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NOVO
GUIA DO VIAJANTE
EM LISBOA
CINTRA, COLLARES. MAFRA, BATALHA, SETÚBAL
SANTARÉM, COIMBRA E BUSSACO
PRF.CEDIHO DT1IA INTRODICÇÃO
DE
JÚLIO CÉSAR MACHADO
QUARTA EDIÇÃO MUITO AUGMENTADA
E
Com um mappa de Portugal
LISBOA
Vendc-Nr por toOO réi*
NA LOJA DO EDITOR J. J. BORDALO
Travessa da Vietnria, 42, 1.°
1880
Lembram-se de Lisboa, no estado em que ainda
todos nós a conhecemos?
Tudo ás escuras...
De tempos a tempos sabia-se pelas cartas do
a Braz Tizana», escriptas no Porto por José de
Sousa Bandeira sobre as informações que d'aqui
lhe eram enviadas, e que saiam primeiro no Perió-
dico dos pobres, e depois no jornal que tomou por
titulo o pseudonymo do famoso folhetinista da ci-
dade eterna — que a camará municipal depois de
uma sessão laboriosa e renhida havia resolvido dar
mais dois candeeiros á capital. O correspondente,
por nâo se usar ainda os chavões jornalísticos de
« Parabéns á illustre camará» nem «Registramos
este acto que faz honra ao illustre vereador» limi-
tava-se a fazer com que o leitor se compenetrasse
bem de que, estabelecendo a arithmetica no fim
4 INTRODUCÇAO
do anno que tínhamos mais dez candeeiros, era o
mesmo que dizer que estávamos dez vezes mais
esclarecidos do que no anno antecedente !
O que nâo impedia que, no centro mesmo da
cidade, qualquer das ruas de maior transito pos-
suísse apenas um candieirito, destinado unicamente
a fazer sobresair ainda mais o horror sombrio dos
sitios menos favorecidos.
Um pobre homem que se perdesse de noite, por
essas ruas então barrancosas, ia aos tombos de
abysmo em abysmo, escorregando no cascalho, es-
barrando nos frades de pedra, caindo de ventas
nos montes de caliça...
De meia em meia hora, um candieiro de luz in-
decisa e débil; só o que chegasse para uma pessoa
conhecer que se enganara no caminho e que an-
dava perdida.
A ladroíce pouco audaz, mas frequente. Covis
de larápios em cada beco. Ladrões timidos, neo-
phytos inexperientes; discípulos, pela maior parte,
de um professor que não podia mecher-se, — um
coxo que estacionava no Terreiro do Paço, á porta
da aula do commercio.
Toda a gente conhecia esse coxo, director das
ladroeiras, caixa dos furtos, que mandava os seus
INTRODUCÇÃO 5
delegados para os diversos pontos importantes, para
o passeio publico, para os theatros da rua dos Con-
des ou do Salitre, para a porta das egrejas; e ar-
recadava depois o fructo de taes diligencias, de
umas vezes recompensando logo os gatunos, de
outras encarregando-se da venda dos objectos e
dividindo o producto.
Pessoa a quem nas ruas houvessem roubado al-
guma coisa, não ia procurar a policia, ia procurar
o coxo ; combinava-se o ajuste, e o ladrão vendia
ao roubado.
A segurança dos prédios e garantia dos mora-
dores eram os sapateiros de escada.
Em casa .que nâo tivesse esse guarda amigo, es-
tava-se sempre em cuidados de não deixar aberta
a porta da rua.
Os ladrões entravam, então, pela janella.
Um dos mais engraçados homens d'essa época,
vivo ainda hoje, Domingos A., sabendo que esse
era o costume d"clles, não se deu sequer ao incom-
modo de fechar a do seu quarto n'uma noite de
verão, em que recolhera sem dinheiro : unicamente,
por precaução de scenario, pôz um par de pistolas
á cabeceira.
Pelas duas horas da madrugada o ladrão appa-
6 INTRODUCÇAO
receu, espreitou, esteve á escuta, ouviu o resonar
com que o dono da casa simulava dormir, e entrou.
Logo que o viu entretido a abrir uma gaveta,
Domingos A. sentou-se na cama, apontou uma pis-
tola, e disse-lhe com seriedade :
— Ponha p'r'ahi tudo que traz comsigo 1
O ladrão queria ajoelhar-se.
— Nada de attitudes. Quanto traz comsigo? Con-
serve-se de pé e responda!
— Dezoito tostões, senhor!
— Ponha-os ahi.
— Então hei de eu...
— Quer antes um tiro ?
Gesto negativo.
— Pois dê cá os dezoito tostões.
O ladrão despejou o bolso com ar mortificado,
e ia de novo saltar pela janella, quando, para at-
tender ás boas leis da hospitalidade, Domingos A.
lhe offereceu um phosphoro para descer a escada
e o convidou gentilmente a sair pela porta assegu-
rando-lhe que, por eguai preço, poderia voltar
quando lhe approuvesse.
Poucos assassinatos todavia; como n'esses tem-
pos a politica andava fortemente incitada e incen-
dida, esperava-se talvez que alguma das bernardas
IXTRODUCÇÃO 7
restaurasse a forca para remediar a falta (Taquelle
supplemento de cor local, que estava em desaccordo
com o chãos em que se vivia.
De vez em quando vinha algum episodio justifi-
car a lei da harmonia, e dar maior feição ao génio
melodramático da quadra. Àbriam-se, por exemplo,
as portas do Limoeiro, e ahi rompia pela cidade
inteira a vasta cambada de malfeitores. Ferviam os
tiros por essas ruas : tropa para um lado, tropa
para o outro ; d'aqui faccinoras, d'acolá soldados ;
vivia a cidade em sustos.
Nunca se tinha certeza de que as lojas nâo fe-
chassem de dia. Dormia-se de espada á cabeceira.
Houve quem enriquecesse a vender apitos ! Até o
castello de S. Jorge, que era a prisão que tinha
melhores ferrolhos, poz-lhes azeite e deixou-os cor-
rer. Os presos em geral tinham um pé na gaiola,
e outro na rua. Era sabido.
Os batalhões nacionaes alegravam a cidade. Ba-
taré08s lhes chamava o povo. Toda a gente se far-
dou. Só os officiaes davam para um exercitosito. De
coronéis podiam formar-se... três destacamen-
tos.
A população vivia assombrada; a cidade, apezar
do céo de anil e do Tejo de crystal dos poetas, es-
8 INTRODliCÇÃO
tava feia. Em se saindo das ruas da baixa, mudava
logo o aspecto : fazia horror.
Cordas á janella, com roupa a seccar.
Gallinhas ás portas.
Um porco dentro da loja.
Rebanhos de pequenitos a brincar nas escadas,
acocorados nos degraus aos cinco e aos seis, o
mais velho com o mais novo ás costas, esfranga-
lhados, sem meias, sujos, de carinhas pallidas e
amarellentas.
Garotos em bandos, á pedrada, pelo meio da rua,
saltando, correndo, esbarrando em quem passava.
Ao portal, a mãe a remendar o fato, a filha a
fazer meia; a avó, idiota, sentada lá dentro a um
canto.
Lojas térreas, húmidas, impossíveis de inverno;
um cheiro de trapo podre a exhalar-se d'aquillo
tudo !
O luxo exterior das vivendas era papagaios ;
quem não tinha papagaio, tinha uma arara ; quem
não tinha arara, tinha um periquito ; quem não po-
dia sequer ter periquito, punha um papagaio... de
pau na janella de sacada.
Á hora do largar da agulha falava-se de janella
para janella como se o facto de ser vizinho de ai-
LNTRODUCÇÃO 9
guem auctorisasse a travar conhecimento ; pedia-se
um ramo de salsa, o sacca-rolhas emprestado, fa-
lava-se de uns e de outros, discorria-se em voz alta
a respeito da vida de cada qual, e ao cair da noite
fechava-se toda a gente nos differentes andares do
seu prédio como objectos guardados nas gavetas
de uma commoda.
Então principiava a grande noite.
Tudo quieto, tudo soturno e morto...
Apenas o pregão de um aguadeiro aqui ou alli,
roncando lugubremente :
— Aúl
Ninguém acreditava, ninguém suspeitava siquer
que possa haver felicidade no movimento, e que a
actividade agrade tanto ás creaturas que até a ra-
zão se recuse a admittir a realidade de uma ven-
tura immovel e sempre egual por mais completa
que seja.
Mas, Lisboa não o entendia assim ; e para ella
o supremo bem, o bem por excellencia era n'essa
época a quietação, o somno em casa, na rua a paz...
ás escuras.
Hoje, já felizmente o viajante não encontra em
Lisboa as minas mais caricatas que archeologicas
da cidade d'esse tempo.
10 LYTRODUCÇÃO
Vieram as edificações novas, as praças largas, as
boas hospedarias, os theatros elegantes e bem ven-
tilados, os jardins, os squares. Vieram, sobretudo,
escolas e asylos.
Foram-se com os deuses os cazebres do Loreto,
o capote e lenço, as seges de bandeirinha. Desap-
pareceram em grande parte as ruellas onde nunca
penetraram nem o ar nem o sol. Já se encontram
pelo caminho bancos de pedra, de ferro, ou de
pau, onde uma pessoa se sente. Já ha uma alluvião
de omnibus em exploração permanente; já nâo fe-
cham as lojas ás Ave-Marias ; já ha policia ; já ha
luz.
Já a população sae, e já se deixa ver a horas
certas e nos logares da moda; tem-se gracejado
centos de vezes a respeito dos famosos corso ita-
lianos, onde não é licito faltar sem quebra dos me-
lhores usos da signoria; mas o Passeio Publico nas
noites de quinta feira e de domingo no verão, das
duas ás quatro horas da tarde no inverno, assim
como as ruas da baixa e o Chiado, são variantes
do corso lisbonense ; e provam mais uma vez que
a influencia dos costumes modernos tem grande
poder creador, e que se tornam em um beneficio
quando são civilisadores e quando concorrem para
INTRODUCÇÃO 11
o engrandecimento da industria e do commercio
pelo lado útil do luxo, do conforto, e do prazer de
todos. Não ha hoje em Lisboa classes privilegiadas,
e toda a gente tem á sua disposição as festas, os
passeios, os espectáculos, vivendo independente e
livre, egual a todos pelo recreio como é egual pe-
rante a lei.
É tudo hoje differente do que era, em Lisboa.
Ficaram as condições pittorescas da cidade, no
que respeita a posição, e passou por cima de tudo
isto o sopro vivificador do progresso, que ainda
agora principia a fazer-se sentir apenas, se quizer-
mos comparal-a ás capitães dos paizes mais adian-
tados da Europa, mas que faz com que já lembre
de vez em quando por uma praça, por um jardim,
por um theatro, por uma serie de prédios, por
uma ou outra loja, Paris, Madrid, ou Milão. Quando
digo «já lembre» não é minha intenção pôr no es-
curo a grandeza de Lisboa e sua notória superio-
ridade em dimensões e em população a Milão e a
Madrid; mas é que ellas toem comquanto cidades
mais pequenas, uma feição de adiantamento, de
elegância, um cunho de civilisação mais accentuado,
mais decisivo do que Lisboa — o que também de
nenhuma maneira impede Lisboa de lhes levar van-
12 INTRODUCÇAO
tagem em muitos pontos e de ser uma das mais
formosas cidades da Europa, e porventura a mais
original de todas.
Talvez não haja hoje capital no mundo, onde se
viva tanto á vontade, e em que cada um possa me-
lhor dizer, escrever, e fazer o que quizer ; vão uns
para os gosos do amor próprio, outros para os do
bem estar material, alguns para a gloria, os de me-
lhor juizo para a tranquilidade feliz. Não será uma
cidade rica, mas é uma cidade já elegante, grande-
mente prendada pelas condições do solo, rica toda
ella de arvores, de flores, de vegetação, com im-
mensas quintas, hortas, campos encravados por
entre a casaria. Accusam-a geralmente de cidade
monótona ; faz pouca bulha, falia baixo, e não apre-
goa grandezas : — quem sabe, porém, se isso
mesmo é bom, para o destino não se quesilar e nâo
chegarem até nós nem o ciume, nem as inimisa-
des, nem a inveja dos outros paizes?...
1
NOVO GUIA
^ f-\ " 1 ******
DO
I
VIAJANTE EM LISBOA
E SEUS ARREDORES
CHEGADA A LISBOA
0 viajante que entra pela barra, mostra o passa-
porte ao encarregado da policia, que vae a bordo,
e quando desembarca entrega-o na casa da policia
do porto (que é no edifício da alfandega) e vae bus-
cal-o, no praso de três dias, ao governo civil, para
(» levar a visar ao seu cônsul, sendo estrangeiro, e
n'esse acto recebe um bilhete de residência, mesmo
no governo civil, cuja repartição se acha estabele-
cida na travessa da Parreirinha, ao lado do theatro
de S. Carlos. Chegando a Lisboa, por outra qual-
quer via, seja nacional ou estrangeiro, o viajante se
apresentará no governo civil; no segundo caso re-
ceberá bilhete de residência.
CORPO CONSULAR PORTUGUEZ EM LISBOA
Áustria
Cônsul geral — Carlos Krus. — Travessa das Pe-
dras Negras, 1.
Vice-consul — Alessandro Nobile de Fontana. —
Belém.
Chanceller — Pedro Gomes da Silv. — Travessa
das Pedras Negras, 1.
Bélgica
Cônsul — Jorge Torlades 0'Neill. — Travessa do
Sequeiro das Chagas, 1.
HrazH
Cônsul geral — Manuel de Araújo Porto Alegre.
— Rua da Atalaya, 107.
DO VIAJANTE 15
Cliili
Cônsul — António Joaquim de Oliveira. — Rua
das Flores.
Confederarão Argentina
Cônsul — Negrão.
Confederarão Saissa
Cônsul — Tlieodoro Daggller. — Chiado, Cl.
Estados-lnidoM da Anierica
Cônsul — Leivis. — Rua do Alecrim.
Franca
Cônsul — Girando. — Rua Formosa.
Grâ-Brctanha
Cônsul — Brâckenburg. — Travessa do Âthayde.
Viee-eonsul — Carlos 0'Donnell. — Largo das
Chagas.
Cir<kc*ia
Cônsul — Jorge Torlades 0'Neili. — Travessado
Sequeiro das Chagas.
16 NOVO GUIA
Honduras
Cônsul geral — Carlos Krus. — Travessa das Pe-
dras Negras, 1.
Ilespanlia
Cônsul — Miranda. — Rua da Trindade, 12.
Itália
Cônsul — João Baptista Piombino. — Becco dos
Apóstolos, 7.
Paizes-Baixos
Cônsul — H. C. Hulsembos.— Rua da Emenda.
Peru
Cônsul — João de Brito. — Rua de S. Francisco,
13.
Confederação da Allemanha do Norte
Cônsul geral — J. Poppe. — Calçada de S. Fran-
cisco.
Rússia
Cônsul geral — A. de Laxmann. — Travessa do
Corpo Santo, 27.
DO VIAJANTE 17
Sião
Cônsul geral — Alfredo César de Andrade. —
Rua do Ferregial de Cima, 21.
Vice-consul — Júlio César de Andrade. — - Rua do
Ferregial de Cima, 21.
Suécia e Noruega
Cônsul geral — Rarão de S. Jorge. — Rua da Al-
fandega.
Turquia
Cônsul geral — Félix Wanzeller. — Travessa de
S. Francisco de Paula.
Uruçuay
Cônsul geral — Carlos Duarte Luz. — Rua de
S. Francisco, 13.
Venezuela
Cônsul geral — José Luiz Pereira Crespo. — Rua
Nova do Almada, li.
HOSPEDARIAS (HOTÉIS)
O viajante encontra em Lisboa hospedarias de
diferentes preços, desde 3$600 até 500 réis diá-
rios, d'entre as quaes escolherá a que mais convier
ao seu estado financeiro. Ha d'estes estabelecimen-
tos situados em proximidade do Tejo, e outros no
centro da cidade, e nos logares de mais concorrên-
cia. Mencionaremos aqui, para commodidade do
viajante, os nomes e locaes das hospedarias mais
notáveis de Lisboa.
Hotel Viziense Rua dos Bacalhoeiros, 139.
» Americano Largo de S. Paulo, 3.
» Alemtejano Rua dos Arameiros, 11.
» Alexandre Praça dos Romuiares, 4.
» Dois Irmãos Unidos. Praça de D. Pedro, 113.
» Nova Alliança Rua Nova da Trindade, 10.
» Durand Rua das Flores, 71.
» Bragança Rua do Thesouro Velho, 41.
» Conimbricense Largo do Corpo Santo, 6.
» Bella Aurora Rua dos Algibebes, 110.
DO VIAJANTE 19
Hotel Probidade Rua dos Fanqueiros, 10.
i Moniz Rua Augusta, 243.
i Portuguez Rua da Conceição Nova, 53.
» Bella Estrella Rua da Prata, 109.
i Francfort Rua Nova do Almada, 109.
» Das Varandas Campo das Cebolas, 32.
í do Reino Rua do C. de Santarém, 55.
» Luso-Brazileiro . . . Rua dos Romulares, 35.
» Firmeza Praça de D. Pedro, 30.
i Universal Travessa de Estevão Ga-
lhardo, 23.
» Gibraltar Travessa de Estevão Ga-
lhardo, 10.
» do Riba-Tejo Rua Nova de El-Rei, 31.
» Peninsular Rua Nova do Almada, 11.
i União de Cintra... Rua do Jardim do Rege-
dor, 17.
» Ultramarino Travessa da Vicloria, 7.
i Europa Rua Nova do Carmo, 16.
» Lusitânia Rua Nova de El-Rei, 67.
» Popular Rua do Jardim do Rege-
dor, 17.
» Encarnação Rua da Prata, 250.
» Street Inglich .... Rua do Alecrim, 47.
» Trcs Coroas Rua dos Douradores, 34.
» Central. Praça dos Romulares, 25,
» Pelicano Rua dos Fanqueiros, 278,
i Duas Irmãs Rua do Arsenal, 146.
i da Esperança Travessa de S. Julião, 11.
20 NOVO GUIA
0
Hotel Nacional Travessa da Assumpção, 99.
» Nova Alliança Rua de S. Julião, 11.
» Terceirense Largo do Pelourinho, 13.
» Leão de Oiro Rua da Prata, 20.
» Bismark Rua do Chiado, 47.
» Segurança Rua dos Fanqueiros, 121,
» Lisbonense Rua dos Gapellistas, 7.
» Pedro Alexandrino . Travessa de Santa Justa, 70.
» Heroísmo Largo do Pelourinho, 13.
» Paraizo Travessa do Almada, 12.
» Portugal e Brazil. . Praça de D. Pedro, entrada
pela rua do Arco do Ban-
deira, 229.
» Embaixadores .... Rua Nova do Almada, 116.
» Pomba de Oiro . . . Rua Nova do Carmo, 102.
» Espafiol Rua da Prata, 156.
» Portuense Rua do Arsenal, 54.
Grand Restaurant Francez Largo de S. Julião.
BANCOS EM LISBOA
Banco de Portugal. — Rua dos Capellistas, 148.
Banco Lusitano. — Rua dos Capellistas, 85.
Banco Hypothecario. — Largo de Santo António
da Sé.
Banco Nacional Ultramarino. — Rua dos Capel-
listas, 74.
DO VIAJANTE 21
Banco AUiança do Porto (caixa filial). — Rua do
Ferregial de Cima, 6.
Banco Commercial do Porto (caixa filial). — Rua
da Emenda, 65.
Banco Mercantil Portuense (caixa filial). — Tra-
vessa das Pedras Negras, 1.
Banco Popular Hespanhol. — Largo do Carmo, lo.
London & Brazilian Bank Limited. — Rua nova
do Almada, 69.
Banco União do Porto, — Travessa de S. Nico-
lau, entrada pela rua do Crucifixo, 38.
BANQUEIROS
Eruz & Companhia. — Travessa das Pedras Ne-
gras, I.
José Gonçalves Franco & Filho. — Rua dos Ca-
pellistas.
Fonseca, Santos & Vianna. — Rua dos Capel-
listas.
Fortunato Chamico Júnior. — Calçada de S. Fran-
cisco, 10.
Ricardo Carvalho & Companhia. — Rua dos Fan-
queiros, 156.
J. R. Branco. — Largo de Santo António da
Sé, 19.
Warburg & Dotti. — Rua do Ferregial de Ci-
ma, 4.
22 NOVO GUIA
COMPANHIAS DE SEGUROS MARÍTIMOS
E CONTRA VIDAS
Companhia Fidelidade — Marítimos e fogos. —
Largo do Corpo Santo.
Companhia Bonança — Marítimos e fogos. —Rua
do Ouro.
Companhia Segurança do Porto (agencia em Lis-
boa). — Rua da Magdalena.
Companhia Garantia do Porto (agencia em Lis-
boa).— Calçada de S. Francisco, 10.
Companhia Indemnisadora do Porto — contra fo-
gos e vidas. —Largo do Corpo Santo.
Companhia La Espanola de Madrid — Marítimos
e vidas. — Travessa das Pedras Negras, i.
Companhia Asseguradora de Barcelona, seguros
marítimos. —Travessa das Pedras Negras, 1.
Companhia El Fénix Espafíol — contra fogos. —
Largo de Santo António da Sé, 3.
Companhia La Atlantique du Havre, seguros ma-
rítimos. — Largo de Santo António da Sé, 3.
Companhia La União de Madrid, seguros marí-
timos, contra fogos e vidas.— Rua do Príncipe, 63.
Companhia La Cataluna, Barcelona — seguros
marítimos. — Travessa da Palha.
Companhia El Lloyd Andaluz, seguros marítimos-
— Rua da Emenda.
Companhia London <& Lancashire seguros contra
fogos.— Largo dos Torneiros.
DO VIAJANTE 23
Companhia Queen, seguros contra fogos. — Rua
da Prata.
Companhia Sun Fire, seguros contra fogos. —
Rua da Magdalena.
Companhia Royal, seguros contra fogos. — Rua
da Prata.
Companhia Liverpool, London & Globe, seguros
maritimos e contra fogos, — Rua do Alecrim.
Companhia Norviche Union, seguros contra fo-
gos e vidas. — Rua do Crucifixo.
Companhia La Baloise, seguros maritimos. —
Rua dos Capellistas.
É fácil termos deixado de mencionar alguma com-
panhia ou associação, com a brevidade que deseja-
mos dar á publicação d'este Guia.
CLASSIFICADORES DE NAVIOS
Vertias austríaco, agencia em Lisboa e Porto. —
Agente, Pedro Gomes da Silva. —Rua das Pedras
Negras, 1. — Peritos ; António José Sampaio e Ale-
xandre José da Costa — ambos no Boqueirão do
Duro (á Boa- Vista) em Lisboa. Carlos Joaquim de
Azevedo Vareta e Custodio Martins da Silva San-
tos — ambos no Trem do Ouro (Porto).
Ventas francez, agencia em Lisboa. — Agentes,
24 NOVO GUIA
Torlades & Companhia. —Travessa do Sequeiro (ás
Chagas), 1, — Porto, Francisco Urbano de Passos.
— Rua dos Ferreiros (á Estrella), 63.
COMPANHIAS E ESTABELECIMENTOS DE CREDITO
Empreza de transportes fluviaes. — Calçada de
S. Francisco, 10.
Compagnie des services maritimes des message-
ries^maritimes. Carreiras entre o Brazil e Rio da
Prata.— Travessa do Sequeiro (ás Chagas), 1.
Liverpool Brazil and River Plate Stean naviga-
tion company Limited, — Rua do Alecrim, 10.
Ligne peninsulaire — Entre Havre, Lisboa, Ca-
diz, Gibraltar e Málaga. — Largo do Pelourinho, 19.
Carreira regular e mensal dos vapores entre
Liverpool, Pará, Maranhão e Ceará. — Rua do Ale-
crim, 10.
The Spanish d Portuguese Screw Steam Shipping
Company. Vapores entre Londres e Cadiz. — Praça
dos Romulares.
Empreza lusitana de navegação por vapor para
Africa, Açores e Algarve. — Rua do Ferregial de
Cima, 6.
Empreza insulana de navegação. — Vapores para
os Açores, S. Miguel, Terceira, Graciosa, S. Jorge
e Fayal. Agencia, Cães do Sodré, 84.
DO VIAJANTE 25
Clyde Uno of Steamers to Brazil & the River
Plate. — Para Liverpool e Glasgow. Agencia, tra-
vessa do Athayde, 7.
Linha dos vapores hespanhoes — Agencia, rua
do Alecrim, 108.
Rorjal Cross Line of Steamers. — Rua dos Capel-
listas, 120.
The Pacific Steam Ncwigation Company. — Rio
de Janeiro, Montevideo, Boenos-Ayres, Valparaiso,
Africa, Islay e Calláo, Cães Sodré, 64.
The Spanish & Portuguese Screw Steam SJiip-
ping Company. — Linha de vapores entre Londres
e Cadiz. Praça dos Romulares, 6i.
Companhia insultam de navegação para Lon-
dres p Madeira. — Rua do Ferregial de Baixo, 3.
Liverpool and Maraulmn Steam Ship Company.
— Carreira mensal de vapores entre Liverpool e
Maranhão, tocando em Lisboa. Rua dos Capellis-
tas, 3i.
Companhia Royal Mail Steam Packet. — Rua
dos Capellistas, 31.
Compagnie des messageries maritimes. Paque-
bots poste frança ise. Ligne du Brésil et de la Plata.
— Travessa do Sequeiro das Chagas, 1.
26 NOVO GUIA
AGENCIAS, ASSOCIAÇÕES E COMPANHIAS
Companhia de Carruagens Omuihus
Rua do Crucifixo.
Companhia Real dos Caminhos de Ferro
Portngueze§
A Santa Apolónia.
Companhia de Lanifício*
do Campo Grande
Rua dos Retrozeiros.
Agencia dos Vapores de Belém
No Aterro da Boa Vista.
Associação Commercial de Lishoa
Praça do commercio.
Associação dos Empregados do Estado
Rua Augusta.
DO VIAJANTE 27
Associação dos Empregados no Commer-
eio e Industria
Rua dos Douradores, 72.
Centro Promotor dos Melhoramentos
das Classes Laboriosas
Largo de S. Domingos.
Companhia Perseverança
Largo do Conde Barão, 13.
Companhia do Ciae
Rua da Boa Vista.
Companhia Lisbonense de Tabacos
Em Santa Apolónia.
Companhia de Tabacos de Xabregas
Em Xabregas.
Caixa de Credito Industrial
Rua dos Douradores, 92.
28 NOVO GUIA.
Agencia Primitiva de Annuncios
Rua Augusta, 270.
— Gfe$cs>a —
DESPACHANTES ENCARTADOS DA ALFANDEGA
DE LISBOA
António Rodrigues Tocha.
Guilherme dos Passos Peixoto.
Manuel José Raptista.
Carlos Augusto Chaves Nunes.
António da Silva.
Augusto Radich.
Domingos José Marques.
Casimiro Covacich.
Joaquim Lourenço Freire.
Justiniano José Marques.
João Carlos Raposo.
José Maria Raposo.
António Jacinto Martins Seromenho.
José Manuel do Valle.
Januário Seabra.
Chambica Gonçalves.
José Rernardino da Cunha Gomes.
António Joaquim Leite Ribeiro.
Cândido António de Faria.
João Libório da Cunha.
DO VIAJANTE 29
José Ribeiro Freire.
João de Sampaio De Roure.
Augusto Victo Veiga da Cunha.
Duarte Braga.
João Joaquim da Silva Negrão.
Jorge Potier Alvares.
António Martins Fonseca Cardoso.
Francisco José da Silva Granate.
Raphael Archanjo de Carvalho.
Francisco Roberto da Pena Monteiro.
Caetano José Xavier de Sousa.
CORRECTORES DE NUMERO
DE CÂMBIOS E FUNDOS PÚBLICOS
Domingos Chiapori. — Rua dosCapellistas, 113,
João Eduardo da Silva. — Rua dos Capellistas,
113.
Hermano Frederico Moser. — Rua do Ferregial
de Baixo, 5.
DE MERCADORIAS E LEILOES
António Gonçalves Lamarão. — Escriptorio na
Praça do Commercio.
António José de Abreu. — Escriptorio na Praça do
Commercio.
30 NOVO GUIA
António Joaquim Xavier de Sousa. — Escriptorio
no edifício da alfandega de Lisboa.
António Massa. — Escriptorio na Praça do Com-
mercio.
António de Oliveira Guimarães. — Rua nova da
Trindade, 12, e na Praça do Gommercio.
António Victor Pereira Merello. — Escriptorio na
Praça do Commercio.
DE NAVIOS È LEILÕES
António José Gomes Netto. — Cães do Sodré, 1,
e na Praça do Gommercio.
Francisco de Paida Gavazzo. — Rua do Ale-
crim, 21.
POLICIA CIVIL DE LISBOA
COMMISSARIADO GEEAL
(No edifício do governo civil.)
Commissario geral — D. Diogo de Sousa.
Ha três divisões de policia.
Os commissariados acham-se abertos desde as
nove horas da manha até ás três da tarde, e des-
de as oito até ás nove da noite; havendo sempre
em todas as esquadras um empregado de gradua-
DO VIAJANTE 31
ção para receber e dar o devido andamento a to-
das as queixas, que se apresentam e digam res-
peito ao serviço policial.
Freguezias respectivas a cada nm dos bairros e divisões
de policia civil de Lisboa
BAIRRO ORIENTAL E PRIMEIRA DIVISÃO
DE POLICIA
Anjos — S. Jorge (intra-muros) — Santo André
— Santa Engracia — S. Vicente — S. Christovão
— S. Lourenço — Pena — Soccorro — Santa Cruz
do Castello — Santo Estevão — S. João da Praça
— S. Miguel — Sé — S. Thiago.
RAIRRO CENTRAL E SEGUNDA DIVISÃO
DE POLICIA
Coração de Jesus — S. José — S. Julião — Santa
Justa — Magdalena — S. Nicolau — Conceição Nova
— Encarnação — Martyres — Sacramento — S. Se-
bastião da Pedreira (intra-muros).
BAIRRO OCCIDENTAL E TERCEIRA DIVISÃO
DE POLICIA
Santa Isabel (intra-muros) — S. Mamede— Santa
Catharina — Mercês — S. Paulo — Alcântara (intra-
muros — Lapa — Santos o Velho.
32 NOVO GUIA
ESTABELECINENTOS FUNERÁRIOS
São quatro os mais notáveis da capital : o do
Castro situado na rua de Santo Antão ; o do Bor-
cken, no fim da rua nova da Palma ; um no largo
da Abegoaria, junto á rua da Trindade, que fornece
carros fúnebres no gosto moderno, abertos, com
colúmnas e muito luxuosos; e um outro na rua
do Arco de Jesus, ao pé da rua Formosa.
Estes dois últimos estabelecimentos também agen-
ceiam funeraes, desde baixos preços até quantias
elevadas.
POSTOS MÉDICOS
Estabelecidos nas principaes ruas da cidade,
como rua Augusta, da Prata, dos Fanqueiros, de
S. Bento, etc. São destinados a fornecer facultati-
vos de dia e noite, aonde forem reclamados com
urgência, mediante uma retribuição estabelecida.
São de bastante alcance estes estabelecimentos,
pois n'uma capital dão-se frequentes casos de
doenças repentinas e mesmo desgraças, que reque-
rem os promptos cuidados de um facultativo.
DO VIAJANTE 33
CORREIO
TABELLA DOS PORTES DA8 CORRESPONDÊNCIAS
Correspondências do reino e Ilhas adjacentes
e da posta interna
Cartas
Franquia facultativa
Sendo franqueadas por meio de sêllos postaes :
Até 10 grammas inclusivamente 2o réis
» 20 • » 50 »
» 30 » » 7o »
E assim por diante, subindo 25 réis por cada 10
grammas ou fracção de 10 grammas que acres-
cer.
Nâo sendo franqueadas por meio de sêllos pos-
taes :
Até 10 grammas inclusivamente 50 réis
» 20 » » 100 »
d 30 » » 150 )>
E assim por diante, subindo 50 réis por cada 10
grammas, ou fracção de 10 grammas que ac-
crescer.
3
34 NOVO GUIA
Correspondências estrangeiras
Recebidas avulsas por via de Hespanha, qual-
quer que seja a sua procedência, não transmiti-
das em conformidade com as convenções postaes.
Cartas
Até 10 grammas inclusivamente 200 réis
» 20 » » 400 »
» 30 » » 600 »
E assim por diante, subindo 200 réis por cada 10
grammas, ou fracção de 10 grammas que acres-
cer.
Recebidas avulsas ou em malas por via maríti-
ma, não transmitticlas em conformidade com as
convenções postaes.
Cartas
Até 10 grammas inclusivamente 100 réis
» 20 » » 200 »
» 30 » » 300 »
E assim por diante, subindo 100 réis por cada 10
grammas, ou fracção de 10 grammas que acres-
cer.
Recebidas da America do sul, ou para alli ex-
pedidas por barcos de vapor não subsidiados por
DO VIAJANTE 35
governos estrangeiros, com os quaes esteja, ou ve-
nha a ser regulada por convenções ou ajustes a
expedição e recepção das correspondências.
Cartas
Até 40 grammas inclusivamente 80 réis
» 20 » i 160 »
» 30 » » 240 »
E assim por diante, subindo 80 réis por cada 10
grammas, ou fracção de 10 grammas que acres-
cer.
Recebidas de Gibraltar, ou para alli expedidas
por via de Hespanha.
Cartas
Até 10 grammas inclusivamente 60 réis
» 20 » » 120 »
» 30 » » 180 »
E assim por diante, subindo 60 réis por cada 10
grammas, ou fracção de 10 grammas que acres-
cer.
CorrcKponclenrluN rc-isiudus para o reino
e ilha* udjurenlCM
Franquia obrigatória por meio de stMlos do correio
Por cada carta ou maço :
Premio fixo do registo 100 réis
36 NOVO GUIA
Porte, o correspondente ao peso segundo a classe
das correspondências.
Correspondências apartadas, nacionaes
ou estrangeiras
i
Por cada carta, ou maço de impressos,
e amostras de fazendas 10 réis
Províncias ultramarinas
(N3o tem franquia por meio de sêllos)
Cartas
Até 15 grammas, inclusive 50 réis
» 22,5 » » 100 »
» 30 » » 150 »
E assim por diante, augmentando 50 réis por cada
7,5 grammas.
Impressos, lytographias ou gravuras (cintados)
Até 30 grammas, inclusive 20 réis
» 60 » » 40 »
» 90 » » 60 »
E assim por diante, augmentando 20 réis cada 30
grammas.
DO VIAJANTE 37
Manuscriptos e amostras de fazendas (cintados)
Até 30 grammas, inclusive 50 réis
» 60 i » 100 »
» 90 » » 150 ■
E assim por diante, augmentando 50 réis por cada
30 grammas.
Jornaes cintados, cada folha de impres-
são 10 réis
Cartas registadas : premio fixo do regis-
to de cada carta, além do porte 100 »
Tabeliã dos portes a que Ueatu sujeitas as corrcspon-
deneias franqueadas originarias de •"oriu^ul. ."Ma-
deira e Açores, coiu destino para Itália e para os pai-
zes a que a Itália serve de intermédio nos termos da
convenção postal de i de abril de isso
CORRESPONDÊNCIAS ORIGINARIAS DE PORTUGAL, MADEIRA.
E AÇORES, COM DESTINO PARA ITÁLIA
Cartas ordinárias e amostras de fazendas
por via de Hespanha e França
Franquia facultativa em séllos
Até 10 grammas inclusive láO réis
E assim por diante, augmentando 120 réis por cada
10 grammas, ou fracção d'este peso.
38
NOVO GUIA
Cartas ordinárias e amostras de fazendas
por via marítima
Franquia obrigatória em sêllos
Até 15 grammas inclusive 100 réis
E assim por diante, augmentando 100 réis por
cada 15 grammas, ou fracção d'este peso.
Cartas e impressos registados por via de Hespanha
e França
Serão sempre franquiados por meio de sêllos, e
aos portes respectivos se addicionará o premio in-
variável de 100 réis em sêllos pelo registo.
N. B. Por via de mar não se expedem corres-
pondências registadas.
CORRESPONDÊNCIAS ORIGINARIAS DE PORTUGAL
MADEIRA E AÇORES, EM TRANSITO POR ITÁLIA, COM DESTINO
PARA OS PAIZES ABAIXO ASSIGNADOS
Áustria
Cartas ordinárias, franquia facultativa até ao des-
tino, 170 réis por cada fracção até 10 grammas.
Cartas registadas, idem obrigatória, 290 idem.
Jornaes e outros impressos, idem, 35 idem.
Greda
Cartas ordinárias, idem facultativa, 170 idem.
DO VIAJANTE 39
Cartas registadas, idem obrigatória, 290 idem.
Jornaes e outros impressos, idem, 35 idem.
Egypto (excepto Alexandria)
Cartas ordinárias, idem até Alexandria, 170 idem.
Jornaes e outros impressos, idem, 30 idem.
Alexandria do Egypto e Tunes
Cartas ordinárias, idem facultativa até ao destino,
170 idem.
Cartas registadas, idem obrigatória, 290 idem.
Jornaes e outros impressos, idem, 30 idem.
Tripoli da Berbéria
Cartas ordinárias, idem, 170 idem.
Jornaes e outros impressos, idem, 30 idem.
N. B. É expressamente prohibido incluir nas
cartas que não forem registadas, dinheiro ou quaes-
quer outros objectos de valor. As cartas não re-
gistadas, contendo qualquer dos objectos mencio-
nados, serão retiradas nas estações postaes, em
que forem lançadas, e enviadas olficialmente á di-
recção geral dos correios, que procederá á sua
abertura, e fará entrar nos cofres da fazenda, á
qual íicam pertencendo, os objectos n'ellas encon-
trados. No caso de perda ou descaminho de algu-
ma carta registada, que contenha dinheiro, jóias,
ou quaesquer outros objectos de oiro ou prata, a
40 NOVO GUIA
administração geral dos correios só pagará ao re-
mettente a indemnisação de 5$000 réis. As cartas
que houverem de ser registadas, apresentar-se-hão
fechadas com lacre, que deverá prender todas as
dobras dos sobrescriptos.
Os maços de impressos, manuscriptos ou amos-
tras de fazendas, que contiverem cartas, serão por-
teados como cartas não franqueadas e remettidas
ao seu destino. Os maços que contiverem junta-
mente impressos, manuscriptos ou amostras, de-
verão ser franqueados pelo maior porte, que com-
petir á classe das correspondências n'elles encer-
radas; não se achando satisfeitas estas condições
os ditos maços ficarão retidos, até lhe serem affi-
xados pelos remettentes os sêllos que lhe faltarem.
Nenhum maço de impressos ou de amostras de-
verá exceder o peso de 1:000 grammas.
— <=G=>o<=3a-
SERVIÇO TELEGKAPHICO NACIONAL
TAXA DOS TELEGBAMMAS TROCADOS ENTRE DUAS ESTAÇÕES
PORTUGUEZAS
Dentro do reino
Por cada despacho simples de uma a
vinte palavras 200 réis
Por cada serie de 10 a mais das vinte 100 »
DO VIAJANTE M
Dentro do recinto de Lisboa e Porto
Por cada despacho simples de uma a
vinte palavras 50 »
Por cada serie de dez a mais das vinte 25 »
Fazem parte do recinto de Lisboa as estações
de Belém, Ajuda e Bom Successo, e do Porto as
da Foz do Douro, Mattosinhos e Devezas.
Por aviso que se pretenda de estar á
vista qualquer navio de guerra ou
paquete 100 réis
Para o que se dará parte previamente nas es-
tações principaes de Lisboa ou Porto.
Por cada despacho trocado entre as esta-
ções telegraphicas e os navios no mar 600 réis
Sendo só trocado entre a estação e o na-
vio, sem que tenha de ser transmittido
pelo telegrapho eléctrico 400 ■
TABELLIAES DE LISBOA
António de Abranches Coelho, rua dos Capellistas,
109, loja. — Cartório n.° 6.
42
NOVO GUIA
António Joaquim Freire Cardoso, rua do Ouro, 26,
loja. — Cartório n.° 8.
Avelino Eduardo da Silva Mattos e Carvalho,
rua do Ouro, 265, sobre-loja. — Cartório n.°
16.
Camillo José dos Santos, rua do Arsenal, 1.° —
Cartório n.° 13.
João António Godinho e Lima, praça de D. Pedro,
93, loja. — Cartório n.° 14.
Francisco Guilherme de Brito, rua do Ouro, 165,
sobre-loja. —Cartório n.° 10.
Francisco Vieira da Silva Barradas, rua Augusta,
28, 1.° — Cartório n.° 7.
João Baptista Ferreira, rua nova do Carmo, 102,
sobre-loja. — Cartono n.° 9.
João Baptista Scola, rua da Magdalena, 75, 1.° —
Cartório n.° 15.
Jorge Camelier, rua do Ouro, 50, 1.° — Cartó-
rio n.° 4.
