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Full text of "O fazendeiro do Brazil : melhorado na economia rural dos generos já cultivados, e de outros, que se podem introduzir; e nas fabricas, que lhe são proprias, segundo o melhor, que se tem escrito a este assumpto: debaixo dos auspicios e de ordem de Sua Alteza Real o Principe do Brazil nosso senhor."

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n 


...w*r.. j-r  ■.  'itÇi^í^^ 


OFAZENDEIRO 

D   O     B  R  A   Z   I   L, 

CULTIVAÍ)0R, 

IWtlhorado   na  economia  rural   dos   géneros  já  culti* 
vados ,  e  de  ou  tios ,  que  se  podem  introduzir  j 
e  ftas  fabricas  ,  que  lhe  são  próprias  >  se- 
gundo o  melhor ,  que  se  tem  escri- 
to a  este  assumpto  : 

DEBAIXO     DOiS     AUSPICIO  S, 

E    DE     ORDEM 
DE    SUA     ALTEZA    REAt 

PRINCIPE^^REGE^ÍTE^ 

NOSSO    SENHOR. 

Colligido  de  Memorias  Estrangeiras 

^  POR 

f  R.  JOSÉ  MARIANO  DA  CONCEIÇÃO  VELLOSO, 


TOMO     III. 

BEBIDAS    ALiMENTOSAS. 

PARTE       I. 


....  mérito  hac   una  Satis   arvore  feíix 
Vicenãa  est   regia  -,  Sparsãs  nam  hinc   omniius  Ofis 
Oreis  cpes  trahit  ad  sese. 

KnoWl.  •$.  1^47* 


Ka  OFfICiNA    í>£   ^UiÂQ    TiiAD£>SQ 


Le  Bresil  suffiroit  seul  par  ses  productions  na- 
Curelles  por  porter  le  commerce  du  Portugal  au  plui 
haut  dcgré  de  richesses 

Journel  de  Commerc*  Octohrc  1 7  $  9  p.  }  6. 


Mais  les  Portugais  peuvent  en  conserver  une 
f  artie  considerable  par  la  amelioration  de  Ia  cultu- 
re  de  leur    Colonies 

Idem  Dcccinbre  1 7  5  9  />.  j  9. 


SENHOR. 


s 


Obe  d  Augusta  presença  de  V.  A.  Ré 
a  primeira  'Parte  do  Terceiro  Tomo  do 
Fazendeiro  do  Brazil  y  que  tem  por  ti- 
tulo Bebidas  Alimcntosas,  e  por  objecto 
melhorar  a  cultura  da  preciosa  planta  do 
Café ,  do  seu  perfeito  preparativo  para 
passar  d  Europa  ^  e  igualar  ^  se  não  ex* 
ceder  ,  ao  cultivado  nas  possessões  Africa* 
nas ,  e  Americanas  estrangeiras ,  e  ain* 
da  y  como  se  julga  possivel ,  ao  que  se 
transporta  de  Moca  y  ou  Betelphagi  da 
Arábia  ,  de  cuja  perfeição  parece  estar 
distante  o  nosso. 


a 


As 


As  medidas  tomadas  ^  para  se  conse- 
guir este  per  tendido  fim ,  for  ao  as  de  ex* 
por  nesta  CoIJecção  aos  granjeiros  desta 
planta  tudo ,  o  que  se  tem  escrito  a  este 
respeito ,  pelos  Sábios  das  mesmas  Na* 
foes  possuidoras  das  mencionadas  Colo» 
mas  y  que  procurarão  indagar  a  causa  do 
hastardeamento  do  Café  de  suas  Colo- 
nias ,  e  apontar  aos  seus  cultivadores  os 
meios  mais  opportunos ,  que  a  sua  rcfie  • 
xão  descobrio  ,  para  o  legitimar ,  t  reS' 
tituir  ã  sua  belleza  primitiva ,  assim  no 
cheiro  ,  como  no  sabor.  Taesforao  os  Au' 
thores ,  de  quem  trasladei ,  e  copiei  tw 
do  5  quanto  ajuntei  nesta  Collecção ,  a  sã" 
her :  MM.  Eloy ,  Monereau ,  Fuset  ÍAh- 
hlet ,  Alleon  Dulac ,  o  Abbade  Bosier 
(Francezes).  O  Collector  do  Museum  Rus« 
ticum  &  Commerciale,  Miller  ^  Ed* 
ward  ,  e  os  contidos  no  Tratado  ,  que  es* 
creveo  sobre  o  Café  John  Ellis  j  isto  hc 
Schehaheddin  Beuy  la  Roque  y  Nibeburs  y 

Brown , 


Broivn  ,  FothergiU  ^  MeMUe  5  e  Scott ,  Go» 
vernadores  ^  e  a  de  hum  Mercador  de 
Londres. 

Bem  que  esta  primeira  Parte  fosse 
principiada  antes  da  segunda ,  em  que  se 
traduziu  o  Fazendeiro  do  Café  de  S,  Do- 
mingos de  M.  de  Lahourie  ,  sabe  ao  de- 
pois delia  pela  demora ,  que  houve  na  ac- 
quisição  dos  Authores  mencionados  acima  ; 
por  se  terem  mandado  vir  de  fora  ;  e  ^  por 
não  engrossar  mais  o  volume ,  Jica  para 
huma  terceira  Farte  ^  o  que  escreveo  o  Doti'^ 
tor  Benjamin  Mosseley ,  o  Juthor  do  Com- 
mercê  de  l'  Amerique  par  Marscille  j  a 
continuação  £  Analyse  de  M.  Eloy  ,  e  J. 
C  Rieger ,  Frussiano  ,  e  outros. 

A  importância  deste  objecto  para  & 
commercio  he  tanta ,  quanta  talvez  nao 
acertarei  a  dizer ,  por  me  faltarem  da- 
dos próprios  para  a  poder  calcular  i^  mas 
seguramente  posso  affirmar  ^  fun dando- m^ 
fios  mesmos  Authores  ^  que  copio  e  tras^ 

la'- 


lado  ^  que  ^  apenas  descuherto  na  Ásia  na 
época  ^   em  que  prefixão  o  seu  descobri- 
n:ent0  y  foi    tão  grande   a  sua   acceita- 
ção ,    que  deo  occasiao  a  todas  as  Lides 
jã  politicas ,  jd  Religiosas  que   se  exci- 
tarão entre  os  mesmos  Asiáticos  sobre  o 
seu  uso  5  que  apenas  se  passou  pelos  Ve- 
ficzianos  o  seu  conhecimento  d  Europa ,  es- 
ta o  abraçou  com  tanta  ânsia ,  que  pa- 
recia confiuirem  para  a  Arábia  todas  as 
9  iquezas  y  o  que  obrigou  a  dizer  a  João 
Rayj  d  pouco  mais  de  cem  annos  ^  que  a 
Arábia  não  só  era  feliz ,   mas  felicissi^ 
ma\   pois  com  o  seu  Café  attrahia  im^ 
mensas  riquezas  de  todo  o  mimdo :  inde 
immensx  opes,  ut  fere  totius  orbes  di- 
vitix  in  eo  confluant ;  que  se  faz  incri^ 
zel  o  número  das  casas  de  Cajé  ^  nãofaU 
lando  em  Constantinopla ,  Londres ,  e  Pa- 
rts y  pois  SÓ  em  Berlim ,  por  hum  edicto  Ré* 
gio  y  anda  O  seu  gasto  por  700  para  800  mil 
cócudos  }    e  na  pequena  Cidade  de  Mons 

im 


I* 


em  frança  passa   de  cem  mil  arráteis , 
o  que  se  vende  cio  povo  annualmente  ^  se- 
gundo Eloy  ;  que  as  três  NafÕes  Euro- 
peas,  que  mais  se  empenharão  na  mltU" 
ra  desta  planta ,  forão  oslnglezes  ,  Fran- 
cezes  ,  e  Hollandezes ;  os  primeiros  entre 
estes  esperavão  em  1797  ^  colheita  de  16 
milhões  d'  arráteis ,  e  tinhão  20  mil  es- 
cravos applicados  á  este  trahalho ,  que  he 
18  vezes  mais  do  que  a  colheita  de  178^ y 
e  7  vezes  mais  que  a  do  ultimo  anno  ^ 
e  nos  segundos  andava  a  colheita  em  70 
milhões^  antes  darehellião  dos  escravos '^ 
qite  tendo  estado  na  ultima  década  deste 
século  todas  estas  Colónias  j  cultivadoras 
do  Café  ,  perturbadas  com  a  desastrada 
guerra y  e  ainda  os  mesmos  Árabes^  não 
pode  deixar  de  ser  immenso  o  vão ,  que 
ha   na  Europa  a  encher    deste   género ; 
que ,  sendo  V.  A  R.  Senhor  do  immenso 
paiZy  entre  trópicos^  proauctor  do  Café 
pele  cultura  j   e  de  toda  a  Costa  Orien- 
tal 


tal  á'  Jfrica  ,  onde  nasce  espontaneamen- 
te ^  nenhuma  Na^ao  o  pode  encher  me^ 
Ihor  que  a  Portugucza  ^  sendo  animada 
por  F.  A.  R, 

Deixo  a  outros^    que    tenhao    maior 
ócio ,  averiguar ,  se  hc  verdadeira  a  da- 
ta da  origem  do  Café ,  que  assignalao  os 
Authores  que  copiei ;  ou  se  elle  era  aquelh 
remédio ,  tão  dec amado  por  Homero ,  cha^ 
mado  Nepenthes  ,  de  que  Helena  usava  , 
para  se  alegrar ,  como  refere  Pedro  Petit  j 
ou  o  sueco  preto  ,  que  bebido  os  Lacede-* 
fiwnios ,  como  rejere  Miiralto  ;  ou   o  vi^ 
nho  que  Abigail  apresentou    ao  enfadadty 
David ,  como  pensa  Olau  Celsio ;    ou  as 
favas  torradas ,    com  que  mimoseârão  os- 
Amonitas  ao  mesmo  Rei  fugindo  ao  filho ,  e 
passagem  do  Jordão ,  como  diz  Scheuchzer.. 
Também  deixo  aos  Botânicos  o  exa* 
minar  ,    se  os  novos  Cafés  OccidentaeSy 
descobertos  por  jaquin  nas  Antilhas  ^  e 
Aublet  em  Cayenna ,  e  os  que  julgo  ter 


encontrado  nas  matas  do  Rio  de  Janeiro 
gozão  das  mesmas  propriedades  do  Café 
Oriental. 

Do  mesmo  modo  por  agora  não  apre- 
sento o  pro  e  contra  ^  que  se  tem  escri- 
to sobre  as  suas  propriedades  ,  o  que  pro» 
curarei  fazer  na  terceira  Parte  desta 
Obray  onde  além  das  analyses  chymicas , 
que  se  tem  feito  a  seu  respeito  ^  darei  a 
Flora  y  e  a  Bibliotheca  Cabovetica  de  to» 
dos  os  Authores  em  prosa  ^  e  verso  que  o 
acharão  digno  objecto  dos  aparos  de  suas 
jennas, 

Prosigo  y  SENHOR ,  dizendo  que  plan- 
ta alguma  vence ,  e  sobrepuja  em  Louça- 
nia  a  este  Arábigo  Jasmim  aos  olhos  da 
espectador  j  quer  este  o  contemple  nosver^ 
des  alf obres  dos  dilatados  vergéis ,  repar- 
tidos pelas  avenidas  ou  aléas ,  que  se  en- 
trusão ;  quer  ,  ao  depois  de  colhido  ,  e 
preparado ,  quando  se  apresenta  em  ai* 
gum  dos  seus  ordinários  vehiculos  aos  in^ 

di- 


dividuos  da  natureza  humana  ,    sequiosos 
do  seu  restaurante  gozo. 

Em  quanto  ao  primeiro :  apenas  tem 
recebido  do  seu  criador  hum  tricnnio  de 
cuidados ,  pois  a  mais  senão  estende  a  sua 
mimosa  infância^  cresce  em  elegante  py- 
ramide ,  adornado  sempre  da  verdura  de 
suas  folhas ,  e  mais  de  duas  vezes  no  an- 
no  da  alvura  de  suas  aromáticas  Jlores , 
€  do  encarnado  ,  e  purpúreo  dos  seus  fru* 
et  os  j  que  nascem  rentes  ,  apí7ihadcs ,  pe* 
los  nós   em  torno    dos  mesmos   troncos  e 
ramos.  Os  que  gostão  ajuntar  o  útil  e  o 
agradável ,  ou  o  enlace  de  Flora  com  Fo- 
mona ,    bordão  as  aléas  e  avenidas ,  qu^ 
repartem  os  alinhados ,  e  symetriacos  ai" 
f obres  ,    com  os  cândidos  J  as  mine  ir  os  de 
Itália ,  e  com  as  Roseiras  de  Festo ,  e , 
accrescentando  ao  seu  nativo  aroma  o  per* 
fume  destas  ,  fazem  o  todo  do  seu  ar  am-- 
biente  o  mais  suave  possível. 

Quanto  ao  segundo:  não  he  menor  o 


apparato  ,    e  fausto   com  que   se  osten* 
ta  nas  envernisadas  mezas  ^   e  com  que 
éipparece  entre  os  homens  esta  Alimentosa 
Bebida.  O  illustre  Linné ,  não  com  os  en^ 
feites  oratórios  ,  mas  com  o  seu  rigor  dia- 
léctico os  descreve.  Fasos  dejerroy  aço  ^ 
cobre ,  para  se  preparar ,  cafeteiras ,  lei- 
teiras ,  tenazes ,  colheres  de  prata  ;  ta^ 
fas  de  porcelana  de  Macáo  ,  mezas  enver* 
msadas  ,  toalhas  para  se  apresentar ,  e  con- 
clue  dizendo  ,  que  apenas  bastarão  mil  cru- 
zados  para   se  oferecer  dignamente  esta 
bebida.  E  se  este  liquor  em  razão  de  st 
mesmo  pede  ,   e  demanda  todo  este  faus- 
toso luxo ,  certamente  he  muito  maior ,  o 
que  requer  em  razão  do  lugar  ,  em  que 
deve  ser  offerecido  aos  seus  concurrentcs. 
Espaçosas  salas  j    ornadas   elegantemente 
de  tapeçarias ,  de  grandes  espelhos ,  ri* 
cos  quadros  ,  magnificos  lustres  ,  custosas 
haixéllas  e  serviços ,  em  companhia  do  Chdy 
do  Chocolate^  e  de  muitos  otUros  refile t^ 

cos 


€os  e  bebidas ,  são  condições  que  se  requeb- 
rem. Ainda  isto  não  he  tudo.  Julgarão 
necessário  bancas  de  jogo  ,  Cantores  ^  Ins- 
trumentistas ,  bailadores.  Para  esta  casa 
corria  toda  a  qualidade  de  homens  de  to- 
das  as  jerarquias  ^  de  Lei  ^  de  Letras^  de 
Religião, 

•  lendo  tido  contra  si  todas  as  cias- 
ses  £  homens  piíblicos ,  de  Religião  de 
Policia  ,  e  de  Letras  ;  tendo-se  procurado 
substituir  muitõs  outros  i;egetaes ,  grãos 
nozes ,  amêndoas ,  favas  ,  milho ,  cevada^ 
trigo  5  pão  torrado ,  de  todas  tem  esta  Be- 
bida Alimentos  a  triunfado  não  sopeio  seu 
valor  intrínseco  ,  mas  ainda  pelo  favor  dos 
seus  apaixonados  das  mesmas  classes ,  que  o 
tem  defendido  pro  aris  &  focis. 

Tal  he,  SENHOR,  em  resume,    a 
presente  situação  deste  precioso  vegetal   - 
de  que  eu  tenho  a  honra  de  apresentar  a 
V,  A.R,  neste  tosco  esboço ,  o  que  se  tem 
escrito   a  seu  respeito  ,   fazendo  única- 

tnen- 


mente  pontaria  ao  hera  ,  que  póãe  resul^ 
tar  da  sua  boa  cultura  aos  vassalos  d^en-- 
tretropkos ,  a  quem  V,  A.  R.  anbela  fa- 
zer jelices  j  e  por  consequência  aos  Rei- 
nicolas ,  mediante  o  seu  commercio» 

Com  a  mais  profunda  inclinação  hei-- 
ja  o  suppedaneo  do  Augusto  Throno 


Der.AR. 


o  mâi$  humilde  Vassal® 


Fr.  José  Marlanno  da  Concéfão  Velloso, 


rapsodIíí:  cahovetiCtí: 

tlGATO    ET    SOLUTO    SERMONE 

EX    AUCTORIBUS    DECERPT^. 

Ex  Scrlpíura   Sancta, 

Jt^  Estinavit  igitur  Abigail ,  &  tulit  ducentos  panes , 
&  duos  UTROS  VIM  &  quinque  aríetes  coctos  ,  ôcc, 
1.°  Reg.  Cap.  XXV.  f.  iS.  versionis  Vulgata. 

Cumque  venisset  David  in  Castra  ,  Sobi  filius  Naas 
de  Rabbath  filioriim  Amon  ,  &  Maehir  filius  Ammi- 
hel  deLodabar  &  Eerzellai  Gallaadites  de  Rogelim. 

Obtulerunt  ei  stratoria ,  6c  tapetia  &  vasa  fictilia, 
frumentum  &  hordeum  &  farinam  &  polentam ,  & 
fabam  &  lentem  &  frixum  Cicer. 

Et  mel  &  butyrum  oves  &c.  a.**  Reg.  Cap.  XVII. 
5^.  27  ,  2S  ,  29. 

Ex  Homero, 
Protbus  ergo  in  vinum  misit  medicamen  ,  unde  bibe- 

bant , 
Luctui  irasque  adversum,  malorum  oblivionem  inducês 
Çui  illud  biberit  postquam  crater i  omnium  rnixtumesC 
Non  utique  tota  die  profuderit  lacrymas  per  genas  , 
Neque  si  ei  mortui  fuerint  materque  paterque* 
Neque  si  ei  coram  fratrcm  ,  aut  carum  filium 
Ferro  trucidarent ,  ipse  vero  oculis  videret. 
Talia  Jovis  filia  habebafe  medicamina  utilia 
Bona ,  quje  illi  Polydamna  prsebuerat  Thonis  uxor 
Egyptia  ,  qu*  plurima  producit  feitilis  tsrra 

Medicamina  *  *  * 

Eae 


Ex  Knovies  5^.  1497. 

Arabum  felicibus  oris 

Nascitiir  arbos  okns  5  iUam  coluere  minori 
Indigenaí  haud  cura  ,  cjtiam  quondam  credita  maU 
Hesperidum  referunt  vigilem  observasse  droconcm  ; 
Et  ne  forte  aliis  veniant  satã  semina  terris  , 
>íon  priíis  hasc  ad  nos  mittunt,  quam  flamma  feracci 
Abstulerit  vires,  faccundae  orbarit  &  omni 
■Spe  prolis  ;  róerito  hac  una  satis  arbore  fcJix 
Dicenda  est   Régio ;  Sparsas  nam  hinc  omnibus  oris 
Orbis  opcs  trabit  ad  sese  .... 

Ex  Doctore  Hahernach.  p.  59, 
Viscida  Solvit  Caflfee  ,  pigra  lotia  pellit  . 

Suscitat   &  vigiles  ab.cue  labore    facit. 
Hinc   Ceplialalgiae  viscosas,  coma,  Catarjbi, 

Ebrietas  ,  colicus   pellitur   hocce   dolor. 
Digerit  &  crudam  Stomachis  Languentibus  escam  , 

Pius  juvat  a  pastu  ,  quam  juvat  ante  cibos. 
FIus  quoque   Phlegmaticis ,  et  laxo  corpore  obesis  , 
\c   Quam  calidis ,   macris  ,  mobilibusque  quadrat. 

Ex  Vtinerií  Prjcdlo  Rústico  2\6. 
Vt  medeare  malum  non   est  prxsentius  ulluin 
Auxilium  ,  quam   si   terris  faba  mi^sa  sabxij 
Inrumuit  nitidos  sartagine  tosta  per  i^^nes 
Tritaque    mox   validis  intra  mortana  pilis 
Diluitur  lympha  ,   facilisque  parabilis  arte 
Vulcano  coquitur  j  donec  vas  pulvis  ad  imum 
Venerit ,  &  posito  mansueverit  olluia   motu. 
Fictilibus  rufos  pateris  diffunde  liquorcs. 

Ad- 


3cvtií 


Àdde  peregrina  dukes  ab  arundiíic  suecos  ; 
Ore  sapofe  Cálix  ne  tristia  Loedat  amaro. 

Divinos  aliura  latice^  adhibebis  in  usum ; 
Seu  longas  opus  est    studiis  traducere  ríoctes  ; 
Sive  graves  Capiti  tenebras  induxeric  Auster  ; 
Seu  noeuere  dapes  ;  iJlò  medicamine  vates 
Ingenium  emendet ,  laetusque  infecta  resumaft 
Carmina  j  nec  font^ís  alios  ,  quibus  ora  Poetas 
l^í-oluer int ,  fluxisse  solo  male  credat  Achivo; 

(Cujusdam  Poeta  Persas    , 
Ex  Musaeo  Valentini.) 

Te  Cafc  ,  atra  fácies  ! 

Quid  est  cur  dekctemur  f* 
iV  Venere  ,   quo  venies  j 

Faeis  ut  feriemur. 


Ex  Rúj^  In  Hist,  pimh 
,  ArborArabí»  felicis,  dumtaxat  intra  trópicos.  Jirã* 
'hts  vim  s^minum  veg€t<indi  destruunt  ,  inée  immens^ 
^pes  ,  tit  fefs  oibis  divitiae ,  in  fo  confluant  ,  unde 
llla  pars  Arabum  felkissima.  Fidem  Superat  quod 
3iaill€na  modiolorum  millia  divendant  Turcis  Barba* 
lis  ,  Europaeis.  Mirum  ^  inquit ,  tantum  thesaurum  es- 
•se  unius  gentis  peculium  esse  ,  &  intra  unius  Prô* 
yínciae  angustiai  coerceri.  IVlirum  vicinas  Nationes  ex- 
timulante  invidia  ,  s» ,  avaritia  eas  jam  pridem  norij, 
\ú  vi  depopuhtas  esse ,  seu  semina ,  vel  vivas  rar 

ih 


Xvifl 
dices  dolo  non  surripuisse.  Merum  quam  vigilem  Dra- 
conem  Coavetis  suis  tuendispracficiant  indi^eni.':.  Mi-* 
rum  unius   Regionis   messes ,    lotius   orbis   sufficerc 
expensjs. 

Ex  Amcnii,  Acad.  Lln* 
Sartago  férrea  — pro    ustuhtione    Semi- 

num. 
•—pro  tostorum  Seminum 

comminutione. 
- — operculatiun  prococtione 
—pro  aheno  coquente. 
— pro   cantharo  cálido  ta- 

nendo. 
Cantharus  argenteus — ad  propinandum   d«coc- 

tuiii. 
—pro  lacte  infundendo. 
— Saccharum  subministrans 
— pro  Saccharo  cxcipiendo. 
— Chinensia,  caque  gemina. 


Mola  chalybea 

Ahenum  aeneum 
Tripus  ferrciis 
Carbonarium  ^nevm 


Cantharus  argenteus 
Vasculum  argenteum 
Fórceps  argêntea 
Vascula  murhina 


Cochlearia  argêntea  parva  — pro  Saccharo  miscendo, 
JWensa  rotunda  picta  — Vernice  obducta. 


JWappa  mensalis 
Kepositorium 

Vas  argenteum  maius 


— protegumento  mensac, 
— quod  excipiat  supra  men« 

sam  vascuJa. 
-^pro  lavandis  vasculis, 
'    Cxtera ,  ut  taceam  ,  qux  maxime  necessária  jiidi-* 
cant ,  Ôc  vix  mille  thalerorum  redimantur  pretio. 


Hl  Si 


XI 3Í 


HISTORIA  DO  CAFÉ. 


Copiada ,  da  que  escreveo  em  Inglez  John.' 
EUis. 


A 


ÇTbeHistory  vf  C^fe.) 


Anttga  relâçio  do  Café ,  que  dou  5  foi  ti» 
tada  d'  hum  manuscrip^^o  Arábe ,  que  se  conser- 
va na  Livraria  do  Rei  de  França  em  o  n.°  ^443, 
c  he  da  maneira  seguinte. 

Shehabeddin  Ben ,  hum  escriptôr  Árabe  da 
nona  centúria  da  Hegyra  5  ou  decima  quinta  dog 
Christáos  ,  attribue  a  Gemaleddin  ,  Mufti  d^Aden, 
cerra  Cidade  d*  Arábia  Félix,  que  éra  qussi  seu 
conremporaneo  ,  a  primeira  introducçáo  dâ  bebi-i 
da  do  Café  neste  paiz.  Elle  diz  deste  theor :  que 
Gemaleddin  ,  tendo  tido  occasiáo  de  passar  i 
Pérsia ,  no  tempo  da  sua  detença  ,  vira  algunt 
dos  seus  paisanos  beber  Café  ,  ao  que  então  não 
íinha  dado  attenção,  mas  ,  tendo  voltólf  a  AdcUj, 
c  achando-se  indisposto,  e  lembriido-èê  de  te^ 
visto  aos  paisanos  da  Pérsia  bebererrt'"Café  ;  e 
esperando  de  tirar  â-gum  proveito  desta  bebida  j 
se  resolvera  d  experimentaila  per  si  iríesmo  ,  e^ 
tÇndQ  feito  A  sua  experiência,  não  só  recobrát 


XX 


n  a  sâude  ,  mâs  que  também  percebera  outras 
«qualidades  proveitosas  dcsic  liquor  ,  como  sáo  as 
de  alliviar  as  dores  de  cabeça ,  avivando ,  e  ani- 
mando os  cspiritos ,  e  sem  prejudicar  a  consti- 
tuição ,  precaver  a  somnoíencia ,  ou  peso  da  ca- 
beça. Resolvco-se  então  a  voltar  em  proveito  da 
sua  profissão  Religiosa  esta  ultima  qualidade.  El- 
le  o  tomou,  e  rccommendou  aos  seus  Dervisey, 
ou  Religiosos  Mahometanos  a  dispôrem-se  para 
passar  as  noutcs  cm  oração  ,  e  n'  outros  exerci- 
dos da  sua  Religião ,  com  fer\-or  c  devoção.  O 
exemplo  ,  c  authoridade  do  Mufti  deo  grande 
peso  á  reputação  do  Café.  Sem  perda  de  tempo 
os  homens  de  Letras ,  e  da  Religião  adoptarão 
o  seu  uso.  Os  Negociantes  ,  e  Artistas  lhes  fo- 
rão  no  encalço  pela  necessidade ,  em  que  se  acha- 
vão ,  de  trabalharem  de  noute ,  e  muitas  vezes 
de  viajarem  até  ao  depois  de  sahir  o  Sol.  Pelo 
decurso  do  tempo  se  fez  hum  costume  geral  em 
Aden  5  e  não  só  se  bebia  de  noure  poraquellcs, 
que  as  qUgri|o  passar  dispertos  ,  ou  em  insom- 
nio ,  msr?-.  ta;píi'^bem  de  dia  por  amor  das  suas  ou- 
tras   qualidades  agradáveis. 

O  Author  Árabe  accrescenta  :  que  elle  mes^ 
mo  se  achara  tão  bom  com  a  bebida  do  Café , 
f{m  totalmente   $c  abstivera  do  uso   da  infusão 

a* 


Xxt 


d'  outfâ  herva  ,  chamâdíi  na  suá  linguagem  Cãt^- 
que  talvez  seria  o  Chá  ,  ainda  que  ,  ao  meu  ver, 
o  Auíhor  Árabe  não  nos  dá  fundamento  algum 
para  assim  o  julgarmos. 

Ames  deste  tempo  o  Café  era  muito  pouco 
eonhecido  na  Pérsia  ,   e  também  muito  pouco 
usado  na  Arábia ,   onde   espontaneamente    nasec 
este  arbusto.  Mas ,  conforme  o  Shehabeddin ,  ja: 
de  tempo  immemoriâl  se  bebia  na  Ethiopia. 

Tendo  sido  o  Café  recebido  desta  maneira. 
cm  Aderi ,  se  continuou  o  seu  uso  ,  sem  aígu-: 
ma  inierrupçáo  desde  esta  época ,  €  pouco  a  pou-». 
CO  se  foi  introduzindo  em  todos  os  povos  dos 
seus  arredores  ,  e  muito  pouco  lempo  depois  che- 
gou a  Meca  ,  onde  ,  assim  como  em  Aden  ,  foi 
introduzido  pelos  Dervises  com  o  me&mo  pretex- 
to de  Religião. 

Os  visinhos  de  Meca ,  tendo  sido  os  últi- 
mos 5  for  ao ,  os  que  usarão  sem  relação  alguma 
a  objectos  Religiosos  ,  ou  Litterarios  ;  e  os  que 
poseráo  em  prática  bebello  publicamente  nas  ca- 
sas de  Café,  onde  se  ajuntavão  sem  ordem"  a 
passar  agradavelmente  o  seu  tempo,  fazendo  dis- 
to o  seu  pretexto  :  jogaváo  as  tabolâs ,  e  outras 
espécies  de  jogos ,  e  também  a  dinheiro.  Nestas 
casas  se  divcrtiáo  a  si  próprios  ^  tocando ,  dan.-». 

çan^ 


ç^ndo ,  e  Cantando ,  tudo  pe'o  contrário  dos  cos- 
tumes dos  rijos  A^ahomeranos  ,  aos  quaes  occa- 
Sionáráo   alguns  distúrbios.    Daqui    esre    mesmo 
costume  se  estenJco  a  outros  muicos  lu£ares  d' 
Arábia  ,  c  parricu.armente  a   Medina  ,  e  20  Grá3 
Cairo  no  Egypro^  onde  os  Dervnses  da  Provin- 
cia  de  Yemen  ,  que  viviáo  juntes  cm  hum  dis- 
tricro  ,  beb:£o   Café  ás  noutes  ,  que  devido  passar 
em  craçár.  Eli-s    o   conservaváo    cm  huma  ta- 
lha de  barro  vermelho  ,  e  o  reccb:áo   com  ter- 
nura,  e  devoção  da  mão  do  seu  su}^rior,  o  qual 
lhes  administrava  em  copos  per  si  mesmos.  Em 
pouco  tempo   foráo  imitaJos  por  muitas   pe.soas 
devotas  do  povo  do  Cairo  ,  e  o  seu  exemplo  se- 
guido pelos  estudiosos  :    e  ao  depois  pelo  resto 
do  povo,  de  maneira  que  o  Café  se  fez  huma 
bebida  muito  commum,  assim  nesta  grande  Ci* 
áade ,  como  em  Adea  ,  Meca  ,  Medina  ,    e  nas 
outras  d'  Arábia. 

Mas  peio  decurso  do  tempo  os  rijos  Ma- 
hometanos  principiarão  a  deçapprovar  o  uso  do 
Café  ,  como  occasionador  de  frequentes  desor- 
dens ,  e  por  produzir  effeitos  quasi  semelhantes 
ao  viiho  ,  cuja  bebida  he  contraria  aos  precei* 
tos  de  sua  Religião  j  e  o  Governo  se  vio  por  con- 
«Ç^ueaúa  obrigado  a  interpôr-se ,  e  a  limitar  por 


^Xllf 


vezes  o  seu  uso.  Sem  embargo  disto ,  ella  se  fez 
-ralmente  táo  approvada  que  ao  depois  se  jal« 
g,ou  necessário  prohibillo  inteiramente  para  o  fu- 
turo. 

O  Café  continuou  o  seu  progresso  na  Sy*. 
ria  ,  e  foi  recebido  sem  alguma  opposição  cnt 
Damasco ,  e  Alepo  ,  e  no  anno  de  1 554  reinan- 
do o  grande  Solimáo  ,  hum  Século  ^o  depois 
da  sua  introducção  pelo  Mufti  cm  Aden ,  foi 
conhecido  pelos  Turcos  em  Constantinopla :  nes- 
te tempo  duas  pessoas  particulares ,  cujos  nomes 
eráo  Schems ,  e  Hekin ,  hum  vindo  de  Damas- 
co,  e  o  outro  d'  Alepo  ^  estabeleceo  cada  hum 
delles  a  sui  casa  de  Café  em  Constantinopla  , 
e  o  vendiào  publicamente  em  lugares  prepara- 
dos elegantemente  5  que  foráo  neste  tempo  fre- 
quentados por  homens  de  Letras,  e  particular- 
mente Poetas  5  e  outras  pessoas  ^  que  procuravaa 
divertir-se  com  jogos  de  tabulas  ,  e  damas ;  ou 
travar  amizade ,  e  conhecimento ,  e  a  passar  o 
seu  tempo  agradavelmente  com  módica  des- 
peza. 

As  casas ,   e  assembléas  tiverao  tanta  voga 
Jnsensivwlmente ,  que  f©ráo  frequentadas  por  pes- 
soas de  todas  as  profissões ,  e  também  pelos  of- 
íiciaes  do  Serralho,  Bsxás,   e  Pessoas  da  pri- 
mei- 


fileira  Ordem  desta  Corte.  Apezâr  detudo^quân^ 
do  parecia  que  estava  firmemente  estabelecida  , 
os^  Imans ,  ou  Officiaes  das  mesquitas  se  quei- 
xarão estrondocamente  de  se  verem  es^as  aban- 
donadas ^  e  as  casas  de  Café  atacadas  de  cem- 
panhia.  Os  Derviches ,  e  as  Ordens  Re  igiosas 
murmuraváo  ,  e  os  Pregadores  declamaváo  con- 
tra  ellâs  ,  affirmando  que  era  menor  peccado  if 
a  taberna  que  ir  á  casa  de  Café. 

Ao  depois  de  muitas  altercações  e  porfias , 
os  devotos,  unindo  os  seus  interesses,  conse- 
guirão huma  condemnaçáo  auihentica  do  Café , 
e^  determinarão  apresentar  ao  Mufti  huma  peti- 
ção a  este  fim :  na  qual  avançaváo  que  o  Café 
torrado  era  huma  espécie  de  carvão ,  e  que  ti- 
ilha  tal  qual  relação  com  o  carvão  prohibido 
pelâ  Lei;  e  que  por  tanto  lhe  pcdiào  houvesse 
de  decidir  este  pomo,  conforme  o  direito  do  seu 
Oiííclo. 

O  Chefe  da  Lei  sem  se  entranhar  nâ  ques- 
tão,  decidio,  como  ehes  desejaváo ,  e  declarou, 
que  a  bebida  do  Café  era  contrario  á  Lei  de 
IVIahomet. 

He  tão  respeitável  a  authoridade  do  Mufti, 
que  ninguém  se  atreve  a  jugar  errada  a  sua  sen- 
tença. De  pancada  se   destruirão  todas  as  casat 

de 


xx^ 


'de  Café;  e  se  encarregou  aos  officiaes  da  Po- 
licia o  vigiar  5  se  alguém  bebia  Café.  Nâo  obs- 
tante isto  estâváo  tão  habituados ,  e  o  seu  uso 
estava  geralmente  tão  recebido ,  que  o  povo  con- 
tinuou a  pezar  de  todas  as  prohibições  a  bebel^ 
lo  nas  suas  próprias  casas.  Os  oíEciaes  da  Po- 
licia 5  vendo  que  não  podião  supprimir  o  seu 
uso  5  se  acordarão  de  pemiitiirem ,  pagando  hu-. 
ma  taxa,  que  o  bebessem ,  com  a  condição  qu© 
o  não  íÍ7essem  publicamente.  E  assim  se  prin- 
cipiou a  beber  nos  lugares  particulares  com  as 
portas  fechadas,  ou  nos  lugares  do  interior  das 
casas  de  tabernas. 

Cem  este  pretexto  forão-se  estas  casas  pou- 
cos pouco  reestabelecendo  5  e,  vindo  hum  no- 
vo Mufti  5  menos  escrupuloso ,  e  mais  illumi- 
nado  que  o  seu  predecessor ,  rendo  declarado  pu- 
blicamente que  o  Café  não  tinha  relação  algu- 
ma com  o  carvão  5  e  que  a  sua  infusão  em  na* 
da  era  contraria  ú  Lei  do  Mahomet,  as  casas 
de  Café  crescerão  em  huma  quantidade  igual  á; 
que  tinha  sido  antes.  Feita  esta  declaração ,  as. 
Ordens  Religiosas ,  os  Pregadores ,  Legistas  ,  e  o 
próprio  Mufti  bebião  Café  ,  e  o  seu  exempla 
foi  universalmente  seguido  por  toda  a  Corte,  a 
Cidade. 

O 


XXVI 


o  Gráo-Visir  ,  estando  do  mesmo  modo 
munido  d'huma  especial  authoridade  scbre  as 
casas  em  que  se  permittia  a  bebida  pública  do 
Café ,  valeo-se  desta  occasião ,  para  impor  hum 
considerável  tributo  pelas  licenças  que  concedia 
á  este  assumpto  ,  obrigando  aos  seus  proprietá- 
rios ,  ou  donos  das  casas  de  Café  a  pagar  hum 
seíjimii  por  dia ,  e  limitando  juntamente  o  preço 
d' hum  asper  por  huma  chicra  ? 

Isto  era  o  que  se  continha  no  manuscripto 
Árabe  da  Livraria  de  ElRei  de  França  confor- 
me a  traducçáo  de  M.  Galand ,  o  qual  prosegue 
ft  informar-nos  da  causa  ,  que  tivera  outra  sup- 
pressão  total  no  tempo  da  guerra  de  Cândia ,  es- 
tando nella  os  interesses  Ottomanos  em  huma 
figura  triste ,  e  crítica. 

A  liberdade ,  tomada  pelos  políticos ,  que 
frequenttvâo  estas  casas  ,  fallando  livremente  dos 
negócios  públicos  ,  foi  tão  grande ,  que  o  Gráo- 
Visir  Krupuli  5  Pai  de  outros  dous  célebres  áo 
mesmo  nome  ,  que  lhe  succedêráo  no  emprego 
successivamente ,  as  supprimio  totalmente  no  tem- 
po da  menoridade  de  Mahomet  IV  com  hum 
disenteresse  ,  que  char  âcterisavi  a  sua  família  sem 
respeito  á  perda  de  huma  tão  grande  renda ,  de 
que  elle  próprio  colhia   o  proveito.  Antes  que 

ia- 


XXVlf 


lavrasse  esrâ  determinação  per  si  mesmo  em  in- 
cógnito visitou  diíFerentes  casas  de  Café,  cnde 
mancado  cbscrvou  ,  que  varias  pessoas  graves  dis- 
corriáo  sér.jimsnte  sobre  os  negócios  do  Império, 
ceisurando  a  administração  ,  e  decidindo  confia- 
damente negócios  de  muita  importância.  Tam- 
bém antes  tinha  visitado  as  tabernas  ,  onde  en- 
controu muitos  moços  alegres,  muitos  soldados, 
CS  quaes  se  divertião  entre  si  cantando  ,  e  con- 
tando seus  amores  ,  e  factos  da  guerra.  Nada  mais 
ouvio. 

Todavia  5  ainda  que  fizesse  frechar  as  casas 
de  Café  ,  com  tudo  nem  por  isso  se  bebia  me-; 
nos  5  porque  se  trazia  em  grandes  vasos  com 
fogo  por  baixo  ás  estradas  reaes,  e  aos  merca- 
dos. Esta  prohibiçáo  só  abrangeo  as  casas  de 
Café  de  Constantinopla ,  e  não  as  outras  Cida- 
des e  Viilâs  do  ímpsrio  ,  onde  se  continuarão 
as  casas  de  Café  do  mesmo  modo  que  antes. 

Apezar  desta  precaução  de  se  supprimir  as 
ca';as  públicas  de  Café ,  o  seu  consummo  se  au» 
gmentou  mais  e  mais;  j>orque  não  havia  casa 
alguma  ou  família  rica  ,  ou  pobre  Turca  ,  ou  Ju- 
dia, Grega,  ou  Arménia,  que  nesta  Cidade  sáo 
mui  numerosas ,  a  qual  pelo  menos  não  beba 
duas  vezes  ao  dia  ^  e  ir*ijita  parte  o  ^bebe  mu^ 

tftS 


XXVIII 


us  outras  vezes  ,  porque  passou  a  ser  hum  cos- 
tume o  oíFerecello   â  todos  ,  que  vem  de  visita  « 
suas  ctsas,   e  se  reputa    como  huma  incivilida- 
de  o  náo  acceitallo  :     e  assim    muita    parte    da 
gente  toma  vinte   eh  leras  no  dia ,  e  sem  algum 
inconveniente  ,   o  que  este  Author  suppôem  ser 
humâ  grande  excellencia.  Além  desta  o  mesmo 
Author  lhe  contempla    outra   no   maior   uso  do 
Câfe  ,   e  vem   a  ser ,    conforme  o  seu  parecer , 
apertar  os  homens  mais   estreitamente  cm  os  vin- 
culos  da  sociedade  ,  e  da  amizade  ,  e  muito   mais 
que  outro    tlgum    liquor  ,    e  observa  que  estes 
protestos  da  amizade  ,  feitos  neste  tempo  ,  são  mui- 
to melhores  que    aquelles  que  se  fazem  ,    quan- 
do a  cabeça  se   acha    envenenada  pelos  liquores 
embriagadores.    Elle   avalia  que  se  gasta  nas  fa- 
milias   particulares    de  Constantinopla    no  artigo 
do  Gafe ,  quanto    se    gasta  em  vinho  em  Paris ; 
c  refere  que    estão    tão  avezadas  a  pedir  dinhei- 
ro pelo    Café  ,  como  se  pede  em  Paris  pelo  vU 
nho ,  ou    cerveja. 

Ainda  encontro  mencionado  hum  câso  ga- 
lante ,  e  vem  a  ser  ,  que  recusando-se  dar  Café  a 
huma  mulher  casada  ,  fora  este  recuso  huma  das 
causas  le^^aes  do    divorcio. 

Os  Turcos   tomão  o  seu  Café  muito  quen- 
te. 


XXIX 


te,  e muito  forte,  e  sem  âssucar.  Antigametite ,' 
e  agora,  quando  ferve,  lhe  lançao  hum  dente  de 
cravo  ,  ou  dous  pisados ,  conforme  a  quantidade, 
e  também  huma  pequena  porção  da  semente 
hadiar ,  chamada  ervadoce  estrellada  ,  ou  alguns 
gráos  do  cardamomo  menor ,  ou  huma  gotta  da 
essência  d'  âmbar. 

Não  he  fácil  sàber-se  assim  o  tempo  em 
que,  como  a  causa  porque  o  uso  do  Café  pas- 
sou de  Constantinopla  ás  partes  do  Oeste  da  Eu- 
ropa. Todavia  he  provável  que  os  Veriesianos^ 
pela  vizinhança  dos  seus  dominios,  e  peio  seu 
grande  commcrcio  com  Levante ,  fossem  os  pri- 
meiros que  o  trouxessem.  Isto  se  prova  de  par- 
te d' huma  cana  escripta  por  Pedro  delaValle, 
certo  Venesiano  em  1615  de  Constantinopla  ,  na 
qual  diz  a  hum  seu  amigo ,  que  elle  levaria  com- 
sigo  algum  Café  ,  o  qual  julgava  que  até  en- 
tão era  desconhecido  no  seu  paiz. 

M.  Galand  diz  :  que  elle  fora  informado  por 
M.  la  Croix ,  Interprete  do  ítlei  ,  que  M.  The- 
venot ,  tendo  viajado  pelo  Oriente  ,  e  voltando  a 
França  em  1657,  trouxera  comsigo  a  Paris  al- 
gum Café  para  seu  próprio  gasto  ,  e  que  pot 
muitas  vezes  regalara  com  elle  a  seus  amigos, 
'«  que  M,  ia  Croix  fora  hum  destes  j  e  que  des- ' 

5  "      a^ 


XXX 

de  esse  tempo  nunca  elle  o  deixará  de  beber, 
provemio-se  por  meio  de  cerros  Armanios ,  esta- 
belecidos em  Paris,  e  pouco  a  pou::o  ad^uirie 
reputação  nesra  Cidade. 

Alguns  annos  antes  já    era    conhecidí    em 
Marselha  j  porque  hum  certo  Cavalheiro ,  que  ti- 
nha acon^psnhado  a  M.  de  la  Haye  a  Constan- 
tincp'a ,  trouxe   ccmsigo  no  seu  regresso  ,    náo 
so  o  Café  ,  mas  rambem  os  vasos  ,  eappareihos 
próprios  para  o  fazer,   e  pa-a  o  beber,    que  ti- 
nháo  huma  particular  magnificência ,  e  m.ii  dif- 
ferentes    dos  que    actjaimente    usamos.  Todavia 
até   o  anno  de  1660  somente ,  03  que  tinháo  es- 
tado em  Levante  eráo  ,.  es  que  o  bebiáo  ,  porque 
o   costume    os  tinha    feito    amidos.    Mas  tendo 
vindo  neste    anno    algumas  saccas    do  Egypto, 
deo  a  muitas  pessoas  occasiáo  de  o  experimen- 
tarem, e  contribuirão  muito,  e  muito  para  que 
elle  entrasse    no  uso    geral ;    e  em  1671    certas 
pessoas   particulares    em  Marselha   determinarão 
estabelecer  a  primeira  casa  pública  de   Café  nos 
arrebaldes    da    Cidade  ,    que    tiveráo  hum    su- 
cesso muito  bom  j  o  povo  se  punha  a  zombar  , 
fallar  sobre  os  negócios  ,  e  a  diVertir-se  com  o 
jogo  :  em  pouco   tempo  teve  hum  grande  coiy 
curso-,  principalmente  pelos  Turcos  negociantes. 


XXXI 


e  pelos  Mercadores  de  Levanre.  Jlilgárão-se  es* 
tes  lugares  muito  convenientes  para  se  discorrer, 
c  tratar  as  matérias  relativas  ao  commercio  ,  e 
em  huma  palavra  ,  ao  depois  o  número  destas 
casas  cresceo  pasmosamente.  E  não  obstante  que, 
senão  bebesse  menos  pelas  casas  particulares  em 
huma  maior  quantidade,  logo  que  se  fez  o  seu 
uso  universal  em  Marselha  ,  e  Cidades  visi- 
nhãs. 

Antes  do  anno  de  ié6ç  senão  conhecia  o 
Café  em  Paris ,  á  excepção  da  Casa  de  M.  The^ 
venot ,  e  n'  alguma  mais  de  seus  amigos ,  e  de 
terem  ouvido  das  relações  dos  viajadores.  Este 
anno  adquirio  alguma  celebridade  pela  chegada.- 
de  Solimão  Aga ,  Embaixador  de  Mahomet  IV, 
Deste  anno  se  deve  datar  a  entrada  do  Café  em. 
Paris.  Este  Ministro  ,  e  a  sua  companha  tinháoi 
trazido  huma  grande  quantidade  comsigo,  com 
a  qual  mimoseárão  a  muitas  pessoas  da  Corte  , 
c  Cidade  ,  que  se  acostumarão  a  tomallo  com 
hum  pouco  d*  assucar.  E  os  que  o  acharão  prO'- 
veitoso ,  procurarão  não  estar  sem  elle.  O  Embai- 
xador ,  permanecendo  em  Paris  desde  Julho  de 
M669  até  Maio  de  1670,  teve  tempo  sufficiea- 
te  de  deixar  estabelecido  cstç  costume  que  élim 
introduzira. 

Dous 


XXXtl 


Dous  annos   ao  depois  hum    Arménio    por 
nome  Pascoal  cscabrleceo  huma    casa  de  Café, 
mas  tendo  sido   pouco   animada ,    dei.ícu  Paris  , 
e  foi  para  Londres:  a  elle  se  seguirão  Arménios 
e  Persas  ,  mas    também   com  pouco    lucro  por 
falta  de  aprestos ,  c  lugares  próprios  em  que  os 
pozessem.    O  povo  polido  ,  c  garboso  quer   ser 
alojado  em  bons  lugares  ,  quando  pagáo.  Com  tu- 
do, pouco  tempo  depois  ,  alguns  Francezes  as  pre- 
pararão  com  propriedade  ao  intento  de  salas  es- 
paçosas com  adornos  elegantes,    de  tapessarias, 
espelhos  ,  quadros   pintados  ,  magníficos  lustres , 
e  dando  juntamente  Chá  ,  Café  ,  Chocolate  ,  o 
outros  refrescos ,  de  sorte  que  dentro  em  pouco 
tempo  forão  frequentadas  por  pessoas  de  ceremo- 
nia  ,  pessoas    de   Letras ,  e  em  breve  chegou  o 
numero  destas  casas  cm  Paris  a  trezentas. 

Nós  somos  devedores  á  Fiagem  de  /T/.  /j 
Jio^Ke  4  Arnhia  felis  desta  exposição ,  que  fi- 
zemos ,  da  introducção  do  Café  em  Paris.  Ago- 
ra passaremos  a  mostrar  também  a  sua  entrada , 
ou  primeiro   apparecimemo  em  Londres. 

Pelo  que  diz  a  Historia  Cronológica  do  Comn 
wercio  ,  se  mostra,  que  o  uso  do  Café  entrara 
em  Londres  alguns  annos  antes  que  em  Paris. 
Em  i6sz  M.   Edovard ,  certo  cgmmercianre  di 

Tur- 


XXXIII 


Turquia  trouxe  comsigo  íium  criado  Grego ,  que 
se  chamava  Pasqua  ,  que  sabia  torrar ,  e  fazer  o 
Café  até  então  desconhecido  em  Inglaterra.  Es- 
te criado  foi  o  primeiro  5  que  vendeo  o  Café  „ 
e  que  o  tinha  em  sua  casa ,  para  este  fim  em 
George  Stãà ,  Lomhard  Street, 

A  primeira  vez-  que  se  fez  menção  delle 
nos  Livros  dos  Estatutos  ,  foi  em  1660  (  iz 
car.  II.  cap.  24)  tendo-se-lhe  imposto  sobre  ca- 
da gallon  de  Café  feito  ,  e  vendido  o  direito 
de  4  psnces  ,  pagos  pelo  vendedor. 

O  Estatuto  de  15  Car.  11  cap.  XI.  §.  15 
ann.  1665  manda  que  todas  as  casas  de  Caie 
Kajão  de  ser  licenciados  em  o  Quartel  General 
Sessões  da  Paz  na  Commarca  ^  em  que  os  hou- 
verem. 

Em  i6y^  o  Rei  Carlos  mandou  fecharas 
casas  de  Café,  mas  em  poucos  dias  revogou  a 
Grdem  por  outra.  Forâo  accusadas  de  serem  se- 
minários de  sediçõcâ. 

O  primeiro  Author  Europeo ,  que  fez  men- 
ção do  Café  5  foi  Rawolíio ,  que  se  achou  em 
Levante  no  anno  de  1573  J  ^^^  ^"^"^  ®  ^^^* 
creveo  circumstanciadamente  foi  Prospera  Al- 
pino na  sua  Historia  dâs  Plantas  do  Egypto  , 
publicada  em  Veneza  em  1591^    cuja  descrip- 


*** 


çaoj, 


XXXU' 


çáo  ,    SC  p6de   lèr    no  Tiicâtro    das  plantas    de 
Parkinson    a  pag,   1622    cap.  -jv,  ,    que    he  do 


theor  se;^i]inte. 


„   Arbar  Bon ,  cm\  fructtí  suo  buna  ;  baga 
que  os  Turcos  bebem  j  Alpino  no  seu  Livro  das 
pJanras   do  Egypto  ,  dá  a  descripção  desa  plan- 
ta  5  da  qual  diz  :  Que  se  mostra  em  huma   hor- 
ta de  cerco  Capitão  de  Genizaros  ,  que  a  trouxe 
da  Arábia  Feb's  ,  e  a  plantara ,  e  que  se  via  co- 
mo huma  cousa  rara,    porque  antes    se  não  ti- 
nha visto  alguma.  A  arvore,  diz  Alpinio  ,  he  de 
algum  modo  semelh?.nre  ao  Evonymo  ;  mas  as 
suas   folhas  são  mais  densas  ,  mais  rijas  ,  e  mais 
verdes  ,  e  não  são  cahidiças.  O   fructo  se  cha- 
ma Btmá  5   e  algum  tanto   mais  amargo  que  a 
avellá  ,  mais  cotuprido  ,  redondo  ,  e  pontudo  em 
Luma  das  suas  extremidades ,  e  do  mesmo  mo- 
do regoado  em  ambos  os  lados ,  e  a  pezar  disso 
mais  visivel  em  hum  que  no  outro  :  Que  se  pô- 
de dividir  em  dous ,  e  em  cada  lado  do  qual  se 
contém  hum  caroço  pequeno  alongado  ,  branco, 
raso  ,  ou  plano  pelo  lado  ,  em  que  ambos  se  ajun- 
ião,  cobertos  de  huma  pélle  a  maré  liada  ,  d'hum^ 
gosto  ácido  ,  e  algumas  vezes  com  maior  amar- 
go ,    forrados  ,    ou  vestidos    de  huma   pellicula 
.delgada  de  huma  c6r  cinzenta  escura.  Na  Ará- 
bia, 


XXXV 


bia  5  Egypro  ,  e  ontros  Ingâres  dôs  dominios  Tu?- 
cos  fazem  destas  bagas  geralmente  hum  cozi- 
mento, ou  bebida  ,  que  lhes  serve  em  lu-gar  de 
vinho,  e  de  ordinário  se  vende  nas  suas  taber- 
nas 5  á  qual  dáo  o  nome  de  Caova,  Paludamm 
chama  Choãvd  ^  e  Rawolíio  Cbmke,  Esta  bebi- 
da tem  propriedades  physicas  muito  boas  :  for- 
talece o  estômago  débil  ,  remedèa  a  digestão, 
e  o  tumor,  ou  obstrucçóes  do  fígado,  e  baço, 
sendo  tomado  em  jejum  por  algum  tempo.  Go- 
za de  grande  estimação  entre  os  Egypcios ,  e 
Árabes  em  muitos  casos  femininos  ,  nos  quaes 
pensão  que  lhes  tem  sido  muito  proveitosa. 

O  Senhor  Chanceller  Baccon  se  lembra 
delia  deste  mesmo  modo  no  anno  de  1624.  El- 
le  diz:  que  os  Turcos  tem  huma  bebida,  cha- 
mada Café ,  feita  de  agua  fervendo  ,  e  de  huma 
certa  baga  feita  em  pó ,  que  faz  a  agua  preta , 
como  a  de  ferrugem ,  ou  foligem  de  chaminé, 
dando-lhe  hum  aromático  c  pungente  cheiro  ,  e 
he  tomada  quente. 

O  célebre  João  Ray  ,  na  sua  Historia  das 
Plantas  ,  publicada  em  1^90 ,  fallando  delia  co- 
mo de  huma  bebida ,  que  estava  muito  em  usa, 
diz  :  que  esta  arvore  cresce  unicamente  entre  os 
Trópicos ,  e  suppõem  que  os  Árabes  destroem 
***  ii  a 


XXXVI 

a  qualidade  vegetativa  das  sementes ,  em  ordem 
a  iimiiar  sómen:e  entre  elles  a  grande  fonte  de 
riquezas,  que    elles  attrahera  de  todo  o  mundo 
por  esre  género  :  donde  reflecti :  e  que  esta  parte 
da  Arábia  pode  realmente  ser  chamada  muiro  fe- 
liz j    mas  que  he  incrível  que  se  possão   daqui 
só  exportar    tantos    milhões    de  saccos   para    a 
Turquia  ,  Barbaria  ,  ç  Europa.  Elle    se  admira  , 
que  náo  tenha  havido  al2;uma  Nação  particular, 
que  haja  de  querer  possuir  hum  tão   grande  the- 
souro  i  e  que ,  estando  encerrado  dentro  dos  es- 
treitos limites  d'  huma  só  Província,  náo  tenha 
havido  entre  as  Nações  ,  que  as  avizinhao  em  ro- 
da ,    alguma,  que  penenda  roubar-lhes   algumas 
sementes  ,ou  mudas  vivas  ,  para  participarem  com 
ellas  de  hum  negocio  tão  lucrativo.  „ 

Agora  passaremos  a  mostrar ,  porque  meios 
esta  preciosa  planta  passou  á  Europa  ,  e  desta 
emigrou  para  a  America. 

Boerhave  foi  o  primeiro  cscripror  da  rela- 
ção do  modo ,  com  que  elia  veio  á  Europa ,  no 
seu  Index  do  Jardim  de  Lcyde  ,  Parte  II.  pag. 
217,  quehe,  como  se  segue;  Nicoláo  Witsen > 
Burg  Mestre  d'Amsterdam,  e  Governador  da 
Companhia  da  índia  Oriental  nas  suas  cartas^ 
por  ve^es  repetidas,  admoestava  j  c  pedia  a  Vau 

Hoom  » 


XXXVl] 


Heom  5  Governador  de  Batâvia  a  mandar  vir , 
de^Moca ,  na  Arábia  Fel  is  ,  algumas  bagas  da  ar- 
vore do  Café  5  para  as  haver  de  plantar  em  Ba- 
tâvia ;  o  qual ,  tendo  assentido ,  as  mandou  vir, 
e  no  anno  de  i6po  nascerão  das  sementes,  que 
lhe  tinhão  vindo  ,  muitas  arvores  ,  das  quaes  man- 
dou huma  ao  Governador  Witsen  ,  que  logo  mi- 
moseou  com  ella  ao  Jardim  d' Amsterdam  ,  de 
que  era  o  fundador ,  e  conservador  ,  onde  em 
pouco  tempo  produzio  ,  e  das  suas  sementes 
houveráo  multas  plantas  novas.  Donde  conclue 
Bocrhave  :  que  o  merecimento  d'  introduzir  esta 
rara  planta  na  Europa  he  totalmente  devido  ao 
cuidado,  e  liberalidade  de  Witsen. 

Pelos  annos  de  1714  os  Magistrados  d*  Ams- 
terdam ,  querendo  satisfazer  a  Luiz  XIV.  Rei  de 
França  com  hum  particular  comprimento  ,  se  acor- 
darão >  de  lhe  mandarem  huma  elegante  planta 
desta  rara  arvore ,  arranjada  com  todo  o  cuida- 
do ,  e  por  agua ,  abrigada  do  tempo  com  hu;- 
ma  máquina  curiosa  ,  coberta  por  ♦cima  com  vi- 
dros. A  planta  tinha  5  para  6  pés  de  altura,  e 
hum  dedo  de  grossura  no  seu  tronco ,  com  mui- 
ta folhagem ,  e  com  fructos  verdes  ,  e  maduros» 
Logo  que  chegou  foi  visitada  e  vista  ,  ainda  es- 
tando no  Rio  a  por  muitos  membros  da  Acade- 
mia 


XXXVIII 


mia  das  Sciencias  ,  e  foi  ao  depois  conduzida  ao 
Jardim  de  Marly ,  e  entregue  ao  cuidado  de  M. 
de  Jussieu ,  Régio  Professor  de  Botânica  ,  que 
havia  hum  anno ,  que  tinha  escripto  huma  Me- 
moria 5  impressa  ha  Historia  da  Academia  das 
S^ciencias  de  Paris  ,  no  anno  de  171 3  ,  descre- 
vendo os  characteres  deste  género;  e  ajuntando 
á  esta  huma  elegante  figura  ,  tirada  d'  huma  plan- 
ta menor ,  que  tinha  neste  mesmo  anno  recebi- 
do deM.  Panchras,  Burg  Mestre  d'Amsterdam, 
e  Director  do  seu  Jardim. 

Em  17 18  principiou  a  Colónia  HoUandezâ 
de  Surinam ,  primeira  de  todas  ,  a  plantar  o  Ca- 
fé; e  em  1722  M.  de  la  Mote  Aigron ,  Gover^ 
nador  de  Cayenna  ,  tendo  negociado  cm  Suri*- 
nam  ,  conseguio  por  hum  artiíicio  apanhar  hu- 
ma planta  ,  que ,  no  anno  de  1725 ,  produzio  mui- 
tos  milhares. 

Em  1727  o  Francez  ,  percebendo  que  estt 
aquisição  seria  d'  huma  grande  vantagem  para  as 
outras  Colónias  ,  enviarão  á  Martinica  algumas 
plantas ;  e  he  muito  provável  que  destas  se  hou- 
vessem de  espalhar  por  todas  as  Ilhas  circum- 
vizinhas;  pois  no  anno  de  1752  já  se  cultiva- 
váo  na  Jamaica ,  e  se  diz  que  hâ  huma  postura 
feita ,  para  se  animar  esta  cultura.  Desta  sorte  se 

di> 


XXX  fX 


dispôs  hum  commercio  tão  grâtide ,  e  tão  provei- 
toso para  os  estabelecimentos  Europeos  nas  ín- 
dias Occidentaes. 


BE- 


BEBIDAS  ALIMENTOSAS. 

CULTURA 


D  O 


C  A  í  È, 


Historia   da  sua  introducção   na   Europa  ,  tirada  do 
Discurso  preliminar  da  obra  Franceza. 

(^Examen  de  la  cjuestion  Medico  Politique :  sur  U  Kse 
habituei  do  Café  ,  Çí^c.) 


POR 


o 


N.      F.     J.      £/,^, 


Cafeseiro  veio  originariamente  da  Ethiopia 
alta  ,  onde  era  conliecido  de  tempo  immemorial  » 
e  ainda  hoje  se  cultiva  com  proveito.  Seu  fructo 
he  maior ,  hum  pouco  mais  comprido  ,  menos  ver- 
de ,  e  quasi  com  o  mesmo  perfume  ,  do  que  se  prin- 
cipiou a  colher  na  Arábia  feliz  ,  junto  ao  decimo 
quinto  Século,  e  que  hoje  he  tao  estimado  com 
o  nome  de  Café  de  Moca.  A  arvore  ,  que  o  pro- 
duz ,  nasce  no  território  de  Beul/agui ,  huma  Cida- 
de do  Reino  d'  Yemen  ,  situado  a  déz  léguas  do  Mar 
Vermelho  ,  em  hum  areal  sscco.  O  terreno  da  sua 
cultura  he  da  extensão  de  cincoenta  léguas  de  com- 
prido ,  quinze  até  vinte  de  largo.  O  seu  fruçto  não 

A  íena 


CO 

tem  o  mesmo   ponto  de  perfeição    em  toda   a   par- 
te. O    que  cresce   sobre   lucjares   elevados ,  he  mui- 
to  mais   pequeno  ,  mais  verde  ,  mais  pezado  j  e  o^e-   ^ 
ralmente  mais  estimado. 

O   Cafeseiro  ,  conhecido   pelo   irome    de  Josmi' 
num  Arabicum  Laurifolio  ,  dos  antigos  Uocanicos  ,  so- 
be á  altura    de  quarenta  pcs  ;  mas   o  seu  tionco  não 
excede    no  seu  diâmetro  a  quatro   para   cinco  polle- 
gadas  ,  se^fundo  refere    Mr.  de  i^omare   no  seu   Dlc 
tioiiárc  de  Histoire  y  aturei:  os  ramos   desta   arvore, 
são  brandos ,  cobertos   de   huma  casca   esbranquiça- 
da ,  muito  fina.  As  folhas  oppostas  de  duas  a  duas, 
e  situadas  de  modo  ,  que   hum    par  encruza  com  o 
outro.  Asseme{hão-se  de   alguma    sorte   com    as  áo 
loureiro  ordinário.  São   continuamente   verdes  ,  lus- 
trosas ,  lisas  por  cima  ,  pállidas   por  baixo  :  n3o  tem 
cheiro  ,  e  o  seu  sabor  he  de  herva.  As  florei  sabem 
das  axillas   das   folhas   em    número   de   quatro  ,    ou 
cinco:  são  brancas  ,  algumas   vezes  vermelhas ,  pálli- 
das ,  cheirosas  ,  de  huma   peça  ,  como  hum   funil  » 
divididas  as  mais  das  vezes  em  cinco  partes  ,  como 
o  Jasmin  de    Hespanha.  O  pistillo  passa  para  hum 
írUcto  ,  ou  ba'<a  molle  ,  ao  principio  verde  ,  ao  de- 
pois   vermelha  ,  e    finalmente  de  hum   vermelh.o  de- 
negrido >  quando  está  madura  perfeitamente  ,  d.t  gios- 
sura  de  huma  cereja  tendo   na  sua  extremidade  huma 
«specio    de  embigo.   A    sua    carne  he    mucila^^^inosa , 
pallida  »  de  huin  máo  gosto  ,  serve  de  coberta  com- 

n;ua 


II 


Cs) 

mua  a  dous  caroços  ddgados  ,  Ovaes  estreitamente 
unidos  ,  pelo  lugar  >  porque  se  unem  j  e  que  con- 
tem cada  hum  huma  meia  fava  ,  ou  semente  de 
hum  verde  páliido  ,  ou  amarellado ,  oval  ,  abaula- 
do pelas  costas  ,  chato  do  lado  opposto  j  cavado  des- 
te com  hum  rego  assaz  profundo.  Colhem-se  duas 
ou  trez  vezes  no  antio  fructos  maduros ,  que  se  fa- 
zem seccar.  Em  todas  as  estações  se  vem  nos  Ca-= 
feseiros   quasi  sempre   flores  ,  e  fructos    maduros. 

Este  he  o  grão  tão  conhecido  com  o  nome  de 
Câfc  ,  e  do  qual  somente  os  habitantes  de  Yemen  , 
que  o  mandão  a  Moca ,  vendem  todos  os  annos  oi- 
to milhões,  e  785  mil  arráteis.  A  sua  feira  geral 
he  em  Betelfagiti  ,  onde  se  compra  todo  o  Café  , 
que  ha  de  sahir  do  Paiz  por  terra.  O  resto  se  le^- 
va  a  Moca  ,  que  iHe  fica  em  distancia  de  35  lé- 
guas ,  ou  para  os  Poitos  mais  vizinhos  de  Lochia , 
e  de  Hoílecda,  Póde-se  avaliar  o  total  da  sua  expor- 
tação em  doze  milhões  ,  quinhentos  e  cincoenta  mil 

arráteis   todos   os  annos. 

1 
O   Cafc  Moca  ,  ou   de   Levante ,    tem  as  favas 

mais  pequenas  que  as  outras  espécies  conhecidas. 
Sendo  passadas  pelo  moinho  ,  que  as  descasca  da  to- 
na subtil  ,  que  as  cobre  ,  ficão  de  huma  cor  ama- 
rellada  ,  e  tem  hum  bom  cheiro.  Convém  advertir 
que  se  dão  Cafés  de  Moca  de  trez  qualidades.  A 
melhor,  chamada  Sí?//<?«n  ,  se  reserva  para  q  Grão 
Senhor  ;  ás  outras  duas  j  que  são  o  Sí^f^i  í  e  o  Sn" 
A  n  In- 


CO 

hlfi ,  se  vendem  na  Arménia  ,  Pérsia  ,  em  Arabiít  , 
nas  Costas  d'  Africa  ,  no  Indostan  ,  ]\Ialdivas  ,  Eu- 
ropa. 

Os  Hollandezes  procur:Hão  cultivailo  em  Bata- 
via  ,  e  se  saiiirão  bem.  A  sua  semente  cire  he  mais 
grossa  ,  mais  esbranquiçada  que  o  de  Moca  ,  se  co- 
nhece pelo  nome  de  Café  de  Java  ,  ou  do  Ori- 
ente. 

.  O  Café  de  Surinam  ,  Colónia  Holiandeza  na  Ame- 
rica em  terra  firme  ,  he  de  huma  còr  esverdeada  , 
.c  de  difFerente  tamanho. 

A  Ilha  de  Bourbon  em  Africa  ,  produz  hum  Ca- 
fé esbranquiçado,  allongado ,  sem  cheiro  ,  e  muito 
inferior  ao  da  Arábia.  O  Café  da  Martinica  ,  ou  das 
Ilhas  ,  he  ainda  de  menor  bondade.  He  esverdeado, 
c  tem  hum  cheiro  ,  e  gosto   hervaccos. 

Chama-se  Café  mareado  ,  ou  avariado  o  çwc 
foi  molhado  pela  agua  do  mar  ,  no  seu  transporte* 
Quando  vem  assim  ,  se  não  faz  caso  pela  acrimo- 
nia   salina  ,  que  a  torrefacção  nunca   chega  a  tirar- 

O  uso  do  Café  ,  a  pezar  de  estar  tão  espallia- 
Ihado  em  toda  a  Europa  ,  era  desconliecido  a  esta 
parte  do  globo  antes  do  ló.  Século.  Os  mercado- 
res Venezianos  ,  forão  os  que  o  introduzirão  na  Itá- 
lia. Este  uso  passou  logo  para  Allemanha  ;  poií 
ahi  já  era  muito  conhecido  no  meiado  desse  Sé- 
culo. Franca  porém  tardou  em  aproveitar- se  do  Ca- 
fé ,  assim   no  conmercio  ,  como   no   augmento  do 

lu- 


i 


Ç!  5 

Iiixo  das  tnezas.  Foi  Marselha  a  primeira  Cidade 
deste  Reino ,  onde  forão  vistas  estas  sementes  es- 
trangeiras em  1664»  mas  só  no  anno  de  1669, 
forâo  conhecidas  em  Paris.  Inglaterra  se  empenhou 
em  procurar  estas  favas  ;  e  como  ao  mesmo  tempo 
aprenderão  o  methodo  de  as  empregar  em  decoc- 
çáo  ,  o  gosto  ,  que  o  público  formou  desta  bebida  j 
obrigou  a  alguns  habitantes  de  Londres ,  a  tello  sem- 
pre prompto  nos  seus  botequins  ,  aos  quaes  hoje 
dão  o  nome  de  casas  de  Café.  O  estabelecimento 
da  mais  antiga  nesta  Capital  data  he  de  165  2  ,  aonde^ 
o  seu   nvimero  chega  a   3    mil. 

Os  primeiros  Europeos  ,  que  escreverão  acerca 
do  seu  uso,  forão  os  Médicos.  Leonardo  Rawolf, 
natural  de  Msburg  ,  fallou  a  seu  respeito  na  Re- 
kção  da  sua  viagem  a  Levante  ,  que  appareceo  im- 
pressa em  Ailemão  em  Francfort  em  15^2  ;  mas 
Prospero  Alpino  de  Marostica  do  Estado  Venesia- 
no  se  estendeo  mais  acerca  delJe  no  seu  Livro  de. 
píantas  do  Egypto  ,  Paiz  pelo  qual  tinha  viajado 
trez  annos  ,  principalmente  a  parte  ,  que  confina  com 
o  Estreito  de  Suez  ,  também  vizinho  á  Arábia.  Vol- 
tou  a  Itália   em    i  $  S4. 

De  todas  as  bebidas  ,  qu€  tiverão  acceitação  »  nao 
ha  huma ,  que  tenha  sido  mais  universalmente  es- 
palhada que  o  Café.  Não  ha  Nação  alguma  que  a 
não  tenha  achado  do  seu  gosto  :  e  no  entretanto 
ss,  prepara   em  quasi  todos  os  Paizes  do  Mundo  ha- 

bi- 


CO 

bitado  ,  ou   pelo  cozimento  em  acii.i  ,  ou    pela   in- 
fusão  das   favas  torradas  .    e  pulverisadas.   Todavia  o 
methodo    de   o  f)reparar   não   tem   sido  os   mesmos 
nos   lugares   ,    em   que    o    seu    uso    aliiciativo   está 
mais.  acreditado.   Os    Árabes    começarão  pilando    os 
grãos  de    Café  em  vasos    de  terra  ,  immediatamente 
ao  depois  de   o  haverem   torrado  :    Jançavão-Jhe  ao 
depois  a.?ua   cuente   em   cima  ;  e  nesta  a  fazião  fer- 
v€r  por  alguns   instantes ,  e  bebião  este   cozimento, 
sem  dar  tempo  ,  a  quó   o  seu   pc   se  sentasse.   Aias 
em  pouco    tempo   se  desagradarão  do  Café  turvo  ,  e 
procurarão    precipitar-lh-   as  partes   mais    grosseiras  , 
por  meio   de   hum   panno  de   liíiho   molhado  ,  com 
o  qual  cobríão  o  vaso,   lo-o  que   o    tiravão    do    fo- 
go. Ajuntarão   a  esta   primeira  a>  precaução  de  dei- 
xar o  li^uor    em  hum  perfeito   repouso,    e   conse- 
guirão   fazelJo   bem   claro  :  então  o  derramavão  nas 
taças ,  e  o  adoçavão  com  mais   ou  menos    assucar  , 
conforme  o   gosto   de  cada   hum. 

A  maior  parte  dos  Árabes  tinhao  o  seu  regalo 
nesta  bebida  j  mas  a  regalia  de  o  tomar  em  natu- 
reza ,  era  só  dos  Cidadãos  ricos.  A  plebe  se  reduzia 
ás  coberta«>  próprias  .  e  commuas  das  favas.  Estes 
restos  desprezados  formão  luima  bebida  ,  que  tem 
o  gosto  do  Cafc  sem  o  amargo  ,  nem  a  força.  Cha- 
JTia-seCafc  n  Sultana.  Andry  ,  Doutor  da  Faculdade 
JVledica  de  Paris  ,  deo  o  mesmo  nome  ao  Café  não 
torrado,  ferve- se  em  agua  por  meio  quarto  de  hora  , 

qu  an- 


(7  ) 

f^uando  muito  .  e  dá   luim  líquido  de.  còr  de   limSo 
que  se  bebe  com   as-^ucar. 

