delia  commissione  data  per 
1'imbarco  de  Padri  Missionarj  che  deuono  trasferirsi  al  Congo, 
e  mi  sono  steso  in  mostrare  quanto  uenisse  riconosciuta  in  tutte 
1'occasioni  con  applauso  vniuersale  la  sua  Real  pietà.  / / 

Mostro  S-  M.  particolarissimo  compiacimento  di  quanto 
ost.°  (?)  e  mi  disse,  che  non  solo  si  era  mossa  uolontieri  à  com- 
metter  1'imbarco  sudetto,  ma  che  haueua  anco  ordinato,  che 
quei  Padri  fussero  trattati  bene,  soggiungendo,  che  in  ogni 
altra  cosa  spetante  al  seruitio  delia  Religion  Cattolica,  et  alia 
sodisfattione  dell'Eminenze  Vostre,  à  cui  mi  impose  di  signi- 
ficado, non  hauerebbe  consentito,  che  si  desiderassero  la  pron- 
tezza,  e  1'opera  sua;  et  io  qui  faceio  ali'  EE.VV.  humilissima 
riuerenza. 

Madrid,  li  18  Genaro  1645. 

Dell'EE.  W. 

[Autógrafo]:  Humil.mo  Deut.mo  et  Obl.mo  Ser/9 

Giulio,  Arciu0  di  Tarso. 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fl.  48. 


2/5 


72 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA 

(19-1-1645) 

SUMÁRIO  —  Informa  ter  dado  os  agradecimentos  ao  Rei  de  Espanha 
pelas  facilidades  concedidas  aos  missionários  do  Congo. 


Ill.mo  e  Rev.mo  Signor  mio  Osseruandissimo 

Rittornandosene  a  Roma  il  Padre  F.  Gioseffo  Olà,  non  deuo 
lasciare  di  testificare  a  V.  S.  Ill.ma  il  zelo  e  diligenza  singolare, 
con  che  egli  si  è  adoperato  in  questa  Corte  circa  i  negotij  com- 
messi  gli  dalla  Sacra  Congregatione;  e  mi  hà  anche  suggento, 
come  il  Consigliero  D.  Giovanni  di  Solorsano  promesse  già  al 
Padre  Bernardo  dei  Castighno,  che  il  giunger  delia  prima  flotta 
hauerebbe  procurato,  che  si  pagasse  la  metà  delle  12/m.  e  cin- 
quecento  pezze  da  otto  che  st  deuono  alia  medesima  Congre- 
gazione.  Io  però  non  son  per  tralasciare  1'interporre  col  decto 
Consigliero  ogno  possibile  offitio  per  tale  effetto,  già  che  ci  è 
auuiso,  che  siano  arnuati  a  San  Lucar  1  galeoni  con  1'argento; 
e  di  cio  che  seguirá  darò  auuiso.  / / 

A  cotesti  Eminentissimi  Signon  hò  nsposto  con  due  lettere 
per  via  di  Valenza,  e  ne  ho  anche  mandati  1  duplicati  per 
Francia.  In  una  rappresentauo  d'hauer  reso  gratie  al  Rè  in  nome 
dell'Eminenze  Loro  per  la  commodità  dell'imbarco,  che  be- 
nignamente hà  fatto  dare  alli  Missionanj  dei  Congo;  il  quale 
offitio  fu  gradito  molto  dalla  Maestà  Sua-  / / 

Ho  significato  con  1'altra,  che  per  1'informationi,  che  hò 
potuto  hauere  circa  1'Isola  di  Guadalupe,  sento  che  sia  posse- 
duta  al  presente  da  gl'01andesi. 


216 


Per  ogni  rispetto  hò  stimato  a  propósito  darne  a  V.  S.  Ill.ma 
questo  cenno;  e  pregandola  a  persuadersi,  che  il  desiderio  che 
tenao  di  seruirla  non  può  esser  maggiore,  le  bacio  affettuosa- 
mente  le  mani. 

Madrid  19  Gennaro  1645 

Di  V.  S.  111.™*  e  Rev.ma 
Devot.™  Servittore  Obl.rao 

Giulio,  Arciuescouo  di  Tarso 


APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  62-62  v. 


73 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 
AO  PREFEITO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(29-1-1645) 


SUMÁRIO  —  Anuncia  a  partida  de  Sanlucar  de  Barrameda  para  o 
Congo  e  pede  a  protecção  do  Cardeal  para  a  missão. 


Eminentissimo  Signor  e  Padrone  Osseruandissimo 

Sicome  sua  Maestà  Cattohca  con  magn'anima  e  perseue- 
rante  pietà,  non  s'è  stancata  ín  fauonre  1'opera  intrapresa  à 
gloria  dei  Signor  e  salute  di  quei  poueretti  popoli  dei  Congo, 
cosi  con  uantagioso  compenso  uiene  riconosciuta  da  V.  Emi- 
nenza  per  mezzo  di  Monsignor  Nuntio,  conforme  con  una  sua 
cõpetissima  s'è  degnata  certificarmi,  al  companr  delia  quale 
scraordinanamente  con  tutti  cõpagni,  auuolorato  aH'aposto- 
lic'impresa,  mercê  all'ardente  zelo  e  religiosa  prontezza,  con 
cui  la  sua  protettione  in  ogni  euento  n'offensce,  delche  humil- 
mente  ringratiandola  le  bramo  dal  Supremo  Padre  delle  miseri- 
cordie  abondante  guiderdone.  Mi  rincoro  à  supplicar  1'Emi- 
nenza  Sua  con  ogni  possibile  efficacia,  che  si  cÕpiaccia  à  Mon- 
signor  Nuntio,  qual  pro  tempore  in  questi  Regni  essercitarà 
1'ufficio,  instare  con  partial  (sic)  premura  gli  siano  per  l'aue- 
nire  à  cuore  i  Pouerelh  Missionanj  da  cotesta  Sagra  Congre- 
gatione  destinati  à  ouúque  se  sia,  ma  specialmente  in  nostro 
amto  colà  nel  Congo-  Posciaque  (uedasi  all'espenenza)  alia 
giornata  insorgere  contradittioni  tali,  e  tanto  pertinaci,  che 
senza  fallo,  non  concorrendoui  specialissimo  aiuto  dei  Cielo,  e 
di  cotesto  Eminentíssimo  Senato,  si  renderebbono  insupera- 
bili.  // 


218 


Già  gratie  al  Signore  son  passati  8  giorni,  che  me  ntrouo 
con  gl'altri  Padri  Missionarij  ín  naue  per  uiaggiare  al  nostro 
camino,  ancora  non  s'è  uscito  da  questo  Porto  di  S.  Lucar, 
altro  non  s'aspetta,  che  uento  opportuno,  qual  dalla  Superna 
Pietà  in  breue  s'ispera,  con  cui  fauore  giogendo  à  paesi  dei 
Congo,  ò  pur  ouúque  dalla  Superna  Pietà  sara  ordinato,  non 
mancherò  distintamente  raguagliare  dei  tutto  1'Eminenza  Vos- 
tra  come  nostro  Supremo  Prelato  e  Signore,  à  cui  piedi  cõ 
gl'altri  nostri  cõpagni  humilmente  prostrato,  bacio  la  sagra 
ueste.  / / 

Dal  porto  di  S.  Lucar  di  Spagna,  li  29  di  Gennaro  1645. 

Del'Eminenza  Sua 

Vbedientissimo  seruo  e  figliuol  in  Christo 

Fra  Buonauentura  de  Alessano  / / 
Capuccino,  e  Prefeito  delia  Missione  dei  Congo 

L'Eminentissimo  Card.1  Antonio. 
APF  —  SRCG,  vol.  108,  fl.  160. 


NOTA — Já  embarcado  no  porto  de  Sanlucar  de  Barrameda, 
escreve  ainda  o  cartão  seguinte: 

Solo  dico  à  V.  S.  Ill.ma  in  questa  carta,  perche  quattro  giorni  fà 
le  scrissi  di  questo  medesimo  nauiglio  à  lungo,  che  hoggi  alie  20  hore, 
nel  primo  giorno  di  febraro,  hauemo  fatto  vela  per  la  nostra  nauiga- 
rione  dei  Congo,  cõ  vento  felicíssimo,  fauorendoci  nostra  Signora, 
essendo  il  primo  Vespero  delia  Sua  Purifatione.  Questo  le  dico  solo 
per  sua  consolatione,  e  che  speri  di  sétir  à  presso  buonissime  nuoue 
cõ  1'agiuto  di  Dio  e  delia  medesima  nostra  Signora,  Vergine  Sacrata. 

219 


Le  fò  humilissima  riuerenza,  pregandole  dal  Signore  il  colmo  dogni 
felicita.  /  / 

Dal  Nauilio,  nel  porto  di  San  Lucar,  hoggi  primo  di  febraro  1645. 

Di  V.  S.  Ill.m»  e  R."0* 

Humillissimo  seruo  nel  Signore 

Fra  Buonauentura  de  Alessano  // 
Capuccino,  e  Prefetto  delia  Missione  dei  Congo 

APF  —  Ibid.,  fl.  168. 


220 


74 


CARTA  DE  FREI  FRANCISCO  DE  JEREZ 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(30-1- 1645) 

SUMÁRIO  —  Oferecese  com  doze  alunos  teólogos  para  ir  à  missão  do 
Congo  —  Encontra  oposição  da  parte  dos  Superiores. 

\\\r  Sr. 

El  P-  Fr.  Buenauentura  de  Alexano,  Prefecto  de  la  mission 
dei  Congo,  me  a  pedido  supliqu  a  V.  S.a  Ill.ma  me  inuie  lisen- 
cia  para  ir  a  la  misma  mission  ín  viniendo  auiso  que  en  el 
o  o  en  otra  parte  estan  reseuidos.  Y  assi  como  hijo  obe- 
diente me  pongo  a  los  pies  de  V.  S.  Ill.ma,  para  que  manifes- 
tandome  nuestro  Senor  su  voluntad,  la  cumpla  en  lo  que  de 
essa  Sacra  Congregacion  me  fuere  ordenado.  / / 

Yo  estoi  en  esta  ciudad  de  San  Lucar  de  Barrameda  leiendo 
la  Theologia  a  doze  religiosos  que  estan  con  el  mismo  deseo 
todos  y  mui  a  propósito  para  fomentar  Ias  missiones  que  esta 
Prouincia  tiene  y  lo  vno  por  cnarles  encaminandoles  a  este  fin, 
lo  otro  porque  con  la  predicacion  a  querido  nuestro  Senor  que 
haga  algun  fruto  en  las  almas.  Hasta  aora  no  [h]e  pretendido 
esta  mission  por  no  sauer  qual  seria  mas  dei  gusto  de  Dios,  que 
es  desnudamente  lo  que  pretendo  y  no  hallo  médio  sino  que  Ia 
vos  de  mis  Superiores  me  Io  manifiesten.  A  los  de  mi  religion 
lo  [h]e  propuesto  y  me  lo  [h]an  estornado,  por  no  merecerlo 
yo  sera;  a  todo  estoi  dispuesto  y  Ion  (sic)  aliento  grande  de 
emplear  mi  vida  y  estúdios  en  lo  que  fuere  gusto  de  nuestro 
Senor.  / / 


22/ 


Y  si  V.  S-  Ill.ma  determina  mi  viaje,  el  Companero  por 
quien  escnue  el  P.  Prefeto  dei  Congo  es  un  discípulo  mio, 
Fr.  Augustin  de  Granada,  religioso  de  consumada  virtud  y  el 
mas  aprouechado  en  la  Theologia  y  muy  a  propósito  para  el 
efecto.  Y  si  V.  Ill.ma  le  parese  que  aora  o  despues  de  algun 
tiempo  mis  doze  estudiantes  y  io  vamos  todos  juntos  a  esta 
misma  mission,  por  ser  gente  que  con  el  feruor  de  la  mosedad 
lleuará  mas  bien  los  trabaxos  de  aquellas  partes  y  aiudaran  mas 
bien  a  los  religiosos  ancianos  que  van  aora.  Todos  por  mi 
lo  piden  con  notables  deseos.  Disponga  nuestro  Senor  su  vo- 
luntad  y  guarde  a  V.  Ill.nia  como  deseo,  etc.  / / 

San  Lucar  de  Barrameda,  de  henero  30  de  16^5. 

De  V.  111.™* 

Obediente  Hijo 

Fr.  Francisco  de  Xerez 
Predicador  Capuchino  y  letor  de  Sacra  Theologia 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  129-129  v. 


222 


75 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 

(14-2- 1645) 

SUMÁRIO  —  Dá  a  faculdade  de  passarem  para  as  missões  das  índias 
Orientais  ou  Ocidentais  aos  missionários  que  não  pude- 
rem ou  não  quiserem  ir  para  as  missões  africanas  —  As 
índias  Ocidentais  seriam  o  Rio  Amazonas — Os  Capu- 
chinhos da  Província  de  Valência  poderiam  comparti- 
lhar as  mesmas  missões  com  os  confrades  da  Andaluzia. 

Referente  Eminentíssimo  Domino  Cardinali  Albornotio 
Litteras  Provincialis  et  Deffinitoni  Capucinorum  Andaluciae 
continentes  quatuor  petitiones;  et  quia  pro  Ia,  3a  et  4a  per  De- 
creta praecedentia  (in  quibus  datur  facultas  Nuntio  subrogandi 
alios  Missionários,  loco  nolentium,  vel  non  valentium  ad  Mis- 
sionem Nigritarum  proficisci,  ac  etiam  facultas  accipiendi 
Fratres  ex  alns  Provinciis  pro  dieta  Missione)  et  data  fuit 
Praefectura  Missionis  Provinciali  tantum  sub  nomine  próprio, 
satis  superque  fuit  provisum.  / / 

Ad  2.am  petitionem,  quod  iidem  Missionarii  ad  Nigritas,  si 
post  factas  omnes  necessárias  diligentias  aditum  habere  non 
poterunt,  ad  alias  regiones  Indiarum  Orientalium,  vel  Occi- 
dentalium  se  transferre  valeant  cum  eisdem  facultatibus,  Sacra 
Congregatio  censuit:  in  casu  propósito,  praedictis  Missionariis 
assignandos  esse  Gentiles  circa  flumen  Maranon  seu  Rio  de  las 
Amazonas  ab  eis  excolendos;  et  si  Província  Capuccinorum 
Valentiae  eosdem  Gentiles  excolendos  suscepit,  Andalucii  Mis- 
sionam partem  praedictorum  Gentilium  assument  instruendos, 
et  Valentini  aliam  partem;  nam  cum  sint  innumeri  praedicti 

223 


Gentiles,  non  solum  Andalucii  et  Valentini  Missionarii,  sed 
alii  etiam  Rehgiosi  ín  ea  vinea  Domini  excolenda  occupari 
poterunt.  / / 

[  Romae  1 4  Februarii  1 645  ] . 

Franciscus  Ingolus,  Secretarius. 
FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Ob.  cit.,  p.  15-16. 


224 


Audiência  do  Rei  do  Congo  D.   Garcia- Afonso  II 
Aos  Missionários  Capuchinhos  Italianos  (1645) 

(Cavazzi  —  Istorica  Descrizione) 


76 


MISSÃO  AO  REINO  DOS  NEGRITAS 
(14-2-1645) 

SUMÁRIO  —  Nomeação  dos  Padres  e  Prefeito  que  constituía  a  missão 
debutada  ao  Reino  dos  Negritas,  conferindo  faculdade  ao 
Padre  Prefeito  para  nomear  um  Sub-prefeito. 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  S.  Honu- 
phrij  litteras  Nuntij  Hispaniarum  et  prouincialis  ac  Diffinitonj 
Prouinciae  Andaluziae,  Sacra  Congregatio  Missionem  decreuit 
Fratri  Gasparo  de  Seuiglia,  Andaluziae  Prouinciali,  cum  in- 
frascnptis  Socijs,  uidelicet: 

P.  Fr.  Emanuele  de  Granada,  Concionatore- 

P.  Fr.  Antonio  de  Gimena,  Concionatore. 

P.  Fr.  Francisco  de  Arauale,  Concionatore. 

P.  Fr.  Francisco  de  Jznajar,  Concionatore. 

P.  Fr.  Sebastiano  de  Santa  Fe,  Concionatore. 

P.  Fr.  Didaco  de  Guadalcanal,  Concionatore. 

P.  Fr.  Joanne  de  Seuilla,  Sacerdote. 

P.  Fr.  Ludouico  de  Priego,  Sacerdote. 

P.  Fr.  Josepho  de  Lisbona,  Sacerdote- 

P.  Fr.  Joanne  de  Vergara,  Sacerdote. 

P.  Fr.  Michaele  de  Granada,  Layco,  ct 

Fr.  Blasio  de  Hardales,  Layco,  ad  Regna  Nigritarum,  eius- 
demcjue  Missionis  Praefectum  constituit  et  deputauit  dictum 
Fratrem  Gasparum,  cum  potestate  Vice-praefectum  consti- 
tuendi,  qut  cum  ahjs  Socijs  in  dictis  Regnis  resideat,  et  pro 
facultatibus  iussit  adiri  Sanctum  Officium. 


APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  240-240  v.,  n.°  12.  —  Sessão  cardinalícia 
de  14  de  Fevereiro  de  1645.  —  Cfr.  Bullarium  Capucinomm,  VII,  p.  336 

NOTA  —  Na  mesma  data  a  Propaganda  Fide  dava  licença  para 
se  nomearem  outros  Religiosos,  estando  os  por  ela  nomeados  entre- 
tanto impedidos,  pelo  documentos  seguinte: 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  S.  Honuphrij  litte- 
ras  Nuntij  Hispaniarum  instantis  pro  facultate  subrogandi  in  missio- 
nibus  ad  Congum  et  Nigritas  alios  fratres  Capuccinos  loco  nominato- 
rum,  et  ad  Missiones  praedictas  approbatos,  qui  nollent  aut  non 
possent  ad  Missiones  praedictas  proficisci,  Sacra  Congregatio  eidem 
Nuntio  facultatem  petitam  concessit  praeuia  subrogandorum  appro- 
batione  Prouincialium  et  Diffinitorum  Prouinciarum,  ex  quibus  erunt 
subrogandi. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  240  v.,  n.°  13.  —  Mesma  sessão  cardi- 
nalícia. 


226 


77 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(18-2-1645) 

SUMÁRIO  —  Partida  da  missão  chefiada  pelo  Padre  Boaventura  de 
Alessano  para  o  reino  do  Congo. 

IU.m°  e  Reu.mo  Signor  mio  Osseruandissimo 

È  gtunta  molto  oportunamente  la  Iettera  delia  Sagra  Con- 
gregatione  al  Padre  Frà  Bonauentura  d'Alessano,  hauendolo 
ritrouato  insieme  co'  suoi  Compagni  sopra  il  vascello,  quando 
già  stauano  per  far  vela;  onde  è  stato  loro  di  somma  cónso- 
latione  il  uedere  la  premura  che  mostrano  cotesti  Eminentissimi 
Signori  ín  fauorire  la  Missione.  / / 

Mi  uiene  inuiata  dal  medesimo  Padre  1'inclusa  per  il  Pa- 
dre suo  Generale;  et  io  hò  preso  nsolutione  d'indrizzarla  à  V. 
S-  Ill.ma,  perche  si  compiaccia  ordinarne  il  recapito.  Le  ricordo 
con  tale  opportunità  la  mia  uera  osseruanza,  e  pregandola  à 
fauorirmi  de'  suoi  commandamenti,  bacio  à  V.  S.  Ill.m*  con 
tutto  1'animo  le  mani.  // 

Madrid,  li  18  febraro  1645. 

Di  V.  S.  IIl.mft  e  Reu.ma 
Obl.reo  e  Deut.mo  Seruitore 

Giulio,  Arciu0  di  Tarso. 

Mons.r  Ingoli 

Em.mo  S.r  Card.1  Ant.°  Barb.0 


APF  —  SRCG,  vol.  io8,  fl.  62. 


78 


MISSÃO  DOS  CAPUCHINHOS  PARA  O  CONGO 
(21-2-1645) 

SUMÁRIO  —  El-Rei  tem  notícia  da  largada  de  uma  missão  de  Capu- 
chinhos espanhóis,  despachada  pelo  Rei  de  Espanha,  em 
que  ia  D.  Tiburcio  de  Redin  —  Manda  avisar  as  auto- 
ridades do  Brasil  para  que  se  oponham  à  viagem. 

t 

Senhor 

V.  Magestade  em  decreto  seu  de  17  de  feuereiro  prezente 
deste  ano,  diz  que  tem  auizo,  que  de  San  Lucar  será  oie  par- 
tida hua  vrca  grande  com  catorse  capuchos  barbados  (*)  cas- 
telhanos, e  entre  elles  hú  dom  Tiburçio  de  Redim  (2),  soldado 
de  muitos  anos,  e  que  teue  postos,  e  se  achou  em  ocazioés  de 
importância,  e  se  meteo  Relegiozo  depois  de  differentes  suces- 
sos, e  que  estes  frades  usaõ,  pedidos  a  EIRey  de  Castella  por 
EIRey  de  Congo,  tomar  o  porto  de  Pinda;  c  porque  a  pasagem 
desta  gente  pode  ser  de  grande  dano  ao  seruiço  de  V.  Mages- 
tade naquella  parte,  este  Conselho  diga  a  V.  Magestade  o  que 
lhe  pareçe  deue  V.  Magestade  e  pode  prouer  na  matéria. 


(*)  Barbadinhos  ou  Capuchinhos. 

(2)  Cfr.  Lázaro  de  Aspurz,  Redin  Soldado  y  Misionero,  Madrid, 
1951.  —  José  Maria  Huartc,  El  «Capuchino  Espanoh  Fr.  Francisco 
de  Pamplona  ( i^yy-ió^i ).  Nuevos  documentos  de  su  vida,  no  Boletin 
de  la  Comisión  de  Monumentos  de  Navarra,  1926  (XVI),  p.  377. 
A  intervenção  deste  religioso  na  missão  dos  Capuchinhos  foi  inteira- 
mente falha  de  oportunidade  política.  Vê-se  claramente  que  a  oposição 


228 


E  sendo  uisto  o  decreto  referido,  pareçeo  dizer  a  V.  Ma- 
gestade  que  muito  conueniente  fora  ao  seruiço  de  V.  Mages- 
tade  armaremse  desta  çidade  dois  nauios  de  forsa,  com  alguã 
gente  para  deuertir  este  dezenho  de  Castella  e  se  socorrer  a 
nossa  gente  que  está  em  Angola.  Porem  considerandose  o  pouco 
dinheiro  que  há,  se  deue  auizar  ao  gouernador  geral  do  estado 
do  Brasil,  ao  gouernador  do  Rio  de  Janeiro,  e  a  Saluador  Correa 
de  Sá,  que  façaõ  daly  todo  o  posiuel  para  que  se  diuirta  este 
desenho  que  leua  esta  vrca  de  Castella,  com  os  socorros  que 
V.  Magestade  tem  ordenado  que  uaõ  a  Angola.  / / 

Em  Lisboa,  21  de  fiuereiro  1645. 

aaj  O  Marquez  de  Montalvão  /  Jorge  de  Castyllo 
Jorge  de  Albuquerque  /  João  Delgado  Figueira 

[Despacho  à  margem]:  Asi  o  mando  dispor.  Lisboa,  22 
de  feuereiro  de  645. 

(Rubrica  de  el-Rei) 

AHU  — Angola,  cx.  3. 


do  Governo  português  não  foi  contra  os  Capuchinhos  ou  outros  Mis- 
sionários qua  tales,  nem  por  serem  da  Propaganda,  mas  por  serem 
Castelhanos  e  enviados  pelo  Rei  de  Castela,  como  Padroeiro,  para  pos- 
sessões que  pretendia  serem  da  sua  Coroa,  mas  que  o  não  eram,  nem 
de  direito  nem  de  facto.  O  zelo  apostólico  (?)  de  D.  Filipe  III,  tantos 
anos  completamente  embotado,  só  havia  de  despertar  depois  da  inde- 
pendência de  Portugal  em  1- 12- 1640.  Era  demasiado  tardio  e  oportu- 
nista para  poder  ser  considerado  puro. 


229 


79 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(25-2-1645) 

SUMÁRIO  —  Refere-se  ao  decreto  da  Propaganda  sobre  a  missão  dos 
Capuchinhos  enviada  ao  Reino  do  Congo. 

Emi™  e  Reu.mi  SS.ri  Padroni  Colendissimi 
Ill.mo  e  Reu.mo  S.r  mio  Osseruandissimo 

Alie  humanissime  di  V.  S.  Ill.ma  delli  17  e  21  dicembre, 
essendo  responsiue  alie  mie,  non  mi  occorre  che  rephcare,  se- 
non  la  riceuufa  dei  decreto  nuouamente  inuiatomi  circa  la 
Missione  dei  Congo;  mà  perche  haueuo  di  già  consegnato  gl'al- 
tri,  che  mi  uennero  per  tale  effetto,  non  mi  occorre  hora  preua- 
lermi  di  cjuesto.  Jo  no  tralascio  diligenza  alcuna  per  la  recupe- 
ratione  dei  denaro  dell'Arciuescouo  di  Myra,  nel  che  ritrouo 
qui  ottima  dispositione;  e  se  non  ostasse  la  strettezza  de  tempi, 
crederei  d'ottenerlo  fra  nõ  molti  mesi.  Pure  non  sono  senza  Spe- 
ranza, et  interpongo  ogni  possibile  ost.°  (?)  per  1'obhgo  che 
hò  di  seruir  la  Sacra  Congregatione,  como  facio  ín  cjualsiuoglia 
occorrenza  che  nceuerò  1'honore  de  comandamenti  di  essa;  e 
con  ratificare  a  V.  S-  Ill.ma  la  mia  antica  osseruanza,  le  bacio  con 
tutto  1'animo  le  mani. 

Madrid,  li  25  febraio  ^4 5. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  Reu.ffia 
[Autógrafo]  :  Deuot.mo  Seru."  obl.mo 

Giulio,  Arciu.0  di  Tarso 

Mons/  Ingoli.  Roma 

Em  ml  SS.rl  Card."  delia  S.4  Cong.ne  de  Prop.4  Fidc. 
APF  —  SRCG,  vol.  108,  fl.  17. 


80 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 

(25-2-1645) 


SUMÁRIO  —  Louva  o  zelo  manifestado  pelo  Definitório  da  Província 
em  mandar  missionários  para  o  reino  dos  Negritas  — 
Que  estes  se  abstivessem  de  toda  a  acção  política. 

Lodando  gli  Signori  Cardinali  di  questa  Sacra  Congrega- 
tione  de  Propaganda  Fide  il  desiderio  di  V.  R.  e  delh  Diffiniton 
di  cotesta  Prouincia,  dt  giouare  con  1'opera  loro,  e  con  quella 
di  altri  buoni  operanj  delia  medessima  Prouincia,  alie  anime 
che  fra  le  tenebre  dell'ignoranza  de  1  misterij  di  nostra  santa 
fede,  si  uanno  perdendo  nei  Regni  delli  Negriti,  hanno  risso- 
luto  di  compiacerle,  come  essa  uedrà,  dalla  patente  e  decreto, 
che  se  le  manda  per  mezzo  di  Monsignore  Nuntio  di  Nostro 
Signore  ín  Madrid;  se  le  raccorda  di  dare  ogn'anno  ragguaglio 
alia  medessima  Sacra  Congregatione  di  quel  che  si  sara  oprato 
di  bene  nelle  dette  missioni,  e  di  fare  siche  nessuno  di  suoi  mis- 
sionanj  s'ingensca  ín  affari  politici.  E  il  Signore  Jddio  la  pros- 
peri.  // 

Roma,  25  febraio  1645. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  23  (1645),  fls.  24  V.-25. 

NOTA  —  Era  Provincial  da  Andaluzia  o  Padre  Gaspar  de  Sevilha. 


81 


CARTA  DO  CARDEAL  VIRGILIO  CAPPONI 
AOS  CAPUCHINHOS  DE  CASTELA 

(16-3- 1645) 


SUMÁRIO  —  Ê  concedida  a  renúncia  da  missão  de  Benim  e  aprovada  a 
missão  de  Darien,  ficando  Prefeito  o  Provincial  de  Castela. 


Molto  Reuerendissimi  Padri 

Essendosi  rifcrita  in  questa  Sacra  Congregatione  de  Pro- 
paganda Fide  la  lettera  delle  RR.  W.  in  data  di  9  Nouembrc 
delTanno  passato;  questi  miei  Eminentissimi  Signori  hanno 
uolontien  ammessa  la  loro  scusa  circa  la  ricusata  Missione  dei 
Regno  di  Benin  (1),  contentandosi  che  attendino  solamente  à 
quella  dei  Darien,  la  Prefettura  delia  quale,  conforme  il  loro 
desiderio,  s'è  data  à  cotesto  Prouinciale,  sub  nomine  próprio,  à 
cui  la  detta  Sacra  Congregatione,  oltre  cio  concede  authonti 
di  constituire  uno  de  Missionarij  già  approuati  per  suo  Vice 
Prefetto,  che  risieda  nella  Missione  sudetta.  / / 

Quanto  al  prouedere  detta  Missione  d'altri  Missionarij  per 
il  Darien,  1'Emineze  loro  hanno  ordinato  che  le  RR.  VV.  pro- 
ponghino  à  cotesto  Monsignor  Nuntio  quei  Religiosi  che  le 
parcianno  idonei,  che  quando  da  questo  siano  approuati,  la 
Sacra  Congregatione  li  diesinarà  Missionarij,  e  dará  facoltà  al 
medessimo  Nuntio  di  spedirle  secondo  il  bisogno.  Tanto  m'oc- 


(*)  No  texto:  Bonim. 


corre  soggiungere  alie  RR.  VV.  ín  risposta;  et  il  Signore  Iddio 
le  fehcici.  / / 

Di  Roma  li  16  Marzo  1645. 

Al  piacer  delle  RR.  VV. 

a )  V.  Card.  Capponi 
a )  Francisco  Ingoli  Sec.° 

Prouinciale  e  Deffinitono  et  Capitulari  delia  Prouincia  di 
Castiglia.  Madrid. 

BNM  —  Ms.  3.818,  fl.  5. 


233 


82 


CARTA  DO  CONDE  DA  VIDIGUEIRA 
AO  AGENTE  ECLESIÁSTICO  EM  ROMA 

(21-3.1645) 

SUMÁRIO  —  Atribui  o  mau  estado  do  ultramar  à  usurpação  de  Cas- 
tela, que  nos  criou  os  inimigos  que  tínhamos  —  Nomea- 
ção de  um  religioso  como  bispo  para  Angola. 


No  que  toca  às  terras,  que  os  olandezes  nos  ocupão,  e  á 
guerra  que  nos  fazem,  notório  hé,  que  todo  o  prejuízo  delia 
e  da  relligião  catholica  se  originou,  e  teve  todo  seu  principio 
e  crecimento  da  uzurpação  de  Portugal  durante  a  união  de 
Castella,  fazendose  desde  então  poderosos  na  índia  e  no  Brazil, 
e  mais  partes,  e  o  que  ouve  ao  depois  foi  consequência,  mas 
inda  assi  pode  Vossa  mercê  responder,  que  o  que  só  occuparáo 
depois  da  acclamação  de  Sua  Magestade  forão  as  praças  de 
Angolla,  Sao  Thomé  e  Maranhão,  e  que  destas  duas  ultimas 
está  já  Sua  Magestade  restituído,  avendoas  recobrado  os  portu- 
gueses, e  que  em  Angolla  estão  inda  senhores  os  portuguezes 
da  mayor  parte,  e  tanto  que  agora  vai  Bispo  para  Angolla  em 
que  está  nomeado  hum  religioso  irmão  de  Gaspar  de  Fana 
Sevenm,  Secretario  das  mercês  de  Sua  Magestade. 


BNL  —  Ms.  1-6/5,  ^-  36-  —  Cópia  autêntica. 

NOTA — Em  13  de  Junho  de  1647  ainda  o  bispado  dc  Angola 
não  estava  provido  de  facto,  mas  tinha  já  o  prelado  nomeado.  —  Carta 
do  Marquês  de  Niza  ao  Padre  Nuno  da  Cunha  S.  I.,  de  13-6- 1647. — 
BNL  — Ms.  1-6/4,  A-  89- 

234 


83 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(3-4-1645) 


SUMÁRIO  —  A  esfera  da  confirmação  do  Bispo  do  Congo  e  Angola 
prejudica  a  missão  dos  Capuchinhos  —  A  desejada  con- 
firmação episcopal  aplanaria  todas  as  dificuldades. 


Ill.mo  et  Reu.d0  Signor  mio  Osseruandissimo 

Riceuo  lettere  da  nostri  Padri  di  costi  come  stando  íl  nego- 
tio  delia  confirmatione  dei  Vescouo  di  Congo  per  diferirsi  molto 
à  lungo,  che  s'è  determinato  da  Superiori  inuiarsi  à  noi  obe- 
dienza  per  la  piíi  vicina  prouincia;  questo  inteso  paruemi  nso- 
lutione  molto  prudente  et  conueniente  à  religiosi,  maxime  de 
nostra  professione,  et  cosi  súbito  andai  à  discorrere  col  signor 
Cônsul  di  Francia,  quale  molto  fatigo  nel  nostro  negotio,  dal 
quale  intesi  una  nprension  e  che  auertisse  e  bene  à  non  partire  di 
Lisbona,  perche  farei  il  giocco  à  religiosi  portughesi  emuli  et 
che  non  è  ragione  ín  conto  alcuno  lassare  il  posto,  perche  detto 
chi  chitta  il  giocco  lo  perde,  et  tanti  trauagli  et  diligenze  per 
ndur[re]  il  negotio  all'altura  che  si  troua,  et  poi  abbandonarlo, 
è  male,  dice  abbandonarlo,  atteso  che  alie  prouincie  piu  uicine 
non  est  transitas  per  niun  caso  per  le  guerre,  siche  saria  neces- 
sário passare  ad  Jtalia  et  volendo  ritornare  bisognaria  ricomin- 
chiare  da  capo,  et  mi  incarricò  molto  esso,  anzi  di  piu  scriue  esso 
alia  corte  dei  Rè  Christianissimo  acciò  dijno  ordine  all'ambascia- 
tore  sij  compito  alia  lettera  d'essa  Maestà  scritta  al  Rè  di  Por- 
tugalo  à  fauore  nostro,  sperandone  bene. 

235 


Parlai  poi  col  Signor  Secrettarrio  dei  Rè  di  Portugalo,  mio 
molto  amico,  (quale  ci  fauon  sempre  gaghardamente)  et  con- 
sultando secco  in  confidenza,  quello  si  pò  sperare,  mi  rispose 
scieta  et  sinceramente,  che  teme  delia  confirmatione  dei  Vescouo 
d'Angola,  ma  che  hauuto  Sua  Maestà  tal  vescouo  confirmato, 
índubitatissimamente,  cõ  molto  amore  et  gusto  da  Sua  Maestà 
saremo  consolati,  có  ogn'altro  che  si  mandid'Italiaetmel'accertò 
col  suo  giuramento,  et  lo  credo,  essendo  delli  piu  timorati  di 
Dio  che  sijno  nella  Città. 

Questo  faceio  parte  à  V.  S.  Ill.ma  acciò  colla  sua  moita  pru- 
denza  gioui  alia  Missione;  perche  può  essere  che  in  Roma  si 
stij  in  una  altura  et  in  Lisbona  in  altra;  starò  sempre  però  ad 
ogni  cenno  de  Supenori,  mas  timerei  che  S.  Maestà  non  sen- 
tisse male;  senuo  quanto  m'occorre  cosi  consigliato  anzi  da 
persone  prudenti.  / / 

Non  hò  altro  che  dire,  solo  che  instano  li  Signon  Portughesi 
et  S.  Maestà  (notificatomi  hoggi  dal  Secretario)  che  si  dijno  li 
vescoui  sine  pregiudizio  tertj  che  1'hanno  d'accetare  ínfalibil- 
mente.  Che  etc:  li  bacio  le  mani  et  prego  à  V.  S.  111."1* 
la  consecutione  d'ogni  sua  uera  exaltatione.  / / 

Lisbona,  li  3  Aprile  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ma 

Seruo  deuotissimo 

f.  Bonaventura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Prefeto  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fls.  221-221  v. 


236 


84 


CARTA  DO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(4-4-1645) 

SUMÁRIO  —  Nomeação  do  Prefeito  da  Missão  ad  Negritas  —  Modifi- 
cações no  pessoal  missionário  da  mesma  Missão. 

t 

m.mo  Senor 

La  carta,  que  V.  S.  111."1*  me  há  hecho  merced  de  2  1  dei 
passado,  reçiui  á  dos  de  este  mes  de  Abril  por  las  ocupaçiones 
de  la  uisita;  ia  tenia  grandes  instancias  de  los  Padres  Missioná- 
rios, pareçiendoles  tardaban  los  decretos,  y  yo  los  esperaua  por 
mano  de  V.  S.  111.™*,  y  les  sera  de  mortificaçion  esta  tardança 
causada  de  no  hauernos  declarado  mejor,  aunque  me  acuerdo, 
que  en  las  cartas  que  esenuimos  al  prinçipio,  de  los  doçe  nom- 
brados,  diximos,  para  prafecto,  al  Padre  fr.  Manuel  de  Gra- 
nada, predicador,  y  guardian  dei  comuento  de  Cabra,  que  há 
sido  dos  veçes  difinidor,  aora  me  procuro  declarar  mas;  suplico 
á  V.  S.  111."1*  sea  seruido  de  remitir,  y  fauoreçer  estas  cartas, 
y  honrrar  nuestra  suplica  aora  de  nuebo,  que  es  muy  conforme 
a  la  piedad  de  V.  S.  111."1*,  y  presentar  al  dicho  Padre  fray 
Manuel  de  Granada,  a  los  Eminentíssimos  Padres  de  la  Sacra 
Congregaçion,  para  el  dicho  efecto  de  Praefecto,  que  así  fue 
determinado  dei  difinitorio,  que  por  mandado  de  V.  S.  Ill.m* 
juntamos  en  Seuilla  el  mes  de  octubre  dei  ano  pasado.  / / 

Y  porque  há  muerto  el  Padre  fr.  Francisco  de  Arauallc, 
predicador,  uno  de  los  doçe  missionários  nombrados,  en  su  lugar 
sera  muy  á  propósito  el  Padre  fr.  Juan  Francisco  de  Antequera, 

237 


theologo,  á  quien  V.  S.  111.1"9  se  ha  dc  seruir  de  fauoreçer  con 
los  Eminentisimos  Senores.  / / 

Nuestro  Senor  guarde  á  V.  S.  Ill.ma  muy  largos  anos.  / / 

Antequera,  y  Abril  4  de  1645. 

Humilde  sieruo  y  Capellan 

Fr.  Gaspar  de  Seuilla 
Ministro  Prouincial  de  los  Capuchinos  de  Andaluçia 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fl.  41. 


238 


85 


CARTA  DO  PROVINCIAL  DE  ANDALUZIA 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA 

(4-4-1645) 

SUMÁRIO  —  Sobre  a  missão  dos  Capuchinhos  ad  Negritas  —  Eleição 
do  Prefeito  da  Missão  —  O  Prefeito  seria  o  Provincial 
—  Propostas  do  Dcfinitório  da  Província  ã  Propaganda. 

Jhs 
Ill.m°  Senor 

Despues  de  auer  escrito  a  V.  S.  Ill.ma  suphcandole  fuesse 
seruido  de  remtir  los  despachos  i  decretos  de  la  mission  in  Reg- 
num  Negritarum,  por  cumplir  con  la  estimacion  grande  que  esta 
Prouincia  tiene  al  fabor  y  honrra  que  a  receuido  de  la  Sacra 
Congregacion  por  mano  y  patrocinio  de  V.  S.  Ill.raa,  y  por  las 
instancias  que  me  hazen  los  Padres  Missionários,  [h]e  receuido 
la  carta  dei  Senor  Núncio  de  Espana  en  que  me  dize  que  V.  S. 
Ill.ma  le  a  escrito  que  a  receuido  las  cartas  dei  difinitorio  y  los 
nombres  de  los  doze  Padres  1  que  non  declaramos  quien  era  ele- 
gido para  Pra:fecto,  y  fue  no  sauernos  declarar  mejor,  que  serutrá 
de  mortificacion  quando  por  [h]ras  esperabamos  los  decretos. 

El  primero  de  los  doze  Padres,  que  es  el  Padre  fr.  Manuel 
de  Granada,  predicador  y  Guardian  de  Cabra,  i  a  sido  dos  vezes 
difinidor,  fue  nombrado  dei  difinitorio  para  Prxfecto  y  assi  de 
nueuo  le  prepongo  a  V.  S.  Ill.ma  i  supplico  humilmente  pre- 
sente a  essos  Eminentíssimos  Senores  al  dicho  Padre  fr.  Manuel 
de  Granada,  Predicador,  para  que  sean  seruidos  Sus  Eminências 
de  honrrarle  con  el  titulo  de  Praefecto. 

239 


Y  pues  no  ai  duda  en  los  demais  y  sauemos  que  llegaron  las 
cartas  a  manos  de  V.  S.  Ill.ma,  no  sera  necessário  boluer  a  hazer 
memoria  de  ellos,  solo  se  me  offrece  suplicar  a  V.  S.  111."1*  que 
en  lugar  dei  Padre  fr.  Francisco  de  Araualle,  Predicador,  que 
a  muerto  y  fue  vno  de  los  nombrados,  se  sirua  V.  S.  Illma  venga 
decreto  al  Padre  fr.  Joan  Francisco  de  Antequera,  Theologo, 
aprobado  tambien  por  el  difinitono  y  Religioso  de  mui  buen 
espiritto  para  Missionário  y  a  sido  Maestro  de  Nouicios.  / / 

Quatro  cosas  suplicamos  a  essos  Eminentíssimos  Senores 
y  a  V.  S.  Ill.ma  y  mui  importantes  para  el  buen  acierto  y  efecto 
de  la  dicha  Mission  1  de  nuestros  buenos  deseos  de  hazer  este 
seruicio  a  nuestro  Senor  y  a  la  Santa  Iglesia. 

La  primera  que  fue  que  el  Proutncial  desta  Prouincia  que 
es  o  fuere  pro  tem p ore,  tenga  super  intendência  en  la  dicha  Mis- 
sion  y  Missionários  j  le  esten  sugetos,  para  proueerlcs  de  lo 
necessário,  i  nuestro  Padre  General  me  a  escrito  que  esto  es  mui 
importante,  1  que  dicho  Padre  Prouincial  pro  tempore  sea  Prae- 
fectto,  y  el  que  fuere  por  Cabeça  de  la  Mission  sea  Vice  Prae- 
fecto,  1  que  de  otra  manera  se  an  seguido  inconuenientes  en  la 
horden.  Supplico  a  V.  S.  Ill.ma  esté  aduertido  desto  1  lo  disponga 
con  los  Eminentíssimos  Senores,  porque  sea  el  fabor  y  honrra 
cumplida,  1  todo  lo  devamos  a  V.  S.  111."1*  y  a  su  mucha  piedad. 

Otra  cosa  que  suplicamos  fue  que  si  la  Mission  no  pudiere 
penetrar  el  Reyno  Ne  gritar  um  por  impedimento  de  Olandeses 
o  Portugueses,  se  pueda  transferir  a  otra  parte  de  las  índias 
Orientales  y  Ocidentales,  como  se  concedio  a  la  santa  Mission 
dei  Congo- 

Otra  cosa  fue  que  pudiesscmos  subrrogar  faltando  algun 
missionário  por  muerte  o  otro  impedimento  y  dar  quenta  a  la 
Sacra  Congregacion. 

Otra  fue  que  pudiessc  esta  Prouincia  nombrar  Religiosos  de 
otras  Prouincias  quando  se  an  menester  mas  obreros,  que  ay 
muchos  que  lo  dessean,  i  sempre  se  a  de  entender  que  auemos 
de  dar  quenta  a  la  Sacra  Congregacion  y  suplicarle  embie  los 


240 


decretos;  todo  esto  se  trato  y  confino  en  nuestro  difinitono, 
con  acuerdo  y  consejo  dei  R.  P.e  Praefecto  de  la  Mission  dei 
Congo.  // 

Nuestro  Senor  guarde  a  V.  S.  Ill.ma  para  aumento  de  su 
Santa  Iglesia  y  amparo  nuestro.  / / 
Antequera  y  Abril  4  de  1645. 

Muy  aff.d0  sieruo  y  Cappellan 

Fr.  Gaspar  de  Seuilla 
Ministro  Prouincial  de  los  Capuchinos  de  Andalucia 

Con  esta  ira  vn  memorial  para  la  Sacra  Congregacion,  para 
que  se  fuere  menester  V.  S.  Ill.ma  lo  presente  y  en  todo  nos 
faboresca. 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  42-42  v. 


is 


241 


86 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(29-4-1645) 


SUMÁRIO  —  Comunica  ter  obtido  licença  régia  para  embarcar  para  o 
Congo  —  Recepção  dada  pelo  Rei  de  Portugal  —  Socorro 
enviado  a  Angola  —  Excelente  tratamento  recebido. 


Ill.mo  Signor  et  Padrone  mio  Osseruandissimo 


Sia  lodato  Gesíi  Christo  in  aeternt*,  in  aeternú.  In  questo 
ponto  sua  maestà  mi  fà  auisare  che  siamo  spacciati,  et  quanto 
prima  et  fra  pocchi  giorni  ci  partiremo  per  Angola  et  che  domam 
per  ogni  modo  si  fará  la  prouisione  per  1'imbarcatione,  quando 
di  già  le  cose  erano  tanto  disperate,  che  le  sole  lagrime  et  ora- 
tioni  poterono  auanzare  un  tanto  fauore  da  Dio  et  dell'homini; 
uolsi  finalmente  hien  1'altro,  che  furono  27  dei  presente,  parlare 
liberamente  a  sua  Maestà  et  uolse  sua  Maestà  darmi  audienza 
in  piedi,  col  capello  alia  mano,  et  sentendomi  discorrere  dell'im- 
portanza  dei  nostro  negotio,  sempre  sentiua  colle  lagrime  ali' 
occhi;  finalmente  mi  promisse  condescendere  al  nostro  pio  zelo 
et  in  questo  ponto  siamo  spacciati  et  concessoci  poter  passare  al 
destinato  Regno  dei  Congo,  tanto  piíi  quanto  hoggi  mesmo 
intende  sua  Maestà  esser  stata  socorsa  Angola  dai  Portoghesi 
impensatamente,  et  stimato  a  miracolo,  ne  piu  u'è  pencolo  d'in- 
toppo  de  Religiosi  contrarij,  cõ  tanta  edificatione  di  S.  Maestà 
et  de  Signon  dei  Regno,  che  mi  confondo  esser  uno  di  questi 
pouen  scalci,  indegno  di  tanti  fauon  che  nceuiamo  da  Dio 
benedetto.  / / 


242 


Non  posso  piu  distendermi  per  esser  vna  naue  in  ponto 
per  partire  per  Francia.  Si  goda  V.  S.  Ill  ma  di  tanto  fauore  ne 
concesse  sua  diurna  Maestà,  da  me  stimato  al  ponto  et  piu 
delia  vocatione  alia  Religione;  si  ncordi  dunque  V.  S.  Ill.ma 
di  noi  et  ne  nceua  come  suoi  figlioli  in  quanto  sara  concernente 
ali'  occasioni  si  rapresentaranno  di  là.  Non  altro  che  humilissi- 
mamente  nuenrla  et  baciare  le  [mani]  ./ / 

Lisbona,  li  29  Aprile  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ma 

Seruo  deuotissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino  / / 
Indegno  M.  V.  Pref.  dei  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  £1.  222 


243 


87 


CARTA  RÉGIA  AO  GOVERNADOR  DE  ANGOLA 
(9-5-1645) 

SUMÁRIO  —  Pede  el-Rei  ao  Governador  Sotomaior  que  favoreça  os 
Capuchinhos,  provendo-os  à  custa  da  fazenda  real. 

Gouernador  do  Reyno  de  Angola.  Ev  EIRey  vos  enuio 
muito  saudar.  Os  quatro  Religiosos  capuchos  (*)  Jtalianos  que 
uos  entregarão  esta  carta  vaõ  mandados  pella  Santa  Sé  Apostó- 
lica pregar  e  ensinar  nossa  sancta  fee  aos  vassallos  do  Reyno  de 
Congo,  e  porque  por  sua  uirtude,  e  mais  principalmente  pello 
seruiço  de  Deos  nosso  Senhor  conuem  ayudalos,  e  fauoreçelos 
muito.  Vos  encomendo  os  façais  pôr  pella  via  mais  breue,  e  mais 
segura  naquelle  Reyno,  e  lhes  deis  guias,  que  os  acompanhem 
na  jornada,  e  todo  o  necessário  para  ella  por  conta  de  minha 
fazenda;  e  delia  mesma  os  fareis  prouer  em  Congo  de  tudo  o  de 
que  tiuerem  neçessidade,  pellas  vias  que  ouuer  mais  acomodadas, 
procurando  quanto  vos  for  possiuel  ayudar  seus  sanctos  jntentos. 
Tendo  por  çerto,  que  em  todo  o  fauor  que  lhe[s]  fizerdes  me 


(x)  Aparece  por  vezes  grande  confusão  entre  os  Religiosos  Capu- 
chos, ramo  da  reforma  franciscana  da  Província  da  Piedade,  fundado 
em  1500  por  Frei  João  de  Guadalupe  a  meia  légua  de  Vila  Viçosa, 
e  os  Religiosos  da  Ordem  dos  Frades  Menores  Capuchinhos,  totalmente 
diferentes  daquela,  cujos  professos  são  conhecidos  por  Capuchinhos, 
ou  Barbadinhos.  Os  dois  ramos  que  missionaram  no  ultramar  portu- 
guês foram  os  franceses,  para  os  quais  Frei  Cirilo  de  Mayenne  obteve 
licença  de  D.  João  IV  de  se  estabelecerem  em  Lisboa,  em  1 1  de  Agosto 
de  1647,  tendo  efectivamente  fundado  o  seu  convento  de  Nossa  Se- 
nhora dos  Anjos  da  Porciúncula,  cm  1648,  na  freguesia  de  Santos-o- Ve- 
lho, em  local  doado  pela  Duquesa  de  Aveiro,  ainda  hoje  assinalado  por 

244 


dareis  grande  contentamento,  e  volo  terey  a  grande  seruiço.  / / 
Escrita  em  Alcantara,  a  9  de  Mayo  de  1645.  / / 


Rey 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fl.  226. 

NOTA  —  Em  carta  da  mesma  data,  escreve  el-Rei  ao  Gover- 
nador do  Estado  da  Baía,  António  Teles  da  Silva: 

Antonio  Telles,  Gouernador  amigo.  Ev  EIRey  Vos  enuio  muito 
saudar.  Entregaruos  haõ  esta  carta  quatro  Religiosos  Capuchos  Jtalia- 
nos,  que  como  Missionários  da  Santa  See  Appostolica  passão  ao  Reyno 
de  Congo  á  conuerçaõ  das  almas;  encommendouos  muiro  lhe[s]  man- 
deis fazer  ahy  todo  bom  tratamento,  e  lhe[s]  deis  embarcação  em  que 
passem  a  Angola,  para  daly  o  fazerem  ao  Reyno  de  Congo,  e  a  mata- 
lotagem  que  se  lhe[s]  ouuer  de  dar,  e  o  mais  que  lhe[s]  for  neçessano 
para  a  uiagem,  lhe[s]  fareis  prouer  por  conta  da  minha  fazenda.// 

Escrita  em  Alcantara  a  9  de  Mayo  de  1645.  /  / 

Rey. 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fl.  227. 


uma  pequena  rua.  Os  italianos  obtiveram  também  licença  de  D.  Pedro 
II,  em  1686,  tendo-se  instalado  em  1689  na  ermida  de  Nossa  Senhora 
do  Paraíso,  até  que  D.  João  V  lhes  deu  local  para  casa  conventual,  na 
parte  oriental  da  cidade,  em  1739,  à  qual  deram  a  invocação  de  Nossa 
Senhora  da  Porciúncula.  D.  João  V  contribuiu  para  ela  com  mais  de 
50.000  cruzados.  —  Cofr.  Fortunato  de  Almeida,  História  da  Igreja  em 
Portugal,  Coimbra,  1912,  Tom.  III,  Parte  I,  p.  428,  482  e  485;  P.  Hil- 
debrand  [de  Hooglede],  Les  Capucins  au  Portugal,  em  Études  Fran- 
ciscaines,  1938  (L);  P.  Francisco  Leite  de  Faria,  Os  Barbadinhos 
Franceses  e  a  Restauração  Pernambucana,  em  Brasília,  vol.  IX,  1954. 
—  A  igreja  dos  Barbadinhos  Italianos  é  hoje  a  paroquial  de  Santa 
Engrácia. 

245 


88 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(15-5-1645) 

•SUMÁRIO  —  Recapitula  as  dificuldades  do  despacho  e  o  miracoloso 
desfecho  do  problema  —  Sentimentos  do  Rei  de  Portugal 
—  Hospício  em  Lisboa  e  Convento  em  Angola  —  Cartas 
de  recomendação  —  Vinda  do  Rei  das  Maldivas  a  Lisboa. 

Ill.mo  Signore  et  Padrone  mio  Osseruandissimo 

Non  posso  scriue[re]  questa  lettera  à  S.  Signoria  senza 
lagrime  di  tenerezza,  per  saper  quanto  douerà  stimare  V.  S.  Ill.ma 
tal  nuoua,  et  piu  íl  modo  comme  s'alcanzò  íl  negotio.  / / 

Fatto  íl  caso  disperato  assai  quando  il  demónio  fece  il  suo 
ultimo  sforzo  per  impedire  il  nostro  uiaggio,  et  mi  nsoluei  voler 
per  ogni  modo  possibile  parlare  col  Rei  et  discorrere  soda  et  libe- 
ramente  di  quanto  pretendeua,  et  delia  mia  clara  giustitia  parlai 
finalmente,  dandomi  S.  Maestà  audienza  col  capello  alia  mano 
et  ín  piedi,  cõ  grandíssimo  nspetto;  quando  apena  potrei  entrare 
nel  discorso,  li  uennero  le  lagnme  alli  occhi,  et  nspondendo  ín 
apresso  à  qualche  lamenti  (fatti  però  cõ  ogni  rispetto)  di 
S.  Santità,  resto  si  fattamente  sodisfatto  et  componto,  che  10  me- 
desimo  restai  edificatissimo  et  molto  animoso  di  quanto  pensauo 
secco  negotiare;  et  discorrendo  da  solo  à  solo  per  tre  quarti 
d'hora,  mi  promesse  spaciarmi,  assicurandolo  da  parte  di  Dio, 
nesciens  quid  dicerem,  che  f acendo  in  cio  quãto  era  di  seruitio 
di  Dio  1'hauea  Dio  ín  breue  à  consolare. 

La  sera  dei  giorno  seguente  mi  spaciò  cõ  belissime  carte, 
come  uedrà  V-  S.a  Ill.m\  stimando  10  molto  la  pietà  grande  di 

246 


tal  Rè,  conoscendo  che  se  ui  fu  difetto  non  fu  suo  totalmente. 
Mando  dunque  à  V.  S.  Ill.ma  la  copia  delle  lettere  scntte  à  due 
suoi  Gouernaton  d' Angola  et  Brazille  (1),  quali  non  possono 
piú  espnmere  la  sua  pietà  et  gusto  coche  fece  tal  spaccio  à  Padri 
delia  nostra  missione.  Fumo  dopoi  di  tre  giorni  in  publica 
audienza  à  renderle  gratia,  di  tal  fauore,  et  apena  cominciai  acciò 
fare,  h  uennero  un'altra  volta  le  lagrime  ali'  occhi,  et  rispose 
che  godeua  molto  ne  hauesse  spacciati,  et  disse  la  causa 
aggiongendo  che  si  prendeua  a  particolar  deuotione  questa  nostra 
missione,  al  che  prostrato  à  terra  colli  Padri  Compagni,  nsposi: 
et  noi,  Sacra  Maestà,  lo  preghiamo  à  consentire  d'esser  Padre 
di  questa  missione,  come  1'egiamo  per  tale,  et  annuens  et  lagri- 
mans  discessimus.  // 

Monsignor  Ill.mo,  questo  caso  fu  miracoloso,  et  da  tutta  la 
Città  stimato  per  tale,  et  le  lassò  di  dire  íl  Rè  nel  Conseglio 
di  Stato  et  ad  altri  che  non  potea  piegarlo  in  questo  negotio,  ma 
che  di  súbito  che  mi  senti  parlare  se  li  leuorono  le  nuuole 
dell'occhi  et  uide  chiaramente  la  giustitia  di  tal  missione;  di  pui 
che  prouò  che,  súbito  nsoluto  lasciarci  partire  per  Angola, 
entrorno  112  naui  nelli  suoi  porti  fra  Lisbona  et  altri  porti,  da 
quali  receuete  carte  et  lettere  d'Angola,  di  Olanda  et  di  Pangi 
di  sua  grande  satisfatione,  cõ  altre  cosa  dette  che  mostrauano 
esser  nuoltato  dei  tutto  à  nostro  fauore,  come  si  pò  argomentare 
dalle  carte  et  lettere  che  inuio  congionte,  cõforme  le  copie  scntte 
da  medesimi  Secretarij.  / / 

Mi  fece  poi  dire  S.  Maestà  per  il  suo  Secretario  di  Stato, 
Petro  Uie[i]ra  de  Sylua,  che  si  hauessimo  da  seruire  di  S.  Ama- 
ro (luogo  doue  di  presente  habitamo)  per  riceto  de  Missionarij 
nostri,  et  di  piú  si  voleuamo  far  al  suo  tempo  un  Conuento  in 
Angola,  ben  potessimo  farlo. 


(*)  Cfr.  doe.  n.°  89  e  Nota. 


H7 


Angola  stà  ancor  ín  mano  d'olandesi,  pure  hanno  benissimo 
speranze  di  breue  ricuperarla,  ò  auanzarsi  molto;  amuando  noi 
al  Congo  potremo  giouare  molto,  quando  d  Rè  di  Congo  fusse 
in  agiutto  d'olandesi,  íl  che  non  è  certo. 

L'imbarcatione  nostra  sarà  frà  1 5  giorni,  hauendo 
S-  Maestà  di  già  ordinato  ogni  cosa  per  d  nostro  uiaggio.  Nos- 
tro  Signore  c'acompagni  col  suo  aiuto  et  calore  diuino;  ncordo 
à  V.  S.  Ill.ma  à  quanto  scnuei  per  il  suo  tempo.  Non  essendo 
per  altro  prego  aiutarci  in  occorrenza.  / / 

Jl  Rè  di  Maldiua  che  uenne  sono  8  mesi  per  abbocarsi  col 
Rè  di  Portugalo,  per  suoi  interessi  particolan,  et  hauer  da  Roma 
aiuto,  resta  meco  molto  intrínseco,  et  volendo  che  fusse  suo 
confessore  non  mi  parue  bene  per  degni  rispetti,  approuati  da 
Sua  Altezza,  pure  fà  di  presente  alcune  dimande  à  S.  Santità, 
come  intenderá  da  sue  lettere.  Pnego  V.  S.  Ill.ma  aiutarlo,  che 
ueramente  ne  è  molto  degno,  et  grande  christiano;  li  bacio  le 
mani  et  pnego  per  fine  à  V.  S.  Ill  ma  íl  compimento  d'ogni  sua 
uera  exaltatione.  / / 

Lisbona,  li  15  Maggio  1645. 

Di  V.  S.  111.™ 

Seruo  Vmilissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Prefeto 

Se  potrà  auisare  il  P.  Alessano  di  quanto  si  fece,  íl  che 
non  facio  10  per  degni  nspetti. 

Post  Scnptum  à  carta  de  1 5  de  Maio  de  1 645: 

Intendo  dalla  Signora  Regina  hoggi  che  quel  P.  Guardiano 
di  S.  Antonio,  francescano,  nominato  per  Vescouo  di  Angola, 
saputo  il  nostro  spaccio,  ardi  trouarla  et  nnpprouerarh  tal  fauore 


248 


concesso  á  sua  instanza  et  per  sue  diligenze,  tratando  impedire 
ò  far  nuocare,  come  già  fece  ín  Ottobre,  la  concessa  gratia;  à 
cui  rispose  sauiamente  la  Signora  Regina:  Padre,  Dio  hà  da  cas- 
tigare  chi  incontrò  si  gran  negotio  di  Dio,  et  il  Rè  mio  Signore 
non  vole  di  qui  auanti  che  si j  ch'incontn  tal  Missione  Apos- 
tólica. /  / 

Hor  ueda  V.  S.  Ill.ma  che  Vescouo  (caso  fusse  confermato, 
quod  non  creditar ),  tenerissimo  à  nostro  fauore,  et  quanto  sara 
necessário  (datto  il  caso)  che  fussimo  proueduti  di  quel  decreto 
che  si  desidera  da  noi  per  riparo  de  soi  impedimenti;  remittome 
in  cio  alia  sua  moita  prudenza,  che  se  non  rispetta  una  Regina 
à  funa  à  funa,  che  fana  cÕ  noi,  dato  il  caso. 

Lisbona  18  Maggio  1645. 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fls.  225-225  v.  e  228. 
APF  —  SRCG,  vol.  143,  fls.  230-230  v. 


249 


89 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  PREFEITO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(16-5- 1645) 


S)UMÁRIO  —  O  Rei  de  Portugal  despacha  favoravelmente  os  missio- 
nários para  o  Congo  —  Anuncia  a  partida  para  fins  de 
Maio  —  Predilecção  do  Rei  pelos  Capuchinhos  —  Seu 
descontentamento  com  o  curso  dos  negócios  de  Roma. 


Eminentíssimo  et  Reuerendissimo  Signore  et  Padrone 
mio  Colendissimo 

Per  debito  douuto  à  V.  E.  per  mia  parte  facio  intendere, 
come  finalmente  íl  Rè  di  Portugalo,  intesa  da  me  in  audienza 
pnuata  1'importanza  dei  nostro  negotio,  ci  spaciò  risolutissima- 
mente  cÕ  ordinare  al  secretario  douesse  sperare  che  muno  piu 
ardisse  d'incontrare  il  nostro  negotio,  ne  piu  u'  è  pencolo,  per 
mio  credere,  d'incontro  alcuno  et  digià  habbiamo  alie  mani  le 
carte  (le  copie  de  quali  per  piu  vie  hò  inuiate  à  Mons.  Ingoli) 
et[è]  fata  la  prouisione  nostra  d'ogni  cosa  necessária,  et  la  nostra 
partenza  sara  indubitatamente  alia  fine  di  questo  mese  di  mag- 
gio  et  confesso  à  V.  E.  che  la  Religione  nostra  tiene  molt'  obli- 
gatione  à  tal  Rè,  hauendosi  presa  tal  nostra  missione  à  sua  par- 
ticolar  deuotione,  cosi  ci  declaro  in  publica  audiéza,  mentre  li 
dauamo  le  gratie;  aciò  risposi,  che  noi  1'accetauamo  per  Padre 
et  Padruero  di  quest'opera  et  missione  de  Padri  nostri  dei 
Congo.  // 

Stà  però  il  pouero  Rè  molto  scontento  per  uedere  che  li 
negoti)  suoi  in  Roma  non  tengono  quel  bon  successo  [che]  desi- 
dera  tutto  il  Regno;  e  meco  confidentemente  discorrendo,  pian- 


geua  di  cio  di  che  urtaua  molto  à  tal  spetacolo.  Io  però  l'es- 
sortai  a  sostenere  quel  pocco  di  sauorra  ordinato  da  Dio  per  sos- 
tegno  et  segurezza  dei  vascello  dei  suo  Regno,  et  mostro  in 
quel  discorso  ogni  obedienza  et  soggettione  alia  S.  Sede  Apos- 
tólica, di  che  non  minor  fú  íl  stupore  in  me  che  1'edihcatione, 
degno  ueramente  d'esser  compatito,  et  pare  ci  chiami  molto 
sodisfato  delli  fauori  di  sua  Casa.  / / 

Non  altro  per  hora,  che  neurentemente  baciar  la  sacra  ves- 
timenta et  pregarli  da  Dio  il  colmo  de  suoi  pij  desiderij. 

Lisbona,  li  16  maggio  1645. 


Di  V.  S.  Eminentíssima 


Seruo  Umillissimo  et  obed.°  figho 

fr.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Prefeto  de  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  a  218. 

NOTA  —  Em  carta  de  Mons.  Jerónimo  Battaglini,  de  Lisboa, 
com.  a  data  de  12  de  Outubro  de  1645,  dizia  a  propósito  dos  Capuchi- 
nhos do  Congo: 

«Due  giorni  sono  gionsero  anco  due  carauele  dal  Brasil  cariche 
di  zuccaro,  con  auiso  che  in  breue  doueua  partire  Ia  flota  di  quelle 
parti;  erano  gionto  alia  Bahia  li  quattro  Padri  Capucini  Iragliani,  che 
di  qui  partirno  nella  fine  di  Giugno  passato  per  andare  alia  loro  Mis- 
sione nel  Regno  di  Congo,  et  auisano  che  iui  era  auiso  che  Pernambuco 
si  speraua  digià  fosse  reso  alli  Portughesi,  particolarmente  per  manca- 
mento  di  uiueri,  et  essendo  li  gentili  delia  terra  solleuati  contra  gl'olan- 
desi,  per  il  che  quel  gouernatore  dei  Brasil  haueua  mandato  22  vas[c]elli 
con  2.000  fanti  di  soccorso  à  quella  parte,  et  il  medemo  si  credeua 
dAngola». 


AV  Nunziatura  di  Portogallo,  vol.  24-A,  fl.  137. 


90 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(16-5- 1645) 


SUMÁRIO  —  Comunica  o  despacho  obtido  de  D.  João  IV  —  Justos 
ressentimentos  do  Rei  a  propósito  do  despacho  dos  seus 
negócios  religiosos  na  Corte  pontifícia. 

Ill.mo  Signor  et  Padrone  mio  Colendissimo 

Per  altre  mie  hò  scntto  à  V.  S.  Ill.m*  di  quanto  s'era  conse- 
guito  dal  Rè  di  Portugalo  et  come  finalmente  cõ  ogni  zelo  spedi 
la  nostra  giornata  per  íl  Congo,  ordinando  íl  nostro  uiaggio  di 
Lisbona  per  la  Baia  et  Brasile  et  di  quiui  ordina  al  suo  Gouer- 
natore  ci  dij  nauiglio  per  Angola  co  tutte  le  prouisioni  necessa- 
ne,  diche  tutta  la  Città  riceuete  à  sommo  gusto.  Solo  alcuni 
religiosi  et  altn  interessati  poterono  sentiria  cõ  sentimento,  ma 
non  darne  alcuno  segno,  atteso  che  ordinãdo  S.  Maestà  che 
fussimo  spaciati,  ordinò  nel  tempo  medesimo  al  suo  Secretario 
che  piu  ne  hauesse  ad  incontrare,  ne  di  questo  si  contento  íl  Rè, 
ma  ordina  per  sue  Carte  (le  copie  de  quali  per  piíi  uie  mandai 
à  V.  S.  IU.ma),  al  suo  Gouernatore  d' Angola,  ne  faci  acom- 
pagnare  al  Congo  cõ  guide  sicure  et  per  la  uia  piu  acertata; 
desiderò  sommamente  íl  Signor  Secretario  mandasse  le  copie 
di  tali  lettere  à  Roma  cõ  mie  lettere  particolan,  per  dar  segno 
delia  pieta  di  S.  Maestà  uerso  le  cose  di  Dio,  et  douuta  nuerenza 
alia  S-  Sede  Apostólica,  come  cõ  fatti  s'è  prouato  ín  questo 
nostro  negotio;  ma  doleo  latere,  come  diceua  S.  Bernardo,  stà 
veramente  il  pouero  Rè  molto  scontento  per  la  dilatione  de  suoi 
negotij  ín  Roma,  et  meco  discorrendo  un  giorno  piangeua  ín 

252 


modo  che  io  mi  atterni  in  uerità,  essortandolo  io  alia  douuta 
sogetione  delia  S.  Sede,  et  a  soportare  tali  risolutioni:  quali 
sono  come  tante  proue  che  fà  Dio  di  S.  Maestà  per  prouare 
la  sua  uera  fede  et  riuerenza  delia  S.  Sede.  // 

Non  posso  negare  à  V.  S.  Ill.ma  che  non  restasi  io  compon- 
tissimo  à  tal  spetacolo;  eramo  da  solo  à  solo  et  contido  mecco 
in  ciò  molto,  prontíssimo  però  a  sostenere  quanto  da  Dio  li 
uiene  permesso.  Non  passo  piu  auanti  in  ciò,  asicurato  che  in 
Roma  nsiede  la  somma  delia  prudenza  de  negotij,  li  bacio  le 
mani  et  pnego  al  Signor  il  compimento  de  sua  exaltatione.  / / 

Lisbona,  li  16  Maggio  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ma 

Seruo  vmihssimo 

f.  Bonauentura  di  Taggia/ / 
V-  Pref.  de  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fl.  219. 


253 


91 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 


(18-5-1645 


SUMÁRIO  —  Satisfação  dos  Missionários,  dos  Senhores  e  do  Rei  de 
Portugal  pelo  despacho  da  missão  do  Congo — Pedem 
ao  Rei  que  seja  seu  Pai  e  Padroeiro  da  missão  —  Reco- 
menda os  padres  Sebastião  César  de  Meneses,  Bispo  eleito 
do  Porto,  e  Francisco  de  Santo  Agostinho  de  Macedo. 


Ill.mo  et  Reu.mo  Signore 

Per  piíi  uie  hò  scntto  à  V.  S.  Ill.ma  delia  nostra  speditione 
per  il  Congo  fatta  altamente  il  giorno  di  S.  Pietro,  mante- 
nuti  (?)  da  S.  Maestà  cõ  ogni  possibile  larghezza  et  ampieza 
di  cortesia,  come  vedrà  dalle  lettere  scntte  da  S.  Maestà  à  suoi 
Gouernatori  delle  Conquiste  di  Portugalo,  et  basti  affirmare  à 
V.  S.  Ill.ma  cõ  ogni  sincentà  che  ne  conosse,  tal  spaccio  et  spe- 
ditione di  nostra  giornata  cõ  le  lagrime  all'occhi  et  di  piedi 
andandole  a  dar  le  gratie  ín  giorno  di  publica  audienza,  di  nouo 
ueduti  stare  alia  sua  presenza,  si  componse  ín  modo  che  fece 
amirare  quelli  Signon  presenti,  et  disse  apertamente  che  staua 
contentíssimo  di  quanto  hauea  deliberato  à  nostro  fauore,  et 
disse  (ponendoci  la  mano  al  petto,  10  mi  prendo  a  mia  parti- 
colar  deuotione  questa  vostra  missione)  alche  io  colli  padn 
Compagni,  prostrato  à  terra,  lo  supplichiamo  à  consentire 
d'esser  nostro  Padre  et  Padruero  di  tal  missione,  et  mostro  a 
consentire  cõ  ogni  affetto,  et  quello  che  molto  importa,  da  ogni 
parte  s'intende  che  sij  il  Rè  contentíssimo  di  quanto  fece,  et 
delibero  à  nostro  fauore,  anzi  che  tratandosi  seco  ín  esso,  súbito 


254 


h  uengono  Ie  lagrime  all'occhi,  íl  che  pare  ín  effetto  un  grande 
gradimento  di  Dio;  altretanto  fú  la  consolatione  nostra  nel 
fine,  quanto  fú  maggiore  d  trauagho  per  conseguido. 

Ricordo  à  V.  S.  Ill  ma  (come  hò  fatto  in  altre  mie)  che  ín 
questo  negotio  hebbe  gran  parte  il  Signor  Sebastiano  Cesare 
Meneses,  Vescouo  nominato  da  sua  maestà  per  il  Porto,  città 
di  Portugalo,  et  il  P.  Francesco  di  S.  Agostino,  franciscano 
delia  ri  forma  di  S.  Antonio  di  Portugalo,  detto  per  sopra  nome 
il  P.  Macedo,  quale  fíi  prima  delia  Congregatione  ò  delia 
Compagnia  de  padri  Gesuiti;  à  questi  sarà  bene  in  ogni  euento, 
maxime  à  questo  Padre,  aiutarlo  per  bona  corrispondenza  di 
si  grande  opera,  essendo  religioso  molto  dotto  et  qualificato.  / / 

Anzi  che  supplico  V.  S.  Ill.ma  di  sua  parte  roghi  impie- 
garlo  à  questa  cura  di  nostra  missione  apresso  il  Rè  di  Portu- 
galo, ò  in  altro  modo  che  all'occorrenze  potessero  offerire;  altre- 
tanto desidera  far  quel  Vescouo  di  Porto,  offerendosi  loro  alia 
cura  et  diligenze  di  tal  negotio  col  Rè  et  cõ  altri,  il  che  stimo 
molto  à  propósito  si  1'inuino  di  costi  le  lettere,  ò  altro  si  spe- 
disse  di  Roma.  Non  altro.  Per  fine  li  bacio  le  mani  et  priego  à 
V.  S.  il  colmo  di  suoi  desidenj  et  consecutione  d'ogni  sua  uera 
exaltatione-  / / 

Lisbona,  li  18  Maggio  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ma 

Seruo  deuotissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Prefeto  di  Congo. 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fls.  223-223  v. 


z55 


92 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(4-6-1645) 

SUMÁRIO  —  Relato  da  viagem  -para  o  Congo  —  Tropelias  dos  holan- 
deses heréticos  —  Recepção  amistosa  do  Conde  de  Sonho 
—  Esperanças  de  missão  frutuosa  —  Pede  reforço  de  mis- 
sionários e  novo  Bispo. 

Ogni  benedittione  al  Celeste  Padre  delle  Misencordie 

111.™0  Signore  Padrone  in  Chnsto  Osseruantissimo 

Jl  miracoloso  amuo  ordinato  dali'  Altíssimo  de  noi  altn  pouen 
Missionanj,  et  Euangelici  Operanj  destinati  da  cotesta  Santa  Sede 
e  Sagro  Concistoro  in  questo  Regno  dei  Congo  nõ  m'accingo 
a  narrarlo  minutamente  à  V.  S.  Ill.n,a,  come  potei  e  per  la  naui- 
gatione  prolissa  di  quasi  4  mesi,  e  per  li  patimenti  inesplicabili 
nel  decorso  dei  uiagio,  che  e  per  cõtrarietà  de  uenti  e  calme, 
et  altre  uanetà  maritime  s'isperimentano,  e  con  tutto  cio  sani 
e  salui,  à  25  di  magio,  à  punto  nel  giorno  delia  Sacratíssima 
Ascentione  dei  nostro  Saluatore,  hauer  dato  fondo  nel  fiume 
Zaire,  alie  sponde  dei  Contado  di  Pinda  ('),  Prouincia  spatiosa 
di  questo  Regno,  potei  da  queste  circostanze  persuadergli  mi- 
racoloso  1'ingresso;  pure  passando  íl  suddetto  in  silentio,  argo- 
menti  cõ  demonstratiuamente  V.  S.  Ill.ma  dalla  inaspettata 
infestatione  d'una  naue  Olandese,  cli  il  giorno  seguente,  26  dei 


(*)  No  texto:  Pinna. 

2  56 


citato,  spontando  nella  bocca  dei  fiume,  reco  à  tutti  confusione, 
et  afflittione  cotanta,  quanta  sà  colui  ch'è  uerace  scrutator  de 
cuori,  ne  ueniua  il  nemico  à  uele  gonfie  alia  nostra  uolta,  supe- 
riore  di  forza,  di  grandezza  e  di  sito;  d  fugire  à  terra  si  rendea 
impossibile,  allargarse  uerso  il  mare,  si  era  andarsi  in  preda 
dell'auuersario;  solamente  fondando  quell'ancora  fermissima 
di  speranzosa  e  filial  confidenza  nel  Celeste  Patre,  à  lui  s'hebbe 
ricorso,  impugnandosi  contro  remulo  da  Religiosi  1'armi  spiri- 
tuali,  e  dalla  gente  delia  naue  le  militari,  finse  el  nemico  diuerse 
dimostranze,  hor  fugendo,  hor  accostandosi,  hor  buttando  l'an- 
cora,  hor  di  nuouo  tirandola,  hor  salutando  con  artiglieria  senza 
palia,  hor  minaciando,  hor  chiedendo  minuto  conto  con  fraude, 
hor  con  pertinace  ostinatione  di  uedere  il  passaporto,  donde  si 
ueniua,  oue  s'andaua,  che  si  negotiaua,  al  che  tutto  con  pru- 
denti,  e  coragiose  risposte  fu  sodifatto  dal  nostro  Capitano, 
huomo  ueramente  eletto  da  Dio,  com'ottimo  strumento  per 
guidare  in  si  intrigati  labennti  fedelmente  1'apostolica  im- 
presa-  / / 

Si  perseuerò  fin'al  giorno  seguente,  27  dei  mese,  e  sabbato, 
giornata  dedicata  alia  nostra  pietosissima  Madre,  delia  cui  ma- 
terna clemenza  si  speraua  ogni  buon  successo,  osseruaua  l'un 
1'altro  vascello  a  motiui  si  faceano,  quando  impaziente  il  ne- 
mico, inuiò  una  carta  al  nostro  Capitano  cÕ  autontà  diabólica, 
essattrice  dei  passaporto,  e  prouocatoria  in  euento  di  negatiua,  di 
rouinare  il  tutto  à  forza  d'armi;  nportò  da  nostn  cõ  altra  essi- 
genza,  che  di  magior  confusione:  che  cola  si  staua  in  parte 
sogetta  al  Conte  di  Pinda  (x),  per  altro  nome,  di  Manisogno, 
ch'hauea  à  negotiarsi  cõ  lui,  e  col  Rè  dei  Congo  di  cose  ímpor- 
tantissime,  e  che  s'altro  desideraua,  prontissime  1'hauuerebbe 
hauuto  in  pace  et  in  guerra;  da  somighante  resolutione,  inuece 
d'attacar'il  nemico  il  temuto  duello  di  Marte  e  di  morte,  dis- 
portossi,  altrimente,  auuiandosi  col  suo  battello  per  il  fiume 
ali'  in  síi  cinque  de  suoi,  fra  quah  si  congetturaua  fusse  il  Capi- 
tano, gli  fíi  seguitato  da  nostn,  ch'andasse  pure  in  buon'hora, 


17 


257 


e  nó  sospettasse  di  nulla,  atteso  ch'  eghno  erano  per  fare  íl  me- 
desimo,  traccie  tutte  necessarijssime  per  íl  buon'  essito,  et  ín 
particolare  per  1'entrata  di  noi  altn,  i  quah  occulti  per  ordine 
dei  Capitano,  stauano  nella  poppa  nascosti,  sospirando  alia 
superna  pietà  per  souuenimento  opportuno. 

La  residenza  dei  Conte  staua  ben  diece  miglta  distante,  la 
corrente  contraria  dei  fiume  rapidíssima,  gli  angoli  e  diuerti- 
coli  diuersi  et  incogniti,  la  fede  cattolica  cosi  nel  Prencipe,  come 
ne  uassalli  incerta,  il  nemico  alie  corte,  quo  nos  uerteremus, 
metuebamus,  pure  auualsati  da  interna  fiducia,  piu  uolte  si 
replicaua:  si  Deus  pro  nobis,  quis  contra  nos.  Tento  piíi  uolte 
lauuersano  passar  la  corrente,  ma  ò  si  fusse  malitioso  strata- 
gemma,  ò  che  ín  fatto  no  potesse  traghettare,  si  riuolse  à  bordo; 
all'hora  i  nostri  coragiosamente  preparando  la  lor  lancia  con  6 
giouani  robusti  con  due  de  Missionarij,  el  Capitano  e  Religiosi 
mezzi,  trauestiti  e  sconosciuti,  e  quelh  ben'in  assetto  di  forze 
e  d'armi  per  li  sinistri  incontri  poteano  offenrsi,  trauagliossi 
gaghardamente,  spuntossi  1'impenetrabil  varco,  ch'in  una 
giunta  se  ci  opponea,  si  diedero  gratie  al  Signore,  seguitossi  il 
uiagio,  clie  quasi  labennto,  hor  quà  hor  là  gli  ragiraua,  et  ecco 
il  nemico  spinto  nó  sò  se  dal  demónio  ò  da  uergogna  e  confu- 
sione,  radoppiando  le  forze  de  nauigatori  s'aciense  à  seguitargh 
col  suo  battello,  e  gli  fíi  tato  prospera  la  fortuna,  cosi  ordi- 
nandolo  il  Signore,  che  nó  solo  gli  giunse,  ma  parimente  gli 
auanzò,  c  baldanzosamente  s  incorrea  per  essere  il  primo  ad 
informare  il  Conte.  Sentirno  mortificatione  non  mediocre  i 
nostri,  ponderando  che  la  pnmera  informatione  potea  nó  poco 
nuocere,  ò  giouare,  pur  rimessi  nel  diurno  beneplácito,  nó  si 
raffreddauano  punto  nella  conceputa  speranza;  s'arnuò  final- 
mente ad  un  seno  dei  fiume  molto  angusto,  oue  stimando  il 
Capitano  d'hauere  sbagliato  il  tutto,  e  però  inconsolabilmente 
lagnandosi  delia  sua  suenturata  sorte,  nõ  ammetea  conforto  da 
nostri,  et  all  hora  discuoprendosi,  poiche  mai  amorosa  la  paternal 
Prouidenza  dei  Comunal  Signor,  saltandosi  à  terra  da  un  mari- 


258 


naro,  et  un  de  nostri  compagni,  à  pena  dati  4  passi  sabbatterno 
in  una  Croce  di  legno  ben  grande  et  alta,  à  dinmpetto  staua  una 
chiesetta  intessuta  di  cannc,  di  rami  d'alberi,  imbiancata  alia 
parte  dell  altare  cõ  un  poco  di  calcina;  iui  stauano  collocate 
due  statue,  delia  puríssima  et  jmmacolata  Concettione  delia 
Sagratissima  Vergine  Tuna,  e  dei  glorioso  Santo  Antonio  di 
Padoua  1'altra,  et  un  quadro  dei  nostro  Seráfico  Padre  S.  Fran- 
cesco col  capucino;  nel  difuori  à  lato  di  quella  in  due  trauerse 
pendea  una  campanella,  e  circondata  da  diuersi  alben,  altn 
frutiferi  come  cittangola  et  alcuni  infrutiferi,  etc,  segm  tutti 
euidentissimi  di  Cristiana  Religione,  e  di  Cattolica  Fede;  íl 
giubilo  sentito  fu  estremo,  qual  magiormente  avanzossi,  men- 
tre  passando  auanti,  si  discuopnrno  gente  delia  terra,  ch'ingi- 
nocchioni,  adorando  il  Santíssimo  Crocifisso,  ch'il  nostro  com- 
pagno  portaua  nel  petto,  al  saluto:  sia  lodato  il  Santíssimo  Sa- 
gramento,  risposero:  amen  Alene  y  amene,  che  uuol  dire:  [per] 
sempre;  si  comincia  ad  interrogare  in  língua  Portughese,  qui 
alquanto  nota,  e  con  sicuntà  fú  nsposto,  che  gratie  al  Signore  la 
fede  si  conseruaua  íllibata,  quantumque  per  íspasio  di  4  anni  nõ 
auessero  ueduto  faceia  di  sacerdote,  eccetto  che  pochissime  uolte 
alcun  prete  di  passagio  sbarcò.  / / 

Dopo  si  felice  nouella  il  Capitano,  e  1'altro  nostro  com- 
pagno  si  replicorno  e  moltiplicarno  1  sentimenti  di  giubilo,  si 
inoltrò  il  camino  per  il  Conte,  e  per  ouííque  si  passaua,  uscendo 
da  pouere  capane  di  paglia  (tali  sono  le  case  di  questa  pouera 
gente)  e  grandi  e  piccioli,  et  huomini  e  donne,  alta  uoce  gri- 
daua:  Enganga  augussú  Zambi  allassi,  che  uuol  dire,  in  lor 
linguagio,  Sacerdoti  santi  di  Dio  etc,  si  peruenne  finalmente 
in  Banza,  oue  sogiorna  il  Conte,  e  di  già  il  Capitan  nemico 
hauea  precorso  à  dipingere  le  sue  informationi  conforme  gli 
piacea,  ladoue  il  buon  Signore,  come  perfetto  cattolico,  e  uerace 
figlio  di  Santa  Chiesa,  súbito  ch'udi  1'arriuo  de  nostri,  ordinò 
al  herético  che  nõ  ardisse  in  modo  alcuno  molestare  il  vascello 
uenuto  cõ  i  Padri  Santi.  / / 


250 


Furno  introdotti  i  nostn  ali'  udienza,  accolti  e  riccuuti  dal 
buon  Conte  gratiosamente,  e  cõ  segni  di  tatá  religiosità,  c 
diuotione,  che  difhcilmente  in  Europa  si  ntroua  somigliante, 
d  modo  di  nceuergh  et  ascoltargli  fú  alia  grande,  al  modo  dei 
paese,  egli  fíi  sentato  in  una  sedia  di  damasco,  ò  broccato  fino, 
circondato  da  numerosa  moltitudine  de  nobili  e  caualieri,  ch'in- 
ginocchiati  gh  face  [ua]  no  cortegio,  dal  lato  destro  un  pagio 
cõ  una  spada  ben  guernita,  et  al  sinistro  un'  altro  con  lo  scettro, 
cÕ  altre  cerimonie,  che  per  nÕ  trecar  à  V.  S.  Ill.ma  indi  le 
taccio;  al  incontro  stauano  3  seggie  di  corame  conforme  le 
nostre,  due  per  1  Religiosi,  e  la  terza  per  íl  Capitano,  et 
pendendo  tutti  cõ  alegra  curiosità,  e  diuota  attentione  dalla 
proposta  douea  farsi;  cominciossi  in  Portughese  da  nostri  ad 
esporre  íl  fine  delia  uenuta,  la  stima  che  la  Santa  Sede  facea 
di  questa  natione,  íl  ministério  apostólico,  1  patimenti  sofferti 
per  la  lor  saluatione,  íl  desio  ardente  d'aiutargli,  1'ultima  uesi- 
tatione  nceuuta  dall  heretico,  e  finalmente  la  grata  cornspon- 
denza  che  doueano  à  Sua  Santità,  alia  Sagra  Congregatione,  e 
la  cooperatione  ch'in  nostra  difesa  douea  in  ogni  euéto  sinistro 
impiegare.  / / 

Ci  rispose  per  interprete,  che  giubilaua  straordinanamente 
dei  nostro  amuo,  gradiua  cordialmente  íl  fauorc  fatogli  da  Sua 
Sátità,  riconoscea  humilmente  la  memoria  che  di  questa  na- 
tione  si  tenea,  e  che  haurebbe  messo  ogni  impiego  per  la  dila- 
tatione  delia  santa  fede  cattohca  e  lege  diurna;  1'abbracciamenti 
di  lui  c  de  nostri  furno  ricendeuoli,  e  quatúque  uolentieri  questi 
cõ  riuerenze  humiharsi,  nõ  fú  da  lui  permesso,  anzi  cõ  uera 
religione  veneratigli,  si  prese  da  lui  combiato  e  si  diede  ordine 
ch'io  cõ  gh  altn  miei  compagni  sbarcassimo,  che  perciò  inuiò 
un  caualiero  suo  parente  alia  nauc  in  nostra  difesa,  il  quale  col 
Capitano,  et  altri  delia  natione  giúse  à  bordo  uerso  le  3  horc 
di  notte,  gridando  nell'auuicinanse  cõ  canti  et  giubili,  sia  lodato 
il  Santíssimo  Sagramento;  sahmo  in  naue,  si  riferi  il  fehce 
successo  dal  Capitano,  essendo  i  due  nostri  compagni  rimasti 


260 


cola  dal  Conte,  per  celebrare  il  giorno  seguente  di  Domenica. 
Ah  mio  caro  Signore  e  quante  lagrime  cordiah  si  uersorno  per 
tenerezza,  e  quato  di  uatagio  fu  compensata  1'afflitione  passata, 
si  passo  tutta  la  notte  nel  conceputo  cótento,  non  si  finiuano 
1'interrogationi  cõcerneti  et  il  passato  et  il  futuro  ín  ordine  al 
nostro  ministério,  1'affetto  alia  fede,  il  bisogno  di  Sagramenti, 
e  1'abusi  introdotti  nó  altrimente  contra  fidem,  ma  contra  diui- 
nam  legem,  etc,  i  quah  per  isturbargli  no  si  stenterà  poco.  / / 
La  felicita  dell'ingresso  e  delle  communi  essultationi  si 
sarebbe  inoltrata  e  nella  Domenica  e  nei  4  giorni  seguenti, 
quando  1'auuersano  herético  nó  1'hauesse  per  sugestione  dei 
diauolo  disturbata,  il  quale  auuedutosi  delTingresso  de  Missio- 
nanj  Apostolici  ín  questo  Regno,  infellonito  dei  successo,  con 
arroganza  infernale  si  risentiua,  minacciaua,  si  strugea,  prohi- 
biba  que  ueruno  fusse  à  terra,  sotto  pena  di  mandare  à  fondo  il 
vascello;  opponea  che  nei  patti  dei  Conte  fra  lui  e  la  Signona 
Olandese  íntraueniua  questa  circostanza,  che  fusse  amico  degh 
amici,  e  nemico  de  nemici,  e  che  tenendo  lei  per  nemici  capitali 
il  Rè  Cattolico  et  il  Papa,  che  parimente  il  Conte  douea  tal 
dichiararsi,  e  nó  ammettere  amici  ne  delFuno,  ne  dell'altro; 
si  conuenne  di  comparire  ambe  le  parti  un'altra  uolta  auanti 
al  Signore,  et  iui  udir  le  ragioni  et  aspettar  la  sentenza;  uenne 
il  gorno  à  ciò  prefisso,  che  fú  il  lunedi,  e  29  dei  passato,  mi 
portai  con  gli  altn  nostri  compagni  e  altri  3  (che  per  consola- 
tione  delia  gente  rimase  al  vascello)  alia  presenza  dei  Conte, 
il  quale  cÕ  nõ  minor  riuerenza  e  cortesia,  ch'hauea  fatto  à  due 
pnmi,  m'accolse;  dimostrai  il  Breue  pontifício,  da  lui  con  moita 
riuerenza  uenerato,  e  cõ  nuoue  offerte  si  dedico  al  nostro  aiuto 
per  quato  le  sue  forze  si  stendeano;  comparue  dell'altra  parte 
il  nemico,  proponendo  le  sue  ragioni,  quali  tutte  furno  ribattute 
nõ  cõ  minor  religiosità  che  prudenza;  e  passando  auanti  nelTin- 
solenze  1'heretico,  cosi  il  Signore  comme  gli  altn  caualien, 
cortegiani  e  circostanti  colle  grida,  con  i  sembianti  e  con  i 
gesti  ferno  mostra  di  ndurlo  ín  pezzi,  se  nõ  tacea,  et  in  somma 


261 


pro  bono  pacis  fíi  cõchiuso  che  li  Capitani  dell'uno  e  dell'altro 
vascelo  si  trattenessero,  finche  sbarchasse  quanto  si  era  porcaco 
da  Europa,  come  ornamenti  di  sagristia,  alcari,  etc,  per  il  culto 
diuino.  / / 

Non  si  marauigh  V.  S.  Ill.ma  che  1'Olandese  uadi  tãto 
superbo  per  queste  confrade,  poiche  possedendo  quase  tutto  il 
Brasile,  et  hauendo  4  anni  sono,  occupato  il  porto  d'Angola  qui 
d'appresso,  hà  tolto  il  commercio  à  principi  cattolici,  e  questa 
pouera  gente  priua,  per  dir  cosi,  d'ogni  bene  terreno,  per  hauere 
qualche  cosellina,  come  di  vesti,  di  vino,  farina,  etc,  è  costretta 
tenere  cÕ  esso  buona  cornspondenza,  et  à  nchiesta  dei  medesimo 
Conte,  per  Ambasciadore  spedito  ín  Olanda,  tiene  qui  fattore 
e  fattoria,  e  per  ogni  tanto  tempo  uiene  una  naue  à  far  mer- 
cantie,  portar  merci,  e  riportar  di  qui  avono  e  bombace,  e  quel 
ch'è  pegio,  quatità  di  poueri  fighuolini  battezzati,  per  uendergh 
pó»  per  ischiaui  ouúque  gli  agrada,  uso  di  già  introdotto,  e 
piaccia  al  Cielo  si  possa  facilmente  suellere,  onde,  s'il  Conte  nõ 
fece  fin'  à  quel  punto  altre  dimostrationi,  era  degno  di 
scusa,  cet.  / / 

Da  quello  che  nel  decorso  de  gli  altn  giorni  fin'  hogi  2  di 
Giugno,  è  auuenuto,  con  euidenza  pure  troppo  efficace  s'è 
manifestata  la  finezza  et  esquisitezza  delia  fede  e  religione  dei 
buon  Conte,  nõ  solamente  nel  regalarei  giornalmente  con  i 
frutti  delia  terra,  che  sono  alcuni  pochi  legumi,  radiei  d'alben 
e  vino  di  palma,  con  assegnarci  luogo  per  fabneare  una  pouera 
casetta,  ch'in  quatro  hore  fu  spedita  à  modo  di  capanna, 
secondo  il  cuore  dei  nostro  Seráfico  P.  S.  Francesco,  ín  or- 
dine  allaltissima  pouertà;  nell'assistere  alie  messe  e  nel  gusto 
di  conuersar  cõ  noi,  ma  quel  che  piíi  importa,  in  esporre  la  uita 
ín  difesa  delia  fede,  come  dal  seguente  fatto  argomenterà. 

