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Full text of "Os Lusitanos: tragedia historica em 5 actos"

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TRAGEDIA HISTÓRICA EM 5 ACTOS 



POR 



Jllbaiioei Ácúc ÂhacvcL^o. 



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TYPOGRAPIIIA DO COMMERCIO, DE BRITO & BRAGA 
TRAVESSA DO OUVIDOR K. 17. 



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LIBRARY 
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PERSONAGENS. 



VIRUTO . . 

CURIÓ . • 
TENTALO . 
DICTALIÃO • 
SERVILIANO. 
CIPIÃO . . 
OSWIA . . 
.MINUNCIO . 
iMURILLO. . 

Rei dos sacrifícios 






PRIMEIRO CHEFE DOS LUSITAl^OS. 



TENENTES DE VIRIATO. 



PRETORES ROMANOS, 
• FILHA DE VIRIATO. 

*; SIMPLES SOLDADOS DE VIRIATO. 

soldados romanos c lusitanos. 



A acção passa-se na Lusitânia e na Bctica pelos annos 607 
a 614 da fundação de Roma. 




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ACTO PRIMEÍRO. 



O theairo representa uma sala de um antigo palácio nas 
vizinhanças da cidade de Évora ; grandiosas arcarias a 
fundo j com reposteiros encarnados e escudm no meio. 



SCENA I. • 

OsMiA, entrando em desalinho com uma espada em punho. 

O' numes... poderosos e altos numes... 
Sc justos sois, como julgar vos pude, 
tf"'Livrai a pátria de um horror tamanho !... 

(Treme-lhe o braço em que sustem a espada). 

N'o sei como este ferro inda SHStcnto 
Nesta tremula mào que me fiaquêa ! 
Os traidores est^o em toda a parte, 
(^ommettendo infernaes atrocidades ; 
Zombando áo poder dos sacros numes... 
Já dispersos eu vejo os Lusitanos 
Divagando no cume das montanhas, 
E debalde meu pai tenta junta-los 
Com palavras do amor á liberdade !.,. 
Minha mãi. . . minha mãi. . . antes quízcra 
Perder a vida no fatal momento, 
Apunhalada dos cruéis algozes, 
Confundida e abraçada a teu cadáver. 
Do que sobreviver a tantos males 1... 

(dirigindose ao fUndo da scenaj. 

Lá vem meu pai, c traz tão poucos Lusos... 
Todavia, antes poucos resolutos, 
Que muitos sem valor para o combate. 



— 3^2 — 

SCENA U. 
OsMiA, Viriato e seus coMPAiNHEiíioá. 

Viriato. 

Será crivei, ó Céos, que passe impune 
Esta sceiía de horror e de impiedade 
Que faz bater o coração no peito 
Desses bravos soldados lusitanos ! . . . 
Bem sabeis companheiros que trahidos 
Todos fomos por esse infjimé Galba, 
Quando nos seus protestos de amizade 
Das raaos as armas coHseguio roubar-nos l 
E á paz nos convidando como amigo, 
Lá no sitio aprazado apenas chega 
O infame, com damnada c negra fúria, 
Se lança qual o tigre ao nosso encontro !... 
Quem Swibe se ao poder de nosso braço, 
Ao amor da vida e liberdade nossa 
Devemos, nao ter todos succumbido 
A's sacrílegas mãos dos assassinos ! . . . 

(Com horror). 

Oh ! Romanos... deveis cdrar de pejo, 
Quando volver nos séculos futuros 
Vossa historia manchada com tal feito !... 
Se os famosos Phenicios se estenderam 
Da Tingitana á lusitana terra, 
Bem longe dè infamar o povo luso. 
Seu coração lhe conquistar souberam 
Para melhor gozar suas ríquezas. 
Se bem que pertinazes se mostrassem 
Esses soberbos filhos de Garthago, 
Nunca o sangue correu de nossas veias 
Sellando o nome da traição horrenda ; 
Se a Betica succumbe a dôr pungente, 
Ou dorme já covarde recostada 
Entro o deleite e o triste captiveiro, 



33 



£' oue a luz da razão inda nae pódc 
Esclarecer seu rude entendimento ! 
Oh ! succumbam esses fracos ao tyranno, 
Covardes soíTrão a sua tvrannia : 
Mas não se diga dos soldados lusos 
Senão que morrem pela lusa terra... 
E' tão doce e sagrada a liberdade, 
Que por ella se deve dar a vida ; 
E se vós, companheiros das fadigas, 
Testemunhas dos pérfidos Romanos, 
Inda as dores sentis no triste peito 
Os sentimentos partilhai comigo!... 



Tenta LO. 



/ 



Viriato, sabeis que a sorte nossa 
Depende muito de um distincto chefe ; 
Nós vemos que sois forte c destemido. 
Mui capaz de nos guiar a grandes cousas : 
Tomai o mando em chefe dos que existem, 
E contra os vis tyrannos oppressores 
Marchemos a abater a fronte sua 
Porque é este o devermos lusos peitos 
Com gloria morrer ! 

Viriato (voHando-se para Curió). 

Diz-me, Curió, amigo, 
Concordas, tal proposta aceitar devo ?!... 

CURIO. 

Que tu aceites, desejamos todos, 
Esse lugar que tão distinctamente 
Te oíFerecem sinceros companheiros ; 
Não é vaidade nossa, bem o sabes, 
IVIas é da pátria o amor á liberdade 
Que te faz semelhante oíferecimento. 
Cumpre agora aceita-lo de bom grado, 
Como Luso distincto e valeroso. 



— 34 — 

Sabe que por vingar-me dos traidores, 
De ha muito soffro no caiado peito 
O que meus lábios te dizer não podem 
A causa de tamanho soíFrimento !... 
Quantas vezes meus olhos vertem pranto, 
O pranto amargo que a tristeza gera 
Nas horas só do meditar profundo ! . . 
Quantas vezes suíFoco a dôr no peito, 
Contemplando a voragem do infortúnio 
Sem dizerem meus laoios... ai, somente !... 
Os nossos capitães assassinados 
Eu vi cahir, á força das traições, 
E depois dispersado o luso povo 
Errante pelo cume das montanhas, 
Sem poder encontrar um dino chefe 
Que seus passos incertos lhe guiasse 
Ao encontro dos tyrannos oppressores ! 
Mas de novo a coragem lusitana 
Ja brilha e resplandece em nossos peitos 
Por vermos Viriato nosso chefe 
Valente defensor da liberdade !... 
Aceita, companheiro das fadigas, 
Este nosso espontâneo offerècimento ; 
Irmãos somos... irmãos na dôr pungente, 
A cdusa pois sustentaremos juntos. 
Ou juntos morreremos na contenda ! 

Viriato. 

O Céo propicio seja em favor nosso 
Na santa causa de livrar a pátria 
Dos ferros desse pérfido tyranno ; 
Aceito o generoso oíferecimento 
Que fazeis por amor á Uberdade 
Desta terra de nosso nascimento, 
Onde estranhos desejão escra visar -nos. 
Manchando suas miíos em nosso sangue ! 
Queirão os numes que digno de taes honras 
JMostrar consiga na vanguarda vossa. 



— 35 — 

Com a espada a victoria vos mostrando 

pjiii face das fileiras ini mi ojas... 

ímpio sangue espargindo dos lyrannos 

Que desejão algemar os nossos pulsos 

Nosle solo que a luz nos deu primeiro l 

O terror entre nós, ó companheiros, 

Além de covardia, fora crime... 

Coragem... valor, é nosso rumo, 

Não podemos seguir outro destino, 

Que outro destino fora escravisar-nos 

Nos ferros dos Romanos oppressores ! 

Oh ! longe idéas vagas, tão sinistras 

Que antes que a escravidão, quizcra a morte.. 

Soldados lusitanos, não tremais 

Em frente de inimigos tão soberbos 

Que já domaram essas nações valentes, 

Enchendo de trophéos o Capitólio l 

Sim, valentes soldados lusitanos, 

I.cmbrai-vos que uma vez os reprimisíes 

Lhes castigando o altivo atrevimento... 

Antes morrer com gloria defendendo 

Esta terra de nosso nascimento ; 

Do que covardemente consentirmos 

Que venhãi) escravisar-nos os Romanos. 

Infame é sempre quem os ferros toma, 

Inda sentindo arder em suas veias 

O sangue oppresso, que inda pulsa a cusío 

J^clo nome da santa liberdade !.., 

CURIO. 

Se o vigor de teu braço occulto fora 
Aos poucos Lusitanos que te cercam, 
Talvez receios nelles devisasses ; 
3Ias quem ha de temer e receiar-se 
Commandado por ti, ó Viriato? 1... 
Quem pôde recuar nem um só passo 
Em frente de romanos assassinos, 
Que para se nutrirem de paixões 



— 36 — 

Execrandas e cheias de torpeza, 
Ousaram derramar tão cruelmente 
Dos seios das donzellas mais formosas, 
Esse sangue brotado da innocencia ? ! 
Oh ! em face de crimes tão nefandos 
lia de Roma tremer de nossa cólera... 
Ha de o rosto cobrir de envergonhada ! 
Avante, pois, que pela cara pátria 
Saberão se bater os Lusitanos,^ 
Mormente quando sustentar-lhes cumpre 
A sua honra c a tão doce liberdade !.. . 
Avante, pois... avante, heróe valente, 
Dirige os nossos passos ao combate, 
Verás esmorecer romanos peitos 
Em face do valor dos Lusitanos !... 

Viriato. 

Não sabes, companheiro, quanto folgo 
De assim te ouvir fallar tão aguerrido, 
Tão cheio de valor e amor da pátria, 
E tão prompto em querer desaífronta-la 

CURIO. 

Viva o valente capitão Viriato !... 
Viva o guerreiro lusitano !... 

Soldados. 

Viva,!... 

DiCTALIÃO. 