He  tão  grande   o  uso  do  Café   nò  Império   Ot- 
tomano  ,  que    he   iinpossivel  imaginar-se   o  consum- 
mo,  que  fazem  delle  a  gente   vadia,  que   pâssao  a 
vida  a  bebello  ,  e  a  cachimbar   nos  Cafés   públicos. 
Não  he   menor   o  consummo  nos  Estados    dos  Prín- 
cipes  da    Europa  ;  seria    impossível   hum  justo  cál- 
culo da  quantidade  ,  que   entra  nella  ,  e   se  conso- 
me. Do  edito  Régio  ,  público  em  Berlin  a  respeito 
do  Café ,  se  vê  que   o  Rei  de  Prússia  fixa  a  somma 
da  despeza  annual  em  700  para  800   mil    escudos i> 
que  a  importação  destas  sementes  estrangeiras  cau- 
sa ao  seu   povo.  Eu  não  poderia   contar  as  saccas» 
que   passão  todos   os  annos  pelos  Paizes- Baixos  Aus- 
tríacos ;    e  que   se   consomem   nelle.    Este  número 
deve  ser   muito  grande  5    pois    que   os  Mercadores 
Especieiros  de  Mons ,  vendem  diariamente  acima  da 
trezentas  livras   de   Café   torrado  ,    para  o  uso  dos 
moradores ,  que  não   tem  em  sua   casa  provisão  des- 
tas favas  :  e  deste   padrão  vem   a   ser    mais  de  c^m 
mil   livras  o  Café  ,  que   se  vende  ao  povo  anmial- 
mente  em  pezos   pequenos.  Mas  accrescentandô-sè  a 
esta   quantidade   ,    a  que  resulta  do  consummo  út 
sujeitos   ricos  ,  que   tem  provim.entos  de  Café  ;,  pa- 
ra as  precisões   domesticas  ,  qxie    número    prcdigio^ 
so    de    livras   não   entra   cada    armo    nesta  Cidade* 
que  he  soífiivel mente   povoada  ,   e   mcdiocremente 

eran- 


grande  ?  Nío  receio  a  censura  de  exagerado  em  hum 
cálculo  ,  t]ue  seguramente  he  muito  inferior  a  sua 
realidade  ;  ainda  quando  nelle  não  calculo  o  gasto 
destas  casas  abertas  ,  que  tem  o  seu  nome  ,  ^'por- 
que  o  vendem.  Quantas  mil  livras  se  não  gasta- 
rão? 

O  modo  mais  commum  de  se  preparar  esta  be- 
bida ,  he  de  torrar  ,  e  preparar  o  Cafc  ,  de  moer  as 
favas  ,  para  llie  tirar  perfeitamente  a  tintura  ,  ou 
por  cozimento  na  agua  ,  ou  por  huma  infusão  mo- 
mentânea atravéz  de  hum  funil  ,  cheio  de  buracos, 
e  forrado  interiormente  de  hum  papel  pardo  ,  ou 
de  hum  sacco  de  lã.  Chama-se  a  este  ultimo  mo- 
do café  a  la  minuta,  Correge-se  o  amargor  com  as- 
sacar ,  e  outros  Jhe  ajuntão   leite  ,  ou   nata. 

Quando  se  principiou  a  espalhar  o  uso  do  Cafc  , 
«selasses  inferiores  do  povo  se  empenharão  da  mes- 
ma sorte  em  o  gastar,  como  as  pessoas  de  huma 
ordem  superior ;  porém  não  podendo  costear  a  des- 
peza,  a  que  o  uso  habitual  desta  bebida  os  obri- 
j:ava  ,  recorrerão  a  diversas  experiências  de  legumes, 
grãos  para  haverem  de  achar  hum  meio,  que  lhe 
substituísse  o  uso  das  favas  estrangeiras  :  emprega- 
rão  os  feijões  brancos  ,  torrados  ,  e  pulverizados  ,  e 
chegarão  a  lisonjear-sc  ,  de  teiem  encontrado  huma 
descoberta  ,  cujo  cozimento  se  approximava  ao  do 
Café  ,  assim  no  gosto  ,  como  no  cheiro  :  mas  estas 
qualidades  apparentes  não  os  enganarão  muito  tem- 


C9:í 

po  ;  porque   perceberão   logo  que  o  seu  uso  offen- 
dia    ao  estômago  ,  e  causava  moJestias   na    cabeça.     • 
Na  continuação    do  tempo  acharão   que  a  ceva- 
da  torrada   com  huma  quantidade   de  amêndoas  ,  e 
fervida   por    hum  espaço  de  tempo  maior  ,    que    o 
Café  ordinário  ,  davão  á  agua  algum  gosto  ,  cheiro  , 
e  outras   qualidades  do  ultimo.  Este   he  o  Cafc  ,  a 
que   derão    o    nome  de   Cafc    h  paisana   de    Gaspar 
Keuman  ,  rdedico  de  Berlim  ,  que  mo;reo   em  17  ??• 
Friedel  ,  outro  Medico    AUemão   propòz  hum  Cafc  ^ 
ffcito  de  partes   iguaes  de  amêndoas  doces ,  e  amar-r 
gas  ,  que  elle  torrava  ,  ao  depois   de    ilie  ter  tirado 
a  pelle.  Mas  o  liquor  ,  que   resultava   do  cozimento 
desta  mistura  em  agua^  ,  se   approximava  tão  pouco 
ás  qualidades  do  Café  ,  que  ,  muito  longe  de  lizonjear 
o  gosto  de  seus    partidistas  ,  parece  ter    sido  inven- 
tado só  para  correger  o  habito  de  o  tomar  pela  aver- 
são ,  que  causa,  aquém    o  toma. 

Ainda  se  imaginarão  outros  meios  diíFerentes ,  pa«> 
ra  os  substituírem  ao  Café  ,  que  nos  vem  do  Estran- 
geiro. O  que  sortio  hum  melhor  effeito  ,  foi  o  da 
raiz  da  Chicória  amargosa  ,  feita  em  pequenos  pe- 
daços,  secca  brandamente  ao  fogo  ,  torrada  ,  e  moí- 
da ao  depois  ,  pava  se  empregar  em  feição  de  Ca- 
fé ,  mistufando-o  com    elle   em   partes   iguaes. 

05^  Mercadores  ,  que   vendem    em   miúdos  o  Ca- 
fé  torrado   ,    lhe    passão  per  cima   huma   pouca  de 
manteiga  ,  quando  está   no  forno  ,  ou   panella ,  pa- 
ra 


C  IO  ; 

ra  \ht  dar  as   sementes   velhas   huma   parte  do  gos- 
to ,  que  a   sua   antiguidade   parece    ter  feito  perder. 
Esta    practica  he    criminosa   por   todos  os  principies. 
í»Ias  os  Mercadores  ,  que    torrão    bons   Cafts  ,  com 
hm-na  addicção  decaída,  lhe  não  alterão  a  sua  bon- 
dade ,  antes ,  peio   contrario  ,  o  carameilo  ,  que   se 
Jhe  forma   em    cima     na  superfície   dos   grãos  ,    os 
Teste  de  huma   costra   delgada  ,  que    serve   de  tapu- 
me ás  partes  mais    voláteis,  que  escapão  em  mui- 
ta abundância  ,  quando  se  queima   o  Café  sem   es- 
fe  expediente  útil.    Eu  o  chamo   de  útil  ;  por  que 
fambem   o  lie  para    os  Mercadores  ,    por   quanto  a 
calda    augmenta  seu  pezo  na  venda  em  miúdos  ,  e 
esta    não  custa    tanto  ,  como   o  Café  ,  que    por  ou- 
tra  parte  não  sofTre    tanta  perda   na   sua   torradura. 
Ao  depois    desta    succinta   exposição    da  Histo- 
ria  óo  Cafc  ,    e  da  sua  preparação  ,    lie   necessário 
íjue  passemos   á  Analyse  dos  seus    princípios  ;  pois 
se  não  pode  dar   o  verdadeiro  valor   «os   seus  eíTei- 
tos  no  corpo    do    homem  ,    sem   se   conhecer   antes 
a?  propriedades   descendentes    da    sua  natureza.    As 
cònsequíiKiaç ,  que  resultarem  deste  detalhe  ,  apoia- 
rão a  opinião  ,  que   se   deve  formar    acerca  do   seu 
uso.  (*) 

EX- 


(  *  )  í7    processo   lia    Jnoluse, 


<  II ) 
EXTRACTO 

D  O 

CAFÉ, 

(  Jllstoiy  of  the    West    Indles.  ) 


V     o     R 


BY   BRIAN  EDWARDS. 

JL  Em-se  já  escrito  ir.uito  acerca  da  Historia  clõ 
Cifé;  a  sua  intioducção  em  as  Índias  Occidentaes, 
foi  elegantemente  exposta  por  alguns  Escriptoies ,  e 
as  suas  propriedades  sabiamente  examinadas  por  ou- 
tros ,  mas  scbre  todos  pelo  meu  douto  am.igo  o 
Doutor   Benjamim    Moseley  ,  (  *  )   de   maneira   que 

ape- 


(  *)  Trentlse  on  the  hlsloiy  property  and  ejects 
cf  Cofee—Bij  Benjamin  Mostkij  M.  D,  Tratado  so- 
bre a    historia  ,  qualidades  ,  e  efeitos   do  Café, 

Talvez  vão  se  tenha  coníribuido  ao  augmtnío  do 
moderno  uso  desta  fragrante  baga  ,  tanto  ,  í^uanla  o 
fez  esta  ohra  '.  cujo  Auihor  nos  seus  covhecimenios  Me- 
dicos  ,  estimáveis  inslrucçèes  assim  singularmente  ins* 
tractivas  ,  como  detectáveis  ,  mw  tem  igual  Verãc-ss 
5  cdiç6es  em  Inglaterra  pi  l.  em  17^5-)  Foi  trasy 
ladadít  ,  e  publicada  na  Lingua  Franceta  em  Paris  ^ 
J.eão  ,  e  Strahurí^o,  Tcjvbem  em  italiano  cm  Berna  ^ 
e  Milão.   Foi  publicada    em  Leide  j    Sruxelias  ,  elVi-- 


( Í2 ) 

?-pena.  me  deixarão  poder  oflferccer  alguma  cou.a 
"ova  a  este  respeito.  Por  onde  as  poucas  observa- 
,  ções.  que  tenho  de  apresentar  aos  meus  Leitores, 
vmarão  pnncipalniente  sobre  a  cultura  da  sua  ba- 
ga, que,  sendo  fundadas  em  actuaes  expenencias  , 
talvez    darão   alguma    informação    proveitosa. 

Os  apaixonados  do  Cafc  se  tem  queixado  mui- 
to da  inferioridade  ,  do  que  produzem  as  índias  Oc- 
cidentaes  ,  ao  de  Moca.  Não  ha  dúvida  alguma  .  que 
a  maior  parte  das  queixas ,  formadas  contra  elle  , 
com  que  o  público  se  diverte  ,  são  nascidas  da  af- 
fectação.  Ao  mesmo  tempo  que  esta  imputação  não 
he  inteiramente  destituida  de  fundamento  ,'  visto 
ser  o  Café  das  índias  Occidentaes  ,  pela  maior 
pr.rte,  bebido  dentro  dos  14  mezes ,  depois  de  co- 
lhido da'  arvore  ;  e  que  o  delicado  do  seu  sabor  . 
se  rcralça  com  a  idade  ,  o  que  não  deixa  de  confes- 
sar sinceramente  o  Lavrador  de  Cafc  ,  mais  jactan- 
cioso  sobre    o  que   recolhe  de  suas   possessões. 

iVIas  a  objecção  ,  de  que  o  Café^he  inferior  ao 
da  índia  Oriental  ,  por  ser  huma  prodviccão  mais 
grosseira  de  huma  casta  de  arvore  de  menos  valor  . 
-— não 

cnna-e  circula  hu,dar,icla  em  AUanua  nu  Allemanha, 
€  00  Norte  dn  Europa,  Os  Granjeiros  (ia  Cafc  de- 
ven,  maior  a^jn^a^ão  ao  Doutor  Mosclo,  ,  \lo  que 
talvcj,  hna^uulo,  Vor.}ue  ellc  au^mentou  a  cansam- 
ij^nçaa  do  Cufe  universalmente  ,  e  introduzia  esta  de- 
luu^sa  ,  c  ntU  hcblda  cm  Iw^arjs  ,  onde  antes  rara 
vcí^  SC  ouvia   seu   noin.\ 


I 


I 


CO 

não  merece  outra  refutação  mais  do  cue  a  circum- 
stancia  referida  pelo  célebre  Jardineiro  Mr.  aiilier, 
„  que  as  plantas  trazidas  das  índias  Occidenraes  , 
e  creadas  em  Inglaterra  nas  estufas  ,.  produ/iráa  mui- 
to bem  as  suas  bagas ,  as  quaes  em  tempo  propor- 
cionado forão  julgadas  exceder  ao  melhor  de  IVloca, 
que  se  pode  descobrir  na  Grã-Bretanha  „  he  pois 
evidente  que  toda  a  differença  provém  do  teirenc, 
clima  ,  modo  de  o  preparar  ,  idade. 

Mostra-se  pela  authoridade  de  Roque  ,  e  de  cii- 
tros  Escriptores  :  que  a  arvore  do  Café  produz  em 
hum  Clima  muito  secco  j  e  florece  primorosamen- 
te em  hum  terreno  areisco  ,  ou  em  encostas  ,  e 
declives  de  montanhas  ,  que  dão  escoo  ás  aguas  das 
chuvas.  Está  no  poder  de  cada  hum  dos  Lavrado- 
res de  Café  comprovar  pela  sua  experiência  nas 
índias  Occidentaes  a  propriedade  de  hum  seme- 
lhante terreno  ,  se  as  pequenas  bagas  houverem  de 
ter  maior  acceitacão  nos   mercados  Ingiezes. 

Hum  terreno  bom  ,  melhorado  pelas  chuvas  , 
produzirão  sim  huma  arvore  vistosa  ,  e  dará  huraa 
grande  colheita  :  mas  as  sementes  ,  que  são  grandes, 
e  de  hum  verde  carregado  ,  mostrão  por  muitos  an- 
nos  fedor  ,  e  enrijamento.  He  cousa  singular  que 
os  Americanos  do  Norte  prefirão  esta  sorte  de  Ca- 
fé a  todas  as  outras  ;  e  ,  porque  elles  até  aqui  tem 
sido  os  melhores  freguezes  em  os  mercados  das  Iq- 
dias  Occidentaes ,  os  Lavradores  se  tem  naturalmen- 


C   ^4) 

te  appjicado   bastante    ao  trabalho  desta    ci-ltura  ,  c 
o  tem  feito. 

Foi   prudente  a  concessão  do  governo  em   178,, 
dando  felizmente   por   livre  nos  mercados    de   InHa- 
terra  o   CafJ    das  Jlhas    Occide.itaes   aos  seus  Lavra- 
dores.  Antes  desta  cpoca  ,  os  direitos  ,  e  alcavalas  na 
importação  ,  e  consumação  das   plantações    Inglezas 
do  Cafc   na  Grã  Bretanha ,  não  erão   menos   do  que 
480  por  cento  ,  em  o  seu   valor  mercantil  derse  tem- 
po.   Debaixo   de  taes    exacções    a   sua    cultura    nas 
nossas   Ilhas   do  assucar   deveria  experimentar  a  mes- 
ma  sorte  ,  que   soffrêrao   as   do  índigo.   Mas  isto  se 
não   deve   entender    a    respeito  dos  mercados   Ame- 
ricanos.  A    grande,  e  importante  reducção  de  hi-m 
xeilim   por  livra    de   pezo  dos   direitos  de   alcavala  , 
fez   immediatamente    huma    repentina  ,    e   pasmosa 
mudança  ;  e   quando   se  promove  o  interesse  do  La- 
vrador ,  então    he   que  se   augmenta  a  renda  do  Es- 
tado:  tendo-se  trazido    no  anno  de  1784  huma  maior 
quantidade    de    Café    que    a  do  dobro    do    cue   até 
então    se   importava  ,  se   augmentou  a   somma   total 
dos  direitos  (  reduzido  a  2  terços  )  de  L.  2,869-101- 
IO;  d.  a    L.    7,200   15    9   d.;  prova    certamente    3 
mais   importante  ,  entre  outras  ,   de   que   as  pezaclas 
taxas   desfazem   aquillo   mesmo   ,     que    intentão  fa- 
zer. 

Cotno  quer  cHie  as  encomendas  Inglezas  se  tenhão 
fiuameiuado   desta   nwncira  ,  e  ta;uo ,  o  American» 

pas- 


(15) 

passou  a  outras  muos  ,  tendo-se  ,  como  jujgo .  trans- 
ferido  em  grande  quantidade  para  ss  libas  forastei- 
ras. Este  motivo  obrigou  ao  Lavrador  a  mudar  d« 
systema  ,  por  se  accommodar  ao  gosto  dos  seu5  no- 
vos freguezcs. 

Na  verdade  emendar-se  isto  nío  está  nas  mãos 
de  qualquer  homem  ,  que  tenha  já  estabelecido  a 
sua  plantação  •,  mas  seguramente  he  hum  objecto 
muito  importante  a  semelhantes  pessoas  ,  o  terem  em 
vista  para  o  tempo  vindoiío  iieste  género  de  cultu- 
ra (em  hum  Paiz  no  qual  se  dão  espécies  singula- 
res de  terreno  ,  e  escolha  de  situação)  conhecer 
d*  antemão  aquillo  ,  em  que  deve  empregar  o  seu 
diniieiro  ,  e  a  sua  industria  ,  para  a  sua  maior  con- 
veniência. 

Na  verdade  o  Café  pôde  ser  cultivado  era  qual- 
quer terreno  das  índias  Occidentaes  ;  á  excepção  de 
huma  greda  ,  ou  barro  frio  ,  rijo  ;  e  de  huma  terra 
baixa  sobre  greda  quente.  Em  cada  huma  destas 
duas  castas  ,  as  folhas  amarellecem  ,  e  as  arvores  ou 
murchão  ,  ou  nada  produzem  ;  mas  inquestionavel- 
mente o  melhor  ,  e  mais  saboroso  fructo  he  ,  o  que 
provém  da  terra  misturada  de  huma  saibro  quente , 
e  de  huin  lodo  areisco  ,  ou  dos  outeiros  verme- 
lhos ,  e  seccos ,  que  se  encontrão  em  quasi  todas  as 
Ilhas  das  índias  Occidentaes  ,  e  particularmente  »a 
Jamaica.  Ainda  que  as  frequentes  pancadas  de  chu- 
vas sejão  favoráveis  ao  seu  ereseimcnto ,  com  tudo, 

de- 


C  i6  ) 
demorando-ss  a  agua    por  al-.nn   teirpo  j\rnto  á  sua 
raiz  ,  a  arvore   inuichará  ,  e  acabar. í. 

Sendo  a  terra  nova  ,  e  natiiralmente  boa  ,  se  pô- 
de em  todas  as  esutcóes  do  anno  plantar  o  Cate  , 
certamente  no  tempo  secco  ,  e  pôde  ser  cultivado 
em  qualquer  situação  .  com  tanto  que  esta  seja  abri- 
gada  dos  ventos  Nortes  ,  os  cuaes  pela  maior  par- 
te  lhe  destroem  as  flores  ,  e  muitas  vezes  do  meia- 
do  do  anno  por  diante  ,  quando  reinão  muito  ,  to- 
talmente as  despojão  ,  assim  das  folhas  ,  como  dos 
fnictos  .  desvanecendo  em  hum  instante  todas  as 
esperanças  do   Lavrador. 

O  modo  ordinário,  com  que   se  planta,  he   ali- 
nhando   a  terra  em  quadrados  de  8   pés  ;  em  outros 
trabalhos  se    semeão    as    sementes   ,    ou    plantão  as 
n.udas   em  8    pés  de  distancia  de  huns   a  outros  ppr 
todos  os  lado.,    os   quues   dao    608    arvores   a   cada 
acre  .  e  quando   se  podem  ter  estas   mudas  com  'a- 
cil.dade  ,    devem   ellas  ser  preferidas   ás    ba^ns-     As 
plantas  destinadas  d  plantação  devem   ser  escolhidas 
de  quasi    2    pés  de  altura.   Co.tem-se  de   déz  polle- 
gadas   acima    do  livel    da   terra  ,    e  cuidem    cuanto 
for  po.sr.el    em    as  enter.ar  com    todas  as  suas   raí- 
zes.   As    covas  ,  em   que   liouverem   de   ser   postas  , 
•e   alarguem  ,  quanto    bastem  .   para   recolher  a  par- 
te   mferior    do  seu   talo,  e   todas    as   suas    raizcs  ;  e 
semertão  as  fibras  superiores  debaixo  da  terra,  ar- 
«  duas  pollegadas  da  sua   supeiíide.  J\las  ainda  que 

pe. 


i 


C  17  ) 
pela  maior  parte   se  julgue  que   a  ordinária  distari-* 
cia. de   8    pés    basta,  para  se  plantar   em   qlialquer 
terreno  ,    cem   tudo   nas  terras   férteis  ,    quando  as 
arvores  chegão  á  sua   perfeição  ,  pela   sua  vicosida- 
de   se  atupem  ,  ou  fechão  tanto  hUmas   com  as  ou- 
tras,  que  embaração  à  fiança  passagem  doar.  Con- 
vém   neste  caso   derribar   cada  segunda   rua  alterna^ 
tivamente ,    isto  he ,    huma   sim,  outra  não,    lo , 
ou  4  2   pollegadas   acima  da  terra ;  e  para  a  boa   co- 
bertura dos  cepos   darão  estes  successivamente  arvo- 
res novas  ,  e  rijas  ,  logo  que  as  raízes  deixadas  as 
produzirem  muito  melhores  ,  do  qUe  aquellas  dadas 
antecedentemente.  As  antigas  plantações  (chamão-se 
Avenidas  )  derribadas  desta   maneira ,  não  cavadas  » 
e  replantadas  darão  huma  colheita  soífrível   no  segun- 
do anno ;  e   a  operação  será  muitas  vezes  repetida* 
O  systema  geral  ,  e  approvado  ,  quando   se  cul- 
tiva huma  Avenida  nova  ,   he  a  escolha  de  arvores  per- 
feitamente 4impas  de  gomeleiras ;  e  que  Unicamen- 
te hajão  de  ter  hum  só  tronco  em  cada   rak.  A  pe- 
zar   disto  >  se  huma  rija   gomeíeira  rebenta  junto   á 
terra  ,    a  planta   primitiva  se  embaraça  ;    por  cujo 
motivo  ,  quando   se  enterra   a  planta  ,  se  lhe  cubra 
bem   a    raiz.    Em  altura  de   i    ou   6  péâ ,  â  que   a 
planta  no  terceiro   annõ  geralmente  chega  ,  se  copa. 
Nesta   altura    cada   tronco   tem    36    para    42   ,    ra- 
mos ,  e  na  poda ,  cue  requer  Ènnualmente  ,  não  se 
lhe  deixa  mais   do  que  estes   ramos. 
B 


í. 


C  is  ) 

Do   que     fica    dito   relativamente  ao   effeito   da 
differença  de  estações,  segue  se  ser  muito  dificul- 
toso  fíxar-se  a  avaliação  do  producto  de  Imma  pLm- 
tacão  de  Café    por   acre.   Sabe-se   que   cadn    aivore  , 
era  hum    terreno  fértil  ,  e  esponjoso  ,  produz  de  6 
a  8  arráteis  de  Café  ,  quero  dizer   com  polpa   e  sec- 
co ;    em    differente    situação  hum   arrátel  ,    e   hum 
quarto   por  cada   arvore   se  avalia  huma   grande  pro- 
ducção  ;    mas  então   o    Café    he   infinitamente  me- 
lhor   em   sabor.  Creio  que  o  seguinte   he  hum   mé- 
dium ,  quanto   hum   cálculo  e)^acto  pode  admittir  a 
este   respeito.  Se  os  cafeseiros  forem   levantados   de 
arvores  antigas  em  terras  ,  nem  muito  pobres ,  nem 
muito  ricí;s  ,  produzem  o  segundo  anno  do  seu   no- 
vo crescimento   500  arráteis   por  acre,  500   no  2.° 
anno  ,    e  de   600  a   700   no  4."=    Se  o   Cafesal   for 
Jevantado  de  plantas   novas  ,  senão  deve   contar   so- 
bre o  seu   producto  até  o    j.°   anno  da  sua  planta- 
ção, nesse   tempo   produzirá   mui    pouco,  e  no  4.° 
perto  de  700  atrateis.  O  quinhão  annual   produzido 
por   acre  depois  deste    periodo   ,    se  a   Avenida   for 
tratada   com  cuidado,  se  poderá  avaliar  em  750  ar- 
tateis   ;    e   qualquer    preto    deve   cuidar  de   acre  ,  e 
meio. 

Passamos  agora  á  occupaçao  mais   im.portante  do 
Lavrador    de  Café  ,  a  saber  ,  a  colheita  da  sua  no- 
vidade ,  e  o  modo  de  o  preparar  ,  para  o  fazer  ven- 
da\ej  nos  mercados.  A  seguinte,  conforme  Mr.  Ro- 
que 


C  19} 

que  he  a  practica  da  Arábia.  Quando  os  Lavrado- 
res percebem  que  os  fructos  tem  chegado  á  sua 
madureza  ,  estendem  lençóes  por  baixo  das  arvo- 
res ,  que  sacodem  de  tempos  em  tempos  ,  e  o  fruc- 
to  maduro  cahe.  Estas  bagas,  ao  depois  de  juntas, 
são  postas  em  esteiras  ,  e  expostas  ao  Sol  ainda  com 
a  polpa  ,  até  que  fiquem  perfeitamente  seccas  ,  o 
que  precisa  de  muito  tempo  ;  e  depois  deste  se  ti- 
rão os  caroços  da  capa  ,  que  os  cobre  ,  pela  espre- 
medura  de  hum  grande ,  e  pezado  rollo  ,  ou  cylin- 
dro  de  pedra  ;  e  são  então  pela  segunda  vez  sec- 
eos  ao  Sol  3  porque  os  Lavradores  desconfia© ,  que 
quanto  menos  o  Café  for  perfeitamente  secco  ,  tan- 
to mais  correrá  o  risco  de  se  aquecer.  Neste  esta- 
do se  aventa  com  huma  grande  joeira,  e  se  em- 
barrica   para  a  venda. 

Não  se  pode  negar  que  este  simples  methodo 
he  muito  superior  a  outio  qualquer,  para  lhe  con- 
servar o  sabor  ào  seu  grão  •,  mas  póde-se  questio- 
nar com  razão  :  se  o  lucro  addicional  ,  que  o  La- 
vrador ha  de  conseguir  em  os  mercados  de  Ingla^ 
terra  por  hum  Café  assim  recolhido  ,  e  preparado, 
correspondera  ao  valor  do  tempo  ,  e  do  trabalho  ^ 
que  requer  hum  methodo  tão  aborrecido  necessa- 
riamente 5  O  seguinte  he  da  practica  usada  em  as 
índias    Occidentaes. 

Logo  que  a  baga  tenha  adquirido  huma  còr  ver- 
melha denegrida  na  arvore  ,  se  suppóem   estar   em 

B  ii  o 


o  ponto  de   madureza  ,  ou  de  vez   suflficiente  a   ser 
colhida.  Cada   lium   dos  pretos  destinados  a  esta  oc- 
cupação    se    prove    de   hum   talei^o  ,    ou   sacco  de 
panno    grosso    com    hum    arco     em   a   boca    para  o 
conservar    aberto.    Este  >e   suspende    em    o   pescoço 
do  apanhador ,  que  o  vai   despejando  em  huma   al- 
cofa ,  e  ,  sendo  cui<iadoso  ,  pôde  apanhar  trez  alquei- 
res   no  dia  ,  mas  a    não  ser  ,  bom    será   que    o  náo 
obrigue  ;  porque  ,   neste  caso  ,  mi=;turará  huma  «rân- 
de   quantidade    de    fructo   verde   com   o    maduro,   A 
practica  usada    lie   colhello   na  arvore    cm   trez   esta- 
ções  de  madureza.  Cem  alqueires  ,  ainda  com  polpa, 
tirado.»    de  fresco  da  arvore ,  rendem    mil   arráteis  de 
Café    vendavel. 

Aqui  se  usa  de  doils  methodos  de  preparar ,  e 
seccar  o  grão  ,  ou  caroço.  O  i.°  he  estender  o 
Café  novo  ao  Sol  em  taboleiros  com  cinco  polle- 
gadas  quasi  de  altura  ,  ou  em  huma  terraca  bati- 
da ,  ou  plataforma  de  madeira  ,  com  a  polpa  em 
a  baga  ,  a  qual  em  poucos  dias  fermenta  ,  e  se  des- 
carrega a  si  mesma  de  huma  humidade  muito  aze- 
da ,  e  se  deixa  o  Café  neste  estado  ,  até  que  este- 
ja perfeitamente  secco  ,  o  que  ,  correndo  o  tempo 
bem  ,  se  conseguirá  em  j  semanas.  Sepárão-se  ao 
depois  as  cascas  dos  gyC^os  ,  ou  por  hum  engenho 
de  descascar  ,  que  daqui  a  pouco  se  descreverá  ,  ou 
irt:iis  frequentemente  pizando-o  em  piKIes  grandes 
de   madeir*   com   mãoo.  O  Café  ,   assim  preparado , 

pe- 


( ^I ) 

peia  4  por  cento   menos  ,  do  que  o  preparado  com 

polpa. 

O  2."  modo  he  apartar-lhe  a  -polpa  iminedia- 
tamente  ,  que  se  tira  da  arvore.  Executa- se  isto  por 
meio  de  hum  engenho  de  descarnar  ,  que  consta 
de  hum  rollo  encanado,  e  horizontal,  comprido 
de  18  pollegadas  ,  e  8  de  largo.  Volta  se  este  rol- 
lo por  huma  manivella  ,  e  trabalha  contra  huma 
taboa  lar«ga  movediça  ,  3  qual  ,  conchegando- se  mui- 
to as  cracas  ,  ou  encanos  dos  rollos  ,  embaraça  que 
as  bagas  passem  inteiras.  O  Engenho  se  entretém 
por  huma  vasilha  de  madeira  inclinada  ,  por  cuja 
abertura  as  bagas  cahem  ,  ou  resvallão  no  Engenho, 
e  he  regulada  pelo  pendor  ,  ou  declividadé  de  hu- 
ma taboa  vertical  inclinada^  Por  esta  simples  má- 
quina hum  preto  descarna  hum  alqueire  de  Café 
em  hum  minuto.  A  polpa  ,  e  o  grão ,  envolto  ain- 
da na  sua  aralha  ,  ou  pellicula  interior ,  cahem  juri- 
tamente.  Passa-se  então  tudo  por  peneiras  de  arame, 
onde  se  lhe  separa  a  polpa  das  sementes  ,  e  estas 
se  vão  immediatamente  estender  ao  Sol ,  para  se  sec- 
carem. 

Dividem-se  as  opini6es  acerca  destes  dous  me- 
thodos  de  preparar  o  Café  entre  os  Lavradores.  O 
ultimo  he  tão  proveitoso  ,  como  expedito  ;  mas 
não  duvido  que  o  primeiro  haja  de  dar  hum  Café 
de  melhor  sabor  ,  attendendo-se  que  a  fermentação 
occupa  sempre  algum   lugar  ,  quando  o  frucío  crii 

se 


1 


(    22    ) 

se  p5em  amontoado  ,  ou  nas  plataformas  ,  poupan. 
do-se  mnis  a  despeza  de  huina  casa.  O  Cafc  azul 
esverdeado  ,  que  na  America  se  reputa  peio  me- 
lhor ,  he  olhado  por  causa  da  sua  còr ,  pelos  Ne- 
gociantes de  Londres  ,  como  tendo  hum  sienal  de 
não  ter  sido  suficientemente  preparado.  De  ambos 
os  methodos  se  pôde  ter  hum  Cafc  muito  bom  . 
com  tanto  que  se  Jhe  permitta  o  socccrro  da  ida- 
de, que  o   faz  muito   melhor. 

Até  aqui  expuz  somente  o  Engenho  de  descar- 
nar :  resta-nos  ainda  a  operação  de  o  estonar  ,  ou 
de  lhe  tirar  a  aralha  ,  tona  que  veste  immediata- 
mente  o  grão  ,  e  existe  ainda  ao  depois  de  se  lhe 
despojar  da  polpa.  Isto  se  executa  por  huma  má- 
quma  ,  que  pôde  ao  mesmo  tempo  esbulhallo  da 
polpa  secca  ,  no  caso  de  se  ter  admittido  na  sua 
preparação  o  primeiro  methodo  ,  o  que  seria  mui- 
to mais  expedito  ,  do  que  pelo  pilão  ,  e  suas 
jnãos. 

O  Engenho  de  estonar  consta  de  hum  eixo  per- 
pendicular ,  rodeado  em  alguma  distancia  por  hum 
vaso  de  madeira  redondo  ,  em  que  se  põem  o  Ca- 
fé ;  e  quasi  hum  pé  acima  do  livel  da  superfície 
do  vaso  commummente  estão  quatro  braços  hori- 
zontaes ,  ou  vassoiras  encaixados  no  eixo  ,  e  que  se 
alargão  fora  do  vaso  hum  pé  ,  e  neste  estão  4 
rollos  appropriados  a  correr  pelo  vaso  ,  andando-se 
em  roda  com  os  braços,  e  com  o  eixo,  o  que  st 

faz 


f{i?  com  miis  jungidas  iia  extremidade.  Os  rollos  que 
são  de  hum  pezo  considerável  ,  movendo-se  a  roda 
no  vaso  ,  estonão  ,  e  amolgão  as  aralhas  do  Café  ,  o 
que  he  bastante  para  serem  aventadas  pela  joeira, 
ainda  que  lhe  haja  de  ficar  alguma  porção  por  aven- 
tar. Quando  se  vê  suíficientemcnte  estonado  ,  se  ti- 
ra fora  do  vaso  ,  e  se  põem  na  joeira  >  na  qual  lhe 
tira  toda  a  granca  da  aralha  ,  e  as  que  ,  não  forão 
estonadas ,  se  escolhem  nas  joeiras  ,  e  se  tornão  a 
lançar  no  Engenho  ,  o  qual  pode  alimpar  mil  e 
500  arráteis  de  Café   por  dia. 

Aqui  se  dá  outro  modo  de  preparar  o  Café 
com  a  polpa  ,  e  sem  ella  por  meio  de  estufas.  Es- 
te he  practicado  por  mui  poucos  Lavradores;  por- 
que em  primeiro  lugar  requer  hum  grande  ,  e  cus- 
toso apparelho  :  em  segundo  ;  porque  a  fumaça  dá 
hum  cheiro  ,  e  gosto  desagradável  ao  grão.  Não  sei 
que  esta  asserção  seja  verdadeira  ,  mas  sim  que  não 
ha  cousa  alguma  ,  como  o  Café  ,  que  tenha  a  pro- 
priedade de  apanhar  mais  o  gosto  ,  e  cheiro  de  tu- 
do ,   quanto   se  lhe  poser  ao  pé. 

E  por  esta  mesma  razão  he  de  grande  conse- 
quência este  ponto  ,  em  que  se  deve  cuidar  ,  quan- 
do se  embarcar  Café  para  Europa  ,  não  o  pondo 
em  parte  alguma  do  navio  ,  em  que  possa  receber 
eflúvios  de  qualquer  outra  carga  ,  que  trouxerem  a 
frete.  As  sementes  do  Café  (  diz  Mr.  Moseley)  são 
notavelmente  arriscadas  a  embeber-se  das  exbalaçces 

de 


'  llV' 

,1    ' 


Cm) 

de  outros  corpos  ;  e  por  este  motivo  su-eitas  apa- 
nhar hum  tal  gosto,  que  lhe  he  inteiramente  es- 
tranho  ,  e  desagradável.  A  agua  ardente  de  cana  , 
(Rum)  posta  junto  ao  Café  ,  dentro  em  pou.o  tem- 
po lhe  communica  tanto  aos  seus  grãos  ,  que  sum- 
inamente  arruina  o  seu  gosto.  Qualquer  carga  de 
pimentas  da  índia  (diz  Miller)  embarcada  com  o 
Café  ,  em  poucos  dias   o  despoja  do  seu  gosto. 

Estas   poucas  observações   he    tudo,  quanto  me 
occorre  a  respeito   do  modo  de  cultivar  ,    e  prepa- 
rar este  famosíssimo  grão  ,  as  quaes  concluirei  com 
huma  breve  relação  das  despejas ,  e  lucros  relativos 
á  sua  cultura  ,  com  o  que  pertendo  que  se  anime  mais 
a   sua   industria  ,  em  ordem   ao  augmento  da  popu- 
lação branca   do  Paiz  das  Ilhas  Occidentaes ,  do  que 
com  algum  dos  outros   seus  géneros  commerciaveis , 
por  ser  o  rendimento  do  Café   muito  mais  i^ual  ,  e 
certo   do  que   o  de  alguma   das  outras  plantas  T  que  se 
çultivão  ;    e  o   seu  lucro  muito   maior  em  propor- 
ção  do   capital   empregado. 

Talvez  não  faltará,  quem  argumente  contra ,  di- 
lendo.  Se  o  f:icto  fosse  verdadeiro  ,  a  sua  cultura 
teria  sido  maior  em  as  Ilhas  das  índias  Occiden- 
taes ?  Esta  objecção  foi  anticipadamente  respondi- 
da ,  quando  se  fallou  dos  pezados  tributos  ,  e  di- 
reitos .  que  pngavão  na  Grã  Bretanha  até  o  anno 
de  1785.  O  que  ordinariamente  se  diz  :  que  os  di- 
rçitQs  impostos  nos  géneros  importados  cahem  so- 
bre 


i 


C^5) 

bre  o  consumador  ,  e  não  sobre   o  lavrador  ,  (nSo 
ha  cousa  inais   falsa)  nada  prova;  porque,    se   em 
consequência   dos  direitos  ,    o  preço  do  género   sobe 
a  hum  ponto   tal  ,    que   o   Negociante   o  deixa  de 
comprar,  o  género  do   Lavrador  fica  por  isso  mes- 
mo sem  sahida  ;  e  abatendo  se  elle   em  si  mesmo,' 
como  pôde  deixar   de  ser  iguahnente  ruinoso  ao  Ne- 
oociante,  e  immediatainente   ao  Lavrador  ?  Não  pô- 
de  liaver   cousa   alguma   mais   clara,  e  evidente  do 
que  ;  que  a  cultura  deste  artigo   estava  grandemen- 
te opprimida  pelos   impostos   da   Grã-Bretanha,  Is- 
to claramente   se   conhece ,  quando   se  compárão  as 
differentes   quantidades,   que   se  levavão  a  França, 
e  a  Inglaterra.  O  total   do  importe   annual  ,   que  se 
exportou    a  Inglaterra  dentro    em   5    annos(i7  8j 
e   17S7)  não    excedeo   5    milhões   e  €00  mil   arrá- 
teis ,  quando  somente  a  Hespanhola  ,  ou  S    Domin- 
gos produzio   hum   provimento  de  anno  ,  acima   de 
70  milhões  de   arráteis. 

2."  Claramente  apparece  que  ,  desde  a  reduc- 
ção  dos  impostos  de  1783  ,  a  cultura  do  Café  nas 
Ilhas  Occidentaes  ínglezas  tem  tido  hum  rápido 
adiantamento  ,  (em  Jamaica  particularmente)  o  qual 
não  tinha  tido  ^c  annos  antes.  A  pezar  porém  de 
não  se  ter  por  esta  reducção  (como  observa  o  Dou- 
tor Moseley)  abatido  ,  quanto  deveria  ser  ;  porque  os 
direitos  de  6  penicos  por  arrátel  ainda  estropeão  es- 
te género  j  porque  estorvão  que  o  uso  desta  be- 
bi- 


I 


(26) 

bida  tão  fragrante  se  faça  mai.  geral  a  todas  as  cias- 
ses  dop3vo.  A  de.lucção  deste  direito  deve  vir  desde 
oprnneiro  te;npo  ,  e.n  que  foi  posto  ,  e  o  da  sua 
contnmaçáo.  cjue  não  excede  o  de  50  annos.  Náo 
Ii^  tao  grande  a  Sciencia  do  Commercio  das  Coló- 
nias .  q.e  não  possa  ser  eníeadida  ,  ou  reflectida 
por  qualquer  1 

Calculo   das    dcspezas  ,   e  lucros    da   Cultura    do    Café 

nos  montes   de  Jamaica  ,  distantes  domar  14  m;- 

lhas  em  o  papel  moeda    desta   Ilha  ,  com  o 

abatimento   de  40   por  100   menos    que 

as  esterlinas, 

Pe:o  i/-  dinheiro  de  terras  de  montes ,  Cjoo 
geiraO  re^ervadu   hu.na    terceira  parte  pa- 
ra   pa«ae: .  e  logradouros.   L.  j.  por  acre.    0^900 
P.  .00  escr.   a  701.   por  cabeça.     -    .      7^000 
P.  20  mus    1.    aS.     -     -    «  L 

1-.  lidi.icioí  ,  trastes  ,  maquinas  ,  feiramen^ 

tas  do?  pretos.   -•     -     -     «     «  ^ 

i>    c  .  -     -     -       2<ioco 

í'.  i>ustento  dos  escravos  no  i.°  anno  ,  an- 
tes de  colherem  mantimentos,  fora  ou- 
tras d«spezas  annuaes,  carregadas  adian- 
te.   ---..,.    ^  , 

To 'ai.      loç^  9  60 
Os 


C  27   ) 

Os  juros  deste  dinheiro  em  5  annos  ,  em 
quanto  se  não  tem  algum  lucro  -  a  6 
por  100      ---------      2^091 

Total  L.    Má^osj 

Vcspezfis  annuacs, 
P.  Hum   feitor  branco,   e  seu  sustento.      ^200 
P.  Outro  branco  Subalterno.      —    -     -     ^i^oyo 
P.  Botica  ,  provimentos  de  boca  ,  vestiaria  , 
ferramentas ,  peixes ,  e  carnes  salgadas  ,  e 
outras   provisões  além  das  da  fazenda.     ^^^225 
P.  Tributos  Coloniaes.    -----     ^loo 

(í)595 
Total  de  3   annps  antes  de  algum  rendimen- 
to.   ----------  i<Í)78$ 

Juros.-    ---------     ^221 


Total  da  despeza  L.  1 5^^059 
(  54:21 2  çj)  400) 
X^ucros  àc  4  annos  «  L.  4  yor  quintal,  (^Es- 
te foi   o  preço    do  Café    5    annos    antes 
de   1792.) 
P.  45  mil  arr.  de  Café  novo  (he  o  que  se  pô- 
de esperar  em  4  annos  de  1 50  geiras  plan- 
tadas.)   --     -------^       i(^Soo 

De- 


C  ^s  ) 

Deduzidas  as  despezas  de  4  annos.     595 
Suecas ,  &:c.       -     -     -     -    « 


40 


èí^JJ 


Liquido     -    -     L.         i^i6> 
Sao  iguaes  a  L.   7    14.8  por  cento  no   Ca« 
pitai'. 

Recompensas  do    ^P   anno  ,  c  seguintes. 
P.   1 5  O    geiras  que  produzem  7  50  L.  por  gei- 

r^.     -     ii2á)Soo,  em  L.  4.      .    T.     4^500 
Dedu2iado-se  os   encargos  annuaes  ,    como 

,'''''''       - 595 

^^'^^^^'  ^ -    -       80 

Rí'paros  das   fabricas,  ou  máquinas.     100 


Lucro  liquido  (igual   a  241    por    100    no 
Capital  )----.-.«»L 

(í  3:410^000) 
Nota. 
Observar-se-hia  na  primeira  edição  desta  obra  ,  que 
cu  estava  obrigado  pelos  cálculos  dados  nesta  ,  c 
nas  duas  paginas  antecedentes  ao  meu  bom  amigo 
Samuel  Vaughan  Esq.  da  Freguezia  de  S.  Jaimes  em 
Jamaica  ,  e  Membro  da  Assembica  desta  Ilha  ,  que 
se  tinha  applicado  á  cultura  do  Café  com  grande  as- 
siduidade,  ebom  successo.  Elle  me  fez  o  mimo  das 
seguintes  Observações  interessantes ,  que  com  mui- 
to  grande  gosto  publico. 

OB- 


'TÈÍ. 


(29) 

OBSERVAÇÕES 

PERTENCENTES    A    CULTURA 

DO 

CAFÉ, 

EM  A  ILHA  DE  S.  DOMINGOS, 

E  do  seu  augmento  provável  em  Jamaica ,  no  caso 
ds  não  ser  abolido  o  negocio  dos  Escravos  pe- 
lo acto    do   Parlamento  » 

POR 

SAMUEL  VAUGHAN  e.?. 

J\.  Parte  Franceza  da  Ilha  de  S.  t)omingos  ex- 
portou em  1770  cinco  milhões  de  arráteis  de  Ca- 
fé ;  em  1784  por  causa  de  hum  premio  de  40  L. 
por  tonnelada  ,  que  se  concedeo  aos  navios ,  que 
lhe  levassem  escravos;  e  em  1786  por  outro  pre- 
mio de  200  L.  por  cabeça  de  escravo  ,  que  se  trans- 
portasse a  esta  Ilha.  Chegou  a  somma  destes  a  au- 
gmentar-se  annualmente  de  12  a  i?  a  25  a  jo  mil, 
e  por  eífeito  desta  augmentação  de  Africanos  tra- 
balhadores ,  a  Colónia  fez  hum  progresso  mui  rá- 
pido em  todas  as  suas  culturas ,  mas  creio  que  a 
do  Café  a  tudo  excedeo  -,  porque  a  exportação  des- 

■•       "  te  ' 


C  ío) 

le  artigo  cm  I789    se  augmentoii  acima  de  7Ó  mi- 
Jiiões  de  arráteis  ,    c;iie  avaliadas   pelo   preço  actual 
(90  xel.  por    quintal)  chegou  L.  3:420<iooo.  Des- 
ta   tão    ampla    exportação   não   menos   que   2j    mi- 
IhÓes   de   arráteis  (valor  L.  1:250^000  esteil.)  fo- 
râo  produzidas    entie   os   annos  de   1786  ,  e  1789- 
e  se  presumia  que  ,  a  não  ser  embaraçado  pelas  per- 
turbações  actuaes    da  guerra  ,  deveria  che.crar   a    80 
milhões  ,   tão   pouco    o    abatimento  ,   tido  no  preço 
da    quantidade     trazida    a   vender-se   nos  mercados , 
affectou  a  cultura.  Parece  provável  que  o  excessivo 
valor    do   Café  de  Moca  ,  e  o  do   Oriente  deo  oc- 
casião    á  antiga    prohibição    do  uso    desta  bebida  , 
entre  a   media  ,  e    Ínfima   classe  do  povo  na  Euro- 
pa ;    por  quanto  a   quantidade   colhida   unicamente 
na  Ilha    de   S.    Domingos   era   tão  grande  ,  o   aug- 
iTiento    da    sua    cultura    tão    rápido  ,    e   o  preço   d^o 
Café   das  índias    Occidentaes  ,  (de  2  xel.   e  2  d.  por 
anatei   menos   cue   o  de  JVloca)  tem  até  agora  con- 
tinuado ,  no   tempo   da    maior  exportação  ,  cm    tão 
rendo>o    estado    para     o    Lavrador  ,    que   he   difficil 
cxpollo.  Mas    por   estes  factos   se  deve  suppõr   que 
seaugmentou    hum   povo  novo,  e  numeroso  de  con- 
summadores.   Isto   supposto    he   embaraço.o  antever 
até  que    ponto  a    cultura   deste   artigo  pude   chegar 
nas   índias  Occidentaes.  Não   bastaria   dizer  que  se- 
ria igual   a    doassucar:   pois   não   e>tá  p'0\avelmen- 
te  no   caso  do  assucar  ,  de  poder   ser   diminuído  pe- 
la 


m 


C  jO 

Ia  importação  da  índia  Oriental  ,  visto  que  a  pe^ 
2ar  disso  presenlementç  a  sua  pasmosa  iiupoitaijcia 
nas  índias  Occidentaes  ,  riv alisa  assim  as  índias  Ori- 
entaes ,  como  a  Levante.  A  diminuição  da  cu:!rti- 
dade  do  Café  produzido  em  S,  Pcmingos  (acima 
de  mil  fazendas  de  Café  destruidas)  não  pede  dei- 
xar de  ser  sentida  notavelm.ente  nos  annos  futuics; 
porque  muitas  pessoas  desta  Ilha  são  de  opinião 
que  a  exportação  será  reduzida  a  menos  da  ame- 
tade  ,  (vem  a  ser  4  milhões  de  arráteis)  suppondo  real- 
mente que  a  presente  rebellião  se  terminara  sem 
ulteriores  devastações.  A  exportação  de  tcdas  as 
Colónias  Inglezas  em  17  H7  não  chegou  a  4  mi- 
lhões de  arráteis  ,  e  por  consequência  (exceptuando 
as  novas  culturas)  não  pode  supprir  a  falta  oc- 
casionada  pelas  perturbações  de  S.  Domingos  ;  nem 
o  resto  das  índias  Occidentaes  está  na  possibilida- 
de de  o  fazer  ;  porque  desde  estas  afflicçoes  em  S. 
Domingos  se  augmentou  o  preço  de  tal  soite  ,  quê 
chegou  a  hum  quarto  ir.ais  ,  isto  he  de  70  a  90.  Es- 
te avanço  de  preço  virá  (  se  não  for  Lopeado  pe- 
lo accrescentamento  de  rovos  Direitos ,  como  an- 
tigamente) a  ser  hum  premio  para  tcdas  as  Ilhas 
das  índias  Occidentaes  ,  onde  ainda  se  achão  mon- 
tes incultos  ;  e  ,  como  se  não  poderá  continuar  a 
cultura  em  S.  Domingos  por  algum  tempo,  confor- 
me a  sua  antiga  extensão  ,  he  provável  por  varias 
razoes  que  este  premio  ccnseguirá  íixar  a  sua  pri- 
i  mei- 


C  Jí  ) 

mejra  consistência.  Concedido  isto  a  Jamaica  ;  a  ex- 
portação  antecedente  31785    não  excedia  a  850,000 
arráteis  ,    sem    embargo    das    medidas    tomadas   pela 
Assemblca   pa-a  animar    a  sua    cultuia.   A  reducção 
da  alcavala  a  ó^  d.  por  arrátel  ,  principiou  em  178^, 
e  parece  que    immediatamente   influio  ;  porque  ,  no 
quarto  anno    depois   deste  succevso  ,    quando  apenas 
naturalmente  se  deveria  esperar   algum  signal   deste 
cffeito  ,  se  conheceo    hum  grande    augmento  de  ex- 
portação ,  e  em   trez   annos   mais  ;   o  producto  qua- 
si   treídobrou  ,  chegando    ao  excesso    de  2   milhões, 
e  hum    quarto.    Estavão  nesta  situação  ,  quando  prin- 
cipiarão os    distúrbios   de   S.    Domingos.  São   passa- 
dos   16  mezes    do   principio   desta    rebellião  ,  e   pe- 
las respostas   dadas  de    muitas   Freguezias  ,  se   mos- 
tra que  2  1(^011    escravos    se   achão   empregados    na 
cultura  do  Café  em  Jamaica.   Eu   quero  suppor  con- 
sequentemente  que    hum   quarto  destes   podem   ser 
occupados    em  outros   objectos,  que  tenhão    conne- 
xão  com  o  Café;  e  que    hajão  de  ficar    15^759  es- 
cravos applicados   somente   em  sustentar  esre  artigo, 
o  qual  ,    segundo  o    calculo   commum  ,    quando   as 
plantas   estiverem   no  seu   perfeito  crescimento    (em 
1797)  poderão  dar   o   rendimento  de  quasi    16  mi- 
lhões  de  arráteis  ,    que    he    dezoito    vezes    mais   do 
que    rendia    em    178  j  ,     e    sere   ve7es   mais    do   qiie 
110  ultimo  anno    Póde-se    ainda    accrcscentar   a  isto ; 
Que  as  terras  baixas    de   Jamaica  tem  ja  cstabele-   . 

ci- 


Cu  ) 

ciitientos  ;  e  que  as  terras  altas  ,  fallando  geral- 
mente ,  são  impróprias  para  o  assucar  ,  porém  boas 
p:ira  o  Café.  Elias  são  novas  ,  e  [azem  quasi  duas 
terças  partes  de  Jamaica  :  toda  a  Ilha  esta  nova- 
mente atravessada  de  estradas ,  Sic.  &c.  Em  poucas 
palavras ;  tudo  está  piompto  3  e  o  tempo  he  o  mais 
próprio  a  esta  empreza. 

Por  todas  estas  circumstancias ,  tomadas  collec- 
ti  vãmente  ,  he  razoável  concluir  ,  que  ,  se  os  traba- 
lhadores houverem  vir  de  Africa  por  preços  mode- 
rados ,  e  cómmodos  ;  e  ,  querendo-se  aproveitar  as  cir- 
cumstancias do  tempo  presente  ,  poderíamos  estabe- 
lecer huma  muito  extensiva  plantação  de  Café  etn 
Jamaica  ,  a  qual ,  como  hum  género  de  exportação^ 
seria  de  hum  grandíssimo  proveito  para  a  Grã-Bre- 
tanha  ;  e  que  talvez  excederia  em  vaior  ao  género 
do  Assucar.  Mas  este  novo  ,  e  importante  Commer- 
cio  depende  absolutamente  da  importação  dos  es- 
cravos. O  augmento  da  Cultura  do  Café ,  ao  ponto 
que  aqui  se  aconselha  ,  he  na  occasião  presente  de 
huma  particular  consequência  por  outros  dous  mo- 
tivos ,  ou  pontos  de  vista  1.°  ;  porque  augmentará 
o  número  da  classe  mediana  de  brancos  ,  os  quces , 
ainda  que  não  sejão  ricos  demasiadamente  ,  para  vi- 
verem em  hum  Paiz  distante,  com  tudo  tem  ri- 
queza sufficiente  para  viverem  com  independência  , 
e  abastança,  e  tratarem  suas  famílias  com  fartura 
competentemente  ,   residindo  nas   suas  próprias  fa- 

G  zen- 


(  34 ; 

zendas  .  ou  granjas.  2.^  As  fazendas  ,  ou   sítios  dos 
montes  ,  sendo  iiiais  saudáveis  ,  geralmente  augmen- 
13  mais  a  população   dos   pretos  ,    do  que  as  terras 
baixas.  A  primeira  circumstancia  augmenta  a    nossa 
segurança  ,  tão  necessária  presentemente  ;  e  que  ,  em 
todos  os  outros   periodos  ,   debalde  se  esperaria  con- 
seguir por  outros  meios.    2.°   porque  manifesta   hum 
plano    da  abolição   do   Commercio   de   escravos  ,   o 
<]ue   em  breve   tempo  por  causai  naturaes  ,  pouco  a 
pouco  ,  se  conseguiria  ,  sem  dar  motivos  de  justa  quei- 
xa a  qualquer  corporação  humana. 


EX- 


C)55 

TRATADO 

SOBRE    A    CULTURA 
D  O 

CAFÉ, 

1»    o     R 

Mr.  m  o  n  e  r  e  a  u. 


J)c!cripção    desta   arvore ,  e  de  seu  preparativo, 

O  E  escrevesse  em  Historiador  convir-me-hia  co- 
meçar pela  origem  do  Café ,  mas  isto  seria  que- 
rer ir  muito  longe  ,  sahir  fora  da  minha  esfera » 
e  repetir  cousas  ,  que  d  mais  de  20  annos  escre- 
vem huns  sobre  o  testemunho  de  outros  ;  e  nas 
quaes  a  verdade  ,  e  o  falso  fazem  huma  agradável 
mistura.  Julgo  que  importa  muito  pouco  1  aos  que 
lerem  esta  Memoria  ,  què  o  Café  nascesse  no  fundo 
da  Arábia  ,  ou  na  extremidade  do  pólo  árctico  ;  « 
que  as  cabras  fabulosas  do  bom  P.  Labat  fossem  , 
as  que  o  descobrissem.  Isto  não  he  ,  o  que  in- 
teressa o  meu  projecto  ,  mas  unicamente  o  que  he 
iitil  ;  e  por  isso  me  cingirei  só  a  dizer  o  coiiio , 
e  quando  nos  veio, 

C  i3  Se- 


'.ir' 


C  !6) 

Segundo  a  vóz   mais  comnnim  ,  somos  respon- 
sáveis aos  HoUandezes  das   primeiras  arvores  do  Ca- 
fé  ;    porque   elles   forão  os  primeiros  que   se   lem- 
brarão  de  o   cultivar  em  Batavia  ,  e  de,  ois  em  Su- 
rinam  ,    e    passados   alguns    annos  ,    os   vizinhos    de 
Caiena  o  cultivarão    com   hum  successo  maior   que 
as  suas  esperanças.  Em   1722,   por  occasião  de  hu- 
ma  viagem   que  Mr.   De  la  Mote  Aigron  ,  Tenente 
«le  Rei  em  Caiena  ,   fez  a  Siirinam  ,  Colónia  Hollan- 
deza  ,  a  24  léguas  de  Caienna  ,  para  negócios  do  ser- 
viço, que   não  são   do  meu  assumpto  ,  vio   as  arvo- 
res  do  Café  ,   e    soube  o   modo   de   as  cultivar ,    e 
só  lhe  faltava  ter   plantas  ;  porém  era  prohibido  de- 
baixo  de  pena  de   morte    vender ,  ou  dar    hum  só 
grão   aos  Estrangeiros ,    que   não  fosse  secco.    Elle 
porém   o  conseguio  por  meio  de   hum   Francez   re* 
fugiado   em  Surinam  ;    e   foi   também  succedido  na 
sua  empreza  ,  que  já  em  1724,  e  1725    havião  em 
Caiena  mais   de  60   mil  pcs   de  Cafés  ,  que  produ- 
2Íão  :  em  1726  começarão  a  dar  em  xMartinica  ;  mas 
estes  devem  a  sua  origem  a  dous  pés  de  Cafés  que 
vierão  do    Jardim    do   Rei  de    Paris  ,    de    cujos  os 
Senhores  HoUandezes   tinhao    feito   hum     mimo  ao 
Bei   Luiz  XiV.   de   gloriosa   memoria.  Pouco  tem- 
po depois  os  teve   S.  Domingos ;  porcue  me  lembro 
de   os  ter  lá   visto  em  172S  ,  mas   então  só  tinhão 
alguns  pés    nas    hortas   dos   curiosos.   Ora   aqui   tem 
multiplicado  por  tal  modo,  que  se  tem  feito  gran- 
jas. 


\ 


jxs.  Os   vizinhos  de  Dondon  ,  7    P^ra  S    léguas  do 
Cabo  ,  forão  os  primeiros  ,   que  o  cultivarão  j  e  que 
se    enriquecerão   com  elle.  Hum  certo   Gascao  O 
homem   jovial ,  como  são  todos  os  de  sua  Nação  , 
chamado   Dupaits ,  fez  huma  fortuna  das  líiais  bri- 
lhantes dentro  em   muito  pouco   tempo  ,  bem  que 
só  principiasse  com   5    para   6   pretos.    Passou  para 
França  ,  quasi  10  annos  depois  ,  deixando  a  sua  fa- 
zenda com   o  número   de  100  pretos.  Hoje  não  ha 
fazenda   alguma    nos  montes   ,    em  que  não   hajão 
plantações  de  Café,  á  proporção  dos  pretos  de  ca- 
da-hum  ;  e  teiião    lugar  de  esperar  alguma  fortu- 
na, se  os  commerciantes  presentemente  tivessem  a 
felicidade,    que  tiverão   os   primeiros,  a  saber,  os 
avances  dos  pretos  ,  que  lhes  fizerão  ,  a  medida  que 
os  Cafés  fa7Íão  progressos ,  tendo-Ihes  o  longo  cré- 
dito facilitado   pagar  os  pretos  com  o   seu   próprio 
trabalho.  Hoje  isto  está  mudado  ,  e  bem  differente 

do 


(*)  Cito  a  este  por  preferencia  ,  per  ser  hum  dos 
primeiros  que  o  plantarão,  e  por  se  fazer  huma  for- 
tuna tão  rápida  que  foi  admirada  de  todos',  mas  os 
pretos ,  que  lhe  fiarão  ,  não  contribuirão  pouco  ;  porque 
com  hum  pequeno  número  destes  ,  pòde-se  os  dons  pri- 
meiros annos  plantar  ,  e  entreter  seis  véus  tantos 
Cafeselros  ,  quantos  se  poderlão  colher.  Ora  ,  ^^^"^"' 
do  elles  são  rendosos  se  afianção  escravos  suficien- 
tes para  os  colher  ,  nÕo  será  dificultoso  de  se  enri' 
(juecer  :  eom  este  avanço  se  emprehende  o  dobro  ,  e 
successivamente  S6  vm  m  estado  defaur  huma  for- 
tuna rápida* 


(  íS  ) 

do  anno  de  1753  ;  porque  sem  dinlieiro  de  conta- 
do nada  de  escravos  ;  e  ainda  por  preços  bem  ex- 
orbitantes ,  a  15C0  para  i6co  Jivras  cada  hnm  ,  pa- 
ra isto  he  preciso  dar  hum  terço  á  vista  ,  e  o  mais 
fiado  ,  dahi  a  }  mezes  debaixo  de  boa  ,  e  suíficien- 
te  caução  ,  de  modo  que  se  faz  preciso  que  o  prm- 
cipiante  tenha  huma  grande  economia  ,  para  p'oder 
adiantar-se  ;  e  por  pouca  familia ,  que  tenha ,  pôde 
contar  o  trabalhar  até   a  velhice. 

Com   tudo  os  progressos  de  huns  causão   emu- 
lação aos  outros :  qualquer  prepáta  a  sua  terra  com 
tanto   ardor   que  he  provável  que  dentro    em   pou- 
co tempo    todos    os  montes   habitáveis  estaráõ  co^ 
feertos  de  cafesaes   de    Café  ;  pois   que  diariamente 
se  rossão  novas   porções.  Será  ao  depois  a  sua  abun- 
dância tão  grande  ,  que  ,  justamente  se  pode  recear, 
haja   e\\G  de  descer   a  hum  preço  mui  baixo.  Fal- 
samente   se  pensa  que,  ainda  não  valendo  mais  de 
8    para    10   soldos  ao  arrátel ,  não  deixaria  de  fazer 
conta.  Eu  aconselharia  a  sua  cultura  a  hum   peque- 
no número   de  vizinhos  ,  que  o  fizessem  grandemen- 
te ,  por  estarem   ao  pé    da   Cidade  ,    aos   quaes   as 
conducçdes  ,  ou   carretas   custão   muito   pouco ;  por 
lhes  serem   mais   fáceis  ,    tendo   carros   ccSmmodos  , 
e  a  facilidade   de  carretas  ;  mas   os   que    morão  em 
distancia   de    1 5    a    20    léguas  do  Porto  ;  e  que   tem 
de   passar    5    para    6  léguas  de  montes,  quanta  des- 
peza   não  devem   fazer  ,   para  terem   o  número  de 


(   59) 

animaes  competente  para  as  cargas  ,  que   ,á  tem  su- 
bido  a  hum  grande    preço  ,  e  c^ue  cada  dia  se  fa- 
z-m   caras  de   mais   n   mais  5  Quando  se   calcula  a 
carcra    de  cada  cavallo  ,    se  acha  que   só   leva   ijo 
arráteis  de  pezo ,  ainda   que  a  viagem  seja  curta :  a 
déz  soldos   por  arrátel  são  7  5  livras   pelo  carreto  da 
car<^a  :  accrescente-se  a  despeza  da  passage  ,  a  com- 
mirsão    a  ^   e  4   por  cento  :  attenda-se  a  estas   de- 
diiccoes  ,  augmentem-se  com  a  perda  dosanimaes, 
e  facihnente  se  desabusarão   do  erro  ,  em  que  estão  . 
de  que  basta  ,  para   se  ser  rico  promptamerlte  ,  pos- 
suir hum  cafesal ;  e  disto,  ainda  não  lembrando  por 
hum  instante  as  avarias ,  a  que  os  Cafeseiros  são  su- 
jeitos ,  facilmente   ficaráô  convencidos. 

Mas  íisonjeão-se  seinpre  ,  e  o  Francez  he  mais 
en<^enhoso  cue  Nação  alguma  em  engrossar  os  ob- 
j^aos  5  pois  nenhuma  goza  de  huma  imaginação 
mais  rica  que  elies.  Apenas  calculao  o  rendimen- 
to  de  hum  certo  número  de  pés  de  Cafés  ,  culti- 
vados  por  huma  certa  quantia  de  escravos  ,  quando 
já  se  contemplão  senhores  de  huma  renda  fixa ,  co- 
piosamente proporcionada  as  suas  faculdades  ;  por- 
que tudo  iulgão  proveito  ,  e  nada  perda.  E  no  fim 
da  conta  o  que  acontece  ?  O  mesmo  que  ao  Mer- 
cador de  vidros  ,  que   se  refeie   no  livro  Mil  c  huma 

noite. 

?or  tanto  he    preciso  convir   que    a   cultura  do 
Café  tem  cevos  bem  attractivos :  seus  princípios  to- 
dos 


(40) 

dos  parecem  de  ouro  ;  a  facilidade  ,  com  que  se  cul- 
tiva  ,  he  encantadora  :  o  seu  proíjres^o  não  menos : 
a  quantidade  ,  c)uc  se  pôde  manter  com  hum  pe- 
queno número  de  pessoas  ,  o  faz  respeitar  como 
a  renda  mais  sólida  ,  cue  custa  menos  ,  e  que  apro- 
veita mais;  e  nisio  he  mui  singular  que  muitas  ve- 
zes assim  he  ate  o  momento  da  sua  colheita  :  e 
então  se  vem  a  conhecer  seu  erro  ;  muitas  vezes  es- 
tas ricís  pioducçóes  se  eclipsao ,  e  estes  bellos  pés 
de  Cafés  ,  que  promettiao  tantos  ,  e  quantos ,  amea- 
Çáo  ruina  desde  o   seu   primeiro   producto. 

Tenho  visto  muitas  vezes  acontecer  esta  sorte 
de  accidemes  a  muitos  fazendeiros  ,  e  mui  com- 
mummente  ;  e  eu  mesmo  não  fui  exceptuado  des- 
ta regra  absolutamente.  Nao  ha  cousa  alí;uma  .  que 
não  precise  da  experiência  ,  para  obviar  as  conse- 
quências. Este  fatal  accidente  provém  da  pojição 
dos  Cafés  muitas  vezes  ,  e  outras  do  terreno  .  que 
Jhe  não  he  próprio.  Não  sou  da  opinião  de  alguns, 
que  dizem  :  que  toda  a  terra  lhe  he  própria  ;  e  com 
especialidade  a  mais  magra,  conforme  os  sentimen- 
tos ào  V.  Labat. 'Sempre  vi  os  mais  bellos  cafesei- 
ros  em  as  melho.es  terras,  o  que  he  assas  visível. 
Acontece  também  que  hum  certo  insecto  chamado 
iVlahocat    (  insecto   que   faz  morrer    o  Café  )  (  *  ) 

in- 


(*)  Ao  Jim   se  dúVii  a  hl 


stovui 


■sle    insecto. 


(40 

imensivelmente   os   mata.    Para   esta   scite   de  acci- 
dentes   não  ha   remédio;   porque,  quando  se  perce- 
be ,  já  não   he  tempo  ,  a  raiz   mestra  ,  ou   por  ou- 
tro  nomç.,  o  espigão  ,  está  damnificada  ,  e  isto  só  se 
pôde  conhecer  ,  quando   o  tronco  começa  a   resen- 
tir-se.  ou  a  murchar;  e   que  já  não   he  tempo  de 
remediar.  Outros  morrem  ,  sem  se  poder  conhecer 
a  causa.    Eu    todavia   tenho    salvado  a  muitos,    fa- 
zendo  cortar    a   duas    poliegadas   abaixo    do   lugar  , 
em   que  a  arvore  começava   a  seccar ,  o  que  ord  ina 
riamente  começa  na  extiemidade  do  tronco  ;  e  quan- 
do se  lhe  separa  a   parte    accommettida ,    o  pé  tor- 
na a   tomar   a  sua   força   com  vi^^or  ,     lança  novos 
garjos   pelo   nó  ,  em  que  foi   cortado  ;  mas  he  pie- 
ciso   ter  cuidado  de   parar    estes  renovos  na  altura  ,  | 
em   que   se  peitendem  ,   que    hajão  de  ficar.  í 

Á  pouco  se  descobrio  outra  espécie  de  insec- 
tos ,  ch?iwàáGS  Haneíons  ,  que  tem  o  focinho  com- 
prido, e  pontudo  ,  guarnecido  por  cada  lado  de  ser- 
ras ,  que  tinhão  feito  estragos  formidáveis  nos  Ca- 
íeseiros.  Foi  huma  felicidade  que  isto  não  teve  con- 
sequências ;  e  elles  desapparecêrão  quasi  no  mesmo 
tempo  ,  em  que  forão  presentidos  ;  este  insecto  fa- 
zia a  mesma  manobra,  que  os  bichos  de  tubos, 
furava  o  tronco  da  arvore  debaixo  para  cima  ,  e 
o  fazia  tão  òco  ,  como  pôde  ser  o  cano  de  huma 
espingarda  ,  sem  que  a  arvore  parecesse  ,  que  se  re- 
sentia  em  parte  alguma  deste  successo  ;  mas  ao  me- 
nor 


nor  embah;nento  do  vento  se  quebrava  j  e  esta  foi 
ã  causa   de   se  descobrir   o  insecto.  Muitas   vezes  se 
achavão  em   cada   tronco    12  ate    ij,  e  cada   hum 
com    seu  alojamento   particular  ,  e   cavavão  até    sa- 
hirem    pelo   picoroto  da  arvore  ,  para  ao  depois    se 
hirem  alojar  em  outro  pé  ,  ou  planta  mais   vizinha. 
Elíes  somente   accommettião  os  cafeseiros   novos  de 
hum  até  dous  annos ,  cujo  lenho  ainda  estava  ten- 
ro,  e   a  medulla  ou   miolo    fácil  de  se  penetrar ;  e 
jr.mais   procuiavão  as  arvores  mais  velhas.  Não  hou- 
ve  outro  remédio  para  fazer  parar  o  progresso  des- 
te mal  ,  senão   cortar  o  pé  do   Café   duas   pollega- 
das  acima  do  livel  da  terra ,  e  destruillos    pelo   fo- 
;^o  ,  fazendo  queimar   os  ramos  :  por   este   meio  se 
IhQs  embaraçou  a   propagação,  com  o  atraso  de  iS 
mezes  do  rendimento  dos   Cafés  cortados. 

Também  se  não  dtvem  figurar  que  os  Cafeseiros 
sejão  nos  morros  de  huma  longa  duração  ;  porque 
a  trez  annos  de  huma  abundante  colheita  se  se- 
gue a  esterilidade  ;  e  aouelles ,  que  tem  escapado 
aos  accidentes  ,  a  que  são  expostos  ,  e  sujeitos  ,  só 
produzem  mui  fracamente  ,  e  nas  franças  ,  ou  pon- 
tas  dos  ramos. 


€s 


(  40 

§  II.   Os  terrenos  dos   morros  sÕo    de  pouca 
1»  duração. 

A  evidencia  he  clara  í  a  queda  das  aguas  da 
chuva  arrastra  comsigo  a  superfície  da  terra  ,  a  de- 
grada ,  e  faz  alvares  ,  ou  fossas  que  a  fazem  n  agra, 
e  estéril  :  para  substituir  esta  perda  ,  nos  vemos  obri- 
gados de  plantar  hum  certo  número  todos  osan- 
nos  ;  e  por  esta  sábia  previdência  ,  e  cautela  sus- 
tentamos cm  proporção  os  nossos  rendimenios  em 
iiespeito   das  perdas   inevitáveis ,  que   padecemos. 

§  lU,  Meios  de  conservar    o   terreno, 

He  fácil  de  se  conhecer  ,  pelo  que  se  acabou  de 
direr,  que  o  terreno  dos  morros  não  são  de  lon- 
ga duração  ;  e  por  isso  para  se  lhe  prolongar  o  go- 
20,  se  faz  indispensável  prohibir  aos  escravos  barbe- 
char  ,  ou  arrancar  as  raizes  das  arvores  ,  que  lastrão 
sobre  a  terra  ,  e  totalmente  se  entrelação  ao  depois 
das  derribadas.  Esta  precaução  he  de  huma  grande  uti- 
lidade ,  para  a  conseívação  da  terra.  Fm  quanto  as 
raizes  subsistirem  ,  as  aguas  não  farão  preza  na  ter- 
ra ;  e  por  este  meio  os  pcs  de  Cafés  tem  tempo 
de  crescer ,  e  de  cobrir  a  seu  turno  as  raizes  ;  e  a 
terra  ,  que  as  rodea  ,  antes  da  inteira  consumação 
das    outras  ,  o  que   lhe  dá    lugar    de  icsistir  alguns 


annos  mais. 


For 


§  IV.   Porgite   senão   devét   mondar    e  enxada. 

Não  se  deve  jamais  mondar  a  enxada;  porque 
em  cahindo  a  menor  gota  de  chuva  ,  e  achando  a 
terra  cavada  ,  a  arrasta  comsigo  ,  e  se  acha  gasta , 
antes  que   a  arvore  tenha    tempo  de   fructificar. 

Os  que  nos  dizem  que  o  Café  não  he  dtlica- 
«2o ,  só  o  terão  visto  passada  a  sua  primeira  ,  c 
segunda  colheita.  (O  He  verdade  que  ,  antes  da  sua 
producção ,  vem  com  huma  pressa  ,  e  com  huma 
belleza  admirável ,  ainda  em  má  terra  ;  mas  a  quan- 
tidade  de  fructos  ,  que  produz  ,  o  acanha  ,  senão  he 
soccorrido  por  huma  boa  terra  ,  que  lhe  possa  dar 
Jii.m  sueco  proporcionado  ,  ou  sufficiente  ,  para  o 
poder  nutrir   sem  alterar  o  pé. 

§   V.  Segredo  do   P.   Lahat, 

O  P.  Labat  nos  ensina  hum  segredo  admirável, 
para   prevenir  este    accidente ;  mais  cuido  que    não 
achará   muitos  partidistas.  Aconselha    de  fazer   cahir        J 
ametade   das  flores  ,  para  aliiviar  o  pc  de  Cafc.  Qual        1 


C  )  Mtutas  vex,es  a  segunda  colheita  decide  da 
sua  serie  ,  quando  o  Cafeseiro  lhe  restste  ,  e^ta  salvo, 
lambem  começa  a  dcscahir  na  terceira  ;  o  excesso  do 
yrodncto  da  precedente  colheita  ,  tendo  enfronnecldo  o 
pe  dará  nuu  pouco  o  anno  sc^ainíc  ,  c  lhe  da  luzar 
úc  ttniar    novas  for^^as. 