Si  uidde  burlato  1'heretico  dalle  sue  pretétioni,  e  cercando 
in  tutti  i  modi  uolerla  uincere,  sensse  una  carta  al  suo  pilota, 
que  staua  in  gouerno  dei  vascelo,  che  souente  riceuutola  tratte- 


262 


nesse  il  latore  à  bordo  cõ  protestare  che  nó  1'haurebbero  finche 
nó  fusse  restituito  il  Capitano-  Fra  tato,  minacciando  furiosa- 
mente la  nostra  naue,  che  nó  s'ardisse  in  modo  alcuno  porre 
à  terra  ne  gente  ne  altro  che  si  fusse,  che  souente  1'haurebbe 
affrondata,  et  intanto  dauano  nulle  dimostranze  di  beffe,  di 
superbia  e  di  supenorità;  anzi  uolendo  un  de  nostri  compagni 
uenire  à  darmi  auiso,  si  birò  una  palia  d'artighena  al  battello 
per  afondarlo;  il  lator  delia  carta,  che  fu  ntenuto  da  contranj, 
si  era  un  parente  dei  Conte,  caualiero  stimatissimo,  e  come  si 
dice  anche  Marchese,  il  qual  spedito  da  S.  Eccellenza,  acciò  i 
nemici  no  si  mouessero,  portò  la  lettera  d'Una;  tracciò  frà  questo 
mentre  il  Capitano  herético  licensiarsi  dal  Conte,  ingannandolo, 
sotto  pretesto  ch'era  necessário  andasse  in  naue  per  essecutione 
dell'ordine  di  S.  Eccellenza;  il  buon  Signore  con  semplicità 
di  colomba  nó  contradisse;  arnuò  miracolosamente  il  nostro 
compagno  dalla  naue,  diede  nuoua  dei  seguito,  e  ne  riempi 
d'estremo  cordoglio,  penetrando  1'angustie,  nelle  quali  si  ritro- 
uaua  il  nostro  fedelissimo  Capitano,  1'intngo  dei  Conte  e 
rimminéte  perdita  d'altn  nostri  compagni  nmasti  nella  naue; 
s'accorse  ímmantinéte  al  Cattolico  Difensore  (siami  lecito 
dargli  questo  titolo  posciache  di  uátagio  lo  menta)  se  gli  espose 
la  frode  dei  nemico,  et  il  buon  Signore  ammuato  dei  fatto  da 
lui  nõ  sospetto,  et  insieme  npieno  d'ardentissimo  zelo,  leuossi 
da  sedere,  et  à  piedi  seguitò  il  nemico  per  íspatio  di  3  miglia, 
et  aiutato  dalla  Maiestà  Diuina,  arnuollo,  nnfacciollo,  e  toc- 
candosi  colle  mani  la  bocca,  ch'è  segno  di  guerra,  minacciaualo 
come  capitalissimo  nemico,  protestando  ch'egli  in  persona 
sarebbe  andato  alia  nostra  naue,  espostosi  à  colpi  d'artigliene, 
et  osseruato  il  rispetto  gli  haurebbero  portato,  à  somigliante 
spettacolo,  spauentato  e  confuso  l  heretico,  butossi  à  piedi  dei 
Católico  Signore,  chiese  perdono,  et  allegò  per  iscusa,  che  la 
gente  delia  sua  naue,  senza  sua  saputa  s'era  mossa  à  porre 
mano  al  sua  fuonto,  e  dar'in  altn  eccessi  da  lui  nõ  ordinati; 
ch'era  prontíssimo  a  quanto  egli  comandasse  senza  pretenrne 


263 


una  parola.  Racchetossi  íl  prudente  Príncipe,  e  radoppiando  le 
diligenze  per  íl  fido  compiuto  delle  promesse,  di  già  fatte  halla 
M.  D.,  la  suppellettile  sagra  dedicata  al  culto  Diuino  stà  in 
nostro  potere,  tutti  1  PP.  Compagni  stanno  in  salvo,  et  il 
buon  capitano  spenamo  senza  disturbo  e  danno  partira  da 
queste  contrade,  e  ncapitarà  costa  in  Roma  fedelissimamente 
le  presenti  aspettatissime  novelle  dei  miracoloso  ingresso  in 
questa  pouera  et  abbandonata  greggia,  di  Pastori  Euangelici, 
acciò  la  difenda  in  aestu  et  geln,  usque  ad  effnsionem  sanguinis 
da  voracissimi  lupi,  e  visibili  et  invisibili. 

E  per  dare  a  V.  S.  111."14  sommana  contezza  delia  qualità 
di  questo  contado,  sappia,  ch'è  una  Prouincia  delle  principah 
di  questo  Regno,  i  cui  Signon  secundum  (a)  morem  Patriae 
sempre  si  sono  mantenuti  con  molto  splendore,  ma  quello 
maggiormente  gh  fà  lampegiare  si  è,  ch'il  primo  nceuesse  la 
fede  in  queste  parti,  et  intrepidamente  poscia  la  difendesse,  fu 
un  lor'Antepassato,  chiamato  il  Conte  N.  di  Manisogno,  o 
Pmda  (*) ;  il  Domínio  è  molto  ampio  e  spatioso,  contiene 
numerossissima  gente  e  di  valor  grande,  per  modo  che  piu  volte 
hauendo  conbattuto  col  Rè,  ba  sempre  riportato  uittona,  e  di 
fresco  pochi  giorni  prima  dei  nostro  amuo,  per  alcune  liti,  e 
contese,  hauendo  guerrcgiato  coll'essercito  régio,  lo  sconfisse, 
gli  tolse  il  Príncipe,  il  quale  attualmente  stà  in  mia  casa  nte- 
nuto,  trattandolo  alia  grande,  e  questo  è  un'altro  punto,  dal 
quale  il  demónio  pretende,  ch'il  Rè  forse  entrando  in  gelosia, 
che  siamo  entrati  in  terra  d'un  suo  nemico,  senza  prima  con- 
durci  da  lui,  dimostrauassi  o  vitioso,  o  scarso  neH'ammetterci, 
se  pure  non  ci  fanno  positiva  violenza,  intendendosi  di  lui 
nuoue  men  buone  in  matéria,  spero  non  sarà  delia  fede,  ma  di 
bontà,  e  religiosità  Cristiana,  per  1'aperte  crudeltà,  commercij 
de    maleficij   e  negromanti,  et  altre  peruersità,  che  la  fama 


(*)  No  texto,  i  dum. 


diuampa  In  queste  parti,  quantunque  per  esser  nemici  non  man- 
cheranno  alterationi,  coll'aiuto  dei  Signore,  e  colla  prudenza 
li  porta  sicura  speranza  d'incaminar  in  modo  le  cose,  ch'il  Rè 
non  possa  pregiudicarsi,  quale  non  altn mente  è  íl  buono  D.  Al- 
uaro,  che  scnsse  à  cotesta  Santa  Sede,  ma  un  D.  Garzia,  suo 
fratello;  hor  ri  tornando  al  nostro  Conte  dico,  che  lui  non  dege- 
nerando da  suoi  progenitton,  si  conserva  ílhbatissimo  nella  fede, 
fortíssimo  difensor  di  quella,  et  ubidientissimo  alia  Sedia  Apos- 
tólica, in  segno  dei  che  scnve  una  carta  à  S.  Santità,  in  língua 
Portughese,  nngratiandola  dei  singolar  beneficio,  d'hauer 
destinati,  et  in  tempo  di  si  estrema  necessita,  Ministri 
Euangelici  per  lor  salute;  et  10  confidato  nella  benignità  dei 
supremo  Pastore,  dico  íl  Sommo  Pontefice,  e  nel  valore  di  V.  S. 
Ill.ma  e  di  cotesto  Sagro  Concistoro,  gli  hò  con  moral  certezza 
offerto,  che  finezza  di  fede  tanto  singolare,  et  obedienza  si 
pronta,  sarà  gradita  e  nconosciuta  dal  Beatíssimo  Padre,  e  dagli 
Eminentissimi  Signori,  e  come  à  difensor  delia  Fede  le  sarà 
inuiato  lo  Stocco  (3),  benedetto  dà  S.  Santità. 

111."10  Signore,  sò  ben'io,  che  questo  fauore  si  fà  à  Principi, 
quali  con  singolanssimo  zelo,  et  heroiche  imprese  han  difesa 
la  fede,  e  che  perciò  1'ottenerlo,  si  renderá  malagevole;  tuttavia, 
se  consideriamo,  le  circostanze  concorrono  in  questo  buon  Sig- 
nore; piu  è  da  stimarsi  una  minima  dimostranza  di  lui,  che 
cento,  e  mille  di  grandíssimo  nlievo  de  Signori  d'Europa,  e  se 
lei  acutamente  fira  ponderando  1'attioni  di  sopra  narrate,  e  con 
me,  e  con  1'heretico,  chiaramente  si  scorge,  che  pose  alia  ventura 
la  vita,  e  questo  hauea  per  gloria  delia  Chiesa,  adoprirsi  dunque 
con  istraordinaria  efficacia  in  questa  richiesta,  che  contutti  i  nos- 
tn  compagni  humilissimamente  le  propongo  e  1'assicuro,  che 
sarà  un  ravvivarlo,  et  eccitarlo  a  magior  fervore,  e  piu  ardente 
zelo,  et  in  euento,  ch'il  Rè  ci  ributtasse,  lo  stato  di  questo 


(â)  bengala,  cetro. 


265 


Príncipe  è  tanto  copioso,  che  non  mancherà  in  che  essercitarci  di 
notte,  e  di  giorno;  confido  non  indegnerà  con  ogni  premura 
haver  a  cuore  1'impetratione  di  questa  gratia,  e  prerrogativa 
singolare,  e  per  li  nuovi  Missionarij  destinandi,  centuplicata- 
mente  consolerà  1'anime  nostre. 

Mi  conviene  raguagliar  V.  S.  Ill.ma  dei  miserabilissimo 
stato  di  questa  povera  gente  si  in  spiritualibus,  come  in  tempo- 
ralibus;  in  quanto  al  primo,  e  piíi  degno,  bastarebbe  il  dire, 
ch'una  Prouincia  numerosíssima  di  popolo  sia  stata  4  anni  senza 
un  sacerdote  assistente,  solamente  e  di  rado  alcun  di  passo, 
quindi  1'inosseruanza  delia  lege  Diuina,  et  Ecclesiastica:  il  colmo 
de  vitij,  massime  delia  carne  notabilmente  e  nobili  e  plebei  co- 
noscer  piu  donne  [è]stimata  cosa  da  scherzo,  quantunque  gratie 
al  Signore  stiano  saldi,  ch'è  contro  la  Divina  lege,  e  1'avisino 
che  fan  male;  pur  fin  hora  non  s'ha  voluto  imprudentemente 
finire  investigando,  e  con  essattezza  esplorando  1'abusi  circa 
questa  matéria,  quale  dubito  saranno  tanti,  e  tah,  che  par- 
tial'aiuto  dei  cielo  sarà  necessário;  1  fanciulli  da  battezzarsi  sono 
quasi  infiniti;  dimattina,  vigília  delia  Sagratissima  Pasqua  de 
Pentecoste,  si  benedirà  1'acqua  battismale,  e  si  fará  un  battesimo 
generale;  se  n'ha  dato  parte  al  Conte,  e  con  molto  suo  gusto; 
e  poscia,  pian  piano,  si  dará  di  manoa  gli  altn  Sagramenti, 
avvalendosi  nel  principio  d'interpreti  Portughesi,  essendovi 
alcuni  dt  questi,  e  stando  in  uso  cosi  confessarsi  à  sacerdoti  di 
diverso  idioma;  piacesse  al  Cielo,  ch'in  questa  sollennità  dello 
Spinto  Santo,  con  gli  Apostoli  ncevessimo  il  dono  delle  lingue, 
acciò  incessabilmente  fatighassimo  in  questa  inculta,  e  silvestre 
vigna.  // 

L'altro  abuso  principale  sopra  toccato,  si  è,  che  si  costuma, 
per  quanto  abbiamo  inteso  in  questo  Ragno  da  Signori  de  Vas- 
salli vendersi  1  pouen  fanciulli,  e  fanciulle  da  8  o  10  anni  in 
su,  à  mercandanti  stranieri,  o  heretici,  o  cattolici,  che  siano, 


266 


i  quali  poscia  secondo  (4)  piu  gli  gusta,  et  íl  guadagno  se  gli 
offerisce  indiferentemente  à  chi  si  sia  gli  vendono;  infondano 
nella  consuetudine  stima  irrevocabile,  e  si  presume  gmsto  titolo 

0  di  guerra,  o  di  compra  etc-;  il  punto  è  di  consideratione  per 
adesso  non  può  toccarsi,  per  non  impedire  il  magior  bene,  il 
vender  cattolici  ad  heretici  con  ingiuna  dei  Battesimo,  e  pen- 
colo  de  poveri  fanciulli,  stimiamo  intrinsecamente  maio,  e  di- 
rettamente  contratto  íllecito  contra  charitatem,  et  legem  Divi- 
nam;  il  vendergli  à  cattolici,  perche  sembra,  stante  la  consuetu- 
dine irrevocabile  fondata  in  giusto  titolo,  alquanto  piu  tolera- 
bile,  e  da  non  condennarlo  à  fatto,  pur  si  priega  delia  nsolutione 
da  cotesto  Sagro  Consistoro.  / / 

II  secondo  capo  delia  miserie  temporali,  sono  panmente 
estreme,  il  sostento  è  di  radiei  d'alberi,  e  d'alcuni  pochi  legumi, 
che  dal  coltivar  la  terra  si  producono;  e  la  bevanda  regalata  per 

1  nobili,  una  specie  di  vino  di  palma;  tutta  via  si  viue,  e  si 
sostenta  la  natura,  e  noi  in  questi  pnncipij  ci  ntroviamo  assai 
bene,  siane  nngratiato  il  Sommo  Proveditore.  / / 

Le  vestimenta  sono  per  ordinário  di  fila  di  palme  intessute, 
ma  fanno  buona  vista,  essendo  ben  lauorate,  e  si  cuoprono  dalle 
gambe  fin  alia  cintura,  e  dal  collo  all'ingiu  una  rete  come  ricca 
collana  panmente  di  stami  di  palma,  che  si  congiunge  coll'altra 
parte  couerta  dei  corpo;  in  somma  v'è  qualche  decenza, 
et  honesta;  1  nobili  poi,  e  caualien,  agiungono  un  man- 
tello  lungo  di  panno,  o  fino,  o  mezzano,  secondo  la  qualità  delle 
persone,  e  le  merci,  che  di  fuora  particolarmente  da  Olanda 
vongono;  narro  questo,  acciò  V.  S.  si  confermi  maggiormente, 
che  se  non  seguitarà  à  mandar  missionarij  poveri,  e  totalmente 
disenteressati,  e  solamente  delia  nostra  Seráfica  Religione  Capuc- 
cina,  si  fará  nula,  poiche  è  moralmente  impossibile  voler  fruttifi- 
care  in  queste  pouere  anime,  e  dimostrar  un  minimo  che  d'in- 
teresse.  / / 


(*)  No  texto: 


267 


Le  Prouincie  dei  Regno  parmi  che  siano  6,  e  tutte  estrema- 
mente  bisognose,  confinano  altri  Regni,  de  quali  è  probabilis- 
sima  speranza  debbano  col  divino  aiuto  ndursi,  fa  di  mestien 
non  essere  avaro  nell'inviare  nuovi  operanj  forti,  e  robusti  di 
corpo,  e  di  spinto,  bramosissimi  di  parcire,  ardenti  di  zelo  delia 
salute  de  fratelli,  et  ornati  di  non  mediocre  scienza;  il  numero 
de  nouelli  Missionanj  giungendo  al  trentesimo,  non  sarà  ecce- 
dence;  mando  la  colligata  nota  di  quei  mi  paiono  sufhcienti;  ne 
priego  parimente  i  nostn  Molto  RR.  PP.  Generale,  e  Procura- 
tore,  faccino  secondo  S.  D.  M.  gl'  inspirara;  la  natione  spa- 
gnuola  qui  è  poco  amata  (5),  e  per  cause  de'  Castigliani,  sola- 
mente  sospettati  nella  nostra  nave  dal  nemico  Olandese,  ci  siamo 
ueduti  in  euidentissimi  pencoli,  e  s'il  nostro  Capitano  con  pru- 
denza,  et  equiuocatione  dello  stendardo  Portughese  non  s'aiu- 
tava,  eravamo  spediti-  A  Fra  Francesco  da  Pamplona,  nostro 
compagno,  qual  tanto  fedelmente  s'è  affatighato  nella  missione, 
e  per  il  cui  valore  in  Spagna  s'ottenne  il  tutto,  non  posso  venir 
meno,  che  perciò  à  sua  nchiesta  propongo  alcuni  delia  Provin- 
da d'Aragona,  et  alcuni  altri  pochi  delia  Província  d'Andalu- 
sia,  alia  quale  habbiamo  grandíssima  obbhgatione  per  haverei 
un'  anno  intiero  mantenuti,  et  aiutata  con  ogni  possibile  sforzo 
la  Missione,  il  rimanente  sia  tutto  d'Italiani. 

II  nostro  Capitano,  huomo  prudentíssimo,  e  religiosíssimo, 
e  per  il  cui  indrizzo  siamo  pervenuti  a  questo  termine,  et  ogni 
altro  che  fusse  stato  1'hauerebbe  sbagliato,  confessa,  che  dal 
principio  gli  fu  proposto  il  nostro  viagio,  sentissi  un  interno 
eccitamento  ad  esporsi  al  1'impresa,  e  quantunque  fosse  dissuaso 
efficacemente,  tutta  via  seguitando  vie  sempre  il  medesimo  im- 
pulso, avventurò  la  robba,  la  vita,  e  quanto  haveva,  per  sodisfare 
alTinterna  motione,  et  alia  religiosa  dimanda;  ha  dimostrato  il 


(5)  Portugal  recuperara  a  sua  independêndia  política  no  dia  i  de 
Dezembro  de  1640,  mas  os  motivos  aduzidos  pelo  missionário  são 
exactos.  Salvou-os  a  bandeira  portuguesa. 


268 


suo  zelo  in  diucrsc  occasioni,  ma  particolarmente  nell'ultimo 
conflitto,  mentre  piu  uolte  con  lagrime  à  gli  occhi  s'udiua  repli- 
care:  Padri  miei,  Dio  m'hà  inspirato  a  far  questa  seruitu  alia 
sua  chiesa  per  dilatatione  delia  nostra  Santa  Fede,  non  1'aban- 
doncrò  giamai,  si  perda  quanto  possiedo,  c  1'istessa  vita;  atti 
veramente  di  heróica  perfetione  in  petto  d'un  secolare.  / / 

N.  S.  1'havrà  da  rimunerare  abondantissimamente;  cgh  da 
il  modo  di  poter  sicuramente  venire,  et  è  che  parta  il  vascello 
con  1  Religiosi  dal  porto  di  Livorno,  con  licenza  e  passaporto 
dei  Gran  Duca  di  Toscana,  delia  Republica  di  Génova,  come 
porti  famosi,  ne  quali  negotiano  Inglesi,  Olandesi,  Fiamenghi, 
et  altre  nationi,  e  perciò  confederati  con  essi.  Onde  nelI'ocor- 
rcnze  de  loro  incontri,  se  ne  potna  avvalere,  e  schivare  i  loro 
assalti,  ma  quel  che  piíi  importa,  riportare  dal  Rè  Cattolico  di 
Spagna,  licenza  amplíssima  di  poter  negotiare  nell'Indie,  et 
altre  Prouincie  à  lui  sogctte,  poichè  malageuolmente  s'esporrà  un 
Capitano  con  vascello  forte,  e  ben'armato,  che  nchiede  un 
mondo  di  spese,  non  potendo  francamente  negotiare,  particolar- 
mente  in  paesi  dei  Rè  Cattolico,  oue,  quando  sindouina  il  viagio, 
il  guadagno  è  assai  nlevante;  1'autorità  di  cotesta  Santa  Sede 
e  Sagro  Concistoro  è  soprema,  potrebbe  degnarsi  per  mezzo 
dei  Nuntio  di  Spagna,  e  d'altri  sugetti  idonei  o  Religiosi  o 
Secolan,  con  1  sudetti  Prencipi  conseguire  quanto  di  sopra,  con 
la  qual  sicurità,  il  medesimo  Capitano,  ch'adesso  n'hà  con- 
dotti,  promette  che  s'esporrebbe  à  far  un  altro  viagio  per  con- 
durre  degli  altri;  per  iscarico  delia  mia  conscienza,  e  zelo  di 
queste  pouerette  anime  abandonate,  notifico  à  V.  S.  111."™  il 
proposto  modo,  affinche  agevolandosi  le  difficoltà,  piú  gloriosa- 
mente risplenda  la  dila  [ta] tione  delia  cattolica  Religione,  e  frut- 
tuosamente  s'impieghino  le  zelose  diligenze  di  cotesti  Eminen- 
tissimi  Signori,  e  di  V.  S.  Ill.ma.  // 

Fu  volontà  dei  Signore  non  conchiudessi  questa  Carta  hier 
1'altro,  e  perche  il  empo  somministra  secondo  l  occasioni  occor- 
renti  nuoue  inuentioni  e  risolutioni,  concorrendo  specialmente  la 

269 


suprema  assistenza,  m  e  parso  convenientíssimo,  anzi  necessa- 
njssimo,  e  con  applauso  e  consenso  uniuersale  di  tutti  i  nostn 
compagni,  nmandare  ín  Spagna,  e  stimandosi  opportuno,  che 
giunga  fm  costà  in  Roma,  Fra  Francesco  da  Pamplona,  nostro 
dilettissimo  Compagno,  con  un'  altro  Padre  Sacerdote  íl  piíi 
vecchio,  per  negotiare  piíi  efficacemente  colla  Maestà  Cattohca 
la  felice  speditione  di  quanto  sara  valevole  al  prospero  viagio 
de  Missionarij  destinandi,  e  stendendosi  ftn  à  piedi  di  sua  Bea- 
titudine,  et  al  conspetto  di  cotesti  Eminentissimi,  rappresentanti, 
come  testimonio  di  vista,  le  calamitose  miserie,  et  estreme  ne- 
cessita di  queste  smarnte  pecorelle.  / / 

Ill  mo  Signore,  altre  volte  ho  accennato  a  V.  S.  le  qualità 
rarissime  di  questo  Santo  Religioso,  la  nobilita,  valore,  et  eroiche 
prodezze  dei  Secolo,  1'auttontà  quasi  assoluta,  che  tiene  col 
Rè,  e  con  tutto  íl  fiore  di  Spagna,  e  quello  ch'è  piu  da  stimarsi, 
la  santità  di  vita,  e  soda  perfettione,  ch'  in  breve  nella  Religione 
ha  acquistato;  aspiro  fin  dal  principio  delia  sua  professione  con 
ansietà  al  martírio,  sollicitò  1  mezzi  retti  e  leciti  per  sodisfare 
al  suo  ardente  desio,  fu  per  íspecial  Providenza  Divina  ammesso 
alia  nostra  Missione,  e  s'affatigò  si  fedelmente  per  essa,  che 
non  dubito  punto  affcrmare  per  lui  ntrouarsi  nello  stato  in  cui 
la  vediamo;  dubitavo  riproporgli  íl  ntorno  per  1'Europa,  molto 
ben  conoscendo  íl  suo  feruore,  íl  cui  giubilo  è  íl  partire,  e  le  cui 
delitie  sono  1'asprezza  et  austentà  di  vita,  et  hauendo  qui  ntro- 
vato  à  punto,  quanto  bramava  con  prolongato  martírio  d'ines- 
plicabili  patimenti,  non  per  mano  di  tiranno  singolare  contro  la 
fede,  ma  di  quanti  ogetti  e  sugetti  in  questa  miserabilissima 
gente  e  terra  si  rappresentano.  / / 

Se  gli  accennò  con  bel  modo  quanto  si  bramava  per  il  ben 
commune,  et  egli  come  vero  servo  di  Dio,  spropnatosi  à  fatto  di 
se  stesso,  e  d'ogni  propnetà  di  volontà,  con  total  rassegnatione 
sepellissi  nella  sicura  tomba  delTubidienza  santa,  ripugnaua  da 
un  canto  la  naturalezza  vedersi  pnuo  in  un  tratto  di  cosa  per  si 
lungo  tempo  bramata,  procurata,  et  ottenuta,  purc  facendo  à  se 


stesso  violenza,  con  versar  copia  di  lagrime,  si  sottopose  allinas- 
pettata  ponderosissima  Croce,  con  volontà  ardentíssima,  e  pron- 
tíssima di  sopportarla  fin  aH'ultimo  spirito.  / / 

Mi  scuserà  la  benignità  di  V.  S.  s'in  questo  particolare  mi 
dimostro  prontot,  atteso  1'importanza  delia  matéria,  e  singolarità 
delia  persona  lo  nchiede.  Io  in  nome  delia  Sagra  Congregatione, 
per  la  facoltà  concessami  gli  assegno  1'Ubidienza,  espnmo  íl  mo- 
tivo, gli  ordino,  ch'essendo  spediente  possa  ventre  fin  costa  à 
Roma,  e  ch'in  ordine  alia  nostra  Missione  s'adopn  con  ogni 
sforzo  possibile,  e  con  Prelati,  e  con  Prencipi,  e  con  qualunque 
si  sia,  pêro  servatis  servandis;  il  suo  compagno  è  il  P.  Fra  Mi- 
chele  de  Sessa,  sacerdote  delia  Prouincia  d'Aragona,  huomo 
consumato  in  tutte  le  virtu;  ambedue  faranno  con  essattezza 
puntualissima  la  volontà  Diuina,  ma  Fra  Francesco,  quantunque 
Laico,  per  sua  humiltà  non  hauendo  volutto  attendere  ad  altro 
grado,  dei  che  nel  prender  1'habito  tu  instantemente  pregato, 
come  piu  conosciuto  da  Prelati,  e  Prencipi,  terrà  peso  delia 
cancã,  consultando  sempre  coll'altro  Padre  Missionário.  / / 

Mi  persuado  fermissimamente  succederà  il  tutto  felicissima- 
mente,  per  la  singolanssima  stima  [che]  si  fa  in  tutta  la  Spa- 
gna  dei  sugetto  che  s'inuia,  e  giungendo  in  Roma,  suppli- 
cato  V.  S.  Ill.ma  con  figlial  confidenza  si  compiaccia  fargli  tutti 
quei  favori,  che  1'importanza  dei  negotio,  la  sua  innata  clemen- 
za,  et  ardente  zelo  glie  somministreranno,  s'introduca  da  Sua 
Santità,  e  dagh  Eminentissimi  de  Propaganda  Fide,  ascolti  le 
sue  relationi,  favilo  ancora  ascoltar  da  altri,  e  sia  potentíssima 
intercedetrice  per  impetrare  da  chi  può  e  deue  quanto  giusta- 
mente,  e  respettosamente  si  rapresenta.  / / 

II  Vescovo  di  questo  Regno,  e  d'altri  Regni  ancora,  che 
colla  sua  Diocesi  eranno  annessi,  sono  molti  anni  ch'è  mor- 
to (6),  e  qual  piu  rara  commodità  dt  questa  si  può  offerire  per 


(6)  D.  Francisco  do  Soveral  falecera  em  1642.  Porque  a  Cúria 
Romana  se  negou  a  confirmar  outro  Bispo  português,  esteve  vaga  a 
diocese  até  1671. 

27 1 


mandare  íl  nuovo?  Muovansi  le  viscere  paterne  di  Sua  Santitá 
à  compassione  per  amor  di  Dio,  di  questa  sfortunata  gente, 
ahi  miséria,  ahi  infelicita,  in  tutto  íl  Regno  dei  Congo  à  pena 
diece  sacerdoti,  o  ahi  zelo  dell'anime  redente  con  prezzo  tanto 
caro  da  Dio  humanato,  ciascuna  anima  di  questi  negri  costa  à 
Dio  un  Dio;  faciasi  conto  di  esse  per  amor  dei  medesimo 
Dio.  // 

II  vescovo  havrà  da  inviarsi,  sia  huomo  Apostólico,  le  grosse 
entrate  di  questa  Chiesa  non  sono  argento  et  oro,  ma  anime, 
ma  patimenti,  martinj  prolungati,  e  continua  morte;  prelato 
dunque  Apostólico,  e  santo  e  necessário,  cosi  lo  spero-  / / 

S'alcuni  giouanetti  di  questi  infelici  morenetti  potesscro 
alleuarsi  in  qualque  Seminário  costi  in  Roma,  che  magior  sacri- 
fício si  potrebbe  fare  à  S.  D.  M.,  acciò  poi  instrutti  potessero 
giovare  alia  pátria.  Solamente  1'accenno,  diportisi  V.  S.  nel 
proporlo  come  N.  S.  1'inspiterà;  colla  naue  che  verrà,  facilmente 
si  potrebbono  mandare. 

Hieri,  Vigília  delia  Sagratissima  Pentecoste,  si  benedisse 
1'acqua  battismale  sollennemente  in  Banza,  metropoli  di  questo 
Contado  di  Pinda,  e  Manisogno,  residenza  dei  Signor  Conte, 
e  si  battezzorno  da  200.  fanciulli,  da  einque  anni  in  basso;  hogi 
parimente  si  seguirá,  e  giornalmente  si  va  coltiuando  1'inculta 
e  silvestre  vigna.  I  nostri  PP.  Compagni  stanno  fervorosissimi, 
et  aspettano  nuovo  riflesso  et  aiuto;  tutti  insieme  con  vivo 
affetto,  et  efficaci  pregluere,  l'ncharichiamo  à  V.  S.  Ill.m\  et  à 
Signori  Eminentissimi,  si  danno,  e  propongonsi  1  mezzn  paino 
opportuni;  piaccia  al  benigníssimo  Padre  di  Misericordie  ínca- 
minarli  efficacemente  al  fine;  glie  replico  le  raccomandationi 
di  questo  buon  Conte,  e  Cattolico  Signore,  le  primitie  delia  nos- 
tra  Missione,  cosi  nell'essere  ammessi,  come  nel  fruttificare,  sono 
state  nel  suo  Domínio,  stà  perseuerante  in  fauonrci  con  magior 
fervore;  qui  è  un  porto,  ove  si  può  sperare  il  termine  delia  navi- 
gatione,  ogni  altro  varco  è  serrato,  bisogna  mantenerlo;  con- 
tido nella  paterna  pietà  di  S.  Beatitudine,  e  degli  Eminentissimi, 


272 


non  si  dimostrerà  scarsa  in  favorirlo,  e  privilegiado,  et  a  noi 
poverelli  recherassi  non  ordinário  contento. 

Intorno  à  Missionanj  douranno  venire,  mi  nmetto  à  quanto 
ho  detto  di  sopra,  e  se  nel  numero  giungerassi  à  cinquanta,  l'as- 
sicuro,  che  non  sarà  supérfluo;  procun  V.  S.,  che  per  d  camino 
le  sia  deputato  supenore  tale,  che  sia  secondo  (4)  il  cuor  di  Dio, 
e  dei  nostro  Seráfico  P.  S.  Francesco;  1'impetri  espressa  licenza 
dalla  Sagra  Congregatione  di  ricorrere  a  pecunia  di  quanto  sarà 
necessário  per  la  Missione,  non  potendo  in  altro  modo  buscarsi, 
essendo  questo  un  punto  sostantiale,  per  ovviare  à  molti  íncon- 
venienti,  e  con  favonrci  d'abondantissima  quantità  di  Medaglie, 
Reliquie,  et  altre  cose  divote,  essendo  qui  straordinanamente 
stimate,  assicunme,  e  tutti  i  nostri  Compagni,  con  1  quali  tutti 
faceio  à  V.  S.  Ill.ma  humilissima  nverenza,  ch'ella  non  si  dimen- 
tica  de  suoi  cari  figliuoli  assenti,  anzi  che  vantagiosamente  gli 
protege,  e  socorre  nell'Apostolica  Impresa.  / / 

Di  Pinda  (a),  nel  Contado  di  Manisogno,  il  giorno  delia 
Sagratissima  Pasqua  di  Pentecoste  (7)  dei  1645. 

Di  V.  S.  111.™ 

Servi  e  figliuoli  nel  Signor  e  Humilissimi 

Fra  Bonauentura  da  Alessano,  Capuccino 
Prefetto  e  Compagni 

APF  —  SRCG,  vol.  247,  fls.  122-125  v- 

NOTA  —  Este  documento,  de  muito  difícil  leitura  em  microfilme, 
foi  mandado  copiar  e  conferir  pelo  Director  do  Arquivo  da  Propaganda 
Fide,  R.  P.  Nicola  Kowalsky,  O.  M.  I.,  o  que  muito  lhe  agradecemos. 


(')  Dia  4  de  Junho. 


18 


273 


93 


RELAÇÃO  DE  FREI  ANGELO  DE  VALÊNCIA 
SOBRE  A  MISSÃO  DO  REINO  DO  CONGO 

(8-6-1645) 

SUMÁRIO  —  Descreve  a  viagem  até  ao  Congo  —  Os  mantimentos  e 
produtos  da  terra  —  Ministério  fecundo  —  Censura  os 
missionários  que  o  precederam  —  Fervor  extraordinário 
dos  cristãos,  penhor  de  fecunda  cristandade  futura. 

srr  NOMEN  DOMCNI  BENEDICTUM.  Infinitas  alabanças, 
y  gracias  sean  dadas  a  Dios  nuestro  Senor,  por  las  grandes  mise- 
ricórdias, y  singulares  fauores,  que  de  su  Diuina  mano  emos 
recebido  en  el  discurso  de  nuestra  nauegacion  tan  trabajosa, 
y  prolixa,  librandonos  de  tantos  pehgros,  y  consolandonos  en 
tanta  diuersidad  de  trabajos,  y  asistiendonos  sempre  en  los  mayo- 
res  apnetos  con  su  ayuda  y  defensa,  asegurandonos  con  esto, 
era  nuestra  empresa  agradable  a  sus  diurnos  ojos  y  el  [fruto] 
copiosíssimo  que  se  auia  de  hazer  en  tanta  multitud  de  almas, 
que  estauan  pereciendo  de  hambre  spintual,  sin  tener  quien  les 
repartiese  el  pan  de  la  dotrina  Euangelica.  Mucho  tiempo  era 
menester  para  hazer  deuidamente  copiosa  relacion  de  todo  lo 
sucedido  en  el  discurso  de  nuestro  viage,  y  nauegacion;  pero 
será  fuerza  abreuiar,  por  partirse  nuestro  capitan  antes  de  lo  que 
pensauamos,  a  causa  de  que  corre  riesgo  el  nauio  en  su  deten- 
cion,  por  lo  que  adelante  dirè. 

Aunque  de  las  Canárias  di  auiso  a  vuesa  candad  de  lo  su- 
cedido hasta  aquel  punto,  por  si  no  llegò  la  carta,  empeçarè  dei 
dia  en  que  partimos  de  Salucar,  que  fue  Sábado  a  quatro  de 
Febrero  dei  corriête  ano  de  1645.  a  'as  ^'ez  ^e  'a  mar*ana  con 
viento  fauorable,  y  con  tan  excesiuo  gozo  y  jubilo  de  nuestras 

274 


almas,  que  £ue  menester  le  templase  nuestro  Senor  con  el  tra- 
bajo  que  nos  embiò  su  Diurna  Magestad,  dandonos  esse  mismo 
dia  a  las  quatro  de  la  tarde  vn  viêto  contrario,  y  tan  fuerte,  que 
se  leuantò  vna  rigurosissima  tormenta  de  todas  maneras  peh- 
grosa,  assi  por  la  grande  alteracion  dei  mar,  como  por  cojernos 
cerca  de  tierra,  (que  fue  passada  la  boca  dei  estrecho  de  Gibral- 
tar en  la  costa  de  Berbéria)  metido  en  vn  médio  circulo  de  tierra, 
por  cuya  estrecha  abertura,  era  fuerza  correr  nuestra  fortuna,  o 
perecer  sin  remédio:  duro  lo  riguroso  de  la  tormenta  veinte  e 
quatro  horas,  y  eran  tan  grandes  [las]  olas  que  subian  hasta  el 
castillo  de  popa,  y  tan  fuertes  los  golpes  de  mar,  que  vno  solo 
lleuò  la  lancha  que  iba  sobre  el  nauio,  y  gran  parte  de  la  plaça 
de  armas,  y  eran  tales  los  balances  dei  nauio,  que  nos  lleuaua  de 
vna  banda  a  otra,  sin  dexarnos  afirmar  en  ninguna.  Mucho  nos 
descompuso  esta  tormêta  por  cojernos  tan  a  los  princípios,  y 
algunos  sin  auer  nauegado,  y  venir  tan  derepente,  el  mayor 
estremo  sin  que  precediera  médio  alguno,  y  assi  en  todos  durarõ 
muchos  dias  los  relieues  deste  regalo  que  nos  embiò  el  Senor; 
no  faltando  en  el  que  ofrecer  a  su  Diuina  Magestad.  Trabajo 
grande  fue  este,  pero  no  menor  fauor  de  la  prouidencia  Diuina, 
que  por  este  médio  nos  hbrò  de  otro  mayor  que  a  todos  tema 
cuidadosos  (no  tanto  por  nosotros,  como  por  el  Capitan,  y  gente 
dei  nauio)  por  auernos  dado  auiso,  vn  dia  antes  de  sahr  dei 
puerto,  que  andaua  vnos  nauios  de  Turcos  corsários  a  la  vista  de 
Cadiz  y  auian  cogido  vna  tartana,  y  augunos  barcos,  y  con  esta 
tormenta  los  desbarato  su  Diuina  Magestad,  acercandonos  a  las 
Islas  de  las  Canárias,  que  estan  trecientas  léguas  de  Sanlucar, 
donde  llegamos  a  catorze  dias  dei  dicho  mes  de  Febrero:  Aga- 
çagonos  mucho  el  Gouernador  o  General,  y  visitandonos  con  sus 
Oyderes  nos  lleuò  a  su  casa,  donde  nos  regalo,  y  embiò  doze 
camellos  carregados  de  panos,  galhnas,  y  otros  regalos.  Pero 
nosotros  acetamos  muy  poco,  por  tener  ya  lo  necessário  para  el 
viaje,  toda  la  gente  nos  agaçajò  mucho,  y  nos  pedian  que  para 
su  espiritual  consuelo  nos  quedasemos  algunos  en  su  compania, 

275 


prometiendose  de  la  nuestra  serian  santos;  pero  no  fue  posible 
consolarlos,  por  ser  fuerza  acudir  a  nuestra  obligacion,  y  mayor 
necessidad.  / / 

De  la  gran  Canária  partimos  luego,  continuando  en  el  dis- 
curso dei  viaje  los  mismos  exercícios  que  en  el  conuento,  como 
pequeno  consuelo  de  nuestras  almas,  dizindo  casi  todos  los  dias 
Missa,  y  algunos  a  cinco,  y  a  seis,  e  los  demas  comulgaban 
haziendo  a  toda  la  gente  dei  nauio  practicas  espintuales  tres  dias 
en  la  semana  (lo  que  fue  en  la  quaresma)  con  mucho  fruto  de 
sus  almas,  y  frequência  de  Sacramentos,  lo  qual  continuaron 
hasta  que  desembarcarõ,  que  para  gente  de  mar  fue  mucha 
fineza.  / / 

Luego  que  partimos  de  la  gran  Canária,  nos  dio  vn  viêto 
por  popa  que  nos  hazia  caminar  a  sinquenta  y  tres  léguas  por 
dia;  y  passando  el  Trópico  de  Cancro,  o  Tórrida  zona,  nos 
fuimos  acercando  a  la  línea  Equinozial,  y  faltandonos  cosa  de 
hocho  grados  para  llegar  a  ella,  tuvimos  tatás  calmas,  y  algunas 
turbonadas,  que  no  pudimos  llegar  hasta  diez  y  nueue  de 
Março.  // 

Passada  la  línea  se  fueron  continuando  las  calmas  y  tur- 
bonadas, y  si  corria  algun  viento,  lo  mas  ordinário  era  por  proa, 
con  que  nos  acercauamos  a  la  costa  dei  Brasil,  y  con  estar  el 
Congo  a  siete  grados  de  altura  dei  Polo  Antartico,  nos  alexarõ 
los  vientos  hasta  veinte  y  quatro,  médio  grado  mas  alia  dei 
Trópico  de  Capricórnio,  con  harto  cuidado  dei  capitan  y  piloto, 
por  verse  tan  vezino  a  el  Brasil,  pero  nuestro  Senor  nos  socorno 
con  viento  tan  fauorable  que  nos  durò  mas  de  vn  mes,  con 
que  nos  acercamos  a  la  costa  de  Angola,  q  dista  dei  Brasil 
mil  léguas;  y  el  dia  dei  glorioso  san  Felix  (*)  tuuimos  el  pn- 
mer  alegron,  pareciendoles  a  algunos  que  se  descubria  tierra, 
la  qual  [  ] .  A   los  veinte  y  cinco  de  Mayo,  dia  de  la 


(')  S.  Félix  de  Sigmaringa  celebra-se  em  24  de  Abril. 


276 


Ascension  de  nuestro  Seííor  Iesu  Christo,  y  Traslacion  de 
nuestro  padre  san  Francisco,  dia  en  que  su  diuina  Magestad 
dio  fin  dichoso  a  su  peregnnacion,  subiendose  a  los  Cielos,  y 
embiando  a  predicar  a  sus  Discípulos  por  diuersas  partes  dei 
mundo,  fue  seruido,  dieramos  dichoso  fin  a  nuestra  nauegacion, 
dando  fondo  a  las  doze  de  el  dia  en  este  puerto  dei  Congo, 
que  es  vn  remanso  que  haze  el  rio  Zayre,  cuya  boca  dizen  tiene 
siete  léguas  de  ancho;  y  es  el  mayor,  y  mas  rápido  que  ay  en 
toda  la  Africa.  // 

Bien  se  dexa  entender  el  Consuelo  y  gozo  que  ocuparia 
nuestras  almas,  viendonos  ya  en  el  puerto  tan  desseado,  con  sa- 
lud,  seguridad,  y  paz  despues  de  quatro  meses  de  nauegacion, 
sin  auer  visto  tierra  firme,  ni  isla  alguna  en  todo  este  tiempo, 
poco  despues  de  auer  salido  de  la  gran  Canária,  distando  delia 
este  puerto  mas  de  tres  mil  léguas,  libres  ya  de  tãtos  sobresaltos, 
trabaxos,  y  '  peligros,  experimêtados  en  tan  larga,  y  prolixa 
nauegacion;  si  bien,  ni  esta,  ni  aquellos  tan  grandes  como  nos 
presumíamos;  porque  se  a  portado  Dios,  como  muy  piadoso 
Padre-  // 

Estando  pues  todos  ocupados  en  rendir  a  Dios  nuestro 
Senor  las  deuidas  gracias,  y  alabanças,  por  tan  singulares  be- 
nefícios como  nos  a  hecho,  quiso  su  Diuina  Magestade  templar 
este  gozo  y  jubilo,  (tal  que  en  mi  vida  hasta  este  punto  no 
le  auia  tenido  mayor)  con  otro  trabajo  no  pequeno,  porque  el 
dia  siguiente,  poco  despues  de  auer  amanecido,  descubnmos 
vn  nauio  Olandes,  que  a  toda  prisa  se  acercaua  a  el  nuestro. 
Y  dando  fondo  en  distancia  proporcionada,  dio  muestras  de 
que  queria  pelear,  fiado  el  capitan  de  que  su  nauio  era  mayor 
que  el  nuestro,  y  mas  auentajado  por  su  mucha,  y  gruesa 
artilleria.  / / 

Preuinose  nuestra  gente  cõfessandose  todos  con  alientos 
grandes  de  vender  bien  sus  vidas;  y  firme  confiança  en  que 
Dios   nos   auia   de  dar  uitoria,  coximos  los  Missionários  vn 


277 


Chnsto  cada  vno,  y  nos  apercebimos  para  todo  suceso,  tomando 
los  puestos,  en  que  auiamos  de  ser  de  algú  prouecho.  / / 

 O 

Los  mãtenimientos  de  la  tierra  son  pan  de  maiz,  de  casaue, 
y  otras  raízes,  el  vino  de  palma,  que  es  harto  bueno,  y  se  parece 
a  la  loxa;  ay  otros  de  otras  yeruas  que  no  lo  es  tanto,  azeite 
tambien  de  palma,  algunas  legumbres  diferentes  de  las  de 
Europa,  cocos,  plátanos,  y  otras  frutas  que  por  alia  no  ay;  la 
tierra  es  frondosa,  ay  tales  arboles,  que  el  hueco  dellos,  ay  bas- 
tante lugar  para  vna  celda  de  las  nuestras.  La  tierra  general- 
mente  es  fértil,  ay  naranjas,  y  limones,  baças,  gallinas,  puercos 
y  cabras,  aunque  desto  poco.  Hasta  aora  emos  passado  con  le- 
gumbres, por  ayunar  quando  llegamos  la  quaresma  dei  Espiritu 
Santo;  el  agua  es  tan  buena  como  la  mejor  de  Espana,  y  con 
auernos  asegurado  que  enfermaríamos  en  llegando,  gozamos 
todos  salud,  siendo  mucho  el  trabajo  que  tenemos  en  bautizar, 
y  venir  con  el  rigor  dei  Sol  desde  Bança  a  Pinda,  casi  todos  los 
dias.  Admiranse  mucho  de  nuestro  modo  de  viuir,  y  que  no 
tenemos  interesse  por  los  que  bautizamos,  porque  solian  dar  a 
el  Sacerdote  (quando  aqui  los  auia)  vna  gallina  por  cada  nino 
que  bautizaua,  o  lo  que  equiualente  en  abalorio,  q  es  la  sola 
moneda  que  aqui  corre;  mas  se  admiraran  quando  vean,  que  ni 
de  entierros,  Missas,  ni  otra  accion  les  lleuamos  interes  alguno, 
y  que  no  pidamos  limosna  para  nuestro  sustêto,  sino  lo  presiso 
para  passar  la  vida  (3) ;  con  que  con  razon  embió  a  pedir  elRey 


(2)  Infelizmente  falta  pelo  menos  um  fólio  ao  documento,  sem 
dúvida  parte  interessante. 

(3)  Embora  o  autor  julgue  que  o  seu  desinteresse  material  é 
modelar,  a  metodologia  missiológica  moderna  não  o  pode  admitir. 
O  missionário  ou  o  sacerdote  nas  terras  de  missão,  como  cm  toda  a 
parte,  deve  viver  do  altar,  da  generosidade  dos  fiéis,  e  a  generosidade 
é  também  uma  alta  virtude  cristã.  Aliás  os  chamados  direitos  de  estola, 
ordenados  pela  Igreja,  que  consistiam  numa  galinha,  em  terras  em 


2j8 


de  Congo  a  su  Santidad,  ministros  Euangehcos  desintcreçados, 
porque  es  muy  pobre  la  gente,  y  el  que  aqui  viniere  no  a  de 
mirar  a  otro  interes  que  a  el  puro  amor  de  Dios,  y  su  mayor 
gusto  y  gloria,  que  es  el  mayor  para  quien  saue  estimarle. 
Admirales  la  solemnidad  con  que  bautizamos,  aunque  sean 
ochenta  de  vna  vez  en  vn  circulo,  porque  es  con  todas  las  ceri- 
monias de  la  Iglesia,  oleo  de  los  catecumenos,  crisma  (de  que 
venimos  bien  proueidos)  y  todo  quanto  ordena  el  Ritual  Ro- 
mano. Dizen  que  nuestro  bautismo  es  muy  principal,  porque 
hasta  aora  auian  visto  bautizar  los  infantes,  poniendoles  vna 
poca  de  sal  en  la  boca,  y  luego  echandoles  el  agua,  sin  mas 
ceremonias.  (4) 

El  mesmo  capitan  que  nos  truxo  se  ofrece  a  venir  con  los 
Missionários  que  de  nueuo  vinieren,  que  será  el  nauio  mayor, 
y  bien  artillado;  es  hombre  de  mucho  valor,  y  excelente  mari- 
nero,  llamase  Iuan  Bernardo  Halcon,  deuemosle  cada  vno  el 
amor,  y  obras  que  pudieramos  a  vn  hermano  nuestro  que  mos- 
tro en  ofrecerse  a  el  viage  [  ]  quien  lo  hiziese,  obligado 

segun  dize  de  impulso  tan  vehemente  que  le  obligò  dexar  su 
casa,  cabado  de  llegar  de  otro  viage  de  muchos  anos- 

De  esotra  parte  deste  no  Zayre  es  ya  otro  Reyno,  y  dizen 
que  todos  son  gentiles,  algunos  an  estado  aqui,  parece  gente 
dócil,  y  dispuestos  para  recibir  nuestra  santa  Fè,  y  aun  algunos 
dizen,  que  su  Rey  es  Christiano:  en  auiendo  estabelecido  aqui 
la  Fè,  passaremos  los  que  pudieremos  alia,  pues  los  tenemos 
tan  cerca.  Grade  es  el  respeto  que  aqui  tienen  a  los  Sacerdotes 


que  esta  ave  doméstica  é  tão  vulgar,  não  é  razão  bastante  para  se 
incriminar  de  interesseiro  a  quem  a  aceitava  ou  exigia,  e  decerto  que 
não  indiscriminadamente. 

(4)  Não  é  de  crer  que  os  missionários  portugueses,  que  no  Congo 
precederam  os  Capuchinhos  italianos  e  espanhóis,  de  século  e  meio, 
baptizassem  da  maneira  que  o  autor  da  carta  afirma,  fiado  no  que  os 
pretos  lhe  diziam,  ou  por  ele  exagerado. 


279 


quando  nos  enquentran,  o  viniendo  donde  estamos,  ay  muchos 
tan  piadosos  que  no  se  contentan  con  besar  a  vno  de  nosotros 
el  habito,  y  que  le  haga  la  Cruz  en  la  frente,  estando  arrodilla- 
dos,  o  muy  inclinados,  sino  que  passan  por  todos,  aunque  sea- 
mos  muchos;  cosa  que  no  solo  nos  edifica,  pero  nos  asegura 
con  el  fauor  Diurno,  que  en  estando  establecida  en  ellos  nuestra 
religion,  permanecerá  para  siempre  (5)  •  // 

Sea  todo  para  honra,  y  gloria  de  Dios,  y  nueuo  blason  de 
nuestra  Religion  Seráfica.  / / 

Fray  Angel  de  Valencia  / / 
indigno  Capuchino,  Misionario  Apostólico. 

Impreso  en  Cadiz,  por  Fernando  Rey.  Ano  de  1646. 

BNM  —  Ms.  3818,  fk  130-131. 

NOTA  —  O  documento,  impresso  em  Cadiz  em  1646,  é  assim 
enunciado  na  publicação  referida: 

COPIA  FIELMENTE  SACADA  DE  VNA  RELACION, 
QVE  EL  PADRE  FRAY  ANGEL  /  de  Valencia  Capuchino,  Predi- 
cador Apostólico,  y  Misionario  por  su  Santi-  /  dad,  Asistente  nel  Reyno 
dei  Congo;  embiò  a  esta  Prouincia  de  Andalu-  /  zia,  a  este  conuento 
de  santa  Iusta  y  Rufina,  extra  muros  de  los  Padres  Ca-  /  puchinos  de 
Seuilla,  para  que  conste  de  su  llegada,  y  progreso  aquel  /  Reyno  de 
Congo,  su  fecha  en  la  Ciudad  de  Pinda  /  en  el  dicho  Reyno,  a  ocho 
de  Iunio  /  de  1645  anos. 


(5)  Não  é  possível  harmonizar  a  praxe  ministerial  atribuída  pelo 
autor  aos  missionários  que  o  precederam,  toda  materialista  e  deslei- 
xada, com  estes  sentimentos  cristãos  que  os  inlígenas  manifestavam 
para  com  os  novos  missionários.  O  próprio  facto  de  ajoelharem  diante 
deles  e  de  lhes  beijarem  o  hábito,  é  indício  seguro  de  que  havia  ainda 
memória  dos  missionários  franciscanos  que  ali  tinham  trabalhado  no 
século  precedente.  Ou  pensaria  Frei  Ângelo  de  Valência,  simplisuca- 
mente,  que  aqueles  admiráveis  sentimentos  para  com  missionários  que 
acabavam  de  desembarcar,  eram  de  geração  espontânea?  \ 


280 


94 


CARTA  DE  FREI  JOÃO  DE  SANTIAGO 
AOS  CAPUCHINHOS  DE  CASTELA 

(11-6-1645) 

SUMÁRIO — -Descrição  sumária  da  viagem  -para  o  Congo  —  Perigo 
dos  Calvinistas  holandeses  —  Boa  recepção  dos  indígenas 
—  Observações  sobre  os  congueses  —  Que  se  lhes  man- 
dem mais  Religiosos  para  missão  tão  dilatada. 

Carta  de  el  P.e  Fr.  Juan  de  S.  Tiago  Religioso  Capuchino, 
inbiada  de  el  Rey  no  de  Congo  a  todos  los  Conuentos  de  esta 
Prouincia  de  Castilla.  Como  hijo  que  es  dela.  / / 

Mi  P.e  General.  Te  Deum  Laudamus,  te  Deum  laudamus, 
te  Deum  laudamus.  V.  R.ma  aiude  a  rendir  a  Su  Diuina  Ma- 
gestad  infinitas  gracias,  y  alabanzas  por  las  grandes  miseri- 
córdias, y  singulares  fauores,  que  de  su  diuina  mano  hemos 
reciuido  en  el  discurso  de  nuestra  nauegacion,  librandonos  de 
tantos  peligros,  consolandonos  en  tanta  diuersidade  de  tra- 
bajos,  y  obrando  tantos  prodígios  en  nuestra  aiuda  y  defensa, 
con  que  nos  aseguraba  Su  Diuina  Magestad  quan  agradable 
hera  nuestra  empresa  a  sus  diurnos  ojos,  y  el  copiosíssimo  fruto 
que  hauiamos  de  hazer  en  tanta  multitud  de  almas,  que 
estaban  pereciendo  de  hambre  espiritual,  sin  tener  quien  les 
repartiese  el  pan  de  la  doctnna  euangelica.  Quisiera  tener 
tiempo  para  haçer  una  copiosa  relacion  de  todo  lo  sucedido 
en  nuestra  nauegacion,  pero  por  estar  ia  de  partida  el  Capitan 
de  la  naue,  y  hauer  tanto  que  hazer,  no  es  posible,  i  asi  digo 
por  mayor  que  la  tubimos,  con  mucho  consuelo  espiritual  de 
nuestras  almas,  porque  continuabamos  por  la  mar  los  exercícios 
de  el  Conuento,  diciendo  casi  todos  los  dias  misa,  y  algunos  a 


281 


cinco  y  a  seis,  y  haçiendo  platicas  espirituales  cada  tercer  dia 
a  la  gente  de  el  nauio,  con  mucho  fruto  de  sus  almas,  que  a 
poços  dias  se  hallaron  tan  trocados,  que  frequentaban  mui  a 
menudo  los  Santos  Sacramentos  y  haiunos  y  hacian  algunas 
disciplinas,  que  para  gente  de  mar  no  ha  sido  pequena  fineza, 
a  Dios  sean  las  gracias.  / / 

El  mismo  dia,  que  salimos  (*)  de  el  puerto  de  S.  Lucar,  que 
fue  a  los  quatro  de  febrero,  saliendo  con  buen  tiernpo,  y  viento 
mui  faborable,  nos  le  troco  nuestro  Senor,  dentro  de  quatro 
horas,  en  otro  tan  contrario,  y  violento,  que  lebantó  una  rigu- 
rosa  (2)  tormenta,  de  todas  maneras  peligrosa,  asi  por  la  altera- 
cion  grande  de  el  mar,  como  por  cogernos  tan  cerca  de  tierra, 
que  fue  a  uoca  de  el  estrecho  de  Gibraltar  metidos  en  una  C.  de 
tierra,  por  cuja  estrecha  auertura  era  fuerza  correr  mucha  (â) 
fortuna,  o  perecer  sin  remédio:  duro  lo  nguroso  de  la  tormenta 
veinte  y  quatro  horas  continuas,  y  heran  tan  grandes  las  olas 
que  subian  sobre  el  castillo  de  popa,  que  es  lo  mas  eminente 
dei  nauio,  y  tan  fuertes  los  golpes  de  mar,  que  uno  solo  lleuó  la 
lancha,  que  estaua  dentro  dei  nauio,  y  gran  parte  de  la  plaza  de 
armas:  los  valances  de  el  nauio  heran  de  suerte,  que  andabamos 
rodando  como  bolas  por  la  camará  de  popa:  mucho  nos  des- 
compuso  a  los  Religiosos  esta  tormenta  por  cojernos  tan  a  los 
princípios,  y  a  los  mas  sin  hauer  nunca  nauegado,  exprimen- 
tando  luego  el  maior  estremo,  sin  que  precediera  médio  alguno, 
y  asi  nos  duraron  muchos  dias  sus  efectos  sin  poder  atrauesar 
uocado,  ni  tenernos  en  pie.  / / 

Trauajo  fue  este  general,  pero  no  menos  el  fauor  de  Dios, 
que  por  este  médio  fue  seruido  de  libramos  de  un  gran  peligro 
que  a  todos  nos  tenia  cuidadosos,  por  hauer  tenido  hauiso  el 
dia  antecedente  que  andaban  a  la  uista  de  Cadiz  unos  turcos 


(*)  APF  —  partimos. 
(2)  APF  —  rigorosíssima. 
(»)  APF  —  nuestra. 


282 


corsários,  que  auian  cogido  una  tartana,  y  algunos  vassos  de 
pescadores  y  cautibado  sus  duenos,  y  con  esta  tormenta  los 
desbarato  Su  Diuina  Magestad,  acercandonos  nosotros  a  las  Islas 
de  la  Gran  Canária,  que  estan  100  léguas  de  S.  Lucar:  tubimos 
luego  dos  o  tres  dias  de  calmas,  y  a  los  catorze  dei  dicho  mes 
de  febrero  llegamos  a  ellas;  agasajonos  mucho  el  Gouernador, 
y  nos  uino  ha  uísitar  con  sus  oídores  a  la  plaia,  lleuandonos  a 
sua  casa  donde  nos  regalo  mucho,  y  nos  inuió  dos  camellos, 
cargados  de  regalos,  toda  la  gente  nos  agasajó  muchissimo,  y 
deseauan  desde  el  pnmer  asta  el  último  nos  quedasemos  alli 
algunos  para  su  Consuelo,  pero  no  fue  pusible  consolarlos  por 
ser  fuerza  el  acudir  a  la  maior  necesidad  y  auer  halh  Conuentos 
de  nuestro  P.e  y  S.t0  Domingo.  / / 

Salimos  de  la  Gran  Canária  (4)  con  un  uiento  fresco,  que 
nos  daba  por  popa,  ã  nos  hacia  caminar  53  léguas  cada  dia, 
y  dentro  de  mui  poços  nos  hallamos  deuajo  dei  trópico  de  Can- 
cro, nos  hibamos  acercando  a  la  línea  equinocial,  que  es  la  que 
diuide  los  dos  Poios  dei  mundo,  y  asi  tardamos  a  la  línea  hasta 
los  19  de  marzo,  dia  de  el  gloriosíssimo  Patriarcha  S.  Joseph, 
que  nos  hallamos  de  esotra  parte  dei  Sur,  perdiendo  el  Polo  Ar- 
tico,  y  gouernandonos  por  el  Antartico,  adonde  teniamos  el  Sol 
perpendicular  sobre  la  cabeza,  y  los  cuerpos  no  hacian  ninguna 
sombra.  Aqui  nos  abrassauamos  de  calor  y  a  no  templário  nues- 
tro Senor  con  algunos  nublados,  que  nos  duraron  algunos  dias, 
fueran  insufribles.  Pasada  la  equinocial  tubimos  vientos  contrá- 
rios, que  nos  fueran  apartando  de  nuestro  rumbo,  y  acercando- 
nos al  Brasil,  y  con  estar  Congo  a  siete  grados  de  altura  de  el 
Polo  Artico,  nos  hapartaron  los  uientos  hasta  uiente  y  quatro 
grados  dei  mismo  Polo,  médio  grado  mas  alia  dei  trópico  de  Ca- 
pricórnio, prolongando  nuestro  viage  mas  de  mil  léguas:  luego 
nos  fauorecio  nuestro  Senor  con  un  biento  fresco,  que  nos  duro 
mas  de  vn  mes,  y  nos  hacercó  a  la  costa  de  Angola,  y  a  los  25 


(*)  Não  se  encontra  em  APF. 

2  S3 


de  maio,  dia  de  la  Ascension  de  Chnsto  nuestro  Senor,  y  tres- 
lacion  de  nuestro  P.e  S.  Francisco,  a  las  dos  de  la  tarde  llega- 
mos  a  este  deseado  puerto  de  Congo,  que  es  un  remanso  que 
haze  el  Rio  Pinda  (5),  cuja  boca  tiene  diez  léguas  de  ancho  y 
es  el  maior  y  el  mas  rápido  que  se  conoce  en  toda  la  Assia  (6) ./ / 
Grande  fue  el  gozo  y  consuelo  que  reciuimos  de  uernos  ia 
en  el  puerto  con  salud,  seguridad,  y  paz,  despues  de  quatro 
meses  de  nauegacion,  y  hauiendo  caminado  mas  de  mil  léguas 
desde  la  Gran  Canária,  sin  hauer  uisto  tierra  ni  isla,  libres  ia 
de  tantos  sobresaltos,  y  tantas  maneras  de  trabajos,  y  peligros 
como  hauiamos  esprimentado  en  el  discurso  de  tan  larga  y 
peligrosa  nauegacion;  y  estando  todos  ocupados  en  rendir  a 
nuestro  Senor  infinitas  gracias  por  tantos  benefícios,  quiso  la 
Diuina  Magestad  templar  un  tan  gran  gozo  con  otro  no  me- 
nor trauajo:  porque  el  dia  seguiente  al  amanecer  descubrimos 
un  nauio  olandes,  que  a  toda  priesa  se  uenia  acercando  al  nues- 
tro, y  dando  fondo  en  distancia  proporcionada  para  pelear,  dio 
muestras  de  quererlo  hacer,  fiado  su  Capitan  en  que  su  nauio 
hera  un  tercio  maior  que  el  nuestro  y  artilleria  mui  abentajada, 
en  cantidad  y  calidad.  Preuinose  nuestra  gente,  y  ia  nuestro 
Capitan  hauia  ordenado  se  diese  fuego  a  las  piezas.  Pero  fue 
Dios  seruido  que  no  lo  oiessen  los  artilleros,  por  estar  [en]  a 
la  sazon  porfiando  acerca  de  la  disposicion  de  la  guerra,  y  lo 
tubimos  por  gran  misericórdia  suia,  porque  con  esta  dilacion, 
que  fue  de  dos  o  tres  credos,  pudieron  aduertir  los  Religiosos 
al  Capitan,  que  seria  mejor  esperar  a  que  disparase  el  ene- 
migo,  porque  parecia  se  hiba  entreteniendo;  todos  estabamos 
arto  cuidadosos  a  la  uista  de  tan  fieros  enemigos  da  la  Religion 
Christiana,  sin  poder  saltar  en  tierra,  ni  pasar  adelante,  o  uolver 
atras,  sin  euidente  peligro  de  la  uida,  pero  mui  abroquelados 
nuestros  corazones,  sintiendo  en  si  cada  uno  el  efecto  de 


(5)  Entcnda-se:  o  Rio  Zaire. 
(a)  Lege:  Africa. 

284 


aquellas  palabras  de  S.  Pablo:  Si  Deus  pro  nobis,  quis  contra 
nos:  con  firme  y  uiua  fe  y  segura  confianza  en  Dios,  la  Virgen 
Santíssima  nuestra  Protectora  y  Patrona,  que  no  hauian  de 
permitir  que  pereciessemos  en  el  puerto,  hauiendonos  librado 
de  tantos  peligros  en  el  Golfo,  como  lo  hicieron  con  tanta  gloria 
nuestra,  y  confusion  de  los  herejes,  que  entendiendo  uencer, 
quedaron  confusos  y  uencidos.  / / 

Tubimos  noticia  que  estaban  esperando  un  patache,  con  cuia 
aiuda  se  aseguraban  la  presa  de  nuestro  nauio,  sin  menoscabo  de 
el  suyo,  y  que  por  esta  causa  diferian  la  pelea:  y  nuestro  Capitan 
con  dos  Religiosos  se  fue  en  la  lancha  Rio  arriba  para  tomar 
lengua  de  lo  que  pasaba  en  este  Reyno,  y  sauer  si  hera  Catholico 
el  Conde  Manisono,  que  es  un  grande  de  el,  y  panente  muy 
cercano  dei  Rey;  caminaron  tres  léguas  Rio  arriba  hasta  llegar 
a  este  lugar  de  Pinda,  que  es  el  pnmer  donde  se  entra  a  este 
Reyno  de  Congo,  y  sabiendo  que  todos  heran  Cahtolicos  pasaron 
a  otro  lugar,  que  está  media  légua  de  Pinda,  que  se  llama 
Banza,  donde  reside  el  Conde  de  ordinário;  hablaronle,  y  el 
los  reciuio  con  singulares  muestras  de  alegria,  y  quedandose 
con  los  Religiosos  ínbió  con  nuestro  Capitan  a  un  sobrino  suio 
para  que  en  su  nombre  diese  la  uienuenida  al  P.e  Prefecto  y  a  los 
demas  Religiosos  y  a  su  Capitan  General  con  algunos  Caualleros 
(que  por  acá  llaman  fidalgos)  para  que  intimase  al  Olandes  no 
pelease  con  nosotros,  y  juntamente  algunas  canoas  (que  son 
unos  arboles  huecos,  yue  por  cá  siruen  de  barcos)  para  que  fue- 
sen  traiendo  los  ornamentos  y  libros  con  todo  demas  que  em- 
barcamos para  nuestro  ministério.  / / 

Pero  el  Olandes  no  queria  permitir  se  sacase  nada  de  el 
nauio,  pretendiendo  que  aquel  sitio  no  hera  junsdiccion  de  el 
Conde,  sino  lugar  comun,  y  por  hauer  pasado  nuestro  nauio  por 
la  Costa  de  Angola,  que  hera  suia,  debia  nuestro  Capitan  mani- 
festar los  pasaportes,  pidiendolos  con  apretadas  instancias,  y 
que  si  por  uien  no  se  los  ensenaba,  que  los  sacarian  por  armas, 
sin  guardar  ningun  respeto  al  Sobrino  de  el  Conde,  ni  a  los 

2C?5 


demas  Caualleros  que  nos  acompanaban  en  el  nauio;  y  viendo 
el  P.e  Prefecto  el  pehgro  que  cornan  los  Religiosos,  determino 
se  quedasen  tres  en  el  nauio,  para  confesar  y  animar  a  la  gente 
y  que  a  los  demas  nos  hechasen  en  tierra.  / / 

Vinose  nuestro  Capitan  con  nosotros,  para  pedir  socorro  al 
Conde,  y  el  Capitan  olandes  nos  uino  siguiendo  por  el  Rio, 
para  informarle  tanuien  dei  derecho  que  tenia,  para  obligarnos  a 
que  manifestasemos  los  pasaportes;  llegamos  a  un  mismo 
tiempo,  y  hablandole  nosotros  pnmer,  nos  reciuio  con  singulares 
muestras  de  alegria,  dando  a  Dios  mil  alabanzas,  por  hauerle 
trahido  Religiosos  a  su  tierra  en  tiempos  de  tan  estrema  nece- 
sidad.  Leimosle  el  breue  de  su  Santidad,  y  le  uesó  y  ueneró 
con  mucha  debocion,  poniendole  sobre  su  caueza;  llegando  a 
la  sazon  el  Capitan  olandes  con  un  fator  que  aqui  tienen  los 
Olandeses  de  Angola  para  el  rescate  de  el  marfil,  y  otras  cosas, 
y  proponiendo  el  hereje  al  Conde  su  pretension,  el  do  dispuso 
de  suerte  que  a  pesar  suio  se  desembarco  quanto  trahiamos,  y 
hizose  subiese  el  nauio  a  otro  puerto  mas  seguro,  donde  el 
Olandeses  no  le  pudiese  ofender.  / / 

Reciuionos  toda  esta  pobre  gente  con  singulares  demostra- 
ciones  de  alegria,  venian  por  estes  campos  ynumerables  hom- 
bres,  mugeres,  y  ninos  desolados  a  rojarse  a  nuestros  pies  con  sin- 
gular deuocion,  hincandose  de  rodilhas  y  poniendo  las  manos 
nos  pedian  les  hiciesemos  la  senal  de  la  cruz  en  la  frente,  y 
besando  con  mucho  afecto  el  Santo  Crucifijo,  que  cada  uno  de 
nosotros  llebabamos  en  el  pecho,  y  luego  se  boluian  brincando 
y  cantando  de  plazer,  abrazandose  los  unos  con  los  otros  de 
alegria,  asta  los  ninos  de  quatro  anos.  / / 

No  anda  la  gente  desnuda  de  el  todo,  sino  solo  de  médio 
cuerpo  arriba,  y  los  mas  trahen  cubierto  el  pecho  y  las  espaldas 
con  unas  redes  tejidas  de  íerua,  y  los  fidalgos  con  una  capa  y 
aun  los  ninos  de  dos  o  tres  anos  andan  con  unas  mantilhcas 
cortas,  tejidas  de  íerua,  por  la  honestidad  v  decência;  toda  la 
gente  de  este  Reyno  es  Catholica,  que  son  seis  Prouincias,  mui 

286 


dócil,  y  mui  pia,  lindos,  naturales  y  mui  dispuestos  para  hacer 
dellos  quanto  quisiermos  y  por  falta  de  ministros  Euangelicos 
estan  introducidos  muchos  abusos,  y  enfin  toda  sua  Cristandad 
por  la  maior  parte  se  uiene  a  reducir  a  solo  el  culto  estenor  de 
la  Cruz,  y  las  imagenes,  sin  sauer  los  mistérios  de  nuestra  fe,  ni 
lo  que  se  deve  obrar  para  saluarse,  y  esto  no  por  culpa  suia,  sino 
solo  por  falta  de  quien  se  lo  ensene,  que  con  ser  tan  dilatado  este 
Reyno,  solo  ai  en  el  nueue  Sacerdotes,  siete  de  la  tierra  y  dos 
Religiosos  de  la  Compaííia  de  Jesus  que  esta  en  la  Corte  de 
el  Rey,  que  se  llama  da  Ciudad  de  S.  Saluador;  y  en  todo  este 
Condado,  con  ser  tan  grande  y  poderoso,  ha  quatro  anos  que 
ninguno  se  bautiza,  ni  oie  misa,  ni  confiesa,  por  no  hauer 
Sacerdote  que  les  administre  los  Sacramentos,  y  asi  se  estubieran 
siempre  si  Dios  no  nos  hubiera  traido  aqui  para  remédio  de 
tanta  multitud  de  almas,  que  cierto  es  la  maior  lastima  dei 
mundo,  que  haian  perecido  tantas,  y  nos  tenemos  por  los  hom- 
bres  mas  felices,  y  dichosos  que  ai  en  el,  por  auernos  hecho  su 
Diuina  Magestade  merced,  pue  seamos  obreros  de  tan  copiosa 
mies,  acudiendo  al  remédio  de  tantas  almas  à  costa  de  tantos 
trabajos,  como  hemos  padecido,  y  los  muchos  que  actualmente 
exprimentamos,  y  esperamos  padecer.  / / 

Lo  mas  que  ai  que  ponderar  en  esta  gente  es  que  siendo 
todos  tan  senzillos,  y  ignorantes,  y  tan  superficial  su  chis- 
tandad,  hauiendo  intentado  los  herejes  de  Angola  introducir 
aqui  sus  heregias,  ninguno  ha  querido  oirlos,  y  a  ninguno  se 
le  ha  pegado  nada  de  su  maldita  pestilência,  y  quando  uiene 
alguno  al  rescate  de  el  marhl,  escupen  quando  le  ben,  como  se 
uieran  al  Demónio,  y  asi  no  me  admiro  aia  intentado  estoruar 
tantas  uezes,  y  con  tanto  esfuerzo  esta  mision,  porque  hechaua 
mui  bien  de  ver  el  traidor  copiosíssimo  fruto,  que  se  hauia  de 
hazer  en  tantas  almas,  que  se  le  entrauan  por  las  puertas  de  el 
Infierno,  sin  ninguna  resistência,  y  por  no  tener  quien  les  enca- 
minase  y  defendiese  de  sus  infernales  lazos;  pero  io  espero  en 
Dios  que  con  su  diuina  auida,  le  desterraremos  presto,  a  pesar  de 

287 


sus  infernales  astúcias,  como  ia  lo  bamos  esprimentando,  pues 
en  cosa  de  ocho  dias  hemos  bautizado  en  este  lugar,  y  en  otro 
que  está  media  légua  de  el,  mas  de  mil  y  quinientos  muchachos, 
y  cada  dia  ban  traiendo  muchissimos  de  los  lugares  vecinos.  / / 
La  tierra  es  miserabilissima,  las  casas  principales,  y  las 
Iglesias,  son  de  paja  y  palma  entretejidas  a  moda  de  esteras  y 
canizos,  sin  barro  ni  otra  cosa,  y  la  que  aora  hauitamos  doze  reli- 
giosos mientras  nos  diuidimos,  se  fabrico  en  menos  de  quatro 
horas  de  donde  se  poderá  colegir  qual  será.  Hizola  haçer  el 
Conde  junto  a  la  Iglesia  de  el  lugar,  que  tanuien  es  de  la  misma 
calidad,  cuia  invocacion  es  de  la  puríssima  Concepcion,  y  tiene 
una  Imagen  de  nuestra  Senora  de  bulto,  muito  debota,  y  otra  de 
S.  Antonio  de  Pádua,  y  un  quadro  de  nuestro  P."S.  Francisco,  de 
pintura  mui  escojida,  mui  deuoto  y  con  hauito  de  Capuchino, 
con  sus  Cálices  y  vinajeras  de  plata,  y  ornamentos  de  rás.  En- 
tienden  la  lengua  Portuguesa,  y  hablan,  que  es  grande  auida  de 
costa,  para  instruir  por  interpretes,  asta  que  sepamos  uien  la 
lengua,  que  no  (7)  dejará  de  costar  trabajo.  A  Dios  llaman 
Zanbianpungo,  a  los  muchachos  muleque,  al  agua  maza,  al 
vino  de  palma  malafu,  y  lo  demas  a  este  tono.  / / 

o  nos  diuidiremos  por  diuersas  partes  de  este  Reyno, 
para  ir  cultibando  esta  copiosa  viíía  de  el  Senor,  tan  llena  de 
abrojos,  y  espinas,  que  sin  duda  nos  habrá  de  costar  mucho 
trabajo,  pues  será  fuerza  hacer  cada  uno  el  oficio  de  cura,  y 
decir  dos  missas  en  diferentes  lugares,  que  segun  es  la  fuerza 
de  el  sol,  si  Dios  no  nos  hasiste  con  singular  prouidencia,  presto 
rendiremos  la  uida  a  mano  de  las  inclemências  de  el  tiempo, 
y  en  esta  tierra  no  se  puede  caminar  de  noche,  porque  ai  en 
ella  muchas  onzas  y  tigres  ( sic )  y  culebras  de  escesiua  grandeza, 
elefantes,  y  otros  géneros  de  fieras,  y  asi  quien  tubiere  voluntad 
de  padecer  martírio,  no  tiene  que  ir  a  buscarle  a  otra  parte,  que 

(7)  Falta  cm  APF. 

288 


Audiência  do  Rei  do  Congo  D.  Garcia-Afonso  II 
Aos  Capuchinhos  Italianos  (yç)-i6/f.$) 

(i_.abat  —  Relation  Historique,  III) 


aqui  lc  hallará  tan  prolongado  que  equibalga  a  mil  martírios,  y 
con  tan  copiso  fruto  quanto  pucda  desearse.  / / 

Pero  es  tan  esccssivo  el  consuelo  que  nuestro  Seiíor  comunica 
en  médio  de  estos  trabajos,  que  no  merecen  este  nombre,  sino  de 
comphdos  deleites,  que  alfin  lo  haze  su  diuina  magestade  como 
quien  es,  dando  el  ciento  por  uno  en  esta  uida,  que  quando  no  se 
esperara  la  eterna,  quedaran  mui  bien  premiados  los  trabajos 
de  muchos  anos,  con  los  gustos  de  una  hora,  1  asi  por  su  diuino 
amor  ruego  humilmente  a  vucstra  caridad  que  quanto  fuere  de 
su  parte  fomente,  aliente,  y  aiude  a  todos  los  Religiosos,  que 
mouidos  de  el  uien  de  las  almas,  quisieran  uenir  ajudamos  a 
cultiuar  esta  gran  vina  dei  Senor,  tan  desierta  e  inculta,  que  por 
muchos  que  uengan  sicmpre  seran  poços,  respeto  de  lo  mucho 
que  ai  que  hazer.  Llegamos  a  mui  bucna  sazon  para  hazer 
paccs  entre  el  Rey  y  el  Conde,  y  escusar  una  gran  batalla  que  ia 
estaua  publicada  y  poços  dias  antes  que  llegasemos  se  le  hauian 
dado  otra,  en  que  muno  mucha  gente,  venziendo  el  Conde  al 
Rey  y  cautibandole  su  hijo  heredero,  que  tiene  aqui  en  su  casa; 
son  mui  diestros  en  arco  y  flecha,  y  pelean  tan  uien  los  mu- 
chachos  de  seis  y  ocho  anos,  como  los  hombres  de  treinta;  luego 
se  partirá  el  P."  Prefecto  a  la  Corte  de  el  Rey,  que  está  50  léguas 
de  aqui,  a  disponer  las  Paces,  con  que  se  escusaran  muchos 
muertes.  / / 

Para  esta  gente  no  son  menester  muchas  letras,  sino  mucho 
feruor,  y  ânsia  de  la  saluacion  de  sus  almas,  palabras  sencillas, 
y  amor  de  la  cruz  de  Chnsto,  y  perder  el  miedo  a  los  trauajos  y 
muerte  (8),  que  con  esto  se  hará  copiosíssimo  fruto;  y  cierto 
que  es  gran  lastima,  que  hauiendo  por  estas  partes  tanta  ínfini- 
dad  de  almas,  que  perecen  por  falta  de  obreros  Euangehcos,  y 
tanta  dispostcion  para  cojer  copioso  fruto, se  esten  tantos  sacerdo- 
tes y  predicadores  por  alia,  quemando  las  cejas,  y  trasnochando 
en  reboluer  sumas  y  discurso  predicables,  con  mucho  desuelo,  y 

(8)  Outro  tanto  dizia  S.  Francisco  Xavier. 

19 


poco  fruto,  v  donde  todos  sauen  sus  obngaciones.  Ai  cerca 
de  aqui,  de  la  otro  parte  de  el  Rio,  un  sin  numero  de  gente  que 
no  conoce  a  Dios,  y  por  no  hauer  uísto  nunca  Catholicos  uiuen 
gentilmente  como  brutos,  como  lo  espnmenté,  en  quatro  negros 
que  encontre  en  el  Rio,  que  preguntadoles  por  interprete  a  que 
Dios  adoraban,  me  respondieron,  que  no  sauian  que  hera  Dios, 
y  asi  que  no  adorauan  a  ninguno;  y  preguntandoles  10  como 
uiuian  una  uida  tan  brutal,  me  respondieron  que  porque  no 
sauian  otra  cosa,  ni  tenian  quien  se  lo  ensenase;  y  diciendoles 
io  si  quenan  ser  Chnstianos  y  bautizar-se,  me  dijeron  que  si, 
por  uer  que  no  los  podia  remediar  tan  derrepente;  y  en  toda  esta 
tierra  a  dentro  ai  infinita  gente  alarbe,  donde  se  podran  uer 
logrados  los  deseos  de  el  martírio,  despues  de  hauer  ganado 
muchas  almas  para  Dios.  V.  Caridad  nos  encomiende  a  Dios 
mui  apretadamente,  pues  saue  quanto  necessitamos  dello  y  a 
todos  nosotros  le  uer  en  el  Cielo  (9) . 

De  Pinda,  [oy]  dia  de  la  Santíssima  Trinidad,  a  i  i  de 
Junio  de  1645. 

Fr.  Juan  de  S.  Tiago,  Indigno  Capuchino 

Dos  Padres  Missionários  se  parten  con  el  nauio  para  nego- 
ciar en  Roma  otra  mission,  y  podrá  ser  pasen  por  Madrid,  y  assi 
nos  prometemos  vendran  presto  muchos  Religiosos  de  las  Pro- 
uinçias  de  Espana  (10). 

BIBLIOTECA  DE  PALACIO  (Madrid)— Ms.  2557,  fls.  1-2  v. 
APF — SRCG,  vol.  247,  fls.  120-120  v.  c  127-127  v. 
Publicado  também  pelo  R.  P.  F.  Leite  de  Faria  em  Portugal  cm 
Africa,  Lisboa,  1953  (X),  p.  327-331. 


(°)  APF  —  Y  a  todos  nos  deje  ver  cn  Çiclo,  donde  lc  alabare- 
mos  eternamente. 

(10)  Parágrafo  acrescentado  cm  APF. 


290 


95 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
A  FR.  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 

(12-6- 1645) 


SUMÁRIO  —  Confirmação  de  faculdades  —  Renovação  do  Breve  de 
Urbano  VIU  para  o  Rei  do  Congo,  por  Inocêncio  X. 

Essendosi  rappresentate  à  questa  Sacra  Congregatione  de 
Propaganda  Fide,  tenuta  in  questi  giorni  d'inanzi  à  Nostro 
Signore,  le  instanze  di  V.  R.  con  le  sue  lettere  delli  1 3  Genaro, 
è  piaciuto  à  S.  Beatitudme  non  solamente  confermare  le  facoltà 
altre  uolte  concessele  da  Papa  Vrbano  VIII,  di  felice  memoria, 
ma  concedere  ancora  à  lei,  et  à  tutti  li  suoi  compagni,  la  bene- 
ditione  apostólica;  et  d'ordinare  la  speditione  d'un  altro  breue 
diretto  al  nuouo  Rè  dei  Congo,  dei  tenore  dei  già  scritto  al  Rè 
D.  Alvaro,  in  raccomandatione  de  suoi  missionarij;  spedito  che 
sara  il  detto  breue  si  manderà  à  V.  R.,  che  Dio  contenti.  / / 

Roma,  12  Giugno  1645. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  23,  fls.  90  V.-91. 

NOTA  —  Sobre  o  mesmo  problema  produziram-se  ainda  os 
documentos  seguintes,  respectivamente  endereçados  ao  Colector  Apos- 
tólico em  Lisboa  e  ao  P."  Boaventura  de  Alessano: 

Se  bene  il  Padre  Bonauentura  d'Alessano,  Prefetto  delia  Missione 
de  Capuccini  nel  Congo,  hà  un  breue  delia  santa  memoria  di  Vrbano 
Ottauo,  diretto  al  Rè  di  Congo,  tuttauia  è  paruto  bene  à  questa  Sacra 
Congregatione  de  Propaganda  Fide,  da  farlo  rinouare  dalla  Santità  di 
Notsro  Signore;  pêro  si  manda  à  V.  S.  coll'agionto  piego,  acciò  l'inuij 
al  medessimo  Padre,  ouero  al  Padre  Bonauentura  di  Tagia,  Vice  Pre- 


29/ 


fetto  delia  sudetta  Missione.  Che  per  fine,  non  moccorrendo  altro  à 
V.  S.  prego  dal  Signor  Jddio  vera  prosperità.  / / 
Roma,  li  15  Nouembre  1645. 

APF  —  Lettcre  Volgari,  vol.  23,  fls.  183  V.-184.  —  Cfr.  doe.  n.°  117. 

Esendo  passato  à  miglior  vita  la  felicc  memoria  d  Urbano  Ottauo, 
che  scrisse  il  Breue  per  cotesto  Rè,  consignato  qui  à  V.  R.,  è  paruto 
bene  à  questa  Sacra  Congregatione  de  Propaganda  Fide  dinuiargli 
1  aggionto  delia  Santità  di  Nostro  Signore  Jnnocentio  X,  sperando  che 
sara  di  piíi  profitto  à  cotesta  sua  Missione.  Si  compiacerà  V.  R.  di 
aceusarmene  la  riceuutta  et  il  Signor  Iddio  la  prosperi. 

Roma,  li  15  Nouembre  1645. 

APF  —  Lettcre  Volgari,  vol.  23,  fl.  184.  —  Cfr.  doe.  n."  117. 


2J2 


96 


CARTA  DO  PROVINCIAL  DE  CASTELA 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(13-Ó-1645) 

SUMÁRIO  —  Solicita  a  interferência  da  Propaganda  Fide  contra  a  pre- 
tensão dos  Confrades  da  Andaluzia,  que  desejavam  con- 
seguir de  el-Rei  facilidades  para  se  embarcarem  para  o 
Congo  —  Razoado  de  Frei  Cristóvão  de  Alorentin  sobre 
a  situação  económica  do  governo  espanhol. 

Los  Padres  Capuchinos  dela  Prouincia  dei  Andaluzia  han 
obtenido  de  esa  Sacra  Congregacion  de  propaganda  fide,  liçen- 
çia  para  ir  Misionarios  in  Regnum  Nigritorum.  Pretenden  venir 
a  esta  Corte  de  Madrid  a  solicitar  tres  diligencias:  la  primera 
pedir  liçençia  al  Consejo  para  entrar  alas  índias;  la  segunda 
pedir  al  Rey  nuestro  Senor  embarcaçion;  la  terzera  ayudas  de 
costo  para  ella.  / / 

Con  toda  modéstia  Religiosa  propomdré  las  imposibilidades 
desta  pretension,  para  que  la  Sacra  Congregacion  pueda  con 
mayor  dehberaçion  juzgar  si  es  combeniente  que  estes  Padres 
Misionarios  dei  Andaluzia  vengan  a  esta  Corte  para  la  preten- 
sion de  arriba./ / 

La  pirmera  diligencia  se  les  denego  a  vnos  Misionarios 
dei  Congo  de  nuestra  Orden,  no  juzgando  combeniente  el 
Consejo  delas  índias  que  en  aquellos  Reynos  entrasen  Religiosos 
mas  que  delas  Ordines  que  alli  ay,  con  que  esta  pretension 
delos  Padres  Misionarios  dei  Andaluzia  ya  es  imposible.  / / 

La  segunda  diligencia  dela  embarcaçion  tambien  se  les  fué 
denegada  aios  Misionanos  dei  Congo,  por  juzgar  inevitable 
y  çierto  el  pehgro  de  perderse  la  naue  y  gente  que  la  auía  de 


203 


gouernar,  por  la  larga  nauegaçion,  por  ser  solo  el  vaso  y  por 
estar  la  mar  llena  de  cosanos  y  enemigos,  Con  que  tambien  por 
esta  parte  queda  tambien  imposibilitada  la  segunda  diligençia 
que  en  esta  Corte  quieren  hazer  los  Padres  Misionanos  dela 
Prouinçia  dei  Andaluzíia.  / / 

La  terzera  diligencia,  porque  quieren  venir  a  esta  Corte, 
es,  para  solicitar  todo  el  subsidio  neçesario  para  esta  embar- 
caçion.  El  Rey  nuestro  Senor  con  la  ocasion  tan  grande  de  sus 
guerras  tiene  sus  vasallos  desangrados  sin  poderio  escusar  y 
tan  oprimidos  como  la  experiência  lo  muestra.  Querer  los  Padres 
Misionarios  dei  Andaluzia  con  esta  su  pretension  que  los 
Ministros  de  su  Magestad  desangren  mas  a  sus  vasallos,  el  juí- 
zio  y  sentimiento  desta  proposiçion  en  qualquiera  entendimiento 
bien  se  conoçe  quam  intempestibo  es  y  sin  razon.  / / 

Y  es  tanta  verdad  esta,  que  teniendo  esta  Prouinçia  dos 
combentos  de  Su  Magestad  en  fabrica,  el  vno  en  esta  Corte, 
fundaçion  dela  Reyna  nuestra  Senora,  que  este  en  el  Çielo, 
y  la  otra  en  el  Pardo,  fundaçion  de  Su  Magestad,  que  Dios 
guarde,  estan  suspensas  y  sin  que  en  ellas  se  trabaxe,  no  nos 
atrebiendo  ni  a  Su  Magestad  ni  a  Sus  Ministros  a  significarles 
la  suspension  delias  y  suplicarles  su  prosecuçion,  por  los  apne- 
tos  e  gastos  grandes  que  Su  Magestad  tiene  en  estas  guerras.  / / 

Los  Padres  Misionanos  dei  Andaluzia  nenen  en  aquella 
su  Prouinçia  muy  buenas  Çiudades  y  puertos  en  que  pueden 
preuenir  todo  lo  neçesario  para  su  Mision,  y  pues  contanto 
aliento  la  solicitaron  en  la  Sacra  Congregaçion,  seria  con  la 
segundad  de  que  dentro  de  su  misma  Prouinçia,  sin  sahr  alas 
estranas,  ajustarian  lo  neçessario  para  su  embarcaçion.  Esta 
suplica,  sujeta  ala  disposiçion  desa  Sacra  Congregaçion,  repre- 
sento humilmente,  pidiendo  con  toda  submission  no  permita, 
por  los  incombenientes  de  arriba,  que  los  Padres  Misionanos 
dei  Andaluzia  vengan  a  esta  Corte  a  la  soliçitud  desta  preten- 
sion, porque  con  su  exemplo  hande  querer  venir  tambien  los 
Padres  Cappuchinos  dela  Prouinçia  de  Valençia,  a  quienes 

294 


tengo  entendido  les  a  dado  lizençia  la  misma  Sacra  Congrega- 
çion  para  otra  Mision.  / / 

No  se  me  offreçe  otra  cosa  que  suplicar  ni  pedir,  rogando 
quedo  a  Dios  Nuestro  Senor  nos  dé  su  graçia.  / / 

Madrid,  13  de  Junio  1645. 