Jorge Filippe Cosmelli, rua do Crucifixo, 50, so-
bre-loja.— Cartório n,° 18.
José Carlos Rodrigues Grillo, rua de S. Bento, 61,
loja. — Cartório n.° 12.
José Justino de Andrade e Silva, rua da Magda-
lena, 8, 1.° — Cartório n.° 2.
José Maria Barcellog Júnior, rua do Ouro, 265, so-
bre-loja.— Cartório n.° 1.
Manuel Augusto de Moraes da Silva, rua Augusta,
141, 1.°— Cartório n.° 3.
DO VIAJANTE
43
Manuel Bernardino Soares de Brito, rua de Santo
Antão, 9, 1.° — Cartório n.° II.
Manuel Maria Mascarenhas Xavier de Brito, rua da
Prata, 98, 2.° — Cartório n.° 5.
Pedro Ricardo Cosmelli, rua de S. Paulo, 238, so-
bre-loja. — Cartório n.° 17.
TABELLA PERMANENTE DOS CAMINHOS DE FERRO
PORTLGIEZES
ENTRE LISBOA E O ENTRONCAMENTO
Estações
Preço dos bilhetes
por classes
1.
Lisboa
Poço do Bispo ....
Olivaes
Sacavém
Povoa
Alverca
Alhandra
Villa Franca .....
Carregado
Azambuja
Ponte de Reguengo
Bant'Anna
Valle de Santarém
Santarém
Valle da Figueira .
Matto de Miranda.
Torres Novas
£120
£140
1190
£350
|420
£500
*590
3700
£040
0160
£420
£420
|590
£780
£950
£090
£110
£150
J270
£330
£390
£4H0
1550
1810
£900
1£110
l 1110
1£240
I
l 1520
,<i70
£080
£110
£190
£240
1280
£330
0580
0650
0790
0990
;
44
NOVO GUIA.
ENTRE LISBOA E PORTO
Estações
Preços dos bilhetes
por classes
1.
3.a
Lisboa
Entroncam. !£hefada
/Partida
Thomar (Payalvo)
Chão de Maçãs
Casarias
Albergaria
Vorrnoil
Pombal
Soure
Formoselha
Taveiro
Coimbra '
Souzella
Mealhada
Mogofores
Oliveira do Bairro
Aveiro
Estarreja
Ovar
Esmoriz
Espinho
Granja
Valladares
Villa Nova de Gaya
20030
2£290
20460
20650
20840
80070
30220
30520
30820
40010
40130
40260
40480
4^640
40790
50160
50450
50690
50900
60020
60070
60200
60300
10580
10780
10920
20060
20210
20390
20500
20740
20970
30120
30210
30310
30490
30610
30720
40020
40240
40430
40590
40680
4^720
40830
40900
10130
10280
10370
10470
10580
10710
10790
10960
20130
20230
20290
20370
20490
20580
20b6O
20870
30030
30170
30280
30340
30380
30450
30500
ENTRE LISBOA E BADAJOZ
Lisboa
E.itroncam.!Shegda|.
( Partida )
Barquinha
Praia
20030
20100
20250
10580
10640
1$750
10130
10170
10250
DO VIAJANTE
45
Estações
Tramagal
Abrantes.
Bemposta
Ponte de Sor
Chança
Crato
Portalegre . .
Assumar
Santa Eulália,
Elvas
Badajoz ,
Preços dos bilhetes
por classes
1.»
2^4G0
2ò560
2ò780
3*100
3„4S0
36780
■i^ilO
4^300
4 £650
5S010
5^340
1*920
1*990
2*170
2*420
2-5710
2^*40
3 MOO
3*340
3*620
3*900
4^150
U370
1*420
1 *550
1*730
U940
2*100
2*280
2*390
2*590
2á7^0
2*960
BILHETES ESPECIAES A FREÇOS REDUZIDOS
1.° Bilhetes de 3.a classe de ida e volta, válidos desde
os sabbaios até ás segundas feiras, e desde as vésperas
doa dias santificados até ao immediato a estes de Villa
Nova d'1 (*aya a todas as estações até Ovar.
2.° Bilhetes de todas as classes, diários de ida e volta,
com abatimento de 20 por cento.
De Lisboa a todas as estações até Santarém, e vice-
versa.
1 ) ■ Villa Nova de Gaya a todas as estações até Aveiro
e vice-verga.
De Coimbra a todas as estaçàes até Pombal, e vice-
ver.-a.
De Coimbra a todas as estações até Villa Nova de Gaya
e vice versa.
De Elvas a Badajoz, e vice- versa.
3." Bilhete* collectivofl de 3.a classe a 6 réis por pessoa
o kilometro, pari grupos nunca inferiores a 20 passageiros
das estações comprehendidai entre Villa Nova de Gaya e
Soure inclosivé para ns compreheodidaa :
1.° Entre Ponte de Sor e Elvas inclusive ou vice-versa
2.° » Entroncamento a Lisboa » » »
46 NOVO GUIA
CAMINHO DE FERRO DO SUESTE
Estação principal, Praça do Commercio (ponte
dos vapores), escriptorio da direcção, no edifício da secretaria
das obras publicas
Serviço dos vapores
Estações
Preços
de Lisboa
Estações
Preços
do Seixal
Ké
Proa
Ré
Proa
:
__
50
30
Cam.° de ferro .
50
30
Cam.° de ferro .
150
100
50
30
150
100
150
100
SUL E SUESTE
Barreiro
Lavradio
Alhos Vedros
Moita
Pinhal Novo (Entronca
mento)
Palmella
Setúbal
Poceirão
Pegões
Vendas Novas
Montemor
Casa Branca (Entron
camento
Alcáçovas
Distan-
Preço dos bilhetes
cias
por classes
Kilom.
1.»
2.a
3.*
,
.
_
2
£170
$140
$100
5
$170
$140
$100
8
$240
$190
$140
15
$420
$320
#230
23
$620
$480
$330
28
$750
$570
$390
30
$800
$610
$420
42
1$100
$830
$570
57
1$480
10120
:>760
78
1$930
1$460
$990
91
2$310
10740
10170
103
2$610
10970
10330
DO VIAJANTE
47
Estações
Distan-
cias
Kilom.
Preço dos bilheteí
por classes
1."
Vianna
Évora
Villa Nova.
Alvito
Cuba
Beja
Baleisào . . .
Quintos. . . .
Outeiro
Figueirinha
Carregueiro
Casevel
Azareja
Vai Pereira
111
23810
23120
13430
117
2£960
23230
13500
117
23990
23250
13510
125
3,5190
2 MOO
13620
138
3 £490
2^630
13770
154
33920
23950
13980
166
4 5220
33180
23130
174
4 5420
30330
23230
170
43330
33360
2 5190
4 5610
33460
2 5310
191
43860
3 5650
2*400
200
5 .120
33840
2 5580
136
3 5460
1610
1*750
141
33590
2,3710
13820
N. B. Todos os bilhetes comprados em Lisboa teem o
augmento de 150 réis para o vapor na 1." e 2.a classe, e
100 réis na 3.a classe.
Para a linha de Quintos só ha comboyos ás terças, quin-
tas, sabbados e domingos.
48
NOVO GUIA
PREÇOS DA COMPANHIA DE CARRUAGENS LISBONENSES
Estação central. — Largo de S. Roque. Estação filial. —Rua direita
d'Âlcantara, 50 a 53. Estações telegraphicas. — Travessa de Santa
Justa, 85. — Rua de S. Bento, 25 (próximo á calçada da Estrella).
Tabeliã de preços
DEMARCAÇÃO para 0 SERVIÇO ordinário das carruagens
Dá-Fundo, largo d'Ajuda, largo do Calhariz e egreja parochial de
Bemfica, largo de Carnide, calçada de Carriche (Nova Cintra),
Ameixoeira, largo da Charneca, alto da Portella, largo dos Olivaes.
SERVIÇOS
PREÇOS
TREU
CBAR-Á-BANCS
TREU
4 pessoas
2 pessoas
9 pessoas
Dentro da demarcação
POR DIA
Todo o dia, desde o romper do
sol até á meia noite
Manhã, desde o romper do sol
até ao meio dia ..........
$$000
2$000
3$000
$400
3$500
1$800
2$500
$300
6$000
3$500
4$500
$800
Tarde, desde o meio dia até á
Cada hora de serviço, antes ou
depois das horassupra
ÁS HOKAS
Desde o romper do sol
até á meia noite
Terceira e seguintes, não ha-
vendo interrupção
Meias horas depois das 2 . . .
1$300
" $400
$200
1$200
$300
$200
-$-
-$-
-$-
Fora da demarcação
Alérn dos preços acima estipu-
lados paga-se mais :
Por cada légua fora da de-
marcação
$400
$200
$300
$200
$600
$300
Por cada meia légua mais ...
DO VIAJANTE
49
PREÇOS
*
SERVIÇOS
*
TKEM
TREM
CHAR-Á-BANCS
í pessoas
2 pessoas
9 pessoas
Serviço especial
Ostra— Dia todo, levar e tra
zer, desde o romper do sol
6£500
?i3500
10£200
Ir levar ou buscar
5^800
4£000
3 ,200
Collares — Dia todo, levar e
8^600
6£<i00
13á00n
Levar ou buscar
tíà-200
1 00
9^600
Mafra — Dois dias, ir n'um dia
1-2^000
9£000
18^000
Um dia, ir levar ou buscar. . .
8^000
6*>Í00
12^000
Ericeira — Dois dias, ir n'um
dia e voltar no seguinte . .
1i$2f»0
1 1 àOOO
22^000
Ir levar ou buscar.
10*300
8*400
IGjàOOO
Mafra, Ostra, Lisboa — Três
dias, indo de Lisboa a .Ma-
fra, no dia seguinte a Cin-
tra, e no terceiro para Lis-
16^800
ispoo
•27 £000
Estoril E Cascaes — Dia todo.
levar e trazer, desde o rom-
per do S( l até á meia noite
6^000
íiáOOO
9^000
I ,:;oo
4jà000
7^000
Qieli z ou Bellas— Para qual-
quer d'estas localidades Dão
augiwnlam os preços, por
dia, dentro da demarcarão.
uma vez que os trens não ia
çani serviço em Lisboa.
Cami.mio di Ferro - levar ou
bQKftl
H-200
1 ,000
-£-
Tiikvtro — levar e buscar . . .
IJ500
i boo
-è-
Bajli — levar e buscar. . . .
, 000
■1 ,'.0<»
l—
1 1800
1 ij.'i00
"*- 1
OU NOVO GUIA
Aluguer aos niezes
SERVIÇOS
*
PREÇOS
TREM TREM
4 pessoas 2 pessoas
78£000
70$000
ESTABELECIMENTO DE CARRUAGENS
DE CAMPOS JÚNIOR
Rua do Arco do Bandeira, n.° 187
Ha um variado sortimento de trens, como se
fossem particulares, commodos e elegantes, sendo :
caleches, coupés, victorias, phatons, char-a-bancs,
etc, próprios para visitas, theatros, casamentos,
baptisados, passeios ao campo, banhos, e todos os
mais serviços.
Também se alugam trens aos mezes. Os preços
são os mais rasoaveis, e nâo superiores aos dos
outros estabelecimentos.
DO VIAJANTE 51
Tabeliã dos preços dos trens de aluguer
PREÇOS DOS TRENS DE PRAÇA
Designação do serviço
DENTRO DA CIDADE
Corrida
Ás horas :
Cada hora
Cada V ■, hora mais
Cada l | de hora mais. . . .
FORA DA CIDADE
Yumr. área de 10 kilometros
a contar do ponto de parti ia
Ás hora- :
Cada r j de hora de ida . . .
í Sada Vi de hora de espera.
De volta para a cidade . .
Preços
de dia
300
400
200
100
150
100
Preços de noite
Até a
1 hora
320
210
105
155
100
Da 1 hora
até ao
romper da
aurora
620
820
410
205
305
100
do que fòr contado pela ida
OBSERVAÇÕES
que forem transportados mais de dois passagei-
ros, augmenta o preço, por cada um que exceder, no equi-
valente a metade do que fica estabelecido para dentro da
cidade, o para fora com respeito a ida e volta.
Qualquer espaço de tempo, maiox de cinco minutos, que
exceda aquelle que se contar na forma da presente tabeliã,
será tido como um quarto de hora, para ser pago n'essa
conformidade.
O preço da passagem de noite só tem logar quando ac-
cesa a illuminação publica no ponto da partida.
52 NOVO GUIA
COMPANHIA DE CARRUAGENS OMNIBUS
Largo do Pelourinho n.os 16 e 17
Tabeliã das viagens, horas e preços de diferentes carreiras,
dependentes das alteraçôss que o serviço possa exigir
Carreira de Belém. — Verão — 25 viagens das 7
horas da manhã ás 10 da noite.
Inverno — 20 viagens das 772 da manhã ás 7d/2
da noite.
Termo médio entre viagem é de á/a hora.
Preço 80 réis de dia, 120 á noite; estação em
Alcântara, preço 50 réis.
Carreira de Bemíica. — Verão — 5 viagens das 7'/4
da manhão ás 73/4 da noite.
Inverno — 3 viagens das 7'/4 da manhã ás 6'/2
da noite.
Preço — Dia 120 réis, noite 160 réis. Estações
ás portas 60 réis dia, 80 réis noite.
Carreira do Lumiar. — Idem.
Carreira do Poço do Bispo. — Idem. Preço 80 réis
dia e noite, estação a Xabregas 60 réis.
Carreira de Oeiras. — Verão e inverno — 1 viagem.
Ida ás 3 horas da tarde, volta ás 7 da manhã,
preço 240 réis. Estações : Alcântara 50 réis, Belém
80 réis, Pedroiços 120 réis, Cruz Quebrada 160 réis.
Carreira de Cintra. — Extraordinárias. — Preço 600
réis por pessoa ida ou volta ; ida e volta 1$000 réis.
Alugam carruagens para differentes pontos —
médio do preço, o completo da carruagem.
DO VIAJANTE 53
HOTÉIS E CASAS DE PASTO
Grande Hotel. — Rua do Chiado, 72. Ésemcon-
tradieção a primeira casa de pasto de Lisboa, tanto
pela boa sociedade que a frequenta, como pela
perfeição de seus diversos e exquisitos manjares.
É seu proprietário o bem conhecido Matta. For-
nece jantares diplomáticos, ceias para bailes, etc.
Restauram Central, — Rua do Oiro, entrada pela
travessa da Assumpção, 90.
União. — Rua da Conceição (vulgo rua dos Re-
trozeiros), 149.
Irmãos Unidos. — Rua das Gallinheiras, 1 1 ; tam-
bém tem entrada pela Praça de D. Pedro, 113.
Garcia. — Pasteleiro na rua da Prata, 2G7.
Estreita de Oiro. — Rua da Prata, 289.
Peixe assado. — Bua larga de S. Roque, 72.
Gaito. —Rua dos Algibebes, 91.
Antigo Cambalhota. — Rua Oriental do Passeio.
145, entrada pela escada.
Antigo Magina. — Pateo do Duque (atraz do
theatro de D. Maria), tem também entrada pela
rua de Santo Antão, 9.
Toboas. — Travessa de S. Domingos, 47.
Manuel Lourenço. — Rua da Prata, 100.
João do Gallo. — Rua da Prata, 54.
Chuça. —Rua da Prata, 53.
Antigo Penim. — Travessa do Regedor, 18; en-
trada pela escada.
84
NOVO GUIA
Estrella de Prata. — Rua nova do Amparo, 7.
Romão. — Rua do Arco do Bandeira,, 10. Afa-
mado pelos bons pasteis e boas ostras.
Central. — Rua do Amparo, 28.
Martins. — Rua Augusta, 214.
Ha ainda outras casas de pasto em diversos pon-
tos da capital que não vâo aqui mencionadas.
BOTEQUINS OU CAFÉS
Café Central. — Rua do Chiado. Fornece almo-
ços de garfo, ceias, etc. É frequentado pelos rapa-
zes da melhor sociedade, os quaes alli se reúnem
á noite até alta hora. Tem gabinetes reservados.
Áurea Peninsular. — Rua do Oiro ; tem bilha-
res e diversos jogos.
Antigo Tavares. — Rua larga de S. Roque ; tem
bilhares.
Café Camões. — Largo de Gamões.
Café Freitas. — Praça de D. Pedro.
Café Europeu. — Praça de D. Pedro. Tem bilha-
res.
Café Suisso. — Largo de Camões. Tem jogos.
Martinho. — Largo de Camões. Ponto de reunião
dos litteratos e politicos.
Antigo Marcos Filippe. — Largo do Pelourinho.
DO VIAJANTE 55
Martinho da Neve. — Debaixo da arcada da Praça
do Commercio, no fim da rua da Prata.
Mar rave. — Travessa de Santa Justa ; tem bilha-
res.
Antigo Barnabé. — Largo de Santa Justa ; tem
bilhar.
Café Eléctrico. — Rua de S. Julião (vulgo, rua
dos Algibebes) ; tem bilhares.
Café Francez. — Rua do Alecrim ; tem bilhares.
Café Montanha. — Travessa da Assumpção. É
um magniGco café, elegante, muito frequentado, e
tem seis bilhares no andar superior. Fornece co-
midas frias, etc.
Café do Commercio. — Praça dos Romulares, 6.
Antigo Bernardo. — Praça dos Romulares, H.
Café Pr ice (taberna ingleza). — Cães do Sodré,
76. Fornece almoços e mesmo jantares â ingleza;
é notável pelos seus bifes, e muito frequentada por
estrangeiros e maritimos.
Café Gibraltar (Restauram). — Cães do Sodré,
39. Tem bilhares, comidas frias, e bem decorados
gabinetes para senhoras.
Cajé Oriental (Restaurant). — Rua dos Algibe-
bes, 134.
Café Casino (antigo Café Concerto). — Estabe-
lecido no mesmu Casino, largo da Abegoaria; é
espaçoso, elegante, tem bilhares e diversos jogos.
No andar superior dão-se bailes mascarados, con-
certos, etc.
56
NOVO GUIA
Salão Britannico. — Praça de D. Pedro. Tem
bilhares.
Brasserie de Vienna. — Rua do Príncipe, 47.
Comidas frias, sorvetes, refescos, vinhos, cerveja
da Baviera, etc. Tem diversos jogos.
Deposito de cerveja da Baviera. — Rua do Prín-
cipe, 72. É administrada pelo fabricante de cerveja
Jansen, e fornece refescos, cervejas, etc. É deco-
rada com todo o aceio e elegância. Tem bilha-
res.
Deposito de cerveja. — Rua do Thesouro Velho.
Cerveja da Baviera da fabrica de Jansen, refrescos,
etc. É um bello estabelecimenlo muito frequentado
e tem diversos jogos.
Mayllard. — Deposito de cerveja. Rua de S. Bento.
Bolla de prata. — Calçada do Carmo, 106. Tem
bella soda Water.
Ha mais outros botequins ou cafés menos im-
portantes que aqui não mencionamos.
PHOTOGRAPHIAS
Sifca. — Photographo de suas magestades. Cal-
çada das Necessidades.
Photographie Universelle. — Rua Oriental do
Passeio, 52. Os trabalhos d'este estabelecimento
são de muita perfeição.
DO VIAJANTE 57
Aux arts reunis. — Rua nova dos Martyres, 46.
Tira também retratos a óleo.
Rocha. — Praça da Alegria, 111.
Photographia Nacional. — Damião da Graça.
Praça da Alegria, 106.
Photographia Luso-Escoceza. — Rua do Arsenal,
108.
Schenk. — Rua do Teixeira, a S. Pedro de Al-
cântara.
Loureiro. — Calçada do Duque, 18.
Bastos. — Calçada do Duque, 25.
Gomes. — Travessa das Portas de Santa Catha-
rina, 9.
Photographia Central. — Largo da Abegoaria
(junto á rua da Trindade), 4.
Rocc/iini. —Rua larga de S. Roque, entrada pela
travessa da Agua de Flor, 1.
Henrique Nunes. — Rua das Chagas.
Gomes. — Rua nova da Palma.
Pardal. — Roa de S. Paulo.
Photographia Lusitana. — Rua do Moinho de
Vento, junto ao passeio de S. Pedro de Alcântara.
Marron. — Rua do Caldeira.
Lusitana. —Madeira & Lima. Rua do Thesouro
Velho, 24.
Serra. — Calçada do Combro, 29, defronte da
egreja dos Paulistas.
58 NOVO GUIA
DIVERTIMENTOS PARTICULARES
Sob este titulo daremos noticias das principaes
assembléas, academias philarmonicas e litterarias,
onde o viajante pode ser apresentado por qualquer
sócio.
Club Lisbonense. — Establecido no largo do Car-
mo. Reunião ordinária todos os dias, jogo, leitura
de jornaes, chá, etc. No inverno, bailes, que são
dos mais esplendidos da capital e onde concorre a
mais escolhida sociedade.
Grémio Litterario. — É a reunião nocturna dos
litteratos, cavalheiros distinctos e mocidade estu-
diosa. Possue uma bella bibliotheca, jornaes nacio-
naes e estrangeiros, scientificos e políticos, jogo,
etc. Largo do Barão de Quintella ; actualmente no
palácio que pertenceu ao conde do Farrobo.
Club Portuguez. — Travessa de Santa Justa,
70.
Assembléa Lusitana. — Largo dos Torneiros, 2.
Assembléa Familiar. — Rua do Alecrim.
Recreação Phylarmonica. — Rua do Arco de
Bandeira, 226.
Sociedade Alumnos de Minerva. — Rua da Ata-
laia.
Sociedade 8 de Junho. — Rua de Nossa Senhora
da Conceição, 48.
Academia Lisbonense. — Rua da Atalaia, 138.
Academia Fenians. — Calçada dos Caldas, 166.
DO VIAJANTE 39
Ha na capital outras reuniões menos notáveis,
philarmonicas e litterarias, que offerecem distrac-
ção aos seus sócios e convidados.
BANHOS PÚBLICOS
A cidade de Lisboa é tâo pobre de estabeleci-
mentos de banhos públicos, como Portugal é rico
de aguas minera» .
O Tejo offerece suas aguas aos banhistas da ca-
pital, que nas differentes barcas destinadaas a ba-
nhos, ahi vão dar allivio a suas doenças, ou diver-
são ao espirito.
Estas barcas, que mais propriamente se po-
dem denominar banhos fluctuantess servem de uti-
lidade a quem, por economia, ou outro qualquer
motivo, não pode frequentar as bellas praias de Pe-
droiços, Paço d' Arcos, Cascaes, etc, e estacionam
em geral em frente do cães das Columnas (na praça
do Commercio) ou da praça dos Romulares. Al-
gumas são decoradas com bastante aceio, tendo
abordo todas as commodidades como : piano, bu-
fete para almoços, etc, n'este numero cita-se com
preferencia a que denominam Deusa dos Mares.
No sitio de Rilhafoles, próximo ao campo de
SanfAnna, existe o melhor estabelecimento de ba-
nhos da capital; é sem contradicção o primeiro em
60 NOVO GUIA
attenção á diversidade de banhos que offerece, ao
seu aceio, e boa ordem.
Aqui apresentamos uma tabeliã de preços, e a
designação das diversas qualidades de banhos que
alli existem.
PKEÇOS DOS BANHOS
Tépidos
GERAES
Banho de immersão de agua simples 200
(Emolliente 300
n , ) Aromático 300
ComP°stos Gelatinoso 600
( Sulphureo 480
Duche 400
I
LOCAES
fEm agua immovel 200
Horisontal 400
| Descendente 400
Semicupio-pe- _ Si leB 300
diluvio — comf (Vaginal p n t 400
duche lAscendente] c. m^ S ° * " onn
Rectal *SimPles 300
^ecm (Composto ... 400
Movei 300
Frios
GERAES
Banho de immersão com duche jSe c^orro- jjOO
( De chuva . 300
It\ j * £' \Dechorro. 300
Descendente em forma ^ , onrk
f De chuva . 300
Transversal em forma de onda. . . . 400
DO VIAJANTE 61
LOCAES
[Em agua immovel 200
Semicupio — pe-\Horisoutal 200
diluvio — com ^Descendente 200
duche i Vaginal * £imPles 20°
(a a * b I Composto ... 240
\ Ascendente <, OJ s OArk
Eectal J Simples 200
1 / Composto . . . 240
Vapor
SECCOS
Em estufa de ar quente com affusòes de agua fria
(Banho Russo) 720
Em estufa de ar quente alternado com banho de im-
mersâo, ou duche de agua fria 800
HÚMIDOS
(Simples 500
Geral j < Emolliente 600
| Composto. ,Aromatico 600
Local por meio I Simples 500
de duche fixoj » Emolliente 600
ou movei . . . . ( Composto . | Aromatico 600
Fumigações
GERAES
prtm„rta.OQ * Emolliente 500
Compostas • • • • , Sulphuroso 500
LOCAES
n . \ Emolliente 500
Compostas • •■ • ,Sull,iull.090 500
0 estabelecimento dos banhos sulfúreos do Ar-
senal da Marinha sito junto ao largo de S. Paulo
é dirigido pelo doutor Agostinho Vicente Loureiro,
e pode-se affiançar que no seu género é de bas-
62 NOVO GUIA
tante importância, pois reúne a todas as condições
necessárias que a hygiene prescreve, a commodi-
dade e a ordem que a boa sociedade requer.
Os doentes que soffrem do rheumatismo, gota,
nevralgias e especialmente de enxaquecas pertina-
zes, doenças cutâneas, chlorose e diversos acciden-
tes escrofulosos, podem recorrer com confiança á
benéfica influencia d'estas aguas superiores, não
somente a todas as aguas mineraes do reino, mas
a quasi todas as aguas da Europa, no tratamento
das mencionadas doenças. À experiência de muitos
annos tem demonstrado, que 13 a 21 banhos sul-
fúreos do arsenal curam ou aliviam mais efficaz-
mente as dores rheumaticas e nevrálgicas, que
longos, penosos e dispendiosos tratamentos. Todos
os médicos, que tiveram occasião de os applicar,
estão de accordo sobre a sua decidida superiori-
dade.
Dão-se no mesmo estabelecimento, os banhos
das aguas salino-muriaticas da fonte de S. Paulo,
análogas, mais fortes que os banhos do Estoril, e
muito efficazes contra as doenças cutâneas : assim
como os banhos simples ou de limpeza por pre-
ços muito módicos.
PREÇOS
Banhos sulfúreos do arsenal
Tina 400 réis
Jorro ou de chuva 500 »
DO VIAJANTE 63
Banhos salino-murial icos
Tina, l.a classe 240 réis
i 2.a dita 200 »
Jorro ou de chuva 300 »
Banhos simples
l.a classe 160 »
2.a dita 120 »
Jorro ou de chuva 200 »
Banhos em domicilio
Vinte e cinco litros de agna sulfúrea . 100 »
De vinte e cinco a setenta e cinco. . . . 300 »
Por cada vinte e cinco litros a mais. . 100 »
0 estabelecimento fornece roupa aos banhistas
que a desejarem.
O doutor José Romão Rodrigues Nilo também
possae um bom estabelecimento de banhos na rua
nova de S. Domingos n.° 22, próximo á Praça de
D. Pedro ; eis aqui a tabeliã dos seus preços :
Banhos simples
Banho de tina simples, avulso 300 réis
64 NOVO GUIA
Assignatura de :
6 bilhetes (6 banhos) 1$440 réis
12 bilhetes (12 banhos) 2$500 »
Banhos compostos
Banhos aromáticos, tónicos, emolien-
tes, sulphureos (caldas), avulso. . . . 450 »
Assignatura de 6 bilhetes 2$250 »
Assignatura de 12 bilhetes 3$750 »
AT. B. Os banhos compostos encom-
mendam-se de véspera.
Banho de chuva ou irrigação, duche,
avulso 200 »
Banho de bomba simples (duche horí-
sontal) 700 »
Banho de bomba composto 800 »
Duche ascendente (para hemorrhoidas,
descida ou prolapsus do útero e do
recto) 800 »
Banho de vapor simples 640 »
Banho de vapor composto 770 »
Banho de bomba de vapor (duche). . . 1$000 »
Fumigação sulphurosa 800 »
Fumigação de composição mercurial,
etc 1$000 »
Banho de estufa secca 1$000 »
Banho semicupio simples 200 »
DO VIAJANTE 65
Banho semicupio emoliente, calmante,
e sedactivo 300 réis
Pediluvio, lavagem de pés 100 »
O estabelecimento tem cadeirinhas de aluguer.
A terceira casa de banhos é situada no largo do
Poço do Borratem n.° 4 ; está montada com bas-
tante aceio, e é muito frequentada. É dirigida pelo
Doutor Brilhante.
A tabeliã dos preços é a que segue :
p, . , i Frios 240
De immersao ÍMoni08 240
^ , . * Duche 200
Decadentes.. /Dechuva 2(X)
Geraes.{ (Simples 600
i JDe vapor . . . < Aromáticos 700
D . (Terebinthinaceos 700
Banhos.. (Ruggos « 700
/ IPediluvios 200
' Locaes. ] Semicupios 200
( Fumigações 200
»
O estabelecimento oííerece gratuitamente a roupa
necessária.
5
66 NOVO GUIA
CASA DE BANHOS
No Hotel Central, cães do Sodré, esquina da
Praça dos Romulares.
N'este estabelecimento ha banhos frios, quentes,
de agua doce, salgada e mineral.
Os quartos são decorados com todo o aceio e o
serviço excellente, offerecenclo todas as commo-
didades aos banhistas.
Preços regulares.
BANHOS DAS ALCAÇABÍAS
Rua do Terreiro do Trigo, n.° 80. É o estabele-
cimento mais antigo de Lisboa, e foi construido
sobre as ruinas de uma casa de banhos árabe. São
recommendaveis para moléstia de pelle, dores rheu-
maticas, affecções nervosas, etc. Possue três qua-
lidades de agua mais ou menos saturadas de en-
xofre.
DO VIAJANTE ()7
PALÁCIOS REAES
Paço e quinta da* Necessidades
0 terreno que occupa este palácio e quinta, foi
comprado por D. João v, que reedificou a ermida
que ahi existia, da invocação de Nossa Senhora das
Necessidades, elevando-a á eathegoria de capella
real e mandou construir junto d'ella o palácio que
hoje existe. O edifício que fica ao lado da quinta
foi dado para habitação dos padres da congregação
do oratório, depois do terremoto de 1755 : foi
n'este convento que tiveram as suas sessões as
cortes constituintes de 1821. Actualmente tem ha-
vido importantes melhoramentos n'estes paços e o
terreiro que se estende pela frente da fachada prin-
cipal foi modernamente alindado ; tem uma fonte e
um gracioso e elevado obelisco de uma só e excel-
lente pedra. O palácio encerra muitas preciosida-
des, entre as quaes uma rica livraria, abundante
de manuscriplos raros, códices estimados e edi-
ções não vulgares, bem como um museu impor-
portante.
A quinta tem espaçosas ruas, onde podem rodar
carruagens ; copia de plantas exóticas e variedade
de flores, cysnes. pavões, viveiros de pássaros e
estufas. A abundância de aguas e arvoredo tornam
este sitio aprasivel.
68 NOVO GUIA
Palácio da Bempos&a
Foi edificado por D. Catharina de Portugal, viuva
de Carlos n, rei de Inglaterra, pelos fins do sé-
culo xvii. Nada tem de notável como obra d'arte,
e a sua situação no principio da estrada d' Arroios,
junto ao Campo de SanfAnna é desagradável.
D. João vi alli costumava residir e alli morreu a
10 de março de 1826. Uma das fachadas do pa-
lácio deita sobre extensa quinta. Actualmente
foi cedido para estabelecimento da escola do
exercito.
Palácio e quinta de Belém
D. João v — o rei edificador — deu começo a
este palácio, que seus successores continuaram,
muito irregularmente; contém todavia bellos salões,
aonde o imperante costuma dar seus bailes ; um
espaçoso jardim e uma vasta sala de manejo de
cavallos. Antigamente havia uma collecçâo de feras
nos pateos d^ste palácio. Ao norte fica o jardim
botânico e a Quinta de cima — outra habitação real,
das que fundou D. João v. Do lado do sul fica o
largo de D. Fernando e o bello cães de Be-
lém.
É a residência do Senhor D. Fernando, e de sua
esposa.
DO VIAJANTE G9
Palácio da Ajuda
0 real palácio da Ajuda é actualmente a residên-
cia do chefe do estado, el-rei D. Luiz i, de sua es-
posa D. Maria Pia de Saboya, e do Senhor infante
D. Augusto.
Foi D. João vi quem lançou a primeira pedra
d'este edifício sobre as ruínas do Paro velho, que
ardeu. Apenas um terço do palácio está concluído,
mas essa parte é tão vasta que seria digna morada
de qualquer monarcha. É todo de mármore e com-
prehende extensas galerias e salas mobiladas, mui-
tos quadros, elegantes torreões e um vestíbulo com
muitas estatuas allegoricas, obra do celebre Ma-
chado de Castro, de Barros, Aguiar, Faustino José
Rodrigues e outros esculptores nacionaes. As pin-
turas das salas são dos pincéis de Cyrillo Machado,
Sequeira, Taborda e dizem que também do Vieira
portuense. Os primeiros archilectos foram li$è da
Costa, os dois Fabri, Manuel Caetano, e o ultimo
António Francisco da Rosa. Tem uma magnifica
bibliotheca pertencente a el-rei, confiada ao cuidado
do sábio Alexandre Herculano ; nos restos do Paço
velho, que lhe fica ao sopé, se conserva ainda o
theatro, aonde se representou pela primeira vez a
opera italina em Portugal.
Este paço, por occasião do consorcio de sua
magestade soíTreu notáveis melhoramentos, tan-
to em adorno de salas, como em muitas obras
70 NOVO GUIA
praticadas no largo, em frente do real aposento.
Ha projecto de acabar a fachada que se acha por
concluir, ficando d'este modo o palácio da Ajuda
um dos mais notáveis da Europa.
N'este palácio ha actualmente uma notável gale-
ria de pintura, tendo muitos quadros dos melho-
res auctores e de subido preço.
Palácio de Caxias
Nada tem de notável esta residência real. A quinta
annexa tem uma magnifica cascata e um mirante
d'onde se avista o Oceano, a grande distancia, e
que serve de baliza aos práticos da barra.
Palácio de Queluz
Está situado em logar quasi deserto, duas léguas,
dez kilometros, ao norte de Lisboa. Foi fundado
por D. Pedro m e compoe-se de differentes corpos
de edifício, obra de diversos archi tectos. É sobre-
carregado de decorações de todos os estylos, ador-
nado de estatuas, vasos e columnas em profusão e
communica com uma espaçosa quinta e os mais
bellos jardins de todo o reino. Na sua capella, tam-
bém magnifica, ha uma formosa columna de aga-
tha, presente do Papa Pio vn a D. João vi. É no-
tável uma sala do palácio toda forrada de gigantes-
cos espelhos, e por todo elle se encontram óptimas
DO VIAJANTE 71
pinturas e riquissimos adornos. Ahi nasceram
D. João vi e seu filho D. Pedro iv, e falleceu este
ultimo em uma camará que ainda hoje se conserva,
adornada do mesmo modo que estava em 24 de
setembro de 1834.
Ao sul do Tejo tem sua magestade o palácio e
quinta do Alfeite, e em Cintra e Mafra outras resi-
dências reaes.
CAMARÁS LEGISLATIVAS
No vasto edifício do extincto convento de S. Bento,
estão as salas das sessões e os archivos das duas
camarás legislativas dos pares do reino e dos de-
putados da nação; foram construídos em 1834,
sob a direcção do archivista João Vicente Pimen-
tel Maldonado (distincto poeta lyrico). A sala dos
deputados é espaçosa e bem ornada e ahi teem lo-
gar as sessões reaes. Tem galerias publicas e re-
servadas para ambos os sexos, corpo diplomático
e família real. A sala dos pares, é de moderna
construcção, e de bastante elegância e até magni-
ficência.
Municipalidade
Antigamente no recanto occidental do Terreiro
do Paço, entre a rua do Ouro e a do Arsenal.
Actualmente o município está por empréstimo junto
72 NOVO GUIA
ao estabelecimento do ver-o-peso, na Ribeira Ve-
lha, isto depois do incêndio do Banco de Portu-
gal, por que no local d'esse edifício se está edifi-
cando os novos paços do concelho.
Ministérios
Ha sete secretarias de estado, que todas estão
collocadas em o Terreiro do Paço, nos vastos lan-
ços do edifício que circundam a praça. No lado
septentrional está o ministério da justiça e no Oc-
cidental as repartições dos negócios estrangeiros,
secretaria do reino e o concelho de estado ; obras
publicas, fazenda, marinha e guerra.
Vribunaes
Supremo tribunal de justiça. — Primeiro tribu-
nal do paiz. Recebe em revistas as causas que fo-
ram julgadas em 2.a instancia pelas relações do
reino. Reune-se no Terreiro do Paço entre a rua
do Ouro e a Augusta.
Supremo conselho de justiça militar. — Com-
põe-se de duas secções, uma do exercito, outra de
marinha, formada cada uma de seis officiaes gene-
raes e um relator. O local das suas sessões é no
Arsenal da Marinha.
Relação de Lisboa. — Também no Arsenal da
Marinha, sobre a porta principal. Recebe por ap-
DO VIAJANTE 73
pellação as causas julgadas pelos juizes de direito
ou correccionaes do seu districto.
Tribunaes do commercio de I.a e 2.a instancia.
— No torreão oriental do Terreiro do Paço, sobre
a praça do Commercio ou Bolsa.
Juizes de direito de i.a instancia. — Ha seis em
Lisboa e dão audiência no extincto convento da
Boa Hora, bem como os juizes de policia correc-
cional e dos órfãos ; ahi funccionam também os ju-
rados.
Auditório da marinha. — No Arsenal.
Relação ccclesiastica. — No palácio do Patriarcha
a S. Vicente.
Tribunal de contas. — Largo do Pelourinho.
ESTABELECIMENTOS PÚBLICOS DE EDUCAÇÃO
Ha em Lisboa muitas escolas de instrucção pri-
maria e secundaria, pagas pelo estado, por asso-
ciações piedosas e por particulares.
Escola Polytecliiiica
Este edifício, antigo collegio dos Jesuitas, trans-
formado depois em collegio dos nobres e academia
real de marinha, foi em 1836 destinado para a Es-
cola Polytechnica, e em 1813 devorado pelas cham-
74 NOVO GUIA
mas. Está reedificado e continua a servir para a
referida escola. É situado na antiga rua do Colle-
gio dos Nobres, hoje denominada rua direita da
da Escola Polytechnica.
N'este edifício está hoje estabelecido o museu,
vulgarmente chamado — a historia natural.
Escola Meaico-Cirnrgica
Edifício annexo ao Hospital de S. José. Esta es-
cola, que tem tido três reformas durante o presente
século, — a l.a em 1825, a 2.a em 1836, e a 3.a
em 1844, hoje rivalisa com as melhores da Europa.
Tem um excellente amphitheatro anatómico, livra-
ria medica, gabinete pathologico, horto botânico e
herbario.
Escola de ptaarmacia
No mesmo edifício da antecedente. Os estudan-
tes d'este curso lectivo frequentam as duas pri-
meiras cadeiras do 3.° anno da escola medico-ci-
rurgica.
Instituto agrícola e escola veterinária
Na Cruz do Taboado.
É mantida por conta do estado. N'ella se aprende
não só veterinária, como agricultura pratica e tudo
o que é necessário á vida rural.
DO VIAJANTE 7o
Aula naval
No Arsenal da Marinha.
Escola de construcção naval
No mesmo edifício.
Escola do exercito
No palácio da Bemposta.
Aula do conimercio
No Instituto Industrial á Boa Vista.
Conservatório real de Lisboa
No extincto convento dos Caetanos.
Este conservatório tem nove aulas de musica
para ambos os sexos— aulas de mímica, dai:
esgrima, recta pronuncia, historia e declamação.
Ensina também ali o latim, italiano c francez.
Anla do museu nacional
No edifício do convento de Jesus ha um curso
de jntroducção á historia natural.
7G NOVO GUIA
Instituto Haidusírial e Cozaiísaereial
cie Lisboa
Este estabelecimento, um dos de maior utilidade
que hoje existem em Portugal, foi creado em 30
de dezembro cie 1852, e tem tido diversas refor-
mas que progressivamente o teem desenvolvido.
Ha n'elle onze cadeiras ; nove industriaes, e duas
do curso do commercio. É seu director o nosso
primeiro chimico A. A. de Aguiar; secretario, Júlio
César Machado ; e lentes o conselheiro J. V. Damá-
sio, F. de F. Benevides, Luiz de Almeida e Albu-
querque, J. H. da Veiga, T. A. da Fonseca, M. J.
Ribeiro, H. Midosi, R. J. Pequito, F. R. Garcia,
J. de Castro ; director da officina de instrumentos
de precisão José Maurício Vieira. É cursado o Insti-
tuto Industrial por grande numero de alumnos,
havendo annos de chegar esse numero a quinhen-
tos. O instituto tem também um museu importante.