C  45  > 

seiá  o  granjeiro  de  Cafés ,  sempre  ambicioso  de  aii- 
gmentar  as  suas  rendas  ,  c^ue  queira  diminuir  hu- 
Tna  ametade  5  e  ficar  em  dúvida  da  outra.  Seriam 
realidade  iium  imprudente  em  fazer  antes  ,  o  que 
ao  depois  farão  os  furacões  ,  e  vendavaes  ,  que  sem- 
pre lanção  em  terra ,  ainda  antes  de  sazonados  ,  hu- 
ma  quarta  parte  dos  fructos. 

5  VI.   Meios  de  conservar  os  Cafcseiros, 
Eu  creio  que  o  remédio  mais  efficaz  contra  es- 
te m^l ,  he  de  manter  o  pé  de  Café   em  huma  cul- 
tura proporcionada  á  qualidade  do  terreno ,  que  oc- 
cupa  :  em  hum   terreno  medíocre  somente    j   pés  > 
(e  talvez  seria   melhor  dous   e  1)  em   huma   terra 
profunda    a  4  ;  em    huma    boa   a  5.    Quero   ddr  a 
razão   disto  ^    e  me  lizonjeo    que  entrarão    nas   mi- 
nhas vistas  com   approvação.    Embaraçado  o  cresci- 
mento do   cafeseiro ,    todo  o   corpo  da  arvore    de- 
ve  necessariamente  receber    huma    maior  nutrição ; 
a  seiba  ,     tendo   muito  pouco   que   subir  ,    os    ra- 
mos não    podendo  multiplicar-se   mais ,    se   conver- 
terão  em  huma  espécie  de  madeira   tão  sólida ,  co- 
mo o  seu   tronco  ;  a  arvore  dará  menos  fructos ,  e 
os  ramos ,  achando-se  sem  meduila  ,  estão  em  estado 
de   poderem   resistir   ao  pouco  ,    que   produzem  ,  o 
que  deve    incontestavelmente  conservailos.  (*) 

( *  )  ^í)  depois    de   escrever  esta   Memoria  ,  fi%  a 
experiência  com  todo  ç  accccsso   que  esperava» 


(46) 

5  VII.   Modo   de  aparar    os   Cnfesciros, 

Cada  hum  faz   esta  obra  ,  como   quer  .  ou   com- 
ino  lhe  parece.  Al^^uns   pertendem  que  se  deve  den 
xar  dar  a   sua   primeira  colheita  ,    o  que   he    hum 
abuso.    Em  quanto  a  mim  ,    Jo^2o    que  o  Cafeseiro 
houver   de  chegar   á   altura  ,    que    acabo  de   dizer  , 
se  lhe  quebra    a    extremidade    do    tronco ,    que   he 
niuiro   tenra  ,  o   que   o  impede  de    subir ,  e  dá  lu- 
gar ao<?    ramos  de  se  estenderem   em  cumprimento, 
e  largura  ,  e   de  muhiplicarem    os  seus   garfos.  Esta 
operação  transforma  a   arvore   em  huma    bella   rosa , 
despegada  de  hum  supérfluo   incómmodo  ,  não   fica 
sobrecarregada  ,  consequentemente   seus  fructos   saa 
muito    melhor    nutridos  ,  e    menos   sujeitos  a  cahir. 
Ainda   lhe  resulta  outra   avantajem  ,  que  he  a  com- 
niorlidade   da  colheita  ,    que    se  poderá  fazer  ,    itm 
quebrar  os  ramos  ,  como    acontece ,  quando  se  dei- 
xão  crescer  livremente  j    e   que   tem   o   tronco  tão 
fraco  por   falta   de  substancia  ;  pois  o  pezo  dos  seus 
fructos   baífa ,    para  fazer    pender  ,    ou  inclinar  to- 
da a  arvore  ,  e   achando-se   opprimida   da  sua    pro- 
pria  carga,   morre    no   tempo,    em   qut  prometti* 
mais. 


D«- 


(47  ) 
§  Vni.  Declinação  da  arvore. 

A  medida  que  a  arvore  envelhece  ,  cessa  a  abun- 
dância ,  e  o  seu  fructo  se  faz  melhor ,  e  mais  esti- 
mado. Comprehender-se-ha  talvez  que  vem  mais 
grosso  ;  porque  produz  pouco :  mas  pelo  contra- 
rio ,  he  totalmente  pequenino  ,  e  nisto  consiste 
a  sua  bella  qualidade;  ^  tal  pé,  que  na  sua  se- 
gunda colheita  dera  dous  arráteis  de  Café  ,  na  sua 
quinta  colheita  dará  com  dificuldade  apenas  hu- 
ma  quarta  parte.  Passado  este  tempo  ,  só  dará  de 
dous  em  dous  annos ,  revezando  hum  anno  menos, 
e  no  outro  mais :  Sobre  este  fundamento  he  fácil 
de  conceber  que  nós  devemos  ter  muito  interes- 
se de  lhe  multiplicar  o  número  todos  os  annos ,  pa- 
ra  prevenir   o  detrimento  ,  ou  descahimento  delles. 

5  IX.  O   Cafc   pede    terra    nova. 


Requer  também  ser  plantado  em  terra  virgem, 
ou  como  nos  explicamos  nas  Ilhas  em  matos  no- 
vos. Perdcr-se-ha  tempo  ,  plantando-se  em  terrenos, 
que  já  tenhão  servido.  Náo  ha  algum,  que  r,o  de- 
pois não  produza;  mas  he  certo  que  morrerá  des- 
de a  sua  primeira  novidade  ;  ou  ,  quando  tarde  ,  em 
a  segunda.  Isto  parece  contradictorio  aos  princípios 
do   P.  Labat ;  mas  por  isto  se  não  julgue  que  elle 

não 


C48  ) 
não  he  exacto  ;  por  quanto  o  teinpo  ,  em  que  ellc 
escrevia  ,  era  aquelle  ,  em  que  se  principiava  esta 
cultura  j  e  ainda  senão  tinha  tido  iu:;ar  de  se  jul- 
gar pela  experiência  :  e  se  estava  expono  a  ser  en- 
ganado por  ellas  ;  pois  que  ,  plantando  se  em  qual- 
<]uer  terreno  ,  nasce  ;  e  ,  em  quanto  não  produzir  ,  o 
Cafeseiro  se  apresentará  bello  ;  mas  ficara  cansado 
desde  a  sua  primeira   produccão. 

§   X.   Diferença   dos  terras  entre   Martinica  , 
e  S.  Domingos. 


O  P.  Labat  falia  das  terras  de  Martinica  ,  e  eu 
das  de  S.  Domingos  ,  e  pôde  muito  bem  ser  ,  quan- 
do muito  ,  que  aquellas  hajão  de  ser  melhores  do 
que  estas  ;  e  parece  provável  que  isto  assim  seja ,  se 
cá  nos  morros  fossem  derribados  em  o  mesmo  tem- 
po que  nos  de  Martinica  ,  he  notório  que  haverião 
já  muitos  annos  ,  que  elles  para  nada  servirião  ,  e 
isto  está  comprovado  por  huma  experiência  formal. 
Porque  ,  se  quizessemos  reformar  hum  Cafcsaí  no 
mesmo  lugar ,  em  que  elle  está  plantado  ,  certamen- 
te perderiamo»?  o  trabalho,  e  o  tempo  j  e  quando 
muito  ,  o  que  nelle  se  pí^de  plantar  ,  he  mandio- 
ca ;  ou  ainda  reduzillo  a  máo  pasto  ,  ou  logradou- 
10 ;  porqu?   nos  morros  não  ha  algum  ,  que  pr'c's^te. 


(  49 ; 

§    XI.   Café  de  Martinica  preferido  ao  de  S.  Dú" 
mingo  s. 


O  terreno  de  Martinica  ^  sendo  melhor  sem 
comparação  que  o  de  S.  Domingos,  (*)  não  lie 
admirável  que  o  seu  Café  seja  mais  estimado  :  e  sem 
dúvida  ;  porque  recebe  huma  substancia  ,  que  lhe 
he  própria  ;  e  que  o  põem  a  par  do  de  Moca  ;  e 
quando  não  houvesse  outra  causa  ,  maisdoque  a 
antioruidade  das  arvores  ,  lhe  concederia  de  boa  von- 
táde  a  preferencia  sobre  os  nossos  :  em  quanto  pre- 
sentemente lhe  pertence  o  direito  ;  mas  talvez  que 
os  cuidados,  que  os  vizinhos  de  Martinica  empre- 
oão  neste  grangeo  ,  cultivando  e  seccando-o  ,  haja 
de  contribuir  muito.  Neste,  ponto  tenho  de  censu- 
rar a  muitos  dos  nossos  acerca  da  sua  negligen- 
cia a  este  respeito  :  porque  o  que    só   quetem  ,  he 

D  ven- 


(*)  Temos  certos  bairros  em  os  nossos  montes  que 
são  de  pedra  calcaria  :  estes  íerrevossSo  seme- 
lhantes aos  de  Martinica:  aterra  he  profunda  ^  tão 
boa  em  baixo  como  na  siiperficã :  o  que  ,a  faz.  ser 
multo  durável ;  m^as  esta  qualidade  de  terras  mio  he 
commum  ,  e  sò  se  encontra  nas  encostas  dos  montes 
que  olhão  para  o  mar  ;  porque  ,  subindo- se  ao  cume  das 
montanhas  ,  não  se  encontra  pedra  calcaria  ,  e  por 
acaso  em  algumas  baixas  ,  se  bem  ,  falíando  propria- 
mente ,  são  de  hum  tártaro  ,  formado  pela  corrente  das 
a  fruas* 


(  5o) 

vendello  ,  e  de  nada  mais  cuidão.  Conheço  que  com 
isto  não  os  obsecjueio  ,  menos  merecerei  os  seus 
suffragios  ,  mas  a  cue  fim  o  fa7em  desse  modo  ? 
Só  quero  a  approvação  ,  dos  que  pensão  bem  ,  e 
não  me  embaraço  com  a  censura  do  resto  Só  se 
poderão  dar  por  ofFendidos  ,  os  qi:e  se  acha: em  nes- 
te caso.  Oxalá  que  esta  pecuena  liberdade  houves- 
se de  fazer  alguma  impressão  sobre  os  seus  espíri- 
tos ;  e  que  ,  por  huma  louvável  vingança  ,  houves- 
sem de  despregar  os  olhos  acerca  da  sua  indolên- 
cia :  eu  me  daria  a  mim  mesmo  os  parabéns.  Ha 
espíritos  que  requerem  que  se  lhes  falle  a  vei- 
dade. 

S    -^í^»   Qualidades  notavas    dvs  seus   ha» 
h'ttant€S, 


Consequentemente  devemos  concordar  que  to- 
dos os  nossos  vizinhos,  geralmente  fallando  ,  são 
muito  laboriosos  emprendedores  ,  generosos ,  e  ma- 
gnificos  ;  elles  se  apaixonarão  no  caSo  de  se  verem 
excedidos  pelas  outras  Ilhas  sobre  este  assumpto, 
(Não  responderei  ,  se  acaso  alguma  vaidade  se  mistu- 
ra nisto.)  Al^urmas  vezes  ,  o  que  parece  negligencia, 
he  hum  puro  effeito  da  impotência.  A  falta  de 
iTieios  ,  e  de  forças  necessárias ,  para  o  arranjamen- 
to  das  suas  grangearias  ,  obrigão  a  hum  grande  nú- 
mero de  habitantes  a  pararem  nas  suas  primeiras 
rendas.  Estou  Spersuadido  que  ,   daqui    a  alguns  an- 

nos 


(51) 

nos ,  esta  grangearia  haja  de  estar  em  hum  ponto 
de  perfeição  agradável  ;  e  agora  mesmo  já  vemos 
a  muitos  desafiarem-se  entre  si :  Qual  terá  melhores 
edifícios,  mais  esplendidos,  melhores  máquinas, 
ou  moinhos  de  descascar  ,  e  escarpas  de  nova  in- 
venção ,  não  poupando  cousa  alguma  daquellas  , 
que  podem  servir  de  augmentar  a  perfeição  e  ma- 
gnificência desta   Grangearia. 

Em  todo    o  tempo  se  deo  a  preferencia  ao  Ca- 
fé de  Moca  j  e  isto   era  bem   natural ,   por  ter  sido 
este   o   primeiro  ,  que  nos  veio  ;   e  aquelle  ,  a  quem 
o  nosso  deve  a  sua  origem  ,  e  que  haverão   jo  an- 
nos,  que   não  ,  conheciamos   outro.  Succedeo-lhe   o 
de    Martinica  ,  ao  qual   os    conhecedores  julgão  me- 
lhor. Isto  não  deve    admirar  ;  porque  este  não  tem 
tanto   tempo  de  se  arruinar  na  passagem   do  mar , 
como    o   de  Moca,    que  precisa  quasi   hum  anno  , 
para   haver  de  chegar  á  Europa ,  e  outro   anrío  mais 
para   sahir   fora  dos   armazéns  da  Companhia  ,    em 
que  se  guarda.  Este   grão  ,  ao  depois  de  secco ,  não 
pode   deixar  de   perder   o  seu  sabor  ,  e  de  diminuir 
consideravelmente  a  sua  qualidade  5    ainda    que  se 
possa  dizer  ,  que  deve  ser  velho ,   para  haver  de  ser 
bom.  Mas   advertirei  neste  momento  :  que  he  pre- 
ciso que  adquira   esta    velhice    em  hum   lugar  sec- 
co ,  livre  de   toda  a   humidade  ,    e   não  sobre   este 
elemento  salgado  ,  que  enche  de  mofo  a  tudo ,  quan- 
to sobre   elle  se  transporta ,  e  penetra  ainda  até  as 
D  ii  mes- 


C    52    ) 

^Jiesmas  caixas,  as  inais  bem  fechadas,  aonde  eíle 
tem  a  força  de  „,arear  galJóes  de  ouro ,  e  de  pra- 
ta ,  ainda  estando  beni  embrulhados  en,  algodão  . 
para  os  defender.  Se.a  o  C.fc  por  ventura  menos 
capaz  de  receber  esta  impressão  ?  Tenho  presencia- 
do que  ba.tou  o  orvalho  de  huma  noite  só  ,  para 
o  fazer  tão  branco  ,  como  a  mesma  neve  ,  o  que 
basta  para  o  privar  da  sua  qualidade  unctuosa  ,  ou 
oleosa  ,  que  Jiie  dá  todo  o  sabor ,  e  todo  o  mere- 
cimento. 

Despreza  se  o  Café  de  Caienna  ,  e  o  de  S.  Do- 
min?os  ainda  não  ganhou  fama.  He  cousa  galan- 
te ?  De  huma  para  outra  Grangearia  se  faz  diffe- 
rença.  Isto  só  provará  hum  maior  cuidado  ,  huma 
parte  mais  que  o  resto  ?  Dão-se  muitos  .  que  ape- 
nas tem  onde  o  possão  pôr  abrigados  das  injurias 
ào  ar  ,  sem  que  até  agora  tenhão  meios  de  o  ar- 
ranjarem ,  ou  vontade  de  os  ter  ?  O  seu  Café  , 
sendo  o  da  primeira  colheita,  de  ordinário  he  hum' 
Café  summamente  grosso  ,  forte  ,  sujeito  a  em- 
branquecer-se  ,  quando  se  descuidao  de  o  seccar 
bem  ,  e  de  o  defenderem  da  humidade.  Não  pro- 
curão  embaraçar  que  se  não  molhe  no  tempo  ,  que 
são  obrigados  a  pollo  ao  Sol  ;  por  que  qualquer 
humidade  .  que  apanhem  ,  se  voltão  encorreado.  ,  e 
esponjosos  ,  como  cortiça  :  e  desta  maneira  ,  pre- 
venindo  todos  estes  i.Konvenientes  ,  se  pôde  com 
nunto  fundamento  esperar  ,  que  se  chegará,  o  mes.. 

TOO 


(5?) 
mo  ponto  de  perfeição ,  em  que   se  acha   o  de  Mar- 
tinica. 

Não  ha  razão  alguma  ,  que  nos  obrigue  a  du- 
vidar ,  do  que  se  acabou  de  dizer  a  respeito  do 
Café.  Os  nossos  primeiros  assucaies  ,  os  nossos  pri- 
meiros Indigos  erão  muito  defeituosos,  mas,  a  pí- 
2ar  disco  ,  achamos  meos  ,  e  modos  de  os  aperfei- 
çoarmos. Estas  granjearias  sãõ  ,  sem  comparação  al- 
guma ,  mais  delicadas  que  as  do  Café  ,  nas  quaes 
somente  se  devem  observar  os  seguintes  pontos 
principaes  ,  que  lhe  formão  a  base  ,  e  que  o  mai* 
icrnorante  os  pôde  executar  tão  bem ,  como  o  mais 
sábio. 

vj^  XIII.   Pontos   principaes   para   se  ter   hom   Café. 


Primeiro.  Colher,  quando  estiver  bem  madUrO  , 
4.°  fazello  seccar  muito  bem  ,5.°  evitar  que  se- 
não mOÍhe  ,  4.*^  que  não  apanhe  alguma  humida- 
de ao  depois,  que  for  secco.  Nestes  quatro  pontos 
consiste  todo  o  mysterio.  Se  postas  estas  precau- 
ções ,  se  acha  hum  Café  inferior  ,  conclui  animosa- 
mente :  que  forão  abortados  ,  ou  por  huma  gran- 
de seccura  ,  ou  por  huma  producção  excessiva  , 
que  a  planta  não  pode  nutrir.  A  privação  da  sub- 
stancia he  a  única  causa;  porque  o  grão  fica  pe- 
co. Por  esta  mesma  ra/ão  acontece  outro  tanto  , 
<jUahdo  as   hervas   suífocão  os  pés  do  Café  ,  e   lhe' 

ab. 


C  54) 

absorvem  a  sua  nutrição.  A  vista  destas  razões  se- 
rá fácil  a  convicção,  de  que  chegaremos  a  aperfei- 
çoar ,  menos  çue  o  clima  ,  e  qualidade  do  terre- 
110  se  náo  opponhão,  o  que  não  suspeito.  Ajgu^ 
ma  experiência  ,  c  muito  cuidado   farão   o  resto. 

5   XIV.  A  causa   do   desprezo   do  Cofc  de  S,   Do- 


A    causa  principal   do   disciedito  do  Cafc  de  S. 
Domingos   foi,  (no    tempo    da  guerra  de  1744   até 
174ÍÍ)   que   cada  habitante   se  empenhava   em  apro- 
veitar da  partida  dos  combois ,  para   os  poder   ven- 
àtr  ,  o   que   occasionou  huma  confusão  em  todas  as 
grangearias  ,    e   particularmente   na  do  Cafc.    Cada 
hum    se    empenhava  em    fazer   seccar    promptamen- 
te   o  seu  ,  para   se  poder    aproveitar    da  sahida  dos 
navios.  Muitos    se  servirão   também  de  estufas ,  pa- 
ra adiantar  a   desecação  mais  depressa  ;  e  ainda  que 
esta   só    tivesse    hum   fogo  muito    moderado  ,     este 
não   deixava    de   lhe  dar    huma    maior   expedição  ; 
porque    seccava   de  noite  ,  e  de  dia  .   houvesse  ,'  ou 
não   bom   tempo.   A    sahida   da  estufa   se  pihva  ,  e 
totalmente   se   entregava  de   repente  ;  de   sorte   que 
algumas   vezes,  não    erao   passados    qunize  dias  ao 
depois   de  colhido  ,  c  já  se  achava  posto  em  ven- 
da.   Não    se   deve  admirar    por   tanto  que   o   Cafc 
assim  verde  ,  e  tão  mal  condicionado ,    cir.branque- 


C55) 

ça  na  passagem  do  mar  ;  porque  não  pcSde  dei- 
xar de  ser  assim:  mas  hoje  não  milita  o  mesmo  ; 
porque  se  passão  seis  mezes  ,  antes  de  se  come- 
çar a  descascar  ,  ou  pilar  ;  tem  todo  o  tempo  dè 
enrijar  ,  e  ainda  de  deteriorar  ,  se  elle  o  tiver  de 
ser.  Achão  se  alguns  grãos,  que  se  tem  cuidado 
de  tirar.  Não  ha  a  menor  dúvida  que  as  experiên- 
cias repelidas   hão  de  acabar   de  aperfeiçoallo. 

5   XV.   Politica    dos    HolUndezcs, 

Os   Hollanderes  de   Surinam ,  por  hum    refina- 
mento da  sua   politica  ,  espalharão  que  elles    passa- 
vão   o  seu   Café   pelo   fogo  ,  antes  de   o  porem  eni 
vetida  ;  para   impedir   com  esta   manobra  ,  que  hou- 
vesse   de   pioduzir  em   outra  parte   fora  delles.  Es- 
tava-se   de   tal   sorte   prevenido  deste  erro  popular, 
'que    ninguém   tomava  o  partido   de  o  plantar.  Mas 
JVlr.  de   la   Motte    Aigron   (como   já  disse)  achou 
meios  para  o  ter   fresco  ,  nO  que  sobrepujou  todas 
35  dificuldades ,  que  parecião  oppor-sc  *,  porque  fal- 
samente se   cuidava   qúe   o  Café    ,    posto  ao  Sol  , 
cahia   nó   mesmo   inconveniente,  o   que   não  deixa- 
va   de  ser    hum   segundo   erro.    Eu   mesmo  tenho 
^  semeado  Café  ,  que   já  tinha  seis  m.ezes  de   colhi- 
do ,  e  nasceo    perfeitamente.     A    única   precaução , 
que   tomei  ,  foi   pollo    de  infusão   em  agua  ,  e  de- 
pois de    5    ou  6  dias  já  tinha  desábi olhado  o  sèii 

ger- 


(!6) 

germe  do  co,rp,i,„e„,o  d.  duas  linha, ,  dentro  d, 
-s..a  agua  ,  e,„  cue  o  tinha  infundido.  Ja  ho,e 
-o   te,.o,   o  trabalho  de   o  se.ear  ;    ,,or     i   ,„ 

-os,,e„,uitip„cácdetal„,odo.<;uehep,ec:<, 
anancallos  debaixo  do.  pcs   dos  outros   Cafesei.os 
para  cjue  a  sua   vizinl,ança  muito  copada  não  offen- 
la  aqu^lles .  (jue  os  rodeáo. 


$   XVI.  AUJo    de  plantar  o  Café. 

O  modo  de  plantar  o  Café  he  muito  simple,  . 
."«sue  todaua  recju.r  attençáo.  Procura-se  alij 
Par'bem  o  terreno  ,  em  oue  se  ,uer  planta,  ;  e 
■\  ^"'■^*P^'i--"te  todas  as  covas.  Esta  p.epara- 
çao  he  „ecess.„ia  ,  p.„  ,ue .  caI,indo  a  chuva . 
Pene.e  faalmente  a  terra.  Deve  ,  »]<;„,  disto,  ter 
outros  buracos  ,  ou  covas  ,  onde  a  agua  se  haa 
de  demorar  5  porcjue  faz  hum  effei.o  maravilhoso 
de  nnreter  a  frescura  a   esta  planta  nova  ,    e    lhe 

da  tempo  de  formar  novas  rai,es,  ames  qae  o  íoJ 
Jl.e  faça  impre.s.;o,  P.a.íco  ,  a  evte  mesmo  fi,n  de 
contr.buir  a  con.ervação  de- ta  frescura  ,  a  composi- 
ção de  hu.n  pe,;ue,-,o  cimento  de  lama  clara  .  que 
.>.a.>do  fa,er  ,  e  com  c;ue  faço  cobrir  o  barbalho 
de  cada  pé    de  Café.    Por  este    meio  to.na   a   pe- 

gar   com  nnrita   facilidade;  e  a  planta,  e  as  folhas, 
se.do    de   hun.a    consi.tencia    naturalmente    fo.tc 
nao  só  resisten,  murto   ten.po  ao   calor,   msts  tam^ 

bem 


C  57  ) 

bem  ,  favorecidos  desta  precaução ,  mui  poucos  ,  OM 
nenhum  perecem.  Deveis  accrescentar  ,  ao  que  fica  di- 
to ,  que  ,  arrancando  os  pés  de  Café  ,  para  os  plan- 
tar ,  faço  cavar  a  enxada  a  terra  ,  em  que  elles  se 
achão  ;  por  cujo  meio  se  conserva  o  seu  barba- 
Iho  inteiramente  ,  retendo  o  em  o  seu  estado  na- 
tural. Porque  he  certo  que  o  Cafeseiro  ,  ^rançado 
á  mão  ,  se  acha  torcido  ,  ou  abalado  )  e  que  a 
maior  parte  do  seu  barbai ho  fica  na  terra  ,  sen- 
do aquelle,  de  que   elle  tem  maior   necessidade. 

§  XVII.  A  que  distancia   se  planta  o  Café  ,  e  varias 
opiniões   sobre  isto. 


Tem-se  multiplicado  as  opiniões  acerca  da  dis- 
tancia ,  em  que  se  devem  plantar  os  Cafeseiros.  Al- 
guns julgão  que  os  devem  plantar  quasi  juntos.  Eíi 
nâo  pei tendo  dictar-lhes  a  lei.  Só  quero  expor  o 
pro  ,  e  o  contra  ,  deixando  a  cada  hum  huma  com^ 
pleta  liberdade  para  a  escolha.  Os  que  plantão  mui 
chegados  (a  meu  ver)  querem  conservar-lhes  esta 
frescura  ,  que  lhes  he  ião  saudável;  pois  que  no 
.fim  do  anno  tem  hum  peciieno  bosquete  ,  q"e 
conserva  a  mesma  frescura  ;  e  embaraça  que  crés- 
çâo  hervas  tão  abundantemente:  e  que  em  conse- 
quência he  menos  custosa  a  sua  mantença.  Tam- 
bém accreàcentão  :  que  tem  dobvada  colheita  de 
Café  3  mas  talvez  ,  que   não   podessem  contestar  es^ 

te 


C  ss  ) 

te  ultimo  facto.   Mas  toibvia  o  resultado  futuro  níà 
Jhes  Jie  favorável  ;  porcuc   tudo  hirá  ,nuito   bem  ate 
á  primeira   colheita  ;  mas  ao  depois ,  feclundo-se  oj 
Cacseiros   huns   com  os  outros  .  seus    ramos    se  en- 
trelaçarão   por   hum    modo   tal  .     ^-ue   não  achando 
meios   para  se  estenderem  .    se  verSo    constrangidos 
a  produzir  huma   bem    módica  quantidade    àc  fru- 
ctos:  e  muitas  vezes  só   o  tronco  os  produzira   de 
sorte ,  que  4   Cafesciros   com  dificuldade   cheirarão  a 
dar   o   producto  de    hum    só   pé   .    que    esteja    bem 
ventilado.  Desta  maneira   hum    Cafesal   de  mil   pés  , 
sendo   ventilados  ,   dará    tanto  .    como    hum     de  4 
mil   pés  .  que   não    he.    Ajuntemos    mais  a   incom- 
modidade    do  orvalho.    Seria   preciso    aie    os   pre- 
tos  fossem    molhados  desde     os  pés    ate    i   cabeça. 
Ora  isto  he   inevitável  ;  e  não  he  huma  consequên- 
cia .' 

Concluo  ,  á  vista  disto,  que  o  melhor  modo  de 
os  plantar  he  fazendo  avenidas  ,  e  fileiras  ,  humas 
distantes  das  outras  de  6  pés  ,  e  plantando  as  ar- 
vores de  5  a  >  em  huma  terra  medíocre  :  he  ver- 
dade que  a  sua  mantença  he  custosa  ;  mas  esta  per- 
da he  balanceada  por  muitas  xantagens.  1,°  Po- 
dem-sc  tirar  muitas  sortes  de  viveres  nos  irez  pri- 
meiros  annòs  2.°  a  arvore  se  forma  mais  formosa, 
e  produz  em  razão  quadruplicada  :  estendendo-se 
©s  ramos  com  liberdade  :  e  finalmente  as  fileiras 
dos   Cafeseiros   ,    tendo  hum   espaço    conveniente  , 

foi- 


(  59  ) 

formarão  huma  avenida  ,  ou  alea  pela  qual  anda- 
fáó  os  pretos  ,  sem  o  risco  de  serem  molhados  , 
quando  os  colhem  ,  o   que   he   muito   estimável. 

§   XVIII.    Profundeza  das  covas, 

A  altura  das  covas  não  deve  exceder  de  6  a  7 
poUegadas,  e  a  do  plano  18.  As  que  são  mais  pe- 
quenas ,  muitas  vezes  causao  hum  retardamento  de 
hum  anno  ;  e  as  que  são  maiores  ,  tem  hum  máo 
successo.  Antes  de  se  metterem  nas  covas ,  se  te- 
nha o  cuidado  de  lhes  cortar  a  extremidade  do  pé> 
que  ordinariamente  procura  sempre  profundar-se 
de  sorte  que  ,  se  houver  perto  alguma  rocha  ,  ou 
casc.lho  ,  ella  a  encontrará  ,  e  então  o  CateseirO 
morrerá  no   tempo,  em  que  se  julga   estar  escapo. 

§  XIX.  Segundo  modo  de  fazer   covas. 

Alguns  Grangeiros  costumáo  fazer  as  covas  com 
cavadeiras  3  e  não  lhe  faltáo  boas  ,  ou  más  razoes  ^ 
para  apoiarem  a  sua  opinião  ,  e  practica.  Também 
ácuellas  me  não  faltarião  para  os  combater  ;  po- 
rém gosto  de  deixar  a  cada  hum  a  liberdade  de 
trabalhar ,  segundo,  a  sua  fantasia  ,  sem  querer  es- 
tranhar-lhes  cousa  alguiiia  ;  e  por  isso  só  lhes  direi 
que  me  acho  muito  bem  ,  plantando  a  enxada.  Os 
que  SC  servem  de  çavadeiras  ,  instarão  sem  dúvida  : 

que 


C  6o) 
íjue  elles  se  achão  muito  mellior.  Seja  assim.    Eu 
de  boa  vontade  Jhes  concedo  ,  se  este  he  o  seu  gos- 
to ,    a  pczar    de  Jhes  poder   formar    huma   pequena 
objecção  ,    sem   querer  por    isso  ,     que   elles    hajao 
de   preterir  o  meu    sentimento  :    lembrarei    somen- 
te ,  o   que   penso  a  este   respeito,  sal\o  o  seu  me- 
lhor pa  ecer.  Sabe-se  que  a  boa  terra  do  nosso  mor- 
ro  não  excede    na   profundeza  a  dez  pollegadas ,  e 
muitas  vezes  muito  menos  :  ora  abrindo-se   as   co- 
vas  de    18    pollegadas  ,  he  certo   que   se    ha  de  en- 
contrar rocha  ,    ou   terra   ped.egulhosa.     Ora   sendo 
assim,  se  seguirá,  que,  quando  a  raiz  penetiar  até 
e^ta  terra  ,  o    Cafeseiro   morrerá  ,  não   encontrando 
mais  a  boa   terra  ,  em  que  foi    plantado.   Ouço  res- 
ponder-me  :   que   por  amor  disso  ,  quando   os  plan- 
tarão ,  encherão  estas  covas  de  boa  terra  ;  e  que  em. 
consequência   se  acharão  sempre  com   6   ou  8    pol- 
legadas  de   mais  ,  que   em   seu   estado  natural.  Mas 
não   se  poderia   provar   isto    arrazoadamente    ;     por- 
que,   aluindo  se  esta  cova  ,  se  cahe  sem   pensar  em 
outro  inconveniente  ,  que  he  ,  o  de  fazer  huma  espécie 
de   canari  .  ou  vaso   de    terra  ,    no   qual    pararão   rs 
aguas   da    chuva  ,    quando   forem    repetidas  .    o  que. 
não    deixaria  de  incommodar    os  pés   dos  Cafeseiros. 
Accres.entaremos  ;  que  as  raizes  de  todas   as    arvo- 
res   em    g-ral    deste    Paiz  tem   huma    natural    Índo- 
le  em   se  arrai^aar   á  flor  da  terra;  lofro  me  devem- 
conceder   que   ,    plantando  as  a  7   ou    S    pollegadas. 

de 


Ç  6i  ) 

iát  profundeza  ,  as  raízes  não  deixarião  de  seguir  a 
hoa  terra  ;  e  de  receber  tanta  agua  ,  quanta  lhe 
convenha  ,  e  as  sobras  se  filtrarião  pela  terra  den- 
tro com  muita  commodidade  ;  por  quanto  ,  nem 
dè  hum   lado    nem   de  outro  ,  se  achava  limitada. 

§  XX.    A  estação    de   se  plantar    o    Café. 


He    do  interesse    do   Grangeiro    escolher   hum 
tempo   chuvoso  para  o  bom   successo  da  sua  plan- 
tação ,  sendo  esta  bem  regada.  Por  todos  os  San- 
tos  a   estação  he  a  mais  húmida  ,  os  nortes   mais 
frequentes;  e  por  isso  convém   aproveitalla  por  ser 
necessário  ,  que  ,  plantados  os  Cafés  ,    alguns  dias 
depois  recebão   agua.    Mas  ,  como  os   trabalhos  de 
qualquer  fazenda  se  fazem  por  intervallos  ,  isto  he  , 
secundo  o  que  se  vai  oíferecendo  ,  para  se  fazer  > 
dão-se  também    outros  raezes   no  anno  ,    que  são 
próprios   para   este    trabalho  ,    quândo    se  está  no 
tempo  das   chuvas  :    e  assim  se   pode  continuar  a 
sua    plantação   desde  Todos    os  Santos  até  p  mez 
de  Maio  i  proporção  do  terreno  ,  que  tiver  prepa- 
rado ,.  e   prompto  ;    porque   não  pode  ser   tudo  de 
huma   vez  :    estas  plantas    ultimas  crescem    muito 
mais   depressa  que  as  outras  ;  porque  as  plantão  no 
meio  da  primavera ,    quando  a   terra  trabalha  mais 
do   que  em  alguma  das  outras  estações ;  e  no  in- 
verno está  como  estéril ,  pela  abundância  das  chu- 
vas, 


C    ^2    ) 

vas  ,  que  as  resfriãô  para  a  vegetação  das  plantas  ; 
mas  ,  ainda  que  se  passem  j  ou  4  mezes  sem  ve! 
getar  ,  quando  se  plantão  pelo  inverno  ,  se  prSde 
estar  na  certeza  ,  cue  fica  a  plantação  feita  com  maior 
segurança  do  seu  bom  successo  que  no  estio  .  no 
qual  se  vem  obrigados  a  repetilJa  muitas  veze,  , 
ao  que  chamamos  recouvrage ,  o  que  he  a  causa , 
de   que    não   produzão    todas   ao  mesmo   tempo. 

5   XXI.  Viveres  ,  (jue  se  podem  plantar  nos  avenidai 
<ntre  as  fileiras  do  Café  ,  em  quanto  crtscem. 

No  tempo  do  crescimento  dos  Cafeseiros  ,  % 
terra  não  deve  ficar  inculta,  antes  pelo  contrario 
oGrangeiro,  ou  fazendeiro  pôde  tirar  grande  pro- 
veito ,  tendo  tido  o  cuidado  antes  de  a  encher  de 
grãos,  de  milho,  de  arroz  ,  cujas  colheitas  são  abun- 
dantes nos  dous  primeiros  annos .  principalmente  , 
tendo-se  plantado  os  Cafés  em  boa  distancia.  Mas 
he  preciso  observar  ,  que  senão  deve  plantar  cou- 
sa alguma  ,  que  trepe  ,  ou  plantalla  mui  apartada 
dos  pés  do  Cafc  ,  aos  quaes  poderia  arruinar:  do 
mesmo  modo ,  plantando-se  arroz  ,  só  se  deve  fazer 
hum  renque  ,  ou  fileira  entre  os  Cafeseiros.  Estes 
são  os  viveres  únicos  ,  que  arrasoadamente  se  po- 
dem plantar  nestas  aleas  :  os  que  plantão  outros, 
não  conhecem  os  seus  interesses.  Muitos  plantão 
huma   carreira   de  mandiocas  entre    duas.     Dou    de 

ba- 


C  63  > 

barato  que  hiima  serie,  ou  carreira  de  mandiocas 
possa  não  offender :  mas  não  ha  dúvida  alguma  , 
que  ,  quando  se  quizerem  cavar  as  mandiocas  ,  ten- 
do-se  as  suas  raizes  conciíegado  de  perto  com  as 
do  Café  ,  não  se  poderáó  ,  sem  prejuizo  deste  ,  ar- 
lancar  aquellas.  Além  disto  ,  ainda  se  dá  outro  pre- 
juizo  peior  que  o  primeiro  ,  a  saber  :  que  esta  ter- 
ra ,  assim  cavada ,  tendo  sido  levada  para  fora  pela 
xpenor  pancada  de  chuva,  faz  covas ,  e  se  acha  de 
menos  ,  ou  nenhuma ,  quando  o  Cafeseiro  quer  fru- 
çtificar.  Nada  fallarei  ,  dos  que  plantão  batatas  , 
porque  absolutamente  julgo  que  ,  sem  se  ser  tolo , 
ou  faltar  toda    a  experiência  ,    não  se  poderá  tal 

fazer. 

Arranjo  esta  classe  de  Grangeiros  entre  os  que 
se  chamão  em  bom  direito  Fazendeiros  das  dúzias^ 
e  cujas  occupaçoes  no  curso  do  anno  he  segar  pra- 
dos ,  á  excepção  com  tudo  que  elles  o  passem  á 
enxada  alguns  dias  antes  da  colheita  ,  para  que  'co- 
mo dizem)  possão  ajuntar  os  Cafés  ,  que  as  chuvas  * 
e  os  ratos  fizerão  cabir  em  a  terra  5  e  que  ,  não 
Havendo  anticipadamente  esta  cautela  ,  se  perderião. 
Quão  admirável  não  he  esta  prudência ,  e  sábia  es* 
ta  previdência  da  parte  delles?  Ainda  estes  taes  se 
at,re  verão  a  dizer  mais  do  que  isto;  porque  dirão: 
que  tem  razoes  muito  sólidas  ,  que  os  obrigão  a 
obrar  assim  ,  (  he  preciso  não  as  esquecer  )  as  quaes 
são   estas  que  ,  estando  a  terra  coberta  de  hervas  , 

cl- 


C  64  )■ 

elles  aproveitão  todos  os  grãos  ,  que  resvallarão  ,  ou 
cahirão.  Contra  isto  não  ha  replica  I  O  bom  P. 
Labat  sem  dúvida  consultou  a  al^jum  destes  Gran- 
geiros  ,  quando  affirmoii  ;  que  os  Cafcs  vinhão  em 
toda  a  parte  ;  e  que  não  arruinavâo  os  prados.  Nes- 
te ultimo  ponto  concordo  tacitamente  com  elle : 
mas  de  sorte  alguma  concordarei  que  os  prados  não 
hajão  de  arruinar  os  Cafés.  Serião  estes  tão  baixos 
que  a  segadeira  nada  teria  que  fazer  nelles  ?  Como 
receberião  os  Cafeseircs  (  pergunto )  os  soccorros  , 
tão  saudáveis  ,  que  as  chuvas  lhe  prestão  ,  estando 
elles  rodeados  de  hum  torrão  ,  em  que  as  a<nia$ 
nada  mais  fazem  do  que  cahir  ;  e  que  ,  ainda  que 
chovesse  8  dias  continuados  ,  penetraria  com  diffi- 
culdade  a  altura  de  4  dedos  :  e  nestes  termos  cue 
substancia  receberião  ?  A  final  não  temos  necessi- 
dade alguma  de  o  provar.  A  couia  he  vifivel  per 
si  mesma.  Em  despeito  destas  palavradas  volto  á 
cultura   dos   nossos  Cafeseiros. 

Esta  arvore  cresce  mui  depressa  ,  plantando  se 
em  boa  terra  ,  e  tendo  cuidado  de  a  defender  das 
hervas  bravias  ,  no  que  cumpre  muito  ter-se  toda  a 
exactidão  possivel  em  hum  clima  tão  quente  ,  co- 
mo este  ,  onde  as  hervas  crescem  abundantemente 
só  pelo  effeito  do  orvalho  ainda  nas  terras  virçens. 


Vcs- 


C  ^^5  ) 


§  XXII.  Bcscripção   da  arvore, 

O  aspecto    ou    caris    de  hum  Cafeseiro  de   iX 
mezes,  ou  de   2   annos  tem  alguma  cousa    de  en- 
cantador. Neste  tempo  he   que   o  vedes  em  toda  a 
sua  força  ,   e  vigor.  As  folhas  são  de  huma  verdura 
viva  ,  e  carregada  ,  muito  nédias  ,   alguma  cousa  re- 
torcidas ,   e  como  dentilddas  em  roda.  A  arvore   he 
copada,   parecendo   na  figura   á  do  loureiro.    Natu- 
ralmente cresce  mui   redonda ,  e  lança  em  regra  ge- 
ral desde    baixo   até    ao  tope    os    seus  ramos   ,    os 
quaes  á  proporção  que  o  tronco  principal  sobe  ,  el- 
les  se   diminuem  até  á  extremidade  das   suas   fran- 
ças ,  o  que  forma  huma  pyramide    muito  bella.  Os 
ramos  sahem    do   tronco   dous    a  dous   ,    huns  op- 
postos   aos  outros.  Os   primeiros  começão  a  sahir  a 
hum  pé  de  altura   acima  da  flor  da  terra  ,  (  deve  se 
entender  quando  z  arvore   está  feira)  a  estes  succe- 
dem  outros  de  trez  em   trez  pollegadas  ;    mas  que 
se  con-chegão  ,  logo  que  a  arvore   vai  envelhecendo  ; 
porque   os  ramos  ,  pela  mesma  proporção  ,  se   vão 
engrossando.    A   sua  figura  regular   se  perde   logo, 
que  elles  se   chapotão  ,    ou  decotão ,  que  então  os 
ramOs  do  alto  se  alongão  para  os  lados ,  como  os 
debaixo  3  e   se  guarnecem  de  prumagens  ,  ou  pim- 
polhos ,  (que   na  frase   do  Paiz   chamão  pés  ds  pa- 
tos) os  quaes  todos  produzem  successivamente  ,  e 
E  que 


(  66) 

cue  no  seu  começo  só  tem  hum  pc  cie  comprido; 
(no  primeiro  anno  do  seu  crescimento)  mas  que 
auginentão  todos  os  anr.os  outro  tanto  ,  para  sup- 
prirem  a  esterilidade  dos  primeiros  ramos;  porque 
se  deve  advertir  que  o  Cafeseiro  não  produz  dout 
annos  successivos  no  mesmo  Jugar  ,  mas  fiuctifica 
immediatamente  iunto  áqueiles  ,  que  se  acabão  de 
colher  ,  e  a^sim  prosegue  até  ás  pontas  dos  ramos  , 
e  nos  novedios  ,  que  a  arvore  costuma  lançar  to- 
dos os  annos ,  no  que  he  singular  acerca  da  parti- 
cularidade  da  sua  relação. 

As  loihas  sahem  de  duas  a  duas  em  cada  hum 
dos  ramos  ;  e  nestes  lie  que  se  formão  os  fructos  , 
que  se  apegão  a  elles  por  hum  pezinho  muio  cur- 
to ,  da  mesma  sorte  ,  que  as  uvas  se  apegão  ao 
cacho  ;  e  ainda  que  os  nós  estejâo  muito  conche- 
s^ados  ,  com  tudo  algumas  vezes  se  tem  contado 
de  1 5  para  20  fructos ,  e  quasi  outros  tantos  nós 
em  cada  raminho  ;  e  por  isso  ,  quando  o  Cafeseiro 
esta  em  flor  ,  estas  estão  tão  conchegadas  humas 
ás  outras  ,  que  cada  ramo  poderia  fazer  huma  gri- 
nalda ,  ou  capella  bem  guarnecida.  A  meu  ver  não 
ha  cou<;a  alguma  ,  que  regozije  mais  aíjradavelmen- 
te  a  vista  do  que  a  perspectiva  de  hum  Cafesal  , 
que  conte  ço  mil  Cafeseiros  floridos  a  hum  tem- 
po ,  vendo-se  reinar  entre  elles  huma  verdura  mui 
carregada,  hinna  alvura  de  neve  ,  e  hum  cheiro 
suave  ,  e  agradável ,  que  titilla   tão  docemente  o  ol^ 

fa- 


C  67  ) 

fato.  Não  se  dá  n'  America  outra  estacSo  que  mais 
se  pareça  com  a  da  primavera  na  Europa  ;  que  a 
faça  lembrar  ,  e  que  a  imite  ,  como  quando  es  as 
arvoretas  estão  em  flor.  As  suas  encantadoras  ,  6 
lindas  avenidas  ,  quando  se  passeia  por  ellas  ,  repre- 
sentão  o  terreal  paraíso   das   delicias. 

Assim  florece  nesta  amorosa  estação,  a  saber  , 
de  Março  e  Abril  ;  mas  os  Cafeseiros  novos  de  dous 
annos  florecem  Ás  vezes  seis  vezes  em  o  anno  :  Á 
medida  que  crescem  ,  e  que  o  tempo  lhe  corra  bem. 
repetem   as   flores  todos  os  mezes. 

§  XXIII.  Flor  do  Café. 

A  flor  do  Café  he  huma  pequena  estrella  bran- 
ca ,  recortada  em  cinco  partes  ,  das  quaes  cada  ser 
paracão  he  guarnecida  de  hum  estamc  da  mesma 
côr  ,  com  outro  no  meio  ,  que  remata  em  forqui- 
lha ;  e  que  permanece  por  muito  tempo  pegadp 
no  fructo  :  a  flor  só  dura  48  horas  ,  ao  depois  co- 
meça a  definar,  e  alguns  dias  ao  depois  vem  si 
terra.  A  esta   flor   succede  o  fructo. 


E  ii 


Fí- 


»« 


(62  ) 

§   XXIV.   Figuro    do   seu  fruef, 

A  figura  do  seu  fructo  se  parece  muito  com  a 
da  Oliveira  (  huma  azeitona  )  até  conseguir  o  seu 
tamanho  natural  :  á  medida  que  se  avizinha  a  sua 
madureza ,  o  seu  verdor  se  commuta  em  hum  ama- 
rello  prilido  :  este  a  seu  turno  se  reve7a  em  hum 
bellissimo  vermelho  encarnado  ,  a  quem  cede  o  lu- 
?ar ,  que  occupava  :  e  neste  passo  imita  a  huma 
cereja  oblonga  :  a  sua  carne  he  huma  espécie  de 
polpa  de  hum  gos^o  maravilhoso  ,  assaz  enxagui- 
do  ,  cuias  qualidades  adstringentes  ,  e  aquecentes 
impedem   fazer   delíes   algum    uso. 

A  esta  polpa  succedem  duas  pequenas  favas  ge- 
meãs.  apegadas  huma  á  outra,  cobertas  de  hum 
aralho,  ou  película  summamente  delicada,  fina .  e 
adherentc  ,  que  o  cobre  inteiramente.  Nisto  des- 
cobrimos visivelmente  os  admiráveis  segredos  dana- 
tureza  ,  que  por  huma  sábia  providencia  as  defen- 
deo  contra  todos  os  ataques  do  ar  ,  dos  quaes  ti- 
nhao  necessidade  de  se^em  defendidos  ;  pois  oue 
somente  o  orvalho  de  huma  única  noite  seria  bas- 
tante  ,  para  lhe  fazer  evaporar  todo  o  seu  o'eo  . 
que  he  aquelle  ,  que  dá  ao  seu  gosto  ,  e  qualidade 
todo  o    esmero  ,  e   perfeição  .  de  que  goza. 

Somente   quasi    hum    mez  ,  ou   dous  .   antes  da 
op^dureza  do  seu  fructo,  he  ,  que   se   vem   roço- 

nhe- 


nliecimento  da  quantidade  da  sua  producçao.  Se  es- 
tá ,  ou  não  carregado  de  fructos  !  O  seu  bel!o  ver- 
dor muda  de  colorido  :  as  folhas  amarelecem  ,  e 
parece  que  anniincião  seu  languor  Representa-se  > 
como  acabrunhado  pela  sua  própria  carga  ,  e  nos 
admoesta  que  elle  tem  precisão  de  ser  descarrega- 
do ,  e  com  ,  effeito  he  preciso  cuidar  ,  logo  que 
seu  fructo  sazona  ,  ou  se  põem  de  vez  ,  isto  he 
avermelha  ,  de  lhe  decolar  ,  ou  chapotar  os  ra- 
mos gommeteiros  ,  ou  ladroes  ,  que  repuMulão  vi- 
vamente ,  ao  depois  de  se  ter  chapotado  o  tronco. 
Rebentão~lhe  hupi  grande  número  destes  ,  de  que 
se  faz  preciso  livrallo.  Todas  as  vezes  ,  que  for 
mondado  ,  se  deve  livrar  ,  dos  que  se  encontrarem  , 
deixando-lhes  unicamente  o  tronco  principal  ,  por 
este  meio  se  consegue  ficar  o  pé  vigoíoso  ,  e  se 
sustem    infinitamente   mais. 

Logo  que  se  lhe  tirar  o  fructo  de  vez  ,  o  que 
renasce  ,  torna  a  tomar  hum  novo  vigor.  Ora  nes- 
te tempo  verdadeiramente  he  cue  elle  tem  neces- 
sidade que  os  orvalhos  ,  as  chuvas  os  soccorrão  mui- 
tas vezes;  porque  o  Café  requer  muita  hunr  idade  , 
e  hum  terreno  que  sempre  haja  de  estar  fresco  , 
( * )  o  que  vem  a  ser  a  causa  5   porque  não  vem  em 

as 


(*])  Se  faltarem   chuvas    vos   dons  últimos   fvezcs, 
que   pncedem  á  colheita  »    eiles  Jicão  sujeitos  a  ss- 


IIW 


>i 


C70) 

39  várzeas  ,  ou  planícies  ;  porcue  r. estas  as  chuvas 
são  suiniTidinente  raras  »  e  porcue  tair.bem  somen- 
te o^  morros  ,  e  montes  llies  são  próprios,  e  princi- 
palmente os  terrenos  ,  CjUe  se  rossão  de  novo  ,  no» 
íjuacs  chove  abundantemente  ;  mas  estas  mesmas 
chuvas ,  que  lhe  são  tão  benéficas  ,  e  saudáveis  , 
causão  dous  eíTeitos  mui  contrários  ,  e  diametral- 
mente oppostos  hum  ao  outro  ;  porque  ,  em  lhes 
procurando  o  soccorro  ,  de  que  os  morros  tem  tan- 
ta necessidade  ,  passão  estes  a  serem  destruidores 
destas  mesmas  terras  ,  que  elles  fecundão  ;  levando- 
as  após  dtí  si  ,  e  arrastrando-as  pouco  a  pouco  em 
virtude  da  sua  própria  pancada  ,  de  sorte  que  (ao 
meu  ver)  daqui  a  30  annos  ,  os  que  nos  sobrevive- 
rem ,  ou  os  nossos  vindouros  com  difíiculdade  acha- 
rão terra  para  cultivar  ;  porque  os  morros  nesse 
tempo  já  se  acharáó  esterilizados  furiosamente.  Fi- 
nalmente para  que  nos  cueremios  inquietar  com  fu- 
turos ,  que  ainda  estão  tão  apartados  ?  A  providen- 
cia ,  que  se  emprega  com  tanto  cuidado  nos  meno- 
res insectos  ,  se  não  ha  de  esquecer  da  sua  obia 
principal. 


rent  pecos  ,  e  a  orvorc  cm  perigo  de  morrer,  A  ^ran* 
íle  abu  idíincla  de  fritctos  ohsorve  hiima  ç^rmule  par- 
le Hit  $uh$:ancio  (ííi  arvore  t  e  a  selha  nÔo  se  distri- 
buindo %  se  não  com  mcdrocrU.ide  ,  Jax.  (iliortnr  ,  ou 
mangrnr  os  fructos  Ctnuo  foi  e>n  1753  em  qne  e^cre- 
*ua   estas   memorias  »  no  tjual    se  pcrdeo    50  por  cem. 


C7I  ) 
§  XXV.  o  Cíifé    não  <tmadurcce  4io  mesmo   tempo. 

Nós  não  fôramos  felices  ,  se   este   fructo   ama- 
tJurecesse  á  pancada  ;  porque  .  se  assim  acontecesse  , 
perderíamos   todos    huma   boa    parte   dos  nossos  ren- 
dimentos ;  pois  gastamos  huma  quarta  parte  do  an- 
no   em  o   colher.  Este   defeito  (se    he  ,  que  se  lhe 
pôde   dar   este   nome)   lhe   vem  ,  de  florecer   o  Ca- 
feseiro   por   diíTerentes  vezes  ;  e  de  serem  seus  fru- 
ctos  summamente  cochados  huns    com  os   outros  : 
ba  huma  quarta    parte  ,  que    aperta   de   tal   sorte  o 
resto  ,  que  os   obriga   a  esperar  ,  a  que    se  tirem  , 
ou   colhão  estes  ,  para  que  os  opprimidos   possao  a 
seu  turno   ter  o  mesmo   desafogo.  Por  este   motivo 
fazemos    5    até   6    colheitas  ,  as   quaes    todas   junfca- 
inente   só   devem  reputar   por  huma  5  pois   que    se 
seguem  immediatamente   humas  a  outras  ,  sem  re- 
vezamento ,  ou   alternativa   alguma  ,  e  por  mais   di- 
ligencia ,  que  se  faça,    nao  he   possi/el    deixar  de 
passar   pela   semsaboria  de  huma  mui   grande  perda; 
porque  ,  passando-se   5   ou  6  dias   ao  depois   de  co- 
IhMos  ,  parece  que  ainda  se  não    tem   tocado  algum 
pé   de  Café  ;    porque  apenas    se  lhe  acaba   de    tirar 
hum  cesto  do  seu  fructo  ,    já  elle    oíferece    outro 
tanto. 


Qual 


C  70 
5   XXVI.  ^ual  seja   a   estação    de  o  colher, 

O  sazonatnento    deste    fructo    se   conhece    pela 
côr  veriTielha   denegridí».  De  ordinário  isto   aconte- 
ce nos  fins   de  Setembro  ,  no  tempo  das  vindimas ; 
e   no   qual   também   nós   o   vendimamos ,    e   conti- 
nuamos  sem    parar  até  o  fim    do   anno  :  mas    se  o 
Cafeseiro  está  em   a  .^ua    i.    e   2.   novidade  :    pela 
niez  ;    já   dc<j  de   Julho   se  pôde    começar.    Neste 
tempo  se  dá  hum   intervallo    de    algumas  semanas, 
no  qual    se  applicão   em   alimpar   o   lugar  ;  porque  , 
quando  se   está   na   maior   força   da  colheita   ,    nío 
se  p6de    deixar  esta   hum  só   instante,  sem   experi- 
mentar  huma  grande  perda.   Os  pretos  ,  applicados  a 
este    trabalho  ,   se  provém   cada   hum   de  seu  cabaz  , 
quasi  como  os  nossos  de   vimes   usados   nas  vendi- 
mas  ,    em   o   qual   fazem  cahir    o   Café    no  mesmo 
tempo  que   o   vão   apanhando.  Apenas   se  enche   o 
ce.to  ,  se  vai  despejar  em  outro    maior ,  de  que  ca- 
da  negro  tetn   hum  ,    que    ha   de   fazer  a   sua   car- 
ga.  Nestes  levão  elle^  o  Café  ao  moinho  ,  ou  en^ce- 
nho.  Recomende-se   aos   escravos  de    tirarem  o  fru- 
cto sómen'e  j  e  de  deixarem   o  seu   pcsinho  pegado 
3»o   ramo  ,  pelo  nao  descascar ,  o   que    faria   mal  á 
arvoíe. 


Tre% 


(7J  ) 
5  XXVn.  Trez  espécies   de  Café   Inferior* 


Dão-se  trez  espécies  de  Café  inferior,  dos  quaes 
se  precisa  acauteilar  ,  para  senão  haveiem  de  mis- 
turar juntamente  ;  e  sem  es^a  cautella  ,  se  confun- 
di riao  ,  e  seria  preciso  gastar-se  muito  tempo  ,  pa- 
ra separar  o  máo  áo  bom.  i.°  o  que  se  escaldou  ; 
òu  amaduieceo  antes  de  tempo  por  falta  de  aguas  , 
e  que  se  seccou  na  arvore  ,  ainda  antes  de  ficar 
vermelho ,  que  se  vem  obrigados  a  colhelJo  ,  quan* 
do  entra  a  amarelecer  ,  e  a  manchar-se  ;  porque 
he  sujeito  a  embranquecer  ,  por  estar  privado  do 
seu  sueco  oleoso.  Cumpre  não  o  misturar  com  o 
bom.  2.^  Ha  outra  espécie  de  escaldado  peior  que 
o  1.°  pois  o  faz  seccar  na  arvore  ,  antes  de  ter 
chegado  a  ametade  da  sua  madureza  \  por  huma  pro- 
ducção  excessiva  ,  que  a  arvore  não  pode  susten- 
tar ;  e  que  a  enfraquece  de  tal  feitio  ,  que  mui- 
tas vezes  se  vê  no  risco  de  acabar.  Isto  acontece 
ordinariamente  aos  Cafeseiros  ,  deixados  crescer  li- 
vremente ,  cujos  ramos ,  cheios  de  miollo  j  não  tem 
o  vigor  necessário  para  sustentar  o  pezo  de  seus 
fructos  ;  e  menos  a  seiba  precisa  ,  para  o  forneci- 
mento de  suas  necessidades.  A  esta  sorte  chama- 
mos crocos,  A  final  se  da  huma  3.°  chamada  es- 
Clima  ,  que  só  se  descobre  ,  quando  se  lava  o  Café  , 
ao  depois  de  se   ter  tirado  do   engenho.    São  huns 

tan- 


(74) 

tantos  firãos  chochos ,  pecos  ,  oii  mangrados  cxst  so- 
brenadáo  ,  e  os  escumamos  ,  donde  Jhe  vem  o  no- 
jTie.  C  orno  todas  estas  espécies  são  inferiores  ,  os 
seccamos  á  parte  ,  para  se  escolherem  ao  depois  , 
cjnando  se  não  tem  que  fazer  >  e  se  quer  aprovei- 
tar algum  ,  que  se  achar  bom  ;  mas  repetirei  a  seii 
respeito  o  antigo  rifão.  Le  jeu  n  en  vaut  pas  U 
chandcUe  ,  não  vai   o  cebo  a  mecha, 

§   XXVIII.   Disposição   na   casa  do  Engenho, 


Estando  os  cestos  cheios  ,  cada  negro  carrega 
o  seu  ,  e  o  despeja  em  e=:pecies  de  separações  em 
forma  de  cofres  practicados  em  os  lados  da  casa  , 
c  qualquer  destes  pode  conter  maior  quantidade 
de  Café  ,  do  que  os  pretos  podem  apanhar  diaria- 
mente. A  noite  fechada  ,  ao  depois  da  reza  ,  se  dis- 
põem o  número  de  pretos  necessários  para  o  pas- 
sarem pelo  Engenho.  Bastão  7  ,  e  todas  as  noites, 
ou  seióes  ,  devem  ser  revezados  ou  substituídos  por 
outros  tantc;  ,  e  no  entretanto  aquelles  vão  ás  suas 
senzallas  ,  dispor  a  comida  ,  para  os  que  ficão  no 
trabalho  ,  de  maneira  ,  c^uq  ,  estando  este  acabado  , 
a  achem  feita  toalmente.  As  mulheres  são  ordi- 
narianiíínte  as  incumbidas  desta  segunda  parte.  Des- 
ta SOI  te  nenhum  poderia  cueixar  se  ;  e  o  trabalho 
se  reparte  redondamente  de  modo ,  cue  ,  em  menos 
de  hora  c  meia  ,  toda  a  colheita  do  dia  he  passa- 
da 


da  pelo  Engenho  :  e  nisto  consiste  o  trabalho  peior 
de  toda    esta  granjearia. 

§  XXIX.  Como   se    passa  o  Café   pelo  Engínho. 

Peterrainão-se    dous    pretos   ,    para   voltarem   o 
Engenho  da  parte  do  rolo   grande  ,    e  o  terceiro  , 
somente  da  parte  do  pequeno.  O  i.°  ,  ccmo  o  mais 
grosseiro  ,    tem   duas  manivellas  ,  e    o  pequeno    só 
tem    huma.  Ha   hum   quarto   escravo  ,  posto  no  al- 
to da  tremonha,  para   dar  de  comer  ao  Engenho  , 
e  lhe   vai   botando  o   Café   á  medida  ,    que   elle  o 
vai   enguUindo.  Ainda  se  dá    outro   de  mais  ,  e  he 
o  5.^  ,  o  qual    se  põem  por  diante  do  Engenho  ,  e 
recebe   as   cerejas    cabidas  em   terra  ,    as   quaes  elle 
tem   cuidado   de  apartar   com   hum    pequeno  rodo  , 
por  ser  preciso  repassailas  ainda  outra   vez,  para  as 
purgar  dos  restos   dos  Cafés  escapados    aos  cylindros 
ou   rolos.  O  resto  dos  dous   negios  ,  hum   se  occu- 
pa  em   levar  o  Café   á  tremonha  ,  e   o  outro    a  en- 
cher  o  cesto  ,  que   o   i.^   ha  de   levar.  Esres  dous 
revezão  de  tempos  em  tempos   os  que  estão  no  rô- - 
lo  grande  ,  para  descançarem  ,  tomando  alternativa- 
mente o  lugar  .  dos  que  entrao   em   seu  lugar  nos 
rolos  ,  enchendo  ,  e   descarregando  na  tremonha. 

O   Café   naturalmente    se  cobve  de   hum   sueco 
siimmamente    glutinoso  de  maneira   tal  ,  cue  ,   ain- 
da espremendo-se   muito    pouco  ,  deixa   a  sua   pol- 
pa 


C70 
pi  com   precipitação.  Este   eífeito  fazem  os  rôlos; 
junto   dos  quaes   confusamente  cahem    polpa  ,  e  ca- 
roço   sobre   a  peneira  .    espécie   de   crivo  feito   de 
malhas    de  arame  ,  em    feição   de   gaiolas,  propor- 
cionadas  á  grossura   do  Café  .  o  c;ual  ,    regulado  pelo 
movimento  da  peneira,  e  do  seu  próprio  grude  ,  ca- 
he   atravez  da.  malhas  ,  em    quanto  o  mesmo   mo- 
vimento   favorecido   por  alguma   inclinação  ,  que   se 
da   á    peneira  ,    arremessa  diante   de  si   as  cerejas  , 
cuc  sendo  muito   grossas  para    poder  passar  atravez 
das  malhas ,  cahem   successivamente  sobre  o  peque- 
no rôlo  ,  e   estas  cerejas   passadas  por   hum  ,  e  por 
cu^ro  ,   cahem   ao  pé   do   Engenho   pelo  movimen- 
to  da   pequena  peneira  ,    da  qual   o  pequeno   róio 
também  he   provido. 


5   XXX.  Advertências  que   se  devem  faxer. 

Ao  depois  de  algumas  voltas  do  Engenho  ,  cum- 
pre  examinar  ,  se  o  Café  está  no  seu  ponto.  Se  o 
Engenho  estiver  muito  apertado,  o  Café  se  esma- 
ga, percebendo-se  logo  pelo  seu  pergaminho ,  que 
se  levantara  em  escamas.  Este  he  hum  signal  cer- 
tissimo  de  que  o  ròlo  está  muito  junto  das  gen- 
givas da  peça  movediça:  neste  caso  se  haja  de"  pa- 
rar hum  pouco  ,  para  lhe  dar  abertura  por  meio  de 
cunhas  de  p.-ío  ,  que  estão  nas  extremidades  da  pe- 
ça movediça  ,  e   que  servem  de  apertar  ,  e  dealar- 

£:ar 


Ç  77  > 

gar  o  Engenho  f  conforme  for  necessário.  Deve-se 
observar  isto  todas  as  vezes  ,  que  se  pozer  no  En- 
genho ;  porque  o  Café  não  he  sempre  da  mesma 
grossura. 

Quando  se  tem  achado  hum  pento  fixo ,  se  con- 
tinua o  trabalho  ,  até  que  a  caix3  do  Engenho  es- 
teja cheia  ,  então  se  pára  ,  e  se  vasa  nas  bacias  , 
coches ,  ou  barricas  ,  de  que  se  usa.  Assim  se  pro- 
segue  até  o  fim.  Feito  isto  se  repassão  os  mesmos 
fructos  segunda  vez  ,  para  acabar  de  os  purgar  do 
resto  do  Café  ,  que  ficou  pegado,  então  se  abre^ 
huma  pequena  porta ,  practicada  defronte  do  Enge- 
nho, por  onde  as  cerejas  passão  ,  quando  cahem  , 
c  que  os  negros  arremessão  quatro  passos  de  dis- 
tancia ,  pelos   não   incommodar. 

Deixasse  deste  modo  o  Café  toda  a  noite  em 
a  bacia  ,  mediante  a  qual  se  despega  com  facilida- 
de da  sua  gomma  ,  o  cue  o  dispõem  muito  me- 
lhor para  a  lavagem.  Esta  se  faz  á  claridade  da  Lua, 
ou  á  luz  de  hum  facho  ,  huma  hora  antes  de  ama- 
nhecer. O  edificio  do  Engenho  deve  ser  construí- 
do junto  de  algum  ribeiro  ,  para  evitar  a  multi- 
plicação de  trabalhos  ;  e  se  sirva  então  de  hum  tan- 
que de  cantaria  ,  podendo  ser  ,  no  qual  com  hum 
Todo  ,  ou  pá  ,  se  mexa  para  lhe  despegar  a  parte 
visguenta.  Alguns  usão  de  huma  espécie  de  cocho  , 
ou  canoa  ;  e  aquelles  ,  que  não  tem  alguma  das  duas  , 
se  servem  de  cestos  grandes  ,  que  fazem  o  mes- 
mo 


C7S  ) 

mo   effeito  t   só   com  o  incóinmodo  de  se  estar  a 
mudar   muitas  vezes. 

§    XXXI.   Meios  para    acautellar  os  escravas  de  mui" 
tas    moles  tias. 


Como  todos  somos  interessados  na  conservação 
dos  nossos  escravos  ,  e  de  que  elles  gozem  de  hu- 
ma  saúde  vigorosa  ,  tanto  quanto  está,  em  nosso 
poder  ,  he  preciso  ser  cuidadoso  de  os  defender  das 
lijurias  do  ar.  As  estações  das  colheitas  são  mui- 
t^  chuvosas  ,  e  mui  cheias  de  orvalhos  :  e  por  isso 
não  ha  Cafeseiro  algum  ,  que  não  esteja  ensopado 
até  ás  8  e  ás  9  horas  do  dia.  Ora  ,  sendo  notório 
que  os  escravos  principião  este  trabalho  ás  5  horas 
da  manhã  9  serão  todos  os  dias  molhados  ,  como 
os  patos ,  o  que  não  pode  deixar  de  gerar  diversas 
moléstias  perigosas  ,  ou  arriscadas ,  cujas  consequên- 
cias podem  vir  a  ser  muito  serias.  Para  remediar 
estas  sortes  de  inconvenientes  ,  temos  cuidado  de 
os  prover  a  todos  (assim  negros  como  negras)  de 
boas  casacas"  de  panno  grosso  feitas  a  Eavara  ,  isÇo 
he  dobrando-as  nos  peitos  ,  e  sobre  as  quaes  p6de 
a  agua  correr  ,  mas  não  penetrar,  O  que  lhes  ser- 
ve de  preservativo  contra  os  catharros ,  defluxos  , 
e  frialdades  ,  a  que  elles  são  muito  sujeitos  sem 
esta  precaução.  Os  Engenhos  dão  hum  trabalho  ,  que 
lhes   iaz  correr  o   suor    em   bicas  3    e  se  ,   estando 

qucn- 


Ç  19  > 
quentes  ,  sahirem  fora   ,    não  escriipulizziráõ    beber 
hum    copo    de  agua  ,  logo   que   a  encontrem.  Mada 
iTiais  precisão  para  hum  defluxo  de  peito.   Para  acau- 
ttllar  este   accidente  ,    dai-lhe   hum  bom  copo    de 

ã<rua-ardente   da  terra,  de  que  elles   são  muito  ami- 

x> 

<ros  :  com  isto  elles  se  vão  contentes  ,  e  pelo  maior 
interesse  não  beberião  agua  depois  ;  pelo  receio 
de  não  diminuir  o  ardor  do  iicuor  ,  que  os  satis- 
faz ;  e  que  neste  caso  lhe  he  hum  remédio  so- 
berano. 

No  tempo  da  ccllieita  se  necessita  de  toda  a 
^ent-e.  Então  não  ha  hum  que  seja  de  mais.  Hum 
escravo  de  menos  no  espaço  de  15  dias  somente, 
faz  hum  objecto  de  12  barris  de  Café  em  fructos, 
(que  podem  dar  200  anateis  de  Café  limpo)  da 
menos  pela  ausência  de  hum  só  escravo.  Que  se- 
rá quando  faltarem  muitos?  O  Café  não  espera  pe- 
la nossa  commodidade  para  amadurecer  :  segue  sem- 
pre seu  trilho.  As  chuvas  o  derribão ,  as  corren- 
tezas as  arrastão  ,  e  levão  a  pos  de  si  :  e  tudo  isto 
he  perda.  Precisa-se  consequentemente  aproveitar 
estes  momentos  preciosos.  E  por  isso  desprezar  os 
escravos  em  taes  apertos  ;  desviallos  tão  desacerta- 
damente ,  não  pôde  fazer  conta  alguma  ao  Gran- 
jeiro :  seria  fazer  muito  mal  o  <;erviço.  Ora,  longe 
de  os  desviar  ,  deve  diminuir  ametade  dos  domés- 
ticos. Logo  ,  que  o  Café  estiver  recolhido  no  ar- 
mazém ,  estará  seguro :    cm   quanto  porém    estiver 

na 


na  arvore  ,  estará  sempre  arriscado.  Assim  todo  o 
Grangeiro  sábio  e  avisado  ,  que  conhece  os  seu» 
interesses  ,  evita  quanto  pôde  tudo ,  o  que  se  op- 
pôem   ao   adiantamento  da  sua  colheita. 


§  XXXII.    Descripçuo   da   explanada. 

As  explanadas  se  fazem  de  alvenaria  levanta- 
das da  terra  quasi  6  pollegadas  com  seus  rebor- 
des em  roda  de  huma  certa  altura  ,  nas  quaes  se 
fazem  boeiros  para  escorrerem  as  aguas  ;  a  sua  gran- 
deza iie  illimitada  ,  mas  proporcionada  á  quantida- 
de de  Café  ,  que  o  Granjeiro  deve  recolher.  Por 
esta  razão  os  ha  de  differentes  tamanhos ,  huns  de 
cem  pés  quadrados  ,  outros  de  menos.  Estando  bem 
calçado  no  seu  fundo  se  lhe  põem  por  cima  hum 
bom  reboque  ,  de  modo  que  represente  ser  elle  to- 
do huma  peça ,  sem  as  divisões  que  se  verão  obri-> 
gados  afazer,  para  se  acautcllarem  de  huma  chuva 
grande  ,  que  podia  trazer  alguns  accidentes  ,  carre-; 
tando  comsigo  em  hum  instante  todo  o  Café, 
que  se  tivesse  posto  nelle.  As  correntezas  da  agua 
ficão  atalhadas  por  meio  dos  repartimentos  ,  que 
se  oppõem  á  sua  rapidez  ,  e  velocidade  ,  e  ellas 
tem  tempo  de  se  escoarem  pelos  boieiros  de  cada 
repartição  ,  á  medida  que  nella  entra  ,  sem  se  lhe 
dar  tempo  a  fonnar  alguma  corrente.  E  para  ac- 
celerar  a  sua   evacuação  se  dá  a  esta  explanada  hum 

pe- 


I 


C  Si  ) 

pequeno  declive  ,  ou  pendor  que  guia  as  aguas  para 
os  boieiros  sem  violência  alguma. 

Sobre  estas  explanadas  se  póem  o  Café  ,  para 
se  seccar  ,  e  se  tem  cuidado  ,de  o  mover  muitas 
vezes ,  para  se  adiantar  a  secoUra.  Trez  ou  quatro 
dias  de  bom  Sol  será  sufficiei^te  ,  tendo-se  cuidado 
de  o  abrigar  todas  as  noites  ,  e  de  acautellar  que 
elle  se  não  molhe.  Isto  feito  se  recolhe  ao  arma- 
zém ,  e  se  guarda  até  sahir  para  se  pilar  ,  e  a  es- 
te chamamos  Café  secco  cm  pergaminho  ,  ou  com 
a  sua  aralha. 

Ha  outro  modo  de  o  seccar  ,  que  parece  mui- 
to mais  expeditivo  ;  porém  he  sujeito  a  muitos  in- 
convenientes ,  os  quaes  hirei  notando  á  medida  , 
que  se  forem  offerecendo  occasiõcs.  Este  he  fazei- 
lo  seccar  em  a  sua  cereja.  Ainda  que  eu  não  seja 
partidista  dos  que  abração  este  methodo  ,  com  tu- 
do não  os  condemnarei  ;  pois  cada  hum  tem  suas 
razões  ,  que  os  compellem  a  obrar  ,  conforme  enten- 
dem ,  e  a  usar  da  sua  liberdade ,  trabalhando  a  seu 
geito.  Muitas  vezes  a  necessidade  he  ,  a  que  deci- 
de do  facto.  Eu  não  decidirei  ,  mas  direi  com  tu- 
do o  meu  parecer  ,  sem  pertender  que  o  sigão  j 
porque  não  sou  mais  Filosofo  que  elles.  Mas ,  co- 
mo os  Grangeiros  de  Café  gostão  de  discorrer  ,  en- 
tremos no  campo,  e  sigamos  a  torrente  :  daremos 
nosso  suffragio  ,  que  será  vencido  pela  pluralidade, 
mas  não   negarão  que  eu  o  dei.  Se  bom  ,    ou  máo , 


C    S2    ) 

nada  importa  ,    seguindo  sempre  o  seguro   de  nã<^ 
arruinar   cousa  alguma.    Que  se  arriscará? 