De  V.  Eminências  hijo 

Fr.  Xpobál  de  Morentin  / / 
Min.0  Pro.al  de  los  Capuch.08  de  Castilla 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  114-115. 


295 


97 


CARTA  DO  PADRE  JANUÁRIO  DE  NOLA 
AO  PADRE  JOÃO  BAPTISTA  MASTRILLI 

(16-6- 1645) 


SUMARIO  —  Peripécias  da  viagem  desde  Sanlucar  de  Barrameda  até 
Vinda  —  Conflitos  com  os  holandeses  —  Recepção  do 
Conde  de  Sonho  aos  missionários  —  Primeiras  impressões. 


Sia  lodato  íl  Santíssimo  Sagramento 

Molto  Reverendo  Padre  nel  Signore  Osservandissimo 

Transivimus  per  ignem  et  aquam,  et  eduxit  nos  Dominus 
in  rejrigerium  (').  Stimo  convenientíssimo,  Molto  Reverendo 
Padre,  dar  principio  alia  breve  relatione,  ch'in  questa  carta 
descrivo  dei  nostro  viagio,  et  arrivo  alie  contrade  dei  nostro 
sospirato  Congo,  colle  segnalate  parole  dei  primo  affannato  e 
poscia  consolato  Profeta:  Transivimus,  dice,  per  ignem  et 
aquam.  Posciache  fin  dal  primo  ingresso  nella  nave  in  S.  Lucar 
fu  necessário  per  vanj  accidenti  detenerci  per  quindeci  giorni 
a  bordo.  Finalmente,  a  4  di  febraio  facendo  vela  in  giorno  di 
sabato  con  prospero  vento  in  apparenza,  verso  la  tardi  si  levo 
una  borrasca  tanto  pertinace  e  contraria,  che  fece  sbigottire 
e  capitano  e  piloto  e  mannan,  e  noi  altri  di  piú,  dei  penglio 
ímminente,  a  primo  ad  ultimum,  ecceto  íl  Padre  Prefetto  (2), 


(•)  Salmo  LXV,  12. 

(z)  Padre  Boaventura  de  Alessano,  antes  guardião  na  sua  Pro- 
víncia de  Roma. 

296 


maregiati,  e  quasi  non  dissi  spiranti;  duro  la  tempesta  per  24 
hore,  terminossi  con  alcuna  speranza  di  futura  prosperità,  com' 
ín  effetto  avvenne  sin'  alie  Canarie;  nè  deve  lasciarsi  di  ammi- 
rare  nella  passata  tempesta  la  divina  Providenza,  posciache  oltre 
ali'  essersi  sedata  nel  sudetto  termine,  si  guadagnò  ín  questa 
notte  molto  campo,  e  si  passo  una  contrade  pericolosa  de  Mori, 
dove  per  ordinário  1  naviganti  a  quella  volta  sono  infestati;  mà 
di  piu  eduxit  nos  in  refrigerium.  / / 

Giunti  alie  Canarie,  mentre  cola  ntrovammo  íl  Capitan 
Generale,  honoratissimo  cavalier  di  Luglia  (Seuiglia?),  divotis- 
simo  deH'habito,  et  amicíssimo  di  Frà  Francesco  (3),  nostro 
compagno,  dalla  cui  liberalità  e  divotione  si  riceverno  quellê 
cortesie  e  limosine,  eh'  à  servi  dei  Signore  furono  di  non  medío- 
cre sollevamento.  / / 

Passo  in  silentio  la  pietà  di  quei  devoti  isolam  Cananensi; 
tutti  indifferentemente  dimostrarono  (*)  verso  di  noi,  essendo  la 
prima  volta  che  colà  companva  la  forma  seráfica  (a)  dei  nostro 
habito.  L'ardente  desio  di  fondarvi  la  nostra  religione,  e  la  dilt- 
genza,  massime  dei  Preside  nominato  con  darne  parte  fin  à 
Roma  per  condurlo  ad  effetto;  íl  tutto  acciò  si  sperimentasse 
in  rialtà  íl  refrigério  dei  Celeste  Padre,  et  eduxit  nos  in  refri- 
gerium. 

À  2  1  di  febrajo  prendendosi  licenza  dalle  Canarie,  dnzzossi 
la  prora  verso  íl  mezzogiorno  a  dirittura,  con  intento  di  non 
voltaria  altrove  per  mesi  interi;  íl  vento  ne  favonva  di  vantagio, 


(3)  Referência  a  Frei  Francisco  de  Pamplona.  O  capitão  chama- 
va-se  João  Bernardo  Falconi,  traficante  genovês,  casado  em  Espanha. 
O  piloto  chamava-se  Baltasar  Lopes,  português,  perito  nas  navegações 
do  Atlântico.  Cfr.  P.  Mateo  de  Anguiano,  Misiones  Capiichinas  em 
Africa  I  La  Mision  dei  Congo,  Madrid,  1950,  pág.  31  e  P.  Lázaro 
de  Aspurz,  Redin  Soldado  y  Misionero,  Madrid,  195 1 ,  pág.  151. 

(4)  No  original:  indif feramente  dimostrono. 

(5)  No  original:  seráfico.  ■ 

*97 


s'  ando  costegiando  per  304  giorni,  pescando;  fu  questo  men- 
tre  una  sorte  di  pesei  assai  à  propósito  per  íl  viaggio,  e  conser- 
vandogli  con  sale  per  le  necessita;  et  il  giorno  dei  glorioso 
S.  Mattia  Apostolo  (°),  detta  la  messa  (come  quasi  ogni 
giorno,  gratie  al  Sommo  Padre  delle  Misericordie  si  è  praticato, 
e  tal  volta  con  celebrare  2  et  anche  4  sagnficij,  eh'  è  stata  una 
delle  magiori  consolationi,  ch'habbiamo  potuto  avere  ín 
mare) .  / / 

Verso  le  19  hore,  ò  20,  si  perde  di  vista  la  terra,  s'ingolfò 
ín  alto  mare,  e  non  si  revidde  fino  à  2 1  di  magio  verso  le 
17  hore,  discuoprendosi  alcune  colline  dei  paese  dei  Congo, 
e  poscia  il  giorno  seguente  approcciandoci  alia  costa,  qual  facea 
sembianza  delle  piu  amene  che  possono  rapire  la  vista,  à  lodarne 
il  Sovrano  Artefice;  mà  dove  trascorro,  poveretto  me,  e  di  si 
lungo  traghetto  verbum  nullum?  Li  patnnenti  e  le  varie 
contingenze  lascio  considerarle  a  chi  tene  sano  giuditio;  quello 
mi  occorre  qui  notare  si  è,  che  quantunque  si  facesse  passagio 
da  un'  estremo  ad  un'  altro,  a  vanj  e  diversi  chmi  totalmente 
opposti,  di  freddo  ín  caldo,  da  un  trópico  all'altro,  s'è  compia- 
ciuto  il  celeste  medico  provederci  di  preservativi  tali  di  vera 
confidenza  nella  sua  paterna  pietà,  che  veruno  delia  Missione, 
ne  meno  delia  nave,  è  stato  oppresso  da  infermità  di  considera- 
tione;  maregiamenti,  nausee,  scioghamenti,  angustie  naturali, 
et  altre  oppressioni  non  hanno  potuto  mancare:  ín  quanto  à 
nemici  vescelli,  ne  pur'uno;  i  venti  hora  contranj,  hora  favore- 
voh,  e  sopra  tutto  grandissime  calme,  ín  particolare  presso  la 
línea  equatonale,  cosi  prima,  come  doppo  d  haverla  passata; 
ch'à  dir  il  vero  il  capitano  e  piloto  affermavano  esser  cosa  non 
ordinária;  tutta  via  N.  Signore  eduxit  nos  in  refrigerium  con 
1'abondanza  dei  pesce  freco  e  pretioso,  eh'  io  per  me  con  li 
proprii  occhi  non  1'havessi  visto,  difficilmente  lo  crederei; 


(9)  Dia  24  de  Fevereiro. 

29$ 


la  nostra  nave  era  circondata  da  quella  greggia  marítima,  cosi 
la  chiamerò,  facendo  questa  mostra  per  la  copia  ínnumerabile 
ravvisare  íl  mare  tutto  bogliente  di  somiglianti  animali,  ch' 
eccitavano  la  mente  a  benedire  íl  lor  fattore,  e  quando  si  trattava 
delia  gente  delia  nave  di  far  collatione,  non  bisognava  altro, 
che  prendere  4  ò  4  hami,  bassarli  alFacua,  et  anche  senza 
1'esca,  e  sovente  trasse  abondantemente  per  tutti,  oh  benedictus 
Deus  in  donis  suis. 

Costegiossi  come  di  sopra  hò  accennato,  per  3  giorni  alia 
nva,  sempre  lontano  da  quella  una  legha,  et  il  giorno  delia 
gloriosíssima  Ascensione  dei  nostro  Salvatore  (7),  dopo  haver 
celebrato  4  messe,  a  mezzodi  s'entrò  nel  fiume  Zaire,  il  piú 
celebre  che  sia  nella  Guinea  (8),  per  la  rapidezza,  et  1'impe- 
tuosità,  e  quel  ch'  è  di  magior  maraviglia,  per  la  smisurata 
ampiezza  di  20  miglia,  che  par  che  [...]  esi  con[...]  mare, 
si  prosegui  1'ingresso  sin  ad  un  certo  termine,  dove  si  potea  dar 
fundo;  ívi  si  butarno  1'ancore,  e  rassettato  il  vascello  con  la 
gente,  si  farno  le  dimostranze  di  magiore  allegrezza,  che  mai 
abbracciandosi  con  tenerezza  grande  1  religiosi,  dandosi  il  Cava- 
liere à  capitano  e  piloto,  el  al  resto  delia  gente,  vedendosi  in 
prossima  dispositione  al  termine  si  lungamente  desiato:  diedi 
opra  il  capitano  con  gente  armata  gire  col  battello  in  terra; 
caminò  un  pezzo  contro  la  corrente,  non  s'incontrò  con  per- 
sona  che  fosse,  ma  solamente  scoverse  alia  riva  dei  fiume  una 
cappelleta  tessuta  di  canne  a  modo  s'è  costume  nel  paese,  con 
due  croci  di  legno,  grande,  et  alta  1'una,  picciola  1'altra,  dalla 
cui  relatione  si  concepí  una  speranza,  che  quei  poveretti  non 
erano  altnmenti  pervertiti  dagli  eretici  Olandesi,  come  quasi 
dei  certo  si  temea;  si  risolvè,  che  la  matina  ben  per  tempo 


(7)  Dia  25  de  Maio.  j 

(8)  O  termo  é  aqui  empregado,  como  é  óbvio,  no  seu  sentido 
geográfico  lato. 

299 


assieme  col  capitano  fossero  destinati  due  de  compagni  al  Conte 
di  Pinda  (9),  chiamato  per  altro  nome  il  conte  di  Manisogno, 
se  gh  esponese  essere  il  dei  Papa,  el  ministério  al  quale  veni- 
vamo,  e  poscia  si  proseguisse  al  Re  nella  città  di  S.  Salvatore, 
cento  cinquanta  migha  lontana  da  questo  contado,  affinchè 
il  siiccesso  andasse  pm  maturamente  disposto,  et  ín  evento  di 
volenza  positiva  ò  negativa,  potessero  gli  altn  compagni  divertire 
altrove  à  fruttificare  la  vigna  dei  Signore,  secondo  le  facoltà  con- 
cesseci  dalla  Sede  Apostólica;  uno  à  quali  toccò  si  felice  sorte 
d'essere  il  primo  a  calpestare  questa  terra  Conghese,  et  annun- 
tiare  a  questa  povera  gente  lintentione  delia  Sede  Apostólica,  si 
fíi  questo  indegnissimo  presente,  il  magior  peccator  dei  mundo, 
e  1'altro  il  P.  Bonaventura  da  Sardegna,  sugetto  eminente  ín 
lettere,  spinto,  e  prudenza.  / / 

Passata  la  notte,  mentre  la  mattina  dei  venerdi  si  stava 
disponendo  il  viagio,  guardandosi  verso  il  mare  alia  parte  ove 
sbocca  il  fiume,  si  scoverse  un  vascello,  che  legiermente  vo- 
lando,  sen[e]  veniva  alia  nostra  volta,  con  segni  evidentissimi 
di  nemicitia,  tenendoci  per  certo,  che  per  notitia  havuta  dagh 
emoli  fosse  partito  da  Angola,  piazza  occupata  e  posseduta  da 
gli  Olandesi,  per  rovinare,  preddare,  e  farei  tutto  il  tutto  il  inale 
possibile;  il  vascello  era  magiore,  e  tenea  grandíssimo  vantagio 
per  le  circostanze  correvano  ín  suo  favore,  altra  speranza  non 
rimaneva,  che  solamente  ricorrere  all'aiuto  superno;  hai  mio 
Dio,  qui  non  basta  ne  língua,  ne  penna,  fa  di  mestien  lasciar 
questa  carica  al  cuore,  che  per  1  canali  degli  occhi  manifesti  1 
sentimenti  (che  tolta  quella  essencialissima  (10)  rassegnatione, 
che  tutti  collocammo  nella  divina  volontà,  e  suo  santo  bene- 
plácito) che  per  la  diversità  degli  oggetti  inteini  et  esterni,  c 


(9)  O  autor  da  carta  escreve  invariavelmente  Pinna  em  vez  de 
Pmda. 

(10)  No  original:  essencialissa. 

JOO 


tutti  minacciost  l'ultimo  stcrminio,  11  delia  missione,  ch'era 
quello  ne  penetrava  acutissimamcntc,  c  dolorosissimamente  lc 
viscere,  come  delia  vita,  delia  robba  dei  capitano,  piloto  c  de 
mannan,  c  d'ogno  altro  humano  sussidio,  procedeano,  si  suge- 
rivano  diverse  inventioni,  c  tutte  infruttuose,  poiche  angustie 
erant  undique,  à  terra  non  si  potea  moralmente,  e  forse  nemeno 
fisicamente  andare,  sugerissi  al  capitano  alcun  ripiego,  et  egli 
con  animo  altrettanto  generoso,  come  pietoso,  con  potentíssima 
confidenza  nella  M.  D.  c  nell'orationi  de  nostn  compagni, 
nsolutamente  determino  d'apparecchiarsi  à  combattere  et 
avventurarc  la  robba,  la  vita,  e  quanto  havea,  purche  compisse 
1'essecutione  delia  nostra  missione  con  quella  pontualità  c 
fedeltà,  che  tanto  negotio  richiedea;  scorgendo  questo  valore  e 
religione  nel  capitano,  cominciò  ad  essortar  tutta  la  gente  con 
sante  ammonitioni,  si  ministro  íl  sagramento  delia  penitenza 
umilmcnte,  si  concederno  tutte  quelle  grazie,  ch'in  somigliante 
conflitto  specialmente  si  poterno,  e  distinguendo  ciascuno  al 
suo  officio  cosi  mannan  come  religiosi,  questi  coH'armi  spin- 
tuali,  e  quei  collc  militan,  quantunque  Frà  Francesco  da  Pam- 
plona,  a  nchiesta  dei  capitano,  e  costretto  dalla  benedittione  et 
obedienza  dei  P.  Prefetto,  non  poco  valse  con  1'ingegno  e  colla 
forza  nella  dispositione  de  posti;  stava  la  gente  vigorosíssima 
et  anunatissima  à  dar  la  vita  per  íl  commun  Signore  e  nostra 
difesa,  e  tutti,  seguitando  1  rchgiosi,  che  non  1'imagine  dei 
Santo  Crocefisso  in  mano  prevenivano,  gndono  ad  alta  voce, 
Viva  la  fede  dl  Giesú  Cristo;  s'avvicinava  già  íl  nemico,  e  con- 
dotto  à  debito  intervalo  di  tiro,  íl  primo  a  parlare  fu  íl  nostro 
capitano,  dimandando  delia  natione  donde  si  veniva,  e  per  dove 
si  navigava;  fíi  risposto,  ch'era  vascello  flamengo  (sempre  ris- 
pondono  in  questa  maniera  gli  Olandesi,  tacendo  íl  nome  spe- 
fico  d'01anda)  che  veniva  da  Angola,  che  giva  a  negotiare 
in  Pinda;  replico  il  nostro,  entra  in  buon'hora;  sogiunse  il 
nemico  de  dimande,  che  gente  eravamo,  et  si  rispose  da  nostri: 


3o' 


gente  dei  mare,  venuta  à  negotiare  con  il  conte  di  Manisogno 
e  Re  dei  Congo;  et  in  questo  mentre  l'avversario  tolse  alcune 
vele,  e  diede  chiart  segni  di  combattimento;  ali 'hora  il  nostro 
Capitano  battendo  dei  pie  nella  poppa,  gridò  all'artigliero,  da 
foco,  alia  cui  voce  dispose  1'Altissimo  si  ritrovasse  presso  i'ar- 
tiglierie  il  piloto,  vecchio  venerando,  et  un  Padre  spagnolo  de 
nostn,  che  trattenero  1'essecutione  dell'ordine  dato,  si  giva  osser- 
vando  quanto  1'emolo  tracciava,  et  havendo  buttato  1'ancora  a 
fondo,  dopo  d'haversi  detenuto  per  ispatio  di  mezz'hora,  senza 
verun'  altro  segno  ne  di  nemicitia,  ne  d'amicitia,  largando  in 
fretta  il  fesso  voltando  la  prora  verso  la  bocca  dei  fiume,  discos- 
tossi  da  noi  da  dieci  miglia  piíi  ò  meno,  f acendo  mostra 
d  avviarsi  altrove;  la  consolatione  si  da  religiosi,  come  dal  Capi- 
tano  e  marinan  sentita  fu  singolare,  pur  si  stava  sospeto,  non 
penetrando  la  causa  clVhavea  indotto  il  nemico  à  somigliante 
attione,  quando  ecco  di  nuovo  solcando  à  dinttura  alia  nostra 
volta,  ne  cagionò  nuova  e  non  aspettata  confusione;  le  dihgenze 
di  guerra  non  si  dismetteano,  per  1'indubitata  batteria,  che  so- 
vrastava,  prima  d'arrivare  a  debita  distanza  finse  diverse  muta- 
tioni,  hor  di  buttar  l'ancora,  hor  di  caminare,  et  in  somma  con- 
dottosi  di  già  di  rimpetto  à  noi  scaricò  un  tiro,  stimato  da  tutti 
principio  di  guerra;  mà  non  fu  altrimente  cosi  poiche  disponendo 
senza  palia,  al  medesimo  tempo  comparvero  piu  persone  síi  la 
poppa,  ò  altra  parte  dei  vascello  con  capelli  in  mano,  con  saluti  e 
segni  di  frate;  il  nostro  capitano,  che  non  dormiva,  con  dupli- 
cata cortesia,  rendendogli  la  benvenuta,  rese  il  salute  con  un'al- 
tro  pezzo  e  trè  di  palia,  divertendo  altrove  la  mira  per  non 
nuocere  à  salutanti  e  salutati;  si  givano  osservando  1  motivi 
dell  una  c  dell'altra  nave,  si  parlavano,  si  convitavano,  e  vin- 
cendo  in  creanza  e  cortesia  1  nostn,  farno  tanto,  ch'il  battello 
contrario  con  pochi  marinan,  gente  miserabilisstma,  s  assicu- 
rasse  di  venire  al  nostro  bordo,  ove  arnvati  furno  amorevolmente 
accolti,  datogli  da  far  collatione  e  da  bere,  e  minutamente  inter- 


302 


rogati,  nsposero  senza  tema  alcuna,  ch'erano  Olandcsi,  veni- 
vano  d'Angola  lor  piazza  à  negotiare  qui  in  Pinda,  e  chc 
all'incontro  bramavano  sapere  de  fatti  dei  nostro. 

Gh  fu  amfibologicamente  nsposto,  e  fu  spiegato  stendardo 
Portughcse,  correndo  frà  loro  buona  corri spondenza;  tornos- 
sene  il  battello  al  suo  navilio,  et  indi  à  poco  un'altra  volta  com- 
parve  con  gente  di  qualità  e  nspetto,  con  buoni  termini  nel 
principio,  poscia,  ma  con  moita  audácia  et  autorità  nchiedendo 
di  vedere  il  passaporto,  mentre  con  quel  modo  di  nspondere 
dava  chiaro  sospetto  di  nemico,  e  sopra  tutto  manifestossi  capi- 
tahssimo  nemico  di  Spagna  e  di  Castigliani,  onde  per  ogni 
meso  volea  sodisfatione;  s'andò  ignorando  al  possibile;  frà 
tanto  stando  noi  tutti,  dico  i  missionanj,  nascosti  nella  poppa, 
cosi  ncercando  la  prudenza  e  la  congiuntura,  havendo  alie 
coste  il  piu  diabólico  herético,  sicomme  è  commun  fama,  non 
per  disputar  di  fede  con  lettere,  ma  per  rovinar  con  armi.  e 
porre  sotto  terra  il  nome  cattolico:  fú  licentiato  al  miglior  modo 
si  potè;  venne  la  notte,  qual  tutta  si  passo  Dio  sà  come,  e 
quantun  que  si  fosse  risoluto  à  buon'hora  inviarsi  al  Conte  per 
il  fiume  al  alto,  pur  sospettando  di  cio  potea  avvenire,  si  differi 
la  partenza  da  regolarsi  secondo  le  dimostranze  e  mutationi  si 
ravvisassero  neH'avversano,  il  quale  impatiente  scrisse  una  carta 
minacciatoria  e  provocatória,  che  [se]  non  si  mostrava  la 
licenza  e  passaporto,  1'havvrebbe  ottenuto  a  forza  d'armi;  intre- 
pidamente fu  ribatto  dal  nostro  Capitano,  nspondendogli,  che 
stava  nella  signoria  dei  Conte  di  Pinda,  dovea  negotiar  con 
lui,  e  che  non  era  obligato  ubidire  a  quanto  insolentemente  se 
gli  dimandava;  dei  resto,  che  stava  preparato  à  dargli  con  armi 
ogni  sodisfatione;  et  ecco  la  disfida  messa  in  campo,  e  venuta 
alie  strette,  quando  in  vece  d'attacarsi,  il  capitan  contrario 
per  nspetto  dei  Conte,  col  piu  picciol  battello  tenea,  et  osser- 
vato  s'  alia  persona  sua  si  portarebbe  nspetto,  nmase  attonito 
e  spaventato   il  nemico,  e  buttatosi  a'  piedi  dei  Signore  gli 


3°3 


chicse  perdono,  c  lassicurò  di  non  moversi  a  nulla,  facesse 
pure  íl  nostro  vascello  quanto  gli  gradiva  (n);  // 

Non  si  maravigli  la  P.  V.  [ . . .  ]  si  corroscente  questo 
maledetto  Olandese,  commun  nemico  delia  fede,  posciache 
signoregiando  quasi  tutti  questi  porti  dei  Brasile  e  Guinea, 
ticne  dalla  sua  tutti  questi  poven  Principi,  i  quali  essendo  pnvi 
quasi  di  tutti  1  bem  delia  terra,  nè  potendo  con  altro  Signore 
Cattolico  havere  commercio,  sono  costretti  sottoporsi  ad  Olan- 
desi,  accioche  gli  proueggano  di  qualche  mercê  de  lor  paesi, 
come  di  farina,  vino,  vesti,  etc,  e  questo  povero  conte 
mando  [ . . .  ]  ín  Olanda  un  suo  parente  per  ambasciadore,  per 
íl  concerto,  ín  quanto  però  al  contratto  mercantille,  non  delia 
fede,  e  qui  dimora  un  fattore  con  fattona  in  nome  d  Olandese, 
et  ogni  tanto  tempo  viene  un  vascello  a  vcndcre  e  comprare; 
e  disposc  íl  Signore  per  magior  gloria  sua  e  essercitio  nostro, 
s  abbattesse  à  punto  al  nostro  arrivo.  Gratias  Domino  Dco 
nostro,  qtii  nos  de  tantis  perictdis  eripuit  et  eripit,  affinche  vera- 
çcmentc  possa  cantarsi  che  sia  lui  per  ignem  et  Aquam  et  eduxit 
nos  in  re  f  ri  geriu  m. 

Hor  Padre  amantíssimo,  avviciniamoci  con  hete  novclle  al 
período  di  questa  per  una  parte  tediosa,  ma  per  altra  gravíssima 
carta.  Supposta  la  necessita  estrema  di  questa  abandonata 
gregia  per  mancamento  delia  língua  e  dell  idioma,  nsolvemmo 
essercitar  qucl  sagramento,  che  senza  stimolo  potca  ammmis- 
trarsi,  onde  nclla  vigília  delia  Sagratissima  Pentecoste  ('"),  bene- 
dicendo  solennemente,  secondo  i  sagri  riti,  1'acqua  battismalc 
nclla  Cbiesa  magior  di  Santo  Antonio  in  Banza,  metropoli  di 
questo  contado,  si  fece  publicarc,  che  vcnissero  à  battezzarst 


(n)  Os  acontecimentos  não  nos  parecem  expostos  na  ordem 
cronológica  da  sua  realização.  O  original  ou  a  cópia  estarão  possivel- 
mente alterados.  Cfr.  as  cartas  do  P."  Boaventura  de  Alessano  de  4  de 
Junho  de  1645  c  do  P.e  João  de  Santiago  de  1 1  de  Junho  do  mesmo  ano 

(12)  O  dia  de  Pentecostes  ocorreu  em  4  de  Junho. 


3°4 


t  fanciulh  non  battczzaci;  cominciossi  íl  ministério  sagro  nel 
mcdesimo  sabato,  e  fira  hogi  martcdi,  ultima  festa  dello  Spinto 
santo  ira  Pcntecoste,  si  sono  battezzatt  poco  meno  di  mille  fan- 
ciulh, essendo  ín  tutto  íl  contado  nmastene  un'altra  infinita; 
argomenti  la  P.  V.  che  sara  in  tutto  íl  regno;  ahi  mio  Dio,  e 
che  si  fà  costi  toto  die  otiosi,  perdonemi  se  cosi  favello. 

Gh  abusi  introdotti  sono  gravissimi,  e  particolarmente  in 
matéria  delia  castità,  tutti  ò  quasi  tutti  senza  vergogna  con- 
cubinarij,  assegnando  per  scusa  che  per  mancamento  di  sacer- 
dote non  hanno  contratto  matrimonio;  ci  sarà  non  poco  che 
sudare  e  stentare,  nondimeno  si  conosce  1'errore,  ma  in  quei 
pnncipij  con  poca  emenda,  soavemente  bisogna  manegiare  il 
negotio;  in  breve  ci  dividcremo  ove  piíi  sarà  opportuno; 
teniamo  grandíssimo  bisogno  dei  divino  aiuto,  lo  spenamo 
vivamente,  da  nostri  carissimi  Padri  e  Fratelli  nelle  lor  ferventi 
orationi  et  10  specialmente  dalla  P.  V.  non  manchi  aiutarmi;  si 
rimanda  in  Europa  Frà  Francesco  da  Pamplona  nostro  dilettis- 
simo  compagno,  per  agevolare  piíi  felicemente  il  nuovo  tra- 
gheto  de  missionanj  destinandi,  e  trattare  col  Papa,  Cardinali 
et  altri  Prelatti,  come  testimonio  distinto  delle  miserie  calami- 
tose  di  tante  anime  sfortunate;  si  spera  ottimo  successo;  capi- 
tando in  Napoli  col  suo  P.  Compagno,  degnisi  dimostrarsegli 
tale  quale  dalla  sua  cantà  e  gentilezza  la  mia  servitíi  li 

promete  [  ]  per  le  sue  rarissime  qualità,  ne  la  pnego 

quanto  posso  col  P.  Bonaventura  nostro. 

Per  dargli  qualche  breve  notitia  dei  paese,  sogiungo  che 
la  gente  è  semplicissima  e  docihssima,  ma  ignorantíssima  in 
matéria  delia  divina  legge,  per  mancamento  de  ministn  evan- 
gelici,  e  negra  di  colore,  però  non  difforme  ne  horribile;  si 
cuopre  dalle  gambe  alia  cintura  decentemente,  e  dal  collo 
fin'  alia  parte  coverta  una  rete  di  stami  di  palma,  diversa 
secondo  la  qualità  delle  persone;  1  nobili  e  cavalien  v'agiun- 
gono  un  mantello,  ò  fino  ò  mezzano,  come  possono  megho 
trovarlo;  gratie  al  Signore  gh  ogetti  non  li  rendono  concupisci- 


2fl 


3°5 


bili,  ín  modo  che  la  castità  non  si  vede  ín  pencolo  come  se 
dubitava;  la  povertà  estrema,  íl  sostento  tenuissimo  d'alcune 
vettovaglie  e  legumi,  miglio,  pânico  e  radiche  d'albcri,  la 
beuanda  delicata  de  nobili  un  poco  di  vino  di  palma,  e  molto 
di  rado,  pure  si  vive,  stanno  sani  e  robusti,  e  noi  in  quet  pnn- 
cipn  ci  ritroviamo  assai  bene,  1  caldi  intolerabili,  et  adesso, 
ch'  è  íl  magior  inverno,  si  gangia  (sic)  quasi  col  nostro  leone; 
le  case  et  habitationi  di  canne,  paglia  e  legni,  come  le  nostre 
pagliaia,  et  havendo  ordinato  íl  Conte  si  facesse  una  nostra 
casetta  per  habitarvi,  fú  spedita  in  4  hore;  benedetto  íl  sommo 
Padre  delle  misencordie,  siam[o]  fatti  degni  osservar  1'altissima 
povertà,  íl  letto,  la  nuda  terra,  agiungervi  una  stuoia  (13)  è 
stimato  morbidezza;  le  fatighe  continue,  et  inesplicabili,  et  in 
somma  tutti  gli  ogetti  e  sugetti  ne  somministrano  matéria  di 
prolongato  martírio;  ahi  felice  ventura,  ahi  sorte  ben'avventu- 
rosa  de  servi  di  Dio.  / / 

Confido  nella  M.  D.  si  svegliranno  fervorosamente  gli 
adormentati  cuon  di  ministri  evangelici  d'accingersi  a  seguttare 
1'interna  motione  ad  aiutare  i  poveri  fratelli,  che  penscono 
tante  migliaia  d'anime,  che  stanno  per  precipitare  à  sempiterni 
danni,  e  colla  lor  amatissima  e  bramatissima  presenza  in  queste 
parti  educent  nos  in  refrigerium;  e  quando  prudentemente  giu- 
dicandosi,  non  salperanno  à  somigliante  conflitto,  non  manche- 
ranno  da  lungi  combattere  coragiosamente  contro  il  nemico 
colle  loro  accettatissime  orationi,  n'impetrino  dalla  superna  cle- 
menza  patrocínio  efficacissimo,  affinchè  dilatandosi  1'Apostohca 
fede,  à  dispetto  dei  diavolo  sia  glorificata  da  M.  D.,  honorata 
la  nostra  religione,  et  aiutati  i  poveri  fratelli,  che  tanto  scarsi 
et  abandonati  si  ntrovano  di  spintuali  studij.  // 

II  Padre  Bonaventura  nostro  scriverà  piíi  diffusamente  al 
Padre  Provinciale;  hò  [  ]  quanto  ò  possuto  (sic)  questa 


(13)  No  original:  stuora. 

306 


brcviatissima  rclatione;  scusi  íl  à  me  toccò  à  parlarc,  e  mi  giouò 
molto  sapcrc  un  poco  di  língua  portoghese;  passo  auanti  la 
prattica  e  con  noi  e  con  il  capitano,  et  a  tutte  le  proposte  fatte 
s'esibi  prontíssimo,  ringratiando  sua  Santità,  e  non  altri,  di 
quanto  s'era  fatto  e  sofferto,  che  venisse  il  P.  Prefetto  con  gli 
altri  compagni,  ch'egli  con  moltissimo  gusto  ammetteva  gli 
evangelici  operanj,  e  ne  nmanea  obligatissimo  à  S.  D.  M. ; 
licenciosi  intanto  il  Capitano,  e  con  lui  andò  un  Cavaliere  pa- 
rente dei  Conte,  chiamato  D.  Michele  di  Castro,  acciò  ín  suo 
nome  ordinasse  al  vascello  nemico  à  nulla  si  movesse,  nma- 
nendo  il  compagno  et  10  per  dir  messa  il  giorno  seguente, 
domenica,  e  consolare  quei  poverelli  abandonati  e  pnvi  à  fatto 
per  si  lungo  spatio  dei  beneficio  de  sacerdoti;  avviossi  il  Capi- 
tano con  allegro  a  dar  nuova  à  nostri  che  sospesi  erano  rimasti 
nella  nave;  parte  verso  le  3  (?)  hore  di  notte  con  quel  Cavaliere 
parente  dei  Conte,  e  7  altri  negri,  i  quah  avvicinandosi  à  bordo 
cominciano  à  cantare  à  linguagio  delia  terra,  sia  lodato  il  Santís- 
simo Sacramento,  e  la  puríssima  Concettione  delia  Vergine 
santíssima         con  altre  lodi  dei  Signore.  // 

S'udirno  le  voei,  si  sospetttava  che  lo  fusse,  finchè  salendo 
al  vascello  il  capitano,  e  dando  distinta  relatione  dei  tutto,  si 
passo  quasi  tutta  la  notte  ín  lodi  e  ringraziamenti  deH'Altissimo 
e  la  mattina  per  tempo  spiegando  la  bandiera  dei  Papa,  dipinta 
da  un  Padre  de  nostri  et  al  meglio  si  potea,  e  si  celebrarno  4 
messe  nella  nave,  essendo  1'altro  compagno  et  10  rimasti  per 


(14)  A  devoção  ao  Santíssimo  Sacramento  e  à  Imaculada  Con- 
ceição, padroeira  do  Reino,  são  as  duas  eminentes  devoções  do  Povo 
português.  Quando  os  primeiros  missionários  Capuchinhos  estrangeiros 
entraram  no  Congo  já  ali  as  encontraram  radicadas,  como  o  prova, 
entre  outros,  o  presente  documento.  Este  facto  demonstra  ainda,  con- 
trariamente ao  que  pensam  e  escrevem  alguns  missiólogos,  menos  bem 
informados  do  ponto  de  vista  histórico,  que  a  missionação  portuguesa 
não  foi  tão  superficial  como  se  tem  interessadamente  propalado. 


3°7 


consolatione  dei  Conte  e  dt  queste  povere  genti  à  dir  messa 
cadendo  il  giorno  di  domenica,  dalla  quale  venne  il  buon 
Signore  con  grandíssima  pompa,  con  molti  stendardi,  suoni 
delle  trombe  dei  paese,  e  giubilo  [...]  me  lo  fece  incontrare 
col  compagno  fin  alia  porta  delia  chiesa  per  nceverlo;  dimos- 
trosi  religiosíssimo  e  riverentissimo,  dicendo  que  Ia  chiesa  era 
cosa  nostra,  e  ch'egli  come  figliuolo  dovea  seguitare  il  Padre, 
e  no  precedere;  et  udi  con  moita  devotione  la  messa,  e  finita 
venne  a'  piedi  dell'altare,  chiedendo  humilmente  che  fusse 
letto  1'evangelio  di  S.  Giovanni  In  principio  erat  Verbum,  etc, 
stando  fràtanto  inginocchioni,  si  diede  compimento  al  tutto  in 
chiesa,  e  giamai  volle  partirsi  finche  da  noi  non  si  licenciasse, 
offerendosi  pronto  ad  ogni  occorrenza.  / / 

Sarebbono  continuate  1'allegrezze  ne  giorni  seguenti, 
quando  l'avversario  herético,  stimolato,  mi  persuado,  dal  dia- 
volo,  non  l  havesse  interrotte,  mentre  accertosi  dell'introdut- 
tione  d'operanj  evangelici  in  questo  Regno,  e  delia  parte  dei 
Papa,  dei  quale  è  nemico  capitalissimo  il  crudo  herético,  infelli- 
nitosi  di  sdegno,  rabbiosamente  ncorsi  à  minaccie,  ad  inganni, 
a  stratagemmi,  e  tanti  e  tali,  che  piíi  volte  fíi  per  rovinare  il 
tutto;  il  nostro  cattolico  difensore,  dico  il  Conte,  diportosi  con 
moita  religione  e  prudenza,  et  all'oppositioni  dell  heretico 
abastanza  sodisfece,  dimostrandosi  sempre  zelantissimo  delia 
puntà  cattolica;  allegava  fra  1'altre  ragioni  il  nemico  ch'essendo 
concerto  fra  la  Signoria  Olandese  e  questo  Príncipe  che  dovesse 
essere  amico  de  gli  armei,  e  nemico  de  nemici,  et  essendo  quella 
nemicitia  dei  Re  Cattolico  e  dei  Papa,  tal  dovea  lui  panmente 
dimostrarsi;  riportò  spaccio  tale,  che  il  Conte  e  gli  altri  Cava- 
lieri e  cortegiani  sembravano  di  volerlo  con  le  voei,  e  con  t 
gesti  ridurlo  in  pezzi;  fra  tanto  havendo  ncevuto  il  nostro  Padre 
Prefetto  come  superiore  delia  Missione,  e  fattegli  accoglienze 
non  minori  ch'  à  me,  et  all'altro  Padre  compagno,  che  ser- 
vimmo  come  precursori,  s'offen  e  dedicò  con  nuove  dimos- 
tranze  liberalissimo  in  quanto  le  sue  forze  si  stendeano,  come 


3o8 


ín  fatti  si  pratticò,  mentre  íl  nemico,  havendo  con  nuova  in- 
dustria ridottici  talmente  alie  strette,  eh'  il  nostro  povero  Capi- 
tano  si  vedea  totalmente  perduto,  e  la  missione  non  mediocre- 
mente  disturbata;  avisato  dei  seguito  il  Conte,  alzosi  immedia- 
tamente  da  sedere,  e  per  ispatio  piíi  che  di  3  miglia,  seguitò 
a  piedi  1'emolo;  dispose  il  Signore  che  lo  giungesse  ín  fanciullo, 
minacciandolo,  e  toccandosi  con  le  dita  la  bocca,  segno  di 
guerra  ín  queste  contrade,  giurò  che  di  persona  sarebbe  andato 
alia  nostra  nave,  s'inviò  verso  Pinda,  al  quale  fíi  manifestato 
dal  nostro  [Capitano],  ch'egli  ancora  dovea  far  1'istesso  viagio 
et  che  perciò  non  sospettasse  di  nulla,  ne  per  la  mutazione  di 
partenza  chi  rimanea  al  governo  dei  vascello,  volgesse  1'animo 
à  nuove  nsolutioni;  tentarno  remare  con  ogni  sforzo  coloro, 
e  di  passare  una  corrente  rapidíssima  e  contrarijssima  in  certo 
passo,  il  piu  difficultoso  dei  fiume,  ma  ò  non  potendo,  ò  non 
volendo  per  arte,  e  stratagemma  di  guerra,  st  rivolsero  indietro 
à  bordo;  all'hora  determinossi  il  nostro  Capitano,  venisse  pure 
quel  si  volesse  viagiare  dal  Conte,  e  dopo  detta  la  messa 
deirimmacolatissima  Concettione,  protettnce  delia  nave  e  delia 
missione,  havendo  e  questa  e  quella  sotto  questo  puríssimo 
titolo  elettala  per  avvocata  e  madre  (essendo  giorno  di  sabbato) 
communicati  1  religiosi,  e  col  magior  fervore  implorato  il  su- 
perno aiuto  et  favore  delia  nostra  pietosisstma  Signora,  colla 
sicura  speranza  d'infallibile  soccorso,  il  Capitano  con  6 
goivani  valorosi,  il  P.  Buonaventura  et  10  indegnissimo, 
mezzi  travestiti,  c'incaminammo  verso  Pinda;  si  giunse  al  passo 
delia  corrente,  ove  invocato  confidentemente  il  patrocínio  dei 
cielo,  delfanime  dei  Purgatório,  s'imprese  da  nostn  la  voga  con 
tanta  violenza  e  coraggio,  che  passando  1'impeto  insuperabile, 
n'eccitò  à  render  gratie  di  cuore  al  commun  Signore;  navigamo 
allegramente  all'insu,  quando  guardando  indietro  scuoprimmo 
il  batello  dell'emolo,  qual  confuso  delia  sua  codardia,  vedendosi 
passato  da  nostn,  arrabiato  di  stizza,  traghettò  lui  panmente, 
e  con  tanta  fúria,  prendendo  altra  rema,  s'inoltrò  à  noi,  e  bal- 

3°9 


danzoso  precorrea  à  dar  conto  dei  sucesso  al  Conte;  non  può 
negarsi,  ch'il  fatto  non  ci  recasse  straordinana  mortificatione, 
perche  importava  molto  essere  il  primo  ad  informare;  tutta  via 
datoci  animo,  avvertimo  che  fu  veramente  traccia  dei  Signore 
acciò  non  [ . . .  ]  ísbagliassimo  il  camino,  mentre  il  fmme  per 
la  sua  smisurata  grandezza  tiene  tante  braccia,  angoli  e  diver- 
ticoli,  che  senza  esquisita  prattica  si  rende  quasi  impossibile 
poterla  indovinare,  onde  il  nemico  ne  serviva  per  guida,  c 
poteasi  cantare:  Saltitem  ex  inimicis  nostris.  / / 

Caminossi  coragiosamente  per  íspatio  di  dieci  miglia  quasi, 
et  al  fine  ci  abbatemmo  in  un  passo  angusto,  che  ne  diede  non 
poco  travaglio,  poichè  da  una  parte  il  batello  contrario  s'era 
perduto  di  vista,  dalFaltra  il  passaggio  se  ci  offenva  ímpene- 
trabile,  in  guisa  ch'il  povero  Capitano,  quantunque  generosís- 
simo e  religiosíssimo,  tutta  via  dato  in  preda  al  cordoglio, 
cominciò  a  lamentarsi  tanto  dolorosamente  delia  sua  infelicita 
e  sventura,  che  ne  movea  a  lagrimare  di  compassione;  lo  con- 
solavamo  al  possibile  che  I.  D.  M.  sà  cavare  da  quel  que 
sembra  sbagliamento,  ottimo  avertamento,  e  che  senza  forsc 
quello  parea  total'  impedimento,  ne  havrebbe  agevolata  la 
strada  et  abreviato  il  sentiero  per  giungere  quanto  prima  dal 
Conte;  e  cosi  à  pronto  avvenne,  acciò  fosse  fermo,  ch'  eduxit 
nos  Domintts  in  refrigerium,  poichè  costegiammo  ad  una  ripetta 
dei  fiume  in  un  certo  ridotto,  ove  anticamente  sbarcavano  1 
Portughesi;  ívi  fíi  a  terra  un  mannaro  col  nostro  compagno,  et 
a  pena  dati  alquanti  passi,  s'abbaterno  in  una  chiesetta  íntes- 
suta  di  canne,  vimini  et  altn  matenah  d'herbe  e  di  terra,  con 
una  statua  delia  Concettione  puríssima,  un'  altra  di  Santo 
Antonio  di  Padova,  et  un  quadro  dei  nostro  P.  S.  Francesco 
col  capuccio;  stava  di  fuon  una  croce  di  legno  ben  grande,  e 
due  traversi  con  una  campanella,  segni  tutta  di  vera  Cnstianità 
cattolica;  si  avanzarno  un  poco  piíi  avanti,  e  sovente  s'incon- 
trarno  in  gente  dei  paese,  piccioli,  e  grandi  in  medíocre  quan- 
tità;  furono   salutati   col  salute  dei  Santíssimo  Sagramento  e 


3'° 


delia  Vergine  Sagratissima,  se  gli  mostro  íl  Crocefisso,  e  tutti 
con  voei  d'allegrezza  nspondeano  Amore;  et  essendovi  alcuni 
ch'intendeano  Portughese,  assicurarno  che  la  fede  (gratie  al 
Signore)  stava  íllibata,  ch'il  Conte  era  vero  cattolico,  e  che 
tutto  íl  Regno,  quantunque  con  diversi  assalti  d'heretici  era 
stato  combattuto,  nondimeno  s'era  conservato  intatto.  / / 

Padre  mio  amantíssimo,  qui  m'appiglio  ad  un  loquace 
silentio;  consideri  la  P.  V.  gli  affetti  interni  et  esterni  si  cau- 
savano,  e  di  ringratiamento,  e  di  consolatione,  e  di  giubilo; 
ímmantinente  ntornarno  1  sbarcati  al  batello,  gridando  per  con- 
tento: allegrezza,  allegrezza,  buona  nuova,  buona  nuova,  al  cui 
annuntio,  al  buon  Capitano  revixit  spes  eius;  fummo  súbito 
tutti  a  terra,  et  assicurati  che  íl  Conte  risiedeva  non  piu 
che  [ . . .  ]  miglia  scarse  lontano  dal  suddetto  posto,  súbito  si 
spedi  una  persona,  che  gli  dasse  raguaglio,  che  12  religiosi 
mandati  da  Roma,  di  S.  Santità,  venivano  ín  questo  Regno,  e 
che  per  aò  non  si  credesse  al  capitano  Olandese  in  quanto 
havesse  inferito  contro  il  nostro  Capitano;  e  veramente  fu  il 
negotio  guidato  dal  sovrano  Proveditore,  mentre  arrivò  à  tempo 
il  messo  ch  il  Conte  ncevea  lnformatione  dal  nemico,  al  quale 
come  verace  figlio  di  santa  Chiesa,  diede  ordine,  che  non  si 
partisse,  ò  che  partendosi  in  contralcuno  ardisse  for  nocumento 
al  nostro  vascello;  proseguimmo  il  viaggio,  et  amessendosi 
( sic )  il  numero  delia  gente,  correvano  con  moita  divotione  a 
bacciar  le  mani,  ad  inginocchiarsi,  e  dar  voei  al  Cielo  di  giubilo, 
e  gridando  ad  alta  voce,  pronuntiavano  Engonga  anchissi  ham- 
bian  pung/4,  Roma  à  santo  Padre,  che  vol  dire  in  lor  linguagio, 
sacerdoti  santi  di  Dio  mandati  dal  santo  Padre  di  Roma. 

Entrammo  finalmente  in  Banza,  luogo  principale  di  questo 
contado  di  Pinda,  ò  Manisogno,  ove  per  la  residenza  dei  Conte 
dimorano  tutti  i  principali  Cavalieri  e  fidalghi  (cosi  chiamano 
secondo  il  [modo]  portoghese  1  piu  nobili)  et  è  copioso  di  gente 
di  nave  [...]  et  ivi  gli  aplausi,  1'acclamationi,  le  voce  di  tene- 
rezza,  le  dimostranze  di  giubilo,  gli  abbraciamenti,  1'inginoc- 


3n 


chiamenti,  le  riverenze,  le  cortesie,  à  maniera  però  [dei]  paese, 
Deus  scit,  e  con  moita  ragione,  poichè  4  anni  si  erano  che  non 
haveano  veduto  sacerdote;  ahi  miséria  estrema.  // 

Visitossi  nel  primo  ingresso  la  chiesa,  grande  sã,  ma  fabri- 
cara secondo  íl  modello  prescritto  nelle  Croniche  dal  nostro 
Seráfico  P.  S.  Francesco  nella  primitiva  età  delia  nostra  Reli- 
gione;  fu  dato  ordine  gire  all'udienza  dei  Conte,  et  esporgli  íl 
fine  delia  nostra  venuta  colle  facoltà  Apostoliche  in  nome  dei 
Papa,  e  delia  Chiesa.  / / 

Si  preparo  il  buon  Signore,  e  ne  ricevè  in  publico  consesso, 
alia  grande  secundum  morem  patriae.  II  suo  palazzo  è  panmenti 
fabricato  di  canne,  herbe  secche,  forti  vimini  et  alben,  le  porte 
sono  di  tavole,  e  serrate,  e  per  darglie  una  notitia  equivalente 
à  somiglianza  dele  pagliaia  di  coteste  nostre  parti,  ma  però  ben 
ordinato  con  diverse  stanze,  atnj,  cortili,  etc.  / / 

Stava  egli  [ . . .  ]  sopra  una  seggia  di  damasco  rosso  finís- 
simo, vestito  panmente  con  un  pano  di  damasco  dalle  gambe 
sin'alla  cintura,  con  camiscia  bianca,  e  con  un  mantello  di  color 
nero  ( sic ),  un  capello  ancora  negro  ( sic )  con  pianelle  ordinane 
à  piedi,  et  un  fazzoletto  nelle  mani,  alia  destra  un  pagio  con 
íspada  ben  guernita,  colla  punta  all'in  sú,  et  alia  sinistra 
un'  altro  pagio  con  lo  scettro,  piíi  discosto  in  debita  proportione, 
da  medesimi  lati  sinistro  e  destro,  teneano  due  altn  giovani  in 
mano  ciascuno  una  coda  di  cavallo  ben  composta,  e  cacciavano 
via  le  mosche  al  Signore;  all'intorno  era  circondato  da  numerosa 
moltitudine  di  cavalien  tutti  inginocchioni,  et  1  piú  favonti 
gli  stavano  piu  d'appresso,  particolarmente  il  suo  segretano, 
che  intendendo  Portughese,  serviva  de  interprete;  à  di  rimpetto 
di  lui  seggie  due  per  li  religiosi,  et  una  per  il  Capitano,  in  terra 
poi  un  buono  tapeto  de  natta  et  in  questa  foggia  si  cominciò 
ad  esporre  1'ordine  Ponteficio,  il  desideno  delia  Sede  Apostó- 
lica, il  zelo  si  tenea  di  quelle  anime,  il  lungo  discorso  di  tanti 
anni  per  venirgli  a  servire,  i  patimenti  sofferti  per  terra  e  per 
mare,  e    finalmente   1'ultimo   laberinto  in  cui  n'havea  posti 


1'heretico  Olandese,  1'insolenze  e  minaccie  fatte  al  Capitano, 
e  che  se  fosse  lenità  S.  Eccellenza  rimediare  al  vascello,  acciò 
non  patisse  danno  alcuno  dal  nemico;  carattere,  la  prolissità  e 
la  vanetà  de  periodi,  e  men  corretta  compositione,  atteso  le 
circostanze  non  altrimenti  permettono;  fò  alia  P.  V.  M.  R. 
divota  riverenza,  e  raccomandandogli  Frà  Giuseppe  nostro, 
Frà  Felice,  con  rephcati  affetti  imploro  le  sue  fervorosissime 
preghiere,  e  di  tutti  1  Padn  e  Fratelli  delia  Provincia,  à  cjuali 
baccio  humilmente  fin'i  piedi.  / / 

Di  Pinda,  contado  di  Manisogno  dei  Regno  dei  Congo, 
16  giugno  1645. 

II  nostro  Padre  Prefetto  amantíssimo  di  cotesta  Provincia, 
saluta  a  V.  P.,  e  tutti  cordialissimente. 

[Frà  Gennaro  da  Nola] 

ENDEREÇO:  Al  Reverendo  Padre  nel  Signore  Osseruan- 
dissimo 

II  Padre  Frà  Gio.  Batt.  da  Napoli 
predicatore  capuccino  (a'  Capuccini) 

Napoli 

AOMC  —  Romae,  1887  (III),  pág.  218-220;  252-254;  343-347; 
377-378. 

NOTA  —  O  documento  é  autógrafo  e  foi  encontrado  pelo  Padre 
Apolinário  de  Valência  «in  quodam  archivo»,  que  não  especifica. 


3'3 


98 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(16-6- 1645) 

SUMÁRIO  —  Partida  dos  missionários  fara  o  Congo  —  Desfedem-se 
do  Rei  de  Portugal  —  Sua  bondade,  cristandade  e  ma- 
gnanimidade nas  adversidades  —  Insulto  ao  Agente  de 
D.  João  IV  em  Roma  feios  senhores  castelhanos. 

Ill.mo  et  Reu.mo  Signor  mio  Osseruandissimo 

In  questo  ponto  noi  siamo  auisati  deH'embarcatione,  et  di 
douer  partire  per  la  nostra  giornata,  di  che  pieno  di  ogni  con- 
solatione  ne  fò  parte  à  V.  S.  Ill.m\  molto  bene  proueduti  da 
Sua  Maestà  di  bonissimi  nccapiti  et  lettere  di  raccomandatione 
à  suoi  Gouernatori  (et  ultimamente  ne  fece  altra  lettera  per 
il  Rè  di  Congo  mesmo)  et  proueduti  d'ogni  cosa  honoratissi- 
mamente  per  il  viaggio:  et  hien  fui  dal  Rè  per  spedirmi,  quale 
mi  licentiò  cõ  ogni  benignità  et  cortesia,  non  ostante  che  il 
quel  mentre  hauesse  lette  le  lettere  di  Roma  (portate  da  naui- 
io  che  arriuò  il  medesimo  giorno  di  Liuorno)  nelle  quali 
teneua  nuoua  delTinsulto  fatto  da  Signon  Castigliani  allagente 
suo  in  Roma,  diche  10  restai  molto  edificato,  non  ostante  che 
alcuni  caualien  et  fidalghi  dicono  liberamente  delia  nostra  gior- 
nata, che  il  Rè  in  spedirci  fece  attentione  (?)  se  bene  sia  pure 
temerária,  hauendo  tante  cose  in  contrario  et  da  temere.  Vera- 
mente 111."10  Signor,  à  questo  pouero  Rè  non  mancano  grandi 
trauagli,  et  certo  che  è  boníssimo  christiano;  seio  quid  dico,  et 
Dio  l'ha  d'agiutare,  poiche  in  tanti  infortunij  mai  si  scompone 
nella  douuta  nuerenza  alia  S.  Sede,  et  dissemi  taThora  parole  di 
grandíssima  edifficatione. 


3'4 


In  questo  medesimo  ponto  il  Signor  V.  Collettore  mi 
manda  una  prouisione  molto  grande  per  il  uiaggio,  cõ  molti 
rinfreschi  non  da  Cappuccini,  al  quale  deuemo  infinitamente, 
et  per  quanto  posso  lo  raccomando  à  V.  S.  Ill.ma  aiutandolo  in 
questa  mia  partenza,  esser  persona  di  grande  integrità  et  bontà, 
come  il  suo  pacifico  gouerno  lo  mostra.  / / 

Non  hò  altro  che  dirle,  che  baciare  le  mani  et  farmi  rac- 
comandare  al  Signor  Giouanni  Domênico  Verusio  et  prego  al 
Cielo  il  colmo  d'ogni  sua  uera  exaltatione.  / / 

Lisbona,  li  16  Giugno  1645. 


Di  V.  S.  111.™ 

Seruo  deuotissimo 

f.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Pref.  di  Congo 

Non  saria  senon  bene  si  desse  ordine  al  Signor  V.  Collettore 
di  prouederci  di  qualche  aiuto  quando  intendesse  il  uero  biso- 
gno  in  quelle  parti,  poichè  può  esser  che  accada  il  caso,  come 
mi  dicono  li  Padri  delia  Compagnia,  che  scriuo  à  V.  S.  Ill.ma. 


APF  —  SRCG,  vol.  143,  fls.  224-224  v. 


99 


CARTA  DO  COLECTOR  APOSTÓLICO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(19-6- 1645) 

SUMÁRIO  —  Anuncia  a  partida  dos  Capuchinhos  para  o  Congo  —  Li- 
beralidade do  Rei  de  Portugal  para  com  os  missionários. 

Ill.mo  e  R.mo  Signor  mio  Padrone  Collendissimo 

Li  Padn  Capucini  sono  stati  finalmente  dispaciati  da  Sua 
Maestà  per  la  missione  dei  Congo,  non  ostanti  le  molte  contra- 
ditioni  c'hanno  hauuete  da  uarie  parti  e  hier  matina  prouisti  assai 
commodamente  dalla  Maestà  Sua  delle  cose  per  il  uitto  e  lettere 
di  raccomandatione  a  Gouernaton  de  luoghi  per  doue  hauranno 
a  passare;  s'imbarcano  in  vna  nauetta  che  deue  partir  súbito  per 
la  Baya  nel  Brasile,  per  di  la  transferirsi  poi  ad  alcun  porto  dei 
Congo  piú  commodo,  nó  essendoui  hora  occasione  d'andar  a 
dintura  ad  Angola,  per  nspetto  degl'olandesi,  1  quali,  con  1'aiuto 
di  Dio  si  spera  habino  a  lasciar  presto  quella  piazza  per  nspetto 
delFarmata  portughesa,  che  1'anno  passato  parti  di  qui  a  questo 
effetto.  // 

A  detti  Religiosi  hò  dato  quel  poco  d'auito  c'hò  potutto, 
no  già  quant'io  desiderauo,  et  essi  per  le  sue  rare  uirtú  men- 
tauano;  glhò  raccomandato  molto,  che  súbito  giunti  scnuino 
per  la  prima  occasione,  particularmente  a  V.  S.  I.,  alia  quale 
frà  tanto  dò  infinite  gratie  dei  confidente  auiso  che  V.  S.  111.1" 
mi'hà  fatto  gratia  darmi  con  la  sua  lettera  de  2  1  Gennaro,  che 
perciò  nó  restarò  anco  di  valermene  per  la  sicurezza  delle  lettere 
che  V.  S.  Ill.mi  mi  scriue,  intendo  che  quella  d'alcuno  di  cotesti 
mercanti  portughesi  sia  la  megliore,  in  particular  dei  Signor 


3/6 


Francesco  Nunez  Sanchez,  oucro  anco  quella  de  Signor  Bona- 
corzi  di  Liuorno;  con  che  a  V.  S.  Ill.ma  con  ogni  affetto  riue- 
rente  m'inchino.  / / 

Lisbona,  19  Giugno  '645. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  R.ma 

Dev.mo  e  oblig.mo  Seruitore 

Girolamo  Battaglini 

APF  —  SRCG,  vol.  143,  fl.  237. 


3 '7 


100 

FACULDADES  AOS  MISSIONÁRIOS  DO  CONGO 
(19-6- 1645) 


SUMÁRIO  —  Os  missionários  Capuchinhos  do  Congo  pedem  à  Pro- 
paganda Vide  a  confirmação  das  faculdades  dadas  por 
Urbano  VIII  c  novo  Breve  para  o  actual  Rei  do  Congo. 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornotio 
htteras  Praefecti  Missionis  Congi,  in  quibus  primo  significabat 
suum  discessum  ab  Hispânia  cum  Socijs  ucrsus  Congum  (*). 

2.0  petebat  bcnedictionem  a  Sanctissimo  pro  se  et  Socijs 
et  confirmationem  facultatum,  quas  ab  Vrbano  8.°  sanctae 
memoriae  obtinuit. 

3.0  instabat  pro  nouo  Breui  ad  Regem  Congi,  cum  tam 
Vrbanus  8.us,  qui  ei  Breue  conccssit,  quam  Rex  Aluanis,  ad 
quem  illud  Vrbanus  erat  scriptum,  mortui  sint. 

Sacra  Congregatio,  annuente  Domino  Nostro,  confirmauit 
facultates  a  fehcis  recordationis  Vrbano  8.°  concessas,  et  idem 
Sanctissimus  Suam  bencdictioncm  pracdicto  Praefeto  ac  Socijs 


(*)  O  Padre  Boaventura  de  Alessano,  recorre  assim  ao  expediente 
da  parada  para  o  Congo,  pelos  bons  ofícios  da  Espanha,  depois  de  ter 
estado  em  Lisboa  e  de  aqui  ter  sido  tratado  pelos  nossos  Reis  muito 
para  além  da  sua  qualidade  de  missionário  ou  de  simples  Prefeito  da 
Missão.  Estes  actos  inamistosos  c  incorrectos  do  Padre  Alessano,  iriam 
criar,  naturalmente,  dificuldades  futuras  ao  exercício  da  sua  missão, 
iniciada  sob  tais  auspícios. 

Poderá  argumentar-sc  que  eram  excelentes  as  suas  intenções  c 
que  por  outra  via  não  conseguiria  tão  cedo  o  seu  intento.  Porem  as 
melhores  intenções  nem  sempre  são  apropositadas. 


3'8 


bcnignc  concessit,  íussitquc  cxpcdin  nouum  Brcuc  ad  moder- 
num  Regem  Congi,  tenoris  ilhus  cjuod  dictus  Papa  Vrbano 
scnpsit  ad  Regem  Aluarum. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  328  V.-329,  n.°  17  —  Congregação  cardi- 
nalícia de  19  de  Junho  de  1645. 


3l9 


101 


MISSÃO  DOS  PADRES  CAPUCHINHOS 
NA  VELHA  GUINÉ  AFRICANA 

(3-7-1645) 

SUMÁRIO  —  O  Provincial  da  Andaluzia  é  nomeado  Prefeito  da  Missão 
—  Poderia  dirigir  seus  missionários  para  os  gentios  do 
Rio  Amazonas,  com  as  mesmas  faculdades  dadas  para  a 
Negrtcia  —  Poderia  dividir  o  imenso  campo  apostólico 
com  os  confrades  da  Província  de  Valência. 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinli  Alborno- 
tio  (*)  litteras  Prouincialis  et  Diffinitorij  Capuccinorum  Anda- 
lusiae,  continentes  quatuor  petitiones,  et  quia  pro  prima,  tertia 
et  quarta  per  decreta  praecedentia,  in  quibus  datur  facultas  Nun- 
tio  subrogandi  alios  Missionários  loco  nolentium,  uel  non  ualen- 
tium  ad  Missionem  Nigritarum  proficisci,  ac  etiam  facultas 
accipiendi  Fratres  ex  alijs  Capuccinorum  Hispaniorum  Prouin- 
cijs  pro  dieta  Missione,  et  dacta  fuit  Praefectura  Missionis 
Prouinciali  supplicanti,  sub  nomine  próprio,  satis  superque 
fuit  prouisum. 

Ad  secundam  petitionem  quod  supplicanti  Missionanj  ad 
Nigritas,  si  post  factas  omnes  necessárias  diligentias,  aditum 
ad  Nigritas  habere  non  poterunt,  ad  alias  Rcgiones  Jndiarum 


(*)  Gil  Carrillo  Albornoz,  espanhol,  arcediago  dc  Burgos,  arce- 
bispo de  Taranto  em  23-9-1630,  dignidade  que  resignou  c  Camerário 
do  Sacro  Colégio  em  14-3- 1644.  Foi  criado  Cardeal  do  título  dc  Santa 
Maria  in  Via  Lata,  em  12-8- 1630,  passando  para  o  de  S.  Pedro  in 
Montório  em  2-8-1643.  Fa'cceu  em  Roma  no  dia  19- 12- 1649.  Foi  na 
Cúria  o  Cardeal  Protector  de  Espanha. 

320 


Orientalium,  uel  Occidentalium  se  transferre  ualeant,  cum 
eisdem  facultatibus,  Sacra  Congregatio  censuit  in  casu  propó- 
sito praedictis  Missionarijs  assignandos  esse  Gentiles  circa  flu- 
men  Marognon  (2),  seu  Rio  de  las  Amazonas  (3),  ab  eis  esco- 
lendos,  et  si  Prouincia  Capuccinorum  Valentiae  eosdem  Gentiles 
excolendos  susceperit,  Andalusij  Missionarij  partem  praedictorum 
Gentilium  assument  instruendos,  et  Valentini  aliam  partem, 
nam  cum  sint  innumen  praedicti  Gentiles,  non  solum  Andalusij 
et  Valentini  Missionarij,  sed  ali j  etiam  Religiosi  in  ea  uinea 
Domini  excolenda  occupan  poterunt. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fls.  346-347,  n.°  31 — Sessão  cardinalícia 
de  3  de  Julho  de  1645. 

BULLARIUM  CAPUCINORTJM,  Romae,  1752,  VII,  pág.  336. 

NOTA  —  Ainda  no  mesmo  dia  foi  novamente  tratado  o  assunto, 
nos  seguintes  termos: 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornorio  litteras 
Nútij  Hispaniarum  et  Prouincialis  Capuccinorum  Valenriae,  de  qua- 
tuor  Patribus  Capuccinis  suae  Prouinciae,  qui  petunr  Missionem  ad 
Nigritas  cum  Fratribus  Andalusiae,  uidelicet:  Fratre  Ludouico  et  Fratre 
Antonio  de  Teruel,  Fratre  Augustino  de  Cubanes,  et  Fratre  Antonio 
de  Paniscola,  quos  omnes  ut  idóneos  ad  dictam  Missionem  praeditus 
Prouincialis  proponebat  Nuntio  praedicto.  / / 

Sacra  Congregatio  eos  inter  Missionários  Nigritarum  adscripsit, 
dummodo  Missionis  praedictae  Praefectus  eos  admittat;  et  si  Prouin- 
cia Capuccinorum  Valenriae  Gentiles  circa  flumen  Maragnon,  uel 
delas  Amazonas  degentes,  excolendos  susceperit,  poterunt  praedicti 
quatuor  Fratres  ad  dictos  Gentiles  mitri,  cum  alijs  quos  Prouincia  cum 
parriciparione  Nunrij  praedicti  probabit,  et  Nunrius  Sacrae  Congrega- 
tioni  proponet. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fl.  349  v.,  n,°  39.  —  Sessão  cardinalícia 
de  3  de  Julho  de  1645. 


(2)  Rio  Maranhão. 

(3)  Rio  das  Amazonas,  ou  simplesmente  Amazonas. 


102 


CARTA  DO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 

(3-7-1645) 

SUMÁRIO  —  Responde  a  várias  cartas  do  Provincial  da  Andaluzia 
e  comunica-lhe  o  conteúdo  de  alguns  decretos  da  Pro- 
paganda acerca  das  missões  confiadas  aos  Capuchinhos 
da  mesma  Província  —  Razões  pelas  quais  não  se  despa- 
cha a  pretençáo  de  irem  para  outras  missões  além  das 
africanas  —  Estratégia  proposta  aos  missionários. 

Recibo  la  de  V.  P.  de  4  de  Abril,  y  en  su  respuesta  digo: 
1 .°  Que  se  ha  enviado  el  Decreto  de  la  Mission  de  los  Negros 
a  Monsenor  Núncio,  en  el  qual  V.  P.  ha  sido  nombrado  Pre- 
fecto,  por  ser  Provincial  y  arrimar  la  Missión  á  la  Província 
de  Andalucia,  de  la  manera  que  V.  P.  deseaba.  Y  porque  la 
Sacra  Congregación,  por  no  confundir  su  jurisdicción  con  la 
de  los  Superiores  de  las  Religiones,  ordena  que  las  Prefecturas 
de  las  Missiones  se  despachen  sub  nomine  próprio,  et  non  sub 
nomine  Officii;  quando  se  elige  el  nuevo  Provincial,  temendo 
aviso  la  Sacra  Congregación,  elige  Prefecto  el  nuevo;  llegando 
el  Despacho,  cesa  la  autondad  dei  viejo,  y  assi  no  se  confunden 
las  jurisdicciones,  y  se  cargan  las  Missiones  á  las  Províncias,  y 
sus  Definitorios. 

2.0  Que  V.  P.  elegido  por  el  dicho  Decreto  Prefecto,  puede 
en  virtud  de  la  facultad  que  en  el  se  concede,  nombrar  por 
Vice-Prefecto,  al  P.  Fr.  Manuel,  y  communicarle  la  facultad,  la 
qual  también  se  invió  a  Monsenor  Núncio;  y  assi  no  es  necessá- 
rio acudir  á  la  Sacra  Congregación  para  elegir  el  Vice-Prefecto. 

3 ,°  Con  otro  Decreto  se  ha  dado  facultad  á  Monsenor  Nún- 
cio, que  pueda  subrogar  también  de  outras  Províncias  de  Reli- 

322 


giosos  Capuchinos,  en  lugar  de  los  que  han  sido  nombrados, 
caso  que  non  puedan  ó  no  quieran  ir  á  la  Missión  de  los  Nigri- 
tas,  y  juntamente  para  la  de  el  Congo.  Y  en  el  dicho  Decreto  se 
entiende  también,  que  se  comprehende  en  caso  de  la  muerte, 
porque  por  la  muerte  de  alguno,  no  se  puede  suplir  de  el  número 
determinado  á  la  Missión;  y  assi  Monsenor  Núncio,  con  apro- 
bación  de  el  Provincial  y  Diffinitono,  puede  substituir  otro 
Religioso  en  lugar  dei  P.  Fr.  Francisco  de  Arevalle.  Y  con  dicho 
Decreto  se  da  satisfacción  á  la  2.a  y  3.*  petición,  que  se  con- 
tiene  en  la  de  V.  P. 

4.0  Acerca  de  darle  licencia  y  facultad  para  ir  otras  partes, 
dan  tan  gran  cuidado  á  la  Sacra  Congregación  los  Reinos  de  los 
Nigntas,  que  son  muchos,  y  en  aquellos  ay  alguna  luz  de 
Chnstiandad,  que  para  no  dar  ocasión  a  los  Padres  Missionários, 
que  á  la  primera  ó  segunda  dificultad  que  hallaren,  no  se  haian 
de  retirar  y  velverse,  no  dará  tal  facultad.  Segun  mi  parecer, 
juzgo  por  acertado,  embiar  pnmero  solo  tres  Missionários  con 
un  lego,  para  tentar  la  entrada  por  el  Cairo,  6  por  otra  parte: 
y  si  se  pudiera  por  la  Costa  Occidental  de  el  África,  passar  por 
hagora,  seria  el  negocio  mas  seguro.  Por  otra  parte  parece  mejor 
el  camino  de  el  Cairo:  porque  en  aquella  Ciudad  podran  los 
Missionários  tener  intérprete,  y  aun  aprender  la  lengua  Ará- 
biga, que  allá  la  entienden.  Sena  a  propósito  una  carta  de  el 
Embajador  de  Venecia,  [che]  reside  en  la  Corte  dei  Rey  Catho- 
lico,  para  el  Cônsul  Veneciano  de  Alepo;  y  procurar  de  tomar 
una  cassa  en  la  Calle  que  en  el  Cairo  llaman  de  Venecianos,  para 
hacer  de  ella  un  Hospício  para  la  Missión,  que  servirá  para 
hacer  amistad  con  los  Negros,  y  otros,  que  son  espécie  de 
Negros,  que  llegan  al  Cairo,  para  aprender  la  lengua  Arábiga, 
y  teniendo  paciência  de  entretenerse  en  aquella  habitación  los 
anos  enteros,  hasta  que  se  sepa  la  lengua,  y  se  alcanze  la 
entrada.  / / 

Esto  es  todo  lo  que  puedo  decir  a  V.  P.  en  respuesta  dc 
sus  cartas,  y  para  sua  instrucción.  Tambien  por  el  camino  de 


323 


Marruecos  y  Fez  se  podria  tener  alguna  noticia,  con  un  passa- 
porte, ó  salvo  conduto  de  aquel  Rey,  que  por  médio  de  los  Mi- 
nistros de  el  Rey  Cathóhco  se  podria  alcanzar,  y  procurar  de 
passar  á  aquellos  Reynos,  que  no  pueden  estar  mui  lexos  de 
Marruecos  y  Fez.  / / 

Acabo  con  ofrecerme  á  V.  P.  prompto  para  todo  lo  que  se 
ofreciere  para  la  Missión.  / / 

Roma  a  3  de  Julio  de  1645.  / / 

De  V.  P.  M.  R.  affettuosissimo  Servitor 

Francisco  Ingoli.  / / 

R.  P.  Fr.  Gaspar  de  Sevilla  Provincial  de  Capuchinos  de 
Andalucia. 

FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Ob.  cit.,  p.  16-18. 


3*4 


103 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  NÚNCIO  EM  MADRID 

(15-7-1645) 


SUMÁRIO  —  Acerca  da  evangelização  dos  negritas  feios  Capuchinhos 
ou  dos  gentios  do  Brasil,  caso  não  fossam  cultivar  aqueles 
—  Que  se  determine  o  campo  de  apostolado  da  pro- 
víncia da  Andaluzia  e  da  província  de  Valência. 

Houendo  questa  Sacra  Congregatione  de  Propaganda  Fide 
sodisfatto  à  diuerse  inscanze  delh  Capuccini  delia  Prouincia 
di  Andaluzia,  con  dare  facoltà  à  V.  R.  di  surrogare  altri  missio- 
narij  in  luogo  di  quelli  dell'ordine  loro,  che  ò  non  uogliono  ò 
non  possono  trasferirsi  alia  missione  assegnatali  nelli  Negriti, 
e  di  pigliare  anche  operanj  dall'akre  Prouincie  di  Spagna 
dell'istesso  ordine,  per  la  detta  missione,  ò  con  decretare  la  Pre- 
fectura  di  essa  al  Padre  Prouinciale  di  quella  Prouincia,  si  è 
contenta  ultimamente  ancora  di  compiacerli  con  occasione  delia 
lettera  loro  delh  25  ottobre,  che  non  potendo  essi  superare  le 
difficoltà  che  per  auuentura  se  gl'attrauerzaranno  per  impedirgli 
1'ingresso  nella  detta  missione,  sia  loro  lecito  di  transferirei  e  di 
essercitare  le  medessime  facoltà  fra  li  gentili  dei  fiume  Mara- 
gnone  e  dei  Rio  delle  Amazoni,  in  quelle  parti  solamente  che 
non  piglierà  nella  Prouincia  de  Valenza,  in  euento  che  questa 
rissoluesse  di  cultiuare  quelle  anime,  sarà  ufficio  di  V.  S. 
íl  participare  la  presente  lettera  al  Padre  Prouinciale  suddetto 
d'Andaluzia  et  à  quello  di  Valenza,  acciò  restino  plenamente 


325 


informati  delia  mente  di  questa  Sacra  Congregatione  e  s'accor- 
dino  nel  pigliare  le  parti  di  quei  gentili  da  coltiuare  e  per  fine 
à  V.  S.  m'offero  e  raccomando.  / / 
Roma,  15  luglio  1645. 

[Francesco  Ingoli] 
APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  23,  fls.  145  V.-146  v. 


326 


104 


AUTO  DE  ANTÓNIO  MALHORQUIM 
SOBRE  A  OCUPAÇÃO  DE  S.  TOMÉ 

(24-7-1645) 

SUMÁRIO  —  Relata  em  -pormenores  a  ocupação  da  Ilha  de  S.  Tomé 
pelos  holandeses,  que  atraiçoaram  a  paz  e  capitulações 
feitas  com  Portugal  e  com  os  próprios  habitantes. 

Anno  do  naci mento  de  Nosso  Senhor  Jessus  Chnsto  de  mil 
e  seis  sentos  e  quarenta  e  sinco  annos,  aos  vinte  e  quatro  dias 
do  mes  de  Julho  do  dito  anno,  nesta  Cidade  de  Lisboa,  em  as 
pouzadas  de  Mathias  de  Albuquerque,  Conde  de  Alegrete,  dos 
conselhos  destado  e  guerra  de  Sua  Magestade,  elle  mandou 
chamar  a  mim  escriuão  ao  diante  nomeado  e  ao  escriuão  da  uara 
do  Meirinho  da  Corte,  Pero  da  Cunha  e  mandou  que  eu 
escriuão  continuaçe  este  autto  de  preguntas  feito  a  Antonio 
Malhorquim,  que  prezente  estaua,  a  quem  elle  Conde  deu  jura- 
mento dos  Santos  Euangelhos,  sob  cargo  do  qual  lhe  encarre- 
gou, que  bem  e  uerdadeiramente  declaraçe,  o  que  lhe  fosse 
perguntado,  comforme  húa  ordem  que  para  isso  tinha  de  Sua 
Magestade  que  Deos  guarde,  e  elle  sob  cargo  do  ditto  jura- 
mento que  recebeo  prometeo  dizer  uerdade;  e  ás  perguntas  que 
o  dito  Conde  lhe  fes  respondeo  pella  maneira  seguinte:  / / 

Que  elle  se  chamaua  Antonio  Malhorquim,  e  que  era 
natural  de  Tolom  de  França,  vizinho  e  cazado  nesta  Cidade,  no 
bairro  de  Alfama,  com  sua  molher  Barbora  Antunes,  enteada 
de  Chnstouão  Luis,  e  que  elle  declarante  Antonio  Malhorquim, 
fora  desta  Cidade,  há  uinte  e  noue  mezes,  embarcado  no  nauio 
S.  Pedro,  de  que  eráo  armadores  Pero  Jorge  e  André  Ferreira, 

327 


moradores  que  erao  nesta  Cidade,  na  Rua  da  Figueira,  e  que 
deste  porto  forao  em  direitura  á  Ilha  do  Príncipe,  aonde  esteue 
quarenta  dias,  a  qual  gente  mantinha  a  ditta  Ilha  por  EIRey 
Nosso  Senhor  Dom  João  o  quarto,  de  quem  legitimamente 
erao  uassallos,  e  que  passados  os  ditos  quarenta  dias,  partirão 
para  o  Cadauar  (*),  aonde  acharão  hum  nauio  ingrês  Pristor, 
resgatando  negros  pellas,  digo  pera  as  Ilhas  das  Barbadas,  nas 
índias  de  Castella,  e  que  o  dito  nauio  ingrês  tinha  doze  pessas 
de  artelharia  e  o  em  que  elle  declarante  hia  tinha  quatorze  (2), 
e  que  estiuerão  ambos  em  boa  comrespondencia  resgatando 
negros,  quatro  mezes  e  meyo,  e  neste  tempo  chegou  também 
aly  outro  nauio  deste  porto  de  Lisboa,  de  Manoel  de  Moraes, 
e  também  fizerão  resgate  de  negros  e  partiram  em  companhia 
delle  declarante,  leuando  o  dito  Manoel  Fernandes,  mais  de 
quatrocentos  negros  em  derrota  do  cabo  de  Lopo  Gonçalues 
para  dahy  ir  ao  Brazil,  ficando  ainda  o  nauio  ingrês  referido 
no  Cadauar,  fazendo  negros,  sem  em  todos  os  quatro  mezes 
e  meyo  entrar  aly  mais  nauio  algum,  e  que  elle  declarante  com 
o  baixel,  em  que  hia  São  Pedro  com  quatro  sentos  e  oitenta 
negros,  uiera  outra  [uez]  nesta  Ilha  do  Príncipe  a  fazer  augua- 
da,  mantimentos  e  lenha,  onde  esteue  quatro  meses,  e  neste 
tempo  chegou  ahy  outro  nauio  ingrês  de  uinte  e  quatro  pessas, 
que  já  trazia  seissentos  negros,  feito  no  mesmo  porto  de  Cada- 
dar  e  que  o  capitão  se  chamaua  Ruberto  Adam,  e  que  trazia 
hum  pataxo  de  seis  pessas  consigo,  com  duzentos  e  sinquoenta 
negros,  e  que  ambos  fizerão  viagem  para  a  Uirginia,  nas  índias 
de  Castella,  e  que  na  dita  Ilha  do  Príncipe,  por  ordem  do  go- 
uernador  de  São  Thomé,  fora  elle  declarante  prezo  para 
condestable  (3)  e  ser  leuado  para  o  exercitar  na  dita  Ilha  de 
São  Thomé,  para  onde  em  efeito  partio;  e  no  primeiro  de  De- 


(x)  O  actual  Calabar. 

(2)  No  texto:  quatrozc. 

(3)  Chefe  de  artelheiros. 


328 


zembro  do  anno  passado  de  seissentos  e  quarenta  e  quatro,  em 
hum  barco,  porque  a  sua  não  [hjauia  feito  viagem  para  a  Bahia, 
com  os  quatro  centos  e  oitenta  negros,  e  chegando  elle  declarante 
a  Sam  Thomé,  a  onze  de  Dezembro,  como  dito  tem,  e  dezem- 
barcando  quatro  legoas  do  porto  principal  donde  estuão  os  olan- 
dezes,  donde  chamão  Santa  Anna,  e  marchando  por  terra  para 
o  nosso  arrayal  onde  estaua  o  governador  Lourenço  Pires  de 
Tauora,  a  treze  do  dito  mez,  hauendo  a  onze  mandado  os  olan- 
dezes,  que  estauáo  na  fortaleza  de  Sam  Thomé,  hua  embaxada 
ao  dito  gouernador,  e  aos  mais  soldados  e  moradores  que  rezi- 
dião  no  dito  nouo  arrayal,  que  dentro  em  tres  dias  precizamente 
se  enttregassem,  e  que  se  o  não  fizessem,  a  fogo  e  a  sangue 
os  acabariao  a  todos  logo;  e  uendo  os  nossos  a  forsa  e  uiolencia 
que  se  lhe  [s]  fazia  de  supetto  contra  as  pazes  geraes,  que  tinham 
os  olandezes  com  Portugal  e  as  Capitulasões  particulares,  que  na 
mesma  ilha  tinham  feito  e  selebrado,  e  que  da  parte  dos  nossos 
se  tinham  pontualmente  guardado,  e  obseruado,  debaixo  de 
cuja  seguridade,  fee  e  palaura,  vieram  com  toda  a  confiança, 
posto  que  o  gouernador,  e  soldados  e  moradores  dezejauao  rezis- 
tir,  a  hua  violência  tão  tirana,  como  a  que  os  holandezes  lhe[s] 
fazião,  uendosse  faltos  de  socorro  e  do  necessário,  sem  preuen- 
sõis,  por  estarem  debaixo  da  paz  contraída,  firmes  na  seguridade 
que  possuião,  uendosse  com  hua  embaixada  tão  desuzada  e  con- 
traria ao  que  cuidauao,  ouuerão,  compelidos  desta  vioolencia  e 
necessitados  da  força  e  rigor  dos  olandezes,  a  çeder  de  seu  direito, 
sem  lhe[s]  ualer[em]  protestos  e  justas  preposiçôis  que  pri- 
meiro fizerao  e  reprezentarao  aos  ditos  olandezes,  que  obstina- 
do [s]  em  seu  preteixto,  sem  aduertir  rezão,  justiça,  paz,  Capitu- 
lasõis,  ou  couza  algúa,  rezolutamente  jnstarao  com  os  nossos 
que  logo  largasem  o  arrayal,  e  do  contrario  os  passariao  a  ferro 
e  fogo,  com  que  a  quinze  do  dito  mez  de  Dezembro,  ás  quatro 
da  tarde  do  anno  passado,  de  seissentos  e  quarenta  e  quatro, 
forsados  e  constrangidos  desta  violência  dos  olandezes,  entrega- 
rão os  nossos,  com  partido  de  que  pudessem  tirar  artelharia, 


329 


armas,  monissõis  e  gente  para  onde  quizessem  na  dita  Ilha,  e 
que  se  dentro  em  quarto  mezes  não  o[u]uesse  ahy  nauio  de  Por- 
tugal, que  os  conduzi  [rijão  para  este  Reino,  ou  para  outra  parte 
nossa,  elles  ditos  olandezes  lhe[s]  danão  embarcasõis,  pagando 
os  nossos  o  frete,  para  que  os  puzesem  fora  aos  que  asim  se  qui- 
zessem embarcar,  e  em  efeito  asim  se  concluio,  e  fizerão  os 
olandezes  fazer  acento,  asinado  pello  gouernador  Lourenço 
Piris  de  Tauora,  e  pello  seu  João  de  Mo  ler,  e  todos  os  mais 
oficiaes  de  húa  e  outra  parte,  tudo  em  forsa  e  uiolençia  dos  olan- 
dezes; e  logo  os  olandezes  comesarão  a  desmantelar  o  dito  nouo 
arrayal,  o  que  tudo  fizerão  e  obrarão  com  esta  exorbitância,  e  em 
uertude  [da]  ordem  que  tiuerão  de  Olanda,  que  lhe[s]  chegou 
em  hum  pataxo,  de  que  procedeo  toda  esta  execução,  falta  de 
palaura,  e  quebra  de  pazes  e  capitulasõis,  o  que  asim  era  publico 
e  praticado  entre  todos  os  olandezes,  e  que  elle  declarante,  no 
mesmo  dia  quinze  de  Dezembro  á  noite  se  embarcara  em  húa 
nao  ingreza,  que  [h]auia  oito  dias  tinha  chegado  áquelle  porto, 
da  costa  da  Mina,  com  uinte  e  duas  pessas  de  artelharia,  e  dous 
mil  marcos  de  ouro,  que  tinha  feito  em  cete  mezes  e  resgatado 
na  costa  da  Mina,  e  grande  quantidade  de  marfim,  com  que 
elle  declarante  ueyo  e  chegou  no  dito  nauio  a  Inglaterra,  em 
dezacete  de  Março  deste  anno  de  seissentos  e  quarenta  e  sinco, 
e  se  embarcou  em  dez  (4)  deste  mes  de  Julho,  nas  duas  naos  de 
Inglaterra,  e  chegou  a  este  porto  de  Lisboa,  anteontem,  vinte 
e  dous,  em  outro  nauio,  e  que  o  gouernador  Lourenço  Piris  de 
Tauora  dezia  em  Santhomé,  que  se  retiraua  a  huns  engenhos, 
e  os  moradores  repartidos  por  uanas  partes,  e  lhe  dera  húa  carta 
para  seu  Irmão,  dizendolhe  que  se  uiesse  logo  no  dito  nauio 
ingrês;  e  mais  não  declarou  o  dito  declarante,  e  do  sobredito 
elle  Conde  de  Alegrete  mandou  a  mim  escriuão,  fazer  este 
autto,  que  asinou  com  o  dito  declarante  e  comigo  escriuão,  c 


(*)  No  texto:  des. 


33° 


com  o  escriuão  Pedro  da  Cunha,  que  ambos  damos  nossas  fees 
passar  o  contheudo  na  uerdade.  / / 

Eu  Alvaro  de  Lima,  escriuão  da  Correição  do  Crime  desta 
Cidade  de  Lisboa,  o  escrevy  e  asiney.  / / 

Antonio  Malarquim  /  o  Conde  de  Alegrete  /  Aluaro 
de  Lima  /  Pedro  da  Cunha. 

LARANJO  COELHO  —  Ob.  cit.,  I,  págs.  262-264.  —  BNL  - Ms- 
7162  (F.  G.),  fls.  654. 


33 1 


105 


RELAÇÃO  DA  VIAGEM  DE  SOCORRO  A  ANGOLA 
DE  TEIXEIRA  DE  MENDONÇA  E  LOPES  SEQUEIRA 

(Abril-Julho  1645) 


SUMÁRIO  —  Desembarque,  viagem  pelo  sertão,  desastre  e  chachina  dos 
Portugueses  —  Chegada  do  Governador  Sotomaior. 


RELAÇAõ  DA  VIAGEM  QUE  FIZERAÕ  O  CAPITAÕ  MOR  ANTONIO 
TEIXEIRA  DE  MENDO  [N]ÇA,  E  O  SARGENTO  MOR  DOMINGOS 
LOPEZ  DE  SIQUEIRA  INDO  DA  BAHIA  EM  SOCORRO  A  ANGOLA 

Antonio  Teixeira  de  Mendonça  (l)  fora  tomado  em  Angola 
com  o  nosso  arrayal  á  falsa  fee  dos  Olandezes  na  barra  do  rio 
Bengo,  e  embarcado  com  os  mais  portuguezes  pera  o  Brasil, 
donde  passara  a  Portugal  a  seus  negócios.  Domingos  Lopez  de 
Siqueira  (2)  despois  daquella  treição  e  desbarato  do  nosso  cam- 
po, fora  mandado  da  mesma  Angola  ao  mesmo  Reyno  a  dar 
conta  a  Sua  Magestade  do  estado  em  que  ficaua  aquella  Con- 
quista e  a  pedirlhe  remédio.  Ambos  se  offerecerao  a  elRey 
em  Lisboa  pera  meterem  socorro  em  Massangano  se  lhes  fizesse 
taes  e  taes  mercês.  Despachados  e  contentes  se  embarcarão  pera 
o  Brasil,  remetidos  de  elRey  ao  gouernador  pera  que  os  pro- 
uesse  de  gente,  munições  e  embarcações.  Sairão  da  Bahia  aos 


(*)  Capitão-mor  de  cavalos  e  cabo  de  companhias,  capitão-mor 
da  Fortaleza  de  Massangano,  governador  eleito,  capitão-mor  do  Reino 
de  Angola  por  patente  de  Salvador  Correia  de  18-4- 1649. 

(2)  Capitão  da  guarda,  acompanhou  a  Luanda  as  duas  irmãs  da 
Ginga,  tomadas  em  25-5-1629. 


332 


8  de  Feuereiro  do  ano  passado  de  1645  (3)  com  260  infantes 
e  os  officiaes  de  guerra  seguintes:  Antonio  Diaz  Maguinhos, 
Antonio  Bello  do  Leão,  Antonio  Soarez  de  Azeuedo,  Antonio 
da  Fonseca  Homem,  Custodio  Antunez  da  Sylua,  Baltazar 
Rebello  de  Aragão  Antonio  Lopez,  Antonio  de  Madureira, 
Bras  de  Espinosa  Antonio  Gonçaluez,  Manoel  da  Costa, 
João  Roíz  (5),  Manoel  Correa:  e  os  officiaes  reformados,  o  Capi- 
tão mor  que  foi  de  Benguella  ChnstouaÕ  Rodriguez,  o  Sargento 
mor  André  Antunez,  o  Sargento  mor  Mathias  Telles  Bar- 
reto (6),  o  Capitão  Manoel  Gomez  Leyria,  o  Capitão  Antonio 
Teixeira  da  Fonseca,  o  Capitão  Antonio  Luiz  Pereda,  o  Capitão 
Francisco  Roís  da  Cunha,  o  Ajudante  Joaõ  da  Sylpa,  o  Alferes 
Afonso  Pegado,  o  Alferes  Ignacio  Gonçaluez,  o  Alferes  Joseph  da 
Sylua,  Nicolao  de  Siqueira,  Vicente  de  Andrade,  Joaõ  Rodriguez 
Panasques  e  outros  muitos,  mais  e  menos  conhecidos. 