Que cnthusiasmo louco vos preoccupa ! 
Tanta afouteza vejo em vossos peitos, 
'i antas vinganças vãs imaginadas, 
E pouca segurança em vossas vidas ! 
Que c isso, companheiros... pois acaso 
Imau-iunis na liberdade vossa ! 



I 



— oJ — 

Antes soflVer o jugo em paz com elles, 
Tributários lhes sermos como amigos, 
Do que incitarmos pertinaz peleja, 
Que longe de ganharmos a Tictoria 
Acharemos dobrado soíTrimento, 
E jios ferros mais longo captiveiro ! 

CURIO. 

Oh ! quão baixos e tristes sentimentos 
Tu ousas revelar ao chefe nosso... 
Como és covarde... (com ar de desprezo), 

DiCTAUÃO. 

Curió, vê o que fazes ; 
Que ousando de novo provocar-me... 

(Levando a mão d espada). 

CuRio (levando também a mão á espada). 

És um covarde... 

(Desembainhão ambos as espadas, e Viriato se mette no meio). 

Viriato. 

Que imprudência vossa ! 
Até aqui mesmo na presença minha 
Buscais desse modo mjuriar-vos, 
Tornastes-me inda agora vosso chefe, 
£ já me desgostais amargamente 
No vosso proceder tão temerário!... 
E' mister respeitar o vosso chefe 
Para ordem haver no seu comraando, 
De outro modo não quero tal encargo, 
Tome-o quem a patna quer escrava ! . . . 
Mas quem terá taes sentimentos ainda?!... 

(Olhando Dictalião com severidade). 

Teu proceder é digno de castigo, 



— 38 — 

Do valor de teu braço prescindimos, 
Braços covardes enfraquecem fortes : 
São qual a peste, que mata sem peleja. 
Que paz, e que possível segurança 
Podemos alcançar desses Romanos, 
Que por mais de uma vez forão peijuros 
Nos immolando nas traições tremendas ? ! 

(Vai ao fundo, corre o reposteiro^ deixando vn 

os cadáveres de velhos, moços e donzellas pelo vieio 

da praça). 
Olhai.,, ponde aaui vossos olhos tristes, 
Neste quadro de norror e de impiedade í 
Eis-ahi o valor desses soberbos 
Conquistadores já do mundo inteiro ! . . . 
Os velhos e donzellas innocentes, 
Apunhalados sem a menor piedade!... 
Nós, pois, teremos corações de bronze, 
Para podermos contemplar as scenas 
Que a nossos tristes olhos apresentão 
Estes Ímpios e bárbaros Romanos : 
Que mais nome tem pela covardia 
Que achando vão por entre seus contrários, 
fio que por seu valor c acções benéficas ! 
Oh ! vamos, meus queridos camaradas, 
Que proteger-nos-hão os sacros numes ; 
Tomai as armas, e jurai comigo 
Vingança eterna aos assassinos todos 
Das innocentes immoladas victimas... 
Vinde... vinde... jurai todos comigo. 
Por esse sangue que dimana quente 
Das feridas das cândidas donzeMas !... 

(Entra na praça , e ahi tinge a sua espada jío 
sangue de uma das victimas , depois marcha jtara o 
meio de seus companheiros). 

OSMiA (apprúximofido-se do pai). 

Sim, meu querido pai, juremos todos 
Esse sangue vingar dos innocentes. 



— 39 — 

Viriato (com resolução y alíongando a sua espada). 

'uro vingar essa traição romana, 
^assando fomes, fiios e calores, 
?em mais despir estas guerreiras armas 
Até serem punidos os traidores. 
Queimado sela pelo sol ardente, 
Me seja o Ceo cruel, e a mesma terra 
Se abra após, para consumir meu corpo, 
Se deixar de cumprir meu juramento... 
Jurai também comigo... 

Todos (cruzando as espadas sobre a de 1 iriah). 

Nós juramos... 

ViiUATO (alijando a espada ^ e todos o imitando). 

-Agora, ó Lusitânia... ó pátria minha... 
Serás vingada... numes... guiai meu braço !... 



FIM DO PRIMEIRO ACTO. 



ACTO SEGUNDO. 



•"«Wi 



O theaíro representa de um lado bosques e rochedos , e do 
outro uma extensa planície, deixando ver ao longe a cidade 
•de Carpetania. 

SCENA L 
Viriato e seus companheiros. 

DlCTALIAO. 

Se a tempo os males evitar podemos 
Com prudência saltar as nossas vidas, 
Para que a certa perdição cxpôr-nos? ! 

(A Viriato que está na frente dos soldados meditativo.) 

Tu vés esmorecer teus companheiros 
Em frente do i)oder de seus contrários, 
Que SC julgão já nossos vencedores 
Ao verem que pequeno é nosso numero 
Oomparando-o ao seu na quantidade... 
Pondera, capitão, não vás expôr-nos 
Ao perigo (jue certo nos espera 
Quando evita-lo poderemos inda 1 
i) chefe que ao poder de seus caprichos 
tSubmette sem temor os seus soldados 
E' fraco capitão, é imprudente, 
E' indigno do mando e de tal nome... 

Alguns soldados. 
Sim... é indigno de tal nome ! 

Viriato (dando alguns passos para Dictalião com olhar 
ameaçador, e depois para os soldados com severidade) . 

Ouviste ?... 
Covarde... que provocas rebeldia 

2 



— 42 — 

Quando se busoa defender a pátria?!... 

Imbecil... que imprudente tenho eu sido 

Em te soífrer na minha companhia 

Visto teres tão ruim comportamento ; 

Oh ! numes... será crivei quanto escuto !... 

£stimar-se uma vida deshonrada... 

Ver fugir ao perigo quando geme 

A desgraçada pátria abandonada 

Ao furor dos Romanos oppressores ? ! . . 

Pois que é isso, queridos companheiros, 

Cansados já estais da liberdade? !... 

Tão suave yos parece o captivçiro 

Que o anteponcfès ao bem mais precioso 

Que podem desfructar humanos peitos !... 

Única cousa em que um dever sagrado 

Nos manda só por ella expor a vida !... 

E julgais que perdendo a liberdade. 

De novo sendo escravos dos Romanos, 

Descanso encontrareis em vossos ferros? !... 

Nem já vos recordais do negro exemplo 

Que vos deu esse deshumano Galha ? ! 

Desejais entregar-vos com presteza 

Nas mãos desse pretor Serviliano 

Que já sedento está de vosso sangue ! 

Que julgarei de tal procedimento ? !... 

Ah ! podeis de uma vez desenganar-vos, 

Meus bravos e queridos camaradas. 

Que não encontrareis entre Romanos 

Senão escravidão pesada o triste, 

E um ódio mais cruel que a mesma morte ! 

Sim... quereis que um Romano deshonrado 

Que direitos não preza nem virtudes, 

Compassivo se mostre inda comvosco 

Só por ver que covardes deptizestes 

Armas que denodados empunháveis 

Para abater a sua altiva fronte ? ! 

Ai... possa elle ensopar-se em vosso sangue, 

E saciar seu ódio furibundo... 

Que lhe imporlao os meios, conseguindo 



— 43 — 

Levar ao cabo seus projectos negros ? 
Nem vos deixeis vencer tão facilmente 
Por discursos de um vosso camarada 
Que Luso não parece, tai soldado 
Que nutre semelhantes sentimentos. 
Assim poderei ver em um só dia 
Frustrados meus cuidados e desvelos 
Dessas noites de longa vigilância 
Que só fazia em prol da liberdade ! 1 
Se em Évora tão poucos conjurados 
Fazendo juramento de vingança 
Marcharam para a frente dos Romanos 
Os vencendo por toda a Lusitânia, 
Triumphantes chegaram até a Betica, 
Onde agora vos vejo vacillantes, 
Que se dirá de vossa rebeldia 
Depois de taes victorias alcançadas ! l 

(Unindo Osmia a seu coração.) 

Minha querida filha I vem unir-te 
A este teu velho pai que tanto adoras ; 
O signal do combate soar deve 
Em pouco lá no campo dos contrários, 
Quando meus temerários companheiros 
Já sem valor fugirem do combate, 
Honrados morrerão o pai e a fíUia 
Defendendo da pátria a liberdade. 

(Murmúrio eníre os soldados.) 

A pátria vale mai.s que nossas vidas, 
E só o Ínfimo escravo desconhece 
A gloria de tão alto sacrifício ! 

Osmia (desembaraçando-se dopai e manejando a espada). 

Sim, adorado pai, eu vos protesto 
De morrer com valor ao vosso lado 
Lá bem no centro da cruel peleja... 
E corem de vergonha os Lusitanos. 



_ 44 — 

Ao verem que a mulher suspira e morre 
Pelo nome da santa liberdade... 



(Voltando-se para os soldados). 



Aonde está o valor, ó companheiros, 
E o mesmo juramento que fizestes 
Era presença das \ictimas de Galba?! 



Soldados. 

Levai-nos ao combate... sim... ao combate... 

(Bradam todos no maior enthusíasmo.} 

Viriato (a Osmia). 

Ouves, querida filha! o amor da pátria 
Accende-lhes no peito o sacro fogo, 
Oue arde sá pela santa liberdade... 
Será vencido esse pretor Romano ; 
Debalde buscará assoberbar-nos. 

(Aos soldados). 

Ate que emfim mostrais bem claramente 
Abominar os ferros dos Romanos, 
E que sois fortes e sabeis com honra . 
Por vossa cara pátria e liberdade 
Combater ou morrer por defendê-la. 

(Toca uma corneta no campo inimif/o.) 

E' o signal. 

DiCTALUO (com temor). 

Signal já do combate... 

Tentalo. 

O' gloria... 6 minha pátria... ó sacros numes... 
Fazei que vencedor seja meu braço 
Lá no campo entre nossos inimigos ! 