Este  modo  de  fazer  seccar  he  muito  mais  com- 
modo  ,  c  os  que  o  reputão  mais  prompto  ,  e  ex- 
peditivo  inteiramente  se  enganão.  He  certo  que  se 
não  precisão  Engenhos  ,  nem  os  que  nelles  traba- 
lhão. No  mesmo  instante  ,  em  que  se  colhe  ,  se 
põem  na  explanada  ,  onde  se  deixa  ficar  ,  até  que 
perfeitamente  fique  secco ,  de  noite  e  de  dia ,  sem 
se  inquietar  ainda  com  a  chuva.  Póde-se  julgar  que 
deste  modo  consumirá  muito  tempo  em  seccar  ,  e 
correrá  risco  de  se  avariar.  Bstar  sem  cessar  expos- 
to ás  injúrias  do  tempo  faz  indispensável  que  nes- 
ta grande  quantidade  hajão  alguns  ,  que  se  sequem 
languidamente  ;  porque  se  vem  cobertos  por  outros, 
ainda  que  se  tome  a  precaução  de  os  mexer.  Sc 
de  dia  se  não  molharem  ,  molhar-se-hao  de  noite, 
A  força  de  os  mexer  muitos  se  despojarão  das  suas 
cerejas  ,  e  por  tanto  não  dcixarião  de  se  voltar  bran- 
cos ,  e  outros  de  se  ennegrecerem  :  tantos  inferio- 
res que  augmentão  os  rebotalhos .  diminuem  a  ren- 
da ,  e  occupão  hum  tempo  infinito  na  sua  escolha, 
que  se  poderia  empregar  muito  mais  utilmente  em 
algum  dos  outros  trabalhos,  que  nunca  faltão  em 
huma  fazenda, 

He  ainda  preciso  observar  que  este  Café  pre- 
cisa ser  mais  secco  ao  dobro  do  outro  ;  porque  a 
cereja  conserva   sempie   hum  certo  sal  ,  que   o  faz 

bo. 


(  80 

bolorento  »  por  pouca  humidade  que  apanhe  ;  e  da 
qual  he  mui  difficil  defendella  em  hum  Paiz  ,  co- 
mo o  dos  nossos  moiros  ,  que  abunda  de  tanto  ni- 
tro ;  e  os  temporaes  são  tão  frequentes  ,  faltando- 
se  a  este  ponto  ,  o  Café  corre  perigo  de  se  aque- 
cer ,  e  vir-se  a  apodrentar.  Para  prevenir  este  acci- 
dente  convém  de  o  examinar  muitas  vezes ,  e  as- 
sim que  se  persentir  o  menor  calor  ,  sem  hesitar» 
e  sem  a  menor  perda  de  tempo  ,  se  ponha  ao  Sol. 
Que  turbação  não  será  a  sua  se  neste  comenos  a 
explanada  estiver  cheia  de  Café  verde  ?  Será  neces- 
sário que  prepare  hum  lugar  para  o  outro.  A  is- 
to se  expõem  algumas  vezes  os  que  fizerem  seccar 
o  seu  Café  em  cereja.  Ao  passo  que  o  que  o  sec- 
ca  com  o  seu  pergaminho  ,  tendo-o  lavado  ,  o  con- 
serva annos  inteiros  em  o  seu  mesmo  estado  ;  por 
que  o  purga  do  seu  sueco  glutinoso  ,  e  não  fica 
sujeito  a  mudar-se  de  sorte  alçjuma  ,  tendo  cuida- 
do de  o  defender  de  toda  a  humidade  ,  por  elle 
ser  summamente   capaz   desta  impressão. 

Em  quanto  a  avantagem  ,  que  muitos  se  figu- 
rão tirar  ,  de  o  fazer  seccar  em  cereja  debaixo  do 
pretexto  ,  de  que  só  basta  plantar ,  e  colher  ,  ro- 
go que  queirão  attender  ao  tempo  ,  que  se  gasta 
em  o  pilar  ?  aquelle  que  se  peide  em  limpallo ,  e 
escolhello.  Estou  certo  que  hão  de  concordar  co- 
mido que  ,  longe  de  ser  hum  adiantamento  ,  he  hum 
atrazamento  ',  ou  hum  summo  prolongamento  <h 
F  ii  sua^ 


C  S4  ) 

sua  obra  ;  pois  se  expedira  muito  mais  depressa 
trez  carretas  de  Café  em  pergaminho ,  do  ^uc  hii- 
ma  em  cereja. 


J   XXXIII.  Em  que   tempo  se  pila  o  Café, 

Como  no  tempo  da  colheita  se  esteja  muito  oc- 
cupado  ,  ordinariamente  se  espera  que  ella  acabe 
para  pilar  o  Café.  Os  trabalhos  se  seguem  hun$ 
aos  outros  successivamente  ;  e  deixar  hum  ,  he  ar- 
luinar  o  outro  necessariamente  ;  e  por  amor  disto 
precisa -se  saber  repartir  o  seu  tempo.  Cada  dia  de- 
ve ser  empregado  muito  a  propósito.  Regulando- 
^e  assim  ,  por  huma  sábia  conducta  ,  tudo  se  porá' 
em  ordem  ;  pois  esta  faz  que  muitos  Grangeiros 
trabalhem  mais  com  poucas  pessoas ,  do  que  outros 
com  muitas  j  porque  estes  são  emprenteiros  de  mui- 
tas cousas  ás  vezes.  Devem  seguir  pé  por  pé  este 
principio.  Não  se  deve  pilar  o  Café  ,  senão  quan- 
do todo  elle  estiver  guardado  e  fechado  ,  menos 
cue  alguma  necessidade  nos  obrigue  ,  ( esta  carece 
de  Lei)  ou  que  tenhamos  algum  intervallo  na  colhei- 
ta :  neste  caso  será  bom  aproveitallo  :  porque  os 
primeiros  Cafés  são  muitas  vezes  os  melhores ;  (ao 
menos  na  apparencia )  pois  que  elles  não  tiverão 
tempo  de  se  avariarem  ;  mas  he  preciso  não  per- 
doar cousa  alguma  ,  para  qiie  fiquem  bem  seccos, 
e  reduplicar  o  cuidado ,  quando  sé  quer  pilar  ;  por- 
que 


i 


C85) 

que  o  Café  novo  he  mui  sujeito  a  inuilsr  .  não 
tendo  tido  tempo  de  se  firmar  :  lie  então  de  hum 
verde  de  corno  encantador  ,  transparente  ,  e  absolu- 
tamente próprio  a  enganar  ao  mais  destro  conhe- 
cedor. Assim  ,  ainda  que  pareça  estar  secco  ,  acon- 
selho ,  aos  que  o  comprarem  ,  a  que  o  exponhão  ao 
Sol  ,  antes  d'  o  embarcarem  ,  para  que  por  est® 
meio  lhe  conservem  a  sua    qualidade. 


§  XXXIV.  Como  se  pila  o  Café, 

Convém  que  ,  antes  de  pilar  o  Café  ,  se  assoa- 
lhe por  dous  dias  successivos  ,  e  não  começar ,  sc^ 
não  ao  3.''  dia,  e  isto  ao  depois  de  se  ter  aque- 
cido ao  Sol.  Deve-se  observar  isto ,  porque  o  mais 
bello  Café  embranquecerá  debaixo  do  pilão  ,  senão- 
tiver  o  ponto  de  seccura  conveniente;  e  além  dis- 
/so  se  achatará.  Em  huma  palavra  :  o  Café  deve  ser 
o  mais  secco  ,  que  se  poder  ,  e  quanto  mais  o  for, 
tanto  melhor  ,  e  mais    facilmente  se  hade   pilar. 

Cada  Grangeiro  o  pila  a  seu  modo  ,  ou  con- 
forme as  suas  posses ,  huns  por  meio  de  hum  En- 
genho ,  outros  em  hum  cocho,  outros  em  pilões: 
de  madeira.  Não  saberei  resolver ,  qual  deites  trez 
seja  o  melhor.  Se  o  quizesse  fazer,  desagradaria  in- 
fallivel mente  aos  outros  dous ,  e  eu  julgo  ,  que  me 
não  devo  embrulhar  com  alguém  por  huma  cousa 
de  tão  pouca  monta.  He  assas  indifferente  que  se 

pi- 


(86) 
pife  deste,  ou    dacuelie   modo,  coin   tanto   que  se 
pile ;    mas   acho    que  o  ultimo   methodo   seja   mais 
vantajoso ,  e  o  sigo    por    preferencia.    Com   effeito 
as  pancadas  de  hum    pilão   são  muito  mais  seguras  » 
e  mais   regulares.  O   Café   fica  menos   sujeito  a  ser 
machucado  ,  escapando  muito  menos  ao  pilão  ,  e  se 
julga   que    se   adian'"a  muito   mais ,  mas   deve-se  en- 
tender isto   pelo  Café  secco  em    pergaminho  j    por 
quanto  ,  aquelle   que  ainda   se   acha  em   cereja  ,  jul- 
go que   convém   mais  aos  cochos  ,  e  aos  Engenhos ; 
porque   sendo  mais    duros   ao  pilar ,  he  preciso   que 
as  pancadas  do  pilão  sejão  dudas   com  maior  força. 
A  penas  o  Sol  entrar  a  aquecer  ,  devem   os  pre- 
tos ,  dous   a  dous   a   enda   pilão   ,    principiar   o   seu 
trabalho  ,  cada  hum   tem   a  sua  mão  ,  ou  soquete  , 
c  lhe  dá   huma   pancada   iríedida  ,  e   revezada   com 
o   outro  ,  e   por  este  modo   se   descasca  o  Café   da 
sua  aralha  ,    ou    pergaminiio ,    que   se   despega   sem 
grande   trabalho;  pois   ?ue    15    escravos   em  hum  dia 
podem   muito    bem    pilar    ou    esbuiliar  dous  milhei- 
ros. Esta   facilidade  ,  tida   em  pilar  ,  mosfra   eviden- 
temente  que   a    de^.peza    de   hum  Ensrenho    he    su- 
pérflua. Todavia,  os  que  o  possuem  ,   podem  entre- 
tanto  o;:cupar  os    seus  escravos    cm    outro    serviço , 
vantagem   sobre   que    não   conto    n.uito   a   meti    ver. 
Kos   Enge4ihos    a   ostenracão  tem    miiior   parte   que 
a  ;economii  ,  e    esta   não   merece   a    despeza    do  seu 
custo  ceifAiiiente  5  mas ,  em  se:]do  ricos ,   cueiem  ter 

hu- 


C87) 

fiuma  Grangearia  completa.  Se  elles  tem  meios  í, 
para  o  poderem  ter  ,  não  sentem  nisso  detrimetitò 
alo-um.  Os  artífices  também  lhe  acharião  grande 
proveito  ,  senão  houvessem  opiniões  contrarias  i 
este  respeito. 

§   XXXV.   Coma  se   aventa    o  Café. 


Em  quanto  huns  pilão  ,  outros  se  occupão  enl 
no  aventar.  Também  para   isto  se  dá  hum  tercei- 
ro En<íenhO  ,  que   faz  esta  funcção  ,  e  que  he  mui- 
to útil  ,  especialmente  ,    quando  não  ha  vento  ,  o 
que  com  tudo  não  he  ordinário  ,  mas  algumas  ve- 
zes   acontece   ser  muito  fraco  ,  então  o  Engenho  hi 
de  hum   grande  soccorro ,  e   alimpa  o   Café   infini- 
tamente  melhor  que  o  vento  ordinário;  porque  Ihé 
tira  inteiramente  o   pó  e  a  muinha   da  ara  lha  pul- 
verizada.  Também  o  pviva  das  pequenas  pedras  ,  a 
que    he    sujeito   ,    arremessando    a   parte    o    Café , 
que   escapou   aos  pilões  ,  e  do  mesmo  modo  o  que 
os  pilões  esmigalharão.     Achou-se    também   hoje   ô 
segredo  de   ajuntar  os    trez   Engenhos    em   hum  só 
empregando-se    em   trez    differentes    trabalhos    poif 
meio   de  hum   cavallo  ,  ou   de  huma   mulla.  Tanto» 
he  verdade    que    se   aperfeiçoa   este   Grangeo  câdl 
dia. 

Ao  depois  do  Café  estar  aventado ,  e  escolhido 
de  tudo  ,  quanto  tem  de  defeituoso  ,  se  assoalha  de 

no- 


C8S) 
novo  zté  o  ineio  dia ,  quando  o  Sol  fere  mais  com 
os  seus  raios.  Enchem-se  as  barricas  delle  assim  mes- 
mo quente,  e  se  cobrem  muito  bem.  Esta  pre- 
caução he  necessária  :  fortifica  o  seu  grão ,  fecha- 
Jhe  os  poros  ,  e  o  faz  menos  disposto  ,  ou  capaz 
das  impressões  do  ar ,  e  Jhe  torna  a  dar  a  sua  côr 
piimitiva  ,  e  originaria  ,  que  o  Sol  tinha  mancha- 
do ;  e  se  deixa  por  5  ou  6  horas  neste  dia ,  e  ao 
depois  ainda  se  lhe  torna  a  dar  hum  dia  de  Sol 
por  ultima  mão. 

Ao  depois  de   tantas   preparações  ,  e   de  se  ter 
apphcado  tudo  para  a  sua  perfeição  ,  enganar-se-hia 
quem  imaginasse    que  estava  livre    de   toda    a   im- 
pressão :  elle  conserva   sempre  hum   certo  sal  ,  que 
a  menor   humidade   o  dilata  ,    e   o   faz   flexível  ,    e 
depois  disto ,    vindo  a   manchar  primeiramente  ,  o 
embranquece  ao  depois  todo  inteiro.  Apanhando  es- 
ta   humidade   todo  o   seu  óleo  se  evapora  ;    e  por 
consequência   he  muito  conveniente  escolher-lhe  dos 
Jirgares  o   mais  secco.  Esta   delicadeza  he   a  causa  ; 
porque  os   Grangeiros  não   o  mandáo    pilar  ,  senão 
sobre    seguro  ;    e  quando   ja    estão   para   o   vender . 
f  muitas   vezes  ,  quando   ja    estão    para  o    transpor- 
tar ,  só  por  llie  não   correrem  o  risco.   Também  se 
ol  serva   não  o  pilar  ,  estando  o  tempo   húmido. 


Rcn- 


C  89) 

§  XXXVI.  Rendimento  do  Café, 

Calculamos  as  prodiicções  dos  nossos  rendimen- 
tos pelos  Cafeseiros  ,  que  julgamos ,  que  podem  dar 
hum  arrátel  cada  hum  de  Café.  Dão-se  alguns ,  que 
produzem  iriuito  maior  quantidade  ;  e  outros  me- 
nor 5  mas  para  se  poder  fazer  hum  justo  equiva- 
lente ,  não  se  poderia ,  sem  se  afFastar  da  verdade 
dar-lhe  huma  maior  estimação,  ou  valor :  bem  en- 
tendido que  não  he  preciso  metter  em  linha  de 
conta  ,  os  que  excedem  á  sua  quarta  colheita  ;  e 
«quando  com  cem  escravos  se  faz  cem  milheiros  de 
Café  ,  se  mantém  bem  o  lugar ,  o  Grangeiro  não 
tem  razão  de  se  queixar.  lYlas  antes  de  ter  adqui- 
rido este  número  de  escravos »  e  os  animaes  ne- 
cessários para  o  serviço  de  sua  fazenda  e  Granja  , 
pode  contar  o  conseguir  ao  retorno  da  idade.  Se 
clle  não  tem  tido  ganhos  racionáveis  para  come- 
çar ,  então  também  não  os  começará  a  gozar.  Quan- 
tos negros ,  novamente  chegados  ao  Paiz  ,  morrem , 
sem  terem  dado  algum  serviço  a  seus  senhores ;  e 
que  algumas  vezes  ,  sahindo  do  navio  >  onde  se 
comprão  ,  cahem  de  repente  mortos  ,  pondo  os  pés 
em  terra  ?  Que  grosseiras  perdas  senão  fazem  ,  quan- 
do acontece  que  algumas  moléstias  epidemicas  ata* 
cão  huma  fazenda!  As  bexigas  ,  os  catharios  ,  os 
defluxos  de  peito  ,  as  boubas  ,  e  outros  males  vené- 
reos % 


(  9^  ) 

reos ,  que  são  tão  ordinários  na  vida  libertina  ,  que 
cJles  passáo.  Não  ha  dia  ,  nem  anno  ,  que  em  hu- 
ma  fazenda  não  haja  na  Enfermaria  8  a  lo  ne- 
gros doentes.  E  quando  os  catharros  são  frequentes, 
não  se   poderia   fixar   hum  número   certo. 

Todavia   não    se    poderia   negar  que    os   nossos 
rendimentos  não    sejáo  grandes   ,    Jogo  que  checa- 
mos a  hum   certo  ponto  ;  mas   se   combinarmos  as 
perdas  com  os  ganhos,   será  preciso  rehaixallos.  Ha 
revezes  que  a  sagacidade   humana  não  poderia  ,  nem 
saberia   evitar  ;  e  era  necessário   que  os  nossos   ren- 
dimentos fossem  grandes  para  os  reparar.  Quero  ci-^ 
tar   hum  exemplo  acontecido  de  fresco  em  hum  Fa- 
zendeiro de  Dondon  ,  do  qual  não   he  preciso  dizer 
o  nome.  Começou  ,  estabelecendo  huma   Granja  d^ 
Café   com  16   escravos.  No  fim  de  18  mezes  ,  quan- 
do  já  se  via    com  hum   formoso  número  de  Cafe^ 
seiros  ,    que  já  produzião  ,  se  vio   reduzido  a  hum 
sò  escravo   ,    tendo-lhe    morrido   os   15    dentio   eiii 
muito  breve   tempo.   Se  eJle    tivesse    por  este   tem- 
po rendimentos ,  não   lhe  faJtarião  soccorros  ;  mas  , 
não  os  tendo  tido  ate  então  ,  lhe  foi  necessário  to- 
mar  outro    partido   galantemente  ,  e  este   foi  ,  o  dé 
vender   a  sua   fazenda   já   em   estado   de   lhe  render; 
e   de  ir    para   outro  Jugar    dos  mais  distantes    a  es- 
tabelecer outra.  Isto  foi  ,  o  que  elle  fez.  Contento- 
me    com  este  exemplo  só  ,  mas   àtyç  se   pensar  que 
este  não    he  o   único.    Os   MaUandali>tas    o   fizeraô 

ver 


I 


C  9»  ) 
vêf  ao.  depois,  e  desprendêrãa  os  olhos  aos  incre-. 
dnlos.  Pasxo  em  filtncio  as  revoluções  frequentes,; 
e  os  i;u:endics  ,  que  são  tão  cçmir>uns  em  hum 
Paiz  ,  em  que  a  maior  parte  das  ca^as  são  de/ma- 
deiras ordinariamente  ,  e  a  maior  parte  cobertas  de 
paliias  de  canas  j  e  que  muitas  vezes  atrazão  os 
nossos  rendimentos  mais  de  trez   annos. 

Eis  aqui  ,   meus  senhores,   huma  idéa  geral  de^ta 
Granjearia.  Se  acaso  me  escaparão  algumas  ciicum- 
stancia^;  ,  serão  de  si   talvez   tão  insignificantes  ,  que 
não  vale- ião   a  pena  de  serem  attendidas,  ííe  verda- 
de   que    a   repetição    das    experiências   nos  federão, 
procurar  alguns  novos  descobrimentos  5  e  se  alguns 
vierem    ao    meu    conhecimento  ,    terei   hum    verda- 
deiro gosto  de  vos  participar  ,  ainda   que  o  seu  in- 
teresse não  haja   de   ser    grande.  O  favor  ,  que   me 
íizerão  ,  de  receber  favoravehiiente   os  meus  primei- 
ros  Ensaios  sobre    o   índigo  ,  me  excitou   a  offere- 
cer  acrora    também  este   sobre   o    Caíé.  Eu  não  du- 
y/do    que    a   minha   qualidade    de   vizinho  não    ha- 
ja  tido    muita    parte  tamibem  ;    e   que    senão   teria 
tido   tanta  indulgência  ,    se  eu   fosse    hum  Author 
que   professasse   Sciencias,  Se   me  escaparão   alguns 
defeitos,  são,  pelo  menos  ,  supportaveis  a  hum  ho- 
mem ,  que   carece  de   estudos.   Se  a  simplicidade  do 
meu    e-ítilo    lhe   diminue  alguma   cousa    o   preço  , 
será  certamente  indemnizado  pela  verdade  ,  que  tej- 
na  em  todo   elle.  Nada  escrevo   sobre  jnformâacoes 

aU]eias. 


(90 

alheias.  A  moradia  de  38  annos  nestes  lugares  me 
tem  dado  huma  tal  experiência  .  que  senão  pode. 
rá  duvidar  de  nada ,  do  que  digo ,  ou  escrevo. 


1 


ME- 


(  9i  ) 

MEMORIA 

SOBRE    A    CULTURA 
D  O 


GAFE 


POR 


M>.  FUSEE  AUBLET. 


O 


Descobrimento  do  Cafeseiro  ,  o  uso  do  Ca- 
fé em  bebida  ,  e  os  progressos  deste  uso  epi  as 
diversas  Nações  do  mundo  não  são  os  assumptos 
que  me  piopuz  tratar.  Muitos  AA.  communicárão 
tudo  ,  quanto  lhes  foi  possivel  descobrir ,  sobre  es- 
tes objectos  de  curiosidade.  Desde  Silvestre  Du- 
four  >  que  escreveo  em  1686  até  Mr.  Elles  que  es- 
crevia em  1774  í  e  que  ,  sendo  o  ultimo  ,  deve  ser 
consultado  com  preferencia  a  todos  ,  por  ter  ex- 
trahido  tudo  ,  quanto  havia  de  interessante  ,  e  me- 
lhor a  este  respeito.  Todavia  ,  como  cada  Nação  co- 
nhece melhor ,  o  que  lhe  he  particular ,  que  as  ou- 
tras ,  refirirei  alguns  factos,  que  procurei ,  quanto 
jne  foi  possivel  verifícallos.  O  uso  do  Café  ,  que  se 
faz  recuar  para  os  Turcos  até  o  fim  do  16.°  Sé- 
culo ,    parece  que   senão  fez  tão   grande   no  resto 

da 


fel' 


(94) 

dã  Europa,  senão  no  meio  do  Século  i?..°  Mos- 
tra se  que  reinando  Luiz  XlII.  se  vendia  no  Petit 
Chatelet  em  Paris  a  decocção  do  Cafc  com  o  no- 
me de  Cahove  ou  Cahovet.  Parece  que  o  primei- 
ro pé  de  Café  ,  que  se  cultivou  no  Jardim  Real , 
foi  trazido  por  Air.  de  Ressons  Oficial  d'Artilhe- 
ria.  Mas  tendo  morrido  este  pé  ,  Mr.  Erancaz  Bur- 
gmestre  de  Amsterdão  enviou  em  1714  a  Luiz 
XIV.  hum  Cafeseiro  ,  cuja  historia  he  interessante, 
por  ter  sido  o  Pai  das  primeiras  plantações  de  Ca- 
fé  em   as  nossas   Ilhas   da  America. 

Em  1716  as  novas  mudas  de  Cafesciros  ,  cria- 
dos dos  grãos  deste  pé  ,  fórão  confiadas  a  Mr.  Isem- 
berg  Medico  para  as  transportar  ás  nossas  Colónias 
das  Antilhas ,  porém ,  morrendo  este  Medico ,  pou- 
co tempo  depois  da  sua  chegada  ,  esta  tentativa  não 
teve  o  succes^o  ,  que  se  desejava.  As  Ilhas  sãò 
obrigadas  a  Mr.  de  Clieux  por  ter  concebido  erii 
1720  o  projecto  de  enriquecer  a  Martinica  desta 
cultura  ;  e  aos  seus  cuidados  se  deve  o  bom  êxito 
deste  segundo  Ensaio.  Este  bom  Cidadão  ,  nesse  tem- 
po Capitão  de  Infanteria  ,  e  Tenente  do  Mar ,  ten- 
do diligenciado  pelo  respeito  de  Mr.  Chirac  Medi- 
co huma  muda  ,  tirada  dos  grãos  do  Cafeseiro  do 
Jardim  Real  ,  o  embarcou  para  a  Martinica.  Mas 
«u  cuido  que  devo  deixar  a  Mr.  Clieux  dar  conta 
do  successo  da  sua  empreza  no  Extracto  de  huma 
carta  ,  que  me  fez  a  honra  de  escrever  a  este  respeito. 

..  De- 


C9!  ) 

.- ,,  Depositário  de  huma  planta  ,  tão  preciosa  pa- 
ra mim  ,  me  embarquei  com  a  maior  satisFaçãa, 
O  navio  ,  a  cujo  bordo  vinha  ,  era  mercante ,  de 
cujo  nome  ,  e  o  do  seu  Capitão  me  não  lembro  , 
pelo  tempo  que  tem  decorrido  ;  e  só  sim  que  a 
nossa  viagem  foi  dilatada  ;  e  que  ,  faltando-nos  a 
agua  por  ir.als  de  hum  mez  ,  me  vi  na  precisão 
de  repartir  a  pequena  ração  que  me  cabia,  com  o 
pé  de  Café  ,  em  quem  tinha  as  mais  felices  espe- 
ranças ;  e  que  era  as  minhas  delicias.  Tinha  tanta 
necessidade  deste  soccorro  ,  quanta  era  a  sua  fra- 
queza summa  ;  pois  não  era  maior  que  hunia  mer- 
gulhia  de  cravos.  Chegado,  que  fui  a  minha  ca-, 
sa  ,  foi  o  meu  primeiro  cuidado  plantallo  com  at- 
tenção  em  o  meu  jardim  no  Jugar  ,  que  melhor 
ajudasse  o  seu  crescimento.  Ainda  que  eu  o  ti^„ 
vesse  á  vista,  e  em  guarda,  muitas  vezes  cuidei 
que  mo  tinhão  tirado  ,  de  sorte  ,  que  me  vi  obri- 
gado a  mandallo  rodear  de  mourões  5  e  de  lhe  pôr 
huma  sentinelia  ,  que  o  espreitasse  até  á  sua  ma- 
dureza. „ 

„  O  successo  preencheo  as  minhas  esperanças; 
porque  recolhendo  quasi  duas  livras  de  grãos  ,  as 
reparti  por  todas  aquellas  pessoas,  que  julguei  ca- 
pares de  cuidar  convenientemente  na  prosperidade 
desta  planta.  A  primeira  coIheita\  foi  abundantíssi- 
ma ,  mas  na  segunda  ,  se  achou  no  estado  de  se 
estender    prodigiosamente  a  sua  cultura.  Mas  o  que 

deo 


C9«) 

deo  lu^ar  á  singularidade  da  sua  multiplicação,  foi 
que  dous  annos  ao  depois  ,  todos  os  cacoeiros  ,  que 
fazião  a  occupação  de  mais  de  dous  mil  vizinhos 
desta  Ilha  ,  e  o  seu  único  soccorro  ,  foráo  desrai- 
gados  ,  arrancados,  e  radicalmente  destiuidos  pela 
mais  horrorosa  tempestade  ,  acompanhada  de  huma 
inundação  ,  que  suhmergio  todo  o  terreno  ,  em 
que  estas  arvores  tinhão  sido  plantadas  ;  terreno  > 
que  immediatamente  foi  logo  empregado  com  tan- 
ta vigilância  ,  como  sabedoria  em  huma  plantação 
de  Cafeseiros  ,  os  quaes  maravilhosamente  produ- 
zirão ;  e  pozerão  os  cultivadores  em  estado  de  o$ 
espalhar  ,  enviando-os  a  S.  Domingos  ,  a  Guada- 
lupe ,  e  ás  outras  Ilhas  adjacentes  ,  nas  quaes  ao 
depois  foi  cultivado  com  o  mais  feliz  successo » 
&c.   &c.  &c.  „ 

Poí  este  mesmo  tempo  quasi  ,  ou  pouco  de- 
pois foi  o  Café  trazido  a  Caienna.  Em  1719  hum 
fugitivo  de  Caienna  ,  sentindo-se  de  ter  deixado  o 
seu  Paiz  ,  para  se  retirar  aos  estabelejimentos  Hol- 
landezes  de  Guiana  ,  e  desejando  voltar  aos  seus 
compatriotas  ,  escreveo  de  Suiinam  ,  que  ,  se  o  qui- 
zessem  receber  ,  e  perdoar  o  seu  delicto  ,  traria 
grãos  de  Café  em  estado  de  germinar  ,  a  pezar  das 
penas  rigorosas  ,  promulgadas  contra  os  que  sahis- 
sem  da  Colónia  com  os  taes  grãos.  Sobre  a  pala- 
vra ,  que  se  lhe  deo  ,  chegou  a  Caienna  com  grãos 
novos ,  c  os  entregou  a  Mr.  dAlbon  ,  Commissa- 

rio 


C97  ) 

rio  Ordenador  da.  Marinha  ,  que  se  encarregou  de 
os  criar.  A  seus  cuidados  correspondeo  o  melhor 
successo  ;  os  fructos  ,  que  as  arvores  logo  produzi- 
rão ,  fotão  repartidos  pelos  vizinhos  ,  que  ,  dentro 
de  pouco  tempo  ,  multiplicarão  os  Cafeseiros  ao 
ponto  de   se  fazer    delles   huma    cultura  lucrativa. 

A  companhia  das  índias  ,  estabelecida  em  Paris  , 
enviou  em  17 17  á  Ilha  de  Bourbon  por  Mr.  Du- 
fougeiet  Gienier ,  Capitão  do  navio  de  S  Maló  al- 
gumas mudas  do  Cafc  Moca  ,  que  forão  entregues 
a  Mr.  Desforges  Boucher,  Tenente  de  B.ei  desta 
Ilha.  Parece  que  em  1720  só  havia  hum  pé,  do 
qual  o  producto  foi  tal  esse  anno  ,  que  ,  pelo  me- 
nos ,  se   plantarão  1  $    mil    grãos  de   Café, 

Em  todas  as  partes  ,  em  cue  encortrei  o  Café 
cultivado,  como  hum  objecto  de  Commeicio  piin- 
cipal  ,  fiz  algumas  observações  relativas  ris  avanta- 
ges  ,  e  desavantages  das  diíferentes  culturas  desta 
planta.  Creio  que  devo  communicar  aqui  huma  des» 
tas  observações  ,  que  pode  ser  utii  ás  Colónias  , 
ou  ,  ao  menos  ,  que  deve  obrigar  a  fazer  ensaios. 
Vem  a  ser  ;  tenho  notado  que  a  arvore  do  Café , 
que  está  abrigada  dos  ventos  ,  defendida  do  gran- 
de ardor  do  Sol  ,  e  plantada  em  hum  terreno  , 
entretido  de  alguma  humidade  pela  natuieza  dp 
mesmo  ,  ou  frequentemente  regado  por  rigolas , 
cresce  mais  promptamente ,  fica  mais  vigorosa  ,  dá 
Hiais  frueto  ,  he  menos  sujeita  a  ser  .accommetti- 
G  d4  . 


(9S  ) 

da  dos  pulgões ,  e  dura  mais  do  que  ,  quando  se 
acha  batida  dos  ventos  ,  exposta  ao  ardor  do  Sol  , 
plantada  em  hum  terreno  árido  ,  e  que  só  he  re- 
gado pelas   chuvas. 

Observa-se  assas  geralmente  que  as  plantas  de 
huma  mesma  família  se  agradão  de  huma  terra  ,  e  d« 
huma  exposição  do  mesmo  género.  A  maior  parte 
da  familia  das  Rubiaceas  ,  á  qual  o  '"afeseiro  parece 
pertencer  :  gostão  dos  terrenos  frescos  ,  dos  abrigos 
das  grandes  arvores  ,  e  dos  arbustos  :  aproveitao  pou- 
co expostas  ao  foi  te  Sol  ,  não  soffrem  o  chapota- 
mento  ,  a  não  serem  rebaixadas ,  ou  cortadas  junto  a 
terra.  He  raro  que  se  achem  estas  plantas  solitárias, 
ou  expostas  aos  raios  do  Sol  ;  e  da  mesma  sorte 
nos  terrenos  baixos  sujeitos  a  serem  inundados  de 
agua. 

Mas  isto  não  he  sobre  simples  razões  de  ana- 
logia ,  que  eu  aconsellio  o  e^abelecer  hum  Cafe- 
sal.  Eu  vou  dar  observações  mais  decisivas  para  os 
cultivadores ,  expostas  pela  mesma  ordem  das  mi- 
nhas viagens. 

Quando  aportei  a  S.  Tiago  ,  huma  das  Ilhas  de 
Cabo  Verde  em  Março  de  1754  vi  Cafcseiros ,  plan- 
tados ao  abrigo  de  grandes  arvores  ,  e  regados  nos 
tempos  seccos  por  regos  feitos  por  este  motivo. 
Estas  arvores ,  levantadas  quasi  sete  pés  ,  tinhão  hu- 
ma bella  verdura ,  e  estavão  carregadas  de  fructos  : 
seus  ramos ,  e  raminhos  se  estendião  por  todos  os  la- 
áos.  Che- 


C  99  ) 

Chegando  á  Ilha  de  Franca  no  mez  de  Agosto, 
vi  junto  á  casa  de  Mr*  Marsác  em  hum  terreno 
mal  cultivado  ,  e  cheio  de  hidens  chamada  no  Paiz 
herbe  ajornct  Cafeseiros  de  hum  bello  aspecto  ,  car- 
regados de  flores  ,  e  fructos  )  mas  estavão  rodeados  , 
e  separados  por  bananeiras ,  guaiaveiras  ,  e  pesseguei- 
ros. Os  Cafeseiros  não  erão  menos  vistosos  nas  fa- 
zendas ,  Bip:aillon  Vendome ,  Genies  e  Grainville , 
que  são  tenenos  hum  pouco  mais  frescos,  e  mais 
ret^ados  pelas  chuvas.  Em  geral  este  distticto  he 
pouco  descuberto  ;  e  os  seus  roçados  são  pequenos , 
.bordados  de  grandes  arvores  *  entre  cortados  de  cór- 
regos 5  e  os  Cafeseiíos  estavão  abrigados  por  mui- 
tas bananeiras  ,  guaiaveiras ,  pessegueiros  ,  e  outras 
aryores  plantadas  de,huma,  e  outra  parte,  e  no 
meio  delies.  Em  fim  as  mais  bellas  arvores ,  que  vi  , 
eráo  ,  as  que  estavão  plantadas  nos  districtos  frescos 
da  Ilha  á  borda  dos  matos  ,  nas  encostas  dos  oi- 
teiíos  ,  e  principalmente  nos  baixos  destes  mesmos. 
Os  vizinhos  desta  Ilha  infelizmente  não  fazião  do 
Café  o  objecto  principal  do  seu  grangeo  ,  e  cul- 
tura. 

Em  1761  passei  na  Ilha  de  Bourbon  alguns 
dias  ,  e  discorri  pelas  freguezias  de  S.  Luiz  ,  Santa 
Suzana  ,  S.  Deniz  ,  e  S.  Paulo  ,  e  observe  i  Cafesei- 
ros plantados  em  quinconce  ,  expostos  aos  grandes 
ventos  e  decotados ,  que  na  verdade  produz  ião  mui- 
to Café  5  mas  as  arvores  tinhão  hum  caris ,  ou  as- 

G  ii  pe- 


Kilr 


C    100   ) 

pecto  triste.  Vião-se  muitos  ramos  superiores  des- 
folhados ,  e  outros  muitos  seccos  ,  ou  mortos.  Os 
carregados  de  fructos  estavao  sem  folhas.  Os  nove- 
dios  lançados  ptálo  chapotamento  erão  fortes  :  le- 
vantavão-se  direitos  ,  e  não  apresentavão  nem  flo- 
res nem  fructos.  Os  ramos  erão  por  causa  do  cha- 
potamento ,  os  que  se  alongavão  .  e  davSo  o  fructo. 
Parece  que  a  ra2ao  ;  porque  adoptavão  e<te  corte 
dos  Cafeseiros  ,  era  ,  porque  percebiao  a  necessida- 
de )  que  tinhão  as  arvores ,  de  terem  os  pcs  tres- 
cos  e  húmidos  ;  e  que  a  extensão  dos  ramos  infe- 
riores defendia  o  pé  da  seccura  ,  e  entretinha  mais 
fresca  a  terra  i  occupada  pelas   suas  raizes. 

Mas  este  mesmo  expediente  tem  grandes  in- 
convenientes. As  feridas  multiplicadas  por  enes  cor- 
tes ,  praticadas  de  anno  a  anno  ,  ou  de  dous  em 
dous  annos  ,  dáo  entrada  á  agua  ,  e  ao  ar  em  os 
ramos  ,  facilitão  o  seu  deseccamento  pelo  Sol  !  o 
que  occasiona  a  carie  ,  e  a  atrophia  ,  principalmeií- 
te  dos  ramos  ,  ao  depois  do  tronco  ;  as  folh;;s  se  fa- 
zem amarellas  ;  e  os  seus  fructos  de  má  qualidade ; 
porque  não  chegão  nem  á  sua  grossura  ,  nem  á 
sua  madureza.  O  cultivador  não  conhece  remédio 
algum  para  tirar  a  arvore  do  estado  deste  languor  > 
senão  conar  lhe  o  pé  ,  o  que  se  faz  ,  quando  er>- 
tra  na  seiba.  Depressa  rebenta  com  força  ;  mas  lo- 
go que  cliega  a  j  ou  4  pés  de  altura  ,  começa  o 
decotamento  >    que  tem    as  mesmas  consequências 

fu- 


fimcstas.  Como  os  Caieseiros  não  morrem  todos  de 
huma  vez  >  se  lephntão  todos  os  annos.  Os  Co- 
lonos não  se  empenhao  em  remediar  com  maior 
efficacia  as  perdas  que  experimentão.  Todavia  elles 
tem  todos  os  dias  debaixo  dos  olhos ,  o  que  eu  vi 
na  I!ha  de  Bourbon  ,  em  quanto  lá  m.e  demorei  , 
isto  he  ,  que  os  Cafeseiros ,  plantados  junto  ás  fa- 
zendas e  casas  ,  á  borda  dos  grandes  córregos  nas 
encostas  ,  entre  guaiaveiras  e  outras  arvores ;  que 
estes  Cafeseiros  plantados ,  e  não  tratados  ,  sobem 
mais  de  8  pés  de  altura  ,  tem  hum  bello  verdor , 
produzem  muito  fructo  ;  e  não  tem  ramos  nos  seus 
baixos  :  vantagem  que  estas  arvores  parecem  dever, 
a  que  não  soffrem  nem  soes  ardentes  ,  nem  gran- 
des ventos ,  nem   decotamentos. 

Voltando  á  França  no  anno  de  1762  >  recebi  no 
mez  de  Maio  ordem  ,  para  partir  para  Caienna , 
aonde  cheguei  a  21  de  Julho.  Estas  são  as  obser- 
vações que  então  fiz  nesta  Ilha  nos  Cafeseiros  de 
muitos  dos  seus  viiinhos.  Fizerão-me  vêr  na  fa- 
zenda chamada  de  S.  Luiz,  que  pertence  aos  Mis- 
sionários ,  hum  vasto  terreno  ,  que  tinha  sido  iium 
Cafesal ,  plantado  em  quinconce.  Este  Cafesal  ,  sen- 
do muito  productivo ,  só  durou  dez  annos  fructi- 
ficando  :  ao  depois  começou  a  seccar ;  e  ultima- 
xrente  veio  a  acabar  de  todo  pelos  rigores  do  Sol. 
Nelle  se  seguio  o  usa  do  chapote.  Restava  ainda 
yiesta  fazenda  hum  grande  uúmero  de  Cafeseiros 
->  abri- 


Wi 


(    IC)2   ) 

abrigados  pelas  casas  dos  pretos  ;  e  pelas  arvores  ; 
^ue  se  deixavão  em  liberdade  ,  sem  cortar  :  estes 
Cafeseiros  erão  de  hum  bom  rendimento.  Acha- 
vão-se  Cafeseiros  no  mesmo  estado  nas  fazendas  de 
Mr.  Mucay  :   também  erão   de   muita   producção. 

Mr.  de  Monty  tinha  em  Caienna  no  districto  de 
Arouva  hum  excellente  roçado  plantado  de  Cafe- 
seiros em  quinconce.  As  suas  aivores  crescião  mui- 
to bem  ,  mas  elle  se  queixava  que  todos  os  dia» 
lhe  murchaváo  algumas  ,  como  se  as  folhas  hou- 
vessem sido  escaldadas  em  vapor  da  agua  quente. 
A  abundância  das  chuvas  de  aguaceiros  deste  Paiz  , 
a  acção  viva  do  Sol  ,  que  as  reveza  immediatamen- 
tc  ,  aquecem  de  tal  sorte  a  terra  a  trez  ,  ou  qua- 
tro pollegadas  de  profundidade  abaixo  da  superfície 
da  terra  ,  que  o  vapor  ,  que  delia  sobe  ,  he  tão 
espesso  ,  como  o  próprio  da  agua  quente.  He  ad- 
mirável que  huma  arvore ,  que  ama  o  fresco  ,  e  cu- 
ja folha  deve  conservar  sua  firmeza  ,  haja  de  mor- 
rer com  tanta  promptidão  por  estas  impressces  fre- 
cuentemente   repetidas. 

k  medida  pois  que  os  Cafeseiros  se  misturão 
confusamente  com  outras  arvores ,  que  favoreção  o 
seu  cre-cimento  ,  abrigando  os  em  sua  mocidade  ; 
á  medida ,  digo  eu  ,  que  os  Cafeseiros  fícão  gran- 
des ,  se  cortem  estes  tutores,  que  os  abrigão ;  C 
ao  depois  «^e  arranquem  :  os  Cafeseiros  se  esten- 
dem ,  e  alargão  j  e  a  sua  copa  faz  huma  sombra  , 


(    lOJ    ) 

c  hum  fresco  suficiente  á  terra  :  os  troncos  adqui- 
rem a  grossura  de  hum  braço  ,  e  dão  hum*  Café 
superior  ao  das  outras  Colónias  ,  redondo ,  e  pe- 
queno ,  como  o  de  Moca ,  ao  qual  se  approxima 
como  os  Gafes  das  Ilhas  ;  porque  a  sua  madureza 
não  he  accelerada  e  forçada  pela   seccura. 

Da  Guienna  Franceza  passei  a  S.  Domingos  em 
1764,  onde  repeti  as  mesmas  observações  sobre  os 
Cafesaes  dos  districtos  de  Porto  do  Principe  ,  Gran- 
de e  Pequena  Goave  ,  do  Fundo  dos  Negros ,  ào 
Mirabalacs  até  ao  Cabo  do  Forte  Delfim  ,  e  do  Mo- 
le S.  Nicoláo.  Os  Cafeseiros ,  abrigados  pelas  fazen- 
das ,  e  casas  ,  ou  plantados  em  lugares  baixos  »  go- 
zavão  de  huma  verdura  viva  ,  e  não  crão  jamais 
atacados  pelos  insectos  pulgões  :  ao  passo  que  os 
Cafeseiros  dos  terrenos  seccos  ,  descobertos ,  expos- 
tos aos  ventos ,  e  raios  do  Sol ,  estavão  no  risco  de 
amarelecer  e  morrer  ,  durar  pouco  >  e  serem  muitas 
vezes  arruinados  pelos  pulgões. 

Assim ,  quando  se  destinar  hum  terreno  inculto  9 
para  se  estabelecer  hum  Cafesal  ,  se  nelle  houve- 
rem arvores ,  he  preciso  conservallas  interpoladas » 
aqui ,  e  alli ,  para  darem  sombra  sufficiente  ao  abri- 
go dos  novos  Cafeseiros  ;  e  especialmente  ,  para 
que  as  novas  arvores  possão  estender  seus  ramos , 
e  conservar  a  sua  folhagem  guarnecida  ,  e  sempre 
verde.  Devem-se  antepor  ,  as  que  tiverem  as  raizes 
curtas  sobre   a  superfície  da  terra  ,  e  com  especia- 


C  104  ) 

1  idade  as   que  podem  ser  de   hum  maior  proveito  , 
como    Jaqueiras ,    Mangueiras,  Abacateiras  ,   C^apo- 
taseiros ,  Pessegueiros.    Se  o  teneno  destinado    aos 
Cafeseiíos  não  contiver  outras  arvores,  convém  en- 
tão  que  se  plantem  algumas   em  distancias  arrazoa- 
das ,    dous  ou  trez  annos  antes  de  se  estabelecer  o 
Cafesal  ,  ou  ,   ao  menos ,   no  mesmo  acto  de  o  esta- 
belecer. Mas  nesta  occasião   será  preciso   que   se  vá 
diminuindo  o  número  cada  anno  ,    á  medida  que   ci- 
las houverem  de  dar  sombra.  A  terra   não  tem  pre- 
cisão alguma  de  ser  cavada   proíundamente  :  o  mais 
importante  he   que  ella  não   seja  calcada  ,  ou  rija. 
Quasi  todos  os   terrenos ,  ou  terras   convém   ao 
Cafeseiro ,  ainda   os  que   são  pedregosos ;  com  tanto 
porem  que   consintão   que  as  raizes   as  hajão   de  pe- 
netrar facilmente  ;  e  que  ellas  -ozem  de  huma  ligei- 
ra  humidade.  Mas  não  sahirião  bem  em  hum    terre- 
no ,  em  que  a  agua  se  haja  de  demorar  ;  nem  em  hum 
.de  fundo  lodoso  3  por  exemplo ,  não  se  deverá  plan- 
tar nas  enseiadas ,  donde  o  mar  se  retirou  ,  e  onde 
deixou  hurna  terra  tenaz  ,  e  arenosa  ,  que  o  Sol  sec- 
ca  facilmente  ,  e  faz   gretar  ;   e  donde  a  superí:cie  , 
cstofando-se  ,  quando   está  humedecida  ,    fecha   to- 
das as  passages  á  agua. 

Não  he  preciso  lavrar  frequentemente  os  Café- 
sa€s  pelo  perigo  ,  em  que  se  porião  de  levantar  ,  ar- 
rebentar ,  e  ventilar  os  barbalhos  ,  ou  as  pequenas 
rajzes  dos  Cafeseiros ,   que  os  raios  do  Sol  ossec-' 

ca- 


carião  ,  faria  retirar  a  humidade  da  terra  para  hu- 
mà  grande  profundidade  com  pressa  ,  e  a  reduzi- 
ria em  pó  :  basta  que  não  seja  calcada  ,  dura  ,  e 
de  tal  sorte  batida  ,  que  as  chuvas  ,  e  orvalhos  não 
a  possáo  penetrap  ,  e  humedecer  j  mas  deve-se  ter 
grande  cuidado  de  os  mondar  das  hervas  bravias , 
que  ,  recebendo  e  chupando  os  orvalhos ,  e  humida- 
des ,  impedirião  a  terra  de  as  aproveitar  ,  ou  os  des- 
pojaria©  promptamente  deste   beneficio. 

Não  conviria  também  himna  semeadura  a  este 
fim  ,  senão  quando  se  intentasse  emprehender  hum 
Cafesal  ;  e  ainda  para  este  mesmo  talvez ,  que  nos 
Cafesaes  vizinhos  se  acharião  mudas  sobejas  ás  suas 
necessidades.  Todavia ,  se  os  amantes  desta  gran- 
gearia  entretivessem  viveiros  desta  planta ,  e  que 
ahi  conservassem  boas  plantas  em  reserva ,  terião 
a  vantagem  de  escolher  boas  mudas  ,  isto  he  ,  as 
mais  vigorosas  e  mais  adiantadas.  A  final  ,  quando 
hum  Cafesal  está  bem  pegado  ,  e  que  se  dá  aos 
Cafeseiros  huma  boa  cultura ,  que  lhes  seja  própria, 
he  baldado  seguramente  o  ter-se  hum  viveiro. 


li 


RAP. 


mf^ 


C  '07  ) 


RAPSÓDIA 


D    À 


MJISON  RUSTigUE  DE  CJYENNE 


POR 


Mr.  de  prefontaine. 


o 


Café  he  hum  objecto  de  grande  commercio 
entre  America  ,  e  Europa  ,  e  he  hum  dos  melho- 
res géneros ,  a  que  hum  fazendeiro  Americano  se 
pôde   apegar. 

O  Café  se  planta  de  grãos  ;  a  terra ,  que  se 
Ifee  destinar ,  deve  ser  igual  na  profundeza  á  de  hum 
cacaoeiro  ,  bem  mondada  de  hervas  bravias  na  sua 
superfície  ,  e  ,  quanto  se  podesse  ,  livre  de  cepos, 
è   barbalhos, 

Alinhe-se  a  cordel  o  terreno ,  e  se  lhe  ponhão 
estacas  de  7  a  7  pcs.  Escolha  se  para  plantar  Café 
o  tempo  de  maiores  chuvas.  Os  dias  sombrios ,  e 
de  nevoeiros  são  preferíveis :  tirão-se  mudas  de  Ca- 
fé para  plantas ,  que  hajão  de  ter  de  altura  7  pa-' 
ia  8  pollegadas.  Aliiiipão-se  ;  e  se  cavão  profunda- 
mente as  covas ,  e  se  mettão  nellas. 

O  vento  do  Norte  não  he   favorável  aos  Cafe- 
seiros.  A  planta  nova   he  muito  delicada  ,  e  amiga 
da  sombra  5  antes  de  fazer  a  sua  plantação  de  Ga- 
fe- 


im 


( 108 ) 

feseiros  conviria  que  o  terreno  ,  destinado  a  ser  o 
Cafesci]  ,  fosse  coberto  com  mandiocas  ,  ou  bana- 
neiras para   lhe   fazer   sombra. 

Não  se  devem  fiar  sempre  na  bclla  apparcncia 
dp  Çaleseiro  Este  ar  de  prosperidade,  que  nelle 
se  encontra  ,  muitas  vezes  só  he  na  superfície  da 
terra,  ííe  a  sua  raiz  na  sua  direcção  encontrar  hum 
tufo '  difFerente  ,  se  fará  amareilo  ,  e  se  definaiá  : 
mas  também  acontece  muitas  vezes  que  ,  estando  de- 
^nado  no  principio  ,  depois  ,.  á  vista  dos  olhos  ,  se 
ayiventa  ,   encontrando  melhor  terra  ,  e  própria. 

Como  os  Cafés  chegão  a  huma  altura  muito 
grande  por  amor  da  facilidade  da  colheita  dos  grãos 
se  limitão  a  6  ,  ou  7  pcs  de  altura  ,  cortando  lhe 
a  extremidade  ,  com  que  se  obriga  a  coroar-se  ,  e 
a  guarnecer-se.  Hum  lavrador  de  canas  ,  ou  de  ou- 
tra qualquer  grangearia  deve  ter  hum  parque  de 
Cafeseiros  para  o  uso  domestico.  As  Cabossas  do 
Urucú  ,  e  do  algodão  dão  hum  bom  estrume  para 
est^  arvore. 

O  Café  cresce  assas  depressa  ,  quando  he  bem 
tratado  ,  vem  naturalmente  muito  roliço  no  pc. 
Seus  ramos  sahem  do  tronco  com  huma  regulari- 
dade »  que  produz  hum  effeito  agradável,  òó  dão 
fructo  no  fim  de  trez  annos  :  florece  em  Outubro , 
e  Novembro.  Colhe-se  em  Junho.  Fazem  dpas  co- 
lheitas no  anno  ;  a  do  Inverno  he  mais  abundante. 
Suas  flories  se  assemelhão  ás  do  Pessegueiro  *  e  os 

fru- 


(  10^  ) 

fructos  que  produz  a  buma  pequena  cereja.  Pri- 
meiramente são  verdes  ;  avermelhão-se  ao  pas^o 
que  vão  chegando  ao  ponto  da  sua  madureza.  "Hti* 
ma  côr  de  couro  curtido  he  hum  indicio  certbi 
Então  se  colhem  :  esta  colheita  se  faz  estanda  de 
vez  ,  ou  maduros.  Os  pretos  para  esta  acção  só 
necessitão  de  cestos  ,  e  de  seus  dedos ;  e  elies  c^rí 
regão  para   a  casa  destinada  a  esta  manufactura. 

Servem  se  para  separar  o  Café  da  sua  coberta 
de  huma  máquina  ,  ou  Engenho  ,  chamado  moinho 
de  Café,  Acoberta  cahe  para  hum  lado,  e  o  Ca- 
fé par9  outro  com  o  seu  pergaminho.  Os  poucos 
habitantes  ,  que  se  empregão  unicamente  neste  gé- 
nero de  grangearia  em  Caienna ,  fazem  uso  deste  moi- 
nho raras  vezes.  Mas  póde-se  julgar  do  tempo  ,  que 
devem  perder  aquelles  ,  que  são  obrigados  a  fazer 
esta  separação   pelo  único  meio  de  seus  dedos. 

Alguns  fazem  seccar  ao  Sol  o  seu  Café  com  a 
casca  :  outros  só  com  o  pergaminho.  Estando  bem 
secco  ;  se  pilão  em  pilões  grandes  de  madeira  ,  para 
lhe  separar  o  pergaminho  ,  e  ficar  o  grão  vendavel.  Es^ 
colhem-se  ,  e  se  tirão  os  grãos  defeituosos  ,  dos  que 
são  bons.  Aventão-se,  estando  os  rebotalhos  separa* 
dos.  Para  este  serviço  ha  também  em  Caienna  certa 
máquina  ,  que  ainda  he  mais  rara  que  as  primeiras. 

Para  que  o  Café  se  repute  de  primeira  quali- 
dade deve  ser  pequeno  ,  e  côr  de  xifre  ,  tão  duro 
que  ranja  entre  os   dedos ,  quando  se  mexer. 


C    "O) 

o  ar  humedecido  pelas  chuvas  ,  como  aconte- 
ce cm  Caienna,  o  embranquece.  Julgo  '.;ue  se  po- 
deria remediar  este  inconveniente  no  Inverno  por 
meio  de  huma  estufa  ,  fazendo-o  seccar  a  fogo  bran- 
do *  e  não  pondo  nos  recipientes  muita  quantidade. 

Algumas  vezes  se  fica  surprendido  de  ver  acabar 
hum  Cafesal  dentro  em  pouco  tempo.  Isto  muitas 
vezes  he  causado  pela  mosca  ,  chamada  mosca  de  Ca- 
J'é  t  comprida  de  seis  poUegadas  ,  que  traz  na  cabeça 
duas  serras  ,  com  as  quaes  corta  estas  arvores  até 
ao  cerne.  Encontrando-se  estas  moscas,  não  se  he- 
site em  as  matar. 

Acontece  também  que  os  pulgões  ,  pequenos 
insectos  brancos  ,  accommettem  os  Cafeseiros  ,  e  n^o 
50  embaracão  a  sua  producção,  mas  também  os  fa- 
zem acabar.  Neste  caso  he  impossível  preservar  os 
Cafeseiros  do  estrago  por  outro  meio  ,  que  não  se- 
ja pelo  de  plantar  ananazcs  em  as  avenidas.  Os  in- 
sectos deixão  os  Cafeseiros  por  este  fructo  ,  que  pre- 
ferem j  e  com  que  se  engurgitão.  O  ácido  deste 
fructo  >  ou  os  mata  1  ou  embaraça  o  seu  salto- 

Estando  os  Cafeseiros  em  producção ,  e  assas  guar- 
necido de  ramos  ,  não  requer  quasi  trabalho  algum. 
A  sombra  que  dá  ,  impede  as  más  hervas  de  nasce- 
fem.  Tenho  examinado  que  a  humidade  dos  Cafe- 
seiros he  nociva  aos  pretos  na  colheita :  Devem  05 
senhores  obrigallos,  a  que  se  cubrão  neste  traballi^. 


ME- 


MEMORIA 


SOBRE 


CAFÉ, 

C  Díctlonaire  des  Jardiniers,  ) 


POR 


G 


FILIPPE  MILLER  i.^. 
Caracteres. 


Cal  IS  he  pequeno  ,  dividido  em  quatro  partes, 
e  posto  sobre  o  germe  :  a  corolla  monopetala  ,  em 
íorma  de  salva  ,  provida  de  hum  tubo  estreito  ,  cy- 
lindrico  ,  e  muito  mais  comprido  que  o  calis,  alar- 
gada no  seu  remate  ,  e  recortada  em  cinco  pontas. 
A  flor  tem  cinco  estames  ,  adherentes  ao  tubo  ,  e 
terminados  com  remates  compridos ,  e  delgados.  O 
germe  redondo,  sustendo  hum  estilo  simples  ,  co- 
roado por  dous  estigmas  espessos  »  e  revirados  :  o 
germe  ao  depois  passa  para  huma  baga  oval ,  de  duas 
sementes  hemisféricas ,  chatas  de  hum  lado  ,  e  con- 
vexas de  outro, 

Mr.  Linne   arranjou  este  género  de  plantas  na 
primeira  secção  da  quinta  classe ,  intitulada  Pcntau' 

dria 


("O 

dria  Monogynia  ;  porque  as  suas  flores  tem  cinco  cs- 
Umes  ,  ehum  pistillo  ,  mas  como  as  floies  do  ja$- 
min  só  tem  dous  estames  ,  Linne  no  seu  systema 
as  separou  das  outras. 

Esta  arvore  he  original  da  Arábia  Fel  is  ,  onde 
se  cultiva  para  o  uso  ,  e  donde ,  ainda  hoje  se  ti- 
ra o  melhor  Café  para  Europa.  Ainda  que  os  Ca- 
feseiros  tenhão  sido  trazidos  de  lá  para  se  transplaií- 
larem  nas  índias ,  e  na  America ,  onde  prodÍ£;iosa- 
mente  se  tem  multiplicado  ,  todav'ia  o  fructo ,  que 
produzem  nestas  novas  regiões ,  he  muito  somenos  ao 
da  primeira  :  o  que  o  fez  cahir  em  despre70  em 
Inglaterra  a  hum  ponto  tal ,  que  não  vale  a  pena 
de  se  exportar  das  Colónias.  Com  tudo  ,  julgando 
cu  ser  possível  remediar-se  este  inconveniente  pela 
practica  de  algumas  experiências  ,  que  hei  de  pro- 
por daqui  a  pouco  ,  e  que  se  approvárão  nos  Cafe- 
seiros  ,  que  se  plantão  nas  estufas,  daiei  principio 
d'  anterHão  ao  que  esta  arvore  requer  no  nosso  Cli« 
ma. 

Esta  arvore  ,  que  no  seu  Paiz  natal  não  cresce 
a  maior  altura  que  16  ou  18  pés,  em  Inglaterra  só 
chega  a  10  até  12.  O  seu  tronco  principal  he  di- 
reito ,  e  coberto  de  huma  casca  parda  clara  ,  seus 
ramos  se  estendem  horisontalmente  oppostos ,  e  S3 
crusão  huns  com  os  outros  em  cada  nó  ,  de  sor- 
te que  ,  a  arvore  se  guarnece  delles  em  todos  os 
lados.  Seus  ramos  inferiores  são  os  mais  compri- 
dos , 


dos ,  e  os  qutios  á  proporção ,  que  a  arvore  vai  sOtf 
bindo,  se  v5o  pouco  apouco  diminuindo,  de  ma- 
neira que  formão  huma  espécie  de  pyramide.  Suas 
folhas,  que  também  são  oppostas  ,  tem  quatro  ou 
cirico  pollegadas  de  comprido  ,  huma  e  meia  de 
largo  no  meio  ,  quando  estão  inteiramente  desco- 
bertas ,  e  se  estreitão  para  ambas  as  extremidades : 
suas  bordas  são  ondeadas  ,  sua  superfície  de  hum 
verde  lustroso  ,  suas  flores  sentadas  ,  tubulosas  , 
alargadas  no  cimo  ,  quando  inteiramente  estão  aber- 
tas :  nascem  amontoadas  na  base  das  folhas ;  a  par- 
te superior  da  sua  corolla  se  divide  em  cinco  par- 
tes :  estas  flores  são  de  hum  lindo  branco  ,  espa- 
Ihâo  hum  agradável  perfume,  e  de  huma  curtíssi- 
ma duração.  São  substituídas  por  bagas  ovaes  ,  pri- 
meiramente verdes  ,  vermelhas  ao  depois  ,  e  negras, 
quando  estão  totalmente  maduras.  Estas  bagas  se 
cobrem  de  huma  capa  delgada  ,  e  carnuda  ,  que  con- 
tém duas  sementes  unidas ,  convexas  de  hum  la- 
do ,  chatas  e  arregoadas  de  outro  por  huma  ranhu- 
fa  longitudinal  na   face,  em  que  ellas   se  unem. 

Esta  arvoreta  ,  conservando  constantemente  o  seu 
verdor  ,  he  mui  vistosa  ,  e  linda  em  todas  as  qua- 
dras ;  mas  muito  principalmente  ,  quando  está  flo- 
fida  ,  pela  alvura  ,  de  suas  flores  >  e  quando  está  fru- 
ctuosa  ;  pelo  encarnado  dos  seus  fructos  no  inverno. 
Raras  plantas  haverão  ,  que  hajão  de  ter  o  seu  me- 
recimento para  huma  estufa. 

H  IVlui- 


(  n4  3 

Multiplicão-se  pelas  suas  bagas  ;  que  precisão , 
Jogo,  que  se  colhem  ,  serem  plantadas;  pois  que, 
4endo-as  fora  da  terra  ,  ainda  por  muito  pouco  tem- 
po ,  não  abrclharião.  Eu  as  tei.ho  remettido  a  ou- 
tros Paizcs  pela  posta,  e  se  acaso  passavão  15  dias 
sem  serem  plantada»,  nâo  nascião  ;  o  que  geral- 
mente acontece  cm  toda  a  parte.  As  baj^as  ,  que  de 
Hollanda  se  enviarão  a  Paris  ,  não  brotarão,  succes- 
50  ,  que  também  se  experimentou  ,  nas  que  vieião 
de  Hollanda  para  Inglaterra  ,  de  sorte  que  ,  havendo 
ijualquer  distancia  considerável  ,  será  melhor  man- 
dar algumas  mudas. 

Plantão-se  estas  bagas  em  pequenos  vjsos  de 
barro ,  cheios  de  terra  solta  das  hortas  ,  c  se  en- 
terrão  em  taboleiros  cobertos  de  casca  de  cortume  , 
regão-se  levemente  huma  ,  ou  duas  vezes  na  sema- 
na ,  acauteliando  totalirente  que  a  terra  se  não  en- 
sope pelo  medo ,  de  que  as  bagas  ven4ião  a  apo- 
drecer; 

Se  o  taboleiro  tiver  o  gráo  de  calor  necessário, 
appareceráõ  as  plantas  no  fim  de  hum  mez  ,  ou 
de  cinco  semanas  ;  e  tendo  dous  Hiezes  se  acharão 
cm  termos  de  haverem  de  ser  plantadas.  Como 
muitas  bagas  algumas  vezes  produzem  duas  plan- 
tas ,  não  demorem  a  sua  separação,  para  que  as 
suas  raízes  melhor  se  formem;  porque,  deixando- 
as  unidas  até  que  ellas  se  engrossem  »  estas  se 
entrelaçarão,  e  engalfinharão   de   maneira  que  será 

mui- 


C  iM  ) 

muito  ditficultoso  sepaiaJJas  sem  arruinar  as  suas  fi- 
bras,  o  que  as  estiagaria.  (*) 

As  plantas  dos  Cafeseiros  trouxerão  os  Hollan- 
deies  priíneiraniente  da  Arábia  a  Batavia  ,  e  des.ta 
á  Hollanda ,  onde  se  criou  huma  grande  quantida^- 
de  por  meio  das  bagas  ,  que  ao  depois  se  espa- 
Jháráo  peio  maior  parte  dos  Jardins  de  Europa ,  e 
também  se  levarão  muitos  de  Amsterdão  para  Su- 
rinam ,  onde  eJLs  se  multiplicarão  em  grande  abun- 
dância ,  e  destas  se  repartirão  pela  maior  parte  das 
índias  Occidentaes.  As  arvores  ,  nascidas  da  semente, 
fructiiicão  ao  fim  de  dous  annos  ,  e  nas  visinhan- 
cas  do  equador  ainda  mais  cedo  ,  e  he  fácil  nos 
Paizes  quentes  fazerem-se  delias  grandes  grangea- 
rias  ,  ou  Caíesaes  ;  mas  fora  dos  trópicos  ,  e  eii\ 
todos  os  Paizes  ,  em  cue  ha  invernos ,  não  crescem 
ao  ar  livre. 

Os  Francezes  fizerão  grandes  Cafesaes  em  tor 
das  as  suas  pos^^essòes  Americanas  ,  e  do  mesmo 
modo  em  Bourbon  ,  donde  exportão  para  França 
huma  grande  quantidade,  cuja  venda  he  segura,  a 
pezar  de  ser  a  sua  qualidade  muito  inferior  ao  da 
Arábia.  Também  havião  nas  Colónias  Inglezas  gran* 
des  Cafesaes  ,  e  á  poucos  annos  se  propoz  ao  Par- 
H  ii  la- 


Ç  * )  SapprimtrãO'se  os  §  que  tratão  da  sua  Cul- 
tura €in  estitfas  ,  por  serem  alheios  do  vosso  asiifri' 
pto.  Recorra  ao  Author  quem  earecer  delíes. 


<n6  5 

lamento  Inglcz  prémios  necessários  á  auginentação 
da  sua  cultura  para  facilitar  aos  Plantadores  a  sua 
venda  por  preço  mais  cómmodo  que  aquelle  ,  por- 
que compramos,  o  que  se  nos  traz  da  Arábia:  em 
consequência  se  diminuirão  os  direitos  sobre  todo 
o-  Café  que  viesse  da  America  ,  na  idéa  que  bas- 
taria isto  para  os  obric^ar  a  darein  huma  consistên- 
cia mais  sólida  a  este  ramo  de  commercio  ;  mas, 
sendo  as  produccões  destes  Paizes  muito  somenos 
ás  do  da. Arábia  ,  gorou  o  seu  succcsso  :  e  em  ^^uan- 
to  os  Plantadores  pela  sua  própria  industria  não 
aperfeiçoarem  o  s«u  Café  ,  nos  não  fica  esperan- 
ça alguma  que  este  commercio  haja  de  ser  uni. 
Arriscarei  a-  minha  opinião  mui  sinceramente  acer- 
ca deste  objecto  ,  pelo  desejo  ardente  ,  que  tenho  , 
•que  elle  haja  de  ser  útil  aos  seus  Grangeiros.  O 
que  eu  houver  de  dizer,  se  não  fundará  em  suppo- 
«içóes  ,  menos  em  huma  theoria  vaga  ,  mas  sim 
em,  huma  serie  continuada  de  experiências ,  e  fa- 
ctos/ 

O  grande  defeito  do  Café  da  America  ,  e  do 
meámo  modo  do  da  Ilha  de  Bourbon  ,  he  de  não  ter 
perfume ,  e  também  de  ter  muitas  vezes  hum  gos- 
to desagradável ,  como  as  suas  bagas  sejao  maiores, 
não  se  pôde  conhecer  a  causa ,  pela  qual  não  se- 
ja o  seu  gosto  tão  exaltado  ,  e  a  sua  seiba  tão 
elaborada  como  no  Café  da  Arábia  ,  que  pode  pro- 
vir de  muitas  causas.  A  i.   talvez  será;   porque   os 

Ca- 


C  n?  ) 

Ca  Pese 

iros   crescem 

na   America    em   hum  terreno                                 | 

inuito 

húmido , 

que 

,  administrando  a 

,  este  fructo  hum 

sueco 

crú  ,    e 

mai 

preparado  ,  lhe 

dá    na   verdade 

maior 

volume 

,    mas   lhe   diminue 

necessariamente 

a  sua 

bondade. 

,   A 

2.    he  ;  porque 

estas  bagas   são 

colhidas  antes 

da 

sua  perfeita   madureza  ;    porque                                 1 

estou 

bem   informado  que  os   seus 

cultivadores  es- 

tão  no  cotume  de  despegar  os  fructos  ,  estando 
estes  ainda  vermelhos  ,  porque  então  ião  maiores, 
e  mais  pezados  do  que  »  os  que  se  deixão  amadu- 
recer totahnente  ,  o  que  só  deve  ser  ,  quando  esti- 
verem negros.  Então  a  sua  carne  exterior  está  sec- 
ca  ;  c  se  descasca  mais  facilmente  jdo  que  ,  quando 
se  apanhão  antes  de  chegarem  ao  seu  ultimo  gráo 
de  perfeição.  E  daqui  nasce  a  diíF.culdade ,  de  que 
se  queixão  os  Plantadores  acerca  de  o  descascarem. 
5,  Também  imagino  outra  ,  que  he  do  modo  ,  com 
que  o  secção  ,  e  o  pouco  cuidado  que  empregão 
nesta  preparação  essencial.  As  bagas  hajão  de  ser 
muito  expostas  ao  Sol  ,  e  ao  ar  de  dia ;  mas  de 
noite  se  devem  recolher,  e  livrallas  do  sereno  ,  das 
chuvas  ,  e  de  toda  a  sorte  de  humidades  ,  de  que 
ellas  são  muito  ambiciosas ,  e  lhes  imprime  hum  gos- 
to muito  desagradável  ,  e  as  faz  engrossar ,  tiran* 
do-lhes  o  sabor ,  como  posso  certificar  era  virtude 
de  muitas  experiências,  Tendo-se  posto  huma  bo- 
,  telha  de  Rum  em  hum  gabinete,  onde  havião  ba- 
gas   de  Café  .em  huma  caixa  de  folha  de  Flandes 

bem 


bem  fecriada  ,  c  posta  sobre  huina  meza  em  par- 
te assas  distante  communicou  a  este  Café  em  pou- 
cos dias  hum  cheiro  de  Rum  que  o  fez  muito  des- 
agradável. O  mesmo  aconteceo  coin  outra  de  at^ua- 
èidente  depositado  no  mesmo  gabinete  com  o  Ca- 
fé ,  e  Chá  ,  que  ambos  ficarão  arruinados  em  pou- 
cos dias.  Ao  depois  de  muitas  experiências  desta 
natureza  ,  parece  que  se  não  deve  jamais  transpor- 
tar o  Café  em  navios  carregados  de  Rum ,  e  cue 
ss  não  deverão  secca.r  suas  bagas  em  casas  ,  onde 
se  coze  e  assucar ,  e  se  distilla  o  Rum.  Hum  sujei- 
to instruido ,  e  digno  de  fé  ,  me  certificou  que  na 
Jamaica  ,  onde  assistira  por  muitos  annos  pelas 
propiiedades  ,  que  nella  possuía,  os  Fazendeiros  U- 
2  ião  ferver  as  bagas  do  Café  antes  de  estarem  sec- 
cas  :  e  isto  só  ,  sendo  o  facto  verdadeiro  ,  como 
não  duvido  ,  basta  para  arruinar  todos  os  Cafés  do 
mundo.  Não  posso  adevinhar  a  razão  porque  in- 
troduzirão <ite  uso  ,  a  não  ser ,  pela  de  lhe  aug- 
mentarem  o  pezo ,  e  tirarem  por  este  meio  hum 
maior  proveito  em  damno  essencial  do  bem  pú- 
blico. 

Derão-se  á  pouco  tempo  á  luz  ,  nos  papeis  pú- 
blicos ,  detalhes  imperfeitos  acerca  das  causas  ,  que 
fazião  o  Café  da  America  inferior  ao  da  Arábia  : 
pretendia-se  nelles  que  a  bondade  do  ultimo  pro- 
vinha de  se  guardar  por  hum  tempo  dilatado  5  e 
por  esta  razão   seu  Author  discorria   que   também 


C»'9) 

se  deveria  fazer  o  mesmo  ao  Cafc  da  America  , 
para  vir  a  ser  igualmente  bom.  Esta  opinião  po- 
rém he  contraria  ás  minhas  experiendas  ,  e  a  pra- 
ctica  da  Arábia.  Dous  sujeites  ,  que  assistirão  por 
alguns  ânuos  neste  Paiz  >  me  certificarão  que  as 
bagas ,  frescamente  colhidas »  ião  muito  melhores  do 
que ,  as  que  se  guardão  por  algum  tempo  ;  e  hum 
homem  curioso  ,  que  residio  dous  annos  em  Barba- 
das ,  me  -affirmou  que  nunca  tomara  Café  melhor 
ein  parte  alguma  do  mundo  ,  do  que  aquellc ,  que 
se  preparava  com  as  bagas ,  que  elle  mesmo  acaba-: 
va  de  colher  ,  e  que  o  fazia  torrar  conforme  a 
necessidade  Confirmou- £e  este  testemunho  também» 
por  ensaios  feitos  nos  Cafeseiros  cultivados  nas  es- 
tufas de  Inglaterra  ,  e  vieráo  estes  a  dar  hum  li- 
quor  mais  agradável  que  o  dos  Cafés  da  Arábia  ,  tra- 
zidos á  Europa.  Convido  consequentemente  a  to- 
dos os  Grangeiros  do  Café  na  America  >  a  que  ha- 
jão  de  encolher  terreno  para  os  seus  Cafesaes  ,  an- 
tes secco  do  que  húmido  *  no  qual  os  Cafeseiros^ 
não  aproveitarão  tanto  ,  como  no  outro  j  e  o  seu 
fructo  ,  ainda  que  .menor ,  e  menos  abundante  será 
de  huma  bondade  maior  que  a  do»  outros ,  e  lhes 
dará   em  proporção  muito  maior  interesse. 

Necessita  observar-se  também  que  he  preciso 
deixar  ag  bagas  muito  tempo  nos  Cafeseiros,  para 
que  as  suas  cascas ,  ou  capas  se  cngelliem  ,  e  se 
facão  absolutamente  denegridas.  Na  realidade  o  seu 


C    120   ) 

pezo  se  diminuirá  muito  ,  mas  a  mercadoria  do- 
brará de  valor. 