Hiaõ  todos  em  duas  naos,  e  em  hum  barco  de  elRey:  e  em 
pouco  menos  de  dous  meses  com  prospera  uiagem  tiueraõ 
uísta  da  costa  de  Angola  aos  4  de  Abril:  a  qual  foraõ  correndo 
sem  tomarem  falia,  sendo  que  foraõ  uistos  dos  Olandezes  do 
nosso  presidio  de  Benguella:  e  o  Capitão  mor  dos  Portuguezes, 
Manoel  Pereira  (7),  tendo  pera  si  que  seria  gente  nossa  polo 
barco  latino,  despedio  logo  hum  soldado  filho  da  terra  a  saber 
onde  desembarcauão:  o  qual  os  alcançou  mais  de  30  léguas  de 

(3)  Se  bem  que  referente  a  acontecimentos  ocorridos  em  1645, 
foi  redigido  em  1646,  como  o  prova  esta  afirmação. 

(*)  Brás  de  Espinosa  Navarrete,  capitão,  foi  em  socorro  da  Mu- 
xima,  quando  cercada  pelos  holandeses. 

(5)  Capitão,  cabo  de  lancha  no  Cuanza,  capitão  da  gente  do  mar  e 
morador  em  Loanda. 

(6)  Capitão  da  Fortaleza  de  Santa  Cruz  de  Luanda  em  1624,  sar- 
gento-mor,  capitão  mor  de  Ambaca  em  1643,  foi  um  dos  4  portugueses 
salvos  do  desastre  de  Indecuta. 

(7)  Sucedeu  em  1642  a  Higino  Roiz  Calado  por  eleição  dos  sol- 
dados sujeitos  aos  holandeses,  que  estavam  em  Benguela.  Em  Julho 
de  1645  ainda  exercia  o  cargo  de  capitao-mor. 


333 


Benguella,  indo  elles  iá  marchando  por  terra:  que  ouuindo  o 
recado,  e  offerecimento  dos  nossos  naÕ  fizeraÕ  nenhum  caso,  mas 
tomarão  o  soldado  e  o  leuarao  consigo,  como  adiante  se  dirá 

Chegarão  estes  nauios  ao  Rio  Quicombo,  onde  a  gente 
desembarcou,  em  quarta  feira  de  treuas  (8) :  e  logo  foraõ  uisi- 
tados  de  Mani  Quicombo,  senhor  da  terra:  na  qual  estiueraõ 
cinco  dias,  que  se  gastarão  em  desembarcar  as  munições,  as  quaes 
caregaraõ  os  vassallos  de  Mani  Quicombo  com  os  de  outro 
soua  seu  chamado  Gunza  a  Cabollo,  até  ás  terras  do  soua  senhor 
do  cobre,  por  nome  Angolalondo,  que  dista  de  Quicombo  dez 
léguas.  / / 

E  aqui  os  ueio  alcançar  Antonio  Manoel,  que  era  o  soldado 
de  Benguella,  que  dissemos  lhes  uiera  com  o  recado  dos  Portu- 
guezes,  a  que  elles  naõ  quiseraÕ  responder,  antes  leuarao  con- 
sigo o  mesmo  soldado,  com  medo  de  que  fosse  meixincar  aos 
Olandezes,  que  iá  delles  tinhaõ  noticia  quando  os  uiraõ  passar 
por  diante  de  Benguella. 

Nestas  terras  do  soua  do  cobre  tiveraõ  os  nossos  embaixada 
do  soua  Zamba,  que  hé  senhor  de  toda  aquella  Poruincia,  cha- 
mada Sumbi:  que  os  estaua  aguardando  nos  confins  da  sua  ter- 
ra, pera  os  acompanhar,  como  uassallo  que  era  de  elRey  de 
Portugal.  Até  este  Zamba  os  acompanharão  e  carregarão  as 
munições  os  uassallos  dos  dous  souas  passados. 

Era  o  tempo  de  chuuas  e  de  calmas  grandíssimas,  que  na- 
quelles  meses  foraõ  muitas  naquellas  terras:  nas  quaes  come- 
çarão logo  a  picar  as  doenças,  de  maneira  que  dentro  de  24  horas 
cairão  duzentos  doentes,  que  até  estas  terras  de  Zamba  tinhaÕ 
uindo  saÕs,  e  foi  milagre  aturarem  tanto,  e  adoecendo  naõ  morre- 
rem todos,  sendo  os  tempos  taes  e  caminhando  por  lamas  e  ato- 
leiros, e  hauendo  dous  annos  que  andauaõ  per  fora  daquelles 
climas,  e  uinhaõ  agora  como  gente  noua:  acodiaõlhes  com 


(8)  Dia  12  de  Abril. 


334 


confissão  o  P."  Francisco  da  Cunha,  vigairo  de  Massangano  e 
o  P.e  Frey  Elias,  Carmelita,  que  com  elles  [uiera]  do  Brasil, 
pera  que  lhes  não  faltasse  o  remédio  das  almas,  pois  lhes  faltaua 
o  dos  corpos. 

Pera  comboyar  a  estes  foi  necessário  marchar  o  Sargento  mor 
Domingos  Lopez  de  Siqueira  húa  jornada  adiante  atté  ás  terras 
de  hum  soueta  vassalo  de  Zamba:  o  qual  mandou  poios  seus  car- 
regar aos  doentes  e  trazellos  ao  seu  sitio:  por  resaõ  do  que  e  de 
se  comboyarem  as  munições,  foi  forçado  aguardarse  alli  20  dias: 
no  cabo  dos  quaes  se  ajuntou  naquella  parajem  toda  a  nossa 
gente  com  o  mesmo  soua  Zamba:  donde  o  Sargento  mor  Do- 
mingos Lopez  de  Siqueira  se  auançou  mais  duas  jornadas  até 
perto  do  Rio  Cubo,  com  dous  Capitães  e  uinte  soldados,  que 
somente  hauia  saõs:  e  pera  este  nouo  [sitio],  mais  perto  do  Rio 
Cubo,  em  cuia  demanda  hiaÕ,  se  leuaraõ  pouco  e  pouco  os  doen- 
tes, no  que  se  gastou  um  mês  e  alguns  dias  mais.  / / 

Neste  sitio  estaua  alojado  um  iaga,  por  nome  Muniquian- 
gombe,  a  quem  outros  íagas,  que  estauaõ  da  outra  banda  do 
Rio  Cubo,  tinhaõ  lançado  daquellas  partes,  o  qual  com  a  chegada 
dos  nossos  se  lhe[s]  ueio,  offerecer,  pera  tudo  o  que  lhes  fosse 
necessário,  até  pôr  a  uida  em  seu  seruiço,  com  [o]  em  ef feito 
fez,  morrendo  com  elles  na  guerra  dos  outros  iagas. 

Tratouse  logo  de  fazer  ponte,  porque  se  naõ  podia  de  outra 
maneira  passar  o  Cubo,  que  demais  de  ser  caudeloso  e  furioso, 
era  antaõ  tempo  de  muitíssimas  chuuas,  que  o  faziaõ  mais 
crecido. 

Fezse  a  obra  com  ajuda  dos  Souas,  á  custa  da  uida  de  seis 
negros  que  morrerão  sem  remédio,  arrebatados  do  Rio:  os  Souas 
que  trabalhauaõ  eraõ  o  mesmo  Zamba,  Mu  [nijquiangombe, 
Cacumba,  Quibuba,  Buga,  Rianzamba,  Cangoma,  Quibu- 
lungo:  quasi  todos  vassallos  do  Zamba.  Entre  os  quaes  se  assen- 
tou logo,  que  feita  a  ponte  se  desse  guerra  aos  iagas  e  Souas 
que  estauaõ  da  outra  banda,  porque  nos  queriaõ  impedir  o 
caminho:  e  em  ef  feito  com  muita  frecharia  e  armas  de  fogo,  de 


335 


que  atirauaõ  pelouros  de  cobre,  pertenderaõ  impedir  a  ponte, 
que  pera  se  leuar  ao  cabo  foi  necessário  assistirlhe  o  mesmo  Sar- 
gento mor  Domingos  Lopez  de  Siqueira,  com  cento  e  sete 
Portuguezes  dos  que  hiaõ  conualecendo,  que  á  força  dos  seus 
mosquetes  e  com  mortes  de  muitos  íagas  se  fizeraõ  retirar,  e 
deraõ  lugar  á  fabrica. 

Feita  ella  se  passou  da  outra  parte  e  alli  se  ajuntarão  todos 
os  que  hauiaõ  de  marchar.  Estes  eram  os  cento  e  sete  Portugue- 
zes que  assistirão  ao  fazer  da  ponte: sete  pera  oito  mil 
negros  da  terra,  parte  do  iaga  Muniquiangombe,  que  disse 
se  oferecera  aos  nossos  pera  os  acompanhar  e  acompanhou  fide- 
lissimamente  até  morrer  com  elles:  parte  do  Soua  Zamba  e  dos 
Souas  seus  uassallos. 

Atrás  nas  terras  do  souetta  de  Zamba  ficauaõ  cento  e  cin- 
coenta  e  tres  Portuguezes,  com  o  Capitão  mor  Antonio  Teixeira 
de  Mendo [n]ça,  que  era  o  restante  dos  que  tinhao  uindo  da 
Bahia,  por  estarem  doentes:  determinados  de  fazerem  a  mesma 
uiagem  despois  de  conualecidos:  não  sabendo  o  mal  de  que 
Deos  os  liuraua  e  a  mercê  que  lhes  fazia  em  lhes  mandar  as 
doenças. 

Partirão  pois  os  que  estauaõ  dallem  do  Rio  a  cabo  de  cinco 
dias  que  alli  se  detiueraõ  juntos  e  aparelhados  pera  o  caminho, 
por  esperarem  a  hum  Soua  que  se  queria  uir  auassallar,  graõ  fei- 
ticeiro e  que  se  intitulaua  o  senhor  das  chuuas.  Seguião  todos  ao 
mesmo  Sargento  mor  Domingos  Lopez  de  Siqueira,  que  os  capi- 
taneaua:  homem  nacido  em  Angola,  criado  naquellas  conquis- 
tas, de  muita  experiência  da  terra,  grande  língua,  mui  destro  e 
intelligente  nas  guerras  dos  negros:  qualidades  necessanssimas 
pera  aquelas  partes:  mas  nesta  occasiaõ  naÕ  bastarão. 

A  duas  jornadas  derão  com  os  inimigos:  eraõ  huns  íagas 
que  no  anno  atrás  de  44  tinhão  os  nossos  Portuguezes  da  Con- 
quista lançado  das  terras  dos  Souas  nossos  amigos:  a  quem  faziaõ 
grande  dano  e  os  inquietauaõ:  e  tendo  agora  noticia  [de]  que 
esta  gente  queria  fazer  a  mesma  conquista,  não  lhes  podendo 


336 


impedir  a  ponte,  se  afastarão  pera  este  lugar,  forçados  da  sua 
mosquetaria,  entre  huãs  serras  e  mattos,  cuidando  que  aqui 
melhor  os  ímpedinaõ,  ao  passar  do  outro  Rio  que  ah  estaua, 
e  daua  aos  nossos  polia  sinta.  Tinhaõ  feito  hua  rochoada  (e) 
forte  com  suas  guaritas  e  capaz  (10)  de  muita  gente:  donde 
pelejarão  com  arcos  e  armas  de  fogo,  que  lhe[s]  deraó  negros 
que  com  os  nossos  tratauão  e  lhas  mercauao  por  pessas,  que  saó 
escrauos. 

Erao  estes  inimigos  uinte  mil:  e  com  estarem  em  sitio  e  em 
numero  de  uentagem  uindo  á  briga  os  nossos  os  lançarão  da  trin- 
cheira; e  elles  pondo  fogo  à  pouoaçao,  se  foraõ  retirando  como 
puderaõ  pera  as  terras  do  Soua  Sudecuta,  onde  com  outros  Souas 
seus  amigos  fizerão  noua  resistência.  Acometerão  os  nossos  com 
tanto  ualor  e  esforço,  que  dentro  cm  meia  hora  romperão  cami- 
nho e  se  fizerão  senhores  das  suas  trincheiras,  que  elles  braua- 
mente  defenderão:  porém  como  erão  tantos  em  numero  e  em- 
pregauão  nos  nossos  negros  suas  frechas,  muitos  delles  cahiraõ 
e  os  mais  enfraquecerão  e  finalmente  fogiraõ.  / / 

Os  nossos  vendose  desemparados  da  gente  preta  e  aperta- 
dos dos  iagas,  que  uendo  fogir  os  negros  derão  a  uitoria  por 
alcançada,  e  uieraõ  sobre  os  Portuguezes  com  muita  fúria,  se 
recolherão  todos  sobre  hua  lagem,  donde  lhes  pareceo  que  se 
poderiaõ  melhor  defender:  porem  ficarão  mais  descubertos  e 
puderaõ  os  iagas  uer  quam  poucos  craõ,  com  o  que  lhes  creceo 
o  animo  e  com  mor  aperto  os  acometerão.  Com  tudo,  os  nossos, 
dandose  lá  por  perdidos,  como  gente  desesperada  se  defenderão 
taõ  fortemente  que  muitas  ueses  faziaõ  desuiar  os  negros  e  os 
leuauão  muito  espaço  diante  de  si.  Elles  tendo  por  milhor  to- 
mallos  sem  briga,  porque  uiaõ  cair  muitos  dos  seus,  bradauaõ 
aos  nossos  que  se  dessem  a  bom  quartel  e  particularmente  no- 


(9)  Conjunto  de  rochas,  pequena  fortaleza. 

(10)  No  original:  capas. 


as 


337 


meauaõ  por  seu  nome  ao  Capitão  mor  que  fora  de  Benguella, 
Chnstouaõ  Roíz,  cometendo-lhe  o  concerto.  / / 

Tiuerão  por  bem  os  Portuguezes  entregarense,  por  estarem 
todos  frechados  e  muitos  com  muitas  frechas  e  as  naÕ  poderem 
tirar,  alguns  mortos  e  todos  famintos,  por  não  terem  comido  em 
todo  o  dia,  e  tam  cançados  de  pelejarem,  e  fracos  e  esuaidos  de 
sangue,  que  se  nao  podia  ter  nem  bolir.  ForaÕ  forçados  a  se 
fiarem  de  bárbaros,  sem  Deos,  sem  Rey,  sem  Ley,  sem  palaura, 
sem  compaixão,  sem  policia:  entregaraõse  a  inimigos  tam  cruéis 
que  comem  carne  humana.  Os  quaes  tanto  que  se  uiraõ  senho- 
res delles,  a  primeira  cousa  que  fizeraõ  foi  despojaremnos  das 
armas:  logo  os  despirão  e  sem  se  poderem  ter,  nús,  e  batendo 
as  palmas  (que  entre  elles  hé  sinal  de  reconhecimento  e  sojeiçaõ 
e  próprio  de  catiuos)  os  fizerao  ir  correndo  diante  de  si,  atiran- 
dolhes  detrás  muitas  frechas,  de  que  eraõ  certas  barreiras, 
e  tanto  que  cahia  algum,  dauaõ  sobre  elle  com  machadinhas, 
principal  arma  dos  iagas  e  em  pedaços  o  fazião,  e  era  ditoso 
aquelle  que  lhe  alcançaua  algum  pedaço. 

Sucedeo  esta  desgraça  aos  19  de  Junho  de  645,  nas  terras 
de  Indecuta,  entre  o  Rio  Cubo  e  o  Rio  Longa,  seis  jornadas 
do  nosso  presidio  de  Cambambe  e  30  léguas  do  porto  onde 
tinhaõ  desembarcado,  quasi  uesinhos  dos  Souas  do  Lubollo 
nosos  amigos  e  uassallos,  ficandolhes  a  Quissama  á  maõ 
esquerda,  da  outra  parte  do  Longa. 

Nesta  desestrada  guerra  morrerão  cento  e  tres  Portuguezes, 
de  cento  e  sete  que  eraõ;  porque  quatro  escaparão  milagrosa- 
mente, escondidos  entre  huns  mattos  e  com  elles  morreo  o  íaga 
Muniquiangombe,  que  nas  terras  do  Soua  Zamba  se  lhes  fora 
offerecer  pera  os  acompanhar  até  à  morte:  da  qual  pudera  esca- 
par, como  os  mais  negros  fizerao  quando  fogiraõ,  uendo  tudo 
perdido,  quis  antes  perder  a  uida  que  faltar  com  a  promessa: 
que  até  entre  bárbaros  e  iagas  se  podem  achar  corações  nobres 
e  fieis.  Morreo  entre  os  mais,  o  mesmo  Sargento  mor  Domin- 
gos Lopez  de  Siqueira:  e  outros  muitos,  ou  naturaes  ou  mora- 


338 


dores  de  Angola,  pessoas  de  grandes  casas  e  de  muitos  mil 
cruzados,  criados  com  todo  regallo  e  mortos  em  tanta  miséria, 
que  pera  quem  os  conheceo  hé  cousa  de  grandíssima  lastima:  / / 

Hé  grande  o  juiso  de  Deos  que,  escapando  das  doenças  da 
Conquista  quando  perderão  a  Loanda,  dos  pelouros  dos  Olan- 
dezes  quando  deraÕ  no  nosso  arrayal,  dos  naufrágios  do  mar 
quando  os  lançarão  pera  o  Brasil,  aonde  chegarão  mirrados  á 
pura  fome  e  sede:  agora  uierao  acabar  nas  portas  de  sua  pátria, 
catiuos  dos  que  eles  catiuauão,  às  mãos  de  bárbaros  mais  cruéis 
que  feras,  feitos  manjares  de  íagas,  sepultados  em  seus  uentres! 
Perderão  aquellas  Conquistas  nestes  cem  homés  mil  soldados: 
porque  por  estarem  lá  feitos  àqueles  climas,  calejados  com  os 
trabalhos  da  terra,  bem  disciplinados  e  intelligentes  nas  guerras 
dos  negros:  ualia  cada  hum  por  dez  dos  que  naõ  tem  estas 
partes,  porque  por  bons  soldados  que  sejaÕ,  quando  uaÕ  pera 
alli  de  nouo,  ainda  que  escapem  da  primeira  doença,  tarde  se 
fazem  quaes  pera  alli  saÕ  necessários. 

Da  gente  que  deste  destroço  (n)  desappareçeo  uiua  naõ 
appareceraÕ  mais  que  cinco  homens:  o  Soua  Zamba,  e  os  quatro 
Portuguezes  (12)  que  se  metteraõ  nos  matos.  O  Soua  acompa- 
nhaua  aos  nossos,  e  desemparado  de  todos  os  seus,  se  tornou 
pera  as  suas  terras  a  dar  a  triste  noua  ao  Capitão  Mor  Antonio 
Teixeira  de  Mendo  [n]ça  e  aos  mais  Portuguezes  que  nellas 
ficarão  com  elles  doentes,  dàquem  do  Rio  Cubo  pera  o  mar:  os 
quatro  Portuguezes  chegarão  pouco  despois.  Dos  quaes  era  hum 
Antonio  Manoel,  o  mesmo  soldado  que  uiera  de  Benguella  com 
o  auiso  do  Capitão  mor  daquelle  Reyno  e  dos  mais  Portuguezes 
a  esta  gente,  pera  fazerem  o  que  deuerao  fazer  e  não  quiseraõ; 
leuando  consigo  à  força  o  pobre  soldado,  e  metendoo  em  taõ 


(u)  No  original:  destorso. 

(12)  O  alferes  André  Soares,  que  depois  se  incorporou  com  Fran- 
cisco de  Sotomaior,  Matias  Teles  Barreto,  António  Manuel,  soldado 
da  guarnição  de  Benguela  e  o  Toar. 


339 


grande  perigo,  por  temerem  que  por  elle  soubessem  os  Olan- 
dezes  de  sua  uinda:  no  que  se  enganarão,  e  errarão,  e  por  isso 
tiueraõ  tam  miresauel  fim.  / / 

A  este  soldado  mandou  logo  Antonio  Teixeira  à  mesma 
Benguella  com  a  noua  do  sucesso  dos  Portuguezes  mortos  e  do 
estado  dos  uiuos:  pera  que  o  Capitão  mor  e  os  mais  Portuguezes 
daquelle  Reino  lhes  acodissem  com  o  socorro  que  pudessem,  de 
sustento  e  segurança,  porque  de  ambos  estauaõ  faltos;  e  pola 
falta  de  ambos  em  grande  perigo.  Mandou  também  recado  aos 
do  barco  delRey,  que  estauaõ  no  porto  de  Quirombo,  pouco 
menos  de  30  léguas  dalli,  que  se  naõ  fosse  e  esperassem  até 
clle  com  os  mais  Portuguezes  se  tornarem  pera  aquelle  porto: 
auisando  os  da  resaõ  porque  o  fanaõ:  que  era  a  perda  dos  mor- 
tos, e  a  miséria  dos  uiuos,  e  a  difficuldade  que  hauia  no  caminho 
pera  a  nossa  Conquista.  / / 

Entretanto  tratou  com  o  Soua  de  fazerc  mudança  pera 
lugares  mais  uesinhos  do  mar,  por  se  não  darem  alli  por  segu- 
ros tam  perto  das  terras  inimigas.  E  deste  segundo  sitio  pera 
onde  o  Soua  os  leuou,  pertenderaõ  de  nouo  iremse  pera  o  porto 
onde  estaua  o  barco  delRey:  mas  o  Soua  os  procurou  impedir 
dizendo  que  estauaõ  doentes,  e  temendo  que  os  inimigos  lhe 
dessem  guerra,  poios  conduzir  por  suas  terras:  e  houue  quem 
cuidou  que  o  fazia  o  Soua  por  se  ficar  com  o  fato  daquellcs 
homens  nas  maõs,  uendo  os  tam  doentes  e  desmaiados,  e  per- 
suadindose  que  morrenaõ.  Porem  fello  Deos  melhor  com  elles: 
porque  com  a  chegada  da  noua  a  Benguella  do  estado  em  que 
ficauaõ,  se  partio  logo  de  lá  o  Capitão  Antonio  Gomez  de  Gou- 
uea  (13)  com  muito  gado  vacum,  carneiros  c  fazendas  pera 

(13)  Prático  sertanejo  «dos  mais  instruídos,  c  experientes  destes 
payses»,  servia  em  Angola  desde  1617.  Nomeado  capitáo-mor  por 
Sotomaior  na  ocasião  cm  que  o  Governador  quis  conduzir  a  artilharia 
c  munições  do  porto  do  Suto  para  Massangano,  «tendo-se  encarre- 
gado das  cousas  que  de  maior  consideração  se  offereceram  na  dieta 
conducção».  Em  Junho  de  45  era  capitão  c  estava  em  Benguela.  Por 


34° 


mercar  mantimentos,  Souas  e  gente  preta  pera  assegurar  e  ani- 
mar os  doentes,  que  com  a  sua  chegada  cobrarão  aluno  e  alento: 
sem  de  nada  de  tudo  isto  saberem  os  Olandezes. 

Desta  maneira  corriao  as  cousas,  quando  aos  25  de  Junho 
chegou  àquellas  Costas  o  nouo  Gouernador  de  Angola  Francisco 
de  Sotto  Mayor  com  a  sua  armada:  em  que  leuaua  munições 
e  armas  e  trezentos  homens  de  infanteria,  afora  os  officiaes  de 
guerra:  e  quando  aos  17  de  Julho  foi  reconhecer  a  Bahia 
Farta,  o  Irmão  Antonio  Pirez  (14),  da  Companhia  de  Jesu,  que 
hia  com  o  Gouernador. 

A  este  Irmaõ  ueio  fallar  nesta  Bahia  o  Capitão  mor  de 
Benguella  Manoel  Pereira,  que  lá  sabia  da  uinda  do  Gouer- 
nador por  hum  soldado  daquelle  presidio,  que  de  huá  praya 
afastada  tiuera  insta  da  armada,  e  ido  a  bordo  da  Capitania  e 
tornado  a  terra  com  a  noua.  Pedio  pois  o  Capitão  ao  Irmaõ  o 
leuasse  ao  Gouernador;  porque  tinha  negócios  que  tratar  com 
elle  de  muita  importância  e  do  seruiço  delRey.  E  leuando  o 


provisão  de  Salvador  Correia  (Agosto  de  1648)  foi  governar  Benguela. 
Em  9  de  Dezembro  de  1649  tinha  recolhido  a  Luanda  por  ser  idoso. 
No  princípio  de  1665  tornou  para  Benguela  por  provisão  do  governa- 
dor Chichorro,  com  ordem  de  fazer  a  mudança  de  Benguela  para  sítio 
menos  doentio.  Nomeado  pelo  Rei  em  13-7-1665,  teve  patente  em  23 
do  mesmo  mês  por  3  anos.  (Arquivos  de  Angola,  cit.,  p.  142). 

(14)  Natural  de  Benavente,  onde  nasceu  em  1604.  Ahstou-se  na 
Companhia  de  Jesus  aos  33  anos.  Piloto  da  nau  do  Governador  Soto- 
maior.  Autor  da  narrativa  do  socorro  de  Sotomaior  e  talvez  se  lhe 
possa  atribuir,  ((pelas  referências  que  encerra,  e  até  pelo  estilo»,  a  auto- 
ria da  i.a  Relação,  diz  o  P.  Artur  Viegas.  Conhecido  cm  Angola  pela 
alcunha  de  «Ganga  Anjaire»,  «por  ser  muito  antigo  nela».  Teve  papel 
importante  no  socorro  de  Sotomaior.  «Tomou  á  sua  conta  o  Combóy 
de  duas  peças  de  mayor  calibre,  as  quaes  veyo  combóyando  do  Suto, 
atraveçando  a  Quisama  por  onde  veyo  todo  o  mais  com  os  Escravos 
e  Forros  do  Collegio,  fazendo  aquelle  serviço  com  gosto  e  alegria, 
mostrando-se  zeloso  no  serviço  da  Sua  Magestade».  (Arquivos  de  An- 
gola cit.,  p.  143). 


34' 


Irmaõ  a  nao,  representou  o  Capitão  ao  gouernador  o  sucesso 
que  tiueraõ  os  [que]  uieraõ  da  Bahia  em  socorro:  as  mortes  de 
huns,  o  estado  dos  outros,  e  quanto  importaua  tomar  Sua  Se- 
nhoria o  porto  de  Quicombo,  pera  os  assegurar  e  recolher,  a 
si  e  às  armas  que  tinhaõ  consigo:  porque  tudo  estaua  em  gran- 
díssimo risco. 

Fello  assi  o  gouernador,  entrando  naquelle  porto  aos  25  de 
Julho:  com  o  eco  da  artelharia  e  noua  da  chegada  da  armada 
entrou  tal  bramo  polia  terra  que  os  negros  se  intimidarão  e  os 
Souas  com  diligencia  e  boa  graça  condusirão  os  nossos  à  praya, 
que  estauaõ  pola  terra  dentro,  e  tudo  o  que  consigo  tinhaõ. 
Chegarão  aos  26  de  Julho:  e  com  ficarem  como  reçucitados  e 
alentados  quando  tiuerão  a  noua  da  chegada  do  gouernador  e 
sua  armada  e  que  os  hia  buscar  ao  porto  de  Quicombo:  e  com 
tudo  elles  chegarão  taes  que  nao  hauia  quem  com  lastima  os 
pudesse  uer:  mirrados,  amarellos,  fracos,  despidos,  e  sem  se 
poderem  ter.  Desejou  summamente  o  gouernador  ter  muito 
pera  os  curar  e  regalar.  E  agradeceo  ao  Capitão  mor  de  Ben- 
guella,  e  ao  Capitão  Antonio  Gomez  de  Gouuea  o  cuidado  com 
que  os  socorrerão  ás  suas  custas,  com  gados,  fazendas,  gente  e 
mantimentos,  com  tanta  liberalidade  e  largueza,  como  se  não 
estiuerão  alcançados  e  catiuos  dos  olandezes:  e  o  que  mais  hé, 
com  tam  boa  ordem  e  segredo  que  nunca  elles  o  puderão  saber. 

Foy  a  tam  bom  tempo  esta  ida  do  Gouernador  àquellas 
partes,  não  só  pera  remédio  daquelles  miseraueis,  mas  pera 
o  de  toda  a  Conquista  de  Angola,  que  bem  parece  o  leuou  alli 
Deos.  Porque  se  elle  não  chegaua,  estauaõ  todos  aquelles 
homens,  que  erão  cento  e  cincoenta  e  tres,  tam  auorrecidos 
com  as  misérias  e  trabalhos  em  que  se  uiaõ,  que  quando  esca- 
passem das  doenças  e  dos  negros,  se  tinhaõ  todos  resoluto  a  se 
irem,  huns  pera  a  Bahia  no  barco,  outros  pera  os  Olandezes  de 
Benguella  a  lhe  pedirem  passajem,  sem  mais  tratarem  de  An- 
gola nem  se  lembrarem  delia:  o  que  seria  de  gram  dano  e 
perigo  para  ella,  porque  estaua  actualmente  em  grandíssimo 


342 


risco,  mui  falta  de  armas  e  gente  e  mui  oprimida  de  negros 
inimigos. 

Com  a  chegada  do  Gouernador  elles  sairaõ  do  poder  dos 
negros  e  das  misérias  em  que  estauaõ:  o  Gouernador  os  recolheo, 
e  animou,  elles  foraõ  conualescendo  e  dispondose  com  alegria 
pera  acompanhar?  o  mesmo  Gouernador  à  Conquista.  E  An- 
gola com  ambas  as  nouas  também  respirou  e  reuiueo. 

Quando  em  Lysboa  se  tratou  de  mandar  a  Angola  este 
desestrado  socorro,  que  foi  no  ano  de  44,  mandou  o  Conselho 
Ultramarino  hua  carta  ao  P.e  Reitor  de  S.  Antaõ  (15)  em 
que  lhe  pedia  mandasse  àquelle  Conselho  dous  Religiosos  que 
tinhão  estado  em  Angola,  pera  se  communicar  com  elles  este 
negocio.  Foy  hum  o  Irmaõ  Gonçallo  João,  que  tinha  estado  na- 
quelle  Rey  no  36  annos:  outro  o  Irmaõ  Antonio  Pirez,  que 
tinha  estado  nelle  24.  A  estes  se  entregou  no  Conselho  hum 
papel,  em  o  qual  os  dous  nomeados  Antonio  Teixeira  de  Men- 
do [n]ça  e  Domingos  Lopez  de  Siqueira  se  offereciáo  a  elRey 
pera  ambos  meterem  este  socoro  na  Conquista  daquelle  Rey  no: 
pera  que  estes  Religiosos  respondessem  o  que  sobre  isto  lhes 
parecia,  por  sua  experiência.  / / 

De  ambos  foi  refutado  este  desenho,  mostrando  por  seis 
resoens  ser  impossiuel,  as  quaes  apresentarão  no  mesmo  Conse- 
lho por  escrito,  por  assi  lhes  ser  pedido:  mas  quando  as  lerão 
os  Conselheiros,  o  que  mais  zeloso  se  mostraua  do  seruiço  de 
sua  Magestade  respondeo  que  aquellas  resoes  mais  erao  de 
quem  queria  encontrar  (18)  o  seruiço  delRey,  que  de  zelo  de  o 
seruir:  o  que  sabendo  o  Padre  Antonio  Mascarenhas,  (17)  Pro- 
uincial,  ordenou  aos  dous  Irmãos  lhe  dessem  as  mesmas  resoes 
por  escrito:  o  que  elles  fizeraõ  assinandose  ambos  ao  pé.// 


(15)  Era  então  o  P.e  Diogo  Machado.  (Nota  de  A.  Viegas). 

(16)  Contrariar. 

(1T)  Natural  de  Montemor-o-Novo;  filho  de  D.  Vasco  Masca- 
renhas e  de  D.  Maria  de  Mendonça;  Reitor  do  Colégio  de  Coimbra 

343 


Mas  como  delles  se  naõ  fez  outro  caso,  que  o  que  está 
dito,  os  dous  que  se  ofíerecerão  pera  leuar  socorro  foraõ  despa- 
chados pera  o  leuarem,  como  o  pedirão,  com  muitas  mercês  del- 
Rey  e  officios  pera  casamentos  de  filhas.  Mas  o  sucesso  mos- 
trou quaes  foraõ  os  que  se  enganarão. 

BNM  —  Ms.  8.187  —  Relações  manuscritas  de  Portugal  desde  o 
anno  de  1641  até  1646,  fls.  61-65  V-  —  Publicado  por  Artur  Viegas  na 
Revista  de  História,  1923  (XII),  n.°  45,  págs.  13-18  e  cm  Arquivos  de 
Angola,  Luanda  1943- 1944,  (I),  n.°  3-6,  com  numerosos  erros  de  cópia. 


em  1601;  nomeado  pela  primeira  vez  Provincial  em  20-2-1604;  assis- 
tente da  Congregação  Geral  de  1608  a  16 15;  novamente  Reitor  do 
Colégio  de  Coimbra  e  Provincial  Visitador;  morreu  em  1-9- 1648. 
( Arquivos  de  Angola  cit.,  p.  144)- 


344 


106 


CARTA  DOS  MISSIONÁRIOS  CAPUCHINHOS 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(5-8-1645) 

SUMÁRIO  —  Chegada  dos  missionários  à  Baía,  no  Brasil  —  Embarque 
para  Angola,  que  se  julgava  estar  na  fosse  dos  portu- 
gueses, bem  como  o  estado  de  Pernambuco. 

Ill.mo  e  Reuer.mo  Signor  et  Padrone  mio  Osseruandissimo 

Facio  sapere  a  V.  S.  111."14  come  per  la  disgratia  siamo 
arnuati  hien  2  dei  presente  alia  Baya  de  Todos  os  Santos,  dis- 
costa  lega  1300  et  non  ostante  che  per  esser  vascello  solo  per 
tema  d  olandesi  si  scortasimo  ín  altura  dal  dntto  uiaggio 
lega  400. 

Siamo  gionti  in  42  giorni,  quando  ín  tal  tempo  si  consum- 
mano  60  et  70  giorni  per  íl  uiaggio  dntto,  et  tanto  íl  maestro 
quanto  pilotti  diceuano  piíi  uolte:  questo  è  miracolo  et  deue 
esser  per  questi  Padn  che  uanno  a  propagare  la  santa  fede; 
seguirono  altn  casi  prodigiosi,  come  hauendo  8  giorni  continui 
íl  uento  sur  molto  contrario  et  altre  uolte  facendo  moita  aqua 
íl  nauiglio  cõ  spauento  euidente  di  tutti,  ne  mai  10  mi  uidi  in 
maggior  pericolo,  et  altre  uolte  errando  il  pilotto  1'altura  doppo 
scoperta  terra,  l  errore  fu  tale  che  se  fusse  uenuto  il  uento  sur 
erauamo  in  manifesto  pericolo. 

A  tutti  questi  casi  attesto  a  V.  S.  IH.*"  meam  conscientiam 
fu  giudicato  il  remédio  uenuto  da  Dio  solo,  quale  scnuo  volon- 
tien  à  V.  S.,  asicurato  che  ne  sentirá  quel  gusto  che  ncerca 
il  caso. 


345 


II  Signor  Gouernatore  delia  Baya  poi  ne  riceuete  cõ  ogni 
possibile  cortesia  et  carità,  et  chiamasi  Antonio  Telles,  quale 
condusse  seco  all'Indie  íl  P.  Marcello  Gesuita,  degno  cauaghere 
di  tanta  protetione  de  li  promesa  íl  grande  di  Dio  prima  di 
monre:  e  súbito  questa  mattina  ín  visitado  li  hà  promesso  dar- 
ei imbarcatione  per  Angola,  quale  stimasi  in  questo  tempo 
stare  per  portoghesi,  come  si  tiene  di  già  per  molto  probabile 
di  Pernambucho,  essendo  sono  8  giorni  partiti  dal  Rio  Género 
et  Baya  22  vascelli  rotondi  cõ  22  milla  soldati,  per  agiontarsi 
alli  paesani  per  liverarsi  da  olandesi  (*). 

APF  —  SRCG,  vol.  1 10,  fls.  199-199  v.  e  200  v. 


(1)  No  fim  do  fólio  ajunta: 

Per  essersi  soleuati  li  populi  contro  lolãdesi  et  stando  in  campagna 
per  aspetar  le  forze  de  portoghesi,  ne  uenendo  alcuno  socorro  al  nemico, 
ne  potendosi  nel  mentre  profitare  dei  negotio  ne  1'una  parte  ne  1'altra 
si  spera  bene. 


346 


107 


CARTA  RÉGIA  AO  CONDE  DA  VIDIGUEIRA 

(6-8-1645) 

SUMÁRIO  —  Situação  política  inquietante  na  Africa  Ocidental  —  Polí- 
tica de  contemporização  para  com  a  Holanda  —  Estado 
deplorável  em  que  D.  João  IV  encontrou  o  País. 

Conde  Almirante  Embaixador  Amigo.  Eu  Rey  vos  enuio 
muito  saudar  como  aquele  que  amo.  Concluirão  os  Olandeses 
com  São  Tomé,  com  tão  grande  perfídia  e  desaforo,  como  enten- 
dereis do  papel  que  será  com  esta;  feito  tiue  eu  hum  socorro, 
e  dadas  as  ordens  ao  general  das  frotas  do  Brazil,  para  o  leuar 
áquella  Ilha,  e  estaua  a  despeza  feita  e  o  socorro  ordenado  com 
tão  boa  disposição,  que  fora  impossiuel  a  recuperação  e  expul- 
ção  do  olandês  mas  por  esperar  que  a  Francisco  de  Souza 
se  fizesse  razão  nestas  partes,  e  por  não  dar  occasião  aos  olande- 
zes  quebrarem  de  todo  comigo,  mandey  parar  no  socorro, 
estando  já  para  partir. 

A  Angola  forão  em  Janeiro  passado  tresentos  inffantes  de 
socorro  em  dous  nauios  de  forsa,  que  se  não  hé  assy,  não  no 
deixão  passar  os  olandeses,  e  em  duas  carauellas,  huã  delias 
carregada  de  munições.  / /. 

Em  Mayo  passado  partio  para  aquelle  Reyno  Francisco  de 
Soutto  Mayor,  que  gouernaua  o  Rio  de  Janeiro,  e  hora  nomeey 
por  Gouernador  daquelle  Reyno  (z),  com  perto  de  quatrocentos 

(*)  O  texto,  que  não  prima  pela  clareza,  parece  querer  dizer: 
estava  tão  bem  preparado  o  socorro,  que  era  impossível  não  se  efectuar 
a  recuperação  da  Ilha  e  a  expulsão  do  holandês. 

(2)  Saiu  do  Rio  de  Janeiro  em  8  de  Maio  de  1645  e  tomou  conta 
do  governo  em  25  de  Outubro  do  mesmo  ano. 

347 


inffantes,  e  outra  quantidade  de  monições,  em  quatro  nauios  de 
torsa,  e  dous  barcos  longos  para  auisos.  // 

Cabo  Verde  quiserão  também  ententar  estes  homens,  como 
uereis  da  carta  do  Gouernador  que  será  com  esta,  e  hé  forçado 
socorrer  logo  aquelle  gouerno,  porque  se  não  a [r] risque  em 
outra  occaziaõ  semelhante.  / / 

A  Ilha  do  Príncipe,  que  era  do  Gouerno  de  Sáo  Tomé, 
pede  lhe  acudao  com  toda  a  prontidão  e  breuidade,  e  hé  ínes- 
cusauel  fazello  logo,  pelo  risco  a  que  está  exposta,  e  de  tudo 
o  refferido  vos  mando  íazer  auiso,  para  que  possais  dizer  aos 
ministros  de  França,  quão  impossiuel  hé  (pelo  estado  em  que 
achey  este  Reyno)  fazer  guerra  offensiua  a  dous  inimigos  tão 
poderosos,  como  hé  EIRey  de  Castella,  declarado,  e  o  olandês, 
incuberto  com  a  mão  e  capa  das  companhias,  mais  prejudiçial 
e  perigoso.  / / 

Escrita  em  Lisboa  a  6  de  Agosto  de  1645.  // 

Rey 

Para  o  Conde  Almirante. 

BNL  -  Ms.  7.162,  fl.  650.  —  ATT-Ms.  1.017,  p.  231-232. 


348 


108 


CARTA  DO  NÚNCIO  APOSTÓLICO  EM  MADRID 
AO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 

(22-8-1645) 

Sumário  —  Avisa  que  a  Congregação  da  Propaganda  recebera  as 
cartas  do  Provincial  da  Andaluzia  —  A  Sagrada  Congre- 
gação não  dava  obediência  a  Irmãos  leigos. 

El  pliego  de  V.  P.  ha  recebido  la  Sacra  Congregación  de 
Propaganda  Fide,  y  el  Senor  Secretario  tuvo  particular  gusto 
con  el,  como  significa  por  su  carta,  en  que  tambien  me  dice, 
que  á  su  tiempo,  se  referirá.  Y  en  quanto  á  lo  que  se  desea  de 
llevar  por  compaííero  á  la  Mission  un  Hermano  Lego,  el  Pro- 
vincial la  podrá  dar;  porque  la  Sacra  Congregación  no  concede 
á  los  Legos,  el  ser  Missionários,  siendo  necesario  el  Sacerdócio, 
para  el  exercício  de  las  facultades  espintuales  que  se  conceden 
á  los  Missionários,  que  assi  se  pratica  con  todas  las  Missiones: 
y  assi  los  Missionários,  que  quisieren  legos,  para  servicio  de  las 
Missiones,  han  de  acudir  á  su  Superior  de  ellos,  ó  á  los  Gene- 
rales,  ó  Provinciales  generales,  los  quales  les  hazen  la  Obediên- 
cia, dandoselos  por  companeros  á  los  mismos  Missionários.  De 
todo  lo  referido  tengo  aviso  de  Roma,  y  lo  doi  á  V.  P.,  a  quien 
me  ofrezco  en  Io  que  puedo,  encomendandome  á  sus  Oracio- 
nes;  y  Dios  le  guarde,  como  deseo.  / / 

Madrid  22  de  Agosto  16^5.  / / 

Affettuosissimo  de  V.  P. 

Julio,  Arzobispo  de  Tarso.  // 
P.e  Fr.  Gaspar  de  Sevilla,  Provincial  de  Capuchinos. 

FRAY  AMBRÓSIO  DE  VALENCINA  —  Ob.  cit.,  p.  19. 


349 


109 


CARTA  DO  CONSELHO  ULTRAMARINO 
A  EL-REI  D.  JOÃO  IV 

(31-8-1645) 

SUMÁRIO  —  Sobre  a  petição  dos  habitantes  da  ilha  do  Príncipe,  que 
prestam  vassalagem  a  D.  João  IV  —  Situação  angustiosa 
das  ilhas  do  Príncipe  e  de  S.  Tomé  e  remédio  para  lhes 
acudir  —  Passagem  de  uma  caravela  para  Angola. 

t 

Senhor 

Por  decreto  de  26  do  prezente,  manda  V.  Magestade  que 
este  Conselho  procure  responder  a  hua  carta  dos  officiaes  da 
Camera  da  Jlha  do  Prinçipe,  de  19  de  octubro  do  anno  pas- 
sado de  644,  por  o  meyo  que  se  lhe  offereçer,  animando  estes 
vassallos  com  esperanças  de  remédio,  e  offereçendosse  ao  Con- 
selho alguã  couza  que  appontar,  sobre  elle,  o  reprezente  a  V. 
M  agestade  logo. 

Na  carta  refferida  dizem  os  officiaes  da  Camera  daquella 
Jlha,  que  permittio  Nosso  Senhor  ir  a  ella  hua  nao  ingleza, 
de  passagem,  para  significarem  a  V.  Magestade  o  contenta- 
mento e  aluoroço  que  teue  todo  aquelle  pouo,  da  noua  restittui- 
çaõ,  e  acclamaçaÕ  de  V.  Magestade,  a  qual  por  ser  Jlha  taõ 
remotta  de  nauios,  naõ  tiueraõ  feito  atègora. 

Que  aquella  Jlha  hé  de  Luis  Carneiro,  vassallo  de  V.  Ma- 
gestade, jnfenor,  e  destricto  da  Jlha  de  Santhomé,  donde  lhes 
vay  o  prouimento  de  toda  justiça,  e  elles  a  tudo  a  sua  obedien- 
çia,  a  qual  Ilha  de  Santhomé,  há  tres  annos  está  tomada  dos 
olandezes,  por  onde  ficaõ  sem  comerçio  nenhú. 

35° 


Pedem  a  V.  Magestade  se  mande  informar  do  estado  e 
limitação  em  que  oie  está  aquella  Jlha,  e  os  moradores  delia, 
por  naõ  terem  comerçio  de  nauios  [h]á  muitos  annos,  e  ser 
duas  vezes  queimada  pelos  olandezes  antiguamente.  Por  onde, 
em  nome  de  todo  aquelle  Pouo,  pedem  a  V.  Magestade  ponha 
os  olhos  nelles,  no  que  ficaõ  muy  confiados  naõ  faltará  V.  Ma- 
gestade nisto,  a  quem  conheçem  por  legitimo  Rey  e  Senhor, 
e  offereçem  vassallagem,  como  fieis,  e  verdadeiros  vassallos. 

Pareçeo  ao  Conselho  que  os  nauios  a  que  V.  Magestade 
der  licença  para  hirem  a  Angola,  de  que  está  feita  consulta 
a  V.  Magestade  por  este  Conselho,  leuem  a  carta  que  com  esta 
se  inuia  a  V.  Magestade,  para  V.  Magestade  assinar,  sendo 
seruido,  na  forma  que  V.  Magestade  ordena  e  que  passem 
por  aquella  Jlha,  para  a  gente  delia  ter  comunicação  com  este 
Reino,  pois  saõ  vassallos  de  V.  Magestade. 

Alenbra  o  Conselho  que  está  no  rio  desta  cidade  hua 
carauela  que  quer  jr  [a]  Angola,  sobre  que  se  fes  consulta 
a  V.  Magestade  para  lhe  conseder  lisensa,  a  coal  poderá  pasar 
por  esta  ylha,  na  forma  que  se  relata  a  V.  Magestade  nesta 
Consulta,  e  leuar  mantimentos  dela  para  Angola,  donde  há 
muitos.  / / 

Lisboa,  a  3  i  de  agosto  1645. 

aa )  O  Marquez  de  Montaluaõ  /  Jorge  de  Castylho 
Jorge  de  Albuquerque  /  Joaõ  Delgado  Figueira 

[Despacho,  à  margem J:  Está  bem,  e  as  cartas  foraõ  assi- 
nadas. Lisboa,  6  de  feuereiro  de  1646.  {Rubrica  de  el-Rei). 

AHU  —  S.  Tomé,  cx.  1,  doe.  277.  —  Consultas  Mistas,  cód.  13, 
fl.  240. 


35' 


110 


CARTA  DE  FRANCISCO  SOTOMAIOR 
A  EL-REI  D.  JOÃO  IV 

(13-9-1645) 


SUMÁRIO  —  Relação  da  viagem  cie  socorro  a  Angola  —  Situação  polí- 
tica da  Província  —  Fundação  de  Qtticombo  e  sua  impor- 
tância —  Pede  o  envio  de  médicos  e  de  medicinas. 


Siruasse  V.  Magestade  de  me  permitir  que  eu  me  escuzè 
de  repetir  a  V.  Magestade  a  conformidade  em  que  parti  do 
Rio  de  Janeiro  com  o  socorro  de  Angola,  porque  deuendo  aceu- 
zar  os  muitos  deffeitos  dclle  a  V.  Magestade,  não  faça  suspei- 
toza  a  inteireza  com  que  costumo  zelar  as  matérias  do  seruiço 
de  V.  Magestade,  auendo  eu  iá  faltado  de  propozito  com  estas 
noticias  [cm]  por  menor  a  V.  Magestade,  na  occazião  de  mi- 
nha partida,  porque  não  auendo  lugar  de  me  remedear  cõ  cilas, 
náo  seruissem  de  arguir  a  meu  animo  algú  contentamento 
da  empreza,  pois  hc  certo  que  ella  cm  comprimento  da  ordem 
de  V.  Magestade  foi  para  mí  o  aluitre  da  mayor  couza  que 
podia  dezeiar  e  ficando  eu  assim  mais  liure  para  dar  conta  a 
V.  Magestade  dos  discursos  da  viagem  até  oie,  que  sao  13 
de  Setebro. 

Digo,  senhor,  que  partindo  daquclla  prassa  do  Rio  de 
Janeiro  a  8  dc  mayo,  em  conscrua  de  quatro  nauios  e  hú  barco, 
este  se  apartou  de  mí  aos  1  o  do  dito  com  hú  temporal  nio,  e 
continuando  a  nauegação  com  os  demais  ate  trinta  e  tres  grãos, 
da  banda  do  sul  da  linha,  tornei  dclles  a  voltar  para  o  norte, 
deminuindo  esta  altura  cm  demanda  da  terra,  e  sempre  com 
tempos  mui  tormentozos,  que  forão  cauza  de  amanhecer  em 
22  de  Junho  cõ  menos  tres  nauios  dc  minha  conscrua,  e  a  25 


352 


L7 


Cia 


rac-simile  das  assinaturas  dos  documentos  n."  q,  y  e  ijj 


do  mesmo,  auistando  costa  de  desaseis  grãos  e  hú  quarto,  a 
fui  correndo  de  longo,  escoadnnhando  as  emçeadas  com  o  cui- 
dado da  falta  dos  nauios,  mas  auendo  a  eu  preuenido  na  ins- 
trução e  regimento  que  lhes  auia  dado  a  elles,  asinalando  para 
espera  de  hús  por  outros,  a  paragê  de  quinze  grãos  por  prazo 
de  certos  dias,  e  no  remate  delles  a  de  Cabo  Ledo  (1),  onde  eu 
tinha  determinado  que  fosse  a  nossa  desembarcação  para  Mas- 
sangano,  em  conçideração  do  parecer  de  algús  homens  que 
indignamente  se  aualiauao  por  práticos,  e  de  outras  relações 
escritas  e  firmadas,  e  com  tanto  abono  de  pessoas  tão  autoriza- 
das, que  por  ellas  se  pudera  errar  com  desculpa;  mas  não  o  per- 
mitio  Deus,  que  por  todos  os  caminhos  se  serue  de  guiar  ao 
melhor  fim  os  intentos  de  V.  Magestade,  como  em  discurso 
desta  jornada  se  uai  experimentando  cada  ora,  até  em  mínimas 
couzas,  e  como  a  respeito  da  incerteza  do  mar  auia  eu  mandado 
embarcar  na  Cappitaina  comigo  as  moniçôes  e  petrechos  de 
guerra,  que  para  effeito  da  condução  do  socorro  e  mais  segu- 
rança delle,  me  podenao  ser  nessesarios  em  cazo  que  me  ficasse 
sem  os  demais  nauios.  / / 

Desconfiando  eu  iá  com  sua  tardança,  me  rezolui  a  partir 
sem  elles  para  o  dito  Cabo  Ledo,  a  desembarcar  e  fortificar  me 
nelle  antes  que  os  negros  da  costa  dessem  noticia  de  mí  aos 
olandezes,  pois  elles  não  auião  de  uzar  com  as  tregoas  mais 
cortezia  que  aquella  a  que  os  pudesse  obrigar  a  preuenção  com 
que  me  achasse;  e  tendo  eu  iá  mandado  leuar  ferro  com  esta 
detreminação  a  manhã  do  primeiro  de  Julho,  me  remaneceu  a 
bordo  hú  batel  com  auizo  de  dous  dos  tres  nauios  desapareçidos ; 


(J)  Descrito  num  roteiro  da  costa  de  Angola  do  ano  de  1617 
como  «hum  morro  talhado  a  pique  com  hum  pouco  de  arvoredo  em 
sima,  o  que  não  tem  nenhua  das  pontas  atrás»,  de  Benguela  para  o 
Norte.  Vem  já  referido  na  carta  de  Pedro  Reinei,  de  c.  1520,  como 
se  pode  verificar  na  obra  do  Dr.  Armando  Cortesão  —  Cartografia  e 
cartógrafos  portugueses  dos  Séculos  XV  e  XVI,  I,  269. 


23 


353 


e  chegados  que  forão  fui  com  elles  proseguindo  a  costa  afim  do 
dito  intento;  e  aos  6  do  mesmo  mes  já  quazi  noite,  deuizamos 
sobre  a  praya  hua  Crus,  e  encorando  defronte  mandei  a  ella  hú 
batel,  entendendo  que  não  podia  carecer  de  mistério  a  insígnia 
dos  Catholicos  plantada  entre  bárbaros,  e  acharão  escritas  no 
pé  delia  húas  letras  que  deziao  auer  passado  auante  a  fragata, 
que  era  o  terceiro  nauio  que  nos  faltaua  (2),  e  com  este  bom 
sinal  seguindo  a  derrota  com  o  terral  que  sobreueo  de  madru- 
gada, o  encontramos  na  Angra  que  chamão  do  Negro  (3),  o 
que  porventura  não  fora  se  passáramos  de  noite.  / / 

Ali  mandei  fazer  agoada  e  lenha,  de  que  nessesitauamos, 
e  aos  16  de  Julho  tornando  a  dar  fundo  nas  primeiras  salinas, 
balrrauento  da  Bahia  Farta,  se  uio  de  noite  fogo  na  praya,  e  se 
ouuirao  dous  tiros  de  arcabus,  a  que  mandei  acudir  os  bateis, 
com  as  aduertençias  nessesarias,  por  se  acazo  topassem  framen- 
gos;  e  quis  Deu  que  fossem  Portuguezes  que  andando  a  pescar 
na  dita  Bahia,  e  tendo  notiçias  de  nauios  na  costa  se  uierão  a 
reconheçer  nos,  e  delles  soube  como  erao  soldados  que  auendo 
se  retirado  de  Benguella  com  o  seu  Cappitao  mor  Niculao  de 
Lemos  para  o  certao,  quando  o  olandês  ganhou  e  occupou 
aquelle  prezidio,  os  reduzira  a  todos  a  nessesidade  e  perigo  entre 
os  negros  a  tornarem  se  á  obediençia  dos  framengos,  e  com 
elles  uiuiao  de  prezente,  pagando  lhes  dízimos  de  tudo  o  que 
cultiuauao;  e  para  me  inteirar  melhor  destas  matérias  e  do 
estado  de  Massangano  e  Loanda,  auizei  que  se  auistasse  comigo 
a  Manoel  Pereira,  que  por  morte  de  hú  clérigo  subçessor  do 
dito  Cappitao  mor  Nicolao  de  Lemos,  e  [que]  por  eleição  dos 


(2)  É  a  Cruz  de  que  fala  na  sua  Relação  o  Irmão  António  Pires 
da  Companhia  de  Jesus.  Maio-Setcmbro  de  1645,  doe.  n.°  113,  de 
Maio-Setembro  de  1645. 

(3)  Onde  fica  Moçâmedes. 

(4)  Higino  Roiz  Calado.  Cfr.  documento  de  1  de  Março  de  1643, 
p.  21. 


354 


soldados  lhe  auia  suçedido  no  cargo  cõ  a  dita  subordinação  aos 
flamengos.  / / 

Delle  soube  que  elles  conseruauão  as  tregoas  com  o  Gouer- 
nador  Pero  Cezar  de  Menezes,  menos  obrigados  da  fé  que  do 
intereçe,  porque  á  conta  delias  se  vallem  melhor  da  nessesidade 
dos  nossos  para  lhes  resgatarem  as  pessas  da  conquista,  a  troco 
de  algúas  drogas  do  norte  por  preços  mui  desiguaes,  com  que 
a  tirar  de  nós  mesmos  tiranamente  o  desconto  da  despeza  dos 
seus  tres  prezidios,  que  são  oie  em  ser  Benguella,  Coanza  e 
Loanda,  com  guarnição  (segundo  se  afirma  ao  todo)  de  sete 
para  oito  centos  infantes,  e  afim  de  nessesitarem  totalmente  a 
nossa  gente  da  occazião  deste  seu  proueito  delles,  lhe  prohibem 
a  comunicação  e  socorros  de  V.  Magestade  e  lhe  impedem  os 
meos  de  toda  outra  respiração.  / / 

Mas  não  hé  esta  ainda  a  peor  correspondençia  da  fé  olan- 
deza,  senão  que  com  falsa  simulação  tratão  de  inçitar  aos  negros 
contra  nós,  porque  asim  nos  achem  elles  mais  diuertidos  e 
debilitados  para  seus  intentos,  de  que  rezultou  não  há  muitos 
dias  a  perda  de  sessenta  soldados  portuguezes  de  Massangano, 
com  o  sargento  mor  Francisco  da  Fonçequa  beiçorra  (5),  des- 
baratado da  Ginga  por  maldade  de  algús  negros  nossos. 

E  asy  mais  se  offereçe  de  prezente  digno  de  mayor  senti- 
mento, o  mao  sucçesso  do  socorro  que  V.  Magestade  mandou  da 
Bahia  a  estas  partes,  com  o  Capitão  mor  Antonio  Teixeira  de 
Mendo [n]ça,  e  o  sargento  mor  Domingos  Lopes  de  Siqueira, 
os  quaes  não  obstante  que  partirão  com  rezolução  de  fazer  sua 
dezembarcasão,  e  marchada  por  Cabo  Ledo  a  Massangano,  pareçe 
que  melhor  desenganados  da  incapaçidade  daquella  paragem 
para  o  tal  intento,  a  procurarão  mais  a  balrrauento  na  ençeada 
e  rio  que  chamão  Quicombo,  por  altura  de  onze  grãos  e  hú 
terço,  e  indo  marchando  iá  quazi  a  meo  caminho,  lhes  sobre- 


(5)  Francisco  da  Fonseca  Saraiva,  por  alcunha  «o  Beiçorra». 


355 


uierão  taes  dificuldades  com  grauissimas  doenças,  encontros 
de  guerra  preta,  e  traições  de  algus  souas  que  até  ali  os  auião 
comboyado  com  titulo  de  filhos  de  Benguela,  que  de  duzentos 
e  sesenta  soldados,  apenas  ficarão  nouenta,  e  estes  quazi  inúteis 
e  á  merçe  dos  mesmos  negros,  suspeitozos  no  trato  de  sua  ruína. 

Informado  que  fui  deste  mizerauel  estado  das  couzas  de 
Angola,  e  tratando  de  seguir  minha  derrotta  a  Cabo  Ledo  com 
toda  a  breuidade  possiuel,  se  me  reprezentou  a  obrigação  de  não 
passar  pella  dita  enseada  de  Quicombo  sem  obrar  algúa  deli- 
gençia  por  restaurar  o  restante  da  nossa  infanteria  perdida  na- 
quella  paragem,  e  se  aumentou  este  cuidado  em  mí  com  os 
requerimentos  que  me  fes,  em  nome  de  V.  Magestade,  o  dito 
Cappitão  mor  de  Benguella,  sobre  que  me  detiuesse  a  liurá  lo 
a  elle  e  os  demais  Portuguezes,  da  tirana  sugeição  em  que  esta- 
uão  naquelle  prezidio;  e  segundariamente  que  eu  hia  enganado 
em  intentar  minha  desenbarcação  por  Cabo  Ledo,  por  coanto 
nessesitava  a  dita  paragem  de  agoa,  lenha,  guias  e  carruagens, 
sem  as  quaes  comodidades  se  não  podia  marchar  com  as  moni- 
ções,  nem  conseruar  se  a  ínfanteria,  demais  que  aly  todos  os 
negros  estauão  á  deuação  dos  olandezes,  e  sem  duuida  tenão 
elles  que  era  romper  se  lhe[s]  as  tregoas,  em  cazo  que  eu  não 
topasse  a  opocisão  de  suas  armas,  posto  que  tão  vezinhas,  e  elles 
se  vigiassem  de  nouo  com  grão  cuidado  por  rezão  de  auizo  que 
tiuerão  de  Pernanbuco,  aserca  do  socorro  que  por  Abril  auia 
partido  da  Bahia  com  os  sobreditos  Antonio  Teixeira  de  Men- 
do [n]ça  e  Domingos  Lopes  de  Siqueira,  de  cuio  desastre 
atègora  sabia  que  não  tinhão  noticia  na  Loanda. 

Respondi  lhe  que  em  fé  de  diferentes  informações  uinha 
eu  a  demandar  Cabo  Ledo  para  minha  desenbarcação  e  condu- 
ção a  Massangano,  e  que  o  mayor  inconueniente  dos  muitos 
que  elle  naquella  parte  me  reprezentaua,  o  deuia  eu  conciderar 
do  rompimento  das  tregoas,  e  que  a  obseruação  delias  me  obn- 
gaua  a  não  as  prejudicar,  interuindo  por  ora  com  forsa  de  armas 
na  pretenção  de  sua  liberdade,  mas  que  sem  duuida  húa  ues 


356 


clle  saido  do  prezidio  olandês  com  os  demais  Portuguezes,  em 
conjunção  que  mais  cómoda  e  seguramente  o  pudessem  con- 
siguir,  e  sendo  tão  liçito  o  desforçarsse,  concorreria  eu  logo  em 
sua  deffenssa,  como  de  vassallos  de  V.  Magestade,  e  que  para 
o  fazer  sem  nota  algúa  da  fé  das  tregoas,  me  passaria  sem  ser 
uísto  de  Benguella  á  dita  ençeada  de  Quicombo,  a  reduzir  a  min 
as  relíquias  do  primeyro  socorro,  e  que  em  tanto  se  rezoluesse 
com  todo  segredo,  e  união  entre  todos  elles,  o  melhor  modo 
desta  sua  facção,  anteçipando  me  os  auizos  nessesarios  para  eu 
ter  preuenido  o  socorro  conueniente  a  ella. 

Nesta  conformidade  ficamos  acordados,  e  deixando  lhe 
cartas  para  encaminhar  ao  Gouernador  Pero  Cesar,  por  via  da 
Loanda,  em  huã  nao  flamenga  que  de  lá  se  esperaua  com 
resgate,  me  party  a  noite  de  vinte,  passando  por  Benguella  se 
ser  uisto  nem  sentido  dos  olandezes,  em  tantos  dias  que  com 
calmas  lhe[s]  fuy  ancorando  e  correndo  a  costa,  que  elles  cha- 
mão  sua,  que  tão  sem  preuenção  e  cuidado  os  tinha  a  confiança 
das  tregoas,  e  o  certo  hé  que  a  fé  delias  lhe[s]  nao  valeu  pouco 
por  esta  ues,  e  a  nós  fes  perder  a  ocazião  de  cobrarmos  melhores 
portos  e  conquista  do  que  elles  logrão  na  Loanda,  não  tendo 
entre  todos  este  de  Quicombo  o  menor  lugar,  por  a  capaçidade 
da  enseada,  barra,  abrigo,  desembarcadouro,  rio,  bosque  e  ne- 
gros amigos.  / / 

A  esta  paragem  cheguey  a  ancorar  aos  23  c  nella  reconheçy 
estas  commodidades,  e  as  de  seu  sitio  para  obrar  nelle  como  vou 
fazendo,  algúas  deffenças,  afim  de  milhor  segurança  das  naos 
e  da  pouca  infanteria  com  que  me  acho,  por  entanto  que  se 
me  offereçe  e  forçoso  empenho  de  esperar,  e  encorporar  comigo 
o  resto  do  dito  socorro  perdido,  e  ao  Cappitão  mor  e  Portugue- 
zes de  Benguela,  e  tratando  com  suma  deligençia  e  cautela  do 
effeito  de  todas  estas  sobreditas  matérias,  se  forão  reduzindo  a 
elle,  mediante  o  fauor  do  çeo,  com  tanta  suauidade,  que  sendo 
aos  quatro  de  setembro  nos  achamos  iuntos  neste  sitio  e 
a[r]rayal  de  Santa  Crus  de  Quicombo,  e  de  nouo  preuenidos 


357 


e  dispostos  para  intentar  por  esta  parte  a  jornada  a  Massangano; 
e  se  esta  se  consegue,  como  espero  da  mizencordia  diuina,  não 
há  de  fazer  falta  a  perdida  [da]  Loanda,  porque  alhanado  este 
caminho  e  conseruado  este  porto,  como  pretendo,  tudo  se  ficará 
recuperando;  e  se  algúas  dificuldades  neste  particular  se  offere- 
çerem,  não  consistem  por  ora  em  mais  que  na  oposição  e  guerra 
preuenida  de  algus  souas  poderozos,  que  interuierão  na  perdida 
do  socorro  do  ditto  Cappitao  mor  Antonio  Teixeira  de  Men- 
do [n]ça;  entre  a  gente  que  com  elle  escapou,  e  que  se  retirou 
de  Benguella,  e  os  duzentos  e  sesenta  bisonhos  e  despidos  com 
que  parti  do  Rio  de  Janeiro,  me  acho  aqui  ao  todo  com  numero 
de  quatro  çentos  soldados  para  a  ressão,  que  para  as  armas  me 
contentaria  eu  com  trezentos;  e  se  estes  puder  leuar  comigo 
aiudado  de  algús  negros  amigos  para  a  carga  das  monições, 
detremino  deixar  o  restante  e  a  gente  dos  nauios  em  conseruação 
e  deffensa  da  posse  deste  porto,  porque  sem  elle  ou  outro  algum 
tão  cómodo,  pareçe  que  fica  de  todo  o  ponto  impossibilitada  a 
comunicação  de  Massangano  com  V.  Magestade,  e  sem  ella  e 
conseruação  delle,  e  pois  Deus  me  trouxe  aqui  a  experimentar 
a  nessesidade  desta  conueniençia,  e  a  poder  lançar  mão  delia  sem 
preiuizo  das  tregoas,  siruasse  V.  Magestade  de  o  auer  asy 
por  bem,  e  de  mandar  anteçipar  à  preuençaõ  dos  flamengos  algú 
socorro  de  tal  conçideraçao,  que  se  elles  vierem  a  rompimento, 
nos  achemos  capazes  de  restaurar  o  perdido 

Atègora  me  não  rezoluy  a  despedir  os  quatro  nauios  de 
minha  conserua,  por  me  ficar  aiudando  da  gente  do  mar  para  o 
trabalho  da  fortificação  deste  sitio,  para  a  pescana  com  que  uou 
ajudando  o  sustento  da  infanteria,  e  por  esperar  em  Deus  e  na 
boa  fortuna  de  V.  Magestade,  de  os  poder  mandar  muy  çedo 
carregados  de  escrauaria,  e  da  volta  nelles  ao  Gouernador  Pedro 
Cesar  de  Menezes,  com  mais  commodidade  e  reputação  que  por 
uia  da  Loanda,  com  o  que  se  animarão  melhor  os  mercadores  do 
Brazil  e  desse  Reino  a  renouar  o  comerçio  antigo;  e  os  mesmos 


358 


senhorios  dos  nauios,  atendendo  a  seus  intereçes,  me  requererão 
que  os  deixasse  ficar  até  o  effeito  da  empreza.  / / 

Mas  por  não  dilatar  a  V.  Magestade  a  notiçia  de  matérias 
tão  importantes  e  tão  nessesitadas  de  socorros  de  V.  Magestade, 
despacho  para  a  Bahia  o  nauio  de  Antonio  Rodrigues  Potagem, 
hú  dos  quatro  de  minha  conserua  com  o  pilloto  Manoel  Soares, 
fiando  do  zello  do  Gouernador  geral  daquelle  estado,  Antonio 
Telles  da  Silua  (°),  que  por  auer  eu  partido  de  sua  obediençia, 
e  com  tantos  fauores  e  adiutonos  seus  para  esta  jornada,  quererá 
ter  mayor  parte  no  mereçimento  delia,  socorrendo  me  para 
conseruação  deste  porto  com  algúa  prouizão  de  gente,  bastimen- 
tos  e  monições,  emquanto  V.  Magestade  o  não  manda  dispor 
como  mais  for  seu  seruiço. 

Mando  a  solicitar  estes  effeitos  ao  Padre  Matheus  Diaz,  da 
Companhia  de  Jesus,  o  qual  como  ia  auizey  a  V.  Magestade 
na  de  oito  de  mayo,  trouxe  do  Rio  de  Janeiro  comigo,  por  hú 
sugeito  de  grande  vertude,  e  particular  zello  do  seruiço  de  V. 
Magestade,  e  obrigado  delle  quis  nesta  ocazião  tomar  á  sua 
conta  este  trabalho,  com  seu  companheiro  o  Irmão  Antonio 
Pires,  que  iá  em  beneficio  destes  reinos  cometeu  por  duas  uezes 
a  mesma  jornada  e  a  conseguio  com  toda  a  satisfação  que  sabem 
dar  de  tudo  os  reuerendos  padres  da  Companhia;  elles  como 
testemunhas  de  uísta  uão  bem  instruídos  nas  matérias  que 
trato  a  Vossa  Magestade,  as  saberão  relatar  com  mais  particulari- 
dade, que  a  inçessauel  continuação  com  que  por  hora  hé  forssado 
que  eu  asista  a  uarias  couzas  de  que  nessesita  a  conseruação  deste 


(e)  Filho  do  ministro  Luís  da  Silva  e  de  D.  Mariana  de  Alen- 
castre;  exerceu  o  comando  das  armas  no  Alentejo,  onde  foi  substituído 
por  João  Mendes  de  Vasconcelos;  Governador  do  Estado  do  Brasil 
de  1642-1647  (patente  de  16-5-1642);  partiu  de  Lisboa  em  3  de  Julho 
e  tomou  posse  em  30  de  Agosto;  acabou  no  memorável  naufrágio  do 
galeão  «Santa  Margarida»,  na  costa  de  Buarcos,  em  1650.  (Alquivos 
de  Angola  cit.,  p.  160). 


359 


socorro,  mc  não  dão  o  lugar  que  eu  quizera  ter  para  não  deixar 
de  escreuer  a  V.  Magestade  as  menores  circunstancias  do  estado 
e  nessesidade  das  couzas  destes  reinos. 

Funda  se  a  afirmação  que  faço  a  V.  Magestade  de  se  poder 
conseruar  este  porto  sem  penuizo  das  tregoas,  porque  não 
obstante  que  jaz  (7)  entre  os  prezidios  que  o  framengo  oceupa 
nesta  costa,  de  que  uãmente  se  intitula  senhor,  dista  por  mais 
de  20  legoas  a  sotauentto  do  de  Benguella,  e  de  30  a  balrra- 
uento  dos  de  Coanza  e  Loanda,  e  nunca  nelle  aportarão  atè- 
gora  seus  nauios,  nem  tiuerão  trato  nem  comerçio  algú  com 
seus  naturaes,  e  estes  sempre  reconhecerão  por  pais  aos  Capitães 
de  V.  Magestade  de  tenpos  mui  atrás,  continuados  até  oie 
e  em  obseruação  de  vassalagem  me  uierão  render  seus  tributos 
de  murrão  e  azeite. 

Entre  a  gente  retirada  de  Benguella  se  me  passou  Corné- 
lio Neles  (s),  Comissário  dos  flamengos,  home  Chatolico  e 
casado  com  portugueza;  o  qual  me  ínstruhio  de  notiçias  mui 
neçesarias  para  o  tempo  em  que  me  acho;  elle  af firma  que  a 
maldade  que  o  director  da  Loanda  cometeu  no  nosso  arrayal 
do  Bengo,  foi  por  ordem  escrita  do  Gouernador  das  armas 
de  Pernambuco,  Henrique  de  Nazao,  por  satisfação  da  perda 
que  receberão  dos  Portuguezes  no  Maranhão,  como  se  não  fora 
licito  a  todos  o  desforçarsse  com  boa  guerra,  ou  o  fora  a  acção 
de  ostilidade  executada  na  mayor  segurança  da  fé  das  tre- 
goas (9). 

Por  bom  exemplo  do  real  aguardeçi mento  de  V.  Magestade 
reçebi  este  Comissário  com  todas  as  demõstraçôes  de  estimação, 


(7)  No  original:  jas. 

(8)  Cornédio  Noelbs. 

(")  Ou  como  se  fora  moralmente  lícito  exercer  represálias  sobre 
inocentes  de  Angola,  por  cnmes  praticados  no  Brasil,  por  outros.  Está 
patente  que  os  crimes  hediondos  deste  género,  praticados  na  última 
guerra,  que  tanto  encheram  de  justo  horror  a  consciência  dos  homens 
honestos,  nada  têm  de  novo,  nem  na  ética,  nem  nos  métodos. 


360 


e  a  rogos  do  mesmo  cappitão  mor  e  soldados  de  Benguela  lho 
comfirmei  por  seu  Capitão  delles,  que  são  poucos  mais  de 
trinta,  se  V.  Magestade  for  seruido  de  o  auer  asi  por  bem, 
emquanto  esta  demostração  serue  de  obrigar  ao  comprimento 
de  alguas  promessas,  de  que  com  effeito  se  hirá  dando  conta  a  V. 
Magestade,  porque  hé  pessoa  de  reputação  entre  os  seus  e  os 
poderá  mouer  facilmente. 

Em  deffenssa  da  dezembarcasão  e  barra  deste  porto,  fui 
plantando  até  uinte  pessas  de  ferro  em  tres  sítios,  que  todos 
entre  si  se  aiudão,  e  cobrindo  os  com  muralha  de  faxina  e  terra; 
e  a  respeito  da  sequidão  delia  nos  ualemos  de  agoa  do  mar,  com 
que  fica  de  milhor  condição;  para  as  esplanadas  vim  eu  preue- 
nido  de  algúas  couçoeyras,  que  mandey  pagar  por  minha  conta, 
mas  a  artelharia  hé  de  pouco  calibre  e  alcance,  e  tomada  a  demais 
delia  de  empréstimo  aos  nauios,  como  também  os  artilheiros 
para  seu  maneio,  pella  falta  delles  com  que  uim.  V.  Magestade 
se  sirua  de  nos  mandar  prouer  deste  género  de  gente,  e  de  arte- 
lharia mais  grossa;  e  de  algús  offiçiaes  de  ferraria,  aluenaria,  e 
carpintaria  para  os  reparos  e  fabricas  de  que  se  neçesita;  e  algú 
engenheiro  com  que  se  remedeem  os  deffeitos  da  minha  corio- 
zidade. 

A  tranquilidade  em  todo  o  tempo  dos  mares  desta  costa, 
e  a  importançia  da  segurança  deste  porto,  e  da  vtilidade  delle 
com  ella,  me  obriga  a  pedir  a  V.  Magestade  que  auendo  se  por 
escuza  na  Bahia  a  gallé  que  se  fes  no  Cairú,  por  ordem  do 
Marquês  V.  Rey  que  foi  daquelle  estado,  seia  V.  Magestade 
seruido  de  a  mandar  passar  na  melhor  monção  do  anno  a  este 
porto,  porque  a  falta  que  se  offereçe  de  chusma  no  Brazil,  aqui 
hé  façil  de  suprir,  porque  todo  este  certão  está  por  conquistar, 
e  hé  infinita  a  multidão  de  sua  gentilidade. 

Distão  daqui  duas  jornadas  (segundo  todos  afirmão)  as 
minas  de  cobre,  que  em  tempo  dos  reis  de  Castella  forão  man- 
dadas descobrir  pello  Gouernador  Manoel  de  Serueira,  e  se 


361 


não  hé  por  algúa  falta  de  lenha  na  paragem  delias,  não  se  lhe 
conçidera  por  ora  outra  dificuldade. 

Ao  Gouernador  Pedro  Cesar  de  Meneses  tenho  escrito  por 
duas  vias,  para  ter  lugar  de  se  preuenir  de  apresto  para  sua  par- 
tida, e  de  guerra  preta  para  condução  da  mayor  parte  das  mo- 
nições  com  que  me  acho,  asim  porque  se  não  deuem  fiar  de 
negros  que  não  seião  mui  seguros,  como  pella  muita  neçesidade 
que  se  offereçe  delias  em  Maçangano,  pois  se  me  affirma  que 
sahio  a  infanteria  daquelle  prezidio  á  opocição  da  Gingua,  cõ 
poluora  e  bailas  que  o  Olandês  emprestou  para  este  ef feito; 
e  enquanto  me  tarda  re[s] posta  do  dito  Gouernador,  que  por 
hora  aguardo,  me  parto  a  alhanar  algúas  dificuldades  do  cami- 
nho, como  iá  tenho  dito  a  V.  Magestade,  e  conseguir  íunta- 
mente  mediante  o  fauor  do  Ceo,  o  castigo  de  algús  maos  vezi- 
nhos,  e  o  sustento  para  a  infantena,  pella  mais  que  me  acreçeu 
e  o  muito  engano  que  se  achou  na  entrega  dos  bastimentos 
que  se  reçeberão  no  Rio  de  Janeiro,  e  por  falta  delles  não  con- 
senti que  esta  fragata  que  mãdo  de  auizo  á  Bahia,  fosse  carre- 
gada de  negros  por  conta  de  partes. 

Permitio  Deus  que  nos  fosse  atègora  este  sitio  mui  saudá- 
vel, com  o  que  se  fazem  outros  descomodos  mais  toleraueis,  e 
porque  a  monção  das  agoas  que  se  espera,  sempre  soe  trazer 
emfermidades,  Vossa  Magestade  se  sirua  de  nos  mandar  prouer 
de  medico  e  algúas  medicinas  para  febres  e  umores  bouba- 
ticos  (10)  e  de  roupa  para  os  nús,  afirmando  a  V.  Magestade 
que  iá  o  vinhão  muitos,  e  que  muy  çedo  o  virão  a  estar  todos. 


(10)  De  bouba,  que  também  tem  os  nomes  de  framboesia,  poly- 
papillum  tropicum,  yaws,  pian  e  miá  ou  mia,  doença  devida  ao  trepo- 
nema  pertenue,  descoberto  por  Castellani  em  1905.  Gabriel  Soares  de 
Sousa  {Tratado  descritivo  do  Brasil.  Lisboa,  1587),  assinala  já  a  doença, 
três  séculos  antes  de  Castellani.  Um  manuscrito  português  de  autor 
desconhecido,  da  mesma  época  —  Descrição  geográfica  da  América 
Portuguesa  —  fala  do  mal  de  boubas,  doença  frequente  entre  os  Tupi- 
nambas,  sobretudo  nas  crianças,  e,  segundo  opinião  do  Dr.  Carlos  França 


3  62 


Também  pede  a  V.  Magestade  socorro  de  madeira,  cor- 
doalha, alcatrão,  e  pregadura,  a  nessesidade  de  que  se  nos  offe- 
reçe  de  algúas  embarcações  pequenas,  com  que  se  ande  pella 
costa  á  pescaria,  e  ao  resgate  de  milho  e  pessas;  e  entretanto 
para  este  effeito  me  valho  de  hú  barco  de  cuberta  que  aqui  achei 
uindo  em  conserua  do  socorro  de  Antonio  Teixeira  de  Men- 
do [n]ça,  por  estar  por  ora  imeapaz  (")  de  voltar  à  Bahia  sem 
fundo  nouo;  e  asi  mais  me  vali  de  outro  batelão  que  noua- 
mente  se  fabricou,  com  capaçidade  de  puder  jugar  em  proa  duas 
pessas  de  sinco  e  seis  liuras  de  baila,  e  embarcações  deste  género 
crea  V.  Magestade  que  serão  de  muita  vtilidade  nesta  paragé. 

Já  auizey  a  V.  Magestade  na  de  oito  de  Mayo  que  entre  os 
duzentos  e  sesenta  homes  de  diuersas  castas  que  se  me  entrega- 
rão para  esta  facção,  apenas  achara  soldados  de  que  poder  lançar 
mão  para  officiaes  de  miliçia,  e  agora  metido  na  occazião  que  os 
está  pedindo  mui  práticos  e  mui  Portuguezes  e  fieis,  se  me  acre- 
çenta  o  cuidado  desta  falta  para  a  representar  a  V.  Magestade. 

Não  tenho  notiçia  até  oie  de  que  os  olandezes  a  tenhão  de 
minha  vinda  e  asistençia  nesta  paragé,  hé  o  mais  çerto.  Posto 
que  auendo  desapareçido  de  entre  nós  hú  soldado,  sem  se  saber 
como  ou  por  onde,  podesse  prezumir  que  com  algú  mao  intento 
fugisse  para  Benguella,  se  hé  uerdade  ser  como  se  diz,  homem 
da  nação  (")  e  por  me  preuenir  contra  esta  prezunção,  tenho 
mandado  saber  dentre  os  negros  vezinhos  daquelle  prezidio,  se 


(Revista  Médica  de  Angola,  vol.  V),  pela  leitura  do  manuscrito  con- 
clui-se  que  já  nesta  época  se  distinguiam  as  duas  treponemíases  devidas, 
respectivamente,  ao  tre fonema  fertunue  e  ao  tre fonema  fallidum. 

Era  uma  dos  doenças  levadas  para  o  Brasil  pelos  «negros  bichados» 
e  acompanhava  o  bicho-da-costa;  o  maculo,  a  frialdade,  o  ainhum,  o 
bicho-do-pé  e  a  filaria.  —  Cfr.  o  nosso  estudo  O  inimigo  dos  antigos 
Colonos  e  Missionários  de  África,  em  Portugal  em  Africa,  1944,  (I). 
págs.  215-229. 

(n)  No  original:  imcapas. 

(12)  De  raça  judaica,  cristão  novo. 


363 


este  home  seguio  o  tal  caminho;  e  como  a  ruim  preuençao  e 
vigia  do  olandês  foi  muitta  parte  atègora  de  se  melhorar  a  boa 
com  que  nos  achamos;  e  como  tudo  vay  por  hora  prome- 
tendo mais  seguro  efeito  aos  intentos  desta  jornada,  bem  pareçe 
que  hé  obra  do  Çeo  adormeçer  o  sentido  a  este  gente,  porque 
sem  duuida  tinha  muito  lugar  de  nos  preuenir  grandes  opo- 
sisões,  como  se  acha  com  mayor  cabedal  de  forssas  que  as  nossas, 
e  com  o  Rey  de  Congo  e  a  Ginga  a  sua  deuação;  e  nesta  con- 
formidade confio  em  Deus  que  este  auizo  chegue  a  V.  Mages- 
tade  mui  anteçipadamente  que  os  seus  ao  norte,  para  V.  Ma- 
gestade  ter  melhor  lugar  de  dispor  o  que  mais  for  seruiço  de 
Deus  e  de  V.  Magestade,  a  quem  elle  nos  guarde  muitos  e  feli- 
çes  anos  como  a  Cristandade  há  mister. 

Deste  porto  e  arrayal  de  Santa  Cruz  do  Quicõbo,  em  treze 
de  Septembro  de  1645. 

a )  Framcisco  de  Sotto  Mayor 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


364 


111 


CARTA  DE  FRANCISCO  SOTOMAIOR 
A  EL-REI  D.  JOÃO  IV 

(17-9-1645) 


SUMÁRIO  —  Manda  a  el-Rei  a  correspondência  trocada  com  o  Director 
Holandês  de  Luanda  —  Tenciona  desembarcar  no  Cabo 
Ledo  oh  no  Rio  Cuanza,  ocupado  pelos  holandeses. 


Senhor 

Estando  a  14  de  septembro  para  dar  á  vella  a  fragata  que 
eu  despachaua  de  auizo  a  V.  Magestade  pella  Bahia,  remanece- 
rao  nesta  enceada  de  Quicombo  dous  barcos  da  Cuanza  com 
a  re[s] posta  da  carta  que  por  via  de  Benguela  auia  remetido  no 
pataxo  da  Loanda  ao  Gouernador  Pedro  Cesar  de  Menezes, 
na  conformidade  de  que  dou  conta  a  V.  Magestade  na  de  treze 
do  dito  mez;  e  porque  o  seu  pareçer  e  dos  mais  que  com  elle  se 
achão  em  Maçangano,  encontrão  a  resolução  que  eu  tinha  to- 
mado sobre  [a]  minha  condução  por  esta  parte  áquella  praça,  e 
aprouão  a  dezembarcação  em  Cabo  Ledo,  ou  na  mesma  Coanza 
que  o  olandez  ocupa.  Remeto  a  V.  Magestade  a  copia  da  ditta 
re[s] posta,  e  asy  do  Auto  que  se  fez  sobre  a  minha  carta,  por- 
que constem  a  V.  Magestade  as  rezoes  que  me  obrigão  a  dezis- 
tir  do  primeiro  intento,  pois  ainda  en  cazo  que  este  não  tiuera 
os  inconuenientes  jue  no  ditto  Auto  se  reprezentão,  bastaua  para 
não  poder  ter  effeito  o  faltarsse  me  com  a  gente  preta  da  Con- 
quista para  carga  e  segurança  das  moniçôes,  de  que  tanto  se 
neçesita  em  Maçangano,  posto  que  como  nelle  ao  olandez  lhe 
não  faltão  inteligençias  secretas,  se  me  affirma  que  as  teue  desta 

365 


ultima  detreminaçâo  nossa,  com  o  que  terá  mais  lugar  de  pre- 
uenir  suas  opoçisões. 

Mas  de  qualquer  modo  fie  V.  Magestade  que  con  todo 
resguardo  da  nosa  parte  á  conseruação  das  tregoas,  auemos, 
mediante  o  fauor  diuino,  de  procurar  cuydadozamente  como 
athé  gora  fazemos,  o  milhor  effeito  do  seruiço  de  V.  Magestade 
em  de  que  nos  não  pode  faltar  desse  Reyno  o  socorro  que  hu- 
mildemente pedimos  a  V.  Magestade,  cuja  real  pessoa  Deos 
goarde  por  largos  e  feliçes  annos,  como  a  Chnstandade  há 
mister. 

Quicombo,  em  17  de  septébro  de  1645. 

Framcisco  de  Sotto  Mayor 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


366 


112 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(27-9-1645) 

SUMÁRIO  —  Acerca  do  decreto  enviado  aos  Provinciais  dos  Capuchi- 
nhos da  Andaluzia  e  Valência  —  Mudança  de  missão, 
em  caso  de  necessidade,  dos  missionários  da  Negrícia. 

E.m°  e  Reu.mo  Signor  Padrone  Colendissimo 

Hò  dato  piena  esecutione  à  gl'ordini  di  estessa  S.  Congraga- 
tione  de  Propaganda  Fide  nel  participare  à  i  Padri  Prouinciah  di 
Cappuccini  dell'Andaluzia,  e  di  Valenza,  la  lettera  scrittami 
dalFEminenza  Vostra,  in  cui  si  dice  essersi  conceduto  à  i  Padri 
delia  Missione  de'  Negnti,  che  quando  non  succedesse  loro  di 
superare  gl'impedimenti  che  forse  potebbero  incontrare  nell'in- 
gresso  delia  detta  Missione,  possino  trasferirsi,  et  esercitare  le 
medesime  facoltà  fra  1  Gentili  dei  fiume  Maragnone,  ò  Rio 
dell'Amazzone,  in  quelle  parti  solamente,  che  non  pigharà  la 
Prouincia  di  Valenza  (1),  in  euento,  che  anche  questa  nsoluesse 
d'attenderui;  e  per  maggiormente  conformarmi  con  le  commis- 
sioni  hauute  da  Vostra  Eminenza,  hò  inuiato  a'  medessimi 


(*)  Tratado  em  vários  documentos  o  problema  do  campo  de  apos- 
tolado dos  Padres  das  duas  Províncias,  da  Andaluzia  e  de  Valência, 
quer  nas  terras  dos  Negritas  (Guiné),  quer  nas  regiões  dos  rios  Ama- 
zonas e  do  Maranhão,  no  Brasil,  portanto  em  domínio  português,  por 
este  documento  se  dá  por  encerrado  o  assunto. 

Sobre  este  problema  cfr.  Francisco  Leite  de  Faria  em  Os  Barbadi- 
nhos  Franceses  e  a  Restauração  Pernambucana,  em  Brasília,  Coimbra, 
vol.  IX,  1954. 


367 


Padn  Prouinciali  la  copia  dell'istessa  lettera,  scnttami  da  lei,  a 
quale  reiterando  1'espressione  dei  mio  deuotissimo  ossequio, 
humilissimo  inchino.  / / 

Madrid,  li  27  setembre  1645. 

Di  V.  Emin.M 

[Autógrafo]:  Humil.mo  et  obl.mo  ser.re 

Giulio,  Arciu.°  di  Tarso 

Emin.mo  S.r  Card.1  Antonio  Barberino 
nella  Sac.a  Cong.ne  di  Prop.a  Fide 

APF  —  SRCG,  vol.  108,  fls.  30  e  50. 


368 


113 


RELAÇÃO  DA  VIAGEM  DE  SOTOMAIOR 
EM  SOCORRO  DE  ANGOLA 

(Maio-Setembro  1645) 

SUMÁRIO  —  Roteiro  da  viagem  até  Quicombo — Fundação  de  nova 
povoação  e  fortaleza  —  Marcha  de  Quicombo  para  o 
Cuanza  —  Primeira  igreja  e  primeira  missa  em  Quicombo. 

Partimos  do  Rio  de  Janeiro  em  8  de  Mayo  de  1645  em 
quatro  naos  e  hum  barco.  A  capitana  se  chamava  Nossa  Senhora 
da  Ch aridade:  nella  hiaõ  o  Gouernador  Francisco  de  Soto 
Maior,  o  Capitão  de  mar  e  guerra  Joaõ  Sarmenho,  o  Capitão  de 
jnfanteria  Francisco  Coelho,  cem  infantes,  os  criados  do  Gouer- 
nador, o  P.e  Matheus  Diaz,  da  Companhia  de  Jesu,  da  Pro- 
uincia  do  Brasil,  polo  P.e  Phelippe  Franco  (1),  que  ficou  doente 
na  Bahia  e  o  Irmaõ  Antonio  Perez  (sic)  da  mesma  Compa- 
nhia. /  / 

A  Almiranta  se  chamava  Nossa  Senhora  de  Nazareth;  nella 
hia  por  Almirante  Bertolameu  de  Vasconcellos  (2),  dous  capi- 
tães de  jnfanteria,  Francisco  de  Lima  Falcaõ  e  Felix  de  Moura 


(x)  Era  natural  de  Peniche,  onde  nasceu  em  1606.  Entrara  na 
Companhia  de  Jesus  aos  17  anos,  e  depois  da  conquista  definitiva  de 
Angola  foi  cinco  anos  vice-reitor  do  colégio  que  ali  tinha  a  sua  Ordem. 
Regressando  depois  ao  Brasil,  aí  faleceu  em  1673,  sendo  superior  da 
Residência  do  Engenho  de  Assúcar,  pertencente  ao  colégio  de  Santo 
Antão  de  Lisboa.  (Nota  de  A.  Viegas). 