— 45 — 

Viriato (com enthusiasmo). 

Prezados camaradas... ao combate... 
Vamos lá sustentar a liberdade 
Que tão cara tem sido aos Lusitanos ! 
Para nós o pretor vem caminhando ; 
Marchemos sem demora ao seu encontro 
Mostrar que seu poder não receiamos... 
Bravos soldados, vamos ao combate... 
Que a razão e o valor são a victoria ! 
Avante, pois, ao campo da batalha l 
De Viriato a pátria vos contempla, 
l^ossa ella ao menos ver os nossos brios 
Indo a morte buscar por defcndé-la ! 

(Tocam as trombetas guerreiras em som de guerra, e Virialo 
f. neus companheiros marcham em ordem de combate, Anenas 
desapparecem da scena entra logo Dictalião fugitivo^ olhando 
para todos os lados. O tinir das espadas cada vez se ouif' 
mais perto.) 



SCENA II. 

Dictalião, depois os combatentes. 

Ah ! como escaparei a estes mofinos !... 
A morte já ante meus olhos vejo 
De negras vestes e medonho aspecto ! 
Como a peleja está encarniçada... 
Como se batem com tremenda fúria... 

(Espiando para o lado do combate.) 

Porém que ve]o... indubitavelmente, 
Km face de immigos tão potentes 
Já busca cm vão o Luso defender- se ! 



Aii ! que intenso prazer eu sinto agora 
Por ver que sua perdição 6 certa. 
Que recuar já vejo seus soldados ! 
Vamos ver onde pára esta contenda, 



— 46 ~ 

Porque apezar desta pendência minha, 
Só com o vencedor quero partido. 

(Desapparece com a mesma ligeireza com que entrou. Os 
Lusilanos vem recuando até o meio da scena, onde continuam a 
combater fortemente; os Romanos vão afrouxando pouco a pouco 
e os Lusitanos os levam de vencida deixando a scena vazia.) 



SCENA III. 

DiCTALiÃO, E DEPOIS VlRIATO E SEUS COMPANHEIROS. 

DiCTALiÃo (espiando para o campo da batalha). 

Sim... não me engano... os Lusos vencedores!... 
Oh ! que estranho valor... corro para elles, 
Porque já posso partilhar na gloria 
Que bem pouco custar me pdde agora 1... 
Para graças não-ó o chefe luso, 
E' capaz de tirar-me a própria vida 
Se descobrir o meu procedimento... 
Perfilar... á direita... marche.... marche. . 

(Vai marchando para o lado dos combatentes. Viriato entra 
logo na scena com sua filha sobre um carro de guerra do pretor 
ServilianOy todo alcatifado de flores e puxado por captivos; 
o trás do carro vem Serviliano e muitos outros soldados ro- 
manos; os soldados lusitanos são os últimos que chegam. Vi- 
riato desce para f aliar aos seus soldados e Osmia fica em pé 
sobre o carro.) 

Tentalo (ao entrar do carro em scena). 

Caminho ao vencedor l . . . 

Soldados. 

Ao Lusitano!... 

CURIO. 

líeroe da liberdade... 

Soldados. 

E' gloria nossa r.í. 



— 47 — 

Viriato (descendo dô carro). 

Obrigado, valentes companheiros-, 
Ao vosso esforço devo a gloria toda 
<3ue me pdde caber deste combate. 
Roma, a soberba Roma, envergonhada. 
Triste deve curvar a fronte sua 
Ante os feitos dos poucos Lusitanos, 
Que cumprindo um santo juramento 
Lhes tomaram vingança em campo aberto ! 
Eia, pois, ó soldados lusitanos, 
Exultai de prazer, que ao valor nosso 
Não podem resistir romanos peitos 
Manchados com o sangue de innocentcs.., 
O céo já sobre tudo é nosso guia... 
Olhai o carro do pretor romano 
Onde vós, triumphantes, conduzistes 
Nos louros da victoria o chefe vosso ! 

CURIO. 

Viva o valor de nosso chefe ! 

Soldados. 

Viva'!.,. 
Serviliano (approximando-se de Víriuto). 

Valente capitão dos Lusitanos, 
Não durmas sobre os louros verdejantes 
Que conquistaste ovante em mareio campe, 
Bem máo grado de rainha pátria Roma ! 
Solida paz faremos, e se queres 
Repousar das fadigas e os teus Lusos, 
E' mister que nos dôs a liberdade. 
Eu bem sei quanto és nobre e valoroso 
Era defender a causa tua, e todos 
De tua pátria amada, companheiros ; 
Sei que uma dôr leu coração domina 
Que te faz desejar antes a guerra! 



— 48 -^ 

Guerra fatal... já essa idéa triste 
Nutres na mente, a imagem figurando 
Só de uma falsa gloria fugitiva!... 
De parte p5e todas as oíFensas ; 
Conhecerás então prudentemente 
O quanto é doce a paz, quanto sublime 
Viver em seu regaço meditando 
Nas grandezas do céo. .. do mundo todo,. 
E louvando o Crcador destes^ mysterios„ 
Desta vasta e profunda natureza l 
E reparando após na lida insana 
Desta rude peleja trabalhosa 
Onde nem sempre Marte furibundo 
Pôde a espada tomar em favor nossa 
E onde a victoria duvidosa ê sempre !: 
Vamos, me diz, ó capitão femoso, 
Qual deve ser a sorte que me aguarda ?* 

Viriato. 

Pretor romano, que dizer te posso 

Sc inda vaeillo nas padavras tuas. 

Que mui bem retumbarão cm meus ouvidos 

Se fossem á lisonja acostumados? ! 

Nem deixa o tigre de beijar os ferros 

Quando geme por libertar-se delles, 

E tu, pretor romano, és como o tigre L 

Serviuano. 

Ah ! basta capitão,, de taes ultrages. 
Que não mais ouvirás dos lábios meus 
Uma só, nem sequer uma s4 phrase 
Das que possa offender a quem se ofTende 
De ouvir fallar em paz humildemente 1 
Ingrato, que te Mo sem rodeios 
Esta linguagem pura de minh^alma. 
Que nunca pôde essa fallaz lisonja 
Nella embutir o seu veneno torpe. 
Se os destinos da guerra te fizeram 
A ti o vencedor no mareio campa,. 



— 49 — 

Não deves abusar de roinha sorte 
Para que o céo proteja o teu destino. 
Nem traidores são todos os Romanos 
Como tu pensas, lusitano chefe ; 
Se Galba tão fatal vos foi outr'ora, 
Mandando assassinar aos Lusitanos, 
No senado romano foi julgado, 
Que o castigo lhe deu para o desterro, 
Punindo deste modo o vitupério. 
Matar>me podes, que cu não temo a morte, 
Mas sonda bem primeiro a culpa minha, 
Que sendo ella somente o ser vencido, 
Tremerás, Viriato, de teus crimes 
E do raio dos numes vingadores. 

Viriato. 

Iksta, estou convencido da innoccncia 

Que reside em teus puros sentimentos. 

Nem para atraiçoar nasceram todos, 

E contieço que nossa f licidade 

Não é nas guerras que encontrar» se pódc; 

Vamos buscar na paz a segurança, 

E com ella terás a liberdade, 

£ todos os que aqui são prisioneiros. 



Serviliano. 



As condições? 



Viriato. 

Que Roma reconheça 
ludependente, o povo lusitano ! 

Serviliano. 

Acccito-as. 
Viriato. 

Podes partir sem armas, 

E dizer ao senado as condições, 

E que seja prudente cm respeita-las ; 



— 50 — 

'Porque Roma não ha de escravisar-nos 
Emquanto houver um chefe lusitano... 

CURIO^ 

Viva o bravo capitão!... 

Soldados. 

Viva!... viva!... 

(Viriato sobe de novo ao carro neste tempo, e os soldados 
iisitanos é que fazem rodar o carro com grande enthusiasmo, 
ao pa^so que os romanos vão despejando a scena, continuando 
tenipre os vivas dos soldados lusitanos. 



FIM DO SEGUNDO ACTO. 



ACTO TERCEIRO. 



Otheatro representa umasala magesiosa no palácio do pretor C(c- 
pião em Carpetania, ha uma porta falsa do lado do espectador. 



SCENA 1. 

OSMIA (só). 

(Com um punhal erguido contra o peito. 

Morrer.., ó céos... morrer na flor dosannos!... 

Baixando o punhal como para descansar o braço.) 
Sem poder estreitar nestes meus braços 
Mais uraa vez, meu pai... meu pai querido... 

(Com resolução.) 

Porém antes mil mortes que a deshonra 
De barregan ser, de um pretor romano. 

(Ergue de novo o punhal contra o peito, mas, cònw 
arrependida de um grande erro quepraticava, abaixa 
de novo o punhal.) 

Sim, era eu mesma que buscava a morte ! 
Morte sem fructo... e do tyranno gloria!... 

(Dando algiins passos para o meio da scena.) 

Oh ! não... não morrerei, esse momento 
Já rápido passou da mente minha... 
Quero viver, porém viver cora a honra 
Que me tem conservado os sacros numes ; 
E quando assim o conseguir não possa, 
Estando extinctos meus recursos todos, 
Persistindo o malvado em deshonrar-me, 
Então, oh! morrerei... porém, vingada ! 

(Depois de um momento de meditação, continua.) 



Cinco dias aqui já são passados 
De cruel soíirimento e de amarguras 
Sem mais novas saber do luso campo ! 
Que é meu pai vencedor, isso percebo 
Na fronte do pretor e dos soldados ; 
Gomtudo, deve estar bem pezaroso 
Meu querido pai, pela falta minha ; 
Que nem deve saber se eu inda \ivo, 
Ou se no meio do combale fero 
Confundida fiquei entre os cadáveres ! 

(Vai escutar ao lado da porta falsa). 