Tendo  as  bagas  chegado  ao  ponto  da  sua  to- 
tal madureza  ,  he  preciso  escolher  hum  tempo  sec- 
co  para  as  colher  ,  e  estendellas  ao  ar  no  Sol  ,  re- 
colhendo-as  todas  as  noites  por  amo-  do  sereno  ,  e 
das  chuvas.  Quando  estiverem  perfeitainente  seccas  , 
se  ensaquem  com  cuidado  em  saccos  de  trez  for- 
ros ,  e  se  guardem  em  lugares  seccos.  Ora  haven- 
do-se  de  embarcar  ,  para  o  exportar  ,  se  deve  fuírir 
de  navios  que  hajão  de  levar  agua-ardente ,  pelo  me- 
do de  não  communicarem  o  seu  cheiro  ao  Café, 
o  que  facilmente  se  não  evitará  ,  se  ambos  os  gé- 
neros forem  postos  no  mesmo  lugar.  Hum  navio, 
vindo  das  índias  á  muitos  annos  ,  carregado  de  Ca- 
fé ,  tendo  tomado  a  bordo  muitos  saccos  de  pi- 
menta ,  perdeo  toda  a  carga  de  Café  ,  qu«  trazia  , 
absolutamente. 

Como  a  consummação  do  Café  se  vai  fazendo 
cada  vez  maior  em  Inglaterra,  deve  o  público  in- 
teressar-se  em  animar  ,  o  mais  ,  que  lhe  for  pos- 
sível ,  os  seus  cultivadores  das  Colónias  fcritanni- 
cas.  Este  objecto  he  digno  de  ser  attendido  pe- 
Jos  vizinhos  de  nossas  Ilhas  ,  aos  quaes  seria  da 
maior  utilidade  a  applicação  no  melhoramento  por 
todos  os  modos  deste  ramo  de  commercio  ,  e  prin- 
cipalmente de  se  applicarem  antes  á  sua  qualida- 
de ,  do  que  á  sua  quantidade  ,   por   que  só   a  ap- 

pli- 


plicação  por  aquella  parte  não  deixará  de  lhe  fa- 
zer este  granjeo  muiio  mais  lucrativo  ,  e  a  sua 
venda  muito  mais  certa  ,  e  nluito  mais  segura. 


CUL- 


INSTRUCÇAO 

SOBRE    A    CULTURA 


D    O 


CAFÉ, 


TRADUZIDO    DO    HOLLANDE:;^.! 

(  Melange   de  Hhtoire  NaturelU,  ) 

POR 

Mr,  alleon  dulac. 

§  Cultura  do  Café. 

XJl  Um  HoIIandez  ,  retido  por  seus  negocies  por 
alguns  annos  em  a  Ilha  de  Mascarenhas  ,  ou  dé 
Bourbon,  se  applicou  no  tempo  da  sua  cssísten- 
cia  a  examinar  a  maneira,  com  que  os  vizinhos; 
ou  moradores  desta  Ilha  cultivavão  o  Café.  De  vol- 
ta a  Amsterdam  escreveo  estas  observações  ,  ás  quaes 
ajuntou  novas  vistas ,  animado  dá  justa  confiança , 
de  que  ellas  poderião  ser  úteis  a  seus  compatrio- 
tas ,  que  se  applicão  á  cultura  átj  Café  nos  domí- 
nios Hollanfíezes  ,  e  principalmente  aos  da  Ilha  de 
Java.  Este  mesmo  amor  da  nossa  Nação  foi  ,  quem 
nos  persuadio  á  traducção  desta  ihstructiva  Memp- 

lia. 


C  124  ) 

rU.  Acha-se  tão  espalhado  o  uso  do  Café  em  li- 
quor  por  toda  a  Europa  ,  que  não  pode  haver  su- 
jeito algum  ,  que  não  tenha  a  curiosidade  de  co- 
nhecer este  arbusto  ,  o  modo  de  o  plantar  ;  de 
colher  ,  e  de  preparar  a  agradável ,  e  saudável  fa- 
va ,  que  elle  produz.  Além  disto  este  assumpto  he 
próprio  da  Historia  Natutal  ;  porém  o  que  mais  noí 
iiiteressa  ,  vem  a  ser,  que  a  Colónia  da  Ilha  de 
Bourbon  pôde  tirar  deste  escrito  hum  particular 
proveito ,  aperfeiçoando  este  importante  ramo  do 
,nosso  commercio.  O  Author  não  deo  a  descripção 
do  Cafeseiro.  Suppõem  com  razão  que  seus  com- 
patriotas o  conhecem  pelo  haver  em  os  Jardins 
de  Amsterdam.  Basta  saber  que  ,  como  o  grão  tem 
a  forma  de  nossas  favas  ,  a  haste  não  deixa  de  sec 
tão  bem  o  mesmo  ,  menos  as  folhas  ,  que  se  pa- 
recem mais  ás  da  cerejeira  Daqui  em  diante  falla- 
rá,  p  Author  Hollandez. 

O  Arbusto  denominado  Cafeseiro  requer  mui- 
tos cuidados ,  querendo-se  que  elle  seja  vistoso ,  a 
rendoso.  Não  basta  mondar  hum  Cafesal  huma  , 
ou  duas  vezes  por  anno  ,  como  vi  a  muitos  mo- 
radores da  Ilha  de  Bourbon  fidarem  satisfeitos  de  o 
terem  feito.  He  necessário  que  o  Cafesal  seja  vis- 
to ,  e  revisto  muitas  vezes  ,  alimpallo  dos  páos  pe- 
tisecos ,  arrancar-lhe  as  gommelleiras  ,  ou  ladrões 
que  lhe  roubão  a  substancia  ,  embaraçar  (jue  o  tron- 
co não  chegue  a  huma  maior  aituia.  O  fructo  re- 
quer 


C    125    ) 

quer  também  tanta  ,  au  maior  sujeição  que  n  af- 
toreta  ,  que  o  produz.  Se  o  Café  for  mal  fabrica- 
do ,  debalde  o  procurarão  fazer  bom',  de  lhe  dar 
o  cheiro  ,  a  sequidão  ,  a  côr.  Nunca  poderá  conse- 
guir a  bondade  ,  do  que  foi  preparado  com  o  cui- 
dado conveniént«e.  A  minha  exposição  minuciosa 
daiá  a  prova  do  que  digo.  Para  me  não  esquecer 
cousa  alguma  ,  principio  pelo  momento  ,  em  que  se 
planta  esta  arvoreta ,  e  a  hirei  acompanhando  até  ú 
sua  producção.  O  Leitor  queira  advertir  que  eu  não 
fallo  do  Café  Mascar ino  ,  nem  do  de  Martinica , 
nem  do  de  Moca  ,  de  cujas  fabricas  não  tenho  no- 
ticia alguma.  Mas  o  que  houver  dizer  do  primeiro, 
se  haja  de  applicar  todas  ás  outras  trez  espécies  , 
a  pezar  de  algun^as  diflFerenças  ,  que  será  fácil  aos 
cultivadores  de  as  conhecerem. 

Quando  na  Ilha  de  Bourbon  se  quer  formar 
hum  Cafesal ,  se  começa  por  derribar,  e  rossar  a 
terra ,  que  se  determina  para  este  fim.  Observei 
cm  quantos  Cafesaes  vi ,  que  os  moradores  deixa- 
vão  nelles  hum  matto  de  arvores ,  e  especialmen- 
te das  mais  corpulentas.  Aquelles ,  aos  quaes  per- 
guntei a  causa  desta  conducta  ,  me  responderão  : 
Que  elles  obravão  assim  pela  necessidade  que  os 
Cafeseiros  tinhão  de  sombra.  Mas  a  verdadeira  ra- 
2ão  era  querer  possuir  hum  grande  Cafesal  sem 
maior  despeza ;  porque  eu  vi  muitos  Cafesaes  que 
não  tinhão  huma  só  arvore  ,  pelo  tempo  as  haver 

des- 


destruido  ,  mas  nem  por  isso  erão  de  menor  ren- 
dimento ,  que  aquelles^  que  as  conservavão.  Eu  for- 
mei hum  Cafesal  ,  que  tinha  207 s  pts  de  compri- 
mento ,  450  para  600  de  largo  com  muito  bom 
successo  ,  e  çom  tudo  não  deixei  em  pc  porção 
alguma  de  mato. 

Eu  seguramente  prefereiia  este  ultimo  modo  de 
derribar.  Conheço  quanto  he  natural  julgar  que  o 
Colono ,  desde  que  o  successo  for  igual  por  hum  , 
ou  outro  procedimento  ,  tem  toda  a  razão  de  seguir 
o  mais  entre  elles.  Deve-lhe  parecer  mais  provei- 
toso o  não  gaíStar  mais  que  hum  mez  em  huma 
plantação  ,  que  aliás  lhe  gastaria  seis  ;  porque  de- 
veria ,  segundo  elle  ,  cortar  e  queimar  todas  as  ar- 
vores. Aliás  estou  obrigado  a  confessar  que  o  Ca- 
fesseiro  que  vier  á  sombra  ,  gozará  maior  frescu- 
ra t  será  de  hum  melhor  verdor  ,  que  o  que  esti- 
ver exposto  ao  Sol.  Eis  dous  grandes  proveitos  : 
mas  estes  não  podem  contrabalancear  os  accidentes 
que  resultão  de  huma  tal  plantação.  Todas  as  ar- 
vores ,  quaes  quer  que  çllas  sejão  y  acabão  na  Ilha 
de  Bourbon  ,  logo  que  ellas  não  hajão  de  ser  de- 
cotadas ,  menos  acaso  huma  ,  ou  duas  espécies.  Ora  , 
para  fazer  hum  Cafesal  he  preciso  derribar  a  ter- 
ra :  reina  todos  os  annos  humas  brisas  ,  e  ventanei- 
las  tão  furiosas  ,  que  voltão  com  as  raizcs  para 
cima,  morta  pela  falde  . .  .  de  que  as  privou  o... 
Como  estas   arvores  são  monstruosas   os  seus  ramos 

chç- 


C  Ȓ7  ) 

chegão  a  partes  distantes.  Ha  taes  que  ,  quando  ca- 
hem  ,  levão  debaixo  de  si  huma  vintena  de  Café* 
seiros  í  e  muito  mais.  Ora  se  9  número  destas  ar* 
vores ,  que  cahem  ,  for  grande  ,  facilmente  se  con^ 
ceberá ,  qual  será  o  destroço  da  depopulação.  A 
este  accidente  ,  bastante  per  si  mesmo  para  fazer 
preferivel  o  modo  de  derribar  >  que  aconselho  ,  se 
deve  ajuntar  hum  segundo.  Ha  ás  vezes  nesta  Ilha 
seccas  que  occasionão  incêndios  muitas  vezes  pela 
malícia  dos  escravos.  As  arvores,  que  tivcrão  for^- 
ças  ,  para  resistirem  á  impetuosidade  dos  furacões  , 
são  obrigadas  então  a  ceder.  As  lavaredas ,  que  o 
vento  arremessa  contra  ellas  ,  as  abrazão  ,  seus  ra- 
mos cahem  aqui  ,  e  ^colá ,  levando  comsigo  o  in- 
cêndio ,  e  ^  destruição  cm  tudo,  quanto  as  rodea. 
Pôde  se  julgar  entretanto,  se  he  a  utilidade  a  ra- 
zão ,  ou  se  a  preguiça  he  o  motivo  ,  que  obriga 
aos    Colonos   a  plantarem  no   meio  dos  matos. 

He  consequentemente  necessário  não  só  derri- 
bar ,  &c,  mas  também  desarraigar  as  arvores  ,  e 
queimallas.  Isto  feito  ,  pôde- se  plantar  ,  observando 
com  tudo  de  não  se  occupar  neste  trabalho  >  se 
não  em  tempo  de  aguas ,  que  de  ordinário  he  pe- 
los mezes  de  Dezembro  e  Janeiro.  Também  he 
Importante  que  se  deixe  primeiro  humedecer  h«- 
ma  terra  ,  da  qual  o  fogo  tem  deseccado  a  super- 
íicie. 

Tendo  ckovido  abundantemente^  e  julgando-sç 
'  que 


( I2g ) 

que  continuará  ainda  a  chover  por  alguns  dias  ,  se 
podem  plantar  os  Cafcseiros.  Precisa-se  escolher  ,  oj 
que  estiverem  mais  expostos  ao  Sol  j  porque  sof- 
frem  melhor  a  transplantação  do  que  as  mudas ,  que 
nascem  á  sombra.  Requer-se  que  estas  mudas  não 
sejâo  nem  muito  pequenas ,  nem  muito  grandes , 
ou  nem  muito  velhas  ,  nem  muito  novas.  Se  foren^ 
muito  novas  ,  não  resistirão  á  mudança  do  terreno , 
ainda  menos  por  trez  dias  aos  raios  do  Sol  ,  os 
quaes  pode  acontecer  ,  que  apanhem  ao  depois  de 
plantadas.  Além  de  que  estas  novas  mudas  não  tem 
ainda  bastantes  raizes  nem  forças  para  tomarem  terra 
promptamente.  E  pelo  outro  lado  ,  se  forem  muito 
velhas  não  as  lançarão  ,  e  morrerão  lançando  folhas. 
Tem  acontecido  algumas  vezes  cue  as  mudas  ve- 
lhas pegarão  ;  mas  isto  he  tão  raro  que  de  vinte 
Cafeseiros  desta  espécie  ,  que  se  transplantarem  ,^ 
muitas  vezes  hum  só  não  escapará.  Se  o  terreno 
for  limpo  ,  como  eu  disse,  se  gozará  da  avanta- 
gem  de  poder  plant;ir  o  Cafesal  a  cordel  Este  mo- 
do de  pôr  as  mudas  faz  primeiramente  mui  agra- 
dável ,  e  vistosa  a  perspectiva  da  fazenda  :  e  alem 
disto  dá  outra  utilidade  ,  por  meio  das  avenidas  , 
óu  alleas  que  formão  esta  dispo  ição  de  poder  o 
Senhor  ver  com  facilidade  o  trabalho  de  todos  os 
seus  escravos  :  utilidade  que  se  não  encontra  em 
hum  terreno  cheio  de  arvores  em  pc  ,  ou  deita- 
das. He  impossível  de  se  plantar  nellas  a  cordel , 
c  se  perde  o  agradável ,  e  o  útil.  De- 


(    129    ) 

Deve-se  também  reflectir  sobre  os  dístrjctos  ,  em 
que  se  faz  o  Cafesal.  Os  que  forem  sujeitos  a  chuvas , 
requerem  huma  maior  distancia  de  hum  arbusto  a 
outro  ào  que  em  aquelles  ,  que  forem  mais  seccos  , 
ou  menos  frequentes.  Nos  primeiros  os  Cafeseíros 
se  fazem  muito  copados  ,  e  por  consequência  oc- 
cupão  maior  circumferencia  ,  quando  nos  segundos 
exigem  menor.  Huns  os  plantão  aseis  pés ,  outros 
a  sete  ,  alguns  a  oito  >  muitos  a  dez.  O  meu  pare- 
cer he  que  oito  pés  de  distancia  bastará.  O  Cafe- 
sal ,  que  se  houver  de  plantar  a  seis  pés  ficará 
muito  apertado  ,  e  as  arvoretas  mutuamente  se  op'» 
primírão.  Ora  também  dez  pés  de  distancia  he 
muito  grande  ,  e  quem  assim  o  planta  ,  he  porque 
faz  tenção  de  lhe  intrometter  outras  plantas  nos 
intervallos.  O  que  ,  passados  trez  annos  ,  se  não 
devera  fazer  mais  ,  como  se  ha  de  vtr  daqui  a 
pouco. 

Huns  o  plantão  com  o  caracod  (*)  outros  á 
enxada.  Approvo  este  ultimo  modo.  O  pé  fica  mui- 
to mais  bem  enterrado  ;  as  raizes  mais  bem  cober- 
tas,  e  se  deve  esperar  que  o  Cafesal  haja  de  ter 
todo  o  seu  bom  successo.  O  caracoâ ,  pelo  contra- 
rio tem  seus  inconvenientes.  O  escravo ,  ou  não  faz 

I  o 


(  *  )  Termo  Brasílico  (jue  (jiter  dizer  hum  páo  aca- 
bado em  ponta  ,  com  que  se  fura  a  terra  ,  para  íaes 
plantações   em   lagar  de  enxada  ,  ou  melhor    f/c  saxo. 


C  mo) 

o  buraco  tão  profundo,  como  deveria  ser,  ou  o  faz 
mais  do  que  devia.  Se  o  não  faz  tão  profundo,  as 
raizes  não  achão  lugar  em  que  se  accommOdem  , 
e  neste  caso  dobra-se  ,  e  curva-se  de  modo  «  Cjue  fi- 
cão  opprimidas  para  haverem  de  receber  o  seu  sue- 
co nutritivo ,  o  que  infallivelmente  fará  morrer  a 
muda.  Pelo  contrario  ,  se  o  buraco  for  mui  pro- 
fundo ,  o  fim  da  raiz  não  ciiegando  a  tocar  no 
fundo  impossibilita  também  ,  como  no  primeiro  ca- 
so ,  que  possa  nutrir- se.  Este  modo  de  plantar  he 
ainda  sujeito  a  outro  inconveniente.  Quando  o  pre- 
to faz  o  seu  buraco  com  o  seu  earacoâ  ,  ou  páo 
apontado ,  mette  dentro  a  muda  ,  e  satisfeito  com 
amontoar-lhe  em  torno  da  hsste  fracamente  á  ter- 
ra ,  julga  ter  plantado  hum  Cafeseiro ,  quando  a 
muda  não  se  sustem  em  cousa  alguma  >  e  vem 
por  esta  razão  a  faltar.  Pelo  contrario  plarvtando  á 
enxada  «e  evitão  todos  estes  inconvenientes  ;  e  o 
preto  ,  ainda  que  hum  preguiçoso  ,  ou  descuidado 
no  seu  trabalho  ,  planta  a  pezar  disto  muito  bem  > 
obrigado  a  tapar  ,  ou  entupir  a  cova  ,  que  acabou 
de  fazer ,  com  a  mesma  terra  ,  a  raiz  mestra  com 
todas  as  outras  pequenas  ,  que  delia  pendem  ,  se 
achão  cobertas  de  huma  terra  bem  molhada  ;  e 
também  a  muda  recebe  a  sua  nutrição  necessária 
á   sua   substancia  ,    e   ao   seu  crescimento ,    ou   au- 


O  sinal  ,  porque   se   conhece  ,   que  huma   muda 

tem 


C  'i>  ) 

tem  pegado  >  he  quando  entra  a  grelar.  Ora  ha 
muitas  ,  que  níío  grelão  ,  mas  ,  nem  per  isso  ,  se 
devem  reputar  por  mortas.  Examinai ,  passado  al- 
gum tempo  ,  a  sua  haste  ,  e  lhe  descobrireis  al- 
gum verdor  ,  seja  no  topo  ,  seja  no  pé  ,  ou  em 
baixo.  Não  se  lhe  descobrindo  se  tem  hum  sinal 
infallivel  que  a  muda  não  pegou  ,  ou  porque  fos- 
se mal  transplantada  ,  ou  porque  teve  toda  a  for- 
ça precisa  para  resistir  á  transplantação.  Então  se 
faz  substituir  no  mesmo  anno  ,  e  sendo  possivel  , 
na  mesma  estação.  Esta  prevenção  ultima  seria  mui- 
to excellente. 

Entretanto  que  nós  suppomos  o  Cafesal  plan- 
tado á  corda  ,  e  as  mudas,  que  não  tiverem  pe- 
gado ,  substituidas ,  vamos  acompanhar  a  nova  ar- 
voreta  até  ao  instante  da  sua  producção. 

He  preciso  que  no  primeiro  anno  se  hajão  de 
plantar  grãos  neste  Cafesal  ,  para  haverem  de  dar 
sombra ,  e  fresco  á  nova  planta.  Por  meio  deste 
soccorro  ella  se  nutrirá  melhor  ,  padecerá  menos  , 
&c.  e  se  aproveitará  mais  depressa,  que  he  hum.a 
das  consequências  necessárias. 

O  arroz  ,  o  milho  ,  os  feijões  são  os  grãos , 
que  de  ordinário  se  semeão  com  muit^  indifferen- 
ça  sobre  a  escolha.  Eu  com  tudo  julgo  que  se 
deveria  preferir  o  milho.  Tira  menos  sal  da  terra 
do  que  o  arroz  ,  os  legumes  ;  e  deixa  ao  Cafeseiro 
a  porção  de  sustento,   que   lhe  he  necessária.  A  no- 

I  ii  va 


va  planta,  ou  inuda  he  menos  afifogada,  e  entre- 
tanto  se   regozija  com   a  sua   sombra. 

Colhendo  se  o  milho  ,  se  terá  a  advertência  de 
deixar  liie  ficar  a  palha  sobre  a  terra.  Porque  ,  sen- 
do cuberta  com  ella  ,  lhe  dará  maior  frescura  j  e 
este  haja  de  ser  hum  dos  cuidados  ,  que  se  devem 
ter  sempre  ,  conservar  frescos  os  pés  aos  Cafe- 
seiros. 

Dentro  do  espaço  de  trez  annos  se  poderá  con- 
tinuar em  semear  milho  ,  sem  que  por  isso  se  de- 
va recear  detrimento  algum  no  Cafesal  ,  e  antes 
pelo  contrario  lhe  será  muito  proveitoso.  Passados 
os  trez  annos  porem  ,  se  lhe  devem  estancar  as  se- 
meaduras ;  porque  ,  a  este  tempo  ,  já  os  Cafeseiros 
€5.taráõ  fortes  ,  e  deveráõ  dar  fructos  sem  necessi- 
dade  de  huma   maior   substancia  nutritiva. 

Ainda  que  este  arbusto  seja  provido  de  ramos 
do  alto  até  os  baixos  ,  e  que  estes  ramos  estejão 
■providos  de  folhas  verdes  ,  dá  pouco  fructo  este 
terceiro  anno,  que  he  o  primeiro  da  sua  produc- 
ção.  He  com  tudo  necessário  ter  cuidado  de  os 
colher  exactamente  ,  e  este  he  o  modo  ,  com  que  se 
deve  proceder. 

Em  quanto  o  grão  estiver  verde  ,  ou  só  esti- 
ver amarello  ,  ou  ainda  de  hum  vermelho  pállido, 
não  he  tempo  de  o  colher.  O  momento  ,  de  poder 
ser  colhido  ,  he  quando  estiver  de  huma  cór  ver- 
melha denegrida.  Colheio  então.  Se  esperardes  mais 

tem- 


Cu?  ) 

tfmpo  »  o  Café  muito  maduro  cahirá  ,  e  o  seu 
gião  se  perderia ,  ou  tomaria  cahido  em  terra  hum 
máo   gosto. 

Para  se  colher  com  mais  geito  ,  só  se  deve  ser- 
vir dos  dous  dedos  :  tomai  o  grão  entre  elles  ,  e 
o  fareis  trocer ;  desta  maneira  o  grão  se  desprende 
facilmente  ,  e  não  damnifica  a  arvore  de  modo  al- 
gum. Arrancando  o  grão  grosseiramente  ,  ou  pon- 
do ,  como  vi  fazer  a  muitos  ,  a  mão  no  alto  do 
ramo  ,  e  desgranando-o  de  hum  só  jacto ,  se  o  ra- 
mo  senão  estragar  ,  o  que  muitas  vezes  deve  acon- 
tecer,  ficará  ao  menos  tão  arruinado-,  que  não  pro- 
duzirá cousa  alguma  o  anno  seguinte.  Este  ultimo 
modo  de  o  colher  tem  ainda  outro  inconvenien- 
te de  se  misturar  o  Café  ,  que  não  está  maduro," 
com  o  que  está  ,  e  de  ficar  este  arruinado  pela 
mistura. 

Consequentemente  he  preciso  ,  como  disse  apa- 
nhar só  os  grãos  ,  que  estão  vermelhos  denegridos. 
Dez  ,  ou  doze  dias  ao  depois  ,  os  que  estiverem  de 
hum  vermelho  pállido  ,  ou  descahido  estaráó  bons^ 
para  se  haverem  de  colher.  Finalmente  no  fim  de 
trez  semanas,  os  que  só  estiverem  amarellos  es- 
tarão perfeitamente  de  vez.  Esta  terceira  colheita 
de  ordinário  costuma  ser  amais  abundante:  aten- 
do o  Cafesal  quatro  ou  cinco  annos  he  cominum 
vêr  hum  escravo  encher  dous  grandes  saccos  por 
tarefa  de  hum  dia. 


C  M4) 

A  iTWneira  de  seccar  o  Cafc  não  requer  ineno- 
res  cuidados  cue  os  do  colher.  A  proporção,  que^ 
os  escravos  chegão  carregados  ,  o  devem  conduzir 
a  plataforma  constiuida  para  seccar  ,  e  enxugar. 
Fazei  c]ue  despejem  os  seus  saccos  em  hum  só 
monte  ,  sem  o  estender.  Ao  outro  dia ,  pela  ma- 
nhã ,  tenha  ou  não  chovido  de  noite  ,  fazei-o  es- 
palhar ,  observando  com  tudo  que  a  superfície  ,  a 
cjue  o  reduzis ,  tenha  algumas  pollegadas  de  gros- 
sura. Havendo  se  de  deixar  o  Café  por  mais  tem- 
po amontoado  ,  elle  se  azedará.  Não  ficando  em 
monte  mais  que  hum  dia  ,  e  huma  noite  reçumbra- 
rá  a  sua  agua,  e  se  disporá  a  seccar  mais  prompta- 
mente  Todos  os  dias  se  haja  de  repetir  esta  ope- 
ração até  o  íim  da  colheita.  Neste  tempo  se  te- 
nha a  advertência  de  o  mexer  todos  os  dias  o  Ca- 
fé ,  posto  a  enxugar  com  hum  ,  rodo  quer  .chova  , 
quer  faça  í?ol  ,  para  que  o  grão  ,  que  ficar  por  bai- 
xo,   se  reveze  a  ficar  por  cima  cm  seu  turno. 

No  fim  de  alguiis  dias  ,  estando  o  tempo  bom, 
o  grão  terá  perdido  a  sua  còr  vermelha  ,  e  se  vol- 
tará inteiramente  negra.  Neste  tempo  se  lhe  dimi- 
nuirá a  giossura  da  superfície  ,  que  elie  occupa 
estendido  ,  fiizendoo  estender  sunimamente  rsro  na 
plataforma  ,  onde  o  deixareis  passar  duas  noites  » 
com  a  advertência  de  o  mexerdes  huma  vez  por 
dia. 

Tendo  o   grão  passado  duas  noites  ,  se  apalpa- 

'  rã , 


C  li!  ) 

rá  ,  e  se  achará  duro.  Chegado  a  este  ponto  elle 
não  quer  ,  nem  mais  agua  ,  nem  sereno  ;  e  se  íi' 
cará  obrigado ,  ao  pôr  do  Sol  ,  de  o  ajuntar  ,  de 
o  recolher  debaixo  d'  algum  rancho  ,  náo  se  haven- 
do de  ter  algum  meio  de  o  ter  bem  coberto  na 
mesma   plataforma. 

Todas  as  manhãs  ,  depois  que  o  Sol  tiver  bem 
enxuto  a  plataforma  ,  se  estenderá  este  Café  bem 
íaro  ,  e  se  terá  o  cuidado  de  o  ir  mexendo  com 
rodos  trez  vezes  cada  manha  ,  e  outras  tantas  ao 
depois  do  meio  dia.  Ao  pôt  do  Sol  se  guardará  de 
novo  debaixo  do  rancho  ,  o  mais  quente  que  se 
poder  ,  em  hum  só  monte  ,  sendo  possii'el.  Se  o 
tempo  permittir  ,  coníimiar-se-ha  esta  obra  todos  os 
dias  ;  mas  se  o  tempo  estiver  anuviado ,  se  deverá 
abster  delia  pelo  risco ,  a  que  se  expõem  de  ser 
molhado  ;  porque  a  chuva  ,  quando  elle  chega  ao 
ponto   de  que  falíamos ,  já   lhe  he   contraria. 

Quebrando-se  o  grão  ao  dente  ,  e  a  pellicula » 
em  cue  ambos  os  grãos  do  Café  estão  incluídos  , 
se  desprendem  per  si  mesmos ,  servem  de  signaes  de 
que  elle  está  secco  j  e  ao  depois  disto,  bastará  ex- 
poUo  ainda  huma  ,  ou  duas  vezes.  Quando  porém 
este  grão  quebrar  limpo  por  si  mesmo  ao  dente  , 
he  tempo  de  o  guardar  ,  o  que  se  deve  fazer  trez 
ou  quatro  horas  depois  do  meio  dia  ,  estando  ainda 
O  Café   bem   cmcni^. 

O  Café   da  segunda ,  terceira  ,  e  quarta  colhei- 
ta 


(  m6  ; 

ta  se  preparará  do  mesmo  moHo  ,  observando  :  ciie 
senáo  houver  tempo  de  pôr  o  da  primeira  colhei- 
ta em  estado  de  ser  guardado  ,  he  preciso  a  caiítel- 
]a  de  não  misturar  com  eJle  o  da  segunda  colheita  , 
e  o  mesmo  se  haja  de  entender  a  respeito  das  ou- 
tras subsequentes.  A  sua  mistura  só  deve  ser  fei- 
ta no  instante  da  sua  perfeita  seccura.  Misturan- 
do se  em  outro  qualquer  tempo  ,  a  ultima  empeio- 
raria  a  primeira.  Todas  as  colheitas  feitas  por  este 
inodo  ,  e  os  grãos  que  ellas  produzirem  absoluta- 
mente seccos  ,  e  postos  no  armazém  ,  se  lhe  não 
corre  risco  algum  ,  e  o  Café  se  aonservará  ,  pelo 
dizer  assim  ,  eternamente. 

Antes  de  discorrer  sobre  o  modo  de  o  fazer 
vendavel  ,  creio  cue  devo  voltar  atraz  a  fallar  so- 
bre os  arbustos  ,  a  saber  ,  sobre  o  modo  de  os  tra- 
tar ao   depois   da  colheita. 

O  Cafesal  deve  ser  mondado.  Para  isto  não  he 
preciso  esperar  que  elle  se  çuje.  Mondando-se  mui- 
tas vezes  ,  isto  se  leduz  a  hum  trabalho  de  cinco, 
ou  seis  dias  ,  ao  me«;mo  tempo  que  ,  deixando-se  en- 
cher de  hervas  ,  seião  precisas  trez  ou  quatro  sema- 
nas. A-;  hervas  fazem  amarelecer  os  Cafeseiros  no- 
vos ,  e  lhes  causaria  muito  damno  ,  se  o  fizessem, 
estando  em  flor  ,  o  que  acontece  quatro  vezes  no 
anno.  Airanquem-se  por  tanto  as  más  hervas,  aga- 
tanhaiido   as  que   principião  a  apparecer. 

Logo  que  o  preto ,  encarregado    deste  trabalho , 


(  "17  ) 

tiver  limpo  os  arredores  de  hum  Cafeseiro  ,  este 
mesmo  deve  passar  a  ser  o  alvo  dos  seus  cuida- 
dos ,  e  terá  para  fazer  o  seguinte.  Começando  pri- 
meiramente do  pé  ,  examinará  a  quantidade  de  la- 
drões ou  gomeleiras  ,  que  elle  lança  ,  e  também  as 
que  estão  avançadas.  He  preciso  que  as  tire  todas , 
menos  hum  que  ha  de  deixar  com  a  haste  do  Ca- 
feseiro. Dará  huma  voltai  em  torno  da  arvore  ,  e  a 
Jivrará  de  todos  os  ramos  petisecos  ,  ou  mortos. 
Olhará  para  o  alto  da  arvore,  e  lhe  tirará  todas 
aquellas  franças  ,  ou  ramos  que  excederem  na  ul- 
tura  ao  seu  copado.  Privando  deste  modo  ao  ar- 
busto de  poder  crescer  pela  cabeça  ,  se  verá  elle 
na  precisão  deformar  maior  çópa ,  alargando  a  sua 
roda  ,  ou  circumferencia  ;  e  nesta  direcção  lançará 
quantidade  de  ramos  ,  que  darão  fructo  no  anno  se- 
guinte. O  Cafesal ,  que  se  entretém  desta  sorte  ,  fi- 
ca sendo  muito  bello  ,  e  vistoso  ;  e  se  facilita  a  sua 
colheita  ;  porque  os  seus  ramos  mais  altos  ficão  ao 
porte  dos   escravos. 

Conheci  Colonos  ,  que  tinhão  por  máxima  dei- 
xallos  crescer  livremente  ,  de  sorte  que  erão  neces- 
sários escadas  para  se  haverem  de  colher.  A  razão  , 
que  davão  ,  era  da  precisão  ,  que  havia  de  abando- 
nar as  arvores  a  conducta  da  Natureza.  Mas  ainda 
que  sou  da  opinião  dos  que  querem  que  se  ajude  a 
•natureza  ,  observei  que  a  colheita  destes  não  era 
mais  abundante  do  que  a  da^uelles ,  q"^  embara, 
■  ■:■.  ^  cão 


Cm?) 

çao  aos  seus  Cafeseiros  o  não  se  estenderem  pela 
cabeça.  A  única  diíferença ,  que  se  encontra  entre 
liuns  ,  e.  outros  ,  lie  o  embaraço  das  escadas  ,  e  mui- 
tos ramos  damnificados.  O  que  eu  adianto  se  fun- 
da sobre    a   experiência. 

Os  Cafeseiros  dão  menos  em  hum  anno  >  do 
que  em  o  outro.  Esta  differença  de  colheita  nas- 
ce da  differença  no  objecto  da  sua  vegetação.  Em 
hum  anno  lancão  madeira  ,  ou  lenho  novo  ,  e  nes- 
te anno  rendem  menos  fructos.  No  seguinte  po- 
rém dão  muitos  fructos  ,  porque  este  novo  lenho 
também  o  produz. 

Cuidando-se  dos  arbustos  pelo  modo  ,  que  te- 
nho recommendado  ,  qualquer  Cafesal  poderá  du- 
rar quinze  para  vinte  annos  produzindo  :  no  fim 
deste  tempo  porém  ,  se  deverá  cuidar  em  o  ir  re- 
plantando. 

Quanto  mais  o  ?.rbu5;to  for  velho  ,  tanto  mais 
o  Café  será  melhor.  Não  he  por  tanto  que  a  vis- 
ta da  maior  ,  ou  menor  excellencia  do  Café  ,  que 
se  colhe  ,  que  se  haja  de  julgar  da  velhice  de  hum 
Cafeseiro.  O  sinal ,  para  se  julgar ,  que  elle  está  en- 
velhecido ,  he  rendendo  menos,  cuando  devia  ren- 
der   mais.   O  seguinte    he   o  meio  de   o   remoçar. 

Ao  depois  da  ultima  colheita ,  fazei  cortar  to- 
dos os  vasos  Cafeseiros  a  pé  e  meio  de  terra. 
JVlanda.i  ao  depois  conduzir  para  íóra  tudo  ,  quanto 
se  cortou  ,  e  ^ue  íique  o  Cafesal  bem  limpo.  Plan- 
tai- 


C  M9  5 

tai-lhe  dentrjO  inilho.  Quando  colherdes  o  vosso  mi- 
Iharal ,  visitai  todas  as  vossas  arvores  ,  e  então  já  as 
achareis  prov/das  de  lançamentos.  Escolhei  em  ca- 
da huma  dos  vossos  arbustos  os  dous  ,  que  forem 
mais  grossos  ;  e  que  julgardes  ,  que  tem  tomado 
maior  nutrição  ,  e  fazei  arrancar  os  outros.  Cuidai 
nestes  dous  ,  pelo  modo  que  acima  disse  ,  sem  con- 
sentir que  hajão  outros  ,  e  continuai  a  repetir  a 
plantação  do  vosso  milho  dous  ou  trez  annos  mais. 
No  fim  deste  tempo  começareis  a  colher  Café  , 
como  se  fosse  de  hum  Cafesal  novo ,  e  isto  pelo 
tempo  de  outros  quinze  ,  ou  vinte  annos. 

Eu  creio  que  fiz  conhecer  sufficientemente  tu- 
do ,  quanto  era  bastante  ,  ou  necessário  para  plan- 
tar ,  mapter  ,  fazer  produzir  ,  e  renovar  hum  Ca- 
fesal. Passemos  presentemente  a  vêr .,  que  casta  de 
operação  requer  o  Café  ,  que  se  guardou  no  arma- 
zém. 

Para  dar  a  ultima  perfeição  ao  Café  ,  quero  di- 
zer ,  para  o  fazer  commerciavel  ,  se  fará  tirar  do 
armazém  huma  ceita  porção  em  casca  ;  e  se  esten- 
da o  mais  ralo  ,  que  for  possível  em  cima  da  pla- 
taforma ,  que  deve  estar    secca, 

Precisa-se  que  haja  debaixo  do  rancho  hum  pi- 
lão próprio  a  pilar  este  grão  ^  a  palavra  próprio 
quer  dizer  que  deve  ser  feita  á  sua  concavidade, 
como  hum  funil.  A  boca  deve  ter  em  circumfe- 
r€ncia  quasi.dous  pés   e  meio  ^  e   es.ta   largura  hirá 

di- 


C  mo) 

diminuindo  pouco  a  pouco  até  a  não  ter  mais  no 
seu  fundo.  Se  os  pilões  não  forem  feitos  deste  mo- 
do ,  o  Café  se  esmagaria  em  pedaços.  O  pilão  ,  fei- 
to de  hum  pao  grosseiro  ,  terá  trez  pés  a  trez  e 
meio  de  comprido  ,  e  terá  a  mesma  figura  ,  que  cos- 
tuma  ter  o  dos  Boticários. 

Cada  pilão  será  entregue  a  dous  escravos ,  pos- 
tos hum  em  frente  do  outro  ,  que  farão  cahir  re- 
vesadamente  as  mãos  ,  com  que  pilão.  Não  se  deverá 
começar  a  pilar  ,  senão  estando  o  Café  ,  que  estiver 
na  plataforma  ,  aquecido  pelo  Sol.  Então  hum  des- 
tes escravos  enche  hum  sacco  ,  traz  ao  rancho  ,  e 
prove  o  pilão  ,  advertindo  de  não  o  encher  mais  da 
ametade   do   seu   vão. 

-  Passado  algum  tempo,  o  pilão  está  cheio  de 
cascas  quebradas  ,  e  os  grãos  de  Café  taes  ,  como 
quando  se  comprão  ,  e  a  moinha ,  que  resulta  da  pel- 
licula  quebrada  ,  debaixo  do  pilão.  Tanto  que  senão 
divisar  mais  Café  em  casca  ,  se  haja  de  cessar  de  o 
pilar  ,  para  que  continuando-se  ,  senão  venhão  a  que- 
brar os  próprios  grãos  de  Café.  Os  dous  escravos  de- 
vem por  tanto  ajuntar  tudo  ,  moinha  ,  pedaços  de 
casca  ,  e  grãos  de  Café.  P6em-se  outro  Café  com 
casca  novamente  ,  e  se  continua  do  mesmo  modo 
o  descascamento. 

Tendo  se    pilado    todo  absolutamente  ,    arma-se 
hum   cadafalso  (girau   no  Brazil)  de  sete  para   oito 
pés    de  altura  ,  exposto  ao  veiito ,  sobre'  o  qual  so- 
bem 


C  ui  ) 

bem  dous  ou  trez  escravos ,  aos  auaes  outros  en- 
tregão  os  saccos  cheios  de  Café  pilado.  Por  baixo 
destes  cadafalsos  se  estendem  grandes  pannos  sobre 
os  quaes  os  negros ,  que  estão  no  alto  ,  despejão  len- 
tamente os  seus  saccos,  pondo  a  boca  destes  para 
a  parte  do  vento.  A  isto  chamão  aventar.  O  ven- 
to leva  a  aralha ,  a  moinha ,  e  os  grãos  de  Café 
cahem  isolados   nos  pannos. 

Outros  escravos ,  postos  debaixo  do  cadafalso  ,  ajun- 
.tão  com  rodos  o  Café  aventado  ,  e  enchem  os  sac- 
cos com  elle.  Depois  se  torna  a  levar  acima  do  ca- 
dafalso ,  c  se  aventa  novamente.  Tendo  sido  aven- 
tado duas  vezes  ,  se  traz  para  o  rancho ,  para  ahi  se 
joeirar  a  peneira.  Esta  he  huma  caixa  de  trez  ,  ou 
.quatro  pés  de  comprida  ,  e  outro  tanto  de  larga  , 
com  huma  borda  da  altura  de  seis  pollegadas ,  que 
tem  o  fundo  furado ,  como  huma  grade.  Esta  ma- 
quina está  posta  sobre  duas  barras ,  trazidas  sobre 
•  cavaletes.  Cada  barra  tem  sua  regra  ,  que  contém 
o  crivo  ,  e  dous  pretos  fazem  hum  vai  e  vem  ,  con- 
tinuamente balouçando  de  huma  a  outra  extremi- 
dade. As  impurezas  ,  que  lhe  ponerião  restar  por 
esta  acção  ,  cahem  pelos  buracos  ,  e  nada  mais  fi- 
ca ,  que  tirar ,  senão  os  grãos  de  Café  partidos  pe- 
la piladura. 

As  pretas   são  obrigadas  ao   trabalho  de  os  es- 
colher ,    e  o   fazem    grão    por  grão.    Esta  operação 
he  a  ultima  3  e  ,  se  o  Café  requer  ainda  algum  cui- 
da- 


dado  ,  lie  de  o  nao  deixarem  por  muito  tempo  em 
saccos  ;  e  de  o  cmbarricarem  promptamente  ;  pelo 
receio  ,  que  se  tem  ,  de  que  elle  haja  de  embran- 
quecer. 

Isto  he  ,  quanto  respeita  á  cultura  ,  e  prepara- 
ção do  Café.  Só  me  resta  a  dizer  huma  palavra 
sobre  as  plataformas  ,  de  que  fallei  no  decurso  des- 
te  pequeno  tratado. 

As  plataformas  são  absolutamente  necessárias  á 
fabrica  do  Café.  Sem  ellas  não  se  podem  enxugar, 
nem  seccar ,  nem  por  consequência  levai  lo  á  sua 
perfeição. 

Não  ha  cousa  tão  fácil ,  como  a  construcção  de 
liuma "plataforma.  Primeiramente  se  precisa  escolher 
hum  terreno ,  que  tenha  huma  inclinação  natural , 
c  se  não  a  tiver  ,  he  necessário  que  se  lhe  faça. 
Hum  terreno  de  duzentos  pés  de  comprido  ,  e  cou- 
sa de  cem  de  largo  formará  huma  lindissima  pla- 
taforma ,  e  quanta  seja  bastante  para  seccar  sinco- 
enta  a  oitenta  milheiros  de  Café.  A  inclinação  que 
será  preciso  dar-Ihe  para  o  excòo  das  águas  ,  deve 
ser  pelo  menos  de  sinco  pés.  He  muito  essencial 
que  se  haja  de  alimpar  bem  o  terreno  ,  arrancar- 
Ihe  as  hervas  ,  os  cepos  ,  as  pedras.  Applainar-se- 
hii  ao  depoiíí  ao  livel  da  inclinação  ,  que  se  lhe  hou- 
ver de  dar  j  feito  isto  se  humedeça  ,  e  se  lhe  lan- 
cem cinzas.  Então  os  escravos  ,  armados  de  varas ,  ba- 
terão  todo  o  terreno  igualmente.  Estando  bem  ba- 


Chj  3 

tido  ,  se  remolha  ,  e  se  lhe  torna  novamente  a  lan- 
çar cinza  segunda  vez.  Estas  differentes  acções  se 
repetem  até  sinco  vezes.  Estando  a  terra  firme  ,  e 
voltando-se  em  hum  corpo  duro  por  meio  da  cin- 
za ,  e  da  agua  misturada  juntamente  ,  se  faz  pre* 
ciso  rodear  as  plataformas  de  hum  muro  que  te- 
nha cousa  de  hum  pé  de  grossura  ,  e  alto  pé  e 
meio  ,  acima  do  livel  da  plataforma.  Do  lado  em 
que  acaba  a  inclinação  se  abriráõ  pequenos  esgo- 
tos ,  ou  boieiros  engradados  ,  pelos  quaes  a  agua 
possa  correr  ,  seguindo  a  mesma  inclinação.  As  gra- 
des ou  ralos  são  necessários  para  embaraçar  que  o 
Café  ,  que  pôde  correr  com  as  aguas ,  pare  no  ra- 
lo. Construida  a  plataforma  desta  maneira  nada  mais 
falta  ,  senão  conservallo  limpo  j  fazendo-o  varrer  mui- 
tas vêjes.  He  mister  principalmente  que  se  haja 
de  varrer ,  quando  se  ajuntar  o  Café  para  o  re- 
colher para  debaixo  do  rancho  ,  e  antes  que  se  ti- 
re do  rancho  ,  para  o  pôr  ao   Sol. 

As  plataformas  ,  feitas  de  ladrilhos ,  são  muito  me- 
lhores do  que,  as  que  se  fazem  de  terra.  Durão 
muito  mais  tempo  ,  e  não  requerem  trabalho  de 
as  conservar ,  não  ficando  sujeitas  a  desmanchos , 
e  se  varrem  com  maior  facilidade ,  do  mesmo  mo- 
do se  secção  ,  e  fazem  o  Café  muito  mais  limpo. 
Também  custão  muito  mais  pela  carestia  da  cal  , 
e  do  tijollo.  Poupa-se  huma  parte  da  despeza  ,  ser- 
vindo-se  ,  para  o  ladrilhar ,   de  huma  pedra  muito 

I  com- 


(  '44  ) 
commiia  na  Tlha  ,  chamada  Gaíet,  He  lium  calháo  , 
cuja  figura  apresenta  hum  oval  applaiiiado.  As  suas 
bordas  são  redondas ,  que  Jhe  não  pei  mittem  huma 
juncção  ejíâcta  ,  deixando  entre  estes  calháos  inter- 
vallos  ,  que  são  precisos  enchei  los  de  cal  ,  para  que 
a  superfície  da  plataforma  po<;sa  ser  igual.  O  la- 
drilhado de  pedra  chata  não  he  sujeito  a  este  in- 
conveniente ,  e  se  liga  com  muito  maior  exacção. 
Mas  também,  importa  muito  mais  como  já  o  disse- 
mos. Seja  qualquer  destes  dous  pavimentos  i  de 
que  se  servem  para  esta  construcção  ,  he  sem.pre 
preciso  ter- se  cuidado  de  escolher  hum  bom  terre* 
no  ,  para  que  estas  plataformas  não  se  abatão  em  al- 
gum lugar.  A  agua  ,  que  se  entancaria  nos  lugares 
abatidos  ,  faria  o  seu  uso  impraticável.  Esta  precau- 
ção  he   absolutamente   necessária. 

Ainda  ha  para  estas  plataformas  outra  sorte  de 
construcção ,  chamada  no  Paiz  argamassa.  Para  se 
construir  desta  maneira ,  se  começa  ,  formando  o  lei- 
to da  plataforma  ,  conforme  a  grandeza  que  se  lhe 
quer  dar ,  o  que  se  faz  ,  tirando-lhe  a  terra  ,  e 
proporcionando-se  o  que  se  lhe  tira  á  inclinação  « 
que  lhe  he  necessária  estabelecer.  Cobre-se  ao  de- 
pois esta  superfície  de  huma  ordem  de  pedras  sec- 
cas ,  que  se  cobrem  de  hum  pc  de  terra.  Esta  no- 
va camada  he  coberta  a  seu  turno  de  huma  segun- 
da camada  de  pedias  ,  e  o  pé  de  terra  ,  de  que 
se  cobre  de  novo ,  puxa  por  outra  camada  de  pe- 
dras j 


C  145  ) 

dras  ,  recoberta  finalmente  a  seu  turno  de  douí 
pés  de  terra  ,  que  formão  a  superfície.  Estando  a 
obra  neste  estado  se  deixa  por  trez  ou  quatro  me- 
zes  sem   se   lhe    tocar. 

As  chuvas  que  cahem  de  cima  ,  e  a  acção  do 
Sol ,  durante  este  tempo  ,  fazem  trabalhar  as  terras 
que  se  abatem  igualmente  :  ao  depois  disto  se  ba- 
te esta  plataforma  á  força  de  pilões.  A  plataform? 
assim  batida  os  alvineos  construem  a  terrassa  ,  ou 
a  argamassa  com  pedra  ,  cal  e  área  ,  e  cobrem  es- 
ta alvenaria  com  hum  cimento,  que  elles  hume- 
decem sem  cessar  para  ligar.  Compõem-se  ao  de- 
pois huma  coberta  ,  ou  verniz  ,  em  que  entra  agua 
de  cal  >  ovos  e  jagra,  (*)  Estende  se  isto  sobre  o 
cimento  i  e  sé  esfrega  sem  cessar  com  trolhas  de 
madeira.  Esta  coberta  fica  táo  polida  ,  como  hum 
espelho. 

Com  tudo  prefíriria  sempre  ás  plataformas  de 
terra  ;  não  somente  por  serem  de  huma  muito  me- 
nor despeza  ;  mas  também  ;  porque  a  argamassa  he 
sujeita  a  fender- se  ,  e  os  seus  pedaços ,  escamando  a 
coberta ,  ou  verniz  ,  deslocão  pouco  a  pouco  a  al- 
venaria. 

Nada  direi  das  plataformas  de  madeira  :  ellas 
■K  cus- 


(  *  )'  Js sacar  Jeito   do    vinho    de  palmeiras  Jcivi- 
dê  por  muito  tempo. 


C  U6  ) 
ciistão  muito  ,  e  nr.ria  valem  :  visto  que  a  made!  a 
desta    Ilha   trabalha  consideravelmente. 

He  importante  observar  que  a<;  plataformas ,  de 
qualquer  modo  que  se  facão  ,  devem  situar  *c  de 
maneira   que  o  Sol  lhe  possa  chegar   touo  o  dia. 


CAR- 


i 


C  U7  ) 

CARTA 

E   S    C    R    I   P    T    A 

A  Mk.  ELIAS  MONEREAU, 

Sobre  o  seu  Tratado  de  Café , 

POR 

Mr^^gr  mm  p  r  e 

VWINHO    DE    MOCA. 

De  Moca  aos  26    de  Janeiro  de  I75S, 


M< 


#  Li  o  vosso  manuscripto  acerca  da  cultura 
do  Café  :  a  experiência ,  que  tendes  adquirido  pe- 
lo trabalho  de  trinta  annos  (*)  não  deixa  dúvi- 
da alguma  a  respeito  da  exacção  das  vossas  adver- 
tências ;  mas,  ^ão  tendo  sido  a  totalidade  destas, 
a  que  basta  ,  iiáo  levareis  a  mal  que  eu  vos  haja 
K  n  de 

( * )  Como  o  pequeno  Tratado  ,  (jtiç  çpmpuz  do 
Café  ,  appareceo  destacado  do  outro  ,  que  tinha  com" 
posto  antes  i  do  Perfeito  Indigoeiro  ;  e  que  no  fim 
deste  menciono  ,  que  trinta  annos  de  experiências  na- 
da deixavão  i  que  duvidar  a  respeitç  das  observa- 
ções  ,  que  faziét  na  seu  conteúdo  ,  ou  contexto  ,  aue 
comprehende  ambos  os  Tratados  ,  nasceo  daqui  a  con' 
fusão  y  que  agora  declaro  ,  de  se  pensar  que  as  oh'^ 
servaçoes  feitas  sobre  o  Café  tlnhão  tido  o  mcsm» 
tempo  que  ,  as  que  fiz  sobre  o  Indico  ,  o  que  nã 
he  assim  ;  pois  apenas  Uria  trez,  annos  dnsta  cuias 
ra  ,  quandê  a  escrevi. 


IP 


C  U8  ) 

de  participar  ,  as  jqiie  também  tenho  feito  sobre  o 
mesmo  assumpto.  Julgo  que  eu  vos  não  deverei 
contar  no  número  dos  ^.uthores  ,  que  tem  o  pre- 
juízo ,  de  reputar  por  crítica  ás  observações  do5 
Leitores. 

A  utilidade  ,  que  se  deve  colher  da  vossa  obra, 
obrigará  a  muitos  a  copiai  la  ,  para  haverem  deter 
sempre  comsigo  huma  guia  de  tanta  experiência  ; 
e  ainda  a  poderão  diminuir  ,  ou  au^iientar ;  e  tal- 
vez ambas  as  cousas  ;  porém  ,  em  qualquer  destes 
acontecimentos  ,  não  diminuirão  a  gloria  ,  que  con- 
seguistes pelas  primeiras  noções ,  que  espalhastes 
sobre  a  ciiltura  do  Café.  A  pezar  da  ingratidão  , 
que  practicou  Américo  Vespucio  com  Christovâo 
Cólon  ,  a  posteridade  ,  a  mais  distante  ,  reconhece- 
rá sempre  ao  ultimo  pelo  primeiro  descobridor  da 
America.  Poderia  apresentar-vos  outros  muitos  ex- 
emplos ,  se  não  receasse  offender  com  elles  a  vossa 
inodestia  ;  o  que    supposto  ,  entremos  na  matéria. 

O  Café  foi  descoberto  pelo  Prior  de  certos  Mon- 
ges ,  segundo  refere  o  IMaronita  Fausta  Kiarone  , 
citado  em  o  Diccionario  de  Trevoux  ,  tendo  sido 
advertido  por  hum  cabreiro  ,  o  qual  lhe  contou 
que  o  seu  rebanho  estava  desperto  toda  a  noi:e  , 
e  a  dar  saltos.  O  testemunho  deste  cabreiro  obri- 
gou ao  Prior  a  ensaiar  a  virtude  ,  que  este  gt5o 
tinha  para  impedir  o  somno,  PiimeiraiTiente  o  ap- 
plicou  para  einbaraçar  o  dos  seus  Monges  (  natu- 
ral- 


C  149  ) 
ralmente  preguiçosos)  a  que  não  dormissem  a  Ma- 
tinas. 

Julgais  vós  que  a  abundância  do  Café  o  fará 
reduzir  a  hum  preço  muito  limitado.  A  experiea' 
cia  mostra  que  isto  acontecerá  pelo  contrario.  Ha- 
verão trinta  annos ,  que  erão  mui  raras  as  Assu- 
c  árias  (Engenhos  de  Assucar):  o  assucar  est  va 
em  muito  bom  -preço.  Augmentárão-se  aqueJlas  ,  e 
este  também  cresceo  á  proporção- do  seu  augmen- 
to.  Qual  por  tanto  seria  a  causa  deste  augmento, 
ou  desta  revolução  ?  Qual  ?  o  interesse  do  Com- 
mereço.  Naquelles  primeiros  tempos  bastavão  í^inte 
navios  para  abastecerem  a  esta  Colónia  ,  e  exportar- 
lhe  os  seus  retornos  :  agora  porém  somente  para  a 
Cidade  do  Cabo  (  Cíip, )  e  suas  dependências  ,  ou 
districtos  não  bastão  cem.  Segue-se  que  se  preci- 
sará de  maior  quantidade  de  navios  logo  que  hou- 
ver hiima  maior  quantidade  de  Café  5  que,  se  haja 
de  exportar.  Ah  !  não  deveis  desconfiar  da  industria 
dos  Commerciantes  ;  porque,  se  elles  o  não  podes- 
sem  vender  muito  bem  ,  certamente  não  o  virião 
procurar  Receaes  que  não  hajao  de  vir  navios  a 
procurallo !  Esta  idéa  de  medo  seguramente  se  vos 
ha  de  dissipar  ,  se  vos  quizerdes  lembrar  do  pro- 
veito ,  que  o  commercio  raaritímo  traz  ao  Estado 
em  commum. 

Não  se  pôde  comprebender  como  o  Café  ,  qtii- 
tee  livre,  só  haja  de  produzir  úqz  soldos,  vós  dais 


(   '50) 

OS  dons  çuintos  para  as  de«;pe2as  ,  estafs  não  che- 
gão  a  tanto  :  por  exeinplo  ,  duzentos  ai  rateis  de  Cd- 
fc  ,  a  dez  soldos  ao  arrátel  ,  reridem  cem  livras  em 
dinheiro  ,  e  aoui ico  livras. 

Precisa-se  deduzir  as  despezas. 

Fretes.     ---.---.--      15   soldos. 

Coininissão   a  2   e  i  por  cento.  -  L.  2-10  soldos. 

Duas  jornadas  de  cavallo  a  j    livras,    j- 

Dous  saccos  a  3  5  soldos  ,  ao  to- 
do :  fazem  ordinariamente  6  via- 
gens.  -    -    -    -     -    -     "    -j-io  soldos. 

A  despeza  dos  trastes ,  a  que  se  não 

sabe  dar  o  valor.  ■ 

12  L.   15   soldos. 

Faga  a  despeza  ,  sobrao  100  1.  ul- 
timamente aqui.    -    -     -     87  L.   5     soldos. 

Fste  calculo  prova  claramente  que  não  gasfa  o 
scptJmo  nas  despezas.  Eu  não  pertendo  com  isto 
iTiOstrar  ,cite  se  faça  huma  fortuna  brilhante  ;  mas 
pcSde  se  com  el!a  viver  em  CidaJão  honrado  ,  e 
abastecido  ,  criar  hone^Ntameníe  a  sua  família  ,  e 
deixar  a  seus  herdeiros  os  fundamentos  de  alguma 
fo  tuna. 

Ainda  cue  a  rsiz  prTncipal  ,  ou  mestra  de 
cuaKuer    arvore    seJA    arruinada   ,    ella    não     deve 

aca- 


acabar,  ou  morrer,  se,  ao  tempo,  em  que  pela 
sua  amarellidão  ,  ou  palJidez  se  conhecer  o  seu  de- 
feito ,  a  houverem  de  cortar  quatro  dedos  acima 
da  superfície  da  terra  3  porque  a  sua  seiba  ,  não 
lançando  mais  para  fora  ,  formará  novHs  folhas  ,  as 
quaes  se  estendei ão  pelo  primeiro  tronco.  Ora  is- 
to com  tudo  tem  suas  excepções  ;  porque  se  a  ar- 
vore náo  tiver  barbalhos  ,  para  lhe  attrahir  a  nu- 
trirão :  acabará  antes  que   a  seiba  a  tenha  formado. 

Ao  depois  de  ter  o  Café  dado  quatro  colhei- 
tas ,  o  que  se  conhece  pelo  descahimento  das  fo- 
lhas ,  e  que  a  seiba  não  seja  abundante  ,  se  faz 
preciso   cortallo  do  modo ,  que  acima  expu7. 

E  que  com  isto  se  arrisca  ?  Se  elle  nada  hade 
render  ,  ou  produzir  mais,  não  he  mal  al?um  ,  ti- 
rar-Ihe  ainda  nesta  figura  ,  talvez  ,  duas  boas  co- 
Iheita^;. 

Em  vez  de  se  lhe  fazer  cahir  as  flores  ,  setia  me- 
liior  cortar  alguns  nos  da  arvore  ,  logo  que  se  re- 
colhesse o  Cafc  ;  a  seiba  se  espalhará  com  maior 
abundância  pelos  ramos  ,  que  lhe  r estão  ,  ou  so- 
brão  ,  fazendo  nascer  outros  ,  que  no  mesmo  anno 
'fructificão. 

Não  he  geral  que  o  pequeno  grão  haja  de  vir 
somente  das  arvores  velhas.  Muitas  vezes  a  quali- 
dade da  terra  contribue  para  este  successo.  Assim 
se  observou  no  districto  da  Ribeira  grande ,  onde 
a  teira  he  muito  solta. 

Jui- 


(  mO 

Julgais  que  a  agua  demorada  nos  buracos  ,  ou 
covas  haja  de  fazer  hum  bom  eífeito.  Não  posso 
comprehender  ,  como  entendeis  is:o  ,  se  he  antes  ou 
depois.,  de  se  ter  plantado  o  Cafc  ?  Quem  o  plan- 
tar a  trez  ,  ou  quatro  pés  de  distancia  huns  dos 
outros  ,  seguramente  não  tem  huma  boa  terra  :  e 
reste  caio  devem  eljes  fazer  parar  os  seus  Cafe- 
seiros  na  altura  de  cinco  pis  ,  para  que  evitem  os 
inconvenientes  ,    que    apontaes    com  muito  juizo. 

O  modo  de  abrir  as  covas  á  enxada  he  bom 
nas  terras  pedregulhosas  5  porque  facilita  tirar  as 
pci^ras  ,  que  embaraçariâo  a  raiz  mestra  penetrar  a 
terra.  Finalmente  a  ferramenta  náo  he  ,  a  que  deter- 
mina a  pro-undeza  da  cova. 

Parece  que  estaes  persuadido  ,  por  prefereiícia ,  ã 
favor  dos  que  plantão  a  exposição  dos  Nortes ,  e 
isto  sobre  o  fundamento  de  serem  as  chuvas  mais 
f  equ  ntes  neste  lado.  As  nossas  opiniões  sobre  es- 
te pon^o  se  apartão  Eu  preferiria  antes  plantar  de- 
pois de  Abril  ate  Agosto  pela  razão  seguinte.  Os 
Cafeseiros  ,  plantados  em  Abril  ,  &c.  ,  tendo  sãmen- 
te no  Agosto  do  anno  seguinte  (este  he  o  ultimo 
1]  ez  em  que  florecem  )  quatorze  mezes  ,  não  podem 
floiecer  muito  ,  e  só  floreceráõ  bem  hum  anno  ao 
depois  ,  e  quando  já  tiverem  decorrido  dous  annos  , 
e.sta  áo  assá>  fortes  ,  para  poderem  chegar  os  seus 
fruc*^os  ao  poiUo  do  a-jazonamento  necessário  :  e  pe- 
lo contraiio  ,  plantando  se  os  Cafeseiros  no  fim  do 

an- 


anno  ,  tendo  20  mezes  a  florecencia  do  segundo 
anno  ,  ílorecem  muito  melhor  ,  e  em  muito  maior 
abundância  :  e  não  tendo  ainda  ganiiado  o  vigor , 
oue  só  a  idade  lhe  pôde  dar  ,  não  podendo  che- 
gar os  Seus  fructos  a  hum  ponto  de  madureza ,  a 
que  costumão  chegar  ordinariamente  ,  a  seiba  he 
cjuad  absorvida  ,  a  arvore  se  faz  estéril  dentro  em 
dous  annos ,  e  algumas  vezes  no  terceiro  anno  aca- 
ba. Finahuente  ainda  que  eu  houvesse  de  plantar 
em  os  Nortes  ,  nem  por  isso  me  hiria  melhor.  Ad- 
initis  que  se  hajão  de  plantar  grãos  ,  arroz  ,  mi- 
lho i  entre  os  Cafeseiros  :  a  experiência  me  tem 
mostrado  ,  que  quando  senão  planta  cousa  alguma, 
então  he  ,  que  se  obra  bem.  As  nossas  terras  não 
tem  tanta  bondade ,  que  possão  ao  mesmo  tempo 
sustentar  tantas  cousas.  Entre  tanto  he  certo  que 
os  Cafeseiros  ficão  privados  do  alimento  ,  ou  nu- 
trição,  que  as  terras  se  vem  obrigadas  a  dar  ao  ar- 
roz ,  ao  milho  ,  &c.  Além  do  que  ,  não  havendo 
estes  viveres  ,  plantados  entre  os  Cafeseiros  ,  terião 
etes  todos  os  avanços,  que  lhe  deverião  resu^ar 
das  mondas  ,  sachas ,  &e.  e  aqueiles  ,  ou  se  havião 
de  plantar  em  hum  terreno  particular  ,  ou  se  plan- 
tirião  mais  juntos  ,  de  sorte  que  ,  unidos  ,  não  da- 
rião  lugar  ,  a  que  as  hervas  bravias  houvessem  de 
nascer  entre   ellas. 

Kum  vizinho  ,  possuindo  sessenta   quadrados  de 
terra,  sabendo-se  conduzir,  tem  onde  trabalhar  por 

cin- 


C  M4) 

cincoenta  annos.  Quero  suppôr  cue  elle  come- 
ça o  seu  tiabalho  com  viiue  escravos  :  cue  dle 
nos  dous  piisreiros  annos  derriba  dez  quadrados  . 
e  planta  ametade  destes  de  Café  ,  terá  plantado 
hum  Cafesal  de  40  mil  pcs  ,  o  resto  ,  cue  sobra, 
SQrá  empregado  nas  roças  dos  e5cra\o^,  na  planta- 
ção de  outros  viveies  ,  e  ein  pastes  p  ra  os  seus 
animaes.  Supponho  mais  :  c^ue  passados  dons  annos 
der.iba  outro  pedaço  ,  para  plantar  hum  Cafesal  de 
dez  mil  pés  ,  e  viveres  ,  je  c^uizer  observar  esta 
economia  escrúpulo  amente  ,  terá  ,  com  roda  a  segu- 
rança ,  terra  para  cincoen*a  annos.  Scuj  netos  ainda 
gOiaráo   dos  effeitos  da  sua    bondade. 

Quando  se  tem  Café  escaldado  ,  he  convenien- 
te sacodir-se  ,  ou  abalar-se  a  arvore  ,  antes  de  se 
começar  a  colheita  :  sem  esta  precaução  se  teria 
inuito  cue  escolher.  Todavia,  achando-se  bom  Ca- 
fé  entre  o  escaldado  ,  e  que  a  colheita  não  fosse 
abundante  ,  seria  preciso  collitlo  primeiro  ,  mas  a 
expe  iencia  me  tem  ensinado  c,ue  o  tempo  ,  que 
se   consome   nisto  ,  sempre   he  muito   mal   pago. 

O  Café  não  amadurece  de  pancada  absoluta- 
mente ;  porque  não  florece  iodo  ao  mesmo  tem- 
po. 

Julco  ser  muito  melhor  que  os  pretos  alter- 
nem por  divisão  o  trabalho  do  que  exceptuar  hu- 
jna  parte  no  entre  tanto  que  a  outra  repousa  ,  ou 
dcbcança.  Was  isto  he  muito  aibitrario. 

Se 


C»S5) 

Se  o  Café  se  houver  de  lavar  facilmente  ,  ao 
depois  de  ter  fermentado  toda  a  noite  ,  se  lavará 
com  muito  maior  facilidade  ,  fazendo  o  fermentar 
até  o  outro  dia  á  tarde.  Huma  fermentação  mais 
dilatada  ,  e  comprida  concorrerá  e  contribuirá  para 
que  a  gomma  se  despegue  melhor  ;  e  por  este  meio 
se  occorreia  ao  embaraço  de  obrigar  aos  escravos  , 
a  que  se  levantem  de  madrugada ,  o  que  he  di- 
gno de   toda  a   attenção. 

Ao  depois  de  se  ter  aventado  ,  ou  exposto  ao 
Sol ,  accrescentaria  ,  visto  não  se  despegar  da  sua 
pellicula  interior  ,  inteiramente  muito  adherente  ,  ou 
pegada  ,  que  seria  preciso  guardallo  assim  mesmo 
quente  ,  e  no  fim  de  trez  ou  quatro  dias  tornallo 
a  expor  ao  Sol  ,  e  ao  depois  repassallo  ao  pilão. 
Então  esta  película  ,  ou  atalha  se  despegaria  ex- 
actamente ,  e  o  Café  ficaria  infinitamente  melhor. 

Entre  a  quantidade  de  Cafeseiros  ,  que  tenho 
cortado  ,  muita  pa;te  delles  lançarão  cepas  guar- 
necidas de  trez  ramos  em  cada  nó  ;  e  em  os  mes- 
mos pés  outras  copas  só  tem  dous.  Gostaria  de 
que  me   instruisseis  acerca  deste  phenomeno. 

Estas  são  as  reflexões  ,  que  me  occorrêrão ,  e 
que  eu  tenho  o  gosto  de  vos  participar.  Eu  me 
daria  o  parabém  ,  se  podesse  »  pela  proximidade  de 
lugar  ,  aproveitar-me  do  vos^o  modo  de  cultjvar  o 
Cat^é  :  certamente  necessitaria  de  hum  tão  grande 
jnestre  ,  mas  a  distancia  ,  em  que  me  acho  i  não 

me 


■:"i'í 


me  privará  de  tomar  a  liberdade  de  vos  procurar 
(concedendo-me  vós  a  licença)  para  pedir  as  vos- 
sas instruccóes. 


Tenho  a  honra  de  ser  com  a  maior*  satisfac 


ao 


Vosso  ,  &c. 


Craimpre» 


(157) 

RESPOSTA 

DE  Mr.  Monerau,  a  Mr.  Graimfre, 

Sobre  o  conteúclo  da  Carta  acima ,  na  qual  sa- 
tisfaz as  objecções. 


OEnhor.  Tendo-se  a  minha  vista  fortificado  al- 
guma cou^a  ,  ao  depois  de  huma  moléstia  de  quasi 
dezoito  mezes  ,  me  resolvi  a  examinar  muitas  car- 
tas ,  que  guardava  na  minha  papelleira  ,  recebidas 
no  tempo  da  minha  moléstia  e  entre  ellas  en- 
contrei huma ,  de  que  me  fizestes  mercê  ,  sobre  a 
qual  ,  ao  depois  de  lida  ,  vendo-me  em  estado  de 
•%os   responder  ,  fiz  as   reflexões   seguintes. 

Como  todos  tem  o  seu  modo  particular  de  pen- 
52T  ,  h«  indubitável  que  o  meu  não  haja  de  agra- 
dar a  todos  sem  excepção  ;  e  por  isso  jamais  me 
lisorijeei  disto  ,  o  que  he  bem  fácil  de  se  conhe- 
cer em  todo  o  decurso  da  minha  pequena  obra  , 
e  ,  principalmente  ,  sobre  a  cultura  do  Café,  on-- 
de,  quando  proponho  as  minhas  idéas  ,  sempre  re- 
salvo  o  melhor  parecer  dos  meus  Leitores ,  e  sem 
pertenção  alguma  de  que  sigão  o  meu  por  pre- 
ferencia. Eu  não  tinha  trez  annos  de  experiência, 
como  tive  a  honra  de  vos  dizer  na  minha  primei- 
ra resposta  ,    quando    me  veio    á  cabeça    escrever 

as 


as  minhas  observações.  E  ,  ou  seja  porque  truncas- 
sem o  meu  original  ;  ou  porcue  o  priíneiiO  não 
fosse  conforiTifi  ao  posterior  ,  acho  nelie  cou<:as  ou 
sentidas  que  não  concordao  absolutamente  com  o 
meu.  Seja  porem  o  que  for  ,  me  esí"o'çarei  era 
responder  exactamente  ás  vossas  observações  ;  e 
ainda  que  eu  não  haja  de  concordar  em  tudo  com- 
vosco  ,  nem  por  isso  devereis  crer  ,  cue  isto  faço  ; 
porque  as  vossas  idéas  sejáo  difFerentes  das  minhas  i 
e  que   eu  pertenda  censurallas. 

Vós  principiaes  por  me  instruir  na  historia  fa- 
bulosa dç  certas  cabras  ,  citadas  em  o  Diccionario  de 
Trevoux  ,  e  ainda  que  eu  soubesse  esta  historeta  , 
talvez  prim.eiro  que  vós  ,  eu  me  acautellaria  da  fa- 
zer delia  a  menor  applicacâo.  Póde-se  conceder  por 
tanto  cue  as  cabras  ,  pelo  pasto  de  hum  fructo  de 
que  ellas  gostavão  ,  fossem  a  primeira  caUsa  do  seu 
descobrimenro  ^  pois  que  estes  animaes ,  desejosos 
de  hum  fructo,  que  lhes  regalava  o  paladar,  não 
deixarido  todos  os  dias  de  o  procurar  naquelles  lu- 
gares das  mattas ,  para  onde  o  seu  appetite  os  con- 
duzia ,  o  qu«  daria  occasião  ,  a  que  a  curiós idude  aj 
houvesse  de  observar  ,  (e  isto  he  verosimil  )  vendo 
que  ellas  voltavão  saltando  ,  e  alegres  ,  visto  que 
não  podia  deixar  de  ser  assim  ;  pois  tinhão  consegui- 
do ,  o  que  tanto  desejavao  ,  e  que  esta  viagem  era 
para  ellas  huma  alegria.  Mas  que  o  Prior  do  Con- 
vento  quizesse   experimentar  nos  seus  JVlonjes  (que 

vós 


(159) 
VÓS  suppondes  preguiçosos)  a  virtude  que  o  Caf4 
tinha  de  impedir  o  somno  ;  na  veidade  ,  meu  Se^ 
rhor  ,  cousa  alguma  cheira  tanto  a  huma  fabula. 
Ensinai  me  ,  fcu  vos  rogo  ,  o  modo  ,  com  que  elle 
se  promp'ificou  para  conhecer  o  eiíeito  no  ponto» 
em  que  o  dizeis  ,  em  hiun  tempo  ,  em  que  era 
provável   que    elle  o   ignoraria  í 

Achais  o  meu  receio  mal  fundado  ,  quando  af- 
firmo  que  a  abundância  do  Café  lhe  poderia  dimi- 
nuir o  preço»  A  experiência  já  mostiou  o  formal 
desta  resposta.  Quando  vós  tornareis  a  vêr  o  pre- 
ço do  Café  a  20  e  30  soldos  ao  arrátel  ,  como 
«ra  até  aqui  ?  Estou  certo  que  nunca.  Dizei  ,  o 
•que  quizeres ,  sobre  o  objecto  do  commercio.  Es^ 
ta  manufactura  só  he  hura  supplemento  ás  outras: 
por  tanto  vos  concedereis  que  os  mais  considerá- 
veis  acharão   sempre   nelle  sua   conta. 

Dizeis  mais  que  não  he  crivei :  que  o  Café  por 
dez  soldos  não  haja  de  produzir  mais  que  seis  qui- 
te e  livre  I  Em  que  fundaes  este  cálculo ,  que  me 
faz  cahir  em  hyperbole  ?  Dai  huma  pouca  de  at- 
-tençáo  mais ,  se  quizerdes  ,  e  vereis  que  o  vosso 
erro   he   maior   que   o  meu. 

Assentaes ,  como  despeza  da  passagem,  15  sol- 
dos por  200  arráteis  de  Café.  Eníie  tanto\  sabeis 
que  as  nossas  saccas  ,  não  excedem  o  pezo  <^e  cem 
arráteis  5  e  que  muitas  vezes  se  paga  20  solclos  por 
sacca  ,  mas  os  nossos  commissarios  só  o  pagt^o  por 

is: 


C   >6o) 
15:  duas  jornadas   de  cavallo  ,  que   avaJiues  por  trez 
livras  ,  e  seis   soldos.  í^iíiguem  o  acarretará  por  me- 
nos  de    12    livras   por   carga;  ainda  cue   só    segas- 
te  hum    dia. 