(2)  Sobrinho  do  Governador  Francisco  de  Vasconcelos  da  Cunha. 
Preso  no  Gango,  veio  depois  para  Lisboa.  Voltou  para  Angola  em  1645 
com  Sotomaior.  Foi  um  dos  governadores  de  1646  a  1648.  Foi  nomeado 
capitão-mor  por  Salvador  Correia  em  1648,  por  morte  de  Francisco 
Ribeiro  de  Aguiar.  Foi  governador  de  14-2- 1653  a  5-10-1654. 


24 


com  oitenta  infantes.  A  terceira  nao  se  chamaua  Santa  Catharina. 
Seu  Capitão  era  Nuno  Uaz  Guedez  (3) ,  leuaua  setenta  infantes. 
A  quarta  era  hua  fragata  chamada  Nossa  Senhora  da  Estrela; 
Capitão  Bertolameu  Paez  Bulhão  (4),  com  cincoenta  infantes. 
O  barco  era  de  elRey  e  de  muita  importância  pera  o  seruiço 
na  costa:  mas  em  poucos  dias,  ao  sair  do  porto,  se  afastou  de 
nós  com  hum  tempo  de  fortes  sudoestes  que  o  fizeraõ  ficar,  e 
nele  o  capitão  da  armada  chamado  Marcos  de  Lugo,  caste- 
lhano, e  alguns  infantes,  que  o  Gouernador  muito  sentio. 

Até  á  costa  de  Angola  puzemos  47  dias,  nos  quaes  tiuemos 
uarias  tormentas,  e  taõ  fortes  que  todos  os  nauios  abrirão  aguas: 
ás  quaes  se  acodio  com  diligencia  pola  importância  do  negocio. 

Chegamos  a  tomar  altura  de  33  grãos:  começamos  a  demi- 
nuir  e  demandar  a  costa.  / / 

Em  19  grãos,  iá  perto  da  terra,  se  afastou  de  nós  em 
hua  noite  a  fragata  com  hum  tempo  rijo  Sueste:  e  aos  20 
se  apartarão  oc  outra  tormenta  a  Almiranta  e  Santa  Catha- 
rina: e  na  mesma  noite  nos  derão  tam  feros  mares  que  deziaõ 
os  marinheiros  nunca  tal  uiraõ. 

Em  16  grãos  e  dous  terços  e  em  25  de  Junho  vimos  terra 
polas  duas  horas  da  tarde:  e  conhecida  a  costa  ser  a  balrauento 
de  Cabo  Negro,  fomos  ao  bolauento:  e  aos  27  uimos  hua 
grande  enseada  com  muito  aruoredo,  que  o  gouernador  mandou 
reconhecer  pello  piloto  mor  Manoel  Soarez  e  o  Irmão  Antonio 
Perez  (sic)  que  nao  acharão  mais  que  bom  porto,  e  sinais  de 
hauer  grande  multidão  de  gado  e  gente. 


(8)  Capitão  de  infantaria  c  sargento-mor.  Faleceu  na  Cavala,  à 
beira  do  rio  Lucala. 

(*)  Capitão-mor  da  fortaleza  e  capitania  de  Cambambe  (patente 
de  27  de  Outubro  de  1644).  Nomeado  por  Salvador  Correia  capitão 
do  castelo  de  S.  Miguel  (patente  de  8  de  Outubro  de  1648).  Provedor 
da  fazenda  de  Angola  por  patente  de  17  de  Janeiro  de  1662.  (Arquivos 
de  Angola  cit.,  pág.  146). 

370 


Aos  28  chegamos  a  outra  enseada  onde  foi  mandado  o 
dito  Jrmaõ  também  pera  a  reconhecer:  e  nella  naõ  achou  outra 
cousa  que  os  sinais  da  primeira.  Aos  29,  por  naÕ  partirmos,  á 
falta  de  vento,  se  pescou  muito  peixe,  que  foi  grande  bem  pera 
a  infantena. 

Aos  30  vimos  vir  um  batel  pela  costa  abaixo:  era  da  Almi- 
ranta  que  nos  uinha  buscando:  e  deu  por  nouas  que  ella  e  a 
nao  Santa  Catharina,  que  de  nós  se  tinha  apartado,  estauaõ 
na  enseada  atrás:  e  da  fragata  naõ  sabiaõ. 

Aos  3  de  Julho  chegarão  a  nós  as  mesmas,  e  com  ellas 
nos  partimos  aos  seis,  ainda  com  ventos  contrários  nortes,  pou- 
cas uezes  uistos  aqui. 

Aos  7  tornamos  ao  outro  sítio,  por  serem  os  ventos  con- 
trários e  as  aguas  rijas  contra  nós:  e  por  naõ  gastar  o  tempo 
debalde,  se  pescou. 

Aos  9  nos  partimos:  e  uimos  á  tarde  numa  ponta  hua 
Cruz:  a  qual  o  Gouernador  mandou  reconhecer  já  noite  pello 
Jrmaõ  Antonio  Perez  ( sic) ,  que  chegando  ao  alto  e  accendendo 
hua  lanterna,  leo  na  trauessa  da  Cruz  huãs  letras  que  diziaõ: 
o  Capitão  Bertolameu  Paez  Bulhão  pôs  aqui  esta  Cruz  em  dia 
de  S.  Pedro,  nao  há  agua.  / / 

Este  era  o  Capitão  da  fragata  que  de  nós  se  tinha  apartado, 
e  aos  29  de  Junho,  dia  de  S.  Pedro  e  S.  Paulo,  tinha  estado 
nesta  paragem.  // 

E  ao  outro  dia,  que  foraõ  1  o  de  Julho,  demos  com  a  mesma 
fragata  em  a  Enseada  do  Negro  (5)  e  aqui  tomamos  agua  e 
lenha  e  algum  resgate  de  novilhos  e  carneiros. 

Em  os  16  do  mesmo  mez,  por  causa  dos  nortes,  e  aguas 
contrarias,  demos  fundo  em  terra  de  13  grãos  iunto  das  salinas: 
e  á  noite  uimos  fogos  na  praya  e  dous  tiros  de  arcabus:  foraõ 
bateis  reconhecer  o  que  seria,  e  trouxeraõ  dous  soldados  de 


(5)  Onde  fica  Mossâmedes. 


37* 


Benguella,  portuguezes,  que  por  alli  andauaõ  pescando,  auzentes 
do  presidio  Olandez,  cuia  sojeiçaõ  os  molestaua. 

Aos  17  foi  hum  destes  soldados  (6)  de  noite  ao  presidio  de 
Benguella:  deu  a  noua  de  nossa  uinda  aos  Portuguezes  com 
tanto  segredo  que  o  nao  souberaÕ  os  Olandezes  que  ali  estaõ, 
senaõ  despois  que  todos  sairão  daquelle  presidio  pera  nós,  como 
adiante  se  uerá.  / / 

No  mesmo  dia  foi  o  Irmão  Antonio  Pires  (sic)  á  Bahia 
Farta:  nella  o  ueyo  uer  o  Capitão  mor  de  Benguella  Manoel 
Pereira,  e  lhe  pedio  o  leuasse  a  bordo  ao  Gouernador,  que  tinha 
cousas  do  seruiço  de  elRey  que  tratar  cõ  elle.  Aos  18  foi  á  capi- 
tana,  onde  em  segredo  f aliou  com  o  Gouernador:  ao  qual  leuou 
refresco  de  galinhas,  laranjas,  uvas,  bananas,  etc. 

Em  19  mandou  o  dito  Capitão  mor  de  Buenguella  ao  Go- 
uernador hum  pratico  da  costa,  e  hum  official  de  guerra  preta 
pera  língua. 

Em  20  de  Julho  chegamos  a  Catumbella  passando  de 
noite  por  Benguella  sem  sermos  sentidos  dos  Olandezes:  e  ahi 
tornou  o  Capitão  mor  de  Benguella  a  uerse  com  o  Gouernador: 
o  qual  deixou  ao  mesmo  Capitão  mor  cartas  pera  Pero  Cesar, 
pera  lhas  encaminhar  per  terra  a  Massangano,  ou  por  mar,  por 
via  dos  Olandezes,  com  o  recato  necessário  que  elles  o  nao  sou- 
bessem, como  se  fez. 

Aos  23  chegamos  á  enseada  de  Quicombo,  onde  achamos 
hum  barco  de  elRey,  que  tinha  uindo  da  Bahia  com  o  primeiro 
socorro:  e  pola  terra  dentro  estaua  o  resto  da  nossa  gente,  que 
hauia  escapado  da  guerra  e  misérias  que  tiuerão,  as  quaes  os 
do  barco  contarão  por  miúdo  ao  Irmão  Antonio  Pirez  (sic)  que 
por  mandado  do  Gouernador  os  foi  reconhecer. 


(e)  Manuel  Coutinho.  Servia 
guarnição  de  Benguela;  provedor 
patente  de  8-12-1649,  ^e  Salvador 
Pág-  H7)  • 


em  Angola  desde  1627;  soldado  da 
da  Fazenda  Real  de  Benguela  por 
Correia  ( Arquivos  de  Angola  cit., 


372 


Em  24  foi  o  Gouernador  á  terra:  e  leuou  os  pilotos  que  ern 
outros  batéis  foraõ  sondando  a  entrada  do  porto:  onde  uio  des- 
pois  [de]  desembarcar  as  comodidades  delle.  No  mesmo  dia 
partio  o  Capitão  Nuno  Vaz  Guedez  pera  Benguella  a  Velha,  a 
uer  o  sitio:  o  qual  acharão  de  roim  porto  e  falto  de  agua. 

Em  25  entramos  pera  dentro  de  Quicombo:  e  antes  de 
ancorar  chegarão  a  bordo  Mathias  Telles  Barreto  e  Antonio 
Gomez  de  Gouuea:  este,  que  de  Benguella  hauia  ido  a  soccor- 
rer  aos  do  socorro  da  Bahia;  aquele  que  no  mesmo  soccorro 
tinha  ido  e  escapando  da  morte:  e  se  uieraõ  diante  uer  com  o 
Gouernador,  porque  a  gente  uma  ficaua  iá  fora  de  perigo:  de 
que  Antonio  Gomez  de  Gouuea  os  liurou,  e  também  da  fome, 
acodindolhes  com  mantimentos  e  fazendas  pera  os  comprarem: 
com  que  também  o  Capitão  mor  de  Benguella  Manoel  Pereira 
lhes  acodio. 

Em  26  tornou  a  desembarcar  o  Gouernador:  que  tornando 
a  uer  a  capacidade  do  sitio,  designou  o  lugar  da  fortaleza:  no 
qual  disse  logo  Missa  e  o  benseu  o  P.e  Matheus  Dias  (7) 
da  Companhia  de  Jesu:  e  no  mesmo  dia  se  uieraõ  auassallar 
o  senhor  da  terra  e  outro  e  outro  sova. 

Aos  27  se  leuantou  Igreja  ao  bemauinturado  S.  Francisco 
Xauier  nosso  patrão  nesta  jornada,  e  padroeiro  desta  pouoação, 
que  tomou  o  seu  nome:  e  foi  a  primeira  casa  que  se  leuantou 
no  sítio. 

Aos  28  chegou  o  resto  da  nossa  gente  da  Bahia,  vinda  da 
terra  dentro:  lastimoso  spectaculo  de  uer.  Neste  mesmo  dia 
se  nos  auassalarao  outros  dois  souas:  hum  dos  quaes  era  Embai- 
xador de  húa  Raynha  por  nome  Bumbanhace,  que  foi  molher 


(7)  Nasceu  em  Viana  do  Castelo  em  1595.  Contava  ao  tempo 
da  expedição  para  Angola  50  anos  de  idade.  Desempenhara  no  Colégio 
do  Rio  de  Janeiro  o  cargo  de  Tesoureiro.  (Arquivos  de  Angola  cit., 
pág.  148). 


373 


daquelle  grande  iaga  Lubembe,  que  conquistou  isto  por  aqui 
até  Mossambique. 

Aos  30  partio  o  Capitão  Nuno  Vaz  Guedez  com  a  nao 
Santa  Catherina  e  barco  dei  Rey  pera  Catumbella,  a  chamada 
do  Capitão  mor  de  Benguella,  que  pedio  socorro  pera  se  poder 
retirar  com  os  mais  Portuguezes  daquelle  presidio  e  jurisdição 
dos  Olandezes  e  se  incorporar  com  o  Gouernador:  que  estes 
foraÕ  os  segredos  que  no  mar  teue  com  elle. 

Em  3  1  de  Julho  desembarcou  toda  a  infantaria  e  por  ser 
dia  de  nosso  P.  S.  Inácio,  houue  Jubileo,  Missa,  e  prega- 
ção, que  fez  o  P.e  Matheus  Diaz:  e  asistio  o  Gouernador  com 
toda  a  infantaria. 

Aos  3  de  Agosto  se  uieraõ  auassallar  dous  souas,  da  terra 
dentro.  O  mesmo  dia  chegou  auiso  dos  nossos  de  Benguella, 
em  como  estaua  alli  hum  pataxo  olandez,  uindo  da  Loanda,  pera 
onde  tornaua  a  partir  aos  cinco,  e  nelle  hia  hum  soldado  nosso 
com  as  cartas  do  Gouernador  pera  Pedro  Cesar,  sem  os  Olan- 
dezes o  saberem  nem  saberem  de  nós. 

Aos  14  se  tornou  a  benzer  a  força  despois  de  estar  feita  a 
espalda,  e  se  lhe  deu  a  inuocaçâo  de  Santa  Cruz.  No  mesmo  dia 
chegou  o  Embaixador  de  iaga  Cachana,  que  se  mandou  offe- 
recer  oa  Gouernador  pera  o  ajudar  nas  guerras. 

Aos  16  partio  Antonio,  escrauo  de  Antonio  Gomez  de 
Gouuea,  por  terra,  com  outra  uia  de  cartas  pera  Pero  Cesar, 
a  Massangano. 

Chegou  ao  19  de  Agosto  noua  como  os  nossos  de  Ben- 
guella se  tinhaõ  já  saindo  (í/c)  da  sojeição  em  que  os  tinhaõ  os 
olandezes. 

Aos  20  chegou  Embaixador  do  Quilembe  ou  Zamba,  que 
hé  hum  soua  muito  poderoso,  que  foi  de  grande  refugio  aos 
nossos  desbaratados  do  socorro  da  Bahia:  ainda  que  não  falta- 
rão indícios  de  que  os  seus  queriaõ  dar  na  cabeça  aos  nossos. 

Em  28  cchegou  noua  que  os  nossos  de  Benguella  lá  uinhaõ 
marchando  por  terra;  que  seraõ  30  léguas  por  caminho  direito. 


374 


O  Gouernador  pedio  mantimentos  aos  souas  pera  poupar 
os  seus,  e  lhos  deraõ  com  ensandas:  que  foi  muito  de  estimar, 
por  serem  ricas  pera  murráo. 

Aos  30  veio  Mani  Quicombo  e  Gunza  à  Cabollo  trazer 
mantimentos.  Ao  outro  dia  veio  gente  de  Lubembe  com  mais 
mantimentos  que  estes  dois  souas.  / / 

Tratouse  com  os  souas  que  fizessem  as  casas:  fizeraÕnas 
e  hum  grande  almazem,  húa  boa  casa  pera  hospital,  casa  pera 
o  Gouernador  e  pera  outras  muitas  pessoas.  Os  jndios  do  Brasil 
fiseraó  casa  pera  caualos,  ajudarão  em  tudo  muito  bem  os 
soldados,  fiseraÕ  a  força  de  faxina  e  terra,  e  ficou  perfeita: 
aiudou  a  gente  do  mar:  os  carpinteiros  fizeraõ  húa  barcaça 
pera  trazer  a  artelharia,  e  pelejar  se  for  necessário:  os  pedreiros 
fizeraõ  huá  casa  de  pedra  e  barro  pera  a  poluora:  e  os  mais 
officiais,  cada  hum  tratou  de  seu  officio  pera  o  que  importaua 
ao  seruiço  dei  Rey. 

Fez  o  Gouernador  hum  reducto  na  praya  pera  guarda  delia, 
e  traçou  outro  na  boca  do  no: com  o  que  ficaria  descançado  se 
tiuesse  boa  artelharia  de  alcance  que  uarejasse  ao  largo. 

O  sitio  tinha  muitissima  pedra  pera  grandiosas  obras,  hum 
rio  de  excellente  agua  &  alguás  legoas  pera  o  gado  com  spaciosos 
pastos:  só  restaua  acodir  Sua  Magestade  com  o  socorro  neces- 
sário de  gente  e  munições  bastantes;  porque  está  isto  disposto 
a  ser  hum  império  muito  mayor  e  melhor  que  o  de  Angola: 
tem  as  minas  de  cobre  (8)  daqui  dez  léguas,  do  (9)  qual  baten- 
do-se  cá  moedas  se  pode  fazer  pagamentos  aos  soldados;  e  pode 
o  tal  dinheiro  seruir  entre  nós  por  estas  partes  muito  melhor 


(8)  Em  1546,  os  portugueses  iam  já  ao  Longa,  no  Reino  de  Ben- 
guela, resgatar  cobre.  O  objectivo  de  Novais  ao  enviar  Lopes  Peixoto 
em  1586- 1587  à  ocupação  de  Benguela-a-Velha,  foi  certamente  com 
o  fim  de  aí  desenvolver  o  resgate  com  os  indígenas,  mas  os  expedicio- 
nários, em  número  de  70,  foram  massacrados  tempos  depois  de  aca- 
bada a  construção  da  fortaleza  de  pau  a  pique. 

(9)  Original:  da. 


375 


que  os  iiborgos  (sic)  de  palha  (10)  do  Loango,  que  corriao  em 
Angola. 

Neste  feliz  estado  tendo  o  Gouernador  posto  as  cousas  de 
ir  uingar  as  mortes  dos  Portuguezes  que  os  negros  íagas  tinhaõ 
feito,  em  mais  de  cem,  que  da  Bahia  tinhaõ  uindo  com  socorro, 
e  abrir  por  alli  caminho  pera  nos  communicarmos  por  terra  com 
os  nossos  que  estauaõ  pella  conquista  em  Angola.  E  pera  maior 
segurança  das  cousas,  mandaua  a  Portugal  o  mesmo  Irmão 
Antonio  Perez  (j/c)  a  dar  conta  a  elRey  do  estado  em  que  ficaua 
da  gente  e  muniçoens  que  eraÕ  necessárias.  Já  estaua  pera  dar  á 
vela  em  14  de  Setembro,  mas  chegando  duas  lançhas  de  Mas- 


(10)  Panos  quadrados  de  tecido  de  palha  que  serviam  de  moeda. 
Vindos  do  Loango,  desde  antigos  tempos  corriam  como  dinheiro  e  os 
indígenas  designavam-nos  pela  palavra  mukuta.  Esta  designação  passou 
a  ser  usada  pelos  colonos  portugueses  sob  a  forma  macuta,  cujo  uso 
permaneceu  através  dos  tempos  até  hoje. 

Salvador  Coreia  pretendeu  acabar  com  os  libongos.  A  Câmara  de 
Luanda  apresentou-lhe  um  requerimento  propondo  que  se  batesse  moe- 
da para  o  sustento  da  infantaria.  A  nova  moeda  devia  ser  de  cobre,  com 
o  peso  de  duas  oitavas  e  dois  terços  —  o  meio  fano  —  com  o  valor  de 
25  réis  e  o  libongo,  com  o  peso  de  uma  oitava  e  um  terço,  valendo  12 
réis  e  meio.  O  auto,  datado  de  26-1 -1649,  exprimia  a  opinião  da 
Câmara,  oficiais  de  justiça,  clero,  militares  e  principais  do  povo,  mas  a 
carta  régia  de  18-2- 1650  indeferiu  o  pedido. 

Em  carta  de  11-2-1662  o  Governador  Vidal  de  Negreiros  mostra 
que  os  libongos  haviam  baixado  de  valor  e  que  o  único  remédio  era  a 
rainha  autorizar  que  se  batesse  moeda  de  cobre  em  Angola,  dada  a 
grande  quantidade  dele  no  sertão.  Por  decreto  de  29-11-1679  foram 
mandados  acabar  os  libongos,  mas  o  decreto  não  teve  execução. 

O  contratador  pagava  no  Loango  a  20  réis  cada  libongo.  Em 
Luanda  corriam  com  o  valor  de  50  réis  e  assim  o  recebiam  os  soldados 
que  ganhavam  200  réis  (4  libongos)  e  1  alqueire  de  farinha  por  mês. 
Com  o  Governador  Luís  Lobo  da  Silva  foram  obrigados  os  contratadores 
ao  pagamento  dos  libongos  aos  soldados  pelo  valor  de  20  réis. 

A  primeira  moeda  de  cobre  chegou  a  Luanda  com  o  Governador 
Henrique  Jaques  de  Magalhães,  que  trazia  ordem  de  pagar  aos  soldados 
200  réis  mensais  da  nova  moeda.  Poucos  dias  após  a  posse,  em  7-1  !■ 


376 


sangano  com  cartas  de  Pero  Cesar  e  hum  assento  da  Camara, 
porque  se  requeria  ao  governador  se  fosse  sair  à  Barra  da 
Coanza  e  se  fortificasse  no  morro  dos  Nambios,  onde  acharia 
guerra  branca  e  preta  pera  sua  guarda,  porque  assi  conuinha 
ao  seruiço  delRey  e  conseruaçao  de  toda  aquella  conquista: 
impediose  a  ida  do  Irmaõ  a  Portugal,  a  uingança  dos  negros 
iagas  e  as  mais  traças  do  gouernador,  que  logo  se  pôs  em  ordem 
de  uir  surgir  à  Coanza  e  no  morro  dos  Nambios. 

Estas  lanchas  se  despacharão  de  Massangano  com  a  che- 
gada das  cartas  do  Gouernador,  que  este  deixou  em  Benguella 
pera  dalli  se  mandarem  a  Pero  Cesar,  por  uia  dos  Olandezes: 


-1649,  os  soldados  não  quiseram  receber  a  moeda  e  juntaram-se  nessa 
noite  no  sítio  da  Nazaré.  Exigiam  700  réis  mensais  e  o  pagamento  da 
diferença  do  mês  antecedente.  Em  9,  o  Governador  perdoava  aos  suble- 
vados e  pagava  os  700  réis.  Segunda  rebelião  da  tropa  se  realizou  em  28 
do  dito  mês.  Reuniu-se  na  Praia  do  Bispo,  mas  a  repressão  do  Gover- 
nador foi  enérgica  —  os  cabeças  de  motim  foram  fusilados  no  dia  se- 
guinte, pela  manha. 

No  anverso  da  1"  moeda  lia-se:  Petrus.  II.  D.  G.  Portug.  R.  D. 
Aethiop.  com  o  escudo  de  Portugal,  e  no  reverso:  Moderato  splendeat 
mu.  1694.  Ao  centro  o  valor  XX,  X,  ou  V  réis  entre  4  P  (Porto,  a 
cidade  onde  foram  cunhadas). 

A  carta  régia  de  10-2. 1704  determinou  que  a  moeda  de  cobre  cor- 
resse também  no  Brasil. 

Na  primeira  metade  do  século  XVIII  o  gentio  fundia  uns  pedaços  de 
cobre  em  forma  de  X,  com  peso  superior  a  1  quilo,  que  corriam  como 
moeda.  Cfr.  Arquivos  de  Angola,  i.a  Série,  vol.  II,  págs.  183-186. 

Outras  espécies  de  moeda  eram  o  sal,  o  jimbo  ( zimbo )  e  o  marfim. 

As  pedras  de  sal  da  Quissama  constituíam  moeda  corrente  em 
Angola.  Cada  pedra  valia  nos  meados  do  século  XIX  (Lopes  de  Lima, 
Ensaios,  pág.  26)  um  macuta,  ou  50  réis,  valor  equivalente,  com 
pequena  diferença,  ao  de  dois  tostões,  que  Baltasar  Rebelo  de  Aragão 
atribuia  a  cada  pedra  de  sal  nos  princípios  do  século  XVII. 

Os  jimbos  ( cyproea  caurica,  ou  cyproea  moneta,  também  conhe- 
cidos pelos  nomes  de  cauris,  caurins  e  corins)  eram  pequenas  conchas 
ou  búzios  —  «nom  som  maiores  que  pinhões»  —  no  dizer  de  Duarte 
Pacheco  Pereira.  Nas  ilhas  das  Maldivas,  onde  têm  o  nome  de  bolys 


377 


que  sem  elles  saberem  nada,  em  breuissimo  tempo  chegarão 
a  Massangano  e  ueio  logo  esta  re[s] posta,  passando  as  lanchas 
pela  barra  de  Coanza,  onde  estão  25  Olandezes  de  presidio  (ia) 
e  com  passaporte  seu  sairão  com  titulo  de  ir  hua  pera  Loanda 
e  outra  pera  Benguella  a  buscar  gado,  sem  os  Olandezes  ade- 
uinharem  o  segredo,  antes  meterão  numa  delias  hum  soldado, 
que  quando  menos  o  cuidou  se  mo  metido  em  Quicombo,  á 


e  existem  em  grande  quantidade,  diz  Pyrard  de  Lavai  que  se  pescam 
duas  vezes  por  mês  —  3  dias  antes  e  3  dias  depois  da  lua  nova  e  da 
lua  cheia  —  acrescentando:  «e  não  se  achará  um  só  fora  desta  ocasião». 
Os  jimbos  apanhavam-se  nas  praias  da  ilha  de  Luanda  e  em  Benguela, 
por  meio  de  cestinhos  compridos,  tarefa  que  incumbia  às  mulheres. 

A  pesca  do  jimbo  fazia-se  por  ordem  do  Rei  do  Congo  para  os 
Governadores  da  ilha  de  Luanda,  somente  em  4  léguas  da  banda  do 
Norte,  em  altura  de  6  ou  7  braças,  porque  chegava  para  «fabrica  do 
seu  Reyno»  e  para  não  ser  conhecida  do  Rei  de  Portugal  a  notícia  de 
tanta  riqueza.  Domingos  de  Abreu  de  Brito,  em  1592,  dizia  que  se 
podia  pescar  nas  7  léguas  da  banda  do  Norte,  «que  é  o  comprimento 
da  Ilha»  e  nas  7  do  Sul,  «porquanto  em  toda  a  Ilha  em  torno  nace  a 
tal  pescaria  como  se  vê  pello  tempo  das  tempestades».  A  Ilha  rendia, 
afirmava-se  no  século  XVI,  60  contos  de  réis  nas  4  léguas  de  pescaria 
do  jimbo,  mas  Abreu  de  Brito  sustentava  que  com  a  posse  da  Ilha 
por  S.  M.  podia  render  mais  de  400  mil  cruzados,  o  que  traria  como 
vantagens,  além  de  outras,  a  de  «ser  elle  necessário  pera  se  abrir  o  cami- 
nho das  serras  do  ouro  de  Manapota  e  facehtarse  o  caminho  de 
Moçambique».  (Arquivos  de  Angola,  i.a  série,  vol.  III,  págs.  278-286). 

Havia  4  qualidades  de  jimbo,  segundo  Elias  Alexandre: 

Puro,  cascalho,  cascalho  escolhido  e  búzios.  Com  estes  últimos, 
nota  E.  Alexandre,  «custumam  no  Brasil,  enfeitar  os  arreios  dos  Cavai- 
los,  e  Bestas,  que  transitão  pelas  estradas  das  Minas  geraes». 

O  marfim  de  Benguela  corria  como  moeda  provincial.  Elias  Ale- 
xandre da  Silva  Correia  refere-se  a  quatro  classes,  conforme  o  peso  e  a 
utilidade  que  podem  produzir  em  obra:  marfim  miúdo  (50  réis  a  libra), 
marfim  meão,  marfim  de  conta  e  marfim  de  lei  (250  réis  a  libra). 
(Arquivos  de  Angola,  págs.  149-150). 

(u)  Referência  ao  forte  da  ponta  norte  da  barra  do  Cuanza,  cha- 
mado do  Norte  ou  de  Mols. 


378 


uista  de  huã  noua  pouoaçaõ,  fortaleza,  e  socorro  de  Portuguezes 
não  esperados. 

Nestas  lanchas  uinha  hum  clérigo  da  conquista  (12)  com 
as  cartas  e  recados  e  pera  representar  a  necesidade  em  que 
estaua  a  conquista,  e  a  que  hauia  pera  o  Gouernador  seguir  a 
traça  que  lhe  mandauaõ.  / / 

A  este  clérigo  despachou  com  re  [  s  ]  posta  o  Gouernador,  e 
com  elle  o  Irmão  Antonio  Pirez  (sic),  que  nas  mesmas  lanchas 
hauiaõ  de  ir  desembarcar  ao  Cabo  Ledo,  onde  outro  clérigo  com 
gente  os  estaua  esperando,  pera  dalli  fazerem  caminho  por  terra 
a  Massangano. 

Ficou  o  gouernador  aprestandose  pera  se  embarcar,  e  ir 
demandar  a  Coanza,  com  lastima  de  deixar  o  porto,  a  povoação 
e  fortaleza  tam  bem  principiadas  ou  acabadas;  e  as  boas  commo- 
didades  que  alli  hauia  pera  grandes  intentos.  Corria  a  gente 
de  Benguella,  que  pera  nós  se  tinha  uindo,  grandes  riscos: 
porque  com  esta  mudança  padecenaõ  seus  gados  e  lhes  fogina 
a  sua  escravaria,  que  naquellas  partes  hé  cousa  de  muita  estima 
e  importância. 

Chegou  o  Gouernador  Francisco  de  Sotto  Mayor  com  a  sua 
armada  a  aquellas  costas  em  tempo  que  a  nossa  conquista  estaua 
em  grandíssimo  risco,  e  miserauelissimo  estado:  porque  demais 
de  ser  morta  muita  gente  da  que  ficou  naquellas  partes,  de 
doença  e  trabalhos:  proximamente  tinhaÕ  os  iagas  morto  mais  de 
cem  homens  do  socorro  que  tinha  ido  da  Bahia,  todos  gente  de 
Angola,  a  quem  os  olandezes  tinhaõ  tomado  e  embarcado 
pera  o  Brasil  com  o  P.e  Joaõ  de  Paiua  e  com  os  Irmãos  Gon- 


(12)  Jerónimo  da  Fonseca  Saraiva,  irmão  do  capitão  Francisco  da 
Fonseca  Saraiva,  «o  Beiçorra».  Referido  em  Cadornega  como  «Clérigo 
de  grande  coração»  e  «esforçado  Padre».  Foi  ao  Suto  com  Sotomaior 
com  3  lanchas  carregadas  de  farinha  de  guerra.  Morreu  na  Cavala, 
onde  exercitava  o  ofício  de  capitão,  «trazendo  gineta  e  traçado  na  cinta». 
(Arquivos  de  Angola  cit.,  pág.  152). 


379 


çallo  Joaõ  e  Antonio  do  Porto,  ia  calejados  com  as  doenças,  e 
trabalhos  daquellas  terras  e  feitos  naturaes  delias,  mui  práticos 
nas  suas  guerras,  que  uaha  cada  hú  naquella  conquista 
por  dez  soldados,  ainda  que  valentes  e  experimentados  em 
outras  partes.  / / 

A  outros  cem  que  tinhaõ  escapado  doentes,  famintos  e 
despidos,  tinhaõ  os  negros  como  catiuos,  e  se  naó  fora  ficarem 
atemonzados  com  a  chegada  da  nossa  armada,  corriaõ  todos 
muito  risco,  e  tarde  chegariam  á  Conquista.  A  setenta  tinha 
morto  a  Ginga,  Rainha  de  Angola  (da  melhor  gente  que  antaõ 
lá  havia)  e  vinha  sobre  o  nosso  presidio  da  Embaca  (13).  Pera 
defensa  deste  era  necessário  dividir  o  poder  que  tínhamos:  e 
assim  mandou  o  governador  Pero  Cesar  200  soldados  de 
socorro,  de  maneira  que  se  entretanto  tivéssemos  necessidade  de 
defensa  em  Massangano,  nem  alli  nem  na  Embaca  nos  pudé- 
ramos bem  defender.  / / 

Neste  aperto  trouxe  Deos  o  nouo  socorro:  com  cuia  noua 
aqueles  afligidos  Portuguezes  ficarão  ahuiados,  os  negros  inti- 
midados e  refreados,  e  todas  as  cousas  em  melhor  estado.  E  hé 
sinal  de  que  não  quer  Deos  acabar  aquella  conquista:  mas  cas- 


(13)  Trata-se  da  campanha  dos  Empures  contra  o  soba  Ango- 
lome-a-Caíta,  chefiada  pelo  sargento-mor  Francisco  da  Fonseca  Saraiva, 
«o  Beiçorra»;  ia  como  sargento-mor  da  empresa  Francisco  de  Azevedo, 
«o  Genges»,  e  os  capitães  eram  Diogo  Fernandes  Santos,  Ambrósio 
Fernandes  e  Manuel  Álvares  Cassanji,  estes  dois  últimos  capitães  dos 
cangoandas  ou  crioulos  de  S.  Tomé  e  de  Angola;  Angolome-a-Caíta, 
auxiliado  pela  Ginga,  conseguiu  destroçar  os  portugueses;  morreram 
Saraiva,  Santos  e  Azevedo,  e  ficaram  muito  feridos  os  capitães  dos  can- 
goandas; durou  o  combate,  na  versão  do  historiador  Oliveira  de  Cador- 
nega,  desde  «pella  manhã  até  horas  de  vésperas»,  a  ponto  de  os  por- 
tugueses não  poderem  ter  as  armas  nas  mãos,  «de  esquentadas,  assim 
do  muito  disparar,  como  do  grande  rigor  do  sol».  (Arquivos  de  Angola 
cit.,  pág.  153). 

3Ó0 


tigalla  e  conservalla  entre  os  açoites  que  lhe  dá  e  livralla  de  seus 
inimigos,  tanto  que  sua  divina  íustiça  se  satisfizer  fazendo  húa 
nova  conquista,  outra  Loanda,  outra  Angola. 

BNM  —  Ms.  8.187,  ^'s-  57"^°  v-  —  Artur  Viegas,  na  Revista  de 
História,  1923  (XII),  n.°  45,  págs.  18-23  e  em  Arquivos  de  Angola, 
Luanda,  1943- 1944.  n.°  3-6,  com  numerosos  e  graves  erros  de  cópia. 


38r 


114 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 

(18- io- 1645) 


SUMÁRIO  —  Proíbe  que  os  Padres  Capuchinhos  da  província  da  Anda- 
luzia vão  a  Madrid  e  à  província  de  Castela,  pedir  para 
as  suas  missões  —  Só  o  poderiam  fazer  na  sua. 

Essendosi  inteso  ín  questa  Sacra  Congregatione  de  Pro- 
paganda Fide,  che  dei  Missionarij  destinati  di  Corte  alli  Negriti, 
disegneno  alcuni  di  trasfenrsi  à  Madrid  per  questuare  ín  quella 
parte  e  Prouincia,  hanno  h  Signori  Cardinali  delia  medessima 
Sacra  Congregatione  ordinato  che  si  scriua  à  V.  R.,  come  le  fà 
per  mezzo  delia  presente,  acciòche  non  permetta  à  nessuno  de 
suddetti  Missionarij  ne  ad  altro  de  suoi  religiosi,  di  andare  ques- 
tuando  per  la  missioni  fuori  delia  própria  Prouincia  dAnda- 
luzia.  / / 

Doura  però  V.  R.  in  essecutione  dei  present  ordine  prohi- 
bere  cio  seriamente  alli  suoi,  per  degni  rispetti  noti  alia  medes- 
sima Sacra  Congregatione.  E  Dio  la  prospen.  // 

Di  Roma,  li  18  Ottobre  1645. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  23,  ih.  178  V.-179. 

NOTA  —  Na  mesma  data  escrevia  a  Propaganda  Fide,  no  mesmo 
sentido,  ao  Provincial  de  Castela,  nos  seguintes  termos: 

La  lettera  di  V.  R.  delli  13  Giugno  si  è  riferita  in  questa  Sacra 
Congregatione  de  Propaganda  Fide,  la  quale  approuando  le  ragioni 
che  in  quella  si  apportano,  dará  opera  che  li  Missionarij  Cappuccini 
dAndalutia  destinati  alli  Negriti,  non  uengano  costà  à  questuare 

382 


nè  agrauare  S.  Maestà  in  questi  tempi  di  guerra.  Sara  anche  la  medes- 
sima  resoluõone  argomento  à  V.  R.  delia  stima  che  la  sudetta  Sacra 
Congregatione  fà  delia  sua  persona  e  parere.  Nostro  Signor  Iddio  la 
prosperi.  / / 

Di  Roma,  li  18  Ottobre  1645. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  23,  fls.  178  V.-179. 

A  decisão  da  Propaganda  Fide  é  de  2  de  Outubro  do  referido  ano, 
como  consta  do  documento  seguinte: 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornotio  litteras 
Prouincialis  Capuccinorum  Castellae,  Sacra  Congregado  probauit  racio- 
nes, ob  quas  dictus  Prouincialis  existimat  non  conuenire,  ut  nonnulli 
ex  Missionarijs  Capuccinis  [nominatos]  ad  Nigritas,  ad  Matritum  se 
conferant  ad  quaerendas  elemosynas  pro  dieta  Missione,  et  praesertim 
a  Rege  Catholico,  in  tot  bellis  inuoluto,  iussitque  rescribi  Fratri  Gas- 
paro  Praefecto,  ne  pro  quaestuatione  mittat  Missionários  Matritum, 
sed  solum  eos  per  Andalusiam  Prouinciam  opulentam,  pro  dieta  Mis- 
sione quaestuari  faciat. 

APF  —  Acta,  vol.  16,  fl.  443  v.,  n.°  17.  —  Sessão  cardinalícia  de  2 
de  Outubro  de  1645. 


383 


115 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(28-10-1645) 


SUMÁRIO  —  Novas  de  Angola  —  Partida  dentro  de  quinze  dias  — 
Chegada  do  Padre  Boaventura  de  Alessano  ao  Congo 
—  Esperança  da  próxima  recuperação  de  Angola  e  Brasil. 


In  questo  ponto  arriua  d'Angola  naue  inuiata  sono  cinque 
mesi  per  socorso  di  quell'armata  de  portoghesi,  che  uà  conquis- 
tando et  recuperando  quelle  parti,  occupate  da  olandesi,  cõ 
prosperità  et  speranza  di  conseguir  Vittoria,  come  pure  si  tiene 
dal  Brasile,  proseguendo  li  portoghesi  la  conquista  delle  fortezze, 
et  hora  solo  falta  íl  Reciffe,  fortezza  principale,  quale  quando 
non  uenga  d'01anda  socorso,  prestamente  si  hà  da  rendere. 

Hora  cõ  questa  naue  frà  íl  spacio  di  1 5  giorni  partiremo  et 
doueremo  prender  il  porto  di  Cauello  longi  da  Beng[u]ella 
cinquanta  miglia,  et  non  essendo  ancor  Angola  de  portoghesi, 
et  di  li  s'anderemo  inuiando  doue  siamo  incaminati,  portando 
noi  lettere  dal  Rè  di  Portugallo  per  il  Gouernatore  suo  d'Angola, 
che  ci  inuij  á  Congo  cõ  ogni  possibile  aiuto  et  quidado. 

Intendesi  poi  da  Padri  delia  Compagnia,  che  in  questo 
nauiglio  nceuetero  lettere  d'Angola,  che  già  amuo  il  P.  Ales- 
sano, Prefeto,  á  Congo,  cõ  1'altri  Padri  Compagni,  di  che  noi 
riceuemo  consolatione  grandíssima,  perche  cõ  piíi  operarij  risul- 
tarà  alia  santa  chiesa  maggior  raccolta. 

Prima  che  arriui  questa  mia  alie  mani  di  V.  S.  111."1*  sarà 
Angola  dei  tutto  libera  et  speramo  anco  dei  Brasil  a  benche 
ognuno  delle  rotture  di  mortalità  d'ambe  le  parti;  altro  non 

384 


mi  resta  che  auisare  per  hora  che  nuenrla  et  baciar  Ie  mani  et 
pregarli  da  Dio  ogni  compita  alegrezza  et  ogni  sua  futura 
exaltatione. 

Brasile,  li  28  ottobre  '645. 

Di  V.  S.  Ill.ma 

Seruo  deuotissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Prefetto 

APF  —  SRCG,  vol.  1 10,  fls.  197  e  202  v. 


25 


385 


116 


BREVE  DE  INOCÊNCIO  X  AO  REI  DO  CONGO 
(io-i  1-1645) 

SUMÁRIO  —  Recomenda  o  chefe  da  missão,  frei  Boaventura  de  Ales- 
sano,  bem  como  seus  confrades,  à  protecção  régia,  espe- 
rando que  se  lhes  não  oponham  obstáculos,  para  que  pos- 
sam produzir  frutos  de  salvação  entre  os  povos  do  reino. 


Innocentius  Papa  X. 

Chanssimo  in  Chnsto  filio  Alvaro,  regi  Congi  illustri,  salu- 
tem  et  apostolicam  benedictionem. 

Christianae  religionis  studio  incensus  Majestatis  Tuae 
animus,  ejusque  servandae  ac  provehendae  inditus  illi  eximius 
in  coelo  ardor,  omnino  faciunt,  ut  subjectis  Tuae  ditioni  populis 
impensa  cura  prospicias,  eorumque  aeternae  saluti  opportuna 
parari  praesidia  pus  aeque  ac  regus  votis  exoptes.  Et  pari  Nos 
erga  Majestatem  Tuam  charitate  succendi  aequum  est,  qui  pro 
eo,  in  quo  Nos  Spintus  Sanctus  posuit,  Ecclesiae  universae 
regimine,  hanc  in  Te  mentem  amantissime  complectimur, 
eique  enixe  juvandae  pontifícias  cogitationes  atque  operam 
vehementer  adhibemus. 

Mittimus  propterea  in  Regnum  istud  dilectum  filium  Reli- 
giosum  virum  Bonaventuram  de  Alessano,  ex  Ordine  Capuci- 
norum,  qui  suis  cum  sociis  plane  intento  ad  divinum  cultum 
animo,  curandae  sese  animarum  saluti  penitus  devovit,  doctri- 
naque  ac  virtutibus  fultus,  longissimi  itineris  incerta  discrimina, 
quae  certos  tamen  labores  atque  aerumnas  habent,  magno  sibi 
in  lucro  ponit,  ut  homines  Christo  lucrifaciat.  Hunc  benigne 
Majestas  Tua,  ut  excipiat,  eique  in  suo  munere,  tum  divini 
Verbi  praedicandi,  tum  sacramentorum  ministeria  exercendi, 

386 


regia  auctoritate  ac  benevolentia  praesidio  sit,  omni  studio  pos- 
tulamus. 

Proinde  vero  fore  confidimus,  ut  Tuo  ílle  cum  iisdem 
sociis  patrocínio  tectus,  nulla  a  quoquam  impedimenta  subeat; 
imo  et  reliqui,  régio  exemplo  edocti,  spem  illi  suam  opportune 
conferant,  ad  spintualia  ejusmodi  opera  praestanda,  quae  ut 
idem  alacnus  et  ubenore  cum  fructu  peragat,  multíplices  nos 
illi  sacras  facultates  concessimus,  non  mediocri  futurus  anima- 
rum  adjumento  et  solatio.  Haec  tam  efficaciter,  ut  a  nobis 
expetuntur,  Tua,  charissime  fili,  pietas  atque  humanitas  con- 
ficiet,  ut  qui  probe  novis,  certam  Regnorum  securitatem  in  Reli- 
gione  esse  positam,  eorumque  felicitatem  augeri  cum  ipso 
divini  cultus  incremento. 

Deferimus  porro  Majestati  Tuae  paratissiman  paternam 
nostram  voluntatem,  Tibique  fausta  omnia  a  Domino  precati, 
apostolicam  benedictionem  largissime  impertimur. 

Datum  Romae,  apud  Sanctam  Mariam  Majorem,  sub 
annulo  piscatoris,  die  X  novembris  MDCXXXXV,  Pontificatus 
Nostri  anno  secundo. 

Gaspar  de  Simeonibus 

MICHAEL  A  TUGIO  —  Ob.  cit.,  VII,  pág.  194.  —  hV-Efis- 
tolae  ad  Príncipes,  vol.  55,  fls.  193-194.  —  APF  -  SRCG,  vol.  247,  fls. 
1 16-1 16  v.  —  G.  A.  Cavazzi  da  Montecucollo,  Ob.  cit.,  pág.  338  (com 
a  data  errada). 


NOTA  —  O  documento  é  dirigido  a  D.  Álvaro  VI,  que  falecera 
em  22  de  Fevereiro  de  1641.  Reinava  já  D.  Garcia- Afonso  II. 

O  R.  P.  Hildebrand  de  Hooglede,  O.  F.  M.  Cap.  sustenta,  no  seu 
livro  Le  Martyr  Georges  de  Geel  et  les  Débuts  de  la  Mission  du  Congo 
( 1645-1652),  Anvers,  1940,  pág.  77,  n.  (4),  que  a  data  do  breve  é  10 
de  Novembro  de  1644  e  não  1645.  Além  de  que  só  Cavazzi  dá  a  data 
preferida  pelo  ilustre  Autor,  certo  é  que  tendo  Inocêncio  X  sido  eleito 
em  15  de  Setembro  e  coroado  em  4  de  Outubro  de  1644,  o  mês  de 
Novembro  do  ano  segundo  deste  Pontífice  só  pode  ser  do  ano  de  1645. 
Cfr.  doe.  n.°  97. 


387 


117 


CARTA  DO  DIRECTOR  DOS  HOLANDESES 
AO  GOVERNADOR  DE  ANGOLA 

(15- ii- 1645) 

SUMÁRIO  —  Comunica  que  estava  com  escrúpulos  for  não  saber  as 
intenções  do  Governador,  de  cuja  vinda  soubera  por  par- 
ticulares —  Protesta-lhe  e  deseja  a  continuação  da  ami- 
zade firmada  pelas  tréguas  entre  Portugal  e  a  Holanda. 

Muy  I  Ilustre  e  nobre  Senhor  / / 

Suposto  que  por  deligençias  que  fiz  e  informações  particula- 
res que  tiue,  e  húa  re[s]  posta  de  V.  S.a,  soube  da  sua  chegada 
a  essas  parte;  té  oie  se  me  absconde  o  essencial,  se  bem  me 
aseguro  que  sendo,  como  deue  ser,  com  ordens  de  S.  Mages- 
tade  de  Portugal,  aueremos  de  continuar  toda  amistade  e  boa 
correspondençia  que  té  aqui  ouue,  pois  eu  senpre  trabalhei 
de  dar  mostras  com  quanto  extremo  meus  mayores  ma  mandem 
guardar.  / / 

Ao  prezente  uiuo  com  rezao  híí  tanto  escrupulozo,  por  não 
poder  alcansar  certeza  algúa,  e  ainda  que  de  V.  S.*  espero  toda 
boa  correspondençia  e  amizade,  em  uer  tratar  as  couzas  com 
extremo  silencio  me  trás  duuidozo,  mormente  não  sabendo 
porque  cauza;  e  como  uiuo  alheo  das  ordens  que  V.  S.a  trás, 
trato  sempre  de  conseguir  da  minha  parte  as  de  meus  mayores 
com  todas  as  ueras,  té  saber  as  particularidades  das  que  V.  S.* 
trás,  e  pois  ignoro  effectiuamente  sua  calidade  e  ditas  ordens, 
suspendo  a  congratulação  de  entre  amigos  para  melhor  tempo, 
pois  com  re[s] posta  de  V.  S.a  me  ficará  campo  lhano  para 
acudir  a  faze  la  com  toda  [a]  cortezia  e  comprimentos  acostu- 


388 


mados,  porque  dezeio  não  faltar  a  tal,  como  também  não  fal- 
tarei com  liçita  promessa  de  meu  cargo  no  seruiço  de  V.  S.a,  cuia 
pessoa  o  Ceo  guarde.  / / 

Loanda,  oie  quinze  de  nouembro  de  mil  e  seis  çentos  e 
quarenta  e  sinco. 

Seruidor  de  V.  S.a 

Henrique  de  Redinchouen 

E  dezia  o  sobre  escrito:  Ao  muy  Illustre  e  nobre  senhor 
Francisco  de  Sotto  Mayor  guarde  Deos. 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


389 


118 


CARTA  DO  COLECTOR  APOSTÓLICO 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(15-11-1645) 


SUMÁRIO  —  Esperanças  na  restauração  de  Pernambuco  e  de  Angola 
—  Chegada  do  Padre  Alessano  ao  Congo  —  O  Padre 
Taggia  determina  partir  e  arribar  a  qualquer  porto 
vizinho  do  Congo  —  Favores  do  governador  da  Bata. 


Ill.mo  e  Reu.mo  Signor  mio  Padrone  Collendissimo 

Doppo  hauer  scritto  á  V.  S.  Ill.ma  pochi  giorni  sono,  mi 
giunse  la  cortesissima  sua  de  1 2  Agosto,  et  ín  risposta,  è  supér- 
fluo íl  cortese  rendimento  di  gratie  ch'ella  se.  compiaciuta  passar 
meco,  per  quello  hò  fatto  ín  seruitio  de  Padri  Capucini,  si  per- 
ch'in  ciò  son[o]  statto  limitadissimo,  meritando  la  lor  singular 
bontà  e  uitta  essemplare  assaissimo,  come  anco  perch'essendomi 
stati  raccomandati  da  V.  S.  Ill.ma,  à  cui  professo  infiniti  oblighi, 
doueuo  far  molto  piú,  mà  ella  et  essi  accetarono  il  buon  animo, 
doue  le  forze  non  hanno  potuto  arnuare. 

Al  Padre  V.  Prefetto  inuiai  la  lettera  di  V.  S.  111.™*,  alia 
quale  rimetto  1'alligata  dei  medemo,  ch'ultimamente  mi  fu 
resa  con  1'occasione  d'una  imbarcatione  uenuta  di  là;  mi  scriue 
si  speraua  che  la  recuperatione  di  Pernambuco  seguisse  breue- 
mente  e  qui  si  tiene  per  cosa  senza  dúbio;  di  Angola  anco  u'è 
qualche  speranza,  e  quando  si  dilati,  i  Padri  determinano,  non 
potendo  tocare  quel  porto,  di  pigliarne  qualched'un  altro,  il 
piu  uicino  al  Congo  che  fosse  possibile;  dice  anco  che  il  Signor 
Gouernatore  dei  Brasile,  che  risiede  nella  Baya,  in  cio  li  fauoriua 


39° 


assai,  per  essere  Signore  di  moita  pietà,  e  perciò  si  può  credere 
ogni  buon  successo  dei  loro  passaggio. 

Lisbona,  á  15  nouembre  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  Reu.ma 
Deuotissimo  et  Obligatissimo  Seruitore 

Girolamo  Battaglini 

Monsignor  Ingoli. 

APF  —  SRCG,  vol.  no,  fl.  181. 


39 1 


119 


CARTA  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
AO  DIRECTOR  DOS  HOLANDESES 

(18-1 1-1645) 

SUMRÁIO  —  Responde  cortesmente  ao  Director  de  Luanda,  iludindo 
as  informações  que  este  recebera  e  as  intenções  do  Gover- 
nador Pedro  César  de  Meneses  a  respeito  dele. 

Muy  Illustre  e  nobre  senhor 

Bem  se  deixou  imhnr  da  preuençao  de  V.  S.a  com  o 
pataxo  que  nos  vizitou  na  costa  a  oito  de  Outubro,  que  não  fal- 
tarão inteligençias  a  V.  S.a  de  minha  chegada  a  ella,  e  conse- 
guintemente,  aos  desaseis  do  dito  a  protestação  com  que  V.  S.a 
foi  seruido  de  o  tornar  a  mandar  á  mesma  paragem,  em  lugar 
das  boas  uindas  de  que  me  era  deuedor  V.  S.a,  por  correspon- 
dência das  tregoas  e  amizade  de  nossas  nações,  e  esconder  se 
lhe  a  V.  S.a  o  meu  intento,  não  argue  deffeito  na  segurança 
delle,  pois  hé  notório  que  o  dos  portuguezes  em  tudo  tem  por 
essençial  a  fidelidade  e  S.  Magestade,  quazi  que  mais  aguarde- 
cera  hú  desastre  aconteçido  em  boa  fee,  que  hú  bom  suçesso 
em  preiuizo  delia;  e  o  escrúpulo  que  V.  S.a  fás  de  meu  silençio, 
se  deuera  conuerter  em  satisfação,  pois  antes  com  elle  se  mostra 
melhor  o  cuidado  com  que  me  emprego  em  soliçitar  com  V.  S.a  a 
reputação  da  modéstia  e  cortezia  de  bom  vezinho,  e  crea  V.  S.a 
que  asim  por  testemunho  do  senhor  Pedro  Cezar  de  Menezes, 
e  outras  muitas  notiçias,  tenho  formado  tão  digna  e  constante 
opinião  dos  primores  e  mereçimentos  de  V.  S.a,  que  em  tudo 
o  que  se  me  offereçer  do  gosto  e  seruiço  de  V.  S.a  na  comprehen- 
são  dos  poderes  de  meu  cargo,  me  hei  de  saber  sempre  asinalar 

392 


com  particular  aguardeçimento;  e  entre  tanto  seruirá  de  mayor 
firmeza  desta  verdade  entre  nós,  a  obseruaçao  por  parte  de  V.  S.a 
das  ordens  de  seus  mayores,  sendo  como  as  que  eu  trago  de 
S.  Magestade  em  boa  comformidade  da  condição  de  nossas  tre- 
goas,  e  a  pessoa  de  V.  S.a  guarde  Deus  muitos  annos.  / / 
Coamza,  oie  desoito  de  nouembro  de  1645. 

Seruidor  de  V.  S.a 

Framcisco  de  Sotto  Mayor. 

E  dezia  o  sobre  escrito.  / / 

Ao  muito  Illustre  e  nobre  senhor  Henrique  de  Redinchouen, 
guarde  Deos. 

As  quaes  cartas,  hua  do  Director  dos  olandeses  e  outra 
em  re[s] posta  delia,  do  Gouernador  e  Cappitáo  geral  destes 
Reinos,  Francisco  de  Sotto  Mayor,  eu  Felipe  de  Carualho, 
escriuáo  da  armada  e  socorro,  tresladey  por  seu  mandado  das 
próprias  a  que  me  reporto  e  as  concertei  com  o  escriuáo  da 
fazenda  comigo  asinado,  neste  Arrayal  da  Coanza,  em  desoito 
de  nouembro  de  1 645,  e  o  escreuy. 

Phillippe  de  Carualho 

Conçertado  por  mí  escriuáo  /  Phillippe  de  Carualho. 
E  comiguo  escriuáo  da  fazenda  de  sua  magestade. 

Manuel  Carneiro  de  Mendonça 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


393 


120 


CARTA  DE  FR.  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
A  PROPAGANDA  FIDE 

(30-1 1- 1645) 

SUMÁRIO  —  Partida  da  Baía  fara  Angola  —  Pareceres  vários  sobre  o 
Rei  do  Congo  —  Pede  a  sua  protecção  —  Parecer  con- 
trário à  ida  dos  Missionários  fara  o  Congo. 

Ill.mo  e  Reu.mo  Signor  et  Padrone  mio  Osseruandissimo 

Col  fauore  di  Dio  benedetto,  finalmente,  doppo  fermati  4 
mesi  nel  Brazil,  nella  Città  de  Todos  os  Santos  de  Baia,  che  ne 
paruero  quatro  anni,  partimo  per  la  costa  d'Angola,  non  sapendo 
certo  se  Angola  sij  per  noi  alargata  da  olandesi,  pure  tenendo 
di  già  ín  quelle  parti  li  Signon  Portoghesi  porto  doue  stanno 
fortificati,  uicino  à  Angola  25  lega,  là  s'inuiarà  il  nauiglio,  et 
pò  essere  che  quando  arriuiamo  colà  stij  per  li  Rè  Angola  et 
Loanda.  / / 

Del  Rè  de  Congo  uariamente  s'intende  da  persone  moranti 
nella  Baja,  come  sij  alia  fede  pocco  affesionato,  et  come  chia- 
mase  à  Angola  1'olandesi,  ò  che  in  Olanda  inuiase  ambascia- 
dori,  sono  4  anni;  altn  agiungono,  chi  inuiò  in  Olanda  un 
suo  figliolo  per  educatione;  uero  è  che  non  sono  noue  certe, 
tremendo  giustamente  sijno  noue  d'interessati,  et  io  legei  sono 
pocchi  giorni  una  lettera  dei  medesimo  Rè  de  Congo,  che  scri- 
uea  ad  un  Capittano  Portughese,  quale  lo  serui  in  Congo  qual- 
che  tempo,  come  pretendeua  esser  tanto  cattohco  quanto  il  Rè 
di  Spagna  et  di  Francia,  ma  che  quanto  fece  in  Angola  non 
fu  se  non  per  le  pretensioni  [che]  tiene  in  quel  Regno;  in 
arriuando  à  Angola  ò  Masangano,  potremo  auisare  il  certo,  il 

394 


che  credemo  seguira  aH'fine  di  Género,  ò  metà  di  febrero,  tanto 
piú  che  hora  traghetano  nauigli  di  Portogalo  di  là  al  Brazil,  et 
si  preparono  in  Lisbona  imbarcationi  per  quella  volta.  / / 

Altro  non  tengo  che  scnuere,  che  ricurire  [à]  V.  S.  Ill.ma 
et  baciare  le  sue  mani  cÕ  tutti  li  Padri  Compagni  et  pregarle  per- 
fine  nel  progetto  ogni  paterna  protettione,  poiche  íl  clima  doue 
si  uà  pare  molto  trauaglioso  et  aggiungendosi  1'arte  d'alcuni 
Religiosi  molto  ben  già  parati  contro  la  nostra  missione,  et 
reputatione  delia  Religione,  il  che  senza  quelli  aiuti  di  fauori 
apostolici,  erit  in  casso  laborare,  doppo  si  longho,  proliso  et 
trauaglioso  viaggio  ( tamen  digna  lacrjmis  prefero )  pare  che  in 
questa  etade  Dio  inuij  li  nostri  Religiosi  à  quelle  Conquiste  di 
Portugalo  per  aiuto  di  quelle  anime  et  per  mostrare  la  pouertà 
apostólica  et  euangelica,  et  quando  Dio  vogli  entnamo  in  Congo 
cõ  frutto,  spero  in  Dio  debba  succedere  copiosissime  reccolte. 

Jn  questo  ponto  sono  auisato  che  cõ  bel'arte,  pare  che  sotto 
manto  di  zelo,  si  tratti  da  principali,  et  lo  dicono  li  Signori  delle 
Compagnie  claramente  (sic)  à  molti,  et  à  noi  medesimi,  che 
arriuando  in  Angola  non  è  raggione  ci  lascino  passare  à  Congo 
questi  populi  et  gouernatore,  per  consolatione  di  questi  populi 
portughesi;  ò  quanto  saria  bene  tener  breue  pontifício  per  ouiare 
à  tutto  quelo;  uero  è  che  come  tengo  lettere  dei  Rè  di  Portugalo 
per  il  Rè  di  Congo,  chi  mi  potra  impedire,  quando  quel  Rè  mi 
voglia  nceuere?  Auiso  totto  questo  per  quelo  [che]  seguirá 
in  apresso.  / / 

Baja  de  Todos  os  Santos,  li  30  Nouembre  645. 

Di  V.  S.  Ill.ma 
Seruo  deuotissimo 

F.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuchino 
et  V.  Prefetto  de  Congo 

APF  —  SRCG,  vol.  110,  fls.  194-194  v. 


395 


121 


CARTA  DE  FREI  SALVADOR  DE  GÉNOVA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(2- 12- 1645) 


SUMÁRIO  —  Depois  de  ter  empregado  seus  préstimos  para  o  despacho 
da  missão,  pede  para  ser  dispensado  dela,  por  motivos 
de  saúde,  e  para  poder  regressar  do  Brasil  à  Itália. 


Ill.mo  Signor 

Da  Dio  benedetto  solo  e  principalmente,  non  hauendo  10 
diligentato  in  modo  alcuno,  solo  prestato  íl  mero  consenso,  fui 
agregato  a  questa  Missione  dei  Congo;  hò  procurato  sempre 
nelle  ocorrenze  d'adoperarmi  à  prò  e  benefitio  delia  cõ  il  poco 
talento  che  Iddio  me  hà  dato,  et  particularmente  in  Lisbona, 
con  quelle  Corone,  et  à  me  toccaua  somente  per  essere  piú  pra- 
tico di  quella  lengua  portoghesa.  / / 

Siamo  gionti  alfine  per  la  Dio  gratia,  d'imbarcarsi  per 
Angola,  piaccia  al  Signor  la  condurne  sani  e  salui.  E  perche  per 
alcune  mie  indispositioni  non  posso  continuare  le  fatiche  che  nè 
restano  piu  trauagliose,  priego  e  suplico  V.  S.  111.1""  a  farme 
la  carita  di  mádarme  licenza  di  pottermene  ritornare  in  Itália, 
á  finire  li  miei  giorni  in  pace. 

Nè  starò  attendendo,  delia  giusta  domanda,  1'intento, 
hauendone  anche  scritto  al  M.  R.  P.  Prouinciale  nostro  et 
adduttogli  altre  (fuor  che  le  narrate)  raggioni  equiualêti  per 

396 


essere  compiaciuto.  Riuensco  humilmente  V.  S.  IIl.ma  e  dal 
Cielo  augurole  il  colmo  d'ogni  vero  bene. 

Dalla  Baya  de  tutti  li  Santi,  2  decembre  1645. 

Di  V.  S.  Ill.ffia 

Obedientíssimo  e  mínimo  ín  Chnsto  Signor 

f .  Saluatore  da  Genoua  / / 
Sacerdote  Capuccino 

ENDEREÇO:  All*Ill.mo  Signor  Francesco  Ingoli 
Secretario  delia  Congregatione  de  [  Propaga  ]nda  Fide 
che  Dio  Guardi  Roma 

APF  —  SRCG,  vol.  1  io,  fls.  68-68  v.  e  75  v. 

NOTA  —  Die  XI  junij  1646,  congregado  31. 

Referente  eminentíssimo  Cardinale  Pallotto  litteras  patris  Saluattore 
de  Genua,  Capucini,  datas  Brasiliae  instatis  pro  licétia  [reuertendi  a] 
missione  Cõghi,  sacra  congregatio  iussit  agi  cú  procuratori  generali 
pro  habeda  eius  sententia.  —  fl.  75  v. 


397 


122 


CARTA  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
A  EL-REI  D.  JOÃO  IV 

(4-12-1645) 

SUMÁRIO  —  Conta  a  el-Rei  o  desembarque  efectuado  em  Angola  do 
socorro  militar  for  ele  chefiado  —  Dá  larga  conta  da 
situação  da  Província  —  Elogio  dos  Padres  Jesuítas. 

Auendo  dado  comta  a  V.  Magestade  em  cartas  de  13c  17 
de  Septembro,  dos  discursos  de  minha  viagem  até  o  Quicombo, 
de  como  me  auia  fortificado  nelle,  feito  por  duas  vias  auizo 
a  Massangano,  recolhido  as  relíquias  da  infanteria  que  restou 
da  perdição  de  Antonio  Teixeira  de  Mendo  [nça],  e  os  Portu- 
guezes  que  uiuiáo  indignamente  á  obediençia  dos  flamengos 
no  prezidio  de  Benguella,  e  reduzido  á  vassallagem  antiga  os 
souas  do  dito  Quicombo,  e  como  ultimamente  me  rezolui  com 
a  re[s]  posta  e  pareçer  do  Gouernador  Pero  Cezar  a  tornar  a 
enbarcar  me  nas  mesmas  naos  do  socorro  e  intentar  a  condução 
delle  entre  a  Coamza  e  Cabo  Ledo,  porque  não  obstante  a 
capaçidade  da  paragem  do  Quicombo,  e  a  conueniençia  da 
conseruação  delia  para  a  comunicação  da  comquista,  me  ficaua 
totalmente  o  effeito  deste  intento  impossibilitado  sem  o  adiuto- 
no  da  guerra  preta,  de  que  nessesitaua  para  poder  conduzir  as 
moniçÕes  ás  fortalezas  da  dita  Comquista,  em  conçideração  do 
qual  tratei  com  toda  a  deligencia  de  me  aprestar  para  esta  segun- 
da jornada,  e  tendo  notiçia  delia  os  ditos  souas  amigos,  os  pôs 
em  tanta  descomfiança  esta  nouidade  que  se  temerão  e  auzen- 
tarão  de  nosso  trato,  persuadidos  de  outros  negros  enueiozos  de 
que  elles  o  tiuessem  comnosco.  / / 


398 


Mas  quis  Deus  que  nos  não  faltasse  meos  de  os  tornar  a 
reduzir  á  nossa  amizade,  deixando  lhe  como  em  prendas  delia 
a  João  Cardozo,  mullato,  soldado  da  Companhia  de  Benguella,  e 
Antonio  Roiz,  tendalla  da  guerra  preta,  ambos  mui  práticos  na 
lingoa  e  costumes  da  terra,  e  até  sessenta  cabeças  de  gado  de 
todo  o  género  que  se  auiao  adquirido  para  criação,  com  o  que 
se  derão  por  contentes  e  seguros  de  nossa  tomada,  e  com  esta 
ra  de  posse  se  fica  pello  menos  conseruando  em  algúa  ma- 
neira a  auçao  que  temos  ao  porto  de  Quicombo,  tornando  a 
afirmar  a  V.  Magestade  que  em  toda  a  costa  não  há  outro  de 
sua  capaçidade  e  que  fortificado  como  comuem  se  puderão  im- 
ír  aos  framengos  seus  intereçes  e  melhorar  se  os  nossos,  por- 
que hé  Prouinçia  mui  farta  de  gados  e  abundante  de  gentio, 
e  próxima  ao  mar,  com  que  se  offereçe  de  menos  trabalho  sua 
conquista.  / / 

E  auendo  finalmente,  senhor,  tornado  a  fazer  auizo  em  25 
de  Setembro  ao  Gouernador  Pero  Cezar  da  rezolução  que  tomei, 
com  seu  parecer,  na  conformidade  da  carta  de  que  mandei  â 
V.  Magestade  a  copia  incluza  na  de  17  de  setembro,  me  parti 
do  dito  porto  a  4  de  Outubro,  e  chegando  à  noite  dos  6  a  anco- 
rar com  calmaria  ao  mar  do  Cabo  Ledo,  que  era  a  paragem 
onde  em  comformidade  do  Auto  e  cartas  dos  moradores  de 
Massangano,  eu  auia  de  achar  as  comodidades,  adiutorios  e 
auizos  nessesarios  para  resoluer  a  desembarcação  e  como  estes 
me  faltassem  mandei  escoadrinhar  com  toda  a  deligencia  quanto 
uay  do  Cabo  Ledo  até  a  Coamza  e  fortaleza  do  olandês,  e  a 
examinar  pellos  pillotos  a  parte  mais  capaz  (*)  de  abrigo  e 
ancoradouro  para  as  naos,  e  se  experimentou  tudo  ao  contrario 
do  que  se  nos  tinha  mandaddo  propor,  e  dando  me  nesta  ocazião 
mayor  cuidado  a  falta  de  agoa  na  costa,  pella  que  eu  trazia  delia 
a  respeito  da  podridão  da  piparia  do  Rio  de  Janeiro,  e  da  muita 


(*)  No  original:  capas. 


399 


gente  que  se  me  auia  acreçido  cÕ  o  resto  do  socorro  de  Antonio 
Teixeira,  e  retirada  das  famílias  de  Benguella,  afirmo  a  V.  Ma- 
gestade  que  muitos  chegarão  a  temer  menos  bom  fim  a  esta 
viagem;  e  nestes  termos  foi  Deus  seruido  de  alegrar  a  todos 
com  húa  fonte  de  agoa  nunca  sabida  nem  imaginada  dos  nossos 
que  se  achou  a  pouca  distancia,  pella  terra  dentro  da  ençeada 
que  chamão  Suto  (2),  e  aproveitando  me  de  comodidade  tão 
nessesaria,  botey  ferro  na  dita  parte  aos  8  do  mes  e  desembar- 
quei com  algúa  infantena  a  tomar  posto  e  asegurar  a  agoa  de 
que  tanto  se  nessesitaua,  e  como  o  olandês  auia  tido  inteligência 
de  todo  o  discurso  de  minha  viagé  por  uia  de  Massangano  de- 
pois do  meu  primeiro  auizo,  no  mesmo  dia  á  tarde  chegou  hú 
pataxo  seu  a  reconhecer  nos;  mandei  lhe  sair  ao  encontro  hú 
batel  e  dizer  lhe  que  botasse  ferro  e  disesse  a  quê  e  donde  uinha, 
atrauessou  logo  e  respondeu  que  da  Loanda,  e  que  passaua  a 
Benguela,  e  tambe  queria  saber  quem  éramos  e  a  que  uinhamos; 
disse  se  lhe  que  Portuguezes,  e  que  o  General  só  sabia  o  demais, 
ao  que  pedio  que  soubessem  delle  se  queria  algúa  couza  para 
a  Loanda  e  que  esperaria  o  seu  recado;  com  o  que  o  nosso  batel 
se  uoltou  e  o  pataxo  apareseu  ao  outro  dia  muito  emmarado  a 
nosso  balrrauento,  e  passou  como  depois  se  disse  até  o  Qui- 
combo  e  querendo  desembarcar  em  terra,  a  reconheçer  o  citio 
que  eu  ali  auia  occupado  e  fortificado,  os  negros  do  nosso  Soua 
lho  impedirão  ás  frechadas. 

E  não  se  achando  até  este  ponto  noua  ou  sinal  algum  de 
Portuguezes  ou  negros  amigos,  antes  os  daquella  paragem  mos- 
trando se  pello  framengo,  se  andauão  pondo  em  magotes  a 


(2)  Para  O.  Cadornega,  a  designação  está  ligada  com  o  nome 
do  Governador  Sotomaior,  que  desembarcou  «na  enseada  a  quem  deu 
o  nome  de  Suto  por  elle  se  chamar  Souto  Mayor».  Parece  mais  acei- 
tável a  razão  apresentada  por  Cadornega  no  tomo  III  da  sua  obra: 
«o  porto  de  Suto,  onde  dezembarcou  o  socorro  Francisco  de  Sotto 
Mayor  [...]  e  de  então  para  cá  ficou  áquelle  porto  o  appellido  de 
Suto».  (Arquivos  de  Angola  cit.,  p.  170). 

400 


oppossição  dos  nosos  que  se  alongauão  a  buscar  agoa  e  lenha; 
voltou  aos  1 1  do  dito  o  Capitão  Antonio  Gomes  de  Gouuea, 
que  o  auia  mandado  com  sincoenta  infantes  a  descobrir  até  o 
Rio  Coamza,  e  trouxe  comsigo  o  mesmo  P.e  Hieronimo  da  Fon- 
çequa  (3),  que  se  nos  auia  remetido  ao  Quicombo  para  infor- 
mador das  comodidades  que  com  tanto  risco  deste  socorro  se 
experimentarão  mentirozas,  e  delle  soubemos  como  ainda  em 
Massangano  se  esperaua  a  certeza  de  nossa  chegada  para  se 
rezoluerem  os  adiutonos  de  nossa  condução,  que  milhor  pudera 
afirmar  a  V.  Magestade  que  forão  estoruo  delia. 

Aos  16,  se  nos  asercou  dez  (4)  legoas  desta  paragem,  na 
que  chamão  do  Ensandeira  (5),  o  Gouernador  Pedro  Cezar  de 
Menezes  com  algús  poucos  soldados  e  moradores,  e  dali  me 
mandarão  requerer  os  offiçiaes  da  Camara,  em  nome  do  Reino, 
entre  outras  couzas  que  a  V.  Magestade  constarão  dos  Autos, 
que  sobre  a  matéria  se  fizerão.  / / 

Em  primeiro  lugar,  que  eu  fizesse  sabedores  de  minha  che- 
gada aos  olandezes,  porque  de  o  não  fazer  tomanão  elles  motiuo 
para  mayores  estoruos  e  dificuldades  de  minha  condução,  pois 
se  achauão  com  dobrado  poder  que  o  nosso  em  o  mar  e  a  terra, 
e  como  eu  antes  tinha  por  mais  seguro  não  lho  dar  a  entender, 
asim  me  rezolui  a  metellos  em  cuidado  com  a  falta  deste  com- 
primento, até  que  aos  16  do  mes  segundou  a  auistar  se  com 
nosco  o  seu  pataxo,  com  hú  protesto  de  que  remeto  a  copia  e 
da  re[s] posta  delle,  a  V.  Magestade. 

E  logo  preuenindo  eu  as  embarcações  e  algúa  artelhana 
em  terra  para  deffença  d  elias,  tratei  de  correr  e  asegurar  o 
campo  até  a  Coanza  para  condução  das  monições,  a  qual  se 


(3)  Padre  Jerónimo  da  Fonseca  Saraiva. 
(*)  No  original:  des. 

(*)  Ilha  do  Ensandeira,  da  alcunha  do  capitão  Gaspar  Gonçalves, 
porque  nela  residia. 


2$ 


comessou  aos  18  do  dito  mes  com  pouco  mais  de  cem  negros 
carregadores,  pella  liberdade  e  mao  seruiço  a  que  estauao  cos- 
tumados, ou  pello  pouco  zello  de  seus  donnos,  e  não  deixando 
de  dar  penna  esta  frouxidão  e  desemparo  em  matéria  tão  impor- 
tante, ao  Gouernador  Pero  Cezar,  me  auizou  que  tudo  se  melho- 
raria com  todos  se  eu  chegasse  a  tomar  posse  do  Gouerno;  e 
fazendo  me  a  Camara  o  mesmo  requerimento  parti  a  este  effeito 
aos  2 1  com  as  segundas  monições,  duzentos  infantes  e  duas 
pessas  de  campanha,  com  que  abri  passo  para  condução  de  mais 
quatro,  com  immenso  trabalho,  por  falta  de  caminhos  abertos, 
agoa,  e  carruagems. 

Aos  25  cheguei  ao  Rio  Cuanza  em  paz  (6),  e  com  ella  e  o 
aplauzo  a  que  aiudarao  as  cargas  de  mosquetaria  e  artelharia 
com  que  nos  achamos,  se  me  deu  a  posse  do  Gouerno  na  comfor- 
mídade  que  V.  Magestade  ordenaua  em  sua  real  patente  (7), 
nao  seriando  de  menos  celebração  neste  dia  o  pezar  com  que  o 
olandês  as  ouuio  e  me  conçiderou  iá  tão  metido  dentro. 

Para  tomar  inteligência  de  seu  estado  e  dessenhos,  se  me 
ofereçeu  muita  dificuldade  e  confuzão,  por  achar  os  mais  dos 
moradores  tão  inclinados  á  comunicasão  da  Loanda  e  intereçes 
delia,  que  lhes  era  muy  duro  de  admittir  a  pnuação  de  deuassi- 
dão  deste  trato,  e  como  quem  arreçeaua  de  mí,  tratauão  antes 
de  me  persuadir  cõ  dissimulações  assaz  (8)  cuidadozas  e  muy 
preiudiçiaes  ao  seruiço  de  V.  Magestade,  que  o  olandês  não 
nessitaua  de  nosso  comerçio,  porque  abundaua  de  bastimentos 
do  Bengo  e  Dande,  e  de  pessas  da  Ginga  e  Congo,  a  menos 
ualor  do  que  pudera  resgatar  da  nossa  mão  estes  e  outros  géneros 
semelhantes. 


(6)  No  original:  pas. 

(7)  Nao  se  encontra  no  ATT  a  patente  para  Governador  de 
Angola. 

(8)  No  original:  assas. 


^02 


Não  deixando  eu  porem  de  escoadrinhar  o  segredo  destas 
matérias  por  meo  de  algús  poucos  cristãos  velhos,  que  opri- 
midos e  atemorizados  de  muitos,  que  poruentura  o  não  são,  se 
hião  exteriormente  atrás  do  mesmo  mao  exemplo,  foi  nosso 
Senhor  seruido  que  pude  valer  me  da  verdade  de  algúas  noticias 
para  comessar  por  ellas  a  entender  que  o  olandês  não  pudera 
conseruar  seus  prezidios  senão  com  os  proueitos  que  tira  das 
nossas  mesmas  conquistas  em  bastimentos,  escrauaria  e  mar- 
fim, a  troco  de  vinho  e  outras  delicias,  por  excessiuos  pressos, 
não  guardando  as  tregoas  em  mais  que  no  que  lhes  era  vtil  a 
elles. 

Logo  eu  em  conçideração  de  tão  desigoal  proçedi mento, 
aproueitando  me  da  mesma  dissimulação  dos  intereçados  nelle, 
comessei  a  pôr  cobro  e  vigilância  nos  caminhos  e  meos  da  comu- 
nicação e  comerçio,  e  a  publicar  por  outra  parte  que  não  uinha 
a  mais  que  a  guardar  as  tregoas  com  a  reçiproca  amizade,  e  não 
intentei  estas  deligençias  de  balde,  porque  descubn  com  ellas 
muito  ânimos  de  que  me  hé  nessesario  guardar,  e  iuntamente 
fazer  por  ora  delles  fieis  ./ / 

E  sendo  o  total  intento  do  olandês  fazer  proua  de  minha 
rezolução  e  forsas,  com  a  dissimulação  e  outras  acções  dignas 
de  sua  agudeza,  me  armaua  com  ellas  a  que  me  declarase  e 
e  escreuedo  elle  a  Pero  Cezar  de  Menezes  por  algúas  uezes,  des- 
pois  de  me  auer  largado  o  Gouerno,  daua  em  dar  queixas  de  mí 
aserca  do  silencio  e  cautella  com  que  íulgaua  que  eu  procedia, 
asim  na  condução  das  monições  para  Massangano,  como  na 
carga  e  despacho  dos  nauios  de  minha  conserua,  e  asim  de  lhe 
auer  eu  faltado  com  o  comprimento  da  noticia  de  minha  che- 
gada, e  das  ordens  de  V.  Magestade,  a  que  algús  dos  suspeito- 
zos  moradores  aiudauão,  persuadindo  me  que  o  fizesse,  até  que 
por  effeitos  não  por  palauras,  entenderão  de  mim  que  estaua 
muy  izento  de  o  uir  a  fazer;  e  com  este  desengano,  sendo  aos 
17  de  nouembro,  tiue  húa  carta  do  director  ou  Gouernador  da 

4°3 


Loanda,  de  que  remeto  a  copia  (9)  a  V.  Magestade,  e  da 
re[s] posta  delia  (10). 

Entendeu  se  em  comu  que  esta  carta  por  seus  termos  bas- 
tasse a  seu  hú  grande  empenho  e  segurança  da  boa  fé  das  tre- 
goas;  com  tudo  tomando  eu  delia  mayor  motiuo  para  a  preuen- 
são,  persuadi  aos  moradores  a  intentar  a  condução  de  outras  seis 
pessas  de  artelhana,  que  ainda  estauão  por  desembarcar,  as  quais 
erao  de  ferro  e  de  oito  até  desoito  liuras  de  baila,  o  que  quis 
nosso  Senhor  que  se  conseguisse  com  até  seis  çentos  escrauos, 
que  seruirao  de  carruagem  por  discurso  de  noue  legoas  de  mon- 
tanha até  este  Rio  Coanza,  auendo  se  primeiro  asegurado  os 
passos  com  as  duas  partes  da  infanteria  postas  a  opossisao  de 
qualquer  mao  intento  do  olandês,  e  á  uista  da  sua  fortaleza  da 
Barra,  e  em  outros  caminhos  da  Loanda  occupados  també  de 
suas  guardas  e  sentinellas,  o  que  até  gora  se  obserua  em  boa 
comformidade  d'ambas  as  partes,  mas  da  nossa  com  particular 
auxilio  do  Ceo,  porque  tendo  se  por  infaliuel  que  o  olandês 
se  achaua  na  coniunçao  de  minha  chegada,  com  sete  nauios  e 
mais  de  oitoçentas  prassas  effectiuas,  capaz  (n)  quando  menos 
de  campear  com  quinhêttas  delias,  bem  pareçe  que  foi  obra 
de  Deus  amedrentalo  e  comfundillo  de  maneira  que  se  não 
soubesse  rezoluer  até  gora  a  estoruar  a  comduçao  de  tantas 
monições  e  petrechos,  que  com  o  mínimo  contraste  da  sua 
parte  nos  fora  bem  dificultoza  de  conseguir,  não  se  lhe  offere- 
çendo  mayor  inconueniente  para  o  intentar  que  a  passagem  da 
Coanza  á  sombra  da  sua  mesma  artelharia,  e  a  dita  opossisao 
de  até  oitenta  soldados,  que  era  o  vitimo  esforso  com  que  eu  lha 
podia  fazer,  achando  me  com  pouco  mais  de  outros  tantos  diui- 
didos  em  continuas  guardas  e  centinelas,  porque  dos  soldados 
que  escaparão  com  Antonio  de  Mendonça,  não  auia  trinta 


(B)  Cfr.  doe.  de  15-11-1645. 
(10)  Cfr.  doe.  de  18- 11- 1645. 
(n)  No  original:  capas. 


capazes  de  tomar  armas,  os  de  Benguela  outros  tantos,  e  os  com 
que  dessem  à  Ilha  do  Emsandeira  o  Gouernador  Pero  Cezar  de 
Menezes,  entre  gente  paga  e  da  ordenança,  não  auia  oitenta,  e 
estes  tão  mal  obseruantes  da  millicia  que  dauão  mayor  cuidado 
com  suas  faltas  e  abuzos:  e  não  chegando  os  soldados  com  que 
parti  do  Rio  de  Janeiro  para  esta  empreza,  a  duzentos  e  setenta, 
posso  afirmar  a  V.  Magestade  que  entre  hús  e  outros  se  não 
redus  numero  dos  sãos  e  effectiuos  a  duzentos,  e  com  este  hé 
Deos  seruido  que  seia  capaz  (n)  a  boa  fortuna  desta  empreza 
de  V.  Magestade  a  ter  até  oie,  que  sao  [4]  de  Dezenbro,  em- 
freado  a  infidelidade  e  cobiça  deste  mao  vezinho,  soportando  os 
dannos  que  recebe  (asim  de  intereçes  como  de  reputação)  com 
o  socorro  que  uamos  metendo  na  conquista,  com  a  muita  escra- 
varia  que  se  uay  embarcando  nos  quatro  nauios  de  minha  con- 
serua,  que  sempre  deue  de  passar  de  duas  mil  pessas,  para  o 
despacho  das  quaes  fis  hir  asistir  os  offissiaes  da  fazenda  de  V. 
Magestade,  que  carregarão  os  direitos  delias  em  Lopo  da  Fon- 
çequa  Henriques  (12),  que  os  toma  sobre  sim,  e  da  importançia 
delles  não  auizo  a  V.  Magestade  porque  me  não  pode  constar 
senão  depois  da  partida  dos  ditos  nauios,  por  eu  estar  na  Coamza 
á  oppossisão  do  olandês,  a  qual  paragem  (como  iá  referi)  dista 
noue  legoas  da  enceada  de  Suto,  onde  se  faz  (13)  a  dita  carga./ / 
E  em  comformidade  das  ordens  que  trouxe  de  V.  Mages- 
tade, que  para  sustento  da  infantaria  me  aproueitase  de  quaes- 
quer  effeitos  que  ouuesse  neste  Reino,  da  fazenda  de  V.  Mages- 
tade, me  ficarei  ualendo  destes  para  fardas  dos  soldados,  que 
asim  os  que  trouxe  como  os  maes  que  achei  neçessitão  de  ves- 
tido, posto  que  todo  o  género  de  roupa  aqui  hé  tão  custozo  que 


(12)  Homem  de  largo  negócio,  contratador  dos  escravos,  nego. 
ciador  com  os  holandeses  em  Luanda,  trouxe  para  Massangano  muitos 
géneros  que  ((dava  geralmente  a  todos  quasi  pello  mesmo  que  lhe 
haviao  custado».  (Arquivos  de  Angola  cit.,  p.  174). 

(13)  No  original:  fas. 


4°5 


por  menos  da  seista  parte  do  qual  se  pudera  suprir  do  Reino 
outro  tanto,  mas  a  nessesidade  prezente  não  dá  por  ora  este 
lugar. 

Poucos  dias  antes  de  minha  chegada  a  esta  costa,  tinha 
o  Gouernador  Pero  Cezar  preuenido  hú  Pataxete  seu  para  man- 
dar de  auizo  ao  Brazil,  e  auendo  este  de  sair  pela  barra  da 
Coamza,  e  tendo  o  olandês  artelharia  em  deffensa  delia,  era  for- 
sozo  auer  de  passar  com  licença  do  Director  da  Loanda;  e  sendo 
em  vesporas  de  partida,  nao  faltarão  algús  indícios  de  que  elle 
intentaua  fazer  repreza  na  prata  e  marfim,  que  era  fama  que 
leuaua,  com  reçeo  do  qual  se  tornou  a  retirar  o  dito  pataxo,  e 
agora  em  comfiança  de  melhor  estado  a  que  as  correspondên- 
cias das  tregoas  se  reduzirão  com  a  vinda  deste  socorro,  tornou 
Pero  Cezar  a  ualer  se  da  primeira  liçensa  do  Director,  e  a  con- 
seguio  seguramente,  e  posto  que  primeiro  a  procurou  de  mí,  eu 
não  quis  interuir  nella  de  publico,  por  não  dar  vaidade  ao  olan- 
dês de  que  eu  uiesse  em  nenhú  cazo  nessesitando  de  permis- 
sões suas;  mas  accuzo  me  a  V.  Magestade  que  me  conuençi  a 
dessimular  esta  negoceação  com  lastima  e  respeito  aos  traba- 
lhos deste  fidalgo,  tão  mereçedor  por  elles  dos  fauores  e  gran- 
dezas de  V.  Magestade,  como  por  o  particular  mereçimento  de 
sua  pessoa,  por  seu  sangue  e  por  sua  lealdade,  como  o  mostra  a 
conseruação  das  relíquias  deste  Reino,  tão  desmantelado  de 
forsas  e  tão  contrastado  do  maes  poderozo  aduersano  que  elle 
nunca  teue  nesta  Ethiopia,  como  hé  a  Rainha  Ginga,  tão  fomen- 
tada e  doutrinada  em  nosso  danno  da  dissimulada  infidelidade 
do  olandês. 

Do  ser  em  que  ficão  neste  Reino  as  matérias  da  guerra,  jus- 
tiça e  fazenda,  não  dou  nesta  occazião  particular  conta  a  V. 
Magestade,  porque  sendo  entrado  nelle  há  dous  mezes,  ainda 
fico  nos  matos,  sincoenta  legoas  e  mais  de  Massangano,  onde 
V.  Magestade  se  serue  de  me  mandar  asistir,  e  até  gora  mal 
assistido  dos  adiutorios  nessesanos  para  minha  condução,  que  hé 
forsa  esperar  a  partida  dos  nauios,  asim  para  os  estar  asegurando, 

406 


como  para  me  aproueitar  das  mesmas  embarcações  e  gente  que 
se  occupa  na  carga  delias,  que  como  esta  redunda  em  intereçe 
particular  de  cada  hú,  acodem  os  mais  de  melhor  vontade  aos 
ef feitos  delle  que  ás  obrigações  de  vassallos  de  V.  Magestade; 
e  o  peor  hé  que  na  dissimulação  de  procedimentos  tão  preiudi- 
çiaes,  consiste  por  ora  a  conueniencia  do  seruiço  de  V.  Mages- 
tade e  hé  nessesario  grande  acordo  neste  ponto,  pellas  muitas 
nouidades  que  se  offerecê"  nelle  cada  ora,  sendo  todos  em  comú 
mercadores,  e  cada  hu  em  particular  Capitão  mor  do  Reino  ou 
sargento  mor,  e  quando  menos,  cabo  de  companhias,  que  não 
ueio  porque  até  gora  não  tem  dessido  a  esta  paragem  em  que 
fico  maes  de  até  8o  pessoas,  entre  moradores  e  soldados,  com 
o  Gouernador  Pero  Cezar  de  Menezes,  e  logo  se  me  fes  reque- 
rimento para  se  tornarem  os  mais  delles,  com  achaque  de  que 
ficaua  Mochima  e  Massangano  sem  goarnisão  e  deffensa  por 
sua  falta. 

Cambambe  e  Ambaca  se  dis  que  ficão  no  mesmo  estado,  e 
todas  com  igoal  nessesidade  de  serem  reparadas  e  socorridas; 
á  opossisão  da  Rainha  Ginga  se  achão  de  prezente  130  solda- 
dos e  a  guerra  pretta  constará  de  oito  mil  arcos. 

Esta  negra  Rainha  se  há  reputado  muito  com  os  nossos 
dannos,  e  delles  tirou  a  ouzadia  com  que  ameassa  outros  mayo- 
res;  e  se  a  saúde  dos  que  chegamos  de  nouo,  não  fora  aqui  tão 
imfaliuel  de  emfermar,  também  me  atreuera  a  afirmar  a  V. 
Magestade  marchara  logo  a  atalhar  por  mim  as  insolençias 
desta  inimiga,  mas  estamos  em  tempo  de  agoas,  que  hé  a 
mais  preiudiçial  monsao  do  ano,  e  todos  me  admoestao  que  a 
deixe  passar,  tendo  se  por  milagre  que  a  malignidade  do  clima 
nos  aia  perdoado  até  gora,  posto  que  lá  me  uão  caindo  doentes 
a  sinco  e  a  seis  soldados  cada  dia,  sem  mais  esperança  de  remé- 
dio que  o  que  tiuer  Massangano,  que  tem  fama  da  mais  noçiua 
região  do  mundo,  como  pellos  ef  feitos  se  experimenta;  mas 
Deus  sobretudo  e  a  obseruação  da  obediençia  em  comprimento 
das  ordens  de  V.  Magestade. 