Sim... não me engano!... já distingue os passos 
Do meu senhor... do meu tyranno... oh! céos! 
E poderei soffrer tal cai)tiveiro ! ! 



SCENA II. 

OSMIA E C^EPIÃO. 

(Á porta falsa ahre-se sobre o pavimento^ o pretor entrn c 
torna a fechar a porta que justa perfeiíamenie.) 

C^EPIÃO. 

Formosa Lusitana... vida minha, 

Eis-me de novo na presença tua! 

Oh ! diz-me... mais feliz chamar-me posso? ! 

OSMIA. 

Senhor, torno a dizer-te, sou escrava. 
Assim o quiz o meu fatal destino ; 
Modera, pois, teu perenal desejo, 
Poupa-me, èe tu podes, a deshonra, 
Sc não em meu favor a morte chamo, 
E baldados serão os teus desígnios. 



— 53 — 

CiEPIÃO. 

E ousas tu, insensata ) assim fallar-me, 
Dando ao desprezo o meu amor ardente, 
Que do intimo do peito te consagro?! 
Estás em meu poder, és rainha escrava, 
No campo da peleja captivei-te 
Quando venci teu vigoroso braço ; (com altivez) 
Sou teu senhor... c... basta... 

OSMIA. 

Mas não penses (o mesmo) 
O' romano pretoi', a quem desprezo, 
Que por um tal modo humilhar-me podes, 
Porque meu pai virá em meu soccorro 
Com os bravos guerreiros lusitanos, 
E a minha morte vingará. 

CiCPiÂO (d parte com admiração). 

O' numes! 
Sua constância c varonil firmeza 
Me confundem!... (alto). Enganas-te... enganas-to 
Que reforço de Roma vai chegar-me 
Com que destrua os poucos Lusitanos 
Que hão de buscar debalde resistir-rae. 
Assim como ao senhor, a vil escrava... 
Que mesmo desdenhosa ha de render-se. 

OSMIA. 

Que horror!... que sentimentos d'um tyranno! 
Tyranno... que perjura seus tratados... 
Tratados por seu mesmo irmuo acceitos ! 
Que se deve julgar de taes heroes ? 
Como devo julgar o teu caracter? 
Terás acaso sentimentos nobres? 
Oh! não. . tu és um monstro... és um perverso, 
Nunca conseguirás os teus intentos... 



— 54 ~ 

O Céo é justo, elle ha de protegcr-me 

Contra o monstro que assim insulta os numes!... 

Meu pai é livre e toda a lusitania, 

Ah! vem... que se morrer serei vingada... 

GiEPIÃO. 

Oh ! basta escrava vil... mais não prosigas, 
Meu ódio furibundo provocando, 
Porque meu coração enraivecido 
Me leva, pertinaz, a castigar-te. 
Sabe tu que tratados nunca tive 
Com nenhum dos soldados lusitanos ; 
Meu irmão procedeu covardemente, 
Reprovando o senado tal convénio 
Em seu lugar me confiou o mando, 
Com elle vos farei guerra monifera. 
Se infeliz fui no meu primeiro encontro 
Comtudo não tirei máo resultado , 

(Em tom mais brando.) 

Venci a filha d'um famoso chefe, 

(Fitando Osmia com ternura.) 

Venci- te, sim, querida e bêlla Osmia, 
Também tu já meu coração vencestes... 
Ah! perdoa... se eusei tanto offender-te... 

(Mostrando-se arrependido.) 
Osmia. 

Não vês a opposição de tua escrava? 
Queres que eíla levante os olhos ledos 
Para quem lhe roubou a liberdade ? 1 
Ah! e crês tu que eu possa amar-te ainda?! 
Dentro do coração da Lusitana 
Só podes encontrar mortifero ódio, 
Se ódio cabe no peito d'uma escrava 
Que geme pela santa liberdade ! 



•^ 55 -^ 

CiEPIÃO. 

Oh! basta.... basta... eu saberei vencer-te,. 
E saberei tornar-te humilde serva : 
Gente rem,. vai, daqui te ausenta. 

OSMIA. 

Eu parto. (Sahe.) 
SCENA III. 

C.€PÍÃO, CURIO E DlGTAtlÃO. 

ih dons embaixadores entram sem darem por (kmia, que os- 
observa por um momento antes de sahir.) 

DlGTALlÃO.. 

Saúde ao grande Caepião romano. 

C^piÃa. 
Bera vindos sejais, 

CURiO. 

Nosso luso chefe 
Pczaroso nos manda interrogar-vos 
A, razão por que Osmia prisioneira 
Retendes com rigor neste palácio : 
Se à afim de humilha-lo neste trance 
Com a desventura da querida filha, 
Que vejas bem que um chefe ksitano 
Mui longe de abater-se na desgraça 
Altivo empunha a espada da vingança, 
E não descansa na contenda justa. 

CiEPIÃO. 

Oh ! e atreves-te na presença minha 

insensato, a fallar com tal arrojo, 

Dtí embaixador as leis menosprezando?! 



r 



~ 56 — 

CURIO. 

Não sou cu, 6 pretor, que assim vos fallo, 
Que para isso nenhuns direitos tenho ; 
E' porém o distincto chefe hiso 
Que me ordena afallar-vos desse modo. 

G/EPUO (aparte). 

Ah 1 eu tremo de raiva ! 

(Voltando-se para Dicíalião e disfarçando a colem. j 

Sem duvida, 
Eu vejo que nenhuma culpa tendes, 
Toda pesa no vosso infame chefe, 
Que pensa com ameaças abatcr-me ! 

(Com fingida affahiMmle.j 

Só me doe o infeliz destino vosso 
Que vos vai conduzindo ao precipício 
Por esse cego amor que vjs deslumbra, 
Em face d'uma ideia de vingança, 
Que vos faz conceber esse vil chefe ! 
Elle quer dominar-vos e reger- vos, 
Quer num tlirono sentar-se e ter vassallos, 
Por menos que vassallos ter escravos 
Que attenlos obedeçam a seu mandado 
Sob o poder de sua tyrarinia ! 
Porém, se vos apraz a liberdade 
E voltar para sorte mais ditosa, 
K' mister que succumba o miserável 
Que tão bem encaminha seus projectos, 
Projectos que tolher inda podemos. 

CURIO. 

Viriato... senhor, é mais distincto 
E mr.is nobre que todos os Romanos, 
Para ncUe pormos nossa confiança ; 
¥: Lusitano... basta... (Com althez.) 



^ 



-^ 57 — 

CIPIÃO. 

O que rac dizes ! 
Pois acaso preferes ser escravo 
Do que livre gozar a liberdade ? ! 
Ah ! como desejais seguir um chefe 
Que só pela ambição é conduzido ! 
Acreditai, que se nos faz a guerra 
Nunca foi por amor á Lusitânia, 
Porém só por certeiros fundamentos 
Que em breve o levarão a dominar-vos ! 
Se nós em plena paz o consentissemos 
Contra vós voltaria seus designios 
Vos fazendo gemer na tyrannia, 
Que com industria e arte forjado tinha ! 
Vede, pois, desgraçados Lusitanos, 
Que os males evitar podeis agora ; 
Levai-o sem piedade ao sacrifício 
Se quereis segurar a liberdade, 
Pois tereis da republica romana 
Sua amizade e protecção prestante : 
Até mesmo o governo lusitano 
Consentira que vós gozeis sem medo. 

DiCTALilo (mQstrando-se satisfeito com a proposição). 

Para o fazer assaz tenho motivos, 
Motivos que depois dizer vos posso ; 
E' mister me passeis um documento • 
Em que seja a promessa garantida 
Pois eu também vingar-me quero agora ; 
Já prompto estou, dai-me a hança vossa, 
Que em pratica vou pôr vosso projecto. 

CuRio (aparte fitando Dictaliào com grande indignação). 

Oh! céos,.. que miseráveis... que perverso !... 

CiEPUO (a Dietalião). 

Descansa, sem demora vou passa-la^ 



58 



Quero ver o lyranno exterminado, 

(A' parte olhando para Curto de rpvez.) 
\\ lambem meus projectos acabados ! 

DiCTALiÃO (voltando para Curió.) 
Concordas no contracto? 

CURIO. 

Que contractt)?! 
Ah ! queres tu, infame renegado, 
CoBtractar o teu chefe e tua pátria?! 
Queres tu ver correr de novo o sangue 
De pais e mais, de filhos innocenles, 
A troco de promessas infundadas 
Que desprezar só deve um peito nobre... 
Porém... és um covarde... um renegado 1 
Indijjno Lusitano!... 

{Bate nos copos da espada, e fingearrauea-la.)^ 

CIPIÃO {indignado). 

Tu, insensato... 
Com que audácia a fallar assim te atreves, 
Tomando a espada na presença minha?!... 

CURIO. 

De mira as negras fúrias se apoderam... 

Minha razão sésufToca... e se souberas 

Que vivo fogo me lacera o jjeito, 

De assim ouvir tratar a pátria minlia 

Por este embaixador, seu próprio filho... 

Ah ! quizera lirar-lhe a mesma vida 

Antes que ver seu nome deshonrado! 

Poróm que?... Lusitano!... elle? (indica) já nào weio. 

C.í:riÃo. 

Não mais... nuo mais prosigas... eu protesto 
Que verás no teu^ próprio atrevimento 



— 59 — 

O rigor ào cãstigo que bas merecido, 
E desde já te prohibo a liberdade. 

{Voltando-fte para Dkfaliáo.) 

Eu poderei contar com teus serviços, 
Bravo soldado lusitano? 

DlCTALIÃO. 

Ohl... sim... 
Podeis sempre contar com meus serviços, 
Eu não sou Luso, nem tal nome gnero, 
Sc entre os Lusos passei por Lusitano, 
Sempre Romano fui de nascimento... 
Eu vos juro cumprir minha promessa 
E contra os Lusos derramar meu sangue l 

GiEPiÃo (d parte). 