As aulas sâo nocturnas; de dia funcciona apenas
alli a secretaria e a officina.
Aula de geometria e mechanica
applicada ã» arte»
Está estabelecida esta aula no mesmo edifício
da aula do commercio, annexa ao Instituto Indus-
trial de Lisboa.
DO VIAJANTE 77
Corso superior de letras
No edifício da academia real das sciencias.
Este curso foi instituído por el-rei D. Pedro v,
e é frequentado por estudantes da melhor socie-
dade; n'elle se dão excellentes prelecções scienti-
ficas pelos homens mais competentes do paiz.
Collegio dos aprendizes do Arsenal
Compôe-se de 60 alumnos, sendo 20 filhos de
militares, 20 filhos de operários do arsenal do
exercito, 10 expostos da Misericórdia e 10 da Casa
Pia.
Frequentam as aulas de primeiras letras, dese-
nho linear e ornato, arithmetica, geometria e me-
chanica applicada ás artes, grammatica e francez.
Aprendem no arsenal do exercito, á sua escolha,
differentes oíficios mechanicos.
Este collegio admitte pensionistas particulares.
Collegio militar
EM MAFRA
Neste collegio se educam a expensas do estado
os filhos dos militares e dos que teem feito ser-
viços relevantes ao paiz, tendo preferencia os fi-
lhos dos que falleceram em combate.
78 NOVO GUIA
Academia das bellas-artes de Lisboa
No extincto convento de S. Francisco da Cida-
de, é o local desta academia, fundada em 1837
pelo ministro do reino, Manuel da Silva Passos.
Tem esta academia muitos quadros notáveis, de
differentes escolas, sobre-saindo os seguintes:
Portnguezes — Sete quadros do Grão Vasco, em
madeira, que são: Fugida para o Egypto, Baptista,
Circumcisão, Adoração dos Reis, Menino Jesus,
Apresentação no Templo, o Menino entre os Dou-
tores : todos notáveis pelo desenho e colorido,
mas que denotam pouco estudo de óptica e pres-
pectiva. Três quadros do Vieira Lusitano: Santo
Agostinho, Sagrada Família, S. Bruno, — Quatro
de Bento Coelho.
Um baptismo de Santo Agostinho por Affonso
Sanches Coelho. S. Bruno em adoração, do grande
Sequeira. O Senhor preso á columna, que uns at-
tribuem a Campello, outros a Gaspar Dias; e cinco
quadros de Pedro Alexandrino.
Estrangeiros — Uma Virgem de Raphael (talvez
o único quadro d'este auctor que existe em Lis-
boa.) Um S. Jeronymo, que se julga ser de Miguel
Angelo; e um Jesus Christo descendo ao Limbo,
do mesmo pincel. Descimento da Cruz, de Júlio
Romano. Crucificação de Vandyck, Calvário e Je-
sus crucificado, de Gresbante. Espirito Santo, de
Trivisani, Annunciação, de Guersini. Outra de
DO VIAJANTE 7ÍJ
Massuche. A cabeça do Salvador, de Alberto Da-
rer. Paisagens de Salvador Rosa e de BreucjheU
Senhora da Conceição, de Sebastião Conca ; e uma
coroação de espinhos, da escola holandeza.
Na aula de esculptura ha alguns bustos collos-
saes notáveis, de auctores portuguezes : um Ca-
mões (de Assiz) Affons,o de Albuquerque, e Infante
D. Henrique (de Aragão) D. João de Castro e Vasco
da Gama (de Schiappa) Albergaria (de Cesarino).
O viajante que quer visitar a academia deve pro-
curar qualquer dos empregados, que lhe facultará
a entrada e lhe dará de bom grado os esclareci-
mentos que desejar.
Está aberta das 9 da manhã ás 2 da tarde, e
de verão até ás 3.
Sociedade (iromotora das bellas artes
No mesmo edifício da Academia das Bellas Ar
tes. Ê o seu presidente o marquez de Sousa. Faz
exposições de bellas pinturas asquaes obteem boas
vendas.
80
NOVO GUIA
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DO VIAJANTE 81
FAMÍLIA REAL PORTUGIEZA
S. M. F. El-Rei o Senhor D. Luiz i, 31.° rei de
Portugal, nasceu a 31 de outubro de 1838, casou
(por procuração) em Turim a 27 de setembro de
1862, e pessoalmente em Lisboa a 6 de outubro
do mesmo anno com
S. M. a Rainha a Senhora D. Maria Pia de Sa-
boya, princeza italiana, nasceu a 16 de outubro
de 1847.
S. M. El-Rei o Senhor D. Fernando, pae de El-
Rei o Senhor D. Luiz, nasceu a 29 de outubro
de 1816.
O Serenissimo Senhor Infante D. Augusto, ir-
mão de El-Rei o Senhor D. Luiz, nasceu a 4 de
novembro de 1847.
A Senhora Infanta D. Maria Anna, irmã de El-
Rei, nasceu a 21 de julho de 1843.
A Senhora Infanta D. Antónia, irmã de El-Rei,
nasceu a 17 de fevereiro de 1845.
(Ambas as Sereníssimas Infantas estão casadas.)
S. M. I. a Senhora D. Amélia Augusta, de Ra-
viera, avó de El-Rei, viuva do Imperador o Senhor
D. Pedro iv, Duque de Rragança, nasceu a 31 de
julho de 1812.
6
82 NOVO GUIA
FILHOS DE EL-RE1 O SENHOR D. LUIZ I E DA RAINHA
S. A. o Príncipe Real o Senhor D. Carlos Fer-
nando, herdeiro e successor á coroa, nasceu a 28
de setembro de 1863.
S. A. o Senhor Infante D. Affonso Henriques,
nasceu a 31 de julho de 1865.
BAIRROS DE LISBOA
ADMINISTRAÇÕES
Bairro oriental. — Rua do Bemformoso n.° 163
— - Compõe-se das freguezias dos Anjos ; S. Jorge
(intra-muros) Santa Engracia; S. Vicente; Santo
André e Santa Marinha; S. Christovão ; S. Thomé
e Salvador; S. Lourenço; Soccorro; Pena; Santo
Estevão; Santa Cruz do Castello; S. João da Pra-
ça; Sé; S. Thiago e S. Martinho; e S. Miguel.
Bairro central —Rua do Príncipe n.° 51 —
Compõe-se das freguezias da Encarnação ; Marty-
res ; Sacramento ; S. Julião ; Magdalena ; S. Nico-
lau ; Santa Justa ; S. José ; Coração de Jesus ; Con-
ceição Nova; e S. Sebastião da Pedreira (intra-
muros).
Bairro occidental — Calçada da Estreita n.° 47
— Compõe-se das freguezias de Santa Isabel (in-
tra-muros; S. Mamede ; Mercês ; Santa Catharina ;
S. Paulo ; Santos ; Alcântara (intra-muros) e Lapa.
DO VIAJANTE 83
JORNALISMO DE LISBOA
Diário do Governo. — É a folha official do go-
verno portuguez. Não tem politica e n'ella se en-
contram somente documentos officiaes, noticias
estrangeiras e annuncios.
Jornal do Commercio. — Como o seu titulo in-
dica é destinado ao commercio do paiz, occupan-
do-se todavia de politica; é noticioso, e publica
longos folhetins. N'este jornal tem escripto e ainda
escrevem auctores de boa nota, taes como Latino
Coelho, Ribeiro Guimarães, Pinheiro Chagas, etc.
Revolução de Setembro. É o órgão que ha mais
antigo do partido progressista. O seu redactor con-
stante tem sido o conselheiro António Rodrigues
Sampaio, caracter firme em seus princípios, bom
escriptor, e actual ministro do reino. O seu folhe-
tinista é o chistoso escriptor Júlio César Machado»
digno successor do chorado Lopes de Mendonça.
Diário de Noticias. — Jornal o mais popular, o
mais lido e o mais noticioso que em Portugal
existe. Não tem còr politica e só se occupa dos acon-
tecimentos do (ha que narra detalhadamente. Pu-
blica sempre grande numero de annuncios que
n'esta folha obteem muita publicidade, e os seus
folhetins são variados e alguns de notáveis escri-
ptores.
Diário Popular. — É quasi da Índole do antece-
dente, porém occupa-se de politica. Os seus fo-
84 NOVO GUIA
lhetins dos domingos são do talentoso escriptor
Eduardo Augusto Vidal, poeta, escriptor de thea-
tro, e folhetinista de muito mimo.
A Nação. — Antiga folha do partido realista; tem
tido bons escriptores que defendem as suas idéas,
as quaes, em geral, só fazem echo nas provindas.
Occupa-se também de assumptos religiosos.
Diário Illustrado. — É um diário popular, noti-
cioso e com gravuras; está ainda na infância e pode
vir a ser de muita importância no jornalismo da
capital. Publica folhetins de bons escriptores.
Jornal da Noite. — É noticioso, e publica de
tarde os acontecimentos do dia. Occupa-se de po-
litica e offerece folhetins interessantes. O seu re-
dactor é o antigo escriptor António Augusto Tei-
xeira de Vasconcellos, bem conhecido nas lettras
do nosso paiz.
O Partido Constituinte, a Gazeta do Povo, e a
Crença Liberal, são jornaes politicos e noticiosos,
os quaes também publicam folhetins.
O jornalismo litterario de Lisboa é actualmente
bastante pobre. Compõe-se apenas de três jornaes,
que são os seguintes :
Jornal das Damas. —Redactor Barboza Nogueira.
É uma revista de litteratura e modas, a qual, além
de escolhidos artigos de litteratura, publica todos
DO VIAJANTE
80
os mezes bellos figurinos gravados e illuminados
em Paris, e lindos debuxos e moldes para cortar
fato de senhora. Gollaboram para esta elegante pu-
blicação, além de outros, os escriptores queri-
dos das bellas : Júlio César Machado e Luiz de
Araújo.
Lettras e Artes. — Redactor Rangel de Lima. Jor-
nar litterario redigido por distinctos escriptores, e
illustrado com bellas gravuras e excellentes lytho-
graphias.
Ê um jornal que pôde competir com as melho-
res publicações estrangeiras.
Boletim do Clero e do Professorado. — Redactor
Moreira de Sá. Jornal dedicado ao clero e aos
professores, noticioso e litterario.
Existe ha bastantes annos e na sua especialidade
tem prestado serviços.
— e^^^a —
TYPOGRAPBIAS
Não nos esquecemos das typographias que ha em
Lisboa, e por isso, dando o primeiro logar á
Imprensa Nacional, collocaremos em seguida o ele-
gante e bem montado estabelecimento typographico
de Castro d- Irmãos, onde as impressões são bem
acabadas, e o serviço é feito com toda a regulari-
dade.
86 NOVO GUIA
Este estabelecimento está situado na rua da Cruz
de Pau, próximo ao alto de Santa Gatharina.
A typographia e fundição de typos de Lallemant
frères, na rua do Thesouro Velho, é também um
estabelecimento de primeira ordem, bem montado
e apto para impressões de luxo. A sua especiali-
dade são cartazes elegantes e variados, e impres-
sões a cores, a oiro, prata, etc, executados com
toda a nitidez.
A typographia Universal é egualmente um bom
e vasto estabelecimento, com boas machinas e
onde as impressões são feitas com aceio e brevi-
dade.
Tem capacidade para imprimir jornaes de grande
formato, os preços são commodos, e todas as re-
clamações bem attendidas.
É n'esta officina que se imprime o Diário de
Noticias, jornal muito lido, e do qual já nos occu-
pamos.
BIBL10THECAS E ARCHIVOS
Bibliotheca publica. —No convento de S. Francis-
co. O local é péssimo para um estabelecimento
d'esta ordem, mas está votada a quantia necessá-
ria para edificação de uma outra casa. Contém mais
de 110:000 volumes impressos, e 10:000 manus-
criptos, além de 140:000 volumes das livrarias dos
DO VIAJANTE 87
extinctos conventos e uma collecção de mais de
25:000 medalhas antigas. De entre os manuscri-
ptos, 300 são da celebre livraria de Alcobaça. Pos-
sue hoje mais a rica livraria de D. Francisco de
Mello da Gamara (vulgo do Cabrinha) que o go-
verno comprou por vinte e cinco mil cruzados,
onde ha edições de livros portuguezes de primeira
raridade. Entre os livros mais celebres que se en-
contram n'esta bibliotheca, nota-se a edição dos
Lusíadas de 1372; as cartas familiares de Cicero,
edição de Spira, em pergaminho, 1469; Forusju-
dicum (Fuero jusgo) dos visigodos, primeira tra,
ducção em lingua castelhana e códice raríssimo ;
uma bíblia manuscripta em hebraico, illuminada
obra do século xm ; a primeira edição da bibliaj
impressa pelo próprio Gultemberg em Moguncia-
1154, e muitas outras bíblias em pergaminho, de
grande valia ; a vida de Vespasiano, exemplar úni-
co, impresso em Lisboa, 149G ; Yita Christi, idem;
Plotinio de Florença, monumento admirável de Lou-
renço de Medicis ; o livro do Tosão de oiro e mui-
tos manuscriptos raros. As salas de leitura estão
abertas todos os dias, não feriados, das 9 horas
da manhã ás 3 da tarde; e na sala dos manuscri-
ptos vê-se uma bella estatua de mármore da rainha
D. Maria i fundadora d'este estabelecimento, obra
do celebre Machado de Castro, auctor da estatua
equestre de D. José i.
Bibliotheca da Ajuda. — Já d'ella falíamos, quando
88 NOVO GUIA
tratamos do palácio a que está annexa. Ê particu-
lar, mas o seu digno bibliothecario facillitará sem
duvida a entrada a qualquer estrangeiro ou nacio-
nal, que a deseje visitar.
Possue códices de grande valor. El-rei D. Fer-
nando a nada se tem poupado para a enriquecer, e
segundo a opinião geral é a mais rica das biblio-
thecas de Portugal.
Além d'esta livraria real, ha outras particulares
em Lisboa, algumas das quaes possuem mais de
dez mil volumes.
Archivo da Torre do Tombo. — No extincto convento
de S. Bento. Entrada pela calçada da Estrella. —
Foi para ali transferido o archivo real da torre do
Castello, onde estava e que caiu pelo terremoto
de 1755. Ê aonde estão depositadas as chancella-
rias dos reis, authographos das leis, mercês e tra-
tados, desde o principio da monarchia. Ha ahi cu-
riosidades que o antiquário se não deve dispensar
de ver, visitando Lisboa.
Archivo militar. — No principio da calçada de S.
Francisco. Ha ali preciosos documentos relativos á
arte de guerra, e ás nossas gloriosas campanhas
de outras eras e muitos mais haveria, se o espi-
rito de rapina que tem invadido todos os cantos
de Portugal, não tivesse também vasculhado este
inoffensivo deposito de memorias honrosas.
Archivos das duas camarás legislativas. — Em S. Ben-
to, no palácio das cortes. Ahi se depositam os au-
DO VIAJANTE 89
thographos das leis das mesmas cortes e tem egual-
mente uma pequena bibliotheca.
— e*»<=s*9
SOCIEDADES SCIENTIFICAS
Academia real das sciencias. — Fundada em 1778
pelo duque de Lafões, debaixo da protecção da
rainha D. Maria i. Foi reformada a sua instituição
no anno de 1852. Tem ás suas disposições o con-
vento de Jesus, e a sua bibliotheca, bem como o
museu real.
Sociedade das sciencias medicas. — O titulo d'esta
associação indica bem o objecto de que se occupa,
e assim também a Sociedade pharmaceutica lusi-
tana.
Associação jurídica, ou dos advogados. — Praça de
D. Pedro n.° 36.
MUSEU REAL
O museu, ou gabinete de historia natural, foi
transferido do palácio da Ajuda para o convento
de Jesus, e está actualmente no edifício da escola
polytechnica. No ramo mineralógico possue algu-
mas raridades, bellos mármores, pinturas antigas,
ricas conchas, muitas aves e algumas curiosidades
de recordações históricas.
90 NOVO GUIA
MUSEU ARCHEOLOGICO
No edifício (em ruinas) do Carmo.
IMPRENSA NACIONAL
Na travessa do Pombal, ao collegio dos Nobres.
Pertence ao estado e ahi se imprimem todas as
peças ofíiciaes. Tem uma fundição de typos, lytho-
graphia e fabrica de cartas de jogar ; prensa hy-
draulica, etc. É um estabelecimento único no seu
género em Portugal.
TEMPLOS
A enumeração de todos os templos de Lisboa
seria um trabalho fatigante e de nenhuma utilida-
de para o forasteiro que visita esta capital ; limi-
tar-nos-hemos pois a dar breve idéa das principaes
egrejas que adornam Lisboa e Belém, aquellas que
o viajante deve de preferencia examinar.
Sé de Lisboa. — Em logar elevado, mas inferior
ao castello de S. Jorge e não distante d'elle, está
situada esta cathedral, cuja origem se perde na
noite dos tempos, o que tem dado logar a exten-
DO VIAJANTE 9i
sas controvérsias. Monumento de vários séculos,
ella apresenta incontestáveis signaes da sua vetus-
tidade, e mostra claramente que tem passado por
successivas transformações, sem perder comtudo
alguns dos caracteres primitivos. O primeiro bispo
de Lisboa foi D. Gilberto, um inglez dos que au-
xiliaram AíTonso Henriques na conquista d'esta ci-
dade, e o seu cabido estabeleceu-se em 1150. Foi
esta egreja suffraganea em Braga até ao reinado
de D. João i, que a elevou a jerarchia de metro-
politana ; e D. João v lhe mudou o titulo de cathe-
dral em Basílica de Santa Maria Maior, creando a
dignidade patriarchal. Em 1344 soíTreu muito este
templo, por occasião de um horrivel terremoto,
sendo então reedificada a capella mór por el-rei
D. Aflonso iv, cujo cadáver ahi jaz, bem como o
de sua esposa. D. Fernando i lhe alterou depois a
frente principal, ficando quasi como ainda hoje se
vê; e passado pouco tempo foi lançado de uma
das torres abaixo o bispo D. Martinho, castelhano
de nação, pelo povo indignado, que começava a
clamar pela sua liberdade e se dispunha para o
grande dia de Aljubarrota. O incêndio que succe-
deu ao terremoto de 1755 devorou grande parte
d'este edifício, que foi reedificado ainda em tempo
do marquez de Pombal, porém em menor escala.
Ainda hoje se vêem na sacristia fragmentos das co-
lumnas do primitivo templo, que era outr'ora o
maior de Lisboa.
92 NOVO GUIA
Em uma das suas capellas estão os ossos de
S. Vicente, padroeiro de Lisboa e do Algarve , em
outra, de remota antiguidade, vê-se o tumulo de
um Barthoiomeu Johanes, cuja effige, grosseira-
mente trabalhada, descança n'um velho e também
grosseiro mausuleu. No claustro conserva-se um
corvo, em memoria d'aquelles que guardaram e
respeitaram no promontório sacro o corpo do mar-
tyr S. Vicente ; e é por isso que nas armas da ci-
dade de Lisboa se vê um corvo á proa e o outro á
popa do navio que occupa o escudo. Em outro claus-
tro, o das capellas chamadas affonsinas, existe uma
cadeira de pedra com a data de 1629, epocha talvez
em que foi reparada, por que segundo as melhores
conjecturas deve ella alli existir desde o principio
da monarchia, quando os nossos reis administravam
justiça em publico, e ouviam os requerentes nas
cathedraes. O aspecto severo d'este templo, incute
sentimentos religiosos ; é dos muitos poucos que
ainda hoje, em Lisboa, não parecem mais uma sala
de divertimentos profanos do que um logar de
oração.
Dasilica do Coração de Jesus (vulgo Estreita). O
mais sumptuoso templo da capital, mandado cons-
truir por D. Maria i, em 1779, e concluído em dez
annos, pelo risco de S. Pedro em Roma. Tem um
elegante zimbório que se avista fora da barra, o
qual remata por um enorme globo de metal e uma
cruz de ferro, que mais de uma vez tem sido da-
DO VIAJANTE 93
mnificada pelo raio. Hoje tem conductores, bem
como as torres, egualmente garbosas e elevadas.
Ha no interior da basílica uma pasmosa variedade
de requissimos mármores de varias cores e o so-
berbo mausoléu da real fundadora, na capella mór.
No convento annexo existem freiras bernardas.
S. Vicente de Fora. — Jazigo da familia de Bra-
gança. Àffonso Henriques lançou a primeira pedra
a este edifício, em commemoração da tomada de
Lisboa e por ser em sitio extra-muros da cidade
se dominou de Fâra, como aindo hoje se chama.
Achando-se bastante damnificada em tempo de Fi-
lippe ii, mandou este abater a velha fabrica, e no
mesmo local alçar o grandioso templo, que ainda
existe, apezar do violento abalo que lhe deu o ter-
remoto de 1755. A egreja serve de parochia e o
convento é residência do patriarcha. Já ahi esteve
a patriarchal por alguns annos, mas os seus legí-
timos possuidores eram os cónegos regulares de
Santo Agostinho.
Mosteiro de Belém. — (vulgo Jeronymos, por ha-
ver sido oceupado por frades de S. Jeronymo.)
Fora de Lisboa, no seu antigo termo de Belém,
está situado este maravilhoso templo, que é, sem
contradicção, o mais formoso edifício monumental
da velha cidade e suas visinhanras. Também, como
as precedentes egrejas, serve de freguezia sob a
invocarão de Santa Maria de Belém. — Foi mandado
construir por el-rei D. Manuel, no logar em que
94 NOVO GUIA
embarcara Vasco da Gama, em agradecimento a
Deus pela descoberta da índia, mas não logrou
vêl-o concluído o seu fundador. Os seguintes reis
continuaram a obra, mas já não proseguiu o mesmo
primor nos ornatos, nem se deu á fabrica o de-
senvolvimento que talhara D. Manuel; a capella-
mór é de um género de architetura inteiramente
differente do corpo da egreja ; quanto ás columnas
da nave, não vimos obra tão primorosa e arrojada
em nenhuma das afamadas cathedraes da Europa
que temos visitado. Os estreitos limites de um
Guia, mal podem comportar a descripção circums-
tanciada de tantas bellezas de architectura, pintu-
ras, riqueza de mármores, ornatos de prata e de
madeira, que encerra o famoso mosteiro. Por de-
traz do altar mór está o caixão que encerra o ca-
dáver do infeliz D. Affonso vi e outros dois com
os corpos do principe D. Theodosio e de sua irmã
filhos também de D. João iv, que não sabemos por
que não estão unidos aos outros principes da casa
cie Bragança; em duas capellas lateraes estão os tú-
mulos dos filhos de D. João m em numero de
oito e um cenotaphio contendo ossos, que um dos
Filippes quiz fazer crer aos portuguezes serem de
D. Sebastião. Em sepultura raza jaz o arcebispo
de Braga D. Duarte, também filho, mas natural
de D. João; está depositada ahi a rainha D. Ga-
tharina, portugueza mulher de Carlos n de Ingla-
terra, e em ricos túmulos o cardeal rei e vários
DO VIAJANTE 95
infantes de Portugal. Na capella-mór os reis D. Ma-
nuel e D. João ih, e suas respectivas mulheres as
rainhas D. Maria e D. Catharina, ambas castelhanas.
O exterior da egreja é irregular, mas assaz formoso ;
o portal, sobre tudo, é digno de admirar-se. Em o
convento que fica unido ao templo, está hoje a Casa
Pia, estabelecimento de caridade onde se sustentam
e educam creanças desvalidas e a escola de sur-
dos mudos.
Este magestoso edifício está tendo valiosos me-
lhoramentos, e dentro em breve a sua sumptuosa
fabrica ficará completa, segundo o risco primitivo
e com todas as bellezas da arte.
S. Domingos. — É a mais vasta egreja de Lisboa,
situada ao lado da praça de D. Pedro. Pertenceu
á ordem dos pregadores, e hoje serve de parochia
de S. Justa e Rufina.
S. Roque. —Egreja que pertenceu aos jesuítas,
celebrada unicamente pela capella de S. João Da-
ptista.
Esta riquíssima capella, mandada construir em
Roma por D. João v, e obra dos melhores artífi-
ces da época, é adornada de preciosidades, taes
como granito oriental, porphyro, alabastro, ame.
thysta, coralina, etc. Tem três quadros em mozaico
representando o baptismo do Redemptor, a An-
nunciação e a descida do Espirito Santo, conside-
rados como obras primas dns melhores artistas
italianos. Veiu toda a capella desmantelada e encai-
96 NOVO GUIA
xotada, de Roma, depois de n'ella ter officiado o
Papa; foi patenteada ao publico em 1751. Este ca-
pricho real custou quatorze milhões de cruzados !
Vale a pena admirar essas columnas de lápis laz-
zuli, esse pavimento *de mármore e porphyro, es-
ses tocheiros gigantes de prata doirada, esse altar
de apurado trabalho e as outras riquezas d'este
singular monumento.
Junto a esta egreja de S. Roque, no edifício que
foi antigamente collegio dos jesuitas, está o reco-
lhimento dos engeitados, que só se patenteia ao
publico uma vez por anno, no dia dos Santos In-
nocentes, a 28 de dezembro.
Santo António. — Próximo á egreja da Sé, no lo-
cal onde nasceu Santo António de Pádua. É ca-
pella da camará municipal, e está conservada com
bastante aceio.
Martyres. — Como S. Vicente, esta egreja foi fun-
dada peio primeiro rei portuguez, em memoria da
conquista de Lisboa e para servir de jazigo a guer-
reiros estrangeiros, mortos n'essa empresa. É a
mais antiga parochia de Lisboa.
Encarnação. — Próximo dos Martyres está este ele-
gante templo, é espaçoso e tem objectos de arte
dignos da contemplação do viajante.
Loreto. — Defronte da Encarnação ; freguezia dos
italianos residentes em Lisboa. Ardeu duas vezes»
em 1651, e 1755, e posto que reedificada sum-
ptuosamente, com o auxilio do Papa e do rei Por-
DO VIAJANTE 97
tuguez, não possue perfeições artisticas iguaes ás
que perdeu.
Graça. — Antigo convento de eremitas de Santo
Agostinho, está situado em logar deleitoso sobre
um dos grandes montes de Lisboa. A egreja ê
vasta e tem alguns quadros de valor, porém o que
encerra de mais precioso sâo os ossos do Ínclito
AíTonso de Albuquerque, o maior capitão do seu
século, um dos maiores de todas as edades. É na
sachristia que está o tumulo d'este governador da
índia, a cuja sombra ainda hoje pedem justiça os
malabares.
Monte. — De todos os logares elevados da cidade,
e do Tejo também, se notam para o oriente de Lis-
boa três montanhas muito salientes, no cimo de
cada uma das quaes se enxerga um templo : é a
Graça, de que já falíamos, a Penha, de que trata-
remos adiante, e o Monte, de que nos occupâmos
agora ; de todos elles se disfructa uma perspectiva
magnifica da cidade e do rio, em dias claros se
descobrem perfeitamente as ameias e torres dos
castellos de Cintra. O que se avista de qualquer
d'estes cabeços, pode considerar-se como o reverso
da medalha, a respeito do que se observa em
S. Pedro de Alcântara. Quanto á egreja da Senhora
do Monte, foi ella edificada em 1243, porém caiu
pelo terremoto e ergueu-se de novo. Pertencia,
como a Graça, aos eremitas agostinianos. Conser-
va-se ahi a cadeira de S. Gens, onde elle pregava
98 NOVO GUIA
ao povo, sendo bispo de Lisboa, segundo a tra*
dicção.
Penha de França. — Também antigo convento de
agostinhos. É muito concorrida esta egreja pelos
navegantes que, em occasião de perigo, fazem vo-
tos a Nossa Senhora da Penha de França, grande
protectora dos homens do mar.
Santa Crnz do Castello. — Dentro do castello de
S. Jorge. É uma das mais antigas freguezias de
Lisboa, que já existia como egreja no anno de
1168. Ficou muito damnificada pelo grande terre-
moto de 1755.
Conceição velha. — Antiga synagoga de judeus em
Villa Nova de Gibraltar, transformou-se em egreja
christã, quando a villa foi sequestrada pela cidade
de Lisboa, e o bairro da judearia acabou. Passou
a ser collegiada da ordem de Christo. Está situada
na rua da Ribeira velha. Os delicados lavores em
pedra da portada d'este templo são dignos de con-
templação do artista e do antiquário ; é o mesmo
género do mosteiro de Belém, fundação do mesmo
rei venturoso que mandou descobrir a índia.
Magdalena. — Antiquissima parochia de Lisboa,
situada no largo do seu nome, ao cabo da rua da
Conceição ou dos Retrozeiros, apezar dos incêndios
por que tem passado, ainda conserva um portal que
denuncia grande vetustidade e também é digno de
ser contemplado pelo viajante.
S. Nicolau. — Esta egreja parochial que foi fun-
DO VIAJANTE 99
dada em 1720, está situada em um pequeno largo
entre a rua da Prata e a dos Douradores ; foi com-
pletamente destruída pelo terremoto de 1755, e
reedificada em 1776. Tem óptimas pinturas, de
artistas portuguezes contemporâneos, porém apre-
senta um aspecto tão garrido, que só conduz a pen-
samentos profanos. Esta freguezia possue ricos pa-
ramentos, assim como uma custodia de grande
preço e estima.
S. Julião. — Já em 1200 era parochia, e ahi foi
baptisado, segundo a fama, o pontifice portuguez
João xx ou xxi. Destruida pelo terremoto e de
prompto reedificada pelas esmolas dos fieis, tornou
a arder no dia 4 de outubro de 18 1G, por occasião
das exéquias da rainha D. Maria i. Acha-se con-
cluída a nova fabrica, em que ha grande profusão
de mármores variadíssimos, duas ricas columnas
na capella mór, e preciosos lavores em pedra.
Santa Engracia. — Próximo de S. Vicente. É de
forma obicular e gigantesca; nunca se completou,
apesar das enormes sommas n'ella despendidas, o
que dou Lugar ao porvcrbio : — É como as obras
de Santa Engracia — applicado a qualquer cousa
que parece interminável. Ha uma lenda acerca d'esta
construcção, que justifica o porveFbio. Diz-se que
um Simão Perez Solis, condemnado á morte, inno-
centemente, por um desacato perpetrado na antiga
egreja, dissera sobre o patíbulo — que em memo-
ria da sua innocencia, nunca aquella obra se aca-
100 NOVO GUIA
baria. A profecia foi feita ha mais de dois séculos !
Ruinas do Carmo. — Ainda é bello ir contemplar
as formosas ruinas d'esse antigo templo da Senhora
do Vencimento, que o condestavel D. Nuno Alvares
Pereira fundou para os religiosos carmelitas e para
seu ultimo repouso. A portada, as columnas que
dividem as naves e outros restos do gothico mo-
numento, ainda satisfazem a curiosidade do artista
e do homem de bom gosto. No antigo convento,
unido á egreja, está o quartel da guarda munici-
pal de Lisboa.
Dos antigos conventos de Lisboa alguns servem
de parochias, n'outros estão repartições publicas e
quartéis de tropa, outros finalmente venderam-se
a particulares. O convento do Espirito Santo, ao
Chiado, é hoje palácio dos barões de Barcelinhos ;
o dos Paulistas tem uma companhia da guarda
municipal, e teve uma de sapadores, porém a
sua egreja serve para o culto Divino como pa-
rochia ; o de Jesus tem a academia das scicncias,
todavia a egreja também serve de parochia; no
de S. Francisco está a Bibliotheca publica e a
academia das bellas artes; no de S. Bento as
cortes e o archivo ; no de Xabregas uma fabrica de
algodões. O que ainda se conserva é o da Madre
de Deus, de freiras, em cuja sacristia ha dois qua-
dros attribuidos ao Grao-Vasco, e a historia de
José no Egypto por André Gonçalves. Também
alguns foram damolidos e n'este numero entra a
DO VIAJANTE 101
Trindade, sobre sujas ruinas se assentou parte da
casaria da rua do mesmo nome, abaixo de S. Roque.
Além das freguezias já mencionadas existem em
Lisboa outras muitas, assim como grande numero
de egrejas, hospícios, capellas, ermidas e conventos
de freiras, que fora ocioso enumerar.
Os francezes têem uma egreja nacional em Lis-
boa, a de S. Luiz na rua de Santo Antão; e os
inglezes catholicos as do Corpo Santo, e Inglezi-
n/tos, e S. Patrício; e os protestantes uma capella
e cemitério em separado, próximo ao passeio da
Estrella.
OUTROS EDIFÍCIOS PÚBLICOS
Aqueci uct o das aguas livres
Esse bello monumento de publica utilidade, a
que vulgarmente chamamos — arco das aguas li-
vres— foi concluído em vinte annos, sob a direc-
ção do engenheiro Manuel Maio, e resistiu ao grande
choque do terremoto de 1755. O aqueducto começa
a três léguas de distancia da cidade e em toda a
sua extensão tem 127 arcos de excellente pedra,
porém os 35 que formam uma ponte sobre Alcân-
tara, a mais comprida de todas as pontes do mundo,
mas sobre um rio quasi sem agua, esses 35 arcos,
alguns dos quaes tèem uma altura prodigiosa, são
o assombro dos estrangeiros, que não encontram
102 NOVO GUIA
entre as obras dos romanos, uma construcção tão
atrevida como esta. O aqueducto entranha-se na
cidade pelo lado do noroeste, e ahi toma o nome
de Amoreiras, de um largo contíguo em que ha
plantações d'esse género, e junto ao qual ha uma
espécie de arco de triumpho, de architectura dórica,
com uma inscripção lapidar que refere a historia
da construcção do aqueducto, e é datada de 1738.
Ao sair do largo das amoreiras para o sul, existe
uma vasta mãe de agua, que apresenta exterior-
mente a apparencia de uma grande torre quadran-
gular : é toda construída de óptima cantaria e con-
cluiu-se em 1834. É esta uma das visitas que re-
commendamos, especialmente ao curioso tourista,
e se no verão der um passeio pelo interior do ex-
tenso aqueducto encontrará tal fresco, passará al-
guns minutos tão agradavelmente, que por certo
nos agradecerá a lembrança.
Arsenal do exercito
O arsenal do exercito em Lisboa, situado na
parte mais oriental da cidade, e á beira do Tejo é
um edifício de agradável apparencia, e vulgarmente
conhecido pelo nome de Fundição, para o distin-
guir do arsenal da marinha, também á beira do
rio, mas a meio comprimento da cidade, e a que
se chama somente o arsenal. O estabelecimento
de que trata este artigo divide-se em vários corpos
DO VIAJANTE 103
de edifício; a fundição de cima chamada, onde se
fundem as peças de artilheria, é contigua ao palácio
do inspector e fica situada no campo de Santa Clara ;
no mesmo campo estão as ferrarias, e o deposito
dos reparos e petrexos concernentes á artilheria;
e mais distante, a Santa Apolónia, o laboratório
de fogos de artificio. A entrada principal do edi-
fício junto ao rio tem uma bella fachada, com co-
lumnas da ordem corinthia, e tropheus militares,
tudo de bem lavrada pedra. Esta construcção data
de 1760; é uma das obras do grande Pombal. No
pavimento inferior da casa são os vastos armazéns
de deposito e no superior encontram-se grandes,
salas, com muita claridade, onde estão dispostas
em tropheus marciaes armas de todos os tempos,
brancas e de fogo, o que é assaz curioso para o
antiquário ; e ahi se encontra também a celebrada
peça de Diu, que tem de comprimento 21 palmos
e 3 pollegadas, e de circumferencia na culatra 9
palmos e 9 pollegadas, e na bocca 7 palmos e 7
pollegadas. Este canhão foi achado pelos portugue-
zes em Diu, quando se apossaram da cidade pela
morte do Sultão Badur; pertencera ao sultão de
Babylonia, e Rumecan a trouxe comsigo quando
veiu pôr cerco a Diu. Todas as dependências d'este
arsenal podem ser examinadas pelo viajante, apenas
com o encommodo de pedir licença ao inspector ou
ao olficial de dia.
104 NOVO GUIA
Arsenal da marinha
Á beira do Tejo e com porta principal para o
largo do Pelourinho. Occupa parte do local onde
estava o palácio dos nossos reis antes do terremo-
to, e ainda muita gente lhe chama a Ribeira das
naus, em lembrança dos passos da Ribeira, e do
estabelecimento naval que ahi estava contíguo, e
que tinha aquella denominação. É uma elegante
construcçao, obra do marquez de Pombal, como
tudo que se admira solido e grandioso na Lisboa
moderna. Tem um famoso dique, todo forrado de
cantaria ; dois estaleiros, óptimos armazéns, a ex-
tensa sala do risco onde estão as escolas naval e
de construcçao, e onde se fez a grande exposição
da industria nacional em 1849. Ha ahi uma cor-
veta para ensino dos guarda-marinhas, que merece
vêr-se. Ao fim d'essa sala, para o sul, está o tele-
grapho central do reino, e é ahi que se fazem os
signaes dos navios que entram ou saem do Tejo.
e que estão á vista das fortalezas da barra; este
arsenal communica com os edifícios da parte Occi-
dental do Terreiro do Paço. Ahi estão a contado-
ria e pagadoria de marinha, a repartição do major
general da armada e a superitendencia do mesmo
arsenal.
Este importante estabelecimento do estado tem
soffrido notáveis melhoramentos taes como : uma
longa e espaçosa ponte de ferro, um solido guin-
DO VIAJANTE 105
daste a vapor, um bom ramal de caminhos de ferro
americanos, etc, etc.
Como complemento a esta noticia, daremos aqui
a nota dos navios da nossa armada.
\avios armados e desarmados
Nau Vasco da Gama. — Desarmada.
Fragata D. Fernando. — Servindo de escola de
artilheria, no Tejo.
Corveta fíartholomeu Dias. — No Tejo.
Corveta Estephania. — No Tejo.
Corveta Duque da Terceira. — Em Angola.
Corveta Duque de Palmella. — Em Macau.
Corveta Infante D. João. — Em Gôa.
Corveta Infante D. Henrique. — Em Angola.
Corveta D. João i.° — No Fayal.
Corveta Marianna. — Em Moçambique.
Corveta Sagres. — No Tejo.
Corveta Sá da Bandeira. — Desarmada.
Canhoneira Rio Minho. — Em Cabo Verde.
Canhoneiea Tejo. — Em Cabo Verde.
Canhoneira Guadiana. — Desarmada.
Canhoneira Zarco. — No Tejo.
Canhoneira Douro. — Em construcção no arse-
nal.
Vapor índia. — No Tejo.
Vapor Mindello. — No Tejo.
Vapor Lynce. — No Tejo.
106 NOVO GUIA
Vapor Argus. — No Algarve.
Vapor Tete. —Na Africa.
Vapor Sena. —Na Africa.
Barca Martinho de Mello. — No Tejo.
Escuna Conde Penha Firme. — Na Africa.
Escuna Napier. — Na Africa.
Brigue Pedro Nunes. — Desarmado.
Ha mais outras embarcações de pequeno lote
que não se mencionam aqui, por brevidade.
Alfandega de Lisboa
Do lado opposto do arsenal da marinha e com-
municando também com o Terreiro do Paço, mas
pelo lado oriental, está o grandioso edifício da al-
fandega, construcçâo do grande homem, muito di-
gna de ser visitada pelo forasteiro, que não tenha
mesmo de entrar lá por causa de negócios, mas
tão somente para a revista da sua bagagem. Fa-
mosos armazéns e salas occupam os dois pavi-
mentos de uma ampla quadra, fresca sempre pe-
las aguas de um tanque com seu pequeno repuxo
e por formosos salgueiros que sombreiam commo-
dos assentos. Tem logo ao desembarque esta alfan-
dega, dois telheiros de ferro com columnas do
mesmo metal de agradável apparencia. A entrada
é sempre franca pela arcada da Praça do Gommer-
cio.
Esta alfandega tem actualmente um ramal de
DO VIAJANTE 107
caminhos de ferro americano; e está mais aug-
mentada com varias casas e armazéns que perten-
ceram ao ministério do reino.
Próximo ao Terreiro, no chamado Jardim do Ta-
baco, possue esta alfandega excellentes armazéns
de deposito, para os géneros que não podem esta-
cionar na alfandega grande.
Alfandega municipal
Caminhando para leste pela chamada rua da Al-
fandega e não mui distante do seu termo, encon-
tra-se o largo do Terreiro do Trigo, no centro do
qual está um vasto, elegante e solido edifício, cons-
truído, ainda por Pombal, para deposito de trigos,
depois transformado em alfandega de cereaes e que
ultimamente pela reunião d'esta casa fiscal com a
alfandega denominada das Sete Casas, tomou o
nome de Alfandega Municipal. É ahi que se des-
pacham todos os objectos de consumo do municí-
pio, menos o peixe que tem uma administração
separada, no cães da Ribeira Nova, mas cujo edi-
fício nada tem de notável.
Cordoaria
Singelo mas assaz extenso edifício, mandado
construir pela rainha D. Maria i, á margem do
Tejo, entre a Junqueira e Belém. É ahi a fabrica
108 NOVO GUIA
de cabos e lonas para fornecimento da armada e
tem uma ofíicina de instrumentos mathematicos.