407 


Em  conçiderasão  de  todo  o  referido,  senhor,  e  da  certeza  e 
zello  com  que  o  faço,  pesso  humildemente  prostado  aos  reaes 
pees  de  V.  Magestade,  queira  ser  seruido  de  mandar  rezoluer 
e  despachar  com  toda  a  breuidade  possiuel  os  socorros  que  estão 
pedindo  as  perigozas  nessesidades  deste  Reino  e  a  summa  im- 
portância delle,  crendo  V.  Magestade  sem  duvida  algúa  que  o 
olandês  não  há  de  goardar  mais  fé  que  a  que  nossas  forsas  o 
obrigarem,  e  que  por  momentos  fica  esperando  sobrepuialas 
com  adiutorios  de  Pernambuco,  achando  se  tanto  mais  empe- 
nhados para  o  rompimento  das  tregoas,  quanto  se  hão  de  dar 
por  offendidos  e  perdidozos  ( sic )  com  a  nossa  chegada  e  con- 
dução, náo  obstante  que  os  termos  delia  para  com  elle  tem 
sido  da  minha  parte  em  tudo  tão  izentos  de  obieição,  como 
V.  Magestade  se  seruirá  de  o  iulgar  da  verdade  dos  discursos 
desta  carta;  e  auendo  transferido  nella  para  este  lugar  a  matéria 
seguinte,  digo  senhor,  que  não  faltão  muitos  indiçios  contra 
algúa  da  gente  mais  poderoza  deste  Reino,  parte  delia  suspeitoza 
na  comunicasão  do  framengo,  e  parte  na  afeisão  de  Castella, 
da  qual  se  afirma  que  intentando  o  estoruo  de  minha  entrada 
pello  Quicombo,  e  da  conseruasão  daquelle  porto,  na  comfor- 
midade  que  eu  dispunha  húa  e  outra  couza,  trassou  dissimula- 
damente  pellos  meos  referidos  a  V.  Magestade,  que  eu  pro- 
curase  minha  condusão  por  Cabo  Ledo,  afim  que  asim  as  in- 
comodidades  delle,  as  doenças,  o  largo  caminho  e  a  vezinhança 
do  framengo,  impossibilitassem  os  effeitos  deste  socorro,  e  algús 
que  não  interuierão  neste  mao  intento,  posto  que  simples- 
mente fossem  em  fauor  delle,  dezeiarão  pello  menos  que  a 
risco  das  tregoas,  e  de  toda  a  conueniençia  do  seruiço  de  V. 
Magestade,  eu  lhes  uiesse  franquear  esta  paragem,  como  em 
effeito  o  fis,  para  mais  façil  e  liure  embarcasão  de  sua  escra- 
varia,  marfim,  prata  e  ouro;  e  creo  que  não  interuindo  os  ditos 
respeitos  se  aualiará  geralmente  por  grande  feliçidade  deste 
Reino,,  a  conseruasão  do  porto  de  Quicombo,  e  a  comunicação 
delle  com  as  nossas  Conquistas;  e  pareçendo  a  V.  Magestade 


408 


não  deixar  perder  tão  grande  conueniençia,  se  pode  conseguir, 
a  despeito  do  framengo,  com  tres  ou  quatro  bons  nauios  de 
forsa,  fiados  dalgum  leal  Português,  e  mandados  antes  que  se 
anteçipe  a  cobiça  e  preuensao  dos  framengos;  e  eu  porque  elles 
o  não  fassão  sem  manifesto  rompimento  das  tregoas,  mando 
agora  alentarem  nossa  amizade  os  souas  daquella  paragem  com 
algús  prezentes,  e  asistençia  da  gente  dos  dous  barcos  que  me 
auião  ido  de  auizo  ao  mesmo  Quicombo,  e  asim  afim  de  que 
se  conseruem  ali  para  me  poder  valer  delles  em  algúa  nessesi- 
dade  que  se  nos  offereça  de  auizar  por  o  Brazil  a  V.  Magestade 
ou  ao  Gouernador  geral  Antonio  Telles  da  Silua,  que  por  o 
auer  sido  meu,  e  tão  asinaladamente  zeloso  do  seruiço  de  V. 
Magestade,  deuo  estar  mui  comfiado  em  seus  adiutorios. 

E  uendo  se  frustrados  estes  peruersos  ânimos,  de  que  me 
queixo  a  V.  Magestade,  com  o  bom  suçesso  de  nossa  condusão, 
apezar  dos  uagares  e  estoruos  delia,  tornarão  a  dar  em  me 
persuadir,  por  mui  dissimulados  e  diuersos  caminhos,  com 
algúa  aparência  de  zello,  que  não  deixasse  a  paragem  de  Suto 
sem  algu  modo  de  fortificasão,  para  emparo  de  nauios  que  uie- 
rem  do  Brazil  a  carregar  negros,  como  que  os  olandezes  ouues- 
sem  de  perdoar  senão  a  forsas  mui  rezolutas  e  superiores,  e  como 
se  eu  não  cometera  hú  graue  crime  em  me  rezoluer  a  semelhante 
empenho  de  fortificasão,  distante  sesenta  legoas  donde  V.  Ma- 
gestade me  manda  asistir,  e  só  donde  eu  a  posso  socorrer,  com 
o  olandês  e  outros  muitos  inconuenientes  de  por  meo,  não 
sendo  menores  que  auendo  de  fazer  a  tal  fortificação  na  dita 
praya,  nessesitaua  de  outra  o  padrasto  e  de  outra  a  agoa  distante 
pouco  menos  de  hú  quarto  de  legoa,  porque  os  inimigos  a  não 
cortassem  ou  a  não  empessonhentassem,  porque  são  estes  (de- 
mais dos  framengos)  os  negros  nambios  (14)  e  quissames,  cuio 


(14)  Moradores  no  Morro  dos  Nâmbios,  à  entrada  da  Barra  do 
Cuanza.  Cadornega  diz  deles  «que  brancos  se  podem  chamar  nestas 
occaziões,  pois  obrão  como  se  o  forâo». 


4°9 


hé  aquelle  destrito  e  tão  fora  de  estarem  auassalados  como  se 
afirma  que  songa  (15),  o  senhor  e  soua  prinçipal  nunca  quis  uir 
a  uer  se  comigo,  nem  dar  passo  por  suas  terras  a  gente  nossa, 
e  a  sua  não  seruio  até  gora  mais  que  de  espia,  e  de  me  toma- 
rem hú  soldado  italiano  e  o  leuarem  aos  framengos,  posto  que 
se  entende  que  este  foi  uoluntano  e  mandado  dos  mais  de  sua 
nação,  com  intento  de  se  lhe  passarem,  o  que  por  uentura  elles 
conseguirão  se  eu  iá  não  desembarcara  com  este  cuidado;  V. 
Magestade  crea  que  Deus  nos  conserua  cõ  patentes  milagres, 
porque  só  a  mizeria  e  descontentamento  dos  soldados,  a  remis- 
são de  hús  moradores  e  os  resabios  de  outros,  bastauão  a  dar 
mao  fim  a  este  socorro. 

De  tudo  poderá  dar  mais  larga  conta  a  Vossa  Magestade 
Pero  Cezar  de  Menezes,  que  eu  faço  esta  a  V.  Magestade 
entre  tantas  occupações  de  seu  real  seruiço,  que  descomfio  de 
me  auer  declarado  como  deuo. 

O  Padre  Mateus  Dias  da  Companhia  de  Jhesus,  que  pas- 
sou do  Rio  de  Janeiro  comigo  a  este  Reino  com  o  Irmão  Antonio 
Pires,  na  comformidade  que  iá  fis  auizo  a  V.  Magestade,  tem 
mostrado  em  todo  o  discurso  desta  jornada  tanto  zello  do  ser- 
uiço de  V.  Magestade,  que  o  posso  e  deuo  emcareçer  pello 
mayor  que  na  ocazião  experimento,  acudindo  com  suas  pessoas 
e  com  muitos  escrauos  do  Collegio  á  condução  da  artilharia  e 
moniçôes;  siruase  V.  Magestade  que  este  seu  adiutono  e  bom 
exemplo  delles  não  fique  sem  o  real  aguardecimento  de  V. 
Magestade,  como  eu  lho  aseguro,  e  asim  ao  Almeirante  Berto- 


(ls)  Há  referências  a  este  soba  no  tempo  do  governo  de  Paulo 
Dias  de  Novais.  Foram  baptizados  um  filho  morgado  e  um  irmão  deste 
fidalgo,  cujas  terras  começavam  na  Barra  do  Cuanza  e  iam  até  30 
léguas  para  o  interior,  a  limitar  com  as  do  soba  Muxima.  O  filho  rece- 
beu o  nome  de  D.  Constantino  e  o  irmão  o  nome  de  D.  Tomé,  por 
ter  sido  baptizado  em  dia  de  S.  Tomé.  Songa  foi  baptizado  pelo  padre 
Baltasar  Barreira,  em  dia  de  Reis  de  1582  e  recebeu  o  nome  de  D.  Paulo 
de  Novais,  em  honra  do  padrinho,  Paulo  Dias  de  Novais. 

AIO 


lameu  de  Vasconçelos  e  demais  Capitães  de  minha  conserua, 
como  sao  Nuno  Uás  Guedes,  Françisco  Coelho,  Cristouao  de 
Lima,  Felix  de  Moura  e  Bettolameu  Paes  Bulhão,  e  com  estes 
aos  que  se  retirarão  de  Benguela,  que  forão  o  Cappitão  mor 
Manoel  Pereira,  Antonio  Gomes  de  Gouuea,  Duarte  de  Lemos, 
Manoel  de  Caçeres,  Dionizio  da  Motta,  e  o  framengo  Comis- 
sário Cornélio  Noels,  tão  particularmente  mereçedor  dos  fauores 
de  V.  Magestade,  como  o  torno  a  afirmar  o  mesmo  a  V.  Ma- 
gestade,  por  o  Capitão  mor  Antonio  Teixeira  de  Mendo [n]ça, 
e  o  Capitão  eleito  de  Ambaca,  Matias  Telles  Barreto,  obrigado 
dos  bons  proçedimentos  com  que  se  ouuerão  no  discurso  desta 
condusão,  depois  do  desastre  do  seu  socorro,  de  que  tenho  dado 
parte  a  V.  Magestade  em  carta  de  13  de  Setembro. 

Esta  remeto  a  V.  Magestade  por  duas  uias,  aos  seus  tres 
Conçelhos  de  Estado,  Ultramar  e  de  Guerra,  em  re[s]posta  da 
qual  espero  de  V.  Magestade  os  auizos,  rezoluções  e  socorros 
que  pede  a  neçessidade  e  perigo  deste  Reino,  e  a  importançia 
delle  ao  seruiço  de  Deos  e  de  V.  Magestade,  a  quê  a  diuina 
[Magestade]  guarde  por  largos  e  felississimos  annos,  como  a 
Cristandade  há  mister. 

Deste  arrayal  da  Coamza,  terras  de  Songa,  oie  quatro  de 
Dezembro  de  1645. 

a )  Framcisco  de  Sotto  Mayor 
[Ã  margem]  :  Chegarão  ao  Conselho  a  10  de  Abril  1646. 
AHU  —  Angola,  cx.  3. 

Arquivos  de  Angola,  Luanda,  1943-44,  n.°  3-6. 


123 


CARTA  DO  DEFINITÓRIO  DA  ANDALUZIA 
AOS  CARDEAIS  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(8-1-1646) 

SUMÁRIO  —  Nomeação  de  missionários  para  a  Missão  do  Congo  — 
Poder  ao  Definitório  para  nomear  outros,  com  aprova- 
ção do  Núncio  —  Queixas  contra  a  Província  de  Castela. 

Eminentíssimos  Senores 

El  Prouincial  y  Prefecto  desta  Prouincia  de  Andaluzia 
y  Missión  in  Regnum  Negritarum,  e  el  pnmer  diffinidor,  en 
nombre  dei  deffinitono  de  dicha  Prouincia,  suplicamos  humil- 
mente  a  V.  Eminências  se  dignen,  para  la  buena  expedición 
de  la  Missión,  dar  decreto  para  que  el  P.  Fr.  Joseph  de  Per- 
nambuco, Predicador  y  el  Hermano  Fr.  Bartolome  dei  Prado, 
Religioso  lego  de  la  Prouincia  de  Castilla,  vaian  en  la  dicha 
Missión,  que  está  ia  aprobada  y  preuenida  de  todas  las  cosas 
necessárias,  con  esperança  de  que  abra  nauio  en  que  embar- 
carse  con  breuedad,  por  ser  ambos  Religiosos  mui  importantes; 
el  pnmero  es  mui  practico  en  la  lengua  Portuguesa  para  intro- 
duzir la  Missión  en  aquellos  Reinos  donde  habitan  muchos 
Portugueses  y  el  segundo  es  enfermero,  de  que  necessita  la 
Missión,  i  [h]an  sido  admitidos  dei  deffinitorio  y  Monsenor 
Núncio  pidio  el  consentimiento  al  P.e  Vicario  Prouincial  de 
Castilla  para  hazer  la  subrrogación,  1  por  esta  razón  no  tuuo 
efecto,  como  no  lo  tendrá  el  fabor  que  V.  Eminências  nos 
[h]an  hecho  de  poder  subrrogar  de  las  Prouincias  de  Espana, 
auiendo  ellas  de  dar  su  consentimiento,  pues  con  facilidad  lo 
pueden  impedir,  no  atendiendo  al  maior  serujcio  de  nuestro 

412 


Senor  Dios,  y  assi  suplicamos  a  V.  Eminências  se  nos  quite 
este  gravamen,  tan  opuesto  al  principal  fin  de  la  Missión,  en 
que  se  defraudan  y  fruxtran  muchas  diuinas  inspiraciones  y  la 
paternal  prouidencia  de  Dios. 

Tambien  [h]a  parecido  al  diffinitono  mui  conueniente 
acrecentar  al  numero  de  los  doze  que  presentamos  a  V.  Emi- 
nências y  aora  suplicamos  a  V.  Eminências  se  dignen  dar  facul- 
tad  al  dicho  diffinitorio  para  poderle  aumentar,  con  aprobación 
de  Monsenor  Núncio. 

Y  porque  esta  Prouincia  tiene  en  su  distrito  a  Seuilla,  que 
por  su  riqueza  i  piedad  se  halla  en  ella  todo  lo  que  las  missio- 
nes dei  Congo  y  esta  [h]an  necessitado,  sin  que  cosa  alguna 
se  [h]aia  buscado  fuera,  i  solo  es  precisso  el  recurso  de  nuestro 
Rey  1  sus  consejos  para  lo  que  se  offreciere  y  sin  razón  lo 
[h]an  pretendido  impedir  muchos  dias  a  los  Padres  de 
Castilla,  i  a  este  fin  informaron  subrecticiamente  a  V.  Eminên- 
cias, i  assi  suplicamos  humilmente  a  V.  Eminências  se  siruan 
dar  nos  facultad  para  este  recurso  i  amparar  nuestras  causas, 
pues  se  encaminan  al  serujcio  de  nuestro  Senor  Dios  y  de 
V.  Eminências,  que  su  Magestad  diuina  guarde  y  prospere 
largos  anos.  / / 

Jaen,  y  Henero  8  de  1646. 

De  V.  Eminências 

Humildes  Sieruos  y  Cappellanes 

Fr.  Gaspar  de  Seuilla,  Ministro  Prouincial  de  los  Ca- 
pucinos  de  Andaluzia  y  Prefecto  da  la  Missiõ  in 
Regnum  Negritarum. 

Fr.  Fulgêncio  de  Granada,  Primer  diffinidor. 

Fr.  Joseph  Francisco  de  Velez,  Secretario  dei  diffini- 
torio. 

APF  —  SRCG,  vol.  110,  fl.  35. 


4'3 


124 

CARTA  RÉGIA  AO  CONSELHO  DA  FAZENDA 
(15-3- 1646) 


SUMÁRIO  — ■  Socorro  a  enviar  ao  governador  de  Angola,  para  fortalecer 
o  porto  de  Quicombo  contra  os  ocupantes  olandeses. 

Tenho  resoluto  [a]  respeito  dos  auizos  que  ultimamente 
se  receberão  de  Francisco  de  Sotto  Maior,  gouernador  de  An- 
golla,  que  logo,  e  com  toda  a  breuidade  se  lhe  acuda  com 
socorro.  E  que  este  conste  de  300  inffantes  em  tres  nauios, 
e  que  da  Bahya  se  lhe  mande  da  artelharia  que  aly  há  de  sobejo 
algua,  seis  barcos  para  seruiço  do  que  se  ouuer  de  fazer, 
madeiras  que  lá  se  acharão  a  menos  custo  para  guarneçer  e  for- 
tificar o  porto  de  Quicombo,  que  hé  o  que  tem  por  mais  a  pre- 
posito  para  sua  asistençia  naquelle  Rejno,  poluora,  armas,  e 
moniçoes  ao  respeito.  E  que  isto  com  o  mais  que  se  lhe  ouuer 
de  enuiar,  parta  com  toda  a  breuidade.  O  conselho  da  fazenda 
tendo  o  assim  entendido  disponha  este  socorro  com  todo  o  cal- 
lor,  para  que  na  forma  sobredita  possa  partir  a  tempo  que  seia 
de  effeito  naquelle  Rejno,  pois  como  lhe  hé  prezente,  qualquer 
delação  que  nisto  haya  pode  cauzar  damno  irreparauel  a  meu 
seruiço  e  aos  moradores,  e  mais  vassalos  que  naquelle  Rejno 
me  seruem.  / / 

Em  Lisboa,  a  1 5  de  março  de  1 646  / / 

Rey 

ATT  —  Ms.  1.148,  p.  23.  (Miscelânea). 


NOTA  —  Em  carta  de  6  de  Setembro  el-Rei  insiste  nos  seguin- 
tes termos: 

Pello  muito  que  conuem  partir  com  grande  breuidade  o  socorro 
que  tenho  mandado  remeter  ao  Reino  de  Angolla,  a  occupar  certa 
paragem,  antes  que  seia  occupada  por  outrem  e  infructuoso  o  socorro 
por  esta  cauza,  encomendo  muito  ao  conselho  da  fazenda  que  logo 
que  seia  partido  o  socorro  que  agora  uay  para  o  Brazil,  se  trate  com 
todo  o  calor  do  de  Angolla,  procurando  parta  quanto  possa  ser, 
enuiando  as  couzas  e  géneros  de  que  ?e  tem  auizado,  porque  em 
ellas  irem  e  a  inffantaria  que  está  distinada,  consiste  oie  a  maior 
parte  da  conseruaçaõ  daquelle  Reino.  // 

Lisboa,  6  de  setembro  de  646  /  / 

Rey 

ATT  —  Ms.  1.148,  p.  43.  (Miscelânea). 


4Z5 


125 


CARTA  RÉGIA  AO  CONSELHO  DA  FAZENDA 
(4-5-1646) 

SUMÁRIO  —  OpÕe-se  a  que  de  Angola  se  carreguem  negros  para  os 
holandeses  do  Brasil,  mandando  tomar  fiança  aos  arma. 
dores  que  faziam  a  viagem  de  Angola  para  o  Brasil. 

Fui  informado  que  alguas  embarcações  dos  particulares 
que  estão  para  partir  a  Angolla,  hiaÕ  com  animo  de  carregar  de 
negros  em  Loanda  para  uoltarem  com  elles  ás  praças  que  os 
olandezes  occupaõ  no  Brazil;  para  euitar  este  damno  que  hé  taõ 
periudicial  ao  meu  seruiço,  como  se  deixa  conçiderar.  Hey  por 
bem,  e  mando  que  o  conselho  da  fazenda  faça  tomar  fiança 
aos  donos  delles,  e  particularmente  a  Luis  de  Jardim,  de  naõ 
irem  a  Loanda  nem  tomarem  nem  trazerem  carga  de  negros 
para  os  Olandezes,  apertando  esta  diligençia  na  forma  que 
pareçer  ao  conselho  ./ / 

Lisboa,  4  de  mayo  de  646.  / / 

Rej 

ATT  —  Ms.  1.148,  p.  28,  (Miscelânea  da  Livraria). 


 ITINERÁRIOS   -  v  ••'  ' 

— ~  das  fc  ragtdos  de  (Benguela.  ^ 

 do  eicravo  rtniónio  *  1*  j\ 

***  •  do  socorro  efe  Mendonca  -  Sequeira 
—  dia  armada  de  Sotomauov.  ao  longo  da  'Costa 
---  do  socorro  de  Sotomator,  do  Juio  ao  Cuomo. 
/2i  caravelas  marcam  locais  de  estaàename/do  ou  pauagesn  «  Os  números  incàccun  Os  dias 
•  meses  do  estacionamento  ou  passagem. 


Mapa  dos  Reinos  de  Angola  e  Benguela  (Séc.  XVII) 

(Arquivos  de  Angola) 


126 


CARTA  DE  FREI  FRANCISCO  DE  PAMPLONA 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(26-5-1646) 

SUMÁRIO  —  Anuncia  a  sua  chegada  a  Liorne,  vindo  do  Congo  —  Pede 
que  avise  o  sen  Procurador  Geral  da  sua  arribada. 

La  paz  dei  Senor  sea  con  vucstra  Ilustrisima.  Nuestro 
Senor  ha  sido  servido  que  haya  llegado  a  esta  ciudad  de  Liorna 
hoy,  vispera  de  la  Santisima  Trinidad,  dei  reino  de  Congo, 
donde  fui  mos  bien  recebidos  y  se  hace  tanto  fruto,  que  los 
dias  que  estuve  en  el  lugar  de  Pina  (*)  se  bautizaron  todos 
los  dias  a  razon  de  250  y  300  personas  (2).  El  Padre  Perfecto 
me  envia  con  cartas  para  la  sacra  Congregación.  Pienso  me 
partiré  de  esta  ciudad  lunes.  / / 

Vuestra  Ilustrisima  envie  un  recado  al  Padre  Procurador 
General  para  que  este  avisado,  porque  hay  orden  y  excomunión 
para  los  que  entraren  sin  licencia;  yo  la  pediré  de  cerca  de  Roma. 
He  querido  dar  a  vuestra  Ilustrisima  estas  nuevas,  porque  seran 
de  su  gusto.  Nuestro  Senor  conserve  a  vuestra  Ilustrisima  con 
su  gracia. 

Liorna  y  mayo  26  de  1646. 

Menor  siervo  de  vuestra  Ilustrisima, 

fray  Francisco  de   Pamplona  / / 
indigno  Capuchino. 

APF  —  Lettere  d'ltalia,  vol.  46,  fl.  205. 
(x)  Leia-se:  Pinda. 

(2)  É  de  se  perguntar  com  que  preparação  catequética  se  faziam 
tão  numerosos  baptismos,  a  menos  de  um  ano  da  chegada  dos  missio- 
nários Capuchinhos  ao  Congo.  .: 


27 


4Z7 


127 


CARTA  DE  FREI  FRANCISCO  DE  PAMPLONA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(9-6-1646) 

SUMÁRIO  —  Dá  conta  de  que  o  não  deixam  p assar  a  Roma  sem  que 
venha  licença  do  Procurador  e  fede  lhe  remeta  ordem 
para  que  alguém  o  acompanhe  até  Roma. 

La  paz  dei  Senor  asista  a  vuestra  Ilustnsima  Reverenda. 
Despues  de  haberme  detenido  1 5  dias  esperando  al  Provincial, 
ha  determinado  el  Provincial  no  dejarme  salir  de  Liorna  hasta 
que  venga  orden  dei  Padre  Procurador  de  Corte;  suplico  a 
vuestra  Ilustnsima  con  toda  brevedad  me  remita  orden  para 
que  me  acompanen,  porque  el  companero  quedo  enfermo  en 
Cales  de  Francia;  a  esta  causa  vengo  padeciendo  muchos  tra- 
bajos.  / / 

Si  vuestra  Ilustnsima  no  vuelve  por  los  misionanos  que 
venimos  forzados  de  la  obediência,  será  insufrible  la  carga  cuanto 
a  lo  temporal.  No  han  querido  que  pase  ni  a  la  Província  de 
Roma,  asegurando  no  entrar  en  Roma  sin  orden.  Suplico  a 
vuestra  Ilustnsima  Reverenda  me  responda  qué  quiere  que 
haga,  con  toda  brevedad,  porque  deseo  gozar  dei  pasaje  dei 
Sr.  Almirante  de  Castilla,  que  es  gran  senor  mio.  / / 

Nuestro  Senor  conserve  a  vuestra  Ilustnsima  Reverenda  en 
su  gracia.  / / 

Liorna  y  junio  a  9  de  1 646.  / / 

Menor  siervo  de  vuestra  Ilustnsima  Reverenda, 

fray  Francisco  de  Pamplona  / / 
indigno  Capuchino. 

APF  —  Lettere  d'ltalia,  vol.  46,  f  1.  245. 

418 


NOTA  — ■  O  Padre  Vigário  da  província,  André  de  Liorna, 
escreve  a  Mons.  Ingoli,  em  carta  de  9  de  Junho  de  1646,  consultan- 
do-o  a  propósito  de  Frei  Francisco  de  Pamplona,  capuchinho  espanhol, 
que  viera  do  Congo  com  obediência  do  Padre  Prefeito.  Este  religioso 
fazia-se  acreditar  ainda  com  documentos  da  Propaganda  Fide,  do  Nún- 
cio em  Espanha,  do  Padre  Geral  da  Ordem  e  cartas  do  Padre  Prefeito. 
Havia  grande  dificuldade  em  o  acompanhar  por  mar  ou  por  terra 
até  ao  primeiro  lugar  da  província  de  Roma,  e  como  um  breve  de 
Urbano  VIII  proibia  a  todo  o  Religioso  entrar  em  Roma  sem  licença 
de  seus  Superiores,  desejava  saber  se  em  virtude  dos  documentos  apre- 
sentados podia  e  devia  mandá-lo  acompanhar,  porque  multi  multa 
dicunt  e  queria  pensar  bem  de  todos.  A  resposta  serviria  de  pauta  para 
o  futuro. 

APF  —  Lettere  cTltalia,  vol.  46,  fl.  244. 


4Z9 


128 


CARTA  DE  FREI  MIGUEL  DE  CESSA 
AO  PADRE  GUARDIÃO  DE  SEVILHA 

(12-6- 1646) 


SUMÁRIO  —  Treslado  de  vna  carta  que  el  Padre  Fray  Miguel  de 
Cessa  escriuio  /  al  Padre  Guardian  dei  Conuento  desta 
Ciu/dad  de  Seuilla,  de  los  Padres  Capucbinos,  /  que 
es  vno  de  los  dos  Religiosos  que  despa/chò  el  Padre 
Prefecto  desde  los  Reynos  dei  /  Congo,  y  por  quedar 
indispuesto  no  prosi/guio  el  viage,  y  desde  Renteria  la 
remitio,  su  /  fecha  en  12.  de  Iunio  de  1646.  anos.  / 

Mi  Padre  Guardian,  la  paz  dei  Senor  sea  con  vuestra  Cari- 
dad. Por  vna  carta  dei  Padre  fray  Angel  de  Valencia  verá  el 
discurso  de  nuestro  viage,  q  fue  muy  bueno,  gloria  a  Dios. 
A  el  Hermano  Fray  Frãcisco  de  Pamplona  y  a  mi  nos  man- 
daron  bolver  a  Roma  a  dar  quenta  a  la  sacra  Congregacion,  de 
la  grande  necessidad  que  ay  de  ministros  en  Congo,  donde  todos 
son  Católicos,  y  no  saben  las  Oraciones.  Al  fin  bolvimos  cõ  el 
próprio  Nauio  hasta  el  Reyno  de  Venim,  y  tuuimos  desgracia, 
que  dimos  en  vnos  baxos,  y  con  vna  tempestad  se  nos  rôpio 
el  timon,  y  el  arbol  mayor  fue  a  la  mar  con  otras  muchas  cosas, 
y  perdimos  la  lancha,  y  vn  Nauio  de  Olandeses  nos  amparo, 
y  a  el  Hermano  Fray  Francisco  y  a  mi  nos  encommendò  a  otro 
Nauio  de  Olandeses  que  yva  a  las  índias  con  esclavos.  Este 
nos  lleuó  quarenta  dias,  y  nos  dexò  en  vna  isla  sin  queremos 
llevar.  Era  en  la  Isla  todos  Católicos,  y  estauan  sin  Cura.  Alli 
estuuimos  algunas  semanas,  y  yo  les  administre  los  Sacrametos, 
que  tenian  todo  recado.  Y  creemos  que  nuestro  Nauio  no  pere- 
cio,  sino  que  le  ayudarõ  y  sacarõ  dei  peligro.  A  la  isla  donde 


estávamos  vino  outro  Nauio  Inglês,  y  este  nos  amparo,  y  traxo 
á  Inglaterra,  dõde  en  vna  Ciudad  nos  tuvierÕ  16  dias  presos,  y 
yo  enfermo.  Al  fin  nos  dierõ  passaporte  para  Frácia,  y  como 
yo  estaua  enfermo,  fue  fuerza  q  el  Hermano  Fray  Francisco 
se  fuesse  a  Roma.  Yo  quede  en  Cales,  donde  estuue  dos  meses 
maio  en  nuestro  Convento,  que  me  regalaron  mucho.  Lleva- 
ronme  a  Paris,  y  de  alli  vine  a  Espana,  pero  muy  acabado. 
Sino  fue  la  Mission  de  Andalazuia,  aora  avrá  buena  ocasion. 
A  todos  essos  mis  Padres  mil  saludes.  / / 

Fecha  en  Renteria  a  12.  de  Iunio  de  1 646  anos.  / / 

De  vuestra  Caridad  siervo 
Fray  Miguel  de  Cessa,  Capuchino. 

Com  licencia,  impressa  en  Sevilha,  Por  Iuan  Gomes  de  Blas. 
Ano  1646. 

BIBLIOTECA  COLOMBINA  (Sevilha)  —  63-2-30.  —  Exemplar 
único,  publicado  em  Portugal  em  Africa,  Lisboa,  Novembro-Dezembro 
de  1952,  pelo  R.  P.  Leite  de  Faria. 


421 


129 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  NÚNCIO  EM  MADRID 

(15-6- 1646) 

SUMÁRIO  —  Alguns  Padres  Capuchinhos  da  Província  de  Castela 
desejam  ser  incorporados  nas  missões  da  Província  da 
Andaluzia,  mesmo  sem  a  aprovação  do  Provincial  e 
Definitório  da  mesma  Província,  pouco  amigos  de  missões. 

Vacando  buona  parte  dei  luoghi  de  Missionarij  Capucim 
di  Andaluzia  destinati  alli  Negriti,  fanno  instanza  à  questa 
Sacra  Congregatione  de  Propaganda  Fide  alcuni  Sacerdoti 
deiristesso  Ordine,  delia  Prouincia  di  Castiglia,  che  si  decreti 
loro  la  Missione  sotto  la  Prefettura  dei  Prouinciale  di  Anda- 
luzia, senza  altro  consenso  dei  Prouinciale  et  diffinitorio  di  Cas- 
tiglia, che  per  essere  poco  amoreuoh  delle  Missioni,  ncusano 
d'approuarli.  Si  desidera  però,  che  Vostra  Signoria  si  informi 
diligentemente  di  quel  che  iui  conuenga  di  fare  e  ne  dia  qui 
auuiso;  e  per  fine  me  le  offero  e  raccomando.  / / 

Di  Roma,  li  1 5  Giugno  1 646. 

APF  —  Letere  Volgari,  vol.  24,  fls.  73  V.-74. 


422 


130 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  NÚNCIO  EM  MADRID 

(16-6- 1646) 

SUMÁRIO  —  Recurso  de  vários  Padres  Capuchinhos  à  Propaganda 
Vide,  para  serem  enviados  a  missionar  os  infiéis  —  Dei. 
xa-se  ao  Núncio  o  esclarecimento  do  assunto. 

Essendo  ricorsi  à  questa  Sacra  Congregatione  de  Propa- 
ganda Fide  alcuni  Sacerdoti  Capuccini  delia  Prouincia  di  Cas- 
tiglia, quattro  de'  quali  fanno  instanza  d'essere  annouerati  frà 
li  Missionarij  Capuccini  delia  Prouincia  d'Andaluzia  alli  Ne- 
griti,  et  altn  17  d'esser  impiegati  nella  conuersione  degl'jn- 
fedeli,  non  ostante  la  contradittione  dei  deffinitorio  delia  loro 
Prouincia,  si  è  risoluto  di  incaricare,  come  si  fà  col  mezo  delia 
presente,  la  prudenza  di  Vostra  Signoria,  che  dopo  d'hauere 
inteso  sopra  le  dette  instanze  il  Padre  Generale  dei  detto  Ordi- 
ne,  il  quale  sarà  costi  à  visitare  la  sua  Religione,  determini 
secondo  ch'ella  stimerà  piu  ispediente  al  seruitio  d'Jddio.  / / 

Dourà  insieme  significar  qui  à  la  Sacra  Congregatione  la 
determinatione  che  haura  fatta,  acciò  che  occorrendo  si  possano 
fare  le  speditioni  per  la  missione  delli  detti  Religiosi;  e  per  fine 
me  le  offero  e  raccomando.  / / 

Roma  16  Giugno  1646. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  24,  í ls.  83-  83  v. 


423 


131 

CARTA  DO  PADRE  GONÇALO  JOÃO  A  EL-REI 
(25-6-1646) 


SUMÁRIO  —  Minas  de  Benguela  e  do  Congo  —  Relações  do  Rei  do 
Congo  com  os  holandeses  —  Acção  dos  Capuchinhos 
Povoação,  porto  e  fortaleza  na  foz  do  rio  Cuanza. 

Quarendo  dar  conca  a  V.  Magestade  de  algúas  couzas  dc 
Angola,  aonde  estiue  trinta  e  sinco  annos,  para  onde  me  torna 
a  mandar  a  obediençia  nestes  nauios  que  partem,  me  mandou 
V.  Magestade  fizesse  este  memorial. 

Há  em  Benguella,  aonde  estiue,  tres  minas  de  cobre  muito 
boas:  e  na  era  de  1620  mandou  o  Guouernador  Manoel  Serueira 
Pereira  as  mostras  delle  a  El  Rey  de  Castella  e  eu  vi  este  cobre 
fundido,  que  pareçia  ouro. 

Há  em  Congo  minas  de  prata,  e  cobre;  e  como  El  Rey  de 
Congo  fes  vir  os  olandezes,  e  matar  muita  gente  branca,  fica 
tudo  á  disposição  de  V.  Magestade. 

Será  neçessario  ir  ordem  de  V.  Magestado  ao  Guouernador 
para  se  fazer  diligencia  sobre  aquelles  frades  barbados  (*)  que 
forão  para  Congo,  a  onde  dizem  fizerão  tomar  a  voz  (2)  de 
Castella. 

Pella  experiençia  que  tenho  de  Angola,  será  boa  conue- 
niençia  fazer-se  a  nossa  pouoaçam  iunto  á  foz  de  Coanza,  e  junta- 
mente húa  fortaleza  aonde  aia  porto  para  os  nossos  nauios  que 
vam  do  Reyno,  e  Brazil. 


(*)  Referência  aos  Capuchinhos  ou  Barbadinhos. 
(2)  No  original:  vos. 

424 


Sobre  tudo  hé  neçessario  que  V.  Magestade  mande  com 
breuidade  socorro  áquella  praça,  por  ser  de  grande  importância, 
porque  sem  Angola  não  há  Brazil. 

[Despacho  a  margem  ]  :  Veja-se  no  Conselho  Vltramarino, 
e  havendo  que  consultar,  se  faça. 
Alcantara  25  de  junho  de  646. 

(Rubrica  de  D.  João  IV) 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


425 


132 


CARTA  DO  NÚNCIO  EM  MADRID 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA 

(4-7-1646) 

SUMÁRIO  —  Envia  duas  cartas  dos  missionários  Capuchinhos  acerca 
dos  progressos  realizados  na  missão  do  Congo  —  Refe- 
re-se  a  dois  padres  Capuchinhos  mandados  a  Roma, 

Ill.mo  e  Reu.mo  Signor  mio  Osseruandissimo 

Dal  Padre  Basilio  Baldenugno,  Cappuccino,  essendo  io  stato 
richiesto  d'inuiare  á  V.  S.  Ill.m*  1'aggiunte  lettere,  sodisfò  uolon- 
tieri  alia  sua  istanza,  anche  per  non  lasciare  occasione  alcuna  di 
confermare  á  lei  il  mio  continuo  desiderio  di  seruirla. 

Mi  capitò,  alcuni  giorni  sono,  la  copia  d'una  relatione  circa 
1  progressi,  che  hanno  fatto  ín  seruitio  di  Dio  e  delia  Religione 
Cattolica  quei  Padri  Cappuccini  (1),  che  furono  due  anni  sono 
mandati  al  Congo;  e  se  ben'io  mi  persuado,  che  la  medessima 
notitia  possa  esser  stata  trasmessa  costa,  per  uia  di  lettera,  ò 
portata  da  due  de'  medessimi  Padri,  che  come  hò  inteso,  si 
erano  incaminati  uerso  Roma  (2),  per  dar  conto  di  quanto  occor- 
reua  loro  in  quelle  parti,  tuttauia  non  essendone  io  sicuro,  hò 
stimato  mio  debito  inuiarla,  come  faceio,  qui  aggiunta  á  V.  S. 
Ill.m&,  con  certeza  che  mentre  non  le  sia  ancora  peruenuta,  non 
possa  esser  senon  di  molto  gusto  alia  Sacra  Congregatione, 


(*)  A  carta  do  Núncio  em  Madrid  refere-se  às  cartas  de  Frei 
Boaventura  de  Alessano,  de  4  de  Junho  de  1645  e  de  Frei  João  de 
Santiago,  de  1 1  do  referido  mês  e  ano.  Cfr.  does.  n.°  92  e  94. 

(2)  Referência  aos  Religiosos  Frei  Miguel  de  Cessa  e  Frei  Francisco 
de  Pamplona,  de  que  falam  os  documentos  precedentes. 

426 


et,  á  V.  S.  Ill.m&  medessima,  á  cui  ncordo  la  mia  continua  osser- 
uanza,  e  le  bacio  con  tutto  1'animo  le  mani.  / / 
Di  Madrid,  4  Luglio  1646. 

Di  V.  S.  Ill.ma  e  Reu.,Da 

[Autógrafo]  :  Deuotissimo  Seruittore  Obl.mo 

Giulio,  Arciu.0  di  Tarso 


APF  —  SRCG,  vol.  247,  fl.  iiq. 


133 


CONSULTA  DO  CONSELHO  ULTRAMARINO 
SOBRE  AS  MINAS  E  SOCORRO  DE  ANGOLA 

(5-7.1646) 

SUMÁRIO  —  Conveniência  de  socorro  a  Angola  —  Feito  ele  tratar  das 
minas,  lembrando  que  sem  Angola  não  há  Brasil. 

Vendosse  neste  Conselho  o  papel  incluso  do  padre  Gonçalo 
João  da  Companhia  de  Jesus,  sobre  as  cousas  de  Angola  e  suas 
minas  (1). 

Pareçeo  dizer  a  V.  Magestade  que  será  conueniente  tra- 
tarse  logo  de  mandar  este  socorro  a  Angola,  e  feito  elle,  o  que 
V.  Magestade  tem  resoluto,  e  com  isso  comcluydo,  e  as  cousas 
mais  emtaboladas,  se  poderá  entaõ  tratar  destas  minas;  e  lembra 
o  Conselho  a  V.  Magestade  que  sem  Angola  naõ  há  Brasil, 
como  refere  o  Memorial  que  se  acusa,  e  se  tem  representado 
a  V.  Magestade. 

Lisboa,  5  de  Julho  de  646. 

aa )  Jorge  de  Albuquerque  /  João  Delgado  Figueira  / 
Saluador  Correa  de  Sá  j  Benauides  / 
O  Marquez  de  Montalvão 

[Despacho  à  margem] :  Agora  que  se  acaba  com  o  socorro 
do  Brasil,  tenho  ordenado  se  entre  logo  com  este  de  Angola. 
Lisboa,  a  2  de  agosto  de  646. 

(Rubrica  de  D.  João  IV) 

AHU  —  Angola,  cx.  3  —  Cód.  de  Consultas  Mixtas  n.°  13,  fl.  348. 


(*)  Cfr.  documento  n.°  131. 


134 


MISSIONAÇÃO  DO  ANO  BOM  E  BENIM 
(17-7-1646) 

SUMÁRIO  —  Escassez  de  missionários  na  ilha  de  Ano  Bom  e  no  Reino 
de  Benim  —  Manda  estudar  o  problema  com  informa- 
ções a  prestar  por  Frei  Francisco  de  Pamplona. 

Neila  nauigatione  al  Congo  si  troua  unTsola  chiamata 
Nouon  (*)  lontana  di  S.  Tomé  quaranta  leghe  in  circa,  e  dalla 
línea  equmotiale  uerso  íl  Sur  un  grado  e  mezzo,  habitata  da 
mori,  gouernati  dà  un  Portughese  che  li  fà  lauorare  à  beneficio 
dei  suo  Signore  Portughese  e  padrone  di  queH'Isola,  la  quale  gli 
frutta  da  tre  mille  scudi  in  circa  all'anno.  Ne  ui  è  alcuno  che 
habbia  cura  di  queH'anime,  tutte  cattoliche,  ma  ogni  sei  anni 
una  uolta  li  uiene  mandato  un  Sacerdote  dà  S.  Tome,  íl  quale 
fermatouisi  quindici  giorni,  se  ritorna  alia  lui  Isola.  E  quel 
Gouernatore  dice  non  uolere  accettare  frati  senza  ordine  di  chi 
gli  può  comandare. 

Neila  medesima  costa  si  troua  un  Regno  chiamato  di  Benin, 
lontano  dalla  línea  equinotiale  uerso  íl  Nort[e],  cinque  o  sei 
gradi,  il  Rè  dei  quale  è  cattolico  e  si  tratta  con  gran  polizzia  all'u- 
sanza  d'Europa,  e  sarebbe  molto  facile  la  conuersione  de  quei 
popoli  circonuicini,  et  ogni  sei  anni  uà  in  quel  Regno  da  S. 
Tomé  un  Sacerdote,  e  fermatouisi  15  giorni,  ritorna  alia  detta 
Isola. 

APF  —  Memoriali,  vol.  412,  fl.  26. 


(*)  A  designação  estropiada  de  Insulam  Nouon  e  de  Regnum 
Bonin  e  Bonin,  corresponde,  exactamente,  à  Ilha  de  Ano  Bom  e  ao 
Reino  de  Benim,  no  golfo  da  Guiné. 


429 


NOTA — No  verso  do  documento  pode  coligir-se,  em  letra  do 
Secretário  da  Propaganda  Fide,  Mons.  Ingoli,  a  data  de  17  de  Julho 
de  1646,  confirmada  pelo  documento  seguinte: 

Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Estensi  de  Missio- 
nibus  faciendis  in  Insulam  Nouon  (1),  ad  occidentale  Affricae  iacen- 
tem,  et  ad  Regnum  Bonin  (*)  in  continenti  Affricae  praedicti  lateris 
occidentalis,  in  quibus  locis  sunt  Catholici  sine  sacerdotibus,  et  ad  illos 
praefatae  Insulae  uisitandos,  non  nisi  singulis  sex  annis  ab  Jnsula  Diui 
Thoma;  sacerdos  unus  accedit,  et  in  prsefato  Regno  Bouin  (1)  est  Rex 
Christianus,  qui  habet  súbditos  cum  poliria  uiuentes.  /  / 

Sacra  Congregatio  iussit  de  praedictis  locis,  de  personis  mittendis, 
et  de  modo  tenendo  in  expedirione  Missionum  praedictarum  diligenrius 
informari  eumdem  Eminentissimum  D.  Cardinalem  Estensem  per  fra- 
trem  Franciscum  de  Pamplona,  Capuccinum  Laycum. 

APF  —  Acta,  vol.  17  (1646-1647),  fls.  162  v.,  n.°  12,  Congregação 
XXXV,  de  17  de  Julho  de  1646. 


430 


135 


CARTA  DE  FREI  ÂNGELO  DE  FARNESE 
À  PROPAGANDA  FIDE 

(17-7-1646) 

SUMÁRIO  —  Oposição  do  provincial  de  Roma  à  partida  do  missioná- 
rio, sen  castigo  por  pretender  ir  para  o  Congo  e  pavor 
suscitado  no  convento  entre  os  outros  religiosos. 

Eminentissimi  e  Reuerendissimi  Signori 

Frat'  Angelo  da  Farnese,  Capuccino,  diuotissimo  Oratore 
dell'EE.  W.  R.me,  humilmente  1'espone,  come  li  giorni  passati 
essendoli  stato  detto  dal  P.  Ildefonso  da  Milano,  Compagno  dei 
M.  R.  P.  Procuratore,  se  egli  fosse  andato  uolontieri  alie  Mis- 
sioni  dei  Congo  (*),  scnuendo  quel  Padre  Prefetto  que  messis 
est  multa,  sed  operarij  pauci,  et  hauendo  questo  accettato 
uolontieri  1'offerta  dei  Padre  e  preparandosi  per  quest'effetto, 
dal  P.  Prouinciale  gli  ne  fú  ascoltata  la  colpa  in  publico  refetto- 
no  di  Roma,  alia  presenza  di  piú  di  150  frati,  con  parole  pun- 
gitiue,  in  modo  che  li  poueri  frati  no  hanno  piú  ardire  di 
domandare  d'andare  alie  Missioni,  come  se  questo  fosse  cosa 
poco  honorata,  e  infame,  dubitando  anche  di  nó  essere  persegui- 
tati  dal  detto  P.  Prouinciale,  si  come  fà  all'Oratore,  poiche  nõ 
solo  Fhà  mortificato  in  publico,  ma  di  piu  hà  prohibito  ad  un 
frate,  il  quale  s'era  offerto  d'andare  per  suo  Compagno,  che  nõ 
pratichi  ne  parli  con  quello,  e  che  no  uada  nella  cella  d'un'altro 

(*)  No  original:  Gongo. 

43 1 


jnfermo,  per  rendergli  odiosi  e  il  frate  e  la  Missione,  onde 
supplica  l'EE.  W.  R.me  uoglino  prouedere  cõ  la  loro  prudenza 
al  detrimento  notabile  che  nceue  tanto  la  Religione  quanto  la 
Chiesa  stessa  dei  gouerno  di  questo  Prouinciale.  Che  il  etc.  Si 
riceuerà  per  gratia.  Quã  Deus. 

APF  —  Memoriali,  vol.  412,  fl.  41. 

NOTA  —  O  assunto  foi  tratado  em  sessão  cardinalícia  de  17  dc 
Julho  de  1646,  como  se  vê  a  £1.  46  v. 


43  2 


136 


PROBLEMAS  DA  MISSÃO  DO  CONGO 
PROPOSTOS  PELO  PADRE  PREFEITO 

(17-7- 1646) 

SUMÁRIO  —  Resposta  da  Propaganda  Vide  aos  quesitos  do  Padre  Boa- 
ventura de  Alessano  —  O  problema  da  sncesao  do  Bispo 
do  Congo  e  Angola  —  Ideia  de  Bispo  in  partibus. 

Referente  eodem  Eminentissimo  D.  Cardinali  Estense 
statum  Regni  Conghi  ex  relatione  Patns  Bonauenturae  de  Ales- 
sano, Praefecti  Missionis  Capuccinorum  in  praedictum  Regnum. 
Jn  qua  primo.  Ingressum  suum  cum  suis  Socijs  in  praefatum 
Regnum  per  fluuium  Zaire  significabat;  2.0  fauores  et  gratias 
cjuas  Missio  suscepit  a  Comité  Pinnae  (1),  magnate  eiusdem 
Regni;  3.0  statum  Religionis  Cathohcae  in  eo  Regno  et  opera- 
norum  penuriam;  4.0  Mortem  D.  Aluari  Régis,  et  successionem 
in  Regnum  D.  Garziae  eius  fratns;  5.0  Abusus  et  errores  quos 
Missio  in  eodem  Regno  obseruabit.  Videlicet:  pluralitatem  vxo- 
rum,  venditionem  filiorum  infra  decennium  constitutorum  etiam 
haereticis  Hollandis;  6.°  Baptismum  administratum  plunbus 
infantibus  a  quinquennio  infra  non  baptizatis  ob  defectum  Sa- 
cerdotum,  quorum  illud  Regnum  extrema  penúria  laborat;  7.0 
Regionem  illam  esse  populatissimam,  et  propterea  instabat  pro 
noua  Missione  Capuccinorum,  pro  qua  expediuit  Fratrem  Fran- 
ciscum  de  Pamplona,  Capuccinum  Laicum,  praecipuum  Mis- 
sionis Conghi  institutorem  et  factorem,  ob  authoritatem  qua 
pollet  apud  Regem  Catholicum,  et  nonnulla  petebat  pro  Missio- 
nis necessitate. 


(*)  Leia-se:  Pindae. 


28 


433 


Sacra  Congregatio  in  primis  iussit  commendari  diligentias 
praefati  Fratris  Bonauenturae  ac  Sociorum  in  praefata  Missione 
inchoanda,  et  perficienda;  2°  inter  Missionanos  Conghi  adscri- 
psit  infrascnptos  Fratres  Capuccinos,  a  Patre  Procuratore  Gene- 
rali  eiusdem  Ordinis  propósitos,  et  approbatos,  ad  quem  in  pos- 
terum  pro  Missione  praedicta  Religiosis  Capuccinis  prouidenda 
uel  augenda  recurrendum  esse  dixit,  et  non  uni  tantum  Pro- 
uinciae  eamdem  Missionem  esse  consignandam.  / / 

Fratres  autem  a  dicto  Patre  Procuratore  propositi  et  appro- 
bati  sunt  qui  sequuntur: 

Frater  Dionysius  de  Placentia  Concionator,  quem  Sacra 
Congregatio  declarauit  Vicepraefectum  huius  Missionis  in  iti- 
nere;  Frater  Joannes  Mana  a  Pauia,  Concionator,  Prouinciae 
Bononiae;  Frater  Bonauétura  de  Coreglia,  Concionator,  Prouin- 
ciae Aragoniae;  Frater  Luduuicus  Antonius  de  Malega,  Con- 
cionator, Prouinciae  Andaluziae;  Frater  Franciscus  de  Veas, 
Concionator,  Prouinciae  Castellae;  Frater  Antonius  de  Teruel, 
Concionator,  Prouinciae  Valentiae;  Frater  Franciscus  a  Cilento, 
Concionator,  Prouinciae  Lucaniae;  Frater  Joseph  a  Pernambuc, 
Concionator,  Prouinciae  Castellae;  Frater  Petrus  a  Rauenna, 
Sacerdos,  Prouinciae  Romanae;  Frater  Antonius  Maria  a  Monte 
Prandone,  Concionator,  Prouinciae  Piceni;  Frater  Seraphinus 
a  Cortona,  Concionator,  Prouinciae  Tusciae;  Frater  Hieronimus 
de  Monte  Sarchio.  Sacerdos,  Prouinciae  Neapolitanae;  Frater 
Felix  de  Vigliar.  Laicus,  Prouinciae  Aragoniae;  Frater  Joannes 
de  Rouezzano,  Laicus,  Prouinciae  Tusciae.  / / 

2.0  quoad  petitiones  Praefecti,  Sacra  Congregatio,  de  gla- 
dio uulgo  stocho,  benedicto  a  Papa,  ad  dictum  Comitem  Pin- 
nae  (*)  mittendo,  dixit  pleniores  informationes  de  dicto  Comité 
a  Fratre  Francisco  de  Pamplona  praedicto  assumendas  esse,  ut 
in  sequenti  Congregatione  possit  ad  huiusmodi  petitionem  pre- 
cise responden.  Pro  metalleis  et  coronis  emendis,  pro  quibus 


434 


erit  a  Sanctissimo  obtinenda  benedictio  cum  indulgentia  ex- 
traordinária, ad  Conghum  deferendis,  scuta  decem  decreuit. 
Pro  reliquijs  uero  iussit  adiri  Eminentissimum  D.  Cardinalem 
Ginettum,  S.  D.  N.  Vicarium,  et  pro  Agnus  Dei  eiusdem 
Sanctissimi  Domini  Vestium  Custodem,  et  quoad  licentiam 
negotiandi  ín  Regnis  Régis  Catholici  pro  magistro  nauis  qui 
Missionários  duxit  in  Conghum,  promittentis  se  ducturum  sem- 
per  quoscumque  Missionários  ad  Conghum  dirigendos,  si  eam  a 
praefato  Rege  Catholico,  mediante  Nuntio  Hispaniarum  con- 
sequatur,  Sacra  Congregatio  iussit  plenius  informari  Eminentis- 
simum D.  Cardinalem  Albornotium,  ut  possit  discuti  huius- 
modi  articulus,  an  licentia  sit  a  Rege  petenda.  Nomen  autem 
magistri  nauis  est  Joannes  Bernardus.  / / 

Et  denique  quoad  Episcopum  Angolae  in  locum  mortui 
Episcopi  creandum,  ob  necessitatem,  quam  de  Pastore  habet 
Conghus,  Sacra  Congregatio  nihil  potuit  decernere,  cum  a 
controuersia  inter  Regem  Catholicum  et  Lusitanos  dependeat. 
Nonnulli  tamen  Patres  dixerunt  posse  Sanctissimum  aliquem 
creare  Episcopum  cum  titulo  in  partibus  infidelium  cum  admi- 
nistrationem  Angolae  et  Conghi.  / / 

3.0  Quoad  abusus,  praecipue  venditionem  fihorum,  Sacra 
Congregatio  dixit  huiusmodi  contractum  esse  illicitum,  prae- 
sertim  si  fiat  cum  haereticis,  illumque  pro  posse,  prudenter 
tamen,  esse  tollendum,  sicut  et  alios  abusus,  quos  Missionarij 
contra  Legem  Diuinam  et  Christianam  disciplinam  in  eo  Regno 
irrepsisse  compererint.  / / 

4.0  Et  postremo,  Breue  et  Litteras  petitas  decreuit  ad 
dictum  Comitem  et  alios,  ut  in  Memoriali. 

APF  —  Acta,  vol.  17,  fls.  165-167  v.,  n.°  17.  —  Sessão  cardina- 
lícia n.°  XXXV,  de  17  de  Julho  de  1646.  —  SRCG,  vol.  247,  fls.  139- 
-139  v. 

NOTA  —  Na  congregação  cardinalícia  de  3  de  Agosto  do  mesmo 
ano  foi  tratado  o  problema  da  bênção  do  estoque  para  o  Conde  de 
Sonho,  nos  termos  seguintes: 


435 


Referente  eodem  Eminentíssimo  D.  Cardinali  Albornotio  info- 
mationes  assumpas  de  gladio  a  Sanctissimo  Domino  Nostro  benedicto 
iuxta  Praefecti  Missionis  Conghi  petitionem,  Comiti  Pinnae  (1), 
Domino  principali  in  eo  Regno,  Sacra  Congregatio  audita  aemulatione 
inter  dictum  Comitem  et  Regem  Conghi  existente,  ita  ut  quanquam 
inter  eos  bellum  exarserit,  quae  posset  ob  dicti  gladij  Missionem  ad 
dictum  Comitem  augeri,  cum  praeiudicio  Missionariorum,  censuit  pro- 
nunc  non  esse  gladium  praedictum  ad  praefatum  Comitem  mittendum, 
sed  modo  sufficere,  ut  ei  gratiae  agantur  nomine  Sanctissimi  et  Sacrae 
Congregationis  de  ijs  quae  praestitit  et  fecit  pro  prioribus  Missionarijs. 

APF  —  Acta,  vol.  17,  fls.  179-179  v.,  n.°  12. 


43  6 


137 


CARTA  DO  PADRE  JOSÉ  DE  LISBOA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA 

(28-7-1646) 

SUMÁRIO  —  Tendo  sido  nomeado  missionário  para  o  reino  dos  Negri- 
tas e  não  se  realizando  tal  misão,  deseja  ir  para  o  Congo. 

Illustnssimo  Senor,  my  Senor 

Los  dezeos  que  siempre  he  tenido  de  predicar  el  Santo 
Euangelio,  en  tierra  de  infieles,  me  ha  obligado  a  solicitar  con 
todos  los  médios  posibles,  y  auiendo  Dios  nuestro  Senor  sido 
seruido  de  que  la  Sacra  Congregacion,  de  Propaganda  Fide, 
me  hisiese  honrra  y  fauor,  de  senalarme  por  uno  de  los  Reli- 
giosos Missionários  desta  Prouincia  de  la  Andaluzia,  de  los 
frailes  menores  Capuchinos,  de  N.  P.e  San  Francisco,  in  Reg- 
num  Nigritarum,  por  causa  de  las  guerras,  y  falta  de  embarca- 
çion  para  aquellas  partes,  se  dilata  de  tal  suerte  la  Mission,  que 
oy  está  imposibilitada.  / / 

Por  lo  qual  suplico  a  V.  S.a  Illustrissima  se  sirua  de  con- 
tinuar el  fauor,  y  conseguir  de  la  Sacra  Congregacion,  uaja 
con  los  Religiosos  que  ande  ir  al  Congo  al  mismo  effecto  de  pre- 
dicar nuestra  Santa  Fe.  Pues  como  sabe  V.  S.a  Illustrissima, 
embian  a  pedir  mas  Missionários.  Io  le  tengo  notable  affecto 
aquella  tierra,  y  particular  inclinacion,  por  saber  la  lengua  que 
ally  hablan.  Y  fiado  en  el  amparo  de  V.  S.a  Illustrissima  no 
tendran  mys  dezeos  el  logro  que  pretendo,  a  quien  Nuestro 
Senor  guarde  como  puede,  y  dezeo,  para  bien  de  su  Iglesia.  // 


437 


Deste  Conuento  de  los  frailes  Capuchinos  de  Cadiz,  en 
28  de  Julio  de  1646  anos. 

Besa  la  mano  de  V.  S.  Illustrissima 

Su  menor  Capellan 

Fr.  Joseph  de  Lisboa.  Sacerdote  Capuchino. 
APF  —  SRCG,  vol.  145,  fl.  280. 


438 


138 


CARTA  DA  PROVÍNCIA  DE  CASTELA 
AOS  CARDEAIS  DA  PROPAGANDA 

(27-8-1646) 


SUMÁRIO  —  Pedem  uma  missão  de  treze  Religiosos  seus,  no  Reino  do 
Congo  —  Que  fosse  nomeado  Prefeito  o  Provincial  e  um 
Vice-Prefeito  —  Que  os  missionários  fossem  examinados 
e  aprovados  previamente  pelo  Definitório  provincial. 

Eminentissimi  et  Reuerendissimi  Domini 


Cum  ex  praescripto  Domini  Vrbani  8,  atque  Vestrarum 
Eminentiarum,  Religiossi  nostn  Ordinis  numero  tredecim 
Missionanj,  in  Regnum  Congi  directi  fuerint,  qui  vt  certa  rela- 
tione  cognouimus,  magnos  progressus  in  vinea  Domini  atque 
in  animarum  salute  procuranda  breuissimi  temporis  spatio  efe- 
cerunt;  quae  cum  in  nostra  Castellae  Prouintia  nuntiata  sint, 
multorum  Religiossorum  eiusdem  Prouintiae  ad  laborandum  in 
eadem  Dei  vinea  et  ad  infidelium  illius  Regni  animas  ad  aeter- 
nam  vitam  dirigendas,  animi  et  affectus  erecti  sunt,  maxime 
cum  certo  nouerint  messem  quidem  esse  magnam,  operários 
vero  paucos.  / / 

Quapropter  enixe  a  Nobis  deprecati  sunt,  vt  ad  Vestrarum 
Eminentiarum  pedes  humiliter  postrati  efflagitemus:  vt  huic 
Prouintiae  Castellanae  aliam  Missionem  ad  praedictum  Regnum 
Congi  concedatis  Missionanorum  numero  non  amplius  quam 
tredecim,  vt  Apostolici  Collegij  typum  teneat.  Et  vt  ad  deside- 
ratum  exitum  dieta  missio  perducatur,  humiliter  petimus,  vt 
Vestrae  Eminentiae  Patrem  Prouincialem  huius  Prouintiae, 
qui  pro  tempore  fuent,  praefectum  eiusdem  Missionis  consti- 


439 


tuant,  potestate  eidem  concessa,  simul  cum  diffinitione  eiusdem 
Prouintiae,  examinandi,  aprouandi  et  assignandi  ad  praefatam 
Missionem  illos  quos  idóneos  iudicauennt,  et  similiter  Vice- 
praefectum  constituendi.  Et  quia  ex  assignati  aliqui  infirmari, 
vel  alio  quopiam  impedimento  praepedin  poterunt:  vt  Illustris- 
simus  Sanctissimi  in  hispaniarum  regnis  Nuncius  examinatos, 
et  aprobatos  a  Prouinciali  et  Diffinitonbus,  subrrogare  possit, 
eidem  Illustrnssimo  Domino  Núncio  commitatis,  et  gratias 
atque  facultates  ad  ministerium  praedictum  exequendum  prio- 
nbus  Missionariis  concessas,  his  Missionaras  elargiatis.  / / 

Illud  etiam  pro  comperto  habentes,  Praelatos  huius  Pro- 
uintiae  Missiones  ad  infidelium  animarum  salutem  procurandas, 
a  Sacra  Vestrarum  Eminentiarum  Congregatione  directas, 
summo  affectu  prosequtos  fuisse,  et  nulla  ratione  eisdem  infen- 
sos, solumque  inordinatam  aliquorum  solicitudinem  odisse,  et 
execrasse,  qui  sine  Praelatorum  notitia  et  examine,  seipsos  idó- 
neos superbe  íudicantes,  ad  dietas  Missiones  assignan  surreptitie 
curarunt.  Ex  quo  máxima  inconuenientia  in  dies  oriri  poterunt, 
et  ex  similium  hominum  numero  muitos  in  alns  Missionibus 
in  índia,  atque  in  diuersis  mundi  partibus  retrocessisse,  et  ad 
infidelium  sectas  ad  cultum  ventris  et  ad  luxunae  faeces  decli- 
nasse constat.  / / 

Igitur,  Eminentissimi  Domini,  Valete  in  Domino,  et  in 
ípso  nos  charos  habentes,  a  vobisque  enixe  suplicamus  vt  his 
nostns  littens  annuuentes,  responssum  benignum  concedatis, 
vt  ardentíssimo  Religiossorum  huius  Prouintiae  Sancti  Euan- 
gehj  propagandi  dessiderio  fiat  satis.  // 

Dattum  Matriti,  Toletanae  diaecessis,  die  27  Augusti 
anni  1646. 

Vestrarum  Eminentiarum  humilimi  serui  et  filij  Prouin- 
cialis  et  Diffinitores  Prouintiae  Castellae  Capucinorum  // 

44° 


aa )  Fr.  Leander  a  Murcia,  Minister  Prouincialis 

Fr.  Alexander  a  Valencia,  diffinitor 

Fr.  Bonauentura  a  Toleto,  diffinitor 

Fr.  Franciscus  a  Tecla,  diffinitor 

Fr.  Bernardinus  a  Quiroga,  diffinitor 

Eminentissimi  Reuerendissimi  Domini 

Cardinales  S.  Congregationis  de  Propaganda  Fide. 

APF  —  SRCG,  vol.  no,  lis.  i-i  v. 


44 1 


139 


CARTA  DO  PROCURADOR  GERAL  DOS  CAPUCHINHOS 
AOS  CARDEAIS  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(Julho— 1646) 


SUMÁRIO  —  O  problema  da  provisão  de  missionários  da  Missão  do 
Congo  —  Apresentação  de  novos  missionários  para  apro- 
vação da  Propaganda  Vide,  destinados  àquela  Missão. 


Em."1  e  Rev.mi  Signori, 

II  Procuratore  Generale  de'  Capuccini  espone  humilmente 
all'EE.  VV.  RR.me  come  è  impossibile  íl  poter  assegnare  ad 
una  sola,  o  pm  Provincie  delia  sua  Religione  íl  provedere  dè 
Missionanj  íl  Regno  dei  Congo;  mentre  ne  una  ne  3,  o  4  Pro- 
vinde assieme  hanno  tanta  abbundanza  de  Frati  di  poterne 
somministrare  la  quantità,  che  richiede,  e  sempre  pm  nchiederà 
1'ampiezza  di  quel  Regno,  onde  stima  necessário  lasciare  la 
cura  di  tal  facenda  al  Generale,  e  Comissário  General  delia  me- 
desima  Religione  per  provedere  quel  Regno  de  Frati  atti  ad 
un  tanto  ministero.  E  di  presente  attesa  1'instanza  dei  P.  Pre- 
feito di  quella  Missione  propone  all'EE.  Loro  li  sottoscntti  sog- 
getti,  Frati  tutti  dotati  di  spirito,  e  qualità  bisognevole  per  il 
servitio  di  Dio,  e  propagatione  delia  fede  in  quelle  parti,  frà 
quali  ve  ne  sono  sei  de'  nominati  da  quel  P.  Prefetto,  mentre 
gli  altn  per  la  notitia  che  se  ne  ha,  non  sono  molto  approposito. 
Si  è  ancora  havuto  nguardo  ad  elegerne  5  delle  provincie  di 
Spagna  per  indurre  que'  Supenori  à  piu  facilmente  addoperarsi 
per  trovar  1'imbarco  per  il  Congo;  però  supplica  humilmente 
l'EE.  Loro  ad  approvare  1'infrascntti  come  li  piu  habili,  ed 


approposito,  fra  quelli  si  sono  sin  hora  esibiti  a  questo  Sacro 
Tribunale.  II  che,  etc. 

P.°  P.  Dionísio  da  Piacenza  P.  Província  di  Bologna.  E 
questo  si  potrebbe  eleggere  Vice  Prefetto  per  íl  viaggio. 

2.0  Gio.  Maria  da  Bologna  P.  Província  di  Bologna. 

3.0  Bonaventura  dà  Coreglia  P.  Província  di  Aragona. 

4.0  Luibi  Antonio  da  Malega  P.  Província  d'Andalucia. 

5.0  Francesco  da  Veas  P.  Província  di  Castiglia. 

6.°  Antonio  da  Teruel  P.  Província  di  Valenza. 

7.0  Francesco  da  Cilento  P.  Província  delia  Basilicata. 

8.°  (Cortado). 

9.0  (Cortado). 

10.  °  Serafmo  da  Cortona  P.  Provincia  di  Toscana. 

1 1 .  °  Antonio  Maria  da  Monte  Prandone  P.  Provincia  delia 

Marca. 

12.0  Girolamo  da  Monte  Sarchio  Sacerdote  Provincia  di 
Napoli. 

13.0  Felice  da  Vigliar  Laico  delia  Província  d'Aragona. 
14.0  Gio.  da  Rouezano  Laico  delia  Provinda  di  Toscana. 

P.  Simpliciano  da  Milano  Procuratore  e  Commissano  Ge- 
neral de  Capuccini  supplica  humilmente  che  li  sopranominati 
siano  ammessi  da  questa  S.  Congregazione  come  atti  a  tale 
Ministério. 

APF  —  SRCG,  vol.  247,  fls.  140-140  v. 


443 


140 


MEMORIAL  DE  FREI  FRANCISCO  DE  PAMPLONA 
AO  CARDEAL  PREFEITO  DA  PROPAGANDA 

(Julho  —  1646) 

SUMÁRIO  —  Propõe  os  meios  que  julga  aptos  para  conduzir  missioná- 
rios às  novas  missões  de  Ano  Bom  e  reino  de  Benim. 

t 

Eminentisimo  Senor 

Fr.  Francisco  de  Pamplona,  religiosso  lego  Capuchino,  dice 
que  para  que  admitan  religiosos  en  la  Ysla  de  Nouó  (1),  an 
de  yr  por  orden  de  Portugal  o  dei  gobernador  de  Santo  Tomé, 
a  quien  está  sujeta;  que  los  que  hubieren  de  yr  al  Reino  de 
Benin  podrán  yr  sin  esta  atençión,  como  mejor  pareçiere  a 
vuestra  Eminência.  / / 

El  médio  que  se  le  ofreçe  es  que  la  Sacra  Congregaçión 
haga  que  Su  Santidad  haga  la  costa  dei  nauio,  que  se  hallará 
quien  baya  o  flete  nauio  extranjero  por  cantidad  de  çinco  mil 
ducados,  con  que  se  ba  siguro  de  los  enemigos  de  la  fe.  Asi 
mesmo  se  puede  comprar  un  patachuelo,  y  aprestado  y  probeido 
de  lo  neçessario  para  yr  a  [hjaçer  este  seruiçio  a  las  almas,  juzga 
que  cuidandose  de  la  candad  de  los  fieles,  se  podrá  [h]açer  a 
costa  de  tres  mil  escudos,  que  dé  Su  Santidad.  / / 

Si  no  pareçieren  a  propósito  los  dichos,  se  le  ofreçe  uno 
de  menor  cantidad:  casso  que  hubiere  nauio  que  Hebe  los  Reli- 
giossos  al  Congo,  se  compre  un  barco  luengo  con  lo  neçessano, 


(*)  Ano  Bom,  no  Golfo  da  Guiné. 

444 


para  que  dei  Congo  bayan  los  Religiosos  a  las  partes  referidas; 
costará  el  barco  600  escudos  y  el  sueldo  de  los  manneros  900 
o  mil.  Si  nada  de  lo  dicho  fuere  a  propósito,  yr  confiados  en 
la  Prouidençia  diuina  a  ber  qué  dispone  su  diuina  Majestad. 
Si  la  relaçión  fuere  corta,  le  disculpe  la  falta  de  salud  con  que 
anda  dias  [h]a.  Respondera  a  todas  las  dificultades  que  se 
ofreçieren  a  la  Sacra  Congregación,  a  más  de  [h]aber  relaciones 
más  dilatadas  en  poder  de  Monsenor  Inguli. 

Sierbo  yndigno  de  Vuestra  Eminência 

fr.  Francisco  de  Pamplona  / / 
yndigno  Capuchino 

APF  —  Memoriali,  vol.  412,  fls.  210-210  v. 


445 


141 


ACÇÃO  DE  FREI  FRANCISCO  DE  PAMPLONA 
NO  REGRESSO  DO  CONGO  A  ROMA 

(Agosto  —  1646) 

SUMÁRIO  —  Vem  do  Congo  a  Roma  pedir  reforço  de  missionários  para 
o  mesmo  reino  —  Procura  excluir  os  italianos  e  nomear 
apenas  espanhóis,  para  induzir  ou  reduzir  aqueles  povos 
a  obediência  política  do  Rei  de  Espanha. 

II  Prefeto  dei  Congo  nmanda  due  de  suoi  Compagni  a  sup- 
phcar  íl  Papa  si  vogha  degnare  di  mandar  altri  Frati  per  agiuto 
dt  quella  Missione. 

Nei  principio  di  questo  medesimo  mese  di  Giugno  giunse 
in  Roma  Fr.  Francesco  de  Pamplona,  Laico,  che  ai  secolo  haveva 
servita  la  Corona  di  Spagna  di  Capitan  generale  per  mare  e  per 
terra,  e  però  restando  molto  grato  à  quella  Corona  anco  nella 
Religione,  fu  ascntto  dal  Bonauentura  d'Alessano,  Prefetto  dei 
Congo,  tra  gli  altri  suoi  compagni  per  1'impresa  di  quelle  Mis- 
sioni,  e  gh  fu  di  non  poca  utilità  per  quel  viaggio.  Questo 
porto  nuove  come  íl  detto  Prefetto  con  gl'undici  compagni 
assegnatigli  era  giunto  in  quel  Regno  1'anno  avanti  al  fine  di 
Maggio,  con  grandissimi  patimenti  e  che  volendo  dar  in  terra 
nel  Contado  di  Pinna  (1),  furono  incontrati  de  vascelli  Olan- 
desi  che  1'intimorno  guerra,  e  fecero  il  possibile  per  impedir 
lo  sbarco,  si  che  si  trovorno  piu  volte  a  gran  pericolo  delia  vita 
tutti  li  nostri,  ma  protetti  dalla  Diuina  mano,  alia  quale  cal- 
damente  s'erano  raccomandati.  / / 

Restati  libn  de  quel  pericolo  furono  ncevuti  con  singolar 
devotione  et  applauso  da  quel  Conte  e  da  tutto  il  popolo,  e  per- 


(*)  Leia-se:  Pinda. 

H6 


ché  nella  prima  occhiatta  di  quei  Paese  s'accorsero  che  messis 
erat  multa,  operarij  autem  pauci,  consigliati  assieme  tutti,  si 
risolse  che  dovessero  tornar  indietro  dui  di  loro,  acciò  piíi  effi- 
cacemente  dovessero  alia  S.  C.  de  Propaganda  Fide  et  al  Papa 
la  gran  necessita  di  quei  popoli  ciechi  et  abandonati,  senza 
alcuna  guida  per  la  Strada  dei  Cielo,  acciò  mosso  à  pietà  la 
S.  Santità  con  gl'Eminentissimi  delia  sudetta  Congregatione 
si  compiacessero  destinar  in  quelle  parti  maggior  copia  d'Ope- 
rarij,  giache  molti  dé  nostri  di  diverse  Provincie  s'offrivano 
d'andare,  e  particolarmente  delia  Provincia  nostra  Romana. 

Ma  giunto  finalmente  detto  F.  Francesco  de  Pamplona  in 
Roma,  senza  íl  destinato  compagno,  qual  era  restato  nel  viaggio 
infermo,  cominciò  a  trattare  con  la  S.  Congregatione  e  col 
Papa,  per  mezzo  di  alcuni  Cardinali  Spagnoli  d'escludere  1  Frati 
Itahani  da  detta  Missione,  e  di  condurre  solo  Frati  Spagnoli, 
per  indurre  e  ridurre  quei  popoli  dei  Congo  alia  devotione  dei 
Rè  di  Spagna.  Ma  essendole  stato  opposto  gagliardamente  sopra 
di  ciò,  fu  rimossa  in  petto  dei  P.  Procuratore  nostro  Generale 
la  nominatione  de  Frati  che  devessero  andare,  quale  nominò 
6  Spagnoli  et  8  Italiani  di  diverse  Provincie,  cioè  dalla  Pro- 
vincia di  Bologna  il  P.  Dionísio  de  Piacenza  et  íl  P.  Giovanni 
Maria  di  Pavia,  Predicatori;  dalla  Província  di  Napoli  il  P. 
Gironimo  da  Monte  Sarcio,  Sacerdote;  da  quella  di  Basilicata 
il  P.  Francesco  dal  Cilendo,  Predicatore;  dalla  Marca  il  P.  An- 
tonio Mana  da  Monte  Prandone,  Predicatore;  dalla  Toscana 
P.  Serafino  da  Cortona,  Predicatore  e  Fra  Giovanni  da  Rovez- 
zano,  Laico,  e  dalla  nostra  Província  di  Roma  il  P.  Pietro  di 
Ravenna,  Sacerdote  di  boníssimo  spinto,  Guardiano  in  atto  nel 
Convento  di  Farnese,  e  però  chiamato  a  Roma,  dove  fatte  le 
necessane  provisioni  e  speditioni,  alia  fine  d'Agosto  di 
quest'anno  1646  s'inviò  per  Spagna  in  compagnia  dei  detto 
F.  Francesco  da  Pamplona. 

APRC  —  Annali  delia  Provincia  di  Roma,  II  vol.,  p.  209  e  sgs. 


447 


142 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  ALESSANO 
AOS  CARDEAIS  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(3- io- 1646) 

SUMÁRIO  —  Propõese  enviar  a  Roma,  como  embaixadores  do  Rei  do 
Congo,  os  Padres  Ângelo  de  Valência  e  João  Francisco 
de  Roma,  a  relatar  oralmente  o  estado  religioso  do  país, 
que  julgava  em  grande  parte  ainda  critão  e  católico. 


Eminentissimi  Signori 

Desiderando  grandemente  íl  Signor  D.  Garzia  II,  Rè  dei 
Congo,  di  mandare  Ambasciatore  á  cotesta  Santa  Sede  Apostó- 
lica, quale  apertamente  potesse  á  bocca  manifestare  ai  Sommo 
Pontefice,  et  all'Eminenze  Vestre,  le  calamità  e  misene,  par- 
ticolarmente  spirituali,  ín  che  si  ritroua  il  suo  Regno,  per  man- 
camento  de  Ministn  Euangehci,  ne  potendo  per  hora,  per  causa 
de  uari)  impedimenti,  mandar  alcuno  de  suoi  con  tal  carico,  mi 
hà  fatta  instanza,  che  10  uolessi  assegnar  due  de  nostn  Padn, 
quali  desideraua  mandarli  costi  per  suoi  Ambasciatori:  e  se 
bene  per  la  penúria  de  Missionanj,  e  per  la  necessita  ín  che 
si  ritroua  questo  Regno  di  Operanj  Euangelici,  mi  constnngesse 
per  una  parte  á  non  condescendere  á  tal  dimanda;  nondimeno 
considerando  la  grauità  dei  fatto,  mi  sono  nsoluto,  con  il  con- 
senso degl'altn  Padn  qui  presenti,  di  destinar  á  tal  vfficio  il 
Padre  Angelo  de  Valencia,  et  il  Padre  Giouanni  Francesco  de 
Roma,  Predicatori  Capuccini  e  Missionarij  Apostolici  in  questo 
Regno,  quali  per  esser  lett[e]re  uiue,  che  potianno  á  pieno 
informare  1'Eminenze  Vestre  dello  stato  miserabile  di  questo 
Regno,  ancor  che  in  gran  parte  Christiano  e  Cattolico,  non 

448 


mi  stenderò  a  darle  relatione,  tanto  dei  fehce  successo  delia 
nostra  Missione,  come  anco  delia  inesphcabile  deuotione  di 
questo  Rè  alia  nostra  Rehgione,  e  delia  necessita  che  hà  questo 
Regno  di  esser  prouisto  di  Vescoui  e  Religiosi,  nmettendomi 
in  tutto  e  per  tuto  all'informatione  che  le  daranno  detti  Padri; 
solo  supphcarò  humilmente  1'Eminenze  Vestre  che  per  quel 
santo  zelo,  che  hanno  delia  gloria  di  Sua  Diurna  Maestà  e  delia 
salute  deH'anime,  che  si  degnino  sentir  da  detti  Padri  Io  stato 
lagnmeuole  in  che  si  ritroua  questo  Regno,  che  già  160  anni 
in  circa  riceuè  la  Fede  Cattolica,  senza  già  mai  hauerla  perduta, 
e  la  necessita  che  tiene  di  esser  aiutato  da  cotesta  Santa  Sede 
Apostilica;  e  uísta  e  ponderata  tal  necessita,  uoglino  per  ogni 
modo  dar  soccorro  et  aiuto  á  queste  pouere  genti,  quali  fanem 
■petunt,  nec  est  qui  frangat  eis  (*) ;  e  qui  finisco  di  piíi  a  darle 
humilissimamente,  inchinandomele,  con  augurarle  dal  Signore 
íl  colmo  dogni  uera  felicita.  / / 

Da  S.  Saluatore,  3  de  Ottobre  1646. 

Di  Eminenze  Vestre  Reuerendissime 

Humihssimo  e  Deuotissimo  Seruo  nel  Signore 

Fra  Buonauentura  d'Alessano  Capucino 
Prefeito  delia  [Missione]. 

APF  —  SRCG,  247,  fl.  182. 


29 


Q)  Trenos,  IV,  4. 


H9 


143 


CARTA  DE  D.  GARCIA  II  REI  DO  CONGO 
A  D.  FILIPE  IV  REI  DE  ESPANHA 

(5- io- 1646) 

SUMÁRIO  —  Manifesta  a  sua  amizade  feio  Rei  de  Espanha  conde- 
nando as  revoltas  contra  ele,  especialmente  a  indepen- 
dência de  Portugal  —  Ocupação  de  Luanda  pelos  here- 
ges —  Agradece  desvanecido  o  envio  dos  Capuchinhos 
—  Manda  como  embaixador  Frei  Ângelo  de  Valência. 

Sacra  Real  Magestad 

Muito  hei  deseiado  se  offeressesse  occasiaõ  em  que  pudesse 
manifestar  o  affetto  do  meu  coração  para  com  a  Pessoa  de  V.a 
Magestade  Cattholica,  e  sua  Real  Coroa:  e  o  sentimento  que 
hei  tido  das  eleuacioes  que  contra  elha  ha  auido.  Este  manifeste 
em  publico  dizendo  meu  sentir  contra  os  rebelos  de  V.a  Ma- 
gestade, quando  elhos  se  persuadeuam  auia  de  aprobar  sua 
accion,  e  la  de  seu  Rey  entruso.  NaÕ  dexó  isso  de  gerar  em 
seus  ânimos  aborresimento  a  minha  Pessoa,  e  Reyno.  El,  e  eu 
esperimentamos  os  danhos  de  estes  desatinos,  pois  de  lançe 
em  lançe  ha  uindo  hum  Porto,  e  Plaza,  que  era  de  tanta  ímpor- 
tanza  á  V."  Magestade  Cattholica,  em  poder  dos  emfieis  eni- 
migos  da  nossa  Santa  Fé:  os  quais  se  bem  se  me  uendem  por 
amigos,  me  fazem  o  maior  danho,  priuandome  do  bem  maior, 
empidendo  quanto  de  sua  parte  podem  ó  ingresso  dos  Ministros 
Euangelicos  em  meu  Reyno,  que  é  o  que  sobre  tudo  sento.  / / 

Para  fugir  tantos  danhos,  mntamente  agradecer  á  V.s  Ma- 
gestade Cattholica  á  grande  mercede,  que  ha  feito  á  mim,  e  a 
tudo  meu  Reyno  em  dar  embarcação  si  liure,  e  prouer  de  tudo 

45° 


o  necessário  com  tam  franca,  e  liberal  mano,  como  tam  Cattho- 
lico,  e  Christianissimo  Rey  aos  Religiosos  Capuchinhos  Mis- 
sionários, que  Sua  Santidade  me  ha  mandado,  he  resoluido 
suposto  que  agora  naõ  é  possible  uam  algunos  dos  meus,  nomear 
por  meu  Embaxador  ó  P.e  Frei  Angel  de  Valencia,  Predicador 
Capuchinho,  fidelíssimo  uassalho  de  V.a  Magestade,  e  Mis- 
sionário Apostólico  em  este  Reyno  do  Congo.  E  representará 
á  V.a  Magestade  fielmente,  tudo  ó  que  á  bocca  le  tenho  comu- 
nicado, e  tam  bem  ó  que  Sua  Santidade,  como  Padre  e  Pastor 
uniuersal  da  Igreja,  será  seruida  recomendar  á  V.a  Magestade 
em  beneficio  desta  Christandade,  e  spero  em  Deus  será  meio 
efficas  ó  que  tomo,  para  que  se  logram  meus  desejos  de  que  ueia 
establecida  e  dilatada  a  Santa  Fé  Cattholica  em  meus  Reynos, 
e  em  possessiaõ  pacifica  dos  seus  á  V.a  Magestade  Cattholica, 
cuia  Sacra,  e  Real  Pessoa  guarde  ó  Ceo.  / / 
Congo  5  de  Outubre  1646. 

a )  Rej  dom  Garcia  + 
AGS  —  Secretarias  Provinciales,  Maço  2639. 

NOTA  —  De  toda  a  evidência  a  carta  foi  escrita  por  um  missio- 
nário Capuchinho,  espanhol  ou  italiano,  mais  provavelmente  pelo  pró- 
prio Fr.  Ângelo  de  Valência. 


45 1 


144 


PETIÇÕES  DE  D.  GARCIA  II  REI  DO  CONGO 
A  D.  FILIPE  IV  DE  ESPANHA 

(5- io- 1646) 

SUMÁRIO  —  Série  de  fedidos  que  o  Rei  D.  Garcia  envia  a  D.  Filipe 
IV  de  Espanha,  em  matéria  de  armada  para  a  conquista 
de  Luanda,  governo,  minas  e  missionários  Capuchinhos. 


Peticiones  dei  Rey  dei  Congo  D.  Garcia  II,  a  la  /  Magestade 
Cahtolica  dei  Rey  de  Espana  /  Nuestro  Sefíor 

1  —  Primo  que  su  Magestade  Catholica  se  sirua  embiar 
armada  competente  por  mal  al  puerto  principal  de  Angola, 
hechando  parte  delia  en  el  de  Pinda,  o  Rios  de  Dandi,  o  Vengo, 
para  que  junto  con  su  gente  (que  tendrá  preuenida)  pueda 
facilmente  tomar  la  Ciudad  y  puerto  de  S.  Pablo  de  Loanda. 

2  —  Suplica  tambien  que  los  Gouernadores  que  ponga  alli 
su  Magestad  no  sea  vno  solo,  sino  dos,  para  que  con  mas  acierto 
y  madureza  este  gouernada  aquella  Plaça. 

3  —  Que  a  dichos  Gouernadores  les  ordene  conserue  siem- 
pre  la  paz  y  vnion  con  los  dei  Congo,  y  se  ayuden  y  valgan  los 
vnos  à  los  otros  contra  otros  enemigos  quando  la  ocasion  lo 
pidiere. 

4  —  Que  los  tales  Gouernadores,  soldados  o  moradores 
que  su  Magestad  embiare  para  recidir,  o  habitar  en  aquellas 
partes  de  Angola,  en  ninguna  manera  sea  Portuguesses  (*). 


(*)  Este  documento,  anexo  ao  precedente,  pelo  que  lhe  damos 
a  mesma  data,  está  escrito  no  mesmo  espírito.  Não  admira,  antes  é 
natural,  que  para  conseguir  do  Rei  de  Espanha  o  que  lhe  solicitava, 

452 


5  —  Que  se  sirua  su  Magestad  dar  embarcaciõ  a  los  Reli- 
giosos Capuchinos  Missionários  que  su  Santidad  embiare  al 
Reyno  dei  Congo. 

6  —  Suplica  tambien  se  sirua  su  Magestad  embiarle  dos 
o  tres  mineros,  hombres  entendidos  en  la  matéria,  para  que 
descubra  las  minas  de  oro  y  plata  que  ay  en  su  Reyno. 

AGS  —  Secretarias  Provinciales,  Maço  2639. 


não  quisesse  que  este  lhe  enviasse  Portugueses.  Dada  a  revolução 
e  independência  de  Portugal,  em  1  de  Dezembro  de  1640,  o  pedido 
era  verdadeiramente  desnecessário... 


453 


145 


CARTA  AO  PAPA  INOCÊNCIO  X 
SOBRE  A  NOMEAÇÃO  DOS  BISPOS 

(1646) 

SUMÁRIO  —  Que  fosse  confirmado  o  Bispo  apresentado  por  D.  João 
IV  para  o  Congo  —  O  expediente  de  Administrador 
Apostólico  era  sofístico,  contra  o  direito  e  a  própria  bula 
da  criação  da  diocese,  portanto  inaceitável. 

Beatíssimo  Padre 

Hauendo  inteso  s'insta  a  la  Santità  Vostra  per  Adminis- 
tratore  delia  Chiesa  di  Congo  che  amministn  le  cose,  che  non 
si  possono  hauer  si  non  di  Vescouo,  e  credendosse  per  certo,  che 
il  motiuo  sia  zelo  delia  Religione,  e  delia  propagatione  delia 
fede,  e  proueder  a  la  salute  di  quell'anime  tanto  necessitate, 
in  ogni  modo  perche  la  Santità  Vostra  habbia  maggior  campo 
di  eleger  quello  che  sarà  effetiuamente  di  maggior  seruitio  di 
Dio,  se  supplica  a  degnarse  d'hauer  benigna  consideratione. 

i.°  Che  1  motiui,  che  hora  si  fano  per  la  prouisione  de 
Administratore  sono  gli  stessi  che  fà  Sua  Magestà  di  Vescouo 
già  di  lui  nominato.  / / 

2.0  Che  Sua  Magestà,  la  quale  hà  tanto  senso  di  non 
si  preiudicare  nella  nomina  di  quei  Vescoui,  non  si  potra  si  non 
stimar  delusa  con  una  sola  differenza  di  nomi,  poiche  secondo 
il  Ius,  li  Administraton  di  Chiese  Uacanti  habent  potestatem 
ordinariam,  e  non  essendo  d'altro  canto  li  Vescoui  si  non  Admi- 
nistratori  delle  Chiese,  il  stesso  è  prouedere  di  Administraton, 
che  proueder  di  Vescoui.  / / 

3.0  Che  non  solo  si  potra  Sua  Magestà  estimar  delusa  con 
questa  sola  differenza  di  nomi,  ma  molto  piu  è  fatto  di  pre- 


454 


chedersegli  per  questa  via  il  obtener  delia  Santa  Sede  e  Santità 
Vostra  la  prouisione  è  preiudicante  al  ias  che  hà,  e  al  possesso, 
perche  come  ensegnano  1  Dottori,  una  uolta,  che  il  Papa  con- 
cede Administratori  a  la  Chiesa  Catredale  per  oppositionem 
manus  preuidica  al  tus  elegendi  et  nominandi.  / / 

4.0  Perche  essendo  la  Chiesa  di  Congo,  per  expressa  con- 
cessione delia  Sede  Apostólica,  de  praesentatione  pro  tempore 
existentis  Régis  Portugalliae  utpote  dotata  ex  eius  redditibus, 
come  expressamente  dice  la  Bulla  delia  eretione,  hauendo  Sua 
Magestà  nominato  D.  frà  Christophoro  di  Lisbona,  persona 
molto  degna,  non  si  può  dire  che  non  sia  preiudicata  dandogh. 
V.  Santità  Administratore,  e  non  il  stesso  da  lui  nominato. 
Massime  hauendo  Sua  Magestà  delia  Sede  Apostólica  il  ius 
nominandi  li  Administratori  delle  Chiese,  che  sono  nelli  suoi 
dominij,  come  ancora  uene  preiudicata  leuandosegli  il  pnui- 
legio  che  hà,  de  che  non  possa  forastiero  habber  beneficio,  ni 
meno  Prelatura  ín  suoi  regni,  e  il  contrario  uensimilmente  la 
tale  prouisione  di  Administratore,  non  solo  non  portarebbe 
remédio  a  i  mali,  che  ui  sono,  ma  causarebbe  da  uantaggio,  per 
la  raggione  di  Stato,  grandi  disgusti  e  consequenze,  che  la 
Santità  Vostra,  secondo  la  sua  gran  prudentia  [e]  zelo  desi- 
dera  euitare,  non  dando  remédio,  che  porta  certo  pencolo  al 
infermo,  senza  speranza  di  liuramento,  contra  quello  che  il 
lus  tanto  racomanda;  in  la  nomina  d' Administratori  non  se 
deue  attender  al  nome,  ma  a  la  intentione  di  qui  nomina. 

BADE  —  Cód.  CVI/2-9,  fl.  477. 

NOTA  —  Sem  data  nem  assinatura,  o  documento  parece-nos  ser 
de  1646,  ano  em  que  se  tratava  em  Roma  de  solucionar  o  grave  pro- 
blema da  provisão  das  dioceses  ultramarinas  de  Portugal,  à  margem 
das  normas  estabelecidas  pelas  próprias  bulas  de  fundação.  Quanto  ao 
autor  julgamos  que  seja  o  Padre  Nuno  da  Cunha,  S.  J.,  assistente  da 
Companhia  de  Jesus  em  Roma  e  encarregado  de  negócios  de  D.  João 
IV  de  Portugal. 


455 


146 


CARTA  CREDENCIAL  DO  REI  DO  CONGO 
AOS  EMBAIXADORES  CAPUCHINHOS 

(5- io- 1646) 

SUMÁRIO  —  D.  Garcia.Afonso  II  nomeia  seus  embaixadores  à  corte 
de  Roma  dois  missionários  Capuchinhos,  um  espanhol 
e  outro  italiano,  com  plenos  poderes  em  matérias  impor- 
tantes a  tratar  para  bem  e  utilidade  da  coroa  do  seu  reino. 