Sabeis  que  todos  temos  interpostos  em  as  pla- 
nícies junto  ás  fraldas ,  ou  sobpás  das  montanhas  , 
donde  se  acarreta  aos  embarcadouros  a  hum  sol- 
do por  arrátel  ,  o  que  segundo  a  minha  opinião , 
e  a  de  Bareme  ,  importa  50  livras  por  hum  mi- 
lheiro. Tenho  a  certeza  ,  de  que  os  vizinhos  de  Don- 
don  pagarão  pelo  Café  ,  levado  ao  cabo  ,  a  3  soldos 
por  livra  ,  ainda  antes  de  terem  pago  a  commissão : 
e  assim  ,  sendo  o  Café  por  10  soldos  ,  não  podem 
ter  ,  de  que  vivão  abonados  ,  e  com  que  criem  as 
suas  famílias ,  e  deixem  a  seus  hetdeiros  os  funda- 
mentos de  huma  fortuna  ,  como  he  a  vossa  ex- 
pressão. 

Se  a  raiz  mestra  de  hum  Cafeseiro  for  arruina- 
da ,  quanto  trabalho  não  haveis  de  ter  para  o  fa- 
zer escapar  ?  e  ainda  que  procureis  decotallo  ,  se 
lançarem  alguns  ramos  ,  se  enfraquecerão  á  propor- 
ção do  seu  crescimento  ;  e  haverão  dez  contra  hum 
a  apostar ,  que  elles  morrerão  ao  depois  da  sua  pri- 
meira producção. 

Tendes  a  opinião  que  se  devem  decotar  ,  passa- 
da a  sua  quarta  colheita  ;  a  minha  he  pelo  con- 
trario >  e  vem  a  ser  ,  que 'vós  a  cansareis  ,  a  me- 
lhor ^parte  faltará  ,  e  a  que  prometter  muito ,   fará 


( 1«1 ) 

o  tnesiTio  na  primeira  colheita  ,  sô  vós  haõ  àcaii-' 
trilardes  deixando-lhe  só  a  madeira,  qi:e  convém 
para  que  possa  fructificar  moderadamente.  O  meid 
mais  sólido  ,  ao  meti  parecer  ,  iie  át  O  deixar  so- 
bre pé  taes  ,  quaes  sãò  nò  íémpo  da  sua  esterili- 
dade :  tirai-ihe  Unicamente  a  iDadeira  qlie  vos  pa- 
recer supérflua  ,  cuidai  eiti  c.tie  a  sua  mantença  sô- 
j^  bem   limpa  5  e    tirareis  delle  hum    bom   partido; 

Em  lugar  de  lhe  fazer  caliir  as  flores  ,  &c.  na^ 
da  tenho  ,  que  vos  dizer  :  consulta  as  minhas  Me- 
morias ,  e  nellas  encontrareis ,  o  que  eu  penso  a  es- 
te respeito  :  se  os  vossos  não  fazem  iiiéncão  disto  > 
recorrei    âo   original. 

Tendes  razão  naquellâ  partsí  ,  em  què  dizeis  que 
ráo  são  òs  Cafeseifos  velhos  ,  os  que  produzem  O 
grão  pequeno.'  Eti  o  tenlio  experimentado  poste* 
rTormente  ás  minhas  observações  ,  e  vi  que  excC'- 
dião  muito  ao  dos  nòvbs.  Isto  poderia  ser  attribui* 
do  antes  ás  desordens  das  estações  ,  do  qUe  aõS 
terrenos  ;  porque  isto  íó  acontece  em  certos  tem- 
pos ,  ou   annos. 

Ainda  que  a  a^ua  te  demore  antes  ,  óu  depois 
do  Cafeseiro  plantcdo  ,  a  planta  não  deixará  de  re- 
ceber à  fi  escura  ,  que  eu  sustento  ser-lhe  saudá- 
vel ,  pois  que  esta  mesma  frescura  lhe  impede  o 
de  finar. 

A  respeito  do  que  eu  dissfc  ,  que  se  davão  ví- 
íiniios  ,  que  os  plantão  a  j  e  a  4  pés  de  distancia, 

L  COLl- 


È 


!K 


concluis  dízencío  :  que  a  terra  lhe  hc  ingrata  ,  e , 
para  o  que  aconselhaes  que  se  hajão  de  cortar  na 
altura  de  cinco  pjs  ,  com  bem  repugnância  minha 
sou  obrigado  a  dizer  vos  que  nisto  fareis  huma  gran- 
de ..  .  Estou  certo  que  hum  Cafe.-.eiío  desta  al- 
tura (senão  estiver  em  huma  teria  profunda)  não 
renderá  dous  guinés  successivamente.  Querendo  con- 
sultar o  original  acima  apontado  ,  achareis  hum  pa- 
recer contrario  ao  vosso  ,  apoiado  por  fundamentos 
mui    plausiveis. 

A  razão  ,  que  allegaes  ,  de  abrir  as  covas  a  enxa- 
da em  terrenos  pedregulhosos ,  he  muito  justa.  Fal- 
tar-me-hia  o  bom  senso  ,  se  eu  a  ccndemnasse.  Eu 
só  fiz  esta  advertência  para  aquelles ,  que  indiffe- 
rcntemente  o  plantão  do  raesmQ  modo  em  toda  a 
sorte  de    terrenos  ,  tendo   em   vista  o  riefinar. 

Ora  este  he  o  artigo  ,  no  qual  ,  se  me  não  en- 
gano,  tendes  nnais  prevenção  que  solidez.  Admirai- 
vos  de  me  v<2r  inclinado  a  plantallo  na  estação  dos 
Nortes  ?  Além  de  dar  a  isto  huma  solução  accei- 
tavel  ,  eu  poderia  destruir  a  vossa  opinião  em  hum 
momento,  e,  (por  certo  modo  de  me  exprimir) 
offender-vos  com  as  vossas  próprias  armas.  Pondes 
por  principio ,  que  os  Cafeseiros  ;  plantados  no  fim 
do  anno  ,  tendo  vinre  niezes  ao  tempo  ,  que  flore- 
cem  no  segundo  anno  ,  vem  a  ílorecer  mais  abun- 
dantemente ,  e  que  ,  não  tendo  conseguido  ainda 
toda   a  força  ,    que  só  a  idade   lhe  pód«  dar ,  os 

seus 


C  163  ) 

seus  friictos  não  podem  chegar  aO  ponto  de  má* 
duros.  Por  ventura  jíí  vistes  qlie  a  primeira  eolhci- 
ta  houvesse  de  causar  o  menor  damno  á  arvore  ? 
A  planta  tem  tanto  vigor  nesta  idade ,  e  produz 
tão  pouco  ,  que  ella  he  como  o  loujeiro  na  sua 
verdura  ;  mas  isto  já  lhe  não  acontece  na  segunda 
colheita  ,  em  que  já  o  pé  está  em  toda  a  sua  for- 
ça ,  e  de  tal  sorte  se  carrega  de  frUctOs  ,  que  se  do- 
bra pelo  seu  próprio  pezo  ,  c  se  vé  em  grande 
perigo  de  acabar.  Por  este  motivo  he  ,  que  eu  aconr 
selho  de  o  fazer  parar  á  altura  de  dous  pés  e  meio  , 
ou  de  trex ,  quando  muito  ;  e  dou  para  isSo  huma 
razão  ,  a  qual  se  me  não  engano,  deve  ser  rece- 
bida ,  e  quando  a  vossa  cópia  não  a  tenha  ,  oií 
não  appareça   nella,   recorrereis  ao  original. 

Achaes  qiie  eij  não  penso  justamente  ,  quandíj 
admitto  que  se  plante  ârroi  ,  e  milho  >  entre  ós  ren- 
ques dos  Cafeseiros  ,  ou  avenidas ,  entretanto  que 
^lles  crescem  :  mas  ,  coiii  vosSa  licença  ,  não  se  to- 
jTja  O  sentido  litteral  de  meus  principios  ,  quando 
se  confunde  tudo  juntamente.  Eu  não  creio  que 
haja  hum  só  vizinho  ,  qué  seja  de  Opinião  contra- 
ria á  minha  ,  quando  digo  :  Que  hum  renque  ,  ou 
fileira  de  milho  ,  ou  arroz  *  entre  hum  renque  de 
Cafeseiros  de  seis  pés  de  distancia  ,  não  poderia  preju-^ 
dicar  em  cousa  alguma  aos  Cafeseiros  3  e  qtíe  tam- 
bém não  seja  do  meu  parecer ,  para  tirar  proveito 
«le  huina  terra  inculta ,  que  lhe  custa    muito  máís 

Lu  ft 


C  l<4  )  • 

a  mantençâ  ,  quando  ella  se  acha  descoberta  total- 
mente ,  em  razão  das  más  hervas  ,  que  necessita 
mondar,  do  que  est:ndo  ella  plantada  de  viveres, 
que  produzem  a  abundincia  de  n  antimentos  por 
toda    a   parte  ,  em    que   se  planta. 

Dizeis  que  hum  habitante  ,  que  possuir  6o  qua- 
drados de  terra  ,  tem  onde  trabalhar  cincoenta  an- 
nos.  Recorrei  ao  vosso  desiricto  ,  no  qual  julgo» 
que  não  passão  de  quinze  aquelles  ,  em  que  ahi  se 
cultiva  o  Café  (  cxceptuando-se  os  seus  trez  pri- 
meiros habitadores)  e  onde  ha  muitos,  que  possuem 
cem  quiídrados  ;  e  vendo  as  enormes  derribadas  ,  (]ue 
á  pouco  tempo  fizerão,  me  persuado  que  vos  con- 
vencereis do  vosso  erro.  Todo  o  bairro  de  San- 
ta Susanna  ,  habitado  alguns  annos  antes  ,  cuasi  es- 
tá sem  terra  ,  para  se  cultivar  ;  e  por  isso  ,^bem  lon- 
ge de  as  poderem  deixar  a  seus  Netos  ,  não  as  pos- 
suem ,  para  deixar  seus  próprios  filhos  ,  a  não  sei  em 
ou  cultivados ,  ou   pastos   infecundos. 

Tendo  feito  paiar  os  meus  Cafeseiros  n'altura  , 
que  acima  disse  ,  jamais  colhi  algum  ,  que  fosse  re- 
sequido  ,  ou  escaldado  ,  o  que  prova  ser  bom  este 
methodo  ,  e  que  o  pc  não  produz  maior  quanti- 
dade de  fructo  ,  do  que  aquelle  ,  cue  a  seiba  pode 
alimentar.  logo  que  se  percebe  que  o  Café  se  quer 
escaldar  ,  cortando-se  hum  terço  de  cada  ramo 
atacado  ,  n'hum  momento  se  evita  com  este  remédio 
que    elle   se   seque, 

Jul- 


C  '65  ) 

Julgaes  que  seria  noelhor  empregar  todos  os  pre- 
tos absolucamente  cada  noite  ,  sem  exceptuar  huma 
parte ,  que  iiaja  de  descançar ;  porque  não  reflec- 
tis  sobre  o.iunneio  limitado  ,  que  se  emprega  nisto. 

Também  tendes  outra  contradicção  ,  que  eu  não 
posso  deixar  de  vos  advertif  ,  quando  diieis  que 
íjuaato.  o  Café  melhor  fermenta  ,  tanto  melhor  se 
despega  da  sua  goinma.  Nisto  convenho  comvosco. 
Mas  se  esperardes  para  putro  dia,  para  fazerdes  es- 
ta obra  ,  interrompereis  a  colheita  ,  e  soffrereis  a 
perda  deste  retardamento  ,  e  se  esperardes  até  á 
noite  seguinte  ,  vos  poreis  no  risco  de  vêr  o  vosso. 
Café  escaldado  ,  o  que  o  ennegrecerá  ,  ou  averme- 
lhará  excessivamente, 

O  m.odo  ,  que  praticaes  ,  de  repassar  o  Café  ao  pi- 
lão ,  ao  depois  de  ter  este  adquirido  o  seu  gráo  de 
perfeição  ,  he  bom  ,  e  não  pôde  deixar  de  livrar  o 
Café  da  sua  pellicula  muito  adherente  ,  ou  tenaz, 
^supponhamos  .o  caso)  e  de  lhe  embellezar  a  sua  qua- 
lidade. 

Não  he  fácil  de  se  enteruJefí— A  natureza  se  re- 
gozija ,  nas  suas  producçÔes  j  das  nessas  observações 
exactas.  He  tão  extraordinário  vêr  hum  Cafeseiro 
lançar  muitos  ramos  ,  como  huma  videira  multi- 
plicar os  seus  sarmentos  ,  ao  depois  ds  ser  po^ 
dada. 

Isto  tudo ,  quanto  julgo  ,  he  huma  resposta  ex- 
acta ás  vobsas  observações ,  e  pôde   ser  que   vos  ha- 

jaes 


1:1 


I 


(166) 

jaes  de  queixar  da  liberdade  ,  com  que  a  dou.  Nis- 
to nos  pagamos  mutuamente.  E  quando  assim  o 
queiraes  ,  lançarei  a  boa  parte  todas  as  objecções , 
que  me  po? estes.  Isto  he  tão  verdade  ,  que  já  d'ago- 
ra  me  resolvo  a  convidar-vos  ,  e  a  vossos  amigos  , 
c  á  outros  quaesquer  do  vosso  conhecimento  ,  que 
fizerem  descobrimentos  ,  que  me  queirão  honrar  com 
»  sua  correspondência  ,  c  que  me  bajão  de  avisar  ,  com 
o  protesto  que  eu  os  porei  em  as  minhas  IWemoria$i 
citando  o  nome  de  cada  hum  em  particular  ,  o  que 
poderá  perpetuar  os  seus  nomes  ,  e  lembrança  sem 
iftúita  despeza 


T^nho  a,  honra  di  sôr  com  muita  estimação 


Vosso  ,  êcc. 


29    de  a.; tiib.ro    dv  lyój. 


Assir;nadt>. 


£.     M. 


(  «67) 

MEMORIA 

SOBRE 

C  A°F  É, 

POR  M,  ABBADE  ROSIER. 

(  Díçcj,iinalrs  univend  d'  Agricultura»  Tom.   2, 
pag.   515.) 


N 


§      I.       Jntrodacção, 


Unca  aíltivei  esta  preciosa  arvore  ;  tenho-a 
visto  no  Jardim  Real  ,  mas  não  de  sorte  que  a 
possa  descrever  por  minliâs  próprias  observações  j 
por  cujo  motivo  tomarei  de  diversos  ^âiUthores  t  o 
que  iiouver  de  dizer  ,  dando  a  cada  iium  o  que 
lhe  pertencer  ,  conforme  a  Lei  ,  que  me  tenho  im- 
posto ,  a  qual   já   mais    quebrantarei. 


o 


CAPITULO    I. 

Historia   do   Café» 


Cáfeseiro  ,  segundo  escreve  M.  o  Abbade 
Reynal  na  sua  Historia  Filosophica  ,  e  Politica  dos 
estabelecimentos  dos  Europeos  nas  duas  índias ,  tem 
a  sua  origem  na  Ethiopia  Alta  ,  onde  de  tempo 
immemorial  he  conhecido  ,  e  onde  ainda  proveito- 
samente  se   cultiva.  O    Senhor   La^venee  de  Mezie- 

\-  re , 


C  i6S  ) 

rc  ,  o  Agente  mais  sábio  que  França  mandou  á$ 
índias  ,  possuio  o  seu  fructo  ,  de  cue  usou  muitas 
vezes.  Elle  o  achou  muito  mais  grosso  ,  ak^um  tan- 
to mais  comprido  ,  menos  verde  ,  quasi  com  tanto 
perfiims  ,  como  o  que  se  principiou  a  colher  na 
Arábia   no    fim    do  decimo   quinto  Século. 

•  Commummente  se  crê  que  hum  Mo/Z^ci /cha- 
mado Cltaddy  ,  fora  o  primeiro  Árabe  ,  e)ue  fizera 
uso  do  Café  ,  em  razão  de  se  livrar  de  hum  ador- 
meci r.en  to  continuo  ,  que  o  embaraçava  applicar- 
se  ,  como  convinha  ,  as  suas  orações  nocturnas.  Os 
seus  Dert^iches  o  imitarão.  O  seu  exemp'o  artiahio  as 
outras  pessoas  de  profissão  Religiosa.  Não  se  passou 
muito  tempo  ,  que  senão  conhecesse  que  esta  bebida 
purificava  o  sangue  por  huma  doce  agitação,  cu3 
dissipava  os  pdzos  do  estômago  ;  alegrava  o  espiri- 
to-j  e  a  adoptarão  ainda  aqueíles  ,  que  não  tinli^ó 
precisão  alguma  de  estarem  despertos.  Das  bordas 
do  Mar  Veiinelho  passou  para  Medina  ,  e  Meca  , 
ç   desta  'para   todos    os  Paize<  Mahometanos. 

Nestes  ,  onde  os  costumes  não  sío  tão  livres  , 
eomo  entre  nós  ,  se  pensou  estabelecer  casas  pú.- 
blicas  ,  em  que  se  distribuísse  o  Café.  As  esta- 
belecidas na  Pérsia  ,  passarão  em  pouco  tempo  a 
serem  reputadas  por  infames  j  e  tendo  o  Governo 
cohibido  as  dissoliiçõci  revoltadoras  ,  voltarão  estas 
casas  a  ser  hum  asyllo,  honesto  para  as  pessoas 
iJJiosas ,  e   hum   lugar   de  descanso  para  os  homens 

oc- 


(169) 

occupados.  Elias  erão  o  lugar  ,»íPM  .ponto  dç  uní^^ 
CíTi  que  os  poii^Jcos  se  ajuntavão,  para  se  divertir 
reiíj  com  as  novidades.  Nelias  reçitavão  os  Poetas 
os  seus  versos ;  e  os  Mí^llac/is  os.  :,mW:  ^^rmôftftiiÍL 
Estes  acontecimentos  não.forão  tão  pacíficos 
em  Constantinopla.  Apenas  se  abrirão  nesta  Çida* 
.de  , estas  casas  públicas.  Ioga  se^çoncorreo.a-elJas 
com  furor.  0.'G.overnQ  ,  p^las  representações  do -IVlur 
phti  ,  ou  Supremo  Ministro  da  Religião  ,  as  m^nr 
dou  fechar ,  e  passou  a  vedar  o  uso  desta  bebida 
até  no  interior  das  casas  particulares.  Mas  hum^  i^- 
içiinação  decidida  poç  .esta  bebida,  a  fej  triumphar 
,dç  todas,  estas  severidsdes  ;  poryqu^ntp  se  continuou 
a  bebsr,,  e  os  próprios  lugares  i  em  que,  antes  se 
4istribuia,  dentro  em  [pouco  tempo  ?  se  aphárão  ciom 
putfo  jfaip^o  numera  de  conctirrentfi; ^  ■çom^  f^  pW*^T 

fipi0.'.*;í     c?,  ';      ■  .  -     -.-j    :..'-.    ^^^  l^ndoA 

,  No  iTxeip  do  Seçulo  passado  ,  o  Grão  Visif 
Koproli  foi  disfarçado  a's  principaes  casas, do  Café 
des  Constantinopla  ,  onde  encontrou  hum  sem  nú- 
mero dc;  :pes.^ajs  queixosas  ,e  pouco  s*tisfeit^lná% 
governo  ,  pe.la,  persuasão  ,  em  que  estãp  ,  dç.  gUA 
os  negociou  .  de  cada  hum  e n^ .  t^^ íiçu Ur  , ,  são  ' .o.5 
ç[ue.o  deyem  interessar ,je  pôr  is-so  se  queixavap  eoiil 
cftor  ,,  e  cens.uraylo  com  hum  excessivo  ati;0,y|m«n- 
to  a  conducta  dos  Generaes  ,  e  dos  Ministros.  Des» 
t^s  botequins  .se  passou  para  as  bodegas  ,  e  taber- 
nas, eii^.qa^,.  :se, vendia  o  vinho  ,  e^s  encpntrãU;  ata^v 
-t>-  ca- 


(  170) 
odâs  de  {Tesíoas  áJmples  ,  e  pela  maior  parte  solda» 
dós ,  os  quaes  acostumados   a  respeitar  os  interesses 
do   Estado  i  como   próprios  do  Príncipe  ,  que  elles 
adorãb   em  silencio  ,  os  encontrou    cantando  aieare- 
iftehtfe  ;  fàllando  dor  seus  amores  ,  e  das  suas  expe- 
dições militares.  Ficou  altamente  persuadido  que  es- 
tás ultimai  sociedades   merecião  ser    toleradas    pelo 
go^eftto  5    poVs  hão  tinhao   inconveniente  algum  ;  c 
que  as  primeií^à^   erão  muito   perigosas  em  hum  Es- 
tado dispotico  ;  e  por  isso    as  Supprimio  ,  e  ninguwn 
afo  depois   se  aniiiiou  a   reestabeleceilas. 
1-"  iPréeísariíeiíte    neste    mesmo    tempo  ,    que    em 
Gò^i^stânt inópia  sé  formarão  os    botequins  do  Ckfé  , 
èé  abrirão   òs   dé  Lòndrôs.    Introduz io- se  esCâ  nòvi' 
dádè^m    íóji  >  por  hum    Mercador  ,  apouco  che- 
cado de  huma  viagem  de  Levante  ,  chamado  Eduard. 
Achou-se   que  erão   conformes    ao  gosto    Inglei  ,  e 
lt>dà^  íft  NàçÔes  da   Europa  o  imitarão  ,  ou  adopta- 
rão  aó   depois. 

'-i  M-.  AlibJet  i  á  quem  devemos  â  Historia  das 
jvfantas  da  Guiana  Franceza  em  4  vol.  em  4.°  não 
Stíticoiúd  neste  liltimò  ponto  com  o  A'hbade  Rày- 
tíàl  "Affirma  have/em  provas  v  que  ,  -no  Reinado  de 
Liiií  XIIÍ.  ,  se  vefidia  debaixo  do  Chatfeièt  de  Sares, 
a   bebida  do  Café   com   o  noitie  deCá/iovt',  ou  C*a- 

-^-  '  Paffece'*;  diz  'iVT;  Ai)bTet";~^íjQe'b  "primeiro   pc 

dteC^fé  j  tíultivaJo  em  a  Horta  >  ou  Jardim  Re;il  , 

■''  fo- 


Cl70 

fora  trazido  por  M.  Rèssons  i  Qffitkl  da  Artilheri», 
mas  tendo  morrido  ,  M.  Pànchras. ,  Eurgmestre  é' 
Amsierdaiii  ,  enviou  liuma  planta  a  Luiz  XiV.,  a 
qual  foi  entregue  ,  e  tratada  no  Jardim  Real  -das 
plantas  de  Paris.  He  intere sísanté  a  sua  Historia  , 
por  ter  sido  o  Pai  das  primeiras  plailtaçõesíde  GaV 
fc   nas  nossas  Ilhas  da  :  America.  .     r    .- 

Em  1716,  as  íioi/as^plantas  ,  crioulas  dós  grábs 
deste  pé,  forão  confiadas  a  M.  Isembejg  :  Medico  1 
para  as  haver  de  condiizir  ,  e  levar  ás  nossas  Coló- 
nias d'America  ;  mas  ,  mortendo  este  Médico  i  pouco 
tempo  ao  depoi-s  da  sua  chegada  >  se  malogrou  esr 
ta  tentativa.  Deve-se  a  M.  Declieux  formalla  no- 
vamente em  1720  ,  concebendo  o  projecto  de  en- 
riquecer com  esta.  cultura  a  Martinica.  Aos  seus  cui- 
dados se  est^,  responsável  do  exitO;  feliz  ,  que  te^t 
esta  segunda  cuiprezai  Este  atil  Cidadão  ,  sendo  n&s^- 
te  tempo  Capirao.de  Infanteria  ,e  Alferes  do  Na- 
vio j  tendo  tonseguldo  ,  por  iTiediaÇ'ã0  de  M-  Gihiraç^ 
Medico  i  hUma  nova  muda  de  Gafe  ,  laascido  do  grão 
do  Cafeséiro  j,  manda;do  por  M.  Parieras  5  e,  conser-' 
vado  no  Jardim  R.eHl  *  a  embarcou  comsigo  para 
a  Martinica*  '  No  decurso  da  viagem  pelo  mar  j  a 
provisão  da  agua'  veio  a  sér  escassa  no  seu  navio, 
mas  elle  geherxjáammtè  xepártia;  com  o  seu;  peque- 
no arbusto  a  mesquinha  ração  ,  que  recebia  ,  para 
apagar  a  sua  sede  ,  e  ,  mediante  este  generoso  sacri- 
fício ,  cons&guio  salvar  o  precioso  depósito  ,<de  que 


(   «72  ) 
estava  encarregado.  Esta  muda  estava  excessivairwn- 
te  enfraquecida   ,    e   não   tinha   maior    íírossura    que 
huma  mergulhia   de  cravo.  Tendo  chegado   á  minl>a 
casa  .  (diz  M.  Declieux)  a  primeira  lembrança  ,  que 
tive   ,    foi     de   plantalla    com   todo   o  cuidado    em 
>hum    lugar  do   meu   Jardim  ,  que    fosse   tnajy^favo-» 
rave!  ao   seu   crescimento..  Sem   embargo   de    a  tet^ 
plantado   em  parte  ,  que  .a,podesse  vêr  ,  e  vigiar  con- 
tinuamente ,íTiuitàs  vezes  desconfiei   que   ma  furta- 
váo  ,  de  maneira  -que   fui   obrigado  a   cercalja  de  es-r 
>pin-hos  ,  e    de   l-he    pôr   huma    sentinella  ,  que   a  es- 
preitasse ate   á  m.idureza  das  sementes.  (*)  O  êxito 
coroou  as    minhas-  esperanças  :  colhi   quasi    dous  ar* 
rateis  de:  grãos ,  que' reparti   com  todas   as  pessoas  j 
ds   que    fiz   conceito  ,  que   serião  capazes  de  appli- 
car  os  cuidados    necessários    para   se  pro<;peT3r  a  pro-» 
p^nração  desta.. planta..;  A  primeira-^colíisita  foi  <ibim- 
ctantissimiii'à^  segunda   pôz    no  estado   de   se   poJer 
«steiider   prodigiosamente    esta  cultura.    Mas  a  acci- 
derjte  ,  ^ue  concorreo   para  a  favorecer   singularmen- 
.  tí^^fi^Toi"  o    arraigamento    de   todos  .  os   Cacaoseiros 
do   Paiz    peia   maTs- horrorosa  das    tempestades  ,  (^u« 
os  .destiuio    radicalmente.  As    ciitraS'  Ilhas  ,  como  a 
d-;  S\  Domingos  ,  de  Guadalupe  ,  e  adjacentes  ,  são  res- 
poírt?avei^  ,  e  devedoras  á   de  Maitinica:  das  soas;  plan^ 

• •   ^^^  ^^ " Í2ÍL, 

(*)  O   A:tthor  falia    das    senuntes  pvtjmiihs    pela 
plaaía. 


Pouco  depois  desta  época  (1719)  se  introduziò 
«sta  planta  em  Cayenna.  Hum  desertor  desta  Coló- 
nia ,  doendo- se  de  ter  trocado  a  sua  existência,  pe- 
la dos  estabelecimentos  Hollandezes  de  Guièna , 
desejando  voltar  aos  seus  compatriotas  ,  e^creveo  de^ 
Surinam  que  se  o  quizessem  acceitar  ,  e  perdoar  a 
sua  deserção,  traria  comsigo  grãos  de  Café  ,  capa- 
les  de  germinarem  ,^^ezar  das  rigorosas:  penas  ful- 
minadas ,  contra  os  que  houvessem  de  as  levar  pa- 
ra fora  daquella  Colónia,  Tendo-se  annuido  á  sua 
proposição  ,  aportou  a  Cayenna  com  sementes  fres- 
cas ,  que  entregou  a  M.  -Albon  ,  Commissario  In- 
tendente da  Marinha  ,  que  se  encarregou  de  as  plan-; 
tar.  Os  seus  disvéljos  forão  premiados  por  hum  bom 
successo.  Os  fructos  ,  qvq  estes  arbustos  produzirão  i 
se  espalharão  pelos  fazendeiros  ,  e  moradores ,  e  ,  den- 
tro em  pouco  tempo  ,  houve  huma  multiplicacãsf 
grandiosa. 

A  companhia  das  índias  ,  estabelecida  em  Paris  , 
mandou  em  1717  á  Ilha  de  Bourbon  por  M.  Fou- 
geret  Gremer  ,  Capitão  do  Navio  de  S.  Maló  ,  al- 
gumas plantas  de  Café  Moka^  que  forão  remetti- 
das  a  M.  des  Forges  Boucher ,  Tenente  Rei  des- 
ta Ilha.  Julga-se  que  destas  mudas  só  existia  hu- 
ma em  1720  ,  cujo  prcducto  foi  neste  anno  tão 
grande  ,  que  ,  neste  mesmo  anno  ,  se  semearão  1 5 
mil.  Em  hum  dos  volumes  da  Academia  das  Scien- 
cias   de  Paris  j  se  lê  o  facto  seguinte.  Os  moradoreís 

da 


Ci74) 
da  Ilha  de  Bourbon  ,  tendo  visto  em  hum  navÍD 
Francez  ,  que  voltava  de  Moka  ,  ramos  dos  Cafesei- 
ros  carregados  de  folhas  ,  e  de  fructos  ,  se  lembra- 
rão logo  que  tjnhao  nas  suas  montanhas  arvores  se- 
melhantes ,  e  tendo  hido  buscar  os  seus  ramos ,  para 
os  conferirem  ,  á  vista  de  huns ,  e  outros  fez  ex- 
acta a  comparação.  A  differença  ,  cue  encontrárã<* 
unicamente,  foi,  ser  o  Café  da  Ilha  de  Bourbon 
mais  comprido  ,  mais  niiudo  ,  e  mais  verde  que  a 
da  Arábia.  Isto  prova  o  damno  ,  que  causa  a  falta 
de  luzes  ,  que  vai  buscar  mais  longe  ,  e  com  gran- 
des despezas  o  que  está  ao  redor  de  nós  ,  e  que 
pizamos    aos   pcs. 

Quanto  não  seria  estimável  que ,  os  que  nos 
precederão ,  tivessem  conservado  os  nomes  de  todos 
aquelles  ,  que  enriquecerão  a  sua  pátria  com  plantas 
úteis.  Estes  nomes  serião  muito  mais  respeitados,  pe- 
los que  sabem  dar  o  verdadeiro  valor  ás  cousas  ,  que 
os  dos  Conquistadores ,  que  ar;yinão ,  devastjío  ,  e 
açsolão  o  mundo. 


CAJ 


E 


C  >7Í  ) 

CAPITULO     II. 

Descripção  do  Café   pelo   Senhor 
Jiissieu. 


Sta  arvore  ,  que  justamente  se  pode  chamar 
Jasmin  d'  Arábia  com  folhas  coino  as  do  loureiro, 
a  cuja  semente  damos  o  nome  de  Café  ,  he  deno- 
minada por  Von  Linne  (ÇofFea  Arábiga)  Cafeseira 
da  Arábia  ,  arranjando-a  na  classe  quinta  (  Pentan*- 
dria)  ordem  primeira  (.monogtfnld),  EJIa  produz  os 
seus  ramos  de  espaços  em  espaços  por  todo  o  com- 
primento do  seu  trohço  ,  sempre  oppostos ,  e  de  dons 
em  dous  ,  dispostos  de  maneira  que  hum  par  eri>> 
cruza  o  outro.  São  simples ,  arredondados  ,  nodosos 
por  intervallos  ,  cobertos  ,  do  mesmo  modo  que  o 
tronco  ,  de  huma  casca  esbranquiçada  ,  mui  fina  ,  que 
abre,  quando  se  secça.  O  lenho  he  hum  tanto  ri -f 
jo  ,  e  adocicado  ao  paladar.  Os  ramos  inferiores  de 
ordinário  são  simples  ,  e  se  estendem  mais  horisonr 
talmente  que  os  superiores  ,  que  terminão  o  tron^- 
CO  ,  os  quaes  se  dividem  em  outros  m.enores ,  ou 
mais  miúdos  ,  que  sahem  das  axillas  das  folhas  ,e 
guardão  a  mesma  ordem  ,  que  os  do  tronco.  Huns 
€  outros  são  abasteeido? ,  e  vestidos  de  folhas  intei^ 
ras  ,  sem  dentaduras  ,  nem  chanfros  nos  seus  con- 
tornos ,  agudas  nas  duas  extremidades  ,  oppostas  duas 
a  duas ,  e  se  asseraelhãg  á^  folhas  do  loureiro  or* 

di- 


m 


Cl76) 

dinarío  I  com  a  difFerença  de  serem  menos  seccas , 
menos  espessas  ,  ordinariamente  mais  largas  ,  mais 
pontudas  na  sua  extremidade  j  são  de  hum  verde 
gaio  ,  lustrosas  por  cima  ,  verde  pállido  por  baixo. 
Da  axilla  ,  ou  encontro  da  maior  parte  das 
folhas  nascem  as  flores  ,  ate  o  número  de  cinco  , 
sostidas  cada  huma  por  hum  pedúnculo  curto.  Sío 
totalmente  brancas  ,  de  hum  só  petnio  ,  quasi  do 
mesmo  tamanho  ,  e  fii;Ura  das  do  Jasirrn  a  Kespa- 
nha  ,  menos  em  ter  o  seu  tubo  mais  curto  ,  as 
suas  divisões  ,  cu  cortaduras  mais  estreitas  ,  e  acom- 
panhadas de  cinco  eUames  brancos  ,  com  as  su^ 
midades  ,  ou  antheras  amarelJadas  ,  em  vez  ,  que 
os  Jasmins  só  tem  dous.  Estes  estames  sobrepojãa 
o  tubo  da  sua  flor  ,  e  rodeão  hum  estilo  esgalha- 
do I  ou  aforquiihado  ,  que  nasce  em  C''ma  de  liuiw 
embrião  ,  ou  pistiljo  ,  posto  no  fundo  do  Calis  ver- 
de ,  que  tem  quatro  pontas ,  duas  grandes  ,  duas  pe- 
quenas ,  dispostaá  alternativamente.  Estas  flores  du- 
rão muit»  pouco  tempo  ,  e  tem  hum  cheiro  bran- 
do )  e  agradável.  O  embrião  ,  ou  novo  fructo  ,  que 
se  faz  quasi  do  tamanho,  e  figura  de  huma  cereja, 
se  termina  com  hum  embigo  ,  no  principio  he 
de  hum  verde  claro  ,  ao  depois  avermelhado  ,  na 
continuação  de  hum  bello  vermelho  ,  e  ultimamen- 
te na  sua  u?tima  madureza  de  hum  roxo  denegri- 
do. A  polpa  he  barrosa  ,  de  hum  sabor  desagra- 
dável ,    que  SC   muda  paia    o  dos  abrunlios   negros 

sec- 


C   177  ) 

*cccos  ,  qnari(^o  se  secca  ,  e  a  grandeza  deste  fruc* 
to  então  pode  ser  regiilada  pelo  tamanho  das  ba* 
«^as  dos  Icurtiios.  Esta  polpa  serve  de  coberta  a  duas 
dcjgadas  ,  ovaes  estreitamente  unidas  ,  abauladas  pe- 
las, costas,  planas  pelo  lado  ,  que  se  ajuntáo  ,  de  hu- 
ma  còr  branca  amaiellada,  e  que  cada  huma  con- 
tém huma  semente  dura  ,  e,  por  assim  dizer ,  oval 
abobada  pelas  costas ,  chata  do  lado  opposto  ,  ca- 
vada no  meio  ,  e ,  por  todo  o  comprimento  deste 
mesmo  lado  com   hum   rego   assas  profundo. 

Em  Eatavia  ,  e  n' Arábia  esta  arvore  cresce  mui- 
to ,  e  o  seu  tronco  he  sempre  delgado  ,  guardada 
á  proporção  com  a  sua  cultura.  Em  todo  o  decur- 
so do  anno  se  conserva  ornado  de  flores  j  e  de  fru* 
çtos. 

CAPITULO    III. 


Da   sua   cuharct* 

i  Ublícou-se  em  1775  huma  carta  sobre  a  cuí* 
tura  do  Cafeseiro  ,  dirigida  a  M.  Le  Monier  ,  mas 
sem  nome  de  Auíhor.  Desta  obra  tíasladaremos  o 
resumo  ,  que  agora  himos   a    dar. 

Na  ilha  de  Bourbon  por  muito  teiripó  se  usois 
aproveitarem-sè  para  plantas  das  novas  mudas  ,  nas- 
cidas das  sementes  ,  que  eahião  na  terra  ,  em  torno 
dos  Gafeseiros.  Ora  isto  ,  he  hum  abuso  5  por  quan» 
to  ã  experiência  Um  mostrado  que  estas  mudas  se 
M  d«. 


(  T78  -"^ 
defínão   por   multo  tempo    r.o  depois  de   transplani 
tadoâ-. 

Devem-se  fazer  as  sementeiras  em  campo  li- 
vre  ,  tendo-re  dado  á  terra  ,  que  se  lhe  destina  , 
toda  a  Javoura  ,  e  adubado  não  com  estrume  , 
mas  com  o  húmus  vegetal.  E.te  campo  deve  ser 
repartido  em  taboieiros  ,  ou  cantei. os  em  que  se 
tenhão  aberto  re-os  de  meia  pollegada  de  pioiun. 
deza,   e   espacejados  de    scre  a  oito. 

Lance-se  nestes  regos  o  fructo  cstonado  da  sua 
casca  ,  de  fora,  cr  não  ca  inte:icr  couriacea.  Apai- 
te-se  cada  grão  dos  qife  ihe  ficarem  visJnhos  trej 
pciiegadas  de  distancia ,  e  se  cubrão  de  terra.  Hr 
k:;i:>o  importante  cue  se  escoihão  grãos  bem  ma- 
duros ,  e  novos.  Desde  çue  ficarem  seccos  ,  não  i>as* 
ceráo  mais. 

Pí«a  se  lhe  tirar  a  polpa  os  negros  convales- 
centes ,  ou  enfermos,  passão  hum  c/lindro  de  pão 
per  cima  da  cereja  quando  está  vermelha.  Este  es- 
Jnaga  a  polpa,  e  liie  separa  o  grão.  Os  cue  se  qui- 
zerem  planfar  ,  não  devem  ficar  amontoados  por 
muito  tempo  :  a  polpa  fermentaria  ,  c  a  fermenta- 
ção  arruinaria  o  gérmen.  Em  quanto  o  grão  se  des- 
poja da  sua  polpa  ,  se  póem  em  «  cinza  ,  que  se 
ape^a  á  cobeua  da  fava  pelo  intermédio  do  sueca 
vhco^o  ,  fornecido  pela  polpa  ,  e  esta  cinza  imp«. 
de  .  çue  os  grãos  se  peguem  huns  aos  outros  ,  o 
^iUC   laciijta  as  se;neaduras, .. 

AI- 


Alguns  cultivadores  pensarão  que  era  iTelhOT 
j^hintar  os  grãos  inteiros,  quero  dizer,  com  a  siiíí 
polpa.  A  polpa  ,  seccandio-se  na  terra  ,  embaraça  ó 
desenvolvimento  do  gérmen.  Ordinariamente  aconte-» 
ce  ,  qut  huma  das  duas  sementes  contidas  na  cober- 
ta ,  ou  casca  commum  brota  antes  da  outra.  As  suas 
folhas  seminaes  estão  inclusas  na  segunda  coberta ^ 
ou  couriacea  ,  que  he  particular  a  cada  grão.  O  troq- 
eosinho  ,  que  acaba  de  nascer  ,  ou  grelo  traz  com- 
si^i;,o  esta  casca  interior  com  as  folhas  ,  e  lança  é 
mesmo  grão  fora  da  terra.  Mas  como  a  casca  com- 
mum particular  a  cada  grãd,  se  contém  na  cober- 
ta commum  aos  dous  grãos  ,  de  três  cousas  neces- 
sariamente resulta  huma  ,  ou  que  o  tronco  tenro 
da  planta  não  tenha  bastante  força  para  levantar  o 
pezo  do  segundo  grão  ,  e  da  polpa  independente  dá 
terra  que  os  cobre  ,  e  neste  caso  morre  a  planta  5 
ou  ainda  se  hum  vento  forte  agita  esta  massa  sem 
abrigo ,  quebra  também  a  haste  ainda  tenra  ;  final- 
mente ,  se  o  segundo  grão  ,  cuja  germinação  oii 
desembrulhamento  foi  serôdio  ,  for  lançado  sobre 
sí  terra  ,  se  dessecara'  ,  e  morrerá  pela  acção  do  vee- 
to  ,  e  do  Soí.  ' 

A  melhor  ,  e  mais  proveitosa  estação  pára  fa^ 
2er  as  semeaduras  ,  he  a  dos  mezes  de  Março  ,  Abrif, 
Maio  ,  e  Junho  5  porque  as  plantas  ,  que  neile?  nas- 
cerem ,  não  tem  que  sofFrer ,  senão  o  calor  do  Sol 
de  inverno  destes   Paizcs :   e  são  por  consequência 


C  i2o  ) 

]ú  iriii  fortes.  Guando  entrarem  a  sentir  os  calores 
do  Estio.  Entretanto  as  plantas  ,  que  nascem  cm  De- 
zembro ,  e  Janeiro  ,  estão  expostas  aos  calores  mais 
fortes  dcí^de  o  momento ,  cm  que  nascem  ,  o  qus 
causa   a    morte   a   muitos. 

Ke  muito  essencial  haver  cuidado  em  os  mon- 
dar de  toda  a  herva  bravia.  Convún  arrancalJcs  coin 
hum  picão  ,  e  não  a  enxada  ,  porque  a  pouca  dis- 
tancia entre  os  raios,  n^:©  peimitte  este  género  de 
trabalho. 

As  semeaduras  de  Cafc  devem  ser  rerada?  , 
não  só  para  as  defender  â:j.s  seccas ,  mas  tambent 
para  Jhe  apressar  a  vegetação.  As  rer^as  da  tarde  são 
melhores ,  que  as  da  manhã  ,  e  das  cuq  se  fazem 
no  crescimento  do  dia.  Estando  se  perto  de  al.-um 
rio  ,  se  lhe  pôde  fazer  corrsr  junto  as  platabandas, 
que  neste  caso  se  devem  fazer  muito  estreitas  pa- 
ra que  possão  seV  humedecidas  inteiramente  pela 
agua  corrente.  Para  se  poderem  regar  por  irrigação, 
se  dispóe  os  caminhos  mais  altos  que  ella  ,  e  se  lhes 
faz  correr  a  agua  dentro  ,  ou  também  se  Icvantad 
as  bordas  aos  quadrados  ,  e  se  inunda  tudo  abso- 
lutamente ,  acautellando  em  arnbos  os  casos  que  a$ 
plantas  não  fiquem  submergidas.  O  terceiro  modo 
de  as  regar  consiste  eiíi  dispor  os  canteiros  de  ma- 
neira que  fiquem  mais  elevados  que  os  caminiios  , 
que  os  dividem.  Guia-se  a  agua  corrente  pelo  pri- 
meiro caminho ,  em  cuja  extieaiidude  se  pòem  ai- 


c  isi  :> 

jwnna  terrn  para  fazer  preza  da  agua.  Os  rapazes  en- 
trão  neste  caminho  ,  e  com  cuias  a  espalháo  sobra 
os  canteiros  para  ambos  os  lados  á  direita  ,  e  á  es- 
querda ,  ate  que  fiquem  bem  humedecidas.  Os  dous 
primeivos  meios  sSo  os  mais  promptos  ,  e  os  mais 
fáceis  ,  mas  não  tão  vantajosos  como  o  terceiro. 
Se  o  terreno  do  Cafesal  for  mui  húmido  ,  a  plan- 
ta se  fará  amarella  ,  a  sua  vegetação  vagarosa,  e  se 
jnhab ilibará  para   a  transplantação. 

Qisasi  sempre  acontece  que  os  cultivadores  tem 
precisão  de  mudas  para  acabarem  de  encher  as  suas 
tiansplantaçoes.  Esta  falta  retarda  os  seus  trabalhosj 
e  recua  a  sua  colheita.  Conhecem-se  os  inconve- 
nientes de  as  hirem  buscar  longe  ,  e  da  mudança 
da  terra.  He  por  tanto  muito  melhor  ter  milhares 
ÀQ  plantas  de  mais  em  os  viveiros ,  do  que  passar  pe-, 
la   falta  de  não   as   ter» 

Convém  que  todos  os  annos  se  facão  semea- 
duras para  que  possão  supprir  ,  os  que  houverem  de 
morrer  ,  ou  pelos  raios  ardentes  do  Sol  ,  ou  pelas 
seccas  ,  ou  pelos  bichos  ,  os  cupis  assas  conhecido? 
e-n  as  nossas  Ilhas  ,  e  as  aranhas  ,  que  bastantes  ve- 
zes destroem  as  arvores  mais  vigorosas  ,  e  robiístas 
nos  Cafesaes  ,  mas  sobretudo  nos  primeiros  annòs 
em   que   se  mudão. 

As  semeaduras  produzem  algumas  vezes  varie- 
dades ,  e  destas  podem  resultar  algumas  descobertas. 
Os  dous  pequenos   Cafés  ,  confandidos   em  Eourboii 

de- 


f    T?0 

debaixo  dos  nomes  d'JJo,i ,  dVilcn  ,  ou  d'  Oadsn  , 
cuja  qualidade  he  tão  superior  ,  nada  mais  são  cuo 
variedades  ,  produzidas  pela  cultura  verosimilmente. 
Qjerendo-se  multiplicar  as  variedad.^s  ,  que  se  po- 
dem  conseguir  por  este  meio  ,  he  preciso  enxer- 
tallos. 

A  alguns  annos  tem.  apuarecido  hutn  escarave» 
lho  negro  ,  que  róe  as  folhas  dos  Cafeseiros.  Deve* 
se  temer  tsít  insecto  mais  nos  viveiros  que  nos  Ga^ 
fesaes  formados.  Temos  fundamento  para  crer,  cue 
elle  veio  trazido  ào  Cabo  da  Eoa  Esperança.  Os 
Hcllandezes  póem  de  tarde  por  baixo  das  arvores 
cartuxos  de  papej  ,  ou  de  folhas  ,  nos  quaes  estes 
insectos  em  montões  se  vão  aninhar  de  noite.  Ti- 
rão se  €s  cartuxos  de  manhã  cedo,  e  se  destroem 
toJos  os  escaravelhos  que  elles  contém.  Póde-se 
ajuntar  3  este  methodo  o  de  sacudir  as  arvores ; 
çom  esta   successão   cahem    por    terra  ,  e  se  matão. 

Ainda  ha  outro  insecto  branco  ,  que .  nomeião 
piolho  em  a  Ilha  de  Franca  ,  e  accommette  aos  ra- 
mos das  folhas  ,  e  ainda  as  raízes  dos  Ca''eseiros  ; 
e  os  faz  adoecer  ,  c  só  ;»ão  vistos  em  os  viveiros  , 
ou  semeaduras,  que  são  feitos  em  terrenos  seccos 
e  áridos.  Mas  regando-se  estes  continuadamente  des- 
apparecein. 

Tem  se  procurado  estabelecer  Cafesaes  ,  plan** 

'  tando   os    grãos    nos  campos.    Este    meio   não   pôde 

ser    proveitoso  sç  não  ncs  paizes  chuvosos.  Todavia 


como  os  Cafcs  ,  que  não  íorao  mucíacíos  ,  ccn^ervno  a 
rãh  principal  ,  ou  mestra  ,  ellss  resistem  melhor  aos 
furacvões  ,  e  tempestades. 

Ou  se  plante  o  Cafc  em  grío  para  permane- 
cer no  lugar  em  c;ue  se  planta  ,  ou  para  se  mu- 
dar somente  ,  convém  culíivar-se  o  milho  no  mesmo 
Juwar  ,  e  os  pequenos  legumes  ,  apartando  a  hum 
das  plantas,  e  derramando  outros  para  não  trepa- 
rem por  elles.  Isto  mesmo  só  se  deverá  fazer  nos 
primeiros  dous  annos  ,  e  depois  destes  senão  deve 
culiivar  cousa  alguma  totalmente  entre  os  Cafesei- 
ros.  As  ervilhas  do  Cabo,  sáo  sujeitas  aos  piolhos , 
e  os  communicáo  ás  arvores.  A  mesma  amhravada  , 
certo  arbusto  leguminoso,  que  se  estima  muito  em 
Bourbon  ,  he  também  sujeito  ao  piolho  ,  e  esta  se- 
rá a  razão  porque  nesta  Ilha  abrii>;ando-se  os  novos 
Cafeseiros  com  esta  planta  ,  tenhão  03.  seus  culti- 
vadores perdido  os  seus  Gafesaes  por  causa  destes 
insectos. 

A  estação  ,  ou  tempo  melhor  ,  e  mais  vantajo- 
so pára.  se  mudarem  os  Cafeseiros  ,  he  o-,  meies  de 
Junho  ,  Julho  ,  Agosto  ,  porque^  neste  tempo  tem 
menos  seiba  ,  e  he  c  tempo  mais  fiio  do  ar.no  , 
cue  se  tem  nestes  climas.  Havendo  nos  viveiros  hu- 
ma  quantidade  superabundante  de  mudas  ,  se  pode- 
ria tentar  a  sua  transplantação  nos  m^e-zes  chuvosos  , 
quero   dizer  ,  em  Janeiro  ,    Fevereiro,  e  Março. 

Pão-se   dous    modos   geraes  de   se    transplantar 

©3 


os  Cafefjeiros  ;  In7m   que  he   o  mais   seçrijro  ,  e  mais 
proveito«;o  ,  mas   o  mais    lon-o  ,  e  trabalhoso    he    o 
de   transplanfallo   com  o  torrão.  He   o    mais    se?uro 
porque   todas   as    plantas    pegão    geralmente    ,    e    he 
mais    proveitoso    por  duas    razoes.     Primeiro    precisa 
hiima   muito   menor  quintidade    de  plantas;  porque 
são  menos   sujeitas   a   morrer.   Segiwóo   não  soffrein 
transplantações  ,    e   por  consequência    a    sua  vegeta- 
ção  não   se  aíTròxa.     Para   este   methodo    se  servem 
de  hum  desplantador  ,   que  arranca  facihnente  a  pían- 
ta  com   o  seu    torrão  ,  ou   céspedes  ,    e    se   corra    a 
ponta    da    raiz     principal    ,     qunndo   e^ta    sobrepoja. 
r>Iistura-se-Ii,e   húmus,  ou   a  melhor  terra    dos  arre- 
dores ,  de  que  se  tiiou  ,  na  cova  ,  em   que   se  ha  de 
plantar  ,  e    se  enche.   Se    a  terra  do  inear  ,  em    cue 
ss  semea  ,   for    muito  secca  ,  se   re-a  algum    tempo 
antes  do  momento   da   transplantação. 

O  se?;undo  methodo  consiste  em  arrancar  as 
plantas  a  nú  ,  isto  he  ,  sem  ter  o  cuidado  de  con- 
servar a  terra  da  raiz  ,  ou  o  torrão  ;  mas  antes  de 
tratar  esta  transplantação  ,  convém  fallar  do  terre- 
no  p-op  io   pa^a    hum    Gafe^^al. 

A<5  terras  fortes  pantanosas  ,  marno^ns  ,  ari^ilo- 
sas  ,  devem  ser  rejeitadas.  Os  Cafeseiíos  -ostão  das 
terras  soltas  ,  pedregosas  ,  pedras  ,  e  grande  calor. 
Se  são  vistos  mais  vigorosos  ,  e  prosperão  melhor 
nos  destri:tOí  chuvosos,  i:ão  proGJ7em  cem  a  van- 
tagem da  quantidade,  nem  da  cuul:dade    sobretudo, 

As 


c  1?? :) 

A?  terras  vermelhas  em  a  II lia   de  França  ,  mistura- 
das de  pedras  ,  e  de  grossas  pedras   são  em  geral  as 
iTiais   pmprias   para    a  plantação   dos   Cafesaes.    Nos 
destrictos  estes   não  vegecão   também   nas  terras  que 
são  vermelhas  ,  francas  ,  e  profundas  :  seccão-se  prom- 
ptamente    Nos  destrictos  porém  chuvosos  ,  vem  mui- 
to bem   nesta    mesma   qualidade  de  terras.   As  terras 
negras   que  cob  em  a  argilla  a  três   ou    quatro  pol- 
legadas  de    profundeza  ,  não   convém  aos  Cafeseiros, 
Alguns  particulares  formão  os  seus  Cafesaes  em 
pequenas  porções  nomeio   das  florestas  ,•  ou  matas  ; 
e    se  tem   reflectido    Gue     os    Cafeseiros     postos   ao 
lon2;o   das  arvores  ,  abrigados  do  Sol  nascente  ,  e  dos 
ventos  geraes  ,  nascião  mais    promptamente  ,  e  erao 
inelhores    que  os  outros.  Esta  belleza    he  iliusoria  : 
produzem  menos  ,  e  seus  fructos  são   de  huma   qua- 
lidade  muito   mais   inferior.    Os   Cafeseiros   querem 
Sol  e  ar  ,  e  sem   estes   não   dao  colheitas  abundan- 
tes ,  e  os  seus   fructos    não   são    perfumados.    í?eria 
muito  melhor   dar  aos   campos  dos   Cafés  ,  nos  des- 
trictos  seccos  ,  a  figura  de   hum   parallalegramo   es- 
treito  alongado  ,  encerrado  em   a   mata  ,   de  manei- 
ra  que   podesse    apresentar  os  grandes   lados    a  lestei 
e    que   a  sua  correnteza  fosse  de  Norte  a    Sul.  Se- 
ria  necessário   que   se   fizessem   de   cento   em   cento 
e  sincoenta  varas  ,   alleas  ,     ou   avenida?  ,    direitas  , 
]ar$^3s  ,     que  partissem   o    parallelogramo  em   outros 
niuitos  ,  e  que  atíavessasseiu  as  duas  extremas,  ou 

ou- 


C  iS6  ) 
ourelas   dns  matas   opposras  ,  e  ainda  a  mesma  plan- 
tação. Para   evitar  em    parte   os  eífeitos   do   Norte, 
c  do  Sul  ,  c.i:e   enfiarião  tod«  a  plantação  ,  seria  cx- 
ceJlente  plantar  arvores   ou   alinhadas  ,  ou  em  e«:ta- 
cadas   em   todas  estas  allcas  ,  que  hcariio  com    i:to 
ellas   mesmas    fazendo    hum    belio   ponto  de    visM  , 
«  hun)    objecto   de   formosura  ,  e  de  u: ilicijde  ,    co- 
mo a  man.^iueira  ,    o  páo   preto  ,  o   margoz^iro  ,  o 
Iila   da   China   o  badoneiro  ,  e   sobre    tudo  nos  des- 
tficios   chuvosos  ,  a  canneiieira  de  CoMchinchma  ^;ue 
cncrarião    a   dar    abrigo   desde   o    quinto  ,     sexto  ,    e 
sétimo   anno.    As    allcas    procurão   huma    correnteza 
de  ar  livre  ,  favorável    á   vegetação  ;  os  movinjentos 
deste    ar    são   moderados     nos   tem.pos    tempestivos  ; 
em   fim   ellas   facilirão   a  exportação   dos  i>uctos  nos 
tempos    de  cclheira. 

Nos  destfictos  chuvosos  se  faria  melhor  dar 
maior  largura  ao  parallelog«-amo  ,  e  apartar  a  alieai 
entre  si.  Ordinariamente  se  vem  os  Cafeseiros  ve- 
getarem com  muito  vicio  ,  e  vi^^or  ,  e  de  repente 
morrerem  como  aííV^ados  pela  nimia  abundância 
da  seiba.  As  sangrias  feitas  ao  Sol  se  fizem  mais 
ou  menos    indispensáveis. 

He  opinião  s^cr.d  nas  Ilhas  de  Bourbon  ,  cue 
se  devem  plantar  os  Cafeeiros  cm  7  pcs  e  meio 
de  diitancia  para  todos  os  lados,  mas  todavia  es- 
ta di-r;.,KÍa  deve  estar  s;íbordinaJa  á  nati-rez-i  do 
terreno  ,  e  á  força  ,   que-   dl^   dá    á   vci;etação. 

A 


c  1^7 :) 

A  trat5sp]antação  ,  ou  muJa  requer  quasi  as 
niesma:?  cautellas  em  todos  os  destrictos  ,  e  são 
mais  necessárias  nos  destrictos  seccos  ,  que  nos  hú- 
midos ,  ou    chuvosos. 

Podem  principiar  ,  se  for  possivel  ,  pela  pre- 
paração antecedente  das  covas  destinadas  a  recebe- 
rem as  mudas.  A  influencia  do  ar  melhorará  mui- 
to as  terras  dos  fundos  das  covas.  Nos  destrictos 
seccos  requerem  que  se  aproveitem  os  dias^  chu- 
vosos para  as  abrirem  ;  e  devem  ser  mais  estreiras 
que  nos  húmidos  ,  pois  que  nestes  as  arvores  se 
fazem  mais  vigorosas.  Nas  terras  novamente  derri- 
badas as  covas  devem  ser  muito  m.aiores  ;  porcus 
se  achão  cheias  de  grossas ,  de  miúdas  raizes  de  ar- 
vores ,  que  se  precisão  tirar.  Estas  servem  de  pas- 
to aos  bchos  brancos,  que  ao  depois  passão  a  des- 
truir os  Cafeseiros  ,  e  principahnente  a  raiz  mes- 
tra ,  ou  perpendicular   totalmente  ,  e  fazem.-nos  mor^ 

rer. 

Advertio-se  ,  que  estes  bichos  brancos  accom- 
mettião  por  preferencia  os  Tacamakeiros  ,  e  as  Pal- 
meiras. Deve-se  por  tanto  ter  grande  cuidado  em 
queimar  as  hastes  destas  duas  arvores  ,  e  também 
03  seus  troncos.  Quando  se  alimpar  a  derribada 
{goivarar  a  rossa  no  BrazU)  se  lembrem  de  arri- 
mar a  lenha  ,  ou  fazer  a  fogueira  junto  a  duas  aos 
troncos  destas   arvores   para   as    queimirr. 

He  muito  necessária  ,    e   importante  à  escolha 

das 


ié^^^tH^^^^^I^^ 


\ 


d^'  P.anu,  F,ra  se  f„er  a  tran,plantac3o.  AI^,,n, 
juigao,  ^„e  a.çue  tiverem  cinco  ou  .ei,  polle.a- 
das  de  grandeza  .  devem  ser  preferidas,  flla,  a  ex- 
rer.encia  ,em  ..estrado  ,  <;ue  as  n.ais  fortes  são 
'"a.s  bem  succed.das.  As  mudas  de  dois  para  tre, 
'"■'^os  S.O  muito  meiiiores  para  a  transplantação 
n>as   esta    seria    lcn«  .  e  dispendiosa.  ' 

iJáo-se  tre,   precauções  ,  que    se   fa,em    preci-o 
tomar    quando   se  transplantJo  por  serem  essenciaes 
A    I.  he  arrancar   as  pl.ntas     con,  a   maior     porção 
de  raízes,  que   for    possivel.   A  II.    de   cortar   arai. 
•neutra    embico    de    flauta    (bumcó.te    obliquo) 
no  lugar  em  que  se   bouver    de  pinntar  .    e  icual- 
n^ente   o   topo  .  ou  cabeça    de  planta.     Esta  ukima 
operação  náo    be   adoptada    em    todas   as    Colónias, 
e   ellas  padecem  o  pre;uizo.    A   111.    ao   deoois  de 
se  haverem   cortado  as  duas   extremidades    da   pliri- 
«a  se  .ntrodurirá   na  cova  .  e  se  lhe   lançará   a  ter- 
ra    pouco    a   pouco    .    „áo     a   que     se    tiver    tirado 
quando  se  abrio  a  cova  ,  mas   a   que    se   acha   pela 
v.smhança  da,  covas   na  sua    superfície   por  ser   esta 
^  H^elbor  ,  e  se   calcar.í'    brandamente    com   a   mão 
na  cova,  e  apertará  as    nizes    á. proporção  ,  que  lhe 
ior  lançando   dentro   a   terra  ,  tendo   cuiJ,,do    ,    qr^ 
elh,  fiquem  bem    estendidas  .  e  acautellar-se   de  cue 
na-o  fiquem   enfeixadas,  cu  em   n.oibos  ,  nem    aper- 
tadas  com   a  raiz    p:inc:pal.    Farão    mni.o.  bem  ,  s- 
.^.st»r.re,n    esta   terra    com    aj.u;»   bu:nus  ve-^etal  . 

OU  cinza.  >    "    ., 

Se 


C  iS9  ) 

Se  immediataineiue  ao  depois  da  transplanta- 
ção sobrevem  hum  Sol  ardente ,  que  dure  por 
ir.uitos  dias  ,  se  deve  ,  ao  menos  huma  vez  ,  fazeir 
fegar    as  plantas. 

Os   cuidados  ,    que  requerem   os   Cafeseiros    ao 
depois  de  plantados    até    o  tempo  da  sua    colheita  r 
consistem  principalmente  em  manter  o  terreno  bem 
mondado  ,  sobre   tudo ,  ao   redor     das  plantas  ,    ou 
pés    de   Cafés.     Fazem  se    amarejlos  >  e  adoentados  , 
Jogo    que    são   opprimidos  pelas   hetvas  bravias/  Or- 
dinariamente praticão   queimar   as  hervas  ,  ao  depois: 
de    arrancadas  ,   porque   se    tem    conhecido  ,  que   el- 
las   brotavão   qtiasi  todas   no  terreno  ,    em    que     se 
deixão  espalhadas  ,  quando    chove.  He  mais  vantajo- 
so  aproveitallas    estendendo- as   pelos    pés  de  Cafés  , 
para  adubar  lhe    a    terra  *,  por  este    meio  não  nasce- 
rão outrss    por   muito   tempo   debaixo     das    que  ahí 
estiverem   amontoadas  ,  mas   será  preciso  que  formem 
huma  camada     bas-antcmente     grossa.    Além    deste 
proveito  se  dará  outro  ,  que   he  ter   menos  que  fa- 
yer   na    segunda    íavra ,  ou  arrendadura  ,    que    nesse 
tempo   não   he   tão    urgente   ,    nem   tão  essência!  , 
como  era  a   primeira.  Com    tanto,  que   os  Cafesei- 
ros novos    se   não   opprimão  ,    ou  aífoguem   ,    uaá 
deve   desassocegar-se     com    as   hervas  bravias  ,     que 
houverem    de    nascer   pelos  intervallos   deixados   en- 
tre   huns  ,  e  outros.    Haja    de  se  espalhar   pelos  pés 
dos  Cafeseiros   todas  as  produccóes ,  que  se  houve* 

rem 


C  190  ) 

fem   de  cultivar    nos    Cafesaes    do   mesmo    modo, 
que    as  bravias. 

Sempre  qi,e  ,q  alimpar  ,  o»  mondar  o  terre- 
no ,  se  Iiajão  de  airancar  as  hervas  bravias  án.aoj 
o  que  he  melhor  do  que  coin  a  enxada  ,  que  cor- 
taria as  raizes  capiiiares,  ou  barbalhos  ,  que  brotáo 
da-aarganta  da  planta  ,  ao  menos  em  quanto  as 
plantas  não  estiverem  bem  pegadas  ,  e  bem  enraU 
gaJas. 

As  argijlas,  os  depósitos,  cu  nateiros,  que 
os  rios  deixão,  são  os  melhores  adubos  para  os  . 
destrictos  seccos.  Nestes  mesmos  destrictos  se  de- 
vem destriiir  todas  as  ramns  gommeleiras ,  e  la- 
droes ;  porque  deilnío ,  e  esfajmão  os  bons  ramos. 
Nos  terrenos  húmidos  porem  estes  d.^mnos  não  de* 
vem    causar    tanto    iv.cáo. 

Quando  se  encontrarem  peias  arvores  ramoí 
paras itos  ,  mortos  ,  ou  verdes  meio  quebrados  ,  se 
cortarão  pela  parte  sã  ,  ou  viva  ,  e  se  \hQ  poiá 
cm   cima   da   chaga   barro   humedecido. 

Logo  que  as  foJhas  de  qualquer  Cafe^eiro  en- 
trarem a  fazerem-se  amarellas  ,  será  isto  hum  si- 
nal ,  de  que  está  doente.  Prccisa-se  neste  caso  ca- 
var a  terra  em  roda  ao  pc  da  arvore  ,  e  indagar  ; 
se  as  raizes  ,  e  sobretudo  ,  se  a  principal .  que  se 
crava  pela  terra  ,  e  que  se  lhe  deixou  .  se  acaso 
está  accommettjda  por  algum  bicho.  Algumas  veze» 
as  raizes   são    devoradas  pelos  piolhos  brancos  (ca- 


C  Í9I  ) 

fis  no  Briix.il)  ,  os  t]uaes  se  matao  esfregando  S 
patte  tocada  ,  ou  oílendida.  Assim  neste  easo  ,  co- 
mo no  primeiro  ccnvcm  mudar  a  maior  parte  da 
tena  ,  c]ue  rodeia  o  Cafeseiro  ,  e  de  se  lhe  subs:i- 
luir  terra  nova  ,  misturada  com  cinza  ,  e  com  o 
httmtis  ,  ou  terra  vegetal  :  e  finalmente  regar  imme- 
diatamente   o  terrena,  estando  seeco. 

Se  esíe  meio ,  cii  remédio  não  aproveitar  a 
planta  adoentada,  será  mister,  que  se  decote,  ou 
pôde.  Fazendo-se  isto  rebentará  em  novos  ramos  9 
e  aa  depois  que  elles  estiverem  íirm.es  ,  se  corta» 
ráo  todos  ,  deixando  somente  o  que  for  ír-ais  vi- 
goroso ,  ou  forte  ;  todavia  não  se  precisa  todos  no 
ínesmo  dia  ,  mas  progressivamente  interpollando  mui- 
tos dias  entre  o  corte  d®  huns  ,  e  de  cutrcs.  Se  es- 
íe  decote  ,  ou  poda  não  for  bem  succedido  ,  entáoí 
se  está  na  figura  de  arrancalio  ,  de  fa^er  huma  no- 
va cova  maior,  e  mais  psofunda  ,  que  a  primeira  * 
e  tirar  fora  toda  a  terra  5  de  deixar  fínaímenfe  a 
cova  exposta  ao  Sol  ,  e  á  chuva  por  muitos  me2es. 
Vendo'Se  cupis  peios  ramos  ,  folhas  ,  e  fruc» 
tos  dos  Cafeseiros  ,  se  deve  suspeitar  que  as  suss 
folhas  estaráõ  também  accommettidas  por  elles  ;  e 
por  isso  se  deve  cavar  os  pés  ,  e  !ançar-se  nelles 
ínuita  cinza  ,  e  terra  vegetal  ,  ou  húmus,  e  se  es- 
fregarão com    lodo,  como   se  disse  acimav 

Algumas   vezes  são   os  Cafeseiros  investidos  por 
iiuma   moléstia  singular.  As  foiisas ,   ramos  ,  e  aígcí,- 


(   190 

mas  veíss  os  irennos  fructos  ?e  cobrem  de  huíri 
matéria  negra,  que  se  coallia  ,  c  dessecca.  A  cnq- 
poração  da  sciba  se  intercepta  por  esta  causa.  As 
arvores  idosas  são  mais  sujeitas  a  esta  moléstia  cu^ 
as  novas  ,  mas  nsm  per  isso  elJa  he  muito  preju- 
dicial. 

Na  Ilha  de  Bourbon  ,  e  também   na   de  Franca, 
costumão   não    levantarem   as  arvores  r^ue  os  furacões 
revirão  :  contentío  se   em  calçar   precipitadamente  as 
raizes  ,    c]ue    ficarão    descobertas  ,    ou    desenterradas. 
Estas  arvores   levantão   gommelleiras  ou   rebentões  , 
<5ue   se   leva   a  prumo.  Peixão-se   prosperar  hum  ou 
dous   destes  ramos  ,  e  se  cortão  os  outros,  A  maior 
parte   destas    arvores  ,    ainda  que  sejão   bem   calca-, 
das   as    suas    raizes.  Sobrevindo  hum  novo    furacão  , 
o   Cafesal   se  perderá    inteiramente.    Sempre   será  o 
melhor    methodo    levantar  as   que    estiverem   revira- 
das ,  e  de  as  calcar  escrupulosamente  as  que  esti\e- 
lem    ainda   fixas   sobre    o    seu    pé  ,    e   não  de  todo 
arrancadas    tanto  que   passar  o  furacão  de  vento,  ou 
o  temporal. 

Tem  prevalecido  o  u<^o  de  a?  chapotar  ,  oa 
aparar  as  francas  ,  passados  três  annos  da  sua  trans- 
plantação ,  para  cue  os  seus  ramos  lo;  ge  de  cres- 
cerem para  o  alto  ,  hajão  de  fa2er  maior  copa  pa- 
ra os  lados  ,  ficando  deste  modo  a  colheita  das  se- 
mentes muito  mais  fácil.  Mas  não  ba«;ta  fazer-re 
esta  operação  huma  só   vez.    Tendo-se    cortado    a 

»um- 


C  m  ) 

sumidailc  do  tronco  ,  ou  lança  que  sobe  perpenáí- 
Gularmente  ,  rebentão  sem  demora  dous  garfos  ,  ou 
lançamentos  direitos  por  cima  dos  dous  ultimoi 
ramos  lateraes  que  se  deixarão.  Estes  dous  novos 
lançamentos  formão  duas  hasteas  ,  ou  dous  no- 
vos troncos  ,  e  estes  pela  continuação  do  tempo 
sobem  ,  e  chegão  a  huma  grande  altura  3  de  sor- 
te que  impossibilitão  poder-se  apanhar  á  mão  Oí 
fructos ,  que  nascem  nos  ramos  do  topo  »  ou  su- 
midade. Também  seria  preciso  tornar  a  decotar  es- 
tes dous  lançamentos,  ou  garfos »  e  por  que  elles, 
devem  ser  annualmente  substituidos  por  outros  ,  que 
igualmente  rebentarão  todos  os  annos  ,  se  deveráó 
cortar  ,  para  que  se  haja  de  ter  a  arvore  sempre 
na  mesma  altura  ,  como  se  pratica  nas  seves  ,  ou 
cercas  vivas  ,  que  se  vêm  obrigados  z  dcootalías  « 
c  chapotallas  ,  para  se  conservarem  no  mesmo  nivel, 
O  melhor  tempo  ,  para  esta  poda  ,  ou  decotamento 
he  pelo  mez  de  Maio ,  ou  Junho  ;  parque  neste 
tempo    geralmente   tem   os  Gafeseiros  menos  seiba* 

Não  se  duvida,  que  a  arvore,  que  se  deixas* 
se  cresceç  á  sua  vontad® ,  daria  fructos  de  melhor 
qualidade  ,  que  a  arvore  podada  ,  ou  chapotada  5 
mas  estas  ficão  menos  expostas  ,  a  serem  aballadas, 
c  desarraigadas  pelos  furacões  ,  e  tempestades  ,  e  st 
sua  colheita  se  facilita  muito  mais.  As  arvores 
abandonadas   a  si  mesmas   são   mais   lampas. 

Voltando   a  si  os  Gafeseiros ,  se  trouxerem  rs*^ 
N  mn 


m 


C  '94  ) 

mos  petísccros  ,  ou  mortos ,  e  derem  poocos  frwr 
ctos  ,  será  então  preciso  decotaHos  totalmente  o 
mais  rente  da  terra  ,  que  se  poder  ,  pelos  mezes  de 
Junho.  Julho,  e  Agosto,  e  ao  mesmo  tempo  la- 
vrar-Ihe  os  pcs  ,  e  chegar-lfres  algum  estrume.  Es- 
tas arvores  podem  dar  boas  colheitas  por  quasi  qua- 
renta annos. 

A  colheira   indemnisa  o  cultivador  de  todas  as 
suas   despezas;  e    trabalhos,  e   os  cuidados  ,  que  el- 
Ia  requer  ,  se  redui  unicamente  a  colher  o  grão  em 
o  estado    de  perfeita   madureza   ,    o   que  se  conhe- 
ce  pela  côr    acerejada.    Estando   este   de   hum  ver- 
melho   saturado  ,    e   que     começa     a    denecrrir-se   , 
então    he    o  tempo   de   o  colherem.    Todavia    nãc 
seguem  esta  marcha  ;  porque  colhem-no  muito  mal, 
misturando   o  grão  maduro  ,   com  o  que  não  o  está. 
O  methodo  de  dessecar  as  cerejas  não  he  me- 
nos   importante.    Nas   nossas  Colónias   se   contentão 
com  as  seccarem  ao  ar  ,    e  ao  Sol  ;    em  alguma» 
se  bate  ,  ou  calca  a  terra    com  manguacs ,    e  nesta 
superfície  ,  ou  área   se  espalhão   todas  as  cerejas   do 
Café;  outros  poíém   Jhe   ianção    alguma     cinza;    c 
também   as  estendem  sobre   a   relva.    Muitas    vezes 
a   terra  communica  ao  grão   hum    cheiro   desagradá- 
vel.  Os  Colonos  ,  que   tem   po»ses  ,  ladrilhuo  o  seu 
pavimento  ,   dando-lhe   algum  declive  ,    ou   inclina- 
ção' para  o  escoo   das  aguas.  Deve-se   preferir   a  to- 
dos este   methodo. 