Tudo... tudo caminha a meus desejos, 
E vencidos serão os Lusitanos... 

(Alto, a Dieta liâo.) 

Vamos já formular nossos contractos, 

Deixa o. teu temerário companheiro 

As saudades curtir da pátria amada 

Tá que melhor destino dar-lhe possa... {Vão-sc). 



SCENA IV. 

Guri o [só], •" 

(Dando alguns passos horror isado.) 

Que situação a minha... 6 desventura... 
Gomo sobreviver a tanta infâmia !... 
Âi triste... desgraçada pátria minha, 
Nesta hora do meu negro soifhmento 
Quem do abysmo fatal pôde salvar4e? ! 
Sim... tudoé obra d'um fingido Luso... 



— 60 — 

Os chefes do commando quanto perdem 

Não sabendo sondar esses traidores, 

Covardes, interesseiros, que só buscam 

Com mascara de humildes servidores 

O momento que visam favorável 

Em que possam trahir seguramente!... 

Era Komano... mas traidor romano... 

Taes heroes não produz a Lusitânia!... 

Oh! Céos... Poder Supremo... sacros numes... 

Ajudí^i-me a soífrer tamanho golpe 

Neste meu coração desalentado!... 

{Mostrando fjrande a/pkcão.'^ 

Oh ! sim... sim... dai-me sobrehumanas forças, 
Tomai-me á desejada liberdade 
Para a pátria salvar áo grande p'rigo 
Em que ora, m'a figura o pensamento 
Do captiveiro os ferros arrastando ! 



SCENA V. 

CURIO E OSMIA. 

OsMiA (entrando pela porta falsa apressadamente). 

Valente Lusitano... nobre Curió!... 

Se a vida de meu pai inda desejas, 

£ desejas ver livre a Lusitânia, 

Ah! corre sem demora em seu soccorro... 

De mau pai vai salvar a doce vida 

Que lhe busca roubar um assassino ! 

Oh ! foge... vai depressa... os sitios deixa 

Onde habita o pretor... o monstro horrendo 

(Indkando-lhe aporta falsa.) 

Ao jardim... do jardim para a floresta 
Bem curto e sotitario é o caminho ; 
Vai nobre Luso, libertar a pátria 
Que te chama anciosa em seu soCcorro... 



^ 



— 64 — 

CuKlo {mostrando inUrior contentamento). 

Ai que prazer no peito agora sinto.. . 
Mil louvores vos rendo, ó sacros numes!.,* 
E vós, querida Osmia, vinde, vinde 
Também vos salvarei do fero moastro, 
Sim... sim... fujamos juaios... 

Osmia. 

Sem demora 
Vai-tc deste lugar tão miserando. 
Se salvares a meu pai eu serei tua, 
Vai... oh... vai... (mostrando grande afflição,) 

CURiô {beijtmdo-lke a mão). - 

Sim, cu parto, adcos... adeos... 

(Já no limiar da porta,) 

Treme agora de raiim, traidor romano,.. 
Que se para escapares ao castigo 
To foras refugiar no fnesmo inferno... 
Nas mãos de Satanaz te mat^!... (lai-s^.) 



SCENA VI. 

OSMIA & DEPOIS CJEPIÃO, 

Os.MiA (marí^ndo com resolução para o meio da scena). 

Agora â minha perdição é certa... 
Porém antes soffrer a dura morte 
Que deixar succumbir meu pai querido 
E da pátria roubar a liberdade... 
Que venha pois esse pretor infame... 
Impacientemente aguardo a vinda sua 
Kão o temendo cm face de seus crimes! 



-^62 — 

C.€PiAO {apparece á porta do fundo y cruza os braços e contempla 
Osmia por um momento, depois caminha para etta com passo 
vagaroso e grave, Osmia também cruza os braços e o espera 
com resolução). 

Como procede a vil escrava minha, 
Com tal atrevimento assim zombando 
Do meu amor... e do poder supremo!... 
Desgraçada, que destes fuga ao preso, 
Mulher de Satanaz... mulher ferma... 
Treme de mim... que justiçar-te quero... 

{Toma o braço de Osmia e forceja por leva-la para fora da 
scena, porém ella, lhe fazendo vigorosa resistência, arranca 
cem a outra mão o punhal do seio e crava-lKo rapidamente 
no seio fazendo-o cahir immediatamç^ite a seus pés; Ccepiàê 
leva a mão á ferida.) 

Ai... desgraçado... morro... e sem vingar-me... {Expira.} 

Osmia (depois de contempkt4o com indignação). 

Desgraçado pretor... eis-te a meus pés ; 
Vingado está meu pai e a pátria minha... 
Posso cobrar de novo a liberdade ! 
Graças ao meu punhal e aos sacros numes 
Protectores dos bravos Lusitanos!... 

(Fica com o punhal alçado inclinado para o pretor.) 



} 



FIM DO TERCEIRO ACTO. 



ACTO QUARTO. 



O theatro representa a mesma vista do secando acU). 

SCENA I. 

VlRUTO E SEUS COMPANHEIROS. 

Viriato [appnmmando-se de Tentab). 

Sabe, amigo, que já receios tenho 

Da tardança de nossos companheiros. 

Talvez busque a traição erguer seu throno 

De novo ^obre os peitos lusitanos. 

Onde já o ferro penetrar não pôde. 

Ah ! querçrào tentar inda mais crimes 

Depois que lhes íizcmos pagar caro 

O negro proceder do infame Galba?! 

Se o valoroso Plaucio c o forte Figulo, ^ 

Vencidos já por nós em mareio campo, " 

Lhes não mostram o poder de nossas annas. 

Que busquem o valor dos Lusitanos 

Que retumbou na descuidada Betica 

Quando Cláudio, rugindo por dez vezes, 

Em vão acommetteu nossas phalanges, 

E outras tantas, raivoso e delirante 

Recuou confundido e temeroso. 

Vendo emtim triumphar nossa bandeira ! 

Textalo. 

Eu creio, capitão, que toda a Roma 
Não ignora o poder de nossas armas 
Para mais perpetrar infames crimes ; 
Se bem que é seu caracter inconstante 
Em desprezar as leis de seus tratados. 
Mais tratados cora elles não teremos ; 
O direito de nossa liberdade 



" 



— OA — 

Defenderemos do universo inteiro 
Ernquanto as armas empunhar uiti Luso ! 

Viriato. 

Dá-me a tua mão, bravo Lusitano.. . iA})cría-1he a mão) 

A minha alma se expande alegremente 

Ao ver um bravo defensor da pátria 

Nutrir no peito sentimentos taes ! 

Olha, querido amigo, o que lamento, 

O que me peza mais, e mais tortura 

E' ver que já no meio da victoria, 

De louros ao cingir a fronte minha, 

Depressa vi seccar as verdes folhas 

Com a falta da minha cara Osmia ! 

Tentalo. 

Assombrado o pretor de nossas armas 
Ha de afinal soltar a vossa fílha ; 
Não receies, esperai tal resultado. 
Que vencido por nós o temerário 
Não ousaiÉípor muito longo tempo 
Vossa filha reter no seu palácio. 

Viriato. 

Porém o vencedor, meu caro Tentalo, 
Deve sempre aguardar de seu vencido 
Algum projecto de cruel vingança. 
Os vencedores da famosa Gallia, 
Dos Africanos e valentes Persas, 
Depois dessas victorias alcançadas 
Jluita vergonha houveram de ser vencidos 
Pelas armas dos poucos Lusitanos 
Que sua vergonhosa tyrannia 
Tombar fizeram com valor prestante; 
E a fama das victorias alcançadas 
Contra os guerreiros das longínquas plagas 
l^lanchada na de ficar eternamente 
No cimo de seu grande Capitólio t 



— 65 — 

Ah I curva-te orgulhosa e augusta Roma, 
Que o vilipendio te enncgresse a fronte ! 

{Uma sentineUa brada ao longry e a sccna vai 
ficando escura pouco a pouco.) 

Tentalo... ouviste ! 

Tentalo. 

Ouvi ; se fossem ellcs 
Os dous embaixadores ! 

Viriato. 

'Vai ligeiro 
Subcr que novas temos. 

Tentalo. 

Sem demora 
Com ellas voltarei de novo. {Vai-se.) 

SGENA II. 

Os MESMOS, MENOS TENTALO. 

Viriato. 

Céos ! 
Se fossem meus queridos companheiros 
Que voltassem com minha cara Osmia... 
Porém, talvez que bem fataes noticias 
Tornara renovar minha tristeza 
E meu triste pensar amargurado ! 

SCENA III. 

Os MESMOS, blCTALUO E TeNTALO. 

Dicjalião. 

Boas noites, capitão. 



Ruins novas. 



— 60 — 

Viriato. 

Que novas trazes ? 
dict.4liãò. 

Viriato. 

Pois sabc-las já pretendo.., 

DlGTAUÃO. 

Debalde Caipião «juiz scduzir-me 
Para mais não voltar á pátria minha! 
Eu pude resistir c venci tudo... 

[Affectando grande emonio. 

Porém meu companheiro, esse malvado 
Renegou sua pátria perjurando!... 
iNcm quer fnzer paz o pretor comtigo ; 
.lá soberbo de sua rica presa 
De novo declara-te cruel guerra 
Rem certo de fíndar os seus projectos 
No primeiro comiiate era que se empenhe. 

Viriato {mostrando grande indignarão). 

Rasta... quer guerra esse pretor infame!... 
Também guerra faremos de exterminio... 
Anianhiií estes montes digam guerra, 
E guerra digam os raios chammejantcs 
Abrindo as prenhes nuvens lá no Céo ! 
Por toda a parte um echo, guerra diga, 
E o sangue do pretor o justifique 
Ao tingir esta espada lusitana... 

{Arranca a espada.) 