Casa da moeda
Adiante do largo de S. Paulo, caminho de oeste.
Tem uma excellente machina de cunhar, a vapor,
e existiam ahi guardadas algumas preciosidades
dos extinctos conventos e egrejas profanadas ; taes
eram — uma cruz de oiro de 12 marcos e 4 onças,
que D. Sancho i deu a Santa Cruz de Coimbra em
1212; uma cruz grande antiquíssima, outra de oiço
com pedras preciosas e uma grande pyxide com
pedraria, tudo do convento de Alcobaça ; um gran-
de cofre de prata para a semana santa, no gosto
gothico, que pertencia aos freires de Thomar. A
custodia da Patriarchal, que custou um milhão e
duzentos mil cruzados ; a da Bemposta, que tem
dezesete contos de réis no pezo de metal, fora os
diamantes e mais pedraria ; a de Belém, mandada
fazer por D. Manuel, do primeiro oiro que veio
do Quilôa ; o precioso cálix de Thomar, dois de
Coimbra, o sceptro real de oiro do Tejo, etc.
Palácio da justiça
No extincto convento da Boa Hora, acima da
Conceição Nova. Nada tem de notável. Ahi estão
todos os julgados da primeira instancia em Lisboa,
menos o commercial e os militares.
DO VIAJANTE 109
Quartéis de tropa»
Os mais notáveis são: dois na calçada da Ajuda
— Lanceiros da rainha, e infanteria n.° 1 — o de
Campo de Ourique, de infanteria 16 ; o de Vai de
Pereiro, caçadores 2; o de Alcântara, construidu
para o batalhão naval, hoje extincto; está occupa-
do pelos inválidos da marinha ; e o do castello de
S. Jorge, onde está caçadores o. Os demais cor-
pos da guarnição de Lisboa, e varias companhias
da guarda municipal de pé e de cavallo, estão alo-
jados em edifícios dos extinctos conventos.
Está quasi concluído em Campolide um espaçoso
quartel para artilheria, com todas as commodidad»<
necessárias.
Prisões
Limoeiro. — Antigo palácio da moeda, dos infan-
tes, ou de S. Martinho. Ali residiu o rei D. Fer-
nando o famoso, e ali diante dos olhos da feiticeira
Leonor Telles de Menezes, matou o Mestre de
Aviz, depois D. João i, o impudico gallego João
Fernandes Andeiro, conde de Ourem. Hoje é a
prisão publica de Lisboa.
Aljube. — Logo abaixo do Limoeiro. Foi antiga
prisão de ecclesiasticos e depois serviu success
vãmente para reclusão dos condemnados a traba-
lhos públicos, e das mulheres. Ú pequeno edifício.
mas conserva-se em bom estado.
110 NOVO GUIA
Castello de S. Jorge. — Prisão dos militares.
Galé. — No Arsenal da Marinha ; era o presidio
dos condemnados a trabalhos forçados.
Cova da Moira. — Servia para detensâo dos pre-
sos sentenciados a degredo, emquanto não partiam
para os seus destinos.
Torre de Belém. — Também prisão militar, quan-
do ha grande numero de presos. Tem uma for-
mosa sala para detensâo dos ofíiciaes generaes.
Das outras bellezas da torre fatiaremos na defeza
de Lisboa.
S. Julião da Barra. — Prisão de estado com hor-
riveis calabouços, onde ás vezes cumprem senten-
tenças de prisão temporária os ofíiciaes militares.
Caes
Tem Lisboa oito grandes caes de embarque e
desembarque, que são os de Belém, Ribeira Nova,
Caes do Sodré, Arsenal, Caes das Golumnas,
(Terreiro da Paço), Alfandega, Caes de Santa-
rém, e Fundição ; e quatro menores — o da Cor-
doaria, de Alcântara, de José António Pereira, e
do Terreiro.
Aferro da Boa Vista
Este aterro começa no Caes do Sodré e chega
já quasi até Alcântara. Está ainda em construcçâo
DO VIAJANTE 111
e logo que se ultime, será um dos melhores pas-
seios da capital.
É uma longa e bella planice arborisada, com as-
sentos de madeira, bem illuminada, á margem
do Tejo e decorada com bellos prédios e muitos
estabelecimentos importantes, como : serralharias,
officinas de fundição, serragens a vapor, estaleiros,
vaccaria, (onde se vende leite fresco, sorvetes etc.)
O estabelecimento do gaz, a abegoaria da cidade
etc. Armazéns de bebidas, depósitos de madeiras,
fabricas de túmulos etc, etc.
Este sitio é muito frequentado por carroagens e
omnibus que transitam para Alcântara, Belém, Aju-
da, Pedroiços, Oeiras e Cascaes.
Ha o projecto de estabelecer aqui uma linha fér-
rea até Cintra.
Cal deira *
Em construcção ha duas caldeiras ou dokas,
junto ao Cães de Santarém, assim como no Arse-
nal da Marinha ha outras duas para as embarca-
ções do estado ; posto que meio atulhadas de lodo
ainda servem de grande refugio contra os rigores
do inverno.
Jardim botânico
Contiguo á casa que serviu até 1836 de museu
de historia natural, palácio velho ao lado da Ajuda.
Foi fundado em tempo de D. Maria i, para instruo-
112 NOVO GUIA
ção dos príncipes, e teve por primeiro director o
celebre doutor Vandelli, lente jubilado da universi-
dade de Coimbra ; depois, em 1810, o doutor Fé-
lix d' A velar Brotero, um dos melhores botânicos do
mundo. É logar agradável e ameno, e tem sido en-
riquecido com uma collecção selecta de plantas exó-
ticas. Na entrada da parte do sul estão duas curiosas
estatuas de cantaria, já muito arruinadas, attribuidas
aos fenicios e desenterradas em 1785 nas visinhanças
de Portalegre; bem como uma enorme estatua de
Hercules. Tem este jardim bellos repuchos e bacias
de agua, duas magnificas estufas e varias obras em
mármore, dignas de ver-se.
Telegraphia eletrica
Estabelecida na Praça do Commercio, no mesmo
local da repartição das obras publicas.
É do serviço do estado, porem também recebe
communicações para particulares, pelo preço que
mostra uma tabeliã existente no mesmo estabeleci-
mento. Tem estações em diversos pontos da capi-
tal onde recebe e expede telegrammas.
Fontes c chafarizes
São muitas as fontes e chafarizes que abastecem
d'agua a cidade ; trata-se de a encanar para as ha-
bitações, mas entretanto são mais de três mil gal-
DO VIAJANTE ii3
legos que a fornecem aos moradores ; em caso de
incêndio, cujo local é annunciado por um certo nu-
mero de badaladas nas torres das egrejas, correm
os aguadeiros com os barris a accudir, emquanto
outros gallegos das companhias dos bombeiros arras-
tam os carros das bombas e escadas. Ha um ins-
pector dos incêndios para dirigir superiormente
esses trabalhos.
Os chafarizes e fontes mais notáveis de Lisboa,
são:
A samaritana. — É um monumento dos velhos
tempos, d'uma architectura grosseira, mas que atráe
pela sua vetustidade e singeleza a attenção de cu-
riosos. Vê-se ali em relevo na pedra aquella pie-
dosa historia da Samaritana, de que faliam os livros
santos. Está situada no caminho da Madre de Deos.
Chafariz <TEl-rei. — Tem nove bicas, e é d'onde
se toma a melhor agua para embarque. É situado
ao Terreiro.
No largo de S. Paulo. — Um obelisco demasiada-
mente grande para o tamanho da praça em que está
collocado ; tem quatro bicas, e é de moderna con-
strucçâo.
Janellas Verdes. — Um dos mais bem acabados
chafarizes de Lisboa, ornado d'uma bella estatua,
em frente do palácio do marquez de Pombal.
Alcântara — Defronte do quartel dos inválidos de
marinha ha um chafariz recentemente construido
e que o mau gosto fez coroar d'um Neptuno.
8
114 NOVO GUIA
Necessidades — Tem este largo uma fonte com
grande tanque e gracioso obelisco, a que já nos re-
ferimos no artigo Palácios reaes.
Belém. — Próximo ao mosteiro dos Jeronymos
está um outro chafariz, de forma piramidal, que é
dos mais engraçados em architectura que possue
Lisboa e seus subúrbios. Foi construído moderna-
mente.
Pedroiços. — N'este encantador logar ha um ou-
tro chafariz egualmente esbelto e de gosto não vul-
gar, ainda de mais moderna data.
Esperança — Retrocedendo para o interior da ci-
dade, cuja orla seguimos até aqui, encontramos
o chafariz do Largo da Esperança, adornado de co-
lumnas e ampla escadaria.
Thesouro Velho. — De moderna data foi feito para
substituir o chafariz do Loreto.
Carmo. — Ê d'uma estructura original e embel-
leza muito a praça que lhe deu o nome.
Rua Formosa. — No centro d'um largo. É espa-
çoso e abundante em agua.
Chafariz da rua d'Alegria. — De aspecto acanhado,
porem abundante d'agua.
Rato. — No largo d'este nome ; é de soffrivel ap-
parencia.
Rua do Arco — Pequeno e sem prespectiva.
Praça das Flores — É do mesmo gosto. Foi cons-
truido para substituir um outro que havia junto ao
arco do rua de S. Bento.
DO VIAJAXTE 115
Das Amoreiras. — Construído no centro do largo
d'esta denominação, é elegante e possue boa agua.
Da Eslrella. — Construído junto ao convento as-
sim chamado. Nada tem de notável.
De S. Pedro de Alcântara. — Construído moderna-
mente no fim da calçada da gloria, em substituição
d 'um outro que havia junto da alameda.
Em toda a cidade e seus arrebaldes ha outros
mais, pouco dignos de nota, assim como vários
marcos fontenarios nos passeios e nos logares
mais públicos da cidade.
ESTAÇÃO DO CAMINHO DE FERRO DE LESTE
Esta elegante e espaçosa estação está situada
próximo a Santa Apolónia, e pouco distante do
largo do Terreiro. Não obstante ter um largo na
sua frente, a rua que lhe fica paralella é pouco
larga, e se esta linha férrea tivesse o desinvolvi-
mento desejável, por certo aquella artéria seria
insuficiente para o transito publico.
Tem esta estação uma magestosa gare, e todas
as dependências necessárias são edificadas com
elegância e solidez. Dizem as pessoas entendidas
que não é inferior a outras estações de paizes
muito mais adiantados que nós.
D'ali partem os combovos para leste e sueste,
116 NOVO GUIA
tendo um espaçoso entroncamento, solidas pontes
de ferro e cantaria, túneis, etc.
Houve projecto de fazer na frente d'esta estação
um formoso aterro roubando á margem do Tejo o
necessário espaço para uma bella rua que chegasse
a entroncar com o denominado Aterro da Boa
Vista; porém uma tal obra foi julgada superior ás
forças do nosso município, e assim ficou aquelle
terreno acanhado e pouco elegante.
DEPOSITO DA COMPANHIA DAS AGUAS
É no logar onde existiu o chafariz da praia, e
que agora é substituído por uma bica de pouca
importância, que se edificou junto a este deposito
d'aguas, o qual é de perfeito machinismo, solido e
bastante espaçoso. É uma obra importante e a
única que n'este género existe em Portugal e por
isso muito digna de ser visitada por qualquer es-
trangeiro.
As duas obras hydraulicas mais notáveis de Lis-
boa é esta e o deposito das Amoreiras. Os arcos
das aguas livres, fora da circumvalação de Lisboa,
egualmente é uma obra arrojada e perfeita, e da
qual se falia mais largamente n'esta guia.
A chamada companhia das aguas já fornece esse
necessário liquido a muitas casas e estabelecimen-
DO VIAJANTE 117
tos, por um preço muito rasoavel, prestando assim
um bom serviço á economia e á hygiene.
MERCADOS
Praça da Figueira. — Bello mercado coberto, so-
bre os quatro lados de uma extensa praça, que fica
a par do Rocio, no topo da rua da Prata. Tem ar-
vores pelo centro. Ahi se vendem aves de toda a
qualidade, fructas, hortaliças, ovos, leite e flores.
É fechado todas as noites, com as portas de ferro,
á similhança do passeio publico.
Nas vésperas de Santo António, S. João e S. Pe-
dro, é esta praça illuminada e n'ella se vendem
fructas, bolos, flores, bebidas e quinquilharias,
como n'um arraial.
Ribeira Nova. — Mercado de peixe, mas onde se
encontram também fructas e hortaliças. Está si-
tuado em uma boa praça junto ao cães de Sodré;
tem logares cobertos como a Praça da Figueira.
Na frente do mercado, junto ao rio, está a casa
fiscal da administração do pescado.
Ribeira Velha. — Mercado de carnes de porco e
fructas seccas do Algarve. É muito regular e aceiado,
constituindo um dos lados da rua entre o Ver-o-
Peso (antigo local da alfandega das Sete Casas) e
O Terreiro do Trigo.
±1$ NOVO GUIA
Praça do peixe.- Ao Terreiro do Trigo. É um pe-
queno mercado com mesas de pedra, destinado ex-
clusivamente á venda do peixe.
Vêr-o-Peso.— Assim se chama ao mercado de
azeite e vinho, por grosso, estabelecido â Ribeira
Velha.
Praça de peixe. — Em Belém. E local mais vasto.
Foi concluido ha poucos annos com bastante gosto.
MATADOURO
Era antigamente no Campo de Santa Anna.
Agora acha-se edificado com toda a vastidão no
sitio denominado Cruz do Taboado.
É um estabelecimento notável e no seu género
pôde competir com os melhores que existem nos
outros paizes.
As rezes são alli desmanchadas com todo o aceio,
havendo um cirurgião veterinário destinado a exa-
minar o estado de saúde dos animaes que, para
consumo da capital, se votam á morte.
ESTABELECIMENTOS ÚTEIS
Hospilal nacional e real de S. José. - Estabelecido
no prolongamento da rua do Arco da Graça.
DO VIAJANTE 119
Este hospital é destinado aos doentes pobres,
posto que também possue quartos particulares por
preços rasoaveis.
É de bella apparencia, tem um largo na sua
frente, todavia possue poucas condições hygienicas.
Ultimamente soffreu notáveis melhoramentos. Tem
uma escola medico cirúrgica, sendo seus professo-
res as melhores reputações da capital.
Hospital da Marinha.— Junto ao campo de Santa
Clara. É destinado aos doentes pertencentes á ar-
mada real.
Hospital da estrellinba. — Este hospital militar está
situado ao pé do largo da Estrella, e é destinado
aos militares doentes.
Hospital de S. Lazaro. — Passado o largo do Soc-
corro. É destinado aos doentes pobres que pade-
cem moléstia de pelle.
Hospital veterinário. — Annexo ao Instituto Agrí-
cola. É do estado, todavia também recebe para tra-
tamento animaes doentes, pagando seus donos
toda a despeza.
Real casa pia
É estabelecida no edifício do convento dos Jero-
nymos em Belém. Antigamente dava educação aos
orphãos e desamparados de ambos os sexos, hoje
admitte somente rapa/.es e em menor numero, onde
lhes ensinam instrucçâo primaria, oíBcios mecha-
nicos, etc.
120 NOVO GUIA
No primeiro domingo de cada mez é patente
este Asylo ao publico.
Asylo da Mendicidade
No extincto convento de Santo António dos Ca-
puchos ao campo de Santa Anna.
Recolhe um determinado numero de pobres de
ambos os sexos que alli sâo mantidos por caridade.
Asylo de Maria Pia
Vasto edifício situado a Santa Apolónia, no qual
se abrigam indigentes velhos, cegos e aleijados de
ambos os sexos.
Actualmente o numero de asylados é de 597.
Asylo de Santa Catharina
Estabelecido no antigo edifício de S. João Nepo-
moceno.
Foi instituido para recolher os orphâos das vi-
ctimas da febre amarella.
Asylo dos Alhos dos soldados
No edifício de Mafra.
Asylo dos inválidos do trabalho
Sito na Fonte Santa.
DO VIAJANTE 121
Santa Casa da Misericórdia
No largo de S. Roque.
Este estabelecimento de caridade, educa orphãos
de ambos os sexos, e recebia os infelizes engeita-
dos por seus pães.
Tem uma boa administração e um hospital para
os seus orphãos.
N'este edifício é que se fazem as loterias, em fa-
vor dos estabelecimentos de caridade.
Asylos da Infância Desvalida
Ha em Lisboa qoasi um bestes asylos por cada
freguezia, ensinando os filhos de pessoas pobres.
São mantidos por uma commissão de pessoas cari-
dosas.
Instituto Vaccinico
Rua do Crucifixo n.° 100.
Concelho de Saúde Púnica do Iteino
Annexo á Secretaria do Reino.
Ljceu Nacional de Lisboa
Na rua de S. José, próximo ao Quartel General.
Huartel general
Na rua de S. José, próximo á rua das Pretas.
122 NOVO GUIA
Correio Geral
Administração central do correio de Lisboa, cal-
çada do Combro (aos Paulistas).
O correio tem uma estação postal na praça do
Commercio, no lado oriental, assim como muitas
caixas em diversas ruas da cidade.
As estampilhas de franquia vendem-se nas lojas
que teem caixas, assim como na estação postal e
no correio geral, onde se seguram as que vão para
fora do reino e se recebe dinheiro e encommendas.
Procuradoria Geral da Coroa
Junto ao arco da rua Augusta.
ifonte-Pio Geral
Rua do Ouro.
Observatório astronómico
Na- Ajuda. É rico de instrumentos mathematicos
e administrado por capacidades scientificas de pri-
meira ordem.
DO VIAJANTE 123
LOCALIDADES DAS REPARTIÇÕES PUBLICAS
RECAPITULAÇÂO
Academia real das sciencias. — Rua do Arco.
Academia das bellas artes. — Extincto convento
de S. Francisco.
Administração geral dos correios. — Calçada do
Combro.
Administração económica das cadeias civis de
Lisboa. — Limoeiro.
Administração geral da casa da moeda e papel
sellado. — Rua da Moeda.
Administração da real casa de Bragança. — Ne-
cessidades, ou na rua do Duque de Bragança.
Administração geral da imprensa nacional. —
Travessa do Pombal.
Alfandega grande de Lisboa. — Terreiro do Paço.
Alfandega municipal. — Largo do Terreiro.
Archivo da torre do Tombo. — Calçada da Es-
trella.
Archivo militar. — Calçada nova de S. Fran-
cisco.
Arsenal da marinha. — Largo do Pelourinho.
Arsenal do exercito. — Largo da Fundição.
Bibliothcca nacional. — Ex-primeiro convento de
S. Francisco,
Banco de Portugal. — Rua dos Capellistas.
Camará municipal. — No Ver-o-pezo.
124 NOVO GUIA
Commissão permanente das pautas. — Na Alfan-
dega de Lisboa.
Commissão administrativa da casa pia. — Ex-
iincto convento dos Jeronymos.
Conselho de estado — Necessidades, (as secções
no Terreiro do Paço).
Conselho de suade naval e do Ultramar. — Hos-
pital da marinha.
Conselho de saade publica. — No ministério do
reino.
Conselho de administração da marinha. — Ter-
reiro do Paço.
Conservatório real. — Rua dos Caetanos.
Escola polytechnica. — Rua Direita da Escola Po-
lytechnica.
Escola do exercito. — Remposta.
Escola naval. — Rua do Arsenal.
Escola de commercio. — No Instituto Industrial.
Escola medico-cirurgica. — Hospital de S. José.
Estação de saúde. — Relem.
Estado maior general. — Terreiro do Paço.
Governo civil. — Travessa da Parreirinha.
Governo diocesano do Patriarchado. — S. Vi-
cente.
Hospital nacional e real de S. José. — Calçada
do collegio de Santo Antão.
Hospital da marinha. — Campo de Santa Clara.
Hospital militar. — Estrellinha.
Hospital de alienados. — Rilhafolles.
DO VIAJANTE 123
Hospital de lázaros. — Rua de S. Lazaro.
Inspecção geral dos theatros. — Rua dos Caeta-
nos.
Intendência das obras publicas. — Terreiro do
Paço.
Juizes de direito e orfanológico. — Extincto con-
vento da Boa Hora.
Junta do credito publico. — Terreiro do Paço.
Junta geral do districto. — Rua da Parreirinha,
Junta do deposito publico. — Calçada nova de
S. Francisco.
Lyceu nacional. — Rua de S. José.
Major ia general. — Arsenal da Marinha.
Policia correccional. — Extincto convento da Boa
Hora.
Policia do Porto. — Na alfandega.
Praça dos leilões. — Calçada nova de S. Fran-
cisco.
Procuradoria geral da fazenda. — Terreiro do
Paço.
Quartel general da i* divisão militar. — Rua
de S. José.
Santa casa da misericórdia. — Largo de S. Ro-
que.
126 NOVO GUIA
DEFESA DE LISBOA
Castello Alie H, «ffoirge
Cidadella de Lisboa, em um alto que domina
parte da cidade, e onde se encontra a celebre
porta de Mem Moniz, na qual, segundo a tradição,
se atravessou um valente guerreiro d'aquelle nome,
para facilitar ás hostes de Áffonso Henriques a en-
trada da cidade. A parte militar do castello, com
presidio, quartel de tropa, e baterias, está conser-
vada com o maior aceio e bom gosto ; o antigo
bairro que ainda se conserva de pé, quasi todo an-
terior ao terremoto, e que fica fechado pelas mu-
ralhas e porta do castello, é de mesquinha appa-
rencia, mas digno de ser contemplado pelo anti-
quário.
Tora^e «Se S. Vicente de JSeleni
Uma légua distante do Terreiro do Paço para o
occidente; a sua construcçao foi projectada por
D. João it e seu plano incumbido a Garcia de Rezen-
de, pagem da escrevaninha, porém coube a D. Manuel
a gloria de a concluir na mesma época e gosto em
que edificou o convento de Belém, que não lhe fica
distante. Foi construída no meio das ondas, mas
hoje está na ponta de uma lingua de areia, que as
aguas para alli tem empurrado. É digno de visitar-
DO VIAJANTE 127
se este precioso munumento pela belleza da sua ar-
chitectura, os relevos e bastiães, as guaritas de pe-
dra com differentes lavores nos ângulos, as cruzes
de Christo que por toda a parte se mostram em re-
levo recordando o monarcha venturoso, que foi
grande mestre d'essa milícia antes de ser rei, os
seus mil ornatos graciosos, e as ondas beijando-
lhe a base, e a brisa susurrando por entre as
ameias, e a linda vista do Tejo, da cidade, das
montanhas de além e do oceano. Como ponto mi-
litar não é de grande importância esta torre, po-
rém soccorre-se com a bateria addicional do Bom
S?(Ccesso. Uma das curiosidades mais dignas de
ver-se na torre de Belém é a Saio Regia, cujo te-
cto é elíptico, e aonde dois visitantes collocados
nos focos, que ficam nos ângulos oppostos da
casa, podem conversar em voz baixa e communi-
car mutuamente as suas idéas, sem que outra
pessoa collocada no meio da casa, e por conse-
guinte mais perto de ambos, possa ouvir uma só
palavra.
Torre Velha. — Do outro lado do Tejo, fortifica-
ção arruinada, aonde está estabelecido o Lazareto,
e que nada tem a observar nem pela arcliitectura
nem pela importância militar.
Torre de S. Julião ou S. Gião da Barra. — Castello
situado na foz do Tejo, com uma povoação adja-
cente, e prisões medonhas, que já por largos annos
estiveram cheias de martyres políticos. Conslitue
128 NOVO GUIA.
a defeza de Lisboa pelo iado do mar, cruzando os
fogos com a Torre do Bugio.
Torre de S. Lourenço do Bugio. — Ilhote isolado en-
tre as vagas, como uma vedeta de Lisboa. Entre
estas duas torres estão os cachopos que formam
as duas barras de Lisboa ; a do sul ou barra gran-
de, e a do norte ou corredor. É uma bonita cons-
trucção, que tem como S. Julião, um bom pharol,
o qual serve de marca, combinado com outros
fora da barra, para se poder de noite tentar a en-
trada do Tejo.
Fora da barra ha a fortaleza de Gascaes, que
pouco ou nada poderá valer para salvar Lisboa de
uma invasão pelo lado do mar.
Á margem do Tejo ainda ha do lado do sul o cas-
tello de Almada, fronteiro a Lisboa, e outras for-
tificações arruinadas de um e outro lado, que não
têem importância alguma militar, nem são objectos
dignos de attrahirem as vistas do forasteiro.
As linhas destinadas a defender Lisboa pelo lado
da terra, oceupam a extensão de duas léguas em
semi-circulo, apoiando as extremidades no Tejo
sobre a Madre de Deus e Alcântara ; estão porém
em grande parte arruinadas, e despidas da guar-
nição e artilheria. Mais longe defendem Lisboa as
formidáveis linhas de Torres Vedras, ante as quaes
recuou Massena com um poderoso exercito de sol-
dados de Napoleão; estas linhas apoiam a direita
no Tejo e a esquerda na praça de Peniche sobre
DO VIAJANTE 129
o oceano, cortando a passagem para a capital
n'uma cordilheira de montanhas.
Para não demorar a impressão d'este Guia de-
mos já um mappa da força militar de Lisboa.
População
Lisboa, considerada só da linha de circumvalação
para dentro, como a reduziu um decreto do go-
verno, não conta mais de duzentos mil habitantes ;
incluindo Belém, e o demais termo da cidade orça
por 260,000 a 300,000 pessoas. A linha de cir-
cumvalação, quando estiver concluida, ha de ser
um bonito passeio para rivalisar com as Barreiras
de Paris.
Cemitérios
Prazeres. — Chama-se assim o principal cemité-
rio de Lisboa, por ter sido aproveitado para este
destino o campo de Nossa Senhora dos Prazeres,
onde havia uma ermida em que se venerava a Vir-
gem d'esta invocação, tornada hoje n'uma bella cae
pella do mesmo cemitério. Tem ruas orladas de
eyprestes, e preciosos monumentos funerários d-
riquissimos mármores e de custoso trabalho ; no-
tável entre todos se torna o jazigo pertencente á
família Palmella, onde repousa o cadáver do pri-
meiro duque d'este titulo, um dos maiores di-
130 NOVO GUIA
plomaticos da Europa. Alli sepultam-se os finados
da metade occidental da cidade.
Alto de S. João. — Cemitério da parte oriental de
Lisboa. Menos rico em monumentos fúnebres, mas
notável pela capella aonde se depositam os finados
antes de passarem ao ultimo jazigo, porque é ador-
nada de primorosos mármores, obra moderna que
se deve á municipalidade.
Ajuda. — Terceiro cemitério catholico de Lisboa,
onde se enterram as pessoas fallecidas do concelho
de Belém. Nada tem de notável em comparação
com os precedentes.
S. Luiz. — Cemitério privativo dos francezes, junto
á egreja do mesmo nome.
Os Cyprestes. — Nome vulgar que se dá ao cemi-
tério dos Inglezes, junto ao passeio da Estrella.
Annexo a elle está a egreja do culto protestante.
Cemitério dos Judeus. — Ao Colleginho.
Cemitério dos Allemâes. — Rua do Patrocínio, á
Boa-morte.
Vai Escuro. — Cemitério de irracionaes.
DO VIAJANTE 131
PASSEIOS E JARDINS PÚBLICOS
Passeio Publico
Entre o largo de Camões e a praça da Alegria
está situado o principal passeio de Lisboa, que não
tem outra denominação particular. Contém alguns
jardins que cortam ruas sombreadas por arvoredo
e duas bellas estatuas representando o Tejo e o
Douro, de cujas marmóreas urnas gotejam limphas
sobre os lagos. A rua principal é interceptada,
logo ao principio, por uma énome bacia de pedra
que serve para receptáculo das aguas.
No lado opposto á entrada principal ha um ou-
tro lago, com uma cascata, tendo aos lados duas
escadas que conduzem a um terraço, que fica su-
perior á cascata. Este passeio é frequentado pela
melhor sociedade da capital, que nos dias aprasi-
veis da primavera e do estio ahi vae gosar o bal-
sâmico aroma das flores e os melodiosos sons de
uma musica marcial. Nas noites de verão é illumi-
nado a gaz ; dão-se alli fogos de artificio, concer-
tos, e tem um café.
•Jardim do H. Pedro de Alcântara
Este passeio de muito menores dimensões do que
o antecedente, avantaja-se-lhe comtudo na belleza
do local e graça de accessorios. D'alli se disfrueta
132 NOVO GUIA
um dos mais variados panoramas da cidade, termi-
nando por uma nesga do Tejo. Sobranceiro ao jar-
dim, propriamente dito, que tem uma bonita cascata,
um pequeno repucho, e alguns bustos de romanos
notáveis, ha um passeio bem assombreado de arvo-
redo, cercado de grades de ferro do lado da rua
e de solidas muralhas no declive da montanha em
que está assente. É delicioso, por uma noite de
luar, ir alli respirar os hálitos da briza, perfuma-
dos das mil flores do jardim, e ver a baixa e as
montanhas circumvisinhas illuminadas por myria-
des de luzes das suas habitações. O jardim debaixo
está fechado depois do pôr do sol, porém a alla-
meda superior é publica toda a noite.
Jardim de Si. Roque
Foi construido no largo da mesma denominação
e tem no centro um modesto monumento que os
italianos residentes em Lisboa fizeram alli erigir,
afim de commemorar o enlace da rainha D. Maria
Pia com o nosso rei.
Este jardim é pouco frequentado, e apenas á
poética hora do fim da tarde alli se encontra al-
guma ama secca ou criadinha sopeira que disfar-
çadamente derriça o policia civil alli estacionado,
emquanto as crianças, confiadas ao seu cuidado,
rebolando na relva, esmagam os narizes muito á
sua vontade.
DO VIAJANTE 133
jardim da Praça do Príncipe Real
Situado n'um dos pontos mais elevados da ci-
dade, gosa perfeitos ares, é desafrontado, e á noite
alli se respiram no estio gratas aragens. Tem no
centro um espaçoso lago, com um jogo de agua
de bello effeito. No verão de manhã e mesmo de
tarde é pouco frequentado, por causa de ser muito
exposto ao sol, todavia no inverno, e mesmo no
verão pela noite n'elle passeiam muitas familias
moradoras n'aquella localidade.
Jardim da Praça das Flores
Na praça d'esta denominação ha um pequeno
jardim com um acanhado lago. Este vergel é fre-
quentado apenas pelas creanças dos moradores
d'aquelle sitio, as quaes passam alli as suas horas
de folgança.
Passeio da Estrella
Este passeio é de certo o mais elegante da capi-
tal : uma montanha erguida pela mão do homem,
d'onde se devassa uma parte da cidade e do Tejo ;
uma gruta cavada também pela mão do homem, nas
entranhas da terra; um pavilhão chinez, aonde es-
taciona aos domingos uma banda de musica militar;
taboleiros de verdura e de flores, ruas de bello
134 NOVO GUIA
arvoredo, lagos e assentos — eis ahi o passeio da
Estrella, que toma esta denominação da formosa ba-
sílica que lhe fica defronte e que ainda será ornado
com a estatua da fundadora d'aquelle magnifico tem-
plo, a rainha D. Maria i, obra do fallecido João José
d' Aguiar, que foi lente de esculptura na extincta es-
cola da Ajuda.
Passeio da Junqueira
Situado á margem do Tejo, e muito mais extenso
do que o antecedente, entre Alcântara e Belém,
avulta o copado arvoredo d'este passeio, orlado
de palácios e casas elegantes ; termina no poente
pelo vasto edifício da Cordoaria.
Jardins do Aterro
No aterro da Boa Vista ha dois bonitos jardins,
com frondoso arvoredo, bellas flores e commodos
assentos, os quaes são muito frequentados em as
noites de verão.
DO VIAJANTE 135
THEATROS
D, liaria 11. — Declamação portugucza
Este theatro foi levantado no mesmo local onde
existiu o palácio dos Estaus, depois a inquisição,
a regência, e ultimamente o thesouro publico, edi-
fício que foi destruido pelas chammas, em 1836.
O theatro foi concluído em 1847, e bem que infe-
rior ao de S. Carlos em grandeza e solidez, exce-
de-o comtudo em elegância e luxo de ornatos. A
fachada principal que embelleza a praça de D. Pe-
dro tem seis formosas columnas, coroadas por
uma empena onde se vê um alto relevo represen-
tando Apolo e sete das Musas, desenho de Fonse-
ca, executado por Aragão, Cezarino, Lata, e Gag-
giani ; as duas Musas que faltam n'aquelle grupo
— Melpomene e Thalia — estão aos lados da esta-
tua central que representa o poeta Gil Vicente ;
esta foi modelada por Assiz, e executada por Ce-
sarino ; aquellas são dos cinzéis de Caggiani e La-
ta, Pedro de Alcântara, e Eça. Esta fachada princi-
pal do edifício tem entrada para o camarote real;
a do largo de Gamões para as platéas e camaro-
tes ; a do Pateo do Regedor para as varandas e
palco: e a do largo de S. Domingos também com-
munica com a caixa do theatro. O salão ao nível
da primeira ordem de camarotes, tem varandas
que communicam com a segunda e terceira ordens,
136
NOVO GUIA
e portas para o terraço superior do vestíbulo do
largo de Camões. Tem frizas, camarotes de pri-
meira, segunda e terceira ordem, e uma sumptuosa
tribuna real.
S. Carlos. — Opera italiana
Urn dos melhores theatros de segunda ordem
na Europa, e onde se encontram decorações como
em nenhum outro. Foi construído em seis mezes
pelo architecto portuguez José da Gosta e Silva,
sob a inspecção de Sebastião António da Cruz So-
bral, e a expensas de uma companhia de opulen-
tos negociantes, a cuja frente se achava o barão
de Quintela (pae do fallecido conde do Farrobo), An-
tónio José da Cruz Sobral, Bandeira, e Machado. A
primeira representação n'este theatro teve logar no
dia 29 de abril de 1793, para festejar o nascimento
da princeza da Beira, D. Maria Thereza, primeira
filha de D. João vi. — No tecto do salão de entrada
ha a notar um bello quadro, representando o pre-
cipício de Faetonte, obra do delicado pincel de Cy-
ryllo Wolkmar Machado; o pavimento é de már-
more branco e azulado, disposto em xadrez. A sala
do espectáculo é elíptica; tem 120 camarotes dis-
tribuídos em cinco ordens, e urna tribuna grandiosa
para o Soberano nos dias de grande gala. Este edi-
fício é construído de cantaria á prova de fogo ; os
seus corredores são todos de abobada, as escada-
DO VIAJANTE 137
rias de pedra, e em tão grande numero, que no
caso de sinistro dariam prompta saída a todos os
expectadores dos camarotes. Está situado em uma
praça quadrada e bastante larga para o livre tran-
sito de carruagens e pessoas a pé.
Theatro da Trindade
Elegante edifício modernamente construído na
rua da Trindade. Tem um bom salão para bailes
de mascaras, é muito concorrido, e sempre mimo-
seia o publico com espectáculos variados e des-
lumbrantes.
Destina-se em geral a comedias, farras e operas
cómicas.
Tlieatro do Gymna«io
Este theatro é destinado á comedia e á farça Iy-
rica. De pequena dimensão, é porém construído
elegantemente e tem alcançado até hoje o favor do
publico.
A companhia é limitada, e possue alguns artis-
tas de merecimento.
Foi Q'este theatro que debutou o actor Taborda,
do tempo em que alli se reuniu um grupo de acto-
res apreciáveis. Era então muito frequentado pelo
publico que gostoso assistia ás representações de
chistosas comedias.
138 NOVO GUIA
Theatro da Rua dos Condes
Este theatro velho e de triste apparencia, é des-
tinado aos espectáculos que se dão no Theatro de
Variedades, e como elle é frequentado por igual
classe de espectadores.
Os nossos principaes actores aprenderam n'este
theatro, como: Emilia das Neves, Tasso, Rosa,
Theodorico etc. Hoje nâo conta nenhum artista de
notável merecimento.
Theatro de Variedades
O antigo theatro do Salitre acha-se actualmente
crismado com este titulo, todavia é sempre o mes-
mo theatro. frequentado por espectadores de baixa
classe, promptos a promover rixas e continuadas
troças. Varias sociedades teem administrado aquella
empresa, porém o mau fado constantemente as
persegue.
O género d'este theatro é comedias, farças e
magicas.
Theatro do Príncipe Real
Estabelecido no fim da Rua Nova da Palma. É
destinado a comedias e dramas. As companhias
que tem tido são pouco notáveis, e em geral é
frequentado pela classe pouco elevada da socie-
dade.
DO VIAJANTE 139
Casino Lisbonense
No largo da Abegoaria (á Trindade). É uni es-
paçoso salão próprio para bailes mascarados, bem
decorado, e no qual se teem dado representações
de zarzuelas e concertos vocaes e instrumentaes.
CIRCOS
Praça do Campo de SantMnria
È o único monumento do tempo do governo de
D. Miguel. Ha ali corridas de touros no gosto pe-
ninsular, quasi todos os domingos de verão. Co-
meçou a servir em 1832. O seu rendimento reverte
a favor da casa pia.
Circo de Price
Rua do Salitre, em frente do Theatro de Varie-
dades,
Uma companhia equestre trabalha nVste ele-
gante circo todos os invernos, e é frequentado
pela melhor sociedade de Lisboa ; os espectáculos
são á noite. Também dá bailes mascarados na época
do Carnaval, e algumas vezes espectáculos dramá-
ticos pela companhia do theatro da rua dos Condes.
140 NOVO GUIA
PRAÇAS E RUAS MAIS NOTÁVEIS, MONUMENTOS,
PALÁCIOS E QUINTAS
A cidade baixa ou nova, edificada por ordem do
marquez de Pombal, sobre as ruinas deixadas pelo
terremoto, é um paralellogramo regularissimo de
ruas cortadas em ângulos rectos, e terminadas ao
sal pela praça do commercio, e ao norte pelas pra-
ças de D. Pedro e da Figueira. As ruas transver-
saes de leste a oeste, começando na praça do Com-
mercio denominam-se : Rua Nova de El-Rei (vulgo
dos Capellistas, por ser especialmente dedicada ás
lojas de sedas, bijouterias e modas). — Rua de
S. Julião (vulgo dos Algibebes, porque quasi todas
as suas lojas são occupadas por vendedores de fato
feito). — Rua da Conceição (vulgo dos Betrozeiros,
pelo motivo que a denominação indica. — Travessa
de S. Nicolau — Travessa da Victoria — Travessa
da Assumpção — Travessa de Santa Justa, que ter-
mina em um largo da mesma denominação, e fi-
nalmente a Rua da Bitesga, e a Travessa do Am-
paro, communica o Rocio com a Praça da Figueira.
As ruas do sul a norte são, começando de oeste :
— Rua Áurea, ou do Ouro, Rua Augusta ou dos
Mercadores, e Rua Bella da Rainha (vulgo da
Prata) que partem da Praça do Commercio (vulgo
Terreiro do Paço) as duas primeiras a entestar
com a Praça de D. Pedro (vulgo Rocio) e a ultima
com a Praça da Figueira (mercado publico).
DO VIAJANTE 141
Ainda mais a leste está a Rua Nova da Princeza
(vulgo dos Fanqueiros) onde se vendem chitas, algo-
dões e linhos), que vae passar ao lado da praça da Fi-
gueira, e terminar no largo de S. Domingos. Além
d'estas quatro ruas principaes, ha ainda outras qua-
tro alternadas com aquellas, que começam somente
na rua dos Retrozeiros, e vão terminar na linha
norte do paralellogramo. Entre a rua dos Fanqueiros
e a da Prata, está lançada a rua dos Douradores;
entre a da Prata e a Augusta, a dos Correeiros
(vulgo Travessa da Palha) ; entre a rua Augusta
e a do Ouro, está a Rua dos Sapateiros que ter-
mina por um arco comtnunicando com o Rocio,
cuja denominação Arco do Bandeira é vulgarmente
dada a toda a rua. Além da rua do Ouro fica a rua
do Crucifixo, que fecha o paralellogramo por oeste.
D'ahi a cidade sobe por um lado para o Chiado e
bairro Alio, por outro para a Magdalena e Sé, por
um terceiro para os montes de SanfAnna e da Co-
tovia, e pelo quarto desce para o Tejo. Imagine-
mos o desembarque no Terreiro do Paço, e per-
corramos a cidade baixa.
Praça do Commercio (vulgo Terreiro
cio Paro)
É uma praça regular e grandiosa, como não vi-
mos ainda outra na Europa, cercada de três lados
por soberbas arcadas, que sustentam os edifícios
142 NOVO GUIA
onde estão collocadas as principaes repartições do
estado, como já indicámos n'outro logar, a leste e
oeste terminam estes grandes corpos por dois for-
mosos torreões, local da Bolça (praça do commer-
cio propriamente dita). Qualquer d'elles tem ópti-
mas columnas sustendo os pavimentos superiores.