Es- 


(   '95  5 

Estcnde-se  o  Cafc  na  área  ,  oU  terreiro  tocíaí 
ns  maníiãs ,  e  se  se  amontoa,  cobre-se  com  estei- 
ras feitas  de  folhas  de  palmeira  para  o  abrigar  , 
durante  a  noite  das  chuvas  ,  que  lhe  retardão  a 
dessecação.  Este  uso  tem  hum  graUde  incOnveniert- 
tc.  O  Café  cm  monte  fermenta ,  a  sua  dessecação 
he  mais  morosa  ,  e  deteriora  a  qualidade  ,  o«  bon- 
dade do  grão.  Seria  muito  melhor  i  sobretudo  nds 
destrictos  seccos  ,  deixar  úi  ^rlos  espaíbadoj  na  área. 
Cobiillos  de  esteiras  de  noite  ;  e  de  dia  ,  se  sobre- 
vier a  chuva.  Cuide-sê  em  lhe  passar  o  rodo  pelo 
Café  amontoado  ,  para  que  os  grãos  fiquem  expos- 
tos revésadamente  ,  ou  a  Seu  turno  ao  SoL  Mas 
de  todos  Os  methodos  t  o  que  parece  nnerecef  a 
preferencia  ,  he  o  de  dessecar  a  cereja  em  «stufa. 
Este  dessecamento  he  mais  seguro  ,  mais  pfdtnpto  0 
e  mais  completo.  A  estufa  não  dévír  ser  tso  vas- 
ta ,  como  se  pensará  ;  pjoi-que  O' Café  dé  fiirhtiâ  plaií» 
tacão   não   se  recolhe    todo  de    humá   vêz* 

Estando  o  grão  seeco ,  precisa  estonalío  ,  ou 
descascallo.  Dãò-sé  muitos  meios  pára  isto.  Kuns  ó 
pilão  á  força  de  braços  em  hum  pilão  de  madei- 
ra*: a  mãò  d' ottra  hé  comprida,  e  custosa,  e  6 
Café  fica  sujeito  á  ser  ésihagado  :  outras  se  sèrvétn 
de  engenhos  de  vento  ,  ou  de  agua.  Estes  ultimof 
são  os  mdhôreí  ,  e  que  sé  devem  preferir  por  cau- 
sa da  sua  continuidade  ,  è  dá  igualdade  do  moví- 
Rtenta.  Ten4o-se-lhe  tirado  a  polpa  ,  se  levãõ  af 
N  il  #f^ 


(  190 

íenientes ,  e  se  põe  a  seccar  ao  Sol  :  despojão-je 
da  sua  coberta  membranosa  interior  ,  soccando  se  ,  e 
finalmente   se  joeirão. 

Feita  esta  operação  ,  ainda  he  mister  seccar-se 
o  Café  ,  para  o  ensaccar.  Para  isto  he  a  estufa  ex- 
cellente.  Seccando-se  a  ar  livre  ,  a  operação  he  maii 
dilatada  ,  e  mais  casual.  Dão-se  Grangeiros  ,  ou  culti- 
vadores, que  não  applicão  tantos  cuidados  ,  e  cau- 
tellas  ,  e  por  isso  contrahe  hum  cheiro  ,  que  lhe 
diminue  a  qualidade.  Deve-se  expor  ao  ar  ao  sahir 
da  estufa ,  e   ao  depois  ensaccallo. 

CAPITULO    IV. 


A 


I>as  suas  proprleiadet» 


S  sementes  são  sem  cheiro  ,  de  hum  sabor 
ligeiramente  amargo  ,  e  aae  ;  estando  ustuladas ,  ad- 
quirem hum  leve  cheiro  empyreumatico  ,  hum  sa- 
bor amargo  ,  e  mediocremente  acre.  O  Café  favo- 
rece a  digestão  ,  aquece  ,  augmenta  o  curso  das  ou- 
finas ,  aparta  o  somno  ,  pacifica  a  embriaguez  pe- 
los espíritos ,  excita  algumas  vezes  o  fluxo  mens- 
trual ,  suspendido  pela  impressão  dos  corpos  frios  » 
tende  a  diminuir  o  excesso  da  gordura  :  he  preju- 
dicial aos  temperamentos  sanguincos  biliosos  ,  as 
crianças  ,  e  as  mulheres  ,  se  são  propensas  a  mo- 
léstias convulsivas.  O  Café  convém  nas  mojcstias  de 

ffi- 


C  «»7  ■) 

fraqaeia  aos  temperamentos  pitiiitojos »  ^s  pessoa* 
sedentárias  phlenmaticas  ,  cujo  estômago  conserva 
os  alimentos  por  muito  tempo  com  sentimento  de 
pezo  em  a  região  epigastrica  :  allivia  sensivelmen- 
te na  hcmierania  5  e  nas  moléstias  de  cabeça  ,  cau- 
isadas  pelas  más  digestões.  O  Café  com  creme  he 
prejudicial  ás  mulheres  ,  por  lhes  oceasionar  perdas 
-brancas.  Louva-se  muito  as  lawg-ens  ,  ou  cristeis  de 
Café  nas  apoplexias. 

Diíferentes  Authores  declamarão  vivamente  con- 
tra o  uso  do  Café  ,  outros  pelo  contrario  se  esfor- 
çarão com  a  m-esma  vivacidade  na  sua  defeza.  Re- 
sultou desta  grande  discussão  ter  cada  partido  ra- 
zão ,  o  que  se  poderia  muito  bem  evitar  »  se  an- 
tes tivessem  concordado  no  modo  de  o  fazer  »  na 
quantidade  de  Café  prejudicial  ,  ou  útil  ,  e  final- 
mente na  natureza  dos  temperamentos,  a  <|ue  po- 
dia convir.  O  gosto  ^eral  se  decidio  actualmente 
íi  favor  por  esta  bebida.  Beve-se  recear  ,  que  do 
mesmo  modo  se  venha  fixar  pela  do  chá  ,  muito 
mais   periííosa  ainda   pelas  suas  consequências. 

O  Café  mtiJto  ustulado  esquenta  muito  ,  e  se 
faz  alkalino :  o  liquor  he  acre  ,  e  não  tem  perfu- 
me ;  quando  está  no  ponto  conveniente  ,  o  seu 
óleo  essencial  fica  conservado  ,  e  o  seu  cozimento 
goza   do   perfume ,  e   he   menos   calefaciente^ 

Os  apaixonados  pelo  Cs  fé  tem  a  seu  turno 
excitado  esta  questão  ,  se  deve  ser  ustulado  em  hum 

moi- 


(   198  ) 

moinho  ,  ou  ein  hiima  panella  de  harro  vidraáà. 
He  sabido  ,  que  o  moinho  ataca  o  óleo  essencial, 
wnica  parte  aromática  do  Café  ao  ponto  de  pare- 
cer ,  que  o  moinho  se  cobre  de  huma  substancia  , 
que  se  assemelha  por  seu  polido  ,  e  por  seu  lustre 
á  huma  camada  de  verniz  negro  da  Ch)na  Ka  pa- 
nella ,  peio  contrario  ,  o  ar  da  atmosphera  ,  achan- 
do-se  frio  ,  impede  a  evaporação  deste  oleo  essen- 
cial. Hum  moinho  novo  dá  por  alguns  dias  hum 
gosto  desagradável!  ao  Cafc  ,  o  que  não  acontece 
ao  depois.  Cada  hum  tem  seu  methodo  particular 
na  preparação  desta  bebida.  Este  he  ,  o  que  sigo  ,  ao 
depois  de  ter  executado  todas  as  experiências  pos- 
síveis. 

Eu  parti  deste  principio  universalmente  reco- 
nhecido :  quanto  mais  o  Cafc  he  secco  ,  tanto  se 
conserva  por  mais  tempo  ,  e  tanto  melhor  se  faz. 
A  razão  he  simples.  A  dessicação  lhe  faz  evapo- 
rar a  agua  da  vegetação  contida  em  a  seiba  Quan- 
to mais  novo  chega  o  Cafc  na  Europa  ,  tanto  he  elle 
mais  verde  ,  e  tanto  mais  abundante  o  grão  d'a?ua 
da  vegetação.  Por  tanto  ,  ustujlando-o  ,  he  preciso 
imitar  o  procedimento  da  natureza.  Eu  prefiro  o 
moinho  para  o  ustular  j  poique  o  executa  mais 
igualmente  ,  e  a  operação  he  menos  trabalhosa  que 
na  panella.  O  moinho  interiormente  e<nÁ  bem  en- 
costiado  de  verniz,  de  que  acima  falíamos,  e  ao 
depois    serve  por  muito   tempo.   Lança-se   no  forno 


C  199  ) 

cp-iatro  ou  cinco  brazas  ,  quando  muito,  põe  se  o 
inoinho  ,  e  o  domestico  o  volta  sem  cessar.  He 
preciso  conservar  o  fogo  ,  sem  augmentallo  ,  e  esta 
operação  deve  gastar  ,  pelo  menos  ,  huma  boa  hora. 
O  primeiro  cheiro,  que  se  evapora  pelas  juntas  da 
ma  pequena  porta  ,  ainda  que  fechada  he  ,  singiílar. 
Eu  o  não  poderia  definir  :  parece  ao  das  violetas. 
Seri  talvez  próprio  tão  somente  da  casca  ,  que 
sofFre  a  primeira  acção  do  calor  ?  He  constante  que 
clle  não  pôde  ser  do  óleo  essencial  ,  do  oleo  aro- 
mático do  grão;  porque  he  preciso  hum  gráo  de 
calor  mais  forte  ,  para  o  desenvolver.  Pouco  depois 
lhe  succede  hum  cheiro  desagradável  ,  a  este  ,  outro 
fastidioso  ,  finalmente  a  este  ultimo  cheiro  succede 
o  do  Café  queimado.  Assim  que  se  percebe  este  p 
se  tira  o  moinho  do  forno  ,  e  depois  de  lhe  haver 
aberto  a  porta  ,  se  examina  ,  se  a  côr  do  Café  sç 
approxima  á  do  Tabaco  ,  chamada  dos  Capuchi- 
nhos. Do  principio  da  operação  até  este  momento 
requer  que  ,  sem  cessar  ,  se  volte  a  manive'la  ,  e  se 
conserve  hum  fogo  igual  ,  e  brando.  Se  o  grão  se 
não  tiver  ustulado  »  se  repete  o  pôr  o  moinho  no 
fogo  ,  e  ,  huma  vez  por  outra  ,  se  examina  pela  por- 
ta ,  se  acaso  tem  chegado  ao  ponto  ,  que  se  quer. 
Tendo-se  chegado  a  clle  ,  convém  trazer  o 
moinho  a  huma  meza  de  mármore  ,  ou  de  pedra  • 
c  abrir~lhe  a  porta  ,  despejai  Io  ,  e  fazer  isto  de 
ir-odo  I  que  os  grãos  se  não  toquem.  Funda-se  es- 
ta 


C    2C0    ) 

ta  prática  ,  em  que  o  toque  do  corpo  frio  ,  coma 
o  mármore  ,  a  pedra  ,  &c.  esbulha  o  Café  de  hu- 
ma  parte  do  seu  calor  ;  e  por  outro  lado  o  ar  frio 
da  atmoiphera  trabalha  sobre  o  Cafc  ,  e  o  frio  do 
^r  ,  e  da  pedra  ,  em  cujo  meio  o  [;rão  se  acha  ,  im- 
pede a  evaporar?©  do  oleo  essencial.  Rstando  per- 
feitamente frio  ,  he  necessário  guardalio  em  hum 
vaso  í  que  se    feche  exactamente    pela    sua  tampa. 

Muita»;  pessoas  tem  o  máo  costume  de  o  aflfo- 
gar  com  hum  guardanapo  ,  ou  com  papel  ,  d^c.  Não  he 
possível  recorrer-se  a  expedientes  mais  defeituosos. 
Dever-se-hia  attender  que  este  guardanapo  ,  e  este  pa- 
pe! ,  ao  depois  de  terem  privado  o  Cafc  da  sua  subs- 
tancia oleosa  ,  que  verdadeiramente  he  o  seu  oleo  es- 
sencial ,  fica  elle  de  nenhum  valor  ,  e  ,  por  conse- 
<?uencia  ,  o  mesmo  acontecerá  d  sua  bebida.  Scpuin- 
do-se  porém  o  procedimento  ,  que  eu  indico  ,  se 
verá  ,  que  cada  crão  pnrece  estar  ,  por  assim  dizer  . 
envernísado,  E  este  vern/s  he  o  oleo  essencial ,  que  lhe 
íica  pegado  por  eima.  Os  que  gostão  de  Cafc  ,  o  de- 
vem  ustullâr   todos  os  dias. 

A  maneira  de  preparar  a  bebida  existe  também 
algumas  advertências.  Fazer  o  Cafc  á  Gre^a  lie  o 
Jrjelhor  de  todos  os  methodos  ,  a  saber  ,  pôr  em 
huma  manga  hum  pouco  cbra  2  cunntidade  de  Ca- 
fé ,  que  se  julgar  necessária  ,  redu7Ída  em  pó  ,  e 
lançar  lhe  por  cima  a  porção  de  anua  quente  ne- 
cessária, deixar  repousar  tudo,  e  servir-se  delle  bem 

quen- 


(  201  V 
quente.  NSÍo  se  tènd®  manga  ou  coador »  quando  a 
agua  ferver  na  cafeteira  ,  se   Ili£  lança  o  pó  ,  inexe- 
se   com   huma   colher  ,  e  se  deixa  assentar  junto  ao 
fogo  ,  e   se  tira  ,  o  que  esta  claro. 

Seguindo-se  exactamente  ,  o  que  acato  de  di- 
zer ,  se  verá  soKr' aguar  pela  superfície  do  liquor 
o  óleo  ,  e  o  Café  ficará  aromatisado.  Quando  se 
faz  ferver  o  Café  ,  o  óleo  essencial  se  evapora  ,  e 
que  será  consequentemente  ,  quando  se  ustullar  o 
grão  a  hum  fogo  quente  ?  O  Café  muito  queima- 
do tem  hum  gosto  amargoso  forte  ,  e  esquenta  ex- 
traordinariamente. 

Nas  casas  grandes  ,  onde  costumão  clarificallo 
com  colla  de  peixe  ,  o  Hquor  na  verdade  fica  mais 
agradável  avista,  mas  esta  colla  ,  unindo-se  ao  óleo 
essencial,  o  appropria  a  si,  e  despoja  delle  o  Ca- 
fé. Entre  tanto  he  a  única  parte  aromática  ,  e  agra- 
dável. 

O  Café  em  grão  he  capaz  ,  ou  susceptível  de 
se  embeber  do  cheiro  de  todos  os  corpos  ,  cue  o  ro-~ 
deão  ,  e  a  humidade  também  lhe  he  perniciosíssi- 
ma ,  e  o  melhor  modo  de  o  conservar  he  guardai  lo, 
pendurado  em  hum  sacco  ,  n'  algum  celleiro  ,  ou 
em  outro  qualquer  lugar  ,  onde  haja  buma  boa  cor- 
renteza  de  ar. 

Fiz  muitíssimas  experiências  ,  para  tirar  do  Ca- 
fé I)um  certo  gosto  ,  vulgarmente  chamado  maru- 
jsiáo  ,  ou  marulho.  De  tedos  somente  hum   me  sor- 

tjo 


sortio  bem.  Este  foi  de  o  lançar  cm  agoa  ferven- 
do por  alguns  minutos  ,  despejailo  ,  e  expor  este 
grão  a  hum  Sol  forte  ,  ou  em  huma  estufa  ,  o 
que  he  ainda  muito  melhor:  finalmente  o  deve  con- 
servar ,  ou  guardar ,  como  disse.  Este  mesmo  proce^ 
dimento  he  útil  para  os  Cafés  verdes. 


ME- 


(  *oj  ) 


Mcthodo  de  se  tirar  o  máo  cheiro  ,  c  des« 

agradável  sabor  do  Café,  importado 

da  Jamaica. 


m 


Ttluseum   Rusticum  ,  fS>'c,   -f,    3.  Número    18. 


V^  AvALHÈiRos  ,  são  iTiuítas  ,  e  justas  as  queixas  , 
que  se  tem  feito  do  ináo  cheiro  ,  e  desagradável 
sabor  do  Café  importado  da  Jamaica  ,  e  das  outras 
nossas  Colónias.  Tem-se  geralmente  attribuido  isto 
á  demasiada  gordura  do  terreno  ;  e  se  imaginou  , 
que  cessaria  ,  e  desappareceria  ,  assim  que  o  terreno 
tivesse  menos  disposição  a  tornar  vicejantes  as  plan- 
tas de  Café.  Mas  eu  me  inclino  a  assignar-lhe  ou- 
tra cousa. 

He  bem   sabido ,  que   o   Café    trazido  da  Tur- 

<iuia  ,  e  o  das  índias  Orientaes  ,  são  ambos  com- 
prados no  mesmo  mercado  x^  e  producto  do  mesmo 
i*âjz  ,    posto  que  o  primeiro  seja  hum    fructo  pe- 

qn» 


(  ao4  ) 

•qiieno  ,  e  duro  »  e  o  outro  muito  maior ,  e  mais  molle, 
A  differença  nasce  disto.  O  que  nos  vem  da 
Turquia  ,  he  conduzido  em  barcas  sem  cubertas  ,  ou 
embarcações ,  por  huma  navegação  alguma  cousa  enfa- 
<3onha  pelo  Mar  Vermelho  ,  exposto  em  todo  esse 
tempo  ao  intenso  calor  do  Sol  ,  que  lhe  faz  exha- 
lar  as  partkul::?  aquosas;  e  de  novo  soffre  ,  <lepo» 
de  poito  em  terra  ,  outro  proc«<;so  da  mesma  cas- 
ta,  pois  he  tra?ido  ás  costas  de  camellos  toda  a 
compridíssima  jornada  até  Alexandria,  por  esse  cli- 
ma intensamente  quente  :  e  deste  modo  fica  cura- 
do ,  e  da  forma  ,  que    o  recebemos. 

PeJo  contrario  ,  o  que  he  tra2ido  pela  Compa- 
nhia das  índias  Orientaes ,  vem  immediatamente  do 
mercado  ,  e  he  mettido  no  apertado  porão  d*  hum 
navio  ,  e  por  isso  o  recebemos  cru ,  e  com  os  sue- 
cos indigestos. 

O  mesmo  succede  ao  Café  trazido  das  Coló- 
nias :  por  isso  ,  attendendo-se  como  convém  ,  a  es- 
ta observação  ,  e  ,  expondo-se  o  Café  ao  Sol  por  tem- 
po competente  antes  de  eiiibarcar-se  ,  he  summa- 
inente  provav«I  ,  que  se  fizesse  tão  bom  ,  como  o 
da  Turquia  ,  c  que  fosse  hum  considerável  artigo  de 
exportação  ,  talvez   para   este  Empo-  io. 

Inclino-me  mais  a  crer  ,  que  isto  produzirá  ef- 
jfeito  ,  por  se  me  ter  certificado,  que  o  Café  da  Ja. 
maica  ,  seccando-se  ?o  Sol  ,  nos  eirados  das  casas 
de  Londres ,  melhorara  muito  de  qualidade, 


C  206  ) 
RELAÇÃO 


D      A 

CULTURA    DO    CAFESEIRO 

Na  Arábia   Felis ,  extrahida  das  Viagens   de  M.    de 
la  Roque. 

(By  Joh   Eli  is»   An   historie  ai    Account   ofCaféc 
pag.    18.) 


R 


Efere  que  o  Cafeseiro  neste  Paiz  nasce  da  se- 
mente ,  que  se  planta  ,  em  viveiros,  e  que  se  mudão 
as  plantas  ,  havendo  occasião.  Para  isto  escolhem 
alguma  paragem  húmida  ,  e  sombria  nas  pequena» 
collinas  ,  ou  encostas  d'  outeiros  ,  ou  nos  sobpés ,  ou 
fraldas  dos  montes  ,  procurando  conduzir  cuidadosa- 
mente dos  montes  alguns  regatos  de  aguas  por  ca- 
lhas ,  ou  canaes  até  ás  raízes  das  arvores ,  por  ser 
absolutamente  necessário  que  hajão  de  ser  conti- 
nuamente regadas  para  produzirem  fructo ,  e  pari 
que  este  amadureça.  Por  este  motivo  ,  mudando  , 
ou  transplantando-je  as  arvores  ,  fazem  huma  cova  da 
largura  de  três  pés  ,  c  cinco  de  profundidade  ,  a 
qual  enchem  ,  ou  cobrem  de  pedras  ,  para  que  a  agua 
mais  facilmente  penetre  pela  terra ,  de  que  he  cheia 
a  cora  ,  e  se  evite  que  possa  evaporar  a  humida- 
de. Quando  vem  que  a  arvore  está  carregada  de  fru- 
ctóST  e  que  estes  entrão  a  ficar  de  vez  ,  ou  a  avel- 
lar ,  desyião-lhe  a  agua  das  raizcs  ,  para  lhe  dimi- 
nui- 


(    207    ) 

nuirem  o  sobejo  sueco  do  fructo  ,  que  a  demasia* 
da  humidade  lhe  poderia  causar. 

Nas  paragens  muito  expostas  ao  Sul  ,  plantão 
os  seus  Cafeseitos  em  linhas  regulares  ,  abrigados 
por  huma  espécie  d*  Alemos ,  que  forma  a  sua  co- 
pa alargando  os  seus  ramos  ,  e  pernadas  por  todos 
os  lados  a  huma  grande  distancia  ,  c  que  produz  hu- 
ma sombra  mui  espessa.  Elles  imaginão  que  ,  não 
havendo  esta  cautella ,  e  deixando  se  á  torreira  do 
Sol  >  o  calor  queimaria  ,  e  lhes  seccaria  as  flores « 
vindo  assim   a  não    dar   fructo  algum. 

Nos  sitios  porém  ,  que  não  são.  muito  expôs* 
tos  ao  Sol  ,  não  necessitão  d'  algum  abrigo.  Quan- 
do percebem  que  o  fructo  vai  avellando  ,  estendem 
pannos  por  baixo  das  arvores  ,  que  elles  sacodem  » 
c  o  fructo  sazonado  promptamente  cahe  (i)  ;  ao8 
quaes  ,  ao  depois  disto  ,  espalhão  sobre  pânnos ,  oU 

cs- 


(l)  Esta  clrcmfistancia  merece  particular  attençSo 
Í0S  nossos  fazendeiros  das  índias  Oeeidentaes  ,  </«<? 
(jne  dizem)  colhem  o  s^u  Café  assim  que  clle  se  fax, 
'vermelho  ,  antes  de  mudar  esta  còr  em  hum  verme» 
Jho  escurecido  ,  e  começar  a  engelhai^se  '.  pelo  contra' 
rio  os  Árabes  a^u<ardão  aqueíles  indieioí  que  mos-^ 
troo  huma  perfeita  madureza  do  fructo,  M,  Miller 
no  seu  Dlccionario  menciona  que  ê  Café  n  algumas 
estufas  d  Inglaterra  Se  fa-x,  d'  huma  melhor  qualida- 
de que  o  melhar  Café  ,  que  se  pôde  produzir  no  paiz 
de  Moca  ,  o  qual  da  mesma  maneira  deve  ser  colhi» 
do  ,  tendo  chegado  o  seu  fructo  íeíalmente  à  sua  per' 
feita  madureza. 


:m 


C    20S    ) 

esteira?  de  Junco  ,  e  as  põem  ao  Sol  ,  ate  ficarom 
perfeitamente  seccos.  Feito  isto  ,  lhe  quebráo  a  cas- 
ca com  grandes  ,  e  pesados  rolos  ,  feitos  ou  de  ma- 
deira ,  ou  de  pedra.  Então  se  estona  o  Ca^é  da  sua 
casca  ,  e  immediatamente  se  póem  ao  Sol  a  seccar, 
porque  ,  quanto  menos  for  secco  ,  tanto  mais  ficará 
arriscado  a  arder  a  bordo  dos  navios.  Aventa- se  com 
abanicos ,  ou  grandes  peneiras  ;  pois  ,  se  náo  for 
bem  limpo  ,  e  bem  secco  ,  descahirá  de  seu  valor* 
e  preço. 

Modo   de  preparúr  ,  e  de  se  tomar  •  Cqfe  entre  os  Arw 
hes  ,   extrahido   do  mesmo  Author, 


Quando  os  Árabes  tirão  o  seu  Café  do  fogo  ^ 
immediatamente  embrulhão  a  Cafeteira  em  hum  pan- 
no  molhado ,  o  qual  clarifica  o  liquor  instantanea- 
mente ,  faz  a  sua  flor  huma  nata  ,  e  causa  hum  va- 
por ,  ou  fumo  mui  penetrante  ,  que  elles  se  delei- 
tão  em  o  cheirar ,  quando  o  deitão  nas  taças.  Tam- 
bém ,  á  imitação  das  outras  Nações  Orientaes  ,  be- 
bem    o  seu  Café    yem   Assucar. 

O  povo  nunca  usa  delle  do  primeiro  modo; 
mas  sim  do  Café  á  Sultana,  que  se  prepira  peU 
maneir«  seguinte.  Moem  a  cajca  de  f(Sra  ,  ou  pol-i 
pa  secca  ,  e  a  deitão  dentro  d*  hum  certam  de  fer- 
ro ,  ou  barro  ,  que  se  põem  sobre  fogo  de  brazas  , 
c  obssrváo  entãe  mexello  ,   ate   fazer-se  d*  huma  côr 

meia 


C  209  ) 

niela  atrigueirada  ,  mas  não  tão  profunda  ,  ou  carí 
regada  como  no  Café  ordinário  :  então  lhe  deitão 
dentro  agua  fervendo  ,  accrescentando-lhe  ,  pelo  me- 
nos ,  a  quarta  parte  da  pellicula  membranosa  inte-, 
rior :  que  então  se  ferve  tudo  juntamente  da  manei* 
ra  do  outro  Café.  A  cor  deste  liquor  tem  alguma 
semelhança  com  a  cerveja  Ingleza.  As  cascas  preci- 
são ser  guardadas  em  hum  lugar  muito  sccco ,  e 
em  caixa  fechada  ;  porque  a  menor  humidade  as 
privaria  do  seu  sabor.  Julgão  que  o  liquor  ,  prepara- 
do desta  forma ,  he  preferível  ao  outro.  O  Francês 
diz  que  ,  estando  na  Corte  do  Rei  de  Yemen  ,  não 
bebera  outro  Café  ,  e  que  achara  que  o  gosto  des- 
te era  mui  delicado  ,  e  agradável  ,  e  que  não  ti- 
vera occasião  de  usar  de  assucar  ,  por  não  ter  am.ar- 
go  algum  a  correger.  Com  toda  a  probabilidade  este 
Café  á  Sultana  pôde  unicamente  ser  tomado  nos 
lugares ,  em  que  estas  plantas  nascem  ;  porque  ,  sec- 
cando  se  muito  as  cascas  ,  para  que  possão  ser  trans- 
portadas para  outros  Paizes  ,  como  tem  pouca  sub- 
stancia ,  o  seu  sabor  agradável  ,  que  tem  quando  fres- 
cas ,  ou    novas ,  sobejamente  se  arruinão. 

Pôde  talvez  merecer  que  0$  granjeiros  de  Ca- 
fé nas  nossas  índias  Occidentacs  experimentem  o 
seccar  ambas  as  cascas  ,  a  de  fóta  ,  e  a  de  dentro 
separadamente  ,  á  imitação  do  que  fazem  os  Chins 
a  respeito  do  seu  chá,  sobre  huma  lamina  de  ferro 
larga ,  e  rasa ,   com  a  borda  levantada  9  ou  voltada 


m 


C    210    ) 

para  cima  ,  e  posta  em  huma  estufa.  Podem-se  con<;er- 
var  ahi  ,  voltando-se  de  continuo  debaixo  para  ci- 
ma ,  para  que  se  não  CjUcimem  ,  e  cuando  se  fizerem 
tão  quentes  ,  que  se  não  possío  niecher  com  a  mão  » 
se  tomão  então  com  huma  espécie  de  pá  de  ferro 
espalmada  na  ponta,  e  alteada  nos  lados,  e  sedei- 
tão  sobre  huma  esteira  ,  ou  meza  baixa,  mudando-as 
de  lugar  ,  até  ficar  quasi  frio  ,  e  abanando-as  ao  me?- 
mo  tempo,  para  lhe  espalhar  a  humidade.  Precisa- 
se  enxugar  a  lamina  amiudadas  vezes,  e  guardalla 
limpa  de  qualquer  matéria  viscosa  ,  que  se  lhe  ti- 
ver apegado  ,  e  repetir  se-lhe  este  processo,  ou  ope- 
ração todas  as  vezes  que  se  lhe  persentir  alguma 
humidade.  Ao  depois  cnfardellallas ,  ou  cTibrulhal- 
1::S  muito  bem  ,  mettellas  cm  boioens  seccos ,  ca- 
nastreos  ,  ou  caixas  forradas  de  chumbo ,  do  mes- 
mo modo  ,  que  se  pratica  com  o  chá.  Convém  vol- 
tar a  estas  cascas  ,  passados  alguns  dias  ,  para  se  ex- 
aminar ,  se  de  facto  estão  inteiramente  seccas  ,  e  se  se 
sentem  ,  e  ,  sentindo-se  a  menor  humidade  se  preci- 
sa resequillas  ainda  mais,  d*  outra  maneira  se  farãa 
bolorentas  ,  e  perderáõ  o  seu  gosto,  Quanto  a  isto 
consta  pela  Relação  Árabe  que  elies  não  estavão 
informados  d*  hum  methodo  de  enseccar  estas  cas- 
cas ,  e  de  as  enfardellar  de  modo  que  podessem  ser 
transportadas  a  alguma  distancia  considerável  ,  sem 
prejudicar  o   seu   sabor. 

Os  Chins  são  mui  cuidadosos  em  não  deixar  ai 

fo. 


(21»    > 

folhas  do  seu  chá  nos  montões  ,  antes  de  estarciit 
scccas  ,  o  que  as  faz  aquecer ,  e  arruinar.  Tambeni 
não  as  colhem  senão  o  que  elles  podem  seccar 
em  menos  de  24  horas  ;  e  assim  julgão  ,  quando 
tem  sido  guardadas  por  muito  tempo  ,  que  se  fa- 
zem negras.  Estas  observações  podem  muito  bem 
ser  d' algum  uso,  ou  proveito  á  todos  os  que  qui- 
zerem  esperar  a  seccura  da  polpa  da  baga  do  Ca- 
fé ,  que  se  preparar  para  se  tomar  á  Sultana. 


E  X  T  R  A  T  O 


D     A 


VIAGEM  DE  NIEBURH    A    ARÁBIA 

Ultimamente  publicada  em  Dinamarca. 

\Bi/  M.  JoL  Ellis The  Histor,  of  Cofée,  pa- 
gina 2a.) 


O 


S  Árabes  bebem  ,  mas  pouco  ,  quando  comem 
se  bem  muito  pouco  tempo  depois  tomão  hum  bom 
gole  d*  agua  ,  e  por  conseguinte  hum  copo  de  Ca- 
fé ,  sem  leite  ,  ou  assucar  ,  mas  preparado  em  ou» 
tros  respeitos  da  mesma  sorte  que  os  nossos.  Com 
tudo  isso  ,  rara  vez  le  bebe  este  liquor  em  Yemen  ; 
porque  crem  que  esquenta  o  sangue.  Porém  os  vi- 
sinhos  desta  provincia  compõem  huma  bebida  das 
cascas  do  Café  ,  a  qual  na  sua  côr ,  e  gosto  se  pa- 
rece muito  com  a  do  chá  ,  e  que.  a  julgão  saudável, 

)  Q  ú  e  re- 


(    212    ) 

e  refrigerante.  Elles  a  prepárão  quasi  do  mcf;mo  mo- 
^o  que  a  das  sementes  ,  ou  favas  do  Café  ,  e  he  a 
mesma  a  que   os   Francezes   chamão  Cn/c  á  Sultana, 

Nichurh  na  sua  partida  para  Arábia  levou  com- 
si£0  hum  moinho  de  Café  ,  mas  presto  abandonou 
p  seu  uso  ,  porque  achou  que  o  Café  moido  era 
xiiuito  inferior  ao  Café  pizado  ,  ou  csiragado  ,  co- 
n.o  o    preparavão    os   Árabes. 

Cultivão  se  particularmente  as  arvores  do  Ca- 
fé a  Oeste  dos  grandes  monte»  que  atravessão  Ye- 
rren.  A  exportação  desta  planta  he  prohibida  de- 
baixo de  penas  rigorosas  ,  e  sem  embarg^o  disso  , 
os  Holiandezes ,  Francezes  ,  e  Inglczes  descobrirão 
meios  de  transportarem  algumas  para  as  suas  Co- 
Icnias  I  com  tudo  o  Café  de  Yemen  conserva  ate 
aqui  a  preferencia  ,  provavelmente  porque  os  Euro- 
pt^cs  ainda  se  não  deliberarão  a  cultivar  os  seus  da 
iT.esma  maneira,  e  sobre  a  altura  das  montanhas, 
Gnde  gozão  regularmente  da  mesma  temperatura  do 
ar  que  goza  em  Yemen. 

A  Companhia  Oriental  Inglcza  destina  em  ca- 
c^a  dous  annos  hum  navio  unicamente  ao  golfo  Ára- 
be a  carreí^ar   de  Café. 


m 


OBr 


OBSERVAÇÕES 

SOBRE    O    CAFÉ. 

(^Bi/  Dr.   Brown, — Nat tirai  Hi/siorij  qf  Jamaica  pag. 
lói.) 


E 


Ste  arbusto  foi  á  muito  tempo  introduzido « 
e  cultivado  na  Ilha  de  Jamaica  onde  medra  com 
muito  viço  ,  e  sobe  até  á  altura  de  oito  ou  noyd 
pés ,  alargando  seus  flexíveis  ramos  a  huma  consi- 
derável distancia  por  todos  os  lados.  EUe  vcget* 
melhor  em  huma  terra  fértil  ,  de  situação  fresca  , 
e  sombria ,  onde  propriamente  possa  ser  refrescada 
com  hum  moderado  quinhão  d' humidade;  e  n'hurtt 
terreno  tal ,  e  situação  geralmente  se  produz  huma 
cópia  tão  grande  de  fructos  ,  que  os  seus  ramos 
podem  difficulto^amente  sustentar  o  peso  ,  sem  se 
curvarem  para  a  terra ,  e  frequentemente  se  obscE- 
ra  que  muitos  troncos  se  rendem  ,  ou  cedem  a  for- 
ça da  sua  carga.  Com  tudo  se  observa  também  que 
a  arvore  cresce  ,  e  vegeta  quasi  em  todas  as  terras 
que  ficão  no  sob  pé  ,  ou  fraldas  dos  montes  ,  e  com- 
muramente  produz  grande  quantidade  de  fructos  em 
os  campos  mais  seccos  ;  ainda  que  na  Arábia  ,  don- 
de esta  planta  he  natural ,  ou  nativa  ;  e  onde  pri- 
meiro SC  propagou  ,  e  se  começou  a  usar  ,  se  ob- 
serva  cultivalia  entre  outeiros ,  e  com  tudo  a  sec- 

cu- 


C  »14) 

cura  do  lugar  he  tal  que  continuamente  se  vem 
©brigados  a  refrescarem  as  suas  raízes  com  agua  ; 
a  qual  ,  como  muitas  vezes  falha  neste  Pair  ;  por 
isso  geralmente  a  trazem  cncannada  a  cada  hum 
dos  Cafesaes. 

De  ordinário  se  no'a  em  Inglaterra  ,  e  na  ver- 
dsde  he  cousa  certa  ,  que  o  Café  importado  d'Ame- 
rica  não  corresponde  também  na  sua  qualidade  ,  ou 
fcondade  »  ao  que  se  cria  n*  Arábia  ;  nem  isto  he 
devido  ,  como  alguns  imaginão  ,  a  algum  fumo  ,  ou 
vjpor  estranho  ,  que  pôde  ter  contrahido  no  seu 
embarque  ,  ainda  que  se  haja  de  ter  tomado  sem- 
pre hum  grande  cuidado  em  embaraçar  alguma  aqui- 
sição desta  natureza  ;  porque  verdadeiramen'e  ,  o 
í^uc  aqui  se  usa  de  ordinário  torrado,  ou  mistura- 
do ,  não  se  assemelha  ao  da  Turquia  :  porém  isto 
até  agora  foi  causado  por  falta  d'  observação  ,  ou 
de  conhecimento  da  natureza  do  grão  :  por  quanto 
o  povo  attende  muito  mais  a  quantidade ,  que  a 
íua  qualidade  ,  quando  esta  pela  mór  parte  merece 
inaior   consideração. 

Eu  assisti  por  muitos  annos  nestas  Colónias  , 
e  tendo  sido  sempre  hum  dos  apaixonados  do  Café, 
fui  muitas  vezes  obrigado  a  ter  presente  o  producto 
do  paiz  em  seus  differentes  estados.  Isto  me  deo 
hum  lugar  espaçoso  de  fazer  muitas  observações 
sobre  este  grão ,  e  a  ousar  de  dizer  que  he  verda- 
de que  clles  são  taes ,  com©  constantemente  os  re- 

pu- 


(íl5  ) 

putão  ,  e  ,  a  olhar-se  rectamente  ,  presto  os  hahi* 
tantes  das  nossas  Colónias  Americanas  se  podem 
pôr  em  via  de  abastecer  a  pátria  mãi  com  hum  Ca- 
fé tão  bom  ,  como  o  que  lhe  vem  da  Turquia  , 
ou  d'  outro  qualquer  paiz  do  mundo.  Para  que  se 
possa  entender  esta  proposição  com  toda  a  clare- 
za ,  dou  abaixo  as  notas ,  que  fiz  ,  conao  me  occor- 
rem. 

I.  O  Café  novo  nunca  se  torra  bem  ,  uso  que  a 
nossa  arte  requer.  Isto  procede  da  natural  viscosi- 
dade dos  suecos  ,  o  grão  ,  piecisa  hum  espaço  de  tem* 
po  proporcionado  á  sua  quantidade  para  ser  aquella 
totalmente  destiuida. 

II.  Quanto  mais  pequeno  for  o  graS  ,  e  menos 
polpa  tiver  a  sua  baga,  tanto  melhor  he  o  Cate, 
€  tanto  mais  depressa  pode  ser  torrado ,  moido ,  e 
adquirir  o  sabor. 

III.  Quanto  o  terreno  for  mais  secco  ,  c  a  si- 
tuação mais  cálida  ,  tanto  melhor  o  produzirá ,  e 
conseguirá  o  sabor. 

IV.  Quanto  maior  for  o  grão  ,  e  mais  succulen- 
to  I  fanto  será  peior  ,  e  mais  viscoso ,  e  gastará  mais 
tempo  para  obter  o  sabor. 

'  V.  O  peior  Café  produzido  n*  America  pode  , 
pelo  decurso  do  tempo  ,  que  não  excede  ao  de  lo, 
ou  14  annos ,  ser  ,  como  hum  bom  ,  torrado  ,  e  moi- 
do muito  bem  ,  e  ter  hum  sabor  delicado ,  como  o 
melhor ,  que  nos  vem  da  Turquia ,  mss  se  reque- 

reiu 


t'i 


rem  duas  circumstancias  ,  primeira  ,  guardallo  em  hum 
lugar    secco  ,  segunda ,    conservallo   com  aceio. 

VI.  O  Café  de  grão  pequeno  ,  ou  o  produzido 
em  hum  lugar  secco  ,  e  sitio  quente  ,  pôde  no  ca- 
bo de  três  annos  estar  prompto  para  ser  torrado 
elicar  tão  bom  ,  como  aquelle  que  actualmente  se  gas- 
ta  nas  casas  de  Café   de  Londres. 

Fundão-se  estes  factos  em  repetidas  experiên- 
cias, que  tenho  feito  em  diversos  tempos,  residin- 
do na  Jamaica  ;  ainda  que  seja  cousa  rara  que  al- 
guém possa  chamar  bom  Café  ,  estando  na  Ilha  ; 
porque  geralmente  o  toraão  á  Sultana  (i)  e  nunca 
se  conserva  maior  porção  que  a  sufficiente  para  o 
seu   provimento  de  hum   anno    para   outro. 

Desde  qwe  cheguei  a  Inglaterra  ,  me  tenho  oc- 
cupado  no  exame  do  Café  ,  chamado  da  Turquia  , 
com  hum  cuidado  escrupuloso  ;  e  concJMo  ,  pelo  ta- 
manho do  grão  ,  o  frequente  aborto  de  huma  das 
suas  duas  sementes  ,  c  peJa   estreiteza  da  sua  pelle 


Ç  l')  Àa  meu  ver  jidgo  avites  ser  huma  infusãa 
nas  meias  laminas  da  novo  Café  queimado  (  porque 
vão  se  pôde  torrar  ,  ou  moer  propriamente  ,  em  quan- 
to nove)  semelhante  ao  que  se  gasta  pelos  fazendeim 
TOS  de  Jamaica  commummcnte  que  he  huma  dececção 
coberta  ,  como  de  ordinário  se  faz,  Parece  ter-se  en^ 
canado  o  Doutor  Brown  ,  quando  considera  a  exp»» 
sição  dada  pelos  Francer.es  ,  que  viajarão  pela  Ura- 
hta  y  e  que  descreverão  yUnamtnU  çmçd^  de  Jax,cr  ^ 
Cnfé   à  Sultana, 


C  ^T7  ) 
que  contém  a  polpa  ,  que  o  arbusto  precisa  ser 
iHuito  acanhado  ,  ou  falto  de  medra  no  seu  cresci- 
mento ;  c  disto  julgo  ,  que  qualquer  esforço ,  ou  di- 
iigencia  fará  produzir  hum  bom  Café  ,  e  amadu- 
recendo tão  cedo  ,  como  «a  Arábia ,  ou  ,  esperando 
que  as  sementes  tenhão  o  mesmo  gosto  ,  pôde  ex- 
perimentar plantando  pequenas  collinas  ,  e  fralcas 
da  serra  da  parte  do  Sul  desta  Ilha  ;  e  ,  pelo  con- 
trario ,  experimentar  também  o  que  podem  produ- 
zir as  várzeas  ;  pois  estou  persuadido  que  junto  a 
Kin^ston  ao  longo  das  encostas  ,  ou  fraldas  dos  mon- 
tes em  muitas  partes  corresponderá  muito  bem  : 
podem-se  em  qualquer  destes  lugares  escolher  hum, 
ou  dous  acres  ,  e  experimentará  o  mais  digno  do 
trabalho  ;  mas  na  reaíiJade  ,  para  se  teiem  grandes 
colheitas,  precisa  aguardar  entre  os  montes,  onde  as 
arvores  crescem  ,  medrão  ,  e  vicejáo  muito  mais. 

Cultiva-se  esta  planta  em  qualquer  lugar ,  e  se 
dispõem  em  distancias  proporcionadas  ao  seu  cresci- 
mento ;  por  quanto  em  hum  lugar  secco  ,  areento , 
ou  de  terra  misturada  raras  vezes  cresce  mais  de  cin- 
co pés  ,  e  se  lhe  pôde  dar  convenientemente  esta 
mesma  distancia  entre  huns  ,  e  outros.  Mas  entre 
os  montes  de  Jamaica ,  onde  de  ordinário  sobe  a 
S  ,  9  ,  e  IO  pés  ,  e  ainda  mais  ,  requer  hum  espa- 
ço mais  largo  ,  e  em  hum  terreno  semelhante  po- 
de ser  prudentemente  plantado  mais  perto  de  8  ,  ou 
IO  pés    de   distancia    entre    si:    eu,  com  tudo, 

fre- 


C2lS    ) 

frequentemente  tenho  visto  alguns  nestas  paragens 
plantados  bastos,  que,  a  pezar  disso,  produziáo  lui- 
ma  grande  cópia  de  fructos. 

O    Gentilhomem    da  Jamaica    imaçina    que    o 
grande  fundo  de  riqueza  ,  e  sabor  do  Cafc    de  Tur- 
quia  provém  do  methodo  porque  o  dessecâo  ,  mas 
isto  he   huma  noção  mal   fundada  ,  as^im   pelo  que 
toca  ás  bagas  ,  como   também   pelo  que  pertence  ii 
arvores  ,    sendo   naturalmente   acanhadas,    e  de   má 
medrança  em  muitas  partes  da  Arábia  no  seu  cresci- 
mento ,  vem  ejlas   a  ter  pequena  polpa  ,    e  se  sec- 
ção   com  muita  facilidade    em   hum   clima   quente  , 
onde    em    poucos   dias    de  Sol  geralmente    se  com- 
pleta  a  obra,  sem  se  ter  o  trabalho  de  as  esbulhar 
de   alguma    parte    do   seu   vestido  mais   succoso  an- 
tes  a  mão  5  mas  ainda  que  eu  conceda ,  que  o  Ca- 
fé  da  Turquia  não   recebe   a  addicão  d'  alj^um    mo- 
do particular    de   o  seccar    ,    e   que   eu   igualmente 
esteja  convencido  ,  que  huma  grande  parte  ,  do  que 
se  produz  em  as  partes  dos   matos  de  Jamaica ,  on- 
de as   suas   bagas  são  grandes,   e  succulentas,  e   as 
sementes   fròxas  ,  e  viscosas  ,  são  sobejamente  arrui- 
nadas pelos   methodos  ,    que  nestes   lugares  se  pra- 
tjcão.  Taes  bagas   podem  ser ,  sem  dúvida  alguma, 
esbulhadas  de  huma  grande  parte    da  polpa  ,    e  as 
sementes  trazidas  ás  terras  baixas  ,  para   se  seccareinj 
e  não  as  deixar  ensopar  no  seu  sueco  viscoso  ,  c  sec- 
calUs  ao  depois  devagar  em  hum  ar  húmido ,  como 


(    219   ) 

5C  pratica  em  muitos  lugares  desta  Ilha  geralmen- 
te ,  o  que  não  prejudica  a  sua  remessa  aos  commer- 
ciantes  do  Norte  ,  que  de  ordinário  procurão  o  maior, 
e  mais  gordo  grão  ,  como  o  melhor  ,  e  não  usão 
de  outros  sinaes  ,  para  o  escolherem  ,  que  a  gros- 
sura das  sementes  ,  e  a  sua  côr  recente  ,  que  em 
commum  he  d*  huma  còr  ds  chumbo  azulada  ,  ou 
lívida   nos  Cafés  ,  que   são  novos. 

Oá  que  formão  alamedas  ,  ou  avenidas  de  Ca^ 
feseiros ,  se  podem  prover  d  huma  conveniente  bar- 
baçam  ,  ou  plataforma  para  seccar  as  sementes  mais 
commodamente  ,  pondo-as  em  cima  ,  e  eu  penso  ser 
esta  obra  muito  boa  ,  para  se  vêr ,  se  o  suor ,  que 
reçumão  ,  destróe  alguma  porção  da  viscosidade  pe- 
culiar ás  sementes  das  bagas  maiores  ,  n?as  estas 
devem  ser  descascadas ,  e  seccas  com  toda  a  pres- 
teza possível  3  nem  imagino  que  o  fácil ,  e  appressado, 
com  que  se  pode  seccar  nas  terras  baixas  ,  possa 
ser  huma  suíFiciente  recompensa  ao  trabalho  de  as 
carreo-ar ,  quando   são  tiradas   das   arvores. 

Estando  o  ffucFD  bem  secco  ,  precisa  descascar- 
$e  ,  e  limpar-se  de  toda  a  cobertura  exterior  ,  para  se 
habilitarem  ,  e  prepararem  para  a  vendagem.  Na  Jamai- 
ca se  executa  isto  geralmente  ,  pizando  as  bagas  sec- 
cas ligeiramente  em  grandes  morteiros  feitos  de 
madeiras  Qulèes)  ,  até  que  ,  ao  depois  d'  hum  Ion- 
izo »  e  continuado  trabalho  ,  assim  a  polpa  secca , 
€omo  a  cobertura  membranosa  interior  são  moidas^ 

e  ca- 


"THilil 


(    220    ) 

e  cahidas  entre  as  sementes  em  pedacinhos.  Avcn- 
ta-se  .  ou  peneira-se  então  o  todo  ,  alimpa-se  ,  c  se 
põem  novamente  ao  Sol  por  alguns  dias ,  e  depois 
se  embarrica  para  se  enviar  aos  mercados,  Was  oj 
Árabes  ,  ao  depois  de  terem  seccado  o  seu  Cafá 
sutíicientemente  em  esteiras  ,  o  espaihão  ainda  cm 
Jium  assoalhado  ;  o  descascão  ,  passando-lhe  por  cima 
da  coberta  hum  grande  ,  c  pesado  rolo  de  madeira 
rija  ,  ou  de  pedra  para  diante  e  para  traz ,  e ,  es- 
tando as  cascas  deste  modo  bem  quebradas  ,  o  avcn- 
tão  t  <i  o  pòem  ao  Sol  de  novo  até  que  fique  bem 
secGO  ^  porque,  fazendo  se  de  outra  maneira,  fict 
exposto  ao  calor  a  bordo  dos  navios ,  que  lhe  fará 
perder  todo  o   seu  sabor. 

A  bebida  preparada  da  semente  desta  planta 
foi  moderna  ,  e  geralmente  introduzida  em  toda  a 
Europa  ,  e  em  muitas  partes  d*  Ásia  ,  e  da  Ame- 
rica  ,  e  commummente  se  julga  ser  como  hum  ex- 
eellente  estomachico ,  e  corroborante  dos  nervos ,  e 
com  muita  particularidade  adaptada  para  os  estudio- 
sos ,  e   os   de   vida   sedentária. 

Propagão-se  as  plantas  pelas  sementes  ,  e  ,  para 
nascerem  proveitosamente,  se  devem  plantar  as  ba- 
gas ,  pouco  depois  de  serem  colhidas  das  arvores , 
porque  se  forem  conservadas  algum  tempo  fora  da 
terra,  se  arri<;cão  a  falharem  ,  ou  a  não  nascerem: 
mas  ,  quando  as  plantas  se  levantão  qua^i  cinco  ,  ou 
seis  policiadas  acima  da  terra  ,   se  forem  dobradas 

CO- 


C   221    ) 

como  geralmente  são ,  se  faz  preciso  separallas  ,  o 
que  se  faz  descobrindo  »  e  dividindo  as  raízes  ,  e 
plantando-as  segunda  vez  em  tabuleiros  separados. 
Quando  se  tirão  do  viveiro  as  novas  plantas ,  e  ain- 
da as  que  nascem  por  baixo  das  arvores ,  que  se 
çhamão  arvores  Máes  ,  onde  de  ordinário  nasce  em 
muita  abundância  ,  se  deve  ter  muito  cuidado  em 
se  não  offenderem  as  suas  raizes  ,  e  em  conservar- 
ihes  a  terra  ao  redor  até  que  hajâo  de  ser  replanta- 
das j  por  quanto  ,  se  as  suas  fibras  se  expozerem  ao 
ar ,  e  SC  se  deixarem  seccar  ,  ficaráó  sujeitas  a  mor- 
rerem. Julgo  ser  esta  a  razão  porque  se  não  vem 
nas  hortas  dos  planos  de  Jamaica  esta  louçam  ar- 
vore ,  onde  mui  poucas  mudas  desta  casta  vegetão, 
mi  vicejão  ,  onde  ,  sendo  arrancadas  sem  terra  ,  os 
plantadores  a  deixão  de  plantar  por  30  ou  40  ho- 
ras ,  c  as  levão  a  huma  grande  distancia  pela  tor- 
reira do  Sol  ;  mas ,  quando  se  quer  que  prosperem 
bem  ,  ha  mister  ter-se  cuidado  em  procurar  plan- 
ta» ,  que  tenhão  as  suas  raizes  abastecidas  com  a 
terra  âo  seu  canteiro  ;  ou  levantallas  immediatamcn- 
te  da  sua  scmçnte. 


EX- 


( ^^* ) 


EXTRACTO 

De  huma  Carta  do  Doutor  Fothcrgill  a  JoK  Elis 
_  Escudeiro. 

Agente  de  Dominica  que   contém   observações  sohrc  a 
Cultura  ,  e  uso  do   Café, 

V^  Uanto  ao  que  julgo  ,  hc  huma  acção  mui- 
to utiJ  ,  e  singularmente  agradável  ao  públi-' 
CO  serviço  ,  infomisllo  de  qualc^ucr  inelhoramento 
por  pequeno  que  seja  ,  a  respeito  do  Cafc  ,  que  pre- 
sentemente constitue  huma  parte  tão  considerável 
do  nosso  regalo  ,  se  não  he  da  nos^a  sustentação. 
Eu  me  lisongeei  assas  com  a  gravura  desta  elegan- 
tíssima planta  ,  que  foi  destramente  executada  pelo 
seu  Sábio  Artista  ,  e  exactamente  a  recebeo  logo 
que    foi  acabado    o  debuxo, 

Falta-me  o  tempo  para  colligir  ,  ou  referir  com 
exacção  sufficiente  a  historia  desta  baga  com  a  pro- 
luxidade  ,  com  que  se  pode  traçar  pelas  historias 
Asiáticas. 

Pela  exposição  junta  a's  reflexões ,  que  perten- 
do  fazer  sobre  esta  substancia  ,  se  mostra  que  se 
introduzira  na  Martinica  nas  Índias  Occidentaes  pou- 
co antes  do  anno  de  1727  ;  que  desde  este  tem- 
po se  propagara  muito  bem  em  cuasi  todas  as  ín- 
dias Occidentaes  Inglezas  ,  Francezas ,  e  HolUnde- 
-:   li  "Sj 


C    22}    ) 

235 ,  se  bem  ,  sem   o  cuidado  ,  e  attenção  que  me-í^ 
rece  a  cultura    desta   planta. 

A  maior  parte  do  Café,  que  agora  se  bebe 
lí*  Europa  ,  julgo  que  lie  oriurído  das  índias  Oc- 
cidentaes  ,  com  que  o  Café  de  Moca  se  tem  redu- 
zido grandemente  o  seu  consumo  a  huma  menor 
quantidade.  Á  muitos  annos  que  a  Companhia  das 
índias  Orientaes  unicamente  mandava  dous  navios 
p2ra  o  exportar  ,  presentemente  somente  manda 
lium  em  cada  biennio  a  este  artigo,  sendo  verda- 
de o  qut  me  informarão ,  ainda  quando  se  deve  pre- 
sumir que  agora  actualmente  se  consome  huma  maior 
quantidade   que   antes. 

Os  Fiancezes  ,  e  as  outras  Nações ,  que  ten^ 
possessões  nas  índias  Occidentaes ,  clandestinamen- 
te nos  abastecem  de  grandes  quantidades.  He  ver- 
dade que  nós  importamos  hum  grande  fundo  de 
Café  bruto  das  no'sas  próprias  Ilhas  ,  mas  o  me- 
lhor he  o  cultivado  nas  Ilhas  forasteiras.  Os  Fran- 
cezes  o  cultivão  com  toda  a  particularidade  :  e  he 
mui  semelhante  ao  que  vem  dos  seus  estabeleci- 
mentos das  índias  Orientaes.  Os  que  estão  affeitos 
ao  uso  frequente  desta  bebida  ,  percebem  huma  dif- 
ferença  mui  sensivel ,  que  se  manifesta  entre  os  Ca- 
ies Asiático  ,  Francezes  ,  e  Americano.  O  suave  aro* 
jna  do  primeiro  ,  e  o  seu  gosto  agradável  sôbre- 
|)assão  em  demasia  ao  do  Café  das  índias  Occiden- 
|aes ,  como  na  verdud^  («nho  observada*  Este  ten» 

pc- 


C  224  ) 

pequeno  cheiro»  hum  goito  de  verde,  c  lhe  deixa, 
bebido  ,  hum  não  sei  que  de  desagradável ,  e  especial- 
mente ,  o  que  nos  vem  das  IHias  Inelezas  ,  cue  na- 
da satisfaz  ,  ao  que  está  acostumado  a  bsber,  do  que 
yQm   de   Moca. 

A  primeira  arvore ,  que  se  levou  á  Martini- 
ca ,  descendia  de  huma  trazida  de  Batavia.  Provavel- 
mente os  Hollandezes  tcrião  tirado  de  Moca  as  plan- 
tas ,  que  Itváião  á  aquella  Colónia  ,  e  do  que  se  se- 
gue sem  dúvida  que  as  plantas  actualmente  cultiva- 
das nas  índias  Orientais  são  oriundas  do  verdadei- 
ro Café  d*  Arábia.  Mas ,  reflectindo-se  sobre  as  suas 
circumstancias  presentes ,  poderemos  talvez  mostrar 
a  causa ,    porque    tanto   tem   degenerado. 

A  parte  da  Arábia  ,  de  que  nos  trazem  o  Ca- 
fé da  Ásia  ,  he  excessivamente  arcisca  ,  secca ,  e 
íjuente. 

Em  Batavia ,  o  terreno  geralmente  he  rico  e 
profundo  ,  e  ainda  que  se  assemelha  aos  climas  Orier> 
taes  na  estação  secca  ,  todavia  no  período  das  aguas, 
a  quantidade  destas  ,  que  cahe  ,  he  excessiva.  O  vi- 
cejante ,  e  rico  estado  de  vegetação  na  Ilha  de  Ja- 
va ,  em  que  Batavia  eslá  situada  ,  prova  muito  bem 
esta  proposição  ,  e  seguramente  se  pôde  inferir  » 
que  qualquer  planta  trazida  d'  hum  terreno  secco  » 
estéril  ,  e  areisco  não  só  tomará  huma  apparencia  , 
ou  habito  externo  ,  muito  differente  ,  mas  também 
que    seu  frueto  tomará  huma  qualidade   mui  diífc- 

rca- 


C  2Í5  ) 
rente  ,  da  que  lie  produzida  eiti  hum  clírtia  ferti!, 
e  húmido  ,  sujeito  a  hum  calor  igual.  Isto  suppos- 
to  não  deixa  de  ser  provável  que  nesta  circumstau- 
cia  a  planta  trazida  de  Eatavia  para  o  Real  Jar- 
dim de  França  ,  e  hum  pé  ,  ou  muda  transpor- 
tada a  clima  muito  mais  abundante  de  humidade , 
que  aquelie  ,  de  que  fra  originário  ,  podia  tomar 
outra  natureza  disparatada,  que  não  era  fácil  fazei- 
la   recuar   á   sua   primitiva  ,  e  original   exccilencia. 

Desejo  que  esta  circumstancia  ,  seja  como  for  , 
haja  de  ser  unicamente  contemplada  como  huma  sup- 
posição,  a  qual  ,  ainda  que  não  seja  sem  apparen- 
cia  de  probabilidade  ,  pôde  muito  bem  acontecer 
que  a  experiência  a  não  abone  sufficientemente.  Puas 
na  verdade  pôde  mostrar  que  por  algum  niethodo 
praticável  se  poderá  chegar  a  conseguir  o  melhora- 
mento do  Café»  Permitta-se  que  o  Café  se  plante 
em  hum  terreno  ,  que  seja  ,  o  mais  que  for  possí- 
vel ,  semelhante  ao  seu  natural.  Certamente  a  cuita 
exposição  ,  junta  a  esta  carta  ,  confirma  as  minhaí 
conjecturas.  Quanto  mais  secco  for  o  terreno  ,  em 
que  se  cultive  o  Café  ,  quanto  mais  pequenas  fo  • 
rem  as  suas  sementes  ,  tanto  mais  excellente  será  o 
seu  fructo.  Dão-se  muitas  castas  de  arvores  >  e  tal- 
vez será  o  maior  número  ,  cujos  fructos ,  sendo  no^ 
vas  ,  pela  maior  parte  são  desenchavidos  ,  ou  o  sen 
gosto  he  muito  menos  delicado  ,  que  quando  são 
imi%  ânnosasj  ou  tem  avançado  maior  idade.  O  fru- 

P  cio 


■M 


C  2a6  ) 
fito  da  Nogueira  nova  he  grande  ,  mas  asuacento  e 
insipido ,  mas  avançando  em  ida  !e  ,  diminuem  as 
nozes  o  seu  tamanho  ,  e  o  seu  gosto  se  augmenu 
no  agradável.  Observa-se  cm  outras  muitas  especas 
hum  semelhante  progresso  ,  e  não  he  improvável  que 
os  CaíFeseiros  nos  hajão  de  dar  também  hum  igual 
exemplo  destas  propriedades.  He  certo  que  os  Ca- 
feseiros  antigos  dão  hum  fructo  menor  ^  e  talvez 
que  algum  paladar  delicado  possa  descobrir  o  seu 
i-ibor  proporcionalmente  melhorado.  Póde-se  recom- 
inendar  esta  experiência  aos  Granjeiros  do  Café  das 
no  sas  Ilhas.  Ora  eu  não  tenho  tempo  para  esbo- 
çar todas  as  circumstancias  que  tendem  provavel- 
mente a  diminuir  o  valor  dos  nossos  próprios  Ca- 
fesaes. 

Apresso- me  a  passar  para  outro  ponto  ,  o  qual 
porá  os  nossos  granjeiros  de  Café  na  figuia  de  ven- 
cerem todas  as  difficuldades  ,  e  os  obrigará  a  se  ap- 
plicarem  á  cultura  desta  p'anta  ,  a  curarem  o  seu  frii-" 
cto,  e  remetterem-no  no  mais  alto  ponto  de  per- 
feição possível.  Quaes  serão  porém  os  meios  ,  pe- 
los quaes  os  Fazendeiros  das  índias  Occidentaes  se 
hajão  d'  interessar  na  cultura  do  Caieseiro  ,  de  tal 
sorte,  que  o  seu  fructo  possa  ciíeear  em  gosto,  e 
síibor  ao  da  Ásia  ,  quanto  for  possivel  ?  Pôde  se r  t 
esta  Fazer  o  seu  interesse  que  he  resposta  a  mais 
breve  que  se  pôde  dar »  a  qual  equivale  a  est*  ou- 
tra ,  aiiiiuar   a  Jiia   importarão, 

£s- 


C  227  ) 

Estou  muito  bem  informado  por  huma  pesso» 
íntelligente  nesta  matéria  ,  que  os  direitos ,  e  alca- 
vallas  do  Café  de  nossas  fazjsndas  são  as  seguintes. 

L.    S.    D, 
Direitos  do  Café   nascido  nas  fazendas 
Jnglezas  para  o  consumo  domestico,  vem 


a  ser  Dor   1 


1.   1 }   s.   61-  d. 


Por  cem    de  pezo    que  he    quasi  por 
arrátel. 

Alfavala      -    ^      a   arrar.     -    -    -       P 


Total   por  arr.       91     10 


Quando  se  impõem  huma  tão  excessiva  carga 
de  despezas  ,  como  também  de  muitas  difficuldades 
sobre  o  plantador ,  carregador  ,  e  ,  por  consequência, 
do  consumador  do  Café  das  índias  Occidentaes ,  não 
se  devem  admirar  que  os  próprios  Fazendeiros  hajão 
mui  pouco  cuidado  de  se  applicarem  á  sua  cultura. 
Actualmente  se  dá  mui  pequena  differença  no  pro- 
ducto  ,  e  por  consequência  no  preço.  Os  altos  di- 
reitos são  também  os  impecilhos  do  seu  uso  entre 
nós.  O  Café  geralmente  he  máp ,  como  taisbem 
o   seu   preço   em  proporção. 

Este  descoroçoamento  os  faz  menos  cuidado- 
s.os  a  seu  respeito.  Ruim  como  pode  ser  produzi- 
do ,  encontraria  consumadores  forasteiros  ,  e  huma 
venda  cer$a  corresponderia  ao  seu  fim  ,  .melhor  que  a 
P  ii  cul-i 


I 


s  - 


( 228 ) 

cultura   cuidadora  d'  hum  género  empachado  com  se- 
meihantes    direitos. 

Os  que-  conhecem  o  gosfo  ào  Café  de  Moca, 
e  appetecem  usar  do  novo  das  índias  Occidcntaes, 
presto  o  abandonão  com  di^gosto.  O  Café  das  JJhas 
Francezas  ,  sendo  de  hum  producto  mdhor  que  o 
nosso  próprio  ,  acha  clandestinamente  os  no-^sos  por- 
tos  abertos,  usa  se  a^sás  ,  e  o  juhjo  igual  ao  da 
Turquia.  Talvez  que  o  gosto  seja  mais  hum  eff ei- 
to do  costume  ,  que  geralmente  se  toma.  O  Taba- 
co he  a  prova  mus  forte  ,  e  a  primeira  que  nes- 
te momento  me  occorre.  Aquelle  ,  que  a  el!e  se 
não  acostumou  ,  lara  vez  pôde  aturar  o  mais  deli- 
cado. 

S'e  os  direitos,  e  alcavallas  sobre  o  Café  fo- 
rem  diminuidas  ,  o  seu  consuu.o  será  augmentado. 
O  gosto  se  empenhará  pelo  melhor  ;  este  será  pes- 
quisado ,  e  o  seu  preço  se  augmeníará  á  propor- 
cão;  mas  os  direitos  actuaes  sno  ounsi  prohibitivos. 
Seria  justo  que  os  eíTeitos  d'  hum  semelhante  di- 
reito fossem  vistos  pala  luz  politica.  Falio  relativa- 
mente a  este  artigo. 

Nestes  cem  aniios  ,  ha  toda  a  probabilidade  que 
o  povo  de^te  Paiz  haja  ,  pelo  menos  como  hum 
alimento,  de  fazer  uso  do  Chá,  Cafc  ,  Chocolate. 
Eu  fallo  da  generalidade.  Presentemente  o  Chá  to- 
ma a  dianteira.  Donde  veio  que  a  sua  historia  , 
propriedades  ,    e  usos  foruo    tão    completamente  ex- 

pos- 


C  ^29  ) 

postos  que  inteirainente  ignoro  que  se  possa  dizei  mais 
ali';uma  cousa   a  este   assumpto. 

Os  Physicos  tem  ,  por  muitas  vezes  ,  proposto 
esta  questáo  :  Qual  seja  melhor ,  se  o  Chá  ,  ou  o  Café. 
Talvez  que  a  resposta  desta  questão  tenha  huma 
única  diíFiculdade.  í^ão  encontro  que  ,  quer  os  Chinsj 
quer  os  Turcos  estejão  expostos  a  qualquer  dos  taes 
efFcitos.,  que  os  sepáriío  ,  pela  falta  de  poderem  fal- 
]ar  com  precisão  ,  que  ainda  hum  lhes  he  maia  noci- 
vo que  o  owro.  Deixo  isto  á  expeiiencia  dos  indi- 
viduos.  O  Caí^é  he  desagradável  a  huma  porção  do 
povo,  pelo  fazerem  réo  de  moléstias  nervo^a^.  O 
mesmo  Chá  náo  está  innocente  de  semelhantes  ac- 
cusaçóes.  Segundo  as  apparencias  ,  como  se  à  figura 
humana  fosse  a  pszar  de  tudo  ,  tão  felizmente  cons- 
truída,  que  cousas  semelhantes  tem  menos  poder  de 
affectalla  que  ,  a  primeira  vista ,  a  força  da  imagina- 
ção. As  potencias  animaes  apparentemente  são  taes  » 
que  ,  usando-se  com  alguma  moderação  ,  quasi  se 
podem  conyerttír  em  seu  proveito  os  principios  op- 
postos.  Alguns  bebem  o  Gafe  immoderadaraente  ,  e 
condemrião  o  uso  do  Chá  como  nocivo  ,  outros  po- 
rém pelo  avesso.  Tudo  isto  prova  ,ap^íiei)o^;,  co- 
mo poucas  pessoas  são  capazes  de  tirarem :  próprias 
illaçoes    das   experiências.  -: 

Eu  julgo,  que  nem  o  Café  ,  nem  o  Cha'  pro- 
duzem algum  arrimo  d' importância  ,  isto  he  ,  cou' 
tem   mui  poucas  partes  nutritivas  3  antes  diria  ,  que 

el- 


C»!0) 

fcllcs  são   mais   6  vehiculo  do  nutrimento  >  que  nií- 
trimento  próprio  de   si   mesmos  :  o  mais ,  que    del- 
Jes  geralmente    se   pôde  esperar  ,  vem   a   ser  ,  o  se- 
lem agradáveis  ,  e   mui   pouco  prejudiciaes.  O  u-o  , 
ou  coUume    os   tem   adoptado  a  ambos  ,    e   somos 
ros  ,  os  que  os  fazemos  como   ateis  a  nós  me-çmos  ; 
«   como  servindo   ao   bem   público  ,    do  modo    que 
podemos.  A  China  que   nos  provê   de  Chá  ,  está  dis- 
tante ;  a  navegação  he  longa  ,  e   perigosa  ;  o   clima 
nem  sempre  favorece  aos  nossos  marujos :  certamen- 
te  todas  as  viagens   compridas   são   prejudiciaes  ,  e  o 
clima    mais  quente    o   peior.   Ora  a  toda  a   Nação  , 
digo  Nação  Commerciante  ,  que  os  seus  cómmodos 
dependem  desta  útil  raça  do  povo  ,  nós  ,  como  ami- 
gos da  humanidade  ,  não  podemos  aconselhar  o  promo- 
ver o   co;isumo  daquelles   artigos  ,   que  se  vão  bus- 
car  com   tanto  desperdício  ,  e  estrago  de  vidas  tão 
úteis.  A  este  respeito  o  Café  de  nossas   piopriíis  fa- 
íendas  deve  ter  toda    a   preferencia   sobre   o    Chá  : 
a  viagem  he  muito  mais  breve ,  e  o  seu  risco  mui- 
to menor.    Suppondo  se    então   que    o   Chá  e  Café 
são  semelhantes   relativamente  á  sua  utilidade  real  ; 
«lue  hum  não  he   inferior   ao   outro   relativamente  i 
saúde  dos  corísumador^s :  supponho  do  mesmo  mo- 
do que  a   desavantagem  a  respeito   das  lidas  dos  ho- 
mens, seja  igual ,  que  ,  a  pezar  disto ,  o  que  realmen- 
te não  acontece.  Aqui  se  dá    huma  differença  essen» 
ciai ,  pela  quál  se  deve  voltar  a  balança  a  favor  do  uso 

mais 


C  2ii  ) 

mais  geral  do  Café  ,  vem  a  ser  ,  o  ser  elle  plantado 
pelos  nossos  co  vassalios ,  e  pagos  pelas  nossas  ma- 
nufacturas. Pelo  contrario  o  Chá  se  paga  principal- 
mente por  dinheiro  moeda.  A  quantidade  de  fa- 
zendas Britânicas ,  que  os  Chins  nos  comprão  ,  he 
de  pouca  consideração»  quando  se  compara  coma 
quantidade  em  ouro  ,  e  prata  ,  sem  o  valor  do  cu- 
nho CbuUion  ) 

Os  Chins   nos  comprão   todos    os   artigos   que 
€lles  podem  voltar  em  seu  provtito  nacional ,  e  tu- 
do aquillo   que  os  habilita   ao  melhoramento  de  suas 
manufacturas.  Além    da   seda    crua ,  e  alguns  outros 
artigos    d'  algum   pequeno   uso    em    nossas  propriasf 
manufacturas ,  e  d'  outras  muitas  cousas   trazidas  de 
lá,  nós  podemos   dispensar,    especialmente,    sendo 
animado  o   consumo    do  nosso  Café,     Sejão  os  di- 
reitos ,  e  alcavallas  ,  por  exemplo  ,  reduzidos  á  quar- 
ta parte  ,  se  consumirá  mais  que  o  dobro  da  quan- 
tidade  que  até   aqui    O  consumo  será  maior  ,  e  os 
fazendeiros   acharião  o  seu   interesse  em  cultivar  es- 
tas   arvores   com  maior   cuidado.  Augmentada  a  en- 
commenda  ,  se  augmentaria  também  o  preço ;  e  co- 
mo  se    enviaria   muito    mais   ao  mercado  ,    e  ant«s 
se  compraria    o    mais   caro  que   hum  d'  inferior  es- 
pécie. Isto  sei  ia  hum  effeito   certo  do  augmento  das 
receitas. 

Ainda    se    dá    outra   consideração    que    tem  o 
inesmo  peso ,   vem  a  ser ,   que  a  cultura    do  Café 

pó- 


(2jO 

pode  ícr   levada   a  hum  tal   ponto   ,    que   possa  fa- 
zer  subsistir    os    fazendeiros  pobres ,    e   alguns    arti- 
gos semelhantes  ,    particularmente   o   algodão  ,    com 
ps-^ueno   fundo  de  cabedaes  ,  e  sem  despeza  de  mui- 
tos  escravos.     O   fa:endciro  rico    pôde    demais   fazer 
assucar.    A   despeza  de  negros ,    gado  ,    engenhos  e 
outros   requisitos   das    fazendas    d'  Assucar     he   com- 
prehendida.   Se    tiver   alguma  propriedade  de  terras , 
por   hum  ou   outro   meio  se   vé  muitas  vezes    obri- 
gado a  vendelias  a  algum   visinho  mais    rico,  e  mu- 
riar-se  para    outro  baino  ,  menos  desfavorável  ás  ^uas 
a:tu;'.es    circumstancias.     Deste     geito     se    despovoão 
pouco  a   pouco    as  Ilhas   de   visinhos    brancos.    Isto 
os   indispõem   para   poderem    subjugar  dentro    a   in- 
surreição  dos   seus   negros  ,  e  também  ,  para  se  op- 
porem  a   qualquer  invasão   hostil  ,    que  possão   ter 
de   fora. 

A  relação  ,  Junta  do  Café  ,  anticipa  algumas 
nofas  ,  para  fallar  mais  abundantemente  ,  que  em 
GL-tras  occasiôes  ,  que  lhe  tem  por  muitas  vezes 
occorrido.  O  Escriptor  desta  breve  Relação  C  sem 
embargo  disso)  não  esgotou  todo  o  assumpto. 
Descreve  mui  exactamente  muitas  circumstancias  , 
fue  tendem  a  fazer  de  menor  valor  o  Café  das 
1  idias  Orientâes  que  o  Euroreo.  Ke  muito  ver- 
dideiro  na  sua  observação  acerca  da  differença  da 
cumtidade  que  se  produz  nos  dififcrentcs  terrenos, 
C  situações.    He  muito  a  propósito   a  coima  ,    que 


faz  a«s  Tnglezes  pelo  pouco  cuidado  com  que  o 
embarcão  para  o  Reino.  Os  Francezes  immcnsa^ 
n:ente  nos  excedem  a  este  respeito  ,  e  o  maioF 
preço  ,  a  que  chega  ,  se  deve  em  grande  patte  ao 
seu  superior  cuidado  e  meneio.  Com  toda  a  ardi- 
leza  accusa  aos  fazendeiros  ,  e  carregadores  de  con- 
sentirem ,  por  falta  de  attenção  ,  de  se  carregar 
no  mesmo  navio  o  Café  com  o  rlium  ,  e  assucar 
grosseiro  ,  artigos  capazes  de  lhe  communicarera 
hum  ma'o  gosto  ,  que  apenas  se  lhe  pôde  tirar 
pelo  fogo  :  tão  penetrantes  sâo  os  vapores  ,  que 
se  levantão  do  rhum  ,  c  do  assucar  contidos  no 
porão  do  navio.  Deve-se  ajuntar  tanto  Café  junta- 
mente em  hum  lugar  ,  quanto  carregue  hum  navio. 
Argumenta- se  da  mesma  sorte  :  que  o  Café  nas 
Ilhas  das  índias  Occidentaes  não  se  pôde  seccar  fa^ 
cilmente  d'  huma  maneira  própria  por  ser  o  seu  ar 
muito  húmido.  Mas  ,  havendo  em  todas  as  Ilhas 
terras  altas  ,  se  pôde  levar  o  Café  para  ellas  ,  para 
o   fazer   seccar   lá  sufficieníemente. 