Vós ouvis, meus amados companheiros... 
O soberbo pretor já nos despreza, 
Em pouco tendo a resistência nossa, 
Nos responde com grande vilania 



— 67 — 

Pensando desse modo araedrontar-nos ! 
Ah ! infame pretor, cu te dstesto ; 
Em vão assoberbar tentas o Luso 
A quem protege o santo amor da pátria ! 

(A Dlrtuliào.) 

Que novas trazes da infeliz Osmia 
Ao coração do pai entristecido?! 
Oh ! diz... é morta, ou deshonrada vive 
Xos braços do pretor!... 

DlCTALlXo. 

A triste Osmia 
Vive no captiveiro suspirando 
Pelo dia da sua liberdade ! 
Ah ! ella bem quizera acompanhar-me, 
Se não fosse a severa vigilância 
Que lhe prohibe de dar um passo occullo ! 
Bem pena me causou seu triste pranto 
Quando de mim se despedio chorando 
Me dizendo banhada cm suas lagrimas 
Que lembrasse a seu pai o triste estado 
Em que a vira em romano captiveiro. 

{Fingindo enxugar as lagrimas, e d parle vom hupuni.sM.] 
Como bem tenho disfarçado tudo!... 

Viriato. 

Triste do mim... ai triste... não prosigas. 
Que sinto o coração despedaçar-se... 
Agora vejo que a existência ó nada 
Sc acaso a paz do coração nos foge !... 

{A Dictalião com profundo senti munh.) 

Meu amigo fiel, cu te agradeço 
Tantos serviços que me tens prestado 
Mostrando meus errados pensamentos 
Que concebido tinha a teu respeito. 
Quanto á esse desgraçado, e infeliz Curió 



— 68 — 

Sc tornar um traidor, um renegado, 
Ha de o castigo ter dos sacros numes 
Testemunhas do atroz procedimento... 
Debalde buscará erguer seu ferro 
Contra o de seus irmãos, os Lusitanos, 
Que inerte ficíirá seu forte braço 
Em frente dos intrépidos guerreiros. 
Os mais leaes e honrados lidadores !... 
Eia, meus companheiros, preparai-vos. 
Porque amanhã antes que o sol desponlc 
Já era marcha estaremos para o campo 
Onde a victoria disputar se pôde.. . 
Antes morrer no campo da batalha 
Begando com o sangue a pátria terra. 
Do que ser de estrangeiros dominados... 

[Toca o clarim a recolher.) 

Textalo. 

?írio nos falta valor, mormente quando 
,Já nos anima tão distincto chefe : 
Para o combate prcparar-nos vamos 
Pois comvosco seremos vencedores 
Ou lá, ao vosso lado, morreremos 
Defendendo da pátria a Hbcrdade ! 

(Vão-se todos e pca Virialo só.) 

SCENA IV. 

Viriato. 

Bem resignados vejo os meus soldados 
Poffrcndo mil trabalhos sem queixumes!... 
Ora, pois, é preciso ler coragem 
Para aíTronlar os sentimentos Íntimos 
Que sinto o coração dcíjpcdaçar-se. 
Oh! minha pátria... ó liberdade amiga... 
EmiTiianto viver, vivirás comigo 
Ponm inila depois, querida pátria 



09 



Tu reconquistarás os teus direitos 
A' custa de combates e fadigas... 
Sim.... pois a mui de tao valentes filhos, 
Que tão honrados sentimentos gerara, 
Liberta deve ser dos duros ferros 
Que lhe busque lançar nação estranha. 

(Recolhesse lentamente ao seu aposento.) 
SCENA V. 

DlCTALL\0 [só), 

A scena vai ficando quasi de todo escura ^ e Dictalião entra 
vagarosamente com um punhal na mào, 

Ah ! emfim... é chegado esse momento 
Por quem tanto meu peito se agitava ! 

(Vai espiando cautelosamente por toda a scena.) 

Ninguém... este silencio é-me propicio... 
Seguros suo meus passos... sim, avante 
Que neste ferro confiança tenho, 
E nelle está hoje a ventura minha 
Ou a minha sentença de extermínio... . 

{Entra para o aposento de Viriato, daki por um momento 
oiwc-se um gemido^ sahindo após com o punhal ensanguen- 
kdo. Vai elle caminhando para fora da scena a passos largos 
f^pavoridOy quando Curió vem entrando pelo outro lado da 
^cena vagarosam,ente.) 

Oh! raiva... Gurio, aqui perder-me pdde. 

(-4o aviMar Curió.) 
Eu devo aproveitar este momento, 
Em lugar de uma victima, são duas... 
Se do pretor frustrou a vigilância 
Deste punhal não frustrará o golpe ! 

^Vai com o punhal direito para Curto ^ porém suspende os 
passos^ como ferido por outra idéa; entra de novo no aposento 
^*!' Viriato e sahe sem o punhal; tudo isto faz com tal ligei- 
r<?:« que Curió não pôde dar fé.) 



f 



— 70 — 

Oh! estou salvo... meu triumplio ê cerlo... 
{DesapparecCy e Curió coniinúa em busca do aposenio^ 

SCENA VI. 

CURIO. 

Sim, afinal pude chegar a salvo! 

(Entra no aposento de Viriato.) 

SCENA VII. 

DlCT.\LIÃO E SOLDADOS DE FaCIIOS ACCESOS. 

{Dicialião $è dirige com os soldados para o aposento, alguM 
o invadem logo, e trazem Curió preso, e um deUea traz o 
punhal ensanguentado de Dictalião.) 

Soldados. 

Curió!... 
Tentalo {fitando Curió çom grande admiração). 

Tu assassino!... desgraçado... 
Ah ! c pudeste... justos céos !... 

CrRio {quan desorientado, olhando para todos). 

Oh! munes I... 
Onde estão vossos raios de vingança, 
Se o certo que os retendes lá em cima 1 ! . . . 
Sim'... porque não mostrais o poder vosso... 
Porque os não fulminais contra este monstro?! 

(Encarando com horror a Dicialiào.) 

r»lCTALlio (baixo a Curió, approximando-se delle). 

Bem cruel deve ser teu soffrimento... 
Que provas não darás que justifiqueín 
rsom a tua innocencia, nem meus crimes... 
lu assim o quizeste : é obra tua... 



— 71 — 

Cunio. 

Ah ! és tu o traidor que assim me folias... 
És tu, vil assassino... renegado?!... 
E crís que eu tema a morte... sim... a morte. 
Quando meu coração é innocente ! ! 
Oh! vai-te de meus olhos... insensalo... 
Que me roubas a luz com teus embustes... 
E já meu corpo treme, e a voz me falia, 
Não por temer teu infernal projecto, 
Pois espero que os céos me justifiquem, 
Mas, por de nojo, não poder mais ver-tc... 
Afasta-te... {com horror e desprezo.) 

DiCTALiÃ) (baixo de novo cr Curió). 

Debalde tu trovejas.... 

(Voltando-se para os soldados). 

Vamos, soldados, cumpre justiça-lo. 
Já em delirio está o criminoso, 
Levem-n'o sem demora... 

(Os soldados vão -se com C.urio.) 

I)iGTAUÃo sò, quasi no fundada scenacom a mào aJrada. 

Minha estrella... 
Minha feliz estrella.., sê comigo, 
Que o terrivel triurapho será nosso !... 



FIM DO QUARTO ACTO. 



ACTO QUINTO. 



O iheatro representa uma praça em Évora, no meio da qual 
está um rico tumulo que encerra os restos mortaes de 17- 
riaío ; é este o dia das suas honras fúnebres. 



SCENA I. 

CURIO, MlNUNClO B MURILLO, 

Curió está acorrentado ao pé do tumulo, e os dous lhe fazm 
guarda passeando a pouca distancia. / 

GuRio {erguendo a face maeilenta para o Céo.) 

Oh ! Céos ! onde eslou eu... quaes são meus crimes !... 
E a causa de tão grande sofFrimcnto? 
Injustos sois, que permittis que possa 
Da miseranda \ictiraa innocenie 
Triumphar esse algoz... esse verdugo... 

(Olhando com magua em torno de si.) 

Ai, que martyrio... que supplicio é este 
Que negro faz meu coração gemente ! 
Só por amigos estes ferros tenho, 
Que são neste soffrer o mca consolo, 
Os meus inseparáveis companheiros... 
De cada vez mais os aperto e beijo l... 

{Beija os ferros.) 

Sim, meus amigos... meus fieis amigos. 

Testemunhas do meu amargo pranto, 

Acho doce comvosco o captiveiro; 

Separar-nos agora ... só a morte . . . 

A morte!... {Pausa.) Vou morrer... quanto me custa 

Despedir o meu ultimo suspiro 

Sem ao menos poder justincar-me!... 



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— 74 — 

Innocente morrer... eu innocente! 
Sep crivei, ó Céos, que se consuma 
Desse verdugo tão infernal projecto ? ! 



{Fica de novo com a fronte abatida.) 
MiNUNCiO [a Murilló). 
Quanto lamento sua triste sorte ! 

MURILLO. 

Quem pudera, Minuncio,' caro amigo, 
Duvidar aue não haja aqui myslerio, 
Mysterio norrivel nos queixumes seus?!... 

Minuncio. 

Se descobrir pudéramos, Murillo, 
TJm meio bem seguro e verdadeiro 
De poder perscrutar esse mysterio. 
De nossa descoberta prazenteiros 
Aos numes renderíamos mil louvores. 

Murillo. 
Vamos interroga-lo. 

MlNUNCIQ. 

Desejava. 

Murillo. 

Talvez seja innocente. 

Minuncio. 

Pobre Curió! 
Não posso acreditar ser criminoso. 

Murillo {approximando-se de Curió). 

Desejávamos saber, 6 triste Curió, 
O soíTrimento que no peito sentes, 
E o mysterio que envolve teus queixumes. 



y 



— 75 — 

CURIO (ergue}ido a fronte como acordando de um sonho). 