Entre os dois lances que formam o lado septen-
trional da praça, na entrada da rua Augusta, estão
feixes de primorosas columnas, sustentando uma
arcaria de bem lavrada pedra, sobre a qual se levan-
ta a bella plata-fórma da torre que hade rece-
ber o relógio e sino da cidade. Do lado opposto
está o rio e um amplo cães, terminado por duas
columnas de mármore inteiriças.
Tem esta praça 585 pés de comprimento de nas-
cente a poente, sobre 536 de largura. Está arbo-
risada e bem illuminada.
O mais bello ornamento d'esta vastíssima praça
é a
Estatua equestre de D. José í
Monumento erguido pelo povo de Lisboa ao rei
sábio, que mandou reedificar a cidade destruída
pelo horrivel terremoto de 1755. Bem no centro
da praça está collocado o formoso pedestal que sus-
tenta a estatua, cujo cavallo e cavalleiro, em bron-
ze, pezam 80.640 arráteis ! e tem de altura 31 e
meio palmos ; o pedestal, de mármore, tem de al-
tura 32 palmos, de comprimento 27, e de largura
DO VIAJANTE 143
18. É em tudo superior á famigerada estatua eques-
tre de lord Wellington. O desenho e esculptura da
nossa memoria (como lhe chama vulgarmente o
povo) é do celebre Joaquim Machado de Castro, e
a fundição da estatua foi feita no arsenal do exer-
cito, sob a inspecção do tenente general Bartholo-
meu da Costa; foi inaugurada em 1775, vinte an-
nos depois do terremoto, e ainda em vida do rei
a quem era dedicada. Por seis degraus de pedra
se sobe á plata-fórma que sustenta o pedestal, en-
tre dois grupos alegóricos ao nascente e ao poente,
representam estes, de um lado um mancebo, tendo
em uma das mãos a palma do triumpho, e com a
outra dirigindo o cavallo que piza aos pés os inimigos,
tudo cercado de tropheos de guerra ; do outro lado
a fama embocando a tuba, cercado também de tro-
pheos, e com um elefante ao pé, e um homem
prostrado, alusão esta que ainda ninguém soube
explicar rasoavelmente.
As faces do pedestal adjacentes aos grupos são
lizas ; a que olha para o interior da cidade tem um
baixo relevo, cuja alegoria o auctor explica assim : —
E o objecto principal a generosidade regia, virtude
personalisada na figura de uma donzela com as ves-
tes e insignias reaes na attitude de descer do sólio,
como para acudir e remediar a lamentável catastro-
phe da capital destruida pelo terremoto; ao lado tem
um leão, symbolo da mesma virtude. Outra figura fe-
minina, a cidade de Lisboa, é facilmente conhecida
144 NOVO GUIA
pelo escudo de suas armas, isto é, o navio com
dois corvos á popa e á proa ; vê-se caída e em de-
liquo, para significar o desastre que soffrera : o
governo da republica, trajando como os guerreiros
antigos, a está amparando com a dextra ; a este
trava do braço esquerdo o Amor da Virtude, ver
presentado n'um menino alígero cercado de gri-
naldas de louro, que o guia perante o throno para
expor os intentos e sollicitar os meios de progre-
dir na reparação da cidade, ao que a generosidade
regia benignamente defere. O commercio abrindo os
seus cofres franqueia as suas riquezas. Posteriores
a esta figura, que tem aos lados a cegonha e duas
mós, que sâo seus symbolos, vemos mais duas fi-
guras, representando a architectura, que mostra
a planta da cidade e a Providencia humana, que
se distingue pela coroa de espigas de trigo e pelo
leme, e umas chaves na mâo esquerda : vem am-
bas concorrer com sua perícia e direcção a levan-
tar Lisboa do meio das ruínas em que jazia sepul-
tada.
A outra face do pedestal, que olha para o
Tejo, e que é convexa como a que lhe fica opposta
e acabamos de descrever, tem esculpidas as armas
reaes, e abaixo d'ellas uma moldura oval, onde o
grande ministro restaurador da cidade mandou col-
locar a sua effigie em bronze, a qual foi arrancada
em 1777 para lhe substituírem outra lamina com
as armas do senado da camará de Lisboa. D. Pe-
DO VIAJANTE 14o
dro iv, mandou restituir ao seu logar o retrato do
marquez de Pombal, o que se effectuou a 12 de
outubro de 1833.
Praça de D. Pedro (Rocio)
Também formosa e regular, e da forma de um
paralellogramo; tem o centro empedrado de preto e
branco, o que faz muito bom eíT^ito, apezar das
censuras dos críticos ; o seu comprimento e largura
lá está escripto também em pedra, por braças e
por metros. No meio da praça está o monumento
de D. Pedro iv erecto em 1870 o qual consiste
num amplo e elegante pedestal com uma impo-
nente columna de fino mármore que termina com
a estatua do imperador fundida em bronze.
Na base d'este monumento estão quatro collos-
saes estatuas alegóricas, representando a prudên-
cia, a justiça, fortaleza e a temperança. A segunda
parte é decorada com dezeseis escudos «las princi-
paes cidades de Portugal. O pedestal quetÈ quadra-
do contem quatro inscripções com letra de bronze.
O terço inferior (lesta columna, circumdado por
uma coroa de louro está decorado com grinaldas
e coroas, e quatro figuras da fama em baixo rele-
vo, ligadas com festões pendentes das mãos. As
quatro parles do capitel teem os brazões das ar-
mas de Portugal. Em cima se eleva um pequeno
pedestal terminando por um hemispherio sobre o
10
146 NOVO GUIA
qual assenta a estatua do imperador coroado de
louro, com o uniforme de general e manto, tendo
na mâo direita a carta constitucional, e apoiando a
esquerda na espada.
Os lados do nascente e poente da praça tem
bella casaria simétrica ; ao sul está o arco do Ban-
deira, também ladeado de moradas, e ao norte
O rico theatro de D. Maria n, de que já tratámos
em logar competente. A leste d'este edifício fica o
largo e egreja de S. Domingos, e a oeste o largo
de Camões, com lindos prédios, que seguem pela
rua de Camões ao passeio publico. Sobranceiro ao
Rocio vê-se, em uma eminência, o convento do
Carmo e as formosas ruinas da egreja que lhe era
annexa.
Esta praça perfeitamente arborisada e illuminada,
contém grande numero de commodos bancos de
madeira.
Praça de Luiz de Camões
Esta moderna praça está situada no fim da rua
do Chiado, sendo fechada por uma gradaria de
bom gosto. No centro foi inaugurado em 1867 um
monumento ao grande poeta, executado pelo escui-
ptor Victor Bastos. Consta de uma estatua ingente
de Luiz de Camões, avultando no seu pedestal, es-
culpidos em mármore, as estatuas dos mais notá-
veis poetas e prosadores já fallecidos, que sâo :
DO VIAJANTE 147
Fernão Lopes, Pedro Nunes, Gomes Eannes de
Azurara, João de Barros, Fernão Lopes de Canta-
nheda, Vasco Mousinho de Quevedo, Jeronymo
Corte Real e Francisco de Sá de Menezes.
Esta praça é uma das mais elegantes, pois é guar-
necida de bellos edifícios, e está bem illuminada,
arborisada, e com grande numero de bancos para
commodidade do publico.
Praça da Alegria
Na parte superior do Passeio Publico, não é tão
regular como as já nomeadas, mas tem bellas ha-
bitações de particulares, é arborisada e tem assen-
tos.
Praça do Príncipe Real
Acima da antecedente, e em logar bem arejado.
Ahi esteve a antiga basilica de Lisboa, incendiada
e reduzida a cinzas no século passado. Depois co-
meçou-se a erguer no mesmo logar o Erário /toro,
que nunca passou dos sólidos alicerces ; ultimamente
destinaram-n'a para a construcção de um mercado
publico, mas o que subsiste por agora é um beilo
e espaçoso lago, pertencente á companhia das
aguas que alli tem um abundante deposito. Esta
praça é bellamente arborisada e guarnecida de ban-
cos de madeira.
148 NOVO GUIA
Largo do Pelourinho
Menor que o Rocio, e quadrado. Tem de um
lado o vasto edifício do Arsenal da Marinha, e da
Camará Municipal ainda em construcção ; no centro
tem uma singular columna de mármore de uma
só pedra, em forma de rosca e oca, coroada por
uma esphcra armilar de metal. Era ahi que se
executavam as sentenças de morte proferidas con-
tra os nobres, porém ha alguns annos que lhe ti-
raram os ferros que indicavam essa ominosa ser-
ventia.
Praça da Figueira
(Vide Mercados.)
Praça dos Romnlares
(Vulgo Cães do Sodré.J Empedrada similhante-
mente ao Rocio, e arborisada ; é muito frequentada
pelos negociantes e homens do mar, em consequên-
cia da sua posição á margem do Tejo, e porque
ha ahi mais de um escriptorio de agencia commer-
cial e maritima. Tem dois bons cafés, hotéis, bilha-
res, etc.
Largo de S. Paulo
Também empedrado em mosaica e com um obe-
lisco no meio (vide Fontes e chafarizes). É muito
DO VIAJANTE 149
regular, porém menor que o Rocio. Em um dos
lados tem a egreja paroctiial de S. Paulo ; nos ou-
tros três, boa casaria. É arborisado.
Largo do Rato
Em continuação do caminho para o norte. É es-
paçoso : tem um chafariz ordinário, e o grande pa-
lácio dos marquezes de Vianna, onde se encontram
algumas salas das mais bem mobiladas de Lisboa.
Largo das Amoreiras
Largo adiante do Rato. É sitio muito ameno,
plantado de arvores do seu nome, e ornado com
assentos de pedra. Ahi se sente o murmúrio das
aguas livres que se precipitam pela mãe oVagna.
É costume antigo fazer-se n'este largo uma feira
annual.
Campo de SaiifAnna
Largo bem arborisado, com boa casaria, e a
praça de toiros, de quê falíamos no artigo Circos.
Fizeram-lhe ultimamente consideráveis melhora-
mentos. Ahi tem logar todas as terças-feiras a
venda de trastes usados, livros truncados, ferra-
gens, etc. É conhecida esta reunião semanal pelo
nome de feira da ladra.
150 NOVO GUIA
Laiso do Carmo
No centro da cidade, muito alegre e arborisado ;
com um bonito chafariz, as ruínas da egreja, e um
palácio em que está o Club Lisbonense. A associa-
ção dos architectos está nas ruínas da egreja.
Praça da Ribeira Nova
(Vide Mercados.)
Largo das Necessidades
Defronte do palácio real ; tem um chafariz com
uma bella agulha de mármore que dizem ser de
muito valor.
Largo do Barão de Quintella
Só notável pelo palácio que foi do conde do Far-
robo, que é na realidade elegante, e que entesta
com a egreja da Encarnação. Entre esta e o Loreto
fica o Largo das duas Egrejas, e um bom palacete,
que lhe fica ao sopé, onde esteve algum tempo a
assembléa da Península, hoje extincta.
A Praça das Flores, o Largo da Graça* o do
Corpo Santo, o de S. Roque, e outros muitos de
Lisboa, mais ou menos regulares, nada tem que
prenda a attenção do viajante. No largo do Calha-
DO VIAJANTE 151
riz ha a notar o palácio e jardim dos duques de
Palmella.
Entre os palácios particulares de Lisboa e seus
subúrbios, merece a preferencia, quanto a nós, o
dos condes da Ribeira, á Junqueira, e depois o dos
condes da Povoa, hoje casa de Palmella, ao Rato.
Ahi perto também o que pertenceu aos condes de
Cêa. São notáveis os dois do marquez de Pombal,
ás Janellas Verdes (actual residência de sua ma-
gestade imperial a duqueza de Bragança), e na rua
Formosa; o do Bandeira (conde de Porto Covo), á
Lapa, acompanhado do bello jardim, cuja entrada
é franca ; o do marquez de Castello Melhor ; o do
marquez de Borba, a Santa Mart/ui, onde também
já residiu a imperatriz do Brazil, viuva ; o do mar-
quez de Abrantes, a Santos, que já foi egualmente
habitado por aquella excellente princeza ; e o de
Xabregas, dos marquezes de Niza, fundado pela
rainha D. Luiza, mulher de D. João n.
Entre as casas de mais magestosa apparencia
em Lisboa, sobresae a do Èraganza Hotel, na rua
do Ferregial de Cima. que se enxerga desde longe
no Tejo ; algumas casas modernas na rua da Trin-
dade, onde existiu antigamente o convento, e por
outros sitios da cidade, isoladas, atraem também a
attençâo do forasteiro, sobre tudo no sitio da Jun-
queira, em que ha lindas habitações, distinguin-
do-se entre ellas o palacete, jardim e torreões do
visconde da Junqueira. A nova rua do Duque de
152 NOVO GUIA
Bragança, aberta por entre as ruínas do thesouro
velho, e dos paços dos duques de Bragança, esta
nova rua orlada por modernas arvores, tern do ou-
tro lado uma suecessão de casas regulares e da
mais bella apparencia similbantes ao hotel de Bra-
gança. Esta rua termina no picadeiro de S. Carlos,
onde está a porta para o tablado do theatro.
Além d'esta rua, e das três principaes da baixa
— Augusta, Áurea, e da Prata, que já menciona-
mos, são muitas as ruas de Lisboa, as que se
distinguem por sua regularidade ou suecessão de
edifícios elegantes. O Chiado, é dos logares mais
frequentados pelo bom tom da capital ; ha ahi boas
casas, mas nada de especial a mencionar; e ou se
suba pela rua larga de S. Roque para os aprazíveis
sitios de S. Pedro de Alcântara, Collegio dos No-
bres, e Rato, ou se prosiga para o occidente pelo
Calhariz, Paulistas e Poço Novo, encontra-se aqui
e alli um palácio, uma casa nobre, um jardim, tem-
plos ou de pé ou em ruinas, ou funecionando ou
profanados, porém tudo entermeado com casas de
modesta apparencia.
É digno de nota o lindo palácio do visconde da
Gandarinha, situado na rua do Sacramento, á Lapa.
Elegante, commodo, com um bello jardim na frente,
no gosto inglez, é uma vivenda modello que tal-
vez não tenha segunda em Lisboa.
DO VIAJANTE 153
Lapa — BuenoM-Ayres
São sitios muito da paixão dos estrangeiros,
principalmente dos inglezes : o ar é alii mais sau-
dável do que na baixa, ha mais quintaes, e pouco
susurro de povo e rodar de carruagens.
Os montes ao oriente são pouco povoados, e mes-
mo a Graça é um bairro pouco frequentado pela gen-
te dos outros sitios da cidade. Se sois admirador de
antigualhas, amigo viajante, embrenhae-vos pelos
beccos de Alfama; é um labyrintho inestrincavel
de vielas escuras, mas dar-vos-ha uma idéa da ci-
dade antiga, porque essa parte não caiu com o
terremoto. Lá achareis a portada de umacapella
de outros séculos, o troço de fuste antigo, um pe-
daço de cornija encrustado no frontão de uma bo-
dega, e a escada exterior, e a gelozia patriarchal,
e a estreita adufa, finalmente uma cidade á parte;
porém, se não tendes queda para antiquário, então
confentae-vos em mirar do largo do Terreiro a en-
trada d'esse labyrintho, porque a lama «lura ahi
todo o anno, e o sol apenas por momentos penetra
nas miseráveis habitações da pobre gente que lá
vive. Voltae depressa ao bairro aristocrático, ten-
des a rua d<> Alecrim, com daas lançadas sobre as
ruas do Arco Grande e do Arco Pequeno ; a rua
do Arsenais que passando pelo largo d» Corpo
Santo une o arsenal ao cães do Sodré, as ruas das
Flores, da Emenda, de S. Francisco, que mostram
154 NOVO GUIA
edifícios modernos ; e para oeste, pela beira-mar, a
Boa-Vista, que é como uma grande artéria da ci-
dade, e a rua de S. Bento, que tem uma milha de
extensão.
Das quintas, palácios e monumentos que ficam
extra-muros da cidade, trataremos quando dirigir-
mos o viajante para Cintra, (Mares, Mafra, etc, ctc.
Agora conduziremos o curioso viajante a fa-
zer em nossa companhia alguns passeios, dando-
nos o gosto de sermos o seu cicerone, e antes
d'isso, será conveniente que elle faça uma idéa da
perspectiva da cidade.
ENTRADA EM LISBOA
É de um apreciador estrangeiro a rápida des-
cripçâo que em seguida aqui damos, e por isso
pode-se julgar imparcial. A impressão agradável
que elle diz ter sentido, já nós a tivemos quando
pela primeira vez entrámos a magnifica barra de
Lisboa, presenciando o magico e bello espectáculo
que se apresentava a nossos olhos.
Era ao declinar de uma bella tarde de maio,
uma pequena trovoada havia produzido alguma
chuva que refrescando a atmosphera caía branda-
mente como fios de prata que se destacavam atraz
das escuras nuvens que bordavam o horisonte.
DO VIAJANTE 155
A belleza e a poesia d'este final da tarde, as
saudades da pátria e o nosso génio observador,
tornaram este quadro para nós de tal encanto e
magia, que difficil será esquecel-o.
Nada ha mais grato, nada ha mais pittoresco e
delicioso aos olhos do que pela primeira vez con-
templa tal espectáculo, que o magnifico panorama
que representa a cidade de Lisboa, magestosamente
recostada próximo das ondas que a sorriem mei-
gamente, em qualquer ponto de onde se chegue ao
seu excellente porto, que affirmam ser um dos me-
lhores do mundo. O viajante apreciador não pôde
deixar de ficar agradavelmente surprehendido ao
estender as vistas sobre as bellezas que se offere-
cem ao seu olhar observador ; nem pôde extremar
nenhuma com especialidade, pois que são tantas
que apenas a imaginação as pôde conceber.
Se ao aproximar-se da cidade se entra pela barra
que forma o caudeloso Tejo, o deslumbrante mar,
a rica e variada paizagem que o panorama da barra
apresenta, faz recordar as formosas bailias de Ná-
poles e Constantinopla. Deixando a barra e pas-
sando á margem do Sul o pontal de Cacilhas, do-
minado pelo Castello de Almada, á esquerda as
longiquas serras de Cintra com as altas torres do
seu magestoso palácio real, se antevem por entre
156 NOVO GUIA
as torres do Bugio e de S. João da Barra, apre-
sentando-se á vista um novo e magnifico espectáculo
que consta de grande numero de pequenas e pit-
torescas povoações que esmaltam graciosamente as
campinas desde a Cruz dos Arrependidos, situada
ao lado de S. Julião, até á mourisca torre de S.
Vicente em Belém, um dos mais bellos monumen-
tos que de seu género se conserva.
Infinidade de quintas de recreio, cujos frondosos
arvoredos, bellos jardins e elegantes edifícios, pa-
tenteiam a nobresa e o gosto dos seus possuido-
res, destacando entre elles o palácio da Ajuda que,
posto ainda não esteja concluído, revela a grandeza
e o animo de seu edificador.
São também notáveis por sua belleza os sitios
de Caxias, S. José de Ribamar, Boa Viagem, Pft
droiços, Oeiras, Paço de Arcos, e finalmente a po-
voação inteira de Lisboa, formando montanhas de
casas, cujos limites se perdem no horisonte.
Á medida que o viajante se adianta, tendo já
passado a barra e a torre de Belém, vae desco-
brindo a parte baixa da cidade, o magnifico Ter-
reiro do Paço (Praça do Commercio) uma das mais
espaçosas e regulares da Europa, com o seu gran-
dioso monumento que parece querer aproximar-se
do Tejo para saudar o viajante curioso, servindo-
lhe de pomposo cortejo o resto dos edifícios que
se estendem pela margem do rio até Alcântara.
Além da citada torre de Belém e do zimbório
DO VIAJANTE 157
da egreja da Estrella (convento do Coração de Je-
sus) outros dois objectos notáveis captivam ainda
a attenção do viajante ao sulcar as aguas de Be-
lém ; é o convento dos Jeronymos (Santa Maria de
Belém) monumento gothico do melhor gosto pos-
sível, e o aqueduto das aguas livres, obra atrevida
e collossal, e tão aprecida no seu género como a
que os romanos legaram á posteridade.
A aridez das praias e das montanhas do lado do
sul (Outra Banda) apenas interrompida por peque-
nas casas e povoações de pouca importância, con-
trasta notavelmente com as bellezas que fitam di-
tas, contribuindo a dar mais realce ao quadro que
descrevemos.
Se em vez de entrar pela barra o viajante corta
diagonalmente o rio, embarcando em Aldeia GaL
lega ou em Valle do Zebro, depois de haver atra-
vessado os areaes do Além- Tejo, não deixa de ser por
isso menos encantador o aspecto que apresenta a
elegante cidade, cuja magnificência se ostenta de
uma vez e em toda a sua extensão, por esta parte,
sem que jamais os olhos se saciem de admirar tanta
e tanta belleza aglomerada no recinto d'aquella gi-
gantesca matrona, assentada magestosamente á
borda do caudaloso rio que brandamente lhe beija
os pés, dormindo ao murmúrio de suas correntes
cryslalinas, e por ultimo, se ávido de emmoções
o estrangeiro quizer embarcar na Azambuja ou
em Villa Nova da Rainha, situada ao norte, d< -
158 NOVO GUIA
cendo pelo Tejo n'um pequeno barco, ainda po-
derá experimentar uma agradável surpreza, por-
que a capital, similhante a um avaro em vez de
mostrar as suas riquezas de uma só vez. as vae
apresentando uma a uma, dando-lhe o necessário
tempo para se admirar detalhadamente as suas per-
feições.
Uma vez chegado a Lisboa por qualquer dos
pontos mencionados, e depois de ter desembarca-
do no Terreiro do Paço, a admiração do viajante
sobe de ponto ao ver na magnifica praça o sum-
ptuoso monumento que a decora, isto é, a estatua
equestre do rei D. José i, os edifícios que a cir-
cundam, e o magestoso arco da rua Augusta, digna
do nome que tem pela sua extensão, formosura e
regularidade.
Passeios dentro da eidade
Para commodidade do viajante, que não possa
demorar-se muitos dias em Lisboa vamos apresen-
tar-lhe aqui o itenerario de quatro passeios que co-
meçam e acabam no Terreiro do Paço, dentro dos
quaes encontrará tudo que ha de notável a ver in-
ter-muros da cidade, buscando informações sobre
os logares ahi apontados nos respectivos artigos
d'este guia. Tendo vagar pode duplicar o numero
dos passeios, dividindo cada um d'elles em dois no
logar que vae marcado com este signal *
DO VIAJANTE 159
PRIMEIRO PASSEIO
Terreiro do Paço. — Secretarias, Camará Munici-
pal, Thesouro, Telegraphia eléctrica, Obras publi-
cas— onde se podem ver alguns modelos, e a planta
do palácio d' Ajuda— Praça do Commercio. Estatua
equestre, Cães das columnas, e dos vapores, Alfan-
dega, Rua Augusta, Rocio, Theatro de D. Maria,
Passeio Publico, Theatro da rua dos Condes, Circo
de Price, Theatro das Variedades, Largo do Rato,
Palácio do Marquez de Vianna, Largo das Amorei-
ras, e Mãe d'agua.
* Campo d"Ourique e o quartel d'infanteria n.° 16,
Egreja de Santa Isabel, Largo do Rato —Palácio do
duque de Palmella — Imprensa nacional, Palácio
que foi do conde de Cea, Escola Polytechnica, Praça
do Príncipe Real, Asylo das donzellas orphãs, Pas-
seio e jardim de S. Pedro d'Alcantara, Misericór-
dia— Egreja de S. Roque, casa da loteria e roda
dos expostos — Rua de S. Roque, Egrejas da En-
carnação e do Loreto, Martyres, Theatro do Gym-
nasio, Largo do Carmo, com o chafariz e as mi-
nas da antiga egreja, Theatro da Trindade, Ca-
sino Lisbonense, Bibliotheca publica, Academia
das Beilas-Artes, Theatro de S. Carlos, Hotel Bra-
gança, Calçada de S. Francisco, Egreja da Concei-
ção Nova — Terreiro do Paço.
160 NOVO GUIA
SEGUNDO PASSEIO
Terreiro do Paço, Largo do Pelourinho, Arse-
nal, Largo do Corjpj^ Santo, Cães do Sodré, Rua
do Alecrim, Palácio que foi do conde do Farrobo,
Palácios do duque de Palmella, ao Calhariz, do
conde Sobral, Correio, Conservatório, Museu, Aca-
demia das Sciencias, Convento de Jesus, Egreja dos
Paulistas, Cortes, Torre do Tombo, Convento das
Francezinhas, Hospital militar, Largo da Estrella,
Passeio da Estrella, Convento do Coração de Jesus,
Cemitério e Capella protestante, Cemitério de Nossa
Senhora dos Prazeres.
* Palácio e quinta das Necessidades, Ponte d' Al-
cântara, Quartel dos inválidos da Marinha, Egreja
de S. Francisco de Paula, Quartel de Infanteria n.°
2, Chafariz das Janellas-verdes, Palácio do mar-
quez de Pombal, Egreja de Santos o Velho, Calçada
do Marquez d' Abrantes, Aterro da Boa Vista, Cha-
fariz e convento da Esperança, Fabricas de fundi-
ção, Gazometro, Abogaria, Casa da moeda, Praça
de S. Paulo, Rua do Arsenal, Pelourinho, Egreja
de S. Julião, Terreiro do Paço.
TERCEIRO PASSEIO
Terreiro do Paço, Rua da Prata, Egreja de S. Ni-
coláo, Praça da Figueira, Egreja de S. Domingos,
Hospital de S. José, Escola medico-cirurgica, Asylo
DO VIAJANTE 161
do Amparo, Hospital dos Lázaros, Campo de Santa
Arma, Praça de Touros, Palácio da Bemposta, com
a Escola militar, Asylo da mendicidade, Hospital de
alienados, Convento d' Arroios, Cemitério do alto de
S. João.
* Convento das Commendadeiras de Santos, Col-
legio dos aprendizes do Arsenal, Caldeiras, Cães do
Tojo, Santa Apolónia, Estação dos caminhos de ferro
de leste, Arsenal do exercito, Fabrica a vapor para
moer trigo, Deposito d'agua, Banhos thermaes das
Alcaçarias, Alfandega municipal e suas dependên-
cias, Egreja da Conceição-velha, Terreiro do Paço.
QUARTO PASSEIO
Terreiro do Paço, Rua dos Fanguiros, Egreja da
Magdalena, e uma inscripção romana na esquina da
travessa «lo Almada, Egreja de Santo António, Sé
cathedral, Aljube, Limoeiro, Caslello de S. Jorge,
Recolhimento do Menino Deus, Egreja da Graça,
Quartel de Infanteria n.° 10, Egreja do Monte, Rua
da Cruz dos Quatro Caminhos, Egreja da Penha de
França.
* Largo da Graça, Convento das Monicas, Egreja
de S. Vicente, Campo de Santa Clara, Palácios do
Conde de Barbacena, do Marquez de Lavradio, e do
Cordes, Fundição de Cima, Obras de Santa Engra-
cia, Hospital da Marinha, Rua do Paraíso, Portas
da Cruz, Rua do Vigário, Egreja de S. Miguel, de
11
162 NOVO GUIA.
Santo Estevão, e S. João da Praça, Palácio do Du-
que da Terceira, Cruzes da Sé, Rua das Canas-
tras, Rua dos Bacalhoeiros, Casa dos Bicos, Rua
dos Capellistas, Terreiro do Paço.
Tendo dado noticia de todos os objectos que po-
dem intressar o viajante dentro dos muros de Lis-
boa, passamos a tratar dos seus arredores, como
complemento que são da mesma cidade, e que não
devem deixar de ser visitados pelo curioso. Come-
cemos por atravessar o Tejo, e passeiar por es-
ses bellos plainos da
Ontra-Banda
Saindo do Terreiro do Paço em um vapor, che-
ga-se com poucos minutos de viagem ao cães de
Cacilhas, do outro lado do Tejo; ahi inúmeros ra-
pazes vos offerecerão burrinhos, que é a viatura or-
dinária d'este sitio, e são seguros, fortes e tão bons
como os do Egypto ; montareis, e deixando pelas
costas o magnifico Tejo e o soberbo panorama da
cidade que orla a outra margem, o cães de Cacilhas
onde foi assassinado o general Telles Jordão em 1833,
e o pequeno fortim adjuncto, ireis por entre casas
de mais ou menos formosa apparencia, lindos jar-
dins e valiosas quintas, disfructar a óptima vista do
castello de Almada, ou a Fonte da Pipa, d'onde se
fornecem de agua muitos navios, e também dos pre-
ciosos vinhos encerrados nos armazéns contiguos;
DO VIAJANTE 163
ahi perto é a fabrica da Margueira, bello esta-
belecimento fabril, e mais longe fica o Pragal,
e o Caramujo, e a Cora da Piedade, ludo logares
pittorescos, de ares salubres e abundantes comestí-
veis. A morada e quinta real do Alfeite é de todos
o mais agradável, e depois a quinta da princeza, na
Amora* Quem do alto do castello de Almada, lança
a vista para o outro lado do rio, e abraça n'um re-
lancear toda a senhoril Lisboa, desde Xabregas até
Belém, e até á barra, pode dizer que viu um dos
mais grandiosos quadros que a Europa apresenta
no seu género. E se alongando a vista pel i Tejo
abaixo, transpozer com os olhos a torre do Bogio,
enxergará lá fora o Oceano em toda a sua mages-
tade e inúmeros barcos de vários tamanhos e es-
truturas, que se confundem no horisonte, como uma
pequena mancha do firmamento ou do mar. Saindo
de Cacilhas e Almada pela margem sul do Tejo,
encontram-se algumas insignificantes povoações [tara
o Occidente, encravadas em areiaes, Porto-Brandão,
a Trafaria, Caparica, e outras ainda menos impor-
tantes ; para leste do pontal de Cacilhas ha as po-
voações de pescadores do Barreiro, Seixal e Ar-
rentela, o paiz vinhateiro do Lavradio, Valle de Zebro,
e muitos outros logares até Alhos Vedros e Aldea-
gallega. Nos dias das festas particulares de cada
uma d'estas terras o seu aspecto é risonho, as suas
galas brilham á luz do sol ; no resto do anno é mi-
serável a apparencia das pobres villas e aldeias, não
164 NOVO GUIA
pagam em graças ao forasteiro o trabalho da jor-
nada.
Cercanias de Lisboa
AO ORIENTE
Se partindo do Terreiro do Paço, pela beira do
rio, o viajante se dirigir ao nascente, ou vá n'um
pequeno bote, em omnibus, em carro, ou nas mo-
dernas carruagens ou mesmo a pé, disfructará sem-
pre uma agradável vista, bellos edifícios, hortas ver-
dejantes, aguas mansas e puras, e uma agradável
temperatura. Passando os edifícios das duas alfan-
degas— de Lisboa e Municipal, — e vendo do largo
do Terreiro começarem-se a emaranhar os beccos da
.velha Alfama, sobre os quaes campêam as torres
de Santo Estevão, segue-se o bello sitio do Jar-
dim do Tabaco até Santa Apolónia, rastejando
pelo Arsenal do Exercito, e vendo no alto a Fun-
dição e o Hospital da Marinha, e mais longe as mi-
nas de Santa Engracia. e as torres de S. Vicente.
Gomtemplareis neste transito os restos de vastos pa-
lácios, que pertenceram á antiga nobreza de Por-
tugal; a monumental fonte da Samaritana, de que
já falíamos; conventos magestosos de Freiras e Com-
mendadeiras, como o de Santos e o da Madre de
Deus, collocados em sitios deleitosos, e que encer-
ram em si preciosidades artisticas ; Beato António,
Xabregas, o Poço do Bispo, os Olivaes, Braço de
DO VIAJANTE 165
Prata, agradáveis vivendas de estio, onde se encon-
tram ricas quintas, com valiosas vinha?, pomares e
olivedos, e as decantadas horta de Chellas, por
onde espairece aos domingos a população miúda da
capital. O que por ahi não ha, como nos boulevards
e barreiras de Paris, é divertimentos públicos de
funambulos, musicas, jogos, etc. apenas o clássico
chinquilho para passatempo do homem de trabalho ;
nem tão pouco um restauram, por ordinário que
seja, apenas em modesta bodega na porta de cada
quinta, encontrareis quando a fome ou a sede vos
apertar, um pouco de peixe frito, saltada e vinho or-
dinário ; nenhum refresco, nenhum comestivel mais,
mas um ar tão puro e suave, que aduba essas
mesquinhas iguarias.
AO OCCIDENTE
Se, em vez de seguirdes a direcção do nascen-
te, inclinardes, ao contrario, para oeste, asseguro-
vos que não achareis menos poesia n'esse passeio
desde o Terreiro do Paço até Belém, estrada a
mais concorrida das' que partem de Lisboa, ador-
nada de magestosos edifícios, lindos jardins, palá-
cios sumptuosos de mais recente data, templos,
fabricas, fortificações, e alamedas. Começaes no
Arsenal da Marinha; a praça e arvoredo do Cães
de Sodré, estendendo-se a vista pela ponte, Rua do
Alecrim até S. Roque; o cães da Ribeira Nova,
166 NOVO GUIA
em que ha tanto movimento, e lá em cima os al-
tos de Santa Calhar ina e das Chagas, no ultimo
dos quaes está situada a freguezia dos maritimos.
A Boa Vista, as Janellas Verdes, abrindo ruas para
o bairro da Lapa ; a Pampulha, e a ponte de Al-
cântara; o Calvário, onde foi o jardim mytholo-
gico, com suas cocheiras reaes ; e o passeio da
Junqueira, e a Cordoaria, e o largo de Belém,
hoje de D. Fernando n, ladeado de viçosas arvo-
res, regular e com um óptimo cães, tendo em uma
extremidade as cavallariças reaes ; fronteiras ao
rio as calçadas que sobem para a memoria, egreja
engraçada que fizeram erguer no logar onde el-rei
D. José recebeu um tiro, e para a Ajuda e Jardim
Botânico. Entre essas duas estradas fica o palácio
real, chamado de Baixo. Proseguindo com a excur-
são ainda para oeste, e sempre á beira mar, pas-
saes pelo mercado do peixe, o gothico mosteiro dos
Jeronymos, e a torre de Belém, já sobre a agra-
dável praia de Pedroiços, onde as senhoras tomam
banhos de agua salgada todos os annos ; ahi perto
se encontra a soberba quinta do duque de Cadaval.
Depois a ponte d'Algés, lá em cima os pittorescos
logares de Linda a velha, Linda a Pastora, e Car-
naxide todos esses sitios apraziveis que o viajante
contempla logo ao entrar no Tejo ; e já e fora da
barra Oeiras e Carcavellos. Ahi nâo ha a solidão
melancolicamente suave do arrebalde oriental, o ar
é mais cortante, as vagas vem com ruido quebrar-sc
DO VIAJANTE 167
nos cachopos, o oceano estende-se ao longe na sua
frente, e tudo concorre a marcar estes logares com
o sello de uma imponente grandeza. As quintas do
Marquez de Pombal, em Oeiras, são d'aquelles lo-
gares que nenhum viajante que chega a estas praias
deve deixar de visitar. A estrada divide em duas
esta propriedade, legada a seus netos pelo grande
ministro, que, grande como era, nâo se esqueceu
de si e dos seus. Entre muitas bellezas ha ahi no-
tável, na parte meredional, a chamada gruta dos poe-
tas, que tem os bustos de Homero, Virgílio, Ca-
mões e Tasso ; o palácio em cujo pavimento infe-
rior ha estatuas do celebre Machado de Castro, e
alguns objectos de uso do marquez no andar supe-
rior; a grandiosa adega, em cujos toneis gigantes
o povo crè que pena a alma do Richelieu portu-
guez ; na parte septentrional ha a decantada cascata
de Taveira, com muito verso insosso e prosa torpe,
e tanto em uma como em outra das quintas, gra-
ciosos jardins, selvas, lagos, estatuas, regatos, pon-
tes, e grutas. D'ahi á torre de S. Julião da Barra
é um pequeno passeio.
Já que n'este passeio nos achamos no aprazivel
e hoje muito frequentado bairro de Belém, citare-
mos aqui ao cançado viajante o Club Hotel, magni-
Oco estabelecimento com saída e cães sobre a ma-
gnifica praia de banhos do Bom Successo, torna-se
muito recommendavel não só pela sua posição
excepcional e salubre como pelos commodos que
168 NOVO GUIA
offerece ás pessoas ou famílias que desejarem to-
mar os banhos de mar ou permanecer no campo,
reunindo assim, todas as vantagens para aquelles
que preferirem viver confortável e economicamente
no campo, perto da cidade, n'um estabelecimento
que lhes offerece a independência domestica sem
os encommodos e maiores despezas que fariam em
casa sua.
A sua collocaçao topographica e a salubridade
d'aquelles sitios dão toda a garantia para se poder
aconselhar ás pessoas que precisarem restaurar
a saúde a sua residência n'aquella localidade,
como o attestam os médicos mais conhecedores
d'ella.
Meza redonda e jantares particulares.
Pastelaria aonde se acceitam encommendas para
todas as qualidades de iguarias.
Salão commum circumdado de terraços com so-
berba vista sobre o Tejo, casa de leitura e café,
jardim, casa de banhos, cavallariça, e cocheira.
Communicações diárias por terra e por mar com
Lisboa por preços diminutíssimos, todas as meias
horas.
Serviço telegraphico permanente com Lisboa e
DO VIAJANTE 169
os paizes estrangeiros na estação próxima ao esta-
belecimento.
Estabelecimentos de carruagens, cavallos e ju-
mentos de aluguer muito próximos.
No cães de Belém e na praia da Torre, exis!em
embarcações para passeios e pescarias, podendo-se
embarcar no cães do mesmo hotel.
Annexo a este hotel ha um grande deposito de
vinhos nacionaes e estrangeiros das casas mais
acreditadas.
Fallam-se vários idiomas.
Preços rasoaveis e por convenção.
AO SEPTENTRIÃO
É por este lado que se dirige a maior chusma de
passageiros. Do largo de S. Sebastião da Pedreira
partem duas estradas, sempre concorridas, que se
dirigem — a da direita (estrada do Rego) pelo Campa
Pequeno, ao Campo Grande, ao Lumiar, e a Odi-
relias; a da esquerda (estrada de Palhavã) pelas La-
ranjeiras a Bem fica, Alo da Porcalhota, e estrada
de Cintra e Bellas. Também pelas Amoreiras se
pôde ir pelo delecioso sitio de Campolide (campo
170 NOVO GUIA
de lide) e Sete-Rios encontrar Bemfica, e por Ar-
roios (de outro lado) sair ao Campo Pequeno ; maus
caminos transversaes unem entre si todos estes pon-
tos. Daremos uma breve idéa do mais notável que
ha a observar em todos elles, porque os sens prin-
cipaes edifícios e paisagens não foram ainda men-
cionados, como succedeu a quasi todos os monumen-
tos de Belém e de Xabregas, que sob diversos tí-
tulos figuraram no corpo d'esta obra.
Campo Pequeno. — Terreno irregular que é todavia
muitas vezes para o exercicio de tropas, orlado de
palácios e quintas, e onde vem desembocar as es-
tradas de Arroios, do Rego, e do Campo Grande.
Ahi se vê, ao cabo da primeira das estradas men-
cionadas, um tosco monumento da paz feita n'este
logar entre el-rei D. Diniz e seu filho, depois Af-
fonso iv, por intervenção da esposa de um e mãe
de outro — a rainha Santa Izabel.
Campo Grande. — Vasto Passeio murado, muito re-
gular, com ruas de arvoredo, jardim, chafariz e
campo cultivado. Pertence á camará municipal de
Lisboa, mas o seu transito é livre. Ahi se faz an-
nualmente uma feira, no mez de outubro, a qual,
se está bom tempo, torna este sitio por alguns dias
o rendez-vons da gente da capital, ao domingo prin-
cipalmente para os que não podem ir em outro dia.
De um e outro lado do campo ha bellas casas, quin-
tas, jardins e vivendas camprestes, como na estrada
que ahi conduz do Campo Pequeno.
DO MA JANTE 171
A melhor casa de pasto que ali ha é a Flor do
Campo.
Lumiar. — Esta aprazível povoação, de pouco mais
de dois mil visinhos, tem muito risonhas quintas,
entre as quaes destaca a do duque de Palmella,
que possue uma extença collecção de plantas exó-
ticas, e um bem mobilado palacete annexo. Des-
cendo a
Calçada de Carriche, encontra-se uma formosa quinta,
baptisada com o nome de Nova Cintra, e a melhor
casa de pasto extra-muros de Lisboa. Ruas de bem
copado arvoredo, solitários carramancheis, uma
serra com bello caminho praticável por entre cana-
viaes, no alto d'ella um mirante para descançar no
fim daquella ascenção, agua purissima e sempre
fresca rebentando em abundância ao lado de ópti-
mos fructos e flores variegadas — eis ahi a Nova
Cintra, que bem merece o seu atrevido nome. A
mesa é bem servida em pequenas salas de uma ha-
bitação unida á quinta, ou em algum dos kioskos,
ou mesmo nas ruas de arvoredo.