LITTERAE  CREDENTIALES 

Beatissime  Pater 

Hisce  meis  credentialibus  Iitteris  et  scriptura,  a  me  subs- 
cnpta  et  sigillo  meo  régio  munita,  constituo  et  declaro  oratores 
meos  ad  Sanctitatem  vestram  RR.  patres  fr.  Angelum  a  Valen- 
tia et  fr.  Joannem  Franciscum  a  Roma,  concionatores  capucinos 
et  hujus  regni  Congi  missionários  apostólicos,  íisque  omnem 
meam  potestatem  et  facultatem  loquendi,  et  matérias  cum 
Sanctitate  vestra,  bonum  et  utilitatem  hujus  coronae  Congensis 
concernentes,  tractandi  haud  aliter,  ac  si  ego  personaliter  vel  ín 
própria  mea  regia  persona  íd  agerem,  attnbuo;  hinc  et  ípsis 
plena  in  omnibus  adhibeatur  fides,  et  omne  íd  quod  ípsis  trac- 
tabunt  et  determinabunt  cum  Sanctitate  vestra,  ego  ceu  bene 
factum,  firmum  et  validum  habeo. 

Congi,  5  Octobris  1646. 

Sanctitatis  vestrae 
Filius  obedientissimus 

Rex  Dom  Garcia 


456 


GIOVANNI  FRANCESCO  ROMANO  —  Relazione  delia  Mis- 
sione de  Frati  Capucini  al  Regno  dei  Congo,  Napoli,   1648,  p.  50. 

—  MICHAEL  A  TUGIO  Obr.  cit.,  VII,  p.  197.  — PAIVA 

MANSO  —  Historia  do  Congo,  Lisboa,  1877,  p.  187-188.  — D.  JO- 
SEPH PELLICER  DE  TOVAR  —  Mission  Evangélica  al  Reyno  de 
Congo,  Madrid,  1649,  fl.  38  v. 


457 


147 


CARTA  CREDENCIAL  DO  REI  DO  CONGO 
AOS  EMBAIXADORES  CAPUCHINHOS 

(5-10-1646) 

SUMÁRIO  —  Vide  documento  precedente. 

Copia  delia  lettera  di  Credenza,  che  íl  Rè  dei  Congo 
scriue  à  Sua  Santità  per  li  suoi  Ambasciatori 

Per  questa  mia  lettera  di  Credenza  e  scnttura  da  me  fer- 
mata  e  sigillata  con  il  sigillo  delle  mie  Armi  Reali,  constituisco, 
e  dichiaro  per  miei  Ambasciatori  à  Vostra  Santità  h  R.  R.  Pa- 
dri  Frat' Angelo  da  Valentia,  e  Fra  Giovanni  Francesco  Ro- 
mano, Predicatori  Capuccini,  e  Missionarij  Apostolici  in 
questo  Regno  dei  Congo,  e  consegno  loro  ogni  mio  potere,  e 
facoltà,  come  se  io  personalmente,  e  per  mia  própria  persona 
Reale  lo  facesse,  poter  dire,  apportare,  et  allegare  in  tutte  le 
materie,  che  sono  importanti  per  bene  et  vtilità  di  questa 
Corona  dei  Congo  con  Vostra  Beatitudine,  et  in  tutto  dargli 
intiero  credito,  e  tutto  quello  che  trattaranno,  e  determinaranno 
con  Vostra  Santità  in  mio  nome,  lo  dò  per  ben  fatto,  fermo, 
e  valido. 

Congo  5  di  Ottobre  1646. 

Figlio  obedientíssimo  di  Vostra  Santità 

Rè  D.  Garzia. 

BADE  —  Cód.  CVÍ/2-9,  £1  518. 


458 


148 


CARTA  REVERENCIAL  DO  REI  DO  CONGO 
AO  PAPA  INOCÊNCIO  X 

(5- 10- 1646) 

SUMÁRIO  —  Rende  afectuosa  reverência  ao  Papa,  como  rei  católico, 
e  agradece  o  envio  de  missionários  evangélicos  —  Pede 
que  lhe  sejam  enviados,  para  o  futuro,  missionários  Ca- 
puchinhos, bem  como  Bispos  para  sagrarem  outros  Bis- 
pos, ordenarem  sacerdotes  e  estabilizarem  a  religião. 

LITTERAE  REVERENTIALES 

Beatissime  Pater 

Praesto  Sanctitati  vestrae  toto  mentis  affectu  obedientiam, 
ceu  filius  S.  Romanae  Ecclesiae,  simulque  grates  reddo  debitas 
pro  sollicitudine,  qua  ministros  evangélicos  mihi  pro  hoc  regno 
Congi  mittere  intendit.// 

Supplico  Sanctitati  vestrae,  ut  ii  quos  deinceps  ablegavit, 
sint  fratres  S.  Francisci,  capucini  nuncupati,  cum  ego  et  totum 
meum  regnum  illos  aestimet,  ceu  veros  Dei  servos,  et  pariter 
ut  sint  in  amplo  numero,  cum  regnum  sit  vastum,  et  in  eo 
nonnisi  16  sacerdotes  repenantur,  ob  quam  penunam  populus 
in  spintualibus  non  parum  patitur.  / / 

Rogo  itidem  Sanctitatem  vestram,  ut  cum  ministris  evan- 
gelii  etiam  episcopos  ad  hoc  regnum  mittere  dignetur,  quate- 
nus  alios  episcopos  consecrare,  sacerdotesque  ordinare  possint, 
et  ita  religio  catholica  in  regno  firmius  stabiliatur,  et  perdu- 
«*.// 

Tandem  obsecro,  ut  gratias  illas,  quas  pro  universali  hujus 
regni  commodo  impetrandas  oretenus  meis  oratoribus  commisi, 


459 


et  quas  scnptotenus  ídeo,  ne  sim  taedio,  non  exprimo,  impertiri 
non  gravetur  Sanctitas  vestra,  cujus  personam  et  dignitatem 
supremam  Dominus,  etc. 
Congi,  5  Octobris  1646. 

Filius  obedientissimus  Sanctitatis  Vestrae 

Rex  Dom  Garcia 

GIOVANNI  FRANCESCO  ROMANO  —  Obr.  cit.,  p.  50  — 
MICHAEL  A  TUGIO  —  Obr.  cit.,  VII,  p.  197.  —  PAIVA  MANSO 
—  Obr.  cit.,  p.  188-189.  —  PELLICER  DE  TOVAR  —  Obr.  cit., 

a  38  v. 


460 


149 


CARTA  REVERENCIAL  DO  REI  DO  CONGO 
AO  PAPA  INOCÊNCIO  X 

(5- io- 1646) 

SUMÁRIO  —  Vide  documento  precedente. 

Copia  delia  lettera,  che  il  Rè  dei  Congo  scriue  /  a  Sua 
Santità,  de  /  lingua  Portoghesa  in  Italiana 

Rendo  a  V.  Santità,  con  tutto  il  mio  affeto,  obedienza 
come  figlio  che  sono  di  Santa  Chieza  Romana,  e  giuntamente 
le  rendo  la  debita  gratia  dei  pensiero  che  hà  di  mandarmi  Mi- 
nistri  Euangehci  per  questo  Regno  dei  Congo;  e  chiedo  à  Vos- 
tra  Santità  che  quelli  che  da  qui  auanti  mi  mandará,  siano  frati 
di  S.  Francesco  Capuccini  (1),  perche  io,  e  tutto  il  mio  Regno  gli 
stimiamo  molto,  come  uen  Serui  di  Dio:  e  che  di  piu  siano  in 
buon  numero,  perche  il  Regno  è  grande,  et  in  tutto  il  Regno 
non  ui  sono  se  non  sedeci  Sacerdoti;  per  la  qual  cauza  i  Popoli 
patiscono  molto  nello  spirituale.  / / 

Chiedo  ancora  à  Vostra  Beatitudine,  che  con  li  Ministri 
euangehci  si  degni  mandar  Vescoui  per  questo  Regno,  perche 
possino  consecrare  altri  Vescoui,  et  ordinar  Sacerdoti,  et  in 
questa  maniera  uenga  à  perseuerare  la  Religione  Catholica  nel 
Congo;  e  finalmente  concedermi  le  gratie  che  io  hò  communi- 
cato  à  bocca  alli  miei  Ambasciatori,  per  ben  vniuersale  di 
questo  Regno,  le  quali  non  pongo  in  scritto  per  non  tediar  à 


(*)  É  perfeitamente  visível  que  a  carta  foi  inspirada  pelos  missio- 
nários capuchinhos. 

461 


Vostra  Santità;  la  cui  persona,  e  dignità  suprema  conserui 
tro  Signore  per  il  bene  delia  Chnstianità. 
Congo  5  di  Ottobre  1646. 


BADE  —  Cód.  CVI/2-9,  fl.  518. 


Rè  D.  Garzia. 


46: 


150 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(9- io- 1646) 


SUMÁRIO  —  Recepção  dos  Capuchinhos  em  Amesterdão  —  Seus  tra- 
balhos apostólicos  nesta  cidade  —  Excepcional  fervor  dos 
católicos  holandeses  —  Estima  dos  hereges  pelos  Capu- 
chinhos —  Partida  do  Padre  Taggia  para  Lisboa. 


Ill.mo  et  Rev.mo  Signor 

Per  altre  due  mie  ho  avisato  V.  S.  dei  recetto  mísero  nos- 
tro  di  Angola  in  Amstradamo,  di  che  in  questa  mia  non  devo 
dire  altro,  per  haver  duphcati  1'avisi;  hora  mi  resta  informare 
V.  S.  Ill.ma  delia  missione  d'Amstradamo,  instato  in  cio  da 
molti,  tanto  secolari,  quanto  nostn  Religiosi  Cappuccini:  spe- 
cialmente  dal  M.  R.  P.  Mário,  Vicario  Generale  in  partibus; 
saprà  dunque  V.  S.,  come  trovai  vera,  et  realmente.  La  primi- 
tiua  chiesa  in  questa  Città,  et  bene  questa  S.  Pasça  passata 
passorono  il  numero  de  communicanti  ben  2000,  anzi  intesi 
sino  al  numero  di  3000,  sono  già  ben  dua  millia  figliole  spin- 
tuali  con  voto  di  virginità.  Non  posso  spiegare  la  devotione  di 
tali  cattolici,  il  calore,  la  stima  fanno  delle  cose  divine  et  de 
sacerdoti,  ma  il  numero  de  missionarij  non  è  molto  evidente,  si 
che  ben  spesso  alia  Pasça,  come  intendo,  restano  molti  senza 
potersi  confessare,  et  certo  che  io  chiamo  ben  aventurati  li  PP. 
Missionarij  di  queste  parti,  quali  se  non  ríducono  in  molto 
numero  li  eretici  all'obedienza  delia  Romana  Sede,  confermano 
però  molto  bene  li  loro  fratelli.  / / 


463 


Hora  avedesi  Ill.mo  Signore,  haver  in  queste  parti  li  Padri 
nostri  Cappuccini  la  sua  missione  li  anni  passaci,  hora  di  pre- 
sente sono,  salvo  che  quatro  in  numero  in  piu  parti  divisi,  ben 
discosti  1'uno  dall'altro  molte  leghe,  per  haver  li  Padri  nostri 
revocati  albuni,  con  buoni  fondamenti  crederò  io,  pure  sucedese 
grande  pregiudicio  a  tali  anime,  che  bramano  tanto  li  Padri 
Cappuccini,  in  difetto  de  quali  succedetero  alcuni  gravi  incon- 
venienti,  ch'il  P.  Mano  suddeto  si  condolse  meco  molto  arden- 
temente: quando  paresse  bene  a  V.  S.  Ill.m*  proponer  ciò  in 
Congregazione,  mi  nmetto,  poichè,  verum  fateor,  Li  Padn 
Capuccini  per  conditione  di  loro  professione  sono  molto  sti- 
mati,  et  dico  dell'eretici,  consideri  V.  S.  Ill.m*  il  caso: 

Noi  Padri  venuti  dal  Brasile,  per  tre  volte  andavano  per 
la  città  d'Amstradamo  in  santo  habito,  et  sebene  il  concorso 
dietro  à  noi  era  numeroso  ben  di  migltare  di  persone,  pure  niuno 
ardi  farei  alcuno  affronto,  ne  pur  per  segno,  anzi  che  veneravano 
le  nostre  persone  con  moita  compassione,  sino  uscire  una  publica 
voce  (questi  sono  S.  Apostoli  di  Gesíi  Chnsto):  et  da  molti 
erauamo  visitati,  et  alcuni  di  loro  teneri  alia  conversionc,  me 
pregavano  non  partirmi,  che  faria  piú  frutto  ivi  che  fra  negri, 
et  che  dal  molto  Rev.d0  P.  Mário  et  da  Catolici  communiter 
fu  stimato  à  miracolo,  facendomi  instanza  li  Signori  Governa- 
tori,  (meco  passati  con  ogni  possibile  benignità)  mutati  1'habito 
da  religioso,  per  oviare  à  qualche  accidente,  concludendo  poi 
che  niuno  era  piu  efficace  à  formare  li  cattolici  Romani  nella 
loro  rehgione  et  convertire  ad  essa  li  altn  d  altra,  quanto  questo 
habito,  pigliando  l'habito  alie  mani  etc. 

Se  paia  bene  dare  in  ciò  alcuna  provisione,  mi  rimetto 
altre  tornatene  aviso  il  nostro  M.  R.  P.  Generale  proveda  de 
Padri  missionan  Fiamenghi.  Parte  domani  per  Lisbona  per  dar 
scanco  di  mie  persone  a  quel  Rè,  et  vedere  che  cosa  si  possa 
sperare  di  quella  parte  per  incaminarsi  novamente  a  Congo, 

464 


Brasão  de  Francisco  de  Sotomaior 
No  sen  túmulo  na  igreja  de  Mesão  Frio 

(Arquivos  de  Angola.  1943) 


d'ogni  cosa  pontualmente  aviserò  V.  S.  Ill.ma;  non  altro  che 
baciare  le  mani  et  pregarli  dal  Gelo,  ogni  vera  exaltatione. 
Amstradamo,  li  9  ottobre  1 646. 

Di  V.  S.  Ill.m  et  Rev.ma 

Servo  devotíssimo 

Fr.  Bonauentura  di  Taggia,  Cappuccino 
V.  Prefetto  de  Congo. 

Ricordo  a  V.  S.  Ill.ma  quando  la  Sacra  Congregazione  hab- 
bia  per  bene,  ritornasi  a  Congo,  dove  desidero,  piú  che  mai 
morire  et  finire  li  miei  giorni,  ut  dicam  cursum  consumavi  — 
consequentemente  bisognando  fermarmi  in  Portugalo,  saria 
conveniente  mi  si  mandassero  due  religiosi,  per  non  stare  cosi 
solo  senza  havere  un  fratello  a  cui  mi  confessassi,  et  quando 
giudicassero  bene  ciò,  La  pnego  con  ogni  possibile  instanza 
farmi  asignare  un  certo  P.  Lorenzo  Suno,  delia  Província  di 
Génova,  tile,  inquam  qui  audivit  in  choro  per  p duras  vices  ( dum 
oraret  pro  missione  nostra ),  baec  verba,  nesciens  a  quo:  Non 
est  qui  portet,  non  est  qui  portet,  etc. 

Essendo  molto  ben  necessarij  Religiosi  animosi,  et  qualifi- 
cati,  nonisi  decet  missionarium  apostolicum  esse  delicatum,  bene 
seio,  et  bene  expertus  sum  praxi,  etc. 

V.  S.  Ill.ma  non  permetta,  se  cosi  li  parerà,  secondo  Dio, 
resti  io  excluso,  ma  confermato,  volendo  et  desiderando  sopra 
modo  morire  tuto  questo  sarcino,  etc.  [fl  316]. 

APF  —  SRCG,  vol.  94,  fls.  313-313  v.  e  316. 


30 


465 


151 


CARTA  DA  PROPAGANDA  FIDE 
AO  PROVINCIAL  DA  ANDALUZIA 

(15-10- 1646) 

SUMÁRIO  —  Estranha  a  exclusão  do  Padre  João  de  Vergara  da  missão 
para  que  fora  nomeado  e  manda  que,  removidos  os 
obstáculos,  farta  aquele  missionário  para  a  sua  missão. 

Ancor  che  non  paia  credibile  à  questa  Sacra  Congregatione 
de  Propaganda  Fide  che  la  Reuerentia  Vostra  habbia  escluso  íl 
Padre  Giouanni  di  Vergara  dalla  missione  delh  Negriti,  che 
egl'approuato  già  per  idóneo  dal  difhnitorio  di  cotesta  Prouincia, 
hà  ottenuto  dalla  medessima  Sacra  Congregatione,  alia  quale 
è  stato  proposto  per  uia  di  Monsignor  Nuntio  di  N.  Signore  ín 
Ispagna,  con  tutto  ciò,  desiderando  la  sudetta  Sacra  Congrega- 
tione che  si  osseruino  dai  Prefetti  li  decreti,  hà  hauuto  per 
bene  d'auuertirla,  come  fà  per  mezzo  delia  presente,  che  h 
Missionarij  non  possono  senza  il  placet  delia  Sacra  Congrega- 
tione esser  rimossi  dalle  loro  missioni,  ò  mutati.  Doura  però 
Vostra  Reuerentia,  caso  ch'ella  hauesse  per  qualche  accidente, 
ntardata  sin  hora  1'andata  dei  detto  Padre,  leuare  ogn'impedi- 
mento,  si  che  egli  possa  trasferirsi  con  li  suoi  compagni  alia 
missione  assegnatali,  con  auuisar  poi  quà  quanto  ella  haurà 
operato,  e  Dio  la  prosperi.  / / 

Roma,  i5  8bre  [Ottobre]  1646. 

APF  —  Lettere  Volgari,  vol.  24,  fl.  126. 


466 


152 


CARTA  DO  PADRE  BOAVENTURA  DE  TAGGIA 
AO  SECRETÁRIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(i6-i  i- 1646) 


SUMÁRIO  —  Regressa  da  Holanda  a  Lisboa  —  Desfaz  as  más  impres- 
sões do  Governo  contra  os  Capuchinhos  missionários  no 
Congo  - — ■  Deseja  voltar  para  o  Congo  —  Pede  lhe  enviem 
dois  companheiros,  em  especial  o  P.e  Lourenço  Súrio. 

111."10  Signore  mio  Osseruandissimo 

Amuai,  111."10  Signore,  d'Amstradamo,  di  d'onde  due  mie 
scnsse  á  V.  S.  111."",  hieri  1'altro  in  Lisbona,  per  comparire 
auanti  sua  maestà,  et  leuare  ogni  raggione  di  sospeto  in  questi 
delicati  tempi;  quando  apena  arriuai  in  terra,  et  intrato  in  casa 
d'una  signora  nostra  benfatrice,  intesi  che  sua  maestà  mi  douea 
sicuramente  carcerare  per  le  grandi  cose  che  si  diceuano  pubbli- 
camente  contro  li  nostri  Padn  di  Congo,  et  di  noi,  quali  spa- 
ciati  da  sua  maestà  cõ  tanti  fauon,  all'aperta  in  Congo  faceuano 
le  parti  di  Castella,  cÕ  grandíssimo  pregiudizio  delia  Corona  di 
Portugallo,  cõ  cento  et  miH'altre  imposture;  restai  a  questo  far 
di  modo  et  giudicai  esser  uoluntà  et  grande  giudizio  di  Dio 
1'esser  tornato  à  dietro,  sebene  có  tanti  trauagh  et  miserie,  perche 
riaprisi  la  porta  delia  missione,  ficiata  e  chiusa  cõ  tanti  catenaci. 

Questo  inteso  cosi,  uestito  d'habito  secolare  uenuto  d'01an- 
da,  comparui  al  Signor  Conte  carne  [re]ro  maior  di  S.  Mages- 
tade  et  al  Signore  Secretario  di  Stato,  perche  uedessero  1'inno- 
cenza  nostra  et  d'altri  nostri  Padn;  doppo  due  giorni  comparui 


467 


á  parlare  al  Rei  et  Signora  Regina,  quali  uiste  1'imposture  et 
intesi  li  nostn  trauagli,  cõ  altri  seruizij  fatti  alia  Corona,  reli- 
giosamente si  mossero  cõ  tanta  compassione  et  amore  uerso  di 
me,  che  mai  nceuati  tanta  sodisfatione  á  segno  tale,  che  mi 
pregò  S.  Magestade  instantemente  li  facessi  un  traslato  di 
quanto  haueuamo  passato  in  si  lungo  uiaggio  et  pngionia  á 
mano  d'eretici;  ne  mi  spedí  da  S.  Magestade  che  prima  non  li 
presentasi  petitione  di  ritornare  a  Angola  et  Congo,  cú  prima 
bona  occasione,  et  mi  rispose  esser  contentíssimo  di  quanto 
1'hauea  discorso,  ma  che  mi  responderia  findo  prossesso  in  altro 
giorno;  il  certo  sarà,  come  intendo,  tanto  dal  Signor  Fugine, 
Camerero  maior,  et  ambasciatore  di  Francia,  che  potro  ritor- 
nare; ne  facio  parte  a  V.  S.  Ill.ma  per  piu  rispetti,  massime  per 
quelli  che  mi  partecipò  il  Signor  V.  Collettore  hauer  scntto 
in  Roma  non  esser  bono  si  mandino  altri  Padn  Missionanj  per 
Portugalo,  poiche  spero  in  Dio  benedetto  di  ncauare  potet 
passare  altri  Padri  non  solo  per  índia  ma  per  Congo,  tanto  piíi 
che  il  Signor  ambasciator  di  Francia  á  instanza  dell'Eminentis- 
simi  Cardinali  d'Estrés  et  Grimaldi,  trauaglia  in  cio  efficace- 
mente,  ma  s'acerti  V.  S.  Ill.m*  che  il  mio  arriuo  in  Lisbona 
gioua  in  estremo. 

Desidero  me  si  mandino  quanto  prima  almeno  due  padri, 
per  trouarmi  cõ  un  laico  solo,  salte  per  confessarmi  (morto  uno 
compagno  in  naue,  e  1'altro  molto  amalato  inuiai  d'Amstra- 
damo  á  Roano  per  curarsi,  fatto  però  inhabile  per  andare  piu  per 
mondo),  ma  digià,  Ill.mo  Signore  s'auerta,  muno  sij  vassalo  dei 
Rè  di  Castella,  di  che  sò  certo  hauer  scritto  quanto  auiso  due 
volte  in  Roma,  et  pure  hanno  inuiato  il  P.  Zaccaria  da  Finale 
per  Prefetto  delia  missione  dell  lndie,  cõ  esser  vassalo  di  Spagna, 
che  una  cosa  cõ  1'altra  fu  causa  esser  nmandati  cÕ  tanto  ngore 
improuisamente;  uno  di  questi  Padri  desidero  sij  il  P.  Lorenzo 
Suno,  sacerdote  delia  prouincia  di  Genoua  et  l'altro  goderò  sij 
predicatore;  intratanto  poi  s'anderà  negoziando  per  altri.. 


468 


Non  altro,  li  bacio  le  mani  et  priego  dal  Cielo  á  V.  S.  Ill.m* 
il  colmo  di  sua  uera  exaltatione. 
Lisbona,  li  16  nouembre  1646. 

Di  V.  S.  Ill.m4 

Seruo  humilissimo 

f.  Bonauentura  di  Taggia  // 
Cappuccino  Indegno. 

À  cui  sogiongo  che  il  signor  ambasciatore  di  Francia  scnue 
dei  medesimo  tenore  aH'Eminencissimi  d'Estrés  et  Grimaldi. 
Saluto  infinitamente  il  signor  Domênico  (?)  Verusio. 

APF  —  SRCG,  vol.  97,  fk  157-158  v. 


469 


153 


CARTA  DE  ANTÓNIO  TELES  DA  SILVA 
A  EL-REI  D.  JOÃO  IV 

(18-12-1646) 

SUMÁRIO  —  Despacho  de  missionários  para  Angola  —  Mau  sucesso 
dos  navios  e  traição  dos  holandeses,  aprisionando-os  — 
Vitórias  do  governador  de  Angola  e  sua  morte  —  Ata- 
ques holandeses  à  Quiçama,  onde  mataram  80  portugueses. 

Senhor 

Dous  nauios  despachey  deste  porto  para  Angolla,  hum  em 
que  embarquey  os  frades  Capuchos  Missionários  Apostólicos,  a 
que  V.  Magestade  se  seruio  mandarme  que  desse  nauio,  e  pas- 
sagem para  aquelle  Reyno,  e  outro  com  hua  carta  que  V.  Mages- 
tade me  ordenou  que  remetesse  com  breuidade  ao  Gouerna- 
dor  Francisco  de  Sottomayor.  Também  do  Rio  de  Ianeyro 
foram  outros  dous  nauios  de  mayor  porte.  E  todos  quatro  tiue- 
ram  infeliz  successo  naquella  costa,  porque  a  hum  dos  do  Rio 
de  Ianeyro  deixaram  os  Directores  da  cidade  de  Loanda  entrar 
como  amigos,  e  despois  o  tomaram  por  perdido,  &í  ao  outro  ren- 
deram huãs  naos  suas,  hauendo  pelejado  dous  dias.  E  aos 
que  daqui  foram,  os  fizeram  dar  á  costa.  E  aprisionando 
todos  os  Portuguezes,  que  nelles  hiáo,  despois  de  os  haue- 
rem  feito  trabalhar  em  suas  fortificaçoens  alguns  mezes,  os 
embarcaram  todos  em  hum  nauio  para  o  Reciffe  de  Pernam- 
buco. E  chegando  a  elle  com  huá  fragrata  de  sua  guarda,  deram 
em  hua  noite,  os  mesmos  Portuguezes  (que  eram  oitenta  e  seis) 
á  costa,  por  industria,  no  porto  da  Candellana,  donde  se  sal- 
uaram,  e  ficam  naquella  campanha. 

47° 


Estes  contam  que  heuendo  o  Gouernador  Francisco  de  Sot- 
tomayor  desbaratado  a  Raynha  Gynga,  de  quem  alcançara 
grandes  victonas,  tomandolhes  ricos  despojos,  e  quinhentas 
armas  de  fogo,  e  sigurando  a  conquista  toda  dos  Souas  con- 
finantes, morrera  em  breues  diaz  com  alguas  suspeitas  de 
veneno.  / / 

Com  grande  sentimento  meu  dou  a  V.  Magestade  esta 
noua,  por  hauer  V.  Magestade  perdido  nelle  hum  vassallo  de 
grandes  esperanças,  porque  a  prudência,  valor  &  desinteresse 
com  que  gouernaua,  e  fazia  respeitar  as  armas  de  V.  Magestade, 
era  muy  parecido  ás  obngaçoens  de  verdadeiro  Portuguez;  e 
promettiam  estas  felicidades,  com  que  entrou  a  gouernar  aquelle 
Reyno,  outras  muito  mayores  nelle,  se  viuera;  ainda  que  o  du- 
uidem  as  informaçoens  de  alguns  sugeitos,  aqui  nam  pareciam 
bem  suas  acçoens,  sendo  todas  effeitos  do  amor  e  zello,  com 
que  sempre  se  dezejou  adiantar  no  seruiço  de  V.  Magestade. 
Também  affirmão,  que  fizeram  os  Holandezes  huã  saída  para 
a  parte  que  chamaÕ  da  Quiçama,  e  ally  mattaram  oitenta  Por- 
tuguezes,  e  catiuaram  alguns.  E  para  que  tudo  seja  prezente 
a  V.  Magestade  com  mais  particularidade,  me  pareceu  remetter 
nesta  embarcaçam  a  Manuel  Soarez,  piloto  de  hum  dos  nauios 
que  mandey  aaquelle  Reyno,  o  qual  representará  a  V.  Mages- 
tade o  estado  em  que  elle  fica.  / / 

Guarde  Nosso  Senhor  a  Real  Pessoa  de  V.  Magestade  como 
a  Chnstandade  e  todos  seus  vassalos  hauemos  mister.  / / 
Bahya,  18  de  Dezembro  de  1046. 

a)  Antonio  Telles  da  Silua 

AHU  —  Baía,  cx.  5. 


47' 


154 


CARTA  DE  FREI  FRANCISCO  DE  PAMPLONA 
AO  SECRETARIO  DA  PROPAGANDA  FIDE 

(22-12-1646) 

SUMÁRIO  —  Concedida  a  missão  do  Congo  e  de  Darien  —  Projecto 
de  missão  em  Benim  —  Que  se  conceda  a  Missão  do 
Congo  à  Província  de  Castela  —  Assistência  à  Missão. 


La  Pace  dei  Signore 

Sia  ne  nostn  cuon.  II  Signore  Dio  si  è  degnato  che  Sua 
Maestà  Cattohca  habbia  concesso  tutto  quello  che  hò  doman- 
dato  per  le  due  missioni.  V.  S.  Ill.ma  lo  raccomandi  à  Dio,  et 
gli  domandi  che  nel  tutto  si  faceia  la  sua  diurna  uolontà.  Ci  hà 
permesso  la  missione  di  i  Negri,  per  doue  condurrò  1  frati  al 
Congo,  et  hà  dato  licenza  per  che  uadano  li  quatro  frati.  // 

Súbito  trattarò  di  andare  à  Seuiglia,  per  trouare  chi  uoglia 
condurre  i  frati,  et  dello  stato  delle  cose  l'auuiserò.  / / 

Li  due  spacci  che  aspettaua  delia  Sacra  Congregatione  per 
poter  lasciare  due  altri  frati  in  un'Jsola,  richiedendolo  1'oppor- 
tunità,  non  si  sono  hauuti,  et  si  1'hauesse  ò  che  Monsignor  Nun- 
tio  lo  potesse  fare,  farebbe  questo  seruizio  à  Dio,  et  si  V.  S. 
Ill.ms  uuole  rappresentare  alia  Sagra  Congregatione  che  con- 
uiene  dar'autorità  ad  esso  Monsignore:  perche  in  simili  casi  si 
scusi  lo  ncorrere  à  Roma,  essendo  causa  la  dilatatione  che  si  lasci 
di  godere  dei  seruizio  delle  anime.  Jo  non  domando  per  me, 
perche  non  sono  degno,  ne  meno  deH'impiego  che  tengo.  Faceia 
V.  S.  Ill.ma  quel  che  sarà  il  maggior  seruizio  di  Dio.  Con  ogni 
rassegnatione  dico  Signore,  che  si  in  Darien  si  fará  frutto,  et  io 
se  non  mancherò,  uoglio  tornare  à  fare  altra  missione  al  Regno 


472 


di  Benin,  che  sono  christiani  e  non  hano  sacerdoti  ed  altre  parti. 
V.  S.  Ill.ma  mi  risponda,  che  con  questo  resterò  sodisfatto,  poiche 
à  me  non  tocca  far  altro  che  rappresentare,  et  desidero  ancora 
che  V.  S.  Ill.ma  credi  non  hauere  altro  fine,  che  il  magior  seruizio 
di  Dio. 

Questa  Prouincia  di  Castiglia  desidera  Ia  missione  che  si 
hà  per  il  Congo:  importa  ch'ella  Io  rappresenti  à  cotesti  Signori 
et  che  gli  si  conceda,  perche  si  non  uogliuo  che  uadano,  altn  non 
anderanno,  essendo  potenti  appresso  S.  Maestà  et  suoi  ministri: 
et  si  il  Prouinciale  presente  non  si  fosse  mostrato  fauoreuole, 
penso  che  gl'altri  non  si  sariano  mostrati  tanto  indifferenti.  // 

La  Missione  dei  Congo  richiede  moita  assistenza;  la  quale 
non  può  essere  come  conuiene,  perche  quà  si  fanno  le  proui- 
sioni,  et  sono  grandi,  essendo  per  poueri:  si  hà  mancamento 
di  commerzio,  et  per  inuiare  i  frati  [quando]  conuengano  stanno 
ancora  lontani  quegli  di  questa  Prouincia;  lo  ricorrere  per  tutto 
cio  à  Roma  è  cosa  molto  douuta,  si  haurà  corrispondenza  pronta 
et  sicura  V.  Ill.ma  fará  quello  che  piu  conuenga. 

Madrid,  22  Decembre  1646 

Mínimo  Seruitore 
F.  Francesco  di  Pamplona,  Cap. 

APF  —  SRCG,  vol  145,  fls.  227-227  v.  —  Cfr.  Ibidem,  fl.  259. 
—  Lázaro  de  Aspurz,  La  Personalidade  de  Fray  Francisco  de  Pam- 
plona, a  través  de  sus  Cartas,  em  Estúdios  Franciscanos,  1952  (53)» 
n.°  283,  p.  99-100.  Texto  algo  diferente,  em  tradução  espanhola,  em  por- 
menores sem  importância. 


473 


APÊNDICE 


74-A 


PARECER  SOBRE  O  LOCAL  DO  DESEMBARQUE 
DO  SOCORRO  ENVIADO  A  ANGOLA 

(6-2-1645) 

SUMÁRIO  —  Os  oficiais  partidos  da  Bata  no  socorro  de  Angola  fedem 
que  lhes  seja  facultado  escolherem  o  melhor  local  para 
o  desembarque,  uma  vez  chegados  àquela  costa. 

Em  cumprimento  do  pareçer  que  V.  S.a  nos  manda  que 
demos  sobre  o  porto  ou  paragem  que  na  costa  de  Angolla  se 
deue  eleger  para  se  lançar  em  terra  o  socorro  que  S.  Magestade 
hé  seruido  mandar  que  V.  S.a  ynuie  desta  Praça  áquelle  Reino, 
a  cargo  do  capitam  mor  Antonio  Te[i]xe[i]ra  de  Mendonça 
e  do  sargento  mor  Domingos  Lopez  de  Siqueira,  e  que  cami- 
nhos se  deuem  seguir  para  que  com  mais  facilidade  dar  condu- 
ção das  moniçoes  e  menos  risco  de  sermos  presentidos  dos 
Olandezes  e  obujados  dos  ynimigos  naturaes  daquellas  pro- 
uinçias,  se  possa  yntroduzir  o  dito  socorro  em  nossas  Conquistas, 
auendo  nós  comunicado  esta  matéria  com  os  pilotos  mais  prá- 
ticos naquella  costa,  e  entre  as  pessoas  de  mayor  experiençia 
daquellas  partes  e  certoís,  que  nesta  Bahia  nos  achamos;  nos 
paresse  por  rezoluçaõ  comua  de  todos,  que  partido  este  socorro 
com  o  fauor  deuino,  nos  dous  nauios  e  barco  de  S.  Magestade, 
que  V.  S.a  foy  seruido  mandar  aprestar  para  esta  jornada,  se 
tome  ao  menos  altura  de  trinta  grãos,  e  segurada  a  derrota  terra 
de  quinze  thé  catorze  e  em  se  fazendo  os  pilotos  por  altura  do 
sol  com  Benguella,  se  uá  correndo  a  costa  tão  desuiado  de  terra 
que  só  do  tope  se  leue  a  hua  vista  até  onze  grãos,  aonde  se  coze-- 
rão  com  terra  a  uer  o  Cabo  Ledo,  por  cinco  e  seis  brassas,  e  entre 
elle  eo  Rio  Quanza,  tres  legoas  antes  do  dito  Rio,  dem  fundo  e 


477 


lansem  o  socorro,  que  hirá  já  preuenido,  cÕ  toda  a  breuidade 
que  ser  possa,  e  com  a  mesma  se  façaõ  os  nauios  á  vella  para 
esta  Bahia;  e  dahy  marcharemos  até  o  Presidio  de  Moxima, 
primeira  fortaleza  nossa,  pelos  altos  do  Rio  Quanza,  donde 
auizaremos  ao  Senhor  Pedro  Cezar  de  Menezes,  para  que  nos 
mande  Socorro  de  negros,  para  ajudarem  a  conduzir  as  moni- 
çoés;  e  sendo  cazo  (o  que  Deus  não  permita)  que  nos  aparte- 
mos por  algum  acidente  do  tempo,  e  nos  naõ  tornemos  a  encon- 
trar, vamos  tomar  a  mesma  altura  e  meter  na  enseada  do  Rio 
Quicombo,  entre  Bemguella  e  Cabo  Ledo;  e  o  primeiro  nauio 
que  ally  chegar  espere  oito  até  dez  dias  pellos  mais  compa- 
nheiros, com  as  munições  e  gente  dentro,  por  mais  segurança 
da  saúde;  e  naõ  chegando,  se  lançe  a  gente  e  tudo  o  mais  em 
terra,  se  faça  o  nauio  na  uolta  desta  Bahia,  c  fique  a  gente 
ally  esperando  o  tempo  que  mais  lhe  pareçer,  fazendo  fogos  em 
cruz,  para  que  enxergando  os  os  que  vierem,  se  cheguem  ao 
dito  porto;  e  naõ  chegando  os  mais  nauios,  e  uirem  os  que  esti- 
uerem  em  terra  dezemganados  de  naõ  ser  yá  tempo  de  os  espe- 
rarem, se  uaõ  a  toda  a  fortuna  em  demanda  do  Senhor  Gouer- 
nador  Pedro  Sezar  de  Menezes,  deixando  cruzes  na  praia  e 
pellos  caminhos  por  donde  forem,  para  sinal  de  que  ally  esti- 
ueraõ,  e  terem  entendido  por  donde  foraõ;  e  sendo  cazo  que 
cheguem  os  mais  nauios  a  tempo  que  achem  a  gente  em  terra 
e  o  outro  nauio  uindo  para  esta  prassa,  lansem  ahy  todo  o  mais 
restante  do  socorro;  e  se  estiuer  aynda  o  dito  nauio,  se  yncorpo- 
re[m]  todos  se  uaõ  costa  abaixo  alcançar  o  socorro  na  dita 
parte  antes  referida,  emtre  o  Cabo  Ledo  e  o  Rio  Quanza;  mas 
se  no  tempo  que  se  esperar  na  emseada  de  Quicombo,  com  a 
comunicação  dos  Souas  vezinhos  nos  franquearem  e  segurarem 
o  passo,  paresendo  nos  confidentes  e  ynclinando  os  a  nós  cõ 
os  farregoulos  que  V.  S.a  hé  seruido  mandamos  dar  para  este 
effeito,  nos  parece  que  V.  S.a  se  sirua  deixar  a  nosso  arbítrio  a 
eleição  dos  caminhos  que  deuemos  seguir,  porque  lá  poderemos 
conhecer  melhor  as  comunicações  ou  ynconvenientes  que  pode- 


478 


rão  rezultar  de  irmos  antes  por  hum  que  por  outro  caminho, 
e  por  qualquer  que  emprendermos  quererá  Nosso  Senhor  que 
com  a  boa  disposição  e  fortuna  de  V.  S.a  se  consigua  todo  o 
bom  suçesso  desta  jornada,  para  que  S.  Magestade  fique  bem 
seruido  e  V.  S.a  com  a  gloria  de  por  sua  ynteligençia  e  meyo, 
fique  naõ  somente  socorrido,  mas  aynda  restaurado  aquelle 
Reino;  e  quanto  ao  lugar  em  que  V.  S.&  nos  propõem  que  será 
bem  fique  o  barco  de  S.  Magestade  para  trazer  a  re[s] posta,  se 
ajustará  lá  com  o  pratico  que  nelle  uay,  e  confiarão  os  sinais 
que  parecerem  mais  conuenientes  para  os  fazer  á  pessoa  que  vier 
a  trazer  o  despacho  do  Senhor  Gouernador  Pedro  Sezar.  / / 

Ysto  hé  o  que  nos  pareçe,  e  firmamos  todos  os  abaixo  assi- 
nados. V.  S.a  mandará  o  que  for  seruido,  que  será  sempre  o 
mais  aceitado.  / / 

Bahia,  seis  de  feuereiro  de  mil  seis  centos  quarenta  e 
cinco.  // 

Antonio  Texera  de  Memdonça  / /  Domingos  Lopes  de 
Siqueira  //  Luis  de  Pereda  / /  Mathias  Telles  Barreto  / / 
Francisco  Roiz  da  Cunha  / /  Antonio  Dias  Maguinhos  / / 
André  Antunes.  / / 

Dizem  as  duas  emendas  atrás  Prassa  /  Conueniençias.  O 
qual  parecer  eu  Gonçallo  Pinto  de  Freitas,  escnuaõ  da  fazenda, 
fiz  tresladar  do  próprio,  que  para  isso  me  entregou  o  Gouernador 
e  cappitaõ  geral  deste  Estado  do  Brasil,  a  quem  o  torney,  e  a 
elle  me  reporto;  e  uaj  per  quatro  uias.  Na  Bahia,  em  23  de 
feuereiro  de  1645. 

Gonçallo  Pinto  de  Freitas 

AHU  —  Angola  —  cx.  3. 


479 


76-A 


GARTA  DE  ANTÓNIO  TELES  DA  SILVA  A  EL-REI 
ACERCA  DO  SOCORRO  ENVIADO  A  ANGOLA 

(16-2- 1645) 

SUMÁRIO  —  Dá  conta  da  largada  do  socorro  de  Angola,  do  parecer 
sobre  o  local  do  desembarque  e  de  outras  notícias. 

Senhor 

Nas  ultimas  carauellas  que  daqui  partiram,  dey  conta  a 
V.  Magestade  do  appresto,  que  ficaua  dando  ao  socorro  que 
V.  Magestade  foy  servido  mandarme  que  inviasse  ao  Reyno 
de  Angolla:  &  estandose  lidando  nelle  com  igual  calor  ao  muito 
que  hauia  ainda  para  obrar,  chegou  a  este  porto  hua  embarca- 
çam  fugida  do  Reciffe  de  Pernambuco;  a  qual  deu  por  nouas, 
que  delle  hauia  partido  outra  para  esta  Bahya,  com  hum  poli- 
tico (que  hé  dos  do  concelho  da  Iustiça)  &  hum  comendor  (sic)> 
governador  entre  elles)  do  Cabo  de  S.  Agustinho,  &  hum 
secretario,  por  deputados  do  concelho  supremo:  &  que  o  intento 
era  (per  hauerem  tido  noticias  deste  socorro,  &C  de  que  tinha 
eu  aqui  armadas)  virem  a  impedir  que  nam  fosse,  &  sigurarse 
do  receo  em  que  estauão.  / / 

Com  esta  noua  me  fuy  assistir  na  ribeyra,  &  dentro  em 
vinte  &  quatro  horas,  fiz  dar  os  nossos  nauios  á  vella,  a  tempo 
que  o  seu  vinha  já  entrando  pela  barra;  com  o  que  lhes  diuerty 
o  cuidado,  vencendo  com  a  deligencia,  o  que  mal  pode  permi- 
tir o  tempo.  Sobre  a  matéria  desta  embaixada,  dou  conta  a 
V.  Magestade  no  Gouerno. 

480 


O  socorro  partio  a  oito  do  prezente:  consta  de  dous  nauios, 
&  hum  barco  dos  de  V.  Magestade,  em  que  vam  duzentos 
&  tantos  soldados  brancos,  &  quarenta  dos  pretos  de  Henri- 
que Diaz,  todos  muy  bem  prevenidos,  &  armados,  affora  alfe- 
rezes  &  sargentos  que  lhes  dey,  dos  mais  antigos  desta  praça 
para  os  disciplinarem;  &  para  que  com  mais  particulandade 
seja  prezente  a  V.  Magestade  o  numero,  &  qualidade  da  gente, 
armas,  muniçoens,  boticas,  pagas  que  se  deráo  á  infanteria,  fre- 
tes dos  nauios,  matalotagens,  &  mais  gastos  que  se  fizeram, 
me  pareceu  ímviar  a  V.  Magestade  a  relaçam  incluza,  por  me- 
nor, de  tudo  o  que  foy,  &  se  dispendeu.  / / 

&  porque  sobre  o  porto,  &  caminhos  que  se  hauiam  de  elle- 
ger  para  a  dezembarcaçaõ  &  conducta  do  dito  socorro  a  nossas 
conquistas,  houve  alguã  differença  nos  pareceres,  fiz  junta  de 
todos  os  pilotos,  &  pessoas  mais  practicas  &  de  mayor  experiên- 
cia daquella  costa  &  campanha,  &  com  os  dous  cabos  Antonio 
Teixeira  da  Mendo [n]ça  &  Domingos  Lopez  de  Sequeira  (a 
que  V.  Magestade  foy  seruido  que  se  encarregasse  esta  jornada) 
se  deliberou,  por  mais  conueniente,  o  que  consta  do  papel 
incluzo:  &  eu  me  resolvy  a  me  conformar  com  elles,  man- 
dandolhes  passar  os  regimentos  na  mesma  disposiçam,  em  que 
elles  o  determinarão  por  assentimento  de  todos;  dando  lhes 
outro  particular  (de  que  também  inuio  copia  a  V.  Magestade) 
para  poderem  mostrar  aos  Holandezes,  se  por  accidente  necessi- 
tassem desta  preuençaõ.  / / 

Entre  outros  auizos,  que  no  nauio  do  Recciffe  me  fez  hum 
morador  confidente  daquella  capittania,  me  escreveu  sobre  o 
Governador  Pedro  Cesar  de  Menezes,  o  capitulo  cuja  copia  será 
também  com  esta;  &  segundo  as  noticias  delle,  espero  que  hade 
chegar  este  socorro  a  tam  bom  tempo,  que  nam  só  se  conserue 
liure  de  temores  dos  inimigos  naturaes  daquelle  Reyno,  mas 
aainda  longe  delle  todos  os  mais  que  o  offendem.  / / 

Eu  lhe  mandey  também  hum  fortificador,  que  lhe  poderá 
ser  de  préstimo;  &  o  barco  com  ordem,  de  que  despois  de  lan- 

481 

31 


sado  o  soccorro  cm  terra  ficasse  naquella  costa,  com  hum  prac- 
tico  que  nelle  vay,  em  parte  donde  com  mayor  desuio  pudesse 
occultamente  esperar  pelas  nouas  da  fortuna  que  teue  este 
socorro,  &  re[s] posta  de  Pedro  Cesar,  para  com  ellas  as  dar  de 
tudo  a  V.  Magestade.  / / 

Quererá  Nosso  Senhor  leuallo  a  saluamento,  &  darlhe  tam 
bom  successo,  como  aquelle  Reyno  há  mister,  &  deuemos  deze- 
jar,  os  que  com  mayor  zello  pretendemos  acertar  no  seruiço  de 
V.  Magestade.  Guarde  Nosso  Senhor  a  Real  Pessoa  de  V.  Ma- 
gestade como  a  Christandade,  &  todos  seus  vassallos  hauemos 
mister.  / / 

Baya,  1 6  de  Feuerevro  de  1 645. 

a )  Antonio  Telles  da  Silua 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


482 


78-A 


RELAÇÃO  DO  CUSTO  DO  SOCORRO  DE  ANGOLA 
ENVIADO  POR  ANTÓNIO  TELES  DA  SILVA 

(23-2  1645) 

SUMÁRIO  —  Pormenorizada  relação  dos  materiais  enviados  em  socorro 
de  Angola  pelo  Governador  do  Brasil,  Teles  da  Silva. 

Rellaçaõ  do  que  há  custado  o  socorro  que  mandou  para 
Angolla  o  Senhor  Antonio  Telles  da  Silua,  do  Concelho  de 
Guerra  de  S.  Magestade,  Gouernador  e  Capitão  geral  de  mar  e 
terra  deste  Estado,  em  duas  naos  e  hú  barco,  que  leuaraõ  qua- 
tro Companhias  com  duzentos  e  quinze  praças,  e  nellas  os  da 
pnmmeira  plana,  e  huã  Companhia  mais  de  soldados  pretos, 
do  Terço  de  Henrique  Diaz,  cÕ  trinta  e  duas  praças,  sem  a 
gente  de  mar  dos  ditos  nauios,  e  tudo  a  cargo  dos  cabos  Anto- 
nio Teixeira  de  Mendonça,  e  Domingos  Lopes  de  Sequeira, 
que  tudo  custou  quatro  contos,  quatro  centos  sincoenta  e  qua- 
tro mil  reis,  como  nas  partidas  abaixo  se  declara. 

CUSTO  DOS  NAUIOS 

Fretousse  a  nao  Sancto  Antonio,  cõ  dezasseis  peças  de  arti- 
lharia, de  que  hé  mestre  João  Aluarez,  que  vay  por  capitana,  em 
dous  mil  cruzados,  atrauez  de  yda  e  volta,  e  se  lhe  deu  logo 
por  conta  do  dito  fretamento  quinhentos  e  noue  mil,  trezentos 
e  cutenta  reis    5091380 

Fretousse  a  nao  Nossa  Senhora  do  Rozario,  com  oito  peças 
de  artilharia,  de  que  hé  mestre  Manoel  Ferreira  Lima,  que  vay 
por  almiranta,  em  quinhentos  oitenta  e  seis  mil  e  quinhentos 


483 


reis,  atraués  de  yd  a  e  volta,  e  se  lhe  deu  logo  por  conta  do  dito 
fretamento  trezentos  setenta  e  hú  mil,  çento  e  sincoenta 
reis   37i$i50 

Custou  o  apresto  do  barco  São  Bento,  de  S.  Magestade, 
em  que  se  pôs  duas  peças  de  artilharia  e  oito  mosquetes,  vinte 
e  tres  mil  e  nouecentos  reis.  Sem  o  breu,  graxa,  pregaria,  emxar- 
çia,  e  estopa  que  se  deu  dos  almazens.  E  assy  mais  se  despen- 
deu sincoenta  e  hú  mil  reis,  que  se  derão  a  treze  pessoas  de 
mar,  á  conta  de  çento  e  oitenta  e  tres  mil  reis,  que  vaõ  a  vencer 
de  suas  soldadas,  á  dita  gente  do  mar   74^900 

E  este  barco  vay  para  aguardar  algus  dias  na  costa  para 
trazer  avizo  do  Gouernador  Pedro  Çezar. 


CUSTO  DOS  MANTIMENTOS 


Custarão  os  mantimentos  que  se  embarcarão  para  a  dita  infan- 
taria, para  tres  mezes  de  viagem,  e  para  a  gente  do  mar  do  barco 
para  sinco,  que  saõ  para  agoardar  na  costa  e  tornarem,  seis  cen- 
tos e  vinte  e  sinco  mil,  noueçentos  e  sincoenta  reis.  .  625^950 


DIETA 


Custou  a  dieta  que  se  embarcou  nos  tres  nauios,  para 
doentes,  sincoenta  e  quatro  mil,  quatrocentos  e  quarenta 
reis    54^440 


DESPENÇA 


Custou  a  agoada  e  mais  couzas  neçessanas  tocantes  á  des- 
pença  dos  ditos  nauios,  çento  e  sincoenta  e  tres  mil,  nouecentos 
reis    1 53^900 


BOTICA 


Custarão  as  boticas  e  mais  couzas  neçessanas  tocantes  a 
ellas,  vinte  e  noue  mil,  seis  çcntos  e  nouenta  reis.  Dos  quais 
nouc  mil  e  duzentos  e  oitenta  reis  se  tirarão  de  medeçinas  dos 

484 


almazeíís  e  se  comprarão,   vinte  mil  quatro  çentos  e  dez 

reis    2  0$^io 

i.8io$i3o 

Val  o  atrás    1.8 10$  130 

CUSTO  QUE  FIZERAO  OS  PAYOIS,   E  CONDUZIR  OS 
MANTIMENTOS  NOS  NAUIOS 

Custarão  os  payois  para  farinha,  poluora,  fogoins,  grades, 
pipas,  barris,  e  caixões  em  que  vaÕ  os  bastimentos,  dietas,  boti- 
cas, capueiras,  e  os  carretos  de  conduzir  e  embarcar  tudo  o  refe- 
rido, trinta  e  noue  mil,  trezentos  e  sincoenta  reis  ...  39$35° 

ORNAMENTO 

Custou  hú  ornamento  com  tudo  o  neçessano  para  dizer 
missa,  e  hu  miçal  e  cahs,  e  ferro  de  hóstias,  sincoenta  e  quatro 
mil,  seiscentos  e  quarenta  reis.  E  outro  ornamento  com  todo  o 
neçessano  se  tirou  dos  almazeíís;  e  este  que  se  comprou  monta 
sincoenta  e  quatro  mil,  seisçenots  e  quarenta  reis...  54$6^o 

GASTOS  QUE  SE  FEZ  CÕ  AS  ARMAS 

Aforraõsse  cento  e  trinta  barris  de  poluora  em  couros  de 
pello  e  dezasseis  pessas  de  embira  para  amarrar  as  moniçoes 
quando  marcharem  nos  paos  que  levaõ.  E  custou,  e  assy  mais 
quatro  atambores  e  quatro  bandeiras,  tudo  çincoenta  e  noue 
quinhentos  e  oitenta  reis    59$ 580 


mi 


VESTIDOS  QUE  SE  DERAO  A  SOLDADOS  NECESSITADOS 

DeraÕsse  dezasseis  mombachas  e  seis  giboins  ao  embarcar 
aos  capitães  para  se  repartirem  cõ  algús  soldados  que  naÕ  tinhaõ 
vestido,  e  custarão  vinte  e  noue  mil,  e  noueçentos 
reis    2Q$qoo 

485 


FARRAGOULOS  PARA  APREZENTAR  EM  ANGOLLA 


Mandaraõse  fazer  farragoulos  de  raxeta  cõ  goarniçois, 
para  se  darem  de  prezente  a  algús  Souas  em  Angolla.  E  cus- 
tarão vinte  e  noue  mil,  e  noueçentos  reis    29^900 

Hú  NEGRO  QUE  SE  COMPROU  PARA  GUIA 

Comprousse  hú  negro  a  Lopo  Roiz  para  guia  dos  caminhos 
da  paragem  donde  se  há  de  dezembarcar  o  socorro,  a  pedimento 
dos  cabos  que  leuaõ  o  dito  socorro.  E  custou  o  dito  negro  qua- 
renta mil  reis.  E  mais  dous  mil  e  duzentos  reis  por  hua  espada, 
e  chapeo  que  se  lhe  deu,  monta  tudo  quarenta  e  dous  mil,  e 
duzentos  reis   42S200 

SOCORROS,  E  PAGAS  QUE  SE  DEU  A  JNFANTARIA 
E  A  REFORMADOS  QUE  FORAO  NESTE  SOCORRO 

Consta  pellas  listas  da  matricula  averse  gastado  nos  socor- 
ros que  se  deraõ  desde  vinte  e  quatro  de  nouembro,  que  se 
começarão  alistar,  até  oito  de  feuereiro,  aos  que  assentarão  pra- 
ça para  Angolla,  quatrocentos  e  secenta  e  seis  mil,  quatrocentos 
e  dez  reis    46654 1  o 

Consta  pellas  ditas  listas  haverse  socorrido  aos  soldados 
pretos  de  Henrique  Diaz  cõ  farinha,  desde  que  se  auiaraõ  para 
Angolla,  treze  mil,  quatro  çentos  e  quarenta  reis  ...  ^$440 

Consta  pellas  ditas  listas  averse  dado  a  trinta  e  hú  soldados 
pretos,  a  cada  hú  mil  e  duzentos  reis.  E  ao  capitão  delles  dous 
mil  e  quatrocentos  reis,  que  tudo  junto  importa  trinta  e  nouc 

mil,  e  seiscentos  reis    3Q$6oo 

519J450  2.0551040 

Valem  as  somas  atrás,  como  parece  519^450  2.0555040 
Consta  pellas  ditas  listas  hauerse  dado  huá  paga  de  dous 

486 


mil  e  quatro  çentos  reis,  a  cento  oitenta  e  nove  soldados  que 
uão  nas  quatro  companhias,  quatrocentos  sincoenta  e  tres  mil, 
e  seis  centos  reis    433$6oo 

Deu-se  a  quatro  capitães  a  dezaseis  mil  reis,  e  aos  quatro 
alferez  a  seis  mil  reis,  e  aos  quatro  sargentos  a  quatro  mil  reis 
a  cada  hu;  monta  çento  e  quatro  mil  reis    io^Sooo 

Aos  dous  capellaés  se  lhes  deu  para  se  embarcarem,  trinta 
mil  reis    30^000 

Deraõse  mais  a  noue  ofiiciaes  reformados  de  Angolla  para 
se  embarcarem,  secenta  e  seis  mil,  e  oitocentos  reis  66$8oo 

Aos  dous  cabos  Antonio  Teixeira  e  Domingos  Lopez  de 


Sequeira,  se  lhes  deu,  para  se  embarcarem,  cincoenta  mil 

reis    50$ooo 

Por  maneira  que  as  pagas  e  socorros  que  se  deu  á  gente  de 

guerra  monta    1. 2235850     1. 2235850 

3.2785890 

Comforme  a  esta  conta  atrás  e  acima  referida,  vejo  a  mon- 
tar o  que  se  despendeo  neste  socorro  em  dinheiro  de  contado, 
tres  contos  duzentos  setenta  e  oito  mil,  oitoçentos  e  nouenta 
reis    3.2785890 

O  QUE  SE  ADE  PAGAR  DE  VOLTA  DE  VIAGEM  AOS  NATJIOS 

Ao  mestre  da  nao  capitana  se  lhe  hade  pagar  de  resto  do 
frete  á  volta  de  viagem,  duzentos  nouenta  mil,  seis  centos  e 
vinte  reis   2905620 

Ao  mestre  da  almiranta  se  lhe  háde  pagar  de  resto  do  seu 
fretamento  á  volta  de  viagem,  duzentos  e  quinze  mil,  trezentos 
e  sincoenta  reis    2155350 

À  gente  de  mar  que  vay  no  barco  dei  Rey  se  lhe  hade 
pagar  de  resto  de  suas  soldadas  de  volta  de  viagem,  çento  e 
trinta  e  dous  mil  reis    132^000 

3.9165860 


487 


DE  MAIS  DO  CUSTO  AÇIMA  REFERIDO  SE  TIRARÃO 
DOS  ALMAZERS  DE  SUA  MAGESTADE  PARA  O  DITO 
SOCORRO  AS  COUZAS  SEGUINTES 


Cento  e  onze  mosquetes  aparelhados,  de  mais  das  cento 
e  vinte  armas  que  vieraõ  do  Reino  para  o  dito  socorro,  e  dezoito 
armas  de  fogo  que  tinhaõ  os  soldados  pretos  de  Henrique  Diaz, 
os  quais  mosquetes,  cõforme  as  avaliaçois  por  donde  se  carre- 
gaõ  as  que  se  daõ  aos  soldados,  valem  a  quatro  mil  reis.  E  mon- 
tão quatrosentos  quarenta  c  quatro  mil  reis    444^000 

Doze  machados,  seis  emxadas,  seis  pás,  e  seis  fouçes,  a 
trezentos  e  vinte  reis  cada  pessa,  e  çem  moxillas  para  os  sol- 
dados, montão  vinte  e  sinco  mil  e  seiscentos  reis...     2  5$6oo 

Quatro  arrobas  de  poloura  que  se  deu  para  defença  do  barco 
de  S.  Magestade,  a  trezentos  e  vinte  reis  a  liura,  monta  quarenta 
mil,  noueçentos  e  sessenta  reis    ^$960 


Tres  arrobas  de  murraÕ  para  o  dito  barco,  a  seis  centos  e 
quarenta   reis    [a]    arroba,    monta  mil   noueçentos   e  vinte 

reis    1^920 

5 1 2$48o 


Valem  as  somas  atrás,  como  parece  5i2$48o  3.9i8$86o 

De  couzas  que  se  tirarão  da  botica,  de  mais  do  que  se  côprou 
para  ella,  se  avaliou  em  noue  mil  duzentos  e  oitenta  reis   9$2  8o 

Hua  arroba  de  çera,  que  se  tirou  dos  almazens  em  vellas, 
que  saõ  para  dizer  missa,  a  duzentos  reis  a  liura,  monta  seis  mil 
c  quatro  centos  reis    6^400 


Por  hú  cálix  que  foy  avaliado  com  o  pezo  de  prata,  oito 
mil  novecentos  e  oitenta  reis   


Hú  ornamento  muy  uzado,  cõ  tudo  o  a  elle  pertencente  $ 
188 


Por  maneira  que  monta  o  que  se  tirou  dos  almazés 
de  S.  Magestade,  sem  o  valor  do  barco  e  seus  petrechos,  qui- 
nhentos trinta  c  sete  mil,  cento  e  quarenta  reis  ...  5371140 

4.454^000 

REZUMO 

Por  maneira  que  montou  todo  o  socorro  os  ditos  quatro 
contos,  quatro  centos  sincoenta  e  quatro  mil  reis,  os  tres  mil, 
digo,  os  tres  contos  nouecentos  e  dezaseis  mil  oito  çentos  e 
seçenta  reis  em  dinheiro  de  contado,  e  os  quinhentos  trinta  e 
sete  mil  cento  e  quarenta  reis  dos  almazens,  a  qual  rellaçaõ  eu 
Gonçalo  Pinto  de  Freitas,  escriuaõ  da  fazenda,  fiz  tresladar 
do  que  se  tirou  dos  liuros  da  Fazenda  Real  e  despesa  do  Thezou- 
reiro  geral  deste  Estado  do  Brasil.  E  a  sobescreuv  e  asiney  e 
uay  por  quatro  uias.  / 

Na  Bahia,  em  x  x  nj  de  feuereiro  de  j  bjc  Rb. 

Gonçallo  Pinto  de  Freitas 

Relaçam  da  despeza  que  fez  o  socorro  que  se  inuiou  a  An- 
gola. 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


489 


103- A 


CARTA  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
A  PEDRO  CÉSAR  DE  MENESES 

(20-7-1645) 

SUMÁRIO  —  Comunica  ter  chegado  a  Angola  para  o  substituir  no 
governo,  pedindo  o  envio  de  pretos  para  os  transportes 
do  socorro  desde  o  mar  até  à  vila  de  Maçangano. 

Sua  Magestade  que  Deos  guarde  £01  seruido  mandarme  uir 
do  Brazil  a  estas  partes  de  Angolla  a  susseder  a  V.  S.  no  go- 
uerno  delias,  o  que  tiue  a  meor  estrea  dos  bons  suseços  que 
esperamos,  porque  com  tantos  exemplos  da  prudência  e  cons- 
tância de  V.  S.  se  me  asegura  menos  dificultoso,  asertando  a 
obrar  o  que  deuo,  em  comprimento  das  hordens  de  S.  Mages- 
tade. 

Ante  hontem,  que  forão  18  de  Iulho,  cheguei  a  tomare 
falia  em  a  Bahia  Farta,  do  cappitam  mor  de  Benguella,  Man- 
noel  Pereira,  que  me  deixou  mui  empenhado  com  particulares 
demo[n]trasois  de  sua  lealdade,  e  dando  me  notisia  do  dezas- 
trado  fim  do  socorro  que  se  mandou  da  Bahia  a  V.  S.,  com 
o  sargento  more  Domingos  Lopes  de  Siqueira,  e  o  cappitam 
more  Antonio  Teixeira  de  Mendo [n]ça,  me  será  forçoso,  por 
restaurar  o  restante  delle,  determe  algús  dias  na  paragem 
que  chamão  do  Quicombo. 

Siruáo  estas  regras,  em  tanto  que  nos  não  uemos,  de  pre- 
uenir  a  V.  S.  para  a  uolta  do  Reino  em  algúa  das  naos  de  mi- 
nha conserua,  que  as  deterey  a  este  fim,  em  primeiro  lugar, 
porque  V.  S.  o  tenha,  de  fazer  a  jornada  com  mais  commodo, 
c  para  melhor  efeito  delia,  e  condução  da  infantaria,  armas,  e 
muniçoís,  com  que  me  acho,  conuem  muito  que  V.  S.  mande 

49° 


ayuntar  commigo,  e  com  toda  a  breuidade,  o  maior  numero  da 
guerra  pretta  que  for  posiuel,  que  me  sirua  de  carruajem,  a  qual 
me  achará  íorteficado  no  porto  mais  suficiente  de  que  me  puder 
aproueitar,  de  Benguella  a  Uelha  athé  o  Rio  Longa,  distancia 
de  outo  ou  noue  legoas,  sem  prejuízo  das  tregoas,  que  temos 
com  os  olandezes,  porque  a  conseruação  delias  hé  o  que  S.  Ma- 
gestade  em  primeiro  lugar  me  emcomenda. 

Esta  deixo  na  mão  do  dito  cappitam  mor  por  tres  uias  e  elle 
me  asegura  que  a  remeterá  a  V.  S.,a  essa  praça  de  Massanganno, 
e  eu  por  todos  os  meos  de  que  me  puder  ualer,  hirey  fazendo 
o  mesmo;  de  mais  não  serue.  Deos  me  guarde  a  V.  S.  como 
dezeio.  / / 

Catumbella,  em  20  de  Iulho  de  1 645  / / 

Esta  tarde  com  a  uiração  dou  á  uella  para  o  Quicombo.  / / 

Senhor  Pedro  de  Sezar  de  Menezes.  / / 

Françisco  de  Sottomaior 

A  qual  carta  do  Gouernador  elleito  dos  Reinos  de  Angolla, 
Francisco  de  Sotto  Mayor,  asinada  por  sua  mão,  escrita  ao 
Gouernador  Pedro  Cezar  de  Menezes,  eu  Felipe  de  Carualho, 
escriuão  da  armada  e  socorro  de  Angolla  nas  matérias  de  Guer- 
ra. Fazenda  [e]  Iustiça,  fis  tresladar  de  huã  copia  que  eu 
mesmo  auia,  feita  pella  própria  a  que  me  reporto  e  a  conçertei 
com  o  auditor  general  Ioão  Luis  Mafra,  comigo  asinado,  neste 
arayal  de  Santa  Crus  do  Quicombo,  Reinos  de  Angolla,  em 
desasete  de  Setembro  de  mil  e  seis  centos  e  quarenta  e  sinco 
annos  e  o  sobescreuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  auditor  geral  Concertada  por  mí  escnuaõ 

Ioao  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


49 1 


107- A 


CARTA  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
A  PEDRO  CÉSAR  DE  MENESES 

(14-8- 1645) 

SUMÁRIO  —  Enquanto  espera  a  resposta  da  carta  enviada  a  Pedro 
César  de  Meneses,  fica-se  fortificando  Quicombo  —  É 
portador  da  carta  o  negro  António. 

O  primeiro  avizo  que  fis  a  V.  S.  de  minha  chegada  a  esta 
costa,  foi  em  uinte  de  Iulho,  por  uia  de  Mannoel  Pereyra,  capi- 
tão mor  de  Benguella,  que  a  dirigio  a  V.  S.  por  Phelippe  Lop- 
pes,  em  hum  pataxo  que  partio  daquelle  prezidio  pera  a  Loanda, 
em  sinco  de  Agosto,  e  conforme  o  segredo  que  ouue  na  maté- 
ria, para  com  o  flamengo,  e  a  confiança  que  se  tem  do  portador, 
espero  em  Deos  que  ele  aya  chegado  em  paz  ao  poder  de  V.  S. 
para  ter  lugare  de  resolucr  com  toda  a  cautella  c  breuidadc  posi- 
uel,  o  despacho  da  guerra  pretta  de  que  nesseçito  para  condução 
das  monisois  com  que  me  acho;  entre  tanto  que  espero  a  hor- 
dem  de  V.  S.  me  fico  fortificando,  nesta  enseada  e  porto  de 
Quicombo,  muito  capas,  a  meu  uer,  de  abrigo  e  defença  das 
naos,  as  quais  vou  entretendo,  a  fim  de  que  V.  S.  se  possa  ser- 
uir,  da  commodidade  e  segurança  delias,  com  a  lisença  que 
S.  Magestade  se  serue  de  mandar  a  V.  S.  para  se  paçar  ao 
Reino,  despois  de  eu  auer  tomado  a  posse  do  gouerno  desse, 
e  leuantado  a  omenajem  delle  a  V.  S.;  aqui  se  nos  tem  yá 
cmcorporado,  o  cappitam  mor  Antonio  Teixeira  de  Men- 
do [n]ça,  com  o  restante  dos  soldados  que  se  perderão  com  o 
sargento  mor  Domingos  Lopes  de  Siqueira,  mas  todos  tam 

492 


debelitados,  e  despidos,  que  hé  maior  a  despeza  e  cuidado  a  que 
obngáo,  que  a  utilidade  que  por  hora  prometem. 

O  portador  desta  hé  hú  negro  chamado  Antonio,  escrauo 
que  foi  do  cappitam  Antonio  Gomes  de  Gouuea,  e  pera  este 
efeito  lhe  deu  carta  de  alforria;  dizem  que  yá  fes  o  mesmo  ca- 
minho, em  outra  ocaziaÕ:  clle  vai  com  guias  de  muene  Qui- 
combo,  que  no  lo  asegura  com  ellas,  e  disposto  a  uoltar  logo 
com  a  resposta  que  espero  de  V.  S.  para  a  determinação  do  que 
deuo  fazer;  e  porque  este  recado  chegue  a  V.  S.  por  algua  via, 
fico  intentando  outras,  preuenindome  asim,  contra  as  dificulda- 
des do  caminho. 

Com  esta  remetto  a  V.  S.  a  segunda  via  da  que  escreui 
por  Benguella,  e  a  copia  do  papel  autentico  que  me  mandou 
o  capitão  mor,  Mannoel  Pereira;  de  mais  não  serue.  // 

Deos  me  guarde  a  V.  S.  muitos  annos,  para  os  felisses 
acresentamentos  que  dezeio  a  V.  S. 

Quicombo,  em  catorze  de  Agosto  de  mil  seis  sentos  qua- 
renta e  sinco.  / / 

Senhor  Pedro  Sezar  de  Menezes  / / 

Francisco  de  Sotto  Maior  / / 

Este  rio  e  porto  do  Quicombo  fica  em  onze  grãos  e  hú 
terço.  // 

A  qual  carta  do  Gouernador  elleito  de  Angolla,  Françisco 
de  Sotto  Mayor,  por  sua  mão  asinada,  escrita  ao  Gouernador 
Pedro  Cezar  de  Menezes,  eu  Felipe  de  Carualho,  escriuão  da 
armada,  fis  tresladar  da  copia  delia,  por  mim  feita  pella  própria 
a  que  me  reporto  e  a  conçertei  com  o  auditor  general,  comigo 
asinado.  / / 


493 


Quicombo,  em  desasete  de  setembro  de  mil  e  seis  çentos 
e  quarenta  e  sinco  annos,  e  o  sobescreuy. 


Comiguo  auditor  geral 
Ioaõ  Luis  Mafra 


Phillippe  de  Carualho 
Conçertada  por  mí  escriuaÕ 
Phillippe  de  Carualho 


AHU  —  Angola,  cx.  3. 


494 


108- A 


AUTO  DE  PEDRO  CÉSAR  DE  MENESES 
(28-8-1645) 

SUMÁRIO  —  Respondem  os  signatários  às  sugestões  de  Sotomaior 
acerca  do  local  que  propunha  para  o  desembarque  do 
socorro  ido  do  Brasil,  propondo  que  fosse  no  Cuanza,  ou 
entre  este  rio  e  o  cabo  Ledo. 

Anno  do  nasçimento  de  Nosso  Senhor  Ihesus  Christo  de 
mil  seis  sentos  corenta  e  sinco,  aos  uinte  e  oito  dias  do  mes  de 
Agosto,  do  ditto  anno,  nas  pouzadas  do  Senhor  Gouernador 
Pedro  Sezar  de  Menezes,  neste  prezidio  de  Massanganno,  Villa 
da  Uitoria,  Reino  de  Angolla  ,pelo  ditto  Senhor  forao  manda- 
dos chamar,  o  ouuidor  geral  Domingos  Luis  de  Andrade,  o 
sargento  mor  deste  Reino  Viçente  Pegado,  os  capitais  mores 
Gaspar  Borges  de  Madureira,  Ioão  Suzarte  de  Andrade,  os  ofi- 
ciais da  camará,  o  cappitam  Francisco  de  Mello,  Antonio  Uás 
da  Costa;  os  cappitais  actuaes  Diogo  Gomez  S.  Paio,  Mannoel 
Telles  Barretto,  Antonio  de  Touar,  o  capitam  da  gente  de 
cauallo  Duarte  Monis  Barreto;  e  as  mais  pessoas  abaixo  asi- 
nadas,  em  prezença  de  mim,  secretario  destes  reinos,  Pedro  de 
Torredouro  Sappatta,  pello  ditto  Senhor  Pedro  Sezar  de  Me- 
nezes, foi  mostrada  hua  carta  do  senhor  Françisco  de  Sotto 
Maior,  que  uem  por  Gouernador  deste  reino,  feita  em  Qui- 
combo,  a  coal  trouxe  Fhelippe  Loppes,  e  nella  o  ditto  Senhor 
dezia,  como  uinha  por  hordem  de  S.  Magestade,  a  gouernar  este 
Reino,  e  trazia  infantaria  e  muitas  muniçoís,  e  que  estaua  for- 
tificado na  dita  parajem,  e  que  o  Senhor  Pedro  Sezar  de  Mene- 
zes, lhe  mandasse  a  mais  gente  pretta  que  pudesse,  asim  pera 
lhe  carregar  as  muniçoís  que  trazia,  como  pera  o  acompanhar; 


495 


pera  se  uir  com  a  ditta  infantaria  marchando,  e  que  o  acharião 
no  morro  de  Benguella  a  Uelha,  athé  o  Rio  Longa,  na  parajem 
que  milhor  lhe  estiuese,  pera  se  conduzirem  com  o  ditto  se- 
nhor, e  fosse  com  a  mor  breuidade  que  se  pudesse,  e  que  ms- 
sem,  como  práticos  que  herão  nesta  conquista,  e  nas  parajens 
delia,  o  que  se  podia  fazer  pera  se  dar  comprimento,  á  dita 
carta,  insto  ser  tanto  em  seruiço  de  sua  Magestade  e  bem 
deste  Reino.  / / 

E  consultada  a  mathena  entre  todos,  se  ueo  a  resoluer, 
que  hera  imposivel  conduzirse  gente  desta  conquista  na  para- 
jem donde  o  ditto  senhor  Gouernador  dezia,  por  auer  muitas 
dificuldades  no  caminho,  assi  por  ficar  o  Rio  Longa  em  meio 
que  se  auia  de  passar,  como  por  estar  a  força  da  guerra  da 
Quissamma  no  ditto  Rio,  como  muitos  quilombos  de  yagas, 
tudo  gente  belicoza,  que  com  qualquer  moui mento  se  auia  de 
leuantar  contra  nós,  tanto  que  uisem  que  passaua  guerra  da 
outra  banda  da  Quissamma;  alem  de  que,  hera  mui  deficultozo 
ayuntarse  guerra  pretta  para  o  ditto  efeito,  e  quando  se  ayun- 
tasse,  auia  mister  muita  gente  branca  de  infantaria  que  a 
acompanhasse,  e  lhe  fosse  dando  costas,  o  que  oye  não  há 
neste  reino,  por  estar  muito  falto  delia,  sem  embargo  que  em 
todo  o  dito  caminho  não  há  agoa,  nem  mantimento  com  que 
se  possa  passar  athé  o  ditto  no  Longa;  e  dado  cazo  (que  hé 
couza  que  não  podesse  ser)  que  se  pudera  conduzir  a  ditta 
gente  branca  e  pretta,  com  o  dito  senhor  Gouernador,  hé  muito 
grande  o  caminho  pera  a  infantaria  que  uem  agora  de  Portugal, 
por  ser  gente  noua  pera  uir  marchando  por  terra,  com  as  cal- 
mas que  fazem  neste  Reino,  e  as  dificuldades  dittas,  por  ser  a 
terra  mui  enferma,  e  com  muita  dificuldade  deixaria  de 
adoesser  a  mor  parte  delles;  demais  que  a  yente  pretta,  não  hé 
pusiuel  poder  carregar  as  mumsoís  todas,  porque  a  gente  de 
arco  não  costuma  carregar,  e  só  os  filhos  dos  souas  o  fazem, 
e  isso  tam  pouco,  que  há  mister  muita  cantidade  delles  pera 
poucas   cargas,  e   hão   de  trazer  o  mantimento  que  hão  de 


496 


comer  e  beber:  e  que  se  ariscauão  a  auer  huã  grande  ruína 
contra  o  seruiço  de  sua  Magestade  e  bem  deste  Reino,  que 
bem  nessesitado  estaua  da  uinda  do  ditto  senhor  e  da  gente 
que  trazia;  pello  que  o  ditto  senhor  Pedro  Sezar  de  Menezes 
deuia  de  auizar  ao  senhor  Gouernador  Francisco  de  Sotto  Maior, 
se  quizesse  uir  nas  naos,  com  toda  a  enfantana,  athé  entre  a 
Coanza  e  o  Cabo  Ledo,  ou  a  mesma  Coanza,  donde  com  muita 
façilidade  se  podia  acodir  de  quá  com  gente  pretta  e  branca, 
pera  que  se  recolhesse  a  infantaria  que  trás  e  mais  petrechos, 
sem  auer  perda  nem  risco  algum,  por  auer  portos  muito  bons 
donde  poder  dezembarcar;  e  no  que  tocaua  ao  olandês,  que 
se  nao  quebraua  por  isso  as  pazes,  por  quanto  dis  que  toda  esta 
costa  athé  Benguella  hé  sua,  e  em  qualquer  parajem  que  de- 
zembarcar, uem  a  ser  o  mesmo;  e  menos  danno  hé  quebrarse 
com  o  olendês  quando  o  tome  mal,  que  arnscarse  hua  couza  de 
tanta  consideração,  nem  elle  tem  oje  naos  nem  poder  pera  que 
o  possa  impedir;  alem  de  que,  o  procurarse  socorrer  esta  con- 
quista e  aos  souas  vassallos  de  Sua  Magestade,  temos  obrigação 
de  o  fazer  sem  danno  do  olandês,  e  quando  elle  o  queira  de- 
fender, da  sua  parte  se  quebranão  as  pazes  e  não  da  nossa;  e  hé 
de  muita  reputação  pera  este  Reino  dezembarcar  a  infantaria 
onde  se  aponta,  a  respeito  dos  souas  aleuantados,  e  mais  gentio; 
e  que  este  hera  o  seu  pareser  e  assi  o  requenão  ao  senhor  Pedro 
Sezar  de  Menezes,  o  auizasse  ao  dito  senhor  Françisco  de 
Sotto  Maior;  e  que  se  mandasse  huã  pessoa  com  o  dito  auizo 
para  que  informaçe  ao  dito  senhor  de  palaura  com  mais  lar- 
gueza; e  que  este  auto  ficasse  o  treslado  delle  na  secretaria, 
pera  que  a  todo  o  tempo  constaçe  dos  pareseres  que  derão;  e 
asinarão  todos,  em  ditto  dia,  mes,  e  anno  atrás  declarado;  e  eu 
Pedro  de  Torredouro  Sappatta,  secretario  destes  Reinos  e  do 
senhor  Pedro  Sezar  o  escreui.  / / 

Domingos  Luis  de  Andrade,  Vicente  Pegado,  Diogo  Go- 
mes S.  Paio,  Martim  Correa,  Lourenço  de  Fig[u]eiredo,  Man- 
noel  Telles  Barreto,  Rui  Pegado,  Duarte  Monis  Barreto,  Ioao 


32 


497 


Zuzarte  de  Andrada,  Antonio  Touar  Lopes,  Ioão  Soares  Pa- 
checo, Luis  Gonçalues  Brauo,  Ioao  de  Souza. 


O  qual  treslado  de  auto  enuiado  de  Massangano  pello 
Gouernador  e  Cappitão  geral  dos  Reinos  de  Angola,  Pedro 
Cezar  de  Menezes,  ao  Gouernador  e  Cappitão  geral  elleito  dos 
ditos  reinos,  Françisco  de  Sotto  Mayor,  eu  Felipe  de  Carualho, 
eschiuão  da  armada  e  socorro  de  Angolla  nas  matérias  de  Guerra, 
Fazenda,  e  Iustiça,  fis  tresladar  por  seu  mandado,  bem  e  fiel- 
mente do  próprio  original  a  que  me  reporto  e  em  seu  poder 
fica;  e  uai  na  verdade  sem  couza  que  duuida  faça,  e  o  corri  e 
conçertei  com  o  auditor  general  da  gente  de  guerra,  o  cappitão 
Ioão  Luis  Mafra,  comigo  abaxo  asinado,  neste  arayal  e  forti- 
ficação de  Santa  Crus  do  Quicombo,  em  os  quinze  dias  do 
mes  de  Setembro  de  mil  e  seis  çentos  e  quarenta  e  sinco  annos, 
e  o  sobescreuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  auditor  geral  Conçertado  por  mí  escriuaõ 

Ioao  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


498 


108-B 


CARTA  DE  PEDRO  CÉSAR  DE  MENESES 
A  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 

(29-8-1645) 

SUMÁRIO  —  Manifesta  o  seu  contentamento  pela  arribada  de  Soto- 
maior  e  feia  sucessão  que  nele  vai  ter  —  Comunica-lhe 
o  envio  do  Auto  em  que  verá  como  se  não  concorda  com 
ele  quanto  ao  local  do  desembarque  do  socorro. 

Oye  uinte  e  sete  de  Agosto,  reçebi  huã  carta  de  V.  S., 
feita  em  vinte  de  Iulho,  e  aseguro  a  V.  S.  que  a  estimej,  assi 
pellas  boas  nouas  que  me  dá,  como  por  quem,  com  a  boa  uinda 
de  V.  S.  espero  breuemente  ser  hure  deste  miserauel  desterro, 
cuia  redempçáo  agradeço  a  V.  S.  e  lhe  beijo  as  maõs,  ficando 
obrigado  a  tudo  o  que  V.  S.  me  mandar  de  seu  seruiço  e  com 
muito  grande  dezeio  de  dar  a  V.  S.  hú  abraço. 

Pello  auto  que  com  esta  mando  uerá  V.  S.  as  dificuldades 
e  discommodos  que  há,  para  se  não  poder  conseguir  o  que  V.  S. 
me  escreue,  e  os  pareseres  que  neste  particular  deraõ  as  pessoas 
que  nelle  uao  asignadas,  requerendo  me  o  manifestasse  a  V.  S., 
e  avizasse  por  pessoa  que  mais  largamente  relatasse  os  impo- 
siueis  que  há  pera  se  dar  comprimento  à  carta  de  V.  S.,  para 
o  que  mando  esta  embarcação  com  o  padre  Hieronimo  da 
Fonçequa,  e  o  pilotto  Antonio  Dias,  para  que  de  tudo  desse 
rezão  mais  por  extenço  a  V.  S.  Eu  me  fico  aprestando  para  o 
que  for  nessesano,  com  mui  grande  dezeio  de  ver  a  V.  S.  e 
estimarej  seia  com  saúde.  Cuia  uida  Deos  guarde  por  largos 
annos.  / / 

Massangano  a  29  de  Agosto  de  mil  seis  sentos  corenta 
e  sinco  annos.  / / 


499 


V.  S.  me  faça  mercê  de  auizar  o  tempo  que  se  hão  de 
deter  os  naiuos,  por  que  eu  estou  determinado  a  embarcarme 
na  primeira  embarcação,  inda  que  seya  com  discommo- 
didade.  (x)  // 

Senhor  Francisco  de  Sotto  Maior.  / / 

Pedro  Sezar  de  Menezes 

A  qual  Carta  do  Gouernador  dos  Reinos  de  Angola  Pedro 
Cezar  de  Menezes,  por  sua  mão  asinada,  escrita  ao  Gouernador 
elleito  dos  ditos  Reinos,  Françisco  de  Sotto  Mayor,  eu  Fellipe 
de  Carualho,  escnuão  da  armada,  fis  tresladar  da  própria,  a  que 
me  reporto  e  a  corri  com  o  Auditor  General,  comigo  asinado./ / 

Arayal  de  Santa  Crus  do  Quicombo,  em  quinze  de  Setem- 
bro de  mil  e  seiscentos  e  quarenta  e  sinco  annos,  c  o  sobes- 
creuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  auditor  geral  Conçertado  por  mí  escriuaõ 

Ioaõ  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola  —  cx.  3. 


(*)  Outra  via,  praticamente  idêntica,  de  31  de  Agosto,  com  este 
período  redigido  deste  modo: 

«Cada  dia  uou  achando  maiores  dificuldades  para  que  V.  S. 
conduza  a  gente  e  munisõis  que  trás,  naõ  uindo  V.  S.  á  mesma 
Coanza  da  parte  do  Sul,  e  aseguro  a  V.  S.  que  para  os  Olandezes  o 
mesmo  hé  dezembarcar  V.  S.  a  donde  digo,  que  no  Quicombo,  por- 
que se  tiuerem  poder,  em  toda  esta  costa  haõ  de  defender  nossa 
commonicação».  // 


500 


11 0- A 


CARTA  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR  A  EL-REI 
(14-9- 1645) 

SQUMÁRIO  —  Defende  perante  el-Rei  a  António  Teixeira  de  Men- 
donça das  responsabilidades  do  grave  desastre  militar  do 
socorro  de  Angola,  sucedido  sob  o  seu  comando. 

+ 

Senhor 

Em  carta  do  ultimo  de  Agosto  tratei  a  V.  Magestade  do 
desbarate  do  socorro  que  partio  da  Bahia  pera  estes  Reinos  de 
Angola  com  o  Cappitaõ  Mor  Antonio  Teixeira  de  Men- 
do [n]ça,  e  agora  sobre  sua  pessoa  escreuo  esta  em  particular 
a  V.  Magestade,  por  fazer  escrúpulo  de  naõ  disculpar  com  seus 
procedimentos  a  desgraça  do  sucesso,  afirmando  a  V.  Mages- 
tade estou  até  o  prezente  taÕ  bem  ímformado  delles  que  creo 
que  naõ  desmerece  por  elle  a  graça  de  V.  Magestade. 

Tomou  este  porto  com  os  fundamentos  de  que  elle  mesmo 
dá  conta  a  V.  Magestade  em  carta  que  será  com  esta  e 
seguindo  a  condução  da  Infantena  por  terra,  se  lhe  adiantou 
com  a  mayor  e  melhor  porsaõ  delia  o  Sargento  Mor  Domingos 
Lopes  de  Siqueira,  a  façilitar  a  passagem  de  hum  no,  impe- 
dida por  hua  grande  multidão  de  Iagas  inimigos,  em  cuia  em- 
preza  morrerão  todos  os  que  a  intentarão,  e  ele  naõ  pareçe  que 
deixou  de  mostrar  todo  o  deuido  valor  em  se  retirar  com  as  mo- 
niçoes,  e  se  saber  conseruar  com  taõ  poucos  e  taõ  emfermos 


(')   Vid.  documento  seguinte. 


50/ 


soldados  entre  tantos  perigos  e  trabalhos,  como  padeceu  até 
se  tornar  a  conduzir  a  este  porto  do  Quicombo,  onde  eu  cheguei 
a  seu  respeito,  e  nelle  fica  comigo,  continuando  o  seruiço  de 
V.  Mgestade  com  muita  pontualidade,  esperando  como  eu  da 
grandeza  e  clemência  de  V.  Magestade  se  sirua  de  o  auer  por 
mui  disculpado,  em  fé  de  que  os  vassallos  somente  com  o  bom 
animo  pagaõ  a  seu  Rey,  dependendo  os  suçessos  só  da  Proui- 
dençia  de  Deus,  que  guarde  por  feliçes  annos  a  real  pessoa  de 
V.  Magestade,  como  a  Chnstandade  há  mister.  / / 
Quicombo,  em  14  de  setembro  de  1645. 

a )  Framcisco  de  Sottomayor 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


502 


110-B 


CARTA  DE  ANTÓNIO  TEIXEIRA  DE  MENDONÇA 
A  EL-REI  D.  JOÃO  IV 

(14-9- 1645) 

SUMÁRIO  —  Explica  a  el-Rei  a  quem  pertencem  as  responsabilidades 
do  desastre  do  socorro  militar  enviado  pelo  governador 
do  Brasil  a  Angola,  sucedido  sob  o  seu  comando. 

t 

Senhor 

Em  carta  de  quinze  de  Abril  auizei  a  V.  Magestade  de 
como  auiamoz  deitado  o  socorro  nezte  porto  de  Quicombo, 
sito  em  onze  grãos  e  hum  terço,  comformandonos  com  o  regi- 
mento que  trazíamos  e  pareçer  que  se  tomou  com  os  Cappitaiz 
e  moradorez  deste  Reino,  práticos  desta  Costa  e  Sertão,  naõ 
auendo  nella  outro  aonde  achássemos  a  comodidade  de  poder 
conduzir  á  conquista  as  moniçoíz,  que  era  o  de  que  os  prezidios 
mais  nesecitaõ,  nem  outro  Soua  que  naõ  admitindo  amizade 
do  olandês  esteia  á  deuaçaõ  de  V.  Magestade,  o  qual  nos  deu 
todos  os  negros  que  nos  foraõ  nesseçarios  pera  as  ditas  moniçoíz, 
e  só  em  Cabo  Ledo  o  pudéramos  fazer  se  o  gouernador  do  esta- 
do do  Brazil,  Antonio  Telles  da  Silua,  nos  dera  Henrnque  Dias 
com  çem  (J)  soldados  da  sua  tropa,  e  todos  os  negros  da  Bahia 
estauaÕ  de  Casange,  e  a  ella  tinhaõ  ido  desterrados  deste  Reino, 
os  quaes  V.  Magestade  mandou  se  nos  desse  [m]  pera  a  dita 
condução  (2),  e  só  nos  deraõ  trinta  e  dous  da  dita  tropa,  neces- 
sitando de  sento  e  sincoenta.  / / 

(J)  No  original:  sem. 

(2)  No  original:  condesaõ. 


5°3 


E  entendendo  taõ  bem  que  o  olandês  nos  esperaua  do  Dande 
até  ao  dito  Cabo  Ledo,  como  despoiz  soubemos  por  auizo  do 
Cappitam  Mor  de  Benguella,  Manuel  Pereira.  E  assim  elege- 
mos este  dito  porto  por  milhor,  aonde  naõ  tam  somente  se  nos 
deraõ  todos  os  negros  que  nos  foraÕ  neçeçanos,  mas  o  mesmo 
Soua  Maniquicombo,  senhor  delle  e  das  terras  ali  uezinhas, 
nos  foi  acompanhando  com  toda  sua  gente  de  guerra  e  a  de 
outros  uaçalos  seus  por  donde  pudéramos  entrar  na  Comquista 
sem  seremos  sentidos  do  olandês,  nem  tomarem  ocaziaõ  de  que 
dezembarcamos  em  porto  seu.  E  indo  marchando,  ao  quarto  dia 
de  nossa  íurnada  nos  adoeseraõ  sento  e  tantos  homens,  [o]  que 
nos  obrigou  a  fazer  alto,  e  em  poucos  dias  caJhiraõ  doentez  todoz 
os  maiz,  naõ  perdoando  aos  moradorez  e  filhos  do  mezmo 
Reino,  naçido  de  tomaremos  este  sertaõ  no  rigor  do  inuerno, 
naõ  ficando  por  nós  o  admitillo  ao  dito  gouernador,  pedindolhe 
que  dilatace  mais  uinte  dias,  os  quaes  bastauaõ  pera  tomar  esta 
Costa  no  principio  do  ueraõ;  alem  de  que  tinha  chegado  huã 
carauela  que  sahira  de  Lisboa. 