Quem falia no meu nome ! quem me chama? 
£ quem busca saber meus sofifrimentos ! 

{Fitando aitentameníe Murilto.) 

Ah ! és tu, que me queres? vens acaso 
De novo injuriar o triste Curió, 
Que definha no meio do martyrio?! 
Oh! deixa-me ficar entre meus males, 
Benigno é quem respeita o desgraçado... 
Não queiras augmentar este meu trance!... 

MURILLO. 

Já de oífender-te estou arrependido, 

Inda que mesmo mais culpado fosses. 

Sim, que me importão os crimes commettidos 

Se o criminoso tem soffrido tanto? 

Demais, é duvidoso o teu delicto. 

Sempre tiveste um coração heróico 

Indigno de fazer tal desatino. 

CURIO {com ar mys(erioso). 

DictaliSo'. . . não sabem ... o perverso . . . 
Foi o traidor.,, elle o assassino infame... 
Que nos trahio... que me imputou o crime!... 
Oh ! Céos... e eu sou a victima innocenteL.. 

MlNUNClO. ' 

Sem teres provas, como acreditar-te 
Poderão os soldados lusitanos ? ! . . . 
E como ainda mostrar tua innocencia: 
Ante os olhos de teus accusadores ? 

CuRiO {com profundo sentimento e pausadameníél. 

Oh ! nem mais buscarei justificar*me ; 
Venham embora esses tratos infernaas. 
Que para os justos numes eu appello...^ 
Espero nelles encontrar justiça 



— 76 — 

Porque conbcccm a innocencía minha» 
E desse accusador o crime horrendo ! 
Só me peza deixar a cara pátria 
Por quem tantos tormentos hei soffirido ! 

MiNUNCio {espiando para o lado do campo). 

Chegado 6 o momento do torneio. 
Para aqui se dirigem cavalleiros ; 
Coragem, Curió, e os numes te protejam. 

MURILLO. 

Infehz Curió ! assaz eu te lamento ! 
Coragem, pois, os Céos sejam comtigo ; 
Elies possam mostrar tua mnocencia 
Antes que venha esse fatal momento. 

CuRiQ (apparentando alguma alegria). 

Oh ! Céos, inda me restam alguns amigos ; 
No meio da desgraça os reconheço \ 

SCENA ÍI. 

Os MESMOS E OS CONTENDORES. 

{Grande numero de soldados se fortiiâú em volta da praça, os 
contendores entram dez de cada parte e dão começo ao tor- 
neio ^ investindo primeiro de lança e depois de espada; acabada 
esta etiqueta os pagens entram e levam os cuvallos, c os con- 
ímdores vão depositar as armas em volta do tumulo de 
Viriato.) 

DiCTALiÃo {caminhando na frente dos contendores). 

Está fmda, senhores, a eiiquela 
Em que as cinzas honríUBOS do finado, 
Agora a victima presente temos 
Para remate dos deveres nossos ; 
Só falta agora o rei dos sacrifícios, 
Já sem demora vou raaiklar çhama-lo ; 

( Voliando-se para Minun<;io. ) 
Que o rei dos sacrifícios compareça. 



Z 



> 



— 11 — 

SGENA III. 

DiCTALiXo {baixo, approximando-se de Curió), 

Oh! debalde, insensato, tu buscaste 
Descobrir os meus crimes c perder-me, 
Que gravado será teu nome infame 
Bem no fundo dos peitos lusitanos !.., 

CuRlO {olhando para Dictalião com desprezo). 

Oh! silencio,., traidor... não mais prosigas, 
Que mais não pôde o coração amargo 
Escutar tua voz maldita,,, é Céos !... 
Inda ficais immoveis... se sois justos 
Por que não fulminais o monstro horrendo 
Que assim se atreve da innocencia minha 
Zombar... e ter em pouco o poder vosso 1... 

MURILLO. 

Oh ! deoscs da pátria, olhai por elle 
Que triste geme nos tyrannos ferros 
Talvez fundidos na traição forjada ! 

{A' parte com grande sentimento.) 



SGENA IV. 

Os MESMOS, MlNUNClO, E O REI DOS SACRIFÍCIOS. 

(O rei dos sacrifidós vem vertido com wiíw túnica preta e 
um gorro de velludo encarnado na cabeça^ com luzente punhal 
na cinta.) 

CURIO. 

Emfim vão acabar meus soffrimentos... 
Já nada mais me resta nesta vida... 
A' eternidade vão meus pensamentos !... 
Vem o algoz terminar meus tristes dias 
Como se fora réo de infames crimes... 



— 78 — 

Numes... ó numes... eu de novo imploro, 
Sejais ao menos juiz... sou innocente!... 

{Diz estas ultimas palavras com profundo sentimento 9 
grande resignação.) 

SCENA V. 

Os MESMOS E OSMIA. 

{Osmia entra ao tempo que o algoz se approxima de Curió). 

OSMIA. 

Lusitanos... heroes da liberdade... 
Afínal, sou chegada a salvamento ! 

[Repaiando em Curió e no algoz que delle se approxima.) 

Ah ! que horror... suspendei o sacrifício, 
Não toquem vossos ferros a innocencia ; 
De traições basta... e de execrandos crimes 
Perpetrados á face do universo !... 

DiCTALiÃO (aparte com embaraço). 

Aqui esta mulher perder-me pôde, 
O fero Satanaz foi quem m*a trouxe... 
Oh ! sim, foi esse máo génio do infenio 
Se existe, como dizem os ProphetaSy 
Só para a punição de nossos crimes ! 

OsMiA (approximando-se de Curió e olhando para todos). 

Onde está seu accusador... dizei-mc ! 

Dizci-me quem é esse monstro horrendo 

Que tanto emprehendo, e a consummar se atrev^^ 1 

DiCTALiÃO (adiantando- se um pouco para Osmia). 
Eu, sou eu. 

OsMiA (encaranda-o com grande indignação], 

Ah ! és tu ; eu bem suppunha, 
Pois que ninguém pelo universo inteiro 
Mais cruel coração teria 1 



— 79 — 

Dictaliâo (aparte, no auge do desespero). 

Oh! sim... é certo... Satanaz.,. existe!... 

OsMiA (de novo aos soldados). 

Lusitanos, heroes da liberdade, 
O seu accusador é o assassino... 
O assassino execrando de meu pai ! 
Cheios de horror da pátria os sacros numes 
Salvaram-me do poder dos inimigos 
Para vos descobrir traição tamanha ! 
Ahi tendes, pois, «sse cruel malvado, 

(Apontando com resolução para Dictaliãó,) 

Castigai-o de seus atrozes crimes, 
Que e o monstro assassino e renegado ! 

Dictaliâo (voltando-se para todos os soldados). 

Companheiros... não vedes... está louca; 
Vós não deveis ouvir essas calumnias 
Profeiidas sem tino, ao desvario. 
Com o fim de salvar o criminoso 
Pelo mesquinho amor que lhe votara ! . . . 

OsMiA (approximanda-se mais de Curió), 

Louca!... assim disseste tu... e não previste 
Assassino romano . , . traiçoeiro . . . 
Que uma prova tremenda te condemna 
Em face dos soldados lusitanos ! 

(Voltando-se para os soldados, dá a Murillo um 
papel que tirou do seio.) 

Eia... tomai-al 

Dictaliâo {aparte com grande inquietação). 

Agora estou perdido ! . . . 
Sim... desgraçado... a minha perdição é certa! 

(Emquanto Murillo está lendo elle vai-se occul- 
tando poi detrás dos soldados até desapparecer.) 



— 80 — 

MuniLLO {lendo). 

« Eu juro, e cumprirei mui fielmente, 

tf Sob pena de peruer a própria vida, 

« De aos Romanos prestar os meus serviços, 

ff Exterminando o chefe Lusitano 

ir Logo apoz entregando seus soldados 

ff Ao poder dos romanos senadores. 

ff Dictalião. » 

{Anies do fim da leitura deste documento, já aUjiina 
soldados vão após de Dictalião que com grande arte 
busca escapar-lhes.) 

MUUILLO. 

Morra esse infame... morra!... 

Soldados. 

Sim... sim... morra!... 



SCENA VL 

Os MESMOS, MENOS DlCTALlIO E SOLDADOS. 

OSMIA [ajudando a soltar Curió), 

Infeliz Curió, a tempo não chegaste, 
Eu já entre Romanos o sabia!... 
Se procurei salvar a minha vida 
Por entre bosques c nocturnas sombras. 
Foi por li»rar os Lusos de tal monstro, 
E a ti, fiel, e desgraçado Curió, 
Do ferro desse algos que te aguardava 
Dom sedento talvez de ver teu sangue 1 
Ai de mim que fiquei ao desamparo, 
Privada do meu pai que tanto amava... 
Assim o quiz o Géo, foi mâU destino. 
Rcsta-me a pátria, morrerei com cila ! 



I 



— 81 - 

CURIO {já posto em Uberdade), : 

Estou livre dos ferros!... Justificado... , 

Oh!... acaso será tudo isto um sonho... | 

Um sonho que me leva á eternidade 
Embalado na sombra da ventura?! 

{Fitando Osmia.) i 

Porém, não... que eu bem vejo aqui Osmia, \ 

Que o Céo cá enviou em meu soccorro 

P'ra livrar me do poder de meu verdugo... â 

O Céo é justo... smi, é poderoso, 1| 

Esta scena da vida é obra sua!... 

Ah ! quão benignos sâo os seus decretos \ 

E mesquinha é a humana intelligencia 

Quando descrc da sua Omnipotência !... 



SCENA VIL 

{Os mesmos e Dictalião morto em uma padiola, o rei dos sacri- 
fícios ao seu lado com o punhal ainda tinto de seu sangue.) 

9 

Osmia {levando Curió pela mm ao meio da scena). 