Dirigindo-se d'este logar para Odivellas, encon-
tra-se no caminho um tosco munumenlo e a sua
historia escripta e figurada em azulejo ; é a memo-
ria de um desacato e roubo perpetrado no convento
de Odivellas, e do supplicio atroz do delinquente.
Odivellas. —N'este logar só ha de notável o con-
vento de freiras, afamado pela óptima marmelada
que ahi se fabrica, pela recordação de antigos oit-
172 NOVO GUIA
tetros e da galanteria de D. João v — rei edificador
e freira tico. Do antigo edifício só resta hoje a egreja,
onde repousam as cinzas do monarcha D. Diniz,
fundador do mosteiro. A capella que contém o seu
tumulo é um vâo escuro, onde apenas cabe o mo-
numento, cujos lavores, que parecem obra de sub-
til artífice, hoje mal se podem ver, por que es-
tão cobertos de estuque í O átrio da entrada é de
architectura gothica, e n'uma parede do mesmo se
vê embebida uma bala de pedra de mais de cinco
palmos de circumferecia, por baixo da qual se lê
a seguinte inscripção : — Este pelouro mandou aqui
offerecer a San Bernardo' dom Álvaro de Noronha
por sua devoçam, que he dos quom que lhe os tur-
cos combateram a fortaleza Durumuz semdo ele ca-
pitam dela, na era de 1557. — Junto ao convento
está um outeiro do lado de Lisboa, sobre o qual
se vem estendendo a povoação de Odivellas, e ahi
um arco de pedraria, que a tradição popular de-
nomina Monumento de D. Diniz, cuja origem se
ignora, e ha mesmo fortes conjecturas de que seja
posterior a D. João i a sua construcção.
Aqui termina toda a curiosidade para o pas-
seante que sae de Lisboa n'esta direcção ; volta-
remos pois a S. Sebastião da Pedreira, e ahi to-
mando a estrada de Palhavã, onde se vê o palá-
cio que serviu de habitação aos meninos de Palhavã
— príncipes que envelheceram e morreram com
esse epitheto pouco honroso, em razão do seu far
DO VIAJANTE 173
nienle, — dirigiremos os passos para a melhor e
mais elegante estrada de Portugal, caminho de
Bemfica e Cintra.
Laranjeiras. — Quinta que foi do conde de Far-
robo, na estrada real; sitio muito ameno. Tem pa-
lácio, um theatro sumptuoso, lagos, pontes, grutas,
cascatas, kioskos, pavilhões chinezes, jaula de fe-
ras, baloiços, abundante arvoredo, flores, prados,
torreões, lindas ruas, bella gradaria sobre a es-
trada, portões elegantes, estufas, em fim um com-
nosto aprazivel. Ha pessoas difficeis de contentar,
que nada d'isto acham bonito, poético, pittoresco ;
não somos d'esses, e temos fé que o visitante des-
apaixonado será da nossa opinião.
O escriptor Gomes de Amorim fallando d'e
bella quinta, descreve a sua decadência da seguinte
maneira :
a Quem não a conheceu nos seus tempos felizes?!
Era a primeira maravilha dos arredores de Lisboa;
já tinha um gazometro e ainda a cidade olo sabia
o que era gaz ! tanques e lagos, em que podiam
fazer-se pequenas.naumachias; um canal; uma ponte
pênsil atravessando o lago maior ; jaulas de feras;
viveiros de aves raras; estufas onde se viam pri-
morosamente cultivadas plantas de todas as zonas;
jardins magníficos; mattas excelsas; caramanchões
e pavilhões chinezes; ehaieU mysteriosos; labyrin-
thos encantados — delicia das Ariadnes, e dos The-
seos que as acompanhavam sem fio guiador; —
174 NOVO GUIA
theatro admirável; palácio soberbo... tudo possuía
aquella vivenda digna de príncipes, que pertencia
a um dos homens de mais gosto e de maior génio
artístico que tem tido Portugal ! Alli se deram mui-
tas vezes tão explendidas festas, que assombraram,
pela sua sumptuosidade, os embaixadores das na-
ções mais opulentas e poderosas da Europa í As
rainhas, os reis, os príncipes, os homens illustres
nas letras, nas artes e nas sciencias, todas as ce-
lebridades contemporâneas, que residiam no paiz
ou vinham visital-o, iam alli pagar o tributo da sua
admiração, receber uma homenagem ou um cum-
primento.
Todo o povo de Lisboa conhecia a quinta das
Laranjeiras, e nenhum viajante, por mais humilde
e obscuro que fosse, deixava de ir vel-a, uma vez
ao menos.
Facilitava-se a entrada a todos, pobres ou ricos;
a um rancho de dez pessoas do mesmo modo que
a um só visitante. Em tudo ostentava a sua bizar-
ria e magnificência o creador de tantas maravilhas !
Lisboa amava-o ; sabia que elle acudira á causa li-
beral em perigo com os milhões dos seus cofres ;
vira-o dar-lhe expectaculos scenicos, no theatro de
S. Carlos, com pompa digna dos imperadores ro-
manos ; no conservatório de musica, na inspecção
dos theatros, em toda a parte onde fosse necessá-
rio fazer serviços ás artes, estava costumada a en-
contral-o; e, diga-se a verdade toda, deslumbra-
DO VIAJANTE 175
va-a com o esplendor das festas que dava nas La-
ranjeiras, é a fama d'ellas, retinindo dentro e fora
do paiz, lisonjeava o amor próprio e a vaidade na-
cional.
Os que não iam aos seus bailes grandiosos, con-
tentavam-se com ouvir, nas noites caladas e sere-
nas, rugir ao longe os leões do Quintella. Havia
amadores que todos os dias iam ver as jaulas, con-
tender com os bichos e tirar-lhes ás vezes um olho,
com a ponteira da bengala ou do chapéo de sol,
para divertir a família; outros, cortavam ramos
das plantas raras para fazer bengalinhas aos meni-
nos que levavam, e todos depenavam as flores,
como se aquillo fosse nosso! Mas ninguém era ex-
pulso, como aliás mereciam alguns ; nem se fecha-
vam as portas — como hoje se faz em differentes
quintas — para punir uns pelas faltas dos outros.
A ultima fera que existiu nas jaulas era um leão,
cego pela brutalidade de um visitante, que não fi-
cou sem o outro olho foi porque depois da perda
do primeiro nunca mais se chegou ás grades I
Um dia o vento da adversidade soprou furioso
sobre o homem que creára aquelle paraíso. A or-
chestra, composta de creados seus, a quem elle
mandava ensinar musica, emmudeceu ; as gôndo-
las em que passearam rainhas, afundaram-se nos
lagos ; rompeu-se o gazometro, deixando o thea-
tro em trevas ; entupiu-se a canalisaçâo que ali-
mentava os jogos de aguas ; morreram as aves e
176 NOVO GUIA.
os animaes ferozes ; cairam as jaulas e nas estufas
sem vidros pereceram todas as plantas ! As multi-
dões, que tinham assistido ás festas portentosas,
olhavam de longe, consternadas, para o desabar
de tamanha grandeza.
O chalet mysterioso da matta, surdamente ac-
cusaclo, nâo se sabe por quem, de ter sido teste-
munha e confidente de insólitos excessos, incen-
diou-se uma noite por si mesmo 1 E houve quem
afíirmasse ter sido o fogo do céo quem abrasou
aquelle fragmento de Sodoma f — Era quasi todo
de ferro, e o artifice francez ou belga, que viera
collocal-o no seu logar, recebera pelo seu trabalho
seis contos de réis í — Todos se compadeciam de
tantos e tão repetidos desastres ; só o principal in-
teressado assistia, com estóica indifferença, ao es-
boroamento das suas maravilhas ! Após o chalet,
foi-se o theatro — outra obra prima ! — Elle estava
â mesa, no Farrobo, quando lhe entregaram um
telegramma. Leu-o, dobrou placidamente o papel,
metteu-o no bolso e continuou a jantar. Nenhum
musculo se lhe contrahiu, nenhum signal exterior
denunciou a natureza da noticia que recebera. De-
pois do café, disse friamente, acendendo um cha-
ruto :
— Ardeu o theatro das Laranjeiras.
De volta a Lisboa, tentou restaural-o ; apezar de
ver afundados os seus haveres por successivos in-
fortúnios, gastou ainda dez ou doze contos de réis,
DO VIAJANTE 177
erguendo as paredes do novo edifício. Vão esforço !
Os tempos de prosperidade tinham passado ; e das
festas e banquetes opulentos restava apenas por
memoria a ingratidão dos que os tinham comido.
Vieram os achaques da velhice, enfermidade grave,
e a morte por íim privou o paiz de um cidadão
distincto, que lhe fora útil por differentes modos,
e uma vez em circunstancias bem graves!»
Quinta do Udi. — Na mesma estrada, mas do lado
opposto. Entrada franca ; logar aprazível, mas com
menos trabalho de arte que a precedente, é com-
tudo assaz digna de ser visitada pelo viajante cu-
rioso.
Sete rios. — Posição deliciosa, onde se apartam as
duas estradas de Campolide e Bemfica. Antes de
seguirmos a ultima que nos hade conduzir a Cin-
tra. Collares e Mafra, derradeiros marcos d'i
peregrinarão, vamos fazer um pequeno desvio para
Campolide. — Bem arejada altura, para onde OS
médicos mandam mudar de ar os que padecem do
peito em Lisboa. Dahi gosa-se uma vista encanta-
dora. Campos liem cultivados, pelo meio dosquaes
nascem espontaneamente diversas boninas, quintas
engraçadas e casas bem construídas a par de pobres
tugúrios de pastores, e do fundo do quadro o so-
berbo ãqueducto das aguas livres, com seus arcos
atrevidos sobre o valle e o pobre ribeiro de Alcân-
tara, dando um aspecto magestoso a este pittoresco
logar.
12
178 NOVO GUIA
N'este sitio está quasi edificado um bello quar-
tel para artilheria.
Bemfica. — O mais engraçado de todos os arra-
baldes da capital, com mais de três mil habitantes.
É todo cheio de palácios, entre os quaes destacam
os da infanta D. Isabel, e do marquez de Fronteira,
encravados em formosas quintas, que o forasteiro
pôde visitar sem difficuldade ; ha egualmente ahi
boas quintas de outros proprietários, e jardins de
utilidade e recreio. Bellas casas de campo orlam os
lados da estrada, ricos pomares e alegretes exalam
a fragancia de suaves aromas, formosos pontos de
vista, deleitosas avenidas, o ar, o céo, tudo contri-
bue a tornar este logar excepcional. Afastado da
estrada- está o convento de S. Domingos de Bem-
fica, tão poeticamente descripto pelo nosso Frei
Luiz de Sousa, onde elle viveu largos annos, e foi
sepultado, bem como o foram João das Regras, D.
João de Castro e seu filho D. Álvaro. Foi convento
de dominicanos, hoje é propriedade particular de
um estrangeiro.
Luz. —Foi n'este logar que se estabeleceu o col-
legio militar, que está em Mafra. Ainda ahi se
vêem as ruinas da egreja e convento que foi dos
cavalleiros de Ghristo, e depois das freiras da Con-
ceição; caiu pelo terremoto, menos a capella
mór.
Queluz. — Palácio e quinta real, de que falíamos
no artigo competente. Fica fora da estrada de Cin-
DO VIAJANTE 179
tra, em logar ermo e desagradável. Ha aqui um
bello e commodo hotel.
Bellas. — Também fora da dita estrada, para a
direita, e a duas léguas de Lisboa, como Queluz.
Tem uma preciosa quinta pertencente ao conde de
Pombeiro, herdeiro do ultimo marquez de Bellas,
onde annualmente se festeja o Senhor Jesus da Serra,
com arraial, bodo, e todo o género de folia popular.
Ramalhão. — Deixando os caminhos de Queluz e
Bellas, e tornando a enfiar pela estrada real, des-
cança-se na estalagem do Cacom : e seguindo por
entre logares mais ou menos aprazíveis, mas bem
lavados <le ares, chega-se á quinta e palácio do Ra-
malhão, <jue era propriedade da Imperatriz rainha
D. Carlota Joaquina, mulher de D. João vi, e que
ultimamente foi posta em praça, a quem mais desse.
Alii esti ve reclusa a mesma senhora, por não querer
jurai* as bases da constituirão, em 1822; e do mesmo
logar, em 1832, habitou D. Carlos, o pretendente
de Hespanba, datando do Ramalhão o protesto que
fez contra o direito de sua sobrinha, Izabel u. O
sitio é muito ameno, arborisado, e abundante de
aguas crystalinas.
Perto do muro da quinta, mesmo sobre a estrada,
se vê um tumulo de pedra, com uma cruz, que a
tradição diz ser o jazigo de dois irmãos, que mu-
tuamente se assassinaram, porém SÓ um cadáver se
encontrou lá dentro, quando ha annos, se quiz apu-
rar este ponto.
180 NOVO GUIA .
CINTRA
É bello este gigante de rochas, reclinado á beira
do mar, que parece ameaçar o céo com os dois
punhos cerrados — o castello mourisco, e o .castello
christão. Se o nevoeiro encobre uma parte da mon-
tanha, como succede muitas vezes, então o apro-
ximar da villa é mais romântico ainda ; as bellezas
meio occultas de paizagem desafiam mais o desejo,
similhante á formosa Dione do nosso immortal Ca-
mões, que
Nem tudo deixa ver, nem tudo esconde :
Quando mais tarde derretendo-se o nevoeiro, um
sol puro começa a doirar tantas maravilhas, quando
se arranca a mascara boreal a essa formosura do
dia, apparece aos olhos do viajeiro o mais lindo,
sumptuoso e poético quadro, que nunca olhos mor-
taes contemplaram.
Oh Cintra I Oh ! saudosíssimo retiro
Onde se esquecem magoas, onde folga
De se olvidar no seio a natureza
Pensamento que embala adormecido
O susurro das folhas, co'o murmúrio
Das despenhadas lymphas misturado f
Quem descançado á fresca sombra tua
Sonhou senão venturas? Quem, sentado
No musgo de tuas rocas escarpadas,
DO VIAJANTE 181
Espairecendo os olhos satisfeitos
Por ceosj por mares, por montanhas, prados,
Por quanto ha ahi mais bello no universo,
Não sentiu arrobar-se-lhe a existência,
Poisar-lhe o coração suavemente
Sobre esquecidas penas, amarguras,
Anciãs, lavor da vida ?
(Garret)
É assim; parece que todos os males esquecem
neste Éden de Portugal, o prozaismo da vida com-
mum não penetra entre as bellezas naturaes d'este
encantador logar ! Porem o viajante não quer ouvir
declamações entbusiasticas, quer uma GtHa para o
conduzir pela mão a contemplar cada uma das ma-
ravilhas de Cintra, e o nosso dever é satisfazermos
o seu desejo ; vamos pois visitar sucessivamente
todos os sitios notáveis da villa e seus contor-
nos.
Cintra está situada a cinco pequenas léguas de
Lisboa ; ainda antes de ahi penetrar, vindo da ca-
pital, encontra-se a magnifica quinta dos marque-
zPs de Vinima, que prepara o viajante para o pai-
nel que *ae contemplar: é como a sala de espera
dfl um palácio de fadas, diz logo ao visitante : Estás
áã portas de um paraiso. Descrever a amenidade do
sitio, a abundância de aguas puríssimas, a pasmosa
vegetarão, o luxo dos ornatos, é cousa difficil, se
não impossível, e teríamos que repetir idênticas pa-
lavras ao chegar a cada uma das quintas de Cintra ;
182
NOVO GUIA
deixando esta recomendada ao forasteiro, demos a
nossa enlrada na villa.
Está ella situada na falda de uma serra, que ou-
trora se chamou Montanhas da Lua, e que termina
no cabo da Roca, ao noroeste de Lisboa ; tem 4,500
habitantes. Do lado do sul o solo é árido e requei-
mado ; penedos de lava e píncaros esburgados e
acastellados dâo ao todo uma apparencia sombria
e de pavorosa belleza. Com tudo, como debaixo d'esse
céo tudo prospera até sem assiduos desvellos, ahi se
encontram prados de animada vegetação, searas de
trigo e milho, mas poucas arvores, que pela maior
parte são oliveiras e sobreiros ; piteiras gigantescas
acompanham a orla da estrada. Para o lado da villa
veem-se bellos jardins, abundante relva, frondoso
arvoredo, crescendo por entre massas informes de
fragmentos graníticos. Em torno das habitações acu-
mulam-se os carvalhos, pinheiros, limoeiros, laran-
jeiras e figueiras ; sobre os muros e terraços osten-
tam-se sombrias romeiras, vides carregadas de ca-
chos, rosas, dhalias, e mais flores odoriferas e visto-
sas; por toda a parte susurram regatos límpidos que
saem das fendas das montanhas e serpeam por en-
tre tapetes de verdura ; nos jardins medram arbustos
tropicaes até alcançarem a corpolencia de arvores.
A villa em si é pequena, tem ruas estreitas e mal
gradadas, edifícios pela maior parte de mesquinha
apparencia. Na praça irregular onde está situado o
palácio real, vô-se uma bonita fonte, e não dis-
DO VIAJANTE 183
tante o Pelourinho, de vetusta e elegante archite-
ctura.
Palácio real
Na villa, entre a montanha e o valle. Parece in-
contestável que esta habitação fosse algum tempo
a Alhambra dos reis mouros de Lisboa, como o in-
dica a architectura árabe de algumas das suas par-
les, taes como as chaminés similhantes a minaretes,
os repuxos e aguas correntes repartidos por todo
o edifício, e mais particularmente os nomes árabes
que ainda conservam alguns aposentos do palácio.
A irregularidade do todo, mostra que diversos fo-
ram os seus constructores e em épocas differentes.
Cada passo que se dá neste palácio cheio de remi-
niscências históricas, faz lembrar esses edificadores
reaes e o tempo em que viveram. D. João i o re-
edificou quasi totalmente. D. Duarte ahi residia
quasi sempre. D. AÍTonso v veio ao mundo neste
palácio e n'elle falleceu. D. João n o continuou, e
D. Manuel o concluiu. D'ahi partiu D. Sebastião para
a triste jornada de Africa. D. AíTonso vi gemeu oito
annos em um pequeno quarto desta habitação real,
tornada em cárcere, e ainda hoje se pode ver o la-
drilho do pavimento desse quarto, gasto pelo passear
do infeliz esposo e rei. A sala das armas ou dos
servos, assim chamada pelas cabeças de veados en-
fileirados que ahi Be vêem, mandada edificar por
D. Manuel, contêm os brasões das famílias nobres
184 NOVO GUIA
portuguezas, em numero de 74 escudos, achando-se
raspados os de Távora e Aveiro, por haverem sido
justiçados os seus possuidores, como cúmplices no
attentado contra a vida do rei D. José i. A agua que
repuxa abundantemente por todos os pavimentos do
palácio produz n'um dos gabinetes uma admirável
chuva através de crivos imperceptíveis, que á von-
tade se podem pôr em acção. A sala das pegas tem
pintados muitos destes pássaros, e da bocca de cada
um d'elles sae uma fita com a divisa: — Por bem.
É obra de D. João i, ou de sua mulher D. Filippa
de Lencastre. Conta-se que surppehendendo a rai-
nha a seu marido no acto cie abraçar uma dama do
Paço, este dissera : — É por bem ; palavras que
depois se tornaram o moto ou divisa d'aquelle mo-
narcha cavalleiroso. Também se encontra no palácio
uma grandiosa chaminé de mármore com relevos
de Miguel Angelo, presente do papa Leão x a el-rei
D. Manuel, e para aqui transferida do paço de Al-
meirim. Até a cosinha é grandiosa n'esta habitação
encantada ; é alta, espaçosa e abobadada, com cha-
minés em forma de pão d'assucar, de altura desco-
munal, as quaes se avistam de grande distancia. A
actual familia real portugueza costuma passar uma
parte de verão n'esta residência.
Palácio acastellad© tia Pena
Em um dos mais altos píncaros da serra está si-
tuado este castello gothi-mourisco7 que pertence a
DO VIAJANTE 185
El-Rei D. Fernando. Enxerga-se este monumento de
bom gosto de um principe artista, em grande dis-
tancia, tanto do mar como dos montes de Lisboa e
de outros muitos logares da Extremadura. Fora ahi
antigamente o convento da Pena ou da Penha, edi-
ficado por D. Manuel, n'esse logar onde elle pas-
sava largas horas a aguardar o regresso de Vasco da
Gama com as novas da índia descoberta. A egreja
ainda está de pé, cuidadosamente reparada no pri-
mitivo estylo, e serve de capella ao novo palácio.
O convento, que el-rei comprou depois de secu-
tsado em grande ruina. acha-se transformado
em um castello feudal, no gosto da architectura
mando-gothica, que floresceu no século xn. Tor-
res, cupolas, muralhas e ameias, uma ponte leva-
diça, fosso, pateos e passagens estreitas, tudo or-
nado dos mais bellos relevos, apresentando ao vi-
sitante extasiado prodígios de cinzel ; salas, quartos,
corredores, escadas e mirai m labyrintho, os-
taado todas as galas da esculptura, e mobiladas
com cadeiras, tremós, mesas, commodas, camapés
dos séculos que passaram; capricta s de phantas-
lica poesia desenhados em pedra por todas as por-
tas, jancli .iucs, arcadas, e lanços de muro:
ahi i> palácio acasleUado da Pena, que venera
a religiio do passado, reproduzindo os formosos
produetos da imagioaçio de nossos avós, e que
parece fabricado por mãos de fadas, ou antes sus-
penso por milagre nas pontas dos rochedos. De
186 NOVO GUIA
guarda á porta principal do castello está um caval-
leiro agigantado, trajando ao uso da idade media,
e mostrando no seu escudo as armas do barão de
Echwege, digno galardão dos trabalhos d'aquelle
insigne engenheiro na direcção das reaes obras de
Cintra. Todo o castello está como enclausurado en-
tre os cabeços da serra, e massas colossaes de ba-
salto ; mas as suas torres elevam-se acima de tudo
isto, e não lhe fica interceptada a vista do Oceano
até ao mais distante horisonte ; as montanhas da
Estremadura e do Alemtejo, as torres e o zimbó-
rio de Mafra, os mais altos edifícios de Lisboa, e
as risonhas planices que lhe cercam a base, (Ma-
res e a sua Varsea, e a praia das Maçãs. Um largo
caminho, em parte murado e em parte aberto na
rocha, conduz por grande rodeio o viajante, desde
a villa até aos pináculos da serra ; encontra-se
abundante plantação de pinheiros aos lados da es-
trada, aqui uma gruta com diliciosa agua, ali um
commodo assento á sombra de secular penedo ;
mais acima um lago com lindos adornos, flores
odoríferas, aves não vulgares, até que se chega á
ponte levadiça que acaba na portada principal do
castello, sobre a qual se vêem esculpidas as armas
de Portugal e Saxonia. Ahi ha três mil pés de al-
tura acima do nivel do mar. Quando já as sombras
pousam sobre os valles visinhos, ainda reflectem
amortecidos os últimos raios do sol n'esta solidão
visinha do céo. Ainda se conserva na egreja do cas-
DO VIAJANTE 187
tello a maior preciosidade do antigo mosteiro, que
é bem digna de se ver : um sacrário de alabastro
tão precioso e transparente, que fechando-se-lhe
uma luz dentro, deixa coar luz bastante para ao
pé d'elle se poder ler. É todo entalhado de relevos
representando os passos da Paixão, cercados de
festoes de flores, com suas columnas de mármore
negro.
Castcllo de mouros
Na serra,, a pouca distancia do palácio, também
reparado por el-rei. Tem dentro uma cisterna bem
conservada e com boa agua. Ê muito digno de vi-
sitar-se. Cavando-se ha poucos annos nas minas da
mesquita antiga, encontraram-se alguns cadáveres;
e o barão de Echwege ignorando se eram de mou-
ros ou christãos, mandou (com auctorisação supe-
rior) lavrar na pedra da sepultura que hoje os co-
bre — uma cruz e um crescente — como emble-
mas das duas religiões, e por baixo estas pala-
vras : — O que ficou junto, Deus separará. Muitos
dos visitantes deixam também escriptos n'essa pe-
dra alguns trechos de poesia ou prosa análogos ao
objecto. Por ali perto se vêem lindos pavões, e ri-
cos avestruzes, ostentando as galas de suas pen-
nas, o veado, a corça, a lebre, a gazela saltando
sobre os precipícios da serra, cisnes e patos ba-
nhando-se nas aguas, o cavallo gosando de uma
silvestre liberdade, e mesmo o boi erguendo a cer-
188 NOVO GUIA.
viz com orgulho, porque n'estes logares todos pa*
recém felizes í
Convento ele Santa Cruz
Lidando por entre os abrolhos da serra, ora su-
bindo ora descendo Íngremes ladeiras, enxerga-se
sobranceiro á estrada de Collares, este pequenino
convento, onde viveram monges, e que hoje pobre
e arruinado está entregue á guarda de um velho
leigo, coxo e apatetado. — Por ordem de D. João
de Castro, fundou D. Álvaro de Castro, seu filho,
este mosteiro humilde para Franciscanos, no anno
de 1560. É um recolhimento pobrissimo, cuja fa-
brica custou cem cruzados. Dizia Filippe n que
duas coisas tinha nos seus reinos de grande cele-
bridade, o Escurial por muito rico, e este conven-
tinho por muito pobre. — As cellas são tão estrei-
tas, que mais se podem chamar sepulturas de ho-
mens vivos ; as paredes que as dividem são de
barro e palha, forradas de cortiça, a qual serve
também de forro ás portas. O refeitório é tão pe-
queno, que apenas tem quatorze palmos de com-
prido e sete de largo ; serve-lhe de mesa uma la-
gea tosca, levantada um palmo do chão, que para
este eífeito mandou arrancar da serra o cardeal in-
fante D. Henrique. Eram os guardanapos da mais
áspera estopa, os vasos, de que se serviam os re-
ligiosos, do mais grosso barro, guardando-se ahi
DO VIAJANTE 189
sempre abstinência de carne, e não se comendo no
advento e quaresma, coisa que fosse ao lume. —
Na cerca vê-se a cova de Santo Honório, ou bento
Honório, na qual viveu trinta annos. Foi peniten-
cia longa e áspera para culpa mui leve, se 6 ver-
dadeira a tradição. '
Conta-se que Honório indo pelos campos, encon-
trara uma rapariga formosa, que o obrigou a pa-
rar, pedindo-lbe que a conl ie. Recusou-se o
o monge a ouvil-a n'aquelle logar, e mandou-a para
o convento, onde alguém poderia eonfessal-a; mas
a rapariga insistiu e continuou a perseguil-o. Sen-
tiu Honório que aquella formosura o tentava, e fez-
lhe o signal da Cruz, crendo que o diabo tomara
a forma de moça para vir seduzi l-o. A rapariga
fugiu, e o santo homem recolheu-se áquelle retire
onde se martyrisou trinta annos, para expiar a ten-
tação que tivera !
Peninha
É outro convento da serra, que pouco ou nada
de curioso tem a apresentar ao visitante, que se
aíadiga para lá chegar, por caminhos tortuosos e
ásperos, açoitado quasi sempre pela ventania.
Penha Longa
Outro convento ; está no mesmo caso.
190 NOVO GUIA
EKuinas de Monserrate
Descendo um caminho irregular, aqui e ali mar-
cado com cruzes de pedra, chega, quem vem de
visitar o corrventinho de rocha e de cortiça, ao
principio da estrada de Coilares; cortando porém
á esquerda d'ella, acha-se nas ruinas de Monser-
rate, logar assim chamado de uma ermida de Nossa
Senhora de Monserrate, que, no anno de 1540,
edificou um clérigo chamado Gaspar Preto, man-
dando vir de Roma a imagem, de alabastro, da
Senhora. Aqui, em um pequeno monte despegado,
que se avança como atalaya do resto das ondula-
ções da serra, estão as ruinas de uma casa de
campo, imitando um castello antigo.
Foi edificada esta casa por um inglez chamado
Bekfort, ainda ha poucos annos, de sorte que, por
vicio de construcção, e não pela muita antiguidade,
está em ruinas. Qual fora requeimada por vento pes-
tífero na viçosa edade da sua vegetação, ainda nes-
tas estragadas ruinas sobresae a formosura e bri-
lho do seu tempo de gloria. Uma bella lameda de
arvores nos conduz á casa, cercada de uma grada-
ria de ferro de três pés de altura, cingindo-lhe a
parede cedros, que* sombreando-a, lhe não rou-
bam, pela boa disposição em que estão collocados,
os lindos pontos de óptica que disfructa, tanto para
o lado da serra, de que é dominada, como para a
parte do mar e valle de Coitares. A primeira torre
DO VIAJANTE 191
ê destinada para os quartos de cama, seguindo-se
em baixo casa de jantar, etc. : a outra torre con-
siste em uma bella sala de musica, de forma re-
donda, communicando com outras, tudo no melhor
gosto e distribuição. Tinha a casa duas entradas
principaes, que se dirigiam a um vestíbulo em
octogono, que partia para os diíTerentes ramos do
edifício. Os aposentos para os criados, cocheiras,
e cavallarieas, furmam outro corpo de edifício ao
lado do caminho que conduz á casa. Os apriscos,
abegoaria e casa do caseiro, são feitas com egual
esmero de gosto, buscando a arte meios de em-
belesamento na sua simples e rústica architectura.
Consistia a quinta em bello bosque de antigos car-
valhos, que vinham terminar junto á casa em um
pomar de larangeiras e tangerinas. Na encosta so-
branceira ao valle aonde esta assentado este pomar,
se vê uma cascata de enormes calhaus, que para
alli foram conduzidos expressamente, esforçando-se
por este modo, com tanto trabalho, o artificio hu-
mano em imitar a simplicidade das bellezas da na-
tureza, sempre magestosa e bella nas obras da sua
creação. Toma esta represa as aguas, que no in-
verno e principio da primavera descem do alto da
rra, e formam uma catarata, que se despenha
por um leito pedregoso, que forma a parte mais
baixa do valle d'esta malta.
192 NOVO GUIA
PenBia Verde
Esta celebre quinta foi mandada plantar por
D: João de Castro, o honrado vice-rei da índia, e
legou-a a seus herdeiros com a condição expressa
de não se plantar ahi arvore alguma de fructo, mas
tão somente objectos de recreio ; dizia elle que, nem
da terra queria paga pelos serviços que lhe fazia.
Na casa annexa encontrara-se ainda algumas anti-
guidades indianas, e o retrato de D. João de Cas-
tro, tirado do natural. Sentimo-nos tomados de res-
peito ao dar de rosto com aquelle olhar grave, com
aquella physionomia varonil e franca. Voltando á
quinta, ainda nos parece que o vice-rei incorrupti-
vel, o homem probo por excellencia, gyra por en-
tre esses troncos carcomidos, essas arvores sem
fructo, e parámos silenciosos diante da cruz de ou-
tras eras, que contemplou ajoelhado o vencedor de
Diu.
Regaleãra.
Quinta pertencente cá baroneza do mesmo titulo;
muito amena, e abundante de aguas erystallinas.
Tem uma rica cascata, e preciosos mármores, pra-
dos sempre verdes, copado arvoredo, tudo bello e
risonho. Ê um dos mais predilectos passeios da
gente que passa o verão em Cintra, e com razão,
que nada ha mais agradável do que este encanta-
■ dor logar.
DO VIAJANTE i9){
Setiáes
Formoso campo, que termina em um bom palá-
cio, pertencente outr'ora ao marquez de Marialva,
depois ao de Louriçal, e hoje dizem que ao de
Loulé. Abi assignaram em 1808 a convenção qut;
salvou Portugal da invasão franceza, os generaes
Wellington e Junot. No campo passeiam á tarde
muitas famílias, e é outro t logar de rendez-vous
como a Regaleira, com a differença de este ser in-
teiramente publico, e a Regaleira fechada por mu-
ros e portas, que só se transpõem com licença dos
habitantes da casa.
Quinta do marquez de Pombal
É notável entre todas as ruas de arvoredo que
aformoseiam este logar, uma a que chamam o Pas-
mo dos Amores, porque é de tal forma coberta
pelos ramos e folhas das arvores, que nem ao
meio dia penetra ali o sol. Tem também além da
grande abundância de aguas puras, uma agua fér-
rea muito estimada para enfermidades de estômago.
Quinta de D. Caetano
Aqui se tomam banhos de jorro da mais crys-
talina agua doce ; é n'este logar que começou ver-
dadeiramente, ha poucos annos, o tratamento de
13
194 NOVO GUIA
varias enfermidades pela hydropathia, ou liydrosu-
pathia, em Portugal. Quanto a amenidade do sitio
é o mesmo que as precedentemente indicadas, e
taes outras muitas quintas, que não mencionare-
mos por evitar prolixidades — seus donos sâo: os
duques de Palmella, de Cadaval, e de Lafões, conde
de Redondo, Reis, e outros.
Palácio e quinta do duque de Saldanha
Este palácio é construído em um género estra-
vagante de architectura, que logo dá na vista ao
forasteiro ; por isso o mencionamos em separado,
posto que nada de curioso tenha a observar.
Fonte da $a»uga
Ás abas da villa está esta pequena fonte, cuja
architectura nada tem de notável, mas afamada pela
salubridade e fresquidâo da sua agua, que é sem-
pre fria de neve, ainda no pino do meio dia, no
mais calmoso verão.
\
©s Pisoes
Fonte e passeio agradável, adiante da Regaleira,
no principio da estrada de Collares.
Santa Eufemia
Logar de romaria e devoção na serra.
DO VIAJANTE 19^3
Outras muitos logares de menos nomeada dei-
xamos de mencionar, alias teríamos de escrever um
livro só a respeito de Cintra.
HOSPEDARIAS
Victor, a mais antiga e mais afamada da villa;
Durand, também acreditada ha longo tempo ; Ho-
tel d'Europe, moderna e dependente da hospeda-
ria do mesmo nome em Lisboa ; François, fora da
villa, em S. Pedro de Penaferrim, e outras de me-
nos luxo. Antes de fechar este artigo ainda copia-
remos duas palavras do principe Lichnowski, ex-
trahidas das suas Recordações de Portugal, pelas
quaes se verá que até os estrangeiros apreciam es-
tas agradáveis paragens.
«Quanto mais tempo me demorava em Cintra,
tanto mais aprasivel me parecia, e mais sonhada-
mente romântica ; até que, quando finalmente me
foi forçoso partir, repassou-me um tão intimo des-
gosto, que de todo se tornou manifesto para mim,
que alli havia muito mais do que aquillo que a
principio haviam descoberto meus olhos profanos.
O pesar da minha separarão era a vingança do en-
cantamento que eu desconheci. Essas frescas vere-
das cobertas de folhagem, o crescimento mages-
toso e exuberante da vegetação ; as cascatas e fri-
gidos regatos, as montanhas e penedias, a pers-
pectiva das campinas e do Oceano, tudo isso nunca
196 NOVO GUIA
o esquecerei, e com a auctoridade de Byron e de
Camões, com a opinião dos poetas e dos litteratos
de todos os tempos proclamarei Cintra o mais
bello de todos os sítios da terra.»
Ha projecto de construir um caminho de ferro
de Lisboa a Cintra, o qual porá este aprasivel si-
tio em constante contacto com a capital.
Ouçamos o que diz o já citado escriptor Gomes
de Amorim a respeito de uma villa que próximo
de Cintra se projectava construir, a qual daria muita
importância áquella localidade :
«Depois do almoço partimos para a villa Este-
phania. A estrada nova de Mafra é a que alli con-
duz, correndo sempre em plano direito. Apezar de
não ter ainda arvoredos que lhe dêem sombra, o
que, em Cintra, é uma falta de côr local insuppor-
tavel, tornou-se esta estrada passeio predilecto da
população elegante! Será de um kilometro, pouco
mais ou menos, a distancia que separa as duas vil-
las ; no caminho ficam a quinta dos banhos do dou-
che e a escola do conde de Ferreira; pouco adiante
da povoação nascente, está a praça de toiros, re-
centemente construída. Entra-se para a villa Este-
phania por duas ruas, em embryão, dando a pri-
meira accesso para as casas chamadas do quarteirão,
que são dez, e communicando a segunda com as
outras treze ou quatorze, que se acham espalhadas,
sem symetria ou ordem, a noroeste das primeiras,
A posição é óptima ; pôde afíirmar-se que é muito
DO VIAJANTE 197
superior á de Cintra, que lhe fica ao sudoeste. Está
livre dos nevoeiros, no começo da charneca, que a
lava com os ventos do norte e a perfuma com os
cheiros agrestes e salubres de seus mattos floridos.
As casas da villa nova Estephania foram todas co-
meçadas, haverá uns dezeseis annos, por uma com-
panhia, que principiou também em Pedrouços os
aterros para o caminho de ferro de Cintra. Foi pena
que essa empresa não levasse por diante o seu pro-
jecto! O traçado d'aqueUa via era excellente! A
companhia dissolveu-se e as casas ficaram por con-
cluir. Quando ultimamente se fez leilão d'ellas, já
dezeseis invernos, assalariados por Cintra invejosa,
lhes tinham mettido os tampos dentro! Foi uma
lastima! Eram bonitas e venderam-se baratíssimas.
As casas da villa Estephania olham todas para a
villa e serra de Cintra; dir-se -hia que contemplam
a sua vizinha com ar de provocação insolente. E
Cintra não deve deixar-se adormecer com o orgu-
lho das suas opulências, se quizer conservar a sua
superioridade. A escola primaria e a praça dos toi-
ros— duas grandes necessidades para os portugue-
zes!— approximam-se da villa Estephania; a quinta
do douche deixou-se partir ao meio para lhe dar
uma estrada ; a estação do caminho de ferro Lar-
manjat vae senlar-se-lhe ás portas do seu elegante
quarteirão; a Granja está do seu lado; Mafra vê-a
mais de perto e tudo isto quando ella não tem ainda
um único habitante í Que será então depois de re-
198 NOVO GUI A
edificadas as suas formosas casinhas, ajardinados
os seus terrenos, e provada a excellencia e supe-
rioridade de seus ares seccos e sadios?! Já Setiaes
deserto não ouve accordar deliciosamente os seus
eccos pelas vozes melodiosas de encantadoras pas-
seantes; em vez das frescas alfombras, com que
afagava outr'ora os pés delicados de tantas visita-
doras, só cria hoje ignóbil feno para sustento de
brutas alimárias! Passou de moda; esqueceu; foi
trocado por uma estrada sem verdura e sem som-
bras!... Acautela-te, oh Cintra! Tu podes também
ser olvidada um dia e substituida por uma rival
desdenhada agora!»
COLLARES
Esta villa, distante cinco léguas de Lisboa, e uma
de Cintra, nas faldas de cuja serra está edificada,
contém mais de dois mil habitantes. O termo d'esta
povoação produz muita excellente laranja e fructa
de caroço, o afamado vinho tinto do seu nome, me-
lhor que o mais puro Borgonha e Bordeaux. A
Várzea é o mais encantador sitio de Collares ; o
rio das Maçãs deslisando suavemente na sua base
por entre viçosos pomares, e sob um continuo
toldo de verdura, forma como uma lagoa no sitio
chamado Tanque da Várzea ; ahi sente-se o doce
DO VIAJANTE 199
murmúrio das aguas, o susurro das frondosas ar-
vores embaladas pelo vento, uma multidão de pás-
saros com seus afinados gorgeios; vê-se o firma-
mento e o arvoredo espalhando-se na lisa superfície
do lago, ao longe a serra de romântico aspe-
cto, uma primavera perenne, um Éden, um verda-
deiro paraiso. A Mata é um logar também delicioso ;
um denso bosque de castanheiros, que fica sobran-
ceiro á villa ; e o Passeio dos Amores, onde pôde
encontrar-se logar mais digno de tal nome.
As quintas dos seus arredores, muitas em nu-
mero, são também afamadas pelos saborosos fru-
ctos que produzem, pela vegetação gigantesca que
apresentam, pelas aguas claríssimas que em todas
as direcções as cortam ; entre todas ellas gosa de
uma bem merecida celebridade a Quinta do Dias,
passeio obrigado para qualquer que vae visitar Gol-
lares; dedicar-lhe-hemos duas linhas especiaes.
Depois de percorridas em diversas direcções as
compridas ruas de arvoredo, tendo gosado a fra-
grância de varias flores em bonitos jardins, e con-
templado os tanques cheios de ornatos, e abundan-
tes de agua, — com a alma cheia de suave melan-
colia, pelo susurro das cascatas, o ciciar das folhas
e troncos, a melodia dos rouxinoes, — sobe-se a
um alto mirante, d'onde se descobre, como de to-
das as eminências d'estes contornos, um quadro
sempre rico de galas naturaes e adornos da mão
do homem, e todavia variado sempre.