Depois  do  general  Saluador  Correa  de  Sá,  em  cuya  com- 
panhia se  emtendia  vinhaõ  ordens  para  este  Reino,  como  susedeo 
chegarem  noue  dias  depois  de  nossa  partida  e  naÕ  admitindo 
nossas  petiçoíz,  me  fes  embarcar,  e  a  cabo  de  sincoenta  e  quatro 
dias,  deixando  quarenta  e  trez  soldados  em  terra,  desobrigados 
da  falta  de  mantimentos  e  do  neçeçario  para  os  comprar,  fomos 
seg[u]indo  nosso  caminho  Ieuando  ainda  muitos  doentez  em 
redes  até  o  Rio  Cubo,  aonde  fazendo  ponte  aiudados  de  dous  ou 
trez  mil  Iagas,  pello  dito  Maniquicombo  se  recolher  a  suas  ter- 
ras por  nossa  dilação,  nola  defendeo  (3)  o  gentio  da  outra  banda, 
tendoçe  comuocado  com  todos  os  daquella  prouinçia,  fazendo 
para  isso  grandes  perparaçoíz  para  nos  impidir  que  lhe  naÕ  atra- 
ueçaçemos  suas  terras;  e  feita  a  ponte,  em  cuia  defença  lhe 
matamos  algua  gente,  me  pareçeo  paçar  o  Sargento  Mor  Do- 

(3)  impediu,  proibiu. 


5°4 


mingos  Lopez  de  Siqueira  com  sento  e  sete  homens  que  estauaõ 
capazes  de  marchar  e  tomar  armaz,  para  franquiar  o  paço  da  outra 
banda  e  gainhar  o  sitio  em  que  o  enemigo  estaua  aloiado,  e  que 
fazendo  o  me  mandaçe  logo  a  gente  preta  para  carregarem  as 
moniçoíz  e  soldados  doentez,  o  que  fes  pello  contrario,  porque 
gainhando  o  dito  sitio  foi  seg[u]jndo  o  enemigo  dous  dias 
peleiando  com  elles  até  os  meter  em  hum  matto  que  tinhaõ, 
bem  forteficado  com  suas  trincheiras  e  fossos,  donde  lhe  naõ 
foi  posiuel  retirarçe  sem  manifesto  perigo,  peleiando  das  noue 
horas  do  dia  até  ás  sinco  da  tarde,  em  que  o  enemigo  ueio  ás 
maõs  com  elles,  naõ  dando  uida  a  nenhum,  pello  grande  dano 
que  lhe  tinhaõ  feito,  matando  o  mesmo  senhor  daquellas  terras 
e  outros  fidalgos  uezinhos  que  o  aiudauaõ  e  só  escaparão  seis 
soldados  que  com  a  noute  tiueraõ  lugar  de  fugir;  e  depois  de 
chegada  esta  noua  esperei  trez  dias  para  uer  se  se  recolhiaÕ  mais 
alguns  e  a  guerra  preta  (4)  dos  que  nos  acompanharão,  entre 
os  quaes  ouue  dous  Cappitais  que  nos  foraõ  traidorez,  com- 
forme  depois  se  soube,  por  terem  a  maior  parte  de  sua  gente 
em  aiuda  do  enemigo,  que  foi  a  causa  maior  de  nossa  rota  (5), 
mandando  os  persuadir  a  que  uiessem  ás  mãos  que  elles  os  aiuda- 
riaõ,  como  fizeraõ.  / / 

E  a  cabo  dellez,  tendo  por  serto  que  naõ  escapara [m]  mais 
que  os  ditos  seis  soldados  e  naõ  me  ser  posiuel  a  comquista  pella 
imposibilidade  da  infantaria  com  que  fiquei  estar  doente, 
me  uim  retirando  para  o  porto  donde  auia  deixado  hum  barco 
para  auizar  a  V.  Magestade  do  suseço  e  do  que  intentaua  fazer, 
uencendo  na  dita  retirada  grandes  defeculdadez,  em  rezaÕ  de 
trazer  comigo  todas  as  moniçoíz  e  doentez  até  onde  tiue  auizo 
do  Cappitam  Mor  de  Benguella,  que  o  gouernador  Francisco 
de  Soto  Maior  ficaua  nesta  Costa,  a  quem  tinha  lá  emfor- 
mado  de  meu  suseço,  auizandome  que  o  dito  gouernador  uinha 


(4)  No  original:  prata. 

(5)  destroço,  desbarato. 


5°5 


tomar  este  porto  por  me  recolher  a  sy;  e  com  sua  atuda  cheguei 
a  elle  cõ  çem  soldados,  muitos  delies  doentez  e  mal  comuale- 
çidos  da  doença  e  mizenas  que  padeçeraõ,  e  asim  mais  todas  as 
moniçoíz  e  armas  dos  soldados  que  morrerão,  a  quem  entre- 
g[u]ei  tudo.  / / 

E  mediante  Deus,  debaixo  de  suas  ordens  e  furtuna  espero 
ter  melhorados  suçeços  no  seruiço  de  V.  Magestade,  poiz  [sen- 
do] hum  soldado  obrigado  das  muitaz  mercês  que  V.  Mages- 
tade me  fes,  naõ  pude  conseg[u]ir  seu  real  intento,  naõ  auizan- 
do  a  V.  Magestade  do  estado  em  que  as  cousas  da  Conquista 
estam,  comforme  a  noticia  que  nos  deraõ  os  moradorez  de  Ben- 
g[u]ella,  porque  o  deue  fazer  particularmente  o  dito  gouer- 
nador  Francisco  de  Soto  Maior.  / / 

Nosso  Senhor  guarde  a  real  peçoa  de  V.  Magestade  como 
seus  Reinos  e  senhorios  ham  mister.  Deste  arraial  de  Santa 
Crus  do  Quicombo,  a  14  de  setembro  de  1645  annoz. 

a )  Antonio  Teixeira  de  Mendóça. 
AHU  —  Angola,  cx.  3. 


506 


111-A 


CARTA  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
A  PEDRO  CÉSAR  DE  MENESES 

(18-9-1645) 

SUMÁRIO  —  Acusa  a  recepção  das  cartas  do  Governador  —  Apesar  de 
estar  já  fortificado  em  Quicombo,  propóe-se  seguir  o 
parecer  de  César  de  Meneses  para  o  desembarque. 

Em  re[s] posta  da  que  escreui  a  V.  S.a  de  Catumbella,  por 
Fellipe  Lopes,  no  nauio  framengo-  em  20  de  Iulho  recebi  às 
de  V.  S.a  de  29  e  3  1  de  Aogsto  (2),  com  o  P.8  Hieronimo  da 
Fonçequa  e  o  pilloto  Antonio  Dias,  e  depois  da  deuida  estimação 
a  taÕ  boas  nouas  da  saúde  de  V.  S.tt,  concidero  os  descomodos 
e  dificuldades  que  se  me  apontaõ  no  Auto  que  V.  S.a  mandou 
fazer  sobre  a  minha  passagem  a  Massangano  por  esta  parte  de 
Quicombo,  e  naõ  obstante  que  eu  me  achaua  já  nelle  fortificado 
e  prestes  para  partir  a  alhanar  o  passo  até  a  Longa,  em  fé  de 
que  a  guerra  pretta  desse  reino  pudesse  chegar  a  encontrarse 
comigo  na  mesma  paragem,  por  me  afirmarem  (como  ainda  o 
fazem)  as  pessoas  mais  praticas  de  Bêguella,  e  as  que  [se]  liura- 
raõ  do  desastre  de  Domingos  Lopes  de  Siqueira,  que  naõ  nesesi- 
tauamos  de  passar  por  a  Quissama,  senão  de  seguir  por  sima  o 
caminho  de  Cambambe,  muito  abundante  de  agoa  e  bastimen- 
tos;  hé  forsa  porem  rezoluerme  com  o  pareçer  de  V.  S.a  e  desis- 
tir do  primeiro  intento,  naÕ  fundado  em  mais  que  na  conue- 


(*)  Cfr.  documento  n.°  103-A,  págs.  490-492,  em  que  se  pro- 
punha seguir  o  parecer  de  Pedro  César  de  Meneses  quanto  ao  local 
do  desembarque. 

(2)  Cfr.  documento  n.°  108-B,  págs.  499-500,  em  que  lhe  comu- 
nicava o  envio  do  Auto  sobre  o  local  do  desembarque  do  socorro. 


507 


niençia  e  ocaziaõ  de  lançar  maõ  de  híí  porto  taõ  nessesario  como 
este  para  a  comunicação  de  Portugal  com  essas  Conquistas, 
e  tão  liure  de  preiudicar  por  elle  a  fé  das  tregoas;  e  dado  cazo 
que  eu  trouxesse  menos  poder  do  que  V.  S.a  deue  supor,  naõ 
reparara  na  falta  de  agoa  e  de  porto  que  se  conçidera  na  para- 
gem que  V.  S.a  me  auiza,  para  deixar  de  o  hir  obedeçer  em 
cõfiança  da  expenençia  e  zello  com  que  V.  S.a  o  terá  aueriguado 
por  melhor  para  condução  deste  socorro  a  essa  Praça;  e  com 
o  auizo  desta  minha  rezoluçaõ  torno  a  mandar  a  V.  S.a  o  Padre 
Hieronimo  da  Fonçequa,  e  com  elle  híi  dos  religiozos  da  Com- 
panhia de  Ihesus  que  trago  comigo,  que  hé  o  Padre  Antonio 
Pires,  que  V.  S.a  bem  deue  conheçer,  o  qual  inteirará  a  V.  S.a 
do  mais,  que  de  papeis  se  naõ  deue  fiar,  pella  incerteza  da  volta, 
como  hé  certo  que  o  Olandês  lá  naÕ  ignora  minha  chegada.  / / 

Resta,  que  V.  S.a,  com  toda  a  promptidaõ  que  costuma, 
me  mãde  prouer  de  gastadores  e  bastimentos  pellas  paragens 
que  me  aponta,  emquanto  eu  com  a  dehgençia  possiuel  me  faço 
prestes  par  tornar  a  nauegar  em  demanda  delias,  em  compri- 
mento das  aduertençias  de  V.  S.a,  que  Deus  guarde  muitos 
annos,  como  dezeio.  / / 

Quicombo,  em  18  de  Setembro  de  1645.  // 

Senhor  Pedro  Cezar  de  Menezes  / / 

Françisco  de  Sotto  Mayor  / / 

O  qual  treslado  da  carta  do  Gouernador  e  Capitão  Geral 
elleito  dos  reinos  de  Angolla,  Francisco  de  Sotto  Mayor,  por 
sua  maõ  asinada,  escrita  ao  Gouernador  Pedro  Cezar  de  Mene- 
zes, eu  Felipe  de  Carualho,  escriuaõ  da  armada  e  socorro  de 
Angolla  nas  matérias  de  guerra,  fazenda  e  iustiça,  tresladei 
da  própria,  a  que  me  reporto  e  a  concertei  com  o  Auditor  gene- 
ral da  gente  de  guerra,  o  Cappittaõ  Ioaõ  Luis  Mafra,  comigo 
asinado,  neste  Arayal  de  Santa  Crus  do  Quicombo,  reinos  de 

508 


Angolla,  em  dezanoue  de  Setembro  de  mil  e  seis  çentos  e  qua- 
renta e  sinco  annos,  e  o  escreuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  auditor  geral  Concertada  por  mí  escriuaõ 

Ioaõ  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


5°9 


111-B 


AUTO  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
(24-9-1645) 

SUMÁRIO  —  Apesar  do  parecer  enviado  por  César  de  Meneses  o 
novo  Governador  estuda  com  as  pessoas  de  dignidade  o 
melhor  local  de  desembarque,  deixando  a  salvo  as  tréguas 
com  os  holandeses,  firmadas  pelo  Rei  de  Portugal. 

Anno  do  naçimento  de  nosso  Senhor  Ihesus  Chnsto  de  mil 
e  seis  çentos  e  quarenta  e  sinco,  aos  uinte  e  quatro  dias  do  mês 
de  Setembro,  neste  arayal  de  Santa  Crus  do  Quicombo,  nas  pou- 
zadas  do  Gouernador  e  Cappitaõ  geral  elleito  dos  reinos  de 
Angolla,  o  Senhor  Françisco  de  Sotto  Mayor,  por  elle  foi  man- 
dado se  aiuntassem  as  pessoas  de  dignidade  e  posto  seguintes, 
a  saber,  o  Reuerendo  P.°  Mateus  Dias,  teólogo,  professo  da 
Companhia  de  Ihesus,  e  seu  companheiro  o  Reuerendo  P.*  An- 
tonio Pires,  o  Reverendo  P.°  Hieronimo  da  Fonçequa,  o  Cap- 
pitaõ elleito  de  Embaca  Matinas  Telles,  o  Cappitaõ  Anto- 
nio Gomes  de  Gouuea,  o  Cappitaõ  Duarte  de  Lemos,  o  Cap- 
pitaõ Dinis  da  Motta,  o  Cappitaõ  autuai  do  prezidio  uindo 
de  Benguella,  Cornélio  Noels,  o  Auditor  General  da  gente  de 
guerra,  Ioaõ  Luis  Mafra;  e  estando  todos  umtos  perante  o  dito 
Senhor  Gouernador,  por  elle  foi  mandado  a  mí  escriuaõ  ao 
diante  nomeado,  lhe  trouxesse  duas  cartas  do  Senhor  Gouerna- 
dor Pedro  Cezar  de  Menezes,  e  hú  Auto  que  com  ellas  lhe 
mandara  pello  Reuerendo  padre  Hieronimo  da  Fonçequa,  que 
prezente  estaua;  e  trazendo  eu  as  ditas  Cartas  e  Auto,  me  man- 
dou lesse  tudo  perante  os  prezentes,  como  de  effeito  li,  em  alta 
e  intellegiuel  uós;  e  logo  pello  dito  Senhor  Francisco  de  Sotto 
Mayor  lhes  foi  proposto  o  seguinte,  dizendo,  que  lá  todos  esta- 


5/0 


riaõ  inteirados  dos  fundamentos  e  rezoes,  com  que  elle  auia 
tomado  este  porto  do  Quicombo,  e  fortificadosse  nelle,  com 
intento  de  conduzir  o  socorro  e  moniçoes  que  trazia  a  Massan- 
gano,  sem  preiuizo  das  tregoas  que  auia  com  os  olandezes, 
seguindo  em  tudo  as  ordens  de  S.  Magestade,  para  o  que  tinha 
atuzado  ao  dito  Senhor  Pedro  Cezar,  lhe  mandasse  guerra  preta 
para  poder  carregar  as  moniçoes  que  trazia;  e  estando  deliberado 
e  disposto  a  atrauessar  o  certaõ  com  a  infanteria  e  abrir  caminho 
a  Massangano  uallendose  de  algúa  guerra  preta  de  Souas  amigos 
para  as  moniçoes,  confiado  que  no  caminho  se  poderia  encon- 
trar com  a  que  pedia  ao  dito  Senhor  Pedro  Cezar.  / / 

Neste  tenpo  lhe  mandara  de  Massangano  dous  barcos, 
escreuendolhe  neles  duas  cartas,  de  uinte  e  noue  e  trinta  e  hú 
de  agosto  (1),  e  mandandolhe  híí  auto  de  uinte  e  oito  do  mesmo 
asinado  pellas  pessoas  mais  praticas  e  principaes  da  terra  (2), 
declarando  ser  couza  impossiuel  a  dita  condução  por  esta  para- 
gem, pelos  muitos  inconuenientes  que  nella  auia,  asim  de  falta 
de  agoas  como  prolongamento  de  caminhos,  e  que  elle  lhe  naõ 
poderia  por  esta  parte  acudir  com  a  guerra  preta  que  pedia  para 
conduzir  as  moniçoes,  po  restar  tudo  impedido  de  grande  poder 
de  Iagas  inimigos;  e  que  para  os  ímformar  de  tudo  mais  larga- 
mente, lhe  mandaua  o  dito  Reuerendo  Padre,  requerendo  lhe 
que  com  as  naos  e  gente  com  que  se  achaua,  quizesse  passarse 
a  effeituar  sua  desenbarcaçaõ  e  condução  do  socorro  que  trazia, 
entre  o  Cabo  Ledo  e  a  Coanza,  e  que  ahi  lhe  poderia  acudir 
com  a  guerra  preta  nessesana  e  bastimentos,  o  que  tudo  mais 
claramente  constaua  das  ditas  Cartas  e  Auto,  que  eu  escriuaõ 
lhes  auia  lido;  e  preguntando  o  dito  Senhor  Francisco  de  Sotto 
Mayor  ao  dito  Reuerendo  Padre  que  paragens  auia  entre  o  Cabo 
Ledo  e  a  Coanza,  que  tiuessem  desembarcadouros  para  se  poder 
desembarcar  sem  preiuizo  das  tregoas,  respondeu  que  os  auia 


(1)  Cfr.  documento  n.°  108-B,  pág.  499. 

(2)  Cofr.  documento  n.°  io8-A,  pág.  495. 


5" 


no  Cabo  Branco  e  no  Morro  dos  Nambios,  sem  preiuizo  das 
ditas  tregoas,  por  serem  terras  de  hú  Soua  vassallo  nosso,  cha- 
mado Songa;  e  preguntando  mais  o  dito  Senhor  se  auia  agoa, 
respondeu  que  sim,  auia,  posto  que  desuiada  hú  pouco  pella 
terra  dentro;  o  que  uisto  pello  dito  Senhor,  disse  que  elle  estaua 
rezoluto  a  desoccupar  e  largar  de  todo  este  porto  e  sitio  do  Qui- 
combo,  e  conseguir  a  dita  desenbarcaçaõ  e  condução  por  entre 
o  dito  Cabo  Ledo  e  a  Coanza,  onde  mais  comodamente  o  pudes- 
se fazer,  em  comprimento  do  que  S.  Magestade  lhe  mandaua, 
emcomendandolhe  em  primeiro  lugar  a  conseruaçaõ  das  ditas 
tregoas;  e  segundo  o  que  lhe  escreuia  o  dito  Senhor  Pedro 
Cezar,  de  quem  confiaua  escolheria  o  que  fosse  mais  seruiço  de 
S.  Magestade,  asim  que  todos  os  prezentes  uísse  o  que  tinhaõ 
que  dizer  na  matéria;  os  quaes  disserao  que  uisto  nas  ditas 
paragens  auer  desenbarcadouros  e  agoa,  era  couza  mui  iusta  se 
effeituasse  logo  o  que  elle  dito  Senhor  Francisco  de  Sotto  Mavor 
dezia,  o  qual  ordenou  que  o  dito  Reuerendo  Padre  partisse  para 
Massangano  no  dia  seguinte,  segunda  feira,  uinte  e  sinco  do 
dito  mês,  e  com  elle  o  dito  Reuerendo  P.e  Antonio  Pires,  da 
Companhia  de  Ihesus,  para  ambos  imformarem  melhor  de  tudo 
ao  dito  Senhor  Pedro  Cezar,  e  o  auizarem  que  dentro  de  oito 
dias  partiria  elle  dito  Senhor  Francisco  de  Sotto  Mayor  deste 
porto  do  Quicombo  para  o  Cabo  Ledo,  onde  esperaua  tomar  falia 
de  gente  nossa,  que  por  essas  paragens  lhe  teria  lá  o  dito  Senhor 
Pedro  Cezar,  para  conseguir  a  dita  desenbarcaçaõ  e  condução; 
do  que  tudo  madou  o  dito  Senhor  Francisco  de  Sotto  Mayor 
fazer  este  auto,  que  assinarão  os  prezentes  com  elle;  e  eu  Fellipe 
de  Carualho,  escriuaõ  da  armada  e  socorro  de  Angolla  nas  ma- 
térias de  Guerra,  Fazenda,  e  Iustiça,  o  escreuy.  / / 

Françisco  de  Sotto  Mayor  / /  Mateus  Dias  //  Antonio 
Pires  //  Hicronimo  da  Fonçequa  / /  Matias  Telles  //  Anto- 
nio Gomes  de  Gouuea  / /  Duarte  de  Lemos  //  Diniz  da 
Motta  //  Cornélio  Noels.  // 

5/2 


O  qual  auto,  eu  Felipe  de  Carualho,  escnuâo  da  armada  e 
socorro  de  Angolla  nas  matérias  de  Guerra,  Fazenda  e  Iustiça, 
tresladei  do  próprio  original  que  o  Gouernador  elleito  dos 
Reinos  de  Angolla,  Francisco  de  Sotto  Mayor,  enuiou  a  Massan- 
gano  ao  Gouernador  dos  ditos  Reinos  Pedro  Cezar  de  Menezes, 
ao  qual  auto  me  reporto  e  o  concertei  com  o  auditor  general 
Ioaõ  Luis  Mafra,  comigo  asinado,  neste  Arayal  de  Santa  Crus 
do  Quicombo,  Reinos  de  Angolla,  no  dia,  mês  e  anno  atrás 
declarado  no  dito  auto,  e  o  escreuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  auditor  geral  Conçertado  por  mí  escriuaõ 

Ioaõ  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHí  I  —  Angola,  cx.  3. 


33 


5'3 


11 3- A 


AUTO  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
(14- 10-1645) 

SUMÁRIO  —  Estuda  com  os  práticos  da  costa  angolana  e  com  os  pilo- 
tos o  melhor  local  de  desembarque  do  socorro. 

Anno  do  naçimento  de  nosso  Senhor  Ihesus  Chnsto  de  mil 
e  seis  çentos  e  quarenta  e  sinco,  aos  quatorze  dias  do  mes  de 
Outubro,  neste  porto  e  ençeada  de  Sutto,  pello  Gouernador 
e  cappitao  geral  por  S.  Magestade,  dos  Reinos  de  Angolla,  o 
Senhor  Françisco  de  Sotto  Mayor-  foi  madado  que  perante 
elle  apareçessem  todos  os  pillotos  e  practicos  desta  costa  dc 
Angolla;  e  em  ef feito  estando  prezentes  Antonio  Dias  e  Fran- 
cisco Fernandes,  pillotos  das  duas  lanchas  que  ama  mandado  ao 
Quicombo  o  senhor  Gouernador  Pedro  Cesar  de  Menezes, 
Pedro  Marques,  pratico»  Manoel  Ferreira  pilloto  e  pratico, 
uindo  por  tal  no  socorro  da  Bahia,  João  de  Crauide  pilloto,  logo 
o  dito  senhor  Gouernador  Françisco  de  Sotto  Mayor  lhes  man- 
dou que  debaixo  do  juramento  dos  Santos  Euangelhos,  e  da  fé 
deuida  a  S.  Magestade,  declarassem  qual  era  o  melhor  e  mais 
suffiçiente  porto  próximo  á  Coanza  onde  ouvesse  abrigo  para 
as  naos,  e  desembarcadouro  para  os  batteis,  e  agora  para  sus- 
tento da  gente,  e  a  capaçidade  nessesana  para  desembarcaçaõ  e 
condução  do  socorro  que  Sua  Majestade  lhe  mandaua  meter  em 
Massangano,  e  se  no  Morro  que  se  dezia  dos  Nambios,  auia  as 
ditas  comodidades  para  o  tal  effeito,  por  quanto  elle  dito  senhor 
Gouernador,  mandara  diante  quando  uinha  do  dito  Quicombo, 
descubnr  o  melhor  lugar  e  parajem  que  se  achasse,  mandando 
se  escoadrinhase  toda  a  costa  até  a  Coanza,  ao  qual  effeito  fora 

5*4 


em  hua  lancha  o  dito  Ioão  de  Crauide,  que  prezente  estaua; 
e  fora  também  em  hú  batel  o  cappitao  Antonio  Gomes  de 
Gouuea,  com  o  dito  pratico,  Pedro  Marques,  também  prezente, 
sem  acharem  parte  alguã  mais  sufficiente  que  esta  dita  ençeada 
de  Suto,  e  só  nella  achara  agoa  doçe  o  dito  cappitao  Antonio 
Gomes  de  Gouuea;  pellas  quaes  rezões,  elle  dito  senhor  Go- 
uernador  mandara  ancorar  nesta  pasagem  as  naos;  ao  que  res- 
ponderão os  ditos  pillotos  e  práticos  em  comú,  que  dos  portos 
e  lugares  acomodados  para  embarcações,  desde  este  de  Sutto 
até  a  Coanza,  não  auia  nenhú  melhor  que  elle,  por  quanto  só 
nesta  ençeada  se  acharia  agoa,  abrigo,  e  desembarcadouro, 
posto  que  tudo  com  algús  def feitos;  e  que  da  dita  agoa  que  hé 
quazi  salobra,  se  não  sabia  nem  auia  pessoa  em  Angolla  que 
delia  desse  rezão;  e  que  daqui  até  a  Coanza  era  tudo  costa 
braba,  o  que  em  particular  afirmarão  os  ditos  dous  pilotos  das 
lanchas  de  Massangano,  Antonio  Dias  e  Françisco  Fernandes; 
dizendo  mais  que  o  dito  Morro  dos  Nambios  não  tinha  abrigo 
algú,  e  que  com  todos  os  uentos  auia  nelle  trauessia,  e  tinha 
muitos  ratos  para  as  amarras,  e  não  podião  desembarcar  nelle 
bateis  sem  risco  de  se  perderem,  e  que  não  tinha  capaçidade 
para  desembarcação  de  infanteria  nem  monições  de  Sua  Ma- 
gestade,  por  que  se  perderia  tudo,  e  não  auia  nelle  agoa  se  não 
a  da  Coanza,  dahi  duas  legoas;  o  que  uísto  pello  dito  senhor 
Gouernador,  mandou  asinassem  este  auto  os  ditos  pillotos  e 
práticos,  para  constar  do  conteúdo  nelle  a  todo  o  tempo,  e 
asinou  também  com  as  pessoas  de  dignidade  e  posto  que  se 
acharão  prezentes,  cappitães  mores  e  de  infanteria;  e  eu  Felhpe 
de  Carualho,  escnuão  da  armada  e  socorro  de  Angolla  nas 
matérias  de  guerra,  fazenda  e  justiça,  o  escreuy.  / / 

Françisco  de  Sottomayor  / /  Bertolameu  de  Uasconce- 
los  //  Antonio  Dias  Borges  //  Ioão  de  Crauide  / /  Françisco 
Fernandez  / /  Pedro  Marques  / /  Matias  Telles  Barreto  // 
Antonio   Teixeira   de   Mendo  [n]ça // Francisco  Rodrigues 


5'5 


da  Cunha  //o  auditor  geral  Ioão  Luis  Mafra  /  /  Antonio 
Gomes  de  Gouuea  / /  Felix  de  Moura  Barreiros  / /  Pedro  Bar- 
reiros / /  Nuno  Vaz  Guedes  / /  Bertolameu  Paes  Bulhão  / / 
Cornélio  Noels  / /  Cnstouão  de  Lima  Falcão  / /  Ioao  Serme- 
nho  / /  Francisco  Coelho  / /. 

O  qual  auto  eu  Fellipe  de  Carualho,  escriuão  da  armada, 
tresladei  por  mandado  do  dito  Gouernador,  do  próprio  original 
a  que  me  reporto,  e  o  concertei  com  o  auditor  general,  comigo 
asinado,  nesta  ençeada  de  Suto,  costa  de  Angolla,  no  dia,  mês 
e  anno  conteúdo  no  dito  auto,  e  o  sobescreuy,  digo  e  o 
escreuy.  / / 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  auditor  geral  Conçertado  por  mí  escnuaõ 

Ioao  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


113-B 


AUTO  DE  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 
(16-10-1645) 

SUMÁRIO  —  Tomam-se  decisões  acerca  do  patacho  holandês  e  das 
cartas  trocadas  entre  o  Director  de  Luanda  e  Sotomaior, 
a  respeito  da  sua  chegada  e  desembarque  —  Transcreve-se 
aquela  correspondência. 

Anno  do  naçimento  de  nosso  Senhor  Ihesus  Christo  de 
mil  e  seis  centos  e  quarenta  e  sinco,  aos  desaseis  dias  do  mês 
de  Outubro,  neste  sitio  e  ençeada  de  Sutto,  na  tenda  em  que 
pouzava  o  Gouernador  e  Cappitáo  geral  dos  Reinos  de  Angolla 
por  Sua  Magestade,  Françisco  de  Sotto  Mayor,  por  elle  foi 
mandado  chamar  o  auditor  general  da  gente  de  guerra,  o  cappi- 
táo Ioão  Luis  Mafra,  ao  qual  mãdou  que  logo  comigo  escriuão 
fizesse  hú  auto  sobre  a  vinda  do  pataxo  olandês,  e  a  carta  que 
nelle  viera  do  Director  da  Loanda,  e  re[s] posta  que  elle  dito 
Gouernador  lhe  mandara, o  qual  pataxo  no  dia  de  antes,  quinze 
do  dito  mês,  quazi  noite,  apareçera  defronte  desta  paragem, 
e  amanheçendo  uiera  ancorar  no  porto,  á  uísta  das  naos  do 
socorro  que  o  dito  Gouernador  trazia;  aonde  logo  mandando 
em  hú  batel  o  aiudante  Afonço  Rodrigues  Uelho,  uoltara  tra- 
zendo consigo  outro  aiudante  olandês,  que  uinha  no  dito 
pataxo,  e  desembarcando  com  elle  no  desembarcadouro  das 
moniçoes,  que  está  pella  praya  adiante,  viera  dar  auizo  ao  dito 
Gouernador,  que  logo  fora  falar  ao  dito  aiudante  olandês,  o 
qual  lhe  dera  húa  carta,  dizendo  ser  do  Director  da  Loanda;  e 
uísta  pello  dito  Gouernador  se  tornara  com  ella,  dizendo  uinha 
responderlhe,  mandando  recolher  o  ditto  aiudante  em  húa 
tenda,  no  mesmo  lugar  em  que  estava;  e  sedo  as  quatro  para 

5'7 


as  sinco  oras  da  tarde,  lhe  mandara  a  dita  re[s] posta  pello 
capitão  de  mar  e  guerra  Ioão  Sermenho,  com  o  cappitáo  de 
infantena  Cnstouao  de  Lima;  e  o  dito  auditor  general  comigo 
escnuáo,  que  a  dita  re[s] posta  escreui,  por  mandado  do  dito 
Gouernador,  que  a  asinou  por  sua  mão,  e  serrada  e  sellada 
com  o  seu  sello,  dezia  o  sobescnto:  ao  Senhor  Henng  de 
Redinchouen,  que  era  o  dito  Director  da  Loanda;  e  o  dito 
cappitão  a  entregou  perante  nós  em  mão  do  dito  aiudante 
olandês,  que  a  reçebeu,  e  uimos  ser  a  própria;  com  a  qual  logo 
se  embarcou,  de  partida  para  o  dito  seu  pataxo,  do  que  tudo  se 
fez  o  presente  auto,  com  o  theor  das  ditas  carta  e  re[s] posta, 
que  de  verbo  ad  ver  bum  são  as  seguintes. 

CARTA  DO  DIRECTOR  DA  LOANDA 

Senhor  Comendante  / / 

Por  quanto  veo  a  noticia  que  V.  S.a  acompanhado  com 
quatro  navios  ueo  á  nossa  costa,  tomou  porto,  e  deitou  ancora 
entre  os  nossos  fortes,  e  mais  botou  gente  em  terra  e  fes  forta- 
lezas, sem  nos  disso  mostrar  comissão  ou  fazer  deuida  adver- 
tência por  cuia  autoridade  V.  S.a  cá  veo  e  muito  menos 
a  quê.  // 

O  qual  sendo  couza  não  menos  preiudiçial  que  sospeita, 
não  quizemos  deixar  não  somente  de  escarmentar,  senão  tam- 
bém de  mandar  a  V.  S.a  de  sizo  que  parta  dahi  e  deixe  a  nossa 
costa,  para  que  não  aiamos  rezão  de  tomar  á  mão  médios  mais 
ásperos. 

Pello  qual  protestamos,  em  nome  e  da  parte  dos  poderozis- 
simos  senhores  estados  geraes  das  Províncias  unidas,  nossos 
superiores  soberanos,  de  todos  os  desastres,  intereçes  e  dannos, 
que  por  aquella  rezão  se  podessem  cauzar,  e  pedimos  que  V.  S.a 
se  sirva  conçedernos  acto  publico  da  insinuação  desse  protesto, 
que  nos  sirva  de  re [sjposta. // 

5<* 


Feito  no  Supremo  Concelho  de  guerra,  oie  doze  de  outu- 
bro, na  era  de  mil  e  seis  centos  e  quarenta  e  sinco.  / / 

O  Director  da  Costa  de  Africa  da  Banda  do  Sul.  / / 

Henng  de  Redinchoven.  / / 

Por  ordem  do  mui  nobre  Senhor  Director  e  os  Senhores 
do  mui  alto  Conçelho  de  guerra  / / 

Henri  =  Ghim  / / 

RE[S]POSTA  DO  GOUERNADOR 

Senhor  Henng  de  Redinchouen  / / 

Auendome  mandado  sua  Magestade  a  suçeder  ao  senhor 
Pedro  Cezar  de  Menezes,  fis  elleiçao  desta  paragem  para 
minha  desembarcaçao.  por  não  ser  occupada  das  armas  dos 
senhores  estados,  mas  separada  ao  domínio  de  Songa,  soua  da 
íurdiçao  e  destrito  da  nossa  fortaleza  da  Mochima;  e  náo 
obstante  esta  rezao  e  as  muitas  da  condição  de  nossas  tregoas, 
em  que  se  pode  e  deue  fundar  a  izenção  e  independência  deste 
meu  intento,  não  deixo  porem  de  reconheçer  o  motivo  de 
V.  S.a  para  esta  sua  queixa,  em  quanto  hé  fundada  na  dillação 
que  se  offereçeu  em  fazer  sabedor  a  V.  S.a  de  minha  chegada, 
por  obrigação  da  boa  correspondençia  de  nossos  cargos,  e  da 
amizade  de  nossas  nações,  mas  o  nauio  de  V.  S.a  que  aqui  nos 
auistou  em  oito  do  prezente,  não  deu  lugar  a  esta  deuida  de- 
mo [n]tração  com  a  sua  açelerada  volta;  e  agora  em  lugar  do 
offerecimento  que  eu  dezeiava  fazer  a  V.  S.a  de  meu  animo 
para  todas  as  ocazióes  que  se  me  offereçessem  de  seu  gosto, 
em  discurso  de  minha  asistençia,  por  estas  partes,  hé  forsa  que 
estranhe  antes  a  V.  S.a  a  sem  rezão  deste  seu  protesto,  tão 
contrario  a  todo  o  intento  e  obseruação  das  condições  de  nossas 
tregoas,  como  V.  S.a  pode  ver  nos  artigos  delias,  que  são  em 


5*9 


número  os  seguintes,  i.  8.  9.  10.  12.  19.  (J)  e  em  conçide- 
ração  delles  e  de  tão  manifesta  e  mstificada  aução  como  a  de 
S.  Magestade  para  a  comunicação  e  socorro  de  seus  vassallos, 
me  hé  preçizo  e  forsozo  intentar  minha  pasagé  a  Massangano, 
e  íuntamente  a  partida  do  senhor  Pedro  Cezar  para  o  Reino; 
e  quando  V.  S.a  se  resolua  a  empregar  suas  forsas  em  opossisão 
de  effeitos  tão  mstos  e  tão  nessessarios  ao  serviço  de  Sua  Ma- 
gestade e  conservação  de  seus  vassallos,  eu  espero  ficar  bem 
livre  da  culpa  do  rompimento  das  tregoas,  e  em  decoro  delias 
e  das  ordens  de  meu  Rey  e  Senhor  Dom  Ioão  quarto  de  Por- 
tugal, e  em  seu  nome  e  de  Sua  parte  como  seu  Gouernador  e 
cappitão  geral  que  sou,  por  elle  elleito,  protesto  por  todos  os 
desastres,  intereçes  e  dannos  que  por  cauza  do  dito  rompimento 
possão  aconteçer,  asim  no  mar  como  na  terra,  e  pesso  a  V.  S.a 
me  conçeda  outro  si  acto  publico  da  insinuação  deste  protesto, 
que  me  sirva  de  re[s] posta.  // 

Oie  desaseis  de  Outubro  de  mil  e  seis  çentos  e  quarenta 
e  sinco.  / / 

Francisco  de  Sottomayor.  / / 

E  não  dezião  mais  as  ditas  carta  e  re[s] posta,  em  fé  de 
tudo  o  que  mandou  o  dito  Gouernador  asinassem  este  auto 
com  elle  e  o  ditto  auditor,  as  pessoas  de  dignidade  e  posto  da 
guerra,  cappitaens  mores  e  de  infanteria  abaxo  asinados,  como 
prezentes  a  tudo;  e  eu  Felhpe  de  Carualho,  escnuão  da  armada 
e  socorro  de  Angolla  nas  matérias  de  guerra,  fazenda  e  justiça, 
o  escreuy.  / / 

Françisco  de  Sottomayor  //O  auditor  geral  Ioão  Luis 
Mafra  / /  Bertolameu  de  Uasconçellos  / /  Antonio  Teixeira 
de  Mendoza  / /  Mathias  Telles  Barreto  / /  Nuno  Uás  Gue- 


(*)   Cfr.  Monumenta,  VIII,  p.  511-515. 


520 


des  / /  Cornélio  Noels  / /  Cristouão  de  Lima  Falcão  / /  Anto- 
nio Gomes  de  Gouuea  / /  Luis  Pereda  / /  Manoel  de  Caçeres 
/ /  Ioao  Sermenho  / /  Bertolameu  Paes  Bulhão  / /  Françisco 
Coelho  / /  Felix  de  Moura  Barreto.  / / 

O  qual  auto,  eu  Felhpe  de  Carualho,  escnuao  da  armada, 
por  mandado  do  dito  Gouernador  tresladei  do  próprio  original, 
a  que  me  reporto  e  o  conçertei  com  o  auditor  general,  comigo 
asinado,  nesta  ençeada  de  Sutto,  costa  de  Angolla,  em  desasete 
de  Outubro  de  mil  e  seis  çentos  e  quarenta  e  sinco  annos,  e  o 
escreuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Comiguo  audittor  geral  Conçertado  por  mí  escnuaõ 

IoaÕ  Luis  Mafra  Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


52/ 


1 14- A 


REQUERIMENTO  DA  CÂMARA  DE  ANGOLA 
A  FRANCISCO  DE  SOTOMAIOR 

(20-10-1645) 

SUMÁRIO  —  Parecer  e  requerimento  da  Câmara  de  Luanda  a  propó- 
sito da  carta  do  Director  de  Luanda  e  do  desembarque 
de  Sotomaior  —  Não  concorda  com  o  desembarque. 

Anno  do  naçimento  de  nosso  Senhor  Iesus  Chnsto  de  mil 
e  seis  çentos  e  quarenta  e  sinco  annos,  aos  vinte  dias  do  mez 
de  outubro  do  ditto  anno,  neste  arayal  da  Alagoa  do  Suto, 
pello  capitão  Martim  Correa,  e  o  licençeado  Ioão  Soares  Pa- 
checo, e  o  capitão  Antonio  Vaz  da  Costa,  procurador  do  conse- 
lho, foy  ditto  perante  mí  escnuão,  que  per  quanto  elles 
auião  sido  elleitos  pellos  officiaes  da  Camara  e  mais  pouo  deste 
Reyno,  para  uirem  dar  as  boas  vindas  ao  senhor  Gouernador 
Francisco  de  Sotto  Mayor,  de  sua  feliçe  chegada  e  íuntamente 
para  aduirtir  ao  ditto  senhor  de  alguas  couzas  que  conuinhão 
ao  seruiço  de  S.  Magestade  e  bem  deste  Reyno,  as  quais  erão 
que  sua  senhoria  deuia  mandar  fazer  notório  ao  olandez  como 
vinha  a  gouernar  este  Reyno,  e  que  lhes  não  vinha  a  dar 
guerra,  senão  de  paz,  e  conseruar  as  [pazes]  que  erao  feitas 
entre  elRey  nosso  senhor  e  os  estados  de  Olanda;  e  que  outro 
sim,  para  conseruação  deste  Reyno,  seruiço  de  Deos  e  de 
S.  M  agestade,  era  mais  conueniente  fazersse  hua  forteficação 
íunto  da  Coanza,  onde  chamão  o  Outeyro  dos  Nambios;  e  que 
vindo  elles  cõ  esta  proposta,  passando  pelo  ditto  Outeyro  dos 
Nambios,  acharão  ser  tudo  muito  pelo  contrario  do  que  se  íma- 
ginaua,  perquanto  segundo  seu  pareçer  hé,  pello  que  virão, 
e  entendem  estar  o  ditto  Outeyro  muito  desuiado  da  Barra  da 


Coanza,  e  delle  se  não  pode  deffender  a  ditta  Barra,  como 
outro  sim  por  a  costa  naquella  paragem  correr  direita  e  des- 
cuberta  e  muito  braua,  e  a [r] rebentar  o  mar  pouco  menos  de 
meia  legoa  da  costa,  aonde  não  hé  possível  dezembarcarsse, 
nem  os  nauios  estarem  seguros;  e  outro  sim  não  auer  naquella 
parte  agoa  senão  couza  de  legoa  e  meia  ou  duas  legoas,  pello 
Rio  Coanza  asima,  donde  para  se  hir  a  buscar  hé  forssa  passar 
mnto  da  fortaleza  do  olandez,  e  outras  incommodidades,  per 
donde  lhes  parece  ser  incapaz  de  se  poder  situar  na  ditta  para- 
gem, como  para  se  auer  de  fazer  era  necessário  muita  forssa 
para  cõ  ella  situar  acudir  aos  prezidios  e  franquear  a  Coanza; 
no  tocante  ao  que  se  auia  de  fazer  notório  ao  olandez,  em  que 
o  ditto  senhor  Gouernador  vinha  a  gouernar  este  Reyno  de 
paz,  pello  ditto  senhor  foy  ditto  que  elle  auia  já  mandado 
recado  ao  olandez  em  re[s] posta  de  outro  que  o  ditto  olandez 
lhe  auia  mandado,  e  que  obrigado  do  ditto  olandez  lhe  mandar 
recado  lhe  auia  respondido,  o  que  não  detreminaua  fazer  sem 
isso,  per  que  não  conuinha  á  reputação  das  armas  de  S.  Ma- 
gestade  mandar  tal  recado,  antes  de  o  ditto  olandês  o  auer  feito, 
per  quanto  as  terras  em  que  estaua  erão  do  soua  Songa,  vassallo 
de  S.  Magestade,  em  que  o  olandez  não  tinha  nenhú  direito; 
e  que  asim  tinha  ia  satisfeito  com  o  que  era  bem  e  conuinha 
nesta  parte  ao  seruiço  de  S.  Magestade.  / / 

E  que  no  tocante  à  forteficação  sobreditta,  elle  estaua  bem 
informado  de  pillotos  e  mais  pessoas  que  o  entendião,  como  na 
tal  parte  se  não  podia  fazer,  pellos  inconuenientes  atrás  decla- 
rados. O  que  tudo  pello  ditto  capitão  Martim  Correa  e  o  lecen- 
ceado  Ioão  Soares  Pacheco,  e  o  capitão  Antonio  Vaz  da  Costa 
lhes  pareçer  era  o  que  conuinha  ao  seruiço  de  S.  Magestade 
e  bem  deste  Reyno,  mandarão  a  mí  escnuão,  fazer  este 
auto,  que  asinarão.  E  eu  Balthazar  Figueyra,  escnuão  da  ouui- 
doria  geral,  per  falta  do  escnuão  da  Camara,  que  o  escreuy.  / / 


523 


Martim  Correa  / /  Ioão  Soares  Pacheco  / /  Antonio  Vaz 
da  Costa.  / / 

O  qual  requerimento  eu,  Felipe  de  Carualho,  escnuão  da 
armada,  hs  tresladar  do  próprio  a  que  me  reporto,  e  que  fica 
em  poder  do  dito  Gouernador,  e  o  conçertey  com  o  Prouedor 
dos  defuntos  e  auzentes,  Ruy  Pegado,  comigo  asinado,  por  não 
estar  por  ora  nesta  paragem  outro  iuis  ou  oficial  de  justiça, 
mandando  o  asim  o  dito  Gouernador,  neste  arayal  da  Coanza, 
terras  de  Songa,  é  tres  de  dezembro  de  mil  e  seis  çentos  e 
quarenta  e  sinco  anos,  e  o  sobescreuy. 

Phillippe  de  Carualho 
Conçertado  por  mí  escnuaõ 
Phillippe  de  Carualho 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


Ruy  Peguado 


121-A 


CARTA  DA  CÂMARA  DE  ANGOLA  A  EL-REI 
(2- 12- 1645) 

SUMÁRIO  —  Agradecem  o  socorro  de  Sotomaior,  ficando  animados  a 
lutar  para  o  futuro  pela  independência  de  Angola  — 
Confessam  a  maior  confiança  no  novo  Governador  e  pres- 
tam as  suas  homenagens  a  Pedro  César  de  Meneses. 

Senhor 

A  Camara  deste  Reyno  de  Angola,  prostada  aos  pés  de 
Vossa  Real  Magestade  lhe  rende  as  graças  da  que  nos  fes  em 
mandar  o  socorro  que  trouxe  o  gouernador  Francisco  de  Sotto 
Maior,  com  o  qual  ficamos  muy  alentados,  e  prestes  como 
vaçallos  muito  leais  para  em  defenssa  do  dito  reino,  e  seruiço 
de  Vossa  Magestade,  pormos  hua  vida  e  muitas  que  tiuera- 
mos:  com  o  ditto  socorro  em  parte  nos  há  esquesido  os  muitos 
trabalhos  e  perdas  que  auemos  tido,  que  se  bem  hão  sido  mui- 
tos, nos  pareçerão  sempre  fáceis,  á  uísta  de  que  erao  padesidos 
pella  lealdade  portuguesa  e  seruiço  de  Vossa  Real  Magestade; 
os  quais  nao  recontamos  pella  sertesa  que  temos  que  os  aja 
Vossa  Magestade  muy  bem  sabido. 

Do  sello  (*)  que  o  ditto  gouernador  mostra  em  o  seruiço  de 
Vossa  Magestade,  e  do  incansauel  trabalho  com  que  o  executa, 
nos  prometemos  doie  (2)  em  diante  muy  diferentes  suçessos 
dos  atéqui;  porque  deixando  àparte  os  trabalhos  que  na  costa 
teue,  assim  no  porto  do  Quicombo,  por  baixo  de  Bemg[u]ella. 


(J)  Leia-se:  zello. 
(2)  Leia-se:  de  hoje. 


525 


como  os  que  teue  até  tomar  porto  a  sotauento  do  Cabo  Ledo, 
aonde  botou  em  terra  a  gente  e  munições,  que  nisto  nos  reme- 
temos a  suas  cartas,  como  tão  bem  o  rasemos  no  tocante  ao 
socorro  primeiro  vindo  com  Antonio  Teixeira  de  Mendonça, 
só  tratamos  do  que  fes  depois  de  se  auer  commonicado  com- 
nosco,  que  foy  depois  que  o  Gouernador  Pedro  Cesar  deseu 
abaixo;  aonde  commessamos  a  conheçer  seu  sello  e  animo 
incansauel:  porque  auendo  do  Cabo  Ledo  ao  Rio  Coanza  dez 
leugoas  de  terra,  de  mattos  e  areais,  e  sem  augoa,  e  auendo  nesse 
caminho  muitos  leuantados,  que  supposto  a  terra  hé  do  soua 
Songa,  vaçallo  de  Vossa  Magestade,  não  faltão  nella,  por  esta- 
rem muito  perto  do  olandês,  e  metidos  com  elle:  sem  embargo 
destas  deficuldades  e  das  que  se  offeresião  pella  pouca  con- 
fiança que  do  olandês  se  pode  ter,  comboiou  pella  dita  terra 
todas  as  munições  e  petrexos  que  trazia,  com  grandíssimo  tra- 
balho, assim  seu  como  dos  moradores  que  para  isso  derao  negros, 
e  o  que  mais  hé,  que  comboiou  outrosy  toda  a  artelharia 
que  troixe  ar[r]astada  por  negros,  couza  que  a  todos  pareceo 
incriuel;  e  no  trabalho  que  nisto  teue  mostrou  bem  o  sello  (x) 
do  seruiço  de  Vossa  Magestade,  porque  com  grande  valor 
atropellou  infenitas  dificuldades;  porque  o  ditto  seruiço  trás 
sempre  diante  dos  olhos,  e  a  sua  ímittação  todos  despresão  os 
trabalhos. 

O  estado  em  que  achou  este  Rejno  era  miserauel,  porque 
estaua  sem  gente,  poluora,  né  munições  (que  ainda  que  disto 
auia  algúa  cousa,  era  táo  pouco  que  quasi  não  era  nada),  ser- 
cado  por  todas  as  partes  de  poderosos  inemigos;  e  com  esta 
falta  e  sobra  estauamos  tais  que  lá  se  nao  esperaua  mais  que 
o  ultimo  fim,  que  todos  abraçauamos,  por  nao  desdiser  hú 
ponto  á  obrigação  que  tínhamos  de  vaçallos  de  tal  Rej  e 
Senhor,  que  sem  embargo  que  o  Gouernador  Pedro  Cesar  de 
Meneses  tinha  feito  muito  em  o  sustentar  na  forma  em  que 

(x)  Leia-se:  zello. 


526 


estaua;  se  este  socorro  não  chegase  a  tão  bom  tempo,  fora  íaçil 
acabarmos  muy  prestes,  porque  a  hús  matauão  as  g[u] erras, 
outros  as  doenças,  e  muitas  misérias. 

Assim  que  pois  Vossa  Magestade  tem  commessado  a 
meter  a  mão  e  pôr  os  olhos  em  estes  seus  vaçallos,  lhe  pedimos 
com  toda  a  humildade,  queira  meter  seu  poderozo  braço;  por- 
que o  olandês  não  guarda  mais  fé  que  a  que  lhe  hé  util  a  seus 
interesses;  e  além  da  mercê  que  esperamos  reçeber  com  a  res- 
tauração deste  Rejno,  se  conhece  bem  quanto  hé  de  utilidade  á 
sua  Real  Coroa. 

O  Gouernador  Francisco  de  Soutto  Maior  deu  a  omenagé 
em  nossas  mãos,  conforme  a  patente  de  Vossa  Magestade,  de 
que  se  fes  autto,  em  uinte  e  seis  de  outubro,  cuio  treslado  uaj 
com  esta,  e  fica  o  original;  e  todo  este  pouo  muy  animozo  e 
offeresido  a  pôr  a  vida  por  seu  real  seruiço,  cuios  feliçes  suçes- 
sos  e  Real  Coroa  nosso  Senhor  augmente,  como  deseiamos; 
escrita  em  Camara,  em  Massangano,  2  de  desembro  de  1645 
annos;  e  eu  Balthezar  Figueyra,  escnuão  da  ouuidona,  que  a 
fis  escreuer  he  sobescreui,  por  auzencia  do  escnuão  da  Camara. 

Ioão  de  Sousa  Francisco  de  Mello  da  Cunha 

Antonio  Vaz  da  Costa 

AHU  —  Angola,  cx.  3. 


527 


ÍNDICES  ONOMÁSTICO, 
IDEOGRÁFICO   E  GEOGRÁFICO 


ÍNDICES  ONOMÁSTICO 
IDEOGRÁFICO  E  GEOGRÁFICO 

Os  números  entre  parênteses  indicam  nota  de  fundo  de  página 


A 

Adão  (Roberto) —  Capitão  de 
navio  —  328. 

Afonso  (P.e  Miguel)  —  Missio- 
nário S.  J.  —  18. 

Aguiar  (Francisco  Ribeiro  de)  — 
Capitão-mor  —  369  (2). 

Alarcon  (D.  Gabriel  de  O  cana  y ) 
Secretário  de  Estado  —  164, 
165. 

Albonoz  ( Cardeal  Gil  Carrillo ) 
—  Protector  de  Espanha — 320. 

Albuquerque  (Matias  de)  — 
Conde  de  Alegrete  —  327. 

Alessano  (P.e  Boaventura  de) — 
Prefeito  da  Missão  do  Congo 
— -6o,  61,  62,  85,  96,  98,  99, 
ioo,  118,  121,  129,  130,  132, 
135,  138,  143,  144,  145,  156, 
165,  167,  177,  179,  188,  210, 
212,  219,  220,  221,  227,  248, 

273,  291,  304  («),  318  0), 
384,  386,  390, 433,  446,  448, 

449- 


Alicante  (Frei  Silvestre  de)  — 
Capuchinho — 113,  115,  117, 
174,  176,  181. 

Álvares  ( João )  —  Mestre  de  na- 
vio —  483. 

Alvares  Cassanji  ( Manuel )  — 
Capitão  —  380  (13)- 

D.  Álvaro  VI  —  Rei  do  Congo, 

—  122,  265,  291,  318,  319, 
386,  433. 

Ambaca   (Presídio   de)  —  An- 
gola—29,  73,  87  («). 
Andrade    (Domingos    Luis  de) 

—  Ouvidor-geral  —  495,  497. 
Andrade    (João   Zuzarte   de)  — 

Capitão-mor  —  495,  497. 
Andrade  (Vicente  de)  —  333. 
Ango   (Presídio  de)  —  Angola 

-87. 

Angola  (Bispo  de) — 196,  199, 
200,   202-203,   2I2>  234'  235> 

435- 

Angola  (Rei  de) — 153,  154. 
Angola  (Reino  de)  —  68,  72,  75, 
77,  82,    105,    123,    155,  234, 


53 1 


242,   244,   247,   332,   342,  343, 

347.  35  »•  375.  384>  395.  396- 
428,  452,  463,  470,  477,  480, 

488,  490,  525. 

Angolalondo  —  Soba  —  334. 
Angolaquiato  —  Soba  —  153. 
Angolaquicaito  —  Soba  —  29. 
Angra  do  Negro  —  Angola  — 

354-  371- 

Anguiano  (P.c  Mateo)  —  Histo- 
riador   Capuchinho  —  297  (3). 

Ano  Bom  (Ilha  de)  —  429,  444. 

Antequera  (Frei  José  de) — Ca- 
puchinho— 113,  115,  117,  118, 
127,  135,  142,  144,  174,  176, 
181. 

Antequera   (Fr.   Juan  Francisco 

de)  —  Missionário  Capuchinho 

—  237,  240. 
Antequera  (Frei  Leandro  de)  — 

Capuchinho — 113,    115,  117, 

174,  176,  181. 
António  —  Escravo  —  374. 
António  (Manuel)  —  Soldado  — 

334.  339- 
Antunes    (André)  —  Sargento- 

-mor  —  333,  479. 
Antunes  (Bárbara)  —  327. 
Aragão  (Baltasar  Rebelo  de)  — 

333-  377  (10)- 

Araújo  (Jacinto  de)  —  28. 

Araújo  (Dr.  João  Salgado  de) — 
Abade  dc  Pera — 12. 

Aravale  (Fr.  Francisco  de)  — 
Capuchinho — 173,  175,  225, 
237,  240,  323. 

Aspurz  (P.c  Lázaro  de)  —  Histo- 
riador Capuchinho  —  228  (2) , 
473- 

Aveiro  (Duquesa  de)  —  244. 

53  2 


Azevedo  (António  Soares  de)  — 
333- 

Azevedo  (Francisco  dc)  —  Capi- 
tão —  380  (13). 

B 

Baía  Farta  —  A  ngola  —  34 1 ,  354, 
490. 

Barberini  (Cardeal  António)  — 
Capuchinho  —  160 

Barreto  (Duarte  Monis)  —  Ca- 
pitão —  495,  497. 

Barreto  (Manuel  Teles)  —  Ca- 
pitão —  495,  497. 

Barreto  ( Matias  Teles )  —  Sar- 
gento-mor  —  333,  373,  479.  ^ 

Bartolomeu  (Frei)  —  Missioná- 
rio da  Ordem  de  Cristo  —  105. 

Battaglini  ( Girolamo )  —  Colector 
Apostólico  —  41,  149,  151, 
197,  251,  317,  391. 

Be  as  —  Vid.  Veas. 

Benevides  ( Salvador  Correia  dc 
Sá  e)  —  Vid.  Sá. 

Bengo  —  Rio  de  Angola  —  7,  8, 
14,  24,  42,  46,  57,  66,  67,  74, 
332,  360,  452. 

Benguela  (Reino  de)  —  21,  490. 

Benim  (Reino  de) — 141,  232, 
420,  429,  444,  473. 

Bergara  —  Vid.  Vergara. 

Bernardo  ( João )  —  Mestre  de 
navio  —  435. 

Bolonha  (P.e  João  Maria  de)  — 
Capuchinho  —  443. 

Borges  (A.  Antunes) — 196 
203  (=). 

Brandão  ( Ferdinando )  —  102, 
103. 


Brasil —  13,  71,  77,  84,  105,  123, 
142,  154,  229,  247,  283,  332, 

335.  345-  384-  394-  464- 

Bravo  (Luís  Gonçalves)  —  498. 
—  10,  30,  32,  43. 

Bulhão  (Bartolomeu  Pais)  —  Ca- 
pitão—  370,  371,  411. 

Bumbanbace  —  Embaixador  — 
373- 

C 

Cabo  Branco  —  Angola  —  512. 
Cabo  Negro  —  Angola  —  370. 
Cabo  Verde  —  105,  348. 
Cáceres  ( Manuel  de)  —  Capitão 
411. 

Cachana  —  Soba  jaga  —  374. 

Caconda  —  Angola  —  21  (3) . 

Cadix  —  Porto  de  Espanha  — ■ 
138,  275,  280,  282. 

Cahenda  —  Soba  —  32. 

Calabar  —  Nigéria  —  328. 

Calado  ( Higino  Roiz )  —  Gover- 
nador de   Benguela  —  21,  22, 

333  (0.354  O- 
Caldeira  (Frei  Mauro) — Missio- 
nário da  Ordem  de  Cristo  — 
107. 

Calvino  ( João )  —  Heresiarca  — 
69,  184. 

Cambambe  (Presídio  de)  —  An- 
gola —  29,  73,  84  O),  87,  338. 

Capponi  (  Virgílio )  —  Cardeal 
Prefeito  da  Propaganda  —  233. 

Capuchinhos  ( Missionários )  — 
56,  108,  150,  162,  163,  196, 
215,  218,  232,  239,  244,  245, 
251,  256  e  segs.,  274,  293,  345, 
349,  367,  382,  386,  390,  446, 
453,  463. 


Cardoso  ( João )  —  Soldado  mu- 
lato —  399. 

Carneiro  ( D.  Filipa ) —  Condessa 
—  160. 

Carneiro  ( Luís )  —  Senhor  da 
Ilha  do  Príncipe  —  350. 

Castiglino  (P.e  Bernardo  de)  — 
Capuchinho  —  216. 

Castro  ( D.  Miguel  de)  —  Cava- 
leiro do  Congo  —  307. 

Caven  (Fr.  Francisco  de)  —  Ca- 
puchinho —  187. 

Cazuangongo  —  Soba  —  32. 

Cerdeha  (Fr.  Boaventura  de)  — 
Missionário  Capuchinho  — 
100,  ioi,  187. 

Cessa  (P.e  Miguel  de)  —  Mis- 
sionário Capuchinho — 6o,  271, 
420,  421,  426  (2). 

Chaves  (Francisco  de)  —  Capi- 
tão —  43. 

Chaves  (João  de  Sousa)  —  Co- 
missário —  8. 

Cilendo  —  Vid.  Cilento. 

Cilento  (Fr.  Francisco  de)  — 
Capuchinho  —  434,  443,  447. 

Coelho  (Francisco)  —  Capitão  — 
369,  411. 

Congo  (Bispado  do)  —  454,  455. 

Congo   ( Bispo   do)  —  454,  455. 

Congo  (Embaixadores  do)  —  81, 
90,  448,  451,  452,  456,  458, 
459,  461. 

Congo  (Rei  do)  —  7,  29,  33,  35, 
41,  64,  75,  83,  89,  94,  121, 
171  (1),  182,  204,  228,  257, 
287,  302,  3x4,  364,  395. 

Congo  (Reino  do)  —  56,  60  61, 
62,  75,  85,  88,  92,  96,  98,  99, 
105,  108,  112,  116,  118,  121, 
132,  135,  138,  144,  148,  156, 


533 


158,  i6o,  162,  163,  164,  165, 
177,  180,  182,  187,  188,  190, 
192,  194,  196,  205,  210,  215, 

2l8,  221,  226,  23O,  242,  244, 

245,  251,  254,  256,  268,  276, 

281,  293,  3OO,  316,  318,  395, 

396,  417,  42O,  424,  426,  429, 

43  *•  433-  437-  439-  442-  444- 
446,  456,  465,  467,  473. 

Córdova  (Frei  Francisco  de) — 
Capuchinho,  117. 

Coreglia  (Frei.  Boaventura  de)  — 
Capuchinho  —  434,  443. 

Cornélio  (Henrique )  —  Comissá- 
rio holandês  — ■  18. 

Correa  —  Vid  Correia. 

Correia  ( Martim )  —  Capitão  — 
497,  522. 

Correia  ( Elias  da  Silva )  —  Histo- 
riador —  378  (10). 

Correia  ( Manuel )  —  333. 

Cortesão  (Dr.  Armando)  —  His- 
toriador —  353  (1). 

Cortona  (Fr.  Serafim  de)  —  Ca- 
puchinho —  434,  443,  447. 

Costa  ( António  Vaz  da)  —  Capi- 
tão — ■  495,  622. 

Costa  ( Manuel  da)  —  333. 

Coutinho  ( Manuel )  —  Provedor 
da  Fazenda  Real  —  372  (°). 

Coutinho  ( Sousa )  —  Embaixador 
na  Holanda  —  64,  163. 

Cravide  (João)  —  Piloto  —  514, 

Croacem   ( Gaspar )  —  Secretário 

do  Director  holandês  —  6. 
Crocem  —  Vid.  Croacem. 
Cuanza  —  Rio  de  Angola  —  29, 

73-  76-  379-  4o1'  478- 
Cuhanes  (Frei  Agostinho  de)  — 
Capuchinho  —  321. 

534 


Cubo  (Rio)  —  Angola  —  335, 
338,  339,  504. 

Cunha  (P.e  Francisco  da)  —  Vi- 
gário de  Massangano  —  335. 

Cunha  (Francisco  Roíz  da)  — 
Capitão  —  333,  479. 

Cunha  (Francisco  de  Vasconcelos 
da)-369  (*). 

Cunha  (P.e  Nuno  da) — Repre- 
sentante de  D.  João  IV  em 
Roma  —  234,  455. 

Cunha  (Pêro  da)  —  Meirinho  da 
Corte  —  327. 

D 

Dande  —  Rio  e  região  de  Ango- 
la — ■  29,  75,  76,  452. 

Dclmor  ( Lázaro )  —  Reitor  do 
Santo  Ofício —  134. 

Dias  (António)  —  Piloto  —  593, 
507,  514,  515. 

Dias  (Henrique) — Capitão  da 
guerra  preta — 153,  154,  481, 
483,  486,  503. 

Dias  ( PS  Mateus )  —  S.  J.  —  359, 

369-  373-  374  410'  5IG- 
Dongo  (Reino  de)  —  75,  86,  88. 

Duarte  ( Frei)  —  Missionário  da 

Ordem  de  Cristo — 105. 

E 

Elias  ( Frei)  —  Carmelita  —  335. 
Elvas  (António  Fernandes  de)  — 

Contratador  —  23,  65. 
Elvas  (Bispo  de)  —  Capelão-mor 

—  156,  158. 
Embaca — Vid.  Ambaca. 
Emgombe-a-muquiama  —  Soba 

3o-  34- 


Esch  ( P.'  Filipe  van )  —  Missio- 
nário C.  S.  Sp.  —  16. 
Espinosa  (Brás  de) —  333. 

F 

Falcão  (Francisco  de  Lima)  — 
Capitão  —  369. 

Falconi  (João  Bernardo)  —  Trafi- 
cante genovês  —  279,  297  (3). 

Faria  ( Diogo  Lopes  de)  —  Feitor 

—3-7.  23-  27-  65- 

Faria  (P.e  Francisco  Leite  de)  — 
Historiador  Capuchinho  —  89, 
95,  245  (1),  290,  367,  421. 

Farnese  (Fr.  Ângelo  de)  —  Ca- 
puchinho —  431. 

Fernandes  (Ambrósio)  —  Capi- 
tão —  380  (13). 

Fernandes   ( Francisco )  —  Piloto 

—  514. 

Fernandes  ( Manuel )  —  328. 
Ferreira   ( André )  —  Armador  — 
327. 

Ferreira  ( Manuel )  —  Piloto  — 
514. 

Figueiredo  (Lourenço  de)  —  497. 

D.  Filipe  III  —  Rei  de  Espanha 
— 229  (2). 

Finali  (Fr.  Zacarias  de)  —  Mis- 
sionário Capuchinho  —  61,  468. 

Foligno  (P.e  Jacinto  de)  —  Ca- 
puchinho —  129. 

Fonseca  ( António   Teixeira  da ) 

—  Capitão  —  333. 

Fonseca    (P.e   Jerónimo   da)  — 

Vid.  Saraiva. 
França    (Dr.    Carlos) — Médico 

—  362  (10). 

D.  Francisco  —  Príncipe  do  Don- 
g°  —  39- 


Franco  (P.e  Filipe)  —  Reitor  do 
Colégio  de  Luanda  —  40,  369. 

Freitas  ( Gonçalo  Pinto  de)  — 
Escrivão  da  fazenda  —  479, 
489. 

G 

Gama  (Frei  Gonçalo  da)  —  Do- 
minicano —  137. 

D.  Garcia  II  —  Rei  do  Congo  — 
13,  16,  17,  19,  122,  265,  291, 
387,  433,  448,  451,  452,  456, 
458,  460,  462. 

Génova  —  Cidade  italiana — 138. 

Génova  ( Frei  Salvador  de)  — 
Missionário  Capuchinho  —  61, 
396,  397. 

Genua  —  Vid.  Génova. 

Gimena  (Fr.  António  de)  —  Ca- 
puchinho—  173,  175,  225. 

Ginga  (D.  Ana  de  Sousa)  —  39, 

64-  I53-  3%  38o>  4°7>  4711- 
Góis    ( Manuel   de   Faria   e)  — 

Escrivão  —  23,  65. 

Golungo  —  Soba  —  33,  34. 

Golungo  —  Soba  —  33,  34. 

Gonçalves  (António)  —  333. 

Gonçalves    ( Gaspar )  —  Capitão 

-4°5  O- 
Gonçalves  (Inácio)  —  Alferes  — 

333- 

Gorjão  (Frei  Sebastião)  —  Mis- 
sionário da  Ordem  de  Cisto 

—  107. 
Gouvea  —  Vid.  Gouveia. 
Gouveia  (António  Gomes  de)  — 

Capitão  —  340,  342,  373,  374, 

401,  493,  515. 
Grã-Canária  —  276,  277,  283. 


535 


Granada  (Fr.  Agostinho  de)  — 
Capuchinho  —  222. 

Granada  ( P.e  Fulgêncio  de)  — 
Capuchinho  —  413. 

Granada  (Frei  Inácio  de)  —  Ca- 
puchinho —  174,  176,  181. 

Granada  (Fr.  Manuel  de)  —  Ca- 
puchinho —  173,  175,  225, 
237,  239,  323. 

Granada  (Fr.  Miguel  de)  —  Ca- 
puchinho —  173,  176,  225. 

Gregório  XIII  —  Papa  —  105. 

Guadalcanal  (Fr.  Diego  de)  — 
Capuchinho  —  173,  175,  225. 

Guadalupe    (Frei    João    de)  — 

244  O- 
Guadalupe  (Ilha  da)  —  216. 
Guedes  (Nuno  Vaz)  —  Capitão 

—  37o'  373-  374.  4"-  . 
Guerreiro  (António)  —  Licencia- 
do —  3,  7,  9,  24,  66. 

Gulano  —  7. 

Gunza-a-C  abolo  —  Soba  —  334, 
375- 

H 

Halcon  —  Vid.  Falconi. 
Hardales  (Fr.  Blas  de)  —  Capu- 
chinho —  173,  176,  225. 
D.  Henrique  —  Rei  do  Dongo 
—  39,  4°- 

Henriques  (Lopo  da  Fonseca)  — 

Contratador  —  405. 
Homem   (António  da  Fonseca) 

—333- 

Hooglede   (P.e  Hildehrand  de) 

—  Capuchinho  —  241  (*),  387. 
Huarte   ( José  Maria )  —  Escritor 

—  228  (2). 

536 


I 

Igreja  —  De  Quicombo  —  373. 

—  De  Santo  António  (Con- 
go—304. 

—  De  S.  Francisco  Xavier 

—  373- 

Ingoli  ( Mons.  Francesco )  —  Se- 
cretário  da   Propaganda  Fide 

—  41,  224,  233,  324,  326. 
Inocêncio   X  —  Papa  —  204  (5 , 

209,  291,  292,  386,  387,  454, 
459,  461. 
Iznajar  (Fr.  Francisco  de)  —  Ca- 
puchinho —  173,  175,  225. 

J 

Jardim  (Luís )  —  Escravagista  — 
416. 

Jerez  (Fr.  Francisco  de)  —  Ca- 
puchinho —  222. 

João  ( Gonçalo )  —  Jesuíta  —  45, 
48,  49,  50,  54,  343,  379,  428. 

D.  João  II  —  Rei  de  Portugal  — 
88. 

D.  João  IV  —  Rei  de  Portugal  — 
16,  85  (2),  92  (25),  235,  254, 

328,  350,  352,  454. 

Jorge  (Pêro)  —  Armador  —  327. 
K 

Kowalsky  (P.c  Nicola )  —  Arqui- 
vista da  Propaganda  Fide  — 
XX,  273. 

L 

Lagostas  ( Morro  das )  —  Angola 
-74- 


Landim  (Nicolau  de  Lemos)  — 
Governador    de    Benguela  — 

.*>  O- 

Lavai  ( Pyrard  de)  —  Escritor  — 

378  (*> 

Leão  ( António  Belo  do)  —  333. 
Ledo  ( Cabo )  —  Angola  —  353, 

355'  365-  398.  399-  4o8.  477> 
504. 

Leiria  ( Manuel  Gomes )  —  333. 
Leitão  (Francisco  Leitão)  —  85, 

95- 

Leitão  ( P.  Serafim )  —  Historia- 
dor —  55. 

Leiton  (Francisco )  —  Vid.  Leitão. 

Lemos  (Duarte  de)  —  Capitão 
-411. 

Lemos  (Nicolau  de)  —  Capitão- 
-mor  —  354. 

Libongo  —  Moeda  —  376  (10). 

Lima  ( Cristóvão  de)  —  Capitão 
—  411,  518. 

Lima  ( Manuel  Ferreira )  —  Mes- 
tre de  Navio  —  483. 

Liorna  (P.e  André  de)  —  Capu- 
chinho —  419. 

Lisboa  (Fr.  Cristóvão  de)  —  Bis- 
po eleito  do  Congo  —  455. 

Lisboa  ( Fr.  José  de)  —  Capuchi- 
nho—  173,  176,  225,  437,  438. 

Loango  —  376  (10). 

Longa   ( Rio )  —  Angola  —  338, 

375  (8)-  491'  496- 

Lopes  ( António )  —  333. 

Lopes  (António  Tovar)  —  498. 

Lopes   (Baltasar)  —  Piloto  — 

297  (3). 
Lopes  (Filipe )  —  492,  495. 
Lopes    (Manuel    Carvalho)  — 

92(«). 

Luanda  —  Capital  da  província  de 


Angola  —  6,  8,  9,  13,  17,  24, 
28,  37,  42,  47,  58,  63,  65,  74, 
77,  86,  88,  94,  122,  339,  360, 
400,  416,  452,  470. 

Lubemba  —  Soba  jaga  —  374. 

Lugo  ( Marcos  de)  —  Capitão  — 

37o- 

Luís  ( Cristóvão )  —  327. 

Luís   XIV  —  Rei   de   França  — 

108,  163. 
Lutero  ( Martinho )  —  Heresiarca 

-69. 

M 

Macedo  (P.e  Francisco  de  Santo 
Agostinho  de)  —  Franciscano 

—  254.  255 

Machado  (P.e  Diogo)  —  Reitor 

de  Santo  Antão  —  343. 
Madureira  ( António  de)  —  333. 
Madureira   ( Gaspar  Borges  de ) 

—  Capitão-mor  —  495. 
Mafra   (João   Luís)  —  Auditor 

Geral  —  491,    494,    498,  500, 
510,  517. 
Maguinhos   ( António  Dias )  — 

333-  479- 
Málaga  (P.e  Luís  António  de) 

—  Missionário  Capuchinho  — 
128,  135,  142,  144,  434. 

Maldivas  (Rei  das)  —  213,  248. 
Malhorqttim   (António)  —  327, 
331. 

Manicassanje  —  Soba  —  8. 
Manicasante  —  Vid.  Manicassanj 
Manicasante  —  Vid.  Manicas- 
sanje. 
Manicongo  —  7. 
Manigango  —  7. 
Manimotemo  —  Soba   —  8. 


537, 


Maniquicombo  —  Soba  —  334, 
375- 

Manisonho    ( Conde   de)  —  257, 

285,  302. 
Maranhão  —  Brasil  —  47,  234, 

321,  360,  367. 
Marcos   (Frei)  —  Religioso  da 

Ordem  de  Cristo  —  105. 
Mascarenhas   (P.e   António)  — 

Provincial  S.  J.  —  343. 
Mascarenhas    ( D.    Frei    Simão ) 

—  Bispo  do  Congo  e  Angola 

-9i("). 

Massangano  ( Presídio  de)  — 
Angola  —  29,  30,  44,  58,  72, 
73,  84  0),  87,  213,  332,  354, 

355.  365-  374.  398-  4o  49 
495-  499>  5 '4- 

Mastrilli  (P.e  Marcelo)  —  S.  J. 

—  346. 

Mastrilli  (P.e  João  Baptista)  — 
Capuchinho  —  296,  313. 

Mateus  ( Fr.  Nicolau  de)  —  Ca- 
puchinho —  187. 

Matos  (P.e  João  de)  —  Jesuíta 

—  102,  120,  209. 

Mayenne  (Frei  Cirilo  de)  —  Ca- 
puchinho —  244  Q). 

Mazarini  ( Cardeal )  —  137. 

Medela  ( Manuel  de)  —  Sargen- 
to-mor  —  43. 

Melo  (Francisco   de)  —  Capitão 

—  495- 

Mendonça  (António  Teixeira  de) 
Capitão — 152,  332,  336,  339, 

343-  355-  398.  4°4.  477-  479> 
48,  490,  492,  501,  503,  506. 

Meneses  (D.  Bernardo  de)  — 
Criado  do  Rei  do  Congo —  17. 

Meneses  ( Frei  Fernando  de)  — 
Dominicano  —  137. 


Meneses  ( Pedro  César  de)  —  Go- 
vernador de  Angola  —  3,  6,  8, 
14,  20,  23,  26,  38,  39,  42, 
46(1)>  58,  65,  69,  91,  355, 
358,  362,  365,  374,  392,  398, 
401,  478,  481,  495,  499,  510, 
514,  519,  526. 

Meneses  (P.e  Sebastião  César  de ) 

—  Bispo  eleito  do  Porto  —  254, 
255. 

Menezes  —  Vid.  Meneses. 
Mina   ( S.  Jorge  da)  —  47,  95, 

105,  206,  330. 
Milano    (P.e    Ildefonso   da)  — 

Capuchinho  —  431. 
Milano  (P.e  Simpliciano  da)  — 

Capuchinho  —  443. 
Mira  (Arcebispo  de)  —  41,  148, 

197  (2),  230.^ 
Miranda  (António  de  Abreu  de) 

—  Capitão-mor  —  32,  146,  154, 

'55- 

Moçambique  —  374. 
Mochima  —  Vid.  Muxima. 
Molt  (Ans)  —  Adjunto  de  Nieu- 

lant  —  9,  47  (*). 
Mónaco  (Príncipe  de) — 108. 
Monteiro  (Dr.  Nicolau)  —  Prior 

da  Cedofeita —  137. 
Monte  Prandone  (Frei  António 

Maria  de)  —  Capuchinho  — 

434.  443.  447- 
Monte  Sarchio  (Fr.  Jerónimo  de) 

—  Capuchinho  —  434,  443, 

447- 

Moraes  —  Vid.  Morais. 

Morais  ( P.e  João  de)  —  Notário 
Apostólico  —  194,  195. 

Morais  ( Manuel  de)  —  Arma- 
dor —  328. 


538 


Morentin  (Frei  Cristóvão  de) — 
Capuchinho  —  171,  295. 

Mota  ( Dionísio  da)  —  Capitão 
—  411. 

Moura  (Felix  de)  —  Capitão  — 
369,  411. 

Moura  (D.  Filipe  de)  —  206. 

Márcia  (Frei  Leandro  de)  —  Ca- 
puchinho —  171,  441. 

Muxima  —  Fortaleza  —  84,  478. 

N 

Namboaquiçanda  —  Localidade 
na  província  do  Lumbo  —  6. 
Nambnacalombe  —  Soba  —  30. 
Nambuangango  —  Soba  —  31, 

32- 

Nancy  ( Frei  Ângelo  de)  —  Mis- 
sionário Capuchinho — 94  (31). 
Nasau  ( Henrique  de)  —  360. 
Navios  —  Nossa  Senhora  da  Ca- 
ridade —  369. 

—  Nossa  Senhora  da  Es- 
trela —  370. 

—  Nossa  Senhora  do  Ro- 
sário —  483. 

—  Nossa  Senhora  da  Na- 
zaré —  369. 

—  Santa  Catarina  —  370, 

371'  374- 

—  Santo  António  —  483. 

—  S.  Bento  —  484. 
Nazareth  —  Vid.  Nazaré  —  (Na- 
vio). 

Nieulant  ( Cornélio )  —  Director 
dos  holandeses  —  5,  6  e  sgs., 
46  («)• 

Noelbs  ( Cornélio )  —  Comissá- 
rio dos  Holandeses  —  360, 
411,  510. 


Noels  —  Vid.  Noelbs. 

Nola  ( P.e  Januário  de)  —  Mis- 
sionário Capuchinho  —  213, 
297,  313. 

Novais  ( Paulo  Dias  de)  —  Con- 
quistador de  Angola  —  87  (9). 

O 

Ocana  (Fr.  Juan  de)  —  Capuchi- 
nho —  171. 

Olà  (P.e  José)  —  Capuchinho  — 
216. 

O  range  (Príncipe  de) — 14,  81. 
Orneias  ( António  da  Fonseca )  — 
Capitão  —  19,  25,  28,  38,  67. 

P 

Pacheco  ( João  Soares )  —  Licen- 
ciado —  498,  522. 

Paiva  (P.e  João  de)  —  Missioná- 
rio S.  J.  —  17,  49,  50,  54,  379. 

Paliano  (P.e  Marcelo)  —  Capu- 
chinho —  129. 

Pam-plona  (Frei  Francisco  de)  — 
Missionário  Capuchinho  —  60, 

164,  268,  270,  297,  301,  305, 
417,   418,  420,  426  (2),  433, 

434.  444-  445.  446-  473- 

Panasques   (João   Rodrigues)  — 

333- 

Pancirolo  (Cardeal)  —  Vid.  Pan- 
zirollo. 

Paníscola  (Frei  António  de)  — 
Capuchinho  —  321. 

Panzirollo  (Cardeal  Giovanni  Gia- 
como )  —  Núncio  em  Madrid 
—62,  12  (2). 

Pavia  (Fr.  João  Maria  de)  — 
Capuchinho  —  434,  447. 


539 


D.  Pedro  II  —  Rei  de  Portugal 
—  245C)- 

Pegado  ( Afonso )  —  Alferes  — 

333- 

Pegado    (Rui)  —  Provedor  — 

497-  524- 

Pegado  (Vicente)  —  Sargento- 
-mor  —  495,  497. 

Peixoto  ( António  Lopes )  —  Ca- 
pitio  —  375  (8). 

Pereda  (António  Luís)  —  Capi- 
tão —  333,  479. 

Pereira    (Duarte    Pacheco)  — 

377  0°)- 

Pereira  ( Manuel )  —  Capitão-mor 
de  Benguela  —  333,  341,  354, 
373,  490,  492,  493,  504. 

Pereira  ( Manuel  Cerveira )  —  Go- 
vernador de  Benguela  —  87  (7), 
88  (10),  6i,  424. 

Peres  ( Manuel )  —  Criado  —  44. 

Pernambuco  —  Cidade  do  Bra- 
sil —  43,  44,  74,  251,  346,  360, 
390,  480. 

Pernambuco  (P.e  José  de)  —  Ca- 
puchino  —  412,  434. 

Piacenza  (Fr.  Dionísio  de)  —  Ca- 
puchinho —  434,  443,  447. 

Piacenzia  —  Vid.  Piacenza. 

Pinda  ( Condado  de)  —  256,  272. 

Pinda  ( Conde  de)  —  257,  300, 

433-  436- 
Pires  ( António )  —  Jesuíta  — 

341-  343-  354  (2).  369.  37°> 
371,  372,  376,  379,  510. 

Pirez  —  Vid.  Pires. 
Piacenzia  —  Vid.  Piacenza. 
Pobladura  (P.e  Melchior  de)  — 
Historiador  Capuchinho  — 

mi2)- 

54° 


Ponte  (João  Pegado  da) — Capi- 
tão dos  moradores  —  11,  43. 
Porto  ( António  do)  —  Jesuíta  — 

45-  48>  5o-  54-  38°- 

Potagem  (António  Rodrigues)  — 
Armador  —  359. 

Prado  (Fr.  Bartolomeu  do)  — 
Jesuita  Capuchinho  —  412. 

Priego  (Fr.  Luís  de)  —  Capuchi- 
nho —  173,  176,  225. 

Príncipe  (Ilha  do)  —  328,  348, 
350. 

Puebla  (Frei  Jerónimo  de)  — 
Missionário  Capuchinho —  1 18. 

Q 

Quiçama  —  Região  de  Angola  — 
30. 

Quicombo    (Rio)  —  334,  355, 

365>  372-  398>  4o8>  4*4»  478> 
491,  498,  514. 

Quilunda  —  Lago    e    região  de 

Angola  —  29. 
Quiroga  ( P.e  Bernardino  de)  — 

441. 

Quissama  —  Vid.  Quiçama. 

R 

Ravenna  (Fr.  Pedro  de)  —  Ca- 
puchinho —  434,  447. 
Redin  (D.  Tiburcio  de)  —  228. 

—  Vid.  Pamplona. 
Redinchoven   (Henrique  de)  — 

Director    dos    Holandeses  — 
389,  393,  518,  519. 
Ribeiro  (Frei  Domingos)  — Mis- 
sionário da  Ordem  de  Cristo 

—  107. 


Rio  de  Janeiro  —  Cidade  do  Bra- 
sil —  55,  229,  346,  352,  359, 
369,  470. 

Roelofsz  ( Meilink )  —  Arquivis- 
ta em  Haia  —  16. 

Rodrigues  ( Cristóvão )  —  Capi- 
tão-mor  —  333. 

Rodriguez  —  Vid.  Rodrigues. 

Roíz  (António)  —  Tendala  da 
guerra  preta  —  399. 

Roíz  (João )  —  333. 

Roiz  ( Lopo )  ■ —  486. 

Romano  (P.e  Giovanni  Fran- 
cesco )  —  Missionário  Capu- 
chinho —  129,  448,  456,  458. 

Rospigliosi  ( Mons.  Giulio )  — 
Núncio  em  Madri  —  162  (1), 
189,  191,  215,  217,  218,  227, 
230,  232,  239,  321,  332,  349, 
368,  427. 

Rovezzano  ( Fr.  João  de)  —  Ca- 
puchinho —  434,  443,  447. 

S 

Sá  ( Salvador  Correia  de)  —  Res- 
taurador de  Angola  —  55,  82, 
84,  229,  369(2),  504. 

Salzadella  (Fr.  Francisco  de)  — 
Capuchinho  —  187. 

Santa  Fé  (Fr.  Sebastião  de)  — 
Capuchinho  —  173,  175,  225. 

Santiago  (Fr.  João  de)  —  Missio- 
nário Capuchinho — 100,  101, 
118,     162,     187,    281,  290, 

3°4(u)- 

Santos  (Diogo  Fernandes  dos)  — 
Capitão  —  380  ("). 

S.  Paio  ( Diogo  Gomes )  —  Capi- 
tão —  495,  497. 


S.  Salvador  —  Capital  do  Con- 
go —  287. 

S.  Tomé  (Ilha  de)  —  9,  44,  47, 
105,  123,  206,  234,  328,  347, 
348,  350,  429,  444. 

Sapata  (Pedro  Torredouro)  — 
Secretário  —  495,  497. 

Saraiva  ( Francisco  da  Fonseca ) 
—  Sargento-mor  —  355,  379 
(»),  380  (»). 

Saraiva  (P.e  Jerónimo  da  Fonse- 

ca)  —  379  O2).  4o  1.  499-  5°7> 
510. 

Sardenha  (Frei  Boaventura  de) 
— Missionário  Capuchinho  — 
1 18,  162,  300. 

Sarmenho  —  Vid.  Sermenho. 

Sedecuta  —  Soba  de  Angola  — 

337- 

Sequeira  (Diogo  de)  —  31. 
Sequeira  (Domingos  Lopes  de) 
— Capitão  da  guerra  preta  — 

332>  335-  336>  338>  343>  355' 

477.  479.  48l>  483>  49o-  492- 
501. 

Sequeira  (Nicolau  de)  —  333. 

Sermenho  (João)  —  Capitão  de 
mar  e  guerra  —  369,  518. 

Serveira  —  Vid.  Cerveira. 

Severim  ( Gaspar  de  Faria )  — 
Secretário  régio  —  234. 

Sevilha  (Frei  Gaspar  de)  —  Ca- 
puchinho —  113,  115,  117, 
174,  176,  181,  225,  231,  238, 

24*>  324-  349-  4I3- 

Sevilha  (Fr.  Juan  de)  —  Capu- 
chinho —  173,  175,  225. 

Silva  (António  Teles  da)  —  Go- 
vernador do  Brasil  —  245,  346, 

359-  4°9>  47°.  47»  •  48z'  483- 
503. 


54 1 


Silva  (Frei  Baltasar  da)  —  Mis- 
sionário da  Ordem  de  Cristo 

—  107. 

Silva  (Custódio  Antunes  da)  — 

333- 

Silva  (João  da)  —  Ajudante  — 
333- 

Silva  (José  da)  —  Alferes  —  333. 
Siqueira  —  Vid.  Sequeira. 
Soares    (Manuel)  —  Pitoto  — 

359,  370,  471. 

Soares  (D.  Frei  Manuel  Baptista) 

—  Bispo  do  Congo  e  Angola 

—  91,  19. 

Sorrento  (P.e  Boaventura  de)  — 
Missionário  Capuchinho  —  60. 

Sotomaior  (Francisco  de)  —  Go- 
vernador   de    Angola  —  340 

O3).  341-  347.  352-  364-  365> 
366,  369,  379,  389,  392,  398, 

400  (2),  411,  414,  470,  491, 

493,  495,  499,  502,  505,  508, 

510,  514,  517,  520,  527. 

Sousa  (Fernão  de)  —  Governa- 
dor de  Angola  —  36,  39. 

Sousa  ( Gabriel  Soares  de)  —  Es- 
critor —  362  (10). 

Sousa  (João  de)  —  498. 

Soveral  ( D.  Francisco  de)  — 
Bispo  de  Angola  —  19,  91  (21), 
129,  140  (1),  146,  271  (b). 

Súrio  ( P.e  Lourenço )  —  Capu- 
chinho —  198,  213,  465,  468. 

Suto  (Baía  do)  —  Angola  — 
400,  405. 

T 

Taggia  (P.e  Boaventura  de)  — 
Vice-Prcfeito  da  Missão  do 
Congo  —  60,  61,    109,  148, 

542 


150,  156,  157,  158,  159,  160, 

161,  182,  186,  194,  199,  204, 

214,  236,  243,  248,  251,  255, 

291,  3i5,  384,  385,  390,  395, 

463,  465,  467,  469. 

Távora  ( Lourenço  Pires )  —  Go- 
vernador de  S.  Tomé  —  329, 
33o- 

Tecla  ( P.e  Francisco  de)  —  Ca- 
puchinho —  441. 

Teruel  (P.e  António  de)  —  Mis- 
sionário Capuchinho  —  132, 
134,  190,  192,  193,  211,  321, 

434-  443- 
Teruel  ( P.e  Luís  de)  —  Capuchi- 
nho —    132,    134,    190,  210, 
321. 

Toledo  (Fr.  Boaventura  de)  — 
Capuchinho  —  171,  441. 

Tomar  (Convento  de)  —  105. 

Tovar  (António  de)  —  Capitão 
—  495,  498. 

V 

Valdenuho  (P.e  Basílio)  —  Ca- 
puchinho —  426. 

Valência  (Fr.  Alexandre  de)  — 
Capuchinho  —  171,  441. 

Valência  (Frei  Ângelo  de)  — 
Missionário  Capuchinho  — 
11 8,  125,  280,  420,  448,  451, 
456,  458. 

Valência  (P.e  Apolinário  de)  — 
Capuchinho  —  313. 

Vasconcelos  (Bartolomeu  de)  — 
Almirante  —  369. 

Vasconcelos  (Luís  Mendes  de)  — 
Governador  de  Angola  —  87  °). 

Veas  ( Fr.  Francisco  de)  —  Ca- 
puchinho —  434,  443. 


Velez  (P.6  Jose  Francisco  de)  — 

Capuchinho  —  413. 
Velho  (Afonso  Rodrigues)  —  517. 

Velletri  (P.e  Francisco  Maria) 
—  Capuchinho  —  1 29. 

Ventimiglia  (Fr.  Francisco  Ma- 
ria de)  —  Missionário  Capu- 
chinho —  61. 

Vergara  (Fr.  Juan  de)  —  Ca- 
puchinho —  173,  176,  225, 
446. 

Vidigueira  ( Conde  da)  —  Em- 
baixador em  França —  1 10,  II I, 
120,   136,   137,  234,  347. 

Viegas  (P.c  Artur)  —  Escritor, 


S.  J.-34'(14).  343  (u).  344. 
381. 

Vigliar  (Fr.  Félix  de)  —  Capu- 
chinho —  343,  443. 

X 

Xerez  —  Vid.  Jerez. 

Z 

Zaire  (Rio)  —  95,  139  256. 
279. 

Zamba  —  Soba  de  Angola  — 

334-  336-  374- 
Zimbo  —  Moeda  —  377  (10). 


543 


Composto  e  impresso  na 
Tipografia  SILVAS,  LDA. 
118,  Rua  D.  Pedro  V,  126 
Telef.  2  3121  —  LISBOA 


1  1012  01056  1845 


DATE  DUE 

ESBÉltflÉiBfcéifeÉiftfBi 

HIGHSMITH  » 

[5230 

Prlnted 
In  USA