Lusitanos! herocs da liberdade... 
Vingadores das victimas de Galba, 
Sabei que já o Csepião é morto ; 
Com meu punhal lhe terminei seus dias 
Para meu pai vingar e a Lusitânia ! 
Graças aos numes que cheguei a tempo 
De salvar a victima innocente, 
O mais fiel dos bravos lusitanos 1 
Agora só vos falta um novo chefe, 
Acclamai-o, que é digno de tal nome ; 
Possa ellc sustentar a liberdade 
Que nos buscam roubar esses traidores. 

Soldados. 
Sim, nós o cremos... seja o nosso chefe. 



€uRio (radiante, tomando uma lança e cruzando-a sobre o 

tumulo de Viriato). 

Pátria dosViriatos, pátria minha... 

Eu juro defender os teus direitos, 

Por li, sacrificando esta existência, 

Este doce viver de soffrimentos, 

Que soífrer innocente é viver doce 

Se lá nos justos Céos depositamos 

Fé sublime que anima a esi)erança nossa!... 

Enxuga, pois, ó pátria, o triste pranto 

Que derramas na ausência de teu filho. 

Cobra alento, que os numes são comtigo, 

Sogundo Viriato empunha a lança... 

Jurando firme pelas caras victimas 

Saciificadas ao furor romano, 

Oucrra exterminadora a teus tyrannos!... 

Por testemunhas tomo os sacros numes 

Que me escutam lá no alto firmamento... 

Amados lusitanos... sou comvosco. 

Levar- vos quero ao campo da batalha, 

Vamos lá sustentar a liberdade 

E a fama dos guerreiros lusitanos... 

(Cantam todos em coro), 

« Inermes ci».zas vos erguei do tumulo, 
« Vinde comnosco defender a pátria, 
(( Que busca aíQicta libertar seus filhos 
ff Do jugo atroz desses cruéis tyrannos!... » 

FIM DA TRAGEDIA. 




Sí 



lilSTA 



DOS SENHORES QUE ASSIGNÁRÃO PARA ESTA OBRA 



I 



Adão Gomes Teixeira 

Alexandre Cândido Rcbello .... 

» Luiz Pereira de Vasconcellos 

Agostinho Ferreira da Silva .... 

Agostinho de Souza 

Anonyrao 

António da Costa Ferreira Mondego. . 



» 



José Bastos 

Bahia .... 

de Barros . . . 

Ferreira. . . . 

Siqueira Vianna . 

Faria Guimarães . 

Alves Guimarães . 

Ribeiro Guimarães 

Pereira Bastos. . 

de Araújo e Silva. 
Joaquim Gomes SimSes. 
Gonçalves »c Gastro. .• 
dtt Rocha Souza Pinto . 
Gomes de Azevedo Fortes 
Alves de Cruz- . . . 
Martins dos Santos . • 
Mendes da Silva.- . .- 
Francisco Garvallio Souza 



» 

n 

» 

» 
» 

» 



— 84 — 

António Pereira Pinto de Castilho . . . . 

» Vieira Bastos 

» Clemente Souza Gonçalves . . . 

n da Silva Santos Porto 

» Gomes Monteiro • 

» Soares da Gama Bastos 

» Cardoso de Sá 

» Duarte Claro • 

» de Souza Pinheiro 

» Gonçalves da Silva 

« Francisco Alves Salgueiro . . . : 

n Gomes da Cruz Braga . . . , • 

» da Costa Guimarães 

» Gomes de Pinho 

» Francisco dos Santos 

Augusto José Moreira da Silva 

» Pereira Machado 

» Maria de Abreu ....... 

Bento Serzedello 

» Augusto Leitão 

Bernardino Pereira Leite 

» de Souza Ferreira . . , . . 
H de Senna Pereira Rosa . . . " . 
9 José Ferreira Cardoso Guimarães . 

» Marques Moreira 

» Cardoso Silva 

Cândido José Marinho. . . ... . . 

» Augusto Ribeiro 

Conrado Alves de Souza 

Carlos Valériano Rodrigues de Carvallio . . 
Constantino Pinheiro da Fonseca .... 

Daniel José da Cunha 

Ernesto Rodrigues da Silva ...... 

Faustino José da Silva 

Feliciano José Martins 

Ferreira & Gil . . , . . . . • • • ♦ • 

Fortunato José Peixoto ....... 

Francisco Martins dos Santos 



\ 



— 85 — 

Francisco Xavier Souza Pinto 

» - José da Silva Castro ....... 

» Ferreira Marques . 

» José Jacintho Ca valho 

Frederico Guilherme. Alberto 

» . Fernandes. de, Pa?. 

Gaspar Joaquim da Costa. ........ 

» Jtiheiro de AJmeida Barros ...... 

Gaiiard- & Sobrinho 

Horácio Teixeira Lopes Guimarães 

Henrique Pereira Pinto de Nogueira ..... 

Jacintho Soares Muniz 

João Barbosa Bastos . 

» José Barbosa de Castro 

» Manoel Fernandes .... 

» António Martins Tinoco. ..,.,.. 

» Ignacio Godinho 

» Gonçalves do Valle 

» António da Costa Guimarães ...... 

» Gonçalves Pinto 

ff de. Azevedo Malheiros . 

» Joaquim Pereira. 

» MQreira Vaz ..,.,. . 

» Teixeira GuijnarSe^ 

» Eduardo ,de Azevedo. * . ' 

» Pereira Lcitç Bgistots. 

João Rosas . , . ^ . , , 

Joaquim José Gonçalves. 

» . Pereira Carneiro , . 

» . Marques. Peixoto. - , , . 

B ^ do Freitas Guimarães . . . . . . . . . 

» i Nunes de Moraíjs 

» ' José Moreira Guimarães Jimior ..... 

» • » . » . Guimarães .,•.... 

» * Teixeira Dias Ti)rres 

» ' Frandsco de Araújo . . . . , 

» . da SiJva.Rebcllo ...... 

» . Ferreira -da Cosia 



12 



— 86 — 

Joaquim Luiz Vieira • 

José Joaquim Coelho da Silva 

» '» Baptista de Moura ....... 

» » Vieira <ia Costa . 

» a da Silva Telles 

»■ » da Silva 

» D Rebello Maia 

» j> Condessa 

» Amaro Rodrigues Pinto 

D da Fonseca Dias 

» Ferreira da Costa 

» Maria de Oliveira 

» Dias Braga 

» Pereira Lopes Guimarães 

» Maria Peixoto 

j» » Francisca de Oliveira Bastos 

» Bento Rodrigues dos Santos Viseu 

» Patricio Alvares Mourão 

» José Dominsos da Silva Braga 

» Guilherme- da Silva Martins • 

» Maria -de M. Bastos . 

* Queiroz de Freitas Guimarães 

» Coelho de Magalhães 

» Bernardino da Silva Maia •....«•• 

» da Costa Fenreira Soulo. 

» Ferreira de Andrade 

Dias Lopes ........,#;• 

» Ramos da Costa Guimarães 

» de Araújo Vasconcellos Alvim 

» Povoas Júnior »..•«• 

» de Araújo Guimarães • 

» Rodrigues de Carvalho ...» 

» Maria Salgueiro. . 

» Maria Teixeira da Costa. ».»•••.• 

» da Silveira Junior • • 

» Maria da Costa • • • . • 

» Clemente Aftonso Castro » • . 

» Ignacio Ferreira, de Azevedo ...,♦•. 



87 — 



José Cardoso de Mocaes 

JuIio Alberto Pinto * . . . 

Líbano José de Azeveda Barros 

Lourenço Augusto Cordeiro 

Luiz António da.Rosa. . 

» Máximo Pereira Pinto 

» Bernardo Gonçalves Pereira 

» António Dias Peixoto • 

» » Pereira RebeUo. . 

» » Meirelles 

» » Antunes. 

* » da Rosa. . 

» António Ferreira Marques 

» da Silva Soares 

» Siqueira. Resende . . ► 

j> da Costa , • . . 

» Gonçalves Capella 

Manoel Alves Dias Braga 

» Nunes Louzada 

» Ignacio Mendes 

» Joaquim Domingos Tinoco ....... 

» Fernandes da Cunha ., 

» Duarte da Silva .* 

» Garcia da Rosa 

» de Almeida Vaz 

» Ferreira da Costa. , 

» Dias de Almeida . 

» José da Gama , 

» José de Medeiros Rezende ....... 

» » Fernandes Lage : 

» » Gomes • 

» » Santarém 

» Lourenço de Oliveira. 

» Gonçalves . » • • • • 

» Gomes 

» Alves Ferreira Souto 

^> Francisco de Âlnaeida, .••...•• 

» Caetano de Oliveira • « • » 



\ 



2 



88 



B Ferreira^ Torres ^i . • 
» de Oliveira Monteiro . . 
* Anlonio Pereira. . . 
Martins de Sá . ...*... 
Maximiana José dosileis . , • , 
Nicoláo» António Alves . .. . 
Norberto José da Silva Coelho 
Ravmufldo Ribeipo Alves Tjorrcs 
Rodrigo José de Carvalho. . . 
Rufino -Fernandes de. Araújo . 
Sevcriano António (Maia Vianaa 
Valeriano José Pacheco . , . . 
Venanciííáos Santos. Pereira. 

Vicente Alves da ^ilxa* 

Victorino da Silva IVbreira Meijrellps 
Zeferino Otero de Carvalho .... 



NSo fôrão publicados todos« os nomes dos Srs. assignantes 
como desejávamos, *por não termos recebido todas. as listas a 
tempo de 5 podermos fa*zer'. 

* ' • O AUTOR. 







4 



■•••*► 

* • » 



Typographift d« Brito*& Braga, -travessa do Ouvidor n. 17. 



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piiifilílíllillislgij^l 













BSi:Í-ÍiílÍ;Sííi