200 NOVO GUIA
N'aquelle mirante, meio arruinado como toda a
quinta, se acham milhares de nomes, acompanhados
de pensamentos vários como as imaginações que os
pruduziram, por que todo o visitante ahi escreve ao
menos as iniciaes de seu nome, e raro deixa de lhe
antepor algum desvario ; força é confessal-o, a Índole
poética da nação não se patenteia ahi por bons ver-
sos, nem mesmo por fluente prosa, — frivolidades
é o que se encontra ; pois o logar é dos mais pró-
prios para inspirar um poeta 1
A praia das Maçãs, por baixo de Collares, e ba-
nhada pelo mar, é um passeio muito frequentado
no tempo de banhos, apesar de algumas desgraças
já ahi haveram succedido, pela bravura das ondas
contra os penhascos da serra. Duas meninas de boas
familias, e os homens que lhes davam a mão no ba-
nho, foram victimas do furor das vagas, escapando
uma outra que com elles estava na agua. Este triste
successo teve logar não ha muitos annos.
Próximo de Collares ha ainda dois sitios que
atraem a curiosidade do viajante, chama-se o Fojo
e a Pedra tfAlvidrar. O primeiro é uma aberta ou
abysmo cavado perpendicularmente na rocha pela
natureza, e teem a configuração de um funil, onde
penetra o mar subterraneamente com medonho es-
tampido, e se acoutam aves aquáticas, e outras que
os habitantes teem por agoureiras, e que com seus
agudos gritos teem espavorido mais de um viajante.
O segundo é uma immensa penedia suspensa sobre
DO VIAJANTE 201
o abysmo, não perpendicular e lisa, como muita gente
tem dito e até escripto — que a olhos vistos se co-
nhece a sua inclinação e ressaltos, — mas ainda é um
grande atrevimento o que pratica quasi toda a po-
bre gente da visinha povoação de Almoçageme, que
desce e sobe a Pedra cFÂlvidrar, com a maior li-
geireza ! Se escapa um pé a qualquer d:estes des-
graçados, vae fazer-se em pedaços sobre penedos
da base, onde o mar ergue flocos de espuma. É cu-
rioso e ao mesmo tempo repugnante esse espectá-
culo ! Firmes nos dedos grandes dos pés e nos das
mãos. sem assentarem os calcanhares, esses homens,
e até creanças, deslisam pela penedia afoutamente,
e trepam em seguida com a mesma rapidez.
Quando se falia das bellezas de Cintra, entende-se
que vão incluidas as de Collares e seus arredores,
porque a distancia é curta de uma a outra villa, e
ainda que a estrada não seja óptima é comtudo tâo
povoada de casas, quintas e jardins, que parecem
encurtar ainda mais a distancia. O burrinho, que é
o vehiculo usado n'estas peregrinações de Collares
e da serra, transporta com facilidade e economia o
viajante de um a outro logar.
■afiu
A três léguas de Cintra e a cinco de Lisboa, está
situada a villa de Mafra, em uma planície escalvada,
202 NOVO GUIA
estéril, e deserta; 681 pés acima do nível do mar.
Esta villa é notável pelo seu sumptuoso palácio e
basílica, de que vamos dar uma resumida noticia.
Acerca da origem da fundação d'esta egreja,
diz-se que D. João v, para que o céo lhe conce-
desse um herdeiro, fizera voto de lhe levantar uma
abbadki, no logar em que existisse o mais pobre
convento do reino. Depois do nascimento de
D. José i, achou-se que ao noroeste de Lisboa,
havia uma cabana habitada por poucos frades ar-
rabidos, que reunia as condições requeridas pelo
voto do monarcha. Pouco tempo depois, no dia 17
de novembro de 1717, D. João v foi n'esse mesmo
logar, lançar a primeira pedra dos alicerces da
symptuosa basílica que ainda hoje se admira.
A fachada principal, que olha ao poente, divi-
de-se em três partes ; no meio está o frontispício
do templo ; para o sul a parte do palácio denomi-
nada residência da rainha ; e para o norte a outra
parte, chamada residência do rei ; ambas tem qua-
tro pavimentos, coroados de espaçosos terraços,
que seguem as fachadas do palácio em dois magní-
ficos torreões, que se elevam cem palmos acima
do nivel dos terraços.
Além dos torreões, erguem-se também sobre a
frontaria principal o zimbório e as torres lateraes
da egreja, que tem 314 palmos e meio de altura,
desde o chão até á grimpa, e são rematadas por uma
cruz de ferro, que com os respectivos ornatos peza
DO VIAJANTE 203
226 arrobas, e está elevada sobre a cúpula 33 pal-
mos. Cada uma das torres tem um carrilhão com
51 sinos, que pesam 14:300 arrobas. O sino gran-
de, que dá as horas, pesa 800 arrobas, e tem de
diâmetro li palmos e meio. Estes carrilhões são
de singular e custoso artificio, tocam differentes
peças de musica antes de darem as horas; foram
fabricados em Liège e importaram com o transporte
e collocação em perto de três milhões de cruza-
dos.
Nos dois palácios, apezar das muitas salas, não
se nota uma só que corresponda a tanta grandeza.
A sala do throno tem pinturas a fresco, e é ornada
com grandes cortinas de veludo e damasco. Toda
a obra de alvenaria é excellente, e toda a madeira
empregada é da melhor do Brazil.
No frontispício da egreja ha seis columnas de
trinta palmos com capiteis dóricos. Tem quatro
estatuas : as que estão collocadas aos lados da ja-
nella principal são de S. Francisco e de S. Domin-
gos, e as outras duas, de Santa Clara, e de Santa
babel. Este frontispício termina em um frontão,
em que ha um grande ovado de jaspe, ornado de
flores e anjos, que circumdam as figuras de Nossa
Senhora, e Santo António, que de joelhos adora o
menino Jesus.
Nas capellas da basílica, e no vestíbulo, chamado
Gallilea, estão 38 estatuas de mármore e de jaspe,
algumas das quaes são de primoroso lavor, e repre-
204
NOVO GUIA
sentam os fundadores das ordens religiosas. Umas
tem 17 palmos de alto, e outras 11. Cinco portas
dão entrada para o átrio, cujo pavimento tem 116
palmos de comprimento, e 32 de largo ; e três do
átrio para a egreja.
Ao entrar no templo fica o espectador maravi-
lhado a contemplar a profusão e variedade de már-
mores de todas as cores, primorosamente lavrados ;
os bellos mosaicos ; os estuques apainelados ; as pre-
ciosidades das madeiras, o vistoso dos pavimentos,
os ornatos e accessorios em harmonia com tanta
magnificência e riqueza. Tem esta basílica 277 pal-
mos, contados da porta principal até ao fundo do
altar-mór, e no corpo da egreja contam-se 75 pal-
mos e meio de largo.
Tem principalmente dignas de menção, entre ou-
tras, as seis columnas de mármore, de 36 palmos
de altura, que estão aos lados das três capellas prin-
cipaes, e muitos baixos-relevos de mármore, obra
de esculptores portuguezes (dirigidos pelo romano
Giusti), substituindo os quadros das capellas. O re-
tábulo do altar-mór consta de um bello quadro da
escola romana, que representa Nossa Senhora, e
Santo António — padroeiros titulares da casa ; po-
rém sobre todas estas preciosidades artísticas avulta
gigante o magestoso zimbório, que se levanta do
meio do cruzeiro. Tem a cúpula dobrada, como a
da egreja de S. Pedro, em Roma, isto é, tem duas
cúpulas concêntricas com escadarias, que dão ser-
DO VIAJANTE 205
ventia para a varanda, que circunda o zimbório pela
parte de fora ; e d'onde se gosa deliciosa vista, não
só para o interior do paiz, como também para o
oceano. O remate da abobada é de uma só pedra,
e tem na circumferencia 8 janellas ; esta pedra tem
44 palmos em redondo e 13 de alto.
No interior d'esta grande fabrica ha muitas ca-
pellas notáveis, principalmente a chamada dos de-
functos, toda forrada de mármore negro, a da en-
fermaria, a dos prçsos, a capella real, etc.
Os limites d'esta obra nâo nos consentem parti-
cularisar mais as grandezas d'este edifício, comtudo
recommendamos ao estrangeiro que veja os para-
mentos que ainda restam, e que são todos de seda,
porque a austeridade dos religiosos arrabidos não
lhes permittia usar de metaes preciosos, e que ainda
assim custaram mais que todo o edifício f Veja tam-
bém a casa da livraria, que Gca no dormitório da
parte do nascente, e tem de comprimento 381 pal-
mos, e de largura 43; podendo conter mais de
-25:000 volumes.
Esta immensa obra foi delineada pelo architecto
alemão, João Frederico Ludovici, no estylo d'archi-
tectura italiana clássica. Trabalharam diariamente
na sua construcção de 20 até 25:000 pessoas, e
consta pelos róes de junho a outubro de 1730 que
n'esta época, estavam empregadas n'este serviço
45:000 pessoas, incluindo 7:000 soldados ; e em
maio de 1731 ainda trabalhavam 15:470 operários,
206 NOVO GUIA
bem que a egreja tivesse sido sagrada em 22 de
outubro de 4730.
Tem este edifício 886 salas e quartos, 5:200
portas e janellas e 86 fontes alimentadas por diver-
sas nascentes.
Cerca todo o palácio pela parte do nascente uma
tapada que comprehende o circulo de três léguas;
é abundante em caça, em fructas e hortaliças, e tem
uma caudelaria real.
Remataremos este artigo dizendo duas palavras
sobre a Granja-modélo de El-Rei, porque a respeito
da villa nada mais ha a mencionar — nem ao menos
tem uma hospedaria decente para receber o viajante.
Conta pouco mais de três mil visinlios.
Na Tapada real, visinha ao templo, se fundou a
Granja-modêlo, estabelecimento agrícola de espe-
rançosos resultados.
Concederam-se terrenos a alguns habitantes da
villa, mandaram-se vir da Inglaterra instrumentos
aratorios de commoda e adequada applicação : gran-
des tractos de terreno, ha pouco incluídos em só pro-
ductores de sarças e arbustos nocivos, se acham já
roteados e supplantados por úteis sementeiras e
fructifero arvoredo.
Ouçamos algumas palavras do sr. i. Herculano,
sobre este objecto :
« Ao lado dos paços monásticos de Mafra, monu-
mento de uma era de vãs grandezas, vae-se alevan-
tando sem ruido o monumento modesto, mas elo-
DO VIAJANTE 207
quente e santo, da idéa progressiva da actualidade.
Ao lado d'es$as pedras amontoadas, d'esses torreões
gigantes, macissos e pesadamente estúpidos, ser-
peiam já os prados virentes por veigas e valles, co-
bertos ainda lia pouco de abrolhos e urzes. Contras-
tando com os lanços de muralhas caídas da ochre,
que amarrelleja bestialmente, como um cordão de
ouropel enfiad-i em diamantes, por entre a còr se-
vera dos mármores tisnados pelo tempo, véem-se
ao longe verdejar os pinheirinhos, que coroam as
alturas ao norte e oriente cTaquelle edifício mons-
truoso, hybrido e extravagante como uma pseudo-
poetica da Phenix-renascida. As folhas da terra cul-
tivada dilatam-se pelas chapadas e encostas, várias
na còr segundo a altura das searas, ou conforme a
qualidade do solo. »
Na estrada entre Cintra e Mafra, enconíra-se a
pequena povoação de Pêro Pinheiro, de cujas pe-
dreiras se extraíram e extraem ainda excellentes
mármores de varias cores, que muito serviram na
edificação do templo de Mafra, bem como o már-
more negro de Collares, que ali se admira abun-
dantemente. O resto do caminho é pouco engraçado.
De Lisboa para Mafra a estrada é a mesma de
Cintra até ao Cacem, onde se toma nova direcção
por trilhos menos bem gradados do que a estrada
real de Cintra, que é a melhor de Portugal, como
já dissemos.
208 NOVO GUIA
Acabando a breve descripção de Cintra, Collares,
e Mafra vamos occupar-nos com alguns pontos mais,
distantes da capital, que todavia são dignos da at-
tenção do viajante curioso.
SETÚBAL
A sete léguas de Lisboa ao sul do Tejo está a ci-
dade de Setúbal situada nas risonhas margens do
rio Sado, navegável por embarcações de grande lote.
Setúbal, modernamente elevada á cathegoria de
cidade, não diremos que seja de grande importân-
cia em população, ou movimento commercial, toda-
via, a sua proximidade com a capital, e sobretudo
o seu ramal de caminhos de ferro, deu-lhe ultima-
mente mais animação.
A cidade é toda edificada á beira do rio, apre-
sentando por este modo um bello e continuado litoral.
Ao lado do nascente, pouco menos de um terço, de-
nomina-se Fontainhas, o centro chama-se Setúbal,
e a extrema esquerda intitula-se Troino, bairro ha-
bitado por pescadores.
A gare do caminho de ferro foi construída no sitio
de S. João, onde existiu um antigo convento de re-
ligiosas, e transformado hoje em casa de habitação ;
na cerca do referido mosteiro fizeram uma praça
de toiros, que na estação própria é bastante concor-
DO VIAJANTE 209
rida, não só pelos naturaes cTaquelles sítios, como
pelos habitantes da capital que amara tão feroz e
grosseira divisão.
Ao lado direito encontra-se uma estrada pouco
extença que communica com o rocio, ou campo do
Senhor do Bom Fim, cuja ermida construída no
fundo é de pobre apparencia, mas tem um rico in-
terior posto que bastante damnificado. Esta ermida
é notável pela grande devoção dos setubalenses, e
com especialidade pelos marítimos.
O campo do Senhor de Bom Fim é digno de apre-
ciação pela sua extença, e por ter no centro o jar-
dim publico, orlado de magestosas arvores secula-
res, com uma fonte de crystallinas aguas, etc.
A praia é magnifica pela sua magnitude, e pela
limpidez das suas aguas; tem um forte chamado de
S. Filippe o qual defende a entrada do porto. A barra
tem uma torre de construcção antiga.
Setúbal tem algumas egrejas de boa apparencia.
porém a mais digna de nota é sem duvida o con-
vento de Jesus, cuja construcção se assemelha, ain-
da que mui inferiormente, á egreja dos Jeronymos
de Belém, e é de crer que a sua fundação seja de
egual data.
A primeira rua que se encontra á entrada do
campo é bella, bastante longa e arborisada. Ahi foi
construído o theatro chamado Bocage, de soffrivel
apparencia, e único que existe em Setúbal. Tem um
commodo hospital, com uma bella egreja. Possue
14
210 NOVO GUIA
um bom quartel na praia em frente do cães, um
bonito largo chamado Palhaes e a praça do Sopa],-
hoje denominada praça do Bocage.
A sua alfandega é muito decente, e em toda a
cidade existem muitas casas de commercio nacio-
naes e estrangeiras.
É uso fazer-se em Setúbal uma feira de differen-
tes mercadorias, no dia de S. Thiago (em agosto),
a qual é muito concorrida.
Próximo á torre e barra de Setúbal encontra-se
uma praia chamada o portinho da Arrábida, que dá
accesso para a serrania da mesma denominação, onde
ha um convento antigo e muitas outras curiosidades
dignas da attenção do viajante curioso.
Do lado opposto a Setúbal existem as ruinas de
Catubriga, vulgarmente chamada Tróia, onde em
escavações profundas se teem encontrado vasos, me-
dalhas e outros muitos objectos de remotíssima data,
verdadeiras jóias para os archeologicos.
Ê este um dos logares que não deve ser esque-
cido por quem se propozer a visitar a pátria do nosso
estimado poeta Bocage.
Setúbal tem bellos pontos de vista, taes como
S. Paulo, Bramcanes, e os moinhos, onde foram
construidos os cemitérios um para nacionaes, muito
decente e com uma ermida de recente construcçâo,
e outro para estrangeiros, egualmente de boa ap-
parencia. Nos seus arredores se encontram lindas
e vastíssimas quintas, que produzem abundante e
DO VIAJANTE 211
saborosa fructa de todo o género, asism como a ex-
cellente laranja, tradiccional por sua bondade e que,
tanto apreço tem para exportação.
O trajecto de Lisboa a Setúbal faz-se hoje com a
maior commodidade. O viajante embarca n'um va-
por que conduz ao Barreiro, (lado opposto lo Tejo)
entra em seguida na bella e magnifica es' çâo dos
caminhos de ferro, e em breve tempo é transpor-
tado a Setúbal, d'onde, se quizer, pôde voltar sem
encommodo no mesmo dia a Lisboa.
Na antiga praça do Sopal, hoje praça de Rocage,
está edificado um modesto, mas elegant monu-
mento erigido ao poeta improvisador, que )olo seu
merecimento honra a terra em que nasceu.
SANTARÉM
Quasi no centro da província da Extremadura,
sobre a margem direita do Tejo, obra de 15 léguas
distante da sua foz, está assentada a nobre cidade
de Santarém, n'uma situação elevada, deliciosa e
pittnrescn. Este local montuoso, contrastando com
a margem esquerda do rio mui baixa, produz uma
bellissima prespectiva.
Comprehende a cidade três grandes bairros. O
maior que chamam Marvilla, fica na parte superior
e plana na montanha, contigua a extensos olivaes.
212 NOVO GUIA
por onde abrem aprasiveis caminhos as estradas que
conduzem ao alto. Esta parte é guarnecida de cerca
ameiada com torres e cubellos, e em alguns sitios
com barbacans ; e do mesmo modo a Alcáçova, cas-
tello, ou cidadella árabe, que coroava a altura mais
próxima ao Tejo. Da parte que esta olha para a ci-
dade, que é do lado do poente, ha vestigios de for-
tificações muito modernas, abaluartadas com gua-
ritas nos ângulos, e que parecem ser obra do rei-
nado de D. Affonso vi.
O primeiro nome de que ha memoria que os an-
tigos lusitanos dessem a esta cidade foi Scalabis, e
também Scalabicastrum. O segundo Julium Prce-
sidium, em obsequio ou honra a Júlio Gesar, quando
já toda a Lusitânia estava constituída colónia ro-
mana, e se dava por grande distincçâo, este titulo
ás suas melhores cidades e villas ; e foi pelos fins
do 7.° século da era vulgar, que um successo ma-
ravilhoso e de grande assombro deu o nome de
Santa Irene, depois Santarém a esta muito nobre
e sempre leal cidade que conserva vae já por 12
séculos, como lustre epitaphio da santa virgem
Irene.
De qualquer lado que se queira entrar para a
cidade ha de subir-se primeiro uma das nove cal-
çadas que ali conduzem, e se denominam :
l.a Da Atamarma, nome que se lhe corrompeu
de Temarma que tinha no tempo dos mouros, que
no seu idioma arábico é o mesmo que dizer aguas
DO VIAJANTE 213
amargosas. Ainda hoje próximo d'esta calçada ha
vestígios d'uma fonte de taes aguas.
2.* De Santa Clara que começa como a primeira
na povoação do bairro da villa denominada Ribeira.
3.a De Sâo Thiago, a qual hoje está quasi intran-
sitável, que começa junto da egreja de Santa Iria no
dito bairro, e acaba na porta d'Alcaçova, outr'ora o
castello da cidade.
4.a DWlfange que principia no bairro assim cha-
mado.
5.a De Nossa Senhora de Vallada, Madre de Deus,
ou omnias, que começa nas omnias e acaba na rua
do Pereiro.
6.a Junqueira que também começa nas omnias e
finda no sitio de S. Lazaro.
7.a Do sitio, ou das Pedreiras que conduz dire-
ctamente de Lisboa a Santarém, acabando ao pé do
hospital civil.
8.a De S. Domingos.
9.a Do Monte ou de Nossa Senhora do Monte.
Tinha a cidade oito portas, de algumas das quaes
ainda ha vestigios. Atamarma por onde no dia 8 de
maio de 1147 entrou D. AíTonso Henriques, dando
batalha aos mouros, e tomando a villa; Leiria junto
da egreja de Nossa Senhora da Piedade ; Mansos,
onde, em uma capellinha, está a Senhora do Bom
Successo ; Vallada ou da Madre de Deus ; São Thia-
go junto á que fechava o castello, a que actual-
mente se chama Alcáçova ; do Sol no mesmo cas-
214 NOVO GUIA
tello, a qual fica sobre um eminente despenhadeiro
que cáe sobre o rio Tejo, e ali justiçavam os mou-
ros os criminosos, lançando-os ao mesmo rio : d'Àl-
fange, antes Alhance; de S. Geno, por haver en-
trado por ella o santo d'este nome ; do postigo,
outfora Postigo de D. Margarida, mãe de D. Fran-
cisco de Távora e Castro, que casou com o 1.°
conde d'Unhâo Fernão Telles de Menezes da Sil-
veira, cuja primeira senhora tinha uma casa junto
da mesma porta. Em todas as grandes terras que
eram fechadas chamavam-se, por costume, ás por-
tas postigos. Estas portas e os muros da villa fo-
ram obra dos romanos, e depois dos Godos que
lhes deram nova força com fortes baluartes.
Santarém ainda actualmente apresenta demons-
trações da antiguidade da sua fundação. Por ella
passava a via militar romana, que ia de Lisboa a
Mérida, resultando do itenerario de Antonino que
a distancia entre a primeira e Santarém era de 52
milhas, que com pouca differença são as 14 léguas
que hoje se contam entre ambas. O architecto e
pintor Francisco de Hollanda diz que em seu tem-
po ainda se conheciam vestigios da ponte por onde
a estrada militar passava sobre o rio, e esta obra
que devia ser grandiosa, como todas as dos roma-
nos, sem duvida que não pôde resistir á corrente
impetuosa do Tejo, e á abundância d'arêas com
que a obstruiria e prepararia a sua ruina. Se po-
rém hoje nada existe que annuncie a grandeza ro-
DO VIAJANTE 21fí
mana, bastantes sâo os testemunhos que provam
o demónio dos árabes. Os edifícios de que já faltá-
mos ; o gosto da architecturacom columnas esguias
e circumdadas de arabescos e florões, que se acham
ao longo das cercas e no interior da cidade, os seus
arcos e postigos mostram a importância d'esta terra
em poder dos mouros, de que a libertou pela pri-
meira vez D. Affonso vi de Castelía em 1093. Cer-
cada porém novamente pelos árabes, e vendo-se
os moradores faltos de viveres tiveram de render-
se aos bárbaros, de cuja tyrannia a resgatou para
sempre em maio de i 1 47 o nosso illustre D. Af-
fonso Henriques, que lhe concedeu grandes privi-
légios e exempçôes.
Da estação do caminho de ferro (na Ribeira) para
Marvilla deve, quem se prepozer visitar Santarém,
caminhar por uma das duas calçadas — Atamarma,
ou Santa Clara. — Querendo antes tomar alguma
refeição, tem na Ribeira ama Hospedaria — deno-
minada do — Joaquim Curto.
Antes de entrar em qualquer das duas ditas cal-
çadas, encontrará o magestoso chafariz chamado de
Palhaço — com duas bicas, por onde corre fina e
potável agua.
Na Ribeira ha um monumento, que por antigo, é
digno de verse. — A torre, ou pedestal denominado
de — Santa Irene, Santa Iria, edificado na praia
junto do Tejo, sobre o tumulo da mesma Santa. —
Segundo nos diz a historia de Santarém — foi a Rai-
216 NOVO GUIA
nha Santa Isabel, mulher de El-Rei D. Diniz, quem,
no anno de 1295, mandou levantar, d'alvenaria, o
dito pedestal alto, e no anno de 1644, o senado da
camará de Santarém, a requerimento do povo, o
fez guarnecer de cantaria lavrada, dando-lhe mais
altura. No remate d'este se collocou, e ainda hoje
existe, uma imagem da referida Santa, feita de pe-
dra, que tem 6 tya palmos (Valtura, e a defende da
chuva uma formosa bandeja ou cupola de metal la-
vrado.
Examinado, detidamente que seja, o monumento
de que acabamos de tratar, deve o viajante dirigir-se
a Marvilla pela calçada da Atamarma.
Os edifícios, templos, monumentos antigos mais
principaes, e os melhores, excellentes e mais no-
táveis pontos de vista, que ahi ha, são os seguin-
tes que o viajante deve procurar pela ordem com
que vão indicados, a fim de aproveitar bem todo o
tempo.
No fim da calçada d'Atamarma, ao entrar para
a cidade, encontrará a porta denominada Atamar-
ma, e depois irá ver:
1 .° — O edifício dos Paços do Concelho na praça
e igreja de Nossa Senhora de Marvilla.
2.° — O edifício do extincto convento do Carmo
onde estão — a Repartição dos pesos e medidas —
Administração Central do Correio — Typographia do
Governo Civil — Estação do Telegrapho eléctrico —
Recebedoria da Comarca — Repartição de Fazenda
DO VIA JANTE 217
do Districto — Dita do Concelho — Direcção das
Obras Publicas, todas no primeiro pavimento — e
no segundo — Governo Civil — Administração do
Concelho e sala das sessões da Junta Geral do Dis-
tricto ao pé de cuja sala ha uma linda varanda, e
d'ella se gosa um magnifico ponto de vista.
3.° — Torre denominada das cabaças, onde está
o sino do relógio da Camará Municipal.
Esta torre tem de altura até á cimalha 22 bra-
ças; e nella está collocado um grande sino, cujo
som é repercutido por sete bilhas quebradas de-
penduradas em varões de ferro por cima da cúpula
onde está o sino, o qual só corre quando ha novi-
dade extraordinária, ou em occasiões de publico
regosijo. Foi sem duvida com o fim de repercutir
o som que ali se pozeram as bilhas ; o vulgo po-
rém quer induzir do seu numero, que o intuito era
representar os sete membros da Camará. As bilhas
intitulam-se cabaças, e d'ahi veio o nome corrente
de torre das cabaças.
4.° — Edifício de S. João d'Alporão (hoje thea-
tro), segundo a tradição é obra dos Mouros ou Go-
dos.
o.° — Alcáçova — Ahi existe a igreja da real col-
legiada que deve ser vista — a Porta do Sol e cas-
tello de que acima faltámos. — Em qualquer des-
tes sitios o ponto de vista é encantador, — mor-
mente em occasião de cheias.
6.° — Edifício do extincto convento da Graça
218 NOVO GUIA
cuja igreja é uma das melhores de Santarém, se-
não a mais bella de Portugal.
7.° — Alto dos Capuchos, junto ao Cemitério, as-
sim denominado — Portas de Valiada, oiteiro da
Forca — o primeiro e terceiro sitios também sâo
óptimos pontos de vista.
8.°— -Igreja de Santo Estevão do SS. Milagre da
Hóstia. Quem vier a Santarém no domingo da Pas-
choella e nos dois dias seguintes tem occasião de
ver este prodígio.
O Milagre da Hóstia succedeu em 1247 em uma
casa depois ermida, no anno de 1654, situada na
Rua das Esteiras.
9.° — Edifício e egreja da irmandade da Miseri-
córdia — o frontispicio é todo de cantaria e obra
de gosto..
10.° — Porta de Mansos, hoje conhecida por arco
de Bom Successo.
1 1.° — Sacapeito — Monte de Cravos — Monte do
Abbade, lindos pontos de vista.
12.° — Edifício do extincto eonvento do Sitio
hoje Hospital civil.
13.° — Alto casai da Rafôa, também óptimo pon-
to de vista.
14.° — Praça de Touros, matadouro, no edifício
do extincto convento de S. Domingos.
15.° — Alto de Nossa Senhora do Monte — sobre
o norte e poente, e é mais que muito lindo ponto
de vista.
DO VIAJANTE 219
16.° — Edifício do famoso collegio dos padres da
extincta companhia de Jesus — hoje Seminário Pa-
triarchal. N'este mesmo edifício ha um magnifico
templo, e estão estabelecidas as aulas do Lyceu
Nacional. — é tudo digno de ver-se.
Igreja de Nossa Senhora da Piedade no edifício
do extincto convento da Piedade, cuja igreja é de
exquisita architectura.
17.° — Edifício dos extinctos conventos da Trin-
dade e S. Francisco, hoje constituem ambos o quar-
tel de cavallaria n.° 4 — Junto da igreja d'este ul-
timo ha uma capella onde está o tumulo de D.
Duarte de Menezes, obra de delicada archite-
ctura.
18.° — Alto do oiteiro de S. Bento, óptimo e en-
cantador ponto de vista que domina até grande ex-
tensão, e d'onde se ?ô a estação do caminho de
ferro na Assacaia do Bairro da Ribeira.
iV.B. O viajante desce em seguida á calçada de
Santa Clara, e lá vae outra vez para a estação do
caminho de ferro na Ribeira, afim de ser condu-
zido n'um wagon até onde l/ie parecer ou lhe con-
vier, e sempre se lembrará com indisivcl saudade
dos encantadores e surprehendcntes pontos de vista
que gatou Ha antiga scalabis.
220 NOVO GUIA
BATALH4
O brasão da architectura gothica em Portugal, e
o mais singular entre os edifícios grandiosos das
Hespanhas, é o real mosteiro de Santa Maria da Vi-
ctoria, chamado vulgarmente da Batalha. É o pa-
drão magnifico levantado á honra da religião, ao
valor portuguez, e á independência e gloria nacio-
nal pelo defensor da pátria, o monarcha cavalleiro,
D. João, o primeiro do nome, e o decimo na serie
dos nossos reis. Objecto de vangloria para os por-
tuguezes e de assombro para os estrangeiros, me-
receu que o descrevesse a elegante penna de fr.
Luiz de Sousa, e d'essa descripção copiamos o se-
guinte :
« Da parte de fora da egreja ha duas estradas,
uma que faz a porta principal, e outra a travessa,
que toma o topo do cruzeiro fronteiro ao altar de
Jesus... O portal e o frontispicio da principal me-
recia só um livro pela qualidade da obra, se hou-
véramos de particularisar tudo o que n'ella ha de
columnas, de figuras, de lavores e variedades de
feitios, desde a primeira pedra que descobre sobre
a terra até o remate, que levanta grande altura so-
bre a maior aboboda. Porque cada palmo tem tanto
que ver de delicadeza e artificio, de trabalho e ma-
gestade, que considerado com attenção impossibi-
lita o engenho, e embota a penna, para o declarar-
mos e se entender com todas suas partes. Só um
DO VIAJANTE 221
espelho, que se abre no alto em meio do frontis-
pício, para dar luz dentro, parece que se não podia
obrar com mais subtileza e cuidado em trancinhas
de agulha ou em lavor de cera, ou no espelho de
uma viola : e quadra-lhe bem esta ultima compara-
ção pela forma circular e redonda, e pela represen-
tação e miudeza de feitio. Os vãos que na viola fi-
cam abertos para dar logar ás vozes, que forma no
interior, ficaram cá cerradas de vidraças... debuxa-
das todas de cores finas e pinturas varias de armas
e devisas do reino, de tenções e emprezas de el-rei.
E como são muitos os vãos porque o circulo é muito
dilatado, communica dentro muita claridade, e pega
com a graça das cores o que ellas lhe diminuem na
pureza da lua. Mas faz pasmar a firmeza com que
se mantém obra tão miúda tantos annos ha em lo-
gar tão alto. Não espanta menos firmeza, numero,
e grandeza de outras vidraças que dão luz á egreja
e cruzeiro. Só no corpo da egreja abrem 30 fres-
tas, todas tão rasgadas de alto a baixo, e ao res-
peito e proporção tão largas que, em noite clara,
sendo a casa tão descompassada de grande... e a
luz das vidraças em parte embotada com a pintura
e cores..., pode-se estar n'ella não só sem pavor,
mas como em meio de uma praça. NIo será desa-
gradável declararmos a medida de algumas que fi-
zemos tomar, para credito do que dizemos, por mão
do architecto. No alto da nave do meio ha 16 frestas,
a 8 por banda, que sobem 18 palmos até os capi-
222 NOVO GUIA
teis, e tem de largura 9, dividida cada uma com 2
pilares, de grossura de um palmo cada pilar, para
firmeza das vidraças. Assim ficam em cada fresta 7
palmos de vidro e luz, que, multiplicados pelos 18
de altura, fazem 126. As duas naves teem ambas 12
frestas: 4 do sul, em que fica encostada a capella do
fundador; e 8 a contraria. Cada fresta 22 palmos de
alto e 7f/« de largo. E porque também são divididas
a 2 pilares de grossura de pa.lmo, como as da nave
do meio, ficam com 54/a palmos de vidro, e vem a
ter cada fresta por esta conta 121 palmos de aber-
tura e luz, e outras tantas de vidraça. Da mesma al-
tura e largura d'estas ha outras duas frestas, que
acompanham a porta principal, uma de cada lado,
e fazem o numero que dizemos de 30. E vem a
ser uma tamanha quantidade de vidraças, que por
cousa prodigiosa se pode ter entre as que mais es-
pantam d'esta casa. Ajudam a claridade outras três
no cruzeiro, das quaes só uma que fica sobre a
porta travessa sobe 42 palmos, e tem de largo 14 ;
lavrada toda de uma artificiosa rede de pedraria, e
os vãos tomados de suas vidraças. Estas com as
da capella-mór e collateraes, afora o espelho do fron-
tispício da porta principal, que allumia por muitas,
fazem a casa por extremo alegre e muito clara e
bem assombreada. O que me faz cuidar que sendo
assim que n'esta mesma conjuncção teve também
principio o famoso templo da sé de Milão (chamam-
lhe lá il Domo) o qual se começou a fabricar em
DO VIAJANTE 223
vida do pontífice Urbano vi, que presidiu na egreja
de Deus li annos até o de 1389, e ficou com taxa
de escuro e melancólico ; deviam esmerar-se os ar-
chi tectos d'este nosso em a fazer por contraposição
em todo o extremo claro e bem assombreado. De-
fendem os milanezes e seus artífices, attribuindo a
conselho e bom juiso o que foi defeito e culpa ; e
dizem que como geralmente é havido por mais grave
e de mais pessoa o homem carregado e feio, as-
sim faz mais devoção a igreja sombria e escura.
Mas não me convencem, porque dado que o argu-
mento seja verdadeiro quanto aos homens : aos tem-
plos, que são retrato do céo, e assento da luz eterna
não parece razão haver nenhum commercio com o
horror das trevas. E tornando á historia, estão es-
tas vidraças todas tão fortes no assento, tão crys-
tallinas na vista, e tão vivas nas cores, que pas-
sando já de duzentos annos que servem,, parecem
na representação obra moderna.
Cobre-se esta igreja e abobada, que já dissemos
era de pedraria, com um telhado também de pe-
draria, composto de umas grandes lage.as direitas
e adelgaçadas em corpo e grossura, que ficam ar-
remedando uns meios taboôes grossos; e come-
çando a assentar na parte inferior umas, e sobre-
pondo outras até o alto, fica armado um telhado
immortal, que sofre sem damno e sem perigo ser
passeado e corrigido; e para as immundicies que
os longos annos fazem crescer se varre e alimpa á
224 NOVO GUIA
vassoura. Cerca-o em roda uma grinalda de pedra-
ria formada em laços, e seus florões altos a espa-
ços, com que fica como coroado, e de toda a mais
obra do alto differençado.
Para se poder ver e gosar esta grande machina
toda por junto, ha duas serventias, que do baixo da
igreja levam ao mais alto do telhado d'ella: estas
sâo abertas na grossura do muro do cruzeiro, en-
trando pela porta travessa á mão esquerda, e fica
uma junto da porta, outra junto ao altar de Jesus :
ambas vão em caracol e com 120 degraus, que tem
cada uma, vencem a maior altura. Mas além des-
tas ha outra subida por dentro do convento fácil e
suave por escadas largas e bem lançadas : e recebe
a vista particular deleitação, estendendo-se de cima
por uma serra de penedia, que das serras ordiná-
rias não differe em mais que em ser esta lavrada
e polida á força da arte, e as outras informes e
descompostas e ao natural : nas quaes assim como
ha desegualdades, ora com valles fundos, ora com
picos e rochedos que se vão ás nuvens; da mesma
maneira se vêem n'esta suas differenças: porque
em umas partes se levanta a penedia, como na
igreja, em outras abate, como no refeitório, capi-
tulo e adega : logo por outra parte sobem coruchéus
mui altos, e de obra tão espantosa que egualando
as da natureza na eminência, deixam-na muito atraz
no que é artificio; porque vão fabricados por tal
ordem que dão fácil subida ao alto ; mas não sem
DO VIAJANTE 225
medo, pelo muito que alevantam. D'estes ha três,
um que fica sobre o zimbório da capella do funda-
dor, fazendo-lhe uma forma de pavilhão ; com o faz
o zimbório á mesma capella, e é por extremo for-
moso, porque sobe pyramidalmente 50 palmos, e
leva uma sacada em roda de 4 palmos de praça,
guarnecida de seu parapeito lavrado em rede, e
coroado de umas metas como flores de liz, o que
tudo junto faz uma machina muito crespa e vis-
tosa. Outro tem seu nascimento quasi sobre a casa
que chamam da prata, entre a crasta e sachristia,
e tem de altura 63 palmos. Não faz menos repre-
sentarão de grandeza a torre dos sinos e relógio,
conformando n'ella com tudo o mais do edifício. »
Longo seria enumerar n'um Guia, todas as bel-
lezas d'este admirável monumento, e por isso, fi-
nalizaremos com a descrípção dos túmulos reaes e
particulares que existem no real mosteiro da Ba-
talha.
Á entrada da porta principal, ao fundo da escada
está a sepultura do quinto architecto Matheus Fer-
nandes, (que no tempo de El-Rei D. Manuel foi o
mestre da capella imperfeita) está com sua mulher
Isabel Guilherme, e o licenciado Miguel Henriques,
sua mulher Antónia de Vivar, e suas filhas. Tem
na campa dois craneos esculpidos, cada um com
sua epigraphe em letra gothica, a da parte de cima,
d\z = vós outros fjNP passaes, a Deus por nós ro-
15
226 NOVO GUIA
gae = e a de baixo diz = não deixeis de bem fazer
porque assim haveis de ser.
Ao lado direito, pegada á parede da capella real,
está uma grande campa inteira, lavrada, que cobre
a sepultura de Diogo Gonçalves de Travassos, va-
rão que devia ser de raras qualidades, visto que o
sábio infante D. Pedro, duque de Coimbra, o tinha
feito aio de seus filhos, e regedor de suas terras.
Á porta da capella real está uma campa de pedra
liza, que cobre a sepultura de um soldado do ba-
talhão dos namorados, homem muito valente, e que
foi inseparável de el-rei, na batalha de Aljubarrota,
defendendo-o de seus inimigos, corajosamente, sem-
pre a seu lado.
No meio da capella real está uma grande campa,
inteira, de mármore branco, dentro da qual se ac-
commodam ambos os moimentos de el-rei D. João i
e da rainha sua mulher a senhora D. Filippa, filha
do duque de Alemcastre, ingleza, tem na orla do tu-
mulo a legenda em letra gothica ; do lado do rei,
diz — par bien — e do lado da rainha diz — il me
plait. Nas duas faces lateraes e maiores da caixa
se acham esculpidos em letra alemão minúscula os
dois extensos epitaphios de el-rei e da rainha. Na
face do poente que é a cabeceira do tumulo estava
em relevo a cruz da ordem da jarrateira, circulada
da liga com a sua letra — honny soit qui mal y
pense — de que ainda se vê uma parte, porque o
resto foi destruído pelos soldados francezes que
DO VIAJANTE 227
n'este mesmo logar abriram um rombo. Sobre o
o monumento estão em relevo inteiro os vultos de
el-rei e da rainha, ambos com coroa real e guar-
dadas as cabeças por dois torreões de mármore,
gentilmente lavrados, em cujas summidades da
parte de fora, se vêem respectivamente os seus
escudos de armas. O do sr. D. João i tem as qui-
nas direitas, assentadas sobre a cruz de Aviz dos
castellos. e a coroa real. O da sr.a D. Filippa é
partido em dois, tendo á direita o escudo das ar-
mas de seu marido, e á esquerda o seu próprio
brazão, que é esquartelado, e tem nos lados res-
pectivamente oppostos os leões e as flores de liz.
No primeiro tumulo do lado do poente está o
infante D. Pedro duque de Coimbra, tão sábio
quanto infeliz, que regeu o reino na menoridade
de seu sobrinho AíTonso v, e veiu acabar desgra-
çadamente na infausta batalha da Alfarrobeira. A
par da caixa do seu tumulo, para a parte interior
do arco está outra com as cinzas de sua mulher
D. lzabel filha do conde de Urgel D. Jayme, tem
na orla do tumulo em letra gothica a legenda —
de zil— segunda filha de el-rei D. João i.
Segue-se no segundo arco, o mausuleo do cele-
bre infante D. Henrique, duque de Vizeu, nome
immortal para a historia da navegação : tem hm
orla do tumulo, em letra gothica, a legenda — Ta-
lant d<> bien feer — terceiro filho de el-rei D. João.
O terceiro tumulo indo para o poente é do in-
228 NOVO GUIA
fante D. João mestre da ordem de Santiago e con-
destavel do reino, que teve por mulher sua sobri-
nha D. Izabel filha de D. Affonso conde de Bar-
cellos, 1.° duque de Bragança, e neto do grande
D. Nuno Alves Pereira. A direita do tumulo de seu
esposo está o jazigo d'esta senhora, a letra da di-
visa D. João, na orla do tumulo em caracter go-
thico, diz — fai bien raison — 4.° filho de D. João i.
No quarto monumento do lado do nascente re-
pousam as venerandas cinzas do infante santo D.