Não  se  deve  omittir  outra  circumstancia  ,  è 
vem  a  ser  ,  que  se  usa  logo  do  nosso  Café,  Aca- 
so huma  parte  da  excellencia  do  Café  de  Moca  ve- 
nha desta  circumstancia.  A  Companhia  das  índias 
Orientaes ,  manda  cada  dous  annos  hum  navio  úni- 
co, Ke  muito  provável,  que  huma  parte  desta  carre- 
gação esteja  guardada  neste  cálido  ,  e  secco  paiz  mais 
de  hum   anno.   Gasta  seis  mezes  na  sua  viagem  por. 

mar 


.A,. 


C*i4) 

mar  a  Inglaterra  ;  pôde- se- lhe  conceder  mais  seu 
ou  doze  mezes  para  passar  as  mãos  >  que  o  hão  de 
consumir.  E  defle  modo  se  precisão  dous  para  três 
annos  entre  o  tempo  que  foi  produzido  ,  e  o  do 
seu  consumo. 

Muita  parte  da  rHUcilagem  ,  que  ,  quando  se 
mastiga  ,  faz  a  base  do  seu  sabor  ,  se  melhora  pe- 
la sua  demora  ,  como  na  realidade  a  experiência  o 
confirma. 

Além  disso  se  podião  dar  muitos  exemplos  de 
testemunhas  acreditáveis  (e  com  especialidade  pela 
relação  do  Governador  Scott  ,  junta  á  está  carta  ,  a 
este  respeito)  o  seguinte  passou  debaixo  da  minha 
própria  observação  ,  e  >  até  onde  ella  chegar ,  pódc 
ser    conclusiva. 

Tenho  hum  presente  feito  de  muitas  espécies 
de  Café  crú  das  Ilhas  das  índias  Occidentacs :  sen- 
do bem  sabido  o  quanto  desejo  animar  a  cultura 
desta  planta,  pelas  razões  acima  allegadas,  deixei 
alguma  parte  deste  Café  em  hum  lugar  secco  fe- 
chado •  o  qual  ,  faz  hum  anno ,  não  tinha  sabor  al- 
gum •  e  não  prestava  para  o  uso  :  sendo  porém 
agora  experimentado,  se  achou  ter- se  melhorado, 
ou  ertiendado  muito  pouco.  Se  o  melhoramento  se 
houver  de  fazer  á  proporção  do  tempo  ,  que  de- 
correr »  passado  outro  anno  mais ,  será  mui  pcuco 
somenos  ao  Asiático.  He  de  muita  consequência 
sibér-se  «    se    o  Café  deve  ser  embarcado  sobr^  si 

uni- 


(    2jO 

unicamente  ,  oti  se  deve  vir  de  compahhia  com  ou- 
tios  géneros  ,  ou  solitário  !  Se  se  deve  guardar  ent 
lugares  húmidos ,  e  armaiens  não  seccos  ,  ou  se  em 
lugates  seccos  ,  e  em  casas  ventiladas  ,  se  se  deve 
usar  immediatamente  ,  ou  ao  depois  de  se  ter  con- 
isérvado  por  algum  tempo  considfeiavel  ?  Isto  he  mui 
digno  do  trabalho,  e  despesas  do  fazendeiro  ,  con- 
servar o  seu  Café  nesta  Ilha  d'  hum  p>fira  outio  an- 
ho até  obter  huma  lai  quantidade  ,  quer  esta  seja 
do  seu  próprio  ,  quer  trazido  d*  àl|um  dós  lugares 
dos  seus  arredores  ,  que  seja  sufficiente  a  fazer  a  car- 
ga d*  hum  navio  pequeno ,  marcando  as  suas  dine- 
Tfentcs  idades.  Mas  ò  total  desta  acçao  depende  do 
Governo  ,  diminuindo  os  direitos  ,  para  augmentar 
o  seu  consumo  ,  e  embaraçando  o  contrabando  ,  ou 
passagem  por  alto  :  habilita  a  muitos  brancos  a  ga- 
nharem o  seu  confortativo  alimento  ,  e  â  serem 
jpagos  por  liossàs  manufacturas.  Como  quer  que  el- 
U  seja  plaritado  pela  liossa  piròpria  Nação  ,  trazido 
com  menos  risco  da  saúde  ,  e  vida  da  gente  dò 
ínar  ,  examinados  á  liiz  politica  ,  certamente  deve 
íherecer  huma  favorável  deliberação  da  legislatura* 
O  Café  feito  pela  maneira  seguinte  he  mui 
agradável  a  muita  gentfe  ,  e  merecfe  toda  à  prefe- 
rencia ao  Chá  ,  óií  ao  Café  feito  pêlo  modo  ordi- 
nário para  o  alrhoço,  Faça-se  o  Café  pelo  modo 
ordinário  huma  tsrça  parte  mais  forte.  Ãccréscentê« 
sè-lhc  hite ,  quando  muito ,  quente ,  antes  que  se 

ti- 


s  . 


tire  do  fogo  a  agua,  deixe-se  sentar,  beba-se  com 
creme  ,  ou  nata  ,  ou  sem  eljc  ,  como  lhe  for  mais 
agradável.  A  gente  pobre  ,  e  meam  se  disporá  a  pro- 
curallo  ,  e  será  muito  mais  nutritivo  ,  e  benéfico 
que  a  miserável  bebida  do  Chá  muito  ordinário  , 
com  que  se  acaritião.  Deve-se  usir  de  muito  pou- 
co assucar  no  Cafc  ;  fazendo-se  doce  ,  he  arriscado 
a  azedar-se  nos  estômagos  débeis  ;  e  por  esta  sin- 
gular razão  muita  parte  do  povo  evita  a  bebida  do 
Café.  Eu  náo  intento  pôr  esta  questão  importan- 
te Qual  seja  preferivel  o  Café  ,  ou  o  Chá  ?  A  sua 
resolução  deve  ser  deixada  á  experiência  dos  indi- 
víduos. Quanto  a  mim  se  me  deve  permittir  fa- 
xello   evidente. 

Quando  tomo  Chá  ,  acho  que  nao  satisfaz  fa- 
voravelmente á  minha  saúde  por  algumas  circum- 
stancia?.  Eu  escolho  o  Café  ,  feito  da  maneira  aci- 
ma mencionada  ,  e  uio  dclie  por  muitos  annos  cons- 
tantemente sem  leceber  do  seu  uso  o  menor  in- 
conveniente. 

Requer-se  hum  bom  fundo  de  conhecimentos 
physicos  para  determinar  como  haja  de  ser  bom  o 
costume  ,  que  tem  os  Francezes  ,  de  tomarem  Café 
logo  que  acabão  de  jantar  j  mas  entendo  cuc  se- 
não deve  disputar  ,  qual  dos  dous  será  então  me-» 
DOS  ruinoso  á  saúde  ,  se  hum  copo  de  Café  ,  ,ou 
buina    garrafa    de  vinho. 

Com   tudo  Julgo  que   he  menos  nocivo   beber 

Ca- 


( ^n ) 

Café  immediatamente  depois  de  jantar  ,  que  mais 
tarde  ,  ou  á  noitesinha ,  e  pelo  menos  por  huma  ra- 
zão  que   facilmente    se   descobre. 

O  Café  certamente  promove  muito  o  innio  ou 
vigilia  ,  ou  por  outra  ,  a  inclinação  a  dormir.  Pa- 
ra aquelles ,  por  tanto  que  deseião  não  ser  tão  su- 
jeitos a  esta  inclinação  ,  o  Café  indubitavelmente 
he  muito  melhor  que  o  vinho  ,  e  talvez  ,  que  to- 
do  outro  liquor. 

São  mui  numerosos  os  exemplos  das  pessoas , 
ás  quaes  o  Café  tem  sido  antisoporiíero.  Da  outra 
parte  são  igualmente  numerosos  os  exemplos  das 
pessoas  ,  ás  qiues  o  vinho  tesn  causado  os  effei-os 
oppostos.  ^ 

He  mui  hypothetica  a  opinião  que  attribue  a 
vivacidade  dos  Francezes  ,  ao  depois  de  jantar  ,  a 
esta  bebida  Mas  acho  ser  bem  sabido  que  ,  ao  de- 
pois de  huma  comida  larga  ,  talvez  de  carnes  gros- 
seiras ,  na  realidade  na  razão  de  mero  diluente  de- 
ve ser  preferido  ao  vinho  ,  o  qual ,  no  entretanto 
que  dá  huma  fluidez  temporária  aos  espiritos  ani- 
maes ,  mais  depressa  se  oppõem  á  aquella  necessá- 
ria assemelhação  que  a  natureza  faz  pontaria  ,  ou 
deseja  nos  officios    da  digestão. 

Parece  muito  provável  que  ,  substitui ndo-se  o 
Café  ao  depois  de  jantar  immediatamente  a  huma 
garrafa  ,  se  tiraráó  muitas  vantagens  ,  assim  para  a 
saúde  ào  individuo  ,  como  para  a   geral  economia » 


-■i.-- 


c  não  me  parece  mer.os  provável  ,  pela  bebida  d<H 
Café  tão  larga  ,  co;tio  usualmente  praticada  ,  que 
nós  interrompemos  a  digestão  ,  e  accr«scentamos  hu- 
ma  nova  carga  de  mattriM  sobre  a  cue  já  se  zeha 
no  estômago  ,  que  ,  ao  depois  d'  huma  larga  comi- 
da ,  não    hc    huma  cousa    indifferente. 

Pçlo  contrario  ,  se  eu  posso  ter  opinião  sobre 
assumptos  desta  natureza  ,  não  posso  deixar  de  pen- 
sar que  o  uso  do  Chá  ao  depois  de  jantar  no  tem- 
po ;  e  do  modo  que  geralmente  se  pratica  ,  he  mui- 
to mais  prejudicial  a  muitas  pessoas  ,  e  se  muitos 
tem  escapado  sem  exper  montarem  alguns  effeitos 
prejudiciaes  ,  cHei  podem  justamente  attribuir  á 
firmeza  de  sua  constituição  ,  eu  quasi  hia  a  dizer, 
á  sua  boa  fortuna.  Esta  ipateria  ,  a  n.eu  vér  ,  he 
€apaz  de  muitas  disputas  ,  e  tanto  mais  ,  que  de 
parte  a  parte  podem  haver  pequenas  distincçóes  , 
que    se    podem   trazer  a   favor  de  cada  huma  delias. 

Não  posso  com  tudo  concluir  estas  adveiten- 
cias  ,  sem  resumir  a  substancia  do  que  desejo  in- 
culcar j  que  relativamente  ao  seu  real  uso  ,  como 
huma  parte  do  nosso  alimento  não  tenho  razão  al- 
guma evidente,  que  me  persuada  a  julgar  que  o 
Café   seja    inferior  ao    Chá. 

Que  relativamente  a  nacional  economia  ,  o  pro- 
veito das  nossas  Colónias  ,  e  as  viifts  dos  nossos  ma- 
rítimos ,  são  circumstancias  que  concorrem  a  dar  a 
preferencia  ao  Cjfé.  Ell<?  ie  cultiva  pelos  nossos  co- 
vas-. 


i 


(    2J9    ) 

vassAlIos  ,  he  pago   pelas   nossas  manufacturas  ,  e  o 
seu  rendimento  ultimamente  vem  para   a  Grã-PirCf 

tanha. 

Que  os  altos  direitos ,  e  alcavalla$  são  verda- 
deiros obstáculos  a    hum   mais  amplo  uso  do  Café, 

Que  ,  diminuindo-sc  estes  direilos  ,  sem  que 
por  isso  se  hcuvesse  de  diminuir  o  seu  rendirpen- 
to  :  porque  o  contrabando  se  desacoroçoaria.  O  con- 
sumo se  augmcntaria  de  modo  que  o  Erário  não 
sentiria   diminuição  alguma. 

Que  se  deveria  procurar  que  os  Granjeiros  des- 
ta planta  houvessem  de  a  cultivar  com  cuidado  es- 
crupuloso ,  para  que  ella  podesse  ter  huma  melhor 
sahida  nos   mercados. 

Que  ,  como  podem  dispor  a  poucos  Granjeiros 
a  que  subsistão  unicamente  deste  granjeo  ,  ou  cul- 
tura ,  &c.  se  poderia  augmentar  pelo  seu  número 
a  sua  força  com  o  das  outras  Ilhas  :  porque  os  Eu- 
ropeos  podem  soífier  o  trabalho  que  se  requer  pa* 
ra  a  sua  cultura. 

Ajunto  aqui  hum  papel  »  que  me  communi- 
cou  o  Governador  Melvill  ,  cujo  indefesso  traba- 
lho em  promover  os  interesses  da  Grã-Bretanha , 
e  de  suas  Colónias  ,  merece  hum  público  agrade- 
cimento ,  c  reconhecimento  ,  e  também  a  cópia  de 
huma  Carta  ,  que  á  muito  tempo  recebi  de  Scott, 
ultimo  Governador  de  Dominica.  Estou  altamen- 
te capacitado  que  cjtas  demonstrações ,  tão  eviden- 
tes 4 


(   24C  ) 
tes  I  devem    merecer    ao  público  alguma    considera* 
ção  ,  e   fazer-lhe  al.^jm   peso. 

Julgando-se  que  alguma  parte  das  navertencias, 
que  dou ,  em  raião  de  amizade  ,  pjde  contribuir 
para  proveito  ,  ou  bem  commum  do  público  ,  quei- 
xa este  ujar  delia  livremente  ,  conforme  julgar  >  que 
mais  lhe   convém. 


Assignado  (T.  Fffthcrpll.^ 


OBSERVAÇÕES 

SOBRE    O    CAFÉ 

Fdr   hum   douto  »    e  experimentado  Fazendeiro  em 

Granada  ,    commun içadas  ao   Doutor  Fothcr^ill 

pelo   Governador  MeívilU\ 


M 


UiTAS  pessoas  na  Europa  irhaginãõ  qiíe  nas 
nossas  Ilhas  se  pôde  colher  hum  Café  muit©  me- 
lhor que  aquelle  ,  que  actualmente  delias  nos  vem. 
Não  se  duvida  que  isto  assim  s«ja  ,  c  o?  seus  vizi- 
nhos o  conhecem  muito  bem  ;  mas  o  sobrepujsnte 
motivo  ào  interesse  lhes  embaraça  diligenciar  me* 
ihor  o  rendimento  desta  planta* 

São  instruidos  pela  experiência  ,  que  huma  ter* 
ra  solta  ,  sccca  ,  e  as  encostas  ,  ou  declives  levanta- 
dos produzem  Café  ,  de  huma  baga  mais  pequenaj 
e  de  rtielhor  e  mais  delicado  sabor  ;  e  que  o  Cafe- 
seiro  nascido  em  lugar  raso  ,  fértil ,  e  terreno  hú- 
mido he  máo  ,  a  baga  grandtí ,  chata ,  c  quasi  de- 
senchavida. 

Também  a  experiência  lhes  tem  ensinado  ,  que 
as  arvores  plantadas  em  hum  tal  terreno  ,  produ- 
icm  de  li  a  16  onças  de  Café  por  cada  planta » 
e  que  nos  terrenos  d'  outra  natureza  apenas  dão  mais 
do  que  6  até  8  onças  :  O  que  em  razão  do  peso 
faz  huma  differenca  da  anietade.  Presentemente  ení 

q  Fran- 


(    242    ) 

França  ,  Inglaterra ,  e  nas  demais  partes  dos  merca- 
dos d'  Europa  a  única  diffcrenca  determinada  no 
preço  entre  este  Café  pequeno  ,  e  bem  preparado, 
e  o  da  grande  ou  o  da  peior  casta  ,  ou  qualidade 
lie  de  15  até  20  por  cento.  Consequentemente  os 
vizinhos  desta  Ilha  ,  achão  maior  conveniência  em 
estabelecer  as  suas  granjas  desta  planta  em  hum  ter- 
reno m.ais  rico  :  c  as  pessoas  ,  que  tem  o  pequeno 
e  delicado  Cafc ,  são  aquellas ,  que  possuem  ter- 
ras más ,  e  nío  tem  hum  sufficiente  número  de 
braços  >  ou  escravos  para  o  menear  ,  e  benefi- 
ciar. 

He  fácil  de  se  fazer  este  cálculo  :  com  hum 
igual  número  de  plantas  se  produz  o  dobro  do  seu 
peso  ,  e  pela  differença  do  preço  somente  se  per- 
de ,  o  que  vai  de  15  para  20  por  cento.  Por  con- 
sequência e  inteiesse  tem  embaraçado  aos  nossos 
Granjeiros  de  cuidarem  mesmo  na  cultura  daquella 
espécie  de  Café  ,  que  tem  hum  maior  valor  na  Eu- 
ropn.  A  differença  do  preço  ,  entre  as  varias  sortes 
de  Café  ,  podia  ser  contemplada  para  os  mover  á 
própria  emulação  entre  si  ,  como  acontecco  entre 
os  cultivadores  das  differentes  castas  do  Assucar. 

Poder-se-hia  accrescentar  á  estas  considerações, 
que  n*  hum  terreno  fértil  durão  muito  tempo  ,  e 
náo  neçessitão   ser  transplantadas  tco  repetidas  vezes. 

Algumas  pessoas  atiladas  se  deliberai  ao  n  rea- 
lisar  o  methodo  dos  Árabes ,  pelo  qual  toca  a  pre- 

par 


C  H!  ) 

paraçíío  do  Cafc  em  duas  cousas ,  a  primeira  em  ô 
lião  colherem  ,  até  que  ellc  não  esteja  perfeitamen- 
te maduro  ,  a  segunda  em  o  seocarem  á  sombra  > 
tirando-Jhe  primeiramente  a  carne  ,  ou  polpa. 

A  ultima  destas  rsra  vez  se  faz  possível  j  por- 
que ,  além  de  ser  o  ar  muito  quente  nestes  cli- 
mas ,  he  constantemente  tão  húmido  ,  que  sabemos 
por  experiência ,  que  o  Café  nunca  se  pôde  seccar  á 
sombra  sufficientemente ,  para  ser  exportado  para  a 
Europa, 

A  primeira  pode  ser  mui  proveitosa  ,  e  he  real-í 
mente  possivel  ,  se  outras  pessoas  ,  e  não  os  ne- 
f  ros  ,  fossem  empregadas  neste  trabslho  ,  os  quaes 
sendo  preguiçosos ,  ignorantes ,  e  geralmente  de  má 
índole  ,  ou  não  podesn  ,  ou  não  querem  cuidar  nes- 
te particular  j  e  não  tem  outro  desejo  mais  do  que 
acabar  o  seu  trabailio  com  a  maior  presteza  ,  que 
podem  ,  ou  para  ficarem  livres  da  tarefa  ,  qwe  se  lhe 
impôs  ,  ou  evitar  o  castigo  ,  se  a  não  completarem. 
Além  disto  ,  a  estação  de  se  colher  o  Café  he  pró- 
xima ao  invern.o ,  as  chovas  ,  cue  neste  tempo  são 
mui  frequentes  ,  fazem  cue  as  bagas  muitas  vezes 
caião  sem  estarem  perfeit  mente  maduras. 

Segundo  o  que  diz  a  Kisíoria  ,  o  nosso  Café 
provavelmente  tem  a  sua  origem  no  de  Babejman- 
del  ,  donde  nos  veio.  A  primeira  arvore  trazida  á 
r<Iartinica  em  1727  ou  2%  por  M  Delieu  ,  foi  ti- 
rada do  Jardim  de  S,  Ma5:estjde   Christianissima  ,  e 


t 


■■í 


(  ^44  ) 

era  da  mesma  espécie  do  de  Batavia.  Esta  arvore 
foi  plantada  junto  a  Portoreal  cm  hum  terreno  hú- 
mido e  muito  fertiJ  ,  e  quasi  no  mesmo  livel  ào 
mar ,  e  por  isso ,  pôde  ser  ,  que  esta  espécie  se 
haja  de   ter  necessariamente  muito  degenerado. 

Toda  a  classe  baixa  do  povo  em  Martinica  , 
antes  do  tempo  da  sua  introducção  ,  cultivava  os 
cacauseiros  ,  mas  hum  contagio  .  segundo  contão  , 
difficultou  a  sua  cultura  .  e  por  hum  effeito  geral 
acabarão  todos  os  cacausaes  em  1727.  Os  vizinhos 
meio  arruinados  ,  ao  depois  de  terem  havido  mui- 
tos projectos  ,  por  fim  se  resolverão  ao  granjeo  do 
Café  ,  e  a  Companhia  Oriental  Franceza ,  tendo  abai- 
xado os  direitos   á  sua  cultura  ,  foi   animada. 

Geralmente  os  Francezes  usão  no  seu  trans- 
porte  de  muitas  maiores  cautellas  ,  que  não  prati- 
cão  os  Inglezes.  Elles  o  embarricão  em  cascos  mui- 
to  seccos:  nas  Ilhas  de  Sotavento,  onde  se  prepá- 
ra  o  melhor  Café  ,  o  navio  não  carrega  assucares 
mascavados .  e  menos  cachaça  ,  ou  agua-ardente.  So- 
mente exportão  com  elles  assucares  brancos  ,  que 
pouco  damnificão  esta  semente.  Também  os  Capi- 
tães cuidão  muito  em  pôr  entre  cobertas  ,  ou  em 
algum  outro  lugar  do  navio  que  seja  muito  secco. 
Os  Inglezes  porém  »  pelo  contrario  .  o  assucar  mas- 
cavo .  a  agua-ardente  ,  o  Café  ,  tudo  a  barriseo  ,  ou 
misturadamcnte   em  qualquer  parte  do  navio.    Isto 

faz 


(  245  ) 

fsz  hum  prejuizo    considerável  ao  Café  ,  que  se  põem 
próximo  a  elles. 

Ainda  se  dá  outra  causa  mais  remota  ,  que 
poucas  pessoas  sabem  ,  mas  que  contribue  muito 
para  a  ruindade  do  Gafe  ,  que  se  exporta  para  In- 
glaterra. 

Fretâo-se  muitos  navios  Ingle?es  para  carrega- 
rem ,  os  Capitães  arrumao  as  cargas  pela  ordem  , 
com  que  as  recebem  ;  e  os  carregadores  ,  ou  donos 
se  dão  por  satisfeitos,  enchendo  bem  os  navios. 
Para  elles  he  hum  ponto  de  pouca  importância  o 
arrumar  bem  ou  mal  taes  géneros  j  ou  se  elles  se 
deteriorarão ,  por  se  arrumarem  huhs  junto  dos  ou- 
tros. Os  navios  Francezes  geralmente  carregão  por 
conta  de  seus  donos  ,  os  próprios  Capitães  comprão 
os  géneros  por  conta  dos  mesmos ,  e  ,  por  isso  ,  são 
mais  capazes  de  fazerem  huma  exposição  da  sua  con- 
diicta  a  este  respeito  ,  e  a  darem  provas  de  terem 
obrado  com  prudência  e  cautella  ,  porque  ,  não  sen- 
do assim  ,  íicão  responsáveis  a  dar  huma  conta  ex- 
acta da  sua  economia  ,  ou  meneo  ,  e  aprovar  que  el- 
les obrarão  «om  prudência  ,  e  cautella  ;  pois  são  obri- 
gados a  cuidar  escrupulosamente  no  arranjo  da  carga 
dos  seus  navios ,  e  em  resguardar  a  sua  carga  ,  a  que 
não  receba  avaria.  Segue  se  disto  :  que  o  Café  se  car- 
rega muito  melhor  para  Franca  ,  que  para  Ingla- 
terra. 


EXi 


C  246  ) 

E  X  T  Pv  A  T  o 

De  huma  Garra  de  Jorge  Scot ,  Tenente  Go- 

veixnador  de  Dominica  ao  Doucor 

Forhergi!!. 

Ilha   Dominica    na   Casa  do    Governo    aos 
2  1    de   Novembro   d,;    17Ó5. 


S  e  n  Ii  o  r 

XVI « — Certo  Fazendeiro  abastado  de  Granada  , 
SFortando  nesta  ijha  de  passagem  para  esse  Reino 
no  decurso  da  sua  communicação  me  informou  dos 
vossos  esforços  p:.trioticos  ,  em  procurar  o  aug- 
mento  dos  productos  destas  nascentes  Colónias .  que 
ultimamente  nos  forao  cedidas  pelos  Francezes  ,  e 
tendo  hum  grande  desejo  de  concorrer  com  a  mi- 
nha pequenhez  ,  para  o  adiantamento  dos  vossos  nu.i 
louváveis  trabalhos  ,  tomei  consequentemente  a  li- 
herdade  de  metter  a  bordo  do  navio  Neptuno  ,  de  que 
he  Capitão  Edmundo  Stevenson  ,  encarregr.do  a  ;.I. 
Eeats  de  Londres ,  em  huma  caixa  ,  dirigida  por  nós 
jn^smos  ,  três  pequenas  saccas  de  Café  ,  as  quaes  me 
íareii  o  favor  de  acceitar  ,  não  como  cousa  denodada, 
{)çm  que  não  tenha  eu  a  honra  de  vossa  amizade  ,  mas 

CO- 


C  247  ) 

como    unicamente  applicada  para  qualquer  experiên- 
cia ,  que  julgardes  próprio   a  fazer  delle. 

O  da  pequena  sacca  marcada  N.°  i  ,  foi  colhido 
em  o  anno  de  S760  ,  o  da  que  vai  marcada  ]N.°  2  em 
17  6  j  ,  e  o  do  do  N.'^  5  o  anno  passado.  Todos  são  na- 
turaes  desta  Ilha,  que  se  reputa  produzir  o  melhor 
Cafc  das  índias  Occidentaes  ,  menos  ao  da  ilha  de 
Fjari^alante  ,  e  o  do  lado  Occidental  da  ilha  de 
Martinica  ,  em  os  montes  oppostos  á  Rocha  do  Dia- 
mante ,  a  cujo  Café  dao  os  Francezes  sempre  a 
preferencia  ,  ainda  que  os  moradores  da  mesma  pre- 
ferem o  seu  próprio  ,  de  que  usão  nos  seus  almo- 
ços ,  tomando-o  com  igual  quantidade  deleite  fer- 
vido fou  fallando  com  maior  propriedade)  com  lei- 
te fervendo  ,  ou  escaldando ,  e  ao  depois  de  jantar 
commummente  tomão  hum  copo  ,  mas  sem  leite  ; 
e  o-eralmente  írozao  de  boa  saúde ,  e  de  huraa  bel- 
la  delicadeza  de  espíritos  ,  para  esta  parte  do  mun- 
do. Sem  embargo  disto  ,  os  vassallos  Inglezes  ,  aos 
quaes  he  diíficultoso  despirem-se  de  prejuizos  ,  ain- 
da persistem  no  uso  do  chá  ,  e  ainda  que  tenháo 
huma  boa  consistência  de  saiide  ,  náo  parece  que 
po^suão  araetade  da  viveza  ,  ou  esperteza  igual  á 
dos  Francezes  ,  que  vivem  na  mesma  Ilha  com« 
nosco 

Quanto  a  que  se  diz  :  que  em  Inglaterra  mareão 
o   valor  áo  Cafc    pela    proporção  da  sua  pequenhez  , 
e    peh   cor   verdoen^a  do  seu   grão  ,  aqui  pelo  con- 
tra- 


í 


(  24S  ) 
trario   nem  huma  cousa  ,    nem   outra  ,    isto    he  ,  o 
tamanho  ,  e  a  côr ,  quando  o  põem   em  seu  próprio 
uso  ;  e  só  sim   á   proporção  do  tempo  ,  em  que  toi 
colhido,  e  que  o   tem  bem   guardado  em  hum    lu- 
gar  secco  e    quente  ,  e   exposto  ao  ar  três   ou  qua- 
tro   vezes    no  anno  j    e  conforme  dizem  ,    o  maior 
número  de   annos   que    elle    tem   sido  guardado   do 
modo  ,  que  se  acabou  de  dizer  ,  o  faz   ainda  ser  mui- 
to   melhor.  Também   attribuem  ,   como   hum  grande 
fundamento  da  sua    exceiiencia    ,    ao   methodo   co;n 
que  o  prepárão  ;  pois    sendo  muito   torrado  ,  adqui- 
re  hum   máo  amargo,  e    gosto  de   queimado,  e   se 
o   não    torrão  ,  o  que    basta  ,  ainda   que  o  Café  te- 
nha a  antiguidade   de  cinco   ou   seis   annos,  adquire 
hum    saber  ,  como  o  daquelle  ,  que  foi  apanhado  no 
mesmo  anno  ;  mas  ,   sendo  antigo  ,  e  bem   torrado, 
c   immediatamente   abafado    na  Cafeteira  ,  cu   copo 
sobre   o  fumo   quente  ,  para  evitar  que  as  delicadas 
partículas   voláteis  ,    e  sabor   se   não  evaporem  ;    se 
quando  moído    se   faz    propriamente    com  boa  agua 
fervendo  ,    se  reputa    estar    no   seu  mais   alto   grão 
de   perfeição  i  a  classe  melhor  dos    Francezes  ,    em 
toáas   as  Ilhas  prat/ca  tomar  hum   copo  com  partes 
iguaes   de   Café  e   leite   fervendo  ,  com  huma  costra 
de  pão   quasi  ao  mesmo   tempo  que   se  Itvantão   da 
eama   pela   manhã.   A  razão  ,  que  dão  rara  este  uso  , 
he  a  seguinte  ,    que   elle   aclara   os   miollos  ,    aviva 
OS  sçiitidos,  alimpa  o  çstonu^o ,  despenha  algiima 

rcu- 


Ç  149  ) 
reiima  ,  oii  matérias  fortuitas ,  que  podem  estar  alo- 
jadas peito  da  cabeça,  estômago,  ou  bofes,  do 
máo  ar  ,  ou  vapores  pútridos.  E  do  mesmo  modo 
dizem  que  preserva  da  pedra  *  e  a  cura  totalmen- 
te. Os  Turcos  também  fazem  huma  grande  esti- 
mação do  Café  bom  ,  expondo  as  suas  qualidades 
vivificantes  dos  espíritos  animaes.  Certamente  por  es- 
te principio  se  deve  preferir  ao  chá  ,  que  algumas 
vezes  causa  effeitos  mui  contrários  ,  e  por  muitas 
formas  differentes  ;  e  na  minha  fraca  opiiiíão  só  pre- 
cisa ,  por  ser  hum  dos  melhores  almoços  nesta  par- 
te do  mundo ,  para  onde  passa  ,  ou  arriba  muita 
honrada  e  valerosa  gente  da  anuviada  ,  ou  nevada 
Ilha  da  Grã-Bretanha  ,  onde  hi-ma  semelhante  raui- 
tidao  de  melancólicos  accidentes  provem  de  hu;n 
abatimento  dos  espíritos.  Mas  precisa-se  averiguar 
melhor  que  effcitos  facão  nos  corpos  ,  ou  nos  es- 
piritos  as  duas  célebres  bebidas  do  Café  ,  e  do  chá 
por  aquelles  ,  que  fizerão  o  seu  principal  estudo  e 
profissão  no  conhecimento  da  economia  do  corpç 
humano  ,  tendo  sido  a  minha  a  das  armas  ,  e  pre- 
sentemente no  do  Governo  desta  Ilha  :  de  donde 
vos  remeíterei  com  gosto  ,  todo  o  Café  ,  de  qual- 
quer sorte  que  for,  que  carecerdes  para  o  vosso  pró- 
prio uso  ,  pelo  tempo  da  minha  existência  aqui  por 
ser,  ainda  que  não  conhecido  por   vós,   muito 

vosso  obediente  ,  e   humilde  servo 
i^ssignado  Qor^e  S^oti.'} 
O 


p.  s. 


o  methodo  de  curar  o  Café  nas  índias  Occí- 
dentaes  ,  he  passando-o  pelo  engenho  ao  depois  de 
estar  maduro  ,  e  ser  coJhido  ;  e  feita  esta  opera- 
ção ,  se  lança  em  tanques  ,  e  se  cobrem  d'  a^ua  por 
IO  ou  ift  horas,  até  que  a  sua  polpa  se  solte  ,  ou 
separe  ,  então  se  lava  ,  e  o  Café  ,  que  fica  nas  suas 
lascas  se  amontoa  ,  para  suar  ,  e  para  enxugar  a 
íigua  por  dous  ou  três  dias  mais  ,  e  então  se  assoa- 
lha ,  ou  estende  ao  Sol  ,  e  ,  seccando-se  ,  se  deita  em 
pilões  ,  (  vasos  de  madeira  côncavos  )  ,  e  com  mãos 
se  pilão  ,  até  que  a  pellicula  ,  chamada  pergaminho, 
se  despegue  ,  e  se  aventa  ou  joeira  ,  e  se  torna  a 
pôr  ao  Sol  até  ficar  cabalmente  secco  ,  e  se  con- 
duza ao  mercado.  O  Café  ,  que  vos  remetto  na  pe- 
quena sacca  N.°  j  he  huma  certa  quantidade  ,  que 
consegui  dos  cultivadores  ,  o  preparai  lo  á  maneira  do 
de  Moca  ,  o  qual  ,  segundo  as  informações  ,  que 
tenho  ,  he  fazendo-o  resuar  ,  e  seccar  á  sombra  ,  de- 
pois de  se  ter  passado  pelo  engenho  ,  e  que ,  a 
r.  eu  ver  ,  deve  ser  preferido  infinitamente  ao  en- 
sopado d'  ngiia  ,  e  secco  ao  Sol  ,  o  que  certamente 
ha  de  fazer  perdtr  grande  parte  das  suas  virtudes  , 
e  cualidades  ,  e,  com  especi^diJ  ide  ,  a^.uelle  cheiro 
t;<o  uelica.io  ,  que  t^c^m  ,  que  he  tão  a-radave!  ao 
ojiaio,  lo^o  quando   se   bota  i^.as   taças.   Creio    que 

acha- 


achareis  est.-i  pequena  sacca  muito  boa  ,  ainda  qiis 
náo  tenha  mais  de  déz  mezes  de  curação  ,  e  se  for 
bastante  para  isto  gnavdallo  por  três  ou  quatro  an- 
nos  ,  se  fará  perfeitamente  exceliente  :  no  tocante 
a  CNte  methodo  ,  deve  certamente  ser  o  niclhor  ,  e 
eu  me  teniio  esforçado  a  persuadir  a  muitos  fa7en- 
deiios  o  seguir  este  caminho  ,  mas  a  grande  despe- 
za  ,  que  se  precisa  fazer  em  edifícios  para  os  abri- 
gar do  Sol  ,  e  da  chuva  ,  no  tempo  em  que  se  cu- 
ia; o  grande  trabalho  que  causa,  e  tempo  que  le» 
va  ,  em.  o  curar  pelo  methodo  da  Arábia  ,  o  pe- 
queno preço  que  actualmente  va]  ,  não  consentirão 
que  elies  prosigão  avante  por  este  caminho:  sem 
embargo  de  tudo  ,  estou  plenamente  convencido  que 
o  Café  destas  Ilhas  he  tão  bom  ,  quando  cahe  da 
arvore,  como  qualquer  da  Arábia,  havendo  de  ser 
curado  pelo  m.eíhodo  que  ella  pratica  ,  o  qual  não 
duvido  que  os  fazendeiros  ,  ou  Granjeiros  ,  a  finai» 
venhão  adoptar  ,  se  subir  o  seu  preço  ,  que  os  h^* 
ja  de  esTorçar  a  procuraUo. 


Cãr"^ 


V  -^' 


(  ^5*  ) 

Carta   d' hum  Mercador   de     Londres  a  J.  ElJis 
Esc.  F.  R.  S.   Agente  de  Dominica. 

Sept.   4    de    177J. 
Charo    Senhor 


X  Enho  ouvido  com  prazer  que  vos  preparaes  a  pu- 
blicar algumas  observações  sobre  o  Café  ,  pelo  fim 
de  promover  neste  paiz  hum  maior  consummo  que 
o  que  geralmente  se  faz  deste  estimável  artigo  de 
nossas  Colónias. 

Conceituo  que  os  nossos  fazendeiros  das  Ilhas 
Occidentaes  encontrarão  no  vosso  trabalho  ,  que  vai 
a  publicar-se  ,  muitas  fontes  para  o  meliioramento 
da  qualidade   do  seu  Café. 

Mas  encarecidamente  vos  ro?o  ,  que  me  hajaes 
de  consentir  o  dizer-vos ,  que  he  baldado  procurar- 
se  o  augmento  deste  commercio  ,  em  quanto  os  di- 
reitos ,  ao  depois  da  sua  exportação  ,  continuarem 
a   ser   tão   immoderados. 

Com  isto  não  pertendo  desanimar-vos  :  por 
quanto  ,  se  os  tempos  são  desfavoráveis  por  ordem 
á  reducção  ,  ou  diminuição  d'  alguma  taixa  ,  confio 
que  algumas  Personagens  illustres  ,  occupadas  na  Ad- 
ministração ,  patrocinarão  huma  medida  ,  sem  se  fal- 
tar á  justiça  ,  como  o  bem  commum  da  sociedade 
fcquer.  Faço  conceito  que  o  caso ,  ou  acontecimen- 
to , 


(25»  ) 

to  ,  he   desta  naturcTa»  Occorrem-me  que  estes  di- 
reitos forão  determinados   em   tempo  ,  que  a  cultu- 
ra   do   Café   era  totalmente  desconhecida  nas  nossas 
Ilhas  -,  e  cue  ,  para  o  seu    consummo ,  todo  elle  vi- 
nha   da   Arábia.   He  provável    que   então  o  sobrecar- 
regassem    pela     contemplação    que    este  género  era 
meramente   hum   artigo  de  luxo  ,  e  não  de  necessi- 
dade. Mas  a«;ora   estas   circumstancias   se  tem  mwda- 
do   sobejamente.  As  Ilhas ,  cujo   domínio  nos  ficou 
pertencendo  desde   a  ultima  pás  ,  e  em  particular  a 
Dominica  tem    grandes  Cafesaes  ,    e  os    seus   fazen- 
deiros ,  e  granjeiros  se  tem  adestrado  muito,   e  mui- 
to na  sua  cultura.  Elles  provém  o  seu   presente  con- 
summo ,    e  podem   além  disso   enviar    alguma  por- 
ção. Sei  que   á  poucos  annos  se  levantou  a  alcaval- 
Ia    nos  Cafés   forasteiros   pelo   íím    de  se  animar  o 
das   nossas  Ilhas   Britânicas.    Mas  deixárão-se  os  di- 
reitos ,  e  alcavallas ,  que  pagavão  os  nossos  próprios^ 
como   antes  ,    que  são   tão  immoderados ,    que  pri- 
vão  o   povo  mediano ,    e    commum  ,   que   singular- 
mente faz  hum   grande   consummo  do  seu  uso.  Pa- 
rece-me  ,   que  os  Francezes   a  este  respeito  entende* 
rão  melhor  que   nós   o  seu  interesse.    O   seu   Café 
pois  paga   hum    mui  diminuto  direito  ,    e  o  nome 
do  Chá  rara    vez  se  ouve  entre  elles. 

Pode  acontecer  que  este  artigo  seja  neste  paiz  ; 
do  mesmo  modo  que  o  Chocolate,  mais  caro  que 
O  Chá,  pelos  seus  desproporcionados,  e  enormes  di- 

teu 


5    <• 


(   2>4  ) 
reítos  ,  os  qiiaes   não  sendo  assim   se  comprariSo  ba- 
ratos ,  e  provavelmente   seria  este   hum   gra:)de  meio 
ou  medida  ,    para   seiíilo    levar   o  ^.o^so    ouro  ,  e  pra- 
ta para  a   China.  !sto   só   se   poderia   evitar,  sub^ti. 
tuindo   outro   liij:<or   social  .  c   rtfrhcrante    em    vez 
do  Chi     O   Café  ,    e  o  Chocolate  são   seus   rivaes 
natos  ,  e  per  tendem  ,  com    toda   a   vcrcscinelhança  , 
alçar-se   com    a   superioridade  ,    se   o   governo  con- 
viesse   em   contribuir  para  as  necessidades  do  Estado 
com   alguma   proporção  ,  e  moderação,    ft/as   na   oc- 
casião  presente  he  exacto,  e  unicamente  o  que  Ijies 
deiTÍba  ,  e  balda  a  pertensão  ,  e  rivalidade    Eu  não 
vacilio   em  julgar  por   cousa  pasmosa  ,    e  estranha  , 
que   o3  géneros  ,  que    podem   produzir  as  nossas  pró- 
prias  Colónias  ,    hajão   de  pagar  hum  maior  di.ei  o 
que  as    producçóes   dos  Chins  ,  cujo  lu^ar   elles  ,  a 
não  ser  isto  ,  poderião  supprir  muito  bem    Vós   talvez 
julgareis    que   eu    me  engano  no  que  digo.  Eu  pro- 
curarei provallo     de   hu;r<a  maneira    tão  clara  ,    que 
não   só  vos   haja   de  convencer  ,    mas   ainda   a  toda 
aquella  pessoa  ,   que  não   for   muito  acostumada  a  re- 
flectir. 

Para  isto  preciso  construir  o  seguinte  plano  ma- 
terial do  fp.cto.  Kuma  oitava  parte  d'  huma  onça 
de  Chá  ,  que  vem  a  ser  ,  huma  colherada  ,  commum- 
mente  se  usa  para  almoço  d'  huma  pessoa.  Com  es- 
ta quantidade  se  gasta  em  ^2  dias  a  quarta  parte 
d*  hum  arrátel  ,    a  qual  ,  não  contajas  as  quebras , 

«e 


(255) 

se  pode  tomar  por  hum  mez  »  assim  em  razão  des- 
te j  como  dos  outros  artículos  ,  de  sorte  que  no 
seu  total  não  haja  differença.  Kuma  quarta  parte 
d' arrátel,  por   mez,  dá   trcs    arráteis    por  anno. 

Avalia-se  que  a  quarta  parte  d"  huma  onça  he 
commumniente  necessária  para  humn  boa  taça.  Pó- 
de-se  muito  bem  suppôr  que  ,  quando  pouco  ,  se 
gastáo  em  hum  almoço  três  taças  iguaes.  Para  evi- 
tar objecções  ,  conto  só  duas ,  as  quaes  requerem 
meia  onça  de  Café  ,  que  vem  a  ser  quatro  vezes 
o  peso  do  Chá  ,  consequentemente  hum  arrátel  por 
mez  ,  e  doze   no  anno. 

Informárão-me  que  he  ordinário  rcpartir-se 
hum  páo  de  Chocolate  em  pequenas  divisões  ,  das 
quaes  oito  fazem  a  quarta  parte  d'hum  arrátel  ,  pa- 
ra se  fazer  huma  taça.  Precisão  duas ,  pelo  menos 
para  hum  almoço  ,  que  terião  da  peso  huma  onça, 
o  que  oito  vezes  mais  que  o  Chá  ,  c  o  dobro  do 
peso  do  Café.  Gastar-se  ha  por  consequência  no  mez 
dous  arráteis ,  e   no  anno  vinte   e   quatro. 

Disto  se  faz  claro  que  ,  se  o  Chá  ,  sendo  car- 
regado com  direitos  ,  e  alcavallas ,  sobe  de  28.  loi. 
d.  por  arrátel ,  que  he  o  caso ,  actualmente  se  pôde 
mostrar  que  torrado  o  Café  ,  cuja  quantidade  qua- 
tro vezes  mais  he  necessária  para  encher  as  mesmas 
indicações  ,  deva  pagar  mais  huma  quarta  parte  da- 
quella  somma  ,  que  vem  a  ser  $  d.  e  1  ths  por 
arrátel ,  e  o  Chocolate  huma  oitava  parte ,  sendo  4 

d. 


Ç  Í50 

á.  è  A_ ;  se  se  devein  continuar  a  pa^ar  dó  Cate  ^ 
antes  de  ser  torrado  ,  ou  ustullado  ;  porque  então 
deve  ter  huiiia  quarta  parte  menos  ,  do  que  men* 
cionei ,  porque  perde  do  seu  peso,  torrando  se ,  em 
Ií2  arrat.  24  arrat.  A  perda  do  peso  do  Clioco- 
late  he  igual   a   18    arráteis  em    hum    cento. 

Concedendo-se  isto  ,  o<:  direitos  do  Café  tor- 
rado se  poderiáo  reduzir  a  6  e  1  d  •,  o  Chocolate 
não  devia  p^r^ar  mais  que  j  i  em  vez  de  J  j  5.  ó  d. 
por  cem :  compreiíendendo  a  fazenda  do  Café  ,  e  ca- 
sa d*  Alfandega  ,  o  Café  não  deveria  pagar  mais  aue 
4.  d  por  arrátel  ,  e  10  ,  e  6  d.  por  alcavalla  5  por 
tudo  22  d.  ,  e  isto  d<rveria  ser  ao  depois  de  terra- 
do ,  que  ficão  então  112  arrat.  reduzidas  a  SS  ar* 
rat.  ;  e   22    dinh.   do   direito  antigo    he    no  ultimo 

Desembarcandô-se  o  caca'o  ,  papja-se  11  s.  e  1 1 
e  i  d.  por  cento,  que  vem  a  ser  li  por  arrátel, 
e  B  alcavalla  no  Chocolate,  quando  feiro  em  páos 
he  2  s.  5  d.  mais  por  arrátel.  Consequentemente 
os  direitos  sobre  hum  arrátel  deste  artigo  são  qua- 
si  os  mesmos  que  sobre  o  Café  ,  ainda  que  se  re- 
queira  para    hum    almoço  o   dobro   da  quantidade. 

Os  direitos  do  Chá  são  os  seguintes  ,  2  5  por 
cento  ad  valorem  ,  pagos  pela  Companhia  das  ín- 
dias Orientaes  ,  e  oulro  tanto  pelo  comprador  ,  fa* 
zendo  hum  e  outro  50  por  cento  ,  e  que  no  arren- 
damento  avaliado  de   Chá   he   22  e  i-  por  arrátel  ; 

por- 


(  íW  ) 

porque  ,  conforme  a  melhor  informação  que  pud' 
ter  ,  dos  do  Chá  j  soldos  9  d.  he  o  preço  médium 
da  venda  ,  as  sortes  de  preços  altos  como  o  hyson» 
c  o  Souchon  não  chega  a  huma  decima  parte  da 
importação.  Além  dos  direitos  mencionados  acima  • 
ainda  se  dá  i  soldo  por  arrátel  de  alcavala  ,  ao  to- 
do 2  soldos  lOT  d.  por  arr.  cm  3  s.  9  d  de  valor  que 
vem  a  dar  em  18  por  cento.  Quando  a  fazenda  de  Ca- 
fé ,  que  he  avaliada  em  15  d.  ainda  que  na  realidade 
se  venda  por  6  d.  ,  e  o  Chocolate  ,  que  se  appro- 
xima  ao  mesmo  valor ,  paga  2  soldos  $  d.  por  ar- 
rátel ,  que  he  480  por  cem. 

Julgo  que  não  preciso  provar  mais»  o  que  dis- 
^e  sobre  os  direitos ,  e  somente  o  reduzir  a  hum 
ponto  de  vista  toda  a  somma  ,  que  o  Governo  re- 
cebe de  cada  pessoa  por  hum  consumo  annual  so* 
bre  o  fundamento  ,  que  propuz. 


For 


(  íi8  ) 


Por   j    arráteis   de  Cha. 


I 

7  = 

? 


-6fi 


L.    s.    d.       L,    s.    d. 

Avaliado  j  s    9  d.  por  arrat. 

iie       -     -     -     -     ^     -      o   11      j 

O   direito  ,    e  alcavala  em    2    s.    lo^    d. 

monta      ---------o     8     77 

Em    IS4    de  Café  não  torrado,  que  sendo  reduzido 

a  uso  ,  «56  reduz  a  1 2  arrat, 
O  1.°  custo  em  6  d.  por 

arrat.    he-----0     7 
O  supposto  direito   em  157  arr.  e  64"  d. 

por  arrat.  ---------o 

Em   29  4    arrat.  de    Cacáo  ,  que    fazem  24  artateis. 
O  1.*^  custo  de  29J  arr.  e  1^  1 

6  d.  por  arrat.  >  he       J 
Cs  suppostos  direitos  até  aqui  em  3   e  1 

por  arrat.-     -_------     0—8—6 

Os  direitos  pagáveis  ao  presente   de  algumas   quan- 
tidades dos  dous  últimos   artigos ,  sendo   assim 
Em  1 5 1  arrat   de  Café  não  torrado  igual 

9  12  arrat.  sendo  próprios   para 

em  I  arr.  1  ]  s.  6;^  d    por  centi 

he   4  d.    por  ari^t.  -     - 
Alcavala  no  mesmo  em  1  s.  6  d.  por  arrat.  1      2     10 


5  iguaU 

o  uso  ( 

\0  que  ( 


1     7     114- 
Em 


C  2?9  ) 
Em  29   arrat.  de  nozes  de  Cacáo   em  11 
s.  1  d.  por    100,    que   he    li  d.  por 
arr.     -------*---      oj 

Alcavala  nesta  quantidade  feita  em  Cho- 1 
colate  ,    produz    24   arrat.   em   2    s. /•  2   14 
j  d,  por  arr.       '  -^ 


2   17 


Creio  que  a  qualidade  do  Café  das  índias  Oc- 
cidentaes  pode  ser  muito  melhorada,  se  os  Faren- 
deiros  forem  animados  pelas  grandes  encommen- 
das  ,  ou  pedidos  da  Europa.  Huma  das  grandes  razoes 
da  sua  inferioridade  ao  de  Moca  actualmente  lie  : 
que  os  Hollandezes  e  Alemães  ,  póde-se  dizer  ,  que 
são  os  únicos  compradores  ,  tem  huma  inexplicável 
attenção  á  cor  :  pois  elles  preferem  ,  o  que  tem 
huma  cor  esverdeada  ,  á  luzidia  ,  e  para  ter  esta  qua* 
Jidade  ,  precisa  que  o  Café  seja  novo.  O  Fazendei- 
ro ,  tendo  rara  vez  outro  mercado  ,  se  vê  na  obii- 
gação  de  se  conformar  ao  seu  gosto  ,  e  se  apressa 
cm  remetter  o  seu  Café  ;  o  qual  embarcado  pôde 
muito  bem  arder,  pois  na  realidade  não  teve  tem- 
po para  perder  o  seu  máo  sabor  natural.  Além  do 
que  os  preços  ,  que  lhe  áão  ,  são  tão  baixos  que 
o  Café  se  tem  por  esta  causa  feito  indigno  do  cui- 
dado de  hum  Fazendeiro  f  e  menos  que  o  Go- 
verno o  não  anime  com  alguma  consideração  ,  creio 
,  K  ii  fir- 


C  260  ) 

íirmemcnte  que  será  desaire igado  de  todas  as  Ilhas  , 
e  perdido   o    ne^jocio   do   Cat«    para    com   a  Nacáo. 

Fdz  dous  aniios  cjue  os  AJemáes  o  pagarão  por 
dobrado  preço  ,  mas  tem  concorrido  diversos  mo- 
tivos ,  para  lhe  abaterem  o  scii  vaior  ,  e  alguns  des- 
tes porem  são  de  huma  natureza  momentânea  ,  co- 
mo são  o  alto  preço  do  trigo  por  toda  a  Europa  , 
as  perturbações  da  Polónia  ^  mas  os  outros  são  de 
peior  condição  ,  e  diminuirão  o    seu    consumo. 

Certificão-me  que  o  Rei  de  Prússia  lhe  aug- 
nientára  os  direitos  de  5  c  por  cento  ;  e  que  o 
Landrrave   de  Res.se  rigorosamente   vedara  o  seu  uso. 

Outras  circumstanciâs  desaniiT.ão  ,  e  desa:oro- 
çoão  aos  nossos  Fazendeiros  ,  e  vem  a  ser  ,  qut;  os 
Hollandezes  de  ^urinam  ,  e  Bci biche  tem  pasmosa- 
nicate  augmentado  o  número  dos  seus  Caíesaes  , 
e  com  a  vantagem  d'  hum  terreno  íertiiiosimo  ,  e 
as  terras  muito  mais  baratas  ,  huma  fácil  communi- 
caçáo  por  agua  ,  e  maior  facilidade  de  cmp.estimos 
dç  dinlieiro  para  grandes  emprezas  desta  natureza  , 
e  melhor  disposição  para  continuar  o  commercio. 
Também  o  Francez  importa  pasmosas  qu:int idades 
das  Ilhas  de  Eourbon  e  I\l  auri  cia  ,  onde  compiao 
baratos   os  escravos   de  Madagáscar. 

Sem  embargo  de  tudo  isto  ,  huma  opportuna 
interposição  do  Governo  p6ie  ,  :odavia  ,  não  somen- 
te salvar  os  Catesaes  de  nossas  Ilhas  da  ruina  ,  ma«5 
\àO  bem  exaltallos  ,  pondo-os  n'  hum  pc  mais  fló- 
rea- 


(  .61  ) 

rente  que  ate  nqui.  N?fda  mais  he  necessário  para 
isto  .  ciue  rcsíLjhr  os  direitos  com  equidade  •  e  se  o 
Cafc  ,  e  o  Chocoh.te  houverem  de  pagar  direitos  á 
rroporcíão  do  Chá  ,  julgo  que  posso  affirmar  que. 
para  o  futuro  ,  as  rendas  não  serão  diminuídas  ,  to- 
mando o  primeiro  o  lugar  do  ultimo.  Antes  ,  pelo 
contrario  ,  como  os  p.oductos  das  índias  OcciHen- 
taes  são  pa:^os  pelas  nos.as  manufacturas  .  o  artista 
industrioso  ,  o  commerciante  ,  e  o  lavrador  ,  em  ca- 
sa se  disporão  melhor  ,  para  poder  pagar  as  suas  tai- 
xas.  A  lista  dos  artigos  exportados  nos  mostrao  a 
cuantidade  de  empregos  ,  que  o  negocio  das  índias? 
Occidentaes  fornece  ao  nosso  povo  ,  nos  quaes  qual- 
quer se  achará  interessado  a  si  mesmo  ©U  directa, 
ou   indirectamente. 

Ainda  accrescem  outras  consideráveis  vantagens 
da  ccnnexão  do  Norte  d'  America  ,  Irlanda  ,  e  Afri- 
ca com  as  Ilhas  ,  a^ora  de  maior  consequência  para 
a  Pátria  mãe  ,  o  qual ,  para  se  traçar  aqui  ,  cem  al- 
guma precisão  ,  requer  tempo  mais  dilatado  ,  do  que 
posso  gastar  prementemente  ,  e  me  empregaria  mui- 
to  mais   do  necessário 

Isto  hc  certo  ,  que  os  proveitos  do?  nossos  es- 
tabelecimentos das  índias  Occidentaes  ,  por  differen- 
tes  canaes  ,  se  vem  a  concentrar  em  a  Grã-Breta- 
nha  ,  para  onde  se  recolhe  o  Fazendeiro  ,  ten-'o  ad- 
quirido o  seu  cabedal  ,  a  reestabelecer  a  sua  enfra-- 
quQcida  constituição,  e   a  gozar  dos  lucros   custosa- 


(    2^2    ) 

mente   conseguidos    com  contínuos    perigos  ,    c   af- 
ílicções. 

Os  nossos   desditosos   Empreiteiros   do  Café  nas 
}ihas  cedidas,  segundo   ctiço  dizer,  começão  a  per- 
tier    ioda   a  esperança  de   conseíjuirem  algum    galar- 
dão pelos  seus    trabalhos  ;  c]ue  aífeitos  a  ter  ,  debai- 
>o  de  alfjiins  io^jjros  ,    hum   prospero   retorno   a  favor 
de  sua  fainilia  ,  e  seus  amigos ,  o  seu  crédito  tem  para- 
tlo    pela  difíkuldade    dos  cempos  ,  e  as  suas  pioduc- 
<;ões  apenas    lhe  rendem  a  an.etade  ,  do  que  deo  em 
3770;  pois  que  o  valor  de  seus  géneros  abaixou  ,    i 
vista   dos  seus  correspondentes  5  pois  ,   sem  embargo 
de  serem  hábeis  ,    duvidarão    soccorrellos  ,  vendo    a 
sua   si  uação   desesperada.   As  suas  perdas   em    cscra- 
^os  e  bestas   forão    inimensas  ,  em   ra7ão  do  embara- 
ço da  cultura  das  Ilhas  ,   cobertas  totalmente  de  ma- 
tos ,  e  consequentemente    húmidas,  e  pouco  sadias ; 
pela   falta   de   sustento  ,  e  de  abrigo    para  os  sobre- 
«litos    escravos  ,  e  gado.   Em   huma   palavra  :  os  seus 
negócios    estão    em    huma  figura    tão   crítica  c,ue  ,  a 
não  serem   soccorridos  immediat2m<í;nte   pela  prudên- 
cia ,   c   justiça    do  Parlamento  ,  de  necessidade   hiráo 
apique   debaixo   de    tantas    desgraçai    ,    e    dentro   de 
))Oucos    d. as  seião  a  preza   das   aladroadas  garras   de 
usurários,  e  Let roídos. 

D' outra  maneira,  o  Fazendeiro  pôde  ser  con- 
servado ,  e  animado  em  proporção  ao  augmento  ,  que 
ti. eiCiii  os  seus  productos  5  a  renda  dw  Ilhas  levan- 

ta* 


(    25j    ) 

tadas   de   4   e   meio   por   cento  .    podem    em   pouco 
tempo   se.eai   muito    maiores.  Os  Fa rendeiros .  qud 
tem   comprado  sitios  ao  Governo  ,  solúveis  aposse. 
podem  ,  se  assim  for ,   promptificar-se   melhor  ,  a  sa- 
tisfazer as  suas  obrigações  j  e  as  terras ,  cedidas  pelos 
Çaraihes  de  S   Vicente  ,  encontrarão  compradores  por 
4,um    bom  pieço  ,  o  que  se  não  deve  de  sorte  algu- 
ir.a  esmerar   no  estado  presente  das  cousas.  Foi  mui- 
to bem  reflectido  ,  no  requerimento  çntregue  ao  Par^ 
lamento,  pelos  vizinhos  de  Dominica  na  ultima  ses- 
são  ,  que   os  Cafesaes ,  e  Cacausaes  ,  ou  granjas  des- 
tas   duas   plantas   mereciao  particular   contempbçao  •, 
por  quanto  elles  pod^ão   ser  estabelecidos  sobre  hutn 
iTienor  fundo  cue   as  fazendas   d'A.sucar  ,    que    re- 
querem muito  maior  extensão  ,  e  editicios  muito  mai. 
custosos.  Todo.  procurão  repartir   as  suas  proprieda- 
des ,  e  ,  por  consequência  ,  fornecerão  meios  de  sub- 
sistir  á   hum   ma^or  número   de  habitantes   brancos . 
augmentando  com  isto  as  forças  das  libas  ,    e   dis- 
pondo-as,   para  que   melhor  possão  defendellas  ,  as- 
sim  da^^  violências  dos  de  fora  ,  como   dos   levanta- 
mentos domésticos   dos   escravos. 

F.evejoque  me  podem  argumentar  contra,  di- 
zendo :  que  ainda  que  eu  tenha  mosíraJo  que  os 
direitos,  ealcavalas  do  Café  ,  sendo  reduzidos  a  6i 
d.  por  avratel,  e  o  Câcáo  era  fructo  a  5^  d.  que 
estes  artigos  possão  dValgum  modo  supp  ir  o  lugar 
ào  Chá  ,    a  perda  da  renda   do  ultimo  se   poderia 

com- 


C  2^4) 

compensar  pelo  augnicnto  da  renda  no  primeiro; 
tom  tudo  que  a  differença  destes  direitos  ,  que  pro- 
puz  ,  e  que  prementemente  se  pagão  ,  taria  descahir 
a  renda  do  Governo  ,  contando  com  o  presente  con- 
summo  do  Ca^^c  ,  e  do  Chocolate. 

Eu  creio  que  ,  se   todo  ,  quanto  se   consome  , 
liouves»*    de    pagar   direitos  ,  e  alcavalas  ,  que  senãj 
devei  ia    temer    a  menor    perda,  ou   descahimento  ; 
por  quanto    não  tenho  a  menor  dúvida  ,  rue  se  es* 
travião   á  estes  mesmos  direitos  ,  por   contrabando  , 
ímmensas  quantidades  de  Café  ,  por   toda  a  circum- 
ferencia  deste   Reino  ,  e  particularmente   peias  cos- 
tas ,  que    ficáo    ao   Sul  .  e   a  Oeste  ,  onde  me  cer- 
tificão  ,  que    se  pôde   ter  ,   bem   que    em    pequenas 
quantidades  ,  pelo  preço   de  14  a  18    d.    por  arraiei, 
o  que  he    pouco  mais   que  ametade    dos   direitos  ,  e 
alcavalas.  Isto  he   muito   mais   ruinoso  á   Inglaterra, 
por  ser  também  todo  e^te  Café  ,  principalmente  pro- 
duzido nas  Ilhas   Francezas  ,  e  ser  pago  ,  alem  disso , 
em  moeda   corrente, 

He  mui  provável  que  três  tantos  mais  de  Ca- 
fé das  índias  Occidentaes  se  hajão  de  introduzir 
por  este  modo  ,  que  aquelle  que  paga  os  direitos  , 
c  alcavalas.  Logo  ,  fazendo  se  a  reducção  de  três  par- 
tes para  quatro  deste  mesmo  direito,  não  causaria 
a  menor  perda  ao  Governo  ,  com  tanto  porém  que 
a  totalidade  do  consumo  houvesse  de  entrar  recular- 
íi.cme  ,  e   póde-sc   presumii  que  ,  entrando  assim  * 


(  265   ) 
SC  viria   a  dar   de  mão  ,  e  a  abandonar  totalmente 
o  contrabando.  i 

IVlas  ,  concedendo-sc  porém  que  ,  pelo  abati- 
mento do  direito  ,  pagando  todos  de  boa  vontade  , 
a  parte  que  lhe  couber  ,  ainda  assim  pôde  haver 
íílguma  falta.  Todavia  se  deve  racionavelmente  sup- 
pòr  que  devem  ter  maior  peso  com  o  Britânico 
Parlamento  ,  e  Administração  certas  considerações  da 
Politica  ,  e  da  Justiça  das  Colónias  ,  que  huma  dif- 
ferença  denodada  sobre  hum  dos  ramos  das  suas  ren- 
das. Com  tudo  ,  para  prevenir  todas  as  objecções  , 
que  quizerem  pôr ,  sujeito  o  seguinte  piano  ,  para 
compensar  o  Governo  de  qualquer  differença  ,  que 
se  supponha  levantar-se  da  diminuição  dos  direitos  , 
da  maneira  que  tenho  mencionado  ,  e  também  pa- 
ra estancar  o  contrabando  do  Café  ,  e  do  Chocola- 
te. Em  primeiro  lugar  desejo  ,  que  se  observe  que 
o  maior  consumo  do  Café  ,  e  dos  outros  artigos , 
presentemente  se  faz  nas  casas   públicas   de  Café. 

He  a  minha  tenção  não  innovar  cousa  al^u- 
ma  nos  direitos  d*Airandega  j  e  ficarem  o  dos  Cafe- 
saes   do  mesmo   modo  ,  em  que  estão. 

Converter  as  alcavalas  ,  presentemente  pagas  pe- 
lo Café  dei  fora  em  direitos  ,  que  não  deve  ser  des- 
contado pela  exportação  ,  porque  daria  occasião  cer- 
tamente a  muitas  fraudes,  isto  não  faria  differença 
alguma  no   Café  de  Moca  ao  Governo. 

Tirar  todas  as  alcavalas  ao  Chocolate  e  Café , 

e 


C  2<56  -) 
c  impor  ,  attendida  alguma  suppo^ta  deficencia  cm 
os  Caies ,  e  Chocolates  ,  Inima  taxa  proporcionada 
nas  licenças  concedidas  ás  casas  de  Caf»i  ,  e  tam- 
bém em  todas  aquellas  >  (^ue  vendessem  Café  ,  e  Cho- 
colate feitos.  As  pessoas  ,  que  tiveicm  as  taes  casas, 
não  terão  razão  algema  de  se  queixareju  da  taixa  ; 
porque  elles  podem  comprar  o  Cale  produzido  nas 
Tíossas  Ilhas  por  hum  preço  muito  mais  baixo  ,  nem 
de  fazerem  alguma  tortura  a  seus  freguezes  ;  pois 
não  tem  algum  justo  motivo  para  lhe  levantar  o  preço. 

Outro  motivo,  que  favorece  á  este  plano  ,  \  em 
a  ser ,  que  o  pagamento  da  taxa  não  pôde  ser  eva- 
dido ,  e  nóde    ser   facilmente   pago 

Kão  tenho  diuida  alguma  que  ,  quando  a  at- 
tenção  d'  hum  tão  Sahio  Financeiro  ,  como  o  actual 
I\linistro  ,  se  applicar  á  este  objecto  ,  os  no<;sos  co- 
vassalos  das  índias  OcciJentaes  se  disporão  a  con- 
tinuar a  cultura  do  Café  ,  e  Cacáo  ,  ou  amêndoas 
òo  Chocolate  com  tanta  vantagem  da  Pátria  mãe  , 
como  dos  próprios  Granjeiros.  Eu  porém  tenho  ex- 
cedido CS  limites  d'  huma  Carta ,  e  posso  concluir 
seguramente  que  ,  se  ,  o  que  escrevi  ,  vos  pôde  servir 
ái;  vossas  vistas  de  promover  os  interesses  da  Ilha, 
de  que  sois  o  Procurador  ,  não  deixarei  de  dar  o 
nieu  tempo  por  bem  empregado.  Eu  sou  com  o 
maior   respe  ito  A  m  a  d  o    S  e  n  h  o  r 

Vosso   muito   obediente,  e  humilcle  servidor. 


Assignado  !*  *  * 


F     I     M. 


índice 

Do  que  contém  esta   primeira  Parte. 

S\^fAiiSodiàe  Cahovetlcíe  ligaío  et  soluto  sermo- 
ne    cx  auctoribus   decerpt^ xv 

fíistvria  do  Café,  Copiada  ,  da  (jite  escrcveo  cm 
Iiiglez.  John  Ellis ,     .     .     .  xix 

Ciãuira  do  Cirfé  ,  historia  da  sua  iiitroducçÕ» 
na  Furopa  >  i irada  do  Discurso  preliminar  da 
obra  Franceza  t  í^or   N.   F.   J.   £%.  Pag.    I 

Extracto  do  Café ,  Por  By  Erian  Edvvarcís.   .     .      1 1_ 

Cálculo  das  despegas  ,  e  lucros  da  cultura  do  Ca- 
fé nos  montes  de  Jamaica  ,  distantes  do  mar 
14  milhas  ém  o  papel  moeda  desta  Ilha  ,  com 
o  abatimento  de  40  por  ico  menos  que  as  es- 
terlinas  26 

Despezas  mnnuaes ^7 

Lucros  de  4  annos  a  L.  4  por  (jnintaL  (  Estejoi 
o  preço  do  Café   5  r^nnos   antes   de  179a.)   »      .  ibid. 

Recompensas   do  5.°   anno  ,  e  seguintes,      ...      28 

Mota •  ibid. 

Observações  pertencentes  á  cultura  do  Café  ,  em 
a  Ilha  de  S.  Domingos  ,  e  do  seu  cu^mento 
provável  em  Jamaica  ,  no  ^aso  de  não  ser  abo- 
lido o  negocio  dos  Escravos  pelo  acto  do  Par* 
lamçnto  ,  Por  Samuel  Vaughan  Es(],     .     ,     .     29 

Tra- 


(    2ÒS     ) 

Tratado  sohre  «  Cultura  do  Cofé ,  Por  Mr.  Mo- 
nereau.  Descripção  data  arvore  t  e  de  seu  pre- 
parativo       «..t...^} 

§  II.  Os  terrenos  dos  morros  são  de  pouea  du- 
ração  4) 

§  III.  Mehs  de  conservar   o   terreno ibid. 

5   IV.   Por<]ue  senão    deva  mondar  a  enxada.     •      44 

§   V.  Segredo  do  P.  Ldbat ibid. 

§   VI.    Meios    de   conservar   es    Cafeseiros.     •      •     4$ 
§   VII.   Modo   de  aparar    os   Cafesthos,    ...      46 

§    VIII.    Declinação     da    arvore 47 

§   IX.    í7  Café  pede   terra    nova ibid. 

§   X.   Diferença    das   terras    entre  Martinica  ,  e 

S.    Domingos 4% 

§   XI.    Ca/é  de  Martinica  preferido   ao  de  S,  Do- 

tningos, 49 

§    XII.    Q,uulidades   notáveis    dos  seus    habitantes.      50 
§   XIII.    l^oiitos  pri/rcipaes   para   se  ter  bom  Café,      5  } 
§   XIV.  ^  causa   do  dtspreio   do  Café    de  S.  Do- 
mingos  «$4 

§   XV.   Politica   dos    Hollandcx.es 55 

§    XVL   Modo    de  plantar   o    Café 56 

$   XVII.   A  ijue  distanci.i  se  planta  o  Café  ,   e  vc- 
rias    opiniões    sobre    isto.     .......      57 

§   XVIII     Profundeza    das    covas.   .....      59 

§   XIX.   Segundo  modo  de  fazer  covas ibid, 

§    XX.  A  estação  de   se  plantar  o  Café,     .      .      .      (ji 
§   XXI.   Viveres  ,  que  se  podem  plantar  nas  aveni- 

das 


(  269  ) 
das  entre  os  fiUWas  do  Café ,  em  quanto  crescem,     6t, 
§   XXil.   Descripção    da   arvore.      •     ....     6; 

§   XXIII.   Flor   do   Café 67 

§   XXIV.  Figura  do  seufructo 68 

§  XXV.  O  Café  não  amadurece  ao  mesmo  tempo.  7 1 
§  XXVI.  Qual  seja  a  estafão  de  o  colher,  ,  .7* 
§  XXVII.  Três  espécies  de  Café  inferior.  .  .75 
5  XXVIII.  Disposição  na  casa  do  Engenho.  .  .74 
§  XXIX.  Como  se  passa  o  Café  pelo  Engenho,  .  ?  5> 
§  XXX.  Advertências  (jue  se  devem  fax.er,  .  .  7^ 
§  XXXI»  Meios  para  acautellar  os  escravos  de 
muitas  moléstias.     ....»...•     7® 

§   XXXII.   Descripção  da  explanada ^^ 

§  XXXIII.  Em  qac  tempo  se  pila  o  Café.  .  .  §4 
§  XXXiV.  Como  se  pila  o  Café.  .  .  .  .  Sf 
§   XXXV.  Como   se  aventa   o  Café,    .     .     .     .      87 

§   XXXVI.  Rendimento  do  Café 89 

Memoria  sobre   a  Cultura  do  Café  ,  Por  Mr.  Fu- 

sée  Aublet 9J 

Rapsódia  da  Maison  Rustique  de  Cayenne  ,  Por 

Mr.   de  Prefontaine 107 

Memoria  sobre  o  Café  ,  Por  Filippe  Miller  Ingh 

Caracteres 11* 

Instrucção  sobre  a  Cultura    do  Café  ,  traduzido 

dê  Hollandex.,  Por  Mr.  Alleon  Dulac.  .     .     .  lâj 
Carta  es  cripta  a  Mr.  Elias   Monereau  ,    sohre   o 
seu  tratado  de  Café  ,   Por  Mr.  Graimpre ,  vi- 
zinho de  Moca,  •     .     • 14? 

Vre- 


C  270  ) 

Pfeclsa-sc    deduzir   as  Jç^spcr.as ijo 

Kespcslade  Mr.  Monereau  ,  a  ]Mr.  Graimpre»  so- 
bre  o  conteúdo   da  Carta  oclma  ,    na  ijual  sails' 

Jax.    ai    ohjecqÕes ij^ 

Memoria  sohre  o  Caji  ,  Por  Mr.  Abbade  Rosier. 

I.   Introducção •..167 

CAPITULO   I.    Historia   do  Café ibid. 

CAP.  II.  Descripção  do  Café  pelo  Senhor  Jussleit,    1 7  5 

CAP.    III.   Da    sua    Cultura I77 

CAP.   IV.  Das    suas   propriedades 19Ó 

Methodo  de  se  tirar  o    máo   cheiro  ,  e  desagradá- 
vel  sabor   do  Café  ,   importado    da  Jamaica.      .    20 ) 
Relação  da  Cultura  do  Cofesciro    na  Aralla    Fe- 

lix.  ,  extrahida  das  viagens  de  I\I.  de  la  Roque.   2c6 
Modo    de  preparar  ,  e   de   se  tomar   o  Cnfé    entre 

os  Árabes  ,    extrahldo   do  mesmo  Aulhor.      .      *    20% 
Extracto  da  viagem  de  Nichuih  á  Arábia  ,   ulti- 

mamente   publicada    em  Dinamarca 211 

Observações    sobre    o    Café 213 

Extracto  de  huma  Carta  do  Doutor  Fother^ill  a 
Joh  Ellis  Escudeiro.  Agente  de  Dominica  (jue 
9ontéin   observações   sobre  a  Cultura  ,  e  uso  do 

Café 22a 

Observações  sohre  o  Café  ,  por  hum  douto  ,  e  ex- 
perimentado Fazendeiro  em  Granada  ,  commU' 
nicadas  ao  Doutor  Fothergill  pelo  Governador 

Welville 241 

Extracto  de  huma  Carta  dt  Jorge  Scot ,  Tenen- 
te 


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