Fernando, mestre que foi da ordem de Aviz, exem-
plar de resignação christã, e de todas as virtudes.
Morreu captivo em Fez, sendo as suas relíquias
remidas das mãos dos infiéis, e trazidas a este
reino no tempo de D. Affonso v sobrinho do in-
fante—5.° filho de D. João i.
Na capella que está pegada á porta travessa, a
qual tem o altar de mármore branco lavrado de
mosaico, com o retábulo da mesma obra, cuja ca-
pella el-rei D. João i doou a D. Lopo Dias de Sou-
sa, valeroso mestre da ordem de Ghristo, o qual
dizem que está na mesma capella, no tumulo de
mármore branco. No grosso da parede d'esta ca-
pella ha um arco, e dentro se levanta o bello e
magnifico mausoleo de Diogo Lopes de Sousa, con-
de de Miranda e 4.° regedor da relação do Porto,
obra de mosaico em mármore preto ; assenta so-
bre três leões de bella escultura, cujas mãos re-
pousam sobre uns ouvados de mármore, preto, e
DO VIAJANTE 229
tem por cima do mausoleo o escudo das armas
d'esta illustre família, e a coroa ducal (o que já
nâo existe porque os soldados francezes na inva-
são de 1810 o estragaram); é d'esta família que
descende a casa do duque de Lafões.
Na capella do lado da Epistola, está o tumulo
de madeira de D. João n, onde por mais de 300
annos se conservou inteiro o corpo d'este sobera-
no. Quando em 1810 o exercito francez invadiu o
reino, a soldadesca desenfreada violou o sagrado
dos túmulos, e apenas de entre as ruinas se pode-
ram depois salvar os restos informes do corpo do
monarcha, que os religiosos de novo encerraram
no antigo deposito que mandaram reformar.
Na capella-mór junto ao supedaneo do altar,
embutida nos degraus do mesmo, está uma arca
de mármore com dois vultos da mesma pedra em
cima, que figuram el-rei D. Duarte, e a rainha D.
Leonor sua mulher, com uma inscripção, latina,
cuja traducção é a seguinte — Aqui jazem Duarte i
Rei de Portugal e Algarves, e a Rainha Leonor
sua mulher.
Na capella do lado do Evangelho está um tu-
mulo pequeno de mármore branco lavrado por to-
das as faces de flores em relevo, e em cada face
o escudo das armas reaes assentadas sobre a cruz
de Aviz. Dizem ser do príncipe D. João filho de
D. Affonso v e da rainha D. Izabel, que morreu
sendo menino.
230 NOVO GUIA
O tumulo que está próximo á sachristia, dizem
ser de um cardeal da casa do duque de Aveiro.
Na casa da capella estão dois túmulos de ma-
deira, no da direita está D. Affonso v e a rainha
D. Izabel sua mulher, no da esquerda está o prin-
cipe D. Affonso, filho de D. João 11, herdeiro da co-
roa, que morreu caindo de um cavallo nas margens
do Tejo, junto a Santarém, contando apenas deze-
seis annos de edade, e sete mezes de casado.
COIMBRA
Coimbra está fundada no coração da monarchia,
servindo de remate á coroa da Europa, que é Por-
tugal. Esta cidade estava antigamente no sitio onde
hoje se encontram as minas de Gondeixa-a- Velha,
e esteve subjeita por largo tempo ao império ro-
mano.
A Universidade de Coimbra é o primeiro objecto
que atrae os olhos, com a sua magestosa torre, e
com o observatório, que coroam aquelle monte de
casas.
É edifício importante e por isso revistado por
todos que passam por esta bonita cidade.
Á direita do Campo de Santa Clara está a cha-
mada quinta das Lagrimas. Este nome só por si é
bastante para fazer bater o coração e dispertar a
DO VIAJANTE 231
curiosidade. O velho palácio d'esta quinta foi o
theatro d'aquella poética catastrophe, tão bem can-
tada pelo immortal Camões.
No fim da quinta das Lagrimas, fica a fonte dos
amores, monumento eterno da desgraça de D. Ignez
de Castro.
O aspecto melancholico dos cedros, sentinellas
mudas aquém a natureza confiou a guarda d'esta
fonte ; o escuro da rocha, a doçura com que insen-
sivelmente correm as aguas, tudo insinua na alma
o grande segredo da melancholia.
Junto a esta fonte ha uma tosca lapide onde se
lêem os formosos e sentidos versos com que Ca-
mões immortalisou aquelle manancial.
Esta quinta é hoje propriedade de um íoglez
abastado.
Das ruinas do mosteiro de Santa Clara, hoje
somente existe os restos da egreja para os quaes
está apontando o dedo do tempo, como para o ter-
rível desengano de que tudo acaba no mundo.
O templo está submergido no areal e as suas
columnas estão sepultadas até aos capiteis. Da ca-
pella-mór apenas existe o arco grande; sumiu-se o
altar e o retábulo serve de entrada.
O novo mosteiro de Santa Clara foi edificado em
I(H9 no monte da Esperança, tí grandioso edifício,
e está situado fronteiro a Coimbra, olhando para o
oriente.
O convento tem dois vistosos mirantes, cada um
232 NOVO GUIA
na sua extremidade. O templo é vasto e magestoso,
sendo a sua architectura no estylo romano. Os re-
tábulos dos altares são todos de meio-relevo, dando
a conhecer este edifício pela magestade e grandeza
que respira, ser obra real.
Na capella-mór está depositado o soberbo ataúde
de prata que mandou fazer á Rainha Santa Isabel,
esposa de D. Diniz, o bispo de Coimbra D. Affonso
de Gastello Branco.
A ponte é um dos logares mais apraziveis e vis-
tosos de Coimbra. A mansidão com que correm as
aguas, os salgueiros, os alamos que lhe guarnecem
as margens, debruçando-se sobre a sua corrente,
como quem se está mirando no espelho límpido
das aguas ; as quintas da Boa Vista, das Cannas,
das Lagrimas e da Alegria, que alvejam ao longe
por entre os frondozos olivaes ; os cyprestes que
simelham pyramides e obeliscos ; a torre de Santa
Cruz que se ergue das ameias da cidade ; os sum-
ptuosos edifícios de S. Bento, de S. José, dos Ma-
riannos, e o Seminário do Bispo, que coroam, cada
um o seu outeiro; emíim os barcos que correm
pelo rio em todas as direcções, offerecem aos olhos
um quadro que eleva os sentidos e que se nâo
pode desenhar com o pincel.
O Mondego tem a gloria de conservar o seu
nome desde a serra da Estrella, onde nasce, até á
villa da Figueira, d'onde se precipita no seio do
Atlântico.
DO VIAJANTE 233
Este rio das Musas não foi privado d'essas so-
berbas heranças que a natureza deixou aos seus
grandes filhos da Ásia e da America. O nosso Mon-
dego possue também areias de oiro, e é sem du-
vida o rio mais rico e formoso que banha o nosso
território; é todo portuguez, porque nasce em Por-
tugal, e n'elle se entrega ao Oceano.
O Mondego na primavera e no verão passa hu-
mildemente por baixo da ponte, espreguiçando-se
por cima das áreas, que parecem campos de oiro;
todavia na estação das tempestades enche-se de so-
berba e arrogância e invade os campos, estraga
hortas, inunda as quintas, derrota as arvores, e
leva em suas aguas triumphantes os despojos das
terras assoladas. Muitas vezes salta por cima da
ponte, e d'alli continua entre estragos e minas, até
ir sepultar-se nas praias do Oceano.
A Sé velha, esta cathedral gothica é em tudo
original, única na architectura e única na edade,
pois é um representante do império dos godos,
que ainda resta na corte estrangeira depois de extin-
cta a sua nação.
Este mahometano convertido ao christianismo,
como outros, é o Adão e o patriarcha de todos os
edifícios de Coimbra.
ks suas paredes construídas todas de cantaria,
vistas exteriormente parecem mais as muralhas de
um castello, que as faces de mu templo. O edifício
é quadrado, tem um arco sobre a porta principal
234 NOVO GUIA
com uma tribuna em cima, debaixo de outro arco
de igual feitio e com grades de pedra. Além d'esta
não tem mais janellas algumas, porém somente es-
treitas frestas. Não tem torres, nem remate algum,
porque se reconheça ser cathedral de christãos ;
apenas se vê sobre a cúpula uma pequena cruz de
ferro.
Ao lado esquerdo do templo fica outra porta
também com um arco de mármore lavrado em re-
levo ; é cercado por uma silva de flores mimosas,
e por isto se conhece o quanto gostavam os archi-
tectos godos das miudezas e ornatos exquisitos,
tanto nas gravuras de oiro e prata, como nas de
pedra.
De uma e outra parte do arco, sobre o qual está
outra varanda com quatro pequenas colnmnas, que
lhe sustentam a abobada, está uma capellinha tam-
bém de mármore : n'uma fica a imagem de S. João,
n'outra a de S. Zacharias; é o pae e o filho, que
estão de sentinella á porta do templo.
A prespectiva da egreja vista de noite causa um
terror magestoso a quem a contempla ; porque o
escuro das cantarias, e ervas que nascem pelas suas
juntas, dão-lhe uma apparencia d'aquelles castellos
de génios e fadas, de que tanto se falia nas histo-
rias de cavallaria.
Junto ao Museu está um espesso bosque de lou-
reiros de uma decrépita velhice. Uma antiga tra-
dicção faz anterior a sua origem ao estabelecimento
DO VIAJANTE 235
da companhia de Jesus n'esta cidade. Estas arvo-
res, como os velhos pães, que sobrevivem a seus
filhos, viram nascer e acabar esta família de sábios.
Poucas pedras restam já do Castello de Coimbra,
cuja origem se perde na noite dos séculos, e que
o theatro glorioso da acção mais heróica da fideli-
dade portugueza que tanto renome deu a Martim
ás Freitas, seu governador e alcaide, cujo facto é
bem conhecido na historia de Portugal.
Mais algum tempo e estas relíquias da antigui-
dade deixarão de existir, e de recordar ao viajante
as nossas gaandezas passadas.
Do alto do penedo da Saudade destaca-se aos
olhos um formoso panorama. Que perspectiva tão
vasta, que espectáculo tão bello ! Como é formoso
o valle das Oliveiras que se estende aos pés do pe-
nedo!
Aos pés de um outeiro, junto da quinta do Ci-
dral, está um viçoso e fragrante bosque de laran-
geiras. A pouca distancia rebenta a fonte do Cidra]
que leva aos campos visinhos a abundância e a pu-
reza de suas aguas.
O Convento de Santo António dos Olivaes fica na
despedida de um monte a pouca distancia de Coim-
bra. A paragem é encantadora pela vista dilatada
do que alcançam os olhos. Daqui se avista o Mon-
dego, uma légua depois de ter já passado pelas
ameias da cidade. D'aqui se descobrem soberbas
montanhas.
236 NOVO GUIA
A rainha D. Urraca foi quem deu este sitio e a
ermida de Santo Antão aos filhos da pobreza. As ar-
vores da paz, que abrigam esta solidão, deram-lhe
o nome de Santo António dos Olivaes, que ainda
hoje conserva.
Na visinhança do Convento de Cellas fica entre
um olival uma pequena ermida, que vista de longe
parecer vir para nós, levantando a torre e a cruz
acima das pontas das arvores.
É tradição que alii fora sacrificada n'uma cruz a
virgem do bosque.
Todo,s os annos no fim da primavera vem enra-
mar de flores os habitantes da cidade esta ermida,
theatro de tão doloroso martyrio. Santa Comba é
ornada com grinaldas de rosas, e estes tributos
puros e innocente são o emblema da castidade da
virgem, e da coroa immortal que recebeu no céo.
O palácio do infante D. João ainda existe, ainda
está de pé aquelle gothico edifício que foi o thea-
tro da morte da infeliz D. Maria Telles de Mene-
zes, victima da perfídia de sua irmã, a rainha
D. Leonor. O Aqueduto de S. Sebastião passa em
frente do Jardim botânico, e é sustentado por vinte
e um arcos de grande altura ; reputa-se uma das
maravilhas da cidade de Coimbra.
No reinado do rei D. Sebastião é que se levan-
tou este magestoso edifício, não sem grande resis-
tência dos cónegos de Santa Cruz, a quem foram
tiradas as fontes que para elle dão agua.
DO VIAJANTE 237
A população da cidade de Coimbra é pouco no-
tável, e a affluencia dos estudantes á sua Univer-
sidade é que lhe dá a importância que tem.
Em Coimbra ha as seguintes hospedarias :
Hotel do Paço do Conde. — Rua da mesma deno-
minação.
Hotel do caminho de ferro. — Rua do Visconde
da Luz, 8.
Hotel Mondego.
Novo Hotel Central.
O limitado espaço de uma guia não dá logar a
longas descripções e por isso iremos avante até ao
Bussaco, essa agradável floresta tão frequentada
hoje por todas as pessoas de verdadeiro gosto.
BUSSACO
É do chronista carmelitano Fr. João do Sacra-
mento a descripção que em seguida damos.
Depois da serra de Cintra, não lia outra em P
tugal mais afamada pela escripta e pela pintara,
que a de Bussaco.
Escriptores e artistas, prosadores e poeta-, pin-
tores e gravadores, assim nacionaes como estran-
geiros, se teem inspirado da magnificência d'aquella
grandiosa paizagem, e reproduzido em paginas bri-
lhantes, cm painéis famosos, esta maravilha da
nossa terra.
238
NOVO GUIA
Os começos do convento do Bussaco remontam
apenas ao meado do século xvn. Singelamente no-
los conta o chronista fr. João do Sacramento. Diz
elle, que andando o provincial da ordem dos car-
melitas descalços, e em busca de sitio deserto, para
fundar uma casa eremitica para os seus frades, suc-
cedera ir um d'elles visitar o bispo conde de Coim-
bra, D. João Manuel a quem communicára o in-
tento. 0 prelado como de súbito, respondeu : —
« Tenho eu na serra de Luso umas mattas e terras
a que chamam Bussaco ; se ao padre provincial lhe
parecera mandal-as ver, e lhe forem de seu agrado,
dera-as eu de boa vontade á relegião, pelo inte-
resse de ter no meu bispado um convento tão único
e observante. Avise o padre reitor ao padre pro-
vincial que as mande ver, que pôde ser lhe sirvam,
e se evitem com maiores conveniências, os reboli-
ços da serra de Cintra. » Era n'esta que elles ti-
nham posto a mira, antes de terem noticia do Bus-
saco.
Foi logo este padre dar, com alvoroço, tão boa
nova ao seu provincial, e ambos com outros rele-
giosos e sendo um d'elles architecto, se foram a
inspeccionar o sitio.
Subindo todos á serra, viram em Bussaco tanta
variedade de arvores, abundância de fontes, formo-
sura de valles, e eminência de montes, que, alem
de summamente pagos do que viram se admira-
vam por extremo de que a benigna e soberana Pro-
DO VIAJANTE 239
vidência houvesse reservado para ermo da sua or-
dem aquelle sitio, que julgavam pela oitava mara-
vilha do mundo.
Veio depois o padre geral, e não menos agra-
dado e admirado do sitio, disse para os compa-
nheiros com devota alegria : — « Aqui é vontade de
Deus que se funde ; murem este sitio, que tem
n'elle o melhor deserto da ordem. Porque, se agora
inculto, rudo e tosco, é o que admiramos, cultivado
será um paraizo terreal. »
Dados os agradecimentos ao bispo conde, tratou
este logo de reduzir a doação a publica forma.
Como, porém, esta propriedade era da mitra,
não se podia doar pura e simplesmente, só por
subrogação se permittia alienar, nos termos do di-
reito canónico e civil. Foi, por tanto, avaliado o
Bussaco em 180^000, por ser infructifero e de
pouco rendimento (diz a licença regia) comprando
o bispo outros bens no valor de 187#000 reis,
para encorporar nos da mitra em logar do Bus-
saco. D'este contracto se fez escriptura em 1 1 de
maio de 1628.
Trataram logo os frades de edificar no alto da
serra o seu convento, a que se lançou a primeira
pedra no dia 7 de agosto do mesmo anno, com a
invocação de mosteiro de Santa Cruz.
Está Bussaco situado na vistosa, altíssima e
verde serra que uns chamam de Luso, outros de
Carvalho, e alguns do Cântaro, por se não expres-
240 NOVO GUIA
sar bem cora um singelo appellido, e quasi neces-
citar de nomes dobrados, todo um monte de ma-
ravilhas.
Diz-se do Cântaro, pela piedosa matrona, que
atravessando em certa occasião a serra, lhe falle-
ceu um criado á sede, por cujo respeito deixou
alli, em perpetua misericórdia, um cântaro de agua
para refrigério dos viandantes.
Chama-se do Carvalho, de uma vilía d'este nome
existente ao pé da mesma serra, que a deu, ou
recebeu da nobre familia d'este appellido, de que
parece ascendente a instituidora da referida pie-
dade, visto ficar a provisão do Cântaro ao cuidado
dos senhores d'esta villa. Intitula-se de Luso, de
uma antiquíssima cidade do mesmo nome, que di-
zem fundara alli a meia descida da serra para a
banda do poente, olhando ao mar, um rio de pró-
prio appellido. Da sua existência parece dar ainda
testemunho um curto logar a que também chamam
Luso ; que os tempos se não tragam reduzem a
pequenas as coisas grandes, os povos a ermos, as
cortes a aldeias.
Nasce a do Bussaco como legitimo e avultado
parto da serra da Estrella ; e desenvolvendo-se li-
geiramente das mantilhas para crescer em grande-
zas próprias levanta o pé bem a vista de Penacova,
defronte do canal por onde no plácido Mondego
entra o caudaloso Alva, tão rico de cabedaes, que
desempanha a fama de serem os rios de Portugal
DO VIAJANTE 241
minas de oiro. Assim gigante se anima a Carreira,
que logo nos primeiros passos despreza, soberba-
mente, subir um a um, contendendo como emulo
das serraniaa mais altas, ser coroa de todos. Ga-
nhando por degraus de três legoas continuadas, de
oriente a poente; assombrosas alturas, se olha no
fim ao espelho do Oceano, quasi vaidosa de ser o
Mondego pequeno christal para o especioso de tão
avultada estatura. Descorre todo este dilatado com-
primento, rompendo para todas as quatro partes da
terra em despenhados precipícios, e quebradas maio-
res de legoa, por entre fragosissimos penhascos,
pelas roturas dos quaes se divisam as agoas cor-
tando profundo valles, quasi murmurando de ver
a serra humilhar os mais elevados cabeços, com
mais presumpção que jurisdicção ; pois nem o au-
ctor da natureza a concede aos grandes para atro-
pellarem os pequenos, nem os superiores a devem
tomar para ultrajarem os inferiores. Completa de
todo a subida, vae a serra parar e descansar no
cume que propriamente se diz Bussaco, o qual
remata uma cruz, que chamavam Alta, em razão
da sua eminência dominar ainda as maiores altu-
ras d'esta serra, e por ventura quantas o reino
Portugal conhece.
O pico ou cume do Bussaco é de sorte elevado,
que descobre grande parte do reino, e (Telle é des-
coberto. Descortina para o oriente a serra da Es-
treita e a de Castello Rodrigo posta em distanc
10
242 NOVO GUIA
de trinta léguas ; para o sul do Minho ; e não fal-
tou já lince que alcançasse ou o presumisse ver
a de Marvão, desviada d'alii quarenta léguas, para
o norte a de Grijó, em distancia de quinze ; e para
todas as partes as cidades, villas, e logares inter-
médios, sitos no território dos sete bispados, Coim-
bra, Leiria, Guarda, Vizeu, Lamego, Porto, Braga.
Para a parte do poente carece a vista de termos
mais que nos limites da própria potencia, porque
sobre as buliçosas ondas do inquieto elemento, se
não descança, limita-se. Vêem-se nos dias claros,
sulcar suas aguas varias embarcações para diffe-
rentes rumos e postos, agradável objecto aos que
de terra o contemplam ; e porventura mais, quan-
do furiosas ou crespas ameaçam algum naufrágio
pela tyranna condição de crescer o gosto do seguro
próprio á vista do perigo alheio.
Estas são as vistas d'esta atalaya do mundo, ou
sentinella do céu, ao longe.
As de perto são taes, que se duvida as possam
os olhos encontrar, egualmente dilatadas e delicio-
sas, na circumferencia do orbe, porque do alto do
Bussaco se devisam muitas e apraziveis serras;
dilatados e viçosos montes ; fertilissimos e amenos
campos, cortados de vários e formosos rios. Avis-
tam-se assim mesmo vários arneiros, prados, bos-
ques e valles retalhados de caudalosas ribeiras,
vestidos todos da verde gala, que a cada um des-
tes bem dispostos corpos talhou o auctor danatu-
DO VIAJANTE 243
reza. Donde vem a parecer que não ha paiz, qua-
dro ou perspectiva, onde o mais licencioso pincel
sobornado do gosto ou do empenho, se occupasse
em bem assombradas delineações, ao valente ou
mimoso, que os horisontes do Bussaco não com-
prehendam ao natural.
De toda esta estendida e formosa planta, colhem
as almas devotas, recolhidas em si mesmas, co-
piosos e importantes fructos de superiores consi-
derações para se moverem ao amor do Omnipo-
tente, que assim dispoz o terreno para habitação,
regalo e commodo de suas creaturas. Nas mesmas
penhas da montanha é grandemente de louvar o
Creador, porque entre ellas se acham jaspes e
mármores tão finos, e de cores tão vivas, que pa-
rece brilharem brutos com o lustro de polidos.
Pelo menos a serem assumptos da industria, ou
matéria da arte, serviriam de credito aos edifícios
como pedras de singular valor na sua esphera.
Mas quem poderá decifrar em números, ou nu-
merar por seus nomes, não já os indivíduos, mas
ainda as espécies de arvores que o auctor da na-
tureza clausurou no recinto do Bussaco ? Alem das
plantas conhecidamente vulgares, se desentrenha
o terreno na producção de lentiscos, azereiros, azi-
vinhos, adernos, espinheiros, cedros, plátanos, ci-
namomos, etc; e com tal feracidade, que a mais
vasta QOticia dVsta frondosa republica o não po-
derá notar de mesquinho na esterilidade de alguma.
244 NOVO GUIA
Descorria em certa occasião o sitio o reveren-
díssimo padre fr. Jeronymo de Seldanha, D. abba-
de geral da ordem de S. Bernardo, acompanhado
do prior actual da casa fr. Paulo do Espirito Santo ;
e notando a fecundidade da natureza na procrea-
ção de tão bastos e diversos arvoredos, a censura
de não produzir alli o teixo, arvore de mais gala
que serventia, e de qualidades tão nocivas, que
dizem ter na sombra antipathia com a saúde, e
ainda com a vida de todos os animaes. Galava-se
o prior á queixosa censura do geral; mas chegando
á fonte que. chamavam Fria, lhe deram a resposta
três plantas da mesma espécie que buscava. Vendo
a satisfação do queixume, e o desvanecimento da
opinião de que era singularidade de Alcobaça pro-
duzir a tal planta, teve de confessar a Bussaco por
um mappa do arvoredo do mundo. Já arruadas
á corda, já em mattas cerradas é tal a multidão
de arvores, que havendo tempestade que prostrou
mil paus dos mais soberbos, não fez ao resto do
vegetal corte sensível, apparecendo depois vestido
como se não fôra roto da tormenta.
Das hervas cheirozas, como legação, madresilva,
trevo real, betonica, e tantas outras que na penna
não cabem, se ornam os estrados, e tecem as al-
catifas dos montes e valles, onde por ostentação
da pompa ou vaidade do caduco de suas verdu-
ras, se tenta a descançar a primavera quasi todo
o anno. As medicinaes, pela qualidade da agua,
DO VIAJANTE
245
terra e ar, são de sorte profícuas á restauração da
saúde, que Grisley, insigne herbolario italiano, em
um tratado que da matéria compoz, afíirma, que
havendo perigrinado a maior parte da europa, en-
contrara na serra de Bussaco quasi todas as her-
vas que descreve Laguna sobre Dioscorides, com
a excellencia de serem vigorosas sobre as que a
herbolaria conhece. O mesmo contesta a pharma-
copólea, signaladamente de Phillipodio; e quando
não cante a victoria, pôde Bussaco jactar-se de
competir, inculto, com os celebres parques, ou
jardins de Pavia e Veneza cultivados para o mesmo
intento e fim. Das flores, já domesticas, já mon-
tesinhas, perpétua caçoila do sitio, iremos semean-
do algumas pelos lugares que descorrermos.
Sustenta-se esta innumeravel família da grande
mãe (como á terra chamavam os antigos), que lhe
dá além de outras aguas, oito fontes perennes. A.
de Nossa Senhora da Expectação, a do glorioso
archanjo S. Miguel, a do nosso patriarcha Elias, a
de nossa madre Santa Thereza, a de S. Silvestre,
a do Carregal, a Fonte Nova, e ultima, rainha das
mais, a que chamam Fria, que temperada de in-
verno escusa neve de verão.
Foi esta fonte obra do bispo conde D. João de
Mello, traçada de forma que, coberta de uma abo-
bada, estribada em um arco aberto, rebocado de
embrexados, tem o nascimento a vista patente, ou
por blasonar de puramento claro, ou por ser tau
246 NOVO GUIA
vistoso, que por entre miúdos sexos, pretos e bran-
cos, sentados em doiradas areias não receia de ap-
parecer ao registo e exame dos olhos. Desce do
lugar da sua origem por um calejão ou parapeito
levantado da terra, entre duas largas escadas por-
tilhões de cantaria, e repuxos abertos nas mesmas
pedras; na descida dos quaes, fervendo as aguas
em túmidos e prateados cachões, causam de uns
em outros tão agradável como buliçosa queda, até
chegarem a uma taça de onze bicas de bronze, sen-
tada no meio de um formoso taboleiro, rematado
tudo em um chuveiro de innumeraveis e quasi im-
perceptíveis desaguadoiros. Baixa d'aquL na mesma
forma, a outros três taboleiros lageados, e che-
gando ao quarto para um chafariz de oito bicas de
bronze, do qual se torna a despenhar por canos
cobertos; a larga distancia se recolhe n'uma gran-
de pia coroada de uma cruz de pedra, acompa-
nhada de duas pyramides da mesma matéria. En-
canada novamente por alguns passos, rebenta em
um espaçoso tanque d'onde, fechada como antes,
vae terminar no beneficio e cultura de um dilatado
pomar, povoado de varias arvores de excellentes
espécies de fructos. Os lados das escadas e divisas
dos taboleiros são ornados de curiosos embrexa-
dos pretos, debuxados em campo branco, que na
obra fazem agradáveis visos sem excederem a mo-
déstia do lugar.
N'esta deliciosa paragem está quasi erecto um
DO VIAJANTE 247
monumento para commemorar a grande batalha
que alli se deu ; consta d'um formoso e imponente
oblisco; rematando por uma bella estreita de
crystal de lindo effeito, obra portugueza e de muito
apreço. As inscripções sâo fundidas com o bronze
d'uma das muitas peças tomadas n'aquelle mesmo
sitio ao exercito francez.
Este monumento é mais um isentivo para cha-
mar ao Bussaco a attençâo, não só dos bons por-
tuguezes, como dos curiosos estrangeiros, que sai-
bam apreciar devidamente o que é bello.
MOEDAS PORTUGUEZAS
Dobrão de oiro 30$000 réis.
Dobra 16&000 »
Meia dobra, ou peça 8#000 »
Meia peça 4$000 »
Coroa de oiro 5$000 »
Meia coroa 2$500 »
Quinto de coroa 1$000 »
Coroa de prata 1$000 »
Meia coroa 500 »
Crusado novo 480 »
Doze vinténs 240 »
Seis vinténs 120 »
Tostão 100 »
Três vinténs 60 »
Meio tostão . 50 »
Pataco de bronze 40 »
Vintém de cobre 20 »
Dez réis 10 »
Cinco réis 5 »
Três réis 3 »
DO VIAJANTE 249
TEM CURSO FORÇADO EM PORTUGAL
Soberanos inglezes de oiro 4£500 réis.
Meios soberanos %yloO »
MOEDAS ESTRANGEIRAS
As moedas que nâo tem curso legal, são troca-
das conforme está o cambio, todavia aqui daremos
uma tabeliã das mais conhecidas moedas estrangei-
ras, com o seu próximo valor em dinheiro portu-
guez.
Hespan bolas
Onça de oiro 14#600 réis.
Meia onça 7?>300 »
Quarto de onça 3;>6o0
Pezo 920
Meio pezo 400
Pezeta 160
Reale de velon 50 »
Reale 40 »
As moedas equivalentes das republicas do Mé-
xico, Chile, Colombo, Peru, Buenos-Ayres. Equa-
dor, e Nova Granada, regulam pelos mesmos va-
lores.
Brasileira*»
Peça de oiro 8/>000 réis-
250 NOVO GUIA
Meia peça 4$000 réis.
Moedas de 40000 4$500 »
Pezo de prata — 920 »
Francesas
Peça 40 francos ' 6$400 »
Napoleão ou Luiz 3$200 »
10 francos em oiro 1$600 »
Piastra de prata 860 »
Peça de 2 francos 320 »
Franco 160 »
30 Sous (moeda antiga) 240 »
15 sous (idem) 120 »
Meio franco 80 »
Quarto de franco 40 »
Quinto de franco 30 »
10 Gentimetros em cobre 15 »
5 Centímetros 71/2 »
1 Centimetro - . 1 '/a »
Inglezas
Libra sterlina 40500 »
Guinéo de oiro — 4$000 »
Meio guinéo 20350 »
Meia libra 20250 »
Coroa de prata 900 »
Meia coroa 450 »
DO VIAJANTE 251
Shilling 180 réis.
Meio shilling 90 »
Terço de shilling 60 j>
Quarto de shilling 45
i
Penny, de cobre 15 >
Meio penny 7 l/t »
Liard ou Farthing 33/4 »
I>os Estados Unidos
Águia de oiro (40 dollars) * 8*5000 »
Meia águia 4£400 *
Pataca de prata 900 »
Meio dollar 450 »
Quarto de dollar 225 •
Decimo de dollar 90 »
Vigessimo de dollar 45
Centessimo de dollar, em cobre ... 9 »
Hollandezas
Florin ou gulden 400 »
Centímetro 4 »
Estas sâo as novas moedas de Hollanda, as an-
tigas trocam-se na mesma proporção.
na Kutssa
Franken da Republica ^240 réis.
Cada cantão tem sua moeda particular.
252 NOVO GUIA
Austríacas
Soberano • 5$600 réis.
Ducado, de oiro 1$920 »
Rixdale, de prata 880 »
Florin 440 »
Holpekopf, (10 kreutzers) 80 »
Prnsnianas
Rixdale ou fhaler •. . . 550 »
RusBtanas
Imperial, de oiro 6$500 »
Meio imperial 3$250 »
Peça de 3 roubles 1$950 »
Rouble, de prata ■ 650 »
Dinamarqaezas
Ghristiano, de oiro , 3$400
Ducado 1$500
Rixdal, de prata 900
Romanas
Pistola, de oiro 2$800 »
Sequim 1$900 »
Meia pistola 1$400 »
DO VIAJANTE 253
Meio sequim í>:;0 réis.
Escudo, de prata 900 »
Napolitanas
Doppia, de oiro 4>000 *
4 ducados 2;>700 »
2 ducados > 1 \:riO »
Ducado real, prata G74 »
1:2 carlins 880 i
Tarim 7*> ■
Turca**
Sequim, de oiro [#Í20 »
Meio sequim 560 o
Rouble ou quarto de sequim 280 »
Piastra 320 ■
~^g^~ — -
PEZOS E MEDIDAS
Portugueza*
COMPARADAS COM O SYSTEMA MÉTRICO DEGJMAL
Pesos
Toneliada — 13!/i quintaes... 7í):í kilograsimas
Quintal — 4 arrobas 58,74 _
Arroba — 22 anateis U,68572
254 NOVO GUIA
Arrátel — 2 marcos 459 grammas.
Libra (de boticário) l'/2 marco — 344,19680
Marco — 8 onças 229,46440
Onça —8 oitavas 28,68305
Oitavas —3 escropulos 3,58538
Escropulo — 24 grãos d, 19513
Grão 5 centigram.
Isto é approximação ; eis-aqui com mais exacti-
dão esses valores, invertendo a ordem precedente.
,, . CO CO CO
«-* • i Valor eí •— cn cq cn
Denominação dos pezos em -g 2 3, ^ ,2
"Rranra em £ g c .5 2
*rança Grammas % j= O 5 »
Quintal métrico 100000— 6 24 14 3 2
Myrigramma 10000— 21 12 5 7
Kilogramma 1000- 2 2 6 17
Hectogramma 100 — 3 3 16
Decagramma 10 — 2 8
Gramma 1 — 20
Decigramma 0,1 — 2
Centigramma 0,01 — —
Milligramma 0.001— —
Medidas
Eis as denominações e valores das medidas fran-
cezas, tomado o metro, o are, e o litro, como uni-
dades de cumprimento, superfície, liquidos e grãos.
DO VIAJASTE 233
Comprimento — Myriametro 10000 M.
Kilometro 1000
Hectometro 100
Decametro 10
Metro 1
Decimetro 0,1
Centimetro 0,01
Millimetro 0,001
Superfície — Hectare 100 A.
Are 1
Centiare 0,01
Líquidos, etc. — Hectolitro 100 L.
Decalitro 10
Litro 1
Decilitro 0,1
Centilitro 0,01
Medidas antigas partuguezas
Légua— 3 milhas Kil. 6,1728
Milha— mil passos » 1,8518
Braça — 2 varas Met. 2,2
Vara— 3,333 pés » 1,1
Pé — 12 polegadas » 0,33
Palmo— 8 polegadas » 0,22
Polegada- 12 linhas d 0,027:;
Linha— 12 pontos » 0,0023
Ponto > 0,0002
Moio— GO alqueires Hect. 8,28
256 NOVO GUIA
Alqueire Hect. 13,8
Quarta » 3,45
Oitava » 1,720
Maquia » 0,8625
Salamin » 0,4312
Tonel~2 pipas '» 8,4750
Pipa— 25 almudes » 4,2375
Almude— 12 canadas Lit. 16,95
Pote — 6 canadas » 8,475
Canadas— 4 quartilhos » 1,4125
Quartilho » 0,3531
FIM
ÍNDICE
DO QUE CONTEM ESTE VOLUME
Introducção 3
Chegada a Lisboa 13
Corpo consular portuguez 14
Hospedarias (hotéis) IN
Bancos de Lisboa 20
Banqueiros 21
Companhias de seguros marítimos e de fogos 22
Classificadores de navios 23
Companhias e estabelecimentos de credito. . . 24
Agencias, associações e companhias 26
Despachantes encartados da alfandega de Lis-
boa 28
Correctores de numero 29
Policia civil de Lisboa 30
Freguezias respectivas a cada um dos bairros
e divisões de policia civil 3!
Estabelecimentos funerários 32
Postos médicos »
Correio 33
Serviço telegraphico nacional 40
Tabelliães de Lisboa i l
Tabeliã permanente dos caminhos de feno por-
17
Pag.
tuguezes , 43
Caminho de ferro do sueste 46
Preços da companhia de carruagens lisbonen-
ses 48
Estabelecimento de carruagens de Campos Jú-
nior 50
Tabeliã dos preços dos trens de aluguer 51
Companhia de carruagens omnibus 52
Hotéis e casas de pasto 53
Botequins ou cafés 54
Photographias 56
Divertimentos particulares 58
Banhos públicos 59
Palácios reaes 67
Paço e quinta das Necessidades , »
Palácio da Bemposta 68
Palácio e quinta de Belém »
Palácio da Ajuda 69
Palácio de Caxias 70
Palácio de Queluz , »
Camarás legislativas 71
Municipalidade * . . »
Ministérios 72
Tribunaes »
Estabelecimentos públicos de educação 73
Escola Polytechnica »
Escola medico-cirurgica 74
Escola de pharmacia »
Instituto agrícola e escola de veterinária. ... »
Aula naval 75
Escola de construcçâo naval »
Escola do exercito »
Aula do commercio »
Conservatório real de Lisboa 75
Aula do museu nacional *
Instituto industrial e commercial de Lisboa. . 70
Aula de geometria e mechanica applicada ás
artes »
Curso superior de lettras 77
Collegio dos aprendizes do arsenal »
Collegio militar »
Academia das Bellas Artes de Lisboa 78
Sociedade promotora das bellas artes 79
Guarnição militar da capital do reino, em tem-
pos normaes 80
Família real portugueza 81
Bairros de Lisboa 82
Jornalismo de Lisboa 83
Typographias 85
Bibliothecas e archivos 86
Sociedades scientificas 89
Museu real »
Museu archeologico 90
Imprensa nacional >
Templos »
Outros edifícios públicos 401
Aqueduto das aguas livres 101
Arsenal do exercito 102
Arsenal da marinha 104
Navios armados e desarmados 105
Alfandega de Lisboa 106
Alfandega municipal 107
Cordoaria »
Casa da moeda 106
Palácio da justiça • »
Quartéis de tropa 109
Pag.
Prisões 109
Cães 110
Aterro da Boa Vista »
Caldeiras Hl
Jardim botânico »
Telegraphia eléctrica 112
Fontes e chafarizes »
Estações dos caminhos de ferro de leste 115
Deposito da companhia das aguas 116
Mercados 117
Matadouro 118
Estabelecimentos úteis »
Hospital nacional e real de S. José »
Hospital da marinha 119
Hospital da Estrellinha »
Hospital de S. Lazaro »
Hospital Veterinário »
Real Casa-pia »
Asylo da Mendicidade 120
Asylo de Maria Pia »
Asylo de Santa Catharina »
Asylo dos filhos dos soldados »
Asylo dos inválidos do trabalho j>
Santa Casa da Misericórdia. ..-.-.., 121
Asylo da infância desvalida »
Instituto vaccinico »
Conselho de saúde publica do reino »
Lyceu nacional de Lisboa »
Quartel general »
Correio geral 122
Procuradoria geral da coroa »
Monte-Pio Geral • »
Observatório astronómico »
Pag.
Localidade das repartições publicas 123
Defesa de Lisboa 126
Castello de S. Jorge »
Torre de S. Vicente de Belém »
Torre velha 127
Torre de S. Julião da Barra »
Torre de S. Lourenço do Bugio 128
População 129
Cemitérios »
Cemitério dos Prazeres »
Cemitério do Alto de S. João 130
Cemitério da Ajuda »
Cemitério de S. Luiz »
Cemitério dos Inglezes »
Cemitério dos Judeus »
Cemitério dos Alemães »
Vai escuro »
Passeios públicos e jardins 131
Passeio Publico »
Jardim de S. Pedro de Alcântara »
Jardim de S. Roque 132
Jardim da Praça do Príncipe Real 133
Jardim da Praça das Flores »
Passeio da Estrella »
Passeio da Junqueira 134
Jardins do Aterro »
Theatros 13;>
Theatro de D. Maria n »
Theatro de S. Carlos 13C
Theatro da Trindade 137
Theatro do Gymnasio ■
Theatro da Rua dos Condes 138
Theatro de Variedades »
Pag
Theatro do Príncipe Real 139
Circos »
Praça do Campo de SanfAnna »
Circo Price »
Praças e ruas mais notáveis, monumentos,
palácios e quintas 140
Praça do Commercio . • 141
Estatua equestre de D. José i 143
Praça de D. Pedro 146
Praça dé Luiz de Camões. 146
Praça da Alegria 147
Praça do Principe Real »
Largo do Pelourinho 148
Praça da Figueira »
Praça dos Romulares »
Largo do Rato 149
Largo das Amoreiras »
Campo de SanfAnna »
Largo do Carmo 150
Praça da Ribeira Nova »
Largo das Necessidades »
Largo do Rarâo de Quintella »
Lapa — Ruenos Ayres 153
Entrada de Lisboa 154
Passeios dentro da cidade 158
Primeiro passeio 159
Segundo passeio 160
Terceiro passeio »
Quarto passeio 161
Outra Randa 162
Cercanias de Lisboa 164
Campo Pequeno 170
Campo Grande »
Pag.
Lumiar 171
Calçada de Carriche »
Odivellas »
Larangeiras 173
Quinta do Lodi 177
Sete Rios »
Campolide »
Bemfica 178
Luz »
Queluz »
Bellas 179
Ramalhâo »
Cintra 180
Palácio real 183
Palácio acastellado da Pena 184
Castello de mouros 187
Convento de Santa Cruz 188
Peninha 189
Penha Longa »
Ruinas de Monserrate 190
Penha Verde 192
Regaleira »
Setiaes 193
Quinta do Marquez de Pombal »
Quinta de D. Caetano »
Palácio e quinta do duque de Saldanha 194
Fonte de Sabuga »
Os Pisões j>
Santa Eufemia »
Hospedarias 195
Collares 198
Mafra 261
Setúbal 208
Pag.
Santarém 211
Coimbra 230
Bussaco 237
Moedas portuguezas 249
Moedas estrangeiras 250
Pesos e medidas 254
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D? ovo guia do viajante em Lisboa
757
1880
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